MATEUS 22: 1-14 – PARTE II

A Parábola da Ceia das Bodas
V – O repovoamento da igreja, com o convite aos gentios, é aqui representado pela realização do jantar com convidados ajuntados dos caminhos (vv. 8-10). Aqui temos:
1. O comentário do dono da festa a respeito daqueles que tinham sido convidados primeiro (v. 8). As bodas estão preparadas, isto é, o concerto da graça está preparado para ser firmado, há uma igreja preparada para ser fundada; mas aqueles que tinham sido convidados, isto é, os judeus, a quem pertenciam o concerto e as promessas, motivo pelo qual eram convidados primeiro às festas de cevados, não eram dignos. Eles eram completamente indignos e, com o seu desprezo por Cristo, tinham perdido todos os privilégios a que tinham sido convidados. Não é devido a Deus que os pecadores perecem, mas a si mesmos. Assim, quando a antiga nação de Israel estava próxima de Canaã, a terra prometida estava preparada, como também o leite e o mel. Mas a sua falta de fé, a sua murmuração e o desprezo por aquela terra agradável, impediram que eles entrassem na terra prometida e as suas carcaças pereceram no deserto; e essas coisas lhes aconteceram para que nos demos por avisados (1 Coríntios 10.11; Hebreus 3.16-4.1).
2. A comissão que ele deu aos servos, de convidar a outras pessoas. Os habitantes da cidade (v. 7) tinham recusado. “Ide, pois, às saídas dos caminhos”, os caminhos dos gentios, que, a princípio, os mensageiros deviam evitar (cap. 10.5). Dessa maneira, com a queda dos judeus, a salvação chegou aos gentios (Romanos 11.11,12; Efésios 3.8). Cristo terá um reino no mundo, embora muitos rejeitem a graça e resistam ao poder de tal reino. Mesmo que Israel não se una ao seu reino, ele será um reino glorioso. A oferta de Cristo, a salvação aos gentios, foi:
(1). Imprevista e inesperada; uma surpresa aos homens dos caminhos, que receberiam um convite para um banquete de bodas. Os judeus souberam do Evangelho muito tempo antes, e esperaram o Messias e o seu reino. Mas para os gentios, tudo isso era novidade, coisas que nunca tinham ouvido antes (Atos 17.19,20), e, consequentemente, coisas que eles não podiam sequer imaginar que pudessem lhes pertencer. Veja Isaias 65.1,2.
(2). Foi universal e sem diferenciação. “Ide…, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes”. Os caminhos são lugares públicos, e ali a Sabedoria clama (Provérbios 1.20). “Convidem os que passam pelos caminhos, convidem a qualquer pessoa (Jó 21.29), altivo e humilde, rico e pobre, escravo e livre, jovem e velho, judeu e gentio; digam a todos que eles serão bem-vindos aos privilégios do Evangelho, nos termos do Evangelho; quem desejar, que venha, sem exceção”.
3. O sucesso desse segundo convite; se alguns não vierem, outros virão (v.10); eles “ajuntaram todos quantos encontraram”. Os servos obedeceram às suas ordens. Jonas foi enviado aos caminhos, mas estava tão preocupado com a honra da sua nação, que evitou a missão. Mas os apóstolos de Cristo, embora fossem judeus, preferiram o serviço a Cristo ao respeito pela sua nação; e o apóstolo Paulo, embora lamentando pelos judeus, engrandeceu o seu trabalho como o apóstolo dos gentios. Eles reuniram todos. O desígnio do Evangelho é:
(1). Reunir as almas, não somente a nação dos judeus, mas todos os filhos de Deus que estão dispersos, no estrangeiro (João 11.52), as ovelhas que não pertencem a este aprisco (João 10.16). As almas foram reunidas em um corpo, em uma família, em uma corporação.
(2). Reunir as almas na ceia das bodas, para prestar seu respeito e reverência a Cristo, e para participar dos privilégios do novo concerto. Onde houver distribuição de alimentos e gêneros de primeira necessidade, ali os pobres estarão reunidos.
Os convidados reunidos eram:
[1]. Uma multidão, todos, tantos quantos puderam encontrar; tantos, que a festa nupcial ficou repleta de convidados. Os escolhidos dos judeus estão contados, mas aqueles que eram das outras nações não se podiam contar; eram uma multidão muito grande (Apocalipse 7.9. veja Isaias 60.4,8).
[2]. Uma multidão variada, tanto de bons quanto de maus; alguns que, antes da sua conversão, eram sérios e tinham boas intenções, como os gregos religiosos (Atos 17.4) e Cornélia; outros que tinham sido pecadores, como os coríntios (1 Coríntios 6.11). “Tais fostes alguns de vós” (versão ARA); ou alguns que, depois da sua conversão, provaram ser maus, que não se voltaram ao Senhor com todo o seu coração, mas com fingimento; outros que foram sinceros e justos, e provaram ser o tipo certo. Os ministros, ao lançarem a rede do Evangelho, abrangem tanto os peixes bons quanto os maus; mas o Senhor sabe quais são aqueles que lhe pertencem.
VI – O caso dos hipócritas – que estão na igreja, mas que não pertencem a ela, que têm fama de que vivem, mas que não estão realmente vivos – é representado pelo convidado que não estava trajado com vestes nupciais, um dos maus que estavam junto com os bons. Aqueles que não alcançam a salvação de Cristo, não são apenas aqueles que se recusam a assumir a profissão da religião, mas também os que não são sinceros nessa pro fissão de fé. A respeito desse hipócrita, observe:
1. Como ele foi descoberto (v. 11).
(1). O rei entrou para ver os convidados, para dar as boas-vindas àqueles que tinham vindo preparados, e para afastar os que não tinham se preparado para vir. Note que o Deus do céu observa, em especial, aqueles que professam a religião e têm um lugar e um nome na igreja visível. O nosso Senhor Jesus anda no meio dos castiçais de ouro, e por isso conhece as suas obras. Veja Apocalipse 2.1,2; Cantares 7.12. Que isto seja, para nós, uma advertência contra a hipocrisia, o fato de que os disfarces logo serão descobertos, e todo homem se mostrará com as suas verdadeiras características. Temos um incentivo para a nossa sinceridade o fato de que Deus é testemunha dela.
Esse hipócrita não estava usando uma veste nupcial, e não foi descoberto até que o próprio rei entrou para ver os convidados. Note que é prerrogativa de Deus conhecer os que são sinceros em sua profissão de fé, e aqueles que não o são. Nós podemos ser enganados pelos homens, de uma maneira ou de outra, mas Ele não. O dia do juízo será o grande dia das revelações, quando todos os convidados serão apresentados ao Rei: então Ele irá separar os preciosos dos vis (cap. 25.32). Nessa ocasião, os segredos de todos os corações serão manifestos, e poderemos discernir, de maneira inequívoca, entre os justos e os maus, o que agora não é fácil fazer. Todos os convidados devem se preocupar em se preparar para o escrutínio, e considerar como irão suportar o olho penetrante do Deus que investiga todos os corações.
(2). Imediatamente depois de entrar, o rei percebeu o hipócrita. “Viu ali um homem que não estava trajado com veste nupcial”; embora fosse apenas um, ele logo o percebeu; não há esperança de conseguir, em meio a uma multidão, esconder-se da justiça divina; ele não estava trajado com veste nupcial; ele não estava vestido para uma cerimônia nupcial; ele não estava vestido com as suas melhores roupas. Muitos vêm à festa das bodas sem uma veste nupcial. Se o Evangelho é a festa das bodas, então a veste nupcial é uma condição do coração e um modo de vida agradáveis ao Evangelho e à nossa profissão dele, dignos da vocação à qual fomos chamados (Efésios 4.1), como convém ao Evangelho de Cristo (Filipenses 1.27). Ajustiça dos santos, a sua verdadeira santidade e santificação, e Cristo, feito justiça neles, são o linho fino (Apocalipse 19.8). Esse homem não estava nu, nem estava maltrapilho; ele estava vestido de alguma maneira, mas não com uma veste nupcial. Aqueles que se revestem do Senhor Jesus, que têm um estado de espírito cristão, que são adornados com graças cristãs, que vivem pela fé em Cristo, e para quem Ele é tudo, aqueles, e somente aqueles, têm a veste nupcial.
2. O seu julgamento (v.12); e aqui podemos observar:
(1). Como ele foi acusado (v. 12): ”Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial?” Uma pergunta assustadora a alguém que estava secretamente orgulhoso do lugar que tinha na festa. ”Amigo”. Esta é uma palavra penetrante; um amigo aparente, um amigo fingido, alguém que professa ser amigo, aquele que finge mediante vários laços e ardis. Observe que existem muitos, na igreja, que são falsos amigos de Jesus Cristo, que dizem que o amam, enquanto os seus corações não estão com Ele. “Como entraste aqui?” Ele não repreende os servos por terem permitido a sua entrada (a veste nupcial é uma coisa interior; os ministros agem de acordo com aquilo que percebem), mas questiona a sua presunção por entrar, quando ele sabia que o seu coração não era justo. “Como você reivindica uma participação nos benefícios do Evangelho, quando você não tem respeito pelas regras do Evangelho? Quem é você para declarar os meus estatutos?” (Salmos 50.16,17). Esse tipo de pessoa macula a festa, desonra o esposo, afronta os amigos e se arruína; e, por isso: “Como entraste aqui?” Observe que está chegando o dia em que os hipócritas serão chamados para responder por todas as suas invasões arrogantes nas regulamentações do Evangelho, e por usurparem os privilégios do Evangelho. “Quem requere u isso de vossas mãos?” (Isaias 1.12). Deve-se prestar contas pelos sábados negligenciados e pelos sacramentos mal utilizados, e o julgamento exigirá uma ação contra todos aqueles que receberem a graça de Deus em vão. “Como você vem à mesa do Senhor, numa ocasião como esta, sem se humilhar, sem se santificar? O que faz com que você se sente diante dos profetas de Deus, como o seu povo, uma vez que o seu coração está cheio de cobiça? Como você entrou aqui? Não foi pela porta, mas de alguma outra maneira, como um bandido e um ladrão. Foi uma entrada tortuosa, uma apropriação sem direito a um título”. Note que é bom que aqueles que têm um lugar na igreja sempre façam esta pergunta a si mesmos: “Como é que eu entrei aqui? Eu tenho uma veste nupcial?” Se nós nos julgássemos, desta maneira, não seríamos julgados.
(2). Como ele se condenou: “Ele emudeceu”, ele estava amordaçado (essa foi a palavra utilizada, 1 Coríntios 9.9). O homem ficou mudo com a acusação, sendo condenado pela sua própria consciência. Aqueles que vivem na igreja, e que morrem sem Cristo, não terão nenhuma palavra para dizer em defesa própria no julgamento do grande dia; eles não terão desculpas. Se eles disserem: Temos comido e bebido na tua presença (Lucas 13.26), isto será equivalente a dizer que são culpados; pois o crime de que são acusados é o de se colocarem na presença de Cristo, e à sua mesa, antes de serem chamados. Aqueles que nunca ouviram uma palavra sobre essa festa de bodas terão mais para dizer em sua defesa; o seu pecado será mais justificável, e a sua condenação mais tolerável do que a daqueles que vêm à festa sem a veste nupcial, pecando, desta forma, contra a luz mais clara e o amor mais precioso.
3. A sentença (v. 13): ”Amarrai-o de pés e mãos”.
(1). Ele deve ser amarrado, como o são os malfeitores condenados; deve ser algemado e acorrentado. Pode-se esperar que aqueles que não trabalham, nem andam como deveriam, sejam amarrados de pés e mãos. Existe uma obrigação neste mundo, por parte dos servos e dos ministros, de suspender as pessoas que andam desordenadamente, para o prejuízo da fé cristã, o que é chamado de “ligar” estas pessoas (cap. 18.18). Ligá-las, para que não participem das cerimônias especiais e dos privilégios especiais da sua filiação à igreja; ligá-las, para o julgamento justo de Deus. No dia do julgamento, os hipócritas serão amarrados; os anjos os lançarão ao fogo (cap. 13.41,42). Os pecadores condenados são amarrados de pés e mãos por uma sentença irreversível; isto significa a mesma coisa que a existência do grande abismo; eles não podem resistir à sua punição, nem anulá-la.
(2). Ele dá a ordem para que o homem seja removido da festa das bodas: “Levai-o”. Quando aparece a maldade dos hipócritas, eles devem ser levados da comunhão dos crentes, devem ser extirpados como galhos secos. Isto evidencia a punição da perda no outro mundo. Eles serão afastados do rei, do reino, e da festa das bodas: ”Apartai-vos de mim, malditos”. A sua desgraça será pior, pois (como o capitão sem fé, 2 Reis 7.2) verão toda essa abundância com os seus próprios olhos, mas não sentirão o seu sabor. Observe que aqueles que andam como indignos do seu cristianismo perdem toda a felicidade cujo direito reivindicam arrogantemente, e louvam a si mesmos com uma expectativa infundada.
(3). Ele é enviado a uma deprimente masmorra: “Lançai-o nas trevas exteriores”. O nosso Salvador aqui, sem emoção, passa dessa parábola para aquilo que dá a entender que é a destruição dos hipócritas no outro mundo. O inferno é as trevas exteriores, as trevas fora do céu, que é a terra da luz; ou é a escuridão completa, a escuridão até o último estágio, sem o menor raio ou fagulha de luz, ou esperança dela, como a escuridão do Egito; a escuridão que pode ser sentida; uma terra completamente escura, como a própria escuridão (Jó 10.22). Observe que os hipócritas vão, da luz do próprio Evangelho, até à escuridão completa; e o inferno será realmente o inferno para eles, uma condenação mais intolerável. ”Ali haverá pranto e ranger de dentes”. Isto o nosso Salvador frequentemente usa como parte da descrição dos tormentos do inferno, que aqui são representados não tanto pela própria infelicidade quanto pelo ressentimento que os pecadores terão dela; haverá pranto, uma expressão de grande tristeza e angústia, não um jorro de lágrimas que dá alívio imediato, mas um choro constante, que é um tormento contínuo. E o ranger de dentes é uma expressão de grande fúria e indignação; eles serão como um antílope selvagem na rede, cheio do furor do Senhor (Isaias 51.20; 8.21,22). Portanto, devemos ouvir e temer.
Finalmente, a parábola conclui com as palavras admiráveis que tivemos anteriormente (cap. 20.16). Muitos são chamados, mas poucos escolhidos (v. 14). Dos muitos que são convidados para a festa das bodas, se você deixar de lado todos aqueles, como os não-escolhidos, que fazem pouco caso dela, e abertamente preferem outras coisas a ela; se, a seguir, você deixar de lado todos aqueles que professam a fé, mas cujo estado de espírito e o teor de suas conversas são uma constante contradição ao que professam: se você deixar de lado todos os profanos, e todos os hipócritas, você irá descobrir que são poucos, muito poucos, os que são escolhidos. Muitos são chamados ao jantar das bodas, mas há poucos escolhidos para trajar a veste nupcial, isto é, para a salvação, pela santificação do Espírito. Esta é a porta estreita, e o caminho estreito, que poucos encontram.
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