PSICOLOGIA ANALÍTICA

AUTOCONTROLE NA MEDIDA

Uma maior motivação está ligada à execução de tarefas variadas, diz estudo

Autocontrole na medida

Pesquisa publicada no periódico PLOS ONE sugere que a execução de tarefas variadas ao longo do dia mantém nosso nível de motivação e autocontrole. É que nossa habilidade para executá-las, por outro lado, não decai ao longo do dia, mesmo quando nos deparamos­ com algumas mais longas e difíceis.

Os cientistas responsáveis pelo estudo corroboram análises anteriores que mostram, na verdade, um declínio de desempenho a partir da marca de 30 minutos de um esforço cognitivo complexo, com uma queda ainda maior em torno de 50 minutos. Mas isso não quer dizer que com isso percamos a capacidade de cumprir determinadas tarefas. O empenho inicial na tarefa anterior basta para gerar a motivação necessária para completarmos o desafio seguinte.

Os achados são substanciais sobretudo para o desenvolvimento de metodologias de ensino e aprendizagem, e o estudo em questão é único em observar desempenho, motivação e autocontrole em ambiente natural. Os pesquisadores envolvidos reuniram dados de mais de 16 mil alunos que completaram exercícios voluntários de aprendizagem e revisão ao longo de vários meses usando um a plataforma virtual.

OUTROS OLHARES

LIBERDADE É POUCO

É um equívoco referir-se ao feminismo como um ideário só.

Liberdade é pouco

O feminismo é necessariamente de esquerda? Existe feminismo de direita? Essas são questões prementes num contexto em que a polarização política corrói o debate público e afasta da agenda de defesa dos direitos das mulheres um número relevante de brasileiras e brasileiros. São frequentes os ataques de um conservadorismo in­ culto ao feminismo: supostamente seria tudo mimimi, vitimismo, exagero dos esquerdistas. Será?

O filme The Post, de Steven Spielberg, conta a história verídica de Katharine Graham, dona do The Washington Post. Interpretada por Meryl Streep, ela herdou o jornal após o suicídio do marido, o escolhido para comandar os negócios da família. Uma mulher na liderança era (e ainda é) uma exceção. Kay transpôs o empecilho informal ao avanço profissional das mulheres, a barreira invisível (glass ceiling, ou “telhado de vidro”, na expressão em inglês) ao sucesso feminino. O jornal teve papel central, nos anos 70, na divulgação da verdade sobre a guerra no Vietnã. Kay enfrentou seus demônios, o sexismo, o autoritarismo do presidente Nixon e pavimentou a avenida da democracia, da liberdade de imprensa e do respeito aos direitos das mulheres nos Estados Unidos. Um legado e tanto. O ponto que nos interessa é simples. Kay não era de esquerda. Era próxima dos republicanos, parte da elite da capital americana. Mas descobriu que os direitos das mulheres são uma agenda de todas. Que o telhado de vidro precisa ser estilhaçado e todas as pedras são bem-vindas.

Sarah Palin também não é de esquerda. Líder do Tea Party, a ex­ governadora do Alasca é conhecida por suas posturas conservadoras. Palin se orgulha de ser ponta de lança do que chama de “novo feminismo conservador”. Defende ao seu modo uma agenda de direitos das mulheres, e afirma que nenhuma delas deveria ter de escolher entre a família e o trabalho. Desde 2006 ela integra o coletivo Feminists for Life. Sim, Sarah Palin se diz feminista e até faz parte de um coletivo feminista.

Margaret Thatcher, a dama de ferro inglesa e camisa 10 da seleção mundial de neoliberais, dizia não dever nada ao movimento feminista, mas lembrava sempre que, quando queria que algo fosse dito no mundo da política, pedia a um homem. Mas, quando queria que algo fosse efetivamente realizado, pedia a uma mulher. Sim, Thatcher defendia os direitos das mulheres. Bombardeou o telhado de vidro como bombardeou as Malvinas.

O feminismo não é um conjunto de movimentos obrigatoriamente de esquerda. E um equívoco, que mesmo esta colunista comete costumeiramente, fazer referência ao feminismo como um ideário só, monolítico. Existem feminismos. Muitos, de distintas matrizes e matizes.

Somar-se a algum deles é nossa missão como mulheres. Apoiar algum deles é a missão dos homens. O machismo não tem partido nem ideologia. Está por toda parte e deve ser combatido em toda parte. O que queremos, mulheres de direita e de esquerda? Liberdade? Recorro a Clarice Lispector, a quem a esquerda que lhe foi contemporânea sempre chamou de “alienada demais”: liberdade é pouco, o que queremos ainda não tem nome.

GESTÃO E CARREIRA

DETOX EMOCIONAL

O desafio do ser humano é depurar a mente do estresse e tensão, equilibrando emoções para estar preparado para os momentos de turbulência e trazer a consciência à vida cotidiana.

Detox emocional

No dia a dia, por conta da crise econômica e do ritmo intenso no mercado de trabalho, é comum as pessoas vivenciarem momentos mais estressantes. O grande problema é quando são afetadas por sentimentos como a angústia, ansiedade, medo, raiva, tristeza e desmotivação e eles são ignorados. Todas essas sensações tóxicas, os problemas no trabalho, as preocupações com os filhos e as dificuldades financeiras esgotam as pessoas e, geralmente, por causa delas, ficam com baixa autoestima, com o foco apenas em seus problemas e se esquecem das demais pessoas ao seu redor. Toda essa inércia pode até diminuir a capacidade de exercer a empatia, por não conseguirem enxergar com clareza os fatos.

Assim, com esse cenário, os seres humanos podem ficar cada vez mais isolados e perder o real significado da vida. Por isso, de tempos em tempos é necessário fazer um detox emocional. Antes de tudo, é preciso reconhecer a responsabilidade perante seus resultados, a forma em que você pode impactar na vida do outro, distinguir o que é importante, aprender a lidar com os sentimentos, de maneira apropriada, com autocontrole e equilíbrio.

Além disso, é preciso se conscientizar de algumas atitudes importantes para não entrar em pensamentos e comportamentos de autossabotagem.

É importante ter momentos de reflexão, pois somos responsáveis por nossa própria experiência, e a vida é um reflexo do que está em nossa mente. Ao ficarmos focados em pensamentos negativos, criamos tensões no corpo, bloqueamos a respiração, pioramos a oxigenação dos tecidos, paralisamos o nosso agir e as nossas ações. Ocasionalmente, é preciso dedicar um tempo para fazer uma auto-observação.

Algumas pessoas focam apenas nas dificuldades e duvidam da própria capacidade. Para não entrar em autossabotagem, é fundamental reconhecer e evidenciar os pontos fortes e as unicidades.

Outro ponto que vale a pena destacar é: não se deixe influenciar, porque há quem carregue para si comportamentos negativos de outras pessoas que as rodeiam. Desligue o piloto automático e tenha bons pensamentos. O bom humor pode mudar tudo.

Estar atento à alimentação, como a ingestão de alimentos saudáveis, também pode contribuir significativamente no processo do detox emocional. Mas um passo essencial para isso é o empoderamento. Para isso, é importante ter autoconhecimento, autoconsciência e autopercepção sobre aquilo que realmente precisa ser transformado. Saber lidar com as próprias emoções é um processo de transformação. Devemos deixar para trás os sentimentos que se acumularam pelos mais diversos motivos e nos permitir atingir um estado de paz interior.

A maioria das pessoas, normalmente, deixa que os acontecimentos do passado continuem machucando e interferindo no presente. Libertar sentimentos dolorosos e perdoar mágoas e decepções são atitudes que promovem o equilíbrio emocional. E, assim, deixam nossa alma mais leve, com um sentimento de paz interior para viver plenamente o presente.

Por fim, a gratidão é o ato de perceber que os acontecimentos da vida nos conduziram a algo maior. Quando somos gratos, também nos tornamos capazes de perdoar e de deixar ir embora aquele sentimento negativo que trava a nossa vida, como mágoa, decepção, raiva e frustração. Não devemos permitir que as circunstâncias e as interferências do dia a dia apaguem o nosso entusiasmo pela vida. A celebração das conquistas está relacionada ao nosso próprio poder de agradecer, criar, escolher, decidir, pensar e viver.

O desafio do ser humano é equilibrar as emoções, estar centrado nos momentos de turbulência, de desânimo, e encontrar a natureza mais profunda e verdadeira para trazer a consciência à sua vida cotidiana. É isso que faz a diferença no nosso caminho para a conquista dos resultados escolhidos, para colocar em prática todo o próprio potencial, redirecionar o foco, as escolhas, e abrir a mente e o coração para as ricas oportunidades da vida, os resultados e a autorrealização.

 

EDUARDO SHINYASHIKI – é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o crescimento e a auto liderança das pessoas.

www.edushin.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE V

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Predições Terríveis 

VIII – Jesus prediz a sua segunda vinda, no final dos tempos (vv. 29-31): “O sol escurecerá” etc.

1. Alguns entendem que isso se refere somente à destruição de Jerusalém e da nação judaica. O escurecimento do sol, da lua e das estrelas sugere o eclipse da glória naquela nação, as suas convulsões e a confusão geral que acompanhou tal desolação. Grandes mortes e devastação eram assim anunciadas no Antigo Testamento (como em Isaias 13.10; 34.4; Ezequiel 32.7; Joel 2.31); ou o sol, a luz e as estrelas podem significar o Templo, Jerusalém e as cidades de Judá, que seriam todos destruídos. O “sinal do Filho do Homem” (v. 30) significa uma manifestação notável do poder e da justiça do Senhor Jesus, vingando o seu próprio sangue naqueles que lançaram a culpa sobre si mesmos, e sobre seus filhos; e o ajuntar dos “seus escolhidos” (v. 31) significa a libertação dos remanescentes desse pecado e dessa destruição.

2. Mas isso parece se referir mais à segunda vinda de Cristo. A destruição dos inimigos particulares da igreja é típica da derrota completa de todos eles; portanto, o que realmente acontecerá naquele grande dia pode ser aplicado metaforicamente a essas destruições. Mas nós precisamos prestar atenção ao seu escopo principal. E se todos nós estivermos de acordo em esperar a segunda vinda de Cristo, que necessidade haverá de atribuir significados tão tensos, como fazem alguns, a esses versículos, que falam dela com tanta clareza, e também a outras passagens das Escrituras, especialmente quando Cristo está aqui respondendo a uma pergunta sobre a sua vinda no fim do mundo? Cristo nunca teve receio de falar sobre este assunto com os seus discípulos.

A única objeção a isso é o fato de que está dito que a segunda vinda acontecerá “logo [ou imediatamente] depois da aflição daqueles dias”; mas, quanto a isso:

(1) É normal, no estilo profético, falar de coisas grandiosas e certas como estando próximas, somente para expressar a sua grandeza e certeza. Enoque falou da segunda vinda de Cristo como algo ao seu alcance: “Eis que é vindo o Senhor” (Judas 14).

(2) “Um dia para o Senhor é como mil anos” (2 Pedro 3.8). A Palavra de Deus nos traz uma urgente exortação sobre esse dia, que também pode ser interpretado como estando muito próximo. A tribulação daqueles dias inclui não apenas a destruição de Jerusalém, mas todas as outras tribulações que a igreja deve enfrentar; não apenas a sua cota nas calamidades que as nações sofreriam, mas também as que seriam peculiares a ela mesma. Enquanto as nações estiverem destroçadas com as guerras, e as igrejas com cismas, ilusões e perseguições, nós não podemos dizer que a tribulação daqueles dias esteja terminada; toda a situação da igreja na terra é militante, e nós devemos confiar nisso; mas quando a tribulação da igreja estiver terminada, a sua peleja, concluída, e a luta e os sofrimentos de Cristo tiverem se cumprido, então poderemos esperar pelo fim.

A respeito da segunda vinda de Cristo, aqui está predito:

[1] Que haverá uma transformação nas coisas criadas, grande e surpreendente, e particularmente nos corpos celestes (v. 29). “O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz”. A lua brilha com uma luz emprestada, e, portanto, se o sol, de quem ela toma emprestada a sua luz, se escurecer, ela naturalmente fracassará, e falirá. ”As estrelas cairão do céu”; elas perderão a sua luz, e desaparecerão, e será como se elas tivessem caído; e “as potências dos céus serão abaladas”. Isto sugere:

Em primeiro lugar, que haverá uma grande mudança, para fazer novas todas as coisas. Então haverá a “restauração de tudo”, quando os céus não serão deixados de lado como um trapo, mas serão mudados como uma veste, para serem usados em uma maneira melhor (Salmos 102.26). Eles “passarão com grande estrondo”, para que possa haver “novos céus” (2 Pedro 3.10-13).

Em segundo lugar, será uma mudança visível, e todo o mundo deverá percebê-la; pois um escurecimento assim, do sol e da lua, não pode deixar de ser notado; e será uma mudança notável, pois os corpos celestiais não são tão sujeitos a alterações como o são as criaturas deste mundo inferior. Os dias do céu e a continuidade do sol e da lua são usados para expressar o que é duradouro e imutável (como em Salmos 89.29); ainda assim, eles serão abalados.

Em terceiro lugar, haverá uma transformação universal. Se o sol escurecer, e as potências do céu forem abaladas, a terra não poderá deixar de se transformar em uma masmorra, e a sua fundação tremerá. “Gemei, faias, porque os cedros caíram”. Quando as estrelas do céu caírem, as pessoas não deverão se espantar se os “montes perpétuos” se esmiuçarem, e se “outeiros eternos” se encurvarem. A natureza irá sustentar um choque e uma convulsão gerais, que não serão obstáculos para a alegria do céu e o regozijo da terra “ante a face do Senhor”, quando vier a “julgar a terra” (Salmos 96.11,13). Eles estarão como se houvesse glória na tribulação.

Em quarto lugar, o escurecimento do sol, da lua e das estrelas, que foram criados para governar o dia e a noite (que é o primeiro domínio que encontramos de cada criatura, Genesis 1.16-18), significa a aniquilação de “todo império e toda potestade e força” (mesmo aqueles que parecem ser bastante antigos e muito úteis), para que o reino possa ser entregue a Deus Pai, e “para que Deus seja tudo em todos” (1 Coríntios 15.24,28). O sol escureceu por ocasião da morte de Cristo, pois aquele acontecimento foi, de certa maneira, “o juízo deste mundo” (João 12.31), um indício do que acontecerá no juízo final.

Em quinto lugar, a gloriosa aparição do nosso Senhor Jesus, que então irá se mostrar como o resplendor da glória de seu Pai, e a expressa imagem da sua pessoa”, irá escurecer o sol e a lua, assim como o brilho de uma vela fica mais fraco sob os raios do sol do meio-dia; eles não terão glória, “por causa desta excelente glória” (2 Coríntios 3.10). Então “a lua se envergonhará, e o sol se confundirá”, quando Deus aparecer (Isaias 24.23).

Em sexto lugar, o sol e a lua escurecerão, porque não haverá mais lugar para eles. Para os pecadores, que escolhem a sua parte nesta vida, todo consolo será negado eternamente. Eles não terão nem uma gota d’água, e nem um raio de luz. Agora Deus faz com que o seu sol se erga sobre a terra. As trevas devem ser a parte deles. Aos santos, que preferiram ter o seu tesouro no céu, será dada tal luz de alegria e consolo, que irá exceder a luz do sol e da lua; a luz do sol e da lua serão inúteis. Que necessidade haverá de lâmpadas, quando formos para junto da Fonte da luz, sim, para junto do Pai das luzes? Veja Isaias 60.19; Apocalipse 22.5.

[2] Que quando aparecer “no céu o sinal do Filho do Homem” (v. 30), ou seja, o próprio Filho do Homem, eles “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu”. Na sua primeira vinda, Ele foi posto para “sinal que é contraditado” (Lucas 2.34), mas na sua segunda vinda, um sinal que será admirado. Ezequiel era um filho do homem, dado por sinal (Ezequiel 12.6). Alguns interpretam isto como uma predição dos anunciadores e precursores da sua vinda, avisando da sua chegada: Uma luz brilhante diante dele, e o fogo consumidor (Salmos 50.3; 1 Reis 19.11,12), os raios de luz saindo de sua mão, onde, durante muito tempo, havia sido o esconderijo da sua força (Habacuque 3.4). E um conceito infundado de alguns dos antigos, que este sinal do Filho do Homem seja o sinal da cruz, exibido como uma bandeira. Certamente será um sinal claramente convincente, que irá eliminar a infidelidade, e encherá de vergonha os rostos dos que diziam: “Onde está a promessa da sua vinda?”

[3] Que então “todas as tribos da terra se lamentarão” (v. 30). Veja Apocalipse 1.7. “Todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele”; entre todas as tribos e famílias da terra, algumas se lamentarão, pois a maior parte irá tremer com a sua chegada, enquanto os restantes, os eleitos, tanto das famílias como das tribos, irão levantar as cabeças com alegria, sabendo que a sua redenção se aproxima, e também o seu Redentor. Observe que, mais cedo ou mais tarde, todos os pecadores se lamentarão. Os pecadores penitentes confiam em Cristo, e choram por uma sorte piedosa; e aqueles que semeiam com lágrimas, em breve irão colher com alegria. Os pecadores impenitentes verão aquele a quem traspassaram, e embora riam agora, irão chorar e lamentar por uma sorte diabólica, com horror e desespero intermináveis.

[4] Que “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Considere, em primeiro lugar, que o juízo do grande dia será confiado ao Filho do Homem, tanto para a sua realização quanto como recompensa da sua grande missão por nós, como Mediador (João 5.22,27). Em segundo lugar, que o Filho do Homem, naquele dia, virá “sobre as nuvens do céu”. Grande parte do relacionamento perceptível entre o céu e a terra se dá pelas nuvens; elas estão entre eles, atraídas da terra para o céu, purificadas pelo céu, e posicionadas sobre a terra. Cristo ascendeu ao céu sobre uma nuvem, e de igual maneira virá outra vez (Atos 1.9,11). “Eis que vem com as nuvens” (Apocalipse 1.7). As nuvens serão o carro do grande Juiz (Salmos 104.3), a sua roupa (Apocalipse 10.1), o seu pavilhão (Salmos 18.11), o seu trono (Apocalipse 14.14). Quando o mundo foi destruído pela água, o julgamento veio nas nuvens dos céus, pois as janelas dos céus se abriram; assim será, também, quando ele for destruído pelo fogo. Cristo andou diante de Israel em uma nuvem, que tinha um lado resplandecente e outro escuro. Assim também será a nuvem em que Cristo virá no grande dia. Ela trará tanto consolo quanto terror. Em terceiro lugar, que Ele virá “com poder e grande glória”. A sua primeira vinda ocorreu em fraqueza e grande simplicidade (2 Coríntios 13.4). Mas a sua segunda vinda será com poder e glória, em conformidade com a dignidade da sua pessoa e também com os objetivos da sua vinda. Em quarto lugar, que Ele será visto com olhos físicos, na sua vinda. Portanto, o Filho do Homem será o Juiz, para que Ele possa ser visto, para que fiquem ainda mais confusos os pecadores, que o verão como Balaão viu, “mas não de perto” (Números 24.17). Eles o verão, mas não como seu. Isto se acrescenta ao tormento daquele pecador condenado que “viu ao longe Abraão”. “E este aquele que nós desprezamos, e rejeitamos, e contra quem nos rebelamos? Aquele que nós crucificamos? Aquele que podia ter sido o nosso Salvador; mas será o nosso inimigo para sempre?” O “Desejado de todas as nações” será, então, o seu temor.

[5] Que “ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta” (v. 31). Considere, em primeiro lugar, que os anjos serão os ajudantes de Cristo na sua segunda vinda, eles são chamados de “seus anjos”, o que prova que Ele é Deus, e Senhor dos anjos; eles deverão auxiliá-lo. Em segundo lugar, que estes ajudantes serão empregados por Ele como oficiais no tribunal do julgamento daquele Dia. Eles agora são “espíritos ministradores”, enviados por Ele (Hebreus 1.14), e será assim naquela ocasião. Em terceiro lugar, que a sua ministração será iniciada com um “rijo clamor de trombeta”, para despertar e alarmar um mundo adormecido. Esta trombeta é mencionada em 1 Coríntios 15.52 e 1 Tessalonicenses 4.16. Quando a lei foi entregue, no monte Sinai, o som da trombeta foi particularmente terrível (Êxodo 19.13, 16), mas será muito mais terrível no grande Dia. Pela lei, as trombetas deviam ser tocadas para a “convocação da congregação” (Números 10.2), para louvar a Deus (Salmos 81.3), na oferta de sacrifícios (Números 10.10) e ao proclamar o ano do jubileu (Levíticos 25.9). Portanto, é muito adequado que haja o som de uma trombeta no último dia, quando a congregação geral será convocada, quando os louvores a Deus serão gloriosamente celebrados, quando os pecadores cairão, como sacrifícios à justiça divina, e quando os santos entrarão no seu eterno jubileu.

[6] Que se ajuntarão “os seus escolhidos desde os quatro ventos”. Observe que na segunda vinda de Jesus Cristo, haverá uma congregação geral de todos os santos. Em primeiro lugar, somente os “escolhidos” se ajuntarão, os eleitos remanescentes, que são poucos, em comparação com os muitos que são apenas chamados. Este é o fundamento da felicidade eterna dos santos, o fato de que são os eleitos de Deus. O dom do amor segue, por toda a eternidade, as características do amor que existe desde a eternidade. E “o Senhor conhece os que são seus”. Em segundo lugar, os anjos serão empregados para ajuntá-los, como servos de Cristo, e como amigos dos santos; nós conhecemos a tarefa que lhes foi dada (Salmos 50.5). “Congregai os meus santos”; na verdade, será dito a eles: Estes são seus irmãos; pois os eleitos “são iguais aos anjos” (Lucas 20.36). Em terceiro lugar, eles se ajuntarão “de uma à outra extremidade dos céus”. Os eleitos de Deus estão dispersos (João 11.52). Há eleitos em todos os lugares, em todas as nações (Apocalipse 7.9); mas quando chegar o dia desse grande ajuntamento, nenhum deles estar á faltando. A distância física não manterá ninguém fora do céu, se a distância afetiva não o fizer. O céu é igualmente acessível de qualquer lugar: Veja Mateus 8.11; Isaías 43.6; 49.12.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O PODER AFETA O CÉREBRO

Ele bloqueia o processo neural de manifestação de empatia.

O poder afeta o cérebro

No século 19, quando o historiador britânico Lorde Acton proferiu sua manjada frase (“O poder absoluto corrompe absolutamente”), ele se referia essencialmente a aspectos morais da questão. Mas agora a ciência mostra que a sensação de poder também causa danos cerebrais e não apenas desvios éticos. Estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley detectou que o poder torna a pessoa mais impulsiva, a ponto de não levar riscos em consideração e, sobretudo, de demonstrar menos habilidade de ouvir e avaliar pontos de vista alheios. E pesquisa semelhante, da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, confirmou essa conclusão: ao analisar tomografias cerebrais de participantes, constatou que aqueles com maior sensação de poder bloqueavam um processo neural específico, impedindo a manifestação de empatia.

É o que os cientistas batizaram de “paradoxo do poder”: uma vez conquistado o comando, perdemos aquela capacidade que nos levou a ele inicialmente. Isso gera o “déficit de empatia”, fazendo com que o chefe deixe de reagir de acordo com o comportamento dos subordinados, como retribuir piadas com bom humor ou agir sério quando a situação é grave. Ao final, esse “fosso emocional” acaba prejudicando os relacionamentos e, em consequência, a produtividade. Para uma boa liderança, agir de acordo com o contexto de cada momento ajuda a fortalecer a confiança da equipe e abrir espaço para debater e formular soluções.

Estudo da Kellogg School of Management, da Universidade Northwestern, emite outro alerta: o poder reduz percepção e perspectiva. Em um experimento, por exemplo, os participantes deveriam escrever a letra “E” na própria testa para que outros a lessem, isto é, a pessoa deveria se ater ao ponto de vista do observador. Resultado: aqueles com maior sensação de poder demonstraram três vezes mais a tendência de escrever a letra voltada para si mesmo, sem se preocupar com a leitura do observador.

Os pesquisadores da Universidade McMaster também ressaltam a importância do fenômeno mental conhecido como “espelhamento”, que muitas vezes ocorre totalmente independente de nosso controle: ao vermos alguém desempenhar uma tarefa, inconscientemente ativamos em resposta a região do cérebro que usaríamos para fazer a mesma coisa. Chegamos até a imitar alguns elementos da linguagem corporal do outro, como gestos, expressões faciais ou respiração – o que sinaliza a importância de uma liderança adotar a postura correta para gerar um “espelhamento” produtivo em sua equipe.

OUTROS OLHARES

A ARTE DOS NOMES

As escolhas auspiciosas dos pais chineses para seus rebentos.

A arte dos nomes

Para alguns, a exemplo da Julieta de Shakespeare, se a rosa tivesse qualquer outro nome, ainda exalaria o mesmo doce aroma. Para outros, como Chihiro, da anin1ação A viagem de Chiriro, dirigida por Hayao Miyazaki, o nome define a vida de uma pessoa. A maioria dos chineses que pretendem ter filhos concorda com a segunda perspectiva – que nomes devem ser elegantes, auspiciosos e, se possível, únicos.

A polícia de Guangdong, província que fica no sul da China, tem oferecido ajuda àqueles que querem dar a seus filhos nomes fora do ordinário. O escritório de Segurança Pública da cidade lançou uma nova plataforma no Wechat (aplicativo chinês de mensagens instantâneas) que, entre os serviços disponíveis, oferece uma função que permite checar quantos residentes da província têm o mesmo nome.

Diferentemente de muitas culturas, a maioria dos chineses não costuma reciclar nomes já usados em suas famílias. Ainda assim, encontrar um nome único em uma população de 1,3 bilhão de pessoas pode ser uma tarefa difícil. Apenas em 2014, por volta de 290 mil recém-nascidos – o equivalente à população da Islândia – foram registrados com o nome Zhang Wei, o mais usado naquele ano.

Não raro, nomes populares refletem os valores do momento em que foram escolhidos. Atualmente, além de nomear tradições transmitidas por intermédio de diferentes gerações, jovens pais buscam diversificar as fontes de inspiração, que podem ir da literatura antiga à cultura popular.

Sixth Tone, uma publicação on-line focada na China contemporânea, analisou a arte de criar nomes ao longo dos anos.  

A arte dos nomes2

1. PARENTESCO E LINHAGEM

Na tradição agrária chinesa, o clã que compartilha um sobrenome transmitido de pai para filho tem nomes pré-designados para cada geração. Um ancião respeitado escreve um verso com desejos para o futuro daquele clã, e cada nova geração usará em seu nome o próximo caractere da frase. Por exemplo, caso o caractere Zhi seja atribuído a uma geração da família Li, haverá nomes que incluirão esse símbolo, como Li Zhiqiang e Li Zhiming.

Em alguns casos, a prática só se aplica a meninos; em outras famílias, a regra é aplicada a todas as crianças.

O costume não permite que membros de uma família identifiquem a que geração eles pertencem – mesmo quando um tio é mais novo que seu sobrinho. No entanto, atualmente, a tradição foi rompida em diversas famílias, já que muitos a enxergam como antiquada.

2 – UM SINAL DOS TEMPOS

Muitos chineses dão a seus filhos nomes inspirados em eventos históricos. Meninos nascidos depois que a República Popular da China foi estabelecida, em 1949, geralmente têm nomes como Jianguo, que significa “a fundação de uma nação”. Durante a Guerra da Coreia, muitos rapazes foram nomeados Yuanchao, algo como “ajudando a Coreia do Norte”. Já aqueles nascidos em 1º de outubro, Dia Nacional da China, com frequência recebem o nome Guoqing, palavra chinesa que significa celebração.

Um exemplo muito conhecido é o do vocalista da banda T F Boys, :Yi Yangqianxi. Yi nasceu no ano 2000 e recebeu um pré nome com três caracteres – que significa milênio -, enquanto a maioria dos nomes chineses tem um ou dois símbolos.

3 – FÉ E SUPERSTIÇÃO

Alguns pais procuram cartomantes para nomear os filhos. O taoismo acredita que, dependendo de quando uma pessoa nasceu, o corpo dela pode ser carente em um dos cinco elementos – metal, madeira, água, fogo ou terra -, o que pode ter efeitos sobre a saúde do indivíduo. Uma cartomante pode orientar os pais sobre como escolher um nome que corrija essa deficiência, usando um caractere que incorpore um dos cinco elementos. Alguns inclusive oferecem conselhos sobre quantos traços o nome da criança deverá ter.

4 – LITERATURA CLÁSSICA E CULTURA POPULAR CONTEMPORÂNEA

“Se você tiver um menininho, leia Chuci. Caso tenha uma menininha, leia Shijing.” Essa é uma crença comum entre novas gerações, cujo amor por literatura antiga é parte de uma ampla retomada do interesse pela antiguidade chinesa. Celebrada como fonte de imponentes e corajosos nomes masculinos, Chuci é uma antologia de poesia patriota, escrita há mais de 2.200 anos, durante o período dos Reinos Combatentes. Shijing é ainda mais antiga. Essa coleção de poesia chinesa do século XI ao VII a.C. inclui poemas sobre amor que muitos consideram boas fontes de nomes românticos para meninas. Já alguns procuram por uma musa nos programas de televisão. Depois que a série Scarlet heart tornou-se um sucesso, em 2011, muitos nomearam suas filhas de Ruoxi, inspirados pela heroína do programa.

5. O PAPEL DO GÊNERO

Nomes revelam as expectativas que pais nutrem sobre o futuro de seus filhos, e muitos desses desejos incluem o gênero da criança. Além de inspirados em canções de guerra para os nomes dos rapazes e em poemas para os das moças, muitos meninos têm o nome Song, que significa pinheiro, uma árvore que simboliza coragem e perseverança. Já o nome das meninas em geral inclui Feng, que significa fênix, representando uma rainha. Famílias que esperam ter filhos homens por vezes nomeiam suas filhas Zhaodi, algo como “acenando para um irmãozinho”.

Embora valores tradicionais ainda afetem a escolha de nomes, binarismos de gênero começam a perder força. Em vez de usar caracteres que incorporam conceitos de masculinidade e feminilidade, alguns pais escolhem nomes unissex, como Chenxi, “sol da manhã”, em referência ao desejo de ter um filho brilhante. Com a política dos dois filhos também é possível ver um número maior de crianças que recebem o sobrenome da mãe.

6. QUE O COMPUTADOR DECIDA

A tecnologia também interfere. Em vez de bateram cabeça atrás do nome perfeito, pais recorrem à internet. Em alguns sites, usuários podem colocar seus sobrenomes, a data prevista para o parto e outros poucos requisitos para ter uma sugestão de nome em minutos. Existem programas supostamente capazes de avaliar como o nome pode ajudar a criança no futuro – uma versão moderna e algorítmica das cartomantes taoistas.

Culturas estrangeiras também moldam características chinesas, com pais escolhendo nomes femininos como Anqi, algo perto da palavra “anjo”.

Mas a criatividade tem limite: para ter uma identidade nacional, todos os cidadãos devem registrar um nome em caracteres chineses (ou caracteres Han. Aqueles cuja língua materna é outra devem traduzir seus nomes. Em 2012, uma estudante do centro de Hunan, uma província chinesa, foi forçada a mudar de nome porque a polícia se recusava a aceitá-lo. Inspirado por Ah Q, um caractere do escritor modernista Lu Xun, o pai da jovem a nomeou de “A”.

A arte dos nomes3

GESTÃO E CARREIRA

10 COMPORTAMENTOS INADEQUADOS PARA UM LÍDER

Veja as atitudes mais negativas dos líderes que podem acabar com a credibilidade, causando uma péssima imagem com os colaboradores.

10 comportamentos inadequador para um líder

Quando todos estão com problemas na empresa, o primeiro a ser procurado é o líder. Quando é necessária uma tomada de decisão, é o líder que toma a frente. Ele é aquele que motiva, inspira e leva o time rumo à vitória. Mas, do mesmo jeito que pode ser a peça-chave em uma empresa, em outras é ele também que pode colocar tudo a perder, dependendo da sua com­ postura no dia a dia.

Afinal, quem quer um líder arrogante, despreparado e cheio de comportamentos inadequados? A seguir, listamos dez condutas negativas de um líder no ambiente de trabalho que podem prejudicar a sua imagem no mercado, especialmente com os colaboradores.

1 – NÃO TER NADA A CONTRIBUIR

O líder tem um papel importante, de ser alguém que inspira e motiva. No entanto, segundo a consultora da GC-5 Soluções Corporativas e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vera Cavalcanti, esse papel está relacionado à necessidade de ser exemplo para seus funcionários, que devem ver no líder alguém em quem possam confiar e com quem tenham vontade de trabalhar, contribuir e dar o melhor de si. “Nesse sentido, o maior erro do líder é não ser alguém que valha a pena seguir, estar perto para aprender e crescer”, afirma.

2 -NÃO SER O EXEMPLO

Façam o que eu falo, mas não o que eu faço. Para o líder, essa frase jamais terá valia. De acordo com a especialista em Gestão Estratégica da Sociedade de Advogados do Cers Corporativo e autora de oito livros, Lara Selem, a melhor liderança é pelo exemplo, isso fortalece a confiança dos liderados no líder e motiva demais! Em contrapartida, Vera Cavalcanti diz que um importante atributo do Líder para isso é a credibilidade, que não se consegue por meio de palavras ou do dom da oratória, mas sim por meio das atitudes. “Gosto muito da reflexão que diz ‘o que você é ecoa tão forte em meus ouvidos que eu mal consigo ouvir o que você diz’. Acreditamos primeiro no mensageiro para depois acreditar na mensagem, ou seja, primeiro acreditamos em quem fala e depois o que ele fala. A coerência entre o verbo e a ação é essencial para garantir a credibilidade e, consequente ­ mente, o respeito, a admiração e o exemplo”, pontua.

3 – LIDERAR APENAS POR INTUIÇÃO

A liderança não é matemática, e, por lidarmos com pessoas, uma dose de intuição ou “feeling’ é necessária. No entanto, Lara Selem diz que não é recomendado o líder só liderar pela intuição. “Liderança pode ser aprendida, existem técnicas que ajudam no processo e precisam ser utilizadas em conjunto com a intuição”, aponta.

Vera Cavalcanti explica ainda que pela própria compreensão desse contexto organizacional complexo de hoje, ágil e competitivo, a visão contemporânea da teoria gerencial parte da ideia de que não existem etapas previsíveis e predeterminadas para as ações estratégicas na organização. Mas o líder que tomar decisões através de um processo intuitivo, em grande parte inconsciente, deverá, no entanto, estar baseado na reflexão constante, no hábito e na experiência adquirida, não só no trato de dados objetivos, como também na percepção de oportunidades temporal e política.

4 – TENTAR IMPOR MEDO

Na opinião da professora da FGV, os líderes “carrascos”, embora existam, não terão vida longa. Alguns indicadores, como alto turnover, faltas, desmotivação, baixa produtividade, entre outros, vêm demonstrando que esse estilo de liderança não é mais sustentável. “Temos percebido a mudança na relação de trabalho em que os ‘chefes’ vêm percebendo a necessidade de abandonar a postura tradicional de mando para assumirem uma postura educadora que valoriza a ação transformadora do homem ao invés de aprisioná-lo em suas potencialidades. Estamos cada vez mais falando do líder coach. Entretanto, a ação de deixar de dirigir para influenciar é uma grande mudança para quem passou anos dizendo às pessoas o que fazer, afirma.

Por isso, Lara Selem explica que o líder não deve fazer com que a equipe tenha medo, mas sim respeito. “O medo é péssimo, pois as pessoas tenderão a querer esconder os erros, o que pode ser fatal para a organização. Respeito é conquistado com clareza de expectativas, promessas cumpridas, feedbacks constantes, sinceridade respeitosa do líder”, argumenta.

Vera compartilha da mesma opinião dizendo que “sem dúvida o respeito promove relações saudáveis e maduras, enquanto o medo cria um clima de insatisfação e de rancor silencioso, além de gerar prejuízo para a saúde. O efeito negativo da postura do ‘carrasco’ pode ser respondido com a seguinte questão que frequentemente levanto com os alunos: dá para imaginar os custos pessoais e organizacionais quando os funcionários não empenham plenamente a paixão, o talento, a inteligência e a criatividade no trabalho que realizam? A gestão pelo medo convida você a responder quando solicitado e dar apenas aquilo que precisa, sem comprometimento genuíno”, alerta.

5 – NÃO SABER SE COMUNICAR

A primeira habilidade de quem pretende assumir uma equipe é saber se comunicar, diz Lara Selem. “Seja falando ou escrevendo, o líder tem que se conectar aos seus liderados”, afirma.

A comunicação é a força motriz que promove a interação e o entendimento entre os homens. Para o líder, a comunicação desempenha o importante papel de disseminar a missão, visão e valores da organização, assim como levar o funcionário a conhecer para onde vai a organização e como ela pretende ocupar o lugar no mundo corporativo. “Por meio da construção da visão compartilhada com os funcionários sobre o papel de cada um para o alcance das metas e objetivos organizacionais, o funcionário passa a entender e a se comprometer com o seu papel no contexto maior da organização”, explica Vera.

Ela diz que a comunicação assim entendida leva o líder a perceber que seu papel é traduzir a trajetória organizacional em diretrizes, visões em práticas e propósitos em processos. Ao comunicar a visão do negócio à sua equipe, ele envolve pessoas, dando a elas norte e sentido de trabalho. A visão torna-se assim um elemento motivador, além de atuar como critério de seleção para alocação de esforços, filtrar as informações relevantes e disciplinar as ações de modo a canalizar todos os esforços na mesma direção, ampliando a responsabilidade individual e coletiva.

6 – FALTA DE CONFIANÇA NA EQUIPE

Não há trabalho de equipe sem confiança, sem senso de pertencimento, sem compromisso com as metas e objetivos. “Claro que confiança se conquista, tanto de um lado quanto de outro. A dose de confiança deve ser dada gradualmente até que se atinja um nível adequado à função que seja possível alguma autonomia”, afirma Lara.

Vera Cavalcanti diz que confiar é importante, e no âmbito do trabalho a confiança implica um processo de construção da maturidade para gerar autonomia nas pessoas. “Eu só posso confiar no funcionário ou na equipe quando eles estiverem preparados para caminhar sozinhos e demonstrarem competência para tomar decisões responsáveis. Mas a liderança situacional traz uma base interessante de conhecimento que o líder deve dominar para saber identificar o grau de desenvolvimento de cada funcionário. Alguns têm maior autonomia para a execução de suas tarefas (conhecimentos, habilidades), mas podem não ter a mesma competência interpessoal para relacionamentos”, explica.

No entanto, ela completa que cada situação requer do líder diferentes abordagens, todas levando ao mesmo objetivo: capacitar os funcionários para se tornarem autônomos, a quem então o líder pode delegar e confiar. “Assim, ele erra quando confia sem preparar e acerta quando prepara pessoas para assumir sua vida e carreira”.

7 – SER PESSIMISTA AO EXTREMO

O pessimismo ou o otimismo pode fazer parte de qualquer pessoa, impactando diretamente no sucesso pessoal ou profissional. Para o líder esse impacto toma maiores proporções, pois atua diretamente no desempenho e na produtividade da equipe. “Sem dúvida um líder pessimista impactará diretamente na motivação de seus colaboradores, e sem motivação os dons mais raros permanecem estéreis, as capacidades adquiridas ficam em desuso e as técnicas mais sofisticadas sem rendimento”, reflete a professora da FGV.

A especialista em Gestão Estratégica, Lara Selem, pondera que o líder deve ser, em primeiro lugar, verdadeiro com seus liderados. “E a verdade às vezes é dura. O líder deve ter equilíbrio no tratamento das notícias e saber encontrar saída nos momentos difíceis. Sem ser pessimista demais, nem Poliana demais. A coerência de suas atitudes diante dos problemas vai motivar ainda mais a equipe a se unir para resolver”, julga.

8 – NÃO BUSCAR CRESCIMENTO PESSOAL

Segundo Lara Selem, um líder jamais pode se dar ao luxo de dizer que está tão atarefado que não tenha tempo para buscar crescimento pessoal. “Tempo é uma questão de prioridades, e o crescimento pessoal é uma prioridade na nossa vida. Aprender a gerenciar o tempo é uma das tarefas cruciais do líder em evolução”, ensina.

A competência dentro das organizações é uma condição de existência, e sua plasticidade nos alerta para a necessidade de constante atualização na nossa forma de pensar, agir e decidir. “O líder precisa ser o eterno aprendiz, aberto e comprometido com o seu autodesenvolvimento, de forma a obter melhoria contínua na realização de seu trabalho e de seu crescimento pessoal. Não basta ser um especialista no que faz, é preciso também integrar competência interpessoal e eficácia pessoal. Torna-se importante buscar meios adequados para adquirir novos conhecimentos e experiências, manter-se atualizado e atento às oportunidades no seu campo de atuação, assim como mostrar-se receptivo a críticas construtivas, orientações e agir para superação de suas dificuldades e carências”, indica Vera.

A professora diz ainda que o crescimento pessoal é condição de sobrevivência na vida pessoal e profissional e abre caminho para que os líderes desenvolvam uma expressão pessoal da liderança baseada na autenticidade, integridade e ética.

9 – SER ARROGANTE

Na opinião de Lara Selem, a arrogância é câncer no trabalho de equipe e destrói a confiança na liderança, levando o líder ao fracasso. “Esse tipo de comportamento gera na equipe um descomprometimento com as ideias do líder, e só por isso já é péssimo para todos”, afirma.

Esse jamais será um comportamento construtivo e, em geral, se encontra nos perfis centralizadores e críticos. “Os líderes com essa característica tendem a ser autorreferentes, pouco abertos para sugestões ou opiniões e têm dificuldade para delegar, pois acreditam que ninguém fará tão bem quanto eles”, aponta Vera Cavalcanti.

Ela diz que sem dúvida ainda encontramos líderes/gestores apegados à chamada “era do insubstituível”, na qual se percebiam como os únicos capazes de resolver todos os problemas e encontrar as melhores soluções para a organização. O resultado dessa postura é a ineficácia gerencial. Nesse caso as características positivas do líder entram em uma esfera negativa de atuação, comprometendo o alcance de resultados com pessoas.

10 – FALTA DE CRIATIVIDADE

À medida que as organizações buscam tornar-se cada vez mais receptivas às mudanças contínuas do ambiente competitivo e às necessidades dos clientes e do mercado, buscam também alternativas mais eficazes para gerir seus negócios e pessoas; a necessidade de renovação e a criatividade é uma constante no mundo dos negócios e na vida das pessoas. “Todas as pessoas têm potencial criativo, para o líder a sua utilização é fundamental, pois as transformações que se fazem necessárias às organizações exigem flexibilidade e adaptação”, compreende Vera.

No entanto, ela diz que mais do que líderes criativos, as organizações precisam de pessoas criativas voltadas ao comprometimento com o empreendedorismo, inovação e com os resultados organizacionais capazes de trazer o diferencial competitivo para o mercado.

Então ela dá a dica: Criatividade se treina como os músculos. “Se você começa a explorar formas diferentes de olhar uma  situação, de conceber  um produto  ou  processo  de  trabalho, se você se  arrisca a levantar hipóteses que considerava inviáveis ou ridículas, de início sente dificuldade, mas à medida que pratica, o pensamento se torna fluido e a criatividade vem à tona. Não se pode abrir mão da flexibilidade mental do líder, essencial para lidar em ambientes complexos onde exista ambiguidade, contradições e paradoxos e estar aberto a novas maneiras de compreender e solucionar problemas, desafios e oportunidades. É fundamental a disposição para a curiosidade e principalmente a disposição e talento para inspirar pessoas no processo da criatividade”, finaliza.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE IV

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Predições Terríveis

VII – O Senhor Jesus lhes prediz a repentina propagação do Evangelho no mundo, próxima a essa época de grandes eventos (vv. 27,28): “Assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem”. Isto surge aqui como um antídoto contra o veneno desses enganadores, que diziam: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”; compare com Lucas 17.23,24: “Não vades, nem os sigais, porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do Homem no seu dia”.

1. Isto parece, primeiramente, referir-se à sua vinda para estabelecer o seu reino espiritual no mundo. Onde o Evangelho veio com a sua luz e o seu poder, ali veio o Filho do Homem, e de uma maneira bastante contrária à dos enganadores e falsos Cristos, que vinham se infiltrando no deserto, ou nas casas (2 Timóteo 3.6). Cristo vem, não com “espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”. O Evangelho seria notável por duas coisas:

(1) A sua rápida pregação. Ele voará como o relâmpago; assim o Evangelho será pregado e propagado. O Evangelho é luz (João 3.19), e neste aspecto, não é como o relâmpago, que é um brilho repentino, e já se vai, pois ele é a luz do sol, e a luz do dia; mas é como o relâmpago nos seguintes aspectos:

[1] É uma luz vinda do céu, como o relâmpago. É Deus, e não o homem, que envia os relâmpagos, e os comanda, para que possam ir e dizer: “Eis-nos aqui” (Jó 38.35). E Deus que os envia (Jó 37.3). Para o homem, é um dos milagres da natureza, acima do seu poder de realização, e um dos mistérios da natureza, acima da sua capacidade de compreender. O relâmpago vem do céu. “Os seus relâmpagos alumiam o mundo” (SI 97.4).

[2] É visível e evidente, como o relâmpago. Os enganadores mantinham as. suas profundezas com Satanás no deserto e nas casas, afastando a luz. Os hereges eram chamados de lucifugae os que evitam a luz. Mas a verdade não procura os cantos, embora algumas vezes possa ser forçada a ir até eles, como a mulher no deserto, embora “vestida do sol” (Apocalipse 12.1,6). Cristo pregava o seu Evangelho abertamente (João 18.20), e os seus apóstolos, “sobre os telhados” (cap. 10.27), não “em qualquer canto” (Atos 26.26). Veja Salmos 98.2.

[3] O Evangelho foi repentino e surpreendeu o mundo, como o relâmpago. Os judeus realmente tinham tido predições sobre ele, mas para os gentios ele foi completamente inesperado, e veio sobre eles com uma energia incalculável, por mais prevenidos que estivessem. Foi uma luz vinda das trevas (cap. 4.16; 2 Coríntios 4.6). Nós lemos sobre as armas sendo dissipadas pelos raios (2 Samuel 22.15; Salmos 144.6). Os poderes das trevas foram dissipados e vencidos pelo relâmpago do Evangelho.

[4] Ele se propaga por todos os lugares, e de maneira rápida e irresistível, como o relâmpago, que surge, supõe-se, do leste (está escrito que Cristo sobe “da banda do sol nascente”, ou seja, do leste, Apocalipse 7.2; Isaias 41.2), em direção ao oeste. A propagação do cristianismo a tantos países distantes, de diversas línguas, com instrumentos tão improváveis, destituído de todas as vantagens seculares, e enfrentando tanta oposição, e em tão pouco tempo, foi um dos maiores milagres que já se realizou para a sua confirmação. Aqui estava Cristo sobre o seu cavalo branco, sugerindo rapidez, além de força, e prosseguindo, “saiu vitorioso e para vencer” (Apocalipse 6.2). A luz do Evangelho nasceu com o sol e prosseguiu com ele, para que os seus raios chegassem “aos confins do mundo” (Romanos 10.18). Compare com Salmos 19.3,4. Embora ele fosse combatido, ele nunca poderia ficar confinado a um deserto, ou a uma casa, como estavam os enganadores; mas dessa maneira, de acordo com o que disse Gamaliel, provou que era de Deus, que não poderia ser desfeito (Atos 5.38,39). Cristo fala de mostrar-se até o ocidente, por­ que ele se propagou mais efetivamente naqueles países que estão ao oeste de Jerusalém, como observa o Sr. Herbert, na sua igreja militante. Com que rapidez a luz do Evangelho alcançou a ilha da Grã-Bretanha! Tertuliano, que escreveu no século II, observa isto:  A estabilidade da Grã-Bretanha, embora inacessível aos romanos, foi ocupada por Jesus Cristo. Esta foi uma obra do Senhor.

(2) Outra coisa notável a respeito do Evangelho era o seu estranho sucesso naqueles lugares onde ele se propagou. Ele reunia multidões, não por nenhuma compulsão externa, mas como se fosse por um instinto, uma tendência natural, como a que traz as aves de rapina às suas presas, “pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (v. 28), e onde Cristo é pregado, as almas se reúnem para ouvir. Alguém poderia pensar que a ascensão de Cristo, deixando a terra, e a pregação do Cristo crucificado deveriam afastar todos os homens do Senhor. Porém, ocorrerá o contrário. Ele atrairá todos a si (João 12.32), de acordo com a profecia de Jacó, “e a ele se congregarão os povos” (Genesis 49.10). Veja Isaias 60.8. As águias estarão onde o cadáver estiver, pois ele é alimento para elas, é um banquete para elas; “onde há mortos, ela aí está” (Jó 39.30). Sabe-se que as águias possuem uma estranha astúcia e prontidão de olfato para encontrar a presa, e se lançam a ela rapidamente (Jó 9.26). Assim, aqueles cujos espíritos Deus estimula serão efetivamente atraídos a Jesus Cristo, para se alimentarem dele. Para onde deve ir a águia, a não ser para a presa? Para onde deve ir a alma, a não ser para Jesus Cristo, que tem “as palavras de vida eterna”? As águias irão distinguir o que é adequado para elas daquilo que não o é; assim também, aqueles que têm os sentidos espirituais treinados, irão diferenciar a voz do bom Pastor daquela de um malfeitor ou ladrão. Os santos estarão onde o Cristo verdadeiro está, e não onde estão os falsos Cristos. Isto se aplica ao desejo pela presença de Cristo e pela comunhão com Ele, que estão em cada alma. Onde Ele estiver, em suas atividades, ali os seus servos deverão decidir ficar. Um princípio vivo de graça é um tipo de instinto natural que está em todos os santos, e que os atrai a Cristo para que se alimentem dele.

2. Alguns interpretam esses versículos como referindo-se a vinda do Filho do Homem para destruir Jerusalém (Malaquias 3.1,2,5). Naquele evento, houve uma exibição tão extraordinária de poder e justiça divinos, que ele é chamado de vinda de Cristo.

Aqui se sugerem duas coisas a este respeito:

(1)  Que para a maioria das pessoas isso seria tão inesperado como um relâmpago, que, na verdade, avisa do trovão que o segue, mas é surpreendente por si só. Os enganadores dizem: “Eis que o Cristo está aqui”, para nos libertar; ou: Ele está ali, como se fosse um ser criado pelos seus próprios caprichos. Mas antes que eles se deem conta, a ira do Cordeiro, o Cristo verdadeiro, os prenderá, e eles não conseguirão escapar.

(2)  Que isso pode ser tão esperado quanto o voo da águia até os cadáveres. Embora eles se afastem do dia do mal, ainda assim a desolação virá tão certamente quanto as aves de rapina voam até um cadáve1 que está exposto, em campo aberto.

[1] Os judeus eram tão corruptos e degenerados, tão vis e maldosos, que tinham se tornado um cadáver, detestáveis ao justo julgamento de Deus; eles também eram tão facciosos e sediciosos, e provocavam tanto os romanos, de tantas maneiras, que eles tinham se tornado ofensivos aos seus rancores, e eram uma presa convidativa para eles.

[2] Os romanos eram como uma águia, e a insígnia dos seus exércitos era uma águia. Diz-se que o exército dos caldeus voou “como águias que se apressam à comida” (Habacuque 1.8). A destruição da Babilônia do Novo Testamento é representada por um chamado às aves de rapina, para que comessem e se banqueteassem da carne dos mortos (Apocalipse 19.17,18). Conhecidos malfeitores terão os seus olhos devorados pelos “pintãos da águia” (Provérbios 30.17); os judeus serão presos, mortos e não serão sepultados (Jeremias 7.33; 16.4).

[3] Os judeus não poderão se proteger dos romanos, assim como um cadáver não pode se proteger das águias.

[4] A destruição encontrará os judeus onde eles estiverem, da mesma maneira como as águias sentem o odor da sua presa. Note que quando um povo, pelo seu pecado, se transforma em cadáver, pútrido e repulsivo, nada se pode esperar, exceto que Deus envie águias, para devorá-lo e destruí-lo.

3. Isso é bastante aplicável ao dia do juízo, à vinda do nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia, e à “nossa reunião com Ele” (2 Tessalonicenses 2.1). Veja aqui:

(1)  Como Ele virá: “Como o relâmpago”. Já era chegada a sua hora de passar “deste mundo para o Pai”. Por isso, aqueles que procuram Cristo não devem ir ao deserto, nem ao interior das casas, nem ouvir a qualquer pessoa que faça um sinal com o dedo, convidando-os a uma visão de Cristo; mas devem olhar para cima, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador” (Filipenses 3.20). Ele virá “com as nuvens”, como faz o relâmpago, “e todo olho o verá”, pois se diz que é natural que todas as criaturas vivas voltem os seus rostos em direção ao relâmpago (Apocalipse 1.7). Cristo irá aparecer para todo o mundo, de uma extremidade do céu até a outra; nada poderá se esconder da luz e do calor daquele dia.

(2)  Como os santos se reunirão a Ele. Da mesma maneira como as águias se aproximam do cadáver, por instinto natural e com a maior rapidez e diligência imagináveis. Os santos, quando forem levados até a glória, serão  VII – O Senhor Jesus lhes prediz a repentina propagação do Evangelho no mundo, próxima a essa época de grandes eventos (vv. 27,28): “Assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem”. Isto surge aqui como um antídoto contra o veneno desses enganadores, que diziam: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”; compare com Lucas 17.23,24: “Não vades, nem os sigais, porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do Homem no seu dia”.

4. Isto parece, primeiramente, referir-se à sua vinda para estabelecer o seu reino espiritual no mundo. Onde o Evangelho veio com a sua luz e o seu poder, ali veio o Filho do Homem, e de uma maneira bastante contrária à dos enganadores e falsos Cristos, que vinham se infiltrando no deserto, ou nas casas (2 Timóteo 3.6). Cristo vem, não com “espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”. O Evangelho seria notável por duas coisas:

(1) A sua rápida pregação. Ele voará como o relâmpago; assim o Evangelho será pregado e propagado. O Evangelho é luz (João 3.19), e neste aspecto, não é como o relâmpago, que é um brilho repentino, e já se vai, pois ele é a luz do sol, e a luz do dia; mas é como o relâmpago nos seguintes aspectos:

[1] É uma luz vinda do céu, como o relâmpago. É Deus, e não o homem, que envia os relâmpagos, e os comanda, para que possam ir e dizer: “Eis-nos aqui” (Jó 38.35). E Deus que os envia (Jó 37.3). Para o homem, é um dos milagres da natureza, acima do seu poder de realização, e um dos mistérios da natureza, acima da sua capacidade de compreender. O relâmpago vem do céu. “Os seus relâmpagos alumiam o mundo” (SI 97.4).

[2] É visível e evidente, como o relâmpago. Os enganadores mantinham as. suas profundezas com Satanás no deserto e nas casas, afastando a luz. Os hereges eram chamados de lucifugae os que evitam a luz. Mas a verdade não procura os cantos, embora algumas vezes possa ser forçada a ir até eles, como a mulher no deserto, embora “vestida do sol” (Apocalipse 12.1,6). Cristo pregava o seu Evangelho abertamente (João 18.20), e os seus apóstolos, “sobre os telhados” (cap. 10.27), não “em qualquer canto” (Atos 26.26). Veja Salmos 98.2.

[3] O Evangelho foi repentino e surpreendeu o mundo, como o relâmpago. Os judeus realmente tinham tido predições sobre ele, mas para os gentios ele foi completamente inesperado, e veio sobre eles com uma energia incalculável, por mais prevenidos que estivessem. Foi uma luz vinda das trevas (cap. 4.16; 2 Coríntios 4.6). Nós lemos sobre as armas sendo dissipadas pelos raios (2 Samuel 22.15; Salmos 144.6). Os poderes das trevas foram dissipados e vencidos pelo relâmpago do Evangelho.

[4] Ele se propaga por todos os lugares, e de maneira rápida e irresistível, como o relâmpago, que surge, supõe-se, do leste (está escrito que Cristo sobe “da banda do sol nascente”, ou seja, do leste, Apocalipse 7.2; Isaias 41.2), em direção ao oeste. A propagação do cristianismo a tantos países distantes, de diversas línguas, com instrumentos tão improváveis, destituído de todas as vantagens seculares, e enfrentando tanta oposição, e em tão pouco tempo, foi um dos maiores milagres que já se realizou para a sua confirmação. Aqui estava Cristo sobre o seu cavalo branco, sugerindo rapidez, além de força, e prosseguindo, “saiu vitorioso e para vencer” (Apocalipse 6.2). A luz do Evangelho nasceu com o sol e prosseguiu com ele, para que os seus raios chegassem “aos confins do mundo” (Romanos 10.18). Compare com Salmos 19.3,4. Embora ele fosse combatido, ele nunca poderia ficar confinado a um deserto, ou a uma casa, como estavam os enganadores; mas dessa maneira, de acordo com o que disse Gamaliel, provou que era de Deus, que não poderia ser desfeito (Atos 5.38,39). Cristo fala de mostrar-se até o ocidente, por­ que ele se propagou mais efetivamente naqueles países que estão ao oeste de Jerusalém, como observa o Sr. Herbert, na sua igreja militante. Com que rapidez a luz do Evangelho alcançou a ilha da Grã-Bretanha! Tertuliano, que escreveu no século II, observa isto:  A estabilidade da Grã-Bretanha, embora inacessível aos romanos, foi ocupada por Jesus Cristo. Esta foi uma obra do Senhor.

(2) Outra coisa notável a respeito do Evangelho era o seu estranho sucesso naqueles lugares onde ele se propagou. Ele reunia multidões, não por nenhuma compulsão externa, mas como se fosse por um instinto, uma tendência natural, como a que traz as aves de rapina às suas presas, “pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (v. 28), e onde Cristo é pregado, as almas se reúnem para ouvir. Alguém poderia pensar que a ascensão de Cristo, deixando a terra, e a pregação do Cristo crucificado deveriam afastar todos os homens do Senhor. Porém, ocorrerá o contrário. Ele atrairá todos a si (João 12.32), de acordo com a profecia de Jacó, “e a ele se congregarão os povos” (Genesis 49.10). Veja Isaias 60.8. As águias estarão onde o cadáver estiver, pois ele é alimento para elas, é um banquete para elas; “onde há mortos, ela aí está” (Jó 39.30). Sabe-se que as águias possuem uma estranha astúcia e prontidão de olfato para encontrar a presa, e se lançam a ela rapidamente (Jó 9.26). Assim, aqueles cujos espíritos Deus estimula serão efetivamente atraídos a Jesus Cristo, para se alimentarem dele. Para onde deve ir a águia, a não ser para a presa? Para onde deve ir a alma, a não ser para Jesus Cristo, que tem “as palavras de vida eterna”? As águias irão distinguir o que é adequado para elas daquilo que não o é; assim também, aqueles que têm os sentidos espirituais treinados, irão diferenciar a voz do bom Pastor daquela de um malfeitor ou ladrão. Os santos estarão onde o Cristo verdadeiro está, e não onde estão os falsos Cristos. Isto se aplica ao desejo pela presença de Cristo e pela comunhão com Ele, que estão em cada alma. Onde Ele estiver, em suas atividades, ali os seus servos deverão decidir ficar. Um princípio vivo de graça é um tipo de instinto natural que está em todos os santos, e que os atrai a Cristo para que se alimentem dele.

5. Alguns interpretam esses versículos como referindo-se a vinda do Filho do Homem para destruir Jerusalém (Malaquias 3.1,2,5). Naquele evento, houve uma exibição tão extraordinária de poder e justiça divinos, que ele é chamado de vinda de Cristo.

Aqui se sugerem duas coisas a este respeito:

(1)  Que para a maioria das pessoas isso seria tão inesperado como um relâmpago, que, na verdade, avisa do trovão que o segue, mas é surpreendente por si só. Os enganadores dizem: “Eis que o Cristo está aqui”, para nos libertar; ou: Ele está ali, como se fosse um ser criado pelos seus próprios caprichos. Mas antes que eles se deem conta, a ira do Cordeiro, o Cristo verdadeiro, os prenderá, e eles não conseguirão escapar.

(2)  Que isso pode ser tão esperado quanto o voo da águia até os cadáveres. Embora eles se afastem do dia do mal, ainda assim a desolação virá tão certamente quanto as aves de rapina voam até um cadáve1 que está exposto, em campo aberto.

[1] Os judeus eram tão corruptos e degenerados, tão vis e maldosos, que tinham se tornado um cadáver, detestáveis ao justo julgamento de Deus; eles também eram tão facciosos e sediciosos, e provocavam tanto os romanos, de tantas maneiras, que eles tinham se tornado ofensivos aos seus rancores, e eram uma presa convidativa para eles.

[2] Os romanos eram como uma águia, e a insígnia dos seus exércitos era uma águia. Diz-se que o exército dos caldeus voou “como águias que se apressam à comida” (Habacuque 1.8). A destruição da Babilônia do Novo Testamento é representada por um chamado às aves de rapina, para que comessem e se banqueteassem da carne dos mortos (Apocalipse 19.17,18). Conhecidos malfeitores terão os seus olhos devorados pelos “pintãos da águia” (Provérbios 30.17); os judeus serão presos, mortos e não serão sepultados (Jeremias 7.33; 16.4).

[3] Os judeus não poderão se proteger dos romanos, assim como um cadáver não pode se proteger das águias.

[4] A destruição encontrará os judeus onde eles estiverem, da mesma maneira como as águias sentem o odor da sua presa. Note que quando um povo, pelo seu pecado, se transforma em cadáver, pútrido e repulsivo, nada se pode esperar, exceto que Deus envie águias, para devorá-lo e destruí-lo.

6. Isso é bastante aplicável ao dia do juízo, à vinda do nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia, e à “nossa reunião com Ele” (2 Tessalonicenses 2.1). Veja aqui:

(1)  Como Ele virá: “Como o relâmpago”. Já era chegada a sua hora de passar “deste mundo para o Pai”. Por isso, aqueles que procuram Cristo não devem ir ao deserto, nem ao interior das casas, nem ouvir a qualquer pessoa que faça um sinal com o dedo, convidando-os a uma visão de Cristo; mas devem olhar para cima, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador” (Filipenses 3.20). Ele virá “com as nuvens”, como faz o relâmpago, “e todo olho o verá”, pois se diz que é natural que todas as criaturas vivas voltem os seus rostos em direção ao relâmpago (Apocalipse 1.7). Cristo irá aparecer para todo o mundo, de uma extremidade do céu até a outra; nada poderá se esconder da luz e do calor daquele dia.

(2)  Como os santos se reunirão a Ele. Da mesma maneira como as águias se aproximam do cadáver, por instinto natural e com a maior rapidez e diligência imagináveis. Os santos, quando forem levados até a glória, serão levados “sobre asas de águias” (Êxodo 19.4), e sobre asas de anjos. Eles “subirão com asas como águias”, e, como elas, renovarão a sua juventude.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A AULA DA FELICIDADE

Universidade de Yale oferece um curso que ensina a ser feliz praticando gratidão, gentileza e intimidade. Ele já é o mais procurado nos 378 anos da instituição americana.

A aula da felicidade

É certo que não existe fórmula para felicidade, mas há caminhos descritos pela ciência para melhorar o bem-estar. São eles a base do curso que começou a ser ministrado no início do ano pela psicóloga Laurie Santos na Universidade de Yale (EUA) e que rapidamente se transformou no mais procurado na história dos 378 anos da instituição. Às terças e quintas-feiras, o principal auditório da universidade lota para ouvir as lições de Laurie. “Os estudantes perceberam que a cultura do estresse, do excesso de trabalho, é muito nociva”, disse a psicóloga. “Isso explica a procura além do que esperávamos.”

As aulas ensinam que a felicidade tem menos a ver com circunstâncias da vida, como receber um bom salário, e mais com a prática cotidiana de ações que se mostraram cientificamente eficazes. Coisas como aumentar as conexões sociais, lembrar-se dos aspectos bons da sua vida, dormir oito horas por noite, meditar e se exercitar. ”Não basta identificarmos o que nos faz felizes. É preciso praticar. Caso contrário, nada muda”, diz Laurie.

No curso, os alunos conhecem as alterações cerebrais promovidas pela sensação de bem-estar e de que maneira são processadas a partir de ações diárias. Com a consistência científica por trás dos dados, fica mais fácil aos frequentadores compreenderem de que maneira o comportamento influencia o funcionamento cerebral e vice-versa. “Entendi de que forma a cognição humana guia a maneira como nos sentimos”, afirma o paulistano Davi Lemos da Silva, 21 anos, matriculado nas faculdades de Ciências da Computação e de Psicologia. “Temos mitos em relação ao que achamos que nos fará felizes, como dinheiro, casamento. Na verdade, é a gentileza, gratidão, saúde, senso de comunidade, intimidade.”

LIÇÃO DE CASA

Os alunos devem listar diariamente cinco coisas boas que aconteceram no dia “Não deixo de fazer isso”, diz o português João Cardoso, 18 anos. Aluno de Astrofísica, ele aprendeu o quanto fazer novos amigos é importante. Seguindo as orientações das aulas, descobriu uma ótima companhia na colega Julia Sanderson, estudante de Economia. “Eu a conheci às cinco da manhã, na lavanderia. Tornou-se uma grande companheira”, diz.

OUTROS OLHARES

MUDANÇAS NECESSÁRIAS

A cada etapa da vida dos filhos, a família precisa se reciclar

Mudanças necessárias

Será que existe um modelo estável de família, ou ela se transforma à medida que os filhos nascem e, depois, crescem? Em tempos em que muitos pais e mães tentam entender os mais diversos comportamentos dos filhos, em todas as etapas da vida deles, é bom pensar sobre como a dinâmica familiar influencia, para o bem e para o mal, o desenvolvimento dos mais novos.

Uma família sempre começa com a reunião de, pelo menos, duas pessoas, e elas podem ser pares da mesma geração, ou um adulto e uma criança. Temos, na atualidade, muitas “mães-solo”, a nova expressão usada e mais aceita, e alguns “pais-solo” também, mas em menor número. Para que essa reunião de pessoas se torne um grupo familiar, cada um deve assumir o seu lugar, tanto geracional quanto no grupo.

Isso significa que o adulto precisa se comportar como adulto, a mãe como mãe e o pai como pai, independentemente de o casal estar junto ou não. A criança deve ter o direito à infância, de se comportar como criança. O adolescente, por sua vez, precisa assumir aos poucos a responsabilidade por sua vida –  ainda sob a tutela dos pais –  , ser reconhecido e acolhido como alguém que está em construção e transformação constantes e ter a oportunidade de aprender, na prática, que ser integrante de uma família acarreta compromissos.

Tudo isso exige que os vínculos entre os adultos e os mais novos sejam construídos e mantidos o tempo todo. Sabemos, por exemplo, que pais que têm bebê em casa perdem o sono por um motivo bem diferente do daqueles que têm filho adolescente, que já gosta de frequentar reuniões e festas noturnas. Os primeiros se cansam, os segundos se angustiam.

Os vínculos familiares dos pais com os filhos pequenos são de um tipo, expressam-se de determinadas maneiras, mas o crescimento dos filhos faz com que esses vínculos se transformem, ou seja, se expressem de outras maneiras. Quer saber como? Filhos pequenos adoram colo, mimo, beijar e abraçar, mas, já no início da segunda parte da infância, costumam sinalizara os pais que insistem nesses comportamentos: “menos, mãe, menos, pai, por favor!”. É ou não é? Os pais precisam, portanto, aprender a comunicar sua amorosidade pelos filhos de outras maneiras.

E aí está: a cada etapa da vida dos filhos, a família precisa mudar, adaptar-se, reciclar-se. Há famílias que insistem em permanecer do mesmo jeito como se construíram em sua origem e, muitas vezes, esse é um dos motivos do grande desconforto que os filhos – principalmente os adolescentes – experimentam quando estão com a família.

Não é a família em si que o jovem recusa com os comportamentos que expressa; é a família que insiste em permanecer a mesma desde quando ele era criança. Como ele já não é mais uma criança, não consegue identificar o seu lugar no grupo: sente-se, desse modo, excluído da panelinha. Mudança não produz instabilidade; provoca, sim, crescimento, adaptação, maturidade. Evitar mudanças não oferece segurança. Pense em sua família: ela tem se transformado na mesma medida e com a mesma velocidade com que seus filhos crescem?

GESTÃO E CAREIRA

EM BUSCA DAS REAIS COMPETÊNCIAS

Existe uma necessidade urgente de aprimoramento das habilidades para que os colaboradores possam dar o melhor de si em suas funções laborais.

Em busca das reais competências

Esse movimento do aprimoramento pode ocorrer em dois sentidos: da empresa para o funcionário ou do próprio indivíduo que busca uma melhor posição no mercado independentemente da função que ocupa atualmente.

Ocorre que muitas são as pessoas que não são capazes de vislumbrar seu real potencial e acabam por deixar de lado suas reais competências. Podemos dizer que a competência pode ser dividida em três elementos principais: o conhecimento formal que pode ser adquirido normalmente com estudo e/ ou treinamentos; saber­ fazer que está ligado às habilidades pessoais de uma pessoa e os recursos disponíveis para sua atuação; e por último saber – ser, que reflete as atitudes de uma pessoa diante das demandas apresentadas no dia a dia.

Quando não há um investimento por parte da instituição para que seus colaboradores possam melhorar ou, até mesmo, descobrir suas competências, é necessário que isso seja feito pelo próprio profissional que deseja alcançar um posicionamento melhor na empresa ou no mercado. Ocorre que as competências passaram a ser pré-requisitos exigidos por qualquer empresa atual no processo de recrutamento e seleção para suas vagas.

Diversos são os mecanismos existentes usados pelos selecionadores, que vão desde entrevistas até aplicação de dinâmicas e testes, a fim de pontuarem as competências necessárias para determinado cargo. Não saber quais são as competências pessoais e/ ou não aprimorar as que existem fazem toda diferença na hora de se candidatar a um processo seletivo.

Conheça as dez principais competências mais requeridas nos processos seletivos para a maioria dos cargos. Dessa forma você poderá analisar em quais possui melhor desempenho e em quais precisa melhorar. Vale a pena lembrar que, com um bom treinamento, tudo pode ser melhorado em um profissional. A ordem disposta não está ligada à importância de cada competência. Afinal, diferentes cargos vão exigir melhor desempenho em diferentes competências:

TRABALHO EM EQUIPE: Provavelmente a mais requerida das competências. Trabalhar em grupo requer que o indivíduo possua uma boa inteligência emocional para poder lidar com os conflitos que sempre surgem nas equipes. Administrar diferenças é o foco dessa competência.

SER LÍDER: O passo seguinte de saber trabalhar em equipe é se tornar um líder. Lembrando que existe uma diferença crucial entre ser o chefe e ser o líder. Você é uma pessoa que exerce influência no ambiente onde está inserido?

AUTO CONHECIMENTO: Um profissional necessita conhecer seus pontos fortes e frágeis da mesma forma que deve descobrir o que realmente o motiva a crescer todos os dias.

VISÃO DE NEGÓCIO: Uma certa ambição sempre é importante e, para isso, é necessário que se tenha uma visão além de sua própria área de atuação. Conhecer bem todo o sistema que o rodeia na instituição (ou mercado) para perceber as oportunidades de crescimento. Ir além do que toca e vê diariamente, abrir horizontes.

ATITUDE (O “A” DO CHA): Todos os profissionais minimamente qualificados conhecem bem o significado do CHA (conhecimentos, habilidades, atitudes). Ter atitude diante do grupo de atuação com comprometimento e ética faz toda diferença na hora de ser lembrado pelas pessoas. Ser lembrado positivamente, como um elemento de atitude, é um bom passo para o crescimento na instituição.

SER SOCIÁVEL: Não se trata de uma competência exclusiva do ambiente laboral. Hoje, ser sociável é a mola­ mestra da cultura recheada de redes sociais. Nesse ponto, saber ouvir os outros é uma habilidade que deve ser alavancada.

FOCO NA PRODUTIVIDADE: Qualquer instituição deseja que sua produtividade seja ampla e que o retorno financeiro ocorra para a manutenção de todos os processos envolvidos na produção. “Tempo é dinheiro” não é só um ditado popular, raras são as empresas que por algum motivo conseguem sobreviver no mercado com baixa produtividade.

CAPACIDADE DE SE ADAPTAR A MUDANÇAS: A resiliência é uma competência altamente solicitada para suportar as pressões internas e externas no ambiente de trabalho. Darwin nunca disse que é a espécie mais forte que sobrevive. Ele sempre afirmou que é a que melhor se adapta ao ambiente. Dessa forma, a única certeza que temos é a mudança constante do mercado. Sem capacidade de adaptabilidade não haverá um futuro para ninguém.

CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO PLENA: Em uma instituição uma falha no processo comunicacional pode gerar erros e prejuízos na produtividade, por isso, manter uma comunicação clarificada, sem dúvidas, é essencial no ambiente de trabalho.

CAPACIDADE DE CRIAR E MANTER AGENDAS: Saber lidar com prazos, ser organizado e capaz de cumprir as metas estabelecidas no tempo certo é uma competência muito bem vista e, por que não dizer, essencial para as pessoas que desejam usufruir de um crescimento na instituição. Saber se programar e criar estratégias de resolução de demandas irão colocar qualquer pessoa na direção do sucesso na vida profissional.

Assim, observando as diversas competências podemos descobrir quais devemos trabalhar para melhorar e quais as que podemos usar em prol de conseguirmos alcançar nossos objetivos. Sempre é possível aprimorar as habilidades que possuímos e aquelas que julgamos deficitárias podem ser alavancadas com treinamentos. O importante é ter consciência da real condição e usar isso como ponto de partida e nunca como uma condição finalizada.

 

JOÃO OLIVEIRA – é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br).Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções! Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional – Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida, e Saiba Quem Está à sua Frente Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE III

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Predições Terríveis

V – O Senhor prediz a pregação do Evangelho a todo o mundo (v. 14). “Este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo… e então virá o fim”. Observe aqui:

1. Ele é chamado de Evangelho do Reino, porque ele revela o reino da graça, que leva ao reino da glória; ele estabelece o reino de Cristo neste mundo; e nos assegura o outro mundo.

2. Este Evangelho, mais cedo ou mais tarde, deverá ser pregado em todo o mundo, a todas as criaturas, e todas as nações deverão ser ensinadas por ele; pois é nele que Cristo se mostra como a “salvação até aos confins da terra”. Para este fim, o dom de línguas era “as primícias do Espírito”.

3. O Evangelho será pregado “em testemunho a todas as gentes”; ou seja, ele é a declaração fiel do pensamento e da vontade de Deus a respeito do dever que Deus exige de um homem, e da recompensa que o homem pode esperar de Deus. É um “testemunho” (1 João 5.11) para aqueles que creem, de que eles serão salvos, e contra aqueles que persistem na incredulidade, de que serão condenados. Veja Marcos 16.16. Mas como esta verdade é mostrada aqui?

(1) Aqui está sugerido que era necessário que todo o mundo que se conhecia na época ouvisse a pregação do Evangelho, ou pelo menos ouvisse falar dele, antes da destruição de Jerusalém; isto era necessário para que a instituição do Antigo Testamento não se dissolvesse completamente até que o Novo Testamento estivesse bem estabelecido, tivesse uma base considerável, e começasse a formar uma imagem. Nesse contexto, era melhor que houvesse um grupo que buscasse a Deus, mesmo que de uma forma corrompida e degenerada, do que não haver ninguém que o fizesse. Dentro de quarenta anos depois da morte de Cristo, a “voz” do Evangelho tinha chegado aos confins do mundo (Romanos 10.18). O apóstolo Paulo pregou integralmente o Evangelho “desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico”; e os outros apóstolos não foram ociosos; a perseguição dos santos em Jerusalém ajudou a dispersá-los, de modo que eles foram a todos os lugares, anunciando o Evangelho (Atos 8.1-4). E quando as notícias do Redentor alcançassem todas as partes do mundo, então o fim da nação judaica ocorre­ ria. Assim, aquilo que eles pensavam evitar, condenando Jesus à morte, foi precisamente o que procuraram.

Todos creram nele, e, vieram os romanos, e tiraram o seu lugar e a sua nação (João 11.48). Paulo disse que o Evangelho estava em “todo o mundo”, e havia sido “pregado a toda criatura ” (Colossenses 1.6-23).

(2)  Da mesma maneira, está sugerido que mesmo em tempos de tentação, dificuldades e perseguição, o Evangelho do rei no será pregado e propagado, e irá abrir o seu caminho em meio à maior oposição. Embora os inimigos da igreja se acalorem, e o amor de muitos dos seus amigos esfrie, ainda assim o Evangelho será pregado. E mesmo então, quando muitos caírem pela espada e pelo fogo, e muitos agirem malvadamente, e forem corrompidos por adulações, aqueles que realmente conhecem ao seu Deus serão fortalecidos para realizar as maiores proezas, instruindo a muitos (veja Daniel 11.32,33; e veja um exemplo em Filipenses 1.12-14).

(3)  O que, aparentemente, se pretende aqui é dar a entender que o fim do mundo ocorrerá quando o Evangelho tiver realizado o seu trabalho no mundo, e não antes disso. O Evangelho será pregado, e a palavra será transmitida, mesmo depois que vocês estiverem mortos; para que todas as nações, sejam as primeiras ou as últimas, possam apreciar ou recusar o Evangelho; e “então virá o fim”, quando o reino ser á entregue a Deus Pai, quando o mistério de Deus será concluído, o corpo espiritual será completado, e as nações forem convertidas e salvas, ou condenadas e silenciadas pelo Evangelho. Então virá o fim, de que Ele tinha falado anteriormente (vv. 6,7), não antes, não até que estes conselhos intermediários se cumpram. O mundo permanecerá enquanto existir algum dos eleitos de Deus que não tiver sido chamado; mas quando estiverem todos reunidos, ele se incendiará imediatamente.

VI – Ele prediz, mais particularmente, a destruição que viria sobre o povo dos judeus, a sua cidade, o seu Templo e a sua nação (v. 15ss.). Aqui Jesus chega mais perto de responder às perguntas dos discípulos sobre a destruição do Templo, e o que Ele disse aqui será útil para eles, tanto para o seu comportamento quanto para o seu consolo, referindo-se àquele grande evento. Ele descreve os diversos estágios daquela calamidade, como é usual em uma guerra.

1. Os romanos trarão “a abominação da desolação” ao “lugar santo” (v. 15). Considere que:

(1) Alguns entendem que uma imagem, ou estátua, colocada no Templo por alguns dos governantes romanos, e que era muito ofensiva aos judeus, os levou a se rebelarem, e desta maneira trouxe a desolação sobre eles. A imagem de Júpiter (um dos deuses do Olimpo), que Antíoco mandou colocar sobre o altar de Deus, é chamada A abominação da desolação, a mesma palavra usada aqui pelo historiador (1 Macabeus 1.54). Desde o cativeiro na Babilônia, nada era, nem poderia ser, mais desagradável para os judeus do que uma imagem no lugar santo, como se pode perceber pela poderosa oposição que eles fizeram quando Calígula se ofereceu para colocar a sua estátua ali, o que teria tido consequências fatais, se não tivesse sido evitado, e a questão apaziguada, pelo comportamento de Petrônio. No entanto, Herodes colocou a imagem de uma águia sobre a porta do Templo e, dizem alguns, a estátua de Tito foi colocada dentro do Templo. 

(2) Outros preferem explicar isso com o trecho paralelo (Lucas 21.20): “quando virdes Jerusalém cercada de exércitos”. Jerusalém era a cidade santa, Canaã era a terra santa, e o monte Moriá, que está próximo de Jerusalém, pela sua proximidade com o Templo, era, de uma maneira especial, considerado solo sagrado; o exército romano estava acampado na região ao redor de Jerusalém, e isto teria sido a abominação que produziu a desolação. A terra de um inimigo é considerada como “a terra de que te enfadas” (Isaias 7.16), de modo que um exército inimigo, para um povo fraco, mas voluntarioso, pode perfeitamente ser chamado de abominação. Diz-se que isto se refere a Daniel, que falou mais claramente do Messias e do seu reino que qualquer outro dos profetas do Antigo Testamento. Ele fala de uma “abominação desoladora”, o que seria feito por Antíoco (Daniel 11.31; 12.11), mas isto a que se refere o nosso Salvador nós temos na mensagem trazida pelo anjo (Daniel 9.27) do que aconteceria no final de setenta semanas, muito tempo depois da anterior; pois com o aumento das abominações, ou, como diz a anotação na margem, com os exércitos abomináveis (o que esclarece a profecia), Ele trará a desolação. Exércitos de idólatras podem ser chamados de exércitos abomináveis; e alguns pensam que os tumultos, insurreições, facções e sedições abomináveis, na cidade e no Templo, podem, pelo menos, ser interpretados como parte da abominação causando desolação. Cristo lembra aos discípulos a profecia de Daniel, para que eles possam ver como a destruição da sua cidade e do seu Templo foi mencionada no Antigo Testamento, o que confirmaria a sua predição e, ao mesmo tempo, removeria a ira da sua profecia. Da mesma maneira, eles poderiam, a partir de então, começar a contar o tempo logo depois da morte do Messias, o príncipe. O pecado cometido quando os judeus o rejeitaram e a certeza da destruição são uma desolação determinada. Assim como Cristo, pelos seus preceitos, confirmou a lei, também pelas suas predições Ele confirmou as profecias do Antigo Testamento, e isto será útil para a comparação de ambas.

Tendo sido feita referência a uma profecia, que normalmente é obscura, Cristo insere este lembrete: “Quem lê, que entenda”. Aquele que lê a profecia de Daniel, compreenda que ela deverá se cumprir então, dentro de pouco tempo, na destruição de Jerusalém. Observe que aqueles que leem as Escrituras, devem se esforçar para entendê-las, caso contrário a sua leitura terá pouco propósito. Nós não podemos utilizar aquilo que não compreendemos. Veja João 5.39; Atos 8.30. O anjo que trouxe esta profecia a Daniel o estimulou para que a conhecesse e entendesse (Daniel 9.25). E nós não devemos perder a esperança de entender, nem mesmo as profecias obscuras; a maior profecia do Novo Testamento é chamada de “revelação”, e não de segredo. Agora as coisas reveladas pertencem a nós; portanto, elas devem ser investigadas com humildade e diligência. Também podemos compreender não apenas as Escrituras que falam dessas coisas, mas pelas Escrituras devemos compreender os tempos (1 Crônicas 12.32). Observemos e prestemos atenção; assim alguns interpretam isso. Que nos asseguremos de que, apesar das esperanças vãs com as quais as pessoas iludidas se alimentam, os exércitos abomináveis trarão desolação.

2. Os meios de preservação que os homens sérios deveriam empregar (vv. 16,20): “Os que estiverem na Judéia, que fujam”. A conclusão é que não existe outra maneira de se salvar, exceto fugir. Nós podemos interpretar isto:

(1)  Como uma predição da própria ruína – que ela seria impossível de evitar; que seria impossível, mesmo para os corações mais corajosos, resistir a ela, ou lutar contra ela. Eles devem recorrer à última opção, sair do caminho. Isto indica aquilo em que Jeremias tanto insistia, embora em vão, quando Jerusalém estava sitiada pelos caldeus, que seria inútil resistir, mas que seria prudente render-se e capitular; assim também Cristo aqui, para mostrar o quanto seria inútil resistir a isso, convida todos a seguir o seu conselho.

(2)  Nós podemos interpretar isso como uma orientação aos seguidores de Cristo quanto ao que fazer, o que não significa uma aliança com aqueles que lutaram e guerrearam contra os romanos pela preservação da sua cidade e nação, somente para que pudessem consumir a riqueza de ambas nos seus desejos (pois o apóstolo se refere a essa mesma questão – as lutas dos judeus contra o poder romano, alguns anos antes da sua destruição final, Tiago 4.1-3). Mas que eles concordem com o que foi dito, e que saiam rapidamente da cidade e do país, como se estivessem abandonando um cavalo que está caindo ou um navio naufragando, como Ló saiu de Sodoma e como Israel deixou as tendas de Datâ e Abirão. Ele lhes mostra:

[1] Para onde deveriam fugir ao sair da Judéia: “para os montes”. Não os montes ao redor de Jerusalém, mas aqueles nos lugares distantes, que lhes serviriam de abrigo, não tanto pela sua resistência, mas pelo seu isolamento. Está dito que Israel se dispersará pelos montes (2 Crônicas 18.16; veja também Hebreus 11.38). Haveria maior segurança entre os covis dos leões, e os montes dos leopardos, do que entre os sediciosos judeus ou os furiosos romanos. Note que em tempos de perigo iminente, não apenas é lícito, mas também é nosso dever, procurar a nossa própria preservação por todos os meios bons e honestos, e se Deus nos abre uma porta, nós devemos usá-la para escapar, do contrário não estaremos confiando em Deus, mas tentando-o. Pode haver uma ocasião em que mesmo aqueles que estão na Judéia, onde Deus é conhecido e o se u nome também, precisem fugir para os montes; e desde que nós saiamos somente do caminho do perigo, e não do caminho do dever, nós podemos confiar que Deus proverá um refúgio para os seus desterrados (Isaias 16.4,5). Em tempos de calamidade pública, quando fica claro que não temos utilidade em casa e podemos estar mais seguros em outro lugar, a Providência nos convida a fugir. Aquele que fugir poderá lutar outra vez.

[2] A pressa que eles devem ter (vv. 17,18). A vida estará em perigo, em perigo iminente, o açoite surgirá de repente, e, portanto, “quem estiver sobre o telhado”, quando soar o alarme, “não desça a tirar alguma coisa de sua casa”, para cuidar das suas coisas, mas desça o mais rapidamente possível, para fugir; e também “quem estiver no campo”, encontre o caminho mais acertado para fugir imediatamente, e não “não volte atrás a buscar as suas vestes”, ou para tirar coisa alguma de sua casa, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o tempo que ele perderia para empacotar as suas coisas iria atrasar a sua fuga. Observe que quando a morte está à porta, atrasos são perigosos. Isto foi recomendado a Ló: “Não olhes para trás de ti”. Aqueles que estão convencidos da infelicidade de uma condição de pecado, e da destruição que os espera nessa condição, e, consequentemente, da necessidade de fugir em direção a Cristo, devem se apressar, para que, depois de todas essas convicções, eles não pereçam eternamente por causa de atrasos. Em segundo lugar, porque carregar as suas vestes, e outras coisas de valor, iria sobrecarregá-lo, e obstruir a sua fuga. Os sírios, na sua fuga, lançaram fora suas vestes (2 Reis 7.15). Numa ocasião como esta, nós devemos dar graças se as nossas vidas forem poupadas, ainda que não possamos salvar nada do que é nosso (Jeremias 45.4,5). Pois “a vida é mais do que o mantimento” (cap. 6.25). Aqueles que carregam menos coisas, têm a fuga mais segura. Aquele que viaja sem dinheiro não tem nada a perder para os ladrões. Foi para os seus próprios discípulos que Cristo recomendou que deixassem a sua casa e as suas roupas, pois eles tinham uma morada no céu, tinham um tesouro ali, e roupas duráveis, que o inimigo não lhes poderia roubar. Eu levo comigo tudo o que tenho, disse Bias, o filósofo, na sua fuga, de mãos vazias. Aquele que tem a graça no seu coração a leva consigo, mesmo quando despojado de tudo.

Aqueles a quem Cristo disse isso não viveram para ver esse dia funesto, nenhum dos doze, exceto João, e apenas ele; eles não precisaram se esconder nos montes (Cristo os escondeu no céu), mas eles deixaram a orientação aos seus sucessores na fé, que a obedeceram, e ela foi útil para eles; pois quando os cristãos de Jerusalém e da Judéia viram a destruição que se aproximava, todos fugiram para uma cidade chamada Pella, no outro lado do rio Jordão, onde ficaram em segurança; de modo que, entre os muitos milhares que pereceram na destruição de Jerusalém, não havia nenhum cristão. Veja Eusébio, Eclesiástica. História, liv. 3, cap. 5. Assim “o avisado vê o mal, e esconde-se” (Provérbios 22.3; Hebreus 11.7). Este aviso não foi mantido em segredo. O Evangelho de Mateus foi publicado muito tempo antes da destruição, para que outros pudessem se beneficiar dessa orientação; mas aqueles que pereceram por não crerem nisso, tornaram-se um exemplo daqueles que perecerão eternamente por causa da sua descrença nas advertências que Cristo expressou a respeito da ira futura.

[3] Para quem esta ocasião seria difícil (v. 19): ”Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias!” As palavras proferidas por Cristo, por ocasião da sua morte, se referem a esse mesmo evento (Lucas 23.29): “Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!” Bem-aventurados aqueles que não têm filhos, para não verem o assassinato deles; todavia, mais infelizes são aquelas cujos ventres estão gerando, e que estão amamentando: elas, entre todas as outras, são as que estarão na situação mais melancólica. Em primeiro lugar, a fome seria mais grave e lamentável para elas, quando vissem a língua do que mama pegada pela sede na boca, e elas mesmas seriam mais cruéis que avestruzes no deserto (Lamentações 4.3,4). Em segundo lugar, a espada seria mais terrível para elas, por estar em uma mão que seria movida por algo pior que a fúria brutal. Seria um parto terrível, quando as mulheres grávidas viessem a ser cortadas ao meio pelo conquistador enfurecido (2 Reis 15.16; Oseias 13.16; Amós 1.13), ou as crianças fossem levadas ao matador (Oseias 9.13). Em terceiro lugar, a fuga seria também mais aflitiva para elas. As mulheres grávidas não podem se apressar, nem percorrer grandes distâncias; a criança que amamenta não pode ficar para trás, ou, se pudesse: “Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho… que se não compadeça dele?” Se a criança for levada, ela retarda a fuga da mãe, e assim arrisca a vida dela, e corre o perigo da fuga de Mefibosete, que ficou coxo devido a uma queda que sofreu durante a fuga da sua ama (2 Samuel 4.4).

[4] O que eles deveriam pedir em oração naquela ocasião: “Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado” (v. 20). Observe que, em geral, é conveniente que os discípulos de Cristo, em tempos de problemas e calamidades, estejam em oração, pois isto é um bálsamo para todas as feridas; nenhuma ocasião deixará de ser apropriada, mas será especialmente apropriada quando eles sofrerem aflições de todos os lados. Não existe remédio, mas você deve fugir; a orientação já é pública e é um decreto, para que Deus não seja tentado a afastar a sua ira, nem mesmo que Noé, Daniel e Jó estejam diante dele. Isto deve bastar para nós, não falemos mais no assunto, mas nos esforcemos para fazer o melhor; e mesmo que não consigamos, pela fé, orar para que não sejamos forçados a fugir ainda assim devemos orar para que as circunstâncias da fuga sejam ordenadas graciosamente, para que, embora o cálice não possa ser afastado de nós, os prejuízos do juízo possam ser reduzidos. Observe que Deus dispõe das circunstâncias dos eventos, e isto, de uma maneira ou de outra, algumas vezes provoca uma grande alteração. Por isso, os nossos olhos devem estar sempre voltados a Ele. O fato de Cristo os convidar a orar a favor disso dá a entender o seu propósito de conceder-lhes tal coisa; e numa calamidade geral, nós não devemos negligenciar uma gentileza circunstancial, mas considerar e reconhecer que a situação poderia ter sido pior. Cristo sugere ainda aos seus discípulos que orem por si mesmos, e por seus amigos, para que, se eles forem forçados a fugir, possam fazê-lo na época mais conveniente. Observe que quando se espera problemas a uma grande distância, é bom ter de antemão um estoque de orações. Os discípulos devem orar, em primeiro lugar, para que a sua fuga, se for a vontade de Deus, não aconteça no inverno, quando os dias são curtos, o tempo, frio, as estradas, sujas, e, portanto, a viagem será muito desconfortável, especialmente para famílias inteiras. Paulo apressa Timóteo par a vir vê-lo antes do inverno (2 Timóteo 4.21). Note que embora o bem-estar do corpo não deva ser levado em conta acima de tudo, ele deve ser devidamente considerado. Embora devamos tomar o que Deus nos envia, e quando Ele envia, nós devemos orar contra inconveniências para o corpo, e somos incentivados a fazer isso, pois “o Senhor é para o corpo”. Em segundo lugar, par a que a fuga não ocorra num sábado. Não no sábado judaico, por que viajar nesse dia seria ofensivo àqueles que estavam irados com os discípulos por colherem as espigas nesse dia. Não no sábado cristão, porque ser forçado a viajar nesse dia seria uma tristeza para um cristão. Isto sugere o desígnio de Cristo, de que um descanso semanal fosse observado pela sua igreja depois da pregação do Evangelho a todo o mundo. Não sabemos de nenhum dos rituais da igreja judaica, que eram puramente cerimoniais, sobre o qual Cristo tenha expressado qualquer preocupação, porque eles seriam todos abolidos; mas o Senhor frequentemente expressava uma preocupação pelo sábado. Isto sugere, da mesma maneira, que o sábado, basicamente, deve ser observado como um dia de descanso de viagens e do trabalho terreno; mas que, de acordo com a sua própria explicação do quarto mandamento, obras necessárias eram lícitas no sábado, como essa, de fugir de um inimigo para salvar a própria vida. Se não fosse lícito, Ele teria dito: “Aconteça o que acontecer, não fujam no sábado, mas permaneçam, ainda que morram por causa disso”. Nós não devemos cometer o menor pecado para escapar ao maior problema. Mas isto sugere, da mesma maneira, que é muito desagradável que um bom homem seja privado de qualquer obra de necessidade por causa do serviço solene e da adoração a Deus. Nós devemos orar para que possamos ter “sábados” tranquilos e despreocupados, não tendo nenhum outro trabalho no dia que consagramos à oração e à adoração ao Senhor. Assim poderemos nos preocupar com o Senhor, sem distrações. Era desejável, se eles tivessem que fugir, que pudessem ter o benefício e o consolo de um sábado para ajudá-los a suportar as suas cargas. Fugir no inverno é incômodo para o corpo, mas fugir no sábado é incômodo para a alma; ainda mais quando alguém se lembra dos dias passados, como no Salmo 42.4.

3. Os grandes problemas que se seguiriam imediatamente (v. 21): “Haverá, então, grande aflição”; então, quando a medida da iniquidade está completa; então, quando os servos de Deus estão selados e protegidos, então vem os problemas. Nada pode ser feito contra Sodoma até que Ló tenha chegado a Zoar, e então podemos procurar fogo e enxofre imediatamente. “Haverá, então, grande aflição”. Grande, realmente, quando dentro da cidade as pragas e a fome se enfureceram, e (pior do que qualquer coisa) houve facção e divisão, de modo que a espada de cada homem estava contra o seu companheiro. Foi então, e ali, que as mãos das mulheres desprezíveis esfolaram os seus próprios filhos. Fora da cidade, estava o exército romano, pronto para engoli-los, com uma ira especial contra eles, não somente como judeus, mas como judeus rebeldes. A guerra foi o único dos três julgamentos dolorosos de que Davi foi isento. Mas seria isso o que destruiria os judeus. E houve fome e pestes extremas, além da guerra. A obra History of the Wars of the Jews (História das Guerras dos Judeus), de Josefo, contém mais passagens trágicas do que, talvez, qualquer outra história.

(1) Foi uma desolação incomparável, “como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais”. Muitas cidades e reinos foram de­ solados, mas nenhum com uma desolação como essa. Os pecadores ousados não devem pensar que Deus fez o pior que podia fazer. Ele pode aquecer a fornalha sete vezes e ainda outras sete vezes mais quente, e o fará, quando vir abominações maiores e ainda maiores. Os romanos, quando destruíram Jerusalém, estavam destituídos da honra e da virtude dos seus ancestrais, o que tornou as suas vitórias mais fáceis de serem obtidas. E a determinação e teimosia dos próprios judeus contribuíram muito para o aumento da tribulação. Não é de admirar que a destruição de Jerusalém tenha sido uma destruição sem paralelos, quando o pecado de Jerusalém foi um pecado sem paralelos – a crucificação de Cristo por eles. Quanto mais próximo alguém está de Deus, em profissão de fé e privilégios, maior e mais grave será o julgamento divino sobre tal pessoa, se usar mal os seus privilégios, e for falso à sua profissão de fé (Amós 3.2).

(2) Foi uma desolação que, se continuasse por muito tempo, seria intolerável, de modo que “nenhuma carne se salvaria” (v. 22). A morte chegaria tão triunfante, de tantas maneiras funestas, e com tantos ajudantes, que não haveria como escapar, mas, em algum momento, todos seriam mortos. Aquele que escapasse a uma espada, cairia por outra (Isaias 24.17,18). A estimativa que Josefo faz daqueles que foram mortos em diversos lugares soma mais de dois milhões de pessoas. “Nenhuma carne se salvaria”. Ele não diz: ” Nenhuma alma se salvaria”, pois a destruição da carne pode ser “para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus”. Mas a vida temporal será sacrificada com tal profusão, que se poderia pensar que, se isto durasse algum tempo, o fim seria completo.

Mas há uma palavra de consolo em meio a todo este terror – que, “por causa dos escolhidos, serão abreviados aqueles dias”, não significa menos do que Deus tinha determinado (pois “o que está determinado será derramado sobre o assolador”, Daniel 9.27), porém menos do que Ele poderia ter decretado, se Ele tivesse lidado com eles de acordo com os seus pecados. Menos do que o inimigo teria desejado, pois ele teria eliminado a todos, se Deus, que o usa para servir aos seus próprios objetivos, não tivesse contido a sua ira. Menos do que teria imaginado alguém que julga de acordo com as probabilidades humanas. Observe que:

[1] Em tempos de calamidade geral, Deus manifesta o seu favor aos eleitos remanescentes; as suas joias, que Ele então irá reunir; o seu tesouro particular, que Ele irá proteger, quando os restos forem abandonados aos espoliadores.

[2] A abreviação das calamidades é uma benignidade que Deus frequentemente concede para o bem dos eleitos. Em vez de reclamar que as nossas aflições duram tanto tempo, se nós levarmos em consideração nossos defeitos, veremos motivos para sermos gratos porque elas não duram para sempre; quando as coisas estão ruins para nós, é conveniente que digamos: “Bendito seja Deus, porque não são piores. Bendito seja Deus, porque isto não é uma desgraça infernal, interminável e irremediável”. Foi uma igreja aflita que disse: ”As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”, e isto ocorre para o bem dos eleitos, para que o seu espírito não caia antes deles (se Ele desejasse combater para sempre), e para que eles não sejam tentados a oferecer as suas mãos, se não o seu coração, à iniquidade.

E então vem o aviso repetido, que já foi apresentado antes, de tomar cuidado para não se deixar enganar por falsos Cristas e falsos profetas (v. 23ss.), que lhes pro­ meteriam a libertação, como os profetas mentirosos da época de Jeremias (Jeremias 14.13; 23.16,17; 27.16; 28.2), mas os iludiriam. Os tempos de grande tribulação são tempos de grandes tentações, e por isso nós precisamos dobrar a nossa guarda. Se disserem: “Eis que o Cristo está aqui ou ali”, e irá nos libertar dos romanos, “não lhe deis crédito”, isto são apenas palavras. Tal libertação não deve ser esperada, e tampouco tal libertador.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

DE ONDE VÊM OS BEBÊS?

Não há idade para falar de sexo com as crianças, o importante é saber escutar suas perguntas e responder, sempre de forma adequada à sua idade.

De onde vêm os bebês

Apesar de ser por volta dos 3 anos de vida que as crianças começam a manifestar alguma curiosidade sexual, é a partir do nascimento, e da gradual exploração do próprio corpo, que tem início a sua identidade sexual. O prazer de se tocar, de se mostrar e observar os outros além das perguntas decorrentes vão se sucedendo em etapas adequadas ao desenvolvimento humano, por isso pode se generalizar e dizer que a educação sexual começa no berço.

Notar as características do corpo dos pais, dos irmãos e irmãs, chama a atenção infantil para as diferenças que obviamente criam dúvidas e aí começa um ciclo de perguntas que precisam ser respondidas pelos adultos.

A curiosidade é natural às crianças e jovens e, portanto, não é de se estranhar que indagações sobre o próprio corpo e sua sexualidade aflorem tão cedo. Por isso, estar preparado para oferecer esclarecimentos é uma obrigação das famílias, pois faz parte do processo educativo.

Embora o receio de falar sobre sexo aflija muitos adultos, seja por não saberem o que dizer ou como o fazer de modo adequado à idade da criança, às suas convicções religiosas ou tabus na sua própria educação ou não ter tido acesso a informações mais assertivas, hoje existem vários livros, sites sérios e profissionais que dão orientações sobre o assunto, e os pais não estão mais sozinhos nessas dúvidas.

Mas existe uma regra fundamental em educação: responder somente à pergunta de modo simples e nem sonhar em dar explicações longas, cheias de detalhes que não estão sendo solicitados pela criança. Dúvidas infantis são sempre pontuais e diretivas: falar de modo sucinto, simples, é a melhor maneira de esclarecer, até que surja a próxima indagação por parte da criança.

A partir dos 3 ou 4 anos de idade, a maioria das crianças já se preocupa sobre “de onde vêm os bebês”. É natural que elas se intriguem com o assunto, ainda mais hoje quando as grávidas expõem suas barriguinhas em roupas marcantes e ouvir falar em sexualidade na própria televisão não seja difícil. Percebem a relação entre alguns fatos e, ao perguntar, desejam obter mais que um novo conhecimento: querem “provar” sua hipótese junto aos pais e assim também verificar a confiabilidade de suas respostas!

Em pleno século XXI há ainda quem ache correto contar historinhas facilmente desmistificáveis como a da cegonha, o que realmente é lamentável. Além de não explicar, a criança perderá a confiança no adulto, pois logo saberá que esse lhe mentiu, se sentirá traída e menosprezada em sua inteligência.

Também não se aconselha o hábito de adiar respostas (“mais tarde explico, você ainda é pequeno”) ou mandar perguntar ao pai, ou à mãe ou até à professora. Esquivar-se dos devidos esclarecimentos é a pior opção depois da mentira. A não ser que deseje perder o respeito do   filho, quebrar o elo de ligação natural, criar um desconforto sobre o assunto. É mais indicado dizer de modo natural que os bebês surgem da barriga da mãe. Afinal, a criança não perguntou ainda como é a reprodução em si, o que fará numa ocasião futura e só então terá sua elucidação.

Nessa fase é recomendável introduzir as primeiras ideias de pudor, evitando tomar banho despido com a criança ou deixando a porta do quarto dos pais trancada à noite. Dormir na cama do casal, permitir que manipule o corpo dos pais não são recomendáveis: a criança precisa se acostumar com o fato de que a nudez é natural, mas é também uma questão de intimidade; sem cair em exageros, no entanto, para que não sinta futuramente constrangimento perante, por exemplo, outra pessoa seminua em um vestiário.

Entre 4 e 6 anos, quase todas as crianças gostam de brincar de médico e não raramente se despem para se mostrar e ver o corpo do outro. É a curiosidade natural, que não pode nem deve ser proibida nem revestida de culpa, mas deve ser orientada, pois é preciso que saibam que as pessoas na nossa cultura não andam despidas e que há áreas do corpo que são íntimas, que não devem ser mostradas em público a outras pessoas nem se deixar tocar por outrem.

A mesma orientação deve ser dada quando começam a fase de autoerotismo ou masturbação. Ao se tocarem percebem a sensibilidade da região genital e daí a descobrirem o prazer que vem da manipulação é apenas um passo. Surge por instinto e os pais, embora não devam proibir ou gerar culpa na criança, devem intervir caso o pequeno se masturbe em público.

As crianças devem entender que esse gesto é íntimo, e, portanto, o contexto deve ser outro. O cuidado nesse caso é que se a criança for mal orientada, além de desenvolver problemas futuros com sua sexualidade, poderá entender que é para se esconder, já que não entende a diferença entre pudor e interdição.

Por volta dos 6 a 8 anos, a necessidade de intimidade começa a se mostrar mais forte e isso acarreta mais dúvidas aos pais, caso não tenham acompanhado o crescimento do filho. Perguntas como “o que é fazer amor” ou por que não se deve tocar nos genitais de adultos etc. vão surgir, e da confiança da criança em seus pais e de sua capacidade de terem dado bom andamento a esse aprendizado é que na puberdade e adolescência será ou não mais fácil orientar sua iniciação na vida sexual.

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial Neuroaprendizagem, foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.

irenemaluf@uol.com.br

OUTROS OLHARES

DE LÚDICO A TRÁGICO

Perfil e origem da compulsão por jogos varia entre os sexos. A idade em que os jogadores procuram a primeira ajuda psicológica gira em torno dos 40 anos.

De lúdico a tragico

Aos 17 anos, Márcia (nome fictício) fez sua primeira aposta no “jogo do bicho”. No começo gastava seu próprio salário para sustentar o comportamento compulsivo de jogar. Com o tempo, porém, passou a dispor das economias capitalizadas pela família no banco em que era responsável pela área de aplicações. Movimentava o dinheiro dos parentes entre as contas, até deixá-las negativas. Descoberta por um auditor, acabou demitida por justa causa e prometeu jamais voltar a jogar. O compromisso foi mantido nos quase 20 anos que se seguiram, período em que pôde reorganizar sua vida, cursar faculdade e conseguir bons empregos.

Entretanto, um problema emocional a fez voltar a apostar, desta vez, em máquinas eletrônicas. “Voltei a jogar compulsivamente, perdi tudo o que havia construído. Além do dinheiro, perdi minha dignidade, minha moral, autoestima, caráter, e espirito familiar. Tudo isso coube naquelas máquinas”, enfatiza ela, que chegou a dormir na rua e a passar frio e fome, tendo, inclusive, tentado o suicídio na véspera do aniversário da mãe. Desde julho de 2015, frequenta as reuniões dos Jogadores Anônimos, grupo que funciona segundo os moldes dos Alcoólatras Anônimos e dá suporte aos dependentes. “Desde então nunca mais fiz nenhuma aposta, faz dois anos e 11 meses e dois dias. Tenho o amor da minha família de volta, minha autoestima, minha dignidade, amigos. Hoje, a vida, que não é só o espaço entre nascer e morrer, é curtir cada momento e poder ajudar alguém, finaliza.

Histórias, como as de Márcia, mostram os desdobramentos reais de um problema que ganha vulto nos serviços de saúde mental. Embora não existam estatísticas brasileiras, pesquisas feitas nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Austrália mostram que, nestes países, entre 0,8 e 4% da população vivencia o hábito de jogar de maneira patológica, o que pode ser caracterizado como um comportamento mal adaptativo persistente e recorrente de apostar em jogos de azar, implicando em prejuízo significativo em diferences aspectos da vida. “O jogo perde seu significado lúdico quando o indivíduo joga para recuperar perdas anteriores, perde o controle ao apostar mais que ó programado ou jogar por mais tempo do que o planejado, recorre ao jogo como fuga, se endivida, compromete as relações familiares e sociais e ainda persiste na atividade”, enumera o psiquiatra Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório do Jogo Patológico, vinculado ao Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.

ENQUADRAMENTO

Reconhecido como transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial de Saúde somente em 1992, aparece nos manuais de psiquiatria desde a década de 80. No DSM-IV, faz parre do grupo de Transtornos do Controle dos Impulsos Não Classificados em Outro local, já no CID-10 consta entre os Transtornos de Hábitos e Impulsos. O enquadramento vem justamente pelo fato de existirem similaridades entre o jogar patológico e consumo de substâncias psicoativas. Conceitos como o de tolerância, que pontua a necessidade de se consumir uma quantidade maior de substâncias (nesse caso, de se apostar cada vez mais), para a obtenção do mesmo prazer ou perda de controle são válidos também neste contexto. “A atividade de jogar excita o sistema nervoso central e se reflete no corpo pela aceleração dos batimentos cardíacos, elevação da tensão muscular e aumento da frequência respiratória. Nesse sentido, seus efeitos se assemelham muito às reações produzidas por excitantes químicos como cocaína, anfetamina e ecstasy”, compara o psiquiatra.

Embora cada um traga sua própria bagagem de vida, é possível pontuar algumas características que se combinam significativamente; propiciando o aparecimento destes quadros. ”A impulsividade e a instabilidade emocional são os principais fatores de vulnerabilidade ao jogo. Ambas têm uma determinação compartilhada entre a genética e o ambiente. Estima-se que 30 a 50% dos fatores determinantes sejam herdados e o restante vem do meio,  como estresse no trabalho, na vida familiar e a oferta abundante e progressiva de jogos de azar em nossa sociedade”,  esclarece Tavares, enfatizando também que a expansão do jogo de azar é um fenômeno internacional, comum na cultura Ocidental, em que auto estima e reconhecimento social foram progressivamente alçados à condição de valores intercambiáveis e, de certa forma,  identificados com a questão da posse financeira.

No cenário nacional, a expansão dos Bingos acabou por se tornar um fator decisivo no aumento da demanda por tratamento, assumindo a dianteira como jogo de preferência entre as pessoas que buscam ajuda em programas especializados na cidade de São Paulo.

QUEM É O JOGADOR?

O psiquiatra delimita dois perfis de jogadores, sendo que; muitas vezes é possível reunir características de ambos. O primeiro é predominantemente masculino e começou a jogar no fim da adolescência. Antes de se tornar praticante preferencial de uma modalidade de jogo, transitou por várias, formas, entre sinuca, jogo do bicho, dominó, cartas, cavalos. Em geral; casou-se cedo e logo entrou no mercado de trabalho, tendo um sucesso inicial por ser falante, ágil e extrovertido, o que lhe protegeu por um tempo de envolver-se mais profundamente com jogo.  ”Entre os 30 e 40 anos, contando com uma folga financeira, passa a apostar mais intensamente na busca pela emoção do risco. Aposta grande volume de dinheiro em um curto espaço de tempo visando à excitação. Em torno dos 40 anos tem sua primeira quebra financeira, mas como é orgulhoso é independente ainda vai cair e levantar-se algumas vezes até aceitar o fato de que necessita de ajuda ou tratamento especializado para lidar com seu problema”, delimita o psiquiatra, acrescentando que a média de idade na primeira procura por tratamento dessas pessoas é em torno dos 45 anos.

Quanto ao segundo perfil, que tanto pode ser masculino quanto feminino, engloba os indivíduos que começaram a jogar mais tarde, em torno dos 40 anos, sem ter experiência prévia. Aqui, o jogar aparece como um reflexo do esvaziamento do cotidiano, uma vez que os filhos são mais independentes e a demanda por dinheiro na família se reduz, ou seja, a principal motivação para jogar é o alheamento dos problemas.

“Este paciente dá preferência a caça-níqueis e jogos eletrônicos em geral, e história anterior de depressão ou transtorno de ansiedade é comum nesta população. A progressão para a compulsividade é muito rápida, em geral de 6 meses a 2 anos”, caracteriza o médico, informando ainda que este jogador aposta valores enormes buscando prolongar o seu tempo em frente à máquina.

Nestes casos, a procura por tratamento é mais rápida e muitas vezes vem mascarada como uma queixa de tristeza e nervosismo, acompanhada de reclamações sobre a incompreensão da família, já que neste perfil, o paciente tem vergonha de confessar que joga. “Como a progressão é mais rápida, apesar do início tardio, este paciente chega ao tratamento mais ou menos na mesma época, ou seja, em torno dos 45 anos de idade. A progressão acelerada é chamada de efeito telescópio e seus principais fatores de risco são: gênero feminino, preferência por jogos eletrônicos e início após a quarta década de vida”, esclarece o médico.

A psicóloga Thaís Grade Maluf, integrante do Programa de Atendimento de Jogadores Patológicos do Proad, vinculado à Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), pontua que o pedido de ajuda costuma vir quando “a corda já passou do pescoço”, ou seja, quando houve uma desestruturação financeira significativa e o casamento está comprometido ou desfeito. Para a entrada no programa oferecido pela instituição, a pessoa passa por um grupo de acolhimento que integra outros dependentes não químicos, como compradores, dependentes de sexo ou de internet. O intuito é o de sensibilizar não só o paciente, como também seus familiares para o tratamento, colocando-se em pauta a questão da impulsividade e da compulsividade, presentes de forma contundente nos jogadores, embora manifestos em graus diferentes no decorrer da vida. “O jogador tem um estigma muito parecido com o do viciado em drogas e por isso procura o tratamento com mais frequência”, pondera a psicóloga ao comparar a maior participação desta clientela, em relação ao espectro de dependências reunidos no grupo.

Entre as crenças do jogador patológico está a de que se tem controle sobre o hábito, ou que se “joga só para relaxar”. Há ainda uma tendência em buscar continuamente a experiência vivida numa fase inicial de “euforia’, em que o retorno financeiro ainda era significativo. “Este estado prazeroso do ganho fica na memória por muito tempo e, de uma certa forma, é atrás desta sensação de ganho e poder que se vai”, pontua a psicóloga.

A partir deste ponto, o usuário do serviço passa a receber acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico individual ou em grupo, sendo que a equipe segue uma orientação psicodinâmica da dependência. Nesta perspectiva, o foco de atenção se direciona para além dos sintomas, em busca das causas do que não vai bem e que se manifestam através do comportamento compulsivo. Muitas das pessoas que procuram o serviço trazem, no seu histórico familiar e também pessoal, o fato de já terem feito o uso abusivo de droga, muitas vezes apenas “migrando” de uma adição para outra.

Mais do que o ‘cessar a atividade, busca-se a conscientização e a possibilidade do sujeito em responsabilizar-se pela sua condição, reduzindo os inúmeros prejuízos vinculados à dependência de jogar e a possibilidade da construção, de outros vínculos de lazer e possibilidades efetivas de prazer. Enquanto se busca o enfrentamento na gênese do problema, a equipe também traz orientações simples, como a de que o usuário do serviço leve uma quantia determinada ao sair de casa para jogar ou ainda que jogue no computador, em casa, sem apostas.

A psicóloga pontua que boa parte dos homens chegam ao serviço impotentes nas diversas esferas da vida, pois não conseguem gerir o próprio dinheiro, sendo que muitos tiveram sucesso profissional e conseguiram um bom padrão de vida trabalhando. Esta situação acaba favorecendo um novo arranjo de papéis dentro do lar, em que há um certo ganho de poder por parte da mulher, que acaba assumindo um papel central no comando das finanças, por exemplo, o que, de alguma maneira, a torna resistente em partilhar com o companheiro do percurso do tratamento.

O médico Hermano Tavares reitera a importância do processo psicoterápico nestes casos, pelo alto índice de associação com outros transtornos psiquiátricos, principalmente na dependência química, depressão e ansiedade. “É importante uma avaliação psiquiátrica e o tratamento dessas condições associadas”, pontua o psiquiatra, enfatizando que, ainda em fase experimental, estão sendo testadas medicações que possam reduzir a “fissura” que os jogadores sentem ao tentarem parar, ressaltando que os resultados são promissores, mas ainda inconclusivos.

No Instituto de Psiquiatria da USP é oferecido, tratamento gratuito por um ano aos jogadores que são voluntários. O programa inclui psicoterapia individual e existe há dois anos o trabalho com grupos de orientação psiquiátrica, supervisionado por uma psicanalista para investigação e tratamento neste território de atuação. Além do acompanhamento psiquiátrico e orientação familiar; a participação nos Jogadores Anônimos é fortemente encorajada.

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EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

Os grupos de Jogadores Anônimos são o resultado de um encontro, em janeiro de 1957, entre dois homens, que tinham em comum uma trajetória de vida repleta de dificuldades e misérias, relacionadas ao jogo. Começaram a reunir-se regularmente, e, com o passar do tempo, nenhum dos dois voltou a jogar. Como resultado da publicidade favorável por parte de um colunista de jornal e apresentador de televisão, a primeira reunião de Jogadores Anônimos aconteceu numa sexta-feira, 13 de setembro de 1957, em Los Angeles, Califórnia.

Foi o passo inicial para que grupos do gênero fossem fundados pelo mundo. “Em São Paulo comemoramos todo dia primeiro do mês de junho, tendo completado 11 anos em 2006. Hoje, contamos com reuniões todos os dias da semana, inclusive feriados, e somamos um total de 45 grupos de Jogadores Anônimos espalhados pelo Brasil, que têm como objetivo o parar de jogar e ajudar outros jogadores compulsivos a fazerem o mesmo através de nossos depoimentos de vida e do que a doença nos causou”, pontua a Relações Públicas dos Jogadores Anônimos, informando que o Programa de Recuperação segue os “Doze Passos”, que refletem a aplicação de princípios espirituais, praticados cotidianamente, possibilitando o despertar de mudanças interiores. “O jogo compulsivo é uma doença, progressiva por natureza, que não pode ser curada, porém pode ser detida. A pessoa inventa montanhas de problemas aparentemente insolúveis. Criam problemas financeiros, mas também têm que enfrentar questões legais, de emprego e matrimoniais. Descobrem que perderam amigos e são rejeitados por parentes”, enumera, salientando o longo trajeto percorrido pelas pessoas até poderem aceitar ajuda, muitas vezes se entregando a uma deterioração sutil.

A ARTE IMITA A VIDA

“Pelo que diz respeito a adquirir e a ganhar, não fazem os homens outra coisa, não só na roleta como em toda parte, do que tirarem e do que lucrarem-se algo reciprocamente. Outra questão é saber se a aquisição e o proveito são algo feio. (…) Há duas espécies de jogo nitidamente diferentes: o dos gentis homens e o da plebe. Há quem os distinga com muita severidade. Todavia, a falar a verdade, que tolice tal distinção! Um gentil homem pode, por exemplo, arriscar cinco ou dez luízes, raras vezes mais. Podem também arriscar mil francos. Se é muito rico, mas só por causa do jogo propriamente dito, para se divertir, para estudar o processo do ganho e da perda. Mas não       deve, de modo nenhum, interessar-se pelo ganho como tal. Depois de ganhar, pode ele, por exemplo, dar uma boa gargalhada, ou contar uma piada a um dos circunstantes. Pode mesmo tornar a jogar essa quantia toda, duplica-la, mas unicamente por curiosidade, para ver os lances da sorte, para fazer combinações. E nunca movido pelo desejo plebeu de tirar proveito disso. Numa palavra, ele não deve ver no salão de jogo, nas roletas e ‘Trente – et – quarente’ mais do que um simples divertimento. Nem sequer deve suspeitar das possibilidades de ganho e das armadilhas em que se baseia a banca. Não seria mau se, por exemplo, lhe sucedesse que todos os outros jogadores, a plebe, que teme por cada florim, fosse igualmente ricos e jogasse unicamente para seu divertimento. Essa ignorância completa da realidade e da concepção ingênua do homem podem, sem dúvida, ter efeito altamente aristocrático.”

O trecho extraído do livro O Jogador, de Fédor Dostoievski, narra a história de um jovem que joga todas as suas economias na esperança de recuperar sua fortuna. Assim, como o personagem, o escritor russo também conheceu as amarras do jogo, transformando as linhas de seu romance, em contundente tratado sobre a avidez pelas apostas, a crença na sorte e, principalmente, os estragos inerentes ao jogar patológico. Ficção com duras pitadas de realidade.

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UM DIA DE CADA VEZ

Em tratamento há 3 anos, Walter (nome fictício) conta como construiu e destruiu um império financeiro, mas entre perdas e ganhos conseguiu manter a família unida. “Desde jovem queria ser bem-sucedido na vida e galguei os mais altos cargos hierárquicos nas empresas, chegando a vice-presidente de um grupo de empresas com mais de 5.000 funcionários e faturamento anual de mais de 5 bilhões de dólares. Como ganhava bem, cerca de 2 milhões de dólares anuais, podia jogar à vontade, pois não sentia as perdas financeiras”, conta ele que esteve em cassinos mundo afora, além de operar em bolsas de valores nos grandes conglomerados financeiros, pois, como atuava no setor de comércio exterior, pode viajar com frequência aos Estados Unidos e à Europa.

Em 1994, deixou o posto que ocupava para poder conviver mais com a família e construir um cotidiano menos estressante. “Em 1996 montei um pequeno comércio somente para me manter ocupado, pois tinha dinheiro suficiente para viver o resto da minha vida e um patrimônio razoável, com três fazendas, cinco imóveis em São Paulo, diversos terrenos em Palmas, além de dez milhões de reais em conta bancária”, enumera, salientando que as idas aos cassinos e bingos na capital paulistana começaram como um lazer ou extensão do prazer passado. “Quando parei de jogar, em janeiro de 2003, todo o meu patrimônio havia sido perdido no jogo e fiquei até sem casa para morar. Hoje moro de aluguel e só me restou um pequeno comércio que havia montado em 1996. Durante o meu tempo de jogatina, mentia a todos, inclusive a meus familiares, manipulava todo mundo, pois jogador tem uma lábia como ninguém”, completa. Sinaliza, porém, que o maior dano é o moral. “Além de ter perdido tudo o que havia conquistado, em 25 anos de trabalho, estava atolado em uma dívida de 300 mil reais junto aos bancos e cartões de credito. Fui obrigado pela minha esposa a ir em uma reunião de jogadores anônimos e nem mesmo sabia se, queria participar”, lembrando que esta foi a condição para que não fosse expulso de casa.

PREOCUPAÇÃO COM A FAMÍLIA

Após um mês frequentando as reuniões, ficou sabendo que um colega de infância havia se suicidado por causa do jogo. “Nesse dia; chamei os meus filhos e minha esposa e falei tudo que o pai deles havia feito na vida: da destruição financeira que havia causado, das minhas safadezas.  Chorei muito, aliás, choramos todos juntos”, lembra. Foi o momento que aceitou sua impotência diante do jogo. “Como alguém que sempre foi um vencedor havia sido derrotado pelo jogo? Joguei por que não aceitava derrotas, desafiava as máquinas, queria ser também um vencedor, mas não consegui”. Hoje procura melhorar como ser humano., pai, marido, filho e irmão. “Me dedico de corpo e alma ao pequeno comércio que possuo e os frutos foram aparecendo. Todas as minhas dívidas junto aos bancos foram quitadas em 30 meses. Não tenho problemas financeiros, muito pelo contrário, tenho agregado patrimônio na minha vida. Mas o que é mais importante de tudo isso foi a reconquista da minha família, a união impera no nosso lar”, comemora.

Além dos Jogadores Anônimos, faz tratamento no AMJO, do Hospital das Clínicas e terapia. “Sei que para o alcoólatra, a droga é álcool. Para os drogados, a droga. Para mim, é o dinheiro. Então, deixei a parte financeira aos cuidados da minha esposa e a minha obrigação é somente trabalhar. Luto a cada dia para não voltar a jogar, mato um leão a cada dia, mas para mim o mais importante não foi parar de jogar e sim melhorar como ser humano. Minha meta é buscar uma vida mais serena, equilibrada e feliz”, finaliza

GESTÃO E CARREIRA

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Com um leque infinito de opções, pequenos e médios empreendedores podem crescer e garantir lucratividade oferecendo produtos e serviços a grandes empresas. Confira o que orientam especialistas sobre o assunto e os principais mercados que estão sempre de portas abertas.

Seja um fornecedor

Em um mercado cada vez mais competitivo, destaca-se quem apresenta diferencial e estratégia de venda, principalmente se o negócio se tratar de uma micro ou pequena empresa almejando voos mais altos. Essas são características apontadas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como essenciais aos empreendedores que buscam sucesso. Inovação e capacitação são as chaves para alcançar os objetivos e garantir competitividade.

Prova disso é que mais de seis milhões de empreendedores optaram pelo Simples Nacional, sistema que recolhe taxas e impostos das empresas. O número, disponível no Portal do Empreendedor, do Governo Federal, demonstra o interesse dos empresários em se formalizar e garantir o diferencial que o consumidor/ cliente tanto procura.

Foi o que fez o empresário Wagner Tasso, proprietário da Tass Componentes, com sede em Birigui, interior de São Paulo, distante pouco mais de 500 quilômetros da capital. Com a empresa aberta desde 2015, após outras experiências com sócios, Tasso é responsável por fornecer componentes para calçados, como desenhos, estampas e tecidos, a empresas multinacionais reconhecidas nacionalmente, como Pampili, Pé com Pé e Reflex. Ele conta que para se destacar apostou na atualização constante. “Precisamos estar atentos a todas as tendências e garantir o melhor material, além de bom preço. Fornecer a qualquer empresa, seja ela grande ou pequena, exige organização e planejamento”, diz.

De acordo com o executivo, os contratos com as multinacionais garantem 50% do faturamento total da empresa. “Foi um nicho em que conseguimos entrar e temos nos saído muito bem. Temos outras empresas em negociação que ficaram sabendo do nosso trabalho realizado em Birigui. Ou seja, uma empresa do interior de São Paulo que está destacando-se no cenário nacional”, comenta. Tasso revela, no entanto, que precisou estruturar a empresa com a aquisição de maquinário e showroom que atendesse à expectativa dos clientes. “Não adianta apenas falar que você faz um bom trabalho, é preciso mostrar isso na prática para o cliente. Por isso, invisto bastante no nosso catálogo de produtos e estamos sempre em busca de novidades. Um exemplo é o jeans como tecido para sapatos e vestuário. Ele está em alta hoje, mas eu comecei a trabalhar com ele há mais de seis meses. Isso é o diferencial, e nosso desejo é estar sempre à frente, buscando novidades dentro e fora do País”, explica.

A estratégia tem dado tão certo que, segundo ele, há planos para o futuro de trabalhar também com o setor de decoração. “São produtos aos quais podemos agregar mais valor e garantir materiais personalizados, de acordo com o desejo do cliente”, afirma.

PLANEJAMENTO

Garantir crescimento, solução de problemas e sucesso exigem do empreendedor planejamento e orientação. A consultora de Marketing do Sebrae-SP, Vanessa Heleno de Oliveira Alves, afirma que uma empresa torna-se competitiva no mercado quando investe em organização. “Isso inclui Recursos Humanos, Financeiro, Marketing… É uma série de itens que precisam estar em sintonia para que a empresa ganhe visibilidade. Neste sentido, ela precisa cumprir prazos, investir em inovações e comunicar­ se com o cliente”, explica. A comunicação e até mesmo o investimento em comercial são itens indispensáveis, segundo Vanessa. “O empreendedor precisa ser visto, então orientamos para que ele participe de feiras e eventos onde estão os possíveis clientes”, comenta.

Segundo a especialista, mercados como confecções, componentes calçadistas e de brindes são alguns exemplos que podem oferecer boas oportunidades ao empresário que está em busca de entrar no mercado como fornecedor. “São nichos que ajudam a sustentar uma empresa que tem margem lucrativa baixa, mas com volume alto de pedidos”, disse. Outra orientação do Sebrae para empresas que atendem a setores de Indústria, Comércio e Serviços e Agronegócio é para que elas conheçam ao máximo os mercados externos para seu produto e, assim, consigam atuar neles também. Segundo o órgão, o sucesso depende do cumprimento da previsão orçamentária e do equilíbrio entre o custo, lucro e despesas, oferecendo ainda vantagens de compra ao cliente.

 RELACIONAMENTO

A especialista em Facilitação e Planejamento, Alie Ferreira, garante que comunicação é a chave para o desenvolvimento positivo de uma empresa que fornece para outras empresas de vários portes. Segundo ela, estar presente em redes sociais e apresentar bons resultados são importantes para qualquer mercado. “Uso como exemplo o LinkedIn, uma rede social de relacionamento onde é possível fechar grandes negócios. Por meio do contato digital, a pequena empresa demonstra que é confiável e consegue alcançar o objetivo de agendar uma reunião presencial, por exemplo”, explica.

Alie lembra também a importância da apresentação de cases e depoimentos de sucesso. “As redes sociais são ótimas ferramentas para isso. O vídeo é uma coisa que funciona muito bem também. Disponibilizar tudo isso na internet é uma forma muito eficaz de ser conhecido e reconhecido pelos bons resultados. Essa referência é uma das coisas que funciona muito bem para que pequenas e médias empresas consigam oportunidades”, comenta.

Para a especialista, os relacionamentos dão início a todo o processo de crescimento de uma empresa. “As relações humanas não podem ser deixadas de lado. As pequenas empresas podem e devem destacar-se não só pelo comprometimento e pelos processos, mas também pelos relacionamentos que podem proporcionar com o contato face a face. São características que grandes empresas valorizam muito”, aponta.

A designer Maiara Santos é um exemplo de empreendedora que utiliza-se dos benefícios da internet de olho no futuro. A Fifi – Arte em Tecido surgiu como um trabalho em família para complementar a renda, no ano de 2010, e segue até hoje produzindo bolsas, carteiras, capas para notebooks e, como ela mesma define, o que a criatividade mandar. ”A formalização foi uma das coisas mais importantes para a empresa. Conseguimos emitir nota e comprar matéria-prima de qualidade, que é o que garante a nossa competitividade no mercado, com a oportunidade de produzir e distribuir para o Brasil inteiro”, disse.

Com planos de oferecer os serviços às grandes empresas, a designer garante que tem seguido o caminho de sucesso apresentado por diversos micro e pequenos empreendedores. “Estamos sempre em feiras e de olho nos lançamentos, tanto de tecidos como de aviamentos. Já temos um público bastante fiel, mas conquistar o mercado nacional sempre foi um dos nossos sonhos”, afirma. Ela conta que entre os próximos passos da empresa está a produção de coleções para oferecer às lojas físicas. “Hoje ofereço o meu produto na internet, principalmente nas redes sociais, mas quero fazer algumas aparições físicas, como se fosse uma loja itinerante”, afirma.

ALÉM DO EMPREENDEDORISMO

Para se tornar um empresário de sucesso é preciso planejamento, organização e criatividade. Ao fornecer produtos ou serviços a grandes empresas, o empreendedor compromete-se com prazos e qualidade. Além disso, é preciso:

  •  PROCESSOS DEFINIDOS: garanta a capacidade da equipe de trabalho, estruture departamentos e avalie o estoque para não deixar o cliente na mão
  • INVESTIMENTO: em pessoas e em máquinas, para que a tecnologia seja uma aliada do negócio e garanta competitividade no mercado
  • CERTIFICAÇÕES: quanto melhor for a empresa, mais visibilidade ela ganha e isso inclui especializações na área em que você atua
  • RELACIONAMENTO: esteja onde o cliente estiver, como feiras e eventos voltados à sua área. Investir em publicidade também é importante para o crescimento da empresa.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE II

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Predições Terríveis

II – O Senhor prediz guerras e grandes perturbações entre as nações (vv. 6,7). Quando Cristo nasceu, havia uma paz universal no império, o templo do deus Jano estava fechado; mas não pense que Cristo veio para trazer paz, ou dar prosseguimento àquela paz (Lucas 12.51). Não, a sua cidade e o seu muro devem ser construídos até mesmo em tempos difíceis, e até mesmo as guerras contribuirão para o avanço da sua obra. Desde a ocasião em que os judeus rejeitaram a Cristo, e Ele deixou a casa deles desolada, a espada nunca deixou esta casa, a espada do Senhor nunca se aquietou, porque Ele lhe tinha dado uma incumbência contra a nação hipócrita e contra o povo da sua ira, e com ela Ele trouxe a ruína deles.

Aqui temos:

1. Uma predição dos eventos da época: Em breve, “ouvireis de guerras e de rumores de guerras”. Quando houver guerras, elas serão ouvidas; pois cada peleja do guerreiro se dá com confuso ruído (Isaias 9.5). Veja como é terrível (Jeremias 4.19): “Tu, ó minha alma… ouviste o alarido da guerra”. Nem mesmo os quietos na terra, e os menos curiosos sobre as coisas novas, podem deixar de ouvir os mensageiros da guerra. Deus tem uma espada pronta para vingar a disputa do seu concerto, do seu novo concerto, e assim se “levantará nação contra nação”, isto é, uma parte ou província da nação judia contra outra, cidade contra cidade (2 Cr 15.5,6); e na mesma província e cidade, um grupo ou facção se levantará contra outro, de modo que eles se devorarão, e serão despedaçados, um contra o outro (Isaias 9.19-21).

2. A recomendação do dever da época: “Olhai, não vos assusteis”. É possível ouvir notícias tão tristes, e não se assustar? Mas quando o coração está firme e confiante em Deus, ele fica em paz e não se amedronta, nem pelas más novidades das guerras e rumores de guerras, nem pelo alarido de: Armai-vos, armai-vos. “Não vos assusteis”, não sofrais, como uma mulher grávida, com medo. Observe que existe a necessidade de um cuidado e uma vigilância constantes para não perturbar o coração quando há guerras no exterior; e é contra o desejo de Cristo que o seu povo tenha corações perturbados, mesmo em tempos tumultuados.

Nós não devemos nos perturbar, por duas razões:

(1) Porque sabemos que devemos esperar por isso. Os judeus devem ser punidos, a destruição deve ser trazida sobre eles; com isto, ajustiça de Deus e a honra do Redentor devem ser confirmadas; “porque é mister que isso tudo aconteça”. A palavra saiu da boca de Deus, e ela será cumprida no seu tempo. Observe que a consideração da imutabilidade do conselho divino, que governa todos os eventos, deveria compor e aquietar os nossos espíritos, aconteça o que acontecer. Deus está apenas realizando aquilo que nos foi designado, e a nossa perturbação desordenada é uma discussão interpretativa com aquela designação. Devemos, portanto, aquiescer, porque “é mister que isso tudo aconteça”. Não somente como o produto do conselho divino, mas também como um meio para alcançar um fim. A casa antiga deve ser derrubada (embora isto não possa ser feito sem ruído, poeira e perigo), para que a nova construção possa ser edificada; as coisas móveis (e malfeitas) devem ser removidas, “para que as imóveis permaneçam” (Hebreus 12.27).

(2) Porque devemos esperar o pior: “Ainda não é o fim”. O fim dos tempos ainda não chegou, e, enquanto existir o tempo, nós devemos esperar problemas, e o fim de uma aflição será apenas o início de outra; ou: ”Ainda não é o fim desses sofrimentos; deve haver mais julgamentos além daquele utilizado para derrubar o poder judaico; mais cálices de ira devem ser derramados; somente um ‘ai’ já passou, outros ‘ais’ estão por vir, mais flechas ainda deverão ser atiradas da aljava de Deus; portanto, não se perturbem, não deem lugar ao medo e à perturbação, não afundem sob a carga atual, mas, em lugar disso, reúnam toda a força e a coragem que vocês tiverem, para enfrentar o que ainda está à sua espera. Não se perturbem por ouvir de guerras e rumores de guerras. Pois o que acontecerá com vocês, quando vierem as fomes e as pestes?” Se, para nós, somente o “ouvir tal notícia causará grande turbação” (Isaias 28.19), como será sentir o golpe, quando ele tocar o osso e a carne? “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, que farás na enchente do Jordão?” (Jeremias 12.5).

III – Ele prediz outros julgamentos que Deus enviaria em um futuro mais próximo: “fomes, e pestes, e terremotos”. A fome frequentemente é o resultado da guerra, e a peste, da fome. Estes foram os três julgamentos dos quais Davi devia escolher um; e ele estava numa dificuldade séria, pois não sabia qual deles era o pior: mas que desolação terrível eles provocam, quando todos eles recaem juntos sobre um povo! Além da guerra (que já é suficiente), haverá:

1. “Fome”, representada pelo “cavalo preto”, sob o “terceiro selo” (Apocalipse 6.5,6). Nós lemos sobre uma fome na Judéia, pouco tempo depois da época de Jesus, que empobreceu muito a nação (Atos 11.28), mas a pior fome aconteceu em Jerusalém, durante o cerco (veja Lamentações 6.9,10).

2. “Pestes”, representadas pelo “cavalo amarelo”, e a morte assentada sobre ele, e o inferno que o seguia, sob o “quarto selo” (Apocalipse 6.7,8). Isto destrói sem distinção, e em pouco tempo amontoa cadáveres.

3. “Terremotos, em vários lugares”, ou de um lugar a outro, perseguindo aqueles que fogem deles, “como fugiram do terremoto nos dias de Uzias” (Zacarias 14.5). Algumas vezes, os terremotos causaram grande desolação, nos últimos tempos e antigamente; eles foram a causa da morte de muitas pessoas, e o terror de outras. Nas visões do Apocalipse, pode-se notar que os terremotos são prenúncios do bem, e não do mal, para a igreja (Apocalipse 6.12; compare Apocalipse 6.15; 11.12,13,19; 16.17-19). Quando Deus assombrar terrivelmente a terra (Isaias 2.21), será para sacudir dela os ímpios (Jó 38.13), e para apresentar o “Desejado de todas as nações” (Ageu 2.6,7). Mas aqui eles são mencionados como julgamentos terríveis, e apenas “o princípio das dores”, das dores de parto, rápidas, violentas, e também tediosas. Observe que quando Deus julgar, Ele vencerá; quando Ele começar com a sua ira, Ele acabará (1 Samuel 3.12). Quando olhamos adiante, para a eternidade de infelicidade que está diante dos obstinados que recusam a Cristo e ao seu Evangelho, podemos verdadeiramente dizer, a respeito dos maiores julgamentos temporais: Eles são apenas o princípio das dores; ainda que as coisas sejam ruins em meio a esses juízos, serão piores depois deles.

IV – Ele prediz a perseguição do seu próprio povo e dos seus ministros, uma apostasia geral, e uma consequente decadência na religião (vv. 9,10,12). Considere:

1. A predição da própria cruz (v. 9). Note que entre todos os eventos futuros, nós mais nos preocupamos, embora normalmente com um pouco de ansiedade, em saber mais dos nossos sofrimentos do que qualquer outra coisa. Então, quando houver as fomes e as pestes, os incrédulos as atribuirão aos cristãos, fazendo delas um pretexto para persegui-los. Cristo havia dito aos seus discípulos, quando os enviou pela primeira vez, acerca dos sofrimentos que eles iriam passar; mas até então, eles tinham passado por poucos sofrimentos, e por isto Ele os relembra de que quanto menos eles tivessem sofrido, mais aflições teriam que cumprir (veja Colossenses 1.24).

(1)  Os santos serão “atormentados”, sendo amarrados e presos, cruelmente ridicularizados e açoitados, como o bendito apóstolo Paulo (2 Coríntios 11.23-25); não seriam mortos diretamente, mas mortos em todo o tempo, em mortes frequentes, mortos de modo a se sentirem morrendo, “feitos espetáculo ao mundo”(I Coríntios 4.9,11).

(2)  Eles serão “mortos”. Tão cruéis são os inimigos da igreja, que nada menos que o sangue dos santos poderá satisfazê-los, do qual eles são sedentos, e bebem e espalham, como água.

(3)  Eles serão “odiados de todas as gentes” por causa do seu nome, como Ele lhes tinha dito antes (cap. 10.22). O mundo estava, de modo geral, influenciado pela malignidade e pela inimizade aos cristãos; os judeus, embora odiados pelos pagãos, nunca foram perseguidos por estes como os cristãos foram perseguidos pelos judeus; os cristãos eram odiados pelos judeus que estavam dispersos nas nações, eram o alvo comum da maldade do mundo. O que devemos pensar deste mundo, quando os melhores homens eram os mais maltratados nele? Ê a causa que faz o mártir, e o consola; era por causa de Cristo que eles eram odiados dessa maneira; o fato de eles professarem e pregarem o seu nome incitava as nações dessa maneira contra eles; o diabo, percebendo um ataque fatal lançado contra o seu reino, e “sabendo que já tem pouco tempo”, desceu “com grande ira”.

2. “O escândalo da cruz” (vv. 10-12). Satanás trabalha pelos seus próprios interesses através da força dos braços e das suas armas, embora Cristo, no final, traga a glória para si por meio dos sofrimentos do seu povo e dos seus ministros. Três resultados ruins da perseguição são aqui preditos.

(1)  A apostasia de alguns. Quando a profissão do cristianismo começar a custar caro para os homens, então muitos se ofenderão, se debaterão com a sua profissão de fé, e por fim a deixarão; eles começarão a entrar em conflitos com a sua religião, serão indiferentes a ela, se cansarão dela, e no final se revoltarão contra ela. Considere:

[1) Não é novidade (embora seja estranho) que aqueles que conheceram o caminho da justiça se afastem dele. Paulo sempre reclama dos desertores, que começaram bem, mas foram impedidos por alguma coisa. Eles estavam conosco, mas saíram de nós, porque jamais foram nossos verdadeiramente (1 João 2.19). Isto já nos foi dito anteriormente.

[2) Os tempos de sofrimento são tempos de agitação; e na tempestade, caem alguns daqueles que estavam em pé no tempo bom, como os ouvintes cujos corações são como os pedregais (cap. 13.21). Muitos, que não precisam da ajuda de outros, seguirão a Cristo nos dias de sol, e o deixarão nos dias escuros e nublados. Eles gostarão da sua religião se puderem tê-la a um custo baixo, e estarão dispostos a perseverar nela se as exigências forem mínimas; mas quando a sua profissão de fé passar a lhes custar alguma coisa, eles a abandonarão imediatamente.

(2)  A maldade dos ímpios. Quando a perseguição está na moda, a inveja, a inimizade e a maldade estão estranhamente difundidas nas mentes dos homens, por contágio: e a caridade, a ternura e a moderação são consideradas raridades que fazem do homem um pássaro manchado. Então, eles “trair-se-ão uns aos outros”, isto é, aqueles que traiçoeiramente abandonaram a sua religião, irão odiar e trair aqueles que aderirem a ela, por quem fingiram sentir amizade. Os apóstatas, em geral, foram os mais amargos e violentos perseguidores. Observe que os tempos de perseguição são tempos de descobrimento. Os lobos em peles de ovelhas se livrarão do seu disfarce, e aparecerão como lobos; eles “trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão [ou odiarão)”. Os tempos serão necessariamente perigosos, quando a traição e o ódio – duas das piores coisas que pode haver, porque são diretamente opostas a duas das melhores (a verdade e o amor) – serão predominantes. Isto parece se referir ao tratamento bárbaro que as diversas facções entre os judeus dedicavam umas às outras; e aqueles que devoravam o povo de Deus como comiam pão, foram, com justiça, deixados para se morderem e se devorarem uns aos outros, até que se consumissem uns aos outros. Estas palavras também podem se referir aos danos causados aos discípulos de Cristo por aqueles que estavam mais próximos a eles, como descrito em Mateus 10.21: “E o irmão entregará à morte o irmão”.

(3)  O declínio geral e o esfriamento de muitos (v.12). Em tempos enganadores, quando surgem os falsos profetas, e em tempos de perseguição, quando os santos são odiados, deve-se esperar duas coisas:

[1] A “multiplicação” da iniquidade. Embora o mundo sempre esteja mergulhado na maldade, ainda existem ocasiões em que pode-se dizer que a iniquidade abunda de uma maneira especial; como quando ela é mais abrangente do que é usual, como no mundo antigo, quando “toda carne havia corrompido o seu caminho” (Genesis 6.12); e quando é mais excessiva do que é usual, quando “a violência se levanta em vara de impiedade” (Ezequiel 7.11), de modo que o inferno parece estar solto em blasfêmias contra Deus, e em inimigos aos santos.

[2] A diminuição do amor. Isto é consequência da multiplicação da iniquidade: “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará”. Isto pode ser entendido de maneira geral, referindo-se à santidade séria e verdadeira, que é resumida no amor. É bastante comum que os professores da religião esfriem na sua profissão de fé quando os maus se aquecem na sua maldade. Como a igreja de Éfeso, que, em tempos difíceis, deixou o seu primeiro amor (Apocalipse 2.2-4). Ou isto pode ser entendido, de maneira mais particular, como referindo-se ao amor fraternal. Quando a iniquidade abunda, a iniquidade enganadora, a iniquidade perseguidora, o amor normalmente esfria. Os cristãos começam a se intimidar, e a suspeitar uns dos outros; os afetos se distanciam, as distâncias se criam, formam-se grupos e, desta maneira, o amor resulta em nada. O diabo é o acusador dos irmãos, não somente para os seus inimigos, o que faz abundar a iniquidade perseguidora, mas entre si, o que faz com que o amor de muitos esfrie.

Isto fornece uma perspectiva melancólica dos tempos, pois haverá uma grande decadência de amor. Porém, em primeiro lugar, trata-se do amor de “muitos”, mas não de todos. Nos piores tempos, Deus tem os seus remanescentes que conservam a sua integridade, e retêm o seu zelo, como nos tempos de Elias, quando ele pensava ter sido abandonado. Em segundo lugar, este amor esfriou, mas não morreu; ele diminuiu, mas não se extinguiu. Existe vida na raiz, que se exibirá quando o inverno terminar. A nova natureza pode esfriar, mas não por muito tempo, pois se fosse assim, ela iria degenerar e desaparecer.

3. O consolo administrado em referência a este escândalo da cruz, pelo apoio do povo do Senhor que está sob ela (v. 14): “aquele que perseverar até ao fim será salvo”.

(1) É consolador, para aqueles que desejam o bem da causa de Cristo em geral, que, embora muitos se magoem, ainda assim alguns irão perseverar até o fim. Quando vemos tantos se afastando, temos a tendência de temer que a causa de Cristo vá afundar por falta de quem a apoie, e o seu nome seja abandonado e esquecido por falta de quem o professe; mas mesmo “neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça” (Romanos 11.5). Aqui se trata do mesmo tempo a que esta profecia faz referência; um remanescente que não é “daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”; eles perseveram até o fim, até o fim das suas vidas, até o fim do atual estado de experiência, ou até o fim deste tempo de provações e sofrimentos, até o último encontro, embora eles sejam chamados a resistir até ao sangue.

(2) É consolador, para aqueles que realmente perseveram desta maneira até o fim, e sofrem por causa da sua perseverança, saber que serão salvos. A perseverança ganha a coroa, por meio da graça, e ela a usará. Eles serão salvos. Talvez eles possam ser resgatados dos seus problemas, e sobrevivam a eles confortavelmente neste mundo; mas o que se pretende aqui é a eterna salvação. Aqueles que perseveram até o fim dos seus dias, alcançarão o fim da sua fé e esperança, a salvação de suas almas (1 Pedro 1.9; Romanos 2.7; Apocalipse 3.20). A coroa da glória irá indenizar a todos; e uma forte consideração por ela, em fé, nos capacitará a escolher morrer em uma estaca, com os perseguidos, em vez de viver em um palácio, com os perseguidores.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A INTELIGÊNCIA DO CORAÇÃO

A variação da frequência cardíaca exerce enorme influência no nosso estado emocional e nos processos mentais conscientes que dele emergem.

A inteligência do coração

Quando alguém adoece após um período de muita pressão, o estresse é sempre a causa mais suspeita. Décadas de estudos e muita mídia nos ensinaram a associar os oscilantes níveis hormonais à nossa situação emocional e garantiram fama ao cortisol, o hormônio do estresse, que se tornou o grande vilão da imunidade.

Na prática, não temos como acompanhar essas oscilações e nos resta acreditar que aqueles momentos de descontração – que com muitas manobras conseguimos incluir na agenda – mantenham em equilíbrio as estranhas substâncias que têm tanto poder sobre nosso bem-estar. Costumamos focar no controle dos processos mentais para administrar o estresse e acabamos esquecendo de prestar atenção aos sinais fisiológicos que são tão confiáveis quanto níveis hormonais na identificação do estado emocional.

Ciência relativamente nova, a neurocardiologia está comprovando que o coração tem muito a nos ensinar sobre nossas emoções e percepções: a variação da frequência cardíaca é um dos indicadores mais precisos do nível de estresse e exerce enorme influência na forma como interagimos com o mundo. Hoje reconhecido como um complexo centro de processamento de informações, o coração se comunica diretamente com o cérebro por meio de vias neurais, hormonais, biofísicas (pressão) e eletromagnéticas.

A conclusão mais óbvia é de que essa comunicação aconteça de cima para baixo, ou seja: são as ocupações da mente que provocam determinadas emoções e, como consequência, alterações no ritmo do coração. Preservamos, sem questionar, a ideia de que a relação entre corpo e mente é dominada pelo cérebro. Assim, o equilíbrio nessa relação dependeria do domínio dos processos mentais – um controle que, como toda decisão consciente, vem com certa carga de responsabilidade e, quando não bem-sucedido, de culpa.

Mas aos poucos a ciência vem abalando essas convicções e mostrando que a relação é de influência mútua. Assim como acontece com o intestino, o coração dialoga com o cérebro por uma via de mão dupla. Um consistente corpo de pesquisas mostra que a variabilidade da frequência cardíaca reflete condições de saúde, capacidade de autorregulação emocional, resiliência psicológica e clareza de pensamento.

Ali no coração também são produzidos e secretados hormônios e neurotransmissores que causam grande impacto na forma como nos sentimos. Um deles é a ocitocina – substância conhecida como hormônio do amor e da conexão social, que age como neurotransmissor e é produzida em quantidade semelhante no coração e no cérebro, de acordo com pesquisas recentes.

O sistema nervoso intrínseco do coração está constantemente enviando informações ao cérebro pelas vias aferentes (ascendentes) do nervo vago e coluna espinal, influenciando diretamente as funções cerebrais. Basta lembrar o que acontece com nossa performance mental quando estamos sob pressão: sob o caos fisiológico provocado pela situação estressante, os lapsos de memória são muito mais comuns que as ideias criativas.

A consciência de que devemos nos acalmar pouco tem poder sobre esse estado. Já uma alteração induzida na resposta fisiológica – num movimento de baixo para cima – restabelece o equilíbrio biológico necessário e propício para o desempenho favorável da mente e do corpo.

Um estado de coerência cardíaca – termo que indica a harmonia e estabilidade do padrão de ritmo do coração – leva a uma sincronização entre sistemas oscilatórios, como a respiração. De acordo com pesquisadores do Instituto de Neurocardiologia Heart Math, “emoções positivas, inclusive aquelas que são auto induzidas, transformam o sistema inteiro em um modo psicológico harmonioso e globalmente coerente, o que pode ser associado a uma melhoria na performance do sistema, na capacidade de autorregulação e num estado geral de bem-estar”, descreve Rolin McCraty, diretor de pesquisa do instituto, no livro Science of the Heart (“ciência do coração”).

Isso significa que com as técnicas certas podemos induzir mudanças fisiológicas que irão agir positivamente sobre os nossos sentimentos e, como consequência, pensamentos e atitudes. Há evidências, por exemplo, de aumento na coerência cardíaca com a prática de alguns minutos de respiração lenta e profunda (seis respirações por minuto). Outra técnica eficaz consiste no direcionamento da atenção aos próprios batimentos cardíacos enquanto se respira mais profunda e lentamente que de costume. A atenção focada ao ritmo cardíaco está associada à sincronização da comunicação entre coração e o cérebro, numa interação não apenas psicológica, mas energética.

Está no controle da atenção, portanto, o poder de regular as respostas fisiológicas e psicológicas a qualquer tipo de situação que nos tire do conforto. A mudança induzida de ritmo é capaz de transformar o estado emocional e, assim, todos os processos mentais que deles emergem, sendo favorecidos pelas emoções que consideramos positivas.

 

MICHELE MULLER – é jornalista, pesquisadora especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br

OUTROS OLHARES

BONECAS RUSSAS

Às vésperas da Copa do Mundo, um bordel em Moscou lançou uma nova atração: robôs sexuais dotados de inteligência artificial que atuam como meretrizes.

Bonecas russas

Em um encontro romântico, diz-se que houve química quando há aquela faísca indescritível, única, ao toque de uma pele em outra.

A evolução tecnológica, porém, agora permite que essa química não se dê mais necessariamente pelo contato carnal. Em vez de pele com pele, pode-se substituir uma delas por plástico. Na vanguarda desse novo movimento está um bordel inaugurado em Moscou, desde já chamariz para quem busca algum tipo, qualquer tipo, insista-se, de turismo sexual durante a Copa do Mundo, que começa em 14 de junho.

O The Dolls Hotel (O Hotel das Bonecas) oferece, pelo equivalente a 300 reais, intimidade com uma ginoide (o feminino de androide). É um cabaré de robôs. A unidade moscovita é a segunda abastecida com os modelos da fabricante espanhola LumiDolls, que abriu o primeiro serviço do tipo em Barcelona, em 2017. Há outros exemplos pelo mundo, com bonecas de origens diversas, como o prostíbulo parisiense Xdolls. O proprietário da casa de prazeres na Rússia, Dmitry Alexandrov, exibe uma estatística para defender seu negócio: segundo ele, 36% de seus conterrâneos afirmam estar insatisfeitos sexualmente. “Criar um centro de lazer adulto é uma forma legal e segura de melhorar essa condição”, diz ele.

As ginoides – o lupanar russo não oferece versões masculinas – têm corpo de silicone (para suportar banhos quentes) ou de borracha termoplástica (que dá maior sensação de maciez). Algumas características do robô, como a cor dos olhos e o tamanho da boca, são customizáveis pela clientela. Os modelos avançados têm sensores sensíveis ao toque. Guiadas por softwares de inteligência artificial, as bonecas podem sentir o contato e reagir com falas, movimentos e sons. Algumas até conversam com o companheiro – antes ou depois do ato – sobre assuntos banais. Depois de desempenharem seus trabalhos, os robôs são higienizados, garantem os donos dos estabelecimentos. Usualmente, as genitálias são destacáveis e podem ser esterilizadas numa máquina comum de lavar louça.

O fetiche soa esquisito – e é esquisito. Só que essa estranheza não deve perdurar. O mercado de maquinas sexuais e incipiente, mas apenas uma das fábricas de maior sucesso já produz trinta exemplares por mês, tanto masculinos quanto femininos, a maioria deles para uso doméstico, e não em prostíbulos. Os modelos básicos custam 4.000 reais, mas os incrementados, como os de Moscou, ultrapassam os 20.000 reais. Estima-se que a indústria desses brinquedos sexuais possa movimentar anualmente acima de 25 bilhões de dólares nos anos 2020.

“Esses robôs serão bem comuns”, disse a sexóloga americana Holly Richmond. “Mas não é preciso alarmar-se, pois os sexbots se tornarão uma ferramenta como qualquer outra, e jamais substituirão a intimidade com humanos. As pessoas continuarão a ter filhos.” Há, todavia, os que exageram na dose. No ano passado, o chinês Zheng Jiajia se declarou casado com uma máquina desse tipo – o matrimônio não foi oficializado pelo governo. Do outro lado, a ONG Campaign Against Sex Robots (Campanha contra Robôs Sexuais) batalha pelo banimento da prática. A ruidosa discussão não é uma brincadeira. É coisa séria se lembrarmos da existência de uma ginoide, Sophia, que recebeu, em 2017, o status (e os direitos) de cidadã na Arábia Saudita. Se Sophia fosse levada à força para um bordel na Rússia, seu algoz poderia ser punido?

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHOS DESCENTRALIZADOS: FLEXIBILIDADE E REDUÇÃO DE CUSTOS

A opção para cortar gastos com a sede da empresa tem sido a contratação de funcionários em regimes descentralizados. Entenda as modalidades de trabalho a distância previstas na legislação.

Trabalhos descentralizados - Flexibilidade e redução de custos

Uma tendência presente na pós-modernidade é um fenômeno conhecido como desmaterialização. É algo como a tendência pelo intangível. A nossa sociedade está cada vez mais habituada a trabalhar com o intangível. Músicas, filmes e até livros são armazenados em estruturas ou arquivos virtuais. Essa tendência também vem sendo incorporada por algumas empresas, que para lidar com os altos custos mensais, como aluguel, mobília, equipamentos, entre outros, optam pela descentralização das suas sedes, permitindo que os seus profissionais trabalhem em casa ou até mesmo em outros locais, fazendo apenas eventuais contatos com o empregado por meios previamente definidos.

Na esfera dos trabalhos descentralizados temos pelo menos três modalidades principais: o trabalho em domicílio, o trabalho a distância e o teletrabalho, que embora sejam semelhantes são conceitualmente diferentes.

O trabalho em domicilio é aquele que tem lugar próprio para ser realizado, geralmente a residência do empregado. O profissional utiliza a sua casa como escritório, o famoso home office. Nessa modalidade de trabalho, em especial, é comum que o empregado seja remunerado em razão dos seus serviços e das tarefas realizadas, visto que existe certa impossibilidade de realizar o controle de jornada dele, por estar em sua própria residência. Além disso, uma vez que o empregado está dispondo de parte de seus recursos para a prestação de serviços, é comum que o empregador realize certa quantia em pagamento a título de ajuda de custo, de forma a fazer frente a despesas esperadas na prestação de serviços.

Já o trabalho a distância em sentido estrito é aquele realizado fora da sede do empregador e que não possui local fixo para a sua prestação, podendo ocorrer em qualquer outra localidade. Essa modalidade é a típica situação dos empregados que realizam vendas ou outra espécie de representação na qual seu emprego consiste justamente em atividades fora da empresa. Nesses casos também não são exigidos o controle de jornada e o consequente pagamento de horas extras. É prática comum nesse segmento o pagamento de ajuda de custo para deslocamentos e diárias quando o profissional se ausenta para regiões para realizar seu trabalho.

O teletrabalho é a forma mais moderna e versátil desse grupo, pois é a aglutinação das duas formas anteriores ao uso das novas tecnologias para controle e subordinação do empregado. O teletrabalho é definido basicamente pelos seguintes elementos: o trabalho externo (domicilio ou não do empregado) e a utilização de meios telemáticos de controle e subordinação do empregado.

 TELETRABALHO E SUAS VERTENTES

O teletrabalho é na verdade a figura à qual geralmente nos referimos quando dizemos que alguém presta serviços home office, pois na maior parte das vezes essa pessoa está conectada à sede da empresa por sistemas de comunicação. Teletrabalho pode ocorrer por meio de três principais formas: a mais comum é na casa do empregado, onde é necessária a disponibilização de um computador ou outro mecanismo tecnológico para se conectar com a empresa.

A segunda maneira acontece nos chamados centros satélites, que são micro estabelecimentos de propriedade do empregador que, para evitar o deslocamento de seus profissionais, estabelece sedes alternativas para que os serviços sejam prestados sem a necessidade de deslocação para a matriz da empresa.

Por último, ocorre nos chamados tele centros, que são espaços compartilhados por grupo de empresas, principalmente com finalidade de redução de custos. Esses ambientes possibilitam aos profissionais um espaço de trabalho com contato direto com as suas empresas, mas apartados fisicamente delas.

Em todos os casos, o vínculo trabalhista é preservado e o profissional possui direito a todas as vantagens que não sejam incompatíveis com a natureza da sua prestação de serviços.

 

FAGNER FABRÍCIO SOUZA – é bacharelado em Direito pela Universidade São Judas Tadeu, atua na ProPay como advogado e sua especialidade é Consultoria Trabalhista com foco nas rotinas de Departamento Pessoal

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE I

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Predições Terríveis

Os discípulos tinham perguntado sobre a época: “Quando serão essas coisas?” Cristo não lhes deu nenhuma resposta, não lhes disse depois de quantos dias e anos a sua predição se cumpriria, pois não nos “pertence saber os tempos” (Atos l. 7), mas eles tinham perguntado: “Que sinal haverá?” A esta pergunta, Ele responde de maneira completa, pois nós estamos preocupados em conhecer “os sinais dos tempos” (cap. 16.3). A profecia, basicamente, diz respeito aos eventos próximos da destruição de Jerusalém, o fim da igreja e da nação judaicas, o chamado dos gentios, e o estabelecimento do reino de Cristo no mundo; mas assim como as profecias do Antigo Testamento, que têm uma referência imediata às questões dos judeus e às revoluções na sua nação, sob o exemplo delas, estas profecias vão mais adiante, referindo-se à igreja do Evangelho e ao reino do Messias, e desta maneira são expostas no Novo Testamento, e as expressões que são encontradas nessas predições são peculiares a ele, e não se aplicam a nada mais. Sendo assim, esta profecia, como símbolo da destruição de Jerusalém, refere-se até ao juízo geral, e como é usual nas profecias, algumas passagens são mais aplicáveis aos acontecimentos do presente, e outras, aos do futuro; e no seu final, como é usual, ela aponta mais particularmente para o futuro. Deve-se notar que o que Cristo diz aqui aos seus discípulos tende mais a despertar a sua precaução do que a satisfazer a sua curiosidade; mais para prepará-los para os eventos que iriam acontecer, do que para lhes dar uma ideia distinta dos próprios eventos. Este é aquele bom conhecimento dos tempos que todos nós deveríamos procurar obter; para deduzir o que Israel deveria fazer; e assim essa profecia é de uso duradouro para a igreja, e assim será, até o final dos tempos; pois “o que foi, é o que há de ser” (Eclesiastes 1.5,6,7,9), e a série, conexão, e presságios dos eventos são praticamente os mesmos que eram naquela época; par a que sobre a profecia deste capítulo, que aponta para aquele evento, possam ser feitos prognósticos morais, e os sinais dos tempos possam ser discernidos de modo que o coração do homem sábio possa saber como melhorar.

I – Aqui Cristo prediz o aparecimento de enganadores. Ele começa com um aviso: ”Acautelai-vos, que ninguém vos engane”. Eles esperavam ouvir quando essas coisas aconteceriam, esperavam ser aceitos para participar desse segredo; mas esse aviso serve para refrear a sua curiosidade: “O que isto interessa a vocês? Cuidem dos seus deveres, sigam-me e não se deixem convencer a deixar de me seguir”. Aqueles que são mais curiosos a respeito dos assuntos secretos que não lhes dizem respeito são mais facilmente impressionáveis pelos enganadores (2 Tessalonicenses 2.3). Os discípulos, quando ouviram que os judeus, seus mais inveterados inimigos, seriam destruídos, poderiam estar correndo o risco de um excesso de segurança. “Não”, diz Cristo, “vocês estão mais expostos de outras maneiras”. Os enganadores são inimigos mais perigosos à igreja do que os perseguidores.

Três vezes, nesse sermão, Ele menciona o aparecimento de falsos profetas, o que era:

1. Uma predição da ruína de Jerusalém. Aqueles que mataram os verdadeiros profetas foram, com justiça, deixados para ser enganados pelos falsos profetas; e aqueles que crucificaram o verdadeiro Messias, foram deixados para ser ludibriados e destruídos pelos falsos Cristas e Messias imaginários. O aparecimento deles seria a ocasião da divisão do povo em partidos e facções, o que tornaria a sua destruição mais fácil e rápida; e o pecado dos muitos que eram deixados de lado por eles ajudou a completar a medida.

2. Um teste para os discípulos de Cristo, que, portanto, estava de acordo com a sua situação de experiência, “para que os que são sinceros se manifestem”.

A respeito desses enganadores, observe aqui:

(1) Os pretextos sob os quais eles apareceriam. Satanás age maliciosamente quando aparece como um anjo de luz; o pretexto de um bem maior é, frequentemente, o que encobre o mal maior.

[1) Apareceriam “falsos profetas” (vv. 11- 24). Os enganadores fingiriam ter inspiração divina, uma missão imediata e um espírito de profecia, quando tudo isso era uma mentira. Assim eles tinham sido anteriormente (Jeremias 23.16; Ezequiel 13.6), como havia sido predito (Deuteronômio 13.3). Alguns pensam que os enganadores aqui indicados eram pessoas que tinham se estabelecido como professores na igreja, e tinham conquistado reputação por sê-lo, mas posteriormente traíram a verdade que tinham ensinado e se voltaram para o erro; e de pessoas assim, o perigo é ainda maior, porque elas são mais insuspeitas. Um falso traidor nas tropas pode causar mais mal que mil arqui-inimigos de fora.

 

[2] Apareceriam falsos Cristos: “Muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo” (v. 5), estes assumirão o nome peculiar a Ele, dizendo: “Eu sou o Cristo” – “falsos cristos” (v. 24). Havia, naquela época, uma expectativa geral pelo aparecimento do Messias; falava-se dele como sendo aquele que viria; mas quando Ele realmente veio, a nação o rejeitou; disso, aqueles que tinham ambição de serem famosos se aproveitaram, e se passaram por Cristo. Josefo fala de diversos impostores deste tipo, entre essa ocasião e a destruição de Jerusalém; um Teudas, que foi derrotado por Cóspio Fado. Outro, por Félix, outro, por Festa. Dosetheus disse que era o Cristo profetizado por Moisés. Veja Atos 5.36,37. Simão, o mágico, fingiu ter “a grande virtude de Deus” (Atos 8.10). Nos anos posteriores, houve pessoas que fingiram como ele; um deles, cerca de cem anos depois de Cristo, chamava a si mesmo de Barcochobas – O filho de uma estrela, mas, na verdade, era Barcosba – O filho de uma mentira. Aproximadamente cinquenta anos antes, Sabbati-Levi tinha se estabelecido como Messias no império turco, e foi muito querido pelos judeus; mas dentro de pouco tempo, foi revelada a sua tolice. A religião papista, na verdade, estabelece um falso Cristo. O papa se apresenta, em nome de Cristo, como seu substituto, mas invade e usurpa todos os seus ofícios, e passa a ser seu rival; e como tal, torna-se seu inimigo, um enganador, e um anticristo.

[3] Esses falsos Cristas e falsos profetas teriam seus agentes e emissários trabalhando em todos os lugares, para atrair pessoas (v. 23). Então, quando os problemas públicos forem grandes e ameaçadores, e as pessoas estiverem procurando qualquer coisa que se pareça com libertação, Satanás irá se aproveitar e impor-se a elas. Eles dirão: Eis aqui o Cristo, ou: Ei-lo ali; mas não acreditem neles: o verdadeiro Cristo não luta, não clama, nem foi dito sobre Ele: “Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali”! (Lucas 17.21), portanto, se alguém disser isso sobre Ele, considere que é uma tentação. Os eremitas, cuja religião é vivida em uma vida monástica, dizem: Ele está no deserto; os sacerdotes, que dizem que a hóstia consagrada é Cristo, dizem: Ele está no interior da casa. “Eis que Ele está neste santuário, naquela imagem”. Desta maneira, alguns se apropriam da presença espiritual de Cristo, em benefício de um grupo ou de uma crença, como se tivessem o monopólio de Cristo e do cristianismo; e assim pensam que o reino de Cristo deve erguer-se e cair, viver e morrer, com eles. “Eis que Ele está nesta igreja, ou naquele concílio”. Mas “Cristo é tudo em todos”, e assim não é possível ficar dizendo que Ele está aqui ou ali; pois Ele vai ao encontro do seu povo com uma bênção em todos os lugares onde Ele registra o seu nome.

(2) A prova que eles ofereceriam por fazer o bem com esses pretextos: eles “farão tão grandes sinais e prodígios” (v. 24). Não seria m milagres verdadeiros, aqueles que são um selo divino, e com os que se confirma a doutrina de Cristo; portanto, se alguém tentar nos atrair por tais sinais e prodígios, nós devemos recorrer àquela regra dada antigamente (Deuteronômio 13.1-3): “Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos, porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova”. Mas esses eram “prodígios de mentira” (2 Tessalonicenses 2.9), operados por Satanás (com a permissão de Deus), que é “o príncipe das potestades do ar”. Não foi dito: Eles realizarão milagres, mas sim: Eles farão grandes sinais. Eles nada são, além de um espetáculo; ou influenciam a credulidade dos homens por falsas narrativas, ou enganam os seus sentidos com truques de prestidigitação, ou artes de adivinhação, como faziam os mágicos do Egito com seus encantos.

(3) O sucesso que eles teriam nos seus esforços:

[1] Eles “enganarão a muitos” (v. 5), e novamente no versículo 11. Observe que o diabo e os seus instrumentos podem vencer ao enganar pobres almas; poucos encontram a porta estreita, mas muitos são atraídos para o caminho mais largo: muitos serão influenciados pelos seus sinais e prodígios, e muitos serão atraídos pelas esperanças de libertação dos seus sofrimentos. Observe que nem milagres nem multidões são sinais seguros de uma verdadeira igreja; pois “toda a terra se maravilhou após a besta” (Apocalipse 13.3).

[2] Eles, “se possível fora, enganariam até os escolhidos”, v. 24. Isto sugere, em primeiro lugar, o poder da ilusão. Este poder será tal, que muitos serão fascinados por ele (tão forte será a corrente), mesmo aqueles que julgavam que iriam resistir. O conhecimento dos homens, os dons, o estudo, a situação eminente, e o longo tempo de profissão de fé, nada irá protegê-los; mas, apesar deles, muitos serão enganados; nada, exceto a graça onipotente de Deus, de acordo com o seu eterno objetivo, será uma proteção. Em segundo lugar, a segurança dos eleitos em meio ao perigo, que é sugerida pelas palavras: “se fora possível”, dando a entender, claramente, que isto não é possível, pois eles estão protegidos pelo poder de Deus, para que o propósito de Deus, de acordo com a eleição, possa persistir (Hebreus 6.4,5,6). Se os escolhidos de Deus fossem enganados, a escolha de Deus seria derrotada, o que não é imaginável, pois aos que Ele “predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.30). Eles foram dados a Cristo, e ele todos os que lhe foram dados, Ele não perderá nenhum (João 10.2 8). Grotius interpretou isso como significando a maior dificuldade em afastar os cristãos primitivos da sua religião, e cita que isto era usado proverbialmente por Galen. Quando ele queria expressar algo que era muito difícil e moralmente impossível, ele dizia, “é mais fácil afastar um cristão de Cristo”.

(4) Os avisos repetidos que o nosso Salvador dá aos seus discípulos, para que se acautelem contra eles. Ele lhes deu avisos para que pudessem estar vigilantes (v. 25): “Eis que eu vo- lo tenho predito”. Aquele que é avisado de que será atacado, poderá se salvar, como fez o rei de Israel (2 Reis 6.9,10). Observe que os avisos de Cristo têm o objetivo de despertar a nossa vigilância, e embora os eleitos sejam preservados do engano, eles serão preservados através do uso dos meios indicados, e de uma devida consideração aos avisos da Palavra. Nós somos protegidos, pela fé, pela fé na Palavra de Cristo, daquilo que Ele nos adverte com antecedência.

[1] Não devemos crer naqueles que dizem: “Eis que o Cristo está aqui ou ali” (v. 23). Nós cremos que o Cristo verdadeiro está à destra de Deus, e que a sua presença espiritual está onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome; não devemos crer; portanto, naqueles que tentam nos afastar de um Cristo no céu, dizendo que Ele está em algum lugar aqui na terra; ou que tentam nos afastar da igreja universal na terra, dizendo que Ele está aqui, ou que está ali; “não acrediteis”. Observe que não existe maior inimigo da fé verdadeira do que a credulidade vã. O simples crê em cada palavra, e persegue cada clamor.

[2] Não devemos seguir aqueles que dizem: “Eis que ele está no deserto”, ou: “Eis que ele está no interior da casa” (v. 26). Não devemos dar ouvidos a todo fingidor e empírico, nem seguir a todos os que erguem o dedo para nos indicar um novo Cristo e um novo Evangelho. “Não os sigam, pois se o fizerem, vocês estarão correndo perigo de serem levados por eles; por isso, não permaneçam no caminho do mal, não sejam “levados em roda por todo vento de doutrina”; a vã curiosidade de muitos homens em segui-los os levou a uma apostasia fatal; a sua força, nessa situação, consiste em permanecer quietos, para que tenham o coração estabilizado com graça”.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

QUEM VÊ CARA VÊ CORAÇÃO?

A morfologia do rosto humano carrega mensagens sobre comportamento sexual e social.

Quem vê cara vê coração

Estudos recentes têm ligado a morfologia facial humana a uma série de características comportamentais ou tendências de disposição para agir. Os traços craniofaciais que são dependentes de androgênios (hormônios masculinos) foram, em teoria, moldados pela seleção natural para fornecer pistas que revela m características reprodutivas subjacentes, como agressividade e dominância social. A associação entre a forma do crânio e da face com comportamento agressivo vem da influência com um que a exposição à testosterona (principal hormônio masculino) tem no crescimento dos tecidos craniofaciais e na organização da circuitaria cerebral que processa o comportamento agressivo. Ou seja, maior exposição à testosterona em períodos críticos do desenvolvimento pode influenciar tanto o tamanho e forma do rosto como também os circuitos cerebrais que estão envolvidos no comportamento.

Uma medida empregada nos estudos é a relação entre a medida da largura do rosto dividida pela medida da altura, a chamada relação largura / altura facial. Quanto maior o valor dessa relação, ou seja, quanto mais largo é o rosto, mais é exibido comportamento agressivo em homens, comportamento antiético, expressão de preconceito, traços de psicopatia, impulso de realização, sacrifício frente aos membros de seu grupo, sucesso financeiro e atratividade como parceiro sexual de curto prazo. Tomadas em seu conjunto, essas descobertas parecem indicar que os níveis hormonais podem de fato influenciar a forma do rosto e o comportamento. Mesmo observadores externos avaliam o rosto masculino com maior relação largura/ altura como mais dominante e agressivo.

O nível de testosterona tem sido associado não somente a comportamentos de busca de status ou dominância, mas a uma variedade de condutas sexuais, como maior interesse em sexo autorrelatado, em auto estimulação psicossexual e em aumento de fantasias sexuais e de frequência de relações sexuais eletivas. Já níveis baixos de testosterona têm sido relatados em casos de disfunção erétil e baixa libido, e em situações de masturbação e intercurso menos frequente. A administração de testosterona aumenta o desejo e a frequência sexual entre homens. Em mulheres, verifica-se transtorno de desejo hipoativo quando os níveis desse hormônio estão baixos, e resposta positiva de aumento do impulso quando se administra a testosterona.

Em um estudo, cerca de 500 participantes foram questionados sobre sua orientação sexual, suas relações sexuais e se consideravam ser infiéis aos parceiros. Os resulta dos mostraram que os homens com rostos mais largos e curtos em altura, com maior relação entre largura e altura craniofacial, eram vistos como mais atrativos como parceiros de curto prazo, e como mais dominantes. Os homens com maior relação largura / altura tinham maior impulso sexual e expressaram maior inclinação para trair seus parceiros. As mulheres com rostos mais largos também apresentam um maior impulso sexual, embora uma importante diferença entre os gêneros tenha emergido, pois estas não relataram maior intenção de trair seus parceiros.

Uma outra pesquisa considerou fotos de homens com diferentes relações entre a largura e altura craniofacial. Os pesquisadores verificaram que observadores dessas fotos julgavam os rostos com maior relação entre largura e altura como mais agressivos do que aqueles com rostos mais finos. Um aspecto interessante desse estudo foi o uso de versões com barba e sem barba dos mesmos rostos. A barba não fez diferença na percepção da relação entre largura e altura facial, mostrando que os julgamentos faciais evoluíram para serem altamente sensíveis a formas que revelam disposições e traços subjacentes. Sem dúvida, a seleção natural foi construindo ao longo de milhares de gerações mecanismos neurais extremamente precisos para extrair, de um rápido olhar para um rosto humano, informações que permitem prever aspectos de comportamento importantes, como os ligados aos comportamentos sexual e social da pessoa.

 

MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed,2011).

OUTROS OLHARES

A DINÂMICA DA FELICIDADE

Afinal, quem é feliz? Por que algumas pessoas são mais felizes que outras? Qual a relação entre a riqueza material e a felicidade? Quais características, traços, atributos e circunstâncias marcam as vidas felizes?

A dinâmica da felicidade

O que faz um homem ou uma mulher feliz tem sido objeto de atenção desde os tempos mais antigos e as respostas têm varado desde o materialismo, que busca a felicidade nas condições externas até o espiritualismo, que afirma que a felicidade é o resultado de uma atitude mental. Se Aristóteles, em seu tempo, já havia notado que os seres humanos valorizavam um grande número de coisas como saúde, fama e aquisição de bens materiais, porque acreditavam que estas os tornariam felizes, nós na contemporaneidade também valorizamos a felicidade pelo bem-estar que ela nos proporciona. Assim, a felicidade é o único objetivo intrínseco que as pessoas procuram para o seu próprio bem, ou seja, é a linha de base para todos os desejos.

 ANTECEDENTES FILOSÓFICOS

Não foi somente Aristóteles quem abordou a felicidade. Outros filósofos, como John Locke e Jeremy Bentham, por exemplo, também o fizeram e entendiam que uma boa sociedade é aquela que permite uma maior quota de felicidade para um maior número de pessoas.

Em particular, Locke estava consciente da futilidade de se buscar a felicidade sem qualificações e argumentou que era necessário buscá-la com prudência, isto é, as pessoas não deveriam confundir a felicidade imaginária com a felicidade real. Parece que Locke se inspirou no filósofo grego Epicuro, que há 2300  anos enfatizou claramente que, para gozar uma vida feliz devemos desenvolver a autodisciplina. O materialismo de Epicuro era solidamente baseado na habilidade de procrastinar a gratificação de modo que, para ele, a felicidade poderia, algumas vezes, ser adiada caso a convivência momentânea com a dor servisse, de algum modo, para evitar uma dor maior.

Todavia, esta não é a imagem que muitas pessoas têm atualmente do Epicurismo. A visão popular é que o prazer e o conforto material devem ser sempre alcançados, quaisquer que sejam, e que eles, sozinhos, melhorarão a qualidade de vida das pessoas. Com o avanço tecnológico promovendo a longevidade, parece plenamente justificada a esperança de que as recompensas materiais possam fazer uma melhor qualidade de vida. Entretanto, o século XXI está deixando claro que a solução não é tão simples assim. Ainda que os habitantes das nações industrializadas mais ricas estejam vivendo períodos de riqueza sem precedentes, os mesmos não dão indício de estarem mais satisfeitos com sua vida do que estavam antes. Ou seja, a melhoria de vida não equivaleu a uma maior felicidade.

 A PSICOLOGIA POSITIVA

Apesar do reconhecimento de que a felicidade é um objetivo fundamental da vida, tem havido um progresso muito lento no entendimento do que consiste, a felicidade e quais os fatores que a caracterizam. A Psicologia, por exemplo, tendo redescoberto este tópico recentemente, tem procurado tratá-lo nos domínios da Psicologia Positiva ou Psicologia do Funcionamento Ótimo. De fato, desde a criação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, por Wundt, em 1879, a Psicologia, como Ciência, tem focalizado mais a doença do que a saúde, mais o medo do que a coragem, mais a agressão do que o amor.

Embora seja plenamente compreensível que muito da atenção dos psicólogos se dirija com maior ênfase para a compreensão do sofrimento humano, vislumbra-se, no início deste milênio, uma Psicologia mais preocupada com a investigação científica do bem-estar subjetivo. E, para isto, duas questões têm sido formuladas: quão felizes são as pessoas? E quais são as pessoas felizes e que características, traços e circunstâncias marcam a vida dessas pessoas?

 DINHEIRO VERSUS FELICIDADE

Dados epidemiológicos e levantamentos estatísticos sobre patologias sociais, obtidos, nos Estados Unidos, servem de evidências indiretas para mostrar que, atualmente, as pessoas não são mais felizes do que os seus antepassados. De fato, os dados mostram que duplicaram ou mesmo triplicaram os crimes violentos, os colapsos familiares e os sintomas/sinais psicossomáticos desde a última metade do século passado. Se o bem-estar material conduz a felicidade, por que nem a solução capitalista nem a socialista parecem funcionar? Por que uma grande multidão, vivendo sob a abundância capitalista, está se tornando crescentemente viciada em drogas para dormir, para se animar, para se manter em forma/elegância, e para escapar do tédio e da depressão? Por que os suicídios e a solidão são problemas crônicos na Suécia, que tem aplicado os melhores princípios socialistas para fornecer segurança material aos seus habitantes?

Evidências diretas sobre a relação ambígua entre bem-estar material e bem-estar subjetivo se originam dos estudos sobre felicidade que os psicólogos, finalmente, empreenderam, após um longo período de atraso em que a pesquisa sobre felicidade era considerada muito elementar e sem rigor para ser empreendida experimentalmente.

Certamente é verdade que estes estudos são baseados somente em levantamentos envolvendo registros verbais e em escalas que podem ter diferentes significados dependendo da cultura e da linguagem nas quais são escritas. Não obstante, até o presente momento, estes trabalhos representam o estado de uma arte que, inevitavelmente, se tornará mais precisa com o decorrer do tempo.

Estes estudos mostram que comparações entre nações indicam uma correlação razoável entre a riqueza de um país, como mensurada pelo seu Produto Interno Bruto (PIB), e a felicidade avaliada pelos registros verbais de seus habitantes. Os habitantes da Alemanha e do Japão, por exemplo, nações com um PIB duas vezes maior que o PIB da Irlanda, registraram, todavia, níveis menores de felicidade. Comparações dentro dos países mostraram relações muito mais fracas entre o bem-estar material e o bem-estar subjetivo. Por exemplo, em um estudo no qual foram analisados alguns dos indivíduos mais ricos dos Estados Unidos constatou-se que os níveis de felicidade deles se situavam ligeiramente acima dos indivíduos com um rendimento mediano.

Em outro estudo foi’ analisado um grupo de ganhadores na loteria e dele se concluiu que, apesar deste aumento repentino na riqueza, o nível de felicidade não foi diferente daquele das pessoas injuriadas por traumas, tais como cegueira ou paraplegia. Outro estudo envolvendo um escalonamento nacional, realizado nos Estados Unidos também mostrou que o fato de ter mais dinheiro para gastar não necessariamente conduz a um nível maior de bem-estar subjetivo. Os dados mostraram que, embora os valores dos rendimentos pessoais, ajustados depois dos descontos do imposto de renda, tenham praticamente dobrado entre os anos de 1960 – 1990, a porcentagem de pessoas se auto relatando muito felizes permaneceu praticamente inalterada, por volta de 30%. Logo, apesar da evidência de que riqueza material e felicidade é, na melhor das hipóteses, fraca, muitas pessoas ainda se apegam à noção de que os seus problemas seriam facilmente resolvidos se elas tivessem unicamente mais dinheiro.

Face a estes fatos, parece-nos que uma das mais importantes tarefas dos psicólogos será entender melhor a dinâmica da felicidade e imediatamente comunicar estes resultados a um grande público. Se uma das principais justificativas para a existência da Psicologia é ajudar a  reduzir o estresse e suportar o bem-estar psíquico, então os psicólogos deveriam tentar prevenir a desilusão que se origina quando as pessoas sentem que gastaram uma grande parte de sua vida se esforçando para alcançar objetivos que não podiam satisfazê-las completamente. Os psicólogos deveriam, então, ser hábeis em fornecer alternativas que, em longo prazo, conduzissem a uma vida mais recompensadora.

 RAZÕES SOCIO CULTURAIS E PSICOLÓGICAS

Há entre outras, quatro principais razões que explicam a falta de uma relação direta entre o bem-estar material e a felicidade. As duas primeiras são socioculturais e as duas últimas são de natureza mais psicológicas. A primeira razão é o nível de aspiração ou o escalonamento das expectativas. Se uma pessoa se empenha em alcançar certo nível de riqueza pensando que isto a tomará mais feliz, logo verificará que, ao alcançar este nível, ela se tomará rapidamente habituada e que neste ponto ela almejará o nível seguinte de rendimento, propriedade ou boa saúde.

Assim, não é o tamanho objetivo dá recompensa, mas sim sua diferença em relação ao nível de adaptação de uma dada pessoa que fornece o valor subjetivo.

A segunda razão está relacionada à primeira. Quando os recursos são desigualmente distribuídos, as pessoas avaliam suas posses não pelo que elas de fato necessitam para viver em conforto, mas sim, em comparação com aquelas pessoas que têm mais. Deste modo, as pessoas relativamente abastadas sentem-se pobres em comparação àquelas muito ricas e são, por consequência, infelizes. Este fenômeno denominado de privação relativa, parece ser relativamente universal e bem robusto. Por sua vez, a terceira razão é que a riqueza material, isoladamente, não é bastante paro fazer uma pessoa feliz. Outras condições, como por exemplo, ter uma vida familiar satisfatória, ter amigos íntimos e ter tempo para refletir e buscar diversos interesse têm sido relacionadas com a felicidade. Não há certamente qualquer razão intrínseca para que estes dois conjuntos de recompensas – a material e a socio­emocional –  sejam mutuamente exclusivos. Na prática, todavia, é muito difícil reconciliar suas demandas conflitantes.  Logo, as vantagens materiais nem sempre são prontamente traduzidas em benefícios sociais e emocionais.

A quarta razão é corroborada pelo fato de que, à medida que muito de nossa energia psíquica torna-se investida em objetivos materiais, é comum que a nossa sensibilidade para outras recompensas se atrofie. Amizade, arte, literatura, beleza natural, religião e filosofia tornam-se cada vez menos interessantes. O economista sueco Stephen Linder certa vez mencionou que, quando os rendimentos aumentam e, por consequência, o valor do tempo de uma pessoa aumenta, torna-se cada vez menos ”racional” gastá-lo em algo além de obter dinheiro ou gastá-lo com conspicuidade. O custo da resposta de brincar com uma criança, ler uma poesia ou atender a uma reunião familiar torna-se bastante alto e, assim, a pessoa para de fazer tais coisas, achando-as irracionais. Eventualmente uma pessoa que responde apenas às recompensas materiais torna-se cega para qualquer outro tipo e perde a habilidade para derivar a felicidade de outras fontes. Como quaisquer vícios, em geral as recompensas materiais, num primeiro momento, enriquecem a qualidade de vida e, talvez, devido a isso, tendamos a concluir que, quanto mais, melhor. Porém, a vida raramente é linear; em inúmeros casos, o que é bom, em pequenas quantidades, torna-se corriqueiro e, então, perigoso em doses maiores. A dependência dos objetivos materiais é bastante difícil de evitar, em parte porque nossa cultura tem, progressivamente, eliminado alternativas que no passado foram usadas para dar significado e propósito à nossa vida.

Muitos historiadores têm afirmado que as culturas passadas forneceram uma grande variedade de modelos atrativos para viver com sucesso. Uma pessoa poderia ser valorizada e admirada pelo fato de ser um santo, um sábio, um bom escultor, um patriota ou um cidadão honesto. Nos dias de hoje, a lógica de reduzir cada coisa a uma medida mensurável, tem feito do dinheiro uma métrica comum pela qual se avalia cada aspecto das ações humanas. Com isso, uma pessoa e suas realizações são, atualmente, valorizadas muito mais pelo preço que alcançam no mercado. Assim não é surpreendente que um grande número de pessoas sinta que a única maneira de alcançar uma vida feliz é acumulando todos os bens materiais que pode caber em suas mãos. Aliás, muitos gostariam de ter só mãos em seu corpo. Importante novamente mencionar que não estamos sugerindo que as recompensas materiais de riqueza, saúde, conforto e fama sejam depreciativas da felicidade. Estamos apenas afirmando que após um limiar mínimo – variável com a distribuição dos recursos numa dada sociedade, estas recompensas parecem ser irrelevantes.

A PSICOLOGIA DA FELICIDADE

Sendo assim, uma alternativa ao enfoque materialista é a solução denominada psicológica. Este enfoque é baseado na premissa de que, se a felicidade é um estado mental, as pessoas poderiam ser hábeis em controla-la por meios cognitivos. Naturalmente, é possível também controlar a mente farmacologicamente. Cada cultura tem desenvolvido drogas que variam desde a heroína até o álcool num esforço para melhorar a qualidade da experiência por meios químicos diretos. Todavia, ao bem-estar quimicamente induzido, falta um ingrediente vital para a felicidade: o conhecimento de que alguém é responsável por tê-la realizado. Felicidade não é alguma coisa que acontece para as pessoas, mas sim alguma coisa que elas fazem acontecer. Esta é a diferença fundamental.

O enfoque psicológico da felicidade, portanto, considera, exclusivamente os processos em que a consciência humana usa a sua habilidade de auto-organização, para realizar um estado interno positivo por meio de seus próprios esforços, sem depender de qualquer manipulação externa do sistema nervoso. Há várias maneiras de programar a mente para aumentar a felicidade ou pelo menos para evitar ser infeliz. Algumas religiões têm feito isso prometendo uma vida eterna de felicidades após a nossa existência terrena. Outras religiões têm desenvolvido técnicas complexas para controlar o fluxo de pensamentos e de sentimentos e, portanto, fornecendo meios para expulsar o conteúdo negativo da consciência. Algumas das disciplinas mais radicais e sofisticadas para o auto­ controle da mente foram desenvolvidas na Índia, culminando com os ensinamentos budistas de 25 séculos atrás. Independentemente da verdade de seu conteúdo, a fé numa ordem sobrenatural parece enriquecer o bem-estar subjetivo.

De fato, levantamentos têm indicado que há uma baixa, mas consistente correlação entre religiosidade e felicidade. A Psicologia contemporânea tem desenvolvido várias soluções que compartilham destas premissas das tradições antigas, mas diferem, drasticamente, em conteúdo e detalhes. O que é comum nelas é a suposição de que técnicas cognitivas, atribuições, atitudes e estilos perceptivos podem ajudar a mudar os efeitos das condições materiais na consciência, ajudar a reestruturar os objetivos das pessoas e, consequentemente, melhorar a qualidade da experiência. Muitos estudiosos têm desenvolvido seus conceitos teóricos com suas próprias implicações preventivas e terapêuticas.

A EXPERIÊNCIA AUTOTÉLICA

Assim estabelecido, cumpre lembrar que uma das noções recentemente introduzida para explicar a felicidade é aquela denominada experiência autotélica ou de personalidade autotélica. O conceito descreve um tipo particular de experiência que é tão absorvente e prazerosa que ela se torna autotélica, isto é, valorosa por fazer algo para o seu próprio bem, mesmo que não tenha qualquer consequência externa. Atividades crianças, música, esportes, jogos e rituais religiosos são alguns exemplos típicos deste tipo de experiência. As pessoas autotélicas são aquelas que têm com frequência tais tipos de experiências, independente do que elas estejam fazendo.

Muitos estudos têm sugerido que a felicidade depende de uma pessoa ser capaz de derivar experiências autotélicas a partir de qualquer coisa que ela faz. Em adição, os dados têm mostrado que este tipo de experiência não é limitada aos empenhos criativos. Ela também pode ser encontrada nos adolescentes que adoram estudar, nos trabalhadores que apreciam os seus trabalhos e nos motoristas que adoram dirigir. Esse tipo de experiência tem algumas características comuns. Primeiro, as pessoas reportam que conhecem muito claramente o que elas têm de fazer, passo a passo, em parte porque elas conhecem o que cada atividade exige e, em parte, porque elas estabelecem com clareza os objetivos de cada passo ou atividade. Segundo, as pessoas podem obter feedback imediato sobre o que estão fazendo. Novamente, pode ser porque as atividades fornecem informações sobre o desempenho ou porque as pessoas têm um padrão interno que torna possível conhecer se as ações realizadas alcançaram aquele padrão internalizado.

Finalmente, uma personalidade autotélica sente que suas habilidades para agir se emparelham às oportunidades para a ação. Se o desafio é muito maior para as habilidades de uma pessoa, provavelmente ela sente ansiedade ou angústia, se as habilidades são maiores que os desafios, a pessoa se sentirá entediada. Quando, porém, os desafios estão em perfeito equilíbrio com as habilidades, a pessoa se sentirá envolvida e encantada com a atividade e uma experiência genuinamente autotélica resultará.

Em resumo, as pessoas autotélicas tendem a registrar mais frequentemente estados emocionais positivos, sentem que sua vida é mais significativa e têm mais objetivos. Este conceito de experiência autotélica nos ajuda a explicar as causas contraditórias, e algumas vezes conflitantes, do que nós usualmente denominamos de felicidade. Ele explica por que é possível alcançar estados de bem-estar subjetivos por meio de diferentes caminhos: as pessoas são felizes não por causa do “que” elas fazem, mas por causa do “como” elas fazem. Devemos ter prazer num dado estado mental para nos beneficiarmos dele. Em outras palavras, o pré-requisito para a felicidade é a habilidade de estar completamente envolvido com a vida. Se as condições materiais são abundantes, tanto melhor, mas a falta de riqueza ou de saúde, não pode impedir uma pessoa de ter experiências autotélicas, quaisquer que sejam as circunstâncias que ela tenha em mãos.

É necessário também encontrar satisfação na realização de atividades que são complexas e que fornecem um potencial para o crescimento durante toda a vida e que, também, permitem a emergência de novas oportunidades para a ação e a estimulação de novas habilidades. Quando experiências positivas derivam-se de atividades físicas, mentais ou de envolvimentos emocionais plenos oriundos do trabalho, dos esportes, dos hobbies, da meditação e das relações interpessoais, então as chances para uma vida complexa que leva à felicidade certamente aumentam. Devemos finalmente lembrar, tal como John Locke alertou, que as pessoas não devem confundir felicidade imaginária com a felicidade real, e enfatizar, tal como Platão fez há 2 séculos, que a tarefa mais urgente de nossos educadores é ensinar os nossos jovens a encontrar prazer nas coisas certas. Felicidade é a harmonia entre o pensar, o dizer e o fazer (Mahatma Gandhi).

A dinâmica da felicidade2

GESTÃO E CARREIRA

DELIVERY TURBINADO

Os aplicativos que revolucionaram o mercado de entrega de refeições em domicílio devem chegar a 75% das franquias de alimentação do País.

Delivery Turbinado

O antigo disque-pizza, quem diria, deu origem a um novo e promissor negócio da era digital. As foodtechs, empresas que desenvolvem tecnologias para incrementar as vendas de alimentos prontos, são o novo grande filão do mercado de aplicativos para celular. As soluções criadas pelas startups do setor incluem desde o gerenciamento de programas de fidelidade para redes de supermercado até clubes de assinatura de cervejas e vinhos, O maior filão, porém, é representado pelas empresas que intermediam entregas de refeições em domicilio – hoje presentes em 55,4% das franquias de alimentação do País.

O “delivery turbinado”, que tem atraído empresas e investidores estrangeiros, também como chamou a atenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão autorizou, em março, a compra do aplicativo Pedidos Já pelo Naspers, um dos maiores Investidores do líder de mercado iFood. Mesmo com a anuência, o órgão vai acompanhar as novas aquisições do grupo no Brasil, assim como futuros contratos de exclusividade com restaurantes.

Com 6,6 milhões de pedidos mensais, o iFood concentra 60% do setor e quer mais, “Esperamos o mesmo crescimento para os próximos anos, com novas soluções para novos públicos”, diz Alex Anton, diretor de estratégia e novos negócios do iFood. Um exemplo é a máquina de pagamento que lançaremos em breve, afirma. Desde 2013, a empresa que nasceu da Disk Cook, realizou dez aquisições no País. Sua expansão vem incomodando alguns restaurantes, que consideram a taxa cobrada pelo serviço exagerada – o que pode ficar ainda pior no caso de uma concentração que beire o monopólio. O cade só autorizou a mais recente aquisição por entender que a concorrência é favorecida pela chegada ao Brasil de multinacionais como Uber EATS e Rappi.

 REFORMA TRABALHISTA

Uma pesquisa realizada pela consultoria ECD Food Service para a Associação Brasileira de Franchising mostra que esse mercado, já bem aquecido, é também promissor: 75% das franquias de alimentação que ainda não usam o serviço pretendem aderir. ‘A crise fez as pessoas trocarem o restaurante por refeições em casa, assim economizam com estacionamento, serviço e combustível do carro·, diz Enzo Donna, presidente da consultoria.

“Essa baixa aumentou a adesão dos estabelecimentos aos aplicativos, diz ele. Outro propulsor desse mercado foi a Reforma Trabalhista, que permitiu aos estabelecimentos terceirizarem o serviço de entrega e assim reduzirem esses custos. “Antes alguns juízes consideravam a logística parte da atividade-fim das empresas, que tinham receio de terceirizar esse trabalho”, diz Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.

Delivery turbinado2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 1 – 3

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Predições Terríveis

Aqui, temos:

I –  Cristo deixando o Templo, e concluindo o seu trabalho público ali. Ele havia dito, no final do capítulo anterior: ”A vossa casa vos ficará deserta”; e aqui Ele cumpre suas palavras: “Jesus ia saindo do templo”. A expressão é notável; Ele não apenas saiu do Templo, mas partiu dele, deu-lhe o seu último adeus. Ele partiu, para nunca mais voltar ali. E imediatamente segue-se uma predição da sua destruição. Observe que aquela casa realmente é deixada deserta quando Cristo parte. ”Ai deles, quando deles me apartar” (Oseias 9.12; veja Jeremias 6.8). Então era a hora de lamentar a sua Icabô, “Foi-se a glória”, “retirou-se deles o seu amparo”. Três dias depois disso, o véu do Templo se rasgou; quando Cristo o deixou, tudo ali tornou-se “comum e impuro”; mas Cristo não partiu, até que eles o expulsassem; não os rejeitou, até que eles o rejeitassem primeiro.

II – O sermão particular de Jesus aos seus discípulos. Ele deixou o Templo, mas não deixou os doze, que seriam a semente da igreja cristã, enriquecida pela expulsão dos judeus. Quando Ele deixou o Templo, os seus discípulos também o deixaram, e aproximaram-se dele. Observe que é bom estar onde Cristo está, e abandonar aquilo que Ele abandona. Eles aproximaram-se dele para serem instruídos em particular, quando a sua pregação pública estivesse concluída, pois “o segredo do Senhor é para os que o temem”. Ele tinha falado à multidão sobre a destruição da instituição judaica sob a forma de parábolas, que aqui, como normalmente fazia, Ele explica aos seus discípulos. Observe:

1. ”Aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo “. Era uma estrutura muito bonita, e majestosa, uma das maravilhas do mundo; nenhum custo foi poupado, nenhum tipo de arte foi deixado de lado, para torná-lo suntuoso. Embora ele não se comparasse ao Templo de Salomão, e fosse pequeno no início, ele realmente cresceu mais tarde. Ele era ricamente adornado com ofertas, às quais contínuos acréscimos eram feitos. Eles mostraram a Cristo essas coisas, e desejaram que Ele também as observasse:

(1) Porque eles mesmos estavam muito satisfeitos com elas, e esperavam que Ele também estivesse. Eles tinham vivido principalmente na Galileia, distantes do templo, raras vezes o tinham visto, e, portanto, estavam grandemente tocados de admiração por ele, e pensaram que Jesus admiraria toda essa glória, tanto quanto eles (Genesis 31.1); e eles queriam que Ele se distraísse (depois da sua pregação, e da sua tristeza, que eles viam que talvez quase o esmagasse) olhando à sua volta. Observe que até mesmo os homens bons são capazes de ficar excessivamente impressionados com a pompa exterior e a alegria, e de supervalorizá-las, até mesmo nas coisas de Deus; quando deveriam estar, como Cristo estava, insensíveis a isso, e considerá-las com desprezo. O Templo era verdadeiramente glorioso, mas:

[1] A sua glória estava suja e manchada com o pecado dos sacerdotes e do povo; aquela doutrina maléfica dos fariseus, que preferiam o ouro ao Templo que o santificava, era suficiente para desfigurar a beleza de todos os ornamentos do Templo.

[2] A sua glória era eclipsada e destruída pela presença de Cristo nele, pois Ele era a glória “desta última casa” (Ageu 2.9), de modo que o edifício não tinha glória, em comparação com esta glória que se sobressaía.

Ou:

(2) Porque lamentavam que esta casa ficasse deserta. Eles lhe mostraram as estruturas, como se pudessem motivá-lo a reverter a sentença; “Senhor, não permita que esta casa santa e bela, onde os nossos pais o louvaram, fique deserta”. Eles se esqueceram de quantas providências, a respeito do Templo de Salomão, tinham evidenciado quão pouco Deus se importava com esta glória externa que eles tanto tinham admirado. Deus se preocupava mais com as pessoas; se eram boas ou más (2 Crônicas 7.21). Essa casa, que é exaltada, o pecado destruirá. Cristo tinha, recentemente, considerado as almas preciosas, e chorado por elas (Lucas 19.41). Os discípulos consideram as estruturas pomposas, e estão prontos a chorar por elas. Nisso, como em outras coisas, os pensamentos do Senhor não são como os nossos. Era uma fraqueza, e pobreza de espírito, dos discípulos, preocuparem-se tanto com as lindas estruturas; isto era uma infantilidade.

2. Cristo, em seguida, prediz a destruição completa que estava por vir a este lugar (v. 2). Observe que uma previsão confiante da desfiguração de toda a glória mundana irá nos ajudar para que deixemos de admirá-la e supervalorizá-la. O corpo mais bonito, em breve, será alimento de vermes, e o edifício mais bonito, um monte de ruínas. E então nós colocaremos os nossos olhos naquilo que, em breve, não mais existirá, e dedicaremos tanta admiração àquilo que, dentro de pouco tempo, consideraremos com tanto desprezo? “Não vedes tudo isto?” Eles queriam que Cristo considerasse essas coisas, e se importasse tanto com elas como eles se importavam. Ele queria que eles estivessem tão mortos para essas coisas como Ele estava. Existe uma visão dessas coisas que nos fará bem; vê-las de modo a ver através delas, e ver o fim delas.

Cristo, ao invés de reverter as suas palavras, as confirma: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”.

(1) Ele fala disso como uma destruição certa. “‘Eu vos digo’. Eu, que sei o que Eu digo, e sei como fazer cumprir o que Eu digo. Aceitai a minha palavra, pois isto irá acontecer. Eu, o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, vos digo isto”. Como todo o julgamento pertence ao Filho, as ameaças, assim como as promessas, são nele sim; e por ele o Amém (Hebreus 6.17,18; 2 Coríntios 1.20).

(2) Ele fala disso como uma destruição completa. O Templo não será somente despojado, e saqueado, e desfigurado, mas será completamente demolido e devastado: “Não ficará aqui pedra sobre pedra”. Na construção do segundo Templo, chamou-se a atenção para a colocação de pedra sobre pedra (Ageu 2.15); e aqui, na destruição, para não deixar pedra sobre pedra. A história nos conta que isto se cumpriu mais tarde; pois embora Tito, quando tomou a cidade, tivesse feito tudo o que podia para preservar o Templo, não conseguiu impedir que os soldados furiosos o destruíssem completamente; e isto foi feito a tal ponto, que Turno Rufo arou o local onde ele tinha estado; assim se cumpriu esta passagem das Escrituras (Miqueias 3.12): “Por causa de vós, Sião será lavrado como um campo”. E depois disso, na época de Juliano, o Apóstata (quando ele incentivou os judeus a reconstruírem o Templo, em oposição à religião cristã), aquilo que restava das ruínas foi completamente destruído, para nivelar o terreno, para uma nova fundação; mas a tentativa foi frustrada pela milagrosa erupção de fogo no terreno, que destruiu a fundação que eles tinham lançado, e assustou os construtores. Esta predição da destruição final e irreparável do Templo inclui uma predição do fim do sacerdócio levítico e da lei cerimonial.

3. Os discípulos, não discutindo nem a verdade nem a justiça dessa sentença, nem duvidando do seu cumprimento, perguntam mais especificamente sobre quando isso viria a acontecer, e sobre os sinais de que isso estivesse próximo (v. 3). Observe:

(1) Quando eles fizeram essa pergunta: em particular, quando Ele estava “assentado no monte das Oliveiras”. Provavelmente, Ele estava voltando para Betânia, e ali sentou-se, para descansar. O monte das Oliveiras estava voltado diretamente para o Templo, e dali Ele podia ter uma visão geral do Templo, a alguma distância. Ali Ele sentou-se, como um Juiz no tribunal, tendo o templo e a cidade diante de si, como na corte; e assim Ele passou a sua sentença sobre eles. Nós lemos (Ezequiel 11.23) sob moção da glória do Senhor do Templo para o monte; as­ sim Cristo, o grande Shequiná, aqui vai para este monte.

(1) Qual foi a pergunta propriamente dita: “Quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” Aqui há três perguntas.

[1] Alguns pensam que todas essas perguntas apontam para uma única coisa – a própria destruição do templo e o fim da organização religiosa e da nação judaicas, de que o próprio Cristo tinha falado como sendo a sua vinda (cap. 26.28), e que seriam a consumação dos tempos (pois assim pode ser interpretado), o final daquela dispensação. Ou pensam que a destruição do Templo precisa ser o fim do mundo. Se aquela construção fosse destruída, o mundo não poderia continuar; pois os rabinos costumavam dizer que a casa do santuário era um dos sete motivos pelos quais o mundo fora criado; e eles pensavam que o mundo não sobreviveria ao Templo.

[2] Outros opinam que a pergunta: “Quando serão essas coisas?” se refere à destruição de Jerusalém, e as outras duas se referem ao fim do mundo, ou a vinda de Cristo pode se referir à fundação do seu reino mencionado no Evangelho, e o fim do mundo ao dia do juízo. Eu estou inclinado a pensar que a sua pergunta não ia além do evento que Cristo então predizia; mas parece, por outras passagens, que os discípulos tinham ideias muito confusas sobre os eventos futuros, de modo que talvez não seja possível atribuir nenhum significado seguro a essa pergunta.

Mas Cristo, na sua resposta, embora não corrija expressamente os enganos dos seus discípulos (isto deverá ser feito através do derramamento do Espírito), ainda vai além da pergunta deles, e instrui a sua igreja, não somente a respeito dos grandes acontecimentos daquela época, da destruição de Jerusalém, mas também ares­ peito da sua segunda vinda, no final dos tempos, sobre o que Ele passa, de maneira imperceptível, a falar aqui, e de que Ele fala claramente no próximo capítulo, que é uma continuação desse sermão.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SERÁ MESMO UMA QUESTÃO DE SORTE (!?)

Muitos desconhecem o conceito de felicidade, aplicando-o equivocadamente e banalizando a formação de opinião. Quem perde com isso é toda uma sociedade

Será mesmo questão de sorte

Há quem diga, criticando a Psicologia Positiva, que a busca pela felicidade é um “modismo americano”. Pois acreditar que o movimento de Martin Seligman inaugurou a busca do homem por uma vida feliz beira a ingenuidade. Desde a Era pré-Cristã, temos registros filosóficos acerca da felicidade, bem como uma série de recomendações de importantes pensadores sobre os melhores caminhos para atingi-la. Além do próprio Aristóteles e sua proposta de eudaimonia, sobre a qual não discutirei neste artigo, agrada-me em especial algumas reflexões de Sêneca, filósofo contemporâneo de Cristo que, ao refletir sobre o tema felicidade frente à sociedade de sua época, recomendava: “aquele que quiser ser feliz, a primeira coisa que deve fazer é negar-se seguir a multidão”. Sêneca fazia tal recomendação pelo simples fato de que, ao observar a sociedade de sua época, não parecia encontrar uma maioria feliz.

Passados mais de dois mil anos e a despeito do que é veiculado (e fabricado) nas mídias sociais, olho ao meu redor e chego à mesma conclusão. Não acredito que a maioria das pessoas seja feliz. Quero, contudo, deixar claro que esta não se trata de uma afirmação científica, mas, uma mera opinião pessoal.

OUTROS OLHARES

CRIANÇAS APARTADAS DOS PAIS

A política de tolerância zero do governo Trump separa milhares de famílias de imigrantes ilegais, levando crianças a gritos de desespero.

Crianlas apartadas dos pais

Suas vozes frágeis e seus corpos miúdos sugerem que elas não têm mais de 7anos, mas já conhecem a brutal realidade dos desventurados cuja sina é cruzar fronteiras para sobreviver. O drama das crianças tiradas dos braços de seus pais e mães pela “política de tolerância zero” do governo americano tem comovido o mundo e dividido o país do presidente Donald Trump. Os relatos são de solidão e desespero para essas famílias divididas, que, não raro, mal podem se comunicar com o mundo exterior nem conseguem informações sobre o paradeiro de seus parentes após terem cruzado fronteira do México para os EUA em busca de uma vida menos difícil. Em vez de encontrarem a realização de seu “sonho americano”, elas vêm sendo recebidas por uma prática de hostilidade reforçada na zona fronteiriça, que separou mais de 2.200 crianças de seus pais desde abril.

As famílias mais afetadas pela nova prática da Casa Branca, que agora processa criminalmente pais e os leva a presídio enquanto filhos são mantidos em abrigos temporários, têm sido as hondurenhas, as guatemaltecas e as mexicanas. Mas há também brasileiros experimentando esse sofrimento, e alguns nem mesmo entraram ilegalmente nos EUA, mas sim pediram asilo político. É o caso da avó Maria Bastos e seu neto autista, Matheus, que há dez meses não se encontram, separados por mais de 2.000 quilômetros em um país estranho. Enquanto isso, um menino brasileiro de 9 anos esperou em vão por 22 dias por telefonemas no abrigo. Seu pai não consegue falar com ele enquanto está detido no estado do Novo México e já perdeu 13 quilos durante esse tempo no cárcere, onde estão presos também condenados por diversos outros crimes

Um áudio divulgado pela Pro Publica organização jornalística sem fins lucrativos, registrou o momento em que dez crianças centro-americanas foram separadas dos pais. Elas choram, soluçam e soltam gritos agudos. Mas, de um agente migratório, o que essas crianças ouvem é: “Bem, temos uma orquestra aqui. Só falta o maestro”.

Enquanto os pais nos presídios se preocupam com as condições dos filhos, crianças e adolescentes detidos se sentem abandonados. Antar Davidson, americano de origem brasileira que trabalhou num centro de acolhimento para menores em Tucson, no Arizona, afirmou que os apreendidos dão sinais diários de instabilidade emocional, depressão e rebeldia. Durante vários meses 300 menores entre 4 e 17 anos não receberam educação nem ajuda psicológica apropriadas. Ele contou que três irmãos brasileiros foram proibidos de se abraçar.

“Isso é inacreditável. Autoridades do governo Trump estão enviando bebês e crianças pequenas… desculpem… há pelo menos três…” Foi o que conseguiu dizer Rachel Maddow, âncora da MSNBC, antes de se render às lágrimas ao tentar noticiar o drama infantil latino-americano, num vídeo que já viralizou. Os relatos cruéis sobre as separações familiares vêm dominando a imprensa americana nos últimos dias e, assim, pressionando o governo a se explicar sobre as consequências de sua nova política.

Crianças têm sido colocadas em enormes estruturas parcialmente improvisadas, algumas das quais já são chamadas de “cidades-tenda”. No Texas, por exemplo, edifícios que serviam como lojas de departamentos se converteram em um abrigo para quase 1.500 meninos entre 10 e 17 anos. Lá, durante duas horas do dia, os menores podem sair ao ar livre. Relatos na imprensa falam também de abrigos rodeados por cercas, provocando comparações com verdadeiras prisões.

 Antes de chegarem a esses abrigos, os pequenos migrantes devem passar por centros de processamento, em que são colocados em celas que mais parecem jaulas feitas de metal. Em imagens divulgadas pelo próprio governo, crianças – algumas aparentando ter 4 ou 5 anos – aparecem deitadas em colchões bem finos com cobertores de alumínio, do tipo usado por corredores após maratonas.

O maior de todos os medos, pata filhos e pais, é nunca mais verem uns aos outros, o que em alguns casos não é impossível. A deportação dos guardiões legais torna altamente desafiadora: a reunificação familiar para quem, de volta ao seu país de origem, tem poucos meios legais disponíveis. Alguns pais, inclusive, recebem ofertas da Justiça para serem soltos e reverem seus filhos se desistirem do pedido de refúgio. A ONG Anistia internacional chamou essa prática de tortura, explicando que se trata da “imposição deliberada de sofrimento extremo para evitar comportamentos indesejados pelo governo.

“A vasta maioria das famílias se apresentou legalmente. Não há justificativa para isso. Precisa parar agora, e as famílias devem ser reunificadas”, disse Brian Griffey, pesquisador da organização que se encontrou com duas famílias brasileiras detidas nessas circunstâncias.

Na quarta-feira, Trump, criticado dentro e fora de seu país, inclusive em seu Partido Republicano, anunciou um decreto para que as famílias sem documentos fossem mantidas juntas, evitando a separação de pais e filhos. Mas, com apenas três centros de detenção familiar em todo o país, não está claro como isso pode acontecer. O republicano vem seu reforço na vigilância migratória como moeda de troca para negociar com democratas sua desejada reforma bipartidária sobre o assunto, em que a construção de um muro na fronteira com o México é o carro-chefe.

Crianlas apartadas dos pais.2

GESTÃO E CARREIRA

 POR QUE OS LÍDERES FALHAM?

 Por que os líderes falham

As frases e os incentivos proferidos por Henrique V na famosa batalha de Agincourt destacam-se entre as maiores passagens escritas por Shakespeare, aflorando todo seu patriotismo. Com enorme habilidade, Henrique estimulava seus soldados para que continuassem lutando, não importando que, do outro lado, para cada inglês havia cinco franceses. E vaticina: “De hoje até o fim dos tempos nós seremos lembrados. Nós, os afortunados, nós, os irmãos. Pois aquele que hoje sangra comigo será o meu irmão”.

Líderes são bem-sucedidos, até que falhem. Assumir riscos e eventualmente falhar é da natureza da liderança. De acordo com recente estudo do Center for Creative Leadership, cerca de 40% dos novos diretores executivos falham em seus primeiros 18 meses no cargo, e um percentual ainda maior não consegue viver de acordo com as expectativas de quem os contratou. Parte desse fenômeno pode ser explicada por processos de seleção ineficientes e pela ausência de acompanhamento e suporte.

Um líder eficaz aprende com o fracasso e avança. Entretanto, existem falhas na liderança, não necessariamente associadas à assunção de riscos, que podem comprometer e paralisar uma organização. O esforço da organização para destilar as razões e causas dessas falhas é indispensável. Negligenciar essas causas sufoca a capacidade da empresa de buscar novas oportunidades e impede o avanço das organizações. Mesmo que se possa atribuir esses infortúnios ao azar ou timing equivocado, pesquisas têm sugeri do que, dentre as principais causas, encontra-se a inaptidão cognitiva e comportamental. Primeiro porque existe uma tendência inconsciente do líder em atribuir maior relevância às informações que vão ao encontro de suas crenças. hipóteses e experiências recentes. em detrimento de variáveis conflitantes.

Muitos líderes criam, involuntariamente, barreiras pessoais que corroem sua capacidade de manter os princípios de liderança, rigor metodológico em motivação. Por outro lado, o excesso de confiança conduz os líderes a superestimar sua capacidade de gerenciar o negócio, assumindo riscos demasiados na expectativa de que tenham controle sobre suas consequências. É importante que os líderes compreendam que suas habilidades, conhecimento, experiência e liderança serão continuamente desafiados em um mercado cada vez mais volátil e complexo. A liderança tem de ser adaptável.

Em outras palavras, o pensamento que tornou possível o sucesso de ontem pode ser, eventualmente, o mesmo pensamento que resultará em seu fracasso amanhã. Em contrapartida, a credibilidade de um líder é consequência de dois aspectos: o que faz sua competência e o que é seu caráter. A discrepância entre esses cria um problema de integridade. Quando a integridade deixa de ser prioridade para um líder, a obtenção de resultados torna-se mais importante do que os meios utilizados para sua realização. É nesse momento que o líder adentra um terreno pantanoso, onde a ética é de conveniência. Muitas vezes esses líderes enxergam seus liderados como simples peões, confundindo manipulação com liderança. Esses líderes não têm empatia. Liderança é, também, ascendência moral. Por fim, a liderança não pode ser um fardo. Deve ser gratificante e, até mesmo, divertida. Um líder deve caminhar convencido de que toda tarefa, não importando sua dimensão, o leva cada vez mais perto de seus sonhos.

Ao elaborar a fórmula da liderança, o especialista em comportamento organizacional e professor Nigel Nicholson ensina: “A eficácia da liderança envolve ser a pessoa certa no momento e no lugar certo, fazendo a coisa certa”. Isso significa que a liderança pode assumir variadas formas para uma infinidade de situações, e os líderes falham quando o seu modelo, insight ou relacionamentos estão errados.

 

ANDRIEI JOSÉ BEBER – é professor da FGV, especialista e palestrante nas áreas de finança, gestão e governança, e doutor em engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE III

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A Parábola da figueira. Predições terríveis. O dever da vigilância. O bom e o mau administrador

III – Há aqui uma exortação geral a nós, para que vigiemos e estejamos preparados para aquele dia que se aproxima, uma exortação reforçada por diversas considerações importantes (vv.42ss). Considere:

1.  A tarefa exigida: “Vigiai. pois. porque não sabeis a que hora há de v:ir…estai vós apercebidos (vv. 42,44).

(1)  “Vigiai, pois” (v. 42). Observe que vigiar é o maior dever e interesse de todos os discípulos de Cristo, que devem estar e se manterem despertos, para que possam cuidar da sua vida. Assim como um estado ou comporta ­ mento pecaminoso é comparado a dormir, como estando desacordado e inativo (1 Tessalonicenses 5.6), também um estado ou comportamento de graça é comparado a vigiar e despertar. Nós devemos esperar a vinda do nosso Senhor, a nós, em particular, na nossa morte, depois da qual segue-se o juízo, que é o grande dia para nós, o fim do nosso tempo; e a sua vinda no final de todos os tempos, para julgar o mundo, o grande dia para toda a humanidade. Vigiar implica não somente em crer que o nosso Senhor virá, mas também desejar que Ele venha, estar sempre pensando na sua vinda, e procurá-la como sendo certa e próxima, embora a sua ocasião seja desconhecida. Vigiar pela vinda de Cristo é manter aquele espírito de graça e aquela disposição mental com que devemos estar desejosos de que o nosso Senhor, quando vier, nos encontre. Vigiar é estar ciente das primeiras notícias da sua chegada, para que possamos imediatamente atender às suas ordens, e nos apresentarmos ao dever de encontrá-lo. Vigiar é uma atitude que ocorre, supostamente, à noite, que é o horário de dormir; enquanto nós estivermos neste mundo, a noite estará conosco, e precisaremos nos esforçar para nos mantermos despertos.

(2)  “Estai vós apercebidos também”. Nós desperta­ remos em vão, se não estivermos preparados. Não é suficiente procurar tais coisas; devemos, portanto, viver de forma diligente (2 Pedro 3.11,14). Nós teremos o nosso Senhor, a quem deveremos acompanhar, e assim precisaremos ter as nossas lâmpadas prontas. Há uma causa para ser julgada, e nós devemos ter a nossa apelação já preparada e assinada pelo nosso Advogado; uma prestação de contas para fazer, e devemos ter as nossas contas já declaradas e equilibradas. Existe uma herança que esperamos receber, e nós devemos estar preparados, dignos de participar dela (Colossenses 1.12).

2. As razões que nos induzem a essa vigilância e preparação diligente para aquele dia; e são duas.

(1)  Porque o dia da vinda do nosso Senhor é completamente incerto. Esta é a razão imediatamente anexa à dupla exortação (vv. 42,44), e é exemplificada por uma comparação (v. 43). Consideremos:

[1] Que não sabemos a que hora há de vir o nosso Senhor (v. 42). Nós não sabemos o dia da nossa morte (Genesis 27.2). Podemos saber que temos apenas pouco tempo de vida (“O tempo da minha partida está próximo”, 2 Timóteo 4.6), mas não podemos saber quanto tempo teremos, pois as nossas almas estão continuamente em nossas mãos. Também não podemos saber quanto tempo de vida nos resta, pois pode acabar sendo menos do que esperávamos; muito menos sabemos o dia fixado para o grande juízo. A respeito dos dois dias, nós somos mantidos na incerteza, para que possamos, todos os dias, esperar por aquilo que poderá vir qualquer dia; nunca podemos nos orgulhar de mais um ano (Tiago 4.13), não, nem do retorno do amanhã, como se este nos pertencesse (Provérbios 27.1; Lucas 12.20).

[2] Que Ele há de vir à hora em que não pensamos (v. 44). Embora exista tal incerteza quanto à hora, não há nenhuma incerteza quanto à sua vinda. Embora não saibamos quando Ele virá, temos plena certeza de que Ele virá. As suas palavras de despedida foram: “Certamente, cedo venho”. As suas palavras: “Certamente venho”, nos compelem a esperá-lo. As suas palavras: “Cedo venho”, nos compelem a estar sempre esperando por Ele; pois isto nos deixa numa condição de expectativa. “À hora em que não penseis”, isto é, nesta hora, quando não estão prontos nem preparados, quando nem imaginam (v. 50); ou melhor, numa hora, naquela em que a maioria consideraria improvável. O esposo veio quando as prudentes estavam dormindo. E conveniente à nossa condição atual que estejamos sob a influência de uma expectativa geral e constante, em vez da influência de presságios e prognósticos particulares, que, às vezes, somos tentados, inutilmente, a desejar e esperar.

[3] Para que os filhos deste mundo sejam, consequentemente, sábios na sua geração, para que, se souberem de um perigo próximo, se mantenham despertos e mantenham a sua guarda contra este. O Senhor nos mostra isso em um exemplo particular (v. 43). Se o pai de família soubesse que um ladrão viria em certa noite, e a certa vigília da noite (pois a noite era dividida em quatro vigílias, de três horas cada uma), e tentaria arrombar a sua casa, ainda que fosse a vigília da meia-noite, quando ele teria mais sono, ainda assim estaria acordado, ouviria todos os ruídos em todos os cantos, e estaria preparado para oferecer ao ladrão a resistência adequada. Embora nós não saibamos exatamente quando o nosso Senhor virá, ainda assim, sabendo que Ele virá, e que virá sem demora, e sem nenhum outro aviso além dos que Ele já deu em sua Palavra, é interesse nosso vigiar sempre. Observe, em primeiro lugar, que cada um de nós tem uma casa para manter, que está exposta; tudo o que temos está nesta casa. Esta casa é a nossa própria alma, que nós devemos conservar com toda a diligência. Em segundo lugar, o dia do Senhor vem inesperadamente, como um ladrão. Cristo decide vir quando Ele é menos esperado, para que os triunfos dos seus inimigos possam ser convertidos na maior vergonha deles, e os temores dos seus amigos se transformem na maior alegria. Em terceiro lugar, se Cristo, quando vier, nos encontrar adormecidos e despreparados, a nossa casa será invadida e nós perderemos tudo o que tivermos, não injustamente, para um ladrão, mas por um processo justo e legal. A morte e o juízo tomarão tudo o que os despreparados tiverem, para seu prejuízo irreparável e completa destruição. Por isso, devemos estar preparados; “estai vós apercebidos também”; tão preparados, em todos os momentos, como o bom homem da casa estaria à hora em que esperasse o ladrão; nós devemos vestir a armadura de Deus para que possamos não apenas permanecer naquele dia mau, mas para que, como mais que vencedores, possamos repartir os despojos.

(2)  Porque o resultado da vinda do nosso Senhor será muito feliz e consolador para aqueles que forem encontrados preparados, mas muito triste e assustador para os demais (vv.45ss.). Isto é representa do pela situação diferente do servo bom e do mau, quando o seu senhor vem para acertar as contas com eles. Será bom ou mau para nós, por toda a eternidade; tudo depende de sermos encontrados preparados ou despreparados, naquele dia, pois Cristo dará a cada um segundo as suas obras. Esta parábola, que conclui o capítulo, se aplica a todos os cristãos, que são, por profissão e obrigação, servos de Deus. Mas ela parece destinada, em especial, como uma advertência aos ministros, pois o servo de que se fala é um administrador. Observe o que Cristo diz aqui:

[1] A respeito do servo bom. O Senhor mostra aqui que aquele é um administrador da casa; sendo assim, ele deveria ser fiel e prudente; e se fosse assim, seria eternamente bem-aventurado. Aqui há boas instruções e bons incentivos aos ministros de Cristo.

Em primeiro lugar, temos aqui o seu lugar e trabalho. Ele é aquele que o Senhor tornou administrador da sua casa, para dar o sustento a cada um a seu tempo. Observe:

1. A igreja de Cristo é a sua casa, ou família. Ele é o Pai e Mestre. É a casa de Deus, uma família que toma o nome de Cristo (Efésios 3.15).

2. Os ministros do Evangelho são nomeados administradores nessa casa. Não como príncipes (Cristo advertiu contra isso), mas como administradores, ou outros encarregados subordinados; não como senhores, mas como guias; não para prescrever novos caminhos, mas para mostrar e conduzir nos caminhos que Cristo indicou. Este é o significado de hegoum enoi, que traduzimos: governando sobre vós (Hebreus 13.17). Como supervisores, não para interromper nenhum novo trabalho, mas para orientar e acelerar a obra que Cristo ordenou; este é o significado de episcopoi bispos. Eles são governantes por Cristo; qualquer poder que eles tenham deriva dele, e ninguém pode tomá-lo deles, ou reduzi-lo. Jesus é aquele a quem Deus Pai fez governante; e Cristo tem o poder de fazer ministros. Eles são governantes sob Cristo, agindo subordinados a Ele; e governantes para Cristo, para o progresso do seu reino.

3. O trabalho dos ministros do Evangelho é de dar à casa de Cristo o seu sustento a seu tempo, como administradores, e por isso eles têm as chaves da casa.

(1) O seu trabalho é dar, e não tomar para si mesmos (Ezequiel 34.8), mas dar à família o que o Mestre trouxe, distribuir o que Cristo comprou. E aos ministros foi dito: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (Atos 20.35).

(2) Trata-se de dar sustento, e não a lei (isto é função de Cristo), mas transmitir à igreja essas doutrinas, que, se devidamente digeridas, serão alimento para as almas. Eles devem dar, não o veneno das falsas doutrinas, não as pedras das doutrinas duras e infrutíferas, mas o sustento que é saudável e que faz bem.

(3) O sustento deve ser dado a seu tempo, en kairo enquanto há tempo para isso; quando vier a eternidade, será tarde demais; nós precisamos trabalhar enquanto é dia: isto é, sempre que houver qualquer oportunidade; ou no tempo indicado, continuamente, conforme exija o de­ ver de cada dia.

Em segundo lugar, a sua liberação desse ofício. O bom servo, se assim o preferir, será um bom administrador; pois:

1. Ele é fiel; os administradores devem ser fiéis (1 Coríntios 4.2). Aquele a quem algo é confiado, deve ser confiável; e quanto mais lhe é confiado, mais se espera dele. É uma coisa boa e grandiosa que é confiada aos ministros (2 Timóteo 1.14); e eles precisam ser fiéis, como Moisés também o foi (Hebreus 3.2). Cristo considera os ministros que são fiéis, e somente eles (1 Timóteo 1.12). Um ministro fiel de Jesus Cristo é alguém que deseja sinceramente a honra do seu Mestre, não a sua própria; este transmite integralmente a Palavra de Deus, não as suas próprias fantasias e ideias; ele segue as instituições de Cristo e adere a elas; considera os mais humildes, reprova os mais poderosos e não respeita a aparência das pessoas.

2. Ele é sábio para compreender o seu dever e a ocasião apropriada para ele. E para guiar o rebanho é necessária não apenas a integridade do coração, mas a habilidade das mãos. A honestidade pode ser suficiente para um bom servo, mas a sabedoria é necessária para um bom administrador; pois orientar é um trabalho frutífero.

3. Ele trabalha, como exige o seu cargo. O ministério é uma boa obra, e aqueles que têm este trabalho sempre têm alguma coisa para fazer; eles não devem permitir-se descansar, nem deixar o trabalho inacabado, nem descuidadamente passá-lo a outros, mas precisam estar trabalhando, e trabalhando para alcançar os objetivos do seu trabalho, dando sustento à casa, cuidando dos seus deveres e não se envolvendo no que não lhe diz respeito; trabalhando como o Mestre ordenou, como importa ao cargo, e como exige a situação da família; não conversar, mas trabalhar. Este era o lema que o Sr. Perkins usava: Minister verbi es Você é um ministro da Palavra. Não apenas Age Trabalhe, mas Hoc age Trabalhe assim.

1- Ele é encontrado trabalhando quando chega o seu Mestre, o que indica:

(1) Constância no seu trabalho. A qualquer hora em que chegue o seu Mestre, ele será encontrado ocupado com o trabalho. Os ministros não devem deixar lacunas no seu tempo, para que o Senhor não os encontre parados por ocasião da sua volta. Assim como para o Deus benigno o fim de uma misericórdia é o início de outra, também para um homem bom, um bom ministro, o fim de um dever é o início de outro. Quando tentaram persuadir Calvino a diminuir os seus deveres ministeriais, ele respondeu, com ressentimento: “Vocês desejam que o meu Mestre me encontre ocioso?”

(2) Perseverança no seu trabalho, até a chegada do Senhor. “Retende-o até que eu venha” (Apocalipse 2.25). “Persevera nestas coisas” (1 Timóteo 4.16; 6.14). Persevere até o fim.

Em terceiro lugar, a recompensa destinada ao servo fiel, em três aspectos:

1. Ele será notado. Isto está indicado nestas palavras: “Quem é, pois, o servo fiel e prudente?” Isto dá a entender que poucos têm esta qualidade; um administrador tão fiel e prudente será um entre mil. Àqueles que se distinguirem pela humildade, diligência e sinceridade no seu trabalho, Cristo, no grande dia, honrará e distinguirá através da glória que lhes será conferida.

2. Ele será bem-aventurado. “Bem-aventurado aquele servo”; e Cristo, ao dizer isto, o torna bem-aventurado. “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor” (Apocalipse 14.13). Mas há uma bênção especial garantida àqueles que se mostram administradores fiéis, e são encontrados trabalhando. Ao lado da honra daqueles que morrem no campo de batalha, sofrendo por Cristo, como os mártires, está a honra daqueles que morrem no campo de trabalho, arando, e semeando, e colhendo, por Cristo.

3. Ele será preferido (v. 47); [Ele] “o porá sobre todos os seus bens”. A alusão é ao caminho dos grandes homens: se os administradores da sua casa se conduzem bem, eles normalmente os preferem para que sejam os administradores das suas propriedades. Assim José foi preferido na casa de Potifar (Genesis 29.4,6). Mas a maior honra que o senhor mais gentil já fez aos seus servos mais experimentados neste mundo não é nada, quando comparada ao peso da glória que o Senhor Jesus irá conferir aos seus servos fiéis e vigilantes, no mundo vindouro. O que aqui é dito, em comparação, é a mesma coisa dita, mais claramente, em João 12.26: “Meu Pai o honrará”. E os servos de Deus, quando assim preferidos, serão perfeitos em sabedoria e santidade, para sustentar o peso daquela glória, para que estes servos não representem perigo, quando reinarem.

[2] A respeito do servo mau, temos aqui:

Em primeiro lugar, a descrição que é dada a respeito dele (vv. 48,49), onde temos o infeliz com as suas características. A mais vil das criaturas é um homem mau, o mais vil dos homens é um mau cristão, e o mais vil entre eles é um mau ministro. O que é melhor; quando corrompido, torna-se o pior. A maldade nos profetas de Jerusalém é verdadeiramente uma coisa horrível (Jeremias 23.14). Aqui está:

1. A causa da sua maldade, que é uma descrença prática na segunda vinda de Cristo. Ele diz no seu coração: o meu Senhor atrasa a sua vinda; e por isso começa a pensar que Ele nunca virá, e que abandonou a sua igreja. Considere que:

(1) Cristo sabe o que dizem, nos seus corações, aqueles que com seus lábios clamam: “Senhor, Senhor”, como este servo.

(2) A demora da vinda de Cristo, embora seja um exemplo gracioso da sua paciência, é muito mal interpretada pelas pessoas más, cujos corações, desta maneira, se endurecem, com os seus métodos de iniquidade. Quando a vinda de Cristo é considerada duvidosa, ou algo que está a uma distância imensa, o coração do homem se torna inteiramente disposto a praticar o mal (Eclesiastes 8.11). Veja Ezequiel 12.27. Aqueles que caminham pelos seus sentidos estão prontos para falar, a respeito do Jesus invisível, como o povo falou sobre Moisés, quando ele se demorou no monte, depois da sua peregrinação: “Não sabemos o que lhe sucedeu” portanto “levanta-te, faze-nos deuses”; o mundo é um deus, o nosso ventre é um deus, qualquer coisa pode ser um deus, porém nunca será o Deus verdadeiro.

2. As particularidades da sua iniquidade. E esses são pecados de primeira grandeza; o ímpio é um escravo das suas paixões e dos seus apetites.

(1)  Aqui ele é acusado de perseguição. Ele começa a espancar os seus conservos. Veja que:

[1] Até mesmo os administradores mais importantes da casa devem considerar os servos da casa como seus conservos, e por isso estão proibidos de agir como se fossem senhores deles. Se o anjo se considerava conservo de João (Apocalipse 19.10), não é de admirar que João tivesse aprendido a se considerar um irmão dos cristãos das igrejas da Ásia (Apocalipse 1.9).

[2] Não é novidade ver maus servos ferindo os seus conservos; tanto cristãos em particular quanto ministros fiéis. Ele os fere, seja porque eles o reprovam, seja porque eles não o reverenciam; não dizem o que ele diz, e não fazem o que ele faz, agindo contra as suas consciências: ele os fere com a língua, da mesma maneira como eles feriram o profeta (Jeremias 18.18). E se ele tiver poder nas mãos, ou puder pressionar aqueles que o têm, como os dez chifres sobre a cabeça da besta, isso continuará. Pasur, o sacerdote, feriu o profeta Jeremias, e o meteu no tronco (Jeremias 20.2). Aqueles que se insurgem contra Deus têm descido até ao profundo, na matança (Oseias 5.2). Quando o administrador fere os seus conservos, o faz deturpando a autoridade do seu Mestre, e no seu nome. Ele diz: “O Senhor seja glorificado” (Isaias 66.5), mas ele virá a saber que não poderia ter feito afronta pior ao seu Mestre.

(2) Profanação e imoralidade. Ele começa a comer e a beber com os bêbados.

[1] Ele se associa aos piores pecadores, se relaciona com eles, é íntimo deles. Ele caminha sob a orientação deles, segue o caminho deles, senta-se na cadeira deles e canta as canções deles. Os bêbados são os companheiros, alegres e joviais, e aqueles a quem ele prefere, e por isso ele fortalece a sua iniquidade.

[2] Ele age como eles; “come, e bebe e folga”, assim consta no texto de Lucas. Isto é uma introdução a todos os tipos de pecado. A embriaguez é uma iniquidade dominante; aqueles que são seus escravos, nunca são senhores de si mesmos em qualquer outro aspecto. Os perseguidores do povo de Deus normalmente têm sido os homens mais maldosos e imorais. As consciências dos perseguidores, quaisquer que sejam os argumentos, normalmente são as mais corruptas e pervertidas. De que não se embriagam aqueles que se embriagam com o sangue dos santos? Esta é a descrição de um mau ministro, que, apesar disso, ainda pode ter os dons do ensino e do discurso sobre os demais; e, como foi dito sobre alguns, este tipo de obreiro pode pregar tão bem no púlpito, que seja uma pena que ele deva sair dali, e ainda assim viver de maneira tão má fora do púlpito, que seja uma pena que ele deva subir ali.

Em segundo lugar, é apresentada a sua condenação (vv. 50,51). A “capa” e o caráter dos maus ministros não os protegem da condenação, mas a agrava grandemente. Eles não podem reivindicar que estejam fora do alcance ou da jurisdição de Cristo, nem da jurisdição dos magistrados civis; os clérigos não possuem nenhum benefício no tribunal de Cristo. Considere:

1. A surpresa que irá acompanhar a sua condenação (v. 50): “Virá o senhor daquele servo”. Então:

(1) O fato de nós adiarmos os pensamentos sobre a vinda de Cristo não irá adiar a sua vinda. Não importa com o quê alguém procure se iludir; o seu Senhor virá. A descrença do homem não tornará sem efeito aquela grande promessa, ou ameaça (você pode chamá-la como quiser).

(2) A vinda de Cristo será uma surpresa terrível para os pecadores seguros e descuidados, especialmente para os maus ministros: “virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera”. Aqueles que desprezaram os avisos da Palavra, e calaram os avisos das suas próprias consciências, a respeito do juízo futuro, não podem pretender esperar quaisquer outras advertências; serão considerados como tendo recebido suficientes avisos legais, tenham estes sido aceitos ou não; e não se pode acusar a Cristo de nenhuma injustiça se Ele vier repentinamente, sem qualquer aviso. Ele já nos falou a este respeito anteriormente.

2. A severidade da sua condenação (v. 51). Ela não é mais severa do que justa, mas é uma condenação que traz a destruição completa, envolta por duas palavras terríveis: morte e condenação.

 

(1)  Morte. O seu Senhor o separará. “Ele o separará da terra dos vivos”, da congregação dos justos, irá separá-lo para o mal; esta é uma definição de maldição (Deuteronômio 29.21). Ele o derrubará, como uma árvore que sobrecarrega o solo; talvez isto seja uma alusão à sentença frequentemente usada na lei: “Esta alma será extirpada do seu povo”, o que sugere uma extirpação completa. A morte separa um bom homem, assim como um escolhido é separado para ser enxertado em um rebanho melhor; mas ela também separa um homem mau, assim como um galho seco é separado quando o fogo o separa deste mundo. Ou, como podemos interpretar, Ele o separará, isto é, separará o corpo da alma, enviará o corpo à sepultura, para ser uma presa dos vermes, e a alma para o inferno, para ser uma presa dos demônios; e assim o pecador é separado. Na morte, a alma e o corpo de um homem temente e obediente a Deus se separam da maneira adequada; a primeira é alegremente levada à presença de Deus, e o segundo é deixado para a terra. Mas a alma e o corpo de um homem iníquo, na morte, são separados, pois para eles a morte é o rei dos terrores (Jó 18.14). O mau servo se divide entre Deus e o mundo, entre Cristo e Belial, entre a sua profissão de religião e os seus desejos; portanto, com justiça, ele também será dividido.

(2)  Condenação. Ele “destinará a sua parte com os hipócritas”, e será uma porção miserável, pois “ali haverá pranto”. Observe que:

[1] Há um lugar e um estado de miséria perpétua no outro mundo, onde não há nada, exceto pranto e ranger de dentes; o que expressa a tribulação e a angústia da alma sob a indignação e a ira de Deus.

[2] A sentença divina designará este lugar e esta­ do como a porção daqueles que, por seu próprio pecado, foram preparados para ele. Até àquele de quem Ele disse, que dizia que Ele era o seu Senhor, designará, desta maneira, a sua porção. Aquele que agora é o Salvador, será, então, o Juiz, e o estado perpétuo dos filhos dos homens será como Ele designar. Eles, que escolhem o mundo por sua porção nesta vida, terão o inferno por sua porção na outra vida. “Esta, da parte de Deus, é a porção do homem ímpio” (Jó 20.29).

[3] O inferno é o lugar apropriado para os hipócritas. Este servo perverso tem sua porção com os hipócritas. Eles são, como eram, os proprietários livres, outros pecadores são meramente como moradores com eles, e têm somente uma porção da sua miséria. Quando Cristo desejava expressar o mais severo castigo no outro mundo, Ele o chamava de “a porção dos hipócritas”. Se houver algum lugar no inferno mais ardente que outro, como é provável que haja, ele será a parte daqueles que têm a forma, mas odeiam o poder da piedade.

[4] Os ministros perversos terão a sua porção no outro mundo com os piores dos pecadores, certamente com os hipócritas, e com justiça, pois eles são os piores dos hipócritas. O sangue de Cristo, que eles têm, por suas profanações, pisado sob os seus pés, e o sangue das almas, que eles têm, por sua deslealdade, trazido sobre as suas cabeças, os oprimirão naquele lugar de tormento. “Filho, lembra-te”, será como o corte de uma palavra a um ministro, se ele perecer, como a qualquer outro pecador. Que eles, portanto, que pregam aos outros, temam, para que eles mesmos não sejam reprovados.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

CULPA DA OCITOCINA

Culpa da Ocitocina

Conhecida como o hormônio do amor, a ocitocina promove melhor interação social em contextos positivos em família ou com amigos, num concerto de rock ou outras situações em que sua concentração é aumentada em certas regiões cerebrais. No entanto, em um contexto negativo, a ocitocina poderia promover a prevenção social, de evitação de situações desconhecidas.

Tal efeito foi atestado em um estudo com ratos da UC Davis (Califórnia, EUA), que também descobriu como um mesmo hormônio pode agir provocando reações diametralmente opostas.

Não só esse achado foi surpreendente, mas o fato de que o novo estudo favorece outras pesquisas para a criação de drogas e intervenções mais ágeis em mitigar certos transtornos emocionais. Segundo o observado pelos pesquisadores da UC, suprimindo-se a ocitocina em ratos, foi possível torná-los menos propensos ao isolamento e mais saciáveis. E isso em um timing bem curto, diferentemente do necessário para se obter o mesmo efeito com o uso de fluoxetina, por exemplo.

ÁREAS DIFERENTES

Já no que diz respeito à forma como o hormônio é capaz de produzir reações tão distintas, verificou-se que ele age em diferentes áreas do cérebro. No núcleo accumbens, região cerebral importante para recompensa e motivação, a ocitocina promove aspectos gratificantes das interações sociais. Já no núcleo leito da estria terminal, região conhecida por controlar a ansiedade, ela provocaria a evitação social. Mulheres e homens respondem de forma diferente em intensidade à presença do hormônio nessas regiões cerebrais.

OUTROS OLHARES

ENERGIA BOMBÁSTICA

Estudo realizado no Canadá lista os efeitos nocivos que apenas duas latinhas de energético podem causar no organismo humano – especialmente no dos jovens

Energia bombástica

Desenvolvidas na Tailândia na década de 70, as bebidas sem álcool feitas com substâncias estimulantes surgiram para dar pique aos caminhoneiros. Para suportarem longas travessias de estradas, os motoristas de Bangcoc tomavam um tônico caseiro chamado de Krating Daeng (Touro Vermelho,) referência a uma espécie de bovino do Sudeste da Ásia.

Dez anos depois, um empresário austríaco experimentou a mistura, sentiu algum efeito positivo e decidiu ganhar dinheiro com o produto. Nasceram, assim, os energéticos, hoje amplamente espalhados em todo o mundo, usados por esportistas, frequentadores de academias e pessoas que, de um jeito ou de outro, enfrentam longas jornadas de trabalho. O consumo entre jovens é quase uma epidemia, uma muleta artificial para atravessarem as noites nas baladas. Suspeitava-se que o uso exagerado provocasse desconforto ao produzir taquicardia, mas nada muito grave. Um recente estudo conduzido pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Waterloo, no Canadá, porém, demonstra que os efeitos são mais complicados.

Divulgados no Canadian Medical Association Journal, os resultados são contundentes. Com a participação de 2055 homens e mulheres com idade entre 12 e 24 anos, o trabalho listou os efeitos do consumo de até duas latinhas de energético – uma quantidade inferior à máxima recomendada para esse tipo de bebida. Quatro em cada dez entrevistados já haviam tido sintomas que variavam de aceleração dos batimentos cardíacos a dor de cabeça, dificuldade para dormir, vômito e diarreia. Os problemas de saúde estão associados à quantidade de estimulantes contidos nos energéticos – que, atenção, nada têm a ver com os isotônicos, cuja função é reidratar o organismo.

A cafeína é o principal composto dos energéticos. “A quantidade de cafeína em uma embalagem de 250 mililitros pode ser equivalente ao conteúdo de três xícaras de café, a depender da marca do produto”, diz o endocrinologista Francisco Tostes, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, especialista em medicina do esporte e atividade física. Os energéticos também são preparados com taurina, um aminoácido encontrado em peixes, frutos do mar, aves e carne bovina que tem ação excitatória, capaz de diminuir o cansaço muscular. A taurina potencializa o efeito da cafeína, aumentando a sensação de disposição e bem­ estar. O produto contém ainda glucoronolactona, substância derivada da glicose, que dá mais energia.

Os adultos, com seu organismo já formado, também podem sentir a bomba estimulante, sobretudo se já sofrem de alguma doença, como problemas cardíacos ou hipertensão. Nos jovens, no entanto, o impacto é maior. Eles têm naturalmente menos massa corporal e possuem metabolismo mais acelerado. ”Acreditamos que esse tipo de bebida seja realmente mais nocivo para organismos novos”, disse David Hammond, um dos coordenadores da pesquisa. Há um problema adicional, de probabilidade. Quanto mais jovem é o adolescente, maior é o consumo de energéticos. Um levantamento conduzido pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, instituição que fornece à Comissão Europeia pareceres científicos sobre alimentos, mostrou que jovens entre 10 e 18 anos são os que mais ingerem essas bebidas. Nessa faixa etária, 68% dos indivíduos consomem energéticos. Entre os mais velhos, a taxa é de30%.

Outra preocupação dos médicos é a associação dos energéticos com o álcool – um hábito crescente entre os jovens. Segundo estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo, 15,4% dos adolescentes que tomam bebidas alcoólicas adicionaram os energéticos ao copo. Outra pesquisa, da Universidade da Flórida, revelou que meninos e meninas em idade escolar que acrescentam bebidas alcoólicas aos energéticos correm risco três vezes maior de embriagar-se, em comparação àqueles que consomem apenas bebidas alcoólicas. Isso porque os estimulantes reduzem a ação depressora do álcool no córtex cerebral, postergando a hora de parar.

Os energéticos servem de gatilho para o consumo de bebidas alcoólicas, pois seu sabor adocicado disfarça o gosto amargo do álcool – ideal para o paladar ainda inexperiente. Parte das cinquenta marcas do produto disponíveis no Brasil passou a ter recentemente versões mais agradáveis e palatáveis, com sabores como lima-da-pérsia e açaí.

A venda de energéticos é liberada para qualquer idade. Alguns países adotam medidas próprias, mas sem legislação específica. No Reino Unido, por exemplo, desde o início do ano os grandes supermercados passaram a só autorizar a compra para clientes com mais de 16 anos. No Brasil, a Câmara dos Deputados analisa projeto de lei que proíbe a venda, a oferta e o consumo de bebidas energéticas a menores de 18 anos. Se aprovado, passa por duas comissões, depois para o plenário da Câmara dos Deputados para, então, seguir para o Senado Federal e, enfim, pousar na mesa do presidente da República. Enquanto esse percurso não for concluído, a venda continuará totalmente liberada.

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GESTÃO E CARREIRA

MARKETPLACE, JÁ OUVIU FALAR?

Largamente utilizada no exterior, a modalidade de negócio desde que chegou ao Brasil tem ganhado muitos adeptos.

Marketplace, já ouviu falar

 Nem é tão recente assim, mas a grande maioria das pessoas, e até profissionais das indústrias, ainda desconhece, tampouco ouviu falar em Marketplace. Pois bem, Marketplace é mais uma modalidade de negócio destinada a aumentar a gama de produtos ofertados, que teve início no Brasil em 2012 por iniciativa dos grandes sites de comércio eletrônico, que buscam cada vez mais equalizar a questão das margens que afetam fortemente os resultados das operações de e-commerce. Mas foi nos últimos dois anos que ganhou destaque.

Como oferecer maior gama de produtos sem onerar os estoques e o caixa? Como oferecer produtos com melhores condições comerciais aos consumidores? A saída foi propor aos fabricantes uma parceria “ganha-ganha-ganha”, na qual todos passam a realmente ganhar: revendedores, fabricantes e consumidores. Pode parecer algo simples, mas não é bem assim. Quem é do ramo sabe que é muito difícil essa equação. Normalmente, o consumidor tem que ter acesso aos melhores preços, o revendedor tenta manter suas margens, assim como a indústria, porém a experiência mostra que um sempre saia perdendo, principalmente em tempos de queda nas vendas, como este que estamos passando.

O conceito é bem simples. Os sites passaram a “disponibilizar” seus espaços aos fabricantes e cobram uma “comissão” somente sobre os produtos vendidos. Essa taxa pode variar de 10% a 25%, dependendo do segmento. A indústria, por sua vez, tem a possibilidade de expor em sites com milhões de visitantes todos os meses; boa parte, senão todo seu portfólio, era até então limitado pelos entraves negociais que restringiam essa exposição. E vale ressaltar que, além de divulgar os produtos, poderá ter melhora significativa das margens, seja por não ter que pagar contratos de fornecimento, seja pelas verbas extras por baixos giros ou pela bitributação que deixa de existir.

Cabe o esclarecimento que as operações de Marketplace são, por enquanto, independentes dos sites convencionais que compram e vendem produtos. A plataforma é a mesma, porém são diretorias totalmente separadas, criando até competição dentro do próprio ambiente. Assim, não é de estranhar que em alguns deles o consumidor encontre o mesmo produto anunciado duas vezes e com preços diferentes. Isso acontece porque o próprio site comprou e o produto foi também colocado no Marketplace. É bom alertar: não é uma prática aconselhável, pois cria desconfiança no consumidor.

Voltando ao funcionamento da operação, as indústrias precisam ter um site de vendas próprio de modo a alimentar as informações passadas aos demais. Vale destacar que os preços dos produtos no Marketplace são determinados pelo fabricante, assim como o faturamento e a entrega. O site vende e recebe do consumidor, passa as informações para a indústria, que cuida do restante. Ao final de 15 ou 30 dias, varia de site para site, os valores são repassados para a indústria com a comissão já deduzida. O prazo de pagamento é deliberação dos sites, mas pode ser negociado.

Por fim, os consumidores, por meio dessa nova prática, agora contam com vasta oferta de produtos, anteriormente não disponível, com condições bem mais atraentes. Na maioria dos casos, nem chegam a perceber que compraram de uma empresa e que a nota fiscal é de outra. mesmo com os sites indicando na confirmação da compra que o produto está sendo gerado por outro CNPJ. Importante dizer que o consumidor pode ficar tranquilo quanto à garantia dos produtos: mesmo toda a parte de SAC sendo feita pelos sites, essa responsabilidade ficará sempre sob a tutela da indústria.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE II

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A Parábola da figueira. Predições terríveis. O dever da vigilância. O bom e o mau administrador

II – Para essa finalidade, nós devemos esperar esses eventos: para que possamos nos preparar para eles, e aqui temos um aviso contra a segurança e a sensualidade, que farão dele um dia realmente funesto para alguns (vv. 37-41). Nesses versículos, nos é dada uma ideia do Dia do Juízo, que pode servir para nos chocar e despertar, para que não durmamos, como os outros.

Será um dia surpreendente, e um dia separador.

1. Será um dia surpreendente, como o dilúvio foi para o mundo antigo (vv. 37-39). O que Ele pretende descrever aqui é a postura do mundo com a vinda do Filho do Homem. Além da sua primeira vinda, para salvar, Ele tem outra vinda, para julgar. Ele disse (João 9.39): “Eu vim a este mundo para juízo”; e para juízo Ele virá, pois todo julgamento foi confiado a Ele, tanto o da Palavra quanto o da espada.

Isto se aplica:

(1)  A julgamentos temporais, particularmente àquele que então se precipitava sobre a nação e o povo judeus. Embora eles tivessem recebido muitos avisos, e tivesse havido muitos prodígios que eram presságios desse juízo, ainda assim ele os encontrou seguros, gritando: “Paz e segurança” (1 Tessalonicenses 5.3). O cerco a Jerusalém foi realizado por Tito, quando era Páscoa e eles estavam em meio à sua felicidade. Como os homens de Laís, eles viviam despreocupados quando a destruição os atacou (Juízes 18.7,27). A destruição da Babilônia, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, surge quando ela disse: “Eu serei senhora para sempre” (Isaias 47.7-9; Apocalipse 18.7). Por isso as pragas vêm em um momento, em um dia. Observe que a incredulidade dos homens não tornará as ameaças de Deus sem efeito.

(2)  Ao juízo eterno; assim é chamado o julgamento do Grande Dia (Hebreus 6.2). Embora Enoque tenha dado avisos, ainda assim, quando ele vier, será inesperado para a maioria dos homens. Os últimos dias, que são mais próximos daquele dia, irão produzir escarnecedores que dirão: “Onde está a promessa da sua vinda?” (2 Pedro 3.3,4; Lucas 18.8). Assim será quando o mundo que existe agora for destruído pelo fogo; pois assim foi, quando o mundo antigo, tendo sido inundado com água, pereceu (2 Pedro 3.6,7). Cristo mostra então qual era o espírito e a postura do mundo antigo, quando veio o dilúvio.

[1] Eles eram sensuais e mundanos; comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento. Não está dito que eles estavam matando, roubando, prostituindo-se e blasfemando (estes eram realmente os crimes horríveis de alguns, entre os piores; a terra estava cheia de violência), mas eles estavam, todos eles, exceto Noé, sem esperança no mundo, e sem considerar a Palavra de Deus; e isto os destruiu. Observe que a negligência universal da religião é um sintoma mais perigoso, para qualquer pessoa, do que exemplos particulares, aqui e ali, de uma ousada falta de religiosidade. Comer e beber são coisas necessárias à preservação da vida do homem; casar-se e dar-se em casamento são coisas necessárias à preservação da humanidade. Mas, se forem realizadas de forma lícita. Em primeiro lugar; eles eram irracionais, desordenados e buscavam exclusivamente os prazeres dos sentidos, e os ganhos do mundo; estavam completamente dominados por essas coisas, eles viviam de uma forma elementar, como se não existissem para nenhuma outra finalidade, a não ser comer e beber (Isaias 56.12). Em segundo lugar, eles eram irracionais. Estavam completamente atentos ao mundo e à carne, quando a destruição estava à porta, destruição da qual tinham tido tantos avisos. Estavam comendo e bebendo, quando deveriam estar se arrependendo e orando. Deus, pelo ministério de Noé, os convocou a chorarem e a se lamentarem, para que, mais tarde, tivessem alegria e satisfação. Isto era, para eles, como depois o foi para Israel, um pecado imperdoável (Isaias 22.12,14), especialmente porque eles o faziam desafiando aqueles avisos, pelos quais de­ viam ter despertado. “‘Comamos e bebamos, que amanhã morreremos’; se é preciso ter uma vida curta, que seja alegre”. O apóstolo Tiago fala disso como sendo o costume geral dos judeus ricos antes da destruição de Jerusalém. Quando deviam estar chorando e pranteando por suas misérias, que sobre eles haveriam de vir, eles estavam se deleitando e cevando seus corações, como num dia de matança (Tiago 5.1,5).

[2] Eles estavam seguros e despreocupados, e não o perceberam, até que veio o dilúvio (v. 39). Não o perceberam! Certamente, eles não podiam ter deixado de saber. Deus, por meio de Noé, não tinha lhes dado muitos avisos disso? Ele não os tinha convidado ao arrependimento, enquanto os aguardava em sua longanimidade? (1 Pedro 3.19,20). Mas eles não o perceberam, isto é, eles – não creram; eles podiam ter sabido, mas não quiseram saber. Observe que, quanto àquilo que nós conhecemos das coisas que pertencem à nossa paz eterna, se não o mesclarmos com a fé, e o aperfeiçoarmos, é como se não tivéssemos conhecido. O fato de eles não conhecerem acompanha o fato de comerem, beberem, e se casarem; pois, em primeiro lugar; eles eram sensuais, porque eram seguros. A razão pela qual as pessoas são tão ansiosas na busca, e tão envolvidas nos prazeres deste mundo, é que não conhecem, nem creem, nem consideram a eternidade em que estão prestes a entrar. Se nós soubéssemos, de modo adequado, que todas estas coisas em breve serão dissolvidas, e que certamente devemos sobreviver a elas, não concentraríamos nossos olhos e corações sobre elas, não tanto como o fazemos. Em segundo lugar, eles eram seguros, porque eram sensuais; eles não sabiam que o dilúvio se aproximava, porque estavam comendo e bebendo; eles estavam tão dominados pelas coisas visíveis e presentes, que não tinham tempo nem coragem para se preocupar em com as coisas não vistas, embora tivessem sido avisados delas. Assim como a segurança fortalece os homens na sua sensualidade brutal, também a sensualidade os “embala” na sua segurança carnal. Eles não o perceberam, até que veio o dilúvio.

2. O dilúvio veio, embora eles não o antevissem. Observe que aqueles que não querem aprender pela fé, aprenderão experimentando a ira de Deus, que lhes será revelada, do céu, contra a sua impiedade e injustiça. O dia do mal nunca está tão distante que os homens não possam afastá-lo ainda mais.

3. Eles não o perceberam, até que foi tarde demais para evitá-lo, como poderiam ter feito se o tivessem percebido a tempo, o que tornava tudo ainda mais lamentável. Os juízos são mais terríveis e espantosos para aqueles que se sentem seguros, e para os que zombaram deles.

Temos a aplicação disso, a respeito do mundo antigo, nas seguintes palavras: ”Assim será também a vinda do Filho do Homem”, isto é:

(1) Nessa condição, Ele encontrará pessoas comendo e bebendo, e não esperando por Ele. Observe que a segurança e a sensualidade provavelmente serão as epidemias dos últimos dias. Todos tosquenejam e adormecem, e à meia-noite o esposo vem. Todas sem vigiar, e descansadas.

(2) O Senhor virá a eles com esse poder, e com esse objetivo. Da mesma maneira como o dilúvio levou os pecadores do mundo antigo de uma forma irresistível e irrecuperável, também os peca­ dores seguros, que zombaram de Cristo e da sua vinda, serão levados pela ira do Cordeiro, quando vier o grande dia da sua ira, que será como a vinda do dilúvio; uma destruição da qual não se pode fugir.

4. Este será um dia separador (vv. 40,41): “Haverá dois no campo”. Isto pode ser aplicado de duas maneiras:

(1)  Nós podemos aplicar essa palavra ao sucesso do Evangelho, especialmente na sua primeira pregação. Ele dividiu o mundo; alguns creram nas coisas que foram ditas, e foram levados até Cristo; outros não creram, e foram abandonados para perecer na sua incredulidade. Aqueles da mesma idade, do mesmo lugar, capacidade, emprego e condição, no mundo, que moíam no mesmo moinho, os da mesma família, aqueles que estavam unidos pelo mesmo laço de casamento – um deles será chamado, e o outro será deixado na tristeza da amargura. Essa é aquela divisão, aquele fogo de dissensão que Cristo veio trazer (Lucas 12.49,51). Isso torna a graça gratuita ainda mais obrigatória do que diferenciadora; a nós, e não ao mundo (João 14.22), ou melhor, a nós, não àqueles que estão no mesmo campo, no mesmo moinho, na mesma casa.

Quando a destruição se abateu sobre Jerusalém, uma distinção foi feita pela Divina Providência, de acordo com o que havia sido feito anteriormente pela divina graça. Pois todos os cristãos entre eles estavam salvos de perecer naquela calamidade, por proteção especial do Céu. Se dois deles estavam trabalhando juntos no campo, e um deles era um cristão, ele era levado a um lugar de abrigo, e tinha a sua vida conserva da com o um despojo, ao passo que os outros eram deixa dos para a espada do inimigo. Se apenas duas mulheres estivessem moendo no moinho, e se uma delas pertencesse a Cristo, embora fosse apenas uma mulher, uma pobre mulher, uma serva, ela seria levada a um lugar de abrigo, e a outra seria abandonada. Assim os mansos da terra estariam escondidos no dia da ira do Senhor (Sofonias 2.3), fosse no céu, ou sob o céu. Observe que a preservação diferenciada, em tempos de destruição geral, é um sinal especial do favor de Deus, e assim deve ser reconhecida. Se nós estamos a salvo quando milhares caem à nossa direita e à nossa esquerda, se nós não somos consumidos quando outros o são à nossa volta, de modo que nós somos como tições arrancados do fogo, temos razão para dizer que isso é misericórdia de Deus, e uma grande misericórdia.

(2) Nós podemos aplicar isso à segunda vinda de Jesus Cristo, e à separação que se fará naquele dia. Ele havia dito anteriormente (v. 31) que os escolhidos serão reunidos. Aqui Ele nos diz que, para que isso aconteça, eles serão diferenciados daqueles que estão mais próximos a eles neste mundo; aqueles que são chamados e escolhidos são levados à glória; os demais são abandonados para que pereçam por toda a eternidade. Aqueles que dormem no pó da terra, na mesma sepultura, com as cinzas misturadas, ressuscitarão, uns para “a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12.2). Esta palavra é aplicada aqui àqueles que estiverem vivos. Cristo virá de forma inesperada, encontrará as pessoas ocupadas com seus afazeres usuais no campo e no moinho; e então, conforme sejam eles vasos de misericórdia prepara dos para a glória, ou vasos da ira preparados para a perdição, este fato acontecerá com eles. Um será levado para encontrar o Senhor e os seus anjos nos ares, para estar eternamente com Ele e com eles; o outro será deixado para Satanás e os seus demônios, que, depois de Cristo ter reunido os seus, varrerão o resíduo. Isto tornará a condenação dos pecadores ainda mais grave, o fato de outros serem removidos do seu meio para a glória, e eles serem deixados para trás. E isto transmite abundante consolo ao povo do Senhor.

[1] Eles são humildes e desprezados no mundo, como o servo no campo, ou a mulher no moinho (Êxodo 11.5)? Ainda assim, eles não serão esquecidos, nem negligenciados naquele dia. Os pobres no mundo, os ricos em fé, são os herdeiros do Reino.

[2] Eles estão dispersos por lugares distantes e improváveis. Onde ninguém esperaria encontrar os herdeiros da glória? No campo, no moinho? Ainda assim, os anjos os encontrarão (escondidos como Saul, quando devem ser entronizados), e dali os levarão. E é justo que se diga que eles serão mudados, pois será uma grande mudança; ir para o céu, em vez de arar e moer.

[3] Eles são fracos e incapazes de se dirigirem ao céu? Eles serão levados, ou tomados, assim com Ló foi tirado de Sodoma por uma graciosa violência (Genesis 19.16). Cristo nunca perderá aqueles que já são dele, aqueles de quem Ele já se apossou.

[4] Eles estão misturados com outros, relacionados com eles, nas mesmas casas, sociedades, e trabalhos materiais? Que isto não desencoraje nenhum verdadeiro cristão. Deus sabe como separar o precioso do vil, o ouro e o lixo no mesmo monte, o trigo e a palha na mesma eira.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SEGREDOS DA INTELIGÊNCIA

Segredos da inteligência

Quer ser brilhante como uma lâmpada e rápido como um raio? Afie sua inteligência dominando o poder das palavras, dos idiomas e da mnemônica.

Numa época em que a geladeira pode nos ajudar a fazer a lista de compras e o celular responde a quase todas as perguntas, não é mais preciso se lembrar de nada. E assim as façanhas dos campeões de memória, que recordam centenas de nomes e rostos, sequências aleatórias de números ou palavras ou a ordem das cartas em vários baralhos, parecem mais super-humanas do que nunca.

Mas essa gente de memória fenomenal tem um ótimo segredinho: em um estudo publicado recentemente na revista Neuron, pesquisadores consta­ taram que os supermemorizadores não têm regiões cerebrais maiores que lhes permitam absorver e guardar uma quantidade prodigiosa de informações. Sua estrutura cerebral, em essência, é a mesma que a nossa.

 COMO MELHORAR A MEMÓRIA

Ao comparar exames cerebrais de 23 campeões da memória (que ficaram entre os 50 primeiros lugares do Campeonato Mundial de Memória) com os de 23 pessoas comuns da mesma idade, sexo e QI, os cientistas só encontraram uma diferença: no cérebro dos campeões, as regiões associadas à memória e ao aprendizado visual e espacial se iluminaram com um padrão específico. No cérebro das pessoas comuns, essas mesmas regiões se ativaram de forma diferente.

Por que isso é importante? Porque aprendemos vendo, e quanto mais vemos, mais recordamos coisas. Esses supermemorizadores aperfeiçoaram o método de converter os itens que querem recordar (números, rostos, cartas e até formas abstratas) em imagens que eles ”veem” na mente. É um processo chamado ”construção do palácio da memória”.

Eis como funciona: primeiro, você transforma os itens numa imagem – qualquer coisa da qual vá se lembrar. Por exemplo, para recordar sequências de cartas, Ed Cooke (reconhecido como Grão-Mestre da Memória pelo Conselho Mundial de Esportes de Memorização) contou ao escritor americano Tim Ferriss que atribui a cada carta uma celebridade, uma ação e um objeto; assim, cada combinação de três cartas forma uma imagem única com a celebridade da primeira carta, a ação da segunda e o objeto da terceira. Dessa maneira, ”valete de espadas, seis de espadas, ás de ouros” se tornam o dalai-lama usando o vestido de carne de Lady Gaga e segurando a bola de basquete de Michael Jordan. O sistema de Cooke se baseia na ideia de que a memória se prende melhor às pistas incomuns.

Depois, ponha mentalmente essa imagem em algum lugar que você conheça: em sua casa ou em algum ponto da ida para o trabalho, por exemplo. Finalmente, crie uma história sobre os itens que vai ajudá-lo a ligá-los na ordem correta.

Eis alguns truques favoritos que ajudam a lembrar coisas na vida cotidiana.

Para lembrar: Palavras novas Técnica: Mude a rotina

Em um estudo clássico realizado na década de 1970 na Universidade de Michigan, um grupo de alunos estudou uma lista de palavras em duas sessões separadas. Alguns o fizeram numa salinha cheia de coisas e outros num espaço com duas janelas e um espelho falso. Um grupo de alunos passou ambas as sessões na mesma sala, enquanto o outro fez cada sessão num ambiente. Numa prova realizada numa sala totalmente diferente, os alunos que estudaram em vários lugares recordaram 53% mais do que os que estudaram em uma só sala.

Estudos subsequentes mostraram que variar outros aspectos do ambiente (a hora do dia, a música de fundo, ficar sentado ou em pé etc.) também ajuda a recordar, pois o cérebro liga as palavras (ou o que você estiver aprendendo) ao contexto que o cerca, e, quanto mais pistas contextuais você associar às palavras, mais base o cérebro terá para recordá-las.

Para lembrar: Senha numérica Técnica: Conte-a

Você pode usar seu aniversário, é claro, ou o número de telefone, mas os ladrões de identidade conseguem descobrir essas senhas bem depressa. Em vez disso, experimente esta dica de Dominic O’Brien, oito vezes Campeão Mundial de Memória: escreva uma frase de quatro palavras e conte o número de letras de cada uma. Por exemplo ”Esta é minha senha”= 4155.

Para lembrar: Fatos e números Técnica: Dê tempo ao tempo Mamãe tinha razão: estudar na véspera não é a melhor maneira de memorizar. Para aprender e recordar estatísticas (ou praticamente qualquer tipo de informação factual), reler o material algumas vezes num período maior é muito mais eficaz do que repeti-lo num período curto.

Essa técnica data de 1885, quando o psicólogo Hermann Ebbinghaus descobriu que conseguia aprender uma lista de palavras sem sentido se a repetisse 68 vezes num dia e mais sete vezes antes de ser testado no dia seguinte. Mas aprendia igualmente bem o mesmo número de palavras se as repetisse um total de 38 vezes no decorrer de três dias.

Pesquisas mais recentes demonstraram o intervalo ótimo das sessões de estudo: se a prova for daqui a uma se­ mana, estude hoje e, novamente, daqui a um dia ou dois. Se for daqui a um mês, estude hoje e espere uma semana antes de rever o conteúdo. Daqui a três meses? Espere três semanas para voltar a estudar. Quanto mais distante for a prova, maior o intervalo ótimo entre as duas primeiras sessões de estudo.

(Uma revisão final na véspera da prova também é boa ideia.)

Para lembrar: Um novo idioma Técnica: Leia e escute

Em um estudo realizado na Universidade de Porto Rico, 137 estudantes falantes de espanhol foram separados em dois grupos. Durante oito sema­ nas, um grupo leu um livro em inglês enquanto, ao mesmo tempo, escutava a versão em áudio; o outro só leu o livro em silêncio. A cada semana, todos os estudantes respondiam a um questionário. Em todos os oito questionários, os que leram e escutaram tiveram pontuação melhor do que o grupo que só leu.

Para lembrar: Rostos Técnica: Foco no nariz

Embora alguns supermemorizadores se especializem em associar nomes a rostos (uma das disciplinas dos Campeonatos Mundiais da Memória), a técnica do palácio da memória não funciona tão bem quando a imagem do rosto estiver cortada, com as cores corrigidas ou com alguma alteração.

Recordar rostos e lembrar-se deles em contextos diferentes pode ser uma habilidade especial que vários estudos ligam à personalidade: os extrovertidos reconhecem rostos muito melhor do que os introvertidos, por exemplo. Uma dica: em vez de se concentrar nos olhos, como faz a maioria, concentre-se no centro ou à esquerda do nariz. Isso permite que você capte o rosto inteiro de uma vez.

Para lembrar: A lista de compras

Técnica: Envolva o corpo

Com que frequência você já escreveu sua lista e depois esqueceu onde a guardou? Nessa variante do palácio da memória, visualize os itens da lista em diversas partes do corpo. Por exemplo, imagine que equilibra o queijo na cabeça, um ovo no nariz e uma caixa de leite no ombro.

POR QUE LER É IMPORTANTE

A pergunta é simples; responda com franqueza, porque sua resposta pode aumentar o prazer da vida cotidiana, retardar a demência e até ajudá-lo a viver mais: quantas horas você dedicou à leitura de livros na semana passada?

Desde 1992, essa pergunta chega a milhares de lares americanos de dois em dois anos, no Estudo de Saúde e Aposentadoria (HRS, na sigla em inglês) da Universidade de Michigan. Item pequeno numa pesquisa imensa com mais de 20 mil aposentados, ela foi ignorada por muito tempo na análise da saúde cerebral dos idosos.

Mas, em 2016, quando pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Yale, nos EUA, desenterraram 12 anos de dados do HRS sobre hábitos de leitura e saúde de mais de 3.600 homens e mulheres com mais de 50 anos, um padrão esperançoso surgiu: quem lê livros – ficção ou não ficção, prosa ou poesia – pelo menos meia hora por dia durante vários anos vive em média dois anos mais do que quem não lê nada.

Ainda mais estranho, os leitores de livros que relataram mais de três horas de leitura por semana tiveram probabilidade 23% menor de morrer entre 2001 e 2012 do que os colegas que só liam jornais e revistas.

Se você estiver lendo isso, provavelmente não é preciso convencê-lo dos méritos da palavra escrita. Talvez já conheça estudos recentes que indicam que crianças de apenas 6 meses cujos pais liam livros para elas várias vezes por semana apresentam, quatro anos depois, maior capacidade de alfabetização, pontuação melhor em testes de inteligência e maior chance de realização profissional no futuro.

Mas pesquisas recentes defendem que a leitura pode ser igualmente importante na idade adulta. Quando praticada a vida inteira, a leitura e a capacidade de aquisição da linguagem promovem, de forma substancial, o funcionamento saudável do cérebro. Para entender por quê – e o que cada um de nós pode fazer para obter o máximo das palavras -, comece fazendo a mesma pergunta que a equipe de Yale: o que há na leitura de livros que aumenta o poder cerebral e que a leitura de jornais e revistas não tem? Para começar, postulam os pesquisadores, os livros com capítulos estimulam a ”leitura profunda’: Ao contrário, digamos, de dar uma olhada numa página cheia de títulos, ler um livro (de qualquer gênero) força o cérebro a pensar de maneira crítica e a fazer conexões entre um capítulo e outro e com o mundo exterior. Quando você faz conexões, o cérebro também faz, forjando literalmente novas vias entre regiões dos quatro lobos e de ambos os hemisférios. Com o tempo, essas redes neurais promovem pensamento mais rápido e permitem uma defesa melhor contra os piores efeitos da degeneração cognitiva.

Em segundo lugar, já se demonstrou que a leitura de livros, principalmente de ficção, eleva a empatia e a inteligência emocional. Um estudo de 2013 constatou que os participantes que leram apenas a primeira parte ou primeiro capítulo de uma história exibiram, uma semana depois, um aumento perceptível da empatia, enquanto os leitores de notícias mostraram redução. Esses achados talvez pareçam triviais, mas não são; o desenvolvimento de ferramentas sociais como a empatia e a inteligência emocional pode levar a mais e melhores interações humanas, que, por sua vez, baixam o nível de estresse – e ambos os fatores ajudam a viver mais e ter mais saúde. Isso não é dizer que revistas, jornais e textos da internet não tenham seus méritos. Ler qualquer coisa que preencha a mente e nos exponha a novos mundos, expressões e fatos traz benefícios mentais. Novas pesquisas indicam que um vocabulário maior pode tornar a mente mais resiliente por alimentar o que os cientistas chamam de reserva cognitiva.

Um modo de entender essa reserva é como a capacidade do cérebro de se adaptar a lesões. A reserva cognitiva ajuda os neurônios a encontrarem novas vias mentais em torno de áreas danificadas por AVCs, demência e outras formas de degeneração.

Isso pode explicar por que, depois da morte, descobriu-se que muitos idosos aparentemente saudáveis abrigavam no cérebro sinais avançados da doença de Alzheimer, apesar de terem poucos sintomas em vida. Acredita-se que a reserva cognitiva permita a alguns idosos compensar, de forma imperceptível, lesões cerebrais ocultas.

E como se aumenta a reserva cognitiva? É outra boa notícia para os amantes da palavra. Sabe-se que o vocabulário resiste ao envelhecimento; de acordo com pesquisadores da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, ter um vocabulário rico pode retardar de forma significativa a manifestação do declínio mental. Ao analisar a pontuação de mais de trezentos voluntários com 50 anos ou mais em testes de vocabulário, a equipe verificou que os participantes com nota mais baixa tinham risco de degeneração cognitiva três a quatro vezes maior do que os participantes com nota mais alta.

Aprender palavras estrangeiras também oferece importantes nutrientes cognitivos. A pesquisa mostra que aprender algo novo, como tocar um instrumento ou falar outro idioma, é uma das melhores coisas que se pode fazer pelo cérebro em qualquer idade. Lembra-se daquela poderosa rede de conexões cerebrais que obtemos com a leitura? Aprender um segundo idioma faz essa rede crescer; já se comprovou que os poliglotas são melhores do que os monolíngues na multitarefa, na memorização e na concentração em informações importantes.

Um estudo publicado em 2013 na revista Neurology mostrou que pacientes que falavam dois ou mais idiomas desenvolveram demência 4,5 anos mais tarde, em média, do que pacientes monolíngues. E, embora o cérebro que aprende uma segunda língua no início da vida provavelmente tenha mais vantagens cognitivas do que o que aprende depois, nunca é tarde demais. Também não é preciso se tornar um falante fluente. ”Basta ter o básico daquelas conexões linguísticas para retardar a demência’; disse à revista Atlantic o Dr. Thomas Bak, da Universidade de Edimburgo.

É claro que aprender um novo idioma não é algo rápido. Por sorte, o efeito de uma única aula pode dar gratificação instantânea. Pesquisadores da Alemanha e da Espanha mandaram 36 participantes lerem duas frases contendo a mesma palavra estrangeira: ”Todo domingo, a avó ia ao jedin” e ”O homem foi enterrado no jedin’: Quando perguntaram o que significa jedin, os que adivinharam corretamente ”cemitério” mostraram reações nas mesmas partes do cérebro que percebem o prazer e que reagem a comida, sexo, jogo e outros estímulos satisfatórios.

Mas, quando se trata de palavras, o abuso é incentivado. Vale a pena aumentar sua competência com elas – hoje, amanhã e pelo resto da vida.

OUTROS OLHARES

PERSEGUIÇÃO ON-LINE

Maiores alvos de assédio e violência na internet, mulheres ganham amparo com nova Iei que atribui investigações à Polícia Federal. Em dois anos, número de casos cresceu 26.000%

Perseguição On-line

Faz um ano que a dona de casa Alessandra Cristiane de Castro Fuzinaka, 44 amos, abre sua conta do Facebook com medo. Desde que checou suas mensagens e viu que um desconhecido havia lhe escrito, elogiando a roupa que ela usava no caminho para a academia, passou a se sentir ameaçada. “Não tem coisa melhor do que acordar e dar de cara com você”, ele disse certa vez, entre outras coisas que mostravam que ele a perseguia. “Ficou amedrontador, cheguei ao ponto de não sair mais sozinha de casa”, afirma Alessandra. Foi à delegacia, onde minimizaram sua situação e sugeriram, que procurasse a Defensoria Pública. Foi a uma Delegada da Mulher, mas estavam sem sistema. A epopeia enfrentada por mulheres que, como Alessandra, são assediadas pela internet, é resultado da dificuldade de acesso à Justiça para se investigar autores dos assédios virtuais e puni-los. Com isso, a prática deixa de ser coibida, e é natural que o número de casos cresça vertiginosamente.

Segundo levantamento do Instituto Avon, situações de assédio on-line aumentaram 26.000% entre 2015 e 2017. E esse é apenas um dos tipos de problema enfrentados. O espectro da violência abrange agressões verbais, ameaças diretas, exposição de dados, fotos e disseminação de discursos de ódio –  que podem incluir, além de ofensas de gênero, racismo e homofobia. De acordo com a Organização das Nações Unidas, (ONU), 95% de todos os comportamentos agressivos e difamadores em ambientes virtuais têm mulheres como alvo. Uma nova legislação promulgada em abril pode mudar o cenário. Agora, uma denúncia de misoginia na internet, o que significa ódio a mulheres, é investigada pela Polícia Federal, que tem mais estrutura para apurar os casos.

A nova lei já surtiu efeito. Na quinta-feira 1O, a Polícia Federal executou a operação Bravata -expedindo oito mandados de prisão contra pessoas acusadas de propagar ódio na internet, principalmente contra mulheres. Um dos presos, Marcelo Valle Silveira Mello, detido em Curitiba, já havia sido indiciado em 2009 por crime de racismo na internet   foi inclusive a primeira pessoa a responder por isso no Brasil, mas liberado alegando insanidade. Voltou a ser condenado em 2012, durante a operação Intolerância, também da PF, e cumpriu um ano de pena. Desta vez, foi detido por incitar a violência contra diversos grupos sociais, inclusive com registro de disseminação de conteúdo pedófilo em um fórum anônimo na internet. Está em prisão preventiva. Para a professora Lola Aronovich, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é uma vitória. Lola acusa Mello de ameaça de morte e de ter criado, em 2015, um site em nome dela em que se vendiam remédios abortivos e se dizia que ela havia feito um aborto em sala de aula. A legislação, inclusive leva seu nome: Lei Lola. Blogueira feminista que publica denúncias de violência contra mulheres em seu site desde 2011, começou a ser perseguida em 2012 e, desde então, fez 11 boletins de ocorrência.

Conseguir fazer uma denúncia, portanto, é difícil, seja porque as autoridades ainda não estão preparadas ou porque há muita descrença em relação a esse tipo de crime, o virtual. Em relatório enviado à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre violências de gênero na internet brasileira, as organizações Coding Rights e lnternetLab mostraram que a falta de credibilidade dada às vítimas é um dos motivos que levam ao aumento de casos. “A banalização de manifestações de violência on-line sob a crença de que elas começam e terminam no meio digital é a primeira forma de diminuir a gravidade desse problema”, aponta o documento. As mulheres são subestimadas em

suas denúncias e, quando há respostas da Justiça, não são eficientes”. Afirma Juliana Cunha; diretora de projetos especiais da ONG Safernet. Na semana passada surgiu uma iniciativa para auxiliar as vítimas: o Facebook e a ONG brasileira Think Olga lançaram a plataforma Conexões que Salvam, com orientações sobre o que fazer em situações de perseguição e ameaças virtuais.

MEDIDA PROTETIVA

Há ainda outras dificuldades para dar continuidade a uma investigação, explica a promotora de Justiça do Estado de São Paulo, Marta Gabriela Prado Manssur. “A Vítima precisa contratar um advogado pra entrar com ação penal num prazo de seis meses, e muitas vezes não tem condição financeira, o que cria um, obstáculo de acesso à Justiça.”  Para ela, o alto índice dos crimes é ligado à sensação de impunidade, já que são raros os casos em que o criminoso é condenado. No caso da paulistana Márcia (nome fictício), a vitória foi conseguir uma medida protetiva que impede o ex-namorado de manter qualquer contato com ela. “Terminei o relacionamento, e ele começou a me ameaçar, dizendo que vazaria fotos íntimas minhas. Disse que ia me matar. Vivi essa chantagem por três meses”. Agora, ele não pode se aproximar dela nem virtualmente. Espera-se que, em breve, a justiça que chegou a Marcia funcione para todas.

Perseguição on-line2

GESTÃO E CARREIRA

O SHOPPING DO SEU NEGÓCIO

Se a sua empresa ainda tem dúvidas se deve estar presente em um marketplace, veja os benefícios e as oportunidades que se abrirão ao optar por essa estratégia.

O shopping do seu negócio

Se você está começando no mercado e ainda não vende no e­commerce, ou já tenham uma loja virtual, mas queira melhorar o desempenho das suas vendas, o marketplace se tornou um dos caminhos mais bem-sucedidos no País nos últimos tempos. Segundo a Sieve – empresa de inteligência de preços -, quase 20% das ofertas do e-commerce brasileiro já se dão por meio deles.

Segundo o CEO do Elo7 – marketplace de produtos criativos e autorais-, Carlos Curioni, os marketplaces são hoje um dos grandes apoiadores dos PMEs no Brasil. ”Além de oferecerem um espaço onde esse empreendedor poderá criar e desenvolver sua marca na internet, é também uma opção mais econômica para as empresas que ainda não conseguem investir em uma loja física ou em um site próprio”, afirma.

Entrar em um marketplace significa também participar das principais vitrines do Brasil. Além da visibilidade de marca, é uma estratégia que requer baixo investimento, o que é essencial para quem está começando. “Em um modelo tradicional, um lojista precisa investir em marketing (anúncios, adwords, newsletters) para atrair usuários para seu e-commerce. Esse investimento é feito sem a garantia de venda, além de exigir um bom fôlego financeiro. No marketplace ele só pagará a comissão, que geralmente é uma porcentagem predeterminada caso a venda seja concretizada”, conta o CEO do Digital Commerce Group – que detém as plataformas EZ Commerce, CORE e a recém-lançada Octopus, voltada totalmente a marketplaces -, Henrique Mengue.

ESTRATÉGIA

Claro que ter seus produtos ou serviços na internet podendo ser vistos por milhares de pessoas é sempre uma boa estratégia para alavancar ainda mais o negócio. No entanto, para o fundador da ReachOut Business Solutions, Edsel Oliveira, é importante que o empreendedor tenha consciência do que ele deseja alcançar ao criar e divulgar sua empresa nesse tipo de canal. “O marketplace pode ser uma opção dentro de uma estratégia. Como, por exemplo, se a estratégia for deixar o produto disponível ao consumidor, sem ter o próprio e-commerce. Porém, é fundamental lembrar que o produto estará concorrendo com outros muito similares, onde o fator preço é relevante”, avalia.

Para o diretor de marketplace e serviços do Walmart.com, Luiz Pimentel, não há dúvidas de que ele seja o canal perfeito. “O Marketplace é uma grande oportunidade para as PMEs – como já dito, o pequeno empreendedor não precisa gastar com marketing, além disso, acessa toda base de clientes, não corre risco de fraude, recebendo o pagamento. Enfim, uma grande vantagem versus canais de marketing pagos onde não se tem certeza sobre a venda”, reforça.

Sem contar ainda que é uma plataforma de fácil utilização. Em poucos minutos, é possível começar a vender um produto, sem grandes burocracias e sem nenhuma dificuldade.  “O pequeno e microempreendedor deve diversificar os seus canais de vendas e ampliar a disponibilidade do seu produto para a maior quantidade de clientes possíveis. Por esse motivo, nada mais fácil que estar em uma plataforma de tecnologia que tem milhões de visitantes por mês nas diferentes regiões do Brasil”, informa o diretor de marketplace do Mercado Livre, Leandro Soares.

 OS DOIS LADOS DA MOEDA

Importante o empreendedor saber, contudo, que não é só porque ele está inserido no marketplace que não poderá ter um e-commerce. É importante, na verdade, ter os dois. “O e-commerce é a sua marca, sua relação direta com os clientes. O marketplace traz o volume, mas, após uma venda, o cliente poderá virar um cliente direto, melhorando a sua margem”, acredita o CEO do Digital Commerce Group.

Carlos Curioni complementa que uma opção não exclui a outra e existem muitos negócios com presença nos dois canais. Entretanto, o marketplace tipicamente apresenta três vantagens sobre uma loja virtual típica: O custo inicial para montar a loja é menor, o marketplace faz o papel de marketing para o negócio e, na maioria dos casos, não há custo fixo para a operação.

Edsel Oliveira diz ainda que, se for o caso, alguns marketplaces podem até enriquecer a presença on-line. Afinal, assim como a loja física e o varejo on­line são complementares, os marketplaces e os e-commerces podem trabalhar juntos e se complementarem. “Prova é que o Mercado Livre possui uma ferramenta chamada Mercado Shops para qualquer pessoa e empresa produzir seu próprio site de e-commerce. Além disso, por meio do sistema de APTs do Mercado Livre é possível fazer o espelhamento da nossa plataforma com outros sites, isto é, ao anunciar um produto no XYZ, o vendedor adicionará um estoque, ao vender, a quantidade será subtraída do estoque das duas plataformas, fazendo assim com que o gerenciamento se torne muito fácil e intuitivo”,  exemplifica o diretor Leandro Soares.

Ele reforça ainda que, ao contrário do que muitos empreendedores pensam, o varejo on-line também não é excludente do off-line, e sim complementar. ”A loja física não é dispensável por causa das vendas on-line e vice­ versa. Umas das novidades do mercado de e-commerce tem sido a compra no on-line e retirada no off-line. E por que uma pessoa compraria no on-line e retiraria no off-line? Isso ocorre porque na internet é muito mais simples e rápido comparar preços, fabricantes e modelos de produtos, e não existem os custos de transporte entre diversas lojas ou shoppings e/ou estacionamento, tempo de deslocamento que é um agravante em grandes cidades, entre outros fatores”.

OPERAÇÃO

É importante entender que trabalhar em um marketplace e atender clientes no varejo on-line não tem muitas diferenças do mundo físico. Segundo Soares do Mercado Livre, é preciso dar atenção ao cliente, responder às perguntas de forma rápida e clara, apresentar bem o produto e ter um processo de pós-venda cuidadoso. “Para isso, é preciso entender qual o tamanho da demanda desse produto, o que pode demonstrar a necessidade da contratação de um gerente de e­commerce para gerenciar a operação. É necessário ainda investirem treinamento para o setor de vendas e logística. Existem microempresas que não possuem funcionários ou têm apenas um. Mas há outras que já começam a operação precisando de mais investimentos. Então é necessário analisar caso a caso”, afirma.

Por isso, Henrique Mengue dá algumas dicas para começar a operar dentro de um Marketplace: “O primeiro ponto é decidir quais produtos o lojista venderá. A dica aqui é procurar se diferenciar, pois o desejo do marketplace é ter um grande mix de produtos. Vender o que todo mundo já vende pode tirar sua competitividade”, alerta o CEO do Digital Commerce Group.

Além disso, ele afirma que é preciso o empresário conversar com os próprios marketplaces. “Todos eles possuem canais para cadastrar novos Sellers (nome dado a um vendedor dentro de um marketplace). Nessa conversa, o lojista vai conhecer as taxas, as regras, etc.”, diz Mengue.

Depois disso, organize sua operação. Planejamento aqui é fundamental para o lojista definir como será o processo de compra de produtos, embalagem, expedição e atendimento. É importante lembrar que a venda é realizada pelo Marketplace, mas a entrega e o atendimento serão feitos pela sua empresa.

E, assim como Leandro Soares, Mengue indica que contratar uma plataforma para gestão de marketplace também é indicado. “Sistemas como o Octopus ajudam o empreendedor a administrar a venda em dezenas de marketplaces, tudo centralizado em um único painel. Além da tecnologia, essas empresas ajudam em conceitos e treinam o cliente nas principais operações do marketplace”, ensina.

SEGMENTADOS

Uma dúvida de muitos empreendedores antes de entrar em um marketplace é se é melhor estar presente em um que ofereça vários tipos de produtos e serviços ou naqueles mais segmentados. Edsel Oliveira explica que quando o seu produto está em um marketplace segmentado, ele estará se associando a marcas que também estão presentes nele, o que pode ser uma vantagem. “Mas, muitas vezes, existirão marcas ou produtos que concorrem somente em preço, o que pode prejudicar também a imagem do seu produto”, ajuíza.

Mengue do Digital Commerce Group já diz que isso vai depender do seu segmento. “O importante é testar e ver qual canal se adapta mais ao seu caso. Obviamente, os marketplaces de nicho, como de ‘moda’ ou de ‘decoração’, por exemplo, terão mais consumidores procurando por itens desses segmentos, mas os genéricos podem compor uma venda adicional significativa, já que contam com um tráfego maior. Como o lojista só paga a comissão se vender, a regra é testar todos e analisar o que traz melhores resultados”, aconselha.

POTENCIALIZE

Pronto, você já entrou no marketplace, como fazer agora para potencializar as suas vendas dentro deste canal?

A melhor maneira, de acordo com Henrique Mengue, é com uma boa reputação, conquistada através de um serviço impecável. “É essencial ser cuidadoso com os prazos de entrega, qualidade da embalagem e atendimento pós-venda. Apesar da venda ter acontecido em outro canal, o cliente iniciará um relacionamento com a loja. Além disso, muitos marketplaces criam ‘rankings’ e priorizam vendedores que possuem melhores notas de reputação”, explica.

O diretor do Mercado Livre diz ainda que preço competitivo é um dos fatores que mais chamam a atenção e ajudam na venda também. Porém, sempre destacam a importância de uma foto de boa qualidade que pode ser tirada com qualquer celular hoje em dia. Além disso, a produção de um pequeno vídeo mostrando o funcionamento e a qualidade do produto, descrever no campo ‘descrição os detalhes, como o tempo de uso, tamanho, voltagem, cor e todas as características possíveis, além de possíveis defeitos e estado atual do produto são boas formas de captar melhores vendas também.

Soares ressalta que é de extrema importância responder às perguntas dos interessados de forma rápida e completa. “Uma pessoa que vai a uma loja física e questiona sobre um produto espera ter a resposta rapidamente, o mesmo ocorre na internet. Quanto menor o tempo de resposta, maior a conversão em vendas. É importante lembrar que essas dicas valem tanto para um produto usado como um novo, e um vendedor profissional também pode segui-las para alcançar o sucesso em suas vendas”, indica.

Mengue alerta ainda que é imprescindível estar preparado para vender e atender os clientes.  “Ao entrar nos marketplaces, o vendedor passa a ofertar seus produtos em diferentes canais, com muitos acessos. Grandes portais como Mercado Livre, Americanas, Extra, entre outros, possuem muitos usuários diariamente. A loja que estiver em todos esses portais terá grande chance de realizar vendas, mas a operação deverá estar redonda para atender a essa demanda, lembrando que a reputação é peça ­ chave, e atraso na entrega poderá bani-lo da operação”.

Erros de cadastro, como títulos, descrições, preços e estoques, são outros cuidados que devem ser tomados. Se o marketplace passar uma informação errada para o cliente, o vendedor será corresponsável. É muito importante revisar tudo e garantir que a informação enviada esteja correta.

5 DICAS AO COLOCAR O SEU PRODUTO NO MARKETPLACE

  • Faça um título que diga exatamente qual é o produto que está sendo vendido. Afinal, pense nas buscas. Um bom título deverá conter: Nome do produto + marca + modelo + especificações técnicas e características + serviços adicionais. Exemplo: Capa celular iPhone 6S emborrachada preta verde resistente;
  • Descreva seu produto ou serviço detalhadamente, contendo tamanho, cor, voltagem, tempo de uso, se possui caixa original, manual, garantia, funcionamento em perfeito estado ou o que deve ser arrumado;
  • Coloque sempre fotos e, se possível, até mesmo vídeo que mostre o real estado do produto, com qualidade, preferencialmente de fundo todo branco e em diferentes posições;
  • Ofereça um preço real e competitivo + o valor do frete. Ou seja, pratique os melhores ou bons preços. Trabalhe ofertas. Combos de produtos. Não foque em um único produto, tenha variedade;
  • Tenha atendimento pré e pós-venda, pois o anúncio estará disponível para milhões de pessoas, que farão perguntas para tirar suas dúvidas. Responder a essas perguntas de forma rápida e eficiente, sanando todas as dúvidas fará com que o produto seja vendido. Após a venda, não deixe de responder ao seu comprador caso ele tenha dúvidas e outras necessidades. O pós­ venda é muito importante.

 

5 DICAS PARA NÃO QUEIMAR A REPUTAÇÃO NO MARKETPLACE

1 –  Não anunciar um produto e vendê-lo sem ter estoque;

2 –  Não demorar horas ou dias para responder a uma pergunta feita na plataforma;

3 –  Enviar o produto o mais rápido possível e sempre manter o seu cliente informado sobre a entrega;

4 –  Fazer um pós-venda de qualidade. Pode ocorrer de, no momento de logística, ser enviado o produto errado, algum problema durante o transporte, ou até mesmo um defeito de fabricação não identificado antes;

5 –  Seja competitivo, mas não pratique nada antiético na rede. Isso se espalhará rapidamente.

 

CONFIRA ALGUNS MARKETPLACES DO MERCADO

MERCADO LIVRE

Mercado Livre é uma companhia de tecnologia na América Latina presente em 19 países que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas físicas e em presas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos e serviços por meio da internet. “Desde que foi fundado, em 1999, ele vem ajudando pessoas físicas, micro e pequenos empresários, além de potencializar e influenciar no surgimento de novos empreendedores”, diz o diretor de marketplace da empresa, Leandro Soares.

De acordo com pesquisa encomendada pelo Mercado Livre em 2013, em parceria com a Nielsen, 150 mil famílias na América Latina vivem da renda gerada pelos negócios no Mercado Livre. Somente no Brasil, são 50 mil famílias. A empresa possui também diversos clientes que começaram como pessoa física ou microempreendedor e hoje são grandes vendedores na internet.

Investindo cada vez mais para que isso aconteça, eles possuem diversos materiais e eventos. Entre eles, a Universidade Mercado Livre pocket, que ocorre em diferentes cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, etc., e o Mercado Livre Experience, que já acontece há três anos. “Esses eventos são para apresentar as facilidades da nossa plataforma e ensinar sobre o varejo on-line, nos aproximar de nossos vendedores e motivar o empreendedorismo”, declara Soares.

Entre suas áreas de negócios estão: Mercado Livre.com; Mercado Pago; Mercado Livre Classificados; Mercado Livre Publicidade; Mercado Envios + Axado; e KPL, que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas e empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos por meio da internet. “Hoje, o Mercado Livre.com atende mais de 152 milhões de usuários registrados e criou um mercado com ampla variedade de bens e serviços de uma forma fácil, segura e eficiente. Em abril de 2015, o Mercado Livre Brasil adquiriu a empresa KPL Soluções, provedora de ferramentas de gestão para o e-commerce. Com a KPL, passamos a oferecer sistemas de ERP e BackOffice para empresas de e­commerce – mais um serviço de seu ecossistema de soluções. Em junho de 2016, adquirimos o Axado, empresa de soluções em gestão de frete que simplifica a logística e a torna mais eficiente, em relação ao prazo, valor e rastreamento da entrega, reduzindo os custos logísticos”, mostra.

ELO 7

Criado em 2008, o Elo7 é hoje um dos maiores marketplaces de produtos criativos e autorais do País.

O site possui três milhões de produtos anunciados e mais de 70 mil vendedores cadastrados.

Além disso, o Elo? lançou no mercado uma nova forma de compra on-line, que torna a compra por celulares tão fácil quanto usar um aplicativo de mensagens. “Com a tecnologia exclusiva chamada Talk7, o Elo? é o marketplace pioneiro ao criar e migrar suas vendas para o novo sistema de compras via chat em tempo real”, afirma o CEO da empresa, Carlos Curioni.

Com a tecnologia desenvolvida pelo próprio Elo7, o comprador consegue fazer tudo pelo chat. Desde perguntas ao vendedor até receber sugestões de materiais, cores e texturas que integrarão o produto, e concretizar o pedido na mesma interface. “Isso simplifica e agiliza muito a vida de quem compra, porque o pedido e a conversa com o vendedor ficam organizados em uma linha de tempo fácil de ser consultada pelo celular de qualquer lugar”, explica Curioni.

Segundo ele, o criador de produtos criativos e autorais que entra no marketplace encontrará na plataforma um local para divulgar suas criações, se posicionar no mercado e encontrar compradores interessados em produtos criativos e autorais. Além disso, a plataforma também oferece todo tipo de suporte para a criação da sua loja – desde dicas para ter uma loja mais atraente até o auxílio para gerenciar seu próprio negócio. “O Elo? t em como maior objetivo desenvolver as melhores tecnologias e oferecer aos vendedores soluções simples e práticas para o gerenciamento de suas vendas, e para os compradores, uma experiência de compra fora de série”, afirma.

Em 2015, a empresa fechou com 30 mil novos lojistas, conquistando um crescimento expressivo, com a marca de R$300 milhões em volume de transações e um crescimento de 80% se comparado ao mesmo período de 2014. Para 2018, pretendem manter esse ritmo para chegar ao final do ano com R$500 milhões em vendas, além de crescimento de 66%.

WALMART.COM

Em outubro de 2013, o Walmart também começou a oferecer uma plataforma marketplace no mercado brasileiro. De acordo com o diretor de marketplace e serviços da empresa, Luiz Pimentel, eles investiram em recursos financeiros e pessoal capacitado. “Hoje, possibilitamos que um lojista assine contrato conosco on-line. Damos orientação quanto à melhor forma de divulgar o catálogo e seu conteúdo, visando acelerar as vendas. Além disso, damos feedback constante do que pode ser melhorado.

E nos baseamos em comentários de nossos clientes quanto à satisfação obtida na experiência de compra”, mostra.

Aqueles que utilizarem a plataforma de marketplace do Walmart terão acesso a todos os milhares de clientes que acessam o próprio site. “Hoje contamos com o processo de contrato mais rápido do mercado, um laboratório de integração presencial para sanar todas as dúvidas do lojista, grande ajuda no processo de geração de conteúdo para vender mais, fortes investimentos em marketing que ajudam a dar visibilidade aos produtos, acesso às informações de produtos mais buscados no site e pós-venda conectado com o lojista para dar mais rapidez e satisfação aos consumidores”, informa Pimentel.

O catálogo da empresa já disponibiliza mais de dois milhões de itens. O número de lojistas cresceu 350% em 2017 se comparado ao ano anterior.

 HOUPET

Lançada em maio de 2016, a Holipet funciona como um marketplace de serviços pet além de outras funcionalidades de divulgação e buscas de eventos, produtos e estabelecimentos pet. Trata-se de uma plataforma que possibilita aos profissionais deste mercado ampliar o seu negócio de maneira sustentável, facilitar a comunicação com os donos de animais de estimação que possuem necessidades semelhantes, mas muitas vezes especificas, e também apoiar causas de proteção animal.

Segundo a fundadora da empresa, Vanessa Louzada, eles já possuem 280 usuários consumidores cadastrados, 40 prestadores e 101 estabelecimentos. “Os marketplaces promovem e ampliam em um único local a oferta de produtos e serviços para os micro ou pequenos empreendedores. É o local ideal para esse público! Quando se trata de um segmento específico é ainda melhor, pois tanto o marketplace quanto os anunciantes convergem para o mesmo objetivo, além de ganhar referência dada pelos próprios consumidores.

É o que queremos com a Holipet, ser o marketplace referência do segmento pet para micro ou pequenos prestadores de serviços e lojistas”, pontua.

Para os consumidores, a Holipet oferece facilidades na busca e contratação de serviços através de filtros por região, avaliação, preços, etc. É possível também buscar locais petfriendly, eventos, animais perdidos e resgatados e um blog cheio de informações e dicas para o dia a dia de quem tem pets.

“Já para o prestador de serviço ou estabelecimento pet, oferecemos recursos que os permitem organizar o seu negócio e proporcionamos uma boa possibilidade de aumento de receita. Além da publicidade do perfil ser disponibilizado para o consumidor final e do agendamento dos serviços on-line, oferecemos agenda inteligente, envio de SMS, lembretes, relatórios de gestão, site institucional e busca por produtos, entre outras funcionalidades”, informa Vanessa.

VINTECONTO

O Marketplace voltado para freelancers e empresas funciona como um canal onde o profissional e o estudante monetiza o que ama fazer.

Traz uma exclusividade de serviços em sua maioria por R$20,00. Fundada em dezembro de 2015, a CEO da empresa, Monique Medeiros Costa, conta que, no marketplace, freelancer compra de freelancer, profissionais buscam ajuda com tarefas do dia a dia e, principalmente, pequenos empresários que estão começando um negócio com pouco capital procuram a plataforma para contratar serviços de qualidade comprovada na página de cada freelancer com o melhor preço do mercado brasileiro.

São serviços essenciais para empresas como logotipo, cartão de visitas, criação de aplicativos, folders, criação e otimização de sites, além de diversos recursos para a internet. “Isso faz toda a diferença para muitos pequenos empresários e redes de franquias que estão começando um negócio, seja ele virtual ou não. Temos criação de e-books, criação de conteúdo criativo e otimizado para os mecanismos de busca, comerciais, vídeos demonstrativos de produtos e de apresentação da empresa, serviços de marketing, assistente virtual. E também estamos crescendo nossa categoria de cursos virtuais e educação”, divulga.

Inicialmente, Monique diz que investiram R$57 mil na plataforma e hoje estão esperando gerar em torno de R$500 mil em receita. Já passaram de 10 mil usuários e devem ultrapassar 15 mil até o final deste ano. “Esse é um ótimo número para nós, porque 95% dos clientes voltam para contratar mais serviços poucos dias após o uso da Vinte conto”, comemora.

A CEO diz que quem entra no marketplace pode vender quantos serviços quiser, pagando apenas uma taxa de 12% só quando vendem.

“Tudo o que o freelancer precisa fazer é anunciar o serviço uma vez e esperar por muitos e-mails de notificações de suas vendas e de perguntas dos clientes. Tempo é algo que valorizamos muito na Vinte conto. Então ele não precisa visitar a plataforma diariamente e enviar propostas aos clientes, ele expõe todo o seu trabalho e aguarda a manifestação dos clientes. Marketplaces como o nosso é uma tendência, já que o mercado de freelancers cresce a cada dia. Os empreendedores têm a oportunidade de contratar serviços pelo menor preço do mercado, de ficar por dentro das ferramentas de marketing mais recentes e ao mesmo tempo ajudam a Vinte conto a manter este espaço para todos que tenham um talento e queiram monetizá-lo”, comemora.

 XBW

A empresa é uma plataforma destinada a intermediar o contato entre compradores e fornecedores de produtos e serviços de diversos segmentos. Surgiu em 2014, desenvolvida no parque tecnológico Tecnosinos.

Segundo o CEO da empresa, Anderson Detogni, para uma empresa cadastrar seu negócio na plataforma, ela deve pagar uma assinatura mensal de R$35,00. “Esse é o único valor cobrado e não há diferença de preço em relação ao tamanho da companhia. Além de facilitar o encontro entre grupos de empresas, a plataforma ainda é capaz de cruzar os dados de seus clientes para indicar, a cada assinante, potenciais compradores ou vendedores. Outra facilidade oferecida aos assinantes é o banco de prestadores de serviço, no qual constam profissionais de áreas como contabilidade, advocacia e marketing, que podem se cadastrar de graça no site. Juntando tudo isso, posso dizer que as companhias conseguem concentrar todas as suas necessidades em um único lugar, o que facilita muito os processos do dia a dia. Também contribui para diminuir custos e maximizar ganhos”, explica Detogni.

Ele diz que já são mais de 6 mil empresas e 250 mil usuários. A plataforma já gerou mais de R$2 milhões em negócios fechados, e o movimento dobrou de maio para junho, somando mais de 500 mil visitas. Até o final de 2018, a

expectativa é que a XBW chegue a 16 mil empresas assinantes. “Pequenos negócios conseguem aparecer ao lado de grandes corporações e até mesmo disputar com elas.

Atualmente, das mais de 6 mil empresas cadastradas, quase 80% são pequenas e médias. Todo mês, o empreendedor recebe também um relatório que pode ajudar no fechamento de novos negócios de compra ou venda”, informa.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 24: 32 – 51 – PARTE I

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A Parábola da Figueira. Predições Terríveis. O Dever da Vigilância. O Bom e o Mau Administrador

 

Aqui temos a aplicação prática da predição anterior. De maneira geral, nós devemos esperar e estar prepara­ dos para os eventos aqui preditos.

I – Nós devemos esperá-los. “‘Aprendei, pois, esta parábola da figueira’ (vv. 32,33). Agora aprendei que uso fazer das coisas que ouvistes; observai e conhecei os sinais dos tempos, comparando-os com as predições da Palavra, para, a partir daqui, poderem prever o que está à porta, para que possais prover de maneira adequada”. A parábola da figueira nada mais é que isso, o seu germinar e o seu florescer são um presságio do verão; pois assim como as cegonhas no céu, também as árvores no campo conhecem o seu tempo. O início da realização das causas secundárias nos assegura do seu progresso e da sua perfeição. Assim, quando Deus começa a cumprir profecias, Ele alcança o seu objetivo. Existe uma série determinada nas obras da providência, assim como existe nas obras da natureza. Os sinais dos tempos são comparados com os prognósticos da “face do céu” (cap. 16.3), e também aqui, com os da face da terra – quando ela se renova, nós prevemos que o verão se aproxima, não imediatamente, mas depois de algum tempo. Quando “os ramos se tornam tenros”, nós podemos esperar, por exemplo, os ventos de março e as chuvas de abril em nosso país, antes da vinda do verão. No entanto, temos a certeza de que o verão se aproxima. Da mesma maneira, nós podemos confiar que quando o dia do Evangelho amanhecer, por meio dessa variedade de eventos que o Senhor nos revelou, o dia perfeito virá. As coisas reveladas devem acontecer em breve (Apocalipse 1.1). Elas devem acontecer na sua própria ordem, na ordem indicada para elas. “Sabei que ele está próximo”. Jesus não diz aqui o que está próximo, mas é aquilo que está nos corações dos seus discípulos, e sobre o que eles fazem perguntas, e pelo que anseiam. O Reino de Deus está próximo, como está dito na passagem paralela (Lucas 21.31). Note que quando as árvores da justiça começam a brotar e florescer, quando o povo de Deus promete fidelidade, é um feliz presságio de bons tempos. Neles, Deus inicia a sua obra, preparando primeiro os seus corações. E então Ele prosseguirá com o seu plano; pois, no que diz respeito a Deus, a sua obra é perfeita, e Ele a avivará no meio dos anos.

Quanto aos eventos preditos aqui, temos algo a esperar.

1. Cristo nos assegura aqui da certeza desses acontecimentos (v. 35): “O céu e a terra passarão”. Eles ainda continuam a existir em nossos dias, de acordo com as ordens de Deus; mas não continuarão para sempre (Salmos 102.25,26; 2 Pedro 3.10). “Mas as minhas palavras não hão de passar”. Note que a palavra de Cristo é mais confiável e duradoura do que o céu e a terra. “Diria ele e não o faria?” Nós podemos edificar com mais segurança sobre a palavra de Cristo do que sobre as colunas do céu, ou as fortes fundações da terra; pois quando elas estiverem trêmulas e cambaleantes, e não existirem mais, a palavra de Cristo ainda permanecerá, e estará em pleno vigor, em plena força e virtude (veja 1 Pedro 1.24,25). É mais fácil o céu e a terra passarem do que alguma letra da palavra de Cristo não se cumprir (Lucas 16.17. Compare com Isaias 54.10). O cumprimento dessas profecias pode parecer ter sido atrasado, e os eventos intervenientes podem parecer não estar em conformidade com elas, mas não pense que por isso a Palavra de Deus terá desmoronado, pois ela nunca passará; mesmo que ela não se cumpra, nem na época ou da maneira como prescrevemos; ainda assim, no tempo de Deus, que é o melhor tempo, e da maneira de Deus, que é a melhor maneira, certamente ela se cumprirá. Cada palavra de Cristo é muito pura, e, consequentemente, muito confiável.

2. O Senhor Jesus os instrui aqui quanto à época em que essas coisas aconteceriam (vv. 34,36). Quanto a isso, o sábio Grotius bem observa que existe uma distinção evidente feita entre tauta (v. 34) e ekein e (v. 36), “essas coisas” e “daquele dia e hora”, o que irá ajudar a esclarecer essa profecia.

(1)  Quanto a essas coisas, as guerras, os enganos e as perseguições aqui preditos, e em particular, a destruição da nação judaica: ‘”Não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam’ (v. 34). Há aqueles que agora estão vivos que verão Jerusalém destruída, e o fim da instituição judaica”. Como isso poderia parecer estranho, o Senhor apoia este fato com uma afirmação solene. ‘”Em verdade vos digo’. Vós tendes a minha Palavra; estas coisas estão às portas”. Cristo frequentemente fala da proximidade daquela desolação, para tocar as pessoas e estimulá-las a se prepararem para ela. Pode haver provações e dificuldades diante de nós, na nossa época, maiores do que estamos cientes. Os mais velhos não sabem que filhos de Anaque podem estar reservados para os seus próprios encontros.

(2)  “Porém daquele Dia e hora” que porá um fim no tempo, “ninguém sabe” (v. 36). Por isso, tomem cuidado para não confundir estes dias, como eles faziam, baseando-se nas palavras de Cristo e nas epístolas dos apóstolos, inferindo que o dia de Cristo já estava perto (2 Tessalonicenses 2.2). Não, não estava; esta geração e muitas outras irão passar antes que cheguem aquele dia e aquela hora. Observe:

[1] Existe um determinado dia e hora para o julgamento que há de vir; ele é chamado de Dia do Senhor, porque é fixado de maneira imutável. Nenhum dos julgamentos de Deus é adiado sine die sem a fixação de um dia determinado.

[2] Este dia e esta hora são um grande segredo.

Nenhum homem o sabe; nem o mais sábio, pela sua sagacidade, nem o melhor, por qualquer descoberta divina. Todos nós sabemos que haverá est e dia, mas ninguém sabe quando isso acontecerá; nem os anjos, embora a sua capacidade de conhecimento seja grande, e as suas oportunidades de terem essa informação sejam vantajosas (eles habitam na fonte de luz), e embora eles devam ser empregados na solenidade daquele dia, nem por isso sabem quando será: “ninguém sabe,… mas unicamente meu Pai”. Este é um dos segredos que pertencem ao Senhor, nosso Deus. A incerteza da ocasião da vinda de Cristo é, para aqueles que são vigilantes, um cheiro de vida para vida, e os torna ainda mais vigilantes; mas para aqueles que são descuidados, é um cheiro de morte para morte, e os torna ainda mais descuidados.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

EM BUSCA DO “EU”

Diversas regiões cerebrais participam do reconhecimento de nosso próprio rosto. Fenômenos complexos como memória, planejamento ou autoconsciência não podem ser encontrados numa única área, e os cientistas estão apenas começando a desvendar a sede do eu no cérebro.

Em busca do Eu

Pouco depois de ter iniciado meu trabalho com Gordon Gallup, em Albany, conheci Bruce McCutcheon. Como biopsicólogo da escola antiga ele havia trabalhado com roedores em laboratório e, além disso, era conhecido por seu detalhismo.  McCutcheon sabia de meu interesse por autoconsciência e técnicas de imageamento, já que eu tinha acabado de concluir uma pesquisa sobre o cérebro de jovens alcoólatras. Certa tarde, ele me levou ao seu escritório, e mostrou um gráfico e diversas tabelas num quadro negro. O gráfico tinha dois rostos e um cilindro. Ele se perguntava se com a ajuda de técnicas de neuroimagem desenvolvidas nos anos 90, a chamada “década do cérebro”, seria possível localizar as regiões relacionadas ao “eu”.

Segundo imaginara, alguém estaria deitado no interior do cilindro – que representava um tomógrafo por ressonância magnética funcional (fMRI) – e seria apresentado primeiro a uma imagem de seu próprio rosto e depois, como comparação, à de outro rosto. Se marcássemos as regiões cerebrais ativas enquanto essa pessoa observava seu, rosto e depois “subtraíssemos” as áreas ativas durante a observação de outro rosto, as regiões ativas restantes corresponderiam à autoconsciência. McCurcheon estava convencido de que a fMRI poderia nos ajudar a localizar o “cu” no cérebro, pelo menos inicialmente. No fim de sua explanação, meu colega, habitualmente circunspecto, estava entusiasmadíssimo e me perguntou minha opinião. Eu logo percebi que ele tivera uma ideia grandiosa.

Achamos melhor primeiramente confrontar os participantes do estudo com o próprio rosto. Concordamos em realizar um experimento por meio de fMRI no qual contrastássemos o estimulo de nosso interesse (o rosto do participante) com algo semelhante. Como nos interessava saber qual o efeito de X, queríamos comparar a atividade cerebral diante da visão de XYZ com a de YZ. A atividade restante poderia, portanto, ser associada exclusivamente a X. O objetivo era o isolamento das regiões responsáveis pelo reconhecimento do próprio rosto, diferentes daquelas encarregadas de reconhecer rostos de maneira geral.

A escolha de estímulos de controle (ou seja, imagens que não fossem do próprio rosto) não foi fácil. Para obter bons dados com fMRl, esses rostos deveriam ser apresentados diversas vezes no decorrer do experimento. Procuramos uma feição não muito emocional, mas ao mesmo tempo interessante.

Um rosto que despertasse muita emoção nos levaria à “área de sentimentos” do cérebro, em vez da região do “eu”. Outro muito inexpressivo, ao contrário, poderia nos levar ao “centro de monotonia”. Após alguns experimentos-piloto, escolhemos Einstein como rosto de controle. Ele tem fisionomia marcante e, em experimentos prévios, provocou reações que variaram pouco. Além disso, os participantes conseguiam se concentrar por um tempo mais longo em seu rosto.

VER, SIM – MAS E OUVIR?

Ao lado de Glenn Sanders, decidimos não ficar apenas em experimentos de reconhecimento do próprio rosto. Se há de fato uma região onde se forma a autoconsciência, então qualquer estímulo do “eu” deveria ativá-la. Assim confrontamos as pessoas com a própria voz e com a voz de outras pessoas durante a tomografia.

A experiência ocorreu na Universidade Médica da Carolina do Norte, em Charleston, no laboratório de Mark George. Duas pessoas foram confrontadas com a imagem do próprio rosto e do rosto de Einstein, assim como com gravações das vozes. Tudo correu sem problemas, mas a espera pelos resultados esgotou nossos nervos. Ao lado de George e sua equipe, tínhamos acabado de realizar o primeiro estudo sobre auto reconhecimento com a utilização de fMRI.

Constatamos que a visão do próprio rosto ativara regiões do hemisfério direito. Tais resultados coincidiram com as descobertas de outros pesquisadores de que o hemisfério direito reagia de forma bem mais intensa que o esquerdo ao próprio rosto. Constatamos que a região responsável pelo auto reconhecimento se situa possivelmente na parte anterior do córtex frontal direito. Os dados relativos à voz também mostraram atividade no hemisfério direito, no entanto, os resultados não eram tão claros. De qualquer forma, estávamos no melhor caminho para descobrir o significado do hemisfério direito no processamento da autoconsciência, ou melhor para redescobrir seu significado.

Paralelamente aos nossos estudos na Carolina do Sul, McCutcheon, Sander e eu, examinamos o mesmo fenômeno na Escola Médica de Albany, em Nova York. Em vez de Einstein, usamos Bill Clinton como rosto familiar.

Essa decisão –  tomada quando ainda não se falava em Mônica Lewisnky -, baseou-se na reação positivados participantes à foto do presidente.

Por sugestão de Glenn para reforçar ainda mais a autoconsciência dos participantes, modificamos o estímulo. Em vez de lhes mostrar apenas o próprio rosto e, como contraste, o de Clinton, escrevemos sobre a imagem do participante frases como “eu penso” ou “eu acredito”.  Na foto de Clinton estava escrito “ele pensa” e “ele acredita”. Durante a experiência, eles eram instruídos a se concentrar totalmente nas fotos e frases. Assim, como tinham de se concentrar no próprio rosto e, estimulados pelas frases, e seus próprios pensamentos, atingimos com alguma certeza um alto grau de autoconsciência.

Aqui também concluímos que as regiões da área frontal anterior direita do cérebro apresentavam sinais de ativação reagindo aos auto- estímulos com atividade mais intensa. Esse estudo indicava, assim como exames anteriores, que o hemisfério direito exerce importante papel no reconhecimento do próprio rosto.

Uma questão interessante no ato de reconhecermos o próprio rosto é ilustrada com o que chamo “efeito loja de departamentos”. Nesses locais, espelhos diversos são colocados em ângulos estranhos e, ao nos depararmos inesperadamente com um deles, por um curto espaço de tempo achamos que a imagem refletida é de outra pessoa. Logo percebemos que se tratada nossa própria imagem. Mas essa experiência pode nos deixar confusos.

Passamos muitas horas olhando nosso rosto. Toda manhã nos barbeamos ou maquiamos, examinamos nossa roupa penteamos o cabelo. No decorrer do dia, sempre nos observamos e usamos tal informação para arrumar nossa aparência. Quando uma pessoa se deita em um tomógrafo, ela já tem grande experiência em se ver no espelho. Conseguir reconhecer a si mesmo significa ter a capacidade para a autoconsciência. No entanto, simplesmente olhar para própria imagem não significa ser autoconsciente.

Faça essa pequena experiência, tente se concentrar apenas em si mesmo cada vez que se olhar no espelho. Você provavelmente vai perceber que isso é muito difícil porque quando nos olhamos no espelho, nós nos observamos atentamente no início, mas então nossos pensamentos voam. Vamos para outro mundo, fazemos planos e imaginamos como seria bom dormir mais uma hora, por exemplo. Mark Weeler, da Universidade de Têmple, Filadélfia, descreveu tal experiência e observou que olhar-se no espelho ou reconhecer a si mesmo não implica necessariamente estar em estado de autoconsciência.

Uma coisa estava clara: se queríamos testar a autoconsciência das pessoas em função de seu próprio rosto, seria preciso assegurar que realmente estivessem em estado de “autoconsciência”. No entanto, pode levar até 30 segundos para se obter uma boa representação imagética do cérebro ativo com uma tomografia por ressonância magnética funcional. Sendo assim, os participantes tinham de observar a própria face atentamente durante 30 segundos e repetir até dez vezes tal procedimento.

Em nossas tentativas piloto em Albany, algumas pessoas se distraiam em pensamentos enquanto observavam seu rosto.

O problema foi solucionado quando pedimos que olhassem alternadamente o próprio rosto e lessem as legendas abaixo das imagens.

Algum as dessas possibilidades foram estudadas pelo grupo do neurologista Motoaki Sugiura por meio de tomografias por emissão de pósitrons (PEl). Em busca das regiões que participam do reconhecimento do próprio rosto, os pesquisadores examinaram dois tipos diferentes de auto reconhecimento, que denominaram “passivo” e “ativo”. Depois de fotografarem os participantes do estudo sob ângulos diversos, eles misturaram imagens de rostos desconhecidos, também tiradas de pontos diferentes. Durante o experimento, apresentaram as imagens sob três condições. Na situação controle, em que mostraram desconhecidos, na variante passiva, exibiram a própria face do participante, e pediram que descrevessem o ângulo do rosto mostrado. Como não sabiam que a imagem era do próprio rosto, as pessoas não tentavam encontra-lo expressamente.

Na variante ativa, os participantes foram informados de que seu rosto seria mostrado e que eles deveriam reagir cada vez que o vissem.

Sugiura e seus colegas realizaram diversas análises dos dados. Ao comparar o reconhecimento passivo do próprio rosto e a visão das feições de controle, perceberam que a área ativada no hemisfério direito era 1,26 vez maior. Portanto, apenas a observação passiva do próprio rosto gerava maior participação do lado direito do cérebro.

Na comparação da observação ativa com a situação controle, o grupo não encontrou nenhuma diferença significativa entre os hemisférios cerebrais, mas ao compararem as observações passiva e ativa do próprio rosto, constataram que a área ativa no hemisfério direito era 2,18 vezes maior. Aparentemente, portanto, foram ativadas mais regiões no hemisfério direito.

Como a PET permite que sejam examinadas regiões específicas do cérebro, o grupo definiu com seus experimentos as áreas que participavam das observações ativa e passiva. No hemisfério direito a região frontal direita, o giro do cíngulo e o chamado pulvinar do tálamo, núcleo que processa informações dos sentidos, eram responsáveis pela observação ativa do próprio rosto.

No hemisfério esquerdo foi registrada atividade no giro fusiforme, área que fica no fundo da parte posterior do cérebro e que tem grande participação geral no reconhecimento de rostos. Lesões nessa região podem levar à prosopagnosia, incapacidade de reconhecer rostos familiares. Nos homens, assim como nos primatas, essa espiral do cérebro se torna ativa quando se trata de diferenciar rostos. Não é de espantar que tal região apresente certa atividade durante uma tarefa de reconhecimento de rostos. No entanto, é pouco provável que o giro lusiforme tenha forte participação no reconhecimento do próprio rosto, pois as dificuldades decorrentes de uma lesão nessa área não se limitam à própria face.

O EQUILÍBRIO É TUDO

A partir dos estudos japoneses e dos resultados de nossas pesquisas, constatamos que o hemisfério direito é muito importante para o reconhecimento da própria face. Segundo os exames realizados por Sugiura, algumas regiões da área frontal do cérebro exercem importante função durante o reconhecimento ativo. Porém, diversas áreas do cérebro participaram ativamente também no reconhecimento passivo. Ao que tudo indica, não há uma única região especializada em tal tarefa. Assim, o órgão pensador pode ser comparado a um móbile em que o equilíbrio de uma parte depende das outras. Fenômenos complexos como memória, planejamento ou autoconsciência não podem ser encontrados em uma única área. Pode ser que, aparentemente, diferentes aspectos de cada uma dessas habilidades cognitivas existam isoladamente, mas na verdade eles dependem da função de outras regiões cerebrais.

Os experimentos de Bruno Preilowski, Sugiura e os meus forneceram, sem dúvida, indícios da dominância do hemisfério direito em processos relacionados ao “eu”. Porém, Roger Sperry e Preilowski demonstraram que ambos os hemisférios são capazes do auto reconhecimento, e Sugiura encontrou diferentes regiões que participam do processamento de si, o que também coincide com nossos resultados. Pode ser que o processamento ocorra predominantemente no hemisfério direito, mas é evidente que outras regiões participam desse processo.

Mesmo assim, todos esses resultados foram fascinantes. Aos poucos, os cientistas começam a desvendar os segredos que ocupam pesquisadores há séculos. Estávamos prontos para descobrir as regiões do cérebro em que surge a autoconsciência.

OUTROS OLHARES

CONTINUAMOS ESCRAVOS

130 anos após a abolição da escravatura, população negra permanece sofrendo com a desigualdade, a violência e o abandono social

Continuamos escravos

Passados exatos 130 anos da sanção da Lei Áurea pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, os brasileiros ainda convivem com a escravidão ou com uma condição análoga a ela rotineiramente e a desigualdade entre negros e brancos continua escandalosa. A lei imperial 3.353 solucionou o grande problema da liberdade dos escravos, mas manteve os indivíduos das duas raças profundamente desiguais e sem condições de competir, com permanente desvantagem para os negros – empurrados para o ponto mais baixo da pirâmide social. O Brasil foi o último país americano a abolira escravidão – o penúltimo foi Cuba, em 1885. E também foi o lugar que mais recebeu escravos africanos ao longo de sua história. Calcula-se que entre 1550 e 1860 cerca de 4.8 milhões de pessoas tenham sido trazidas contra a vontade da África para o Brasil. As relações de poder do velho sistema se entranharam na cultura nacional e deixaram um passivo gigantesco de injustiça e preconceito, encoberto pelo mito da democracia racial, que até hoje não foi superado.

“A Lei Áurea foi uma lei muito breve, muito conservadora, não veio acompanhada de nenhum projeto de inclusão social e nem foi capaz de redimir desigualdades assentadas ou apagar hierarquias naturalizadas”, diz a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, organizadora, junto com Flávio dos Santos Gomes, do “Dicionário da Escravidão e Liberdade” (Companhia das Letras), lançado a propósito da efeméride abolicionista.

“E o racismo estrutural que experimentamos hoje no Brasil não é só herança – novas formas de racismo estão sendo construídas e se expressam na educação, na saúde ou nos números da violência contra os jovens. “Em muitos aspectos, a Lei Áurea condenou uma grande parte da população a permanecer nas margens da sociedade. A condição de trabalho do liberto continuou extremamente precária e para o negro não houve nenhum tipo de proteção legal, trabalhista e social.

A situação atual do mercado de trabalho é exemplar da desigualdade entre brancos e negros e escancara um preconceito racial na ocupação das vagas de emprego, na distribuição dos cargos e na remuneração. Segundo os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), os salários dos trabalhadores brancos são, em média, 80 % superiores ao dos negros. Considerando todas as ocupações, enquanto um branco tem um ganho real de R$ 2.660, a renda do negro é de R$ 1.461 e a dos pardos, R$ 1.480. Mais grave: a escolaridade não basta para equiparar renda de brancos e negros. Conforme ela aumenta, maior a diferença salarial, de acordo com pesquisa da Fundação Seade/Dieese. Entre os trabalhadores com ensino médio completo, na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, os negros receberam 85 % do valor ganho pelos brancos. em 2016. Segundo o relatório “A distância que nos une”, realizado pela Oxfam, ONG dedicada ao combate da pobreza e da desigualdade no mundo, em 2017, 67 % dos negros brasileiros receberam até 1.5 salário mínimo, enquanto menos de 45 % dos brancos estão nessa faixa salarial. Mantido o ritmo de inclusão observado no período, a equiparação da renda média de brancos e negros acontecerá somente em 2089, duzentos anos depois da abolição.

 VIOLÊNCIA

“Além de acentuar desigualdades, o racismo também traz consequências violentas”, diz Tauá Pires, coordenadora de programas da Oxfam. Homens jovens e negros são as maiores vítimas de homicídios no país, segundo o Atlas da Violência 2017 produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. O feminicídio, o assassinato de mulheres por razões de gênero, atinge principalmente mulheres negras.

Negros e negras também são vítimas frequentes de ofensas e injúrias raciais. É o caso do empresário Luiz Henrique da Silva, 33 anos, que, em abril de 2017, foi com a família fazer compras em um mercado de Pirituba e foi violentamente ofendido. Ele vestia um agasalho da torcida Gaviões da Fiel e precisava comprar ingredientes para fazer cachorro quente na casa de amigos. Porém, os planos dele mudaram quando, na fila do caixa, ele foi xingado por urna mulher branca que estava na frente dele por ter supostamente batido o carrinho na perna dela. Ele pediu desculpas, mas isso não impediu que a mulher se virasse para a caixa do mercado e falasse: “Além de corintiano, é preto. “Depois de digitara senha, ela teria então, dito para ele: “Preto, macaco, filho da p…, ladrão.” A polícia foi chamada e Luiz registrou um boletim de ocorrência contra a mulher por injúria racial. Mais de um ano depois, o empresário afirma que o caso ainda o abala: “Me sinto como todos os negros do mundo: injustiçado. Não vejo a hora desse pesadelo acabar”, afirma.

Estima-se que 160 mil pessoas no Brasil sofram, atualmente, com condições de trabalho análogas à escravidão. Negros e pardos, de acordo com dados do Ministério Público do Trabalho, representam mais de 64 % das cerca de 43 mil pessoas que foram resgatadas dessa situação degradante entre 2003 e 2017. Segundo a procuradora da República Ana Carolina Roman, é possível identificar o trabalho escravo contemporâneo quando o trabalhador tem jornadas de trabalho exaustivas, servidão por dívidas, retenção de documentos, confusão do local de moradia como de trabalho, ameaças e muitas outras situações que tiram a dignidade do ser humano.

“Ainda há segmentos da sociedade que não consideram a população negra como humana. É por isso que a submete a condições de trabalho análogas à escravidão”, afirma Juarez Xavier, professor da Universidade Estadual Paulista, (Unesp), que vê no País uma situação de “apartheid social”. Essa visão é compartilhada por Leci Brandão (PC do B), segunda mulher negra na história a se eleger deputada estadual em São Paulo. “A princesa assinou a lei no dia 13 e no dia 14 os negros estavam com uma mão na frente e a outra atrás. Vai fazer o que sem condição nenhuma de política pública para que estivesse realmente liberta?”

A implantação do sistema de cotas foi um ponto importante na luta pelos direitos da comunidade negra. A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo(USP), por exemplo, formou apenas sete mulheres negras em mais de 120 anos de existência. Larissa Mendes, que estuda na faculdade, faz parte da Poli Negra, grupo que trouxe a discussão sobre cotas para a instituição e mostrou por meio deum plebiscito que 70 % dos alunos as apoiavam em 2017. Por conta da iniciativa, no mesmo ano, o Conselho Universitário da USP aprovou cotas sociais e raciais. Segundo Larissa, a luta por cotas é uma forma de reparação histórica. “São medidas importantes para a gente conseguir se preservar com aquela chama de esperança que pelo menos através do conhecimento a gente pode chegar a alguma coisa”, afirma. Para a estudante. essa é uma solução temporária. “[As cotas] não têm como objetivo ser para sempre, mas é para durar enquanto a gente tiver uma diferença entre negros e brancos nas universidades e em todos os outros espaços da sociedade”, diz.

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GESTÃO E CARREIRA

O NEGÓCIO É FAZER ARTE

Para quem deseja complementar a renda ou aproveitar o momento de desemprego para empreender com flexibilidade, setor de artesanato se mostra promissor e cada vez mais valorizado.

O Negócio é fazer arte

Quando se vive momentos de a perto financeiro, seja pelo desemprego, seja por uma crise econômica, a primeira alternativa de uma pessoa é explorar as suas aptidões para suprir a renda ou mesmo para complementar o seu orçamento. Ela procura transformar esse conhecimento em um negócio que, geralmente, está ligado a habilidades manuais.

De acordo com a gerente da Unidade de Atendimento Individual do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Adriana Rebecchi, em tempos de recessão financeira, a atividade de artesanato, por exemplo, é uma opção escolhida por cerca de dez milhões de brasileiros. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), virou a principal fonte de renda deles, movimentando cerca de R$ 50 bilhões por ano.

Fazer artesanato então pode ser uma boa estratégia para conseguir pagar as contas? Na opinião de Adriana, sim! “É um mercado dinâmico, criativo, que se adequa rapidamente às necessidades dos clientes. O empreendedor pode colocar em prática as suas habilidades para as atividades manuais, seja fazendo uma receita de culinária elogiada pelos amigos ou desenvolvendo produtos que levam matérias-primas como madeira, tecido, folhas de árvores secas, sementes, etc.”, exemplifica.

Contudo, com a visibilidade que já conquistou, muito além de uma fonte de renda extra ou um negócio para pagar as contas, o artesanato pode ser também um empreendimento vantajoso e lucrativo, na opinião do empreendedor digital. idealizador do ArtesCon e criador do programa lnfoCriativo, Eder Machado. “No momento em que as pessoas começam a se interessar pela atividade de artesanato como um negócio, se elas buscarem conhecimento e capacitação para desenvolver um trabalho sério, vão descobrir que este é sim um negócio rentável e que, se bem administrado, pode ser altamente lucrativo”, aponta.

CAINDO DE PARA QUEDAS

Boa parte das trajetórias dos artesãos brasileiros é de pessoas que optaram pelo artesanato como atividade de terapia, ou porque quiseram fazer o enxoval da casa ou do filho, e até mesmo por um simples hobby. No entanto, essa ingênua escolha virou uma atividade de negócio que ele sequer imaginava. ”As pessoas começam pelo hobby e chega um vizinho ou um amigo que acaba se interessando por aquilo e quer encomendar. É daí que surge a pergunta: ‘quanto você cobra?”. Inicialmente a pessoa nem sabe a resposta, mas nesse momento é que se descobre um novo mundo e a possibilidade de ganhar dinheiro”, demonstra Eder Machado.

Um dos principais objetivos do especialista é exatamente o de ajudar esses artesãos e profissionais de artes manuais a desenvolver negócios rentáveis e lucrativos. Por meio de cursos, palestras e conteúdos digitais, ele dissemina essa ideia e auxilia para que o negócio dê certo, pois uns dos maiores problemas que muitos profissionais que decidem entrar nesse mercado enfrentam é a falta de capacitação e o conhecimento, que vai muito além das técnicas de trabalho.

Outro ponto que precisa ser melhorado é em relação à valorização do trabalho. Pois quem é artesão sabe que tem sempre um cliente que solta a velha frase de aterrorizar qualquer vendedor: “Tá muito caro, não tem como dar um desconto?”. Mas acontece como em qualquer outra atividade, quem vai valorizar o trabalho é o próprio profissional e como ele se porta diante do mercado. “O artesão que se capacita e se profissionaliza entende que o que ele está ofertando não é um conjunto de peças de matéria-prima, e sim o seu tempo e a sua habilidade. Quando ele mesmo enxerga isso e valoriza o que faz, o cliente também vai perceber esse valor agregado e começar a dar mais valor”, esclarece o empreendedor digital.

O próprio Ministério do Trabalho já admitiu que o artesanato é uma atividade muito importante para a economia e para a cultura do País, tanto que o Governo sancionou em 2015 a Lei n° 13.180, que regulamentou a atividade e trouxe a Carteira Nacional do Artesão.

Lá fora, o artesanato brasileiro é ainda mais valorizado. “Depois da internet não houve mais barreiras, então conseguimos oferecer nossos artesanatos ao mundo todo. Além disso, existem até pessoas especializadas no exterior responsáveis em pegar os produtos aqui e ofertar lá fora como produto de alto valor agregado, especialmente os artesanatos voltados para a reciclagem”, conta Machado.

Por essas e outras, segundo ele, para quem quer empreender neste ramo, não existe mais espaço para amadorismo. “E aqui entra um ponto muito importante. Aquela pessoa que não se capacita, não busca informações para se desenvolver e conhecer melhor o seu negócio, não tem espaço”, alerta.

POR ONDE COMEÇAR

Uma boa ideia para quem decide empreender neste mercado, segundo Adriana Rebecchi do Sebrae-SP, é começar a atividade em casa. Eder Machado compartilha da mesma opinião: “Começar em casa é um caminho plausível e eu até indico, especialmente porque, quando a pessoa começa, não tem inicialmente uma grande demanda”, pontua.

No entanto, antes de começar o negócio, ele diz que é essencial fazer um planejamento, que envolve demanda e a sua capacidade de produção. “Esse é um grande problema do artesão, por mais que tenha mercado, ele tem um limite de produção. Então, essa é a primeira etapa do planejamento, se questionar sobre: até quantos clientes eu consigo atender? Se aumentar a demanda, até onde eu consigo produzir? Quanto eu consigo faturar com isso? E para fazer esse atendimento, eu preciso ter quanto de matéria­ prima em estoque?”.

Machado explica que o artesão deverá fazer um planejamento levando em conta um curto, médio e longo prazo. “Evidentemente você não vai comprar matéria-prima para mais de três anos. É apenas para um primeiro momento, por exemplo, para três meses. Mas você precisa desse planejamento para diminuir o seu risco e não acontecer de ter um monte de matéria-prima parada”, alerta. Material parado, na opinião do especialista, é dinheiro parado, que poderia estar sendo usado para outra coisa, como divulgação, cartão de visita, curso de capacitação, etc. “E tudo isso tem que estar no planejamento. Até chegar a um determinado ponto que ele vai avaliar se precisará contratar um funcionário, quanto mais de material precisará, se precisará de mais espaço ou deve parar naquela demanda que consegue ele mesmo atender”, argumenta.

Adriana Rebecchi aconselha que inicialmente é necessário investir também no desenvolvimento de amostras ou poucas peças para testar a aceitação do produto. “Daí em diante a produção crescerá de acordo com a demanda. E aos poucos ele pode diversificar, criando um mix de produtos de acordo com o interesse do cliente”, esclarece.

De início, além dos amigos e familiares, o criador do programa lnfoCriativo aconselha o artesão também a captar clientes através da internet. “Esse é o principal canal para esse tipo de negócio hoje. E a entrega você pode trabalhar com serviços de motoboy, correios, transportadoras, etc. Acerta com o cliente o valor de entrega e a partir de então você abre um leque enorme de consumidores. Conheço pessoas que trabalham em casa e nem pensam em abrir um ponto comercial porque, dependendo do negócio, não vale a pena”, afirma e diz ainda que se a demanda aumentar, talvez vai valer mais a pena a pessoa investir em um espaço maior dentro da própria casa do que montar uma loja. ”A internet hoje permite isso, se ela não existisse você precisaria estar em algum ponto para que as pessoas chegassem ao seu produto, mas com ela não é mais necessário”, acredita.

CAPACITAÇÃO

Para quem quer aprender artesanato, Adriana do Sebrae-SP diz que existem vários cursos de técnicas no mercado oferecidos pelo Senai, Marketplaces como Elo 7, Sutaco, entre outros, inclusive cursos on-line. No entanto, para quem busca capacitação nessa área em termos de administrar, ainda são poucas escolas. “É um problema que temos no mercado brasileiro de artesanato. Temos muita capacitação na área técnica, em que se consegue fazer peças lindas e maravilhosas, porém não existe capacitação para fazer uma boa oferta, uma precificação correta do produto, uma boa divulgação, uma boa gestão do negócio”, informa o especialista Eder Machado.

Por conta disso, ele acredita que muitos negócios nessa área acabam estagnados, não se tornam rentáveis e não dão certo. Porém, com a grande visibilidade, esse cenário começa a mudar, mesmo que em doses homeopáticas. “Os artesãos têm muita falta de confiança de empreender neste mercado. E como você elimina isso? Obtendo informação e conhecimento. Não existia capacitação nenhuma nesse sentido, mas agora existe, mesmo que pequena. Isso começou a mudar especialmente por causa da internet. Há profissionais que estão disseminando seus conhecimentos quanto a isso. Em relação ao custo do seu produto, divulgação, ou seja, capacitação e informação, que são primordiais para a alavancagem desse tipo de negócio”, pontua.

PECULIARIDADES

Outro ponto importante que o artesão precisa conhecer melhor na hora de investir neste mercado é sobre o público-alvo. “Existe um público que está interessado em um objeto único e exclusivo, esse sim é o produto do artesão”, demonstra Eder Machado.

Em sua opinião, esse também tem sido outro problema a ser enfrentado, pois alguns profissionais querem concorrer com shoppings, lojas, inclusive nos preços, e não tem como. “Esse não é o público dele. O público do artesão é diferente, é aquele que gosta de exclusividade, de peças únicas, que quer presentear um amigo ou parente com algo inovador. Que quer decorar a sua casa com algo que não vai ver nas grandes lojas. Então não tem como ele concorrer com varejistas, muito menos em preço”, afirma.

Investir em um tipo de artesanato só porque está na moda também não dá certo. Por exemplo, de acordo com Adriana, o reaproveitamento de material para atividade artesanal está em alta, como as biojoias, que nasceram do reaproveitamento de cápsulas de café expresso. “Evidentemente existem ondas e períodos que determinadas técnicas e produtos vão estar mais em alta. Se um ator na novela das oito utiliza crochê, existirá uma onda muito forte nesse segmento. A mesma coisa acontece com penteado, biscuit, etc. Mas quando a onda diminuir, não quer dizer que o trabalho saturou, ele teve uma queda, mas não vai parar, principalmente por causa da internet”, explica Machado.

O empreendedor digital volta a dizer que qualquer profissional que começar a utilizar a internet como ferramenta de trabalho não está limitado à sua região geográfica e, portanto, o mercado para a venda de seus produtos se tornará gigante. “E não terá como existir uma saturação, sempre terá aquele artesanato que estará na moda, mas o público que gosta desse tipo de produto nunca deixará de comprar quando a moda passar. Tem espaço para todos, só não pode querer concorrer com produto industrializado”, enfatiza.

Ele recomenda, no entanto, sempre tentar inovar nas próprias peças que produz trazendo algo novo. “Qualquer inovação nos produtos, tecidos, madeiras, palhas, etc., são bem-vindas. Mas uma coisa interessante é que o artesão é criativo, então isso sempre o leva à inovação. Uma característica muito boa dele”, elogia Machado que ensina também que uma boa estratégia é focar em um único tipo de público, mas utilizando várias técnicas. “Por exemplo, você foca em lembrancinhas para bebê, mas com diversas técnicas. Existem muitas possibilidades, cabe ao artesão ficar atento e sempre se atualizar, ver o que está acontecendo no mercado, os conteúdos, participar de feiras, etc. Com isso, ele descobre nichos de mercado que não estão sendo explorados”, orienta.

HORA DE OUSAR MAIS

Na opinião de Adriana do Sebrae­ SP, à medida que o negócio cresce e necessita aumentar a capacidade produtiva gerando emprego e renda, a participação em feiras permite ampliar a divulgação e cria oportunidade de venda para lojistas também. “Participar de feiras de artesanato representa grande oportunidade de mostrar sua arte. Em São Paulo, por exemplo, aconteceu a primeira edição da Feira de Artesanato Brasil Original, em outubro, no Anhembi, com a participação de 31 expositores de todo o Brasil, gerando mais de 2,9 milhões em negócios em quatro dias de evento”, mostra.

Segundo ela, o processo de curadoria aconteceu em todo o Brasil para seleção dos artesãos expositores “Com critérios bem definidos, selecionamos 24 expositores de São Paulo, a partir de análise de técnicas e materiais empregados no artesanato que retrate a cultura das cidades participantes”, afirma.

Eder Machado diz que toda exposição é válida, sim. Mas o que o empreendedor precisa avaliar é o retorno sobre esse investimento. Se a feira tiver um custo de R$1.000,00 e o retorno for de R$900,00, não vale a participação. Mas se resultar em R$1.100,00 já valerá, pois, o retorno é baixo, mas a divulgação é um ponto positivo. “Dependendo do custo, para aquele que está começando, participar de feiras grandes poderá ser oneroso. Mas se for uma feira local no bairro, vale a pena. Tem que avaliar caso a caso”, indica.

Panfletos, redes sociais, feiras, jornais locais, blog e WhatsApp também são boas formas de divulgação. Além disso, firmar parcerias com lojas no bairro, salões de beleza ou com amigos não é uma ideia ruim. Mas é preciso avaliar se todos sairão ganhando.

Por fim, o especialista diz que o artesanato está no começo de um novo tempo, passando por transformações muito positivas. “Está deixando de lado o amadorismo. E aquele que não se profissionalizar, não buscar o diferencial, seja na sua técnica, no se u trabalho ou na gestão do seu negócio, vai ficar para trás. Por isso, para quem tem esse sonho, vale a pena, comece, busque o seu objetivo, coloque-o em prática e trabalhe para isso”, conclui.

6 PASSOS PARA QUEM QUER ABRIR UM NEGÓCIO COM ARTESANATO

 1 – Obtenha segurança para começar a empreender, por meio de informação e conhecimento. Pesquise o mercado.

2 – Faça um teste inicial dos seus produtos para avaliar se as pessoas gostam e o que pode aprimorar. Comece a produzir oferecendo para amigos e familiares.

3 – Faça um planejamento básico, apenas para definir as ações iniciais, como a forma que vai trabalhar, quanto pretende faturar no início, quanto precisa de matéria, quanto consegue produzir por dia (horas x dia).

4 – Faça acontecer, coloque em prática definitivamente. Monte o espaço em casa, vá à compra dos produtos, etc. Às vezes, não acaba fazendo por postergar demais.

5 – Supere as adversidades. Erros vão acontecer, mas entenda que isso faz parte do processo de aprendizado. Quem vence é aquele que, mediante a falha, não desiste, mas busca alternativas.

6 – Empenhe-se sempre. Se não o fizer, não terá resultados. E não deixe o pessimismo acabar com a sua motivação. Esteja cercado por pessoas que valorizam o seu trabalho, essas ações resultam em resultados positivos. Não adianta ter dinheiro se tem a falta de motivação.

 

COMO COBRAR PELO SEU TRABALHO

TÉCNICAS COM BAIXÍSSIMO CUSTO DE MATÉRIA-PRIMA

Nesse caso é aplicado quando a técnica trabalhada possui baixo custo com matéria-prima (exemplo: tricô e crochê). Aqui o artesão deve definir quanto vale a sua hora de trabalho (o que varia em função de sua experiência, capacitação, habilidade, reconhecimento no mercado, etc.) e cobrar em função das horas trabalhadas.

OUTRAS TÉCNICAS

Nesse caso o artesão deve considerar, basicamente, o custo variável, fixo e lucro desejado. O custo variável é o custo que terá em função da quantidade de peças produzidas. Ou seja, quanto mais peças fizer, mais linha, tecido, massa, entre outros, irá gastar. O custo fixo é o custo existente independentemente de peças produzidas. Exemplo: Hospedagem mensal da loja virtual e aluguel do ateliê.

O lucro é a porcentagem de ganho em cada peça. Essa margem vai variar em função da técnica, concorrência, preço de mercado.

Obs.: Um erro comum dos artesãos que trabalham em casa é acharem que não têm custos fixos, na verdade, o custo existe, só que geralmente ele não está pagando (o custo entra nas despesas da casa).

 

EDER MACHADO – Facilitador do processo de empreendimentos artesanais.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 34-39

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A Culpa e a destruição de Jerusalém

Nós deixamos os guias cegos caídos na vala, sob a condenação de Cristo, na condenação do inferno; vejamos o que acontecerá com os seguidores cegos do povo judeu, e em especial, com Jerusalém.

I –  Jesus Cristo deseja ainda testá-los com os meios da graça: “Eu vos envio profetas, sábios e escribas”. A conexão é estranha. “Vós sois uma ‘raça de víboras’, provavelmente não escapareis “da condenação do inferno”; poderíamos pensar que a seguir viria: “Portanto, nunca mais haverá um profeta enviado a vós”. Mas não: “Portanto, ‘eu vos envio profetas’, para ver se finalmente ainda podeis ser transformados, ou para vos considerar imperdoáveis e para justificar a Deus, que vos designará a ruína”. Portanto, aqui está a introdução com uma observação: “eis que”. Considere que:

1. É Cristo quem os envia: “eu vos envio”. Com isso, Ele declara que é Deus, que tem poder para dotar e comissionar profetas. É um ato de Rei. Ele os envia como embaixadores, para tratar conosco dos problemas das nossas almas. Depois da sua ressurreição, Ele cumpriu essa promessa, quando disse que estava enviando os discípulos (João 20.21). Embora, naquele momento, o Senhor estivesse revestido de uma aparência humilde, a Ele havia sido confiada essa grande autoridade.

2. Ele os enviou primeiro aos judeus: “Eis que eu vos envio”. Eles começaram em Jerusalém e, aonde quer que fossem, eles observavam esta regra, de estender a oferta da graça do Evangelho primeiro aos judeus (Atos 13.46).

3. Aqueles que Ele envia são chamados de “profetas”, “sábios” e “escribas”. Nomes do Antigo Testamento para agentes do Novo Testamento; para mostrar que os ministros enviados a eles então não seriam inferiores aos profetas do Antigo Testamento, nem ao sábio Salomão, nem a Esdras, o escriba. Os ministros extraordinários, que, nos primeiros tempos, eram inspirados divinamente, eram como os profetas comissionados diretamente do céu; os ministros normalmente nomeados, que existiam naquela época, e ainda continuam na igreja, e continuarão até o fim dos tempos, são como os sábios e escribas, para guiar e instruir as pessoas nos assuntos de Deus. Ou podemos interpretar os apóstolos e evangelistas como sendo os profetas e sábios, e os pastores e professores como sendo os escribas, “instruídos acerca do Reino dos céus” (cap. 13.52), pois o ofício de um escriba era honroso até que os homens o desonraram.

II – Jesus prevê e prediz o mau tratamento que os seus mensageiros irão encontrar entre os escribas e fariseus. “‘A uns deles matareis e crucificareis’. E ainda assim, Eu os enviarei”. Cristo sabe de antemão como os seus servos serão maltratados e ainda assim Ele os envia, e atribui a cada um a sua medida de sofrimentos. Mas Ele não os ama menos, para expô-los dessa maneira, pois Ele deseja glorificar a si mesmo através dos sofrimentos deles, e assim eles também serão glorificados com Ele. Ele irá contrabalançar os sofrimentos, embora não os evite. Observe:

1. A crueldade desses perseguidores: ”A uns deles matareis e crucificareis”. Eles não têm sede de nada além do sangue, o sangue da vida; o seu desejo não se satisfaz com nada, exceto a destruição daqueles enviados por Deus (Êxodo 15.9). Eles mataram os dois Tiagos, crucificaram Simão, o filho de Clopas, e espancaram Pedro e João; assim os membros participaram dos sofrimentos da Cabeça. Jesus foi morto e crucificado, e eles também. Os cristãos devem esperar “resistir até ao sangue”.

2. O seu esforço incansável. “E os perseguireis de cidade em cidade”. A medida que os apóstolos iam de cidade em cidade, para pregar o Evangelho, os judeus os desviavam, e perseguiam, e suscitavam perseguição contra eles (Atos 14.9; 17.13). Aqueles que não criam, na Judéia, eram inimigos mais amargos do Evangelho que qualquer outro incrédulo (Romanos 15.31).

3. O pretexto de religião nessas atividades: ”A outros deles açoitareis nas vossas sinagogas”. A sinagoga era o seu lugar de adoração, onde eles mantinham as suas cortes eclesiásticas; assim, eles faziam como se fosse um serviço religioso; expulsavam-nos e diziam: “O Senhor seja glorificado” (Isaias 66.5: João 16.2).

III – O Senhor lhes atribui os pecados dos seus pais, porque eles os imitavam: “Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra” (vv. 35,36). Embora Deus tolere por muito tempo uma geração perseguidora, Ele não a tolerará para sempre. O abuso da paciência produz uma ira muito maior. Quanto mais tempo os pecadores vierem acumulando tesouros de iniquidade, mais profundos e completos serão os tesouros da ira; e a sua destruição será como a destruição das fontes profundas.

Considere:

1. A extensão dessa atribuição: ela inclui todo o sangue dos justos, derramado sobre a terra, isto é, o sangue derramado em nome da justiça, que foi todo acumulado no tesouro de Deus, e nem uma gota dele se perdeu, pois é precioso (Salmos 72.14). Ele começa o registro com “o sangue de Abel, o justo”, pois então esta era de mártires começou; ele é chamado de ”Abel, o justo”, pois ele “alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons” (Hebreus 11.4). Como o martírio entrou cedo no mundo! O primeiro que morreu, morreu pela sua religião, e “depois de morto, ainda fala”. O seu sangue não somente gritou contra Caim, mas continua a gritar contra todos os que trilham o caminho de Caim, e odeiam e perseguem o seu irmão, porque as suas obras são justas. Ele acrescenta a ele o “sangue de Zacarias, filho de Baraquias” (v. 36), não o profeta Zacarias (como alguns interpretaram), embora ele fosse filho de Baraquias (Zacarias 1.1), nem Zacarias, o pai de João Batista, como dizem outros; mas, como é mais provável, Zacarias, o filho de Joiada, que foi morto “no pátio da casa do Senhor” (2 Crônicas 24.20,21). O seu pai é chamado Baraquias, que tem o mesmo significado que Joiada, e é usual entre os judeus que a mesma pessoa tenha dois nomes: “que matastes”, ou seja, os desta nação, embora não desta geração. Isto é especificado, porque essa exigência foi especificamente mencionada (2 Crônicas 24.22), como também no caso da de Abel. Os judeus imaginavam que o cativeiro tinha sido suficiente para expiar a culpa, mas Cristo lhes comunica que esta ainda não havia sido completamente expiada, e assim permanecia a contagem de anos. E alguns pensam que isso é mencionado com uma indicação profética, pois houve um Zacarias, o filho de Baruque, de quem Josefo falou (War, liv. 5, cap. 1), que foi um homem bom e justo, e que foi morto no Templo pouco antes da sua destruição pelos romanos. O arcebispo Tillotson opina que Cristo faz uma alusão à história do primeiro Zacarias, das Crônicas, e, ao mesmo tempo, prevê a morte desse posterior, mencionado por Josefo. Embora o segundo tenha sido assassinado pouco antes que viesse a destruição, é verdade que eles o teriam assassinado, de modo que tudo deve ser computado em conjunto, desde o primeiro até o último.

2. O efeito: “Todas essas coisas hão de vir”; toda a culpa desse sangue, todo o seu castigo, tudo isto virá sobre esta geração. A desgraça e a ruína que viriam sobre eles seriam tão grandes que, embora considerando o mal dos seus próprios pecados, pareceriam um somatório geral de toda a maldade dos seus ancestrais, especialmente das suas perseguições, com as quais Deus declara que essa ruína tem uma relação especial. A destruição será tão terrível, que será como se Deus os tivesse, de uma vez por todas, condenado, por todo o sangue dos justos que foi derramado no mundo. “Todas essas coisas hão de vir sobre esta geração”, o que dá a entender que virão rapidamente; alguns deles estariam vivos para ver isso. Observe que, quanto mais doloroso e próximo estiver o castigo do pecado, mais alto será o chamado para o arrependimento e a correção.

IV – Jesus lamenta a maldade de Jerusalém, e corretamente os lembra dos muitos tipos de ofertas que Ele lhes tinha feito (v. 37). Veja com que preocupação Ele fala da cidade: “Jerusalém, Jerusalém”. A repetição é enfática, e evidencia abundância de compaixão. Um dia ou dois antes disso, Cristo havia chorado por Jerusalém, agora Ele suspirava e gemia por ela. Jerusalém, o lugar de Paz (que é o que o nome significa), seria lugar de guerra e confusão. Jerusalém que tinha sido “o gozo de toda a terra”, seria então um assobio, e um espanto, e um provérbio. Jerusalém, que tinha sido uma cidade unida, seria então destruída pelos próprios tumultos internos. Jerusalém, o lugar que Deus tinha escolhido para ali colocar o seu nome, seria abandonada à pilhagem e aos ladrões (Lamentações 1.1; 4.1). Mas por que o Senhor irá fazer tudo isso a Jerusalém? Por quê? “Jerusalém gravemente pecou” (Lamentações 1.8).

1. Ela perseguiu os mensageiros de Deus: “Matas os profetas e apedrejas os que te são enviados”. Jerusalém é especialmente acusada desse pecado, porque ali ficava o sinédrio, ou o grande conselho, que considerava as questões da igreja, e por isso um profeta não poderia morrer fora de Jerusalém (Lucas 13.33). É verdade que eles não tinham então o poder de condenar nenhum homem à morte, mas eles matavam os profetas em meio a tumultos, cercavam-nos, como fizeram com Estêvão, e mobilizavam as autoridades romanas para matá-los. Em Jerusalém, onde o Evangelho foi pregado pela primeira vez, também ali foi perseguido pela primeira vez (Atos 8.1), e naquele lugar estava o quartel-general dos perseguidores; dali, eram emitidas ordens a outras cidades, e para ali, os santos eram trazidos presos (Atos 9.2). O “apedrejamento” era uma sentença de morte usada somente entre os judeus. Segundo a lei, os falsos profetas e os enganadores deviam ser apedrejados (Deuteronômio 13.10), e usando a mesma lei, eles levavam à morte os verdadeiros profetas. Observe que o artifício de Satanás sempre foi voltar contra a igreja a mesma artilharia que foi originalmente plantada em defesa dela. Marque os verdadeiros profetas como sendo enganadores, e os que professam verdadeiramente a religião como sendo hereges e cismáticos, e será fácil persegui-los. Havia abundância de outros tipos de maldade em Jerusalém, mas esse era o pecado que mais se evidenciava, e o pecado mais visado por Deus ao trazer sobre eles a destruição, como visto em 2 Reis 24.4; 2 Crônicas 36.16. Observe que Cristo fala no tempo presente do verbo: “matas… e apedrejas”; pois tudo o que eles tinham feito, e tudo o que ainda iriam fazer, era do conhecimento de Cristo.

2. Ela recusou e rejeitou a Cristo, e às ofertas do Evangelho. Essa primeira atitude era um pecado sem remédio; a segunda, era o mesmo que agir contra o remédio. Aqui temos:

(1)  A maravilhosa graça de Cristo para eles: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas”. As ofertas da graça do Evangelho são assim generosas e condescendentes, até mesmo para os filhos de Jerusalém; embora esta cidade fosse má, os seus habitantes, os pequeninos, não foram excluídos.

[1] A graça proposta era a reunião dessas pessoas. O desejo de Cristo é reunir as pobres almas, reuni-las, removendo-as de suas perambulações, trazê-las para casa, para si, como o centro da unidade, pois “a ele se congregarão os povos”. Ele teria levado toda a nação judaica à igreja, e assim os teria reunido a todos (assim como os judeus costumavam falar de prosélitos) sob as asas da Divina Majestade. Isto é aqui exemplificado por uma analogia simples: “como a galinha ajunta os seus pintos”. Cristo os teria reunido, em primeiro lugar, com um afeto terno, como o da galinha, que tem, por instinto, uma preocupação particular pela sua cria. O desejo de Cristo de reunir as almas vem do seu amor (Jeremias 31.3). Em segundo lugar, com o mesmo objetivo. ”A galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas”, para a proteção e a segurança deles, assim como calor e conforto. As pobres almas têm em Cristo abrigo e também alívio. Os pintinhos, quando são ameaçados por aves de rapina, correm naturalmente para a galinha, à procura de abrigo; talvez Cristo se refira a esta promessa (Salmos 91.4): “Ele te cobrirá com as suas penas”. Cristo trará salvação “debaixo das suas asas” (Malaquias 4.2); isto é mais do que a galinha pode fazer pelos seus pintinhos.

[2] A presteza de Cristo em conceder essa graça. As suas ofertas são, em primeiro lugar, inteiramente gratuitas. “Quis eu”. Jesus Cristo está verdadeiramente disposto a receber e salvar as pobres almas que vêm até Ele. Ele não deseja a sua destruição, mas se alegra com o seu arrependimento. Em segundo lugar, muito frequentes. “Quantas vezes”. Cristo frequentemente vinha a Jerusalém, pregando e realizando milagres ali. E o significado de tudo isso era que Ele gostaria de tê-los reunido. Ele registrou quantas vezes os seus chamados foram repetidos. Cada vez que ouvimos o som do Evangelho, cada vez que sentimos os esforços do Espírito, também podemos entender que Cristo está nos trazendo para mais perto de si.

[3] A rejeição voluntária da graça de Jesus por parte de Jerusalém: “Tu não quiseste!” Com que ênfase a sua teimosia se opõe à misericórdia de Cristo! “Quis eu… e tu não quiseste”. Ele desejava salvá-los, mas eles não queriam ser salvos por Ele. Observe que o fato de os pecadores não serem reunidos sob as asas do Senhor Jesus se deve exclusivamente às suas más intenções. Eles não gostaram dos termos nos quais Cristo se propôs a reuni-los; eles adoravam os seus pecados e também tinham certeza de que eram justos; eles não se sujeitariam nem à graça de Cristo, nem ao seu governo, e assim se rompeu a tentativa de acordo.

V – Ele fala do destino de Jerusalém (vv. 38,3 9): “Eis que a vossa casa vos ficar á deserta “. Tanto a cidade quanto o Templo, a casa de Deus e as casas dos habitantes, tudo seria arrasado. Mas o significado particular diz respeito ao Templo, de que eles se orgulhavam e que lhes tinha sido confiado; aquele monte sagrado, que os fazia tão arrogantes. Observe que aqueles que não forem reunidos pelo amor e pela graça de Cristo serão consumidos e espalhados pela sua ira: “Quis eu… e tu não quiseste”. “Israel não me quis. Pelo que eu os entreguei aos desejos do seu coração” (Salmos 81.11,12).

1. A casa deles ficará deserta: ”A vossa casa vos fica­ rá deserta”. Cristo estava então saindo do Templo, e nunca mais voltou a ele, mas, com essas palavras, o entregou à destruição. Eles teriam aquele Templo para si mesmos. Cristo não tinha lugar ali, nem se interessavam por Ele. “Bem”, disse Jesus, “o Templo então fica com vocês; façam bom proveito dele; nunca mais terei alguma coisa a ver com ele”. Eles tinham feito do Templo uma “casa de vendas”, e um “covil de ladrões”, e assim sendo, ficaria para eles. Pouco tempo depois disso, ouviu-se a voz no Templo: “Vamos partir daqui”. Quando Cristo partiu, “Icabô, foi-se a glória”. A cidade também foi deixada para eles, destituída da presença e da graça de Deus. Ele já não era mais um muro de fogo ao redor deles, nem a glória entre eles.

2. Ela ficará desolada: ” vos ficará deserta”. Ela ficará ermos um deserto.

(1)  Imediatamente depois da partida de Cr isto, o Templo se tornou, aos olhos de todos aqueles que não estavam fora de si, um lugar muito triste e melancólico. A partida de Cristo transforma o lugar mais bem enfeitado e abastecido em um deserto, mesmo em se tratando do Templo, o lugar para onde afluía o maior número de pessoas. Pois que consolo pode haver em um lugar onde Cristo não está? Embora possa haver ali uma multidão com outros contentamentos, se a presença espiritual especial de Cristo não estiver ali, aquela alma, aquele lugar, se torna um deserto, uma terra de trevas, como as próprias trevas. Isto é o resultado dos homens rejeitando a Cristo, e afastando-o de si.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O INFERNO RECORRENTE DO TOC

Para o transtorno obsessivo-compulsivo, que leva o portador a cumprir tarefas repetitivas, medicamentos e psicoterapia cognitivo-comportamental são suficientes.

O inferno recorrente do toc

Pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) em geral percebem que há algo errado consigo próprias. O diagnóstico preciso, porém, muitas vezes demora. E, depois de identificada a patologia, o caminho ainda é atribulado, o paciente esconde a doença ou não ousa falar dela, e os colegas não entendem seu sofrimento.

Existem diferentes tipos de TOC e modalidades diversas de tratamento. No quadro da terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, o médico avalia, antes de mais nada, o tempo perdido nas tarefas repetitivas e prescreve algo para aliviar os sintomas. Tenta identificar as obsessões mais frequentes, anotando-as em uma escala de intensidade que vai de O a 100. Então, ensina o paciente a gerir as situações ansiogênicas, geradoras de obsessão, começando pelas mais “fáceis”.

Cerca de 10% da população sofre de TOC, e a incidência em homens e mulheres é semelhante. Para a maioria os primeiros sinais aparecem no final da adolescência ou no início da idade adulta, embora possa se manifestar em crianças. Segundo a gravidade dos sintomas, o transtorno terá repercussões importantes na vida cotidiana do indivíduo. Nos casos extremos, o dia todo é ocupado por obsessões e com pulsões reincidentes. Atividade profissional, estudos e relacionamento social ficam prejudicados. O transtorno se manifesta de maneiras bastante variadas. Laura teme matar o seu bebê desde o dia em que imaginou deixa-lo cair da sacada de seu apartamento. Ela não fica mais sozinha com a criança com medo de lhe fazer mal e verifica inúmeras vezes se as janelas estão bem fechadas. Gerson está obcecado com a ideia de ter sido amaldiçoado depois de desejar uma moça que viu na rua. Ele reza sempre que tem pensamentos obscenos. Beatriz toma um banho de uma hora ao voltar do restaurante onde trabalha como atendente, pois tem medo de contaminação. Daniel parou de dirigir porque quando guiava, ao menor barulho diferente pensava ter atropelado alguém. Em todos esses casos, o temor maior é ser responsável por alguma catástrofe.

O paciente de TOC é capaz de reconhecer que as obsessões são produto psíquico, e isso agrava seu tormento. Ideias, pensamentos, impulsos ou representações persistentes causam grande ansiedade e sofrimento.  As obsessões mais frequentes são medo de contaminação (infectar-se ao apertar a mão de alguém), dúvida impertinente (perguntar-se repetidas vezes se apagou a luz antes de sair), necessidade extrema de organização (sofrer se os livros estão desalinhados na estante ou fora de ordem alfabética), medo de sentir impulsos agressivos ou escandaloso ( fazer mal a um filho ou gritar obscenidades na igreja), recorrência de fantasias sexuais.

Todos temos obsessões, mas habitualmente, as afastamos e as esquecemos. No quadro de TOC, o paciente não consegue, Ele tenta neutralizar as obsessões com rituais compulsivos: o indivíduo atormentado pela dúvida de ter desligado corretamente o forno tenta dirimir a incerteza verificando repetidamente se o desligou mesmo.

As compulsões são comportamentos repetitivos (por exemplo, lavar as mãos 30 vezes por dia) ou atos mentais (contar ou repetir palavras várias vezes ao dia) que visam prevenir ou reduzir a ansiedade e o sofrimento, e não obter prazer ou satisfação. Na maior pane dos casos, a pessoa se sente impelida a realizar um ato compulsivo para reduzir o sofrimento que acompanha sua obsessão ou para prevenir o acontecimento temido, indivíduos maníacos por contaminação, podem aliviar sua angústia lavando as mãos até que fiquem em carne viva.

Mania de limpeza, contagem, obsessiva, necessidade de se reassegurar de algo, repetição de atos e organização de objetos em determinada ordem estão entre as mais frequentes compulsões.

CAUSAS FISIOLÓGICAS

A causa precisa desse distúrbio é ignorada. Fatores genéticos podem desempenhar papel importante, mas não parecem determinantes. Diversos estudos apontam para a participação de anomalias em certos circuitos cerebrais, outros sugerem predisposições ligadas a elementos de personalidade. É bem provável que não exista uma única causa. A hipótese mais aceita para a motivação dos transtornos é a combinação de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais.

Do ponto de vista fisiológico, ocorre diminuição da quantidade de neurotransmissores, notadamente a serotonina. Certa predisposição psicológica ou personalidade vulnerável podem contribuir para que os sintomas apareçam. Problemas de relacionamento social (isolamento e dificuldade de fazer amigos) completam o quadro de motivações. O cruzamento desses três tipos de fatores expõe o indivíduo ao risco de desenvolver TOC. No âmbito dos distúrbios psíquicos é raro que o quadro da doença esteja ligado a uma única causa. Guilherme, por exemplo, tem antecedentes familiares de depressão, consome álcool com frequência e perdeu o emprego recentemente. O ambiente age sobre o indivíduo e influi em comportamentos e reações.

A abordagem escolhida pelo psiquiatra, psicoterapeuta ou psicólogo precisa considerar o paciente de maneira global. Devem ser levados em conta fatores fisiológicos, relações sociais e interações entre emoção, comportamento e história pessoal. Cada um dos três componentes (fisiológico, psicológico e social) demanda atenção particular. Estudos mostram que tratamentos apenas psicoterapêuticos ou exclusivamente medicamentosos não dão resultado satisfatório.

A melhor maneira de tratar o TOC é a prescrição de medicamentos, que agem sobre o componente fisiológico do distúrbio associada a terapia individual ou em grupo. Diagnóstico precoce e tratamento adaptado ao caso aliviam o sofrimento e ajudam o paciente a gerir ele próprio o transtorno. Abordagem adequada evita depressão (comum devido ao caráter limitador dos sintomas) e favorece a manutenção da vida social do indivíduo.

Infelizmente, o TOC com frequência é mal diagnosticado. Isto se deve em parte ao fato de que muitas pessoas atingidas têm vergonha de sua condição e a dissimulam, ou nem mesmo acreditam estar doentes. Clínicos gerais nem sempre conhecem o problema. Medicamentos e terapia cognitivo-comportamental, conjuntamente costumam surtir efeito. Antidepressivos permitem aumentar a concentração de serotonina em algumas regiões do cérebro, e a terapia cognitiva visa trabalhar comportamentos recorrentes e pensamentos obsessivos.

A terapia procura expor progressivamente o indivíduo às situações que causam ansiedade. No início, pede-se ao paciente que imagine situações que poderiam desencadear a compulsão. Ele começa com cenas que causam angústia moderada e passa a situações que tenha cada vez mais dificuldades de suportar. A cada etapa, com a ajuda do terapeuta a pessoa ganha capacidade de lidar com a ansiedade. Em seguida, é exposta a situações reais, segundo o mesmo princípio progressivo. Aos poucos, aprende a resistir às compulsões e a controlar a angústia.

O trabalho cognitivo permite modificar crenças e imagens psíquicas. Crenças podem ser conscientes ou inconscientes, e são frequentemente ligadas a quadros de culpa e responsabilidade. O terapeuta chama a atenção do paciente para certos pensamentos e o ajuda a modificá-los. O caráter irracional das convicções do indivíduo é sublinhado. Finalmente, o sujeito enfrenta a realidade, a fim de se dar conta de que seus medos eram injustificados (“apesar de não lavar as mãos 30 vezes seguidas, não fui contaminado”).

O TOC pode ter consequências muito negativas na vida social e moral do indivíduo, sobretudo quando ignoramos que se trata de doença frequente na população, mas que pode ser tratada. O TOC não é sinal de fraqueza ou defeito. Diagnóstico preciso é o primeiro passo para a abordagem adequada do problema e o retorno à vida normal.

 

JERÓME PALAZZOLO – é psiquiatra do centro hospitalar Sainte-Marie, em Nice, França, e professor de antropologia social da saúde da Universidade Senghor, em Alexandria, Egito.

OUTROS OLHARES

O PERIGO DOS REMÉDIOS FALSOS

Cerca de10% dos fármacos vendidos em países pobres e em desenvolvimento, como o Brasil, são adulterados, segundo a OMS. O uso desses medicamentos provoca sérios danos à saúde.

O perigo dos remédios falsos

Um em cada dez medicamentos comercializados em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é de qualidade inferior ou falsificado. É o que aponta o relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os fármacos mais adulterados estão os de combate à malária e os antibióticos.

O número é alarmante e chama atenção para um mercado clandestino que cresce e movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano no mundo. No Brasil, as apreensões de remédios irregulares pela Policia Federal são frequentes, mas nenhum órgão envolvido na questão, incluindo aqui a própria PF e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sabem dizer qual o tamanho do problema A única referência que se tem por aqui vem de um relatório da OMS de 2015. Segundo a entidade, 19 % dos produtos farmacêuticos vendidos no País são ilegais: ou são falsos ou adulterados, ou seja, ineficazes, ou roubados, o que na maioria dos casos quer dizer que podem ter sido violados ou estão com validade vencida, por exemplo,

O uso de produtos assim agrava doenças e pode levar à morte. De acordo com a OMS, 72 mil mortes de crianças por pneumonia podem ser atribuídas ao uso de antibióticos com atividade reduzida, total que sobe para 169 mil mortes se os remédios forem inócuos. Além disso, alguns componentes adulterados podem provocar alergias graves. ”Criminosos utilizam corantes como o iodo para amarelar os remédios”, afirma Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. ‘Isso é extremamente tóxico.”

Depois de anos de atrasos, em 2016 foi sancionada no Brasil urna nova lei de rastreabilidade de remédios, permitindo o acompanhamento pela Anvisa do caminho das medicações de sua fabricação até o consumidor. A legislação estabeleceu o prazo de quatro anos e oito meses para inicio do programa a partir de sua regulamentação, ocorrida só em agosto de 2017. “Há muita demora nesses prazos de adequação”, critica José Luís Miranda, coordenador da assessoria técnica do Conselho Federal de Farmácia. “O sistema atual é sujeito a fraudes e permite um número alto de falsificação”, lamenta.

O perigo dos remédios falsos2

GESTÃO E CARREIRA

AS 6 CONFUSÕES QUE OS PROFISSIONAIS NÃO PODEM COMETER NA EMPRESA

As 6 confusões

Quem não quer trabalhar em uma empresa legal, divertida, com ambiente bacana, clima acolhedor e cheia de energia e oportunidades? Existem empresas assim, mas o que não lhe contaram é que ainda é a minoria. Na maioria das empresas (aquelas por onde tramito todos os dias) o clima diário é um pouco diferente dos posts da internet.

Ultimamente observo muitos jovens buscando esse tipo de ambiente para dedicar seu precioso tempo de trabalho. Isso não tem nada de errado, porém vejo também que há uma enorme falta de clareza sobre a vida real que todos temos que enfrentar hoje em dia.

É crescente o número de profissionais que esperam das empresas, dos chefes, dos clientes, do mundo uma compreensão quase como a de um pai super protetor ou de uma mãe carinhosa.

Só que o mundo corporativo não funciona assim! A frustração tem sido resultado na vida profissional de muitos jovens que vêm me procurar para fazer processo de coaching em uma atitude desesperada para entender por que o mundo não os vê com os mesmos olhos de seus pais.

Vamos voltar ao básico do trabalho do que realmente significam algumas regras que não estão escritas em nenhum lugar, mas que regem o ambiente de trabalho quando falamos sobre relacionamento e comportamento:

1. NÃO CONFUNDA CHEFE BOM COM CHEFE BOBO: Sim! Conheço inúmeros chefes bons por aí. Chefe bom é aquele que tem empatia, o ouve, compreende suas dificuldades, cobra e ensina você. Muitos profissionais (e não me refiro somente aos jovens) confundem essa bondade do chefe e abusam, não entregando resultados na empresa. Funcionário está na empresa para facilitar a vida do chefe e vice-versa: o chefe também está lá para facilitar que desempenhe bem seu trabalho. Se cada um assumisse essa responsabilidade, não teríamos tantos problemas no dia a dia.

2. NÃO CONFUNDA SEU CHEFE COM SEU AMIGO: Ter bom relacionamento é uma coisa, e eu recomendo a todos, porém amizade são “outros quinhentos”. Amigo é aquele que está do seu lado não importa o que aconteça. Seu chefe é aquele que está lá para gerar resultado com seu trabalho não importa o que aconteça. É possível ser amigo do chefe? Claro que sim! Se esse for o seu caso, parabéns, saiba que é um privilegiado.

3. NÃO CONFUNDA SEU CHEFE COM SEU INIMIGO: O papel do seu chefe é gerar resultado através das pessoas. Para isso, controle, organização e cobrança serão necessários. Isso não quer dizer que ele seja seu inimigo, ele só está cumprindo seu papel. Seu chefe joga com você e não contra você! Ele jamais saberá de tudo no trabalho e por isso que você faz parte da equipe. Ajudem uns aos outros.

4. NÃO CONFUNDA COBRANÇA COM ASSÉDIO MORAL: Há confusão insana que qualquer coisa dita pelo chefe na empresa que desagrade ao funcionário é assédio moral. Mas é só quando há exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. A cobrança de um trabalho é função do líder, e sua obrigação como colaborador é entregar o trabalho conforme combinado.

5. NÃO CONFUNDA SEU TRABALHO COM O CLUBE DOS AMIGOS: Não os escolhemos e não importa de quem gostamos no trabalho, precisamos trabalhar com eles.

O risco que corre de achar que a empresa é um clube é de tropeçar na carreira por considerar que o “gostar” entra nas relações corporativas. Já vi profissionais prejudicarem suas próprias carreiras recusando-se a cooperar com pessoas às quais têm aversão, também já observei inúmeras vezes líderes não contratarem pessoas das quais não gostam.

No ambiente de trabalho, temos apenas conhecidos, indivíduos com quem podemos ter uma boa relação de trabalho, mas lembre-se: a palavra-chave aqui é trabalho.

6. NÃO CONFUNDA COMPETIÇÃO COM INIMIZADE: Dentro da empresa é necessário cooperar ao invés de competir. Apesar de competirmos com a concorrência, de certa forma também competimos internamente na empresa, mas isso não significa levarmos para o lado da inimizade. Sabe aquele colega de trabalho que fica ao seu lado? Pois bem, ele, assim como você, está buscando cargo melhor na empresa. Não sei se já reparou, mas não existem lugares de diretores e presidentes para todo mundo! Mesmo que o clima seja de competição, não leve para o lado pessoal.

Saber o ponto de equilíbrio entre relacionar-se bem, manter-se focado no resultado trabalhando com qualquer pessoa (independentemente se gosta dela ou não) pode ser segredo para o sucesso. Confundir essas questões comportamentais é receita infalível para o fracasso.

 

DANIELA DO LAGO – é especialista em comportamento no trabalho, mestre em administração, coach de carreira, palestrante e professora na área de liderança e gestão de pessoas. http://www.danieladolago.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE III

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Os Crimes dos Fariseus 

 

VII – Eles fingiam sentir muito carinho pela lembrança dos profetas que estavam mortos, enquanto odiavam e perseguiam aqueles que estavam com eles. Isso é deixado para o final, porque era a pior característica do seu caráter. Deus zela pela sua honra nas suas leis e cerimônias, e se ressente se elas forem profanadas e deturpadas, mas Ele frequentemente expressa um zelo igual pela sua honra nos seus profetas e ministros, e se ressente ainda mais se alguém os trata mal ou os persegue; portanto, quando o nosso Senhor Jesus chega a esse ponto, Ele fala mais completamente do que sobre qualquer outro (vv. 29-37); pois o que toca um de seus ministros, toca o seu ungido, e “toca na menina do seu olho”. Aqui, observe:

1. O respeito que os escribas e fariseus fingiam sentir pelos profetas que já estavam mortos (vv. 29,30). Este era o verniz, aquilo que lhes dava a aparência exterior de justos.

(1)  Eles honravam os restos mortais e relíquias dos profetas, edificavam os seus túmulos e adornavam os seus sepulcros. Aparentemente, os lugares onde estavam enterrados eram conhecidos, e a sepultura de Davi estava entre eles (Atos 2.29). Havia um título sobre a “sepultura do homem de Deus” (2 Reis 23.17), e Josias julgou que era suficientemente respeitoso não mover os seus ossos (v. 18). Mas eles faziam mais que isso, eles reconstruíam e adornavam os sepulcros. Considere, então:

[1] Como um exemplo da honra dada aos profetas mortos, que, enquanto viviam, eram considerados párias, e era dito falsamente, a seu respeito, todo o tipo de coisas ruins. Note que Deus pode arrancar, até mesmo de homens maus, um reconhecimento da honra da piedade e da santidade. Deus honrará aqueles que o honram; e às vezes o Senhor usará, para isto, aqueles de quem só se pode esperar o desprezo (2 Samuel 6.22). A memória dos justos é abençoada, enquanto os nomes daqueles que os odiavam e perseguiam é coberto de vergonha. A honra da constância e da determinação no caminho do dever será uma honra duradoura; e aqueles que agirem de acordo com a vontade de Deus serão manifestados na consciência daqueles que estão ao seu redor.

[2] Como um exemplo da hipocrisia dos escribas e fariseus, que lhes prestavam respeito. Observe que as pessoas carnais podem facilmente honrar as lembranças dos ministros fiéis que morreram, porque não podem censurá-los, nem perturbá-los, quanto aos seus pecados. Os profetas mortos eram videntes que não viam, e isso eles toleravam bem; eles não atormentavam os escribas e fariseus, como as testemunhas vivas o faziam, aquelas que dão testemunho com uma voz viva (Apocalipse 11.10). Eles podem respeitar os escritos dos profetas mortos, que lhes dizem o que eles deveriam ser: Que haja santos, mas que não vivam aqui. O respeito extravagante que a igreja de Roma presta à lembrança dos santos mortos, especialmente aos mártires, dedicando dias e lugares aos seus nomes, guardando os seus restos como relíquias, orando a eles e fazendo ofertas às suas imagens, enquanto se embriagam com o sangue dos santos da sua época, é uma prova manifesta de que eles não apenas sucederam, mas superaram os escribas e fariseus numa religião hipócrita e falsificada que edifica os sepulcros dos profetas, mas detesta a doutrina deles.

(2)  Eles protestaram contra o assassinato dos profetas (v. 30): “Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles”. Eles nunca teriam consentido em silenciar Amós, e aprisionar Micaías, ou prender Hanani ao tronco, e Jeremias na masmorra, apedrejar Zacarias, zombar de todos os mensageiros do Senhor e maltratar os seus profetas. Não. Não eles. Eles antes prefeririam perder suas mãos direitas a fazer qualquer dessas coisas. “Que é teu servo, que não é mais do que um cão?” E ainda assim, nessa ocasião, eles estavam planejando assassinar a Cristo, de quem todos os profetas haviam testificado. Eles pensavam que se tivessem vivido na época dos profetas, os teriam ouvido e obedecido alegremente, mas eles se rebelaram contra a luz que Cristo trouxe a este mundo. Porém é certo que um Herodes e uma Herodias para João Batista teriam sido como um Acabe e uma Jezabel para Elias. Note que a falsidade dos corações pecadores aparece muito no fato de que, embora eles acompanhem a corrente dos pecados da sua própria época, eles imaginam que teriam nadado contra a corrente dos pecados de antigamente. Apoiavam-se no fato de que, se tivessem tido as oportunidades de outras pessoas, as teriam aproveitado com mais lealdade; se tivessem passado pelas tentações de outras pessoas, teriam resistido a elas mais vigorosamente; mas eles não aproveitam as oportunidades que têm, nem resistem às tentações que sofrem. Às vezes, pensamos que se tivéssemos vivido quando Cristo estava na terra, nós o teríamos seguido com constância; não o teríamos desprezado e rejeitado, como eles fizeram. Mas Cristo, por meio do seu Espírito, da sua Palavra, e dos seus ministros, ainda não foi mais bem tratado.

2. A inimizade e oposição dos escribas e fariseus a Cristo e ao seu Evangelho, apesar disso, e a destruição que traziam a si mesmos e à sua geração (vv. 31-33). Considere:

(1)  A acusação provada: “Vós mesmos testificais”. Observe que os pecadores não podem esperar escapar ao julgamento de Cristo por falta de provas contra eles, quando é fácil encontrá-los testemunhando contra si mesmos; e as suas próprias alegações não somente serão rejeitadas, mas transformadas para a sua condenação, e as suas próprias línguas se voltarão “contra si mesmos” (Salmos 64.8 ).

[1] Pela própria confissão deles, a maior maldade dos seus antepassados foi matar os profetas; de modo que eles conheciam esse pecado, e foram culpados da mesma coisa. Observe que aquele que condena o pecado nos outros, e apesar disso permite o mesmo pecado, ou pior, em si, é, de todos os outros, o mais imperdoável (Romanos 1.32-2.1). Eles sabiam que não deviam ter sido parceiros dos perseguidores, contudo eram seus seguidores. Estas contradições agora irão se somar às condenações do grande dia. Cristo coloca outra construção sobre a edificação que fizeram nos sepulcros dos profetas, diferente da que eles pretendiam; pois, ao embelezar os sepulcros, eles esperavam estar justificando os seus assassinos (Lucas 11.48), porém estavam persistindo no pecado.

[2] Pela própria confissão deles, esses perseguidores notórios eram seus ancestrais: “Sois filhos dos que mataram os profetas”. Eles não queriam dizer nada além do fato de que eram seus filhos, por sangue e por natureza. Mas Cristo volta isso contra eles, pois eles o eram por espírito e disposição: Vocês são filhos desses pais, e assim satisfarão os desejos deles. Eles são, corno vocês dizem, seus pais, e vocês se parecem com seus pais, e este pecado é o que corre no sangue de vocês. “Vós sois como vossos pais” (Atos 7.51). Eles vieram de uma raça perseguidora, eles eram uma “semente de malignos” (Isaias 1.4), levantados em lugar de seus pais (Números 32.14). A maldade, a inveja e a crueldade nasciam com eles, e eles as tinham adotado como princípio, como seus pais tinham feito (Jeremias 44.17). E aqui se observa (v.30) com que cuidado eles mencionam a relação: “Eles eram nossos pais, que mataram os profetas, e eram homens de honra e poder, cujos filhos e sucessores somos nós”. Se eles tivessem detestado a maldade dos seus ancestrais, como deviam ter feito, não teriam se preocupado tanto em chamá-los de seus pais; pois não existe crédito em ser parente de perseguidores, embora eles tenham muita dignidade e domínio.

(2)  A condenação que eles recebem. Aqui:

[1] Cristo passa a entregá-los ao pecado, como pessoas incorrigíveis (v. 32): “Enchei vós, pois, a medida de vossos pais”. Se Efraim se uniu aos ídolos, e não deseja ser transformado, que seja abandonado. “Quem está sujo suje-se ainda”. Cristo sabia que eles estavam tramando a sua morte e que em poucos dias isto se realizaria. “Bem”, disse Ele, “continuai com o vosso plano, segui o vosso caminho, caminhai no caminho do vosso coração e segundo o que os seus olhos veem, e vede qual será o resultado. ‘O que fazes, faze-o depressa’. Vós apenas enchereis a medida da culpa, que irá transbordar num dilúvio de ira”. Observe que, em primeiro lugar, existe uma medida de culpa para ser preenchida, antes que a completa destruição caia sobre as pessoas e as famílias, as igrejas e as nações. Deus tolera muito tempo, mas chegará a ocasião em que Ele não mais poderá suportar (Jeremias 44.22). Nós lemos sobre a medida dos amorreus que devia ser cheia (Genesis 15.16), sobre a seara da terra já madura para a foice (Apocalipse 14.15-19), e sobre os pecadores tratando perfidamente, e acabando perfidamente tratados (Isaias 33.1). Em segundo lugar, os filhos enchem a medida dos pecados dos seus pais, depois de mortos, quando persistem no mesmo comportamento. Aquela culpa nacional que traz a destruição nacional é feita do pecado de muitos, em diversas épocas, e nas sucessões das sociedades existe um placar em andamento; pois Deus adequadamente examina a iniquidade dos pais nos filhos que seguem os seus passos. Em terceiro lugar, perseguir a Cristo, e ao seu povo e aos seus ministros, é um pecado que enche a medida da culpa de uma nação mais depressa que qualquer outro. Foi isto que trouxe a ira sem remédio sobre os pais (2 Crônicas 36.16), e a máxima ira também sobre os seus filhos (1 Tessalonicenses 2.16). Essa era a quarta transgressão, da qual, quando acrescida às outras três, o Senhor “não retirará o castigo” (Amós 1.3,6,9,11,13). Em quarto lugar, é justo que Deus entregue essas pessoas aos desejos dos seus próprios corações, aquelas que tão obstinadamente persistem na gratificação desses desejos. Quanto àqueles que se precipitam à destruição, que as suas rédeas sejam enroladas aos seus pescoços, sendo esta a condição mais triste que um homem pode ter nesta vida, antes de ir para o inferno.

[2] O Senhor Jesus continua a entregá-los à destruição como irrecuperáveis, a uma destruição pessoal no outro mundo (v. 33): “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” Estas eram palavras estranhas saídas da boca de Cristo, de cujos lábios se derramava a graça. Mas Ele pode falar de terror, e o fará, e nessas palavras Ele explica e resume os oito “ais” que tinha denunciado contra os escribas e fariseus.

Aqui está, em primeiro lugar, a sua descrição: “Ser­ pentes!” Cristo dirige insultos? Sim, mas isso não nos permite fazer o mesmo. Ele sabe, infalivelmente, o que há no homem, e sabia que eles eram sutis como serpentes, abrindo caminho sobre a terra, alimentando-se de pó; eles tinham uma aparência plausível, mas interiormente eram malignos, tinham veneno sob suas línguas, a semente da velha serpente. Eles eram uma “raça de víboras”, eles e os que tinham vindo antes deles. Eles e os que os acompanhavam eram uma geração de adversários envenenados, enfurecidos e malévolos de Cristo e do seu Evangelho. Eles amavam que os homens os chamassem “Rabi, Rabi”, mas Cristo os chama de “serpentes” e “víboras”, pois Ele dá aos homens as suas reais personalidades, e se alegra de desprezar os orgulhosos.

Em segundo lugar, a sua destruição. Jesus representa a condição deles como sendo muito triste, e de certa maneira, desesperada: “Como escapareis da condenação do inferno?” O próprio Cristo pregou o inferno e a destruição, pelo que os seus ministros sempre foram censurados por aqueles que não queriam ouvir falar deste assunto. Considere que:

1. A condenação do inferno será o temido fim de todos os pecadores impenitentes. Essa condenação vinda de Cristo era ainda mais terrível do que vinda de todos os profetas e ministros que já tinham vivido, pois Ele é o Juiz em cujas mãos estão “as chaves da morte e do inferno”. Ao dizer que eles estavam condenados, Ele os estava condenando.

2. Existe uma maneira de escapar dessa condenação, e está sugerida aqui; alguns serão salvos da ira futura.

3. Dentre todos os pecadores, aqueles que têm o espírito dos escribas e fariseus são provavelmente os que menos escaparão dessa condenação. Pois o arrependimento e a fé são necessários para escapar. E como é que o arrependimento e a fé serão trazidos a essas pessoas, que têm a si mesmas em tão elevado conceito, e têm tanto preconceito contra Cristo e o seu Evangelho? Como poderão ser curados e salvos, se não podem suportar que a sua ferida seja examinada, nem que o bálsamo de Gileade seja aplicado sobre ela? Os publicanos e as meretrizes, que conheciam a sua doença e procuravam o Médico, tinham mais probabilidade de escapar à condenação do inferno do que aqueles que, embora estivessem no caminho expresso para o inferno, estavam certos de que estavam a caminho do céu.

PSICOLOHGIA ANALÍTICA

MISTÉRIOS DO LADO ESQUERDO

 Vítimas de preconceito em muitas culturas, canhotos ainda enfrentam dificuldades em um mundo feito para a maioria de destros; cientistas discutem se o uso preferencial de uma mão ou de outra é determinado socialmente ou pelos genes.

Mistérios do lado esquerdo

Os antigos videntes romanos olhavam para o norte quando realizavam seus rituais mágicos. O Leste representava sorte e bons presságios. O Oeste à esquerda, era o domínio sombrio da morte. A Bíblia diz que no dia do juízo final as boas ovelhas encontrarão abrigo na mão direita do Senhor e os pecadores ficarão do outro lado, condenados à danação eterna.

Associada, respectivamente, ao bem e ao mal, a divisão entre direita e esquerda persiste nas expressões “entrar com o pé esquerdo” é começar mal, mas ser o braço direito significa ser fiel e prestativo. Depreciamos a esquerda, graças a séculos de menosprezo por parte da maioria de destra. Em diferentes culturas há nove destros para cada canhoto. Qual a causa da desproporção? A resposta pode estar nos hemisférios do cérebro.

A probabilidade de que duas pessoas destas tenham um filho canhoto é de apenas 9,5%. As chances aumentam para 19,5% se um dos pais for canhoto e para 26% caso ambos sejam. Mas a característica também pode ser explicada pela tentativa da criança de imitar os pais. Para testar a influência genética, a bióloga Marian Annet, da Universidade de Leicester lançou em 1970 a hipótese de que nenhum gene singular determina a preferência por uma ou outra mão. Em vez disso, durante o desenvolvimento fetal, um outro fator molecular ajuda a fortalecer o hemisfério esquerdo do cérebro, aumentando a probabilidade de que a mão direita seja dominante, já que o lado esquerdo do cérebro controla o direito e vice-versa. Na minoria de pessoas que carece desse fator, a preferência se desenvolve inteiramente ao acaso.

Pesquisas realizadas com gêmeos, porém, complicam essa hipótese. Em cada cinco grupos de gêmeos idênticos um tem um canhoto e outro destro, apesar de ambos terem o mesmo material genético. Os genes não são os únicos responsáveis pela característica.

A hipótese genética também é enfraquecida pelos resultados obtidos por Peter Hepper e sua equipe da Universidade Queens, em Belfast, Irlanda do Norte. Em 2004, os psicólogos usaram o ultrassom para mostrar que na 15ª semana de gravidez os fetos já têm preferência quanto ao dedo a ser chupado. Na maioria dos casos, ela se mantém após o nascimento. Com 15 semanas o cérebro, porém, não controla o movimento dos membros. Hepper especula que os fetos tendem a preferir o lado do corpo que está se desenvolvendo mais rápido e que seus movimentos influenciam o desenvolvimento cerebral. Não se sabe se essa preferência inicial é temporária ou persiste durante o desenvolvimento e a infância.

A determinação genética também é refutada pelo fato de que as crianças não se decidem pela direita ou pela esquerda até os 2 ou 3 anos. Isso nega a desacreditada teoria de que os canhotos tenham alguma lesão cerebral (tese que alguns cientistas ainda sustentavam há apenas duas décadas). Nos anos 20, os pesquisadores apontaram uma alta incidência de canhotos entre crianças que nasceram de parto difícil. Descobriram que muitos canhotos sofriam de transtornos de aprendizado e de epilepsia e que doenças neurológicas comuns predominavam nos gêmeos: ora, estes apresentam incidência mais alta de canhotos.

Em 1982, Norman Ceschwind sugeriu que a preferência por uma das mãos era determinada pelo sistema imunológico. A ideia ocorreu-lhe quando assistia a uma conferência sobre transtornos de leitura e escrita; as pessoas afetadas apresentavam alto índice de problemas imunológicos ou enxaquecas na família. Pesquisando mais, Ceschwind descobriu que os canhotos são 2,5 vezes mais suscetíveis a alergias, problemas na escrita e na leitura, anormalidades na estrutura óssea, gagueira e doenças na tiroide, uma constelação de eleitos chamada síndrome Ceschwind. Outros pesquisadores realizaram estudos similares, mas não detectaram tais vínculos, o que pôs em dúvida a teoria do neurologista.

Mesmo que as correlações sejam verdadeiras, elas não explicam o que toma uma pessoa canhota. Além disso, a especialização de um dos lados do corpo é comum entre animais. Os gatos privilegiam uma das patas quando querem pegar algo atrás do sofá. Alguns caranguejos se movem mais com as garras da esquerda ou da direita. Do ponto de vista evolutivo, enfatizar a força e a habilidade em um dos membros é mais eficiente que treinar igualmente dois, quatro ou oito membros. Entretanto, para a maioria dos animais, a preferência por um dos lados é aparentemente aleatória. O esmagador predomínio do lado direito está associado aos humanos.

Esse fato desloca nossa atenção para os hemisférios do cérebro e a linguagem, que na maioria das pessoas está claramente sediada em um ou outro hemisfério. Talvez haja desequilíbrio entre destros e canhotos porque as funções cerebrais estão divididas de forma assimétrica. Na vida cotidiana, essa distribuição desigual não é percebida, mas cada hemisfério possui forças e fraquezas próprias.

O interesse nos hemisférios data de pelo menos 1836, ano em que o médico francês Marc Dax relatou, em uma conferência em Montpellier, uma estranha característica comum a vários de seus pacientes. Durante anos de profissão, Dax encontrou mais de 40 homens e mulheres que apresentavam dificuldades na fala e todas elas tinham alguma lesão no lado esquerdo do cérebro. Em sua conferência, Dax sustentou que cada hemisfério cerebral é responsável por certas funções e que o lado esquerdo controla a fala. Outros especialistas, no entanto, mostraram pouco interesse pelas ideias do médico.

Cada vez mais, porém, os cientistas foram descobrindo evidências de pessoas com problemas na fala em razão de lesões no hemisfério esquerdo. Pacientes com danos no lado direito tendem a apresentar problemas de percepção ou de concentração. Os principais avanços na compreensão da assimetria cerebral foram feitos nos anos 60, graças à cirurgia de seccionamento do corpo caloso (feixe de nervos que liga os dois hemisférios). Durante a operação, desenvolvida para ajudar pacientes epiléticos, os médicos cortaram o corpo caloso. A separação das partes impediu que a descarga neurológica em um lado do cérebro –  o início de uma crise epilética – se transformasse em um distúrbio que causava terríveis ataques. Mas o corte também impossibilitou quase toda comunicação normal entre os hemisférios, dando aos pesquisadores a oportunidade de investigar a atividade de cada um dos lados.

Após vários experimentos com pacientes submetidos à cirurgia, os neuro­cientistas descobriram que os dois hemisférios percebem, aprendem e recordam de forma independente, embora o tipo de processamento e o nível de desempenho variem. O lado esquerdo é especialmente poderoso nas funções analíticas, como o processamento da linguagem, ao passo que o direito está mais capacitado para realizar tarefas espaciais e musicais. O hemisfério esquerdo processa sensações e pensamentos como se fossem elementos discretos, enquanto o direito interpreta tais dados como um todo.

TRABALHO CONJUNTO

Tornou-se cada vez mais claro que as diferenças entre os hemisférios pouco significam para as pessoas sãs. Cada fragmento de informação que penetra em um lado do cérebro está disponível para o outro por meio do corpo caloso. Para as funções superiores, como o aprendizado, os dois lados funcionam conjuntamente. A principal exceção diz respeito à linguagem.

Em 1949, o neurocirurgião japonês Juhn Wada descobriu uma fórmula de investigar a organização do funcionamento cerebral da linguagem, injetando um anestésico na artéria carótida esquerda ou direita, Wada paralisou temporariamente um dos lados de um cérebro são, o que lhe permitiu estudar de modo preciso as funções do outro lado. Baseados nesse método, Brenda Milner e Teodore Rasmussen, do Instituto Neurológico de Montreal publicaram, em 1975, um estudo que confirmava a teoria que Dax formulara quase 140 anos antes, em 96% dos destros, a linguagem é processada de forma muito mais intensa no hemisfério esquerdo. A correlação, entretanto, não é tão clara para os canhotos. Para dois terços deles, o hemisfério esquerdo é também o mais ativo processador da linguagem. Mas para o terço restante, ou o lado direito é predominante ou ambos os lados funcionam de forma igual, controlando diferentes funções relacionadas à linguagem.

O dado reduziu a aceitação da noção de que o predomínio dos destros se deve à maior importância do hemisfério esquerdo no processamento da linguagem. Não é claro porque o controle da linguagem deve envolver também os movimentos corporais. Alguns especialistas acreditam que o hemisfério esquerdo controla a linguagem porque os órgãos que processam a fala – a laringe e a língua – estão posicionados no eixo de simetria do corpo. Como essas estruturas são centradas, não é óbvio, do ponto de vista evolutivo, qual lado do cérebro deve controlá-las, e parece improvável que a operação conjunta facilite a atividade motora. Detalhes fisiológicos favorecem o hemisfério esquerdo, de tal modo que um impulso advindo daí alcance mais rapidamente a corda vocal; dando ao lado esquerdo uma vantagem na produção da linguagem.

Tanto a preferência por uma das mãos quanto a fala podem ter se desenvolvido por diferentes razões. Alguns pesquisadores, como o psicólogo evolutivo Michel C. Corballis, da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, acreditam que os gestos estão na origem da linguagem. Os gestos são anteriores às palavras e ajudaram no seu surgimento. Se o hemisfério esquerdo dominou a fala, deve ter controlado também os gestos e, como ele controla o lado direito do corpo, a mão destra se desenvolveu mais.

 CRIATIVIDADE NAS MÃOS

Talvez saibamos mais em breve. Enquanto isso, podemos imaginar implicações que a preferência por uma das mãos acarreta para nossos talentos. A sabedoria popular afirma que os destros, pessoas nas quais o hemisfério cerebral esquerdo predomina, destacam-se no pensamento analítico e lógico. Os canhotos, que usam mais o hemisfério direito são considerados mais criativos e aptos para combinar as características emergentes dos dois hemisférios. Mas alguns neurocientistas sustentam que tudo isso não passa de especulação.

Leonardo da Vinci talvez seja o canhoto mais famoso. Os pesquisadores discutem sobre até que ponto essa característica orientou sua criatividade. Alguns apontam que ele tinha propensão a pintar cenas holísticas e simétricas, agrupando as pessoas em estruturas centradas e piramidais. No famoso afresco A última ceia ele arranjou os apóstolos em torno da mesa de tal forma que o observador percebe o grupo como um todo integrado. A postura dos apóstolos faz os olhos dele convergir para o meio, onde Jesus está sentado. Artistas destros como Rembrandt, ao contrário, parecem preferir estruturas mais assimétricas, agrupando, por exemplo, árvores no canto inferior esquerdo da tela e pintando uma paisagem montanhosa no direito.

Tais observações talvez sejam apenas ousadas especulações. Menciona-se especialmente a história de Alan Turing, matemático considerado o fundador da moderna teoria do computador. Alguns o apontam como o principal exemplo da visão do psicólogo Ceschwind, segundo a qual a qualidade de canhoto e a criatividade matemática associada resultam de uma disfunção do sistema imunológico. Turing era extremamente alérgico ao pólen e costumava usar máscara para se proteger quando ia de bicicleta à Universidade de Cambridge.

Poucos cientistas estão dispostos a afirmar que o fato de ser canhoto significa maior potencial criativo. Mas os canhotos prevalecem entre artistas, compositores e grandes pensadores políticos. Se essas pessoas estão entre os canhotos cujas habilidades linguísticas são uniformemente distribuídas entre os hemisférios, o intenso intercâmbio demandado poderá levar a talentos mentais fora do comum.

Talvez alguns canhotos se tornem altamente criativos apenas porque precisam ser mais inteligentes para se sair bem em nosso mundo de destros. Essa batalha, que começa nos estágios iniciais da infância, pode estabelecer o fundamento para realizações excepcionais. Assim, é provável que os canhotos com processamento bilateral da linguagem representem novo avanço evolutivo para o Homo sapiens, em que constelações criativas entre os hemisférios estão sendo testadas. Os canhotos deveriam mencionar isso da próxima vez que forem menosprezados pelos destros.

Misterios do lado esquerdo

SEU FILHO É CANHOTO?

A Natureza talvez decida se seremos canhotos ou destros, mas o meio influencia a disposição genética. A criança pode adotar mão privilegiada pelos pais, mesmo que isso seja contrário a suas inclinações genéticas.

Muitos pais desejam descobri que mão o filho privilegia e acreditam que podem fazê-lo desde cedo observando o modo pelo qual a criança estende o braço para pegar objetos ou segura uma colher. Mas é fácil se equivocar. As crianças às vezes experimentam com uma mão durante um tempo, depois com a outra. Os especialistas dizem que só aos 2 ou 3 anos um dos lados é favorecido de forma consistente. Algumas crianças permanecem ambidestras até os 5 ou 6 anos e só então escolhem um dos dois.

 

DETLEF B. LINKE – é professor de neurofisiologia clínica e de reabilitação neurocirúrgica da Universidade de Bonn, Alemanha.

SABINE KERSEBAUM – é canhota e editora de Gehim & Geist

OUTROS OLHARES

SEU MASCOTE NA ERA DIGITAL

Aplicativos que facilitam a rotina de quem tem pet chegam para disputar um mercado de R$19 bilhões.

Seu mascote na era digital

Com uma população de cães domésticos estimada em 52 milhões, o Brasil é hoje o terceiro maior mercado de produtos pet do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Remo Unido. O faturamento do setor em 2016 foi de R$18,9 bilhões – o que equivale a um gasto médio de R$300 por mês para cada mascote, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação). Até bem pouco tempo, as compras se limitavam às lojas físicas especializadas – que entre 2014 e 2016 cresceram 80% apenas na cidade de São Paulo, saltando de 726 para 1298 estabelecimentos. Apesar das cifras que movimenta, o segmento demorou para entrar na era digital. Exceto as grandes redes, com seus próprios sites, há no País mais de 50 mil pet shops que não contam com estrutura de venda ou entrega em domicílio.

Foi de olho nessa oportunidade que o libanês radicado no Brasil Rabih Hanna investiu na criação do Dot Pet, uma plataforma recém-lançada que conecta o dono do animal a praticamente tudo o que o pet precisa. É possível comprar ração, medicamento, roupas, brinquedos, agendar banho e tosa, vacinação, consulta no veterinário e aulas com o adestrador. “Eles podem colocar seus produtos e serviços na nossa plataforma digital”, diz Hanna.

A fotógrafa Leda Rodrigues já descobriu a comodidade dos sites para cuidar de Prince, border collie de 4 anos. “Compro quase tudo pela internet. É muito mais prático: pesquiso preço, pago com cartão e recebo em casa, sem ter que sair para fazer as compras”, afirma.

 TRADUTOR DE LATIDOS

Enquanto o comércio eletrônico para pets avança, os aficionados por tecnologia começam a descobrir aplicativos para smartphones que facilitam a rotina de quem tem animal doméstico, caso do Pet Phone e do MyPets – PetManager. Ambos foram criados para organizar informações sobre os bichos de estimação, permitindo armazenar dados sobre medicações e consultas realizadas, salvar os números de telefones de veterinários e até alertas para vacinas. Para tornar ainda mais divertida a interação com os bichos, há aplicativos com funções que vão desde o mapeamento dos passeios diários, como faz o MapMyDogWalk (gratuito para IOS e Android) até a “tradução” dos latidos, uma brincadeira proposta pelo app Tradutor de Cães, disponível para IOS e também gratuito. É o app do au au.

GESTÃO E CARREIRA

O LADO BOM DA CRISE

Os anos difíceis de crise exigem o desenvolvimento de habilidades que serão cada vez mais requisitadas pelo mercado. Descubra quais são e como usá-las para crescer profissionalmente.

O lado bom da crise

A crise sempre tem um legado positivo. E um deles é o desenvolvimento de competências que, muitas vezes, são exigidas na marra. De repente, é preciso ser ainda mais produtivo, inovador e resiliente para enfrentar o momento difícil, fazer mais com menos e entregar resultados excepcionais. O lado bom dessa terapia de choque é que os profissionais conseguem acumular novos conhecimentos que representarão uma vantagem competitiva nos momentos de bonança – que podem demorar, mas ainda virão. Confira a seguir algumas competências que ganharam mais relevância nos últimos anos e podem fazer a diferença para quem quiser crescer e aproveitar oportunidades que surgirão.

 INOVAÇÃO

A inovação, que já era importante, em tempos de crise virou exigência em todas as áreas. “É preciso antecipar o que pode dar errado e romper padrões paradigmas que já não servem mais”, diz Sérgio Gomes, sócio da Ockam, consultoria de transformação organizacional, de São Paulo. Primeiro, descubra quais são os problemas em sua área; depois, busque a causa; e, então, proponha inovações para resolvê-los, mas não sozinho. Em um cenário de mudanças, junte-se a pessoas com habilidades e competências diferentes para estimular a colaboração, o compartilhamento de ideias e o potencial criativo de cada um. Assim fica mais fácil encontrar as melhores soluções.

 INSPIRAR PESSOAS

Essa competência é essencial para lidar com uma demanda geral: fazer mais com menos. “Hoje, com poucos recursos, quem é líder deve ter em mente que, se os empregados fizerem apenas o mínimo, o time poderá ficar para trás. Mas, quando os funcionários estão engajados, entregam o máximo possível mesmo em condições distantes do ideal, o que não é obrigatório, é voluntário”, afirma Sérgio. Quem inspira as equipes são os gestores que colocam a mão na massa e mostram aos liderados porque cada um deles é importante para que a empresa atinja seus grandes objetivos. “Essa conexão, quando é profunda, verdadeira e bem conduzida, inspira a todos”, diz Sérgio.

ENTENDER AMBIGUIDADES

Ambiguidades é uma mensagem que desperta dúvidas. No universo corporativo, se refere a complexidade que dificultam a tomada de decisão e exigem grandes habilidades dos profissionais – os quais, na crise, aprenderam a caminhar no escuro. Nessas situações, é necessário manter o foco no presente e definir prioridades, deixando de lado metodologias do passado. O dia a dia pode trazer previsões que, muitas vezes, nenhuma pesquisa imaginou. Por isso, quando tomar uma decisão, pense nos aspectos contraditórios da situação que você está enfrentando, analise as probabilidades e entenda que nem sempre terá todas as respostas.

ATITUDE DE DONO

Trabalhar como se fosse o dono do negócio é importante em períodos incertos, pois, além de assumir responsabilidade, o profissional com perfil empreendedor costuma motivar os colegas e buscar novas soluções para os problemas, de modo a tornar a organização competitiva. “É importante ter a capacidade de assumir e cumprir os compromissos e objetivos propostos e acordados”, diz Denys. Para isso é preciso analisar cenários e buscar novas oportunidades.

 FLEXIBILIDADE

Alguns são mais dispostos a aceitar novas atribuições e a enfrentar mudanças, outros não. Nessa onda de corte de custos e de readequação de equipes, tarefas foram acumuladas e os profissionais se adaptaram ao novo cenário e se destacaram. “Quem tiver a capacidade de se ajustar as novas situações e as novas responsabilidades certamente terá mais chance de ser reconhecido, principalmente se garantir a concretização dos objetivos,” afirma Denys.

AUTOGESTÃO

Essa habilidade diz respeito ao conhecimento dos próprios pontos fortes e fracos. É com base nessa consciência que os profissionais ficam motivados, se disciplinam, cobram e se avaliam. Na crise, ter consciência de suas fortalezas e limitações ajuda a atuar de maneira inteligente, cercando-se de pessoas que completam suas deficiências. Ao admitir que não somos suficientes em determinada área nem excelente em outra é uma das qualidades de profissionais desse tipo – algo necessário na crise e na bonança.

PRIORIZAÇÃO DE TAREFAS

A recessão trouxe as empresas ao encontro de dois opostos: a meta de crescimento e a busca da redução de custos. Os profissionais tiveram de se adaptar a essa realidade e desenvolver a priorização de tarefas. Felipe Battistela, de 42 anos, diretor de pós-vendas do Grupo Volvo américa latina, em Curitiba, faz esse exercício. “Precisei de mais rigidez na definição das prioridades, o que, aliás, tem sido um processo contínuo de mudança na forma de trabalhar”, diz. “Aprenda a priorizar as atividades que, de fato, serão utilizadas por alguém e que trarão melhores resultados, sejam eles financeiros ou de satisfação dos clientes”. Para isso, o executivo costuma questionar bastante. “Só assim é possível saber se aquela tarefa ainda é relevante. Afinal, o ambiente de negócios pode ter mudado.”

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Se controlar as emoções já é difícil durante a bonança, tudo piora em meio a crise. Para lidar com isso, é preciso inteligência emocional – competência muito valorizada porque traz uma dimensão humana para a solução dos problemas. “As pessoas sofreram com as incertezas políticas, a inflação, o desemprego, as demissões, os ajustes – no meio disso tudo, fez melhor quem não deixou o moral cair”, diz Denys Monteiro, CEO no Brasil da ZRG Partner, empresa de recrutamento executivo. Para desenvolver essa habilidade, tente não se abater com os cenários sombrios, pense positivo e seja assertivo para impor limites aos outros.

RESILIÊNCIA

Essa é a capacidade de superar adversidades sem ser afetado de modo negativo e permanente, uma competência que surge e se desenvolve em situações difíceis. “As pessoas conseguem manter a eficiência em momentos de estresse”, afirma Denys. Antecipar tendências, conhecer a dimensão dos problemas, entender que imprevistos acontecem e aproveitar os momentos instáveis para transforma-los em oportunidades de aprendizagem são práticas indicadas para desenvolver essa habilidade.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE II

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Os Crimes dos Fariseus

IV – O fato de procurarem os seus próprios benefícios mundanos e a sua própria honra, mais que a glória de Deus, os colocava cunhando uma distinção falsa e não justificável, com a qual eles conduziam as pessoas a enganos perigosos, particularmente na questão dos juramentos; o que, como uma evidência de um sentido universal de religião, era, por todas as nações, considerado sagrado (v. 16): “Condutores cegos!” Observe que:

1. É triste pensar em quantos estão sob a orientação de pessoas que são, elas mesmas, cegas, que se responsabilizam por mostrar aos outros aquele caminho que elas mesmas, voluntariamente, ignoram. Todos “os seus atalaias são cegos” (Isaias 56.10), e muito frequentemente as pessoas adoram que seja assim, e dizem a quem vê: Não vejam. Mas a situação piora quando os líderes do povo o conduzem ao erro (Isaias 9.16). 2. Embora seja muito triste a situação daqueles cujos guias são cegos, a dos próprios guias cegos é ainda mais lamentável. Cristo profere um “ai” para os guias cegos, que têm de responder pelo sangue de tantas almas.

Para provar a cegueira deles, Ele fala especificamente da questão dos juramentos, e mostra que eles eram uns casuístas corruptos.

(1) Ele apresenta a doutrina que eles ensinavam.

[1] Eles permitiam juramentos por criaturas, desde que estivessem consagradas ao serviço de Deus e tivessem um relacionamento especial com Ele. Eles permitiam juramentos pelo templo e pelo altar, que, embora fossem obras das mãos dos homens, eram destinados a ser instrumentos para a honra de Deus, e eles, como humanos, não poderiam compartilhar dela. Um juramento é um apelo a Deus, à sua onisciência e justiça; e fazer este apelo a qualquer criatura é colocar essa criatura no lugar de Deus. Veja Deuteronômio 6.13.

[2] Eles faziam diferença entre um juramento “pelo templo” e um juramento “pelo ouro do templo”; um juramento pelo altar e um juramento pela oferta sobre o altar; faziam os últimos obrigatórios, mas não os primeiros. Aqui havia uma dupla maldade. Em primeiro lugar, havia alguns juramentos que eles dispensavam e dos quais faziam pouco, e reconheciam que um homem não era obrigado a afirmar a verdade nem cumprir uma promessa. Eles não deveriam jurar pelo Templo nem pelo altar, mas, se jurassem, seriam enganados pelas palavras da sua boca. Uma doutrina que infringe as regras da fé em algum aspecto ou ocasião não pode ser uma doutrina do Deus da verdade. Os juramentos são instrumentos afiados, e não se deve brincar com eles. Em segundo lugar, eles preferiam o ouro ao Templo, e a oferta ao altar, para incentivar as pessoas a trazerem ofertas ao altar, e ouro aos tesouros do Templo, com o que eles esperavam lucrar. Aqueles que tinham feito do ouro a sua esperança, e cujos olhos estavam cegos pelas ofertas em segredo, eram grandes amigos do Corbã, e sendo o lucro a sua santidade, por meio de mil artifícios eles faziam a religião submeter-se aos seus interesses mundanos. Os guias corruptos fazem as coisas serem pecados ou não, conforme servirem aos seus objetivos, e colocam uma ênfase muito maior naquilo que diz respeito ao seu próprio ganho do que naquilo que é para a glória de Deus e para o bem das almas.

(2)  O Senhor mostra a tolice e o absurdo dessa diferença (vv. 17-19): “Insensatos e cegos!”. É no sentido de uma repreensão necessária, e não uma repreensão irada, que Cristo os chamou de insensatos. Deve nos bastar a palavra de sabedoria para mostrar a tolice das opiniões e dos procedimentos pecaminosos. Mas quanto à atribuição do caráter de pessoas em particular, deixemos isso a Cristo, que conhece o que há no homem, e nos proibiu de chamar alguém de “louco”, ou seja, de insensato.

Para condená-los por sua insensatez, Jesus pergunta aos escribas e fariseus, “qual é maior: o ouro [os vasos e ornamentos de ouro, ou o ouro do tesouro] ou o templo, que santifica o ouro…, a oferta ou o altar, que santifica a oferta?”. Qualquer pessoa diria – Tudo deve ser qualificado da maneira como as coisas são qualificadas, e com a intensidade adequada. Aqueles que juravam pelo ouro do Templo o encaravam como sendo sagrado. Mas o que é que o tornava sagrado, exceto a santidade do Templo, para cujo serviço ele era apropriado? E por isso o Templo não pode ser menos sagrado do que o ouro, mas deve ser mais sagrado; pois “o menor é abençoado pelo maior” (Hebreus 7.7). O Templo e o altar eram definitivamente dedicados a Deus, o ouro e as ofertas, apenas secundariamente. Cristo é nosso altar (Hebreus 13.10), nosso templo (João 2.21); pois é Ele que santifica todas as nossas ofertas e as considera agradáveis (1 Pedro 2.5). Aqueles que colocam as suas próprias obras no lugar da justiça de Deus, na justificação, são culpados dos absurdos dos fariseus, que preferiam a oferta ao altar. Cada cristão fiel é um templo vivo, e em virtude disso as coisas comuns são santificadas a ele: “todas as coisas são puras para os puros” (Tito 1.15), e “o marido descrente é santificado pela mulher” (1 Coríntios 7.14).

(3)  Ele corrige o engano (vv. 20-22) reduzindo todos os juramentos que eles tinham inventado ao verdadeiro objetivo de um juramento, que é expressar algo em nome do Senhor. Desse modo, um juramento pelo Templo, ou pelo altar, ou pelo céu, será formalmente mau, mas ainda assim obrigará a pessoa que jurar. Compromissos que não deveriam ter sido assumidos, ainda assim, quando feitos, são obrigatórios. Um homem nunca irá se beneficiar do seu próprio erro.

[1] Aquele que jura pelo altar, não deve pensar em remover a obrigação do juramento, dizendo: “O altar é apenas madeira, e pedra, e bronze”, pois o seu juramento será interpretado mais fortemente contra si mesmo, porque ele era culpável, e a obrigação do juramento será preservada; a obrigação é fortalecida, e não destruída. Portanto, um juramento pelo altar será interpretado como um juramento não só pelo altar, mas por todas as coisas que fazem parte dele. Pois os direitos são transmitidos juntamente com o principal. Jurar pelas coisas que são oferecidas a Deus sobre o altar é o mesmo que chamar o próprio Senhor Deus como testemunha, pois trata-se do altar de Deus; e aquele que vai ao altar, vai a Deus (Salmos 43.4; 26.6).

[2] Aquele que jura pelo Templo, se compreender o que está fazendo, não pode deixar de compreender que a base para o respeito ao Templo não é a beleza do Templo, mas o fato de o Templo ser a casa de Deus, dedicada ao seu serviço, o lugar em que Ele escolheu colocar o seu nome. Portanto, quando alguém jura pelo Templo, está jurando por aquele que ali habita. Ali Ele se agradou de uma maneira peculiar, para manifestar-se, e dar sinais da sua presença, de modo que aquele que jurar pelo Templo, jura por aquele que disse: “Este é o meu repouso… aqui habitarei”. Os bons cristãos são templos de Deus, o Espírito de Deus habita neles (1 Coríntios 3.16; 6.19), e Deus assume o que é feito a eles como sendo feito a si mesmo. Aquele que entristece uma alma graciosa, entristece também o Espírito que nela habita (Efésios 4.30).

[3] Se um homem jura pelo céu, ele peca (cap. 5.34), mas não será liberado da obrigação do seu juramento. Não. Deus o fará saber que o céu por que ele está jurando é o seu trono (Isaias 66.1); e aquele que jura pelo trono, apela para aquele que está assentado sobre ele. Da mesma maneira como Ele se ressente da afronta que lhe é feita sob a forma do juramento, certamente também irá vingar a afronta maior que lhe é feita pela violação do juramento. Cristo não permite a evasão de um juramento solene, por mais plausível que seja.

 

V – Eles eram muito rígidos e precisos nos menores detalhes da lei, mas descuidados e relaxados nas questões mais importantes (vv.23,24). Eles eram “parciais na aplicação da lei” (Malaquias 2.9, versão RA), escolhiam o seu dever segundo estivessem interessados ou fossem afetados. A obediência sincera é universal, e aquele que, com um princípio correto, obedece a qualquer dos preceitos de Deus, terá respeito a todos eles (Salmos 119.6). Mas os hipócritas, que agem na religião por si mesmos, e não por Deus, não farão mais na religião do que servir a si mesmos. A parcialidade dos escribas e fariseus aparece

aqui, em dois exemplos:

1. Eles observavam os deveres menores, mas omitiam os maiores; eles eram muito precisos no pagamento de dízimos, pagando até mesmo os da “hortelã, do endro e do cominho”, cuja exatidão não lhes custaria muito. Assim apregoavam a sua própria justiça. Os fariseus se orgulhavam disso, dizendo: “Dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18.12). Mas é provável que eles tivessem os seus próprios fins para servil e encontrassem nestes a sua própria satisfação; pois os sacerdotes e os levitas, a quem os dízimos eram entregues, estavam defendendo os seus próprios interesses, e sabiam quando e como retribuir as gentilezas recebidas. Pagar dízimos era a sua obrigação, e o que a lei exigia. Cristo lhes diz que eles não devem deixar de fazer isso. Observe que todos devem, em suas posições, contribuir para o sustento e a manutenção de um ministério permanente; reter os dízimos é roubar a Deus (Malaquias 3.8-10). Aqueles que são instruídos na Palavra, e não transmitem àqueles que os ensinam que amam um “evangelho barato”, são até mesmo piores que os fariseus.

Mas aquilo de que Cristo os condena aqui é o fato de eles desprezarem as questões mais importantes da lei, “o juízo, a misericórdia e a fé”; e a sua disposição de pagar os dízimos era, se não uma reparação diante de Deus, pelo menos uma desculpa com o objetivo de mitigar aos homens a omissão naquelas questões. Todas as coisas da lei de Deus são importantes, porém as mais importantes são aquelas que mais expressam a santidade interior no coração – é nos exemplos de renúncia a si mesmo, de desprezo pelo mundo, e de resignação a Deus que está a vida da religião. Juízo e misericórdia em relação aos homens e a fé em relação a Deus são as questões mais importantes da lei, as coisas boas que o Senhor nosso Deus exige de nós (Miqueias 6.8): “Que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques ajustiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” Esta é a obediência que é melhor do que o sacrifício ou o dízimo; o juízo é preferível ao sacrifício (Isaias 1.11). Ser justo com os sacerdotes no seu dízimo, e trapacear e enganar a todos os demais, é apenas zombar de Deus, e enganar a nós mesmos. A misericórdia também é preferível ao sacrifício (Oseias 6.6). Alimentar aqueles que engordam com a oferta ao Senhor e, ao mesmo tempo, fechar as entranhas da compaixão a uma irmã ou irmão que está nu e privado do alimento diário, pagar o dízimo da hortelã ao sacerdote e negar uma migalha a Lázaro é ficar aberto àquele julgamento sem misericórdia, que é a recompensa daqueles que pretenderam julgar, e não mostraram misericórdia; nem o julgamento e a misericórdia irão servir sem a fé na revelação divina; pois Deus deseja ser honrado nas suas verdades, bem como nas suas leis.

2. Eles evitavam pecados menores, mas cometiam os maiores (v. 24): “Condutores cegos!” Assim Jesus os tinha chamado antes (v. 16), pelos seus ensinamentos corruptos; aqui Ele os chama assim pela sua vida devassa, pelo exemplo que estavam dando, assim como pela sua doutrina; e nisto também eles eram cegos e parciais: “Coais um mosquito e engolis um camelo”. Na sua doutrina, eles coavam mosquitos, advertindo as pessoas contra as menores violações da tradição dos anciãos. Na sua prática, eles coavam mosquitos, arremessados contra eles, com um aparente temor, como se detestassem enormemente o pecado, e tivessem medo dele, em última instância; mas eles não criavam problemas com aqueles pecados que, em comparação, eram como um camelo em relação a um mosquito – quando eles devoravam as casas das viúvas, eles realmente engoliam um camelo; quando deram a Judas o preço do sangue inocente, e ainda tiveram escrúpulos de colocar o dinheiro devolvido no tesouro (cap. 27.5); quando não entraram na audiência, por medo de serem contaminados, mas ficaram à porta e gritaram contra o santo Jesus (João 18.28); quando discutiam com os discípulos, por comerem com as mãos por lavar, e para cumprir o Corbã, ensinavam as pessoas a infringir o quinto mandamento. Eles coavam mosquitos, ou coisas menores, e engoliam camelos. Não é o receio de um pequeno pecado que Cristo reprova aqui; se é um pecado, ainda que seja apenas um mosquito, deve ser coado. Mas Cristo reprova o fato de que faziam isto e então engoliam um camelo. A hipocrisia aqui condenada consiste em ser supersticioso nas menores questões da lei e ser profano nas maiores.

 

VI –  Eles eram dedicados a uma religiosidade exterior, e não a uma religiosidade interior. Eles eram mais desejosos e solícitos para parecer piedosos aos homens do que para obter uma aprovação junto a Deus. Isto é exemplificado por duas coisas semelhantes.

1; Eles são comparados a um recipiente que está limpo do lado de fora, mas todo sujo por dentro (vv. 25,26). Os fariseus mesclavam a religião com aquilo que, na melhor hipótese, era apenas uma questão de decência, como, por exemplo, a limpeza dos copos (Marcos 7.4). Eles tinham o cuidado de comer as suas refeições em copos e pratos limpos, mas não se preocupavam com o fato de conseguirem o seu alimento por extorsão, e, diga-se de passagem, pelas maiores extorsões possíveis. Que tolice seria para um homem lavar somente o exterior de um copo, que será olhado, deixando sujo o interior, que será usado; assim fazem aqueles que somente evitam pecados escandalosos, que manchariam a sua reputação entre os homens, mas se permitem uma maldade de coração, que os torna odiosos ao Deus puro e santo. Com referência a isso, observe:

(1)  O costume dos fariseus. Eles limpam o exterior. Naquilo que poderia ser observado pelo povo, eles pareciam muito exatos, e realizavam as suas intrigas maldosas com tamanha habilidade, a ponto de a sua maldade não levantar suspeitas; as pessoas geralmente os consideravam como homens bons. Mas por dentro, nos recessos dos seus corações e na intimidade das suas vidas, eles estavam cheios “de rapina e de iniquidade”; de violência e libertinagem, isto é, injustiça e intemperança. Embora pudessem parecer devotos, não eram nem equilibrados nem justos. O seu íntimo era verdadeiras maldades (Salmos 5.9); somos realmente aquilo que somos interiormente.

(2)  A regra que Cristo dá, em oposição a esse costume (v. 26), é dirigida aos cegos fariseus. Eles pensavam que eram os que viam na terra, mas (João 9.39) Cristo os chama de cegos. Note que, na opinião de Cristo, são cegos aqueles que (por mais que enxerguem bem em outras coisas) são estranhos, e não inimigos, à maldade dos seus próprios corações; que não veem, e não odeiam o pecado secreto que habita ali. A ignorância de si mesmo é a ignorância mais vergonhosa e prejudicial (Apocalipse 3.17). A regra é: “Limpa primeiro o interior do copo e do prato”. O principal cuidado de cada um de nós deveria ser lavar os nossos corações da malícia (Jeremias 4.14). Note que o principal de um cristão está no seu interior, e ele deve estar limpo da sujeira do espírito. Afetos e tendências corruptos, os desejos secretos que se escondem na alma, sem ser vistos e observados, estes devem ser mortificados e dominados em primeiro lugar. Os pecados que sondam o coração, dos quais o olho de Deus é apenas uma testemunha, devem ser conscientemente evitados.

Observe o método prescrito: “Limpa primeiro o interior”; não apenas o interior, mas este primeiro. Se for tomado o devido cuidado a este respeito, o exterior também ficará limpo. Motivos externos e incentivos podem manter limpo o exterior, enquanto o interior está sujo. Mas se a graça renovadora e santificadora limpar o interior, isto terá uma influência sobre o exterior, pois o princípio que comanda o ser está no interior. Se o coração estiver bem limpo, tudo está bem, pois dele procedem as saídas da vida; as erupções serão eliminadas naturalmente; se o coração e o espírito se renovarem, haverá uma renovação de vida; aqui, portanto, cada um de nós deve começar consigo mesmo; primeiramente, devemos limpar o que está dentro de nós. Somente após esta etapa é que seremos realmente bem-sucedidos.

2. Eles são comparados a “sepulcros caiados” (vv. 27,28).

(1)  Eles são bonitos por fora, como os sepulcros, “que por fora realmente parecem formosos”. Alguns interpretam isto como uma referência ao costume dos judeus de caiar os sepulcros, somente para chamar a atenção sobre eles, especialmente se estiverem em lugares incomuns, para que as pessoas os evitem, por causa da contaminação cerimonial contraída ao tocar um sepulcro (Números 19.16). E fazia parte da incumbência dos supervisores dos caminhos reparar essa caiação quando estivesse decaindo. Os sepulcros eram, assim, visíveis (2 Reis 23.16.17). A formalidade dos hipócritas, pela qual eles estudam para serem elogiados pelo mundo, apenas faz com que os homens sábios e bons tomem mais cuidado para evitá-los, por medo de serem contaminados por eles. “Guardai-vos dos escribas” (Lucas 20.46). Na verdade, isto é uma alusão ao costume de caiar os sepulcros das pessoas importantes, para seu embelezamento. Está dito aqui (v. 29) que os escribas e fariseus adornavam “os monumentos dos justos”; assim como para nós é usual erigir monumentos sobre os sepulcros das pessoas importantes, e espalhar flores sobre os túmulos de amigos queridos. Mas a justiça dos escribas e dos fariseus era como os adornos de um sepulcro, ou o vestir de um cadáver, somente para exibição. O ponto alto da sua ambição era parecer justos diante dos homens e ser aplaudidos e admirados por eles. Mas:

(2)  Eles eram sujos por dentro, como os sepulcros, “cheios de ossos de mortos e de toda imundícia”. Tão vis são os nossos corpos quando a alma os abandona! Assim estavam eles, “cheios de hipocrisia e de iniquidade”. A hipocrisia é a pior de todas as iniquidades. É possível que aqueles que têm os corações cheios de pecado tenham a vida livre de culpas, e pareçam ser muito bons. Mas de que irá nos ajudar ter a boa palavra dos nossos companheiros servos, se o nosso Mestre não disser: “Bem está?” Quando todos os outros sepulcros estiverem abertos, o interior desses sepulcros caiados será visto, e os ossos dos mortos, e toda a imundícia, serão trazidos para fora e expostos diante do exército do céu (Jeremias 8.1,2). Pois chegará o dia em que Deus irá julgar, não as exibições, mas os segredos dos homens. E será de pouco consolo, para aqueles que têm a sua parte com os hipócritas, lembrarem-se da maneira louvável e plausível como foram para o inferno, aplaudidos por todos os seus conhecidos.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ARREDIOS E GENIAIS

Dificuldade na interação social e tendência a comportamento repetitivo caracterizam a síndrome de Asperger. Portadores desse tipo de autismo, porém, têm inteligência e habilidades lógico-matemáticas notáveis.

Arredios e geniais

Por favor, não se cure. Soa pelo menos insólito o pedido dos alunos de um instituto em Nova York. Tão insólito a ponto de ter merecido um artigo no New York Times, jornal que acolheu os protestos de um grupo de adolescentes em que foi diagnosticada a síndrome de Asperger e outras formas do que os textos de psiquiatria definem como “transtornos do espectro autístico”.

A definição é recusada pelos jovens americanos portadores de Asperger, para os quais o seu modelo de raciocínio é simplesmente um modo diferente de pensar. “As nossas dificuldades não nascem de nós, mas da sociedade”, afirmam os adolescentes entrevistados pelo jornal nova-iorquino. E pedem que as escolas estimulem as suas capacidades intelectuais para ajudá-los a viver como os outros: os chamados normais ou “neurotípicos”, como os define, de forma polêmica parte da comunidade autística.

Não se trata de um protesto isolado: nos países anglo-saxões, nasceram associações como a Autistic Liberation Front, que propõe defender a dignidade dos cidadãos autistas, e sites que coordenam iniciativas contra as discriminações denunciadas por muitos deles.

A mobilização é, sobretudo, de portadores de Asperger ou “autistas high functioning, isto é, pessoas em que os traços característicos do autismo não são acompanhados por deficiências mentais, e que, não obstante, algumas dificuldades em manejar os códigos comunicativos “normais”, estão em condições de se fazer ouvir e entender. E de estudar com proveito: é para esses estudantes brilhantes e um pouco especiais, de fato, que estão aparecendo, nos Estados Unidos, escolas projetadas para oferecer ambiente didático estruturado e atividades de apoio na socialização, que é para eles o obstáculo mais difícil de superar.

A síndrome de Asperger recebeu seu nome de um pediatra vienense que, em 1944, descreveu pela primeira vez um grupo de crianças que mostravam alguns traços autísticos – dificuldade de interação social, falta de jeito, tendência a comportamentos repetitivos e estereotipados -, não associados, porém, com retardo mental, os adolescentes com Asperger têm em geral uma inteligência notável, superior à média particularmente nas disciplinas lógico-matemáticas.

Mas foram necessários 50 anos para que a síndrome de Asperger encontrasse lugar no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV). E mesmo hoje a diferença entre Asperger e autismo high functioning precisa ser mais bem explicada, ainda que os dois distúrbios estejam classificados de maneira distinta. “Daqui a alguns anos, provavelmente estaremos em condições de operar uma distinção com base nas alterações genéticas e na estrutura cerebral, mas por ora os limites entre ambos são bastante nebulosos, explica Paolo Curatolo, professor de neuropsiquiatria infantil na Universidade de Roma.

Torna ainda mais confusa a situação a grande variedade de sintomas que caracterizam esses distúrbios, cuja incidência parece estar crescendo, provavelmente devido a uma maior precisão nos diagnósticos, segundo as estatísticas, uma pessoa em cada 250 sofreria da síndrome.

Mas onde fixar fronteira entre patologia e modo de ser? A polêmica não é nova: “Pensem nos canhotos, que até há alguns anos, eram corrigidos, ou nos homossexuais, que por séculos foram considerados doentes”, dizem muitos portadores de Asperger. “O artigo publicado no New York Times é provocativo e descreve uma realidade muito diversa da nossa, mas enfrenta um problema importante: alguns dos distúrbios de que sofrem as pessoas com Asperger, como a depressão, podem ser causados ou pelo menos atenuados, pela atitude da sociedade e pelo fato de que essas pessoas se percebem como inadequadas em relação ao que lhe é exigido, sublinha Curatolo.

Ser reconhecido corno portador de Asperger proporciona uma explicação plausível para excentricidades e dificuldades, o que facilita a aceitação por parte da sociedade. Mas pode significar também ser submetido a terapias não desejadas que alguns consideram uma verdadeira violência.

O grande problema ainda é difundir o conhecimento da síndrome, pouco conhecida mesmo no ambiente médico. Muitos adultos com Asperger não sabem que são portadores da síndrome. Professores e alunos frequentemente não têm orientação para lidar com os problemas que surgem na escola. “A variedade dos distúrbios de desenvolvimento e a dificuldade do diagnóstico podem levar a se pôr no mesmo caldeirão situações muito diversas, nota o médico Paolo Cornáglia Ferraris, autor de Asp, Asper, Asperger, livro em que uma criança “como todas as outras, mas não bem igual-igual’, conta em primeira pessoa o  desafio de viver com um distúrbio de relacionamento que tem a ver com a dificuldade de regular os órgãos de percepção. Os portadores de Asperger sofrem, de fato, de uma espécie de hipersensibilidade sensorial e emotiva que torna difícil inserir-se num ambiente apinhado, barulhento ou iluminado, como se qualquer forma de comunicação tivesse um volume muito alto para ser tolerado.

VIDA DE ASPIE

Entre normalidade e deficiência há um limite sutil que pode depender de muitas variáveis, como o contexto familiar ou o ambiente escolar. São as circunstâncias que permitem a um adolescente com Asperger desenvolver a inteligência que, aliada a uma incansável dedicação às matérias preferidas, pode ajudá-lo a abrir caminho para a sociedade e para ele próprio aceitar o seu comportamento. Num contexto diverso, o mesmo adolescente poderia ser rotulado como deficiente antes de ter a possibilidade de mostrar seu valor. O mesmo vale para os adultos. Há portadores de Asperger que passaram toda a vida sem um diagnóstico, aprendendo a conviver com suas estranhezas. Outros casos são mais dramáticos, e há quem viva à margem do convívio social.

“Não existe o branco ou o preto, uma linha de demarcação precisa entre uma personalidade normal e uma patológica”, sustenta Temple Gradin, a professora autista que se tornou famosa ao ter sua história contada por Oliver Sacks em Um Antropólogo em Marte.

O DSM-IV, porém, busca traçar um limite: os diversos sintomas representam uma síndrome quando começam a comprometer seriamente uma área importante da vida, como o trabalho ou as relações afetivas e sociais. Mas são mesmo os sintomas que constituem o problema? É difícil dizer se são nossas ‘fixações’ que tornam difíceis nossas relações com os outros ou se a dificuldade de se comunicar faz com que nos concentremos no que fazemos de melhor, observa um adolescente com Asperger. E, segundo um adolescente portador de Asperger, “a nossa sociedade, tão baseada na comunicação, nos leva a ver com suspeita quem tem problemas de relacionamento e a rotular como doentes pessoas que, no passado, teriam sido consideradas talvez esquisita, ou apenas solitárias, mas, ao menos eram aceitas”.

“A meu ver, a síndrome de Asperger é somente um diferente modelo cognitivo, que comporta forte tendência à sistematização e certa dificuldade em estabelecer relações empáticas com os outros”, explica Simon Baron-Cohen, diretor do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge. “Acredito que a sociedade poderia se esforçar para ser mais tolerante no contato com esses indivíduos, aprendendo a valorizar suas capacidades e a não estigmatizar os seus limites!’

É sempre grande o risco de descuidar de quem verdadeiramente necessita de ajuda. Nos Estados Unidos, associações como a Asperger Liberation Front são duramente criticadas por pais de crianças com distúrbios de desenvolvimento, os quais gostariam de conduzir seus filhos, o quanto for possível, à normalidade.

Perduram questões básicas, mesmo para as pessoas com Asperger a solidão pode ser um peso, e também para elas a inserção no mundo do trabalho é necessária para garantir não só a indispensável autonomia econômica, mas também importante estímulo intelectual. “Muitos portadores sofrem de depressão causada precisamente pela dificuldade de estabelecer relações com os outros, especialmente a partir da adolescência”, explica Curatolo. Assim, se não existem terapias para a síndrome – e ainda se discute se ela é uma doença -, muitos portadores de Asperger devem tomar medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos para reduzir agitações, distúrbios obsessivos e fobias que nascem da dificuldade de se confrontar com o ambiente.

NO LIMIAR DO GÊNIO

Ao mesmo tempo a síndrome de Asperger exerce um certo fascínio na opinião pública. Diversos estudiosos identificaram traços de Asperger em alguns grandes nomes do passado, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Ludwig Witgenstein e Albert Einstein. E mesmo Bill Gates, segundo alguns mostraria característicos traços da síndrome, não apenas certo embaraço social e grande habilidade com a informática, mas também o hábito de balançar discretamente o corpo de um lado a outro. No mundo da ficção científica, doutor Spock, o sábio vulcaniano de orelhas pontudas de Jornada nas Estrelas, apresenta algumas características de Asperger, racionalidade extrema e incapacidade de apreciar as convenções sociais. A dedicação obsessiva e uma boa dose de misantropia tornam potenciais vítimas de Asperger investigadores famosos como Sherlock Holmes ou Gil Grissom, protagonista do seriado CSI Las Vegas.

No entanto, no mundo dos aficionados pela informática, a Aspi, – o termo familiar com que se auto definem os portadores – tornou-se quase um sinônimo de geek (ou, como se diz no Brasil, cdf). Tanto que, atualmente, são vendidas camisetas e xícaras de café ou mouse pads com escritos como “Adultos com Asperger, não queremos a cura (não aquela que alguém tenha escolhido por nós)”. Enquanto isso. nos sites sobre Aspies, multiplicam-se as “instruções de uso” para falar com os outros, os chamados “normais”: aprenda o que é metáfora; pergunte como vai a um estranho mesmo que a saúde dele não lhe interesse.

“Tudo bem que os outros, para nos entender, imaginem que nos falta algum componente no circuito cerebral”, observa um jovem portador de Asperger num fórum de discussão. Os indivíduos com Asperger são pessoas mais frágeis que a média do ponto de vista evolutivo, porque a sua dificuldade de entender o pensamento dos outros as torna vulneráveis, mas uma sociedade igualitária deve estar em condições de tolerar diferenças e variantes, concluí Curatolo. Enquanto isso, do universo dos portadores de Asperger ecoa uma pergunta ainda sem resposta: o que é a normalidade, e quem está em condições de avalia-la?

RETRATOS DA SÍNDROME

No princípio, era Raymond Babbit; o personagem autista de Rain man. Graças ao filme, um distúrbio tão difícil de abordar se tomou conhecido e mais acessível, na bela interpretação de Dustin Holfman. O ator interpreta um autista dotado de inteligência particular, exemplo de modalidade da patologia em que transtornos do desenvolvimento encontram-se associados a habilidades especiais. Do mesmo modo, talvez nem todos os portadores de Asperger se pareçam com Christopher Boone, o jovem protagonista de O estranho Caso do Cachorro Morto, romance de Mark Haddon que fez o mundo conhecer a síndrome. Foi a primeira vez que um romance centrado na psicologia desses indivíduos chegou às listas dos mais vendidos. Mas Haddon não foi o primeiro escritor a falar dos portadores de Asperger: um dos personagens de um romance de ação como O Fator Hodes, de Robert Ludlum, é Marty, um portador de Asperger, gênio da eletrônica, que acompanha o protagonista nas suas Investigações; e a escritora de ficção científica, Elizabeth Moon ganhou o prêmio Nebula em 2003 com um romance, The speed of dark, que tem como protagonista um pesquisador com Asperger. Hoje, porém, são os portadores de Asperger e suas famílias que contam suas histórias. E não se trata só de manuais de autoajuda. Entre as memórias mais recentes, está Song of the Gorilla Nation, de Dawn Prince-Hughes, a autobiografia de uma primatologista que graças ao trabalho com gorilas conseguiu superar as dificuldades de relacionamento geradas pela síndrome. Já em An Asperger Marriage os autores Christopher e Gisela Slater-Walker narram de seus respectivos pontos de vista alegrias e problemas de um matrimônio com um homem portador da síndrome. E estes são só dois de um elenco de títulos que contam as “crônicas do planeta errado” (como diz um título de autor com Asperger) e os esforços dos portadores para conviver com os normais. No repertório de organizações como Oasis (Online Asperger Syndrome lnformation and Support, http://www.udel.edu/bkirby/asperger) há também histórias para crianças e romances de ficção científica – como aqueles da série de Jornada nas Estrelas – em que abundam personagens com características dos portadores de Asperger. Além da biografia de personagens famosos em que foram identificados traços de Asperger, como o presidente americano Thomas Jefferson (Diagnosing Jefferson, de Norm Ledgin) ou o músico Glenn Gould (Glenn Gould: The ecstasy ond tragedy of a genius, de Peter F. Ostwald).

 Arredios e geniais2

 

 PAOLA EMILIA CICERONE – é Jornalista científica.

OUTROS OLHARES

TREINO INTENSO CONTROLA PARKINSON

Pela primeira vez, a ciência mostra que caminhar em ritmo forte retarda a progressão da doença

Treino intenso controla Parkinson

Trinta minutos por dia, quatro vezes por semana, em alta intensidade. Caminhar assim, cotidianamente, retarda a progressão da doença de Parkinson em pessoas que receberam o diagnóstico há menos de cinco anos e que ainda não usam medicação. A notícia de que esse tipo de exercício pode quase ser equiparado a um remédio preventivo foi anunciada por pesquisadores da Northwestem University e Colorado University (EUA). Foi o primeiro estudo clínico do gênero.

Os cientistas queriam saber se as evidências de benefícios dessa atividade encontradas em alguns estudos com animais seriam observadas em humanos. Além disso, o grupo desejava descobrir a intensidade e a periodicidade que de fato trariam resultados. Até então, as informações oriundas das pesquisas em cobaias eram insuficientes para obter um padrão de efetividade.

Com indicadores positivos obtidos na primeira fase dos estudos. os especialistas seguiram para a segunda etapa. Os pacientes foram divididos em três grupos. Os dois primeiros treinaram quatro vezes por semana, mas em intensidades distintas. Uma parte treinou em ritmo moderado, com a frequência cardíaca entre 60% e 65% da máxima. A outra, em ritmo intenso. com a frequência cardíaca entre 80% e 85% da máxima. O restante seguiu com sua rotina, mesmo que isso implicasse sedentarismo.

Seis meses depois, os únicos que não apresentaram qualquer declínio associado à doença, como perda de equilíbrio e dificuldades na coordenação motora, foram os indivíduos submetidos ao regime de treino intenso. Uma das hipóteses para o efeito é a de que a boa oxigenação proporcionada pelo exercício ajude a impedir a deterioração de neurônios. “Acredito que o treinamento aeróbico intenso beneficiará inclusive pacientes em estado mais avançado da enfermidade”, disse Margaret Schenkmann, responsável pelo estudo.

 OUTROS EXERCICIOS QUE AJUDAM

DANÇA – Ajuda a manter ou retarda a perda progressiva da coordenação motora. As mais elaboradas, como o tango, têm maior eficácia

BOXE – Treina a coordenação motora e melhora a força muscular

PILATES – Aumenta o tônus muscular e eleva o poder de concentração, muitas vezes prejudicado

GESTÃO E CARREIRA

APRENDIZADO DIVERTIDO

Seis cursos e eventos que, com elementos Lúdicos, ajudam os profissionais a fazer networking, adquirir novos conhecimentos e aperfeiçoar habilidades.

aprendizado divertido

MONDAY NIGHT BURGERS

Após nove anos trabalhando como diretor de arte em uma produtora, Daniel Pires se deu conta de que sua parte favorita do dia era depois do expediente, quando amigos se juntavam em alguma mesa de bar para bater papo, tomar cerveja e comer.

Daí surgiu a inspiração para o evento Monday Night Burgers (ou’ segunda-feira do hambúrguer”), que reúne, semanalmente, 26 pessoas para conversar sobre inquietações de carreira e da vida pessoal. “Usamos o hambúrguer como desculpa, mas nosso propósito é conectar todo mundo,” diz Daniel. O evento acontece de maneira fixa na capital paulista, em um porão na Vila Olímpia, mas já contou com edições em Bauru e Ribeirão Preto (no interior de São Paulo) e em Londres na Inglaterra. Para o futuro, há a avaliação de levar o encontro para o Rio de Janeiro e Brasília. “Tiramos a ideia de que segunda é um dia chato,’ diz Daniel.

Como Participar: As inscrições abrem toda quarta-feira, às 14 toras, no link: facebook.com/mondaynightburgers

Preço: 60 reais. O valor inclui um hambúrguer, batata frita e bebida

Frequência: Toda segunda-feira

ALTITUDE PARK

ALTITUDE PARK

É para quem quer levar os colegas de trabalho para fazer exercícios físicos. O Altitude Park é o primeiro do Brasil dedicado a camas elásticas. São mais de 50 aparelhos desse tipo que ficam interligados. Além disso, há paredes de escalada e slackline. É possível fechar grupos de no mínimo 12 pessoas e fazer festas corporativas – inclusive a de fim de ano.

Como Participar: Compras de passes em altitudepark.com.br

Preço: 39 reais por hora de segunda á quinta-feira e 44 reais às sextas, aos domingos e aos feriados, 10 reais pelo par de meias antiderrapantes, obrigatórias.

Frequência: Todos os dias.

aprendizado divertido.3

ESCAPE 60

Os jogos de fuga estão fazendo sucesso. Os participantes são trancados em uma sala para coletar pistas e decifrar algum mistério ou enigma no prazo de 1 hora. A porta da sala se abre assim que o enigma é desvendado e, caso a equipe não consiga encontrar a solução, um monitor esclarece as dúvidas. Uma das empresas que oferecem disputas desse tipo é a Escape 60, que tem mais de dez salas temáticas em São Paulo, as quais incluem cemitério, quarto de hotel e até uma cozinha de reality show com ingredientes supostamente envenenados. A atividade ajuda a estimular a liderança e o trabalho em equipe. Algumas companhias, como Nestlé e Sodexo usam a dinâmica em atividades de treinamento e recrutamento.

Como Participar: Atendimento via escape60.com.br

Preço: A partir de 69 reais por pessoa, com no mínimo quatro pessoas por sala.

Frequência: Todos os dias.

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LADIES, WINE E DESIGN

Uma vez por mês, o evento reúne dez mulheres no escritório do Twitter – um dos parceiros – em São Paulo para tomar vinho e bater papo sobre assuntos relativos a criatividade, design e negócios. Para participar da conversa basta ser mulher e se interessar por esses assuntos. Nos últimos meses, já houve um encontro dedicado a revisar os portfólios das participantes, outro sobre como desenvolver um traço de design autoral e uma anterior sobre processo criativo. A inciativa de realizar os encontros surgiu de Jessica Walsh, uma designer que mora em Nova York e chegou ao Brasil por meio da 65/10 consultoria que ajuda as marcas a se comunicar melhor com o público feminino.

Como Participar: ladieswinedesign.com.br

Preço: Gratuito

Frequência: Mensal

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SHIFT CINECLUB

O evento é voltado para profissionais do mundo do cinema e interessados por audiovisual. A cada edição, são exibidos curtas e pequenos documentários – já premiados -, seguidos por debates com os diretores. O objetivo, além de exibir filmes, é atrair pessoas de todos os tipos que se interessem por cinema e queiram expandir sua rede de contatos. A ideia surgiu de conversas entre Rodrigo Hurtado, da agência de Publicidade Cubo CC, e Fábio Seixas, diretor da Conspiração filmes e um dos criadores do Festival Path, que acontece todo ano em São Paulo e reúne shows, palestras e discussões sobre inovação. A dupla queria que o público tivesse acesso a filmes que dificilmente entram no circuito comercial das salas de cinema.

Como participar: Fique atento à divulgação na página facebook.com/ShiltCineclub

Preço: Gratuito.

Frequência: Mensal

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HOUSE OF GENIUS

Dois empreendedores expõem seus negócios e apresentam algum desafio ou problema pelo qual estão passando. Durante 1 hora e meia, cada um deles ouve sugestões e críticas de 13 participantes anônimos, com diferentes perfis e trajetórias, que revelam sua identidade apenas ao fim do processo. O mistério serve para encorajar os participantes a dar ideias, mesmo para problemas que estão fora de seu campo de especialização – ingrediente crucial para ganhar novas perspectivas e criar soluções inovadoras. O evento surgiu em 2011, nos Estados Unidos e já acontece de maneira fixa em diversas cidades do mundo.

Como participar: Em São Paulo, é preciso ser indicado por um participante. Em outras cidades,

inscrições via link: houseofgenius.org/apply

Preço? Gratuito

Frequência: Mensal

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 13-33 – PARTE I

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Os Crimes dos fariseus

Nesses versículos, temos oito “ais” dirigidos diretamente contra os escribas e os fariseus, pelo nosso Senhor Jesus Cristo, como o ruído de trovões ou os relâmpagos do Monte Sinai. Três “ais” já fazem parecer muito assustador (Apocalipse 8.13; 9.12), mas aqui há oito “ais”, em oposição às oito bem-aventuranças (cap. 5.3). O Evangelho tem os seus “ais”, assim como a lei, e as maldições do Evangelho são as piores, entre todas as maldições. Estes “ais” são os mais notáveis, não somente por causa da autoridade, mas por causa da humildade e da bondade daquele que os denunciou. Ele veio para abençoar, e se comprazia em abençoar; mas se a sua ira se inflama, certamente há motivo para tanto. E quem fará alguma súplica a favor daquele contra quem o grande Intercessor se pronuncia? Um “ai” de Cristo é um “ai” sem remédio.

Aqui está o refrão do cântico, e é um refrão pesado: ”Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”. Considere:

1. Os escribas e fariseus eram hipócritas; é nisto que se resume todo o restante da sua má personalidade; esse era o fermento que dava sabor a tudo o que eles faziam e diziam. Um hipócrita é um ator na religião (este é o significado básico da palavra); ele personifica ou interpreta o papel de alguém que ele não é, nem poderá sei; ou talvez que ele não é, nem deseja ser.

2. Esses hipócritas estão numa condição e num estado lamentável. ”Ai dos… hipócritas”. O fato de Jesus dizer isto mostra que o caso deles era lamentável; enquanto eles vivessem, a sua religião seria inútil; quando morressem, a sua ruína seria grande.

Cada um desses “ais” contra os escribas e os fariseus tem uma razão anexa a ele, contendo um crime de que eles são acusados, provando a sua hipocrisia e justificando o julgamento de Cristo sobre eles; pois os “ais”, as maldições pronunciadas por Jesus, nunca são infundadas.

I – Eles são inimigos declarados do Evangelho de Cristo, e, consequentemente, da salvação das almas dos homens (v.13): Eles “fecham aos homens o Reino dos céus”, isto é, eles faziam tudo o que podiam para impedir que as pessoas cressem em Cristo e, dessa maneira, entrassem no seu reino. Cristo veio para abrir o Reino dos céus, isto é, para nos mostrar um “novo e vivo caminho” para entrar nele, para levar os homens a serem súditos desse Reino. Mas os escribas e os fariseus, que se assentavam na cadeira de Moisés, e pretendiam ter a chave do conhecimento, deviam ter contribuído com a sua ajuda, abrindo aquelas Escrituras do Antigo Testamento que apontavam para o Messias e o seu reino, no seu sentido verdadeiro e adequado; aqueles que eram responsáveis por explicar Moisés e os profetas deviam ter mostrado às pessoas como estes testificavam a respeito de Cristo, mostrar que as semanas de Daniel estavam se esgotando, que o cetro se afastava de Judá, e que, portanto, aquela era a ocasião para a aparição do Messias. Desta maneira, eles poderiam ter facilitado aquela grandiosa obra, e ajudado milhares de pessoas a irem ao céu. Mas, em vez disso, eles fecharam o Reino dos céus; eles se empenharam em forçar a observância da lei cerimonial, que estava sendo abolida; em suprimir as profecias, que então se cumpriam; e em criar e nutrir; nas mentes das pessoas, preconceitos contra Cristo e a sua doutrina.

1. Eles mesmos não entrariam: “Creu nele, porventura, algum dos principais ou dos fariseus?” (João 7.48). Não. Eles eram orgulhosos demais, para curvar-se à sua pobreza, formais demais, para serem compatíveis com a sua simplicidade; eles não gostavam de uma religião que insistia tanto na humildade, na renúncia de si mesmo, no desprezo ao mundo e na adoração espiritual. O arrependimento era a porta de entrada a esse Reino, e nada podia ser mais desagradável para os fariseus, que se justificavam e se admiravam, do que arrepender-se, isto é, acusar e humilhar e abominar a si mesmos. Por isso eles mesmos não entrariam; mas isso não era tudo.

2. Eles não deixavam “entrar aos que estão entrando”. É ruim nos mantermos afastados de Cristo, mas, é pior manter os outros afastados dele. No entanto, este é o procedimento normal dos hipócritas; eles não gostam que alguém vá além deles na religião, ou que seja melhor que eles. O fato de eles mesmos não entrarem era um obstáculo para muitos, pois, como eles atraíam tão grande interesse das pessoas, as multidões rejeitavam o Evangelho somente porque os seus líderes faziam isso; mas, além disso, eles se opunham tanto a Cristo receber os pecadores (Lucas 7.39) quanto aos pecadores receberem a Cristo. Eles deturparam a sua doutrina, opuseram-se aos seus milagres, discutiram com os seus discípulos, e o descreveram, e às suas instituições e à sua economia, perante o povo, da maneira mais negativa e falsa que se podia imaginar. Eles vociferaram a sua excomunhão contra aqueles que o confessavam, e usaram todo o seu talento e poder a serviço da sua maldade contra Ele. Assim, eles fecharam o Reino dos céus, pois aqueles que quisessem entrar nele deviam fazê-lo por meio da violência (cap. 11.12), e forçar a entrada (Lucas 16.16) em meio a uma multidão de escribas e fariseus, e todas as dificuldades e todos os obstáculos que eles pudessem imaginar para colocar em seu caminho. Como é bom, para nós, que a nossa salvação não esteja confiada às mãos de qualquer homem ou grupo de homens deste mundo! Se assim fosse, estaríamos arruinados. Aqueles que fecham a igreja fechariam também o céu, se pudessem; mas a maldade dos homens não pode tornar sem efeito a promessa ele Deus aos seus escolhidos; graças a Deus, não pode.

II – Eles faziam da religião e do modelo de santidade um disfarce e um pretexto para as suas práticas e os seus desejos ambiciosos (v. 14). Observe aqui:

1. Quais eram os seus procedimentos mal-intencionados: eles “devoravam as casas das viúvas”, seja hospedando-se, e aos seus auxiliares, ali, para entretenimento, que deve ser o melhor para homens da estirpe deles, seja insinuando-se nos seus afetos, conseguindo desta maneira a função de administradores elas suas propriedades, o que fazia delas presas fáceis, pois quem iria pensar em chamar para prestar contas alguém como eles? O que eles desejavam era enriquecer, e sendo este o seu objetivo final e principal, todas as considerações de justiça e retidão eram deixadas de lado, e até mesmo as casas das viúvas eram sacrificadas em nome disso; portanto, eles se apegavam a elas para torná-las suas presas. Eles devoravam aquelas a quem, segundo a lei de Deus, eram particularmente obrigados a proteger, ajudar e socorrer. Há um “ai” no Antigo Testamento para aqueles que faziam das viúvas suas presas (Isaias 10.1,2); e Cristo, aqui, o apoia, com seu “ai”. Deus é “juiz de viúvas”; elas são a sua preocupação especial, Ele firma a sua herança (Provérbios 15.25) e adota a sua causa (Êxodo 22.22,23); mas essas eram aquelas cujas casas os fariseus devoravam em grandes quantidades, tanta ambição tinham eles de encher seus ventres com os tesouros da impiedade! O fato de devorarem indica não apenas ambição, mas crueldade na sua opressão, descrita em Miquéias 3.3: “comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele”. E sem dúvida eles faziam tudo isso sob pretextos de lei, pois eram tão habilidosos ao fazê-lo que isso era aceito sem censuras, e de maneira nenhuma diminuía a veneração do povo por eles.

2. Qual era o pretexto sob o qual disfarçavam esses procedimentos mal-intencionados: “sob pretexto de prolongadas orações”. Muito longas, realmente, se for verdade o que alguns dos autores judeus nos dizem, que eles passavam três horas consecutivas nas formalidades da meditação e da oração, e faziam isto três vezes ao dia, o que é mais do que uma alma justa, consciente de ser íntima com Deus no seu dever, ousa pretender fazer normalmente; mas para os fariseus isso era fácil, pois eles nunca se preocupavam com o dever e sempre se preocupavam com a aparência externa. Com esses artifícios, eles conseguiam a sua riqueza, e conservavam a sua grandeza. Não é provável que essas longas orações fossem extemporâneas, pois (como observa Baxter) os fariseus tinham o dom da oração muito mais do que os discípulos de Cristo o tinham; mas eles tinham formas determinadas de oração para usar entre si, e que eles repetiam, da mesma maneira como os romanistas rezam o terço. Aqui Cristo não condena as longas orações como sendo, por si mesmas, hipócritas; o problema é que estavam orando como uma forma de se sobressair em relação às outras pessoas. E se não houvesse, nessas orações, uma grande aparência, como se fossem algo muito bom, elas não poderiam ter sido usadas como um instrumento para tamanho fingimento. Além disso, a “capa” necessária para encobrir procedimentos tão mal-intencionados precisava ser muito espessa. O próprio Cristo passava “a noite em oração a Deus”, e nós somos instruídos a orar sem pressa de parar: Onde há muitos pecados a confessar; e muitas necessidades, por cuja satisfação orar, e muitas bênçãos para agradecer existe oportunidade para longas orações. Mas as longas orações dos fariseus eram constituídas de repetições vãs e (este era o seu objetivo) eram um pretexto. Com elas, eles conseguiam ter a reputação de homens piedosos e devotos, que amavam a oração e eram os favoritos do Céu; e com isso, as pessoas eram levadas a crer que não era possível que homens assim as enganassem. Portanto, feliz a viúva que conseguisse um fariseu para administrar os seus bens, e ser guardião dos seus filhos! Dessa maneira, enquanto eles pareciam estender a proteção do céu, com as asas da oração, os seus olhos, como os da ave de rapina, estavam todo o tempo sobre a sua presa na terra, a casa de uma viúva ou outra que lhes fosse conveniente. Assim, a circuncisão foi o disfarce da ambição dos siquemitas (Genesis 34.22,23); o pagamento de um voto em Hebrom foi o pretexto da rebelião de Absalão (2 Samuel 15.7); um jejum em Jezreel permitiu o assassinato de Nabote; e a extirpação de Baal foi o escabelo da ambição de Jeú. Os sacerdotes romanistas, com a desculpa de longas orações pelos mortos, missas e lamentações, além de outras práticas pecaminosas, enriqueceram devorando a casa das viúvas e dos órfãos. Note que não é novidade que a santidade seja utilizada para fins de exibição, como pretexto para esconder enormes abusos e pecados. Mas a piedade dissimulada, por mais que seja aceita agora, será computada como dupla iniquidade, “no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens”.

1. A condenação que recebem por isso: “sofrereis mais rigoroso juízo”. Observe que:

(1) Existem graus de desgraça; há alguns cujo pecado é mais imperdoável, e cuja ruína, portanto, será mais intolerável.

(2) Os pretextos da religião, com que os hipócritas disfarçam ou desculpam o seu pecado agora, irão, em pouco tempo, agravar as suas condenações. Tal é o engano do pecado, que a mesma coisa pela qual os pecadores esperam expiar e conciliar os seus pecados se voltará contra eles, e fará os seus pecados ainda mais pecaminosos. Mas é triste para o criminoso quando a sua defesa prova o seu crime, e os seus apelos (Em teu nome nós profetizamos, e em teu nome fizemos longas orações) aumentam a acusação contra eles.

III – Enquanto eram tão inimigos da conversão das almas ao cristianismo, os escribas e fariseus eram muito empenhados na distorção dela, nos ensinos da sua seita. Eles fecham o Reino dos céus para aqueles que se voltam para Cristo, mas, ao mesmo tempo, percorrem o mar e a terra para fazer prosélitos para si mesmos (v.15). Observe aqui:

1. O esforço elogiável deles para fazer prosélitos para a religião judaica, não somente prosélitos de porta, que se obrigavam a nada mais que a observância dos sete preceitos dos filhos de Noé, mas prosélitos de justiça, que adotavam integralmente todos os ritos da religião judaica, pois era isto o que eles queriam. Para tanto, para conseguir alguém assim, ainda que fosse apenas um, eles percorriam o mar e a terra, teciam planos ardilosos, e os executavam, e cavalgavam, e corriam, e mandavam chamar, e escreviam, e trabalhavam incansavelmente. E qual era o seu objetivo? Não a glória de Deus, e o bem das almas, mas que eles pudessem ter o crédito de fazer prosélitos, e a vantagem pecaminosa de transformar estes prosélitos em presas. Considere que:

(1) Fazer prosélitos, se para a santidade verdadeira e séria, e se com boa intenção, é um bom trabalho, bastante digno de preocupação e de esforços extremos. Tal é o valor das almas, que nada deve ser julgado como demais para ser feito, para salvar uma alma da morte. O empenho dos fariseus aqui pode mostrar a negligência de muitos dos quais se esperava que agissem com melhores princípios, mas que não se esforçarão para propagar o Evangelho.

(2) Para fazer um prosélito, o mar e a terra precisam ser percorridos. Todos os caminhos e meios devem ser tentados; primeiro, um caminho, e depois, outro. Eles não perdiam de vista o fato de que se o objetivo fosse alcançado, eles seriam bem pagos.

(3) Os corações carnais raramente evitam os esforços necessários para dar prosseguimento aos seus objetivos carnais. Quando é necessário fazer um prosélito para que este lhes seja útil, eles percorrem o mar e a terra para consegui-lo, em vez de ficarem desapontados.

2. A maldita impiedade daqueles homens ao atormentarem os seus prosélitos. Eles o transformam em um discípulo de fariseu, e ele absorve todas as noções de um fariseu. Assim, “de pois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós”. Observe que:

(1) Os hipócritas, embora se julguem herdeiros do céu, são, no juízo de Cristo, os filhos do inferno. A sua hipocrisia nasce do inferno, pois o diabo é o pai da mentira; e a tendência da sua hipocrisia é em direção ao inferno, que é o lugar ao qual eles pertencem, a herança de que são herdeiros; eles são chamados “filhos do inferno”, por causa da sua inimizade enraizada ao Reino dos céus, o que foi o princípio e o talento do farisaísmo.

(2) Embora todos os que maldosamente se opõem ao Evangelho sejam filhos do inferno, alguns são duas vezes mais que os outros, mais furiosos e teimosos e malignos.

(3) Os prosélitos pervertidos são, normalmente, os mais teimosos; os alunos superam os seus mestres:

[1] Na preocupação com as cerimônias. Os fariseus enxergavam a tolice das suas próprias imposições, e em seus corações sorriam ao ver a obediência daqueles que se sujeitavam a elas; mas os seus prosélitos ansiavam por elas. Observe que mentes fracas normalmente admiram aqueles espetáculos e aquelas cerimônias que os homens sábios não podem deixar de desprezar (embora, para fins públicos, eles os admitam).

[2] Na fúria contra o cristianismo. Os prosélitos prontamente se impregnavam dos princípios que os seus líderes ardilosos não deixavam de possuir, e se tornavam extremamente fervorosos contra a verdade. Os inimigos mais amargos que os apóstolos encontraram, em todos os lugares, foram os judeus helenistas, que eram, principalmente, prosélitos (Atos 13.45; 14.2-19; 17.5; 18.6). Paulo, um discípulo dos fariseus, era excessivamente mau contra os cristãos (Atos 26.11), enquanto o seu mestre, Gamaliel, parece ter sido mais moderado.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

NADA COMO UM BOM AMIGO

A rede social do indivíduo está fortemente ancorada em seu funcionamento cerebral. Amigos propiciam bem-estar, asseguram saúde psíquica e prolongam a vida.

Nada como um bom amigo

Amigo é a melhor coisa do mundo. Nada mais verdadeiro, confirmam os psicólogos. Segundo estudos recentes, relações estáveis entre pessoas estimulam a saúde mental e física e até mesmo prolongam a vida.

Contatos sociais parecem ter colaborado para que, na evolução, nosso cérebro se transformasse em órgão de alta capacidade. Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, já havia chegado a essa conclusão há alguns anos. O antropólogo e psicólogo evolucionista percebera que, nos macacos, havia relação entre o tamanho do cérebro e o número de integrantes do grupo, quanto mais elementos tivesse o bando de uma espécie, mais volumoso seria o córtex dos animais.

A partir daí, Dunbar criou uma hipótese sobre o “social brain”(cérebro social), segundo a qual o desenvolvimento das estruturas sociais teria impulsionado a evolução do cérebro. Pois, de acordo com ele, quanto maior o grupo, tanto mais informações sobre os outros indivíduos têm de ser processadas pelo cérebro para que o convívio social possa funcionar. Sendo assim, porém, a capacidade de processamento do cérebro também limitaria o tamanho de nosso círculo social – segundo Dunbar, aproximadamente 150 pessoas.

Há milhares de anos esse número está presente em grupos humanos, das sociedades de caçadores e coletores às vilas de agricultores da Indonésia e da América do Sul. O mesmo vale para os militares, no exército romano, as unidades básicas eram os chamados ‘manípulos”, com aproximadamente 150 soldados; e o tamanho das companhias atuais varia de 120 a 150 homens. Nas indústrias modernas também se verifica que uma estrutura organizacional relativamente informal só funciona se tiver, no máximo, 150 trabalhadores. Se o número for maior, é necessária uma hierarquia mais severa, pois, caso contrário, sabe-se, por experiência, que a produtividade total cai, a pressão do grupo como incentivo à produção individual deixa de funcionar devido ao maior anonimato, e, no lugar dela, surgem o controle e as orientações formais.

Há pouco tempo, Dunbar, junto com outros colegas dos Estados Unidos e da França, retomou diversos estudos que tratam de redes sociais a fim de examiná-las mais de perto. O resultado geral das observações: nosso ambiente social parece estar sempre estruturado hierarquicamente. Dunbar classifica os 150 conhecidos de uma pessoa em um sistema de anéis concêntricos, segundo o qual a distância do centro indica a intensidade da relação. Ao redor de alguns amigos muito próximos, organiza-se um círculo de bons conhecidos que, por sua vez, está circundado por um número ainda maior de contatos superficiais.

Psicólogos já sabem que o anel mais próximo do centro, composto dos amigos mais íntimos, é o mais decisivo para o nosso bem-estar psíquico. Um estudo atual de Lynne Giles, da Universidade de Flinders, Austrália, acrescenta ainda que este círculo de amizades intimas ajuda até mesmo a prolongar a vida.

Os pesquisadores analisaram dados do Australian Longitudinal Study of Aging (Estudo longitudinal australiano do envelhecimento), iniciado em 1992. A pesquisa, de longo prazo, se concentrou em ambiente social, estado de saúde, estilo de vida e na idade de morte de 1.477 pessoas acima de 70 anos. Os participantes foram questionados sobre a frequência e a quantidade dos contatos que costumavam ter com amigos, filhos, parentes ou conhecidos. Em dez anos, os pesquisadores mantiveram sempre um quadro atualizado da situação dos participantes.

Durante a análise dos dados, os cientistas perceberam, para seu espanto que as amizades aumentavam muito mais a expectativa de vida do que, por exemplo, o contato íntimo com filhos e parentes – independentemente de fatores como o status sócio econômico, a saúde e o estilo de vida. E isso continuava valendo, mesmo quando os amigos se mudavam para outra cidade, por exemplo.

Qual será a base desse efeito de longevidade? Aparentemente não é apenas o apoio mútuo entre conhecidos que faz diferença, mas o fato de ele ser voluntário, ocorre por prazer e não apenas por obrigação ou convenção. Decisivo, portanto, é o fato de as pessoas poderem escolher os seus amigos (ao contrário do que acontece com os indivíduos da própria família).

Manter contato com pessoas que nos consideram importantes e nos dão valor, segundo os pesquisadores australianos, tem efeito positivo sobre a nossa saúde tanto física quanto mental, o estresse e tendências depressivas são reduzidos e comportamento relevantes para a saúde – como o mau costume de beber ou fumar – sofrem influências benéficas. Principalmente em tempos de crise, os amigos podem melhorar o humor e a auto estima, assim como sugerir estratégias para a resolução de problemas.

Realmente, os efeitos práticos médico, psicológicos de tais contatos sociais já foram comprovados, por exemplo em casos de doenças cardiovasculares, pressão alta ou problemas gastrointestinais. Eric Loucks, da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, descobriu, por exemplo, que a circulação de interleucina-6 no sangue de homens idosos com um grande círculo de amizades é bem menor do que no sangue daqueles que são sozinhos. Essa substância causadora de inflamações é considerada um fator de risco para doenças cardiovasculares, pois aparentemente estimula a arteriosclerose – a temida “calcificação das artérias”.

Quem tem bons amigos e conhecidos, portanto, se diverte com mais frequência e aumenta suas chances de uma vida longa. Motivo suficiente para cultivar as amizades – e quem sabe até mesmo reativar alguns contatos esquecidos do tempo da adolescência e da faculdade.

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ANEIS DA AMIZADE

Segundo o modelo criado por Robin Dunbar para representar o alcance dos relacionamentos de um indivíduo, o círculo de amigos mais íntimos (com três, quatro ou, no máximo, cinco pessoas) forma o anel interno. Sentimo-nos emocionalmente muito próximos desses amigos, com os quais também compartilhamos interesses, valores e pontos de vista comuns. Na crise, eles ajudam e nos aconselham em situações pessoais, emocionais ou financeiras. Mantemos contato com esse “grupo de apoio” pelo menos uma vez por semana.

O círculo seguinte é composto de 12 a 20 pessoas, com ligação mais tênue. A relação com eles não é tão forte emocionalmente, mas se mantém por simpatia e interesse. O nível hierárquico mais externo corresponde ao que costumamos chamar de “círculo de conhecidos”. Esse terceiro âmbito da rede social comporta aproximadamente 30 a 50 pessoas e a ligação com eles é da claramente mais solta. No entanto, existe um contato regular com essas pessoas, mesmo que em períodos mais espaçados. Nas sociedades de caçadores e coletores tradicionais, o terceiro anel corresponderia a um clã, segundo Dunbar. Além desses ele inclui ainda pelo menos mais dois outros círculos com contatos ainda mais frouxos.

Paralelamente aos seus estudos, Dunbar deparou com uma conexão espantosa: de um anel para outro, o círculo de conhecidos aumenta quase sempre três vezes. Essa regra também ocorre em outras formações sociais. Assim, em muitos países, a menor unidade de um exército é formada por 10 a 15 soldados, um pelotão por 35, uma companhia por 120 a150 homens e assim por diante.

 

 KLAUS MANHART – é filósofo e cientista social.

OUTROS OLHARES

UMA ZONA NEBULOSA PARA CRIANCAS

Vídeos de influenciadores mirins para promover bonecas viralizam junto ao público infantil e alertam para a falta de controle sobre a publicidade no YouTube.

Uma zona nebulosa para as crianças

Praticamente desconhecida até o começo de 2017, a boneca L.O.L se tornou o brinquedo mais vendido nos Estados Unidos no ano passado – e a febre chegou ao Brasil no último Natal As L.O.L. são bonecas de apenas sete centímetros vendidas dentro de bolas coloridas. Alguns pais ficaram revoltados – e não apenas pelo preço, que pode chegar a R$ 160 por aqui. O motivo de preocupação é que as bonecas se tornaram populares graças a 06 vídeos divulgados no YouTube, feitos por influenciadores mirins que seguem um mesmo roteiro, desembrulhando as várias camadas de embalagem até chegar ao brinquedo. A prática é conhecida pelo termo em inglês “unboxing” e ocupa uma área cinzenta em que o entretenimento se confunde com publicidade.

Enquanto as regras que determinam o que pode ou não ser usado como propaganda para crianças são reguladas de forma rígida em outras plataformas, no YouTube a situação é nebulosa. Em teoria, não existe na lei distinção entre internet, TV ou rádio. “Qualquer espécie de publicidade, seja qual for o meio que a veicule, inclusive plataformas digitais, deve seguir as recomendações da ética publicitária”, diz Gilberto C. Leifert, Presidente do Conar, por meio de nota. Mas no caso dos vídeos de ‘unboxing”, a situação raramente é muito clara. “Há contratos publicitários, mas a relação comercial é velada”, diz Renato Godoy, assessor de assuntos governamentais do Instituto Alana, responsável por programas como Criança e Consumo. Nessa discussão, as críticas não são dirigidas aos youtubers mirins, mas às empresas. “Multas vezes, elas se valem da vulnerabilidade do público e do emissário”, afirma Godoy.

Evitar que os pequenos sejam contaminados pela necessidade de consumir é uma tarefa que exige dos pais um monitoramento maior dos hábitos digitais de seus filhos. “Precisamos, de tempos em tempos, ficar Junto com as crianças para entender o que as fascina no YouTube”, diz Fernanda Furia, mestre em psicologia de crianças e adolescentes e fundadora da consultoria Playground da inovação. E, segundo a psicóloga, é importante ajudar as crianças mais velhas a desenvolver uma inteligência emocional digital, ou seja, entender sobre os próprios hábitos tecnológicos e comportamentos nas redes sociais”. afirma

FENOMENO DIGITAL

O YouTube oferece uma liberdade aos pequenos que poucas vezes eles têm longe da tela do computador. Falar para a câmera e participar desse universo também é importante para o desenvolvimento delas no momento atual. “Essa maneira de se expressar favorece a sociabilidade da criança na internet. “É um processo natural”, afirma Godoy.

O caso específico das bonecas L.O.L é bastante expressivo porque elas são ótimas representantes da cultura do “unboxing”. Elas podem até ser pequenas, mas o tamanho não importa para as crianças. Oque vale é a experiência de abrir cada uma das sete camadas que cobrem o brinquedo, revelando pequenas surpresas, roupas e adesivos para a boneca “Eu amo puxar cada zíper das camadas, o suspense de abrir a minha própria L.O.L. e colecionar, mas também é muito legal ver os vídeos e acompanhar a surpresa e a empolgação de quem está abrindo. “Isso tudo me diverte multo”, diz Luiza Sorrentino, do canal Crescendo com Luluca. Seu vídeo da boneca L.O.L. Já teve 788 mil visualizações – o que confirma o fenómeno “Unboxing”.

 Uma zona nebulosa para as crianças2

GESTÃO E CARREIRA

AUTOCONFIANÇA: DUVIDE DE SÍ MESMO

Embora estimulada pelo ambiente corporativo, a autoconfiança em excesso pode trazer prejuízos para avida profissional. Veja quais cuidados você precisa tomar para não cair nessa armadilha.

Autocinfiança - Duvide de si mesmo

Em 1995, o americano McArthur Wheeler foi preso enquanto assaltava um banco na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia. O detalhe curioso da história é que o ladrão não fazia o mínimo esforço para esconder o rosto durante os crimes e, quando pego, somente conseguia repetir que “havia passado o suco”. A frase, aparentemente sem nexo, foi explicada mais tarde, quando McArthur afirmou à Polícia que acreditava que, ao aplicar suco de limão no rosto, conseguiria burlar as câmeras do sistema de segurança das instituições.

O caso absurdo do ladrão serviu de ponto de partida para a tese de David Dunning e Justin Kruger, professor e aluno de psicologia na Universidade Cornell, também nos Estados Unidos, que ficou popularmente conhecida como a “síndrome do idiota confiante”. Publicado em 1999, após uma série de testes, o estudo apontou que os indivíduos com pior desempenho foram aqueles que também tiveram a menor capacidade de avaliar as próprias habilidades e que acreditavam ter resultados melhores do que efetivamente obtiveram. Os pesquisadores chegaram à conclusão do que ficou chamado de “efeito Dunning-Kruger”: algumas pessoas se sentem autoconfiantes sobre assuntos nos quais têm conhecimento limitado, ou nenhum conhecimento. ”Todos nós somos vulneráveis a esse fenômeno, pois tudo o que é preciso para agir assim é incompetência ou desconhecimento sobre algo. Exatamente por não entender a complexidade, você não consegue perceber quão irreal e desconexa pode ser sua crença sobre o tema’, diz o professor David Dunning.

No ambiente corporativo, onde muitas vezes a palavra predominante é “competitividade”, é grande o risco de reproduzir comportamentos como esse. “Existe o mito do indivíduo que precisa ter sempre resposta para tudo e que deve ser proativo em qualquer situação, por isso muitos profissionais acabam compelidos a tomar atitudes e a dar respostas de qualquer jeito, mesmo que não estejam preparados”, afirma Anderson Sant’anna, professor na Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. “Algumas empresas, inclusive, valorizam os perfis que são mais exibicionistas e atirados, o que estimula ainda mais quem já tem uma tendência a ser autoconfiante em excesso.” Com a internet e a facilidade de acesso às informações, a possibilidade de superestimar o conhecimento também se amplia. Segundo outro es tudo, dessa vez da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, as pessoas tendem a se achar muito mais inteligentes depois de apenas alguns cliques na rede. Para comprovar essa teoria, os pesquisadores realizaram nove experimentos com voluntários americanos. Em um deles, foi solicitado ao primeiro grupo que buscasse na internet a resposta para algumas perguntas. Para o segundo grupo, não foi dada a possibilidade de pesquisas online. Na etapa seguinte, pediu-se aos dois grupos que avaliassem sua capacidade de responder por conta própria a outras questões sobre o tema. O grupo que pôde acessar a internet foi muito mais otimista ao medir os próprios conhecimentos em comparação àqueles que não tiveram acesso à internet. Nas empresas, não é raro perceber as consequências desse efeito Google. “Com a entrada de novas gerações e a diminuição da hierarquia, é muito comum vermos estagiários dando palpites, muitas vezes de forma exagerada, em assuntos da presidência, por exemplo. Ignoram anos de experiência e acreditam que, por meio de alguns tutoriais, já são mais entendidos do negócio do que executivos com anos de carreira”, afirma Raphael Falcão, diretor da Hays Experts, divisão de recrutamento de média e alta gerência da Hays, de São Paulo.

 TÃO BOM ASSIM?

Na vida profissional, o excesso de autoconfiança, quando não está aliado a competências reais, pode cobrar um preço alto. “Além de gerar custos com retrabalho, pode criar problemas com a equipe”, afirma Anderson. Isso porque, geralmente, pessoas narcisistas inibem as demais, não conseguem criar discussões amplas e tomam decisões apressadas com base em achismos.

O paulista Gustavo Andare, de 36 anos, sofreu com os efeitos nocivos do excesso de confiança. Formado em eletrônica, logo no primeiro emprego em uma multinacional, percebeu que desejava empreender. Com 22 anos e sem muita experiência, decidiu se juntar a alguns amigos e abrir uma casa noturna na Vila Olímpia, bairro de São Paulo que estava atraindo diversos estabelecimentos desse estilo na época. “Não foi nada planejado, simplesmente decidimos que queríamos trabalhar com isso.

Pura molecagem”, afirma Gustavo. Surpreendentemente, a empreitada deu certo e, em menos de seis meses, o empreendimento dava lucro. Com a exposição, Gustavo recebeu uma proposta para começar um segundo negócio em Maresias, no litoral norte de São Paulo. “Dessa vez a sorte não foi suficiente”, diz. Empolgado pelo sucesso, Gustavo deixou a parte financeira sob responsabilidade do sócio recém-conhecido. Um belo dia acordou e descobriu que o parceiro havia sumido e deixado um rombo de 80.000 reais nas contas do estabelecimento. “Meus pais e colegas já haviam me alertado, mas eu acreditava que sabia muito e que não precisava me preocupar”, a firma.

De volta a São Paulo, Gustavo teve de vender a porcentagem no bar para pagar as dívidas do negócio malfadado e recomeçar. Vendeu esculturas de madeira nas ruas, fez outra faculdade e, alguns anos depois, decidiu que era hora de tentar de novo. Foi aí que fundou, em 2012, a Esmalteria Nacional, rede de franquias de serviços de manicure. E o antigo fracasso fez com que ele mudasse de atitude em relação ao empreendedorismo. ”Pesquisei, fui a diversos salões e quis entender a fundo esse mercado e o que eu traria de diferente.” Com outras 270 unidades e quatro negócios que faturam 2,5 milhões de reais, ele acredita que não estaria onde está se não tivesse revisado sua autoconfiança. “Aquela experiência me tornou mais ponderado e humilde.”

SUPERIORIDADE ILUSÓRIA

Assim como Gustavo, muita gente pode perceber que está errando a mão no marketing pessoal quando já é tarde demais, porém, nem todos conseguem mudar de atitude. “algumas pessoas entram em um processo ilusório que se retroalimenta. Quando começa a dar certo uma, duas vezes, você vai se convencendo de que é aquilo e vai criando uma máscara”, diz Aristides Brito, neurocientista e diretor da consultoria Marca Pessoal Treinamentos, de São Paulo. Mas o trauma pode ser grande quando um fracasso acontece. “Quando fracassam, esses indivíduos tendem a ficar com uma crise enorme de autoestima e entrar em um processo destrutivo.”

Embora associemos esse comportamento a pessoas que acreditam muito nas próprias qualidades, esses perfis também podem esconder, no fundo, uma baixa autoestima. “Algumas pessoas, mesmo quando se superestimam, o fazem por falta de confiança. Precisam se provar tanto para elas quanto para quem está ao redor. Os homens, principalmente, devido a uma pressão social maior, tendem a se esconder atrás de uma suposta autoconfiança exacerbada”, afirma Roberto Debski, psicólogo clínico, de São Paulo. Para quem está em posições de liderança, essa superioridade ilusória é ainda mais nociva – e mais fácil de acontecer. ”Com o poder, as pessoas acabam acreditando que são, e não que estão líderes. Por estarem cercados de gente que quer agradá-los e não tem coragem de apontar erros, alguns líderes ficam fechados em uma torre de marfim e se creem invencíveis”, diz Ana Pliopas, do Hudson lnstitute of Coaching, de São Paulo.

Nesse contexto, quem tem autocrítica leva vantagem em relação a quem nem se quer enxerga suas limitações.

Por isso, no quadro oposto, a chamada “síndrome do impostor” – aquela sensação constante de ser uma fraude e de não merecer estar no lugar que ocupa -, quando bem dosada, pode ser benéfica. “Se a pessoa trabalhar a inteligência emocional, essa autocrítica vai levá-la ao crescimento. O ideal é que ela não se coloque para baixo nem se iluda sobre suas reais capacidades”, afirma Roberto.

 DOSE CERTA

O engenheiro de dados Luiz Filipe Santos, de São Paulo, fez as pazes com sua patrulha interna e usa o excesso de autocrítica a seu favor. “Na empresa em que trabalhava anteriormente eu me achava uma fraude. Havia entrado como analista e, dois anos depois, passei a gerenciar as pessoas que começaram comigo. Esse crescimento rápido me fez duvidar de mim mesmo”, afirma. Com a ajuda de amigos, Luiz Filipe estudou o assunto e hoje, aos 37 anos, lida melhor com a desconfiança interna – e até aposta que ela o ajude a tomar boas decisões. ”Passei a ser uma pessoa analítica e ponderada. Não fico mais deprimido com meus fracassos, mas entendo que aquilo faz parte do meu crescimento, diz.

Por outro lado, assim como a auto­ crítica, se bem dosada, a autoconfiança também é benéfica. “Quando você não sabe a complexidade daquilo que vai fazer e encara o desafio mesmo assim, demonstra coragem e é estimulado a conquistar mais. Há uma curva de aprendizado e maturidade quando você se depara com obstáculos”, afirma Ana Pliopas. O segredo, então, é o equilíbrio: nem a humildade em demasia (que cria profissionais tímidos e incapazes de mostrar suas potencialidades); nem a autoconfiança em excesso (que impede que o indivíduo ouça as pessoas que estão ao redor e reconheça as próprias limitações). Na dúvida, escolha o caminho do meio.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 23: 1-12

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Os escribas e os fariseus são condenados

Não vemos Cristo, em todas as suas pregações, tão severo com outras pessoas quanto com esses “escribas e fariseus”. A verdade é que nada está em oposição mais direta ao espírito do Evangelho do que o temperamento e os costumes daquela geração de homens, que mascaravam orgulho, materialismo e tirania, sob um manto e pretexto de religiosidade. Mas esses eram os ídolos e os queridos do povo, que pensava: Se apenas dois homens forem ao céu, um deles deve ser um fariseu. Então Cristo orienta o seu discurso à multidão, e aos seus discípulos (v.1), para corrigir os seus enganos a respeito desses escribas e fariseus, mostrando como eles realmente eram, e, dessa maneira, removendo o preconceito que alguns, entre as multidões, tinham alimentado contra Cristo e a sua doutrina, porque ela era combatida por aqueles homens da sua igreja, que se chamavam de guias do povo. Note que é bom conhecer o verdadeiro caráter dos homens, para que não nos impressionemos com nomes poderosos, títulos e pretensões ao poder: As pessoas precisam saber dos “lobos” (Atos 20.29,30), dos “cães” (Filipenses 3.2), dos “obreiros fraudulentos” (2 Coríntios 11.13), para que possam saber como levantar as suas defesas. E não somente a multidão, mas até mesmo os discípulos precisam desses avisos, pois os bons homens podem ter seus olhos deslumbrados com a pompa mundana

Nesse discurso:

I – Cristo permite o trabalho deles, de explicar a lei: “Os escribas e fariseus” (isto é, todo o sinédrio, que estava à frente do governo religioso, do que eram todos chamados escribas, e alguns deles, fariseus) estão assentados “na cadeira de Moisés” (v. 2), como professores públicos e intérpretes da lei; e sendo a lei de Moisés a lei civil do seu Estado, eles eram como juízes, ou como um tribunal de juízes – ensinar e julgar pareciam ser equivalentes, comparando 2 Crônicas 17.7,9 com 2 Crônicas 19.5,6,8. Eles não eram os juízes itinerantes, que faziam o circuito, mas o tribunal que deliberava nas apelações, nos veredictos especiais ou nas decisões enganosas, pela lei; eles estavam assentados na cadeira de Moisés, não no seu papel de mediador entre Deus e Israel, mas somente no seu papel de presidente da suprema corte (Êxodo 18.26). Ou ainda podemos aplicar essas palavras não ao sinédrio, mas aos outros fariseus e escribas, que explicavam a lei e ensinavam as pessoas como aplicá-la a situações particulares. O “púlpito de madeira”, assim como tinha sido feito para Esdras, que realmente foi um “escriba” na lei de Deus ( Neemias 8.4), aqui é chamado de “cadeira de Moisés”, porque Moisés tinha um deles em cada cidade (esta é a expressão em Atos 15.21), e naqueles púlpitos era lido; este era o seu trabalho, e era justo e honrado; era necessário que houvesse alguns em cuja boca as pessoas pudessem buscar a lei (Malaquias 2.7). Considere:

1. Muitos bons lugares estão cheios de homens maus; não é novidade que os mais vis dos homens sejam exaltados, até mesmo na cadeira de Moisés (Salmos 12.8), e, quando isto acontece, os homens não são tão honrados pela cadeira quanto a cadeira é desonrada pelos homens. Todavia, aqueles que se assentavam na cadeira de Moisés eram tão indignamente degenerados, que era tempo que surgisse o grande Profeta, alguém como Moisés, para erigir outra cadeira.

2. Trabalhos e poderes bons e úteis não devem, portanto, ser condenados e abolidos porque, às vezes, caem em mãos de homens maus, que os usam mal. Por isso, não devemos derrubar a cadeira de Moisés porque escribas e fariseus se apoderaram dela; em vez de fazer isso, deve-se deixar “crescer ambos juntos até à ceifa” (cap. 13.30).

Aqui Ele conclui (v. 3): “Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem”. Enquanto eles estiverem assentados na cadeira de Moisés, isto é, lendo e pregando a lei que foi dada por Moisés” (que, como antes, continuava em pleno vigor, força e virtude), “e julgando de acordo com aquela lei, devereis dar ouvidos a eles, pois eles vos recordam a palavra escrita”. Os escribas e fariseus viviam de estudar as Escrituras, e estavam familiarizados com a sua linguagem, história e costumes, e o seu estilo e fraseologia. Cristo queria que o povo fizesse uso da ajuda que eles lhe davam para compreender as Escrituras, e agisse de maneira correspondente. Enquanto os seus comentários realmente exemplificassem o texto, e não o corrompessem; enquanto eles deixassem claro, e não vazio, o mandamento de Deus, eles deveriam ser observados e obedecidos, mas com precaução e com um juízo de sabedoria. Note que não devemos pensar mal das boas verdades que estão sendo pregadas por maus ministros; nem de boas leis que são executadas por maus magistrados. Embora seja mais desejável ter o nosso alimento trazido por anjos, ainda que Deus nos envie o alimento por intermédio de corvos, se ele for bom e íntegro, nós devemos tomá-lo e agradecer a Deus por ele. O nosso Senhor Jesus disse isso para evitar a objeção que muitos estariam dispostos a fazer às suas palavras seguintes, como se, ao condenar os escribas e os fariseus, Ele desejasse desprezar a lei de Moisés e afastar as pessoas dela; pois Ele não veio para destruir a lei, mas para cumpri-la. Observe que é sábio evitar as exceções que podem ser feitas com reprovações justas, especialmente quando existe oportunidade de distinguir entre os trabalhado­ res e o seu trabalho, para que o “ministério não seja censurado”, quando os ministros o são.

II – Ele condena os homens. Ele tinha ordenado que a multidão fizesse o que escribas e fariseus diziam; mas aqui Ele anexa um aviso para não fazer o que eles faziam, para que se acautelassem do seu fermento. “Não pro­ cedais em conformidade com as suas obras”. Suas tradições eram suas obras, eram seus ídolos, as obras de seu capricho. Ou: “Não procedais de acordo com seu exemplo”. As doutrinas e os costumes são coisas que devem ser experimentadas, e, se houver oportunidade, devem ser cuidadosamente separadas e distinguidas; e da mesma maneira como não devemos aceitar doutrinas corruptas, em nome de quaisquer práticas louváveis daqueles que as ensinam, também não devemos imitar nenhum mau exemplo, em nome de doutrinas plausíveis daqueles que as definem. Os escribas e fariseus se orgulhavam tanto da bondade das suas obras quanto da ortodoxia dos seus ensinamentos, e esperavam ser justificados por isso; era a oração que eles faziam (Lucas 18.11,12). Mas essas coisas, que eles valorizavam tanto, eram abominações aos olhos de Deus.

Aqui, como também nos versículos seguintes, o nosso Salvador especifica diversas particularidades das obras dos escribas e fariseus, mostrando que não devemos imitá-los. De maneira geral, eles são acusados de hipocrisia, dissimulação ou fraude na religião; um crime que não pode ser levado ao tribunal dos homens, porque nós podemos julgar somente de acordo com a aparência externa; mas Deus, que sonda o coração, pode condenar de hipocrisia, e nada lhe é mais desagradável, pois Ele deseja a verdade.

Nesses versículos, eles são acusados de quatro transgressões.

1. O que eles faziam e o que eles diziam eram duas coisas diferentes. O que eles faziam não estava de acordo, de maneira nenhuma, com a sua pregação ou com a sua profissão: “porque dizem, e não praticam”. Eles ensinam, da lei, aquilo que é bom, mas a sua conduta perpetra a mentira, e eles parecem ter encontrado outro caminho para o céu, para si mesmos, que não é o caminho que mostram aos outros. Veja isso exemplificado e demonstrado a eles, Romanos 2.17-24. Os pecadores mais imperdoáveis são aqueles que se permitem os pecados que condenam nos outros, ou piores. Isto toca especial­ mente os maus ministros, que seguramente terão a sua parte destinada com os hipócritas (cap. 24.51). Pois será que pode haver hipocrisia maior do que ensinar aos outros aquilo que deve ser crido e feito, se quem o ensina não crê naquilo, e desobedece, destruindo no seu comportamento aquilo que edificam na sua pregação? Quando no púlpito, pregam tão bem que é uma pena que tenham que sair de lá; mas fora do púlpito, vivem de maneira tão má que é uma pena que tenham que subir ao púlpito; como sinos, que chamam os outros à igreja, mas eles mesmos não vão; ou postes com lâmpadas de mercúrio, que indicam o caminho aos outros, mas ficam parados. Estes serão julgados a partir das suas próprias bocas. Isto se aplica a todos aqueles que dizem e não fazem; que fazem uma profissão de fé plausível, mas não vivem de acordo com aquela profissão; que fazem boas promessas, mas não as cumprem; que estão cheios de palavras bonitas, e podem apresentar a lei a todos os que estão ao seu redor, mas não possuem boas obras; grandes oradores, porém maus praticantes. ”A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú”. Eles falam bem: “Eu vou, senhor”; mas não se pode confiar neles, pois “sete abominações há no seu coração”.

2. Eles eram muito severos ao impor aos outros aquelas coisas às quais eles não estavam dispostos a submeter-se (v. 4): “atam fardos pesados e difíceis de suportar”, não apenas insistindo sobre as mínimas circunstâncias da lei, que é chamada de “jugo” (Atos 15.10), e obrigando a sua observância com mais rigidez e severidade do que o próprio Deus o fez, mas também fazendo acréscimos à sua palavra, e impondo as suas próprias invenções e tradições, sob as mais pesadas punições. Eles se compraziam em mostrar a sua autoridade e exercer a sua faculdade dominante, governando sobre a herança de Deus e dizendo à alma dos homens: ”Abaixa-te, para que passemos sobre ti”. Eles testemunham os seus muitos acréscimos à lei do quarto mandamento, com que tornaram o sábado um fardo sobre os ombros dos homens, quando deveria ser a alegria de seus corações. Assim, com “rigor e dureza”, estes pastores dominam o rebanho, como antigamente (Ezequiel 34.4).

Mas veja a sua hipocrisia: “Eles, porém, nem com o dedo querem movê-los”.

(1) Eles não praticavam aquelas coisas que impunham sobre os outros; eles obrigavam o povo a uma rigidez na religião à qual eles mesmos não se curvavam; mas, secretamente, transgrediam as suas próprias tradições, que publicamente obrigavam. Eles eram indulgentes com o seu próprio sentimento de orgulho por ensinarem a lei aos outros; mas quando se tratava do seu comportamento, procuravam a sua própria comodidade. Assim foi dito, para censura dos sacerdotes papistas, que eles jejuam com vinho e alimentos deleitosos, enquanto obrigam o povo a jejuar com pão e água, e se esquivam das penitências que impõem aos leigos.

(2) Eles não aliviavam as pessoas, no que dizia respeito a essas coisas, nem moviam um dedo para aliviar a sua carga, mesmo vendo que era excessiva. Eles eram capazes de fazer adições frívolas à lei de Deus, e ensiná-la assim, e não diminuíam nada das suas próprias imposições, nem perdoavam sequer as menores falhas, nos menores detalhes. Eles não permitiam que nenhum tribunal diminuísse a rigidez da sua lei comum. Como era contrária a isso a prática dos apóstolos de Cristo, que permitiam aos outros o uso da liberdade cristã e, em benefício da paz e da edificação da igreja, negavam-na a si mesmos! Eles não colocavam nenhuma carga além das necessárias; pelo contrário, procuravam diminuí-las (Atos 15.28). Com que cuidado Paulo poupa aqueles a quem escreve! (1 Coríntios 7.28; 9.12).

3. Tudo o que faziam na religião era para exibição, e não pelo seu conteúdo (v. 5): “fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”. Nós devemos fazer obras tão boas que aqueles que as veem possam glorificar a Deus; mas não devemos proclamar as nossas boas obras, com o objetivo de que os outros as vejam e nos glorifiquem, que é a acusação que o nosso Salvador aqui faz aos fariseus, de maneira geral, como já tinha feito antes, nos exemplos particulares de oração e esmolas. Tudo o que eles queriam era ser objeto de louvor dos homens, e, portanto, os seus esforços deviam ser vistos pelos homens, para fazer um bom espetáculo para a carne. Nos deveres da religião que estavam diante dos olhos dos homens, ninguém era tão constante e abundante quanto eles; mas naquilo que estava entre Deus e as suas almas, no isolamento de suas câmaras, e nos recessos de seus corações, eles dispensavam a si mesmos da mais pura obediência. A religiosidade lhes dava um nome para viver, que era tudo o que eles queriam, e por isso não se preocupavam com o poder dela, que é essencial para a vida. Aquele que faz tudo para ser visto, não faz nada adequado.

Jesus especifica duas coisas que eles faziam para que os homens vissem.

(1). “Trazem largos filactérios” – pequenos rolos de papel ou pergaminho, onde estavam escritos, com grande delicadeza, quatro parágrafos da lei (Êxodo 13.2-11; 13.11-16; Deuteronômio 6.4-9; 11.13-21). Eram costurados com couro, e eram usados sobre suas cabeças e braços esquerdos. Era uma tradição dos anciãos que tinha a sua referência em Êxodo 13.9 e Provérbios 7.3, onde as expressões parecem ser figurativas, sugerindo nada além de nós termos que ter em mente as coisas de Deus tão cuidadosamente como se elas estivessem entre os nossos olhos. Os fariseus faziam esses filactérios grandes, para que pudessem parecer mais santos, rígidos e entusiasmados pela lei do que os outros. É uma ambição graciosa cobiçar ser realmente mais santo que os outros, mas é uma ambição arrogante cobiçar parecer assim. É bom sentir bastante piedade verdadeira, mas não exceder as suas demonstrações externas, pois o exagero é, corretamente, considerado como sendo um plano (Provérbios 27.14). É o pretexto da hipocrisia que faz mais tumulto do que é necessário no serviço externo; mais do que é necessário para provar ou aprimorar os bons afetos e as disposições da alma.

(2). ”Alargam as franjas das suas vestes”. Deus ordenou que os judeus fizessem franjas nas vestes (Números 15.38), para distingui-los das outras nações, e para lembrá-los de que eram um povo peculiar; mas os fariseus não estavam satisfeitos em ter as suas franjas iguais às das outras pessoas (o que poderia servir ao desígnio de Deus), mas as suas deviam ser mais largas do que as normais, para atender ao seu desejo de serem observados; como se eles fossem mais religiosos do que os outros. Mas aqueles que aumentam os seus filactérios e as franjas das suas vestes enquanto os seus corações se encolhem e se esvaziam do amor a Deus e ao seu próximo, embora possam então enganar os outros, só enganarão, no final, a si mesmos.

4. Eles gostavam da proeminência e da superioridade, e se orgulhavam extremamente delas. O orgulho era o pecado reinante dos fariseus, o pecado que mais facilmente os assediava, e contra o qual o Senhor aproveitava todas as oportunidades para testemunhar.

(1) O Senhor descreve o orgulho deles (vv. 6,7). Eles amavam e cobiçavam:

[1]. Os lugares de honra e respeito. Em todas as aparições públicas, como ceias, e nas sinagogas, eles esperavam e recebiam, para alegria dos seus corações, os primeiros lugares e as primeiras cadeiras. Eles tomavam os lugares dos outros, e tinham precedência, como pessoas de grande mérito. E é fácil imaginar a complacência que recebiam, eles amavam ter a proeminência (3 João 9). O que é condenado não é possuir os primeiros lugares, ou sentar-se nas melhores cadeiras (alguém precisa se sentar nelas), mas gostar disso; entretanto, muitos homens valorizam uma cerimônia tão pequena quanto sentar-se nos lugares mais visíveis, entrar primeiro, ficar junto à parede, ou do melhor lado, com o objetivo de se valorizarem. Eles procuram conseguir essas coisas, e sentem ressentimentos quando não as conseguem; isto nada mais é do que fazer um ídolo de si mesmo. Cair de joelhos e adorar este ídolo é o pior tipo de idolatria! Isto seria ruim em qualquer lugar, mas especialmente nas sinagogas. Aqueles que procuram a honra para si mesmos quando comparecem para dar glória a Deus, e para se humilhar diante dele, realmente desprezam a Deus, em vez de servi-lo. Davi preferiria estar à porta da casa de Deus; ele estava assim distante de cobiçar o principal lugar ali (Salmos 84.10). É uma evidência de orgulho e hipocrisia quando as pessoas não se preocupam em ir à igreja, a menos que possam parecer elegantes e marcar presença ali.

[2]. Títulos de honra e respeito. Eles amavam “as saudações nas praças”, amavam ver as pessoas tirando os chapéus para saudá-los, e mostrando-lhes respeito quando os encontravam nas ruas. Oh! Como isso os contentava, e alimentava seu humor vão, ser apontados, e ter isto dito deles: Este é ele, ter o caminho aberto para eles entre a multidão na praça: ”Abram caminho, um fariseu está vindo!”, e ser saudados com o título pomposo de “Rabi, Rabi!”. Isto era comida e bebida e guloseima para eles; e eles tinham tanta satisfação com isso quanto Nabucodonosor teve com o seu palácio, quando disse: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” As saudações não teriam lhes feito tanto bem, se não tivessem estado nas praças, onde todos podiam ver o quanto eram respeitados, e o quanto eram considerados na opinião das pessoas. Foi pouco tempo antes da época de Cristo que os mestres judeus, os mestres de Israel, tinham adotado o título de Rabi, Rab, ou Raban, que significa grande, ou muito, e era interpretado como Doutor; ou, Meu senhor. E eles enfatizavam tanto o título, que criaram uma máxima que dizia que “aquele que saúda o seu mestre e não o chama de Rabi, faz com que a divina majestade se afaste de Israel”. Eles colocavam muita religiosidade naquilo que era apenas uma questão de boas maneiras! O fato de aquele que é instruído na Palavra demonstrar respeito àquele que lhe ensina representa um elogio suficiente por parte daquele que demonstra o respeito; mas o fato de aquele que ensina a gostar disso, e exigir isso, inchando-se de orgulho com isso e se desagradando se isso for omitido, é pecaminoso e abominável; e, em vez de ensinar, ele precisa aprender a primeira lição da escola de Cristo, que é a humildade.

(2) Jesus aconselha os seus discípulos para que não sejam como eles; nisso, eles não devem seguir as suas palavras. “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre” (v. 8).

Aqui está:

[1] Uma proibição do orgulho. Eles aqui são proibidos:

Em primeiro lugar, de exigir títulos de honra e autoridade para si mesmos (vv. 8-10). Isto se repete duas vezes: “não queirais ser chamados Rabi… nem vos chameis mestres”; não que seja ilícito prestar respeito civil àqueles que estão acima de nós no Senhor; na verdade, trata-se de um exemplo da honra e da estima que temos obrigação de mostrar a eles; mas:

1. Os ministros de Cristo não devem apreciar o nome Rabi, ou Mestre, para se diferenciarem das demais pessoas. Não está de acordo com a simplicidade do Evangelho, o fato de eles cobiçarem ou aceitarem a honra que têm os que estão nos palácios dos reis.

2. Eles não devem pressupor a autoridade e o domínio sugeridos nesses nomes, eles não devem ser imperiosos nem dominantes sobre seus irmãos, nem sobre a herança de Deus, como se tivessem controle sobre a fé dos cristãos. Todos devem receber deles aquilo que eles receberam do Senhor; mas, em outras coisas, eles não devem tornar as suas opiniões e vontades uma regra e um padrão para todos os demais, e não devem apresentá-los como se trouxessem, de forma implícita, a necessidade de obediência. As razões para essa proibição são:

(1). “Um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo” (v. 8), e outra vez no versículo 10. Observe que:

[1] Cristo é o nosso Mestre, nosso professo1 nosso guia. George Herbert, quando mencionava o nome de Cristo, normalmente acrescentava: Meu Mestre.

[2] Somente Cristo é nosso Mestre, os ministros são apenas aceitos na escola. Somente Cristo é o Mestre, o grande Profeta, a quem devemos ouvir, e por quem devemos ser governados, cuja palavra deve ser um oráculo e uma lei para nós. “Em verdade, eu vos digo” deve ser suficiente para nós. E uma vez que somente Ele é o nosso Mestre, se os seus ministros se estabelecerem como ditadores, e pretende­ rem ter uma supremacia e uma infalibilidade, estarão praticando uma usurpação ousada daquela honra de Cristo, que Ele não dará a ninguém mais.

(2). “Todos vós sois irmãos”. Os ministros são irmãos, não somente entre si, mas de todo o povo; e por isso é ruim que eles sejam mestres, uma vez que não há ninguém para ser dominado por eles, exceto seus irmãos; sim, e todos nós somos jovens irmãos, caso contrário os mais velhos poderiam reivindicar ser “os mais excelentes em alteza e poder” (Genesis 49.3). Mas para evitar isso, o próprio Cristo é “o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8.29). “Vocês são irmãos”, como são também todos discípulos do mesmo Mestre. Os colegas de escola são irmãos, e, como tal, devem ajudar-se, uns aos outros, para aprender a lição, mas isto não significa, de maneira nenhuma, permitir que um dos alunos suba ao lugar do Mestre, e conduza a escola. Se nós somos todos irmãos, não devemos, muitos de nós, ser mestres (Tiago 3.1).

Em segundo lugar, eles são proibidos de atribuir tais títulos a outros (v. 9): “A ninguém na terra chameis vosso pai”. Que ninguém seja o pai da sua religião, isto é, o seu fundador, autor, diretor e governador. Os nossos pais segundo a carne devem ser chamados de pais, e, como tais, devemos prestar-lhes reverência; mas somente Deus deve ser considerado o Pai do nosso espírito (Hebreus 12.9). A nossa religião não deve se originar de nenhum homem, nem depender de qualquer homem. Nós nascemos de novo para a vida espiritual e divina, “não de semente corruptível, mas… pela palavra de Deus”; não “da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”. A vontade do homem não é a origem da nossa religião, e também não deve ser o que a governa. Não devemos aos ditames de nenhuma criatura, nem que se trate da mais sábia, nem da melhor, nem prender a nossa fé à manga de qualquer homem, porque não sabemos corno ele a conduzirá. O apóstolo Paulo se chama de pai para aqueles de cuja conversão ele foi um instrumento (1 Coríntios 4.15; Filemom 10), mas ele não deseja ter domínio sobre eles, e usa esse título para sugerir, não autoridade, mas afeto: por isso, ele não os considera devedores, mas seus “filhos amados” (1 Coríntios 4.14).

[1]. A razão dada é: “Um só é o vosso Pai, o qual está nos céus”. Deus é o nosso Pai, e Ele é tudo na nossa religião. Ele é a sua fonte, e o seu fundador; a sua vida, e o seu Senhor; somente dele, como origem, deriva a nossa vida espiritual, e somente dele ela depende. Ele é o “Pai das luzes” (Tiago 1.17), aquele que é “um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos” (Efésios 4.6). Tendo Cristo nos ensinado a dizer: “Pai nosso, que estás nos céus”, não chamemos de pai a nenhum homem sobre a terra; nenhum homem, porque o homem é um verme, e o filho do homem é um bicho, talhado da mesma rocha que nós. Isto ocorre especialmente sobre a terra, pois o homem sobre a terra é um verme pecador. Não existe um só homem sobre a terra que faça o bem e que não peque; por isso, ninguém está apto para ser chamado de pai.

[2]. Aqui está um preceito de humildade e de submissão mútua (v.11): “O maior dentre vós será vosso servo”. Não somente se chamará assim (sabemos que existe aquele que se intitula Servo dos servos de Deus, mas age corno Rabi, e pai, e mestre, e – O Senhor nosso Deus, porém não o é) mas o será. Interprete isto como uma promessa: Será considerado o maior, e estará mais elevado na graça de Deus, aquele que for mais submisso e servil. Ou corno um preceito: Aquele que subir a qualquer lugar de dignidade, confiança e honra, na igreja, seja seu servo (algumas cópias apresentam esta em lugar de estar); que ele não pense que essa patente de honra seja urna ordem de comodidade. Não. Aquele que é maior não é um senhor, mas um ministro. O apóstolo Paulo, que conheceu o seu privilégio tão bem corno um dever, embora “sendo livre para com todos”, ainda assim se fez “servo de todos” (1 Coríntios 9.19). E o nosso Mestre frequentemente insistiu com os seus discípulos para que fossem humildes e renuncias­ sem a si mesmos, que fossem moderados e condescendentes, e que fossem abundantes em todos os ofícios do amor cristão, embora fossem simples, e os mais simples de todos, e disso Ele nos deu o exemplo.

[3]. Aqui está urna boa razão para tudo isso (v. 12). Considere:

Em primeiro lugar, a punição destinada aos orgulhosos: “O que a si mesmo se exaltar será humilhado”. Se Deus lhes der o arrependimento, eles serão humilhados aos seus próprios olhos, e se detestarão por isso; se não se arrependerem, mais cedo ou mais tarde serão humilhados perante o mundo. Nabucodonosor, do auge do seu orgulho, foi levado para junto dos animais. Herodes, para ser um jantar para os vermes. E a Babilônia, que se sentava como rainha, para ser espanto entre as nações. Deus tornou “desprezíveis e indignos” os sacerdotes orgulhosos e ambiciosos (Malaquias 2.9), e o profeta que ensina a falsidade, “a cauda” (Isaias 9.15). Mas se os homens orgulhosos não tiverem sinais de humildade colocados sobre si neste mundo, chegará o dia em que eles ressuscitarão “para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12.2). “O Senhor… retribui com abundância aos soberbos” (Salmos 31.23). Em segundo lugar, a dignidade e a honra que são direcionadas ao humilde. “O que a si mesmo se humilhar será exaltado”. A humildade é um ornamento “precioso diante de Deus”. Neste mundo, os humildes têm a honra de serem aceitos pelo Deus santo, e respeitados por todos os homens bons e sábios; de serem qualificados, e frequentemente chamados para os mais honrosos serviços; pois a honra é como a sombra, que foge daquele que a persegue e tenta agarrá-la, mas segue aqueles que fogem dela. No entanto, no outro mundo, com o seu Deus, e com a condescendência dos seus irmãos, os humildes serão exaltados, para herdar o trono da glória. Eles não serão apenas reconhecidos, mas coroados diante dos anjos e dos homens.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PSICOLOGIA DA TIRANIA

Comportamentos autoritários e brutais dependem da personalidade e da organização social. Grupos não suprime valores e crenças pessoais, mas tendem a acirrar características individuais.

Psicologia da tirania

Imagens de desumanidade e atrocidades estão gravadas em nossa memória. Judeus – homens, mulheres e crianças – sendo levados para as câmaras de gás. Vilas inteiras destruídas por bandos enfurecidos em Ruanda. Reincidência sistemática de estupro e destruição de comunidades como estratégia de “limpeza étnica” nos Bálcãs. O massacre de My Lai no Vietnã do Sul, a tortura de prisioneiros iraquianos em Abu Graib e, mais recentemente, a carnificina causada por ataques suicidas de homens-bomba em Bagdá, Jerusalém, Londres e Madri. Quando refletimos sobre esses fatos, uma pergunta é inevitável: o que faz com que as pessoas sejam tão brutais? Elas têm problemas psiquiátricos? São produto de famílias desajustadas? Será que, dadas as condições certas – ou melhor, erradas – qualquer um é capaz de protagonizar atos extremos de violência coletiva? As pesquisas mais recentes, incluindo o que é provavelmente o maior experimento de psicologia social das últimas três décadas, estão abrindo novos caminhos para a explicação desses enigmas.

As perguntas sobre a crueldade coletiva foram responsáveis por alguns dos maiores desenvolvimentos da psicologia social desde a Segunda Guerra. Começando pela necessidade de entender os processos psicológicos que tornaram possíveis o horror do Holocausto, os cientistas têm procurado saber como pessoas aparentemente civilizadas e decentes podem perpetrar atos tão pavorosos.

Inicialmente, os teóricos procuraram explicar o comportamento patológico de alguns grupos por meio do estudo da psicologia individual. Em 1961, a historiadora e filósofa política americana de origem alemã Hannah Arendt acompanhou em Jerusalém o julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais mentores do Holocausto. Ela concluiu que o acusado, longe de apresentar uma “personalidade sádica e pervertida” (como afirmavam os psiquiatras da acusação), era um homem comum e surpreendentemente simples. Arendt afirmaria que Eichmann era a encarnação da “banalidade do mal”.

Publicada em 1963 na revista New Yorker, a análise de Arendt foi considerada chocante e herética. No entanto, vários estudos feitos na mesma época chegaram às mesmas conclusões da filósofa. Em experimentos realizados em acampamentos de verão no final da década de 50, o psicólogo social Muzafer Sherif, nascido na Turquia e naturalizado americano, descobriu que meninos em idade escolar se tornavam cruéis e agressivos com seus colegas quando colocados em grupos que tinham de competir por recursos escassos.

Ainda mais impressionantes são os estudos sobre obediência realizados na Universidade Yale no começo dos anos 60 por Stanley Milgram. Em experiência simulada sobre a memória, homens comuns foram orientados a dar choques com intensidade crescente numa pessoa que se passava por aluno (era na verdade um assistente do coordenador da pesquisa, e não sentia os choques). Todos os “professores” estavam dispostos a aplicar “choques intensos” de 300 volts e dois terços deles fizeram tudo que o coordenador da pesquisa pediu, dando o que acreditavam ser choques de 450 volts. Os participantes da experiência continuaram a punir os alunos mesmo depois de saberem que eles tinham problemas cardíacos e de ouvi-los gritar de dor. Milgram concluiu que a concepção de banalidade do mal de Hannah Arendt está mais próxima da realidade do que gostaríamos de imaginar”.

Essa linha de pesquisa teve seu ponto culminante no “experimento do prisioneiro”, realizado pelo psicólogo Philip G. Zimbardo na Universidade Stanford em 1971. A pesquisa distribuiu aleatoriamente estudantes universitários nos papéis de prisioneiro ou de guarda numa prisão simulada. Estudaram-se a dinâmica intra e a intergrupal por duas semanas. Os guardas (com Zimbardo no papel de supervisor) exerceram poder de forma tão cruel que o experimento teve de ser suspenso apenas seis dias depois de iniciado.

Os pesquisadores concluíram que membros de grupos não conseguem resistir às pressões da posição que assumem e que a brutalidade é a expressão “natural” de papéis associados a grupos que têm poderes desiguais. Duas máximas com enorme influência tanto no nível científico como no cultural surgiram em consequência do experimento de Stanford. A primeira é que os indivíduos perdem a capacidade de realizar julgamentos intelectuais e morais quando estão em grupo; portanto, os grupos são perigosos por natureza. A segunda é que as pessoas têm um impulso inevitável de agir de modo tirânico quando se reúnem coletivamente e detêm poder.

O impacto do experimento de Stanford se deve tanto às suas descobertas impressionantes como às conclusões simplistas que suscitou. Com o passar dos anos, no entanto, os psicólogos sociais começaram a questionar as conclusões que o senso comum tirou da experiência.

A ideia de que grupos dotados de poder se tornam automaticamente tirânicos não leva em consideração a liderança efetiva que os pesquisadores desempenharam. Zimbardo teria dito o seguinte a seus guardas, “Podem criar nos prisioneiros um sentimento de medo em algum grau e uma noção de arbitrariedade de modo que a vida deles pareça depender completamente de nós. Prisioneiros não têm liberdade para agir, não podem fazer nem falar nada sem a nossa permissão. Nós vamos roubar sua individualidade de diversos modos”.

Outro questionamento leva em conta que grupos não praticam apenas atos anti sociais. Em pesquisas – como na sociedade – os grupos em geral surgem como meio de resistir à opressão e aos incentivos para agir destrutivamente. Em estudos parecidos com os testes de obediência de Milgram, os participantes eram muito mais propensos a resistir aos aplicadores da pesquisa quando eles eram apoiados por outros participantes que também desobedeciam aos aplicadores.

Além disso, estudos realizados após o experimento de Stanford têm confirmado os aspectos dos grupos que são enriquecedores e positivos para a coletividade. Uma abordagem sobre grupos bastante influente na psicologia social contemporânea é a da identidade social, desenvolvida em 1979 pelos psicólogos sociais John Turner, atualmente na Universidade Nacional da Austrália, e Henri Tajfel, então na Universidade de Bristol, Inglaterra. Essa teoria sustenta que é sobretudo em grupo que as pessoas – especialmente aquelas que são desprovidas de poder – podem se tornar agentes efetivos que desenham seu próprio destino.

Quando compartilham uma identidade (por exemplo, somos todos americanos, “somos todos católicos”), os indivíduos procuram o consenso, confiam mais uns nos outros, são mais propensos a seguir os líderes dos grupos e formam organizações mais eficientes. Isso é evidenciado nos extensos estudos sobre cooperação em grupos conduzidos recentemente por Steven L. Blader e Tom R. Tyler, da Universidade de Nova York. Os estudos concluíram que as pessoas podem se unir para criar um mundo social baseado nos valores que compartilham – gerando um estado de “auto- realização coletiva”, o que é muito bom para o bem-estar psicológico.

Possuir o apoio social para controlar o seu destino pode fazer com que o indivíduo tenha maior auto estima, menos stress e níveis mais baixos de ansiedade e pressão.

 PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE

As pessoas que compartilham senso de identidade em grupo apresentam duas características sociais preponderantes. Primeiro, não perdem a capacidade de fazer julgamentos, mas a base de suas decisões se desloca de suas noções individuais para as crenças coletivamente estabelecidas. Como foi demonstrado por estudos de campo realizados por um de nós, Reicher, mesmo as ações coletivas mais extremas, como uma rebelião, apresentam padrão de comportamento que reflete crenças, normas e valores do grupo. Segundo, as respostas das pessoas variam de acordo com qual noção de pertencimento a um grupo é mais forte em cada momento. Normas e valores que usamos em nosso trabalho, na condição de empregados, podem ser diferentes daqueles que nos governam como fiéis em nossos lugares de devoção, como militantes em uma manifestação política ou como patriotas durante o hasteamento da bandeira.

Assim, ao contrário das conclusões tiradas a partir do experimento de Stanford, os teóricos da identidade social têm argumentado contra a ideia de que as pessoas aceitam automaticamente a filiação a grupos que outros atribuem a elas. Com muita frequência os sujeitos se distanciam dos grupos, principalmente aqueles que são desvalorizados na sociedade. Por exemplo, na década de 70, Howard Giles e Jennifer Williams, ambos da Universidade de Bristol, chamaram a atenção para o fato de que muitas mulheres reagiam à desigualdade menosprezando seu próprio gênero, enfatizando qualidades pessoais e buscando o sucesso. Apenas quando elas acreditam que não podem escapar – isto é, quando os limites entre os grupos são “impermeáveis”, como argumentaram as feministas quando apontaram o “telhado de vidro”- elas se identificarão com o grupo desvalorizado e agirão coletivamente. Além disso, elas somente estarão preparadas para usar o seu poder coletivo para confrontar o status quo e tentar melhorar a posição de seu grupo se acharem que o sistema social suscetível a mudanças.

Uma grande quantidade de pesquisas, incluindo experimentos controlados de laboratório, extensos levantamentos por questionários e observações de campo detalhadas, corrobora a abordagem da identidade social. Ainda assim, até recentemente, não havia um único estudo do tipo realizado por Sheril, Milgram e Zimbardo que pudesse ilustrar e combinar as várias proposições da teoria de modo amplo e convincente. Mais do que isso, parecia impossível realizar um estudo desses. Apesar de todas as dúvidas que pairam em torno do experimento de Stanford, sua própria radicalidade parecia tolher projetos nos mesmos moldes.

A situação mudou com o recente experimento do prisioneiro realizado pela BBC. Colaboramos com a pesquisa da British Broadcastnig Corporation, que a financiou e televisionou em quatro documentários de uma hora cada. Nosso primeiro desafio foi desenvolver procedimentos éticos para garantir que, apesar de sua intensidade, o estudo não causaria mal a seus participantes. Instituímos uma série de medidas de proteção, apoio psicológico em tempo integral e uma equipe de ética. Segundo as conclusões do relatório da equipe, mostramos que é possível conduzir estudos de campo dinâmicos com balizamento ético.

O EXPERIMENTO DA BBC

Como no experimento de Stanford, o da BBC dividiu aleatoriamente guardas e prisioneiros em um ambiente construído especialmente para isso. O cenário era uma prisão, mas nosso objetivo era representar uma classe mais ampla de instituições – escritório ou escola – em que um grupo tem mais poder e privilégio que o outro. Acompanhamos o comportamento dos participantes através de câmeras escondidas e monitoramos seu estado psicológico com testes diários. O bem-estar de cada um foi medido pela quantidade de cortisol –  um indicador de stress –  coletado da saliva.

Apesar de termos seguido o mesmo paradigma do experimento de Stanford, nossa pesquisa era diferente em muitos pontos. Para estudar as dinâmicas de grupo sem interferir diretamente nessas interações, não presumíamos nenhum papel específico na prisão, ao contrário de Zimbardo. Além disso, manipulamos características de hierarquia que, de acordo com a teoria da identidade social, deveriam afetar a identificação dos prisioneiros com seu grupo e as formas de comportamento que eles adotariam em consequência disso. Mais importante, no entanto, foi que nós variamos a permeabilidade dos limites dos grupos, permitindo oportunidades de promoção de um prisioneiro a guarda, mas depois eliminando-as. Esperávamos que, com a possibilidade de promoção, os prisioneiros procurassem rejeitar sua identidade e trabalhassem para melhorar sua própria posição. Prevíamos que essa estratégia reforçaria o status quo e permitiria aos guardas manter ascendência sobre os prisioneiros. Depois de suprimida a possibilidade de promoção (no terceiro dia), achávamos que os prisioneiros começariam a colaborar entre si para resistir à autoridade dos guardas.

Os resultados confirmaram as previsões. Inicialmente, eles eram submissos e trabalhavam duro para melhorar sua situação. Passaram a se identificar como grupo e pararam de cooperar com os guardas apenas quando ficaram sabendo que continuariam a ser prisioneiros apesar de todo e qualquer esforço. Mais importante, essa identidade compartilhada levou a uma melhor organização, eficiência e bem-estar psicológico. À medida que o experimento avançava, os prisioneiros se tomavam mais confiantes.

Os guardas, contudo, nos surpreenderam. Vários deles, assombrados pela ideia de que a associação de grupos e poder é perigosa, relutavam em exercer controle. Desconfortáveis com suas tarefas, discordavam de outros guardas sobre como desempenhar seus papéis e não chegaram a desenvolver um senso de identificação. Essa ausência de identidade levou à diminuição da capacidade organizacional, o que reduziu a eficiência em manter a ordem e os deixou cada vez mais desanimados e esgotados. Com o progresso do experimento, a administração dos guardas ficou mais e mais frágil.

Depois de seis dias, os prisioneiros se uniram para desafiá-los. A essa altura eles estavam bastante divididos. A situação levou a uma fuga organizada e ao colapso da estrutura guarda-prisioneiro. Sobre as ruínas do antigo sistema, prisioneiros e guardas criaram espontaneamente um sistema mais igualitário – em suas palavras, “uma comuna autogovernada e autodisciplinada”. Mais uma vez, no entanto, alguns dos membros se sentiam desconfortáveis com a ideia de exercer poder. Eles não puniam os indivíduos que se negavam a realizar as tarefas que lhes eram atribuídas e quebravam as regras do acordo.

Nesse ponto tivemos uma segunda surpresa. Os participantes passaram a não acreditar que poderiam manter a comuna funcionando, o que deixou seus membros completamente perdidos. Como resultado, alguns prisioneiros e guardas tramaram um golpe que os tomaria os novos guardas: requisitaram boinas pretas e óculos escuros como símbolos de uma nova forma de comando autoritário sobre os demais. Eles queriam recriar a divisão guarda-prisioneiro, mas desta vez assegurando controle sobre os prisioneiros – até mesmo com o uso da força, caso necessário.

Esperávamos que os apoiadores da comuna defendessem a estrutura democrática que tinham adotado. Não foi o que aconteceu – ao contrário, eles careciam de vontade individual e coletiva para desafiar o novo regime. Dados psicológicos indicavam que eles haviam se tornado mais autoritários e dispostos a aceitar líderes severos.

De qualquer modo, o golpe não ocorreu. Por razões éticas, não podíamos correr o risco de permitir uso da força como ocorreu no experimento de Stanford, o que nos levou a encerrar o estudo no oitavo dia. Se, por um lado, o resultado final era parecido com o de Stanford, o caminho que os participantes de nossa pesquisa tomaram para chegar a esse ponto foi muito diferente. O fantasma da tirania claramente não era resultado da ação “natural” dos grupos. A tirania surgiu por causa da falência desses grupos entre os guardas, por causa da dificuldade de criar laços de coesão; no caso da comuna, pelo fracasso na tarefa de transformar crenças coletivas em realidade.

 LIÇÕES PARA A SOCIEDADE

Por que os participantes que haviam rejeitado desigualdades impostas e que lutaram para estabelecer um regime democrático terminaram optando pela tirania? Encontramos a resposta em um corolário básico de nossos argumentos. Grupos, segundo definimos, são orientados para a realização individual. Usam o poder social para assegurar comportamentos baseados na imagem que fazem de suas crenças e valores comuns. Mas quando os grupos não conseguem produzir esse modo de funcionamento, seus membros se tornam mais dispostos a aceitar outras estruturas sociais, mesmo se os novos sistemas não vão ao encontro de seu modo de vida. Assim, quando os guardas não conseguiram impor sua autoridade, eles se tomaram mais dispostos a concordar com a democracia. Entretanto, e de modo mais preocupante, quando a comuna caiu por terra, seus membros se tomaram menos propensos a defender a democracia contra a tirania.

Desse estudo e de outras pesquisas sobre processos de identidade social, podemos tirar importantes conclusões. Em termos gerais, concordamos com Sherif, Milgram, Zimbardo e outros que a tirania é o resultado de processos de grupo, não de patologias individuais. Discordamos, no entanto, no que se refere à natureza desses processos. De nosso ponto de vista, as pessoas não perdem a cabeça quando estão agrupadas, não sucumbem inapelavelmente aos requisitos de seus papéis sociais e não abusam automaticamente do poder coletivo. Pelo contrário, identificam-se com grupos apenas quando esse processo tem sentido para elas. E quando o fazem, tentam de forma consciente e ativa, implementar valores coletivos – e o modo como elas exercem o poder depende desses valores.

Em suma, grupos não impedem seus participantes de escolher – ao contrário, oferecem a seus integrantes bases e meios para exercer suas escolhas.

Evidentemente, esse argumento não nega que as pessoas podem fazer coisas terríveis quando unidas. Mas nem todos os grupos no comando e com certeza nem todos os guardas de prisão são brutais. Propor que há algo inerente na psicologia de grupo que torne inevitável a crueldade excessiva é retirar o foco dos fatores específicos que fazem certos grupos tornar-se perversos, brutais e tirânicos.

Dois conjuntos relacionados de circunstâncias podem levar a uma dinâmica tirânica. O primeiro surge quando um grupo com valores sociais opressivos obtém sucesso. Já foi constatado o fato de que grandes atrocidades são cometidas quando pessoas acreditam agir para se defender de um inimigo ameaçador. Alguém poderia se perguntar, como se adotam tais crenças? De nossa parte, perguntamos qual o papel de líderes nacionais ao demonizar grupos “estranhos’ – judeus, tutsis ou muçulmanos.

E quanto a superiores imediatos de unidades militares que encorajam a brutalidade ou a aceitam passivamente? Qual o papel de homens e mulheres comuns quando riem ou fingem não ver a humilhação de um membro de grupo discriminado? Como fica implícito em nossas perguntas, acreditamos que pessoas ajudam a nutrir uma cultura coletiva de ódio e são, portanto, responsáveis por suas consequências.

De modo menos evidente, o segundo conjunto de fatores que pode gerar tirania ocorre quando grupos que tentam introduzir valores humanos e sociais democráticos não são bem-sucedidos. Quando um sistema social entra em colapso, as pessoas acabam se tomando mais abertas a alternativas, mesmo àquelas que antes pareciam pouco atraentes. Além do mais, quando o colapso de um sistema causa tanta destruição que uma vida social regular e previsíveis e mostra inviável, a promessa de uma ordem rígida e hierarquizada se toma mais sedutora. Assim, a queda caótica da democrática República de Weimar levou ao nazismo, a divisão deliberada imposta pelos poderes coloniais facilitou a ascensão de regimes extremamente brutais na África pós-colonial e nos Bálcãs após a queda do regime soviético, e a supressão de formas de organização depois da Guerra do Iraque preparou o terreno para o ressurgimento de forças antidemocráticas no país. Em todos esses casos, a rejeição da democracia pode ser atribuída a estratégias políticas, que procuraram, de forma deliberada, destruir grupos e apeá-los do poder. Nossa sugestão é que, melhor que tentar fazer as pessoas temer os grupos e o poder, é encorajá-las a trabalhar juntas para usar sua força com responsabilidade.

Psicologia da tirania 2

S. ALEXANDER HASLAM e STEPHEN D. REICHER – desenvolvem estudos sobre dinâmica de grupo. HASLAM é professor de psicologia social da Universidade de Exeter, Inglaterra, e editor chefe do European Journal of Social Psychology. REICHER é professor de psicologia social da Universidade de Saint Andrews, Escócia, e ex-editor do British Journal of Social Psychology.

 

OUTROS OLHARES

SOBRE MULHERES E PORCOS

Na contramão da campanha das americanas que estimula mulheres a denunciarem casos de assédio sexual, francesas assinam manifesto que minimiza a luta das vítimas pelo fim da violência machista.

Sobre mulheres e porcos

De um lado, Oprah Winfrey, apresentadora de televisão, americana, negra. A mulher mais rica dos Estados Unidos. Ao ganhar o prêmio Cecil B. De Mille, concedido ás mais importantes figuras da indústria do audiovisual dos Estados Unidos, durante o Globo de Ouro, fez um discurso firme e inflamado pelos direitos das mulheres. “O que eu sei, com certeza, é que falar sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos. E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o suficiente para falar e compartilhar suas histórias pessoais.” Oprah fala das mulheres do movimento Times Up, um fundo que pretende ajudar vítimas de assédio sexual e violência machista. Do outro, Catherine Deneuve, atriz, encabeçando um manifesto de 100 mulheres francesas questionando o uso do termo assédio pelo movimento americano, minimizando as violências sofridas pelas várias vítimas que vieram à imprensa para dar relatos sobre abusos sofridos em postos de trabalho em Hollywood. “Defendemos uma liberdade [dos homens] de importunar”, diz, em certo trecho da carta. Diante da leviandade com que tratamos casos sérios das denúncias feitas, na tentativa de diminuir um movimento que ajuda várias pessoas e dá força para que outras não tenham medo de se esconder, apanhou. E perdeu feio.

São discursos diferentes que partem de realidades antagônicas. Se as artistas francesas nunca passaram por situações de assédio, não cabe a elas dizer a uma mulher se pode ou não sentir-se ofendida com uma investida de um homem mais poderoso que ela no ambiente de trabalho – basicamente o foco do movimento Time’s Up. “Quando as americanas denunciam situações graves, não é só importunação, é um episódio que leva à interdição do trabalho e das expressões pessoais”, afirma Leila Linhares Barsted, fundadora e coordenadora executiva da ONG CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação). Leila, que participou da elaboração do texto da Lei Maria da Penha, explica as diferenças nas realidades dos dois grupos que precisam ser levadas em consideração. “Aparentemente, as francesas estão em posições de maior poder e podem reagir de forma mais contundente. Mas isso não é uma realidade em países como os Estados Unidos ou o Brasil, onde mulheres que denunciam abusos são demitidas ou constrangidas”, diz. Para Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga e criadora das campanhas “Chega de Fiu e “Meu Primeiro Assédio”, essas mulheres são influentes e querem manter o status quo do qual desfrutam. “Tudo bem ter um direcionamento pessoal, mas não é certo colocar como parâmetro para todas”, diz. “Elas estão romantizando um cenário que, para outras pessoas, é de violência”.

Para o psicólogo Carlos Eduardo Zuma, um dos fundadores do Instituto Noos, que atua na prevenção da violência de gênero, o lado bom desse manifesto é suscitar a discussão sobre o que é uma investida, uma paquera, e qual a diferença disso para o assédio. “Assediar é quando alguém usa do seu poder, seja financeiro, profissional, ou de qualquer outro tipo, para obter alguma satisfação sexual”, afirma.  Cabe à mulher dizer se o que acontece a ela é ofensivo ou não. Se uma funcionária convive com um chefe que toca seu joelho, tenta roubar beijos, fala de coisas intimas e envia mensagens com conotação sexual –  situações nas quais, para as francesas, não há nada de errado – e vê nisso um constrangimento, há assédio. “Não significa radicalizar nem entrar em um puritanismo, muito menos colocar a sexualidade como algo ruim”, afirma Zuma. “Tem a ver com como cada uma se sente em determinada situação.”

 “COISAS SANTAS”

No Brasil, o Código Penal não tipifica cantadas ou outras situações em que popularmente se usa o termo assédio. Há a importunação ofensiva ao pudor, que é uma contravenção penal, e o crime de estupro. Se usado o poder ou prestigio para essa aproximação, vira assédio sexual. De outra maneira, não, segundo a promotora de Justiça Gabriela Mansur, especialista em violência contra mulher. Talvez por isso, o uso do termo dê brecha para uma discussão como a que está acontecendo agora. De qualquer maneira, ainda que não esteja incluída em nossa legislação, há um consenso entre especialistas de que, se há constrangimento, os limites do que seria paquera ou brincadeira foram ultrapassados. Gabriela salienta ainda que, dentro do próprio feminismo, é saudável que existam opiniões diferentes. “O problema é quando, como no caso do manifesto das francesas, se critica uma luta legitima e que ajuda muitas pessoas, que levou muito tempo para se configurar e ter a visibilidade de hoje”, diz. “Esse tipo de posicionamento reforça a ideia de que mulheres competem e dá força aos homens para continuarem assediando sem se importarem com o bem-estar alheio.” As críticas à Deneuve e as outras signatárias da carta foram várias, mundo afora, inclusive na própria França. Entre as poucas vozes que as apoiaram está a do ex-ministro italiano Silvio Berlusconi, envolvido em uma série de escândalos sexuais na Itália e condenado por corrupção. Para ele, Deneuve, no manifesto, disse “coisas santas”.

GESTÃO E CARREIRA

INTELIGÊNCIA RELACIONAL

A habilidade de mobilizar pessoas e recursos em prol de um objetivo comum potencializa a criatividade, a inovação e a geração de resultados acima da média. Conheça a competência mais revolucionária desde a descoberta da inteligência emocional.

Inteligência Relacional

Um segundo parece pouco tempo, mas na internet, nesse intervalo, quase 67.000 pesquisas são feitas no Google, mais de 7.000 twitters são postados, 69.000 vídeos são vistos no You Tube e 2,5 milhões de e-mails são enviados, segundo informações da Internet Live Stats, empresa que monitora o uso da web em todo o mundo. Os números são impressionantes e exemplificam um marco histórico do mundo contemporâneo: pela primeira vez, bilhões de pessoas, de todos os países e classes sociais, estão conectadas. Mas esses dados grandiosos podem deixar uma falsa impressão – a de que a maior parte da população mundial domina, com maestria, a arte de construir relacionamentos consistentes, de mobilizar parceiros e recursos e, consequentemente, realizar grandes projetos. Não é bem assim. Na vida real, as pessoas ainda sofrem para criar laços que realmente valham a pena – a chamada “inteligência relacional”. O termo foi cunhado pelas pesquisadoras Erica Dhawan e Saj-Nicole Joni, especialistas em liderança e carreira, que escreveram juntas o livro Get Big Things Done: the Power of Connectional Inteligence (“Faça grandes coisas: o poder da inteligência relacional”, numa tradução livre, ainda sem edição no Brasil) e acreditam que, nos próximos anos, a habilidade será tão importante e revolucionária quanto foi a inteligência emocional no passado. Essa nova inteligência é uma espécie de “networking objetivo”, que se vale dos relacionamentos para gerar inovação, aprender e alcançar resultados com mais rapidez e qualidade. “É uma das habilidades mais importantes do século 21, pois une sabedoria, informação e dados para resolver problemas em todas as áreas”, diz Homero Reis, coach e autor de Gente Inteligente Se Olha no Espelho (Editora Tagore), de Brasília.

Um bom exemplo vem dos desportistas de alto nível, como os medalhistas olímpicos Michael Phelps, da natação, ou Usain Bolt, do atletismo, que se cercam de uma cadeia de profissionais, como técnicos, consultores e médicos, que os ajudam a desenvolver ao máximo suas competências. Ter um staff desse tipo foi crucial para que eles alcançassem seus recordes. “O sucesso requer trabalho em equipe, influência e o compartilhamento de uma visão em comum”, afirma Homero. O importante é cultivar bem sua rede e entender que quantidade não é qualidade. ”Vale mais ter, na sua rede, uma pessoa influente da área em que você trabalha a centenas de pessoas de outros setores que não têm esse Poder”, diz Erica Dhawan.

NA CONVERSA

A inteligência relacional pode ser usada das formas mais diversas – e mais simples. Em uma multinacional de auditoria, por exemplo, a consultoria de Erica Dhawan propôs mudança fácil de ser implantada e muito eficaz para melhorar os processos: uma plataforma em que os funcionários pudessem classificar os colegas indicando em que eles eram muito bons – mesmo que aquilo não fizesse parte de seu escopo de trabalho. Um analista de marketing, por exemplo, poderia ter em suas tags o domínio da língua espanhola. Assim, um funcionário que tivesse dificuldade de se comunicar com profissionais do escritório na Espanha saberia exatamente a quem recorrer sem precisar mandar uma dúzia de e-mails. “Transformamos uma plataforma que já existia numa versão mais inteligente para conectar pessoas”, diz Erica.

A comunicação é o primeiro ponto a que você deve se dedicar para desenvolver a competência. “Tudo o que você faz em sua vida é conversa. Primeiro você conversa e contratos são firmados, decisões são tomadas. Portanto, saber procurar e estabelecer padrões de relacionamento com base em nossas conversas é essencial”, diz Homero. Mas, como transformar as conversas em laços verdadeiros e duradouros? Uma das maneiras mais eficientes para tratar essa habilidade básica da inteligência racional é compreender a realidade das outras pessoas, algo essencial para que Karina Tiso Girardi, de 35 anos, crescesse na Viva Real, site de aluguel de imóveis, de São Paulo, e se tornasse gerente da área que ela mesma criou, a de “suporte ao cliente”, na qual lidera 100 profissionais. “Eu me coloco no lugar do outro. “Não é que não pense em mim, mas procuro pensar no coletivo”, diz Karina. “Sempre gostei de estudar o comportamento das pessoas. Com os mais sensíveis, converso de uma forma. Com os mais pragmáticos, de outra”, diz. O segredo para ter esse olhar, segundo ela, é escutar mais. A estratégia criou um ambiente onde os funcionários se sentem tão seguros que não têm medo de falar. “Eles não escondem os problemas porque sabem que vou ajuda-los a resolver, e não dar bronca.” Outra vantagem dessa postura é tornar o ambiente mais propício à inovação, por exemplo. “Participamos de reuniões inúteis o tempo todo, mas gastar alguns minutos para falar das relações e dar sugestões, mesmo as que pareçam bobas, é muito importante, pois gera um grande impacto no resultado final dos times”, afirma Erica.

 NOVOS HORIZONTES

A inteligência relacional é tão versátil que pode (e deve) ser usada também fora dos muros das companhias. Afinal, muitas vezes é preciso se distanciar das mesas do escritório para encontrar respostas para os dilemas dos negócios. Foi o que aconteceu na Colgate-Palmolive quando nenhum de seus mais de 200 cientistas conseguiu responder como fazer com que uma nova fórmula de creme dental, fabricada com moléculas maiores, coubesse nos tradicionais tubinhos de plástico. Um executivo, então, convenceu a empresa a compartilhar o problema na InnoCentive, plataforma global de solução de problemas, com 380.000 profissionais free lancers de 200 países, em sua base. Qualquer um poderia se candidatara resolver a questão e, quem conseguisse, ganharia um prêmio. Foi um engenheiro desempregado do Canadá que executou a façanha ao perceber que a questão era física, e não química, como a Colgate-Palmolive acreditava. Ele embolsou o prêmio de 25.000 dólares – uma pechincha em comparação ao que a empresa gasta em seu laboratório de pesquisa e desenvolvimento. A rede de cafeterias Starbucks também usou as conexões externas para inovar e pediu aos clientes que dessem sugestões de novos produtos e serviços. Em cinco dias, a empresa recebeu 150.000 ideias, que foram analisadas e, em alguns casos, implantadas – como uma pecinha de plástico para evitar que o café vaze pela abertura da tampa quando se está caminhando, um frapuccino de coco ou ainda as versões light de bebidas, feitas sem adição de gordura nem açúcar.

 PROPÓSITO COMUM

O que esses exemplos mostram é o potencial de inovação e a agilidade do processo criativo gerados pela conectividade. Quando usamos a inteligência relacional com competência, uma rede enorme de pessoas pode ser mobilizada para ajudar a resolver questões. Mas, para isso, elas precisam enxergar um propósito naquilo e entender que, de seu esforço, surgirá algo que beneficiará a coletividade.

Foi o que percebeu Devani Martins Junior, de 29 anos, analista de meio ambiente da siderúrgica Gerdau. Funcionário das fábricas de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes (SP), ele se incomodava com a emissão (e o descarte) de centenas de carteirinhas técnicas, que controlavam quais eram os treinamentos que os funcionários tinham feito ao longo de sua carreira – a cada um deles, era produzido um cartão de PVC. “Alguns operadores emitiam cinco novos documentos todo mês”, diz Devani. Depois de pesquisar o assunto, o analista descobriu uma empresa que poderia desenvolver um sistema com base na tecnologia de código QR por 40.000 reais para substituir as carteirinhas. A partir daí, o assunto foi apresentado à liderança. “Conversei com meus chefes e eles enxergaram o propósito por trás da ideia, perceberam que a inovação traria sustentabilidade. Por isso, deram aval ao projeto”, diz Devani. Agora, cada funcionário tem um código QR fixado no crachá e a leitura dos treinamentos de cada um é feita com o celular. “O sistema ainda dispara um alerta para os gestores quando um treinamento está para vencer”, afirma o analista. Ao deixar de emitir os documentos. a empresa ainda passou a economizar 8.000 reais mensais. Como compartilhar o conhecimento também faz parte da inteligência relacional, Devani escreveu sobre a experiência no Yammer, rede social corporativa da Gerdau, e recebeu o contato de nove usinas, inclusive a da Argentina, interessadas em implementar a mesma tecnologia.

IDEIAS COMPARTILHADAS

“Compartilhar” é o verbo da vez. Compartilham até o carro para ir ao trabalho e a casa nas férias, mas dividir as ideias ainda enfrenta resistência – embora essa seja a base da inovação que nasce dos relacionamentos. ”Existe um conceito errado no Brasil de que a ideia por si só tem um valor alto e não pode ser dividida. Mas o que vale não é a ideia, mas a execução”, diz Flavio Pripas, diretor do Cubo, hub de empreendedorismo, de São Paulo.

E, para tirar sua ideia do PowerPoint, nada melhor do que dividiras aspirações com pessoas que tenham experiência naquele assunto. Bárbara Diniz Almeida, de 31 anos, sabia quanto isso era decisivo para ingressar no mundo do empreendedorismo e fundar, ao lado de sua sócia e colega de faculdade, Mariana Penazzo, a Dress & Go, companhia que aluga pela internet vestidos de marcas famosas a preços mais acessíveis. Por isso, acionou bastante sua rede de relacionamentos, formada durante seis anos de trabalho no mercado financeiro. ”Os contatos que eu fiz lá me ajudaram muito na abordagem dos investidores. As portas se abriam mais facilmente porque eu conhecia as pessoas certas”, diz Bárbara, que compartilhou a ideia de sua startup com alguns contatos-chave para saber se estava no caminho certo. E estava. Em 2015, a companhia recebeu um aporte 3,5 milhões de reais e saltou de 15 funcionários para os 76 atuais. Nada disso teria sido possível sem a troca franca de ideias com outros empresários, investidores e especialistas no mercado – algo tão relevante para o empreendedorismo (e crucial na inteligência relacional) que inspirou um dos fundos que colocaram dinheiro na Dress & Go a criar uma rede interna de troca de ideias e experiências entre microempresários. “Essa rede virou um ativo do investidor, porque é algo a mais que ele oferece. O compartilhamento de informações é importante porque aquele é um grupo que passa pelas mesmas situações”, afirma Bárbara.

LAZER E NEGÓCIOS

A base da inteligência relacional é o networking, palavra que incomoda muita gente, principalmente os mais introvertidos. Mas construir uma rede sólida de relacionamentos não precisa ser algo forçado – você pode criar laços produtivos nos negócios por meio de afinidades pessoais. Identificar as oportunidades futuras é o pulo do gato de quem tem inteligência relacional. Esse foi o caso do britânico Greg Kelly, de 31 anos, no Brasil desde 2014, e do americano Brian Begnoche, de 33 anos, que se mudou para o Rio de Janeiro em 2008. A dupla se conheceu há três anos. O contexto não tinha nada a ver com negócios: os dois jogavam rúgbi e acabaram praticando o esporte juntos em uma praia no Rio. ”Entre jogadas e conversas, tivemos a ideia de fundar a EqSeed, uma plataforma de financiamento colaborativo que conecta startups a investidores, porque nós dois queríamos contribuir para o ecossistema de startups do país”, diz Brian. No esporte, a dupla encontrou o valor da companhia: a é tica. “Já analisamos mais de 900 empresas e selecionamos cinco. A régua é alta porque queremos pessoas que tenham a cultura daquilo que o esporte tem de melhor: o trabalho em equipe, a ética e o respeito”, diz Greg.

Quando há pontos em comum, como foi o caso de Greg e Brian, o relacionamento pode fluir mais facilmente. pois já existe um alinhamento natural. O segredo é compreender que as possibilidades de negócios estão em todos os lugares. Sua chance de ter sucesso com um novo contato é maior se você procurar os assuntos em comum”, diz Patrícia Epperlein, da Stato, consultoria de recrutamento executivo, de São Paulo.

Então, não desperdice as oportunidades de se relacionar. Para Erica Dhawan, quem quer ter uma inteligência para se conectar precisa estar sempre pronto a estabelecer novas amizades e ter uma atitude mais receptiva ao mundo. “Tenho três conselhos para melhorar essa competência: manter-se sempre aberto a novas ideias e pessoas, de diferentes históricos usar o que você gosta para fazer conexões importantes e ter coragem para mobilizar os outros em torno da sua ideia”, afirma Erica.

Isso significa que as relações já estão aí, em suas mãos. O que você precisa fazer não é ampliar constantemente sua rede, mas usar os recursos que você já tem com mais inteligência. Quem fizer isso vai se destacar e crescer – corno indivíduo e como profissional.

 

PODER DE CONEXÃO

Segundo a pesquisadora Erica Dhawan, a inteligência relacional é composta de 5 atitudes básicas. A seguir, como descobrir se você já tem essa competência.

 ATITUDE 1: CURIOSIDADE

Eu procuro explorar diversos ângulos de um problema em busca de novas perspectivas?

ATITUDE 2: COMBINAÇÃO

Eu costumo reunir diferentes ideias, recursos e produtos e combina-los para criar novos conceitos?

ATITUDE 3: COMUNIDADE

Como é minha relação com minha comunidade? Eu poderia me conectar com mais e diferentes pessoas para desenvolver novas ideias?

ATITUDE 4: CORAGEM

Eu fujo de conversas difíceis ou procuro encorajar esse comportamento em minha equipe?

ATITUDE 5 – COMBUSTÃO

Eu tenho mobilizado e encorajado minhas redes a pensar diferente também?               

AÇÃO E RELAÇÃO

Três passos para desenvolver a inteligência relacional.

1 – CONQUISTE A CONFIANÇA DOS COLEGAS

Nós nos relacionamos melhor com as pessoas em que confiamos. E tornar-se confiável no trabalho passa, primeiro, pelo comprometimento com as metas – tanto para cumprir as tarefas diárias quanto para dizer “não” quando não é possível fazer alguma entrega.

2 – PRATIQUE A INOVAÇÃO SEM CONTRARIAR A CULTURA DA COMPANIHA

Você deve trabalhar dentro dos limites da empresa no que diz respeito à tomada de riscos. Uma das maneiras de fazer isso é desenvolver grupos de afinidades para identificar as questões em que cada área pode ajudar. Assim, os riscos de um projeto dar errado são reduzidos.

3 –  EXPLORE VÁRIOS TIPOS DE FERRAMENTA DE CONEXÃO

Crie ou busque comunidades fora do trabalho para entrar em contato com pessoas com interesses em comum. Vale entrar em grupos de discussão no Facebook, LinkedIn e WhatsApp, acompanhar Hashtags no twitter e fazer parte de fóruns especializados.

 

 LIDERES INSPIRADORES

Aqueles que estão em cargos de gestão podem – e devem – usar a inteligência relacional para melhorar o desempenho de suas equipes.

 MUDE (SE POSSÍVEL) AS REGRAS DO JOGO

Processos que atrasam o progresso devem ser revistos constantemente. Não importa se “sempre foi feito assim”.

 PEÇA AJUDA A NOVAS PESSOAS E COMUNIDADES

Dê voz a todos nas reuniões e encoraje a colaboração. Questões mais complicadas – que não sejam estratégicas –  podem ser resolvidas mais rapidamente com o envolvimento de fóruns e redes de colaboração.

 ERRE RÁPIDO E CORRIJA

Testar – e deixar que sua equipe teste – é importante para crescer e melhorar. Criar um ambiente seguro, para que seu time sinta que pode errar e contar com você aumenta a chance de aprender com as falhas e gerar inovações.

Fonte: Livro – “Get Big Things Done: The Power of Connectional Intelligence”.

NÃO EXAGERE NA DOSE

Os cuidados que você deve tomar para ter relacionamentos mais inteligentes.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 41 – 46

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Os fariseus são silenciados

Os fariseus tinham feito muitas perguntas a Cristo, pensando que com elas iriam expô-lo, mas, no final, expuseram apenas a si mesmos. Porém, agora Ele lhes faz uma pergunta, e a faz quando estão reunidos (v. 41). Ele não separou um deles do grupo, mas, para envergonhá-los ainda mais, Ele fala com todos eles juntos, quando estão reunidos e tramando contra Ele, e ainda assim os confunde. Deus se alegra em confundir os seus inimigos quando eles estão mais fortalecidos. Ele lhes dá todas as vantagens que podem desejar, e ainda as­ sim os vence. ”Alvoroçai-vos,…e sereis quebrantados” (Isaias 3.9,10). Aqui:

 

I – Cristo lhes propõe uma pergunta que eles poderiam facilmente responder; era uma pergunta sobre o seu próprio discipulado. “Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?” Isto eles podiam responder com facilidade: o Filho de Davi. Esta era a perífrase comum do Messias; eles o chamavam de Filho de Davi. Assim os escribas, que explicavam as Escrituras, lhes tinham ensinado, baseando-se em Salmos 89.35,36: Não mentirei a Davi. A sua descendência durará para sempre” (Isaias 9.7), “sobre o trono de Davi”. E Isaías 11.1: “Brotará um rebento do tronco de Jessé”. O concerto da realeza, feito com Davi, era um exemplo do concerto da redenção, feito com Cristo, que, como Davi, foi feito rei através de um juramento, e primeiramente se humilhou e depois cresceu. Se Cristo era o Filho de Davi, Ele era verdadeiramente homem. Israel disse: “Dez partes temos no rei”; e Judá disse: “Eis que somos teus ossos e tua carne”. Que parte temos nós, então, no Filho de Davi, que tomou para si a nossa natureza?

“Que pensais vós do Cristo?” Eles lhe tinham feito perguntas, uma depois da outra, sobre a lei; mas Ele vem e lhes propõe uma pergunta sobre a promessa. Muitos estão tão cheios da lei que se esquecem de Cristo; como se as suas obrigações pudessem salvá-los sem o mérito e a graça do precioso Salvador. Cada um de nós deve se preocupar seriamente em perguntar a si mesmo: “O que penso a respeito de Cristo?” Alguns não pensam nada a respeito dele, Ele não está em todos os seus pensamentos, na verdade não está em nenhum deles; alguns pensam pouco, e outros quase não pensam sobre Ele. Mas para aqueles que creem, Ele é precioso; e como são preciosos, então, os pensamentos sobre Ele! Enquanto as filhas de Jerusalém não pensam mais em Cristo do que em qualquer outro esposo, a igreja, a noiva, pensa nele como o maioral de dezenas de milhares.

 

II – Ele vê uma dificuldade com a resposta deles, que eles não puderam resolver com facilidade (vv. 43-45). Muitos podem tão prontamente afirmar a verdade, pensando que têm conhecimentos suficientes para se orgulhar, e quando são chamados para confirmar a verdade e para defendê-la, mostram que têm ignorância suficiente para se envergonhar. A objeção que Cristo levantou foi: Se Cristo é Filho de Davi, “como é, então, que Davi, em espírito, lhe chama Senhor?” Com isto, Ele não pretendia armar-lhes uma cilada, como eles tinham feito com Ele, mas desejava instruí-los em uma verdade em que eles se recusavam a crer, de que o Messias esperado é Deus.

1. É fácil ver que Davi chama a Cristo de Senhor, e o faz em espírito, sendo divinamente inspirado, e agindo influenciado por um espírito de profecia, pois o Espírito do Senhor falou por ele (2 Samuel 23.1,2). Davi era um daqueles homens santos que falava como se impulsionado pelo Espírito Santo, especialmente ao chamar a Cristo de Senhor; pois, naquela época, como ainda hoje (1 Coríntios 12.3), ninguém podia dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Mas para provar que Davi, em espírito, chamava a Cristo de Senhor, ele cita o Salmo 110.1, que os próprios escribas entendiam que se referia a Cristo; é certo que o profeta aqui fala dele, e de nenhum outro homem. E esse é um resumo profético da doutrina de Cristo, que o descreve realizando as tarefas de um Profeta, Sacerdote e Rei, tanto na sua humilhação quanto na sua exaltação.

Cristo cita o versículo inteiro, o que mostra o Redentor, na sua exaltação:

(1). Assentado à direita de Deus. O fato de estar assentado indica tanto repouso quanto comando; assentar-se à direita de Deus sugere honra suprema e poder soberano. Veja com que grandiosas palavras isto é expresso (Hebreus 8.1); está assentado nos céus à destra do trono da Majestade (veja Filipenses 2.9; Efésios 1.20). Ele não tomou essa honra para si mesmo, mas teve direito a ela, pelo concerto com o seu Pai, e recebeu-a dele, porco­ missão, e aqui está esta comissão.

(2). Subjugando seus inimigos. Ali Ele se sentará, até que todos tenham sido feitos seus amigos, ou escabelo para os seus pés. A mente carnal, onde quer que esteja, é inimiga de Cristo; e será subjugada na conversão das pessoas desejosas, que são chamadas aos pés dele (esta é a expressão, Isaias 41.2), e na confusão dos seus adversários impenitentes, que serão o escabelo de seus pés, assim como os reis de Canaã que estavam sob os pés de Josué.

Mas esse versículo é citado porque Davi chama o Messias de seu Senhor: “Disse o Senhor ao meu Senhor”. Isto nos dá a entender que nas Escrituras explicadas nós devemos observar e aperfeiçoar não apenas o que é o escopo e o principal sentido de um versículo, mas as palavras e as expressões pelas quais o Espírito decide expressar este sentido, que frequentemente têm um significado muito útil e instrutivo. Aqui está uma boa observação sobre a expressão “meu Senhor”.

2. Não é fácil, para aqueles que não creem na divindade do Messias, esclarecer o que parece um absurdo, se Cristo é o Filho de Davi. É incoerente que o pai fale do seu filho, que o predecessor fale do seu sucessor, como seu Senhor. Se Davi o chama de Senhor, isto fica estabelecido (v. 45) como a verdade mais evidente, pois tudo o que é dito sobre a humanidade e a humilhação de Cristo deve ser edificado e interpretado de maneira coerente com a verdade da sua natureza divina, e do seu domínio. Nós devemos nos apegar a isto, ao fato de que Ele é o Senhor de Davi, e a partir daí explicar que Ele é Filho de Davi. As aparentes diferenças nas Escrituras, como aqui, podem não apenas ser explicadas, mas contribuir para a beleza e a harmonia do conjunto. As diferenças que se observam nas Escrituras são do tipo amigável. Como Deus desejaria que as nossas diferenças fossem desse mesmo tipo!

 

III – Aqui temos o sucesso desse teste gentil que Cristo fez do conhecimento dos fariseus, em dois aspectos:

1. Isso os confundiu (v. 46); ninguém podia lhe responder uma palavra. Ou era por ignorância que eles não sabiam, ou por impiedade que eles não reconheciam, que o Messias era Deus; e esta verdade era a única chave que podia destravar a dificuldade em questão. O que aqueles rabinos não podiam responder, bendito seja Deus, o cristão mais simples, que é levado ao entendimento do Evangelho de Cristo agora, pode explicar: que Cristo, sendo Deus, era o Senhor de Davi, e Cristo, sendo homem, era o filho de Davi. Isto Ele não explicou, mas reservou até que a prova estivesse completa pela sua ressurreição. Mas nós temos isso integralmente explicado por Ele, na sua glória (Apocalipse 22.16): “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi”. Cristo, sendo Deus, era a Raiz de Davi; Cristo, sendo homem, era a Geração de Davi. Se nós não nos apegarmos a esta verdade, de que Jesus Cristo é, acima de tudo, o Deus bendito para sempre, teremos dificuldades inexpugnáveis. E bem podia Davi, o seu ancestral, chamá-lo de Senhor; assim como Maria, que foi escolhida para ser a sua mãe neste mundo, depois de tê-lo concebido, chamou-o de Senhor e Deus, e de seu Salvador (Lucas 1.46,47).

2. Isso os silenciou, como também a todos os outros que procuravam uma oportunidade de atacá-lo; desde aquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo, fazer-lhe perguntas capciosas, tentadoras e enganadoras. Observe que Deus glorificará a si mesmo ao silenciar muitos, em cuja salvação Ele não poderá se glorificar. Muitos são convencidos, mas não são convertidos pela Palavra. Se eles tivessem se convertido, teriam lhe feito mais perguntas, especialmente aquela grande pergunta: “O que devemos fazer para que sejamos salvos?” Mas, como não puderam vencer a discussão, eles não falariam mais com Ele. Porém, dessa maneira, todos os que seguirem o seu Mestre serão convencidos, como os fariseus e doutores da lei o foram, da desigualdade nessa discussão.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PRONTO-SOCORRO CONTRA O PÂNICO

O que passa em sua cabeça quando reconhece os sinais de uma crise? Talvez pense: “Estou morrendo, estou ficando louco, vou desmaiar, estou enjoado, vou passar vergonha em público”. E a lista continua. Para lidar com a angústia e evitar que o descontrole aumente, alguns exercícios práticos podem ser muito úteis.

Pronto-socorro contra o pânico

De repente seu coração dispara. Parece não haver ar suficiente para respirar, você sente uma leve vertigem e as mãos transpiram. Esse conjunto de sintomas costuma revelar uma crise de pânico. “Não raro, nesse momento as pessoas acreditam que estão morrendo ou ficando loucas”, diz a doutora em psicologia Ellen Hendriksen. Ela ensina técnicas desenvolvidas com base na psicologia cognitivo-comportamental para controlar a angústia, uma espécie de “pronto-socorro” para que a pessoa retome a autonomia sobre o próprio corpo. Considerando que a crise pode ter causas nem sempre óbvias, é fundamental buscar ajuda de um profissional, mas – pelo menos no momento mais crítico – é possível se acalmar sozinho e em poucos minutos. Os resultados costumam ser bastante positivos, principalmente quando o paciente aprende a se preparar para enfrentar o desconforto. Mas a especialista alerta: é preciso estar disposto a suportar um pouco de ansiedade para superar esse estado.

BRINQUE COM OS SINTOMAS

Parece bem pouco atraente induzir o mal-estar justamente quando nos sentimos bem. E é compreensível que experimentar sentimentos desagradáveis seja a última coisa que alguém deseja. “Mas é fundamental se familiarizar com os sintomas, como o coração batendo descompassado, por exemplo, e se dar conta de que isso não é, necessariamente, sinal de perigo”, afirma Hendriksen. Ela enfatiza que os sinais de que “a pessoa está morrendo” surgem na hora da crise e têm efeito de uma bola de neve, que aumenta de forma descontrolada. Segundo a psicóloga, é importante simular fora do contexto de um ataque os sintomas que tanto nos assustam para nos acostumarmos a não vê-los como perigosos. A ideia é que a pessoa passe a lidar com o coração acelerado ou garganta apertada sem ver essas reações físicas como um grande problema. “Quando estamos no controle, temos a chance de nos habituar aos sintomas isoladamente”, salienta a psicóloga.

Mas, na prática, o que fazer? Simples. Se a pessoa está preocupada com a aceleração cardíaca, caminhe ou corra na esteira até perceber o coração batendo forte e, então, apenas interrompa o movimento e note como o organismo se estabiliza. Aterrorizado com a possibilidade de sentir tontura? Sente-se em uma cadeira de escritório e gire várias vezes, em seguida pare e respire profundamente até que a vertigem passe. Falta de ar? Segure a respiração por alguns segundos e depois estabilize a inspiração e a expiração. O importante é ir, aos poucos, “brincando” com o que o assusta, de forma segura e sem se expor a perigos.

 NÃO BRIGUE COM A CRISE

Pode parecer estranha a ideia de aceitar calmamente a chegada dos sintomas, sem fazer absolutamente nada para fugir deles. “Mas uma pequena dose de ‘psicologia inversa’ pode fazer maravilhas”, garante Hendriksen. Ela observa que grande parte da energia gasta durante um ataque de pânico é direcionada a fugir dos sintomas para que eles não se tornem intensos a ponto de nos matar, mas isso só aumenta a ansiedade e a sensação de descontrole. “Por isso, faça o teste: quando começar a se preocupar com o pânico ou sentir o primeiro sinal de que uma crise se aproxima, diga a si mesmo: ‘Ei, corpo, eu quero mais. Pode vir!’; então respire fundo e não brigue com seu corpo.”

Curiosamente, estar disposto a sentir sintomas de pânico ajudará a parar o ciclo. Afinal, o pânico é a resposta a algo que seu cérebro entende como um grande perigo; quando você entra na briga (ainda que seja consigo mesmo), o embate só aumenta exponencialmente. Em contraste, quando você acolhe as sensações de medo sem lutar contra elas, seu organismo percebe que não tem motivos para lutar ou fugir. E as coisas tendem a se acalmar.

É SÓ ANSIEDADE, NÃO É REALIDADE

O pânico está na interpretação. Considere um exemplo: são 3 horas da manhã e o telefone toca. O que aconteceu? Pode significar que uma pessoa querida está com graves problemas ou até mesmo morta. Mas também pode significar apenas que alguém ligou para o número errado. Até que você atenda o telefone, o motivo da chamada é mero produto da sua interpretação. O mesmo acontece durante crises de ansiedade. Em vez de entender o desconforto físico como sinal claro de que você está morrendo, é possível pensar: “É apenas meu alarme interno que está desregulado; é desagradável, mas já senti isso antes e na ocasião eu não estava morrendo, da mesma forma como não vou morrer agora”. Hendriksen oferece uma dica bastante útil: “Vale a pena lembrar que não há perigo em interpretar o medo nesses casos como algo de fato irritante com o qual você já lidou antes e pode lidar de novo; é apenas ansiedade, não realidade”.

 FATOR TEMPO

Uma paciente minha teve um ataque de pânico durante um treino na academia e não só não voltou ao local, mas também parou de se exercitar inteiramente. Passou até mesmo a evitar subir escadas, pois se preocupava com a possibilidade de seu coração acelerar e deflagrar outro ataque de pânico. Para reverter essa situação, a moça começou a lidar com o esforço gradualmente: nas primeiras tentativas, tinha uma tarefa simples: atirar longe um bloco de concreto. Dias depois, deveria dar uma volta no quarteirão e, ao longo das semanas, ininterruptamente, fazer um trajeto mais longo, até que após dois meses voltou à academia. “É comum que um lugar ou situação fique associado ao temor que a pessoa sentiu, é comum que passe a evitar qualquer coisa parecida, mas podemos ‘enganar’ o medo, mostrando ao cérebro que está tudo bem aos poucos, para que uma nova memória seja registrada”, observa Hendriksen. “Se você teme ter um ataque de pânico em um cinema lotado, por exemplo, comece por ir ao teatro e se sente o mais perto possível da saída. Da próxima vez, avance mais dois lugares em direção ao centro”, sugere a psicóloga. Duas coisas importantes: não deixe passar tempo demais entre um exercício de habituação e outro (nesse caso, as idas ao teatro) nem avance rápido demais, achando que o desafio está muito fácil, pois seu cérebro precisa de treinamento gradual e constante.

OUTROS OLHARES

INSULINA CONTRA O ALZHEIMER

Remédios que equilibram a taxa do hormônio protegem o cérebro da degeneração causada pela doença.

Insulina contra o Alzheymer

Há cerca de 46 milhões de pessoas com Alzheimer. Em 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde, serão 131 milhões. Caracterizada pela perda progressiva da memória, a doença representa uma bomba­ relógio contra a qual a medicina ainda não encontrou um método de desarme. Na semana passada, uma notícia vinda da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, trouxe otimismo em relação ao benefício de uma estratégia a princípio inusitada: o uso de um remédio contra a diabetes. O liraglutide, integrante de uma nova classe de antidiabéticos, protegeu o cérebro da degeneração típica da doença. “Finalmente encontramos algo que realmente funciona”, disse Christian Holscher, coordenador do trabalho. A pesquisa usou cobaias. Ao final, os animais tratados com o liraglutide apresentaram, por um lado, níveis elevados de substâncias protetoras dos neurônios.  Por outro, redução da inflamação e da quantidade das placas amiloides (acúmulo de proteínas sobre as células nervosas que contribui para sua morte).

O que mais entusiasma em relação ao achado de Christian é que ele confirma patologicamente evidências clínicas de eficácia obtidas anteriormente. Há em andamento pelo menos quatro estudos em humanos sobreo impacto de drogas da classe do liraglutide em pacientes com Alzheimer. Todos demonstram bons resultados. Faltava, no entanto, um exame detalhado em laboratório, das mudanças provocadas nos neurônios pelas drogas. A análise das células nervosas extraídas das cobaias possibilitou que os cientistas enxergassem as alterações com clareza.

Os benefícios se devem a uma razão. As drogas estabilizam a taxa de insulina, hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose presente no sangue – o açúcar é o combustível para que elas funcionem. Nos diabéticos, a insulina não é fabricada ou atua de maneira precária. No cérebro de pessoas com Alzheimer, mesmo os não diabéticos, ela também tem sua ação prejudicada. Para agravar o problema, além de ficarem sem glicose suficiente, os neurônios são privados de uma substância importante para seu crescimento. já que o hormônio também desempenha essa função. “Sem insulina, as células nervosas começam a falhar”, diz Holscher. “Ficam mais vulneráveis e cedo ou tarde morrerão.”

 DIABETES TIPO 3

A conexão entre o Alzheimer e a diabetes vem sendo estudada mais intensamente nos últimos anos, até pela urgência em entender melhor o que está por trás da doença neurodegenerativa.  A associação entre as duas enfermidades levou, inclusive, à nomeação de um terceiro tipo de diabetes, o 3. Até recentemente. falava-se no 1, autoimune (o sistema de defesa ataca as células produtoras do hormônio), e no 2, associado à obesidade. O que os cientistas chamam agora de tipo 3 está relacionado à degeneração cerebral. “Há muito a se saber sobre os mecanismos pelos quais a insulina participa da saúde dos neurônios”, disse Na Zhao, da Clínica Mayo (EUA), que estuda o tema. Semanas atrás, o cientista Andrew McGovem, da Universidade de Surrey, na Inglaterra, publicou artigo no qual alertava para a necessidade de aprofundar as investigações. “A diabete tipo 3 é mais comum do que pensávamos. Diagnosticá-la e tratá-la trará benefícios para o controle das doenças neurodegenerativas”, afirmou. O trabalho de seu colega inglês Holscher mostra que eles estão no caminho certo.

POR QUE A DROGA FUNCIONA

DIABETES

  • O liraglutide integra classe recente de remédios que mantém estável o nível de insulina
  • O hormônio é responsável por permitir a entrada, nas células. da glicose em circulação no sangue. Sem ela, as células não têm combustível para funcionar
  • Nos diabéticos. o hormônio ou não é produzido ou não atua da maneira adequada

 ALZHEIMER

  • Além de assegurar combustível aos neurônios, a insulina funciona como um fator de crescimento que mantêm as células nervosas saudáveis
  • Porém, sua atuação encontra­ se prejudicada no cérebro de pacientes com Alzheimer
  • Isso contribui para acelerar a morte neuronal
  • Ao estabilizar a taxa de insulina disponível, as medicações ajudam a proteger o cérebro dos efeitos da enfermidade

GESTÃO E CARREIRA

CORRIDA PELA SAÚDE

Entenda porque os seus hábitos de vida se tornarão num futuro próximo um importante diferencial competitivo na disputa por uma vaga ou por uma promoção.

Corrida pela saúde

 Se até ontem, quando pensava em sua carreira, você deixava a saúde de fora do currículo, talvez seja hora de reconsiderar. Nos últimos anos, as empresas aumentaram significativamente os investimentos em programas de bem-estar e saúde e passaram a monitorar dados sobre os hábitos de vida dos funcionários. Hoje, elas conseguem saber quantas calorias você ingeriu, se bebeu o volume de água suficiente, se dormiu bem, se anda estressado ou se vai regularmente à academia. Uma companhia atenta observa que você está prestes a sair da obesidade grau 2 para se tornar mórbido, projeta sua propensão a desenvolver diabetes e mensura seu risco cardíaco no curto e no médio prazo. É provável que a empresa também saiba, melhor do que você, se há perigo de internação ou cirurgia eletiva no próximo ano.

A ficha pode não ter caído ainda, mas o tempo em que a saúde era uma questão privada – e não do empregador – acabou. Uma pesquisa da consultoria Mercer Marsh Benefícios concluiu, depois de avaliar 58 empresas e mais de 260.000 profissionais brasileiros, que 95% das corporações já acompanham a utilização da assistência médica, 79% supervisionam a participação nos programas de saúde e bem-estar e 64% vigiam de perto o absentismo. O estudo mostrou ainda que 50% das participantes medem indicadores de risco dos colaboradores, 45% avaliam o nível de satisfação dos trabalhadores e 28% inspecionam a condição mental deles. A razão para o Big Brother? O custo -saúde. Há menos de uma década ele girava em torno de 3% do total de despesas de uma companhia. Hoje, chega a 14% – tornando-se, para a maioria, a segunda maior despesa da folha. Paralelamente, a inflação médica bateu os 18%, ante 3% do restante da economia. “As despesas cresceram tanto que a questão caiu no colo do CEO e do CFO, e o tema ganhou enorme relevância”, afirma Enrico De Vettori, sócio líder da área de saúde da consultoria Deloitte, em São Paulo.

Diante do aumento exponencial dos gastos, há empresas fazendo downgrade dos planos oferecidos aos funcionários e outras dividindo a conta com o empregado e seus dependentes por meio de coparticipações. Mas há um terceiro grupo que tem preferido enfrentar os altos gastos com saúde usando o health analytics, ferramenta que cruza dados sobre a vida dos colaboradores, captados de diferentes fontes, para fazer projeções sobre seu estado físico e emocional. Embora ainda incipiente, a utilização de algoritmos de saúde é uma tendência – e deverá crescer nos próximos anos. “As métricas possibilitam mapear quem são os gastadores e criar ações de engajamento para eles. No caso de um paciente com doença crônica, é possível monitorar se está tomando medicação, incentivá-lo a ir ao médico e evitar que se desestabilize, sobrecarregando o sistema”, diz Enrico.

Poucos anos atrás, ter políticas de saúde organizacional baseadas em inteligência artificial era algo raro. Construíam-se estratégias de saúde com base no senso comum. Casos como o de uma grande empresa que investiu 3 milhões de reais num programa antitabagismo e, depois, descobriu ter apenas 160 fumantes entre milhares de empregados tornaram-se clássicos. O dinheiro era literalmente jogado fora. “Hoje, ao convergir informações de diversas fontes, direciona-se melhor os investimentos”, diz Ricardo Lobão, CEO da UIB Benefícios, consultoria de gestão de saúde que trabalha no modelo pós­ pago, em que a organização só paga quando o funcionário usa o convênio. O modelo, utilizado por 14% das companhias brasileiras, recorre ao monitoramento em tempo real de usuários e aos algoritmos para prever custos. Para exemplificar corno isso funciona, Ricardo cita o caso da mulher de um empregado que foi ao médico solicitar diagnóstico para redução das mamas. Ao ter o procedimento negado, ela entrou no radar da consultoria. Uma simulação concluiu que, se não fizesse a cirurgia, em um ano ela daria entrada no sistema para colocar pinos na coluna, o que custaria 250.000 reais. “A metrificação provou que valia a pena arcar com o tratamento. O custo foi de 32.000 reais. A companhia economizou e a paciente se curou. Foi bom para ambos”, diz o consultor.

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TECNOLOGIA EM ALTA

A medida que a tecnologia e o big data avançam, a colcha de retalhos de dados de saúde vai se costurando. Hoje, as informações vêm de todos os lados: de operadoras de saúde, de startups (como o Gympass, que oferece às empresas dados sobre a frequência de seus empregados à academia), de programas de bem-estar das próprias organizações e até de dispositivos como relógios e pulseiras inteligentes – no futuro, devem chegar também via chips implantados na pele com sensores.

Entre as ferramentas já disponíveis estão os aplicativos de gestão e monitoramento da saúde, usados por 14% das companhias em operação no Brasil. “O número é baixo, mas tende a crescer. Nos Estados Unidos, uma referência na área, já são 39%”, diz Helder Valério, gerente de gestão e promoção de saúde da Mercer Marsh Benefícios, em São Paulo.

A porta de entrada de todo bom aplicativo é um questionário detalhado de saúde, uma espécie de anamnese digital que ajuda a organização a detectar ameaças a que sua população está exposta Na Bridgestone, maior fabricante de pneus do mundo, dois aplicativos foram Implementados neste ano: um para o funcionário fazer a gestão de sua saúde em tempo real e outro voltado para as grávidas, com algoritmos clínicos que monitoram a saúde tanto da mãe quanto a do bebê. “Entendemos que não adiantaria economizar mudando para um plano de saúde inferior. São as pessoas que fazem o negócio acontecer e, se elas não estiverem bem, a empresa não andará”, diz Claudia Teixeira, diretora de relações trabalhistas da Bridgestone, que tem sede em Santo André, no ABC paulista. Os primeiros Indicadores serão mensurados em 2018.

Quando o empregador passa a monitorar seu estado físico (e mental), é preciso fazer a si mesmo perguntas do tipo: o que eu ganho ao compartilhar meus dados? Essa informação pode se voltar contra mim no futuro? Foi a certeza de que não será prejudicada que fez a arquiteta Amanda Frezzato, de 41 anos, baixar o aplicativo da Bridgestone durante a gestação. Como é portadora de esclerose múltipla e sua gravidez era de risco, a ferramenta trouxe comodidades. “Eu tirava dúvidas, era alertada sobre medicamentos e interagia via vídeo ou chat com uma equipe especializada”, diz a gerente de desenvolvimento de lojas da Bridgestone. Embora tenha dado à luz três meses atrás, Amanda segue togada. “O aplicativo gera relatórios e sei que a empresa pode acessar os dados, mas isso não me preocupa. Desde que descobri a doença, há nove anos, nunca fui discriminada – ao contrário, fui promovida”.

Outra gigante que vem investindo em saúde via mobile é a francesa Ticket, que acaba de lançar o aplicativo Ticket Fit. Disponível para pessoas físicas e corporações, o produto monitora hábitos: calcula o consumo diário de calorias, computa o volume de exercícios praticados, fornece conteúdo personalizado e possibilita criar games. “É possível saber se as pessoas estão se exercitando ou se o IMC da população está bom. São indicadores práticos, em tempo real, que ajudam o RH a fazer a gestão da saúde”, diz Marilia Rocca, diretora­ geral da Ticket no Brasil. De acordo coma executiva, são100.000 usuários ativos em dois meses, e a ideia é expandir o aplicativo para os 42 países em que a empresa atua.

Estimativas de mercado apontam que, de 2015 para cá, houve um aumento de 21% no investimento anual em ações de saúde e bem­ estar por funcionário. O aporte de dinheiro na área não acontece sem razão. O universo corporativo se deu conta de que proporcionar qualidade de vida às equipes melhora os resultados do negócio. Estudos mostram que um indivíduo saudável falta menos e veste mais a camisa da empresa – no Reino Unido, uma pesquisa provou que saúde e bem-estar aumentam a produtividade em até 12%. A analista financeira Daniela Cordeiro de Carvalho, de 34 anos, de São Paulo, comprova a estatística. Com 1,60 metro de altura e 78 quilos, ela tentava emagrecer e se animou quando sua companhia, o Mercado Eletrônico, criou, em outubro, um game para incentivar a perda de peso pelos empregados. “Eliminei quase 5 quilos. por isso eu já acordo animada para o trabalho”, diz. Dos 200 funcionários da companhia, que desenvolve soluções comerciais B2B, 87 aderiram à disputa. A cada dez dias, eles passam por pesagem e avaliação. Há um grupo no WhatsApp para trocar incentivos. O prêmio, simbólico, será uma bicicleta.

Adriana Oliveira, gerente de RH do Mercado Eletrônico, diz que a ação foi criada depois de a base de dados apontar que havia muita gente acima do peso. A companhia também passou a conceder passes para academia como benefício e contratou uma coach de bem-estar para orientar colaboradores. “Identificamos que precisávamos investir no tema saúde de modo mais arrojado. Vamos medir os indicadores no final do programa, mas já sinto diferença no engajamento e, provavelmente, abriremos uma segunda temporada, afirma.

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REFLEXO NA LIDERANÇA

A liderança será uma das principais afetadas por essa mudança de mentalidade no ambiente corporativo. Além de coordenar metas e buscar o resultado do negócio, fará parte do escopo do bom líder promover a qualidade de vida do time. Os chefes serão cada vez mais cobrados a dar bons exemplos: ficar no trabalho até altas horas pega mal; ser sedentário e comer besteira, idem. “Há uma tendência global, puxada pela geração Y, de buscar um estilo de vida saudável. Sem engajar gestores, é difícil criar essa cultura”, diz Isis Borges, gerente de recrutamento da Robert Half, de São Paulo.

Na Bosch, fabricante alemã de equipamentos eletrônicos com sede em Campinas, no Interior paulista, a onda a tingiu os executivos. No ano passado, durante um encontro de líderes, um grupo de 75 gerentes e diretores lançou voluntariamente uma competição entre times batizada de Health Transformation, para mudar sua atitude em relação à qualidade de vida. Com pulseiras inteligentes conectadas ao celular, passaram a ter o número de passos e a comida ingerida registrados diariamente, para verificar quem percorria a maior distância e perdia mais quilos. Juntos, em três meses, os gestores da Bosch queimaram 5 milhões de calorias e deram 38 milhões de passos (o suficiente para percorrer a circunferência da Lua três vezes). Os vencedores levaram um vale de 1.000 reais para fazer compras numa rede de lojas esportivas.

A Bosch conta hoje com um comitê multidisciplinar para fazer o acompanhamento mensal dos indicadores de saúde, promove uma maratona de corrida anual e tem feira livre de frutas e legumes toda sexta-feira na sede. “Saúde e bem-estar se tornaram ferramentas de atração e retenção de talentos”, diz Fernando Tourinho, diretor de RH. De acordo com ele, não há um aplicativo (ainda) por questões éticas. “Não está claro para nós como tratar a confidencialidade e a segurança da informação.”

QUESTÃO ÉTICA

Garantir que os dados sobre o estado de saúde das pessoas se mantenham nas mãos certas – e não acabem virando motivo de discriminação – é um ponto sensível nessa nova abordagem da saúde no ambiente corporativo. Apesar de a lei exigir que prontuários sejam avaliados apenas por médicos do trabalho (sem envolvimento do RH), não existe garantia de como esse enorme volume de dados vem sendo tratado. Em artigo escrito em 2016 para a publicação americana Journal of Law, Medicine and Ethics (da Associação Americana de Direito, Medicina e Ética), Ifeoma Ajunwa, professora na Cornell University, nos Estados Unidos, e autora do livro The Quantifield Worker (“O empregado quantificado”, sem tradução para o português), diz que os dados podem colocar a privacidade (e o emprego) em risco. Numa de suas pesquisas, ela descobriu que bancos de dados contendo Informações de saúde são um alvo atraente para hackers – interessados em vender ou exigir resgate pelo sequestro de informações sensíveis.

Não bastasse isso, na maioria dos países, a legislação não é especifica sobre os limites para o uso de novas tecnologias no ambiente de trabalho, o que deixou o colaborador vulnerável. Deli Matsuo, ex-diretor de recursos humanos para a América Latina do Google e fundador da Appus, empresa pioneira no Brasil em people analytics, diz não acreditar que uma companhia idônea vá analisar a saúde pensando em demitir. “O intuito de quem nos procura é garantir a assertividade das ações, para que funcionários fiquem mais saudáveis e gastem menos”, diz.

Em janeiro de 2018, a Sharecare, multinacional americana especializada na digitalização de dados de saúde, trouxe para o mercado brasileiro um aplicativo que promete revolucionar o mundo corporativo. A plataforma, que consumiu meio bilhão de dólares em investimentos e recebeu aportes de gente graúda como a apresentadora americana Oprah Winfrey, foi lançada nos Estados Unidos no início deste ano. Além de integrar todo tipo de fonte de informação, de prontuários médicos a relógios inteligentes, o aplicativo tem reconhecimento de padrões fractais na voz (quando a pessoa fala ao telefone, o sistema mede o nível de emoção e de estresse) e métricas capazes de mensurar a idade real e a cronológica, bem como o grau de salubridade de cada dia do usuário. Chamada pela Sharecare de Green Day, a ferramenta possui um coraçãozinho que vai sendo preenchido de verde conforme o usuário abastece o aplicativo com informações. Se tomou pouca água, dormiu mal e não fez exercícios, o coração não fica verde. Ao combinar esses fatores, a tecnologia também pode prever, por meio de inteligência artificial, se a pessoa terá um evento no pronto-socorro, o Green Day ajuda a ‘tangibilizar’ a saúde e pode ser usado pelas empresas como nos programas de milhas”, diz Nicolas Toth Jr., CEO da Healthways, atual braço da Sharecare no Brasil. Nos Estados Unidos, já há companhias trocando Green Day por reajustes menores no plano de saúde.

Questionado sobre o perigo de aderir a uma plataforma que agrega tantos indicadores, Nicolas diz que o risco de sequestro de dados é o mesmo de entrar num avião e cair. Ou seja, existe, mas é remoto. “Num futuro próximo, dados serão capta dos pela geladeira, pelo carro, pelo chuveiro de casa. Haverá um número infindável de informação pessoal trafegando em todo tipo de lugar. Caberá a toda empresa séria fortalecer sua segurança digital”, afirma.

 DIFERENCIAL COMPETITIVO

Discussões éticas à parte, urna coisa é certa: não deve demorar muito para que a saúde se torne um diferencial competitivo declarado no trabalho. “Mesmo de forma velada, é passivei notar uma valorização de candidatos com hábitos saudáveis. Não é interessante nem ético discriminar alguém por não fazer esporte ou se alimentar mal. Mas é fato que companhias vêm observando com mais atenção esses aspectos”, diz Jorge Kraljevic, sócio- fundador da consultoria de recrutamento Signium, de São Paulo.

Especialistas admitem que já conta pontos demonstrar preocupação com a qualidade de vida nas entrevistas de emprego. Citar que participa de grupos de corrida, por exemplo, no momento do quebra-gelo, em que se fala da vida pessoal, é urna boa estratégia. O mundo corporativo adora traçar paralelos com o esporte e é praxe inferir que, se a pessoa tem uma alimentação regrada e faz atividade física regularmente, possui capacidade de planejamento, foco e resiliência.

Os talentos, por sua vez, também ficaram mais exigentes. Plano de academia gratuito, flexibilidade de horário, massagem e frutas à tarde contam até mais do que um salário alto na hora da escolha por um empregador. A via, portanto, é de mão dupla. Uma boa notícia, já que a combinação entre companhias atentas e funcionários conscientes reduz os custos com saúde, melhora os resultados e favorece toda a cadeia, numa relação de ganha-ganha.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 34 – 40

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O Significado dos Mandamentos

Aqui está o sermão que Cristo fez a um fariseu, doutor da lei, sobre o grande mandamento da lei. Considere:

I – A aliança dos fariseus contra Cristo (v. 34). Eles ouvi­ iram que Ele tinha emudecido os saduceus, que Ele os calou, embora o discernimento deles não estivesse esclarecido. Os fariseus se reuniram, não para expressar ao Senhor a gratidão dos membros de seu partido – como deveriam ter feito, por causa de sua eficaz afirmação e confirmação da verdade contra os saduceus, os inimigos comuns de sua religião -, mas para desafiá-lo, na esperança de conquistar a reputação de confundir aquele que tinha confundido os saduceus. Eles estavam mais contrariados com o fato de Cristo ter sido honrado do que agradecidos pelo fato de os saduceus terem sido silenciados. Estavam mais preocupados com a sua própria tirania e tradição, – a que Cristo tinha se oposto -, do que com a doutrina da ressurreição e da condição futura, à qual os saduceus se opuseram. Observe que é um exemplo da inveja e da maldade farisaica estarmos descontente s com a afirmação de uma verdade confessada, quando esta é feita por aqueles de quem não gostamos; isto é o mesmo que sacrificar o bem que poderia beneficiar um povo, devido a ressentimentos particulares e preconceitos. O abençoado Paulo pensava de outra maneira (Filipenses 1.18).

 

II – A pergunta que o doutor da lei fez a Cristo. Os doutores da lei eram estudantes das leis de Moisés, e também as ensinavam, como os escribas; mas alguns opinam que, neste aspecto, eles diferiam um pouco destes últimos, já que lidavam mais com as questões práticas do que os escribas; eles estudavam e professavam a divindade casuística. Este doutor fez uma pergunta ao Senhor, desafiando-o; mas, conforme vemos na narrativa da história por Marcos, aquele homem não tinha qualquer intuito de armar-lhe uma cilada, pois Cristo lhe disse: “Não estás longe do Reino de Deus” (Marcos 12.34). Ele só desejava saber o que o Senhor diria, estabelecendo um pequeno diálogo com Ele, a fim de satisfazer a sua curiosidade, bem como a de seus amigos.

1. A pergunta foi: “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?” Uma pergunta desnecessária, sabendo-se que todas as ordens da Lei de Deus são grandiosas (Os eias8.12), e a sabedoria que vem de cima é sem parcialidade, e sem parcialidade na Lei (Malaquias 2.9); assim, é necessário obedecer todos os mandamentos. Porém, é verdade que existem alguns mandamentos que são os princípios dos oráculos de Deus, sendo também mais amplos e abrangentes que outros. O nosso Salvador fala das questões mais importantes da Lei (cap. 23.23).

2. O intuito era testá-lo, ou tentá-lo. Testar não tanto o seu conhecimento, mas sim o seu julgamento. Esta era uma questão discutida entre os críticos da Lei. Alguns consideravam a lei da circuncisão como o grande manda­ mento; outros, a lei do sábado judeu; outros, a lei dos sacrifícios. Tudo dependia de como eram afetados, respectivamente, e de como dedicavam o seu zelo; então eles testariam o que Cristo diria sobre essa questão, esperando incitar o povo contra Ele, caso não respondesse de acordo com a opinião comum; e se Ele enaltecesse algum mandamento, eles fariam com que parecesse que Ele es­ tivesse menosprezando os demais. A questão era suficientemente inofensiva e parece, comparando com o texto em Lucas 10.27,28, que esse era um ponto condenado entre os doutores da lei, que o amor a Deus e ao nosso próximo é o grande mandamento e a soma de todos os outros, e que Cristo tinha aprovado esta interpretação. Assim, ao lançarem essa pergunta ao Senhor isto parece ter mais uma conotação insolente de querer discipulá-lo como uma criança do que o intuito malicioso de discutir com Ele como um adversário.

 

III – A resposta de Cristo a essa pergunta. Foi conveniente para nós que essa pergunta tivesse sido feita a Ele, a fim de que tivéssemos a sua resposta. Não é desonra para os grandes homens responder perguntas óbvias. Nesse momento, Cristo nos recomenda como grandes mandamentos aqueles que não são tão restritos; eles são grandes porque abrangem outros mandamentos. Considere:

1. Quais são esses grandes mandamentos (vv. 37-39); não as leis judiciais, que não poderiam ser as melhores, agora que o povo judeu, a quem pertenciam, era tão in­ significante; não as leis cerimoniais, que não poderiam ser as melhores, agora que estavam ficando velhas e prontas a desaparecer; nem qualquer preceito moral em especial; mas o amor a Deus e ao nosso próximo, que são a origem e a fundação de todos os demais mandamentos, e que (supõe-se) permanecerão.

(1). Toda a lei se cumpre em uma palavra, e esta palavra é amor. Veja Romanos 13.10. Toda obediência começa na afeição, nos sentimentos, e nada na religião será feito corretamente, se não for feito primeiro nesse âmbito. O amor é a afeição mais importante, que fornece a lei e dá base para o descanso; e, por essa razão, como um forte principal, deve ser primeiramente defendida e protegida por Deus. O homem é uma criatura idealizada para amar; assim, consequentemente, a lei está escrita no coração, e esta é a lei do amor. Amor é uma palavra pequena e doce; e se esse for o cumprimento da lei, certamente o jugo do mandamento será muito fácil de suportar. Amor é descanso e satisfação da alma; se caminharmos neste velho e bom caminho, encontraremos descanso.

O amor de Deus é o primeiro e o maior mandamento de todos, e o resumo de todos os mandamentos da primeira tábua. Uma atitude própria do amor é a complacência; o bem é o objeto próprio do amor. E Deus, sendo infinitamente, originalmente e eternamente bom, deve ser amado em primeiro lugar, e nada mais nem ninguém mais deve ser tão amado quanto Ele. Nada pode estar ao seu lado, exceto aquilo que for amado por Ele. O amor é a primeira coisa e a grande coisa que Deus requer de nós; por isso, é a primeira e grande coisa que devemos dedicar a Ele.

Aqui somos orientados:

[1]. A amar a Deus como o nosso Deus: ”Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração”. O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de mim”. Isto sugere que nós devemos ter o Senhor como nosso Deus, o que irá despertar o nosso amor por Ele. Aqueles que fizeram do sol e da lua os seus deuses, os amaram (Jeremias 8.2; Juízes 18.24). Amar a Deus como o nosso Deus é amá-lo porque Ele é nosso, nosso Criador, nosso Dono e nosso Governante, e conduzirmo-nos a Ele como o nosso Deus, com obediência a Ele e dependendo dele. Nós devemos amar ao Senhor nosso Deus, que está reconciliado conosco, e fazê-lo nosso através da aliança de Jesus Cristo; esta é a base do nosso relacionamento com Deus.

[2]. A amá-lo de todo o nosso coração, e de toda a nossa alma, e de todo o nosso pensamento. Alguns entendem que isso significa uma única coisa: amá-lo com todas as nossas forças. Outros as diferenciam: o coração, a alma e o pensamento são a vontade, os afetos e o entendimento; ou as faculdades vital, afetiva e intelectual. O nosso amor a Deus deve ser um amor sincero, e não somente de palavras e língua, como é o amor daqueles que dizem que o amam, mas seus corações não estão com Ele. Deve ser um amor forte, e nós devemos amá-lo no grau mais intenso; assim como devemos louvá-lo, também devemos amá-lo com tudo o que há em nós (Salmos 103.1). Este deve ser um amor singular e superlativo; nós devemos amá-lo mais do que a qualquer outra pessoa ou coisa; é este o caminho que os nossos afetos devem percorrer. O coração deve estar unido para amar a Deus, em oposição a um coração dividido. Todo o nosso amor é pouco quando pensamos no que deveríamos oferecer a Ele, e por isso todas as forças da alma devem ser dedicadas e direcionadas a Ele. “Este é o primeiro e grande mandamento”; a obediência a este mandamento é a fonte da obediência a todos os demais. E a nossa obediência será aceitável quando fluir do amor.

(3). Amar o nosso próximo como a nós mesmos é o segundo grande mandamento (v. 39). É como aquele primeiro, e inclui todos os preceitos da segunda tábua, bem como os da primeira. Ele é semelhante ao primeiro mandamento, pois está baseado nele, e nasce dele. E um amor correto pelo nosso irmão, que nós vemos, é, ao mesmo tempo, um exemplo e uma evidência do nosso amor por Deus, que nós não vemos (1 João 4.20).

[1]. Fica implícito que amamos a nós mesmos, e devemos fazê-lo. Porém, existe um amor próprio que é corrupto, que é a raiz dos maiores pecados, e deve ser deixado de lado e abandonado. Mas existe um amor próprio que é natural, e é a regra do maior dever. Ele deve ser preservado e santificado. Nós devemos amar a nós mesmos, isto é, devemos ter uma consideração correta da dignidade da nossa própria natureza, e uma preocupação adequada pelo bem-estar da nossa própria alma e do nosso próprio corpo.

[2].  Está prescrito que devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos. Devemos honrar e estimar todos os homens, e não devemos fazer mal ou ofender a nenhum deles; devemos ter boa vontade com todos, e bons desejos para todos; e, se tivermos oportunidade, devemos fazer o bem a todos. Devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos, de uma forma verdadeira e sincera, sob as várias circunstâncias da vida. Na verdade, em muitas ocasiões, devemos renunciar a nós mesmos para o bem do nosso próximo, tornando-nos servos do bem-estar dos outros. Devemos estar dispostos a nos dedicar a eles, e a dar a nossa vida pelos nossos irmãos.

2. Observe qual é a importância e a grandeza desses mandamentos (v. 40): “Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, isto é, eles são a soma e o significado de todos aqueles preceitos relacionados à religião prática, que estão escritos nos corações dos homens pela natureza, revividos por Moisés, e apoiados e reforçados pela pregação e pelos escritos dos profetas. Tudo depende da lei do amor; remova-a, e tudo cai ao chão e se reduz a nada. Os rituais e os cerimoniais devem dar lugar a esses dois mandamentos, como ocorre com todos os dons espirituais, pois o amor é o caminho mais excelente. Este é o espírito da lei, que a anima, o cimento da lei, que a acompanha, é a raiz e a origem de todas as outras obrigações, o compêndio de toda a Bíblia, não somente da lei e dos profetas, mas também do Evangelho, supondo apenas que esse amor seja o fruto da fé, e que nós amemos a Deus em Cristo. e ao nosso próximo, em nome dele. Tudo depende desses dois mandamentos, como o efeito que ocorre tanto na sua eficiência quanto na sua causa final; pois o cumprimento da lei é amor (Romanos 13.10), e o fim da lei é a caridade (1 Timóteo 1.5). A lei do amor é o prego, é o prego no lugar certo, fixado pelos mestres das congregações (Eclesiastes 12.11), do qual pende toda a glória da lei e dos profetas (Isaias 22.24), um prego que nunca será arrancado; pois deste prego depende eternamente toda a glória da nova Jerusalém. O amor nunca falha. A esses dois grandes mandamentos, portanto, os nossos corações devem se render como a um molde; à defesa e à evidência desses dois mandamentos, dediquemos o nosso zelo, e não noções, nomes e conflitos de palavras, como se estas fossem as coisas poderosas de que dependem a lei e os profetas, e a elas o amor a Deus e ao nosso próximo devesse ser sacrificado; pois é ao poder controlador dos mandamentos que todas as demais coisas devem se curvar.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

DO QUE AS CRIANÇAS SE LEMBRAM?

A forma como os pequenos aprendem os leva a criar mais recordações falsas e fantasias do que os adultos; novas maneiras de investigar o assunto, porém, têm trazido novas pistas sobre esse tema.

Do que as crianças se lembram

Crianças não são testemunhas muito confiáveis. A sabedoria popular diz que frequentemente “relembram” coisas que nunca aconteceram. Nos últimos anos, porém, vários cientistas discordaram dessa tese com base em alguns estudos segundo os quais adultos criam até mais memórias falsas do que os pequenos. Um novo estudo, porém, confirma a propensão infantil para confundir realidade e fantasia, e seus defensores alegam que experimentos anteriores podem simplesmente não ter utilizado o método de pesquisa mais adequado.

Tradicionalmente, em geral, para explorar falsas memórias, os cientistas apresentam aos pequenos voluntários uma lista de palavras (por exemplo, “lacrimejar”, “tristeza” e “molhado”) tematicamente relacionadas a um termo que não está na lista (nesse caso, “choro”) e, em seguida, perguntam aos participantes do que se recordam. Tipicamente, os adultos mencionam a palavra que falta com maior frequência do que as crianças. “Isso acontece possivelmente porque suas experiências de vida permitem traçar associações entre os conceitos mais facilmente”, diz o psicólogo forense Henry Otgaar, da Universidade de Maastricht, na Holanda, coautor do estudo, publicado no periódico científico Journal of Experimental Child Psychology.

Em vez de usar esse tipo de analogia para investigar o fenômeno, Otgaar e seus colegas mostraram aos voluntários imagens de cenas que se passavam numa sala de aula, num funeral ou numa praia. Depois de uma pequena pausa, perguntavam aos participantes se haviam notado certos objetos em cada figura. Em três experimentos, crianças de 7 e 8 anos relataram consistentemente terem visto mais detalhes inexistentes do que os adultos.

“Até então os estudos revelavam que os pequenos tendem a confiar na essência de uma memória quando fazem inferências”, salienta Otgaar. E não se trata de mentir. Por exemplo: se visualizaram uma sala de aula, podiam acreditar também que viram um lápis, um material comumente encontrado nesse ambiente. Esse processo de reconhecimento de padrões os ajuda a aprender mais rapidamente. Quando ficamos mais velhos, costumamos focar detalhes específicos que usamos para reconstruir uma cena. É provável que esse novo estudo, feito com imagens em vez de listas de palavras, tenha se aproximado um pouco mais de como falsas memórias ocorrem no cotidiano – afinal, a maioria de nós experimenta o mundo visualmente.

Os autores afirmam que o experimento pode fornecer pistas para colhermos testemunhos mais confiáveis tanto de crianças como de adultos, já que mudanças sutis no enquadramento poderiam alterar decisivamente nossas recordações. Ao falar com os pequenos, os advogados devem, por exemplo, tentar evitar dar dicas para reavivar a memória ou usar linguagem muito descritiva, pois isso pode desencadear a ativação do sistema cerebral padrão de decisões que contribui para a criação de falsas memórias.

 FRONTEIRAS DA MEMÓRIA

De 0 a 2 anos: bebês formam memórias curtas e esparsas

De 2 a 3: crianças começam a recordar fatos e eventos. No entanto, são efêmeros, porque o hipocampo (chave para memórias de longo prazo) ainda está amadurecendo

De 4 a 7: há o aperfeiçoamento da memória de curto prazo. A memória prospectiva (a capacidade de planejar e relembrar para executar um plano) começa a surgir

De 8 a 10: os pequenos já se esqueceram de aproximadamente dois terços de suas recordações antes dos 3 anos. Habilidades espaciais e lembranças de fatos se desenvolvem rapidamente

De 10 a 12: nos pré-adolescentes, o crescimento do hipocampo desacelera; as conexões começam a ser podadas nessa região; e as memórias de longo prazo se aperfeiçoam. A capacidade de suprimir recordações conscientemente também parece aumentar

De 13 a 21: em adultos jovens, o córtex temporal superior, que ajuda a integrar informações, e o córtex pré-frontal dorsolateral, envolvido na memória de curto prazo, continuam a amadurecer nos nossos 20 e poucos anos. Esse padrão pode explicar por que recordações se tornam mais ricas e complexas nesse período.

 QUAL A SUA PRIMEIRA MEMÓRIA?

Talvez você espere que sua lembrança mais remota seja um acontecimento emocionante. A verdade, porém, é que a maioria de nós se lembra de alguma situação bastante comum. Apenas aproximadamente 25% das pessoas relatam que a primeira memória envolve algum trauma, de acordo com estudos.

As crianças são mais propensas a se recordar de uma situação se solicitadas a falar sobre o assunto detalhadamente. Talvez isso ajude a entender por que o momento em que uma memória se fixa pela primeira vez varia de acordo com a cultura. Entre os maoris da Nova Zelândia, por exemplo, a maioria se recorda de eventos um ano mais antigos em comparação com crianças americanas. “Esse fenômeno está relacionado à cultura; é preciso considerar que o povo maori honra e discute constantemente sua história”, diz a psicóloga Carole Peterson, da Universidade Memorial de Newfoundland.

OUTROS OLHARES

O VALE DO SILÍCIO CHINÊS

A história de Shenzhen, a vila de pescadores que se transformou em uma metrópole de 12,5 milhões de habitantes, com PIB igual ao da Irlanda e que lidera a inovação no país asiático.

O vale do silício chinês

Há 20 anos, o jovem Hu Chao deixava seu vilarejo na provinda de Henan, no norte da China – como milhões ainda fazem – em busca de uma vida melhor no Sul, mais abastado. Mudou-se para Shenzhen, cidade portuária. Era a primeira Zona Econômica Especial (ZEE) do país. Hoje é um dos símbolos das reformas e da abertura econômica promovidas em 1978 pelo então presidente Deng Xiaoping. O aniversário de quatro décadas tem sido alardeado pelo governo chinês, que acaba de anunciar novas reformas rumo ao que o presidente Xi Jinping chamou de “nova era” do socialismo com características chinesas, pouco antes de inaugurar seu segundo mandato consecutivo e de receber o aval constitucional para ficar no comando da segunda maior economia do mundo pelo resto da vida. O fluxo de trabalhadores do Norte e do resto da China atrás de empregos em Shenzhen foi imenso nesses anos. A vila de pescadores, com cerca de 22 mil habitantes até 1970, viu sua população dar um salto para quase 2,5 milhões de pessoas quando Hu nela chegou. Hoje são 12,5 milhões – o equivalente à população do Grande Rio. O ritmo de crescimento da cidade, não apenas populacional, parece não ter limite. Shenzhen pisou no acelerador nos últimos anos e registrou uma das maiores taxas de crescimento da China: 8,8% no ano passado, quando seu Produto Interno Bruto (PIB) ultrapassou os US$ 338 bilhões, deixando para trás Cantão e Cingapura, vizinhos com quem compete – ao que tudo indica, será  maior do que Hong Kong até 20 25, Trata-se de mais ou menos o mesmo  tamanho da economia da Irlanda. que bateu os US$ 339 bilhões. Depois de décadas crescendo na casa dos dois dígitos, a China como um todo vem pisando no freio. A meta oficial está mantida em uma expansão de 6,5% ao ano – o novo normal, como vem insistindo o Partido Comunista, para evitar o nervosismo dos mercados. Estes, por sua vez, temem que o país já não tenha o mesmo fôlego de antes. A ideia é correr menos e garantir um crescimento mais sustentável. Um dos motivos para o ritmo mais acelerado de Shenzhen são os gastos com pesquisa e desenvolvimento, os mais elevados da China, que atingiram 4,3% de seu PIB somente no ano passado. Com o foco em inovação, a antiga vila – da qual existem poucos vestígios – se transformou em um hub tecnológico que ficou conhecido mundo afora como o Vale do Silício da China.

Hu ainda lembra quando o bairro de Huaqiangbei, onde está a famosa rua dos eletrônicos, tinha apenas uma fábrica, a Huaqian. Depois dela, vieram as outras que fizeram dali o maior fabricante de eletrônicos da Ásia. Pântanos e áreas rurais inteiras ganharam novas formas. Deram lugar a arranha-céus monumentais, muitos assinados por arquitetos de renome internacional e um punhado deles listado no ranking dos mais altos da China e do mundo. Hu, mais do que ninguém, acompanhou o fenômeno da construção d vi] nesse mercado que é hoje o que mais se valoriza no país. Foi esse o setor que abriu as portas da cidade para ele e permitiu que Hu tivesse um padrão de vida muito superior à média dos chineses. Sua história se mistura com a trajetória de Shenzhen. De família pobre, desembarcou ali para trabalhar como vendedor dos imóveis que saíam do papel rapidamente, a prova do enriquecimento da cidade que se tornou uma das joias do Vale do Rio da Pérola. Não havia corretores profissionais em Shenzhen quando chegou. Lembra que o metro quadrado no bairro de Nanshan, considerado nobre, custava 4 mil yuans (RS 2.200). Agora, sai a nada menos que 120 mil yuans (R$ 67.000), uma diferença de 2.900 %. Tanta gente fez fortuna com a especulação imobiliária que o governo local impôs barreiras para quem quiser comprar mais de um imóvel. Os preços são tão proibitivos, segundo Christopher Balding, professor da Escola de Negócios de Shenzhen da Universidade de Pequim, que quem tem dinheiro prefere comprar fora da cidade ou do pais.

Homem de visão. Hu soube ganhar dinheiro, mas não revela quanto lucrou. Apenas sorri e diz ter uma vida confortável, o que suas roupas de marca e seus músculos trabalhados em academia –    um hábito recente entre os chineses – parecem confirmar. Empresário, sócio de uma empresa de exportação, hoje entra e sai de Shenzhen quando quer. Viaja para o exterior sempre que dá vontade e quando o trabalho permite.

Como a maioria dos ”shenzhenianos”, Hu não é daqui. Essa é uma particularidade da cidade, uma das raríssimas da China que não usam as palavras ” local” ou ”forasteiro” (“bendiren” e “waidiren”, em chinês, respectivamente) “É uma cidade de migrantes, com gente de todas as partes da China. Por questões profissionais e pessoais, muitos vêm e vão. Muitos fazem fortuna aqui”, disse. Mas todos se sentem filhos de Shenzhen, sejam eles nascidos na China ou não. “Não há aquela competição que vemos pelo resto do país, em que alguém vai te dizer: ‘É muito bom, não é? Foi um local que fez’. Aqui, você se sente acolhido”, disse o empresário brasileiro Alessandro Nicolau, morador de Shenzhen há uma década. Muitas nacionalidades se misturam ao sotaque da cidade, que embora esteja na província de Guangdong, onde se fala o cantonês, usa mais o mandarim e o inglês como idioma franco. “Você vem para Shenzhen, você é de Shenzhen”, diz o cartaz logo no aeroporto.

A rua dos eletrônicos é um dos redutos dos rostos estrangeiros, uma longa avenida de pedestres cercada de prédios por onde clientes e engenheiros do mundo inteiro passam apressados, dividindo o espaço com os policiais que fazem a vigilância do local de bermudas, para enfrentar o clima quase tropical, montados em seus segways – veículo individual com uma pequena prancha para os pés e duas rodas paralelas. O entra e sai é contínuo. Centenas de pequenas lojas com tudo o que se pode imaginar, de led a pequenos aparelhos, e componentes eletrônicos, compartilham a área com estúdios e fábricas. A diversidade é tamanha que deu fama a Scotty, um americano que ficou conhecido por viajar até Shenzhen para provar que poderia montar seu próprio iPhone 6S com a ajuda dos vendedores de peças e com os engenheiros de plantão no mercado local. Ele conta a experiência em um vídeo em seu canal de Youtube. “Visitar Shenzhen, é como visitar o futuro”, disse. Sua história é vista com motivo de orgulho para os shenzhenianos. É esse espírito que faz da cidade uma Meca para aqueles que tem uma ideia na cabeça. Foi assim que se tomou também o berço chinês de um novo conceito de profissionais, originado nos Estados Unidos: os makers. Inicialmente eram apenas diletantes que faziam do ócio criativo a desculpa para criar. Mas se tornaram homens de negócios, categoria tão apreciada na China, que vê nesses inventores de engenhocas do século XXI o futuro.

“Isto aqui é o paraíso dos engenheiros. Temos capital, temos todos os equipamentos e o espaço para produzir”, afirmou Saw Yee Ping, jornalista de Hong Kong, que trabalha com a conexão entre makers, clientes e o mercado para a Hong Kong Innovation Services (HKIS), uma estação de makers que conta com o apoio integral do governo chinês. “Sou uma superconectora”, disse ela, pouco antes de exibir o imenso peixe-robô de design coreano, de utilidade duvidosa, que custa USS 80 mil a unidade.

Do outro lado da rua, os concorrentes da empresa Trouble Makers criaram outro espaço criativo para quem desembarca em Shenzhen atrás de um sonho. “Tudo é possível”, disse Henk Werner, o dono do lugar. Jovens chineses e de outros países se instalam ali pelo tempo que for necessário. Não tem dinheiro? Sem problemas, porque não é necessário pagar aluguel nem luz para montar seu estúdio. Há apenas o compromisso de que, se o protótipo for para a fábrica e encontrar o cliente, o dono da ideia paga 15% de seus ganhos para a Trouble Makers. Henk disse que precisa que 20 startups funcionem ali por três meses para que seu negócio gire. O americano David Henning saiu de Atlanta, sua cidade natal, quatro anos atrás. Trabalhava com Hot Rods, carros antigos ‘turbinados”. Foi parar na China por gostar de viajar. Ia passar três semanas. Acabou pedindo demissão do emprego e hoje é sócio do ex-chefe, que continua nos Estados Unidos. Ele não é engenheiro de formação, mas usa sua capacidade de desenvolver os motores e alterações nos automóveis para criar outras coisas na Trouble Makers. Tem 11 projetos em andamento, entre eles uma churrasqueira a carvão controlada pelo telefone celular – acessório mais útil aos americanos que preparam churrasco com cozimento de até dez horas, do que aos brasileiros. Por meio dos makers, o governo de Xi Jinping pretende dar o grande salto tecnológico da “nova era”. Seu habitat são essas estações de makers, às vezes andares inteiros de um prédio, subdividas em pequenas salas, com uma área comum descontraída e com cantinas, cafés, varandas, mesas de sinuca e pingue­ pongue, onde essas cabeças que não param de criar se encontram para trocar experiências e fazer seu “guanxi” (ou rede de contatos, uma das primeiras palavras que quem quer entrar no mundo dos negócios chinês deve aprender. Muitas delas contam com algum tipo de subsídio do Estado. E esses endereços são muito valorizados hoje”, destacou Hu.

A cidade está na rota dos farejadores de novidades de sites de compras como a americana Amazon ou a chinesa Taobao. Os olheiros dessas companhias vão atrás de gadget. ou boas ideias com potencial para incrementar suas vendas on-line. Encontram fabricantes, pedem uma “adaptação” aqui ou ali para agradar aos clientes e até se oferecem para fazer embalagens mais apropriadas ou atraentes. É exatamente isso o que querem os makers: que seus produtos sejam descobertos. Muita gente vive de fazer essa ponte entre eles e o mundo exterior.

Isso porque nem tudo o que é feito ali oferece a desejada qualidade internacional. Há muitos produtos falsificados, os chamados copycat. Empresas de dentro e fora da China recorrem à variedade dos componentes disponíveis em Shenzhen e à mão de obra especializada para montar telefones, caixas e outros produtos exatamente como os de marcas conhecidas, porém bem mais baratos. Há até eufemismos usados por quem é da área para evitar a palavra ”cópia”. São os acréscimos mínimos” ou os “produtos ligeiramente mais evoluídos.

Isso explica por que empresas grandes ou pequenas guardam a sete chaves os segredos de seus negócios. Nas graúdas, os funcionários não podem frequentar as fábricas com seus telefones ou suas câmeras. Shenzhen é o quartel-general de algumas das principais empresas de tecnologia da China, como a BYD, a maior fabricantes de baterias recarregáveis do mundo, que lançou um carro elétrico hibrido em 2011; ou a Huawei, uma das maiores fabricantes de equipamentos de comunicação; e a Tencent, a gigante da internet, que produz games, aplicativos on-line e software, além de ser dona do WeChat (um cruzamento de  WhatsApp e Facebook anabolizado), que tem nada menos que 900 milhões de usuários ativos. Também estão baseadas em Shenzhen a ZTE, a gigante das comunicações, e a DJI, maior fabricante global de drones civis.

GESTÃO E CARREIRA

AMANHÃ EU FAÇO

Pesquisadores estimam que 20% da população mundial seja formada por procrastinadores crônicos, pessoas que adiam realizações em diversas áreas da vida. O problema pode ser resolvido com autoconhecimento e vontade de mudar.

Amanhâ eu faço

Todos nós já deixamos alguma tarefa para o dia seguinte. Isso é um traço humano que pode estar relacionado a diferentes motivos, como ter mais tempo para tomar uma decisão, precisar resolver algo mais urgente primeiro ou necessitar de mais subsídios para concluir o assunto. É uma atitude totalmente natural. Mas, quando esse “deixar para depois” se torna um hábito (e é aplicado em mais de uma esfera da vida), o problema é mais grave. Segundo Joseph Ferrari, professor de psicologia na De Paul University, em Chicago, nos Estados Unidos, se a marca registrada de alguém é postergar decisões e atividades, esse Indivíduo se tornou um procrastinador crônico. “Essas pessoas com frequência demoram para iniciar e concluir tarefas, na vida pessoal e na profissional”, diz o especialista, que estuda o tema há mais de 20 anos e tem quatro livros publicados sobre o assunto.

Ao contrário da procrastinação comum, que se deve, na maioria dos casos, à má administração do tempo, a crônica acontece por causa de uma reunião de aspectos psicológicos e comportamentais, como desorganização mental, ansiedade, impulsividade e falta de energia. “Se você atrasa tarefas quase todos os dias, pelo menos durante a metade de suas atividades, há grande possibilidade de que seja um procrastinador crônico”, disse Julia Elen Haferkamp, psicóloga da Universidade Munster, na Alemanha, numa reportagem do jornal americano The New York Times sobre a Procrastination Research Conference, que chegou à sua décima edição em 2017.

Com esses traços, concluir objetivos propostos torna-se muito mais difícil – e o fracasso na realização costuma gerar muito sofrimento. “Há ansiedade, arrependimento, angústia e autoestima baixa, sem falar nos prejuízos à carreira, aos estudos e aos relacionamentos”, diz Joseph. Uma pesquisa sobre o tema, feita em 2016 em Israel, Áustria, Austrália, Canadá, Grécia, Irlanda, Itália, Japão, Coreia, Peru, Polônia, Arábia Saudita, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela, detectou que 20% da população de cada um desses países é formada por procrastinadores crônicos, o que leva a crer que essa seja a média mundial. Outro estudo concluiu que esse problema é muito mais comum entre profissionais do mundo corporativo do que entre trabalhadores fabris – maior flexibilidade e maior autonomia são algumas das explicações para esse dado.

Mesmo sem conhecera fundo uma pessoa, os recrutadores e líderes conseguem ter pistas se ela pode ou não ter propensão a atrasos e adiamentos. “Em processos de seleção que envolvem dinâmica de grupo, um candidato que tem problemas para administrar o tempo destinado às atividades, fica indeciso sobre por onde começar ou pula as tarefas mais complicadas provavelmente temesse perfil”, diz Márcia Almstron, diretora de recursos humanos, estratégia e talentos do Manpower Group, de São Paulo. Para ela, o perigo desse tipo de comportamento é a espiral de frustração que pode criar. “Quando se fala em procrastinação crônica, quanto mais o hábito se repete, mais desmotivado o profissional fica e mais tende a procrastinar”, afirma.

 MEDO DE ERRAR

A maioria dessas pessoas não tem claro por que protela tudo. Mesmo os especialistas definem o fenômeno como resultado de uma conjunção de fatores: falta de motivação e de energia, desorganização, preguiça, ausência de preparo. “O medo de entrar em contato com as próprias limitações e fraquezas também faz muita gente justificar o desempenho ruim e o insucesso com o excesso de tarefas”, diz Pamela Magalhães, psicóloga clínica, de São Paulo.

A professora universitária de ciência da computação Rosa Cândida Cavalcanti, de 61 anos, de Recife, ficava incomodada quando ouvia dos amigos que deveria trabalhar menos. “Sabia que minha agenda não estava mais cheia do que o normal, mas me sentia sempre afogada nas pendências. A época crítica foi durante o doutorado: deixei de caminhar e meditar, coisas que me dão prazer, e cheguei a ficar três noites sem dormir tentando colocar trabalho e estudos em dia”, diz. Depois de fazer um curso de produtividade e passar um pente-fino na rotina, listando tudo o que faltava concluir e destrinchando quanto tempo gastava em cada atividade, Rosa descobriu a origem do problema. “Percebi que assumia responsabilidades que não eram minhas e as passava na frente do que tinha de ser feito, talvez por medo de que as entregas dos demais não atendessem à minha expectativa de perfeição”, afirma. Não foi fácil, mas a professora garante que aprender a dizer “não” e criar processos para a realização de tarefas, em casa e no trabalho, fez a diferença para retomar as rédeas do próprio tempo. “Hoje acordo antes das 6 da manhã e produzo o dia inteiro cheia de disposição. Quando você para de empurrar para a frente e encara o que precisa resolver, começa a viver de verdade.”

FORÇA DE VONTADE

Numa pesquisa realizada via internet com 3.100 pessoas que resultou no livro Equilíbrio e Resultado (Sextante), o especialista em gestão de tempo e produtividade pessoal Christian Barbosa descobriu que 61% dos entrevistados costumam procrastinar porque se perdem na internet, navegando em sites, blogs e mídias sociais. Esse foi o caso de Luísa Nader, de 23 anos, advogada da GT Lawyers, de São Paulo. O desperdício de tempo na internet contribuiu, por exemplo, para que ela fosse reprovada na primeira tentativa de passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. “Sempre que sentava para estudar e uma página demorava para carregar ou deparava com uma tarefa difícil de realizar, eu aproveitava para checar minha timeline ou responder a uma mensagem no WhatsApp, achando que estava, na verdade, aproveitando o tempo. Só que os 2 minutos que eu deveria levar acabavam virando meia hora sem que eu percebesse. Depois, retomar a concentração era multo mais difícil”, diz. Quando notou que esse comportamento estava gerando prejuízos, tentou mudar a rotina e ajustar o foco para concluir as tarefas. “Mas ainda tenho dificuldade no durante: fico ansiosa e perco a atenção temporariamente. Só quando estou em cima do prazo consigo completar o que preciso”, afirma.

Compreender a fundo a própria atitude, como fizeram as personagens desta reportagem, é o ponto de partida para vencer a procrastinação – e isso vale também para os que têm o comportamento crônico. Mas esse desejo tem de vir de dentro. Num artigo publicado em 2017 na Enciclopédia da Personalidade e das Diferenças individuais, Joseph Ferrari e Thomas Tibetti (pesquisador do departamento de psicologia da Texas A&M University) dizem que, “já que a procrastinação é primordialmente um problema de motivação, forçar procrastinadores a administrar seu tempo não se traduzirá, para eles, em uma filosofia própria. A ruptura de um mau hábito não pode ser efetivamente mantida apenas pela motivação extrínseca.” Por isso, é tão importante olhar para dentro, identificar o que está atrapalhando e tentar romper com esses padrões negativos – seja sozinho, seja procurando ajuda especializada de um psicólogo ou de um coach. E é melhor não deixar esse exercício para amanhã.

CHEGA DE PROTELAR

Descubra algumas atitudes que ajudam a ultrapassar os obstáculos que atrapalham suas entregas.

SAIBA COMO VOCÊ FUNCIONA

Investir em autoconhecimento é a chave para entender o que leva a procrastinar e para evitar permanecer numa rotina improdutiva. Por exemplo, se você chega com sono ao escritório e só começa a raciocinar depois do almoço, desista de agendar reuniões ou tarefas mentais de manhã. Deixe esse momento para responder a e-mails e para finalizar pendências da véspera, por exemplo, reservando energia para o resto do dia.

 VÁ POR PARTES

Só de pensar no projeto complexo que precisa ser entregue até o fim da semana bate aquela preguiça? É humano, mas não se deixe paralisar por isso. Em vez de focar a entrega numa tacada só, desmembre a tarefa em partes menores e complete uma por vez. “Você minimiza o risco de desistir no meio do caminho e fica fortalecido pela sensação boa de cada meta alcançada, afirma Pamela Magalhães, psicóloga de São Paulo.

 ELIMINE DISTRAÇÕES

O sinalizador de chegada de e-mail ou o alerta de mensagem do celular tiram o foco quando você está mergulhado numa tarefa. A simples presença do aparelho por perto, mesmo desligado, desconcentra e atrapalha o raciocínio, como concluiu a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, numa pesquisa com mais de 800 pessoas. Deixe a caixa de e-mails fechada e, sempre que possível, mantenha o celular longe de seu campo de visão.

CRIE UMA ROTINA

Determinar horários fixos para as atividades diárias é libertador, e não uma prisão, como muita gente imagina. “É uma maneira de automatizar a mente e não precisar depender da força de vontade para agir”, afirma André Franco, coach, de São Paulo. “Afinal, uma das principais razões pelas quais as pessoas adiam tarefas é o trabalho que dá pensar no que precisa ser feito”, diz ele.

 ESCOLHA UMA FERRAMENTA DE PRODUTIVIDADE

Pode ser um aplicativo para smartphone (como Trello ou Evernote), uma agenda de papel ou um bullet journal (diário em que você anota o andamento das tarefas assumidas). A ideia é liberar o espaço mental que seria usado para lembrar o que precisa ser feito – causa comum de ansiedade e fadiga -, organizar o tempo e reforçar o compromisso coma realização.

 COMPARTILHE SEUS PLANOS

“Contar aos outros o que precisa fazer cria um compromisso que o procrastinador não vai querer frustrar”, diz Emerson Weslei Dias, diretor de liderança e gestão de pessoas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, de São Paulo. Vale comemorar cada etapa completada – isso ativa o centro de recompensa do cérebro e faz desejar repetir a sensação.

Amanha eu faço

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 23-33

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A Questão a respeito do Casamento

Encontramos aqui a discussão de Cristo com os saduceus a respeito da ressurreição; isso aconteceu no mesmo dia em que Ele foi atacado pelos fariseus sobre o pagamento do tributo. Satanás estava então mais ocupado do que nunca, para irritá-lo e perturbá-lo; esta foi uma hora de tentação (Apocalipse 3.10). A verdade, assim como ela é em Jesus, ainda encontra contradições, em um lugar ou outro. Considere aqui:

 

I – A oposição que os saduceus faziam a uma grande verdade da religião. Eles diziam: Não existe ressurreição, da mesma maneira como há alguns tolos que dizem: Não existe Deus. Esses hereges eram chamados saduceus, por causa de um homem chamado Sadoque, um discípulo de Antígono Sochaeus, que viveu cerca de duzentos e oitenta e quatro anos antes do nascimento do nosso Salvador. Eles eram fortemente censurados, por autores da sua própria nação, como homens de palavras vis e corrompidas, às quais os seus princípios os conduziram. Eles eram, em número, a menor entre todas as seitas dos judeus, mas geralmente eram pessoas de posição. Assim como os fariseus e os essênios pareciam seguir Platão e Pitágoras, também os saduceus tinham muito do gênio de Epicuro. Eles negavam a ressurreição; diziam que não existe um estado futuro, que não existe uma vida após esta. Diziam que, quando o corpo morre, a alma é aniquilada, e morre com ele; diziam que não existe condição de recompensas nem de punição no outro mundo; nenhum julgamento vem do céu ou do inferno. Sustentavam que não existe espírito (exceto Deus, Atos 23.8), nada além de matéria e movimento. Eles não podiam admitir a inspiração divina dos profetas, como também nenhuma revelação do céu, exceto aquilo que o próprio Deus falou, no Monte Sinai. Então, a doutrina de Cristo trazia aquela grande verdade da ressurreição e de uma condição futura, muito além do que já tinha sido revelado, e por isso os saduceus, de uma maneira particular, se colocavam contra ela. Os fariseus e os saduceus eram antagônicos, porém, juntos, se aliavam contra Cristo. O Evangelho de Cristo sempre sofreu com os hipócritas e invejosos cerimoniais e supersticiosos, de um lado, e os deístas e descrentes profanos, do outro. Os primeiros maltratavam, e os últimos desprezavam a divindade, mas ambos negavam o seu poder.

 

II – A objeção que fizeram contra a verdade, que foi tomada de um suposto caso de uma mulher que teve sete maridos sucessivamente. Então, eles assumem que, se houver uma ressurreição, deve haver um retorno ao estado em que estamos agora, e às mesmas circunstâncias, como o ano platônico imaginário. Se isto for verdade, será um absurdo intransponível para essa mulher, numa condição futura, ter sete maridos; ou ainda um problema insuperável, pois de qual deles ela seria esposa? Daquele que foi o seu primeiro marido, ou daquele que foi o último? Daquele a quem ela mais amou, ou daquele com quem viveu mais tempo?

1. Eles sugerem a lei de Moisés nessa questão (v. 24). “Se morrer alguém, não tendo filhos, o seu irmão se casará com a viúva” (Deuteronômio25.5); isto era praticado (Rute 4.5). Era uma lei política, baseada na constituição particular da nação judaica, para preservar a distinção de famílias e heranças, pois as duas coisas eram de especial preocupação para aquele governo.

2. Eles propuseram um caso sobre esse estatuto. Não é relevante se era um caso verídico, ou se era somente uma pergunta hipotética. E se não tinha realmente ocorrido, era possível que ocorresse. Era o caso de sete irmãos que se casaram com a mesma mulher (vv. 25-27). Esse caso supõe:

(1). A desolação que algumas vezes a morte provoca em famílias quando o assunto é comissão. Com que frequência uma fraternidade inteira é destruída em pouco tempo; raramente (como acontece nesse caso) de acordo com a idade (a terra das trevas não respeita nenhuma ordem), mas montões sobre montões; ela reduz famílias que tinham se multiplicado muito (Salmos 107.38,39). Onde havia sete irmãos crescidos e adultos, na condição de homens, havia uma família com grandes possibilidades de ser edificada; e, ainda assim, esta numerosa família não deixa filhos nem sobrinhos, nem algum remanescente nas suas moradas (Jó 18.19). Podemos então dizer: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam”. Que ninguém tenha de antemão a certeza do progresso e da perpetuidade de seus nomes e de suas famílias, a menos que possam fazer um concerto de paz com a morte, ou ter um acordo com a sepultura.

(2). A obediência à lei daqueles sete irmãos, embora tivessem o poder de recusa, sob pena de uma censura (Deuteronômio 25.7). Observe que as providências desanimadoras não devem nos impedir de cumprir o nosso dever, porque nós devemos ser regidos pelas leis, não pelos acontecimentos. Muitos diriam que o sétimo, que se arriscou a casar-se por último com a viúva, era um homem valente. Eu diria que, se ele fez isso puramente por obediência a Deus, era um homem bom, e alguém que tinha consciência do seu dever.

Mas, no final, a mulher também morreu. A sobrevivência é apenas um adiamento; aqueles que vivem mais tempo, e enterram os seus amigos e vizinhos, um após o outro, não adquirem a imortalidade. Não, o seu dia chegará. O cálice amargo da morte prossegue, e, mais cedo ou mais tarde, todos nós deveremos beber dele (Jeremias 25.26).

3. Eles propõem uma dúvida nesse caso (v. 28): “Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher?”. Como se dissessem: “Você não pode dizer de qual deles ela será, e por isso devemos concluir que não existe ressurreição”. Os fariseus, que professavam crer na ressurreição, tinham noções muito grosseiras e carnais a respeito dela, e a respeito da condição futura. Eles esperavam encontrar ali, como os islâmicos, no seu paraíso, as delícias e os prazeres da vida animal, o que talvez levasse os saduceus a negar a sua existência; pois nada dá maior vantagem ao ateísmo e à infidelidade do que a natureza carnal daqueles que fazem da religião, seja nas suas profissões ou nas suas expectativas, um servo dos seus apetites sensuais e dos seus interesses seculares. Enquanto aqueles que estão errados negam a verdade, aqueles que são supersticiosos a traem. Então, fazendo essa objeção, eles passam à hipótese dos fariseus. Não é estranho que as mentes carnais tenham noções muito falsas a respeito de coisas espirituais e eternas. O homem natural não compreende essas coisas, porque lhe parecem loucura (1 Coríntios 2.14). Que a verdade esteja sob uma forte luz, e apareça em sua força plena.

 

III – A resposta de Cristo a essa objeção. Reprovando a ignorância, e corrigindo o engano daqueles homens, Ele mostra que a objeção é fraudulenta e pouco convincente, além de não ser conclusiva.

1. Ele reprova a ignorância deles (v. 29): “Errais”. Erram profundamente, no julgamento de Cristo, aqueles que negam a ressurreição e uma condição futura. Cristo reprova aqui com a mansidão da sabedoria, e não é rígido com eles (qualquer que seja o seu motivo), como algumas vezes foi com os principais dos sacerdotes e os anciãos: “Errais, não conhecendo as Escrituras”. A ignorância é a causa do erro. Aqueles que estão nas trevas, perdem o caminho. Os padrões de erro, portanto, resistem à luz, e fazem o que podem para afastar a chave do conhecimento. “Errais, não conhecendo as Escrituras”. A ignorância é a causa do erro sobre a ressurreição e a condição futura. O que há nesses exemplos particulares, os mais sábios e os melhores não conhecem; não aparece o que nós seremos, é uma glória que ainda será revelada; quando nós falamos da condição de almas separadas, da ressurreição do corpo, e da felicidade e infelicidade eternas, estamos logo perdidos. Não conseguimos ordenar as nossas palavras, por causa das trevas, mas isto é algo em que nós não somos deixados nas trevas. Bendito seja Deus, nós não somos; e aqueles que negam isso são culpados de uma ignorância grosseira e voluntária. Parece que havia alguns saduceus, alguns tolos como esses, entre os cristãos que professavam a fé: “Como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (1 Coríntios 15.12), e alguns que realmente negaram que ela existe, transformando-a em uma alegoria, dizendo que a ressurreição já havia ocorrido. Considere:

(1). Eles não conhecem o poder de Deus. Isso levaria os homens a concluírem que poderia haver uma ressurreição e uma condição futura. Observe que a ignorância, a descrença ou a crença fraca no poder de Deus está no fundo de muitos erros, particularmente no caso daqueles que negam a ressurreição. Quando aprendemos sobre a existência da alma, e a sua condição durante a separação do corpo, e especialmente de um corpo morto, que está há muito tempo no túmulo, e se transforma em uma poeira comum e indistinta, que ressuscitará transformado em um corpo glorioso (1 Coríntios 15.35-38), e viverá, e se moverá, e agirá outra vez, estamos prontos para dizer: Como isso pode acontecer? A natureza expressa tudo isso numa máxima: Os hábitos ligados a uma condição de existência se extinguem, irremediavelmente, com a própria condição. Se um homem morre, ele viverá outra vez? Ho­ mens vãos, por não compreenderem como isso pode acontecer, questionam a verdade; ao passo que, se nós crermos firmemente em Deus Pai todo-poderoso, se crermos que nada é impossível para Deus, todas essas dificuldades desaparecerão. Devemos nos apegar, portanto, em primeiro lugar, ao fato de que Deus é onipotente, e pode fazer aquilo que Ele desejar; e não haverá, então, lugar para dúvidas, pois Ele fará aquilo que prometeu. E, sendo assim, por que deveria ser algo incrível o fato de Deus ressuscitar os mortos? (Atos 26.8). O poder dele excede, em muito, o poder da natureza que Ele mesmo criou.

(2). Eles não conhecem as Escrituras, que decididamente afirmam que haverá uma ressurreição e uma condição futura. O poder de Deus, determinado e empenhado na sua promessa, é a base sobre a qual se edifica a fé. As Escrituras falam, claramente, que a alma é imortal, e que existe outra vida depois desta; este é o escopo tanto da lei quanto dos profetas, “que há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24.14,15). Jó sabia disso (Jó 19.26), Ezequiel previu isso (Ezequiel 37.12), e Daniel predisse isso claramente (Daniel 12.2). Cristo ressuscitou, de acordo com as Escrituras (1 Coríntios 15.4), e nós também ressuscitaremos. Aqueles, portanto, que negam isso, não analisaram as Escrituras, ou não creem nelas, ou não aceitaram o seu verdadeiro sentido e significado. A ignorância em relação às Escrituras traz o crescimento dos enganos, que se tornam abundantes.

2. O Senhor Jesus corrige o engano (v. 30) e essas ideias grosseiras que eles tinham sobre a ressurreição e a condição futura, e fixa essas doutrinas sobre uma base verdadeira e duradoura. A respeito da condição, observe:

(1). Não é como a condição em que nós estamos agora, sobre a terra: “nem casam, nem são dados em casamento”. Na nossa situação atual, o casamento é necessário; ele foi instituído em inocência; a despeito de qualquer intromissão ou negligência que tenha havido por parte de outras instituições, ele nunca foi deixado de lado, nem o será, até o fim dos tempos. No mundo antigo, eles se casavam e eram dados em casamento; os judeus, na Babilônia, mesmo quando eram proibidos de ter outros rituais, ainda tinham que tomar suas esposas (Jeremias 29.6). Todas as nações civilizadas tiveram um senso da obrigação do concerto de casamento, que é o requisito para a satisfação dos desejos, e para a correção das limitações da natureza humana. Mas na ressurreição, não há oportunidade para o casamento, pois nos corpos glorificados não haverá nenhuma distinção de sexos, que alguns curiosamente defendem (os antigos estão divididos em suas opiniões a esse respeito). Porém, se houver ou não uma distinção, certamente não haverá conjunção. Onde Deus será tudo, não é necessário haver nenhuma outra ajuda; o corpo será espiritual, e não terá desejos carnais que precisem de satisfação. Quando o corpo místico estiver completo, não haverá mais oportunidades para se procurar uma semente de piedosos, que foi uma das finalidades da instituição do casamento (Malaquias 2.15). No céu, não haverá decadência de indivíduos, e, portanto, não haverá comida nem bebida, não haverá decadência das espécies, e, portanto, não haverá casamento; onde não haverá mais morte (Apocalipse 21.4), não haverá a necessidade de mais nascimentos. O estado conjugal é uma composição de alegrias e preocupações. Aqueles que nele entram são ensinados a considerá-lo como sujeito a mudanças, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença; e por isso ele é adequado a este mundo misto e mutante. Mas no inferno, onde não há alegria, a voz do esposo e a voz da esposa não serão mais ouvidas. E também no céu, onde tudo é alegria, e não há preocupação, nem dor, nem problemas, não haverá casamento. No céu, as alegrias dessa condição são puras e espirituais, e surgem do casamento de todos eles com o Cordeiro; mas não haverá casamentos entre os salvos.

(2). É como a condição dos anjos que estão agora no céu; os salvos “serão como os anjos no céu”. Serão, isto é, sem dúvida serão assim. Eles já são assim em Cristo, sua Cabeça, que os levou assentados consigo nos lugares celestiais (Efésios 2.6). Os espíritos dos homens justos já aperfeiçoados pertencem à mesma corporação dos muitos milhares de anjos (Hebreus 12.22,23). O homem, na sua criação, foi feito menor que os anjos (Salmos 8.5), mas na sua completa redenção e renovação, será como os anjos; puro e espiritual, como os anjos, conhecedor e amoroso, como esses abençoados serafins, sempre louvando a Deus como eles, e com eles. Os corpos dos santos ressuscitarão incorruptíveis e gloriosos, como os veículos, não compostos, daqueles espíritos puros e santos (1 Coríntios 15.42 etc.), rápidos e fortes como eles. Por isso, devemos desejar e nos esforçar para fazer a vontade de Deus, como os anjos fazem no céu, porque esperamos, em pouco tempo, ser como os anjos, que estão sempre contemplando o rosto do nosso Pai. Ele não diz nada sobre o estado dos maus na ressurreição, mas, como consequência, estes deverão ser como os demônios, cuja vontade realizaram.

 

IV – O argumento de Cristo que confirma essa grande verdade da ressurreição e de um estado futuro. Como a questão é de grande importância, Ele não julga suficiente (como em outras discussões) descobrir a falácia e a astúcia da objeção, muito menos a sua sofisticação. Antes, o Senhor respalda a verdade com um sólido argumento. Pois Cristo traz o julgamento à verdade, assim como à vitória, e capacita os seus seguidores a darem uma razão para a esperança que está neles. Considere:

1. De onde Ele tomou o seu argumento? Das Escrituras; elas são o grande armazém, ou arsenal, de onde podemos nos equipar com armas espirituais, ofensivas e defensivas. Nela está escrito sobre a espada de Golias. Não tendes lido o que Deus vos declarou? Observe:

(1). Aquilo que as Escrituras dizem é o que Deus diz.

(2). O que foi dito a Moisés, foi dito a nós; foi dito e escrito para o nosso aprendizado.

(3). É nosso interesse ler e ouvir o que Deus disse, porque Ele está falando conosco. Foi dito a vocês, judeus, em primeiro lugar, pois a vocês foram confiados os oráculos de Deus. O argumento é retirado dos livros de Moisés, pois eram os únicos que os saduceus aceitavam, como alguns pensam, ou, pelo menos, aceitavam principalmente esses livros como escrituras canônicas. Cristo, portanto, tomou a sua prova dessa fonte indiscutível. Os últimos profetas têm provas mais expressas de uma condição futura do que a lei de Moisés; pois embora a lei de Moisés suponha a imortalidade da alma e uma condição futura como princípios daquilo que é chamado religião natural, nenhuma revelação expressa é feita pela lei de Moisés, porque grande parte daquela lei era peculiar a este povo, e, portanto, era guardada como leis municipais, com promessas e ameaças temporais, e a revelação mais expressa de um estado futuro estava reservada para os últimos dias. Mas o nosso Salvador encontra um argumento muito sólido a favor da ressurreição, até mesmo nos textos de Moisés. Há muitas Escrituras “sob o solo” que devem ser “escavadas”.

2. Qual foi o seu argumento (v. 32): “Eu sou o Deus de Abraão”. Esta não era uma prova expressa em tantas palavras, e ainda assim era um argumento conclusivo. As consequências das Escrituras, se corretamente deduzidas, devem ser compreendidas como Escrituras, pois foram escritas para aqueles que têm o uso da razão.

O argumento tem a finalidade de provar:

(1). Que existe uma condição futura, outra vida depois desta, na qual o justo será verdadeira e constantemente feliz. Isto é provado através daquilo que Deus disse: “Eu sou o Deus de Abraão”.

[1]. Deus, para ser o Deus de alguém, pressupõe alguns privilégios e felicidade muito extraordinários; a menos que nós conheçamos plenamente o que Deus é, não poderemos compreender as riquezas destas palavras: “Eu vos serei por Deus”, isto é, um Benfeitor, com todo o meu poder. O Deus de Israel é Deus para Israel (1 Crônicas 17.24), um Benfeitor espiritual, pois Ele é o Pai dos espíritos, e abençoa com bênçãos espirituais. Ele é o Benfeitor suficiente, o Deus que é suficiente, o Deus completo, e o Benfeitor eterno, pois Ele é o Deus eterno, e será, para aqueles que estão em concerto com Ele, o Deus eterno. Estas palavras, Deus dizia frequentemente a Abraão, Isaque e Jacó; e elas tinham a função de ser uma recompensa pela sua fé e obediência singular, ao deixarem a nação, atendendo ao chamado de Deus. Os judeus tinham um profundo respeito por esses três patriarcas, e estenderiam ao máximo a promessa que Deus lhes tinha feito.

[2]. É evidente que esses bons homens não tiveram uma felicidade extraordinária, nesta vida, como poderia ser o cumprimento de palavras tão grandes quanto essas. Eles foram estrangeiros na terra das promessas, vagando, atormentados com a fome; eles não tiveram um pedaço de chão que fosse seu, exceto um sepulcro, o que os levou a procurar alguma coisa além desta vida. Nas alegrias presentes, eles ficaram muito aquém dos seus vizinhos, que eram estranhos ao concerto. O que havia neste mundo que os distinguia, tanto a eles como aos herdeiros da sua fé, de outras pessoas, algo mínimo, proporcional à dignidade e à distinção desse concerto? Se nenhuma felicidade estivesse reservada a esses grandes e bons homens, no outro lado da morte, aquelas palavras melancólicas do pobre Jacó, quando já velho (Genesis 47.9) “poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida” teriam sido uma reprovação eterna à sabedoria, à bondade e à fidelidade daquele Deus que tinha, tão frequentemente, chamado a si mesmo de Deus de Jacó.

[3]. Por isso, certamente deve existir um estado futuro, no qual, assim como Deus irá viver para sempre, para ser eternamente recompensado, também Abraão, Isaque e Jacó viverão para serem recompensados eternamente. O que o escritor aos Hebreus disse (Hebreus 11.16) é uma chave para esse argumento. Ele estava falando da fé e da obediência dos patriarcas na terra da sua peregrinação. Ele acrescenta, portanto, que Deus não se envergonha de ser chamado de seu Deus, porque Ele lhes deu uma cidade, uma cidade celestial, dando a entender que se Ele não tivesse lhes provido tão bem no outro mundo, considerando como eles viveram neste, Ele se envergonharia de se chamar de seu Deus. Mas o Senhor não está envergonhado, pois fez muito por eles; e isso mostra a verdadeira intenção do Senhor, e a completa extensão de suas bênçãos.

(2). Que a alma é imortal, e o corpo ressuscitará novamente, para se unir a ela. Se a questão anterior foi esclarecida, esta vem em seguida; mas, da mesma maneira, isto pode ser provado, considerando a época em que Deus o disse. Foi para Moisés na sarça, muito tempo depois que Abraão, Isaque e Jacó estavam mortos e enterrados, e Deus não disse: “Eu fui”, nem: “Eu era”, mas: “Eu sou” o Deus de Abraão. “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos”. Ele é um Deus vivo, e transmite influências vitais àqueles para quem Ele é Deus. Se, quando Abraão morreu, o seu ser tivesse sido aniquilado, da mesma maneira teria havido um fim na relação de Deus com ele, como seu Deus. Mas naquela época, quando Deus falou com Moisés, Ele era o Deus de Abraão, e, portanto, Abraão devia estar vivo, o que prova a imortalidade da alma em um estado de bênção. E isto, por consequência, sugere a ressurreição do corpo, pois existe uma inclinação da alma humana para o seu corpo, como para tornar uma separação final e eterna inconsistente com a bênção daqueles que têm a Deus como o seu Deus. O conceito dos saduceus era de que a união entre o corpo e a alma é tão íntima que, quando o corpo morre, a alma morre com ele. Sob a mesma hipótese, se a alma vive, como certamente ela vive, o corpo deve, em alguma época, viver com ela. Além disso, o Senhor é para o corpo, que é uma parte essencial do homem; existe um concerto com o pó, que deve ser recordado, caso contrário o homem não será feliz. A preocupação que os patriarcas mortos tinham com os seus ossos, na fé, é uma evidência de que tinham alguma expectativa da ressurreição dos seus corpos. Mas essa doutrina estava reservada para uma revelação mais ampla, depois da ressurreição de Cristo, que foi feito as primícias dos que dormem.

Por fim, temos o resultado dessa discussão. Os saduceus emudeceram (v. 34), e se envergonharam. Eles pensaram que, com a sua sutileza, poderiam envergonhar a Cristo, quando estavam, na realidade, preparando a vergonha para si mesmos. Mas a multidão ficou maravilhada “da sua doutrina” (v. 33).

3. Porque era novidade para eles. Observe como foi a exposição das Escrituras para eles, quando ficaram maravilhados com ela, como se fosse um milagre ouvir a promessa fundamental aplicada a essa grande verdade; eles tinham escribas lamentáveis, pois se não o fossem, isso não teria sido novidade para eles.

4. Porque havia algo de muito bom e grandioso nessas palavras. A verdade frequentemente se mostra mais brilhante, e é mais admirada, quando sofre oposição. Observe que muitos opositores se silenciam, e muitos ou­ vintes se maravilham, sem serem convertidos pelos opositores; mas até mesmo no silêncio e na maravilha das almas não-santificadas Deus engrandece a sua lei, engrandece o seu Evangelho e torna ambos honoráveis.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O NOVO E O SUJEITO

Com tantas transformações ocorrendo de forma rápida e múltipla no mundo contemporâneo, são inevitáveis as indagações e os questionamentos a respeito do que se transforma e do que permanece em relação ao que acreditamos saber sobre o funcionamento psíquico.

O novo e o sujeito

A pergunta incomoda a cena psicanalítica: o mundo psíquico, ou, exatamente, o sujeito da psicanálise, muda com o tempo ou ainda é o mesmo da época de Freud? Parece óbvio que, se o sujeito, no sentido lacaniano, é constituído na sua relação com o Outro (a linguagem, a “sociedade”) e este Outro muda com o tempo, o sujeito também mudará, tal como mudam os conceitos de família, de masculino e feminino etc. Mas, se assim for, os fundamentos teóricos lançados por Freud quase 120 anos atrás, ou por Lacan, há quase sete décadas, e que são base para as escolas de psicanálise poderiam ser questionados a cada modismo.

O assunto ocupa espaço generoso nas grades curriculares de instituições sintonizadas com as discussões de ponta. O Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo, por exemplo, mantém o grupo de pesquisas (ao qual pertenço) chamado Sujeito Punção Contemporâneo. A Sociedade Brasileira de Psicanálise preparou para agosto deste ano seu primeiro Simpósio Bienal com o tema “O mesmo, o Outro, psicanálise em movimento”, e o 32º Congresso Latino-Americano de Psicanálise, que ocorrerá no Peru em setembro, foca desconstruções e transformações, com o objetivo de discutir, segundo seu presidente, Roberto Scerpella, as “complexidades da psicanálise contemporânea”. O Instituto Sedes Sapientiae, tradicional escola psicanalítica de São Paulo, tem pelo menos dois cursos sobre clínica contemporânea, cuja proposta é investigar em que medida as novas demandas podem ser lidas “como variantes das formas clássicas da psicopatologia psicanalítica”.

As dúvidas são tantas que, quando o lacaniano francês David Bernard, focado na interface entre psicanálise e contemporaneidade, esteve no Brasil em março, alertou em artigo que os psicanalistas “não deveriam versar sobre um medo e um catastrofismo generalizados” sobre a modernidade e o receio de que tudo mude. Os herdeiros de Freud e Lacan acreditam em um diferencial contemporâneo, ou pelo menos se interrogam a esse respeito na maior parte do tempo. Freud já estava atento ao contexto cultural de cada momento, como se vê em textos como A moral sexual civilizada e a doença nervosa moderna (1908), em que atribui algumas patologias ao contexto comportamental repressivo da virada do século. Ou quando atribui à tecnologia de transporte (proliferação de ferrovias e transatlânticos) a causa de certo mal-estar psíquico pelo distanciamento de pessoas queridas (em O mal-estar na civilização, de 1930). Mas mesmo aí a estrutura psíquica se mantinha a mesma. Freud considerava tão imutáveis os parâmetros do funcionamento psíquico que avaliou com critérios psicanalíticos Leonardo da Vinci e Moisés.

Lacan foi mais complexo quanto a esse tema. Era de certa forma conservador, como quando defendeu que a “estrutura” da homossexualidade em 1960, data de seu seminário sobre a “transferência”, era a mesma que a da Roma antiga, mudando apenas “a qualidade dos objetos” (os adolescentes seriam melhores no passado, mais dignos, porque não precisavam ser buscados “na sarjeta” ou em “esquinas recônditas”). Acreditava mesmo que a questão sexual estruturalmente se mantinha porque a interdição ao sexo reformula-se para se manter intacta mesmo quando se estabelecem os novos paradigmas sexuais. Apesar disso, Lacan não só inovou como questionou os paradigmas. Isso ocorreu, por exemplo, na criação de conceitos como o do “objeto a”, que relativizou a importância do falo e ou quando teorizou sobre questões como o gozo, o cinismo e o capitalismo, que seria responsável, entre outras coisas, pela ampliação do racismo e da segregação. Essa relação com o contemporâneo – e os ajustes que requer ou não – é o que se pode chamar de um mal-estar. Requer trânsito interminável no litoral entre o que é psicanálise e o que não é. Exige pensar possíveis paradoxos como, por exemplo, uma parceria do superego (a instância psíquica repressora por excelência) com o gozo (caso este seja obrigatório, como no capitalismo descrito por Lacan e Slavoj Žižek). Exige, por exemplo, contemplar um aparato como o da tela que carregamos diuturnamente junto à mão (o telefone celular), como um ambiente ao mesmo tempo público e privado, um nó conceitual que já exige novas investigações teóricas.

É evidente que, para domar idiossincrasias, já foram providenciadas soluções retóricas, que acomodam, lado a lado, o processo histórico e a epistemologia da psicanálise. Há os que falam, por exemplo, não em sujeito contemporâneo, mas em “subjetividades” contemporâneas. Intérpretes de Lacan como Jacques-Alain Miller citam uma “nova estrutura do discurso hipermoderno da civilização”, mas ainda dentro dos paradigmas lacanianos.

A corajosa inquietude da psicanálise com relação a isso encontra caminhos e consensos interessantes quando lança mão de pelo menos duas aberturas para se pensar a contemporaneidade, porque são submissas ao tempo e decididamente interferem no humano. Elas são a tecnologia, na medida em que propicie uma subjetividade e um comportamento novos; e o processo histórico, com seus determinantes (sociais, econômicos, morais, sexuais etc.).

A alteração da sociedade de produção, vivida na época de Freud, para a sociedade de consumo, que vivemos hoje, é citada desde o próprio Lacan até diversos pensadores atuais, não necessariamente psicanalistas (Žižek, Zygmunt Bauman, Umberto Eco, Giorgio Agamben, entre outros). Joel Birman já investigou esse cenário em pelo menos dois livros, Mal-estar na atualidade, de 2005, e O sujeito na contemporaneidade, em 2012, e fala em “novas condições” no mal-estar da civilização.

Lacan, com seu arsenal de referências externas à psicanálise (a matemática, o idioma chinês, a linguística, a filosofia etc.), saiu pavimentando pontes com o contemporâneo. Apontou claramente, em seu Seminário 18 (de 1971), em Televisão (1973) e outros textos, o capitalismo interferindo no sujeito, em seu gozo (como na “necessidade” de gozar que o capitalismo de consumo exige, inventando o termo “mais-de-gozar”, análogo à mais-valia de Marx).

Entre os efeitos da assunção dos fenômenos capitalistas, há a “individualização” detectada, por exemplo, por Alain Ehrenberg, quando este fala do “culto à performance”. Nesse contexto, há teóricos como Fernanda Bruno, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que veem o ideal de eu (a identificação narcísica do sujeito com uma imagem projetada sobre um pano de fundo composto pelos pais e heróis da infância) já se sobrepondo ao superego. Os indicadores de uma sociedade repressora estariam cedendo espaço à valorização de heróis; o padrão normativo das identidades contemporâneas parece abandonar os modelos institucionais que se apegam às regras (o bom aluno, o bom trabalhador etc.) em favor dos sujeitos inovadores, intrépidos, desafiadores, com muitos amigos nas redes sociais, portadores de telas.

O outro consenso-chave para a contemporaneidade é com relação à ciência e à técnica. Nesse contexto, o cotejamento com os dias correntes está cheio de esparrelas. O narcisismo desbragado das redes sociais, por exemplo, não é necessariamente berço de algumas características do sujeito contemporâneo. Gustave Flaubert, em seu irônico Dicionário das ideias feitas (escrito ainda no século 19), já descrevia como utilizar a mídia para “brilhar” em sociedade (leia-se, por exemplo, o divertido verbete “Jornais”).

OUTROS OLHARES

MITOS DA COMIDA CONGELADA

Só porque está congelado não quer dizer que não seja saudável – ou gostoso. Siga estas dicas e bom apetite!

Mitos da comida congelada

MITO Nº 1 – Frutas e legumes congelados não são tão saudáveis quanto os frescos.

Essas frutas e legumes costumam ser colhidos bem maduros e depois, em seis a dez horas, rapidamente congelados, diz a nutricionista Jenna Braddock, especializada em esportes. “O congelamento conserva o valor nutritivo”, diz ela.

MITO Nº 2 –  É seguro degelar na bancada da pia.

Esse provavelmente é o maior responsável pelo degelo inseguro, diz a nutricionista Caroline Passerrello, porta-voz da Academia de Nutrição e Dietética dos EUA. Degele os alimentos dentro da geladeira, onde estará a salvo da “zona perigosa” – entre 5º C e 60 º C – da temperatura em que as bactérias prosperam. É claro que degelar dentro da geladeira leva mais tempo; portanto, planeje-se.

MITO Nº 3 –  Comida congelada é rica em sódio.

Muitos fabricantes estão atentos à preocupação dos consumidores com a saúde e vêm reduzindo o teor de sal. Examine o rótulo; talvez você se surpreenda ao ver como a quantidade é pequena.

 MITO Nº 4 – Jogar água quente sobre a comida é seguro para degelar.

Não; isso pode fazer mal à saúde. “Partes de seu item podem ficar congeladas enquanto outras estão quentes e até começaram a cozinhar”, diz Jenna. Além de ficar malcozido, parte do alimento pode entrar na zona de temperatura perigosa. Se não puder esperar o degelo na geladeira, o Ministério da Agricultura recomenda pôr o alimento congelado numa vasilha com água fria e trocar a água de meia em meia hora.

MITO Nº 5 – Recongelar não é seguro.

Se descongelou dentro da geladeira, você pode pôr o alimento de volta no congelador, diz Caroline. Mas atenção: a qualidade pode se degradar depois do segundo congelamento.

MITO Nº 6 – Depois da data de vencimento do alimento, você não deve congelá-lo.

Os supermercados usam as datas de validade para manter o giro do estoque; elas também indicam a duração da melhor qualidade do produto, mas não são um guia de segurança, de acordo com o Ministério da Agricultura. Pôr a comida no congelador nessa data não deve ter nenhuma consequência ruim para a saúde, diz Jenna.

 MITO Nº 7 –  A comida deve ir na mesma hora para o congelador.

Só porque aqueles peitos de frango foram embalados no supermercado não quer dizer que estejam prontos para o congelador. As embalagens comuns de carne permitem a entrada de ar e, com ele, de bactérias que baixam a qualidade da carne, diz Caroline. Reembale o alimento em papel próprio para o congelador e tire o máximo possível de ar antes de congelar. Quanto aos legumes frescos, escalde-os antes de congelar.

A água fervente impede a ação enzimática que tiraria o sabor e a textura de seus legumes, segundo Caroline.

MITO Nº 8 – Comida congelada expira.

O site foodsafety.gov publica diretrizes sobre o tempo em que um item pode ficar no congelador – por exemplo, 2 a 6 meses para sobras de carne cozida -, mas essa é uma questão de qualidade, não de segurança. “A comida congelada permanece segura algum tempo depois do prazo de validade”, diz Caroline.

MITO Nº 9 – Não se pode congelar tudo.

Em termos de segurança, não há nada que não se possa congelar; a questão é apenas a qualidade. A textura de alguns alimentos, como leite e queijo, pode mudar depois do congelamento, mas seu consumo ainda será perfeitamente seguro.

GESTÃO E CARREIRA

MEU QUERIDO PLANEJADOR

 Assessoria financeira vira moda no Brasil. Por 50 reais ao mês, já é possível contratar um consultor particular para organizar as contas e orientar investimentos.

Meu querido planejador

Aos poucos, o serviço de planejamento financeiro deixa de ser um privilégio dos ricos para se tornar algo acessível a qualquer um que deseje colocaras contas em ordem e criar estratégias para multiplicar seu dinheiro. Um sinal disso é que o Brasil já tem cerca de 3.400 planejadores financeiros certificados, de acordo com a Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). Para ter uma ideia, há dez anos o país contava com apenas 185 desses profissionais. “Embora incipiente, há uma tendência de democratização do planejamento financeiro por aqui”, afirma Jan Karsten, presidente da Planejar, de São Paulo.

Muitos fatores impulsionam a área. Para começar, a proliferação de plataformas de investimentos representou uma mudança de paradigma. Diante da maior variedade de aplicações que foram apresentadas, as pessoas passaram a buscar planejadores par dar suporte às escolhas. “Os brasileiros começaram a despertar para o fato deque eles não precisam mais ficar nas mãos dos bancos onde têm conta- corrente”, diz Janser Rojo, sócio da GFAI, consultoria especializada em finanças pessoais, de São Paulo.

Além disso, a concorrência entre as corretoras intensificou propagandas na TV e campanhas digitais. “Excesso de informação, quando as pessoas não têm conhecimento especifico, causa confusão. E isso tem contribuído para que muita gente procure ter seu planejador particular”, afirma André Novaes, fundador e CEO da LifeFP, sediada em campinas(SP). Há ainda aspectos conjunturais que mobilizam os brasileiros a buscar uma orientação financeira, tais como a maior instabilidade no mercado de trabalho e as discussões sobre a reforma da Previdência, com a percepção de que não dá mais para depender apenas do governo. Em paralelo, nos últimos anos, a concentração do setor bancário despejou no mercado muitos especialistas em finanças que decidiram empreender. Nesse cenário, startups que oferecem serviços de planejamento crescem a passos largos.

A Guide Life, braço de planejamento da corretora Guide, lançou até um sistema de franquias. Hoje, são 12 escritórios em seis cidades – até o fim de 2018, a expectativa é que sejam 50. “O fato de a poupança ser a principal opção dos brasileiros demonstra que há grande espaço para diversificação e ampliação da cultura de investimentos”, diz Ivens Gasparotto Filho, diretor da Guide Life, de São Paulo. Já a V10, fundada por três ex-agentes autônomos da XP, viu a busca por seus serviços aumentar 40% neste ano. “Há uma demanda crescente por serviços de consultoria”, afirma Mário Pereira, sócio da V10, com sede em Belo Horizonte.

A contratação de um planejador em 2013 foi um divisor de águas na vida do casal de médicos Gustavo Duarte, de 38 anos, e Cristina Mello, de 40, de Campinas (SP). Nessa época, eles estavam estressados porque, apesar de trabalharem bastante, sentiam que tudo o que ganhavam era suficiente só para cobrir as despesas. Não sobrava nada para o lazer ou para compor uma reserva financeira.

“Colocamos nossas aspirações dentro de um planejamento objetivo e conseguimos fazer mudanças positivas”, diz Gustavo. Uma das primeiras medidas sugeridas pelo planejador foi vender um dos carros – eles tinham dois – para reduzir as despesas com IPVA, seguro e manutenção. O médico foi orientado a modificar sua atuação profissional, passando a atender um público diferente. Hoje, Gustavo diz que trabalha 30% menos e ganha 50% mais. O casal consegue investir de 20% a 30% do que recebe a cada mês. “O maior ganho foi de qualidade de vida. Agora vislumbramos o longo prazo e sabemos o que precisa ser economizado para nos aposentarmos bem lá na frente”, diz. O corretor de Imóveis Davi José da Silva, de 35 anos, de São Paulo, resolveu experimentar os serviços de um planejador financeiro há cinco meses, depois de ouvir seu chefe contar que havia contratado um. A decisão aconteceu porque ele e a mulher, Renata Nunes Patez Silva, de 30 anos, sentiam que, após cinco anos de casamento, ainda não tinham conseguido organizar as finanças em conjunto. Eles já tinham se endividado com o cartão de crédito e estavam terminando os meses no zero a zero. “Com a ajuda dele, enxergamos o que fazíamos de errado: não tínhamos o controle sobre o que gastávamos, por exemplo, com restaurantes, roupas, táxis”, diz Davi. O casal começou a usar uma planilha para cuidar do orçamento. “Ainda temos dificuldade de manter a disciplina, mas, pelo menos, já criamos um colchão de segurança para imprevistos. “Hoje, o dinheiro está em aplicações de renda fixa, um passo que, segundo Davi, não teria sido dado sem a atuação do planejador. “Eu e a Renata viemos de uma família humilde, nossos pais não eram muito instruídos e não existia gestão financeira. Agora, enxergamos o dinheiro de uma maneira diferente, traçando metas.” Se você também tem sentido falta de orientação profissional em sua vida financeira, preparamos uma série de dicas para ajudá-lo a encontrar um planejador idôneo e começar agora mesmo uma administração mais eficiente de seu patrimônio.

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ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 15-22

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A Pergunta sobre os Tributos

Não foi o menor dos sofrimentos de Cristo o fato de Ele suportar a contradição dos pecadores contra si mesmo, e sofrer ciladas armadas para ele por aqueles que procuravam uma maneira de eliminá-lo mediante alguma desculpa. Nesses versículos, vemos o Senhor ser atacado pelos fariseus e pelos herodianos, com uma pergunta sobre o pagamento de tributos a César. Considere:

 

I –  Qual foi o desígnio a que eles se propunham. “Consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra.” Até aqui, os seus encontros tinham sido principalmente com os principais dos sacerdotes e os anciãos, homens de autoridade que confiavam mais no seu poder do que na sua política, e o questionavam a respeito da sua comissão (cap. 21.23). Mas agora Ele está diante de outro grupo; os fariseus irão verificar se eles conseguem lidar com Ele com a instrução na lei e na casuística que possuem, e farão um – um novo julgamento contra Ele. Observe que é inútil que os homens melhores e mais sábios pensem que, com a sua ingenuidade, ou com os seus interesses, ou com a sua habilidade, ou até mesmo com a sua inocência e integridade, conseguirão escapar ao ódio e à má vontade dos homens maus, ou se esconder da disputa das línguas. Veja como são incansáveis os inimigos de Cristo e do seu reino, na sua oposição!

1. Eles consultaram entre si. Havia sido predito, a seu respeito, que os príncipes juntos se mancomunariam contra Ele (Salmos 2.2), e assim “eles perseguem os profetas”. “Vinde, e maquinemos projetos contra Jeremias” (veja Jeremias 18.18; 20.10). Observe que quanto mais tramas e maquinações existirem para o pecado, pior será. Existe um “ai” particular para aqueles que intentam a iniquidade (Miqueias 2.1). Quanto mais talento iníquo houver na invenção de um pecado, mais má vontade haverá em sua realização.

2. O que eles desejavam era surpreendê-lo em alguma palavra. Eles o viam, livre e ousado, expressando o seu pensamento, e esperavam com isso conduzi-lo a um ponto conveniente para que tivessem alguma vantagem contra Ele. Este tinha sido o procedimento antigo dos agentes e emissários de Satanás, o de fazer do homem um criminoso por uma palavra, uma palavra mal colocada, ou errada, ou mal interpretada. Uma palavra, embora planejada de modo inocente, mas corrompida por insinuações forçadas: dessa maneira, eles armaram laços “ao que repreende na porta” (Isaias 29.21), e são os maiores professores, como também os maiores agitadores, de Israel: dessa maneira, “o ímpio maquina contra o justo” (Salmos 37.12,13).

Havia duas maneiras pelas quais os m1m1gos de Cristo poderiam se vingar e se livrar dele: isto podia acontecer pela lei, ou pela força. Pela lei, eles não conseguiriam fazê-lo, a menos que o tornassem odioso para o governo civil; pois não era lícito que eles matassem qual­ quer pessoa (João 18.31), e as autoridades romanas não queriam se preocupar com questões de palavras, de nomes, e da lei dos judeus (Atos 18.15). Pela força, eles não poderiam fazê-lo, a menos que o tornassem odioso para o povo, que sempre era as mãos, fossem quem fossem os cabeças, de tais atos de violência, chamados de pulsação dos rebeldes. Mas o povo considerava Cristo como um profeta, e por isso os seus inimigos não conseguiam incitar a multidão contra Ele. Agora (como a velha serpente era, desde o início, mais sagaz do que qualquer outro animai), o desígnio era levá-lo a um dilema tal, que Ele precisaria se fazer suscetível ao desagrado da multidão dos judeus, ou dos magistrados romanos. Não importa que lado da questão Ele adote, Ele ficará contra alguém, e assim eles conseguirão o seu intento, fazendo com que a sua própria língua testemunhe contra Ele.

II – A pergunta que fazem a Ele, de acordo com o seu objetivo (vv. 16,17). Tendo planejado esta maldade em segredo, numa trama fechada, por trás das cortinas, eles a colocaram em prática sem perda de tempo. Considere:

1. As pessoas que eles empregaram: não o fizeram eles mesmos, para que não se suspeitasse do objetivo, e para que Cristo não se colocasse mais em guarda; mas enviaram os seus discípulos, que pareciam menos tentadores e mais aprendizes. Os homens maus nunca desejarão usar instrumentos iníquos para realizar as suas tramas perversas. Os fariseus têm os seus discípulos às suas ordens, para realizar por eles qualquer missão, e falar como eles falariam. E eles têm isso em mente quando se mostram tão empenhados em fazer prosélitos.

Com os seus discípulos, eles enviaram os herodianos, um grupo de judeus que era a favor de uma sub­ missão entusiástica e completa ao imperador romano, e a Herodes, seu representante. Eles viviam da tarefa de conciliar as pessoas com este governo, e pressionavam a todos para que pagassem esse tributo. Alguns opinam que eles eram os cobradores do imposto da terra, assim como os publicanos eram os cobradores da alfândega. Eles foram com os fariseus até Cristo, com esse pretexto para a sua trama, pois embora os herodianos exigissem o pagamento do imposto, e os fariseus o negassem, os dois grupos estavam desejosos de levar a questão a Cristo, como o juiz mais adequado para decidir a disputa. Como Herodes era obrigado, pela concessão da soberania, a se encarregar do tributo, esses herodianos, ao ajudá-lo a fazer isso, ajudavam a torná-lo querido pelos seus grandes amigos de Roma. Os fariseus, por outro lado, zelavam pela liberdade dos judeus, e faziam o que podiam para torná-los impacientes com o jugo romano. Se Ele estimulasse o pagamento do tributo, os fariseus incitariam o povo contra Ele; se Ele proibisse o pagamento, os herodianos incitariam o governo contra Ele. Observe que é comum ver aqueles que estão em oposição entre si permanecerem em oposição contra Cristo e o seu reino. As raposas de Sansão olhavam para todos os lados, mas se encontravam em um tição (veja Salmos 83.3,5,7,8). Se eles eram unânimes na oposição, nós também não deveríamos ser unânimes na defesa dos interesses do Evangelho?

2. O preâmbulo, com o qual eles apresentavam, de modo plausível, a questão; ele era altamente elogioso ao nosso Salvador (v. 16). “Mestre, bem sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade”. É comum que os projetos mais iníquos sejam encobertos com os pretextos mais plausíveis. Mesmo que eles tivessem se dirigido a Deus com a mais séria das perguntas e a mais sincera das intenções, não consegui­ riam ter se expressado melhor. Aqui há ódio encoberto com engano, e um coração maligno que se expressa com lábios fervorosos (Provérbios 26.23); como Judas, que beijou e traiu, e como Joabe, que beijou e matou.

Mas:

(1). O que eles disseram a respeito de Cristo era correto; quer eles soubessem disso ou não, bendito seja Deus, nós o sabemos.

[l]. Que Jesus Cristo era um Mestre verdadeiro: “és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade”. Pois Ele é verdadeiro, o Amém, a Testemunha fiel. Ele é a própria Verdade. Quanto à sua doutrina, o assunto dos seus ensinos era o caminho de Deus, o caminho em que Deus exige que nós caminhemos, o caminho do dever que leva à felicidade. Este é o caminho de Deus, que estava na verdade. Ele mostrava ao povo o caminho certo, o caminho que eles deveriam seguir. Ele era um professor habilidoso, e conhecia o caminho de Deus; e um professor fiel, que se certificaria de nos mostrar o caminho (veja Provérbios 8.6-9). Este é o caráter de um bom professor, o de pregar a verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade, e não suprimir, corromper ou estender nenhuma verdade, por favor ou afeto, ódio ou boa vontade, por um desejo de agradar ou medo de ofender a qualquer pessoa.

[2]. Que Ele era um Reprovador corajoso. Na pregação, Ele não se preocupava com ninguém, Ele não dava importância à censura ou aos sorrisos de ninguém, Ele não bajulava, Ele não temia, nem os importantes, nem as multidões, pois Ele não se preocupava com a pessoa do homem. No seu julgamento evangélico, Ele não conhecia rostos. O Leão da tribo de Judá por ninguém torna atrás (Provérbios 30.30), não se afasta da verdade, nem do seu trabalho, porque não teme os mais poderosos. Ele repreende com equidade (Isaias 11.4), e nunca com parcialidade.

(2). Embora o que eles dissessem fosse verdade, ainda assim não havia nada além de bajulação e traição nas suas intenções. Eles o chamaram de Mestre, quando estavam planejando tratá-lo como o pior dos malfeitores. Eles fingiram ter respeito por Ele, quando pretendiam enganá-lo. Afrontaram a sua sabedoria como homem, muito mais a sua onisciência como Deus, da qual Ele tinha tão frequentemente dado provas incontestáveis. Imaginaram que conseguiriam pressioná-lo com essas desculpas, e que Ele não conseguiria enxergar os seus pensamentos. Este é o ateísmo mais grosseiro, a maior tolice do mundo, pensar que é possível conseguir enganar a Cristo, que sonda os corações (Apocalipse 2.23). Aqueles que tentam zombar de Deus nada conseguem, exceto enganar a si mesmos (Gálatas 6.7).

3. A proposta da questão: “Que te parece?” Como se tivessem dito: “Muitos homens têm diversas opiniões sobre este assunto; é uma questão que está relacionada com a prática, e que acontece todos os dias; vamos ver o seu pensamento, livremente, sobre o assunto: ‘é lícito pagar o tributo a César ou não?”‘ Isto implica em uma questão adicional: César tem o direito de exigi-lo? A nação dos judeus, aproximadamente cem anos antes, tinha sido conquistada pela espada romana, e, como outras nações, tinha sido submetida ao jugo romano, e se tornado uma província do império. Assim sendo, impostos, tributos e alfândega eram exigidos da nação, e, algumas vezes, dinheiro para eleições. Com isso, parecia que o cetro tinha sido removido de Judá (Genesis 49.10), e, portanto, se eles tinham compreendido os sinais dos tempos, deveriam ter concluído que Siló tinha vindo, e que ou este era Ele, ou deveriam encontrar outro que tivesse mais probabilidade de sê-lo.

A pergunta era se era lícito pagar voluntariamente esses tributos, ou se eles não deveriam insistir mais na questão da antiga liberdade da sua nação, e não sujeitar-se ao pagamento? O fundamento da dúvida era o fato de que eles eram a descendência de Abraão, e não deveriam consentir em servir a ninguém (João 8.33). Deus lhes tinha dado uma lei que dizia não haver estranhos sobre eles. Isto não implicava que eles não de­ veriam se submeter voluntariamente a nenhum príncipe, estado ou potestade que não fossem a sua própria nação e religião? Este era um engano antigo, que surgia daquele orgulho e daquele espírito arrogante que trazem a destruição e a queda. Jeremias, na sua época, embora falasse em nome de Deus, não conseguiu derrotá-los, nem persuadi-los a se sujeitarem ao rei da Babilônia; e a sua obstinação nessa questão foi, então, a sua destruição (Jeremias 27.12,13). Agora, mais uma vez, eles tropeçavam na mesma pedra, e era a mesma questão que, alguns anos depois, trouxe a sua destruição final pelas mãos dos romanos. Eles interpretaram mal o sentido, tanto do preceito como do privilégio, e, deturpando a Palavra de Deus, lutaram contra a sua providência, quando deveriam ter beijado o bordão e aceitado o castigo da sua iniquidade.

No entanto, com essa pergunta, eles esperavam confundir a Cristo, e, independentemente da maneira como Ele solucionasse a questão, deixá-lo exposto à fúria, fosse dos invejosos judeus, fosse dos invejosos romanos. Eles estavam prontos para triunfar, como Faraó estava pronto para triunfar sobre Israel quando o deserto o prendeu, e a sua doutrina resultaria injuriosa aos direitos da igreja, ou prejudicial aos reis e às províncias.

 

III – A sabedoria do Senhor Jesus desfez essa armadilha.

1. Ele a descobriu (v. 18). Ele conheceu “a sua malícia”; pois certamente “debalde se estenderia a rede perante os olhos de qualquer ave” (Provérbios 1.17). Uma tentação percebida já está derrotada pela metade, pois o nosso maior perigo está nas serpentes sob a erva verde; e Ele disse: “Por que me experimentais, hipócritas?” Observe que não importa o disfarce que o hipócrita coloque sobre si, o nosso Senhor Jesus vê através dele. Ele percebe toda a maldade que está nos corações daqueles que fingem, e pode facilmente condená-los por isso, e apresentá-la diante deles. Ele não pode ser impressionado, como nós frequentemente somos, por adulações e boas intenções. Aquele que sonda os corações pode chamar todos os hipócritas pelo nome, como Aías fez com a mulher de Jeroboão (1 Reis 14.6): “Por que te disfarças assim?” “Por que me experimentais, hipócritas?” Os hipócritas tentam a Jesus Cristo, colocam à prova o seu conhecimento, para ver se Ele consegue descobri-los nos seus disfarces; eles colocam à prova a sua santidade e a sua verdade, para ver se Ele permite que eles façam parte dessa igreja; mas se aqueles de antigamente que tentassem a Cristo – quando Ele se revelava apenas por ameaças – seriam destruídos por serpentes, de uma punição muito pior serão considerados dignos aqueles que o tentarem agora, na era do Evangelho de luz e amor! Aqueles que supõem que podem tentar a Cristo certamente descobrirão que Ele é muito severo para com eles, e que Ele tem olhos penetrantes demais para não ver, e olhos puros demais para não odiar a maldade disfarçada dos hipócritas, que se escondem nas profundezas para tentar ocultar dele as suas ideias.

2. Ele se esquivou; o fato de que Ele os condenou por hipocrisia pode ter servido como resposta (essas perguntas capciosas e maldosas merecem uma censura, não uma resposta). Mas o nosso Senhor Jesus deu-lhes uma resposta completa à sua pergunta, e apresentou-a com um argumento suficiente para apoiá-la, e também para estabelecer uma regra para a sua igreja quanto ao tema, evitando ofender, e rompendo a armadilha.

(1). Ele os forçou, antes que se dessem conta, a confessarem a autoridade de César sobre eles (vv. 19,20). Ao lidar com aqueles que são capciosos, é bom apresentar as nossas razões, e, se possível, razões de força moral confessada, antes de apresentarmos a nossa decisão. Assim, a evidência da verdade pode silenciar seus oponentes com a surpresa, pois eles só mantêm a sua guarda contra a própria verdade, e não contra a sua razão: “Mostrai-me a moeda do tributo”. Ele não tinha nada seu para convencê-los; aparentemente, Ele não tinha nem uma moeda, pois, por nossa causa, Ele se esvaziou e tornou-se pobre. Ele desprezou a riqueza deste mundo, e assim nos ensinou a não supervalorizá-la. Ele não tinha prata nem ouro. Por que, então, devemos cobiçar tantas coisas, abarrotando-nos de dívidas? Os romanos exigiam o pagamento do seu tributo com o seu próprio dinheiro, que era corrente entre os judeus naquela época, e que, portanto, é chamado de dinheiro do tributo. Jesus não menciona nenhuma moeda, exceto o dinheiro do tributo, para mostrar que Ele não se importava com coisas dessa natureza, nem se preocupava com elas; o seu coração se dedicava a coisas melhores, ao reino de Deus e às riquezas e à justiça dele, e o nosso coração deveria fazer o mesmo. Eles lhe apresentaram um dinheiro, um centavo romano, de prata, com valor aproximado de meio centavo de dólar americano, a moeda mais comum da época; ela tinha gravada a imagem e a inscrição do imperador, o que era a garantia de fé pública do valor das peças assim gravadas. Esse era um método usado pela maioria das nações para facilitar a circulação do dinheiro. A cunhagem de moedas sempre foi considerada como um ramo das prerrogativas, uma flor da coroa, uma prerrogativa pertencente aos poderes soberanos. E a admissão daquele como o dinheiro bom e legítimo de uma nação é uma submissão implícita a tais poderes, e um reconhecimento dele em questões financeiras. Como a nossa constituição é oportuna, e como somos felizes, nós, que vivemos em uma nação onde, embora a imagem e a inscrição sejam de outros, a propriedade é das pessoas, sob a proteção das leis, e podemos dizer que aquilo que temos é nosso!

Cristo lhes perguntou: “De quem é esta efígie e esta inscrição?” Eles disseram que era de César, e assim condenaram por falsidade aqueles que diziam que nunca foram dominados por ninguém; e confirmaram o que mais tarde disseram: “Não temos rei, senão o César”. Há uma lei no Talmude judeu que diz que “é rei da nação aquele cuja moeda é corrente na nação”. Alguns entendem que a inscrição na moeda era uma lembrança da conquista da Judéia pelos romanos, o ano posterior à captura da Judéia, e eles também admitiram isso.

(2). Com isso, Ele concluiu a legitimidade do pagamento de tributos a César (v. 21): “Dai, pois, a César o que é de César”; não: “Pagai-o a ele” (como eles tinham dito no versículo 17), mas: “Devolvei-o; Restitui-o”, ou: “Restaurai-o. Se César enche as bolsas, que César as comande. Agora é tarde demais para discutir o pagamento de tributos a César, pois vos tornastes uma província do império; e quando uma relação é admitida, a sua obrigação deve ser cumprida. Devolvei a todos o que lhes é devido, e, particularmente, pagai os tributos a quem eles forem devidos”. Com esta resposta:

[1]. Ele não ofendeu ninguém. Foi para a honra de Cristo e da sua doutrina que Ele não agiu como um juiz ou um divisor em questões dessa natureza, mas deixou-as como as encontrou, pois o seu reino não é deste mundo, e nisso Ele deu um exemplo aos seus ministros, que lidam com as coisas sagradas. Eles não devem se intrometer em questões relacionadas a assuntos seculares, não devem se atrapalhar com controvérsias a esse respeito, mas devem deixá-las àqueles que estão relacionados com elas. Os ministros que se preocupam com o seu trabalho e agradam ao seu mestre não devem se envolver nas questões desta vida; eles deixam a orientação do Espírito de Deus e a escolta da sua providência quando saem do seu caminho. Cristo não discute o título do imperador, mas impõe uma submissão pacífica aos poderes vigentes. O governo, portanto, não tinha motivos para se ofender com a sua determinação, mas somente para agradecer-lhe, pois isso fortalecia o interesse de César junto ao povo que via Jesus como um Profeta. Porém, tal foi o atrevimento dos seus perseguidores, que, embora Ele tivesse lhes dito expressamente que deveriam dar a César o que era de César, eles o acusaram dizendo que o Senhor os havia proibido de dar o tributo a César (Lucas 23.2). Quanto ao povo, os fariseus não podiam acusá-lo, porque eles mesmos tinham, antes que percebessem o que estavam fazendo, dado as premissas, e era tarde demais para evitar a conclusão. Observe que, embora a verdade não procure esconderijos fraudulentos, algumas vezes ela precisa de uma administração prudente, para evitar que alguém seja ofendido.

[2). Os seus adversários foram reprovados. Em primeiro lugar, alguns deles desejavam que Ele dissesse que era ilícito pagar tributos a César, para que tivessem uma desculpa para guardar o seu dinheiro. Assim, muitos evitavam aquilo que deveriam fazer, argumentando se podiam fazê-lo ou não. Em segundo lugar, todos deixavam de cumprir as suas obrigações para com Deus, e por isso foram reprovados; enquanto estavam inutilmente discutindo sobre as suas liberdades civis, eles tinham perdido a vida e o poder da religião, e precisavam ter em mente a sua obrigação para com Deus, ao lado daquela que tinham para com César.

[3). Os seus discípulos foram instruídos, e foram deixadas regras para a igreja.

Em primeiro lugar, observemos que a religião cristã não é inimiga do governo civil, mas sua amiga. O reino de Cristo não se choca com os reinos da terra, nem interfere neles, em nada que pertença à sua jurisdição. Por Cristo, reinam os reis.

Em segundo lugar, é dever dos súditos dar aos magistrados aquilo que, segundo as leis da sua nação, lhes é devido. Os poderes mais elevados, sendo colocados para o bem-estar público, a proteção dos súditos e a conservação da paz, têm direito, como consequência disso, a uma justa proporção da riqueza pública e da renda da nação. “Por essa razão também pagais tributos, atendendo sempre a isto mesmo” (Romanos 13.6). E, sem dúvida, é um pecado maior enganar ao governo do que enganar a uma pessoa. Embora seja a constituição que determine o que é de César, ainda assim, quando isto é determinado, Cristo nos obriga a pagar. O meu casaco me pertence, pela lei dos homens; mas será um ladrão, pela lei de Deus, aquele que o tomar de mim.

Em terceiro lugar, quando nós damos a César as coisas que são de César, também devemos nos lembrar de dar a Deus as coisas que pertencem a Deus. Se as nossas bolsas são de César, as nossas consciências são de Deus. O Senhor disse: “Dá-me, filho meu, o teu coração”. Deus deve ter o lugar mais íntimo e o lugar mais importante em nosso coração. Devemos dar a Deus aquilo que lhe é devido, tanto do nosso tempo como dos nossos bens. Ele deve ter a sua parte, assim como César deve ter a dele; e se os mandamentos de César interferirem nos de Deus, nós devemos obedecer a Deus, e não aos homens.

Por fim, observe como eles se impressionaram com essa resposta: “maravilharam-se e, deixando-o, se retiraram (v. 22). Eles admiraram a sua sagacidade por descobrir e evitar uma armadilha que eles julgaram estar tão bem planejada. Cristo é, e sempre será, o Maravilhoso, não somente para os seus queridos amigos, mas também para os seus inimigos frustrados. Poderíamos pensar que eles deveriam ter se maravilhado e seguido a Jesus; deveriam ter se maravilhado e se sujeitado a Ele. Há muitas pessoas a cujos olhos Deus é maravilhoso, mas não precioso. São aqueles que admiram a sua sabedoria, mas não se guiarão por ela; admiram o seu poder, mas não se sujeitarão a ele. Eles seguem o seu caminho, como pessoas envergonhadas, e fazem uma retirada inglória. Quando o estratagema é derrotado, eles abandonam o campo. Observe que ninguém consegue nada de bom ao contender com Cristo.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

OS SONS DA LUZ

Estímulos luminosos podem produzir atividade neural bastante precisa no tronco cerebral, similar à provocada pela audição normal, os animais conseguiram ter um elevado grau de discriminação, superior ao que próteses atuais podem alcançar.

Os sons da luz

O som da orquestra varia do extremamente suave ao mais intenso e os espectadores, todos surdos, apreendem cada nota, graças a implantes cocleares que traduzem sons complexos em um arco-íris de luz óptica. É esse o objetivo de uma equipe de cientistas da Alemanha, do Japão, da Coreia do Sul e de Cingapura. Eles trabalham no desenvolvimento de um dispositivo que usa a óptica em vez de ondas sonoras para desenvolver uma classe reinada de próteses auditivas.

No caso de pessoas sem problemas auditivos, neurônios do gânglio espiral no ouvido interno permitem a discriminação precisa do som. Podemos reconhecer centenas de pessoas pelo som da voz e distinguir entre milhares de diferentes alturas e frequências. Implantes cocleares tradicionais dispõem de um microfone externo para captar o som e transmiti-lo para essas células através de eletrodos, mas com baixíssima resolução. Os neurônios são afinados como teclas de piano no ouvido interno. Usar eletrodos para estimulá-los é como dirigir um concerto com os punhos em vez dos dedos. Os cientistas acreditam que há uma maneira melhor.

Em um estudo publicado no Journal of Clinical Investigation, pesquisadores usaram um vírus para implantar genes com sensibilidade à luz em embriões de camundongos surdos. As unidades agiram nas vias auditivas do cérebro dos ratos, criando manchas sensíveis à luz nas membranas dos neurônios do gânglio espiral e de outras células. Então, os cientistas direcionaram luz LED sobre esses neurônios e gravaram a atividade do tronco cerebral, um passo de integração essencial no processamento auditivo.

A atividade indicou que os ratos surdos perceberam a luz como som com sucesso. Em comparação com a estimulação dos eletrodos de implante coclear tradicionais, a luz produziu atividade neural mais precisa no tronco cerebral, similar à audição normal. Os ratos também exibiram um elevado grau de discriminação de som que próteses atuais não podem alcançar.

Os cientistas acreditam que, no futuro, pessoas surdas poderão se beneficiar de terapia genética semelhante às abordagens atualmente testadas em ensaios clínicos para outras doenças. E caso queiram, poderiam alterar a cóclea para expressar canais sensíveis à luz. Então, uma cadeia de luz LED poderia ser inserida no ouvido, que se acende de acordo com as qualidades de um som externo, permitindo que neurônios auditivos comuniquem ricos detalhes para o cérebro.

OUTROS OLHARES

MULHERES EM RISCO

Pela primeira vez no Brasil o total de óbitos femininos por causa de AVC se equipara ao de homens. E elas têm três vezes mais chance de morrer de um novo infarto.

Mulheres em risco

A exposição mais intensa aos principais fatores de risco para infarto e acidente vascular cerebral e a negligência no cuidado médico estão tornando as mulheres cada vez mais vulneráveis às principais doenças cardiovasculares. Segundo a Sociedade Brasileira de cardiologia, no ano passado, pela primeira vez, o número de mulheres que morreram de AVC equiparou-se ao de homens, alcançando a marca de 50 mil óbitos. E o total das mortes por infarto entre elas já superou os 45 mil por ano.

É um fenômeno mundial. Na semana passada, um estudo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, em parceria com o instituto Karolinska, na Suécia, mostrou que a população feminina tem três vezes mais chance de morrer de ataque cardíaco depois de já ter sofrido um. Evidências anteriores demonstram que elas recebem tratamento preventivo inadequado mesmo quando exibem o perfil de um indivíduo de risco (hipertensivo e diabético, por exemplo), e, no momento do ataque, têm os sintomas negligenciados. Sinais da iminência de um evento cardiovascular, como pressão arterial elevada, ainda são confundidos, em mulheres, com crises de ansiedade ou de estresse. Por elas, por quem está do lado e pelos profissionais de saúde.

Mulheres em risco2

CAMPANHAS DE INFORMAÇÃO

No Rio de Janeiro, a engenheira Camila Epprecht, 33 anos, sofreu um AVC há três anos e enfrentou uma incredulidade em relação a seu quadro. “Ninguém acreditava como uma mulher tão nova tinha tido um problema desse”, conta. Na época, Camila estava sob forte estresse (fator de risco) por conta da conclusão de um trabalho acadêmico. Depois de um ano em recuperação, ela voltou ao trabalho. Em São Paulo, a comerciante Roseli De Caprio, 56 anos, demorou a reconhecer os sintomas de que estava sofrendo um infarto, em setembro de 2017. Só depois de quatro horas de dor, inclusive no peito, procurou ajuda. “Não imaginava que pudesse ser o coração”, diz. Roseli foi tabagista (outro fator de risco importante) até o episódio. Na opinião do médico Roberto Kalil Filho, presidente do Instituto do Coração (SP), faltam campanhas de conscientização dirigidas aos médicos e à população em geral. “Temos que falar da importância dos exames do coração também para as mulheres”, diz. “É fundamental ressaltar a eficácia do tratamento preventivo e do prognóstico.”

GESTÃO E CARREIRA

GESTÃO À PROVA DE CURTO-CIRCUITO

Conheça os desafios que serão enfrentados pelos líderes, nas próximas décadas, ao gerenciar times híbridos, formados por humanos e robôs.

Gestão a prova de curto-circuito

O clássico de Charles Chaplin, Tempos modernos, de 1936, fazia uma crítica à Revolução Industrial, ao trabalho designado aos humanos e aos efeitos da tecnologia sobre o indivíduo.

Agora, com a quarta Revolução Industrial, descrita no livro homônimo de Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, o problema do trabalho repetitivo, tão criticado por Chaplin, está prestes a acabar. Simplesmente porque o trabalho repetitivo vai desaparecer com a substituição maciça dos trabalhadores por robôs. Um exemplo vem da Adidas, que anunciou recentemente a abertura de uma nova fábrica em Atlanta, nos Estados Unidos, onde os 50.000 sapatos anuais serão produzidos inteiramente por máquinas. Diferentes categorias de atividades, particularmente aquelas que envolvem o trabalho mecânico e manual de precisão, já estão sendo automatizadas. Outras seguirão o mesmo caminho”, escreve Klaus em seu livro, publicado no ano passado. Mas isso não é ruim, de acordo com Kevln Kelly, cofundador da revista Wired e autor do livro Inevitável – As 12 Forças Tecnológicas Que Mudarão o Nosso Mundo (HSM).”Não estamos dando os bons trabalhos para as máquinas. Ao contrário: estamos desenvolvendo robôs para fazer justamente as tarefas perigosas, como desarmar uma bomba; enfadonhas, como dirigir um caminhão; ou que não seriamos capazes de fazer, como analisar milhares de artigos científicos buscando padrões”, afirma Kevin.

Mas, e quando até trabalhos complexos começam a ser executados por inteligência artificial? Até o ano de 2025, 21 inovações tecnológicas transformarão o mercado de trabalho, prevê a pesquisa Mudança Profunda, realizada pelo Fórum Econômico Mundial, que ouviu 800 executivos de todo o mundo. Uma dessas novidades será a presença de robôs no conselho administrativo das empresas, apostam 4.596 dos respondentes. Parece coisa de roteirista de Hollywood, mas a verdade é que isso já está acontecendo atualmente. Em 2.014, o Deep Knowledge Ventures, um fundo de capital de risco de Hong Kong que investe em biotecnologia, nomeou para seu conselho de administração o algoritmo Vital (validating investment tool for advancing life sciences). Ou seja, além de dirigir carros autônomos, a inteligência artificial poderá, com base no aprendizado gerado por experiências anteriores, apresentar sugestões e automatizar o processo de tomada de decisões complexas.

Entretanto, antes de eles chegarem ao conselho das empresas, será preciso aprender a conviver com os colegas robôs e até a gerenciá-los. Nos contact centers, isso já é inevitável. “Robôs trabalham sem descansar e não faltam. “Num setor em que a média de absentismo é de 30%, isso representa uma vantagem estratégica”, diz Antônio André Neto, coordenador do curso de formação executiva em negócios digitais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Nesse contexto, o trabalho do atual coordenador de operadores de telemarketing vai mudar bastante. “Em vez de lidar com pessoas, esse chefe estará em contato constante com o pessoal de TI, porque é essa equipe que vai desenvolver a tecnologia para ele”, afirma Antônio. O principal desafio desse gestor será definir os requisitos que a solução precisa ter e como ela deve funcionar. Afigura do especialista em experiência do usuário (UX), responsável por testar as soluções e sua usabilidade, vai se popularizar.

 LAÇOS ARTIFICIAIS

Haverá também equipes híbridas, formadas por pessoas e máquinas trabalhando lado a lado. Embora os robôs sejam capazes de mostrar sinais de criatividade e consigam “copiar” um estilo de texto, música ou pintura e desenvolver coisas novas, eles ainda estão distantes de inventar produtos ou serviços. A verdadeira inovação que surge com a criação de novas conexões entre as informações, ainda é inerentemente humana. Um robô pode até sugerir qual quarto de hotel é mais adequado a você, mas não seria capaz de inventar o Airbnb. “Tendemos a pensar em automação como a substituição de humanos, mas não é sempre assim, faz muito mais sentido que tarefas individuais, e não ocupações inteiras, sejam automatizadas”, afirma Luís Rasquilha, CEO da Inova Business School de São Paulo. Por isso, o mais provável é que, enquanto os robôs fizerem o trabalho pesado, as pessoas vão trabalhar em tarefas que exijam criatividade. “Algumas automatizações vão melhorara vida dos profissionais”, diz Luís.

A convivência profissional entre máquinas e seres humanos, porém, poderá trazer dificuldades. Estudos no campo da computação afetiva, setor da robótica que analisa os estados emocionais dos seres humanos para que as máquinas respondam adequadamente a eles, demonstram que a relação entre humanos e robôs será mais complexa do que aquela que temos com nossos computadores. Para explicar Isso, Kate Darling, pesquisadora do MIT Media Lab, usa o exemplo do Roomba, robô-aspirador que varre a casa e se recarrega sozinho. “Os donos desses robôs costumam sentir pena quando o aparelho fica preso em baixo do sofá. Isso acontece por causa de nossa capacidade de projetar comportamentos humanos em formas inanimadas, chamada antropomorfismo”, disse Kate numa palestra. Para isso ocorrer, é preciso que haja alguma identificação.

No caso do Roomba, trata-se da autonomia de movimento, mas o efeito é o mesmo em softwares como Siri e Alexa, que têm voz própria. “Dar um nome, um rosto ou uma voz aos robôs faz com que os humanos se relacionem com eles de maneira diferente”, afirma Kate. Por isso, são imprevisíveis os laços ou os conflitos que poderão surgir com os robôs que trabalharem no escritório, mais um ponto de atenção para os gerentes que liderarem esses times. “A habilidade mais procurada nos profissionais do futuro será a imaginação artística, no sentido de imaginar novos mundos. Entender e gerenciar os sentimentos da relação emocional que teremos com as máquinas também serão importantes”, afirma Tim Leberecht, autor do livro Romantize Seus Negócios (Rocco).

CHEFE ROBÔ

Gerenciar um robô ou ter uma máquina como colega de trabalho pode até causar estranhamento. Mas é ainda mais complicado pensar que ainda poderemos ser liderados por sistemas de inteligência artificial. Embora a ideia pareça distante, considere as principais atividades de um gestor: usar dados para analisar problemas e tomar decisões, monitorar a performance da equipe, determinar metas, dar feedback. Todas essas atividades já podem ser desempenhadas de maneira individual por sistemas em operação. E com alguns pontos positivos: evitam-se confrontos de personalidade, e os feedbacks são mais objetivos e imparciais. Ao que parece, no longo prazo, poucas carreiras estarão imunes à automatização. “Se você quiser manter seu trabalho, terá de fazer algo que não seja facilmente quantificado, formalizado ou replicado, e terá de criar valor por uma história e experiência, em vez de consistência, conveniência e eficiência”, diz Tim Leberecht. “No final, nossa redenção virá de nossa maior ameaça: a vulnerabilidade humana. Somos humanos porque podemos sofrer. É só porque podemos sofrer que podemos sentir a felicidade, o amor e a beleza. E disso, as máquinas não vão chegar perto, afirma.

  Gestão a prova de curto-circuito2

GESTOR DE FUTURO

Os principais pontos de atenção para os chefes que terão robôs como subordinados.

COMUNICAÇÃO

Quando a Revolução Industrial chegou, as pessoas simplesmente precisaram aprender a trabalhar deum jeito diferente, operando máquinas. Coma Revolução Tecnológica, será necessário aprender a conversar” com o robô, entendendo a linguagem necessária para “informar” a ele o que precisa ser feito.

CONFIANÇA

Assistentes pessoais tecnológicos, como os de Google e Amazon, nos ouvem o tempo todo. É possível, portanto, que o colega robô também escute e registre as reclamações dos colegas humanos, o que pode gerar desconfiança no ambiente de trabalho. As regras deverão ser claras para que os funcionários não se sintam monitorados o tempo todo.

AMBIENTE DE TRABALHO

Por mais que a tecnologia esteja avançando e alguns sistemas sejam capazes de reconhecer sentimentos e até demonstrar empatia, especialistas dizem que, para que os trabalhadores não se sintam desconfortáveis, será necessário adotar cuidados para humanizar o ambiente, evitando os sentimentos de isolamento e solidão.

FEEDBACKS

Um dos campos mais promissores para o emprego da inteligência artificial, é a análise de dados sobre a produtividade. Entretanto, talvez o robô não seja capaz de levar em conta fatores como problemas pessoais na hora de dar feedbacks, o que vai requerer atenção do gestor para evitar que um ambiente de análise pura e fria comprometa o engajamento dos funcionários humanos.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 1-14 – PARTE II

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A Parábola da Ceia das Bodas

V – O repovoamento da igreja, com o convite aos gentios, é aqui representado pela realização do jantar com convidados ajuntados dos caminhos (vv. 8-10). Aqui temos: 

1. O comentário do dono da festa a respeito daqueles que tinham sido convidados primeiro (v. 8). As bodas estão preparadas, isto é, o concerto da graça está preparado para ser firmado, há uma igreja preparada para ser fundada; mas aqueles que tinham sido convidados, isto é, os judeus, a quem pertenciam o concerto e as promessas, motivo pelo qual eram convidados primeiro às festas de cevados, não eram dignos. Eles eram completamente indignos e, com o seu desprezo por Cristo, tinham perdido todos os privilégios a que tinham sido convidados. Não é devido a Deus que os pecadores perecem, mas a si mesmos. Assim, quando a antiga nação de Israel estava próxima de Canaã, a terra prometida estava preparada, como também o leite e o mel. Mas a sua falta de fé, a sua murmuração e o desprezo por aquela terra agradável, impediram que eles entrassem na terra prometida e as suas carcaças pereceram no deserto; e essas coisas lhes aconteceram para que nos demos por avisados (1 Coríntios 10.11; Hebreus 3.16-4.1).

2. A comissão que ele deu aos servos, de convidar a outras pessoas. Os habitantes da cidade (v. 7) tinham recusado. “Ide, pois, às saídas dos caminhos”, os caminhos dos gentios, que, a princípio, os mensageiros deviam evitar (cap. 10.5). Dessa maneira, com a queda dos judeus, a salvação chegou aos gentios (Romanos 11.11,12; Efésios 3.8). Cristo terá um reino no mundo, embora muitos rejeitem a graça e resistam ao poder de tal reino. Mesmo que Israel não se una ao seu reino, ele será um reino glorioso. A oferta de Cristo, a salvação aos gentios, foi:

(1). Imprevista e inesperada; uma surpresa aos homens dos caminhos, que receberiam um convite para um banquete de bodas. Os judeus souberam do Evangelho muito tempo antes, e esperaram o Messias e o seu reino. Mas para os gentios, tudo isso era novidade, coisas que nunca tinham ouvido antes (Atos 17.19,20), e, consequentemente, coisas que eles não podiam sequer imaginar que pudessem lhes pertencer. Veja Isaias 65.1,2.

(2). Foi universal e sem diferenciação. “Ide…, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes”. Os caminhos são lugares públicos, e ali a Sabedoria clama (Provérbios 1.20). “Convidem os que passam pelos caminhos, convidem a qualquer pessoa (Jó 21.29), altivo e humilde, rico e pobre, escravo e livre, jovem e velho, judeu e gentio; digam a todos que eles serão bem-vindos aos privilégios do Evangelho, nos termos do Evangelho; quem desejar, que venha, sem exceção”.

3. O sucesso desse segundo convite; se alguns não vierem, outros virão (v.10); eles “ajuntaram todos quantos encontraram”. Os servos obedeceram às suas ordens. Jonas foi enviado aos caminhos, mas estava tão preocupado com a honra da sua nação, que evitou a missão. Mas os apóstolos de Cristo, embora fossem judeus, preferiram o serviço a Cristo ao respeito pela sua nação; e o apóstolo Paulo, embora lamentando pelos judeus, engrandeceu o seu trabalho como o apóstolo dos gentios. Eles reuniram todos. O desígnio do Evangelho é:

(1). Reunir as almas, não somente a nação dos judeus, mas todos os filhos de Deus que estão dispersos, no estrangeiro (João 11.52), as ovelhas que não pertencem a este aprisco (João 10.16). As almas foram reunidas em um corpo, em uma família, em uma corporação.

(2). Reunir as almas na ceia das bodas, para prestar seu respeito e reverência a Cristo, e para participar dos privilégios do novo concerto. Onde houver distribuição de alimentos e gêneros de primeira necessidade, ali os pobres estarão reunidos.

Os convidados reunidos eram:

[1]. Uma multidão, todos, tantos quantos puderam encontrar; tantos, que a festa nupcial ficou repleta de convidados. Os escolhidos dos judeus estão contados, mas aqueles que eram das outras nações não se podiam contar; eram uma multidão muito grande (Apocalipse 7.9. veja Isaias 60.4,8).

[2]. Uma multidão variada, tanto de bons quanto de maus; alguns que, antes da sua conversão, eram sérios e tinham boas intenções, como os gregos religiosos (Atos 17.4) e Cornélia; outros que tinham sido pecadores, como os coríntios (1 Coríntios 6.11). “Tais fostes alguns de vós” (versão ARA); ou alguns que, depois da sua conversão, provaram ser maus, que não se voltaram ao Senhor com todo o seu coração, mas com fingimento; outros que foram sinceros e justos, e provaram ser o tipo certo. Os ministros, ao lançarem a rede do Evangelho, abrangem tanto os peixes bons quanto os maus; mas o Senhor sabe quais são aqueles que lhe pertencem.

VI – O caso dos hipócritas – que estão na igreja, mas que não pertencem a ela, que têm fama de que vivem, mas que não estão realmente vivos – é representado pelo convidado que não estava trajado com vestes nupciais, um dos maus que estavam junto com os bons. Aqueles que não alcançam a salvação de Cristo, não são apenas aqueles que se recusam a assumir a profissão da religião, mas também os que não são sinceros nessa pro­ fissão de fé. A respeito desse hipócrita, observe:

1. Como ele foi descoberto (v. 11).

(1). O rei entrou para ver os convidados, para dar as boas-vindas àqueles que tinham vindo preparados, e para afastar os que não tinham se preparado para vir. Note que o Deus do céu observa, em especial, aqueles que professam a religião e têm um lugar e um nome na igreja visível. O nosso Senhor Jesus anda no meio dos castiçais de ouro, e por isso conhece as suas obras. Veja Apocalipse 2.1,2; Cantares 7.12. Que isto seja, para nós, uma advertência contra a hipocrisia, o fato de que os disfarces logo serão descobertos, e todo homem se mostrará com as suas verdadeiras características. Temos um incentivo para a nossa sinceridade o fato de que Deus é testemunha dela.

Esse hipócrita não estava usando uma veste nupcial, e não foi descoberto até que o próprio rei entrou para ver os convidados. Note que é prerrogativa de Deus conhecer os que são sinceros em sua profissão de fé, e aqueles que não o são. Nós podemos ser enganados pelos homens, de uma maneira ou de outra, mas Ele não. O dia do juízo será o grande dia das revelações, quando todos os convidados serão apresentados ao Rei: então Ele irá separar os preciosos dos vis (cap. 25.32). Nessa ocasião, os segredos de todos os corações serão manifestos, e poderemos discernir, de maneira inequívoca, entre os justos e os maus, o que agora não é fácil fazer. Todos os convidados devem se preocupar em se preparar para o escrutínio, e considerar como irão suportar o olho penetrante do Deus que investiga todos os corações.

(2). Imediatamente depois de entrar, o rei percebeu o hipócrita. “Viu ali um homem que não estava trajado com veste nupcial”; embora fosse apenas um, ele logo o percebeu; não há esperança de conseguir, em meio a uma multidão, esconder-se da justiça divina; ele não estava trajado com veste nupcial; ele não estava vestido para uma cerimônia nupcial; ele não estava vestido com as suas melhores roupas. Muitos vêm à festa das bodas sem uma veste nupcial. Se o Evangelho é a festa das bodas, então a veste nupcial é uma condição do coração e um modo de vida agradáveis ao Evangelho e à nossa profissão dele, dignos da vocação à qual fomos chamados (Efésios 4.1), como convém ao Evangelho de Cristo (Filipenses 1.27). Ajustiça dos santos, a sua verdadeira santidade e santificação, e Cristo, feito justiça neles, são o linho fino (Apocalipse 19.8). Esse homem não estava nu, nem estava maltrapilho; ele estava vestido de alguma maneira, mas não com uma veste nupcial. Aqueles que se revestem do Senhor Jesus, que têm um estado de espírito cristão, que são adornados com graças cristãs, que vivem pela fé em Cristo, e para quem Ele é tudo, aqueles, e somente aqueles, têm a veste nupcial.

2. O seu julgamento (v.12); e aqui podemos observar:

(1). Como ele foi acusado (v. 12): ”Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial?” Uma pergunta assustadora a alguém que estava secretamente orgulhoso do lugar que tinha na festa. ”Amigo”. Esta é uma palavra penetrante; um amigo aparente, um amigo fingido, alguém que professa ser amigo, aquele que finge mediante vários laços e ardis. Observe que existem muitos, na igreja, que são falsos amigos de Jesus Cristo, que dizem que o amam, enquanto os seus corações não estão com Ele. “Como entraste aqui?” Ele não repreende os servos por terem permitido a sua entrada (a veste nupcial é uma coisa interior; os ministros agem de acordo com aquilo que percebem), mas questiona a sua presunção por entrar, quando ele sabia que o seu coração não era justo. “Como você reivindica uma participação nos benefícios do Evangelho, quando você não tem respeito pelas regras do Evangelho? Quem é você para declarar os meus estatutos?” (Salmos 50.16,17). Esse tipo de pessoa macula a festa, desonra o esposo, afronta os amigos e se arruína; e, por isso: “Como entraste aqui?” Observe que está chegando o dia em que os hipócritas serão chamados para responder por todas as suas invasões arrogantes nas regulamentações do Evangelho, e por usurparem os privilégios do Evangelho. “Quem requere u isso de vossas mãos?” (Isaias 1.12). Deve-se prestar contas pelos sábados negligenciados e pelos sacramentos mal utilizados, e o julgamento exigirá uma ação contra todos aqueles que receberem a graça de Deus em vão. “Como você vem à mesa do Senhor, numa ocasião como esta, sem se humilhar, sem se santificar? O que faz com que você se sente diante dos profetas de Deus, como o seu povo, uma vez que o seu coração está cheio de cobiça? Como você entrou aqui? Não foi pela porta, mas de alguma outra maneira, como um bandido e um ladrão. Foi uma entrada tortuosa, uma apropriação sem direito a um título”. Note que é bom que aqueles que têm um lugar na igreja sempre façam esta pergunta a si mesmos: “Como é que eu entrei aqui? Eu tenho uma veste nupcial?” Se nós nos julgássemos, desta maneira, não seríamos julgados.

(2). Como ele se condenou: “Ele emudeceu”, ele estava amordaçado (essa foi a palavra utilizada, 1 Coríntios 9.9). O homem ficou mudo com a acusação, sendo condenado pela sua própria consciência. Aqueles que vivem na igreja, e que morrem sem Cristo, não terão nenhuma palavra para dizer em defesa própria no julgamento do grande dia; eles não terão desculpas. Se eles disserem: Temos comido e bebido na tua presença (Lucas 13.26), isto será equivalente a dizer que são culpados; pois o crime de que são acusados é o de se colocarem na presença de Cristo, e à sua mesa, antes de serem chamados. Aqueles que nunca ouviram uma palavra sobre essa festa de bodas terão mais para dizer em sua defesa; o seu pecado será mais justificável, e a sua condenação mais tolerável do que a daqueles que vêm à festa sem a veste nupcial, pecando, desta forma, contra a luz mais clara e o amor mais precioso.

3. A sentença (v. 13): ”Amarrai-o de pés e mãos”.

(1). Ele deve ser amarrado, como o são os malfeitores condenados; deve ser algemado e acorrentado. Pode-se esperar que aqueles que não trabalham, nem andam como deveriam, sejam amarrados de pés e mãos. Existe uma obrigação neste mundo, por parte dos servos e dos ministros, de suspender as pessoas que andam desordenadamente, para o prejuízo da fé cristã, o que é chamado de “ligar” estas pessoas (cap. 18.18). Ligá-las, para que não participem das cerimônias especiais e dos privilégios especiais da sua filiação à igreja; ligá-las, para o julgamento justo de Deus. No dia do julgamento, os hipócritas serão amarrados; os anjos os lançarão ao fogo (cap. 13.41,42). Os pecadores condenados são amarrados de pés e mãos por uma sentença irreversível; isto significa a mesma coisa que a existência do grande abismo; eles não podem resistir à sua punição, nem anulá-la.

(2). Ele dá a ordem para que o homem seja removido da festa das bodas: “Levai-o”. Quando aparece a maldade dos hipócritas, eles devem ser levados da comunhão dos crentes, devem ser extirpados como galhos secos. Isto evidencia a punição da perda no outro mundo. Eles serão afastados do rei, do reino, e da festa das bodas: ”Apartai-vos de mim, malditos”. A sua desgraça será pior, pois (como o capitão sem fé, 2 Reis 7.2) verão toda essa abundância com os seus próprios olhos, mas não sentirão o seu sabor. Observe que aqueles que andam como indignos do seu cristianismo perdem toda a felicidade cujo direito reivindicam arrogantemente, e louvam a si mesmos com uma expectativa infundada.

(3). Ele é enviado a uma deprimente masmorra: “Lançai-o nas trevas exteriores”. O nosso Salvador aqui, sem emoção, passa dessa parábola para aquilo que dá a entender que é a destruição dos hipócritas no outro mundo. O inferno é as trevas exteriores, as trevas fora do céu, que é a terra da luz; ou é a escuridão completa, a escuridão até o último estágio, sem o menor raio ou fagulha de luz, ou esperança dela, como a escuridão do Egito; a escuridão que pode ser sentida; uma terra completamente escura, como a própria escuridão (Jó 10.22). Observe que os hipócritas vão, da luz do próprio Evangelho, até à escuridão completa; e o inferno será realmente o inferno para eles, uma condenação mais intolerável. ”Ali haverá pranto e ranger de dentes”. Isto o nosso Salvador frequentemente usa como parte da descrição dos tormentos do inferno, que aqui são representados não tanto pela própria infelicidade quanto pelo ressentimento que os pecadores terão dela; haverá pranto, uma expressão de grande tristeza e angústia, não um jorro de lágrimas que dá alívio imediato, mas um choro constante, que é um tormento contínuo. E o ranger de dentes é uma expressão de grande fúria e indignação; eles serão como um antílope selvagem na rede, cheio do furor do Senhor (Isaias 51.20; 8.21,22). Portanto, devemos ouvir e temer.

Finalmente, a parábola conclui com as palavras admiráveis que tivemos anteriormente (cap. 20.16). Muitos são chamados, mas poucos escolhidos (v. 14). Dos muitos que são convidados para a festa das bodas, se você deixar de lado todos aqueles, como os não-escolhidos, que fazem pouco caso dela, e abertamente preferem outras coisas a ela; se, a seguir, você deixar de lado todos aqueles que professam a fé, mas cujo estado de espírito e o teor de suas conversas são uma constante contradição ao que professam: se você deixar de lado todos os profanos, e todos os hipócritas, você irá descobrir que são poucos, muito poucos, os que são escolhidos. Muitos são chamados ao jantar das bodas, mas há poucos escolhidos para trajar a veste nupcial, isto é, para a salvação, pela santificação do Espírito. Esta é a porta estreita, e o caminho estreito, que poucos encontram.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

EXPECTATIVAS INFLUENCIAM EFEITO DE MEDICAMENTOS

Acreditar tanto no efeito positivo quanto no negativo dos remédios que tomamos pode mudar a maneira como o organismo recebe a droga e a forma como ela age.

Expectativas influenciam efeito de medicamentos

Uma atitude otimista pode fazer mais do que ajudar você a começar bem o dia – é capaz também de melhorar condições clínicas gerais do corpo. A pesquisa recente coordenada pela neurocientista cognitiva Irene Tracey, professora da Universidade de Oxford, mostrou que tanto os pensamentos radiantes como os céticos influem na forma como as drogas são assimiladas pelo organismo. As descobertas foram publicadas no periódico Science Translational Medicine.

Durante o estudo, 22 voluntários saudáveis foram submetidos a exames de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto um dispositivo aquecia a panturrilha de sua perna direita até um nível desconfortável durante dez minutos. Como era esperado, regiões do cérebro associadas à percepção da dor foram ativadas pelo estímulo.

Na fase seguinte do experimento, os participantes receberam continuamente na veia doses do analgésico remifentanil, de ação rápida, enquanto se submetiam ao mesmo aquecimento na perna. Os pesquisadores, porém, enganaram os participantes da pesquisa.

De início, os voluntários não sabiam que o tratamento tinha começado, por isso não pensaram que a dor fosse diminuir. Dez minutos depois, foram informados de que a droga estava sendo administrada – e pensaram que, em razão disso, o desconforto deveria diminuir. Depois de mais dez minutos, os aplicadores do teste informaram aos voluntários que tinham parado de administrar o medicamento, o que induziu as pessoas a acreditar que sua perna começaria a doer mais nos minutos seguintes.

Após a experiência, os participantes relataram que a dor que sentiam era muito menos intensa e desagradável quando acreditavam estar recebendo o analgésico, em comparação ao momento em que pensavam não estar sendo medicados – independentemente de a administração da droga ter sido interrompida ou não.

O que acontecia era que, quando eles esperaram que a dor aumentasse porque pensavam que a droga tinha sido suspensa, essa percepção desanimadora interferia no benefício químico do analgésico. Nesses casos, o desconforto que sofriam era o mesmo do primeiro ensaio, sem administração de medicamento. Além disso, as áreas cerebrais responsáveis pela captação de sensações dolorosas permaneciam mais ativas quando eles esperavam pelo pior, imitando a atividade cerebral durante a aplicação inicial do calor.

“Os efeitos do pessimismo são provavelmente mais pronunciados em pacientes com condições clínicas crônicas, que vivenciaram anos de frustração com medicamentos ineficazes”, observa Irene Tracey. “Por isso, é muito importante que profissionais da área da saúde não subestimem a influência das expectativas negativas dos pacientes; estes, por sua vez, também devem ficar atentos para que as baixas expectativas não agravem desnecessariamente o sofrimento.”

OUTROS OLHARES

ESCRAVOS DO SÉCULO XXI

Calcula-se que mais de 160.000 brasileiros trabalhem em condições deploráveis – e o Brasil, que já foi exemplo mundial de combate a essa chaga, está ficando cada vez pior em razão da escassez de verbas para as equipes de fiscalização.

Escravos do Século XXI

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Os 48 retratos desta reportagem formam uma galeria que o país não gosta de ver. São vários Antônios, vários Franciscos, vários Josés e uma Vicentina, que dão carne e osso a um grande drama brasileiro: o trabalho em condições análogas às de escravidão. Sim, todas essas pessoas foram escravizadas – em pleno século XXI. Enredadas em dívidas impagáveis, manipuladas pelos patrões e submetidas a situações deploráveis no trabalho, elas chegaram a beber a mesma água que os porcos e algumas sofreram a humilhação máxima de ser espancadas, para não falar de constantes ameaças de morte. Quando os livros escolares informam que a escravidão foi abolida no Brasil em 13 de maio de 1888, háexatos130 anos, fica faltando dizer que se encerrou a escravidão negra – e que, ainda hoje, a escravidão persiste, só que agora é multiétnica.

Estima-se que atualmente 160.000 brasileiros trabalhem e vivam no país em condições semelhantes às de escravidão – ou seja, estão submetidos a trabalho forçado, servidão por meio de dívidas, jornadas exaustivas e circunstâncias degradantes (em relação a moradia e alimentação, por exemplo). Comparada aos milhões de africanos trazidos para o país para trabalhar como escravos, a cifra atual poderia indicar alguma melhora, mas abrigar 160.000 pessoas escravizadas é um escândalo humano de proporções épicas. Em 1995, o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu oficialmente a continuidade daquele crime inclassificável – e criou uma comissão destinada a fiscalizar o trabalho escravo. O pior é que, em vez de melhorar, a situação está ficando mais grave.

O país caminhava razoavelmente bem no combate à prática escabrosa até 2013, quando o número de ações de fiscalização começou a cair drasticamente. Naquele ano houve verba para 185 autuações contra o trabalho escravo. Em 2014, registrou-se queda de14%, com 160. Em 2015, foram 155. Um ano depois, 106. No ano passado, realizaram-se somente 88 fiscalizações, e todas de menor porte em relação às executadas anteriormente. Em 2017, 341 trabalhadores foram resgatados. A queda no número de autuações seria uma notícia alvissareira se não representasse, na verdade, o contrário do que se imagina: não é a escravidão que está retrocedendo, é o dinheiro para fiscalizá-la que está minguando.

Em agosto do ano passado, o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação civil pública contra a União para garantir verba mínima até o fim de 2017, diante da ameaça de paralisação total das atividades. O chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), André Roston, afirmou que o departamento tinha então menos de 7000 reais em caixa. O valor médio de uma única ação gira em torno de 60 000 reais. Em outubro, Roston foi exonerado, porque incomodava. Entre ex-colegas, circula a versão de que Roston era “dedicado demais” à defesa do conceito de escravidão e permanentemente atento aos abusos. Para funcionários do Detrae ouvidos, a falta de verbas é resultado de uma dupla razão. O combate à escravidão não rende votos em eleições. E a bancada governista nunca escondeu seus laços com ruralistas, parte dos quais se habituou a usar mão de obra em situação deplorável.

É o caso de Sebastião Cunha, de 48 anos, e seu filho Geovane, de 25. Eles vivem em Monção, município de 30 000 habitantes, a 300 quilômetros de São Luís, capital do Maranhão. Começaram a trabalhar na roça da família aos 9 anos, idade na qual os meninos da região costumam cair na labuta. Nela permaneceram até o fim da adolescência, quando saíram em busca de emprego fora de casa. A partir daí, ao trocarem o serviço doméstico pelo mercado, viram-se obrigados a se sujeitar ao regime escravocrata. “Pela falta de oportunidades, sempre aceitei qualquer coisa que apareceu na terra dos outros”, conta o pai.

Até 2007, Sebastião Cunha não tinha noção deque trabalhava em condições ilegais. Foi então que os fiscais o encontraram, pela primeira vez, submetido a um regime análogo ao de escravidão. Estava magérrimo, passava fome, tinha febre. Em duas outras oportunidades ele seria flagrado nessa situação desumana. Ele não é exceção: a reincidência atinge algo em torno de 60% das vítimas da escravização. Mesmo nos dias atuais, com plena ciência do contexto geral do problema, Sebastião Cunha admite que voltaria a se entregar àquela situação degradante, pois se julga como que acorrentado a um destino cruel e incontornável. “Todos os dias, pela manhã, bem cedo, minha filha de 6 anos me acorda e me pede pão”, relatou ele. “Como é que vou dizer a ela que não tenho dinheiro para comprar pão? Então tenho de aceitar qualquer coisa, mesmo que caia novamente na escravidão, para poder garantir o pão da minha filha, para garantir o pão na nossa mesa”, diz. Em Monção, mais da metade da população vive na linha de pobreza (renda inferior a 140 reais por mês), 31% estão em condições consideradas pela ONU como de extrema miséria e 64% não têm ocupação formal.

No Maranhão e no Piauí, meia centena de indivíduos que, como os Cunha, foram retirados pela Justiça de trabalhos degradantes. Setenta e cinco por cento dos trabalhadores em regime semelhante ao de escravidão atuam no setor agropecuário, mas a reportagem flagrou também escravizados urbanos, no coração de São Paulo. Vítimas de um mesmo e terrível crime, no campo e na cidade, os personagens que aparecem neste texto compõem um retrato intolerável.

A arregimentação de trabalhadores escravos segue idêntica à que existia em 1995, quando o governo FHC iniciou o ataque a essa prática. Um recrutador, chamado de “gato”, chega à região­ alvo com a promessa de uma boa oportunidade de emprego. Normalmente, o patrão paga os custos da viagem até o local de trabalho, e esse valor acaba por se tornar a primeira de muitas dívidas que o empregado acumulará. Quando ele chega à fazenda onde vai trabalhar, a comida e as ferramentas também passam a ser cobradas – e o desconto é feito do salário. Em pouco tempo, ele deve mais do que recebe, num processo que o põe inteiramente nas mãos do patrão.

A rotina típica desses trabalhadores é, por si só, abominável. Eles saem para a labuta, nas primeiras luzes do dia, com apenas um café puro no estômago. No almoço, perto do meio-dia, comem arroz, feijão, farinha e alguma proteína, em quantidade mínima. No fim da jornada, vão dormir em um barracão coberto somente por uma lona. Não há camas; só redes, no meio das quais é comum ver suínos passeando. Muitas vezes, a única água disponível é a de córregos – em que os animais se lançam para matar a sede e quase sempre urinam e defecam. Se a imagem que veio à sua mente foi a de uma senzala, saiba que não há exagero – as senzalas, em algumas casas-grandes, eram um pouco melhores. Ainda assim, uma fazenda do Maranhão denunciada em 2017 por manter uma “senzala contemporânea” conseguiu se ver livre das punições porque as autoridades não chegaram a tempo de fazer o flagrante – reflexo da dificuldade de deslocamento dos fiscais.

A evidência de que o Brasil retrocedia para valer na questão da escravização veio à tona em 16 de outubro do ano passado, quando foi publicada no Diário Oficial da União a portaria de número 1129, que alterava o conceito de trabalho escravo e as regras para a inclusão de empresas que o adotavam em uma lista suja. O texto eliminava os termos “jornada exaustiva” e “condições degradantes” da caracterização da prática, limitando a escravidão à restrição da liberdade de ir e vir. A tal lista suja, a cargo do ministro do Trabalho, passaria a ser atualizada apenas duas vezes ao ano. Antes da portaria, ela era de responsabilidade da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), e a atualização podia ocorrer a qualquer momento. Em abril deste ano, a Detrae divulgou o mais recente cadastro dos empregadores já autuados no crime. Essa versão incluiu pastelarias, uma empresa que vendia batata frita no Rock in Rio e construtoras ligadas ao programa Minha Casa, Minha Vida. Com 37 novos empregadores, agora a lista tem 165 patrões responsáveis por manter 2.264 trabalhadores em condições análogas às de escravidão.

A medida de 16 de outubro de 2017 tinha o propósito de socorrer o presidente Temer, que tentava obter no Congresso votos para o arquivamento da segunda denúncia contra ele por obstrução da Justiça e organização criminosa. O assunto virou moeda de negociação com a bancada ruralista da Câmara, cujos integrantes representam proprietários rurais. A pressa em resolver sua emergência política levou o Executivo a atropelar projetos de lei estacionados no Congresso com o mesmo objetivo de mudar o conceito de trabalho escravo – um deles, o PLS 432/2013, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento de Temer. O alívio do governo durou pouco: em 24 de outubro, a ministra Rosa Weber, do STF, suspendeu a portaria casuística por considerar que ela vulnerabilizava “princípios basilares da Constituição”. A suspensão e as pressões que o governo teve de enfrentar acabariam levando-o a ceder – ele publicou em dezembro uma nova portaria, que recolocava as coisas nos devidos eixos.

“O Brasil era uma referência nessa área, e podemos continuar a ser”, disse a ex-secretária de Cidadania do Ministério dos Direitos Humanos Flávia Piovesan. Jurista e procuradora do Estado de São Paulo, ela foi escolhida para o cargo em maio de 2016. Ao assumir a pasta, tinha a intenção de convencer o chefe do Executivo a investir na área, incluindo nisso a fiscalização contra a propagação do trabalho escravo. Entretanto, no tempo que passou no posto, Flávia só viu acontecer o contrário. Em agosto passado, por exemplo, em uma reunião da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Com-atrae), representantes dos empregadores defendiam o afrouxamento da lei anti- escravização com a justificativa de que os fiscais seriam tendenciosos, puniriam os fazendeiros sem razão explícita e classificariam como “escravidão” o que na verdade não passava de trabalho duro. No entanto, os porta-vozes da Confederação Nacional da Indústria e da Confederação da Agricultura e Pecuária não souberam apontar um único caso que exemplificasse a suposta parcialidade dos agentes de fiscalização. Flávia Piovesan esteve presente no encontro, assim como a então ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois (PSDB-BA), que, meses mais tarde, deixou a pasta.

A ofensiva contra Luislinda ocorreu em novembro, depois que ela disse estar trabalhando como “uma escrava”, pois não podia receber um adicional de 30.471 reais sobre seu salário de 30.934 reais, uma vez que isso a faria ultrapassar o teto do funcionalismo público. Ao contrário da condição de Luíslinda Valois, os casos reais de escravidão no Brasil do século XXI são de pobreza extrema – o que só amplia a gravidade do problema.

Ao deixar o governo, Flávia Piovesan passou a integrar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ao comentar a atual dificuldade de reprimir o trabalho escravo no Brasil, ela é taxativa: “Quando se fala de escravidão, não há espaço para juízo de ponderação. É indiscutível do que se trata e, mais ainda, que é preciso combatê-la”.

No início de 2000, uma dupla de trabalhadores brasileiros viveu uma dessas experiências que, tal como aponta Flávia Piovesan, não deixam espaço para juízo de ponderação. Tudo começou em março daquele ano, quando José Francisco Furtado de Souza, o Zé Pitanga, e um colega fugiram da Fazenda Brasil Verde, no Pará. Naquela época, o proprietário da terra era João Luis Quagliato Neto. Seu funcionário que atuava como “gato” prometera às suas vítimas uma função na qual pagaria 10 reais por linha de alqueire transformada em pasto. Para os trabalhadores rurais isso significa um bom dinheiro. Contudo, depois de deixarem as cidades de Barras e Porto (PI), onde viviam, já devendo os custos da viagem, Zé Pitanga e o amigo viram ser descontados do salário os valores das ferramentas que utilizavam e da comida que consumiam. Depois de um mês e meio desdobrando-se em péssimas condições, e ardendo em febre, Zé Pitanga, que tem um defeito na perna direita, disse aos chefes que não trabalharia doente. Foi surrado e ameaçado de morte. Diante disso, ele e o colega decidiram fugir. Andaram três dias até chegar à cidade mais próxima e denunciaram a fazenda às autoridades.

Desde 1988, bem antes, portanto, da fuga desses trabalhadores, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) fez várias denúncias contra a Brasil Verde, que culminaram em sucessivas fiscalizações em 1989, 1992 e 2000. Em razão da incompetência do Estado para prevenir a repetição do aliciamento, a CPT e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional enviaram, em 1998, uma petição à Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA. Em 2016, dezesseis anos após o último resgate na Brasil Verde, o Estado foi condenado por negligência. A indenização a 128 trabalhadores ultrapassou o valor de 4 milhões de dólares. O Brasil, que foi o último país das Américas a abolir a escravidão negra, tornou­ se o primeiro a ser condenado pela OEA por trabalho escravo.

Para o antropólogo americano Kevin Bales, autor de cinco livros sobre a escravização contemporânea e cofundador da ONG Free the Slaves (Liberte os Escravos), o Brasil perdeu o rumo que já teve nessa frente. “Quando pessoas de outros países me perguntavam o que elas deveriam fazer para combater a escravidão, eu dizia para seguirem o exemplo do Brasil. O que o país fez nos anos de 1990 a 2000 foi espetacular”, avaliou ele. “As atuais barreiras políticas devem ser superadas para que o governo possa voltar a acertar nesse terreno.”

Segundo a ONU, em todo o mundo os lucros obtidos com os cerca de 30 milhões de trabalhadores escravos chegam a 150,2 bilhões de dólares ao ano. O dado chama atenção – afinal, no passado, a escravidão exigia alto investimento e tinha baixo retorno; hoje em dia, é o oposto. Com a evolução tecnológica, os custos operacionais ficaram mais baixos. Antigamente, o trabalho escravo oferecia algo entre 15% e 20% de retorno anual. Hoje, esse número fica dentro de uma margem que vai de 300% a 500%. Sob essa lógica perversa, a escravização vale a pena. Não é de estranhar, portanto, que a resistência a combatê-la seja tão grande. Mesmo que isso signifique ter no país milhares de biografias devolvidas a um passado vergonhoso.

Escravos do Século XXI.2.

GESTÃO E CARREIRA

SEM MEDO DA CONCORRÊNCIA

Deixar a disputa de lado e investir em uma convivência saudável com um adversário pode render lições surpreendentes e ajudá-lo a crescer profissionalmente.

Tennis - Laver Cup - 2nd Day

No esporte, Rafael Nadal e Roger Federer, atualmente números 1 e 2 no ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), alimentam uma rivalidade que dura mais de uma década e já se enfrentaram dezenas de vezes em lados opostos da rede. Em setembro deste ano, último ano, o espanhol e o suíço dividiram a quadra de um jeito inusitado: em vez de adversários, foram companheiros em uma partida de duplas da Laver Cup, torneio amistoso que aconteceu em Praga, na República Tcheca. Eles venceram por 2 sets a 1 uma das duplas americanas em um jogo tão aguardado quanto suado.

Fora da quadra, os atletas são amigos e fãs um do outro. Na competição, encenaram o que no dia a dia de trabalho é rotina, embora nem todo mundo se dê conta: aquele adversário profissional (seja o colega da empresa concorrente, seja seu vizinho de baia no escritório, com quem você está sempre disputando visibilidade e reconhecimento) pode ser um grande aliado de seu sucesso. Que fique claro: a disputa predatória por posições ou promoções, que ainda reina nas empresas mais conservadoras, está fadada a desaparecer. Na realidade dos negócios modernos, “colaboração” é a palavra de ordem. Compartilhar recursos e conhecimento, oferecer e pedir ajuda e comemorar juntos as conquistas são atitudes de uma concorrência colaborativa, que se baseia no respeito, na ética e na sustentabilidade do negócio, sem precisar deixar de lado a preocupação com o lucro. “Cada vez mais, o que se defende é que ninguém precisa pisar no oponente para conquistar um lugar de destaque”, diz o coach Nélio Bilate, da NB Heart, consultoria de São Paulo. “A competição saudável é o que leva à evolução constante de indivíduos e corporações.”

A “competição”, termo difundido nos anos 90 para descrever estratégias de negócios que valorizam a atuação conjunta de pessoas e organizações a fim de gerar oportunidades positivas para todos os envolvidos, nunca foi tão atual. Gigantes do setor automobilístico e de tecnologia, por exemplo, já praticam a teoria, unindo-se no desenvolvimento de soluções com mais agilidade e menos custos. Entre pessoas físicas, o lucro também é certo. Descubra aprendizados valiosos, de vida e de carreira, que podem surgir dessa parceria tão rica.

1 – O RIVAL É SEU TRAMPOLIM

Numa entrevista após a vitória na Laver Cup, Roger Federer reforçou a importância do rival espanhol para sua carreira.

“Nadal sempre foi minha maior inspiração, pelas jogadas e pela intensidade em quadra. Tive de reinventar completamente meu jogo enfrenta-lo, de modo que devo parte do meu sucesso a ele, disse”. Quando o adversário a ser vencido é uma empresa concorrente, o profissional ao seu lado no escritório ou outro candidato no processo de seleção, a solução também é válida. “Enxergar algo que você ainda precisa desenvolver deverá deixar para buscar novos aprendizados e aperfeiçoamento”, diz Maria Cândida Baumer Azevedo, da People & Results, consultoria de carreira, de São Paulo.

 2 –  GANHAR NÃO É TUDO

Perseguir a todo custo o posto mais alto do pódio (ou de maior destaque no trabalho) quase sempre é certeza de uma vida estressante e, de certo modo, limitada e solitária. Focar seus esforços para estar entre os melhores, não importa quantos estejam acima, parece ser mais negócio. “Quando você elimina a comparação com os outros e diminui o nível de exigência consigo mesmo, fica livre para agir de acordo com sua verdade e cresce de forma construtiva sem o sofrimento de ter de ser melhor do que alguém”, diz Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, consultoria de recrutamento, de Belo Horizonte.

3 – NINGUÉM VENCE SOZINHO

No esporte, só há competição porque há oponentes. Na vida corporativa, por sua vez, toda vitória é conquista de um time. “Somar visões de mundo, habilidades e estilos diferentes de trabalho ajuda a lidar com processos e projetos complexos e a encontrar soluções que um profissional, sozinho, talvez não conseguisse”, diz Nélio. Nem os líderes são autossuficientes. Um gestor deve equilibrar e estimular potencialidades de modo a incluir todos os talentos – assim como um treinador eficiente.

4 – CONFLITOS FAZEM CRESCER

Ambientes corporativos hostis, em que se incentiva um cabo de guerra diário, ainda existem. Se você trabalha num lugar assim, mas não pretende fazer o jogo do predador, precisa se adaptar para não virar presa. “Autocontrole, paciência, resiliência e resistência à frustrações são emoções a ser trabalhadas para não acabar desmotivado ou doente”, afirma Adriana. No fim, todas essas qualidades fazem de qualquer pessoa um ser humano melhor.

 5 – NOVAS FERRAMENTAS DE TRABALHO

Na partida em que jogaram em dupla, Federer e Nadal colocaram em prática habilidades que não necessariamente acessam nas partidas de simples, nas quais são reis. O interesse pelo outro e a convivência amistosa com a concorrência tem dessas coisas; obrigam à adaptação, expandem o repertório, geram autoconhecimento, somam competências ao arsenal técnico e intelectual e, quanto mais ferramentas você tem a mão, mais preparado fica para enfrentar desafios e se destacar.

6 – ERRO TAMBÉM É APRENDIZADO

O colega da baia ao lado que está sempre atrasado na entrega das tarefas ou que se comunica de modo ríspido com a equipe também pode ser uma inspiração sobre como não agir. “Observar com atenção as ações e as escolhas do concorrente ou do parceiro de time trazem insights importantes do que se deve evitar para obter bons resultados”, diz Adriana. De quebra você aprende a olhar para si mesmo e para suas qualidades de modo mais acolhedor, sem achar o outro uma ameaça.

7 – OUTRO ÂNGULO

Conhecer o jogo da concorrência é básico para o sucesso de qualquer negócio. Imagine duas empresas do mesmo segmento: uma que investe pesado em tecnologia para desenvolver seus produtos e outra que foca o apelo emocional para alavancar as vendas. Colocar-se no lugar do adversário é uma maneira de olhar o cliente de outro ponto de vista e captar informações que não se tinha sobre ele para, então aprimorar o relacionamento e o serviço oferecido.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 22: 1-14 – PARTE I

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A Parábola da Ceia das Bodas

Aqui temos a parábola dos convidados ao jantar das bodas. O texto sagrado registra que Jesus (v.1) tornou a falar em parábolas, não respondendo ao que os seus oponentes tinham dito (pois eles haviam sido silenciados), mas ao que eles pensaram, quando desejaram uma oportunidade para prendê-lo (cap. 21.46). Cristo sabe como responder aos pensamentos dos homens, pois Ele tem o poder de discerni-los. Ou ainda Ele respondeu, isto é, Ele prosseguiu com o seu discurso com o mesmo objetivo; pois essa parábola representa a oferta do Evangelho, e a recepção que ele encontra, da mesma maneira que a parábola anterior, mas com outra analogia. A parábola da vinha representa o pecado dos governantes que perseguiam os profetas; ela também mostra o pecado do povo, que, de maneira geral, negligenciava a mensagem, enquanto os seus líderes estavam perseguindo os mensageiros.

 

I –  Os preparativos do Evangelho aqui são representados por um jantar que um rei ofereceu para celebrar as bodas do seu filho; assim é o Reino dos céus, assim é a provisão feita para as almas preciosas, no novo concerto e por meio dele. O Rei é Deus, um grande Rei, o Rei dos reis. Então:

1. São as bodas do seu Filho. Cristo é o Esposo, a igreja é a esposa; o dia do Evangelho é o dia do seu casamento (Cantares 3.11). Contemplem pela fé a igreja do primogênito, aqueles que estão escritos no céu, e foram dados a Cristo por Ele, de quem eles eram; e neles vemos a esposa do Cordeiro (Apocalipse 21.9). O concerto do Evangelho é um concerto de casamento entre Cristo e os crentes, e é um casamento feito por Deus. Esse lado da analogia é somente mencionado, e não detalhado aqui.

2. Há um jantar preparado para essas bodas (v. 4). Todos os privilégios da filiação à igreja, e todas as bênçãos do novo concerto, o perdão dos pecados, a graça de Deus, a paz de consciência, as promessas do Evangelho, e todas as riquezas ali contidas, dão acesso ao trono da graça, aos consolos do Espírito e a uma bem fundamentada esperança na vida eterna. Estes são os preparativos desse jantar, um céu sobre a terra, e um céu, no céu, em breve. Deus preparou esse jantar no seu conselho, no seu concerto. Ê um jantar que denota os privilégios atuais no nosso dia, além do jantar à noite, em glória.

(1). É uma festa. Os preparativos do Evangelho tinham sido profetizados como os de uma festa (Isaias 25.6), uma festa com animais gordos, e caracterizados como as muitas festas da lei cerimonial (1 Coríntios 5.8). Uma festa é um dia de alegria (Ester 9.17); assim também é o Evangelho; é uma festa contínua. Bois e cevados foram mortos para essa festa; nada de delicadezas, mas comida substancial; suficiente, e da melhor. O dia de uma festa é um dia de matança, ou de sacrifícios (Tiago 5.5). Os preparativos do Evangelho estão todos baseados na morte de Cristo, em seu próprio sacrifício. Uma festa foi feita para o amor, ela é uma festa de reconciliação, um símbolo da boa vontade de Deus em relação aos homens. Ela foi feita para a alegria (Eclesiastes 10.19), ela é uma festa de regozijo. Ela foi feita para a plenitude; o desígnio do Evangelho era encher todas as almas famintas com boas coisas. Ela foi feita para a comunhão, para conservar a relação entre o céu e a terra. Nós somos convidados para o banquete do vinho, para podermos dizer quais são as nossas súplicas, quais são os nossos pedidos.

(2). É um jantar de bodas. Os jantares de bodas normalmente são abundantes, gratuitos e alegres. O primeiro milagre que Cristo realizou foi providenciar uma provisão abundante para uma festa de bodas (João 2.7), e certamente Ele não desejaria que lhe faltasse provisão na sua própria festa de bodas, quando chegassem as bodas do Cordeiro, e a esposa estivesse pronta, um jantar vitorioso e triunfante (Apocalipse 19.7,17,18).

(3). É um jantar real de bodas; é um banquete de um rei (1 Samuel 25.36), nas bodas, não de um servo, mas de um filho. Então, Ele, como Assuero, mostrará as riquezas da glória do seu reino (Ester 1.4). A provisão feita para os crentes no concerto da graça não é algo que vermes indignos, como nós, tenhamos motivos para esperar, mas algo que é conveniente que o Rei da glória ofereça. Ele dá a si mesmo; pois Ele se dá para ser para eles El Shaddai um Deus que é suficiente, uma festa de verdade para a alma.

 

II – Os chamados e as ofertas do Evangelho são representados por um convite para esse jantar. Aqueles que oferecem um banquete comemorativo devem ter convidados a quem agraciar com o jantar. Os convidados de Deus são os filhos dos homens. “Senhor, que é o homem”, para ser dignificado dessa maneira! Os que foram convidados primeiro foram os judeus; onde quer que o Evangelho seja pregado, esse convite é feito. Os ministros são os servos que são enviados com os convites (Provérbios 9.4,5).

Considere que:

1. As pessoas são chamadas, convidadas para as bodas. Os convites são enviados a todos aqueles que ouvem o som alegre do Evangelho. Os ser­ vos que trazem os convites não escrevem os nomes dos convidados em um papel; não há necessidade disso, uma vez que ninguém está excluído, exceto aqueles que se excluem voluntariamente. Aqueles que são convidados para o jantar são convidados para as bodas; pois todo aquele que participa dos privilégios do Evangelho deve com­ parecer respeitosamente diante do Senhor Jesus, como amigo fiel e servo humilde do Esposo. Eles são convidados para as bodas, para que possam ir e encontrar o Esposo; pois é a vontade do Pai que todos os homens honrem ao Filho.

2. As pessoas são chamadas, pois no Evangelho não há apenas propostas graciosas, mas também persuasões graciosas. Nós persuadimos os homens e lhes rogamos da parte de Cristo (2 Coríntios 5.11,20). Veja o quanto o coração de Cristo está preocupado com a felicidade das nossas pobres almas! Ele não somente provê para elas, em consideração às suas necessidades, mas manda chamá-las, em consideração à sua fraqueza e descuido. Quando os convidados não quiseram comparecer, o rei enviou outros servos (v. 4). Quando os profetas do Antigo Testamento não conseguiram convencê-los, nem João Batista, nem o próprio Cristo – que lhes disse que os preparativos estavam prontos (era chegado o Reino de Deus) – , os apóstolos e os ministros do Evangelho foram enviados, depois da ressurreição de Cristo, para lhes dizer que o reino era chegado, que estava tudo pronto, e para persuadi-los a aceitar o convite. Alguém poderia pensar que teria sido suficiente dar a entender aos homens que eles tinham permissão de vir, e que seriam bem-vindos; que, durante a solenidade das bodas, o rei deixaria as portas abertas; mas, como o homem não discerne naturalmente, e, portanto, não deseja as coisas do Espírito de Deus, somos pressionados a aceitar o convite mediante as persuasões mais poderosas, atraídos com as cordas humanas e com todos os laços do amor. Se a repetição do convite nos comover: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17). Se o motivo do chamado nos comover: “Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto”. O Pai está preparado para nos aceitar; o Filho, para interceder por nós; o Espírito, para nos santificar; o perdão está pronto; a paz está pronta; o consolo está pronto; as promessas estão prontas, como fontes de água viva; as regulamentações estão prontas, como grandes canos para transporte de água; os anjos estão prontos para nos servir; as criaturas estão prontas para serem nossas aliadas; as providências estão prontas para trabalhar para o nosso bem; e o céu, por fim, está pronto para nos receber. Está tudo pronto. E nós não estamos? Toda essa preparação está feita para nós, e ainda há lugar para alguma dúvida quanto à maneira como seremos recebidos, se viermos de maneira adequada? Venha, portanto, venha às bodas; nós vos exortamos a que “não recebais a graça de Deus em vão” (2 Coríntios 6.1).

 

III – A fria recepção que o Evangelho frequentemente encontra entre os filhos dos homens, representada pela fria recepção que esse convite encontrou, e pela recepção que os mensageiros encontraram, em que tanto o próprio rei como o noivo são ofendidos. Isso reflete, basicamente, os judeus, que rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos; mas também se refere ao desprezo que, em todas as épocas, será dedicado ao Evangelho de Cristo, e à oposição que ele enfrentará.

1. O convite foi desprezado de maneira imoral (v. 3): “não quiseram vir”. Observe a razão pela qual os pecadores não vêm a Cristo, nem à salvação que é dada por Ele. Não é porque eles não possam, mas porque não querem (João 5.40): “Não quer eis vir a mim”. Isso irá agravar a infelicidade dos pecadores, pois poderiam ter tido uma grande felicidade se viessem; mas foi uma obra deles mesmos a atitude de se recusarem a vir. “Quis eu…, e tu não quiseste”. Mas isso não era tudo (v. 5): “não fazendo caso”. Eles pensaram que não valia a pena ir. Pensaram que os mensageiros faziam mais alvoroço que o necessário; por mais que eles destacassem os preparativos, os convidados festejariam muito bem em suas próprias casas. Fazer pouco de Cristo, e da grande salvação operada por Ele, é o pecado destruidor do mundo. Eles foram negligentes. Multidões perecem, eternamente, por simples descuido, não por terem qualquer aversão direta às questões das suas almas, mas por uma indiferença predominante, e por uma despreocupação com tais questões.

E a razão pela qual fizeram pouco do jantar das bodas foi que eles tinham outras coisas com que se preocupavam mais; seguiram seus caminhos, “um para o seu campo, outro para o seu negócio”. Observe que os negócios e o lucro das coisas do mundo provam ser, para muitos, um grande obstáculo ao fechamento com Cristo; nenhum deu as costas para o jantar, mas todos ofereceram alguma desculpa plausível (Lucas 14.18). As pessoas do campo tinham as suas fazendas para cuidar, onde sempre há uma coisa ou outra para fazer; as pessoas da cidade precisavam cuidar das lojas, e se preocupar com as questões financeiras; eles precisavam comprar, vender, e ter luro. É verdade que tanto os fazendeiros quanto os comerciantes precisam ser diligentes nos seus negócios, mas não a ponto de se verem impedidos de fazer da fé o se u principal negócio. Essas coisas lícitas nos destroem, quando são manejadas de maneira imprópria, quando somos tão cuidadosos e preocupados com tantas coisas, a ponto de negligenciarmos a única coisa necessária. Observe que tanto a cidade quanto o campo têm as suas tentações; o comércio tem algumas, enquanto as fazendas têm outras. Desse modo, a despeito de qualquer coisa do mundo que tenhamos em nossas mãos, a nossa preocupação deve ser mante r isso fora dos nossos corações, para que não se interponha entre nós e Cristo.

2. Os mensageiros foram maltratados de forma vil; os que sobraram, isto é, aqueles que não foram ao campo nem aos seus negócios, não eram nem lavradores nem comerciantes, mas eclesiásticos. Eram os escribas e os fariseus, os principais dos sacerdotes; eram os perseguidores. Eles tomaram os servos e os ultrajaram, e os mataram. Isto, na parábola, é incompreensível. Como puderam ser tão rudes e bárbaros, como essas pessoas, com os servos que vieram convidá-los a uma festa; mas, na aplicação da parábola, era verdade; aqueles cujos pés deveriam ter sido bonitos, porque traziam as boas-novas de festas solenes (Naum 1.15), foram tratados como a escória de todos (1 Coríntios 4.13). Os profetas e João Batista já tinham sido maltratados dessa maneira, e os apóstolos e ministros de Cristo deviam esperar a mesma coisa. Os judeus, direta ou indiretamente, eram os agentes da maioria das perseguições contra os pregadores do Evangelho. Um testemunho dessa verdade é a história dos Atos dos Apóstolos, que retrata os seus sofrimentos.

 

IV – A destruição completa que viria sobre a igreja e a nação dos judeus é aqui representada pela vingança que o rei, irado, enviou contra esses insolentes dissidentes (v. 7). Ele se encolerizou. Os judeus, que tinham sido o povo do amor e da bênção de Deus, ao rejeitarem o Evangelho, tornaram-se a geração da sua ira e maldição. A ira de Deus caiu sobre eles até ao fim (1 Tessalonicenses 2.16). Considere aqui:

1. Qual foi o pecado que produziu a destruição: o fato de eles terem assassinado os servos. Não se diz que Ele destruiu os que desprezaram o seu convite, mas que destruiu os homicidas, os que tinham matado os seus servos. Como se Deus tivesse mais zelo pela vida dos seus ministros do que pela honra do seu Evangelho. Aquele que os toca, toca a menina dos seus olhos. Observe que a perseguição dos ministros fiéis de Cristo merece a imputação da culpa, mais que qualquer outra coisa. Encher Jerusalém de sangue inocente foi o pecado de Manasses que o Senhor não quis perdoar (2 Reis 24.4).

2. Qual foi a destruição que veio: Ele enviou “os seus exércitos”. Os exércitos romanos eram os seus exércitos, que Ele convocou, que Ele enviou contra o povo da sua ira, e a ordem era destruí-lo (Isaias 10.6). Deus é o Senhor dos exércitos dos homens, e faz deles o uso que quiser, para servir aos seus próprios objetivos, embora eles não o percebam, nem o seu coração assim o imagine (Isaias 10.7; veja Miqueias 4.11,12). Com seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Isto indica, muito claramente, a destruição dos judeus e o incêndio de Jerusalém, pelos romanos, quarenta anos mais tarde. Nenhuma época jamais viu uma destruição maior do que aquela, nem efeitos mais diretos do fogo e da espada. Embora Jerusalém tivesse sido uma cidade santa, a cidade que Deus tinha escolhido para lhe dar o seu nome, bonita por condição, a alegria de toda a terra, ainda as­ sim aquela cidade agora tinha se tornado uma prostituta, e a justiça não mais habitava ali, mas os homicidas, os piores homicidas (como diz o profeta, Isaias 1.21). Assim, o julgamento caiu sobre ela, e a destruição não teve remédio; e isso serve de exemplo a tudo o que se opuser a Cristo e ao seu Evangelho. A vingança à oposição ao seu concerto foi uma obra do Senhor.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A VERDADE SOBRE A TERAPIA DE CHOQUE

Apesar de a eletroconvulsoterapia ser uma técnica ainda cercada de preconceitos, há casos em que pode ser uma solução razoavelmente segura para algumas doenças mentais graves.

A verdade sobre a terapia de choque

Um paciente agitado é levado à força para uma sala e contido em uma maca num hospital psiquiátrico. Punido por desafiar a autoridade sádica da enfermeira-chefe, é submetido – completamente acordado – à intervenção conduzida por um médico e outros membros da equipe, que colocam eletrodos em ambos os lados da cabeça e disparam uma rápida carga elétrica. Vários enfermeiros o seguram, enquanto o paciente se contorce de dor descontroladamente, caindo em seguida em estado de estupor. A cena do premiado Um estranho no ninho (1975), estrelado por Jack Nicholson como o paciente rebelde, provavelmente influenciou muito mais a percepção do público em geral sobre a terapia eletroconvulsiva (ECT) do que as descrições científicas. Como resultado, muitos leigos a consideram hoje um procedimento perigoso ou até mesmo cruel. No entanto, diversos dados sugerem que, quando administrado de forma correta e cuidadosa, o tratamento, utilizado em situações específicas, é relativamente seguro e pode ser benéfico para casos de depressão grave e outras formas de doença mental.

 OSSOS QUEBRADOS

O clássico dirigido por Randle Patrick McMurphy está longe de ser o único retrato negativo da ECT. Em uma pesquisa de 2001 com 24 filmes que abordam o tratamento, os psiquiatras Andrew McDonald, da Universidade de Sydney, e Garry Walter, da Central Coast Health do Norte de Sydney, em Nova Gales do Sul, apontam que as representações sobre o método são geralmente pejorativas e imprecisas. Na maioria dos casos retratados, a técnica é aplicada em pessoas totalmente conscientes e aterrorizadas, sem seu consentimento e, não raro, como castigo pela desobediência. Após os choques, os pacientes geralmente passam a dizer coisas incoerentes ou permanecem num estado de apatia. Em seis dos filmes analisados, pioram drasticamente ou morrem.

É muito provável que o modo como o assunto é tratado nos filmes colabore com atitudes negativas do público em geral sobre a ECT. Uma pesquisa de 2012, desenvolvida pelas psicólogas Annette Taylor e Patrícia Kowalski, da Universidade de San Diego, com 165 universitários do curso de psicologia (presumidamente mais informados sobre terapias para doença mental), demonstrou que aproximadamente 74% dos participantes concordavam que o procedimento é fisicamente perigoso. Outro estudo de 2006, com 1.737 suíços, coordenado pelo psicólogo Christoph Lauber, na época do Hospital Universitário de Psiquiatria em Zurique, revelou que 57% consideravam a ECT prejudicial; apenas 1,2% apoiavam a utilização.

Coloquialmente chamada de “terapia de choque”, a técnica foi introduzida em 1938 pelos neurologistas italianos Ugo Cerletti e Lucio Bini como um tratamento para a psicose. (Aparentemente, Cerletti se inspirou ao observar que vacas que iam para o abate ficavam sedadas depois de receberem uma carga elétrica.) O tratamento é simples: eletrodos são colocados na cabeça do paciente, por onde passa uma corrente elétrica que provoca mudanças na química e na atividade cerebral.

Assim como muitos temiam, de fato a intervenção era perigosa antes de meados dos anos 50. Na época, os pacientes permaneciam acordados durante a ECT. Os choques causavam convulsões e os movimentos produzidos eram tão bruscos que chegavam a quebrar seus ossos.

Hoje em dia, nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, os pacientes recebem a ECT com relaxante muscular e anestesia geral, administrados para conter movimentos desordenados durante o episódio epilético (inerente ao uso da técnica) e diminuir o desconforto geral.

Embora ainda passem por essa crise, permanecem inconscientes durante o procedimento e não sentem dor nem enfrentam convulsões observáveis. Além disso, as ondas cerebrais e outros sinais vitais são monitorados para assegurar o bem-estar da pessoa.

Esses avanços tornaram a ECT mais segura e menos assustadora. Em uma pesquisa de 1986, com 166 pacientes submetidos a eletroconvulsoterapia, os psiquiatras C.P.L. Freeman e R.E. Kendell, da Universidade de Edimburgo, relataram que 68% dos voluntários descreviam a experiência como não mais perturbadora do que uma visita ao dentista. Para os outros, era mais desagradável, porém indolor.

No entanto, o tratamento não é livre de perigos. Em alguns países, muitos médicos ainda administram a ECT como em 1950. Em um estudo de revisão de 2010, o psiquiatra Worrawat Chanpattana e seus colegas, do Hospital Samitivej Srinakarin, em Bangkok, apontam que 56% dos pacientes de 14 países asiáticos receberam o tratamento sem relaxante muscular ou anestésico. Mas, é preciso considerar que, independentemente do país e do método, a ECT pode causar efeitos negativos, como desorientação temporária, e mais seriamente, amnésia retrógrada, o que faz com que a pessoa se esqueça de eventos que ocorreram algumas semanas ou até mesmo meses antes do tratamento. Os efeitos colaterais são menores quando os eletrodos são colocados somente em um dos lados da cabeça. Tecnologias recentes, como máquinas de pulsos breves que permitem calibrar com mais cuidado a dose de energia elétrica, minimizam a extensão da amnésia. No entanto, alguns problemas de memória quase sempre acompanham quem passou pelo procedimento. Além disso, estudos sugerem que a ECT pode, em casos raros, levar a perdas cognitivas permanentes. Embora os dados que sustentam essa hipótese ainda não sejam definitivos, é importante considerar essas informações.

MISTERIOSOS MECANISMOS

Devido aos efeitos adversos na memória, a ECT deve ser considerada somente como último recurso de tratamento. No entanto, muitas pesquisas sugerem que o tratamento pode ser eficaz no alívio de sintomas de várias doenças mentais, como depressão grave e mania no transtorno bipolar. Além disso, parece amenizar a catatonia, uma condição associada à esquizofrenia e ao transtorno bipolar, caracterizada por alterações marcantes do movimento, como permanecer em posição fetal ou gesticular repetidamente.

Argumentos a favor da intervenção seriam ainda mais fortes se os pesquisadores pudessem determinar exatamente como o tratamento funciona. Em uma revisão feita em 2011, o psiquiatra Tom Bolwig do Hospital Universitário de Copenhague observou que a ECT pode aumentar a secreção de determinados hormônios, um processo prejudicado na depressão. Outros pesquisadores sugerem que a eletricidade estimula o crescimento neural e ajuda a reconstruir áreas do cérebro que protegem contra o distúrbio. Uma terceira hipótese é de que as próprias convulsões redefinem fundamentalmente a atividade cerebral, o que pode trazer alívio, conclui Bolwig.

A ECT também pode ajudar no tratamento de algumas patologias, alterando a sensibilidade dos receptores de neurotransmissores, como a serotonina. No entanto, nenhuma dessas teses foi suficiente para que os cientistas conseguissem apoio para pesquisa. À medida que aprendemos mais sobre essa intervenção mal compreendida, podemos reinar nossos métodos de aplicação e os efeitos negativos da ECT. E é importante que os profissionais de saúde tenham em mente que, mesmo em sua forma atual, o tratamento não se trata de um castigo cruel, como muitas vezes retratado. Em determinadas circunstâncias, quando tudo mais falha, vale a pena considerá-lo como opção para aliviar um intenso sofrimento psicológico.

 

SCOTT O. LILIENFELD – é professor de psicologia na Universidade de Emory.

HAL ARKOWITZ – é professor-associado de psicologia na Universidade do Arizona.

OUTROS OLHARES

A FEBRE DO LEITE DOURADO

Chegou ao Brasil o hábito americano de consumir bebidas à base de cúrcuma. As propriedades da especiaria podem ser benéficas – mas estão longe de fazer milagres

A febre do leite dourado

Vitaminas que prometem corpo esbelto e ânimo no cotidiano vêm e vão como ondas no mar. Se não existissem, seria preciso inventá-las. A estrela da hora são as bebidas à base de cúrcuma, vendidas nos Estados Unidos em quantidades garrafais. É o golden milk, ou leite dourado. Em doses pequenas ou maiores, misturado com leite, o preparo de cor alaranjada é consumido sobretudo por quem pratica esportes, está em busca de disposição, bem-estar e, é claro, emagrecimento. O modismo já começou a desembarcar no Brasil. Aqui é possível comprar a mistura pronta em lojas de produtos naturais. Os consumidores dizem que os efeitos do leite dourado podem ser reais. A atriz americana Gwyneth Paltrow, a socialite Kourtney Kardashian e a estilista Victoria Beckham, entre outras, publicaram recentemente nas redes sociais os benefícios experimentados e receitas com o ingrediente. Diz a nutricionista Patrícia Davidson Haiat, do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional: “A cúrcuma tem um potencial enorme para a saúde por ser uma das especiarias mais ricas em qualidades medicinais”.

Também conhecida como açafrão-da-terra, a cúrcuma é uma raiz cultivada desde a Antiguidade na Ásia. Ela é usada especialmente como tempero, dando um sabor picante e ao mesmo tempo adocicado aos alimentos. No leite, o sabor forte se dissipa. Os estudos de benefícios para a saúde ganharam velocidade na última década. Na maior base de dados científicos do mundo, o PubMed, há 4.438 pesquisas publicadas sobre a cúrcuma – o dobro em relação ao número de trabalhos sobre outros temperos. Seu poder está em sua substância mais abundante, a curcumina. Concentram-se nela pelo menos quatro propriedades essenciais para o funcionamento do organismo. Trata-se de um poderoso antioxidante, capaz de reduzir os danos causados pelos radicais livres – partículas que danificam a membrana celular, alteram o DNA e provocam a morte das células -, o que traria como consequência mais disposição. Ela é termogênica, característica que ajuda na aceleração do metabolismo – associada ao emagrecimento. É analgésica, contribuindo para o bem-estar.

E, por fim, é anti-inflamatória, com poder de impactar no tratamento de doenças.

A curcumina é um dos anti-inflamatórios mais potentes já estudados. Tem efeito comparável ao dos corticoides, uma classe de medicamentos com essa ação controlada e estabelecida. Essa sua propriedade foi alvo de um trabalho publicado em março deste ano no The American Journal of Geriatric Psychiatry, que mostrou o papel da especiaria no combate a uma das doenças de origem neurológica mais complexas e de difícil tratamento – o Alzheimer. Em pacientes com problemas de memória, o consumo de cúrcuma ao longo de dezoito meses reduziu os sintomas e diminuiu o nível de duas proteínas cerebrais associadas ao Alzheimer, a tau e a beta­ amiloide. Os resultados do estudo foram atingidos com o equivalente a uma colher de chá diária de cúrcuma. Para os efeitos procurados por pessoas saudáveis, essa porção também seria suficiente. A ingestão de uma quantidade maior, frise-se, não controlada por um médico, pode ser arriscada, provocando agressões ao estômago e alergias. A cúrcuma faz bem – mas está longe de ser milagrosa e, em dose exagerada, faz mal.

GESTÃO E CARREIRA

OS LIMITES DA EMPATIA

Pesquisadores descobriram que, praticada em excesso, essa habilidade pode causar esgotamento mental e prejudicar a carreira.

Os limites da empatia

Na década de 80, a americana Patrícia Moore, então com 26 anos, resolveu vivera rotina de uma senhora idosa durante três anos. Todos os dias a jovem aplicava camadas de látex no rosto para parecer enrugada, colocava óculos que embaçavam sua visão, tapava os ouvidos para escutar pouco e vestia bandagens e talas para diminuir a mobilidade. Com o resultado, Patrícia ficou mundialmente conhecida por revolucionar o design de eletrodomésticos (muito pesados na época) e torná-los mais inclusivas. De lá para cá, sua história é usada como referência para explicar a empatia, definida como a habilidade de se colocar no lugar do outro. Embora esse comportamento tenha uma importância inegável nos dias de hoje – principalmente ante a crescente intolerância, fomentada pelas redes sociais, estudos apontam que não é necessário, nem saudável, ser empático em excesso. De acordo com uma pesquisa publicada no início do ano pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, existem dois Jeitos de manifestar empatia. O primeiro é se colocar no lugar de outra pessoa e assumir os sentimentos dela como seus.

O segundo é reconhecer os sentimentos desse indivíduo e tentar entender a perspectiva dele. Para chegar a essa conclusão, os professores recrutaram 212 voluntários para redigir uma carta com conselhos para alguém que estava com dificuldades financeiras. O detalhe é que essa pessoa, na verdade, era um personagem fictício inventado pelos pesquisadores. Mas ninguém sabia disso. Metade do grupo foi orientada a escrever o texto com distanciamento, pensando apenas sobre a perspectiva do personagem. A outra parte deveria redigir imaginando como se sentiria se es tivesse passando pela mesma situação. Quando mediram a frequência cardíaca e a pressão arterial dos participantes, a surpresa: no segundo grupo, esses índices estavam mais elevados do que no primeiro. A conclusão foi que a empatia, se não for utilizada de forma correta, pode levar a um quadro de estresse crônico no longo prazo. “Em profissões mais emocionalmente exigentes, como medicina, serviço social, psicologia ou coaching, o ônus de testemunhar o sofrimento pode levar ao esgotamento, o que, em alguns casos, impossibilita os indivíduos de seguir exercendo essas funções. É como se eles sentissem o tempo todo que o sofrimento que presenciam acontece em sua vida”, diz Michael Poulin, um dos autores do estudo.

QUESTÃO DE PERSONALIDADE

Muitos estudos de neurociência apontam que a maior parte das pessoas toma as próprias emoções como referência para demonstrar solidariedade. Ou seja, nossa tendência é nos colocar no lugar do outro caso já tenhamos experimentado uma situação parecida em algum momento da vida. “Nesses casos, a empatia vem naturalmente, porque você sabe ou imagina quão difícil determinado contexto pode ser, então é mais fácil se conectar com o sofrimento daquela pessoa”, diz Karen Vogel, psicóloga clínica e professora na The School of Life, de São Paulo. Porém, para alguns, o fato de já terem vivido um episódio semelhante pode fazer com que não consigam entender a fronteira entre seus sentimentos e os do outro, transformando a empatia num processo traumático para ambas as partes. ”Às vezes, adota-se um processo de transferência que faz com que você mergulhe no sofrimento alheio e, em vez de ajudar a outra pessoa a sair do fundo do poço, caia junto com ela”, diz Roberto Debski, psicólogo clinico e coach, de São Paulo.

O modo de lidar com as próprias emoções pode determinar quais serão os limites da empatia de uma pessoa. Um exemplo são indivíduos que tiveram os chamados “pais invalidantes”, que recriminavam manifestações como choro ou tristeza dos filhos. “Essas pessoas aprenderam que a emoção é algo que não se pode expressar, e não entendem quão importantes são os sentimentos. Ou podem buscar o modelo oposto e se tornarem excessivamente empáticas”, diz Karen. As mulheres costumam ser mais propensas a desenvolver uma empatia prejudicial. Isso porque, socialmente, são incentivadas a realizar atividades que envolvam o cuidado com terceiros. “Como a mulher tem esse comportamento estimulado, costuma acreditar que tem de dar conta de tudo sozinha, inclusive trazendo para si questões de outras pessoas, o que gera um estresse que pode desencadear quadros de esgotamento”, afirma.

Encontrar um equilíbrio para a empatia tem sido um desafio na carreira do paulistano Thiago Valadares, de 36 anos. Formado em administração e em relações públicas, ele tem facilidade em se relacionar e escutar demandas alheias. “Faço trabalho voluntário com moradores de rua e sempre me coloquei na posição de ouvir e me colocar no lugar do outro”, afirma. Mas, quando se tornou líder, isso virou uma questão delicada. À frente da Seven Grupo Digital, misto de agência de marketing e aceleradora de startups da qual é sócio, ele percebeu que algumas pessoas tentam tirar vantagem de sua empatia excessiva. “Elas sabem que me sensibilizo e que tenderei a dar permissão para uma demanda. Então, preferem falar comigo na hora de justificar uma falta, por exemplo. Acham que vai ser mais fácil”, diz. Para contornar esse comportamento, Thiago passou a delegar esse tipo de conversa para seu sócio, Fernando Cywinski, diretor financeiro da empresa “Sei que, para o negócio, não é saudável ser assim. Por isso, procuro ajuda. Assim, escapo da minha dificuldade de dizer não.”

 DISTANCIAMENTO

No ambiente profissional, pessoas que não conseguem adotar a medida correta da empatia também podem ficar sobrecarregadas, porque tendem a trazer para si a missão de resolver os problemas dos outros. E o pior é que isso ainda pode ser mal interpretado. “A empatia é confundida com intrometimento. Quando as pessoas estão num momento difícil, querem alguém que as ouça, mas que as deixe descobrir sozinhas o próprio caminho”, afirma Karen.

Além disso, no mundo dos negócios é preciso fazer o balanço entre a perspectiva externa e as necessidades da empresa Só assim é possível tomar decisões racionais e não cair no perigo de justificar uma escolha ruim apenas por pena de alguém da equipe – postura que, aliás, pode ser vista como diferenciação no tratamento aos funcionários. “No trabalho é preciso ser equânime, olhar para todos da mesma maneira”, diz Roberto. Na liderança, a empatia deve ser usada como um recurso para ajudá-lo a conquistar uma visão sistêmica. Para isso, primeiro você tem de entender a si mesmo. Depois, compreender o outro. E, no final, buscar uma visão de fora, de alguém não envolvido com a situação, para criar um contexto geral e fazer julgamentos mais equilibrados. O economista Rubens Augusto Junior, de 59 anos, procura praticar esse distanciamento na presidência da rede de franquias e pizzarias Patroni, de São Paulo, que tem 300 funcionários e um faturamento de 370 milhões de reais. Por trabalhar ao lado dos filhos e da irmã na companhia, de origem familiar, ele diz que procura manter certa frieza para evitar favoritismos e não deixar que a emoção se misture aos negócios. “Não posso deixar de lado a empatia porque somos uma empresa de serviços, porém, tento me afastar e refletir para tomar a decisão correta – chego a demorar um mês em alguns casos”, diz.

CAMINHO DO MEIO

Uma alternativa para exercitar a empatia sem sobrecarregar a si próprio é recorrer à compaixão – sentimento de pesar conectado ao desejo de confortar alguém. Além de ativar áreas do cérebro associadas à recompensa e à Integração a um grupo social, o que desencadeia sensações de bem-estar, a compaixão é útil para se blindar do sofrimento. “É uma maneira de entrar em sintonia. Você percebe a questão do outro e ouve o problema, mas não perde a capacidade de pensar de forma racional”, afirma Roberto.

O Importante é adotar um caminho do meio para usar a empatia de forma saudável. “É preciso ampliar a consciência de nós mesmos, de nossos traumas e conflitos para não cair em modelos de comportamento que nos prejudiquem”, diz Roberto. Ou seja, a chave é não apontar para nós mesmos as armas que poderiam ser usadas a favor dos demais.

 VOCÊ ESTÁ EXAGERANDO?

Os sinais de que você pode estar abusando da empatia.

1 –   Quando alguém compartilha um momento difícil, você automaticamente se imagina no lugar daquela pessoa.

2 – Em vários momentos, você se sente responsável por resolver os problemas dos outros – mesmo que eles não tenham nada a ver com sua vida.

3 – Quase sempre você deixa de fazer coisas por si mesmo porque sente que as outras pessoas necessitam de mais atenção.

4 – Os problemas alheios o afetam emocional e fisicamente. Assim, é comum sentir ansiedade, tristeza e estresse quando alguém lhe conta algo ruim.

5 – Você tende a relevar falhas das outras pessoas com facilidade, preocupando-se com os sentimentos alheios mais do que com os seus.

 

 

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 21: 33-46

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A Parábola dos Lavradores Maus

Essa parábola define claramente o pecado e a destruição da nação judaica; os judeus e os seus líderes são os lavradores; e o que é dito para condená-los, é dito para advertir a todos os que desfrutam dos benefícios da igreja visível, para que não se limitem aos princípios elevados, mas ao temor.

 

I – Aqui temos os privilégios da nação judaica, representados pelo arrendamento da vinha aos lavrado­ res; eles eram como arrendatários de Deus, o Grande Pai de família, e sujeitos a Ele. Observe:

1. Como Deus estabeleceu uma igreja no mundo para si. O Reino de Deus sobre a terra é aqui comparado a uma vinha, dotada de todas as coisas necessárias para uma administração e aproveitamento vantajosos dela.

(1). Ele plantou uma vinha. A igreja é a “plantação do Senhor” (Isaias 61.3). A formação de uma igreja, por si só, é um trabalho, como a plantação de uma vinha, o que exige custos e cuidados. É a videira que a destra de Deus plantou (Salmos 80.15), que “a plantou de excelentes vides” (Isaias 5.2), uma “vide excelente” (Jeremias 2.21). A própria terra produz espinhos e arbustos espinhosos, mas as vinhas precisam ser plantadas. A existência de uma igreja se deve ao favor distinto de Deus, e à sua manifestação a alguns, e não a outros.

(2). Ele circundou-a de um valado. Observe que a igreja de Deus no mundo está sob a sua proteção especial. Assim como Jó estava cercado de todos os lados (Jó 1.10), há, ao redor da igreja, a vinha do Senhor, um valado, um muro de fogo (Zacarias 2.5). Onde Deus tiver uma igreja, esse é, e sempre será, um lugar merecedor de sua atenção especial. O concerto da circuncisão e a lei cerimonial eram uma cerca, ou um muro separador ao redor da nação judaica, e ele foi derrubado por Cristo. Além disso, o Senhor Jesus indicou uma ordem e uma disciplina do Evangelho que ser viriam como uma cerca de separação da sua igreja. Ele não desejava que a sua vinha fosse comunitária, mas queria impedir que aqueles que estivessem fora dela pudessem ter acesso a ela quando e como quisessem. O Senhor também não desejava que ela fosse isenta de regras, mas queria impedir que aqueles que estivessem dentro dela pudessem açoitá-la quando quisessem. Assim, Ele se preocupou em estabelecer limites ao redor desse monte santo.

(3). Ele “construiu nela um lagar, e edificou uma torre”. O altar dos holocaustos era o lagar, ao qual todas as ofertas eram trazidas. Deus instituiu regulamentações em sua igreja, para a devida supervisão e para a promoção da sua frutificação. O que mais poderia ter sido feito para torná-la mais conveniente?

2. A maneira como Ele confiou esses privilégios visíveis da igreja ao povo judeu, especialmente aos seus principais sacerdotes e anciãos: Ele a arrendou para eles, como lavradores, não porque Ele precisasse deles, da maneira como os fazendeiros precisam de arrendatários, mas porque assim poderia testá-los, e ser honrado por eles. Quando Deus foi conhecido em Judá, e o seu nome foi engrandecido, quando eles foram levados para serem seus, por povo, e por nome, e por louvor (Jeremias 13.11), quando Ele revelou a sua Palavra a Jacó (Salmos 147.19), quando o concerto da vida e da paz foi celebrado com Levi (Malaquias 2.4,5), então essa vinha foi arrendada. Veja uma simplificação desse arrendamento (Cantares 8.11,12). O Senhor da vinha teria “mil peças de prata” (compare com Isaias 7.13); o lucro principal seria dele, mas os arrendatários teriam duzentas, um incentivo competente e cômodo. E então, ele se ausentou para uma terra longínqua. Quando Deus, em uma manifestação visível, estabeleceu a religião judaica no monte Sinai, Ele também se afastou, de maneira similar; eles não tinham mais a visão aberta, mas tinham recebido a Palavra escrita. Eles também podem ter imaginado que Ele tivesse ido a uma nação distante, como Israel, quando fez o bezerro, imaginando que Moisés tivesse ido embora. Eles afastavam de si mesmos o dia mal, utilizando os recursos de que dispunham.

 

II – A expectativa de Deus com o arrendamento a esses lavradores (v. 34). Era uma expectativa razoável, pois “quem planta a vinha e não come do seu fruto?” Observe que Deus espera os frutos daqueles que desfrutam dos privilégios da igreja, tanto os ministros quanto o povo, de maneira proporcional.

1. As suas expectativas não tinham pressa. Ele não exigiu um paga­ mento adiantado, embora tivesse tido tantos gastos com a vinha, mas esperou que chegasse o tempo dos frutos, como quando João pregava que era chegado o Reino dos céus. Deus espera para ter misericórdia, espera para nos dar tempo.

2. Eles não eram nobres, não mostravam ter uma moral elevada. Ele não exigiu que eles viessem, correndo perigos, sob pena de perder a concessão, caso se atrasassem, mas Ele lhes enviou os seus servos, para lembrá-los do seu dever, e do dia do pagamento, e para ajudá-los a colher os frutos e enviar-lhe a sua parte. Esses servos eram os profetas do Antigo Testamento, que foram enviados, algumas vezes diretamente, aos judeus, para repreendê-los e instruí-los.

3. Eles não eram pessoas difíceis; o problema era apenas “receber os frutos”. Ele não exigiu mais do que eles conseguiam produzir, mas apenas uma porção dos frutos, que Ele mesmo tinha plantado, em observância às leis e aos estatutos que Ele lhes tinha dado. O que poderia ser mais razoável? Israel era uma vinha vazia, ou melhor, ela tinha se tornado a planta degenerada, a vide estranha, e produzia uvas bravas.

 

III – A maldade dos lavradores ao maltratarem os mensageiros que lhes tinham sido enviados.

1. Quando Ele lhes enviou os seus servos, eles os maltrataram, embora os servos representassem o próprio senhor, e falassem em seu nome. Os chamados e as reprovações da Palavra, se não envolverem, irão apenas exasperar. Veja aqui o que aconteceu, na prática, com os fiéis mensageiros de Deus:

(1). Eles sofreram; foram perseguidos da mesma maneira como “os profetas” foram perseguidos. Estes foram odiados com ódio cruel. Não somente os desprezaram e censuraram, mas os trataram com o os piores malfeitores – eles os feriram, e os mataram, e os apedrejaram. Eles feriram Jeremias, mataram Isaías e apedrejaram Zacarias, o filho de Joiada, no Templo. Se aqueles que vivem devotamente em Cristo Jesus sofrem perseguições, muito mais aqueles que levam outros a esse tipo de vida. Uma disputa de Deus com os judeus estava relacionada à maneira como mal­ trataram os seus profetas (2 Crônicas 36.16).

(2). Competia a eles sofrer nas mãos dos arrendatários do seu Senhor. Os lavradores que os trataram dessa maneira eram os principais dos sacerdotes e os anciãos, que se sentavam na cadeira de Moisés, que professavam religião e relacionamento com Deus; eram os inimigos mais amargos dos profetas do Senhor, expulsando-os, e matando-os, e dizendo: “O Senhor seja glorificado” (Isaias 66.5; veja Jeremias 20.1,2; 26.11).

Considere:

[1]. Como Deus perseverou na sua bondade para com eles. Ele enviou outros servos, em maior número que os primeiros, mas esses também foram maltratados. Ele lhes tinha enviado João Batista, e eles o tinham decapitado; e ainda assim, Ele lhes enviou os seus discípulos, para preparar o seu caminho. Oh!, As riquezas da paciência e da tolerância de Deus, ao continuar com a sua igreja, em um ministério desprezado e perseguido!

[2]. Como eles persistiram na sua maldade. A esses servos, eles fizeram a mesma coisa que tinham feito aos primeiros. Um pecado abre caminho para outro do mesmo tipo. Aqueles que estão embriagados com o sangue dos santos, acrescentam a embriaguez à sede, a ainda pedem: Dá, dá.

2. Por fim, Ele lhes enviou o seu Filho. Nós vimos a bondade de Deus, nos seus envios, e a maldade dos lavradores, ao maltratar os servos; mas no final, os dois lados se excederam.

(1). Nunca a graça pareceu mais graciosa do que ao enviar o Filho. Isto foi feito no final. Observe que todos os profetas foram precursores e arautos de Cristo. Ele foi enviado por último; pois se nada mais funcionasse com eles, certamente isso funcionaria; por isso, Ele foi deixado para o último recurso. “Terão respeito a meu filho”, e por isso Eu o enviarei. Observe que é razoável esperar que o Filho de Deus, quando viesse aos seus, fosse reverenciado; e reverenciar a Cristo seria um princípio poderoso e efetivo de produtividade e de obediência, para a glória de Deus. Se eles apenas reverenciassem o Filho, o objetivo teria sido alcançado. “Terão respeito a meu filho”, pois Ele vem com mais autoridade que os servos; àquele a quem todos os homens honrarem se deverá o juízo (veja João 5.22,23). Há maior perigo em rejeitá-lo do que em desprezar a lei de Moisés.

(2). O pecado nunca havia se manifestado de uma forma tão terrível quanto o seria através da atitude de maltratar o Filho de Deus, o que deveria acontecer dentro de dois ou três dias. Considere:

[1]. Como tudo foi planejado (v. 38). Eles planejaram tudo quando viram o Filho, quando veio aquele que o povo reconhecia e seguia como o Messias, que receberia o arrendamento, ou tomaria os bens; isto atingia a sua propriedade (a propriedade que eles tinham arrendado), e eles decidiram dar um golpe ousado para defendê-la, e para preservar a sua riqueza e grandeza, removendo do caminho aquele que era o único obstáculo para eles, o seu único rival. “Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo”. Pilatos e Herodes, os príncipes deste mundo, não sabiam disso, pois se tivessem sabido, “nunca crucificariam ao Senhor da glória” (1 Coríntios 2.8). Porém, os principais dos sacerdotes e os anciãos sabiam que esse era o herdeiro, pelo menos alguns deles; e por isso disseram: “Vinde, matemo-lo”. Muitos são mortos devido àquilo que possuem. A razão principal por que tinham inveja dele, e por isto o odiavam e temiam, era o seu interesse pelo povo e as suas hosanas. Se Ele fosse eliminado, eles esperavam que esses louvores fossem direcionados para si mesmos. Eles pensaram que Ele deveria morrer para salvar o povo dos romanos (João 11.50); mas, na verdade, Ele deveria morrer para salvar o povo da hipocrisia e da tirania daqueles líderes religiosos. O esperado reino do Messias certamente traria esta libertação. Ele expulsa os compradores e vendedores do Templo; por isso, “matemo-lo”. E, como em um caso desses o direito sobre as propriedades certamente deve passar a pertencer àqueles que as ocupam, “apoderemo-nos da sua herança”. Eles pensaram que, se pelo menos conseguissem se livrar desse Jesus, conduziriam a todos na igreja, sem qualquer controle, poderiam impor as tradições que desejassem e forçar as pessoas a se sub­ meterem ao que quisessem. Assim, eles “juntos se manco­ munam contra o Senhor e contra o seu ungido”; mas aquele que está no céu ri por vê-los atirando contra si mesmos; pois, enquanto eles pensavam em matá-lo, e tomar a sua herança, Ele foi receber, por meio da sua cruz, a sua coroa, e Ele os esmigalhará com uma vara de ferro, e se apoderará da sua herança (Salmos 2.2,3,6,9).

[2]. Como esse plano de conspiração foi executado (v. 39). Eles estavam tão decididos a matá-lo, procurando cumprir o seu objetivo de garantir a sua própria pompa e o seu poder, e Ele estava tão decidido a morrer, para cumprir o seu desígnio de derrotar Satanás e salvar os seus eleitos, que não é de admirar que eles o prendessem dentro de pouco tempo, e o assassinassem, quando fosse chegada a sua hora. Embora o poder romano o condenasse, a culpa ainda é dos principais dos sacerdotes e dos anciãos, pois eles foram não apenas os promotores, mas os agentes principais, e cometeram o maior pecado. “Tomando-o vós” (Atos 2.23). Considerando-o indigno de viver, pois não desejavam que Ele vivesse, eles o arrastaram para fora da vinha, para fora da santa igreja, cuja chave, supostamente, eles tinham, e para fora da cidade santa, pois Ele “padeceu fora da porta” (Hebreus 13.12). Tudo se passou como se aquele que era a maior glória do seu povo, Israel, tivesse sido a vergonha e are­ provação da nação. Assim, aqueles que perseguiram os servos, perseguiram o Filho; os homens tratam os ministros de Deus assim como também tratariam o próprio Cristo, se Ele estivesse em seu meio.

 

IV – Aqui é mencionada a ruína dos lavradores maus, pela própria boca dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos do povo (v. 40,41). Jesus lhes pergunta: “Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Ele lhes pergunta, para a condenação ainda mais severa deles, para que, “conhecendo a justiça de Deus” contra aqueles que fazem tais coisas, eles pudessem ser ainda mais inescusáveis. Observe que os procedimentos de Deus são tão irrepreensíveis, que é necessário apenas um apelo aos próprios pecadores a respeito da justiça de tais procedimentos. Deus é justificado quando fala. Eles puderam prontamente responder: “Dará afrontosa morte aos maus”. Observe que muitos podem, com facilidade, prever as funestas consequências dos pecados dos outros, mas não ver qual será o seu próprio fim.

1. O nosso Salvador, na sua pergunta, diz que o “Senhor da vinha” virá e acertará as contas com eles. Deus é o “Senhor da vinha”; a propriedade é dele, e Ele fará com que saibam disto aqueles que agora governam sobre a sua herança, como se pertencesse a eles. O Senhor da vinha virá. Os perseguidores dirão, no seu íntimo: Ele retarda a sua vinda, Ele não está vendo, Ele não exige nada. Mas eles irão descobrir que, embora Ele os tolere bastante, Ele não os tolerará sempre. O consolo dos santos e dos ministros maltratados é o fato de que o Senhor está próximo, de que o “Juiz está à porta”. Quando Ele vier, o que fará com aqueles que vivem de forma carnal? O que Ele fará com os cruéis perseguidores? Eles serão chamados para o ajuste de contas; esse será o dia deles, mas Ele “vê que vem chegando o seu dia”.

2. Na sua resposta, eles imaginam que será um acerto de contas terrível; o crime parece ser muito sério, vocês podem ter certeza de que:

(1). Ele “dará afrontosa morte aos maus”; o destino deles é a sua destruição. Que os homens nunca esperem fazer o mal, e se saírem bem. Isto se cumpriu com os judeus, naquela infeliz destruição que lhes foi trazida pelos romanos, e que aconteceu aproximadamente depois de quarenta anos; e uma destruição sem paralelos, em que houve as mais tristes circunstâncias agravantes. Isto se cump1irá sobre aqueles que andam na iniquidade; o inferno é a destruição eterna, e será uma destruição pior do que todas as demais. Imagine a situação daqueles que desfrutaram a maior par­ te dos privilégios da igreja, e se descuidaram da sua própria salvação. Os hipócritas e os perseguidores sofrerão terrivelmente no inferno.

(2). Ele “arrendará a vinha a outros lavradores”. Observe que Deus terá uma igreja no mundo, apesar da falta de merecimento e da oposição de muitos que recebem os seus privilégios. A falta de fé e a reprovação do homem não tornarão a Palavra de Deus sem efeito. Se alguém não a aceitar, outro o fará. As migalhas dos judeus eram o banquete dos gentios. Os perseguidores podem destruir os ministros, mas não podem destruir a igreja. Os judeus imaginavam que, sem dúvida, eles eram o povo de Deus, e assim a sabedoria e a santidade lhes pertenciam. E se eles fossem desarraigados, para que Deus precisaria de uma igreja neste mundo? Mas quando Deus usa qualquer pessoa para sustentar o seu nome, não é porque Ele precise desta pessoa, nem porque Ele esteja em dívida para com ela. Ainda que fôssemos destruídos, tornando-nos um motivo de espanto, Deus poderia edificar uma igreja próspera sobre as nossas ruínas, pois Ele nunca se confunde quanto ao que deve fazer pelo seu grandioso nome, a despeito daquilo que possa acontecer conosco, com o nosso lugar, e com a nossa nação.

 

V – O exemplo e a aplicação desse conceito pelo próprio Cristo, dizendo-lhes, com efeito, que tinham julgado de forma correta.

1. Jesus dá um exemplo, referindo-se a uma passagem das Escrituras que assim foi cumprida (v. 42): “Nunca lestes nas Escrituras”. Sim, sem dúvida, eles as liam e cantavam frequentemente, mas não as tinham levado em consideração. Nós perdemos o benefício daquilo que lemos por falta de reflexão. A passagem citada por Jesus é Salmo 118.22,23, o mesmo contexto de onde os meninos tomaram as suas hosanas. A mesma palavra que traduz louvor e consolo aos amigos e seguidores de Cristo, transmite condenação e terror aos seus inimigos. A Palavra de Deus é uma espada de dois gumes. Esta passagem: “A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo”, exemplifica a parábola anterior, especialmente na parte que se refere a Cristo.

(1). A rejeição da pedra pelos edificadores é a mesma coisa que os maus tratos dos lavradores ao Filho que lhes foi enviado. Os principais dos sacerdotes e os anciãos eram os edificadores, e tinham a supervisão da religião dos judeus, que era o edifício de Deus; e eles não iriam conceder um lugar a Cristo no seu edifício, não iriam aceitar a sua doutrina nem as suas leis na sua constituição; eles o deixaram de lado, como um vaso quebrado e desprezado, uma pedra que serviria somente como pedra de tropeço.

(2). O fato de essa pedra chegar a ser cabeça de esquina é a mesma coisa que arrendar a vinha a outros lavradores. Aquele que foi rejeitado pelos judeus foi aceito pelos gentios, e por aquela igreja onde não existe distinção entre circuncisão e incircuncisão, onde “Cristo é tudo em todos”. A sua autoridade sobre a igreja cristã, e a sua influência sobre ela, o fato de Ele governar sobre ela, como a sua Cabeça, e de que a une, como a Cabeça de Esquina, são os grandes símbolos da sua exaltação. Assim, apesar da maldade dos sacerdotes e dos anciãos, Ele dividiu uma porção com os grandes (“Com os poderosos, repartirá ele o despojo”), e recebeu o seu reino, embora eles não desejassem que Ele reinasse sobre eles.

(3). A mão de Deus estava em tudo isso: “Pelo Senhor foi feito isso”. Até mesmo a sua rejeição pelos edificadores judeus se deu com o conselho e o conhecimento prévio de Deus Pai. Ele permitiu e ordenou isso; o Senhor Jesus também assumiu a posição de Pedra Angular. A sua mão direita e o seu santo braço fizeram tudo isso acontecer; foi o próprio Deus que “o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome”; e “é coisa maravilhosa aos nossos olhos”. A maldade dos judeus que o rejeitaram é espantosa. Como é que os homens podem ter tamanho preconceito contra os seus próprios interesses! (veja Isaias 29.9,10,14). A honra que lhe foi dada pelo mundo gentílico, apesar dos maus tratos que o seu próprio povo lhe dirigiu, é algo maravilhoso. O mesmo ocorre com o fato de que aquele que os homens desprezaram e abominaram foi adorado por reis! (Isaias 49.7). Mas “foi o Senhor que fez isto”.

2. Jesus aplica a parábola a eles, e a aplicação é a vida da pregação.

(1). Ele aplica a sentença que os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo tinham determinado (v. 41), voltando-a contra eles mesmos; não a sua primeira parte, que dizia respeito à infeliz destruição dos lavradores (Ele não queria falar disto ), mas a sua parte final, sobre arrendar a vinha a outros; porque embora ela parecesse má aos judeus, ela era boa para os gentios. Perceba:

[1]. Que os judeus ficarão sem igreja: “O Reino de Deus vos será tirado”. Esta demissão dos lavradores representa a mesma destruição que a destruição da vinha “para que sirva de pasto” (Isaias 5.5). Aos judeus, por muito tempo, tinham pertencido a adoção e a glória (Romanos 9.4), a eles foram confiadas as “palavras de Deus” (Romanos 3.2), o depósito sagrado da religião revelada, e o privilégio de serem o povo que se chama pelo nome de Deus no mundo (Salmos 76.1,2). Mas já não será mais assim. Eles não eram apenas improdutivos, no uso dos seus privilégios, mas, com essa desculpa, se opunham ao Evangelho de Cristo, e desta maneira perderam tais privilégios, não tardando muito até que eles fossem removidos. Observe que é justo o fato de Deus remover os privilégios da igreja daqueles que não apenas pecam contra eles, mas que pecam tendo estes privilégios (Apocalipse 2.4,5). O Reino de Deus foi removido dos judeus, não somente pelos julgamentos temporais que lhes aconteciam, mas também pelos julgamentos espirituais a que estavam sujeitos, pela sua cegueira de espírito, pela sua insensibilidade de coração, e pela sua indignação com o Evangelho (Romanos 11.8-10; 1 Tessalonicenses 2.15).

[2]. Que os gentios serão aceitos. Deus não precisa nos pedir permissão para que Ele tenha uma igreja no mundo; embora a sua vinha seja desarraigada de um lugar, Ele encontrará outro para plantá-la, que produzirá frutos. Aqueles que não eram um povo, e não tinham obtido misericórdia, se tornaram os favoritos do Céu. Este é o mistério que tanto influenciou o bem-aventurado Paulo (Romanos 11.30,33), e que tanto revoltou os judeus (Atos 22.21,22). Com a primeira plantação de Israel, em Canaã, a der­ rota dos gentios foi a riqueza de Israel (Salmos 135.10,11), e, portanto, na sua extirpação, a queda de Israel foi a riqueza dos gentios (Romanos 11.12). Ele a dará “a uma nação que dê os seus frutos”. Cristo sabe, de antemão, quem irá produzir frutos usando os meios do Evangelho; por­ que toda a nossa produtividade é um trabalho das suas próprias mãos, e todas as suas obras são conhecidas de Deus Pai. Eles produzirão frutos melhor do que os judeus o fizeram. Deus recebeu mais glória da igreja do Novo Testamento do que da sua congregação do Antigo Testamento. Porque quando Ele modifica alguma coisa, não a modifica para que tenha perdas.

(2). Ele aplica as Escrituras que tinha citado (v. 42) para o terror deles (v. 44). Esta “pedra que os edificadores rejeitaram” está destinada “para a queda de muitos, em Israel”. E temos aqui a destruição de dois tipos de pessoas cujas quedas estão comprovadamente ligadas a Cristo.

[1]. Alguns, por ignorância, tropeçam em Cristo devido ao seu estado de humilhação. Quando essa Pedra está na terra, onde os edificadores a deixam, eles, com a sua cegueira e com os seus descuidos, caem sobre ela, e se destroem. A ofensa que dirigem a Cristo não o ofenderá mais do que o ferimento que uma pedra sofre por parte daqueles que nela tropeçam. Mas eles ferirão a si mesmos; eles cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos (Isaias 8.14; 1 Pedro 2.7,8). A incredulidade dos pecadores será a sua destruição.

[2]. Outros, por meio da maldade, se opõem a Cristo e o desafiam no seu estado de exaltação, quando essa Pedra já é cabeça de esquina; e neles ela cairá, pois eles a colocam sobre suas próprias cabeças, como os judeus fizeram com este desafio: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”; e isto os reduzirá a pó. A primeira parte parece referir-se ao pecado e à destruição de todos os infiéis. Este é o pecado maior, e a pior ruína, dos perseguidores, que vão contra tudo e persistem neste comportamento. O reino de Cristo será uma pedra pesada para todos aqueles que tentarem se livrar dela, ou tirá-la do seu lugar (veja Zacarias 12.3). Essa Pedra, cortada do monte sem o auxílio de mãos, rompeu e esmiuçou todo o poder de oposição (Daniel 2.34,35). Alguns entendem isso como uma alusão ao costume dos judeus de apedrejar até à morte. Os criminosos eram, primeiramente, atirados com violência, de uma plataforma elevada, sobre uma grande pedra, o que deveria feri-los muito; mas depois os judeus atiravam outra grande pedra sobre eles, o que deveria esmagá-los, reduzindo-os a pedacinhos. De uma maneira ou de outra, Cristo irá destruir completamente todos aqueles que lutarem contra Ele. Se eles forem tão intrépidos, a ponto de a queda sobre a pedra não os destruir, ainda assim outra pedra irá cair sobre eles, e os destruirá. Ele ferirá os reis, encherá as nações de cadáveres (Salmos 110.5,6). Jamais alguém endureceu o seu coração contra Deus e, ainda assim, prosperou.

Finalmente, consideremos a recepção que essas palavras de Cristo tiveram entre os principais dos sacerdotes e os anciãos que ouviam as suas parábolas.

1. Eles ”entenderam que falava deles” (v. 45), e que naquilo que tinham dito (v. 41), eles tinham somente descrito a sua própria destruição. Observe que uma consciência culpada não precisa de acusador, e, às vezes, irá poupar um ministro do dever de dizer: “‘Tu és este homem”. Tão rápida e poderosa é a Palavra de Deus, e ela discerne tão bem os pensamentos e as intenções do coração, que é fácil para os homens maus (se a consciência não estiver insensibilizada) perceber que ela está falando deles.

2. Eles pretenderam prender a Jesus. Quando aqueles que ouvem a reprovação do mundo percebem que ela está falando deles, se isso não lhes fizer bem, certamente lhes causará muitas mágoas. Se eles não se compungirem em seus corações com convicção e contrição (Atos 2.37), eles se enfurecerão com indignação (Atos 5.33).

3. Eles não o fizeram por receio do povo, que consideravam Jesus um profeta, embora não o considerassem como o Messias. Isto serviu para assustar os fariseus. O medo que sentiam do povo os tinha impedido de falar mal de João (cap. 5.26), e aqui, de fazer mal a Jesus. Observe que Deus tem muitas maneiras de restringir a ira, como também de fazer com que a ira do homem redunde em seu louvor (Salmos 76.10).

PSICOLOGIA ANALÍTICA

DO QUE VOCÊ TEM MEDO?

Esse sentimento resulta de processos tão básicos quanto a respiração ou a digestão; mesmo assim, compreender e descrever o que acontece em nosso cérebro quando algo nos apavora continua sendo um desafio para cientistas.

Do que você tem medo

O que é mais assustador: uma cobra venenosa serpenteando em sua direção numa trilha, ou observar uma queda de mil pontos na bolsa de valores? Embora os dois acontecimentos sejam de natureza bastante diversa, ambos são assustadores. “Medo é uma resposta para estímulos imediatos, que podemos sentir no corpo como sensação de vazio no estômago, aceleração do coração, suor nas mãos e a tensão muscular”, diz o neurocientista Joseph LeDoux, professor de neurociência e psicologia da Universidade de Nova York. Segundo ele, essas reações evidenciam que o cérebro está respondendo de forma pré-programada a uma ameaça muito específica. “Ver a bolsa de valores despencar mil pontos é a mesma coisa que observar uma cobra”, avalia LeDoux. “O medo, caraterizado pela sensação de vazio, aceleração do coração, palmas das mãos suadas e tensão é uma resposta para estímulos imediatos”, afirma o neurocientista. O pesquisador observa que, do ponto de vista neuroanatômico podemos assumir que nossas sensações diante de ameaças são semelhantes.

O medo afeta diferentes espécies de modo semelhante. “Viemos ao mundo sabendo como ter medo, pois nosso cérebro evoluiu para lidar com a natureza”. avalia LeDoux, observando que os cérebros de ratos e humanos respondem de maneiras semelhantes a ameaças, ainda que de naturezas distintas.

Para outros pesquisadores o medo é uma experiência muito pessoal. Enquanto algumas pessoas ficam apavoradas ao assistir a um filme de terror, outras podem ficar com muito mais medo ao se encaminharem para seus carros, em um estacionamento escuro, depois de assistir ao filme.

Se pedirmos para várias pessoas fazerem uma lista das coisas que mais as assustam, provavelmente cada uma fará uma lista bem diferente da outra, avalia Michael Lewis, diretor do Instituto de Desenvolvimento Infantil, da Faculdade de Medicina Robert Wood Johnson, em New Brunswick, Nova Jersey. “Intimamente, podemos concordar que o medo de uma auditoria do imposto de renda ou de um assalto pode se manifestar da mesma maneira. O problema é que não temos como obter uma boa medida fisiológica do medo ou de qualquer outra emoção”, considera Lewis.

Ele observa que o comportamento das pessoas que nos cercam influi nas nossas respostas a situações ameaçadoras. “Aprendemos a ter medo por experiências com fatos assustadores, ou com pessoas próximas, como nossos pais, irmãos, amigos”, observa Lewis. “O medo parece ter um componente contagiante, que faz com que o medo dos outros seja transmitido para nós. É um comportamento condicionado, como Pavlov e os cães que salivavam.”

Outros pesquisadores recorrem à tecnologia para ajudar a melhor entender o medo. “É muito difícil definir essa emoção em termos do sentimento que ela evoca”, argumenta Joy Hirsch, professora de neurorradiologia, neurociência e psicologia, bem como diretora do Programa para Ciências de Imageamento e Cognição, da Columbia University, em Nova York. “É possível definir dor? É possível definir a cor vermelha? Essas sensações extremamente pessoais são consideradas os problemas mais difíceis em neurociência.”

Para descobrir mais sobre o que nos faz perder o sono, Hirsch e sua equipe usam imageamento por ressonância magnética funcional (fMRI) para investigar como funcionam as conexões no nosso cérebro. “O circuito que comanda a sensação de medo é ativado imediatamente por meio de um estímulo específico”. observa Hirsch. Na pesquisa que ela desenvolve, uma fotografia do rosto de uma pessoa com expressão assustada é mostrada aos participantes. Uma biblioteca padrão de estímulos que evocam atividades assustadoras usa atores para criar expressões faciais que transmitem sensação de medo.

Na pesquisa com fMRI, a reação ao estímulo indutor de medo manifesta-se na amígdala, uma estrutura arredondada em forma de amêndoa, localizada abaixo do lobo temporal e também conhecida como centro cerebral do medo. Hirsch lembra que a amígdala é a primeira a responder a estímulos ameaçadores.

O escâner de fMRI rastreia a alteração no fluxo sanguíneo para a amígdala. “Estamos à procura de mudanças de sinais em regiões específicas do cérebro”, argumenta Hirsch; “Esse sinal significa aumento da atividade neural.” O sinal de ressonância magnética responde à quantidade de sangue que está abastecendo uma determinada área. Durante o período de varredura da amígdala a foto de um rosto apavorado provoca um maior afluxo sanguíneo – intensificando o sinal da imagem – que um rosto com expressão neutra.

Críticos da pesquisa baseada na fMRI argumentam que nem sempre é claro o significado do afluxo de sangue em uma região cerebral. Mas Hirsch reba- te os adversários: “Usamos estímulos escolhidos de forma muito cuidadosa e que não necessariamente assustam as pessoas que estão sendo analisadas, mas que despertam sistemas envolvidos em sensações de medo, se você estiver assustado”. conclui. “A interpretação de outra face demonstrando medo estimula regiões neurais do observador que respondem ao medo.”

Hirsch observa que a amígdala responde a outros estímulos além de expressões faciais. “Se você estiver em um beco escuro e alguma coisa saltar de repente em cima de você, provocando um susto, ela adverte: “É a amígdala que vai fazer você sair correndo.”

OUTROS OLHARES

O DIREITO DE MATAR

Na sociedade do “eu mereço”, será proibido ter bebês deficientes?

O dIreito de matar

“Meu gladiador baixou o escudo e criou asas.” Dificilmente alguém terá feito um epitáfio mais comovente, ainda mais sendo um pai de apenas 21 anos que acabou de perder seu filhinho. A história do pequeno Alfie, que morreu antes de completar 2 anos, é espantosa. Vitimado por uma doença cerebral nunca exatamente diagnosticada, ele foi condenado à morte pela mão implacável do Estado. Os médicos mandaram desligar os aparelhos. A Justiça negou os recursos dos pais para levá-lo ao hospital do Vaticano oferecido pelo Papa Francisco. Ir para casa, passar as últimas horas com a família? Nem pensar.

Isso tudo aconteceu na Inglaterra, mas é chocante até para nós, brasileiros, tristemente acostumados a um mundo orwelliano em que predomina o exato contrário das placas nas portas dos “doutores”. Juízes pelo direito de chicanear, jornalistas pelo direito de não informar e advogados pelo direito de traficar são algumas das anomalias com as quais convivemos. Mas médicos pelo direito de matar só para mostrar que podem, num ato de reafirmação da autoridade suprema do Estado sobrea vida e a morte, expõem um desafio ético que só vai aumentar. Os avanços da genética, que vai juntando as letras para ler o infinitamente complexo código da vida, estão refinando escolhas estonteantes. Qual embrião vai viver e qual será “descartado”? O de olhos azuis, heterossexual? Com genes ligados à presença de tendências liberais e à ausência de câncer?

Abortar um feto com síndrome de Down já é um fato incorporado à sociedade. Nos Estados Unidos, dois terços das mulheres com teste positivo interrompem a gestação, a expressão light. Uma escolha torturante para muitas mães que a jornalista Ruth Marcus banalizou recentemente, num artigo em que dizia que teria abortado, nas duas vezes em que ficou grávida, se o exame fosse positivo, “porque não seria o filho que queria ter”. Uma declaração condizente com a sociedade da auto- indulgência acelerada, na qual a frase “eu mereço” é usada para justificar futilidades consumistas destinadas a mimar egos fracos. Bebês com Down não ficam bem no Instagram. Como todo mundo praticamente já decidiu que existem os bebês descartáveis, avançamos para o próximo estágio: surgiu uma “corrente” segundo a qual é antiético ter filhos com deficiências graves, mesmo que os pais queiram. Não é difícil imaginar o passo seguinte. Alfie Evans reproduziu em praticamente tudo o caso de outro bebê condenado, Charlie Gard.

Os dois teriam a alternativa de ser levados para hospitais no exterior, numa prorrogação de vida mantida por aparelhos. Não agravariam os custos da combalida saúde pública na Inglaterra. Os bem-pensantes horrorizaram-se com as manifestações em frente aos hospitais, onde grupos de mulheres rezavam, numa desprezada exibição de fé. Alfie e Charlie tinham de morrer, mais do que por suas doenças, exatamente como os detentores da verdade, e do poder sobre o corpo das crianças, determinaram. Acostumada a elogiar o papa por qualquer bobagem anti­capitalista que diga, a revista The Economist considerou que seu papel no caso de Alfie foi “lamentável”. Para quem?

GESTÃO E CARREIRA

OS ROBÔS QUE INVESTEM POR VOCÊ

Entenda como funciona o aconselhamento financeiro via inteligência artificial e descubra se vale a pena aplicar seu dinheiro com a ajuda da tecnologia.

Os robôs que investem por você.

O robô Ueslei começou a trabalhar com gestão de investimentos no fim de julho de 2016. Na época, administrava 16 milhões de reais. Agora já faz o gerenciamento de uma carteira de 260 milhões de reais. Sua inteligência artificial lhe possibilita desenvolver estratégias e recomendações de aplicações de acordo com o perfil de cada cliente. Ueslei também realiza operações financeiras de compra e venda de papéis e monitora as cestas de investimentos.

Desenvolvido pela Vérios, uma das primeiras plataformas a oferecer esse serviço por aqui, Ueslei não está sozinho. Nos últimos anos houve uma proliferação de robôs investidores em empresas como Magnetis, Monetus e Warren – esta última, criada por quatro ex- executivos da XP, acumulou 20.000 clientes e 10 milhões de reais sob sua gestão desde que surgiu, em janeiro de 2017. “Existe um mercado enorme no Brasil que não é atendido por planejadores financeiros, porque esse serviço ainda é visto como caro e exclusivo. Essas fintechs estão chegando para, de certa forma, democratizar o acesso ao aconselhamento e aos fundos de investimento”, diz Luís Fernando Affonso, professor do programa avançado de finanças no lnsper de São Paulo e membro do conselho da CFA Society Brazil, associação responsável pela certificação de agente financeiro CFA. Para ter uma ideia, enquanto um plano de aconselhamento financeiro custa cerca de 2.500 reais ao ano, o trabalho de um robô é calculado sobre o valor aplicado: se investir 10.000 reais, o preço cobrado será, em média, de 100 reais.

Paulo Medeiros, de 30 anos, servidor público, de Brasília, é um dos que resolveram experimentar esse tipo de tecnologia. Há cerca de dois anos ele começou a investir o capital que sobrava em CDBs, mas não tinha disciplina. “Sempre que gastava mais no cartão de crédito, resgatava tudo”, diz. Por conta própria, começou a consultar corretoras e a estudar o mercado. Descobriu que havia robôs capazes de fazer aplicações financeiras e investigou sobre o serviço no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais no país, para verificar quais plataformas eram registradas. “Como eram empresas novas, pesquisei muito e decidi pela que tinha mais avaliações positivas no Facebook”, afirma Paulo. Ele fez um aporte para testar o serviço e, depois de um mês, transferiu 95% de seu capital de aplicações para lá. “Apesar de ser um serviço automatizado, o que eu gostei foi da rapidez na resposta do atendimento ao cliente.”

 CONFIANÇA NA TECNOLOGIA

As plataformas robóticas de investimento já existem há dez anos nos Estados Unidos. No Brasil, seguem o modelo de duas empresas americanas, a Betterment, fundada em 2008, e a Wealthfront, lançada em 2011. Ambas cobram taxas baixíssimas de administração (0,25% ao ano) e exploram um mercado que, segundo estimativas da Bloomberg, tem potencial para chegar a 2,2 trilhões de dólares até 2020.

Assim como nos Estados Unidos, a aceitação da tecnologia tende a ser promissora no Brasil. Segundo o relatório “O Surgimento do Aconselhamento por Robôs” (numa tradução livre), da consultoria Accenture, 84% dos brasileiros estariam dispostos a ouvir orientações de inteligências artificiais. Para 33% deles, a razão para essa opção é a simplicidade do sistema. Para outros 31%, o mais atraente nesse tipo de ser viço é não haver um ser humano tentando empurrar algo visando aos próprios Interesses. Foi a percepção de receber uma oferta livre de segundas intenções que levou a paulistana Mariana Assis, gerente de sucesso do cliente do LinkedIn, de 33 anos, a investir nessa modalidade.

Autodidata em investimentos, há quatro anos ela procurou um planejador financeiro, começou a estudar a bolsa de valores e abriu uma conta numa corretora. “Mas eu sentia que era enganada pelos agentes autônomos, porque eles ganham por comissão e, multas vezes, oferecem um produto financeiro por causa do valor que receberiam com esse investimento”, afirma A ausência de emoções humanas (que, no limite, pode prejudicar a estratégia) ao oferecer um produto animou Mariana a migrar todo o seu dinheiro para uma plataforma de robot advice poucos meses depois. “Se for para confiar nos cálculos de juro e risco de uma pessoa ou de uma máquina, prefiro a máquina”, diz a gerente. A cada seis meses Mariana faz uma reunião de reavaliação das metas com seu planejador financeiro – ela continua com ele para revisar sua estratégia financeira de longo prazo, coisa que o robô não faz. O expediente de unir o desempenho robótico ao humano coma orientação do especialista já rendeu conquistas como a compra de um carro à vista e a primeira viagem internacional. E você, delegaria seus investimentos às decisões de um robô?

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 QUEM JÁ OFERECE

As principais empresas que fazem o serviço hoje no Brasil

MAGNETIS

O robô, lançado em 2015, acompanha milhares de tipos de investimento e monta a combinação ideal de acordo com o perfil do investidor. O CEO, Luciano Tavares, foi vice-presidente da Merryl Lynch no Brasil. (magnetts.com.br)

Aplicação mínima: 10.000 reais

Taxa: 0,4% ao ano do valor investido

WARREN

Tem um processo com etapas bem definidas: conversa com o robô, estabelecimento de objetivos, análise das sugestões de investimento, aplicação do dinheiro e acompanhamento em tempo real do desempenho. (warren.com)

Aplicação mínima:100 reais

Taxa:0,8% ao ano do patrimônio total

ALKANZA

Desenvolvida no vale do silício, foi lançada aqui pela corretora Rico em 2016. Analisa centenas de investimentos e seleciona as melhores opções de acordo com o objetivo. Limitação: O cliente precisa ter conta atrelada a corretora. (rico/alkanza.com.br)

Aplicação mínima: 5.000 reais

Taxa:0,5% ao ano do valor investido.

VÉRIOS

Otimiza a rentabilidade comum modelo matemático que faz rebalanceamento automático da carteira para melhorar o retorno. (verios.com.br)

Aplicação mínima:12.000 reais para clientes novos ou 5.000 reais se houver recomendações de amigos.

Taxa: 0,95% ao ano do valor investido.

MONETUS

A plataforma vende a simplificação como diferencial: É só criar a conta, transferir o dinheiro e, a partir daí acompanhar os rendimentos. Daniel Calonge; cofundador, trabalha com gestão de fortunas em Belo Horizonte. (wmonetus.com.br).

Aplicação mínima: 100 reais

Taxa:0,5% ao ano do valor investido.

SMARTTBOT

Primeira plataforma de robôs traders no Brasil. Nela, os algoritmos enviam ordens para a corretora na qual o cliente tem conta. É possível acompanhar entradas e saídas e métricas de retorno. (smattbot.com).

Aplicação mínima:10.000 reais.

Taxas: Começam em 100 reais mensais para contratar dois robôs, com capacidade de negociar 10.000 reais por dia.

Fontes: ANBINA, CVM, CFA, SOCIETY BRASIL E EMPRESAS

 

POR DENTRO DA TECNOLOGIA

Qual é a lógica por trás dos robôs de investimentos.

O QUE É: Serviço de investimento baseado em algoritmos que automatizam cálculos, decisões e análises. O robô, na verdade, um software que pode só recomendar ou também fazer gestão de portfólio. Esse serviço ajuda quem não tem conhecimento a diversificar aplicações, diz Luiz, do INSPER.

COMO FUNCIONA: O investidor preenche um formulário on line para definição de objetivos e perfil de risco. A partir daí o software faz simulações com diferentes carteiras, seguindo padrões estabelecidos pelo investidor. O robô advisor acompanha o desempenho da carteira e, se necessário, faz reorganizações.

PERFIL DO INVESTIDOR: “Esse tipo de serviço é em geral, indicado para quem deseja aplicar para sacar no médio e longo prazo e não tem condições nem vontade de estudar o mercado a fundo ou de contratar um agente autônomo para fazer isso por ele”, diz a planejadora financeira Fabiana Góes, de São Paulo.

APLICAÇÃO MINIMA: O valor de aplicação varia de 100 a 12.000 reais, de acordo com a plataforma. Por isso, o capital inicial é um fator determinante na escolha do robô.

TAXAS: Como realiza operações simultâneas e consegue atender muitos clientes ao mesmo tempo, o sistema é bem mais barato do que um assessor de carne e osso. As taxas variam de 0,4% a 0,95% ao ano.

RISCO: É controlado, já que a tolerância é definida segundo o perfil investidor. Os produtos de renda fixa são segurados pelo fundo garantidor de crédito (CVM). Vale verificar se o serviço tem registro no site da CVM e se o algoritmo é consultor ou gestor. Se for a primeira opção, ele só sugere investimentos/ se for a segunda, poderá operar a carteira.

TIPOS DE ROBÔ: Além do advisor, há o robô trader, que começa a se popularizar no Brasil nessa modalidade. Serve para quem deseja aplicar em renda variável e tem conhecimento de mercado ou auxílio de um especialista para criar estratégias.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 21:  28-32

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A Parábola dos Dois Filhos

Assim como Cristo instruía os seus discípulos por meio de parábolas (o que tornava mais fácil a instrução), algumas vezes Ele também convencia os seus adversários por meio de parábolas. Isso aproxima a reprovação e faz com que os homens, pelo menos aqueles que estão conscientes, censurem a si mesmos. Dessa maneira, Natã convenceu Davi por meio de uma parábola (2 Samuel 22.1), e a mulher de Tecoa o surpreendeu da mesma maneira (2 Samuel 14.2). As parábolas de reprovação recorrem às próprias pessoas que erraram, e as julgam a partir das suas próprias bocas. Pelo que podemos entender das primeiras palavras, isto é o que Cristo pretende aqui (v. 28): “Mas que vos parece?”

Nesses versículos, temos a parábola dos dois filhos enviados para trabalhar na vinha, cujo objetivo é mostrar que aqueles que não reconheciam que o batismo de João era de Deus envergonhavam-se diante, até mesmo, dos publicanos e das meretrizes, que o sabiam e que o reconheciam. Aqui está:

 

I – A parábola, que representa dois tipos de pessoas. Aqueles que provam ser melhores do que se esperava, representados pelo primeiro dos filhos; e outros, que prometem ser melhores do que provam ser, representados pelo segundo filho.

1. Eles tinham o mesmo pai, o que significa que Deus é o Pai comum de toda a humanidade. Existem dádivas que todos nós, de igual maneira, recebemos dele, e obrigações que todos nós, de igual maneira, temos para com Ele. “Não temos nós todos um mesmo Pai?” Sim, e ainda assim existe uma imensa diferença entre as personalidades dos homens.

2. Os dois receberam a mesma ordem: “Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”. Os pais não devem criar seus filhos na ociosidade; nada é mais agradável, e também mais pernicioso, para a juventude, do que isso (Lamentações 3.27). Deus quer que os seus filhos trabalhem, embora todos eles sejam seus herdeiros. Esta ordem é dada a cada um de nós. Considere:

(1). O trabalho da religião, em que nós devemos nos envolver, por vocação, é um trabalho na vinha, elogiável, lucrativo e agradável. Devido ao pecado de Adão, nós fomos expulsos para trabalhos comuns, e para comer as ervas dos campos; mas com a graça do nosso Senhor Jesus, nós somos convocados para trabalhar outra vez na vinha.

(2). O chamado do Evangelho para trabalhar na vinha exige obediência imediata: “Filho, vai trabalhar hoje”, enquanto ainda é hoje, porque “a noite vem, quando ninguém pode trabalhar”. Nós não fomos enviados ao mundo para estar ociosos, nem recebemos a luz do dia para brincarmos; por isso, se temos a intenção de fazer alguma coisa por Deus e pelas nossas almas, por que não agora? Por que não hoje?

(3). A exortação para ir trabalhar hoje na vinha, que “argumenta conosco como filhos” (Hebreus 12.5): “Filho, vai trabalhar”. Esta é a ordem de um Pai que traz consigo autoridade e, ao mesmo tempo, afeto, um Pai que se compadece dos seus filhos, e conhece a sua estrutura, e não os sobrecarrega (Salmos 103.13,14), um Pai que “poupa a seu filho que o serve” (Malaquias 3.17). Se trabalharmos na vinha do nosso Pai, trabalharemos para nós mesmos.

3. Os dois filhos tiveram comportamentos muito diferentes.

(1). Um dos filhos fez melhor do que tinha prometido, provou ser melhor do que se esperava. A sua resposta foi má, mas as suas ações foram boas.

[1].  Aqui está a resposta exterior que esse filho deu ao seu pai; ele disse claramente: “Não quero”. Veja a que estágio de imprudência chega a natureza corrupta de um homem, a ponto de dizer: “Não quero”, como res­ posta à ordem de um Pai. A recusa a uma ordem como essa, de um Pai como esse, mostra que eles são filhos insolentes e teimosos. Aqueles que não se curvam, certamente não se envergonharão; se eles tivessem algum grau de modéstia em si mesmos, não poderiam dizer: “Não quero” (Jeremias 2.25). As desculpas são más, mas as negações diretas são piores; porém, essas recusas categóricas frequentemente se chocam com os chamados do Evangelho. Em primeiro lugar, alguns gostam do seu conforto, e não querem trabalhar; eles vivem no mundo como leviatã nas águas, para folgar (Salmos 104.26); eles não gostam de trabalhar. Em segundo lugar, os seus corações se preocupam tanto com os seus próprios campos, que eles não estão propensos a ir trabalhar na vinha de Deus. Eles gostam mais dos negócios do mundo do que dos negócios da sua fé. Assim, alguns, pelas delícias dos sentidos, e outros, pelas atividades do mundo, são impedidos de realizar aquela grande obra para a qual foram enviados ao mundo, e dessa maneira, passam o dia inteiro ociosos.

[2]. Vemos aqui a feliz mudança de ideia, e da conduta do primeiro filho, depois de pensar um pouco: “Mas, depois, arrependendo-se, foi”. Observe que há muitas pessoas que no início são más, teimosas, voluntariosas e pouco promissoras, mas que posteriormente se arrependem e se corrigem, e caem em si. Há alguns que Deus escolheu, e que são tolerados por muito tempo em sua rebelião; alguns dentre nós foram assim (1 Coríntios 6.11). Estes se destinam a padrões de grandes sofrimentos (1 Timóteo 1.16). Depois, ele se arrependeu. O arrependimento é metanoia um pensamento posterior; e metameleia uma preocupação posterior. Antes tarde do que nunca. Observe que quando ele se arrependeu, ele foi; este é um “fruto digno de arrependimento”. A única evidência do arrependimento da nossa resistência anterior é concordar imediatamente e partir para o trabalho; e então, o que passou será perdoado, e tudo ficará bem. Veja que Pai bondoso Deus é; Ele não se ressente da afronta das nossas recusas, como poderia fazê-lo, justamente. Aquele que disse ao seu pai, face a face, que não faria o que ele lhe pedia, merecia ser atirado para fora de casa e deserdado; mas o nosso Deus “espera para ter misericórdia”, e, apesar das nossas antigas tolices, se nós nos arrependermos e nos corrigirmos, Ele irá nos aceitar de uma forma bastante favorável. Bendito seja Deus, nós estamos sob uma aliança que dá lugar a esse tipo de arrependimento.

(2). O outro filho disse melhor do que fez, prometeu ser melhor do que provou ser; a sua resposta foi boa, mas as suas ações, más. O pai, “dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo” (v. 30). O chamado do Evangelho, embora muito diferente, é, na realidade, o mesmo para todos nós, e nos é transmitido com o mesmo teor. Todos nós temos as mesmas ordens, os mesmos compromissos, os mesmos incentivos, embora para alguns eles sejam “cheiro de vida para vida”, para outros, “cheiro de morte para morte”. Considere:

[1]. Como esse segundo filho prometeu corretamente. “Respondendo ele, disse: Eu vou, senhor”. Observe que é conveniente que os filhos falem de maneira respeitosa com seus pais. Isto é parte daquela honra que o quinto mandamento exige. Ele professa uma obediência imediata: “Eu vou”; ele não diz: “Eu irei daqui a pouco”, mas: “Imediatamente, senhor, pode confiar nisso, eu vou agora mesmo”. Esta é a resposta que nós devemos dar, do fundo do coração, sinceramente, a todos os chamados e mandamentos da Palavra de Deus (veja Jeremias 3.22; SI 27.8).

[2]. Como ele fracassou em realizar o que tinha pro­ metido: “e não foi”. Observe que existem muitos que proferem boas palavras, e fazem, na religião, boas promessas que se originam de boas motivações para o presente; porém, ficam apenas nisso, não vão mais além e, dessa forma, não fazem nada. Dizer e fazer são duas coisas diferentes. E há muitos que dizem e não fazem; esta é uma acusação específica aos fariseus (cap. 23.3). Muitos, com a sua boca, mostram muito amor, mas os seus corações vão em outra direção. Eles (os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo) tinham uma boa intenção em serem religiosos, mas se deparavam com alguma coisa que devia ser feita, que era difícil demais, ou com alguma coisa de que deviam se separar; que era querida demais, e desta forma os seus objetivos não levavam a nenhum resultado. Botões e flores não são frutos.

 

II –  Uma pergunta geral sobre a parábola: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” (v. 31). Ambos tiveram as suas falhas, um deles foi rude, e o outro foi falso – a variedade de respostas que os pais, às vezes, encontram nos diferentes espíritos dos seus filhos, e têm a necessidade de uma grande dose de sabedoria e graça para saber qual é a melhor maneira de manejá-los. Mas a pergunta é: Qual dos dois foi o melhor, e o que menos falhou? E isto se resolveu prontamente; o primeiro, por­ que as suas ações foram melhores que as suas palavras, e o seu final, melhor que o seu começo. Isto eles tinham aprendido com o bom senso da humanidade; é muito melhor lidar com alguém que, na prática, será melhor que a sua palavra, do que com alguém que não será capaz de cumprir a sua palavra. E, com este objetivo, eles (os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo) tinham aprendido com o relato que Deus faz da regra do seu julgamento (Ezequiel 18.21-24): “Se o ímpio se converter de todos os seus pecados”, ele será perdoado; e se o homem justo se afastar da sua justiça, ele será rejeitado. O conteúdo de todas as Escrituras nos permite compreender que são aceitos, como realizando a vontade do Pai, aqueles que, após compreenderem que não entenderam ou não obedeceram a sua vontade, arrependem-se e então fazem o melhor que podem.

 

III – Uma aplicação particular ao assunto em questão (vv. 31,32). O principal objetivo da parábola é mostrar como os publicanos e as meretrizes, que nunca falavam do Messias e do seu reino, ainda assim aceitavam a doutrina e se sujeitavam à disciplina de João Batista, o precursor de Jesus, ao passo que os sacerdotes e os anciãos, que estavam cheios de expectativas do Messias, e pareciam muito dispostos a estar de acordo com o que Ele determinava, desprezaram João Batista, e foram contrários aos desígnios da missão de Jesus. Mas a parábola tem um outro alcance; os gentios, às vezes, eram desobedientes, tendo sido, por muito tempo, filhos da desobediência, da mesma maneira que o filho mais velho (Tito 3.3,4); porém, quando o Evangelho lhes foi pregado, eles se tornaram obedientes à fé, enquanto os judeus, que diziam: “Eu vou, Senhor”, faziam boas promessas (Êxodo 24.7; Josué 24.24), mas não iam; eles somente lisonjeavam a Deus com os seus lábios (Salmos 78.36).

Na aplicação que Cristo fez dessa parábola, observe:

1. Como Ele prova que o batismo de João era do céu, e não dos homens. “Se vocês não disserem”, diz Cristo, “devem ao menos saber que poderiam dizer”:

(1). O objetivo do seu ministério: “João veio a vós no caminho de justiça”. Para saber se João recebeu do céu a sua comissão, basta recordar a regra do teste: “Pelos seus frutos os conhecereis”; os frutos das suas doutrinas, os frutos elas suas obras. Observe apenas os seus métodos, e você poderá acompanhar tanto a sua ascensão como a sua tendência. Era evidente que João tinha vindo “no caminho de justiça”. No seu ministério, ele ensinava as pessoas a se arrependerem, e a realizar obras de justiça. Nas suas palavras, ele era um grande exemplo de severidade, de seriedade, e de desprezo pelo mundo, renunciando-se a si mesmo, e fazendo o bem a todos. Por isso Cristo se submeteu ao batismo de João, porque lhe convinha “cumprir toda ajustiça”. Se João veio, dessa maneira, no caminho da justiça, poderiam eles ignorar que o seu batismo era do céu, ou ter qualquer dúvida disso?

(2). O sucesso do seu ministério: “Os publicanos e as meretrizes o creram”.  João Batista fez um enorme bem entre os piores tipos de pessoas. O apóstolo Paulo prova o seu apostolado com o selo do seu ministério (1 Coríntios 9.2). Se Deus não tivesse enviado João Batista, Ele não teria coroado as suas obras com um sucesso tão maravilhoso, nem teria sido tão essencial, como foi, para a conversão das almas. Se os publicanos e as meretrizes acreditavam no que João dizia, certamente a mão de Deus estava com ele. O benefício das pessoas é o melhor testemunho de um ministro.

2. Como Ele os reprova pelo seu desprezo ao batismo de João, que, por temerem a multidão, não estavam dispostos a reconhecer. Para repreendê-los, Ele coloca diante deles a fé, o arrependimento e a obediência dos publicanos e das meretrizes, o que piorava a sua descrença e a sua impenitência. Como o Senhor mostra em Mateus 11.21, os menos prováveis se arrependeriam. Aqui também os menos prováveis se arrependeram realmente.

(1). Os publicanos e as meretrizes eram como o primeiro filho na parábola, de quem se esperava pouca religiosidade. Eles não prometiam nenhum bem, e aqueles que os conheciam não esperavam deles nenhum bem. Em geral, o seu temperamento era rude, e as suas palavras, depravadas e corruptas; e, ainda assim, muitos deles foram transformados pelo ministério de João, que veio no espírito e no poder de Elias (veja Lucas 7.29). Estes impuros representavam o mundo gentílico; pois os judeus, em geral, classificavam os publicanos junto com os pagãos; e os pagãos eram representados, pelos judeus, como meretrizes, e homens nascidos de prostituição (João 8.41).

(2). Os escribas e os fariseus, os principais dos sacerdotes e os anciãos, e, na verdade, a nação judaica de maneira geral eram como o outro filho, que disse boas palavras. Eles faziam uma profissão especial da religião; ainda assim, quando o reino do Messias lhes foi trazido, pelo batismo de João, eles o desprezaram, deram-lhe as costas – na verdade, levantaram os sapatos para esmagá-lo. Um hipócrita é convencido e convertido com mais dificuldade do que um pecador inveterado; se alguém se mantiver apoiado em uma aparência de santidade, esta se tornará uma das fortalezas de Satanás, pela qual ele se oporá ao verdadeiro poder da santidade. Estes eram agravos da sua falta de fé:

[1]. O fato de João ser uma pessoa tão excelente, que veio a eles “no caminho de justiça”. Quanto melhores os meios, maior será o resultado, se não perfeito.

[2]. O fato de que, quando viram os publicanos e as meretrizes entrarem antes deles no Reino dos céus, eles não se arrependeram nem creram, nem mesmo posteriormente. Eles não eram, de maneira nenhuma, incitados a uma santa emulação (Romanos 11.14). Os publicanos e as meretrizes receberão graça e glória, e nós não as compartilharemos? Aqueles que são inferiores a nós serão mais santos e mais felizes do que nós? Eles não tinham a inteligência e a graça que tinha Esaú, que foi levado a tomar providências adicionais às que tinha tomado, pelo exemplo do seu irmão mais jovem (Genesis 28.6). Esses sacerdotes orgulhosos, que se diziam líderes, não desejavam seguir as instruções do Senhor, em­ bora assim pudessem entrar no Reino dos céus, mesmo que após os publicanos. “Por causa do seu orgulho”, eles não procuravam seguir a Deus e a Cristo (Salmos 10.4).

PSICOLOGIA ANALÍTICA

MARCA-PASSO CEREBRAL PARA RETOMAR MOVIMENTOS

Aplicada por neurocirurgiões brasileiros, técnica tem obtido sucesso em conter o avanço dos sintomas da doença e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes, que chegam a obter uma melhora de até 90% após a cirurgia.

Marca-passo cerebral para retomar movimentos

A doença de Parkinson atinge cerca de 1% da população mundial acima dos 65 anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que faz dela a segunda patologia neurodegenerativa mais incidente em todo o planeta. A mais frequente são as demências, em especial o Alzheimer. Só no Brasil, cerca de 400 mil pessoas são portadoras de Parkinson. “Embora tais números sejam preocupantes, informações sobre o problema em si e os métodos de tratamento disponíveis ainda são pouco conhecidos no país”, afirma o neurocirurgião Antônio De Salles, do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.

Apesar de a doença não ter cura, há possibilidades de tratamento capazes de ajudar os pacientes a retomar o controle dos movimentos – e a qualidade de vida. Entre elas está o implante do chamado marca-passo cerebral. “A técnica é inovadora e temos obtido sucesso, com índices de melhora de até 90% após a cirurgia, dependendo do estado geral de saúde do paciente”, afirma De Salles, responsável pela aplicação da técnica dentro do HCor.

O equipamento utilizado neste tipo de procedimento é muito semelhante ao marca-passo cardíaco. Trata-se de um aparelho pequeno que funciona com impulsos elétricos localizados. “Ele age sob as áreas do cérebro afetadas com o objetivo de regredir de cinco a dez anos o avanço dos sintomas”, explica. “Novos estudos têm mostrado que, se o paciente começa a ser debilitado pela doença, apresentando dificuldade no trabalho ou no convívio familiar, o marca-passo deve ser aplicado o mais rapidamente possível. Ou seja, no máximo, de cinco a dez anos após o diagnóstico”, diz o médico.

Durante a cirurgia para implante do marca-passo, são colocados no cérebro eletrodos ligados ao marca-passo, que fica sob a pele na altura da clavícula. Os dispositivos são conectados por uma extensão (io) sob a pele. Esse conjunto realiza a estimulação elétrica profunda cerebral, que interfere nos sinais que causam os sintomas motores do Parkinson. “Com a melhora dos sintomas, o paciente pode diminuir e em certos casos até deixar de usar medicações e, assim, ficar livre dos efeitos colaterais das drogas, que para algumas pessoas chegam a causar delírio e alucinações”, revela a neurologista Alessandra Gorgulho, coordenadora clínico-científico do HCor Neurociência A. A utilização de marca-passo cerebral para Parkinson é um tratamento aceito mundialmente e também no Brasil pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em geral, pessoas que recebem esse tratamento permanecem ativos profissionalmente por pelo menos 10 anos a mais e conseguem uma vida normal apesar da doença, em comparação com quem não usa o equipamento. “Atualmente, o uso do marca-passo cerebral não só começa a ser uma realidade, mas também tende a crescer, já que, além de trazer economia para os sistemas de saúde por diminuir a necessidade de medicamentos, garante independência ao paciente em relação a cuidados hospitalares ou à supervisão de enfermeiros e cuidadores domésticos”, afirma o neurocirurgião.

Vários foram os avanços no uso do marca-passo cerebral para doença de Parkinson, ao longo dos últimos anos em todo o mundo. Os riscos do implante tendem a diminuir em razão de novas técnicas de imagem disponíveis nas salas de cirurgia híbridas que incluem ressonância magnética, cuja aplicação permite perfeita visualização dos vasos sanguíneos cerebrais e da localização no cérebro, onde o eletrodo deve ser implantado.

Desenvolvimento recente, a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês) consiste em implantar eletrodos metálicos no cérebro com o objetivo de estimular áreas específicas por meio de impulsos elétricos.

O procedimento tem mostrado bons resulta- dos no tratamento de dor crônica, epilepsia e dos tremores causados pelo Parkinson. Agora, uma tecnologia ainda mais sofisticada pode ampliar os efeitos da DBS: magnetos microscópicos, capazes de agir com maior precisão, pois os eletrodos metálicos, apesar de minúsculos, são muito volumosos para atingir os circuitos neurais mais intrincados.

Em uma série de experimentos relatada na Nature Communications, os neuro-fisiologistas John T. Gale, da Fundação Clínica Cleveland, e Giorgio Bonmassar, da Universidade Harvard, especialista em imageamento cerebral, testaram se micro magnetos (que têm menos da metade de um milímetro de diâmetro) poderiam induzir neurônios da retina de coelhos a disparar. Eles descobriram que quando energizavam eletricamente um micro magneto posicionado perto de um neurônio a célula se ativava.

Ao contrário das correntes elétricas induzidas pela DBS, que excita neurônios em várias direções, os campos magnéticos, como o que envolve a Terra, percorrem linhas de polo a polo. Os pesquisadores observaram que é possível dirigir o estímulo precisamente para um neurônio específico e até mesmo para áreas particulares da célula. “Isso pode nos ajudar a evitar alguns efeitos colaterais da DBS, como as emoções negativas que por vezes são desencadeadas em pacientes com Parkinson submetidos ao tratamento para aliviar tremores”, diz Gale.

Além disso, os magnetos, de revestimento plástico, estão menos sujeitos à corrosão que os eletrodos de metal, o que previne possíveis inflamações dos tecidos cerebrais. “Pesquiso a DBS há 14 anos e o uso de magnetos se revelou um meio totalmente inovador de ativação cerebral. Se as pesquisas com animais continuarem a demonstrar que são seguros e eficazes, eles poderão ser testados em humanos dentro dos próximos 5 anos”, diz Gale.

 

OUTROS OLHARES

A ARMADILHA MASCULINA

De um lado, a imagem tradicional do homem-provedor persiste no ambiente de trabalho. De outro, espera-se cada vez mais deles na divisão das tarefas domésticas. Falar sobre o tema, porém, traz dois temores: ser tachado de machista pelas mulheres e de frouxo por outros homens.

A armadilha masculina

 Nathan é um advogado bem-sucedido, que vive e trabalha em Manhattan. Ele não parece um sujeito digno de pena: tem um emprego num respeitado escritório do bairro de Midtown, usa ternos de caimento impecável e ganha um bom salário. Nathan negocia contratos e direitos de propriedade intelectual para a dinâmica indústria de entretimento de Nova York. Divorciado, beirando os 50 anos, ele fala com carinho dos filhos adolescentes, não esconde o amor pela noiva (com quem vai se casar em breve) e garante que tem uma vida confortável e uma carreira em ascensão. Por isso, Nathan hesita antes de confessar algo que não costuma dizer em público – nem mesmo aos amigos mais próximos. “Na sociedade em que vivo, e considerando que sou um profissional em Nova York, acredito que hoje é mais fácil ser mulher do que homem.”

Imediatamente ele ressalta que ser mulher não é fácil – de maneira alguma. Nathan entende por que muitas se frustram diante da expectativa de que “façam tudo, de que trabalhem e sejam mães, um pacote muito contraditório de coisas”. Mas poucas mulheres parecem notar que os homens também estão penando para enfrentar o próprio pacote, que nem sempre é simples. “Sinto que esperam que eu, o homem, seja o provedor, mate as baratas, conserte tudo o que quebrar na casa. Ao mesmo tempo, tenho de ser sensível, ajudar na cozinha, cuidar das crianças.” Nathan teve dois relacionamentos longos, e suas parceiras puderam equilibrar carreiras sólidas com uma flexibilidade que lhes permitiu estar à disposição das crianças. Mas ele sentiu-se obrigado a ter uma profissão com um contracheque polpudo o suficiente para sustentar a família. “Passei os últimos 20 anos acorrentado a uma mesa no escritório”, desabafa. “Adoro ser advogado. Mas se eu tivesse 20 e poucos anos e me dissessem que eu poderia fazer o que quisesse da vida, talvez eu tomasse um rumo diferente.” Nathan fala com inveja de amigas que decidiram abrir mão da carreira para ser mães. “Elas não são vistas como fracassadas. No máximo, alguém diz: ‘que legal, você optou por ficar com seus filhos, eles são a coisa mais importante do mundo’. Para os homens, essa opção não existe.”

Nathan não é o único a enfrentar esses dilemas. Entre 1977 e 2008, a porcentagem de pais americanos que sofrem com a equação família + trabalho aumentou de 35% para 60%, enquanto a porcentagem de mães com o mesmo conflito subiu apenas de 41% para 47% (a pesquisa foi feita com casais em que ambos os cônjuges trabalham). Os homens jovens encarregados de sustentar a família relatam altos níveis de estresse e tristeza, por não poderem passar mais tempo com os filhos.

Uma vez que os homens – sobretudo os brancos – ocupam uma posição de inigualável privilégio na sociedade, Nathan reluta em falar abertamente sobre o assunto. “Eu nunca disse isso para as mulheres com quem convivi, e acho melhor não fazê-lo.” A desconfiança tem fundamento. Boa parte das conversas sobre desigualdade de gênero acaba situando pessoas na situação de Nathan do lado do problema. Em todo o mundo, as mulheres estão obtendo mais diplomas universitários do que os homens, e mesmo assim elas ainda não desfrutam do mesmo sucesso profissional que eles. A culpa parece estar na divisão desequilibrada das tarefas domésticas. Nos países desenvolvidos, os homens de hoje passam mais tempo do que nunca lavando, cozinhando e cuidando dos filhos; o grosso do trabalho doméstico, porém, ainda cabe às mulheres. Nos Estados Unidos, por exemplo, elas dedicam quase duas vezes mais tempo ao cuidado com a casa e as crianças do que os companheiros. Mesmo casais que fazem um esforço consciente para estabelecer uma parceria igualitária acabam caindo na divisão tradicional de papéis quando os filhos entram em cena. Um estudo recente pediu a casais americanos de alta escolaridade, nos quais ambos trabalham, que registrassem diários com os horários de suas tarefas. O resultado mostrou que pais de primeira viagem desfrutam de até três horas e meia a mais de lazer do que as mães, já que elas têm empregos em tempo integral e ainda por cima ficam com a maior fatia da chamada “segunda jornada”.

Há tempos as feministas argumentam que os homens não veem tanta necessidade de ajudar em casa, já que desfrutam de todos os benefícios do casamento e da paternidade sem ter de oferecer uma contribuição adicional. “Embora a situação esteja mudando, o casamento ainda é bom negócio para os homens no que diz respeito à mão de obra prestada pelas mulheres”, afirma Scott Coltrane, sociólogo da Universidade do Oregon. Ele realizou uma pesquisa que considerava variáveis como idade e grau de instrução, e descobriu que os homens americanos casados têm renda consideravelmente superior à dos solteiros ou divorciados. Essa renda, vale acrescentar, aumenta a cada novo filho. Isso indica que o casamento deixa o homem mais produtivo no escritório, uma vez que boa parte das tarefas domésticas acaba sendo transferida para a esposa. As mulheres, por sua vez, não desfrutam desse “bônus”: a renda delas tende a diminuir a cada novo filho. Os mesmos efeitos podem ser observados em diversos países ocidentais, e são ainda mais visíveis em nações conservadoras como Áustria e Alemanha (e menos em países progressistas, como a Suécia). O desequilíbrio no ambiente doméstico parece explicar por que a taxa de emprego entre as mulheres segue em ritmo lento desde a década de 90, e está estável desde o início dos anos 2000, depois de passar por um aumento acentuado entre os anos 60 e 80. Ou seja: para que mais mães possam avançar no terreno do trabalho remunerado, mais pais precisam assumir o trabalho em casa. O problema é que as coisas não são tão simples assim, conforme demonstra o desabafo de Nathan.

Embora as mulheres não estejam entrando em universos predominantemente masculinos tão rápido quanto as feministas gostariam, esse movimento é mais acelerado do que a entrada dos homens em universos predominantemente femininos. Para entender a discrepância, é preciso observar de perto o valor relativo que atribuímos aos conceitos de masculinidade e feminilidade. Muita gente supõe que o gênero se resume a um sistema de classificação de diferenças, ou a um modelo que orienta o comportamento das crianças. A realidade é bem mais perniciosa do que isso. Temos o costume de atribuir maior valor a atributos associados aos homens – competência, força, virilidade e estoicismo. Por outro lado, as características associadas às mulheres – vistas como calorosas, gentis e subservientes – são subestimadas. Nós nos sujeitamos às opiniões e vontades dos homens, e somos lenientes com as mulheres. Ou seja: gênero é muito mais do que um amontoado de características corporificadas por pessoas. É um sistema com estratificações sutis, que oferece vantagens aos homens e desvantagens às mulheres.

Isso significa que as mulheres têm mais incentivos para agir de forma masculina do que vice-versa. Uma profissional que se comporta como os colegas do sexo masculino pode até ser vista como “agressiva” ou chamada de “trator”. Mas essas penas são compensadas por um aumento na probabilidade de obter mais poder e maior remuneração financeira. Quando um homem adota comportamentos tidos como femininos, ou tem um emprego tradicionalmente associado às mulheres, a tendência é perder status, ter menos benefícios e sofrer sanções sociais – sobretudo por parte de outros homens. “Se um homem decide se afastar do trabalho, abre-se uma crise inesperada”, afirma Barbara Risman, diretora do departamento de sociologia da Universidade de Illinois, em Chicago. “O problema não é ser visto como um homem parecido com uma mulher, e sim ser visto como um homem ‘menor’. Justamente porque as mulheres são vistas como menores.”

Uma vez que enxergamos a masculinidade como uma irmandade que que confere privilégios especiais, fica explicada a implacável patrulha cultural aplicada aos integrantes do grupo. Nem todos os homens são aceitos no clube, e os rituais de iniciação começam na infância. Os pais dizem às filhas que elas podem ser e fazer o que quiserem, e ao mesmo tempo compreendem suas lágrimas quando elas sofrem. Aos meninos, porém, ensinamos a importância de ser “durão”, de não amolecer, de encarar a vida “como um homem”. Ao ver uma menina deixar a boneca de lado e jogar futebol, muitos pais e mães sorriem encantados – como se as garotas estivessem aprendendo a “se impor” no microcosmo do parquinho. Mas um menino que decide trocar as chuteiras por um par de sapatilhas será alvo de preocupação. À medida que as crianças crescem, os meninos não medem esforços (e com frequência sofrem) para provar aos outros que são machos; enquanto isso, as meninas têm à disposição uma gama bem mais ampla de comportamentos aceitáveis. “Se esse jogo está virando uma competição para ver quem leva a pior, a verdade é que as garotas saem em vantagem quando o assunto é a definição da feminilidade”, diz Lisa Damour, psicóloga especializada em adolescentes. “A menina que tem jeito de moleque é bem-vista pelos colegas. A que gosta de maquiagem também. Mas os meninos têm uma margem de manobra extremamente estreita.” Aqueles que ultrapassam as fronteiras tradicionais costumam ser alvo de bullying e violência. Seu status como homens é a um só tempo valioso e precário – e tem de ser constantemente reconquistado.

A definição de masculinidade continua igualmente rigorosa depois que os meninos crescem. Para muitos homens, o ambiente de trabalho é apenas mais uma versão do pátio da escola, um território onde eles terão de defender seu posto de macho alfa. “Há empresas que vivem num clima constante de negociação entre os homens, de modo a estabelecer uma hierarquia entre eles”, diz Joan Williams, jurista feminista que fundou o Center for WorkLife Law, na Universidade da Califórnia. “Ficar mais tempo no escritório pode ser uma forma de provar que ‘o meu é maior que o seu’ – e aqui me refiro ao horário de trabalho. Os homens se sentem pressionados a fazer esse tipo de coisa.”

Entre os profissionais, a frustração dos pais com a carga de trabalho é a mesma que a das mães – e quase sempre eles ficam igualmente tristes por não estarem com os filhos tanto quanto gostariam. O problema é que os homens temem ser malvistos por seus pares. Por isso, a probabilidade de um homem desfrutar de políticas de auxílio à paternidade é menor. Eles relutam diante da ideia de se tornarem donos de casa. Sarah Thébaud, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, e David S. Pedulla, da Universidade do Texas em Austin, realizaram uma enquete com homens da chamada geração millennial – aqueles nascidos depois de 1980, os primeiros a se tornarem adultos no atual milênio. Os entrevistados sentem-se mais inclinados a aproveitar os benefícios do trabalho flexível quando acreditam que outros colegas fariam o mesmo. Outros estudos sobre a licença paternidade mostram que os homens só optam por ficar em casa com os filhos quando o benefício é claramente dirigido a eles, e quando outros pais também tiram a licença. Na Noruega, os pesquisadores perceberam que a probabilidade de sair em licença paternidade aumenta quando um irmão ou outro colega do sexo masculino já o fez.

Fora isso, a maioria dos homens supõe que as políticas de trabalho flexível, mesmo quando criadas para homens e mulheres, são coisa de mulher. Eles acreditam que serão menosprezados pelos colegas se utilizarem esses benefícios. Muitos temem ser vítimas da postura de profissionais como Chase – um pai de 40 e tantos anos, sócio de um grande escritório de advocacia em Chicago. “Às vezes vejo uma mulher que tem filhos e trabalha fora, e sei que o marido dela também tem um emprego. Entendo que os dois estão se matando de trabalhar, e penso que isso não é bom para as crianças”, diz. “Mas quando vejo um pai que decide parar de trabalhar para cuidar dos filhos, confesso que não formo uma imagem muito boa dele. Pode me chamar de machista, do que quiser. Mas acho meio covarde. É pular fora do jogo, desistir de batalhar pelo sucesso, afastar-se de coisas que, para mim, têm valor.”

A renda da mulher pode até cair quando ela decide se afastar do trabalho para cuidar dos filhos, mas mesmo assim ela será vista como uma boa mulher. Já um pai que fizer o mesmo poderá ser visto como “menos homem”. “Os mitos que envolvem a masculinidade continuam mais fortes que os da feminilidade”, observa Stephanie Coontz, do Evergreen State College, historiadora que estuda família e casamento. “O homem ainda enfrenta uma imensa pressão para agir como homem.” E, no ambiente de trabalho, a pressão está cada vez maior.

Eric é um advogado de direito societário, e trabalha num grande escritório da Filadélfia. Para se tornar sócio da empresa, ele precisa passar cerca de 50 horas por semana na empresa. “A altura do sarrafo muda o tempo todo”, suspira ele. As contas do mês incluem o financiamento da casa e as mensalidades da escola particular de dois filhos. Sua mulher optou por ficar em casa com as crianças (ela também é advoga- da, mas seu salário mal cobria os custos da babá). Eric confessa que se sente “empacado”. “Ninguém nunca me explicou que a vida real seria assim. De repente a gente se vê no meio da engrenagem, e aí o negócio é tocar para a frente do jeito que for possível.” Ele diz que o ideal seria dividir de forma equilibrada as tarefas domésticas, mas seu emprego não permite que seja as- sim. Recentemente, Eric perdeu a reunião de pais dos filhos porque tinha de atender um cliente. “Eu nem me dei ao trabalho de tentar mudar o horário com o cliente. Sabia que levaria um sermão ou receberia um olhar torto, como se eu fosse difícil de lidar.”

Alguns empregos estão se tornando mais exigentes. Profissionais com salários baixos têm de encarar horários e agendas que mudam constantemente, sempre em cima da hora. Dos profissionais bem pagos, esperam-se mais horas de trabalho e jornadas que com frequência avançam madrugada adentro. Em 1979, 16% dos americanos assalariados trabalhavam no mínimo 50 horas por semana. Em 2014, essa proporção havia aumentado para 21%.

As pesquisadoras Youngjoo Cha, da Universidade de Indiana, e Kim Weeden, de Cornell, descobriram que funcionários que trabalham mais horas tendem a ganhar mais e receber mais promoções. Essa tendência surgiu nos anos 90; antes disso, o cenário era inverso: quem trabalhava mais eram os profissionais de salários baixos. Em 2014, um profissional que trabalhasse no período integral regular ganhava, em média, US$ 26 por hora; já o que trabalhasse mais de 50 horas por semana recebia quase US$ 33 por hora.

Essa elevação das expectativas no ambiente profissional acaba reforçando o desequilíbrio no trabalho doméstico entre homens e mulheres. As mulheres são empurradas para empregos de meio período, e os homens acabam por delegar o cuidado com os filhos para as parceiras. Muitos empregadores partem do pressuposto que as mães vão – e devem – colocar a família em primeiro lugar, e de que as crianças fatalmente impedem que a mulher avance na carreira. Não à toa, economistas americanos afirmam que ter um filho reduz a renda da mulher em 6%, e ter dois diminui o salário da profissional em 15%. Por outro lado, a chegada de filhos leva os homens a aumentar a carga de trabalho em cerca de 80 horas por ano, em média. Isso eleva a renda masculina em 6%. Além disso, entre 1965 e 2000 o tempo gasto pelos homens trocando fraldas e cuidando da casa dobrou. As mães costumam trabalhar fora de casa menos do que gostariam; já os pais costumam ficar no escritório mais do que desejam.

Essas expectativas, é claro, estão mudando rapidamente. Uma pesquisa realizada em 2013 pelo Pew Research mostrou que apenas 28% dos americanos concordam com a seguinte frase: “de maneira geral, o casamento é melhor quando o marido ganha mais do que a mulher”. Em 1997, 40% dos entrevistados concordavam com a mesma afirmação. De todo modo, é difícil encontrar alguém que esteja totalmente imune a séculos de convenções sociais. O roteirista Steve confessa que “sem dúvida foi bem esquisito” ganhar 50% a menos que sua mulher durante o primeiro ano de casamento. Ele tem 40 e poucos anos, vive no Brooklyn e diz: “Somos todos muito modernos e avançados, e queremos que o casamento seja uma divisão equilibrada de tarefas. Mas, quando a coisa apertava, ela às vezes me dizia: ‘você é que deveria estar sustentando a gente’”. Steve esclarece que o fio de tensão era tênue, pois eles nunca enfrentaram problemas financeiros de verdade. “Mas de vez em quando o assunto surgia, e ela vinha com essa cartada: o problema nem deveria ser dela, afinal de contas ela é a esposa. Um homem não pode usar esse argumento.”

Alguns homens também acreditam que o sucesso profissional é parte do que os torna atraentes para as mulheres. Robert tem 32 anos e trabalha com mídias digitais em São Francisco. Ele confessa invejar os amigos que vivem num regime financeiro mais frugal. “Se a gente tivesse uma vida modesta, talvez eu não tivesse de trabalhar tanto”, afirma. “Mas é difícil sugerir isso. Minha noiva me enxerga como um cara bem-sucedido, capaz de sustentar o casal.”

As mulheres reclamam, com razão, que costumam ser relegadas apenas ao papel de mães – com direito a salários mais baixos, menos promoções e menor prestígio (quer elas façam essa escolha ou não). Os homens, no entanto, também parecem insatisfeitos com o papel que lhes cabe como pais. Beirando os 40 anos, o apresentador de televisão Brian conta que decidiu tirar a licença paternidade após o nascimento do segundo filho. “Foi um pesadelo. Eu não conseguira nem saber quais eram meus direitos. A decisão de dar um tempo no trabalho é tão rara que ninguém entende como funciona.” Depois de muita confusão, ele descobriu que poderia usar seus dias de licença médica para ficar com as crianças. Brian acredita que poucos homens aproveitam o benefício por “medo de serem olhados com cara feia”.

O receio tem fundamento. Pesquisas mostram que pais que desfrutam da licença ou solicitam horários de trabalho flexíveis costumam, sim, ser punidos – com longos intervalos sem aumento, menos promoções e pior avaliação de desempenho pelos superiores. É claro que o mesmo ocorre com as mulheres. Para os pais, porém, o golpe parece ter mais força, já que eles estão desafiando expectativas culturais e sociais. Alguns estudos descobriram que tanto os homens quanto as mulheres associam características como fraqueza ou inadequação a pais que tiram a licença para ficar com os filhos. Na Austrália, uma enquete realizada com profissionais mostrou que a probabilidade de ter a licença concedida pelo chefe é duas vezes menor para o homem do que para a mulher. Um dos entrevistados relatou ter ouvido a seguinte justificativa de seu superior: “A gente costuma oferecer trabalho em meio período para mulheres, mas não para homens.” Além disso, outras pesquisas revelam que pais com uma postura mais progressista em relação ao cuidado com os filhos costumam ser alvo de chacota dos amigos. Um estudo da Deloitte com mil homens americanos mostrou que um terço deles acredita que a licença paternidade “coloca em risco” o cargo ocupado pelo profissional. Diante desse estigma, não surpreende que 75% dos trabalhadores que aproveitam a lei estadual de licença paga, adotada pela Califórnia, sejam mulheres.

Patrick, um jornalista de televisão que vive em Atlanta e tem 40 e poucos anos, descobriu logo no início da vida profissional que não deveria nutrir nenhuma expectativa em relação à possibilidade de ter mais tempo para ficar em casa. Casado com uma médica obstetra, coube a ele boa parte do cuidado com os três filhos, já que a esposa cumpria dois turnos de trabalho num hospital. Certo dia, ele tentou explicar ao chefe que não poderia mais fazer plantão nos fins de semana. A resposta foi seca: “Patrick, todo mundo aqui tem família. Ninguém está nem aí para a sua”. Difícil imaginar um homem dizer o mesmo para uma mulher.

Muitos pais confessam que as longas jornadas de trabalho trazem insegurança em relação ao papel exercido em casa. “Às vezes viajo a negócios, ou então trabalho das 7 da manhã até a meia-noite porque estou me preparando para um julgamento”, conta o advogado Eric. “Quando volto para casa, minha mulher diz que as coisas pioram, porque ela já estabeleceu uma rotina da qual não faço parte. É como se eu fosse uma visita dentro da minha própria casa.”

A maioria das mulheres acredita que os homens se agarram aos papéis tradicionais porque é mais confortável para eles. Sem dúvida, progredir na carreira traz maiores salários, mais poder e status do que o caminho seguido pelas mães. Mas essas vantagens têm um custo. Christin Munsch, da Universidade de Connecticut, realizou uma pesquisa durante 15 anos com homens e mulheres americanos de idade entre 18 e 32 anos. Ela descobriu que a saúde dos homens é melhor enquanto eles dividem o sustento da casa com as mulheres. À pro- porção que a responsabilidade de pagar as contas aumenta, a saúde e o bem-estar dos homens diminui. Com frequência, as piores condições de saúde e os mais altos níveis de estresse são registrados nos períodos em que as esposas param de trabalhar por completo.

Tudo indica que os casamentos mais igualitários funcionam melhor. Um estudo, por exemplo, compilou dados de 2006 e descobriu que casais com uma divisão equilibrada das atividades domésticas são mais felizes, e têm mais (e melhores) relações sexuais do que pares que seguem o script tradicional. Pais que dedicam mais tempo ao cuidado com os filhos e a casa não apenas tendem a viver mais felizes e mais próximos das crianças e da companheira: eles também vivem mais. Na Suécia, um trabalho feito com 72 mil homens que tiveram filhos entre 1988 e 1989 mostrou que aqueles que tiraram entre 30 e 60 dias de licença paternidade reduziram em 24% o risco de morrer até o ano de 2008, em comparação com os que não desfrutaram do benefício. Para os autores da pesquisa, pais que abraçam as tarefas domésticas têm menos probabilidade de adotar comportamentos arriscados para comprovar a própria masculinidade.

Isso sugere que os homens (à semelhança das mulheres) também vivem mais felizes em relacionamentos equilibrados. No entanto, de maneira geral, não é assim que as coisas funcionam. Ideias ultrapassadas sobre o comportamento esperado de cada sexo, aliadas à pressão por “mostrar serviço” no trabalho, impedem que se avance mais rápido. Essa conclusão não é novidade para tantas mães que há tempos reclamam da impossibilidade de “ter tudo”. Os problemas enfrentados por homens que se tornam pais, porém, são menos debatidos. Na verdade, muitos preferem nem falar sobre o assunto em público – em parte porque sabem que as queixas das mulheres costumam ser mais sólidas do que as deles. No entanto, o silêncio masculino deve-se também ao medo de que o lamento sobre as dificuldades de ser homem e pai possa romper com um código tácito estabelecido entre os machos. “É um tabu tão grande quanto a polêmica das cotas raciais”, diz Jesse, um escritor de quase 50 anos, pai de dois filhos. “Vivo numa região cosmopolita de Minneapolis, e nessa minha bolha o foco das atenções é o desenvolvimento das mulheres. Ninguém discute os problemas dos homens.”

Essa discussão terá de acontecer se os casais realmente quiserem mudar convenções culturais e econômicas, e atingir parcerias mais igualitárias. “As mulheres pedem que os homens sejam solidários e compreensivos, e elas têm razão”, diz Patrick, o jornalista de Atlanta. “Mas eu gostaria que também houvesse mais solidariedade e compreensão com os homens.”

GESTÃO E CARREIRA

TEU CHEFE ESTÁ TE NEGLIGENCIANDO?

Em tempos de crise, muitos líderes deixam a gestão de pessoas de lado e focam apenas os resultados de curto prazo. Identifique os sinais desse descuido e o que fazer para reverter o quadro.

Teu chefe está te negligenciando

Os reflexos da crise não são notados apenas na inflação alta, no aumento do desemprego e nas dívidas a perder de vista. Quem está trabalhando também sente o peso desse cenário em ações do dia a dia. Uma delas é o fato de que, pressionados para entregar resultados, muitos chefes passam a negligenciar aspectos de gestão de pessoas (como feedbacks, clima organizacional e treinamentos) e olham apenas para o que gera benefícios imediatos para a empresa. Em alguns casos, o “como fazer” passa a dar lugar para o “fazer a qualquer custo”. “Organizações que antes tinham times grandes passaram a contar com poucas pessoas, que precisam em pouco tempo aprender a função de quase a equipe inteira” diz Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira, de São Paulo. Nesses casos, a pressão por resultados fica ainda maior e, claro a qualidade da gestão cai.  Conversamos com consultores de RH para identificar os sinais de que isso está acontecendo e o que você pode fazer para reverter o quadro.

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ÍNDÍCIOS DE QUE O GESTOR ANDA DISTANTE DA EQUIPE

MAIS CONTROLE, MENOS AUTONOMIA

Antes, havia autonomia e liberdade para a equipe. Agora, o chefe passa o tempo todo apenas cobrando as tarefas e os resultados, sem se preocupar com as condições de como as atividades serão desenvolvidas.

“Isso acontece quando as lideranças passam a se concentrar naquilo que é exclusivamente voltado para o curto prazo, negligenciando outros elementos importantes da gestão, como os funcionários”, diz Rubens Prata, CEO da Stato, consultoria de recolocação profissional, de São Paulo.

 POUCO ALINHAMENTO

Você percebe que faz mais de um mês que não há reuniões de equipe nem feedbacks. Com menos tempo dedicado a entender os anseios dos funcionários, criam-se o distanciamento e a perda do compromisso – o que acaba se refletindo no resultado e na produtividade. Se a percepção geral é a de que é necessário apenas executar o que o chefe determina, a proatividade e a inovação diminuem drasticamente.

 SÓ NÚMEROS

As reuniões, que antes englobavam todo o processo de um projeto, passam a se resumir a números e a resultados e deixam de lado a preocupação mais com o progresso da atividade e com a possibilidade de que alguém esteja com dificuldade em alguma etapa. “Se você trouxe o resultado, não importa como fez isso, se lhe causou noites sem dormir, por exemplo”, diz Silvana Mello, diretora de desenvolvimento de talentos da Lee Hecht Harrison, consultoria de São Paulo.

 SURPRESA QUANDO ALGO DÁ ERRADO

Não importa se foi um problema pequeno ou de grande proporção: quando surge um erro, o líder se mostra surpreso e não sabe dizer como aquilo aconteceu em sua gestão. “Esse é um sinal claro de que o chefe deixou a equipe de lado”, diz Eliana Dutra, CEO da Pro Fit Coach, consultoria de carreira do Rio de Janeiro. Quando um chefe acompanha seu time, com feedbacks frequentes das atividades, nada o pega de surpresa.

FALTAS CONSTANTES

Você percebe que muitos de seus colegas de trabalho (você, Inclusive) têm faltado por problemas de saúde, como crises de enxaqueca, resfriados e gastrite. Além disso, nota que as pessoas estão sonolentas ou cansadas quando estão no trabalho e, nas conversas de corredor, ouve relatos de insônia ou noites mal dormidas. “Se a saúde vai mal é um alerta vermelho”, afirma Rafael. Muitas vezes, isso não acontece apenas com a equipe. Repare se o próprio gestor aponta sinais de cansaço, pois ele também está assumindo mais funções e vive sob pressão. Olhar para o estado dele é essencial para que você consiga reverter a situação.

 AMBIENTE PESADO

O clima organizacional já não é o mesmo: o líder só cobra e dá menos condições para os subordinados executarem suas tarefas, o nível de estresse aumenta e faz com que os funcionários operem no piloto automático”, diz Rafael. E o pior é que, nesses momentos de crise, o turnover costuma se manter baixo, pois os profissionais têm receio de pedir demissão e não se recolocarem, mas a falta de engajamento contamina o ambiente inteiro.

NADA PARECE O BASTANTE

Por mais que você trabalhe, está sempre com aquela sensação de que deve algo e a tensão aumenta muito. Essa sensação mexe com a autoestima de todo o time, que passa a se sentir desvalorizado e sem vontade de trabalhar – um sinal disso é quando o clima pesa no momento que o chefe coloca os pés no escritório. “Você não quer nem confrontá-lo para tentar mudar a situação. A chegada dele à empresa passa a ser um fardo e não algo bom como era alguns meses atrás”, diz Roberto Aylmer, professor na Fundação Dom Cabral, do Rio de Janeiro.

 

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O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA MUDAR A SITUAÇÃO

INICIE A CONVERSA

Ao perceber uma brecha, sugira uma conversa de alinhamento. Muitas vezes, o líder nem se deu conta de que mudou de comportamento, e é importante que alguém lhe mostre o outro lado. Fale que percebeu uma mudança na gestão e dê exemplos recentes – dos últimos três meses, por exemplo. Não se trata de um confronto, é essencial deixar isso claro. Líderes maduros entendem que apenas feedbacks sinceros são capazes de melhorar uma situação.

 REFORCE A IMPORTÂNCIA DO LONGO PRAZO

Na hora de falar com o chefe, diga que você entende que o nível de pressão sobre os resultados é grande, mas mostre quanto o olhar para o curto prazo pode ser ruim para o negócio. Eleja, por exemplo, um ou dois projetos que poderiam ter rendido resultados melhores se houvesse mais tempo e mais olhar para as pessoas.  “É normal as lideranças se concentrarem naquilo que é exclusivamente voltado para o curto prazo devido à pressão, mas é essencial lembrá-las que o longo prazo é vital para o negócio e para os talentos permanecerem na empresa”, diz Rubens, da Stato.

OFEREÇA AJUDA

Mostre-se preocupado com a situação da empresa e se disponha a ajudar o gestor a mudar o cenário. “Entenda quais são as prioridades do momento para se concentrar no que é mais Importante’, afirma Rubens, da Stato. Combinar prazos e metas com o restante da equipe e auxiliar no monitoramento dos resultados também são ações importantes, pois mostram que você está comprometido com os resultados.

MOSTRE ALTERNATIVAS

Em épocas mais difíceis, os gestores têm poucas ferramentas para recompensar a equipe. “Mostre ao líder algumas alternativas simples que poderiam melhorar o clima da equipe ­ pode ser a implementação do home office em um dia da semana, a criação de um calendário para bate papos com o time ou a possibilidade de realizar algum curso.”  “Sugerir que os resultados sejam comemorados com uma happy hour, por exemplo, é uma ação interessante de incentivo”, diz Rubens

 

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 21: 23-27

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Cristo É Questionado quanto à sua Autoridade

O Senhor Jesus (como também o apóstolo Paulo, depois dele) pregou o seu Evangelho “com grande combate”. A sua primeira aparição foi numa discussão com os doutores no Templo, quando Ele tinha doze anos de idade; e aqui, pouco tempo antes da sua morte, nós o vemos envolvido em controvérsias. Neste sentido, Ele era como Jeremias, um “homem de contenda”; não antagonizando, mas sendo antagonizado. Os que mais discutiam com Ele eram os principais dos sacerdotes e os anciãos, os juízes de duas cortes distintas. Os principais dos sacerdotes presidiam a corte eclesiástica, em todas as questões do Senhor, como são chamadas; os anciãos do povo eram juízes das cortes civis, nas questões temporais. Veja uma ideia de ambas em 2 Crônicas 19.5,8,11. Os dois grupos se uniram para atacar a Cristo, pensando que podiam fazer com que Ele ofendesse a um grupo ou ao outro. Veja como essa geração estava lamentavelmente degenerada, quando os governadores, tanto da igreja como do estado, que deveriam ter sido os maiores promotores do reino do Messias, foram os seus maiores adversários! Aqui nós os vemos perturbando a Cristo quando Ele estava pregando (v. 23). Eles não recebiam os ensinos de Jesus, nem deixavam que os demais os recebessem. Considere:

I – Assim que Jesus entrou em Jerusalém, Ele se dirigiu ao Templo, embora tivesse sido insultado ali no dia anterior. Ele se posicionou em meio aos inimigos, no local mais perigoso; ainda assim, para lá Ele foi, pois ali, mais do que em qualquer outro lugar em Jerusalém, Ele tinha uma excelente oportunidade de fazer o bem às almas. Embora Ele viesse à cidade com fome, e tivesse ficado desapontado com o café da manhã junto à figueira estéril, aparentemente Ele foi direto ao Templo, como alguém que preza as palavras da boca de Deus, a pregação delas, mais do que o seu alimento (Jó 23.12).

 II – Ele estava ensinando no Templo. Ele o havia chamado de “casa de oração” (v. 13), e aqui o vemos pregando ali. Observe que nas assembleias solenes dos cristãos, a oração e a pregação devem andar juntas, e nenhuma deve atrapalhar a outra, ou invadir a área uma da outra. Para ter comunhão com Deus, devemos não somente falar com Ele em oração, mas ouvir o que Ele tem a nos dizer, por meio da sua palavra. Os ministros devem se dedicar tanto à palavra quanto à oração (Atos 6.4). Agora que Cristo estava ensinando no Templo, cumpria-se uma passagem das Escrituras (Isaias 2.3): “Vinde… à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos”. Os sacerdotes da época frequentemente ensinavam ali o bom conhecimento do Senhor, mas nunca tinham tido um professor como esse.

 III – Quando Cristo estava ensinando o povo, os sacerdotes e os anciãos vieram até Ele, e o desafiaram a mostrar de onde vinha a sua autoridade e quem tinha dado tal autoridade a Ele. A mão de Satanás estava nisso, para atrapalhá-lo na sua obra. Observe que não deixa de ser um problema para um ministro fiel ser afastado ou desviado da pregação prática e pura por uma inevitável necessidade de se envolver em controvérsias. No entanto, algum bem resultou desse mal, pois houve a oportunidade de Cristo dissipar as objeções contra si que lhe eram apresentadas, para maior satisfação dos seus seguidores; e, embora os seus adversários pensas­ sem que o poder que tinham o silenciaria, Ele, com a sua sabedoria, os silenciou.

Nessa argumentação com eles, podemos observar:

1. Como se dirigiram a Ele, com a insolente exigência: “Com que autoridade fazes isso? E quem te deu tal autoridade?” Se eles tivessem considerado os seus milagres de maneira apropriada, e o poder sob o qual Ele os realizava, não precisariam ter feito essa pergunta; mas precisavam ter alguma coisa a dizer para proteger uma infidelidade obstinada. “Você, que entra em triunfo em Jerusalém, que recebe as hosanas do povo, que controla o Templo, que expulsa aqueles que tinham licença para estar aqui, licença dada pelas autoridades do Templo, a quem é pago um aluguel; você está aqui ensinando uma nova doutrina. De onde você recebeu autoridade para fazer isso? De César, ou do sumo sacerdote, ou de Deus?” Observe que é bom que todos aqueles que assumem a responsabilidade de agir com autoridade se façam, a si mesmos, esta pergunta: “Quem nos deu esta autoridade?” Pois, a menos que um homem esteja limpo na sua própria consciência a esse respeito, ele não poderá agir com qualquer consolo ou esperança de ser bem-sucedido. Aqueles que se precipitam antes de terem a devida per­ missão, agem sem a bênção de Deus (Jeremias 23.21,22).

Cristo havia falado disso frequentemente, e o havia provado, sem contradições. Nicodemos, um mestre em Israel, tinha reconhecido que Ele era um mestre enviado por Deus (João 3.2); mas, nessa ocasião, quando a questão já tinha sido tão completamente esclarecida e definida, eles vêm a Ele com a mesma pergunta.

(1). Na ostentação do seu próprio poder, como principais dos sacerdotes e anciãos, que se julgavam como tendo autoridade para interpelá-lo dessa maneira. Com que arrogância eles perguntaram: “Quem te deu tal autoridade?”, dando a entender que Ele não poderia ter nenhuma autoridade, porque não tinha autoridade concedida por eles (1 Reis 22.24; Jeremias 20.1). É comum que as pessoas que mais abusam do poder sejam as que o buscam com mais afinco, e as que mais se orgulham e se satisfazem com qual­ quer coisa que se pareça com o exercício desse poder.

(2).  Eles queriam confundi-lo e lhe armar uma cilada. Se Jesus se recusasse a responder a essa pergunta, eles o julgariam Iriam condená-lo se ficasse em silêncio. E iriam insinuar ao povo que o seu silêncio era uma confissão tácita de que Ele era um usurpador. Se Ele invocasse uma autoridade de Deus, eles exigiriam, como já tinham feito anteriormente, um sinal do céu, ou fariam da sua defesa o seu crime, e por isso o acusariam de blasfêmia.

2. Ele respondeu a essa pergunta com outra, o que os ajudaria a respondê-la por si mesmos (vv. 24,25): “Eu também vos perguntarei uma coisa”. Ele se recusou a dar-lhes uma resposta direta, para que não se aproveitassem disso, usando-a contra Ele; mas lhes respondeu com uma pergunta. Aqueles que são envia­ dos “como ovelhas ao meio de lobos” precisam ser “prudentes como as serpentes”; o coração do sábio pondera antes de responder. Nós precisamos dar uma “razão para a esperança que há em nós”, não somente com mansidão, mas também com temor (1 Pedro 3.15), com cuidado prudente, para que a verdade não seja danificada, nem corramos algum perigo.

Essa pergunta se refere ao batismo de João Batista (referindo-se aqui a todo o seu ministério, à pregação juntamente com o batismo): “Donde era? Do céu ou dos homens?” Ele deveria ser de um desses dois lugares. Ou tudo o que ele fazia era da sua própria cabeça, ou ele tinha sido enviado por Deus para fazê-lo. O argumento de Gamaliel se baseia nisto (Atos 5.38,39): “Este conselho é de homens, ou é de Deus”. Embora aquilo que é declaradamente mau não possa ser de Deus, ainda assim aquilo que é aparentemente bom pode ser dos homens, ou de Satanás, pois ele até mesmo “se transfigura em anjo de luz”. Essa pergunta não era, de maneira nenhuma, uma trama para fugir da pergunta deles, mas:

(1). Se eles respondessem à pergunta de Jesus, isso responderia a deles: se eles dissessem, contra as suas consciências, que o batismo de João era dos homens, seria uma resposta fácil, João não fez nenhum milagre (João 10.41), Cristo fez muitos; mas se eles dissessem, como não poderiam deixar de reconhecer, que o batismo de João era do céu (o que se supunha nas perguntas feitas a ele, João 1.21: És tu Elias? És tu o profeta?), então a sua pergunta estaria respondida, pois ele dava testemunho de Cristo. Observe que as verdades aparecem sob a luz mais clara quando são consideradas na sua devida ordem; a solução das perguntas anteriores será a chave para a resposta da pergunta principal.

(2). Se eles se recusassem a responder, esse seria um bom motivo pelo qual Ele não deveria oferecer nenhuma prova da sua autoridade a homens que eram obstinadamente preconceituosos contra a convicção mais forte; isso não seria nada mais do que atirar pérolas aos porcos. Assim, “Ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (1 Coríntios 3.19), e aqueles que não ficarem convencidos das verdades mais claras serão convencidos da maldade mais vil, primeiramente contra João, e depois contra Cristo; e nos dois casos, contra Deus.

3. Como eles se confundiram e chegaram a um beco sem saída; eles conheciam a verdade, mas não a admitiam. E assim foram aprisionados pela mesma cilada que tinham armado para o nosso Senhor Jesus. Considere:

(1). Como eles pensaram entre si, não a respeito dos méritos da causa, nem das provas que havia da origem divina do batismo de João. Não, a sua preocupação era como ter uma boa argumentação contra Cristo. Eles se preocupavam com duas cosias no seu raciocínio: a sua credibilidade e a sua segurança. Estas são as mesmas coisas que constituem o objetivo principal daqueles que procuram os seus próprios interesses.

[1].  Eles consideram a sua própria credibilidade, que colocariam em perigo, se admitissem que o batismo de João era de Deus; pois então Cristo poderia lhes perguntar, diante de todas as pessoas: “Então, por que não o crestes?” E admitir que uma doutrina é de Deus, e ainda assim não recebê-la e aceitá-la, é o maior absurdo e a maior iniquidade de que um homem pode ser acusado. Muitos que não são impedidos, pelo medo de pecar, de negligenciar e opor-se àquilo que sabem ser ver­ dadeiro e bom, são impedidos, pelo mesmo medo da vergonha, de reconhecer o que é verdadeiro e bom, naquilo que eles negligenciam, e ao que se opõem. Sendo assim, eles rejeitam o conselho de Deus, contra si mesmos, ao não se submeterem ao batismo de João, e ficam sem desculpas.

[2].  Eles consideram a sua própria segurança, o problema de se exporem aos rancores e aos ressentimentos do povo, se dissessem que o batismo de João era dos homens: “Tememos o povo, porque todos consideram João como profeta”. Parece, então, em primeiro lugar, que o povo tinha sentimentos mais verdadeiros a respeito de João do que os principais dos sacerdotes e os anciãos, ou, pelo menos, era mais livre e fiel ao declarar os seus sentimentos. Essas pessoas, de quem diziam, no seu orgulho, que não conheciam a lei e eram malditas (João 7.49), aparentemente conheciam o Evangelho, e eram benditas. Em segundo lugar, que os principais dos sacerdotes e os anciãos eram reverenciados pelas pessoas comuns, o que era uma evidência de que as coisas estavam desordenadas entre eles, e as invejas mútuas estavam exacerbadas; que o governo tinha se tornado detestável, insolente, odiando e desprezando o povo, e se cumpria a passagem das Escrituras: “Eu vos fiz desprezíveis e indignos” (Malaquias 2.8,9). Se eles tivessem conservado a sua integridade, e cumprido o seu dever, eles teriam conservado a sua autoridade, e não precisariam temer o povo. Algumas vezes percebemos que o povo os temia, e isto lhes servia de razão pela qual não confessavam a Cristo (João 9.22; 12.42). Aqueles que estudavam somente para serem temidos pelas pessoas, não podiam deixar de temer as pessoas. Em terceiro lugar, que normalmente o estado de espírito das pessoas comuns consiste em serem zelosas pela honra que consideram sagrada e divina. Se elas consideravam João como um profeta, elas não iriam suportar que se dissesse que o seu batismo era dos homens; as disputas mais acaloradas eram sempre sobre as coisas sagradas. Em quarto lugar, que os principais dos sacerdotes e os anciãos não chegavam a negar abertamente a verdade, até mesmo contra a convicção das suas próprias mentes, não por temor a Deus, mas puramente por temor ao povo. Assim como o temor aos homens pode levar pessoas boas a uma armadilha (Provérbios 29.25), também algumas vezes pode impedir que as pessoas más sejam excessivamente más, para que não morram “fora do seu tempo” (Eclesiastes 7.17). Muitas pessoas más seriam muito piores do que são, se o fizessem.

(2). Como eles responderam ao nosso Salvador, e desistiram da pergunta. Eles confessaram claramente: “Não sabemos”, isto é, não diremos. Isso era uma grande vergonha para aqueles que pretendiam ser líderes do seu povo, e por seu trabalho eram obrigados a tomar conhecimento de tais coisas – quando não confessavam o seu conhecimento, eram obrigados a confessar a sua ignorância. E, a propósito, quando eles disseram: “Não sabemos”, eles mentiram, pois sabiam que o batismo de João era de Deus. Existem muitos que têm mais medo da vergonha de mentir do que de pecar, e por isso não têm vergonha de falar o que abem que não é verdade a respeito dos seus próprios pensamentos e conhecimentos, dos seus interesses e intenções, ou da sua lembrança ou esquecimento das coisas, porque sabem que ninguém poderá censurá-los nesses assuntos.

Assim, Cristo evitou cair na armadilha que eles tinham armado para Ele, e se justificou na recusa a satisfazê-los: “Nem eu vos digo com que autoridade faço isso”. Se eles eram tão maus, a ponto de não acreditarem, ou não confessarem que o batismo de João era do céu (embora ele obrigasse ao arrependimento, este grande dever, e declarasse que o Reino de Deus era chegado, esta grande promessa), eles não eram capazes de ouvir nada a respeito da autoridade de Cristo; pois homens de tal disposição não poderão ser convencidos da verdade. Não. Eles só conseguirão ser provocados por ela; portanto, aquele que é ignorante, que continue ignorante. Aqueles que detêm, com injustiça, as verdades que conhecem (seja por não professá-las, ou por não se comportarem de acordo com elas), têm justamente negadas outras verdades que procuram (Romanos 1.18,19). Tire o talento daquele que o enterrou; aqueles que não quiserem enxergar, não enxergarão.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

INTERPRETANDO SORRISOS

Estudos sobre a capacidade de decifrar as nuances das expressões faciais mostram como o cérebro acessa memórias e decodifica gestos.

Interpretando o sorriso

As expressões faciais revelam muito sobre nossos interlocutores. Com base em mínimos indícios que às vezes escapam à consciência, somos capazes de avaliar em que medida expressões amigáveis são autênticas ou falsas, detectamos se um sorriso é espontâneo ou de conveniência, se uma risada é sincera ou forçada. Essas nossas competências derivam, pelo menos em grande parte, de duas questões geométricas. Sabemos intuitivamente que: 1. a expressão facial espontânea implica uma resposta simétrica das duas metades do rosto; 2. os diversos músculos faciais são ativados de modo simultâneo e rápido. Algo que fuja disso, portanto, costuma – ou pelo menos deveria – fazer piscar nosso “sinal vermelho interno”, avisando que algo ali não parece exatamente sincero.

No entanto, nem sempre somos capazes de avaliar objetivamente as expressões dos outros, principalmente quando queremos mentir para nós mesmos – por exemplo, quando contamos uma piada com tanta animação que não percebemos que quem está ouvindo demonstra estar se divertindo só por gentileza ou conveniência.

De que depende a capacidade de decifrar as expressões faciais? Hoje sabemos que o hemisfério direito tem papel central nessa forma de decodificação: a prova mais evidente é o fato de que as pessoas que sofreram uma lesão na metade direita do cérebro apresentam déficit relativo à compreensão das expressões faciais.

Quando o problema se refere especificamente às expressões de medo, a lesão é localizada na amígdala direita. Diante de gente de carne e osso ou de fotografias que retratam expressões de medo ou de terror, os pacientes com uma lesão nessa área cerebral demonstram não entender o significado das expressões faciais, como se fossem impermeáveis à mensagem visual, mesmo que possam descrevê-la com detalhes.

Também no que se refere à compreensão da expressão facial das emoções, foi observado o predomínio do córtex motor do hemisfério direito (que controla a metade esquerda do rosto, enquanto o córtex do hemisfério esquerdo controla os músculos faciais do lado oposto). Com um programa de computador capaz de revelar a dinâmica de uma expressão facial, é possível observar que em um sorriso forçado (ou dado após a pessoa receber um comando para que sorria) o hemisfério direito está mais capacitado para governar a “metade sorriso” da esquerda, enquanto o esquerdo se mostra menos capaz. Na prática, isso se traduz em maior artificialidade de expressão na metade direita do rosto.

Mas há uma questão a ser considerada: o fato de que, nas pessoas que sofreram lesão em qualquer lado do córtex motor, o sorriso comandado, controlado pelo córtex, ser obviamente limitado à parte do rosto que corresponde aos comandos do córtex saudável – da direita ou da esquerda – faz com que o sorriso seja, portanto, totalmente assimétrico. Essas mesmas pessoas podem, no entanto, sorrir ou rir de modo pleno, isto é, com as duas metades do rosto se a emoção for espontânea: isso ocorre graças à intervenção dos gânglios da base, núcleos nervosos localizados no interior do cérebro que têm a função de governar gestos automáticos e memórias processuais como caminhar, andar de bicicleta, rir e sorrir.

 FOCOS NA ATENÇÃO

Considere um paciente que sofre de diminuição das funções do cérebro após uma alteração da circulação do sangue (ictus), o que pode acarretar uma hemiparesia (interrupção parcial dos movimentos de um ou mais membros superiores, inferiores ou ambos conforme o grau do comprometimento). Se o pesquisador lhe pede que sorria ao seu comando ou por conveniência, para ser gentil, seu movimento será parcial. Mas, se a mesma pessoa encontra um amigo querido, o sorriso surge de forma normal, novamente simétrico, visto que é relacionado aos automatismos governados pelos gânglios da base, não atingidos. Em alguns casos, bastante raros, é possível observar uma lesão de meta- de dos gânglios da base (direita ou esquerda): nessa situação, o sorriso comandado emerge graças ao fato de o córtex motor estar íntegro, enquanto o espontâneo, devido aos gânglios da base, falha. Geralmente, porém, apenas as pessoas próximas percebem isso.

Mesmo para quem não tem nenhum problema em nenhum dos dois hemisférios cerebrais, talvez o mais indecifrável dos sorrisos seja o da Mona Lisa. Afinal, qual é o segredo que torna tão mutável a expressão da Gioconda retratada por Leonardo da Vinci? Em geral, as respostas baseiam-se no pressuposto de que a ambiguidade se deve à técnica do sfumato (“esfumado”, em italiano), que desfoca os cantos dos olhos e da boca dando ao quadro um ar de mistério. Mas a neurobióloga Margaret Livingstone, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, propôs uma explicação baseada nas diferenças da percepção da chamada “frequência espacial” no interior do nosso olho. Trata-se de uma medida de quanto é detalhada uma imagem: se para cada centímetro quadrado da tela de um computador há mais pixels (isto é, pontinhos que emitem luz), então a representação do objeto é mais nítida. Ou, em outras palavras, a frequência espacial é mais elevada. Quando utilizamos a visão central (mirando diretamente o objeto), apreciamos, sobretudo, as imagens nítidas (frequências elevadas), antes das mal definidas, enquanto a nossa visão periférica é mais apta a perceber os contornos esfumados.

Assim, segundo Livingstone, quando não olhamos diretamente a boca da Mona Lisa, percebemos a parte “alegre” escondida nas baixas frequências, isto é, no esfumaçado dos lábios. Mas, se direcionamos o olhar para os lábios, perdemos uma parte de seu sorriso e temos a impressão de que a expressão muda.

No livro A expressão das emoções no homem e nos animais, de 1872, Charles Darwin buscou uma explicação do significado das expressões no reino animal, perguntando-se por que se apresentam em certas formas particulares. Segundo o pai da teoria da evolução, nos homens numerosas emoções têm uma expressão universal, isto é, são as mesmas independentemente de raça, cultura e nível de instrução. São inatas, e não adquiridas, mero produto do nosso caminho evolutivo. Nós, humanos, temos uma gama de expressões complexas cujo significado, ao longo do tempo, se imprimiu na nossa mente. De forma análoga, os animais possuem expressões que lembram as nossas: os répteis, por exemplo, emitem sinais quando abrem a boca mostrando os dentes.

No início do século 20, os behavioristas puseram em dúvida a universalidade das expressões faciais dos estados emocionais, mas depois dos anos 50 alguns estudos confirmaram, sem margem a dúvidas, a existência de expressões universais.

Em 1969, o anatomista Carl Hjortsjö descreveu em detalhe o efeito dos 23 músculos mímicos da face durante os estados emocionais. Com base nisso, ao fim dos anos 70, os psicólogos Paul Ekman e Vincent Friesen criaram o Facs (Facial Action Coding System, ou Sistema Codificador da Ação Facial), um conjunto de todas as ações musculares associadas à expressão de dada emoção, que inclui a medida da intensidade das contrações e da sua duração. Por exemplo, no caso de um sorriso de alegria, contraem-se o músculo zigomático maior, que ergue os cantos da boca, e o músculo orbicular do olho, que estreita as órbitas oculares.

 NÓ DE CONTATO

Ekman e Friesen usaram depois esses dados para medir o grau de concordância das expressões entre os membros da etnia fore, na Nova Guiné, e em americanos. Depois levaram em conta registros em vídeo e fotografias de expressões faciais efetuadas entre japoneses, brasileiros, chilenos e argentinos. Suas pesquisas confirmaram a concepção evolucionista de Darwin e constituíram a prova da universalidade para oito emoções: surpresa, tristeza, cólera, prazer, desprezo, nojo, vergonha e medo. Os estudos conduzidos nos últimos anos no campo das neurociências mostram que a amígdala, área do cérebro que representa um “nó de contato” entre os sinais cerebrais, contribui para o reconhecimento da sensação suscitada por uma face. Uma pessoa com essa estrutura em forma de amêndoa afetada não reage à visão de um rosto aterrorizado e é incapaz de reconhecer expressões em que emoções como felicidade e surpresa estão misturadas.

Ainda assim, a amígdala não seria essencial para identificar as emoções: segundo alguns experimentos efetuados com PET (tomografia por emissão de pósitrons), método de análise que permite visualizar o aluxo de sangue nas diversas estruturas do cérebro durante a execução de operações mentais, as faces alegres ou tristes provocam aumento de atividade do giro do cíngulo. Parece também que a amígdala, ao contrário do córtex, não reage às expressões de nojo. O riso e o sorriso nos revelam ainda algo mais geral sobre o funcionamento do cérebro: muitas vezes uma função não depende apenas de uma única estrutura, como no caso específico do córtex motor, mas do concurso de mais estruturas, o que nos permite compensar uma perda neurológica com o auxílio da reabilitação. Cabe, de qualquer modo, ao córtex frontal a maior parte das decisões conscientes: por exemplo, a interpretação de um sorriso que reclama discernimento – como o da Mona Lisa.

 Interpretando o sorriso2

 ALBERTO OLIVERIO – é neurobiólogo, professor de psicobiologia da Universidade La Sapienza, em Roma.

OUTROS OLHARES

O PROBLEMA DOS CÁLCULOS BILIARES

Aprenda como prevenir e tratar uma crise

O problema dos cálcullos biliares

Para uma parte do corpo tão pequena e pouco essencial, a vesícula biliar pode causar muita dor. Mais ou menos do tamanho e do formato de uma pera, o órgão fica no lado direito do abdome. Sua função é guardar a bile, líquido produzido pelo fígado que ajuda a digerir a gordura da alimentação. A vesícula libera o líquido no intestino delgado quando necessário.

Quando o delicado equilíbrio químico da bile se altera – não sabemos direito como nem por quê-, seus componentes podem se cristalizar. Com o tempo, esses cristais se combinam para formar cálculos (colelitíase), pequenos como grãos de areia ou grandes como bolas de golfe. Em pelo menos 75% dos casos, os cálculos biliares não causam sintomas nem complicações e, portanto, não exigem tratamento. No entanto, caso um cálculo obstrua temporariamente um dos dutos da bile que entram e saem da vesícula, o resultado é um surto súbito e rápido de dor intensa no abdome, na área das costelas e/ou nos ombros. Isso não causa problemas duradouros, mas é bom ir ao médico para confirmar se é mesmo a vesícula, e não outro problema, como uma úlcera.

A obstrução prolongada ou permanente dos dutos pode provocar complicações graves, como infecções e inflamações. Vá ao médico imediatamente se tiver icterícia, febre, arrepios ou dor incessante.

Os cálculos biliares são mais comuns em mulheres com mais de 40 anos e em pessoas com histórico familiar da doença. O principal fator de risco passível de correção é a obesidade, diz o Dr. Stephen Ryder, consultor médico do British Liver Trust. Mas ele é contra emagrecer depressa demais, pois isso pode dar início à formação de cálculos ou provocar sintomas; ”portanto, é melhor um emagrecimento controlado”; diz ele.

Se você já tem cálculos biliares sintomáticos, e os ataques são leves, é possível controlar seus efeitos com analgésicos; uma alimentação com baixo teor de gordura também faz uma modesta diferença. Se os sintomas forem graves e frequentes, o único tratamento eficaz é a remoção cirúrgica da vesícula.

É possível viver sem ela, pois o fígado continua a produzir bile, que passa direto ao intestino delgado em vez de se acumular primeiro na vesícula. Depois da cirurgia, cerca de um em dez pacientes sofre diarreia ocasional enquanto o sistema digestivo se adapta à liberação contínua da bile. Isso pode durar de semanas a anos, mas medicamentos chamados sequestradores de ácidos biliares ajudam a controlar o problema. Mas, para a maioria, a diferença entre ter ou não vesícula é imperceptível.

GESTÃO E CARREIRA

CONTRATAR SEM OLHAR A QUEM

 Os processos seletivos estão mudando para evitar as armadilhas dos preconceitos inconscientes. Como isso afeta as entrevistas de trabalho e por que todos ganham com as novidades.

Contratar sem olhar a quem

Até os anos 70, as principais orquestras dos Estados Unidos possuíam menos de 5% de mulheres em seu quadro. Nessa época, era comum escutar que isso acontecia porque as instrumentistas teriam uma técnica menos apurada ou porque “seriam mais instáveis e temperamentais”; afinal, os testes de seleção avaliavam algo bastante objetivo: a habilidade de tocar um instrumento. Mas, por causa da provocação de que fatores culturais poderiam estar induzindo uma preferência por músicos do sexo masculino, algumas dessas sinfônicas, como a Filarmônica de Nova York e a Orquestra da Filadélfia, passaram a adotar audições às cegas para selecionar seus novos integrantes. Nesse método, os candidatos se apresentam atrás de uma tela ou cortina, de modo que os jurados não possam ver quem está tocando. O resultado foi surpreendente: mesmo quando esse expediente era usado apenas na rodada preliminar, a chance de uma mulher chegar à final das seletivas crescia 50%. Diante desses números, algumas dessas orquestras foram além e passaram a exigir que os músicos subissem ao palco descalços, para que não fosse passível identificar seu gênero pelo som do salto dos sapatos. Graças a essas mudanças, concluiu um estudo das universidades de Harvard de Princeton, o percentual de mulheres nas grandes orquestras americanas já havia chegado a 35% em meados dos anos 90. Esse exemplo mostra que, apesar de acreditar estar fazendo uma análise totalmente neutra, baseada apenas na qualidade da música que ouviam, o júri era vítima do chamado “viés inconsciente” – padrão de pensamento que reproduzimos de forma automática, sem nos dar conta, e que pode resultar em decisões preconceituosas e pouco racionais.

A cada segundo, somos inundados por 11 milhões de bits de informação. No entanto, nosso cérebro consciente só consegue processar 40 bits de dados nesse intervalo. É graças às associações rápidas feitas por nossa mente, com base em nosso aprendizado pregresso, nas emoções e nas experiências pessoais, que conseguimos administrar todo esse volume de estímulos e tomar decisões imediatas sobre coisas tão banais quanto quais vias utilizar no caminho de casa; correr ou não para entrar no vagão do metrô; e pisar ou desviar da tampa de um bueiro ao caminhar pela rua. O problema é que há contextos em que essas decisões automáticas nem sempre são as mais eficientes.

“O viés acontece quando a escolha feita de forma inconsciente está em dissonância com seu real objetivo”, afirma Carla Tieppo, neurocientista e professora na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Foi o que aconteceu no exemplo que demos no início desta reportagem: os vieses inconscientes fizeram com que os recrutadores optassem por candidatos que correspondiam ao seu conceito do que um músico deveria ser, em vez de selecionar os profissionais mais habilidosos.

São vários os estudos demonstrando as consequências nocivas desse comportamento no mercado de trabalho. Num deles, de 2005, pesquisadores das universidades Harvard e de Chicago responderam a diversos anúncios de emprego enviando currículos idênticos, que diferiam por um detalhe – alguns tinham nomes de origem europeia, como Brendan, Emily e Anne, e outros traziam nomes de origem árabe, como Tamika, Aisha ou Rasheed. O resultado foi que os currículos dos candidatos com nomes europeus receberam 50% mais ligações dos recrutadores do que os dos concorrentes com nomes não ocidentais. “Isso acontecia porque os recrutadores se recusavam a entrevistar alguém chamado Aisha? Provavelmente não. É possível que tenha ocorrido porque esses avaliadores fazem associações inconscientes sobre como são as pessoas que têm nomes como esses”, diz Brian Welle, diretor de people analytics do Google e responsável pelos treinamentos de viés inconsciente da companhia.

No Brasil, uma pesquisa recente realizada pelo economista Leonardo Monasterio, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (lpea), com base no cruzamento de 71 000 sobrenomes com dados de remuneração de 46 milhões de trabalhadores disponíveis na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, constatou que os maiores salários pagos no Brasil estão associados a nomes estrangeiros. Para ter uma percepção – que faz com que avaliemos determinados povos como mais dignos de admiração do que outros”, diz Carla Tieppo. “Julgamentos inconscientes, baseados em impressões, são decisões primevas que se formam antes da análise objetiva dos fatos”, diz a neurocientista.

DECISÕES PIORES

No mundo do trabalho, informações tão básicas quanto sotaque, idade e até endereço geram uma série de pré-julgamentos sobre a capacidade, a produtividade e a ética de uma pessoa. Um efeito que pode não ser percebido por quem recruta ou avalia, masque é sentido por quem sofre suas consequências. Um exemplo vem do estudo Preconceito e Visão de Mundo nas Favelas, realizado em 2013 pelo Instituto Datafavela com 2000 moradores de 63 comunidades brasileiras. A pesquisa concluiu que, embora 81% deles afirmem gostar de viver nesses locais, um em cada quatro prefere omitir onde mora em certas situações, como uma entrevista de emprego.

De acordo com os especialistas, não existe situação em que nossas ações e escolhas não sejam influenciadas por nossas vivências ou experiências aprendidas – aquelas que nos foram contadas por nossos pais e avós e repetidas por pessoas de nosso entorno cultural. O problema é que, no ambiente profissional, todos esses filtros emocionais e sociais podem nos levar a decisões piores, contratando, premiando ou promovendo segundo fatores subjetivos – o que, além de injusto, gera prejuízos para as empresas.

Para mudar isso, o primeiro passo é tomar consciência de que nossa capacidade de avaliação não é tão objetiva quanto parece. O segundo é criar protocolos para desviar das armadilhas trazidas pelo viés inconsciente. “Para mudar uma percepção negativa, é preciso nos expor a experiências positivas, que rompam com a crença anterior. Alguém que acredite que as mulheres são más motoristas só vai mudar de opinião após diversas experiências tranquilas como passageiro em carros dirigidos por mulheres”, diz Carla Tieppo. “Dar a importância das cotas nas empresas, que proporcionam a possibilidade de ter experiências positivas com funcionários de perfis diversos em posições antes ocupadas apenas por homens brancos, por exemplo.”

 PROTOCOLOS

Algumas companhias em operação no Brasil já estão criando os próprios protocolos para fugir do viés inconsciente. Na Cargill, por exemplo, multinacional do agronegócio, o processo seletivo do programa de estágio passou a omitir a Informação sobre a universidade frequentada pelos candidatos. “O objetivo era fazer com que os gestores das vagas focassem as habilidades do estudante, e não a reputação da faculdade”, afirma Daniella Câmara, gerente de Talent Acquisition da Cargill.

Um dos 150 estagiários admitidos nesse novo sistema foi Guilherme José Vaz de Oliveira, de 23 anos, de Ibiúna (SP), contratado para atuar na área de produtividade da empresa, na unidade de Mairinque (SP). Estudante de engenharia de produção na Faculdade de Engenharia de Sorocaba, no interior paulista, ele chegou a ficar empatado com outro candidato durante a seleção, mas acabou sendo escolhido por seu desempenho superior. Ao fim do processo, descobriu-se que o concorrente dele vinha de uma escola de primeira linha. “Talvez, se tivéssemos a informação sobre a universidade dos estudantes, teríamos feito a opção mais habitual. A ausência desse dado fez com que avaliássemos puramente as competências do candidato para tomada de decisão”, afirma Ana Clara Aguiar, supervisora de produtividade e gestora do estagiário. Guilherme, por sua vez, acredita que a omissão da instituição de graduação tornou o processo mais justo e contribuiu para seu bom desempenho. “Sabendo que o impacto do nome da faculdade seria menor, eu me senti mais seguro e tive um desempenho melhor”, diz.

Graças à mudança na metodologia, a Cargill contratou em 2017 três vezes mais estudantes de faculdades com classificação inferior a cinco ou quatro estrelas, segundo a avaliação do MEC, em relação a 2016. “Nosso foco é no potencial e no talento do estagiário, e não na instituição onde ele estuda”, afirma Daniella.

 CONCORRÊNCIA EQUILIBRADA

Na farmacêutica Roche, uma série de cuidados é tomada já na etapa de divulgação das vagas para evitar a predisposição por perfis predominantes de candidatos. “Sabemos que anúncios que incluem palavras como “competitivo” e “agressivo” costumam afastar as mulheres. Elas se identificam mais com palavras como ‘cuidado’ e ‘colaboração’, afirma Denise Horato, diretora de RH da Roche, em São Paulo. Nas entrevistas, foi adotado um roteiro padronizado, de modo que todos os concorrentes respondam às mesmas perguntas, na mesma ordem. “O objetivo é garantir o foco nas competências necessárias à função, e não nas diferenças entre os participantes”, diz Denise.

Desde 2015, a farmacêutica adota a prática de ter 50% de candidatas concorrendo a todas as vagas para garantir chances equilibradas para os dois grupos. O resultado é que hoje 62% dos cargos gerenciais da companhia são ocupados por mulheres. Nos postos de direção, elas são 32%, bem acima da média mundial do mercado, de 15%.”Agora queremos estender essas boas práticas a outros grupos, aumentando, por exemplo, a quantidade de negros nos processos seletivos”, afirma a diretora de RH.

No Google, os profissionais são entrevistados por um painel composto de pessoas com diferentes perfis, cargos e experiências, de modo a reduzir o impacto dos vieses individuais. Além disso, o dossiê com as respostas de cada concorrente é avaliado por um comitê de executivos seniores para evitar que o gestor da vaga, que tem pressa em preenchê-la, seja vítima de alguma predisposição ao tomar uma decisão rápida. “Esse cuidado previne armadilhas como os vieses de primeira impressão e de comparação com o ex-ocupante da vaga”, afirma Daniel Borges, gerente de atração de talentos do Google para a América Latina. A gigante de tecnologia também realiza treinamentos em que os funcionários representam diferentes papéis, como o do chefe, o do RH e o de uma funcionária avaliada para uma promoção, por exemplo. “As discussões trazem à tona questionamentos como: qual o problema de uma gravidez? Ela afeta a competência?”, diz Daniel. Desde a criação do workshop Un­consoious Bias (“Viés Inconsciente”), em 2013, mais de 26000 empregados da companhia receberam o treinamento em todo o mundo.

Na Dow, multinacional da indústria química, todos os lideres passam por um workshop obrigatório sobre o assunto. O treinamento inclui responder a um questionário, formulado pela Universidade Harvard, sobre uma sequência de imagens, apontando quais conteúdos lhes causam estranheza. A ideia é apurar contra quais elementos há um preconceito inconsciente. Depois, exibem-se vídeos sobre situações variadas do dia a dia de trabalho em que os chefes precisam tomar decisões relacionadas a gestão de pessoas. Numa delas, por exemplo, devem decidir qual o funcionário mais preparado para uma promoção, sendo que um deles é uma mulher com dois filhos pequenos.

Nessa situação, inicialmente, muitos gestores assumem que a colaboradora não será a melhor escolha por deduzir que ela terá menos disponibilidade para a nova função – um raciocínio que não se aplica da mesma forma a um funcionário com dois filhos pequenos e que desconsidera a possibilidade de a candidata ter suporte familiar para assumir novas responsabilidades profissionais. “Após a discussão, as pessoas acabam concluindo que caberia ao líder empoderar essa subordinada para que ela se veja como alguém capaz”, afirma Mariana Orsini, gerente de assuntos institucionais da Dow em São Paulo.

O treinamento visa fazer com que os gestores fiquem mais conscientes de seus vieses e sejam capazes de tomar decisões melhores relativas a contratações, promoções e recompensas – um grande ganho para os profissionais e para os negócios. “Ter equipes diversas enriquece o repertório de visões e de soluções possíveis e permite às empresas reagir mais rapidamente diante das constantes mudanças de cenário do mundo moderno”, diz Carla Tieppo.

 

RETRATO COM FILTRO

Entenda alguns tipos de vieses que comprometem a objetividade na tomada de decisão no ambiente de trabalho.

DE AFINIDADE – Tendência de avaliar melhor um candidato com quem compartilhamos alguma afinidade, como ter frequentado a mesma faculdade ou crescer na mesma cidade.

DE SIMILARIDADE – Probabilidade de buscar, para preencher uma vaga, alguém parecido com quem já a ocupava ou com outras pessoas da organização.

DE PERCEPÇÃO – Tendência a acreditar e reforçar estereótipos sem nenhuma base em fatos concretos. Um exemplo são as generalizações que associam alguns povos a comportamentos como pontualidade, organização e disciplina e outros a características como preguiça, incompetência ou desonestidade.

EFEITO DO CASCO FENDIDO – Com vase em uma informação que não aprovamos, contaminamos nossa opinião sobre o desempenho de uma pessoa em outras áreas. É o que acontece, por exemplo, quando um candidato fala devagar; por causa disso, o recrutador assume que ele será lento em suas tarefas e terá dificuldades em cumprir prazos, ou quando avalia como desleixada a maneira como alguém se veste e presume a partir disso, que a pessoa será pouco comprometida com o trabalho.

EFEITO AURÉOLA – Propensão de avaliar uma pessoa positivamente com base em uma única informação agradável recebida anteriormente. Um exemplo é, ao sabermos que determinado candidato passou por uma faculdade ou empresa que admiramos, assumir que ele terá desempenho em todas as outras competências que se espera dele.

CONFIRMATÓRIO – Disposição em só dar importância a informações que confirmem nossa hipótese de ignorar dados que deponham contra elas. No mercado de trabalho, esse viés pode fazer com que alguns gestores tomem decisões piores, valorizando e promovendo apenas pessoas que concordem com eles.

DE COMPARAÇÃO

Comparar os candidatos uns com os outros, em vez de analisar sua adequação à vaga. Também se refere a fazer julgamentos sobre o concorrente com vase nas próprias características. Por exemplo: avaliar que alguém não está apto a um cargo superior ao seu só porque ele é mais jovem do que você.

DE CONFORMIDADE – Tendência a seguir a opinião e o comportamento do grupo. Ao tomar uma decisão, se a maioria tem uma opinião diferente da nossa, é grande a probabilidade de acreditarmos que o grupo está certo e nós errados. Há estudos que mostram que, nessas condições, 75% das pessoas tendem a mudar a própria posição para seguir os demais. Esse efeito pode fazer com que uma mulher, presente no conselho de uma empresa, não tenha força para propor e aprovar medidas importantes para, por exemplo, aumentar a presença feminina nos postos de gestão.

DE BELEZA  – Propensão a acreditar que as pessoas de melhor aparência são asa mais competentes. Por incrível que pareça, esse viés tem grande impacto nas promoções. Um reflexo disso é que 60% dos CEOs dos Estados Unidos têm mais de 1,85 metros, altura que corresponde a 15% da população daquele país. E chega a 36% a proporção de presidentes com 1,90 metro, altura compartilhada só por 4% dos americanos.

 

ENTREVISTA À PROVA DE PRECONCEITO

Alguns cuidados que ajudam a minimizar a influência do viés inconsciente durante o recrutamento e a seleção.

 

ESCOLHA DE PALAVRAS

Algoritmos em sites de empregos mostram que anúncios de vagas com termos e expressões como “agressividade”, “capacidade comprovada” e “trabalho sob pressão” espantam candidatas. As mulheres respondem melhor a “trabalho em equipe”, “colaboração” e “flexibilidade”.

FOCO NAS COMPETÊNCIAS

O primeiro passo para evitar o viés em uma seleção é descrever os pré-requisitos da função. Sabendo de antemão o que procura, o recrutador fica menos sujeito a selecionar alguém com quem apenas simpatiza mais.

ATENÇÃO AOS MODELOS

É obrigatório para um diretor de vendas ter perfil agressivo? Ou a habilidade de engajar o time pode gerar os mesmos resultados? Ao informar os critérios da vaga, o recrutador deve questionar se está listando as aptidões necessárias ou reproduzindo o perfil dos últimos ocupantes da posição.

 

PREPARAÇÃO DOS ENTREVISTADORES

Gestores que atuam como entrevistadores devem ser treinados para se conscientizar dos próprios vieses e evitar que fatores como idade, aparência ou classe social afetem as decisões.

ROTEIRO PREDETERMINADO

Um roteiro-padrão para a entrevista, com as mesmas perguntas, ajuda a manter o foco na apuração das competências do candidato, e não em aspectos pessoais que possam influenciar o recrutador.

EQUILÍBRIO DE REPRESENTANTES

Um estudo da Universidade do Colorado mostra que quando só há um negro ou uma mulher entre os finalistas de uma vaga, estatisticamente, a chance deles serem escolhidos é zero. Mas, quando há pelo menos duas mulheres, a chance de uma delas ser escolhida aumenta 79 vezes. Se houver dois negros, a chance deles cresce 193 vezes. A presença equilibrada de candidatos evita que negros, mulheres e outros grupos sejam descartados automaticamente.

PAINEL VARIADO

Julgamentos rápidos são mais sujeitos a vieses. Por isso, processos mais longos reduzem esse risco. Compartilhar a decisão com outros avaliadores de perfis variados minimiza esse impacto.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 21: 18-22

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A Maldição sobre a Figueira Estéril

Considere:

 I –  Cristo retornou a Jerusalém pela manhã (v. 18). Alguns pensam que Ele saiu da cidade à noite, porque, por temor aos homens poderosos, nenhum dos seus amigos ali podia recebê-lo; mas, tendo trabalho para realizar ali, Ele voltou. Nunca podemos ser afastados do nosso dever, seja pela maldade dos nossos adversários, seja pela aspereza dos nossos amigos. Embora Jesus soubesse que nessa cidade a prisão e o sofrimento o esperavam, nenhuma dessas coisas o impediu. Paulo fez como Ele, quando foi para Jerusalém “ligado pelo Espírito” (Atos 20.22).

 II – Ao voltar, Ele “teve fome”. Ele era um homem, e sujeito às fraquezas da natureza; era um homem ativo, e tão decidido a realizar o seu trabalho, que negligenciava o seu alimento, e saía em jejum; pois o zelo pela casa de Deus realmente o consumia, e o seu alimento e a sua bebida eram fazer a vontade do seu Pai. Ele era um homem pobre, e não tinha suprimentos; era um homem que não se preocupava com a sua satisfação, pois Ele estaria disposto a comer figos verdes crus como café da manhã, quando seria mais adequado que tivesse comido alguma coisa quente.

Portanto, Cristo teve fome, para ter a oportunidade de realizar esse milagre, amaldiçoando e secando a figueira estéril, e para poder nos dar um exemplo da sua justiça e do seu poder, duas coisas muito instrutivas.

1. Observe ajustiça de Jesus (v. 19). Ele dirigiu-se à figueira esperando encontrar frutos, porque ela tinha folhas; mas, ao não encontrar nenhum fruto, Ele a condenou a uma esterilidade eterna. Esse milagre tinha o seu significado, assim como outros dos seus milagres. Todos os milagres de Cristo, até aqui, tinham sido realizados para o bem do homem, e provavam o poder da sua graça e da sua bênção (a entrada dos demônios nos porcos foi apenas uma permissão); tudo o que Ele fazia era para o bem e para o consolo dos seus amigos, nada para o terror ou o castigo dos seus inimigos; mas então, por fim, para mostrar que a Ele compete todo o julgamento, e que Ele é capaz não somente de salvar, mas também de destruir, Ele deu um exemplo do poder da sua ira e maldição; porém, não sobre nenhum homem, ou mulher, ou criança, porque o grande dia da sua ira ainda não era chegado, mas sobre uma árvore inanimada. Isto é dado como exemplo: ”Aprendei, pois, esta parábola da figueira” (cap. 24.32). O escopo é o mesmo da parábola da figueira (Lucas 13.6).

(1).  Essa maldição sobre a figueira estéril representa a condição dos hipócritas em geral, e por isso nos ensina:

[1]. Que o fruto das figueiras é o que se pode esperar daquelas que têm folhas. Cristo procura o poder da religião naqueles que a professam; o gosto por ela, naqueles que a demonstram. Quanto às uvas da videira que é plantada numa colina frutífera, Ele as anseia, a sua alma deseja os primeiros frutos maduros.

[2]. As expectativas justas de Cristo em relação aos mestres eminentes são frequentemente frustradas e desapontadas. Ele vem a muitos, procurando frutos, e somente encontra folhas; e Ele descobre isso. Muitos dizem estar vivos, mas não estão realmente vivos. Adoram a forma da santidade, mas negam o seu poder.

[3]. O pecado da não-frutificação é punido, com justiça, com a maldição e com a praga da esterilidade: “Nunca mais nasça fruto de ti”. Assim como uma das principais bênçãos, e que foi a primeira, é: “Frutificai”, também uma das mais tristes maldições é: “Nunca mais nasça fruto de ti”. Assim, o pecado dos hipócritas se transforma na sua punição; eles não produzem o bem, e, portanto, não produzirão nada. Aquele que não produzir frutos, e continuar assim, perderá a sua honra e o seu consolo.

[4]. Uma profissão falsa e hipócrita normalmente seca neste mundo, e esse é o efeito da maldição de Cristo; a figueira que não tinha frutos, logo perdeu as suas folhas. Os hipócritas podem parecer plausíveis durante algum tempo, mas, não tendo princípios, não tendo raízes em si mesmos, a sua profissão resulta em nada; os dons se secam, a graça entra em decadência, o crédito da profissão declina e se afunda, e a falsidade e a tolice do fingidor ficam evidentes a todos os homens.

(2). Isso representa a situação da nação e do povo judeu em particular. Eles eram uma figueira plantada no caminho de Deus, como uma igreja. Considere:

[1]. O desapontamento que eles trouxeram ao nosso Senhor Jesus. Ele veio entre eles esperando encontrar frutos, algo que pudesse satisfazê-lo. Ele ansiava por isso. Não que desejasse um presente, Ele não precisava disso, mas sim de frutos que pudessem ser abundantes para uma boa causa. Mas as suas expectativas foram frustradas; Ele encontrou somente folhas. Eles chamavam Abraão de seu pai, mas não faziam as obras de Abraão; eles professavam estar esperando o Messias prometido, mas, quando Ele veio, eles não o receberam.

[2]. A maldição que Ele lhes infligiu: que nenhum fruto cresceria entre eles, ou seria colhido deles, como uma igreja ou como um povo, desde então e para sempre. Nenhum bem jamais veio deles (exceto das pessoas que, entre eles, tinham fé) depois que rejeitaram a Cristo. Eles se tornaram cada vez piores; a cegueira e a insensibilidade os acometeram, e cresceram entre eles, até que foram banidos do templo, despovoados e destruídos, e a sua casa e a sua nação, arrancadas; a sua beleza se desfigurou, os seus privilégios, os seus ornamentos, o seu templo e o sacerdócio e os sacrifícios e as festas, e todas as glórias da sua religião e da sua condição, caíram, como folhas no outono. Como a figueira secou imediatamente, depois que eles tinham dito: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”! E o Senhor, uma vez mais, foi justo a esse respeito.

2. Observe o poder de Cristo. O versículo anterior está ligado ao exemplo, mas é mais amplamente explicado. Cristo pretende orientar os seus discípulos no uso dos seus poderes.

(1). Os discípulos admiraram o efeito da maldição de Cristo (v. 20): “maravilharam-se”. Nenhum poder poderia ter feito isso, exceto o dele, que falava e realizava. Eles se maravilharam com a prontidão. “Como secou imediatamente a figueira?” Não havia causa visível para a figueira murchar; mas tinha sido uma destruição secreta, um verme na sua raiz; não somente as suas folhas secaram, mas todo o corpo da árvore; ela murchou imediatamente e ficou como uma madeira seca. As maldições do Evangelho são, por isso, as mais terríveis, pois trabalham de maneira imperceptível e silenciosa, como um fogo não espalhado, mas efetivamente.

(2). Cristo capacitou os discípulos a fazerem a mesma coisa, pela fé (vv. 21,22), quando disse (João 14.12): “fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas”.

Considere:

[1]. A descrição dessa fé que realiza maravilhas: “Se tiverdes fé e não duvidardes”. Duvidar do poder e da promessa de Deus é a grande transgressão que deteriora a eficiência e o sucesso da fé. Alguns interpretam essa frase como: “Se tiverem fé, e não discutirem; não discutirem entre si mesmos, não discutirem com a promessa de Deus; se não duvidarem da promessa” (Romanos 4.20); pois, se agirmos de outra forma, a nossa fé será deficiente. A promessa de Deus é certa, e a nossa fé deve ser tão certa quanto a promessa; devemos ter fé e confiança.

[2]. O poder e a superioridade dessa verdade expressos de maneira figurada: “Se a este monte disserdes” – o monte das Oliveiras -: “ergue-te… assim será feito”. Existe uma razão particular para Jesus falar dessa maneira sobre esse monte, pois havia uma profecia de que o monte das Oliveiras, que está diante de Jerusalém, seria fendido pelo meio e removido (Zacarias 14.4). Qualquer que fosse o objetivo dessas palavras, deve haver a mesma expectativa de fé, por mais impossível que pareça. Mas esse é um provérbio, dando a entender que nós devemos crer que nada é impossível a Deus, e, portanto, que aquilo que Ele prometeu certamente se realizará, embora, para nós, pareça impossível. Entre os judeus, havia um elogio aos seus rabinos cultos, segundo o qual eram “removedores de montanhas”, isto é, eles podiam solucionar as maiores dificuldades; então isso poderia ser feito pela fé na Palavra de Deus, que faz acontecer coisas maravilhosas e estranhas.

[3]. A maneira e os métodos de exercer essa fé, e de fazer o que deve ser feito com ela: “Tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis”. A fé é a alma, e a oração é o corpo; juntas, elas deixam o homem completo para qualquer serviço. A fé, se correta, irá estimular a oração; e a oração não será correta se não se originar da fé. Esta é a condição para receber o que pedimos: orar e crer – “tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebe­ reis”. Os pedidos feitos em oração não devem ser negados; as expectativas da fé não serão frustradas. Nós temos muitas promessas a esse respeito proferidas pelos lábios do nosso Senhor Jesus, e todas incentivam a fé (que é a principal graça de um cristão) e a oração (que é o principal dever de um cristão). Basta pedir e receber, crer e receber. E o que mais? Observe que a promessa abrange todas as coisas que pudermos pedir (“tudo o que pedirdes”); isto é, como cada uma das condições de um contrato. O texto se refere a todas as coisas, em geral; porém, seja qual for a petição em questão, ele está se referindo às coisas em particular. Embora o geral inclua o particular, ainda assim tal é a tolice da nossa falta de fé que, embora pensemos que estamos de acordo com as promessas em geral, fugimos quando o assunto são os detalhes em particular. Assim, para que possamos ter “a firme consolação”, isto é expresso de modo copioso: “tudo o que pedirdes”.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

POR QUE ESQUECEMOS NOSSOS PRIMEIROS ANOS?

O cérebro do bebê prioriza a aprendizagem em vez da formação e consolidação de recordações duradouras

Por que esquecemos os prmeiros anos

 Assim que nascemos, começamos a descobrir as coisas. Aprendemos a pedir refeições e a reclamar por fraldas limpas. E, entre um cochilo e outro, absorvemos um complexo sistema de linguagem. No entanto, nos lembramos pouco desses anos tão intensos. Agora, um estudo revela que o mesmo processo que permite que os bebês aprendam rapidamente também pode afetar as ligações neurais que codificam certos tipos de recordações, de acordo com um artigo recente publicado na Science.

O neurobiólogo Paul W. Frankland e seus colegas do Hospital for Sick Children, em Toronto, suspeitavam que o crescimento acelerado dos neurônios no cérebro infantil pudesse interferir na formação de memórias. Para testar a hipótese, eles aumentaram a produção de células neurais em ratos adultos logo depois de terem aprendido algo. Ao contrário do que ocorre com os jovens, nos mais maduros os neurônios crescem lentamente. O uso de medicamentos, como antidepressivos, ou a prática de atividade física, porém, aceleram esse processo. À medida que os camundongos adultos se exercitavam, depois de terem aprendido que determinada gaiola disparava um leve choque elétrico em suas patas, a recordação do incômodo diminuía. Depois, a equipe se concentrou no cérebro dos filhotes, que apresenta naturalmente crescimento neural acelerado. Esses animais raramente se lembravam da carga elétrica por mais de um dia. Quando os pesquisadores usaram uma droga para retardar a formação de células cerebrais, porém, os camundongos mais jovens mantiveram essa lembrança por uma semana.

Os resultados sugerem que novos neurônios rompem as conexões que constroem recordações. Em crianças de até aproximadamente 3 anos, o disparo no crescimento neural que permite aprender sobre o mundo impede que lembranças de eventos isolados se fixem. É verdade que os pequenos são capazes de formar memórias (um bebê de 18 meses pode se lembrar do cão que viu há poucos dias), mas, a menos que essa recordação seja reforçada, desaparecerá à medida que novos neurônios se desenvolvem. Depois dos 3 anos, em média, o crescimento neural diminui e a imagem do cachorro pode se fixar por toda a vida.

OUTROS OLHARES

A MORTE COMO PUNIÇÃO

A aplicação da pena de morte, quando pune o homicídio, comete o erro de tentar estabelecer justiça mediante o grave crime cometido pelo acusado, como se a execução dessa pessoa anulasse o seu erro original.

A morte como punição

Os meios de comunicação de massa noticiam, a cada dia, a ocorrência de crimes terríveis que são capazes de chocar mesmo as consciências mais embotadas, que de alguma forma já naturalizam em suas vidas a experiência do horror. A impressão generalizada é que se vive em uma selva de pedra desprovida de leis, de ordem, de segurança, de qualquer possibilidade de estabelecimento de um modo de vida tranquilo. As ameaças espreitam por todos os lados. Nunca talvez a filosofia política de Thomas Hobbes (1588-1679) tenha se apresentado tão atual.

Dentro dessa conjuntura social sufocante hiperbolizada pelos grandes aparatos midiáticos, um dos temas mais recorrentes em nossa agenda social consiste nos projetos de aplicação da pena de morte para a punição de crimes hediondos (dentro de um amplo espectro de possibilidades, pois conforme a interpretação muitos crimes podem receber tal imputação). Seus defensores, inflamados por uma agitação nervosa, suspendem momentaneamente a razão crítica em prol do afloramento das disposições mais rudimentares de sua consciência atormentada, não compreendendo que, se porventura a pena capital fosse efetivada em nosso País, apenas os sujeitos desprovidos de condições financeiras mais razoáveis para contratar um ótimo aparato jurídico sofreriam na carne a punição extrema. Talvez apenas a idiossincrática China aplique punições capitais para os cidadãos de tal quilate que atentem economicamente contra a coisa pública.

Podemos afirmar que a pena de morte nada mais é do que o assassinato legalizado pelo Estado, cumprindo não apenas o propósito de punir exemplarmente o criminoso para que outrem não cometa ações similares e vivencie assim o mesmo destino fatal, mantendo-se então o tecido social coeso sob um rígido controle moral, mas também atuando como uma vingança judiciária do poder estabelecido contra a pessoa. Os otimistas defendem que grande parte das penas capitais atualmente aplicadas são assépticas e distintas dos horríveis suplícios infamantes de tempos passados; contudo, toda execução é uma violação da dignidade humana, não importa sob qual método.

Em alguns países, a punição capital se converte em um negócio altamente lucrativo. Traficantes de órgãos prosperam consideravelmente em negócios escusos com governos criminosos que realizam esses empreendimentos clandestinos. Há casos controversos de países que apresentam elevado índice de execuções anuais para fomentar esse negócio altamente lucrativo para esses governos corruptos, movimentando uma sórdida rede empresarial que prospera mediante a anulação existência de uma massa de miseráveis que não devem mais viver em prol da salvação das vidas de uma elite capaz de pagar altas taxas pela aquisição de um coração, de um fígado, de um rim. A despeito do arrogante sentimento de onipotência de muitos magistrados, o poder judiciário brasileiro, além de plutocrático e burocrático, é falho, não apenas por questões morais, mas também por fatores epistemológicos, em decorrência da incerteza latente e dos erros que acometem os juízos humanos, obscurecendo a precisão das suas decisões. Em caso de dúvida, é sempre mais sensato que se mantenha uma posição moderada acerca dos julgamentos. Por conseguinte, será que um ser humano possui capacidades razoáveis para decidir sobre a vida e a morte de outra pessoa? Levando em consideração essa questão, o jurista Pietro Verri (1728-1797) apontara que “mais valeria perdoar vinte culpados do que sacrificar um inocente”.

Ao longo da história da humanidade, diversas pessoas inocentes foram executadas a partir de indícios imprecisos de culpabilidade, muitas vezes sendo reconhecidas como inocentes pelos todo-poderosos magistrados, que mantiveram a sentença capital como forma de se proclamar a pretensamente infalível autoridade absoluta do sistema penal. Quantos homicídios travestidos como execuções legais praticadas pelo Estado detentor do monopólio legítimo da violência (e da morte) não ocorreram contra pessoas inocentes, sem que houvesse em tempo hábil revisão de pena, de modo a se evitar a efetivação dessa barbárie legalizada contra a vida do condenado? O renomadíssimo jurista Cesare Beccaria (1738-1794) considerava absurdo que “as leis, que são a expressão da vontade pública, que abominam e punem o homicídio, o cometam elas mesmas e que, para dissuadir o cidadão do assassínio, ordenem um assassínio público”

A caça às bruxas não ocorreu apenas em regiões contagiadas pela onda histérica de luta contra o Diabo, mas também se manifesta na conjuntura social da república laica, laica apenas na teoria, pois na prática impera o espírito supersticioso e reativo do homem de ressentimento que deseja impor sua visão de mundo doentia sobre todos os divergentes. Para essa massa raivosa, a passagem dos seus desejos homicidas para o ato só é bloqueada por uma tênue linha divisória, seja o medo da punição legal ou talvez o temor perante a punição divina. Contudo, esses “cidadãos de bem” não são verdadeiros homens religiosos, mas pessoas pobres de espírito que chafurdam afetivamente na miséria interior e querem colorir o mundo com suas tintas tenebrosas, para as­ sim esconder suas escórias.

 EXECUÇÃO NA INDONESIA

A opinião pública brasileira, ontologicamente reacionária, tripudiou o fato de a presidenta deposta Dilma Rousseff solicitar comutação de pena ao presidente indonésio Joko Widodo em prol de Marco Archer e de Rodrigo Gularte, condenados à pena capital por narcotráfico em  2015,  evidenciando mais uma vez sua tacanha falta de conhecimento jurídico acerca do Direito Internacional, mais precisamente, do conteúdo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,  adotado pela XXI Sessão da Assembleia­ Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, ratificado inclusive pelo governo indonésio de então.

Vejamos os itens que nos interessam em nossa argumentação: PARTE III, ARTIGO 6, parágrafo 2: “Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobra a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente”. PARTE III, ARTIGO 6, parágrafo 4:”Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido em todos os casos.” Em nome de sua pretensa soberania constitucional, o governo indonésio cometeu crimes contra a humanidade, devendo, portanto, ser responsabilizado juridicamente por isso. A então presidenta Dilma Rousseff, nas prerrogativas legais de seu cargo, fez o seu papel diplomático de interceder pela conservação da vida de cidadãos brasileiros submetidos a um processo jurídico prenhe de violações jurídicas, tal como diversos outros governantes de grandes nações o fizeram em relação a seus cidadãos que sofriam de mesma sorte.

Na pior das hipóteses, somente uma nação que possuísse uma constituição impecável e cuja casta política apresentasse plena probidade administrativa na gestão pública poderia talvez conquistar legitimidade moral se porventura aplicasse a pena capital aos seus condenados, o que não é o caso da Indonésia. Um país que calcou sua história moderna através de governos tirânicos e que exerceu políticas imperialistas sobre seus vizinhos geográficos não possui qualquer legitimidade moral para aplicar a pena capital sob quaisquer circunstâncias. Cabe lembrar que entre 1975 a 1999, durante o controverso regime do ditador Suharto, a Indonésia espoliou politicamente o Timor-Leste, massacrando milhares de vidas em um regime de terror, destruição da qual até hoje esse país não se recuperou, sem receber qualquer tipo de indenização significativa para a reconstrução nacional. Quando ocorreu o tsunami de 2004, que arrasou o território indonésio, seus governantes não hesitaram em solicitar e aceitar ajuda humanitária internacional, e a comoção mundial pelo desastre fez que a opinião pública se esquecesse desse passado sombrio indonésio. O espírito de solidariedade da sociedade midiatizada escamoteia os delitos políticos de outrora. As leis trabalhistas indonésias se submetem piamente ao crivo neoliberal e permitem que seus trabalhadores sejam explorados até a última gota de sangue por multinacionais consagradas pelo mercado consumidor, que recebe o produto final adornado por seus encantos fetichistas que escondem sua trajetória brutal. No modus operandi jurídico indonésio, estupros são crimes que recebem mais condescendência legal do que os delitos do narcotráfico, circunstância que evidencia os preconceitos patriarcalistas do país e suas incoerências morais.

A morte como punição.2

A crucificação, pena capital muito utilizada durante o Império Romano, é um poderoso símbolo de terror e intimidação

INEFICÁCIA DA PENA CAPITAL

A aplicação da pena de morte suprime toda possibilidade de aprimoramento moral do condenado mediante arrependimento dos seus delitos, interrompendo bruscamente esse processo de transformação pessoal. Nos países democráticos, em que ainda se aplica a pena capital, o prisioneiro pode esperar por décadas para a efetivação da execução, que perde assim todo sentido moral, pois, após tantos anos, o efeito do crime, mesmo que talvez ainda ocasione problemas para o tecido social atingido e para os familiares da vítima, já sofreu desgastes em sua intensidade. É difícil esquecermos um delito terrível, mas a única possibilidade de nos libertarmos dos efeitos corrosivos do ressentimento é através da concessão magnânima do perdão ao criminoso que vivencia essa mudança radical no seu modo de ser. Se porventura o condenado vivencia um processo positivo de transformação interior, não faz mais qualquer sentido executá-lo, mesmo que não seja a função do Estado moralizar o cidadão, mas apenas impedi-lo de atentar novamente contra a ordem pública. Nessa lógica, a execução sumária de um condenado é, horresco referens, absurdamente mais coerente, pois o poder executor não visa obter qualquer reparação moral da pessoa, apenas lhe exercer o peso da justiça-vingança oficial do sistema jurídico pelos danos cometidos contra o Estado e seus cidadãos. Em casos que a gravidade do crime seja tão intensa e chocante, a prisão perpétua seria a melhor alternativa para manter o condenado isolado do convívio social, e se porventura houvesse efetiva mudança de comportamento do criminoso, o mesmo, após um período extenso de confinamento penitenciário, poderia vir a ser analisado por uma comissão de diversos profissionais em prol de sua possível libertação, sendo assim reintegrado ao seio social de modo a desenvolver novamente sua capacidade humana de relacionamento com as demais pessoas.

Um Estado realmente forte não necessita apelar para a aplicação de pena de morte em  determinados crimes, e se porventura recorre a tal expediente, é porque ele não encontra  capacidade suficiente para estabelecer os preceitos civilizacionais em sua jurisdição  territorial  e  promover a qualidade de vida plena para todos os seus membros, evidenciando sua decadência política, pois seu poder se consolida mediante os corpos profanados dos mortos assassinados por suas mãos frias. Friedrich Nietzsche (1844-1900) apresenta uma valiosa reflexão sobre esse problema: “O que faz com que toda execução nos ofenda mais que um assassinato?  É a frieza dos juízes, a penosa preparação, a percepção de que um homem é ali utilizado como um meio para amedrontar outros, pois a culpa não é punida, mesmo que houvesse uma; esta se acha nos educadores, nos pais, no ambiente, em nós –  não no assassino –  refiro-me às circunstâncias determinantes”.

Em um sistema jurídico regido pelo espírito burocrático, esperarmos pelo perdão é uma disposição talvez utópica, mas a clemência é a maior prova de poder de um Estado, representando a sua capacidade de, mesmo nas ocasiões em que suas instituições são atingidas pela ação da violência individual, permanecer incólume. Conforme o argumento de Jean-Marie Guyau (1854-1888), “O que está feito, está feito; o mal moral permanece, apesar de todo mal físico que se pode acrescentar a ele. […] é irracional buscar a punição ou a compensação do crime”.

A estupidez reacionária que clama pela aplicação da pena de morte em nome da justiça, da ordem e da pureza social estabelece distinções de classe em suas aspirações, criminalizando a pobreza como o vilipêndio por excelência, ainda que muitos defensores da pena de morte sejam eles mesmos economicamente desfavorecidos, que não se reconhecem como tais. A pior servidão voluntária é a do sujeito oprimido que assimila o discurso do opressor. Não vemos essa gente clamar pela execução de políticos e mandatários corruptos, bastando então que essas “pessoas especiais” sejam privadas de sua liberdade, não de suas vidas preciosas (apesar de que, na histeria “anticomunista” que vigora, muitos revoltosos fascistas defenderam as execuções de importantes nomes políticos da esquerda). Esses discursos extremistas são perigosos, pois alimentam a sanha truculenta e fascista dos parlamentares associados aos grupos sociais que chancelam a violência oficializada do Estado, como policiais e forças armadas. Aliás, já não deixa de existir uma espécie de pena de morte no Brasil, que atende pelo nome de auto de resistência perpetrada pelas forças policiais contra os suspeitos que não possuem mais direito de viver, onde o executor atua também como juiz, situação ainda mais absurda do que a execução sumária praticada em alguns países, conforme destacamos anteriormente. Não é raro ouvir estudantes de Direito e de Serviço Social, cursos cujas bases axiológicas estão comprometidas com a dignidade incondicional da vida humana e dos seus direitos inalienáveis, defenderem, em casos de crimes violentos de grande comoção social, a aplicação da pena de morte para os seus praticantes, mas jamais vi revoltas virulentas desses estudantes alienados contra a corrupção na política, contra as arbitrariedades policiais, contra as especulações bancárias, dentre outras situações, crimes tão hediondos como os sanguinários. A mesma colocação pode ser feita em relação a alguns segmentos direitistas do alunado do curso de Administração, desvinculados de maiores preocupações sociais, mas apenas aos paradigmas mercadológicos perante os quais estão submetidos. A truculência do mundo corporativo dissolve a humanidade dos seus participantes, inoculando-lhes o veneno do esnobismo perante os males concretos da sociedade cindida.

Há crimes terríveis que afetam talvez dezenas de vítimas, há crimes ainda muito mais graves que afetam milhões de cidadãos, e nesses casos os meliantes sequer sofrem os rigores legais na carne. A consciência massificada, reacionária, dejeta sua virulência apenas nos crimes hediondos realizados pela base da pirâmide social, se esquecendo de que os piores crimes são os praticados pelos meliantes de colarinho branco, pois estes afetam diretamente todo o tecido social e suas ações indébitas retiram das camadas populares os benefícios legais que deveriam receber para que adentrem na condição de cidadãos de fato. Nesse ponto, a reflexão de Adam Smith (1723-1790) é surpreendentemente atual: “A violência e a injustiça de grandes conquistadores são frequentemente vistas com tola admiração e assombro, as dos ladrões, assaltantes e assassinos, em todas as ocasiões, com desprezo, ódio e até horror. As primeiras, ainda que cem vezes mais danosas e destrutivas, se alcançam êxito, passam amiúde por façanhas de heroica magnanimidade. As últimas são sempre vistas com ódio e aversão, como as loucuras e os crimes dos piores e mais baixos seres humanos”.

Comumente, cristãos afastados do espírito evangélico primordial, quando impressionados pelo impacto social de um crime hediondo, clamam pela pena de morte contra o agente da violência, dando vazão aos pecaminosos sentimentos de ira e de vingança, totalmente incompatíveis com a beatitude crística; mais ainda, ousam julgar, quando em verdade jamais deveriam julgar. Melhor seria se renunciassem efetivamente ao credo cristão, pois moralmente já não fazem mais parte dessa comunhão religiosa, não obstante toda proclamação contrária.

Uma vez que a lógica de espetacularização da vida absorve todas as performances sociais, não seria de estranhar de se, no futuro não muito distante, conglomerados televisivos recebessem autorização legal para a exibição de execuções de condenados mediante pagamento de assinatura da parte de espectadores interessados em contemplar esses eventos macabros. Certamente essas redes de televisão conquistariam grandes somas para os seus cofres, pois são bilhões de pessoas dominadas pela concupiscência do olhar que tanto seduz perante cenas mórbidas.

 PENA DE MORTE NÃO INSTITUCIONALIZADA

Usualmente se repete o discurso de que já temos uma pena de morte informal em nossa estrutura social, intrinsecamente necrófila. As forças policiais, axiologicamente associadas ao espírito fascista, matam diariamente pessoas desprovidas de dignidade humana em decorrência de sua condição social e fazem desse exercício de brutalidade uma cerimônia de autoglorificação dos seus atos (vide os brasões de armas dessas corporações), encontrando na massa social o apoio moral para essas mortes. Eficiência policial não significa aumento no índice de letalidade contra os marginais sociais, mas sim a capacidade de prevenir os delitos associada a uma política pública efetivamente democrática que garanta a emancipação social dos sujeitos alheados da cidadania plena dando-lhes empoderamento e autonomia na construção das suas histórias de vida.

 A morte como punição.3

RENATO NUNES BITTENCOURT – é doutor em filosofia pelo PPGF-UFRJ, professor da FACC-UFRJ.

e-mail: renatonunesbittencourt@gmail.com

GESTÃO E CARREIRA

CUSTOMIZE SEU TRABALHO

Essa habilidade diz respeito a conhecer outros departamentos da empresa, colaborar com projetos de áreas diferentes da sua e construir novas formas de atingir resultados.

Customize seu trabalho

Todos os dias somos bombardeados por mudanças e pressionados por cenários que mostram um mundo com menos empregos, comandados por máquinas e empresários do setor de tecnologia usando roupas pretas e vocabulário espacial.

Não acredito nas teorias apocalípticas, e sim na transformação do trabalho e na mudança do conceito de emprego. Se olharmos os movimentos do mercado, perceberemos que surgem possibilidades a todo o tempo. Novas atividades e mudanças nas profissões antigas. Por isso, proponho uma reflexão baseada na abundância, e não na escassez.

Nesse sentido, um dos conceitos que impulsionam essa transformação chama-se job crqfting. A ideia foi desenvolvida pelas pesquisadoras americanas Amy Wraesnlewski e Jane Dutton, em 2001, e ganha mais força nos períodos de crise. A expressão quer dizer “customização do trabalho”, no sentido que atribuímos a ele e na forma de realizar as atividades. Fazer job crafting significa fazer ajustes na rotina e no jeito de completar as tarefas. Num mercado em que as estruturas estão enxutas, customizar é essencial. Entregar e reorganizar o que é feito. Ajustar, pensar e ampliar.

Podemos ter restrições de estrutura interna. Mas temos fartura de informações e de possibilidades no mercado. Aquele que customiza sua rotina profissional encontra mais possibilidades de cumprir suas metas e ser feliz no trabalho.

O job crqfting está relacionado como protagonismo. O indivíduo que fica esperando que a empresa, o chefe ou a área de recursos humanos conduzam sua evolução profissional está fadado ao insucesso.

A ideia de crescimento por meio de um plano de carreira predeterminado morreu. Isso faz parte do passado. O modelo de carreira baseado na descrição de cargos é engessado e limitante. O novo conceito é a colaboração, sendo a customização uma maneira de contribuir fora da descrição do cargo. Isso significa construir novas formas de atingir resultados, envolver­ se com o negócio e não apenas coma atividade prevista para a posição. Além de conhecer outras áreas e atuar em projetos para os quais é possível contribuir.

Para obtermos saltos significativos nesse rumo, precisamos de duas transformações: líderes que caminhem na direção do diálogo e permitam que seu time busque espaço e colabore; e profissionais que percebam ganhos e compreendam que seu papel está além do silo ao qual pertencem.

Agora, se você pensa que participar de projetos vai apenas gerar mais trabalho e se mantém à espera da tradicional promoção de cargo e salário, cuidado! Seu modelo mental está obsoleto. E, aí, ficará fácil substitui-lo por urna máquina que reclame menos.

 

RAFAEL SOUTO – é fundador e CEO da Consultoria Produtive, de São Paulo. Atua com planejamento e gestão de carreira, programas de demissão responsável e de aposentadorias.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 21: 12-17

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Os Profanadores do templo são castigados

Quando Cristo veio a Jerusalém, Ele não subiu à corte ou ao palácio, embora entrasse como um rei, mas foi ao “templo”. Pois o seu reino é espiritual, e “não é deste mundo”; é nas coisas santas que Ele governa, e é no templo de Deus que Ele exerce autoridade. O que Ele fez ali?

 

I – Ele expulsou os que vendiam e compravam no Templo. Os abusos devem, antes de mais nada, ser extirpados, e as plantas que não pertencem à plantação de Deus precisam ser desarraigadas, antes de se poder estabelecer o que é correto. O grande Redentor aparece como um grande Reformista, que afasta a impiedade e a depravação (Romanos 11.26). Aqui vemos:

1.  O que Ele fez (v. 12): Ele “expulsou todos os que vendiam e compravam no templo”. Ele já tinha feito isso antes (João 2.14,15), mas surgiu a oportunidade de fazê-lo outra vez. Observe que os compradores e vendedores que foram expulsos do Templo irão retornar e se fixar ali novamente, se não houver um cuidado e uma supervisão contínuos para evitar isso, e se essa atitude de vigilância não for seguida e frequentemente repetida.

(1). O abuso consistia de comprar, vender e trocar dinheiro no Templo. Observe que as coisas lícitas, na ocasião e no lugar errados, podem se tornar coisas ilícitas. Aquilo que era suficientemente decente em outro lugar, e não apenas lícito, mas elogiável, em outra ocasião e lugar contamina o santuário e profana o sábado. Essas atividades de comprar, vender e trocar dinheiro, embora

fossem empregos seculares, ainda tinham a desculpa de serem para fins espirituais. Eles vendiam animais para sacrifício, para a conveniência daqueles que tinham mais facilidade para trazer o seu dinheiro do que os seus animais. Eles também trocavam dinheiro para aqueles que queriam o meio ciclo, que era o seu imposto anual, ou o dinheiro de redenção. É possível que eles incluíssem esse imposto anual nas despesas dos viajantes, de modo que isso pudesse passar por um negócio externo à casa de Deus; mas Cristo não permitiria esse procedimento. Grandes corrupções e abusos sobrevém à igreja pelas práticas daqueles que obtêm os seus ganhos através da piedade, ou seja, das práticas daqueles que fazem dos ganhos deste mundo o objetivo da sua santidade, e fazem da falsa santidade a sua maneira de obter ganhos mundanos (1 Timóteo 6.5): ”Aparta-te dos tais”.

(2). A purgação desse abuso. Cristo “expulsou todos os que vendiam e compravam no templo”. Ele fez isso com “um azorrague de cordéis” (João 2.15); mas Ele também o fez com um olhar, com uma expressão severa, com uma palavra de ordem. Alguns opinam que esse foi o menor dos milagres de Cristo, pelo fato de Ele mesmo ter limpado o Templo, e não ter recebido a oposição daqueles que com essas atividades ganhavam a vida, e para isso contavam com o apoio dos sacerdotes e dos anciãos. Esse é um exemplo do seu poder sobre o espírito dos homens, e do controle que Ele tem sobre eles, sobre as suas próprias consciências. Esse foi o único ato de autoridade real e de poder coercivo que Cristo realizou nos dias da sua carne. Ele iniciou assim (João 2), e assim concluiu. Diz a tradição que o seu rosto resplandecia e raios de luz eram lançados dos seus benditos olhos, o que assombrou essas pessoas do mercado, e as obrigou a render-se ao seu comando. Se foi assim, as Escrituras se cumpriram (Provérbios 20.8): ”Assentando-se o rei no trono do juízo, com os seus olhos dissipa todo mal”. Ele “derribou as mesas dos cambistas”. Ele não apanhou o dinheiro para si, mas o espalhou, atirando-o ao chão, que era o melhor lugar para ele. Os judeus, na época de Ester, não estenderam a sua mão ao despojo (Ester 9.10).

2.  O que Jesus disse, para se justificar e para condená-los (v. 13): “Está escrito”. Observe que, na reforma da igreja, devemos prestar atenção às Escrituras, que devem ser aceitas como a regra, o padrão que foi dado no monte; e não devemos ir além da seguinte expressão, para podermos nos justificar: “Está escrito”. A reforma estará no curso certo quando o cerimonial corruptível for reduzido à sua instituição fundamental.

(1). Ele mostra, com a citação de uma profecia das Escrituras, o que o Templo deveria ser, e o seu propósito: ”A minha casa será chamada casa de oração”, uma citação de Isaías 56.7. Observe que todas as instituições cerimoniais deveriam ser subservientes às obrigações morais. A casa de sacrifícios deveria ser uma casa de oração, pois essa era a essência e a alma de todos os serviços. O templo era, de uma maneira especial, santificado para ser uma casa de oração, pois ele não apenas era o lugar para a adoração, mas o seu meio, de modo que as orações feitas naquela casa, ou voltadas a ela, tinham uma promessa de aceitação especial (2 Crônicas 6.21), como sendo uma tipificação de Cristo. Por isso Daniel olhava naquela direção em oração; e, nesse sentido, nenhuma casa, ou nenhum lugar, é, agora, e nem pode ser, uma casa de oração, pois Cristo é o nosso templo; mas, de alguma maneira, os lugares indicados para as nossas reuniões religiosas podem ser chamados de “lugares de oração” (Atos 16.13).

(2). Jesus mostra, com uma repreensão das Escrituras, como eles tinham usado mal o Templo, e tinham corrompido o seu objetivo. “Vós a tendes convertido em covil de ladrões” – uma citação de Jeremias 7.11: “É, pois, esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos?” Quando a piedade dissimulada se torna o manto e o disfarce da iniquidade, pode-se dizer que a casa de oração se torna um covil de ladrões, onde estes espreitam e se escondem. Os mercados frequentemente são covis de ladrões, tantos são os costumes corruptos e as trapaças que existem na compra e venda; mas os mercados no templo certamente o são, pois os que roubam de Deus a sua honra são os piores ladrões (Malaquias 3.8). Os sacerdotes viviam, e com abundância, do altar; mas, não satisfeitos com isso, encontraram outras maneiras e outros métodos para extrair dinheiro das pessoas; e por isso aqui Cristo os chama de ladrões, pois eles extorquiam o que não lhes pertencia.

 

II – Ali, no Templo, Ele curou os cegos e os coxos (v. 14). Quando havia expulsado do Templo os que compravam e vendiam, Ele convidou os cegos e os coxos a entrar nele, pois Ele “enche de bens os famintos, mas despede vazios os ricos”. Cristo, no seu Templo, com as suas palavras ali pregadas, e em resposta às orações ali feitas, cura aqueles que são espiritualmente, e também fisicamente, cegos ou coxos. É bom ir ao Templo quando Cristo está ali, Ele que, ao mostrar-se zeloso pela honra do seu Templo, ao expulsar aqueles que o profanam, também se mostra gracioso com aqueles que o buscam humildemente. Os cegos e os coxos foram impedidos de entrar no palácio de Davi (2 Samuel 5.8), mas foram admitidos na casa de Deus, pois a pompa e a honra do seu Templo não estão naquelas coisas de que, supostamente, consiste a magnificência dos palácios dos príncipes. Dos palácios, os cegos e os coxos devem manter distância, mas do Templo de Deus, somente os ímpios e os profanos. O Templo foi profanado e mal utilizado ao ser transformado em mercado, mas recebeu graça e honra quando foi transformado em hospital; fazer o bem na casa de Deus é mais honroso e mais conveniente do que ter algum lucro financeiro ali. A cura de Cristo foi uma resposta verdadeira à pergunta: “Quem é este?” As obras de Jesus testificam mais dele do que as hosanas; e as curas realizadas por Ele, no Templo, foram o cumprimento de uma promessa das Escrituras: ”A glória desta última casa será maior do que a da primeira”.

Ali também Ele calou as queixas que os principais dos sacerdotes e os escribas fizeram quanto à aclamação com que Ele foi saudado (vv.15,16). Aqueles que deveriam ter sido os mais dispostos a honrar Jesus, eram os seus piores inimigos.

(1). Eles estavam intimamente irritados com as obras maravilhosas que Ele fazia. Eles não podiam negar que se tratavam de verdadeiros milagres, e por isso foram francos em sua indignação, como em Atos 4.16; 5.33. As obras que Cristo fazia testemunhavam à consciência de todos os homens. Se eles tivessem algum bom senso, não deixariam de admitir o quanto eram milagrosas; e se tivessem alguma boa natureza, não poderiam deixar de louvar a sua misericórdia; mas, como estavam decididos a se oporem a Ele, por causa dessas obras, eles o invejaram e se indignaram contra Ele.

(2). Eles questionaram abertamente as hosanas que os meninos clamavam no Templo. Eles pensavam que essa honra dada a Ele fosse uma honra que não lhe pertencia, e que parecia ostentação. Os homens orgulhosos não podem suportar que qualquer pessoa, além deles mesmos, receba honra, e ficam inquietos apenas com os elogios justos a homens que os merecem. Assim, Saul invejou Davi devido aos cânticos das mulheres; e “quem parará perante a inveja?” Quando Cristo é mais honrado, os seus inimigos ficam mais profundamente insatisfeitos.

Recentemente, vimos Cristo preferindo os cegos e os coxos aos compradores e aos vendedores; aqui, nós o vemos (v. 16) tomando o partido das crianças, contra os sacerdotes e os escribas.

Observe que:

(1). As crianças estavam no Templo, talvez brincando. Não é de admirar, quando os administradores fazem dele um “mercado”, que as crianças façam dele um lugar de entretenimento; mas nós preferimos pensar que muitas delas estivessem adorando ali. Observe que é bom levar as crianças desde cedo à casa de oração, pois delas é o Reino dos céus. Devemos ensinar as crianças a acompanhar os costumes da santidade, pois isso será útil para conduzi-las ao poder da santificação. Cristo tem ternura pelas ovelhas do seu rebanho.

(2). Elas clamavam “Hosana ao Filho de Davi”. Elas tinham aprendido isso com os adultos. As crianças dizem e fazem aquilo que ouvem os outros dizerem, e veem os outros fazerem; elas imitam com muita facilidade, e por isso deve-se tomar muito cuidado, para dar-lhes bons exemplos, e não maus. O nosso relacionamento com as crianças deve ser conduzido com extremo cuidado. As crianças irão aprender com aqueles que convivem com elas, seja amaldiçoar e praguejar, seja orar e louvar. Os judeus, desde cedo, ensinavam os seus filhos a carregar ramos na Festa dos Tabernáculos, e a cantar Hosana; mas Deus os ensina a aplicar isso a Cristo. Observe que a expressão de louvor “Hosana ao Filho de Davi” é muito adequada às bocas das criancinhas, que de­ vem aprender, desde jovens, a linguagem de Canaã.

(3). O nosso Senhor Jesus, não somente permitiu, mas ficou muito satisfeito com a aclamação, e citou uma passagem das Escrituras que se cumpria nesse momento (Salmos 8.2), e que era adequada: “Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?”. Alguns acreditam que esta citação seja uma referência às crianças se unindo às aclamações do povo, e aos cânticos das mulheres com que Davi foi honrado quando voltou do massacre dos filisteus, e por isso é muito adequadamente aplicados aqui às hosanas com as quais era saudado o Filho de Davi, agora que estava iniciando o seu conflito com Satanás, aquele Golias. Considere que:

[1]. Cristo está tão longe de se sentir embaraçado com a adoração das criancinhas, que Ele as nota (e as crianças gostam muito de ser notadas), e fica satisfeito com elas. Se Deus pode ser honrado por meninos e criancinhas de peito, que são, na melhor hipótese, a esperança, muito mais pelas crianças que já cresceram, se tornaram adultos, alcançaram a maturidade, e assim já têm uma boa capacidade.

2]. O louvor é perfeito quando vem dessas bocas. Há algo especial no louvor e na glória oferecida a Deus quando as criancinhas participam de sua exaltação. O louvor seria considerado deficiente e imperfeito se elas não participassem dele. Isso constitui um incentivo para que as crianças sejam boas desde cedo, e também para que os seus pais lhes ensinem uma importante lição: o trabalho de nenhuma delas será inútil. No Salmo 8.2, está escrito: “Tu suscitaste força”. Observe que Deus aperfeiçoa o louvor; suscitando força às bocas dos meninos e criancinhas de peito. Quando grandes coisas são produzidas por instrumentos fracos e improváveis, Deus é muito honrado, pois o seu “poder se aperfeiçoa na fraqueza”. A insegurança dos meninos e das criancinhas de peito é amparada pelo poder divino. Aquilo que se segue no salmo, “para fazeres calar o inimigo e vingativo”, era muito aplicável aos sacerdotes e aos escribas; mas Cristo não fez essa aplicação, deixando que eles mesmos a fizessem.

Por fim, Cristo, tendo dessa maneira silenciado os principais dos sacerdotes e os escribas, “deixou-os” (v. 17). Ele os deixou prudentemente, para que eles não o prendessem antes que fosse chegada a sua hora. E Ele os deixou com justiça, porque eles tinham ignorado o favor da sua presença. Com a nossa insatisfação aos louvores dedicados a Cristo, o afastamos de nós. Ele os deixou, porque eram incorrigíveis, e foi para a cidade de Betânia, que era um lugar mais calmo e afastado; não tanto para poder dormir sem ser perturbado, mas para poder orar sem ser perturbado. Betânia ficava a aproximadamente dois quilômetros de Jerusalém; para lá, Ele se dirigiu a pé, para mostrar que, quando cavalgava, Ele o fazia apenas para cumprir as Escrituras. Ele não se exaltou com as hosanas do povo, mas, como se as tivesse esquecido, logo retornou à sua maneira simples e cansativa de viajar.

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