DE ONDE VÊM OS BEBÊS?
Não há idade para falar de sexo com as crianças, o importante é saber escutar suas perguntas e responder, sempre de forma adequada à sua idade.
Apesar de ser por volta dos 3 anos de vida que as crianças começam a manifestar alguma curiosidade sexual, é a partir do nascimento, e da gradual exploração do próprio corpo, que tem início a sua identidade sexual. O prazer de se tocar, de se mostrar e observar os outros além das perguntas decorrentes vão se sucedendo em etapas adequadas ao desenvolvimento humano, por isso pode se generalizar e dizer que a educação sexual começa no berço.
Notar as características do corpo dos pais, dos irmãos e irmãs, chama a atenção infantil para as diferenças que obviamente criam dúvidas e aí começa um ciclo de perguntas que precisam ser respondidas pelos adultos.
A curiosidade é natural às crianças e jovens e, portanto, não é de se estranhar que indagações sobre o próprio corpo e sua sexualidade aflorem tão cedo. Por isso, estar preparado para oferecer esclarecimentos é uma obrigação das famílias, pois faz parte do processo educativo.
Embora o receio de falar sobre sexo aflija muitos adultos, seja por não saberem o que dizer ou como o fazer de modo adequado à idade da criança, às suas convicções religiosas ou tabus na sua própria educação ou não ter tido acesso a informações mais assertivas, hoje existem vários livros, sites sérios e profissionais que dão orientações sobre o assunto, e os pais não estão mais sozinhos nessas dúvidas.
Mas existe uma regra fundamental em educação: responder somente à pergunta de modo simples e nem sonhar em dar explicações longas, cheias de detalhes que não estão sendo solicitados pela criança. Dúvidas infantis são sempre pontuais e diretivas: falar de modo sucinto, simples, é a melhor maneira de esclarecer, até que surja a próxima indagação por parte da criança.
A partir dos 3 ou 4 anos de idade, a maioria das crianças já se preocupa sobre “de onde vêm os bebês”. É natural que elas se intriguem com o assunto, ainda mais hoje quando as grávidas expõem suas barriguinhas em roupas marcantes e ouvir falar em sexualidade na própria televisão não seja difícil. Percebem a relação entre alguns fatos e, ao perguntar, desejam obter mais que um novo conhecimento: querem “provar” sua hipótese junto aos pais e assim também verificar a confiabilidade de suas respostas!
Em pleno século XXI há ainda quem ache correto contar historinhas facilmente desmistificáveis como a da cegonha, o que realmente é lamentável. Além de não explicar, a criança perderá a confiança no adulto, pois logo saberá que esse lhe mentiu, se sentirá traída e menosprezada em sua inteligência.
Também não se aconselha o hábito de adiar respostas (“mais tarde explico, você ainda é pequeno”) ou mandar perguntar ao pai, ou à mãe ou até à professora. Esquivar-se dos devidos esclarecimentos é a pior opção depois da mentira. A não ser que deseje perder o respeito do filho, quebrar o elo de ligação natural, criar um desconforto sobre o assunto. É mais indicado dizer de modo natural que os bebês surgem da barriga da mãe. Afinal, a criança não perguntou ainda como é a reprodução em si, o que fará numa ocasião futura e só então terá sua elucidação.
Nessa fase é recomendável introduzir as primeiras ideias de pudor, evitando tomar banho despido com a criança ou deixando a porta do quarto dos pais trancada à noite. Dormir na cama do casal, permitir que manipule o corpo dos pais não são recomendáveis: a criança precisa se acostumar com o fato de que a nudez é natural, mas é também uma questão de intimidade; sem cair em exageros, no entanto, para que não sinta futuramente constrangimento perante, por exemplo, outra pessoa seminua em um vestiário.
Entre 4 e 6 anos, quase todas as crianças gostam de brincar de médico e não raramente se despem para se mostrar e ver o corpo do outro. É a curiosidade natural, que não pode nem deve ser proibida nem revestida de culpa, mas deve ser orientada, pois é preciso que saibam que as pessoas na nossa cultura não andam despidas e que há áreas do corpo que são íntimas, que não devem ser mostradas em público a outras pessoas nem se deixar tocar por outrem.
A mesma orientação deve ser dada quando começam a fase de autoerotismo ou masturbação. Ao se tocarem percebem a sensibilidade da região genital e daí a descobrirem o prazer que vem da manipulação é apenas um passo. Surge por instinto e os pais, embora não devam proibir ou gerar culpa na criança, devem intervir caso o pequeno se masturbe em público.
As crianças devem entender que esse gesto é íntimo, e, portanto, o contexto deve ser outro. O cuidado nesse caso é que se a criança for mal orientada, além de desenvolver problemas futuros com sua sexualidade, poderá entender que é para se esconder, já que não entende a diferença entre pudor e interdição.
Por volta dos 6 a 8 anos, a necessidade de intimidade começa a se mostrar mais forte e isso acarreta mais dúvidas aos pais, caso não tenham acompanhado o crescimento do filho. Perguntas como “o que é fazer amor” ou por que não se deve tocar nos genitais de adultos etc. vão surgir, e da confiança da criança em seus pais e de sua capacidade de terem dado bom andamento a esse aprendizado é que na puberdade e adolescência será ou não mais fácil orientar sua iniciação na vida sexual.
MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial Neuroaprendizagem, foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.
Excelente texto!!! Ideal para todos os pais, mães, tios, tias, avós etc!!!! Grande abraço!!
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