PSICOLOGIA ANALÍTICA

AUTOCONTROLE NA MEDIDA

Uma maior motivação está ligada à execução de tarefas variadas, diz estudo

Autocontrole na medida

Pesquisa publicada no periódico PLOS ONE sugere que a execução de tarefas variadas ao longo do dia mantém nosso nível de motivação e autocontrole. É que nossa habilidade para executá-las, por outro lado, não decai ao longo do dia, mesmo quando nos deparamos­ com algumas mais longas e difíceis.

Os cientistas responsáveis pelo estudo corroboram análises anteriores que mostram, na verdade, um declínio de desempenho a partir da marca de 30 minutos de um esforço cognitivo complexo, com uma queda ainda maior em torno de 50 minutos. Mas isso não quer dizer que com isso percamos a capacidade de cumprir determinadas tarefas. O empenho inicial na tarefa anterior basta para gerar a motivação necessária para completarmos o desafio seguinte.

Os achados são substanciais sobretudo para o desenvolvimento de metodologias de ensino e aprendizagem, e o estudo em questão é único em observar desempenho, motivação e autocontrole em ambiente natural. Os pesquisadores envolvidos reuniram dados de mais de 16 mil alunos que completaram exercícios voluntários de aprendizagem e revisão ao longo de vários meses usando um a plataforma virtual.

OUTROS OLHARES

LIBERDADE É POUCO

É um equívoco referir-se ao feminismo como um ideário só.

Liberdade é pouco

O feminismo é necessariamente de esquerda? Existe feminismo de direita? Essas são questões prementes num contexto em que a polarização política corrói o debate público e afasta da agenda de defesa dos direitos das mulheres um número relevante de brasileiras e brasileiros. São frequentes os ataques de um conservadorismo in­ culto ao feminismo: supostamente seria tudo mimimi, vitimismo, exagero dos esquerdistas. Será?

O filme The Post, de Steven Spielberg, conta a história verídica de Katharine Graham, dona do The Washington Post. Interpretada por Meryl Streep, ela herdou o jornal após o suicídio do marido, o escolhido para comandar os negócios da família. Uma mulher na liderança era (e ainda é) uma exceção. Kay transpôs o empecilho informal ao avanço profissional das mulheres, a barreira invisível (glass ceiling, ou “telhado de vidro”, na expressão em inglês) ao sucesso feminino. O jornal teve papel central, nos anos 70, na divulgação da verdade sobre a guerra no Vietnã. Kay enfrentou seus demônios, o sexismo, o autoritarismo do presidente Nixon e pavimentou a avenida da democracia, da liberdade de imprensa e do respeito aos direitos das mulheres nos Estados Unidos. Um legado e tanto. O ponto que nos interessa é simples. Kay não era de esquerda. Era próxima dos republicanos, parte da elite da capital americana. Mas descobriu que os direitos das mulheres são uma agenda de todas. Que o telhado de vidro precisa ser estilhaçado e todas as pedras são bem-vindas.

Sarah Palin também não é de esquerda. Líder do Tea Party, a ex­ governadora do Alasca é conhecida por suas posturas conservadoras. Palin se orgulha de ser ponta de lança do que chama de “novo feminismo conservador”. Defende ao seu modo uma agenda de direitos das mulheres, e afirma que nenhuma delas deveria ter de escolher entre a família e o trabalho. Desde 2006 ela integra o coletivo Feminists for Life. Sim, Sarah Palin se diz feminista e até faz parte de um coletivo feminista.

Margaret Thatcher, a dama de ferro inglesa e camisa 10 da seleção mundial de neoliberais, dizia não dever nada ao movimento feminista, mas lembrava sempre que, quando queria que algo fosse dito no mundo da política, pedia a um homem. Mas, quando queria que algo fosse efetivamente realizado, pedia a uma mulher. Sim, Thatcher defendia os direitos das mulheres. Bombardeou o telhado de vidro como bombardeou as Malvinas.

O feminismo não é um conjunto de movimentos obrigatoriamente de esquerda. E um equívoco, que mesmo esta colunista comete costumeiramente, fazer referência ao feminismo como um ideário só, monolítico. Existem feminismos. Muitos, de distintas matrizes e matizes.

Somar-se a algum deles é nossa missão como mulheres. Apoiar algum deles é a missão dos homens. O machismo não tem partido nem ideologia. Está por toda parte e deve ser combatido em toda parte. O que queremos, mulheres de direita e de esquerda? Liberdade? Recorro a Clarice Lispector, a quem a esquerda que lhe foi contemporânea sempre chamou de “alienada demais”: liberdade é pouco, o que queremos ainda não tem nome.

GESTÃO E CARREIRA

DETOX EMOCIONAL

O desafio do ser humano é depurar a mente do estresse e tensão, equilibrando emoções para estar preparado para os momentos de turbulência e trazer a consciência à vida cotidiana.

Detox emocional

No dia a dia, por conta da crise econômica e do ritmo intenso no mercado de trabalho, é comum as pessoas vivenciarem momentos mais estressantes. O grande problema é quando são afetadas por sentimentos como a angústia, ansiedade, medo, raiva, tristeza e desmotivação e eles são ignorados. Todas essas sensações tóxicas, os problemas no trabalho, as preocupações com os filhos e as dificuldades financeiras esgotam as pessoas e, geralmente, por causa delas, ficam com baixa autoestima, com o foco apenas em seus problemas e se esquecem das demais pessoas ao seu redor. Toda essa inércia pode até diminuir a capacidade de exercer a empatia, por não conseguirem enxergar com clareza os fatos.

Assim, com esse cenário, os seres humanos podem ficar cada vez mais isolados e perder o real significado da vida. Por isso, de tempos em tempos é necessário fazer um detox emocional. Antes de tudo, é preciso reconhecer a responsabilidade perante seus resultados, a forma em que você pode impactar na vida do outro, distinguir o que é importante, aprender a lidar com os sentimentos, de maneira apropriada, com autocontrole e equilíbrio.

Além disso, é preciso se conscientizar de algumas atitudes importantes para não entrar em pensamentos e comportamentos de autossabotagem.

É importante ter momentos de reflexão, pois somos responsáveis por nossa própria experiência, e a vida é um reflexo do que está em nossa mente. Ao ficarmos focados em pensamentos negativos, criamos tensões no corpo, bloqueamos a respiração, pioramos a oxigenação dos tecidos, paralisamos o nosso agir e as nossas ações. Ocasionalmente, é preciso dedicar um tempo para fazer uma auto-observação.

Algumas pessoas focam apenas nas dificuldades e duvidam da própria capacidade. Para não entrar em autossabotagem, é fundamental reconhecer e evidenciar os pontos fortes e as unicidades.

Outro ponto que vale a pena destacar é: não se deixe influenciar, porque há quem carregue para si comportamentos negativos de outras pessoas que as rodeiam. Desligue o piloto automático e tenha bons pensamentos. O bom humor pode mudar tudo.

Estar atento à alimentação, como a ingestão de alimentos saudáveis, também pode contribuir significativamente no processo do detox emocional. Mas um passo essencial para isso é o empoderamento. Para isso, é importante ter autoconhecimento, autoconsciência e autopercepção sobre aquilo que realmente precisa ser transformado. Saber lidar com as próprias emoções é um processo de transformação. Devemos deixar para trás os sentimentos que se acumularam pelos mais diversos motivos e nos permitir atingir um estado de paz interior.

A maioria das pessoas, normalmente, deixa que os acontecimentos do passado continuem machucando e interferindo no presente. Libertar sentimentos dolorosos e perdoar mágoas e decepções são atitudes que promovem o equilíbrio emocional. E, assim, deixam nossa alma mais leve, com um sentimento de paz interior para viver plenamente o presente.

Por fim, a gratidão é o ato de perceber que os acontecimentos da vida nos conduziram a algo maior. Quando somos gratos, também nos tornamos capazes de perdoar e de deixar ir embora aquele sentimento negativo que trava a nossa vida, como mágoa, decepção, raiva e frustração. Não devemos permitir que as circunstâncias e as interferências do dia a dia apaguem o nosso entusiasmo pela vida. A celebração das conquistas está relacionada ao nosso próprio poder de agradecer, criar, escolher, decidir, pensar e viver.

O desafio do ser humano é equilibrar as emoções, estar centrado nos momentos de turbulência, de desânimo, e encontrar a natureza mais profunda e verdadeira para trazer a consciência à sua vida cotidiana. É isso que faz a diferença no nosso caminho para a conquista dos resultados escolhidos, para colocar em prática todo o próprio potencial, redirecionar o foco, as escolhas, e abrir a mente e o coração para as ricas oportunidades da vida, os resultados e a autorrealização.

 

EDUARDO SHINYASHIKI – é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o crescimento e a auto liderança das pessoas.

www.edushin.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE V

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Predições Terríveis 

VIII – Jesus prediz a sua segunda vinda, no final dos tempos (vv. 29-31): “O sol escurecerá” etc.

1. Alguns entendem que isso se refere somente à destruição de Jerusalém e da nação judaica. O escurecimento do sol, da lua e das estrelas sugere o eclipse da glória naquela nação, as suas convulsões e a confusão geral que acompanhou tal desolação. Grandes mortes e devastação eram assim anunciadas no Antigo Testamento (como em Isaias 13.10; 34.4; Ezequiel 32.7; Joel 2.31); ou o sol, a luz e as estrelas podem significar o Templo, Jerusalém e as cidades de Judá, que seriam todos destruídos. O “sinal do Filho do Homem” (v. 30) significa uma manifestação notável do poder e da justiça do Senhor Jesus, vingando o seu próprio sangue naqueles que lançaram a culpa sobre si mesmos, e sobre seus filhos; e o ajuntar dos “seus escolhidos” (v. 31) significa a libertação dos remanescentes desse pecado e dessa destruição.

2. Mas isso parece se referir mais à segunda vinda de Cristo. A destruição dos inimigos particulares da igreja é típica da derrota completa de todos eles; portanto, o que realmente acontecerá naquele grande dia pode ser aplicado metaforicamente a essas destruições. Mas nós precisamos prestar atenção ao seu escopo principal. E se todos nós estivermos de acordo em esperar a segunda vinda de Cristo, que necessidade haverá de atribuir significados tão tensos, como fazem alguns, a esses versículos, que falam dela com tanta clareza, e também a outras passagens das Escrituras, especialmente quando Cristo está aqui respondendo a uma pergunta sobre a sua vinda no fim do mundo? Cristo nunca teve receio de falar sobre este assunto com os seus discípulos.

A única objeção a isso é o fato de que está dito que a segunda vinda acontecerá “logo [ou imediatamente] depois da aflição daqueles dias”; mas, quanto a isso:

(1) É normal, no estilo profético, falar de coisas grandiosas e certas como estando próximas, somente para expressar a sua grandeza e certeza. Enoque falou da segunda vinda de Cristo como algo ao seu alcance: “Eis que é vindo o Senhor” (Judas 14).

(2) “Um dia para o Senhor é como mil anos” (2 Pedro 3.8). A Palavra de Deus nos traz uma urgente exortação sobre esse dia, que também pode ser interpretado como estando muito próximo. A tribulação daqueles dias inclui não apenas a destruição de Jerusalém, mas todas as outras tribulações que a igreja deve enfrentar; não apenas a sua cota nas calamidades que as nações sofreriam, mas também as que seriam peculiares a ela mesma. Enquanto as nações estiverem destroçadas com as guerras, e as igrejas com cismas, ilusões e perseguições, nós não podemos dizer que a tribulação daqueles dias esteja terminada; toda a situação da igreja na terra é militante, e nós devemos confiar nisso; mas quando a tribulação da igreja estiver terminada, a sua peleja, concluída, e a luta e os sofrimentos de Cristo tiverem se cumprido, então poderemos esperar pelo fim.

A respeito da segunda vinda de Cristo, aqui está predito:

[1] Que haverá uma transformação nas coisas criadas, grande e surpreendente, e particularmente nos corpos celestes (v. 29). “O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz”. A lua brilha com uma luz emprestada, e, portanto, se o sol, de quem ela toma emprestada a sua luz, se escurecer, ela naturalmente fracassará, e falirá. ”As estrelas cairão do céu”; elas perderão a sua luz, e desaparecerão, e será como se elas tivessem caído; e “as potências dos céus serão abaladas”. Isto sugere:

Em primeiro lugar, que haverá uma grande mudança, para fazer novas todas as coisas. Então haverá a “restauração de tudo”, quando os céus não serão deixados de lado como um trapo, mas serão mudados como uma veste, para serem usados em uma maneira melhor (Salmos 102.26). Eles “passarão com grande estrondo”, para que possa haver “novos céus” (2 Pedro 3.10-13).

Em segundo lugar, será uma mudança visível, e todo o mundo deverá percebê-la; pois um escurecimento assim, do sol e da lua, não pode deixar de ser notado; e será uma mudança notável, pois os corpos celestiais não são tão sujeitos a alterações como o são as criaturas deste mundo inferior. Os dias do céu e a continuidade do sol e da lua são usados para expressar o que é duradouro e imutável (como em Salmos 89.29); ainda assim, eles serão abalados.

Em terceiro lugar, haverá uma transformação universal. Se o sol escurecer, e as potências do céu forem abaladas, a terra não poderá deixar de se transformar em uma masmorra, e a sua fundação tremerá. “Gemei, faias, porque os cedros caíram”. Quando as estrelas do céu caírem, as pessoas não deverão se espantar se os “montes perpétuos” se esmiuçarem, e se “outeiros eternos” se encurvarem. A natureza irá sustentar um choque e uma convulsão gerais, que não serão obstáculos para a alegria do céu e o regozijo da terra “ante a face do Senhor”, quando vier a “julgar a terra” (Salmos 96.11,13). Eles estarão como se houvesse glória na tribulação.

Em quarto lugar, o escurecimento do sol, da lua e das estrelas, que foram criados para governar o dia e a noite (que é o primeiro domínio que encontramos de cada criatura, Genesis 1.16-18), significa a aniquilação de “todo império e toda potestade e força” (mesmo aqueles que parecem ser bastante antigos e muito úteis), para que o reino possa ser entregue a Deus Pai, e “para que Deus seja tudo em todos” (1 Coríntios 15.24,28). O sol escureceu por ocasião da morte de Cristo, pois aquele acontecimento foi, de certa maneira, “o juízo deste mundo” (João 12.31), um indício do que acontecerá no juízo final.

Em quinto lugar, a gloriosa aparição do nosso Senhor Jesus, que então irá se mostrar como o resplendor da glória de seu Pai, e a expressa imagem da sua pessoa”, irá escurecer o sol e a lua, assim como o brilho de uma vela fica mais fraco sob os raios do sol do meio-dia; eles não terão glória, “por causa desta excelente glória” (2 Coríntios 3.10). Então “a lua se envergonhará, e o sol se confundirá”, quando Deus aparecer (Isaias 24.23).

Em sexto lugar, o sol e a lua escurecerão, porque não haverá mais lugar para eles. Para os pecadores, que escolhem a sua parte nesta vida, todo consolo será negado eternamente. Eles não terão nem uma gota d’água, e nem um raio de luz. Agora Deus faz com que o seu sol se erga sobre a terra. As trevas devem ser a parte deles. Aos santos, que preferiram ter o seu tesouro no céu, será dada tal luz de alegria e consolo, que irá exceder a luz do sol e da lua; a luz do sol e da lua serão inúteis. Que necessidade haverá de lâmpadas, quando formos para junto da Fonte da luz, sim, para junto do Pai das luzes? Veja Isaias 60.19; Apocalipse 22.5.

[2] Que quando aparecer “no céu o sinal do Filho do Homem” (v. 30), ou seja, o próprio Filho do Homem, eles “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu”. Na sua primeira vinda, Ele foi posto para “sinal que é contraditado” (Lucas 2.34), mas na sua segunda vinda, um sinal que será admirado. Ezequiel era um filho do homem, dado por sinal (Ezequiel 12.6). Alguns interpretam isto como uma predição dos anunciadores e precursores da sua vinda, avisando da sua chegada: Uma luz brilhante diante dele, e o fogo consumidor (Salmos 50.3; 1 Reis 19.11,12), os raios de luz saindo de sua mão, onde, durante muito tempo, havia sido o esconderijo da sua força (Habacuque 3.4). E um conceito infundado de alguns dos antigos, que este sinal do Filho do Homem seja o sinal da cruz, exibido como uma bandeira. Certamente será um sinal claramente convincente, que irá eliminar a infidelidade, e encherá de vergonha os rostos dos que diziam: “Onde está a promessa da sua vinda?”

[3] Que então “todas as tribos da terra se lamentarão” (v. 30). Veja Apocalipse 1.7. “Todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele”; entre todas as tribos e famílias da terra, algumas se lamentarão, pois a maior parte irá tremer com a sua chegada, enquanto os restantes, os eleitos, tanto das famílias como das tribos, irão levantar as cabeças com alegria, sabendo que a sua redenção se aproxima, e também o seu Redentor. Observe que, mais cedo ou mais tarde, todos os pecadores se lamentarão. Os pecadores penitentes confiam em Cristo, e choram por uma sorte piedosa; e aqueles que semeiam com lágrimas, em breve irão colher com alegria. Os pecadores impenitentes verão aquele a quem traspassaram, e embora riam agora, irão chorar e lamentar por uma sorte diabólica, com horror e desespero intermináveis.

[4] Que “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Considere, em primeiro lugar, que o juízo do grande dia será confiado ao Filho do Homem, tanto para a sua realização quanto como recompensa da sua grande missão por nós, como Mediador (João 5.22,27). Em segundo lugar, que o Filho do Homem, naquele dia, virá “sobre as nuvens do céu”. Grande parte do relacionamento perceptível entre o céu e a terra se dá pelas nuvens; elas estão entre eles, atraídas da terra para o céu, purificadas pelo céu, e posicionadas sobre a terra. Cristo ascendeu ao céu sobre uma nuvem, e de igual maneira virá outra vez (Atos 1.9,11). “Eis que vem com as nuvens” (Apocalipse 1.7). As nuvens serão o carro do grande Juiz (Salmos 104.3), a sua roupa (Apocalipse 10.1), o seu pavilhão (Salmos 18.11), o seu trono (Apocalipse 14.14). Quando o mundo foi destruído pela água, o julgamento veio nas nuvens dos céus, pois as janelas dos céus se abriram; assim será, também, quando ele for destruído pelo fogo. Cristo andou diante de Israel em uma nuvem, que tinha um lado resplandecente e outro escuro. Assim também será a nuvem em que Cristo virá no grande dia. Ela trará tanto consolo quanto terror. Em terceiro lugar, que Ele virá “com poder e grande glória”. A sua primeira vinda ocorreu em fraqueza e grande simplicidade (2 Coríntios 13.4). Mas a sua segunda vinda será com poder e glória, em conformidade com a dignidade da sua pessoa e também com os objetivos da sua vinda. Em quarto lugar, que Ele será visto com olhos físicos, na sua vinda. Portanto, o Filho do Homem será o Juiz, para que Ele possa ser visto, para que fiquem ainda mais confusos os pecadores, que o verão como Balaão viu, “mas não de perto” (Números 24.17). Eles o verão, mas não como seu. Isto se acrescenta ao tormento daquele pecador condenado que “viu ao longe Abraão”. “E este aquele que nós desprezamos, e rejeitamos, e contra quem nos rebelamos? Aquele que nós crucificamos? Aquele que podia ter sido o nosso Salvador; mas será o nosso inimigo para sempre?” O “Desejado de todas as nações” será, então, o seu temor.

[5] Que “ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta” (v. 31). Considere, em primeiro lugar, que os anjos serão os ajudantes de Cristo na sua segunda vinda, eles são chamados de “seus anjos”, o que prova que Ele é Deus, e Senhor dos anjos; eles deverão auxiliá-lo. Em segundo lugar, que estes ajudantes serão empregados por Ele como oficiais no tribunal do julgamento daquele Dia. Eles agora são “espíritos ministradores”, enviados por Ele (Hebreus 1.14), e será assim naquela ocasião. Em terceiro lugar, que a sua ministração será iniciada com um “rijo clamor de trombeta”, para despertar e alarmar um mundo adormecido. Esta trombeta é mencionada em 1 Coríntios 15.52 e 1 Tessalonicenses 4.16. Quando a lei foi entregue, no monte Sinai, o som da trombeta foi particularmente terrível (Êxodo 19.13, 16), mas será muito mais terrível no grande Dia. Pela lei, as trombetas deviam ser tocadas para a “convocação da congregação” (Números 10.2), para louvar a Deus (Salmos 81.3), na oferta de sacrifícios (Números 10.10) e ao proclamar o ano do jubileu (Levíticos 25.9). Portanto, é muito adequado que haja o som de uma trombeta no último dia, quando a congregação geral será convocada, quando os louvores a Deus serão gloriosamente celebrados, quando os pecadores cairão, como sacrifícios à justiça divina, e quando os santos entrarão no seu eterno jubileu.

[6] Que se ajuntarão “os seus escolhidos desde os quatro ventos”. Observe que na segunda vinda de Jesus Cristo, haverá uma congregação geral de todos os santos. Em primeiro lugar, somente os “escolhidos” se ajuntarão, os eleitos remanescentes, que são poucos, em comparação com os muitos que são apenas chamados. Este é o fundamento da felicidade eterna dos santos, o fato de que são os eleitos de Deus. O dom do amor segue, por toda a eternidade, as características do amor que existe desde a eternidade. E “o Senhor conhece os que são seus”. Em segundo lugar, os anjos serão empregados para ajuntá-los, como servos de Cristo, e como amigos dos santos; nós conhecemos a tarefa que lhes foi dada (Salmos 50.5). “Congregai os meus santos”; na verdade, será dito a eles: Estes são seus irmãos; pois os eleitos “são iguais aos anjos” (Lucas 20.36). Em terceiro lugar, eles se ajuntarão “de uma à outra extremidade dos céus”. Os eleitos de Deus estão dispersos (João 11.52). Há eleitos em todos os lugares, em todas as nações (Apocalipse 7.9); mas quando chegar o dia desse grande ajuntamento, nenhum deles estar á faltando. A distância física não manterá ninguém fora do céu, se a distância afetiva não o fizer. O céu é igualmente acessível de qualquer lugar: Veja Mateus 8.11; Isaías 43.6; 49.12.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O PODER AFETA O CÉREBRO

Ele bloqueia o processo neural de manifestação de empatia.

O poder afeta o cérebro

No século 19, quando o historiador britânico Lorde Acton proferiu sua manjada frase (“O poder absoluto corrompe absolutamente”), ele se referia essencialmente a aspectos morais da questão. Mas agora a ciência mostra que a sensação de poder também causa danos cerebrais e não apenas desvios éticos. Estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley detectou que o poder torna a pessoa mais impulsiva, a ponto de não levar riscos em consideração e, sobretudo, de demonstrar menos habilidade de ouvir e avaliar pontos de vista alheios. E pesquisa semelhante, da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, confirmou essa conclusão: ao analisar tomografias cerebrais de participantes, constatou que aqueles com maior sensação de poder bloqueavam um processo neural específico, impedindo a manifestação de empatia.

É o que os cientistas batizaram de “paradoxo do poder”: uma vez conquistado o comando, perdemos aquela capacidade que nos levou a ele inicialmente. Isso gera o “déficit de empatia”, fazendo com que o chefe deixe de reagir de acordo com o comportamento dos subordinados, como retribuir piadas com bom humor ou agir sério quando a situação é grave. Ao final, esse “fosso emocional” acaba prejudicando os relacionamentos e, em consequência, a produtividade. Para uma boa liderança, agir de acordo com o contexto de cada momento ajuda a fortalecer a confiança da equipe e abrir espaço para debater e formular soluções.

Estudo da Kellogg School of Management, da Universidade Northwestern, emite outro alerta: o poder reduz percepção e perspectiva. Em um experimento, por exemplo, os participantes deveriam escrever a letra “E” na própria testa para que outros a lessem, isto é, a pessoa deveria se ater ao ponto de vista do observador. Resultado: aqueles com maior sensação de poder demonstraram três vezes mais a tendência de escrever a letra voltada para si mesmo, sem se preocupar com a leitura do observador.

Os pesquisadores da Universidade McMaster também ressaltam a importância do fenômeno mental conhecido como “espelhamento”, que muitas vezes ocorre totalmente independente de nosso controle: ao vermos alguém desempenhar uma tarefa, inconscientemente ativamos em resposta a região do cérebro que usaríamos para fazer a mesma coisa. Chegamos até a imitar alguns elementos da linguagem corporal do outro, como gestos, expressões faciais ou respiração – o que sinaliza a importância de uma liderança adotar a postura correta para gerar um “espelhamento” produtivo em sua equipe.

OUTROS OLHARES

A ARTE DOS NOMES

As escolhas auspiciosas dos pais chineses para seus rebentos.

A arte dos nomes

Para alguns, a exemplo da Julieta de Shakespeare, se a rosa tivesse qualquer outro nome, ainda exalaria o mesmo doce aroma. Para outros, como Chihiro, da anin1ação A viagem de Chiriro, dirigida por Hayao Miyazaki, o nome define a vida de uma pessoa. A maioria dos chineses que pretendem ter filhos concorda com a segunda perspectiva – que nomes devem ser elegantes, auspiciosos e, se possível, únicos.

A polícia de Guangdong, província que fica no sul da China, tem oferecido ajuda àqueles que querem dar a seus filhos nomes fora do ordinário. O escritório de Segurança Pública da cidade lançou uma nova plataforma no Wechat (aplicativo chinês de mensagens instantâneas) que, entre os serviços disponíveis, oferece uma função que permite checar quantos residentes da província têm o mesmo nome.

Diferentemente de muitas culturas, a maioria dos chineses não costuma reciclar nomes já usados em suas famílias. Ainda assim, encontrar um nome único em uma população de 1,3 bilhão de pessoas pode ser uma tarefa difícil. Apenas em 2014, por volta de 290 mil recém-nascidos – o equivalente à população da Islândia – foram registrados com o nome Zhang Wei, o mais usado naquele ano.

Não raro, nomes populares refletem os valores do momento em que foram escolhidos. Atualmente, além de nomear tradições transmitidas por intermédio de diferentes gerações, jovens pais buscam diversificar as fontes de inspiração, que podem ir da literatura antiga à cultura popular.

Sixth Tone, uma publicação on-line focada na China contemporânea, analisou a arte de criar nomes ao longo dos anos.  

A arte dos nomes2

1. PARENTESCO E LINHAGEM

Na tradição agrária chinesa, o clã que compartilha um sobrenome transmitido de pai para filho tem nomes pré-designados para cada geração. Um ancião respeitado escreve um verso com desejos para o futuro daquele clã, e cada nova geração usará em seu nome o próximo caractere da frase. Por exemplo, caso o caractere Zhi seja atribuído a uma geração da família Li, haverá nomes que incluirão esse símbolo, como Li Zhiqiang e Li Zhiming.

Em alguns casos, a prática só se aplica a meninos; em outras famílias, a regra é aplicada a todas as crianças.

O costume não permite que membros de uma família identifiquem a que geração eles pertencem – mesmo quando um tio é mais novo que seu sobrinho. No entanto, atualmente, a tradição foi rompida em diversas famílias, já que muitos a enxergam como antiquada.

2 – UM SINAL DOS TEMPOS

Muitos chineses dão a seus filhos nomes inspirados em eventos históricos. Meninos nascidos depois que a República Popular da China foi estabelecida, em 1949, geralmente têm nomes como Jianguo, que significa “a fundação de uma nação”. Durante a Guerra da Coreia, muitos rapazes foram nomeados Yuanchao, algo como “ajudando a Coreia do Norte”. Já aqueles nascidos em 1º de outubro, Dia Nacional da China, com frequência recebem o nome Guoqing, palavra chinesa que significa celebração.

Um exemplo muito conhecido é o do vocalista da banda T F Boys, :Yi Yangqianxi. Yi nasceu no ano 2000 e recebeu um pré nome com três caracteres – que significa milênio -, enquanto a maioria dos nomes chineses tem um ou dois símbolos.

3 – FÉ E SUPERSTIÇÃO

Alguns pais procuram cartomantes para nomear os filhos. O taoismo acredita que, dependendo de quando uma pessoa nasceu, o corpo dela pode ser carente em um dos cinco elementos – metal, madeira, água, fogo ou terra -, o que pode ter efeitos sobre a saúde do indivíduo. Uma cartomante pode orientar os pais sobre como escolher um nome que corrija essa deficiência, usando um caractere que incorpore um dos cinco elementos. Alguns inclusive oferecem conselhos sobre quantos traços o nome da criança deverá ter.

4 – LITERATURA CLÁSSICA E CULTURA POPULAR CONTEMPORÂNEA

“Se você tiver um menininho, leia Chuci. Caso tenha uma menininha, leia Shijing.” Essa é uma crença comum entre novas gerações, cujo amor por literatura antiga é parte de uma ampla retomada do interesse pela antiguidade chinesa. Celebrada como fonte de imponentes e corajosos nomes masculinos, Chuci é uma antologia de poesia patriota, escrita há mais de 2.200 anos, durante o período dos Reinos Combatentes. Shijing é ainda mais antiga. Essa coleção de poesia chinesa do século XI ao VII a.C. inclui poemas sobre amor que muitos consideram boas fontes de nomes românticos para meninas. Já alguns procuram por uma musa nos programas de televisão. Depois que a série Scarlet heart tornou-se um sucesso, em 2011, muitos nomearam suas filhas de Ruoxi, inspirados pela heroína do programa.

5. O PAPEL DO GÊNERO

Nomes revelam as expectativas que pais nutrem sobre o futuro de seus filhos, e muitos desses desejos incluem o gênero da criança. Além de inspirados em canções de guerra para os nomes dos rapazes e em poemas para os das moças, muitos meninos têm o nome Song, que significa pinheiro, uma árvore que simboliza coragem e perseverança. Já o nome das meninas em geral inclui Feng, que significa fênix, representando uma rainha. Famílias que esperam ter filhos homens por vezes nomeiam suas filhas Zhaodi, algo como “acenando para um irmãozinho”.

Embora valores tradicionais ainda afetem a escolha de nomes, binarismos de gênero começam a perder força. Em vez de usar caracteres que incorporam conceitos de masculinidade e feminilidade, alguns pais escolhem nomes unissex, como Chenxi, “sol da manhã”, em referência ao desejo de ter um filho brilhante. Com a política dos dois filhos também é possível ver um número maior de crianças que recebem o sobrenome da mãe.

6. QUE O COMPUTADOR DECIDA

A tecnologia também interfere. Em vez de bateram cabeça atrás do nome perfeito, pais recorrem à internet. Em alguns sites, usuários podem colocar seus sobrenomes, a data prevista para o parto e outros poucos requisitos para ter uma sugestão de nome em minutos. Existem programas supostamente capazes de avaliar como o nome pode ajudar a criança no futuro – uma versão moderna e algorítmica das cartomantes taoistas.

Culturas estrangeiras também moldam características chinesas, com pais escolhendo nomes femininos como Anqi, algo perto da palavra “anjo”.

Mas a criatividade tem limite: para ter uma identidade nacional, todos os cidadãos devem registrar um nome em caracteres chineses (ou caracteres Han. Aqueles cuja língua materna é outra devem traduzir seus nomes. Em 2012, uma estudante do centro de Hunan, uma província chinesa, foi forçada a mudar de nome porque a polícia se recusava a aceitá-lo. Inspirado por Ah Q, um caractere do escritor modernista Lu Xun, o pai da jovem a nomeou de “A”.

A arte dos nomes3

GESTÃO E CARREIRA

10 COMPORTAMENTOS INADEQUADOS PARA UM LÍDER

Veja as atitudes mais negativas dos líderes que podem acabar com a credibilidade, causando uma péssima imagem com os colaboradores.

10 comportamentos inadequador para um líder

Quando todos estão com problemas na empresa, o primeiro a ser procurado é o líder. Quando é necessária uma tomada de decisão, é o líder que toma a frente. Ele é aquele que motiva, inspira e leva o time rumo à vitória. Mas, do mesmo jeito que pode ser a peça-chave em uma empresa, em outras é ele também que pode colocar tudo a perder, dependendo da sua com­ postura no dia a dia.

Afinal, quem quer um líder arrogante, despreparado e cheio de comportamentos inadequados? A seguir, listamos dez condutas negativas de um líder no ambiente de trabalho que podem prejudicar a sua imagem no mercado, especialmente com os colaboradores.

1 – NÃO TER NADA A CONTRIBUIR

O líder tem um papel importante, de ser alguém que inspira e motiva. No entanto, segundo a consultora da GC-5 Soluções Corporativas e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vera Cavalcanti, esse papel está relacionado à necessidade de ser exemplo para seus funcionários, que devem ver no líder alguém em quem possam confiar e com quem tenham vontade de trabalhar, contribuir e dar o melhor de si. “Nesse sentido, o maior erro do líder é não ser alguém que valha a pena seguir, estar perto para aprender e crescer”, afirma.

2 -NÃO SER O EXEMPLO

Façam o que eu falo, mas não o que eu faço. Para o líder, essa frase jamais terá valia. De acordo com a especialista em Gestão Estratégica da Sociedade de Advogados do Cers Corporativo e autora de oito livros, Lara Selem, a melhor liderança é pelo exemplo, isso fortalece a confiança dos liderados no líder e motiva demais! Em contrapartida, Vera Cavalcanti diz que um importante atributo do Líder para isso é a credibilidade, que não se consegue por meio de palavras ou do dom da oratória, mas sim por meio das atitudes. “Gosto muito da reflexão que diz ‘o que você é ecoa tão forte em meus ouvidos que eu mal consigo ouvir o que você diz’. Acreditamos primeiro no mensageiro para depois acreditar na mensagem, ou seja, primeiro acreditamos em quem fala e depois o que ele fala. A coerência entre o verbo e a ação é essencial para garantir a credibilidade e, consequente ­ mente, o respeito, a admiração e o exemplo”, pontua.

3 – LIDERAR APENAS POR INTUIÇÃO

A liderança não é matemática, e, por lidarmos com pessoas, uma dose de intuição ou “feeling’ é necessária. No entanto, Lara Selem diz que não é recomendado o líder só liderar pela intuição. “Liderança pode ser aprendida, existem técnicas que ajudam no processo e precisam ser utilizadas em conjunto com a intuição”, aponta.

Vera Cavalcanti explica ainda que pela própria compreensão desse contexto organizacional complexo de hoje, ágil e competitivo, a visão contemporânea da teoria gerencial parte da ideia de que não existem etapas previsíveis e predeterminadas para as ações estratégicas na organização. Mas o líder que tomar decisões através de um processo intuitivo, em grande parte inconsciente, deverá, no entanto, estar baseado na reflexão constante, no hábito e na experiência adquirida, não só no trato de dados objetivos, como também na percepção de oportunidades temporal e política.

4 – TENTAR IMPOR MEDO

Na opinião da professora da FGV, os líderes “carrascos”, embora existam, não terão vida longa. Alguns indicadores, como alto turnover, faltas, desmotivação, baixa produtividade, entre outros, vêm demonstrando que esse estilo de liderança não é mais sustentável. “Temos percebido a mudança na relação de trabalho em que os ‘chefes’ vêm percebendo a necessidade de abandonar a postura tradicional de mando para assumirem uma postura educadora que valoriza a ação transformadora do homem ao invés de aprisioná-lo em suas potencialidades. Estamos cada vez mais falando do líder coach. Entretanto, a ação de deixar de dirigir para influenciar é uma grande mudança para quem passou anos dizendo às pessoas o que fazer, afirma.

Por isso, Lara Selem explica que o líder não deve fazer com que a equipe tenha medo, mas sim respeito. “O medo é péssimo, pois as pessoas tenderão a querer esconder os erros, o que pode ser fatal para a organização. Respeito é conquistado com clareza de expectativas, promessas cumpridas, feedbacks constantes, sinceridade respeitosa do líder”, argumenta.

Vera compartilha da mesma opinião dizendo que “sem dúvida o respeito promove relações saudáveis e maduras, enquanto o medo cria um clima de insatisfação e de rancor silencioso, além de gerar prejuízo para a saúde. O efeito negativo da postura do ‘carrasco’ pode ser respondido com a seguinte questão que frequentemente levanto com os alunos: dá para imaginar os custos pessoais e organizacionais quando os funcionários não empenham plenamente a paixão, o talento, a inteligência e a criatividade no trabalho que realizam? A gestão pelo medo convida você a responder quando solicitado e dar apenas aquilo que precisa, sem comprometimento genuíno”, alerta.

5 – NÃO SABER SE COMUNICAR

A primeira habilidade de quem pretende assumir uma equipe é saber se comunicar, diz Lara Selem. “Seja falando ou escrevendo, o líder tem que se conectar aos seus liderados”, afirma.

A comunicação é a força motriz que promove a interação e o entendimento entre os homens. Para o líder, a comunicação desempenha o importante papel de disseminar a missão, visão e valores da organização, assim como levar o funcionário a conhecer para onde vai a organização e como ela pretende ocupar o lugar no mundo corporativo. “Por meio da construção da visão compartilhada com os funcionários sobre o papel de cada um para o alcance das metas e objetivos organizacionais, o funcionário passa a entender e a se comprometer com o seu papel no contexto maior da organização”, explica Vera.

Ela diz que a comunicação assim entendida leva o líder a perceber que seu papel é traduzir a trajetória organizacional em diretrizes, visões em práticas e propósitos em processos. Ao comunicar a visão do negócio à sua equipe, ele envolve pessoas, dando a elas norte e sentido de trabalho. A visão torna-se assim um elemento motivador, além de atuar como critério de seleção para alocação de esforços, filtrar as informações relevantes e disciplinar as ações de modo a canalizar todos os esforços na mesma direção, ampliando a responsabilidade individual e coletiva.

6 – FALTA DE CONFIANÇA NA EQUIPE

Não há trabalho de equipe sem confiança, sem senso de pertencimento, sem compromisso com as metas e objetivos. “Claro que confiança se conquista, tanto de um lado quanto de outro. A dose de confiança deve ser dada gradualmente até que se atinja um nível adequado à função que seja possível alguma autonomia”, afirma Lara.

Vera Cavalcanti diz que confiar é importante, e no âmbito do trabalho a confiança implica um processo de construção da maturidade para gerar autonomia nas pessoas. “Eu só posso confiar no funcionário ou na equipe quando eles estiverem preparados para caminhar sozinhos e demonstrarem competência para tomar decisões responsáveis. Mas a liderança situacional traz uma base interessante de conhecimento que o líder deve dominar para saber identificar o grau de desenvolvimento de cada funcionário. Alguns têm maior autonomia para a execução de suas tarefas (conhecimentos, habilidades), mas podem não ter a mesma competência interpessoal para relacionamentos”, explica.

No entanto, ela completa que cada situação requer do líder diferentes abordagens, todas levando ao mesmo objetivo: capacitar os funcionários para se tornarem autônomos, a quem então o líder pode delegar e confiar. “Assim, ele erra quando confia sem preparar e acerta quando prepara pessoas para assumir sua vida e carreira”.

7 – SER PESSIMISTA AO EXTREMO

O pessimismo ou o otimismo pode fazer parte de qualquer pessoa, impactando diretamente no sucesso pessoal ou profissional. Para o líder esse impacto toma maiores proporções, pois atua diretamente no desempenho e na produtividade da equipe. “Sem dúvida um líder pessimista impactará diretamente na motivação de seus colaboradores, e sem motivação os dons mais raros permanecem estéreis, as capacidades adquiridas ficam em desuso e as técnicas mais sofisticadas sem rendimento”, reflete a professora da FGV.

A especialista em Gestão Estratégica, Lara Selem, pondera que o líder deve ser, em primeiro lugar, verdadeiro com seus liderados. “E a verdade às vezes é dura. O líder deve ter equilíbrio no tratamento das notícias e saber encontrar saída nos momentos difíceis. Sem ser pessimista demais, nem Poliana demais. A coerência de suas atitudes diante dos problemas vai motivar ainda mais a equipe a se unir para resolver”, julga.

8 – NÃO BUSCAR CRESCIMENTO PESSOAL

Segundo Lara Selem, um líder jamais pode se dar ao luxo de dizer que está tão atarefado que não tenha tempo para buscar crescimento pessoal. “Tempo é uma questão de prioridades, e o crescimento pessoal é uma prioridade na nossa vida. Aprender a gerenciar o tempo é uma das tarefas cruciais do líder em evolução”, ensina.

A competência dentro das organizações é uma condição de existência, e sua plasticidade nos alerta para a necessidade de constante atualização na nossa forma de pensar, agir e decidir. “O líder precisa ser o eterno aprendiz, aberto e comprometido com o seu autodesenvolvimento, de forma a obter melhoria contínua na realização de seu trabalho e de seu crescimento pessoal. Não basta ser um especialista no que faz, é preciso também integrar competência interpessoal e eficácia pessoal. Torna-se importante buscar meios adequados para adquirir novos conhecimentos e experiências, manter-se atualizado e atento às oportunidades no seu campo de atuação, assim como mostrar-se receptivo a críticas construtivas, orientações e agir para superação de suas dificuldades e carências”, indica Vera.

A professora diz ainda que o crescimento pessoal é condição de sobrevivência na vida pessoal e profissional e abre caminho para que os líderes desenvolvam uma expressão pessoal da liderança baseada na autenticidade, integridade e ética.

9 – SER ARROGANTE

Na opinião de Lara Selem, a arrogância é câncer no trabalho de equipe e destrói a confiança na liderança, levando o líder ao fracasso. “Esse tipo de comportamento gera na equipe um descomprometimento com as ideias do líder, e só por isso já é péssimo para todos”, afirma.

Esse jamais será um comportamento construtivo e, em geral, se encontra nos perfis centralizadores e críticos. “Os líderes com essa característica tendem a ser autorreferentes, pouco abertos para sugestões ou opiniões e têm dificuldade para delegar, pois acreditam que ninguém fará tão bem quanto eles”, aponta Vera Cavalcanti.

Ela diz que sem dúvida ainda encontramos líderes/gestores apegados à chamada “era do insubstituível”, na qual se percebiam como os únicos capazes de resolver todos os problemas e encontrar as melhores soluções para a organização. O resultado dessa postura é a ineficácia gerencial. Nesse caso as características positivas do líder entram em uma esfera negativa de atuação, comprometendo o alcance de resultados com pessoas.

10 – FALTA DE CRIATIVIDADE

À medida que as organizações buscam tornar-se cada vez mais receptivas às mudanças contínuas do ambiente competitivo e às necessidades dos clientes e do mercado, buscam também alternativas mais eficazes para gerir seus negócios e pessoas; a necessidade de renovação e a criatividade é uma constante no mundo dos negócios e na vida das pessoas. “Todas as pessoas têm potencial criativo, para o líder a sua utilização é fundamental, pois as transformações que se fazem necessárias às organizações exigem flexibilidade e adaptação”, compreende Vera.

No entanto, ela diz que mais do que líderes criativos, as organizações precisam de pessoas criativas voltadas ao comprometimento com o empreendedorismo, inovação e com os resultados organizacionais capazes de trazer o diferencial competitivo para o mercado.

Então ela dá a dica: Criatividade se treina como os músculos. “Se você começa a explorar formas diferentes de olhar uma  situação, de conceber  um produto  ou  processo  de  trabalho, se você se  arrisca a levantar hipóteses que considerava inviáveis ou ridículas, de início sente dificuldade, mas à medida que pratica, o pensamento se torna fluido e a criatividade vem à tona. Não se pode abrir mão da flexibilidade mental do líder, essencial para lidar em ambientes complexos onde exista ambiguidade, contradições e paradoxos e estar aberto a novas maneiras de compreender e solucionar problemas, desafios e oportunidades. É fundamental a disposição para a curiosidade e principalmente a disposição e talento para inspirar pessoas no processo da criatividade”, finaliza.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE IV

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Predições Terríveis

VII – O Senhor Jesus lhes prediz a repentina propagação do Evangelho no mundo, próxima a essa época de grandes eventos (vv. 27,28): “Assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem”. Isto surge aqui como um antídoto contra o veneno desses enganadores, que diziam: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”; compare com Lucas 17.23,24: “Não vades, nem os sigais, porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do Homem no seu dia”.

1. Isto parece, primeiramente, referir-se à sua vinda para estabelecer o seu reino espiritual no mundo. Onde o Evangelho veio com a sua luz e o seu poder, ali veio o Filho do Homem, e de uma maneira bastante contrária à dos enganadores e falsos Cristos, que vinham se infiltrando no deserto, ou nas casas (2 Timóteo 3.6). Cristo vem, não com “espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”. O Evangelho seria notável por duas coisas:

(1) A sua rápida pregação. Ele voará como o relâmpago; assim o Evangelho será pregado e propagado. O Evangelho é luz (João 3.19), e neste aspecto, não é como o relâmpago, que é um brilho repentino, e já se vai, pois ele é a luz do sol, e a luz do dia; mas é como o relâmpago nos seguintes aspectos:

[1] É uma luz vinda do céu, como o relâmpago. É Deus, e não o homem, que envia os relâmpagos, e os comanda, para que possam ir e dizer: “Eis-nos aqui” (Jó 38.35). E Deus que os envia (Jó 37.3). Para o homem, é um dos milagres da natureza, acima do seu poder de realização, e um dos mistérios da natureza, acima da sua capacidade de compreender. O relâmpago vem do céu. “Os seus relâmpagos alumiam o mundo” (SI 97.4).

[2] É visível e evidente, como o relâmpago. Os enganadores mantinham as. suas profundezas com Satanás no deserto e nas casas, afastando a luz. Os hereges eram chamados de lucifugae os que evitam a luz. Mas a verdade não procura os cantos, embora algumas vezes possa ser forçada a ir até eles, como a mulher no deserto, embora “vestida do sol” (Apocalipse 12.1,6). Cristo pregava o seu Evangelho abertamente (João 18.20), e os seus apóstolos, “sobre os telhados” (cap. 10.27), não “em qualquer canto” (Atos 26.26). Veja Salmos 98.2.

[3] O Evangelho foi repentino e surpreendeu o mundo, como o relâmpago. Os judeus realmente tinham tido predições sobre ele, mas para os gentios ele foi completamente inesperado, e veio sobre eles com uma energia incalculável, por mais prevenidos que estivessem. Foi uma luz vinda das trevas (cap. 4.16; 2 Coríntios 4.6). Nós lemos sobre as armas sendo dissipadas pelos raios (2 Samuel 22.15; Salmos 144.6). Os poderes das trevas foram dissipados e vencidos pelo relâmpago do Evangelho.

[4] Ele se propaga por todos os lugares, e de maneira rápida e irresistível, como o relâmpago, que surge, supõe-se, do leste (está escrito que Cristo sobe “da banda do sol nascente”, ou seja, do leste, Apocalipse 7.2; Isaias 41.2), em direção ao oeste. A propagação do cristianismo a tantos países distantes, de diversas línguas, com instrumentos tão improváveis, destituído de todas as vantagens seculares, e enfrentando tanta oposição, e em tão pouco tempo, foi um dos maiores milagres que já se realizou para a sua confirmação. Aqui estava Cristo sobre o seu cavalo branco, sugerindo rapidez, além de força, e prosseguindo, “saiu vitorioso e para vencer” (Apocalipse 6.2). A luz do Evangelho nasceu com o sol e prosseguiu com ele, para que os seus raios chegassem “aos confins do mundo” (Romanos 10.18). Compare com Salmos 19.3,4. Embora ele fosse combatido, ele nunca poderia ficar confinado a um deserto, ou a uma casa, como estavam os enganadores; mas dessa maneira, de acordo com o que disse Gamaliel, provou que era de Deus, que não poderia ser desfeito (Atos 5.38,39). Cristo fala de mostrar-se até o ocidente, por­ que ele se propagou mais efetivamente naqueles países que estão ao oeste de Jerusalém, como observa o Sr. Herbert, na sua igreja militante. Com que rapidez a luz do Evangelho alcançou a ilha da Grã-Bretanha! Tertuliano, que escreveu no século II, observa isto:  A estabilidade da Grã-Bretanha, embora inacessível aos romanos, foi ocupada por Jesus Cristo. Esta foi uma obra do Senhor.

(2) Outra coisa notável a respeito do Evangelho era o seu estranho sucesso naqueles lugares onde ele se propagou. Ele reunia multidões, não por nenhuma compulsão externa, mas como se fosse por um instinto, uma tendência natural, como a que traz as aves de rapina às suas presas, “pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (v. 28), e onde Cristo é pregado, as almas se reúnem para ouvir. Alguém poderia pensar que a ascensão de Cristo, deixando a terra, e a pregação do Cristo crucificado deveriam afastar todos os homens do Senhor. Porém, ocorrerá o contrário. Ele atrairá todos a si (João 12.32), de acordo com a profecia de Jacó, “e a ele se congregarão os povos” (Genesis 49.10). Veja Isaias 60.8. As águias estarão onde o cadáver estiver, pois ele é alimento para elas, é um banquete para elas; “onde há mortos, ela aí está” (Jó 39.30). Sabe-se que as águias possuem uma estranha astúcia e prontidão de olfato para encontrar a presa, e se lançam a ela rapidamente (Jó 9.26). Assim, aqueles cujos espíritos Deus estimula serão efetivamente atraídos a Jesus Cristo, para se alimentarem dele. Para onde deve ir a águia, a não ser para a presa? Para onde deve ir a alma, a não ser para Jesus Cristo, que tem “as palavras de vida eterna”? As águias irão distinguir o que é adequado para elas daquilo que não o é; assim também, aqueles que têm os sentidos espirituais treinados, irão diferenciar a voz do bom Pastor daquela de um malfeitor ou ladrão. Os santos estarão onde o Cristo verdadeiro está, e não onde estão os falsos Cristos. Isto se aplica ao desejo pela presença de Cristo e pela comunhão com Ele, que estão em cada alma. Onde Ele estiver, em suas atividades, ali os seus servos deverão decidir ficar. Um princípio vivo de graça é um tipo de instinto natural que está em todos os santos, e que os atrai a Cristo para que se alimentem dele.

2. Alguns interpretam esses versículos como referindo-se a vinda do Filho do Homem para destruir Jerusalém (Malaquias 3.1,2,5). Naquele evento, houve uma exibição tão extraordinária de poder e justiça divinos, que ele é chamado de vinda de Cristo.

Aqui se sugerem duas coisas a este respeito:

(1)  Que para a maioria das pessoas isso seria tão inesperado como um relâmpago, que, na verdade, avisa do trovão que o segue, mas é surpreendente por si só. Os enganadores dizem: “Eis que o Cristo está aqui”, para nos libertar; ou: Ele está ali, como se fosse um ser criado pelos seus próprios caprichos. Mas antes que eles se deem conta, a ira do Cordeiro, o Cristo verdadeiro, os prenderá, e eles não conseguirão escapar.

(2)  Que isso pode ser tão esperado quanto o voo da águia até os cadáveres. Embora eles se afastem do dia do mal, ainda assim a desolação virá tão certamente quanto as aves de rapina voam até um cadáve1 que está exposto, em campo aberto.

[1] Os judeus eram tão corruptos e degenerados, tão vis e maldosos, que tinham se tornado um cadáver, detestáveis ao justo julgamento de Deus; eles também eram tão facciosos e sediciosos, e provocavam tanto os romanos, de tantas maneiras, que eles tinham se tornado ofensivos aos seus rancores, e eram uma presa convidativa para eles.

[2] Os romanos eram como uma águia, e a insígnia dos seus exércitos era uma águia. Diz-se que o exército dos caldeus voou “como águias que se apressam à comida” (Habacuque 1.8). A destruição da Babilônia do Novo Testamento é representada por um chamado às aves de rapina, para que comessem e se banqueteassem da carne dos mortos (Apocalipse 19.17,18). Conhecidos malfeitores terão os seus olhos devorados pelos “pintãos da águia” (Provérbios 30.17); os judeus serão presos, mortos e não serão sepultados (Jeremias 7.33; 16.4).

[3] Os judeus não poderão se proteger dos romanos, assim como um cadáver não pode se proteger das águias.

[4] A destruição encontrará os judeus onde eles estiverem, da mesma maneira como as águias sentem o odor da sua presa. Note que quando um povo, pelo seu pecado, se transforma em cadáver, pútrido e repulsivo, nada se pode esperar, exceto que Deus envie águias, para devorá-lo e destruí-lo.

3. Isso é bastante aplicável ao dia do juízo, à vinda do nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia, e à “nossa reunião com Ele” (2 Tessalonicenses 2.1). Veja aqui:

(1)  Como Ele virá: “Como o relâmpago”. Já era chegada a sua hora de passar “deste mundo para o Pai”. Por isso, aqueles que procuram Cristo não devem ir ao deserto, nem ao interior das casas, nem ouvir a qualquer pessoa que faça um sinal com o dedo, convidando-os a uma visão de Cristo; mas devem olhar para cima, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador” (Filipenses 3.20). Ele virá “com as nuvens”, como faz o relâmpago, “e todo olho o verá”, pois se diz que é natural que todas as criaturas vivas voltem os seus rostos em direção ao relâmpago (Apocalipse 1.7). Cristo irá aparecer para todo o mundo, de uma extremidade do céu até a outra; nada poderá se esconder da luz e do calor daquele dia.

(2)  Como os santos se reunirão a Ele. Da mesma maneira como as águias se aproximam do cadáver, por instinto natural e com a maior rapidez e diligência imagináveis. Os santos, quando forem levados até a glória, serão  VII – O Senhor Jesus lhes prediz a repentina propagação do Evangelho no mundo, próxima a essa época de grandes eventos (vv. 27,28): “Assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem”. Isto surge aqui como um antídoto contra o veneno desses enganadores, que diziam: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”; compare com Lucas 17.23,24: “Não vades, nem os sigais, porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do Homem no seu dia”.

4. Isto parece, primeiramente, referir-se à sua vinda para estabelecer o seu reino espiritual no mundo. Onde o Evangelho veio com a sua luz e o seu poder, ali veio o Filho do Homem, e de uma maneira bastante contrária à dos enganadores e falsos Cristos, que vinham se infiltrando no deserto, ou nas casas (2 Timóteo 3.6). Cristo vem, não com “espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”. O Evangelho seria notável por duas coisas:

(1) A sua rápida pregação. Ele voará como o relâmpago; assim o Evangelho será pregado e propagado. O Evangelho é luz (João 3.19), e neste aspecto, não é como o relâmpago, que é um brilho repentino, e já se vai, pois ele é a luz do sol, e a luz do dia; mas é como o relâmpago nos seguintes aspectos:

[1] É uma luz vinda do céu, como o relâmpago. É Deus, e não o homem, que envia os relâmpagos, e os comanda, para que possam ir e dizer: “Eis-nos aqui” (Jó 38.35). E Deus que os envia (Jó 37.3). Para o homem, é um dos milagres da natureza, acima do seu poder de realização, e um dos mistérios da natureza, acima da sua capacidade de compreender. O relâmpago vem do céu. “Os seus relâmpagos alumiam o mundo” (SI 97.4).

[2] É visível e evidente, como o relâmpago. Os enganadores mantinham as. suas profundezas com Satanás no deserto e nas casas, afastando a luz. Os hereges eram chamados de lucifugae os que evitam a luz. Mas a verdade não procura os cantos, embora algumas vezes possa ser forçada a ir até eles, como a mulher no deserto, embora “vestida do sol” (Apocalipse 12.1,6). Cristo pregava o seu Evangelho abertamente (João 18.20), e os seus apóstolos, “sobre os telhados” (cap. 10.27), não “em qualquer canto” (Atos 26.26). Veja Salmos 98.2.

[3] O Evangelho foi repentino e surpreendeu o mundo, como o relâmpago. Os judeus realmente tinham tido predições sobre ele, mas para os gentios ele foi completamente inesperado, e veio sobre eles com uma energia incalculável, por mais prevenidos que estivessem. Foi uma luz vinda das trevas (cap. 4.16; 2 Coríntios 4.6). Nós lemos sobre as armas sendo dissipadas pelos raios (2 Samuel 22.15; Salmos 144.6). Os poderes das trevas foram dissipados e vencidos pelo relâmpago do Evangelho.

[4] Ele se propaga por todos os lugares, e de maneira rápida e irresistível, como o relâmpago, que surge, supõe-se, do leste (está escrito que Cristo sobe “da banda do sol nascente”, ou seja, do leste, Apocalipse 7.2; Isaias 41.2), em direção ao oeste. A propagação do cristianismo a tantos países distantes, de diversas línguas, com instrumentos tão improváveis, destituído de todas as vantagens seculares, e enfrentando tanta oposição, e em tão pouco tempo, foi um dos maiores milagres que já se realizou para a sua confirmação. Aqui estava Cristo sobre o seu cavalo branco, sugerindo rapidez, além de força, e prosseguindo, “saiu vitorioso e para vencer” (Apocalipse 6.2). A luz do Evangelho nasceu com o sol e prosseguiu com ele, para que os seus raios chegassem “aos confins do mundo” (Romanos 10.18). Compare com Salmos 19.3,4. Embora ele fosse combatido, ele nunca poderia ficar confinado a um deserto, ou a uma casa, como estavam os enganadores; mas dessa maneira, de acordo com o que disse Gamaliel, provou que era de Deus, que não poderia ser desfeito (Atos 5.38,39). Cristo fala de mostrar-se até o ocidente, por­ que ele se propagou mais efetivamente naqueles países que estão ao oeste de Jerusalém, como observa o Sr. Herbert, na sua igreja militante. Com que rapidez a luz do Evangelho alcançou a ilha da Grã-Bretanha! Tertuliano, que escreveu no século II, observa isto:  A estabilidade da Grã-Bretanha, embora inacessível aos romanos, foi ocupada por Jesus Cristo. Esta foi uma obra do Senhor.

(2) Outra coisa notável a respeito do Evangelho era o seu estranho sucesso naqueles lugares onde ele se propagou. Ele reunia multidões, não por nenhuma compulsão externa, mas como se fosse por um instinto, uma tendência natural, como a que traz as aves de rapina às suas presas, “pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (v. 28), e onde Cristo é pregado, as almas se reúnem para ouvir. Alguém poderia pensar que a ascensão de Cristo, deixando a terra, e a pregação do Cristo crucificado deveriam afastar todos os homens do Senhor. Porém, ocorrerá o contrário. Ele atrairá todos a si (João 12.32), de acordo com a profecia de Jacó, “e a ele se congregarão os povos” (Genesis 49.10). Veja Isaias 60.8. As águias estarão onde o cadáver estiver, pois ele é alimento para elas, é um banquete para elas; “onde há mortos, ela aí está” (Jó 39.30). Sabe-se que as águias possuem uma estranha astúcia e prontidão de olfato para encontrar a presa, e se lançam a ela rapidamente (Jó 9.26). Assim, aqueles cujos espíritos Deus estimula serão efetivamente atraídos a Jesus Cristo, para se alimentarem dele. Para onde deve ir a águia, a não ser para a presa? Para onde deve ir a alma, a não ser para Jesus Cristo, que tem “as palavras de vida eterna”? As águias irão distinguir o que é adequado para elas daquilo que não o é; assim também, aqueles que têm os sentidos espirituais treinados, irão diferenciar a voz do bom Pastor daquela de um malfeitor ou ladrão. Os santos estarão onde o Cristo verdadeiro está, e não onde estão os falsos Cristos. Isto se aplica ao desejo pela presença de Cristo e pela comunhão com Ele, que estão em cada alma. Onde Ele estiver, em suas atividades, ali os seus servos deverão decidir ficar. Um princípio vivo de graça é um tipo de instinto natural que está em todos os santos, e que os atrai a Cristo para que se alimentem dele.

5. Alguns interpretam esses versículos como referindo-se a vinda do Filho do Homem para destruir Jerusalém (Malaquias 3.1,2,5). Naquele evento, houve uma exibição tão extraordinária de poder e justiça divinos, que ele é chamado de vinda de Cristo.

Aqui se sugerem duas coisas a este respeito:

(1)  Que para a maioria das pessoas isso seria tão inesperado como um relâmpago, que, na verdade, avisa do trovão que o segue, mas é surpreendente por si só. Os enganadores dizem: “Eis que o Cristo está aqui”, para nos libertar; ou: Ele está ali, como se fosse um ser criado pelos seus próprios caprichos. Mas antes que eles se deem conta, a ira do Cordeiro, o Cristo verdadeiro, os prenderá, e eles não conseguirão escapar.

(2)  Que isso pode ser tão esperado quanto o voo da águia até os cadáveres. Embora eles se afastem do dia do mal, ainda assim a desolação virá tão certamente quanto as aves de rapina voam até um cadáve1 que está exposto, em campo aberto.

[1] Os judeus eram tão corruptos e degenerados, tão vis e maldosos, que tinham se tornado um cadáver, detestáveis ao justo julgamento de Deus; eles também eram tão facciosos e sediciosos, e provocavam tanto os romanos, de tantas maneiras, que eles tinham se tornado ofensivos aos seus rancores, e eram uma presa convidativa para eles.

[2] Os romanos eram como uma águia, e a insígnia dos seus exércitos era uma águia. Diz-se que o exército dos caldeus voou “como águias que se apressam à comida” (Habacuque 1.8). A destruição da Babilônia do Novo Testamento é representada por um chamado às aves de rapina, para que comessem e se banqueteassem da carne dos mortos (Apocalipse 19.17,18). Conhecidos malfeitores terão os seus olhos devorados pelos “pintãos da águia” (Provérbios 30.17); os judeus serão presos, mortos e não serão sepultados (Jeremias 7.33; 16.4).

[3] Os judeus não poderão se proteger dos romanos, assim como um cadáver não pode se proteger das águias.

[4] A destruição encontrará os judeus onde eles estiverem, da mesma maneira como as águias sentem o odor da sua presa. Note que quando um povo, pelo seu pecado, se transforma em cadáver, pútrido e repulsivo, nada se pode esperar, exceto que Deus envie águias, para devorá-lo e destruí-lo.

6. Isso é bastante aplicável ao dia do juízo, à vinda do nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia, e à “nossa reunião com Ele” (2 Tessalonicenses 2.1). Veja aqui:

(1)  Como Ele virá: “Como o relâmpago”. Já era chegada a sua hora de passar “deste mundo para o Pai”. Por isso, aqueles que procuram Cristo não devem ir ao deserto, nem ao interior das casas, nem ouvir a qualquer pessoa que faça um sinal com o dedo, convidando-os a uma visão de Cristo; mas devem olhar para cima, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador” (Filipenses 3.20). Ele virá “com as nuvens”, como faz o relâmpago, “e todo olho o verá”, pois se diz que é natural que todas as criaturas vivas voltem os seus rostos em direção ao relâmpago (Apocalipse 1.7). Cristo irá aparecer para todo o mundo, de uma extremidade do céu até a outra; nada poderá se esconder da luz e do calor daquele dia.

(2)  Como os santos se reunirão a Ele. Da mesma maneira como as águias se aproximam do cadáver, por instinto natural e com a maior rapidez e diligência imagináveis. Os santos, quando forem levados até a glória, serão levados “sobre asas de águias” (Êxodo 19.4), e sobre asas de anjos. Eles “subirão com asas como águias”, e, como elas, renovarão a sua juventude.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A AULA DA FELICIDADE

Universidade de Yale oferece um curso que ensina a ser feliz praticando gratidão, gentileza e intimidade. Ele já é o mais procurado nos 378 anos da instituição americana.

A aula da felicidade

É certo que não existe fórmula para felicidade, mas há caminhos descritos pela ciência para melhorar o bem-estar. São eles a base do curso que começou a ser ministrado no início do ano pela psicóloga Laurie Santos na Universidade de Yale (EUA) e que rapidamente se transformou no mais procurado na história dos 378 anos da instituição. Às terças e quintas-feiras, o principal auditório da universidade lota para ouvir as lições de Laurie. “Os estudantes perceberam que a cultura do estresse, do excesso de trabalho, é muito nociva”, disse a psicóloga. “Isso explica a procura além do que esperávamos.”

As aulas ensinam que a felicidade tem menos a ver com circunstâncias da vida, como receber um bom salário, e mais com a prática cotidiana de ações que se mostraram cientificamente eficazes. Coisas como aumentar as conexões sociais, lembrar-se dos aspectos bons da sua vida, dormir oito horas por noite, meditar e se exercitar. ”Não basta identificarmos o que nos faz felizes. É preciso praticar. Caso contrário, nada muda”, diz Laurie.

No curso, os alunos conhecem as alterações cerebrais promovidas pela sensação de bem-estar e de que maneira são processadas a partir de ações diárias. Com a consistência científica por trás dos dados, fica mais fácil aos frequentadores compreenderem de que maneira o comportamento influencia o funcionamento cerebral e vice-versa. “Entendi de que forma a cognição humana guia a maneira como nos sentimos”, afirma o paulistano Davi Lemos da Silva, 21 anos, matriculado nas faculdades de Ciências da Computação e de Psicologia. “Temos mitos em relação ao que achamos que nos fará felizes, como dinheiro, casamento. Na verdade, é a gentileza, gratidão, saúde, senso de comunidade, intimidade.”

LIÇÃO DE CASA

Os alunos devem listar diariamente cinco coisas boas que aconteceram no dia “Não deixo de fazer isso”, diz o português João Cardoso, 18 anos. Aluno de Astrofísica, ele aprendeu o quanto fazer novos amigos é importante. Seguindo as orientações das aulas, descobriu uma ótima companhia na colega Julia Sanderson, estudante de Economia. “Eu a conheci às cinco da manhã, na lavanderia. Tornou-se uma grande companheira”, diz.

OUTROS OLHARES

MUDANÇAS NECESSÁRIAS

A cada etapa da vida dos filhos, a família precisa se reciclar

Mudanças necessárias

Será que existe um modelo estável de família, ou ela se transforma à medida que os filhos nascem e, depois, crescem? Em tempos em que muitos pais e mães tentam entender os mais diversos comportamentos dos filhos, em todas as etapas da vida deles, é bom pensar sobre como a dinâmica familiar influencia, para o bem e para o mal, o desenvolvimento dos mais novos.

Uma família sempre começa com a reunião de, pelo menos, duas pessoas, e elas podem ser pares da mesma geração, ou um adulto e uma criança. Temos, na atualidade, muitas “mães-solo”, a nova expressão usada e mais aceita, e alguns “pais-solo” também, mas em menor número. Para que essa reunião de pessoas se torne um grupo familiar, cada um deve assumir o seu lugar, tanto geracional quanto no grupo.

Isso significa que o adulto precisa se comportar como adulto, a mãe como mãe e o pai como pai, independentemente de o casal estar junto ou não. A criança deve ter o direito à infância, de se comportar como criança. O adolescente, por sua vez, precisa assumir aos poucos a responsabilidade por sua vida –  ainda sob a tutela dos pais –  , ser reconhecido e acolhido como alguém que está em construção e transformação constantes e ter a oportunidade de aprender, na prática, que ser integrante de uma família acarreta compromissos.

Tudo isso exige que os vínculos entre os adultos e os mais novos sejam construídos e mantidos o tempo todo. Sabemos, por exemplo, que pais que têm bebê em casa perdem o sono por um motivo bem diferente do daqueles que têm filho adolescente, que já gosta de frequentar reuniões e festas noturnas. Os primeiros se cansam, os segundos se angustiam.

Os vínculos familiares dos pais com os filhos pequenos são de um tipo, expressam-se de determinadas maneiras, mas o crescimento dos filhos faz com que esses vínculos se transformem, ou seja, se expressem de outras maneiras. Quer saber como? Filhos pequenos adoram colo, mimo, beijar e abraçar, mas, já no início da segunda parte da infância, costumam sinalizara os pais que insistem nesses comportamentos: “menos, mãe, menos, pai, por favor!”. É ou não é? Os pais precisam, portanto, aprender a comunicar sua amorosidade pelos filhos de outras maneiras.

E aí está: a cada etapa da vida dos filhos, a família precisa mudar, adaptar-se, reciclar-se. Há famílias que insistem em permanecer do mesmo jeito como se construíram em sua origem e, muitas vezes, esse é um dos motivos do grande desconforto que os filhos – principalmente os adolescentes – experimentam quando estão com a família.

Não é a família em si que o jovem recusa com os comportamentos que expressa; é a família que insiste em permanecer a mesma desde quando ele era criança. Como ele já não é mais uma criança, não consegue identificar o seu lugar no grupo: sente-se, desse modo, excluído da panelinha. Mudança não produz instabilidade; provoca, sim, crescimento, adaptação, maturidade. Evitar mudanças não oferece segurança. Pense em sua família: ela tem se transformado na mesma medida e com a mesma velocidade com que seus filhos crescem?

GESTÃO E CAREIRA

EM BUSCA DAS REAIS COMPETÊNCIAS

Existe uma necessidade urgente de aprimoramento das habilidades para que os colaboradores possam dar o melhor de si em suas funções laborais.

Em busca das reais competências

Esse movimento do aprimoramento pode ocorrer em dois sentidos: da empresa para o funcionário ou do próprio indivíduo que busca uma melhor posição no mercado independentemente da função que ocupa atualmente.

Ocorre que muitas são as pessoas que não são capazes de vislumbrar seu real potencial e acabam por deixar de lado suas reais competências. Podemos dizer que a competência pode ser dividida em três elementos principais: o conhecimento formal que pode ser adquirido normalmente com estudo e/ ou treinamentos; saber­ fazer que está ligado às habilidades pessoais de uma pessoa e os recursos disponíveis para sua atuação; e por último saber – ser, que reflete as atitudes de uma pessoa diante das demandas apresentadas no dia a dia.

Quando não há um investimento por parte da instituição para que seus colaboradores possam melhorar ou, até mesmo, descobrir suas competências, é necessário que isso seja feito pelo próprio profissional que deseja alcançar um posicionamento melhor na empresa ou no mercado. Ocorre que as competências passaram a ser pré-requisitos exigidos por qualquer empresa atual no processo de recrutamento e seleção para suas vagas.

Diversos são os mecanismos existentes usados pelos selecionadores, que vão desde entrevistas até aplicação de dinâmicas e testes, a fim de pontuarem as competências necessárias para determinado cargo. Não saber quais são as competências pessoais e/ ou não aprimorar as que existem fazem toda diferença na hora de se candidatar a um processo seletivo.

Conheça as dez principais competências mais requeridas nos processos seletivos para a maioria dos cargos. Dessa forma você poderá analisar em quais possui melhor desempenho e em quais precisa melhorar. Vale a pena lembrar que, com um bom treinamento, tudo pode ser melhorado em um profissional. A ordem disposta não está ligada à importância de cada competência. Afinal, diferentes cargos vão exigir melhor desempenho em diferentes competências:

TRABALHO EM EQUIPE: Provavelmente a mais requerida das competências. Trabalhar em grupo requer que o indivíduo possua uma boa inteligência emocional para poder lidar com os conflitos que sempre surgem nas equipes. Administrar diferenças é o foco dessa competência.

SER LÍDER: O passo seguinte de saber trabalhar em equipe é se tornar um líder. Lembrando que existe uma diferença crucial entre ser o chefe e ser o líder. Você é uma pessoa que exerce influência no ambiente onde está inserido?

AUTO CONHECIMENTO: Um profissional necessita conhecer seus pontos fortes e frágeis da mesma forma que deve descobrir o que realmente o motiva a crescer todos os dias.

VISÃO DE NEGÓCIO: Uma certa ambição sempre é importante e, para isso, é necessário que se tenha uma visão além de sua própria área de atuação. Conhecer bem todo o sistema que o rodeia na instituição (ou mercado) para perceber as oportunidades de crescimento. Ir além do que toca e vê diariamente, abrir horizontes.

ATITUDE (O “A” DO CHA): Todos os profissionais minimamente qualificados conhecem bem o significado do CHA (conhecimentos, habilidades, atitudes). Ter atitude diante do grupo de atuação com comprometimento e ética faz toda diferença na hora de ser lembrado pelas pessoas. Ser lembrado positivamente, como um elemento de atitude, é um bom passo para o crescimento na instituição.

SER SOCIÁVEL: Não se trata de uma competência exclusiva do ambiente laboral. Hoje, ser sociável é a mola­ mestra da cultura recheada de redes sociais. Nesse ponto, saber ouvir os outros é uma habilidade que deve ser alavancada.

FOCO NA PRODUTIVIDADE: Qualquer instituição deseja que sua produtividade seja ampla e que o retorno financeiro ocorra para a manutenção de todos os processos envolvidos na produção. “Tempo é dinheiro” não é só um ditado popular, raras são as empresas que por algum motivo conseguem sobreviver no mercado com baixa produtividade.

CAPACIDADE DE SE ADAPTAR A MUDANÇAS: A resiliência é uma competência altamente solicitada para suportar as pressões internas e externas no ambiente de trabalho. Darwin nunca disse que é a espécie mais forte que sobrevive. Ele sempre afirmou que é a que melhor se adapta ao ambiente. Dessa forma, a única certeza que temos é a mudança constante do mercado. Sem capacidade de adaptabilidade não haverá um futuro para ninguém.

CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO PLENA: Em uma instituição uma falha no processo comunicacional pode gerar erros e prejuízos na produtividade, por isso, manter uma comunicação clarificada, sem dúvidas, é essencial no ambiente de trabalho.

CAPACIDADE DE CRIAR E MANTER AGENDAS: Saber lidar com prazos, ser organizado e capaz de cumprir as metas estabelecidas no tempo certo é uma competência muito bem vista e, por que não dizer, essencial para as pessoas que desejam usufruir de um crescimento na instituição. Saber se programar e criar estratégias de resolução de demandas irão colocar qualquer pessoa na direção do sucesso na vida profissional.

Assim, observando as diversas competências podemos descobrir quais devemos trabalhar para melhorar e quais as que podemos usar em prol de conseguirmos alcançar nossos objetivos. Sempre é possível aprimorar as habilidades que possuímos e aquelas que julgamos deficitárias podem ser alavancadas com treinamentos. O importante é ter consciência da real condição e usar isso como ponto de partida e nunca como uma condição finalizada.

 

JOÃO OLIVEIRA – é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br).Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções! Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional – Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida, e Saiba Quem Está à sua Frente Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE III

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Predições Terríveis

V – O Senhor prediz a pregação do Evangelho a todo o mundo (v. 14). “Este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo… e então virá o fim”. Observe aqui:

1. Ele é chamado de Evangelho do Reino, porque ele revela o reino da graça, que leva ao reino da glória; ele estabelece o reino de Cristo neste mundo; e nos assegura o outro mundo.

2. Este Evangelho, mais cedo ou mais tarde, deverá ser pregado em todo o mundo, a todas as criaturas, e todas as nações deverão ser ensinadas por ele; pois é nele que Cristo se mostra como a “salvação até aos confins da terra”. Para este fim, o dom de línguas era “as primícias do Espírito”.

3. O Evangelho será pregado “em testemunho a todas as gentes”; ou seja, ele é a declaração fiel do pensamento e da vontade de Deus a respeito do dever que Deus exige de um homem, e da recompensa que o homem pode esperar de Deus. É um “testemunho” (1 João 5.11) para aqueles que creem, de que eles serão salvos, e contra aqueles que persistem na incredulidade, de que serão condenados. Veja Marcos 16.16. Mas como esta verdade é mostrada aqui?

(1) Aqui está sugerido que era necessário que todo o mundo que se conhecia na época ouvisse a pregação do Evangelho, ou pelo menos ouvisse falar dele, antes da destruição de Jerusalém; isto era necessário para que a instituição do Antigo Testamento não se dissolvesse completamente até que o Novo Testamento estivesse bem estabelecido, tivesse uma base considerável, e começasse a formar uma imagem. Nesse contexto, era melhor que houvesse um grupo que buscasse a Deus, mesmo que de uma forma corrompida e degenerada, do que não haver ninguém que o fizesse. Dentro de quarenta anos depois da morte de Cristo, a “voz” do Evangelho tinha chegado aos confins do mundo (Romanos 10.18). O apóstolo Paulo pregou integralmente o Evangelho “desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico”; e os outros apóstolos não foram ociosos; a perseguição dos santos em Jerusalém ajudou a dispersá-los, de modo que eles foram a todos os lugares, anunciando o Evangelho (Atos 8.1-4). E quando as notícias do Redentor alcançassem todas as partes do mundo, então o fim da nação judaica ocorre­ ria. Assim, aquilo que eles pensavam evitar, condenando Jesus à morte, foi precisamente o que procuraram.

Todos creram nele, e, vieram os romanos, e tiraram o seu lugar e a sua nação (João 11.48). Paulo disse que o Evangelho estava em “todo o mundo”, e havia sido “pregado a toda criatura ” (Colossenses 1.6-23).

(2)  Da mesma maneira, está sugerido que mesmo em tempos de tentação, dificuldades e perseguição, o Evangelho do rei no será pregado e propagado, e irá abrir o seu caminho em meio à maior oposição. Embora os inimigos da igreja se acalorem, e o amor de muitos dos seus amigos esfrie, ainda assim o Evangelho será pregado. E mesmo então, quando muitos caírem pela espada e pelo fogo, e muitos agirem malvadamente, e forem corrompidos por adulações, aqueles que realmente conhecem ao seu Deus serão fortalecidos para realizar as maiores proezas, instruindo a muitos (veja Daniel 11.32,33; e veja um exemplo em Filipenses 1.12-14).

(3)  O que, aparentemente, se pretende aqui é dar a entender que o fim do mundo ocorrerá quando o Evangelho tiver realizado o seu trabalho no mundo, e não antes disso. O Evangelho será pregado, e a palavra será transmitida, mesmo depois que vocês estiverem mortos; para que todas as nações, sejam as primeiras ou as últimas, possam apreciar ou recusar o Evangelho; e “então virá o fim”, quando o reino ser á entregue a Deus Pai, quando o mistério de Deus será concluído, o corpo espiritual será completado, e as nações forem convertidas e salvas, ou condenadas e silenciadas pelo Evangelho. Então virá o fim, de que Ele tinha falado anteriormente (vv. 6,7), não antes, não até que estes conselhos intermediários se cumpram. O mundo permanecerá enquanto existir algum dos eleitos de Deus que não tiver sido chamado; mas quando estiverem todos reunidos, ele se incendiará imediatamente.

VI – Ele prediz, mais particularmente, a destruição que viria sobre o povo dos judeus, a sua cidade, o seu Templo e a sua nação (v. 15ss.). Aqui Jesus chega mais perto de responder às perguntas dos discípulos sobre a destruição do Templo, e o que Ele disse aqui será útil para eles, tanto para o seu comportamento quanto para o seu consolo, referindo-se àquele grande evento. Ele descreve os diversos estágios daquela calamidade, como é usual em uma guerra.

1. Os romanos trarão “a abominação da desolação” ao “lugar santo” (v. 15). Considere que:

(1) Alguns entendem que uma imagem, ou estátua, colocada no Templo por alguns dos governantes romanos, e que era muito ofensiva aos judeus, os levou a se rebelarem, e desta maneira trouxe a desolação sobre eles. A imagem de Júpiter (um dos deuses do Olimpo), que Antíoco mandou colocar sobre o altar de Deus, é chamada A abominação da desolação, a mesma palavra usada aqui pelo historiador (1 Macabeus 1.54). Desde o cativeiro na Babilônia, nada era, nem poderia ser, mais desagradável para os judeus do que uma imagem no lugar santo, como se pode perceber pela poderosa oposição que eles fizeram quando Calígula se ofereceu para colocar a sua estátua ali, o que teria tido consequências fatais, se não tivesse sido evitado, e a questão apaziguada, pelo comportamento de Petrônio. No entanto, Herodes colocou a imagem de uma águia sobre a porta do Templo e, dizem alguns, a estátua de Tito foi colocada dentro do Templo. 

(2) Outros preferem explicar isso com o trecho paralelo (Lucas 21.20): “quando virdes Jerusalém cercada de exércitos”. Jerusalém era a cidade santa, Canaã era a terra santa, e o monte Moriá, que está próximo de Jerusalém, pela sua proximidade com o Templo, era, de uma maneira especial, considerado solo sagrado; o exército romano estava acampado na região ao redor de Jerusalém, e isto teria sido a abominação que produziu a desolação. A terra de um inimigo é considerada como “a terra de que te enfadas” (Isaias 7.16), de modo que um exército inimigo, para um povo fraco, mas voluntarioso, pode perfeitamente ser chamado de abominação. Diz-se que isto se refere a Daniel, que falou mais claramente do Messias e do seu reino que qualquer outro dos profetas do Antigo Testamento. Ele fala de uma “abominação desoladora”, o que seria feito por Antíoco (Daniel 11.31; 12.11), mas isto a que se refere o nosso Salvador nós temos na mensagem trazida pelo anjo (Daniel 9.27) do que aconteceria no final de setenta semanas, muito tempo depois da anterior; pois com o aumento das abominações, ou, como diz a anotação na margem, com os exércitos abomináveis (o que esclarece a profecia), Ele trará a desolação. Exércitos de idólatras podem ser chamados de exércitos abomináveis; e alguns pensam que os tumultos, insurreições, facções e sedições abomináveis, na cidade e no Templo, podem, pelo menos, ser interpretados como parte da abominação causando desolação. Cristo lembra aos discípulos a profecia de Daniel, para que eles possam ver como a destruição da sua cidade e do seu Templo foi mencionada no Antigo Testamento, o que confirmaria a sua predição e, ao mesmo tempo, removeria a ira da sua profecia. Da mesma maneira, eles poderiam, a partir de então, começar a contar o tempo logo depois da morte do Messias, o príncipe. O pecado cometido quando os judeus o rejeitaram e a certeza da destruição são uma desolação determinada. Assim como Cristo, pelos seus preceitos, confirmou a lei, também pelas suas predições Ele confirmou as profecias do Antigo Testamento, e isto será útil para a comparação de ambas.

Tendo sido feita referência a uma profecia, que normalmente é obscura, Cristo insere este lembrete: “Quem lê, que entenda”. Aquele que lê a profecia de Daniel, compreenda que ela deverá se cumprir então, dentro de pouco tempo, na destruição de Jerusalém. Observe que aqueles que leem as Escrituras, devem se esforçar para entendê-las, caso contrário a sua leitura terá pouco propósito. Nós não podemos utilizar aquilo que não compreendemos. Veja João 5.39; Atos 8.30. O anjo que trouxe esta profecia a Daniel o estimulou para que a conhecesse e entendesse (Daniel 9.25). E nós não devemos perder a esperança de entender, nem mesmo as profecias obscuras; a maior profecia do Novo Testamento é chamada de “revelação”, e não de segredo. Agora as coisas reveladas pertencem a nós; portanto, elas devem ser investigadas com humildade e diligência. Também podemos compreender não apenas as Escrituras que falam dessas coisas, mas pelas Escrituras devemos compreender os tempos (1 Crônicas 12.32). Observemos e prestemos atenção; assim alguns interpretam isso. Que nos asseguremos de que, apesar das esperanças vãs com as quais as pessoas iludidas se alimentam, os exércitos abomináveis trarão desolação.

2. Os meios de preservação que os homens sérios deveriam empregar (vv. 16,20): “Os que estiverem na Judéia, que fujam”. A conclusão é que não existe outra maneira de se salvar, exceto fugir. Nós podemos interpretar isto:

(1)  Como uma predição da própria ruína – que ela seria impossível de evitar; que seria impossível, mesmo para os corações mais corajosos, resistir a ela, ou lutar contra ela. Eles devem recorrer à última opção, sair do caminho. Isto indica aquilo em que Jeremias tanto insistia, embora em vão, quando Jerusalém estava sitiada pelos caldeus, que seria inútil resistir, mas que seria prudente render-se e capitular; assim também Cristo aqui, para mostrar o quanto seria inútil resistir a isso, convida todos a seguir o seu conselho.

(2)  Nós podemos interpretar isso como uma orientação aos seguidores de Cristo quanto ao que fazer, o que não significa uma aliança com aqueles que lutaram e guerrearam contra os romanos pela preservação da sua cidade e nação, somente para que pudessem consumir a riqueza de ambas nos seus desejos (pois o apóstolo se refere a essa mesma questão – as lutas dos judeus contra o poder romano, alguns anos antes da sua destruição final, Tiago 4.1-3). Mas que eles concordem com o que foi dito, e que saiam rapidamente da cidade e do país, como se estivessem abandonando um cavalo que está caindo ou um navio naufragando, como Ló saiu de Sodoma e como Israel deixou as tendas de Datâ e Abirão. Ele lhes mostra:

[1] Para onde deveriam fugir ao sair da Judéia: “para os montes”. Não os montes ao redor de Jerusalém, mas aqueles nos lugares distantes, que lhes serviriam de abrigo, não tanto pela sua resistência, mas pelo seu isolamento. Está dito que Israel se dispersará pelos montes (2 Crônicas 18.16; veja também Hebreus 11.38). Haveria maior segurança entre os covis dos leões, e os montes dos leopardos, do que entre os sediciosos judeus ou os furiosos romanos. Note que em tempos de perigo iminente, não apenas é lícito, mas também é nosso dever, procurar a nossa própria preservação por todos os meios bons e honestos, e se Deus nos abre uma porta, nós devemos usá-la para escapar, do contrário não estaremos confiando em Deus, mas tentando-o. Pode haver uma ocasião em que mesmo aqueles que estão na Judéia, onde Deus é conhecido e o se u nome também, precisem fugir para os montes; e desde que nós saiamos somente do caminho do perigo, e não do caminho do dever, nós podemos confiar que Deus proverá um refúgio para os seus desterrados (Isaias 16.4,5). Em tempos de calamidade pública, quando fica claro que não temos utilidade em casa e podemos estar mais seguros em outro lugar, a Providência nos convida a fugir. Aquele que fugir poderá lutar outra vez.

[2] A pressa que eles devem ter (vv. 17,18). A vida estará em perigo, em perigo iminente, o açoite surgirá de repente, e, portanto, “quem estiver sobre o telhado”, quando soar o alarme, “não desça a tirar alguma coisa de sua casa”, para cuidar das suas coisas, mas desça o mais rapidamente possível, para fugir; e também “quem estiver no campo”, encontre o caminho mais acertado para fugir imediatamente, e não “não volte atrás a buscar as suas vestes”, ou para tirar coisa alguma de sua casa, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o tempo que ele perderia para empacotar as suas coisas iria atrasar a sua fuga. Observe que quando a morte está à porta, atrasos são perigosos. Isto foi recomendado a Ló: “Não olhes para trás de ti”. Aqueles que estão convencidos da infelicidade de uma condição de pecado, e da destruição que os espera nessa condição, e, consequentemente, da necessidade de fugir em direção a Cristo, devem se apressar, para que, depois de todas essas convicções, eles não pereçam eternamente por causa de atrasos. Em segundo lugar, porque carregar as suas vestes, e outras coisas de valor, iria sobrecarregá-lo, e obstruir a sua fuga. Os sírios, na sua fuga, lançaram fora suas vestes (2 Reis 7.15). Numa ocasião como esta, nós devemos dar graças se as nossas vidas forem poupadas, ainda que não possamos salvar nada do que é nosso (Jeremias 45.4,5). Pois “a vida é mais do que o mantimento” (cap. 6.25). Aqueles que carregam menos coisas, têm a fuga mais segura. Aquele que viaja sem dinheiro não tem nada a perder para os ladrões. Foi para os seus próprios discípulos que Cristo recomendou que deixassem a sua casa e as suas roupas, pois eles tinham uma morada no céu, tinham um tesouro ali, e roupas duráveis, que o inimigo não lhes poderia roubar. Eu levo comigo tudo o que tenho, disse Bias, o filósofo, na sua fuga, de mãos vazias. Aquele que tem a graça no seu coração a leva consigo, mesmo quando despojado de tudo.

Aqueles a quem Cristo disse isso não viveram para ver esse dia funesto, nenhum dos doze, exceto João, e apenas ele; eles não precisaram se esconder nos montes (Cristo os escondeu no céu), mas eles deixaram a orientação aos seus sucessores na fé, que a obedeceram, e ela foi útil para eles; pois quando os cristãos de Jerusalém e da Judéia viram a destruição que se aproximava, todos fugiram para uma cidade chamada Pella, no outro lado do rio Jordão, onde ficaram em segurança; de modo que, entre os muitos milhares que pereceram na destruição de Jerusalém, não havia nenhum cristão. Veja Eusébio, Eclesiástica. História, liv. 3, cap. 5. Assim “o avisado vê o mal, e esconde-se” (Provérbios 22.3; Hebreus 11.7). Este aviso não foi mantido em segredo. O Evangelho de Mateus foi publicado muito tempo antes da destruição, para que outros pudessem se beneficiar dessa orientação; mas aqueles que pereceram por não crerem nisso, tornaram-se um exemplo daqueles que perecerão eternamente por causa da sua descrença nas advertências que Cristo expressou a respeito da ira futura.

[3] Para quem esta ocasião seria difícil (v. 19): ”Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias!” As palavras proferidas por Cristo, por ocasião da sua morte, se referem a esse mesmo evento (Lucas 23.29): “Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!” Bem-aventurados aqueles que não têm filhos, para não verem o assassinato deles; todavia, mais infelizes são aquelas cujos ventres estão gerando, e que estão amamentando: elas, entre todas as outras, são as que estarão na situação mais melancólica. Em primeiro lugar, a fome seria mais grave e lamentável para elas, quando vissem a língua do que mama pegada pela sede na boca, e elas mesmas seriam mais cruéis que avestruzes no deserto (Lamentações 4.3,4). Em segundo lugar, a espada seria mais terrível para elas, por estar em uma mão que seria movida por algo pior que a fúria brutal. Seria um parto terrível, quando as mulheres grávidas viessem a ser cortadas ao meio pelo conquistador enfurecido (2 Reis 15.16; Oseias 13.16; Amós 1.13), ou as crianças fossem levadas ao matador (Oseias 9.13). Em terceiro lugar, a fuga seria também mais aflitiva para elas. As mulheres grávidas não podem se apressar, nem percorrer grandes distâncias; a criança que amamenta não pode ficar para trás, ou, se pudesse: “Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho… que se não compadeça dele?” Se a criança for levada, ela retarda a fuga da mãe, e assim arrisca a vida dela, e corre o perigo da fuga de Mefibosete, que ficou coxo devido a uma queda que sofreu durante a fuga da sua ama (2 Samuel 4.4).

[4] O que eles deveriam pedir em oração naquela ocasião: “Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado” (v. 20). Observe que, em geral, é conveniente que os discípulos de Cristo, em tempos de problemas e calamidades, estejam em oração, pois isto é um bálsamo para todas as feridas; nenhuma ocasião deixará de ser apropriada, mas será especialmente apropriada quando eles sofrerem aflições de todos os lados. Não existe remédio, mas você deve fugir; a orientação já é pública e é um decreto, para que Deus não seja tentado a afastar a sua ira, nem mesmo que Noé, Daniel e Jó estejam diante dele. Isto deve bastar para nós, não falemos mais no assunto, mas nos esforcemos para fazer o melhor; e mesmo que não consigamos, pela fé, orar para que não sejamos forçados a fugir ainda assim devemos orar para que as circunstâncias da fuga sejam ordenadas graciosamente, para que, embora o cálice não possa ser afastado de nós, os prejuízos do juízo possam ser reduzidos. Observe que Deus dispõe das circunstâncias dos eventos, e isto, de uma maneira ou de outra, algumas vezes provoca uma grande alteração. Por isso, os nossos olhos devem estar sempre voltados a Ele. O fato de Cristo os convidar a orar a favor disso dá a entender o seu propósito de conceder-lhes tal coisa; e numa calamidade geral, nós não devemos negligenciar uma gentileza circunstancial, mas considerar e reconhecer que a situação poderia ter sido pior. Cristo sugere ainda aos seus discípulos que orem por si mesmos, e por seus amigos, para que, se eles forem forçados a fugir, possam fazê-lo na época mais conveniente. Observe que quando se espera problemas a uma grande distância, é bom ter de antemão um estoque de orações. Os discípulos devem orar, em primeiro lugar, para que a sua fuga, se for a vontade de Deus, não aconteça no inverno, quando os dias são curtos, o tempo, frio, as estradas, sujas, e, portanto, a viagem será muito desconfortável, especialmente para famílias inteiras. Paulo apressa Timóteo par a vir vê-lo antes do inverno (2 Timóteo 4.21). Note que embora o bem-estar do corpo não deva ser levado em conta acima de tudo, ele deve ser devidamente considerado. Embora devamos tomar o que Deus nos envia, e quando Ele envia, nós devemos orar contra inconveniências para o corpo, e somos incentivados a fazer isso, pois “o Senhor é para o corpo”. Em segundo lugar, par a que a fuga não ocorra num sábado. Não no sábado judaico, por que viajar nesse dia seria ofensivo àqueles que estavam irados com os discípulos por colherem as espigas nesse dia. Não no sábado cristão, porque ser forçado a viajar nesse dia seria uma tristeza para um cristão. Isto sugere o desígnio de Cristo, de que um descanso semanal fosse observado pela sua igreja depois da pregação do Evangelho a todo o mundo. Não sabemos de nenhum dos rituais da igreja judaica, que eram puramente cerimoniais, sobre o qual Cristo tenha expressado qualquer preocupação, porque eles seriam todos abolidos; mas o Senhor frequentemente expressava uma preocupação pelo sábado. Isto sugere, da mesma maneira, que o sábado, basicamente, deve ser observado como um dia de descanso de viagens e do trabalho terreno; mas que, de acordo com a sua própria explicação do quarto mandamento, obras necessárias eram lícitas no sábado, como essa, de fugir de um inimigo para salvar a própria vida. Se não fosse lícito, Ele teria dito: “Aconteça o que acontecer, não fujam no sábado, mas permaneçam, ainda que morram por causa disso”. Nós não devemos cometer o menor pecado para escapar ao maior problema. Mas isto sugere, da mesma maneira, que é muito desagradável que um bom homem seja privado de qualquer obra de necessidade por causa do serviço solene e da adoração a Deus. Nós devemos orar para que possamos ter “sábados” tranquilos e despreocupados, não tendo nenhum outro trabalho no dia que consagramos à oração e à adoração ao Senhor. Assim poderemos nos preocupar com o Senhor, sem distrações. Era desejável, se eles tivessem que fugir, que pudessem ter o benefício e o consolo de um sábado para ajudá-los a suportar as suas cargas. Fugir no inverno é incômodo para o corpo, mas fugir no sábado é incômodo para a alma; ainda mais quando alguém se lembra dos dias passados, como no Salmo 42.4.

3. Os grandes problemas que se seguiriam imediatamente (v. 21): “Haverá, então, grande aflição”; então, quando a medida da iniquidade está completa; então, quando os servos de Deus estão selados e protegidos, então vem os problemas. Nada pode ser feito contra Sodoma até que Ló tenha chegado a Zoar, e então podemos procurar fogo e enxofre imediatamente. “Haverá, então, grande aflição”. Grande, realmente, quando dentro da cidade as pragas e a fome se enfureceram, e (pior do que qualquer coisa) houve facção e divisão, de modo que a espada de cada homem estava contra o seu companheiro. Foi então, e ali, que as mãos das mulheres desprezíveis esfolaram os seus próprios filhos. Fora da cidade, estava o exército romano, pronto para engoli-los, com uma ira especial contra eles, não somente como judeus, mas como judeus rebeldes. A guerra foi o único dos três julgamentos dolorosos de que Davi foi isento. Mas seria isso o que destruiria os judeus. E houve fome e pestes extremas, além da guerra. A obra History of the Wars of the Jews (História das Guerras dos Judeus), de Josefo, contém mais passagens trágicas do que, talvez, qualquer outra história.

(1) Foi uma desolação incomparável, “como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais”. Muitas cidades e reinos foram de­ solados, mas nenhum com uma desolação como essa. Os pecadores ousados não devem pensar que Deus fez o pior que podia fazer. Ele pode aquecer a fornalha sete vezes e ainda outras sete vezes mais quente, e o fará, quando vir abominações maiores e ainda maiores. Os romanos, quando destruíram Jerusalém, estavam destituídos da honra e da virtude dos seus ancestrais, o que tornou as suas vitórias mais fáceis de serem obtidas. E a determinação e teimosia dos próprios judeus contribuíram muito para o aumento da tribulação. Não é de admirar que a destruição de Jerusalém tenha sido uma destruição sem paralelos, quando o pecado de Jerusalém foi um pecado sem paralelos – a crucificação de Cristo por eles. Quanto mais próximo alguém está de Deus, em profissão de fé e privilégios, maior e mais grave será o julgamento divino sobre tal pessoa, se usar mal os seus privilégios, e for falso à sua profissão de fé (Amós 3.2).

(2) Foi uma desolação que, se continuasse por muito tempo, seria intolerável, de modo que “nenhuma carne se salvaria” (v. 22). A morte chegaria tão triunfante, de tantas maneiras funestas, e com tantos ajudantes, que não haveria como escapar, mas, em algum momento, todos seriam mortos. Aquele que escapasse a uma espada, cairia por outra (Isaias 24.17,18). A estimativa que Josefo faz daqueles que foram mortos em diversos lugares soma mais de dois milhões de pessoas. “Nenhuma carne se salvaria”. Ele não diz: ” Nenhuma alma se salvaria”, pois a destruição da carne pode ser “para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus”. Mas a vida temporal será sacrificada com tal profusão, que se poderia pensar que, se isto durasse algum tempo, o fim seria completo.

Mas há uma palavra de consolo em meio a todo este terror – que, “por causa dos escolhidos, serão abreviados aqueles dias”, não significa menos do que Deus tinha determinado (pois “o que está determinado será derramado sobre o assolador”, Daniel 9.27), porém menos do que Ele poderia ter decretado, se Ele tivesse lidado com eles de acordo com os seus pecados. Menos do que o inimigo teria desejado, pois ele teria eliminado a todos, se Deus, que o usa para servir aos seus próprios objetivos, não tivesse contido a sua ira. Menos do que teria imaginado alguém que julga de acordo com as probabilidades humanas. Observe que:

[1] Em tempos de calamidade geral, Deus manifesta o seu favor aos eleitos remanescentes; as suas joias, que Ele então irá reunir; o seu tesouro particular, que Ele irá proteger, quando os restos forem abandonados aos espoliadores.

[2] A abreviação das calamidades é uma benignidade que Deus frequentemente concede para o bem dos eleitos. Em vez de reclamar que as nossas aflições duram tanto tempo, se nós levarmos em consideração nossos defeitos, veremos motivos para sermos gratos porque elas não duram para sempre; quando as coisas estão ruins para nós, é conveniente que digamos: “Bendito seja Deus, porque não são piores. Bendito seja Deus, porque isto não é uma desgraça infernal, interminável e irremediável”. Foi uma igreja aflita que disse: ”As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”, e isto ocorre para o bem dos eleitos, para que o seu espírito não caia antes deles (se Ele desejasse combater para sempre), e para que eles não sejam tentados a oferecer as suas mãos, se não o seu coração, à iniquidade.

E então vem o aviso repetido, que já foi apresentado antes, de tomar cuidado para não se deixar enganar por falsos Cristas e falsos profetas (v. 23ss.), que lhes pro­ meteriam a libertação, como os profetas mentirosos da época de Jeremias (Jeremias 14.13; 23.16,17; 27.16; 28.2), mas os iludiriam. Os tempos de grande tribulação são tempos de grandes tentações, e por isso nós precisamos dobrar a nossa guarda. Se disserem: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”, e irá nos libertar dos romanos, “não lhe deis crédito”, isto são apenas palavras. Tal libertação não deve ser esperada, e tampouco tal libertador.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

DE ONDE VÊM OS BEBÊS?

Não há idade para falar de sexo com as crianças, o importante é saber escutar suas perguntas e responder, sempre de forma adequada à sua idade.

De onde vêm os bebês

Apesar de ser por volta dos 3 anos de vida que as crianças começam a manifestar alguma curiosidade sexual, é a partir do nascimento, e da gradual exploração do próprio corpo, que tem início a sua identidade sexual. O prazer de se tocar, de se mostrar e observar os outros além das perguntas decorrentes vão se sucedendo em etapas adequadas ao desenvolvimento humano, por isso pode se generalizar e dizer que a educação sexual começa no berço.

Notar as características do corpo dos pais, dos irmãos e irmãs, chama a atenção infantil para as diferenças que obviamente criam dúvidas e aí começa um ciclo de perguntas que precisam ser respondidas pelos adultos.

A curiosidade é natural às crianças e jovens e, portanto, não é de se estranhar que indagações sobre o próprio corpo e sua sexualidade aflorem tão cedo. Por isso, estar preparado para oferecer esclarecimentos é uma obrigação das famílias, pois faz parte do processo educativo.

Embora o receio de falar sobre sexo aflija muitos adultos, seja por não saberem o que dizer ou como o fazer de modo adequado à idade da criança, às suas convicções religiosas ou tabus na sua própria educação ou não ter tido acesso a informações mais assertivas, hoje existem vários livros, sites sérios e profissionais que dão orientações sobre o assunto, e os pais não estão mais sozinhos nessas dúvidas.

Mas existe uma regra fundamental em educação: responder somente à pergunta de modo simples e nem sonhar em dar explicações longas, cheias de detalhes que não estão sendo solicitados pela criança. Dúvidas infantis são sempre pontuais e diretivas: falar de modo sucinto, simples, é a melhor maneira de esclarecer, até que surja a próxima indagação por parte da criança.

A partir dos 3 ou 4 anos de idade, a maioria das crianças já se preocupa sobre “de onde vêm os bebês”. É natural que elas se intriguem com o assunto, ainda mais hoje quando as grávidas expõem suas barriguinhas em roupas marcantes e ouvir falar em sexualidade na própria televisão não seja difícil. Percebem a relação entre alguns fatos e, ao perguntar, desejam obter mais que um novo conhecimento: querem “provar” sua hipótese junto aos pais e assim também verificar a confiabilidade de suas respostas!

Em pleno século XXI há ainda quem ache correto contar historinhas facilmente desmistificáveis como a da cegonha, o que realmente é lamentável. Além de não explicar, a criança perderá a confiança no adulto, pois logo saberá que esse lhe mentiu, se sentirá traída e menosprezada em sua inteligência.

Também não se aconselha o hábito de adiar respostas (“mais tarde explico, você ainda é pequeno”) ou mandar perguntar ao pai, ou à mãe ou até à professora. Esquivar-se dos devidos esclarecimentos é a pior opção depois da mentira. A não ser que deseje perder o respeito do   filho, quebrar o elo de ligação natural, criar um desconforto sobre o assunto. É mais indicado dizer de modo natural que os bebês surgem da barriga da mãe. Afinal, a criança não perguntou ainda como é a reprodução em si, o que fará numa ocasião futura e só então terá sua elucidação.

Nessa fase é recomendável introduzir as primeiras ideias de pudor, evitando tomar banho despido com a criança ou deixando a porta do quarto dos pais trancada à noite. Dormir na cama do casal, permitir que manipule o corpo dos pais não são recomendáveis: a criança precisa se acostumar com o fato de que a nudez é natural, mas é também uma questão de intimidade; sem cair em exageros, no entanto, para que não sinta futuramente constrangimento perante, por exemplo, outra pessoa seminua em um vestiário.

Entre 4 e 6 anos, quase todas as crianças gostam de brincar de médico e não raramente se despem para se mostrar e ver o corpo do outro. É a curiosidade natural, que não pode nem deve ser proibida nem revestida de culpa, mas deve ser orientada, pois é preciso que saibam que as pessoas na nossa cultura não andam despidas e que há áreas do corpo que são íntimas, que não devem ser mostradas em público a outras pessoas nem se deixar tocar por outrem.

A mesma orientação deve ser dada quando começam a fase de autoerotismo ou masturbação. Ao se tocarem percebem a sensibilidade da região genital e daí a descobrirem o prazer que vem da manipulação é apenas um passo. Surge por instinto e os pais, embora não devam proibir ou gerar culpa na criança, devem intervir caso o pequeno se masturbe em público.

As crianças devem entender que esse gesto é íntimo, e, portanto, o contexto deve ser outro. O cuidado nesse caso é que se a criança for mal orientada, além de desenvolver problemas futuros com sua sexualidade, poderá entender que é para se esconder, já que não entende a diferença entre pudor e interdição.

Por volta dos 6 a 8 anos, a necessidade de intimidade começa a se mostrar mais forte e isso acarreta mais dúvidas aos pais, caso não tenham acompanhado o crescimento do filho. Perguntas como “o que é fazer amor” ou por que não se deve tocar nos genitais de adultos etc. vão surgir, e da confiança da criança em seus pais e de sua capacidade de terem dado bom andamento a esse aprendizado é que na puberdade e adolescência será ou não mais fácil orientar sua iniciação na vida sexual.

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial Neuroaprendizagem, foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.

irenemaluf@uol.com.br

OUTROS OLHARES

DE LÚDICO A TRÁGICO

Perfil e origem da compulsão por jogos varia entre os sexos. A idade em que os jogadores procuram a primeira ajuda psicológica gira em torno dos 40 anos.

De lúdico a tragico

Aos 17 anos, Márcia (nome fictício) fez sua primeira aposta no “jogo do bicho”. No começo gastava seu próprio salário para sustentar o comportamento compulsivo de jogar. Com o tempo, porém, passou a dispor das economias capitalizadas pela família no banco em que era responsável pela área de aplicações. Movimentava o dinheiro dos parentes entre as contas, até deixá-las negativas. Descoberta por um auditor, acabou demitida por justa causa e prometeu jamais voltar a jogar. O compromisso foi mantido nos quase 20 anos que se seguiram, período em que pôde reorganizar sua vida, cursar faculdade e conseguir bons empregos.

Entretanto, um problema emocional a fez voltar a apostar, desta vez, em máquinas eletrônicas. “Voltei a jogar compulsivamente, perdi tudo o que havia construído. Além do dinheiro, perdi minha dignidade, minha moral, autoestima, caráter, e espirito familiar. Tudo isso coube naquelas máquinas”, enfatiza ela, que chegou a dormir na rua e a passar frio e fome, tendo, inclusive, tentado o suicídio na véspera do aniversário da mãe. Desde julho de 2015, frequenta as reuniões dos Jogadores Anônimos, grupo que funciona segundo os moldes dos Alcoólatras Anônimos e dá suporte aos dependentes. “Desde então nunca mais fiz nenhuma aposta, faz dois anos e 11 meses e dois dias. Tenho o amor da minha família de volta, minha autoestima, minha dignidade, amigos. Hoje, a vida, que não é só o espaço entre nascer e morrer, é curtir cada momento e poder ajudar alguém, finaliza.

Histórias, como as de Márcia, mostram os desdobramentos reais de um problema que ganha vulto nos serviços de saúde mental. Embora não existam estatísticas brasileiras, pesquisas feitas nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Austrália mostram que, nestes países, entre 0,8 e 4% da população vivencia o hábito de jogar de maneira patológica, o que pode ser caracterizado como um comportamento mal adaptativo persistente e recorrente de apostar em jogos de azar, implicando em prejuízo significativo em diferences aspectos da vida. “O jogo perde seu significado lúdico quando o indivíduo joga para recuperar perdas anteriores, perde o controle ao apostar mais que ó programado ou jogar por mais tempo do que o planejado, recorre ao jogo como fuga, se endivida, compromete as relações familiares e sociais e ainda persiste na atividade”, enumera o psiquiatra Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório do Jogo Patológico, vinculado ao Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.

ENQUADRAMENTO

Reconhecido como transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial de Saúde somente em 1992, aparece nos manuais de psiquiatria desde a década de 80. No DSM-IV, faz parre do grupo de Transtornos do Controle dos Impulsos Não Classificados em Outro local, já no CID-10 consta entre os Transtornos de Hábitos e Impulsos. O enquadramento vem justamente pelo fato de existirem similaridades entre o jogar patológico e consumo de substâncias psicoativas. Conceitos como o de tolerância, que pontua a necessidade de se consumir uma quantidade maior de substâncias (nesse caso, de se apostar cada vez mais), para a obtenção do mesmo prazer ou perda de controle são válidos também neste contexto. “A atividade de jogar excita o sistema nervoso central e se reflete no corpo pela aceleração dos batimentos cardíacos, elevação da tensão muscular e aumento da frequência respiratória. Nesse sentido, seus efeitos se assemelham muito às reações produzidas por excitantes químicos como cocaína, anfetamina e ecstasy”, compara o psiquiatra.

Embora cada um traga sua própria bagagem de vida, é possível pontuar algumas características que se combinam significativamente; propiciando o aparecimento destes quadros. ”A impulsividade e a instabilidade emocional são os principais fatores de vulnerabilidade ao jogo. Ambas têm uma determinação compartilhada entre a genética e o ambiente. Estima-se que 30 a 50% dos fatores determinantes sejam herdados e o restante vem do meio,  como estresse no trabalho, na vida familiar e a oferta abundante e progressiva de jogos de azar em nossa sociedade”,  esclarece Tavares, enfatizando também que a expansão do jogo de azar é um fenômeno internacional, comum na cultura Ocidental, em que auto estima e reconhecimento social foram progressivamente alçados à condição de valores intercambiáveis e, de certa forma,  identificados com a questão da posse financeira.

No cenário nacional, a expansão dos Bingos acabou por se tornar um fator decisivo no aumento da demanda por tratamento, assumindo a dianteira como jogo de preferência entre as pessoas que buscam ajuda em programas especializados na cidade de São Paulo.

QUEM É O JOGADOR?

O psiquiatra delimita dois perfis de jogadores, sendo que; muitas vezes é possível reunir características de ambos. O primeiro é predominantemente masculino e começou a jogar no fim da adolescência. Antes de se tornar praticante preferencial de uma modalidade de jogo, transitou por várias, formas, entre sinuca, jogo do bicho, dominó, cartas, cavalos. Em geral; casou-se cedo e logo entrou no mercado de trabalho, tendo um sucesso inicial por ser falante, ágil e extrovertido, o que lhe protegeu por um tempo de envolver-se mais profundamente com jogo.  ”Entre os 30 e 40 anos, contando com uma folga financeira, passa a apostar mais intensamente na busca pela emoção do risco. Aposta grande volume de dinheiro em um curto espaço de tempo visando à excitação. Em torno dos 40 anos tem sua primeira quebra financeira, mas como é orgulhoso é independente ainda vai cair e levantar-se algumas vezes até aceitar o fato de que necessita de ajuda ou tratamento especializado para lidar com seu problema”, delimita o psiquiatra, acrescentando que a média de idade na primeira procura por tratamento dessas pessoas é em torno dos 45 anos.

Quanto ao segundo perfil, que tanto pode ser masculino quanto feminino, engloba os indivíduos que começaram a jogar mais tarde, em torno dos 40 anos, sem ter experiência prévia. Aqui, o jogar aparece como um reflexo do esvaziamento do cotidiano, uma vez que os filhos são mais independentes e a demanda por dinheiro na família se reduz, ou seja, a principal motivação para jogar é o alheamento dos problemas.

“Este paciente dá preferência a caça-níqueis e jogos eletrônicos em geral, e história anterior de depressão ou transtorno de ansiedade é comum nesta população. A progressão para a compulsividade é muito rápida, em geral de 6 meses a 2 anos”, caracteriza o médico, informando ainda que este jogador aposta valores enormes buscando prolongar o seu tempo em frente à máquina.

Nestes casos, a procura por tratamento é mais rápida e muitas vezes vem mascarada como uma queixa de tristeza e nervosismo, acompanhada de reclamações sobre a incompreensão da família, já que neste perfil, o paciente tem vergonha de confessar que joga. “Como a progressão é mais rápida, apesar do início tardio, este paciente chega ao tratamento mais ou menos na mesma época, ou seja, em torno dos 45 anos de idade. A progressão acelerada é chamada de efeito telescópio e seus principais fatores de risco são: gênero feminino, preferência por jogos eletrônicos e início após a quarta década de vida”, esclarece o médico.

A psicóloga Thaís Grade Maluf, integrante do Programa de Atendimento de Jogadores Patológicos do Proad, vinculado à Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), pontua que o pedido de ajuda costuma vir quando “a corda já passou do pescoço”, ou seja, quando houve uma desestruturação financeira significativa e o casamento está comprometido ou desfeito. Para a entrada no programa oferecido pela instituição, a pessoa passa por um grupo de acolhimento que integra outros dependentes não químicos, como compradores, dependentes de sexo ou de internet. O intuito é o de sensibilizar não só o paciente, como também seus familiares para o tratamento, colocando-se em pauta a questão da impulsividade e da compulsividade, presentes de forma contundente nos jogadores, embora manifestos em graus diferentes no decorrer da vida. “O jogador tem um estigma muito parecido com o do viciado em drogas e por isso procura o tratamento com mais frequência”, pondera a psicóloga ao comparar a maior participação desta clientela, em relação ao espectro de dependências reunidos no grupo.

Entre as crenças do jogador patológico está a de que se tem controle sobre o hábito, ou que se “joga só para relaxar”. Há ainda uma tendência em buscar continuamente a experiência vivida numa fase inicial de “euforia’, em que o retorno financeiro ainda era significativo. “Este estado prazeroso do ganho fica na memória por muito tempo e, de uma certa forma, é atrás desta sensação de ganho e poder que se vai”, pontua a psicóloga.

A partir deste ponto, o usuário do serviço passa a receber acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico individual ou em grupo, sendo que a equipe segue uma orientação psicodinâmica da dependência. Nesta perspectiva, o foco de atenção se direciona para além dos sintomas, em busca das causas do que não vai bem e que se manifestam através do comportamento compulsivo. Muitas das pessoas que procuram o serviço trazem, no seu histórico familiar e também pessoal, o fato de já terem feito o uso abusivo de droga, muitas vezes apenas “migrando” de uma adição para outra.

Mais do que o ‘cessar a atividade, busca-se a conscientização e a possibilidade do sujeito em responsabilizar-se pela sua condição, reduzindo os inúmeros prejuízos vinculados à dependência de jogar e a possibilidade da construção, de outros vínculos de lazer e possibilidades efetivas de prazer. Enquanto se busca o enfrentamento na gênese do problema, a equipe também traz orientações simples, como a de que o usuário do serviço leve uma quantia determinada ao sair de casa para jogar ou ainda que jogue no computador, em casa, sem apostas.

A psicóloga pontua que boa parte dos homens chegam ao serviço impotentes nas diversas esferas da vida, pois não conseguem gerir o próprio dinheiro, sendo que muitos tiveram sucesso profissional e conseguiram um bom padrão de vida trabalhando. Esta situação acaba favorecendo um novo arranjo de papéis dentro do lar, em que há um certo ganho de poder por parte da mulher, que acaba assumindo um papel central no comando das finanças, por exemplo, o que, de alguma maneira, a torna resistente em partilhar com o companheiro do percurso do tratamento.

O médico Hermano Tavares reitera a importância do processo psicoterápico nestes casos, pelo alto índice de associação com outros transtornos psiquiátricos, principalmente na dependência química, depressão e ansiedade. “É importante uma avaliação psiquiátrica e o tratamento dessas condições associadas”, pontua o psiquiatra, enfatizando que, ainda em fase experimental, estão sendo testadas medicações que possam reduzir a “fissura” que os jogadores sentem ao tentarem parar, ressaltando que os resultados são promissores, mas ainda inconclusivos.

No Instituto de Psiquiatria da USP é oferecido, tratamento gratuito por um ano aos jogadores que são voluntários. O programa inclui psicoterapia individual e existe há dois anos o trabalho com grupos de orientação psiquiátrica, supervisionado por uma psicanalista para investigação e tratamento neste território de atuação. Além do acompanhamento psiquiátrico e orientação familiar; a participação nos Jogadores Anônimos é fortemente encorajada.

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EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

Os grupos de Jogadores Anônimos são o resultado de um encontro, em janeiro de 1957, entre dois homens, que tinham em comum uma trajetória de vida repleta de dificuldades e misérias, relacionadas ao jogo. Começaram a reunir-se regularmente, e, com o passar do tempo, nenhum dos dois voltou a jogar. Como resultado da publicidade favorável por parte de um colunista de jornal e apresentador de televisão, a primeira reunião de Jogadores Anônimos aconteceu numa sexta-feira, 13 de setembro de 1957, em Los Angeles, Califórnia.

Foi o passo inicial para que grupos do gênero fossem fundados pelo mundo. “Em São Paulo comemoramos todo dia primeiro do mês de junho, tendo completado 11 anos em 2006. Hoje, contamos com reuniões todos os dias da semana, inclusive feriados, e somamos um total de 45 grupos de Jogadores Anônimos espalhados pelo Brasil, que têm como objetivo o parar de jogar e ajudar outros jogadores compulsivos a fazerem o mesmo através de nossos depoimentos de vida e do que a doença nos causou”, pontua a Relações Públicas dos Jogadores Anônimos, informando que o Programa de Recuperação segue os “Doze Passos”, que refletem a aplicação de princípios espirituais, praticados cotidianamente, possibilitando o despertar de mudanças interiores. “O jogo compulsivo é uma doença, progressiva por natureza, que não pode ser curada, porém pode ser detida. A pessoa inventa montanhas de problemas aparentemente insolúveis. Criam problemas financeiros, mas também têm que enfrentar questões legais, de emprego e matrimoniais. Descobrem que perderam amigos e são rejeitados por parentes”, enumera, salientando o longo trajeto percorrido pelas pessoas até poderem aceitar ajuda, muitas vezes se entregando a uma deterioração sutil.

A ARTE IMITA A VIDA

“Pelo que diz respeito a adquirir e a ganhar, não fazem os homens outra coisa, não só na roleta como em toda parte, do que tirarem e do que lucrarem-se algo reciprocamente. Outra questão é saber se a aquisição e o proveito são algo feio. (…) Há duas espécies de jogo nitidamente diferentes: o dos gentis homens e o da plebe. Há quem os distinga com muita severidade. Todavia, a falar a verdade, que tolice tal distinção! Um gentil homem pode, por exemplo, arriscar cinco ou dez luízes, raras vezes mais. Podem também arriscar mil francos. Se é muito rico, mas só por causa do jogo propriamente dito, para se divertir, para estudar o processo do ganho e da perda. Mas não       deve, de modo nenhum, interessar-se pelo ganho como tal. Depois de ganhar, pode ele, por exemplo, dar uma boa gargalhada, ou contar uma piada a um dos circunstantes. Pode mesmo tornar a jogar essa quantia toda, duplica-la, mas unicamente por curiosidade, para ver os lances da sorte, para fazer combinações. E nunca movido pelo desejo plebeu de tirar proveito disso. Numa palavra, ele não deve ver no salão de jogo, nas roletas e ‘Trente – et – quarente’ mais do que um simples divertimento. Nem sequer deve suspeitar das possibilidades de ganho e das armadilhas em que se baseia a banca. Não seria mau se, por exemplo, lhe sucedesse que todos os outros jogadores, a plebe, que teme por cada florim, fosse igualmente ricos e jogasse unicamente para seu divertimento. Essa ignorância completa da realidade e da concepção ingênua do homem podem, sem dúvida, ter efeito altamente aristocrático.”

O trecho extraído do livro O Jogador, de Fédor Dostoievski, narra a história de um jovem que joga todas as suas economias na esperança de recuperar sua fortuna. Assim, como o personagem, o escritor russo também conheceu as amarras do jogo, transformando as linhas de seu romance, em contundente tratado sobre a avidez pelas apostas, a crença na sorte e, principalmente, os estragos inerentes ao jogar patológico. Ficção com duras pitadas de realidade.

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UM DIA DE CADA VEZ

Em tratamento há 3 anos, Walter (nome fictício) conta como construiu e destruiu um império financeiro, mas entre perdas e ganhos conseguiu manter a família unida. “Desde jovem queria ser bem-sucedido na vida e galguei os mais altos cargos hierárquicos nas empresas, chegando a vice-presidente de um grupo de empresas com mais de 5.000 funcionários e faturamento anual de mais de 5 bilhões de dólares. Como ganhava bem, cerca de 2 milhões de dólares anuais, podia jogar à vontade, pois não sentia as perdas financeiras”, conta ele que esteve em cassinos mundo afora, além de operar em bolsas de valores nos grandes conglomerados financeiros, pois, como atuava no setor de comércio exterior, pode viajar com frequência aos Estados Unidos e à Europa.

Em 1994, deixou o posto que ocupava para poder conviver mais com a família e construir um cotidiano menos estressante. “Em 1996 montei um pequeno comércio somente para me manter ocupado, pois tinha dinheiro suficiente para viver o resto da minha vida e um patrimônio razoável, com três fazendas, cinco imóveis em São Paulo, diversos terrenos em Palmas, além de dez milhões de reais em conta bancária”, enumera, salientando que as idas aos cassinos e bingos na capital paulistana começaram como um lazer ou extensão do prazer passado. “Quando parei de jogar, em janeiro de 2003, todo o meu patrimônio havia sido perdido no jogo e fiquei até sem casa para morar. Hoje moro de aluguel e só me restou um pequeno comércio que havia montado em 1996. Durante o meu tempo de jogatina, mentia a todos, inclusive a meus familiares, manipulava todo mundo, pois jogador tem uma lábia como ninguém”, completa. Sinaliza, porém, que o maior dano é o moral. “Além de ter perdido tudo o que havia conquistado, em 25 anos de trabalho, estava atolado em uma dívida de 300 mil reais junto aos bancos e cartões de credito. Fui obrigado pela minha esposa a ir em uma reunião de jogadores anônimos e nem mesmo sabia se, queria participar”, lembrando que esta foi a condição para que não fosse expulso de casa.

PREOCUPAÇÃO COM A FAMÍLIA

Após um mês frequentando as reuniões, ficou sabendo que um colega de infância havia se suicidado por causa do jogo. “Nesse dia; chamei os meus filhos e minha esposa e falei tudo que o pai deles havia feito na vida: da destruição financeira que havia causado, das minhas safadezas.  Chorei muito, aliás, choramos todos juntos”, lembra. Foi o momento que aceitou sua impotência diante do jogo. “Como alguém que sempre foi um vencedor havia sido derrotado pelo jogo? Joguei por que não aceitava derrotas, desafiava as máquinas, queria ser também um vencedor, mas não consegui”. Hoje procura melhorar como ser humano., pai, marido, filho e irmão. “Me dedico de corpo e alma ao pequeno comércio que possuo e os frutos foram aparecendo. Todas as minhas dívidas junto aos bancos foram quitadas em 30 meses. Não tenho problemas financeiros, muito pelo contrário, tenho agregado patrimônio na minha vida. Mas o que é mais importante de tudo isso foi a reconquista da minha família, a união impera no nosso lar”, comemora.

Além dos Jogadores Anônimos, faz tratamento no AMJO, do Hospital das Clínicas e terapia. “Sei que para o alcoólatra, a droga é álcool. Para os drogados, a droga. Para mim, é o dinheiro. Então, deixei a parte financeira aos cuidados da minha esposa e a minha obrigação é somente trabalhar. Luto a cada dia para não voltar a jogar, mato um leão a cada dia, mas para mim o mais importante não foi parar de jogar e sim melhorar como ser humano. Minha meta é buscar uma vida mais serena, equilibrada e feliz”, finaliza

GESTÃO E CARREIRA

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Com um leque infinito de opções, pequenos e médios empreendedores podem crescer e garantir lucratividade oferecendo produtos e serviços a grandes empresas. Confira o que orientam especialistas sobre o assunto e os principais mercados que estão sempre de portas abertas.

Seja um fornecedor

Em um mercado cada vez mais competitivo, destaca-se quem apresenta diferencial e estratégia de venda, principalmente se o negócio se tratar de uma micro ou pequena empresa almejando voos mais altos. Essas são características apontadas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como essenciais aos empreendedores que buscam sucesso. Inovação e capacitação são as chaves para alcançar os objetivos e garantir competitividade.

Prova disso é que mais de seis milhões de empreendedores optaram pelo Simples Nacional, sistema que recolhe taxas e impostos das empresas. O número, disponível no Portal do Empreendedor, do Governo Federal, demonstra o interesse dos empresários em se formalizar e garantir o diferencial que o consumidor/ cliente tanto procura.

Foi o que fez o empresário Wagner Tasso, proprietário da Tass Componentes, com sede em Birigui, interior de São Paulo, distante pouco mais de 500 quilômetros da capital. Com a empresa aberta desde 2015, após outras experiências com sócios, Tasso é responsável por fornecer componentes para calçados, como desenhos, estampas e tecidos, a empresas multinacionais reconhecidas nacionalmente, como Pampili, Pé com Pé e Reflex. Ele conta que para se destacar apostou na atualização constante. “Precisamos estar atentos a todas as tendências e garantir o melhor material, além de bom preço. Fornecer a qualquer empresa, seja ela grande ou pequena, exige organização e planejamento”, diz.

De acordo com o executivo, os contratos com as multinacionais garantem 50% do faturamento total da empresa. “Foi um nicho em que conseguimos entrar e temos nos saído muito bem. Temos outras empresas em negociação que ficaram sabendo do nosso trabalho realizado em Birigui. Ou seja, uma empresa do interior de São Paulo que está destacando-se no cenário nacional”, comenta. Tasso revela, no entanto, que precisou estruturar a empresa com a aquisição de maquinário e showroom que atendesse à expectativa dos clientes. “Não adianta apenas falar que você faz um bom trabalho, é preciso mostrar isso na prática para o cliente. Por isso, invisto bastante no nosso catálogo de produtos e estamos sempre em busca de novidades. Um exemplo é o jeans como tecido para sapatos e vestuário. Ele está em alta hoje, mas eu comecei a trabalhar com ele há mais de seis meses. Isso é o diferencial, e nosso desejo é estar sempre à frente, buscando novidades dentro e fora do País”, explica.

A estratégia tem dado tão certo que, segundo ele, há planos para o futuro de trabalhar também com o setor de decoração. “São produtos aos quais podemos agregar mais valor e garantir materiais personalizados, de acordo com o desejo do cliente”, afirma.

PLANEJAMENTO

Garantir crescimento, solução de problemas e sucesso exigem do empreendedor planejamento e orientação. A consultora de Marketing do Sebrae-SP, Vanessa Heleno de Oliveira Alves, afirma que uma empresa torna-se competitiva no mercado quando investe em organização. “Isso inclui Recursos Humanos, Financeiro, Marketing… É uma série de itens que precisam estar em sintonia para que a empresa ganhe visibilidade. Neste sentido, ela precisa cumprir prazos, investir em inovações e comunicar­ se com o cliente”, explica. A comunicação e até mesmo o investimento em comercial são itens indispensáveis, segundo Vanessa. “O empreendedor precisa ser visto, então orientamos para que ele participe de feiras e eventos onde estão os possíveis clientes”, comenta.

Segundo a especialista, mercados como confecções, componentes calçadistas e de brindes são alguns exemplos que podem oferecer boas oportunidades ao empresário que está em busca de entrar no mercado como fornecedor. “São nichos que ajudam a sustentar uma empresa que tem margem lucrativa baixa, mas com volume alto de pedidos”, disse. Outra orientação do Sebrae para empresas que atendem a setores de Indústria, Comércio e Serviços e Agronegócio é para que elas conheçam ao máximo os mercados externos para seu produto e, assim, consigam atuar neles também. Segundo o órgão, o sucesso depende do cumprimento da previsão orçamentária e do equilíbrio entre o custo, lucro e despesas, oferecendo ainda vantagens de compra ao cliente.

 RELACIONAMENTO

A especialista em Facilitação e Planejamento, Alie Ferreira, garante que comunicação é a chave para o desenvolvimento positivo de uma empresa que fornece para outras empresas de vários portes. Segundo ela, estar presente em redes sociais e apresentar bons resultados são importantes para qualquer mercado. “Uso como exemplo o LinkedIn, uma rede social de relacionamento onde é possível fechar grandes negócios. Por meio do contato digital, a pequena empresa demonstra que é confiável e consegue alcançar o objetivo de agendar uma reunião presencial, por exemplo”, explica.

Alie lembra também a importância da apresentação de cases e depoimentos de sucesso. “As redes sociais são ótimas ferramentas para isso. O vídeo é uma coisa que funciona muito bem também. Disponibilizar tudo isso na internet é uma forma muito eficaz de ser conhecido e reconhecido pelos bons resultados. Essa referência é uma das coisas que funciona muito bem para que pequenas e médias empresas consigam oportunidades”, comenta.

Para a especialista, os relacionamentos dão início a todo o processo de crescimento de uma empresa. “As relações humanas não podem ser deixadas de lado. As pequenas empresas podem e devem destacar-se não só pelo comprometimento e pelos processos, mas também pelos relacionamentos que podem proporcionar com o contato face a face. São características que grandes empresas valorizam muito”, aponta.

A designer Maiara Santos é um exemplo de empreendedora que utiliza-se dos benefícios da internet de olho no futuro. A Fifi – Arte em Tecido surgiu como um trabalho em família para complementar a renda, no ano de 2010, e segue até hoje produzindo bolsas, carteiras, capas para notebooks e, como ela mesma define, o que a criatividade mandar. ”A formalização foi uma das coisas mais importantes para a empresa. Conseguimos emitir nota e comprar matéria-prima de qualidade, que é o que garante a nossa competitividade no mercado, com a oportunidade de produzir e distribuir para o Brasil inteiro”, disse.

Com planos de oferecer os serviços às grandes empresas, a designer garante que tem seguido o caminho de sucesso apresentado por diversos micro e pequenos empreendedores. “Estamos sempre em feiras e de olho nos lançamentos, tanto de tecidos como de aviamentos. Já temos um público bastante fiel, mas conquistar o mercado nacional sempre foi um dos nossos sonhos”, afirma. Ela conta que entre os próximos passos da empresa está a produção de coleções para oferecer às lojas físicas. “Hoje ofereço o meu produto na internet, principalmente nas redes sociais, mas quero fazer algumas aparições físicas, como se fosse uma loja itinerante”, afirma.

ALÉM DO EMPREENDEDORISMO

Para se tornar um empresário de sucesso é preciso planejamento, organização e criatividade. Ao fornecer produtos ou serviços a grandes empresas, o empreendedor compromete-se com prazos e qualidade. Além disso, é preciso:

  •  PROCESSOS DEFINIDOS: garanta a capacidade da equipe de trabalho, estruture departamentos e avalie o estoque para não deixar o cliente na mão
  • INVESTIMENTO: em pessoas e em máquinas, para que a tecnologia seja uma aliada do negócio e garanta competitividade no mercado
  • CERTIFICAÇÕES: quanto melhor for a empresa, mais visibilidade ela ganha e isso inclui especializações na área em que você atua
  • RELACIONAMENTO: esteja onde o cliente estiver, como feiras e eventos voltados à sua área. Investir em publicidade também é importante para o crescimento da empresa.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE II

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Predições Terríveis

II – O Senhor prediz guerras e grandes perturbações entre as nações (vv. 6,7). Quando Cristo nasceu, havia uma paz universal no império, o templo do deus Jano estava fechado; mas não pense que Cristo veio para trazer paz, ou dar prosseguimento àquela paz (Lucas 12.51). Não, a sua cidade e o seu muro devem ser construídos até mesmo em tempos difíceis, e até mesmo as guerras contribuirão para o avanço da sua obra. Desde a ocasião em que os judeus rejeitaram a Cristo, e Ele deixou a casa deles desolada, a espada nunca deixou esta casa, a espada do Senhor nunca se aquietou, porque Ele lhe tinha dado uma incumbência contra a nação hipócrita e contra o povo da sua ira, e com ela Ele trouxe a ruína deles.

Aqui temos:

1. Uma predição dos eventos da época: Em breve, “ouvireis de guerras e de rumores de guerras”. Quando houver guerras, elas serão ouvidas; pois cada peleja do guerreiro se dá com confuso ruído (Isaias 9.5). Veja como é terrível (Jeremias 4.19): “Tu, ó minha alma… ouviste o alarido da guerra”. Nem mesmo os quietos na terra, e os menos curiosos sobre as coisas novas, podem deixar de ouvir os mensageiros da guerra. Deus tem uma espada pronta para vingar a disputa do seu concerto, do seu novo concerto, e assim se “levantará nação contra nação”, isto é, uma parte ou província da nação judia contra outra, cidade contra cidade (2 Cr 15.5,6); e na mesma província e cidade, um grupo ou facção se levantará contra outro, de modo que eles se devorarão, e serão despedaçados, um contra o outro (Isaias 9.19-21).

2. A recomendação do dever da época: “Olhai, não vos assusteis”. É possível ouvir notícias tão tristes, e não se assustar? Mas quando o coração está firme e confiante em Deus, ele fica em paz e não se amedronta, nem pelas más novidades das guerras e rumores de guerras, nem pelo alarido de: Armai-vos, armai-vos. “Não vos assusteis”, não sofrais, como uma mulher grávida, com medo. Observe que existe a necessidade de um cuidado e uma vigilância constantes para não perturbar o coração quando há guerras no exterior; e é contra o desejo de Cristo que o seu povo tenha corações perturbados, mesmo em tempos tumultuados.

Nós não devemos nos perturbar, por duas razões:

(1) Porque sabemos que devemos esperar por isso. Os judeus devem ser punidos, a destruição deve ser trazida sobre eles; com isto, ajustiça de Deus e a honra do Redentor devem ser confirmadas; “porque é mister que isso tudo aconteça”. A palavra saiu da boca de Deus, e ela será cumprida no seu tempo. Observe que a consideração da imutabilidade do conselho divino, que governa todos os eventos, deveria compor e aquietar os nossos espíritos, aconteça o que acontecer. Deus está apenas realizando aquilo que nos foi designado, e a nossa perturbação desordenada é uma discussão interpretativa com aquela designação. Devemos, portanto, aquiescer, porque “é mister que isso tudo aconteça”. Não somente como o produto do conselho divino, mas também como um meio para alcançar um fim. A casa antiga deve ser derrubada (embora isto não possa ser feito sem ruído, poeira e perigo), para que a nova construção possa ser edificada; as coisas móveis (e malfeitas) devem ser removidas, “para que as imóveis permaneçam” (Hebreus 12.27).

(2) Porque devemos esperar o pior: “Ainda não é o fim”. O fim dos tempos ainda não chegou, e, enquanto existir o tempo, nós devemos esperar problemas, e o fim de uma aflição será apenas o início de outra; ou: ”Ainda não é o fim desses sofrimentos; deve haver mais julgamentos além daquele utilizado para derrubar o poder judaico; mais cálices de ira devem ser derramados; somente um ‘ai’ já passou, outros ‘ais’ estão por vir, mais flechas ainda deverão ser atiradas da aljava de Deus; portanto, não se perturbem, não deem lugar ao medo e à perturbação, não afundem sob a carga atual, mas, em lugar disso, reúnam toda a força e a coragem que vocês tiverem, para enfrentar o que ainda está à sua espera. Não se perturbem por ouvir de guerras e rumores de guerras. Pois o que acontecerá com vocês, quando vierem as fomes e as pestes?” Se, para nós, somente o “ouvir tal notícia causará grande turbação” (Isaias 28.19), como será sentir o golpe, quando ele tocar o osso e a carne? “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, que farás na enchente do Jordão?” (Jeremias 12.5).

III – Ele prediz outros julgamentos que Deus enviaria em um futuro mais próximo: “fomes, e pestes, e terremotos”. A fome frequentemente é o resultado da guerra, e a peste, da fome. Estes foram os três julgamentos dos quais Davi devia escolher um; e ele estava numa dificuldade séria, pois não sabia qual deles era o pior: mas que desolação terrível eles provocam, quando todos eles recaem juntos sobre um povo! Além da guerra (que já é suficiente), haverá:

1. “Fome”, representada pelo “cavalo preto”, sob o “terceiro selo” (Apocalipse 6.5,6). Nós lemos sobre uma fome na Judéia, pouco tempo depois da época de Jesus, que empobreceu muito a nação (Atos 11.28), mas a pior fome aconteceu em Jerusalém, durante o cerco (veja Lamentações 6.9,10).

2. “Pestes”, representadas pelo “cavalo amarelo”, e a morte assentada sobre ele, e o inferno que o seguia, sob o “quarto selo” (Apocalipse 6.7,8). Isto destrói sem distinção, e em pouco tempo amontoa cadáveres.

3. “Terremotos, em vários lugares”, ou de um lugar a outro, perseguindo aqueles que fogem deles, “como fugiram do terremoto nos dias de Uzias” (Zacarias 14.5). Algumas vezes, os terremotos causaram grande desolação, nos últimos tempos e antigamente; eles foram a causa da morte de muitas pessoas, e o terror de outras. Nas visões do Apocalipse, pode-se notar que os terremotos são prenúncios do bem, e não do mal, para a igreja (Apocalipse 6.12; compare Apocalipse 6.15; 11.12,13,19; 16.17-19). Quando Deus assombrar terrivelmente a terra (Isaias 2.21), será para sacudir dela os ímpios (Jó 38.13), e para apresentar o “Desejado de todas as nações” (Ageu 2.6,7). Mas aqui eles são mencionados como julgamentos terríveis, e apenas “o princípio das dores”, das dores de parto, rápidas, violentas, e também tediosas. Observe que quando Deus julgar, Ele vencerá; quando Ele começar com a sua ira, Ele acabará (1 Samuel 3.12). Quando olhamos adiante, para a eternidade de infelicidade que está diante dos obstinados que recusam a Cristo e ao seu Evangelho, podemos verdadeiramente dizer, a respeito dos maiores julgamentos temporais: Eles são apenas o princípio das dores; ainda que as coisas sejam ruins em meio a esses juízos, serão piores depois deles.

IV – Ele prediz a perseguição do seu próprio povo e dos seus ministros, uma apostasia geral, e uma consequente decadência na religião (vv. 9,10,12). Considere:

1. A predição da própria cruz (v. 9). Note que entre todos os eventos futuros, nós mais nos preocupamos, embora normalmente com um pouco de ansiedade, em saber mais dos nossos sofrimentos do que qualquer outra coisa. Então, quando houver as fomes e as pestes, os incrédulos as atribuirão aos cristãos, fazendo delas um pretexto para persegui-los. Cristo havia dito aos seus discípulos, quando os enviou pela primeira vez, acerca dos sofrimentos que eles iriam passar; mas até então, eles tinham passado por poucos sofrimentos, e por isto Ele os relembra de que quanto menos eles tivessem sofrido, mais aflições teriam que cumprir (veja Colossenses 1.24).

(1)  Os santos serão “atormentados”, sendo amarrados e presos, cruelmente ridicularizados e açoitados, como o bendito apóstolo Paulo (2 Coríntios 11.23-25); não seriam mortos diretamente, mas mortos em todo o tempo, em mortes frequentes, mortos de modo a se sentirem morrendo, “feitos espetáculo ao mundo”(I Coríntios 4.9,11).

(2)  Eles serão “mortos”. Tão cruéis são os inimigos da igreja, que nada menos que o sangue dos santos poderá satisfazê-los, do qual eles são sedentos, e bebem e espalham, como água.

(3)  Eles serão “odiados de todas as gentes” por causa do seu nome, como Ele lhes tinha dito antes (cap. 10.22). O mundo estava, de modo geral, influenciado pela malignidade e pela inimizade aos cristãos; os judeus, embora odiados pelos pagãos, nunca foram perseguidos por estes como os cristãos foram perseguidos pelos judeus; os cristãos eram odiados pelos judeus que estavam dispersos nas nações, eram o alvo comum da maldade do mundo. O que devemos pensar deste mundo, quando os melhores homens eram os mais maltratados nele? Ê a causa que faz o mártir, e o consola; era por causa de Cristo que eles eram odiados dessa maneira; o fato de eles professarem e pregarem o seu nome incitava as nações dessa maneira contra eles; o diabo, percebendo um ataque fatal lançado contra o seu reino, e “sabendo que já tem pouco tempo”, desceu “com grande ira”.

2. “O escândalo da cruz” (vv. 10-12). Satanás trabalha pelos seus próprios interesses através da força dos braços e das suas armas, embora Cristo, no final, traga a glória para si por meio dos sofrimentos do seu povo e dos seus ministros. Três resultados ruins da perseguição são aqui preditos.

(1)  A apostasia de alguns. Quando a profissão do cristianismo começar a custar caro para os homens, então muitos se ofenderão, se debaterão com a sua profissão de fé, e por fim a deixarão; eles começarão a entrar em conflitos com a sua religião, serão indiferentes a ela, se cansarão dela, e no final se revoltarão contra ela. Considere:

[1) Não é novidade (embora seja estranho) que aqueles que conheceram o caminho da justiça se afastem dele. Paulo sempre reclama dos desertores, que começaram bem, mas foram impedidos por alguma coisa. Eles estavam conosco, mas saíram de nós, porque jamais foram nossos verdadeiramente (1 João 2.19). Isto já nos foi dito anteriormente.

[2) Os tempos de sofrimento são tempos de agitação; e na tempestade, caem alguns daqueles que estavam em pé no tempo bom, como os ouvintes cujos corações são como os pedregais (cap. 13.21). Muitos, que não precisam da ajuda de outros, seguirão a Cristo nos dias de sol, e o deixarão nos dias escuros e nublados. Eles gostarão da sua religião se puderem tê-la a um custo baixo, e estarão dispostos a perseverar nela se as exigências forem mínimas; mas quando a sua profissão de fé passar a lhes custar alguma coisa, eles a abandonarão imediatamente.

(2)  A maldade dos ímpios. Quando a perseguição está na moda, a inveja, a inimizade e a maldade estão estranhamente difundidas nas mentes dos homens, por contágio: e a caridade, a ternura e a moderação são consideradas raridades que fazem do homem um pássaro manchado. Então, eles “trair-se-ão uns aos outros”, isto é, aqueles que traiçoeiramente abandonaram a sua religião, irão odiar e trair aqueles que aderirem a ela, por quem fingiram sentir amizade. Os apóstatas, em geral, foram os mais amargos e violentos perseguidores. Observe que os tempos de perseguição são tempos de descobrimento. Os lobos em peles de ovelhas se livrarão do seu disfarce, e aparecerão como lobos; eles “trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão [ou odiarão)”. Os tempos serão necessariamente perigosos, quando a traição e o ódio – duas das piores coisas que pode haver, porque são diretamente opostas a duas das melhores (a verdade e o amor) – serão predominantes. Isto parece se referir ao tratamento bárbaro que as diversas facções entre os judeus dedicavam umas às outras; e aqueles que devoravam o povo de Deus como comiam pão, foram, com justiça, deixados para se morderem e se devorarem uns aos outros, até que se consumissem uns aos outros. Estas palavras também podem se referir aos danos causados aos discípulos de Cristo por aqueles que estavam mais próximos a eles, como descrito em Mateus 10.21: “E o irmão entregará à morte o irmão”.

(3)  O declínio geral e o esfriamento de muitos (v.12). Em tempos enganadores, quando surgem os falsos profetas, e em tempos de perseguição, quando os santos são odiados, deve-se esperar duas coisas:

[1] A “multiplicação” da iniquidade. Embora o mundo sempre esteja mergulhado na maldade, ainda existem ocasiões em que pode-se dizer que a iniquidade abunda de uma maneira especial; como quando ela é mais abrangente do que é usual, como no mundo antigo, quando “toda carne havia corrompido o seu caminho” (Genesis 6.12); e quando é mais excessiva do que é usual, quando “a violência se levanta em vara de impiedade” (Ezequiel 7.11), de modo que o inferno parece estar solto em blasfêmias contra Deus, e em inimigos aos santos.

[2] A diminuição do amor. Isto é consequência da multiplicação da iniquidade: “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará”. Isto pode ser entendido de maneira geral, referindo-se à santidade séria e verdadeira, que é resumida no amor. É bastante comum que os professores da religião esfriem na sua profissão de fé quando os maus se aquecem na sua maldade. Como a igreja de Éfeso, que, em tempos difíceis, deixou o seu primeiro amor (Apocalipse 2.2-4). Ou isto pode ser entendido, de maneira mais particular, como referindo-se ao amor fraternal. Quando a iniquidade abunda, a iniquidade enganadora, a iniquidade perseguidora, o amor normalmente esfria. Os cristãos começam a se intimidar, e a suspeitar uns dos outros; os afetos se distanciam, as distâncias se criam, formam-se grupos e, desta maneira, o amor resulta em nada. O diabo é o acusador dos irmãos, não somente para os seus inimigos, o que faz abundar a iniquidade perseguidora, mas entre si, o que faz com que o amor de muitos esfrie.

Isto fornece uma perspectiva melancólica dos tempos, pois haverá uma grande decadência de amor. Porém, em primeiro lugar, trata-se do amor de “muitos”, mas não de todos. Nos piores tempos, Deus tem os seus remanescentes que conservam a sua integridade, e retêm o seu zelo, como nos tempos de Elias, quando ele pensava ter sido abandonado. Em segundo lugar, este amor esfriou, mas não morreu; ele diminuiu, mas não se extinguiu. Existe vida na raiz, que se exibirá quando o inverno terminar. A nova natureza pode esfriar, mas não por muito tempo, pois se fosse assim, ela iria degenerar e desaparecer.

3. O consolo administrado em referência a este escândalo da cruz, pelo apoio do povo do Senhor que está sob ela (v. 14): “aquele que perseverar até ao fim será salvo”.

(1) É consolador, para aqueles que desejam o bem da causa de Cristo em geral, que, embora muitos se magoem, ainda assim alguns irão perseverar até o fim. Quando vemos tantos se afastando, temos a tendência de temer que a causa de Cristo vá afundar por falta de quem a apoie, e o seu nome seja abandonado e esquecido por falta de quem o professe; mas mesmo “neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça” (Romanos 11.5). Aqui se trata do mesmo tempo a que esta profecia faz referência; um remanescente que não é “daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”; eles perseveram até o fim, até o fim das suas vidas, até o fim do atual estado de experiência, ou até o fim deste tempo de provações e sofrimentos, até o último encontro, embora eles sejam chamados a resistir até ao sangue.

(2) É consolador, para aqueles que realmente perseveram desta maneira até o fim, e sofrem por causa da sua perseverança, saber que serão salvos. A perseverança ganha a coroa, por meio da graça, e ela a usará. Eles serão salvos. Talvez eles possam ser resgatados dos seus problemas, e sobrevivam a eles confortavelmente neste mundo; mas o que se pretende aqui é a eterna salvação. Aqueles que perseveram até o fim dos seus dias, alcançarão o fim da sua fé e esperança, a salvação de suas almas (1 Pedro 1.9; Romanos 2.7; Apocalipse 3.20). A coroa da glória irá indenizar a todos; e uma forte consideração por ela, em fé, nos capacitará a escolher morrer em uma estaca, com os perseguidos, em vez de viver em um palácio, com os perseguidores.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A INTELIGÊNCIA DO CORAÇÃO

A variação da frequência cardíaca exerce enorme influência no nosso estado emocional e nos processos mentais conscientes que dele emergem.

A inteligência do coração

Quando alguém adoece após um período de muita pressão, o estresse é sempre a causa mais suspeita. Décadas de estudos e muita mídia nos ensinaram a associar os oscilantes níveis hormonais à nossa situação emocional e garantiram fama ao cortisol, o hormônio do estresse, que se tornou o grande vilão da imunidade.

Na prática, não temos como acompanhar essas oscilações e nos resta acreditar que aqueles momentos de descontração – que com muitas manobras conseguimos incluir na agenda – mantenham em equilíbrio as estranhas substâncias que têm tanto poder sobre nosso bem-estar. Costumamos focar no controle dos processos mentais para administrar o estresse e acabamos esquecendo de prestar atenção aos sinais fisiológicos que são tão confiáveis quanto níveis hormonais na identificação do estado emocional.

Ciência relativamente nova, a neurocardiologia está comprovando que o coração tem muito a nos ensinar sobre nossas emoções e percepções: a variação da frequência cardíaca é um dos indicadores mais precisos do nível de estresse e exerce enorme influência na forma como interagimos com o mundo. Hoje reconhecido como um complexo centro de processamento de informações, o coração se comunica diretamente com o cérebro por meio de vias neurais, hormonais, biofísicas (pressão) e eletromagnéticas.

A conclusão mais óbvia é de que essa comunicação aconteça de cima para baixo, ou seja: são as ocupações da mente que provocam determinadas emoções e, como consequência, alterações no ritmo do coração. Preservamos, sem questionar, a ideia de que a relação entre corpo e mente é dominada pelo cérebro. Assim, o equilíbrio nessa relação dependeria do domínio dos processos mentais – um controle que, como toda decisão consciente, vem com certa carga de responsabilidade e, quando não bem-sucedido, de culpa.

Mas aos poucos a ciência vem abalando essas convicções e mostrando que a relação é de influência mútua. Assim como acontece com o intestino, o coração dialoga com o cérebro por uma via de mão dupla. Um consistente corpo de pesquisas mostra que a variabilidade da frequência cardíaca reflete condições de saúde, capacidade de autorregulação emocional, resiliência psicológica e clareza de pensamento.

Ali no coração também são produzidos e secretados hormônios e neurotransmissores que causam grande impacto na forma como nos sentimos. Um deles é a ocitocina – substância conhecida como hormônio do amor e da conexão social, que age como neurotransmissor e é produzida em quantidade semelhante no coração e no cérebro, de acordo com pesquisas recentes.

O sistema nervoso intrínseco do coração está constantemente enviando informações ao cérebro pelas vias aferentes (ascendentes) do nervo vago e coluna espinal, influenciando diretamente as funções cerebrais. Basta lembrar o que acontece com nossa performance mental quando estamos sob pressão: sob o caos fisiológico provocado pela situação estressante, os lapsos de memória são muito mais comuns que as ideias criativas.

A consciência de que devemos nos acalmar pouco tem poder sobre esse estado. Já uma alteração induzida na resposta fisiológica – num movimento de baixo para cima – restabelece o equilíbrio biológico necessário e propício para o desempenho favorável da mente e do corpo.

Um estado de coerência cardíaca – termo que indica a harmonia e estabilidade do padrão de ritmo do coração – leva a uma sincronização entre sistemas oscilatórios, como a respiração. De acordo com pesquisadores do Instituto de Neurocardiologia Heart Math, “emoções positivas, inclusive aquelas que são auto induzidas, transformam o sistema inteiro em um modo psicológico harmonioso e globalmente coerente, o que pode ser associado a uma melhoria na performance do sistema, na capacidade de autorregulação e num estado geral de bem-estar”, descreve Rolin McCraty, diretor de pesquisa do instituto, no livro Science of the Heart (“ciência do coração”).

Isso significa que com as técnicas certas podemos induzir mudanças fisiológicas que irão agir positivamente sobre os nossos sentimentos e, como consequência, pensamentos e atitudes. Há evidências, por exemplo, de aumento na coerência cardíaca com a prática de alguns minutos de respiração lenta e profunda (seis respirações por minuto). Outra técnica eficaz consiste no direcionamento da atenção aos próprios batimentos cardíacos enquanto se respira mais profunda e lentamente que de costume. A atenção focada ao ritmo cardíaco está associada à sincronização da comunicação entre coração e o cérebro, numa interação não apenas psicológica, mas energética.

Está no controle da atenção, portanto, o poder de regular as respostas fisiológicas e psicológicas a qualquer tipo de situação que nos tire do conforto. A mudança induzida de ritmo é capaz de transformar o estado emocional e, assim, todos os processos mentais que deles emergem, sendo favorecidos pelas emoções que consideramos positivas.

 

MICHELE MULLER – é jornalista, pesquisadora especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br

OUTROS OLHARES

BONECAS RUSSAS

Às vésperas da Copa do Mundo, um bordel em Moscou lançou uma nova atração: robôs sexuais dotados de inteligência artificial que atuam como meretrizes.

Bonecas russas

Em um encontro romântico, diz-se que houve química quando há aquela faísca indescritível, única, ao toque de uma pele em outra.

A evolução tecnológica, porém, agora permite que essa química não se dê mais necessariamente pelo contato carnal. Em vez de pele com pele, pode-se substituir uma delas por plástico. Na vanguarda desse novo movimento está um bordel inaugurado em Moscou, desde já chamariz para quem busca algum tipo, qualquer tipo, insista-se, de turismo sexual durante a Copa do Mundo, que começa em 14 de junho.

O The Dolls Hotel (O Hotel das Bonecas) oferece, pelo equivalente a 300 reais, intimidade com uma ginoide (o feminino de androide). É um cabaré de robôs. A unidade moscovita é a segunda abastecida com os modelos da fabricante espanhola LumiDolls, que abriu o primeiro serviço do tipo em Barcelona, em 2017. Há outros exemplos pelo mundo, com bonecas de origens diversas, como o prostíbulo parisiense Xdolls. O proprietário da casa de prazeres na Rússia, Dmitry Alexandrov, exibe uma estatística para defender seu negócio: segundo ele, 36% de seus conterrâneos afirmam estar insatisfeitos sexualmente. “Criar um centro de lazer adulto é uma forma legal e segura de melhorar essa condição”, diz ele.

As ginoides – o lupanar russo não oferece versões masculinas – têm corpo de silicone (para suportar banhos quentes) ou de borracha termoplástica (que dá maior sensação de maciez). Algumas características do robô, como a cor dos olhos e o tamanho da boca, são customizáveis pela clientela. Os modelos avançados têm sensores sensíveis ao toque. Guiadas por softwares de inteligência artificial, as bonecas podem sentir o contato e reagir com falas, movimentos e sons. Algumas até conversam com o companheiro – antes ou depois do ato – sobre assuntos banais. Depois de desempenharem seus trabalhos, os robôs são higienizados, garantem os donos dos estabelecimentos. Usualmente, as genitálias são destacáveis e podem ser esterilizadas numa máquina comum de lavar louça.

O fetiche soa esquisito – e é esquisito. Só que essa estranheza não deve perdurar. O mercado de maquinas sexuais e incipiente, mas apenas uma das fábricas de maior sucesso já produz trinta exemplares por mês, tanto masculinos quanto femininos, a maioria deles para uso doméstico, e não em prostíbulos. Os modelos básicos custam 4.000 reais, mas os incrementados, como os de Moscou, ultrapassam os 20.000 reais. Estima-se que a indústria desses brinquedos sexuais possa movimentar anualmente acima de 25 bilhões de dólares nos anos 2020.

“Esses robôs serão bem comuns”, disse a sexóloga americana Holly Richmond. “Mas não é preciso alarmar-se, pois os sexbots se tornarão uma ferramenta como qualquer outra, e jamais substituirão a intimidade com humanos. As pessoas continuarão a ter filhos.” Há, todavia, os que exageram na dose. No ano passado, o chinês Zheng Jiajia se declarou casado com uma máquina desse tipo – o matrimônio não foi oficializado pelo governo. Do outro lado, a ONG Campaign Against Sex Robots (Campanha contra Robôs Sexuais) batalha pelo banimento da prática. A ruidosa discussão não é uma brincadeira. É coisa séria se lembrarmos da existência de uma ginoide, Sophia, que recebeu, em 2017, o status (e os direitos) de cidadã na Arábia Saudita. Se Sophia fosse levada à força para um bordel na Rússia, seu algoz poderia ser punido?

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHOS DESCENTRALIZADOS: FLEXIBILIDADE E REDUÇÃO DE CUSTOS

A opção para cortar gastos com a sede da empresa tem sido a contratação de funcionários em regimes descentralizados. Entenda as modalidades de trabalho a distância previstas na legislação.

Trabalhos descentralizados - Flexibilidade e redução de custos

Uma tendência presente na pós-modernidade é um fenômeno conhecido como desmaterialização. É algo como a tendência pelo intangível. A nossa sociedade está cada vez mais habituada a trabalhar com o intangível. Músicas, filmes e até livros são armazenados em estruturas ou arquivos virtuais. Essa tendência também vem sendo incorporada por algumas empresas, que para lidar com os altos custos mensais, como aluguel, mobília, equipamentos, entre outros, optam pela descentralização das suas sedes, permitindo que os seus profissionais trabalhem em casa ou até mesmo em outros locais, fazendo apenas eventuais contatos com o empregado por meios previamente definidos.

Na esfera dos trabalhos descentralizados temos pelo menos três modalidades principais: o trabalho em domicílio, o trabalho a distância e o teletrabalho, que embora sejam semelhantes são conceitualmente diferentes.

O trabalho em domicilio é aquele que tem lugar próprio para ser realizado, geralmente a residência do empregado. O profissional utiliza a sua casa como escritório, o famoso home office. Nessa modalidade de trabalho, em especial, é comum que o empregado seja remunerado em razão dos seus serviços e das tarefas realizadas, visto que existe certa impossibilidade de realizar o controle de jornada dele, por estar em sua própria residência. Além disso, uma vez que o empregado está dispondo de parte de seus recursos para a prestação de serviços, é comum que o empregador realize certa quantia em pagamento a título de ajuda de custo, de forma a fazer frente a despesas esperadas na prestação de serviços.

Já o trabalho a distância em sentido estrito é aquele realizado fora da sede do empregador e que não possui local fixo para a sua prestação, podendo ocorrer em qualquer outra localidade. Essa modalidade é a típica situação dos empregados que realizam vendas ou outra espécie de representação na qual seu emprego consiste justamente em atividades fora da empresa. Nesses casos também não são exigidos o controle de jornada e o consequente pagamento de horas extras. É prática comum nesse segmento o pagamento de ajuda de custo para deslocamentos e diárias quando o profissional se ausenta para regiões para realizar seu trabalho.

O teletrabalho é a forma mais moderna e versátil desse grupo, pois é a aglutinação das duas formas anteriores ao uso das novas tecnologias para controle e subordinação do empregado. O teletrabalho é definido basicamente pelos seguintes elementos: o trabalho externo (domicilio ou não do empregado) e a utilização de meios telemáticos de controle e subordinação do empregado.

 TELETRABALHO E SUAS VERTENTES

O teletrabalho é na verdade a figura à qual geralmente nos referimos quando dizemos que alguém presta serviços home office, pois na maior parte das vezes essa pessoa está conectada à sede da empresa por sistemas de comunicação. Teletrabalho pode ocorrer por meio de três principais formas: a mais comum é na casa do empregado, onde é necessária a disponibilização de um computador ou outro mecanismo tecnológico para se conectar com a empresa.

A segunda maneira acontece nos chamados centros satélites, que são micro estabelecimentos de propriedade do empregador que, para evitar o deslocamento de seus profissionais, estabelece sedes alternativas para que os serviços sejam prestados sem a necessidade de deslocação para a matriz da empresa.

Por último, ocorre nos chamados tele centros, que são espaços compartilhados por grupo de empresas, principalmente com finalidade de redução de custos. Esses ambientes possibilitam aos profissionais um espaço de trabalho com contato direto com as suas empresas, mas apartados fisicamente delas.

Em todos os casos, o vínculo trabalhista é preservado e o profissional possui direito a todas as vantagens que não sejam incompatíveis com a natureza da sua prestação de serviços.

 

FAGNER FABRÍCIO SOUZA – é bacharelado em Direito pela Universidade São Judas Tadeu, atua na ProPay como advogado e sua especialidade é Consultoria Trabalhista com foco nas rotinas de Departamento Pessoal

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE I

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Predições Terríveis

Os discípulos tinham perguntado sobre a época: “Quando serão essas coisas?” Cristo não lhes deu nenhuma resposta, não lhes disse depois de quantos dias e anos a sua predição se cumpriria, pois não nos “pertence saber os tempos” (Atos l. 7), mas eles tinham perguntado: “Que sinal haverá?” A esta pergunta, Ele responde de maneira completa, pois nós estamos preocupados em conhecer “os sinais dos tempos” (cap. 16.3). A profecia, basicamente, diz respeito aos eventos próximos da destruição de Jerusalém, o fim da igreja e da nação judaicas, o chamado dos gentios, e o estabelecimento do reino de Cristo no mundo; mas assim como as profecias do Antigo Testamento, que têm uma referência imediata às questões dos judeus e às revoluções na sua nação, sob o exemplo delas, estas profecias vão mais adiante, referindo-se à igreja do Evangelho e ao reino do Messias, e desta maneira são expostas no Novo Testamento, e as expressões que são encontradas nessas predições são peculiares a ele, e não se aplicam a nada mais. Sendo assim, esta profecia, como símbolo da destruição de Jerusalém, refere-se até ao juízo geral, e como é usual nas profecias, algumas passagens são mais aplicáveis aos acontecimentos do presente, e outras, aos do futuro; e no seu final, como é usual, ela aponta mais particularmente para o futuro. Deve-se notar que o que Cristo diz aqui aos seus discípulos tende mais a despertar a sua precaução do que a satisfazer a sua curiosidade; mais para prepará-los para os eventos que iriam acontecer, do que para lhes dar uma ideia distinta dos próprios eventos. Este é aquele bom conhecimento dos tempos que todos nós deveríamos procurar obter; para deduzir o que Israel deveria fazer; e assim essa profecia é de uso duradouro para a igreja, e assim será, até o final dos tempos; pois “o que foi, é o que há de ser” (Eclesiastes 1.5,6,7,9), e a série, conexão, e presságios dos eventos são praticamente os mesmos que eram naquela época; par a que sobre a profecia deste capítulo, que aponta para aquele evento, possam ser feitos prognósticos morais, e os sinais dos tempos possam ser discernidos de modo que o coração do homem sábio possa saber como melhorar.

I – Aqui Cristo prediz o aparecimento de enganadores. Ele começa com um aviso: ”Acautelai-vos, que ninguém vos engane”. Eles esperavam ouvir quando essas coisas aconteceriam, esperavam ser aceitos para participar desse segredo; mas esse aviso serve para refrear a sua curiosidade: “O que isto interessa a vocês? Cuidem dos seus deveres, sigam-me e não se deixem convencer a deixar de me seguir”. Aqueles que são mais curiosos a respeito dos assuntos secretos que não lhes dizem respeito são mais facilmente impressionáveis pelos enganadores (2 Tessalonicenses 2.3). Os discípulos, quando ouviram que os judeus, seus mais inveterados inimigos, seriam destruídos, poderiam estar correndo o risco de um excesso de segurança. “Não”, diz Cristo, “vocês estão mais expostos de outras maneiras”. Os enganadores são inimigos mais perigosos à igreja do que os perseguidores.

Três vezes, nesse sermão, Ele menciona o aparecimento de falsos profetas, o que era:

1. Uma predição da ruína de Jerusalém. Aqueles que mataram os verdadeiros profetas foram, com justiça, deixados para ser enganados pelos falsos profetas; e aqueles que crucificaram o verdadeiro Messias, foram deixados para ser ludibriados e destruídos pelos falsos Cristas e Messias imaginários. O aparecimento deles seria a ocasião da divisão do povo em partidos e facções, o que tornaria a sua destruição mais fácil e rápida; e o pecado dos muitos que eram deixados de lado por eles ajudou a completar a medida.

2. Um teste para os discípulos de Cristo, que, portanto, estava de acordo com a sua situação de experiência, “para que os que são sinceros se manifestem”.

A respeito desses enganadores, observe aqui:

(1) Os pretextos sob os quais eles apareceriam. Satanás age maliciosamente quando aparece como um anjo de luz; o pretexto de um bem maior é, frequentemente, o que encobre o mal maior.

[1) Apareceriam “falsos profetas” (vv. 11- 24). Os enganadores fingiriam ter inspiração divina, uma missão imediata e um espírito de profecia, quando tudo isso era uma mentira. Assim eles tinham sido anteriormente (Jeremias 23.16; Ezequiel 13.6), como havia sido predito (Deuteronômio 13.3). Alguns pensam que os enganadores aqui indicados eram pessoas que tinham se estabelecido como professores na igreja, e tinham conquistado reputação por sê-lo, mas posteriormente traíram a verdade que tinham ensinado e se voltaram para o erro; e de pessoas assim, o perigo é ainda maior, porque elas são mais insuspeitas. Um falso traidor nas tropas pode causar mais mal que mil arqui-inimigos de fora.

 

[2] Apareceriam falsos Cristos: “Muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo” (v. 5), estes assumirão o nome peculiar a Ele, dizendo: “Eu sou o Cristo” – “falsos cristos” (v. 24). Havia, naquela época, uma expectativa geral pelo aparecimento do Messias; falava-se dele como sendo aquele que viria; mas quando Ele realmente veio, a nação o rejeitou; disso, aqueles que tinham ambição de serem famosos se aproveitaram, e se passaram por Cristo. Josefo fala de diversos impostores deste tipo, entre essa ocasião e a destruição de Jerusalém; um Teudas, que foi derrotado por Cóspio Fado. Outro, por Félix, outro, por Festa. Dosetheus disse que era o Cristo profetizado por Moisés. Veja Atos 5.36,37. Simão, o mágico, fingiu ter “a grande virtude de Deus” (Atos 8.10). Nos anos posteriores, houve pessoas que fingiram como ele; um deles, cerca de cem anos depois de Cristo, chamava a si mesmo de Barcochobas – O filho de uma estrela, mas, na verdade, era Barcosba – O filho de uma mentira. Aproximadamente cinquenta anos antes, Sabbati-Levi tinha se estabelecido como Messias no império turco, e foi muito querido pelos judeus; mas dentro de pouco tempo, foi revelada a sua tolice. A religião papista, na verdade, estabelece um falso Cristo. O papa se apresenta, em nome de Cristo, como seu substituto, mas invade e usurpa todos os seus ofícios, e passa a ser seu rival; e como tal, torna-se seu inimigo, um enganador, e um anticristo.

[3] Esses falsos Cristas e falsos profetas teriam seus agentes e emissários trabalhando em todos os lugares, para atrair pessoas (v. 23). Então, quando os problemas públicos forem grandes e ameaçadores, e as pessoas estiverem procurando qualquer coisa que se pareça com libertação, Satanás irá se aproveitar e impor-se a elas. Eles dirão: Eis aqui o Cristo, ou: Ei-lo ali; mas não acreditem neles: o verdadeiro Cristo não luta, não clama, nem foi dito sobre Ele: “Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali”! (Lucas 17.21), portanto, se alguém disser isso sobre Ele, considere que é uma tentação. Os eremitas, cuja religião é vivida em uma vida monástica, dizem: Ele está no deserto; os sacerdotes, que dizem que a hóstia consagrada é Cristo, dizem: Ele está no interior da casa. “Eis que Ele está neste santuário, naquela imagem”. Desta maneira, alguns se apropriam da presença espiritual de Cristo, em benefício de um grupo ou de uma crença, como se tivessem o monopólio de Cristo e do cristianismo; e assim pensam que o reino de Cristo deve erguer-se e cair, viver e morrer, com eles. “Eis que Ele está nesta igreja, ou naquele concílio”. Mas “Cristo é tudo em todos”, e assim não é possível ficar dizendo que Ele está aqui ou ali; pois Ele vai ao encontro do seu povo com uma bênção em todos os lugares onde Ele registra o seu nome.

(2) A prova que eles ofereceriam por fazer o bem com esses pretextos: eles “farão tão grandes sinais e prodígios” (v. 24). Não seria m milagres verdadeiros, aqueles que são um selo divino, e com os que se confirma a doutrina de Cristo; portanto, se alguém tentar nos atrair por tais sinais e prodígios, nós devemos recorrer àquela regra dada antigamente (Deuteronômio 13.1-3): “Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos, porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova”. Mas esses eram “prodígios de mentira” (2 Tessalonicenses 2.9), operados por Satanás (com a permissão de Deus), que é “o príncipe das potestades do ar”. Não foi dito: Eles realizarão milagres, mas sim: Eles farão grandes sinais. Eles nada são, além de um espetáculo; ou influenciam a credulidade dos homens por falsas narrativas, ou enganam os seus sentidos com truques de prestidigitação, ou artes de adivinhação, como faziam os mágicos do Egito com seus encantos.

(3) O sucesso que eles teriam nos seus esforços:

[1] Eles “enganarão a muitos” (v. 5), e novamente no versículo 11. Observe que o diabo e os seus instrumentos podem vencer ao enganar pobres almas; poucos encontram a porta estreita, mas muitos são atraídos para o caminho mais largo: muitos serão influenciados pelos seus sinais e prodígios, e muitos serão atraídos pelas esperanças de libertação dos seus sofrimentos. Observe que nem milagres nem multidões são sinais seguros de uma verdadeira igreja; pois “toda a terra se maravilhou após a besta” (Apocalipse 13.3).

[2] Eles, “se possível fora, enganariam até os escolhidos”, v. 24. Isto sugere, em primeiro lugar, o poder da ilusão. Este poder será tal, que muitos serão fascinados por ele (tão forte será a corrente), mesmo aqueles que julgavam que iriam resistir. O conhecimento dos homens, os dons, o estudo, a situação eminente, e o longo tempo de profissão de fé, nada irá protegê-los; mas, apesar deles, muitos serão enganados; nada, exceto a graça onipotente de Deus, de acordo com o seu eterno objetivo, será uma proteção. Em segundo lugar, a segurança dos eleitos em meio ao perigo, que é sugerida pelas palavras: “se fora possível”, dando a entender, claramente, que isto não é possível, pois eles estão protegidos pelo poder de Deus, para que o propósito de Deus, de acordo com a eleição, possa persistir (Hebreus 6.4,5,6). Se os escolhidos de Deus fossem enganados, a escolha de Deus seria derrotada, o que não é imaginável, pois aos que Ele “predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.30). Eles foram dados a Cristo, e ele todos os que lhe foram dados, Ele não perderá nenhum (João 10.2 8). Grotius interpretou isso como significando a maior dificuldade em afastar os cristãos primitivos da sua religião, e cita que isto era usado proverbialmente por Galen. Quando ele queria expressar algo que era muito difícil e moralmente impossível, ele dizia, “é mais fácil afastar um cristão de Cristo”.

(4) Os avisos repetidos que o nosso Salvador dá aos seus discípulos, para que se acautelem contra eles. Ele lhes deu avisos para que pudessem estar vigilantes (v. 25): “Eis que eu vo- lo tenho predito”. Aquele que é avisado de que será atacado, poderá se salvar, como fez o rei de Israel (2 Reis 6.9,10). Observe que os avisos de Cristo têm o objetivo de despertar a nossa vigilância, e embora os eleitos sejam preservados do engano, eles serão preservados através do uso dos meios indicados, e de uma devida consideração aos avisos da Palavra. Nós somos protegidos, pela fé, pela fé na Palavra de Cristo, daquilo que Ele nos adverte com antecedência.

[1] Não devemos crer naqueles que dizem: “Eis que o Cristo está aqui ou ali” (v. 23). Nós cremos que o Cristo verdadeiro está à destra de Deus, e que a sua presença espiritual está onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome; não devemos crer; portanto, naqueles que tentam nos afastar de um Cristo no céu, dizendo que Ele está em algum lugar aqui na terra; ou que tentam nos afastar da igreja universal na terra, dizendo que Ele está aqui, ou que está ali; “não acrediteis”. Observe que não existe maior inimigo da fé verdadeira do que a credulidade vã. O simples crê em cada palavra, e persegue cada clamor.

[2] Não devemos seguir aqueles que dizem: “Eis que ele está no deserto”, ou: “Eis que ele está no interior da casa” (v. 26). Não devemos dar ouvidos a todo fingidor e empírico, nem seguir a todos os que erguem o dedo para nos indicar um novo Cristo e um novo Evangelho. “Não os sigam, pois se o fizerem, vocês estarão correndo perigo de serem levados por eles; por isso, não permaneçam no caminho do mal, não sejam “levados em roda por todo vento de doutrina”; a vã curiosidade de muitos homens em segui-los os levou a uma apostasia fatal; a sua força, nessa situação, consiste em permanecer quietos, para que tenham o coração estabilizado com graça”.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

QUEM VÊ CARA VÊ CORAÇÃO?

A morfologia do rosto humano carrega mensagens sobre comportamento sexual e social.

Quem vê cara vê coração

Estudos recentes têm ligado a morfologia facial humana a uma série de características comportamentais ou tendências de disposição para agir. Os traços craniofaciais que são dependentes de androgênios (hormônios masculinos) foram, em teoria, moldados pela seleção natural para fornecer pistas que revela m características reprodutivas subjacentes, como agressividade e dominância social. A associação entre a forma do crânio e da face com comportamento agressivo vem da influência com um que a exposição à testosterona (principal hormônio masculino) tem no crescimento dos tecidos craniofaciais e na organização da circuitaria cerebral que processa o comportamento agressivo. Ou seja, maior exposição à testosterona em períodos críticos do desenvolvimento pode influenciar tanto o tamanho e forma do rosto como também os circuitos cerebrais que estão envolvidos no comportamento.

Uma medida empregada nos estudos é a relação entre a medida da largura do rosto dividida pela medida da altura, a chamada relação largura / altura facial. Quanto maior o valor dessa relação, ou seja, quanto mais largo é o rosto, mais é exibido comportamento agressivo em homens, comportamento antiético, expressão de preconceito, traços de psicopatia, impulso de realização, sacrifício frente aos membros de seu grupo, sucesso financeiro e atratividade como parceiro sexual de curto prazo. Tomadas em seu conjunto, essas descobertas parecem indicar que os níveis hormonais podem de fato influenciar a forma do rosto e o comportamento. Mesmo observadores externos avaliam o rosto masculino com maior relação largura/ altura como mais dominante e agressivo.

O nível de testosterona tem sido associado não somente a comportamentos de busca de status ou dominância, mas a uma variedade de condutas sexuais, como maior interesse em sexo autorrelatado, em auto estimulação psicossexual e em aumento de fantasias sexuais e de frequência de relações sexuais eletivas. Já níveis baixos de testosterona têm sido relatados em casos de disfunção erétil e baixa libido, e em situações de masturbação e intercurso menos frequente. A administração de testosterona aumenta o desejo e a frequência sexual entre homens. Em mulheres, verifica-se transtorno de desejo hipoativo quando os níveis desse hormônio estão baixos, e resposta positiva de aumento do impulso quando se administra a testosterona.

Em um estudo, cerca de 500 participantes foram questionados sobre sua orientação sexual, suas relações sexuais e se consideravam ser infiéis aos parceiros. Os resulta dos mostraram que os homens com rostos mais largos e curtos em altura, com maior relação entre largura e altura craniofacial, eram vistos como mais atrativos como parceiros de curto prazo, e como mais dominantes. Os homens com maior relação largura / altura tinham maior impulso sexual e expressaram maior inclinação para trair seus parceiros. As mulheres com rostos mais largos também apresentam um maior impulso sexual, embora uma importante diferença entre os gêneros tenha emergido, pois estas não relataram maior intenção de trair seus parceiros.

Uma outra pesquisa considerou fotos de homens com diferentes relações entre a largura e altura craniofacial. Os pesquisadores verificaram que observadores dessas fotos julgavam os rostos com maior relação entre largura e altura como mais agressivos do que aqueles com rostos mais finos. Um aspecto interessante desse estudo foi o uso de versões com barba e sem barba dos mesmos rostos. A barba não fez diferença na percepção da relação entre largura e altura facial, mostrando que os julgamentos faciais evoluíram para serem altamente sensíveis a formas que revelam disposições e traços subjacentes. Sem dúvida, a seleção natural foi construindo ao longo de milhares de gerações mecanismos neurais extremamente precisos para extrair, de um rápido olhar para um rosto humano, informações que permitem prever aspectos de comportamento importantes, como os ligados aos comportamentos sexual e social da pessoa.

 

MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed,2011).

OUTROS OLHARES

A DINÂMICA DA FELICIDADE

Afinal, quem é feliz? Por que algumas pessoas são mais felizes que outras? Qual a relação entre a riqueza material e a felicidade? Quais características, traços, atributos e circunstâncias marcam as vidas felizes?

A dinâmica da felicidade

O que faz um homem ou uma mulher feliz tem sido objeto de atenção desde os tempos mais antigos e as respostas têm varado desde o materialismo, que busca a felicidade nas condições externas até o espiritualismo, que afirma que a felicidade é o resultado de uma atitude mental. Se Aristóteles, em seu tempo, já havia notado que os seres humanos valorizavam um grande número de coisas como saúde, fama e aquisição de bens materiais, porque acreditavam que estas os tornariam felizes, nós na contemporaneidade também valorizamos a felicidade pelo bem-estar que ela nos proporciona. Assim, a felicidade é o único objetivo intrínseco que as pessoas procuram para o seu próprio bem, ou seja, é a linha de base para todos os desejos.

 ANTECEDENTES FILOSÓFICOS

Não foi somente Aristóteles quem abordou a felicidade. Outros filósofos, como John Locke e Jeremy Bentham, por exemplo, também o fizeram e entendiam que uma boa sociedade é aquela que permite uma maior quota de felicidade para um maior número de pessoas.

Em particular, Locke estava consciente da futilidade de se buscar a felicidade sem qualificações e argumentou que era necessário buscá-la com prudência, isto é, as pessoas não deveriam confundir a felicidade imaginária com a felicidade real. Parece que Locke se inspirou no filósofo grego Epicuro, que há 2300  anos enfatizou claramente que, para gozar uma vida feliz devemos desenvolver a autodisciplina. O materialismo de Epicuro era solidamente baseado na habilidade de procrastinar a gratificação de modo que, para ele, a felicidade poderia, algumas vezes, ser adiada caso a convivência momentânea com a dor servisse, de algum modo, para evitar uma dor maior.

Todavia, esta não é a imagem que muitas pessoas têm atualmente do Epicurismo. A visão popular é que o prazer e o conforto material devem ser sempre alcançados, quaisquer que sejam, e que eles, sozinhos, melhorarão a qualidade de vida das pessoas. Com o avanço tecnológico promovendo a longevidade, parece plenamente justificada a esperança de que as recompensas materiais possam fazer uma melhor qualidade de vida. Entretanto, o século XXI está deixando claro que a solução não é tão simples assim. Ainda que os habitantes das nações industrializadas mais ricas estejam vivendo períodos de riqueza sem precedentes, os mesmos não dão indício de estarem mais satisfeitos com sua vida do que estavam antes. Ou seja, a melhoria de vida não equivaleu a uma maior felicidade.

 A PSICOLOGIA POSITIVA

Apesar do reconhecimento de que a felicidade é um objetivo fundamental da vida, tem havido um progresso muito lento no entendimento do que consiste, a felicidade e quais os fatores que a caracterizam. A Psicologia, por exemplo, tendo redescoberto este tópico recentemente, tem procurado tratá-lo nos domínios da Psicologia Positiva ou Psicologia do Funcionamento Ótimo. De fato, desde a criação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, por Wundt, em 1879, a Psicologia, como Ciência, tem focalizado mais a doença do que a saúde, mais o medo do que a coragem, mais a agressão do que o amor.

Embora seja plenamente compreensível que muito da atenção dos psicólogos se dirija com maior ênfase para a compreensão do sofrimento humano, vislumbra-se, no início deste milênio, uma Psicologia mais preocupada com a investigação científica do bem-estar subjetivo. E, para isto, duas questões têm sido formuladas: quão felizes são as pessoas? E quais são as pessoas felizes e que características, traços e circunstâncias marcam a vida dessas pessoas?

 DINHEIRO VERSUS FELICIDADE

Dados epidemiológicos e levantamentos estatísticos sobre patologias sociais, obtidos, nos Estados Unidos, servem de evidências indiretas para mostrar que, atualmente, as pessoas não são mais felizes do que os seus antepassados. De fato, os dados mostram que duplicaram ou mesmo triplicaram os crimes violentos, os colapsos familiares e os sintomas/sinais psicossomáticos desde a última metade do século passado. Se o bem-estar material conduz a felicidade, por que nem a solução capitalista nem a socialista parecem funcionar? Por que uma grande multidão, vivendo sob a abundância capitalista, está se tornando crescentemente viciada em drogas para dormir, para se animar, para se manter em forma/elegância, e para escapar do tédio e da depressão? Por que os suicídios e a solidão são problemas crônicos na Suécia, que tem aplicado os melhores princípios socialistas para fornecer segurança material aos seus habitantes?

Evidências diretas sobre a relação ambígua entre bem-estar material e bem-estar subjetivo se originam dos estudos sobre felicidade que os psicólogos, finalmente, empreenderam, após um longo período de atraso em que a pesquisa sobre felicidade era considerada muito elementar e sem rigor para ser empreendida experimentalmente.

Certamente é verdade que estes estudos são baseados somente em levantamentos envolvendo registros verbais e em escalas que podem ter diferentes significados dependendo da cultura e da linguagem nas quais são escritas. Não obstante, até o presente momento, estes trabalhos representam o estado de uma arte que, inevitavelmente, se tornará mais precisa com o decorrer do tempo.

Estes estudos mostram que comparações entre nações indicam uma correlação razoável entre a riqueza de um país, como mensurada pelo seu Produto Interno Bruto (PIB), e a felicidade avaliada pelos registros verbais de seus habitantes. Os habitantes da Alemanha e do Japão, por exemplo, nações com um PIB duas vezes maior que o PIB da Irlanda, registraram, todavia, níveis menores de felicidade. Comparações dentro dos países mostraram relações muito mais fracas entre o bem-estar material e o bem-estar subjetivo. Por exemplo, em um estudo no qual foram analisados alguns dos indivíduos mais ricos dos Estados Unidos constatou-se que os níveis de felicidade deles se situavam ligeiramente acima dos indivíduos com um rendimento mediano.

Em outro estudo foi’ analisado um grupo de ganhadores na loteria e dele se concluiu que, apesar deste aumento repentino na riqueza, o nível de felicidade não foi diferente daquele das pessoas injuriadas por traumas, tais como cegueira ou paraplegia. Outro estudo envolvendo um escalonamento nacional, realizado nos Estados Unidos também mostrou que o fato de ter mais dinheiro para gastar não necessariamente conduz a um nível maior de bem-estar subjetivo. Os dados mostraram que, embora os valores dos rendimentos pessoais, ajustados depois dos descontos do imposto de renda, tenham praticamente dobrado entre os anos de 1960 – 1990, a porcentagem de pessoas se auto relatando muito felizes permaneceu praticamente inalterada, por volta de 30%. Logo, apesar da evidência de que riqueza material e felicidade é, na melhor das hipóteses, fraca, muitas pessoas ainda se apegam à noção de que os seus problemas seriam facilmente resolvidos se elas tivessem unicamente mais dinheiro.

Face a estes fatos, parece-nos que uma das mais importantes tarefas dos psicólogos será entender melhor a dinâmica da felicidade e imediatamente comunicar estes resultados a um grande público. Se uma das principais justificativas para a existência da Psicologia é ajudar a  reduzir o estresse e suportar o bem-estar psíquico, então os psicólogos deveriam tentar prevenir a desilusão que se origina quando as pessoas sentem que gastaram uma grande parte de sua vida se esforçando para alcançar objetivos que não podiam satisfazê-las completamente. Os psicólogos deveriam, então, ser hábeis em fornecer alternativas que, em longo prazo, conduzissem a uma vida mais recompensadora.

 RAZÕES SOCIO CULTURAIS E PSICOLÓGICAS

Há entre outras, quatro principais razões que explicam a falta de uma relação direta entre o bem-estar material e a felicidade. As duas primeiras são socioculturais e as duas últimas são de natureza mais psicológicas. A primeira razão é o nível de aspiração ou o escalonamento das expectativas. Se uma pessoa se empenha em alcançar certo nível de riqueza pensando que isto a tomará mais feliz, logo verificará que, ao alcançar este nível, ela se tomará rapidamente habituada e que neste ponto ela almejará o nível seguinte de rendimento, propriedade ou boa saúde.

Assim, não é o tamanho objetivo dá recompensa, mas sim sua diferença em relação ao nível de adaptação de uma dada pessoa que fornece o valor subjetivo.

A segunda razão está relacionada à primeira. Quando os recursos são desigualmente distribuídos, as pessoas avaliam suas posses não pelo que elas de fato necessitam para viver em conforto, mas sim, em comparação com aquelas pessoas que têm mais. Deste modo, as pessoas relativamente abastadas sentem-se pobres em comparação àquelas muito ricas e são, por consequência, infelizes. Este fenômeno denominado de privação relativa, parece ser relativamente universal e bem robusto. Por sua vez, a terceira razão é que a riqueza material, isoladamente, não é bastante paro fazer uma pessoa feliz. Outras condições, como por exemplo, ter uma vida familiar satisfatória, ter amigos íntimos e ter tempo para refletir e buscar diversos interesse têm sido relacionadas com a felicidade. Não há certamente qualquer razão intrínseca para que estes dois conjuntos de recompensas – a material e a socio­emocional –  sejam mutuamente exclusivos. Na prática, todavia, é muito difícil reconciliar suas demandas conflitantes.  Logo, as vantagens materiais nem sempre são prontamente traduzidas em benefícios sociais e emocionais.

A quarta razão é corroborada pelo fato de que, à medida que muito de nossa energia psíquica torna-se investida em objetivos materiais, é comum que a nossa sensibilidade para outras recompensas se atrofie. Amizade, arte, literatura, beleza natural, religião e filosofia tornam-se cada vez menos interessantes. O economista sueco Stephen Linder certa vez mencionou que, quando os rendimentos aumentam e, por consequência, o valor do tempo de uma pessoa aumenta, torna-se cada vez menos ”racional” gastá-lo em algo além de obter dinheiro ou gastá-lo com conspicuidade. O custo da resposta de brincar com uma criança, ler uma poesia ou atender a uma reunião familiar torna-se bastante alto e, assim, a pessoa para de fazer tais coisas, achando-as irracionais. Eventualmente uma pessoa que responde apenas às recompensas materiais torna-se cega para qualquer outro tipo e perde a habilidade para derivar a felicidade de outras fontes. Como quaisquer vícios, em geral as recompensas materiais, num primeiro momento, enriquecem a qualidade de vida e, talvez, devido a isso, tendamos a concluir que, quanto mais, melhor. Porém, a vida raramente é linear; em inúmeros casos, o que é bom, em pequenas quantidades, torna-se corriqueiro e, então, perigoso em doses maiores. A dependência dos objetivos materiais é bastante difícil de evitar, em parte porque nossa cultura tem, progressivamente, eliminado alternativas que no passado foram usadas para dar significado e propósito à nossa vida.

Muitos historiadores têm afirmado que as culturas passadas forneceram uma grande variedade de modelos atrativos para viver com sucesso. Uma pessoa poderia ser valorizada e admirada pelo fato de ser um santo, um sábio, um bom escultor, um patriota ou um cidadão honesto. Nos dias de hoje, a lógica de reduzir cada coisa a uma medida mensurável, tem feito do dinheiro uma métrica comum pela qual se avalia cada aspecto das ações humanas. Com isso, uma pessoa e suas realizações são, atualmente, valorizadas muito mais pelo preço que alcançam no mercado. Assim não é surpreendente que um grande número de pessoas sinta que a única maneira de alcançar uma vida feliz é acumulando todos os bens materiais que pode caber em suas mãos. Aliás, muitos gostariam de ter só mãos em seu corpo. Importante novamente mencionar que não estamos sugerindo que as recompensas materiais de riqueza, saúde, conforto e fama sejam depreciativas da felicidade. Estamos apenas afirmando que após um limiar mínimo – variável com a distribuição dos recursos numa dada sociedade, estas recompensas parecem ser irrelevantes.

A PSICOLOGIA DA FELICIDADE

Sendo assim, uma alternativa ao enfoque materialista é a solução denominada psicológica. Este enfoque é baseado na premissa de que, se a felicidade é um estado mental, as pessoas poderiam ser hábeis em controla-la por meios cognitivos. Naturalmente, é possível também controlar a mente farmacologicamente. Cada cultura tem desenvolvido drogas que variam desde a heroína até o álcool num esforço para melhorar a qualidade da experiência por meios químicos diretos. Todavia, ao bem-estar quimicamente induzido, falta um ingrediente vital para a felicidade: o conhecimento de que alguém é responsável por tê-la realizado. Felicidade não é alguma coisa que acontece para as pessoas, mas sim alguma coisa que elas fazem acontecer. Esta é a diferença fundamental.

O enfoque psicológico da felicidade, portanto, considera, exclusivamente os processos em que a consciência humana usa a sua habilidade de auto-organização, para realizar um estado interno positivo por meio de seus próprios esforços, sem depender de qualquer manipulação externa do sistema nervoso. Há várias maneiras de programar a mente para aumentar a felicidade ou pelo menos para evitar ser infeliz. Algumas religiões têm feito isso prometendo uma vida eterna de felicidades após a nossa existência terrena. Outras religiões têm desenvolvido técnicas complexas para controlar o fluxo de pensamentos e de sentimentos e, portanto, fornecendo meios para expulsar o conteúdo negativo da consciência. Algumas das disciplinas mais radicais e sofisticadas para o auto­ controle da mente foram desenvolvidas na Índia, culminando com os ensinamentos budistas de 25 séculos atrás. Independentemente da verdade de seu conteúdo, a fé numa ordem sobrenatural parece enriquecer o bem-estar subjetivo.

De fato, levantamentos têm indicado que há uma baixa, mas consistente correlação entre religiosidade e felicidade. A Psicologia contemporânea tem desenvolvido várias soluções que compartilham destas premissas das tradições antigas, mas diferem, drasticamente, em conteúdo e detalhes. O que é comum nelas é a suposição de que técnicas cognitivas, atribuições, atitudes e estilos perceptivos podem ajudar a mudar os efeitos das condições materiais na consciência, ajudar a reestruturar os objetivos das pessoas e, consequentemente, melhorar a qualidade da experiência. Muitos estudiosos têm desenvolvido seus conceitos teóricos com suas próprias implicações preventivas e terapêuticas.

A EXPERIÊNCIA AUTOTÉLICA

Assim estabelecido, cumpre lembrar que uma das noções recentemente introduzida para explicar a felicidade é aquela denominada experiência autotélica ou de personalidade autotélica. O conceito descreve um tipo particular de experiência que é tão absorvente e prazerosa que ela se torna autotélica, isto é, valorosa por fazer algo para o seu próprio bem, mesmo que não tenha qualquer consequência externa. Atividades crianças, música, esportes, jogos e rituais religiosos são alguns exemplos típicos deste tipo de experiência. As pessoas autotélicas são aquelas que têm com frequência tais tipos de experiências, independente do que elas estejam fazendo.

Muitos estudos têm sugerido que a felicidade depende de uma pessoa ser capaz de derivar experiências autotélicas a partir de qualquer coisa que ela faz. Em adição, os dados têm mostrado que este tipo de experiência não é limitada aos empenhos criativos. Ela também pode ser encontrada nos adolescentes que adoram estudar, nos trabalhadores que apreciam os seus trabalhos e nos motoristas que adoram dirigir. Esse tipo de experiência tem algumas características comuns. Primeiro, as pessoas reportam que conhecem muito claramente o que elas têm de fazer, passo a passo, em parte porque elas conhecem o que cada atividade exige e, em parte, porque elas estabelecem com clareza os objetivos de cada passo ou atividade. Segundo, as pessoas podem obter feedback imediato sobre o que estão fazendo. Novamente, pode ser porque as atividades fornecem informações sobre o desempenho ou porque as pessoas têm um padrão interno que torna possível conhecer se as ações realizadas alcançaram aquele padrão internalizado.

Finalmente, uma personalidade autotélica sente que suas habilidades para agir se emparelham às oportunidades para a ação. Se o desafio é muito maior para as habilidades de uma pessoa, provavelmente ela sente ansiedade ou angústia, se as habilidades são maiores que os desafios, a pessoa se sentirá entediada. Quando, porém, os desafios estão em perfeito equilíbrio com as habilidades, a pessoa se sentirá envolvida e encantada com a atividade e uma experiência genuinamente autotélica resultará.

Em resumo, as pessoas autotélicas tendem a registrar mais frequentemente estados emocionais positivos, sentem que sua vida é mais significativa e têm mais objetivos. Este conceito de experiência autotélica nos ajuda a explicar as causas contraditórias, e algumas vezes conflitantes, do que nós usualmente denominamos de felicidade. Ele explica por que é possível alcançar estados de bem-estar subjetivos por meio de diferentes caminhos: as pessoas são felizes não por causa do “que” elas fazem, mas por causa do “como” elas fazem. Devemos ter prazer num dado estado mental para nos beneficiarmos dele. Em outras palavras, o pré-requisito para a felicidade é a habilidade de estar completamente envolvido com a vida. Se as condições materiais são abundantes, tanto melhor, mas a falta de riqueza ou de saúde, não pode impedir uma pessoa de ter experiências autotélicas, quaisquer que sejam as circunstâncias que ela tenha em mãos.

É necessário também encontrar satisfação na realização de atividades que são complexas e que fornecem um potencial para o crescimento durante toda a vida e que, também, permitem a emergência de novas oportunidades para a ação e a estimulação de novas habilidades. Quando experiências positivas derivam-se de atividades físicas, mentais ou de envolvimentos emocionais plenos oriundos do trabalho, dos esportes, dos hobbies, da meditação e das relações interpessoais, então as chances para uma vida complexa que leva à felicidade certamente aumentam. Devemos finalmente lembrar, tal como John Locke alertou, que as pessoas não devem confundir felicidade imaginária com a felicidade real, e enfatizar, tal como Platão fez há 2 séculos, que a tarefa mais urgente de nossos educadores é ensinar os nossos jovens a encontrar prazer nas coisas certas. Felicidade é a harmonia entre o pensar, o dizer e o fazer (Mahatma Gandhi).

A dinâmica da felicidade2

GESTÃO E CARREIRA

DELIVERY TURBINADO

Os aplicativos que revolucionaram o mercado de entrega de refeições em domicílio devem chegar a 75% das franquias de alimentação do País.

Delivery Turbinado

O antigo disque-pizza, quem diria, deu origem a um novo e promissor negócio da era digital. As foodtechs, empresas que desenvolvem tecnologias para incrementar as vendas de alimentos prontos, são o novo grande filão do mercado de aplicativos para celular. As soluções criadas pelas startups do setor incluem desde o gerenciamento de programas de fidelidade para redes de supermercado até clubes de assinatura de cervejas e vinhos, O maior filão, porém, é representado pelas empresas que intermediam entregas de refeições em domicilio – hoje presentes em 55,4% das franquias de alimentação do País.

O “delivery turbinado”, que tem atraído empresas e investidores estrangeiros, também como chamou a atenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão autorizou, em março, a compra do aplicativo Pedidos Já pelo Naspers, um dos maiores Investidores do líder de mercado iFood. Mesmo com a anuência, o órgão vai acompanhar as novas aquisições do grupo no Brasil, assim como futuros contratos de exclusividade com restaurantes.

Com 6,6 milhões de pedidos mensais, o iFood concentra 60% do setor e quer mais, “Esperamos o mesmo crescimento para os próximos anos, com novas soluções para novos públicos”, diz Alex Anton, diretor de estratégia e novos negócios do iFood. Um exemplo é a máquina de pagamento que lançaremos em breve, afirma. Desde 2013, a empresa que nasceu da Disk Cook, realizou dez aquisições no País. Sua expansão vem incomodando alguns restaurantes, que consideram a taxa cobrada pelo serviço exagerada – o que pode ficar ainda pior no caso de uma concentração que beire o monopólio. O cade só autorizou a mais recente aquisição por entender que a concorrência é favorecida pela chegada ao Brasil de multinacionais como Uber EATS e Rappi.

 REFORMA TRABALHISTA

Uma pesquisa realizada pela consultoria ECD Food Service para a Associação Brasileira de Franchising mostra que esse mercado, já bem aquecido, é também promissor: 75% das franquias de alimentação que ainda não usam o serviço pretendem aderir. ‘A crise fez as pessoas trocarem o restaurante por refeições em casa, assim economizam com estacionamento, serviço e combustível do carro·, diz Enzo Donna, presidente da consultoria.

“Essa baixa aumentou a adesão dos estabelecimentos aos aplicativos, diz ele. Outro propulsor desse mercado foi a Reforma Trabalhista, que permitiu aos estabelecimentos terceirizarem o serviço de entrega e assim reduzirem esses custos. “Antes alguns juízes consideravam a logística parte da atividade-fim das empresas, que tinham receio de terceirizar esse trabalho”, diz Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.

Delivery turbinado2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 1 – 3

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Predições Terríveis

Aqui, temos:

I –  Cristo deixando o Templo, e concluindo o seu trabalho público ali. Ele havia dito, no final do capítulo anterior: ”A vossa casa vos ficará deserta”; e aqui Ele cumpre suas palavras: “Jesus ia saindo do templo”. A expressão é notável; Ele não apenas saiu do Templo, mas partiu dele, deu-lhe o seu último adeus. Ele partiu, para nunca mais voltar ali. E imediatamente segue-se uma predição da sua destruição. Observe que aquela casa realmente é deixada deserta quando Cristo parte. ”Ai deles, quando deles me apartar” (Oseias 9.12; veja Jeremias 6.8). Então era a hora de lamentar a sua Icabô, “Foi-se a glória”, “retirou-se deles o seu amparo”. Três dias depois disso, o véu do Templo se rasgou; quando Cristo o deixou, tudo ali tornou-se “comum e impuro”; mas Cristo não partiu, até que eles o expulsassem; não os rejeitou, até que eles o rejeitassem primeiro.

II – O sermão particular de Jesus aos seus discípulos. Ele deixou o Templo, mas não deixou os doze, que seriam a semente da igreja cristã, enriquecida pela expulsão dos judeus. Quando Ele deixou o Templo, os seus discípulos também o deixaram, e aproximaram-se dele. Observe que é bom estar onde Cristo está, e abandonar aquilo que Ele abandona. Eles aproximaram-se dele para serem instruídos em particular, quando a sua pregação pública estivesse concluída, pois “o segredo do Senhor é para os que o temem”. Ele tinha falado à multidão sobre a destruição da instituição judaica sob a forma de parábolas, que aqui, como normalmente fazia, Ele explica aos seus discípulos. Observe:

1. ”Aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo “. Era uma estrutura muito bonita, e majestosa, uma das maravilhas do mundo; nenhum custo foi poupado, nenhum tipo de arte foi deixado de lado, para torná-lo suntuoso. Embora ele não se comparasse ao Templo de Salomão, e fosse pequeno no início, ele realmente cresceu mais tarde. Ele era ricamente adornado com ofertas, às quais contínuos acréscimos eram feitos. Eles mostraram a Cristo essas coisas, e desejaram que Ele também as observasse:

(1) Porque eles mesmos estavam muito satisfeitos com elas, e esperavam que Ele também estivesse. Eles tinham vivido principalmente na Galileia, distantes do templo, raras vezes o tinham visto, e, portanto, estavam grandemente tocados de admiração por ele, e pensaram que Jesus admiraria toda essa glória, tanto quanto eles (Genesis 31.1); e eles queriam que Ele se distraísse (depois da sua pregação, e da sua tristeza, que eles viam que talvez quase o esmagasse) olhando à sua volta. Observe que até mesmo os homens bons são capazes de ficar excessivamente impressionados com a pompa exterior e a alegria, e de supervalorizá-las, até mesmo nas coisas de Deus; quando deveriam estar, como Cristo estava, insensíveis a isso, e considerá-las com desprezo. O Templo era verdadeiramente glorioso, mas:

[1] A sua glória estava suja e manchada com o pecado dos sacerdotes e do povo; aquela doutrina maléfica dos fariseus, que preferiam o ouro ao Templo que o santificava, era suficiente para desfigurar a beleza de todos os ornamentos do Templo.

[2] A sua glória era eclipsada e destruída pela presença de Cristo nele, pois Ele era a glória “desta última casa” (Ageu 2.9), de modo que o edifício não tinha glória, em comparação com esta glória que se sobressaía.

Ou:

(2) Porque lamentavam que esta casa ficasse deserta. Eles lhe mostraram as estruturas, como se pudessem motivá-lo a reverter a sentença; “Senhor, não permita que esta casa santa e bela, onde os nossos pais o louvaram, fique deserta”. Eles se esqueceram de quantas providências, a respeito do Templo de Salomão, tinham evidenciado quão pouco Deus se importava com esta glória externa que eles tanto tinham admirado. Deus se preocupava mais com as pessoas; se eram boas ou más (2 Crônicas 7.21). Essa casa, que é exaltada, o pecado destruirá. Cristo tinha, recentemente, considerado as almas preciosas, e chorado por elas (Lucas 19.41). Os discípulos consideram as estruturas pomposas, e estão prontos a chorar por elas. Nisso, como em outras coisas, os pensamentos do Senhor não são como os nossos. Era uma fraqueza, e pobreza de espírito, dos discípulos, preocuparem-se tanto com as lindas estruturas; isto era uma infantilidade.

2. Cristo, em seguida, prediz a destruição completa que estava por vir a este lugar (v. 2). Observe que uma previsão confiante da desfiguração de toda a glória mundana irá nos ajudar para que deixemos de admirá-la e supervalorizá-la. O corpo mais bonito, em breve, será alimento de vermes, e o edifício mais bonito, um monte de ruínas. E então nós colocaremos os nossos olhos naquilo que, em breve, não mais existirá, e dedicaremos tanta admiração àquilo que, dentro de pouco tempo, consideraremos com tanto desprezo? “Não vedes tudo isto?” Eles queriam que Cristo considerasse essas coisas, e se importasse tanto com elas como eles se importavam. Ele queria que eles estivessem tão mortos para essas coisas como Ele estava. Existe uma visão dessas coisas que nos fará bem; vê-las de modo a ver através delas, e ver o fim delas.

Cristo, ao invés de reverter as suas palavras, as confirma: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”.

(1) Ele fala disso como uma destruição certa. “‘Eu vos digo’. Eu, que sei o que Eu digo, e sei como fazer cumprir o que Eu digo. Aceitai a minha palavra, pois isto irá acontecer. Eu, o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, vos digo isto”. Como todo o julgamento pertence ao Filho, as ameaças, assim como as promessas, são nele sim; e por ele o Amém (Hebreus 6.17,18; 2 Coríntios 1.20).

(2) Ele fala disso como uma destruição completa. O Templo não será somente despojado, e saqueado, e desfigurado, mas será completamente demolido e devastado: “Não ficará aqui pedra sobre pedra”. Na construção do segundo Templo, chamou-se a atenção para a colocação de pedra sobre pedra (Ageu 2.15); e aqui, na destruição, para não deixar pedra sobre pedra. A história nos conta que isto se cumpriu mais tarde; pois embora Tito, quando tomou a cidade, tivesse feito tudo o que podia para preservar o Templo, não conseguiu impedir que os soldados furiosos o destruíssem completamente; e isto foi feito a tal ponto, que Turno Rufo arou o local onde ele tinha estado; assim se cumpriu esta passagem das Escrituras (Miqueias 3.12): “Por causa de vós, Sião será lavrado como um campo”. E depois disso, na época de Juliano, o Apóstata (quando ele incentivou os judeus a reconstruírem o Templo, em oposição à religião cristã), aquilo que restava das ruínas foi completamente destruído, para nivelar o terreno, para uma nova fundação; mas a tentativa foi frustrada pela milagrosa erupção de fogo no terreno, que destruiu a fundação que eles tinham lançado, e assustou os construtores. Esta predição da destruição final e irreparável do Templo inclui uma predição do fim do sacerdócio levítico e da lei cerimonial.

3. Os discípulos, não discutindo nem a verdade nem a justiça dessa sentença, nem duvidando do seu cumprimento, perguntam mais especificamente sobre quando isso viria a acontecer, e sobre os sinais de que isso estivesse próximo (v. 3). Observe:

(1) Quando eles fizeram essa pergunta: em particular, quando Ele estava “assentado no monte das Oliveiras”. Provavelmente, Ele estava voltando para Betânia, e ali sentou-se, para descansar. O monte das Oliveiras estava voltado diretamente para o Templo, e dali Ele podia ter uma visão geral do Templo, a alguma distância. Ali Ele sentou-se, como um Juiz no tribunal, tendo o templo e a cidade diante de si, como na corte; e assim Ele passou a sua sentença sobre eles. Nós lemos (Ezequiel 11.23) sob moção da glória do Senhor do Templo para o monte; as­ sim Cristo, o grande Shequiná, aqui vai para este monte.

(1) Qual foi a pergunta propriamente dita: “Quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” Aqui há três perguntas.

[1] Alguns pensam que todas essas perguntas apontam para uma única coisa – a própria destruição do templo e o fim da organização religiosa e da nação judaicas, de que o próprio Cristo tinha falado como sendo a sua vinda (cap. 26.28), e que seriam a consumação dos tempos (pois assim pode ser interpretado), o final daquela dispensação. Ou pensam que a destruição do Templo precisa ser o fim do mundo. Se aquela construção fosse destruída, o mundo não poderia continuar; pois os rabinos costumavam dizer que a casa do santuário era um dos sete motivos pelos quais o mundo fora criado; e eles pensavam que o mundo não sobreviveria ao Templo.

[2] Outros opinam que a pergunta: “Quando serão essas coisas?” se refere à destruição de Jerusalém, e as outras duas se referem ao fim do mundo, ou a vinda de Cristo pode se referir à fundação do seu reino mencionado no Evangelho, e o fim do mundo ao dia do juízo. Eu estou inclinado a pensar que a sua pergunta não ia além do evento que Cristo então predizia; mas parece, por outras passagens, que os discípulos tinham ideias muito confusas sobre os eventos futuros, de modo que talvez não seja possível atribuir nenhum significado seguro a essa pergunta.

Mas Cristo, na sua resposta, embora não corrija expressamente os enganos dos seus discípulos (isto deverá ser feito através do derramamento do Espírito), ainda vai além da pergunta deles, e instrui a sua igreja, não somente a respeito dos grandes acontecimentos daquela época, da destruição de Jerusalém, mas também ares­ peito da sua segunda vinda, no final dos tempos, sobre o que Ele passa, de maneira imperceptível, a falar aqui, e de que Ele fala claramente no próximo capítulo, que é uma continuação desse sermão.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SERÁ MESMO UMA QUESTÃO DE SORTE (!?)

Muitos desconhecem o conceito de felicidade, aplicando-o equivocadamente e banalizando a formação de opinião. Quem perde com isso é toda uma sociedade

Será mesmo questão de sorte

Há quem diga, criticando a Psicologia Positiva, que a busca pela felicidade é um “modismo americano”. Pois acreditar que o movimento de Martin Seligman inaugurou a busca do homem por uma vida feliz beira a ingenuidade. Desde a Era pré-Cristã, temos registros filosóficos acerca da felicidade, bem como uma série de recomendações de importantes pensadores sobre os melhores caminhos para atingi-la. Além do próprio Aristóteles e sua proposta de eudaimonia, sobre a qual não discutirei neste artigo, agrada-me em especial algumas reflexões de Sêneca, filósofo contemporâneo de Cristo que, ao refletir sobre o tema felicidade frente à sociedade de sua época, recomendava: “aquele que quiser ser feliz, a primeira coisa que deve fazer é negar-se seguir a multidão”. Sêneca fazia tal recomendação pelo simples fato de que, ao observar a sociedade de sua época, não parecia encontrar uma maioria feliz.

Passados mais de dois mil anos e a despeito do que é veiculado (e fabricado) nas mídias sociais, olho ao meu redor e chego à mesma conclusão. Não acredito que a maioria das pessoas seja feliz. Quero, contudo, deixar claro que esta não se trata de uma afirmação científica, mas, uma mera opinião pessoal.

OUTROS OLHARES

CRIANÇAS APARTADAS DOS PAIS

A política de tolerância zero do governo Trump separa milhares de famílias de imigrantes ilegais, levando crianças a gritos de desespero.

Crianlas apartadas dos pais

Suas vozes frágeis e seus corpos miúdos sugerem que elas não têm mais de 7anos, mas já conhecem a brutal realidade dos desventurados cuja sina é cruzar fronteiras para sobreviver. O drama das crianças tiradas dos braços de seus pais e mães pela “política de tolerância zero” do governo americano tem comovido o mundo e dividido o país do presidente Donald Trump. Os relatos são de solidão e desespero para essas famílias divididas, que, não raro, mal podem se comunicar com o mundo exterior nem conseguem informações sobre o paradeiro de seus parentes após terem cruzado fronteira do México para os EUA em busca de uma vida menos difícil. Em vez de encontrarem a realização de seu “sonho americano”, elas vêm sendo recebidas por uma prática de hostilidade reforçada na zona fronteiriça, que separou mais de 2.200 crianças de seus pais desde abril.

As famílias mais afetadas pela nova prática da Casa Branca, que agora processa criminalmente pais e os leva a presídio enquanto filhos são mantidos em abrigos temporários, têm sido as hondurenhas, as guatemaltecas e as mexicanas. Mas há também brasileiros experimentando esse sofrimento, e alguns nem mesmo entraram ilegalmente nos EUA, mas sim pediram asilo político. É o caso da avó Maria Bastos e seu neto autista, Matheus, que há dez meses não se encontram, separados por mais de 2.000 quilômetros em um país estranho. Enquanto isso, um menino brasileiro de 9 anos esperou em vão por 22 dias por telefonemas no abrigo. Seu pai não consegue falar com ele enquanto está detido no estado do Novo México e já perdeu 13 quilos durante esse tempo no cárcere, onde estão presos também condenados por diversos outros crimes

Um áudio divulgado pela Pro Publica organização jornalística sem fins lucrativos, registrou o momento em que dez crianças centro-americanas foram separadas dos pais. Elas choram, soluçam e soltam gritos agudos. Mas, de um agente migratório, o que essas crianças ouvem é: “Bem, temos uma orquestra aqui. Só falta o maestro”.

Enquanto os pais nos presídios se preocupam com as condições dos filhos, crianças e adolescentes detidos se sentem abandonados. Antar Davidson, americano de origem brasileira que trabalhou num centro de acolhimento para menores em Tucson, no Arizona, afirmou que os apreendidos dão sinais diários de instabilidade emocional, depressão e rebeldia. Durante vários meses 300 menores entre 4 e 17 anos não receberam educação nem ajuda psicológica apropriadas. Ele contou que três irmãos brasileiros foram proibidos de se abraçar.

“Isso é inacreditável. Autoridades do governo Trump estão enviando bebês e crianças pequenas… desculpem… há pelo menos três…” Foi o que conseguiu dizer Rachel Maddow, âncora da MSNBC, antes de se render às lágrimas ao tentar noticiar o drama infantil latino-americano, num vídeo que já viralizou. Os relatos cruéis sobre as separações familiares vêm dominando a imprensa americana nos últimos dias e, assim, pressionando o governo a se explicar sobre as consequências de sua nova política.

Crianças têm sido colocadas em enormes estruturas parcialmente improvisadas, algumas das quais já são chamadas de “cidades-tenda”. No Texas, por exemplo, edifícios que serviam como lojas de departamentos se converteram em um abrigo para quase 1.500 meninos entre 10 e 17 anos. Lá, durante duas horas do dia, os menores podem sair ao ar livre. Relatos na imprensa falam também de abrigos rodeados por cercas, provocando comparações com verdadeiras prisões.

 Antes de chegarem a esses abrigos, os pequenos migrantes devem passar por centros de processamento, em que são colocados em celas que mais parecem jaulas feitas de metal. Em imagens divulgadas pelo próprio governo, crianças – algumas aparentando ter 4 ou 5 anos – aparecem deitadas em colchões bem finos com cobertores de alumínio, do tipo usado por corredores após maratonas.

O maior de todos os medos, pata filhos e pais, é nunca mais verem uns aos outros, o que em alguns casos não é impossível. A deportação dos guardiões legais torna altamente desafiadora: a reunificação familiar para quem, de volta ao seu país de origem, tem poucos meios legais disponíveis. Alguns pais, inclusive, recebem ofertas da Justiça para serem soltos e reverem seus filhos se desistirem do pedido de refúgio. A ONG Anistia internacional chamou essa prática de tortura, explicando que se trata da “imposição deliberada de sofrimento extremo para evitar comportamentos indesejados pelo governo.

“A vasta maioria das famílias se apresentou legalmente. Não há justificativa para isso. Precisa parar agora, e as famílias devem ser reunificadas”, disse Brian Griffey, pesquisador da organização que se encontrou com duas famílias brasileiras detidas nessas circunstâncias.

Na quarta-feira, Trump, criticado dentro e fora de seu país, inclusive em seu Partido Republicano, anunciou um decreto para que as famílias sem documentos fossem mantidas juntas, evitando a separação de pais e filhos. Mas, com apenas três centros de detenção familiar em todo o país, não está claro como isso pode acontecer. O republicano vem seu reforço na vigilância migratória como moeda de troca para negociar com democratas sua desejada reforma bipartidária sobre o assunto, em que a construção de um muro na fronteira com o México é o carro-chefe.

Crianlas apartadas dos pais.2

GESTÃO E CARREIRA

 POR QUE OS LÍDERES FALHAM?

 Por que os líderes falham

As frases e os incentivos proferidos por Henrique V na famosa batalha de Agincourt destacam-se entre as maiores passagens escritas por Shakespeare, aflorando todo seu patriotismo. Com enorme habilidade, Henrique estimulava seus soldados para que continuassem lutando, não importando que, do outro lado, para cada inglês havia cinco franceses. E vaticina: “De hoje até o fim dos tempos nós seremos lembrados. Nós, os afortunados, nós, os irmãos. Pois aquele que hoje sangra comigo será o meu irmão”.

Líderes são bem-sucedidos, até que falhem. Assumir riscos e eventualmente falhar é da natureza da liderança. De acordo com recente estudo do Center for Creative Leadership, cerca de 40% dos novos diretores executivos falham em seus primeiros 18 meses no cargo, e um percentual ainda maior não consegue viver de acordo com as expectativas de quem os contratou. Parte desse fenômeno pode ser explicada por processos de seleção ineficientes e pela ausência de acompanhamento e suporte.

Um líder eficaz aprende com o fracasso e avança. Entretanto, existem falhas na liderança, não necessariamente associadas à assunção de riscos, que podem comprometer e paralisar uma organização. O esforço da organização para destilar as razões e causas dessas falhas é indispensável. Negligenciar essas causas sufoca a capacidade da empresa de buscar novas oportunidades e impede o avanço das organizações. Mesmo que se possa atribuir esses infortúnios ao azar ou timing equivocado, pesquisas têm sugeri do que, dentre as principais causas, encontra-se a inaptidão cognitiva e comportamental. Primeiro porque existe uma tendência inconsciente do líder em atribuir maior relevância às informações que vão ao encontro de suas crenças. hipóteses e experiências recentes. em detrimento de variáveis conflitantes.

Muitos líderes criam, involuntariamente, barreiras pessoais que corroem sua capacidade de manter os princípios de liderança, rigor metodológico em motivação. Por outro lado, o excesso de confiança conduz os líderes a superestimar sua capacidade de gerenciar o negócio, assumindo riscos demasiados na expectativa de que tenham controle sobre suas consequências. É importante que os líderes compreendam que suas habilidades, conhecimento, experiência e liderança serão continuamente desafiados em um mercado cada vez mais volátil e complexo. A liderança tem de ser adaptável.

Em outras palavras, o pensamento que tornou possível o sucesso de ontem pode ser, eventualmente, o mesmo pensamento que resultará em seu fracasso amanhã. Em contrapartida, a credibilidade de um líder é consequência de dois aspectos: o que faz sua competência e o que é seu caráter. A discrepância entre esses cria um problema de integridade. Quando a integridade deixa de ser prioridade para um líder, a obtenção de resultados torna-se mais importante do que os meios utilizados para sua realização. É nesse momento que o líder adentra um terreno pantanoso, onde a ética é de conveniência. Muitas vezes esses líderes enxergam seus liderados como simples peões, confundindo manipulação com liderança. Esses líderes não têm empatia. Liderança é, também, ascendência moral. Por fim, a liderança não pode ser um fardo. Deve ser gratificante e, até mesmo, divertida. Um líder deve caminhar convencido de que toda tarefa, não importando sua dimensão, o leva cada vez mais perto de seus sonhos.

Ao elaborar a fórmula da liderança, o especialista em comportamento organizacional e professor Nigel Nicholson ensina: “A eficácia da liderança envolve ser a pessoa certa no momento e no lugar certo, fazendo a coisa certa”. Isso significa que a liderança pode assumir variadas formas para uma infinidade de situações, e os líderes falham quando o seu modelo, insight ou relacionamentos estão errados.

 

ANDRIEI JOSÉ BEBER – é professor da FGV, especialista e palestrante nas áreas de finança, gestão e governança, e doutor em engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE III

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A Parábola da figueira. Predições terríveis. O dever da vigilância. O bom e o mau administrador

III – Há aqui uma exortação geral a nós, para que vigiemos e estejamos preparados para aquele dia que se aproxima, uma exortação reforçada por diversas considerações importantes (vv.42ss). Considere:

1.  A tarefa exigida: “Vigiai. pois. porque não sabeis a que hora há de v:ir…estai vós apercebidos (vv. 42,44).

(1)  “Vigiai, pois” (v. 42). Observe que vigiar é o maior dever e interesse de todos os discípulos de Cristo, que devem estar e se manterem despertos, para que possam cuidar da sua vida. Assim como um estado ou comporta ­ mento pecaminoso é comparado a dormir, como estando desacordado e inativo (1 Tessalonicenses 5.6), também um estado ou comportamento de graça é comparado a vigiar e despertar. Nós devemos esperar a vinda do nosso Senhor, a nós, em particular, na nossa morte, depois da qual segue-se o juízo, que é o grande dia para nós, o fim do nosso tempo; e a sua vinda no final de todos os tempos, para julgar o mundo, o grande dia para toda a humanidade. Vigiar implica não somente em crer que o nosso Senhor virá, mas também desejar que Ele venha, estar sempre pensando na sua vinda, e procurá-la como sendo certa e próxima, embora a sua ocasião seja desconhecida. Vigiar pela vinda de Cristo é manter aquele espírito de graça e aquela disposição mental com que devemos estar desejosos de que o nosso Senhor, quando vier, nos encontre. Vigiar é estar ciente das primeiras notícias da sua chegada, para que possamos imediatamente atender às suas ordens, e nos apresentarmos ao dever de encontrá-lo. Vigiar é uma atitude que ocorre, supostamente, à noite, que é o horário de dormir; enquanto nós estivermos neste mundo, a noite estará conosco, e precisaremos nos esforçar para nos mantermos despertos.

(2)  “Estai vós apercebidos também”. Nós desperta­ remos em vão, se não estivermos preparados. Não é suficiente procurar tais coisas; devemos, portanto, viver de forma diligente (2 Pedro 3.11,14). Nós teremos o nosso Senhor, a quem deveremos acompanhar, e assim precisaremos ter as nossas lâmpadas prontas. Há uma causa para ser julgada, e nós devemos ter a nossa apelação já preparada e assinada pelo nosso Advogado; uma prestação de contas para fazer, e devemos ter as nossas contas já declaradas e equilibradas. Existe uma herança que esperamos receber, e nós devemos estar preparados, dignos de participar dela (Colossenses 1.12).

2. As razões que nos induzem a essa vigilância e preparação diligente para aquele dia; e são duas.

(1)  Porque o dia da vinda do nosso Senhor é completamente incerto. Esta é a razão imediatamente anexa à dupla exortação (vv. 42,44), e é exemplificada por uma comparação (v. 43). Consideremos:

[1] Que não sabemos a que hora há de vir o nosso Senhor (v. 42). Nós não sabemos o dia da nossa morte (Genesis 27.2). Podemos saber que temos apenas pouco tempo de vida (“O tempo da minha partida está próximo”, 2 Timóteo 4.6), mas não podemos saber quanto tempo teremos, pois as nossas almas estão continuamente em nossas mãos. Também não podemos saber quanto tempo de vida nos resta, pois pode acabar sendo menos do que esperávamos; muito menos sabemos o dia fixado para o grande juízo. A respeito dos dois dias, nós somos mantidos na incerteza, para que possamos, todos os dias, esperar por aquilo que poderá vir qualquer dia; nunca podemos nos orgulhar de mais um ano (Tiago 4.13), não, nem do retorno do amanhã, como se este nos pertencesse (Provérbios 27.1; Lucas 12.20).

[2] Que Ele há de vir à hora em que não pensamos (v. 44). Embora exista tal incerteza quanto à hora, não há nenhuma incerteza quanto à sua vinda. Embora não saibamos quando Ele virá, temos plena certeza de que Ele virá. As suas palavras de despedida foram: “Certamente, cedo venho”. As suas palavras: “Certamente venho”, nos compelem a esperá-lo. As suas palavras: “Cedo venho”, nos compelem a estar sempre esperando por Ele; pois isto nos deixa numa condição de expectativa. “À hora em que não penseis”, isto é, nesta hora, quando não estão prontos nem preparados, quando nem imaginam (v. 50); ou melhor, numa hora, naquela em que a maioria consideraria improvável. O esposo veio quando as prudentes estavam dormindo. E conveniente à nossa condição atual que estejamos sob a influência de uma expectativa geral e constante, em vez da influência de presságios e prognósticos particulares, que, às vezes, somos tentados, inutilmente, a desejar e esperar.

[3] Para que os filhos deste mundo sejam, consequentemente, sábios na sua geração, para que, se souberem de um perigo próximo, se mantenham despertos e mantenham a sua guarda contra este. O Senhor nos mostra isso em um exemplo particular (v. 43). Se o pai de família soubesse que um ladrão viria em certa noite, e a certa vigília da noite (pois a noite era dividida em quatro vigílias, de três horas cada uma), e tentaria arrombar a sua casa, ainda que fosse a vigília da meia-noite, quando ele teria mais sono, ainda assim estaria acordado, ouviria todos os ruídos em todos os cantos, e estaria preparado para oferecer ao ladrão a resistência adequada. Embora nós não saibamos exatamente quando o nosso Senhor virá, ainda assim, sabendo que Ele virá, e que virá sem demora, e sem nenhum outro aviso além dos que Ele já deu em sua Palavra, é interesse nosso vigiar sempre. Observe, em primeiro lugar, que cada um de nós tem uma casa para manter, que está exposta; tudo o que temos está nesta casa. Esta casa é a nossa própria alma, que nós devemos conservar com toda a diligência. Em segundo lugar, o dia do Senhor vem inesperadamente, como um ladrão. Cristo decide vir quando Ele é menos esperado, para que os triunfos dos seus inimigos possam ser convertidos na maior vergonha deles, e os temores dos seus amigos se transformem na maior alegria. Em terceiro lugar, se Cristo, quando vier, nos encontrar adormecidos e despreparados, a nossa casa será invadida e nós perderemos tudo o que tivermos, não injustamente, para um ladrão, mas por um processo justo e legal. A morte e o juízo tomarão tudo o que os despreparados tiverem, para seu prejuízo irreparável e completa destruição. Por isso, devemos estar preparados; “estai vós apercebidos também”; tão preparados, em todos os momentos, como o bom homem da casa estaria à hora em que esperasse o ladrão; nós devemos vestir a armadura de Deus para que possamos não apenas permanecer naquele dia mau, mas para que, como mais que vencedores, possamos repartir os despojos.

(2)  Porque o resultado da vinda do nosso Senhor será muito feliz e consolador para aqueles que forem encontrados preparados, mas muito triste e assustador para os demais (vv.45ss.). Isto é representa do pela situação diferente do servo bom e do mau, quando o seu senhor vem para acertar as contas com eles. Será bom ou mau para nós, por toda a eternidade; tudo depende de sermos encontrados preparados ou despreparados, naquele dia, pois Cristo dará a cada um segundo as suas obras. Esta parábola, que conclui o capítulo, se aplica a todos os cristãos, que são, por profissão e obrigação, servos de Deus. Mas ela parece destinada, em especial, como uma advertência aos ministros, pois o servo de que se fala é um administrador. Observe o que Cristo diz aqui:

[1] A respeito do servo bom. O Senhor mostra aqui que aquele é um administrador da casa; sendo assim, ele deveria ser fiel e prudente; e se fosse assim, seria eternamente bem-aventurado. Aqui há boas instruções e bons incentivos aos ministros de Cristo.

Em primeiro lugar, temos aqui o seu lugar e trabalho. Ele é aquele que o Senhor tornou administrador da sua casa, para dar o sustento a cada um a seu tempo. Observe:

1. A igreja de Cristo é a sua casa, ou família. Ele é o Pai e Mestre. É a casa de Deus, uma família que toma o nome de Cristo (Efésios 3.15).

2. Os ministros do Evangelho são nomeados administradores nessa casa. Não como príncipes (Cristo advertiu contra isso), mas como administradores, ou outros encarregados subordinados; não como senhores, mas como guias; não para prescrever novos caminhos, mas para mostrar e conduzir nos caminhos que Cristo indicou. Este é o significado de hegoum enoi, que traduzimos: governando sobre vós (Hebreus 13.17). Como supervisores, não para interromper nenhum novo trabalho, mas para orientar e acelerar a obra que Cristo ordenou; este é o significado de episcopoi bispos. Eles são governantes por Cristo; qualquer poder que eles tenham deriva dele, e ninguém pode tomá-lo deles, ou reduzi-lo. Jesus é aquele a quem Deus Pai fez governante; e Cristo tem o poder de fazer ministros. Eles são governantes sob Cristo, agindo subordinados a Ele; e governantes para Cristo, para o progresso do seu reino.

3. O trabalho dos ministros do Evangelho é de dar à casa de Cristo o seu sustento a seu tempo, como administradores, e por isso eles têm as chaves da casa.

(1) O seu trabalho é dar, e não tomar para si mesmos (Ezequiel 34.8), mas dar à família o que o Mestre trouxe, distribuir o que Cristo comprou. E aos ministros foi dito: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (Atos 20.35).

(2) Trata-se de dar sustento, e não a lei (isto é função de Cristo), mas transmitir à igreja essas doutrinas, que, se devidamente digeridas, serão alimento para as almas. Eles devem dar, não o veneno das falsas doutrinas, não as pedras das doutrinas duras e infrutíferas, mas o sustento que é saudável e que faz bem.

(3) O sustento deve ser dado a seu tempo, en kairo enquanto há tempo para isso; quando vier a eternidade, será tarde demais; nós precisamos trabalhar enquanto é dia: isto é, sempre que houver qualquer oportunidade; ou no tempo indicado, continuamente, conforme exija o de­ ver de cada dia.

Em segundo lugar, a sua liberação desse ofício. O bom servo, se assim o preferir, será um bom administrador; pois:

1. Ele é fiel; os administradores devem ser fiéis (1 Coríntios 4.2). Aquele a quem algo é confiado, deve ser confiável; e quanto mais lhe é confiado, mais se espera dele. É uma coisa boa e grandiosa que é confiada aos ministros (2 Timóteo 1.14); e eles precisam ser fiéis, como Moisés também o foi (Hebreus 3.2). Cristo considera os ministros que são fiéis, e somente eles (1 Timóteo 1.12). Um ministro fiel de Jesus Cristo é alguém que deseja sinceramente a honra do seu Mestre, não a sua própria; este transmite integralmente a Palavra de Deus, não as suas próprias fantasias e ideias; ele segue as instituições de Cristo e adere a elas; considera os mais humildes, reprova os mais poderosos e não respeita a aparência das pessoas.

2. Ele é sábio para compreender o seu dever e a ocasião apropriada para ele. E para guiar o rebanho é necessária não apenas a integridade do coração, mas a habilidade das mãos. A honestidade pode ser suficiente para um bom servo, mas a sabedoria é necessária para um bom administrador; pois orientar é um trabalho frutífero.

3. Ele trabalha, como exige o seu cargo. O ministério é uma boa obra, e aqueles que têm este trabalho sempre têm alguma coisa para fazer; eles não devem permitir-se descansar, nem deixar o trabalho inacabado, nem descuidadamente passá-lo a outros, mas precisam estar trabalhando, e trabalhando para alcançar os objetivos do seu trabalho, dando sustento à casa, cuidando dos seus deveres e não se envolvendo no que não lhe diz respeito; trabalhando como o Mestre ordenou, como importa ao cargo, e como exige a situação da família; não conversar, mas trabalhar. Este era o lema que o Sr. Perkins usava: Minister verbi es Você é um ministro da Palavra. Não apenas Age Trabalhe, mas Hoc age Trabalhe assim.

1- Ele é encontrado trabalhando quando chega o seu Mestre, o que indica:

(1) Constância no seu trabalho. A qualquer hora em que chegue o seu Mestre, ele será encontrado ocupado com o trabalho. Os ministros não devem deixar lacunas no seu tempo, para que o Senhor não os encontre parados por ocasião da sua volta. Assim como para o Deus benigno o fim de uma misericórdia é o início de outra, também para um homem bom, um bom ministro, o fim de um dever é o início de outro. Quando tentaram persuadir Calvino a diminuir os seus deveres ministeriais, ele respondeu, com ressentimento: “Vocês desejam que o meu Mestre me encontre ocioso?”

(2) Perseverança no seu trabalho, até a chegada do Senhor. “Retende-o até que eu venha” (Apocalipse 2.25). “Persevera nestas coisas” (1 Timóteo 4.16; 6.14). Persevere até o fim.

Em terceiro lugar, a recompensa destinada ao servo fiel, em três aspectos:

1. Ele será notado. Isto está indicado nestas palavras: “Quem é, pois, o servo fiel e prudente?” Isto dá a entender que poucos têm esta qualidade; um administrador tão fiel e prudente será um entre mil. Àqueles que se distinguirem pela humildade, diligência e sinceridade no seu trabalho, Cristo, no grande dia, honrará e distinguirá através da glória que lhes será conferida.

2. Ele será bem-aventurado. “Bem-aventurado aquele servo”; e Cristo, ao dizer isto, o torna bem-aventurado. “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor” (Apocalipse 14.13). Mas há uma bênção especial garantida àqueles que se mostram administradores fiéis, e são encontrados trabalhando. Ao lado da honra daqueles que morrem no campo de batalha, sofrendo por Cristo, como os mártires, está a honra daqueles que morrem no campo de trabalho, arando, e semeando, e colhendo, por Cristo.

3. Ele será preferido (v. 47); [Ele] “o porá sobre todos os seus bens”. A alusão é ao caminho dos grandes homens: se os administradores da sua casa se conduzem bem, eles normalmente os preferem para que sejam os administradores das suas propriedades. Assim José foi preferido na casa de Potifar (Genesis 29.4,6). Mas a maior honra que o senhor mais gentil já fez aos seus servos mais experimentados neste mundo não é nada, quando comparada ao peso da glória que o Senhor Jesus irá conferir aos seus servos fiéis e vigilantes, no mundo vindouro. O que aqui é dito, em comparação, é a mesma coisa dita, mais claramente, em João 12.26: “Meu Pai o honrará”. E os servos de Deus, quando assim preferidos, serão perfeitos em sabedoria e santidade, para sustentar o peso daquela glória, para que estes servos não representem perigo, quando reinarem.

[2] A respeito do servo mau, temos aqui:

Em primeiro lugar, a descrição que é dada a respeito dele (vv. 48,49), onde temos o infeliz com as suas características. A mais vil das criaturas é um homem mau, o mais vil dos homens é um mau cristão, e o mais vil entre eles é um mau ministro. O que é melhor; quando corrompido, torna-se o pior. A maldade nos profetas de Jerusalém é verdadeiramente uma coisa horrível (Jeremias 23.14). Aqui está:

1. A causa da sua maldade, que é uma descrença prática na segunda vinda de Cristo. Ele diz no seu coração: o meu Senhor atrasa a sua vinda; e por isso começa a pensar que Ele nunca virá, e que abandonou a sua igreja. Considere que:

(1) Cristo sabe o que dizem, nos seus corações, aqueles que com seus lábios clamam: “Senhor, Senhor”, como este servo.

(2) A demora da vinda de Cristo, embora seja um exemplo gracioso da sua paciência, é muito mal interpretada pelas pessoas más, cujos corações, desta maneira, se endurecem, com os seus métodos de iniquidade. Quando a vinda de Cristo é considerada duvidosa, ou algo que está a uma distância imensa, o coração do homem se torna inteiramente disposto a praticar o mal (Eclesiastes 8.11). Veja Ezequiel 12.27. Aqueles que caminham pelos seus sentidos estão prontos para falar, a respeito do Jesus invisível, como o povo falou sobre Moisés, quando ele se demorou no monte, depois da sua peregrinação: “Não sabemos o que lhe sucedeu” portanto “levanta-te, faze-nos deuses”; o mundo é um deus, o nosso ventre é um deus, qualquer coisa pode ser um deus, porém nunca será o Deus verdadeiro.

2. As particularidades da sua iniquidade. E esses são pecados de primeira grandeza; o ímpio é um escravo das suas paixões e dos seus apetites.

(1)  Aqui ele é acusado de perseguição. Ele começa a espancar os seus conservos. Veja que:

[1] Até mesmo os administradores mais importantes da casa devem considerar os servos da casa como seus conservos, e por isso estão proibidos de agir como se fossem senhores deles. Se o anjo se considerava conservo de João (Apocalipse 19.10), não é de admirar que João tivesse aprendido a se considerar um irmão dos cristãos das igrejas da Ásia (Apocalipse 1.9).

[2] Não é novidade ver maus servos ferindo os seus conservos; tanto cristãos em particular quanto ministros fiéis. Ele os fere, seja porque eles o reprovam, seja porque eles não o reverenciam; não dizem o que ele diz, e não fazem o que ele faz, agindo contra as suas consciências: ele os fere com a língua, da mesma maneira como eles feriram o profeta (Jeremias 18.18). E se ele tiver poder nas mãos, ou puder pressionar aqueles que o têm, como os dez chifres sobre a cabeça da besta, isso continuará. Pasur, o sacerdote, feriu o profeta Jeremias, e o meteu no tronco (Jeremias 20.2). Aqueles que se insurgem contra Deus têm descido até ao profundo, na matança (Oseias 5.2). Quando o administrador fere os seus conservos, o faz deturpando a autoridade do seu Mestre, e no seu nome. Ele diz: “O Senhor seja glorificado” (Isaias 66.5), mas ele virá a saber que não poderia ter feito afronta pior ao seu Mestre.

(2) Profanação e imoralidade. Ele começa a comer e a beber com os bêbados.

[1] Ele se associa aos piores pecadores, se relaciona com eles, é íntimo deles. Ele caminha sob a orientação deles, segue o caminho deles, senta-se na cadeira deles e canta as canções deles. Os bêbados são os companheiros, alegres e joviais, e aqueles a quem ele prefere, e por isso ele fortalece a sua iniquidade.

[2] Ele age como eles; “come, e bebe e folga”, assim consta no texto de Lucas. Isto é uma introdução a todos os tipos de pecado. A embriaguez é uma iniquidade dominante; aqueles que são seus escravos, nunca são senhores de si mesmos em qualquer outro aspecto. Os perseguidores do povo de Deus normalmente têm sido os homens mais maldosos e imorais. As consciências dos perseguidores, quaisquer que sejam os argumentos, normalmente são as mais corruptas e pervertidas. De que não se embriagam aqueles que se embriagam com o sangue dos santos? Esta é a descrição de um mau ministro, que, apesar disso, ainda pode ter os dons do ensino e do discurso sobre os demais; e, como foi dito sobre alguns, este tipo de obreiro pode pregar tão bem no púlpito, que seja uma pena que ele deva sair dali, e ainda assim viver de maneira tão má fora do púlpito, que seja uma pena que ele deva subir ali.

Em segundo lugar, é apresentada a sua condenação (vv. 50,51). A “capa” e o caráter dos maus ministros não os protegem da condenação, mas a agrava grandemente. Eles não podem reivindicar que estejam fora do alcance ou da jurisdição de Cristo, nem da jurisdição dos magistrados civis; os clérigos não possuem nenhum benefício no tribunal de Cristo. Considere:

1. A surpresa que irá acompanhar a sua condenação (v. 50): “Virá o senhor daquele servo”. Então:

(1) O fato de nós adiarmos os pensamentos sobre a vinda de Cristo não irá adiar a sua vinda. Não importa com o quê alguém procure se iludir; o seu Senhor virá. A descrença do homem não tornará sem efeito aquela grande promessa, ou ameaça (você pode chamá-la como quiser).

(2) A vinda de Cristo será uma surpresa terrível para os pecadores seguros e descuidados, especialmente para os maus ministros: “virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera”. Aqueles que desprezaram os avisos da Palavra, e calaram os avisos das suas próprias consciências, a respeito do juízo futuro, não podem pretender esperar quaisquer outras advertências; serão considerados como tendo recebido suficientes avisos legais, tenham estes sido aceitos ou não; e não se pode acusar a Cristo de nenhuma injustiça se Ele vier repentinamente, sem qualquer aviso. Ele já nos falou a este respeito anteriormente.

2. A severidade da sua condenação (v. 51). Ela não é mais severa do que justa, mas é uma condenação que traz a destruição completa, envolta por duas palavras terríveis: morte e condenação.

 

(1)  Morte. O seu Senhor o separará. “Ele o separará da terra dos vivos”, da congregação dos justos, irá separá-lo para o mal; esta é uma definição de maldição (Deuteronômio 29.21). Ele o derrubará, como uma árvore que sobrecarrega o solo; talvez isto seja uma alusão à sentença frequentemente usada na lei: “Esta alma será extirpada do seu povo”, o que sugere uma extirpação completa. A morte separa um bom homem, assim como um escolhido é separado para ser enxertado em um rebanho melhor; mas ela também separa um homem mau, assim como um galho seco é separado quando o fogo o separa deste mundo. Ou, como podemos interpretar, Ele o separará, isto é, separará o corpo da alma, enviará o corpo à sepultura, para ser uma presa dos vermes, e a alma para o inferno, para ser uma presa dos demônios; e assim o pecador é separado. Na morte, a alma e o corpo de um homem temente e obediente a Deus se separam da maneira adequada; a primeira é alegremente levada à presença de Deus, e o segundo é deixado para a terra. Mas a alma e o corpo de um homem iníquo, na morte, são separados, pois para eles a morte é o rei dos terrores (Jó 18.14). O mau servo se divide entre Deus e o mundo, entre Cristo e Belial, entre a sua profissão de religião e os seus desejos; portanto, com justiça, ele também será dividido.

(2)  Condenação. Ele “destinará a sua parte com os hipócritas”, e será uma porção miserável, pois “ali haverá pranto”. Observe que:

[1] Há um lugar e um estado de miséria perpétua no outro mundo, onde não há nada, exceto pranto e ranger de dentes; o que expressa a tribulação e a angústia da alma sob a indignação e a ira de Deus.

[2] A sentença divina designará este lugar e esta­ do como a porção daqueles que, por seu próprio pecado, foram preparados para ele. Até àquele de quem Ele disse, que dizia que Ele era o seu Senhor, designará, desta maneira, a sua porção. Aquele que agora é o Salvador, será, então, o Juiz, e o estado perpétuo dos filhos dos homens será como Ele designar. Eles, que escolhem o mundo por sua porção nesta vida, terão o inferno por sua porção na outra vida. “Esta, da parte de Deus, é a porção do homem ímpio” (Jó 20.29).

[3] O inferno é o lugar apropriado para os hipócritas. Este servo perverso tem sua porção com os hipócritas. Eles são, como eram, os proprietários livres, outros pecadores são meramente como moradores com eles, e têm somente uma porção da sua miséria. Quando Cristo desejava expressar o mais severo castigo no outro mundo, Ele o chamava de “a porção dos hipócritas”. Se houver algum lugar no inferno mais ardente que outro, como é provável que haja, ele será a parte daqueles que têm a forma, mas odeiam o poder da piedade.

[4] Os ministros perversos terão a sua porção no outro mundo com os piores dos pecadores, certamente com os hipócritas, e com justiça, pois eles são os piores dos hipócritas. O sangue de Cristo, que eles têm, por suas profanações, pisado sob os seus pés, e o sangue das almas, que eles têm, por sua deslealdade, trazido sobre as suas cabeças, os oprimirão naquele lugar de tormento. “Filho, lembra-te”, será como o corte de uma palavra a um ministro, se ele perecer, como a qualquer outro pecador. Que eles, portanto, que pregam aos outros, temam, para que eles mesmos não sejam reprovados.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

CULPA DA OCITOCINA

Culpa da Ocitocina

Conhecida como o hormônio do amor, a ocitocina promove melhor interação social em contextos positivos em família ou com amigos, num concerto de rock ou outras situações em que sua concentração é aumentada em certas regiões cerebrais. No entanto, em um contexto negativo, a ocitocina poderia promover a prevenção social, de evitação de situações desconhecidas.

Tal efeito foi atestado em um estudo com ratos da UC Davis (Califórnia, EUA), que também descobriu como um mesmo hormônio pode agir provocando reações diametralmente opostas.

Não só esse achado foi surpreendente, mas o fato de que o novo estudo favorece outras pesquisas para a criação de drogas e intervenções mais ágeis em mitigar certos transtornos emocionais. Segundo o observado pelos pesquisadores da UC, suprimindo-se a ocitocina em ratos, foi possível torná-los menos propensos ao isolamento e mais saciáveis. E isso em um timing bem curto, diferentemente do necessário para se obter o mesmo efeito com o uso de fluoxetina, por exemplo.

ÁREAS DIFERENTES

Já no que diz respeito à forma como o hormônio é capaz de produzir reações tão distintas, verificou-se que ele age em diferentes áreas do cérebro. No núcleo accumbens, região cerebral importante para recompensa e motivação, a ocitocina promove aspectos gratificantes das interações sociais. Já no núcleo leito da estria terminal, região conhecida por controlar a ansiedade, ela provocaria a evitação social. Mulheres e homens respondem de forma diferente em intensidade à presença do hormônio nessas regiões cerebrais.

OUTROS OLHARES

ENERGIA BOMBÁSTICA

Estudo realizado no Canadá lista os efeitos nocivos que apenas duas latinhas de energético podem causar no organismo humano – especialmente no dos jovens

Energia bombástica

Desenvolvidas na Tailândia na década de 70, as bebidas sem álcool feitas com substâncias estimulantes surgiram para dar pique aos caminhoneiros. Para suportarem longas travessias de estradas, os motoristas de Bangcoc tomavam um tônico caseiro chamado de Krating Daeng (Touro Vermelho,) referência a uma espécie de bovino do Sudeste da Ásia.

Dez anos depois, um empresário austríaco experimentou a mistura, sentiu algum efeito positivo e decidiu ganhar dinheiro com o produto. Nasceram, assim, os energéticos, hoje amplamente espalhados em todo o mundo, usados por esportistas, frequentadores de academias e pessoas que, de um jeito ou de outro, enfrentam longas jornadas de trabalho. O consumo entre jovens é quase uma epidemia, uma muleta artificial para atravessarem as noites nas baladas. Suspeitava-se que o uso exagerado provocasse desconforto ao produzir taquicardia, mas nada muito grave. Um recente estudo conduzido pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Waterloo, no Canadá, porém, demonstra que os efeitos são mais complicados.

Divulgados no Canadian Medical Association Journal, os resultados são contundentes. Com a participação de 2055 homens e mulheres com idade entre 12 e 24 anos, o trabalho listou os efeitos do consumo de até duas latinhas de energético – uma quantidade inferior à máxima recomendada para esse tipo de bebida. Quatro em cada dez entrevistados já haviam tido sintomas que variavam de aceleração dos batimentos cardíacos a dor de cabeça, dificuldade para dormir, vômito e diarreia. Os problemas de saúde estão associados à quantidade de estimulantes contidos nos energéticos – que, atenção, nada têm a ver com os isotônicos, cuja função é reidratar o organismo.

A cafeína é o principal composto dos energéticos. “A quantidade de cafeína em uma embalagem de 250 mililitros pode ser equivalente ao conteúdo de três xícaras de café, a depender da marca do produto”, diz o endocrinologista Francisco Tostes, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, especialista em medicina do esporte e atividade física. Os energéticos também são preparados com taurina, um aminoácido encontrado em peixes, frutos do mar, aves e carne bovina que tem ação excitatória, capaz de diminuir o cansaço muscular. A taurina potencializa o efeito da cafeína, aumentando a sensação de disposição e bem­ estar. O produto contém ainda glucoronolactona, substância derivada da glicose, que dá mais energia.

Os adultos, com seu organismo já formado, também podem sentir a bomba estimulante, sobretudo se já sofrem de alguma doença, como problemas cardíacos ou hipertensão. Nos jovens, no entanto, o impacto é maior. Eles têm naturalmente menos massa corporal e possuem metabolismo mais acelerado. ”Acreditamos que esse tipo de bebida seja realmente mais nocivo para organismos novos”, disse David Hammond, um dos coordenadores da pesquisa. Há um problema adicional, de probabilidade. Quanto mais jovem é o adolescente, maior é o consumo de energéticos. Um levantamento conduzido pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, instituição que fornece à Comissão Europeia pareceres científicos sobre alimentos, mostrou que jovens entre 10 e 18 anos são os que mais ingerem essas bebidas. Nessa faixa etária, 68% dos indivíduos consomem energéticos. Entre os mais velhos, a taxa é de30%.

Outra preocupação dos médicos é a associação dos energéticos com o álcool – um hábito crescente entre os jovens. Segundo estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo, 15,4% dos adolescentes que tomam bebidas alcoólicas adicionaram os energéticos ao copo. Outra pesquisa, da Universidade da Flórida, revelou que meninos e meninas em idade escolar que acrescentam bebidas alcoólicas aos energéticos correm risco três vezes maior de embriagar-se, em comparação àqueles que consomem apenas bebidas alcoólicas. Isso porque os estimulantes reduzem a ação depressora do álcool no córtex cerebral, postergando a hora de parar.

Os energéticos servem de gatilho para o consumo de bebidas alcoólicas, pois seu sabor adocicado disfarça o gosto amargo do álcool – ideal para o paladar ainda inexperiente. Parte das cinquenta marcas do produto disponíveis no Brasil passou a ter recentemente versões mais agradáveis e palatáveis, com sabores como lima-da-pérsia e açaí.

A venda de energéticos é liberada para qualquer idade. Alguns países adotam medidas próprias, mas sem legislação específica. No Reino Unido, por exemplo, desde o início do ano os grandes supermercados passaram a só autorizar a compra para clientes com mais de 16 anos. No Brasil, a Câmara dos Deputados analisa projeto de lei que proíbe a venda, a oferta e o consumo de bebidas energéticas a menores de 18 anos. Se aprovado, passa por duas comissões, depois para o plenário da Câmara dos Deputados para, então, seguir para o Senado Federal e, enfim, pousar na mesa do presidente da República. Enquanto esse percurso não for concluído, a venda continuará totalmente liberada.

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GESTÃO E CARREIRA

MARKETPLACE, JÁ OUVIU FALAR?

Largamente utilizada no exterior, a modalidade de negócio desde que chegou ao Brasil tem ganhado muitos adeptos.

Marketplace, já ouviu falar

 Nem é tão recente assim, mas a grande maioria das pessoas, e até profissionais das indústrias, ainda desconhece, tampouco ouviu falar em Marketplace. Pois bem, Marketplace é mais uma modalidade de negócio destinada a aumentar a gama de produtos ofertados, que teve início no Brasil em 2012 por iniciativa dos grandes sites de comércio eletrônico, que buscam cada vez mais equalizar a questão das margens que afetam fortemente os resultados das operações de e-commerce. Mas foi nos últimos dois anos que ganhou destaque.

Como oferecer maior gama de produtos sem onerar os estoques e o caixa? Como oferecer produtos com melhores condições comerciais aos consumidores? A saída foi propor aos fabricantes uma parceria “ganha-ganha-ganha”, na qual todos passam a realmente ganhar: revendedores, fabricantes e consumidores. Pode parecer algo simples, mas não é bem assim. Quem é do ramo sabe que é muito difícil essa equação. Normalmente, o consumidor tem que ter acesso aos melhores preços, o revendedor tenta manter suas margens, assim como a indústria, porém a experiência mostra que um sempre saia perdendo, principalmente em tempos de queda nas vendas, como este que estamos passando.

O conceito é bem simples. Os sites passaram a “disponibilizar” seus espaços aos fabricantes e cobram uma “comissão” somente sobre os produtos vendidos. Essa taxa pode variar de 10% a 25%, dependendo do segmento. A indústria, por sua vez, tem a possibilidade de expor em sites com milhões de visitantes todos os meses; boa parte, senão todo seu portfólio, era até então limitado pelos entraves negociais que restringiam essa exposição. E vale ressaltar que, além de divulgar os produtos, poderá ter melhora significativa das margens, seja por não ter que pagar contratos de fornecimento, seja pelas verbas extras por baixos giros ou pela bitributação que deixa de existir.

Cabe o esclarecimento que as operações de Marketplace são, por enquanto, independentes dos sites convencionais que compram e vendem produtos. A plataforma é a mesma, porém são diretorias totalmente separadas, criando até competição dentro do próprio ambiente. Assim, não é de estranhar que em alguns deles o consumidor encontre o mesmo produto anunciado duas vezes e com preços diferentes. Isso acontece porque o próprio site comprou e o produto foi também colocado no Marketplace. É bom alertar: não é uma prática aconselhável, pois cria desconfiança no consumidor.

Voltando ao funcionamento da operação, as indústrias precisam ter um site de vendas próprio de modo a alimentar as informações passadas aos demais. Vale destacar que os preços dos produtos no Marketplace são determinados pelo fabricante, assim como o faturamento e a entrega. O site vende e recebe do consumidor, passa as informações para a indústria, que cuida do restante. Ao final de 15 ou 30 dias, varia de site para site, os valores são repassados para a indústria com a comissão já deduzida. O prazo de pagamento é deliberação dos sites, mas pode ser negociado.

Por fim, os consumidores, por meio dessa nova prática, agora contam com vasta oferta de produtos, anteriormente não disponível, com condições bem mais atraentes. Na maioria dos casos, nem chegam a perceber que compraram de uma empresa e que a nota fiscal é de outra. mesmo com os sites indicando na confirmação da compra que o produto está sendo gerado por outro CNPJ. Importante dizer que o consumidor pode ficar tranquilo quanto à garantia dos produtos: mesmo toda a parte de SAC sendo feita pelos sites, essa responsabilidade ficará sempre sob a tutela da indústria.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE II

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A Parábola da figueira. Predições terríveis. O dever da vigilância. O bom e o mau administrador

II – Para essa finalidade, nós devemos esperar esses eventos: para que possamos nos preparar para eles, e aqui temos um aviso contra a segurança e a sensualidade, que farão dele um dia realmente funesto para alguns (vv. 37-41). Nesses versículos, nos é dada uma ideia do Dia do Juízo, que pode servir para nos chocar e despertar, para que não durmamos, como os outros.

Será um dia surpreendente, e um dia separador.

1. Será um dia surpreendente, como o dilúvio foi para o mundo antigo (vv. 37-39). O que Ele pretende descrever aqui é a postura do mundo com a vinda do Filho do Homem. Além da sua primeira vinda, para salvar, Ele tem outra vinda, para julgar. Ele disse (João 9.39): “Eu vim a este mundo para juízo”; e para juízo Ele virá, pois todo julgamento foi confiado a Ele, tanto o da Palavra quanto o da espada.

Isto se aplica:

(1)  A julgamentos temporais, particularmente àquele que então se precipitava sobre a nação e o povo judeus. Embora eles tivessem recebido muitos avisos, e tivesse havido muitos prodígios que eram presságios desse juízo, ainda assim ele os encontrou seguros, gritando: “Paz e segurança” (1 Tessalonicenses 5.3). O cerco a Jerusalém foi realizado por Tito, quando era Páscoa e eles estavam em meio à sua felicidade. Como os homens de Laís, eles viviam despreocupados quando a destruição os atacou (Juízes 18.7,27). A destruição da Babilônia, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, surge quando ela disse: “Eu serei senhora para sempre” (Isaias 47.7-9; Apocalipse 18.7). Por isso as pragas vêm em um momento, em um dia. Observe que a incredulidade dos homens não tornará as ameaças de Deus sem efeito.

(2)  Ao juízo eterno; assim é chamado o julgamento do Grande Dia (Hebreus 6.2). Embora Enoque tenha dado avisos, ainda assim, quando ele vier, será inesperado para a maioria dos homens. Os últimos dias, que são mais próximos daquele dia, irão produzir escarnecedores que dirão: “Onde está a promessa da sua vinda?” (2 Pedro 3.3,4; Lucas 18.8). Assim será quando o mundo que existe agora for destruído pelo fogo; pois assim foi, quando o mundo antigo, tendo sido inundado com água, pereceu (2 Pedro 3.6,7). Cristo mostra então qual era o espírito e a postura do mundo antigo, quando veio o dilúvio.

[1] Eles eram sensuais e mundanos; comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento. Não está dito que eles estavam matando, roubando, prostituindo-se e blasfemando (estes eram realmente os crimes horríveis de alguns, entre os piores; a terra estava cheia de violência), mas eles estavam, todos eles, exceto Noé, sem esperança no mundo, e sem considerar a Palavra de Deus; e isto os destruiu. Observe que a negligência universal da religião é um sintoma mais perigoso, para qualquer pessoa, do que exemplos particulares, aqui e ali, de uma ousada falta de religiosidade. Comer e beber são coisas necessárias à preservação da vida do homem; casar-se e dar-se em casamento são coisas necessárias à preservação da humanidade. Mas, se forem realizadas de forma lícita. Em primeiro lugar; eles eram irracionais, desordenados e buscavam exclusivamente os prazeres dos sentidos, e os ganhos do mundo; estavam completamente dominados por essas coisas, eles viviam de uma forma elementar, como se não existissem para nenhuma outra finalidade, a não ser comer e beber (Isaias 56.12). Em segundo lugar, eles eram irracionais. Estavam completamente atentos ao mundo e à carne, quando a destruição estava à porta, destruição da qual tinham tido tantos avisos. Estavam comendo e bebendo, quando deveriam estar se arrependendo e orando. Deus, pelo ministério de Noé, os convocou a chorarem e a se lamentarem, para que, mais tarde, tivessem alegria e satisfação. Isto era, para eles, como depois o foi para Israel, um pecado imperdoável (Isaias 22.12,14), especialmente porque eles o faziam desafiando aqueles avisos, pelos quais de­ viam ter despertado. “‘Comamos e bebamos, que amanhã morreremos’; se é preciso ter uma vida curta, que seja alegre”. O apóstolo Tiago fala disso como sendo o costume geral dos judeus ricos antes da destruição de Jerusalém. Quando deviam estar chorando e pranteando por suas misérias, que sobre eles haveriam de vir, eles estavam se deleitando e cevando seus corações, como num dia de matança (Tiago 5.1,5).

[2] Eles estavam seguros e despreocupados, e não o perceberam, até que veio o dilúvio (v. 39). Não o perceberam! Certamente, eles não podiam ter deixado de saber. Deus, por meio de Noé, não tinha lhes dado muitos avisos disso? Ele não os tinha convidado ao arrependimento, enquanto os aguardava em sua longanimidade? (1 Pedro 3.19,20). Mas eles não o perceberam, isto é, eles – não creram; eles podiam ter sabido, mas não quiseram saber. Observe que, quanto àquilo que nós conhecemos das coisas que pertencem à nossa paz eterna, se não o mesclarmos com a fé, e o aperfeiçoarmos, é como se não tivéssemos conhecido. O fato de eles não conhecerem acompanha o fato de comerem, beberem, e se casarem; pois, em primeiro lugar; eles eram sensuais, porque eram seguros. A razão pela qual as pessoas são tão ansiosas na busca, e tão envolvidas nos prazeres deste mundo, é que não conhecem, nem creem, nem consideram a eternidade em que estão prestes a entrar. Se nós soubéssemos, de modo adequado, que todas estas coisas em breve serão dissolvidas, e que certamente devemos sobreviver a elas, não concentraríamos nossos olhos e corações sobre elas, não tanto como o fazemos. Em segundo lugar, eles eram seguros, porque eram sensuais; eles não sabiam que o dilúvio se aproximava, porque estavam comendo e bebendo; eles estavam tão dominados pelas coisas visíveis e presentes, que não tinham tempo nem coragem para se preocupar em com as coisas não vistas, embora tivessem sido avisados delas. Assim como a segurança fortalece os homens na sua sensualidade brutal, também a sensualidade os “embala” na sua segurança carnal. Eles não o perceberam, até que veio o dilúvio.

2. O dilúvio veio, embora eles não o antevissem. Observe que aqueles que não querem aprender pela fé, aprenderão experimentando a ira de Deus, que lhes será revelada, do céu, contra a sua impiedade e injustiça. O dia do mal nunca está tão distante que os homens não possam afastá-lo ainda mais.

3. Eles não o perceberam, até que foi tarde demais para evitá-lo, como poderiam ter feito se o tivessem percebido a tempo, o que tornava tudo ainda mais lamentável. Os juízos são mais terríveis e espantosos para aqueles que se sentem seguros, e para os que zombaram deles.

Temos a aplicação disso, a respeito do mundo antigo, nas seguintes palavras: ”Assim será também a vinda do Filho do Homem”, isto é:

(1) Nessa condição, Ele encontrará pessoas comendo e bebendo, e não esperando por Ele. Observe que a segurança e a sensualidade provavelmente serão as epidemias dos últimos dias. Todos tosquenejam e adormecem, e à meia-noite o esposo vem. Todas sem vigiar, e descansadas.

(2) O Senhor virá a eles com esse poder, e com esse objetivo. Da mesma maneira como o dilúvio levou os pecadores do mundo antigo de uma forma irresistível e irrecuperável, também os peca­ dores seguros, que zombaram de Cristo e da sua vinda, serão levados pela ira do Cordeiro, quando vier o grande dia da sua ira, que será como a vinda do dilúvio; uma destruição da qual não se pode fugir.

4. Este será um dia separador (vv. 40,41): “Haverá dois no campo”. Isto pode ser aplicado de duas maneiras:

(1)  Nós podemos aplicar essa palavra ao sucesso do Evangelho, especialmente na sua primeira pregação. Ele dividiu o mundo; alguns creram nas coisas que foram ditas, e foram levados até Cristo; outros não creram, e foram abandonados para perecer na sua incredulidade. Aqueles da mesma idade, do mesmo lugar, capacidade, emprego e condição, no mundo, que moíam no mesmo moinho, os da mesma família, aqueles que estavam unidos pelo mesmo laço de casamento – um deles será chamado, e o outro será deixado na tristeza da amargura. Essa é aquela divisão, aquele fogo de dissensão que Cristo veio trazer (Lucas 12.49,51). Isso torna a graça gratuita ainda mais obrigatória do que diferenciadora; a nós, e não ao mundo (João 14.22), ou melhor, a nós, não àqueles que estão no mesmo campo, no mesmo moinho, na mesma casa.

Quando a destruição se abateu sobre Jerusalém, uma distinção foi feita pela Divina Providência, de acordo com o que havia sido feito anteriormente pela divina graça. Pois todos os cristãos entre eles estavam salvos de perecer naquela calamidade, por proteção especial do Céu. Se dois deles estavam trabalhando juntos no campo, e um deles era um cristão, ele era levado a um lugar de abrigo, e tinha a sua vida conserva da com o um despojo, ao passo que os outros eram deixa dos para a espada do inimigo. Se apenas duas mulheres estivessem moendo no moinho, e se uma delas pertencesse a Cristo, embora fosse apenas uma mulher, uma pobre mulher, uma serva, ela seria levada a um lugar de abrigo, e a outra seria abandonada. Assim os mansos da terra estariam escondidos no dia da ira do Senhor (Sofonias 2.3), fosse no céu, ou sob o céu. Observe que a preservação diferenciada, em tempos de destruição geral, é um sinal especial do favor de Deus, e assim deve ser reconhecida. Se nós estamos a salvo quando milhares caem à nossa direita e à nossa esquerda, se nós não somos consumidos quando outros o são à nossa volta, de modo que nós somos como tições arrancados do fogo, temos razão para dizer que isso é misericórdia de Deus, e uma grande misericórdia.

(2) Nós podemos aplicar isso à segunda vinda de Jesus Cristo, e à separação que se fará naquele dia. Ele havia dito anteriormente (v. 31) que os escolhidos serão reunidos. Aqui Ele nos diz que, para que isso aconteça, eles serão diferenciados daqueles que estão mais próximos a eles neste mundo; aqueles que são chamados e escolhidos são levados à glória; os demais são abandonados para que pereçam por toda a eternidade. Aqueles que dormem no pó da terra, na mesma sepultura, com as cinzas misturadas, ressuscitarão, uns para “a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12.2). Esta palavra é aplicada aqui àqueles que estiverem vivos. Cristo virá de forma inesperada, encontrará as pessoas ocupadas com seus afazeres usuais no campo e no moinho; e então, conforme sejam eles vasos de misericórdia prepara dos para a glória, ou vasos da ira preparados para a perdição, este fato acontecerá com eles. Um será levado para encontrar o Senhor e os seus anjos nos ares, para estar eternamente com Ele e com eles; o outro será deixado para Satanás e os seus demônios, que, depois de Cristo ter reunido os seus, varrerão o resíduo. Isto tornará a condenação dos pecadores ainda mais grave, o fato de outros serem removidos do seu meio para a glória, e eles serem deixados para trás. E isto transmite abundante consolo ao povo do Senhor.

[1] Eles são humildes e desprezados no mundo, como o servo no campo, ou a mulher no moinho (Êxodo 11.5)? Ainda assim, eles não serão esquecidos, nem negligenciados naquele dia. Os pobres no mundo, os ricos em fé, são os herdeiros do Reino.

[2] Eles estão dispersos por lugares distantes e improváveis. Onde ninguém esperaria encontrar os herdeiros da glória? No campo, no moinho? Ainda assim, os anjos os encontrarão (escondidos como Saul, quando devem ser entronizados), e dali os levarão. E é justo que se diga que eles serão mudados, pois será uma grande mudança; ir para o céu, em vez de arar e moer.

[3] Eles são fracos e incapazes de se dirigirem ao céu? Eles serão levados, ou tomados, assim com Ló foi tirado de Sodoma por uma graciosa violência (Genesis 19.16). Cristo nunca perderá aqueles que já são dele, aqueles de quem Ele já se apossou.

[4] Eles estão misturados com outros, relacionados com eles, nas mesmas casas, sociedades, e trabalhos materiais? Que isto não desencoraje nenhum verdadeiro cristão. Deus sabe como separar o precioso do vil, o ouro e o lixo no mesmo monte, o trigo e a palha na mesma eira.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SEGREDOS DA INTELIGÊNCIA

Segredos da inteligência

Quer ser brilhante como uma lâmpada e rápido como um raio? Afie sua inteligência dominando o poder das palavras, dos idiomas e da mnemônica.

Numa época em que a geladeira pode nos ajudar a fazer a lista de compras e o celular responde a quase todas as perguntas, não é mais preciso se lembrar de nada. E assim as façanhas dos campeões de memória, que recordam centenas de nomes e rostos, sequências aleatórias de números ou palavras ou a ordem das cartas em vários baralhos, parecem mais super-humanas do que nunca.

Mas essa gente de memória fenomenal tem um ótimo segredinho: em um estudo publicado recentemente na revista Neuron, pesquisadores consta­ taram que os supermemorizadores não têm regiões cerebrais maiores que lhes permitam absorver e guardar uma quantidade prodigiosa de informações. Sua estrutura cerebral, em essência, é a mesma que a nossa.

 COMO MELHORAR A MEMÓRIA

Ao comparar exames cerebrais de 23 campeões da memória (que ficaram entre os 50 primeiros lugares do Campeonato Mundial de Memória) com os de 23 pessoas comuns da mesma idade, sexo e QI, os cientistas só encontraram uma diferença: no cérebro dos campeões, as regiões associadas à memória e ao aprendizado visual e espacial se iluminaram com um padrão específico. No cérebro das pessoas comuns, essas mesmas regiões se ativaram de forma diferente.

Por que isso é importante? Porque aprendemos vendo, e quanto mais vemos, mais recordamos coisas. Esses supermemorizadores aperfeiçoaram o método de converter os itens que querem recordar (números, rostos, cartas e até formas abstratas) em imagens que eles ”veem” na mente. É um processo chamado ”construção do palácio da memória”.

Eis como funciona: primeiro, você transforma os itens numa imagem – qualquer coisa da qual vá se lembrar. Por exemplo, para recordar sequências de cartas, Ed Cooke (reconhecido como Grão-Mestre da Memória pelo Conselho Mundial de Esportes de Memorização) contou ao escritor americano Tim Ferriss que atribui a cada carta uma celebridade, uma ação e um objeto; assim, cada combinação de três cartas forma uma imagem única com a celebridade da primeira carta, a ação da segunda e o objeto da terceira. Dessa maneira, ”valete de espadas, seis de espadas, ás de ouros” se tornam o dalai-lama usando o vestido de carne de Lady Gaga e segurando a bola de basquete de Michael Jordan. O sistema de Cooke se baseia na ideia de que a memória se prende melhor às pistas incomuns.

Depois, ponha mentalmente essa imagem em algum lugar que você conheça: em sua casa ou em algum ponto da ida para o trabalho, por exemplo. Finalmente, crie uma história sobre os itens que vai ajudá-lo a ligá-los na ordem correta.

Eis alguns truques favoritos que ajudam a lembrar coisas na vida cotidiana.

Para lembrar: Palavras novas Técnica: Mude a rotina

Em um estudo clássico realizado na década de 1970 na Universidade de Michigan, um grupo de alunos estudou uma lista de palavras em duas sessões separadas. Alguns o fizeram numa salinha cheia de coisas e outros num espaço com duas janelas e um espelho falso. Um grupo de alunos passou ambas as sessões na mesma sala, enquanto o outro fez cada sessão num ambiente. Numa prova realizada numa sala totalmente diferente, os alunos que estudaram em vários lugares recordaram 53% mais do que os que estudaram em uma só sala.

Estudos subsequentes mostraram que variar outros aspectos do ambiente (a hora do dia, a música de fundo, ficar sentado ou em pé etc.) também ajuda a recordar, pois o cérebro liga as palavras (ou o que você estiver aprendendo) ao contexto que o cerca, e, quanto mais pistas contextuais você associar às palavras, mais base o cérebro terá para recordá-las.

Para lembrar: Senha numérica Técnica: Conte-a

Você pode usar seu aniversário, é claro, ou o número de telefone, mas os ladrões de identidade conseguem descobrir essas senhas bem depressa. Em vez disso, experimente esta dica de Dominic O’Brien, oito vezes Campeão Mundial de Memória: escreva uma frase de quatro palavras e conte o número de letras de cada uma. Por exemplo ”Esta é minha senha”= 4155.

Para lembrar: Fatos e números Técnica: Dê tempo ao tempo Mamãe tinha razão: estudar na véspera não é a melhor maneira de memorizar. Para aprender e recordar estatísticas (ou praticamente qualquer tipo de informação factual), reler o material algumas vezes num período maior é muito mais eficaz do que repeti-lo num período curto.

Essa técnica data de 1885, quando o psicólogo Hermann Ebbinghaus descobriu que conseguia aprender uma lista de palavras sem sentido se a repetisse 68 vezes num dia e mais sete vezes antes de ser testado no dia seguinte. Mas aprendia igualmente bem o mesmo número de palavras se as repetisse um total de 38 vezes no decorrer de três dias.

Pesquisas mais recentes demonstraram o intervalo ótimo das sessões de estudo: se a prova for daqui a uma se­ mana, estude hoje e, novamente, daqui a um dia ou dois. Se for daqui a um mês, estude hoje e espere uma semana antes de rever o conteúdo. Daqui a três meses? Espere três semanas para voltar a estudar. Quanto mais distante for a prova, maior o intervalo ótimo entre as duas primeiras sessões de estudo.

(Uma revisão final na véspera da prova também é boa ideia.)

Para lembrar: Um novo idioma Técnica: Leia e escute

Em um estudo realizado na Universidade de Porto Rico, 137 estudantes falantes de espanhol foram separados em dois grupos. Durante oito sema­ nas, um grupo leu um livro em inglês enquanto, ao mesmo tempo, escutava a versão em áudio; o outro só leu o livro em silêncio. A cada semana, todos os estudantes respondiam a um questionário. Em todos os oito questionários, os que leram e escutaram tiveram pontuação melhor do que o grupo que só leu.

Para lembrar: Rostos Técnica: Foco no nariz

Embora alguns supermemorizadores se especializem em associar nomes a rostos (uma das disciplinas dos Campeonatos Mundiais da Memória), a técnica do palácio da memória não funciona tão bem quando a imagem do rosto estiver cortada, com as cores corrigidas ou com alguma alteração.

Recordar rostos e lembrar-se deles em contextos diferentes pode ser uma habilidade especial que vários estudos ligam à personalidade: os extrovertidos reconhecem rostos muito melhor do que os introvertidos, por exemplo. Uma dica: em vez de se concentrar nos olhos, como faz a maioria, concentre-se no centro ou à esquerda do nariz. Isso permite que você capte o rosto inteiro de uma vez.

Para lembrar: A lista de compras

Técnica: Envolva o corpo

Com que frequência você já escreveu sua lista e depois esqueceu onde a guardou? Nessa variante do palácio da memória, visualize os itens da lista em diversas partes do corpo. Por exemplo, imagine que equilibra o queijo na cabeça, um ovo no nariz e uma caixa de leite no ombro.

POR QUE LER É IMPORTANTE

A pergunta é simples; responda com franqueza, porque sua resposta pode aumentar o prazer da vida cotidiana, retardar a demência e até ajudá-lo a viver mais: quantas horas você dedicou à leitura de livros na semana passada?

Desde 1992, essa pergunta chega a milhares de lares americanos de dois em dois anos, no Estudo de Saúde e Aposentadoria (HRS, na sigla em inglês) da Universidade de Michigan. Item pequeno numa pesquisa imensa com mais de 20 mil aposentados, ela foi ignorada por muito tempo na análise da saúde cerebral dos idosos.

Mas, em 2016, quando pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Yale, nos EUA, desenterraram 12 anos de dados do HRS sobre hábitos de leitura e saúde de mais de 3.600 homens e mulheres com mais de 50 anos, um padrão esperançoso surgiu: quem lê livros – ficção ou não ficção, prosa ou poesia – pelo menos meia hora por dia durante vários anos vive em média dois anos mais do que quem não lê nada.

Ainda mais estranho, os leitores de livros que relataram mais de três horas de leitura por semana tiveram probabilidade 23% menor de morrer entre 2001 e 2012 do que os colegas que só liam jornais e revistas.

Se você estiver lendo isso, provavelmente não é preciso convencê-lo dos méritos da palavra escrita. Talvez já conheça estudos recentes que indicam que crianças de apenas 6 meses cujos pais liam livros para elas várias vezes por semana apresentam, quatro anos depois, maior capacidade de alfabetização, pontuação melhor em testes de inteligência e maior chance de realização profissional no futuro.

Mas pesquisas recentes defendem que a leitura pode ser igualmente importante na idade adulta. Quando praticada a vida inteira, a leitura e a capacidade de aquisição da linguagem promovem, de forma substancial, o funcionamento saudável do cérebro. Para entender por quê – e o que cada um de nós pode fazer para obter o máximo das palavras -, comece fazendo a mesma pergunta que a equipe de Yale: o que há na leitura de livros que aumenta o poder cerebral e que a leitura de jornais e revistas não tem? Para começar, postulam os pesquisadores, os livros com capítulos estimulam a ”leitura profunda’: Ao contrário, digamos, de dar uma olhada numa página cheia de títulos, ler um livro (de qualquer gênero) força o cérebro a pensar de maneira crítica e a fazer conexões entre um capítulo e outro e com o mundo exterior. Quando você faz conexões, o cérebro também faz, forjando literalmente novas vias entre regiões dos quatro lobos e de ambos os hemisférios. Com o tempo, essas redes neurais promovem pensamento mais rápido e permitem uma defesa melhor contra os piores efeitos da degeneração cognitiva.

Em segundo lugar, já se demonstrou que a leitura de livros, principalmente de ficção, eleva a empatia e a inteligência emocional. Um estudo de 2013 constatou que os participantes que leram apenas a primeira parte ou primeiro capítulo de uma história exibiram, uma semana depois, um aumento perceptível da empatia, enquanto os leitores de notícias mostraram redução. Esses achados talvez pareçam triviais, mas não são; o desenvolvimento de ferramentas sociais como a empatia e a inteligência emocional pode levar a mais e melhores interações humanas, que, por sua vez, baixam o nível de estresse – e ambos os fatores ajudam a viver mais e ter mais saúde. Isso não é dizer que revistas, jornais e textos da internet não tenham seus méritos. Ler qualquer coisa que preencha a mente e nos exponha a novos mundos, expressões e fatos traz benefícios mentais. Novas pesquisas indicam que um vocabulário maior pode tornar a mente mais resiliente por alimentar o que os cientistas chamam de reserva cognitiva.

Um modo de entender essa reserva é como a capacidade do cérebro de se adaptar a lesões. A reserva cognitiva ajuda os neurônios a encontrarem novas vias mentais em torno de áreas danificadas por AVCs, demência e outras formas de degeneração.

Isso pode explicar por que, depois da morte, descobriu-se que muitos idosos aparentemente saudáveis abrigavam no cérebro sinais avançados da doença de Alzheimer, apesar de terem poucos sintomas em vida. Acredita-se que a reserva cognitiva permita a alguns idosos compensar, de forma imperceptível, lesões cerebrais ocultas.

E como se aumenta a reserva cognitiva? É outra boa notícia para os amantes da palavra. Sabe-se que o vocabulário resiste ao envelhecimento; de acordo com pesquisadores da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, ter um vocabulário rico pode retardar de forma significativa a manifestação do declínio mental. Ao analisar a pontuação de mais de trezentos voluntários com 50 anos ou mais em testes de vocabulário, a equipe verificou que os participantes com nota mais baixa tinham risco de degeneração cognitiva três a quatro vezes maior do que os participantes com nota mais alta.

Aprender palavras estrangeiras também oferece importantes nutrientes cognitivos. A pesquisa mostra que aprender algo novo, como tocar um instrumento ou falar outro idioma, é uma das melhores coisas que se pode fazer pelo cérebro em qualquer idade. Lembra-se daquela poderosa rede de conexões cerebrais que obtemos com a leitura? Aprender um segundo idioma faz essa rede crescer; já se comprovou que os poliglotas são melhores do que os monolíngues na multitarefa, na memorização e na concentração em informações importantes.

Um estudo publicado em 2013 na revista Neurology mostrou que pacientes que falavam dois ou mais idiomas desenvolveram demência 4,5 anos mais tarde, em média, do que pacientes monolíngues. E, embora o cérebro que aprende uma segunda língua no início da vida provavelmente tenha mais vantagens cognitivas do que o que aprende depois, nunca é tarde demais. Também não é preciso se tornar um falante fluente. ”Basta ter o básico daquelas conexões linguísticas para retardar a demência’; disse à revista Atlantic o Dr. Thomas Bak, da Universidade de Edimburgo.

É claro que aprender um novo idioma não é algo rápido. Por sorte, o efeito de uma única aula pode dar gratificação instantânea. Pesquisadores da Alemanha e da Espanha mandaram 36 participantes lerem duas frases contendo a mesma palavra estrangeira: ”Todo domingo, a avó ia ao jedin” e ”O homem foi enterrado no jedin’: Quando perguntaram o que significa jedin, os que adivinharam corretamente ”cemitério” mostraram reações nas mesmas partes do cérebro que percebem o prazer e que reagem a comida, sexo, jogo e outros estímulos satisfatórios.

Mas, quando se trata de palavras, o abuso é incentivado. Vale a pena aumentar sua competência com elas – hoje, amanhã e pelo resto da vida.

OUTROS OLHARES

PERSEGUIÇÃO ON-LINE

Maiores alvos de assédio e violência na internet, mulheres ganham amparo com nova Iei que atribui investigações à Polícia Federal. Em dois anos, número de casos cresceu 26.000%

Perseguição On-line

Faz um ano que a dona de casa Alessandra Cristiane de Castro Fuzinaka, 44 amos, abre sua conta do Facebook com medo. Desde que checou suas mensagens e viu que um desconhecido havia lhe escrito, elogiando a roupa que ela usava no caminho para a academia, passou a se sentir ameaçada. “Não tem coisa melhor do que acordar e dar de cara com você”, ele disse certa vez, entre outras coisas que mostravam que ele a perseguia. “Ficou amedrontador, cheguei ao ponto de não sair mais sozinha de casa”, afirma Alessandra. Foi à delegacia, onde minimizaram sua situação e sugeriram, que procurasse a Defensoria Pública. Foi a uma Delegada da Mulher, mas estavam sem sistema. A epopeia enfrentada por mulheres que, como Alessandra, são assediadas pela internet, é resultado da dificuldade de acesso à Justiça para se investigar autores dos assédios virtuais e puni-los. Com isso, a prática deixa de ser coibida, e é natural que o número de casos cresça vertiginosamente.

Segundo levantamento do Instituto Avon, situações de assédio on-line aumentaram 26.000% entre 2015 e 2017. E esse é apenas um dos tipos de problema enfrentados. O espectro da violência abrange agressões verbais, ameaças diretas, exposição de dados, fotos e disseminação de discursos de ódio –  que podem incluir, além de ofensas de gênero, racismo e homofobia. De acordo com a Organização das Nações Unidas, (ONU), 95% de todos os comportamentos agressivos e difamadores em ambientes virtuais têm mulheres como alvo. Uma nova legislação promulgada em abril pode mudar o cenário. Agora, uma denúncia de misoginia na internet, o que significa ódio a mulheres, é investigada pela Polícia Federal, que tem mais estrutura para apurar os casos.

A nova lei já surtiu efeito. Na quinta-feira 1O, a Polícia Federal executou a operação Bravata -expedindo oito mandados de prisão contra pessoas acusadas de propagar ódio na internet, principalmente contra mulheres. Um dos presos, Marcelo Valle Silveira Mello, detido em Curitiba, já havia sido indiciado em 2009 por crime de racismo na internet   foi inclusive a primeira pessoa a responder por isso no Brasil, mas liberado alegando insanidade. Voltou a ser condenado em 2012, durante a operação Intolerância, também da PF, e cumpriu um ano de pena. Desta vez, foi detido por incitar a violência contra diversos grupos sociais, inclusive com registro de disseminação de conteúdo pedófilo em um fórum anônimo na internet. Está em prisão preventiva. Para a professora Lola Aronovich, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é uma vitória. Lola acusa Mello de ameaça de morte e de ter criado, em 2015, um site em nome dela em que se vendiam remédios abortivos e se dizia que ela havia feito um aborto em sala de aula. A legislação, inclusive leva seu nome: Lei Lola. Blogueira feminista que publica denúncias de violência contra mulheres em seu site desde 2011, começou a ser perseguida em 2012 e, desde então, fez 11 boletins de ocorrência.

Conseguir fazer uma denúncia, portanto, é difícil, seja porque as autoridades ainda não estão preparadas ou porque há muita descrença em relação a esse tipo de crime, o virtual. Em relatório enviado à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre violências de gênero na internet brasileira, as organizações Coding Rights e lnternetLab mostraram que a falta de credibilidade dada às vítimas é um dos motivos que levam ao aumento de casos. “A banalização de manifestações de violência on-line sob a crença de que elas começam e terminam no meio digital é a primeira forma de diminuir a gravidade desse problema”, aponta o documento. As mulheres são subestimadas em

suas denúncias e, quando há respostas da Justiça, não são eficientes”. Afirma Juliana Cunha; diretora de projetos especiais da ONG Safernet. Na semana passada surgiu uma iniciativa para auxiliar as vítimas: o Facebook e a ONG brasileira Think Olga lançaram a plataforma Conexões que Salvam, com orientações sobre o que fazer em situações de perseguição e ameaças virtuais.

MEDIDA PROTETIVA

Há ainda outras dificuldades para dar continuidade a uma investigação, explica a promotora de Justiça do Estado de São Paulo, Marta Gabriela Prado Manssur. “A Vítima precisa contratar um advogado pra entrar com ação penal num prazo de seis meses, e muitas vezes não tem condição financeira, o que cria um, obstáculo de acesso à Justiça.”  Para ela, o alto índice dos crimes é ligado à sensação de impunidade, já que são raros os casos em que o criminoso é condenado. No caso da paulistana Márcia (nome fictício), a vitória foi conseguir uma medida protetiva que impede o ex-namorado de manter qualquer contato com ela. “Terminei o relacionamento, e ele começou a me ameaçar, dizendo que vazaria fotos íntimas minhas. Disse que ia me matar. Vivi essa chantagem por três meses”. Agora, ele não pode se aproximar dela nem virtualmente. Espera-se que, em breve, a justiça que chegou a Marcia funcione para todas.

Perseguição on-line2

GESTÃO E CARREIRA

O SHOPPING DO SEU NEGÓCIO

Se a sua empresa ainda tem dúvidas se deve estar presente em um marketplace, veja os benefícios e as oportunidades que se abrirão ao optar por essa estratégia.

O shopping do seu negócio

Se você está começando no mercado e ainda não vende no e­commerce, ou já tenham uma loja virtual, mas queira melhorar o desempenho das suas vendas, o marketplace se tornou um dos caminhos mais bem-sucedidos no País nos últimos tempos. Segundo a Sieve – empresa de inteligência de preços -, quase 20% das ofertas do e-commerce brasileiro já se dão por meio deles.

Segundo o CEO do Elo7 – marketplace de produtos criativos e autorais-, Carlos Curioni, os marketplaces são hoje um dos grandes apoiadores dos PMEs no Brasil. ”Além de oferecerem um espaço onde esse empreendedor poderá criar e desenvolver sua marca na internet, é também uma opção mais econômica para as empresas que ainda não conseguem investir em uma loja física ou em um site próprio”, afirma.

Entrar em um marketplace significa também participar das principais vitrines do Brasil. Além da visibilidade de marca, é uma estratégia que requer baixo investimento, o que é essencial para quem está começando. “Em um modelo tradicional, um lojista precisa investir em marketing (anúncios, adwords, newsletters) para atrair usuários para seu e-commerce. Esse investimento é feito sem a garantia de venda, além de exigir um bom fôlego financeiro. No marketplace ele só pagará a comissão, que geralmente é uma porcentagem predeterminada caso a venda seja concretizada”, conta o CEO do Digital Commerce Group – que detém as plataformas EZ Commerce, CORE e a recém-lançada Octopus, voltada totalmente a marketplaces -, Henrique Mengue.

ESTRATÉGIA

Claro que ter seus produtos ou serviços na internet podendo ser vistos por milhares de pessoas é sempre uma boa estratégia para alavancar ainda mais o negócio. No entanto, para o fundador da ReachOut Business Solutions, Edsel Oliveira, é importante que o empreendedor tenha consciência do que ele deseja alcançar ao criar e divulgar sua empresa nesse tipo de canal. “O marketplace pode ser uma opção dentro de uma estratégia. Como, por exemplo, se a estratégia for deixar o produto disponível ao consumidor, sem ter o próprio e-commerce. Porém, é fundamental lembrar que o produto estará concorrendo com outros muito similares, onde o fator preço é relevante”, avalia.

Para o diretor de marketplace e serviços do Walmart.com, Luiz Pimentel, não há dúvidas de que ele seja o canal perfeito. “O Marketplace é uma grande oportunidade para as PMEs – como já dito, o pequeno empreendedor não precisa gastar com marketing, além disso, acessa toda base de clientes, não corre risco de fraude, recebendo o pagamento. Enfim, uma grande vantagem versus canais de marketing pagos onde não se tem certeza sobre a venda”, reforça.

Sem contar ainda que é uma plataforma de fácil utilização. Em poucos minutos, é possível começar a vender um produto, sem grandes burocracias e sem nenhuma dificuldade.  “O pequeno e microempreendedor deve diversificar os seus canais de vendas e ampliar a disponibilidade do seu produto para a maior quantidade de clientes possíveis. Por esse motivo, nada mais fácil que estar em uma plataforma de tecnologia que tem milhões de visitantes por mês nas diferentes regiões do Brasil”, informa o diretor de marketplace do Mercado Livre, Leandro Soares.

 OS DOIS LADOS DA MOEDA

Importante o empreendedor saber, contudo, que não é só porque ele está inserido no marketplace que não poderá ter um e-commerce. É importante, na verdade, ter os dois. “O e-commerce é a sua marca, sua relação direta com os clientes. O marketplace traz o volume, mas, após uma venda, o cliente poderá virar um cliente direto, melhorando a sua margem”, acredita o CEO do Digital Commerce Group.

Carlos Curioni complementa que uma opção não exclui a outra e existem muitos negócios com presença nos dois canais. Entretanto, o marketplace tipicamente apresenta três vantagens sobre uma loja virtual típica: O custo inicial para montar a loja é menor, o marketplace faz o papel de marketing para o negócio e, na maioria dos casos, não há custo fixo para a operação.

Edsel Oliveira diz ainda que, se for o caso, alguns marketplaces podem até enriquecer a presença on-line. Afinal, assim como a loja física e o varejo on­line são complementares, os marketplaces e os e-commerces podem trabalhar juntos e se complementarem. “Prova é que o Mercado Livre possui uma ferramenta chamada Mercado Shops para qualquer pessoa e empresa produzir seu próprio site de e-commerce. Além disso, por meio do sistema de APTs do Mercado Livre é possível fazer o espelhamento da nossa plataforma com outros sites, isto é, ao anunciar um produto no XYZ, o vendedor adicionará um estoque, ao vender, a quantidade será subtraída do estoque das duas plataformas, fazendo assim com que o gerenciamento se torne muito fácil e intuitivo”,  exemplifica o diretor Leandro Soares.

Ele reforça ainda que, ao contrário do que muitos empreendedores pensam, o varejo on-line também não é excludente do off-line, e sim complementar. ”A loja física não é dispensável por causa das vendas on-line e vice­ versa. Umas das novidades do mercado de e-commerce tem sido a compra no on-line e retirada no off-line. E por que uma pessoa compraria no on-line e retiraria no off-line? Isso ocorre porque na internet é muito mais simples e rápido comparar preços, fabricantes e modelos de produtos, e não existem os custos de transporte entre diversas lojas ou shoppings e/ou estacionamento, tempo de deslocamento que é um agravante em grandes cidades, entre outros fatores”.

OPERAÇÃO

É importante entender que trabalhar em um marketplace e atender clientes no varejo on-line não tem muitas diferenças do mundo físico. Segundo Soares do Mercado Livre, é preciso dar atenção ao cliente, responder às perguntas de forma rápida e clara, apresentar bem o produto e ter um processo de pós-venda cuidadoso. “Para isso, é preciso entender qual o tamanho da demanda desse produto, o que pode demonstrar a necessidade da contratação de um gerente de e­commerce para gerenciar a operação. É necessário ainda investirem treinamento para o setor de vendas e logística. Existem microempresas que não possuem funcionários ou têm apenas um. Mas há outras que já começam a operação precisando de mais investimentos. Então é necessário analisar caso a caso”, afirma.

Por isso, Henrique Mengue dá algumas dicas para começar a operar dentro de um Marketplace: “O primeiro ponto é decidir quais produtos o lojista venderá. A dica aqui é procurar se diferenciar, pois o desejo do marketplace é ter um grande mix de produtos. Vender o que todo mundo já vende pode tirar sua competitividade”, alerta o CEO do Digital Commerce Group.

Além disso, ele afirma que é preciso o empresário conversar com os próprios marketplaces. “Todos eles possuem canais para cadastrar novos Sellers (nome dado a um vendedor dentro de um marketplace). Nessa conversa, o lojista vai conhecer as taxas, as regras, etc.”, diz Mengue.

Depois disso, organize sua operação. Planejamento aqui é fundamental para o lojista definir como será o processo de compra de produtos, embalagem, expedição e atendimento. É importante lembrar que a venda é realizada pelo Marketplace, mas a entrega e o atendimento serão feitos pela sua empresa.

E, assim como Leandro Soares, Mengue indica que contratar uma plataforma para gestão de marketplace também é indicado. “Sistemas como o Octopus ajudam o empreendedor a administrar a venda em dezenas de marketplaces, tudo centralizado em um único painel. Além da tecnologia, essas empresas ajudam em conceitos e treinam o cliente nas principais operações do marketplace”, ensina.

SEGMENTADOS

Uma dúvida de muitos empreendedores antes de entrar em um marketplace é se é melhor estar presente em um que ofereça vários tipos de produtos e serviços ou naqueles mais segmentados. Edsel Oliveira explica que quando o seu produto está em um marketplace segmentado, ele estará se associando a marcas que também estão presentes nele, o que pode ser uma vantagem. “Mas, muitas vezes, existirão marcas ou produtos que concorrem somente em preço, o que pode prejudicar também a imagem do seu produto”, ajuíza.

Mengue do Digital Commerce Group já diz que isso vai depender do seu segmento. “O importante é testar e ver qual canal se adapta mais ao seu caso. Obviamente, os marketplaces de nicho, como de ‘moda’ ou de ‘decoração’, por exemplo, terão mais consumidores procurando por itens desses segmentos, mas os genéricos podem compor uma venda adicional significativa, já que contam com um tráfego maior. Como o lojista só paga a comissão se vender, a regra é testar todos e analisar o que traz melhores resultados”, aconselha.

POTENCIALIZE

Pronto, você já entrou no marketplace, como fazer agora para potencializar as suas vendas dentro deste canal?

A melhor maneira, de acordo com Henrique Mengue, é com uma boa reputação, conquistada através de um serviço impecável. “É essencial ser cuidadoso com os prazos de entrega, qualidade da embalagem e atendimento pós-venda. Apesar da venda ter acontecido em outro canal, o cliente iniciará um relacionamento com a loja. Além disso, muitos marketplaces criam ‘rankings’ e priorizam vendedores que possuem melhores notas de reputação”, explica.

O diretor do Mercado Livre diz ainda que preço competitivo é um dos fatores que mais chamam a atenção e ajudam na venda também. Porém, sempre destacam a importância de uma foto de boa qualidade que pode ser tirada com qualquer celular hoje em dia. Além disso, a produção de um pequeno vídeo mostrando o funcionamento e a qualidade do produto, descrever no campo ‘descrição os detalhes, como o tempo de uso, tamanho, voltagem, cor e todas as características possíveis, além de possíveis defeitos e estado atual do produto são boas formas de captar melhores vendas também.

Soares ressalta que é de extrema importância responder às perguntas dos interessados de forma rápida e completa. “Uma pessoa que vai a uma loja física e questiona sobre um produto espera ter a resposta rapidamente, o mesmo ocorre na internet. Quanto menor o tempo de resposta, maior a conversão em vendas. É importante lembrar que essas dicas valem tanto para um produto usado como um novo, e um vendedor profissional também pode segui-las para alcançar o sucesso em suas vendas”, indica.

Mengue alerta ainda que é imprescindível estar preparado para vender e atender os clientes.  “Ao entrar nos marketplaces, o vendedor passa a ofertar seus produtos em diferentes canais, com muitos acessos. Grandes portais como Mercado Livre, Americanas, Extra, entre outros, possuem muitos usuários diariamente. A loja que estiver em todos esses portais terá grande chance de realizar vendas, mas a operação deverá estar redonda para atender a essa demanda, lembrando que a reputação é peça ­ chave, e atraso na entrega poderá bani-lo da operação”.

Erros de cadastro, como títulos, descrições, preços e estoques, são outros cuidados que devem ser tomados. Se o marketplace passar uma informação errada para o cliente, o vendedor será corresponsável. É muito importante revisar tudo e garantir que a informação enviada esteja correta.

5 DICAS AO COLOCAR O SEU PRODUTO NO MARKETPLACE

  • Faça um título que diga exatamente qual é o produto que está sendo vendido. Afinal, pense nas buscas. Um bom título deverá conter: Nome do produto + marca + modelo + especificações técnicas e características + serviços adicionais. Exemplo: Capa celular iPhone 6S emborrachada preta verde resistente;
  • Descreva seu produto ou serviço detalhadamente, contendo tamanho, cor, voltagem, tempo de uso, se possui caixa original, manual, garantia, funcionamento em perfeito estado ou o que deve ser arrumado;
  • Coloque sempre fotos e, se possível, até mesmo vídeo que mostre o real estado do produto, com qualidade, preferencialmente de fundo todo branco e em diferentes posições;
  • Ofereça um preço real e competitivo + o valor do frete. Ou seja, pratique os melhores ou bons preços. Trabalhe ofertas. Combos de produtos. Não foque em um único produto, tenha variedade;
  • Tenha atendimento pré e pós-venda, pois o anúncio estará disponível para milhões de pessoas, que farão perguntas para tirar suas dúvidas. Responder a essas perguntas de forma rápida e eficiente, sanando todas as dúvidas fará com que o produto seja vendido. Após a venda, não deixe de responder ao seu comprador caso ele tenha dúvidas e outras necessidades. O pós­ venda é muito importante.

 

5 DICAS PARA NÃO QUEIMAR A REPUTAÇÃO NO MARKETPLACE

1 –  Não anunciar um produto e vendê-lo sem ter estoque;

2 –  Não demorar horas ou dias para responder a uma pergunta feita na plataforma;

3 –  Enviar o produto o mais rápido possível e sempre manter o seu cliente informado sobre a entrega;

4 –  Fazer um pós-venda de qualidade. Pode ocorrer de, no momento de logística, ser enviado o produto errado, algum problema durante o transporte, ou até mesmo um defeito de fabricação não identificado antes;

5 –  Seja competitivo, mas não pratique nada antiético na rede. Isso se espalhará rapidamente.

 

CONFIRA ALGUNS MARKETPLACES DO MERCADO

MERCADO LIVRE

Mercado Livre é uma companhia de tecnologia na América Latina presente em 19 países que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas físicas e em presas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos e serviços por meio da internet. “Desde que foi fundado, em 1999, ele vem ajudando pessoas físicas, micro e pequenos empresários, além de potencializar e influenciar no surgimento de novos empreendedores”, diz o diretor de marketplace da empresa, Leandro Soares.

De acordo com pesquisa encomendada pelo Mercado Livre em 2013, em parceria com a Nielsen, 150 mil famílias na América Latina vivem da renda gerada pelos negócios no Mercado Livre. Somente no Brasil, são 50 mil famílias. A empresa possui também diversos clientes que começaram como pessoa física ou microempreendedor e hoje são grandes vendedores na internet.

Investindo cada vez mais para que isso aconteça, eles possuem diversos materiais e eventos. Entre eles, a Universidade Mercado Livre pocket, que ocorre em diferentes cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, etc., e o Mercado Livre Experience, que já acontece há três anos. “Esses eventos são para apresentar as facilidades da nossa plataforma e ensinar sobre o varejo on-line, nos aproximar de nossos vendedores e motivar o empreendedorismo”, declara Soares.

Entre suas áreas de negócios estão: Mercado Livre.com; Mercado Pago; Mercado Livre Classificados; Mercado Livre Publicidade; Mercado Envios + Axado; e KPL, que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas e empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos por meio da internet. “Hoje, o Mercado Livre.com atende mais de 152 milhões de usuários registrados e criou um mercado com ampla variedade de bens e serviços de uma forma fácil, segura e eficiente. Em abril de 2015, o Mercado Livre Brasil adquiriu a empresa KPL Soluções, provedora de ferramentas de gestão para o e-commerce. Com a KPL, passamos a oferecer sistemas de ERP e BackOffice para empresas de e­commerce – mais um serviço de seu ecossistema de soluções. Em junho de 2016, adquirimos o Axado, empresa de soluções em gestão de frete que simplifica a logística e a torna mais eficiente, em relação ao prazo, valor e rastreamento da entrega, reduzindo os custos logísticos”, mostra.

ELO 7

Criado em 2008, o Elo7 é hoje um dos maiores marketplaces de produtos criativos e autorais do País.

O site possui três milhões de produtos anunciados e mais de 70 mil vendedores cadastrados.

Além disso, o Elo? lançou no mercado uma nova forma de compra on-line, que torna a compra por celulares tão fácil quanto usar um aplicativo de mensagens. “Com a tecnologia exclusiva chamada Talk7, o Elo? é o marketplace pioneiro ao criar e migrar suas vendas para o novo sistema de compras via chat em tempo real”, afirma o CEO da empresa, Carlos Curioni.

Com a tecnologia desenvolvida pelo próprio Elo7, o comprador consegue fazer tudo pelo chat. Desde perguntas ao vendedor até receber sugestões de materiais, cores e texturas que integrarão o produto, e concretizar o pedido na mesma interface. “Isso simplifica e agiliza muito a vida de quem compra, porque o pedido e a conversa com o vendedor ficam organizados em uma linha de tempo fácil de ser consultada pelo celular de qualquer lugar”, explica Curioni.

Segundo ele, o criador de produtos criativos e autorais que entra no marketplace encontrará na plataforma um local para divulgar suas criações, se posicionar no mercado e encontrar compradores interessados em produtos criativos e autorais. Além disso, a plataforma também oferece todo tipo de suporte para a criação da sua loja – desde dicas para ter uma loja mais atraente até o auxílio para gerenciar seu próprio negócio. “O Elo? t em como maior objetivo desenvolver as melhores tecnologias e oferecer aos vendedores soluções simples e práticas para o gerenciamento de suas vendas, e para os compradores, uma experiência de compra fora de série”, afirma.

Em 2015, a empresa fechou com 30 mil novos lojistas, conquistando um crescimento expressivo, com a marca de R$300 milhões em volume de transações e um crescimento de 80% se comparado ao mesmo período de 2014. Para 2018, pretendem manter esse ritmo para chegar ao final do ano com R$500 milhões em vendas, além de crescimento de 66%.

WALMART.COM

Em outubro de 2013, o Walmart também começou a oferecer uma plataforma marketplace no mercado brasileiro. De acordo com o diretor de marketplace e serviços da empresa, Luiz Pimentel, eles investiram em recursos financeiros e pessoal capacitado. “Hoje, possibilitamos que um lojista assine contrato conosco on-line. Damos orientação quanto à melhor forma de divulgar o catálogo e seu conteúdo, visando acelerar as vendas. Além disso, damos feedback constante do que pode ser melhorado.

E nos baseamos em comentários de nossos clientes quanto à satisfação obtida na experiência de compra”, mostra.

Aqueles que utilizarem a plataforma de marketplace do Walmart terão acesso a todos os milhares de clientes que acessam o próprio site. “Hoje contamos com o processo de contrato mais rápido do mercado, um laboratório de integração presencial para sanar todas as dúvidas do lojista, grande ajuda no processo de geração de conteúdo para vender mais, fortes investimentos em marketing que ajudam a dar visibilidade aos produtos, acesso às informações de produtos mais buscados no site e pós-venda conectado com o lojista para dar mais rapidez e satisfação aos consumidores”, informa Pimentel.

O catálogo da empresa já disponibiliza mais de dois milhões de itens. O número de lojistas cresceu 350% em 2017 se comparado ao ano anterior.

 HOUPET

Lançada em maio de 2016, a Holipet funciona como um marketplace de serviços pet além de outras funcionalidades de divulgação e buscas de eventos, produtos e estabelecimentos pet. Trata-se de uma plataforma que possibilita aos profissionais deste mercado ampliar o seu negócio de maneira sustentável, facilitar a comunicação com os donos de animais de estimação que possuem necessidades semelhantes, mas muitas vezes especificas, e também apoiar causas de proteção animal.

Segundo a fundadora da empresa, Vanessa Louzada, eles já possuem 280 usuários consumidores cadastrados, 40 prestadores e 101 estabelecimentos. “Os marketplaces promovem e ampliam em um único local a oferta de produtos e serviços para os micro ou pequenos empreendedores. É o local ideal para esse público! Quando se trata de um segmento específico é ainda melhor, pois tanto o marketplace quanto os anunciantes convergem para o mesmo objetivo, além de ganhar referência dada pelos próprios consumidores.

É o que queremos com a Holipet, ser o marketplace referência do segmento pet para micro ou pequenos prestadores de serviços e lojistas”, pontua.

Para os consumidores, a Holipet oferece facilidades na busca e contratação de serviços através de filtros por região, avaliação, preços, etc. É possível também buscar locais petfriendly, eventos, animais perdidos e resgatados e um blog cheio de informações e dicas para o dia a dia de quem tem pets.

“Já para o prestador de serviço ou estabelecimento pet, oferecemos recursos que os permitem organizar o seu negócio e proporcionamos uma boa possibilidade de aumento de receita. Além da publicidade do perfil ser disponibilizado para o consumidor final e do agendamento dos serviços on-line, oferecemos agenda inteligente, envio de SMS, lembretes, relatórios de gestão, site institucional e busca por produtos, entre outras funcionalidades”, informa Vanessa.

VINTECONTO

O Marketplace voltado para freelancers e empresas funciona como um canal onde o profissional e o estudante monetiza o que ama fazer.

Traz uma exclusividade de serviços em sua maioria por R$20,00. Fundada em dezembro de 2015, a CEO da empresa, Monique Medeiros Costa, conta que, no marketplace, freelancer compra de freelancer, profissionais buscam ajuda com tarefas do dia a dia e, principalmente, pequenos empresários que estão começando um negócio com pouco capital procuram a plataforma para contratar serviços de qualidade comprovada na página de cada freelancer com o melhor preço do mercado brasileiro.

São serviços essenciais para empresas como logotipo, cartão de visitas, criação de aplicativos, folders, criação e otimização de sites, além de diversos recursos para a internet. “Isso faz toda a diferença para muitos pequenos empresários e redes de franquias que estão começando um negócio, seja ele virtual ou não. Temos criação de e-books, criação de conteúdo criativo e otimizado para os mecanismos de busca, comerciais, vídeos demonstrativos de produtos e de apresentação da empresa, serviços de marketing, assistente virtual. E também estamos crescendo nossa categoria de cursos virtuais e educação”, divulga.

Inicialmente, Monique diz que investiram R$57 mil na plataforma e hoje estão esperando gerar em torno de R$500 mil em receita. Já passaram de 10 mil usuários e devem ultrapassar 15 mil até o final deste ano. “Esse é um ótimo número para nós, porque 95% dos clientes voltam para contratar mais serviços poucos dias após o uso da Vinte conto”, comemora.

A CEO diz que quem entra no marketplace pode vender quantos serviços quiser, pagando apenas uma taxa de 12% só quando vendem.

“Tudo o que o freelancer precisa fazer é anunciar o serviço uma vez e esperar por muitos e-mails de notificações de suas vendas e de perguntas dos clientes. Tempo é algo que valorizamos muito na Vinte conto. Então ele não precisa visitar a plataforma diariamente e enviar propostas aos clientes, ele expõe todo o seu trabalho e aguarda a manifestação dos clientes. Marketplaces como o nosso é uma tendência, já que o mercado de freelancers cresce a cada dia. Os empreendedores têm a oportunidade de contratar serviços pelo menor preço do mercado, de ficar por dentro das ferramentas de marketing mais recentes e ao mesmo tempo ajudam a Vinte conto a manter este espaço para todos que tenham um talento e queiram monetizá-lo”, comemora.

 XBW

A empresa é uma plataforma destinada a intermediar o contato entre compradores e fornecedores de produtos e serviços de diversos segmentos. Surgiu em 2014, desenvolvida no parque tecnológico Tecnosinos.

Segundo o CEO da empresa, Anderson Detogni, para uma empresa cadastrar seu negócio na plataforma, ela deve pagar uma assinatura mensal de R$35,00. “Esse é o único valor cobrado e não há diferença de preço em relação ao tamanho da companhia. Além de facilitar o encontro entre grupos de empresas, a plataforma ainda é capaz de cruzar os dados de seus clientes para indicar, a cada assinante, potenciais compradores ou vendedores. Outra facilidade oferecida aos assinantes é o banco de prestadores de serviço, no qual constam profissionais de áreas como contabilidade, advocacia e marketing, que podem se cadastrar de graça no site. Juntando tudo isso, posso dizer que as companhias conseguem concentrar todas as suas necessidades em um único lugar, o que facilita muito os processos do dia a dia. Também contribui para diminuir custos e maximizar ganhos”, explica Detogni.

Ele diz que já são mais de 6 mil empresas e 250 mil usuários. A plataforma já gerou mais de R$2 milhões em negócios fechados, e o movimento dobrou de maio para junho, somando mais de 500 mil visitas. Até o final de 2018, a

expectativa é que a XBW chegue a 16 mil empresas assinantes. “Pequenos negócios conseguem aparecer ao lado de grandes corporações e até mesmo disputar com elas.

Atualmente, das mais de 6 mil empresas cadastradas, quase 80% são pequenas e médias. Todo mês, o empreendedor recebe também um relatório que pode ajudar no fechamento de novos negócios de compra ou venda”, informa.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE I

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A Parábola da Figueira. Predições Terríveis. O Dever da Vigilância. O Bom e o Mau Administrador

 

Aqui temos a aplicação prática da predição anterior. De maneira geral, nós devemos esperar e estar prepara­ dos para os eventos aqui preditos.

I – Nós devemos esperá-los. “‘Aprendei, pois, esta parábola da figueira’ (vv. 32,33). Agora aprendei que uso fazer das coisas que ouvistes; observai e conhecei os sinais dos tempos, comparando-os com as predições da Palavra, para, a partir daqui, poderem prever o que está à porta, para que possais prover de maneira adequada”. A parábola da figueira nada mais é que isso, o seu germinar e o seu florescer são um presságio do verão; pois assim como as cegonhas no céu, também as árvores no campo conhecem o seu tempo. O início da realização das causas secundárias nos assegura do seu progresso e da sua perfeição. Assim, quando Deus começa a cumprir profecias, Ele alcança o seu objetivo. Existe uma série determinada nas obras da providência, assim como existe nas obras da natureza. Os sinais dos tempos são comparados com os prognósticos da “face do céu” (cap. 16.3), e também aqui, com os da face da terra – quando ela se renova, nós prevemos que o verão se aproxima, não imediatamente, mas depois de algum tempo. Quando “os ramos se tornam tenros”, nós podemos esperar, por exemplo, os ventos de março e as chuvas de abril em nosso país, antes da vinda do verão. No entanto, temos a certeza de que o verão se aproxima. Da mesma maneira, nós podemos confiar que quando o dia do Evangelho amanhecer, por meio dessa variedade de eventos que o Senhor nos revelou, o dia perfeito virá. As coisas reveladas devem acontecer em breve (Apocalipse 1.1). Elas devem acontecer na sua própria ordem, na ordem indicada para elas. “Sabei que ele está próximo”. Jesus não diz aqui o que está próximo, mas é aquilo que está nos corações dos seus discípulos, e sobre o que eles fazem perguntas, e pelo que anseiam. O Reino de Deus está próximo, como está dito na passagem paralela (Lucas 21.31). Note que quando as árvores da justiça começam a brotar e florescer, quando o povo de Deus promete fidelidade, é um feliz presságio de bons tempos. Neles, Deus inicia a sua obra, preparando primeiro os seus corações. E então Ele prosseguirá com o seu plano; pois, no que diz respeito a Deus, a sua obra é perfeita, e Ele a avivará no meio dos anos.

Quanto aos eventos preditos aqui, temos algo a esperar.

1. Cristo nos assegura aqui da certeza desses acontecimentos (v. 35): “O céu e a terra passarão”. Eles ainda continuam a existir em nossos dias, de acordo com as ordens de Deus; mas não continuarão para sempre (Salmos 102.25,26; 2 Pedro 3.10). “Mas as minhas palavras não hão de passar”. Note que a palavra de Cristo é mais confiável e duradoura do que o céu e a terra. “Diria ele e não o faria?” Nós podemos edificar com mais segurança sobre a palavra de Cristo do que sobre as colunas do céu, ou as fortes fundações da terra; pois quando elas estiverem trêmulas e cambaleantes, e não existirem mais, a palavra de Cristo ainda permanecerá, e estará em pleno vigor, em plena força e virtude (veja 1 Pedro 1.24,25). É mais fácil o céu e a terra passarem do que alguma letra da palavra de Cristo não se cumprir (Lucas 16.17. Compare com Isaias 54.10). O cumprimento dessas profecias pode parecer ter sido atrasado, e os eventos intervenientes podem parecer não estar em conformidade com elas, mas não pense que por isso a Palavra de Deus terá desmoronado, pois ela nunca passará; mesmo que ela não se cumpra, nem na época ou da maneira como prescrevemos; ainda assim, no tempo de Deus, que é o melhor tempo, e da maneira de Deus, que é a melhor maneira, certamente ela se cumprirá. Cada palavra de Cristo é muito pura, e, consequentemente, muito confiável.

2. O Senhor Jesus os instrui aqui quanto à época em que essas coisas aconteceriam (vv. 34,36). Quanto a isso, o sábio Grotius bem observa que existe uma distinção evidente feita entre tauta (v. 34) e ekein e (v. 36), “essas coisas” e “daquele dia e hora”, o que irá ajudar a esclarecer essa profecia.

(1)  Quanto a essas coisas, as guerras, os enganos e as perseguições aqui preditos, e em particular, a destruição da nação judaica: ‘”Não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam’ (v. 34). Há aqueles que agora estão vivos que verão Jerusalém destruída, e o fim da instituição judaica”. Como isso poderia parecer estranho, o Senhor apoia este fato com uma afirmação solene. ‘”Em verdade vos digo’. Vós tendes a minha Palavra; estas coisas estão às portas”. Cristo frequentemente fala da proximidade daquela desolação, para tocar as pessoas e estimulá-las a se prepararem para ela. Pode haver provações e dificuldades diante de nós, na nossa época, maiores do que estamos cientes. Os mais velhos não sabem que filhos de Anaque podem estar reservados para os seus próprios encontros.

(2)  “Porém daquele Dia e hora” que porá um fim no tempo, “ninguém sabe” (v. 36). Por isso, tomem cuidado para não confundir estes dias, como eles faziam, baseando-se nas palavras de Cristo e nas epístolas dos apóstolos, inferindo que o dia de Cristo já estava perto (2 Tessalonicenses 2.2). Não, não estava; esta geração e muitas outras irão passar antes que cheguem aquele dia e aquela hora. Observe:

[1] Existe um determinado dia e hora para o julgamento que há de vir; ele é chamado de Dia do Senhor, porque é fixado de maneira imutável. Nenhum dos julgamentos de Deus é adiado sine die sem a fixação de um dia determinado.

[2] Este dia e esta hora são um grande segredo.

Nenhum homem o sabe; nem o mais sábio, pela sua sagacidade, nem o melhor, por qualquer descoberta divina. Todos nós sabemos que haverá est e dia, mas ninguém sabe quando isso acontecerá; nem os anjos, embora a sua capacidade de conhecimento seja grande, e as suas oportunidades de terem essa informação sejam vantajosas (eles habitam na fonte de luz), e embora eles devam ser empregados na solenidade daquele dia, nem por isso sabem quando será: “ninguém sabe,… mas unicamente meu Pai”. Este é um dos segredos que pertencem ao Senhor, nosso Deus. A incerteza da ocasião da vinda de Cristo é, para aqueles que são vigilantes, um cheiro de vida para vida, e os torna ainda mais vigilantes; mas para aqueles que são descuidados, é um cheiro de morte para morte, e os torna ainda mais descuidados.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

EM BUSCA DO “EU”

Diversas regiões cerebrais participam do reconhecimento de nosso próprio rosto. Fenômenos complexos como memória, planejamento ou autoconsciência não podem ser encontrados numa única área, e os cientistas estão apenas começando a desvendar a sede do eu no cérebro.

Em busca do Eu

Pouco depois de ter iniciado meu trabalho com Gordon Gallup, em Albany, conheci Bruce McCutcheon. Como biopsicólogo da escola antiga ele havia trabalhado com roedores em laboratório e, além disso, era conhecido por seu detalhismo.  McCutcheon sabia de meu interesse por autoconsciência e técnicas de imageamento, já que eu tinha acabado de concluir uma pesquisa sobre o cérebro de jovens alcoólatras. Certa tarde, ele me levou ao seu escritório, e mostrou um gráfico e diversas tabelas num quadro negro. O gráfico tinha dois rostos e um cilindro. Ele se perguntava se com a ajuda de técnicas de neuroimagem desenvolvidas nos anos 90, a chamada “década do cérebro”, seria possível localizar as regiões relacionadas ao “eu”.

Segundo imaginara, alguém estaria deitado no interior do cilindro – que representava um tomógrafo por ressonância magnética funcional (fMRI) – e seria apresentado primeiro a uma imagem de seu próprio rosto e depois, como comparação, à de outro rosto. Se marcássemos as regiões cerebrais ativas enquanto essa pessoa observava seu, rosto e depois “subtraíssemos” as áreas ativas durante a observação de outro rosto, as regiões ativas restantes corresponderiam à autoconsciência. McCurcheon estava convencido de que a fMRI poderia nos ajudar a localizar o “cu” no cérebro, pelo menos inicialmente. No fim de sua explanação, meu colega, habitualmente circunspecto, estava entusiasmadíssimo e me perguntou minha opinião. Eu logo percebi que ele tivera uma ideia grandiosa.

Achamos melhor primeiramente confrontar os participantes do estudo com o próprio rosto. Concordamos em realizar um experimento por meio de fMRI no qual contrastássemos o estimulo de nosso interesse (o rosto do participante) com algo semelhante. Como nos interessava saber qual o efeito de X, queríamos comparar a atividade cerebral diante da visão de XYZ com a de YZ. A atividade restante poderia, portanto, ser associada exclusivamente a X. O objetivo era o isolamento das regiões responsáveis pelo reconhecimento do próprio rosto, diferentes daquelas encarregadas de reconhecer rostos de maneira geral.

A escolha de estímulos de controle (ou seja, imagens que não fossem do próprio rosto) não foi fácil. Para obter bons dados com fMRl, esses rostos deveriam ser apresentados diversas vezes no decorrer do experimento. Procuramos uma feição não muito emocional, mas ao mesmo tempo interessante.

Um rosto que despertasse muita emoção nos levaria à “área de sentimentos” do cérebro, em vez da região do “eu”. Outro muito inexpressivo, ao contrário, poderia nos levar ao “centro de monotonia”. Após alguns experimentos-piloto, escolhemos Einstein como rosto de controle. Ele tem fisionomia marcante e, em experimentos prévios, provocou reações que variaram pouco. Além disso, os participantes conseguiam se concentrar por um tempo mais longo em seu rosto.

VER, SIM – MAS E OUVIR?

Ao lado de Glenn Sanders, decidimos não ficar apenas em experimentos de reconhecimento do próprio rosto. Se há de fato uma região onde se forma a autoconsciência, então qualquer estímulo do “eu” deveria ativá-la. Assim confrontamos as pessoas com a própria voz e com a voz de outras pessoas durante a tomografia.

A experiência ocorreu na Universidade Médica da Carolina do Norte, em Charleston, no laboratório de Mark George. Duas pessoas foram confrontadas com a imagem do próprio rosto e do rosto de Einstein, assim como com gravações das vozes. Tudo correu sem problemas, mas a espera pelos resultados esgotou nossos nervos. Ao lado de George e sua equipe, tínhamos acabado de realizar o primeiro estudo sobre auto reconhecimento com a utilização de fMRI.

Constatamos que a visão do próprio rosto ativara regiões do hemisfério direito. Tais resultados coincidiram com as descobertas de outros pesquisadores de que o hemisfério direito reagia de forma bem mais intensa que o esquerdo ao próprio rosto. Constatamos que a região responsável pelo auto reconhecimento se situa possivelmente na parte anterior do córtex frontal direito. Os dados relativos à voz também mostraram atividade no hemisfério direito, no entanto, os resultados não eram tão claros. De qualquer forma, estávamos no melhor caminho para descobrir o significado do hemisfério direito no processamento da autoconsciência, ou melhor para redescobrir seu significado.

Paralelamente aos nossos estudos na Carolina do Sul, McCutcheon, Sander e eu, examinamos o mesmo fenômeno na Escola Médica de Albany, em Nova York. Em vez de Einstein, usamos Bill Clinton como rosto familiar.

Essa decisão –  tomada quando ainda não se falava em Mônica Lewisnky -, baseou-se na reação positivados participantes à foto do presidente.

Por sugestão de Glenn para reforçar ainda mais a autoconsciência dos participantes, modificamos o estímulo. Em vez de lhes mostrar apenas o próprio rosto e, como contraste, o de Clinton, escrevemos sobre a imagem do participante frases como “eu penso” ou “eu acredito”.  Na foto de Clinton estava escrito “ele pensa” e “ele acredita”. Durante a experiência, eles eram instruídos a se concentrar totalmente nas fotos e frases. Assim, como tinham de se concentrar no próprio rosto e, estimulados pelas frases, e seus próprios pensamentos, atingimos com alguma certeza um alto grau de autoconsciência.

Aqui também concluímos que as regiões da área frontal anterior direita do cérebro apresentavam sinais de ativação reagindo aos auto- estímulos com atividade mais intensa. Esse estudo indicava, assim como exames anteriores, que o hemisfério direito exerce importante papel no reconhecimento do próprio rosto.

Uma questão interessante no ato de reconhecermos o próprio rosto é ilustrada com o que chamo “efeito loja de departamentos”. Nesses locais, espelhos diversos são colocados em ângulos estranhos e, ao nos depararmos inesperadamente com um deles, por um curto espaço de tempo achamos que a imagem refletida é de outra pessoa. Logo percebemos que se tratada nossa própria imagem. Mas essa experiência pode nos deixar confusos.

Passamos muitas horas olhando nosso rosto. Toda manhã nos barbeamos ou maquiamos, examinamos nossa roupa penteamos o cabelo. No decorrer do dia, sempre nos observamos e usamos tal informação para arrumar nossa aparência. Quando uma pessoa se deita em um tomógrafo, ela já tem grande experiência em se ver no espelho. Conseguir reconhecer a si mesmo significa ter a capacidade para a autoconsciência. No entanto, simplesmente olhar para própria imagem não significa ser autoconsciente.

Faça essa pequena experiência, tente se concentrar apenas em si mesmo cada vez que se olhar no espelho. Você provavelmente vai perceber que isso é muito difícil porque quando nos olhamos no espelho, nós nos observamos atentamente no início, mas então nossos pensamentos voam. Vamos para outro mundo, fazemos planos e imaginamos como seria bom dormir mais uma hora, por exemplo. Mark Weeler, da Universidade de Têmple, Filadélfia, descreveu tal experiência e observou que olhar-se no espelho ou reconhecer a si mesmo não implica necessariamente estar em estado de autoconsciência.

Uma coisa estava clara: se queríamos testar a autoconsciência das pessoas em função de seu próprio rosto, seria preciso assegurar que realmente estivessem em estado de “autoconsciência”. No entanto, pode levar até 30 segundos para se obter uma boa representação imagética do cérebro ativo com uma tomografia por ressonância magnética funcional. Sendo assim, os participantes tinham de observar a própria face atentamente durante 30 segundos e repetir até dez vezes tal procedimento.

Em nossas tentativas piloto em Albany, algumas pessoas se distraiam em pensamentos enquanto observavam seu rosto.

O problema foi solucionado quando pedimos que olhassem alternadamente o próprio rosto e lessem as legendas abaixo das imagens.

Algum as dessas possibilidades foram estudadas pelo grupo do neurologista Motoaki Sugiura por meio de tomografias por emissão de pósitrons (PEl). Em busca das regiões que participam do reconhecimento do próprio rosto, os pesquisadores examinaram dois tipos diferentes de auto reconhecimento, que denominaram “passivo” e “ativo”. Depois de fotografarem os participantes do estudo sob ângulos diversos, eles misturaram imagens de rostos desconhecidos, também tiradas de pontos diferentes. Durante o experimento, apresentaram as imagens sob três condições. Na situação controle, em que mostraram desconhecidos, na variante passiva, exibiram a própria face do participante, e pediram que descrevessem o ângulo do rosto mostrado. Como não sabiam que a imagem era do próprio rosto, as pessoas não tentavam encontra-lo expressamente.

Na variante ativa, os participantes foram informados de que seu rosto seria mostrado e que eles deveriam reagir cada vez que o vissem.

Sugiura e seus colegas realizaram diversas análises dos dados. Ao comparar o reconhecimento passivo do próprio rosto e a visão das feições de controle, perceberam que a área ativada no hemisfério direito era 1,26 vez maior. Portanto, apenas a observação passiva do próprio rosto gerava maior participação do lado direito do cérebro.

Na comparação da observação ativa com a situação controle, o grupo não encontrou nenhuma diferença significativa entre os hemisférios cerebrais, mas ao compararem as observações passiva e ativa do próprio rosto, constataram que a área ativa no hemisfério direito era 2,18 vezes maior. Aparentemente, portanto, foram ativadas mais regiões no hemisfério direito.

Como a PET permite que sejam examinadas regiões específicas do cérebro, o grupo definiu com seus experimentos as áreas que participavam das observações ativa e passiva. No hemisfério direito a região frontal direita, o giro do cíngulo e o chamado pulvinar do tálamo, núcleo que processa informações dos sentidos, eram responsáveis pela observação ativa do próprio rosto.

No hemisfério esquerdo foi registrada atividade no giro fusiforme, área que fica no fundo da parte posterior do cérebro e que tem grande participação geral no reconhecimento de rostos. Lesões nessa região podem levar à prosopagnosia, incapacidade de reconhecer rostos familiares. Nos homens, assim como nos primatas, essa espiral do cérebro se torna ativa quando se trata de diferenciar rostos. Não é de espantar que tal região apresente certa atividade durante uma tarefa de reconhecimento de rostos. No entanto, é pouco provável que o giro lusiforme tenha forte participação no reconhecimento do próprio rosto, pois as dificuldades decorrentes de uma lesão nessa área não se limitam à própria face.

O EQUILÍBRIO É TUDO

A partir dos estudos japoneses e dos resultados de nossas pesquisas, constatamos que o hemisfério direito é muito importante para o reconhecimento da própria face. Segundo os exames realizados por Sugiura, algumas regiões da área frontal do cérebro exercem importante função durante o reconhecimento ativo. Porém, diversas áreas do cérebro participaram ativamente também no reconhecimento passivo. Ao que tudo indica, não há uma única região especializada em tal tarefa. Assim, o órgão pensador pode ser comparado a um móbile em que o equilíbrio de uma parte depende das outras. Fenômenos complexos como memória, planejamento ou autoconsciência não podem ser encontrados em uma única área. Pode ser que, aparentemente, diferentes aspectos de cada uma dessas habilidades cognitivas existam isoladamente, mas na verdade eles dependem da função de outras regiões cerebrais.

Os experimentos de Bruno Preilowski, Sugiura e os meus forneceram, sem dúvida, indícios da dominância do hemisfério direito em processos relacionados ao “eu”. Porém, Roger Sperry e Preilowski demonstraram que ambos os hemisférios são capazes do auto reconhecimento, e Sugiura encontrou diferentes regiões que participam do processamento de si, o que também coincide com nossos resultados. Pode ser que o processamento ocorra predominantemente no hemisfério direito, mas é evidente que outras regiões participam desse processo.

Mesmo assim, todos esses resultados foram fascinantes. Aos poucos, os cientistas começam a desvendar os segredos que ocupam pesquisadores há séculos. Estávamos prontos para descobrir as regiões do cérebro em que surge a autoconsciência.

OUTROS OLHARES

CONTINUAMOS ESCRAVOS

130 anos após a abolição da escravatura, população negra permanece sofrendo com a desigualdade, a violência e o abandono social

Continuamos escravos

Passados exatos 130 anos da sanção da Lei Áurea pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, os brasileiros ainda convivem com a escravidão ou com uma condição análoga a ela rotineiramente e a desigualdade entre negros e brancos continua escandalosa. A lei imperial 3.353 solucionou o grande problema da liberdade dos escravos, mas manteve os indivíduos das duas raças profundamente desiguais e sem condições de competir, com permanente desvantagem para os negros – empurrados para o ponto mais baixo da pirâmide social. O Brasil foi o último país americano a abolira escravidão – o penúltimo foi Cuba, em 1885. E também foi o lugar que mais recebeu escravos africanos ao longo de sua história. Calcula-se que entre 1550 e 1860 cerca de 4.8 milhões de pessoas tenham sido trazidas contra a vontade da África para o Brasil. As relações de poder do velho sistema se entranharam na cultura nacional e deixaram um passivo gigantesco de injustiça e preconceito, encoberto pelo mito da democracia racial, que até hoje não foi superado.

“A Lei Áurea foi uma lei muito breve, muito conservadora, não veio acompanhada de nenhum projeto de inclusão social e nem foi capaz de redimir desigualdades assentadas ou apagar hierarquias naturalizadas”, diz a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, organizadora, junto com Flávio dos Santos Gomes, do “Dicionário da Escravidão e Liberdade” (Companhia das Letras), lançado a propósito da efeméride abolicionista.

“E o racismo estrutural que experimentamos hoje no Brasil não é só herança – novas formas de racismo estão sendo construídas e se expressam na educação, na saúde ou nos números da violência contra os jovens. “Em muitos aspectos, a Lei Áurea condenou uma grande parte da população a permanecer nas margens da sociedade. A condição de trabalho do liberto continuou extremamente precária e para o negro não houve nenhum tipo de proteção legal, trabalhista e social.

A situação atual do mercado de trabalho é exemplar da desigualdade entre brancos e negros e escancara um preconceito racial na ocupação das vagas de emprego, na distribuição dos cargos e na remuneração. Segundo os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), os salários dos trabalhadores brancos são, em média, 80 % superiores ao dos negros. Considerando todas as ocupações, enquanto um branco tem um ganho real de R$ 2.660, a renda do negro é de R$ 1.461 e a dos pardos, R$ 1.480. Mais grave: a escolaridade não basta para equiparar renda de brancos e negros. Conforme ela aumenta, maior a diferença salarial, de acordo com pesquisa da Fundação Seade/Dieese. Entre os trabalhadores com ensino médio completo, na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, os negros receberam 85 % do valor ganho pelos brancos. em 2016. Segundo o relatório “A distância que nos une”, realizado pela Oxfam, ONG dedicada ao combate da pobreza e da desigualdade no mundo, em 2017, 67 % dos negros brasileiros receberam até 1.5 salário mínimo, enquanto menos de 45 % dos brancos estão nessa faixa salarial. Mantido o ritmo de inclusão observado no período, a equiparação da renda média de brancos e negros acontecerá somente em 2089, duzentos anos depois da abolição.

 VIOLÊNCIA

“Além de acentuar desigualdades, o racismo também traz consequências violentas”, diz Tauá Pires, coordenadora de programas da Oxfam. Homens jovens e negros são as maiores vítimas de homicídios no país, segundo o Atlas da Violência 2017 produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. O feminicídio, o assassinato de mulheres por razões de gênero, atinge principalmente mulheres negras.

Negros e negras também são vítimas frequentes de ofensas e injúrias raciais. É o caso do empresário Luiz Henrique da Silva, 33 anos, que, em abril de 2017, foi com a família fazer compras em um mercado de Pirituba e foi violentamente ofendido. Ele vestia um agasalho da torcida Gaviões da Fiel e precisava comprar ingredientes para fazer cachorro quente na casa de amigos. Porém, os planos dele mudaram quando, na fila do caixa, ele foi xingado por urna mulher branca que estava na frente dele por ter supostamente batido o carrinho na perna dela. Ele pediu desculpas, mas isso não impediu que a mulher se virasse para a caixa do mercado e falasse: “Além de corintiano, é preto. “Depois de digitara senha, ela teria então, dito para ele: “Preto, macaco, filho da p…, ladrão.” A polícia foi chamada e Luiz registrou um boletim de ocorrência contra a mulher por injúria racial. Mais de um ano depois, o empresário afirma que o caso ainda o abala: “Me sinto como todos os negros do mundo: injustiçado. Não vejo a hora desse pesadelo acabar”, afirma.

Estima-se que 160 mil pessoas no Brasil sofram, atualmente, com condições de trabalho análogas à escravidão. Negros e pardos, de acordo com dados do Ministério Público do Trabalho, representam mais de 64 % das cerca de 43 mil pessoas que foram resgatadas dessa situação degradante entre 2003 e 2017. Segundo a procuradora da República Ana Carolina Roman, é possível identificar o trabalho escravo contemporâneo quando o trabalhador tem jornadas de trabalho exaustivas, servidão por dívidas, retenção de documentos, confusão do local de moradia como de trabalho, ameaças e muitas outras situações que tiram a dignidade do ser humano.

“Ainda há segmentos da sociedade que não consideram a população negra como humana. É por isso que a submete a condições de trabalho análogas à escravidão”, afirma Juarez Xavier, professor da Universidade Estadual Paulista, (Unesp), que vê no País uma situação de “apartheid social”. Essa visão é compartilhada por Leci Brandão (PC do B), segunda mulher negra na história a se eleger deputada estadual em São Paulo. “A princesa assinou a lei no dia 13 e no dia 14 os negros estavam com uma mão na frente e a outra atrás. Vai fazer o que sem condição nenhuma de política pública para que estivesse realmente liberta?”

A implantação do sistema de cotas foi um ponto importante na luta pelos direitos da comunidade negra. A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo(USP), por exemplo, formou apenas sete mulheres negras em mais de 120 anos de existência. Larissa Mendes, que estuda na faculdade, faz parte da Poli Negra, grupo que trouxe a discussão sobre cotas para a instituição e mostrou por meio deum plebiscito que 70 % dos alunos as apoiavam em 2017. Por conta da iniciativa, no mesmo ano, o Conselho Universitário da USP aprovou cotas sociais e raciais. Segundo Larissa, a luta por cotas é uma forma de reparação histórica. “São medidas importantes para a gente conseguir se preservar com aquela chama de esperança que pelo menos através do conhecimento a gente pode chegar a alguma coisa”, afirma. Para a estudante. essa é uma solução temporária. “[As cotas] não têm como objetivo ser para sempre, mas é para durar enquanto a gente tiver uma diferença entre negros e brancos nas universidades e em todos os outros espaços da sociedade”, diz.

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GESTÃO E CARREIRA

O NEGÓCIO É FAZER ARTE

Para quem deseja complementar a renda ou aproveitar o momento de desemprego para empreender com flexibilidade, setor de artesanato se mostra promissor e cada vez mais valorizado.

O Negócio é fazer arte

Quando se vive momentos de a perto financeiro, seja pelo desemprego, seja por uma crise econômica, a primeira alternativa de uma pessoa é explorar as suas aptidões para suprir a renda ou mesmo para complementar o seu orçamento. Ela procura transformar esse conhecimento em um negócio que, geralmente, está ligado a habilidades manuais.

De acordo com a gerente da Unidade de Atendimento Individual do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Adriana Rebecchi, em tempos de recessão financeira, a atividade de artesanato, por exemplo, é uma opção escolhida por cerca de dez milhões de brasileiros. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), virou a principal fonte de renda deles, movimentando cerca de R$ 50 bilhões por ano.

Fazer artesanato então pode ser uma boa estratégia para conseguir pagar as contas? Na opinião de Adriana, sim! “É um mercado dinâmico, criativo, que se adequa rapidamente às necessidades dos clientes. O empreendedor pode colocar em prática as suas habilidades para as atividades manuais, seja fazendo uma receita de culinária elogiada pelos amigos ou desenvolvendo produtos que levam matérias-primas como madeira, tecido, folhas de árvores secas, sementes, etc.”, exemplifica.

Contudo, com a visibilidade que já conquistou, muito além de uma fonte de renda extra ou um negócio para pagar as contas, o artesanato pode ser também um empreendimento vantajoso e lucrativo, na opinião do empreendedor digital. idealizador do ArtesCon e criador do programa lnfoCriativo, Eder Machado. “No momento em que as pessoas começam a se interessar pela atividade de artesanato como um negócio, se elas buscarem conhecimento e capacitação para desenvolver um trabalho sério, vão descobrir que este é sim um negócio rentável e que, se bem administrado, pode ser altamente lucrativo”, aponta.

CAINDO DE PARA QUEDAS

Boa parte das trajetórias dos artesãos brasileiros é de pessoas que optaram pelo artesanato como atividade de terapia, ou porque quiseram fazer o enxoval da casa ou do filho, e até mesmo por um simples hobby. No entanto, essa ingênua escolha virou uma atividade de negócio que ele sequer imaginava. ”As pessoas começam pelo hobby e chega um vizinho ou um amigo que acaba se interessando por aquilo e quer encomendar. É daí que surge a pergunta: ‘quanto você cobra?”. Inicialmente a pessoa nem sabe a resposta, mas nesse momento é que se descobre um novo mundo e a possibilidade de ganhar dinheiro”, demonstra Eder Machado.

Um dos principais objetivos do especialista é exatamente o de ajudar esses artesãos e profissionais de artes manuais a desenvolver negócios rentáveis e lucrativos. Por meio de cursos, palestras e conteúdos digitais, ele dissemina essa ideia e auxilia para que o negócio dê certo, pois uns dos maiores problemas que muitos profissionais que decidem entrar nesse mercado enfrentam é a falta de capacitação e o conhecimento, que vai muito além das técnicas de trabalho.

Outro ponto que precisa ser melhorado é em relação à valorização do trabalho. Pois quem é artesão sabe que tem sempre um cliente que solta a velha frase de aterrorizar qualquer vendedor: “Tá muito caro, não tem como dar um desconto?”. Mas acontece como em qualquer outra atividade, quem vai valorizar o trabalho é o próprio profissional e como ele se porta diante do mercado. “O artesão que se capacita e se profissionaliza entende que o que ele está ofertando não é um conjunto de peças de matéria-prima, e sim o seu tempo e a sua habilidade. Quando ele mesmo enxerga isso e valoriza o que faz, o cliente também vai perceber esse valor agregado e começar a dar mais valor”, esclarece o empreendedor digital.

O próprio Ministério do Trabalho já admitiu que o artesanato é uma atividade muito importante para a economia e para a cultura do País, tanto que o Governo sancionou em 2015 a Lei n° 13.180, que regulamentou a atividade e trouxe a Carteira Nacional do Artesão.

Lá fora, o artesanato brasileiro é ainda mais valorizado. “Depois da internet não houve mais barreiras, então conseguimos oferecer nossos artesanatos ao mundo todo. Além disso, existem até pessoas especializadas no exterior responsáveis em pegar os produtos aqui e ofertar lá fora como produto de alto valor agregado, especialmente os artesanatos voltados para a reciclagem”, conta Machado.

Por essas e outras, segundo ele, para quem quer empreender neste ramo, não existe mais espaço para amadorismo. “E aqui entra um ponto muito importante. Aquela pessoa que não se capacita, não busca informações para se desenvolver e conhecer melhor o seu negócio, não tem espaço”, alerta.

POR ONDE COMEÇAR

Uma boa ideia para quem decide empreender neste mercado, segundo Adriana Rebecchi do Sebrae-SP, é começar a atividade em casa. Eder Machado compartilha da mesma opinião: “Começar em casa é um caminho plausível e eu até indico, especialmente porque, quando a pessoa começa, não tem inicialmente uma grande demanda”, pontua.

No entanto, antes de começar o negócio, ele diz que é essencial fazer um planejamento, que envolve demanda e a sua capacidade de produção. “Esse é um grande problema do artesão, por mais que tenha mercado, ele tem um limite de produção. Então, essa é a primeira etapa do planejamento, se questionar sobre: até quantos clientes eu consigo atender? Se aumentar a demanda, até onde eu consigo produzir? Quanto eu consigo faturar com isso? E para fazer esse atendimento, eu preciso ter quanto de matéria­ prima em estoque?”.

Machado explica que o artesão deverá fazer um planejamento levando em conta um curto, médio e longo prazo. “Evidentemente você não vai comprar matéria-prima para mais de três anos. É apenas para um primeiro momento, por exemplo, para três meses. Mas você precisa desse planejamento para diminuir o seu risco e não acontecer de ter um monte de matéria-prima parada”, alerta. Material parado, na opinião do especialista, é dinheiro parado, que poderia estar sendo usado para outra coisa, como divulgação, cartão de visita, curso de capacitação, etc. “E tudo isso tem que estar no planejamento. Até chegar a um determinado ponto que ele vai avaliar se precisará contratar um funcionário, quanto mais de material precisará, se precisará de mais espaço ou deve parar naquela demanda que consegue ele mesmo atender”, argumenta.

Adriana Rebecchi aconselha que inicialmente é necessário investir também no desenvolvimento de amostras ou poucas peças para testar a aceitação do produto. “Daí em diante a produção crescerá de acordo com a demanda. E aos poucos ele pode diversificar, criando um mix de produtos de acordo com o interesse do cliente”, esclarece.

De início, além dos amigos e familiares, o criador do programa lnfoCriativo aconselha o artesão também a captar clientes através da internet. “Esse é o principal canal para esse tipo de negócio hoje. E a entrega você pode trabalhar com serviços de motoboy, correios, transportadoras, etc. Acerta com o cliente o valor de entrega e a partir de então você abre um leque enorme de consumidores. Conheço pessoas que trabalham em casa e nem pensam em abrir um ponto comercial porque, dependendo do negócio, não vale a pena”, afirma e diz ainda que se a demanda aumentar, talvez vai valer mais a pena a pessoa investir em um espaço maior dentro da própria casa do que montar uma loja. ”A internet hoje permite isso, se ela não existisse você precisaria estar em algum ponto para que as pessoas chegassem ao seu produto, mas com ela não é mais necessário”, acredita.

CAPACITAÇÃO

Para quem quer aprender artesanato, Adriana do Sebrae-SP diz que existem vários cursos de técnicas no mercado oferecidos pelo Senai, Marketplaces como Elo 7, Sutaco, entre outros, inclusive cursos on-line. No entanto, para quem busca capacitação nessa área em termos de administrar, ainda são poucas escolas. “É um problema que temos no mercado brasileiro de artesanato. Temos muita capacitação na área técnica, em que se consegue fazer peças lindas e maravilhosas, porém não existe capacitação para fazer uma boa oferta, uma precificação correta do produto, uma boa divulgação, uma boa gestão do negócio”, informa o especialista Eder Machado.

Por conta disso, ele acredita que muitos negócios nessa área acabam estagnados, não se tornam rentáveis e não dão certo. Porém, com a grande visibilidade, esse cenário começa a mudar, mesmo que em doses homeopáticas. “Os artesãos têm muita falta de confiança de empreender neste mercado. E como você elimina isso? Obtendo informação e conhecimento. Não existia capacitação nenhuma nesse sentido, mas agora existe, mesmo que pequena. Isso começou a mudar especialmente por causa da internet. Há profissionais que estão disseminando seus conhecimentos quanto a isso. Em relação ao custo do seu produto, divulgação, ou seja, capacitação e informação, que são primordiais para a alavancagem desse tipo de negócio”, pontua.

PECULIARIDADES

Outro ponto importante que o artesão precisa conhecer melhor na hora de investir neste mercado é sobre o público-alvo. “Existe um público que está interessado em um objeto único e exclusivo, esse sim é o produto do artesão”, demonstra Eder Machado.

Em sua opinião, esse também tem sido outro problema a ser enfrentado, pois alguns profissionais querem concorrer com shoppings, lojas, inclusive nos preços, e não tem como. “Esse não é o público dele. O público do artesão é diferente, é aquele que gosta de exclusividade, de peças únicas, que quer presentear um amigo ou parente com algo inovador. Que quer decorar a sua casa com algo que não vai ver nas grandes lojas. Então não tem como ele concorrer com varejistas, muito menos em preço”, afirma.

Investir em um tipo de artesanato só porque está na moda também não dá certo. Por exemplo, de acordo com Adriana, o reaproveitamento de material para atividade artesanal está em alta, como as biojoias, que nasceram do reaproveitamento de cápsulas de café expresso. “Evidentemente existem ondas e períodos que determinadas técnicas e produtos vão estar mais em alta. Se um ator na novela das oito utiliza crochê, existirá uma onda muito forte nesse segmento. A mesma coisa acontece com penteado, biscuit, etc. Mas quando a onda diminuir, não quer dizer que o trabalho saturou, ele teve uma queda, mas não vai parar, principalmente por causa da internet”, explica Machado.

O empreendedor digital volta a dizer que qualquer profissional que começar a utilizar a internet como ferramenta de trabalho não está limitado à sua região geográfica e, portanto, o mercado para a venda de seus produtos se tornará gigante. “E não terá como existir uma saturação, sempre terá aquele artesanato que estará na moda, mas o público que gosta desse tipo de produto nunca deixará de comprar quando a moda passar. Tem espaço para todos, só não pode querer concorrer com produto industrializado”, enfatiza.

Ele recomenda, no entanto, sempre tentar inovar nas próprias peças que produz trazendo algo novo. “Qualquer inovação nos produtos, tecidos, madeiras, palhas, etc., são bem-vindas. Mas uma coisa interessante é que o artesão é criativo, então isso sempre o leva à inovação. Uma característica muito boa dele”, elogia Machado que ensina também que uma boa estratégia é focar em um único tipo de público, mas utilizando várias técnicas. “Por exemplo, você foca em lembrancinhas para bebê, mas com diversas técnicas. Existem muitas possibilidades, cabe ao artesão ficar atento e sempre se atualizar, ver o que está acontecendo no mercado, os conteúdos, participar de feiras, etc. Com isso, ele descobre nichos de mercado que não estão sendo explorados”, orienta.

HORA DE OUSAR MAIS

Na opinião de Adriana do Sebrae­ SP, à medida que o negócio cresce e necessita aumentar a capacidade produtiva gerando emprego e renda, a participação em feiras permite ampliar a divulgação e cria oportunidade de venda para lojistas também. “Participar de feiras de artesanato representa grande oportunidade de mostrar sua arte. Em São Paulo, por exemplo, aconteceu a primeira edição da Feira de Artesanato Brasil Original, em outubro, no Anhembi, com a participação de 31 expositores de todo o Brasil, gerando mais de 2,9 milhões em negócios em quatro dias de evento”, mostra.

Segundo ela, o processo de curadoria aconteceu em todo o Brasil para seleção dos artesãos expositores “Com critérios bem definidos, selecionamos 24 expositores de São Paulo, a partir de análise de técnicas e materiais empregados no artesanato que retrate a cultura das cidades participantes”, afirma.

Eder Machado diz que toda exposição é válida, sim. Mas o que o empreendedor precisa avaliar é o retorno sobre esse investimento. Se a feira tiver um custo de R$1.000,00 e o retorno for de R$900,00, não vale a participação. Mas se resultar em R$1.100,00 já valerá, pois, o retorno é baixo, mas a divulgação é um ponto positivo. “Dependendo do custo, para aquele que está começando, participar de feiras grandes poderá ser oneroso. Mas se for uma feira local no bairro, vale a pena. Tem que avaliar caso a caso”, indica.

Panfletos, redes sociais, feiras, jornais locais, blog e WhatsApp também são boas formas de divulgação. Além disso, firmar parcerias com lojas no bairro, salões de beleza ou com amigos não é uma ideia ruim. Mas é preciso avaliar se todos sairão ganhando.

Por fim, o especialista diz que o artesanato está no começo de um novo tempo, passando por transformações muito positivas. “Está deixando de lado o amadorismo. E aquele que não se profissionalizar, não buscar o diferencial, seja na sua técnica, no se u trabalho ou na gestão do seu negócio, vai ficar para trás. Por isso, para quem tem esse sonho, vale a pena, comece, busque o seu objetivo, coloque-o em prática e trabalhe para isso”, conclui.

6 PASSOS PARA QUEM QUER ABRIR UM NEGÓCIO COM ARTESANATO

 1 – Obtenha segurança para começar a empreender, por meio de informação e conhecimento. Pesquise o mercado.

2 – Faça um teste inicial dos seus produtos para avaliar se as pessoas gostam e o que pode aprimorar. Comece a produzir oferecendo para amigos e familiares.

3 – Faça um planejamento básico, apenas para definir as ações iniciais, como a forma que vai trabalhar, quanto pretende faturar no início, quanto precisa de matéria, quanto consegue produzir por dia (horas x dia).

4 – Faça acontecer, coloque em prática definitivamente. Monte o espaço em casa, vá à compra dos produtos, etc. Às vezes, não acaba fazendo por postergar demais.

5 – Supere as adversidades. Erros vão acontecer, mas entenda que isso faz parte do processo de aprendizado. Quem vence é aquele que, mediante a falha, não desiste, mas busca alternativas.

6 – Empenhe-se sempre. Se não o fizer, não terá resultados. E não deixe o pessimismo acabar com a sua motivação. Esteja cercado por pessoas que valorizam o seu trabalho, essas ações resultam em resultados positivos. Não adianta ter dinheiro se tem a falta de motivação.

 

COMO COBRAR PELO SEU TRABALHO

TÉCNICAS COM BAIXÍSSIMO CUSTO DE MATÉRIA-PRIMA

Nesse caso é aplicado quando a técnica trabalhada possui baixo custo com matéria-prima (exemplo: tricô e crochê). Aqui o artesão deve definir quanto vale a sua hora de trabalho (o que varia em função de sua experiência, capacitação, habilidade, reconhecimento no mercado, etc.) e cobrar em função das horas trabalhadas.

OUTRAS TÉCNICAS

Nesse caso o artesão deve considerar, basicamente, o custo variável, fixo e lucro desejado. O custo variável é o custo que terá em função da quantidade de peças produzidas. Ou seja, quanto mais peças fizer, mais linha, tecido, massa, entre outros, irá gastar. O custo fixo é o custo existente independentemente de peças produzidas. Exemplo: Hospedagem mensal da loja virtual e aluguel do ateliê.

O lucro é a porcentagem de ganho em cada peça. Essa margem vai variar em função da técnica, concorrência, preço de mercado.

Obs.: Um erro comum dos artesãos que trabalham em casa é acharem que não têm custos fixos, na verdade, o custo existe, só que geralmente ele não está pagando (o custo entra nas despesas da casa).

 

EDER MACHADO – Facilitador do processo de empreendimentos artesanais.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 34-39

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A Culpa e a destruição de Jerusalém

Nós deixamos os guias cegos caídos na vala, sob a condenação de Cristo, na condenação do inferno; vejamos o que acontecerá com os seguidores cegos do povo judeu, e em especial, com Jerusalém.

I –  Jesus Cristo deseja ainda testá-los com os meios da graça: “Eu vos envio profetas, sábios e escribas”. A conexão é estranha. “Vós sois uma ‘raça de víboras’, provavelmente não escapareis “da condenação do inferno”; poderíamos pensar que a seguir viria: “Portanto, nunca mais haverá um profeta enviado a vós”. Mas não: “Portanto, ‘eu vos envio profetas’, para ver se finalmente ainda podeis ser transformados, ou para vos considerar imperdoáveis e para justificar a Deus, que vos designará a ruína”. Portanto, aqui está a introdução com uma observação: “eis que”. Considere que:

1. É Cristo quem os envia: “eu vos envio”. Com isso, Ele declara que é Deus, que tem poder para dotar e comissionar profetas. É um ato de Rei. Ele os envia como embaixadores, para tratar conosco dos problemas das nossas almas. Depois da sua ressurreição, Ele cumpriu essa promessa, quando disse que estava enviando os discípulos (João 20.21). Embora, naquele momento, o Senhor estivesse revestido de uma aparência humilde, a Ele havia sido confiada essa grande autoridade.

2. Ele os enviou primeiro aos judeus: “Eis que eu vos envio”. Eles começaram em Jerusalém e, aonde quer que fossem, eles observavam esta regra, de estender a oferta da graça do Evangelho primeiro aos judeus (Atos 13.46).

3. Aqueles que Ele envia são chamados de “profetas”, “sábios” e “escribas”. Nomes do Antigo Testamento para agentes do Novo Testamento; para mostrar que os ministros enviados a eles então não seriam inferiores aos profetas do Antigo Testamento, nem ao sábio Salomão, nem a Esdras, o escriba. Os ministros extraordinários, que, nos primeiros tempos, eram inspirados divinamente, eram como os profetas comissionados diretamente do céu; os ministros normalmente nomeados, que existiam naquela época, e ainda continuam na igreja, e continuarão até o fim dos tempos, são como os sábios e escribas, para guiar e instruir as pessoas nos assuntos de Deus. Ou podemos interpretar os apóstolos e evangelistas como sendo os profetas e sábios, e os pastores e professores como sendo os escribas, “instruídos acerca do Reino dos céus” (cap. 13.52), pois o ofício de um escriba era honroso até que os homens o desonraram.

II – Jesus prevê e prediz o mau tratamento que os seus mensageiros irão encontrar entre os escribas e fariseus. “‘A uns deles matareis e crucificareis’. E ainda assim, Eu os enviarei”. Cristo sabe de antemão como os seus servos serão maltratados e ainda assim Ele os envia, e atribui a cada um a sua medida de sofrimentos. Mas Ele não os ama menos, para expô-los dessa maneira, pois Ele deseja glorificar a si mesmo através dos sofrimentos deles, e assim eles também serão glorificados com Ele. Ele irá contrabalançar os sofrimentos, embora não os evite. Observe:

1. A crueldade desses perseguidores: ”A uns deles matareis e crucificareis”. Eles não têm sede de nada além do sangue, o sangue da vida; o seu desejo não se satisfaz com nada, exceto a destruição daqueles enviados por Deus (Êxodo 15.9). Eles mataram os dois Tiagos, crucificaram Simão, o filho de Clopas, e espancaram Pedro e João; assim os membros participaram dos sofrimentos da Cabeça. Jesus foi morto e crucificado, e eles também. Os cristãos devem esperar “resistir até ao sangue”.

2. O seu esforço incansável. “E os perseguireis de cidade em cidade”. A medida que os apóstolos iam de cidade em cidade, para pregar o Evangelho, os judeus os desviavam, e perseguiam, e suscitavam perseguição contra eles (Atos 14.9; 17.13). Aqueles que não criam, na Judéia, eram inimigos mais amargos do Evangelho que qualquer outro incrédulo (Romanos 15.31).

3. O pretexto de religião nessas atividades: ”A outros deles açoitareis nas vossas sinagogas”. A sinagoga era o seu lugar de adoração, onde eles mantinham as suas cortes eclesiásticas; assim, eles faziam como se fosse um serviço religioso; expulsavam-nos e diziam: “O Senhor seja glorificado” (Isaias 66.5: João 16.2).

III – O Senhor lhes atribui os pecados dos seus pais, porque eles os imitavam: “Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra” (vv. 35,36). Embora Deus tolere por muito tempo uma geração perseguidora, Ele não a tolerará para sempre. O abuso da paciência produz uma ira muito maior. Quanto mais tempo os pecadores vierem acumulando tesouros de iniquidade, mais profundos e completos serão os tesouros da ira; e a sua destruição será como a destruição das fontes profundas.

Considere:

1. A extensão dessa atribuição: ela inclui todo o sangue dos justos, derramado sobre a terra, isto é, o sangue derramado em nome da justiça, que foi todo acumulado no tesouro de Deus, e nem uma gota dele se perdeu, pois é precioso (Salmos 72.14). Ele começa o registro com “o sangue de Abel, o justo”, pois então esta era de mártires começou; ele é chamado de ”Abel, o justo”, pois ele “alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons” (Hebreus 11.4). Como o martírio entrou cedo no mundo! O primeiro que morreu, morreu pela sua religião, e “depois de morto, ainda fala”. O seu sangue não somente gritou contra Caim, mas continua a gritar contra todos os que trilham o caminho de Caim, e odeiam e perseguem o seu irmão, porque as suas obras são justas. Ele acrescenta a ele o “sangue de Zacarias, filho de Baraquias” (v. 36), não o profeta Zacarias (como alguns interpretaram), embora ele fosse filho de Baraquias (Zacarias 1.1), nem Zacarias, o pai de João Batista, como dizem outros; mas, como é mais provável, Zacarias, o filho de Joiada, que foi morto “no pátio da casa do Senhor” (2 Crônicas 24.20,21). O seu pai é chamado Baraquias, que tem o mesmo significado que Joiada, e é usual entre os judeus que a mesma pessoa tenha dois nomes: “que matastes”, ou seja, os desta nação, embora não desta geração. Isto é especificado, porque essa exigência foi especificamente mencionada (2 Crônicas 24.22), como também no caso da de Abel. Os judeus imaginavam que o cativeiro tinha sido suficiente para expiar a culpa, mas Cristo lhes comunica que esta ainda não havia sido completamente expiada, e assim permanecia a contagem de anos. E alguns pensam que isso é mencionado com uma indicação profética, pois houve um Zacarias, o filho de Baruque, de quem Josefo falou (War, liv. 5, cap. 1), que foi um homem bom e justo, e que foi morto no Templo pouco antes da sua destruição pelos romanos. O arcebispo Tillotson opina que Cristo faz uma alusão à história do primeiro Zacarias, das Crônicas, e, ao mesmo tempo, prevê a morte desse posterior, mencionado por Josefo. Embora o segundo tenha sido assassinado pouco antes que viesse a destruição, é verdade que eles o teriam assassinado, de modo que tudo deve ser computado em conjunto, desde o primeiro até o último.

2. O efeito: “Todas essas coisas hão de vir”; toda a culpa desse sangue, todo o seu castigo, tudo isto virá sobre esta geração. A desgraça e a ruína que viriam sobre eles seriam tão grandes que, embora considerando o mal dos seus próprios pecados, pareceriam um somatório geral de toda a maldade dos seus ancestrais, especialmente das suas perseguições, com as quais Deus declara que essa ruína tem uma relação especial. A destruição será tão terrível, que será como se Deus os tivesse, de uma vez por todas, condenado, por todo o sangue dos justos que foi derramado no mundo. “Todas essas coisas hão de vir sobre esta geração”, o que dá a entender que virão rapidamente; alguns deles estariam vivos para ver isso. Observe que, quanto mais doloroso e próximo estiver o castigo do pecado, mais alto será o chamado para o arrependimento e a correção.

IV – Jesus lamenta a maldade de Jerusalém, e corretamente os lembra dos muitos tipos de ofertas que Ele lhes tinha feito (v. 37). Veja com que preocupação Ele fala da cidade: “Jerusalém, Jerusalém”. A repetição é enfática, e evidencia abundância de compaixão. Um dia ou dois antes disso, Cristo havia chorado por Jerusalém, agora Ele suspirava e gemia por ela. Jerusalém, o lugar de Paz (que é o que o nome significa), seria lugar de guerra e confusão. Jerusalém que tinha sido “o gozo de toda a terra”, seria então um assobio, e um espanto, e um provérbio. Jerusalém, que tinha sido uma cidade unida, seria então destruída pelos próprios tumultos internos. Jerusalém, o lugar que Deus tinha escolhido para ali colocar o seu nome, seria abandonada à pilhagem e aos ladrões (Lamentações 1.1; 4.1). Mas por que o Senhor irá fazer tudo isso a Jerusalém? Por quê? “Jerusalém gravemente pecou” (Lamentações 1.8).

1. Ela perseguiu os mensageiros de Deus: “Matas os profetas e apedrejas os que te são enviados”. Jerusalém é especialmente acusada desse pecado, porque ali ficava o sinédrio, ou o grande conselho, que considerava as questões da igreja, e por isso um profeta não poderia morrer fora de Jerusalém (Lucas 13.33). É verdade que eles não tinham então o poder de condenar nenhum homem à morte, mas eles matavam os profetas em meio a tumultos, cercavam-nos, como fizeram com Estêvão, e mobilizavam as autoridades romanas para matá-los. Em Jerusalém, onde o Evangelho foi pregado pela primeira vez, também ali foi perseguido pela primeira vez (Atos 8.1), e naquele lugar estava o quartel-general dos perseguidores; dali, eram emitidas ordens a outras cidades, e para ali, os santos eram trazidos presos (Atos 9.2). O “apedrejamento” era uma sentença de morte usada somente entre os judeus. Segundo a lei, os falsos profetas e os enganadores deviam ser apedrejados (Deuteronômio 13.10), e usando a mesma lei, eles levavam à morte os verdadeiros profetas. Observe que o artifício de Satanás sempre foi voltar contra a igreja a mesma artilharia que foi originalmente plantada em defesa dela. Marque os verdadeiros profetas como sendo enganadores, e os que professam verdadeiramente a religião como sendo hereges e cismáticos, e será fácil persegui-los. Havia abundância de outros tipos de maldade em Jerusalém, mas esse era o pecado que mais se evidenciava, e o pecado mais visado por Deus ao trazer sobre eles a destruição, como visto em 2 Reis 24.4; 2 Crônicas 36.16. Observe que Cristo fala no tempo presente do verbo: “matas… e apedrejas”; pois tudo o que eles tinham feito, e tudo o que ainda iriam fazer, era do conhecimento de Cristo.

2. Ela recusou e rejeitou a Cristo, e às ofertas do Evangelho. Essa primeira atitude era um pecado sem remédio; a segunda, era o mesmo que agir contra o remédio. Aqui temos:

(1)  A maravilhosa graça de Cristo para eles: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas”. As ofertas da graça do Evangelho são assim generosas e condescendentes, até mesmo para os filhos de Jerusalém; embora esta cidade fosse má, os seus habitantes, os pequeninos, não foram excluídos.

[1] A graça proposta era a reunião dessas pessoas. O desejo de Cristo é reunir as pobres almas, reuni-las, removendo-as de suas perambulações, trazê-las para casa, para si, como o centro da unidade, pois “a ele se congregarão os povos”. Ele teria levado toda a nação judaica à igreja, e assim os teria reunido a todos (assim como os judeus costumavam falar de prosélitos) sob as asas da Divina Majestade. Isto é aqui exemplificado por uma analogia simples: “como a galinha ajunta os seus pintos”. Cristo os teria reunido, em primeiro lugar, com um afeto terno, como o da galinha, que tem, por instinto, uma preocupação particular pela sua cria. O desejo de Cristo de reunir as almas vem do seu amor (Jeremias 31.3). Em segundo lugar, com o mesmo objetivo. ”A galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas”, para a proteção e a segurança deles, assim como calor e conforto. As pobres almas têm em Cristo abrigo e também alívio. Os pintinhos, quando são ameaçados por aves de rapina, correm naturalmente para a galinha, à procura de abrigo; talvez Cristo se refira a esta promessa (Salmos 91.4): “Ele te cobrirá com as suas penas”. Cristo trará salvação “debaixo das suas asas” (Malaquias 4.2); isto é mais do que a galinha pode fazer pelos seus pintinhos.

[2] A presteza de Cristo em conceder essa graça. As suas ofertas são, em primeiro lugar, inteiramente gratuitas. “Quis eu”. Jesus Cristo está verdadeiramente disposto a receber e salvar as pobres almas que vêm até Ele. Ele não deseja a sua destruição, mas se alegra com o seu arrependimento. Em segundo lugar, muito frequentes. “Quantas vezes”. Cristo frequentemente vinha a Jerusalém, pregando e realizando milagres ali. E o significado de tudo isso era que Ele gostaria de tê-los reunido. Ele registrou quantas vezes os seus chamados foram repetidos. Cada vez que ouvimos o som do Evangelho, cada vez que sentimos os esforços do Espírito, também podemos entender que Cristo está nos trazendo para mais perto de si.

[3] A rejeição voluntária da graça de Jesus por parte de Jerusalém: “Tu não quiseste!” Com que ênfase a sua teimosia se opõe à misericórdia de Cristo! “Quis eu… e tu não quiseste”. Ele desejava salvá-los, mas eles não queriam ser salvos por Ele. Observe que o fato de os pecadores não serem reunidos sob as asas do Senhor Jesus se deve exclusivamente às suas más intenções. Eles não gostaram dos termos nos quais Cristo se propôs a reuni-los; eles adoravam os seus pecados e também tinham certeza de que eram justos; eles não se sujeitariam nem à graça de Cristo, nem ao seu governo, e assim se rompeu a tentativa de acordo.

V – Ele fala do destino de Jerusalém (vv. 38,3 9): “Eis que a vossa casa vos ficar á deserta “. Tanto a cidade quanto o Templo, a casa de Deus e as casas dos habitantes, tudo seria arrasado. Mas o significado particular diz respeito ao Templo, de que eles se orgulhavam e que lhes tinha sido confiado; aquele monte sagrado, que os fazia tão arrogantes. Observe que aqueles que não forem reunidos pelo amor e pela graça de Cristo serão consumidos e espalhados pela sua ira: “Quis eu… e tu não quiseste”. “Israel não me quis. Pelo que eu os entreguei aos desejos do seu coração” (Salmos 81.11,12).

1. A casa deles ficará deserta: ”A vossa casa vos fica­ rá deserta”. Cristo estava então saindo do Templo, e nunca mais voltou a ele, mas, com essas palavras, o entregou à destruição. Eles teriam aquele Templo para si mesmos. Cristo não tinha lugar ali, nem se interessavam por Ele. “Bem”, disse Jesus, “o Templo então fica com vocês; façam bom proveito dele; nunca mais terei alguma coisa a ver com ele”. Eles tinham feito do Templo uma “casa de vendas”, e um “covil de ladrões”, e assim sendo, ficaria para eles. Pouco tempo depois disso, ouviu-se a voz no Templo: “Vamos partir daqui”. Quando Cristo partiu, “Icabô, foi-se a glória”. A cidade também foi deixada para eles, destituída da presença e da graça de Deus. Ele já não era mais um muro de fogo ao redor deles, nem a glória entre eles.

2. Ela ficará desolada: ” vos ficará deserta”. Ela ficará ermos um deserto.

(1)  Imediatamente depois da partida de Cr isto, o Templo se tornou, aos olhos de todos aqueles que não estavam fora de si, um lugar muito triste e melancólico. A partida de Cristo transforma o lugar mais bem enfeitado e abastecido em um deserto, mesmo em se tratando do Templo, o lugar para onde afluía o maior número de pessoas. Pois que consolo pode haver em um lugar onde Cristo não está? Embora possa haver ali uma multidão com outros contentamentos, se a presença espiritual especial de Cristo não estiver ali, aquela alma, aquele lugar, se torna um deserto, uma terra de trevas, como as próprias trevas. Isto é o resultado dos homens rejeitando a Cristo, e afastando-o de si.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O INFERNO RECORRENTE DO TOC

Para o transtorno obsessivo-compulsivo, que leva o portador a cumprir tarefas repetitivas, medicamentos e psicoterapia cognitivo-comportamental são suficientes.

O inferno recorrente do toc

Pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) em geral percebem que há algo errado consigo próprias. O diagnóstico preciso, porém, muitas vezes demora. E, depois de identificada a patologia, o caminho ainda é atribulado, o paciente esconde a doença ou não ousa falar dela, e os colegas não entendem seu sofrimento.

Existem diferentes tipos de TOC e modalidades diversas de tratamento. No quadro da terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, o médico avalia, antes de mais nada, o tempo perdido nas tarefas repetitivas e prescreve algo para aliviar os sintomas. Tenta identificar as obsessões mais frequentes, anotando-as em uma escala de intensidade que vai de O a 100. Então, ensina o paciente a gerir as situações ansiogênicas, geradoras de obsessão, começando pelas mais “fáceis”.

Cerca de 10% da população sofre de TOC, e a incidência em homens e mulheres é semelhante. Para a maioria os primeiros sinais aparecem no final da adolescência ou no início da idade adulta, embora possa se manifestar em crianças. Segundo a gravidade dos sintomas, o transtorno terá repercussões importantes na vida cotidiana do indivíduo. Nos casos extremos, o dia todo é ocupado por obsessões e com pulsões reincidentes. Atividade profissional, estudos e relacionamento social ficam prejudicados. O transtorno se manifesta de maneiras bastante variadas. Laura teme matar o seu bebê desde o dia em que imaginou deixa-lo cair da sacada de seu apartamento. Ela não fica mais sozinha com a criança com medo de lhe fazer mal e verifica inúmeras vezes se as janelas estão bem fechadas. Gerson está obcecado com a ideia de ter sido amaldiçoado depois de desejar uma moça que viu na rua. Ele reza sempre que tem pensamentos obscenos. Beatriz toma um banho de uma hora ao voltar do restaurante onde trabalha como atendente, pois tem medo de contaminação. Daniel parou de dirigir porque quando guiava, ao menor barulho diferente pensava ter atropelado alguém. Em todos esses casos, o temor maior é ser responsável por alguma catástrofe.

O paciente de TOC é capaz de reconhecer que as obsessões são produto psíquico, e isso agrava seu tormento. Ideias, pensamentos, impulsos ou representações persistentes causam grande ansiedade e sofrimento.  As obsessões mais frequentes são medo de contaminação (infectar-se ao apertar a mão de alguém), dúvida impertinente (perguntar-se repetidas vezes se apagou a luz antes de sair), necessidade extrema de organização (sofrer se os livros estão desalinhados na estante ou fora de ordem alfabética), medo de sentir impulsos agressivos ou escandaloso ( fazer mal a um filho ou gritar obscenidades na igreja), recorrência de fantasias sexuais.

Todos temos obsessões, mas habitualmente, as afastamos e as esquecemos. No quadro de TOC, o paciente não consegue, Ele tenta neutralizar as obsessões com rituais compulsivos: o indivíduo atormentado pela dúvida de ter desligado corretamente o forno tenta dirimir a incerteza verificando repetidamente se o desligou mesmo.

As compulsões são comportamentos repetitivos (por exemplo, lavar as mãos 30 vezes por dia) ou atos mentais (contar ou repetir palavras várias vezes ao dia) que visam prevenir ou reduzir a ansiedade e o sofrimento, e não obter prazer ou satisfação. Na maior pane dos casos, a pessoa se sente impelida a realizar um ato compulsivo para reduzir o sofrimento que acompanha sua obsessão ou para prevenir o acontecimento temido, indivíduos maníacos por contaminação, podem aliviar sua angústia lavando as mãos até que fiquem em carne viva.

Mania de limpeza, contagem, obsessiva, necessidade de se reassegurar de algo, repetição de atos e organização de objetos em determinada ordem estão entre as mais frequentes compulsões.

CAUSAS FISIOLÓGICAS

A causa precisa desse distúrbio é ignorada. Fatores genéticos podem desempenhar papel importante, mas não parecem determinantes. Diversos estudos apontam para a participação de anomalias em certos circuitos cerebrais, outros sugerem predisposições ligadas a elementos de personalidade. É bem provável que não exista uma única causa. A hipótese mais aceita para a motivação dos transtornos é a combinação de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais.

Do ponto de vista fisiológico, ocorre diminuição da quantidade de neurotransmissores, notadamente a serotonina. Certa predisposição psicológica ou personalidade vulnerável podem contribuir para que os sintomas apareçam. Problemas de relacionamento social (isolamento e dificuldade de fazer amigos) completam o quadro de motivações. O cruzamento desses três tipos de fatores expõe o indivíduo ao risco de desenvolver TOC. No âmbito dos distúrbios psíquicos é raro que o quadro da doença esteja ligado a uma única causa. Guilherme, por exemplo, tem antecedentes familiares de depressão, consome álcool com frequência e perdeu o emprego recentemente. O ambiente age sobre o indivíduo e influi em comportamentos e reações.

A abordagem escolhida pelo psiquiatra, psicoterapeuta ou psicólogo precisa considerar o paciente de maneira global. Devem ser levados em conta fatores fisiológicos, relações sociais e interações entre emoção, comportamento e história pessoal. Cada um dos três componentes (fisiológico, psicológico e social) demanda atenção particular. Estudos mostram que tratamentos apenas psicoterapêuticos ou exclusivamente medicamentosos não dão resultado satisfatório.

A melhor maneira de tratar o TOC é a prescrição de medicamentos, que agem sobre o componente fisiológico do distúrbio associada a terapia individual ou em grupo. Diagnóstico precoce e tratamento adaptado ao caso aliviam o sofrimento e ajudam o paciente a gerir ele próprio o transtorno. Abordagem adequada evita depressão (comum devido ao caráter limitador dos sintomas) e favorece a manutenção da vida social do indivíduo.

Infelizmente, o TOC com frequência é mal diagnosticado. Isto se deve em parte ao fato de que muitas pessoas atingidas têm vergonha de sua condição e a dissimulam, ou nem mesmo acreditam estar doentes. Clínicos gerais nem sempre conhecem o problema. Medicamentos e terapia cognitivo-comportamental, conjuntamente costumam surtir efeito. Antidepressivos permitem aumentar a concentração de serotonina em algumas regiões do cérebro, e a terapia cognitiva visa trabalhar comportamentos recorrentes e pensamentos obsessivos.

A terapia procura expor progressivamente o indivíduo às situações que causam ansiedade. No início, pede-se ao paciente que imagine situações que poderiam desencadear a compulsão. Ele começa com cenas que causam angústia moderada e passa a situações que tenha cada vez mais dificuldades de suportar. A cada etapa, com a ajuda do terapeuta a pessoa ganha capacidade de lidar com a ansiedade. Em seguida, é exposta a situações reais, segundo o mesmo princípio progressivo. Aos poucos, aprende a resistir às compulsões e a controlar a angústia.

O trabalho cognitivo permite modificar crenças e imagens psíquicas. Crenças podem ser conscientes ou inconscientes, e são frequentemente ligadas a quadros de culpa e responsabilidade. O terapeuta chama a atenção do paciente para certos pensamentos e o ajuda a modificá-los. O caráter irracional das convicções do indivíduo é sublinhado. Finalmente, o sujeito enfrenta a realidade, a fim de se dar conta de que seus medos eram injustificados (“apesar de não lavar as mãos 30 vezes seguidas, não fui contaminado”).

O TOC pode ter consequências muito negativas na vida social e moral do indivíduo, sobretudo quando ignoramos que se trata de doença frequente na população, mas que pode ser tratada. O TOC não é sinal de fraqueza ou defeito. Diagnóstico preciso é o primeiro passo para a abordagem adequada do problema e o retorno à vida normal.

 

JERÓME PALAZZOLO – é psiquiatra do centro hospitalar Sainte-Marie, em Nice, França, e professor de antropologia social da saúde da Universidade Senghor, em Alexandria, Egito.

OUTROS OLHARES

O PERIGO DOS REMÉDIOS FALSOS

Cerca de10% dos fármacos vendidos em países pobres e em desenvolvimento, como o Brasil, são adulterados, segundo a OMS. O uso desses medicamentos provoca sérios danos à saúde.

O perigo dos remédios falsos

Um em cada dez medicamentos comercializados em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é de qualidade inferior ou falsificado. É o que aponta o relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os fármacos mais adulterados estão os de combate à malária e os antibióticos.

O número é alarmante e chama atenção para um mercado clandestino que cresce e movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano no mundo. No Brasil, as apreensões de remédios irregulares pela Policia Federal são frequentes, mas nenhum órgão envolvido na questão, incluindo aqui a própria PF e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sabem dizer qual o tamanho do problema A única referência que se tem por aqui vem de um relatório da OMS de 2015. Segundo a entidade, 19 % dos produtos farmacêuticos vendidos no País são ilegais: ou são falsos ou adulterados, ou seja, ineficazes, ou roubados, o que na maioria dos casos quer dizer que podem ter sido violados ou estão com validade vencida, por exemplo,

O uso de produtos assim agrava doenças e pode levar à morte. De acordo com a OMS, 72 mil mortes de crianças por pneumonia podem ser atribuídas ao uso de antibióticos com atividade reduzida, total que sobe para 169 mil mortes se os remédios forem inócuos. Além disso, alguns componentes adulterados podem provocar alergias graves. ”Criminosos utilizam corantes como o iodo para amarelar os remédios”, afirma Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. ‘Isso é extremamente tóxico.”

Depois de anos de atrasos, em 2016 foi sancionada no Brasil urna nova lei de rastreabilidade de remédios, permitindo o acompanhamento pela Anvisa do caminho das medicações de sua fabricação até o consumidor. A legislação estabeleceu o prazo de quatro anos e oito meses para inicio do programa a partir de sua regulamentação, ocorrida só em agosto de 2017. “Há muita demora nesses prazos de adequação”, critica José Luís Miranda, coordenador da assessoria técnica do Conselho Federal de Farmácia. “O sistema atual é sujeito a fraudes e permite um número alto de falsificação”, lamenta.

O perigo dos remédios falsos2

GESTÃO E CARREIRA

AS 6 CONFUSÕES QUE OS PROFISSIONAIS NÃO PODEM COMETER NA EMPRESA

As 6 confusões

Quem não quer trabalhar em uma empresa legal, divertida, com ambiente bacana, clima acolhedor e cheia de energia e oportunidades? Existem empresas assim, mas o que não lhe contaram é que ainda é a minoria. Na maioria das empresas (aquelas por onde tramito todos os dias) o clima diário é um pouco diferente dos posts da internet.

Ultimamente observo muitos jovens buscando esse tipo de ambiente para dedicar seu precioso tempo de trabalho. Isso não tem nada de errado, porém vejo também que há uma enorme falta de clareza sobre a vida real que todos temos que enfrentar hoje em dia.

É crescente o número de profissionais que esperam das empresas, dos chefes, dos clientes, do mundo uma compreensão quase como a de um pai super protetor ou de uma mãe carinhosa.

Só que o mundo corporativo não funciona assim! A frustração tem sido resultado na vida profissional de muitos jovens que vêm me procurar para fazer processo de coaching em uma atitude desesperada para entender por que o mundo não os vê com os mesmos olhos de seus pais.

Vamos voltar ao básico do trabalho do que realmente significam algumas regras que não estão escritas em nenhum lugar, mas que regem o ambiente de trabalho quando falamos sobre relacionamento e comportamento:

1. NÃO CONFUNDA CHEFE BOM COM CHEFE BOBO: Sim! Conheço inúmeros chefes bons por aí. Chefe bom é aquele que tem empatia, o ouve, compreende suas dificuldades, cobra e ensina você. Muitos profissionais (e não me refiro somente aos jovens) confundem essa bondade do chefe e abusam, não entregando resultados na empresa. Funcionário está na empresa para facilitar a vida do chefe e vice-versa: o chefe também está lá para facilitar que desempenhe bem seu trabalho. Se cada um assumisse essa responsabilidade, não teríamos tantos problemas no dia a dia.

2. NÃO CONFUNDA SEU CHEFE COM SEU AMIGO: Ter bom relacionamento é uma coisa, e eu recomendo a todos, porém amizade são “outros quinhentos”. Amigo é aquele que está do seu lado não importa o que aconteça. Seu chefe é aquele que está lá para gerar resultado com seu trabalho não importa o que aconteça. É possível ser amigo do chefe? Claro que sim! Se esse for o seu caso, parabéns, saiba que é um privilegiado.

3. NÃO CONFUNDA SEU CHEFE COM SEU INIMIGO: O papel do seu chefe é gerar resultado através das pessoas. Para isso, controle, organização e cobrança serão necessários. Isso não quer dizer que ele seja seu inimigo, ele só está cumprindo seu papel. Seu chefe joga com você e não contra você! Ele jamais saberá de tudo no trabalho e por isso que você faz parte da equipe. Ajudem uns aos outros.

4. NÃO CONFUNDA COBRANÇA COM ASSÉDIO MORAL: Há confusão insana que qualquer coisa dita pelo chefe na empresa que desagrade ao funcionário é assédio moral. Mas é só quando há exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. A cobrança de um trabalho é função do líder, e sua obrigação como colaborador é entregar o trabalho conforme combinado.

5. NÃO CONFUNDA SEU TRABALHO COM O CLUBE DOS AMIGOS: Não os escolhemos e não importa de quem gostamos no trabalho, precisamos trabalhar com eles.

O risco que corre de achar que a empresa é um clube é de tropeçar na carreira por considerar que o “gostar” entra nas relações corporativas. Já vi profissionais prejudicarem suas próprias carreiras recusando-se a cooperar com pessoas às quais têm aversão, também já observei inúmeras vezes líderes não contratarem pessoas das quais não gostam.

No ambiente de trabalho, temos apenas conhecidos, indivíduos com quem podemos ter uma boa relação de trabalho, mas lembre-se: a palavra-chave aqui é trabalho.

6. NÃO CONFUNDA COMPETIÇÃO COM INIMIZADE: Dentro da empresa é necessário cooperar ao invés de competir. Apesar de competirmos com a concorrência, de certa forma também competimos internamente na empresa, mas isso não significa levarmos para o lado da inimizade. Sabe aquele colega de trabalho que fica ao seu lado? Pois bem, ele, assim como você, está buscando cargo melhor na empresa. Não sei se já reparou, mas não existem lugares de diretores e presidentes para todo mundo! Mesmo que o clima seja de competição, não leve para o lado pessoal.

Saber o ponto de equilíbrio entre relacionar-se bem, manter-se focado no resultado trabalhando com qualquer pessoa (independentemente se gosta dela ou não) pode ser segredo para o sucesso. Confundir essas questões comportamentais é receita infalível para o fracasso.

 

DANIELA DO LAGO – é especialista em comportamento no trabalho, mestre em administração, coach de carreira, palestrante e professora na área de liderança e gestão de pessoas. http://www.danieladolago.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE III

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Os Crimes dos Fariseus 

 

VII – Eles fingiam sentir muito carinho pela lembrança dos profetas que estavam mortos, enquanto odiavam e perseguiam aqueles que estavam com eles. Isso é deixado para o final, porque era a pior característica do seu caráter. Deus zela pela sua honra nas suas leis e cerimônias, e se ressente se elas forem profanadas e deturpadas, mas Ele frequentemente expressa um zelo igual pela sua honra nos seus profetas e ministros, e se ressente ainda mais se alguém os trata mal ou os persegue; portanto, quando o nosso Senhor Jesus chega a esse ponto, Ele fala mais completamente do que sobre qualquer outro (vv. 29-37); pois o que toca um de seus ministros, toca o seu ungido, e “toca na menina do seu olho”. Aqui, observe:

1. O respeito que os escribas e fariseus fingiam sentir pelos profetas que já estavam mortos (vv. 29,30). Este era o verniz, aquilo que lhes dava a aparência exterior de justos.

(1)  Eles honravam os restos mortais e relíquias dos profetas, edificavam os seus túmulos e adornavam os seus sepulcros. Aparentemente, os lugares onde estavam enterrados eram conhecidos, e a sepultura de Davi estava entre eles (Atos 2.29). Havia um título sobre a “sepultura do homem de Deus” (2 Reis 23.17), e Josias julgou que era suficientemente respeitoso não mover os seus ossos (v. 18). Mas eles faziam mais que isso, eles reconstruíam e adornavam os sepulcros. Considere, então:

[1] Como um exemplo da honra dada aos profetas mortos, que, enquanto viviam, eram considerados párias, e era dito falsamente, a seu respeito, todo o tipo de coisas ruins. Note que Deus pode arrancar, até mesmo de homens maus, um reconhecimento da honra da piedade e da santidade. Deus honrará aqueles que o honram; e às vezes o Senhor usará, para isto, aqueles de quem só se pode esperar o desprezo (2 Samuel 6.22). A memória dos justos é abençoada, enquanto os nomes daqueles que os odiavam e perseguiam é coberto de vergonha. A honra da constância e da determinação no caminho do dever será uma honra duradoura; e aqueles que agirem de acordo com a vontade de Deus serão manifestados na consciência daqueles que estão ao seu redor.

[2] Como um exemplo da hipocrisia dos escribas e fariseus, que lhes prestavam respeito. Observe que as pessoas carnais podem facilmente honrar as lembranças dos ministros fiéis que morreram, porque não podem censurá-los, nem perturbá-los, quanto aos seus pecados. Os profetas mortos eram videntes que não viam, e isso eles toleravam bem; eles não atormentavam os escribas e fariseus, como as testemunhas vivas o faziam, aquelas que dão testemunho com uma voz viva (Apocalipse 11.10). Eles podem respeitar os escritos dos profetas mortos, que lhes dizem o que eles deveriam ser: Que haja santos, mas que não vivam aqui. O respeito extravagante que a igreja de Roma presta à lembrança dos santos mortos, especialmente aos mártires, dedicando dias e lugares aos seus nomes, guardando os seus restos como relíquias, orando a eles e fazendo ofertas às suas imagens, enquanto se embriagam com o sangue dos santos da sua época, é uma prova manifesta de que eles não apenas sucederam, mas superaram os escribas e fariseus numa religião hipócrita e falsificada que edifica os sepulcros dos profetas, mas detesta a doutrina deles.

(2)  Eles protestaram contra o assassinato dos profetas (v. 30): “Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles”. Eles nunca teriam consentido em silenciar Amós, e aprisionar Micaías, ou prender Hanani ao tronco, e Jeremias na masmorra, apedrejar Zacarias, zombar de todos os mensageiros do Senhor e maltratar os seus profetas. Não. Não eles. Eles antes prefeririam perder suas mãos direitas a fazer qualquer dessas coisas. “Que é teu servo, que não é mais do que um cão?” E ainda assim, nessa ocasião, eles estavam planejando assassinar a Cristo, de quem todos os profetas haviam testificado. Eles pensavam que se tivessem vivido na época dos profetas, os teriam ouvido e obedecido alegremente, mas eles se rebelaram contra a luz que Cristo trouxe a este mundo. Porém é certo que um Herodes e uma Herodias para João Batista teriam sido como um Acabe e uma Jezabel para Elias. Note que a falsidade dos corações pecadores aparece muito no fato de que, embora eles acompanhem a corrente dos pecados da sua própria época, eles imaginam que teriam nadado contra a corrente dos pecados de antigamente. Apoiavam-se no fato de que, se tivessem tido as oportunidades de outras pessoas, as teriam aproveitado com mais lealdade; se tivessem passado pelas tentações de outras pessoas, teriam resistido a elas mais vigorosamente; mas eles não aproveitam as oportunidades que têm, nem resistem às tentações que sofrem. Às vezes, pensamos que se tivéssemos vivido quando Cristo estava na terra, nós o teríamos seguido com constância; não o teríamos desprezado e rejeitado, como eles fizeram. Mas Cristo, por meio do seu Espírito, da sua Palavra, e dos seus ministros, ainda não foi mais bem tratado.

2. A inimizade e oposição dos escribas e fariseus a Cristo e ao seu Evangelho, apesar disso, e a destruição que traziam a si mesmos e à sua geração (vv. 31-33). Considere:

(1)  A acusação provada: “Vós mesmos testificais”. Observe que os pecadores não podem esperar escapar ao julgamento de Cristo por falta de provas contra eles, quando é fácil encontrá-los testemunhando contra si mesmos; e as suas próprias alegações não somente serão rejeitadas, mas transformadas para a sua condenação, e as suas próprias línguas se voltarão “contra si mesmos” (Salmos 64.8 ).

[1] Pela própria confissão deles, a maior maldade dos seus antepassados foi matar os profetas; de modo que eles conheciam esse pecado, e foram culpados da mesma coisa. Observe que aquele que condena o pecado nos outros, e apesar disso permite o mesmo pecado, ou pior, em si, é, de todos os outros, o mais imperdoável (Romanos 1.32-2.1). Eles sabiam que não deviam ter sido parceiros dos perseguidores, contudo eram seus seguidores. Estas contradições agora irão se somar às condenações do grande dia. Cristo coloca outra construção sobre a edificação que fizeram nos sepulcros dos profetas, diferente da que eles pretendiam; pois, ao embelezar os sepulcros, eles esperavam estar justificando os seus assassinos (Lucas 11.48), porém estavam persistindo no pecado.

[2] Pela própria confissão deles, esses perseguidores notórios eram seus ancestrais: “Sois filhos dos que mataram os profetas”. Eles não queriam dizer nada além do fato de que eram seus filhos, por sangue e por natureza. Mas Cristo volta isso contra eles, pois eles o eram por espírito e disposição: Vocês são filhos desses pais, e assim satisfarão os desejos deles. Eles são, corno vocês dizem, seus pais, e vocês se parecem com seus pais, e este pecado é o que corre no sangue de vocês. “Vós sois como vossos pais” (Atos 7.51). Eles vieram de uma raça perseguidora, eles eram uma “semente de malignos” (Isaias 1.4), levantados em lugar de seus pais (Números 32.14). A maldade, a inveja e a crueldade nasciam com eles, e eles as tinham adotado como princípio, como seus pais tinham feito (Jeremias 44.17). E aqui se observa (v.30) com que cuidado eles mencionam a relação: “Eles eram nossos pais, que mataram os profetas, e eram homens de honra e poder, cujos filhos e sucessores somos nós”. Se eles tivessem detestado a maldade dos seus ancestrais, como deviam ter feito, não teriam se preocupado tanto em chamá-los de seus pais; pois não existe crédito em ser parente de perseguidores, embora eles tenham muita dignidade e domínio.

(2)  A condenação que eles recebem. Aqui:

[1] Cristo passa a entregá-los ao pecado, como pessoas incorrigíveis (v. 32): “Enchei vós, pois, a medida de vossos pais”. Se Efraim se uniu aos ídolos, e não deseja ser transformado, que seja abandonado. “Quem está sujo suje-se ainda”. Cristo sabia que eles estavam tramando a sua morte e que em poucos dias isto se realizaria. “Bem”, disse Ele, “continuai com o vosso plano, segui o vosso caminho, caminhai no caminho do vosso coração e segundo o que os seus olhos veem, e vede qual será o resultado. ‘O que fazes, faze-o depressa’. Vós apenas enchereis a medida da culpa, que irá transbordar num dilúvio de ira”. Observe que, em primeiro lugar, existe uma medida de culpa para ser preenchida, antes que a completa destruição caia sobre as pessoas e as famílias, as igrejas e as nações. Deus tolera muito tempo, mas chegará a ocasião em que Ele não mais poderá suportar (Jeremias 44.22). Nós lemos sobre a medida dos amorreus que devia ser cheia (Genesis 15.16), sobre a seara da terra já madura para a foice (Apocalipse 14.15-19), e sobre os pecadores tratando perfidamente, e acabando perfidamente tratados (Isaias 33.1). Em segundo lugar, os filhos enchem a medida dos pecados dos seus pais, depois de mortos, quando persistem no mesmo comportamento. Aquela culpa nacional que traz a destruição nacional é feita do pecado de muitos, em diversas épocas, e nas sucessões das sociedades existe um placar em andamento; pois Deus adequadamente examina a iniquidade dos pais nos filhos que seguem os seus passos. Em terceiro lugar, perseguir a Cristo, e ao seu povo e aos seus ministros, é um pecado que enche a medida da culpa de uma nação mais depressa que qualquer outro. Foi isto que trouxe a ira sem remédio sobre os pais (2 Crônicas 36.16), e a máxima ira também sobre os seus filhos (1 Tessalonicenses 2.16). Essa era a quarta transgressão, da qual, quando acrescida às outras três, o Senhor “não retirará o castigo” (Amós 1.3,6,9,11,13). Em quarto lugar, é justo que Deus entregue essas pessoas aos desejos dos seus próprios corações, aquelas que tão obstinadamente persistem na gratificação desses desejos. Quanto àqueles que se precipitam à destruição, que as suas rédeas sejam enroladas aos seus pescoços, sendo esta a condição mais triste que um homem pode ter nesta vida, antes de ir para o inferno.

[2] O Senhor Jesus continua a entregá-los à destruição como irrecuperáveis, a uma destruição pessoal no outro mundo (v. 33): “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” Estas eram palavras estranhas saídas da boca de Cristo, de cujos lábios se derramava a graça. Mas Ele pode falar de terror, e o fará, e nessas palavras Ele explica e resume os oito “ais” que tinha denunciado contra os escribas e fariseus.

Aqui está, em primeiro lugar, a sua descrição: “Ser­ pentes!” Cristo dirige insultos? Sim, mas isso não nos permite fazer o mesmo. Ele sabe, infalivelmente, o que há no homem, e sabia que eles eram sutis como serpentes, abrindo caminho sobre a terra, alimentando-se de pó; eles tinham uma aparência plausível, mas interiormente eram malignos, tinham veneno sob suas línguas, a semente da velha serpente. Eles eram uma “raça de víboras”, eles e os que tinham vindo antes deles. Eles e os que os acompanhavam eram uma geração de adversários envenenados, enfurecidos e malévolos de Cristo e do seu Evangelho. Eles amavam que os homens os chamassem “Rabi, Rabi”, mas Cristo os chama de “serpentes” e “víboras”, pois Ele dá aos homens as suas reais personalidades, e se alegra de desprezar os orgulhosos.

Em segundo lugar, a sua destruição. Jesus representa a condição deles como sendo muito triste, e de certa maneira, desesperada: “Como escapareis da condenação do inferno?” O próprio Cristo pregou o inferno e a destruição, pelo que os seus ministros sempre foram censurados por aqueles que não queriam ouvir falar deste assunto. Considere que:

1. A condenação do inferno será o temido fim de todos os pecadores impenitentes. Essa condenação vinda de Cristo era ainda mais terrível do que vinda de todos os profetas e ministros que já tinham vivido, pois Ele é o Juiz em cujas mãos estão “as chaves da morte e do inferno”. Ao dizer que eles estavam condenados, Ele os estava condenando.

2. Existe uma maneira de escapar dessa condenação, e está sugerida aqui; alguns serão salvos da ira futura.

3. Dentre todos os pecadores, aqueles que têm o espírito dos escribas e fariseus são provavelmente os que menos escaparão dessa condenação. Pois o arrependimento e a fé são necessários para escapar. E como é que o arrependimento e a fé serão trazidos a essas pessoas, que têm a si mesmas em tão elevado conceito, e têm tanto preconceito contra Cristo e o seu Evangelho? Como poderão ser curados e salvos, se não podem suportar que a sua ferida seja examinada, nem que o bálsamo de Gileade seja aplicado sobre ela? Os publicanos e as meretrizes, que conheciam a sua doença e procuravam o Médico, tinham mais probabilidade de escapar à condenação do inferno do que aqueles que, embora estivessem no caminho expresso para o inferno, estavam certos de que estavam a caminho do céu.

PSICOLOHGIA ANALÍTICA

MISTÉRIOS DO LADO ESQUERDO

 Vítimas de preconceito em muitas culturas, canhotos ainda enfrentam dificuldades em um mundo feito para a maioria de destros; cientistas discutem se o uso preferencial de uma mão ou de outra é determinado socialmente ou pelos genes.

Mistérios do lado esquerdo

Os antigos videntes romanos olhavam para o norte quando realizavam seus rituais mágicos. O Leste representava sorte e bons presságios. O Oeste à esquerda, era o domínio sombrio da morte. A Bíblia diz que no dia do juízo final as boas ovelhas encontrarão abrigo na mão direita do Senhor e os pecadores ficarão do outro lado, condenados à danação eterna.

Associada, respectivamente, ao bem e ao mal, a divisão entre direita e esquerda persiste nas expressões “entrar com o pé esquerdo” é começar mal, mas ser o braço direito significa ser fiel e prestativo. Depreciamos a esquerda, graças a séculos de menosprezo por parte da maioria de destra. Em diferentes culturas há nove destros para cada canhoto. Qual a causa da desproporção? A resposta pode estar nos hemisférios do cérebro.

A probabilidade de que duas pessoas destas tenham um filho canhoto é de apenas 9,5%. As chances aumentam para 19,5% se um dos pais for canhoto e para 26% caso ambos sejam. Mas a característica também pode ser explicada pela tentativa da criança de imitar os pais. Para testar a influência genética, a bióloga Marian Annet, da Universidade de Leicester lançou em 1970 a hipótese de que nenhum gene singular determina a preferência por uma ou outra mão. Em vez disso, durante o desenvolvimento fetal, um outro fator molecular ajuda a fortalecer o hemisfério esquerdo do cérebro, aumentando a probabilidade de que a mão direita seja dominante, já que o lado esquerdo do cérebro controla o direito e vice-versa. Na minoria de pessoas que carece desse fator, a preferência se desenvolve inteiramente ao acaso.

Pesquisas realizadas com gêmeos, porém, complicam essa hipótese. Em cada cinco grupos de gêmeos idênticos um tem um canhoto e outro destro, apesar de ambos terem o mesmo material genético. Os genes não são os únicos responsáveis pela característica.

A hipótese genética também é enfraquecida pelos resultados obtidos por Peter Hepper e sua equipe da Universidade Queens, em Belfast, Irlanda do Norte. Em 2004, os psicólogos usaram o ultrassom para mostrar que na 15ª semana de gravidez os fetos já têm preferência quanto ao dedo a ser chupado. Na maioria dos casos, ela se mantém após o nascimento. Com 15 semanas o cérebro, porém, não controla o movimento dos membros. Hepper especula que os fetos tendem a preferir o lado do corpo que está se desenvolvendo mais rápido e que seus movimentos influenciam o desenvolvimento cerebral. Não se sabe se essa preferência inicial é temporária ou persiste durante o desenvolvimento e a infância.

A determinação genética também é refutada pelo fato de que as crianças não se decidem pela direita ou pela esquerda até os 2 ou 3 anos. Isso nega a desacreditada teoria de que os canhotos tenham alguma lesão cerebral (tese que alguns cientistas ainda sustentavam há apenas duas décadas). Nos anos 20, os pesquisadores apontaram uma alta incidência de canhotos entre crianças que nasceram de parto difícil. Descobriram que muitos canhotos sofriam de transtornos de aprendizado e de epilepsia e que doenças neurológicas comuns predominavam nos gêmeos: ora, estes apresentam incidência mais alta de canhotos.

Em 1982, Norman Ceschwind sugeriu que a preferência por uma das mãos era determinada pelo sistema imunológico. A ideia ocorreu-lhe quando assistia a uma conferência sobre transtornos de leitura e escrita; as pessoas afetadas apresentavam alto índice de problemas imunológicos ou enxaquecas na família. Pesquisando mais, Ceschwind descobriu que os canhotos são 2,5 vezes mais suscetíveis a alergias, problemas na escrita e na leitura, anormalidades na estrutura óssea, gagueira e doenças na tiroide, uma constelação de eleitos chamada síndrome Ceschwind. Outros pesquisadores realizaram estudos similares, mas não detectaram tais vínculos, o que pôs em dúvida a teoria do neurologista.

Mesmo que as correlações sejam verdadeiras, elas não explicam o que toma uma pessoa canhota. Além disso, a especialização de um dos lados do corpo é comum entre animais. Os gatos privilegiam uma das patas quando querem pegar algo atrás do sofá. Alguns caranguejos se movem mais com as garras da esquerda ou da direita. Do ponto de vista evolutivo, enfatizar a força e a habilidade em um dos membros é mais eficiente que treinar igualmente dois, quatro ou oito membros. Entretanto, para a maioria dos animais, a preferência por um dos lados é aparentemente aleatória. O esmagador predomínio do lado direito está associado aos humanos.

Esse fato desloca nossa atenção para os hemisférios do cérebro e a linguagem, que na maioria das pessoas está claramente sediada em um ou outro hemisfério. Talvez haja desequilíbrio entre destros e canhotos porque as funções cerebrais estão divididas de forma assimétrica. Na vida cotidiana, essa distribuição desigual não é percebida, mas cada hemisfério possui forças e fraquezas próprias.

O interesse nos hemisférios data de pelo menos 1836, ano em que o médico francês Marc Dax relatou, em uma conferência em Montpellier, uma estranha característica comum a vários de seus pacientes. Durante anos de profissão, Dax encontrou mais de 40 homens e mulheres que apresentavam dificuldades na fala e todas elas tinham alguma lesão no lado esquerdo do cérebro. Em sua conferência, Dax sustentou que cada hemisfério cerebral é responsável por certas funções e que o lado esquerdo controla a fala. Outros especialistas, no entanto, mostraram pouco interesse pelas ideias do médico.

Cada vez mais, porém, os cientistas foram descobrindo evidências de pessoas com problemas na fala em razão de lesões no hemisfério esquerdo. Pacientes com danos no lado direito tendem a apresentar problemas de percepção ou de concentração. Os principais avanços na compreensão da assimetria cerebral foram feitos nos anos 60, graças à cirurgia de seccionamento do corpo caloso (feixe de nervos que liga os dois hemisférios). Durante a operação, desenvolvida para ajudar pacientes epiléticos, os médicos cortaram o corpo caloso. A separação das partes impediu que a descarga neurológica em um lado do cérebro –  o início de uma crise epilética – se transformasse em um distúrbio que causava terríveis ataques. Mas o corte também impossibilitou quase toda comunicação normal entre os hemisférios, dando aos pesquisadores a oportunidade de investigar a atividade de cada um dos lados.

Após vários experimentos com pacientes submetidos à cirurgia, os neuro­cientistas descobriram que os dois hemisférios percebem, aprendem e recordam de forma independente, embora o tipo de processamento e o nível de desempenho variem. O lado esquerdo é especialmente poderoso nas funções analíticas, como o processamento da linguagem, ao passo que o direito está mais capacitado para realizar tarefas espaciais e musicais. O hemisfério esquerdo processa sensações e pensamentos como se fossem elementos discretos, enquanto o direito interpreta tais dados como um todo.

TRABALHO CONJUNTO

Tornou-se cada vez mais claro que as diferenças entre os hemisférios pouco significam para as pessoas sãs. Cada fragmento de informação que penetra em um lado do cérebro está disponível para o outro por meio do corpo caloso. Para as funções superiores, como o aprendizado, os dois lados funcionam conjuntamente. A principal exceção diz respeito à linguagem.

Em 1949, o neurocirurgião japonês Juhn Wada descobriu uma fórmula de investigar a organização do funcionamento cerebral da linguagem, injetando um anestésico na artéria carótida esquerda ou direita, Wada paralisou temporariamente um dos lados de um cérebro são, o que lhe permitiu estudar de modo preciso as funções do outro lado. Baseados nesse método, Brenda Milner e Teodore Rasmussen, do Instituto Neurológico de Montreal publicaram, em 1975, um estudo que confirmava a teoria que Dax formulara quase 140 anos antes, em 96% dos destros, a linguagem é processada de forma muito mais intensa no hemisfério esquerdo. A correlação, entretanto, não é tão clara para os canhotos. Para dois terços deles, o hemisfério esquerdo é também o mais ativo processador da linguagem. Mas para o terço restante, ou o lado direito é predominante ou ambos os lados funcionam de forma igual, controlando diferentes funções relacionadas à linguagem.

O dado reduziu a aceitação da noção de que o predomínio dos destros se deve à maior importância do hemisfério esquerdo no processamento da linguagem. Não é claro porque o controle da linguagem deve envolver também os movimentos corporais. Alguns especialistas acreditam que o hemisfério esquerdo controla a linguagem porque os órgãos que processam a fala – a laringe e a língua – estão posicionados no eixo de simetria do corpo. Como essas estruturas são centradas, não é óbvio, do ponto de vista evolutivo, qual lado do cérebro deve controlá-las, e parece improvável que a operação conjunta facilite a atividade motora. Detalhes fisiológicos favorecem o hemisfério esquerdo, de tal modo que um impulso advindo daí alcance mais rapidamente a corda vocal; dando ao lado esquerdo uma vantagem na produção da linguagem.

Tanto a preferência por uma das mãos quanto a fala podem ter se desenvolvido por diferentes razões. Alguns pesquisadores, como o psicólogo evolutivo Michel C. Corballis, da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, acreditam que os gestos estão na origem da linguagem. Os gestos são anteriores às palavras e ajudaram no seu surgimento. Se o hemisfério esquerdo dominou a fala, deve ter controlado também os gestos e, como ele controla o lado direito do corpo, a mão destra se desenvolveu mais.

 CRIATIVIDADE NAS MÃOS

Talvez saibamos mais em breve. Enquanto isso, podemos imaginar implicações que a preferência por uma das mãos acarreta para nossos talentos. A sabedoria popular afirma que os destros, pessoas nas quais o hemisfério cerebral esquerdo predomina, destacam-se no pensamento analítico e lógico. Os canhotos, que usam mais o hemisfério direito são considerados mais criativos e aptos para combinar as características emergentes dos dois hemisférios. Mas alguns neurocientistas sustentam que tudo isso não passa de especulação.

Leonardo da Vinci talvez seja o canhoto mais famoso. Os pesquisadores discutem sobre até que ponto essa característica orientou sua criatividade. Alguns apontam que ele tinha propensão a pintar cenas holísticas e simétricas, agrupando as pessoas em estruturas centradas e piramidais. No famoso afresco A última ceia ele arranjou os apóstolos em torno da mesa de tal forma que o observador percebe o grupo como um todo integrado. A postura dos apóstolos faz os olhos dele convergir para o meio, onde Jesus está sentado. Artistas destros como Rembrandt, ao contrário, parecem preferir estruturas mais assimétricas, agrupando, por exemplo, árvores no canto inferior esquerdo da tela e pintando uma paisagem montanhosa no direito.

Tais observações talvez sejam apenas ousadas especulações. Menciona-se especialmente a história de Alan Turing, matemático considerado o fundador da moderna teoria do computador. Alguns o apontam como o principal exemplo da visão do psicólogo Ceschwind, segundo a qual a qualidade de canhoto e a criatividade matemática associada resultam de uma disfunção do sistema imunológico. Turing era extremamente alérgico ao pólen e costumava usar máscara para se proteger quando ia de bicicleta à Universidade de Cambridge.

Poucos cientistas estão dispostos a afirmar que o fato de ser canhoto significa maior potencial criativo. Mas os canhotos prevalecem entre artistas, compositores e grandes pensadores políticos. Se essas pessoas estão entre os canhotos cujas habilidades linguísticas são uniformemente distribuídas entre os hemisférios, o intenso intercâmbio demandado poderá levar a talentos mentais fora do comum.

Talvez alguns canhotos se tornem altamente criativos apenas porque precisam ser mais inteligentes para se sair bem em nosso mundo de destros. Essa batalha, que começa nos estágios iniciais da infância, pode estabelecer o fundamento para realizações excepcionais. Assim, é provável que os canhotos com processamento bilateral da linguagem representem novo avanço evolutivo para o Homo sapiens, em que constelações criativas entre os hemisférios estão sendo testadas. Os canhotos deveriam mencionar isso da próxima vez que forem menosprezados pelos destros.

Misterios do lado esquerdo

SEU FILHO É CANHOTO?

A Natureza talvez decida se seremos canhotos ou destros, mas o meio influencia a disposição genética. A criança pode adotar mão privilegiada pelos pais, mesmo que isso seja contrário a suas inclinações genéticas.

Muitos pais desejam descobri que mão o filho privilegia e acreditam que podem fazê-lo desde cedo observando o modo pelo qual a criança estende o braço para pegar objetos ou segura uma colher. Mas é fácil se equivocar. As crianças às vezes experimentam com uma mão durante um tempo, depois com a outra. Os especialistas dizem que só aos 2 ou 3 anos um dos lados é favorecido de forma consistente. Algumas crianças permanecem ambidestras até os 5 ou 6 anos e só então escolhem um dos dois.

 

DETLEF B. LINKE – é professor de neurofisiologia clínica e de reabilitação neurocirúrgica da Universidade de Bonn, Alemanha.

SABINE KERSEBAUM – é canhota e editora de Gehim & Geist

OUTROS OLHARES

SEU MASCOTE NA ERA DIGITAL

Aplicativos que facilitam a rotina de quem tem pet chegam para disputar um mercado de R$19 bilhões.

Seu mascote na era digital

Com uma população de cães domésticos estimada em 52 milhões, o Brasil é hoje o terceiro maior mercado de produtos pet do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Remo Unido. O faturamento do setor em 2016 foi de R$18,9 bilhões – o que equivale a um gasto médio de R$300 por mês para cada mascote, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação). Até bem pouco tempo, as compras se limitavam às lojas físicas especializadas – que entre 2014 e 2016 cresceram 80% apenas na cidade de São Paulo, saltando de 726 para 1298 estabelecimentos. Apesar das cifras que movimenta, o segmento demorou para entrar na era digital. Exceto as grandes redes, com seus próprios sites, há no País mais de 50 mil pet shops que não contam com estrutura de venda ou entrega em domicílio.

Foi de olho nessa oportunidade que o libanês radicado no Brasil Rabih Hanna investiu na criação do Dot Pet, uma plataforma recém-lançada que conecta o dono do animal a praticamente tudo o que o pet precisa. É possível comprar ração, medicamento, roupas, brinquedos, agendar banho e tosa, vacinação, consulta no veterinário e aulas com o adestrador. “Eles podem colocar seus produtos e serviços na nossa plataforma digital”, diz Hanna.

A fotógrafa Leda Rodrigues já descobriu a comodidade dos sites para cuidar de Prince, border collie de 4 anos. “Compro quase tudo pela internet. É muito mais prático: pesquiso preço, pago com cartão e recebo em casa, sem ter que sair para fazer as compras”, afirma.

 TRADUTOR DE LATIDOS

Enquanto o comércio eletrônico para pets avança, os aficionados por tecnologia começam a descobrir aplicativos para smartphones que facilitam a rotina de quem tem animal doméstico, caso do Pet Phone e do MyPets – PetManager. Ambos foram criados para organizar informações sobre os bichos de estimação, permitindo armazenar dados sobre medicações e consultas realizadas, salvar os números de telefones de veterinários e até alertas para vacinas. Para tornar ainda mais divertida a interação com os bichos, há aplicativos com funções que vão desde o mapeamento dos passeios diários, como faz o MapMyDogWalk (gratuito para IOS e Android) até a “tradução” dos latidos, uma brincadeira proposta pelo app Tradutor de Cães, disponível para IOS e também gratuito. É o app do au au.

GESTÃO E CARREIRA

O LADO BOM DA CRISE

Os anos difíceis de crise exigem o desenvolvimento de habilidades que serão cada vez mais requisitadas pelo mercado. Descubra quais são e como usá-las para crescer profissionalmente.

O lado bom da crise

A crise sempre tem um legado positivo. E um deles é o desenvolvimento de competências que, muitas vezes, são exigidas na marra. De repente, é preciso ser ainda mais produtivo, inovador e resiliente para enfrentar o momento difícil, fazer mais com menos e entregar resultados excepcionais. O lado bom dessa terapia de choque é que os profissionais conseguem acumular novos conhecimentos que representarão uma vantagem competitiva nos momentos de bonança – que podem demorar, mas ainda virão. Confira a seguir algumas competências que ganharam mais relevância nos últimos anos e podem fazer a diferença para quem quiser crescer e aproveitar oportunidades que surgirão.

 INOVAÇÃO

A inovação, que já era importante, em tempos de crise virou exigência em todas as áreas. “É preciso antecipar o que pode dar errado e romper padrões paradigmas que já não servem mais”, diz Sérgio Gomes, sócio da Ockam, consultoria de transformação organizacional, de São Paulo. Primeiro, descubra quais são os problemas em sua área; depois, busque a causa; e, então, proponha inovações para resolvê-los, mas não sozinho. Em um cenário de mudanças, junte-se a pessoas com habilidades e competências diferentes para estimular a colaboração, o compartilhamento de ideias e o potencial criativo de cada um. Assim fica mais fácil encontrar as melhores soluções.

 INSPIRAR PESSOAS

Essa competência é essencial para lidar com uma demanda geral: fazer mais com menos. “Hoje, com poucos recursos, quem é líder deve ter em mente que, se os empregados fizerem apenas o mínimo, o time poderá ficar para trás. Mas, quando os funcionários estão engajados, entregam o máximo possível mesmo em condições distantes do ideal, o que não é obrigatório, é voluntário”, afirma Sérgio. Quem inspira as equipes são os gestores que colocam a mão na massa e mostram aos liderados porque cada um deles é importante para que a empresa atinja seus grandes objetivos. “Essa conexão, quando é profunda, verdadeira e bem conduzida, inspira a todos”, diz Sérgio.

ENTENDER AMBIGUIDADES

Ambiguidades é uma mensagem que desperta dúvidas. No universo corporativo, se refere a complexidade que dificultam a tomada de decisão e exigem grandes habilidades dos profissionais – os quais, na crise, aprenderam a caminhar no escuro. Nessas situações, é necessário manter o foco no presente e definir prioridades, deixando de lado metodologias do passado. O dia a dia pode trazer previsões que, muitas vezes, nenhuma pesquisa imaginou. Por isso, quando tomar uma decisão, pense nos aspectos contraditórios da situação que você está enfrentando, analise as probabilidades e entenda que nem sempre terá todas as respostas.

ATITUDE DE DONO

Trabalhar como se fosse o dono do negócio é importante em períodos incertos, pois, além de assumir responsabilidade, o profissional com perfil empreendedor costuma motivar os colegas e buscar novas soluções para os problemas, de modo a tornar a organização competitiva. “É importante ter a capacidade de assumir e cumprir os compromissos e objetivos propostos e acordados”, diz Denys. Para isso é preciso analisar cenários e buscar novas oportunidades.

 FLEXIBILIDADE

Alguns são mais dispostos a aceitar novas atribuições e a enfrentar mudanças, outros não. Nessa onda de corte de custos e de readequação de equipes, tarefas foram acumuladas e os profissionais se adaptaram ao novo cenário e se destacaram. “Quem tiver a capacidade de se ajustar as novas situações e as novas responsabilidades certamente terá mais chance de ser reconhecido, principalmente se garantir a concretização dos objetivos,” afirma Denys.

AUTOGESTÃO

Essa habilidade diz respeito ao conhecimento dos próprios pontos fortes e fracos. É com base nessa consciência que os profissionais ficam motivados, se disciplinam, cobram e se avaliam. Na crise, ter consciência de suas fortalezas e limitações ajuda a atuar de maneira inteligente, cercando-se de pessoas que completam suas deficiências. Ao admitir que não somos suficientes em determinada área nem excelente em outra é uma das qualidades de profissionais desse tipo – algo necessário na crise e na bonança.

PRIORIZAÇÃO DE TAREFAS

A recessão trouxe as empresas ao encontro de dois opostos: a meta de crescimento e a busca da redução de custos. Os profissionais tiveram de se adaptar a essa realidade e desenvolver a priorização de tarefas. Felipe Battistela, de 42 anos, diretor de pós-vendas do Grupo Volvo américa latina, em Curitiba, faz esse exercício. “Precisei de mais rigidez na definição das prioridades, o que, aliás, tem sido um processo contínuo de mudança na forma de trabalhar”, diz. “Aprenda a priorizar as atividades que, de fato, serão utilizadas por alguém e que trarão melhores resultados, sejam eles financeiros ou de satisfação dos clientes”. Para isso, o executivo costuma questionar bastante. “Só assim é possível saber se aquela tarefa ainda é relevante. Afinal, o ambiente de negócios pode ter mudado.”

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Se controlar as emoções já é difícil durante a bonança, tudo piora em meio a crise. Para lidar com isso, é preciso inteligência emocional – competência muito valorizada porque traz uma dimensão humana para a solução dos problemas. “As pessoas sofreram com as incertezas políticas, a inflação, o desemprego, as demissões, os ajustes – no meio disso tudo, fez melhor quem não deixou o moral cair”, diz Denys Monteiro, CEO no Brasil da ZRG Partner, empresa de recrutamento executivo. Para desenvolver essa habilidade, tente não se abater com os cenários sombrios, pense positivo e seja assertivo para impor limites aos outros.

RESILIÊNCIA

Essa é a capacidade de superar adversidades sem ser afetado de modo negativo e permanente, uma competência que surge e se desenvolve em situações difíceis. “As pessoas conseguem manter a eficiência em momentos de estresse”, afirma Denys. Antecipar tendências, conhecer a dimensão dos problemas, entender que imprevistos acontecem e aproveitar os momentos instáveis para transforma-los em oportunidades de aprendizagem são práticas indicadas para desenvolver essa habilidade.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE II

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Os Crimes dos Fariseus

IV – O fato de procurarem os seus próprios benefícios mundanos e a sua própria honra, mais que a glória de Deus, os colocava cunhando uma distinção falsa e não justificável, com a qual eles conduziam as pessoas a enganos perigosos, particularmente na questão dos juramentos; o que, como uma evidência de um sentido universal de religião, era, por todas as nações, considerado sagrado (v. 16): “Condutores cegos!” Observe que:

1. É triste pensar em quantos estão sob a orientação de pessoas que são, elas mesmas, cegas, que se responsabilizam por mostrar aos outros aquele caminho que elas mesmas, voluntariamente, ignoram. Todos “os seus atalaias são cegos” (Isaias 56.10), e muito frequentemente as pessoas adoram que seja assim, e dizem a quem vê: Não vejam. Mas a situação piora quando os líderes do povo o conduzem ao erro (Isaias 9.16). 2. Embora seja muito triste a situação daqueles cujos guias são cegos, a dos próprios guias cegos é ainda mais lamentável. Cristo profere um “ai” para os guias cegos, que têm de responder pelo sangue de tantas almas.

Para provar a cegueira deles, Ele fala especificamente da questão dos juramentos, e mostra que eles eram uns casuístas corruptos.

(1) Ele apresenta a doutrina que eles ensinavam.

[1] Eles permitiam juramentos por criaturas, desde que estivessem consagradas ao serviço de Deus e tivessem um relacionamento especial com Ele. Eles permitiam juramentos pelo templo e pelo altar, que, embora fossem obras das mãos dos homens, eram destinados a ser instrumentos para a honra de Deus, e eles, como humanos, não poderiam compartilhar dela. Um juramento é um apelo a Deus, à sua onisciência e justiça; e fazer este apelo a qualquer criatura é colocar essa criatura no lugar de Deus. Veja Deuteronômio 6.13.

[2] Eles faziam diferença entre um juramento “pelo templo” e um juramento “pelo ouro do templo”; um juramento pelo altar e um juramento pela oferta sobre o altar; faziam os últimos obrigatórios, mas não os primeiros. Aqui havia uma dupla maldade. Em primeiro lugar, havia alguns juramentos que eles dispensavam e dos quais faziam pouco, e reconheciam que um homem não era obrigado a afirmar a verdade nem cumprir uma promessa. Eles não deveriam jurar pelo Templo nem pelo altar, mas, se jurassem, seriam enganados pelas palavras da sua boca. Uma doutrina que infringe as regras da fé em algum aspecto ou ocasião não pode ser uma doutrina do Deus da verdade. Os juramentos são instrumentos afiados, e não se deve brincar com eles. Em segundo lugar, eles preferiam o ouro ao Templo, e a oferta ao altar, para incentivar as pessoas a trazerem ofertas ao altar, e ouro aos tesouros do Templo, com o que eles esperavam lucrar. Aqueles que tinham feito do ouro a sua esperança, e cujos olhos estavam cegos pelas ofertas em segredo, eram grandes amigos do Corbã, e sendo o lucro a sua santidade, por meio de mil artifícios eles faziam a religião submeter-se aos seus interesses mundanos. Os guias corruptos fazem as coisas serem pecados ou não, conforme servirem aos seus objetivos, e colocam uma ênfase muito maior naquilo que diz respeito ao seu próprio ganho do que naquilo que é para a glória de Deus e para o bem das almas.

(2)  O Senhor mostra a tolice e o absurdo dessa diferença (vv. 17-19): “Insensatos e cegos!”. É no sentido de uma repreensão necessária, e não uma repreensão irada, que Cristo os chamou de insensatos. Deve nos bastar a palavra de sabedoria para mostrar a tolice das opiniões e dos procedimentos pecaminosos. Mas quanto à atribuição do caráter de pessoas em particular, deixemos isso a Cristo, que conhece o que há no homem, e nos proibiu de chamar alguém de “louco”, ou seja, de insensato.

Para condená-los por sua insensatez, Jesus pergunta aos escribas e fariseus, “qual é maior: o ouro [os vasos e ornamentos de ouro, ou o ouro do tesouro] ou o templo, que santifica o ouro…, a oferta ou o altar, que santifica a oferta?”. Qualquer pessoa diria – Tudo deve ser qualificado da maneira como as coisas são qualificadas, e com a intensidade adequada. Aqueles que juravam pelo ouro do Templo o encaravam como sendo sagrado. Mas o que é que o tornava sagrado, exceto a santidade do Templo, para cujo serviço ele era apropriado? E por isso o Templo não pode ser menos sagrado do que o ouro, mas deve ser mais sagrado; pois “o menor é abençoado pelo maior” (Hebreus 7.7). O Templo e o altar eram definitivamente dedicados a Deus, o ouro e as ofertas, apenas secundariamente. Cristo é nosso altar (Hebreus 13.10), nosso templo (João 2.21); pois é Ele que santifica todas as nossas ofertas e as considera agradáveis (1 Pedro 2.5). Aqueles que colocam as suas próprias obras no lugar da justiça de Deus, na justificação, são culpados dos absurdos dos fariseus, que preferiam a oferta ao altar. Cada cristão fiel é um templo vivo, e em virtude disso as coisas comuns são santificadas a ele: “todas as coisas são puras para os puros” (Tito 1.15), e “o marido descrente é santificado pela mulher” (1 Coríntios 7.14).

(3)  Ele corrige o engano (vv. 20-22) reduzindo todos os juramentos que eles tinham inventado ao verdadeiro objetivo de um juramento, que é expressar algo em nome do Senhor. Desse modo, um juramento pelo Templo, ou pelo altar, ou pelo céu, será formalmente mau, mas ainda assim obrigará a pessoa que jurar. Compromissos que não deveriam ter sido assumidos, ainda assim, quando feitos, são obrigatórios. Um homem nunca irá se beneficiar do seu próprio erro.

[1] Aquele que jura pelo altar, não deve pensar em remover a obrigação do juramento, dizendo: “O altar é apenas madeira, e pedra, e bronze”, pois o seu juramento será interpretado mais fortemente contra si mesmo, porque ele era culpável, e a obrigação do juramento será preservada; a obrigação é fortalecida, e não destruída. Portanto, um juramento pelo altar será interpretado como um juramento não só pelo altar, mas por todas as coisas que fazem parte dele. Pois os direitos são transmitidos juntamente com o principal. Jurar pelas coisas que são oferecidas a Deus sobre o altar é o mesmo que chamar o próprio Senhor Deus como testemunha, pois trata-se do altar de Deus; e aquele que vai ao altar, vai a Deus (Salmos 43.4; 26.6).

[2] Aquele que jura pelo Templo, se compreender o que está fazendo, não pode deixar de compreender que a base para o respeito ao Templo não é a beleza do Templo, mas o fato de o Templo ser a casa de Deus, dedicada ao seu serviço, o lugar em que Ele escolheu colocar o seu nome. Portanto, quando alguém jura pelo Templo, está jurando por aquele que ali habita. Ali Ele se agradou de uma maneira peculiar, para manifestar-se, e dar sinais da sua presença, de modo que aquele que jurar pelo Templo, jura por aquele que disse: “Este é o meu repouso… aqui habitarei”. Os bons cristãos são templos de Deus, o Espírito de Deus habita neles (1 Coríntios 3.16; 6.19), e Deus assume o que é feito a eles como sendo feito a si mesmo. Aquele que entristece uma alma graciosa, entristece também o Espírito que nela habita (Efésios 4.30).

[3] Se um homem jura pelo céu, ele peca (cap. 5.34), mas não será liberado da obrigação do seu juramento. Não. Deus o fará saber que o céu por que ele está jurando é o seu trono (Isaias 66.1); e aquele que jura pelo trono, apela para aquele que está assentado sobre ele. Da mesma maneira como Ele se ressente da afronta que lhe é feita sob a forma do juramento, certamente também irá vingar a afronta maior que lhe é feita pela violação do juramento. Cristo não permite a evasão de um juramento solene, por mais plausível que seja.

 

V – Eles eram muito rígidos e precisos nos menores detalhes da lei, mas descuidados e relaxados nas questões mais importantes (vv.23,24). Eles eram “parciais na aplicação da lei” (Malaquias 2.9, versão RA), escolhiam o seu dever segundo estivessem interessados ou fossem afetados. A obediência sincera é universal, e aquele que, com um princípio correto, obedece a qualquer dos preceitos de Deus, terá respeito a todos eles (Salmos 119.6). Mas os hipócritas, que agem na religião por si mesmos, e não por Deus, não farão mais na religião do que servir a si mesmos. A parcialidade dos escribas e fariseus aparece

aqui, em dois exemplos:

1. Eles observavam os deveres menores, mas omitiam os maiores; eles eram muito precisos no pagamento de dízimos, pagando até mesmo os da “hortelã, do endro e do cominho”, cuja exatidão não lhes custaria muito. Assim apregoavam a sua própria justiça. Os fariseus se orgulhavam disso, dizendo: “Dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18.12). Mas é provável que eles tivessem os seus próprios fins para servil e encontrassem nestes a sua própria satisfação; pois os sacerdotes e os levitas, a quem os dízimos eram entregues, estavam defendendo os seus próprios interesses, e sabiam quando e como retribuir as gentilezas recebidas. Pagar dízimos era a sua obrigação, e o que a lei exigia. Cristo lhes diz que eles não devem deixar de fazer isso. Observe que todos devem, em suas posições, contribuir para o sustento e a manutenção de um ministério permanente; reter os dízimos é roubar a Deus (Malaquias 3.8-10). Aqueles que são instruídos na Palavra, e não transmitem àqueles que os ensinam que amam um “evangelho barato”, são até mesmo piores que os fariseus.

Mas aquilo de que Cristo os condena aqui é o fato de eles desprezarem as questões mais importantes da lei, “o juízo, a misericórdia e a fé”; e a sua disposição de pagar os dízimos era, se não uma reparação diante de Deus, pelo menos uma desculpa com o objetivo de mitigar aos homens a omissão naquelas questões. Todas as coisas da lei de Deus são importantes, porém as mais importantes são aquelas que mais expressam a santidade interior no coração – é nos exemplos de renúncia a si mesmo, de desprezo pelo mundo, e de resignação a Deus que está a vida da religião. Juízo e misericórdia em relação aos homens e a fé em relação a Deus são as questões mais importantes da lei, as coisas boas que o Senhor nosso Deus exige de nós (Miqueias 6.8): “Que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques ajustiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” Esta é a obediência que é melhor do que o sacrifício ou o dízimo; o juízo é preferível ao sacrifício (Isaias 1.11). Ser justo com os sacerdotes no seu dízimo, e trapacear e enganar a todos os demais, é apenas zombar de Deus, e enganar a nós mesmos. A misericórdia também é preferível ao sacrifício (Oseias 6.6). Alimentar aqueles que engordam com a oferta ao Senhor e, ao mesmo tempo, fechar as entranhas da compaixão a uma irmã ou irmão que está nu e privado do alimento diário, pagar o dízimo da hortelã ao sacerdote e negar uma migalha a Lázaro é ficar aberto àquele julgamento sem misericórdia, que é a recompensa daqueles que pretenderam julgar, e não mostraram misericórdia; nem o julgamento e a misericórdia irão servir sem a fé na revelação divina; pois Deus deseja ser honrado nas suas verdades, bem como nas suas leis.

2. Eles evitavam pecados menores, mas cometiam os maiores (v. 24): “Condutores cegos!” Assim Jesus os tinha chamado antes (v. 16), pelos seus ensinamentos corruptos; aqui Ele os chama assim pela sua vida devassa, pelo exemplo que estavam dando, assim como pela sua doutrina; e nisto também eles eram cegos e parciais: “Coais um mosquito e engolis um camelo”. Na sua doutrina, eles coavam mosquitos, advertindo as pessoas contra as menores violações da tradição dos anciãos. Na sua prática, eles coavam mosquitos, arremessados contra eles, com um aparente temor, como se detestassem enormemente o pecado, e tivessem medo dele, em última instância; mas eles não criavam problemas com aqueles pecados que, em comparação, eram como um camelo em relação a um mosquito – quando eles devoravam as casas das viúvas, eles realmente engoliam um camelo; quando deram a Judas o preço do sangue inocente, e ainda tiveram escrúpulos de colocar o dinheiro devolvido no tesouro (cap. 27.5); quando não entraram na audiência, por medo de serem contaminados, mas ficaram à porta e gritaram contra o santo Jesus (João 18.28); quando discutiam com os discípulos, por comerem com as mãos por lavar, e para cumprir o Corbã, ensinavam as pessoas a infringir o quinto mandamento. Eles coavam mosquitos, ou coisas menores, e engoliam camelos. Não é o receio de um pequeno pecado que Cristo reprova aqui; se é um pecado, ainda que seja apenas um mosquito, deve ser coado. Mas Cristo reprova o fato de que faziam isto e então engoliam um camelo. A hipocrisia aqui condenada consiste em ser supersticioso nas menores questões da lei e ser profano nas maiores.

 

VI –  Eles eram dedicados a uma religiosidade exterior, e não a uma religiosidade interior. Eles eram mais desejosos e solícitos para parecer piedosos aos homens do que para obter uma aprovação junto a Deus. Isto é exemplificado por duas coisas semelhantes.

1; Eles são comparados a um recipiente que está limpo do lado de fora, mas todo sujo por dentro (vv. 25,26). Os fariseus mesclavam a religião com aquilo que, na melhor hipótese, era apenas uma questão de decência, como, por exemplo, a limpeza dos copos (Marcos 7.4). Eles tinham o cuidado de comer as suas refeições em copos e pratos limpos, mas não se preocupavam com o fato de conseguirem o seu alimento por extorsão, e, diga-se de passagem, pelas maiores extorsões possíveis. Que tolice seria para um homem lavar somente o exterior de um copo, que será olhado, deixando sujo o interior, que será usado; assim fazem aqueles que somente evitam pecados escandalosos, que manchariam a sua reputação entre os homens, mas se permitem uma maldade de coração, que os torna odiosos ao Deus puro e santo. Com referência a isso, observe:

(1)  O costume dos fariseus. Eles limpam o exterior. Naquilo que poderia ser observado pelo povo, eles pareciam muito exatos, e realizavam as suas intrigas maldosas com tamanha habilidade, a ponto de a sua maldade não levantar suspeitas; as pessoas geralmente os consideravam como homens bons. Mas por dentro, nos recessos dos seus corações e na intimidade das suas vidas, eles estavam cheios “de rapina e de iniquidade”; de violência e libertinagem, isto é, injustiça e intemperança. Embora pudessem parecer devotos, não eram nem equilibrados nem justos. O seu íntimo era verdadeiras maldades (Salmos 5.9); somos realmente aquilo que somos interiormente.

(2)  A regra que Cristo dá, em oposição a esse costume (v. 26), é dirigida aos cegos fariseus. Eles pensavam que eram os que viam na terra, mas (João 9.39) Cristo os chama de cegos. Note que, na opinião de Cristo, são cegos aqueles que (por mais que enxerguem bem em outras coisas) são estranhos, e não inimigos, à maldade dos seus próprios corações; que não veem, e não odeiam o pecado secreto que habita ali. A ignorância de si mesmo é a ignorância mais vergonhosa e prejudicial (Apocalipse 3.17). A regra é: “Limpa primeiro o interior do copo e do prato”. O principal cuidado de cada um de nós deveria ser lavar os nossos corações da malícia (Jeremias 4.14). Note que o principal de um cristão está no seu interior, e ele deve estar limpo da sujeira do espírito. Afetos e tendências corruptos, os desejos secretos que se escondem na alma, sem ser vistos e observados, estes devem ser mortificados e dominados em primeiro lugar. Os pecados que sondam o coração, dos quais o olho de Deus é apenas uma testemunha, devem ser conscientemente evitados.

Observe o método prescrito: “Limpa primeiro o interior”; não apenas o interior, mas este primeiro. Se for tomado o devido cuidado a este respeito, o exterior também ficará limpo. Motivos externos e incentivos podem manter limpo o exterior, enquanto o interior está sujo. Mas se a graça renovadora e santificadora limpar o interior, isto terá uma influência sobre o exterior, pois o princípio que comanda o ser está no interior. Se o coração estiver bem limpo, tudo está bem, pois dele procedem as saídas da vida; as erupções serão eliminadas naturalmente; se o coração e o espírito se renovarem, haverá uma renovação de vida; aqui, portanto, cada um de nós deve começar consigo mesmo; primeiramente, devemos limpar o que está dentro de nós. Somente após esta etapa é que seremos realmente bem-sucedidos.

2. Eles são comparados a “sepulcros caiados” (vv. 27,28).

(1)  Eles são bonitos por fora, como os sepulcros, “que por fora realmente parecem formosos”. Alguns interpretam isto como uma referência ao costume dos judeus de caiar os sepulcros, somente para chamar a atenção sobre eles, especialmente se estiverem em lugares incomuns, para que as pessoas os evitem, por causa da contaminação cerimonial contraída ao tocar um sepulcro (Números 19.16). E fazia parte da incumbência dos supervisores dos caminhos reparar essa caiação quando estivesse decaindo. Os sepulcros eram, assim, visíveis (2 Reis 23.16.17). A formalidade dos hipócritas, pela qual eles estudam para serem elogiados pelo mundo, apenas faz com que os homens sábios e bons tomem mais cuidado para evitá-los, por medo de serem contaminados por eles. “Guardai-vos dos escribas” (Lucas 20.46). Na verdade, isto é uma alusão ao costume de caiar os sepulcros das pessoas importantes, para seu embelezamento. Está dito aqui (v. 29) que os escribas e fariseus adornavam “os monumentos dos justos”; assim como para nós é usual erigir monumentos sobre os sepulcros das pessoas importantes, e espalhar flores sobre os túmulos de amigos queridos. Mas a justiça dos escribas e dos fariseus era como os adornos de um sepulcro, ou o vestir de um cadáver, somente para exibição. O ponto alto da sua ambição era parecer justos diante dos homens e ser aplaudidos e admirados por eles. Mas:

(2)  Eles eram sujos por dentro, como os sepulcros, “cheios de ossos de mortos e de toda imundícia”. Tão vis são os nossos corpos quando a alma os abandona! Assim estavam eles, “cheios de hipocrisia e de iniquidade”. A hipocrisia é a pior de todas as iniquidades. É possível que aqueles que têm os corações cheios de pecado tenham a vida livre de culpas, e pareçam ser muito bons. Mas de que irá nos ajudar ter a boa palavra dos nossos companheiros servos, se o nosso Mestre não disser: “Bem está?” Quando todos os outros sepulcros estiverem abertos, o interior desses sepulcros caiados será visto, e os ossos dos mortos, e toda a imundícia, serão trazidos para fora e expostos diante do exército do céu (Jeremias 8.1,2). Pois chegará o dia em que Deus irá julgar, não as exibições, mas os segredos dos homens. E será de pouco consolo, para aqueles que têm a sua parte com os hipócritas, lembrarem-se da maneira louvável e plausível como foram para o inferno, aplaudidos por todos os seus conhecidos.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ARREDIOS E GENIAIS

Dificuldade na interação social e tendência a comportamento repetitivo caracterizam a síndrome de Asperger. Portadores desse tipo de autismo, porém, têm inteligência e habilidades lógico-matemáticas notáveis.

Arredios e geniais

Por favor, não se cure. Soa pelo menos insólito o pedido dos alunos de um instituto em Nova York. Tão insólito a ponto de ter merecido um artigo no New York Times, jornal que acolheu os protestos de um grupo de adolescentes em que foi diagnosticada a síndrome de Asperger e outras formas do que os textos de psiquiatria definem como “transtornos do espectro autístico”.

A definição é recusada pelos jovens americanos portadores de Asperger, para os quais o seu modelo de raciocínio é simplesmente um modo diferente de pensar. “As nossas dificuldades não nascem de nós, mas da sociedade”, afirmam os adolescentes entrevistados pelo jornal nova-iorquino. E pedem que as escolas estimulem as suas capacidades intelectuais para ajudá-los a viver como os outros: os chamados normais ou “neurotípicos”, como os define, de forma polêmica parte da comunidade autística.

Não se trata de um protesto isolado: nos países anglo-saxões, nasceram associações como a Autistic Liberation Front, que propõe defender a dignidade dos cidadãos autistas, e sites que coordenam iniciativas contra as discriminações denunciadas por muitos deles.

A mobilização é, sobretudo, de portadores de Asperger ou “autistas high functioning, isto é, pessoas em que os traços característicos do autismo não são acompanhados por deficiências mentais, e que, não obstante, algumas dificuldades em manejar os códigos comunicativos “normais”, estão em condições de se fazer ouvir e entender. E de estudar com proveito: é para esses estudantes brilhantes e um pouco especiais, de fato, que estão aparecendo, nos Estados Unidos, escolas projetadas para oferecer ambiente didático estruturado e atividades de apoio na socialização, que é para eles o obstáculo mais difícil de superar.

A síndrome de Asperger recebeu seu nome de um pediatra vienense que, em 1944, descreveu pela primeira vez um grupo de crianças que mostravam alguns traços autísticos – dificuldade de interação social, falta de jeito, tendência a comportamentos repetitivos e estereotipados -, não associados, porém, com retardo mental, os adolescentes com Asperger têm em geral uma inteligência notável, superior à média particularmente nas disciplinas lógico-matemáticas.

Mas foram necessários 50 anos para que a síndrome de Asperger encontrasse lugar no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV). E mesmo hoje a diferença entre Asperger e autismo high functioning precisa ser mais bem explicada, ainda que os dois distúrbios estejam classificados de maneira distinta. “Daqui a alguns anos, provavelmente estaremos em condições de operar uma distinção com base nas alterações genéticas e na estrutura cerebral, mas por ora os limites entre ambos são bastante nebulosos, explica Paolo Curatolo, professor de neuropsiquiatria infantil na Universidade de Roma.

Torna ainda mais confusa a situação a grande variedade de sintomas que caracterizam esses distúrbios, cuja incidência parece estar crescendo, provavelmente devido a uma maior precisão nos diagnósticos, segundo as estatísticas, uma pessoa em cada 250 sofreria da síndrome.

Mas onde fixar fronteira entre patologia e modo de ser? A polêmica não é nova: “Pensem nos canhotos, que até há alguns anos, eram corrigidos, ou nos homossexuais, que por séculos foram considerados doentes”, dizem muitos portadores de Asperger. “O artigo publicado no New York Times é provocativo e descreve uma realidade muito diversa da nossa, mas enfrenta um problema importante: alguns dos distúrbios de que sofrem as pessoas com Asperger, como a depressão, podem ser causados ou pelo menos atenuados, pela atitude da sociedade e pelo fato de que essas pessoas se percebem como inadequadas em relação ao que lhe é exigido, sublinha Curatolo.

Ser reconhecido corno portador de Asperger proporciona uma explicação plausível para excentricidades e dificuldades, o que facilita a aceitação por parte da sociedade. Mas pode significar também ser submetido a terapias não desejadas que alguns consideram uma verdadeira violência.

O grande problema ainda é difundir o conhecimento da síndrome, pouco conhecida mesmo no ambiente médico. Muitos adultos com Asperger não sabem que são portadores da síndrome. Professores e alunos frequentemente não têm orientação para lidar com os problemas que surgem na escola. “A variedade dos distúrbios de desenvolvimento e a dificuldade do diagnóstico podem levar a se pôr no mesmo caldeirão situações muito diversas, nota o médico Paolo Cornáglia Ferraris, autor de Asp, Asper, Asperger, livro em que uma criança “como todas as outras, mas não bem igual-igual’, conta em primeira pessoa o  desafio de viver com um distúrbio de relacionamento que tem a ver com a dificuldade de regular os órgãos de percepção. Os portadores de Asperger sofrem, de fato, de uma espécie de hipersensibilidade sensorial e emotiva que torna difícil inserir-se num ambiente apinhado, barulhento ou iluminado, como se qualquer forma de comunicação tivesse um volume muito alto para ser tolerado.

VIDA DE ASPIE

Entre normalidade e deficiência há um limite sutil que pode depender de muitas variáveis, como o contexto familiar ou o ambiente escolar. São as circunstâncias que permitem a um adolescente com Asperger desenvolver a inteligência que, aliada a uma incansável dedicação às matérias preferidas, pode ajudá-lo a abrir caminho para a sociedade e para ele próprio aceitar o seu comportamento. Num contexto diverso, o mesmo adolescente poderia ser rotulado como deficiente antes de ter a possibilidade de mostrar seu valor. O mesmo vale para os adultos. Há portadores de Asperger que passaram toda a vida sem um diagnóstico, aprendendo a conviver com suas estranhezas. Outros casos são mais dramáticos, e há quem viva à margem do convívio social.

“Não existe o branco ou o preto, uma linha de demarcação precisa entre uma personalidade normal e uma patológica”, sustenta Temple Gradin, a professora autista que se tornou famosa ao ter sua história contada por Oliver Sacks em Um Antropólogo em Marte.

O DSM-IV, porém, busca traçar um limite: os diversos sintomas representam uma síndrome quando começam a comprometer seriamente uma área importante da vida, como o trabalho ou as relações afetivas e sociais. Mas são mesmo os sintomas que constituem o problema? É difícil dizer se são nossas ‘fixações’ que tornam difíceis nossas relações com os outros ou se a dificuldade de se comunicar faz com que nos concentremos no que fazemos de melhor, observa um adolescente com Asperger. E, segundo um adolescente portador de Asperger, “a nossa sociedade, tão baseada na comunicação, nos leva a ver com suspeita quem tem problemas de relacionamento e a rotular como doentes pessoas que, no passado, teriam sido consideradas talvez esquisita, ou apenas solitárias, mas, ao menos eram aceitas”.

“A meu ver, a síndrome de Asperger é somente um diferente modelo cognitivo, que comporta forte tendência à sistematização e certa dificuldade em estabelecer relações empáticas com os outros”, explica Simon Baron-Cohen, diretor do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge. “Acredito que a sociedade poderia se esforçar para ser mais tolerante no contato com esses indivíduos, aprendendo a valorizar suas capacidades e a não estigmatizar os seus limites!’

É sempre grande o risco de descuidar de quem verdadeiramente necessita de ajuda. Nos Estados Unidos, associações como a Asperger Liberation Front são duramente criticadas por pais de crianças com distúrbios de desenvolvimento, os quais gostariam de conduzir seus filhos, o quanto for possível, à normalidade.

Perduram questões básicas, mesmo para as pessoas com Asperger a solidão pode ser um peso, e também para elas a inserção no mundo do trabalho é necessária para garantir não só a indispensável autonomia econômica, mas também importante estímulo intelectual. “Muitos portadores sofrem de depressão causada precisamente pela dificuldade de estabelecer relações com os outros, especialmente a partir da adolescência”, explica Curatolo. Assim, se não existem terapias para a síndrome – e ainda se discute se ela é uma doença -, muitos portadores de Asperger devem tomar medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos para reduzir agitações, distúrbios obsessivos e fobias que nascem da dificuldade de se confrontar com o ambiente.

NO LIMIAR DO GÊNIO

Ao mesmo tempo a síndrome de Asperger exerce um certo fascínio na opinião pública. Diversos estudiosos identificaram traços de Asperger em alguns grandes nomes do passado, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Ludwig Witgenstein e Albert Einstein. E mesmo Bill Gates, segundo alguns mostraria característicos traços da síndrome, não apenas certo embaraço social e grande habilidade com a informática, mas também o hábito de balançar discretamente o corpo de um lado a outro. No mundo da ficção científica, doutor Spock, o sábio vulcaniano de orelhas pontudas de Jornada nas Estrelas, apresenta algumas características de Asperger, racionalidade extrema e incapacidade de apreciar as convenções sociais. A dedicação obsessiva e uma boa dose de misantropia tornam potenciais vítimas de Asperger investigadores famosos como Sherlock Holmes ou Gil Grissom, protagonista do seriado CSI Las Vegas.

No entanto, no mundo dos aficionados pela informática, a Aspi, – o termo familiar com que se auto definem os portadores – tornou-se quase um sinônimo de geek (ou, como se diz no Brasil, cdf). Tanto que, atualmente, são vendidas camisetas e xícaras de café ou mouse pads com escritos como “Adultos com Asperger, não queremos a cura (não aquela que alguém tenha escolhido por nós)”. Enquanto isso. nos sites sobre Aspies, multiplicam-se as “instruções de uso” para falar com os outros, os chamados “normais”: aprenda o que é metáfora; pergunte como vai a um estranho mesmo que a saúde dele não lhe interesse.

“Tudo bem que os outros, para nos entender, imaginem que nos falta algum componente no circuito cerebral”, observa um jovem portador de Asperger num fórum de discussão. Os indivíduos com Asperger são pessoas mais frágeis que a média do ponto de vista evolutivo, porque a sua dificuldade de entender o pensamento dos outros as torna vulneráveis, mas uma sociedade igualitária deve estar em condições de tolerar diferenças e variantes, concluí Curatolo. Enquanto isso, do universo dos portadores de Asperger ecoa uma pergunta ainda sem resposta: o que é a normalidade, e quem está em condições de avalia-la?

RETRATOS DA SÍNDROME

No princípio, era Raymond Babbit; o personagem autista de Rain man. Graças ao filme, um distúrbio tão difícil de abordar se tomou conhecido e mais acessível, na bela interpretação de Dustin Holfman. O ator interpreta um autista dotado de inteligência particular, exemplo de modalidade da patologia em que transtornos do desenvolvimento encontram-se associados a habilidades especiais. Do mesmo modo, talvez nem todos os portadores de Asperger se pareçam com Christopher Boone, o jovem protagonista de O estranho Caso do Cachorro Morto, romance de Mark Haddon que fez o mundo conhecer a síndrome. Foi a primeira vez que um romance centrado na psicologia desses indivíduos chegou às listas dos mais vendidos. Mas Haddon não foi o primeiro escritor a falar dos portadores de Asperger: um dos personagens de um romance de ação como O Fator Hodes, de Robert Ludlum, é Marty, um portador de Asperger, gênio da eletrônica, que acompanha o protagonista nas suas Investigações; e a escritora de ficção científica, Elizabeth Moon ganhou o prêmio Nebula em 2003 com um romance, The speed of dark, que tem como protagonista um pesquisador com Asperger. Hoje, porém, são os portadores de Asperger e suas famílias que contam suas histórias. E não se trata só de manuais de autoajuda. Entre as memórias mais recentes, está Song of the Gorilla Nation, de Dawn Prince-Hughes, a autobiografia de uma primatologista que graças ao trabalho com gorilas conseguiu superar as dificuldades de relacionamento geradas pela síndrome. Já em An Asperger Marriage os autores Christopher e Gisela Slater-Walker narram de seus respectivos pontos de vista alegrias e problemas de um matrimônio com um homem portador da síndrome. E estes são só dois de um elenco de títulos que contam as “crônicas do planeta errado” (como diz um título de autor com Asperger) e os esforços dos portadores para conviver com os normais. No repertório de organizações como Oasis (Online Asperger Syndrome lnformation and Support, http://www.udel.edu/bkirby/asperger) há também histórias para crianças e romances de ficção científica – como aqueles da série de Jornada nas Estrelas – em que abundam personagens com características dos portadores de Asperger. Além da biografia de personagens famosos em que foram identificados traços de Asperger, como o presidente americano Thomas Jefferson (Diagnosing Jefferson, de Norm Ledgin) ou o músico Glenn Gould (Glenn Gould: The ecstasy ond tragedy of a genius, de Peter F. Ostwald).

 Arredios e geniais2

 

 PAOLA EMILIA CICERONE – é Jornalista científica.

OUTROS OLHARES

TREINO INTENSO CONTROLA PARKINSON

Pela primeira vez, a ciência mostra que caminhar em ritmo forte retarda a progressão da doença

Treino intenso controla Parkinson

Trinta minutos por dia, quatro vezes por semana, em alta intensidade. Caminhar assim, cotidianamente, retarda a progressão da doença de Parkinson em pessoas que receberam o diagnóstico há menos de cinco anos e que ainda não usam medicação. A notícia de que esse tipo de exercício pode quase ser equiparado a um remédio preventivo foi anunciada por pesquisadores da Northwestem University e Colorado University (EUA). Foi o primeiro estudo clínico do gênero.

Os cientistas queriam saber se as evidências de benefícios dessa atividade encontradas em alguns estudos com animais seriam observadas em humanos. Além disso, o grupo desejava descobrir a intensidade e a periodicidade que de fato trariam resultados. Até então, as informações oriundas das pesquisas em cobaias eram insuficientes para obter um padrão de efetividade.

Com indicadores positivos obtidos na primeira fase dos estudos. os especialistas seguiram para a segunda etapa. Os pacientes foram divididos em três grupos. Os dois primeiros treinaram quatro vezes por semana, mas em intensidades distintas. Uma parte treinou em ritmo moderado, com a frequência cardíaca entre 60% e 65% da máxima. A outra, em ritmo intenso. com a frequência cardíaca entre 80% e 85% da máxima. O restante seguiu com sua rotina, mesmo que isso implicasse sedentarismo.

Seis meses depois, os únicos que não apresentaram qualquer declínio associado à doença, como perda de equilíbrio e dificuldades na coordenação motora, foram os indivíduos submetidos ao regime de treino intenso. Uma das hipóteses para o efeito é a de que a boa oxigenação proporcionada pelo exercício ajude a impedir a deterioração de neurônios. “Acredito que o treinamento aeróbico intenso beneficiará inclusive pacientes em estado mais avançado da enfermidade”, disse Margaret Schenkmann, responsável pelo estudo.

 OUTROS EXERCICIOS QUE AJUDAM

DANÇA – Ajuda a manter ou retarda a perda progressiva da coordenação motora. As mais elaboradas, como o tango, têm maior eficácia

BOXE – Treina a coordenação motora e melhora a força muscular

PILATES – Aumenta o tônus muscular e eleva o poder de concentração, muitas vezes prejudicado

GESTÃO E CARREIRA

APRENDIZADO DIVERTIDO

Seis cursos e eventos que, com elementos Lúdicos, ajudam os profissionais a fazer networking, adquirir novos conhecimentos e aperfeiçoar habilidades.

aprendizado divertido

MONDAY NIGHT BURGERS

Após nove anos trabalhando como diretor de arte em uma produtora, Daniel Pires se deu conta de que sua parte favorita do dia era depois do expediente, quando amigos se juntavam em alguma mesa de bar para bater papo, tomar cerveja e comer.

Daí surgiu a inspiração para o evento Monday Night Burgers (ou’ segunda-feira do hambúrguer”), que reúne, semanalmente, 26 pessoas para conversar sobre inquietações de carreira e da vida pessoal. “Usamos o hambúrguer como desculpa, mas nosso propósito é conectar todo mundo,” diz Daniel. O evento acontece de maneira fixa na capital paulista, em um porão na Vila Olímpia, mas já contou com edições em Bauru e Ribeirão Preto (no interior de São Paulo) e em Londres na Inglaterra. Para o futuro, há a avaliação de levar o encontro para o Rio de Janeiro e Brasília. “Tiramos a ideia de que segunda é um dia chato,’ diz Daniel.

Como Participar: As inscrições abrem toda quarta-feira, às 14 toras, no link: facebook.com/mondaynightburgers

Preço: 60 reais. O valor inclui um hambúrguer, batata frita e bebida

Frequência: Toda segunda-feira

ALTITUDE PARK

ALTITUDE PARK

É para quem quer levar os colegas de trabalho para fazer exercícios físicos. O Altitude Park é o primeiro do Brasil dedicado a camas elásticas. São mais de 50 aparelhos desse tipo que ficam interligados. Além disso, há paredes de escalada e slackline. É possível fechar grupos de no mínimo 12 pessoas e fazer festas corporativas – inclusive a de fim de ano.

Como Participar: Compras de passes em altitudepark.com.br

Preço: 39 reais por hora de segunda á quinta-feira e 44 reais às sextas, aos domingos e aos feriados, 10 reais pelo par de meias antiderrapantes, obrigatórias.

Frequência: Todos os dias.

aprendizado divertido.3

ESCAPE 60

Os jogos de fuga estão fazendo sucesso. Os participantes são trancados em uma sala para coletar pistas e decifrar algum mistério ou enigma no prazo de 1 hora. A porta da sala se abre assim que o enigma é desvendado e, caso a equipe não consiga encontrar a solução, um monitor esclarece as dúvidas. Uma das empresas que oferecem disputas desse tipo é a Escape 60, que tem mais de dez salas temáticas em São Paulo, as quais incluem cemitério, quarto de hotel e até uma cozinha de reality show com ingredientes supostamente envenenados. A atividade ajuda a estimular a liderança e o trabalho em equipe. Algumas companhias, como Nestlé e Sodexo usam a dinâmica em atividades de treinamento e recrutamento.

Como Participar: Atendimento via escape60.com.br

Preço: A partir de 69 reais por pessoa, com no mínimo quatro pessoas por sala.

Frequência: Todos os dias.

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LADIES, WINE E DESIGN

Uma vez por mês, o evento reúne dez mulheres no escritório do Twitter – um dos parceiros – em São Paulo para tomar vinho e bater papo sobre assuntos relativos a criatividade, design e negócios. Para participar da conversa basta ser mulher e se interessar por esses assuntos. Nos últimos meses, já houve um encontro dedicado a revisar os portfólios das participantes, outro sobre como desenvolver um traço de design autoral e uma anterior sobre processo criativo. A inciativa de realizar os encontros surgiu de Jessica Walsh, uma designer que mora em Nova York e chegou ao Brasil por meio da 65/10 consultoria que ajuda as marcas a se comunicar melhor com o público feminino.

Como Participar: ladieswinedesign.com.br

Preço: Gratuito

Frequência: Mensal

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SHIFT CINECLUB

O evento é voltado para profissionais do mundo do cinema e interessados por audiovisual. A cada edição, são exibidos curtas e pequenos documentários – já premiados -, seguidos por debates com os diretores. O objetivo, além de exibir filmes, é atrair pessoas de todos os tipos que se interessem por cinema e queiram expandir sua rede de contatos. A ideia surgiu de conversas entre Rodrigo Hurtado, da agência de Publicidade Cubo CC, e Fábio Seixas, diretor da Conspiração filmes e um dos criadores do Festival Path, que acontece todo ano em São Paulo e reúne shows, palestras e discussões sobre inovação. A dupla queria que o público tivesse acesso a filmes que dificilmente entram no circuito comercial das salas de cinema.

Como participar: Fique atento à divulgação na página facebook.com/ShiltCineclub

Preço: Gratuito.

Frequência: Mensal

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HOUSE OF GENIUS

Dois empreendedores expõem seus negócios e apresentam algum desafio ou problema pelo qual estão passando. Durante 1 hora e meia, cada um deles ouve sugestões e críticas de 13 participantes anônimos, com diferentes perfis e trajetórias, que revelam sua identidade apenas ao fim do processo. O mistério serve para encorajar os participantes a dar ideias, mesmo para problemas que estão fora de seu campo de especialização – ingrediente crucial para ganhar novas perspectivas e criar soluções inovadoras. O evento surgiu em 2011, nos Estados Unidos e já acontece de maneira fixa em diversas cidades do mundo.

Como participar: Em São Paulo, é preciso ser indicado por um participante. Em outras cidades,

inscrições via link: houseofgenius.org/apply

Preço? Gratuito

Frequência: Mensal

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE I

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Os Crimes dos fariseus

Nesses versículos, temos oito “ais” dirigidos diretamente contra os escribas e os fariseus, pelo nosso Senhor Jesus Cristo, como o ruído de trovões ou os relâmpagos do Monte Sinai. Três “ais” já fazem parecer muito assustador (Apocalipse 8.13; 9.12), mas aqui há oito “ais”, em oposição às oito bem-aventuranças (cap. 5.3). O Evangelho tem os seus “ais”, assim como a lei, e as maldições do Evangelho são as piores, entre todas as maldições. Estes “ais” são os mais notáveis, não somente por causa da autoridade, mas por causa da humildade e da bondade daquele que os denunciou. Ele veio para abençoar, e se comprazia em abençoar; mas se a sua ira se inflama, certamente há motivo para tanto. E quem fará alguma súplica a favor daquele contra quem o grande Intercessor se pronuncia? Um “ai” de Cristo é um “ai” sem remédio.

Aqui está o refrão do cântico, e é um refrão pesado: ”Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”. Considere:

1. Os escribas e fariseus eram hipócritas; é nisto que se resume todo o restante da sua má personalidade; esse era o fermento que dava sabor a tudo o que eles faziam e diziam. Um hipócrita é um ator na religião (este é o significado básico da palavra); ele personifica ou interpreta o papel de alguém que ele não é, nem poderá sei; ou talvez que ele não é, nem deseja ser.

2. Esses hipócritas estão numa condição e num estado lamentável. ”Ai dos… hipócritas”. O fato de Jesus dizer isto mostra que o caso deles era lamentável; enquanto eles vivessem, a sua religião seria inútil; quando morressem, a sua ruína seria grande.

Cada um desses “ais” contra os escribas e os fariseus tem uma razão anexa a ele, contendo um crime de que eles são acusados, provando a sua hipocrisia e justificando o julgamento de Cristo sobre eles; pois os “ais”, as maldições pronunciadas por Jesus, nunca são infundadas.

I – Eles são inimigos declarados do Evangelho de Cristo, e, consequentemente, da salvação das almas dos homens (v.13): Eles “fecham aos homens o Reino dos céus”, isto é, eles faziam tudo o que podiam para impedir que as pessoas cressem em Cristo e, dessa maneira, entrassem no seu reino. Cristo veio para abrir o Reino dos céus, isto é, para nos mostrar um “novo e vivo caminho” para entrar nele, para levar os homens a serem súditos desse Reino. Mas os escribas e os fariseus, que se assentavam na cadeira de Moisés, e pretendiam ter a chave do conhecimento, deviam ter contribuído com a sua ajuda, abrindo aquelas Escrituras do Antigo Testamento que apontavam para o Messias e o seu reino, no seu sentido verdadeiro e adequado; aqueles que eram responsáveis por explicar Moisés e os profetas deviam ter mostrado às pessoas como estes testificavam a respeito de Cristo, mostrar que as semanas de Daniel estavam se esgotando, que o cetro se afastava de Judá, e que, portanto, aquela era a ocasião para a aparição do Messias. Desta maneira, eles poderiam ter facilitado aquela grandiosa obra, e ajudado milhares de pessoas a irem ao céu. Mas, em vez disso, eles fecharam o Reino dos céus; eles se empenharam em forçar a observância da lei cerimonial, que estava sendo abolida; em suprimir as profecias, que então se cumpriam; e em criar e nutrir; nas mentes das pessoas, preconceitos contra Cristo e a sua doutrina.

1. Eles mesmos não entrariam: “Creu nele, porventura, algum dos principais ou dos fariseus?” (João 7.48). Não. Eles eram orgulhosos demais, para curvar-se à sua pobreza, formais demais, para serem compatíveis com a sua simplicidade; eles não gostavam de uma religião que insistia tanto na humildade, na renúncia de si mesmo, no desprezo ao mundo e na adoração espiritual. O arrependimento era a porta de entrada a esse Reino, e nada podia ser mais desagradável para os fariseus, que se justificavam e se admiravam, do que arrepender-se, isto é, acusar e humilhar e abominar a si mesmos. Por isso eles mesmos não entrariam; mas isso não era tudo.

2. Eles não deixavam “entrar aos que estão entrando”. É ruim nos mantermos afastados de Cristo, mas, é pior manter os outros afastados dele. No entanto, este é o procedimento normal dos hipócritas; eles não gostam que alguém vá além deles na religião, ou que seja melhor que eles. O fato de eles mesmos não entrarem era um obstáculo para muitos, pois, como eles atraíam tão grande interesse das pessoas, as multidões rejeitavam o Evangelho somente porque os seus líderes faziam isso; mas, além disso, eles se opunham tanto a Cristo receber os pecadores (Lucas 7.39) quanto aos pecadores receberem a Cristo. Eles deturparam a sua doutrina, opuseram-se aos seus milagres, discutiram com os seus discípulos, e o descreveram, e às suas instituições e à sua economia, perante o povo, da maneira mais negativa e falsa que se podia imaginar. Eles vociferaram a sua excomunhão contra aqueles que o confessavam, e usaram todo o seu talento e poder a serviço da sua maldade contra Ele. Assim, eles fecharam o Reino dos céus, pois aqueles que quisessem entrar nele deviam fazê-lo por meio da violência (cap. 11.12), e forçar a entrada (Lucas 16.16) em meio a uma multidão de escribas e fariseus, e todas as dificuldades e todos os obstáculos que eles pudessem imaginar para colocar em seu caminho. Como é bom, para nós, que a nossa salvação não esteja confiada às mãos de qualquer homem ou grupo de homens deste mundo! Se assim fosse, estaríamos arruinados. Aqueles que fecham a igreja fechariam também o céu, se pudessem; mas a maldade dos homens não pode tornar sem efeito a promessa ele Deus aos seus escolhidos; graças a Deus, não pode.

II – Eles faziam da religião e do modelo de santidade um disfarce e um pretexto para as suas práticas e os seus desejos ambiciosos (v. 14). Observe aqui:

1. Quais eram os seus procedimentos mal-intencionados: eles “devoravam as casas das viúvas”, seja hospedando-se, e aos seus auxiliares, ali, para entretenimento, que deve ser o melhor para homens da estirpe deles, seja insinuando-se nos seus afetos, conseguindo desta maneira a função de administradores elas suas propriedades, o que fazia delas presas fáceis, pois quem iria pensar em chamar para prestar contas alguém como eles? O que eles desejavam era enriquecer, e sendo este o seu objetivo final e principal, todas as considerações de justiça e retidão eram deixadas de lado, e até mesmo as casas das viúvas eram sacrificadas em nome disso; portanto, eles se apegavam a elas para torná-las suas presas. Eles devoravam aquelas a quem, segundo a lei de Deus, eram particularmente obrigados a proteger, ajudar e socorrer. Há um “ai” no Antigo Testamento para aqueles que faziam das viúvas suas presas (Isaias 10.1,2); e Cristo, aqui, o apoia, com seu “ai”. Deus é “juiz de viúvas”; elas são a sua preocupação especial, Ele firma a sua herança (Provérbios 15.25) e adota a sua causa (Êxodo 22.22,23); mas essas eram aquelas cujas casas os fariseus devoravam em grandes quantidades, tanta ambição tinham eles de encher seus ventres com os tesouros da impiedade! O fato de devorarem indica não apenas ambição, mas crueldade na sua opressão, descrita em Miquéias 3.3: “comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele”. E sem dúvida eles faziam tudo isso sob pretextos de lei, pois eram tão habilidosos ao fazê-lo que isso era aceito sem censuras, e de maneira nenhuma diminuía a veneração do povo por eles.

2. Qual era o pretexto sob o qual disfarçavam esses procedimentos mal-intencionados: “sob pretexto de prolongadas orações”. Muito longas, realmente, se for verdade o que alguns dos autores judeus nos dizem, que eles passavam três horas consecutivas nas formalidades da meditação e da oração, e faziam isto três vezes ao dia, o que é mais do que uma alma justa, consciente de ser íntima com Deus no seu dever, ousa pretender fazer normalmente; mas para os fariseus isso era fácil, pois eles nunca se preocupavam com o dever e sempre se preocupavam com a aparência externa. Com esses artifícios, eles conseguiam a sua riqueza, e conservavam a sua grandeza. Não é provável que essas longas orações fossem extemporâneas, pois (como observa Baxter) os fariseus tinham o dom da oração muito mais do que os discípulos de Cristo o tinham; mas eles tinham formas determinadas de oração para usar entre si, e que eles repetiam, da mesma maneira como os romanistas rezam o terço. Aqui Cristo não condena as longas orações como sendo, por si mesmas, hipócritas; o problema é que estavam orando como uma forma de se sobressair em relação às outras pessoas. E se não houvesse, nessas orações, uma grande aparência, como se fossem algo muito bom, elas não poderiam ter sido usadas como um instrumento para tamanho fingimento. Além disso, a “capa” necessária para encobrir procedimentos tão mal-intencionados precisava ser muito espessa. O próprio Cristo passava “a noite em oração a Deus”, e nós somos instruídos a orar sem pressa de parar: Onde há muitos pecados a confessar; e muitas necessidades, por cuja satisfação orar, e muitas bênçãos para agradecer existe oportunidade para longas orações. Mas as longas orações dos fariseus eram constituídas de repetições vãs e (este era o seu objetivo) eram um pretexto. Com elas, eles conseguiam ter a reputação de homens piedosos e devotos, que amavam a oração e eram os favoritos do Céu; e com isso, as pessoas eram levadas a crer que não era possível que homens assim as enganassem. Portanto, feliz a viúva que conseguisse um fariseu para administrar os seus bens, e ser guardião dos seus filhos! Dessa maneira, enquanto eles pareciam estender a proteção do céu, com as asas da oração, os seus olhos, como os da ave de rapina, estavam todo o tempo sobre a sua presa na terra, a casa de uma viúva ou outra que lhes fosse conveniente. Assim, a circuncisão foi o disfarce da ambição dos siquemitas (Genesis 34.22,23); o pagamento de um voto em Hebrom foi o pretexto da rebelião de Absalão (2 Samuel 15.7); um jejum em Jezreel permitiu o assassinato de Nabote; e a extirpação de Baal foi o escabelo da ambição de Jeú. Os sacerdotes romanistas, com a desculpa de longas orações pelos mortos, missas e lamentações, além de outras práticas pecaminosas, enriqueceram devorando a casa das viúvas e dos órfãos. Note que não é novidade que a santidade seja utilizada para fins de exibição, como pretexto para esconder enormes abusos e pecados. Mas a piedade dissimulada, por mais que seja aceita agora, será computada como dupla iniquidade, “no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens”.

1. A condenação que recebem por isso: “sofrereis mais rigoroso juízo”. Observe que:

(1) Existem graus de desgraça; há alguns cujo pecado é mais imperdoável, e cuja ruína, portanto, será mais intolerável.

(2) Os pretextos da religião, com que os hipócritas disfarçam ou desculpam o seu pecado agora, irão, em pouco tempo, agravar as suas condenações. Tal é o engano do pecado, que a mesma coisa pela qual os pecadores esperam expiar e conciliar os seus pecados se voltará contra eles, e fará os seus pecados ainda mais pecaminosos. Mas é triste para o criminoso quando a sua defesa prova o seu crime, e os seus apelos (Em teu nome nós profetizamos, e em teu nome fizemos longas orações) aumentam a acusação contra eles.

III – Enquanto eram tão inimigos da conversão das almas ao cristianismo, os escribas e fariseus eram muito empenhados na distorção dela, nos ensinos da sua seita. Eles fecham o Reino dos céus para aqueles que se voltam para Cristo, mas, ao mesmo tempo, percorrem o mar e a terra para fazer prosélitos para si mesmos (v.15). Observe aqui:

1. O esforço elogiável deles para fazer prosélitos para a religião judaica, não somente prosélitos de porta, que se obrigavam a nada mais que a observância dos sete preceitos dos filhos de Noé, mas prosélitos de justiça, que adotavam integralmente todos os ritos da religião judaica, pois era isto o que eles queriam. Para tanto, para conseguir alguém assim, ainda que fosse apenas um, eles percorriam o mar e a terra, teciam planos ardilosos, e os executavam, e cavalgavam, e corriam, e mandavam chamar, e escreviam, e trabalhavam incansavelmente. E qual era o seu objetivo? Não a glória de Deus, e o bem das almas, mas que eles pudessem ter o crédito de fazer prosélitos, e a vantagem pecaminosa de transformar estes prosélitos em presas. Considere que:

(1) Fazer prosélitos, se para a santidade verdadeira e séria, e se com boa intenção, é um bom trabalho, bastante digno de preocupação e de esforços extremos. Tal é o valor das almas, que nada deve ser julgado como demais para ser feito, para salvar uma alma da morte. O empenho dos fariseus aqui pode mostrar a negligência de muitos dos quais se esperava que agissem com melhores princípios, mas que não se esforçarão para propagar o Evangelho.

(2) Para fazer um prosélito, o mar e a terra precisam ser percorridos. Todos os caminhos e meios devem ser tentados; primeiro, um caminho, e depois, outro. Eles não perdiam de vista o fato de que se o objetivo fosse alcançado, eles seriam bem pagos.

(3) Os corações carnais raramente evitam os esforços necessários para dar prosseguimento aos seus objetivos carnais. Quando é necessário fazer um prosélito para que este lhes seja útil, eles percorrem o mar e a terra para consegui-lo, em vez de ficarem desapontados.

2. A maldita impiedade daqueles homens ao atormentarem os seus prosélitos. Eles o transformam em um discípulo de fariseu, e ele absorve todas as noções de um fariseu. Assim, “de pois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós”. Observe que:

(1) Os hipócritas, embora se julguem herdeiros do céu, são, no juízo de Cristo, os filhos do inferno. A sua hipocrisia nasce do inferno, pois o diabo é o pai da mentira; e a tendência da sua hipocrisia é em direção ao inferno, que é o lugar ao qual eles pertencem, a herança de que são herdeiros; eles são chamados “filhos do inferno”, por causa da sua inimizade enraizada ao Reino dos céus, o que foi o princípio e o talento do farisaísmo.

(2) Embora todos os que maldosamente se opõem ao Evangelho sejam filhos do inferno, alguns são duas vezes mais que os outros, mais furiosos e teimosos e malignos.

(3) Os prosélitos pervertidos são, normalmente, os mais teimosos; os alunos superam os seus mestres:

[1] Na preocupação com as cerimônias. Os fariseus enxergavam a tolice das suas próprias imposições, e em seus corações sorriam ao ver a obediência daqueles que se sujeitavam a elas; mas os seus prosélitos ansiavam por elas. Observe que mentes fracas normalmente admiram aqueles espetáculos e aquelas cerimônias que os homens sábios não podem deixar de desprezar (embora, para fins públicos, eles os admitam).

[2] Na fúria contra o cristianismo. Os prosélitos prontamente se impregnavam dos princípios que os seus líderes ardilosos não deixavam de possuir, e se tornavam extremamente fervorosos contra a verdade. Os inimigos mais amargos que os apóstolos encontraram, em todos os lugares, foram os judeus helenistas, que eram, principalmente, prosélitos (Atos 13.45; 14.2-19; 17.5; 18.6). Paulo, um discípulo dos fariseus, era excessivamente mau contra os cristãos (Atos 26.11), enquanto o seu mestre, Gamaliel, parece ter sido mais moderado.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

NADA COMO UM BOM AMIGO

A rede social do indivíduo está fortemente ancorada em seu funcionamento cerebral. Amigos propiciam bem-estar, asseguram saúde psíquica e prolongam a vida.

Nada como um bom amigo

Amigo é a melhor coisa do mundo. Nada mais verdadeiro, confirmam os psicólogos. Segundo estudos recentes, relações estáveis entre pessoas estimulam a saúde mental e física e até mesmo prolongam a vida.

Contatos sociais parecem ter colaborado para que, na evolução, nosso cérebro se transformasse em órgão de alta capacidade. Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, já havia chegado a essa conclusão há alguns anos. O antropólogo e psicólogo evolucionista percebera que, nos macacos, havia relação entre o tamanho do cérebro e o número de integrantes do grupo, quanto mais elementos tivesse o bando de uma espécie, mais volumoso seria o córtex dos animais.

A partir daí, Dunbar criou uma hipótese sobre o “social brain”(cérebro social), segundo a qual o desenvolvimento das estruturas sociais teria impulsionado a evolução do cérebro. Pois, de acordo com ele, quanto maior o grupo, tanto mais informações sobre os outros indivíduos têm de ser processadas pelo cérebro para que o convívio social possa funcionar. Sendo assim, porém, a capacidade de processamento do cérebro também limitaria o tamanho de nosso círculo social – segundo Dunbar, aproximadamente 150 pessoas.

Há milhares de anos esse número está presente em grupos humanos, das sociedades de caçadores e coletores às vilas de agricultores da Indonésia e da América do Sul. O mesmo vale para os militares, no exército romano, as unidades básicas eram os chamados ‘manípulos”, com aproximadamente 150 soldados; e o tamanho das companhias atuais varia de 120 a 150 homens. Nas indústrias modernas também se verifica que uma estrutura organizacional relativamente informal só funciona se tiver, no máximo, 150 trabalhadores. Se o número for maior, é necessária uma hierarquia mais severa, pois, caso contrário, sabe-se, por experiência, que a produtividade total cai, a pressão do grupo como incentivo à produção individual deixa de funcionar devido ao maior anonimato, e, no lugar dela, surgem o controle e as orientações formais.

Há pouco tempo, Dunbar, junto com outros colegas dos Estados Unidos e da França, retomou diversos estudos que tratam de redes sociais a fim de examiná-las mais de perto. O resultado geral das observações: nosso ambiente social parece estar sempre estruturado hierarquicamente. Dunbar classifica os 150 conhecidos de uma pessoa em um sistema de anéis concêntricos, segundo o qual a distância do centro indica a intensidade da relação. Ao redor de alguns amigos muito próximos, organiza-se um círculo de bons conhecidos que, por sua vez, está circundado por um número ainda maior de contatos superficiais.

Psicólogos já sabem que o anel mais próximo do centro, composto dos amigos mais íntimos, é o mais decisivo para o nosso bem-estar psíquico. Um estudo atual de Lynne Giles, da Universidade de Flinders, Austrália, acrescenta ainda que este círculo de amizades intimas ajuda até mesmo a prolongar a vida.

Os pesquisadores analisaram dados do Australian Longitudinal Study of Aging (Estudo longitudinal australiano do envelhecimento), iniciado em 1992. A pesquisa, de longo prazo, se concentrou em ambiente social, estado de saúde, estilo de vida e na idade de morte de 1.477 pessoas acima de 70 anos. Os participantes foram questionados sobre a frequência e a quantidade dos contatos que costumavam ter com amigos, filhos, parentes ou conhecidos. Em dez anos, os pesquisadores mantiveram sempre um quadro atualizado da situação dos participantes.

Durante a análise dos dados, os cientistas perceberam, para seu espanto que as amizades aumentavam muito mais a expectativa de vida do que, por exemplo, o contato íntimo com filhos e parentes – independentemente de fatores como o status sócio econômico, a saúde e o estilo de vida. E isso continuava valendo, mesmo quando os amigos se mudavam para outra cidade, por exemplo.

Qual será a base desse efeito de longevidade? Aparentemente não é apenas o apoio mútuo entre conhecidos que faz diferença, mas o fato de ele ser voluntário, ocorre por prazer e não apenas por obrigação ou convenção. Decisivo, portanto, é o fato de as pessoas poderem escolher os seus amigos (ao contrário do que acontece com os indivíduos da própria família).

Manter contato com pessoas que nos consideram importantes e nos dão valor, segundo os pesquisadores australianos, tem efeito positivo sobre a nossa saúde tanto física quanto mental, o estresse e tendências depressivas são reduzidos e comportamento relevantes para a saúde – como o mau costume de beber ou fumar – sofrem influências benéficas. Principalmente em tempos de crise, os amigos podem melhorar o humor e a auto estima, assim como sugerir estratégias para a resolução de problemas.

Realmente, os efeitos práticos médico, psicológicos de tais contatos sociais já foram comprovados, por exemplo em casos de doenças cardiovasculares, pressão alta ou problemas gastrointestinais. Eric Loucks, da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, descobriu, por exemplo, que a circulação de interleucina-6 no sangue de homens idosos com um grande círculo de amizades é bem menor do que no sangue daqueles que são sozinhos. Essa substância causadora de inflamações é considerada um fator de risco para doenças cardiovasculares, pois aparentemente estimula a arteriosclerose – a temida “calcificação das artérias”.

Quem tem bons amigos e conhecidos, portanto, se diverte com mais frequência e aumenta suas chances de uma vida longa. Motivo suficiente para cultivar as amizades – e quem sabe até mesmo reativar alguns contatos esquecidos do tempo da adolescência e da faculdade.

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ANEIS DA AMIZADE

Segundo o modelo criado por Robin Dunbar para representar o alcance dos relacionamentos de um indivíduo, o círculo de amigos mais íntimos (com três, quatro ou, no máximo, cinco pessoas) forma o anel interno. Sentimo-nos emocionalmente muito próximos desses amigos, com os quais também compartilhamos interesses, valores e pontos de vista comuns. Na crise, eles ajudam e nos aconselham em situações pessoais, emocionais ou financeiras. Mantemos contato com esse “grupo de apoio” pelo menos uma vez por semana.

O círculo seguinte é composto de 12 a 20 pessoas, com ligação mais tênue. A relação com eles não é tão forte emocionalmente, mas se mantém por simpatia e interesse. O nível hierárquico mais externo corresponde ao que costumamos chamar de “círculo de conhecidos”. Esse terceiro âmbito da rede social comporta aproximadamente 30 a 50 pessoas e a ligação com eles é da claramente mais solta. No entanto, existe um contato regular com essas pessoas, mesmo que em períodos mais espaçados. Nas sociedades de caçadores e coletores tradicionais, o terceiro anel corresponderia a um clã, segundo Dunbar. Além desses ele inclui ainda pelo menos mais dois outros círculos com contatos ainda mais frouxos.

Paralelamente aos seus estudos, Dunbar deparou com uma conexão espantosa: de um anel para outro, o círculo de conhecidos aumenta quase sempre três vezes. Essa regra também ocorre em outras formações sociais. Assim, em muitos países, a menor unidade de um exército é formada por 10 a 15 soldados, um pelotão por 35, uma companhia por 120 a150 homens e assim por diante.

 

 KLAUS MANHART – é filósofo e cientista social.

OUTROS OLHARES

UMA ZONA NEBULOSA PARA CRIANCAS

Vídeos de influenciadores mirins para promover bonecas viralizam junto ao público infantil e alertam para a falta de controle sobre a publicidade no YouTube.

Uma zona nebulosa para as crianças

Praticamente desconhecida até o começo de 2017, a boneca L.O.L se tornou o brinquedo mais vendido nos Estados Unidos no ano passado – e a febre chegou ao Brasil no último Natal As L.O.L. são bonecas de apenas sete centímetros vendidas dentro de bolas coloridas. Alguns pais ficaram revoltados – e não apenas pelo preço, que pode chegar a R$ 160 por aqui. O motivo de preocupação é que as bonecas se tornaram populares graças a 06 vídeos divulgados no YouTube, feitos por influenciadores mirins que seguem um mesmo roteiro, desembrulhando as várias camadas de embalagem até chegar ao brinquedo. A prática é conhecida pelo termo em inglês “unboxing” e ocupa uma área cinzenta em que o entretenimento se confunde com publicidade.

Enquanto as regras que determinam o que pode ou não ser usado como propaganda para crianças são reguladas de forma rígida em outras plataformas, no YouTube a situação é nebulosa. Em teoria, não existe na lei distinção entre internet, TV ou rádio. “Qualquer espécie de publicidade, seja qual for o meio que a veicule, inclusive plataformas digitais, deve seguir as recomendações da ética publicitária”, diz Gilberto C. Leifert, Presidente do Conar, por meio de nota. Mas no caso dos vídeos de ‘unboxing”, a situação raramente é muito clara. “Há contratos publicitários, mas a relação comercial é velada”, diz Renato Godoy, assessor de assuntos governamentais do Instituto Alana, responsável por programas como Criança e Consumo. Nessa discussão, as críticas não são dirigidas aos youtubers mirins, mas às empresas. “Multas vezes, elas se valem da vulnerabilidade do público e do emissário”, afirma Godoy.

Evitar que os pequenos sejam contaminados pela necessidade de consumir é uma tarefa que exige dos pais um monitoramento maior dos hábitos digitais de seus filhos. “Precisamos, de tempos em tempos, ficar Junto com as crianças para entender o que as fascina no YouTube”, diz Fernanda Furia, mestre em psicologia de crianças e adolescentes e fundadora da consultoria Playground da inovação. E, segundo a psicóloga, é importante ajudar as crianças mais velhas a desenvolver uma inteligência emocional digital, ou seja, entender sobre os próprios hábitos tecnológicos e comportamentos nas redes sociais”. afirma

FENOMENO DIGITAL

O YouTube oferece uma liberdade aos pequenos que poucas vezes eles têm longe da tela do computador. Falar para a câmera e participar desse universo também é importante para o desenvolvimento delas no momento atual. “Essa maneira de se expressar favorece a sociabilidade da criança na internet. “É um processo natural”, afirma Godoy.

O caso específico das bonecas L.O.L é bastante expressivo porque elas são ótimas representantes da cultura do “unboxing”. Elas podem até ser pequenas, mas o tamanho não importa para as crianças. Oque vale é a experiência de abrir cada uma das sete camadas que cobrem o brinquedo, revelando pequenas surpresas, roupas e adesivos para a boneca “Eu amo puxar cada zíper das camadas, o suspense de abrir a minha própria L.O.L. e colecionar, mas também é muito legal ver os vídeos e acompanhar a surpresa e a empolgação de quem está abrindo. “Isso tudo me diverte multo”, diz Luiza Sorrentino, do canal Crescendo com Luluca. Seu vídeo da boneca L.O.L. Já teve 788 mil visualizações – o que confirma o fenómeno “Unboxing”.

 Uma zona nebulosa para as crianças2

GESTÃO E CARREIRA

AUTOCONFIANÇA: DUVIDE DE SÍ MESMO

Embora estimulada pelo ambiente corporativo, a autoconfiança em excesso pode trazer prejuízos para avida profissional. Veja quais cuidados você precisa tomar para não cair nessa armadilha.

Autocinfiança - Duvide de si mesmo

Em 1995, o americano McArthur Wheeler foi preso enquanto assaltava um banco na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia. O detalhe curioso da história é que o ladrão não fazia o mínimo esforço para esconder o rosto durante os crimes e, quando pego, somente conseguia repetir que “havia passado o suco”. A frase, aparentemente sem nexo, foi explicada mais tarde, quando McArthur afirmou à Polícia que acreditava que, ao aplicar suco de limão no rosto, conseguiria burlar as câmeras do sistema de segurança das instituições.

O caso absurdo do ladrão serviu de ponto de partida para a tese de David Dunning e Justin Kruger, professor e aluno de psicologia na Universidade Cornell, também nos Estados Unidos, que ficou popularmente conhecida como a “síndrome do idiota confiante”. Publicado em 1999, após uma série de testes, o estudo apontou que os indivíduos com pior desempenho foram aqueles que também tiveram a menor capacidade de avaliar as próprias habilidades e que acreditavam ter resultados melhores do que efetivamente obtiveram. Os pesquisadores chegaram à conclusão do que ficou chamado de “efeito Dunning-Kruger”: algumas pessoas se sentem autoconfiantes sobre assuntos nos quais têm conhecimento limitado, ou nenhum conhecimento. ”Todos nós somos vulneráveis a esse fenômeno, pois tudo o que é preciso para agir assim é incompetência ou desconhecimento sobre algo. Exatamente por não entender a complexidade, você não consegue perceber quão irreal e desconexa pode ser sua crença sobre o tema’, diz o professor David Dunning.

No ambiente corporativo, onde muitas vezes a palavra predominante é “competitividade”, é grande o risco de reproduzir comportamentos como esse. “Existe o mito do indivíduo que precisa ter sempre resposta para tudo e que deve ser proativo em qualquer situação, por isso muitos profissionais acabam compelidos a tomar atitudes e a dar respostas de qualquer jeito, mesmo que não estejam preparados”, afirma Anderson Sant’anna, professor na Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. “Algumas empresas, inclusive, valorizam os perfis que são mais exibicionistas e atirados, o que estimula ainda mais quem já tem uma tendência a ser autoconfiante em excesso.” Com a internet e a facilidade de acesso às informações, a possibilidade de superestimar o conhecimento também se amplia. Segundo outro es tudo, dessa vez da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, as pessoas tendem a se achar muito mais inteligentes depois de apenas alguns cliques na rede. Para comprovar essa teoria, os pesquisadores realizaram nove experimentos com voluntários americanos. Em um deles, foi solicitado ao primeiro grupo que buscasse na internet a resposta para algumas perguntas. Para o segundo grupo, não foi dada a possibilidade de pesquisas online. Na etapa seguinte, pediu-se aos dois grupos que avaliassem sua capacidade de responder por conta própria a outras questões sobre o tema. O grupo que pôde acessar a internet foi muito mais otimista ao medir os próprios conhecimentos em comparação àqueles que não tiveram acesso à internet. Nas empresas, não é raro perceber as consequências desse efeito Google. “Com a entrada de novas gerações e a diminuição da hierarquia, é muito comum vermos estagiários dando palpites, muitas vezes de forma exagerada, em assuntos da presidência, por exemplo. Ignoram anos de experiência e acreditam que, por meio de alguns tutoriais, já são mais entendidos do negócio do que executivos com anos de carreira”, afirma Raphael Falcão, diretor da Hays Experts, divisão de recrutamento de média e alta gerência da Hays, de São Paulo.

 TÃO BOM ASSIM?

Na vida profissional, o excesso de autoconfiança, quando não está aliado a competências reais, pode cobrar um preço alto. “Além de gerar custos com retrabalho, pode criar problemas com a equipe”, afirma Anderson. Isso porque, geralmente, pessoas narcisistas inibem as demais, não conseguem criar discussões amplas e tomam decisões apressadas com base em achismos.

O paulista Gustavo Andare, de 36 anos, sofreu com os efeitos nocivos do excesso de confiança. Formado em eletrônica, logo no primeiro emprego em uma multinacional, percebeu que desejava empreender. Com 22 anos e sem muita experiência, decidiu se juntar a alguns amigos e abrir uma casa noturna na Vila Olímpia, bairro de São Paulo que estava atraindo diversos estabelecimentos desse estilo na época. “Não foi nada planejado, simplesmente decidimos que queríamos trabalhar com isso.

Pura molecagem”, afirma Gustavo. Surpreendentemente, a empreitada deu certo e, em menos de seis meses, o empreendimento dava lucro. Com a exposição, Gustavo recebeu uma proposta para começar um segundo negócio em Maresias, no litoral norte de São Paulo. “Dessa vez a sorte não foi suficiente”, diz. Empolgado pelo sucesso, Gustavo deixou a parte financeira sob responsabilidade do sócio recém-conhecido. Um belo dia acordou e descobriu que o parceiro havia sumido e deixado um rombo de 80.000 reais nas contas do estabelecimento. “Meus pais e colegas já haviam me alertado, mas eu acreditava que sabia muito e que não precisava me preocupar”, a firma.

De volta a São Paulo, Gustavo teve de vender a porcentagem no bar para pagar as dívidas do negócio malfadado e recomeçar. Vendeu esculturas de madeira nas ruas, fez outra faculdade e, alguns anos depois, decidiu que era hora de tentar de novo. Foi aí que fundou, em 2012, a Esmalteria Nacional, rede de franquias de serviços de manicure. E o antigo fracasso fez com que ele mudasse de atitude em relação ao empreendedorismo. ”Pesquisei, fui a diversos salões e quis entender a fundo esse mercado e o que eu traria de diferente.” Com outras 270 unidades e quatro negócios que faturam 2,5 milhões de reais, ele acredita que não estaria onde está se não tivesse revisado sua autoconfiança. “Aquela experiência me tornou mais ponderado e humilde.”

SUPERIORIDADE ILUSÓRIA

Assim como Gustavo, muita gente pode perceber que está errando a mão no marketing pessoal quando já é tarde demais, porém, nem todos conseguem mudar de atitude. “algumas pessoas entram em um processo ilusório que se retroalimenta. Quando começa a dar certo uma, duas vezes, você vai se convencendo de que é aquilo e vai criando uma máscara”, diz Aristides Brito, neurocientista e diretor da consultoria Marca Pessoal Treinamentos, de São Paulo. Mas o trauma pode ser grande quando um fracasso acontece. “Quando fracassam, esses indivíduos tendem a ficar com uma crise enorme de autoestima e entrar em um processo destrutivo.”

Embora associemos esse comportamento a pessoas que acreditam muito nas próprias qualidades, esses perfis também podem esconder, no fundo, uma baixa autoestima. “Algumas pessoas, mesmo quando se superestimam, o fazem por falta de confiança. Precisam se provar tanto para elas quanto para quem está ao redor. Os homens, principalmente, devido a uma pressão social maior, tendem a se esconder atrás de uma suposta autoconfiança exacerbada”, afirma Roberto Debski, psicólogo clínico, de São Paulo. Para quem está em posições de liderança, essa superioridade ilusória é ainda mais nociva – e mais fácil de acontecer. ”Com o poder, as pessoas acabam acreditando que são, e não que estão líderes. Por estarem cercados de gente que quer agradá-los e não tem coragem de apontar erros, alguns líderes ficam fechados em uma torre de marfim e se creem invencíveis”, diz Ana Pliopas, do Hudson lnstitute of Coaching, de São Paulo.

Nesse contexto, quem tem autocrítica leva vantagem em relação a quem nem se quer enxerga suas limitações.

Por isso, no quadro oposto, a chamada “síndrome do impostor” – aquela sensação constante de ser uma fraude e de não merecer estar no lugar que ocupa -, quando bem dosada, pode ser benéfica. “Se a pessoa trabalhar a inteligência emocional, essa autocrítica vai levá-la ao crescimento. O ideal é que ela não se coloque para baixo nem se iluda sobre suas reais capacidades”, afirma Roberto.

 DOSE CERTA

O engenheiro de dados Luiz Filipe Santos, de São Paulo, fez as pazes com sua patrulha interna e usa o excesso de autocrítica a seu favor. “Na empresa em que trabalhava anteriormente eu me achava uma fraude. Havia entrado como analista e, dois anos depois, passei a gerenciar as pessoas que começaram comigo. Esse crescimento rápido me fez duvidar de mim mesmo”, afirma. Com a ajuda de amigos, Luiz Filipe estudou o assunto e hoje, aos 37 anos, lida melhor com a desconfiança interna – e até aposta que ela o ajude a tomar boas decisões. ”Passei a ser uma pessoa analítica e ponderada. Não fico mais deprimido com meus fracassos, mas entendo que aquilo faz parte do meu crescimento, diz.

Por outro lado, assim como a auto­ crítica, se bem dosada, a autoconfiança também é benéfica. “Quando você não sabe a complexidade daquilo que vai fazer e encara o desafio mesmo assim, demonstra coragem e é estimulado a conquistar mais. Há uma curva de aprendizado e maturidade quando você se depara com obstáculos”, afirma Ana Pliopas. O segredo, então, é o equilíbrio: nem a humildade em demasia (que cria profissionais tímidos e incapazes de mostrar suas potencialidades); nem a autoconfiança em excesso (que impede que o indivíduo ouça as pessoas que estão ao redor e reconheça as próprias limitações). Na dúvida, escolha o caminho do meio.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 1-12

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Os escribas e os fariseus são condenados

Não vemos Cristo, em todas as suas pregações, tão severo com outras pessoas quanto com esses “escribas e fariseus”. A verdade é que nada está em oposição mais direta ao espírito do Evangelho do que o temperamento e os costumes daquela geração de homens, que mascaravam orgulho, materialismo e tirania, sob um manto e pretexto de religiosidade. Mas esses eram os ídolos e os queridos do povo, que pensava: Se apenas dois homens forem ao céu, um deles deve ser um fariseu. Então Cristo orienta o seu discurso à multidão, e aos seus discípulos (v.1), para corrigir os seus enganos a respeito desses escribas e fariseus, mostrando como eles realmente eram, e, dessa maneira, removendo o preconceito que alguns, entre as multidões, tinham alimentado contra Cristo e a sua doutrina, porque ela era combatida por aqueles homens da sua igreja, que se chamavam de guias do povo. Note que é bom conhecer o verdadeiro caráter dos homens, para que não nos impressionemos com nomes poderosos, títulos e pretensões ao poder: As pessoas precisam saber dos “lobos” (Atos 20.29,30), dos “cães” (Filipenses 3.2), dos “obreiros fraudulentos” (2 Coríntios 11.13), para que possam saber como levantar as suas defesas. E não somente a multidão, mas até mesmo os discípulos precisam desses avisos, pois os bons homens podem ter seus olhos deslumbrados com a pompa mundana

Nesse discurso:

I – Cristo permite o trabalho deles, de explicar a lei: “Os escribas e fariseus” (isto é, todo o sinédrio, que estava à frente do governo religioso, do que eram todos chamados escribas, e alguns deles, fariseus) estão assentados “na cadeira de Moisés” (v. 2), como professores públicos e intérpretes da lei; e sendo a lei de Moisés a lei civil do seu Estado, eles eram como juízes, ou como um tribunal de juízes – ensinar e julgar pareciam ser equivalentes, comparando 2 Crônicas 17.7,9 com 2 Crônicas 19.5,6,8. Eles não eram os juízes itinerantes, que faziam o circuito, mas o tribunal que deliberava nas apelações, nos veredictos especiais ou nas decisões enganosas, pela lei; eles estavam assentados na cadeira de Moisés, não no seu papel de mediador entre Deus e Israel, mas somente no seu papel de presidente da suprema corte (Êxodo 18.26). Ou ainda podemos aplicar essas palavras não ao sinédrio, mas aos outros fariseus e escribas, que explicavam a lei e ensinavam as pessoas como aplicá-la a situações particulares. O “púlpito de madeira”, assim como tinha sido feito para Esdras, que realmente foi um “escriba” na lei de Deus ( Neemias 8.4), aqui é chamado de “cadeira de Moisés”, porque Moisés tinha um deles em cada cidade (esta é a expressão em Atos 15.21), e naqueles púlpitos era lido; este era o seu trabalho, e era justo e honrado; era necessário que houvesse alguns em cuja boca as pessoas pudessem buscar a lei (Malaquias 2.7). Considere:

1. Muitos bons lugares estão cheios de homens maus; não é novidade que os mais vis dos homens sejam exaltados, até mesmo na cadeira de Moisés (Salmos 12.8), e, quando isto acontece, os homens não são tão honrados pela cadeira quanto a cadeira é desonrada pelos homens. Todavia, aqueles que se assentavam na cadeira de Moisés eram tão indignamente degenerados, que era tempo que surgisse o grande Profeta, alguém como Moisés, para erigir outra cadeira.

2. Trabalhos e poderes bons e úteis não devem, portanto, ser condenados e abolidos porque, às vezes, caem em mãos de homens maus, que os usam mal. Por isso, não devemos derrubar a cadeira de Moisés porque escribas e fariseus se apoderaram dela; em vez de fazer isso, deve-se deixar “crescer ambos juntos até à ceifa” (cap. 13.30).

Aqui Ele conclui (v. 3): “Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem”. Enquanto eles estiverem assentados na cadeira de Moisés, isto é, lendo e pregando a lei que foi dada por Moisés” (que, como antes, continuava em pleno vigor, força e virtude), “e julgando de acordo com aquela lei, devereis dar ouvidos a eles, pois eles vos recordam a palavra escrita”. Os escribas e fariseus viviam de estudar as Escrituras, e estavam familiarizados com a sua linguagem, história e costumes, e o seu estilo e fraseologia. Cristo queria que o povo fizesse uso da ajuda que eles lhe davam para compreender as Escrituras, e agisse de maneira correspondente. Enquanto os seus comentários realmente exemplificassem o texto, e não o corrompessem; enquanto eles deixassem claro, e não vazio, o mandamento de Deus, eles deveriam ser observados e obedecidos, mas com precaução e com um juízo de sabedoria. Note que não devemos pensar mal das boas verdades que estão sendo pregadas por maus ministros; nem de boas leis que são executadas por maus magistrados. Embora seja mais desejável ter o nosso alimento trazido por anjos, ainda que Deus nos envie o alimento por intermédio de corvos, se ele for bom e íntegro, nós devemos tomá-lo e agradecer a Deus por ele. O nosso Senhor Jesus disse isso para evitar a objeção que muitos estariam dispostos a fazer às suas palavras seguintes, como se, ao condenar os escribas e os fariseus, Ele desejasse desprezar a lei de Moisés e afastar as pessoas dela; pois Ele não veio para destruir a lei, mas para cumpri-la. Observe que é sábio evitar as exceções que podem ser feitas com reprovações justas, especialmente quando existe oportunidade de distinguir entre os trabalhado­ res e o seu trabalho, para que o “ministério não seja censurado”, quando os ministros o são.

II – Ele condena os homens. Ele tinha ordenado que a multidão fizesse o que escribas e fariseus diziam; mas aqui Ele anexa um aviso para não fazer o que eles faziam, para que se acautelassem do seu fermento. “Não pro­ cedais em conformidade com as suas obras”. Suas tradições eram suas obras, eram seus ídolos, as obras de seu capricho. Ou: “Não procedais de acordo com seu exemplo”. As doutrinas e os costumes são coisas que devem ser experimentadas, e, se houver oportunidade, devem ser cuidadosamente separadas e distinguidas; e da mesma maneira como não devemos aceitar doutrinas corruptas, em nome de quaisquer práticas louváveis daqueles que as ensinam, também não devemos imitar nenhum mau exemplo, em nome de doutrinas plausíveis daqueles que as definem. Os escribas e fariseus se orgulhavam tanto da bondade das suas obras quanto da ortodoxia dos seus ensinamentos, e esperavam ser justificados por isso; era a oração que eles faziam (Lucas 18.11,12). Mas essas coisas, que eles valorizavam tanto, eram abominações aos olhos de Deus.

Aqui, como também nos versículos seguintes, o nosso Salvador especifica diversas particularidades das obras dos escribas e fariseus, mostrando que não devemos imitá-los. De maneira geral, eles são acusados de hipocrisia, dissimulação ou fraude na religião; um crime que não pode ser levado ao tribunal dos homens, porque nós podemos julgar somente de acordo com a aparência externa; mas Deus, que sonda o coração, pode condenar de hipocrisia, e nada lhe é mais desagradável, pois Ele deseja a verdade.

Nesses versículos, eles são acusados de quatro transgressões.

1. O que eles faziam e o que eles diziam eram duas coisas diferentes. O que eles faziam não estava de acordo, de maneira nenhuma, com a sua pregação ou com a sua profissão: “porque dizem, e não praticam”. Eles ensinam, da lei, aquilo que é bom, mas a sua conduta perpetra a mentira, e eles parecem ter encontrado outro caminho para o céu, para si mesmos, que não é o caminho que mostram aos outros. Veja isso exemplificado e demonstrado a eles, Romanos 2.17-24. Os pecadores mais imperdoáveis são aqueles que se permitem os pecados que condenam nos outros, ou piores. Isto toca especial­ mente os maus ministros, que seguramente terão a sua parte destinada com os hipócritas (cap. 24.51). Pois será que pode haver hipocrisia maior do que ensinar aos outros aquilo que deve ser crido e feito, se quem o ensina não crê naquilo, e desobedece, destruindo no seu comportamento aquilo que edificam na sua pregação? Quando no púlpito, pregam tão bem que é uma pena que tenham que sair de lá; mas fora do púlpito, vivem de maneira tão má que é uma pena que tenham que subir ao púlpito; como sinos, que chamam os outros à igreja, mas eles mesmos não vão; ou postes com lâmpadas de mercúrio, que indicam o caminho aos outros, mas ficam parados. Estes serão julgados a partir das suas próprias bocas. Isto se aplica a todos aqueles que dizem e não fazem; que fazem uma profissão de fé plausível, mas não vivem de acordo com aquela profissão; que fazem boas promessas, mas não as cumprem; que estão cheios de palavras bonitas, e podem apresentar a lei a todos os que estão ao seu redor, mas não possuem boas obras; grandes oradores, porém maus praticantes. ”A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú”. Eles falam bem: “Eu vou, senhor”; mas não se pode confiar neles, pois “sete abominações há no seu coração”.

2. Eles eram muito severos ao impor aos outros aquelas coisas às quais eles não estavam dispostos a submeter-se (v. 4): “atam fardos pesados e difíceis de suportar”, não apenas insistindo sobre as mínimas circunstâncias da lei, que é chamada de “jugo” (Atos 15.10), e obrigando a sua observância com mais rigidez e severidade do que o próprio Deus o fez, mas também fazendo acréscimos à sua palavra, e impondo as suas próprias invenções e tradições, sob as mais pesadas punições. Eles se compraziam em mostrar a sua autoridade e exercer a sua faculdade dominante, governando sobre a herança de Deus e dizendo à alma dos homens: ”Abaixa-te, para que passemos sobre ti”. Eles testemunham os seus muitos acréscimos à lei do quarto mandamento, com que tornaram o sábado um fardo sobre os ombros dos homens, quando deveria ser a alegria de seus corações. Assim, com “rigor e dureza”, estes pastores dominam o rebanho, como antigamente (Ezequiel 34.4).

Mas veja a sua hipocrisia: “Eles, porém, nem com o dedo querem movê-los”.

(1) Eles não praticavam aquelas coisas que impunham sobre os outros; eles obrigavam o povo a uma rigidez na religião à qual eles mesmos não se curvavam; mas, secretamente, transgrediam as suas próprias tradições, que publicamente obrigavam. Eles eram indulgentes com o seu próprio sentimento de orgulho por ensinarem a lei aos outros; mas quando se tratava do seu comportamento, procuravam a sua própria comodidade. Assim foi dito, para censura dos sacerdotes papistas, que eles jejuam com vinho e alimentos deleitosos, enquanto obrigam o povo a jejuar com pão e água, e se esquivam das penitências que impõem aos leigos.

(2) Eles não aliviavam as pessoas, no que dizia respeito a essas coisas, nem moviam um dedo para aliviar a sua carga, mesmo vendo que era excessiva. Eles eram capazes de fazer adições frívolas à lei de Deus, e ensiná-la assim, e não diminuíam nada das suas próprias imposições, nem perdoavam sequer as menores falhas, nos menores detalhes. Eles não permitiam que nenhum tribunal diminuísse a rigidez da sua lei comum. Como era contrária a isso a prática dos apóstolos de Cristo, que permitiam aos outros o uso da liberdade cristã e, em benefício da paz e da edificação da igreja, negavam-na a si mesmos! Eles não colocavam nenhuma carga além das necessárias; pelo contrário, procuravam diminuí-las (Atos 15.28). Com que cuidado Paulo poupa aqueles a quem escreve! (1 Coríntios 7.28; 9.12).

3. Tudo o que faziam na religião era para exibição, e não pelo seu conteúdo (v. 5): “fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”. Nós devemos fazer obras tão boas que aqueles que as veem possam glorificar a Deus; mas não devemos proclamar as nossas boas obras, com o objetivo de que os outros as vejam e nos glorifiquem, que é a acusação que o nosso Salvador aqui faz aos fariseus, de maneira geral, como já tinha feito antes, nos exemplos particulares de oração e esmolas. Tudo o que eles queriam era ser objeto de louvor dos homens, e, portanto, os seus esforços deviam ser vistos pelos homens, para fazer um bom espetáculo para a carne. Nos deveres da religião que estavam diante dos olhos dos homens, ninguém era tão constante e abundante quanto eles; mas naquilo que estava entre Deus e as suas almas, no isolamento de suas câmaras, e nos recessos de seus corações, eles dispensavam a si mesmos da mais pura obediência. A religiosidade lhes dava um nome para viver, que era tudo o que eles queriam, e por isso não se preocupavam com o poder dela, que é essencial para a vida. Aquele que faz tudo para ser visto, não faz nada adequado.

Jesus especifica duas coisas que eles faziam para que os homens vissem.

(1). “Trazem largos filactérios” – pequenos rolos de papel ou pergaminho, onde estavam escritos, com grande delicadeza, quatro parágrafos da lei (Êxodo 13.2-11; 13.11-16; Deuteronômio 6.4-9; 11.13-21). Eram costurados com couro, e eram usados sobre suas cabeças e braços esquerdos. Era uma tradição dos anciãos que tinha a sua referência em Êxodo 13.9 e Provérbios 7.3, onde as expressões parecem ser figurativas, sugerindo nada além de nós termos que ter em mente as coisas de Deus tão cuidadosamente como se elas estivessem entre os nossos olhos. Os fariseus faziam esses filactérios grandes, para que pudessem parecer mais santos, rígidos e entusiasmados pela lei do que os outros. É uma ambição graciosa cobiçar ser realmente mais santo que os outros, mas é uma ambição arrogante cobiçar parecer assim. É bom sentir bastante piedade verdadeira, mas não exceder as suas demonstrações externas, pois o exagero é, corretamente, considerado como sendo um plano (Provérbios 27.14). É o pretexto da hipocrisia que faz mais tumulto do que é necessário no serviço externo; mais do que é necessário para provar ou aprimorar os bons afetos e as disposições da alma.

(2). ”Alargam as franjas das suas vestes”. Deus ordenou que os judeus fizessem franjas nas vestes (Números 15.38), para distingui-los das outras nações, e para lembrá-los de que eram um povo peculiar; mas os fariseus não estavam satisfeitos em ter as suas franjas iguais às das outras pessoas (o que poderia servir ao desígnio de Deus), mas as suas deviam ser mais largas do que as normais, para atender ao seu desejo de serem observados; como se eles fossem mais religiosos do que os outros. Mas aqueles que aumentam os seus filactérios e as franjas das suas vestes enquanto os seus corações se encolhem e se esvaziam do amor a Deus e ao seu próximo, embora possam então enganar os outros, só enganarão, no final, a si mesmos.

4. Eles gostavam da proeminência e da superioridade, e se orgulhavam extremamente delas. O orgulho era o pecado reinante dos fariseus, o pecado que mais facilmente os assediava, e contra o qual o Senhor aproveitava todas as oportunidades para testemunhar.

(1) O Senhor descreve o orgulho deles (vv. 6,7). Eles amavam e cobiçavam:

[1]. Os lugares de honra e respeito. Em todas as aparições públicas, como ceias, e nas sinagogas, eles esperavam e recebiam, para alegria dos seus corações, os primeiros lugares e as primeiras cadeiras. Eles tomavam os lugares dos outros, e tinham precedência, como pessoas de grande mérito. E é fácil imaginar a complacência que recebiam, eles amavam ter a proeminência (3 João 9). O que é condenado não é possuir os primeiros lugares, ou sentar-se nas melhores cadeiras (alguém precisa se sentar nelas), mas gostar disso; entretanto, muitos homens valorizam uma cerimônia tão pequena quanto sentar-se nos lugares mais visíveis, entrar primeiro, ficar junto à parede, ou do melhor lado, com o objetivo de se valorizarem. Eles procuram conseguir essas coisas, e sentem ressentimentos quando não as conseguem; isto nada mais é do que fazer um ídolo de si mesmo. Cair de joelhos e adorar este ídolo é o pior tipo de idolatria! Isto seria ruim em qualquer lugar, mas especialmente nas sinagogas. Aqueles que procuram a honra para si mesmos quando comparecem para dar glória a Deus, e para se humilhar diante dele, realmente desprezam a Deus, em vez de servi-lo. Davi preferiria estar à porta da casa de Deus; ele estava assim distante de cobiçar o principal lugar ali (Salmos 84.10). É uma evidência de orgulho e hipocrisia quando as pessoas não se preocupam em ir à igreja, a menos que possam parecer elegantes e marcar presença ali.

[2]. Títulos de honra e respeito. Eles amavam “as saudações nas praças”, amavam ver as pessoas tirando os chapéus para saudá-los, e mostrando-lhes respeito quando os encontravam nas ruas. Oh! Como isso os contentava, e alimentava seu humor vão, ser apontados, e ter isto dito deles: Este é ele, ter o caminho aberto para eles entre a multidão na praça: ”Abram caminho, um fariseu está vindo!”, e ser saudados com o título pomposo de “Rabi, Rabi!”. Isto era comida e bebida e guloseima para eles; e eles tinham tanta satisfação com isso quanto Nabucodonosor teve com o seu palácio, quando disse: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” As saudações não teriam lhes feito tanto bem, se não tivessem estado nas praças, onde todos podiam ver o quanto eram respeitados, e o quanto eram considerados na opinião das pessoas. Foi pouco tempo antes da época de Cristo que os mestres judeus, os mestres de Israel, tinham adotado o título de Rabi, Rab, ou Raban, que significa grande, ou muito, e era interpretado como Doutor; ou, Meu senhor. E eles enfatizavam tanto o título, que criaram uma máxima que dizia que “aquele que saúda o seu mestre e não o chama de Rabi, faz com que a divina majestade se afaste de Israel”. Eles colocavam muita religiosidade naquilo que era apenas uma questão de boas maneiras! O fato de aquele que é instruído na Palavra demonstrar respeito àquele que lhe ensina representa um elogio suficiente por parte daquele que demonstra o respeito; mas o fato de aquele que ensina a gostar disso, e exigir isso, inchando-se de orgulho com isso e se desagradando se isso for omitido, é pecaminoso e abominável; e, em vez de ensinar, ele precisa aprender a primeira lição da escola de Cristo, que é a humildade.

(2) Jesus aconselha os seus discípulos para que não sejam como eles; nisso, eles não devem seguir as suas palavras. “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre” (v. 8).

Aqui está:

[1] Uma proibição do orgulho. Eles aqui são proibidos:

Em primeiro lugar, de exigir títulos de honra e autoridade para si mesmos (vv. 8-10). Isto se repete duas vezes: “não queirais ser chamados Rabi… nem vos chameis mestres”; não que seja ilícito prestar respeito civil àqueles que estão acima de nós no Senhor; na verdade, trata-se de um exemplo da honra e da estima que temos obrigação de mostrar a eles; mas:

1. Os ministros de Cristo não devem apreciar o nome Rabi, ou Mestre, para se diferenciarem das demais pessoas. Não está de acordo com a simplicidade do Evangelho, o fato de eles cobiçarem ou aceitarem a honra que têm os que estão nos palácios dos reis.

2. Eles não devem pressupor a autoridade e o domínio sugeridos nesses nomes, eles não devem ser imperiosos nem dominantes sobre seus irmãos, nem sobre a herança de Deus, como se tivessem controle sobre a fé dos cristãos. Todos devem receber deles aquilo que eles receberam do Senhor; mas, em outras coisas, eles não devem tornar as suas opiniões e vontades uma regra e um padrão para todos os demais, e não devem apresentá-los como se trouxessem, de forma implícita, a necessidade de obediência. As razões para essa proibição são:

(1). “Um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo” (v. 8), e outra vez no versículo 10. Observe que:

[1] Cristo é o nosso Mestre, nosso professo1 nosso guia. George Herbert, quando mencionava o nome de Cristo, normalmente acrescentava: Meu Mestre.

[2] Somente Cristo é nosso Mestre, os ministros são apenas aceitos na escola. Somente Cristo é o Mestre, o grande Profeta, a quem devemos ouvir, e por quem devemos ser governados, cuja palavra deve ser um oráculo e uma lei para nós. “Em verdade, eu vos digo” deve ser suficiente para nós. E uma vez que somente Ele é o nosso Mestre, se os seus ministros se estabelecerem como ditadores, e pretende­ rem ter uma supremacia e uma infalibilidade, estarão praticando uma usurpação ousada daquela honra de Cristo, que Ele não dará a ninguém mais.

(2). “Todos vós sois irmãos”. Os ministros são irmãos, não somente entre si, mas de todo o povo; e por isso é ruim que eles sejam mestres, uma vez que não há ninguém para ser dominado por eles, exceto seus irmãos; sim, e todos nós somos jovens irmãos, caso contrário os mais velhos poderiam reivindicar ser “os mais excelentes em alteza e poder” (Genesis 49.3). Mas para evitar isso, o próprio Cristo é “o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8.29). “Vocês são irmãos”, como são também todos discípulos do mesmo Mestre. Os colegas de escola são irmãos, e, como tal, devem ajudar-se, uns aos outros, para aprender a lição, mas isto não significa, de maneira nenhuma, permitir que um dos alunos suba ao lugar do Mestre, e conduza a escola. Se nós somos todos irmãos, não devemos, muitos de nós, ser mestres (Tiago 3.1).

Em segundo lugar, eles são proibidos de atribuir tais títulos a outros (v. 9): “A ninguém na terra chameis vosso pai”. Que ninguém seja o pai da sua religião, isto é, o seu fundador, autor, diretor e governador. Os nossos pais segundo a carne devem ser chamados de pais, e, como tais, devemos prestar-lhes reverência; mas somente Deus deve ser considerado o Pai do nosso espírito (Hebreus 12.9). A nossa religião não deve se originar de nenhum homem, nem depender de qualquer homem. Nós nascemos de novo para a vida espiritual e divina, “não de semente corruptível, mas… pela palavra de Deus”; não “da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”. A vontade do homem não é a origem da nossa religião, e também não deve ser o que a governa. Não devemos aos ditames de nenhuma criatura, nem que se trate da mais sábia, nem da melhor, nem prender a nossa fé à manga de qualquer homem, porque não sabemos corno ele a conduzirá. O apóstolo Paulo se chama de pai para aqueles de cuja conversão ele foi um instrumento (1 Coríntios 4.15; Filemom 10), mas ele não deseja ter domínio sobre eles, e usa esse título para sugerir, não autoridade, mas afeto: por isso, ele não os considera devedores, mas seus “filhos amados” (1 Coríntios 4.14).

[1]. A razão dada é: “Um só é o vosso Pai, o qual está nos céus”. Deus é o nosso Pai, e Ele é tudo na nossa religião. Ele é a sua fonte, e o seu fundador; a sua vida, e o seu Senhor; somente dele, como origem, deriva a nossa vida espiritual, e somente dele ela depende. Ele é o “Pai das luzes” (Tiago 1.17), aquele que é “um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos” (Efésios 4.6). Tendo Cristo nos ensinado a dizer: “Pai nosso, que estás nos céus”, não chamemos de pai a nenhum homem sobre a terra; nenhum homem, porque o homem é um verme, e o filho do homem é um bicho, talhado da mesma rocha que nós. Isto ocorre especialmente sobre a terra, pois o homem sobre a terra é um verme pecador. Não existe um só homem sobre a terra que faça o bem e que não peque; por isso, ninguém está apto para ser chamado de pai.

[2]. Aqui está um preceito de humildade e de submissão mútua (v.11): “O maior dentre vós será vosso servo”. Não somente se chamará assim (sabemos que existe aquele que se intitula Servo dos servos de Deus, mas age corno Rabi, e pai, e mestre, e – O Senhor nosso Deus, porém não o é) mas o será. Interprete isto como uma promessa: Será considerado o maior, e estará mais elevado na graça de Deus, aquele que for mais submisso e servil. Ou corno um preceito: Aquele que subir a qualquer lugar de dignidade, confiança e honra, na igreja, seja seu servo (algumas cópias apresentam esta em lugar de estar); que ele não pense que essa patente de honra seja urna ordem de comodidade. Não. Aquele que é maior não é um senhor, mas um ministro. O apóstolo Paulo, que conheceu o seu privilégio tão bem corno um dever, embora “sendo livre para com todos”, ainda assim se fez “servo de todos” (1 Coríntios 9.19). E o nosso Mestre frequentemente insistiu com os seus discípulos para que fossem humildes e renuncias­ sem a si mesmos, que fossem moderados e condescendentes, e que fossem abundantes em todos os ofícios do amor cristão, embora fossem simples, e os mais simples de todos, e disso Ele nos deu o exemplo.

[3]. Aqui está urna boa razão para tudo isso (v. 12). Considere:

Em primeiro lugar, a punição destinada aos orgulhosos: “O que a si mesmo se exaltar será humilhado”. Se Deus lhes der o arrependimento, eles serão humilhados aos seus próprios olhos, e se detestarão por isso; se não se arrependerem, mais cedo ou mais tarde serão humilhados perante o mundo. Nabucodonosor, do auge do seu orgulho, foi levado para junto dos animais. Herodes, para ser um jantar para os vermes. E a Babilônia, que se sentava como rainha, para ser espanto entre as nações. Deus tornou “desprezíveis e indignos” os sacerdotes orgulhosos e ambiciosos (Malaquias 2.9), e o profeta que ensina a falsidade, “a cauda” (Isaias 9.15). Mas se os homens orgulhosos não tiverem sinais de humildade colocados sobre si neste mundo, chegará o dia em que eles ressuscitarão “para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12.2). “O Senhor… retribui com abundância aos soberbos” (Salmos 31.23). Em segundo lugar, a dignidade e a honra que são direcionadas ao humilde. “O que a si mesmo se humilhar será exaltado”. A humildade é um ornamento “precioso diante de Deus”. Neste mundo, os humildes têm a honra de serem aceitos pelo Deus santo, e respeitados por todos os homens bons e sábios; de serem qualificados, e frequentemente chamados para os mais honrosos serviços; pois a honra é como a sombra, que foge daquele que a persegue e tenta agarrá-la, mas segue aqueles que fogem dela. No entanto, no outro mundo, com o seu Deus, e com a condescendência dos seus irmãos, os humildes serão exaltados, para herdar o trono da glória. Eles não serão apenas reconhecidos, mas coroados diante dos anjos e dos homens.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PSICOLOGIA DA TIRANIA

Comportamentos autoritários e brutais dependem da personalidade e da organização social. Grupos não suprime valores e crenças pessoais, mas tendem a acirrar características individuais.

Psicologia da tirania

Imagens de desumanidade e atrocidades estão gravadas em nossa memória. Judeus – homens, mulheres e crianças – sendo levados para as câmaras de gás. Vilas inteiras destruídas por bandos enfurecidos em Ruanda. Reincidência sistemática de estupro e destruição de comunidades como estratégia de “limpeza étnica” nos Bálcãs. O massacre de My Lai no Vietnã do Sul, a tortura de prisioneiros iraquianos em Abu Graib e, mais recentemente, a carnificina causada por ataques suicidas de homens-bomba em Bagdá, Jerusalém, Londres e Madri. Quando refletimos sobre esses fatos, uma pergunta é inevitável: o que faz com que as pessoas sejam tão brutais? Elas têm problemas psiquiátricos? São produto de famílias desajustadas? Será que, dadas as condições certas – ou melhor, erradas – qualquer um é capaz de protagonizar atos extremos de violência coletiva? As pesquisas mais recentes, incluindo o que é provavelmente o maior experimento de psicologia social das últimas três décadas, estão abrindo novos caminhos para a explicação desses enigmas.

As perguntas sobre a crueldade coletiva foram responsáveis por alguns dos maiores desenvolvimentos da psicologia social desde a Segunda Guerra. Começando pela necessidade de entender os processos psicológicos que tornaram possíveis o horror do Holocausto, os cientistas têm procurado saber como pessoas aparentemente civilizadas e decentes podem perpetrar atos tão pavorosos.

Inicialmente, os teóricos procuraram explicar o comportamento patológico de alguns grupos por meio do estudo da psicologia individual. Em 1961, a historiadora e filósofa política americana de origem alemã Hannah Arendt acompanhou em Jerusalém o julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais mentores do Holocausto. Ela concluiu que o acusado, longe de apresentar uma “personalidade sádica e pervertida” (como afirmavam os psiquiatras da acusação), era um homem comum e surpreendentemente simples. Arendt afirmaria que Eichmann era a encarnação da “banalidade do mal”.

Publicada em 1963 na revista New Yorker, a análise de Arendt foi considerada chocante e herética. No entanto, vários estudos feitos na mesma época chegaram às mesmas conclusões da filósofa. Em experimentos realizados em acampamentos de verão no final da década de 50, o psicólogo social Muzafer Sherif, nascido na Turquia e naturalizado americano, descobriu que meninos em idade escolar se tornavam cruéis e agressivos com seus colegas quando colocados em grupos que tinham de competir por recursos escassos.

Ainda mais impressionantes são os estudos sobre obediência realizados na Universidade Yale no começo dos anos 60 por Stanley Milgram. Em experiência simulada sobre a memória, homens comuns foram orientados a dar choques com intensidade crescente numa pessoa que se passava por aluno (era na verdade um assistente do coordenador da pesquisa, e não sentia os choques). Todos os “professores” estavam dispostos a aplicar “choques intensos” de 300 volts e dois terços deles fizeram tudo que o coordenador da pesquisa pediu, dando o que acreditavam ser choques de 450 volts. Os participantes da experiência continuaram a punir os alunos mesmo depois de saberem que eles tinham problemas cardíacos e de ouvi-los gritar de dor. Milgram concluiu que a concepção de banalidade do mal de Hannah Arendt está mais próxima da realidade do que gostaríamos de imaginar”.

Essa linha de pesquisa teve seu ponto culminante no “experimento do prisioneiro”, realizado pelo psicólogo Philip G. Zimbardo na Universidade Stanford em 1971. A pesquisa distribuiu aleatoriamente estudantes universitários nos papéis de prisioneiro ou de guarda numa prisão simulada. Estudaram-se a dinâmica intra e a intergrupal por duas semanas. Os guardas (com Zimbardo no papel de supervisor) exerceram poder de forma tão cruel que o experimento teve de ser suspenso apenas seis dias depois de iniciado.

Os pesquisadores concluíram que membros de grupos não conseguem resistir às pressões da posição que assumem e que a brutalidade é a expressão “natural” de papéis associados a grupos que têm poderes desiguais. Duas máximas com enorme influência tanto no nível científico como no cultural surgiram em consequência do experimento de Stanford. A primeira é que os indivíduos perdem a capacidade de realizar julgamentos intelectuais e morais quando estão em grupo; portanto, os grupos são perigosos por natureza. A segunda é que as pessoas têm um impulso inevitável de agir de modo tirânico quando se reúnem coletivamente e detêm poder.

O impacto do experimento de Stanford se deve tanto às suas descobertas impressionantes como às conclusões simplistas que suscitou. Com o passar dos anos, no entanto, os psicólogos sociais começaram a questionar as conclusões que o senso comum tirou da experiência.

A ideia de que grupos dotados de poder se tornam automaticamente tirânicos não leva em consideração a liderança efetiva que os pesquisadores desempenharam. Zimbardo teria dito o seguinte a seus guardas, “Podem criar nos prisioneiros um sentimento de medo em algum grau e uma noção de arbitrariedade de modo que a vida deles pareça depender completamente de nós. Prisioneiros não têm liberdade para agir, não podem fazer nem falar nada sem a nossa permissão. Nós vamos roubar sua individualidade de diversos modos”.

Outro questionamento leva em conta que grupos não praticam apenas atos anti sociais. Em pesquisas – como na sociedade – os grupos em geral surgem como meio de resistir à opressão e aos incentivos para agir destrutivamente. Em estudos parecidos com os testes de obediência de Milgram, os participantes eram muito mais propensos a resistir aos aplicadores da pesquisa quando eles eram apoiados por outros participantes que também desobedeciam aos aplicadores.

Além disso, estudos realizados após o experimento de Stanford têm confirmado os aspectos dos grupos que são enriquecedores e positivos para a coletividade. Uma abordagem sobre grupos bastante influente na psicologia social contemporânea é a da identidade social, desenvolvida em 1979 pelos psicólogos sociais John Turner, atualmente na Universidade Nacional da Austrália, e Henri Tajfel, então na Universidade de Bristol, Inglaterra. Essa teoria sustenta que é sobretudo em grupo que as pessoas – especialmente aquelas que são desprovidas de poder – podem se tornar agentes efetivos que desenham seu próprio destino.

Quando compartilham uma identidade (por exemplo, somos todos americanos, “somos todos católicos”), os indivíduos procuram o consenso, confiam mais uns nos outros, são mais propensos a seguir os líderes dos grupos e formam organizações mais eficientes. Isso é evidenciado nos extensos estudos sobre cooperação em grupos conduzidos recentemente por Steven L. Blader e Tom R. Tyler, da Universidade de Nova York. Os estudos concluíram que as pessoas podem se unir para criar um mundo social baseado nos valores que compartilham – gerando um estado de “auto- realização coletiva”, o que é muito bom para o bem-estar psicológico.

Possuir o apoio social para controlar o seu destino pode fazer com que o indivíduo tenha maior auto estima, menos stress e níveis mais baixos de ansiedade e pressão.

 PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE

As pessoas que compartilham senso de identidade em grupo apresentam duas características sociais preponderantes. Primeiro, não perdem a capacidade de fazer julgamentos, mas a base de suas decisões se desloca de suas noções individuais para as crenças coletivamente estabelecidas. Como foi demonstrado por estudos de campo realizados por um de nós, Reicher, mesmo as ações coletivas mais extremas, como uma rebelião, apresentam padrão de comportamento que reflete crenças, normas e valores do grupo. Segundo, as respostas das pessoas variam de acordo com qual noção de pertencimento a um grupo é mais forte em cada momento. Normas e valores que usamos em nosso trabalho, na condição de empregados, podem ser diferentes daqueles que nos governam como fiéis em nossos lugares de devoção, como militantes em uma manifestação política ou como patriotas durante o hasteamento da bandeira.

Assim, ao contrário das conclusões tiradas a partir do experimento de Stanford, os teóricos da identidade social têm argumentado contra a ideia de que as pessoas aceitam automaticamente a filiação a grupos que outros atribuem a elas. Com muita frequência os sujeitos se distanciam dos grupos, principalmente aqueles que são desvalorizados na sociedade. Por exemplo, na década de 70, Howard Giles e Jennifer Williams, ambos da Universidade de Bristol, chamaram a atenção para o fato de que muitas mulheres reagiam à desigualdade menosprezando seu próprio gênero, enfatizando qualidades pessoais e buscando o sucesso. Apenas quando elas acreditam que não podem escapar – isto é, quando os limites entre os grupos são “impermeáveis”, como argumentaram as feministas quando apontaram o “telhado de vidro”- elas se identificarão com o grupo desvalorizado e agirão coletivamente. Além disso, elas somente estarão preparadas para usar o seu poder coletivo para confrontar o status quo e tentar melhorar a posição de seu grupo se acharem que o sistema social suscetível a mudanças.

Uma grande quantidade de pesquisas, incluindo experimentos controlados de laboratório, extensos levantamentos por questionários e observações de campo detalhadas, corrobora a abordagem da identidade social. Ainda assim, até recentemente, não havia um único estudo do tipo realizado por Sheril, Milgram e Zimbardo que pudesse ilustrar e combinar as várias proposições da teoria de modo amplo e convincente. Mais do que isso, parecia impossível realizar um estudo desses. Apesar de todas as dúvidas que pairam em torno do experimento de Stanford, sua própria radicalidade parecia tolher projetos nos mesmos moldes.

A situação mudou com o recente experimento do prisioneiro realizado pela BBC. Colaboramos com a pesquisa da British Broadcastnig Corporation, que a financiou e televisionou em quatro documentários de uma hora cada. Nosso primeiro desafio foi desenvolver procedimentos éticos para garantir que, apesar de sua intensidade, o estudo não causaria mal a seus participantes. Instituímos uma série de medidas de proteção, apoio psicológico em tempo integral e uma equipe de ética. Segundo as conclusões do relatório da equipe, mostramos que é possível conduzir estudos de campo dinâmicos com balizamento ético.

O EXPERIMENTO DA BBC

Como no experimento de Stanford, o da BBC dividiu aleatoriamente guardas e prisioneiros em um ambiente construído especialmente para isso. O cenário era uma prisão, mas nosso objetivo era representar uma classe mais ampla de instituições – escritório ou escola – em que um grupo tem mais poder e privilégio que o outro. Acompanhamos o comportamento dos participantes através de câmeras escondidas e monitoramos seu estado psicológico com testes diários. O bem-estar de cada um foi medido pela quantidade de cortisol –  um indicador de stress –  coletado da saliva.

Apesar de termos seguido o mesmo paradigma do experimento de Stanford, nossa pesquisa era diferente em muitos pontos. Para estudar as dinâmicas de grupo sem interferir diretamente nessas interações, não presumíamos nenhum papel específico na prisão, ao contrário de Zimbardo. Além disso, manipulamos características de hierarquia que, de acordo com a teoria da identidade social, deveriam afetar a identificação dos prisioneiros com seu grupo e as formas de comportamento que eles adotariam em consequência disso. Mais importante, no entanto, foi que nós variamos a permeabilidade dos limites dos grupos, permitindo oportunidades de promoção de um prisioneiro a guarda, mas depois eliminando-as. Esperávamos que, com a possibilidade de promoção, os prisioneiros procurassem rejeitar sua identidade e trabalhassem para melhorar sua própria posição. Prevíamos que essa estratégia reforçaria o status quo e permitiria aos guardas manter ascendência sobre os prisioneiros. Depois de suprimida a possibilidade de promoção (no terceiro dia), achávamos que os prisioneiros começariam a colaborar entre si para resistir à autoridade dos guardas.

Os resultados confirmaram as previsões. Inicialmente, eles eram submissos e trabalhavam duro para melhorar sua situação. Passaram a se identificar como grupo e pararam de cooperar com os guardas apenas quando ficaram sabendo que continuariam a ser prisioneiros apesar de todo e qualquer esforço. Mais importante, essa identidade compartilhada levou a uma melhor organização, eficiência e bem-estar psicológico. À medida que o experimento avançava, os prisioneiros se tomavam mais confiantes.

Os guardas, contudo, nos surpreenderam. Vários deles, assombrados pela ideia de que a associação de grupos e poder é perigosa, relutavam em exercer controle. Desconfortáveis com suas tarefas, discordavam de outros guardas sobre como desempenhar seus papéis e não chegaram a desenvolver um senso de identificação. Essa ausência de identidade levou à diminuição da capacidade organizacional, o que reduziu a eficiência em manter a ordem e os deixou cada vez mais desanimados e esgotados. Com o progresso do experimento, a administração dos guardas ficou mais e mais frágil.

Depois de seis dias, os prisioneiros se uniram para desafiá-los. A essa altura eles estavam bastante divididos. A situação levou a uma fuga organizada e ao colapso da estrutura guarda-prisioneiro. Sobre as ruínas do antigo sistema, prisioneiros e guardas criaram espontaneamente um sistema mais igualitário – em suas palavras, “uma comuna autogovernada e autodisciplinada”. Mais uma vez, no entanto, alguns dos membros se sentiam desconfortáveis com a ideia de exercer poder. Eles não puniam os indivíduos que se negavam a realizar as tarefas que lhes eram atribuídas e quebravam as regras do acordo.

Nesse ponto tivemos uma segunda surpresa. Os participantes passaram a não acreditar que poderiam manter a comuna funcionando, o que deixou seus membros completamente perdidos. Como resultado, alguns prisioneiros e guardas tramaram um golpe que os tomaria os novos guardas: requisitaram boinas pretas e óculos escuros como símbolos de uma nova forma de comando autoritário sobre os demais. Eles queriam recriar a divisão guarda-prisioneiro, mas desta vez assegurando controle sobre os prisioneiros – até mesmo com o uso da força, caso necessário.

Esperávamos que os apoiadores da comuna defendessem a estrutura democrática que tinham adotado. Não foi o que aconteceu – ao contrário, eles careciam de vontade individual e coletiva para desafiar o novo regime. Dados psicológicos indicavam que eles haviam se tornado mais autoritários e dispostos a aceitar líderes severos.

De qualquer modo, o golpe não ocorreu. Por razões éticas, não podíamos correr o risco de permitir uso da força como ocorreu no experimento de Stanford, o que nos levou a encerrar o estudo no oitavo dia. Se, por um lado, o resultado final era parecido com o de Stanford, o caminho que os participantes de nossa pesquisa tomaram para chegar a esse ponto foi muito diferente. O fantasma da tirania claramente não era resultado da ação “natural” dos grupos. A tirania surgiu por causa da falência desses grupos entre os guardas, por causa da dificuldade de criar laços de coesão; no caso da comuna, pelo fracasso na tarefa de transformar crenças coletivas em realidade.

 LIÇÕES PARA A SOCIEDADE

Por que os participantes que haviam rejeitado desigualdades impostas e que lutaram para estabelecer um regime democrático terminaram optando pela tirania? Encontramos a resposta em um corolário básico de nossos argumentos. Grupos, segundo definimos, são orientados para a realização individual. Usam o poder social para assegurar comportamentos baseados na imagem que fazem de suas crenças e valores comuns. Mas quando os grupos não conseguem produzir esse modo de funcionamento, seus membros se tornam mais dispostos a aceitar outras estruturas sociais, mesmo se os novos sistemas não vão ao encontro de seu modo de vida. Assim, quando os guardas não conseguiram impor sua autoridade, eles se tomaram mais dispostos a concordar com a democracia. Entretanto, e de modo mais preocupante, quando a comuna caiu por terra, seus membros se tomaram menos propensos a defender a democracia contra a tirania.

Desse estudo e de outras pesquisas sobre processos de identidade social, podemos tirar importantes conclusões. Em termos gerais, concordamos com Sherif, Milgram, Zimbardo e outros que a tirania é o resultado de processos de grupo, não de patologias individuais. Discordamos, no entanto, no que se refere à natureza desses processos. De nosso ponto de vista, as pessoas não perdem a cabeça quando estão agrupadas, não sucumbem inapelavelmente aos requisitos de seus papéis sociais e não abusam automaticamente do poder coletivo. Pelo contrário, identificam-se com grupos apenas quando esse processo tem sentido para elas. E quando o fazem, tentam de forma consciente e ativa, implementar valores coletivos – e o modo como elas exercem o poder depende desses valores.

Em suma, grupos não impedem seus participantes de escolher – ao contrário, oferecem a seus integrantes bases e meios para exercer suas escolhas.

Evidentemente, esse argumento não nega que as pessoas podem fazer coisas terríveis quando unidas. Mas nem todos os grupos no comando e com certeza nem todos os guardas de prisão são brutais. Propor que há algo inerente na psicologia de grupo que torne inevitável a crueldade excessiva é retirar o foco dos fatores específicos que fazem certos grupos tornar-se perversos, brutais e tirânicos.

Dois conjuntos relacionados de circunstâncias podem levar a uma dinâmica tirânica. O primeiro surge quando um grupo com valores sociais opressivos obtém sucesso. Já foi constatado o fato de que grandes atrocidades são cometidas quando pessoas acreditam agir para se defender de um inimigo ameaçador. Alguém poderia se perguntar, como se adotam tais crenças? De nossa parte, perguntamos qual o papel de líderes nacionais ao demonizar grupos “estranhos’ – judeus, tutsis ou muçulmanos.

E quanto a superiores imediatos de unidades militares que encorajam a brutalidade ou a aceitam passivamente? Qual o papel de homens e mulheres comuns quando riem ou fingem não ver a humilhação de um membro de grupo discriminado? Como fica implícito em nossas perguntas, acreditamos que pessoas ajudam a nutrir uma cultura coletiva de ódio e são, portanto, responsáveis por suas consequências.

De modo menos evidente, o segundo conjunto de fatores que pode gerar tirania ocorre quando grupos que tentam introduzir valores humanos e sociais democráticos não são bem-sucedidos. Quando um sistema social entra em colapso, as pessoas acabam se tomando mais abertas a alternativas, mesmo àquelas que antes pareciam pouco atraentes. Além do mais, quando o colapso de um sistema causa tanta destruição que uma vida social regular e previsíveis e mostra inviável, a promessa de uma ordem rígida e hierarquizada se toma mais sedutora. Assim, a queda caótica da democrática República de Weimar levou ao nazismo, a divisão deliberada imposta pelos poderes coloniais facilitou a ascensão de regimes extremamente brutais na África pós-colonial e nos Bálcãs após a queda do regime soviético, e a supressão de formas de organização depois da Guerra do Iraque preparou o terreno para o ressurgimento de forças antidemocráticas no país. Em todos esses casos, a rejeição da democracia pode ser atribuída a estratégias políticas, que procuraram, de forma deliberada, destruir grupos e apeá-los do poder. Nossa sugestão é que, melhor que tentar fazer as pessoas temer os grupos e o poder, é encorajá-las a trabalhar juntas para usar sua força com responsabilidade.

Psicologia da tirania 2

S. ALEXANDER HASLAM e STEPHEN D. REICHER – desenvolvem estudos sobre dinâmica de grupo. HASLAM é professor de psicologia social da Universidade de Exeter, Inglaterra, e editor chefe do European Journal of Social Psychology. REICHER é professor de psicologia social da Universidade de Saint Andrews, Escócia, e ex-editor do British Journal of Social Psychology.

 

OUTROS OLHARES

SOBRE MULHERES E PORCOS

Na contramão da campanha das americanas que estimula mulheres a denunciarem casos de assédio sexual, francesas assinam manifesto que minimiza a luta das vítimas pelo fim da violência machista.

Sobre mulheres e porcos

De um lado, Oprah Winfrey, apresentadora de televisão, americana, negra. A mulher mais rica dos Estados Unidos. Ao ganhar o prêmio Cecil B. De Mille, concedido ás mais importantes figuras da indústria do audiovisual dos Estados Unidos, durante o Globo de Ouro, fez um discurso firme e inflamado pelos direitos das mulheres. “O que eu sei, com certeza, é que falar sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos. E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o suficiente para falar e compartilhar suas histórias pessoais.” Oprah fala das mulheres do movimento Times Up, um fundo que pretende ajudar vítimas de assédio sexual e violência machista. Do outro, Catherine Deneuve, atriz, encabeçando um manifesto de 100 mulheres francesas questionando o uso do termo assédio pelo movimento americano, minimizando as violências sofridas pelas várias vítimas que vieram à imprensa para dar relatos sobre abusos sofridos em postos de trabalho em Hollywood. “Defendemos uma liberdade [dos homens] de importunar”, diz, em certo trecho da carta. Diante da leviandade com que tratamos casos sérios das denúncias feitas, na tentativa de diminuir um movimento que ajuda várias pessoas e dá força para que outras não tenham medo de se esconder, apanhou. E perdeu feio.

São discursos diferentes que partem de realidades antagônicas. Se as artistas francesas nunca passaram por situações de assédio, não cabe a elas dizer a uma mulher se pode ou não sentir-se ofendida com uma investida de um homem mais poderoso que ela no ambiente de trabalho – basicamente o foco do movimento Time’s Up. “Quando as americanas denunciam situações graves, não é só importunação, é um episódio que leva à interdição do trabalho e das expressões pessoais”, afirma Leila Linhares Barsted, fundadora e coordenadora executiva da ONG CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação). Leila, que participou da elaboração do texto da Lei Maria da Penha, explica as diferenças nas realidades dos dois grupos que precisam ser levadas em consideração. “Aparentemente, as francesas estão em posições de maior poder e podem reagir de forma mais contundente. Mas isso não é uma realidade em países como os Estados Unidos ou o Brasil, onde mulheres que denunciam abusos são demitidas ou constrangidas”, diz. Para Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga e criadora das campanhas “Chega de Fiu e “Meu Primeiro Assédio”, essas mulheres são influentes e querem manter o status quo do qual desfrutam. “Tudo bem ter um direcionamento pessoal, mas não é certo colocar como parâmetro para todas”, diz. “Elas estão romantizando um cenário que, para outras pessoas, é de violência”.

Para o psicólogo Carlos Eduardo Zuma, um dos fundadores do Instituto Noos, que atua na prevenção da violência de gênero, o lado bom desse manifesto é suscitar a discussão sobre o que é uma investida, uma paquera, e qual a diferença disso para o assédio. “Assediar é quando alguém usa do seu poder, seja financeiro, profissional, ou de qualquer outro tipo, para obter alguma satisfação sexual”, afirma.  Cabe à mulher dizer se o que acontece a ela é ofensivo ou não. Se uma funcionária convive com um chefe que toca seu joelho, tenta roubar beijos, fala de coisas intimas e envia mensagens com conotação sexual –  situações nas quais, para as francesas, não há nada de errado – e vê nisso um constrangimento, há assédio. “Não significa radicalizar nem entrar em um puritanismo, muito menos colocar a sexualidade como algo ruim”, afirma Zuma. “Tem a ver com como cada uma se sente em determinada situação.”

 “COISAS SANTAS”

No Brasil, o Código Penal não tipifica cantadas ou outras situações em que popularmente se usa o termo assédio. Há a importunação ofensiva ao pudor, que é uma contravenção penal, e o crime de estupro. Se usado o poder ou prestigio para essa aproximação, vira assédio sexual. De outra maneira, não, segundo a promotora de Justiça Gabriela Mansur, especialista em violência contra mulher. Talvez por isso, o uso do termo dê brecha para uma discussão como a que está acontecendo agora. De qualquer maneira, ainda que não esteja incluída em nossa legislação, há um consenso entre especialistas de que, se há constrangimento, os limites do que seria paquera ou brincadeira foram ultrapassados. Gabriela salienta ainda que, dentro do próprio feminismo, é saudável que existam opiniões diferentes. “O problema é quando, como no caso do manifesto das francesas, se critica uma luta legitima e que ajuda muitas pessoas, que levou muito tempo para se configurar e ter a visibilidade de hoje”, diz. “Esse tipo de posicionamento reforça a ideia de que mulheres competem e dá força aos homens para continuarem assediando sem se importarem com o bem-estar alheio.” As críticas à Deneuve e as outras signatárias da carta foram várias, mundo afora, inclusive na própria França. Entre as poucas vozes que as apoiaram está a do ex-ministro italiano Silvio Berlusconi, envolvido em uma série de escândalos sexuais na Itália e condenado por corrupção. Para ele, Deneuve, no manifesto, disse “coisas santas”.

GESTÃO E CARREIRA

INTELIGÊNCIA RELACIONAL

A habilidade de mobilizar pessoas e recursos em prol de um objetivo comum potencializa a criatividade, a inovação e a geração de resultados acima da média. Conheça a competência mais revolucionária desde a descoberta da inteligência emocional.

Inteligência Relacional

Um segundo parece pouco tempo, mas na internet, nesse intervalo, quase 67.000 pesquisas são feitas no Google, mais de 7.000 twitters são postados, 69.000 vídeos são vistos no You Tube e 2,5 milhões de e-mails são enviados, segundo informações da Internet Live Stats, empresa que monitora o uso da web em todo o mundo. Os números são impressionantes e exemplificam um marco histórico do mundo contemporâneo: pela primeira vez, bilhões de pessoas, de todos os países e classes sociais, estão conectadas. Mas esses dados grandiosos podem deixar uma falsa impressão – a de que a maior parte da população mundial domina, com maestria, a arte de construir relacionamentos consistentes, de mobilizar parceiros e recursos e, consequentemente, realizar grandes projetos. Não é bem assim. Na vida real, as pessoas ainda sofrem para criar laços que realmente valham a pena – a chamada “inteligência relacional”. O termo foi cunhado pelas pesquisadoras Erica Dhawan e Saj-Nicole Joni, especialistas em liderança e carreira, que escreveram juntas o livro Get Big Things Done: the Power of Connectional Inteligence (“Faça grandes coisas: o poder da inteligência relacional”, numa tradução livre, ainda sem edição no Brasil) e acreditam que, nos próximos anos, a habilidade será tão importante e revolucionária quanto foi a inteligência emocional no passado. Essa nova inteligência é uma espécie de “networking objetivo”, que se vale dos relacionamentos para gerar inovação, aprender e alcançar resultados com mais rapidez e qualidade. “É uma das habilidades mais importantes do século 21, pois une sabedoria, informação e dados para resolver problemas em todas as áreas”, diz Homero Reis, coach e autor de Gente Inteligente Se Olha no Espelho (Editora Tagore), de Brasília.

Um bom exemplo vem dos desportistas de alto nível, como os medalhistas olímpicos Michael Phelps, da natação, ou Usain Bolt, do atletismo, que se cercam de uma cadeia de profissionais, como técnicos, consultores e médicos, que os ajudam a desenvolver ao máximo suas competências. Ter um staff desse tipo foi crucial para que eles alcançassem seus recordes. “O sucesso requer trabalho em equipe, influência e o compartilhamento de uma visão em comum”, afirma Homero. O importante é cultivar bem sua rede e entender que quantidade não é qualidade. ”Vale mais ter, na sua rede, uma pessoa influente da área em que você trabalha a centenas de pessoas de outros setores que não têm esse Poder”, diz Erica Dhawan.

NA CONVERSA

A inteligência relacional pode ser usada das formas mais diversas – e mais simples. Em uma multinacional de auditoria, por exemplo, a consultoria de Erica Dhawan propôs mudança fácil de ser implantada e muito eficaz para melhorar os processos: uma plataforma em que os funcionários pudessem classificar os colegas indicando em que eles eram muito bons – mesmo que aquilo não fizesse parte de seu escopo de trabalho. Um analista de marketing, por exemplo, poderia ter em suas tags o domínio da língua espanhola. Assim, um funcionário que tivesse dificuldade de se comunicar com profissionais do escritório na Espanha saberia exatamente a quem recorrer sem precisar mandar uma dúzia de e-mails. “Transformamos uma plataforma que já existia numa versão mais inteligente para conectar pessoas”, diz Erica.

A comunicação é o primeiro ponto a que você deve se dedicar para desenvolver a competência. “Tudo o que você faz em sua vida é conversa. Primeiro você conversa e contratos são firmados, decisões são tomadas. Portanto, saber procurar e estabelecer padrões de relacionamento com base em nossas conversas é essencial”, diz Homero. Mas, como transformar as conversas em laços verdadeiros e duradouros? Uma das maneiras mais eficientes para tratar essa habilidade básica da inteligência racional é compreender a realidade das outras pessoas, algo essencial para que Karina Tiso Girardi, de 35 anos, crescesse na Viva Real, site de aluguel de imóveis, de São Paulo, e se tornasse gerente da área que ela mesma criou, a de “suporte ao cliente”, na qual lidera 100 profissionais. “Eu me coloco no lugar do outro. “Não é que não pense em mim, mas procuro pensar no coletivo”, diz Karina. “Sempre gostei de estudar o comportamento das pessoas. Com os mais sensíveis, converso de uma forma. Com os mais pragmáticos, de outra”, diz. O segredo para ter esse olhar, segundo ela, é escutar mais. A estratégia criou um ambiente onde os funcionários se sentem tão seguros que não têm medo de falar. “Eles não escondem os problemas porque sabem que vou ajuda-los a resolver, e não dar bronca.” Outra vantagem dessa postura é tornar o ambiente mais propício à inovação, por exemplo. “Participamos de reuniões inúteis o tempo todo, mas gastar alguns minutos para falar das relações e dar sugestões, mesmo as que pareçam bobas, é muito importante, pois gera um grande impacto no resultado final dos times”, afirma Erica.

 NOVOS HORIZONTES

A inteligência relacional é tão versátil que pode (e deve) ser usada também fora dos muros das companhias. Afinal, muitas vezes é preciso se distanciar das mesas do escritório para encontrar respostas para os dilemas dos negócios. Foi o que aconteceu na Colgate-Palmolive quando nenhum de seus mais de 200 cientistas conseguiu responder como fazer com que uma nova fórmula de creme dental, fabricada com moléculas maiores, coubesse nos tradicionais tubinhos de plástico. Um executivo, então, convenceu a empresa a compartilhar o problema na InnoCentive, plataforma global de solução de problemas, com 380.000 profissionais free lancers de 200 países, em sua base. Qualquer um poderia se candidatara resolver a questão e, quem conseguisse, ganharia um prêmio. Foi um engenheiro desempregado do Canadá que executou a façanha ao perceber que a questão era física, e não química, como a Colgate-Palmolive acreditava. Ele embolsou o prêmio de 25.000 dólares – uma pechincha em comparação ao que a empresa gasta em seu laboratório de pesquisa e desenvolvimento. A rede de cafeterias Starbucks também usou as conexões externas para inovar e pediu aos clientes que dessem sugestões de novos produtos e serviços. Em cinco dias, a empresa recebeu 150.000 ideias, que foram analisadas e, em alguns casos, implantadas – como uma pecinha de plástico para evitar que o café vaze pela abertura da tampa quando se está caminhando, um frapuccino de coco ou ainda as versões light de bebidas, feitas sem adição de gordura nem açúcar.

 PROPÓSITO COMUM

O que esses exemplos mostram é o potencial de inovação e a agilidade do processo criativo gerados pela conectividade. Quando usamos a inteligência relacional com competência, uma rede enorme de pessoas pode ser mobilizada para ajudar a resolver questões. Mas, para isso, elas precisam enxergar um propósito naquilo e entender que, de seu esforço, surgirá algo que beneficiará a coletividade.

Foi o que percebeu Devani Martins Junior, de 29 anos, analista de meio ambiente da siderúrgica Gerdau. Funcionário das fábricas de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes (SP), ele se incomodava com a emissão (e o descarte) de centenas de carteirinhas técnicas, que controlavam quais eram os treinamentos que os funcionários tinham feito ao longo de sua carreira – a cada um deles, era produzido um cartão de PVC. “Alguns operadores emitiam cinco novos documentos todo mês”, diz Devani. Depois de pesquisar o assunto, o analista descobriu uma empresa que poderia desenvolver um sistema com base na tecnologia de código QR por 40.000 reais para substituir as carteirinhas. A partir daí, o assunto foi apresentado à liderança. “Conversei com meus chefes e eles enxergaram o propósito por trás da ideia, perceberam que a inovação traria sustentabilidade. Por isso, deram aval ao projeto”, diz Devani. Agora, cada funcionário tem um código QR fixado no crachá e a leitura dos treinamentos de cada um é feita com o celular. “O sistema ainda dispara um alerta para os gestores quando um treinamento está para vencer”, afirma o analista. Ao deixar de emitir os documentos. a empresa ainda passou a economizar 8.000 reais mensais. Como compartilhar o conhecimento também faz parte da inteligência relacional, Devani escreveu sobre a experiência no Yammer, rede social corporativa da Gerdau, e recebeu o contato de nove usinas, inclusive a da Argentina, interessadas em implementar a mesma tecnologia.

IDEIAS COMPARTILHADAS

“Compartilhar” é o verbo da vez. Compartilham até o carro para ir ao trabalho e a casa nas férias, mas dividir as ideias ainda enfrenta resistência – embora essa seja a base da inovação que nasce dos relacionamentos. ”Existe um conceito errado no Brasil de que a ideia por si só tem um valor alto e não pode ser dividida. Mas o que vale não é a ideia, mas a execução”, diz Flavio Pripas, diretor do Cubo, hub de empreendedorismo, de São Paulo.

E, para tirar sua ideia do PowerPoint, nada melhor do que dividiras aspirações com pessoas que tenham experiência naquele assunto. Bárbara Diniz Almeida, de 31 anos, sabia quanto isso era decisivo para ingressar no mundo do empreendedorismo e fundar, ao lado de sua sócia e colega de faculdade, Mariana Penazzo, a Dress & Go, companhia que aluga pela internet vestidos de marcas famosas a preços mais acessíveis. Por isso, acionou bastante sua rede de relacionamentos, formada durante seis anos de trabalho no mercado financeiro. ”Os contatos que eu fiz lá me ajudaram muito na abordagem dos investidores. As portas se abriam mais facilmente porque eu conhecia as pessoas certas”, diz Bárbara, que compartilhou a ideia de sua startup com alguns contatos-chave para saber se estava no caminho certo. E estava. Em 2015, a companhia recebeu um aporte 3,5 milhões de reais e saltou de 15 funcionários para os 76 atuais. Nada disso teria sido possível sem a troca franca de ideias com outros empresários, investidores e especialistas no mercado – algo tão relevante para o empreendedorismo (e crucial na inteligência relacional) que inspirou um dos fundos que colocaram dinheiro na Dress & Go a criar uma rede interna de troca de ideias e experiências entre microempresários. “Essa rede virou um ativo do investidor, porque é algo a mais que ele oferece. O compartilhamento de informações é importante porque aquele é um grupo que passa pelas mesmas situações”, afirma Bárbara.

LAZER E NEGÓCIOS

A base da inteligência relacional é o networking, palavra que incomoda muita gente, principalmente os mais introvertidos. Mas construir uma rede sólida de relacionamentos não precisa ser algo forçado – você pode criar laços produtivos nos negócios por meio de afinidades pessoais. Identificar as oportunidades futuras é o pulo do gato de quem tem inteligência relacional. Esse foi o caso do britânico Greg Kelly, de 31 anos, no Brasil desde 2014, e do americano Brian Begnoche, de 33 anos, que se mudou para o Rio de Janeiro em 2008. A dupla se conheceu há três anos. O contexto não tinha nada a ver com negócios: os dois jogavam rúgbi e acabaram praticando o esporte juntos em uma praia no Rio. ”Entre jogadas e conversas, tivemos a ideia de fundar a EqSeed, uma plataforma de financiamento colaborativo que conecta startups a investidores, porque nós dois queríamos contribuir para o ecossistema de startups do país”, diz Brian. No esporte, a dupla encontrou o valor da companhia: a é tica. “Já analisamos mais de 900 empresas e selecionamos cinco. A régua é alta porque queremos pessoas que tenham a cultura daquilo que o esporte tem de melhor: o trabalho em equipe, a ética e o respeito”, diz Greg.

Quando há pontos em comum, como foi o caso de Greg e Brian, o relacionamento pode fluir mais facilmente. pois já existe um alinhamento natural. O segredo é compreender que as possibilidades de negócios estão em todos os lugares. Sua chance de ter sucesso com um novo contato é maior se você procurar os assuntos em comum”, diz Patrícia Epperlein, da Stato, consultoria de recrutamento executivo, de São Paulo.

Então, não desperdice as oportunidades de se relacionar. Para Erica Dhawan, quem quer ter uma inteligência para se conectar precisa estar sempre pronto a estabelecer novas amizades e ter uma atitude mais receptiva ao mundo. “Tenho três conselhos para melhorar essa competência: manter-se sempre aberto a novas ideias e pessoas, de diferentes históricos usar o que você gosta para fazer conexões importantes e ter coragem para mobilizar os outros em torno da sua ideia”, afirma Erica.

Isso significa que as relações já estão aí, em suas mãos. O que você precisa fazer não é ampliar constantemente sua rede, mas usar os recursos que você já tem com mais inteligência. Quem fizer isso vai se destacar e crescer – corno indivíduo e como profissional.

 

PODER DE CONEXÃO

Segundo a pesquisadora Erica Dhawan, a inteligência relacional é composta de 5 atitudes básicas. A seguir, como descobrir se você já tem essa competência.

 ATITUDE 1: CURIOSIDADE

Eu procuro explorar diversos ângulos de um problema em busca de novas perspectivas?

ATITUDE 2: COMBINAÇÃO

Eu costumo reunir diferentes ideias, recursos e produtos e combina-los para criar novos conceitos?

ATITUDE 3: COMUNIDADE

Como é minha relação com minha comunidade? Eu poderia me conectar com mais e diferentes pessoas para desenvolver novas ideias?

ATITUDE 4: CORAGEM

Eu fujo de conversas difíceis ou procuro encorajar esse comportamento em minha equipe?

ATITUDE 5 – COMBUSTÃO

Eu tenho mobilizado e encorajado minhas redes a pensar diferente também?               

AÇÃO E RELAÇÃO

Três passos para desenvolver a inteligência relacional.

1 – CONQUISTE A CONFIANÇA DOS COLEGAS

Nós nos relacionamos melhor com as pessoas em que confiamos. E tornar-se confiável no trabalho passa, primeiro, pelo comprometimento com as metas – tanto para cumprir as tarefas diárias quanto para dizer “não” quando não é possível fazer alguma entrega.

2 – PRATIQUE A INOVAÇÃO SEM CONTRARIAR A CULTURA DA COMPANIHA

Você deve trabalhar dentro dos limites da empresa no que diz respeito à tomada de riscos. Uma das maneiras de fazer isso é desenvolver grupos de afinidades para identificar as questões em que cada área pode ajudar. Assim, os riscos de um projeto dar errado são reduzidos.

3 –  EXPLORE VÁRIOS TIPOS DE FERRAMENTA DE CONEXÃO

Crie ou busque comunidades fora do trabalho para entrar em contato com pessoas com interesses em comum. Vale entrar em grupos de discussão no Facebook, LinkedIn e WhatsApp, acompanhar Hashtags no twitter e fazer parte de fóruns especializados.

 

 LIDERES INSPIRADORES

Aqueles que estão em cargos de gestão podem – e devem – usar a inteligência relacional para melhorar o desempenho de suas equipes.

 MUDE (SE POSSÍVEL) AS REGRAS DO JOGO

Processos que atrasam o progresso devem ser revistos constantemente. Não importa se “sempre foi feito assim”.

 PEÇA AJUDA A NOVAS PESSOAS E COMUNIDADES

Dê voz a todos nas reuniões e encoraje a colaboração. Questões mais complicadas – que não sejam estratégicas –  podem ser resolvidas mais rapidamente com o envolvimento de fóruns e redes de colaboração.

 ERRE RÁPIDO E CORRIJA

Testar – e deixar que sua equipe teste – é importante para crescer e melhorar. Criar um ambiente seguro, para que seu time sinta que pode errar e contar com você aumenta a chance de aprender com as falhas e gerar inovações.

Fonte: Livro – “Get Big Things Done: The Power of Connectional Intelligence”.

NÃO EXAGERE NA DOSE

Os cuidados que você deve tomar para ter relacionamentos mais inteligentes.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 41 – 46

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Os fariseus são silenciados

Os fariseus tinham feito muitas perguntas a Cristo, pensando que com elas iriam expô-lo, mas, no final, expuseram apenas a si mesmos. Porém, agora Ele lhes faz uma pergunta, e a faz quando estão reunidos (v. 41). Ele não separou um deles do grupo, mas, para envergonhá-los ainda mais, Ele fala com todos eles juntos, quando estão reunidos e tramando contra Ele, e ainda assim os confunde. Deus se alegra em confundir os seus inimigos quando eles estão mais fortalecidos. Ele lhes dá todas as vantagens que podem desejar, e ainda as­ sim os vence. ”Alvoroçai-vos,…e sereis quebrantados” (Isaias 3.9,10). Aqui:

 

I – Cristo lhes propõe uma pergunta que eles poderiam facilmente responder; era uma pergunta sobre o seu próprio discipulado. “Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?” Isto eles podiam responder com facilidade: o Filho de Davi. Esta era a perífrase comum do Messias; eles o chamavam de Filho de Davi. Assim os escribas, que explicavam as Escrituras, lhes tinham ensinado, baseando-se em Salmos 89.35,36: Não mentirei a Davi. A sua descendência durará para sempre” (Isaias 9.7), “sobre o trono de Davi”. E Isaías 11.1: “Brotará um rebento do tronco de Jessé”. O concerto da realeza, feito com Davi, era um exemplo do concerto da redenção, feito com Cristo, que, como Davi, foi feito rei através de um juramento, e primeiramente se humilhou e depois cresceu. Se Cristo era o Filho de Davi, Ele era verdadeiramente homem. Israel disse: “Dez partes temos no rei”; e Judá disse: “Eis que somos teus ossos e tua carne”. Que parte temos nós, então, no Filho de Davi, que tomou para si a nossa natureza?

“Que pensais vós do Cristo?” Eles lhe tinham feito perguntas, uma depois da outra, sobre a lei; mas Ele vem e lhes propõe uma pergunta sobre a promessa. Muitos estão tão cheios da lei que se esquecem de Cristo; como se as suas obrigações pudessem salvá-los sem o mérito e a graça do precioso Salvador. Cada um de nós deve se preocupar seriamente em perguntar a si mesmo: “O que penso a respeito de Cristo?” Alguns não pensam nada a respeito dele, Ele não está em todos os seus pensamentos, na verdade não está em nenhum deles; alguns pensam pouco, e outros quase não pensam sobre Ele. Mas para aqueles que creem, Ele é precioso; e como são preciosos, então, os pensamentos sobre Ele! Enquanto as filhas de Jerusalém não pensam mais em Cristo do que em qualquer outro esposo, a igreja, a noiva, pensa nele como o maioral de dezenas de milhares.

 

II – Ele vê uma dificuldade com a resposta deles, que eles não puderam resolver com facilidade (vv. 43-45). Muitos podem tão prontamente afirmar a verdade, pensando que têm conhecimentos suficientes para se orgulhar, e quando são chamados para confirmar a verdade e para defendê-la, mostram que têm ignorância suficiente para se envergonhar. A objeção que Cristo levantou foi: Se Cristo é Filho de Davi, “como é, então, que Davi, em espírito, lhe chama Senhor?” Com isto, Ele não pretendia armar-lhes uma cilada, como eles tinham feito com Ele, mas desejava instruí-los em uma verdade em que eles se recusavam a crer, de que o Messias esperado é Deus.

1. É fácil ver que Davi chama a Cristo de Senhor, e o faz em espírito, sendo divinamente inspirado, e agindo influenciado por um espírito de profecia, pois o Espírito do Senhor falou por ele (2 Samuel 23.1,2). Davi era um daqueles homens santos que falava como se impulsionado pelo Espírito Santo, especialmente ao chamar a Cristo de Senhor; pois, naquela época, como ainda hoje (1 Coríntios 12.3), ninguém podia dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Mas para provar que Davi, em espírito, chamava a Cristo de Senhor, ele cita o Salmo 110.1, que os próprios escribas entendiam que se referia a Cristo; é certo que o profeta aqui fala dele, e de nenhum outro homem. E esse é um resumo profético da doutrina de Cristo, que o descreve realizando as tarefas de um Profeta, Sacerdote e Rei, tanto na sua humilhação quanto na sua exaltação.

Cristo cita o versículo inteiro, o que mostra o Redentor, na sua exaltação:

(1). Assentado à direita de Deus. O fato de estar assentado indica tanto repouso quanto comando; assentar-se à direita de Deus sugere honra suprema e poder soberano. Veja com que grandiosas palavras isto é expresso (Hebreus 8.1); está assentado nos céus à destra do trono da Majestade (veja Filipenses 2.9; Efésios 1.20). Ele não tomou essa honra para si mesmo, mas teve direito a ela, pelo concerto com o seu Pai, e recebeu-a dele, porco­ missão, e aqui está esta comissão.

(2). Subjugando seus inimigos. Ali Ele se sentará, até que todos tenham sido feitos seus amigos, ou escabelo para os seus pés. A mente carnal, onde quer que esteja, é inimiga de Cristo; e será subjugada na conversão das pessoas desejosas, que são chamadas aos pés dele (esta é a expressão, Isaias 41.2), e na confusão dos seus adversários impenitentes, que serão o escabelo de seus pés, assim como os reis de Canaã que estavam sob os pés de Josué.

Mas esse versículo é citado porque Davi chama o Messias de seu Senhor: “Disse o Senhor ao meu Senhor”. Isto nos dá a entender que nas Escrituras explicadas nós devemos observar e aperfeiçoar não apenas o que é o escopo e o principal sentido de um versículo, mas as palavras e as expressões pelas quais o Espírito decide expressar este sentido, que frequentemente têm um significado muito útil e instrutivo. Aqui está uma boa observação sobre a expressão “meu Senhor”.

2. Não é fácil, para aqueles que não creem na divindade do Messias, esclarecer o que parece um absurdo, se Cristo é o Filho de Davi. É incoerente que o pai fale do seu filho, que o predecessor fale do seu sucessor, como seu Senhor. Se Davi o chama de Senhor, isto fica estabelecido (v. 45) como a verdade mais evidente, pois tudo o que é dito sobre a humanidade e a humilhação de Cristo deve ser edificado e interpretado de maneira coerente com a verdade da sua natureza divina, e do seu domínio. Nós devemos nos apegar a isto, ao fato de que Ele é o Senhor de Davi, e a partir daí explicar que Ele é Filho de Davi. As aparentes diferenças nas Escrituras, como aqui, podem não apenas ser explicadas, mas contribuir para a beleza e a harmonia do conjunto. As diferenças que se observam nas Escrituras são do tipo amigável. Como Deus desejaria que as nossas diferenças fossem desse mesmo tipo!

 

III – Aqui temos o sucesso desse teste gentil que Cristo fez do conhecimento dos fariseus, em dois aspectos:

1. Isso os confundiu (v. 46); ninguém podia lhe responder uma palavra. Ou era por ignorância que eles não sabiam, ou por impiedade que eles não reconheciam, que o Messias era Deus; e esta verdade era a única chave que podia destravar a dificuldade em questão. O que aqueles rabinos não podiam responder, bendito seja Deus, o cristão mais simples, que é levado ao entendimento do Evangelho de Cristo agora, pode explicar: que Cristo, sendo Deus, era o Senhor de Davi, e Cristo, sendo homem, era o filho de Davi. Isto Ele não explicou, mas reservou até que a prova estivesse completa pela sua ressurreição. Mas nós temos isso integralmente explicado por Ele, na sua glória (Apocalipse 22.16): “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi”. Cristo, sendo Deus, era a Raiz de Davi; Cristo, sendo homem, era a Geração de Davi. Se nós não nos apegarmos a esta verdade, de que Jesus Cristo é, acima de tudo, o Deus bendito para sempre, teremos dificuldades inexpugnáveis. E bem podia Davi, o seu ancestral, chamá-lo de Senhor; assim como Maria, que foi escolhida para ser a sua mãe neste mundo, depois de tê-lo concebido, chamou-o de Senhor e Deus, e de seu Salvador (Lucas 1.46,47).

2. Isso os silenciou, como também a todos os outros que procuravam uma oportunidade de atacá-lo; desde aquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo, fazer-lhe perguntas capciosas, tentadoras e enganadoras. Observe que Deus glorificará a si mesmo ao silenciar muitos, em cuja salvação Ele não poderá se glorificar. Muitos são convencidos, mas não são convertidos pela Palavra. Se eles tivessem se convertido, teriam lhe feito mais perguntas, especialmente aquela grande pergunta: “O que devemos fazer para que sejamos salvos?” Mas, como não puderam vencer a discussão, eles não falariam mais com Ele. Porém, dessa maneira, todos os que seguirem o seu Mestre serão convencidos, como os fariseus e doutores da lei o foram, da desigualdade nessa discussão.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PRONTO-SOCORRO CONTRA O PÂNICO

O que passa em sua cabeça quando reconhece os sinais de uma crise? Talvez pense: “Estou morrendo, estou ficando louco, vou desmaiar, estou enjoado, vou passar vergonha em público”. E a lista continua. Para lidar com a angústia e evitar que o descontrole aumente, alguns exercícios práticos podem ser muito úteis.

Pronto-socorro contra o pânico

De repente seu coração dispara. Parece não haver ar suficiente para respirar, você sente uma leve vertigem e as mãos transpiram. Esse conjunto de sintomas costuma revelar uma crise de pânico. “Não raro, nesse momento as pessoas acreditam que estão morrendo ou ficando loucas”, diz a doutora em psicologia Ellen Hendriksen. Ela ensina técnicas desenvolvidas com base na psicologia cognitivo-comportamental para controlar a angústia, uma espécie de “pronto-socorro” para que a pessoa retome a autonomia sobre o próprio corpo. Considerando que a crise pode ter causas nem sempre óbvias, é fundamental buscar ajuda de um profissional, mas – pelo menos no momento mais crítico – é possível se acalmar sozinho e em poucos minutos. Os resultados costumam ser bastante positivos, principalmente quando o paciente aprende a se preparar para enfrentar o desconforto. Mas a especialista alerta: é preciso estar disposto a suportar um pouco de ansiedade para superar esse estado.

BRINQUE COM OS SINTOMAS

Parece bem pouco atraente induzir o mal-estar justamente quando nos sentimos bem. E é compreensível que experimentar sentimentos desagradáveis seja a última coisa que alguém deseja. “Mas é fundamental se familiarizar com os sintomas, como o coração batendo descompassado, por exemplo, e se dar conta de que isso não é, necessariamente, sinal de perigo”, afirma Hendriksen. Ela enfatiza que os sinais de que “a pessoa está morrendo” surgem na hora da crise e têm efeito de uma bola de neve, que aumenta de forma descontrolada. Segundo a psicóloga, é importante simular fora do contexto de um ataque os sintomas que tanto nos assustam para nos acostumarmos a não vê-los como perigosos. A ideia é que a pessoa passe a lidar com o coração acelerado ou garganta apertada sem ver essas reações físicas como um grande problema. “Quando estamos no controle, temos a chance de nos habituar aos sintomas isoladamente”, salienta a psicóloga.

Mas, na prática, o que fazer? Simples. Se a pessoa está preocupada com a aceleração cardíaca, caminhe ou corra na esteira até perceber o coração batendo forte e, então, apenas interrompa o movimento e note como o organismo se estabiliza. Aterrorizado com a possibilidade de sentir tontura? Sente-se em uma cadeira de escritório e gire várias vezes, em seguida pare e respire profundamente até que a vertigem passe. Falta de ar? Segure a respiração por alguns segundos e depois estabilize a inspiração e a expiração. O importante é ir, aos poucos, “brincando” com o que o assusta, de forma segura e sem se expor a perigos.

 NÃO BRIGUE COM A CRISE

Pode parecer estranha a ideia de aceitar calmamente a chegada dos sintomas, sem fazer absolutamente nada para fugir deles. “Mas uma pequena dose de ‘psicologia inversa’ pode fazer maravilhas”, garante Hendriksen. Ela observa que grande parte da energia gasta durante um ataque de pânico é direcionada a fugir dos sintomas para que eles não se tornem intensos a ponto de nos matar, mas isso só aumenta a ansiedade e a sensação de descontrole. “Por isso, faça o teste: quando começar a se preocupar com o pânico ou sentir o primeiro sinal de que uma crise se aproxima, diga a si mesmo: ‘Ei, corpo, eu quero mais. Pode vir!’; então respire fundo e não brigue com seu corpo.”

Curiosamente, estar disposto a sentir sintomas de pânico ajudará a parar o ciclo. Afinal, o pânico é a resposta a algo que seu cérebro entende como um grande perigo; quando você entra na briga (ainda que seja consigo mesmo), o embate só aumenta exponencialmente. Em contraste, quando você acolhe as sensações de medo sem lutar contra elas, seu organismo percebe que não tem motivos para lutar ou fugir. E as coisas tendem a se acalmar.

É SÓ ANSIEDADE, NÃO É REALIDADE

O pânico está na interpretação. Considere um exemplo: são 3 horas da manhã e o telefone toca. O que aconteceu? Pode significar que uma pessoa querida está com graves problemas ou até mesmo morta. Mas também pode significar apenas que alguém ligou para o número errado. Até que você atenda o telefone, o motivo da chamada é mero produto da sua interpretação. O mesmo acontece durante crises de ansiedade. Em vez de entender o desconforto físico como sinal claro de que você está morrendo, é possível pensar: “É apenas meu alarme interno que está desregulado; é desagradável, mas já senti isso antes e na ocasião eu não estava morrendo, da mesma forma como não vou morrer agora”. Hendriksen oferece uma dica bastante útil: “Vale a pena lembrar que não há perigo em interpretar o medo nesses casos como algo de fato irritante com o qual você já lidou antes e pode lidar de novo; é apenas ansiedade, não realidade”.

 FATOR TEMPO

Uma paciente minha teve um ataque de pânico durante um treino na academia e não só não voltou ao local, mas também parou de se exercitar inteiramente. Passou até mesmo a evitar subir escadas, pois se preocupava com a possibilidade de seu coração acelerar e deflagrar outro ataque de pânico. Para reverter essa situação, a moça começou a lidar com o esforço gradualmente: nas primeiras tentativas, tinha uma tarefa simples: atirar longe um bloco de concreto. Dias depois, deveria dar uma volta no quarteirão e, ao longo das semanas, ininterruptamente, fazer um trajeto mais longo, até que após dois meses voltou à academia. “É comum que um lugar ou situação fique associado ao temor que a pessoa sentiu, é comum que passe a evitar qualquer coisa parecida, mas podemos ‘enganar’ o medo, mostrando ao cérebro que está tudo bem aos poucos, para que uma nova memória seja registrada”, observa Hendriksen. “Se você teme ter um ataque de pânico em um cinema lotado, por exemplo, comece por ir ao teatro e se sente o mais perto possível da saída. Da próxima vez, avance mais dois lugares em direção ao centro”, sugere a psicóloga. Duas coisas importantes: não deixe passar tempo demais entre um exercício de habituação e outro (nesse caso, as idas ao teatro) nem avance rápido demais, achando que o desafio está muito fácil, pois seu cérebro precisa de treinamento gradual e constante.

OUTROS OLHARES

INSULINA CONTRA O ALZHEIMER

Remédios que equilibram a taxa do hormônio protegem o cérebro da degeneração causada pela doença.

Insulina contra o Alzheymer

Há cerca de 46 milhões de pessoas com Alzheimer. Em 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde, serão 131 milhões. Caracterizada pela perda progressiva da memória, a doença representa uma bomba­ relógio contra a qual a medicina ainda não encontrou um método de desarme. Na semana passada, uma notícia vinda da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, trouxe otimismo em relação ao benefício de uma estratégia a princípio inusitada: o uso de um remédio contra a diabetes. O liraglutide, integrante de uma nova classe de antidiabéticos, protegeu o cérebro da degeneração típica da doença. “Finalmente encontramos algo que realmente funciona”, disse Christian Holscher, coordenador do trabalho. A pesquisa usou cobaias. Ao final, os animais tratados com o liraglutide apresentaram, por um lado, níveis elevados de substâncias protetoras dos neurônios.  Por outro, redução da inflamação e da quantidade das placas amiloides (acúmulo de proteínas sobre as células nervosas que contribui para sua morte).

O que mais entusiasma em relação ao achado de Christian é que ele confirma patologicamente evidências clínicas de eficácia obtidas anteriormente. Há em andamento pelo menos quatro estudos em humanos sobreo impacto de drogas da classe do liraglutide em pacientes com Alzheimer. Todos demonstram bons resultados. Faltava, no entanto, um exame detalhado em laboratório, das mudanças provocadas nos neurônios pelas drogas. A análise das células nervosas extraídas das cobaias possibilitou que os cientistas enxergassem as alterações com clareza.

Os benefícios se devem a uma razão. As drogas estabilizam a taxa de insulina, hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose presente no sangue – o açúcar é o combustível para que elas funcionem. Nos diabéticos, a insulina não é fabricada ou atua de maneira precária. No cérebro de pessoas com Alzheimer, mesmo os não diabéticos, ela também tem sua ação prejudicada. Para agravar o problema, além de ficarem sem glicose suficiente, os neurônios são privados de uma substância importante para seu crescimento. já que o hormônio também desempenha essa função. “Sem insulina, as células nervosas começam a falhar”, diz Holscher. “Ficam mais vulneráveis e cedo ou tarde morrerão.”

 DIABETES TIPO 3

A conexão entre o Alzheimer e a diabetes vem sendo estudada mais intensamente nos últimos anos, até pela urgência em entender melhor o que está por trás da doença neurodegenerativa.  A associação entre as duas enfermidades levou, inclusive, à nomeação de um terceiro tipo de diabetes, o 3. Até recentemente. falava-se no 1, autoimune (o sistema de defesa ataca as células produtoras do hormônio), e no 2, associado à obesidade. O que os cientistas chamam agora de tipo 3 está relacionado à degeneração cerebral. “Há muito a se saber sobre os mecanismos pelos quais a insulina participa da saúde dos neurônios”, disse Na Zhao, da Clínica Mayo (EUA), que estuda o tema. Semanas atrás, o cientista Andrew McGovem, da Universidade de Surrey, na Inglaterra, publicou artigo no qual alertava para a necessidade de aprofundar as investigações. “A diabete tipo 3 é mais comum do que pensávamos. Diagnosticá-la e tratá-la trará benefícios para o controle das doenças neurodegenerativas”, afirmou. O trabalho de seu colega inglês Holscher mostra que eles estão no caminho certo.

POR QUE A DROGA FUNCIONA

DIABETES

  • O liraglutide integra classe recente de remédios que mantém estável o nível de insulina
  • O hormônio é responsável por permitir a entrada, nas células. da glicose em circulação no sangue. Sem ela, as células não têm combustível para funcionar
  • Nos diabéticos. o hormônio ou não é produzido ou não atua da maneira adequada

 ALZHEIMER

  • Além de assegurar combustível aos neurônios, a insulina funciona como um fator de crescimento que mantêm as células nervosas saudáveis
  • Porém, sua atuação encontra­ se prejudicada no cérebro de pacientes com Alzheimer
  • Isso contribui para acelerar a morte neuronal
  • Ao estabilizar a taxa de insulina disponível, as medicações ajudam a proteger o cérebro dos efeitos da enfermidade

GESTÃO E CARREIRA

CORRIDA PELA SAÚDE

Entenda porque os seus hábitos de vida se tornarão num futuro próximo um importante diferencial competitivo na disputa por uma vaga ou por uma promoção.

Corrida pela saúde

 Se até ontem, quando pensava em sua carreira, você deixava a saúde de fora do currículo, talvez seja hora de reconsiderar. Nos últimos anos, as empresas aumentaram significativamente os investimentos em programas de bem-estar e saúde e passaram a monitorar dados sobre os hábitos de vida dos funcionários. Hoje, elas conseguem saber quantas calorias você ingeriu, se bebeu o volume de água suficiente, se dormiu bem, se anda estressado ou se vai regularmente à academia. Uma companhia atenta observa que você está prestes a sair da obesidade grau 2 para se tornar mórbido, projeta sua propensão a desenvolver diabetes e mensura seu risco cardíaco no curto e no médio prazo. É provável que a empresa também saiba, melhor do que você, se há perigo de internação ou cirurgia eletiva no próximo ano.

A ficha pode não ter caído ainda, mas o tempo em que a saúde era uma questão privada – e não do empregador – acabou. Uma pesquisa da consultoria Mercer Marsh Benefícios concluiu, depois de avaliar 58 empresas e mais de 260.000 profissionais brasileiros, que 95% das corporações já acompanham a utilização da assistência médica, 79% supervisionam a participação nos programas de saúde e bem-estar e 64% vigiam de perto o absentismo. O estudo mostrou ainda que 50% das participantes medem indicadores de risco dos colaboradores, 45% avaliam o nível de satisfação dos trabalhadores e 28% inspecionam a condição mental deles. A razão para o Big Brother? O custo -saúde. Há menos de uma década ele girava em torno de 3% do total de despesas de uma companhia. Hoje, chega a 14% – tornando-se, para a maioria, a segunda maior despesa da folha. Paralelamente, a inflação médica bateu os 18%, ante 3% do restante da economia. “As despesas cresceram tanto que a questão caiu no colo do CEO e do CFO, e o tema ganhou enorme relevância”, afirma Enrico De Vettori, sócio líder da área de saúde da consultoria Deloitte, em São Paulo.

Diante do aumento exponencial dos gastos, há empresas fazendo downgrade dos planos oferecidos aos funcionários e outras dividindo a conta com o empregado e seus dependentes por meio de coparticipações. Mas há um terceiro grupo que tem preferido enfrentar os altos gastos com saúde usando o health analytics, ferramenta que cruza dados sobre a vida dos colaboradores, captados de diferentes fontes, para fazer projeções sobre seu estado físico e emocional. Embora ainda incipiente, a utilização de algoritmos de saúde é uma tendência – e deverá crescer nos próximos anos. “As métricas possibilitam mapear quem são os gastadores e criar ações de engajamento para eles. No caso de um paciente com doença crônica, é possível monitorar se está tomando medicação, incentivá-lo a ir ao médico e evitar que se desestabilize, sobrecarregando o sistema”, diz Enrico.

Poucos anos atrás, ter políticas de saúde organizacional baseadas em inteligência artificial era algo raro. Construíam-se estratégias de saúde com base no senso comum. Casos como o de uma grande empresa que investiu 3 milhões de reais num programa antitabagismo e, depois, descobriu ter apenas 160 fumantes entre milhares de empregados tornaram-se clássicos. O dinheiro era literalmente jogado fora. “Hoje, ao convergir informações de diversas fontes, direciona-se melhor os investimentos”, diz Ricardo Lobão, CEO da UIB Benefícios, consultoria de gestão de saúde que trabalha no modelo pós­ pago, em que a organização só paga quando o funcionário usa o convênio. O modelo, utilizado por 14% das companhias brasileiras, recorre ao monitoramento em tempo real de usuários e aos algoritmos para prever custos. Para exemplificar corno isso funciona, Ricardo cita o caso da mulher de um empregado que foi ao médico solicitar diagnóstico para redução das mamas. Ao ter o procedimento negado, ela entrou no radar da consultoria. Uma simulação concluiu que, se não fizesse a cirurgia, em um ano ela daria entrada no sistema para colocar pinos na coluna, o que custaria 250.000 reais. “A metrificação provou que valia a pena arcar com o tratamento. O custo foi de 32.000 reais. A companhia economizou e a paciente se curou. Foi bom para ambos”, diz o consultor.

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TECNOLOGIA EM ALTA

A medida que a tecnologia e o big data avançam, a colcha de retalhos de dados de saúde vai se costurando. Hoje, as informações vêm de todos os lados: de operadoras de saúde, de startups (como o Gympass, que oferece às empresas dados sobre a frequência de seus empregados à academia), de programas de bem-estar das próprias organizações e até de dispositivos como relógios e pulseiras inteligentes – no futuro, devem chegar também via chips implantados na pele com sensores.

Entre as ferramentas já disponíveis estão os aplicativos de gestão e monitoramento da saúde, usados por 14% das companhias em operação no Brasil. “O número é baixo, mas tende a crescer. Nos Estados Unidos, uma referência na área, já são 39%”, diz Helder Valério, gerente de gestão e promoção de saúde da Mercer Marsh Benefícios, em São Paulo.

A porta de entrada de todo bom aplicativo é um questionário detalhado de saúde, uma espécie de anamnese digital que ajuda a organização a detectar ameaças a que sua população está exposta Na Bridgestone, maior fabricante de pneus do mundo, dois aplicativos foram Implementados neste ano: um para o funcionário fazer a gestão de sua saúde em tempo real e outro voltado para as grávidas, com algoritmos clínicos que monitoram a saúde tanto da mãe quanto a do bebê. “Entendemos que não adiantaria economizar mudando para um plano de saúde inferior. São as pessoas que fazem o negócio acontecer e, se elas não estiverem bem, a empresa não andará”, diz Claudia Teixeira, diretora de relações trabalhistas da Bridgestone, que tem sede em Santo André, no ABC paulista. Os primeiros Indicadores serão mensurados em 2018.

Quando o empregador passa a monitorar seu estado físico (e mental), é preciso fazer a si mesmo perguntas do tipo: o que eu ganho ao compartilhar meus dados? Essa informação pode se voltar contra mim no futuro? Foi a certeza de que não será prejudicada que fez a arquiteta Amanda Frezzato, de 41 anos, baixar o aplicativo da Bridgestone durante a gestação. Como é portadora de esclerose múltipla e sua gravidez era de risco, a ferramenta trouxe comodidades. “Eu tirava dúvidas, era alertada sobre medicamentos e interagia via vídeo ou chat com uma equipe especializada”, diz a gerente de desenvolvimento de lojas da Bridgestone. Embora tenha dado à luz três meses atrás, Amanda segue togada. “O aplicativo gera relatórios e sei que a empresa pode acessar os dados, mas isso não me preocupa. Desde que descobri a doença, há nove anos, nunca fui discriminada – ao contrário, fui promovida”.

Outra gigante que vem investindo em saúde via mobile é a francesa Ticket, que acaba de lançar o aplicativo Ticket Fit. Disponível para pessoas físicas e corporações, o produto monitora hábitos: calcula o consumo diário de calorias, computa o volume de exercícios praticados, fornece conteúdo personalizado e possibilita criar games. “É possível saber se as pessoas estão se exercitando ou se o IMC da população está bom. São indicadores práticos, em tempo real, que ajudam o RH a fazer a gestão da saúde”, diz Marilia Rocca, diretora­ geral da Ticket no Brasil. De acordo coma executiva, são100.000 usuários ativos em dois meses, e a ideia é expandir o aplicativo para os 42 países em que a empresa atua.

Estimativas de mercado apontam que, de 2015 para cá, houve um aumento de 21% no investimento anual em ações de saúde e bem­ estar por funcionário. O aporte de dinheiro na área não acontece sem razão. O universo corporativo se deu conta de que proporcionar qualidade de vida às equipes melhora os resultados do negócio. Estudos mostram que um indivíduo saudável falta menos e veste mais a camisa da empresa – no Reino Unido, uma pesquisa provou que saúde e bem-estar aumentam a produtividade em até 12%. A analista financeira Daniela Cordeiro de Carvalho, de 34 anos, de São Paulo, comprova a estatística. Com 1,60 metro de altura e 78 quilos, ela tentava emagrecer e se animou quando sua companhia, o Mercado Eletrônico, criou, em outubro, um game para incentivar a perda de peso pelos empregados. “Eliminei quase 5 quilos. por isso eu já acordo animada para o trabalho”, diz. Dos 200 funcionários da companhia, que desenvolve soluções comerciais B2B, 87 aderiram à disputa. A cada dez dias, eles passam por pesagem e avaliação. Há um grupo no WhatsApp para trocar incentivos. O prêmio, simbólico, será uma bicicleta.

Adriana Oliveira, gerente de RH do Mercado Eletrônico, diz que a ação foi criada depois de a base de dados apontar que havia muita gente acima do peso. A companhia também passou a conceder passes para academia como benefício e contratou uma coach de bem-estar para orientar colaboradores. “Identificamos que precisávamos investir no tema saúde de modo mais arrojado. Vamos medir os indicadores no final do programa, mas já sinto diferença no engajamento e, provavelmente, abriremos uma segunda temporada, afirma.

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REFLEXO NA LIDERANÇA

A liderança será uma das principais afetadas por essa mudança de mentalidade no ambiente corporativo. Além de coordenar metas e buscar o resultado do negócio, fará parte do escopo do bom líder promover a qualidade de vida do time. Os chefes serão cada vez mais cobrados a dar bons exemplos: ficar no trabalho até altas horas pega mal; ser sedentário e comer besteira, idem. “Há uma tendência global, puxada pela geração Y, de buscar um estilo de vida saudável. Sem engajar gestores, é difícil criar essa cultura”, diz Isis Borges, gerente de recrutamento da Robert Half, de São Paulo.

Na Bosch, fabricante alemã de equipamentos eletrônicos com sede em Campinas, no Interior paulista, a onda a tingiu os executivos. No ano passado, durante um encontro de líderes, um grupo de 75 gerentes e diretores lançou voluntariamente uma competição entre times batizada de Health Transformation, para mudar sua atitude em relação à qualidade de vida. Com pulseiras inteligentes conectadas ao celular, passaram a ter o número de passos e a comida ingerida registrados diariamente, para verificar quem percorria a maior distância e perdia mais quilos. Juntos, em três meses, os gestores da Bosch queimaram 5 milhões de calorias e deram 38 milhões de passos (o suficiente para percorrer a circunferência da Lua três vezes). Os vencedores levaram um vale de 1.000 reais para fazer compras numa rede de lojas esportivas.

A Bosch conta hoje com um comitê multidisciplinar para fazer o acompanhamento mensal dos indicadores de saúde, promove uma maratona de corrida anual e tem feira livre de frutas e legumes toda sexta-feira na sede. “Saúde e bem-estar se tornaram ferramentas de atração e retenção de talentos”, diz Fernando Tourinho, diretor de RH. De acordo com ele, não há um aplicativo (ainda) por questões éticas. “Não está claro para nós como tratar a confidencialidade e a segurança da informação.”

QUESTÃO ÉTICA

Garantir que os dados sobre o estado de saúde das pessoas se mantenham nas mãos certas – e não acabem virando motivo de discriminação – é um ponto sensível nessa nova abordagem da saúde no ambiente corporativo. Apesar de a lei exigir que prontuários sejam avaliados apenas por médicos do trabalho (sem envolvimento do RH), não existe garantia de como esse enorme volume de dados vem sendo tratado. Em artigo escrito em 2016 para a publicação americana Journal of Law, Medicine and Ethics (da Associação Americana de Direito, Medicina e Ética), Ifeoma Ajunwa, professora na Cornell University, nos Estados Unidos, e autora do livro The Quantifield Worker (“O empregado quantificado”, sem tradução para o português), diz que os dados podem colocar a privacidade (e o emprego) em risco. Numa de suas pesquisas, ela descobriu que bancos de dados contendo Informações de saúde são um alvo atraente para hackers – interessados em vender ou exigir resgate pelo sequestro de informações sensíveis.

Não bastasse isso, na maioria dos países, a legislação não é especifica sobre os limites para o uso de novas tecnologias no ambiente de trabalho, o que deixou o colaborador vulnerável. Deli Matsuo, ex-diretor de recursos humanos para a América Latina do Google e fundador da Appus, empresa pioneira no Brasil em people analytics, diz não acreditar que uma companhia idônea vá analisar a saúde pensando em demitir. “O intuito de quem nos procura é garantir a assertividade das ações, para que funcionários fiquem mais saudáveis e gastem menos”, diz.

Em janeiro de 2018, a Sharecare, multinacional americana especializada na digitalização de dados de saúde, trouxe para o mercado brasileiro um aplicativo que promete revolucionar o mundo corporativo. A plataforma, que consumiu meio bilhão de dólares em investimentos e recebeu aportes de gente graúda como a apresentadora americana Oprah Winfrey, foi lançada nos Estados Unidos no início deste ano. Além de integrar todo tipo de fonte de informação, de prontuários médicos a relógios inteligentes, o aplicativo tem reconhecimento de padrões fractais na voz (quando a pessoa fala ao telefone, o sistema mede o nível de emoção e de estresse) e métricas capazes de mensurar a idade real e a cronológica, bem como o grau de salubridade de cada dia do usuário. Chamada pela Sharecare de Green Day, a ferramenta possui um coraçãozinho que vai sendo preenchido de verde conforme o usuário abastece o aplicativo com informações. Se tomou pouca água, dormiu mal e não fez exercícios, o coração não fica verde. Ao combinar esses fatores, a tecnologia também pode prever, por meio de inteligência artificial, se a pessoa terá um evento no pronto-socorro, o Green Day ajuda a ‘tangibilizar’ a saúde e pode ser usado pelas empresas como nos programas de milhas”, diz Nicolas Toth Jr., CEO da Healthways, atual braço da Sharecare no Brasil. Nos Estados Unidos, já há companhias trocando Green Day por reajustes menores no plano de saúde.

Questionado sobre o perigo de aderir a uma plataforma que agrega tantos indicadores, Nicolas diz que o risco de sequestro de dados é o mesmo de entrar num avião e cair. Ou seja, existe, mas é remoto. “Num futuro próximo, dados serão capta dos pela geladeira, pelo carro, pelo chuveiro de casa. Haverá um número infindável de informação pessoal trafegando em todo tipo de lugar. Caberá a toda empresa séria fortalecer sua segurança digital”, afirma.

 DIFERENCIAL COMPETITIVO

Discussões éticas à parte, urna coisa é certa: não deve demorar muito para que a saúde se torne um diferencial competitivo declarado no trabalho. “Mesmo de forma velada, é passivei notar uma valorização de candidatos com hábitos saudáveis. Não é interessante nem ético discriminar alguém por não fazer esporte ou se alimentar mal. Mas é fato que companhias vêm observando com mais atenção esses aspectos”, diz Jorge Kraljevic, sócio- fundador da consultoria de recrutamento Signium, de São Paulo.

Especialistas admitem que já conta pontos demonstrar preocupação com a qualidade de vida nas entrevistas de emprego. Citar que participa de grupos de corrida, por exemplo, no momento do quebra-gelo, em que se fala da vida pessoal, é urna boa estratégia. O mundo corporativo adora traçar paralelos com o esporte e é praxe inferir que, se a pessoa tem uma alimentação regrada e faz atividade física regularmente, possui capacidade de planejamento, foco e resiliência.

Os talentos, por sua vez, também ficaram mais exigentes. Plano de academia gratuito, flexibilidade de horário, massagem e frutas à tarde contam até mais do que um salário alto na hora da escolha por um empregador. A via, portanto, é de mão dupla. Uma boa notícia, já que a combinação entre companhias atentas e funcionários conscientes reduz os custos com saúde, melhora os resultados e favorece toda a cadeia, numa relação de ganha-ganha.