QUEM VÊ CARA VÊ CORAÇÃO?
A morfologia do rosto humano carrega mensagens sobre comportamento sexual e social.
Estudos recentes têm ligado a morfologia facial humana a uma série de características comportamentais ou tendências de disposição para agir. Os traços craniofaciais que são dependentes de androgênios (hormônios masculinos) foram, em teoria, moldados pela seleção natural para fornecer pistas que revela m características reprodutivas subjacentes, como agressividade e dominância social. A associação entre a forma do crânio e da face com comportamento agressivo vem da influência com um que a exposição à testosterona (principal hormônio masculino) tem no crescimento dos tecidos craniofaciais e na organização da circuitaria cerebral que processa o comportamento agressivo. Ou seja, maior exposição à testosterona em períodos críticos do desenvolvimento pode influenciar tanto o tamanho e forma do rosto como também os circuitos cerebrais que estão envolvidos no comportamento.
Uma medida empregada nos estudos é a relação entre a medida da largura do rosto dividida pela medida da altura, a chamada relação largura / altura facial. Quanto maior o valor dessa relação, ou seja, quanto mais largo é o rosto, mais é exibido comportamento agressivo em homens, comportamento antiético, expressão de preconceito, traços de psicopatia, impulso de realização, sacrifício frente aos membros de seu grupo, sucesso financeiro e atratividade como parceiro sexual de curto prazo. Tomadas em seu conjunto, essas descobertas parecem indicar que os níveis hormonais podem de fato influenciar a forma do rosto e o comportamento. Mesmo observadores externos avaliam o rosto masculino com maior relação largura/ altura como mais dominante e agressivo.
O nível de testosterona tem sido associado não somente a comportamentos de busca de status ou dominância, mas a uma variedade de condutas sexuais, como maior interesse em sexo autorrelatado, em auto estimulação psicossexual e em aumento de fantasias sexuais e de frequência de relações sexuais eletivas. Já níveis baixos de testosterona têm sido relatados em casos de disfunção erétil e baixa libido, e em situações de masturbação e intercurso menos frequente. A administração de testosterona aumenta o desejo e a frequência sexual entre homens. Em mulheres, verifica-se transtorno de desejo hipoativo quando os níveis desse hormônio estão baixos, e resposta positiva de aumento do impulso quando se administra a testosterona.
Em um estudo, cerca de 500 participantes foram questionados sobre sua orientação sexual, suas relações sexuais e se consideravam ser infiéis aos parceiros. Os resulta dos mostraram que os homens com rostos mais largos e curtos em altura, com maior relação entre largura e altura craniofacial, eram vistos como mais atrativos como parceiros de curto prazo, e como mais dominantes. Os homens com maior relação largura / altura tinham maior impulso sexual e expressaram maior inclinação para trair seus parceiros. As mulheres com rostos mais largos também apresentam um maior impulso sexual, embora uma importante diferença entre os gêneros tenha emergido, pois estas não relataram maior intenção de trair seus parceiros.
Uma outra pesquisa considerou fotos de homens com diferentes relações entre a largura e altura craniofacial. Os pesquisadores verificaram que observadores dessas fotos julgavam os rostos com maior relação entre largura e altura como mais agressivos do que aqueles com rostos mais finos. Um aspecto interessante desse estudo foi o uso de versões com barba e sem barba dos mesmos rostos. A barba não fez diferença na percepção da relação entre largura e altura facial, mostrando que os julgamentos faciais evoluíram para serem altamente sensíveis a formas que revelam disposições e traços subjacentes. Sem dúvida, a seleção natural foi construindo ao longo de milhares de gerações mecanismos neurais extremamente precisos para extrair, de um rápido olhar para um rosto humano, informações que permitem prever aspectos de comportamento importantes, como os ligados aos comportamentos sexual e social da pessoa.
MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed,2011).
Você precisa fazer login para comentar.