MATEUS 22: 1-14 – PARTE I
A Parábola da Ceia das Bodas
Aqui temos a parábola dos convidados ao jantar das bodas. O texto sagrado registra que Jesus (v.1) tornou a falar em parábolas, não respondendo ao que os seus oponentes tinham dito (pois eles haviam sido silenciados), mas ao que eles pensaram, quando desejaram uma oportunidade para prendê-lo (cap. 21.46). Cristo sabe como responder aos pensamentos dos homens, pois Ele tem o poder de discerni-los. Ou ainda Ele respondeu, isto é, Ele prosseguiu com o seu discurso com o mesmo objetivo; pois essa parábola representa a oferta do Evangelho, e a recepção que ele encontra, da mesma maneira que a parábola anterior, mas com outra analogia. A parábola da vinha representa o pecado dos governantes que perseguiam os profetas; ela também mostra o pecado do povo, que, de maneira geral, negligenciava a mensagem, enquanto os seus líderes estavam perseguindo os mensageiros.
I – Os preparativos do Evangelho aqui são representados por um jantar que um rei ofereceu para celebrar as bodas do seu filho; assim é o Reino dos céus, assim é a provisão feita para as almas preciosas, no novo concerto e por meio dele. O Rei é Deus, um grande Rei, o Rei dos reis. Então:
1. São as bodas do seu Filho. Cristo é o Esposo, a igreja é a esposa; o dia do Evangelho é o dia do seu casamento (Cantares 3.11). Contemplem pela fé a igreja do primogênito, aqueles que estão escritos no céu, e foram dados a Cristo por Ele, de quem eles eram; e neles vemos a esposa do Cordeiro (Apocalipse 21.9). O concerto do Evangelho é um concerto de casamento entre Cristo e os crentes, e é um casamento feito por Deus. Esse lado da analogia é somente mencionado, e não detalhado aqui.
2. Há um jantar preparado para essas bodas (v. 4). Todos os privilégios da filiação à igreja, e todas as bênçãos do novo concerto, o perdão dos pecados, a graça de Deus, a paz de consciência, as promessas do Evangelho, e todas as riquezas ali contidas, dão acesso ao trono da graça, aos consolos do Espírito e a uma bem fundamentada esperança na vida eterna. Estes são os preparativos desse jantar, um céu sobre a terra, e um céu, no céu, em breve. Deus preparou esse jantar no seu conselho, no seu concerto. Ê um jantar que denota os privilégios atuais no nosso dia, além do jantar à noite, em glória.
(1). É uma festa. Os preparativos do Evangelho tinham sido profetizados como os de uma festa (Isaias 25.6), uma festa com animais gordos, e caracterizados como as muitas festas da lei cerimonial (1 Coríntios 5.8). Uma festa é um dia de alegria (Ester 9.17); assim também é o Evangelho; é uma festa contínua. Bois e cevados foram mortos para essa festa; nada de delicadezas, mas comida substancial; suficiente, e da melhor. O dia de uma festa é um dia de matança, ou de sacrifícios (Tiago 5.5). Os preparativos do Evangelho estão todos baseados na morte de Cristo, em seu próprio sacrifício. Uma festa foi feita para o amor, ela é uma festa de reconciliação, um símbolo da boa vontade de Deus em relação aos homens. Ela foi feita para a alegria (Eclesiastes 10.19), ela é uma festa de regozijo. Ela foi feita para a plenitude; o desígnio do Evangelho era encher todas as almas famintas com boas coisas. Ela foi feita para a comunhão, para conservar a relação entre o céu e a terra. Nós somos convidados para o banquete do vinho, para podermos dizer quais são as nossas súplicas, quais são os nossos pedidos.
(2). É um jantar de bodas. Os jantares de bodas normalmente são abundantes, gratuitos e alegres. O primeiro milagre que Cristo realizou foi providenciar uma provisão abundante para uma festa de bodas (João 2.7), e certamente Ele não desejaria que lhe faltasse provisão na sua própria festa de bodas, quando chegassem as bodas do Cordeiro, e a esposa estivesse pronta, um jantar vitorioso e triunfante (Apocalipse 19.7,17,18).
(3). É um jantar real de bodas; é um banquete de um rei (1 Samuel 25.36), nas bodas, não de um servo, mas de um filho. Então, Ele, como Assuero, mostrará as riquezas da glória do seu reino (Ester 1.4). A provisão feita para os crentes no concerto da graça não é algo que vermes indignos, como nós, tenhamos motivos para esperar, mas algo que é conveniente que o Rei da glória ofereça. Ele dá a si mesmo; pois Ele se dá para ser para eles El Shaddai – um Deus que é suficiente, uma festa de verdade para a alma.
II – Os chamados e as ofertas do Evangelho são representados por um convite para esse jantar. Aqueles que oferecem um banquete comemorativo devem ter convidados a quem agraciar com o jantar. Os convidados de Deus são os filhos dos homens. “Senhor, que é o homem”, para ser dignificado dessa maneira! Os que foram convidados primeiro foram os judeus; onde quer que o Evangelho seja pregado, esse convite é feito. Os ministros são os servos que são enviados com os convites (Provérbios 9.4,5).
Considere que:
1. As pessoas são chamadas, convidadas para as bodas. Os convites são enviados a todos aqueles que ouvem o som alegre do Evangelho. Os ser vos que trazem os convites não escrevem os nomes dos convidados em um papel; não há necessidade disso, uma vez que ninguém está excluído, exceto aqueles que se excluem voluntariamente. Aqueles que são convidados para o jantar são convidados para as bodas; pois todo aquele que participa dos privilégios do Evangelho deve com parecer respeitosamente diante do Senhor Jesus, como amigo fiel e servo humilde do Esposo. Eles são convidados para as bodas, para que possam ir e encontrar o Esposo; pois é a vontade do Pai que todos os homens honrem ao Filho.
2. As pessoas são chamadas, pois no Evangelho não há apenas propostas graciosas, mas também persuasões graciosas. Nós persuadimos os homens e lhes rogamos da parte de Cristo (2 Coríntios 5.11,20). Veja o quanto o coração de Cristo está preocupado com a felicidade das nossas pobres almas! Ele não somente provê para elas, em consideração às suas necessidades, mas manda chamá-las, em consideração à sua fraqueza e descuido. Quando os convidados não quiseram comparecer, o rei enviou outros servos (v. 4). Quando os profetas do Antigo Testamento não conseguiram convencê-los, nem João Batista, nem o próprio Cristo – que lhes disse que os preparativos estavam prontos (era chegado o Reino de Deus) – , os apóstolos e os ministros do Evangelho foram enviados, depois da ressurreição de Cristo, para lhes dizer que o reino era chegado, que estava tudo pronto, e para persuadi-los a aceitar o convite. Alguém poderia pensar que teria sido suficiente dar a entender aos homens que eles tinham permissão de vir, e que seriam bem-vindos; que, durante a solenidade das bodas, o rei deixaria as portas abertas; mas, como o homem não discerne naturalmente, e, portanto, não deseja as coisas do Espírito de Deus, somos pressionados a aceitar o convite mediante as persuasões mais poderosas, atraídos com as cordas humanas e com todos os laços do amor. Se a repetição do convite nos comover: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17). Se o motivo do chamado nos comover: “Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto”. O Pai está preparado para nos aceitar; o Filho, para interceder por nós; o Espírito, para nos santificar; o perdão está pronto; a paz está pronta; o consolo está pronto; as promessas estão prontas, como fontes de água viva; as regulamentações estão prontas, como grandes canos para transporte de água; os anjos estão prontos para nos servir; as criaturas estão prontas para serem nossas aliadas; as providências estão prontas para trabalhar para o nosso bem; e o céu, por fim, está pronto para nos receber. Está tudo pronto. E nós não estamos? Toda essa preparação está feita para nós, e ainda há lugar para alguma dúvida quanto à maneira como seremos recebidos, se viermos de maneira adequada? Venha, portanto, venha às bodas; nós vos exortamos a que “não recebais a graça de Deus em vão” (2 Coríntios 6.1).
III – A fria recepção que o Evangelho frequentemente encontra entre os filhos dos homens, representada pela fria recepção que esse convite encontrou, e pela recepção que os mensageiros encontraram, em que tanto o próprio rei como o noivo são ofendidos. Isso reflete, basicamente, os judeus, que rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos; mas também se refere ao desprezo que, em todas as épocas, será dedicado ao Evangelho de Cristo, e à oposição que ele enfrentará.
1. O convite foi desprezado de maneira imoral (v. 3): “não quiseram vir”. Observe a razão pela qual os pecadores não vêm a Cristo, nem à salvação que é dada por Ele. Não é porque eles não possam, mas porque não querem (João 5.40): “Não quer eis vir a mim”. Isso irá agravar a infelicidade dos pecadores, pois poderiam ter tido uma grande felicidade se viessem; mas foi uma obra deles mesmos a atitude de se recusarem a vir. “Quis eu…, e tu não quiseste”. Mas isso não era tudo (v. 5): “não fazendo caso”. Eles pensaram que não valia a pena ir. Pensaram que os mensageiros faziam mais alvoroço que o necessário; por mais que eles destacassem os preparativos, os convidados festejariam muito bem em suas próprias casas. Fazer pouco de Cristo, e da grande salvação operada por Ele, é o pecado destruidor do mundo. Eles foram negligentes. Multidões perecem, eternamente, por simples descuido, não por terem qualquer aversão direta às questões das suas almas, mas por uma indiferença predominante, e por uma despreocupação com tais questões.
E a razão pela qual fizeram pouco do jantar das bodas foi que eles tinham outras coisas com que se preocupavam mais; seguiram seus caminhos, “um para o seu campo, outro para o seu negócio”. Observe que os negócios e o lucro das coisas do mundo provam ser, para muitos, um grande obstáculo ao fechamento com Cristo; nenhum deu as costas para o jantar, mas todos ofereceram alguma desculpa plausível (Lucas 14.18). As pessoas do campo tinham as suas fazendas para cuidar, onde sempre há uma coisa ou outra para fazer; as pessoas da cidade precisavam cuidar das lojas, e se preocupar com as questões financeiras; eles precisavam comprar, vender, e ter luro. É verdade que tanto os fazendeiros quanto os comerciantes precisam ser diligentes nos seus negócios, mas não a ponto de se verem impedidos de fazer da fé o se u principal negócio. Essas coisas lícitas nos destroem, quando são manejadas de maneira imprópria, quando somos tão cuidadosos e preocupados com tantas coisas, a ponto de negligenciarmos a única coisa necessária. Observe que tanto a cidade quanto o campo têm as suas tentações; o comércio tem algumas, enquanto as fazendas têm outras. Desse modo, a despeito de qualquer coisa do mundo que tenhamos em nossas mãos, a nossa preocupação deve ser mante r isso fora dos nossos corações, para que não se interponha entre nós e Cristo.
2. Os mensageiros foram maltratados de forma vil; os que sobraram, isto é, aqueles que não foram ao campo nem aos seus negócios, não eram nem lavradores nem comerciantes, mas eclesiásticos. Eram os escribas e os fariseus, os principais dos sacerdotes; eram os perseguidores. Eles tomaram os servos e os ultrajaram, e os mataram. Isto, na parábola, é incompreensível. Como puderam ser tão rudes e bárbaros, como essas pessoas, com os servos que vieram convidá-los a uma festa; mas, na aplicação da parábola, era verdade; aqueles cujos pés deveriam ter sido bonitos, porque traziam as boas-novas de festas solenes (Naum 1.15), foram tratados como a escória de todos (1 Coríntios 4.13). Os profetas e João Batista já tinham sido maltratados dessa maneira, e os apóstolos e ministros de Cristo deviam esperar a mesma coisa. Os judeus, direta ou indiretamente, eram os agentes da maioria das perseguições contra os pregadores do Evangelho. Um testemunho dessa verdade é a história dos Atos dos Apóstolos, que retrata os seus sofrimentos.
IV – A destruição completa que viria sobre a igreja e a nação dos judeus é aqui representada pela vingança que o rei, irado, enviou contra esses insolentes dissidentes (v. 7). Ele se encolerizou. Os judeus, que tinham sido o povo do amor e da bênção de Deus, ao rejeitarem o Evangelho, tornaram-se a geração da sua ira e maldição. A ira de Deus caiu sobre eles até ao fim (1 Tessalonicenses 2.16). Considere aqui:
1. Qual foi o pecado que produziu a destruição: o fato de eles terem assassinado os servos. Não se diz que Ele destruiu os que desprezaram o seu convite, mas que destruiu os homicidas, os que tinham matado os seus servos. Como se Deus tivesse mais zelo pela vida dos seus ministros do que pela honra do seu Evangelho. Aquele que os toca, toca a menina dos seus olhos. Observe que a perseguição dos ministros fiéis de Cristo merece a imputação da culpa, mais que qualquer outra coisa. Encher Jerusalém de sangue inocente foi o pecado de Manasses que o Senhor não quis perdoar (2 Reis 24.4).
2. Qual foi a destruição que veio: Ele enviou “os seus exércitos”. Os exércitos romanos eram os seus exércitos, que Ele convocou, que Ele enviou contra o povo da sua ira, e a ordem era destruí-lo (Isaias 10.6). Deus é o Senhor dos exércitos dos homens, e faz deles o uso que quiser, para servir aos seus próprios objetivos, embora eles não o percebam, nem o seu coração assim o imagine (Isaias 10.7; veja Miqueias 4.11,12). Com seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Isto indica, muito claramente, a destruição dos judeus e o incêndio de Jerusalém, pelos romanos, quarenta anos mais tarde. Nenhuma época jamais viu uma destruição maior do que aquela, nem efeitos mais diretos do fogo e da espada. Embora Jerusalém tivesse sido uma cidade santa, a cidade que Deus tinha escolhido para lhe dar o seu nome, bonita por condição, a alegria de toda a terra, ainda as sim aquela cidade agora tinha se tornado uma prostituta, e a justiça não mais habitava ali, mas os homicidas, os piores homicidas (como diz o profeta, Isaias 1.21). Assim, o julgamento caiu sobre ela, e a destruição não teve remédio; e isso serve de exemplo a tudo o que se opuser a Cristo e ao seu Evangelho. A vingança à oposição ao seu concerto foi uma obra do Senhor.
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