O PODER AFETA O CÉREBRO
Ele bloqueia o processo neural de manifestação de empatia.
No século 19, quando o historiador britânico Lorde Acton proferiu sua manjada frase (“O poder absoluto corrompe absolutamente”), ele se referia essencialmente a aspectos morais da questão. Mas agora a ciência mostra que a sensação de poder também causa danos cerebrais e não apenas desvios éticos. Estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley detectou que o poder torna a pessoa mais impulsiva, a ponto de não levar riscos em consideração e, sobretudo, de demonstrar menos habilidade de ouvir e avaliar pontos de vista alheios. E pesquisa semelhante, da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, confirmou essa conclusão: ao analisar tomografias cerebrais de participantes, constatou que aqueles com maior sensação de poder bloqueavam um processo neural específico, impedindo a manifestação de empatia.
É o que os cientistas batizaram de “paradoxo do poder”: uma vez conquistado o comando, perdemos aquela capacidade que nos levou a ele inicialmente. Isso gera o “déficit de empatia”, fazendo com que o chefe deixe de reagir de acordo com o comportamento dos subordinados, como retribuir piadas com bom humor ou agir sério quando a situação é grave. Ao final, esse “fosso emocional” acaba prejudicando os relacionamentos e, em consequência, a produtividade. Para uma boa liderança, agir de acordo com o contexto de cada momento ajuda a fortalecer a confiança da equipe e abrir espaço para debater e formular soluções.
Estudo da Kellogg School of Management, da Universidade Northwestern, emite outro alerta: o poder reduz percepção e perspectiva. Em um experimento, por exemplo, os participantes deveriam escrever a letra “E” na própria testa para que outros a lessem, isto é, a pessoa deveria se ater ao ponto de vista do observador. Resultado: aqueles com maior sensação de poder demonstraram três vezes mais a tendência de escrever a letra voltada para si mesmo, sem se preocupar com a leitura do observador.
Os pesquisadores da Universidade McMaster também ressaltam a importância do fenômeno mental conhecido como “espelhamento”, que muitas vezes ocorre totalmente independente de nosso controle: ao vermos alguém desempenhar uma tarefa, inconscientemente ativamos em resposta a região do cérebro que usaríamos para fazer a mesma coisa. Chegamos até a imitar alguns elementos da linguagem corporal do outro, como gestos, expressões faciais ou respiração – o que sinaliza a importância de uma liderança adotar a postura correta para gerar um “espelhamento” produtivo em sua equipe.
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