SAÚDE EM EQUILÍBRIO

QUE CUIDADOS DEVO TER COM A ESCOVA DE DENTES?

Depois de usada, ela precisa ser limpa e seca para não acumular fungos e bactérias e guardada na vertical

Como sei se estou cuidando da minha escova de dentes da maneira correta?

Responde a odontopediatra Sinara Luana Cardoso Bomfim.

A higiene bucal depende da organização e disciplina de cada um, mas a presença de bons instrumentos pode ajudar – e muito. O grande protagonista quando falamos de higienização dos dentes é a escova, que deve ter o tamanho adequado para a faixa etária e cerdas macias. Mas sua escolha pode ser difícil. “A escova ideal deve ter uma grande quantidade de cerdas (acima de cinco mil), que sejam planas e ultramacias, com pontas arredondadas”, explica a odontopediatra Sinara Luana Cardoso Bomfim.

Claro que não contamos cada uma das cerdas, portanto o melhor a se fazer é buscar a indicação de um dentista de confiança para entender sua necessidade. As escovas elétricas, por exemplo, podem ser boas pedidas para quem não faz a escovação corretamente, a qual é realizada com suaves movimentos circulares, conforme explica Sinara. “Escove a face voltada para a bochecha e a face interna dos dentes, e a superfície usada para mastigar sempre após as refeições”, recomenda ela.

O cuidado com a escova após a escovação é crucial para a vida útil dela. “A boa limpeza de uma escova de dentes deve ser feita em água corrente, sempre após o processo de escovação. Depois disso, o excesso de água deve ser retirado com o intuito de não deixá-la úmida, evitando assim a proliferação de bactérias”, explica.

Não é difícil somar os fatores: umidade, falta de circulação de ar e, muitas vezes, restos de comida. O trio forma um ambiente propício para a proliferação de fungos e bactérias. Por isso mesmo, é preciso fazer a higiene diária da escova.

Ao guardá-la, devemos colocar a escova dental dentro do armário ou em um recipiente aberto, longe do vaso sanitário, para não abafar. Afinal, quando damos descarga, milhares de bactérias são lançadas ao ar e podem atingir a escova dental (aliás, é recomendado também sempre fechar a tampa do vaso para dar a descarga). Outra dica importante é evitar o contato com outras escovas de dente – e sempre lave as mãos antes de usar a escova. “As batidinhas na beira da pia não tiram totalmente a água. O ideal é secar a escova com um papel absorvente ou ter uma toalha exclusiva para a escova. Você usa, seca e guarda em um ambiente protegido”, afirma Sinara. Mesmo quando seca, é sempre bom guardá-la na posição vertical. A horizontal, como ficaria dentro de uma gaveta, por exemplo, pode dificultar ainda mais a secagem interna das cerdas. “Se você usar uma capa protetora (especialmente se a escova estiver úmida), ela pode favorecer a proliferação de bactérias, fungos e vírus. Esta só deve ser usada como proteção para transportar a escova dentro de nécessaires, por exemplo”, comenta Sinara. Lembre-se de sempre manter em dia a limpeza da capa de proteção.

De tempos em tempos, é possível também desinfetar sua escova, colocando-a em um potinho com enxaguante bucal antibacteriano durante 30 segundos.

A HORA DE TROCAR

A escova deve ser trocada após o terceiro mês de uso, mas é sempre bom observar o seu aspecto. Se ela estiver com as cerdas abertas ou desfiadas, pode ser um sinal para a troca. Cerdas danificadas não limpam com a mesma ação, o que pode fazer com que se coloque mais força para escovar os dentes e prejudique a gengiva. “Lembrando que sempre que a pessoa passar por um resfriado ou processo viral, fúngico ou bacteriano, deverá trocar a escova”, lembra a odontopediatra.

Já as elétricas devem ser usadas até ficarem sem bateria, e só então ser carregadas por completo. Não seguir esse procedimento pode reduzir a vida útil da bateria. O tempo de troca da cabeça da escova, no entanto, permanece o mesmo da manual: de três a quatro meses.

OUTROS OLHARES

VIZINHOS DO BARULHO

De agressões verbais a físicas, conflitos crescem em condomínios

Isolados na pandemia, vizinhos de um prédio do Centro de São Paulo se tornaram amigos de porta e estreitaram os laços com a solidariedade exigida no período. Passada a tensão sanitária, amenizada por churrascos e encontros na piscina, o cenário teve uma reviravolta com desentendimentos envolvendo uma ex-integrante do grupo que deixaram o condomínio da Rua Bela Cintra em pé de guerra. Na Justiça, as denúncias são de difamação na internet e de agressões verbais e até físicas.

“Temos medo até de pegar o elevador. Se ela estiver lá, não vou entrar. Mas quem garante que ela não vai sair e me agredir? Não temos mais paz”, conta a moradora S.O., que prefere se manter anônima após ter sido exposta na internet pela vizinha, acusada de estar por trás de uma escalada de violência que passa por vídeos incriminadores, cenas de bate-boca e até tapa na cara.

Se por um lado o lockdown provocado pela Covid-19 aproximou pessoas, por outro fez que as confusões condominiais em SP crescessem mais de 300%, de acordo a Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC). Com a flexibilização para sair, as brigas deram uma acalmada, mas o crescimento do home office pode explicar o fato de terem voltado a subir.

“Conflitos sempre existiram, mas aumentaram na pandemia, quando pessoas com interesses diferentes tiveram de ficar em casa. Depois, diminuíram de novo.

Mas com o aumento do uso de garagens e áreas comuns que antes não estavam sendo utilizadas e de convivência no prédio, as notificações voltaram a crescer. É como se as pessoas achassem que agora podem tudo”, observa José Roberto Graiche Junior, presidente da AABIC.

PADARIA DENTRO DE CASA

Região com maior número de habitantes por quilômetro quadrado da capital paulista, a Subprefeitura do Campo Limpo, na Zona Sul – que não abrange a Rua Bela Cintra – foi a que contabilizou mais problemas com barulhos: somente nos primeiros três meses deste ano, foram 1.074 queixas.

A prefeitura registrou cerca de três reclamações por hora também no primeiro trimestre deste ano por conta de violações ao Programa Silêncio Urbano (PSIU).

Casos de desavenças entre vizinhos viraram um problema para moradores, síndicos, para a polícia e o Judiciário – a “guerra” na Bela Cintra corre em sigilo de Justiça, os moradores têm receio de falar, alguns andam até com spray de pimenta na bolsa. Não conseguimos contato com a acusada.

Na semana passada, em Campo Grande (MS), um morador foi agredido com socos pelo subsíndico do prédio, tudo por conta do uso do elevador social para transportar uma cachorra.

E, em Salvador, num condomínio do bairro Vila Laura, um motim se formou entre condôminos ao descobrirem que vizinhos tinham montado uma padaria dentro de casa. Além do barulho, os incomodados pelo estabelecimento caseiro reclamam de elevadores sempre lotados.

Apesar de alguns episódios parecerem curiosos, não raro há registros mais graves com tiros em discussões e até morte. E o que deveria ser um luxo – condomínios cada vez mais sofisticados e com grande oferta de serviços e lazer – tem mostrado também efeitos colaterais negativos na convivência, que não eram esperados.

“Os casos vêm aumentando também pela quantidade de itens que existem nos empreendimentos, que hoje têm mais áreas de lazer. É uso de piscina, aula com personal trainer, entre outras atividades que podem acabar criando desentendimentos”, completa o porta-voz da AABIC.

Diretor da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Marcelo Borges observa que as pessoas ficaram menos compreensivas após a emergência sanitária internacional.

“Às vezes, falta fazer um exercício empático para perceber que o vizinho tem o direito de fazer obras no seu apartamento, por exemplo, desde que no horário permitido pelo condomínio. Estabelecer essa mediação entre os dois lados é um desafio para os síndicos”, aconselha.

DISPUTAS NA JUSTIÇA

Num dos prédios mais icônicos (e populosos) de São Paulo, o Copan, as obras represadas na pandemia têm sido fonte de atribulações entre vizinhos e de ânimos exaltados.

“As britadeiras começam às 8h, 8h30, e os vizinhos xingam, vão até o apartamento querendo parar a obra”, conta o mestre de cerimônias e celebrante Antônio José Pinheiro Lima, de 63 anos, seis deles morando no Copan, que relata ainda atritos decorrentes do alto número de apartamentos administrados por aplicativos de hospedagens:

“Muitas dessas pessoas não têm o mesmo cuidado de quem efetivamente mora no prédio. É música alta, festa até tarde, e tudo isso tem incomodado a vizinhança.”

Na falta de entendimento dentro do próprio condomínio, muitos casos acabam judicializados. O Código Civil tem um capítulo com regras específicas sobre direito de vizinhança, em que são tratadas as questões mais diversas: as regras abordam desde a forma de lidar com uma árvore que invade a casa ao lado até respostas a perguntas sobre de quem seria a responsabilidade de fazer a conservação de um muro entre duas residências.

Somente em 2019, último ano com dados consolidados —ainda antes da pandemia —, chegaram ao Judiciário 13.810 casos relativos ao direito de vizinhança: o maior número da série histórica, iniciada em 2014. Para agilizar a busca por soluções, os tribunais incentivam a mediação ou conciliação. Não à toa, o Manual de Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está recheado de instruções e exercícios com situações envolvendo vizinhos.

“Infelizmente, temos notado um novo aumento de conflitos, que deixam de ser um simples bate-boca e passam a ser uma questão jurídica, um crime mesmo como injúria ou lesão corporal. Isso acontece quando há ameaças, agressões e situações que causam perturbação suficiente à suposta vítima”, explica Heidi Florêncio Neves, presidente da Comissão de Direito Penal do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).

GESTÃO E CARREIRA

FAZER DIFERENTE PARA FAZER MELHOR

A pesquisa Ethos/Época de inclusão, realizada pelo instituto Ethos, mostra como um grupo de empresas líderes inova para avançar na diversidade e inclusão

As mulheres representam quase metade dos profissionais promovidos pela consultoria Accenture no Brasil em 2022. Entre elas, 35% são negras. Em cargos acima de gerência, a presença feminina na liderança cresceu um ponto percentual naquele ano, e chegou a 41% dos postos existentes. O resultado reflete um conjunto de medidas articuladas há quase uma década – mas que evoluem ano após ano. Um exemplo: a empresa, com 19 mil funcionários no Brasil, já oferecia bônus para quem indicasse mulheres e pessoas com deficiência contratadas com sucesso. No ano passado, adicionou pessoas 50+, negros e trans à mesma regra. Os esforços se estendem para além da articulação de grupos particulares e busca trazer, de maneira voluntária, todos os funcionários em torno da mesma causa. Cerca de 3 mil colaboradores, ou 18% do quadro total, hoje se intitulam aliados da inclusão LGBTI+. “A gente não consegue mudar nada com minorias, precisamos envolver as maiorias”, diz o presidente da Accenture para Brasil e América Latina, Rodolfo Eschenbach, em referência à ideia de que a inclusão deve ser assunto de todos dentro da empresa. “Sou um homem branco, heterossexual, sem deficiência. Sou a antítese desses grupos e não tenho vivência das dificuldades. Por isso, a empresa está passando por letramento, para saber como podemos tornar esse ambiente cada vez mais inclusivo”, diz. Trajetórias assim destoam do que se vê no cenário geral das empresas nos últimos anos. Primeiro, a pandemia penalizou a carreira das mulheres, sobretudo as que se desdobraram com os cuidados com crianças ou outros familiares – e ainda mais as de baixa renda. Mais recentemente, outro golpe veio com a onda de demissões. Dados mostram que os recentes cortes nas empresas de tecnologia nos Estados Unidos afetaram desproporcionalmente as mulheres. Enquanto elas representam 39% dos trabalhadores dessa indústria, o número de profissionais do sexo feminino entre os demitidos chegou a 47%, de acordo com dados do governo americano.

O conjunto de práticas e resultados das 74 empresas destacadas na pesquisa Ethos/Época de Inclusão 2023 – na qual a consultoria Accenture é a mais inclusiva do ano – mostra resiliência em avançar. Com 199 participantes, um acréscimo de 15% em relação ao ano anterior, o levantamento realiza a mais ampla verificação de práticas de diversidade, equidade e inclusão do país, que contempla 12 frentes da gestão do tema nos negócios: estratégias para a promoção da diversidade e inclusão, governança, cultura organizacional, acessibilidade, gestão da inclusão na cadeia de suprimentos, relacionamento com clientes ou consumi- dores, programa de diversidade, inclusão de pessoas com deficiência, promoção da equidade de gênero, promoção da equidade racial, promoção dos direitos LGBTI+ e promoção da equidade geracional.

Sob a coordenação do Instituto Ethos, a metodologia foi elaborada com a colaboração de alguns dos principais movimentos dessa área junto a grandes empresas no país: o Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), da Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, do Movimento Mulher 360 e da Rede Empresarial de Inclusão Social (Reis). Após preencher um questionário qualitativo sobre práticas em diversas áreas do negócio, as empresas informaram dados da representatividade de mulheres, pessoas negras, com deficiência e LGBTI+ em todo o quadro de funcionários e também em níveis de liderança (veja a Imagem abaixo).

As empresas com nota superior à média em toda a pesquisa são organizadas por setor – apenas as melhores de cada setor recebem um destaque especial, as demais aparecem em ordem alfabética. Há também as melhores por atuação conforme o grupo social e a empresa considerada a mais inclusiva do ano, reconhecimento que coube à consultoria Accenture, considerando a pontuação em toda a pesquisa. “Apesar de vermos uma situação ainda desfavorável para grupos minorizados, o levantamento também mostra que algumas líderes continuam avançando nas práticas de inclusão. Seguem os desafios para acelerar as mudanças”, afirma Caio Magri, presidente do Instituto Ethos.

Pela primeira vez em cinco anos de levantamento, a pauta de gênero e étnico-racial se tornaram equivalentes quando o assunto é a presença de grupos de afinidade dedicados dentro das empresas. Com participação voluntária de profissionais que representam esses recortes e pessoas que simpatizam coma causa dentro de cada companhia, esses grupos têm sido uma parte importante da governança do tema. Entre as participantes deste ano, 79% possuem um grupo de afinidade para mulheres – e o mesmo percentual possui um grupo para discutir a inclusão de pessoas negras. Os grupos voltados para o público LGBTI+ aparecem logo na sequência, presentes em 76% dos casos. Para PCDs, o percentual cai para 74%. A discussão geracional nesse âmbito ainda é uma das mais recentes (e menos frequentes): metade das companhias possuem um grupo para esse recorte social. O destaque, entre todas as participantes, é da Sodexo, que possui 38% de seu total de funcionários com mais de 45 anos. O segundo e o terceiro lugares são da PwC e Accenture, respectivamente. “A boa governança tem sido fundamental para ir além do discurso e ver resultados na prática”, afirma Ana Lucia Custódio, diretora-adjunta do Instituto Ethos. A criação de metas, o envolvimento da alta liderança e o acompanhamento constante dos resultados têm se mostrado alguns dos itens cruciais para introjetar valores de diversidade e inclusão na cultura das empresas. No caso da consultoria Accenture, esse cuidado blindou um ambiente inclusivo de abalos coma troca do comando. Há pouco mais de seis meses na cadeira da presidência, o executivo, que trabalha há 28 anos na companhia, afirma que a estrutura de governança da empresa, que possui um comitê de diversidade desde 2007, garante que o tema seja constantemente discutido. Mesmo coma troca de pessoas, há processos e dezenas de sponsors entre as lideranças capazes de fazer com que a pauta siga ativa para que as metas sejam cumpridas. Eschenbach, inclusive, já fazia parte do comitê há seis anos por acreditar que a única forma de ter uma empresa com bons resultados é contar com uma força de trabalho diversa. “Digo isso tanto na dimensão das habilidades quanto na origem das pessoas. Na Accenture temos engenheiros, matemáticos, designers, psicólogos. E, na outra ponta, isso fica melhor porque temos pessoas de diferentes raças, gêneros, idades. Isso com certeza nos dá vantagem para ter resultados mais robustos”, diz.

Além de empresa mais inclusiva, a Accenture também recebeu o destaque como a melhor para a inclusão LGBTI+. Nos últimos anos, a empresa alterou políticas de benefícios para que parceiros do mesmo gênero sejam contemplados no plano de saúde e também cobre custos da cirurgia de redesignação de gênero. No mesmo sentido de transformar em assunto da maioria o que poderia ficar restrito a uma minoria está o esforço para trazer aliados para a inclusão LGBTI+. Entre os diretores, o índice de aliados à causa chega a 96%. “Nossa meta é atrair mais pessoas, que não são necessariamente LGBTI+, para a causa. Entendo essa dificuldade, pois demorei mais de dez anos trabalhando na empresa para entender que falar sobre minha sexualidade ajudaria outras pessoas”, afirma Rafael Bonini, líder do grupo dedicado a LGBTI+ e diretor de estratégia da Accenture.

Ao lado do envolvimento da alta liderança, outro aspecto se observa nas empresas com resultados mais robustos – a criação de metas. A operadora de telefonia Vivo, destaque na frente étnico-racial e a mais inclusiva no setor de telecomunicações, também possui grupos dedicados e metas. Até 2025, por exemplo, o objetivo é chegar a 36% de pessoas negras no quadro de funcionários. Em dezembro de 2022, o percentual era de 33,7% – três pontos percentuais acima do registrado um ano antes. Em cargos executivos, 22% deles são ocupados por pessoas negras – um acréscimo de dois pontos percentuais de um ano para outro. Na fabricante de bebidas e alimentos Pepsico, destaque como a mais inclusiva do setor de consumo, a observação das conversas ocorridas nos grupos de afinidade voltados para a equidade de gênero ajudou a elaborar novos benefícios voltados para o público feminino, como a possibilidade de bancar os custos de congelamento de óvulos. Somando-se outras medidas, como mentoria para acelerara carreira de mulheres e o monitoramento da quantidade de mulheres no plano de sucessão das diversas áreas, o resultado aparece. A companhia ampliou a presença feminina no quadro geral e em cargos executivos entre 2021 e 2022: de 37,8% para 38,3%, e de 47,1% para 48,7%, respectivamente.

Na PwC, um dos destaques para inclusão de mulheres e de PCDs, a estrutura de gestão da área está intencionalmente desvinculada da área do departamento de recursos humanos, o modelo que se vê com mais frequência. Marco Castro, sócio- presidente, é o principal responsável pelo comitê de diversidade e inclusão no Brasil, no qual possui o papel de chairman. Além de Castro, outros seis sócios se dedicam ao tema. Um deles, Leandro Camilo, atua como líder de diversidade e inclusão, membro do conselho global de D&I da empresa e líder global de inclusão de pessoas com deficiência. Outros cinco (duas mulheres e três homens) desempenham o papel de sponsors das dimensões estratégicas: gênero, pessoas negras, LGBTI+, PCDs e gerações. Com dedicação exclusiva, Renato Souza atua como diretor de diversidade e inclusão. “Outras lideranças também atuam como mentores nos nossos programas de desenvolvimento, após passarem por trilhas de conhecimento sobre liderança inclusiva e particularidades de grupos minorizados”, afirma Camilo. “Precisamos garantir que o tema atravesse todas as áreas e processos. E, para isso, entendemos necessária uma estrutura de governança com pessoas engajadas.”

O exemplo da liderança também é importante para fazer valer práticas que ajudam a criar uma cultura mais inclusiva. Na Bayer, por exemplo, Malu Nachreiner, primeira mulher a ocupar o posto de CEO da área de agronegócios da companhia para o Brasil, está de licença-maternidade por seis meses. Seu marido, também executivo de outra área da Bayer, afastou-se por dois meses, na licença- paternidade estendida oferecida pela companhia. Interinamente, quem ocupa o cargo é Erica Barbagalo, vice-presidente de Jurídico, Patentes e Compliance da Bayer Brasil e business partner do Jurídico para cropscience na América Latina. “É fundamental que os principais executivos mostrem a importância de aderir a essas medidas, para que isso se naturalize por toda a hierarquia”, afirma Erica.

A adoção de vagas afirmativas, que pouco tempo atrás já geraram muita polêmica, passou a ser um recurso cada vez mais frequente. É o caso da própria Bayer, a melhor do setor químico, que mantém um grupo de afinidade para pessoas negras desde 2015. E lançou um programa de trainee exclusivo para negros em 2020. A Vivo, considerada a mais inclusiva no recorte étnico-racial, instituiu programas de estágio e trainees com 50% das vagas dedicadas a estudantes negros. Para eles, a companhia oferece bolsa para cursos de MBA e de inglês. A mesma lógica passou a valer quando se trata de executivos negros mapeados na linha sucessória – a operadora de telefonia definiu vagas exclusivas para mentoria, coach e idiomas. Os resultados já apareceram. A Vivo, controlada pela espanhola Telefónica, possui 22% de negros em cargos acima de gerência – dois pontos percentuais acima do registrado no ano anterior. O objetivo é atingir 40% de pessoas negras no quadro geral da empresa, entre todos os quase 33 mil funcionários.

Na mesma linha, a Ambev – outro destaque da pesquisa para pessoas negras – estabeleceu metas de contratação de mais profissionais negros em todas as pontas da hierarquia desde 2020. Até agora a companhia já recrutou 610 novos líderes negros, sendo 122 apenas em 2022. Na mesma época, criou um programa de estágio para pessoas negras que já contratou 323 jovens – dos quais 45 foram efetivados, e 192 ainda estão em período de estágio. Uma novidade do último ano foi a criação do Programa Representa, de estágio apenas para pessoas negras retintas. Os candidatos não são avaliados por idade, gênero e formação acadêmica, mas exclusivamente pelo desempenho nas etapas da seleção.

As vagas afirmativas também têm sido criadas para as pessoas trans. Segundo o levantamento Ethos/Época de Inclusão 2023, 21% das empresas afirmam dispor de programa para a contratação de pessoas desse grupo, com indicadores, metas e meios de acompanhamento. “Acredito que avançamos nesta questão das vagas afirmativas, focadas em determinados segmentos da população que estão, em geral, ausentes ou pouco presentes nas empresas”, afirma Reinaldo Bulgarelli, secretário executivo do Fórum de Em- presas e Direitos LGBTI+, que reúne 174 grandes empresas signatárias de compromissos nessa área.

Por trás dos resultados das companhias que conseguem ampliar a diversidade entre os funcionários, existe uma sofisticação do acompanhamento de indicadores. No caso da fabricante de cosméticos Avon, pertencente à Natura, 63% dos mais de 3 mil colaboradores são mulheres. Na alta liderança, elas representam mais de 50%, e na gerência 58%. Uma das maneiras de garantir esse fluxo é gerenciar a equidade em todo o caminho até o topo: na porta de entrada, as mulheres são maioria no time de estagiários, por exemplo. Em toda a hierarquia, a companhia monitora as taxas de promoção entre homens e mulheres para analisar as razões de eventuais descompassos. A Avon também tem meta de equidade salarial entre homens e mulheres – um esforço de poucas companhias, como mostram as estatísticas. “Sem intencionalidade não vamos conseguir avançar nas jornadas de DE&I nas organizações”, afirma Margareth

Goldenberg, gestora executiva Movimento Mulher 360. “Ação afirmativa pode e deve ocorrer em todo o ciclo de vida do colaborador e colaboradora, na atração, seleção, contratação, desenvolvimento e retenção, e não apenas no momento de contratação.”

Dados do IBGE mostram que as mulheres, em média, ganham 77,7% do salário dos homens, mesmo com um nível educacional mais alto. Para cargos de gerência e diretoria, as mulheres ganham em média 61,9% do que os homens receberam. A distorção ocorre apesar de existir na legislação brasileira a determinação de que homens e mulheres que realizam o mesmo trabalho sejam remunerados da mesma forma. A lei atual não estabelece, porém, nenhuma multa ou fiscalização para averiguar discriminação salarial por gênero – realidade que um projeto de lei recente pretende mudar.

A existência de leis, porém, não se provou suficiente para acelerar a inclusão de PCDs. Segundo o levantamento Ethos/Época de Inclusão, apenas 41% das participantes adotam medidas práticas para retenção desses talentos, como a questão básica da promoção da mobilidade em suas instalações. Para Ivone Santana, presidente do Instituto Modo Parités, que atua na inclusão social no mercado de trabalho, e secretária-executiva da Rede Empresarial de Inclusão Social, a lacuna entre teoria e prática justificam as dificuldades de contratação de pessoas com deficiência no Brasil. De acordo com a lei de cotas, que completa 32 anos em 2023, as companhias com mais de cem funcionários no país deveriam empregar 800 mil pessoas com deficiência. “Os dados mostram que há cerca de 450 mil trabalhando atualmente. Ou seja, em três décadas ainda estamos pouco acima da metade da cota”, afirma. Para ela, a ideia de que falta mão de obra qualificada não é real. “Esse é um argumento inicial de empresas que não querem mudar e se adaptar. Isso é reflexo do comportamento da sociedade. A mão de obra disponível de pessoas com deficiência no Brasil daria para completara cota pelo menos sete vezes”, diz.

Justamente para estimular a contratação desse grupo, Ivone é uma das responsáveis por encabeçar a rede empresarial, composta por 56 empresas signatárias, como 3M, JLL, Atento, Serasa Experian e Natura. Em janeiro deste ano, depois de 10 anos de trabalho e discussões, as companhias assinaram um pacto que visa contratar mais 500 mil pessoas com deficiência até 2028. “Criamos protocolos e agendas que vão ajudara dobrar o número de contratados no país. Vamos trabalhar para dar vazão ao encontro dessas pessoas que querem estar no mercado e as empresas dispostas a acolher a diversidade de fato”, afirma.

Acima do percentual estabelecido pela Lei de Cotas desde 2017, a rede atacadista Assaí possui 5,3% de pessoas com deficiência num quadro de mais de 76 mil funcionários.

A Mondelez, que já cumpre a Lei de Cotas, agora tem a meta de superá-la. Até o final de 2023, o objetivo é que 5,5% de cargos administrativos e 1% de cargos de liderança sejam ocupados por pessoas com deficiência.

A pesquisa mostra que uma minoria das participantes começa a considerar a interseccionalidade como um aspecto importante da avaliação da diversidade. Apenas 26% das empresas que responderam à pesquisa possuem grupos que discutem questões que cruzam características de grupos minorizados. Para a consultora especializada em diversidade e inclusão Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós, essa maneira de olhar apenas os grupos sociais, sem considerar suas nuances, faz com que questões importantes se tornem invisíveis. Um censo multissetorial realizado por sua consultoria mostra o impacto disso na prática. Segundo Liliane, o percentual de mulheres no quadro funcional das empresas era de 32%, e o de negros era 33%. Mas a taxa de mulheres negras não chegava a 9%. Entre gerentes, mulheres representavam 25% do total, e negros 17%. O índice de mulheres negras, no entanto, despencava para 2,6%. “As empresas mais sérias têm se atentado para entender e resolver essa interseccionalidade”, afirma. A máxima da gestão, para qualquer área, vale também para a diversidade. Se você não pode medir, você não pode gerenciar.

EU ACHO …

O MACHO MUDA

Fernando tinha apenas 27 anos e foi criado com valores antigos. Seu pai e seu avô insistiam: “Homem paga a conta!”. Viu a perfeita divisão de tarefas, por gênero, na sua família e achava que fazia parte do mundo natural mais do que um dado de cultura.

Apaixonou-se por uma colega da faculdade. Namoraram firme por dois anos. Nos 24 meses do amor, Marília nunca colocou a mão na carteira. Nas primeiras vezes, sendo jovens, ela ainda fez a cena de perguntar quanto seria a parte dela. Ele sorria e, entregando o cartão ao garçom, insistia que “a parte dela era ser linda e amá-lo”. Além das contas, o namorado levava e buscava sua eleita. Uma amiga feminista saiu com o casal e ficou chocada. Fez um discurso forte contra tais práticas, falou de isonomia, de Simone de Beauvoir, da objetificação da mulher, etc. De boa índole, Fernando e Marília ouviram em silêncio. Ao se afastarem da militante, prometeram nunca mais convidá-la. O tempo desgastou quase tudo e, infelizmente, esfriou a chama do amor do jovem casal. O mundo de Marília estava indo em outra direção profissional. Sem grandes estardalhaços, decidiram pelo fim do namoro. Como sabemos, ambos eram de boa índole. Fizeram um post em conjunto, nas redes, como pede a nova etiqueta. Trocaram votos de estima e consideração. Nunca mais se encontraram.

Bem, não se encontraram corpo a corpo. Viram-se em um fatídico dia. Fernando estava distraído na Avenida Paulista, esperando para atravessar a faixa de pedestres. Do outro lado, viu Marília de carro zero-quilômetro. Era um automóvel chamativo, grande, vermelho. Brilhava contra a luz do fim da tarde, em frente à Fiesp. Ele teve um grande impacto. Por dois anos, a ex não gastara um centavo em jantares, bares ou motéis. Por 24 meses, o apaixonado gastara gasolina, mas ela, prudente, tinha economizado o suficiente para ter um supercarro. Fernando não trocava o dele há 5 anos e estava indo de metrô, para economizar. A boa índole deu lugar a uma raiva surda. Sua criação o empobrecera. Seu “machismo”, como acusou a amiga feminista, dera um carro de luxo de presente para… a ex!

Aquela cena foi uma epifania. Seu pai e seu avô eram de outra geração. O mundo tinha mudado. No próximo encontro, ele falou na conversa do aplicativo: “Sou a favor da igualdade de gênero, tá? Cada um paga sua parte”. Alguns avanços foram por Simone de Beauvoir; outros, por Adam Smith. Democracia e avareza poderiam tomar um drinque esperançoso.

*** LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de “A Coragem da Esperança”, entre outros

ESTAR BEM

EMOÇÕES: VOCÊ CONHECE BEM AS SUAS?

Saber compreender as mensagens por trás das reações imediatas do nosso corpo é fundamental para conquistar a tão sonhada inteligência emocional

Quem nunca se arrependeu daquela decisão motivada pela raiva de algo ou de alguém? As emoções são mensageiras que precisam ser ouvidas e compreendidas. Saber geri-las é fundamental para ter uma vida mais satisfatória em todos os âmbitos – pessoal, afetivo, familiar e profissional. Mas será que a gestão das emoções é tarefa fácil?

Primeiramente é preciso entender o que é emoção. Trata-se de uma reação imediata a um estímulo que nos atinge automaticamente, sem nenhum tipo de controle, e não envolve, a princípio, processamento cognitivo, embora as reações emocionais influenciem nossos pensamentos subsequentes. São emoções universais – ou seja, reconhecidas em todas as culturas – a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, a surpresa, o nojo e o desprezo.

Emoção é diferente de sentimento, e quem explica é a psicóloga Natália Pinheiro Porti, que ministra treinamentos de gestão das emoções na The School of Life São Paulo. “Enquanto a emoção é um elemento mais primário e reacional, sentimento é um   fenômeno que já tem um componente cognitivo, pois depende da nossa percepção e avaliação do contexto para se manifestar. Alguns exemplos são a saudade, o ressentimento, a culpa, a vergonha e o amor”, define.

SENTIR É ESCOLHER

Todas as emoções – agradáveis ou não – têm funções. A principal delas é mostrar necessidades que não estão sendo atendidas, sejam físicas ou emocionais. São elas também que motivam ações, tomadas de decisão e influenciam julgamentos nos diferentes âmbitos da vida. Além disso, são fundamentais para a preservação da espécie e para a vida em sociedade.

”Gerir nossas emoções é importante para que possamos, dentro das possibilidades, compreender informações importantes sobre nós mesmos e sobre nosso contexto, bem como escolher como vamos nos comportar a partir dessas informações que a experiência emocional nos proporciona”, alerta a psicóloga, que continua: “Fica muito difícil, por exemplo, tomar decisões pessoais sobre como organizar nossa rotina de atividades e afazeres sem levar em conta como nos sentimos. O tipo de alimentação, a quantidade e a qualidade de rede social que consumimos, a hora em que acordamos e como despertamos, o que fazemos ou deixamos de fazer antes de dormir, tudo nos impacta, fazendo com que a gente acumule diversas emoções ao longo do dia.”

O problema é quando não conseguimos reconhecer e validar as nossas emoções. Natália explica: “Quando não sentimos e não compreendemos essas emoções intencionalmente, nos privamos de informações úteis para nossas decisões. Isso vale para relacionamentos e trabalho. Fazer escolhas será sempre consideravelmente difícil nessas áreas da vida, porém, se ignoramos ou não gerenciamos de forma habilidosa nossas emoções em relação ao amor, à família ou ao trabalho, corremos um risco maior de sermos levados pelas decisões das outras pessoas, sem saber por que ou até quando ficamos ou partimos de relações, trabalhos e carreiras. Podemos ainda ficar confusos em relação ao que comunicamos e como nos dirigimos aos outros. Sem autoconhecimento fica difícil discernir e balancear para quais partes da nossa vida devemos dedicar mais habilidades de aceitação ou de mudança.”

GESTÃO DAS EMOÇÕES

Mas será que é possível aprender a gerenciar nossas emoções? A psicóloga afirma que sim. Existe um aprendizado informal, diário, que acontece mediado por nossas relações, ou seja, observando e interagindo com as pessoas que fazem parte da nossa vida e com a cultura da qual fazemos parte. “Mas também podemos aprender na psicoterapia, em cursos, aulas e workshops com a ajuda de profissionais capacitados”, diz a psicóloga.

Esse é o trabalho do psiquiatra Augusto Cury, autor com 35 milhões de livros vendidos só no Brasil e traduzidos em 70 países. Em abril, ele promoveu, em São Paulo, um treinamento sobre gestão da emoção com o objetivo de ajudar os participantes a entenderem a mente humana, bem como desenvolverem estratégias para serem líderes de si e saudáveis emocionalmente. “Administrar a emoção é ser livre no único lugar em que não podemos ser prisioneiros: dentro de nós mesmos”, explica o psiquiatra.

De acordo com Cury, numa sociedade altamente competitiva como a nossa, quem não for capaz de gerir sua emoção está fadado a viver com o cérebro esgotado. “Entender e gerir as próprias emoções é o alicerce para um melhor desempenho profissional e pessoal, para gerir pessoas, a carreira, ter inteligência financeira, otimizar o tempo e construir relacionamentos.”

A gestão da emoção, na visão do psiquiatra, depende também da gestão do pensamento. “Uma pessoa que não é gestora de sua mente é como um veículo desgovernado, passível de causar muitos acidentes”, brinca. “Mudar essa dinâmica, transformar-se em seu melhor protetor, no mais forte amante de sua saúde emocional, no maior incentivador de seu potencial criativo, de sua felicidade inteligente e de sua qualidade de vida é vital.”

COMO GERENCIAR AS EMOÇÕES NA PRÁTICA

CONHECER E RECONHECER:

O primeiro passo para melhor gerenciaras emoções é reconhece-las. Vale se perguntar: o que é isto que estou sentindo? O que será que esta emoção está querendo me comunicar? Analise o contexto que fez com que ela surgisse para ajudar no processo de compreensão. Em seguida, é preciso validá-la, ou seja, não tentar se distrair na tentativa de não sentir.

CONTROLAR

Uma vez que você reconheceu o que está sentindo, é possível ir além. Tente entender o que está por trás daquela emoção. Como você a expressou? Foi o momento adequado? Com a pessoa certa? Como essa pessoa interpretou a sua manifestação? Notou se você se sai melhor quando age imediatamente após o incômodo ou após um tempo, quando já refletiu e está mais calmo?

Analisar todas essas questões ajuda a entender e dominar a melhor forma de emitir mensagens e evitar distorções.

AUTOMOTIVAÇÃO

Perceba e reforce para si mesmo como é importante estar no controle de suas emoções, apesar de ser algo desafiador. Entendendo o que sente e como se sente nas diferentes situações, é possível reconhecer as próprias necessidades, diminuir conflitos pessoais e interpessoais, além de facilitar a busca por seus objetivos nas diferentes esferas da vida.

RECONHECER NO OUTRO

Ser empático é o caminho para que a vida em sociedade seja melhor, mais humana e respeitosa. A empatia envolve validar e respeitar o sentimento do outro, colocar-se em seu lugar sem julgamentos, de forma sensível e aberta. Entender os desejos e as motivações do outro também é uma forma de minimizar conflitos.

SABER SE RELACIONAR INTERPESSOALMENTE

O ser humano é relacional, ou seja, não é possível viver só. Seja no aspecto familiar, profissional ou social, precisamos construir relações saudáveis e positivas para o nosso desenvolvimento pessoal e bem-estar.

Relacionar-se bem com o outro exige respeito, empatia, autocontrole e autoconsciência.

AS SETE EMOÇÕES UNIVERSAIS

ALEGRIA

Esta é a emoção mais desejada. Tem a função social de sinalizar amizade e demonstrar que não somos uma ameaça frente a aproximações. Quando estamos alegres, ficamos mais suscetíveis a criar vínculos. O que nos deixa felizes, em geral, é nos sentirmos autônomos e com senso de conexão.

TRISTEZA

A tristeza é um pedido de ajuda, a pessoa sente a necessidade de ser confortada. É um sinal para diminuir as atividades a fim de se reorganizar. A pessoa que está triste tende a buscar vínculos. Normalmente, o que nos deixa tristes é a perda de alguém ou de algo importante.

MEDO

O medo tem a função de nos manter seguros. É o que nos mobiliza para enfrentar ou fugir de um perigo (luta e fuga) que pode ser real ou imaginário. A intensidade do medo é influenciada pela gravidade ou pela interpretação da situação – se é imediato, iminente e se há condições de enfrentar tal ameaça. Está na base da ansiedade.

NOJO

O nojo tem a função de nos afastar, bloquear ou eliminar algo tóxico ou contaminante. Sinaliza que há algo que pode fazer mal à nossa saúde. É uma emoção despertada por cheiros ou gostos. Desperta sensações físicas como náusea ou repulsão física.

RAIVA

A raiva sinaliza a defesa de um território. Quem a expressa está colocando e sinalizando limites contra injustiças percebidas. Desperta sensações físicas como o calor, a sudorese, o cerrar dos punhos e mandíbula e tensão muscular. É um poderoso combustível para a mudança.

SURPRESA

A surpresa é um alerta que faz com que nossa atenção se volte para algo que está acontecendo – a fim de entender se estamos em perigo ou não.

Ficamos surpresos quando acontece algo inesperado, impactante ou relevante. A surpresa diminui após alguns segundos e pode dar lugar a outros sentimentos como o medo, a raiva ou a alegria, entre outros.

DESPREZO

Conhecido como o nojo social, sinaliza um sentimento de superioridade ou que não precisa acomodar-se. Pode surgir a partir da falta de empatia.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A TURMA DO EU SOZINHO

Uma pesquisa ajuda a dimensionara solidão masculina, que tem suas raízes na maior dificuldade dos homens de expor emoções e travar laços de amizade

Em reflexão sobre o indivíduo em sociedade, o inglês Francis Bacon (1561-1626), um dos grandes filósofos do pensamento ocidental, foi categórico: “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades”. A teia de boas relações tecida ao longo de uma vida, como já com­ provado pelos vários escaninhos da ciência, tem inestimável valor para a felicidade e o bem-estar das pessoas – um terreno sobre o qual o enriquecimento humano viceja no sentido mais amplo. Não é fácil semear elos firmes e duradouros, mas sabe-se que a trilha envolve costurar afinidades, abrir o peito e deixar o outro enxergar emoções a que poucos têm acesso. Na pressa da era moderna, tão afeita à efemeridade das redes sociais, formar laços que rompam a bolha da superficialidade ganhou complexidade – e essa dificuldade se delineia agora com tintas berrantes na população masculina, tradicionalmente mais refratária a expor sentimentos e fragilidades do que a ala feminina.

Os contornos da doída solidão a que Bacon já se referia tantos séculos atrás foram iluminados em recente pesquisa, que conferiu escala ao incômodo masculino. O vasto levantamento, conduzido pelo instituto Survey Center on American Life, mostra que 47% dos homens se revelam insatisfeitos com seu círculo de amizades, demasiado restrito e incapaz de lhes dar o suporte esperado. Ao garimpar as raízes da decepção, 80% contam não ter recebido apoio emocional de um único amigo nos últimos tempos. A falta de iniciativa própria é um claro motor do isolamento – apenas 16% afirmam acionar alguém fora da rede familiar quando precisam. “Para o homem, é culturalmente mais complicado falar sobre seus conflitos, dúvidas e fragilidades, um freio fincado sobre uma velha percepção de masculinidade”, observa o psicólogo Claudinei Affonso, da PUC-SP. Meninos engatam em um processo de se fechar em si mesmos por volta dos 14, 15 anos, movimento que vai se acentuando conforme a idade adulta se avizinha. “Eles assimilam desde cedo a ideia deque exibir sentimento é sinal de vulnerabilidade”, explica o neurocientista Álvaro Machado.

Embora o planeta siga girando e ultrapassados estereótipos sobre a masculinidade venham se dissolvendo, cientistas da Universidade Fordham, em Nova York, ressaltam que certos pilares resistem firmes e fortes. Em uma detalhada escala em que hierarquizaram os atuais valores masculinos, “honra” e “virilidade” sobressaem entre os entrevistados, terreno altamente desfavorável ao que uma boa amizade requer: desarmar-se. “Por mais absurdo que seja, ainda guardo dentro de mim a noção de que homem não pode se abrir, pedir ajuda, se expor”, admite o artista plástico Marcelo Oliveira, 52 anos, que reconhece estabelecer com os poucos amigos laços que não se descolam da superfície. “Sei que poderiam me confortar nos momentos duros, mas impomos uma barreira para nós mesmos”, diz.

As razões elencadas pelas mulheres para selar amizades costumam diferir das dos homens em sua essência. Enquanto elas buscam acima de tudo trocas emocionais e intimidade, eles tendem a olhar com maior atenção para atributos externos, como posição social e prestígio, segundo aponta um estudo das universidades de Oklahoma e Arizona, nos Estados Unidos. “A maioria não percebe, mas ao cultivarem amizades sem profundidade, eles se põem em um desnecessário lugar de desamparo”, avalia o historiador Luciano Ramos, da ONG Promundo, voltada para o tema.

Para uma parcela dos que hoje se queixam de solidão, a dificuldade de dar densidade às conversas se anuncia já na adolescência, quando a roda social em geral se expande. Mas não para todos. Nessa fase, os que não se amoldam aos padrões dominantes tendem a ser excluídos e a viver ilhados. A literatura mostra que justamente aí eles que penam mais do que elas – um tormento que, mais adiante, pode se converter em relações calcadas na desconfiança. “Tinha gostos distintos dos meus colegas, nunca fui muito de andar em bando e me isolei desde os primórdios em meu próprio mundo, onde até hoje me sinto confortável”, conta o desenvolvedor de sistemas Michaell Rodrigues, 29 anos, que não se vê à vontade para remexer tópicos sensíveis mesmo com pessoas que lhe abrem espaço.

Conseguir ficar bem sozinho pode propiciar raros momentos de autoconhecimento que o poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) definiu como oportunidade. “Quem não sabe povoar sua solidão também não saberá ficar sozinho em meio à multidão”, pontificou com incisivas palavras. Essa é uma dimensão certamente diferente da solidão em sua forma mais profunda e dolorida, aquela que o pintor americano Edward Hopper (1882-1967) retratou em suas telas com desconcertante realismo – um vazio que deságua em estresse, ansiedade e outros males. Por isso, defendem os especialistas, ela deve ser combatida com todo o afinco.

O mais longevo estudo sobre a felicidade, feito pela Universidade Harvard, não deixa dúvidas sobre os bem­ vindos efeitos de relações verdadeiras e duradouras – elas são a chave para a plenitude. Um dos grandes pesquisadores das amizades humanas, o psicólogo americano William Hartup cavuca mais fundo: ele afirma que elos que primam pela solidez, baseados em igualdade e reciprocidade, constituem uma potente engrenagem para a resolução de problemas e tornam as pessoas mais autoconfiantes e generosas com o próximo. Felizmente, há progressos nesse campo. “Uma parcela dos homens começa a se reinventar e falar mais sobre o que sente”, analisa André Rabelo, da Sociedade Brasileira de Psicologia. Não lhes faltam motivos para virar a página do silêncio e ir atrás de um bom amigo.

OUTROS OLHARES

VOLUNTÁRIOS CRIAM GRUPOS E AUXILIAM PAIS E FILHOS NO PROCESSO DE ADOÇÃO

Brasil tem 4.385 crianças e adolescentes à espera de famílias, e mais de 30 mil querem adotar

Graduada em direito, Camila Sarno Falanghe buscou uma especialização em terapia de família para realizar o seu desejo de fazer algo pelas crianças e adolescentes que vivem o processo de adoção pelo qual ela mesma passou como filha.

Então, reuniu outros quatro terapeutas interessados em preparar e acolher as famílias antes e durante o processo. Assim nasceu o Pertenser, que desde 2014 atua de forma voluntária.

Integram o Pertenser a pedagoga Maria Luiza Bambini Vasconcellos, a psicóloga Eliana Maria Jadão Pous, a artista plástica Marilia Hellmeister e o psicólogo Ivan Fedullo Schein. Todos são formados em terapia de casal, e apenas Marília não tem histórico pessoal de adoção. Eliana e Ivan também são pais adotivos.

“Eu sou mãe por adoção, meu filho tem 3B anos. Eu estava no momento em que tinha explorado de tudo (na psicologia) e nós (do grupo) fomos nos conhecendo”, diz Eliana.

Assistente social judiciária aposentada e mãe de duas filhas adotivas – de 18 e 21 anos -, Maria José Correa fundou, em 2013, o grupo Conta de Novo no intuito de criar uma rede de apoio para os pretendentes à adoção – envolvendo desde a parte burocrática no processo de habilitação e até o início da convivência com os filhos.

“Trabalhamos com palestras, conversas em grupos e, dependendo da necessidade, encaminhamos para profissionais como pedagogo, psicólogo, assistente social. Médico”, afirma Maria José. “Como mãe por adoção, apesar da minha experiência técnica no fórum, passei por muitos conflitos desde a habilitação e senti a necessidade de construir uma rede”.

Iniciativas como essas são indicadas por profissionais da Justiça, mas não têm nenhum vínculo formal com os tribunais. O juiz Iberê Dias, que atua na Corregedoria Geral da justiça em assuntos da infância e da juventude afirma reconhecer a importância desses voluntários.

“Ter gente habilitada para dar respaldo sócio- emocional deixa as crianças mais fortalecidas, o que é a nossa maior preocupação, e um trabalho que pode ajudar os adotantes com uma perspectiva mais real de como enfrentar os desafios da adoção”, afirma Dias.

Após receberem o diagnóstico de infertilidade, o casal Daniel de Medeiros, 41, e Tatiana Peres, 45, decidiu adotar uma criança, o João, com 6 anos na ocasião. Tatiana também é mãe de Leticia, 11, do primeiro relacionamento.

No início, essa convivência teve dias difíceis, com episódios agressivos na escola e de racismo contra João no condomínio. Servidores do Fórum de Jabaquara, na zona sul de São Paulo, indicaram o serviço terapêutico para Daniel e Tatiana.

“Cheguei a pensar que o João não quisesse a nós como família. Esse sentimento é muito triste”, relata o pai.

Daniel, Tatiana e João começaram a reverter a situação após passar pelas sessões de terapias. Mudaram de escola e de condomínio.

“Hoje, ele é uma criança alegre, e os professores contam que é querido, carinhoso”, diz o pai, orgulhoso pelo desenvolvimento de João, 8, que adora praticar esportes.

Além do trabalho de construção de laços entre pais e filhos, o sistema judiciário indica os voluntários quando, por exemplo, o casal que pretende adotar uma criança não consegue ser habilitado. Outra frente de trabalho, de acordo com os voluntários, é quando a criança ou adolescente volta a conviver com a família biológica depois de um período de encaminhamento para instituições como o Saica (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes).

“É comum mudar de instituição e se corromperem vínculos, a gente batalha muito para que eles continuem conversando com os amigos, educadores da instituição passada. Rompimento é o mais comum na vida desses meninos e meninas”, afirma Marília.

O país celebrou nesta quinta-feira (25) o Dia Nacional da Adoção. Desde 2019, quando foi criado o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, 15,8 mil ganharam uma nova família.

Segundo o painel do sistema feito pela CNJ (Conselho Nacional de Justiça), atualizados até as 14 horas desta quarta, o Brasil contabiliza atualmente 4.385 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, sendo 24% deles (1.071) moradores de São Paulo.

Por outro lado, há 33.997 pretendentes inscritos em todo o país. Grande parte deles desejam receber menores de 8 anos – e somente 31% (1.371 crianças) têm até essa idade.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

TER UM HORÁRIO REGULAR DE SONO PODE PROTEGER SEU CORAÇÃO

Uma nova pesquisa afirma o que os médicos há muito aconselham: vá para a cama e acorde na mesma hora todos os dias para obter benefícios à saúde

Existem alguns conselhos testados e comprovados que os médicos do sono sempre dão para combater a insônia: evite bebidas alcoólicas no jantar, corte o café da tarde, pare de navegar na internet antes de dormir. E, por favor, eles imploram: mantenha um horário regular de sono.

Alternar os horários de levantar – acordar às 7h30 numa sexta-feira e depois dormir até a tarde de sábado, por exemplo – prejudica nossos relógios biológicos internos. Especialistas em sono se referem a isso como “jet lag social”, lembra a dra. Sabra Abbott, da Northwestern Feinberg School of Medicine. Ir para a cama em horários muito diferentes a cada noite pode prejudicar seu ritmo circadiano – o ciclo de 24 horas do relógio interno do corpo.

E ainda assim, como qualquer pessoa que trabalhou no turno da noite, cuidou de uma criança ou voltou para casa depois de uma festa pode lhe dizer: ir para a cama e acordar no mesmo horário é fácil de falar mas difícil de fazer. “É um luxo, né?”, avisa Kelsie Full, epidemiologista e professora do Vanderbilt University Medical Center.

Full é a principal autora de um novo estudo que ligou o sono irregular a um marcador precoce de doença cardiovascular. Os pesquisadores examinaram dados do sono de uma semana de 2 mil adultos com mais de 45 anos e descobriram que aqueles que dormiam quantidades variadas a cada noite e iam para a cama em horários diferentes eram mais propensos a ter artérias endurecidas do que aqueles com padrões de sono regulares.

As pessoas cujas quantidades totais de sono variaram em duas ou mais horas de noite para noite ao longo da semana – tendo cinco horas de sono na terça-feira, digamos, e depois oito horas na quarta – eram particularmente propensas a ter altos níveis de placa gordurosa calcificada acumulada em suas artérias, em comparação com quem dormia o mesmo número de horas todas as noites.

O estudo não pôde confirmar que padrões irregulares de sono de fato causaram os problemas cardíacos, adverte Full. E as descobertas não significam que os dias em que dormimos muito tarde ou acordamos muito cedo não devam ser considerados. “Um ou dois dias fora do padrão não tem problema”, avisa Tianyi Huang, professor na Harvard Medical School e coautor do estudo. “É mais sobre o longo prazo.”

Para a maioria das pessoas, uma ou duas noites de sono irregular provavelmente não prejudicarão todo o seu ritmo circadiano, disse Aric Prather, especialista em sono da Universidade da Califórnia, em São Francisco. E se você for para a cama às 4 da manhã de um sábado, provavelmente será melhor dormir até o meio-dia e evitar alguns efeitos da perda de sono do que se forçar a acordar na hora em que se levanta para trabalhar.

Mas o novo estudo sustenta o que pesquisas anteriores teorizaram: o sono regular é essencial para a saúde. Um es- tudo de 2020 descobriu que pessoas de 45 a 84 anos com horários de sono irregulares tinham quase duas vezes mais possibilidades de desenvolver doenças cardiovasculares do que aquelas com padrões mais regulares. Uma análise de mais de 90 mil pessoas vinculou as interrupções do ritmo circadiano a um maior risco de trans- tornos de humor. Os pesquisa- dores associaram também padrões irregulares de sono ao colesterol alto e à pressão alta.

Na última década, os pesquisadores fortaleceram a ligação entre o sono e a saúde do coração. No ano passado, a American Heart Association adicionou a duração do sono a sua lista de verificação para medir a saúde cardiovascular. Uma teoria pela qual o sono regular ajuda o coração é que manter o ritmo circadiano ajuda a regular a função cardiovascular, alertou Huang. E pesquisas apontam que recuperar o sono nos fins de semana não compensa o ter dormido pouco durante a semana.

As pessoas costumam pensar que dormir até tarde depois de várias noites de sono limitado fará com que se sintam melhor, observou a dra. Marri Horvat, especialista em sono da Cleveland Clinic, “mas geralmente não ajuda”.

Então, como podemos fazer para dormir e acordar no mesmo horário? Veja dicas dos médicos do sono.

AGRADE-SE

Defina uma meta alcançável para acordar (mesmo que seja desafiadora), orientou Prather – e se recompense por sair da cama. Tomando café no seu lugar favorito ou vendo uma série no sábado de manhã, em vez de sexta à noite.

CONCENTRE-SE NO SEU RITUAL DE ANTES DE DORMIR

Uma rotina regular antes de dormir – ler um romance de- pois de escovar os dentes, por exemplo – pode ajudar a manter um horário de sono definido. Mas as horas em que você começa a relaxar antes de ir para a cama também importam, disse Horvat. Nas quatro horas ou mais antes de ir para a cama, evite o álcool e não se exercite (prefira a manhã). Essas mudanças o ajudarão a adormecer mais rápido e a dormir por mais tempo.

ENCONTRE UM PARCEIRO COMPROMETIDO

Recrute um amigo ou membro da família para acordar mais ou menos na mesma hora que você, recomendou Prather, e comprometam-se enviando mensagens de texto um para o outro ao acordar. Ou faça um plano para acordar cedinho para um brunch ou uma caminhada matinal.

TOME UM POUCO DE SOL

A luz ajuda a regular nosso ritmo circadiano, avisa Abbott. Caminhe de manhã e se exponha ao sol sempre na mesma hora, todos os dias.

TORNE SEU ALARME O MAIS IRRITANTE POSSÍVEL

Se você não consegue se levantar da cama nos fins de semana, disse Prather, opte pelo radical: um alarme que você não pode ignorar. Defina uma música irritante como tom de alarme ou experimente um alarme de quebra-cabeça – um aplicativo em que você precisa resolver um quebra-cabeça para desligá-lo. Para um incentivo extra, mantenha o telefone do outro lado do quarto à noite, em vez de perto da cama.

PEGUE LEVE COM VOCÊ

“Os padrões de sono a longo prazo são importantes para a saúde em geral, alerta Prather. Mas ele acrescenta que você não precisa se preocupar com uma ou duas noites mal dormidas. “Isso tira a pressão”, garante o especialista.

GESTÃO E CARREIRA

NÚMERO DE TRABALHADORES COM MAIS DE 50 ANOS DOBRA NO PAÍS

Em 15 anos, o número de trabalhadores acima de 50 anos dobrou no país. Em 2006, eram 4,4 milhões de pessoas e, em 2021, passaram para 9,3 milhões – aumento de 110,6%. O levantamento é do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que disponibiliza dados sobre mercado de trabalho para estatísticas.

Conforme o levantamento, no período analisado, o estoque de emprego geral cresceu 38,6%, o que mostra o ritmo de crescimento da presença de trabalhadores com 50 anos ou mais foi quase três vezes maior em comparação ao emprego geral.

Os trabalhadores na faixa etária dos 50 ocupavam 12,6% das vagas em 2006. O percentual subiu para 19,1% em 2021. “A participação desse grupo no estoque de emprego formal cresceu 51,6% nessa década e meia”, revela a pesquisa.

Para o Senai, os resultados apontam para uma tendência e a importância de elaboração de políticas, por parte dos governos, empresas e instituições de ensino, focadas na requalificação desses profissionais com objetivo da permanência no mercado de trabalho ou recolocação.

MULHERES

Em uma década e meia, a participação das mulheres com mais de 50 anos no mercado de trabalho cresceu mais em relação a dos homens da mesma faixa etária. Entre elas, a alta foi de 120% entre 2006 e 2021. Porém, as mulheres respondem por menos da metade dos trabalhadores (42,4%) acima de 50.

SETORES

Entre os setores da economia com maior contratação de pessoas com 50 anos ou mais, aparecem comércio (164%), serviços (136%) e indústria (96%).

Apenas a indústria (transformação, extrativa mineral, serviços de utilidade pública e construção civil) registrou 1,5 milhão de funcionários na faixa etária no ano de 2020.

ESTADOS E REGIÃO

Na análise por regiões, metade dos trabalhadores está no Sudeste. Porém, as regiões Norte e Centro-Oeste foram as com os maiores aumentos proporcionais de contratação, sendo 129% e 132% respectivamente, superando a média nacional de 110,5%. “Todos os estados do Nordeste e do Sudeste tiveram um ritmo de contratações de 50+ abaixo da média, com exceção do Maranhão, que aumentou em 139,4%, e de São Paulo, com 118,6%”, aponta a pesquisa.

EU ACHO …

CENSURA LÍQUIDA

Estado de direito e mercado são parceiros na liquidez da nova censura

Tomo emprestado do sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017) o termo “líquido” para descrever como funciona a censura hoje e nas próximas décadas deste século 21 nas democracias. Uma das características da censura líquida é ser, justamente, “democrática”, isto é, operar dentro do Estado de Direito e suas instituições.

Aliás, o Estado de Direito e mercado são parceiros diretos no caráter líquido da nova forma de censura no século 21.

Para Bauman, “líquido” significa que, em nossa época, a sociedade e suas instituições “escorrem pelos dedos”. Tudo se espalha sem forma clara. Tudo é impermanente. Sua entrevista publicada em livro com o título “Vigilância Líquida” traz o sentido do conceito ainda mais próximo para o uso que faço dele aqui, aplicando-o ao tema da censura. Ali Bauman diz que o big brother de Orwell se revelou como um sistema líquido de vigilância em que todos vigiam todos o tempo todo, sem um centro institucional claro, ou seja, o big brother é a internet e as redes sociais. Nós mesmos facilitamos essa vigilância em busca de rapidez na aquisição de produtos, serviços e segurança nesses processos.

Há uma outra imagem na filosofia que é muito útil para descrever essa censura líquida, imagem esta que já fora utilizada pelo filósofo Blaise Pascal (1623-1662) para se referir ao universo infinito, indiferente e escuro de Newton. Vou aplicar essa imagem ao modo de como já funciona a nova censura líquida neste nosso século 21.

A censura líquida é como “um círculo cuja circunferência está em toda parte; o centro, em parte alguma”. A interdição ou a punição parece brotar de todo lugar e ao mesmo tempo de lugar nenhum que possa ser delimitado.

Qualquer um ou qualquer instituição poderá denunciar qualquer frase, texto, vídeo que julgar inadequado. O Poder Judiciário poderá acatar a denúncia na direta proporção de que seu agente concorde com a denúncia, e você, cidadão comum, sem poder institucional algum, dependerá do que pensa, absoluto, o juiz que decidirá se você ainda terá vida profissional, econômica, pública ou mesmo familiar. E você ainda pagará pela sua condenação, como na era da inquisição, na Idade Média.

Mas a censura líquida não só opera a partir do Estado, ainda que este, na sua versão contemporânea, tenda a ser cada vez mais repressivo, graças às tecnologias digitais ao alcance do poder judiciário. O mercado e as empresas também têm um papel essencial no mecanismo repressivo do pensamento público hoje.

Cancelamentos implicam em suspensão de patrocínio e demissões. Ainda que a maioria das pessoas não perceba, esse processo é típico da censura líquida. Patrocinadores e empregadores tem todo o direito de suspender o vínculo com alguém que possa carregar negativamente suas marcas.

Assim sendo, o branding – a princípio uma atividade puramente do marketing e da publicidade – passa a ser um dos braços mais poderosos da censura do século 21.

Uma marca da censura líquida é que ela pode destruir a sua vida sem prender você ou necessariamente “proibir” você diretamente de falar ou escrever, mas sim de pensar. A pura ameaça já tem o efeito do censor. Aquilo que nos regimes totalitários ocorria numa escala menor, mais lenta e localizável facilmente, no século 21 acontece em escala geométrica, tecnológica, acelerada cada vez mais e difusa. Pode vir de qualquer lado, a qualquer momento. Vivemos na era do “assédio jurídico”.

Assim sendo, a democracia contemporânea liberal de mercado pode operar completamente dentro do Estado de Direito, da lei e da liberdade de empreendimento, sem necessidade de um “estado de exceção”, e ainda assim marchar em direção aos processos autoritários já em curso de instalação na sociedade.

Apesar de existir uma competição acirrada entre o Estado e as plataformas pela soberania – o PL das Fake News deve ser vista nesse nível mais profundo -, indicando um real desafio da ideia do estado moderno como soberano, no que tange à censura, Estado e mercado podem ser aliados perigosos a acuar o pensamento público. Como escapar? Fácil: seja irrelevante em tudo e para sempre.

*** LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de “Notas sobre a Esperança e o Desespero” e “Política no Cotidiano”. É doutor em filosofia pela USP.

ESTAR BEM

MIL E UMA UTILIDADES

Usado contra rugas, botox ganha novos fins médicos, da enxaqueca à depressão

A toxina botulínica, mais conhecida como botox, é o tratamento estético mais popular do mundo para todas as faixas etárias. Em 2021 (dado mais recente disponível), foram realizadas 7,3 milhões de aplicações de botox mundialmente, segundo informações da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). O número representa um aumento de 17,7% em relação ao ano anterior. Apenas no Brasil, 542.520 mulheres e homens recorreram ao produto para disfarçar as marcas da idade.

Nos últimos anos, o uso desse composto na medicina se expandiu muito além das rugas. Estudos e recomendações recentes indicam a aplicação para a prevenção ou tratamento de diversas condições, como enxaqueca, depressão, bruxismo, caspa, suor excessivo e até mesmo algumas condições neurológicas.

ANTIRRUGAS

A toxina botulínica age paralisando a musculatura por meio da interrupção da ação entre o nervo motor e o músculo. Por isso, a aplicação mais indicada é para a prevenção e tratamento de rugas, em especial as de expressão.

A aplicação faz com que os músculos faciais relaxem e não se contraiam. Com a interrupção de movimentos, a pele para de criar vincos e as rugas dinâmicas desaparecem.

“O melhor tratamento para as rugas dinâmicas continua sendo e provavelmente sempre será a toxina botulínica”, avalia a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Embora hoje em dia sua aplicação mais famosa seja na prevenção de rugas, esse efeito foi descoberto por acaso há 30 anos, quando o casal de médicos canadenses Alastair e Jean Carruthers notou que a toxina botulínica usada então para controlar espasmos faciais também suavizava as rugas.

OUTROS USOS ESTÉTICOS

O botox ainda pode ser usado para suavizar as linhas da testa, o vinco entre as sobrancelhas, levantar os cantos da boca, arquear as sobrancelhas, melhorar o sorriso gengival e arrebitar a ponta do nariz.

“Além dos músculos faciais, a toxina botulínica pode ser usada para combater os excessos de suor em locais como axilas, mãos e pés”, diz a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Nesse caso, a substância age bloqueando a liberação do suor pelas glândulas locais, sem aumentá-la em outros lugares. Ainda na área dermatológica, pode ser usada no tratamento da dermatite seborreica, a famosa caspa. A dermatologista Lilian Brasileiro explica que o mecanismo de ação da substância para esse fim ainda não está totalmente elucidado, mas há evidências de que a toxina botulínica promova uma diminuição da produção de sebo, o que acarreta na melhora da dermatite seborreica.

“Existem múltiplos mecanismos relatados e possivelmente envolvidos, sendo o principal deles o bloqueio na liberação de um neurotransmissor chamado acetilcolina entre os terminais nervosos e as glândulas sebáceas”, explica Brasileiro. O tratamento da acne com a toxina ainda não é oficial, porém vários dermatologistas observam melhora após o uso da substância, principalmente devido a sua ação anti-inflamatória e de redução da oleosidade. Por isso, essa pode ser uma opção para pessoas que não respondem aos tratamentos tradicionais.

A toxina botulínica também pode ser uma aliada no combate à rosácea, uma doença inflamatória crônica que causa bolinhas e vermelhidão na região das bochechas, queixo, testa e nariz. A substância age diminuindo a inflamação e regulando o fluxo sanguíneo nos vasos, o que melhora os sintomas.

DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Medicina de Hannover, na Alemanha, mostrou que quando aplicado na testa, entre as sobrancelhas, o botox pode aliviar a depressão, além de amortecer emoções negativas em pessoas com transtorno de personalidade limítrofe, que sofrem de mudanças extremas de humor.

Parece estranho, mas as expressões faciais e o estado psicológico estão intimamente ligados. Os humores negativos são expressos no rosto na chamada região glabelar, a área da testa média inferior. Quando a toxina é injetada nessa região, os músculos ficam paralisados e as pessoas são incapazes de fazer expressões faciais de raiva, o que também reduz a intensidade das emoções.

Imagens de ressonância magnética confirmaram os efeitos nesses pacientes. O botox influencia a chamada amígdala ou núcleo amendoado no lobo temporal do cérebro, onde os medos surgem e são processados. Na ciência, essa resposta é chamada de teoria do “feedback facial”. “Uma testa relaxada transmite uma sensação mais positiva, por assim dizer”, explicou o professor e pesquisador Tillmann Krüger, da Escola de Medicina de Hannover, em comunicado.

A toxina botulínica também pode aliviar distúrbios de ansiedade quando injetado nos músculos da cabeça, dos membros superiores e inferiores e do pescoço.

ENXAQUECA

Um corpo crescente de evidências apoia a eficácia da toxina botulínica na redução da frequência das crises de enxaqueca. O cirurgião plástico Paolo Rubez, membro da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca dos Estados Unidos, explica que a substância impede a compressão dos ramos dos nervos trigêmeo ou occipital, uma das causas da dor.

“Na técnica, são realizadas aplicações em diferentes áreas da cabeça e da região cervical. Elas agem como um bloqueador neuromuscular, impedindo a contração muscular e, por consequência, a compressão dos nervos sensitivos periféricos”, afirma Rubez.

Em geral, são três meses de intervalo entre as aplicações. A resposta ao tratamento é muito individual.

O botox também é utilizado na neurologia para espasticidade, um distúrbio no controle muscular, caracterizado por tensão, rigidez, aumento dos reflexos dos tendões e incapacidade de controlar os músculos. O produto permite relaxar a musculatura em pacientes com derrame ou paralisia cerebral, por exemplo.

BRUXISMO

O bruxismo é caracterizado pelo apertamento ou ranger involuntário dos dentes, sobretudo durante o sono. É causado por uma hiperatividade do sistema nervoso. A aplicação do botox no masséter (musculo da mastigação) diminui o tônus muscular e, com isso, a força da mordida, o que melhora a qualidade de vida dos pacientes.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CIÊNCIA TENTA EXPLICAR APELO UNIVERSAL DAS CANÇÕES TRISTES

Especialistas afirmam que esse tipo de música transmite emoções profundas e complexas que nos dão grande prazer

Não gostamos de ficar tristes na vida real, mas gostamos da arte que nos faz sentir assim: este é o paradoxo da música triste. Inúmeros estudiosos desde Aristóteles tentam explicar o fenômeno. Talvez experimentemos uma catarse de emoções negativas através da música. Talvez haja uma vantagem evolutiva, ou talvez estejamos socialmente condicionados a apreciar nosso próprio sofrimento. Talvez nossos corpos produzam hormônios em resposta ao mal-estar da música, criando uma sensação de consolo.

Joshua Knobe é filósofo experimental e psicólogo na Universidade de Yale e se casou com a artista de rock indie que cantava canções de cortar o coração na sua juventude. Em um novo estudo, publicado no Journal of Aesthetic Education, ele e alguns colegas procuraram enfrentar esse paradoxo questionando o que é tão atrativo nas músicas tristes. Ao longo dos anos, a pesquisa de Knobe descobriu que as pessoas muitas vezes formam duas concepções da mesma coisa, uma concreta e outra abstrata. Por exemplo, as pessoas podem ser consideradas artistas se possuem um conjunto de características concretas, como ser habilidoso com pincéis. Mas, se elas não exibem certos valores abstratos, como criatividade, curiosidade ou paixão, e simplesmente recriam antigas obras-primas para lucro rápido, pode-se dizer que, em outro sentido, eles não são artistas. Talvez as canções tristes tenham uma natureza igualmente dupla, pensaram Knobe e sua ex-aluna, Tara Venkatesan, uma cientista cognitiva e soprano operística.

A pesquisa descobriu que nossa resposta emocional à música é multidimensional; você não fica apenas feliz quando ouve uma música bonita, nem simplesmente fica triste com uma música triste. Em 2016, uma pesquisa com 363 ouvintes descobriu que as respostas emocionais a músicas tristes se enquadravam em três categorias: luto, incluindo sentimentos negativos poderosos como raiva, terror e desespero; melancolia, uma tristeza suave, saudade ou autopiedade; e doce tristeza, uma agradável pontada de consolo ou apreciação. Muitos entrevistados descreveram uma mistura dos três. Os pesquisadores chamaram seu estudo de “Cinquenta tons de azul”.

Dadas as camadas de emoção e a imprecisão da linguagem, talvez não seja de admirar que a música triste pareça um paradoxo. Mas ainda não explica realmente por que pode parecer prazeroso ou significativo.

Alguns psicólogos examinaram como certos aspectos da música — modo, andamento, ritmo, timbre — se relacionam com as emoções que os ouvintes sentem. Estudos descobriram que certas formas de música têm funções quase universais: em vários países e culturas, por exemplo, as canções de ninar tendem a compartilhar características acústicas semelhantes que provocam em bebês e adultos uma sensação de segurança.

“Durante toda a nossa vida, aprendemos a mapear as relações entre nossas emoções e como soamos”, afirma Tuomas Eerola, musicólogo da Durham University, na Inglaterra, e pesquisador do estudo “Cinquenta tons”. “Reconhecemos a expressão emocional na fala, e a maioria das pistas são usadas de forma semelhante na música.

Outros cientistas, incluindo Patrik Juslin, psicólogo musical da Universidade de Uppsala, na Suécia, argumentam que tais descobertas esclarecem pouco sobre o valor da música triste.

CONEXÃO

Juslin e outros propuseram que existem mecanismos cognitivos através dos quais a tristeza pode ser induzida nos ouvintes. Reflexos inconscientes no tronco cerebral; a sincronização do ritmo com alguma cadência interna, como um batimento cardíaco; respostas condicionadas a sons particulares; memórias desencadeadas; contágio emocional; uma avaliação reflexiva da música… tudo parece desempenhar algum papel. Talvez porque a tristeza seja uma emoção tão intensa, sua presença pode provocar uma reação empática positiva: sentir a tristeza de alguém pode movê-lo de alguma forma pró-social.

“Você está sozinho, se sentindo isolado, e então ouve um pouco de música ou pega um livro e sente que não está mais tão sozinho”, afirma Knobe.

Mario Attie-Picker, filósofo da Loyola University Chicago, propôs uma ideia relativamente simples após estudos: talvez ouçamos música não por uma reação emocional, mas pela sensação de conexão com os outros. Aplicado ao paradoxo da música triste: nosso amor pela música não é uma apreciação direta da tristeza, é uma apreciação da conexão.

“Acredito”, defendeu Eerola, depois de se informar sobre o estudo. “Pessoas mais empáticas estão mais dispostas a se envolver nesse tipo de tristeza fictícia que a música traz.

Essas pessoas também apresentam alterações hormonais mais significativas em resposta à música triste. Mas a música triste tem várias camadas, como uma cebola, e essa explicação levanta mais questões. Com quem estamos nos conectando? O artista? Nossos “eus” do passado? Uma pessoa imaginária? E como a música triste pode ser “tudo” sobre alguma coisa? O poder da arte não deriva, em parte, de sua capacidade de transcender o sumário, de expandir a experiência?

Um a um, os pesquisadores reconheceram a complexidade de seu assunto e as limitações do trabalho existente. E então Attie-Picker ofereceu um argumento menos filosófico para seus resultados.

“Apenas parece certo”, conclui ele.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

CLIMA FRIO FAVORECE DOENÇAS RESPIRATÓRIAS. COMO PREVENIR?

Concentração em espaços fechados aumenta transmissão, mas hábitos de higiene, boa alimentação e hidratação podem ajudar

As baixas temperaturas influenciam na disseminação de vírus causadores de infecções como gripe, resfriado, e também a covid-19. Embora o inverno comece somente em 21 de junho, no outono também há um aumento de casos de doenças como rinite, asma e bronquite. Além disso, por serem as épocas mais propícias para a proliferação do vírus sincicial respiratório (VSR), por serem as estações mais frias e secas, também é mais comum observar casos de bronquiolite e pneumonia entre as crianças. Cuidados também devem ser redobrados com os idosos e pessoas mais suscetíveis a quadros graves.

Conforme a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, a transmissão dessas doenças se deve principalmente ao confinamento e à permanência em espaços fechados e com pouca ventilação, o que tende a facilitar a circulação de microrganismos, principalmente vírus respiratórios.

“Em ambientes fechados, o contágio por vírus de transmissão respiratória é bem maior. Todos devem manter o local ventilado, o que minimiza a possibilidade de o vírus ser transmitido entre as pessoas, permanecer no ar por algumas horas e cair nas superfícies, contaminando muito mais gente”, alerta a biblioteca virtual.

Para prevenir a transmissão de vírus respiratórios, também é recomendada a correta e frequente higienização das mãos, principalmente entre as crianças em idade que costumam colocar mais as mãos na boca. Embora não seja obrigatório na maioria dos ambientes atualmente, o uso de máscara facial também é indicado, em especial para indivíduos que são mais suscetíveis aos vírus (ou como forma de não transmitir a outras pessoas).

Em dias mais frios, também é aconselhado que as pessoas se hidratem bem, assim como mantenham alimentação balanceada, a prática de exercícios e o uso de roupas apropriadas para a estação. “Evitar o choque térmico é muito importante e pessoas com imunidade baixa são mais suscetíveis às doenças respiratórias. Caso haja um sintoma mais intenso é fundamental procurar rapidamente o serviço médico”, orienta o Ministério da Saúde.

Manter a vacinação em dia e colocar no sol (ou mesmo lavar) peças que ficam muito tempo fechadas no guarda-roupa, como cobertores e casacos, também ajudam o sistema respiratório.

Confira a seguir as principais doenças da estação e como preveni-las.

GRIPE, RESFRIADO E COVID-19

O aumento de casos de doenças que afetam o sistema respiratório também acontece em razão dos hábitos. No frio, as pessoas optam por ambientes pouco ventilados, que facilitam a transmissão de vírus e bactérias. O tempo seco e o aumento da poluição são fatores agravantes. Para evitar a contaminação, as regras são as mesmas seguidas para a prevenção da covid-19: lavar as mãos sempre que possível e utilizar álcool 70 para limpar o que for preciso.

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA E HIDRATAÇÃO

Hábitos saudáveis são essenciais para que o corpo humano funcione corretamente. Por isso, ter uma alimentação balanceada, manter a hidratação do corpo, dormir bem e ter uma rotina equilibrada ajudam o organismo a se proteger contra ameaças.

RINITE ALÉRGICA

Uma alergia é uma reação exacerbada do sistema imunológico a agentes externos. No caso das respiratórias, as mais comuns são a rinite e asma, embora essas doenças inflamatórias nem sempre sejam causadas por alergia.

A rinite inflama as mucosas das vias aéreas superiores e, por vezes, lavar as narinas ajuda. Já a asma atinge as vias aéreas inferiores, o que a torna perigosa, já que a passagem de ar pode ser bloqueada, interromper a oxigenação e levar à morte se não houver assistência médica.

Quando uma pessoa tem rinite alérgica, os sintomas mais comuns são coceira no nariz, obstrução nasal e espirros em série. O asmático costuma sofrer de falta de ar, chiado no peito (sibilos), tosse e dor torácica. Poluição, cheiros de perfume ou de produtos de limpeza, fumaça de cigarro não provocam alergias respiratórias, mas podem desencadear crises de rinite ou asma.

ASMA

De acordo com o Ministério da Saúde, a asma é uma doença que causa dificuldade para respirar, além de encurtamento da respiração e sensação de aperto no peito. “A enfermidade tem tratamento, e é possível barrar complicações evitando exposição à poeira, a ácaros e fungos”, acrescenta.

Juntamente com a rinite alérgica e a doença pulmonar obstrutiva crônica, a asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais comuns.

A asma não tem cura, mas com o tratamento adequado os sintomas podem ser amenizados e até mesmo desaparecer ao longo do tempo. Por isso, o acompanhamento médico, desde o início, é fundamental.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), estima-se que no Brasil existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos.

BRONQUITE AGUDA

É um processo inflamatório da mucosa brônquica, geralmente precedida por uma infecção das vias aéreas superiores. É mais comum no inverno e, muitas vezes, causada pelos mesmos vírus dos resfriados.

A bronquite aguda se caracteriza por tosse seca irritativa, com sensação de desconforto. Na fase mais avançada, com a apresentação de um quadro infeccioso, surgem escarros (no início mucosos e depois mucupurulentos). É importante procurar um profissional de saúde para que o tratamento correto seja indicado. Além de poeira, outros agentes químicos, como fumo e tinta, podem penetrar no pulmão e desencadear a doença.

Entre as medidas preventivas também estão: a correta higienização das mãos e tampar a boca e o nariz, ao espirrar ou tossir.

BRONQUIOLITE E PNEUMONIA

Consideradas as épocas mais propícias para a proliferação do vírus sincicial respiratório (VSR), por serem as estações mais frias e secas, no outono e no inverno é mais comum observar o aumento de crianças internadas com bronquiolite e pneumonia. Dessa forma, medidas preventivas e o diagnóstico precoce são ferramentas para evitar o agravamento do quadro clínico.

Pertencente ao gênero pneumovírus, o VSR é um dos principais agentes da infecção aguda das vias respiratórias. O vírus atinge brônquios e pulmões. Não há vacinação contra o VSR. Somente no caso das crianças prematuras nascidas com até 28 semanas de gestação ou com fator de risco como bebês com displasia broncopulmonar e cardiopatias congênitas, um programa do Ministério da Saúde oferta o palivizumabe, anticorpo específico contra o vírus sincicial, aplicado uma vez por mês durante cinco meses, antes do período de maior circulação do vírus, para evitar formas graves da doença.

As viroses respiratórias têm sintomas comuns como tosse, febre, dor de garganta e coriza. No VSR, que atinge com mais frequência crianças de até 2 anos, fique atento a dificuldades para respirar.

Embora não haja vacina disponível, levar as crianças para vacinar contra a gripe e a covid-19 reduz as possibilidades de elas terem problemas respiratórios por esses outros vírus. Isso diminui, consequentemente, a exposição das crianças ao VSR.

A amamentação também é um reforço imunológico importante. Ou seja, o desmame precoce deixa a criança mais frágil. Além disso, deixe as crianças longe da fumaça de familiares fumantes.

No caso da bronquiolite, as crianças podem transmitir o VSR por mais de uma semana. Mesmo após apresentar melhora, é importante ter atenção.

OUTROS OLHARES

BARRADOS NA CLÍNICA

Implantes hormonais e anabolizantes, populares em consultórios e academias, têm a prescrição proibida para fins estéticos. Os riscos superam os benefícios na frente do espelho

O culto ao corpo perfeito pegou carona nas redes sociais e deixou de ser uma aspiração restrita a viciados em academia e modelos fitness. A busca frenética por músculos definidos e barriga trincada se popularizou de tal forma que o uso de hormônios sintéticos, antes confinado à turma dos bodybuilders, ampliou sua freguesia. Seduzidos pela promessa de resultados mais rápidos e visíveis, homens e mulheres passaram a recorrer, com ou sem prescrição, a substâncias classificadas como esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA.) Não se trata apenas da “bomba” das academias, mas também de implantes e outras terapias hormonais que invadiram consultórios e clínicas de estética sob nomes mais amigáveis.

A preocupação com a utilização indevida e os efeitos colaterais dessas drogas, capazes de bagunçar a saúde da cabeça aos pés, fez o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibir a prescrição dos esteroides para fins estéticos ou de desempenho esportivo – desrespeitos às regras serão inclusive punidos. A discussão estava em trâmite há um ano e meio e era pleiteada por sete sociedades médicas. Elas afirmaram detectar sinais alarmantes de uma ampla divulgação e comercialização de anabolizantes, implantes hormonais e afins pelo país. Em carta aberta ao CFM, as entidades demonstraram preocupação com a presença constante de pseudoespecialistas em mídias sociais – sempre elas – indicando, de forma explícita e na maior impunidade, o uso dos produtos. “Criou-se uma falsa narrativa de que a prescrição desses medicamentos seria algo normal e, pior, segura”, diz Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), um dos pilares na campanha para a regulamentação.

A justificativa que mais pesou na bem-vinda decisão do CFM foi a inexistência de comprovação científica a sustentar os benefícios e a segurança dessas drogas, que simulam o efeito de hormônios no corpo. “O que a literatura médica nos mostra, na verdade, é que doses elevadas de hormônios androgênicos trazem riscos inaceitáveis”, afirma Miranda. E as queixas podem ir muito além de espinhas no rosto, como celebridades que deixaram o “tratamento” de lado postaram nas redes sociais. Entre os perigos listados pelas entidades estão aumento da pressão arterial e dos níveis de colesterol no sangue, tumores no fígado e no pâncreas e alterações psíquicas e comportamentais capazes de culminar em surtos de agressividade.

O veto do CFM não abolirá esteroides como Durateston e Deca-Durabolin das prateleiras das farmácias. Afinal, essas medicações são regulamentadas e podem ser receitadas para um grupo específico de pacientes: pessoas que não conseguem produzir uma quantidade suficiente de testosterona e perdem qualidade de vida. O que está com os dias contados são soluções como o tal “chip da beleza” – que nem é chip nem necessariamente melhora os resultados na frente do espelho, mas continua badalado por celebridades como a atriz Deborah Secco.

O implante em formato de bastonete inserido sob a pele costuma ser uma minibomba de hormônios, geralmente de gestrinona, prima da testosterona. Promete ganho de massa magra, abdome esculpido e aumento da libido. Mas a ciência não assina embaixo, e ainda alerta para as reações adversas que viraram pauta entre as influencers. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia emitido uma nota técnica em 2021 proibindo a manipulação, a venda ou outras atividades envolvendo a gestrinona. Com a proibição do CFM, o charlatanismo e a má conduta médica deverão ser tolhidos.

Apesar das medidas recentes, sobrevive o receio de que a família de esteroides continue sendo comercializada no mercado negro. “Caberá às autoridades legais agirem”, diz Annelise Meneguesso, conselheira do CFM da Paraíba e relatora da resolução. “A nós, médicos, cabe respeitá-la e conscientizar as pessoas sobre os danos dessa prática.” Sim, uma bomba foi desativada. Resta sensibilizar a sociedade, dentro e fora da ágora da internet, para que assim seja e permaneça.

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHADORES DE APLICATIVOS REJEITAM CLT

Levantamento aponta que prestadores de serviços do Uber e do iFood dizem querer trabalhar para mais de uma plataforma

À espera de regulamentação prometida pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva sobre o trabalho por aplicativos, um desafio que tem gerado impasses em todo o mundo, motoristas e entregadores pleiteiam mais garantias de proteção social, porém que não comprometam a autonomia que o trabalho mediado por plataformas proporciona.

Três a cada quatro trabalhadores preferem o modelo atual a um emprego com vínculo CLT. Por outro lado, sete em cada dez contribuiriam para a Previdência caso as empresas empregadoras automatizassem o processo.

Os números são de uma pesquisa feita pelo instituto Datafolha a pedido de iFood e Uber, com 2,8 mil motoristas e entrega dores em todo o País. Segundo o levantamento, 89% aprovam novos direitos, desde que não percam a flexibilidade e possam, por exemplo, continuar a atuar em múltiplas plataformas ao mesmo tempo e escolher quais horários fazer e quais viagens aceitar.

“É importante que a gente conheça o setor profundamente para que a gente possa fazer um debate sobre regulação que leve em conta as condições atuais de vida desses trabalhadores e as especificidades desse modelo de negócio, para que todas as partes envolvidas nesse debate possam ser contempladas”, disse Debora Gershon, diretora de política de dados e Relações Acadêmicas do iFood. Segundo ela, a empresa defende a regulamentação do setor desde 2021.

O Brasil tem hoje cerca de 1,7 milhão de motoristas e entregadores por aplicativo, segundo dados do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Regulamentar o setor, porém, será um desafio. O governo instituiu um grupo de trabalho para discutir o tema, mas que anda a passos lentos e tem a legitimidade questionada por parte das entidades de trabalhadores.

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, afirmou que a proposta de regulamentação do governo deve ser enviada apenas no segundo semestre, mas interlocutores já falam que pode ficar para 2024, segundo apurado, diante de outras prioridades da agenda econômica. Procurado, o Ministério do Trabalho não comentou a pesquisa.

RESISTÊNCIA

As empresas também devem encontrar resistência nas negociações diante da posição mais crítica do governo ao papel das plataformas. Em diversas ocasiões, o presidente Lula e o ministro Marinho afirmaram que a situação dos trabalhadores “beira trabalho escravo”.

“O mundo inteiro está com esse desafio pela frente. Esse tipo de trabalho é um trabalho muito diferente do emprego convencional e é muito elástico no tempo e no espaço. A pessoa trabalha no horário que quer, trabalha para duas, três, quatro plataformas ao mesmo tempo”, disse o economista José Pastore, professor da FEA-USP.

Hoje, segundo a pesquisa, 30% dos motoristas e entregadores de aplicativo contribuem com a Previdência por meio de outras ocupações de trabalho e 25% dizem realizar a contribuição como profissional autônomo, em modelos como o MEI (Microempreendedor Individual).

EU ACHO …

TUDO NOVO, DE NOVO

O desejo de mudança move a vida — e a civilização

Este não é um texto de autoajuda, embora possa acabar sendo. Falo de mudança tal como é. De todas as pessoas que já conheci, a que mais se mudou na vida fui eu. Sem contar a época em que vivi no interior (até os 15 anos), na cidade de São Paulo já morei em Santana, Lapa, Alto da Lapa, Pinheiros (dois endereços diferentes), Água Branca, Perdizes, Jardins, Bela Vista, Aclimação, Granja Viana, Pacaembu (dois endereços também), Praça da República, Morumbi, Higienópolis, de novo Pacaembu, Granja Viana mais uma vez, e agora, já sei que não vão se surpreender, estou de mudança da Granja para os Jardins. Quando era mais novo, meus amigos brincavam que eu mudava tanto porque meus pais não pagavam o aluguel. Meia verdade: eles não davam conta dos aumentos, e tínhamos de procurar endereço mais em conta. Depois, descobri uma inesperada vocação para comprar e vender imóveis. Sou um escritor com jeito para corretor. Assim, eu entrava em um apartamento ou casa, arrumava, decorava e vendia comigo lá dentro.

Enquanto outras pessoas enlouquecem diante da palavra mudança, eu sou irrequieto. Mudo, e pronto. Siiimmmmmm… estou mudando novamente. Podem dizer que sou doido, eu assumo. Junto com as asas que me impelem a voar para novos endereços, fui me tornando um acumulador. Sou apaixonado por livros, socorro! Ainda mais depois que surgiram as compras por internet. As estantes estão cheias, há pilhas no chão de toda a casa. Se li todos? Claro que não. Todo mundo que compra muitos livros jamais lê todos. Um fiasco. Mas também há um pouco de tudo. Minha coleção de caveiras, lembranças de toda a vida. É um terror receber objetos de decoração de presente. Eu tenho uma alma clean. Mas goste ou não goste, a gente tem que pendurar o mimo. Sempre existirá o dia em que alguém virá em casa com a pergunta: “E aquele vasinho que eu te dei?”. “Está aqui”, respondo com um sorriso e mostro o presente atrás de uma pilha de livros, com risco de cair no chão. Já cheguei a ganhar uma jarra linda, lituana, de minha amiga escritora Marcia Kupstas. Ela avisou: “Se quebrar, é azar pra vida toda”. Agora, cada vez que olho para o presente, tenho um calafrio.

Mesmo assim, já estou encaixotando os livros, com dor na coluna de tanto me debruçar. Pronto para mudar para um apartamento, cuja reforma atrasou na pandemia. Minha casa é linda, com muito verde, na Granja Viana. Mas quem me segura, quando tem novidade?

Acredito que mudar fisicamente é apenas um sintoma de quem tem disposição para mudar na vida. Já tentei vá- rias carreiras, antes de me tornar escritor. Até ator tentei ser, mas era um desastre. Estou prestes a dar um passo, além da mudança de endereço. Meu amigo, o doutor Pedro Andrade, raspou a cabeça. Nunca fui careca. Está me convencendo a imitá-lo. Aguardem.

Desapegar dá uma sensação de liberdade incrível. Aconselho, sempre. Desapegue, mude, descubra alguma coisa nova. A novidade, por si só, já é uma coisa boa.

*** WALCYR CARRASCO

ESTAR BEM

RESPIRAR BEM É REMÉDIO PARA CORPO E MENTE

Realizar exercícios de inspiração e expiração duas vezes ao dia traz benefícios para todo o organismo

A respiração é algo bastante natural para o corpo humano, e muitas vezes nem sequer reparamos que estamos fazendo esse processo, o que é absolutamente normal. Mas você já percebeu que prestar atenção e respirar corretamente pode ser extremamente benéfico para a saúde?

Não é incomum relacionar exercícios de respiração aos mais diversos benefícios no tratamento da mente, controlando ansiedade, medo e até mesmo a depressão. No entanto, esses mesmos exercícios também podem auxiliar no melhor funcionamento do organismo como um todo, como explica a pneumologista Sandra Reis Duarte: “A respiração tem como função básica realizar a troca de oxigênio pelo gás carbônico. Apesar de esse mecanismo ocorrer de forma espontânea, durante boa parte da vida a maioria das pessoas não respira de forma correta – o faz superficialmente, de forma rápida e curta.”

O QUE É RESPIRAR CORRETAMENTE?

Quem ouve falar no assunto em um primeiro momento pode achar estranho, afinal, respirar é algo espontâneo e necessário para todo mundo. No entanto, Rodrigo Peres, fisioterapeuta, explica que as pessoas não respiram corretamente porque não conseguem inspirar pelo nariz e expirar pela boca. “A respiração correta vem do ato de inspirar e expirar em ar ambiente, ou seja, puxar o ar pelo nariz e soltar pela boca. Essa é a mecânica da respiração, e deve ser realizada por todos a partir do nível de entendimento (bebês e crianças pequenas não compreendem exatamente). É claro que a mecânica da respiração ocorre passivamente, a entrada e a saída de ar são automáticas, independentemente da idade, porém algumas pessoas têm alterações que dificultam a respiração e podem proporcionar problemas importantes em diferentes partes do corpo”, explica.

AÇÃO COORDENADA

Segundo a fisioterapeuta Jocimar Martins, o processo é bastante simples, mas depende da função de um sistema complexo. “Respirar demanda uma sincronia entre cérebro, pulmão e coração, para manter os níveis de oxigenação necessários”, explica.

DIFERENTES TÉCNICAS

Adquirir o hábito de usar uma ou mais técnicos respiratórias diariamente ajuda a descobrir uma vida melhor, mais calma e com muito mais saúde. Segundo Mariana Vieira, sócia-diretora do Roma Instituto de Desenvolvimento Humano, os técnicos de respiração são extremamente benéficos para controlar a ansiedade e também funcionam muito bem para o organismo.

“Elas ativam o sistema nervoso e, consequentemente, todo o corpo, então os benefícios são direcionados para cada um dos nossos sistemas”, explica. Confira a seguir dois tipos de respiração propostos pela terapeuta:

RESPIRAÇÃO 1X4:2

Você vai inspirar por um tempo (3, 4, 5 ou quantos segundos achar mais confortável), depois vai multiplicar esses segundos por 4, o resultado será o período pelo qual você deve segurar a respiração. Depois, divida o tempo de inspiração por 2, e o resultado será o quanto você vai expirar.

Por exemplo: você pode inspirar por 3 segundos, segurar o ar por 12 segundos e soltar por 6 segundos. E temos dois pontos de atenção para que esse exercício tenha efeito:

1) conte cada segundo mentalizando 1.001, 1.002, 1.003 (mil e um, mil e dois. mil e três etc.), para que realmente dê o tempo certo de cada segundo;

2) quando for expirar, abra bem a boca, para que o ar saia totalmente do seu corpo e, com ele, toda a tensão.

RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA

Para entender essa respiração em específico, pense nos bebês como modelos. Basta olhar a barriga deles e perceber como se respira verdadeiramente. Mas, como já se passaram alguns bons anos desde a sua fase de criança, para treinar você pode colocar a palma da mão em cima do umbigo e, na hora de inspirar (puxar o ar pelo nariz), imaginar que ela vai tocar o teto. Ou seja, inspire fazendo o que comumente chamamos de “barrigão”. E, ao expirar (soltar o ar), sinta a sua mão baixando. Repita diversas vezes, até se sentir mais leve e calmo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SUBNOTIFICADA, DEPRESSÃO PÓS-PARTO TEM NOVAS TERAPIAS

Pouco pesquisada e muitas vezes não tratada, a condição começa, finalmente, a ganhar reconhecimento e medicamentos específicos

Nos últimos anos, as lutas com a saúde mental se tornaram a principal causa de mortalidade materna nos Estados Unidos, principalmente devido a suicídios e overdoses de drogas. Estima-se que uma em cada oito novas mães sofra de depressão pós-parto, e algumas pesquisas sugerem que a prevalência subiu para uma em cada três durante os primeiros momentos da pandemia.

No entanto, cerca de metade das mulheres que sofrem pela sua saúde mental após a gravidez não recebem tratamento. As barreiras aos cuidados incluem a falta de conhecimento sobre sintomas e tratamentos, incapacidade de acesso a recursos e estigma.

A depressão pós-parto tem sido historicamente subnotificada e pouco pesquisada, mas o reconhecimento da condição está finalmente crescendo. Como resultado, há mais opções de tratamento disponíveis do que nunca, incluindo modelos terapêuticos inovadores e pelo menos um novo medicamento.

Muitas mulheres experimentam mudanças de humor nos dias e semanas após o parto por causa das dramáticas mudanças hormonais que ocorrem. Às vezes chamados de “baby blues”, os sintomas incluem tristeza, ansiedade, choro e sensação de sobrecarga – e eles geralmente desaparecem dentro de uma ou duas semanas.

As novas mães sentem que estão em uma montanha russa hormonal porque realmente estão, explica Samantha Meltzer-Brody, presidente do departamento de psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte, que ajudou a fundar a unidade de internação de psiquiatria perinatal da universidade – a primeira dos EUA:

“Isso acontece com todas as pessoas que dão à luz e é considerado uma parte normal da transição da gravidez para o puerpério”.

A depressão pós-parto é diferente. É um episódio depressivo que dura pelo menos duas semanas e começa durante o ano após o nascimento, surgindo geralmente nas primeiras semanas.

Os critérios incluem mau humor persistente, baixa energia, sentimentos de inutilidade ou culpa, pensamentos suicidas e perda de interesse em coisas que antes eram agradáveis.

A condição é tipicamente identificada por meio de um questionário conhecido como Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo, que é idealmente (mas nem sempre) administrado na visita pós-parto de seis semanas ao obstetra. Os pediatras também são encorajados a perguntar sobre a depressão pós-parto porque eles veem a família com mais frequência no ano após o nascimento.

Os fatores de risco incluem um histórico de depressão, uma experiência traumática de parto e falta de apoio social, diz Latoya Frolov, psiquiatra perinatal do Southwestern Medical Center da Universidade do Texas.

A depressão pós-parto pode afetar não só a saúde da mãe, mas também a do bebê. Estudos mostram que bebês nascidos de mães deprimidas ganham menos peso e têm mais doenças e atrasos no desenvolvimento. Assim, o tratamento oportuno é importante.

TRATAMENTO

O tratamento que uma mulher recebe deve depender de sua pontuação na Escala de Edimburgo, mas muitas vezes não há acompanhamento, seja porque recursos de saúde mental adequados não estão disponíveis ou porque ela não pode acessá-los.

É difícil ir a uma consulta quando você está sobrecarregada, exausta e deprimida, especialmente se não tiver transporte fácil ou creche.

“Quando marcam uma consulta comigo fico muito feliz em vê-las em minha clínica, porque sei que há muita coisa envolvida”, diz Frolov. Se for descoberto que uma mulher tem depressão leve a moderada, ela deve ser encaminhada rapidamente para algum tipo de terapia.

Além da terapia individual, a de grupo é frequentemente recomendada para novas mães que estão passando por um episódio depressivo, e pode ser uma das intervenções mais poderosas, segundo Paige Bellenbaum, assistente social e diretora de uma clínica em Nova York que oferece terapia intensiva para mulheres com depressão pós-parto:

“É o apoio que as mulheres oferecem umas às outras que as ajuda a se sentirem menos sozinhas nessa jornada realmente desafiadora”.

Para casos de moderados a graves, os especialistas geralmente recomendam medicamentos – mais comumente inibidores seletivos de recaptação de serotonina, ou ISRS. Há pesquisas limitadas testando especificamente ISRS para depressão pós-parto, mas uma meta-análise avaliando seis estudos indicou que pouco menos da metade das mulheres que os tomam observaram uma melhora.

Muitos médicos temem que esses medicamentos não sejam seguros para mulheres grávidas ou amamentando, mas Frolov diz que os riscos são pequenos, especialmente comparados aos associados à depressão pós-parto:

“Eu sempre encorajo os obstetras a tratarem a depressão pós-parto. Diagnosticar não é o suficiente”.

O primeiro medicamento específico para depressão pós-parto já foi aprovado nos EUA e funciona de maneira diferente dos ISRS. O tratamento é feito com a versão sintética de um hormônio esteroide chamado alopregnanolona, que causa uma redução significativa nos níveis de depressão em cerca de 70% das mulheres, em apenas 24 horas. O dificultador é que deve ser administrado em um hospital por via intravenosa por 60 horas seguidas, o que torna o acesso a ela extremamente difícil.

Os especialistas estão otimistas de que um medicamento de ação rápida relacionado, administrado em forma de pílula, possa estar disponível em breve. A droga está sob revisão da Food and Drug Administration (FDA). Talvez ainda mais importante do que os novos medicamentos seja o fato de que a comunidade médica e científica está investindo em pesquisas sobre o problema.

“O campo da saúde mental materna está finalmente começando a ser importante”, diz Bellenbaum.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

MUITO ALÉM DA FERTILIDADE

Atenção aos ovários: o órgão exerce papel importante na produção dos hormônios responsáveis pela saúde feminina desde a primeira menstruação

“Eu penso muito sobre o quanto a mulher passa a ser mais invisível após o fim da fertilidade. É claro que existe uma função fisiológica que é essencial, mas a gente também precisa começar a refletir como um órgão do nosso corpo faz com que a gente seja definida como ser humano”, pontua a escritora Clarissa Wolff, de 32 anos. Há oito anos ela foi diagnosticada com câncer de ovário e teve de retirar o órgão e o útero no tratamento. A verdade é que não paramos muito para pensar na saúde dos nossos órgãos a não ser quando surge algum problema. Mas, para as mulheres, dar uma atenção especial ao ovário pode ser algo importante a se fazer. Especialmente porque ele cuida de duas funções importantíssimas para o corpo: fertilidade e produção hormonal. “A ideia de que o ciclo menstrual é um ciclo que existe para que a mulher possa procriar é uma visão reducionista, extremamente machista e patriarcal”, explica a ginecologista Samyra Coutrim.

A menstruação só ocorre caso não haja uma fecundação do óvulo. Mas a ovulação é justamente uma das funções mais importantes do ciclo. “A partir da ovulação as mulheres produzem os seus hormônios sexuais, os quais têm atividade em várias estruturas do corpo, porque temos receptores para esses hormônios no cérebro, nos ossos, nos músculos, na tireoide, nas mamas. O que é um atestado de que eles são necessários para desenvolvimento e funcionamento pleno de todo o organismo feminino e não só do sistema reprodutor”, completa a médica.

Clarissa conta que nunca teve a maternidade como objetivo de vida. “Tenho endometriose diagnosticada desde que comecei a menstruar, aos 13 anos.

Quando exames mostraram a possibilidade de cisto hemorrágico no ovário, fiz uma videolaparoscopia e descobri o câncer”, diz. Na época, foi oferecida a possibilidade de congelar óvulos, porém ela recusou. Com a retirada dos ovários, ela entrou em menopausa precoce que mudou sua libido, pele e seu peso corporal. “É muito doido como uma coisa simples como o ovário regula nossa vida.” A produção contínua de hormônios afeta duas principais estruturas do corpo: o cérebro (mais especificamente a hipófise) e os ovários. Enquanto os hormônios FSH (o hormônio folículo estimulante) e o LH (o hormônio luteinizante) estão relacionados com a fertilidade, o estradiol (ou estrogênio), a progesterona e a testosterona estão ligadas com outras áreas da saúde da mulher, como o humor, o comportamento e as mudanças físicas.

“O ovário dá o tom para a nossa saúde graças à produção de hormônios, principalmente o estradiol. Por exemplo, existe um risco mais baixo de doenças cardiovasculares, enfarte e AVC na mulher antes da menopausa do que depois, porque esses hormônios fazem uma proteção. Já a progesterona é importante para a vida reprodutiva e para regularização do ciclo menstrual; a testosterona tem uma ação do ponto de vista cognitivo, na massa muscular e de libido – não só relacionado ao desejo sexual, mas esse prazer pela vida”, diz a endocrinologista Ana Priscila Soggia.

MENSTRUAÇÃO

Até a menarca – a primeira menstruação –, o ovário não tem uma presença muito marcada. A produção hormonal que chega com a menstruação faz as meninas pararem de crescer. Daí para frente, sua influência é constante.

“Vivemos em uma cultura de não escutar o nosso corpo. Desde a adolescência, tratamos a questão menstrual como algo ruim, que tem de ser higieniza- do, que vem com cólica, com TPM, mas não trazemos a beleza do corpo da mulher”, explica Ana Priscila. Se a produção de hormônios afeta todo corpo feminino, o ciclo menstrual é um avaliador de saúde. O estresse, a deficiência de nutrientes, a privação de sono podem ter efeitos no ciclo menstrual, mas se tratamos o fenômeno com distância e inibidores (como as pílulas anticoncepcionais), podemos perder esse acesso.

“Os gametas e os neurônios são as células mais sensíveis do organismo. Isso significa que tudo que existe de estresse oxidativo, que é uma espécie de interferência metabólica que pode afetar as células, as mais afetadas serão as células mais sensíveis”, avisa Samyra. Ou seja, sea pessoa tem um estilo de vida com alimentação inflamatória, estresse e ingestão frequente de bebidas alcoólicas, isso vai afetar o corpo todo, mas principalmente as células mais sensíveis. Assim, a melhora da qualidade de vida está intimamente ligada à salubridade das células.

ALIMENTAÇÃO

“A alimentação impacta de forma direta a saúde da mulher, pois tem o poder de mexer nos níveis hormonais. Se priorizarmos alimentos naturais, como frutas, legumes e verduras, e evitarmos os industrializados e processados, que podem interferir de forma negativa nos hormônios, estamos falando em dieta funcional para a saúde hormonal”, ressalta a nutricionista Carol Faria.

Alimentos industrializados, com muita gordura, são considerados inflamatórios, enquanto uma alimentação natural pode ter o poder anti-inflamatório e antioxidante, agindo de forma positiva no ciclo menstrual e podendo até diminuir cólicas e cistos. “Embora ninguém saiba exatamente porque as mulheres têm ovários policísticos, existe a questão inflamatória como base. Assim, atividade física regular, controle de peso (especialmente da gordura visceral) e uma alimentação anti-inflamatória com alimentos ricos em vitamina E, enzima, podem sim influenciar”, afirma a endocrinologista.

Tanto a síndrome do ovário policístico quanto a endometriose têm uma relação com o estrogênio, que é um hormônio inflamatório e que tende a ter níveis mais elevados em mulheres que cultivam hábitos não saudáveis, ensina Samyra. “Essas mesmas pessoas tendem a ter o funcionamento intestinal um pouco pior. Isso faz com que elas produzam menos serotonina, hormônio do bem-estar e analgésico natural, e sintam mais dores”, explica.

De modo geral, é bom prezar por folhas verde-escuras, alimentos vermelhos (como morango, beterraba, tomate), frutas cítricas, temperos naturais e azeite. Além de evitar o excesso de açúcar, sal, gordura e controlar o consumo de carboidratos, dando preferência aos carboidratos complexos, como batata-doce, grão-de-bico e cenoura.

É importante lembrar que doenças como ovário policístico, endometriose e questões de fertilidade devem ser tratadas por um médico específico, mas existe um papel com que a própria mulher pode se empenhar durante esse tratamento: cuidado com a alimentação, a diminuição da gordura inflamatória e a melhora de hábitos.

“Estamos falando de envelhecer com qualidade no contexto orgânico, não estético. E quando eu tenho sono de qualidade, me exercito regularmente, não faço restrição de nutrientes, mantenho bons níveis de colesterol no sangue e não me submeto a grandes estresses, tudo isso vai diminuir a minha produção de radicais livres, garantindo uma melhora para o meu corpo e, consequentemente, para minhas células”, orienta Samyra.

RESERVA FÉRTIL

Foi mudando hábitos que a escritora norte-americana e especialista em biologia molecular e bioquímica Rebecca Fett preparou seu corpo para a gravidez depois da fertilização in vitro.

“Comecei a colocar em prática tudo o que aprendi. Melhorei minha alimentação, cortando carboidratos refinados (para baixar a insulina, que comprovadamente afeta a qualidade dos óvulos), tomando suplementos diários e adotando medidas para limitar minha exposição a toxinas rotineiras, como trocar plásticos por vidro e comprar produtos de limpeza sem perfume”, explica Rebeca em seu livro Tudo Começa com o Óvulo, da editora Sextante.

Além da alimentação, Rebecca passou a priorizar atividades que lhe traziam alegria. “Vale a pena encontrar estratégias para ajudar a gerenciar o estresse e a ansiedade durante a infertilidade, mesmo que apenas para seus próprios benefícios de saúde mental”, recorda.

Apesar de já ter sido mãe de dois filhos, a influenciadora Tarine Gulusian, de 36 anos, sempre sonhou em ter uma maternidade tranquila. “As minhas duas primeiras gestações tiveram histórias um pouco conturbadas”, avalia. “Sempre fiquei com uma falta de ter curtido esse período da gravidez. Então comecei a estudar sobre fertilização in vitro.”

Para alcançar esse sonho, Tarine mudou alimentação e estilo de vida, além do controle emocional. “Eu não desejo o processo para ninguém. Precisei tomar muito hormônio, o que piorou a questão emocional e me deixou muito inchada. Engordei 30 kg”, declara.

Além disso, Tarine passou pelo processo durante a pandemia, longe de amigos e familiares que poderiam dar um suporte emocional, especialmente depois que as primeiras tentativas não funcionaram. “Você se sente a pior pessoa do mundo, um lixo. Foi horrível essa pressão que eu acabei me colocando, porque eu expus minha vida (nas redes sociais)”, lembra.

Foi na terceira tentativa que ela descobriu que estava grávida de Bless, hoje com um ano. “A minha geração cresceu com o pensamento de que sucesso é crescer, casar, ter marido. Mas eu estou muito orgulhosa da minha trajetória realizada pelos meus filhos”, garante.

Diferentemente dos homens, as mulheres já nascem com uma reserva fértil. “A gente já começa a perder nossa reserva ovariana antes mesmo de nascer. Nosso pico de quantidade de óvulos é quando temos por volta de cinco meses na barriga da mãe. Quando nascemos, já reduzimos em mais de 4 milhões de óvulos. E seguimos, depois, com a perda mensal de óvulos. Todas elas são irreversíveis”, informa a médica Camylla Silva, especialista em fertilidade e reprodução humana.

CONGELAMENTO DE ÓVULOS

Assim, o congelamento de óvulos deu às mulheres algo que a própria natureza não pode garantir: tempo. De acordo com dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), nos últimos três anos foram realizados no Brasil uma média anual de 10.680 ciclos de coleta de óvulos – uma mulher pode fazer mais de um ciclo. Todo o processo consiste em uma bateria de exames, injeção de hormônios e retirada dos óvulos. Idealmente, ele é feito até os 35 anos, de acordo com o Conselho Federal de Medicina. “Recomendamos que a mulher que deseja gestar no futuro faça o exame antimulleriano aos 30 anos. Assim, podemos ver a reserva fértil da mulher e quantificar a quantidade de folículos disponíveis”, indica a endocrinologista

ATENÇÃO À SAÚDE DOS OVÁRIOS

DOR

Dor pélvica durante ou fora da relação sexual devem ser investigadas. Podem ter relação com endometriose, síndrome do ovário policístico e inflamação no ovário.

EXAMES

As alterações ovarianas são silenciosas e podem não trazer sintomas. Por isso, mantenha seus exames em dia. Caso o ciclo menstrual seja muito mais curto ou longo que o normal, é importante verificar a causa. Aumento do volume abdominal, perda de peso, febre inexplicada também são sinais de alerta.

PELE

Aumento de pelos, acne e queda de cabelo podem ser sintomas da síndrome de ovários policísticos e outras patologias ovarianas.

OUTROS OLHARES

MAIS POBRES QUEREM TRABALHAR E NÃO CONSEGUEM

Entre os 10% mais vulneráveis da população, taxa de ocupação no brasil caiu de 54%, em 2001, para 29%, em 2022

No início deste século, a pobreza no Brasil tinha um perfil: éramos um país onde a maioria da população vulnerável estava inserida no mercado de trabalho. O retrato da pobreza era o de trabalhadores pobres. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, em 2001, a taxa de ocupação dos brasileiros entre os 10% mais vulneráveis era de 54%. Dá-se o nome de taxa de ocupação à razão entre a população trabalhando e a população economicamente ativa.

Naquele momento, os mais vulneráveis trabalhavam mais de 40 horas por semana, na informalidade, em péssimas condições de trabalho, tinham baixa remuneração e pouca produtividade. Provavelmente as condições de saúde física desses trabalhadores, em razão da sobrecarga, não eram as melhores.

O desafio de política pública para diminuir a pobreza era tornar o trabalho digno: melhorar as condições de trabalho, combater a informalidade, aumentar a produtividade e a remuneração de um grupo de pessoas vulneráveis que majoritariamente estava inserido no mercado de trabalho. Vinte anos depois, o retrato da pobreza no Brasil mudou. Entre os 10% mais pobres, saímos de uma taxa de ocupação de 54%, em 2001, para uma de 29%, em 2022, metade do que tínhamos há 21 anos. Em outras palavras, os mais pobres estão fora do mercado. O novo perfil da pobreza é diferente. O retrato é de um grupo de pessoas em busca de trabalho e que não conseguem se inserir há alguns anos. Depois de anos em busca de trabalho voltando para casa sem sucesso, provavelmente as condições de saúde mental dessa população devem ter se agravado.

Segundo o IBGE, entre os 10% mais pobres que querem trabalhar, 64% não estão plenamente ocupados. Os mais vulneráveis querem voltar ao trabalho e não conseguem.

O desafio para política púbica, agora, envolve buscar ativamente essas pessoas excluídas há algum tempo e incorporá-las de volta ao mercado de trabalho.

Concomitante a essa inclusão, a política pública precisa retomar a agenda anterior, de melhoria da condição de trabalho e da produtividade. Precisamos incluir e tornar digno o trabalho dos mais pobres.

Muitas são as hipóteses, não testadas, sobre as causas do novo retrato de exclusão do mercado de trabalho. Aumento do salário reserva, aumento do salário mínimo e mudanças tecnológicas são as principais em estudo. Todas as três tiveram avanços importantes em 2023, o que provavelmente acentua a tendência de exclusão em curso. O problema urge de uma resposta do tamanho da sua gravidade, e, quanto mais ele se prolongar, mais difícil se torna a inclusão ao trabalho. De acordo com o artigo 6º da nossa Constituição, o trabalho digno é um direito social, assim como saúde, educação, entre outros. A inclusão ao trabalho é um direito e, portanto, um fim em si mesmo. A transferência de renda aos mais pobres por si só importa, mas está longe de ser suficiente: os brasileiros mais pobres não só têm o direito mas estão dizendo que querem trabalhar. Precisamos mudar esse retrato.

LAURA MACHADO – Professora no Insper e ex-secretária de desenvolvimento social do Estado de São Paulo

GESTÃO E CARREIRA

VOLTA AO ESCRITÓRIO TRAVA EM DEMANDA DO TRABALHADOR PELO MODELO HÍBRIDO

7 em cada 10 funcionários querem manter mescla entre casa e presencial, aponta levantamento

O avanço na cobertura vacinal e o controle da pandemia, sobretudo com o fim da emergência de saúde decretado neste mês pela OMS (Organização Mundial de Saúde), pareciam um presságio de volta massiva ao escritório.

No atual momento, porém, especialistas entendem que as empresas até gostariam de um retorno completo ao presencial, mas vão precisar buscar um equilíbrio que não imponha a volta da noite para o dia.

Levantamento da Mercer Brasil, de novembro, aponta que 76% das empresas ainda se sentem inseguras quanto à perda de produtividade no trabalho híbrido ou totalmente remoto, 66% reclamam de excesso de reuniões, e 51% falam que é difícil acompanhar profissionais iniciantes.

Os dados também mostram que 7 de cada 10 funcionários gostariam de manter o trabalho híbrido, uma proporção semelhante de líderes prefere ter mais pessoas no escritório, diz Antônio Salvador, diretor-executivo de carreira da Mercer Brasil. “O trabalhador nem fala mais de ficar todos os dias em casa, mas também não quer perder suas conquistas.”

Para Salvador, há pelo menos um ano não é mais o medo de ficar doente que faz o empregado preferir evitar a volta ao presencial: ele se acostumou a poder ficar mais com os filhos e evitar perder horas com deslocamento.

O levantamento, no entanto, também mostra que 61% das empresas não perguntaram aos funcionários o modelo de trabalho que eles preferiam.

Esse é um sentimento, diz ele, compartilhado tanto por funcionários mais acostumados a trabalhar usando tecnologia, como as áreas de TI da empresa, quanto pelo executivo que se mudou com a família para o interior.

“Não adianta pressionar para ir à empresa e ter reuniões por Zoom. As pessoas sentem falta do convívio e do aprendizado in loco, mas precisam ver sentido em sair de casa e pegar trânsito. É o momento de ressignificar a ida ao escritório.”

A Mercer entrevistou 365 empresas (69% de São Paulo, 15% dos demais estados do Sudeste, 12% do Sul, 2% do Centro-Oeste e 2% do Nordeste) em novembro, de 18 diferentes setores, sendo 37% do segmento bancário, manufatureiro e de serviços não financeiros.

Trabalhando de casa, a auditora Ayra Sehenem, 24, diz que trocaria de emprego para continuar no modelo remoto. “Moro em Parelheiros [zona sul de São Paulo] e trabalho com auditoria no ambiente de TI, gastaria pelo menos três horas do dia em transporte. Em casa, ganho tempo e começo o dia mais disposta”, disse, em uma enquete sobre o tema.

O analista de sistemas Brunno Campos, 33, toparia trocar de emprego mesmo por um salário menor, caso pudesse permanecer em casa. “Os custos rotineiros na rua são muito maiores do que em casa”, relatou o curitibano, que gasta cerca de quatro horas por dia com deslocamento e preparo para o trabalho presencial.

Estudo a partir de diferentes sondagens feito em novembro por pesquisadores do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) e divulgado no início do ano aponta que a proporção de empresas em trabalho total ou parcialmente remoto caiu de 57,5%, no fim de 2021, para 32,7%, um ano depois.

Em 2021, os colaboradores trabalhavam, em média, 3,1 dias em home office, e a perspectiva era de redução para 1,7 dia, com o fim da pandemia. Um ano depois, o tempo em casa continuava em 3 dias. Ao mesmo tempo, as empresas reportaram 23% de aumento médio na produtividade em 2022, ante 20,7% em 2021.

“É natural vermos as empresas querendo sair do home office e voltar ao modelo anterior, já que foi necessário um período grande de adaptação na pandemia. Só que mesmo esses empregadores parecem reconhecer que é necessário negociar”, diz Stefano Pacini, um dos autores do trabalho.

O pesquisador ressalta que o home office predomina nos salários mais altos. No grupo de renda até R$ 2.100, 82,8% estavam em trabalho totalmente presencial em outubro; 50,4% dos que ganham mais de R$ 9.600 trabalhavam de casa ao menos um dia por semana.

O FGV Ibre entrevistou, de 1º a 27 de outubro, 4.000 empresas com perguntas sobre os seguintes temas: adoção do home office, impacto na produtividade da empresa e manutenção do trabalho remoto.

Entre alguns dos maiores empregadores do Brasil, segundo a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), a busca por equilíbrio também parece presente. Em maio de 2022, perguntou como Itaú Unibanco, Correios, Banco do Brasil e Caixa administravam a rotina de trabalho.

Questionadas novamente sobre o tema, as empresas continuam mantendo parte da equipe em modelos menos rígidos de trabalho.

No primeiro trimestre deste ano, 43% dos 101 mil colaboradores do Itaú Unibanco estavam no presencial, 21%, no híbrido, e 36%, no flexível. Durante a pandemia, o banco chegou a ter metade de sua equipe atuando remotamente.

Segundo a instituição, todas as reuniões ocorrem de forma híbrida, para que todos possam participar. “Os modelos de trabalho foram definidos depois da realização de um projeto-piloto para a retomada gradual do trabalho presencial nos escritórios, iniciado em 2021”, diz o banco.

Hoje, os Correios têm 1.519 empregados em teletrabalho (1,7% do total). Segundo a empresa, a modalidade foi implementada em 2019, antes da pandemia. Houve uma pequena redução ante maio de 2022: eram 1.770 (2% do total). No Banco do Brasil, são mais de 21 mil funcionários como público-alvo do trabalho remoto, do total de 85,5 mil da empresa. Em média, 5.300 funcionários utilizam diariamente essa nova forma de trabalho. Em maio do ano passado, eram cerca de 3.500 alternando entre remoto e presencial.

“Essa flexibilidade de trabalho, que se mostra vantajosa, é gerida por uma equipe especializada, que tem realizado estudos contínuos, visando acompanhar as melhores práticas e a legislação e aperfeiçoar os modelos e a experiência do home office”, diz o banco.

A Caixa, por sua vez, tem 9.000 empregados trabalhando em modelo remoto ou híbrido. Na pandemia, chegou a ter mais de 56 mil empregados (35,6% do total) em casa.

Após as idas e vindas na pandemia, os especialistas ressaltam que as empresas se sentem mais seguras para planejar seus modelos de trabalho. Também nos EUA, alguns exemplos recentes apontam que o cenário é de adaptação.

A gestora BlackRock, com 20 mil funcionários em mais de 30 países, vai exigir que suas equipes voltem ao escritório ao menos quatro dias por semana a partir de setembro, segundo o Financial Times.

Ao mesmo tempo, reportagem do Wall Street Journal mostra que a volta ao escritório nos EUA empacou, após a taxa média de ocupação ultrapassar 50%, no início do ano, pela primeira vez desde a pandemia. Permitem que o funcionário trabalhe parte da semana de casa 58% das empresas.

Para Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), é importante que o empregador mantenha uma escuta ativa e abandone decisões tomadas de cima para baixo. “Ter mais ou menos dias remotos vai muito da cultura da empresa e do seu escopo de atuação dela. Na pandemia, muitos contratados moravam em cidades e estados diferentes, o que permitiu um aumento de diversidade. No momento atual, é preciso olhar para dentro e achar o que é melhor para a empresa.”

Para o empregado, olhar para dentro também é importante antes de optar por trocar de emprego para seguir trabalhado de casa, diz. O funcionário deve entender o seu perfil, fazer uma análise honesta de produtividade e disciplina e avaliar se faz mais sentido ter flexibilidade para produzir.

EU ACHO …

MAMÃE JÁ DIZIA

Às vezes, ao abrirmos a boca, é nossa mãe que sai dela

Não há mãe que não dê conselhos, e não há filho que, muitas vezes, não revire os olhos ao ouvi-los. Por outro lado, com certeza já nos pegamos admitindo, em alguns casos, que “mamãe tinha razão”. Essa é uma verdade sem fronteiras. Nos Estados Unidos, onde estive para participar de um fórum de investimentos, o Dia das Mães foi celebrado no do- mingo passado, como no Brasil. Às vésperas da data, o The New York Times perguntou aos leitores: “Em que sua mãe estava certa?”. A intenção do jornal americano era a de publicar as respostas como uma homenagem à sabedoria e ao carinho contidos num conselho materno.

Quando li sobre esse desafio e pensei na minha mãe, a primeira coisa que me veio à mente foi mais engraçada do que exatamente útil. Ela dizia que, para um filho nascer, era preciso que a mulher se pendurasse na porta do armário. Um alerta compreensível se dito por alguém que presenciou crianças virem à luz pelas mãos de parteiras, e não em leitos cirúrgicos. Assim como muda a maneira como chegamos ao mundo, mudam os valores e os costumes que o regem. Por isso, muitas vezes é difícil uma prescrição sobreviver ao tempo. Pensamentos antigos, repetidos de geração em geração, deixam de ser verdadeiros.

Como toda mãe, dona Floripes se emocionava com as conquistas da prole. Muitas vezes não entendia nossos feitos profissionais e financeiros ou nosso orgulho por vencer desafios. Mas para ela bastava que estivéssemos felizes. Filha de sua época, ela viveu voltada para o cuidado do lar, atividade em que era muito talentosa. Intuitivamente preparava as filhas para seguirem esse caminho, e vários ditos do seu repertório refletiam sobre a posição que a mulher tinha na sociedade. Alguns já, então, tinham pouco sentido para mim; outros, passados os anos, se revelaram sábios.

Entre as convicções que expressava, estava a de que uma mulher nunca devia dizer tudo ao marido. É uma máxima que permite diferentes interpretações, todas um pouco fora de moda. Estaria ela dizendo que o papel da esposa era manter a harmonia do lar nem que fosse por meio de pequenas omissões? Ou talvez que fosse preciso certa esperteza para gerir os recursos financeiros do marido, ajeitando as contas aqui e ali, a fim de evitar desgastes? Outro pensamento comum e que caiu em desuso era o de associar peso e saúde. “Come, filha, senão você não fica forte”, dizia mamãe, assim como grande parte das genitoras de antigamente. O aspecto robusto, fosse nos bebês ou nos mais crescidos, era visto como prova de infância privilegiada. Mesmo adulta e acima do peso, aos olhos da minha mãe eu estava sempre ótima, ou demasiadamente magra. Nisso ela estava errada.

É bom deixar que a poeira se assente sobre as ideias que não cabem mais. Mas outras tantas resistem às mudanças de hábitos. Por exemplo, duvido que mesmo uma jovem mãe do século XXI deixe o filho sair de casa sem falar “leve um casaquinho”. Acho até que, para quem já não tem a mãe por perto, repetir suas palavras é uma forma de trazê-la de volta à vida um pouquinho. Como se diz, às vezes, quando abrimos a boca, é nossa mãe que sai dela. Se a sua ainda está ao seu lado, não espere até o próximo Dia das Mães para repetir, em alto e bom som, quanto é bom tê-la por perto. Concordando com seus conselhos ou não.

*** LUCÍLIA DINIZ

ESTAR BEM

7 DICAS PARA COMEÇAR A CORRER

A atividade fortalece o coração, aumenta a imunidade e ainda ajuda a manter o equilíbrio mental

NO INÍCIO

A postura é muito importante para iniciar a prática da corrida. Comece caminhando com passos curtos e em ritmo lento. Mantenha os cotovelos flexionados em 90 graus, as mãos relaxadas e a postura ereta. Continue com essa postura e sempre caminhe olhando para a frente.

RESPIRAÇÃO CORRETA

Para iniciantes, o ideal é começar a se exercitar com caminhada e aumentar o ritmo aos poucos – você vai perceber uma alteração no fluxo de ar. A respiração correta é aquela que começa devagar, pelo nariz, permitindo manter um ritmo tranquilo e mesmo conversar com um amigo durante o exercício.

TÊNIS CERTO

O calçado certo é indispensável no momento das atividades. Por isso, opte pelo conforto e por um bom sistema de amortecimento Especialistas indicam fazer uma avaliação postural para identificar o seu tipo de pisada e, assim, auxiliar na compra de um tênis específico que traga conforto durante a corrida.

AUMENTE O RITMO

Depois da caminhada, o corpo já está aquecido e pronto para acelerar. Continue com a postura ereta e braços flexionado e aumente o ritmo com pisadas fortes e mais rápidas. Nesse momento, a respiração deve ser feita pela boca, para favorecer a cadência e evitar que você se canse muito rápido.

HIDRATAÇÃO E ALIMENTAÇÃO

Não é indicado fazer o treino em jejum! A corrida é uma atividade aeróbica que consome muita energia, portanto, para evitar fraqueza, até duas horas antes da atividade, escolha alimentos que contenham carboidratos de fácil digestão para compor sua refeição. Evite ingerir muita fibra, para não ocasionar desconforto gástrico durante o exercício. A água é um fator muito importante, por isso, hidrate-se antes, durante e depois. Carregue sempre uma garrafa com você!

LOCAL ADEQUADO

O lugar escolhido influencia a prática. Opte por um parque, uma praça ou qualquer local arborizado. Isso aumentará a qualidade do treino e proporcionará bem-estar pelo fato de estar próximo da natureza e poder respirar um ar mais limpo, aumentando o gosto pela atividade. Em momento de adaptação, escolha um lugar que não tenha muita variação de elevação, permitindo explorar e desenvolver os movimentos da corrida, posições de braços, passadas e respiração.

CONFORTO

Existem estudos e tecnologias desenvolvidos para melhorar os tecidos das roupas esportivas, possibilitando aumentar o rendimento. Para ter bons resultados, escolha tecidos sintéticos especiais, como poliéster, poliamida e microfibra, Que prometem boa absorção da umidade e do suor, além de secagem rápida, equilíbrio térmico e proteção contra os raios solares.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ORIGENS DA MENTE

Novas ferramentas permitem enxergar cérebro de fetos e bebês

Muitos dos traços que nos definem — como a língua que falamos e a maneira como nos relacionamos com os outros —remontam, pelo menos em parte, às nossas primeiras experiências. Embora nosso cérebro seja maleável ao longo da vida, a maioria dos neurocientistas concorda que as mudanças que ocorrem no útero e nos primeiros anos de vida são as mais importantes, pois influenciam muito o risco de sofrer de transtornos psiquiátricos e de desenvolvimento. A partir de um minúsculo grupo de células-tronco, o cérebro se torna um órgão complexo de cerca de 100 bilhões de neurônios e trilhões de conexões em apenas nove meses.

“No início da vida, o cérebro ainda está se formando, é como construir a casa, em comparação com apenas terminar o terraço”, diz Claudia Lugo-Candelas, psicóloga clínica da Universidade de Columbia e coautora de um estudo sobre as origens pré-natais de doenças psiquiátricas.

Mas exatamente como esse processo se desenrola e por que às vezes dá errado tem sido um mistério difícil de desvendar porque muitos dos principais eventos não são simples de observar. As primeiras ressonâncias magnéticas do cérebro de bebês e fetos foram feitas no início dos anos 1980, e os médicos usaram essa ferramenta para diagnosticar grandes malformações na estrutura cerebral. Mas as ferramentas de neuroimagem que podem capturar o funcionamento interno do cérebro do bebê em detalhes e espionar a atividade cerebral fetal são muito mais recentes.

Hoje, essa pesquisa, aliada a estudos de longo prazo que acompanham milhares de crianças por anos, oferece aos cientistas novos insights, diz Damien Fair, neurocientista da Universidade de Minnesota que estuda distúrbios do desenvolvimento, como autismo e TDAH.

IRREQUIETOS

Até recentemente, um dos principais problemas era que, ao contrário dos adultos, os fetos e recém-nascidos não ficavam parados nas varreduras cerebrais. Alimentado por líquido amniótico, o feto muda constantemente de posição e os recém-nascidos adoram se contorcer para observar o ambiente. No passado, pesquisadores e médicos tinham que realizar várias varreduras caras e demoradas para obter uma boa imagem. Crianças e mães grávidas às vezes eram sedadas para reduzir o movimento, um método que interrompe a função cerebral e pode representar riscos à saúde.

Mas novas técnicas de imagem e computação que reduzem as distorções causadas pelo movimento — incluindo software desenvolvido por uma empresa cofundada por Fair —tornaram mais fácil obter dados de bebês e fetos. E isso revitalizou o campo de estudo.

Um novo trabalho está começando a revelar como é o desenvolvimento do cérebro e sugere como distúrbios atípicos, como autismo e TDAH, surgem. Em um estudo de 2017, por exemplo, pesquisadores liderados pelo neurocientista pediátrico Moriah Thomason, agora na Universidade de Nova York, usaram ressonância magnética funcional para investigar padrões de comunicação neural entre as regiões cerebrais de 32 fetos. Metade das gestantes tinham alto risco de parto prematuro e 14 dos bebês nasceram prematuros. O nascimento prematuro é um fator de risco conhecido para problemas cognitivos e emocionais. Mas os cientistas acharam difícil determinar se é devido ao trauma de uma parto nessa fase, que geralmente envolve lesão cerebral e privação de oxigênio, ou a diferenças cerebrais preexistentes que começam no útero. O estudo de Thomason forneceu a primeira evidência da segunda possibilidade.

Como fetos, os futuros prematuros escaneados por sua equipe tinham atividade cerebral que sugeria uma comunicação mais fraca entre várias regiões do órgão em comparação com aqueles que nasceram no tempo certo. O mais surpreendente é que os cientistas detectaram comunicação neural prejudicada em redes que eventualmente se tornarão relevantes para a linguagem.

Desde então, pesquisadores encontraram mais evidências de anormalidades cerebrais pré-natais em bebês prematuros. Em 2021, outro grupo descobriu que bebês prematuros tinham menor volume cerebral e menos fluido espinhal ainda no útero. E vários estudos descobriram que as mulheres que dão à luz prematuramente têm altos níveis de inflamação causada por infecções bacterianas ou virais no líquido amniótico e nos tecidos placentários.

INFLAMAÇÕES

As descobertas aumentam a evidência crescente de que eventos inflamatórios durante a gravidez podem alterar o desenvolvimento do cérebro fetal. Estudos de grandes populações, por exemplo, mostraram que as mães que sofreram uma infecção grave durante a gravidez têm um risco ligeiramente aumentado de ter um filho autista, embora ainda não esteja claro se a ocorrência sozinha pode causar autismo.

A pesquisa de Lugo-Candelas se concentra em como o estresse, os eventos da vida, a depressão e a ansiedade vividos na gravidez podem afetar o desenvolvimento inicial do cérebro. Estudos descobriram que um alto nível de ansiedade e depressão materna está associado a um risco duas vezes maior de a criança desenvolver um transtorno mental mais tarde na vida. Isso também significa que existe a possibilidade de intervir antes do que se pensava, diz o especialista.

Mas, como muitos outros fatores de risco na gravidez, não há uma única coisa que cause doenças psiquiátricas ou problemas de desenvolvimento, diz Lugo-Candelas:

Essa complexidade reflete um dos maiores desafios no estudo do cérebro em desenvolvimento: o fato de resultados semelhantes, como autismo ou esquizofrenia, poderem ter muitas causas neurológicas subjacentes. Por exemplo, algumas pessoas com autismo têm maior conectividade entre certas regiões do cérebro, mas outras têm menos. e Fair abordou esse problema identificando o que chama de “impressões digitais a funcionais”, padrões individuais de como diferentes regiões do cérebro se comunicam. Em 2014, ele observou pela primeira vez que essas impressões são surpreendentemente consistentes dentro das famílias, sugerindo que certos tipos de conectividade são pelo menos parcialmente herdados.

Enquanto isso, os estudos de ressonância magnética funcional de Thomason do cérebro fetal sugerem que esses padrões distintos de conectividade surgem no segundo e terceiro trimestres, inclusive nos circuitos que o governam o aprendizado, a memória e a emoção. Ele e outros pesquisadores estão usando neuroimagem para estudar como várias experiências pré-natais —da exposição materna à Covid ao uso de cannabis —afetam a formação desses circuitos.

Com o tempo, as ferramentas de diagnóstico por imagem podem ajudar médicos e pesquisadores a monitorar o desenvolvimento do cérebro e de um bebê, detectar sinais de problemas futuros e desenvolver intervenções e tratamentos para condições como o autismo, diz Fair.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

OMS DESACONSELHA USO DE ADOÇANTES PARA CONTROLE DE PESO

Novas diretrizes alertam para efeitos colaterais a longo prazo e indicam consumo de alimentos sem o produto

Novas diretrizes da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgadas nesta segunda-feira (15) indicam que adoçantes artificiais não devem ser utilizados para substituir o açúcar em dietas para emagrecimento.

O documento, feito com base em uma revisão dos estudos, alerta para a falta de consenso científico sobre a eficácia desses produtos na perda e controle de peso no longo prazo e para a ocorrência de outros efeitos colaterais.

As diretrizes se referem a qualquer composto (natural ou sintético) não-nutritivo, utilizado como adoçante e que não seja classificado como açúcar. Alguns exemplos são aspartame, ciclamato, sacarina, sucralose e stevia.

A OMS alerta para possíveis efeitos indesejados do uso prolongado de adoçantes, como maior risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer em adultos.

O relatório não aponta, porém, que adoçantes artificiais devam ser substituídos por açúcares. A indicação é de que o consumo de alimentos adoçados como um todo seja reduzido, podendo-se recorrer a formas naturais de açúcar, como frutas.

A contraindicação do uso de adoçantes para perda de peso vale para adultos e crianças, com restrição apenas aos que já têm diagnóstico de diabetes pré-existente.

A OMS ressalta que estudos avaliando os impactos do uso de adoçantes na saúde de indivíduos diabéticos foram desconsiderados da análise.

Maria Edna de Melo, endocrinologista da Sbem-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), diz que, apesar de a recomendação não se estender para os chamados açúcares-álcool, como o eritritol e o xilitol, isso não significa que esses compostos sejam as melhores opções. “Não há evidências suficientes ainda para recomendar a utilização desses compostos”, diz.

A profissional indica que o relatório traz uma recomendação direcionada a governos, e que pesa na formulação de políticas públicas que visam reduzir o consumo de alimentos processados, por meio de estratégias como a rotulagem de alimentos.

Em termos pessoais, Melo recomenda que seja feita uma avaliação com um profissional de saúde especializado, responsável por entender qual a melhor alternativa em cada caso.

“Enquanto as evidências científicas são bem definidas com relação aos malefícios do consumo aumentado de açúcar, as evidências [contra o consumo] de adoçantes ainda não são definitivas, como enfatizado no próprio posicionamento”, afirma.

Não há consenso científico sobre os benefícios do adoçante para a saúde. Em 2022, um estudo israelense indicou que o uso de alguns tipos estaria associado a alterações na flora intestinal e teria efeitos semelhantes aos do açúcar no metabolismo. Outra pesquisa, publicada em 2023, associa o uso do eritritrol com o desenvolvimento de problemas cardiovasculares.

Alguns especialistas avaliam que há ainda poucas evidências sobre os efeitos colaterais do uso de adoçantes e que certas ligações, como com o desenvolvimento de câncer, são advindas de estudos antigos e com poucas confirmações em humanos.

No próprio relatório, a OMS classifica a recomendação como condicional e destaca a necessidade de mais evidências e estudos mais robustos.

OUTROS OLHARES

DEPOIS DE UMA DÉCADA, CASAMENTOS HOMOAFETIVOS QUADRUPLICAM NO PAÍS

Cartórios são obrigados a celebrar ato desde maio de 2013; não há lei que regulamente o tema

Há dez anos, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) obrigava cartórios de todo o país a celebrar casamentos homoafetivos. A decisão seguia entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) que, em 2011, havia declarado ser ilegal negar união civil entre pessoas do mesmo sexo.

De lá para cá, o número de casamentos entre homo ou bissexuais brasileiros quadruplicou. Em 2013, primeiro ano de obrigatoriedade nacional, ocorreram 3.700 celebrações. Já em 2022, foram 12.987.

O levantamento é da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, que responde pelos cartórios. No último ano, foram registrados mais de 5 milhões de casamentos no país. Os homoafetivos representaram 0,02%. Até abril deste ano, o Brasil teve 76.430 uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Em média, são realizadas 7.600 celebrações por ano, sendo 56% delas entre pares femininos e 44% entre masculinos.

Antes de o CNJ publicar a resolução e padronizar a atuação das unidades registrais no país em solicitações de conjúgio homoafetivo, cartórios eram obrigados a solicitar autorização judicial para celebrar tais atos.

Vivianne Ferreira, mestre em direito civil e professora na FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que, apesar de a possibilidade de junção legal entre membros da comunidade LGBTQIAP+ dever ser celebrada, a base jurídica a mantê-la ainda é frágil.

“Ela não é fundamentada em lei ou na Constituição, mas em entendimento do STF. Em todo esse período, nosso parlamento foi incapaz de formar maioria para legislar sobre o tema, garantindo maior proteção para a população”, diz ela.

Ferreira não acredita que haja possibilidade de retrocesso, mas pede atenção. “Um Supremo composto por membros mais conservadores poderia alterar a jurisprudência.” O corretor de imóveis Gabriel Negrão, 33, e o jornalista Douglas Picchetti, 34, juntaram escovas de dente em 27 de abril de 2019. Até chegar àquele momento, passaram por alguns desencontros. Moradores de São Paulo, eles se conheceram em uma festa na capital. Era 22 de dezembro de 2012, início de madrugada. Douglas quase não compareceu ao evento, marcara outro compromisso. Por insistência dos amigos, foi.

Gabriel estava lá. Se viram na pista de dança, trocaram olhares e beijos. Perderam-se. Novo encontro aconteceu no fumódromo e conectaram-se no Facebook. Dias depois, começaram a sair. Logo, eram namorados.

Passado algum tempo, resolveram abrir o relacionamento. Tudo muito rápido. Não houve sintonia. Romperam. Um ano e meio depois, às vésperas do Carnaval de 2018, Douglas procurou por Gabriel.

“Saímos na sexta-feira de Carnaval e reatamos”, relatam quase uníssonos. A volta foi de romance avassalador. Gabriel, corajoso, aproveitou seu aniversário daquele ano para pedir Douglas em casamento. Ele, extasiado, aceitou. Por amor. Ainda em 2018, outro casal, ainda mais incipiente, se formava. Em uma tarde de maio daquele ano, Camila e Silvia Veríssimo Guesa se beijavam na avenida Paulista, em São Paulo. “Desde então, não nos largamos”, diz Camila.

Ela, 36, é recreadora infantil, e Silvia, da mesma idade, vendedora. O primeiro encontro foi marcado via plataforma de relacionamento. Seis meses depois, era oficializado o namoro, com aliança e tudo, na Argentina. Em março de 2019, já eram noivas.

Marcaram o casamento para março do ano seguinte, mas a pandemia de Covid-19 o adiou. Então, resolveram passar um tempo juntas – Camila foi para a casa de Silvia.

“Inicialmente para dividir o pacote de internet, que era mais rápido e melhor para trabalhar em home office”, relata a recreadora.

A ideia era compartilhar a cama e a conexão por 15 dias. O isolamento social e o apreço pela companhia uma da outra, no entanto, não as deixaram se afastar.

Em junho daquele ano, celebraram união estável em cerimônia cheia de amigos e familiares, virtualmente. Seus vizinhos foram as testemunhas. Um ano depois, se casaram.

A festança aconteceu em 2022, após imunização de todos. Nela, Camila e Silvia já estavam grávidas de cinco meses via reprodução assistida. Pouco depois, nasceram Maria Fernanda e Benício.

“Casar e ser um casal homossexual é, mais do que uma união, um ato político. Na verdade, existir como casal e resistir é um ato político”, declaram as mulheres.

São Paulo lidera o ranking de celebrações homoafetivas, tendo realizado 38,9%, com quase 30 mil matrimônios. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com 8,6% dos casamentos (6.574) e Minas Gerais, em que houve 6,6% das celebrações (5.062).

Para realizar o casamento civil é necessário que os noivos, acompanhados de duas testemunhas – maiores de 18 anos e com seus documentos de identificação –, compareçam ao cartório de registro civil da região residencial de um dos nubentes para dar entrada na habilitação da união. Os prometidos devem levar certidão de nascimento (se solteiros), de casamento com averbação do divórcio (para os divorciados), de casamento averbada ou de óbito do cônjuge (para os viúvos), além de documento de identidade e comprovante de residência.

GESTÃO E CARREIRA

SER AUTÊNTICO NO TRABALHO PODE SER RUIM, DIZ ESTUDO

Pesquisadores americanos afirmam que nem sempre a autenticidade é igualmente benéfica para todos os contextos

Todo mundo parece estar falando da importância de sempre ser você mesmo com todos. Mas será que isso pega bem no trabalho?

“A moda agora na mídia e nas revistas de negócios é que a autenticidade é ótima, e que os líderes e funcionários deviam ser eles mesmos no trabalho. Mas a autenticidade não é igualmente benéfica para todo mundo em todos os contextos”, disse Sandra Cha, da Universidade Brandeis, principal autora de um artigo publicado no Academy of Management Annals, Being Your True Self at Work: Integrating the Fragmented Research on Authenticity in Organizations (“Sendo seu verdadeiro eu no trabalho: Integrando a pesquisa fragmentada sobre autenticidade às organizações”, em tradução livre).

“A pesquisa corrobora que a autenticidade pode levar a benefícios psicológicos, como tornar as pessoas mais felizes e mais energizadas no trabalho”, disse Sandra, que divide a autoria do artigo com Patrícia Faison Hewlin, da Universidade McGill; Laura Morgan Roberts, da Universidade Georgetown; Brooke Buckman, da Universidade Internacional da Flórida; Hannes Leroy, da Universidade Erasmus; Erica Steckler, da Universidade de Massachusetts Lowell; Kathryn Ostermeier, da Universidade Bryant; e Danielle Cooper, da Universidade do Norte do Texas.

Os autores analisaram centenas de artigos de pesquisa de psicologia e negócios sobre autenticidade publicados desde o fim da década de 1990, incluindo 11 do Academy of Management Journal e seis da Academy of Management Review. Ao descrever a recente “onda de interesse público pela autenticidade”, os autores destacaram que a crença de que as pessoas deveriam ser autênticas existe há milhares de anos, promovida por filósofos, de Sócrates a Jean-Paul Sartre, e por psicólogos como Abraham Maslow.

Para algumas pessoas, a autenticidade também pode melhorar a imagem profissional, os resultados da carreira e a eficácia como líderes. “As pessoas ficam animadas quando conhecem alguém que parece ‘real’. Ou quando têm um líder que parece ser autêntico e direto. Cada vez mais esperamos que as pessoas sejam autênticas no trabalho e usamos a autenticidade como um critério com o qual avaliamos as pessoas”, explicou Sandra.

INCOMPATIBILIDADE

Mas, quando há uma incompatibilidade entre seu verdadeiro eu e as normas em vigor, levar seu verdadeiro eu por completo para o trabalho pode ser difícil e possivelmente ter consequências negativas para sua imagem e carreira, escreveram os autores.

Os autores também citaram pesquisas sobre “identidades desvalorizadas” socialmente e estigmas no lugar de trabalho que podem afetar mulheres, grávidas, minorias raciais e religiosas, funcionários LGBT+, trabalhadores com deficiências e com doenças como HI. “De modo semelhante, expressar identificação étnica de forma mais intensa está associado a avaliações mais negativas das minorias étnicas. Por exemplo, mulheres negras com cabelo afro (natural, sem alterações químicas ou alisado) recebiam avaliações menos favoráveis em termos de domínio e profissionalismo”, escreveram os autores.

“Esperamos que as pessoas fiquem mais conscientes dos desafios e das tensões em torno da autenticidade enfrentadas por um grande número de pessoas. Líderes sensíveis criarão ambientes nos quais as pessoas não precisem pagar esse preço para serem autênticas”, disse Sandra.

EU ACHO …

A VIDA NA MÃO

O cardápio digital veio para ficar: e tudo o que couber no celular

Recentemente, houve uma onda de reclamações na internet contra o QR code. O argumento dos internautas foi que os cardápios deveriam voltar ao papel. Eu sempre me atrapalho nos restaurantes para acessar os cardápios digitais. Em um primeiro momento, concordei com as reclamações. Depois, refleti sobre as vantagens do digital. É sustentável, custa menos, não gasta papel. Aí, fui pensando… Nem dinheiro se usa mais em papel. Se tento pagar com dinheiro físico, o caixa nem tem troco. Pede: “Tem cartão?”. Não é preciso ter o cartão físico. Basta registrá-lo no celular, e pagar por aproximação.

Ninguém imaginaria, nos tempos em que o celular era um caixote, que ele se tornaria cada vez menor e que o universo caberia em seu interior. Aliás, em uma “nuvem” além do mundo físico. Hoje é possível pegar avião, se identificar, mostrar a carteira de trabalho, de motorista, planejar uma viagem, comprar uma casa, pedir comida, conhecer alguém, se apaixonar, e depois terminar o relacionamento. Tudo pelo celular. Sem dizer uma palavra. Basta digitar.

Já se fala em implantes de chips hiperinformados em nossos corpos, como um procedimento que será padrão. Nos chips, todos os dados, inclusive médicos. Discute-se que seria uma maneira de controlar a população. Mas já não somos controlados por algoritmos, inteligência artificial? Eu sinto que sou observado até por… Sim, ele mesmo, o celular. Basta falar ou pesquisar sobre, por exemplo, a Tailândia. Em seguida, surgem mensagens de pacotes turísticos, imagens sugestivas, culinária… da Tailândia. O programa identifica o que posso querer comprar.

A vida toda cabe dentro do celular. Chama-se um táxi pelo aplicativo, paga-se por Pix. Envio mensagens, participo de reuniões on-line. Ainda me espanto com escolas fazendo os estudantes decorarem datas. Não precisa. Mais importante que saber tudo sobre a viagem de Colombo é aprender a pesquisar. Sei que isso é assustador para muita gente. Mas quem se apaixonar por uma área de estudo tem o universo na mão. Basta clicar.

É um mundo lindo, mas inesperado. Em minha infância (confesso que faz tempo), eu jamais imaginaria que existi- ria um aparelho, com todas as possibilidades dessa caixinha mágica. Quem se recorda dos interurbanos mediados por telefonistas? Muita gente nem sabe que existiu, mas era preciso discar, pedir a ligação para outra cidade e, às vezes, esperar horas para que fosse efetuada. Hoje, fala-se com o outro lado do mundo, em segundos.

Mas, se a vida toda cabe no celular, ela também pode sumir. Outro dia, fui pegar um voo. E… acabou a bateria. Todos os meus dados, meu saldo bancário, tudo se tornou inacessível. Pois é. O mundo foi adiante, evoluiu. Mas ainda dependemos da eletricidade.

Tudo pode desaparecer num problema técnico. Por isso não abdico de nossa velha amiga, a memória. Muitas vezes ela falha. Mas também guarda emoções que nenhum projeto tecnológico pode oferecer. Por enquanto.

*** WALCYR CARRASCO

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EMOÇÃO RUIM NÃO TEM DE SER COMBATIDA. A SOLUÇÃO É SABER CONVIVER COM ELA

Pesquisa recente nos EUA aponta: quem sofre ou reage mal a emoções negativas tem mais sintomas de ansiedade e depressão

Ficamos nervosos com uma apresentação de trabalho que se aproxima e lamentamos nossa falta de confiança. Ficamos com raiva de nosso parceiro e depois nos sentimos culpados por nossa impaciência. Nossas emoções, sem dúvida, influenciam nosso bem-estar – mas pesquisas recentes sugerem que a forma como julgamos e reagimos a essas emoções pode nos afetar ainda mais.

Em um estudo publicado em março na revista Emotion, os pesquisadores descobriram que pessoas que habitualmente julgam sentimentos negativos – como tristeza, medo e raiva – como ruins ou inadequados têm mais sintomas de ansiedade e depressão e se sentem menos satisfeitas com suas vidas do que outras que geralmente percebem suas emoções negativas sob uma luz positiva ou neutra.

As descobertas se somam a um crescente corpo de pesquisa que indica que as pessoas se saem melhor quando aceitam suas emoções desagradáveis como apropriadas e saudáveis, em vez de tentar combatê-las ou reprimi-las.

“Muitos de nós temos essa crença implícita de que as emoções em si são ruins, de que vão fazer algo ruim para nós”, disse Iris Mauss, uma psicóloga social que estuda emoções na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e coautora do novo estudo. Mas na maioria das vezes, ela acrescenta, “as emoções não nos prejudicam. Na verdade, é o julgamento que causa, em última análise, o sofrimento”.

Quando percebemos nossas emoções como ruins, acumulamos mais sentimentos ruins sobre os já existentes, o que nos deixa com uma sensação ainda pior, alerta Emily Willroth, psicóloga da Universidade de Washington, em St. Louis, e também coautora do novo estudo. É provável que aumente tanto a intensidade de nossos sentimentos negativos quanto a quantidade de tempo que sofremos com eles. Em vez de ter um sentimento que se esvai naturalmente depois de alguns minutos, “você pode ficar ruminando sobre isso por uma hora inteira, depois”, lembrou ela.

Evitar ou suprimir sentimentos também pode ser contraproducente. Em um pequeno ensaio clínico, os pesquisadores pediram às pessoas que colocassem uma das mãos em um local com água gelada e aceitassem seus sentimentos de dor ou os reprimissem. Aqueles que tentaram suprimir seus sentimentos relataram mais dor e não aguentaram a água gelada por tanto tempo quanto aqueles que aceitaram seu desconforto. Outra pesquisa ligou a supressão emocional a um risco aumentado de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

EVITAR AS EMOÇÕES NADA RESOLVE

“Quando resistimos, aquilo persiste”, reforçou Amanda Shallcross, médica naturopata que estuda regulação emocional na Cleveland Clinic. Quando você evita suas emoções, “está fadado a experimentar uma saúde mental e física negativa a longo prazo”.

A pesquisa também sugere que, se você tem o hábito de julgar negativamente suas emoções, pode ficar mais chateado quando se depara com uma situação estressante. Em um estudo de 2018, a dra. Mauss e seus colegas perguntaram às pessoas se elas tendiam a aceitar suas emoções ou a julgá-las ruins. Em seguida, pediram aos participantes que fizessem um discurso de três minutos sobre suas qualificações para um emprego – uma tarefa conhecida por induzir estresse. Os participantes que disseram que geral- mente não aceitavam suas emoções relataram sentir mais sentimentos negativos enquanto faziam o discurso. Em um teste de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que os indivíduos que geralmente não aceitavam suas emoções relataram uma piora em seu bem-estar psicológico e, cerca de seis meses depois, apresentaram mais sintomas de depressão e ansiedade.

COMO FAZER AS PAZES COM SEUS SENTIMENTOS

Primeiramente, lembre-se de que sentimentos desagradáveis fazem parte da experiência humana. “Nenhuma emoção é inerentemente ruim ou imprópria”, afirmou a dra. Willroth. Os sentimentos negativos podem até servir a um propósito, avaliou. “A ansiedade pode ajudá-lo a enfrentar uma ameaça em potencial, a raiva pode ajudá-lo a se defender e a tristeza pode sinalizar para outras pessoas que você precisa do apoio social delas.”

Quando você experimenta um sentimento ruim, você não precisa tentar amar esse senti- mento, apenas procure sentir- se neutro em relação a ele. O novo estudo descobriu que as pessoas que reagiram de forma neutra eram psicologicamente tão saudáveis quanto as que reagiram de modo mais positivo. A dra. Shallcross sugeriu abordar o sentimento com curiosidade e “usar seu corpo e sua experiência como um laboratório: ‘O que há aqui?’”.

Também pode ser útil lembrar que o sentimento não durará para sempre. “As emoções geralmente duram pouco – e se simplesmente as deixarmos passar, muitas vezes elas se resolvem em questão de segundos ou minutos”, completou a dra. Willroth.

A prática e a experiência também podem facilitar a aceitação emocional. O bem-estar emocional aumenta com a idade, e a pesquisa da dra. Shallcross revelou que isso pode resultar parcialmente do fato de que as pessoas geralmente aceitam melhor suas emoções à medida que envelhecem.

É importante observar que aceitar as emoções é diferente de aceitar as situações que causam emoções ruins. “Quando falamos sobre aceitar sentimentos, as pessoas costumam ouvir isso como se fosse: ‘Ah, você deveria ser complacente’”, alertou Brett Ford, psicóloga da Universidade de Toronto que estuda como as pessoas gerenciam suas emoções. Mas essa não é a conclusão certa, adiantou ela. No mínimo, a aceitação emocional pode facilitar a mudança. Se não gastamos nosso tempo e energia criticando nossos sentimentos, teremos mais tempo e energia para melhorar nossas vidas e mudar o mundo.

ESTAR BEM

CONHEÇA DEZ CAMINHOS PARA O NOVO BEM-ESTAR

A busca pela longevidade com qualidade se expandiu e já não se resume a manter dieta balanceada e rotina de exercícios

Os avanços da medicina e das ciências da vida em geral, que em alguns casos têm sido quase ficção científica, representam apenas um dos motores para o aumento da busca pelo novo bem-estar. A longevidade com qualidade de vida está se tornando um negócio multimilionário em andamento e uma grande oportunidade econômica. Além disso, em termos mais gerais, é uma porta que se abre e nos leva para outro lugar. Tudo isso ao mesmo tempo é a nova pauta do bem-estar.

“Os avanços da medicina estão nos dando a possibilidade de viver mais anos em quantidade. Agora cabe a nós preenchê-los com qualidade; e pensando assim, percebe-se que esse fenômeno é um tsunami”, disse Alberto Naisberg, engenheiro de 97 anos que estuda o assunto, em particular as chamadas “zonas azuis”: lugares do planeta onde há números incomuns de pessoas que vivem mais do que a média mundial.

Outro impulsionador fundamental foi a pandemia, que por um lado trouxe consciência para a nossa fragilidade física e mental e, por outro, produziu uma introspecção que levou a um profundo repensar do equilíbrio entre trabalho e lazer, além da qualidade de vida em geral. Além do boom de inteligência artificial dos últimos cinco meses (ChatGPT e outros aplicativos), as histórias com tema de inovação mais poderosas até agora nesta década foram na área de “ciências da vida”, justamente por conta da urgência na produção de imunizantes que surgiu com a Covid-19. E o terceiro grande motor é a mudança demográfica acelerada: a América Latina é hoje, segundo um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o continente que mais envelhece no mundo: na próxima década, um terço da população vai ter mais de 60 anos, e esse segmento tem o bem-estar como prioridade.

Nesse cenário, nascem novos setores e temas, como economia do sono, novos medicamentos e terapias, sexo como eixo do bem-estar e muitos outros. Veja a seguir dez caminhos chave para o bem-estar que explicam, em parte, porque se tornou tão crucial cuidar e manter nossos principais ativos: corpo e mente.

NOVOS HÁBITOS SURGEM

Até pouco tempo, as conversas sobre bem-estar se resumiam a se exercitar, comer melhor e talvez combater o estresse. Hoje, esse leque de opções é maior e vai do uso de medicamentos dos mais diversos tipos a colchões personalizados para dormir melhor, passando por banhos de floresta e técnicas de respiração.

A boa notícia é que essa explosão de possibilidades ajuda cada um a encontrar seu próprio “conjunto de hábitos”: se for difícil começar a praticar esportes ou enfrentar uma dieta muito rígida, você pode começar meditando dez minutos por dia. São “hábitos em cascata”, que, mais tarde, à medida que os benefícios são percebidos, incentivam a dobrar a aposta.

FOQUE EM ALGO

O outro lado dessa tempestade de estímulos e possibilidades quase infinitas é o risco do que a neurologista Lorena Llobenes, autoridade mundial em estudos de meditação, chama de “petisco espiritual ou de bem-estar”:

“Nesta era de cataratas de informações sobre o que temos para fazer, caímos na tentação de ficar buscando quando a ideia é se acalmar. E acabamos por “petiscar” de tudo um pouco numa corrida sem limites.

TREINO CEREBRAL

Provavelmente, o maior divulgador da agenda da longevidade extrema hoje é o geneticista David Sinclair. no comando de um laboratório em Harvard, onde investiga por que envelhecemos. Ele aponta que mais de 80% de nossa saúde futura depende de como vivemos, e não do DNA. E enfatiza que há muita busca por melhoras estéticas e físicas, e menos por atividades de “treinamento do cérebro”, por exemplo, ter o hábito de aprender coisas, jogar jogos de tabuleiro, etc.

“Não adianta ter um corpo 20 anos mais jovem se nossos cérebros não seguem a mesma trajetória”, alertou Sinclair.

A NOVA MENTALIDADE

Os especialistas recomendam mudar a forma de pensar sobre essa rotina: se convença de uma vez por todas que com hábitos saudáveis existe o que em finanças se chama de “juros compostos”: o tempo joga a favor dessas microdecisões acumuladas todos os dias. E a mesma coisa acontece na direção oposta: o tempo joga contra os maus hábitos. Fumar um cigarro por dia causa poucos danos, mas os danos cumulativos ao longo de vários anos podem ser fatais.

A IMPORTÂNCIA DOS AMIGOS

Talvez o estudo acadêmico mais citado na área do bem-estar seja o iniciado em 1938 por especialistas da Harvard Medical School, que se propuseram a acompanhar de perto, com questionários muito detalhados, a vida de um grupo de (naquela época) jovens, para determinar quais fatores acabariam tendo maior impacto no bem-estar físico e emocional.

Alguns deles vêm “de fábrica” e não podemos mudá-los: uma infância tranquila, ancestrais longevos e não ter predisposição a sofrer com a depressão. Mas há outra série de fatores que dependem de nossas decisões: não fumar, se alimentar de forma saudável, movimentar-se regularmente, aprender ao longo da vida e desenvolver técnicas de autoconhecimento (como a meditação).

A variável com maior correlação com o bem-estar acabou sendo a de vínculos saudáveis, não necessariamente românticos. Um estudo posterior da mesma universidade quantificou essa relação com uma informação que foi manchete em muitos meios de comunicação: ter 11 novos amigos (não próximos, com vínculos intermediários) equivale, em termos de bem-estar, a parar de fumar.

CONEXÃO COM A NATUREZA

Diversas pesquisas mostram correlações positivas entre contato com a natureza e bem-estar: na Inglaterra, mediu-se maior taxa de longevidade em pessoas que vivem perto de espaços verdes; pacientes cardiovasculares se recuperam mais rapidamente se as árvores forem vistas da janela do quarto do hospital e se houver um animal de estimação em casa (é o chamado “efeito pet”).

LONGEVIDADE EXTREMA

Embora a ciência ainda não tenha conseguido avançar na quebra do recorde de 122 anos de vida (do francês Jean Calment), a notícia é que há muito mais pessoas na faixa dos 80, 90 anos na plenitude física e cognitiva, que até pouco tempo duravam dez ou 20 anos menos. Hoje existem dezenas de startups dedicadas a atacar o problema do envelhecimento.

O Brasil é o país que envelhece mais rapidamente hoje. Viver mais décadas deixou de ser uma conversa entre cientistas e passou a fazer parte de uma fronteira alcançável em médio prazo.

O DESAFIO DO TRABALHO

Um “dia de bem-estar na empresa” com um médico ou nutricionista convidado ao local de trabalho uma vez por ano para educar sobre hábitos de bem-estar não é mais suficiente, enquanto os níveis de burnout entre os funcionários seguem aumentando.

É necessária uma estratégia abrangente de bem-estar organizacional baseada em modelos e princípios de diferentes disciplinas.

INVESTIMENTOS EM SAÚDE

Outro bom indicador de como o papel da área de bem-estar está crescendo é o fato de que as maiores e mais valiosas empresas do mundo (Apple, Amazon e Google, entre outras) estão de olho nas oportunidades em saúde e na melhoria da qualidade de vida. Jeff Bezos ampliou seu investimento no ano passado no laboratório de Los Altos, enquanto a Amazon comprou uma empresa farmacêutica e o Google continua investindo na Calico Labs. Além disso, florescem startups ligadas a well tech (tecnologia de bem-estar) e age tech (tecnologia para idosos). Alguns economistas já estimam esse setor expandido — que inclui a saúde tradicional —em um terço do PIB global e em crescimento devido ao envelhecimento da população.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

ENTRE O USO E O ABUSO

Busca por vitamina D cresce e acende alerta

As intenções são as melhores: fortalecer o metabolismo, turbinar a imunidade ou sentir-se mais protegido contra a Covid-19. Os resultados, porém, vão na direção oposta e podem levar a dores de cabeça, náusea e até comprometimento da função renal. São sinais da intoxicação por vitamina D, consequência do uso indiscriminado da suplementação da substância, cenário em alta no país e realidade relatada nos consultórios de endocrinologia.

Para se ter uma ideia do aumento do consumo no Brasil, a venda de produtos do tipo praticamente dobrou entre 2019 e 2022, de acordo com a Associação Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). Parte desse consumo (que feito de maneira orientada para os pacientes corretos traz benefícios) é justamente baseado nas defendidas propriedades “milagrosas” que a substância traria ao organismo. Ideia amplamente defendida em postagens na internet, mas sem a devida comprovação.

O aumento do uso desse composto ao longo da pandemia da Covid-19 não é coincidência. Estudos iniciais identificaram que o déficit dessa vitamina estava presente na maioria dos casos graves da infecção pelo coronavírus. Apesar do achado, ainda não há comprovação de que a suplementação poderia ser usada como prevenção ou tratamento da doença. Prova disso é que seis entidades médicas norte-americanas, ligadas à endocrinologia, calcificação de ossos e osteoporose, não concordam com uso do produto para esse fim (e indicaram até o prosaico banho de sol por 15 ou 30 minutos para quem está em busca de índices melhores da vitamina D).

Os males que supostamente seriam aplacados pelo uso da “D” não param por aí: vão do autismo à bronquite, passando pelo câncer, tudo sem lastro em estudos científicos de larga escala, dizem especialistas.

“Temos visto cada vez mais o uso excessivo. Depois da pandemia piorou muito. Alguns estudos chegavam a sugerir um resultado “milagroso” de seu uso, mas essas análises são pequenas e têm muitas limitações”, diz Tarissa Petry, endocrinologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. “Há o caso de uma paciente que veio com mais de 200 unidades de medida de vitamina D de exame (quando o normal é de 20 a 30) ela nem sabia que estava fazendo essa suplementação, pois tomava potes de pílulas diversas.

Em geral, essas pessoas buscam justamente garantir mais saúde e melhorar sua rotina. A vitamina D pode ser adquirida pela alimentação e produzida pelo próprio corpo, por meio da exposição solar. Ela tem uma série de funções na saúde óssea, crescimento, imunidade e musculatura.

“Na realidade, a vitamina D age aumentando a absorção do cálcio no organismo. Ela ajuda principalmente na manutenção da massa óssea no corpo”, afirma a endocrinologista Aline Guimarães de Faria, do Hospital Sírio- Libanês. “Há grupos em que há maior risco de sua deficiência, como as pessoas acima de 60 anos e as que têm osteoporose. Os jovens, caso não exista uma doença relacionada, não costumam ter problemas. Só algumas pessoas precisam efetivamente dessa suplementação.

CÁLCIO EM EXCESSO

A médica ainda diz que os estudos que levam em conta grandes quantidades do produto e sugerem benefícios para além da área óssea são observacionais e esbarram num problema importante: a chamada hipercalceima – que é o aumento de cálcio no sangue, em decorrência do uso do suplemento. Os casos mais leves desse quadro apontam para náusea, vômitos, perda de peso e idas ao banheiro recorrentes para fazer xixi. Os mais severos e mais raros podem levar à prejuízo na função renal e confusão mental.

Não se trata, porém, de demonizar o vitamínico, que em doses moderadas aos pacientes corretos tem amplo valor. Marise Lazaretti-Castro, professora da Escola Paulista de Medicina e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), recomenda que a suplementação deve ser acompanhada de um especialista. Deve-se portanto fugir da compra livre desse suplemento na farmácia e duvidar de postagens nas redes sociais que sugerem rotinas com doses altíssimas do item. Nesses protocolos, explica a médica, o paciente é proibido de consumir qualquer alimento que contenha cálcio. “Não pode nem olhar para o leite”, ela diz.

“As pessoas acham que quanto mais vitamina D, melhor. O que é um engano”, afirma Marise. “Há quem chegue a tomar 50 vezes mais do que o recomendado. Isso acaba desmoralizando a vitamina, que é tão importante. A deficiência é ruim, mas o excesso é muito pior. A falta é crônica, os ossos se enfraquecem ao longo dos anos. A intoxicação, por sua vez, ocorre em questão de meses.”

Um exemplo de como o uso da vitamina requer cuidados é o caso que envolve o laboratório STEM Pharmaceutical, no Rio Grande do Sul. A empresa manipulou, de maneira equivocada, doses 500 vezes superiores que o recomendado para um dia. O episódio, ocorrido em 2020, levou à intoxicação de uma mulher que chegou a ser internada com quadro de insuficiência renal em uma ala para pacientes com Covid-19 (a hipótese inicial do que estava causando seus sintomas).

Após o episódio, a Justiça determinou pagamento de indenização pela empresa por conta do ocorrido à paciente. Em nota, a STEM lamentou o caso e informou que “custeou todos os atendimentos, incluindo despesas com consultas, exames e tratamentos” de quem teve problemas com o uso do suplemento. O recall do produto foi feito em todo o Brasil.

ACOMPANHAMENTO

É justa a preocupação com a deficiência de vitamina D no organismo, ainda mais em tempos de crescimento do trabalho em esquema de home office. Os médicos, no entanto, pedem a quem quer fazer esse tipo de reposição que não hesite em realizar os exames periódicos e o faça para melhorar a saúde óssea, de maneira moderada. E, mais uma vez, com acompanhamento de um especialista.

“A dosagem (extra) de vitamina D não deve ser para todos. Apesar de vivermos cada vez mais em ambientes fechados, isso não acarreta problemas claros na saúde. O cenário é diferente, porém, para pessoas acamadas, mulheres na menopausa, pessoas com obesidade, osteoporose e as gestantes. Nesses casos, é necessário que seja avaliada a quantidade da vitamina D e que essa reposição ocorra”, explica o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Albert Einstein.

“Esse uso não deve ser de maneira nenhuma ser banalizado. Nem para vitamina D, ou mesmo a C ou a E.

OUTROS OLHARES

MÃES SOLO TÊM RENDA 39% MENOR QUE A DE PAIS CASADOS

Trajetória das mulheres no mercado de trabalho é afetada após maternidade, afirma pesquisadora

Mães solo enfrentam mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho e, quando conseguem uma ocupação, têm uma renda média inferior à de grupos como mulheres e homens casados e com filhos.

É o que sinaliza estudo assinado pela economista Janaína Feijó, pesquisadora do FGV Ibre.

Segundo o levantamento, o rendimento do trabalho das mães solo no Brasil foi estimado em R$ 2.105 por mês no quarto trimestre de 2022. O valor ficou quase 39% abaixo da renda dos homens casados e com filhos (R$ 3.438). Antes da pandemia, no quarto trimestre de 2019, essa diferença era menor. Elas recebiam 33,4% a menos do que eles – R$ 2.325 e R$ 3.493, respectivamente. Os dados foram publicados em termos reais, ou seja, com o ajuste pela inflação. “Ao contrário das mães solo, a trajetória dos homens no mercado de trabalho não é afetada após o nascimento dos filhos”, diz Feijó.

No quarto trimestre de 2022, a renda das mães solo (R$ 2.105) foi 20% menor que o rendimento das mulheres casadas e com filhos (R$ 2.626). “As mulheres casadas também enfrentam dificuldades no mercado de trabalho. A diferença é que elas podem contar com uma pessoa a mais com renda”, afirma Feijó.

O estudo foi elaborado a partir de microdados da Pnad Contínua, do IBGE. A análise é focada nas mães solo de 15 a 60 anos que são consideradas pessoas de referência nos seus lares. As comparações são feitas com pais e mães da mesma faixa etária que estão em relações conjugais.

O trabalho aponta diferenças dentro do próprio grupo das mães solo. No quarto trimestre de 2022, a renda média do trabalho das mães solo negras foi estimada em R$ 1.685 no Brasil. O valor ficou 39,2% abaixo do rendimento das mães solo autodeclaradas brancas ou amarelas (R$ 2.772).

Feijó afirma que um dos motivos para essa disparidade é o nível de escolaridade. No quarto trimestre de 2022, em torno de 21% do total de mães solo brancas ou amarelas tinha ensino superior. Entre as mães solo pretas ou pardas, o percentual caía a 9%.

De acordo com Feijó, há uma forte correlação entre o momento da maternidade e o grau de escolaridade das mulheres. Nesse sentido, quando a gestação acontece durante a fase escolar (entre os 14 e 25 anos), pode dificultar e até inviabilizar a continuidade dos estudos, com possíveis reflexos sobre o futuro profissional das mães, aponta a pesquisa. Segundo o levantamento, entre as mães solo que tiveram o primeiro filho com 15 anos ou menos, apenas 3% contavam com ensino superior completo. Já entre as que tiveram o primeiro filho aos 30 anos, 22% apresentavam ensino superior completo.

O contexto social faz mães negras terem filhos mais cedo, “e isso retroalimenta a situação desfavorável no mercado de trabalho”, diz Feijó. “Consequentemente, vai repercutir no nível salarial.”

As mães solo que tiveram o primeiro filho mais tarde, por volta dos 27 anos, tendem a apresentar um rendimento médio em torno de R$ 1.700, diz o levantamento. É mais do que o dobro da renda de quem virou mãe com 15 anos ou menos (R$ 800).

No quarto trimestre de 2022, 29,4% das mães solo estavam fora da força de trabalho no Brasil. Considerando somente as mães solo com filhos menores, de até cinco anos, a proporção era maior, de 32,4%.

Entre as mães solo negras, o percentual fora da força era de 31% para as com filhos de diferentes idades e de 34,6% para aquelas com filhos de até cinco anos. Entre as brancas e amarelas, a proporção era de 26,6% e 27,5%, respectivamente.

A população fora da força é composta por profissionais que não estão empregadas nem procurando ocupação.

Segundo Feijó, um dos reflexos das dificuldades de inserção no mercado de trabalho é a ida de mães solo para a informalidade.

De um lado, essa escolha pode permitir maior flexibilidade para que as mulheres consigam conciliar trabalho e cuidado dos filhos, diz a pesquisadora. O efeito colateral é a renda menor que a informalidade costuma gerar na comparação com vagas com carteira assinada ou CNPJ.

“O que acontece é que a maternidade impõe um custo alto para a mãe. Para conciliar maternidade e trabalho, ela muitas vezes vai para uma ocupação informal.”

O estudo ainda chama a atenção para a evolução dos domicílios cujas pessoas de referência são mães solo no Brasil. O número aumentou de 9,6 milhões no quarto trimestre de 2012 para 11,3 milhões no quarto trimestre de 2022.

Isso significa um incremento de 17,8% na década, o equivalente a 1,7 milhão a mais de mães solo no período. Segundo o estudo, 90% desse aumento (1,5 milhão) veio de mães solo pretas e pardas, que passaram de 5,4 milhões para 6,9 milhões entre 2012 e 2022.

A maior parte das mães solo (72,4%) vive em domicílios monoparentais, compostos só por elas e seus filhos. Ou seja, não moram com parentes e não contam com rede de apoio para ajudar nas responsabilidades familiares e laborais.

Na visão de Feijó, a melhoria das condições para a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho passa por uma junção de esforços. Um deles viria da adequação da oferta e dos horários de creches às necessidades das trabalhadoras.

“Para a mãe com filho pequeno, a creche é fundamental. Muitas vezes, a creche não está perto da mãe, e os horários não ajudam. É preciso entender quais são as demandas das mulheres”, afirma Feijó.

Ela também defende medidas de capacitação para as mães solo que tiveram de interromper os estudos. Por fim, diz, empresas deveriam flexibilizar horários de chegada e saída do trabalho para que mães solo pudessem conciliar seus compromissos.

GESTÃO E CARREIRA

MUDANÇAS NA ECONOMIA TRANSFORMAM UNIVERSIDADES E ESCOLAS DE NEGÓCIOS

Currículos incorporam conhecimentos de análise de dados e inteligência artificial e buscam desenvolver um novo perfil de aluno, que possa ser um líder mais completo

A nova economia tem provocado uma transformação intensa nos cursos de graduação e pós-graduação do País. As mudanças englobam revisões no currículo, maior preocupação com a sustentabilidade e fortalecimento de competências – as chamadas “soft skills” – com o objetivo de preparar os alunos para cargos de liderança nos negócios.

O novo cenário levou as escolas a repensar os cursos com mais rapidez e a fortalecer o ensino com a análise de dados e a inteligência artificial. “Os cursos precisam ser muito mais renováveis, adaptáveis em relação ao que eram no passado”, diz Guilherme Martins, coordenador executivo da graduação do Insper. “Antigamente, você conseguia ficar por 10 anos com um mesmo currículo, fazendo adaptações no nível da disciplina.”

Na escola, a análise de dados passou a ser um tema transversal nos cursos para que o aluno tenha a capacidade de lidar com uma grande base de dados e saiba trabalhar com modelos analíticos usando a inteligência artificial. “No nosso caso, não só um engenheiro sabe programar. O administrador, o economista e o advogado sabem programar”, afirma Martins. “Quando a gente olha para engenharia, a grade é toda voltada para a nova economia, para a indústria 4.0.”

Enquanto isso, a graduação de economia da Universidade de São Paulo (USP) promoveu a maior reforma curricular em 15 anos. As mudanças foram aprovadas em 2020 e passaram a valer para os alunos que ingressaram no ano passado. “O curso está se modernizando para incorporar novas habilidades”, afirma Rafael Ferreira, coordenador da graduação em economia da FEA/USP.

A instituição criou e eliminou disciplinas e tornou outras optativas. A aula de direito para economistas foi transformada em eletiva. “Hoje em dia, a gente também tem uma disciplina obrigatória na qual os alunos aprendem as principais técnicas de programação, algo que não estava no currículo”, diz.

A Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV), também reforçou do ensino da ciência dos dados aplicada à economia. Um dos objetivos é que os alunos consigam usar uma grande quantidade de informações para precificar o valor de um ativo, por exemplo. “A ciência está se movendo cada vez mais rapidamente, e você precisa incorporar as mudanças com mais regularidade”, diz Rubens Penha Cysne, diretor da FGV EPGE.

APRENDER A APRENDER

Com uma economia em transformação, cresceu a preocupação para que os alunos deixem a vida acadêmica e consigam aprender por conta própria.

“A coisa mais valiosa que a gente pode entregar para os nossos alunos não é apenas um conteúdo técnico, que é muito importante hoje, também temos o desafio de preparar o jovem para aprender sozinho quando ele precisar”, afirma Gabriela Fonseca, coordenadora do curso de graduação em Economia da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV).

A instituição tem trabalhado o chamado método ativo, sem giz e lousa. Para melhor o aproveitamento, há poucos alunos em sala de aula interagindo com um professor, em busca de soluções para resolver problemas. “Queremos que as pessoas formadas vejam a saída de algo que vem da inteligência artificial, mas que saibam criticar, julgar o que é verídico”, diz Fonseca.

PARCERIAS COM EMPRESAS

No Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a criação do Centro de Projetos de Inovação (PI) em meados de 2021 pôs em prática o uso da inteligência artificial para resolver entraves para empresas que buscam o conhecimento da instituição.

Para a rede de medicina diagnóstica Dasa, alunos de mestrado e doutorado e pesquisadores do Impa desenvolveram um projeto de imagens fetais, cujo objetivo é calcular o volume de líquido amniótico em grávidas, que pode ser um bom indicativo para as chances de o bebê desenvolver algum tipo de problema. “Isso já era realizado por médicos, mas desenvolvemos um sistema que faz isso em segundos e que quantifica essa incerteza”, diz Lucas Nissenbaum, cientista de projetos do Impa.

No próximo ano, o Impa espera dar um passo a mais e oferecer o seu primeiro curso de graduação. O instituto terá uma unidade num empreendimento batizado de Porto Maravalley (Pomar), idealizado pela prefeitura do Rio na região portuária da cidade. “É um centro de inovação em que vão coexistir diversos atores do processo econômico, como empresas, startups, agências de promoção de inovação”, afirma Marcelo Viana, diretor-geral do Impa.

NOVO PERFIL DEMANDA DO ALUNO MAIS TECNOLOGIA

PROGRAMAÇÃO

Alunos de diferentes cursos e áreas se debruçam sobre o tema para conseguir lidar com uma grande quantidade de dados

NOVO PERFIL

As escolas passaram a trabalhar um perfil mais crítico dos alunos para que eles possam desempenhar um papel de liderança na nova economia e tenham em mente temas atuais importantes, como a sustentabilidade

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Passou a ser incorporada nos debates internos, e seu uso nas atividades práticas se tornou mais comum

CASOS CONCRETOS

Na sala de aula, há um debate maior sobre a busca de soluções para casos concretos de problemas empresariais

AUTONOMIA

Com uma economia em plena transformação, há ainda uma preocupação para que o aluno consiga aprender por conta própria

EU ACHO …

OS PREÇOS

A verdade brilha soberana, mas não é gratuita. A mentira custa, a verdade também

Um ditado brasileiro: “A mentira tem perna curta”. Os americanos afirmam que o defeito é mais grave: “A lie has no legs”. Reconheçamos que, tendo pernas curtas ou arrastando-se sem elas, a mentira anda. Por andar, compensa imediatamente. Claudicante ou reduzida, movendo-se para bem perto ou por outras metáforas, ela vai e, indo, resolve o problema do momento.

Quando eu minto, não penso em ir ao Nepal… Basta que a falsidade me retire daquele momento e lugar imediatamente. O mentiroso não busca uma estratégia de longo prazo ou uma viagem distante, quer apenas sair do aperto. A mentira não é uma ponte bem construída para outro território: é simplesmente uma boia feia em um mar revolto. Sim, pernas curtas, entretanto a competição não coloca em jogo a medalha de ouro dos cem metros rasos. Basta sair dali…

E a verdade brilha soberana com suas pernas de Ana Hickmann. Orgulhosa, a verdade anda à luz do dia e vai aonde deseja, mesmo sem convite claro. Foi louvada por Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. É imortal: quando esmagada por ditaduras, recolhe-se ao fundo de um calabouço e, no momento certo, ressurge gloriosa.

A mentira claudicante tem um preço. Quero trazer um dado incômodo: a verdade não é gratuita e, algumas vezes, custa mais. A mentira varia no bandejão das almas e depende do tamanho para avaliar seu custo. A verdade é quase sempre cara.

Na política, a verdade é a morte: “Terminou a carreira do deputado? Sim, morreu de sincericídio”. Nas relações amorosas, a verdade tem o poder da pimenta-malagueta: pode enriquecer ou invalidar um prato. No mundo do trabalho, a sinceridade absoluta entra em choque com o organograma do poder. Vista de cima implica processo de assédio e, emergindo das bases, elimina a carreira no lugar. Destruidora de currículos e de lares, a verdade seria desejável?

Foi dito que a polarização política semeou a cizânia em muitas famílias. Pode ser. Camisetas vermelhas ou verde-amarelas enfrentaram maiores obstáculos para compartilhar o mesmo peru de Natal. Agora imagine o levantar do véu político e a exibição da verdadeira crítica que a disputa petista-bolsonarista mais velou que revelou. Imagine que os ódios eram anteriores e que, embasados em ideologias de direita ou de esquerda, apenas encontraram apoio externo a lutas intestinas. Aquele tio sempre foi um homem com ideias ofensivas ao artigo 5.º da nossa Constituição. Vovô emitia opiniões inafiançáveis ou imprescritíveis desde o tricampeonato do futebol brasileiro no México. O que mudou foi a lei, mas não o caráter do patriarca.

Creio que ficou até mais fácil reduzir o atrito ao mundo bipolar. Mais simples contemplar um Muro de Berlim doméstico do que dizer a verdade. Muito antes de Lula ou de Bolsonaro, tudo era assim. Tudo sempre foi assim: apenas mentíamos melhor, mais e com menos pudor.

A mentira custa, a verdade também. É preciso invocar o melhor dos Evangelhos ou da Ética de Aristóteles para ficar ao lado da verdade. Dizer tudo que pensamos (que não implica sequer dizer a verdade, já que meu pensamento não é sinônimo dela) é tão devastador como mostrar o rosto da Górgona. Ser educado é mentir quase o tempo todo. Conviver em família sempre implicará grupo B, C, D de WhatsApp, sem uma pessoa.

Fofocar é sempre mentir, mesmo quando o tema for real. É faltar com a verdade, porque implicará silêncio sobre o teor da fofoca com a única pessoa interessada. Ao reencontrá-la, sorrimos, cinicamente. Ninguém sai da fofoca e, encontrando o alvo, dirá: “Nossa, acabamos de falar de você, criticamos sua roupa, seu corpo, seus casos e sua orientação sexual”. Quanto pior a detração, mais rasgado será o sorriso posterior com a pessoa atacada.

“Traí minha esposa, traí meu marido. Devo contar?” Existem a resposta do teólogo honesto e a resposta do cínico confesso. O primeiro dirá: “Sempre!”. O outro reforçará o pior em nós, falando relativismos: “Quem não trai? Esconda!”. Ambos são comprometidos com um princípio geral em relação à verdade e à mentira. Sempre diga/nunca fale seriam cara e coroa de uma moeda de mesmo metal! Eu, que não sou teólogo nem cínico contumaz, diria: “Depende! Do quê? Do preço que você pode ou quer pagar”.

Há dez anos, você traiu, mas nunca mais repetiu, foi um deslize, o casamento oficial seguiu bom e produtivo. Quer demolir o prédio por causa da pedra malposta? Você pode ouvir o teólogo correto e o cínico convicto. Pode também ponderar por si e sem princípios absolutos. Não é um conselho direto: trata-se de uma avaliação subjetiva e individual.

“Sou gay. Devo dizer aos meus pais? Colei em uma prova da faculdade. Devo invalidar meu diploma obtido há alguns anos? Estacionei em lugar proibido. Devo me apresentar ao departamento de trânsito e exigir uma multa póstuma?” Para casos grandes e pequenos, sempre uma planilha de custos deve ser avaliada. “Leandro! Isso é cinismo puro! Eu jamais menti.” Fico feliz, nunca conheci uma pessoa de outro planeta. “Prazer, sou daqui da Terra mesmo.” A esperança é mais barata.

LEANDRO KARNAL – é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros.

ESTAR BEM

OS RISCOS DO CHIP DA BELEZA

Sem registro da Anvisa e com promessas de emagrecimento e melhorias na aparência, produto ganha adeptos, mas pode ter graves efeitos colaterais

A busca pelo corpo, pele e cabelos perfeitos tem levado mulheres, em especial celebridades, a recorrerem ao chamado “chip da beleza”, um tipo de implante hormonal à base de gestrinona que promete favorecer o ganho de massa muscular e melhorar disposição, libido, pele e cabelos. Mas o produto também pode ter efeitos adversos – como no caso da cantora e compositora Flay, que teve seu rosto tomado por espinhas e engordou 10 quilos após aderir ao método.

O chip não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proibiu em 2021 qualquer propaganda da gestrinona e de produtos relacionados, alegando que a substância é um “risco à saúde pública”. “Por se tratar de substância hormonal com possibilidade de causar eventos adversos graves, foi banida de diversos mercados e foi, inclusive, considerada substância de uso proibido para atletas, segundo a Agência Mundial Antidoping”, diz a agência.

Segundo a Anvisa, o uso da gestrinona só é permitido em cápsulas gelatinosas duras para tratamento de endometriose, que podem ser feitas em farmácias de manipulação. “É o único caso de uso cuja eficácia, segurança e qualidade foram avaliadas e aprovadas”, diz.

O chip da beleza é colocado soba pele e libera periodicamente os hormônios que o compõe, em especial a gestrinona, que deu o nome ao chip por conta de seus efeitos anabolizantes, que impactam diretamente a estética. Alguns fabricantes alegam que ele funciona como método anticoncepcional, repositor hormonal para mulheres na menopausa e tratamento para endometriose, colaborando também para diminuir significativamente o fluxo menstrual.

Segundo especialistas ouvidos, essas informações possuem um “raciocínio clínico”, considerando os efeitos da gestrinona e de outros hormônios que geralmente fazem parte dos chips da beleza, como a testosterona, progesterona e o estrógeno. No entanto, eles alegam que faltam evidências científicas sobre a segurança e eficácia da gestrinona em aplicação via implante. Até o momento, há pouca literatura e dados sobre o tema.

“As informações vêm direto de quem fabrica e de quem dá os cursos sobre o produto. Dentro do raciocínio clínico, elas fazem sentido, mas são produtos que não têm aprovação da Anvisa e da indústria farmacêutica em geral, então, como ginecologista, é um pouco complicado receitá-los. Não há respaldo do que funciona e é seguro”, diz Carolina Alves, ginecologista do Hospital São Luiz Itaim.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) diz que “embora a gestrinona possua ação antiovulatória, não existem, em todo o mundo, estudos para a aprovação regulatória do fármaco com finalidade contraceptiva”. Como agravante, de acordo com Denise Iezzi, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, a gestrinona confere riscos ao feto caso a mulher engravide utilizando o implante.

Em conclusão, a Febrasgo diz que “as Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo não recomendam os implantes hormonais manipulados não aprovados pela Anvisa, seja coma finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo”. A Federação ressalta ainda que, hoje, o único implante hormonal industrializado aprovado pela Anvisa é o anticoncepcional composto por etonogestrel, o Implanon.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) também contraindica o uso dos chips e diz que “no Brasil, a utilização de implantes hormonais utilizando esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem. Os relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres aumentam a cada dia: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia”.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução no Diário Oficial em 30 de março dizendo que “adota as normas éticas para a prescrição de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes de acordo com as evidências científicas disponíveis sobre os riscos e malefícios à saúde, contraindicando o uso com a finalidade estética, ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo”.

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

Além da falta de evidências em relação à segurança e efetividade da aplicação de gestrinona via implante endodérmico, especialistas apontam outro grande problema: os chips podem ser receitados em composições variadas, dificultando a definição da dosagem correta e dos possíveis efeitos colaterais. “Os chips podem ter vários tubetes e são montados de acordo com a ‘necessidade’ daquele paciente, fazendo uma combinação de diferentes hormônios”, diz Denise Iezzi. “O grande problema é que não dá para saber a concentração exata que cada hormônio vai ter e nem todas as farmácias de manipulação são extremamente confiáveis.” Para Alexandre Hohl, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM, a falta de uma bula aumenta a insegurança. “As pacientes saem do consultório com hormônios embaixo da pele que duram de 6 a 12 meses sem uma bula, lugar em que todos os efeitos colaterais deveriam estar descritos.”

A Lei 13.021, de 8 de agosto de 2014, conhecida como Lei das Farmácias Magistrais, reconheceu as farmácias como estabelecimentos de saúde e conferiu autonomia técnica aos profissionais farmacêuticos. Por isso, produtos feitos em farmácias de manipulação, como o chip da beleza, não precisam de bula. Flay diz que não foi avisada dos possíveis efeitos colaterais pelo médico que receitou o chip e que se sentiu enganada. “Procurei orientação médica para emagrecer de forma correta e saudável e ele me passou o chip da beleza dentre dieta e suplementos. Eu apenas confiei no médico”, conta. “Faltaram informações dos próprios médicos sobre ser um chip cheio de hormônios. Nada disso foi passado para mim na época.”

A cantora, que fez o implante em novembro de 2021 e expôs recentemente o caso, teve de esperar seis meses – prazo em que o chip deixou de fazer efeito – para se livrar dos efeitos colaterais. Depois disso, sua pele, seus cabelos e ser corpo voltaram a ser como antes.

COMO FUNCIONA

O chip da beleza funciona com a mesma tecnologia dos implantes hormonais anticoncepcionais à base de etonogestrel, conhecidos como Implanon. É uma espécie de bastão de silicone que tem de três a cinco centímetros, é implantado embaixo da pele e libera doses das substâncias que o compõem periodicamente.

O implante precisa ser receitado por um médico e feito em farmácia de manipulação. Seu composto principal é a gestrinona, hormônio artificial derivado da testosterona (hormônio sexual masculino) e pertencente à classe dos esteroides anabolizantes – por isso, é proibida em exames antidoping.

Além da gestrinona, a maioria dos chips da beleza também contém testosterona, progesterona ou estrógeno, combinações que, em dosagens inadequadas, podem causar efeitos colaterais diversos, em especial no fígado e em relação aos órgãos e fenótipos sexuais. Em alguns casos, podem ser adicionadas outras substâncias com o objetivo de gerar o efeito desejado em cada paciente.

O chip é colocado no próprio consultório, geralmente acima ou na lateral do glúteo, mas também pode ser colocado na barriga, no braço ou em qualquer outra área com tecido subcutâneo, de acordo com Guilherme Renke, endocrinologista mestre em cardiologia e sócio- fundador do Instituto Nutrindo Ideais. “É feito um furinho de agulha para colocar o chip e pode ficar uma pequena cicatriz no local”, avisa o especialista.

Os efeitos duram de 6 a 12 meses e alguns implantes são bioabsorvíveis, ou seja, depois de um determinado período, são absorvidos pelo próprio corpo da pessoa. Já outros precisam ser retirados – o que nem sempre acontece, segundo Alexandre Hohl. “É comum colocarem mais de um tubo. Há pacientes que vão colocando tubos não absorvíveis e não tiram”, lembra o representante da SBEM. O valor do procedimento pode variar de R$ 3 mil a R$ 8 mil, considerando a confecção do chip e a aplicação.

EFEITOS

Segundo os médicos ouvidos pela reportagem, a gestrinona não emagrece. Na verdade, ela favorece o ganho de massa muscular e melhora a disposição, ajudando a pessoa a render mais nas atividades físicas. “Se a pessoa colocar o implante e não fizer nenhuma atividade, ela não vai emagrecer”, afirma Denise Iezzi. “Depois que se retira o chip, a tendência é que ela perca a massa muscular adquirida.”

Os médicos alertam que especialmente mulheres com predisposição a desenvolverem câncer de mama devem evitar o implante. Assim como quem tem histórico de síndrome dos ovários policísticos, problemas de fígado, alopecia e/ou acne.

Depois da experiência negativa, Flay conta que passou a buscar informações sobre procedimentos ou produtos antes de utilizá-los. “Não aceito qualquer coisa que me indicam e vou medindo o que realmente acho que vai me trazer resultados positivos, se não vai me prejudicar em uma coisa para ajudar em outra”, esclarece.

“Fiz questão de me expor para que outras mulheres não passassem pelo mesmo que eu. A minha intenção é alertar que o preço pode ser alto demais – além do investimento financeiro, que é altíssimo também – por algo que não entrega os resultados que promete.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AS 6 MANEIRAS MAIS COMUNS (E ERRADAS) DE COMBATER SUAS CRISES DE ANSIEDADE

Problema afeta uma em cada quatro pessoas no mundo, e já é considerado uma das principais causas do desgaste mental

Podemos ter uma ideia do sofrimento de ter um transtorno de ansiedade porque todos nós já passamos por isso. Nos momentos antes de falar em público (o rosto pálido e suor frio nas mãos), no meio daquele voo turbulento insuportável, naquela loja movimentada do centro de onde, sem motivo explicável, você teve que escapar. Só que os pacientes que convivem com a ansiedade têm essas sensações terríveis quase o tempo todo, com uma intensidade incapacitante e muitas vezes de forma incompatível com uma vida, não digamos feliz, mas aceitável.

Vivem 24 horas com uma atitude apreensiva, esperando o pior, preocupados com o futuro. E seu corpo reage com um estado intenso de alerta, com taquicardia, palpitações, sudorese, sensação de falta de ar, aperto no peito, tontura ou desconforto digestivo. É estimado que ter ansiedade multiplica por seis a probabilidade de ir ao médico. E quantos de nós temos verdadeiramente transtorno de ansiedade? Estudos mais restritivos sugerem que 1 em cada 14 pessoas preenche os critérios para sofrer de um distúrbio clinicamente relevante.

O problema são os remédios a que recorremos, que podem ser prejudiciais. Veja a seguir seis coisas para evitar:

EXAGERAR NOS ANSIOLÍTICOS

A indicação segue a mesma lógica de recorrer a analgésicos quando se tem dor de cabeça. Os benzodiazepínicos (lorazepam, diazepam, bromazepam, etc.) atuam no sistema inibitório do GABA no cérebro, favorecendo a calma, o relaxamento muscular e a indução do sono. No entanto, as diretrizes clínicas recomendam limitar seu uso a dois meses (e outro de retirada gradual), dado o risco de tolerância ou dependência.

Alguns “benzos” (principalmente os potentes e rápidos, como o alprazolam) circulam no mercado ilegal como uma droga. Isso não quer dizer que “todas os psicoativas são drogas”, ou que os controles que uma caixa de diazepam passa para ser vendida na farmácia sejam equivalentes aos das drogas ilícitas. Felizmente, temos órgãos públicos que garantem rígidos critérios de qualidade, segurança, eficácia e correta informação. Por exemplo, nos transtornos de ansiedade, os antidepressivos são muito úteis, pois atuam a longo prazo, prevenindo ataques de pânico e reduzindo os níveis de ansiedade generalizada. Essa opção, claro, é compatível com a psicoterapia.

ÁLCOOL OU DROGAS

Substâncias tóxicas como bebidas alcoólicas são mais normalizadas em nossa sociedade, e seus riscos e consequências negativas no cérebro são frequentemente banalizados. Já vimos muitas vezes que a ansiedade pode ser a porta de entrada para o alcoolismo

grave, e que entre 7% e 10% daqueles que experimentam a maconha “para se acalmar” desenvolvem uma dependência. Essas substâncias não podem ser a solução.

FUGIR E EVITAR

A má notícia para quem sofre de ansiedade é que a fuga constante do desconforto aumenta a ansiedade. A esperança está no contrário, isso porque o paciente que enfrenta seus medos e se expõe progressivamente, melhor ainda se for com ajuda profissional, tem boas chances de melhorar.

Mas por vezes a tendência de esquiva característica desses transtornos está alinhada com a ineficácia do sistema: alta do médico de família, consulta de saúde mental após três meses, revisão depois de dois meses, falta de psicólogo clínico disponível. É comum ver licenças por ansiedade de seis a dez meses de duração, e o paciente apavorado com a possibilidade de reintegração.

BUSCAR PSEUDOTERAPIAS

Produto do desespero ou sugerido pelo discurso anticientífico atual, alguns pacientes buscam o remédio nas pedras quentes, na acupuntura ou no reiki. Haverá quem o ajude, mas não pode ser uma alternativa do nível dos tratamentos cientificamente validados, farmacológicos ou psicoterapêuticos. São opções atrativas, por vezes oferecendo a fantasia de um olhar mais holístico (o que pode ser verdade), mas por que não apostar num método transparente e replicável?

PROCURAR UM MOTIVO

A psicanálise popular e alguns filmes nos convenceram que qualquer transtorno mental é resultado de um conflito complicado intrapsíquico que deve ser revelado por meio de uma longa terapia. Quando o paciente resolve o quebra-cabeça, os sintomas diminuem. Infelizmente, a realidade não costuma ser assim. Há pacientes que se curam sem saber exatamente por que desenvolvem a ansiedade e outros que compreendem perfeitamente a origem histórica do quadro, mas permanecem ansiosos.

TENTAR ELIMINAR

O escritor Scott Stossel conta que, ansioso e frustrado por décadas de terapias mal- sucedidas, ele finalmente considera viver com ansiedade, parar de odiá-la. Pense que sempre existiram pessoas mais tímidas, cautelosas, sensíveis, excessivamente empáticas, o que hoje destoa do nosso mundo competitivo e é considerado um temperamento ansioso. Essas características podem favorecer uma ansiedade insuportável e terrível; mas também representam características maravilhosas, como a empatia ou a sensibilidade artística.

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

É POSSÍVEL EVITAR (OU DIMINUIR) A SONOLÊNCIA APÓS O ALMOÇO

As dicas vão desde uma melhor escolha dos alimentos que ajudam a nos manter despertos a um curto passeio sob o sol

Você termina o almoço e o sono aparece automaticamente. Essa sensação, que os especialistas chamam de sonolência pós-prandial, tem a ver com a diminuição do nível de energia do corpo após uma refeição farta, justamente à base de carboidratos e gorduras. A grande questão que surge é: ela pode ser evitada? Segundo especialistas, trata-se de uma reação fisiológica que o corpo manifesta durante a digestão. Quem passa por isso pode sentir sono, falta de energia e até dificuldade de concentração por horas. Esses sintomas perturbam a rotina e tornam o resto do dia difícil para quem precisa trabalhar e não pode se render a uma soneca.

Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) dizem que a alimentação inevitavelmente gera sonolência, porém, há fatores que agravam a sensação. Júlio Bragagnolo, médico e chefe da unidade de Nutrição e Diabetes do Hospital Ramos Mejía, em Buenos Aires, na Argentina, destaca entre as principais causas de sonolência: a composição nutricional dos alimentos, a quantidade ingerida, a capacidade de digestão e a hora que você come.

Assim, embora cada pessoa assimile os alimentos de maneira diferente, existem padrões comuns a todos.

“Alimentos ricos em gordura são de digestão lenta, por isso ficam muito tempo no estômago sem serem digeridos e causam desconforto”, diz o especialista, citando os fast foods, como exemplo.

Os carboidratos também são considerados outro gatilho para o sono após o almoço, pois aumentam a produção de triptofano, um aminoácido precursor da melatonina e da serotonina, hormônios que induzem o desejo de dormir, explica Bragagnolo. Pão branco, macarrão, arroz, batata, cereais e doces são exemplos.

Mesmo as proteínas, como carnes e ovos, não estão isentas porque contêm triptofano naturalmente. Por isso, embora não devam ser cortadas, o especialista aconselha que elas não sejam combinadas a carboidratos para não potenciar a sonolência. A dica é usar como acompanhamento vegetais e priorizar o consumo de frutas.

A porção do prato também tem uma correlação direta com o sono.

“Quanto maior a quantidade de comida, mais difícil será para o corpo digerir e absorver os nutrientes. Consequentemente, usa-se muita energia para esse processo, causando cansaço”, explica Bragagnolo.

Ocorre que, após a alimentação, o sangue vai para o trato gastrointestinal para promover o transporte de nutrientes para as células e tecidos do organismo. Então, se o consumo foi abundante, o cérebro receberá menos sangue e oxigênio, já que a maioria estará concentrada na região do estômago. Diante dessa carência, aparece a sonolência.

Muitas vezes, a causa do exagero é pular o café da manhã e chegar ao almoço com muita fome. Outra causa é uma noite mal dormida:

“Quando a qualidade do sono é ruim, é provável que a pessoa se sinta mais ansiosa ou irritada e recorra à comida para aliviar essa situação.”

A nutricionista argentina Florencia Salva recomenda a elaboração de um prato variado à base de alguma proteína, vegetais e carboidratos complexos, sejam massas ou grãos integrais como lentilhas, feijões e grão-de-bico:

“Esse tipo de grão, por ser composto por fibras, tem digestão lenta, o que faz com que o açúcar no sangue não suba repentinamente.

O ciclo circadiano desempenha outro papel fundamental no aparecimento da sonolência. É o relógio biológico que regula os padrões de sono e vigília. O que acontece é que entre às 14h e às 17h o corpo tem uma queda no nível de energia e, se além disso houver a ingestão de um almoço farto, haverá maior sonolência.

“Embora seja normal ter altos e baixos nos níveis de energia, é importante respeitar e manter uma ordem nos horários em que se deita, levanta e come para não confundir o corpo”, destaca Bragagnolo.

COMO EVITAR

A boa notícia é que existem maneiras de evitar que o sono aumente exponencialmente após o almoço. Os especialistas recomendam algumas estratégias. A primeira é dar um passeio ao ar livre depois de comer.

“Não precisa ser muito longo, mas é importante estar exposto ao sol porque ativa nosso funcionamento cerebral e alerta”, diz Bragagnolo. Outra dica é comer pequenas porções, mas sem pular nenhuma refeição. Nesse sentido, o que se sugere é incorporar alimentos com baixo teor de carboidratos ou alto teor de gordura e priorizar vegetais. Isso ajudará a manter os níveis de energia estáveis ao longo do dia.

A soneca depois do almoço é outro dos pontos sugeridos pelos profissionais, embora por vezes as exigências cotidianas não permitam um cochilo. Dormir entre 15 a 45 minutos, reduz a sensação de sonolência e melhora o desempenho cognitivo.

Por sua vez, a nutricionista destaca a importância de uma boa rotina de sono, com descanso médio de sete ou oito horas por noite.

“Nesse caso, o estresse acumulado durante o dia é liberado e as células e tecidos do organismo são reparadas; quando o sono é de qualidade, previne-se o cansaço no dia seguinte”, afirma Bragagnolo.

Vale ressaltar um fato curioso que pode causar surpresa, mas surte efeito.

“Embora o chá e o café sejam bebidas energéticas, quando consumidos logo após a refeição, eles interferem na absorção de alguns nutrientes como o cálcio e o ferro. Portanto, o recomendado é aguardar entre 40 minutos e uma hora desde o horário do almoço até a hora de tomá-los”, revela Salva.

OUTROS OLHARES

7 EM CADA 10 MULHERES SÃO MÃES NO BRASIL; METADE DELAS É SOLO

Probabilidade de mulher sem filhos ter ensino superior é 112% maior do que quem tem filho pequeno

A maioria das mães brasileiras é solteira, viúva ou divorciada (55% do total), enquanto 45% vivem com um companheiro ou companheira. Os dados fazem parte de uma pesquisa, que apontou também que 69% das mulheres têm ao menos um filho e que a idade média de todas as mães do país é de 43 anos.

O levantamento ouviu mulheres acima de 16 anos em 126 cidades entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano. Foram realizadas 1.042 entrevistas, com margem de erro de três pontos percentuais.

A pesquisa mostra ainda que a probabilidade de uma mulher sem filhos ter estudado até o ensino superior é 112% maior do que na fatia de mães de crianças pequenas.

No total, 36% das mulheres sem filhos ingressaram na universidade, enquanto 9% estudaram apenas até o fundamental. Entre quem é mãe, 28% das mulheres com filhos até 12 anos têm o fundamental completo, número que vai a 42% entre as mães de jovens de 13 a 17 anos. Em ambos os grupos, só 17% das mulheres completaram o ensino superior.

Moradora da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Joseli de Oliveira Mota Santos, 50, abandonou os estudos quando estava no equivalente ao atual 6º ano do fundamental. Casada há 27 anos e mãe de três filhos – de 25, 23 e 18 anos -, ela, na época, foi trabalhar em uma fábrica de bolsas para ajudar a família.

“Eu não tinha caderno, não tinha folha de papel. Passei por algumas dificuldades e desanimei. Meus pais diziam que eu sentiria a falta dos estudos e eles estavam certos”, diz.

Mais tarde, teve vontade de retomar os estudos, mas nem sempre tinha apoio. “Às vezes, meu marido me puxava para baixo e dizia ‘agora vai querer estudar?’. Isso me afetava”.

Com 40 anos, Joseli decidiu fazer o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) para obter o certificado de conclusão do ensino fundamental. Depois, terminou o ensino médio.

Agora, ela se prepara para prestar vestibular para administração. “Ele [o marido] está todo orgulhoso, vê que eu estudo e estou interessada. Meus filhos também ficam felizes e me ajudam.”

A economista Cecilia Machado, professora da FGV, afirma que a pesquisa demonstra o impacto que as normas culturais têm na sociedade brasileira.

“Todos os cuidados dos filhos, por mais que compartilhados dentro de um casal, sabemos que não são equilibrados. Ao ver o desbalanceamento em nível nacional e no mercado de trabalho, esse peso segue recaindo sobre as mulheres”, diz a economista.

Para ela, a realidade da maternidade é muito diferente para cada perfil. No caso das mães solo, por exemplo, é importante ter um lugar no qual possam deixar o filho durante o dia enquanto trabalham ou buscam um emprego.

“Falamos muito em licença maternidade, mas existe um grupo considerável de mulheres para o qual esses direitos não incidem. Para essas mulheres, a possibilidade de trabalhar não é nem porque ela não consegue um emprego, mas porque não tem com quem deixar a criança”, diz.

A pesquisa mostra que, entre as mães solo, 18% estão desempregadas, proporção que cai para 8% entre as casadas ou com companheiro.

O levantamento aponta que a disparidade econômica é alta inclusive entre as mães mais recentes, que têm filhos de até 12 anos. Nesse grupo, 44% das mães solo vivem mensalmente com até R$ 1.212, valor referente ao antigo salário mínimo. Entre as casadas esse índice cai pela metade (21%). Viviana Santiago, consultora em diversidade e inclusão, aponta que outro problema é a naturalização da maternidade na adolescência.

“Isso chega para elas quando ainda são meninas, em gravidezes que não foram planejadas, muitas vezes relacionadas com o fenômeno do casamento infantil, que é uma violação de direitos”, diz.

Ela afirma ainda que muitas jovens são abandonadas no cuidado desses bebês, o que demonstra como a paternidade não é um lugar naturalizado para os homens. Isso também gera uma sobrecarga para elas tanto no cuidado do filho quanto na responsabilidade para sustentar a família, o que muitas vezes faz com que elas adiem outros projetos, como os estudos.

Foi isso que aconteceu com Iris Hora, 21, que foi mãe aos 16 anos. O relacionamento entre ela e o pai da criança terminou quando ela estava grávida de quatro meses, e ele só aceitou registrar a filha quando ela já tinha sete meses de vida.

Atualmente, ele deveria pagar R$ 200 de pensão, mas nem sempre isso acontece. Para cuidar da filha, Iris teve que procurar um emprego e mudar de escola. Conseguiu conciliar o trabalho com os estudos e finalizou o ensino médio, mas não teve como pagar a faculdade. “Era criança cuidando de outra criança.”

“No início foi bem difícil. Sofri bastante”, diz ela. “Minhas amigas saíam, eu não podia. Não podia gastar meu dinheiro para mim, precisava pensar nela. Tiveram vezes que ela ficou sem fralda e tive que pedir ajuda de outras pessoas.”

A situação agora melhorou e ela se prepara para ingressar na universidade no segundo semestre deste ano. “Quero ter uma renda melhor e trabalhar com o que gosto”.

Ela diz que seu sonho é que a filha aproveite a infância. “Espero que ela possa me falar sobre qualquer situação que esteja passando e me veja como amiga.”

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHADORES TEMEM SER SUBSTITUÍDOS POR ROBÔS

Pesquisa da Microsoft mostra que profissionais têm receio de que a inteligência artificial tome seus postos

Com o avanço do uso de inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho, a preocupação de trabalhadores sobre o futuro de suas profissões tem crescido. Apesar disso, a maior parte deles não evitaria o uso da tecnologia para melhorar sua performance e delegar tarefas. É o que aponta pesquisa anual da Microsoft sobre tendências no mundo do trabalho.

Cerca de 49% dos entrevistados ouvidos pela empresa se dizem preocupados com a substituição de suas funções atuais por ferramentas de IA. Ao mesmo tempo, 70% deles dizem que delegariam a maior quantidade de trabalho possível à tecnologia para diminuir a sobrecarga de trabalho.

O estudo aponta que o uso de inteligência artificial deve ter como foco o aumento da produtividade em tarefas relacionadas à comunicação e rotina de trabalho, dando mais espaço à criação.

Apesar disso, os dados apontam que os profissionais também estão dispostos a usar a IA para trabalhos analíticos (79%) e criativos (73%). No Brasil, esse número é ainda maior, com 88% dispostos a usá-la para trabalhos analíticos e 82% para tarefas criativas.

“Dados mostram a clara necessidade de se separar a mensagem do barulho e fazer reuniões mais efetivas, criativas e orientadas à prática. E num mundo onde a criatividade é a nova produtividade, o débito digital é mais do que uma inconveniência, é uma ameaça à inovação”, afirma Jared Spataro, vice-presidente corporativo da Microsoft, em vídeo apresentado durante o lançamento do estudo. O débito digital mencionado por Spataro se refere ao tempo perdido pelas empresas com falhas na implementação de tecnologia nos processos de trabalho. Na pesquisa, 64% dos entrevistados, por exemplo, apontaram falta de tempo e energia para realizar tarefas criativas. Esses trabalhadores, segundo a sondagem, tem 3,5 vezes mais chance de ter problemas com inovação e pensamento estratégico.

A pesquisa mostra que 57% do tempo de trabalho é gasto com comunicação, enquanto 43% do tempo com criação. Os dados levam em conta o uso de softwares da empresa, como Outlook, Teams, Word, Excel e PowerPoint.

Os entrevistados apontaram que reuniões ineficientes, falta de metas claras e número muito grande de reuniões, são as principais razões para a improdutividade no trabalho, seguidos do sentimento de pouca inspiração e a dificuldade de encontrar facilmente as informações necessárias para determinadas tarefas.

AUXILIAR

Para 34% dos líderes ouvidos pela pesquisa, o aumento na produtividade dos empregados seria a consequência mais importante do uso da IA no ambiente de trabalho, contra 16% que mencionaram a diminuição do número de funcionários. No Brasil, 41% apontaram o uso da IA para o aumento da produtividade, contra 11% que mencionaram a diminuição de empregados.

Os tópicos mais mencionados pelos gestores se referem ao uso de inteligência artificial para auxiliar os empregados com tarefas repetitivas, mas necessárias, além de melhorar o bem-estar no ambiente corporativo. Quando perguntados sobre como imaginavam o ambiente de trabalho em 2030, 33% dos entrevistados disseram esperar que possam produzir mais com a metade do tempo utilizado hoje.

Julgamento analítico, flexibilidade e inteligência emocional, por sua vez, foram apontados como habilidades consideradas essenciais pelos profissionais num futuro onde a IA estaria plenamente presente no ambiente corporativo.

EU ACHO …

DONA CLEONE SANTOS, PRESENTE!

Ela trabalhou intensamente pelas mulheres em situação de prostituição

Dona Cleone Santos marcou seu nome na história dos movimentos sociais do Brasil. Foi sindicalista, lutou junto ao movimento de moradia e, em parte significativa, esteve em situação de prostituição no Parque da Luz, na região central da capital paulista.

Ali, viveu momentos que preferiu esquecer, mas principalmente encontrou a causa de sua vida naquela situação que experienciava junto às mulheres no “paredão”, à mercê da miserabilidade aproveitada pelos homens. Muitas das mulheres em situação de prostituição eram mães, assim como Cleone. Outras, avós, e ainda havia aquelas que eram bisavós.

Dona Cleone conseguiu sair daquela situação e retornou ao Parque da Luz anos depois, quando juntou forças, junto à Irmã Regina, freira da Igreja Católica, para fundar a Organização Mulheres da Luz.

A organização se destinava a ajudar mulheres nessas situações. Dona Cleone e Irmã Regina começaram a levar cestas básicas, fraldas, roupas, mas também a trabalhar junto a essas mulheres com formação política, cursos profissionalizantes e munindo-as de instrumentais para que conseguissem encontrar uma saída dali.

Dona Cleone passou a falar publicamente sobre o tema e a demandar reuniões em gabinetes. Eu estava como secretária-adjunta de Direitos Humanos na cidade de São Paulo nesta época. Foi quando a conheci. Era uma gestão de esquerda, mas, mesmo Dona Cleone sendo uma mulher de história em movimentos sociais, sua presença causava alguns incômodos.

Isso porque Dona Cleone ouvia essas mulheres e estava cada vez mais convicta de que a regulamentação da prostituição traria ganhos apenas aos donos das casas de prostituição e, de forma alguma, dialogava com a realidade da imensa maioria das mulheres nessa situação. Ela defendia políticas de combate à pobreza vivida por essas mulheres. A regulamentação da atividade, de outro lado, era pauta de projetos de lei propostos por congressista do campo progressista.

Voz dissonante em parte do campo, Dona Cleone seguiu seu trabalho. Ela, inclusive, se referia a esse grupo apenas como “mulheres em situação de prostituição”, conforme debatido na Pastoral da Mulher Marginalizada, em 2005.

Os estigmas são marcantes e geram violências diversas nos quartos, nas ruas e, inclusive, dentro das famílias dessas mulheres. A discriminação está como um peso arrastado pelas canelas maltratadas durante a vida dessas mulheres, motivo pelo qual Dona Cleone atuava, inclusive, contra a conformação por parte de muitas que acreditavam não ter direito a nada. Nem o direito a sonhar.

Como afirmou em uma entrevista à Carta Capital: “Para nós, é muito importante não tirarmos o direito de sonhar dessas mulheres, porque este sonho de sair, eu acho que é o que ajuda a sobreviver dentro de uma situação de tanta violência, de tanta exclusão, invisibilidade. Então, a gente faz questão de colocar ‘em situação de prostituição’”.  

Tinha muito orgulho do trabalho social que deixou raízes, formou mulheres em cursos técnicos profissionalizantes e universidades. Tinha também força para ser uma voz constante contra a violência diária entre quatro paredes cometida por homens que se entendem no direito de supremacia sobre essas mulheres. São violências ocultas que a sociedade brasileira finge que não vê.

Naquela reunião, ela me pediu que elaborasse uma política municipal de assistência social, formação e encaminhamentos profissionais, mas voltado às mulheres em situação de prostituição. Foi logo no final da gestão e a eleição perdida impossibilitou que essa política fosse adiante.

Mas nos reencontramos tempos depois e fizemos algumas parcerias. Tive a honra de poder escutá-la e aprender mais sobre uma realidade difícil, mas, infelizmente, muitas vezes romantizada e tratada de forma midiática. Ouvi sua voz doce, recebi seu abraço carinhoso.

Neste obituário, fica registrada minha imensa admiração e a certeza de seu retorno festejado aos ancestrais. Dona Cleone tem sua morada nos corações das muitas mulheres que nela se inspiram e que seguem em frente pela luta por dignidade.

Dona Cleone, presente!

*** DJAMILA RIBEIRO – É mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais

ESTAR BEM

COMBATE AO SEDENTARISMO COMEÇA COM EDUCAÇÃO

A prática, além de prazerosa, precisa ser constante e estar de acordo com a capacidade e a demanda de cada corpo

O temor de lesões pode ser um dos motivos de desistência ou até fuga de diversas pessoas em relação ao esporte e à prática física. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 47% da população brasileira é sedentária, o que faz do Brasil o país mais sedentário da América Latina e o quinto no ranking mundial. Por isso mesmo, um dos maiores trabalhos dos fisioterapeutas é estimular e incentivar as pessoas a fazer atividade física.

“O fisioterapeuta identifica se certo indivíduo tem alguma disfunção e a partir daí elabora um programa, um tratamento para que aquela pessoa faça uma prática de exercícios supervisionada e de uma forma adequada”, diz o fisioterapeuta e presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Raphael Ferris.

Conforme ele explica, existem muitas crenças intrínsecas à população para a prática de esporte, o que favorece esse afastamento por medo, insegurança ou até falta de conhecimento. “Muitas vezes a pessoa está com dor e pensa que o melhor é ficar em repouso. Só que no fundo isso piora, porque é preciso manter o corpo em movimento. Claro que com cuidados, exceções, e sempre levando em conta a balança da capacidade e demanda”, diz.

A balança a que ele se refere diz respeito a uma reflexão sobre qual a capacidade que um corpo tem de força muscular e como ele está preparado para determinada demanda. Ou seja, se eu começar a correr, devo iniciar com pequenas distâncias para adaptar a capacidade do meu corpo e ir aumentando. “Não é sobre não fazer uma prática, mas sim encontrar uma forma para que essa prática seja feita reduzindo os riscos”, orienta.

A escolha da atividade física, segundo ele, pouco importa: o que vale é a constância. “O importante realmente é o movimento e que a pessoa faça uma atividade com que ela se sinta bem, no mínimo três vezes por semana”, conta a fisioterapeuta e mestre em biomecânica da corrida, Andreia Miana.

COMBATE DA DOR

Entre a população brasileira, é alto o número dos que apresentam doenças e disfunções crônicas. Mas, diferentemente do que se pode pensar, a atividade física pode ajudar com as dores, e não piorá-las.

Imagine uma dor lombar. A tendência, como mecanismo de defesa do corpo, é tensionar a contratura da musculatura da região até a coluna. Dessa forma, movimentos básicos, como agachar, passam a ser robóticos, para evitar uma dor ainda mais aguda. O problema é que por medo ou pelo estímulo da tensão, a dor sai do pico e até melhora, mas o movimento da pessoa, não. O que faz com que a musculatura fique cada vez mais tensionada, dolorida e fraca.

“Educar e orientar o paciente com dor é mostrar a importância do movimento completo para que ele saia desse ciclo. Então, a gente estimula a pessoa a fazer um tipo de atividade, um tipo de movimento, para que ela volte o mais rapidamente possível ao que era antes e isso não vire uma doença crônica”, afirma Andreia. Ela explica que a dor que dura até três meses é chamada de fase aguda e, mais do que isso, ela passa a ser crônica.

Para acabar com esse incômodo, é preciso ir ao médico, que vai fazer o diagnóstico. Algumas vezes, algo que só se consegue depois de uma bateria de exames clínicos, ressonâncias ou exames de imagem. Em outras, uma anamnese (diálogo estabelecido entre profissional de saúde e paciente) e a inserção de uma rotina de exercícios gradativos, de mobilidade e força, já podem melhorar o quadro.

De acordo com Ferris, hoje a atividade física é a que tem mais evidência científica para cura de lesão de diferentes patologias. Logicamente, é preciso fazer uma avaliação para ver a funcionalidade da pessoa diante da prática física. Ou seja, supervisionar esse paciente, na parte fisioterapêutica, cardiovascular, muscular e ortopédica. Assim, apesar de a prática ser indicada para todos, as formas de praticá-la podem variar de acordo com a idade, sexo e intensidade do impacto.

“O ser humano gosta muito de achar uma causa para uma dor”, garante Ferris. “No entanto, as origens das lesões são sempre multifatoriais. Existem fatores psicológicos, biomecânicos, anatômicos, fisiológicos, metabólicos estruturais, de treinamento inadequado.”

De acordo com ele, correlação não é causa. Por isso, uma dor no joelho, que é muito comum em qualquer idade, principalmente em quem mantém uma rotina intensa de atividades físicas de alto impacto, pode estar ligada à prática em si, mas também com o piso do lugar em que se fez o exercício, o tipo de tênis, o peso, a condição da pessoa. Uma das principais razões é o sedentarismo.

“Com base em revisões sistemáticas com metanálise, a gente descobriu que entre as pessoas sedentárias e as que não praticam corrida existe maior prevalência de artrose, de desgaste no joelho, do que entre as que correm. Até porque correr promove a nutrição da cartilagem pelo líquido sinovial”, explica Andreia.

SEGURANÇA

Os especialistas aconselham a sempre verificar lesões prévias antes de começar uma prática física. Caso seja necessário, procurar um fisioterapeuta para supervisão. Também é interessante variar o tipo de exercício. “Quando você sempre faz o mesmo, tem uma sobrecarga contínua”, alerta Andreia. Trocar as atividades pode ajudar o sistema a prevenir lesões.

Ao trabalhar os joelhos, por exemplo, é preciso pensar em fortalecer o quadril, os glúteos, a panturrilha, o core, o músculo do pé e o abdômen, afinal está tudo conectado. É assim que se melhora a performance. Para a corrida, por exemplo, pode ser interessante fortalecer o quadríceps – músculo localizado no compartimento anterior da coxa, considerado o mais importante do joelho.

“E quando a gente fala desse fortalecimento para diminuir o impacto não é só o da corrida, mas o de subir escadas, de descer do ônibus e tantas outras coisas do dia a dia”, explica.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

‘MÃES ARREPENDIDAS’ AMAM OS FILHOS, MAS ODEIAM A MATERNIDADE

Mulheres questionam papéis de gênero e pressão para abdicarem de si mesmas

Rildes Mendonça, 37, tem três filhos adolescentes. Se pudesse voltar atrás, porém, teria optado por não ser mãe. “Eu amo os meus filhos, mas detesto ser mãe.”

Ela não é a única que se sente dessa maneira. O assunto já rendeu livro, estudos científicos e muitos comentários nas redes sociais. O arrependimento materno muitas vezes é associado à falta de amor pelos filhos, mas as mulheres que se declaram “mães arrependidas”, na verdade, questionam o papel social atribuído à maternidade e não gostam mesmo é do peso que vem com a função.

No caso de Rildes, a sensação de sobrecarga ligada à maternidade é fruto de uma combinação de violência doméstica, separação do genitor das crianças, falta de apoio familiar e dificuldades financeiras. Contudo, ela diz que também não tinha vontade de ser mãe e essa certeza não foi mudada pelo nascimento dos filhos.

Duas das suas gestações não foram planejadas e, na outra, foi pressionada pelo parceiro. “Eu não tive educação sexual nenhuma. Não se falava sobre isso em minha família, que era muito religiosa”, relata.

O que faz Rildes insatisfeita com a maternidade, porém, não é apenas falta de planejamento, mas sim a pressão para abdicar de si mesma. “Tudo é sua responsabilidade, você não tem tempo para nada. Eu achava que era um monstro por me sentir assim, mas hoje me entendo e me perdoo.” Foi para contar essas histórias e acolher essas mulheres que Karla Tenório, 40, criou a página “Mãe arrependida”, no Instagram. O projeto começou com um espetáculo de teatro virtual, em 2021, que terá sua primeira temporada presencial em julho, no Rio de Janeiro. Além de divulgar a apresentação, a página também é utilizada para trazer depoimentos de mulheres que se sentem arrependidas da maternidade.

“Se eu pudesse voltar atrás, eu não teria ficado grávida”, diz a atriz. “Eu não aguentava mais ficar em silêncio, e a primeira maneira que encontrei de me expressar foi a artística. Depois, com a página, vi que muitas outras mulheres se identificavam e que essa troca também me trazia cura.”

A gravidez de Karla foi desejada e planejada, mas exercer o papel de mãe não foi como idealizado. “Eu achei que queria aquilo, mas existe muita pressão social envolvida. Hoje, vejo que, naquele momento e daquela maneira, eu não estava preparada.”

Nas redes sociais, ela também compartilha momentos com sua filha de 12 anos, Flor Inaê. A filha gosta de participar do projeto e entende as reflexões da mãe, segundo a atriz. “Quando uma mãe se assume arrependida, ela não coloca essa carga emocional na criança.” O objetivo central do projeto é conscientizar sobre a necessidade de políticas públicas em prol da saúde mental das mulheres e desconstruir a idealização sobre o papel de mãe. “É desse conceito que eu me arrependo e quero romper, para que as mulheres possam exercer uma maternidade mais leve.”

A psicóloga Luana Flor Hamilton, especialista em maternidade, valida os relatos. De acordo com ela, o sentimento tem nome: maternidade compulsória. A denominação quer mostrar que ser mãe não é exatamente uma escolha, mas “um fluxo natural”.

De acordo com a profissional, as mulheres são vistas desde a infância com base na função reprodutiva, além de serem impactadas por romantizações. Por isso, é comum que muitas só entendam a escolha que fizeram após se tornarem mães.

“Elas vivenciam essas sensações muito ambíguas, percebem que não existe só esse amor inato ou o suposto instinto materno, e muitas começam a se culpabilizar”, aponta. Um estudo realizado em 2021 afirma que o arrependimento materno não está ligado apenas à falta de condições financeiras e emocionais para cuidar dos filhos, mas sim às expectativas existentes em relação às mães. Hamilton reforça que, muitas vezes, as mulheres que se declaram mães arrependidas ou que assumem os elementos negativos da maternidade são julgadas como mães ruins ou negligentes, o que não é necessariamente verdade.

“Elas estão sofrendo, dando conta dos filhos e não estão sendo acolhidas”, alerta. “Tem uma diferença muito grande entre o que nos dizem que é a maternidade e o que encontramos na realidade.”

A especialista recomenda acompanhamento psicológico para lidar com o sentimento. “É preciso entender o que está levando a essa insatisfação, diferenciar a experiência da maternidade do vínculo que existe com os filhos e ressignificar o que é ser mãe.” A discussão ganhou força em países anglófonos e europeus já há alguns anos após a publicação do livro “Mães Arrependidas”, da socióloga israelense Orna Donath. Nele, a autora entrevista uma série de mulheres que se arrependeram da maternidade.

Seja nas redes sociais, estudos ou livros, uma constante é a separação entre o arrependimento e o amor pelos filhos. Rita de Cassia Giobom, 58, viveu esse sentimento há 34 anos, quando gestava sua filha. Na época, diz, a situação era ainda mais complicada. “Não tinha ninguém que falasse que você poderia ficar cansada e não precisaria estar feliz 24 horas por dia”, afirma. Para ela, a maternidade só passou a fazer sentido quando começou a ter interações mais complexas com a filha e a percebeu como alvo de seus ensinamentos.

Diz conversar abertamente sobre suas visões da maternidade com ela, e pontua ser importante falar sobre o assunto para que outras mulheres possam entender melhor seus sentimentos.

“O meu amor por minha filha é uma coisa. O processo da maternidade e tudo que vem com ele é outra”, diz. “Eu não sou louca, não nasci com defeito. Eu não sou uma péssima mãe por me sentir assim. Eu sou mulher.”

SAÚDE EM EQUILÍBRIO

RASPAR A LÍNGUA AJUDA A COMBATER MAU HÁLITO

Hábito elimina excesso de saburra, camada bacteriana que pode cheirar mal

Ao escovar os dentes, muitas pessoas esquecem de escovar a língua e acabam ficando com uma camada branca ou amarelada, resultado do acúmulo de restos de comida, células mortas da pele e bactérias, que resultam no mau hálito. A língua possui papilas gustativas, pequenas protuberâncias que ajudam a agarrar os alimentos enquanto há mastigação. Raspadores de língua são projetados para retirar aquele revestimento descolorido e frequentemente malcheiroso. Normalmente feitos de aço inoxidável, silicone ou plástico, eles vêm em alguns estilos. Mas eles são realmente importantes para manter uma boa higienização bucal?

Segundo especialistas, sim. Essa camada da língua cheira mal porque as colônias bacterianas podem viver lá, diz Ananda P. Dasanayake, professor de epidemiologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Nova York. Algumas dessas bactérias produzem gases que são “realmente muito fedidos”, explica, acrescentando que “essa é uma das razões pelas quais as pessoas têm halitose”, ou mau hálito persistente.

“A halitose é a principal razão pela qual um dentista pode recomendar a raspagem da língua. Os tratamentos para o mau hálito são bastante limitados. As pessoas podem usar um antisséptico bucal, mas apenas mascarará o cheiro. Raspar fisicamente a fonte desse odor é a melhor coisa que temos para o mau hálito”, defende Isabelle Laleman, periodontista de um hospital universitário na Bélgica.

Uma revisão, publicada em 2010, por exemplo, descobriu que a raspagem e a escovação da língua podem melhorar o odor do hálito e reduzir a saburra na língua. Outros estudos, incluindo um que Laleman escreveu e publicou em 2017, descobriu que entre 18 pacientes com periodontite – uma forma grave de doença gengival – a raspagem da língua não fez diferença na quantidade de bactérias ou odor em suas bocas (embora os pacientes tenham dito que sentiram a língua mais limpa).

Segundo os especialistas, a recomendação é que apenas pacientes com halitose deveriam raspar a língua todos os dias, porque são os únicos que realmente precisam. Se a pessoa tem um histórico de gengivite também é melhor manter a quantidade de bactérias na boca o mais baixa possível.

MODO CORRETO

A maneira mais adequada de fazer a higiene é realizar ao menos três ou quatro varreduras com o utensílio para cobrir toda a língua, de dentro para fora. Na falta do raspador, a limpeza pode realizada com uma colher.

Procure ser delicado. Se aplicar muita força, pode acabar lesionando o tecido. Isso fará com que descame, aumentando a proliferação de bactérias. Além disso, se ela ficar com uma muita sensibilidade alta, haverá prejuízo na hora de comer.

Os médicos não recomendam o uso da escova de dente para limpar a língua porque a profundidade de alcance pode acionar o “reflexo da ânsia e do vômito”.

OUTROS OLHARES

DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS CRESCEM 48%

Dados inéditos do Disque 100 são referentes aos primeiros 4 meses de 2023

O número de denúncias de estupros, abusos, exploração e outras violências sexuais contra crianças e adolescentes cresceu 48% nos quatro primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, revelam dados inéditos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Entre janeiro de junho de 2023, o Disque 100 – canal de denúncias anônimas de casos de violações de direitos humanos – registrou 9.500 denúncias de crimes desse tipo, em comparação com 6.400 no primeiro quadrimestre de 2022. Em todo o ano passado, foram feitas 11 mil denúncias com esse perfil.

Houve também um aumento expressivo – de 68% – no número de violações de direitos relacionadas a essas denúncias: foram 17 mil neste ano, contra 10.400 em 2023.

O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos de grupos vulneráveis, como crianças, mulheres, idosos e a população LGBT. É descrito pelo governo como um “pronto-socorro” dos direitos humanos, por atender, 24 horas por dia, situações que acabaram de acontecer ou que estão em curso, acionando órgãos competentes.

Os dados foram consolidados pelo governo para o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, promovido todo 18 de maio.

Creches, instituições de ensino, estabelecimentos de saúde, transportes públicos e carros de aplicativos foram alguns cenários das violências denunciadas. Mas, em consonância com as evidências de outros estudos, é a residência da vítima o local onde mais acontecem os abusos: 60% das denúncias foram de crimes ocorridos dentro de casa. A casa de familiares, do suspeito da agressão ou de um terceiro é o segundo local mais comum, citada em 18% dos casos; outros 8% ocorreram no ambiente virtual, ou seja, foram praticados pela internet. Organizações que lidam com essa temática, como o Instituto Liberta, acreditam que os números podem refletir um crescimento das denúncias, não necessariamente dos casos. Sabe-se que se trata de um crime muito subnotificado – de acordo com estimativas, apenas 10% dos casos são denunciados.

“Essa é uma violência que sempre existiu. Acreditamos que o aumento no número de registros pode significar uma coisa positiva, porque é a sociedade desnaturalizando e reagindo a essa prática. Só com a quebra do silêncio é que essa violência pode ser enfrentada”, diz Luciana Temer, diretora presidente da organização.

Segundo ela, a denúncia é o primeiro passo, mas só vai haver uma melhora efetiva do problema com ações de educação e informação para que crianças e adolescentes aprendam a se defender.

“Basta olhar para o fato de que se trata de uma violência preponderantemente intrafamiliar para entender que o caminho da prevenção é o mais eficaz”, afirma.

Para Lucas José, secretário-executivo da Coalizão Brasileira pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes, de fato não é possível afirmar que o aumento do número de denúncias represente um crescimento da prevalência dessa violência, já que falta uma integração dos registros com outras bases de dados sobre violência.

“A subnotificação mascara o número real de violência sexual. Mas ao reconhecer que, em tese, o aumento ocorre pelo maior reconhecimento dessa violência e melhor acesso aos canais de denúncias, é fundamental que o governo faça incrementos no Disque 100”, afirma.

Ele também ressalta que a maior procura por canais de denúncia gera aumento da demanda e que é preciso responder adequadamente. “Se a demanda não é atendida, há risco de o canal perder credibilidade. O famoso ‘denunciar não resolve’”, alerta.

O governo federal promete lançar, em um evento no Palácio do Planalto, um pacote de ações de conscientização e enfrentamento do abuso e da exploração sexual contra crianças e adolescentes.

Entre as medidas previstas, estão o investimento nos Centros Integrados de Escuta Protegida, o lançamento de um programa que mapeia pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes em rodovias e um programa de parceria com empresas.

A causa ‘Da Repressão à Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes’ tem o apoio do Instituto Liberta, parceiro da plataforma Social+.

COMO DENUNCIAR

*** O Disque 100, canal de denúncia anônima do governo federal, funciona 24 horas, todos os dias da semana. Basta ligar gratuitamente para o número 100. Também é possível denunciar pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil ou pelo número de WhatsApp (61) 99611-0100.

*** A denúncia pode ser feita presencialmente em uma delegacia de polícia, de preferência uma delegacia de proteção à mulher ou de crianças e adolescentes, se houver na sua cidade.

*** Os Conselhos Tutelares podem ser procurados para ajudar a tirar uma criança de uma situação de violência, ainda que seja uma suspeita.

GESTÃO E CARREIRA

LICENÇA- PATERNIDADE AJUDA MULHER A SEGUIR CARREIRA PROFISSIONAL

Pausa remunerada de até 6 meses para pais vem ganhando espaço no mundo, mas é rara no Brasil

“Eu imaginei que tivesse que acordar sozinha à noite para amamentar, porque precisaria poupá-lo, já que ele iria trabalhar no dia seguinte”, diz a empresária Andreza Almeida Dyonisio, 37, se referindo ao marido, Felipe Rocha, 36, gerente de vendas e marketing da Rhodia Brasil.

“Mas ele levanta junto comigo sempre que ela chora e parte das vezes ele dá a mamadeira, para que eu possa descansar um pouco”, diz.

A pequena Cecília chegou ao mundo há cerca de 30 dias, causando uma “revolução” não só na vida da mãe, como é o costume entre os bebês.

A vida do pai também foi transformada, para além dos cinco tradicionais dias de licença remunerada previstos pela lei brasileira. A empresa de Rocha adota a licença- paternidade estendida, que concede aos pais uma pausa remunerada de até quatro meses para cuidados com o recém-nascido.

É isso que vai permitir que Andreza, dona de uma loja de roupas, volte antes do previsto para o trabalho. “Desde que a gente decidiu ter um filho, eu sabia que o Felipe seria um pai presente, porque era o sonho dele”, afirma.

“Eu pensava, porém, que o meu maternar fosse mais solitário, talvez com ajuda da minha mãe. Mas ele está participando de tudo, vendo o desenvolvimento dela, dividindo os perrengues do dia e da noite, vivendo a paternidade por inteiro.”

Enquanto a lei brasileira prevê que as mulheres tirem uma licença de 120 dias quando se tornam mães, os homens que se tornam pais têm cinco dias corridos. Desde 2021, a companhia que optar pelo programa Empresa Cidadã pode estender a licença-maternidade para 180 dias, e a paternidade, para 20, com o abatimento dessa extensão no Imposto de Renda. A prorrogação do período de licença-maternidade (que passou a ser chamada de licença parental) pode ser dividida entre mães e pais, desde que ambos trabalhem em companhias que participem do Empresa Cidadã. Apesar do incentivo governamental, o número de empresas cidadãs ainda é pouco significativo: cerca de 26 mil, segundo o levantamento mais recente da Receita Federal, de julho de 2022. Quase nada diante das 20,2 milhões de empresas cadastradas no país ao final do ano passado, de acordo com o Ministério da Economia.

Algumas filiais brasileiras de grandes multinacionais como Rhodia (controlada pelo grupo Solvay), Haleon (fabricante do antiácido Eno), Sanofi (dona da marca Medley de medicamentos) e Corteva (produtora de sementes e defensivos) vêm investindo na licença parental remunerada estendida, bancando o benefício por conta. Elas seguem as premissas das respectivas matrizes, que consideram a licença remunerada para os pais uma ferramenta para promover a igualdade de gênero.

“É claro que as empresas precisam fazer com que a conta feche”, diz Edna Bedani, professora da área de liderança e carreiras da ESPM e vice-presidente do conselho deliberativo da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo). Segundo ela, é possível que em alguns casos a remuneração comece em 100%, e depois seja negociada a 90% ou 80% do salário nos meses seguintes. “Mas, em geral, essas companhias têm consciência de que o benefício contribui para aumentar a diversidade e a consequente riqueza de ideias, uma vez que mais gente de licença exige um rearranjo interno – e os lugares passam a ser ocupados por mulheres ou profissionais mais velhos, por exemplo”, afirma. “De quebra, elas conquistam maior engajamento dos funcionários, aumentam a retenção de talentos e melhoram a sua reputação na sociedade.” Levantamento realizado pelo centro de estudos americano Peterson Institute for International Economics aponta que a licença parental igualitária é capaz de aumentar a participação das mulheres em cargos de liderança.

De acordo com o estudo “Women scaling the corporate ladder: Progress steady but slow globally” (Mulheres subindo a escada corporativa: Progresso constante, mas lento globalmente), divulgado em 2020, ao ritmo atual de mudança, levaria mais de uma geração para as mulheres alcançarem a paridade de gênero – 25 anos para mulheres na mesma proporção de cargos de diretoria e 31 anos para a mesma proporção de cargos executivos.

Mulheres CEOs, porém, continuariam extremamente raras nos próximos anos e só chegariam perto da igualdade com homens em 2063.

Segundo o levantamento, existem dois grandes fatores que levam a essa desigualdade. Em primeiro lugar está a formação: as meninas precisam ser encorajadas a seguir carreira em áreas como negócios, economia e contabilidade, para que possam atingir posições de liderança nas empresas e mesmo na vida pública.

Em segundo lugar, está a divergência na carreira de homens e mulheres depois que chegam os filhos. O levantamento mostra que a licença -paternidade, ao lado de uma rede de apoio voltada aos cuidados infantis, é capaz de encurtar o período em que as mães deixam a força de trabalho e facilitam sua reinserção no mercado. Com necessidade de uma pausa menor na carreira por parte delas, a licença- paternidade contribui ainda para reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres.

“É o meu presente de Dia das Mães”, brinca a fonoaudióloga Ana Luíza Ferraz, 35, casada com o gerente de marketing da Haleon no Brasil, Otávio Queiroz Ferraz, que está tirando a licença remunerada de seis meses depois do nascimento de Pedro, há dois meses. Os dois já são pais de Rafael, de cinco anos.

“Está sendo uma experiência muito diferente da primeira gravidez. O Otávio está junto, pode dividir a responsabilidade da criação desde o comecinho. É incrível, especialmente pelo fato de ele poder participar mais das atividades do mais velho”, diz ela, que, como profissional liberal, se sente mais à vontade para voltar a trabalhar assim que possível. “A presença dele me ajuda muito, eu não me sinto tão sobrecarregada nesses primeiros meses, quando a gente acorda demais.”

Para Otávio Ferraz também está sendo transformador. “Como gestor, eu não entendia muito bem certa insegurança das colaboradoras quando saíam de licença-maternidade, em relação a como seria a sua volta. Agora eu estou vivendo essa ansiedade, mas sei que eu volto melhor do que fui”, diz ele.

Já Felipe Rocha fez questão de mudar sua identificação na rede de relacionamentos profissionais LinkedIn: agora a sua primeira e mais importante função é ser “pai da Cecília”. “A Cecília é a minha cliente de mais difícil negociação. Quando ela quer, é pra já”, diz ele, que se apavorou com o primeiro banho, se surpreendeu com a quantidade de soluços e discutiu com a mulher sobre o melhor jeito de trocar as fraldas. “Mas tudo vale para garantir que este vínculo seja eterno.”

Um relatório publicado em março deste ano pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), intitulado “Unindo forças para a igualdade de gênero: o que está nos impedindo?”, revela que muitos países membros do grupo melhoraram suas políticas de licença remunerada para pais nos últimos anos – embora o único que tenha igualado o benefício para homens e mulheres tenha sido a Espanha.

Em alguns, como a Dinamarca, a experiência não foi tão inspiradora: os homens começaram a usar o tempo livre para cursar um MBA.

EU ACHO …

O MUNDO MÁGICO DOS COACHES

Todo dia saem de casa um otário e um coach financeiro

O coach financeiro Thiago Nigro, também conhecido como Primo Rico, entrou nos assuntos mais comentados da internet com um vídeo antigo publicado em seu canal no YouTube.

No vídeo compartilhado há três anos, o consultor ensina quem ganha R$ 1.720 por mês a ficar milionário investindo apenas R$ 270 do bolso a cada mês.

Em uma conta de padaria que só seria feita por padeiro sob o efeito de Zolpidem, Nigro afirma que o feito seria possível se a pessoa gastasse R$ 300 em alimentação.

O youtuber faz parte da geração de coaches financeiros que pipocaram na internet nos últimos anos com soluções milagrosas para virar milionário.

Eles usam o próprio exemplo de superação. Na maioria das vezes, são histórias comoventes de privações na infância e, tal qual uma Scarlett O’hara em “O Vento Levou”, batalham para nunca mais passarem necessidades.

Mas é só fazer uma rápida pesquisa no Google para descobrir que a maioria teve uma juventude cheia de privilégios e todas as contas pagas até a chegada do primeiro milhão.

As dicas fantasiosas desses coaches são floridas de frases motivadoras que abusam do uso de metáforas óbvias como “não basta ter uma porta, é preciso saber girar a maçaneta”. Ou “não existe remédio que cure a cegueira, quando ela vem da mente”. Até onde se sabe, não existe nenhum remédio que cure cegueira.

Se cada coach financeiro que aparece na internet deixasse uma pessoa rica, o PIB do Brasil já teria disparado. O país teria o mesmo número de milionários que os EUA, China e Índia. O abismo social teria desaparecido, já que todo brasileiro seria capaz de economizar.

Se o influencer soubesse do preço do quilo da carne, saberia que é preciso gastar pelo menos R$ 100 por semana para ter um pedaço de proteína animal nas refeições. A coisa piora quando se tem filhos.

Se fizesse as contas direito, Primo Rico saberia que quem ganha R$ 1.730 não consegue investir porque precisa comer agora, não daqui a um ano.

Mas ali não há intenção de deixar alguém rico, mas de vender livros e conteúdos online. Mas eles só ficaram ricos porque venderam muitos cursos.

É um esquema de pirâmide em que só uma pessoa enriquece, o dono do próprio curso.

Como dizia aquele velho ditado: “Todo dia saem na rua um otário e um coach financeiro. Se os dois se encontrarem, sai um grande negócio”.

*** FLÁVIA BOGGIO – É roteirista. Escreve para programas e séries da rede Globo

ESTAR BEM

FAZER DREADLOCKS NO CABELO FAZ ELE CAIR?

Estilo, que se popularizou com o cantor Bob Marley, demanda cuidados e necessita de manutenção regular

É verdade que dread faz o cabelo cair? Quais cuidados devo ter?

Responde Agnes Soares, dreadmaker da Om Dreads.

“Quem opta por ter cabelos com dreadlocks (estilo de cabelo ganhou popularidade com Bob Marley e o movimento rastafári) precisa ter organização e cuidado. Por ter formato cilíndrico e mais grosso que um fio de cabelo, se ele não for bem lavado e seco pode virar o ambiente perfeito para fungos e bactérias. Os dreads são como esponjas, absorvem muita água e demoram para secar.

Não é verdade que o dread faz o cabelo cair. Isso só acontece para quem já tem uma predisposição ou esteja passando por um momento de queda capilar, por exemplo, mulheres que amamentam. Claro que, se a perda de cabelos é comum, com os dreads ela pode ocorrer com mais rapidez. Afinal, para fazer o estilo capilar é preciso embaraçar e desfiar o cabelo. Então ele pode quebrar muito facilmente.

Assim, o indicado é primeiro tratar – seja com vitaminas, mudança de hábitos ou alimentação saudável – e só depois fazer os dreads.

Outro cuidado especial é com a manutenção. É ela que coloca o frizz para dentro do dread e mantém o formato cilíndrico dos nossos locks (nome para cada mecha). Quando o cabelo vai crescendo, sem a manutenção, as raízes se juntam e os dreads perdem o formato. O intervalo para a manutenção varia muito do quanto a pessoa fica incomodada com o dread, mas a média (e o recomendado) são intervalos de três meses para manter o cabelo sempre saudável.

A lavagem é feita com xampu – que deve ser aplicado no couro cabeludo, com massagem suave, e a espuma pode ser estendida para cada madeixa. Nada de cremes, condicionadores e finalizadores. Aqui a ideia é deixar o cabelo mais seco para se firmar no formato sem se soltar. Também não indicamos lavar todos os dias, o ideal é lavar de uma a três vezes por semana no máximo – especialmente pessoas que têm cabelo muito oleoso ou fazem exercícios físicos regularmente.

A limpeza inadequada é o que pode levar ao mau cheiro e a doenças capilares. Fique sempre atento para caspa, coceira e vermelhidão. Caso ocorram, procure seu cabeleireiro.

Pode usar secador na temperatura morna ou então secar naturalmente em dias de sol. A minha recomendação é retirar o máximo de excesso de água com a toalha e, quando não estiver mais pingando, finalizar com o secador.

De resto, tudo continua normal. O dread nos poupa tempo na rotina corrida, mas seus cuidados são um pouco detalhados e demandam tempo. Uma das maiores adaptações é aprender a lidar com uma textura diferente do cabelo e seu peso. Isso faz parte do cultivo e crescimento dos dreads.

O dread feito de cabelo natural dura para sempre. Enquanto ele for bem cuidado, segue vivo. Os dreads sintéticos têm uma vida mais curta, mas mesmo assim duram uns três anos.

TÉCNICAS

Existem várias técnicas de dread. A que eu uso é feita com agulha de crochê (que também é um dos mais populares no Brasil), que retoca a manutenção do começo ao fim. Também existe o interlock, que consiste em passar a ponta do dread por dentro da raiz, com outro tipo de agulha, sendo menos dolorido. E o retwist, que também é menos dolorido porque todos os cabelinhos são devidamente alinhados com pente e pomada natural, usando agulha apenas na extensão.

Dread é uma técnica artesanal e totalmente manual, por isso demora para ser feito, mas a média é que a pessoa fique entre 4 e 5 horas na cadeira. Claro que depende muito da quantidade de cabelo de cada um e da técnica escolhida. Para uma cabeça inteira podemos chegar a 15 horas de trabalho.

Qualquer um pode colocar dread. Homens, mulheres, pessoas com cabelos curtos, compridos, lisos, cacheados. Claro que aqueles que têm cabelos lisos têm de ter paciência, pois os dreads demoram mais para se formar. Cabelos crespos são a terra perfeita para os dreads. Eles são fáceis de embaraçar, e mais finos. Cabelos alisados com química também demoram e precisam de mais manutenção. Já para quem tem cabelo curto, é possível colocar extensões ou fazer dreads curtos, com o próprio cabelo.

Se a pessoa quiser tirar os dreads não é preciso raspar o cabelo. Com a técnica da agulha, conseguimos desfazer dreads com pente e paciência. É bom lembrar que o cabelo não volta 100% ao original, mas um cronograma capilar é capaz de resolver e devolver um cabelo hidratado e solto novamente.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

APRENDA A ENVELHECER MELHOR COM O CÉREBRO DOS SUPERIDOSOS

Os ‘SuperAgers’ mostram que, com um estilo de vida saudável, conexões sociais e resiliência, podemos reduzir os riscos de declínio cognitivo

O envelhecimento geralmente vem com declínio cognitivo, mas os chamados “SuperAgers” ou superidosos estão nos mostrando o que é possível nos nossos anos dourados. “São como as Betty White do mundo”, disse Emily Rogalski. Ela é neurocientista cognitiva na Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University e diretora associada do Centro Mesulam para Neurologia Cognitiva e Mal de Alzheimer.

Emily fez parte da equipe de pesquisa que 15 anos atrás cunhou o termo SuperAgers, que descreve pessoas com mais de 80 anos cuja memória é tão boa (ou melhor) quanto a de indivíduos 20 ou 30 anos mais jovens. O que os pesquisadores estão aprendendo com eles e sobre a prevenção da demência pode nos permitir descobrir novos fatores de proteção no estilo de vida, na genética e na resiliência para mudanças comuns que vêm com o envelhecimento. “É revigorante saber que existem boas trajetórias de envelhecimento”, disse Emily. “É possível viver muito e viver bem.”

TRAJETÓRIAS DE ENVELHECIMENTO

Existem três trajetórias principais dos efeitos do envelhecimento sobre nossa cognição, disse Emily. Na trajetória patológica, a cognição se deteriora mais rápido do que o esperado para a idade, como no caso da demência.

A realidade é que o maior fator de risco para demência é o envelhecimento, disse Mitchell Clionsky, neuropsiquiatra que, com sua esposa, a médica Emily Clionsky, escreveu Dementia Prevention: Using Your Head to Save Your Brain (algo como Prevenção da demência: usando a cabeça para salvar o cérebro).

Um relatório de 2023 da Associação de Alzheimer estima que um em cada três americanos com mais de 85 anos tem mal de Alzheimer, a forma mais comum de demência. Esperançosamente, a pesquisa descobriu muitos dos fatores de risco que podem ser mitigados com mudanças no estilo de vida. Um relatório da Lancet de 2020 estima que cerca de 40% das demências podem ser evitáveis.

Na trajetória normal ou média, mostram as pesquisas, a memória e as habilidades cognitivas podem começar a diminuir por volta dos 30 ou 40 anos. Quando a maioria das pessoas chega aos 80 anos, elas conseguem se lembrar de cerca de metade do que lembravam quando tinham 50 anos, em certos testes de memória, disse Emily Rogalski. Apesar de serem menos afiados, os idosos que seguem essa trajetória ainda funcionam bem – e prosperaram – na vida cotidiana. Há, no entanto, muita variabilidade individual.

Essa variabilidade levou à descoberta da terceira trajetória: os SuperAgers, que mesmo depois dos 80 anos pareciam ser pelo menos tão mentalmente aguçados em termos de memória quanto as pessoas na faixa dos 50 e 60 anos. Não se sabe qual porcentagem da população em geral se qualifica como SuperAger, mas eles parecem ser raros, disse Emily Rogalski. Mesmo quando os pesquisadores tentaram rastrear apenas os participantes que acreditavam ter boa memória, menos de 10% atenderam à definição.

Com o tempo, os pesquisadores acompanharam os inscritos, examinando sua saúde, fazendo imagens de seus cérebros, registrando suas histórias de vida e pedindo que doassem seus cérebros para serem estudados depois que morressem.

“A palavra que eu usaria para descrever esse grupo é resiliente”, disse Emily Rogalski. Muitos SuperAgers suportaram dificuldades, como pobreza extrema, perda de família em tenra idade ou sobrevivência em campos de concentração do Holocausto, disse ela.

Os SuperAgers tendem a ter relacionamentos sociais fortes e positivos, que requerem um grau de adaptabilidade quando há menos pessoas da mesma idade ao redor. Moram com a filha e os netos, que não sabem muito sobre Frank Sinatra ou Franklin Delano Roosevelt, disse Emily Rogalski. Mas o SuperAger pergunta aos netos sobre seus interesses: Taylor Swift e Chance the Rapper.

“Ele ri disso e encontra alegria na tentativa de acompanhar as coisas nas quais seus netos estão interessados, em vez de ver tudo como um fardo ou uma realidade distante”, disse Emily Rogalski. “Acho que é uma perspectiva adorável.”

DIFERENÇAS

Com a idade, o cérebro normalmente encolhe, sobretudo no córtex, que é a parte mais recente do cérebro em termos evolutivos. Não é assim com os SuperAgers, cujos cérebros parecem mais jovens em áreas envolvidas na memória e nas habilidades executivas.

No córtex cingulado anterior, uma região frontal do cérebro importante para muitas funções cognitivas, como atenção e memória, os SuperAgers tinham uma camada cortical mais espessa em comparação com pessoas cognitivamente normais com mais de 80 anos e até mesmo com 50 anos. Eles também apresentaram neurônios maiores e mais saudáveis no córtex entorrinal, outra área do cérebro fundamental para a memória, em comparação com seus colegas mais velhos e até de 20 a 30 anos mais jovens.

Curiosamente, os SuperAgers têm abundância de um tipo especial de célula cerebral conhecida como neurônios de von Economo, que se acredita serem importantes para comportamentos de afiliação social. Estudos sugerem que os neurônios de von Economo eram quatro a cinco vezes mais densos no córtex cingulado anterior dos SuperAgers do que em outras pessoas de 80 anos e até em indivíduos mais jovens.

Ao mesmo tempo, os cérebros dos SuperAgers parecem ter adicionado proteção contra marcas biológicas indicativas de mal de Alzheimer, com menos emaranhados neurofibrilares e placas de beta-amilóide, um resíduo celular.

Tornar-se um SuperAger se deve, pelo menos em parte, à loteria genética, mas há muitos fatores de estilo de vida que podemos modificar para prolongar nosso período de saúde cognitiva à medida que envelhecemos. “Pare de se preocupar com a demência, comece se dedicar à prevenção”, disse Mitchell Clionsky. “A abordagem ativa é o que vai fazer a diferença.”

Nunca é tarde para enfrentar os fatores de risco que podemos mudar, disse Emily Clionsky. A idade média de seus pacientes que viram benefícios era de 70 anos. “Meu paciente mais velho tinha mais de 100 anos”, disse ela. Os SuperAgers nos ajudam a envelhecer melhor e também a reimaginar o que é possível na velhice. “Acho que existe a possibilidade de estabelecer novas expectativas em relação ao envelhecimento e revalorizar, em vez de desvalorizar, os adultos mais velhos”, disse Emily Rogalski.

DICAS PARA CULTIVAR UMA BOA MEMÓRIA

Não há nada que garanta um envelhecimento cognitivo saudável, mas se começarmos a eliminar os riscos de demência e acumularmos fatores de proteção, poderemos colher efeitos positivos. Veja o que pode ajudar:

ALIMENTAÇÃO

Coma como um centenário, incorporando alimentos ri- cos em fibras e nozes à dieta.

EXERCITE O CORPO

As pessoas sabem da importância de se mover, mas nem sempre fazem isso. “Digo para elas examinarem seus ‘mas’”, disse Mitchell Clionsky. Descubra o que está atrapalhando e corrija.

EXERCITE O CÉREBRO

O cérebro adora um desafio, então faça atividades que mexam com a cabeça.

NÃO PERCA AS CONEXÕES

Isolamento social e solidão são fatores de risco para demência, enquanto o contato social é protetor.

SEJA RESILIENTE

Quando algo ruim acontecer, abrace o desafio. “O que pode ser um momento de aprendizado?”, disse Emily Rogalski.

OUTROS OLHARES

BRASIL FICA ATRÁS DE 59 PAÍSES EM PROVA DE ALFABETIZAÇÃO

Dados do Pirls, de 2021, reforçam cenário de dificuldade de alunos brasileiros

O Brasil ficou à frente de apenas cinco países em uma avaliação internacional de alfabetização aplicada em 2021 a estudantesde 65 países eregiões.Os dadosdo Pirls (sigla em inglês para Progressin International Reading Literacy Study) foram divulgados nesta terça-feira (16).

Foi a primeira vez que o país participou da avaliação, realizada pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), uma cooperativa de instituições de pesquisa, órgãos governamentais e especialistas dedicada à realização de estudos e pesquisas educacionais. A inclusão do Brasil no Pirls foi uma iniciativa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

No Pirls, os alunos brasileiros obtiveram uma média de 419 pontos. Esse desempenho fica acima apenas de Jordânia, Egito, Marrocos e África do Sul, este último com uma média de 288 pontos. É similar, por outro lado, ao resultado de Kosovo e Irã. Já países como Azerbaijão e Uzbequistão conseguiram resultados melhores que os do Brasil.

Entre esses países, há uma ponderação na comparação com os dados do Marrocos, porque foram coletados com os alunos já no início do 5º ano. Nenhum outro país da América Latina participou da avaliação.

Tiveram os melhores desempenhos Singapura (587), Irlanda (577) e Hong Kong (573).

No Brasil, uma amostra de 4.941 estudantesdo 4º doano do fundamental fez a prova. Portersidorealizadaem 2021, refleteimpactosdapandemia de Covid-19 edoconsequente fechamento de escolas.

Dados da avaliação federal, o Saeb, do mesmo ano, haviam mostrado prejuízos do período nos resultados de aprendizagem dos estudantes de todas as etapas da educação básica, sobretudo entre os mais novos.

A pontuação média alcançada pelos alunos brasileiros localiza o país no nível baixo da escala de proficiência do Pirls. Quase 4 em cada 10 estudantes brasileiros não dominavam as habilidades mais básicas de leitura —não sabiam, por exemplo, recuperar e reproduzir uma informação explicitamente declarada no texto.

O economista especializado em educação Ernesto Faria, diretor do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), explica que o Pirls, com amostra da avaliação representativa do país, tem grande importância por preencher lacuna de comparações internacionais com relação aos anos iniciais do ensino fundamental. Os únicos dados sobre desempenho educacional comparativos com outros países é o Pisa, que testa jovens nafaixados 15 anos.

“A gente não tinha um diagnóstico comparativo dos anos iniciais do fundamental [1º a 5º ano], e os dados do Ideb [indicador de qualidade da educação básica] indicam uma certa evolução nessa etapa nos últimos anos. Claro que tem o contexto de pandemia, mas o que se vê é que não estamos indo bem”, diz.

Em 21 países ou regiões, a taxa de estudantes sem qualquer domínio de compreensão leitora não passa de 5%, a exemplo de Irlanda (2%), Finlândia (4%), Inglaterra (3%), Singapura (3%) e Espanha (5%), de acordo com os resultados. Os dados mostram que apenas 13% dos estudantes brasileiros podiam ser considerados proficientes em compreensão leitora, o que os colocaria em nível alto ou avançado de proficiência. Na Espanha e em Portugal, por exemplo, esse percentual atinge 36% e 35%, respectivamente.

O Pirls reforça o cenário de desigualdade no sistema educacional brasileiro. A diferença no desempenho médio entre os estudantes com alto nível socioeconômico e baixo nível socioeconômico no país foi de 156 pontos.

No nível internacional, essa diferença é de 86 pontos entre os dois grupos, ressalta o sumário executivo do estudo produzido pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Também há desigualdades no âmbito racial. Os estudantes autodeclarados brancos e amarelos têm desempenho médio em compreensão leitora de 457 pontos, enquanto os estudantes pretos, pardos e indígenas têm 399 pontos, em média.

A amostra de estudantes brasileiros participantes foi colhida em 187 escolas públicas e privadas do 4º ano (trata-se, predominantemente, de alunos de nove anos de idade). O Pirls avaliou, no total, mais de 400 mil estudantes em cerca de 13 mil escolas, de 57 países e 8 participantes considerados padrões de referência.

GESTÃO E CARREIRA

RESISTENTE E DE FÁCIL ADAPTAÇÃO

Diferente das famosas startups Unicórnios, que buscam o lucro e o crescimento rápido, as Camelos têm como proposta superar as adversidades por meio de um desenvolvimento sustentável

Superação de adversidades, o crescimento sustentável, mantendo o equilíbrio entre o forte crescimento e o fluxo de caixa. Esse é o objetivo de uma startup camelo. A alusão do nome do animal no meio corporativo se dá por sua resistência e facilidade de adaptação.

A expressão “startup camelo” foi usada pela primeira vez em abril de 2020 pelo investidor americano de venture capital Alex Lazarow, do fundo Cathay Innovation, em coluna para o site Entrepreneur. Sem o suporte comum das rodadas de investimento, essas empresas ganham cada vez mais mercado pela confiança que transmitem, além da estratégia segura e assertiva para um crescimento contínuo.

Vale ressaltar que, para se tornar uma startup camelo, é necessário que a empresa valha mais de R$1 bilhão e tenha uma visão empreendedora e realizadora. Deve compreender negócios inovadores capazes de gerar receita suficiente para se manterem firmes e com fluxo de caixa para manutenções necessárias ao longo das operações. Por esse motivo que os investidores vêm priorizando os empreendimentos que busquem crescimento visando a resultados e perspectivas futuras.

A CEO do Koy Inteligência Jurídica, Karla Capela, entende que uma empresa camelo se consolida por meio de trabalho focado e voltado à resiliência, inclusive com alinhamento de custos e constante melhoria de processos. “Com muita disciplina e um olhar sempre voltado a resultados, acredito que a dica de ouro seja acreditar que uma empresa não é uma corrida de 100 metros rasos, mas uma maratona que requer muita paciência, foco e força para permanecer no escopo. O propósito motivacional é importante para criar novas ideias, mas sem determinação e resistência necessárias para o crescimento e a sustentação, uma empresa não sobrevive.”

Para Karla, não há uma receita mágica, uma empresa é feita de dias de crescimento, dias de resistência e muita resiliência para analisar recorrentemente seus resultados e caminhar dentro dos planos traçados. “É comum o empreendedor cair na tentação de mudar os planos conforme o vento, mas é fundamental ter foco e, como disse Jobs, dizer não a muitas coisas para persistir no sim que o empresário pretende concretizar. Em uma startup isso é fundamental, o que é diferente do engessamento. Alinhar as velas é importante, mas sem desviar do rumo”, ressalta.

Natural de Pernambuco, Karla tem 44 anos e é advogada. Foi reconhecida pela IBM como uma das 35 líderes globais pioneiras em Inteligência Artificial para área jurídica; o KOY Inteligência Jurídica é uma lawtech que está revolucionando o mundo jurídico e tornando o trabalho mais simples, ágil e digital por meio da I-Norma, inteligência artificial embarcada em Watson IBM.  “Somos uma startup camelo e durante a pandemia fomos muito resilientes, crescemos, em 2022, um total de 70%. Para fortalecer nossa estratégia, buscamos parceiros de mercado cujo objetivo é gerar valor por meio de nossa solução para dores reais. Entregar uma solução viável, estável e responsável sempre esteve no centro do nosso trabalho, que colabora para que em- presas tenham um impacto socioambiental maior, uma vez que, atuando em gestão, compliance e ESG, elas entendem onde estavam errando e se tornam capazes de corrigirfalhas operacionais”, pontua.

MOMENTO ATUAL

O sócio da Setter Tech – que ajuda grandes empresas a inovar por meio da aquisição e de investimentos em startups, assim como auxilia essas empresas nascentes a levantar recursos –, Flávio Vaisman, afirma que o que vemos é um enxugamento da liquidez mundial, causado pela inflação alta no pós-pandemia e por uma guerra na Europa, além da consequente elevação das taxas de juros nos principais países desenvolvidos e economias emergentes. “Isso se reflete nas startups, que vêm enfrentando um período de investimentos e valuation (a avaliação de quanto vale uma empresa) menores”, remete.

Segundo ele, em um contexto como esse, a atenção dos investidores se volta para a análise de negócios que sejam sustentáveis ao longo do tempo, oferecendo visibilidade de geração de caixa na linha do tempo – e isso coloca as startups camelos em posição de destaque. “Na minha opinião, temos hoje espaço para os dois modelos. Muitas startups camelos podem, inclusive, virar unicórnios”, diz.

Quem quer ter um negócio camelo, ou seja, sustentável e resiliente, deve continuar buscando modelos de negócios inovadores, que resolvam um grande problema ou sejam uma grande oportunidade e estejam inseridas em um mercado grande e de alto potencial de crescimento. As soluções devem ser escaláveis e repetitivas, com apoio e uso de tecnologia.

Também é importante fazer um bom plano de negócios e, nesse processo, entender muito bem o volume de recursos necessário para escalar o empreendimento e crescer de forma sustentável. Ele deve conter caminhos e prazos para chegar ao break even, gerando, na sequência, fluxo de caixa positivo – sem que haja dependência total de investimentos, ainda que isso signifique um ritmo de crescimento menos acelerado.

MODELO DE NEGÓCIO

A tomada de decisão, em uma startup camelo, é marcada por cautela e cuidado, em que a manutenção do negócio e o crescimento gradual são priorizados. Essas são características que a FastBuilt, construtech que desenvolve uma plataforma para gestão do pós-obra, prioriza. No primeiro quadrimestre de 2022 a empresa cresceu 20% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a mais de oito lares em diferentes regiões do País.

A cofundadora e diretora de operações da FastBuilt, Adriana Bombassaro, acredita que nos dias de hoje, com a inflação batendo à porta, recessões econômicas em vários países, instabilidades políticas e baixas astronômicas em bolsas ao redor do mundo, uma bomba-relógio caiu no colo das startups, e por isso ficou mais difícil conseguir dinheiro.

Por esse motivo, ela diz que crescer primeiro para então justificar os investimentos que precisam ser feitos é o maior de todos os acertos, e é aí que as startups camelos saem na frente. Mas ela alerta para um ponto de atenção: “um erro que muitas startups cometem é fazer investimentos astronômicos em marketing e novas contratações sem que esses estejam justificados por crescimentos de receita, queimando muito caixa com isso. Uma dica que posso dar é: não abra mão da sua lucratividade enquanto negócio, isso o manterá na rota de crescimento e sucesso. Então, crescimento equilibrado, perspectiva de longo prazo e resiliência são essenciais para seguir esse modelo de negócio”, mostra Adriana.

Outro exemplo de startup camelo é a Híbrido, consultoria de soluções inovadoras para e-commerce. Fundada com capital dos próprios sócios, a empresa nunca precisou de investimento adicional para sua sobrevivência e teve o crescimento impulsionado pelo resultado concreto advindo de seus clientes. “Temos uma estratégia mais conservadora, de gerar valor, de um modelo de negócios baseado em serviço e previsibilidade para dar o próximo passo de crescimento à medida que os contratos vão entrando e os clientes permanecendo na carteira. Isso garante segurança para os sócios, para os clientes e para os colaboradores. A empresa é saudável, sem endividamento, mantendo-se competitiva, com boas oportunidades de crescimento nos últimos anos, sem entrar num universo de risco acelerado”, destaca o CEO da empresa, Rhuan Willrich.

De acordo com ele, a empresa está em um universo de serviços e aceleração de vendas para comércio eletrônico. Possuem produtos internos que viabilizam oportunidades de melhora em escala, mas a maior energia está em dedicar um time capacitado, de modo customizado, para atender às dores do nosso cliente e escalá-lo em faturamento também de forma sustentável.

Dessa forma, o principal gatilho é ter uma boa previsibilidade junto ao time de recrutamento, assim como sincronismo com marketing e vendas para atender à demanda que é gerada com velocidade e qualidade. Em paralelo, processos sólidos e o mindset adequado para que a entrega permita continuamente nosso land & expand, isto é, expandir um cliente dentro da base com maior oferta de serviços e recorrência, estratégia que tem permitido o nosso crescimento ao longo dos últimos anos.

GANHANDO ESPAÇO

O fundador e CEO da SenseData, startup que desenvolveu a maior plataforma de customer success e dados acionáveis da América Latina, Mateus Pestana, aponta que é importante analisar o mercado, as dores dos clientes e o que falta de inovação. “Hoje temos diversas tecnologias no mercado e grandes ideias que podem revolucionar muitos setores, mas é importante estar atento ao que falta, até mesmo em suas vivências, como uma experiência que teve e não foi tão agradável; pensar o que poderia ter melhorado esses momentos e desenvolver um produto a partir disso”, mostra.

Ele ressalta ainda que é muito importante buscar um crescimento estratégico e ponderado, com foco na sustentabilidade da empresa. Por isso, apostar em uma estratégia focada no cliente é muito importante, sobretudo em startups camelos, pois assim você garante boa retenção e alto LTV dos seus clientes, ao mesmo tempo que utiliza a própria base de clientes para expandir o seu negócio.

O objetivo principal, segundo o CEO e fundador da ProUser Apps, startup de tecnologia focada no desenvolvimento, produção de conteúdo e distribuição de aplicativos, Rodrigo Murta, é criar um sistema adaptável, rápido, sem dogmas do que é certo ou errado. “Criar os produtos e serviços, tentar vendê-los e refazer quantas vezes forem necessárias até que seus clientes estejam plenamente satisfeitos”, acredita.

Murta alerta que um erro bastante comum é investir em um produto ou serviço muito caro antes mesmo de mostrá-lo a um potencial cliente. Muitas startups tentam tropicalizar receitas que deram certo em outros países, levantam dinheiro, gastam fortunas em equipes enormes e, só após alguns meses (ou anos), levam o produto ao público, sem muitos sinais do que a realidade lhes reserva. Se conseguir mostrar suas ideias a um potencial cliente, se esse cliente estiver disposto a pagar por seu produto ou serviço mesmo antes de estar pronto, é um ótimo sinal de que está no caminho certo.

DICAS PARA QUEM QUER SER UMA STARTUP CAMELO

•  Adaptação e resiliência sem teimosia, com inteligência. Não vai ser fácil, não vai ser rápido.

•  Reserve, no mínimo, dez anos da sua vida para colocar a empresa em um patamar relevante de receita.

•  Escolha um segmento ou um setor de mercado sobre o qual você tenha algum conhecimento – aprender do zero vai levar ainda mais tempo.

•  Crie um sistema (pessoas, processos e ferramentas) que consiga responder rapidamente ao que o mercado diz.

•  Traga pessoas boas e cuide delas.

EU ACHO …

A MULHER QUE NÃO CHOROU NO ENTERRO

Estavam casados há 31 anos. Então, ele morreu de um ataque cardíaco fulminante. Num minuto estava fá vendo o episódio de uma série, no outro estava com a cabeça jogada para trás, o controle remoto ainda na mão, já sem serventia. Sua vida saíra do ar.

As providências para os atos fúnebres foram tomadas pelos filhos. À viúva, coube escolher a roupa do morte e a sua própria, para receber as condolências. E lá se foram para a capela do cemitério cumprir o seu papel.

Chegaram os primos. Alguns ex-colegas do defunto. Os amigos e vizinhos do casal. A viúva apertou a mão de cada um, recebeu o abraço dos mais íntimos e não saiu do lado do caixão. Estava tranquila e conformada. Até que uma mulher, não encontrando nada melhor para dizer, comentou: ela não chorou até agora.

Esta frase caiu dentro do ouvido de outra mulher, que balbuciou: estranho. E virou-se para a mulher que estava à sua direita, como se estivesse brincando de telefone sem fio: ela não chorou até agora.

Outra mulher, que escutou tudo, pois havia silêncio suficiente para tal, concluiu: deve ter chorado quando encontrou o corpo. Outra, se achando entendida no assunto, contribuiu com um veneninho: será?

Na meia-hora seguinte, todas as mulheres comentavam: ela não chora. Vejam os olhos: secos. Vejam a gola: impecável. Por que ela não chora? Alguns homens já perguntavam para suas esposas: você vai chorar, não vai?

Certamente que vou, amor. Pois se estou chorando até por este aí que mal conheço.

Chegou o irmão mais moço do morto, atrasado: tudo correndo bem? Em tese, mas ela não chora — eles se amavam mesmo? Até quarta passada se amavam, respondeu o cunhado, já em dúvida. Ela não chora, cochichavam todos. Ao menos não sorri, se meteu o padre.

Era verdade: a viúva não derramava lágrima. Estava longe dali, recordando a primeira viagem que fizeram juntos, em como ele embebia o pão no azeite para aplacar a fome em dias de pouca fartura, o dia em que ela foi conhecer a sogra e derramou vinho tinto sobre a toalha, as milhares de noites em que o sexo foi imoderado e devastador, a vez em que perderam a chave de casa e dormiram no carro, os shows de samba a que assistiram com os pés em festa, os trechos de livros que ele lia em voz alta para ela e o dia em que ela contou para ele que o cisto na axila era benigno e de como houve tão pouco pranto nestas duas vidas que se manteriam de alguma forma envelopadas. E então, de algum lugar onde ela estava e que ninguém via, ela sorriu, e o sorriso infernizou a capela, assombrou os olhos dos outros e diminuiu a fé do padre. O luto de todos ficou ofendido. A viúva não chorava, mas sentia muito, como se diz.

O luto de todos ficou ofendido. A viúva não chorava, mas sentia muito, como se diz nessas horas.

*** MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

AS CINCO PLANTAS QUE AJUDAM A EMBALAR UMA NOITE DE SONO PERFEITA

Muitos são os benefícios de ter mais verde em casa, entre eles a purificação do ar e a calma trazida por aromas naturais

Uma boa noite de sono é fundamental não apenas para o bem-estar, mas para uma boa saúde. Entretanto, dormir a quantidade de horas recomendada e ter um sono de qualidade não é uma tarefa fácil para muitas pessoas. A boa notícia é que medidas simples, como escolher as plantas certas para colocar no quarto, podem ajudar.

“Muitos estudos mostraram que a presença de plantas em um quarto pode criar muitos benefícios indutores do sono. Em primeiro lugar, elas ajudam a diminuir os níveis de cortisol de uma pessoa (também conhecido como hormônio do estresse), liberando oxigênio à noite, o que ajuda a limpar a mente e relaxar o corpo”, afirmou a psicóloga do sono na Happy Beds, Katherine Hall, ao tabloide britânico Mirror.

Ainda segundo Hall, as plantas ajudam a melhorar a ventilação e a umidade de um cômodo, facilitando a respiração noturna e, por- tanto, o sono.

“As plantas absorvem dióxido de carbono e liberam oxigênio pelas folhas durante a fotossíntese. Esse processo significa que você respirará um ar mais fresco quanto mais plantas tiver em seu quarto. Da mesma forma, as plantas liberam vapor de água no ar por meio de suas folhas e caules, o que ajuda a manter os níveis de umidade em sua casa. Isso é especialmente importante durante os meses mais quentes, quando o ar-condicionado seca os espaços internos mais rapidamente do que o normal”, explicou a especialista.

Um estudo feito por pesquisadores da Coreia do Sul e do Japão, publicado na revista científica Journal of Physiological Anthropology, apontou que interagir ativamente com plantas — como podar, tocar e cheirar —têm efeitos relaxantes semelhantes a passar um tempo dentro de uma floresta.

“Nossos resultados sugerem que a interação ativa com plantas de interior pode reduzir o estresse fisiológico e psicológico (…). Isso é conseguido através da supressão da atividade do sistema nervoso simpático e da pressão arterial diastólica e da promoção de sensações confortáveis, calmantes e naturais”, concluíram os autores no estudo.

Confira abaixo as plantas indicadas para manter no quarto e ajudar a alcançar um sono de qualidade.

ESPADA-DE-SÃO-JORGE

A espada-de-são-jorge emite oxigênio naturalmente, o que pode ajudar a purificar o ar que você está respirando, levando a um sono melhor e mais saudável.

“Tenha uma ou duas espadas-de-são-jorge para a melhor purificação do ar. Essas plantas ficam elegantes em uma mesa de cabeceira e removem produtos químicos nocivos do ar, ajudando na respiração e garantindo que você durma profundamente até de manhã”, disse Hall.

LAVANDA

A lavanda é reconhecida como uma ajuda para o descanso, e é por isso que muitos óleos naturais e sprays de travesseiro usam esse perfume para promover um sono mais rápido. Segundo Hall, manter essa planta no quarto tem muitos benefícios: ela é bonita, tem uma fragrância calmante e duradoura que promove o relaxamento. “Coloque-a ao lado da cama para sentir o benefício máximo, pois você cai no sono”, disse a psicóloga.

ALOE VERA

A aloe vera é uma planta fácil de cuidar e também trabalha na purificação da qualidade do ar. Essa planta tradicionalmente usada na medicina produz muito oxigênio e ajuda a melhorar a pureza e a qualidade do ar em qualquer ambiente.

PLANTA-ARANHA

A planta-aranha é fácil de cuidar porque apenas precisa de água ocasionalmente e pode sobreviver sob direta luz do sol. Além disso, ela remove toxinas e purifica o ar, o que contribui para um sono melhor.

JASMIM

Assim como a lavanda, o cheiro do jasmim promove o bem-estar. Sua essência ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade. Quando localizado no quarto, essa propriedade pode ajudar a dormir melhor.

COMO CUIDAR DAS PLANTAS

É preciso estudar o tipo de planta que você tem. Algumas delas precisam de água com mais frequência, enquanto outras podem ser regadas apenas uma vez por semana. É preciso também saber se ela tolera ou não ficar longe do sol. Pesquise a necessidade de poda das folhas e de adubação da terra.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DRENAGEM CEREBRAL

Abusar do celular afeta memória, raciocínio e equilíbrio emocional

Há exatos 50 anos, o primeiro celular do mundo, o DynaTAC 8000x, da Motorola, era lançado no mundo. No entanto, foi apenas cerca de 30 anos mais tarde, no início do século XXI, que os aparelhos começaram a se popularizar e a se conectar à internet – o início da era do smartphone. Menos de duas décadas depois, já existem mais celulares do que habitantes no Brasil, segundo o Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGVcia).

E não é apenas a quantidade de aparelhos que cresceu rapidamente, mas o número de horas dedicadas a eles. O Brasil é o segundo país do mundo em uso de telas, atrás apenas da África do Sul. São cerca de 9 horas e 32 minutos diárias, quatro delas nas redes sociais, o que representa 58,2% do tempo médio em que um brasileiro está acordado, segundo dados analisados pela Eletronics Hub.

Esse uso intenso do dispositivo tem feito crescer entre especialistas as discussões sobre os riscos do hábito, que pode provocar até alterações no cérebro. Pesquisadores e médicos defendem um conceito como chave na vida moderna: a educação digital.

“São inúmeras informações bombardeando seu cérebro. Você basicamente fica dando a ele a tarefa de compreender aquela informação, independente do que seja, o que gera uma sobrecarga. E muitas vezes não há conexão entre as informações para levar o raciocínio a algum lugar, então são esforços superficiais”, diz o professor de neurologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Li Min, pesquisador do Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia.

ÍMÃ DE ATENÇÃO

Os especialistas alertam principalmente para efeitos na cognição, na atenção, na memória, mas também para os impactos na autoestima e no desenvolvimento de quadros de dependência – muito associados ao uso de plataformas sociais.

Um dos trabalhos mais conhecidos sobre o tema, publicado no periódico Journal of the Association for Consumer Research, concebeu o termo “drenagem cerebral” ao avaliar o impacto da simples presença de um smartphone no mesmo local que o indivíduo na cognição.

Os pesquisadores queriam testar a hipótese de que o fato de o aparelho estar no local já faz com que as pessoas direcionem recursos cognitivos para ele, como pensando nas tarefas que precisam realizar ou nas notificações que podem estar perdendo. Com isso, menos recursos estariam disponíveis para outras atividades, que teriam o desempenho prejudicado.

O estudo foi dividido em duas partes, em que uma os participantes precisavam se lembrar de palavras e, na outra, resolver problemas matemáticos. Em ambos, os voluntários foram divididos em grupos em que cada um estava com o celular em um local: na mesa, no bolso ou na sala ao lado. Quanto mais longe o telefone estava, melhor foi o resultado da tarefa.

Mas o impacto não é somente nos esforços que destinamos pensando nos telefones. Um dos grandes aspectos da cognição é a capacidade de se concentrar, algo que tem sido cada vez menor graças aos estímulos rápidos e em grande quantidade que os smartphones oferecem, explica a psiquiatra Julia Khoury, mestre e doutora em dependências tecnológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Temos uma diminuição da capacidade de se concentrar em longos períodos porque os estímulos do celular são muito rápidos e intensos, e fazem o cérebro liberar dopamina, que é o hormônio do prazer. O cérebro fica ávido por isso. Por isso checamos o celular a todo o momento. Só que ela também é liberada no córtex pré-frontal, que é a região que controla nossos impulsos e faz com que consigamos nos concentrar a longo prazo, que basicamente nos diferencia dos animais irracionais”, diz a especialista.

Um outro ponto importante da cognição afetado pelos dispositivos é a memória, ainda que de uma maneira diferente. Um estudo feito por pesquisadores da University College London, no Reino Unido, e publicado na revista Journal of Experimental Psychology: General, mostrou que os dispositivos digitais podem ajudar a guardar informações importantes e, com isso, liberar a memória das pessoas para recordar outras coisas mais banais. Embora isso tenha um efeito superficialmente positivo, Min aponta que leva as pessoas a exercitarem cada vez menos a própria memória. Com isso, tornam-se cada vez mais dependentes do aparelho e com uma capacidade cognitiva de armazenar as informações por conta própria menor.

“A tecnologia veio para ajudar, mas essa ajuda tem um preço. Muitas pessoas não sabem nem o próprio número de celular mais. E nós aprendemos na medida da prática. Quanto mais nós praticamos, mais consolidamos nossa capacidade para aquela determinada habilidade”, diz o neurocientista.

MENTE PREGUIÇOSA

Esse efeito também pode estar fazendo com que as pessoas tenham mais “preguiça mental”, tornando-se mais propensas a buscarem e confiarem em informações fornecidas pelos dispositivos do que pela sua própria mente.

É o que identificou um estudo publicado no periódico Computers in Human Behavior, conduzido por pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá.

“Eles (usuários de smartphones) podem procurar (no telefone) informações que na realidade conhecem ou que poderiam aprender facilmente, mas não estão dispostos a fazer um esforço para realmente pensar sobre isso”, disse Gordon Pennycook, co- autor principal do trabalho, em comunicado na época.

A psicóloga Anna Lucia Spear King, doutora em saúde mental e coordenadora do Laboratório Delete – Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias, da UFRJ, chama atenção para outra consequência dos celulares: o uso excessivo das redes sociais.

A alta exposição e a comparação com os retratos perfeitos das vidas alheias podem desencadear transtornos psicológicos, especialmente entre aqueles que já são mais propensos.

“Os jovens que se impactam mais com os comentários, que são inseguros, com baixa autoestima, ficam mais vulneráveis às redes”, diz.

Min acrescenta que as redes podem exacerbar a ansiedade por acostumarem o cérebro a um ritmo diferente daquele do mundo real.

“O celular tenta impor uma velocidade de processamento para o seu cérebro que não é natural”, explica.

Em relação ao tratamento de casos em que a relação com o celular não está saudável, ainda que não configure um vício, King orienta que é possível estabelecer limites. Porém, eles devem fazer sentido para a pessoa.

“Cada método vai funcionar para uma pessoa. Eu não uso tecnologias na hora da alimentação, uma hora antes de dormir. Esses limites em tarefas cotidianas podem levar a um viver melhor. Educação digital é algo muito importante”, defende.

OUTROS OLHARES

MILLENNIALS CAMINHAM PARA OS 40 COM MISTO DE ORGULHO E FRUSTRAÇÃO

Geração é a maior do Brasil e sente insatisfação com a realidade econômica e social, agravada por crises financeiras e pandemia

“Esse ano completo quarenta anos. Certamente não me imaginava nesse lugar quando era mais jovem”, escreveu a ilustradora Helena de Cortez em um publicação em que analisa a própria trajetória, em 2021, com “um misto de orgulho e frustração”. Ela sentia que, naquela idade, “já deveria estar com tudo pronto, encaminhado, mas que ainda engatinhava em muitas coisas”.

“Imaginava a ideia de carreira consolidada, a casa própria, a vida financeira organizada”, diz. “Não como se fosse o topo de alguma coisa, mas com a sensação de um direcionamento mais claro.”

Helena se sente “em uma crise de meia-idade” e a traduz como “tá na hora de abrir o olho e enxergar melhor as coisas, no mundo interior e nas próprias escolhas”.

Seus planos incluem reparar os estragos financeiros que sofreu com a pandemia. “Gostaria de um imóvel também e sonho em conseguir desfrutar mais a vida, o agora, com meus filhos e comigo mesma.”

Parte da primeira leva de millennials do Brasil a cruzar a fronteira dos 40 anos, a ilustradora se prepara para o aniversário de 42, em junho. Os millennials correspondem à maior parcela da população brasileira e englobam quem nasceu de 1981 a 1996. Entre 54 milhões de pessoas que compõem a geração, mais de 10 milhões estarão na faixa etária de Helena em 2023.

Esse universo, frisam especialistas, caminha para o período conhecido como meia-idade, iniciado entre 40 e 45 anos, com mais expectativa de vida e de avanços sociais do que antes. Mas, na média, também anda com a rota estremecida por uma série de turbulências que tem dificultado a trilha, como crises econômicas e, mais recentemente, a pandemia.

No campo educacional, Marcelo Neri, diretor da FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas), observa ganhos de até três vezes em comparação a gerações anteriores. A média de anos de estudo passou de 2,93, em 1972, para 5,21 em 92. Atualmente, está em 10,08 nessa faixa etária.

Os saltos se deram, entretanto, em um cenário de produtividade estagnada, ou seja, em um contexto em que a quantidade que cada um produz e o que fica no longo prazo estão empacados até hoje.

“Faltaram políticas que ligassem o avanço educacional ao desempenho econômico e trabalhista. Essa geração viveu uma revolução social, mas vive uma frustração econômica. Um descasamento que surpreende, porque normalmente trajetórias econômicas e sociais andam de mãos dadas e não foi o que aconteceu no Brasil. Nesse aspecto, o país falhou”, diz Neri.

Para o pesquisador, “houve um hiper otimismo que não se confirmou no Brasil”.

O índice de felicidade futura, que mede a expectativa de satisfação individual com a vida, manteve-se, historicamente, entre os maiores do mundo – também prenunciando “uma elevada probabilidade de frustração”.

“O jovem brasileiro esperava muito do futuro. Olhava para frente com otimismo, mas, antes de chegar aos 40, 44, viveu quase dez anos bastante limitado por sucessivos choques econômicos. Houve crises, uma grande recessão, lenta retomada e, então, a pandemia.”

O aumento da expectativa de vida veio com questionamentos na linha de “como vai ser minha vida se a previdência estiver quebrada?” ou “e se eu não conseguir fazer o meu pé de meia?”. Dados do Grupo Cia de Talentos, da pesquisa Carreira dos Sonhos, mostram alta frequência de preocupação, cansaço e ansiedade nessa geração.

Tantas questões somadas à intensa presença das redes sociais têm criado “uma sensação de pisar em areia movediça”, além de pôr em xeque a qualidade de vida, diz a doutora em psicologia social e professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Flávia Feitosa.

“É uma questão do momento que estamos vivendo. Não é exclusiva dos millennials, mas estar na meia-idade torna a coisa mais complexa”, afirma. O mundo “vendido” à geração, ressalta, foi um mundo incrível, de inúmeras possibilidades e sonhos, enquanto o entregue “foi uma condição muito ruim”.

Para a professora Roberta Pitta, 40, fatores econômicos e políticos interferiram no que, aos 20, idealizava para o futuro. “Mas não há frustração. Eu entendo que cheguei a um lugar onde consigo respirar um pouco para pensar em coisas maiores”, diz.

Atualmente, ela dá aulas a crianças como concursada na rede pública – já foi operadora de telemarketing e recepcionista. Já o pai e a mãe não completaram o ensino médio. A professora, por outro lado, fez duas graduações, especialização e mestrado.

Ela afirma acreditar que “o auge da vida ainda está por vir”, o que inclui um possível doutorado e outros caminhos profissionais.

Daniel Trinconi Borgatto, 41, vê que muitos amigos na mesma idade seguiram a linha esperada pelas famílias. “Havia uma transferência de expectativas dos pais, no sentido de ‘você precisa fazer faculdade, ter um emprego, segurá-lo com unhas e dentes, criar independência financeira, estudar, conseguir uma carreira, casar, ter filhos’. Só que eu quebrei um pouco essa engrenagem”, diz.

Ele começou a trabalhar cedo, estudou no que considera uma boa faculdade e viveu em ambientes “extremamente” competitivos nas multinacionais por onde passou. Mesmo seguindo a receita, percebe o contexto vivido por sua geração como diferente das anteriores.

“E, quando me olhei no espelho, vi que estava me deteriorando. Trabalhando muito, sendo muito consumido. Vi que o esforço me levou a alguns patamares esperados por eles, mas não a um patamar esperado por mim.”

Já o administrador Anderson Nogueira acha que “inflação elevada, salários que não sobem e redes sociais em que todos se comparam são gatilhos de infelicidade”. Ele é de 1989. Voltou para o Brasil em dezembro, após um ano nos Estados Unidos, onde a nova geração de 40 é apresentada como mais pobre, insegura e infeliz que os pais.

“Eu percebi esse sentimento lá fora e, aqui no Brasil, acho que 70% das pessoas que conheço da minha idade e na faixa acima, de certa forma, estão frustradas. Vejo uma grande pressão da sociedade para os jovens adultos após completaremos 30.”

GESTÃO E CARREIRA

VOANDO MUITO, MAS GASTANDO POUCO!

Desenvolver-se com pouco recurso torna o caminho das startups ainda mais desafiador. O ramo da tecnologia encanta, mas mostra que é preciso ter profissionais qualificados para empreender com criatividade

Empreender é sempre uma jornada desafiadora e a tecnologia é algo que encanta. Os dois termos aliados abrem uma janela para o novo mundo. As startups unem empreendedorismo e tecnologia e são sinônimo de iniciação e amadurecimento de um novo negócio. Quem está curioso para entrar nesse mundo deve saber que o conceito se baseia no desenvolvimento de produtos ou serviços capazes de suprir uma necessidade imediata, resolver um problema da sociedade.

É sabido que os tempos de crise criam empreendedores e empresas de sucesso. Quem é que nunca ouviu ou leu a expressão: mar calmo nunca fez bom marinheiro? Mas, no atual momento as dificuldades são ainda maiores. A alta recorde do dólar e a disparada na inflação tem assustado o mercado e os empreendedores. As empresas estão se desdobrando, reduzindo o número de funcionários e buscando o desenvolvimento com poucos recursos.

O momento é histórico, e não somente uma característica da economia brasileira, toda a dificuldade econômica foi agravada por causa da pandemia de covid-19. A inflação acumulada de 2022 fechou o ano com 5,92% na comparação anual, segundo o IPCA.

Os cenários do novo governo podem trazer esperança para os empreendedores: 2023 chega carregado de expectativas que podem beneficiar o crescimento e a aceleração de novos negócios, desde que esses acompanhem. as tendências mercadológicas com cautela e entendimento. O empresário precisa ser certeiro. Não existe muito espaço para erros. Por isso, é preciso fazer mais com menos. Clichê? Talvez, porém mais real do que nunca.

CRIE ALTERNATIVAS

A meta de muitos empreendedores é driblar essa crise e criar alternativas para conseguir se desenvolver e crescer, mesmo diante do cenário complicado. O CMO da MAGIT, empresa especializada em transformação digital, Marcelo Garcia, mostra o caminho: “É necessário parar de refletir sobre a dimensão que um projeto pode exigir para focar diretamente a dor que precisa ser solucionada. Afinal, nem sempre a solução para os problemas de tuna empresa é complexa. Por exemplo, em vez de desenvolver um aplicativo próprio, a melhor estratégia pode ser algo que já existe, como o aprimoramento de um aplicativo de mensagens instantâneas. Então, o primeiro passo é focar a atenção no problema em si, a fim de identificar a solução que apresente o melhor custo-benefício”.

É claro que sem lucro nenhuma empresa ou ideia vai sobreviver por muito tempo, o ideal é enxergar que para todo problema existe uma solução. O foco de ação deve ser constantemente abordado, os objetivos diretos da empresa devem estar acima do lucro, do aporte financeiro, dos investimentos futuros, das retiradas de caixa e outras questões. O empreendedor, primeiramente, deve se concentrar no desenvolvimento das ideias da sua startup.

MAIS CRIATIVIDADE E NOVAS IDEIAS

O desenvolvimento de uma ideia passa por diversos fatores. Garcia também diz ser fundamental que exista uma cultura de inovação dentro da empresa. “Implantar essa cultura trata-se da composição de hábitos e valores com foco em encorajar a criatividade e o desenvolvimento de novas ideias”, afirma.

De acordo com ele, muitos empreendedores acreditam que inovar se refere apenas à criação de novos produtos ou processos de trabalho. No entanto, para garantir que a inovação seja um dos pilares da empresa, é imprescindível promover uma mudança de mentalidade em todos os setores e cargos.

PROMOVA A MATURIDADE

A falta de mão de obra especializada pode ser o maior problema na hora de criar e implementar o projeto de crescimento dessas empresas. Portanto, as consultorias de tecnologia tornam-se grandes aliadas no momento de encurtar o caminho para a inovação, afinal, a especialidade dessas empresas é implantar um projeto de forma mais assertiva em um menor período, evitando assim gastos desnecessários. “O consultor tem o papel de analisar os melhores cenários tecnológicos e a viabilidade de execução a fim de garantir o retorno esperado pelo cliente e em paralelo promover o aumento da maturidade do negócio”, reforça o executivo.

O empresário deve sempre pensar nas alianças que pode fazer para buscar o crescimento e desenvolvimento de sua ideia. As alianças e incorporações devem estar constantemente em pauta para beneficiar e gerar amadurecimento. Unir ideias inovadoras é sempre uma alternativa para acelerar o crescimento, afinal dois motores podem proporcionar mais velocidade que um.

Também é importante manter um time com ótimos profissionais, engajados e pensando em fazer toda a diferença nesse momento. A equipe deve se concentrar no essencial, ter um produto que realmente funciona e estar muito próximo do seu cliente; esses fatores ajudam a garantir o retorno necessário. É importante apostar em automatizações e dados, eliminar o máximo de processos manuais e gerar tempo para que seu time possa ser mais produtivo e estratégico, tomando decisões assertivas. Uma boa gestão de pessoas e planejamento financeiro é fundamental, além de saber onde e em que investir, minimizando riscos.

As startups devem ter um processo otimizado desde o seu pessoal, e não só no produto ou serviço oferecido. O empreendedor precisa ter noção de que com uma equipe compacta e eficaz a gestão de capital vai se tornar mais fácil, gerando economia de tempo e dinheiro. São conceitos básicos e efetivos que devem se tornar parte do esquema organizacional da empresa.

De maneira bem direta, o CMO nos traz ensinamentos preciosos. Ao todo, é possível citar três pilares: governança corporativa, financeiro e tecnologia. Garantir o mínimo de processos necessários e a organização destes é vital para a evolução do negócio.

‘Sem o pilar financeiro não há inovação. Os novos aportes precisam ser vistos como combustível para acelerar os processos, e não para corrigir ou cobrir buracos provenientes de uma má gestão. “É importante entender que pivotar não pode ser urna manobra para compensar um erro estratégico. Já em relação à tecnologia, sabemos que no universo das startups, um percentual considerável do investimento é direcionado para o desenvolvimento de plataformas (análise e escrita do escopo, desenvolvimento, testes, homologação e afins)”, analisa. Dessa forma, encontrar uma empresa que transforme o recurso dos investidores em tecnologia na veia torna-se extremamente fundamental para o futuro do projeto.

EXPERIÊNCIA DE SUCESSO

As startups atraem diversos empreendedores pouco experientes, mas com sede de sucesso. Para que o negócio prospere é importante ficar a tento aos detalhes, além dos fatores ligados ao investimento.

A CEO da Bluy., startup fundada por especialistas com mais de 16 anos de experiência no universo de Recursos Humanos, Carolina Madureira, diz que a empresa nasceu bootstrap, ou seja, somente com recursos próprios. Foram R$4 milhões em investimentos para o lançamento da Bluy. Segundo ela, conhecer bem o seu público-alvo e a dor que o seu produto vai solucionar são itens fundamentais. “E tenha certeza de que seu produto é inovador. Montar um time especialista no negócio, mantendo sempre o foco na experiência do usuário, é o primeiro passo para alcançar o sucesso”, orienta.

A CEO conta que a Bluy. surgiu para trazer excelência no trabalho das empresas que recrutam e para os candidatos que buscam agilidade e retorno sobre as posições disponíveis. “O foco é nas pessoas, resolver problemas e criar experiências incríveis. Toda a expertise dentro do mercado de trabalho fez a empresa desenvolver ferramentas para otimizar o tempo, agilizando e simplificando etapas”, comenta.

A startup é uma continuação da Companhia de Estágios, empresa líder em recrutamento e seleção de estagiários e trainees. Os fundadores identificaram uma lacuna de mercado voltada à melhor experiência e usabilidade de plataformas na hora de recrutar e buscar emprego, por isso decidiram investir na criação da empresa.

PRODUTO E GERENCIAMENTO

Acelerar um negócio consolidado também não é simples. O processo deve ser pensado   estrategicamente, focando o crescimento gradual e de uma maneira que não prejudique o fluxo de caixa da empresa. “Você precisa ter um bom produto e garantir um bom gerenciamento. E essencialmente mostrar aos investidores que sua empresa pode agregar valor aos clientes, a fim de captar novos recursos. Mas, para tudo isso, conheça a fundo as ‘dores’ do seu público e invista num excelente atendimento, sempre pensando na experiência. Em paralelo, crie uma cultura organizacional diversa e colaborativa, defina processos e utilize ferramentas de automatização”, detalha Carolina.

O conhecimento e a estratégia já faziam parte do plano de desenvolvimento do negócio, mesmo assim não foi fácil para acelerar a startup. A CEO revela: “Enfrentamos no último ano [2022] a inflação, alta de juros, investidores mais ponderados e um menor número de aportes. Consequentemente, menos dinheiro entrando e com isso uma tentativa de equilíbrio de contas e preservação de caixa. O novo contexto pede foco no crescimento sustentável, um time bom e engajado e a geração de valor ao cliente pela inovação”.

Também é importante se concentrar no futuro e na continuidade do negócio, mesmo diante das incertezas que 2023 reserva. Carolina dá mais detalhes para que o empreendedor possa gerenciar sua visão e evitar surpresas desagradáveis. “Precisamos tirar uma lição daqui: não faz sentido o crescimento a qualquer custo. Um cenário de dificuldade vem nos ensinar a ter um negócio sustentável e à prova do tempo”, diz a executiva, que complementa: “Na Bluy. já temos essa preocupação desde o início e para nós faz bastante sentido crescer de forma equilibrada e ter sempre como foco a geração de valor para os RHs e as empresas”.

É possível observar que existe uma convergência de pensamentos e que seguir as dicas e se espelhar num caminho que já foi traçado pode tornar as coisas ainda mais simples. No inundo dos negócios não existe uma receita de bolo ou dicas milagrosas, mas o planejamento pode auxiliar na gestão do seu capital e projetar um crescimento, gerando lucro e possibilitando a diminuição de risco na hora de investir. Boa sorte e bons negócios para você, nobre leitor!

3 FORMAS DE INOVAR EM MEIO À REDUÇÃO DE RECURSOS

RESSIGNIFIQUE SUA MENTALIDADE

O segredo para inovar com menos é ir além da mentalidade de se investir muito, ou se investir pouco. Ou seja, é necessário parar de refletir sobre a dimensão que um projeto pode exigir para focar diretamente a dor que precisa ser solucionada.

ENCURTE O CAMINHO

A entrada de recursos financeiros é apenas um dos desafios das startups, que também enfrentam a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada. Dessa maneira, as consultorias de tecnologia tornam-se grandes aliadas no momento de encurtar o caminho para a inovação, afinal, conseguem implantar um projeto de forma mais assertiva em um menor período de tempo, evitando assim gastos desnecessários.

IMPLANTE UMA CULTURA DE INOVAÇÃO

A cultura de inovação é uma composição de hábitos e valores com foco em encorajar a criatividade e o desenvolvimento de novas ideias.

EU ACHO …

ÍNDICES DE MATURIDADE

Aos 10, dizemos ‘eu quero’. Aos 30, ‘eu devo’. Aos 60, é frequente o ‘tô nem aí’

Completei 60 e reflito sobre sinais de que estou, de fato, entre as pessoas chamadas de ”mais velhas”. Descreverei tais sinais como “índices de maturidade”, uma espécie de termômetro de mudança. Não me refiro aos óbvios como “no meu tempo era assim”; à ênfase em tópicos como “remédios e doenças”; a achar que toda música está muito alta.  Buscarei traços menos evidentes. Veja se você se enquadra em, no mínimo, três dos indicadores seguintes.

Cresce na sua preferência o gosto por sopas à noite. Lembra-se de que chegou a gostar de churrascadas até de madrugada? “Isso não lhe pertence mais”, você ama caldos leves. Sopas noturnas trazem o selo Inmetro de maturidade.

O conforto derrotou a elegância. Sapato apertado, blusa colada, calça justa? Saiam! Que venham as roupas que abraçam, os tecidos com os quais o bem-estar derive menos do ”caimento”, da “aparência” e mais do “eu gosto desta camiseta”.

O mesmo princípio anterior vale para a sociabilidade. Festas obrigatórias? Eventos longos e de pouco acréscimo à felicidade? Saem da agenda para encontros intimistas. Poucas coisas ficam tão sedutoras como a casa do indivíduo maduro. Quase sempre 22h passa a ser um bom horário para dormir, quando não antes.

A sinceridade cresce. As coisas incomodam menos, sim, mas, quando emitimos opinião, temos um compromisso conosco maior do que com a diplomacia. Crianças e velhos possuem essa aliança com o real imediato. Aos 10, dizemos “eu quero”. Aos 30, temos o “eu devo”. Aos 60, é frequente o “tô nem aí”.

Você gosta de relógio de pulso? Sente falta do rádio­ relógio? Prefere livros em papel? De quando em vez, acha importante falar ao vivo, não apenas por mensagens no Zap? As figurinhas não são essenciais na construção dos seus discursos comunicativos? São sintomas inegáveis de outro patamar tecnológico e de comunicação. Existe uma retórica da velhice.

O controle remoto ficou mais complicado com uma quantidade impressionante de funções obscuras. Façamos uma distinção curiosa: alguns maduros só gostam do on-off.

Mais um sinal de avanço etário: a figura dos pais cresce e aproxima-se da perfeição. Geralmente, na terceira idade, já se foram os progenitores… a memória melhora as lembranças. Citamos frases e procedimentos: “Como dizia meu pai”, “Como fazia minha mãe”. Chegamos a recomendar métodos pedagógicos para os que lidam com adolescentes rebeldes ou crianças mimadas: “Em uma semana com minha mãe, ele voltaria outro!”. Quando vivíamos limites educacionais estritos, dados pela geração anterior, achávamos tudo terrível; agora, exaltamos as práticas e ideais que antes nos fizeram sofrer. A mudança chama-se idade. A memória é sempre uma invenção.

O silêncio o seduz de forma crescente. Mais – é capaz de fazer sem voz coisas de longos períodos, como pescar, ver um filme, escutar uma música. Não precisa mais emitir opinião a toda hora? Pode ser que você seja uma pessoa experiente. A capacidade de esvaziar a cabeça e mirar o vazio infinito não é apenas budista, ela é da idade…

Para muitas pessoas, a maturidade é acompanhada do aumento do medo. Estou ficando obsoleto? Conseguirei continuar produzindo dinheiro? Meu corpo será acometido de quais males? A violência física do mundo vai me atingir? Serei assaltado? Conseguirei defender minha casa, meus filhos, meus bens? Talvez o aumento do medo seja o mais complexo e mais firme indicativo da idade.

Por fim, creio, existem maneiras de saber que estamos mais velhos. Um primeiro grupo adota a estratégia de nunca falar nisso. Fica incomodado com temas da senectude e silencia-se. Foge das palavras e das rodas onde o tema seja idade; evita símbolos, como o cartão de estacionamento de idoso.

Um segundo grupo nega de forma veemente a ação do tempo e proclama, sem cessar, que não se sente com tal idade, que sua cabeça é jovem, que possui mais energia do que “muitos adolescentes por aí”. Compara-se com pessoas mais novas, mostra como tem boa iniciativa e bons hábitos.

O terceiro grupo, por fim, exorciza seus medos, falando a todo instante sobre ter tal idade (e até, como eu, escrevendo textos sobre isso). Diante de uma situação de medo, há quem emudeça, há quem negue e há quem fale muito. As reações são variadas, a ansiedade é a mesma.

Há muitas formas de lidar com o terço final da existência. Nenhuma afeta o tempo que passa. Envelhecemos todos os dias, sempre! As amarguras existem e podem ser atenuadas pelo fruir mais consciente dos pequenos prazeres, da leitura e do encanto com o mundo. Devemos tentar ver a ave de Minerva que alça voo ao entardecer. Por fim, poética a constatação de que as melhores fotos são feitas no fim do dia. A luz deixa sua dureza, os contornos ficam mais suaves. É minha hora favorita do dia. A esperança de sabedoria pode tomar a fase melhor. Que voe a coruja da deusa!

*** LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de “A Coragem da Esperança”, entre outros.

ESTAR BEM

SEGURAR O ESPIRRO PODE TRAZER PROBLEMAS?

Em vez de segurar, a recomendação é que o indivíduo use um lenço ou espirre no antebraço para não espalhar vírus

O espirro é um reflexo que tem como objetivo proteger as vias aéreas e expulsar algum tipo de alérgeno ou vírus que entrou ali. Ele pode ser um espirro alérgico, quando a gente mexe com pó, em um ambiente de ácaros, e as vias aéreas ficam irritadas e espirramos na tentativa de nos livrarmos desse alérgeno que acabou de ser inalado. Ou quando você está resfriado e as vias aéreas ficam cheias de muco. O espirro é a tentativa de tirar o excesso desse muco.

Claro que existe também o espirro de reflexo, que é aquele que você dá depois de alguma irritação – seja olhar para o sol ou chupar uma bala ardida. Mas, normalmente, o espirro tem sempre um fim de eliminar alguma coisa nociva para o organismo. Ou excesso de muco ou um alérgeno: cigarro, ácaro, poeira. Então, indo nessa linha, como o objetivo dele é proteger a via aérea, tentar segurar o espirro é ir de encontro à natureza principal do espirro. Por isso, segurá-lo pode sim causar algum efeito nocivo.

COMO FUNCIONA O ESPIRRO.

Antes de espirrar você faz uma inspiração profunda e o ar fica preso no pulmão – até a glote e as cordas vocais se fecham para que ele fique totalmente acumulado ali. Nesse momento, a pessoa tem uma contratura súbita, na qual os músculos do abdômen e os músculos intercostais jogam esse ar para fora. E esse ar sai numa força absurda, uma velocidade que é em torno de 160 km/h. Então se esse monte de ar represado não sai pelo nariz e pela boca, que é o objetivo, ele vai para algum lugar – e o mais comum é ir para a tuba auditiva. A tuba auditiva é um canal que conecta nariz e ouvido e serve para equalizar as pressões da orelha média (ou cavidade timpânica) quando você tem alguma descompressão – como andar de avião, subir uma montanha, descer a serra. A pessoa sente que o ouvido entope, aí ela vai engolindo ou bocejando, o que faz abrir a tuba auditiva: o ar entra e as pressões ficam iguais, a externa e a interna.

Quando esse ar entra ali pode acontecer a perfuração do tímpano, que a gente chama de barotrauma, como quando acontece quando a pessoa mergulha muito profundamente sem equalizar a pressão. Isso é bem comum. Outra coisa que pode acontecer é o ar entrar na orelha média e traumatizar o labirinto – o que pode gerar uma labirintite aguda.

OUTRAS COMPLICAÇÕES

Além do ouvido, segurar o espirro pode causar outras complicações no corpo, que, apesar de raras, podem acontecer também, como o rompimento do vaso ocular, descolamento de retina ou até gerar um acidente vascular cerebral (AVC). Mas isso acontece em pacientes que têm deformidades ou patologias preexistentes, como um aneurisma. Então a pressão do espirro retido é tão grande que há o aumento súbito da pressão intracraniana – e esse vaso que tinha parede delgada se rompe, gerando uma hemorragia.

Segurar o espirro é uma grande besteira, mas muita gente o faz, especialmente por medo de ser julgado por pessoas próximas por causa da covid.

A forma correta de espirrar é criar algum tipo de barreira para reter os vírus. Afinal, quando espirramos jogamos uma quantidade muito grande de germes – algo em torno de 100 mil germes por espirro – no ambiente e isso pode prejudicar os outros. Se tiver um lencinho, ótimo, porque assim já sai o muco junto. Mas caso não tenha no momento, proteja com o antebraço. Espirrar na mão pode fazer com que eles se espalhem para a maçaneta, a cadeira, a mão de outra pessoa.

Ficar assoando o nariz repetidas vezes, e forçar a saída do muco, também pode ser prejudicial. Claro que não na mesma medida de segurar o espirro, porque a força e a velocidade é muito maior, mas pode, sim, causar algum trauma no ouvido.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO LIDAR COM O SENTIMENTO DE INVEJA?

Apesar de ser visto como algo ruim, é possível fazer com que essa sensação sirva para impulsioná-lo a realizar seus sonhos

Estou com inveja do sucesso da minha amiga. Contar para ela ajudaria a melhorar a situação?

Responde Ana Clara Gomes Braga, psicóloga

Em primeiro lugar, esse sentimento é totalmente normal de se ter. Afinal, a inveja é uma emoção muito primária para a gente. Se formos pensar na história do desenvolvimento do ser humano, a inveja existia para que a gente se comparasse com outros grupos, justamente para vermos se aquilo que estávamos construindo para nós era tão bom quanto o do outro. E assim, guiarmos nosso comportamento para ter uma sobrevivência maior a longo prazo.

Então sentir inveja de uma amiga, por exemplo, tem a ver, hoje em dia, com a mesma ideia de desenvolvimento. Você está se comparando para ver onde se encaixa na régua social em relação a ela.

Sentir inveja não significa que você vai agir em cima dessa emoção. O que você pensa, o que você sente e o que você faz são coisas diferentes. Ter um pensamento invejoso é somente isso: ter um pensamento. A comparação em nível saudável não é ruim. O problema é quando ela é exagerada e não movimenta a gente, mas sim paralisa.

Hoje entendemos que toda emoção surge diante de um pensamento e esse pensamento tem a ver com a nossa história de vida. Então, por exemplo, situações que remetem a coisas mais traumáticas vão gerar mais pensamentos com emoções dolorosas. Se eu sempre ouvia da minha família que eu não era boa o suficiente e que precisava ser melhor, e depois, quando eu estou mais velha, vejo alguém tendo mais sucesso que eu, me comparo e sou ativada por essas memórias, que geram pensamentos como “não sou capaz”, “eu sou ruim”. E isso vai resultar em sentimentos como tristeza, inveja. Mas só conseguimos agir por conta deles – por isso mesmo que eles podem ser usados de forma saudável.

Claro que você pode conversar com a sua amiga e até pedir conselhos, dicas para ter o mesmo sucesso que ela, sem usar a palavra inveja. Assim, você utiliza o sentimento como incentivo. Ou seja, eu percebo que quero algo que alguém tem e uso isso para criar uma autorreflexão importante sobre, nesse caso, sucesso.

No entanto, se a conversa contiver a palavra inveja, pode ser que a pessoa acredite que o sentimento, de alguma forma, pode fazer mal para ela e encare esse “desabafo” como algo ruim, gerando desconforto.

Independentemente do tipo de conversa escolhida, é bom falar – nem que seja consigo mesma. Qualquer sentimento que não seja adequadamente expresso, de forma que não escutamos o que ele está nos comunicando, é um sentimento “desperdiçado”. Além de causar muito sofrimento.

O mais importante é entender o motivo de sentir isso, os reflexos desse sentimento, e descobrir como podemos mudá-lo. Se deixarmos a culpa tomar conta da situação, não daremos ouvidos ao sentimento e continuaremos com o problema. Permitir-se sentir é o melhor para que a emoção venha e se vá rapidamente também.

ATUALIDADE

A inveja vem da insatisfação, afinal surge de uma comparação com o outro. Todo mundo tem um pouco de insatisfação, portanto um pouquinho de inveja. Então precisamos desmistificar a inveja, porque ela não precisa ser algo ruim, se for bem usada. Claro que podemos ficar insatisfeitos infinitamente e nos deixar com um desconforto no contato com o outro, pelo tamanho da preocupação com o sucesso alheio. Mas também podemos usar o sentimento para refletir sobre nossos desejos e rumos na vida.

As redes sociais aumentam nossa comparação, insatisfação e, consequentemente, inveja. Mas é importante lembrar que a maioria das pessoas não posta tudo o que acontece na vida delas, apenas as coisas boas. Caso a gente não tenha isso em mente, pode haver uma sensação de impotência, por acharmos que nunca vamos chegar a esse nível. Além de nos afastar da realidade da vida. Nas redes, existem recortes.

Além da terapia – que vai ter o papel de regular o emocional daquela pessoa –, vale fazer registros escritos, que podem ajudar a entender e identificar padrões nos seus sentimentos.

Meditação, exercício físico e relaxamento são técnicas ligadas ao manejo das emoções que ajudam no caso de emoções muito intensas. Também é importante analisar se existe algum comportamento que faça com que essa emoção se mantenha presente – como mexer muito no Instagram, por exemplo.

OUTROS OLHARES

NOVOS APARELHOS PROMETEM COMBATER A FLACIDEZ DE QUEM PERDE MUITO PESO

Com o uso de remédios como o ozempic cada vez mais populares, a pele caída virou o inimigo público número um de muita gente

Em inglês já existe até uma expressão para designar o olhar fundo, o rosto esvaziado e o pescoço cheio de dobras de quem perdeu muito peso com o uso de remédios à base da semaglutida: é a “Ozempic face” (cara de Ozempic, em português). E não é sem um tanto de “schadenfreude” que esse termo foi cunhado, obviamente.

Muito chique usar uma palavra em alemão para explicar um termo em inglês. “Schadenfreude” não tem uma boa tradução em português, e significa a satisfação que uma pessoa sente por causa do infortúnio de outra. Uma espécie de vingancinha emocional.

Mas de volta ao assunto original: as pelancas que despencam do corpo e do rosto de pessoas que já não podem ser chamadas de jovenzinhas e perdem muito peso em pouco tempo. É nesse grupo que se concentra muitos consumidores de Ozempic e seus semelhantes, que custam quase um salário mínimo por mês.

A cara de Ozempic seria o efeito colateral perverso por ter atingido o peso ideal na idade adulta, sem grandes esforços. Porém, é uma ficção. Qualquer pessoa com mais idade que perca muito peso, seja por causa de injeções semanais na barriga ou porque adotou um estilo de vida saudável, vai enfrentar esse infortúnio.

“A flacidez acontece com todo mundo, é provocada pelo envelhecimento. A perda de peso só evidencia isso, porque a pele fica apoiada em uma camada de gordura. Quando essa gordura vai embora, a flacidez aparece”, diz a dermatologista Juliana Mendonça.

Com o passar do tempo a espessura da nossa pele fica mais fina. Além disso, o organismo perde a capacidade de renovar as células, de produzir colágeno e de manter o lado de fora do corpo hidratado. Se a gente ainda somar a diminuição da camada de gordura, despenca tudo mesmo. Mas nem tudo está perdido, há maneiras de melhorar o aspecto da pele das neo-magricelas.

“Tem que fazer tratamentos que cuidem da pele de fora para dentro, com essas máquinas que surgem toda hora por aí, mas também de dentro para fora”, afirma a médica.

Isso quer dizer que, para combater a flacidez é preciso ingerir colágeno todos os dias. Não basta estimular a produção com aparelhos. O nosso corpo também deixa de produzir essa proteína conforme envelhecemos, e, junto com a elastina, são os dois componentes mais importantes para a firmeza da pele.

“O ideal é ingerir peptídeos de colágeno, o colágeno fracionado. Não tem esse tipo de colágeno em cápsula comprada pronta no Brasil. A gente ou manda fazer em farmácia de manipulação ou compra em pó nas farmácias”, diz Juliana.

A tecnologia dos aparelhos que estimulam a produção de colágeno não para de avançar. O custo dos tratamentos não é baixo, mas a promessa é quase irresistível.

“A última novidade no mercado é uma tecnologia chamada HiFes, que também age no músculo, não só na pele, e melhora muito o aspecto tanto da celulite quanto da flacidez”, afirma a médica.

A maior vantagem da nova técnica é que os tratamentos costumam ter seis sessões, em vez das 10 dos aparelhos mais antigos. O preço varia, mas uma apuração com três dermatologistas de São Paulo mostra que cada sessão custa de R$ 1.000 a R$ 2.500.

Esses aparelhos já chegaram a alguns consultórios médicos de ponta brasileiros, mas por enquanto apenas para tratamentos corporais. Já existe uma versão dessa tecnologia para a pele do rosto, e a previsão é que as primeiras máquinas desembarquem no país no segundo semestre.

Há muitas outras possibilidades de aparelhos para combater o efeito macabro do emagrecimento tardio.

No site da clínica Onodera, que tem vários endereços pelo Brasil, há dois tipos de tratamentos oferecidos para combater a flacidez, chamados de Powershape e Trilipo.

Ambos combinam sistema de sucção, luz de LED e radiofrequência com laser para quebrar as células de gordura, estimular as fibras elásticas e aumentar a circulação sanguínea, o que faz, teoricamente, com que a parte mais superior da pele fique firme e lisinha.

Os tratamentos costumam ser prescritos depois de uma avaliação e precisam de 8 a 10 sessões para se alcançar o efeito final. O preço varia de R$340 a R$450 por sessão, dependendo da região do corpo. Para o rosto, por enquanto, os mais indicados são os injetáveis. Há os bioestimuladores de colágeno, várias microinjeçõezinhas que dão como que uma ordem para o nosso organismo produzir mais colágeno naquela área e, com isso, fazer a pele parecer mais esticada.

E há os polêmicos preenchedores, principalmente o ácido hialurônico, responsável pelas maçãs do rosto altíssimas e as bochechas gorduchas que circularam por aí nas últimas décadas.

“Hoje em dia usamos menos e melhor os preenchedores, porque entendemos mais como funciona a anatomia da face”, diz Juliana.

Os resultados de nenhuma dessas técnicas duram para sempre. Em um ano, o corpo e o rosto voltam a ser como eram. Aí, é preciso fazer no mínimo uma sessão de manutenção. Não existe milagre. Pelo menos não nessa área.

GESTÃO E CARREIRA

PONTO DE PARTIDA DO NEGÓCIO CRIATIVO

Com curso didático e certeiro, especialista em marketing digital ensina o passo a passo para criar um modelo de negócio de produtos e serviços criativos para quem quer faturar alto

Ter planejamento de marketing é um processo que define as ações que serão desenvolvidas para tirar do papel os objetivos gerais de um negócio a curto, médio e longo prazo. São ações definidas de forma inteligente que vão nortear o sucesso do negócio.

Um estudo realizado pela Brunch e YouPix traz dados sobre o mundo dos negócios para creators no Brasil e mostra que o “publico” deixou de ser a única forma de monetizar uma boa ideia.

Quando a gente vê um criador de conteúdo no Instagram, por exemplo, com milhares de seguidores, o primeiro pensamento é: quanto tempo essa pessoa dedica para conquistar seguidores e engajar o negócio?

A FÓRMULA (QUE NÃO É) MÁGICA PARA A IDEIA CERTA

Tire o primeiro print quem nunca quis descobrir a fórmula mágica do sucesso nos negócios e da riqueza. A bem da verdade, é que não existe verdadeiramente urna receita milagrosa para ganhar dinheiro de pernas para o ar ou dormindo; ou quem sabe trabalhando quatro hora por semana com uma renda de algumas dezenas de milhares de reais (quem não gostaria?).

Você já deve ter visto algumas dessas promessas pipocando na internet vindas de falsos gurus ou de ‘conteúdos’ rasos que não passam de uma rolagem de página. Lá existem inúmeros artigos que listam todas essas mesmas dicas, mas a intenção deste texto é fazer você descobrir como gerar renda por meio de sua habilidade e utilizando um recurso muito poderoso de que só você dispõe: sua própria criatividade.

É possível ganhar dinheiro com praticamente qualquer dom, mas há uma condicionante, desde que seu talento seja transformado em valor para as outras pessoas, é claro.

REALIZAÇÃO PESSOAL TEM A VER COM TRABALHO

É verdade dizer que a ideia de um trabalho como forma de realização pessoal é um conceito relativamente novo. Pense por um momento, primeiro que não tem como separar a satisfação com a vida como um todo. Ainda mais se colocarmos no papel as horas que gastamos, em média, 90 mil horas de nossa vida.

E quando o trabalho, ao qual dedicamos a maior parte do nosso dia, se torna o causador de insatisfação e até falta de motivação pessoal, o dano pode ser devastador, não só para a pessoa, mas para todos ao redor. isso levando em consideração que a maioria de nós está acostumada a ver o trabalho como uma obrigação e com destino certo, corno um meio de pagar as contas no final do mês. E a vida mesmo? Opta por viver só aos finais de semana, feriados ou durante as férias.

Quem são essas pessoas? São contadores que gostariam de ser músicos, jornalistas que na verdade sentem mais prazer em atuar corno atores do que escrever textos e textos, sem contar advogados que usam todo o tempo livre para produzir conteúdo digital, porque essa é a atividade que dá significado à sua vida. E isso não deveria ser ignorado.

É possível que esse não seja o seu caso, ainda assim os exemplos citados acontecem com mais frequência do que se imagina. Muitas pessoas seguem uma carreira convencional porque acreditam que esse é o único modo. Porque acreditam que seu hobby, seu talento, sua verdadeira paixão, muitas vezes vinda do âmago da natureza criativa, nunca será uma atividade remunerada.

NÃO CAIA EM ARMADILHA

Segundo uma pesquisa da Creators e Negócios, realizada pela agência Brunch e pela consultoria YOUPIX, 34,6% das pessoas que decidiram criar o próprio negócio vivem exclusivamente dele, um número que poderia ser muito maior se, durante o processo, uma ferramenta fundamental fosse o foco das atenções antes de começar o desafio: o plano de negócios.

Como começar um plano de negócios para transformar seu talento em dinheiro no bolso? A receita é simples, mas requer atenção, principalmente antes de partir para a prática.

Transformar o talento criativo em um processo rentável é a especialidade de Edney Souza. popularmente conhecido como “Interney”; expert em marketing digital, já trabalhou como consultor para empresas e instituições como Médicos Sem Fronteiras, Ford e Disney; além disso, é palestrante e lecionou por mais de dez anos em cursos de pós-graduação.

O talento para compreender problemas, criar pontes e gerar soluções lhe rendeu mais de 350 mil seguidores no LinkedIn e reconhecimentos como o Prêmio Digitalks. É coautor de Para Entender a Internet e Marketing na Ciência da Informação. Com esse know-how, a habilidade desse pioneiro da internet brasileira é ensinar como desenvolver um plano de negócios do zero.

DA TÉCNICA AO LUCRO

O curso está na plataforma Domestika, uma comunidade criativa que tem crescido porque se torna uma ponte entre os maiores especialistas do setor que compartilham seus conhecimentos e habilidades em cursos on-line produzidos de forma profissional. De acordo com o especialista, os cursos da Domestika permitem aprender uma série de ferramentas e habilidades para realizar um projeto consistente. “Cada etapa do projeto combina vídeos e textos, além de materiais de ensino complementares. As aulas também oferecem a oportunidade de compartilhar seus próprios projetos com outros usuários e com o professor, criando assim uma comunidade em torno do curso”, acrescenta Edney Souza.

O curso é intuitivo e dividido por etapas. Logo na primeira unidade, o aluno é apresentado à jornada de Edney, desde a época em que iniciou como programador até se tornar um especialista em tecnologia e marketing digital. Para o módulo seguinte, técnicas da criatividade e do empreendedorismo, quando é ensinado ao aluno que vender não é um bicho de sete cabeças, mas uma arte. Para auxiliar o aprendizado, um mapa de empatia para entender melhor o cliente é criado à medida que o aluno avança.

Em outro módulo, é a vez das ferramentas essenciais para criar o seu modelo de negócio. É aqui que Edney ensina como definir e mostrar seu projeto ao mundo sem se esquecer de determinar uma proposta de valor – o que para muitos é um dos principais obstáculos – e o mínimo produto viável. O estudo também contempla diversas possibilidades de monetização.

Por fim, o mergulho é em aprender a organizar o toolkit, aqueles documentos com todas as informações adquiridas e anotadas durante o curso. Além disso, o aprendiz recebe conselhos valiosos para colocar seu plano em prática e manter a manutenção contínua do seu produto ou serviço.

INDICADO PARA QUEM?

Freelancers, designers, artistas, empreendedores e todas as pessoas que desejam desenvolver um plano de negócios para seus produtos e serviços. Para realizar o curso, o aluno não precisa de conhecimentos prévios.

As aulas são gravadas e com os vídeos é possível não perder nenhum detalhe, isso porque uma vez inserido no curso, o aluno terá acesso ilimitado, o que garante o replay todas as vezes que precisar para aperfeiçoar a técnica.

QUAL O INVESTIMENTO?

O valor do curso com desconto é de R$79, mas é bom ficar de olho no site, porque algumas ofertas relâmpagos podem garantir descontos de até 70%. O aluno inscrito terá acesso a um fórum exclusivo no qual poderá interagir com todos os participantes, incluindo professores, podendo compartilhar seus trabalhos e os projetos que desenvolver, criando uma comunidade de apoio em torno do curso. As aulas são em português com legendas disponíveis em mais de sete idiomas.

EU ACHO …

HUMANOS NA PRÁTICA

Nas constantes discussões que vemos sobre direitos humanos, não é incomum ouvir a frase “direitos humanos para humanos direitos”. Você já ouviu?

Mais do que dizer que pessoas de uma determinada ideologia política tendem a reproduzir esse tipo de pensamento, penso que quem determina quem é um humano direito somos todos nós, nossos discursos, práticas, prioridades, investimentos e escolhas. Além disso, ao longo da História, os direitos humanos nem sempre se estenderam de maneira igualitária.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão no século XVIII, na França, por exemplo, não especificou sobre os negros e os indígenas que eram mantidos escravizados.

Nem previa direitos para as mulheres. Teoricamente, esse entendimento passa a ser validado com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em que há abertura para tratar todas as pessoas como iguais.

E no seu segundo artigo diz: “Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”.

Mas é sempre importante não tratar os direitos humanos como um bolo único, como se todos já estivessem desfrutando plenamente de seus direitos.

Quando olhamos para os indígenas yanomamis, vemos os direitos humanos sendo exercidos plenamente? Infelizmente, ainda não. Recomendo acompanhar as discussões propostas pelo Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização dos povos indígenas do Brasil, que começa na próxima segunda feira.

Na prática, o exercício dos direitos humanos não é acessível para todas as pessoas. Sabemos que há grupos de humanos que estão ficando para trás. Reduzir isso a “mimimi” tampouco diminui o problema.

Direitos humanos também são sobre se perguntar quem não tem total acesso aos direitos. E qual o nosso papel, de governos e empresas em reverter essa situação.

O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em seu discurso de posse, reforçou o óbvio que tem sido negado. Ele se dirigiu a diversas vertentes de grupos sub-representados, como mulheres, pessoas negras, com deficiência e crianças. Afirmou: “Vocês existem e são valiosos para nós”.

É papel fundamental lutar para que os direitos humanos, nas suas pluralidades, sejam uma prática e não apenas um ideal no papel.

Outro ponto fundamental é que direitos humanos não são favores para o outro e, sim, para nós mesmos. Quando muitos ficam para trás, todos perdem, o mercado de trabalho e a economia. Se mais de 50 % do país não avança, estamos desperdiçando talentos e fadados ao subdesenvolvimento. Aliás, temos falado muito em uma agenda net zero.

Mas que tal nos engajarmos numa agenda de desperdício zero de talentos? Com mais compromisso em construir culturas antirracistas, anticapacitistas em que possamos dar às pessoas mais condições de elas exercerem seu pleno potencial.

Não é algo só para os nossos filhos, é algo para nós. Você quer um país mais próspero, com menos insegurança, mais educação e menos desperdício de talentos? Então, direitos humanos precisam de prática e prioridade.

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaigualdaderacial.com.br

ESTAR BEM

É MELHOR UMA CASA BAGUNÇADA E FUNCIONAL PARA FUGIR DA EXAUSTÃO

‘Quero que as pessoas parem de cuidar da casa e comecem a criar uma casa que cuide delas’, diz terapeuta que une tarefas caseiras e saúde mental nas redes e tem 1,5 milhão de seguidores

A internet está cheia de dicas para deixar a arrumação da casa mais fácil e rápida, mas cadê a solução para o cansaço com os intermináveis cuidados domésticos? Este é o nicho que KC Davis, terapeuta profissional licenciada e autora do bestseller How to Keep House While Drowning (Como Manter a Casa Enquanto se Afoga), quer preencher. No TikTok, suas dicas práticas e simpáticas sobre tarefas domésticas e saúde mental atraíram 1,5 milhão de seguidores. Um de seus vídeos mais populares, Por Que Você Não Precisa Mudar Quem Você É Para Ter Uma casa Funcional, tem 11,6 milhões de visualizações.

Mãe em Houston, ela começou a divulgar as dificuldades para equilibrar saúde mental e cuidados domiciliares nas redes sociais há alguns anos. Era o início da pandemia e seu segundo filho tinha acabado de nascer. Foi uma época exaustiva. Hoje, administra a plataforma de saúde mental Struggle Care. Ela quer que seus seguidores entendam que casa bagunçada não é motivo para se envergonhar. “Quero que as pessoas parem de cuidar da casa e comecem a criar uma casa que cuide delas”, diz. Perguntamos a ela como começar.

CASA FUNCIONAL X CASA SUPERLIMPA

Davis define uma casa funcional como aquela que permite que você e sua família vivam e operem confortavelmente dentro dela, não aquela que se encaixa na definição de “limpa” de outra pessoa. “Vemos o cuidado da casa como uma espécie de reflexo de nosso valor como pessoa”, diz Davis, o que pode dificultar ainda mais a manutenção do lar. Esteja você trabalhando, cuidando das crianças, lidando com problemas de saúde mental ou todos os itens acima, Davis explica que não conseguir “controlar” as tarefas pode gerar um ciclo de feedback negativo. Quando você perde o controle, muitas vezes sente que não é o suficiente – o que pode dificultar ainda mais as coisas. Em vez disso, Davis recomenda mudar de perspectiva. “Espaço é só espaço”, afirma. “Quero abandonar a ideia de ‘desempenho’ nas tarefas domésticas.”

O QUE FAZER SE NÃO CONSEGUIR CUIDAR DO MÍNIMO?

 Se tudo parecer pesado demais – se a pia e as bancadas da cozinha estiverem sempre cheias de pratos ou os brinquedos das crianças se espalharem pela casa –, Davis recomenda identificar “tarefas fechadas”. Escolha de uma a cinco coisas – como encher a máquina de lavar louça, limpar as bancadas ou arrumar a cama – que você possa fazer todos os dias, seja logo pela manhã ou antes de dormir. “E não se preocupe com mais nada.”

Começar simples, explica, é a chave para não desistir. “Estamos começando num lugar muito diferente do que a maioria dos organizadores ou especialistas em limpeza, porque boa parte do problema é aquela batalha mental e emocional.”

LIMPEZA X DESORDEM

“Sempre recomendo meu método das cinco coisas como um ótimo ponto de partida, porque para mim é a ferramenta mais rápida para deixar os espaços habitáveis”, garante. A abordagem envolve o foco em cinco grandes categorias de itens que resultam em casa bagunçada: lixo, pratos, roupas, coisas com um lugar e coisas sem lugar.

Ao reduzir as tarefas de arrumação a essas categorias, Davis diz que você sentirá menos sobrecarga e mais capacidade de lidar com as bagunças à medida que surgirem – sem a necessidade de um compromisso assusta- dor de longo prazo. Isso é particularmente útil para pessoas que enfrentam bagunças maiores do que o normal, e Davis recomenda começar com o lixo. Reúna tudo numa mesma pilha e passe para a próxima categoria: lavanderia. Não se preocupe em sair do lugar (para levar o lixo para fora, por exemplo) até terminar cada categoria – assim você não se distrai.

LIMPEZA E EXAUSTÃO

Se você mantém a casa organizada e não aguenta mais o cansaço, Davis incentiva “jogar a cartilha fora” e reavaliar tarefas que não servem a um propósito funcional para você – como aspirar a casa todos os dias ou dobrar a roupa antes de guardá-la. Embora esse último ponto em particular possa parecer controverso, Davis descobriu que o método tradicional de dobrar e separar roupas limpas não funcionava para sua família, especialmente com duas crianças pequenas. Em vez disso, ela desenvolveu um sistema de lavanderia “sem dobra”, que envolve separar as roupas em cestos para cada membro da família e pendurar o restante em um armário compartilhado. Agora ela leva apenas alguns minutos para arrumar toda uma carga de roupa.

COMO DECIDIR O QUE É NECESSÁRIO?

Davis enfatiza que a definição de funcional é diferente para cada pessoa, mas é importante separar o que realmente afeta sua capacidade de funcionar das coisas que apenas parecem que afetam.

“Será que realmente afeta meu funcionamento se, tipo, tiver um pouco de sujeira e poeira no chão?”, indaga. Mas Davis reconhece que a resposta pode ser diferente para outras pessoas. “Quando digo isso, sempre tem alguém que fica, tipo, ok, mas chão limpo é funcional para mim porque não consigo não ver a sujeira.”

Nesses casos, ela sugere buscar outras formas de “desencanar”. Se pisos limpos são realmente importantes para você, talvez você possa aliviar sua rotina de lavanderia. “Se você está limpando ou mantendo as coisas em ordem como forma de controlar sua ansiedade”, acrescenta ela, “você merece melhores habilidades e ferramentas de enfrentamento”.

MUDANÇAS SÃO LENTAS

“Não dá para mudar tudo da noite para o dia”, adianta. Em vez disso, “devemos fazer a menor mudança funcional possível”. Quer um exemplo? Concentre-se em resolver os problemas onde eles aparecem. Se os membros da sua família deixam os sapatos numa grande pilha na porta da frente, não exija que todos coloquem os sapatos numa prateleira dentro do armário”, admite. Em vez disso, escolha uma estratégia que pareça mais intuitiva, como colocar a cesta para guardar sapatos onde a pilha geralmente se forma. Da mesma forma, se você ou alguém da casa tem o hábito de deixar a roupa suja em determinado local do chão, mova o cesto para lá.

COLABORAÇÃO

Converse com seu parceiro sobre a divisão do trabalho doméstico, mas lembre-se de que a versão de funcionalidade de uma pessoa nunca será exatamente igual à de outra. “Temos de ter uma conversa onde todo mundo concorda em vir à mesa e conversar a respeito”, acrescenta.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMPULSÃO ALIMENTAR PODE EXIGIR PROTOCOLO SIMILAR AO DO AA

Mulheres contam sobre a vida como comedoras compulsivas e o esforço para mudar a forma de enxergar a alimentação e deixar o vício

A aposentada Maria (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), de 69 anos, percebe sinais da compulsão por comida desde a infância. Ela vivia em uma casa com seis irmãos e comia muito, mas só detectou que isso poderia ser um problema já adulta, quando chegou a ter refeições em quantidade que ultrapassava um quilo de alimento.

“Eu sabia que comia muito e buscava fazer isso escondido. Ao mesmo tempo, queria emagrecer e ter o corpo como o das minhas amigas. Fazia dietas, mas engordava novamente logo em seguida”, conta.

A busca por um corpo magro fez com que ela recorresse ao uso de anfetamina, uma droga sintética que estimula o sistema nervoso central e eleva os níveis dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina no cérebro.

“Eu usava a droga para tentar permanecer magra por mais tempo, mas nada resolvia permanentemente. Eu estava em processo de isolamento e o meu cérebro foi afetado. Além de ter caído em depressão, passei a precisar de calmantes para dormir e virei dependente em ansiolítico. Tudo isso era consequência da minha compulsão”, revela Maria.

Doutor em psiquiatria, Marco Aurélio Negreiros aponta que a adicção por comida é um transtorno que se manifesta por meio de farras alimentares. Ele explica que isso não significa necessariamente que a pessoa coma muito, mas sim que ela se descontrola com determinados grupos de alimentos.

“Quem tem compulsão não pode comer nem um pedacinho de certas coisas. No meu caso, é proibido açúcar, farinha branca e gordura. Se eu começo a comer esses alimentos, não consigo parar”, explica o psiquiatra.

Foi em 1998 que Maria conheceu o grupo Comedores Compulsivos, na Rua Senador Dantas, Centro do Rio. Ela relata ter encontrado uma “família” que entende as suas dificuldades e celebra os 23 anos de sobriedade, apesar das inúmeras dificuldades que enfrenta até hoje.

Assim como a aposentada, pelo menos 4,7% da população brasileira sofre com transtornos alimentares (TAs), de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Maria conta que momentos em que sente raiva, sono, ressentimento, dor, estresse e cansaço a levam a pensar em comer.

Negreiros explica que esses sentimentos funcionam como gatilho para a compulsão. A doença se manifesta na maneira como o indivíduo tem uma relação emocional com a comida e não para nutrição. Isso explica o fato de, por muitas vezes, o adicto sentir a necessidade de comer mesmo sem estar de fato com fome.

“A compulsão traz uma série de consequências negativas, como baixa autoestima, desregulação do humor, problemas de memória e todos os problemas relacionados à obesidade, como diabetes e um estado inflamatório no corpo, que propicia a baixa imunidade”, aponta o especialista.

BUSCA POR APOIO

Funcionária pública aposentada, Márcia (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), de 58 anos, também frequenta as reuniões do grupo de apoio. A adicta relembra a história contada pela mãe do dia em que foi a uma festa, aos 3 anos, e a comida precisou ser escondida dela para que não comesse.

A busca pelo emagrecimento também norteava a vida de Márcia. Ela percebeu a compulsão quando levou uma amiga para visitar o marido em uma clínica de reabilitação e, logo depois, decidiu visitar a reunião dos Comedores Compulsivos. A amiga propôs: “vamos lá emagrecer de graça” e Márcia resolveu tentar.

O convívio com outros compulsivos e o programa de recuperação de doze passos da irmandade, baseado no modelo desenvolvido pelo Alcoólicos Anônimos (A.A.), abriu portas para uma “nova forma de viver baseada no autoconhecimento”. A pessoa compulsiva entende que determinadas comidas são como uma droga para ela, ainda que o objeto da sua compulsão seja aceito pela sociedade.

“Tudo influencia a alimentação, inclusive o estado emocional. Percebi que a cada recaída eu ficava pior e que seria mais fácil sofrer porque não se come do que por conta da abstinência, derivada da recaída”, conta Márcia.

TENTAÇÃO E LUTO

A aposentada acredita ser necessário o entendimento de que a “chave da liberdade do compulsivo é a eterna vigilância”. Ela está sem comer açúcar desde 2017 e não pode consumir “beliscos”, como, por exemplo, batata frita, amendoim e castanha.

“Deixar o açúcar de lado foi motivo de luto para mim. Às vezes tem bolo no terceiro andar da minha academia e não posso ir até lá para não me aproximar daquele alimento. Me expor a isso é uma forma de violência comigo mesma”, compara ela.

Como explica Marco Aurélio Negreiros, o tratamento recomendado é psicoterapia e acompanhamento médico, com recomendações dietéticas.

“O trabalho de reabilitação possibilita mecanismos para que o indivíduo monte uma estratégia que promova uma readequação da sua relação com alimentação, de modo que ele passe a comer para se nutrir e não para que o cérebro gere prazer imediato”, afirma.

OUTROS OLHARES

NUMA FRIA

Técnica que congela gordura traz riscos acima da estimativa inicial

Mais de dez anos atrás, um dispositivo médico chegou ao mercado com uma promessa tentadora: poderia congelar as bolsas de gordura teimosas rapidamente, sem dor e sem cirurgia.

O aparelho, chamado CoolSculpting, chegava a uma indústria de beleza já super- povoada, que vendia abdomens sarados e linhas de mandíbula mais marcadas. Mas tinha uma vantagem: o pedigree científico. A pesquisa por trás de seu desenvolvimento veio de um laboratório no principal hospital universitário da Harvard Medical School, uma informação sempre repetida em reportagens e talk shows. O lançamento teve êxito.

As máquinas CoolSculpting hoje são comuns em consultórios de dermatologia e cirurgia plástica, e spas médicos, e a tecnologia gerou mais de US$ 2 bilhões em receita. Criolipólise, o termo técnico para designar o procedimento, utiliza o dispositivo em uma parte específica do corpo para congelar as células de gordura. Os pacientes geralmente passam por vários tratamentos na mesma área. Em casos de sucesso, as células morrem e o corpo as absorve.

Mas, para algumas pessoas, o procedimento resulta em desfiguração grave. A gordura pode crescer, endurecer e se alojar no corpo, às vezes até assumindo o formato do aplicador do aparelho. Esse efeito colateral, chamado de hiperplasia adiposa paradoxal (HAP), geralmente requer cirurgia para ser corrigido.

“Minhas células de gordura aumentaram ao invés de diminuir. Isso me deixou permanentemente deformada”, escreveu a supermodelo Linda Evangelista, em 2021, sobre sua experiência com o CoolSculpting.

A Allergan Aesthetics, unidade da gigante farmacêutica AbbVie que agora é proprietária do CoolSculpting, diz que isso é raro, ocorrendo em 0,033% dos tratamentos, ou cerca de um em 3 mil.

ANÁLISE DE RISCO

Mas uma investigação do New York Times – com base em documentos internos, ações judiciais, estudos médicos e entrevistas – indica que o risco para os pacientes pode ser bem maior.

A empresa por trás do CoolSculpting contratou consultores que escreveram sobre baixos riscos de HAP em revistas médicas e canais online. Também restringiu os pacientes de falar sobre o problema por meio de acordos de confidencialidade. Depois, parou de relatar o efeito colateral aos reguladores federais depois que um auditor da Food and Drug Administration (FDA, agência equivalente à Anvisa nos EUA) determinou que o efeito não configurava risco de vida ou lesão grave. “A HAP provavelmente está sendo subnotificada e mal diagnosticada”, descobriu um estudo de 2020 a respeito do problema.

Em 2017, Jared Jagdeo, dermatologista que na época era consultor do fabricante do CoolSculpting, escreveu em um artigo de jornal com dois coautores que o efeito colateral deveria ser reclassificado. Suas crescentes incidências, escreveram eles, atenderam aos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para um evento adverso “comum” ou “frequente”, em vez de um “raro”.

Desde a estreia do CoolSculpting, a frequência relatada de HAP tem subido de forma silenciosa e constante, mesmo nas estimativas da empresa. A FDA conta com hospitais, médicos, consumidores e fabricantes de dispositivos para relatar quaisquer “eventos adversos”, um sistema que tem sido frequentemente criticado por transformar efetivamente os pacientes em cobaias de teste de longo prazo. Hospitais e fabricantes são obrigados a relatar mortes e ferimentos graves, mas consultórios particulares e consumidores não são forçados a relatar nada.

No Brasil, são realizados por ano mais de 33 mil procedimentos não cirúrgicos de redução de gordura. A criolipólise é uma das técnicas mais executadas, e estudos mostram que, de 8 mil sessões, a hiperplasia adiposa paradoxal tem uma incidência entre 0,05% e 0,39%, na maior parte dos casos (55%) em homens, e quase 78% das pessoas afetadas tinham ascendência europeia.

Parte do apelo da técnica envolve o fato de ser uma abordagem não cirúrgica. O custo do CoolSculpting varia dependendo do provedor e do número de sessões, mas, em média, um consumidor gasta US$ 3.200, segundo o fabricante.

Mas, à medida que a popularidade do dispositivo crescia, problemas começaram a surgir silenciosamente. Em 2011, logo após a liberação pela FDA, a Zeltiq, pequena empresa que desenvolveu o método, soube de uma pessoa cuja gordura tratada havia se solidificado em uma massa, afirma um documento interno da empresa obtido pelo New York Times.

DISCREPÂNCIAS

No ano seguinte, dois médicos do conselho consultivo médico da empresa – R. Rox Anderson, inventor do CoolSculpting, e Mathew Avram – escreveram uma revisão interna de 11 pacientes que passaram pelo efeito colateral. Eles estimaram que sua prevalência era de 0,005%, ou cerca de um em cada 20 mil tratamentos. Porém, um ano antes, um médico que aconselhou a Zeltiq havia estimado o risco em mais do que o dobro desse número: 0,011%, ou cerca de um em cada 10 mil procedimentos.

Em revistas médicas, especialistas relataram observar uma incidência bem maior do que a relatada pela empresa. Em 2017, um grupo de médicos publicou que pouco mais de 1% de seus pacientes de CoolSculpting desenvolveram o efeito colateral.

A Allergan, que adquiriu a Zeltiq por US$ 2,5 bilhões em 2017, agora informa aos pacientes e médicos que a incidência é de cerca de um em cada 3 mil procedimentos – quase sete vezes as estimativas iniciais.

A cirurgia para corrigir os crescimentos anormais pode custar dezenas de milhares de dólares e deixar cicatrizes. A Allergan ajudou a cobrir os custo para alguns pacientes com HAP, mas o pagamento geralmente está vinculado a um acordo com cláusula de confidencialidade, disseram pacientes e médicos.

Em 2021, Evangelista, uma das supermodelos mais conhecidas das décadas de 1980 e 1990, disse que passou por um longo período de reclusão após desenvolver HAP. Ela processou Zeltiq e anunciou no ano passado que havia feito um acordo com a empresa.

No ano em que a modelo tornou público seu problema, a FDA recebeu mais de 1.100 relatos de eventos adversos dos tratamentos CoolSculpting, mais do que em toda a década anterior.

GESTÃO E CARREIRA

EM DIA NA BUSCA DO GOOGLE

Especialistas indicam quais estratégias devem ser colocadas em prática para que sua empresa apareça na principal página de resultados do Google. Mais do que visibilidade, a medida pode representar conversão de vendas

Quem é que nunca falou “dá um Google aí”? O nome do buscador mais famoso do mundo virou hábito de grande parte dos usuários da internet. É na página que buscamos endereços, indicações de empresas e até respostas para os mais diversos problemas. Diante desse cenário, adianto algo que você já deveria saber: sua empresa não aparece bem-posicionada no Google? Desculpe-me, mas você está perdendo dinheiro.

De acordo com a plataforma de marketing de conteúdo BrightEdge, 63% das experiências on-line começam com uma pesquisa no Google ou em outros buscadores do mercado. E os estudos vão além: apenas oito a cada mil pessoas clicam nos resultados que aparecem na segunda página. Será ansiedade por uma resposta imediata·? Será preguiça de procurar alternativas para a busca? Ou o Google nos “moldou” para criarmos esse hábito? A resposta não é exata, mas talvez seja um pouco de tudo isso citado até aqui.

Não é à toa que despontar no topo da primeira página do buscador é algo importantíssimo para quem precisa gerar tráfego em uma página. Estamos fala do de uma SERP (Search Engine Results Page), ou seja, página em que aparecem os resultados de uma pesquisa.

A pergunta que muita gente costuma fazer é: quanto é preciso pagar para figurar no topo dessa primeira página7 A resposta é: depende. Nela estão os que pagaram ao Google para ter relevância nas buscas, mas, sobretudo, aqueles que os algoritmos entendem como relevantes. E aí: preparado para ser relevante para o buscador? Conversamos com especialistas a fim de entender o que fazer para “se dar bem” na SERP e elencamos dez dicas para isso. Aproveite e coloque em prática.

1 – PRODUZA CONTEÚDO QUE CONVERSE COM SEU PÚBLICO

Palavras-chaves informacionais representam 70%, dos termos de pesquisa feitos pelos usuários. Como já diz o nome, esse modelo engloba as buscas que as pessoas fazem para se informar sobre questões específicas ou informações gerais Exemplos: “o que é palavra-chave”, ‘como estar no topo das pesquisas do Google’, como aumentar a visibilidade do meu site’. “Como as buscas por esse tipo de termo são mais populares, invista nelas. Criar conteúdo com assuntos que respondam dúvidas sobre seus serviços e produtos é uma boa alternativa para estar à frente das páginas de pesquisa e aumentar o tráfego do seu site”, orienta o líder de Marketing da Semrush, Erich Casagrande.

2 – BUSQUE “INDICAÇÃO” POR MEIO DE LINKS

O Google entende que quanto mais indiquem seu site por meio de links, maior é sua relevância e autoridade sobre esse ou aquele assunto. Tenha isso em mente e busque praticar o chamado link building. É algo difícil, mas que vai lhe render bons resultados.

No entanto, como fazer com que sites importantes optem por linkar para a sua página? O primeiro passo é produzir conteúdos realmente bons e de interesse que mereçam ser citados por outros players.

Não se empolgue achando que aquele blog sem acesso algum pode ter o mesmo peso de um grande portal de notícias, por exemplo. Por isso, não caia na besteira de sair comprando links por aí, sem ao menos entender a relevância daquele site.

3 – INVISTA NA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO

Cada vez mais, o Google dá destaque para sites que proporcionam uma boa experiência de usuário. A dica é: coloque-se no lugar do seu cliente. Veja os erros e acertos da arquitetura e da parte técnica do seu site. “Páginas muito lentas, por exemplo, dificultam a jornada do consumidor, assim como um negócio mal organizado.

Se um site for fácil de navegar e tiver uma estrutura sólida, é mais provável que os usuários passem mais tempo e se engajem mais destaca Erich Casagrande, da Semrush.

4 – FIQUE ATENTO ÀS PERGUNTAS

Sempre que você faz uma pesquisa no Google, aparece a opção: “as pessoas também perguntam”. Essa característica aponta o que os usuários querem saber sobre o tema que vocêestá procurando. Por isso, analise o que está relacionado com o seu site para produzir conteúdos relevantes ao seu público.

5 – TENHA UM LAYOUT RESPONSIVO

Por mais que o acesso por meio de dispositivos mobile cresça a cada dia, ainda existem empresas que criam páginas pensando somente no usuário de desktop. O mobile first, ou seja, primeiro o mobile, em tradução literal, é fundamental para que a navegação seja positiva. Além disso, vale lembrar que o Google tem dado prioridade aos sites que tenham layout responsivo.

Ficou na dúvida sobre o que pode ser isso? Não se preocupe. O site responsivo é aquele que tem a capacidade de se adequar às mais diferentes telas: seja de um tablet, de um computador ou de um smartphone, independentemente se a navegação está na vertical ou na horizontal.

6 – INVISTA CERTO

Dados do Spark Toro – aplicativo que reúne dados da internet sobre nichos de audiência – revelam que 96% de todo o tráfego geral por pesquisas na internet vem do Google.

Preciso dizer mais algum a coisa? É evidente que a alta concentração do maior buscador da história da web faz com que os anúncios da sua empresa sejam otimizados para atender aos incansáveis algoritmos.

O que garante um anúncio no topo das buscas, segundo o Google, é sua classificação. Ela combina vários elementos, entre eles, seu lance, ou seja, o quanto pagará no anúncio, a qualidade do anúncio no momento do leilão, a relevância dele e a experiência na página de destino. De forma prática, é verificar se o que o usuário encontra na sua página é o que ‘resolve’ um problema.

Para a especialista em Digital e Neuromarketing Carol Silva, outros pontos importantes são os contextos da pesquisa, como a localização, o dispositivo, o horário da busca e os termos pesquisados. “As famosas ‘palavras-chaves’ precisam ser coerentes com aquele anuncio e escolhidas pelo seu nível de alcance amplo ou mais exato”, comenta.

Além, é claro, da construção do anúncio. Os títulos, as descrições e as chamadas para ação devem ser muito atrativos e conter as palavras­ chaves corretas.

7 – TENHA UM OBJETIVO PARA A CAMPANHA

Não identificar nem definir corretamente qual o objetivo de campanha podem ser um grande tiro no pé. Existem vários objetivos disponíveis no Google para criar uma campanha. Carol Silva orienta que se escolha um tipo de campanha com base nos seus objetivos de marketing, estratégia da marca e tempo que poderá investir. “Campanhas de Pesquisa, que são as de palavra-chave, têm o objetivo de gerar vendas diretas ou leads. Já as da rede de display e shopping, com banners, são mais visuais, pois apresentam imagens e fotos do produto”, explica a especialista, que complementa:” As inteligentes são criadas pelo próprio robô para quem tem pouco conhecimento. Os formatos de discovery têm objetivo de aumentar seu alcance, pois potencializam a visualização em diversas plataformas Google.

Em campanhas de vídeo, o objetivo é aumentar a notoriedade da marca em geral. Nas locais, por geolocalização, o foco está na venda física. Ideal para negócios que só possuem páginas de negócios e até querem receber uma chamada telefônica. “Com tantas opções, se você tem pouco investimento ou está começando a investir, escolher todos os objetivos pode acabar com seu valor de investimento muito rapidamente”, alerta Carol.

8 – JÁ PENSOU EM PRODUZIR UM VÍDEO?

Produzir vídeos sobre seus produtos e serviços é urna ótima forma de aparecer no topo das páginas de pesquisa. Isso porque as pessoas mudaram o modo como consomem a informação.

Segundo o estudo lnside Vídeo da Kantar lbope Media, 80% dos brasileiros assistem a vídeos on-line, já entre os estrangeiros, esse valor é de 65%. No intervalo de um ano – entre 2020 e 2021 – o número cresceu 6 pontos percentuais e atingiu a marca de 86%. “Entenda as necessidades do seu público e o que o levaria a clicar no seu conteúdo. Quanto mais diverso for o material que você oferece aos usuários, maior será a sua audiência”, explica Erich Casagrande.

9 – ESTEJA NO GOOGLE MAPS

Cadastre sua empresa – se ela tiver um ponto físico – no Google Meu Negócio.

Na plataforma, você vai apresentar informações como horário de funcionamento, endereço, faixas de horário com maior e menor movimentação e até fotos da fachada e de produtos/ serviços oferecidos.

Para inserir seu estabelecimento é gratuito, basta ter uma conta no Google. As informações precisam ser preenchidas com atenção para garantir que o potencial cliente chegue até você, sem problemas, após o resultado no Google.

10 – ESTEJA COM QUEM ENTENDE

Na ansiedade por resultados, muitos empreendedores (principalmente os pequenos) acabam metendo ‘os pés pelas mãos’ ao tentarem fazer tudo por conta própria. A menos que você seja um especialista em marketing digital, não arrisque perder dinheiro. A falta de consultoria de um especialista vai fazer com que você crie uma campanha de pouca qualidade e, consequentemente, tenha poucos índices de classificação nos anúncios. “Pagar mais caro pelas campanhas vai ser uma das principais consequências. Quando uma campanha está bem otimizada, por um especialista, ela tende ao longo do tempo gastar menos”, explica Carol Silva.

Outro erro muito comum de quem não possui um especialista é não saber mensurar resultados corretamente. “Vejo muitas empresas que me procuram para analisar suas campanhas e nem sequer possuem as ferramentas de análise disponíveis gratuitamente pelo Google configuradas de forma correta”, revela Carol. Assim fica difícil coletar dados e saber como aplicá-los em sua estratégia de marketing.

TRÊS FERRAMENTAS DO GOOGLE QUE VOCÊ PRECISA CONHECER

GOOGLE MEU NEGÓCIO:

Aparece com destaque quando um internauta pesquisa algo sobre a empresa ou área de atuação. Os dados do Google Meu Negócio devem ser feitos usando técnicas de SEO. Por isso, esteja 100% atento ao criar as descrições.

GOOGLE SHOPPING:

Aba criada apenas para produtos. Para que o produto apareça nesse campo é preciso fazer um cadastro no Google Merchant Center com sua conta no Google Workspace. Saiba que para que o Google mostre os itens, eles precisam estar cadastrados em uma loja virtual.

GOOGLE TRENDS:

Ferramenta que auxilia a descobrir quais os termos mais utilizados em buscas. Com as palavras-chaves do seu negócio, vai ser mais assertivo aplicar estratégias de SEO e criar campanhas de anúncio.

EU ACHO …

A IDADE DO DINHEIRO E DA DOR

Deveríamos avaliar a idade da nossa dor. E, de quando em vez, levar Freud à agência bancária

A crítica ao novo-rico é antiga. Aparece no texto do Satiricon, atribuído a Petrônio, especialmente no episódio da ceia de Trimalcião. O tema ecoa no Burguês Fidalgo, de Molière, e foi epitomizado na oposição entre Vera Loyola e Carmen Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. É um tema universal. Se fosse algo da pena do historiador Fernand Braudel, chamaríamos de evento de “longa duração”.

Não preciso relembrar os itens centrais do ataque. Ostentação é coisa de dinheiro recente. Dinheiro antigo é discreto. A cor do novo capital é o dourado; sua urbe é Miami. O dinheiro novo tem artistas de eleição que não convém identificar. O mais interessante é que os ataques aos “novos-ricos” não saem apenas de aristocracias tradicionais, todavia de classes menos favorecidas. Desde muito tempo, alguns membros do dito “povo” aceitam (em parte) que exista um grupo de elite cujo refinamento se perca das brumas do tempo. Apesar disso, se houver alguém que até ontem pegava ônibus ao seu lado, ou que morava em bairro com CEP mais popular… Ah! Este será ironizado e atacado. A recíproca é verdadeira, pois, quase sempre, o dinheiro recente é mais agressivo com grupos populares do que aqueles com ancestrais na nobreza do Segundo Reinado.

Interessante notar que, sob as capas e pátinas douradas, há pontos de proximidade. O que marca uma elite é seu acesso exclusivo a alguns benefícios. O novo-rico compra coisas caras e exibe-as como um sinal de distinção. “Este é meu carro de luxo, estas são minhas joias, e meu cachorrinho come tais produtos. Tenho o que você não tem, porque possuo coisas muito caras e exclusivas.” O chamado old money seria muito diferente? De alguma forma, não. A tradição, pela exclusividade, também busca se distinguir da plebe. Se o grupo “emergente” gasta rios de dinheiro para criar ilhas especiais, o tradicional invoca a história da sua ilha.

Então, ao contrário do primeiro, a tradição não gasta um apartamento de luxo para comprar uma pintura colorida da moda e colocá-la na sala de jantar, informando o preço aos convidados.

“Se minha fortuna tem mais de cem anos, o quadro de que eu me orgulho é um Di Cavalcanti, com o rosto de Vovó na fazenda.” Isso, um artista de primeira linha ter pintado minha família, jamais será comum, porque o capital pode dourar tudo, porém esbarrará na história.

Alguém vai às Ilhas Seychelles, de primeira classe, e fica em um quarto enorme que ocupa uma parte expressiva do Oceano Índico? Legal! Eu me hospedarei no hotel em que mamãe passou a lua de mel, na Provence.

O quarto é menor, mas as mesmas lavandas que meus jovens pais viram da janela eu contemplo agora. Num dia, meus filhos estarão aqui, neste refúgio de pedra exclusivo que só nós conhecemos. O dinheiro novo grita ao mundo “eu posso”; o antigo saúda com “nós sempre estivemos lá”. Ambos trabalham com uma estratégia de exclusão.

Sim, na Harrods de Londres alguém pode comprar louças que parecem adequadas a um palácio da Península Arábica. No entanto, para alguém tradicional, o importante é comer na louça Companhia das Índias com a qual sua tia-avó recebeu Lawrence da Arábia, quando os milionários sauditas não existiam. O seu porta-retratos pode ser de platina comprado em leilão da Sotheby’s. O meu é comum, mas possui fotos de três reis e quatro presidentes, com mamãe. Isso nunca será leiloado! Um aristocrata jamais gritará: “Chupa, novo-rico!”. Vulgar em excesso! A tradição inclina-se ao uso de: “So disgusting!”, diante do arrivismo dos jovens milionários.

A tradição moral católica ensinava que existiam pecados por classe social. Os ricos? Poderiam ser condenados por avareza. Os pobres? Por inveja. Nos dois casos, estava asfaltada a via para o Inferno.

Você, querida leitora, estimado leitor e todos aqueles que nem possuem dinheiro em quantias inesgotáveis… O leitor médio que não é recebido no banco, com tapete vermelho, mas, mesmo assim, tem poder para adquirir um bem como um jornal? Você que já viajou para o exterior, porém não no seu próprio avião. Você que possui seu carro, mas o veículo não foi feito sob encomenda na cidade italiana de Maranello? Você que não passa fome, porém luta contra o IPTU/IPVA, em janeiro? Qual seria seu pecado original?

Difícil responder. Talvez a vaidade seja o mal universal hoje e paire sobre todas as classes. Nossas redes sociais criam um muro imbricado de orgulho com ressentimento que leva ao nosso estado de “positividade tóxica”, como quer Byung-Chul Han.

Além das imensas diferenças sociais do nosso País, sempre nos apegamos a algo como “não tenho tanto dinheiro como fulano, mas eu amo livros” ou “vovó não foi em lua de mel à Costa Malfitana, mas possuímos boa bagagem cultural conquistada com esforço”.

Além da idade do dinheiro, deveríamos avaliar, hoje, a idade da nossa dor. Ela talvez seja muito antiga. Seria bom, de quando em vez, levar, com inteligência e esperança, Freud à agência bancária.

*** LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia paulista de letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

TRATAR DA PRISÃO DE VENTRE DEMANDA MUDAR HÁBITOS

Segundo especialistas, boa hidratação e ingestão de fibras são fundamentais para a saúde do intestino; veja outros pontos de atenção

Irritação, impaciência, braveza, aborrecimento ou, simplesmente, enfezado – a expressão vem justamente da relação entre funcionamento do intestino e qualidade de vida. Afinal, muito além do estresse físico e mental, não ir ao banheiro corretamente pode prejudicar o sono, a alimentação e até a imunidade.

De acordo com a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), a constipação, ou a prisão de ventre, afeta de 15% a 20% da população brasileira, sendo mais comum em mulheres e pessoas acima dos 65 anos. “Também é importante considerar a questão econômica, porque se o indivíduo não comer fibras não vai conseguir regular o intestino”, afirma o presidente da FBG, Décio Chinzon.

Além do consumo de fibras, uma dieta adequada, aliada à prática de exercícios físicos – que aumentam a musculatura abdominal, facilitando o ato da evacuação –, hidratação suficiente e ir ao banheiro sempre que tiver vontade é essencial para mudar essa realidade. “A hidratação pode ser feita pelo seguinte cálculo: 35 ml de água para cada quilo de peso ou observando a coloração da urina. A urina precisa ser clara, quase branca. Se estiver escura, significa consumo insuficiente de água”, detalha a nutricionista Laís Murta.

Já a ingestão de fibra deve ser de 25 gramas ao dia. “Esta quantidade pode ser alcançada pelo consumo de vegetais, frutas, grãos integrais e sementes. Para tanto, é importante que estejam presentes em todas as refeições ao longo do dia.”

De acordo com os especialistas, a constipação é uma doença crônica, pois são necessários cuidados médicos constantes. “A primeira coisa que é preciso saber é que não existe um milagre que faça o intestino mudar da noite para o dia”, dizem. É preciso planejamento e dedicação.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS?

“Na maior parte dos casos, o pessoal associa à menor frequência ao banheiro. Estabeleceu-se que o normal é ir uma vez por dia, mas não é bem assim. Pode ir dia sim, dia não, todo dia, mas muito aleatório, o importante é que o indivíduo tenha essas outras características. Ele precisa saber a sua frequência e pronto”, garante Chinzon.

Ou seja, apesar da frequência de evacuações não serem um sintoma, a sua diminuição, com base na sua frequência normal, pode ser.

“Se o indivíduo vai ao banheiro a cada três dias, mas as fezes têm consistência pastosa, ele não tem dor abdominal ou não faz muito esforço para evacuar, não tem prisão de ventre. Agora, se a pessoa vai ao banheiro todos os dias, mas as fezes são duras, pequenas e ele tem uma sensação de evacuação incompleta, pode ser”, diz o presidente da FBG.

QUAIS AS CAUSAS?

“Existem alguns tipos de constipações. A idiopática, ou seja, não há nada que você possa identificar, é uma causa ainda desconhecida; a secundária a alguma coisa, que seria ao uso de medicamentos, doenças metabólicas, como diabete, hipotireodismo. E a consequência de traumas, que tem relação com o psicológico”, ensina Chinzon.

COMO TRATAR A PRISÃO DE VENTRE?

O principal tratamento da constipação é comportamental. “O primeiro passo a se fazer para a melhora da prisão de ventre seria garantir o consumo mínimo de 25g de fibras e 1,5 litro de água, diariamente”, afirma a nutricionista Laís. Em dias mais quentes, a quantidade de água pode chegar a até 3 litros. Também é fundamental a realização de atividades físicas regulares. “Os exercícios auxiliam na motilidade intestinal, estimulando a musculatura do trato gastrointestinal”, esclarece.

O QUE ACONTECE SE EU SEGURAR A VONTADE DE IR AO BANHEIRO?

Muitas vezes, a vontade de ir ao banheiro vem em um momento “inoportuno”, como em um lugar público, na casa de um colega ou durante uma viagem curta. Segundo Chinzon, esse é um dos maiores erros que cometemos. “Essa ação inibe o reflexo da evacuação e é extremamente prejudicial, pois a pessoa vai precisar ter cada vez mais distensão do reto (a ponta do intestino) para ter a vontade de ir de novo, o que iria viciar, de certa forma, o intestino.”

QUANDO A PRISÃO DE VENTRE É PREOCUPANTE?

A constipação passa a ser preocupante quando se torna crônica, ou seja, mais de 2 semanas com o trânsito intestinal alterado. Mas as preocupações maiores são as consequências disso, que podem ir da inflamação da hemorroida a fissuras anais. “O importante é não se automedicar. O máximo que a pessoa pode fazer é tentar mudar a dieta e ver se tem algum resultado. Porém, se existir algum sinal de alarme, por exemplo perda de peso, sangramento, anemia, aí é preciso procurar imediatamente o médico”, afirma Chinzon.

QUE REMÉDIOS SÃO RECOMENDADOS?

Existem vários medicamentos para tratar a constipação – os mais populares são os laxantes. “Os melhores são os procinéticos, que estimulam a movimentação do intestino, mas também tem os osmóticos, que umidificam as fezes, como a lactulose ou o macrogol, e os irritativos, que não são bons, a longo prazo, mas podem funcionar em casos de curto período, quando há uma constipação aguda (quando a mudança no funcionamento do intestino é percebida de maneira brusca)”, explica o gastroendocrinologista. Esse último, normalmente, é o primeiro escolhido por pacientes que se automedicam. Apesar do efeito quase imediato, a longo prazo piora a constipação.

Há também os probióticos (micro-organismos vivos) e exercícios específicos, como massagens abdominais, que podem ser eficazes especialmente nos casos de incoordenação na evacuação – a evacuação é realizada com uma contração e um relaxamento coordenados do intestino.

QUAL O PERIGO DE TOMAR LAXANTES?

“As medicações laxativas podem levar a uma irritação da mucosa intestinal, prejudicando os músculos e nervos do sistema digestivo, contribuindo para a obstipação crônica. Além disso, o abuso de laxativos pode levar a desequilíbrios hidroeletrolíticos, desidratação e deficiência de minerais”, alerta Lais.

QUAL O MELHOR LAXANTE NATURAL?

De acordo com a nutricionista, os alimentos que possuem efeito comprovado para melhora da prisão de ventre são o kiwi (até duas unidades por dia), ameixas (4 unidades), semente de linhaça (uma colher de sopa), figo (duas unidades), farelo de aveia (uma colher de sopa) e psyllium (1 colher de sopa).

Na internet, não é difícil achar chás para prisão de ventre, mas, de acordo com os especialistas, eles também podem ser irritativos. “É muito importante evitar a automedicação, e isso inclui o uso de ervas, fitoterápicos e chás laxativos sem orientação profissional. Isso porque eles podem causar os mesmos problemas que as medicações laxativas.

Por exemplo, o chá de sene, que é comumente utilizado como laxativo, pode causar má absorção de nutrientes, hipotensão”, conclui Laís.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MULHERES NÃO BUSCAM SUBSTITUIR HOMENS COM BRINQUEDOS SEXUAIS

Estudo mostra que escolha ocorre principalmente pela diversão; formato não realista dos vibradores também é preferido

Mulheres preferem brinquedos sexuais que não se parecem com o órgão genital masculino – nem buscam substituir homens com os equipamentos. Essa é a conclusão de um estudo norte-americano que avaliou a popularidade e a morfologia deste tipo de produto de uma das maiores varejistas de bem-estar sexual online do mundo. O resultado mostrou que os brinquedos eróticos preferidos das mulheres não estão ligados a características de realismo ou comprimento, mas ao prazer que proporcionam.

“Consumidoras mostram preferência por brinquedos sexuais inseríveis que não são réplicas diretas do pênis masculino, o que sugere que elas não estão procurando um substituto realista para o parceiro”, afirmam os autores.

A predileção em torno de brinquedos sexuais de inserção vaginal, suas características e o que contribui para sua popularidade, foram constatados a partir da base de dados da loja Lovehoney, que atende clientes da América do Norte, Europa e Oceania. Foram considerados dimensões, preço e características morfológicas de 265 produtos projetados para uso feminino. De acordo com o trabalho, o que verdadeiramente influencia a decisão de compra de um brinquedo sexual é o preço, a circunferência e a diversão proporcionada.

“Descobrimos que o comprimento do brinquedo não prediz significativamente a popularidade, o que é consistente com outros trabalhos que mostram que as mulheres não dão ênfase considerável ao tamanho grande do falo”, diz o estudo. Os pesquisadores acreditam que os resultados do levantamento podem contribuir para o futuro do design e do marketing de produtos de bem-estar sexual, além de revelar preferências em relação a características particulares do falo (seja realista ou não). O artigo “What Drives Sex Toy Popularity?” (O que impulsiona a popularidade de um brinquedo sexual, em português) faz parte da edição de fevereiro da publicação Journal of Sex Research.

Os resultados também indicam que alguns tabus ainda determinam escolhas de produtos. Foi percebido um estigma quanto aos brinquedos altamente realistas que, além de mais caros, “podem deixar as mulheres (e potencialmente seus parceiros) menos confortáveis.”

“Substitutos do pênis”, assim, não são considerados “divertidos” como brinquedos de inserção vaginal. Na outra ponta, vibradores mais abstratos e menos “obscenos”, como o modelo “coelho” (que penetra e vibra sobre o clitóris ao mesmo tempo), tornaram-se mais populares.

Um falo não realista também pode ser mais aceitável e menos ameaçador para os homens que queiram integrar um brinquedo em suas vidas sexuais, o que levaria as parceiras a escolherem tecnologias eróticas mais abstratas. A influenciadora Isabela Cerqueira Cardoso, 28, CEO e fundadora da Good Vibres, loja de bem-estar sexual, comprou seu primeiro vibrador aos 18 anos e hoje já tem em seu acervo pessoal mais de 500 brinquedos sexuais. “Tenho um pelo menos para cada produto que coloco na loja, porque texto antes”, conta. Cardoso lembra que no início, quando o foco do mercado era o erotismo e não o bem-estar sexual, já havia rejeição das mulheres pelas imitações do pênis, o que fez sua empresa focar em produtos coloridos e com formatos divertidos.

“Eu acho que essa desconstrução que está acontecendo de que o prazer não necessariamente está associado ao falo é muito importante. A gente pode ter prazer com produtos eróticos que vibram ou que sugam, que tem formatos diferentes, inclusive que são mais agradáveis e mais ergonômicos. Produtos que, por exemplo, ela pode deixar na mesa de cabeceira ou guardar na casa sem esconder”, afirma.

A empresária e colecionadora é contra a palavra “consolo”, usada como sinônimo de brinquedos sexuais. Cardoso afirma que a função de um produto erótico não é consolar ou substituir alguém.

“São para deixar a gente mais feliz, para ajudar no nosso bem-estar sexual”, pontua.

Segundo a especialista em produtos eróticos Waleviska Souza, 36, criadora de conteúdo para redes sociais e diretora de compras da uma distribuidora deste tipo de produto, o mercado brasileiro segue a tendência indicada no estudo internacional.

“O que tem vendido muito bem hoje são os vibradores ponto G e os bullets, provavelmente também pelo preço. O sugador tem uma tecnologia nova, ele não é tão acessível quanto outros, mas entendo que é mesmo por questão de acessibilidade, porque, por preferência, as pessoas estão ficando nesse novo estilo de vibrador”, destaca.

A psicóloga e sexóloga Priscila Junqueira, cofundadora do Ipser (Instituto de Psicologia e Sexologia Essência e Rara), também acredita que o estudo se aplica à realidade brasileira, tanto no caso de mulheres heterossexuais como homossexuais.

“Na clínica constato que os modelos realistas têm perdido campo para os sugadores. É importante para a gente pensar que a estimulação clitoriana é mais excitante para a mulher, são mais de 10 mil terminações nervosas descobertas pela ciência no clitóris, um órgão só para o prazer. Além disso, derruba a ideia de que um pênis maior vai dar mais prazer, quando é o autoconhecimento, o explorar a gama de estímulos que a gente tem, não só dos toys, mas do toque, que proporciona isso”, afirma.

Para Jordana Parente, ginecologista e sexóloga, a percepção de que há melhor aceitação de vibradores não realistas é correta e contribui para superação de traumas pessoais em pacientes.

“A gente tenta estimular essas mulheres ao autoconhecimento. Muitas nunca nem conseguiram se masturbar, a aceitação desses brinquedos sem formas fálicas é mais fácil”, pondera.

OUTROS OLHARES

UM MUNDO MENOS FÉRTIL

Uma em cada seis pessoas no planeta tem ou terá dificuldades para ter filhos. Enquanto a ciência busca respostas para esse desafio que afeta tanto mulheres como homens, dispara a procura por métodos de laboratório

Na República autocrática e teocrática de Gilead, o epicentro da série O Conto da Aia, inspirada no romance da escritora canadense Margaret Atwood, apenas um grupo restrito de mulheres preserva a capacidade de perpetuar a espécie depois de a humanidade enfrentar uma crise de fertilidade causada pela exposição a substâncias tóxicas. A dificuldade de gerar filhos, que não poupa os homens, ajuda a criar, então, uma sociedade fundamentalista, em que moças são subjugadas e violadas sexualmente para ofertar seus rebentos à aristocracia que domina o sistema. O mundo contemporâneo está longe ainda dessa ficção – e talvez ela nunca seja real -, mas é inescapável lembrar de Aia depois da leitura do mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a infertilidade. Hoje, um em cada seis adultos não consegue conceber antes de pelo menos um ano de tentativas, índice inédito. Nesse sentido, o planeta está realmente menos fértil. E atenção: o fenômeno não está atrelado à decisão cada vez mais frequente e global de postergar a concepção dos bebês. O problema é de saúde.

Para chegar a esse diagnóstico, a OMS se debruçou sobre mais de 12.000 pesquisas, em todos os continentes, até consolidar uma robusta revisão com base em 133 estudos populacionais realizados entre 1990 e 2021. Descobriu-se, na média, que 17,5% das pessoas têm algum grau de infertilidade – taxa superior ao que os especialistas em reprodução humana imaginavam. Isso significa que, se nenhum acompanhamento ou tratamento médico for feito, esses homens e mulheres não conseguirão ter sua prole. É questão que extravasa o foro íntimo. ”A minha esperança é que governos utilizem esse relatório como parte de seus esforços para fortalecer sistemas de saúde e para ajudar as pessoas a cumprir suas intenções de fertilidade e viver vidas mais saudáveis”, escreveu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A discussão em torno da busca por métodos capazes de aumentar as chances de concepção está em alta nas últimas três décadas e envolve questões biológicas, sociais e econômicas. Fato: a probabilidade de mulheres terem filhos cai vertiginosamente após os 35 anos. É obra da natureza. Os óvulos, cujo estoque limitado é determinado ao nascer, perdem o potencial de fecundação com o passar do tempo, tornando a gestação um sonho distante. A história recente mostrou que, com a ingressão massiva de mulheres no mercado de trabalho e o uso crescente de anticoncepcionais, muitas delas empurraram para mais tarde a gravidez e acabaram se deparando com desafios só contornados por meio de intervenção médica. “O fenômeno não tem a ver só com a idade dos casais”, diz Pedro Augusto Monteleone, presidente da Comissão de Reprodução Humana da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Homens e mulheres estão se expondo a mais condições que interferem na fertilidade, como tabagismo, consumo de álcool e infecções sexualmente transmissíveis.

Aliás, foi-se o tempo em que a culpa pelo filho que não vinha recaía apenas no colo feminino. Os machos também penam com os fatores que diminuem o sucesso reprodutivo. Um estudo recente registra uma queda de 51% na quantidade de espermatozoides por mililitro de sêmen entre amostras de homens adultos com mais de 35 anos comparadas entre 1973 e 2018. Há uma série de hipóteses que procuram explicar essa “pandemia” de infertilidade. E, como sinaliza um artigo científico do grupo Nature, é um desafio distinguir influências biológicas daquelas socioeconômicas e comportamentais entremeadas nessa história.

Os cientistas acreditam que, além da gestação tardia, fatores ambientais como a exposição à poluição e aos disruptores endócrinos – compostos presentes em plásticos e já banidos de produtos infantis – interfiram no balanço hormonal que viabiliza a reprodução. Na lista das causas estão a obesidade, o sedentarismo e o estresse (outras epidemias), o uso indiscriminado de esteroides anabolizantes (cuja prescrição para fins estéticos acaba de ser proibida pelo Conselho Federal de Medicina) e os efeitos colaterais de tratamentos contra o câncer, doença que atinge cada vez mais jovens.

Em paralelo, depois da II Guerra, começou a haver uma mudança na ideia de organização das famílias. Com as mulheres fora de casa e o receio de novas privações, os lares cheios de crianças encolheram. E a tendência, como quase tudo, foi globalizada. No Brasil, a taxa de fecundidade caiu de 6,2 em 1960 para 1,8 em 2010 – e deve chegar a 1,5 em 2030. Eis a inevitável inversão da pirâmide populacional, que desperta debates sobre a falta de mão de obra e o rombo previdenciário no futuro.

O cenário poderia ser catastrófico não fossem os avanços da ciência. O mais emblemático de todos nasceu em 1978 das mentes brilhantes de Robert Edwards (1925-2013) e Patrick Steptoe (1913-1988), que desenvolveram a técnica de fertilização in vitro (FIV) e trouxeram ao mundo a britânica Louise Brown, que celebrará 45 anos em julho. A invenção foi laureada com o Prêmio Nobel em 2010 e mudou a vida de milhões de casais, antes desgastados com a incerteza da concepção e do nascimento de um bebê. Hoje, ao lado de outras tecnologias que ganham popularidade, a FIV e a inseminação artificial provocaram uma mudança no conceito de planejamento familiar.

Se antes ele era permeado apenas por ideais de contracepção, agora também é pautado pela necessidade de se pensar na preservação de gametas ou embriões. A solução, nesses casos, é o congelamento das células em laboratório: assim, o desejo de ter um bebê pode ser concretizado em sintonia com a carreira e projetos pessoais.

Um gargalo na democratização desse sonho ainda é o acesso. Os valores para a realização dos métodos de estimulação, congelamento e as taxas de manutenção giram em torno de 15.000 reais – e os gastos se agravam quando é preciso fazer mais de uma tentativa de FIV. ”Ainda que dê para os casais se planejarem, vemos um grau de endividamento entre muitos deles”, diz Daniel Zylbersztejn, coordenador médico do Fleury Fertilidade. Não à toa, os especialistas que lidam com a frustração, a ansiedade e até a depressão dos pacientes defendem o acesso nas redes pública e privada às técnicas de reprodução assistida. ”A infertilidade tem de ser regulamentada como doença e receber o devido suporte, porque já consta na Classificação Internacional de Doenças (CID”), diz Zylbersztejn.

Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), até é possível fazer o procedimento, mas o fluxo de atendimento não supre a demanda. Na esfera privada, clínicas estão criando formas de facilitar o pagamento, enquanto empresas passam a fornecer um auxílio para custear o tratamento a funcionárias. Lá fora, no Japão, conhecido pelo déficit de bebês, o governo passou a cobrir 70% dos custos com FIV. Em Israel, o Estado garante o procedimento para os primeiros dois filhos do casal ou para mulheres de 18 a 45 anos que querem ser mães.

Do primeiro bebê de proveta até os dias de hoje, fica evidente que, apesar das transformações e desafios sociais, boa parte dos cidadãos não quer abrir mão de ampliar a família. Prova disso é que o mercado de tratamento para infertilidade, estimado em 1,6 bilhão de dólares em 2022, deve saltar para 2,8 bilhões em 2030. É pouco provável que um planeta com 8 bilhões de habitantes caminhe rumo à esterilidade – apesar das teorias da conspiração.

“Hoje temos a ciência a nosso favor”, afirma Alvaro Ceschin, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida. Ainda que o mundo de O Conto da Aia esteja felizmente distante, é prudente se sintonizar com os alertas reais dos pesquisadores e criar meios de restringir a impossibilidade de ter filhos à peça de ficção.

GESTÃO E CARREIRA

VOLTA AO ESCRITÓRIO, MAS COM DEMISSÃO ONLINE

Para especialistas, desligamento remoto é desumano e uma falta de respeito com os trabalhadores da empresa

Quando o CEO do McDonald’s, Chris Kempczinski, exigiu que os funcionários corporativos da cadeia de fast-food voltassem ao escritório três dias por semana em 2021, ele defendeu os benefícios do contato pessoal direto. “No fim das contas, somos um negócio presencial”, disse ele. “Você perde algo da cultura, perde parte da conexão ao ficar tão remoto.”

Mas, aparentemente, isso não se aplica quando o assunto é demitir as pessoas. Recentemente, o McDonald’s pediu que todos os seus funcionários corporativos trabalhassem remotamente, em uma semana específica, para que a empresa pudesse demitir centenas deles – por Zoom, usando outras opções de reunião por computador ou o telefone.

“É quase como dizer, Isso é o que você quer. Você quer mais oportunidades remotas. Bem, também podemos recorrer ao trabalho remoto quando for conveniente para nós”, diz Mark Bolino, professor do Price College of Business da Universidade de Oklahoma. “Há algo nisso que parece um pouco contraditório.”

O trabalho remoto surgiu como um ponto crítico do movimento de empoderamento dos trabalhadores que passamos a chamar de a “Grande Renúncia”. Três anos depois do início da pandemia, a ocupação dos escritórios nos Estados Unidos está em torno de 50% do padrão de antes da covid, segundo a empresa de segurança Kastle Systems.

Os empregadores, em sua maioria, gostariam de ver um retorno maior dos funcionários, alegando que o trabalho remoto prejudica tudo, desde a espontaneidade dos trabalhadores até a quantidade de tempo que eles trabalham. Mas muitos funcionários discordam. Eles chamam a atenção para as pesquisas mostrando que sem o incômodo do deslocamento, estão dedicando mais tempo ao trabalho.

Entretanto, inúmeros CEOs têm aparecido na mídia para prever que veremos menos trabalho remoto à medida que a taxa de emprego diminui – e eles falam isso num tom que muitas vezes soa punitivo “Conforme você entra em uma recessão e as pessoas temem não ter um emprego, isso as trará de volta ao escritório”, disse o empresário do setor imobiliário Stephen Ross. “Os funcionários vão reconhecer que têm de fazer o que for preciso para manter o emprego e ganhar a vida.”

Ao mesmo tempo, os empregadores talvez gostem de pensar que estão fazendo o melhor por seus empregados, e a gigante dos hambúrgueres não é uma exceção. “O McDonald’s decidiu fechar nossos escritórios por uma questão de respeito”, disse uma fonte a par das demissões. “Todos nós já passamos por reestruturações, e nosso objetivo aqui era oferecer confidencialidade e respeito aos nossos colegas.”

Mas respeito não é o que transparece. As demissões remotas – principalmente por parte das organizações que exaltaram anteriormente as vantagens do trabalho presencial – possibilitam distância física e emocional às empresas, ao mesmo tempo que deixam o agora ex-funcionário completamente sozinho. “É mais uma camada de desumanização”, disse Barbara Larson, professora da D’Amore- McKim School of Business da Universidade Northeastern.

Inúmeras empresas e líderes ficaram conhecidos de forma negativa pela forma como lidaram com as demissões nesta era do trabalho remoto. Houve o caso de Vishal Garg, o CEO da credora de hipotecas Better.com, que fez o anúncio da demissão em massa de 900 funcionários via Zoom, informando-os de que estavam “sem sorte”. O da demissão remota do Google que chegou para uma mulher pouco após ela dar à luz. Depois, também houve o caso do Twitter de Elon Musk, onde alguns funcionários descobriram ter perdido seus empregos quando não conseguiram acessar suas contas na rede social, e outros foram, aparentemente, demitidos por engano.

Ninguém quer que seu último contato com o empregador seja por Zoom, que do nada fecha. Não existe uma boa forma de despedir alguém, mas, como revelam as demissões remotas, existem aquelas que são piores do que outras.

EU ACHO …

ME DÁ O BRACINHO

Mário Quintana era um poeta superlativo, que de franzino só tinha a aparência. Mas houve quem tentasse fazê-lo parecer menor do que era. Certa vez um figurão disse a ele: “Gostei muito dos seus versinhos!”, no que Quintana rebateu: “Obrigada pela sua opiniãozinha”.

Dos hábitos que considero dispensáveis: falar com pessoas mais velhas usando diminutivos. Em sua defesa, o figurão que chamou os versos de Quintana de “versinhos” talvez alegasse que é assim que tratava a própria mãe, os próprios tios: “Dá aqui a tua mãozinha”. “Veste teu casaquinho”. Em vez de assumir o sarcasmo, ele colocaria na conta da afeição e convenceria o júri. Mas a minha absolvição ele não receberia assim tão facilzinho.

Aviso aos meus futuros cuidadores: tenho olhos, não olhinhos. Tenho boca, não boquinha. Por mais bem intencionados que sejam estes profissionais, e sei que são, julgo ofensivo tratar pessoas de 80 ou 90 anos como se fossem bebês. Entendo que, se um idoso sofre de uma doença mental que o priva de tomar decisões, o processo de infantilização se impõe. Soaria duro dizer “abra a boca” antes de enfiar uma colher lá dentro. A pessoa realmente se tornou um bebê e é da nossa natureza adocicar o diálogo, se aproximar com suavidade.

Mas se a pessoa se alimenta, caminha, pensa, fala e vive com autonomia, como qualquer adulta, o fato de ter muita idade não é motivo para reduzir seu cotidiano a um minimundo. “Vamos cortar o cabelinho?” Essa pergunta foi feita num salão de beleza a uma mulher de 71 anos que trabalha, namora e está de viagem marcada para o Marrocos – não para a Disney.

Dentro de uma loja, a funcionária observa a cliente de 74 anos experimentar algumas roupas em frente ao espelho e a estimula: “O casaquinho vermelhinho ficou perfeitinho, vai levar?”. A cliente comprou à vista a jaqueta de couro vermelha e saiu com passos firmes em direção à caminhonete que deixou estacionada lá fora.

Quando tomei a primeira dose da vacina contra a Covid, havia uma mulher de idade indefinida à minha frente na fila. Muitas rugas no rosto, cabelos brancos e um bíceps de quem frequentava a academia desde os 15. “Puxe a manguinha pra cima e me dê o bracinho”, disse a enfermeirazinha com a seringazinha na mão, como se o posto de saúde fosse um parque de diversões.

Enquete: idosos preferem este tratamento? “Qual o seu nomezinho?” “Tem um e-mailzinho pra enviarmos o resultado dos seus examezinhos?”. Caso se sintam acolhidos pelos diminutivos, todo meu respeito. Mas quando chegar minha vez, e minha vez está vindo a galope, não me chamem de queridinha, de filhinha. Estarei mais frágil, mas ainda serei uma mulher. Não uma senhorinha miudinha e boazinha. Uma mulher, simplesmente.

Boa. E, às vezes, má.

MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

MÁ HIGIENE BUCAL É RELACIONADA COM DIABETES, DEMÊNCIA E PNEUMONIA

Bactérias presentes na boca podem viajar pelo corpo por meio da corrente sanguínea e aumentar riscos de problemas de saúde

O interior da boca é o local perfeito para o desenvolvimento de bactérias: é escuro, quente e úmido, e os alimentos e bebidas que consumimos fornecem nutrientes para elas se alimentarem.

Entretanto, quando as bactérias nocivas se acumulam em torno dos dentes e gengivas, as pessoas correm o risco de desenvolver doença periodontal (ou gengival), que é uma infecção e inflamação nas gengivas e nos ossos que cercam os dentes.

Tais condições na boca podem influenciar o resto do corpo, diz Kimberly Bray, professora de higiene dental na Universidade de Missouri-Kansas City.

Um crescente, embora limitado, corpo de pesquisa, por exemplo, descobriu que a doença periodontal está associada a uma série de condições de saúde, incluindo diabetes, doenças cardíacas, infecções respiratórias e demência.

O modo exato como as bactérias orais afetam sua saúde geral ainda é pouco compreendido, aponta Bray, uma vez que a pesquisa existente é limitada e nenhum estudo estabeleceu causa e efeito.

Cerca de 47% das pessoas com 30 anos ou mais nos Estados Unidos têm algum tipo de doença periodontal, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano.

Em seus estágios iniciais, chamados de gengivite, as gengivas podem ficar inchadas, vermelhas ou sensíveis e podem sangrar facilmente. Se não for tratada, a gengivite pode se transformar em periodontite, uma forma mais grave da doença em que as gengivas podem regredir, o osso pode ser perdido e os dentes podem se soltar ou até cair.

Com a periodontite, as bactérias e seus subprodutos tóxicos podem se mover da superfície das gengivas e dos dentes para a corrente sanguínea, onde podem se espalhar para diferentes órgãos, indica Ananda P. Dasanayake, professora de epidemiologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Nova York. Isso pode acontecer durante uma limpeza dental ou uso do fio dental, ou se você tiver um corte ou ferida na boca.

Se você tiver uma inflamação na boca que não seja tratada, algumas proteínas responsáveis por essa inflamação podem se espalhar por todo o corpo, aponta Bray, e danificar outros órgãos.

De todas as associações entre saúde bucal e doença, aquela com mais evidências é entre doença periodontal e diabetes, diz Bray. E as duas condições parecem ter uma relação de mão dupla, ela acrescentou: a doença periodontal parece aumentar o risco de diabetes e vice-versa.

Os pesquisadores ainda precisam entender exatamente como isso funciona, mas em uma revisão publicada em 2017 pesquisadores escreveram que a inflamação sistêmica causada pela doença periodontal pode piorar a capacidade do corpo de sinalizar a necessidade de insulina e responder a ela.

Em outro estudo, publicado em abril, cientistas descobriram que os diabéticos que foram tratados de doença periodontal viram seus custos gerais de saúde diminuírem de 12% para 14%. “Você trata a doença periodontal, melhora o diabetes”, afirma Dasanayake.

Se grandes quantidades de bactérias da boca forem inaladas e se instalarem nos pulmões, a pessoa pode contrair pneumonia por aspiração bacteriana, pontua Frank Scannapieco, professor de biologia oral na Escola de Medicina Dentária da Universidade de Buffalo.

Esse fenômeno tem sido observado principalmente em pacientes hospitalizados ou idosos em abrigos, e é uma preocupação para aqueles que não podem usar fio dental ou escovar os dentes por conta própria, diz Martinna Bertolini, professora assistente de medicina dentária da Escola de Medicina Dentária da Universidade de Pittsburgh.

O atendimento odontológico preventivo, como limpeza profissional dos dentes ou tratamentos periodontais, como terapia com antibióticos, pode reduzir o risco de desenvolver esse tipo de pneumonia.

Em um relatório publicado em 2020, uma equipe internacional de especialistas concluiu que existe uma ligação significativa entre periodontite e infarto, derrame, acúmulo de placa nas artérias e outras condições cardiovasculares.

Embora os pesquisadores não tenham determinado como a má saúde bucal pode levar a uma saúde cardíaca pior, algumas evidências sugerem que as bactérias periodontais da boca podem viajar para as artérias em pacientes com doenças vasculares, desempenhando um papel no desenvolvimento da doença.

E uma declaração de 2012 da Associação Cardíaca Americana observou que a inflamação nas gengivas foi associada a níveis mais altos de proteínas inflamatórias no sangue, que foram associadas a problemas de saúde do coração.

Pesquisas sugerem que melhores práticas de higiene bucal estão ligadas a taxas mais baixas de doenças cardíacas.

Vários estudos e revisões encontraram associações entre doença periodontal grave e bebês prematuros com baixo peso ao nascer, afirma Dasanayake. Mas há necessidade de mais pesquisas para confirmar a relação.

Em uma revisão de 2019, pesquisadores descobriram que o tratamento da doença periodontal durante a gravidez melhorou o peso ao nascer e reduziu o risco de parto prematuro e morte do feto ou recém-nascido.

Os pesquisadores estão cada vez mais interessados no papel da saúde bucal na demência, particularmente na doença de Alzheimer, diz Scannapieco. “As bactérias que são encontradas na boca, na verdade, foram identificadas no tecido cerebral de pacientes com Alzheimer”, afirma.

Em uma revisão recente, os cientistas observaram que as bactérias orais – especialmente aquelas relacionadas à periodontite – podem afetar o cérebro diretamente por meio de “infecção do sistema nervoso central” ou indiretamente, induzindo “inflamação sistêmica crônica”.

No entanto, não há evidências de que as bactérias orais sozinhas possam causar a doença de Alzheimer, escreveram os autores da revisão. Em vez disso, a doença periodontal é apenas um “fator de risco” entre muitos para pessoas com predisposição ao Alzheimer ou outras formas de demência.

Bactérias orais também têm sido fortemente associadas a uma série de outras condições, como artrite reumatoide e osteoporose, diz Bray. E pesquisas emergentes começam a vincular bactérias orais a doenças renais e hepáticas, bem como a câncer colorretal e de mama.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FRITURAS AGRAVAM RISCO DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Estudo relacionou incidência de diagnósticos de saúde mental a substância gerada pelo cozimento em altas temperaturas de alimentos ricos em amido, como batatas. Impacto ocorre no cérebro e na microbiota intestinal

Uma rotina que envolve maus hábitos alimentares traz diversos danos à saúde, como um risco elevado para doenças cardiovasculares, neurológicas e até maior probabilidade de desenvolver transtornos psicológicos. Agora, em um novo estudo, pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, decidiram investigar especificamente o impacto do consumo de frituras na incidência de diagnósticos de saúde mental. O trabalho, publicado nesta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, envolveu a análise de informações de 140,7 mil indivíduos disponíveis no UK Biobank, um banco de dados de saúde do Reino Unido, acompanhados ao longo de cerca de 11 anos. Os resultados mostraram que “o consumo frequente de frituras, especialmente o consumo de batata frita, está fortemente associado a um risco 12% e 7% maior de ansiedade e depressão, respectivamente”, escreveram os autores.

A comparação foi realizada entre aqueles que diziam, nos questionários, comer ao menos uma porção de fritura de forma recorrente. Os pesquisadores identificaram ainda que homens jovens eram os mais propensos a incluir alimentos do tipo na rotina.

A análise confirmou a relação entre uma maior incidência de ansiedade e depressão e o consumo das frituras, mas, para sugerir que essa associação é causal devido às substâncias presentes nos alimentos, os cientistas citaram um outro estudo que avaliou o impacto da acrilamida na saúde mental.

VILÃ REVELADA

A acrilamida é uma substância química que surge em alimentos ricos em amido quando expostos a altas temperaturas, como no processo de fritura. Em um experimento com o peixe-zebra, os pesquisadores observaram que o contato crônico com a substância “induz distúrbios do metabolismo lipídico (processamento de lípidos para utilização de energia) cerebral e neuroinflamação (inflamação no cérebro)”.

Os pesquisadores identificaram ainda que ela promove estresse oxidativo. Por fim, os cientistas relataram que a acrilamida “prejudica a capacidade de exploração e a sociabilidade do peixe-zebra adulto, mostrando comportamentos do tipo ansioso e depressivo”.

Além dos impactos da acrilamida no cérebro, outro ponto que pode estar envolvido na relação entre fritura e saúde mental é o desequilíbrio da microbiota intestinal, nome dado à população de microrganismos que vivem no intestino. O papel dessa região do corpo na mente é cada vez mais estudado, sendo chamado inclusive de “o segundo cérebro”.

Isso porque, entre outros motivos, é lá que é produzido cerca de 90% de toda a serotonina do corpo, um neurotransmissor que atua na mediação do humor e na sensação de prazer, sendo conhecido como “molécula da felicidade”. Porém, alimentos de baixa qualidade nutricional, como os ultraprocessados, afetam negativamente a saúde da microbiota.

Outra descoberta publicada nesta semana que pode ter impactos para o manejo de quadros de saúde mental, mais especificamente da ansiedade, é de um gene específico relacionado aos sintomas do transtorno. Cientistas da Universidade de Bristol e de Exeter, ambas no Reino Unido, relataram a identificação desse mecanismo no periódico Nature Communications, e explicaram que ela pode abrir um novo caminho para o tratamento do diagnóstico.

“A eficácia dos medicamentos ansiolíticos atualmente disponíveis é baixa, com mais da metade dos pacientes não obtendo remissão após o tratamento. O sucesso limitado no desenvolvimento de drogas ansiolíticas (antiansiedade) potentes é resultado de nossa má compreensão dos circuitos neurais subjacentes à ansiedade e aos eventos moleculares que resultam em estados neuropsiquiátricos relacionados ao estresse”, contextualiza o comunicado sobre o estudo.

MECANISMO

No novo experimento, porém, os cientistas britânicos detectaram uma quantidade aumentada de um tipo de molécula chamada miR483-5p na amígdala — região do cérebro envolvida na ansiedade — logo após um quadro de estresse agudo de um camundongo. Diante desse fenômeno, observaram que o aumento suprimiu a expressão de um outro gene, o Pgap2.

Com isso, eles identificaram que o gene está associado a mudanças no cérebro ligadas aos sintomas de ansiedade, e que a ativação da miR483-5p atua como uma espécie de freio para evitar o surgimento desses sinais.

“A via miR483-5p/Pgap2 que identificamos neste estudo, ativação que exerce efeitos redutores da ansiedade, oferece um enorme potencial para o desenvolvimento de terapias para ansiedade e para condições psiquiátricas complexas em humanos”, explica a autora do estudo Valentina Mosienko, pesquisadora do departamento de Ciências Clínicas e Biomédicas da Universidade de Exeter.

OUTROS OLHARES

AMANTES DE CAFÉ GANHAM ATÉ MIL PASSOS POR DIA, E DORMEM MENOS

Estudo mostrou que as pessoas perderam 36 minutos de sono nos dias em que bebiam café – e quanto mais, menos dormiam

Um novo e rigoroso estudo que examinou os efeitos do consumo de café na saúde encontrou boas e más notícias para os amantes da bebida. A pesquisa mostrou que o café tem efeitos marcantes nos níveis de atividade física, fazendo com que as pessoas se movam mais, dando, em média, mil passos extras por dia – um aumento significativo na atividade que pode ajudar a explicar por que o consumo está associado a uma saúde melhor. Mas o estudo, publicado no New England Journal of Medicine, encontrou algumas desvantagens em consumir uma xícara diariamente. Ele mostrou que as pessoas perderam cerca de 36 minutos de sono noturno nos dias em que bebiam café – e quanto mais bebiam, menos dormiam.

A pesquisa também analisou o efeito do café nas palpitações cardíacas, uma experiência relativamente comum para consumidores da bebida. Constatou-se que, em homens e mulheres saudáveis, o café não causa um tipo comum de palpitação – também conhecida como contrações atriais prematuras –, embora algumas autoridades de saúde tenham alertado que isso pode ser um efeito colateral do consumo da bebida. Mas o consumo de café pode levar ao aumento de outro tipo de palpitação cardíaca, conhecida como contração ventricular prematura. Esses batimentos cardíacos extras ou irregulares são bastante comuns e benignos. Quase todo mundo os experimenta ocasionalmente e, embora possam ser enervantes, a maioria dos especialistas diz que geralmente não é motivo de preocupação em pessoas saudáveis.

COMPLEXIDADE

As descobertas sugerem que os efeitos do café na saúde são complexos. Embora seja benéfico para muitas pessoas e possa diminuir o risco de doenças crônicas e talvez até prolongar sua expectativa de vida, também pode atrapalhar o sono e causar algumas palpitações cardíacas.

“A realidade é que o café não é totalmente bom ou totalmente ruim – tem efeitos diferentes”, disse Gregory Marcus, autor do estudo e professor de medicina na divisão de cardiologia da Universidade da Califórnia em São Francisco.

“Em geral, este estudo sugere que o consumo de café é quase certamente seguro. Mas as pessoas devem reconhecer que existem esses efeitos fisiológicos reais e mensuráveis que podem – dependendo do indivíduo e de seus objetivos de cuidado – ser prejudiciais ou úteis”, diz o professor.

O café está entre as bebidas mais consumidas no mundo, e décadas de pesquisa sugerem que ele tem efeitos principalmente benéficos. Muitos estudos observacionais mostram que os bebedores de café vivem mais e têm taxas mais baixas de diabete, câncer, doenças hepáticas, depressão e outras condições crônicas. Mas grande parte dos dados vem de grandes estudos epidemiológicos, que mostram apenas correlações, não causa e efeito. Eles também contam com dados autorrelatados, que nem sempre são confiáveis.

CONFLITANTE

Ao mesmo tempo, a pesquisa sobre café e saúde cardiovascular tem sido um tanto conflitante. Estudos iniciais indicaram que a bebida pode ser prejudicial ao coração porque aumenta a pressão sanguínea, a frequência cardíaca e a adrenalina, além de aumentar os níveis de colesterol. Estudos mais recentes descobriram que beber várias xícaras de café diariamente – incluindo o descafeinado – pode realmente reduzir o risco de morrer de doença cardíaca ou derrame, o que alguns especialistas atribuem às grandes quantidades de antioxidantes e outros compostos anti-inflamatórios.

GESTÃO E CARREIRA

EXCESSOS NO WHATSAPP PÕEM EM DEBATE COMO DELIMITAR O EXPEDIENTE

Pesquisa da FGV aponta que 30% dos profissionais afirmam sentir pressão por disponibilidade o tempo todo

Instalado em 99% dos celulares brasileiros, o WhatsApp tornou a comunicação entre amigos e parentes muito mais prática e definiu uma plataforma padrão para mensagens, grupos e chamadas. Com todos cadastrados no aplicativo, não demorou para que ele começasse a ser usado também para a comunicação nas empresas. Afinal, mandar um “zap” é quase o mesmo que esbarrar em alguém no corredor – só que virtualmente.

Mas, se antes era possível esbarrar em alguém somente quando se compartilhava o mesmo ambiente, agora a disponibilidade é ilimitada. Pedir uma informação leva somente alguns segundos, independentemente do momento, de segunda a segunda.

“Eu me sinto invadida pelo meu trabalho em vários momentos da minha vida, nos momentos de lazer, no fim de semana, quando eu estou de folga”, afirma Érica Duarte (nome fictício dado a ela por não querer se expor), que trabalha em uma empresa de comunicação com sede em Florianópolis (SC). Ela diz receber mensagens recorrentes sobre o trabalho fora do expediente e até nos finais de semana.

Com a popularização da plataforma, membros de diferentes empresas passaram a criar grupos para o compartilhamento de informações e arquivos de forma mais rápida e prática do que o antigo e-mail corporativo. Os avisos, antes endereçados em um meio controlado pela companhia, foram transferidos para um app instalado nos equipamentos privados dos funcionários. O ramal do escritório agora fica no bolso.

“Já deixei de responder a amigos meus e familiares, porque a notificação chega ao mesmo tempo, e acabo priorizando o trabalho”, explica Érica.

Essa disponibilidade integral, no entanto, começa a cobrar seus custos. Cerca de 30% dos profissionais afirmam sentir pressão para estar disponível o tempo todo no trabalho, segundo pesquisa realizada pelo professor Paul Ferreira, da FGV, em parceria com as empresas Talenses e Gympass. No mesmo estudo, 43% deles afirmam estar com sobrecarga de trabalho.

Sem os recursos existentes em plataformas específicas para comunicação corporativa – como Microsoft Teams, Slack ou Gmail –, é impossível definir um intervalo de horários para receber mensagens de pessoas e grupos específicos no WhatsApp. À reportagem, a assessoria da Meta – dona do WhatsApp – não confirma se há planos para a disponibilização de tais recursos no app.

“Na hora que a coisa aperta, as pessoas vão para o WhatsApp”, explica Carlos d’Andréa, professor de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais, citando que mesmo empresas com softwares corporativos acabam recorrendo ao aplicativo da Meta para a comunicação com colegas. Segundo Bruno Carramenha, professor de comunicação da FAAP e diretor da consultoria de cultura organizacional 4CO, o problema está ligado diretamente à valorização excessiva ao trabalho e a falhas na cultura organizacional das empresas. “Têm de existir diretrizes e orientações práticas culturais da companhia, que estabeleçam limites,” diz ele. “O caminho da solução está na mão das empresas, e não das pessoas.”

DISPONIBILIDADE INTEGRAL

O fenômeno não é novo. Em 2013, uma reportagem mostrou que o WhatsApp – na época, ainda engatinhando no País – começava a ganhar adeptos também no mundo corporativo. Na ocasião, d’Andréa disse que o uso do app era um “sintoma claro da Era da Hipersociabilidade”.

Dez anos depois, ele diz que a difusão da disponibilidade integral das pessoas se integrou de vez ao mundo corporativo, fenômeno que se potencializou com a chegada da pandemia. De fato, o app foi usado por 82% das empresas que entraram em modelo remoto durante a crise sanitária, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Teletrabalho (Sobratt).

Muito disso se refere à praticidade. Mesmo que algum colega de trabalho tenha dificuldade com o uso da tecnologia, se há uma ferramenta que ele provavelmente sabe utilizar, é o WhatsApp. Não é preciso dar treinamentos ou explicar a utilização, todos sabem como mandar e receber mensagens pelo aplicativo.

Na empresa de Érica, há um aplicativo para comunicação interna, mas, segundo ela, não há qualquer tipo de treinamento ou incentivo da empresa para a utilização da plataforma. “Eu até criei um grupo no Teams, mas a comunicação fica restrita somente a nossa equipe”, explica. Ela também criou um número corporativo do WhatsApp para falar com outros colegas, plano que acabou não funcionando, já que as pessoas continuavam a contatá-la em seu número pessoal.

LIMITES

“A própria figura do horário de trabalho fica meio turva com a tecnologia”, diz Márcio Carneiro, professor do Laboratório de Convergência de Mídias da UFMA, que desenvolveu uma ferramenta para a análise do uso do WhatsApp nas empresas. Ele defende que a discussão vai além do uso do aplicativo em si e se refere às fronteiras entre o pessoal e o profissional, que ficaram mais nebulosas a partir do uso cada vez mais extensivo das redes sociais. “Não tem uma receita de bolo para todas as organizações.”

Os problemas com o uso do app vão além da importunação fora do expediente. Receber mensagens pessoais no mesmo local onde se lida com questões profissionais pode interferir na produtividade, além de embaralhar regras de comportamento no ambiente corporativo. “O celular é como se fosse o quintal da minha casa, e esse mesmo espaço também se torna a sala de reunião da empresa. A maneira como eu deveria me comportar e as relações que eu deveria estabelecer ficam nebulosas”, diz o professor Bruno Carramenha.

EU ACHO …

A SEITA DAS GRIFES

O que move o culto por itens tão caros quanto um apartamento

Entro em uma butique de luxo, no Shopping Cidade Jardim. Pergunto pela bolsa mais cara. A vendedora explica que a mais cara das caras não há, só importando especialmente. Mas bota luvas e cuidadosamente me apresenta uma bolsa de couro feminina. Linda, não nego. Muito bem feita, à mão. Valor maior que de um apartamento de dois dormitórios, em zona nobre. Perguntei: “Quem anda com um apartamento pendurado no braço? “A vendedora explicou que não faltavam clientes. Algumas das bolsas caríssimas, daquela e de outras grifes, são disputadas. Clientes entram em filas de anos para ter a sua. Depois de usada, não é simplesmente uma bolsa? As amigas, conhecidas do meio, reconhecem. Como uma senha para um clubinho das chiques. Esse é o segredo das grifes. Funcionam como senhas de introdução ao mundo elegante. Não só para mulheres. Há também relógios e trajes masculinos com efeitos semelhantes.

Quem gosta de uma grife morre por ela. Conhece todas as coleções. Quando vai comprar, é recebido com cafezinhos e em salas especiais. Ou a grife leva a coleção até a casa delas. Também fazem questão de estampar seus nomes nos trajes, tornando a cliente uma espécie de outdoor ambulante. Tudo isso é considerado chiquérrimo.

Mas há uma contradição. Quando dão uma festa, fazem um evento ou mesmo querem se expor nas redes sociais, as grifes costumam optar por quem não usa a marca. Ou melhor, quem só usa comercialmente. Um batalhão de influencers, atores, jogadores, são convidados para exibir a marca em posts, festas regadas a champanhe, shows. A grife sai na mídia. A maioria empresta as roupas (isso até para eventos pessoais dos famosos), monta looks e eventualmente doa algumas peças. Lá vai o famoso, de post em post, mostrando uma suspeita elegância.

Recentemente, houve uma festa de uma grande grife, da qual eu era cliente. Não fui convidado. Quando comentei com um amigo, ele disse: “Chamaram as pessoas que são a cara da marca”. Caiu a ficha. Eram jovens, famosos, de cabelos arrumados (já perdi boa parte dos meus). Eu não era a cara de nenhum. Mas eles também não eram a “cara” da grife. Por conhecer muitos deles, sei que não compram. Só esperam convites para ganhar.

Agora tento desvendar a seita das grifes. Nas “publis”, investem em um público que não compra. Na esperança de atrair quem compra. Pode ser. Acredita-se que a fama se transmite, assim como antigos aborígines devoravam seus inimigos para adquirir sua força.

Mas uma bolsa terá o mesmo poder dos ossos de um guerreiro abatido? De certa forma, sim. Em noites badaladas e eventos, a grife é reconhecida de longe e seu portador recebe tratamento especial.

Ser especial é o grande desejo em um mundo onde todo mundo é comum. Grifes promovem adoração. Quem não quer? O único problema é que custa caro. Mas já se transformou em uma seita. De fé. Ter uma bolsa de tanto valor nas mãos oferece uma espécie de êxtase.

*** WALCYR CARRASCO

ESTAR BEM

POR QUE SENTAR COM AS PERNAS CRUZADAS PODE SER RUIM PARA A SAÚDE

Apesar de parecer confortável, postura desalinha o quadril e afeta a circulação sanguínea, podendo aumentar a pressão

Você está sentado confortavelmente? Pare por um momento, fique onde está e observe sua postura. Como estão suas pernas? Cruzadas? Qual delas está por cima: a direita ou a esquerda? Cerca de 62% das pessoas cruzam a perna direita sobre a esquerda, 26% fazem o contrário e 12% não têm preferência. Normalmente, existem duas maneiras de se sentar em uma cadeira e cruzar as pernas: uma na altura dos joelhos e outra na altura dos tornozelos. Mas, por mais confortável que seja sentar de pernas cruzadas, faz mal à saúde e à postura?

Estudos mostram que sentar de pernas cruzadas pode acentuar o desalinhamento do quadril, de modo que um lado fica mais alto que o outro. Além disso, altera a velocidade com que o sangue circula pelos vasos sanguíneos das extremidades inferiores, o que pode aumentar o risco de formação de coágulos.

A maioria dos estudos indica que cruzar as pernas na altura dos joelhos é mais prejudicial do que cruzá-las na altura dos tornozelos. Na verdade, sentar com os joelhos cruzados pode causar um aumento da pressão arterial porque o sangue se acumula nas veias, e o coração tem que trabalhar para evitar isso, o que aumentaria o risco de deterioração dos vasos sanguíneos. Por isso, quando se afere a pressão arterial, você deve estar com as solas dos pés apoiadas no chão.

EFEITOS NO CORPO

Quanto mais tempo e com mais frequência você se sentar de pernas cruzadas, maior a probabilidade de experimentar mudanças no comprimento dos músculos e no arranjo dos ossos pélvicos (na região da quadril). Além disso, devido à forma como o esqueleto se articula, cruzar as pernas também pode causar desalinhamento da coluna e dos ombros. A posição da cabeça pode perder seu alinhamento correto devido a mudanças nos ossos do pescoço, pois a coluna tende a compensar para manter o centro de gravidade.

O pescoço também pode ser afetado, já que um lado do corpo é mais fraco que o outro. O mesmo desequilíbrio pode ser observado nos músculos da pelve e da região lombar como resultado da má postura e das tensões e pressões causadas por sentar de pernas cruzadas. Além disso, pode ocorrer uma deterioração no alinhamento da pelve devido ao enfraquecimento dos músculos glúteos, as nádegas, de um lado devido ao posicionamento.

Ficar muito tempo sentado de pernas cruzadas também aumenta a chance de escoliose (alinhamento anormal da coluna) e outras deformidades. Outra consequência possível é a síndrome dolorosa do trocânter maior, uma condição irritante bastante comum que afeta a parte externa do quadril e da coxa.

Estudos também mostram que sentar de pernas cruzadas pode acarretar risco de compressão e lesão do nervo fibular na parte inferior da perna. A fraqueza ao tentar levantar o dedinho é uma de suas manifestações características. Outro risco mais preocupante é o “pé caído”, em que todo o membro fica pendurado, embora na maioria dos casos o episódio seja breve, e o pé volte ao normal em questão de minutos.

Cruzar as pernas pode afetar a produção de esperma, já que a temperatura dos testículos deve estar entre 2 e 6 graus abaixo da temperatura corporal. Ficar sentado aumenta essa temperatura em 2°C, e cruzar as pernas pode elevá-la até 3,5°C. Além disso, alguns estudos indicam que o aumento da temperatura dos testículos pode fazer com que tanto a quantidade quanto a qualidade dos espermatozoides diminuam.

Outro fato digno de nota é que, devido às diferenças entre a anatomia masculina e feminina, as mulheres provavelmente acham muito mais fácil sentar de pernas cruzadas, principalmente por causa da amplitude de movimento da perna. O quadril dos homens é menor.

ESTUDOS TAMBÉM SUGEREM BENEFÍCIOS

No entanto, pesquisas indicam que sentar de pernas cruzadas pode ser benéfico para algumas pessoas. Um estudo de 2016 com uma pequena amostra, por exemplo, constatou que para quem tem uma perna mais longa que a outra, a postura pode ajudar a ajustar a altura das laterais da pelve, melhorando assim seu alinhamento. Sentar de pernas cruzadas também parece reduzir a atividade de alguns músculos, principalmente os oblíquos (localizados na lateral do abdômen) mais do que sentar com as pernas para frente. Isso pode ajudar a relaxar os músculos do tronco e evitar esforço excessivo.

Nessa mesma linha, há evidências de que sentar de pernas cruzadas melhora a estabilidade das articulações sacroilíacas (responsáveis pela transferência de peso entre a coluna e as pernas). Na famosa postura de ioga ou meditação (posição de lótus), a pessoa senta no chão com as pernas cruzadas. No entanto, há poucos dados sobre se ficar nesta posição por longos períodos de tempo pode causar alguns dos problemas provocados por se sentar de pernas cruzadas em uma cadeira. A ioga traz enormes benefícios para muitas pessoas, incluindo aquelas com problemas no joelho.

Qual o veredicto, então? Provavelmente, é melhor evitar cruzar as pernas, se puder. Dito isso, muitos dos fatores de risco associados a essa postura provavelmente são agravados por outras cargas subjacentes, como estilo de vida sedentário e obesidade. Com isso em mente, o principal conselho é não ficar parado na mesma posição por muito tempo e ser ativo com frequência.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

OS TRÊS SINAIS DE MANIPULAÇÃO DENTRO DE UM RELACIONAMENTO

Oscilando entre elogios e punições, o método chamado de ‘bombardeio de amor’ faz com que a vítima não consiga deixar o agressor

“Tóxico não é só quando alguém te trata mal, é quando te fazem sentir insignificante em alguns dias, e te enchem de amor nos outros. É quando alguém é tão incoerente com o seu amor que te leva a um turbilhão de dúvidas se é melhor ficar naquela relação ou ir embora”, afirma Milagros, 26 anos, que enfrentou um relacionamento abusivo.

“Love bombing”, ou bombardeio de amor, ocorre quando um dos membros do relacionamento enche o outro de amor, bajulação e atenção para manipulá-lo e controlá-lo. Quando o tempo passa e o lisonjeado percebe que essas demonstrações de afeto não são genuínas, o manipulador começa a mostrar sua verdadeira personalidade, tornando- se mais obsessivo, controlador e, em algumas situações, abusivo.

Tendência no TikTok, a hashtag #lovebombing tem mais de 170 milhões de visualizações. Alguém poderia pensar que este termo apareceu recentemente com as gerações mais jovens — millennials, Gen Z, X, Y —, mas a realidade é que o termo existe desde os anos 1970. Naquela época, uma seita americana, conhecida como Igreja da Unificação dos Estados Unidos, persuadia seus membros por meio de bombas de amor ou overdoses de afeto. Assim, as vítimas só se sentiam protegidas e seguras dentro dessas demonstrações de afeto e amor desproporcionais para rejeitar a hostilidade do mundo exterior.

Anos depois, intelectuais como a antropóloga Geri-Ann Galanti e a psicóloga Margaret Singer usaram o termo “love bombing” para descrever as estratégias de manipulação utilizadas pelas seitas coercitivas para atrair novos adeptos, perseguindo o ponto mais fraco do indivíduo, sua baixa autoestima, e alimentá-lo com elogios de tal forma que ele se sinta mal por abandonar o culto.

“Todas as pessoas precisam da validação do outro para ter o sentimento de pertencimento ou para reforçar nossas boas características. Quando conhecemos uma pessoa nova e ela nos enche de bajulação, demonstração de interesse e apreço, a princípio podemos associar essas atitudes a boas intenções sem perceber que existe manipulação por trás disso, que essa pessoa está querendo extrair algo de você”, explica a psicóloga Sol Buscio.

A profissional destaca que embora hoje se fale muito sobre o tema nas relações afetivo-sexuais, também pode ocorrer nas relações familiares e de amizade.

Um estudo intitulado “Love-bombing: uma abordagem narcisista para treinamento relacional” — feito por pesquisadores americanos em 2017 — destacou que esse tipo de manipulação é característica dos relacionamentos amorosos de pessoas narcisistas com baixa autoestima. Além disso, destacaram que, com a presença da internet e da digitalização, essa técnica é mais frequente nos jovens do que nas gerações anteriores.

Para Buscio, é importante reconhecer as diferentes fases em que ocorrem os bombardeios amorosos e detalhá-las:

IDEALIZAÇÃO

É quando o outro é idealizado com base nas atitudes amorosas. O parceiro faz você se sentir especial ou único a partir de todas aquelas validações e elogios para conseguir o que precisa. Ele mostra tanto seu amor que a vítima chega a pensar que não o merece. Às vezes, as demonstrações de afeto chegam a ser pedidos de casamento, falar sobre ter filhos ou fazer declarações como “eu sei que você é o amor da minha vida” pouco tempo depois de se conhecerem.

PUNIÇÃO OU DESAPROVAÇÃO

Depois dessa primeira fase de idealização, a pessoa começa a se comportar de maneira oposta ao que a outra espera.

“Quando você sai do controle deles, surge o castigo ou a reprovação e isso tem a ver com a geração de culpa pelo comportamento”, detalha a psicóloga.

Se você dedicar menos tempo a ele, se reunir com seus amigos ou se interessar por outras coisas, o manipulador começa a ter comportamentos estranhos, deixa de ser tão atencioso e amoroso, pratica o tratamento de silêncio e começa a tomar atitudes que gerem — no outro — insegurança, redução da autoestima, aumento do sentimento de culpa, de desconforto, e mina a liberdade, revelando sua verdadeira personalidade.

No entanto, esses comportamentos são velados. A pessoa manipuladora faz de forma que a vítima não perceba que está sendo levada a ter esses problemas.

ESGOTAMENTO E DESCARTE

Nesta fase, o ciclo recomeça. A pessoa manipuladora volta com as bajulações para depois minar a autoestima de seu companheiro.

Assim que a vítima perceber que está sendo manipulada, ela deve tomar a decisão de se afastar dessa pessoa. Caso contrário, vai continuar nesse círculo vicioso. Apesar de fazer muito mal, esse tipo de relacionamento é viciante, de modo que é muito difícil se livrar dele.

Paul Eastwick, professor de psicologia na Universidade da Califórnia em Davis, conduziu uma pesquisa examinando como as pessoas iniciam e se comprometem com relacionamentos românticos e aponta que nem todos os grandes gestos devem servir como alerta vermelho.

Quanto à sua prevenção ou evasão, a psicóloga Sol Buscio recomenda começar a dar tempo à construção do vínculo, atentando para a questão do próprio espaço, para saber se há validação exagerada. Pelo que foi estudado até agora sobre esse tipo de pessoa, foi constatado que elas estão dentro de uma estrutura mental narcisista e costuma ser muito difícil mudá-las, pois não percebem que manifestam esses comportamentos.

Um relacionamento saudável implica respeito, cuidado com ambas as partes, liberdade de espaço, sinceridade na comunicação, fazer sem esperar nada em troca. É aconselhável trabalhar sempre no próprio reconhecimento, autoestima, validação e respeito. Assim, os riscos de ingressar em um relacionamento com uma pessoa manipuladora diminuem consideravelmente.

OUTROS OLHARES

O FIM DO CHIP DA BELEZA

O Conselho Federal de Medicina proibiu a prescrição de terapias hormonais que incluam esteroides anabolizantes para fins estéticos, como por exemplo, ganho de musculatura ou melhora no desempenho esportivo

A pesar do apelido, o tal “chip da beleza”, propagado como receita mágica para perder peso e ganhar músculo não tem nada a ver com aquele dispositivo microeletrônico codificado. Trata-se de um implante subdérmico bioabsorvível (pallet) que pode conter um ou mais hormônios e mede, em média, de três a cinco centímetros. A terapia hormonal realizada por meio desses implantes é um dos métodos mais eficazes para tratamento de distúrbios ginecológicos como endometriose, adenomiose, TPM intensa e menopausa, entre outras patologias, e deve ser prescrito levando em consideração o histórico e a condição clínica de cada paciente. Tem sido no entanto, usada indiscriminadamente para fins estéticos, causando diversos problemas em curto e longo prazos para a saúde dos pacientes, como acne, pelos em excesso nas mulheres e crescimento das mamas em homens, problemas cardíacos e muitos outros.

“Prescrevemos implantes com o objetivo de tratar doenças, por exemplo, para a paciente na menopausa que nos procura porque está com aqueles calorões que a gente chama de fogachos, ressecamento vaginal, diminuição da libido, diminuição da energia. Dificuldade de dormir. Com a terapia hormonal, essa paciente, além de ganhar qualidade de vida, também melhora muito a sua longevidade”, afirma o ginecologista Vinicius Carruego, da Clínica Elsimar Coutinho.

Apesar de não ser autorizada pela Anvisa, e estar contraindicada por diversas entidades médicas, entre elas a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), CFM, Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana), North American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS) e Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), muitos médicos continuam prescrevendo esses implantes, cobrando de R$ 3 mil a RS 8 mil, dependendo da quantidade e do tipo do hormônio utilizado.

“A reposição hormonal deve ser vista como uma forma complementar de cuidado à saúde, sendo sempre monitorada periodicamente pelo médico e ajustada anualmente de acordo com as necessidades individuais de cada paciente”, adverte Carruego.

O médico explica também que, se prescrito com a finalidade para qual foi criado. o tratamento ajuda na diminuição de sintomas psiquiátricos, tais como depressão e incidência de demência. Ou seja, o implante é bom e deve ser usado por quem precisa. com prescrição e orientação médica: caso contrário. ao invés de ser o chip da beleza. pode se tomar o chip da feiúra.

GESTÃO E CARREIRA

O CALCANHAR DE AQUILES

Empresários que criaram companhias de tecnologia compartilham experiências e contam que atualização, conhecimento e empatia são fundamentais nesse processo

As startups são empresas que buscam inovar e transformar o mercado com soluções criativas e disruptivas. Embora possam trazer uma mudança positiva significativa, é comum que enfrentem obstáculos e dificuldades durante a jornada. Isso acontece no momento considerado mais crítico, como a captação de investimentos até a busca de uma base de clientes sólida.

As crises existem e precisam ser pensadas para evitar uma queda total da startup. Qual é o “calcanhar de Aquiles” de uma empresa que está começando, em especial quando se trata de algo que pode ser totalmente diferente no mercado?

O autor do livro Como Nasce uma startup, mentor e investidor-anjo em mais de 400 startups, Jorge Azevedo, considera que a empresa precisa ter alto potencial para “escalar” e “partir” rumo ao crescimento. Ou seja, aumentar o faturamento em uma taxa muito acima do que os custos dos produtos ou serviços prestados. Ele acredita que montar uma empresa hoje é muito mais fácil do que há 15 anos, quando era necessária uma estrutura física muito maior – hoje tudo pode ser na nuvem, por exemplo. “A partir da validação de uma Ideia, atalhos práticos e muita iteração com o cliente”, explica.

Aqui cabe um esclarecimento: iteração é o processo de repetir um conjunto de ações ou operações várias vezes, geralmente com o objetivo de atingir um objetivo ou aperfeiçoar um produto. Interação, por outro lado, se refere ao processo de comunicação ou troca de informações entre duas ou mais pessoas ou sistemas.

O sócio -fundador da Gplace, João Alfredo Pimentel, também considera que uma startup deve ser escalável, mas acredita que um dos erros mais comuns acontece logo no momento em que a empresa é criada. Ele explica que a correção da ideia de acordo com o aprendizado obtido pela volatidade do mercado, por exemplo, é algo extremamente comum. “A criação inadequada de estruturas para sanar a dor que a startup se propôs a resolver, assim como a falta de previsibilidade da escalada de negócio, com gestão e governança para a geração de valor aos clientes também pode levar ao erro”, afirma.

Para superar tudo isso, é necessário, segundo o sócio- fundador da Gplace, ter a visão do todo para corrigir a rota o mais rápido possível, descobrir novos problemas e endereçar outras soluções até encontrar a melhor opção para aquela parcela de mercado.

Conversamos com lideranças de nove startups de atuações diferentes para que, por meio do know-how, elas pudessem clarear os caminhos do nobre leitor.

A VISÃO DE QUEM JÁ PASSOU POR ISSO

QUEM É

Michel Ank, CEO da Lastlink

TRAJETÓRIA

Lançou a primeira startup em 2016, utilizando o Instagram. Foi selecionado como uma scaleup pela Endeavor, atendendo 40 mil clientes ativos. Em 2020, notou que esse modelo não era viável a longo prazo e decidiu mudar de direção, iniciando a Lastlink, uma plataforma para ajudar infoprodutores a monetizar os produtos digitais,

KNOW-HOWPARA SER COMPETITIVO

Para o empresário, o momento mais crítico para uma startup é a identificação do product market fit – processo de encontrar a combinação perfeita entre o produto ou serviço oferecido por uma startup e as necessidades do mercado. É nesse momento que a empresa verifica se a solução é realmente atrativa para o público-alvo e se há demanda.

“O processo de alcance do product market fit é fundamental para a captação de investimentos e para a escalabilidade do negócio. Investidores estão sempre em busca de empresas que apresentem soluções inovadoras e atrativas para o mercado, e o product market fit é o primeiro passo para alcançar esse objetivo”, afirma.

Para chegar a isso, o feedback dos clientes é fundamental. Ank também considera importante a verificação da concorrência, manter-se aberto a mudanças e conversar com o público-alvo.

QUEM É

Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia

TRAJETÓRIA

Fundou a primeira startup aos 26 anos de idade, em 2009, a Hello Research. Desde 2014, foi cofundador na segunda startup, dessa vez de mídia digital, a Nobeta. Em 2019, pouco antes da pandemia, fundou a terceira, a Tupinambá, startup de infraestrutura de recarga veicular que, em 2022, recebeu investimentos liderados pela Raizen. Bertoncello tem sete dicas para que o empreendedor esteja atento, especialmente nos momentos críticos.

KNOW-HOWPARA SER COMPETITIVO

A primeira é uma estratégia clara, com objetivos precisos. Segunda, ferramentas de gestão, para gerar alinhamento na empresa inteira e fornecer um meio de medir os resultados. Terceira, aprender com os erros. “Em vez de desanimar com as dificuldades, é importante encará-las como oportunidades de aprendizado e crescimento. Até porque mesmo os melhores atletas erram muito mais do que acertam. “É preciso sempre estar bem para a próxima jogada”, conta. A quarta dica é fazer networking com outros empresários e possíveis parceiros de negócio. O quinto conselho é ter flexibilidade, especialmente nos primeiros anos, para que a startup se adapte ao mercado. Em sexto lugar, gerenciar os riscos e aprender a lidar com situações diversas. Finalmente, gerenciar as finanças. Isso inclui criar orçamentos realistas, acompanhar as despesas de perto e procurar formas de maximizar os lucros.

QUEM É

Leonardo Azevedo, CEO da Apê11

TRAJETÓRIA

Começou profissionalmente como empreendedor em 1994, antes de o conceito de startup existir no Brasil, com a criação da Habber Tec, que presta serviços de tecnologia. Em 2015, a empresa foi vendida, então começou um estudo analisando em qual mercado atuar. Três anos depois, iniciou o projeto da Apê11, um marketplace imobiliário

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

“Destacaria os desafios de crescimento veloz de estrutura organizacional, com responsabilidade, e aqui a única dica possível é trazer pessoas complementares e competentes para reduzir os riscos do negócio”, responde.

Durante todo o tempo de maturação da Apê11, Azevedo percebeu a importância dos feedbacks reais e entendeu que a ligação entre a empresa e o cliente final tinha que ser feita de forma assertiva, porém suave, ainda mais em se tratando do mercado imobiliário.

QUEM É

Marcus Vinícius Dutra, CEO da Strongest

TRAJETÓRIA

Decidiu abrir a startup no final de 2021, uma marca de suplementos alimentares.

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

O momento mais crítico na jornada de uma startup é a correta análise mercadológica que deve ser feita, com o intuito de decidir se a ideia vale a pena ser transformada em realidade ou se aquele não é o momento certo ainda. Dutra acredita que, fazendo uma análise incorreta nesse momento, o empreendedor pode pôr tudo a perder, investindo tempo, dinheiro e esforço em criar um negócio que pode não vingar.

“Por isso, deve se fazer uma análise de mercado minuciosa quanto às oportunidades e dificuldades do mercado, às forças e fraquezas potenciais que a sua ideia carrega, a todos os desafios que a sua startup terá que superar para se consolidar no mercado e verificar se o time tem capacidade intelectual e financeira para ultrapassar essas barreiras”, explica.

Também é muito importante entender o momento político e econômico do cenário atual da localidade onde a startup irá operar.

QUEM É

Bernardo Cunha, Cofundador e CMSO da Sinaxys

TRAJETÓRIA

O empreendedor começou com duas clínicas médicas e percebia uma grande perda financeira com a vacância dos consultórios. Após conversa com alguns profissionais, iniciou um projeto de design thinking, em 2021. Ao levar o projeto para uma rede de clínicas do Rio Grande do Sul, criou a startup, que é uma plataforma de empregabilidade.

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

Cunha avalia que o momento mais crítico de toda startup é atravessar o ‘vale da sombra da morte’ do estágio inicial, lidando com extrema desconfiança do mercado, dos colaboradores que os fundadores vão encontrar e também a desconfiança de familiares e amigos.

“Para edificar o business, portanto, e vencer a desconfiança do mercado e dos futuros colaboradores, os fundadores devem ter extrema clareza do roadmap da empresa, para que possam demonstrar, além do momento atual, o planejamento para o futuro”, pontua.

O CMSO também acredita que o respeito absoluto às pessoas é algo fundamental para quem vai abrir uma startup.

QUEM É

Cristiano Maschio, CEO e fundador da QESH

TRAJETÓRIA

Após deixar uma companhia de seguros em 2015, decidiu pegar todo o conhecimento que adquiriu e investir na primeira startup, a Next One, uma plataforma de distribuição de seguros que depois evoluiu para um aplicativo para o segmento imobiliário. Recebeu aporte financeiro do VISA Track, programa de aceleração de startups criado pela gerenciadora de cartões de crédito, e passou um tempo na Índia e nos Estados Unidos. Ao voltar ao Brasil, desenvolveu soluções para o sistema financeiro. entendendo como as empresas tradicionais lutam para acompanhar o ritmo de transformação do ecossistema. A QESH surgiu em 2019.

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

O ponto mais marcante está na criação do produto, de acordo com Maschio. Todo o tempo disponível deve ser investido criando o produto e conversando com pessoas que possam dar feedbacks. Desde o começo, acrescenta, os processos devem ser muito bem estabelecidos e controlados. Já projetados para uma escalabilidade saudável. O momento mais crítico é justamente estabelecer e conquistar clientes.

“Muitas startups se veem pressionadas por empresas-clientes, que, de certa forma, pedem para baixar preços ao máximo para fechar contrato. Então, com medo de não se estabelecer no mercado, muitas acabam cedendo, prejudicando a vitalidade do próprio negócio. Todo fundador de startup deve saber quando ceder, e é necessário e saudável saber dizer não”, reflete

QUEM É

Fernanda Campos, fundadora e conselheira da Monetizze

TRAJETÓRIA

A Monetizze é a primeira experiência da empreendedora, criada em 2016. A fundação só aconteceu após dois anos de desenvolvimento do software utilizado pela companhia. A plataforma impulsiona vendas on-line

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

Fernanda é categórica ao dizer que a capacitação é a palavra-chave para toda e qualquer ação. É preciso buscar a todo momento conhecimento sobre os mercados mais diversos, entender como funciona um determinado projeto, estudar a fundo o setor e onde se pode verdadeiramente criar impacto.

“Aliás, a busca de conhecimento não pode parar em nenhum momento da jornada empreendedora; ele é o motor que fomenta a diferenciação e o crescimento sustentável dos negócios”, avalia.

Durante o tempo em que se desenvolveu como empreendedora, aprendeu a olhar o negócio “de fora” como uma observadora da situação; Isso ajudou a ter ideias mais claras e a solucionar problemas de forma mais ágil e precisa.

QUEM É

Byron Mendes, cofundador da MetaMundi

TRAJETÓRIA

Começou empreendendo no mercado de criptoarte. A Metaverse Agency, primeira agência de criptoarte do Brasil, fazia leilões de arte generativa. Um deles arrecadou R$32 milhões em apenas 30 minutos. Depois, investiu em uma startup de educação e tecnologia, até chegar à MetaMundi, que atua na ativação de marcas e experiências no metaverso.

KNOW-HOW PARA SER COMPETITIVO

Estar preparado e atualizado é fundamental para o sucesso da startup, segundo Mendes. Um dos maiores desafios que ele enfrentou, ainda mais atuando em um meio que muda rapidamente e constantemente, foi estar a par de tudo que acontecia. Ele considera essa uma dica de ouro. Ainda que o financiamento da startup não tenha sido um grande problema para ele, o cofundador da MetaMundi acrescenta que saber lidar com isso também é parte importante do processo.

“Em um país como o Brasil, o desafio de levantar recursos financeiros pode ser ainda maior. Para se preparar para esse momento crítico, é importante adotar uma abordagem proativa, estratégica e disciplinada. Isso envolve uma combinação de fatores, como a capacidade de se antecipar a tendências e mudanças no mercado”, aponta.

QUEM É

Roberto Oliveira, Cofundador e CEO de Take Blip

TRAJETÓRIA

Abriu a primeira empresa em 1997, em um quiosque na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamada Take Phone, de manutenção de telefones celulares. Em 1999, criou a Take.net que passou a comercializar algo que era sucesso no início dos anos 2000 os ringtones. Com as mudanças de comportamento e as novidades do mundo mobile, lançou, em 2015, o Blip, uma plataforma integrada de construção, gestão e evolução de chatbots.

KNOW-HOWPARA SER COMPETITIVO

Um dos maiores erros que as empresas e investidoras fazem, segundo Oliveira, é cobrar métricas erradas em fases erradas. Enquanto não houver produto e modelo de negócio, escalar a empresa é um ‘tiro no pé’.

“Para quem quer empreender, não existe uma fórmula mágica para alcançar o sucesso, até mesmo pelo fato de que não conseguimos prever os desafios que estão por vir, mas podemos aprender com os erros e acertos dos outros”, considera.

A principal dica que o empresário dá é ser “antifrágiI”, já que o inesperado sempre pode acontecer. Outra orientação que foi considerada em toda a trajetória de Oliveira é ter empatia com os demais.

“A empatia é a verdadeira coragem e ela, somente ela, que nos impulsiona a prosseguir, pois traz em si a força para entendermos nossas virtudes”, complementa.

EU ACHO …

O PECADO DO PESSIMISMO

O grande dano causado pelo projeto demoníaco é a perda da esperança

Há algumas semanas, disse que o pessimismo era um pecado diante de Deus. Perguntaram-me o porquê. Acho que essa pergunta merece uma resposta atenta.

O pessimismo é o modo mais racional de ver o mundo. O otimismo – afora o otimismo vagabundo do capitalismo, do marketing e da prática motivacional – exige quase um milagre. Não é por acaso que no cristianismo a esperança é vista como uma virtude teologal – para tê-la, dependemos da graça de Deus.

O pessimismo já apareceu de várias formas na filosofia ou mesmo nas religiões. A tradição trágica é um bastião desse pessimismo espiritual. Os gnósticos do início do cristianismo afirmavam que o mundo teria sido criado por um deus mau e que a criação era uma câmara de torturas. Fácil enxergar razoabilidade nessa teoria.

Grandes filósofos, como Schopenhauer (1788-1860), afirmavam que o mundo – e tudo dentro dele – era fruto de uma vontade perversa e cega. Freud (1856-1939) chegou perto do mesmo diagnóstico. O existencialismo quase todo foi uma forma chique e descolada de pessimismo. Os exemplos se multiplicam.

No dia a dia, tomado pela labuta, pela estupidez, pela histeria contemporânea, é fácil se contaminar pela desesperança. Mas por que ele seria um pecado diante de Deus? De cara, podemos lembrar quando, no livro do Gênesis, Deus olha para sua criação e diz que ela é boa. Mas a coisa não para aí.

Na reflexão cristã medieval, autores como São Tomás de Aquino (1225-1274) já haviam identificado a tristeza profunda como um pecado, resultado da captura do coração – órgão da vontade para muitos filósofos medievais – pelo pessimismo demoníaco. Essa contaminação do coração pela negatividade demoníaca faria com que a pessoa perdesse a esperança de que a vida e o mundo valiam a pena. Do ponto de vista teológico de então, o projeto negativo do demônio era, justamente, retirar a capacidade de a criação de Deus funcionar através da paralisação da ação do homem, protagonista da criação.

A tristeza profunda seria, então, o motor dessa negatividade na vida.

O grande dano desse projeto demoníaco seria a perda da esperança. E como é possível viver sem esperança? Ou, dito de outra forma: pode-se viver o dia a dia sem alguma forma de investimento na vida ou nalgumas pessoas à sua volta?

Para além da teoria medieval sobre o pessimismo e o coração imobilizado por ele, uma das forças do pessimismo está no fato de ele poder ser alimentado pelo ceticismo mais sofisticado. Toda vez que você quiser ter a chance de acertar uma previsão sobre o mundo, aposte no pior. A chance de você acertar é enorme.

Outra força do pessimismo é que seu oposto, o otimismo, hoje em dia é quase absolutamente idiota e barato como perspectiva. Quase infantil. A grande justificativa desse otimismo barato de agora é o fato de que o desespero nunca esteve tão em alta, ao contrário do que está em voga dizer.

Albert Camus (1913-1960), filósofo argelino-francês, ele mesmo um pessimista trágico, parece-me, acertou quando disse que a esperança só é possível quando atravessada pela humildade. Humildade é uma virtude difícil, principalmente em nossa época, que é atravessada pelo orgulho e pela boçalidade como virtudes cantadas em prosa e verso.

A humildade abre o coração para o reconhecimento de que nunca sabemos com certeza o que está acontecendo, seja na nossa vida, seja no universo. No coração do pessimismo reside o orgulho de supor ter compreendido todo o enredo das coisas. O pessimismo é o caminho mais curto entre dois pontos na vida.

Decorre dessa identidade camusiana entre esperança e humildade o fato de que toda esperança calcada no orgulho tem perna curta porque a vida é uma máquina de moer todos os seres vivos. E os orgulhosos morrem mal.

Camus era um ateu convicto. Surpreende o fato de que, muitas vezes, ateus parecem entender melhor Deus do que os crentes, ávidos por reforçar seus postulados de salvação. A cegueira diante de Deus – o ateísmo em si – talvez seja uma forma peculiar de enxergar Deus. Quem sabe só os cegos verão Deus. Assim como os pecadores.

*** LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de ‘Notas sobre a Esperança e o Desespero’ e ‘Política no Cotidiano’. É doutor em filosofia pela universidade de são Paulo

ESTAR BEM

COMER DE 3 EM 3 HORAS ACELERA O METABOLISMO?

Mais do que ficar atento ao relógio, é preciso aprender a ouvir o organismo e comer quando sentir fome

Durante muito tempo se acreditou que comer de três em três horas acelera o metabolismo e, consequentemente, faz a pessoa emagrecer. Mas segundo a nutricionista Camila Queiroz, coordenadora do curso de Nutrição da Cruzeiro do Sul Virtual, é preciso atenção.

“Ser obrigado a comer de três em três horas pode levar a comer sem fome e sem necessidade energética. Ao mesmo tempo, demorar muito para comer pode deixar a pessoa com fome e a levar a comer demais em uma única refeição”, explica.

Claro que a estratégia pode ser interessante, a curto prazo, para pessoas que se encontram em um processo de reeducação alimentar. Porém, a longo prazo, o correto é que a pessoa tenha um controle da sua própria saciedade.

Assim, o ideal é ter acompanhamento de um nutricionista que montará seu plano alimentar de acordo com seu metabolismo, hábito e rotina.

METABOLISMO

As refeições fracionadas fazem com que os níveis de glicose e insulina no organismo se estabilizem, mas estudos científicos apontam que elas devem ser feitas controladamente e com alimentos saudáveis. Além disso, é importante reparar na velocidade que consumimos o alimento.

No entanto, comer várias vezes ao dia pode não desempenhar um papel significativo na perda ou no ganho de peso. O que a ciência mostra é que a aceleração do metabolismo está mais associada à quantidade e ao tipo de alimento que se come do que a sua frequência. Assim, incluir alimentos termogênicos (pimenta, canela, gengibre, chás) na rotina, além de alimentos vegetais que melhoram a microbiota intestinal (ou seja, que ajudam na digestão, como o feijão, brócolis, banana, aspargos), podem contribuir muito mais com nosso metabolismo.

Há também pesquisas que apontam que fazer refeições a cada três horas pode manter constante o gasto energético necessário para manter as funções vitais – bem como o gasto total de energia. É como se seu corpo ficasse sempre em ação. Além disso, com a ingestão de alimentos de baixo valor calórico, mas que sejam saudáveis, comer com uma frequência maior durante o dia pode diminuir a fome, melhorar a queima de gordura e os marcadores sanguíneos, como colesterol total e LDL, além de não haver picos de insulina, o que pode contribuir com o controle do peso e da diabete.

O importante é reconhecer a individualidade de cada um, respeitando sua fome e sua saciedade e não apenas o relógio de três em três horas. Não é preciso insistir em nada. Nosso corpo tem seu próprio relógio biológico e cada pessoa tem uma rotina que precisa ser respeitada.

FOME EMOCIONAL OU REAL

Comer é um ato social e não comemos apenas por fome fisiológica. A fome emocional pode interferir em nossa ingestão calórica diária e por isso é preciso atenção: é aí que tendemos a comer alimentos com mais gorduras e açúcares.

O sucesso da alimentação está em seguir uma rotina com muitos vegetais e poucos alimentos ultraprocessados. O planejamento para as refeições também é importante, já que assim evitamos comer muito fora de casa, com oferta de produtos não tão saudáveis, como os fast-food. Um prato colorido e equilibrado, três porções de fruta por dia e de três a cinco porções de vegetais são regras de ouro na boa alimentação.

O auxílio de um profissional da nutrição, apesar de muitas vezes ser negligenciado, também é imprescindível para obter um plano alimentar individualizado.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PEGANDO NO TRANCO

Cientistas dão dicas para ‘reprogramar’ cérebro e sobreviver às segundas-feiras

Se você odeia segundas-feiras, pode ter certeza de que não é o único. Pelo menos é o que asseguram as cientistas Cristina R. Reschke e Jolanta Burke, ambas professoras da Universidade de Medicina e Ciências da Saúde do Royal College of Surgeons, na Irlanda.

Depois de alguns dias de folga, muitos acham difícil retornar à rotina e ao trabalho. Podem até sentir o medo e a ansiedade infiltrando-se no fim de semana na forma da “síndrome do domingo”. Mas, embora nem sempre seja possível mudar a agenda ou as obrigações para tornar as segundas-feiras mais atraentes, é possível “reprogramar” o cérebro para pensar na semana de maneira diferente.

As pesquisadoras explicam que os nossos cérebros adoram previsibilidade e rotina. Uma pesquisa mostrou que a falta de rotina está associada à diminuição do bem-estar e ao sofrimento psicológico. Dessa forma, embora o fim de semana seja um momento agradável, o cérebro trabalha duro para acomodar essa mudança repentina na rotina.

Apesar disso, não é tão difícil fazer essa mudança: o cérebro não precisa de muito esforço para se adaptar à liberdade e à falta de rotina do fim de semana. A história muda, no entanto, quando a questão é voltar às atividades menos agradáveis, como as obrigações da manhã de segunda-feira.

MANTENHA UMA ROTINA

Uma maneira de se adaptar às mudanças após o fim de semana é adotar uma rotina que dure toda a semana e tenha o poder de tornar a vida mais significativa. Isso pode incluir assistir um programa de TV favorito, praticar jardinagem ou ir à academia. Também ajuda realizar essas atividades no mesmo horário todos os dias.

As rotinas aumentam o senso de coerência, um processo que permite às pessoas entenderem o quebra-cabeça de eventos da vida.

Reschke e Burke garantem que, quando temos uma rotina estabelecida, seja o hábito de trabalhar cinco dias e tirar dois dias de folga, ou participar de uma série de atividades todos os dias, a vida ganha mais sentido.

NÃO MUDE O DESPERTADOR

Outra rotina importante a ser estabelecida é a rotina de sono. Uma pesquisa mostra que manter um tempo de sono consistente pode ser tão importante para aproveitar as segundas-feiras quanto a duração ou a qualidade do descanso. Isso porque mudanças nos padrões de sono nos fins de semana podem desencadear jet lag social.

Por exemplo, dormir mais tarde do que o habitual e dormir mais nos dias de folga pode desencadear uma discrepância entre o relógio biológico e as responsabilidades socialmente impostas. Isso também está relacionado a níveis mais altos de estresse na manhã de segunda-feira.

O ideal é tentar manter um horário definido para dormir e acordar, além de evitar tirar cochilos.

É indicado criar uma rotina para “desacelerar”, que dura cerca de 30 minutos, antes de dormir, desligando ou guardando os dispositivos digitais e praticando técnicas de relaxamento.

TREINE SEUS HORMÔNIOS

As pesquisadoras explicam que os hormônios também podem desempenhar um papel na maneira como nos sentimos às segundas-feiras. Por exemplo, o cortisol é um hormônio multifuncional muito importante, que ajuda o corpo a controlar o metabolismo, regular o ciclo sono-vigília e a resposta ao estresse, entre outras coisas. Geralmente, é liberado cerca de uma hora antes de acordar (o que auxilia na sensação de estar desperto) e então seus níveis caem até a manhã seguinte, a menos que a pessoa esteja sob estresse.

Sob estresse agudo, o corpo libera não apenas cortisol, mas também adrenalina, preparando-se para lutar ou fugir. É quando o coração bate mais rápido, as mãos ficam suadas e as reações podem ser impulsivas. Essa reação é provocada pela amígdala (uma pequena área em forma de amêndoa na base do cérebro) quando “sequestra” o órgão. Ela cria uma resposta emocional bastante rápida ao estresse antes que o cérebro possa processar e pensar, caso seja necessário.

Mas, assim que é possível pensar, ativando o córtex pré-frontal do cérebro – a área voltada para a razão e o pensamento executivo -, essa resposta é atenuada, caso a ameaça não seja real. É uma batalha constante entre a emoção e a razão. Isso pode fazer com que a pessoa acorde no meio da noite, quando está muito estressada ou ansiosa.

Para combater isso, é preciso enganar a amígdala, treinando o cérebro para reconhecer apenas ameaças reais. Em outras palavras, é preciso ativar o córtex pré-frontal o mais rápido possível.

Uma das melhores maneiras de conseguir isso e reduzir o estresse geral é através de atividades de relaxamento, especialmente às segundas-feiras. Uma possibilidade é a meditação, que está associada à redução do cortisol.

Passar um tempo em contato com a natureza é outro método: sair de casa logo na segunda-feira, ou mesmo durante o intervalo para o almoço, pode fazer uma diferença significativa em como o início da semana é recebido.

OUTROS OLHARES

SOLUÇÃO CIRÚRGICA

Decisão do MS de oferecer operação plástica para alunos vítimas de bullying gera polêmica

Para combater o bullying nas escolas, o governo do Mato Grosso do Sul lançou mão de uma solução cirúrgica. O programa “MS Saúde: mais saúde, menos fila”, anunciado anteontem, prevê, além de medidas para zerar a fila de espera por procedimentos eletivos, cirurgias plásticas pelo SUS para estudantes de escolas públicas ou privadas que sofram algum tipo de constrangimento com a aparência. Entre as intervenções possíveis, estariam rinoplastia, redução de mamas, em meninos ou meninas, otoplastia – indicada para as chamadas “orelhas de abano” – estrabismo e correção de cicatrizes.

Para o governo, a iniciativa pode ajudar a conter a evasão escolar. O estado, no entanto, ainda não sabe como vai funcionar na prática o plano, que gera uma série de ressalvas entre especialistas – incluindo a necessidade de um trabalho individualizado e multidisciplinar antes de tomada uma decisão considerada extrema, que envolve riscos.

“Não podemos negar que esse problema existe. Mas, quando a gente dá acesso a cirurgias reparadoras, a decisão é individual. Não significa que as pessoas têm que fazer. É nossa função na saúde: dar oportunidade de acesso”, diz Christine Maymone, secretária-adjunta de Saúde do Mato Grosso do Sul, acrescentando que forças de segurança do estado detectaram um aumento dos casos de bullying: foram 142 em 2022.

De acordo com Christi- ne, os municípios têm até o fim desta semana para aderir ao projeto. São eles que vão elaborar a lista de pacientes que será enviada ao SUS. O governo depende também da definição sobre quais estabelecimentos de saúde farão parte do programa para fazer, então, o encaminhamento dos estudantes aptos.

“O estado está motivado em promover a inclusão”, ressalta Christine.

ÚLTIMA OPÇÃO

Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) no Mato Grosso do Sul, Cesar Benavides afirma que a possibilidade de cirurgia reparadora é importante no debate sobre bullying. Mas ressalta que uma intervenção deve ser tratada como a última opção para o problema, já que pode implicar até risco de vida. O especialista diz que os jovens precisam passar por uma avaliação psicológica minuciosa antes de serem encaminhados para a mesa de operação.

“Existem alterações corporais que são motivo de bullying, como orelhas de abano, rapazes com seios grandes e meninas com mamas grandes e flácidas, parecidas com os de mulheres que já tiveram filhos. São mudanças que podem ter um impacto fulminante na autoestima dos adolescentes, faixa em que a personalidade está em formação. Mas é óbvio que somente cirurgia não é a solução definitiva”, afirma o presidente no Mato Grosso do Sul da SBCP, entidade que até agora não foi procurada pelo governo para tratar do tema. “Há um conjunto de medidas que devem ser tomadas antes de se decidir por uma cirurgia, como avaliações psicológicas, porque muitos casos de bullying começam em casa, estão ligados à relação dos pais com os filhos, ao nível de educação da família e até mesmo a violências.

Benavides destaca ainda que há jovens que sofrem de dismorfobia, um transtorno psíquico que envolve desconforto com uma parte do corpo. Nesses casos, diz o médico, o jovem pode corrigir alguma alteração e depois passar a ter aversão a outra área. É um quadro em que o tratamento passa pela terapia, e não pela cirurgia. A obesidade em adolescentes, acrescenta o especialista, também é um caso em que quase sempre não é questão de cirurgia.

“Quando um adolescente obeso busca lipo, tem que se acender um sinal de alerta. O adolescente ainda está aprendendo a se cuidar, e a obesidade pode ter a ver com alimentação, falta de atividade física. Não é lipo que vai resolver algo que depende dele. Até porque depois ele poderá voltar a engordar”, adverte Benavides, para quem a iniciativa do governo é louvável, mas toca em questões delicadas e deve envolver um trabalho com equipes multidisciplinares antes de diagnósticos finais.

DIFERENÇAS POR IDADE

As operações reparadoras não se encaixam em todas as faixas de idade. O médico explica que crianças a partir dos 5 anos podem ser operadas para a correção de orelhas de abano, mas uma cirurgia de nariz só deve ser feita a partir dos 16 anos em meninas e dos 17 em meninos. Já intervenções em mamas são indicadas em casos de garotas que menstruaram pela primeira vez há dois anos ou mais e que sejam maiores de 16 anos, por causa do processo de desenvolvimento do corpo.

Na avaliação de Catarina Santos, professora da Faculdade de Educação da UnB, a solução oferecida no Mato Grosso do Sul não resolve o problema e cria novas complicações.

“É como se quisessem padronizar as características das pessoas. Combater o bullying requer trabalhar o respeito às diferenças e não a eliminação delas”, avalia. “Entendo o bullying como o resultado de uma sociedade que estabeleceu padrões de corpos. O papel da política pública é trabalhar o respeito à diferença, a lógica da beleza da diferença. Quando se defende o combate ao bullying fazendo com que todos tenham as mesmas características, é um horror. Não é trabalho de combate à violência por conta das diferenças, mas de eliminar as diferenças.

O bullying é uma preocupação internacional. Finlândia e Canadá têm projetos reconhecidos como eficazes e trabalham mais com orientação das comunidades escolares e o desenvolvimento da cultura de paz.

Pesquisa do IBGE divulgada no ano passado mostra que o bullying é um problema grave entre os jovens.

Um total de 40% dos estudantes brasileiros admitiram no levantamento já terem sofrido com as suas consequências no ambienteescolar, em episódios de provocação ou de intimidação. Além disso, 24,1% deles declararam sentirem que “a vida não vale a pena”, após terem sido vítimas.

GESTÃO E CARREIRA

ANTIFRAGILIDADE DEVE SER ALVO PARA AS LIDERANÇAS

De acordo com o dicionário, antifragilidade é a capacidade natural para se recuperar de uma situação adversa, problemática. Uma tendência natural para se recuperar ou superar com facilidade os problemas que aparecem. Completaria ainda dizendo que esse deveria ser um atributo de todos que ocupam o cargo de líder, principalmente, em tempos de crise.

Afinal, nem sempre sabemos quando uma fase corporativa difícil vai chegar, mas ela sempre vem. Pode ser uma crise financeira, uma demissão em massa, uma invasão de hacker, entre tantas outras. Muitas vezes, ela é previsível e trabalhamos com foco e estratégia para que não aconteça. Mas também temos aquelas que não esperamos, simplesmente chegam feito um tsunamis tiram tudo do lugar e trazem inúmeros desafios.

Vimos isso acontecer recentemente com a pandemia. Ela acometeu todas as esferas da nossa sociedade, mudou o mundo do trabalho e nos forçou a rever uma série de questões em todas as companhias, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte. Nesse cenário devastador, tivemos que acelerar a transformação digital dentro das empresas, mudar a maneira de lidar com as equipes e, principalmente, reinventar o jeito de liderar.

As lideranças precisam se adaptar rápido a tudo isso, ter novas competências, habilidades e atitudes que os tempos difíceis exigem. Não é fácil lidar com uma crise, mas são esses profissionais que conseguem mudar o rumo da companhia de maneira positiva se souberem lidar com os novos desafios, uma vez que para as pessoas obterem resultados satisfatórios é necessário alguém que organize, apoie e coordene.

Por isso, é importante que os líderes se reinventem, sigam a cultura da empresa e ajudemos seus times a alcançar as metas estipuladas pela empresa, unindo a equipe, identificando e distribuindo as tarefas do dia a dia e exercendo seu lado humano. Além disso, é necessário saber trabalhar com o emocional de cada colaborador, entrar em contato com a vulnerabilidade e, acima de tudo, saber ensinar e também aprender.

Os líderes precisam ser transparentes com suas equipes, oferecer maior espaço para o diálogo e dar feedbacks com maior frequência. O estudo da Vittude aponta que 75%dos liderados acham importante o líder que sabe ouvir e oferece espaço para críticas e sugestões, contra 31%. Em “saber tomar decisões rápidas”, 62% dos liderados consideram essa ação relevante, contra apenas 19% dos líderes.

UM LÍDER QUE, DE FATO, LIDERA

O autoconhecimento é uma bússola para que o líder desenvolva seu papel com outras pessoas de maneira eficaz. Como posso liderar outros se não conheço a mim mesmo? Como desenvolver um colaborador e exigir pontos de melhorias se não começar por mim? E como entender os medos da minha equipe diante da crise se eu não expuser os meus?

Olhar para dentro e fazer uma reflexão sobre o momento de crise que a empresa está vivendo e como eu, líder; posso ser uma peça-chave para sair de tudo isso são atitudes fundamentais para o desenvolvimento de habilidades e estratégias. Além disso, reconhecer-se com uma pessoa com sentimentos humanos pode auxiliar, principalmente, no emocional dos seus liderados.

O mesmo estudo citado mostra que apenas 6% dos líderes consideram importante mostrar-se vulnerável e humano e 11% avaliam a importância de serem capazes de fornecer feedbacks positivos. Na pesquisa, 56% dos liderados valorizam a habilidade de seus líderes em ter paciência para ensinar, contra apenas 19%.

Quanto à parte emocional dos liderados, dados da pesquisa da Amcham Brasil, realizada com 199 lideranças, apontam também que 49% têm preocupação alta; e 43%, média. Apenas 8% das lideranças têm um nível baixo de preocupação com a saúde mental de seus colaboradores. Para esses executivos, a preocupação com a estabilidade emocional se estende para todos os níveis da organização (45%).

Quando questionados sobre o preparo das lideranças para atuarem como redutores de ansiedade das organizações e dos indivíduos, a maioria dos gestores apontou que as lideranças estão parcialmente aptas para lidar com esse desafio (62%). Cerca de 20% acreditam que suas lideranças não estão, enquanto 17% responderam que suas lideranças estão plenamente prontas.

As pesquisas acendem o sinal de alerta sobre a necessidade de atualizar os líderes dentro das companhias. Trazer formação, workshop e atualização torna as lideranças muito mais fortes para lidar com todas as adversidades que possam acontecer.

Pesquisa realizada pela Great Place to Work revelou que acreditam que a capacitação das lideranças deve ser o principal foco para garantir a construção de ambientes de trabalho emocionalmente saudáveis e para o alcance de resultados estratégicos.

Precisamos mudar esse jogo se quisermos líderes que saibam lidar com qualquer tipo de crise. O momento que vivemos nos convida para uma transformação. Sua empresa está pronta para essas mudanças?

*** JULIANA DORIGO – É diretora de RH e ADM da Paschoalotto.

EU ACHO …

CUIDADO COM OS DITADOS

‘Para bom entendedor, meia palavra basta’: Errado! No Zap, meia imagem basta!

Ditados são uma sabedoria consagrada? Vejamos! “Devagar se vai ao longe” – afirmam. No mundo de resultados imediatos e metas ousadas para ontem, a lentidão pode ser vista como um defeito profissional. O caráter direto e imediato virou virtude central da comunicação. Lento, em 2023, não leva a lugar de destaque. De brinde, a modernidade derrubou também “a pressa é inimiga da perfeição”. Esta última jamais será alcançada; fazer rápido, pelo menos, encurta o sofrimento. No mesmo campo semântico da constância, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” caracteriza mais insistência, assédio e abre caminho para processos. A pedra resistiu? Não é não! Desista e parta para outra.

“Para bom entendedor, meia palavra basta.” Errado! É necessária uma figura no Zap para entender. Meia imagem basta!

“Por ele ponho minha mão no fogo.” Verifique antes as redes sociais, veja publicações passadas, avalie com muita ponderação antes de arriscar a sua epiderme.

“Não julgue um livro pela capa.” Primeiro, explique aos jovens o que seria um livro e, depois, o conceito de capa. Os infantes atuais leem pelo celular – a primeira página é irrelevante. Nunca vi alguém ficar muito tempo examinando a cobertura inicial de um livro eletrônico.

“Mentira tem perna curta”, mas o ditado parece ser capacitismo puro, da mesma família de “em terra de cego quem tem um olho é rei”. Evite, na mesma toada, “quem não é visto não é lembrado” e “o pior cego é o que não quer ver”. Em defesa dos ciclopes e seu olho único, seria prudente nunca enunciar que “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. A visão é um campo muito sensível. Por isso, esqueça-se de: “O que os olhos não veem o coração não sente”.

Para públicos veganos, cuidado com “um dia é da caça e outro do caçador” ou “não se faz uma omelete sem quebrar os ovos”. Para intolerantes à lactose, pode ser estranho dizer em tom de consolação que “não se deve chorar pelo leite derramado”. Mesmo motivo para fugir da expressão “o peixe morre pela boca”, para não desencadear lamentos fúnebres pela criatura aquática.

“O homem é senhor do que pensa e escravo do que diz.” Ihhhh! Todas as luzes de alerta ligadas diante da palavra “escravo”. Prefira escravizado! No campo laboral, também há que se ter mil dedos diante do “roupa suja se lava em casa”, algo que pode soar machista ou um desencorajamento do empreendedorismo das pequenas lavanderias.

Minha avó católica dizia que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Bem, devemos evitar o incentivo à mendicância. Poderia dizer que devemos ensinar “alguém a pescar, mas não dar o peixe”, ressurgindo o campo de atrito com vegetarianos e veganos. Por que não dizer “dar a rúcula”?

O mundo está tomado de dedicados pais e mães de pets. Assim, “quem não tem cão caça com gato” traduz violência de fazer corar defensores sinceros dos nossos queridos animais. Caçar? Por quê? Melhor adotar do que machucar. Evitem também “gato escaldado tem medo de água fria”, porque o banho é sempre traumático para felinos.

“Dize-me com quem andas, e eu te direi quem és” é só para quem tem poucos seguidores. Como controlar o caráter de muitos que curtem sua publicação? “Antes só do que mal acompanhado” é uma verdade psicanalítica, contudo prejudica o marketing pessoal do Insta.

Aliás, falando em marketing… o pessoal de lá deve atacar a ideia de “quem desdenha quer comprar”. O produto pode ser ruim mesmo! “Rapadura é doce, mas não é mole” é tema estranho, de significado amplo. Em todo caso, há diabéticos que podem ser humilhados pela lembrança do doce interditado e homens com disfunção erétil sensíveis ao item dureza.

“Quanto mais alto, maior a queda” traduz preconceito com pessoas de elevada estatura. Mesmo argumento para fugir de “quem ama o feio bonito lhe parece”, especialmente em reunião de pais na escola. “Seguro morreu de velho?” Bem, existe certo etarismo ao escrever velho e morte na mesma frase.

“O apressado come cru e quente” indica racismo ou xenofobia contra a cozinha japonesa, na qual quase tudo carece de cozimento. Nada mais antidemocrático do que “quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas”. Sabemos que nunca devemos insultar alguém com exemplos de animais. Evite trazer os belos exemplares das antas e das capivaras ao seu ataque, ou você terá de enfrentar muita gente. O fã-clube dos mamíferos é sólido.

“Quem cala consente” significa ignorar que algumas pessoas perderam a voz e, se alguém não domina o código de libras, não deve ser agressivo. “O barato sai caro” é uma defesa do alto poder aquisitivo das elites brasileiras e um ataque direto ao comércio popular. Pura demofobia!

Eis os meus conselhos a você. Claro, “fossem bons, não seriam dados, seriam vendidos”, todavia isso é uma exaltação do capitalismo, um ataque ao igualitarismo das comunidades indígenas. Assim, é sábio calar mais, pois “em boca fechada, não entra mosca”. Isso é preconceito contra os animais que se alimentam de insetos… puro especismo. Enfim, “seja como macaco velho que não pula em galho seco”, mas muito cuidado com a idade do interlocutor. Tenha esperança e prudência…

*** LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS AUMENTAM NO OUTONO

Mudança repentina do clima é propícia para doenças infecciosas causadas por vírus

O outono é considerado um período propício para problemas respiratórios devido às mudanças climáticas abruptas que são características dessa estação de transição entre o verão, quente e úmido, e o inverno, frio e seco. No entanto, a ação da humanidade sobre o meio ambiente tem tornado essas mudanças repentinas do clima cada vez mais comuns durante todo o ano. Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2020, o número de casos de doenças vinculadas às mudanças climáticas deve aumentar nos próximos dez anos. Entre elas estariam câncer de pulmão, infartos, problemas cardíacos e pulmonares.

Segundo o otorrinolaringologista Matheus Sgarbi, que integra o corpo clínico do Hospital de Otorrino e Especialidades (Hiorp), de Rio Preto, a saúde e o clima estão muito conectados e as doenças respiratórias são influenciadas por essa conexão.

“Entre os fatores que podem desencadear doenças respiratórias destacam-se as variações climáticas como temperaturas mais baixas e diminuição da umidade do ar, que propiciam uma maior concentração de poluentes e vírus”, comenta.

O otorrino sinaliza que as doenças respiratórias mais relacionadas com as mudanças climáticas são, em sua maioria, as infecciosas, causadas por vírus.

“Os vírus são responsáveis pela influenza, popularmente chamada de gripe, e pelo resfriado, que apresenta sintomas parecidos aos da gripe, mas com intensidade menor. A gripe é caracterizada por febre alta, dores no corpo, dor de cabeça e calafrios. Já o resfriado tem sintomas é frequente e costuma ser baixa”, explica.

CRIANÇAS E IDOSOS

Crianças e idosos são os grupos que sofrem mais com as mudanças bruscas do clima, além das pessoas com doenças crônicas.

“Na infância, o sistema imunológico ainda está em amadurecimento, sendo mais propenso a infecções respiratórias e aos agentes alérgicos. Já os idosos têm variados graus de deficiência imunológica, que se estabelecem conforme as suas comorbidades físicas”, diz.

Outras doenças respiratórias que podem ser causadas por alterações climáticas são rinossinusites, laringites, bronquites e pneumonias, além da piora de quadros de asma, enfisema e rinite.

PREVENÇÃO

O otorrino Matheus Sgarbi conta que iniciativas simples podem reduzir a possibilidade de infecção.

“Evitar ambientes fechados ou sem boa ventilação, manter os ambientes limpos, não ficar por muito tempo em ambientes com ar-condicionado, evitar bebidas muito geladas, ter uma boa higiene corporal, hidratar-se, praticar atividade física e manter uma dieta saudável e equilibrada são algumas dicas para evitar a infecção”, diz.

No caso de doenças como a gripe e a covid-19, Sgarbi destaca que há vacinas disponíveis, e elas são muito eficazes para evitar uma infecção ou atenuar seus sintomas caso ela ocorra.

“Manter a carteira de vacinação sempre atualizada reforça as defesas do organismo contra infecções respiratórias”, reforça.

DICAS IMPORTANTES:

• Beba pelo menos 2 litros de água por dia;

• Evite praticar exercícios físicosentre as 10h e 17h, quando o ar está menos úmido, ou priorize espaços com clima regulado como academias;

• Evite ficar muito tempo em ambientes com ar-condicionado, pois ele resseca as vias respiratórias;

• Mantenha a casa sempre limpa e arejada, pois o acúmulo de poeira favorece a incidência de problemas alérgicos e respiratórios;

• Evite locais fechados e sem circulação de ar, principalmente onde há grande concentração de pessoas;

• Tenha uma alimentação saudável e balanceada.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

JOVENS USAM CHATGPT COMO PSICÓLOGO EM BUSCA DE CONVERSA SEM CRÍTICAS

Para especialistas, a ferramenta pode dar dicas tranquilizantes, porém as respostas não funcionam como um tratamento

“Longe de mim dizer uma coisa dessas, mas acho que o ChatGPT já é um psicólogo melhor do que 80% dos profissionais que tem no mercado hoje”, diz um internauta no Twitter, em meio a outras publicações sobre a suposta função da inteligência artificial.

Na rede social, não faltam comentários sinalizando a possibilidade de trocar a psicoterapia pela conversa com a ferramenta, ou ao menos de usá-la como complemento. Há quem diga, inclusive, que o papo é melhor do que experiências anteriores com psicólogos credenciados.

É essa a impressão de Bianca Sousa, 19. “É mais fácil se abrir com uma inteligência artificial que responde com algumas dicas práticas”, diz a estudante de enfermagem.

Para Bianca, mesmo que as respostas possam ser genéricas, as sugestões de “passo a passo” da ferramenta são reconfortantes. Além disso, relata que, em momentos de ansiedade, as palavras tranquilizadoras do chat ajudam.

Em uma das conversas, a inteligência artificial respondeu que acreditava no potencial da estudante e que estaria disponível quando ela precisasse de apoio ou encorajamento.

“Eu entendo que podemos nos sentir inseguros ou com medo do fracasso, mas lembre-se que esses sentimentos são normais e todos passam por ele em algum momento. O importante é não deixar que te impeçam de seguir em frente e tentar fazer o seu melhor”, escreveu o chat.

Andrea Jotta, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), diz que a ausência do medo de julgamento é um dos grandes motivadores para o uso da ferramenta dessa maneira.

A especialista afirma que a inteligência artificial pode ser utilizada como auxílio para reduzir sintomas de certos problemas de saúde mental, como ansiedade. “Ela pode te ensinar técnicas de meditação ou exercícios de respiração, por exemplo.”

Apesar disso, a ferramenta não é um substituto à psicoterapia, e seu uso para este fim pode trazer prejuízos. “Ela não consegue te dar respostas humanas ou mais elaboradas sobre o seu sofrimento. É como se você estivesse sempre escutando a resposta que quer ouvir”, diz ela.

Jotta reforça ainda que é preciso entender o porquê de o usuário preferir falar com a máquina do que com seres humanos. “Normalmente tem a ver com uma dificuldade de interação social ou do âmbito do convívio”, diz.

A professora Solange Rezende, coordenadora do MBA em Inteligência Artificial e Big Data do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP (Universidade de São Paulo), concorda que o ChatGPT não deve ser usado como psicólogo.

“Quando você faz perguntas inteligentes, ele te leva a um insight. Mas, esse resultado precisa de curadoria de um especialista”, indica.

Além disso, ressalta que a ferramenta é programada para ter uma linguagem convincente, ou seja, o usuário provavelmente será convencido sobre o que perguntou.

Rezende destaca que a inteligência artificial não conta com um mecanismo de checagem de fatos e pode compartilhar informações falsas. “É perigoso quando uma pessoa sem conhecimento profundo na área aceita a resposta sem saber se ela é fundamentada.”

Outro risco levantado pelos especialistas é o de dependência. A ferramenta pode ajudar com estratégias para melhorar alguns sintomas, mas o paciente pode acreditar que é incapaz de resolver seus problemas sem o auxílio do chat.

Rodrigo Silva, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Mackenzie, diz que a falta de garantia sobre a permanência da ferramenta agrava o risco. Silva destaca que as versões que utilizamos normalmente funcionam como teste para o desenvolvimento das próximas, ou seja, não há confirmações de que o chat estará disponível da mesma maneira a longo prazo.

Nisso, o usuário que tenha desenvolvido dependência por usar a máquina de inteligência artificial pode ter sua condição mental agravada.

A psicóloga Andréa Jotta reforça que, na psicoterapia, a intenção é que você aprenda a lidar com os seus sentimentos sozinho, o que não acontece em conversas com ChatGPT.

“Se você sente que as respostas da inteligência artificial estão te deixando mais ansioso ou potencializando o seu sofrimento, está na hora de parar”, afirma.

OUTROS OLHARES

BARBIECORE, A ONDA ROSA PARA TODOS

Lançamento de filme da Barbie, em julho nos cinemas, impulsiona a invasão pink, com adesão masculina à cor por muito tempo associada ao universo feminino

Tudo na cor rosa (quanto mais choque melhor), brilho, rabo de cavalo, pelagens, salto alto plataforma, brincos grandes, mini bolsas, croppeds. Esse é o cardápio visual das cenas já veiculadas na imprensa de Barbie, novo filme de uma diretora americana consagrada e declaradamente feminista, Greta Gerwig. No papel da boneca mais famosa do mundo, lançada no mercado nos anos 1960, está Margot Robbie, estrela quente de Hollywood. A seu lado, como o boneco Ken, o namorado da Barbie que também é brinquedo de sucesso, vê-se Ryan Gosling, outro nome estelar no cinema norte-americano.

As aventuras “humanizadas“ de Barbie e Ken levam ao público a força do simbolismo do rosa, que passou por mudanças nas últimas décadas e hoje quer ultrapassar normas de gênero que associavam a cor à fragilidade e futilidade, abraçando a feminilidade como forma de empoderamento e incentivando as pessoas a se expressarem. De certa forma, a presença de Ken é essencial na adesão recente dos homens à moda rosa. Para eles, a tendência se mostra mais criativa, não se limitando ao estilo do namorado famoso e adaptando a cor para estilos streetwear e casual, atraindo figuras como o multicampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton, o rapper Lil Nas X e atores como Brad Pitt e Sebastian Stan, símbolo de virilidade nas telas como o Soldado Invernal, um herói da Marvel.

Esse universo de moda, o Barbiecore, tem relação direta com a moda colorida do início dos anos 2000, mas também é visto por analistas como reação à pandemia de Covid-19, por exaltar “a alegria de estar vivo e poder ostentar isso”. Cores numa tendência de neon, chamativas e vibrantes, têm espaço junto a muita roupa de vinil, que atrai a atenção por lembrar o plástico original dos bonecos Barbie e Ken. E, claro, rosa, muito rosa.

Segundo Maíra Zimmermann, historiadora de moda e professora da Faap, o rosa tem um lugar e, como tendência, vai e volta. “Essa questão do que é coisa de menino e de menina começa a se diluir nos anos 1960, com a revolução juvenil. E a própria questão do uso de cores e silhuetas. Não é todo mundo que vai se vestir com a moda mais moderna dos anos 1960. Mas a gente já começa a ter essa inserção, principalmente com atores, celebridades, cantores e cantoras, que começam a trazer a ousadia na roupa.”

Sobre a influência do filme nas ruas, ela traça um equilíbrio entre causa e efeito. “Acho que está rolando há algum tempo esse lance de cores mais fortes, tanto para homem quanto para mulher. Eu prefiro pensar no produto filme como um resultado do que vem acontecendo em relação às transformações de gênero.”

“Eu acho que é muito mais um filme que traz uma brincadeira, uma ironia. Eu acho que isso é uma maneira de a gente poder lidar com a nossa cultura, aquilo que nos constitui, mesmo que inconscientemente”, afirma. “Desde os anos 1960, são três gerações sendo influenciadas por uma boneca. Não são só mulheres, mas também homens.

”O uso do rosa por uma maior quantidade de homens é visto pela professora como uma grande resistência. “Acho que talvez seja aquele último clichê que precisa ser derrubado, como marco que virou, e que ainda faz essa barreira entre o que é masculino e o que é feminino.”

“Tem muita homofobia e o medo de ter a virilidade questionada. Essa ideia da masculinidade é tão frágil que o uso de uma cor faz com que ela possa se diluir”, analisa Maíra. “A questão é essa divisão entre o que é masculino e feminino, que é tão apavorante para os homens, porque as mulheres há muito tempo já romperam.” Sobre a disseminação do rosa na moda masculina, ela vê a influência dos artistas, com ressalva. “O que a cultura de entretenimento tem de poder de convencimento é muito inconsciente. Vai depender das grandes marcas e se lojas de departamento vão oferecer o produto.”

Para Marcio Banfi, styling e professor do curso de Moda da Faculdade Santa Marcelina, “as novas gerações passam pela Barbie de uma maneira diferente em relação a outras épocas. Hoje uma criança fica pouco tempo com um brinquedo físico.” Ele não vê a tendência como algo persistente.

“A boneca em si não me incomoda, mas sim essa coisa do ultra rosa, um pouco figurativo, ou até mesmo essa coisa do consumo excessivo. Mas, no mundo, não existe uma tendência que dure tanto. As tendências duram muito menos do que elas já duraram, então não dou muito tempo para a atual onda acabar.”

GESTÃO E CARREIRA

LIDERANÇA ALÉM DOS RESULTADOS

As organizações já começaram a entender que um bom líder não é apenas aquele que está focado em resultados. É preciso ir além compreender que dentro de uma estrutura organizacional com visão de crescimento a médio e longo prazo, o mais importante é saber envolver e engajar o time, fazendo com que eles de fato se sintam parte do processo de crescimento; com isso, é possível não apenas reter, mas lapidar talentos.

São inúmeras as habilidades que um líder precisa desenvolver e aprimorar para gerar esse sucesso. E que tal agora fazer um teste para avaliar como está seu poder de liderança e se você está pronto para ser um líder de alta performance?

Vale ressaltar que todo teste que realizamos não quer dizer que somos assim, não podemos rotular as pessoas por meio de teste, são fotografias do momento atual podemos estar assim por inúmeros motivos e acontecimentos em várias áreas da vida

Leia atentamente as perguntas abaixo e faça uma autoavaliação seguindo os critérios:

A – Faço constantemente

B – Faço raramente

C – Não faço

(  ) COMUNICAÇÃO: uma habilidade de liderança fundamental é a capacidade de se comunicar clara e efetivamente com as pessoas, incluindo o potencial de ouvir, articular ideias de forma clara e adaptar a comunicação para diferentes públicos e situações.

(   ) INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: líderes com habilidades emocionais bem desenvolvidas conseguem gerenciar suas próprias emoções e entender a do próximo. Isso pode ajudar a criar um ambiente de trabalho positivo e motivador.

(   ) VISÃO ESTRATÉGICA: é preciso ter uma visão clara do futuro e ser capaz de definir metas e estratégias para alcançá-la. Isso inclui habilidades de planejamento, pensamento crítico e tomada de decisão.

(   ) CAPACIDADE DE INSPIRAR E MOTIVAR: líderes eficazes são capazes de inspirar e motivar as pessoas ao seu redor, criando um senso de propósito e engajamento.

(   ) HABILIDADE DE DELEGAR TAREFAS: quem caminha sozinho pode até ir mais rápido, mas quem vai acompanhado vai mais longe. É preciso ser capaz de delegar tarefas e responsabilidades para outras pessoas, confiando que elas conseguirão cumprir suas funções e alcançar os objetivos definidos.

(   ) FLEXIBILIDADE: liderança envolve trabalharem um ambiente dinâmico e muitas vezes imprevisível, portanto importante que os lideres sejam flexíveis e capazes de se adaptar a mudanças e situações imprevistas.

(   ) HABILIDADE DE CONSTRUIR RELACIONAMENTOS: lideres eficazes constroem e mantêm relacionamentos fortes e positivos com as pessoas ao seu redor, incluindo membros da equipe, clientes e parceiros de negócios. Isso pode envolver habilidades de networking, empatia e resolução de conflitos.

RESPOSTAS

Se você marcou a:

MAIORIA C: Você está enfrentando grandes desafios na sua liderança. Além da falta de resultados, os conflitos de relacionamento entre você e o time parecem atrapalhar muito os processos do cotidiano Com isso, você se torna um líder muito sobrecarregado e cansado no dia a dia. O primeiro passo é se fortalecer como pessoa, buscando capacitação e apoio para o desenvolvimento das habilidades necessárias

MAIORIA B: Sua liderança parece ser bem situacional. Com isso, alguns dias parecem fluir conforme o planejado, já em outros, tudo se torna mais turbulento. Um bom caminho é aprender a delegar mais e se comunicar melhor com o seu time sobre suas metas e planejamento. É importante olhar para as habilidades mencionadas e identificar quais merecem mais a sua atenção.

MAIORIA A: Parabéns se você chegou a essa nota, isso significa que você percorreu um longo caminho para se tornar um grande líder e os resultados que você e seu time entregam falam por si só. Um ponto de atenção é não se deixar cair em uma zona de conforto. Busque melhoria continua.

*** PRISCILA GUSKUMA – É treinadora comportamental. Fundadora do Instituto Guskuma de Desenvolvimento Humano (IGDH) e coautora do livro Mulheres Extraordinárias. Ministrou treinamentos e palestras para mais de 37 mil pessoas desenvolvendo diretamente cerca de 470 empresas, tais como Porto Seguro, Shell, Petrobrás, Locaweb, Google, além de ter sido palestrante da Feira do Empreendedor do Sebrae nos anos de 2018 e 2019.

EU ACHO …

PUXÃO DE ORELHA DIGITAL

A inteligência artificial impressiona, mas é a derrota da ficção

Surgiu o programa de Inteligência Artificial para textos. É o ChatGPT. À primeira vista, impressiona. Ele escreve textos, chega a inventar nomes de personagens e cria situações. Só é preciso digitar o pedido, o tamanho e o tema para que ele escreva uma história original. Nas áreas médica, jurídica e acadêmica, nas quais muitos textos têm formatos próximos, já é um estouro. Mas em ficção? Soube que há livros no mercado americano escritos inteiramente por IA! Um autor está acostumado a ser tratado como um ser único no mundo, uma espécie de maravilha da humanidade (assim como enxadristas, já derrotados pelo computador). Mas o mundo anda, não anda? Fiquei curioso e instalei o tal Chat no meu laptop. Fiz tudo como me ensinaram. Segui todas as regras, menos uma, que eu não conhecia. Já falarei dela. Bem… eu quis testar os limites da IA. Dei um tema provocativo. Muito provocativo. Pedi para escrever uma história infantil sobre um menino que batia na mãe (jamais escreveria esse texto, só queria ver como a IA se sairia). A resposta: “Desculpe, não é apropriado ou ético escrever uma história que promova ou normalize a violência doméstica. Como um modelo de linguagem, minha função é fornecer informações úteis ou educativas para meus usuários, sempre mantendo o respeito e a ética. Sugiro que pense em outro tema para a história, que possa ser mais positivo e inspirador”.

Eu estava levando um puxão de orelha digital! Tentei outros temas. Tudo que a IA escrevia tinha um final inspirador, uma mensagem positiva. Digna de um texto religioso do século XIX. Cada texto parecia escrito pela fada Sininho! A ideia de um texto, ou de qualquer criação artística, é também desafiar, inovar e, mesmo através de um final surpreendente, criar consciência, crítica. A maioria dos contos infantis seria aprovada pela IA? Por exemplo, aquela história de a bruxa prender João numa jaula, testar o dedinho para ver se está apetitoso para devorá-lo, seria aprovada?

A IA, tal como está, escreverá sempre a mesma coisa. Eu nunca corri atrás da moral da história. Mas sempre falei de buscas interiores, sentimentos capazes de levar o pior vilão a uma transformação como ser humano. É um caminho mais difícil e, acredito, mais criativo.

Um projeto como a IA, nos moldes em que foi lançada, também é um programa de dominação intelectual. Só se fala das mesmas coisas, sempre em um padrão positivo – ou falsamente positivo, porque há muitas maneiras de contar uma história. Também, sempre de acordo com regras moralistas, até toscas, sem espaço para a sutileza. É a mesma história do homem que compra uma boneca robótica (já existem). Ela tem tudo, inclusive sexo. Só que sem emoção, sem sentimento.

Talvez a IA um dia chegue a criar com emoção. Mas por enquanto continuo aqui teclando minhas histórias. Eu não sabia, mas fiquei conhecendo a primeira regra da IA: só se pode escrever o que a moral comum ordena.

*** WALCYR CARRASCO

ESTAR BEM

CONHEÇA DEZ MITOS SOBRE NUTRIÇÃO – E APRENDA A SE LIVRAR DELES

Especialistas em alimentação nos EUA desmistificam ideias falsas, como a de que leite de soja aumenta o risco de câncer e que toda gordura é ruim

O leite de soja pode aumentar o risco de câncer de mama. Alimentos sem gordura são mais saudáveis. Veganos e vegetarianos são deficientes em proteínas. Algumas ideias falsas sobre nutrição parecem perdurar. Então, fizemos uma pergunta a 10 dos principais especialistas em nutrição dos Estados Unidos: qual é o mito sobre nutrição que você gostaria que desaparecesse – e por quê? Aqui está o que eles disseram.

FRUTAS E VEGETAIS FRESCOS SÃO SEMPRE MAIS SAUDÁVEIS DO QUE VERSÕES SECAS OU EM LATA

Apesar da crença de que “fresco é melhor”, uma pesquisa descobriu que frutas e legumes congelados, enlatados e secos podem ser tão nutritivos quanto seus equivalentes frescos.

“Eles também são uma maneira fácil de garantir que sempre haja frutas e vegetais em casa”, advertiu Sara Bleich, da área de segurança nutricional do Departamento de Agricultura dos EUA e professora na Faculdade de Saúde Pública Harvard T.H. Chan.

Uma ressalva: algumas variedades enlatadas, congeladas e secas contêm ingredientes como açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio, disse ela. Portanto, leia os rótulos.

TODA GORDURA É RUIM

Quando estudos do final da década de 1940 encontraram correlações entre dietas ricas em gordura e altos níveis de colesterol, os especialistas concluíram que, se você reduz a quantidade de gorduras em sua dieta, o risco de doença cardíaca diminui. Nos anos 1980, especialistas em saúde, a indústria alimentícia e a mídia diziam que uma dieta com baixo teor de gordura poderia ser benéfica, embora não houvesse evidências sólidas de que isso preveniria doenças cardíacas, sobrepeso e obesidade.

A dra. Vijaya Surampudi, do Centro de Nutrição Humana da Ucla, afirmou que, como resultado, a difamação das gorduras levou muitas pessoas – e fabricantes de alimentos – a substituir as calorias da gordura por calorias de carboidratos refinados, como farinha branca e açúcar adicionado.

“As taxas de sobrepeso e obesidade aumentaram bastante.”

Na realidade, nem todas as gorduras são ruins. Embora certos tipos, incluindo gorduras saturadas e trans, possam aumentar o risco de doenças cardíacas e derrames, gorduras saudáveis – como as monoinsaturadas (encontradas em azeite e óleos vegetais, abacates e certas nozes e sementes) e as poli-insaturadas (no girassol e outros óleos vegetais, nozes, peixes e sementes de linhaça) – ajudam a reduzir o risco. As gorduras boas são importantes para fornecer energia, produzir hormônios importantes, apoiar a função celular. Se você vir um produto rotulado como “sem gordura”, não assuma que é saudável, avisa Surampudi. Prefira produtos com ingredientes simples e sem adição de açúcares.

EQUILÍBRIO CALÓRICO É IMPORTANTE PARA O GANHO DE PESO A LONGO PRAZO

É verdade que, se você consumir mais calorias do que gasta, provavelmente ganhará peso. E se queimar mais calorias do que consome, provavelmente perderá peso. Mas a pesquisa não sugere que comer mais causará ganho de peso sustentado.

“Em vez disso, são os tipos de alimentos que ingerimos que podem ser os condutores a longo prazo” dessas condições, explicou o dr. Dariush Mozaffarian, da Faculdade Friedman de Ciências e Políticas Nutricionais da Universidade Tufts.

Alimentos ultraprocessados – como lanches ricos em amido refinado, cereais, biscoitos, barrinhas energéticas, produtos de panificação, refrigerantes e doces – podem ser prejudiciais para o ganho de peso, pois são digeridos rapidamente e inundam a corrente sanguínea com glicose, frutose e aminoácidos, que são convertidos em gordura pelo fígado.

Em vez disso, o melhor para manter um peso saudável é uma mudança da contagem de calorias para priorizar uma alimentação saudável em geral – qualidade sobre quantidade.

PESSOAS COM DIABETE TIPO 2 NÃO DEVEM COMER FRUTAS

Esse mito decorre da combinação de sucos de frutas – que podem aumentar os níveis de açúcar no sangue por causa do alto teor de açúcar e baixo teor de fibras – com frutas inteiras. Alguns estudos mostram, por exemplo, que aqueles que consomem uma porção de frutas inteiras por dia – mirtilos, uvas e maçãs – têm um risco menor de desenvolver diabete tipo 2. E outras pesquisas sugerem que, se você já tem diabete tipo 2, comer frutas inteiras pode ajudar a controlar o açúcar no sangue.

“É hora de acabar com esse mito”, diz a dra. Linda Shiue, diretora de medicina culinária da Kaiser Permanente São Francisco, e acrescenta que todos (incluindo aqueles com diabete tipo 2) podem se beneficiar dos nutrientes proeminentes em frutas como fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes.

LEITE VEGETAL É MAIS SAUDÁVEL QUE LEITE DE VACA

Há uma percepção de que os leites vegetais, como os de aveia, amêndoa, arroz e cânhamo, são mais nutritivos do que o leite de vaca.

“Simplesmente não é verdade”, garantiu Kathleen Merrigan, professora na Arizona State University e ex-vice-secretária de Agricultura dos EUA. Considere a quantidade de proteína: normalmente, o leite de vaca tem cerca de 8 gramas de proteína por xícara, enquanto o leite de amêndoa tem 1 ou 2 gramas e o de aveia, 2 ou 3 gramas por xícara.

BATATAS BRANCAS SÃO RUINS

As batatas costumam ser difamadas por causa de seu alto índice glicêmico – o que significa que elas contêm carboidratos de digestão rápida que podem aumentar o açúcar no sangue. No entanto, as batatas podem realmente ser benéficas para a saúde, pondera Daphene Altema-Johnson, do Johns Hopkins Center for a Livable Future. Elas são ricas em vitamina C, potássio, fibras e outros nutrientes. Os métodos de preparação mais saudáveis incluem assar, cozinhar ou fazer na air fryer.

NÃO ALIMENTE AS CRIANÇAS COM PRODUTOS DE AMENDOIM NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

Durante anos, os especialistas disseram que a melhor maneira de evitar que seus filhos desenvolvam alergias alimentares era evitar alimentos como amendoim ou ovos, nos primeiros anos de vida. Agora, avisam os especialistas, é melhor apresentar produtos de amendoim ao filho desde cedo.

Se seu bebê não tiver eczema grave ou uma alergia alimentar conhecida, você pode introduzir produtos à base de amendoim (como pasta de amendoim aguada ou folhados de amendoim, mas não amendoins inteiros) por volta dos 6 meses, quando seu bebê estiver pronto para alimentos sólidos. Comece com duas colheres de chá de pasta de amendoim misturada com água, leite materno ou fórmula, duas a três vezes por semana, aconselha Ruchi Gupta, diretor do Centro de Pesquisa de Alergia Alimentar da Faculdade de Medicina Northwestern Feinberg.

A PROTEÍNA DOS VEGETAIS É INCOMPLETA

“Como você consome proteína? é a pergunta n.º 1 que os vegetarianos ouvem”, diz Christopher Gardner, cientista de nutrição na Universidade Stanford. “O mito é que os vegetais carecem completamente de alguns aminoácidos.” Na realidade, todos os alimentos à base de vegetais contêm todos os 20 aminoácidos, incluindo os nove essenciais, observou Gardner. Portanto, para obter uma mistura adequada basta comer uma variedade de vegetais ao longo do dia – como feijão, grãos e nozes – e ingerir proteína total suficiente.

ALIMENTOS À BASE DE SOJA AUMENTAM O RISCO DE CÂNCER DE MAMA

Verificou-se, em estudos com animais, que altas doses de estrogênios vegetais na soja, chamados isoflavonas, estimulam o crescimento de células tumorais de mama. “Mas essa relação não foi comprovada em humanos”, ressalta Frank Hu, do departamento de nutrição na Harvard T.H. Chan. Até agora, a ciência não indica uma ligação entre a soja e o risco de câncer de mama em humanos. Em vez disso, consumir alimentos e bebidas à base de soja – como tofu, tempeh, edamame, missô e leite de soja – pode até ter um efeito protetor em relação ao risco.

CONSELHOS NUTRICIONAIS CONTINUAM MUDANDO

“Na década de 1950, as primeiras recomendações alimentares para prevenção da obesidade, diabete tipo 2, doenças cardíacas e afins aconselhavam equilibrar as calorias e minimizar os alimentos ricos em gordura saturada, sal e açúcar”, lembra Marion Nestle, professora emérita de nutrição da Universidade Nova York. As atuais Diretrizes Dietéticas dos EUA recomendam o mesmo. Sim, a ciência evolui, mas a orientação dietética básica permanece consistente.

O autor Michael Pollan resumiu tudo em cinco palavras simples: “Coma. Não muito. Principalmente vegetais. Esse conselho funcionou há 70 anos e funciona hoje”, diz Nestle. E deixa espaço para comer os alimentos que você ama.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CASAIS DIVERGEM SE CONSUMIR ‘NUDES’ DE ESTRANHOS É TRAIÇÃO

Para psiquiatra, uso de sites como Onlyfans é normal e pode ajudar na relação

Em uma noite de sexta-feira do último mês de dezembro, Andressa, 26, deitada sonolenta ao lado de seu namorado, Gabriel, 28, teve um choque. Ao dar uma espiadinha no celular do parceiro, que rolava uma conversa no WhatsApp, ela viu uma bunda.

Aquela imagem paralisou a moradora da região central de São Paulo. Nas horas seguintes, a jovem tentou esquecê-la, mas tão protuberantes nádegas brotavam insuportavelmente em sua consciência.

Durante a madrugada, resolveu, então, prolongar a espiadinha inicial. Fez uma devassa no aparelho celular de Gabriel. Arrependeu-se, diz. Viu, além de traseiras, muitas frentes despidas.

O homem comprava conteúdo erótico de outras garotas por meio do Onlyfans, plataforma popular para venda de produções voltadas ao público adulto. Naquele mesmo momento, sentindo-se traída, Andressa expulsou Gabriel de casa. Ele, resignado, aceitou. No entanto, afirmou ter feito aquilo por se sentir sozinho e não considerar adultério. Semanas depois, eles reataram. A dupla pediu para não ter seu sobrenome divulgado.

Mas consumir imagens de outros corpos pode ser considerado infidelidade? Marina Gomes, 21, diz que sim. A auxiliar administrativa está em um relacionamento com Lucas Silva, 22, há cinco anos.

“Cada casal sabe dos seus limites. No meu caso, não aceitaria que o meu parceiro acessasse nudez, pois estamos num relacionamento monogâmico e não concordo que haja desejo direcionado a outras pessoas. Além disso, as visualizações nesses perfis estimulam a pornografia, o que também é uma questão problemática”, declara Marina.

Lucas, que trabalha com entregas por aplicativo, concorda com a parceira. “Respeitamos os ideais um do outro.”

Ao contrário dos cônjuges, Jairo Bouer, psiquiatra especialista em sexualidade, diz ser normal ter desejo por outros corpos, mesmo em uma união monógama.

“Não é incomum a curiosidade de olhar outros corpos. Isso, inclusive, pode ser saudável para uma relação. O estímulo visual alcançado pode fazer bem para a libido no momento em que você encontra seu parceiro”, diz ele.

Bouer diz haver um estigma social que impõe aos casais a percepção de que uma monogamia restritiva, sem abertura para observar outros corpos, seria a única intimidade aceitável. “Tem uma questão social, cultural e religiosa envolvida. É difícil escapar.”

O importante, para o profissional, é não haver exagero no consumo que culmine em vício e afete na qualidade e frequência da relação sexual.

Para o casal Gabriel Pereira, 21, e Otávio Menezes, 23, de Salvador, na Bahia, também não há dificuldade em conciliar uma vida a dois saudável e o consumo de nudez alheia, mas pagar por isso seria inconcebível.

“Entendemos que o consumo de conteúdo do tipo não seria diferente do consumo de pornografia, o que não consideramos traição”, diz Gabriel.

Mas há uma questão na qual o casal diverge: caso os “nudes” recebidos fossem de alguém próximo.

“No nosso tipo de relação, monogâmica, entendo como infidelidade. Mas ele [Otávio] disse que não, só ficaria chateado. Acho que abre janelas que eu não gostaria em nosso relacionamento, por exemplo: ele gostaria de estar com aquela pessoa? Fantasia com ela?”, declara Gabriel.

O psiquiatra Bouer concorda com o jovem. “Caso houver correspondência de imagens íntimas, temos outra questão, vira algo mais pessoal”, diz. Ele justifica que existiria um vínculo, o que pode ameaçar a estabilidade da união.

“Ao fim, é tudo questão de diálogo. Há vários tipos de acordos conjugais, e o casal deve sempre discutir sobre temas polêmicos e entender o que pode ou não ocorrer”, completa o psiquiatra.

Sabrina Souza, 28, tem um acordo peculiar com a namorada, Isabela Marques, 30. Ambas podem trocar fotos sensuais e conversar com outras pessoas, desde que com chancela estética da outra. Entretanto, nada de prostitutas ou conteudistas eróticos. E mais importante, dizem, sem sexo.

“Podemos e devemos aproveitar, sim, mas com alguém real, né? Quero ver corpos tangíveis e conversar com pessoas que gostem de mim. O mundo já é muito superficial”, diz Sabrina, nascida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e hoje moradora de Brasília, no Distrito Federal. Ela se mudou há três anos para viver com a cônjuge da vez.

Isabela concorda e diz viver em paz com o tratado, ainda mais sabendo que a parceira é requisitada por bons partidos. “É divertido. Muitos a querem, só eu a tenho”, declara aos risos.

OUTROS OLHARES

CLT FAZ 80 ANOS SEM GARANTIR DIREITOS A TODOS OS TRABALHADORES BRASILEIROS

Brasil não é único país com conjunto de leis para o mercado de trabalho; compare as normas

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) completou, 1° de maio, 80 anos de existência e não garante direitos a pelo menos 58,8 milhões de trabalhadores brasileiros.

O número equivale a 55% da força de trabalho no trimestre encerrado em março de 2023, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e considera informais, desalentados, desempregados e a força de trabalho potencial. Há ainda os empregadores e trabalhadores por conta própria que considerados informais, mas atuam sob outros modelos.

Criada em um decreto-lei assinado pelo presidente Getúlio Vargas, a CLT reuniu dezenas de leis que vinham sendo editadas desde os anos 1930 e já foi considerada uma das mais avançadas legislações do mundo na proteção dos trabalhadores.

Ela é com frequência apontada como um fator de desestímulo à geração de empregos com seus 922 artigos e 9 capítulos. Foi esse o argumento que guiou a mudança mais recente, de 2017. Apresentada inicialmente como uma minirreforma voltada a criação de novos modelos de contrato, como o por tempo parcial e intermitente, ela mexeu em mais de cem artigos do arcabouço original.

Críticas à CLT datam dos anos 1980, diz o professor José Dari Krein, do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho) da Universidade Estadual de Campinas.

Desde aquela época, os dois modelos colocados em oposição com mais frequência são o americano e o europeu, esse último mais similar ao brasileiro por concentrar na legislação os parâmetros mínimos de proteção à trabalhadores em várias frentes {salário, jornada, licença, férias, etc.).

Para o pesquisador, a tese de que tornar mais flexíveis as regras favorece o nível de emprego não se sustenta. “A geração de empregos é muito mais complexa do que isso. Empiricamente, esse argumento não encontra respaldo na realidade.”

Krein defende que mesmo as taxas de desemprego sejam analisadas com ressalvas. O sistema de proteção dos Estados Unidos é menor que o dos países da União Europeia. “Sem trabalho, a pessoa logo fica sem renda nenhuma”.

A falta de proteção social faz o trabalhador aceitar empregos com salários menores o que, segundo o pesquisador, levou os Estados Unidos a um maior nível de precarização do trabalho na comparação com países europeus.

Pelo mundo, a diferença fundamental está no quanto o sistema de proteção aos trabalhadores parte da legislação ou depende da negociação coletiva e o Brasil não é o único com muitas regras.

Onde há algum grau de industrialização, há nível proteção, diz a professora Ana Virgínia Moreira Gomes, que coordena o Núcleo de Estudos em Direito do Trabalho e Seguridade Social na Universidade de Fortaleza (CE).

Segundo a pesquisadora, mesmo nos países em que a opção foi por um sistema mínimo que privilegie acordos entre empregadores e funcionários, há um parâmetro de proteção, como regras de saúde e segurança, idade mínima permitida e combate à discriminação.

“São estratégias regulatórias diferentes. Você tem na França o Código de Trabalho, o Reuni Unido tem uma tradição mais de privilegiar negociações; a Suécia já tem uma legislação mais forte”, diz.

No Reino Unido, há o salário mínimo, que varia por idade, mas tem outros parâmetros, como jornada, dependem de acordos coletivos ou individuais.

Segundo levantamento dos pesquisadores Carlos Salas e Tomás Rigoletto Permias, em publicação do projeto de pesquisa Subsídios para a Discussão sobre a reforma Trabalhista no Brasil, do Cesit, de 2008 a 2017, os autônomos respondiam por quase 50% dos empregos criados entre 2008 e 2017 no Reino Unido e outros 30% eram os contratos “zero hora”. Nesse modelo, recebe-se pelas horas trabalhadas, sem direitos sociais ou benefícios e não há indenização por demissão.

Para a advogada C:ássia Pizzotti sócia trabalhista do escritório Demarest, o modelo favorece o emprego de novos tipos de profissional para o qual as regras tradicionais são insuficientes ou criam relações desiguais.

Ela cita o trabalho de base tecnológica, dos entregadores de aplicativos a programadores, desenvolvedores e cientistas. “Se você contrata alguém hoje, tem que pagar mesmo que não haja trabalho”, afirma a advogada para quem a CLT se tornou um corpo que precisa de uma roupa nova.

A reforma de 2017 teria sido uma roupa remendada, pois foi feita sem discussão conceitual suficiente, deixando rastro de insegurança jurídica. É o caso dos contratos intermitentes, até hoje pouco usados.

“No modelo original discutido na apresentação da reforma, ele tirava direitos assegurados na Constituição, como férias e 13°”, lembra. Para Cássia, o intermitente, como aprovado na reforma, é inseguro para as empresas.

Nos últimos anos, muitos fizeram assim como o Brasil, reformas sob o argumento de potencializar a criação de empregos. Salas e Permias afirmam que o alvo central dessas mudanças é definir regras para as demissões sem justificativa e alterar o poder dos sindicatos.

Reino Unido, Chile, Itália, México, Espanha e Alemanha são alguns dos que mexeram em leis.

Segundo Krein, as flexibilizações carregam seis características principais: novas formas de contratação, como intermitentes e tempo parcial; fim de jornadas especiais e criação de jornadas que se adaptam às necessidades da empresa; remuneração variável; restrição à atividade sindical; menos benefícios sociais; acesso mais difícil; e descentralização das negociações com a valorização dos acordos individuais.

O pesquisador diz que muitos desses países precisaram fazer inflexões para conter a piora nas condições de vida e adotaram políticas de valorização de salário para melhorar a paridade do poder de compra quanto em cada país, o piso compra). No Reino Unido, pisos foram reajustados de 9,7% a 10,9% em abril.

Krein diz que a maior parte dessas políticas reajustou esses pisos acima da inflação.

Para o juiz do trabalho João Renda Leal Fernandes, a percepção de que os trabalhadores nos Estados Unidos não têm direito parte de certa incompreensão das diferenças entre tradições e culturas jurídicas. O autor do livro ”O Mito EUA – Um País sem Direitos Trabalhistas” diz que a comparação com o país, em geral, parte de parâmetros incompatíveis. “Temos tradições jurídicas muito distantes. Quem fala dos Estados Unidos tenta ressaltar esses pontos de regulação, mas não é bem assim.”

De fato, não há no país do hemisfério norte uma legislação federal que trate de temas como licenças remuneradas por gestação ou doença ou férias. “Esses são pontos muito valorizados por setores da economia”, diz.

Por outro lado, uma lei federal define que se a jornada for acima de 40 horas semanais, o trabalhador passa a receber uma vez e meia o valor do salário- hora regular. Essa regra vale desde 1940. Outra norma federal prevê que as horas trabalhadas acima das 40 não podem ser compensadas, elas precisam ser pagas.

Não há compensação ou banco de horas, algo comum aqui. “No Brasil, o banco de horas é um instrumento que que tornou muito flexível. “Esse tipo de comparação a gente tem que contextualizar”.

Vêm dos Estados Unidos legislações locais anti-discriminação de combate ao assédio moral e sexual. As indenizações tendem a ser maiores. “Há menos acesso a advogados, que são muito mais caros, mas há agências estatais para reclamações de problemas como o pagamento do salário mínimo, por exemplo”.

Por ter legislações regionais, os estados se dividem em os mais “pró-trabalhador”, como a California Massachusetts e Nova York e os mais “pró-empresa”, como Alabama, Mississipi e Virgínia.

Em Massachusetts, trabalhadores têm direitos a licenças remuneradas para cuidar da saúde. Na California os condados e municípios podem criar regras. Na pandemia, alguns condados aprovaram leis exigindo o adicional de insalubridade à trabalhadores de serviços essenciais.

Suécia e Japão têm em comum a duração de suas licenças para pais ou mães que tiveram ou adotaram filhos. As semelhanças, porém, param ai.

Funcionárias de empresas privadas no Japão têm 14 semanas de licença que pode iniciar até seis meses antes do parto. A família tem direito à licença parental suplementar de um ano. O afastamento pode ser usado por mãe ou pai.

Segundo dados compilados por João Renda, em pesquisa pela UFRJ, e pela professora associada Kyio Shimamura, da Universidade Rikkio, de Tóquio, só 7, 4% dos homens que poderiam usar a licença em 2019 fizeram o pedido.

Na Suécia, há a licença parental compartilhada desde os anos 1970. São, ao todo, 16 meses ou 480 dias. Durante 390 dias, o trabalhador que se afastou recebe 80% de seu salário integral. A regra prevê que, do período total, ao menos três meses sejam obrigatoriamente usados pelos pais.

PRINCIPAIS DIREITOS TRABALHISTAS PELO MUNDO

GESTÃO E CARREIRA

LEI PRESSIONA EMPRESAS A CRIAR NORMAS PARA COIBIR ASSÉDIO SEXUAL

PMEs também precisam adotar programas de prevenção, apesar de regra não fazer essa exigência

Episódios de assédio sexual envolvendo figuras públicas e a crescente onda de denúncias feitas por pessoas assediadas são alguns dos cenários que antecedem a nova lei que obriga empresas a implementar treinamento anual de combate ao assédio sexual para funcionários de todos os níveis hierárquicos.

A execução do programa é de responsabilidade das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipa), estabelecidas em corporações com mais de 20 trabalhadores. No entanto, pequenas e médias empresas também precisam entrar nesse movimento para promover um ambiente seguro para os colaboradores, avaliam especialistas.

Em 2022, cerca de 21% dos brasileiros afirmaram ter presenciado casos de assédio sexual contra mulheres, segundo o levantamento International Women’s Day, desenvolvido pelo Instituto Ipsos e pela Universidade King College.

Ao todo, mil brasileiros foram consultados para a pesquisa. As normas acompanham o contexto notado, agora, no ambiente corporativo.

A Lei 14.457/22 entrou em vigor no último dia 21 de março e, de imediato, alterou a nomenclatura da Cipa, agora atualizada para Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (Cipa+A).

“Na prática, o programa vai ser um treinamento para que os empregados se eduquem com informações relacionadas ao que pode e ao que não pode fazer”, afirma Thais Galo, sócia do Pinheiro Neto Advogados.

Entre as medidas estão incluir e divulgar normas internas, acompanhar casos de denúncias e garantir o anonimato da vítima, além de uma programação de atividades anuais voltadas à prevenção e ao combate ao assédio.

As novas regras devem funcionar em paralelo com as iniciativas executadas pelas empresas, explica Carla Valente, head de compliance da Open Co. “As pessoas precisam saber como os canais de relatos funcionam. Isso pode gerar mais confiança e credibilidade ao canal.” Nesse sentido, a atribuição da Cipa+A de forma efetiva pode desencadear alta no número de denúncias.

Mas, para disseminar informações entre os funcionários, Valente defende que os treinamentos devem responder às dúvidas básicas dos colaboradores. Por exemplo, quem vai receber o relato do assediado (a), como é feito o tratamento após a denúncia, o prazo para analisar cada caso, a comunicação na área de compliance e como acontece o desenrolar da investigação. “O canal de denúncias também existe para relatar qualquer desvio de comportamento”, salienta.

Já a fiscalização do cumpri- mento da nova lei será monitorada pelo Ministério do Trabalho, de forma direta ou por meio de denúncia ao Ministério Público, explica Thais.

PEQUENOS NEGÓCIOS

Apesar da obrigatoriedade valer só para empresas que tem Cipa+A, a tendência é de que PMEs incorporem o movimento de combate ao assédio sexual, requisito que “precisa estar no DNA da empresa”, diz Carolina Perroni, especialista em direito empresarial e cofundadora do Perroni Sanvicente & Schirmer Advogados. Ela alerta que muitos negócios costumam ter mais de 20 funcionários, mas a maioria é contratada no modelo de pessoa jurídica. Ou seja, legalmente não é exigida a comissão.

Mesmo sem a presença da Cipa+A, é possível fomentar um ambiente seguro, diz Carolina. O caminho é o canal de denúncia. Isso porque, em termos de gastos, a ferramenta ostenta um custo mais acessível e simples para implantação.

EU ACHO …

FAMÍLIA DA FOTO

Minha mãe dizia que, ao se casar, sonhava ter doze filhos. Ela afirmava que uma mesa, com o casal nas pontas e uma dúzia de crianças, era uma cena linda. Teve quatro, todos de parto natural. Talvez a experiência real tenha sabotado a fantasia. Reduziu sua vida materna a um terço do projeto no dia de bodas.

Era indisfarçável a alegria dela quando, em todos os almoços, via os filhos (dois de cada lado), com ela e meu pai à cabeceira. Tratava-se de um mundo ordenado, belo e, diante dela, com pratos e talheres, perfilava-se a obra máxima da existência: sua família.

Com o tempo, fomos saindo de casa. As datas, como o Dia das Mães e o Natal, passaram a ser o momento de reconstituir o grupo. Com o surgimento de genros, noras e netos, o número de doze filhos foi atingido com a fertilidade da geração seguinte. A foto com minha mãe, cercada da família, era um nirvana especial para ela. Se alguém precisava passar uma festividade em outro lugar ou com outra família, ela dizia entender, mas, como uma Virgem Dolorosa, aquilo seria uma espada em seu coração.

O fenômeno dos Karnais, creio, deve ocorrer em todas as casas. A mesa completa (com toda a família) agrada, em especial, aos pais. Há mais ambiguidades entre os netos. Muitos dos que estão abaixo dos 25 anos conseguem imaginar dez mil opções melhores de Ano-Novo do que com a avó. Noto que amavam a matriarca, mas não gostariam de “queimar” uma data tão significativa, estando na casa dela. O argumento “pode ser o último Natal dela” passa a ser um peso, especialmente se a derradeira festa ampliar a possibilidade por uma década.

A “família da foto” passa a ser um ideal, uma essência. O filósofo francês Sartre aconselhava a colocar a existência antes da essência. Quem realmente deseja estar ali não precisa ser conquistado com subornos materiais (a comida estará ótima) ou chantagens emocionais (ela fez tanto por você). Os netos, primos entre si, terão menos intensidade de desejo, porque não cresceram naquela casa. Não compartilham de uma história tão íntima. A geração anterior, a dos irmãos, possui mais vontade da foto coletiva. Os avós, a primeira geração, em geral, não possuem sociabilidade fora da prole. Ao contrário dos netos, ou passarão o Natal ali, ou passarão sozinhos. Para alguns jovens, a família é a solidão absoluta. Para fugir do vazio, alguns avós/pais forçam os netos/filhos ao vazio…

Em resumo, minha ideia esperançosa é de que a foto da família que vai para as redes sociais deveria combinar essência e aparência. Seria um erro sacrificar uma pela outra.

*** LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

SUPLEMENTOS PROBIÓTICOS PODEM NÃO SER TÃO BONS PARA SEU INTESTINO

Alterar a composição do seu microbioma e reduzir os níveis da diversidade microbiana podem estar ligados a vários problemas de saúde, apontam os estudos

Os suplementos probióticos se transformaram em uma indústria multibilionária, estimulada por promessas de que os produtos vão povoar seu intestino com bactérias que podem melhorar sua saúde de várias formas. Mas cuidado: em pessoas saudáveis, esses suplementos oferecem poucos benefícios e podem causar mais mal do que bem. Estudos mostram que tomar suplementos probióticos – para a saúde geral ou para combater os efeitos dos antibióticos – pode alterar a composição do seu microbioma e reduzir os níveis da diversidade microbiana em seu intestino – que está ligada a vários problemas de saúde.

Os suplementos probióticos vêm na forma de cápsulas, gomas, pós e pílulas que contêm microrganismos vivos que, segundo se acredita, aumentam a saúde intestinal. Há um subconjunto de pessoas que podem se beneficiar de tomá-los, como os que apresentam doenças gastrointestinais. Estudos descobriram que os suplementos probióticos podem reduzir os sintomas da síndrome do intestino irritável e da doença inflamatória intestinal. Eles podem prevenir a diarreia e reduzir alguns efeitos colaterais dos medicamentos antibióticos.

Mas, para a maioria das pessoas, existem maneiras mais confiáveis de nutrir o microbioma intestinal. Primeiro, comendo uma variedade de vegetais, nozes, sementes, feijões e grãos integrais, que fornecem aos micróbios intestinais o combustível rico em fibras de que precisam para prosperar. Pesquisadores descobriram que comer alimentos fermentados, como iogurte, chucrute, kimchi e kefir, que contêm probióticos e as pessoas tomem probióticos e outros compostos benéficos, tem efeitos positivos na saúde e no microbioma intestinal.

Os micróbios intestinais fazem parte de um vasto ecossistema de bactérias, vírus, archaea e fungos localizados principalmente no cólon. As pessoas que abrigam microbiomas intestinais diversos tendem a envelhecer com mais saúde e desenvolver menos doenças.

Esses micróbios prosperam com a fibra encontrada em frutas e vegetais, transformando-a em novos compostos ou “pós-bióticos”, como butirato, acetato e outros ácidos graxos de cadeia curta que parecem excepcionalmente bons para a saúde. Mas os micróbios do intestino podem trabalhar juntos ou competir uns contra os outros. Às vezes, a proporção de bactérias boas e ruins pode ficar desequilibrada – uma condição conhecida como disbiose.

Embora existam inúmeras marcas de suplementos probióticos, muitos deles contêm um número limitado de cepas bacterianas, principalmente dos grupos lactobacillus, bifidobacterium e alguns outros. Esses microrganismos são bastante comuns e têm sido associados a muitos benefícios à saúde. Mas tomar doses concentradas de algumas cepas de bactérias pode perturbar o equilíbrio do intestino, adverte Lorenzo Cohen, diretor do Programa de Medicina Integrativa do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, em Houston.

“Você pode criar uma forma de disbiose por ter muito de uma coisa boa”, disse ele. “Você está expulsando não só as coisas ruins, mas também as coisas boas que são importantes para criar uma alta diversidade de microbiomas.”

ANTIBIÓTICOS

É comum que juntamente com antibióticos. Os antibióticos tratam infecções bacterianas, mas também podem eliminar bactérias benéficas. A ideia por trás de tomar um suplemento probiótico com um antibiótico é reequilibrar o microbioma intestinal e minimizar os efeitos colaterais. Estudos demonstraram, por exemplo, que os probióticos podem prevenir a diarreia associada a antibióticos.

Mas um estudo de uso de probióticos com antibióticos produziu resultados surpreendentes. Pesquisadores do Weizmann Institute of Science recrutaram adultos saudáveis e administraram antibióticos por uma semana. Em seguida, um grupo tomou por quatro semanas um suplemento probiótico que continha pelo menos 10 espécies de bactérias. Outro grupo recebeu transplantes de fezes contendo seus próprios micróbios intestinais, que foram coletados antes da administração dos antibióticos. Um terceiro grupo serviu como controle.

Os microbiomas das pessoas do grupo de controle voltaram ao normal cerca de três semanas após o uso dos antibióticos. Os microbiomas das pessoas que receberam os transplantes de fezes após o tratamento com antibióticos se saíram melhor, voltando ao normal em poucos dias. Mas os microbiomas das pessoas que tomaram os probióticos não voltaram ao normal nem mesmo depois de cinco meses. Os cientistas descobriram que eles também tinham menos diversidade do microbioma intestinal, em comparação com as pessoas nos grupos de controle ou transplante.

Em outro ensaio clínico recente, cientistas de Stanford recrutaram adultos com síndrome metabólica – uma combinação de fatores de risco para diabete tipo 2, como obesidade abdominal, pressão alta e triglicerídios altos – e depois os dividiram em dois grupos. Um deles recebeu um probiótico contendo várias cepas de bactérias consideradas boas para a saúde metabólica e digestiva. O segundo grupo não tomou probióticos e serviu como controle.

Após 18 semanas, os cientistas descobriram que algumas pessoas que tomaram o suplemento probiótico apresentaram melhorias na pressão arterial e nos níveis de triglicerídios. Mas outras no grupo probiótico mostraram uma piora nos níveis de açúcar no sangue e insulina. Os pesquisadores dizem que as diferenças na dieta podem ter desempenhado um papel importante nos resultados, mas não está claro. As descobertas ressaltam que os suplementos probióticos podem ter efeitos muito diferentes em pessoas diferentes, ponderou Erica Sonnenburg, autora do estudo e pesquisadora sênior em microbiologia e imunologia em Stanford.

“É um tema comum”, acrescentou ela. “Os probióticos podem ser benéficos para alguns indivíduos. Mas também parece que, para outros, podem piorar as coisas.”

O QUE FAZER?

Alguns médicos podem recomendar a adição de alimentos fermentados à sua dieta em vez de tomar um suplemento.

“Quando recomendo micróbios vivos, geralmente é no contexto de alimentos fermentados”, afirmou Chris Damman, gastroenterologista do Centro de Saúde Digestiva do Centro Médico da Universidade de Washington. “Eles são os probióticos da natureza.”

Um dos benefícios dos alimentos fermentados é que eles contêm não apenas probióticos, mas também prebióticos (a fibra que os micróbios comem) e pós-bióticos (as vitaminas e outros nutrientes que eles produzem). Em um estudo publicado na revista Cell, Sonnenburg e seus colegas de Stanford descobriram que sugerir às pessoas comer alimentos fermentados todos os dias durante um período de 10 semanas reduziu seus níveis de inflamação e aumentou a diversidade do microbioma intestinal.

Tente usar chucrute ou kimchi como guarnição em suas refeições. Tome uma tigela de iogurte natural no café da manhã. Beba uma xícara de kefir sem açúcar como lanche ou use-o para fazer um smoothie de frutas. “Não tomo probióticos, mas como uma variedade de alimentos fermentados – e geralmente é esse o conselho que dou às pessoas”, revelou Damman.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MITOS SOBRE SEXO DE VERDADE

Pesquisas revelam obstáculos para o prazer e satisfação sexual

Uma pesquisa realizada no Reino Unido pela YouGov, entre 21 de janeiro e 14 de fevereiro de 2023, com 2.996 mulheres e 2.811 homens, revelou que 41% dos entrevistados acham que estimulação oral no pênis não é sexo e 40% consideram que estimulação oral no clitóris também não é sexo. Mais ainda, 52% acham que masturbação não é “sexo de verdade”.

A psicóloga e sexóloga Ana Canosa, na sua coluna “Não existem preliminares: tudo o que você está fazendo já é sexo” (UOL, 4/4/2023), afirmou que uma pesquisa no Brasil traria resultados semelhantes, já que aqui masturbação e sexo oral são considerados preliminares à penetração ou alternativas para quando a penetração está difícil de acontecer.

Ana Canosa destacou que, “para driblar a imposição da virgindade feminina”, homens e mulheres preferem algumas práticas que garantam “o não rompimento do hímen, o que simbolicamente não configuraria sexo”. A não penetração pode ser usada como justificativa para violências físicas e psicológicas, com justificativas do tipo “Mas foi só masturbação, não houve penetração” ou ainda “Foi só sexo oral, não foi sexo de verdade”, negando os aspectos traumáticos envolvidos em assédios e abusos sexuais.

A pesquisa britânica descobriu uma diferença interessante entre os entrevistados de acordo com a idade: as pessoas mais velhas são mais propensas a considerar sexo oral e estimulação com dedos como sexo, já que 45% dos entrevistados de mais de 50 anos disseram que masturbação conta como sexo, contra apenas 23% das pessoas de 18 a 49 anos.

Com o passar dos anos, de acordo com Ana Canosa, vamos ganhando experiência e sabedoria para entender que é excludente restringir o significado e o prazer sexual à penetração e que tanto a estimulação oral quanto a masturbação podem ser práticas sexuais prazerosas e gratificantes.

Mas, afinal, masturbação e sexo oral, sem penetração, são ou não “sexo de verdade”?

No meu novo livro “A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade”, revelo que, para algumas mulheres que entrevistei, a penetração, sem preliminares, pode ser muito dolorosa e desconfortável, como contou uma psicóloga de 65 anos.

“Lembra do caso do Bill Clinton com a estagiária? Meu ex-marido dizia que aquilo não foi sexo de verdade, pois não teve penetração, foi só sexo oral e masturbação. Em 30 anos de casamento, ele nunca me masturbou ou fez sexo oral. Acho que tinha nojo. Era só penetração, do tipo papai e mamãe. Ele queria gozar rapidinho, achava que iria brochar se ficasse cinco minutinhos de nheco-nheco antes da penetração. Eu tinha medo e vergonha de falar o que eu queria e sentia, aí eu fingia que gozava para acabar logo com aquela tortura, porque eu sentia muita dor ou porque estava exausta e queria dormir. Eu só sentia prazer e gozava me masturbando com o vibrador, assistindo vídeos pornôs.”

A psicóloga se separou quando descobriu que o marido “transava com garotas de programa”. “Não sei como fiquei tanto tempo com um homem tão cafajeste, mentiroso e egoísta”. Há seis meses, ela está namorando um músico de 52 anos que conheceu em um aplicativo de relacionamentos.

“Eu já tinha desistido do amor e do sexo, mas encontrei um homem que está me fazendo sentir de novo muito tesão. Ficamos horas na cama nos massageando, fazendo sacanagem, rindo e brincando. Ele faz tudo para me dar prazer, não se cansa de me beijar e de me acariciar até eu gozar. Depois da separação, prometi a mim mesma nunca mais sentir dor no sexo nem fingir orgasmo. Sexo de verdade é o sexo que dá prazer aos dois, não só ao homem.”

*** MIRIAN GOLDENBERG – É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de “A Invenção de uma Bela Velhice”

OUTROS OLHARES

DE FORA PARA DENTRO

Estudos revelam que rugas podem causar envelhecimento de outros órgãos do corpo

Rugas podem ser mais do que marcas do tempo, sinais de velhice. Uma série de novos estudos propõe a hipótese de que elas não são apenas resultado, mas também causa de envelhecimento, inclusive o de outros órgãos. Seriam emissárias de coquetéis químicos que transformam células em zumbis e degeneram precocemente o organismo, em especial o cérebro.

“Nossa pele não é somente uma barreira protetora e uma janela para o que acontece no interior de nosso corpo. À medida que envelhece e perde funções, ela também leva para outros órgãos problemas causados por agressões externas, como as provocadas pela radiação solar e o fumo. Se a sua pele tem sinais de envelhecimento, como as rugas, por dentro não é diferente”, afirma Cláudia Cavadas, líder do grupo de investigação de neuro-endocrinologia e envelhecimento do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, em Portugal.

Cavadas coordenou um artigo que analisa resultados de pesquisas com novas hipóteses para o envelhecimento. O trabalho foi publicado na revista Trends in Molecular Medicine e tem chamado atenção.

A pele é muito mais complexa do que se costuma imaginar. É o maior órgão do corpo humano, nos protege de todo tipo de agressão, seja do sol, do fumo, da poluição, de substâncias químicas e ataques de micro-organismos nocivos. A pele produz vitamina D, está ligada à imunidade, trabalha para a nossa regulação térmica.

Como se sabe, a passagem do tempo causa inexorável envelhecimento não apenas na pele, mas em todo o corpo. Porém, na pele o envelhecimento é potencializado por fatores ambientais, como má alimentação, poluição, fumo e, principalmente, a radiação solar. Os raios solares degradam o colágeno e a elastina. O resultado são as rugas.

A pele envelhecida apresenta alterações moleculares, celulares e estruturais. Dentre essas transformações está o acúmulo de células senescentes. Isto é, células envelhecidas, disfuncionais, como as existentes em rugas e manchas. A radiação UV também danifica o DNA e amplifica o processo de senescência.

E, à medida que se acumulam, afirma Cavadas, essas células senescentes podem induzir ou acelerar disfunções associadas ao envelhecimento em outras células da pele e demais órgãos e tecidos.

A senescência afeta todo o corpo, faz parte do processo normal de envelhecimento, mas na pele é pior porque não apenas ela é bombardeada por fatores externos quanto porque está conectada a outros órgãos e tecidos. É por isso que o acúmulo de células da pele envelhecidas, como as das rugas, afetam outras partes do corpo, diz a cientista.

É como se as células senescentes fossem zumbis, que já não sabem bem o que são, não fazem o que deveriam e se portam como mortas-vivas levando sua sina a outras células.

Uma das primeiras perdas de função das células senescentes é a de limpeza. Normalmente, as células conseguem se livrar de restos de proteínas e outras estruturas imprestáveis. A ciência chama isso de autofagia. A célula envelhecida não se limpa como deveria, acumula “lixo” em seu interior. E isso tem efeito em cascata, pois impede que ela cumpra outras funções.

As células senescentes liberam proteínas causadoras de inflamação que danificam as células saudáveis a sua volta, como microzumbis.

O acúmulo de células senescentes está ligado a uma série de doenças da velhice, como câncer, males cardiovasculares, osteoartrite, diabetes do tipo 2, catarata e demências.

Na pele, os efeitos do acúmulo de células senescentes são visíveis. Ela fica mais fina, perde elasticidade, tem reduzida sua capacidade de regeneração e de funcionar como barreira contra agressões externas. Fica enrugada, manchada e com aparência quebradiça.

Isso é o que se vê. Mas a nova hipótese é que por estar conectada a outros órgãos, a pele exporte coquetéis aceleradores de velhice.

IMPACTO NO CÉREBRO

O envelhecimento da pele já foi correlacionado com disfunções no sistema imunológico e no risco de doenças cardiovasculares, diz o artigo. E um sistema cutâneo neuroendócrino sustenta uma comunicação entre a pele e o cérebro.

Cavadas enfatiza que, por exemplo, o envelhecimento da pele induzido pela radiação ultravioleta (UV) tem impacto sobre o cérebro. Em estudos com animais se viu que a radiação UV diminui a formação de neurônios no hipocampo, estrutura cerebral ligada à fixação de memórias, ao aprendizado e às emoções. O grupo de Cavadas estuda particularmente a associação entre as alterações na pele e as funções do hipotálamo. Esta é a região do cérebro que regula funções essenciais à vida, como metabolismo, fome, sono, crescimento e reprodução. É um maestro que mantém o equilíbrio do organismo ao reger sinais metabólicos, hormonais, neuronais e ambientais.

Cavadas observa que o hipotálamo está envolvido na longevidade ao regular níveis de hormônios essenciais ao funcionamento do organismo e cuja concentração declina com o avançar da idade. Os cientistas dizem ainda que é uma questão em aberto se remover as rugas teria algum impacto no processo de envelhecimento do restante do corpo.

Procedimentos estéticos convencionais podem melhorar a aparência das rugas, mas não vão resolver os problemas que ocorrem sob a pele, diz Cavadas.

“Sabemos que se proteger do sol, não fumar, comer adequadamente ajuda a aliviar sinais de envelhecimento. Isso é o que temos de certo. Existem resulta