MATEUS 24: 4 – 31 – PARTE V
Predições Terríveis
VIII – Jesus prediz a sua segunda vinda, no final dos tempos (vv. 29-31): “O sol escurecerá” etc.
1. Alguns entendem que isso se refere somente à destruição de Jerusalém e da nação judaica. O escurecimento do sol, da lua e das estrelas sugere o eclipse da glória naquela nação, as suas convulsões e a confusão geral que acompanhou tal desolação. Grandes mortes e devastação eram assim anunciadas no Antigo Testamento (como em Isaias 13.10; 34.4; Ezequiel 32.7; Joel 2.31); ou o sol, a luz e as estrelas podem significar o Templo, Jerusalém e as cidades de Judá, que seriam todos destruídos. O “sinal do Filho do Homem” (v. 30) significa uma manifestação notável do poder e da justiça do Senhor Jesus, vingando o seu próprio sangue naqueles que lançaram a culpa sobre si mesmos, e sobre seus filhos; e o ajuntar dos “seus escolhidos” (v. 31) significa a libertação dos remanescentes desse pecado e dessa destruição.
2. Mas isso parece se referir mais à segunda vinda de Cristo. A destruição dos inimigos particulares da igreja é típica da derrota completa de todos eles; portanto, o que realmente acontecerá naquele grande dia pode ser aplicado metaforicamente a essas destruições. Mas nós precisamos prestar atenção ao seu escopo principal. E se todos nós estivermos de acordo em esperar a segunda vinda de Cristo, que necessidade haverá de atribuir significados tão tensos, como fazem alguns, a esses versículos, que falam dela com tanta clareza, e também a outras passagens das Escrituras, especialmente quando Cristo está aqui respondendo a uma pergunta sobre a sua vinda no fim do mundo? Cristo nunca teve receio de falar sobre este assunto com os seus discípulos.
A única objeção a isso é o fato de que está dito que a segunda vinda acontecerá “logo [ou imediatamente] depois da aflição daqueles dias”; mas, quanto a isso:
(1) É normal, no estilo profético, falar de coisas grandiosas e certas como estando próximas, somente para expressar a sua grandeza e certeza. Enoque falou da segunda vinda de Cristo como algo ao seu alcance: “Eis que é vindo o Senhor” (Judas 14).
(2) “Um dia para o Senhor é como mil anos” (2 Pedro 3.8). A Palavra de Deus nos traz uma urgente exortação sobre esse dia, que também pode ser interpretado como estando muito próximo. A tribulação daqueles dias inclui não apenas a destruição de Jerusalém, mas todas as outras tribulações que a igreja deve enfrentar; não apenas a sua cota nas calamidades que as nações sofreriam, mas também as que seriam peculiares a ela mesma. Enquanto as nações estiverem destroçadas com as guerras, e as igrejas com cismas, ilusões e perseguições, nós não podemos dizer que a tribulação daqueles dias esteja terminada; toda a situação da igreja na terra é militante, e nós devemos confiar nisso; mas quando a tribulação da igreja estiver terminada, a sua peleja, concluída, e a luta e os sofrimentos de Cristo tiverem se cumprido, então poderemos esperar pelo fim.
A respeito da segunda vinda de Cristo, aqui está predito:
[1] Que haverá uma transformação nas coisas criadas, grande e surpreendente, e particularmente nos corpos celestes (v. 29). “O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz”. A lua brilha com uma luz emprestada, e, portanto, se o sol, de quem ela toma emprestada a sua luz, se escurecer, ela naturalmente fracassará, e falirá. ”As estrelas cairão do céu”; elas perderão a sua luz, e desaparecerão, e será como se elas tivessem caído; e “as potências dos céus serão abaladas”. Isto sugere:
Em primeiro lugar, que haverá uma grande mudança, para fazer novas todas as coisas. Então haverá a “restauração de tudo”, quando os céus não serão deixados de lado como um trapo, mas serão mudados como uma veste, para serem usados em uma maneira melhor (Salmos 102.26). Eles “passarão com grande estrondo”, para que possa haver “novos céus” (2 Pedro 3.10-13).
Em segundo lugar, será uma mudança visível, e todo o mundo deverá percebê-la; pois um escurecimento assim, do sol e da lua, não pode deixar de ser notado; e será uma mudança notável, pois os corpos celestiais não são tão sujeitos a alterações como o são as criaturas deste mundo inferior. Os dias do céu e a continuidade do sol e da lua são usados para expressar o que é duradouro e imutável (como em Salmos 89.29); ainda assim, eles serão abalados.
Em terceiro lugar, haverá uma transformação universal. Se o sol escurecer, e as potências do céu forem abaladas, a terra não poderá deixar de se transformar em uma masmorra, e a sua fundação tremerá. “Gemei, faias, porque os cedros caíram”. Quando as estrelas do céu caírem, as pessoas não deverão se espantar se os “montes perpétuos” se esmiuçarem, e se “outeiros eternos” se encurvarem. A natureza irá sustentar um choque e uma convulsão gerais, que não serão obstáculos para a alegria do céu e o regozijo da terra “ante a face do Senhor”, quando vier a “julgar a terra” (Salmos 96.11,13). Eles estarão como se houvesse glória na tribulação.
Em quarto lugar, o escurecimento do sol, da lua e das estrelas, que foram criados para governar o dia e a noite (que é o primeiro domínio que encontramos de cada criatura, Genesis 1.16-18), significa a aniquilação de “todo império e toda potestade e força” (mesmo aqueles que parecem ser bastante antigos e muito úteis), para que o reino possa ser entregue a Deus Pai, e “para que Deus seja tudo em todos” (1 Coríntios 15.24,28). O sol escureceu por ocasião da morte de Cristo, pois aquele acontecimento foi, de certa maneira, “o juízo deste mundo” (João 12.31), um indício do que acontecerá no juízo final.
Em quinto lugar, a gloriosa aparição do nosso Senhor Jesus, que então irá se mostrar como o resplendor da glória de seu Pai, e a expressa imagem da sua pessoa”, irá escurecer o sol e a lua, assim como o brilho de uma vela fica mais fraco sob os raios do sol do meio-dia; eles não terão glória, “por causa desta excelente glória” (2 Coríntios 3.10). Então “a lua se envergonhará, e o sol se confundirá”, quando Deus aparecer (Isaias 24.23).
Em sexto lugar, o sol e a lua escurecerão, porque não haverá mais lugar para eles. Para os pecadores, que escolhem a sua parte nesta vida, todo consolo será negado eternamente. Eles não terão nem uma gota d’água, e nem um raio de luz. Agora Deus faz com que o seu sol se erga sobre a terra. As trevas devem ser a parte deles. Aos santos, que preferiram ter o seu tesouro no céu, será dada tal luz de alegria e consolo, que irá exceder a luz do sol e da lua; a luz do sol e da lua serão inúteis. Que necessidade haverá de lâmpadas, quando formos para junto da Fonte da luz, sim, para junto do Pai das luzes? Veja Isaias 60.19; Apocalipse 22.5.
[2] Que quando aparecer “no céu o sinal do Filho do Homem” (v. 30), ou seja, o próprio Filho do Homem, eles “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu”. Na sua primeira vinda, Ele foi posto para “sinal que é contraditado” (Lucas 2.34), mas na sua segunda vinda, um sinal que será admirado. Ezequiel era um filho do homem, dado por sinal (Ezequiel 12.6). Alguns interpretam isto como uma predição dos anunciadores e precursores da sua vinda, avisando da sua chegada: Uma luz brilhante diante dele, e o fogo consumidor (Salmos 50.3; 1 Reis 19.11,12), os raios de luz saindo de sua mão, onde, durante muito tempo, havia sido o esconderijo da sua força (Habacuque 3.4). E um conceito infundado de alguns dos antigos, que este sinal do Filho do Homem seja o sinal da cruz, exibido como uma bandeira. Certamente será um sinal claramente convincente, que irá eliminar a infidelidade, e encherá de vergonha os rostos dos que diziam: “Onde está a promessa da sua vinda?”
[3] Que então “todas as tribos da terra se lamentarão” (v. 30). Veja Apocalipse 1.7. “Todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele”; entre todas as tribos e famílias da terra, algumas se lamentarão, pois a maior parte irá tremer com a sua chegada, enquanto os restantes, os eleitos, tanto das famílias como das tribos, irão levantar as cabeças com alegria, sabendo que a sua redenção se aproxima, e também o seu Redentor. Observe que, mais cedo ou mais tarde, todos os pecadores se lamentarão. Os pecadores penitentes confiam em Cristo, e choram por uma sorte piedosa; e aqueles que semeiam com lágrimas, em breve irão colher com alegria. Os pecadores impenitentes verão aquele a quem traspassaram, e embora riam agora, irão chorar e lamentar por uma sorte diabólica, com horror e desespero intermináveis.
[4] Que “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Considere, em primeiro lugar, que o juízo do grande dia será confiado ao Filho do Homem, tanto para a sua realização quanto como recompensa da sua grande missão por nós, como Mediador (João 5.22,27). Em segundo lugar, que o Filho do Homem, naquele dia, virá “sobre as nuvens do céu”. Grande parte do relacionamento perceptível entre o céu e a terra se dá pelas nuvens; elas estão entre eles, atraídas da terra para o céu, purificadas pelo céu, e posicionadas sobre a terra. Cristo ascendeu ao céu sobre uma nuvem, e de igual maneira virá outra vez (Atos 1.9,11). “Eis que vem com as nuvens” (Apocalipse 1.7). As nuvens serão o carro do grande Juiz (Salmos 104.3), a sua roupa (Apocalipse 10.1), o seu pavilhão (Salmos 18.11), o seu trono (Apocalipse 14.14). Quando o mundo foi destruído pela água, o julgamento veio nas nuvens dos céus, pois as janelas dos céus se abriram; assim será, também, quando ele for destruído pelo fogo. Cristo andou diante de Israel em uma nuvem, que tinha um lado resplandecente e outro escuro. Assim também será a nuvem em que Cristo virá no grande dia. Ela trará tanto consolo quanto terror. Em terceiro lugar, que Ele virá “com poder e grande glória”. A sua primeira vinda ocorreu em fraqueza e grande simplicidade (2 Coríntios 13.4). Mas a sua segunda vinda será com poder e glória, em conformidade com a dignidade da sua pessoa e também com os objetivos da sua vinda. Em quarto lugar, que Ele será visto com olhos físicos, na sua vinda. Portanto, o Filho do Homem será o Juiz, para que Ele possa ser visto, para que fiquem ainda mais confusos os pecadores, que o verão como Balaão viu, “mas não de perto” (Números 24.17). Eles o verão, mas não como seu. Isto se acrescenta ao tormento daquele pecador condenado que “viu ao longe Abraão”. “E este aquele que nós desprezamos, e rejeitamos, e contra quem nos rebelamos? Aquele que nós crucificamos? Aquele que podia ter sido o nosso Salvador; mas será o nosso inimigo para sempre?” O “Desejado de todas as nações” será, então, o seu temor.
[5] Que “ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta” (v. 31). Considere, em primeiro lugar, que os anjos serão os ajudantes de Cristo na sua segunda vinda, eles são chamados de “seus anjos”, o que prova que Ele é Deus, e Senhor dos anjos; eles deverão auxiliá-lo. Em segundo lugar, que estes ajudantes serão empregados por Ele como oficiais no tribunal do julgamento daquele Dia. Eles agora são “espíritos ministradores”, enviados por Ele (Hebreus 1.14), e será assim naquela ocasião. Em terceiro lugar, que a sua ministração será iniciada com um “rijo clamor de trombeta”, para despertar e alarmar um mundo adormecido. Esta trombeta é mencionada em 1 Coríntios 15.52 e 1 Tessalonicenses 4.16. Quando a lei foi entregue, no monte Sinai, o som da trombeta foi particularmente terrível (Êxodo 19.13, 16), mas será muito mais terrível no grande Dia. Pela lei, as trombetas deviam ser tocadas para a “convocação da congregação” (Números 10.2), para louvar a Deus (Salmos 81.3), na oferta de sacrifícios (Números 10.10) e ao proclamar o ano do jubileu (Levíticos 25.9). Portanto, é muito adequado que haja o som de uma trombeta no último dia, quando a congregação geral será convocada, quando os louvores a Deus serão gloriosamente celebrados, quando os pecadores cairão, como sacrifícios à justiça divina, e quando os santos entrarão no seu eterno jubileu.
[6] Que se ajuntarão “os seus escolhidos desde os quatro ventos”. Observe que na segunda vinda de Jesus Cristo, haverá uma congregação geral de todos os santos. Em primeiro lugar, somente os “escolhidos” se ajuntarão, os eleitos remanescentes, que são poucos, em comparação com os muitos que são apenas chamados. Este é o fundamento da felicidade eterna dos santos, o fato de que são os eleitos de Deus. O dom do amor segue, por toda a eternidade, as características do amor que existe desde a eternidade. E “o Senhor conhece os que são seus”. Em segundo lugar, os anjos serão empregados para ajuntá-los, como servos de Cristo, e como amigos dos santos; nós conhecemos a tarefa que lhes foi dada (Salmos 50.5). “Congregai os meus santos”; na verdade, será dito a eles: Estes são seus irmãos; pois os eleitos “são iguais aos anjos” (Lucas 20.36). Em terceiro lugar, eles se ajuntarão “de uma à outra extremidade dos céus”. Os eleitos de Deus estão dispersos (João 11.52). Há eleitos em todos os lugares, em todas as nações (Apocalipse 7.9); mas quando chegar o dia desse grande ajuntamento, nenhum deles estar á faltando. A distância física não manterá ninguém fora do céu, se a distância afetiva não o fizer. O céu é igualmente acessível de qualquer lugar: Veja Mateus 8.11; Isaías 43.6; 49.12.
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