PSICOLOGIA ANALÍTICA

PANDORA

Força psíquica desconcertante, o inconsciente remete a uma caixa de Pandora que abriga sonhos proibidos, pesadelos e informação subliminar.

Pandora

Mas afinal o que é o inconsciente em termos neurobiológico? De que é feito, como se processa? Que mecanismos o engendram? Numa primeira aproximação, podemos dizer que o inconsciente é feito de todas as memórias armazenadas, porém não imediatamente acessíveis. Essa definição ampla inclui em primeiro lugar as memórias que sabemos ter adquirido ao longo da vida, mas nas quais não estamos pensando num dado momento de referência. Inclui também as memórias que não percebemos chegar, escondidas da consciência pela debilidade do estímulo ou por simples falta de atenção. O inconsciente abriga ainda memórias particularmente desagradáveis que tendemos a recalcar, isto é, suprimir ativamente. A composição do inconsciente faz dele uma força psíquica frequentemente desconcertante, uma caixa de Pandora que abriga sonhos proibidos, pesadelos horrendos e muita informação subliminar.

Sabe-se há décadas que as regiões do córtex cerebral dedicadas à visão se dividem em duas grandes vias de processamento, uma dorsal e outra ventral. Enquanto a via ventral é ativada pela percepção visual consciente de faces e outros objetos estáticos, experimentos com primatas e estudos neurológicos sugerem que a via dorsal processa informações visuais relacionadas a movimento (tais como o uso de ferramentas), com ou sem a consciência do sujeito. Utilizando imageamento por ressonância magnética funcional, pesquisadores da Universidade de Minnesota obtiveram pela primeira vez evidências diretas em humanos de que a via dorsal é ativada por imagens subliminares (Fang e He., “Cortical responses to invisible objects in the human dorsal and ventral pathways” (2005), Nature Neurocience 8,1380-1385).

O engenhoso experimento explorou o fenômeno da rivalidade binocular.

Foram apresentadas imagens distintas para cada olho: uma muito tênue representando objetos, e outra de alto-contraste contendo nítido visual amórfico. Nessas condições, a imagem de alto-contraste inibe a percepção da imagem de baixo-contraste, tornando invisíveis os objetos tênues apresentados a apenas um dos olhos. A ativação cerebral obtida durante a apresentação do objeto oculto e íntegro foi então comparada com a atividade neural registrada quando a imagem do objeto oculto era completamente embaralhada, pixel a pixel.

O resultado foi surpreendente. Ainda que, em ambos os casos fosse impossível ter qualquer percepção consciente do objeto, a via dorsal se ativou muito mais durante a apresentação de objetos ocultos íntegros que durante a apresentação de objetos ocultos embaralhados. Quando os experimentadores separaram os objetos ocultos íntegros em duas categorias, faces e ferramentas, verificou-se que a ativação da via dorsal por objetos ocultos ocorria seletivamente para ferramentas, mas não para faces.

Os achados de Fang e He têm implicações sociais abrangentes: se imagens subliminares produzem ativações corticais profundas e específicas para o tipo de objeto apresentado todo libelo contra a violência na televisão parece bem fundado na ciência. O estudo atualiza ainda a centenária constatação de Freud: a despeito de toda nossa lógica e razão, apesar de todas as conquistas da civilização humana, evoluímos de modo a captar conscientemente apenas uma pequena fração da realidade.

Em sua maior parte, o Real permanece invisível e premente, oculto e presente, completamente inconsciente, perigoso e rente, longe do que se pensa, mas não do que se sente… até que de repente escapa o evento impertinente: na forma de chiste, de sonho, de sintoma ou de acidente.

SIDARTA RIBEIRO –  é PHD em neurobiologia pela Universidade Rockefeller. Fez pós-doutorado na Universidade de Duke, investigando as bases moleculares e celulares do papel do sono e dos sonhos no aprendizado.

OUTROS OLHARES

VITÓRIAS CONTRA O CÂNCER DE MAMA

A medicina conhece a primeira mulher que usou suas células de defesa para evitar a progressão da doença e aplaude duas importantes pesquisas mostrando que boa parte das pacientes necessita de menos remédio. O caminho é a terapia personalizada.

Vitórias contra o câncer de mama

 

A maior parte dos avanços históricos contra o câncer é anunciada na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, Asco, o mais importante encontro da especialidade do mundo. Na edição deste ano, realizada em Chicago, os destaques foram os avanços no tratamento do câncer de mama, o mais comum entre as mulheres na maioria dos países – no Brasil, perde apenas para o tumor de pele não-melanoma. Na raiz dos dois principais trabalhos apresentados sobre o tema está a boa notícia de que muitas das pacientes necessitarão de menos remédio do que o recomendado até agora. Isso significa menor exposição a efeitos colaterais como fadiga e diarreia constante e também economia nos gastos com o tratamento, questão vital para que o custeio das terapias seja viável.

A primeira boa novidade atinge cerca de 70% das mulheres com a doença. Elas apresentam o chamado subtipo luminal de tumor, caracterizado pela presença, nas células tumorais, de receptores hormonais femininos (estrógeno e progesterona). Hoje há alguns testes que avaliam as marcas genéticas da doença, informações atualmente determinantes para saber a chance de o tumor se disseminar e que resposta terá aos remédios. Na pesquisa anunciada na semana passada, 10,2 mil pacientes foram submetidas ao exame Oncotype CX, que analisa 21 genes associados ao tumor e indica o grau de risco em notas que vão de zero a 100. No estudo, considerou-se baixo risco até dez, intermediário de 10 a 25 e, acima disso, alto. “Para a maioria das 6,7 mil pacientes que compunham o risco intermediário ficou evidente que a quimioterapia é desnecessária após a cirurgia para retirada do tumor”, explica o médico Mário Alberto da Costa, da Oncoclínica Centro de Tratamento Oncológico, no Rio de Janeiro. O tratamento à base de hormônios é suficiente.

Antes, sabia-se que a quimioterapia não precisava ser usada apenas para pacientes com escore abaixo de dez. “A nova informação refina mais o tratamento pós-operatório”, afirma o oncologista Fernando Maluf, diretor médico associado do Centro Oncológico da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo. Para as pacientes, prescindir da quimioterapia significa não sofrer os efeitos adversos comuns aos remédios, que incluem náuseas, cansaço e perda de cabelo. Entre as mulheres que apresentaram risco entre 21 e 25 e que se encontravam na pré-menopausa, no entanto, a combinação entre a quimio e a terapia hormonal apresentou pequeno benefício.

AVALIAÇÃO GENÉTICA

O achado só foi possível graças ao salto no conhecimento sobre a genética do tumor e sua importância no combate à enfermidade observado na última década. Isso mudou tudo no tratamento do câncer. As informações genéticas extraídas de cada tumor mostraram que não basta apenas avaliar a localização do câncer e o estado clínico do paciente. É preciso considerar as características genéticas expressadas pelas células tumorais e também do paciente como um todo para que o tratamento seja mais eficaz (sabe-se, por exemplo, que uma mesma medicação pode funcionar para um doente e não para outro). É a união das informações que permite atualmente o desenho de terapias especificas. Não é por outra razão que a medicina viu disparar nos últimos anos o lançamento de drogas que atuam sobre subtipos muito próprios revelados por meio dos estudos genéticos.

 EXPERIMENTO PIONEIRO

O segundo experimento festejado na reunião deste ano também se deve a isso. Ele teve como alvo mulheres portadoras do subtipo HER-2 positivo, caracterizado pela presença de uma alteração genética do tumor que estimula as células doentes a produzir em excesso a proteína HER-2. Essa mutação toma a doença mais agressiva. O recomendado até hoje era que, para evitar a volta do tumor depois da cirurgia, as pacientes recebessem quimioterapia e uma das medicações que bloqueiam especificamente a atuação da proteína. No caso da pesquisa, o remédio usado foi o transtuzumabe. Os cientistas avaliaram a reação ao uso do medicamento durante seis e doze meses. A resposta demonstrou que a evolução e sobrevida entre os dois grupos é praticamente a mesma. “Além de poupar a mulher de efeitos colaterais causados pelo remédio, a informação resultará em uma economia enorme no tratamento”, diz o oncologista Sergio Simon, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Um dos riscos mais preocupantes decorrentes da utilização da droga é o dano cardíaco que pode provocar.

Outro experimento inovador também mexeu com a comunidade médica na mesma semana do encontro da Sociedade Americana de Oncologia e trouxe ainda mais esperança de novos recursos contra a doença. Em um artigo publicado na revista científica Nature Medicine – uma das mais res­ peitadas do mundo – pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos descreveram de que maneira conseguiram deixar livre do câncer de mama, pela primeira vez, uma paciente submetida a uma estratégia que usa as próprias células de defesa do doente como arma.

O caminho já foi usado, também com sucesso. para bloquear tumor de pele e de pulmão. A paciente é a engenheira americana Judy Perkins, 49 anos, moradora da Flórida. Seu prognóstico era de três meses de vida depois que o tumor originado em sua mama direita se espalhou para outras partes do corpo (metástase) e não respondia aos tratamentos. Os médicos a selecionaram para o estudo e, após dois anos, constataram que a doença havia sido contida.

Primeiro, os pesquisadores extraíram de seu organismo células do sistema de defesa capazes de localizar e matar o tumor. Depois, as multiplicaram em laboratório. Em seguida, o conteúdo foi injetado em Judy. Todas as lesões metastáticas desapareceram. “Foi uma resposta notável”, declarou o coordenador do trabalho, o médico americano Steven Rosenberg. Há um longo caminho antes de o recurso tomar-se disponível. Depois de terem a boa notícia com Judy, os médicos precisam, antes de tudo, saber se ela será replicada em mais pacientes. Eles estão confiantes que sim.

 Vitórias contra o câncer de mama2

OPÇÃO PARA MELANOMA

Novidades importantes foram apresentadas também contra o melanoma, o tipo mais agressivo de tumor de pele. Entre elas estão os resultados animadores do uso combinado de duas medicações (encorafenibe e binimetinibe) em casos nos quais o tumor se espalhou ou apresenta mutação no gene BRAF, algo que corresponde à metade dos casos, e não pode ser completamente retirado por cirurgia. A estratégia dobrou o tempo de sobrevida em comparação à utilização de apenas um dos remédios indicado para a doença (vemurafenibe). Além disso, houve melhora na qualidade de vida. “O tratamento é bem tolerado. Não observamos febre ou fotossensibilidade, por exemplo”, disse Reinhard Dummer, da Universidade de Zurique, principal autor do estudo que forneceu a conclusão.

 

GESTÃO E CARREIRA

MESTRE DAS MÁQUINAS

Com o avanço da inteligência artificial, cresce a demanda pelo profissional especializado em ensinar computadores a pensar como humanos.

Mestre das máquinas

Em vez de giz, lousa e cadernos, o professor de robôs usa algoritmos. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar em machine learning (aprendizado de máquina”), com certeza já passou por uma situação que envolva essa tecnologia de inteligência artificial (AI). Serviços famosos de streaming, como Netflix e Spotify, por exemplo, preparam listas de sugestões para os usuários com base em seu gosto pessoal – e o robô responsável por essa façanha não aprende isso sozinho. Quem o ensina é o cientista (ou engenheiro) de dados. Esse profissional cria cálculos que simulam o processo de decisão do cérebro de quem assiste aos filmes ou escuta as músicas. Para isso, coleta dados, enxerga padrões e insere informações no sistema.

Luiz Braz, de 33 anos, formado em tecnologia da informação pela Fatec, em São Paulo, é um desses especialistas empenhados em educar os robôs. Ele ensina as máquinas do Vagas.com. Hoje, sua principal função é melhorar a correspondência entre os candidatos e as vagas oferecidas no portal. “Estamos ensinado a inteligência artificial a entender padrões no currículo que identifiquem com maior precisão se ele é adequado ou não a um cargo”, diz. De acordo com Luiz, uma das coisas mais importantes é tomar cuidado para não transformar as máquinas tendenciosas. ”Como ela aprende com os padrões de dados, se eles são carregados de preconceitos humanos, ela pode, por exemplo, julgar que deve oferecer certas vagas só para quem fez uma faculdade renomada”, diz Luiz. ”Nosso papel também é identificar quais são os vieses a ser evitados.”

Não existe no país uma graduação de machine learning, mas cursos como TI, matemática e engenharia da computação são indicados para quem deseja atuar como professor de AI numa empresa. Atualmente, a dificuldade está no plano de carreira. “Como é uma ocupação nova, é difícil dizer até onde se pode chegar. Tudo vai depender de como evoluir a tecnologia”, diz Diego Mariz, gerente sênior na Michael Page, empresa de recrutamento. Mas uma coisa é certa: a demanda por esse tipo de especialista não esgotará tão cedo.

 Mestre das máquinas.2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 28: 16-20

Alimento diário

A Comissão Apostólica

Esse evangelista exclui várias outras aparições de Cristo relatadas por Lucas e João, e passa rapidamente a tratar daquilo que foi o evento mais solene, prometido e designado várias vezes antes de sua morte, e após a sua ressurreição. Considere:

 

I – Como os discípulos reagiram ao seu aparecimento, o que estava de acordo com a instrução que receberam (v. 16). Eles partiram para a Galileia, uma longa jornada a percorrer para uma única visão de Cristo, mas valeu a pena. Eles o haviam visto diversas vezes em Jerusalém, no entanto foram para a Galileia, para vê-lo ali.

1. Porque o Senhor os instruiu a fazer isso. Embora parecesse desnecessário ir para a Galileia – para ver o Senhor, a quem poderiam ver em Jerusalém, especialmente quando deveriam voltar tão cedo a Jerusalém, antes de sua ascensão-, eles tinham aprendido a obedecer às ordens de Cristo, e não se oporem a elas. Observe que aqueles que iriam manter uma comunhão com Cristo deveriam servi-lo no local que Ele designasse. Aqueles que o obedecem em uma ordenança, de vem obedecê-lo em outra; aqueles que o viram em Jerusalém, deveriam ir para a Galileia.

2. Porque essa deveria ser uma reunião pública e geral. Eles mesmos tinham visto o Senhor, e conversaram com Ele em particular. Mas isso não deveria servir como desculpa para que não comparecessem a uma reunião solene, onde muitos se reuniriam para vê-lo. Observe que a nossa comunhão com Deus, em nossa privacidade, não deve ultrapassar a nossa presença no culto público, conforme as oportunidades que tivermos; porque Deus ama as portas de Sião, e nós devemos fazer o mesmo. O lugar escolhido era uma montanha na Galileia, provavelmente a mesma montanha na qual o Senhor foi transfigurado. Ali eles se encontraram, em particular; o que talvez servisse para mostrar o estado exaltado no qual Ele entrou, e os seus avanços em direção ao mundo superior.

 

II –  Como eles foram afetados pelo aparecimento de Cristo a eles (v. 17). Agora temos o momento em que Ele foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos (1 Coríntios 15.6). Alguns pensam que eles o viram, a princípio, de uma certa distância, acima, no ar; Ele foi visto acima, por quinhentos irmãos (assim muitos leem essa passagem), o que deu ocasião para que alguns duvidassem, até que Ele se aproximou (v. 18), e então ficaram satisfeitos. Somos informados:

1. Que eles o adoraram; muitos deles fizeram isso, e parece que todos o fizeram, dando-lhe urna honra divina, que foi sugerida por algumas expressões externas de adoração. Observe que todos aqueles que veem o Senhor Jesus com um olhar de fé sentem-se obrigados a adorá-lo.

2. Mas alguns duvidaram, alguns que estavam presentes naquela ocasião. Observe que mesmo entre aqueles que adoraram havia alguns que duvidaram. Até mesmo a fé daqueles que são sinceros pode ser ainda muito fraca e inconstante. Eles duvidaram, eles ficaram em suspense, como os pratos da balança, quando é difícil dizer qual prepondera. Essas dúvidas foram depois disso removidas, e a fé deles cresceu até alcançar a plena convicção, o que foi uma honra para Cristo. Pois, uma vez que os discípulos duvidaram antes de crer, eles não poderiam ser chamados de crédulos, e dispostos a receber quaisquer imposições; porque eles primeiro questionaram, e provaram todas as coisas, e então perseveraram no que era verdadeiro, e no que descobriram que era verdadeiro.

III –  O que Jesus Cristo lhes disse (vv. 18-20): “E, chegando-se Jesus, falou-lhes”. Embora alguns tenham duvidado, Ele não os rejeitou; porque Ele não “trilhará a cana quebrada”. Ele não ficou de longe, mas se aproximou, e lhes deu provas convincentes de sua ressurreição quando estabilizou a balança oscilante, e fez com que a fé deles triunfasse sobre as suas dúvidas. E, chegando-se Jesus, falou-lhes familiarmente, como um amigo fala com o outro, para que eles ficassem totalmente satisfeitos com a incumbência que Ele estava prestes a lhes dar. Aquele que se aproximou de Deus para lhe falar a nosso favor, se aproxima de nós para nos falar a respeito de Deus. Cristo agora entregou aos seus apóstolos a grande carta-régia do seu Reino no mundo; estava enviando-os como os seus embaixadores, e aqui lhes dá as suas credenciais.

Ao abrirmos essa grande carta-régia, podemos observar duas coisas:

1. A comissão que o nosso Senhor Jesus recebeu de Deus Pai. Estando prestes a autorizar os seus apóstolos, se alguém perguntasse com que autoridade Ele faz as suas maravilhas, e quem lhe deu esta autoridade, aqui o Senhor nos diz: “É me dado todo o poder no céu e na terra”; uma palavra muito expressiva, que ninguém além dele poderia pronunciar. Aqui Ele afirma o seu domínio universal como Mediador, que é o grande fundamento da religião cristã. Ele tem todo o poder. Observe:

(1)  Qual é a origem desse poder. Ele não o assumiu, não o usurpou, mas lhe foi dado. Ele foi legalmente autorizado a utilizá-lo, e foi investido nele, por uma concessão daquele que é a Fonte de todo o ser, e, consequentemente, de todo o poder. Deus Pai estabeleceu o Senhor Jesus como o Rei (Salmos 2.6), fez com que Ele tomasse posse, e o entronizou (Lucas 1.32). Sendo Deus, igual ao Pai, todo o poder era original e essencialmente dele. Mas como Mediador, como Deus-homem, todo o poder lhe foi dado. Em parte, em recompensa pela sua obra (porque Ele se humilhou, portanto Deus assim o exaltou), e em parte como cumprimento de seu próprio desígnio. Ele teve esse poder que lhe foi dado sobre toda a carne, para que pudesse dar a vida eterna a todos quantos lhe foram dados (João 17.2), para a mais efetiva execução e aperfeiçoamento da nossa salvação. Era desse poder que Ele estava agora mais notoriamente investido; o poder da sua ressurreição (Atos 13.3). Sim, Ele tinha poder anteriormente, poder para perdoar pecados (cap. 9.6); mas agora todo o poder lhe foi dado. Ele agora receberá para si mesmo um reino (Lucas 19.12), para se sentar à mão direita de Deus (Salmos 110.1). Tendo-o comprado, nada lhe resta além de tomar posse; este Reino é dele para sempre.

(2)  Onde é que Ele tem esse poder; no céu e na terra, compreendendo o universo. Cristo é o único Monarca universal, Ele é o Senhor de tudo e de todos (Atos 10.36). Ele tem todo o poder no céu. Ele tem o poder do domínio sobre os anjos, todos eles são seus humildes servos (Efésios 1.20,21). Ele tem o poder da intercessão junto ao seu amado Pai, em virtude de sua satisfação e expiação. Ele intercede, não como um suplicante, mas como um requerente: “Pai, quero”. Ele também tem todo o poder na terra; tendo atendido as exigências de Deus, através do sacrifício da expiação, Ele persuade aos homens, e lida com eles como aquele que tem autoridade, através do ministério da reconciliação. Ele é, na verdade, em todas as causas e sobre todas as pessoas, o Supremo Mediador e Governador. Por Ele, os reis reinam. Todas as almas são dele, e a Ele todo coração e joelho devem se dobrar, e toda língua deve confessar que Ele é o Senhor. Isto, o nosso Senhor lhes diz, não só para satisfazê-los quanto à autoridade que Ele tinha para comissiona- los, e para conduzi-los na execução de sua comissão, mas para tirar a ofensa da cruz; eles não tinham motivos para se envergonhar do Cristo crucificado, quando o viram assim glorificado.

2. A comissão que Ele dá àqueles a quem Ele envia: “Portanto, ide”. Essa comissão é dada:

(1)  Primeiramente aos apóstolos, os principais ministros de estado no reino de Cristo, os arquitetos que colocaram o alicerce da igreja. Então aqueles que tinham seguido a Cristo na regeneração, assentaram sobre tronos (Lucas 22.30): “Ide”. Não se trata apenas de uma palavra de ordem, como aquela: Filho, vai trabalhar; mas uma palavra de ânimo: Ide, e não temais, não vos enviei? Ide, e fazei este trabalho. Eles não devem se fixar e convocar as nações a ouvi-los; mas devem ir, e levar o Evangelho às portas das nações: “Ide”. Eles demonstravam uma grande afeição pela presença física de Cristo, apoiavam-se nela, e nela edificavam toda s as suas alegrias e esperanças. Mas agora Cristo os desobriga de cuidarem de sua Pessoa, e os envia a outras terras para um outro trabalho. Como a águia desperta o seu ninho, move se sobre os seus filhos, para fazer-lhes voar (Deuteronômio 32.11), assim Cristo desperta os seus discípulos, para dispersá-los por todo o mundo.

(2)  Aos seus sucessores, os ministros do Evangelho, cuja missão é transmitir o Evangelho de geração em geração, até o fim do mundo, em termos cronológicos, assim como era a sua missão transmiti-lo de nação em nação, até o fim do mundo, em termos geográficos; e nenhuma dessas tarefas pode ser considerada menos necessária. A promessa do Antigo Testamento de um ministério do Evangelho é feita em termos de sucessão (Isaias 59.21); e isto deve ser assim entendido. Caso contrário, como Cristo poderia estar sempre com eles até à consumação do mundo? Cristo, em sua ascensão, não só “deu apóstolos e profetas, mas pastores e doutores” (Efésios 4.11). Então observe:

[1] Até que ponto a sua comissão é estendida: a todas as nações. “Ide, e ensinai todas as nações”. Não que eles devessem ir todos juntos a todo lugar, mas por consentimento deveriam se dispersar de modo a poderem melhor difundir a luz do Evangelho. Agora isso se mostra claramente como a vontade de Cristo. Em primeiro lugar, a aliança da peculiaridade, feita com os judeus, deveria agora ser cancelada e abolida. Essa palavra pôs abaixo o muro da divisão, que, por tanto tempo, havia excluído os gentios de uma igreja-estado visível; e, embora os apóstolos – quando foram enviados pela primeira vez – tenham sido proibidos de entrar no caminho dos gentios, agora eles foram enviados a todas as nações. Em segundo lugar, a salvação de Cristo deveria ser oferecida a todos, e ninguém seria excluído, a menos que alguém se excluísse por in­ credulidade e impenitência. A salvação que eles deveriam pregar é uma salvação comum; qualquer que quiser, venha, e aproveite o benefício da isenção; porque em Cristo Jesus não há nenhuma diferença entre judeus e gregos. Em terceiro lugar, o cristianismo deve estar entrelaçado com as constituições nacionais, de modo que os reinos do mundo se tornem reinos de Cristo.

[2] Qual é a principal intenção dessa comissão: ensinar todas as nações, fazei o máximo para fazer das nações, nações cristãs”; não: “Ide às nações, e proclamai o juízo de Deus contra elas, como Jonas a Nínive, e como os outros profetas do Antigo Testamento” (embora tivessem motivo suficiente para esperar por isso, devido à maldade demonstrada pelas nações), mas: “Ide, e ensinai-as”. Cristo, o Mediador, ao estabelecer um reino no mundo, traz os povos das nações para serem os seus súditos; estabelecendo uma escola, traz os povos das nações para serem os seus alunos; levantando um exército para a execução da guerra contra os poderes das trevas, alista as nações da terra sob a sua bandeira. A obra que os apóstolos tinham a fazer consistia em estabelecer a religião cristã em todos os lugares, e era um trabalho honrado; as conquistas dos heróis poderosos do mundo não eram nada quando comparadas a isso. Eles conquistaram as nações para si mesmos, e as tornaram infelizes; os apóstolos as conquistaram para Cristo, e as tornaram felizes.

[3] As instruções para executarem essa comissão. Em primeiro lugar, eles devem admitir discípulos pelo rito sagrado do batismo: “Entrem em todas as nações, preguem o Evangelho aos povos, operem milagres nelas, e persuadam-nas a fazer parte da igreja, trazendo consigo os seus filhos; e então admitam-nos na igreja, lavando-os com água”: seja mergulhando-os na água, derramando ou aspergindo água sobre eles. O mais apropriado parece ser o batismo por imersão, já que a palavra batismo significa imersão. O texto em Isaías 44.3 também é muito importante neste contexto: “Derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade”. O texto em Tito 3.5,6 também menciona o Espírito que o Senhor derramou abundantemente sobre nós. Ezequiel 36.25, fala da água pura que o Senhor derrama sobre nós. O texto em Isaías 52.15, parece ser uma profecia dessa comissão que consiste em alcançar as nações.

Em segundo lugar, esse batismo deve ser administrado em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Isto é:

1. Pela autoridade do céu, e não do homem; porque os seus ministros agem pela autoridade das três pessoas da Trindade. O Pai, o Filho, e o Espírito Santo concordam quanto à nossa criação, como também quanto à nossa redenção; eles têm a sua comissão sob o grande selo do céu, que coloca uma honra sobre a ordenança, embora ao olhar carnal não tenha forma nem beleza, como aquele que o instituiu.

2. Invocando o nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Todas as coisas são santificadas pela oração, e particularmente pelas águas do batismo. A oração da fé obtém a presença de Deus com a ordenança, que é o seu brilho e beleza, a sua vida e eficácia. Mas:

3. É no nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Este conceito foi estabelecido como a síntese dos primeiros princípios da religião cristã, e da nova aliança. E os credos antigos foram redigidos com base nesse conceito. Ao sermos batizados, professamos solenemente:

(1)  A nossa concordância com a revelação das Escrituras com relação ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Confessamos a nossa crença de que há um Deus, de que existe apenas um Deus, que na Divindade há um Pai, um Filho, e um Espírito Santo. Nós somos batizados, não em nomes, mas em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, o que claramente sugere que estes três são um, e o nome deles é um só. A citação distinta das três pessoas da Trindade, tanto no batismo cristão mencionado aqui como na bênção cristã (2 Coríntios 13.13), é uma prova plena da doutrina da Trindade. Muito tem sido feito para preservar essa doutrina pura e sadia durante todas as eras da igreja; porque nada é maior e mais majestoso do que ela nas assembleias cristãs.

(2)  O nosso consentimento com uma relação de aliança com Deus, o Pai, Filho, e o Espírito Santo. O batismo é uma ordenança, isto é, é um juramento. E um juramento de abjuração, pelo qual renunciamos ao mundo e à carne, declarando-os rivais de Deus que competem pelo trono em nossos corações; é um juramento de fidelidade, pelo qual abandonamos a nossa própria vontade e nos entregamos a Deus, para sermos seus. Isto significa que entregamos ao Senhor o nosso próprio ser, todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, para sermos governados pela sua vontade, e sermos felizes desfrutando o seu favor. Assim nos tornamos homens e mulheres de Deus. É as­ sim que honramos ao Senhor. Portanto, o batismo é aplicado à pessoa, garantindo um título de posse que está relacionado às premissas, porque é a pessoa que é dedicada a Deus.

[1] O batismo é realizado em nome do Pai, pois cremos que Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (por que esta é a principal intenção aqui), e o nosso Pai. Como o nosso Criador, Sustentador e Benfeitor, a quem, portanto, entregamos a nós mesmos, como o nosso dono e proprietário absoluto, para nos impulsionar, e dispor de nós; como o nosso reitor e governador, para nos governar como agentes livres, por sua lei; e como o nosso principal bem, e o nosso fim mais elevado.

[2] É em nome do Filho, o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, e correlato ao Pai. O batismo era, de uma maneira particular, administrado em nome do Senhor Jesus (Atos 8.16; 19.5). No batismo, concordamos, como fez Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (cap. 16.16), e consentimos, como fez Tomé: “Senhor meu, e Deus meu” (João 20.28). Aceitamos Cristo como o nosso Profeta, Sacerdote e Rei, e nos entregamos para sermos ensinados, salvos, e governados por Ele.

[3] É em nome do Espírito Santo. Crendo na Divindade do Espírito Santo, e em sua ação para executar a nossa redenção, nos entregamos à sua direção e operação, como o nosso santificador, mestre, guia e consolador.

Em terceiro lugar, aqueles que são assim batizados, e admitidos entre os discípulos de Cristo, devem ser ensinados (v. 20): “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”. Isso denota duas coisas:

1. O dever dos discípulos, de todos os cristãos batizados. Eles devem observar todas as coisas que Cristo ordenou, e, para esse fim, devem se sujeitar ao ensino daqueles que Ele envia. A nossa admissão na igreja visível tem um propósito maior. Quando Cristo nos ensinou, Ele não terminou o seu relacionamento conosco. Ele alista soldados que possam continuar a serem instruídos para o seu serviço.

Todos aqueles que são batizados são, portanto, obrigados:

(1)  A fazer da ordem de Cristo a sua regra. Há uma lei de fé, e nos é dito que devemos estar debaixo da lei de Cristo; pelo batismo, somos ligados, e devemos obedecer.

(2)  A guardar o que Cristo ordenou. A devida obediência aos mandamentos de Cristo requer uma observação diligente; corremos o risco de sofrer grandes prejuízos se não prestarmos uma boa atenção a eles. E em toda a nossa obediência, devemos guardar a ordem, e fazer aquilo que fazemos corno se estivéssemos fazendo algo para o Senhor.

(3)  A guardar todas as coisas que o Senhor Jesus ordenou, sem exceção; todos os deveres morais, e todas as ordenanças instituídas. A nossa obediência às leis de Cristo não será sincera se ela não for universal; devemos fazer a sua vontade de uma forma completa.

(4)  A se restringir aos mandamentos de Cristo, não diminuindo nem acrescentando nada a eles.

(5)  A aprender quais são os seus deveres – de acordo com a lei de Cristo – com aqueles a quem Ele designou para serem mestres em sua escola, pois foi para isso que entramos em sua escola.

2. O dever dos apóstolos de Cristo, e seus ministros; ou seja, falar dos mandamentos de Cristo, expô-los aos seus discípulos, expressar-lhes a necessidade de obediência, e auxiliá-los a aplicar os mandamentos gerais de Cristo a casos específicos. Eles devem ensinar os mandamentos, não as suas próprias invenções, mas aquilo que foi instituído por Cristo. Eles devem aderir religiosamente aos mandamentos, e os cristãos devem ser instruídos no conhecimento deles. Um ministério firme é aqui estabelecido na igreja, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à condição de varão perfeito (Efésios 4.11-13). Os herdeiros do céu devem estar sob os cuidados de tutores e governadores, até que cheguem à maioridade.

3. Aqui está a segurança que o Senhor concede de sua presença espiritual com eles, na execução dessa comissão: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Esta promessa grandiosa e preciosa é apresentada com o termo “eis” para fortalecer a fé deles, e fazer com que a observem. “Observem isto: Vocês podem estar seguros dessa promessa, e agir com base nela”. Considere:

(1)  O favor que lhes foi prometido: “Eu estou convosco”. Não: Eu estarei convosco, mas: “Eu estou”. Assim como Deus enviou a Moisés, Cristo enviou os seus apóstolos, neste nome: “Eu sou”; pelo fato de Jesus Cristo ser Deus, para Ele o passado, o presente e o futuro são a mesma coisa. Veja Apocalipse 1.8. Ele então estava prestes a deixá-los. A sua presença física agora seria tirada deles, e isto os entristeceu; mas Ele lhes assegura da sua presença espiritual, que seria mais útil a eles do que a sua presença física poderia ser. “Eu estou convosco”, isto é, “o meu Espírito está convosco, o Consolador permanecerá convosco (João 16.7). Eu estou convosco, e não contra vós; convosco para vos ajudar, para estar ao vosso lado, e vos defender, como foi dito que Miguel, o nosso príncipe, faz (Daniel 10.21). Eu estou convosco, e não ausente de vós, não de longe; Eu sou o socorro bem presente” (Salmos 46.1). Cristo agora estava enviando-os para estabelecer o seu reino no mundo, o que seria uma grande tarefa. E então, no momento oportuno, Ele lhes promete a sua presença com eles:

[1] Para ajudá-los nas dificuldades que eles provavelmente enfrentariam. “Eu estou convosco, para vos sustentar, para pleitear a vossa causa; convosco em todos os vossos serviços, em todos os vossos sofrimentos, para salvar-vos com conforto e honra. Quando passardes pelo fogo ou pela água, Eu estarei convosco. No púlpito, na prisão, ‘eis que Eu estou convosco”‘.

[2] Para que sejam bem-sucedidos nessa grande tarefa: “‘Eis que eu estou convosco’, para tornar o vosso ministério eficaz no ensino das nações, para a destruição do domínio e das fortalezas de Satanás, e para que possais estabelecer um domínio mais forte para o Senhor Jesus”. Seria improvável que eles, por vontade própria, modificassem as constituições nacionais da religião, mudando os procedimentos que haviam sido adotados há tanto tempo; que eles estabelecessem uma doutrina tão diretamente contrária àquilo que era aceito na época, e persuadissem as pessoas a se tornarem os discípulos de um Jesus crucificado. Mas: “Eis que Eu estou convosco”, e, portanto, cumprireis vossa missão.

(2)  A continuidade do favor, sempre, até a consumação dos séculos.

[1] Eles terão a sua presença constante. Sempre, todos os dias, cada dia. “Eu estarei convosco aos sábados e nos dias da semana; nos dias bons e nos dias maus; nos dias de inverno e nos dias de verão”. Não há dia, nem hora do dia, em que o Senhor Jesus não esteja presente com a sua igreja e com os seus ministros; se houvesse esse dia, essa hora, os seus seguidores teriam um problema muito sério. Desde a sua ressurreição, Ele lhes havia aparecido de vez em quando, quem sabe uma vez por semana, e talvez apenas isso. Mas Ele lhes assegura de que eles terão a sua presença espiritual permanentemente consigo, sem qualquer interrupção. Onde quer que estejamos, a Palavra de Cristo estará perto de nós, em nossos lábios, e o Espírito de Cristo perto de nós, em nossos próprios corações. O Deus de Israel, o Salvador, é, às vezes, um Deus que se oculta (Isaias 45.15), mas nunca um Deus que se ausenta; às vezes, não podemos enxergá-lo, mas Ele nunca está longe de nós.

[2] Eles terão a sua presença perpétua, até “a consumação dos séculos”. Há um mundo diante de nós, que jamais terá fim, e o seu início está chegando apressadamente; e até lá, a religião cristã, em uma ou outra parte do mundo, será preservada, e a presença de Cristo será contínua com os seus ministros. Eu estou convosco “até à consumação dos séculos”; não apenas com a pessoa de cada um de vós, porque o ser humano morre rapidamente; mas, em primeiro lugar, convosco e com os vossos escritos. Há um poder divino acompanhando as Escrituras do Novo Testamento, não só preservando a sua existência, mas produzindo efeitos maravilhosos por meio deles, que continuarão até o fim dos tempos. Em segundo lugar, convosco e com os vossos sucessores; convosco e com todos os ministros do Evangelho nas várias épocas da igreja; com todos aqueles a quem essa comissão se estende; com todos os que, sendo devidamente chamados e enviados, as­ sim batizam e assim ensinam. Quando a consumação dos séculos chegar, e o reino for entregue a Deus, o Pai, não haverá então nenhuma outra necessidade de ministros e da sua ministração; mas até lá eles continuarão, e as boas intenções da instituição serão respondidas. Essa é uma palavra animadora para todos os ministros fiéis de Cristo, de que o que foi dito aos apóstolos, foi dito a todos eles: “Nunca te deixarei, nem te desampararei”.

Encontramos duas despedidas solenes que o nosso Senhor Jesus fez à sua igreja, e a sua palavra final em ambas é muito animadora. Uma delas ocorreu aqui, quando Ele concluiu a sua conversa pessoal com eles, e então a sua palavra final foi: “‘Eis que eu estou convosco todos os dias’. Eu partirei, mas ainda estou convosco”. A outra despedida ocorreu quando Ele encerrou o cânon das Escrituras pela composição de seu discípulo amado, e então a sua palavra final foi: “‘Certamente, cedo venho’. Eu vos deixo por pouco tempo, mas em breve voltarei para vós” (Apocalipse 22.20). Com isso, fica claro que o Senhor não partiu irado, mas com amor; e a sua vontade é que permaneçamos em nossa comunhão com Ele, mantendo a expectativa que temos em relação a Ele.

Resta ainda mais uma palavra que não deve ser ignorada, o ”Amém”. Ela não é uma escrita cifrada, com o único propósito de ser uma palavra de encerramento, como “fim” no término de um livro, mas ela tem o seu significado e a sua importância.

1. Ela revela a confirmação de Cristo em relação à sua promessa: “Eis que eu estou convosco”. É o seu Amém, em quem todas as promessas são Sim e Amém. Verdadeiramente, “Eu estou”, e estarei convosco. Eu, o Amém, a Testemunha fiel, vos asseguro disso. Ou:

2. Ela revela a concordância da igreja em seu desejo, oração e expectativa. É o Amém do evangelista – Assim seja, Senhor bendito. O nosso Amém, para as promessas de Cristo as transformam em orações. Cristo prometeu estar presente com os ministros, presente em sua palavra, presente nas reuniões do seu povo, mesmo que apenas dois ou três estejam reunidos em seu nome, e isso todos os dias, até à consumação dos séculos. Digamos Amém com muito entusiasmo; creiamos que será as­ sim, e oremos para que possa ser assim. Senhor, lembra-te desta palavra dada aos teus servos, na qual nos fizeste esperar.

O QUE A BÍBLIA ME ENSINOU

Igreja aprendendo a ser “Igreja”

O que a bíblia me ensinou

Uma outra demonstração de que a “Eklésia” cumpre o seu chamado está naquilo que nos é dado como missão, segundo o modelo ensinado por Jesus: Só seremos considerados “Igreja” quando cumprirmos nossa responsabilidade diante do próximo. Precisamos cumprir, como igreja, a função social para com a comunidade.
Os apóstolos compreenderam sua missão não somente quando andaram em meio aos pregando as boas novas, mas quando se preocuparam em repartir com os necessitados, assistiram as viúvas e os órfãos.
A preocupação em criar um corpo diaconal, descrita em atos 6, mostra quão importante era esse ministério que eles o faziam paralelo à pregação da palavra.
Precisamos hoje resgatar esses princípios e lembrarmos que a palavra de salvação, que é a expressão de nossa Fé, e nossas ações social e comunitária serão o elo definitivo para que possamos unir Fé e Obras.
Em Cristo,

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O NINHO CEREBRAL DOS DEMÔNIOS

No século XV, o Malleus maleficarum e manuais de exorcismo apontavam o ventrículo central como o local do cérebro onde se refugiavam os demônios.

O ninho cerebral dos demônios

O Malleus maleficarum ou “martelo das bruxas”, publicado dezenas de vezes desde 1484, além de justificar do ponto de vista teológico a caça às bruxas era um compêndio da doutrina tomista sobre os poderes dos demônios, notadamente o de dominar a mente das pessoas. É no Malleus, principalmente, que se baseia a teoria demonista da loucura, já que “além dos loucos naturais de que nos fala o evangelho”, existem as alienações causadas por um ou mais demônios.

Assim, alguns distúrbios das faculdades mentais podem resultar da obsessão diabólica, outros, muito mais graves, implicam a possessão. No primeiro caso, o demônio coage e perturba sua vítima como se a sitiasse, mas não a invade, não lhe corrompe a razão. (Mesmo hoje, um distúrbio obsessivo é visto como menos grave que a loucura, ou psicose; entra na categoria de neurose obsessiva compulsiva ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Graves são, segundo o Malleus, os casos de possessão, nos quais o demônio usurpa o controle total das funções mentais.

É quase um dogma na doutrina exorcística o princípio de que o demônio está sempre onde ele age. Se um homem repentinamente perde o movimento de um braço, é nesse braço que está o demônio. E é ali que o exorcismo deve atuar. Nos distúrbios mentais, o demônio encontra-se em alguma parte do cérebro responsável pela faculdade perturbada, num caso de amnésia, por exemplo, ele se instala na facultas memorativa. Mas nos casos de loucura, ou delírio, quando várias faculdades são perturbadas simultaneamente, mantida a ortodoxia doutrinária o demônio deve estar aninhado em alguma área de comunicação entre as diversas faculdades.

Além do Malleus, diversos manuais exorcísticos apontam, com base no conhecimento anatômico da época, o locus preciso do cérebro em que se aninham os demônios para causar o delírio. É no ventrículo central.

Eis o que diz o ‘Malleus:”…os demônios hão de encontrar-se na fantasia e nas percepções internas… eles são capazes de causar impressões nas faculdades internas… transpondo as imagens retidas nas faculdades correspondentes a um ou mais sentidos, assim como transferem, da memória, situada na parte posterior da cabeça, a imagem… para o meio da cabeça, onde estão as células da faculdade imaginativa e, daí, enfim, para [a região onde está] o sentido da razão, que se situa na frente da cabeça. Causam, assim, uma tal alteração e confusão, que tais imagens são percebidas como se fossem reais, diante dos nossos olhos”(Malleus, II, c.9).

Assim, instalados no ventrículo central, os demônios bloqueiam as informações da realidade, provindas dos sentidos, e abastecem a imaginação e a razão com imagens de percepções anteriores e com lembranças de experiências passadas. É assim que se explicam os absurdos do pensamento delirante.

Três ideias do Malleus perdurarão, na teoria ulterior do delírio: a da perda de coordenação entre funções cerebrais, a de bloqueio da percepção da realidade e a de que os conteúdos do pensamento delirante são, basicamente, resíduos de experiências anteriores, retidos na memória.  

 

ISAIAS PESSOTTI – é escritor e ex-professor titular de psicologia da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto. É autor de Os Nomes da Loucura e O Século dos Manicômios.

OUTROS OLHARES

A VALORIZAÇÃO DA MATURIDADE

É importante educar crianças e jovens sobre as questões pertinentes ao valor e respeito que a terceira idade merece, fazendo com que tenham uma visão privilegiada sobre os idosos.

A valorização da maturidade

Envelhecer é um processo de enfrentamento de desafios. Algumas medidas que mexem com padrões das aposentadorias deram ainda mais instabilidade a esse quadro. Como lidar com essa fase da vida cheia de inseguranças relacionadas à saúde, às finanças, ao ninho vazio, às perdas, aos lutos etc.?

É inegável que envelhecer parece estar se tornando cada dia mais difícil. Além das dificuldades básicas inerentes a qualquer pessoa idosa, a situação atual do país, que mexe com os padrões da aposentadoria e com o direito à dignidade e sustento de muitos idosos, tem tornado essa fase da vida ainda mais sofrida para todos.

Pessoas honestas, que passaram a vida inteira trabalhando e honrando mensalmente suas despesas e impostos consideráveis, chegam à terceira idade sem o retorno adequado de todo o seu esforço.

Como fica a cabeça de um idoso assim? Como lidar com todas as angústias, inseguranças e a sensação de humilhação, abandono e descaso com que muitos deles convivem diariamente?

Após uma vida inteira ativa no sentido de trabalhar, sustentar suas famílias, criar seus filhos e por vezes a esposa, pais e/ ou sogros, provendo o sustento como uma base ou alicerce da família, eles mudam de posição e passam a depender de outras pessoas para realizar, em alguns casos, até tarefas muito simples.

Mostram-se inseguros e vacilantes diante da incapacidade de fazer as tarefas físicas ou mentais que até então realizavam. Muitas vezes, parte da incapacidade nem é real, trata-se apenas de uma crença limitante de que não conseguem mais fazer certas coisas e que acaba levando-os à limitação real por evitarem a dificuldade imaginada, em que sequer tentam realizar essas tarefas. E, assim, eles começam a se aniquilar e vão deixando pouco a pouco de interagir com o ambiente e as pessoas.

Dificuldades antes nunca imaginadas por eles passam a acompanhá-los em diversos setores de suas vidas. Na alimentação, por exemplo, já não conseguem mastigar alimentos duros ou morder uma maçã. Até a carne fica difícil de mastigar, dependendo do estado do idoso. As tarefas simples do dia a dia também ficam prejudicadas. Subir ou descer escadas, caminhar grandes distâncias, sentar ou levantar do chão ou assentos baixos já se tornam fonte de dor, constrangimento e dependência.

Para as mulheres, em geral, aceitar a ajuda de outros para a realização dessas pequenas tarefas não se torna um problema. Mas algumas mulheres, e grande parte dos homens, sentem-se constrangidas quando se percebem dependendo dos outros para tarefas rotineiras das quais sempre deram conta. Há quem se sinta um estorvo na vida de seus familiares e fique deprimido, desejando morrer e acabar logo com esse fardo.

A visão e a audição já não são mais as mesmas. O que os atrapalha tanto nos momentos de lazer (assistir tele­ visão, ler um livro, ouvir suas músicas favoritas ou fazer palavras cruzadas) quanto para a locomoção sem acompanhamento de alguém, pois correm o risco de serem atropelados, assaltados ou passarem por alguma situação delicada na rua.

O equilíbrio e o reflexo também já se encontram consideravelmente diminuídos e aliam-se muitas vezes a falhas cada vez mais constantes na memória. Senhas passam a ser esquecidas e tarefas como ida a um banco ou ao mercado podem se tornar fonte de frustração, ansiedade ou insegurança.

Com todas essas dificuldades, e tantas outras não citadas aqui, acaba-se notando um isolamento e introversão dos idosos. Há quem se mantenha mais calado e recolhido pela falta de interesse em estar num grupo e não conseguir acompanhar os assuntos e participar daquele momento devido à deficiência auditiva e visual. E quanto mais os idosos se recolhem e evitam utilizar seus canais sensoriais, mais parece que eles se atrofiam e encarceram ainda mais nossos idosos.

Imagine como deve ser sobreviver sem poder ouvir ou ver bem, sentir o gosto dos alimentos que ingere, os cheiros ruins que nos servem como alertas e os bons que nos motivam e agradam? Como deve ser difícil se sentir um estorvo, atrapalhando, na concepção do idoso, um passeio em família, em que todos se limitam a dar alguns passos lentos aguardando seu caminhar difícil e tendo que auxiliá-lo a sentar, levantar, comer etc. Mesmo em casos nos quais a família vive isso com zelo e gratidão, expressando seu prazer em cuidar e estar com seus idosos assim, precisamos aceitar que é triste e/ ou humilhante para muitos deles ter que se submeter aos cuidados constantes.

Essas limitações aliadas à diminuição dos reflexos, da memória, lentidão do raciocínio e aos inúmeros avanços tecnológicos fazem com que os idosos fiquem inseguros e passem a depender de ajuda para a tomada de decisões, resolução de alguns problemas, movimentação de suas contas bancárias, por exemplo, sob o risco de serem lesados ou prejudicados de alguma forma por algum estranho ou por algum equívoco que possam cometer.

Muitos idosos passam a evitar dirigir, sentem-se mais medrosos e cautelosos frente à violência e aos perigos que podem ocorrer nas ruas e começam a se enclausurar. Esse movimento pode estar associado, inclusive, à presença de distúrbios psicológicos, como os de ansiedade ou fobia social, por exemplo, desenvolvendo quadros sofridos e repetitivos de sofrimento diante de necessidades incontroláveis, tais como: trancar todas as portas da casa (inclusive as in­ ternas que ligam os cômodos), checar torneiras, fogão e geladeiras dia e noite, esconder objetos e valores pela casa e sofrer depois até que consiga encontrá-los novamente.

A convivência com cuidadores e ajudantes nas tarefas de casa muitas vezes se torna um grande   desafio para todos os envolvidos. Quando os idosos se comportam de forma agressiva e ranzinza, desconfiada, antipática ou arrogante, a família precisa lidar com a constante procura de novo funcionário. Esse jeito difícil de ser aliado a manias de perseguição, delírios e paranoias, por exemplo, faz com que esses idosos transformem a convivência em algo infernal e adoecedor. E quando eles mesmos não expulsam seus cuidadores, os cuidadores acabam largando o serviço.

 

O MOMENTO DO “NINHO VAZIO”

Considera-se que um dos primeiros grandes baques para um casal com filhos seja o momento no qual eles se emancipam e seguem a vida, deixando a casa vazia, silenciosa e, às vezes, triste.

Como lidar com essa situação na qual o casal fica sozinho novamente? Um momento em que o casal nem se lembra mais como se vive a dois. Momento que chega por vezes de repente, depois de os pais viverem por anos dedicando-se exclusivamente aos filhos.

Muitos casais, após receberem os filhos, perdem a configuração de casal. Os papéis de marido e mulher dão lugar aos papéis de pai e mãe daqueles filhos. Todo o seu tempo, os planos e esforços são direcionados para a satisfação e criação dos filhos. Seus interesses e preferências são comumente deixados de lado e substituídos pelos das crianças.

Há casais que deixam de cultivar sua relação amorosa, suas relações sociais e os momentos de lazer (individuais e do casal), abrindo mão de sua satisfação pessoal para conquistarem a satisfação de seus filhos. E passam tantos anos vivendo para os filhos que, quando estes vão embora, deixam o casal sentindo-se meio perdido. Não sabem mais o que fazer com suas vidas e o tempo livre que passam a ter. Quais são seus gostos? O que desejam fazer ou comer?

Conhecer-se novamente passa a ser um desafio grande para esse casal. Toda a sua rotina de vida, que se modificou para a chegada e criação dos filhos, muda bruscamente mais uma vez. Mais um momento de adaptação e aprendizado.

Muitos casais enfrentam dificuldades sérias para retomarem a vida de casal novamente e se mantêm tentando viver a vida dos filhos. Apegados a eles, cobram suas ligações, sua atenção e sua presença constante. Há casos em que esse apego é tão excessivo que, por mais que o filho ligue e apareça, nunca parece ser suficiente. Com isso, correm o risco de interferir negativamente na vida do novo casal, causando desgastes e embates.

São casais que desaprenderam a se olhar, se cuidar e a tentar satisfazer seus próprios desejos. Muitos nem sabem se ainda desejam algo. Sentem como se não desejassem mais nada, além da função de cuidar da alegria e satisfação de seus filhos.

Dessa forma, um momento que deveria ser de retomada da vida do casal e busca por uma vida a dois mais tranquila e prazerosa torna-se uma vida angustiante, mal aproveitada e sem sentido.

 

A HORA DE SE APOSENTAR

Outro momento crítico na vida de uma pessoa é quando chega a hora de ela se aposentar. Depois de uma vida inteira cumprindo aquele papel profissional, sendo reconhecida como tal, chega a hora de deixar aquilo para trás.

Muitos postergam a aposentadoria pela necessidade de complementar a renda mensal da família. E mesmo que o corpo e a mente já não aguentem mais trabalhar, eles precisam continuar no emprego, numa espécie de tortura diária que afeta seu bem-estar, bom humor e prazer de viver.

Outros a adiam pela dificuldade de abrir mão daquele hábito diário e do status que o trabalho lhe dá. Quem passa a ser reconhecido como dr./dra. Ou mesmo quem ganha a fama de “João do Pastel’ por exemplo, enfrenta grande dificuldade de abrir mão disso. Mesmo cansados e podendo ou precisando se aposentar, eles estendem o máximo que podem seu tempo de serviço.

E, ao consumarem a aposentadoria, muitos são os casos de pessoas que adoecem e perdem o sentido de suas vidas. Parece que essas pessoas não conseguem desapegar do papel que cumpriram por anos e simplesmente seguir, honrando e aceitando o encerramento desse ciclo.

Casos em que a pessoa se despersonaliza totalmente, passando a ser exclusivamente o profissional, total­ mente identificado com o papel profissional empenhado e desqualificando o seu papel pessoal e/ou social. E quando o doutor deixa de estar em cena, não resta mais nada.

Isso pode vir da incapacidade dessas pessoas se relacionarem. Depois de passarem uma vida inteira alimentando seu ego e investindo na área mais confortável, em que ela se sentia mais apta e segura, como deixar a vida profissional e retomar a vida pessoal, que nunca conseguiu ser nutrida e fortalecida?

 

Mais uma etapa difícil e desafiadora que chega, geralmente inaugurando a fase da terceira idade. Etapa esta que influencia a vida do idoso e de toda a família, que sofre as consequências de sua insatisfação ou inapetência.

 

VIVÊNCIA DE MUITOS LUTOS

Outro ponto difícil para os que chegam à terceira idade é a fase na qual os idosos se dão conta de que muitos de seus familiares e amigos já morreram. Deparar-se com a reta final da vida não parece ser uma coisa fácil. Para alguns, a proximidade de descendentes queridos ou amigos próximos alivia e distrai dessa fase. Para outros, a constatação de que todos ou quase todos os entes queridos que nasceram até sua época já se foram acelera ainda mais esse momento final.

É comum se deprimir e encerrar a sua vida antes mesmo que ela termine, numa postura de reclusão e entrega. Tudo parece perder o sentido e eles deixam de fazer coisas que antes lhes proporcionavam bem-estar e alegria, e vivem por viver, dia após dia. Como que se negando a viver o resto de vida que ainda têm.

É uma fase delicada e doída, que exige o desapego de muitas coisas. Casas, e pessoas que coisas construíram suas vidas se foram. E, mesmo assim, você se vê obrigado a seguir com poucas coisas significativas. Quase tudo do seu passado se desfez. E é realmente muito difícil seguir adiante assim.

A valorização da maturidade.3

SAÚDE NA TERCEIRA IDADE

Nessa fase da vida é inevitável que apareçam diversos problemas de saúde. Além das limitações físicas naturais da idade, a maioria dos idosos precisa conviver diariamente com dores em várias partes do corpo. Muitas patologias aparecem como reflexo, ou não, de seus hábitos alimentares ou posturais de uma vida inteira. Atividades ou funções que ele se impôs ou que exigiram dele por muitos anos e que agora apresentam resultados danosos e irreversíveis, mentalmente ou fisicamente falando. Problemas nas articulações, coluna, coração, mente acelerada, ansiedade, depressão, muitas consequências que a vida dura acaba trazendo para a terceira idade.

Alguns penam por falta de consciência da consequência dos danos que serão provocados no futuro e outros por falta de opção de outro tipo de atividade de sustento. Mas todos os idosos levarão minimamente as marcas do desgaste do corpo físico e da velhice que chega após uma vida inteira de esforço e dedicação.

E o que fazer quando se alia um custo de vida muito alto, com um plano de saúde que pratica valores absurdos, versus uma aposentadoria extremamente baixa?

Na época em que o sujeito mais precisa do plano de saúde, que muitos pagam uma vida inteira sem sequer terem tempo disponível para utilizar, vê-se obrigado a dispor de valores altíssimos para se manter associado. Se por algum motivo o idoso não possuía plano de saúde e tem necessidade de ingressar em algum, provavelmente terá seu pedido negado, já que as companhias de plano de saúde não aceitam novos associados com idade avançada e problemas de saúde preexistentes.

Parece engraçado, para não dizer triste ou vergonhoso, especular que as companhias que oferecem plano de saúde preferem pessoas com saúde, que não necessitam utilizar o serviço por eles oferecido. Em sendo assim, qual se­ ria a finalidade de um plano de saúde? Promover e prezar pela saúde dos asso­ ciados, que se associam pela necessidade de buscar ou manter uma boa saúde, ou somente aceitar clientes com boa saúde para evitar despesas excessivas com os serviços prestados por eles?

Os idosos que têm a “sorte” de poder dispor de um plano de saúde, na hora que precisam de atendimento, ou na hora da realização de algum exame ou tratamento, sofrem, inicialmente, com a enorme dificuldade para agendar um horário. E sofrem mais ainda depois, com a espera desumana e longa em antessalas cheias e desconfortáveis para a efetivação do mesmo.

Afirmo que são desumanas, pois é comum vermos idosos com dificuldade de deslocamento sendo jogados para lá e para cá na tentativa de realizar um exame importante ou aguardando sua vez que nunca chega, enquanto sofrem com a fome do jejum necessário para o exame ou com o constrangimento horrível de não conseguir segurar a urina após ter bebido vários copos de água e não ter sido prontamente atendido.

É muito duro ver nossos idosos passando por situações tão difíceis numa fase da vida na qual eles deveriam ter um refresco, um alento, um retorno de tudo que eles construíram e significaram em sua existência. E vemos que, in­ dependentemente do papel que tenham cumprido ou da classe social a que pertencem, seu final de vida tende a parecer injusto e difícil.

Entendo que a necessidade dos mais novos sobreviverem, e darem conta de tudo o que aquele idoso proporcionou a eles um dia, tira deles por vezes a capacidade de valorizar e aproveitar seus idosos por mais tempo. Muitas vezes, só quando os perdemos nos damos conta de que poderíamos ter aproveitado mais a presença deles. Nossas crianças poderiam ter tido mais tempo junto deles, para ouvir suas histórias e receber muito aprendizado. Nós os deixamos ir sem perguntar muitas coisas que podiam ter sido perguntadas. Mas nos envolvemos tanto com as responsabilidades e dificuldades da vida que tantas vezes mal podemos honrar nossos antepassados como mereciam ser honrados.

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O VALOR DA TERCEIRA IDADE

Um dos sinais que indicam que um país é desenvolvido é o nível de consciência e valorização que se tem acerca da importância da população de terceira idade. Após uma vida inteira servindo a sua família e, de alguma forma, a sua pátria, um idoso deveria ter o direito a uma velhice tranquila e digna, na qual ele pudesse ter acesso à saúde com respeito e dignidade e pudesse dispor de instituições dedicadas a ele no sentido de ter atividades e ocupações saudáveis. Ocupações as quais talvez nunca tenham tido t empo e oportunidade de realizar, pela vida corrida e produtiva que levaram. Mas agora, com a disponibilidade de tempo, eles podem experimentar e descobrir prazeres, habilidades e até se sentirem úteis na realização de trabalhos nos quais podem compartilhar sua experiência e sabedoria adquirida na escola da vida. É um desperdício deixarmos nossos idosos se calarem e se isolarem, levando informações preciosas sobre nossa história e nosso passado. Talvez se enxergássemos seu valor e os respeitássemos como parte fundamental de nossas vidas e nossa história os idosos pudessem envelhecer de forma mais digna. Que possamos repensar esse tema e educar nossas crianças e jovens sobre as questões pertinentes ao valor e respeito que a terceira idade merece.

A valorização da maturidade.4 

AS PERDAS

A perda do companheiro de vida é uma das situações mais dolorosas na vida dos idosos. Após compartilhar uma trajetória inteira com alguém. fica muito difícil seguir sem ele. Mesmo nos casos nos quais a convivência não era fácil ou casos nos quais um dos cônjuges estava adoecido, a perda não é sinônimo de alívio e sim de vazio e dor. Não é difícil ver o cônjuge que permaneceu vivo definhar até morrer.

A valorização da maturidade.5 

ESTATÍSTICAS

No Brasil, a chamada terceira idade cresceu aproximadamente 11 vezes nos últimos 60 anos. saltando de 17 milhão para 18.5 milhões de pessoas nessa faixa etária. Segundo projeções em 2025 serão 611 milhões e, em 2050, um em cada três brasileiros será idoso. Por todos esses fatores é fundamental que as próximas gerações entendam a importância de respeitar essa população

 

DANIELE VANZAN – é psicóloga e especialista em Psicologia Jurídica. Formou-se posteriormente em Terapia de Vida Passada (Terapia Regressiva) e Constelação Sistêmica. Atualmente, atende e ministra cursos para terapeutas interessados nessas áreas de atuação. Autora de dois livros infantis pela Editora Boa Nova: Não Consigo Desgrudar da Mamãe, que versa sobre a ansiedade de separação, e Eu Sou o Rei de Todo o Mundo, que aborda a problemática das crianças que têm dificuldade de aceitar limites. São livros destinados a crianças e adultos que necessitam de informações e orientações acerca desses temas.

GESTÃO E CARREIRA

O FOCO SUSTENTA A CARREIRA

O foco sustenta a carreira

Na hora de escolher um investimento em educação ou aceitar uma proposta de trabalho, com frequência discutimos se a melhor estratégia de carreira é ter um foco específico ou ser um generalista. Porém, quando observo o mercado, não tenho dúvida de que o profissional é favorecido quando tem um eixo funcional definido.

Uma pesquisa conduzida pelas universidades Colúmbia e Tulane revelou que mais de 400 alunos de MBAs que atuavam no setor financeiro, mas que haviam se graduado em áreas distintas, obtiveram um bônus 15% maior se comparado ao dos que tinham formação específica em finanças. Os generalistas eram os preferidos; os especialistas, os castigados. Entretanto, mesmo que a formação acadêmica seja um fator de diferenciação, nenhum deles precisou migrar para outro departamento.

Thomas Malone, professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, explica em seu livro O Futuro dos Empregos (Editora M. Books) a “hiperespecialização” das carreiras. Ele afirma que não só as organizações, mas também todas as atividades da sociedade moderna necessitam de pessoas altamente especializadas. Isso ocorre porque a alta complexidade dos negócios, a redução elas estruturas e a pressão por resultados exigem o foco e conhecimentos consolidados.

Precisamos compreender que área-foco significa um conjunto de atividades que compõe o eixo funcional de carreira. Por exemplo, para se especializar em RH é preciso ter experiência em recrutamento, seleção, remuneração e desenvolvimento. Navegar dentro de um setor é saudável e não significa perder a concentração.

Além de construir uma especialidade, é importante complementar a carreira com uma visão sistêmica, principalmente para posições de liderança. Focalizar um eixo funcional e compreende as áreas são os alicerces da trilha profissional.

Estamos diante da transformação dos modelos tradicionais de trabalho. Uma das iniciativas contemporâneas é a criação de hubs, ou grupos que contribuem com diversas atividades da organização, sem hierarquia e sem necessariamente as pessoas estarem em seu setor de origem. Esses modelos flexíveis serão necessários para oxigenar as carreiras e permitir movimentos não lineares.

Mas é importante não se iludir. Acompanhar as mudanças da área e se manter atualizado são antídotos contra o envelhecimento e darão sustentação no longo prazo, independentemente da forma como as organizações se ajeitem.

 

RAFAEL SOUTO – é fundador e CEO da Consultoria Produtive, de São Paulo. Atua com planejamento e gestão de carreira, programas de demissão responsável e de aposentadoria

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 28: 11–15

Alimento diário

A Ressurreição

Para mais provas da ressurreição de Jesus Cristo, temos aqui a confissão dos soldados que estavam de guarda; e há duas coisas que fortalecem esse testemunho – que eles foram testemunhas oculares, e eles mesmos viram a glória da ressurreição, algo que ninguém mais viu. Além disso, eles eram inimigos, colocados ali para se oporem e obstruírem a sua ressurreição. Agora observe aqui:

I – Como esse testemunho foi dado aos príncipes dos sacerdotes (v. 11): quando as mulheres estavam indo levar a notícia aos discípulos, que iria encher os seus corações de alegria, os soldados foram levar a mesma notícia aos príncipes dos sacerdotes, o que iria encher os seus rostos de vergonha. Alguns da guarda, provavelmente aqueles que estavam no comando, chegando à cidade, levaram para aqueles que os haviam empregado o relatório de seu desapontamento. Eles anunciaram aos príncipes dos sacerdotes todas as coisas que haviam acontecido; contaram-lhes sobre o terremoto, a decida do anjo, a remoção da pedra, e a saída do corpo de Jesus vivo de dentro do túmulo. Assim, o sinal do profeta Jonas foi levado para os príncipes dos sacerdotes com a mais clara e incontestável evidência que poderia existir; e assim os maior es meios de convicção lhes foram apresentados; nós bem podemos imaginar como essa notícia foi uma mortificação para eles, e que, como os inimigos dos judeus, eles se abateram muito em seus próprios olhos (Neemias 6.16). Poderia se esperar justamente que eles agora cressem em Cristo, e se arrependessem de tê-lo matado; mas eles eram obstinados em sua infidelidade, e permaneceram assim.

II – Como o fato foi encoberto e sufocado por eles. Eles convocaram uma reunião, e consideraram o que deveria ser feito. Da parte deles, estavam resolvidos a não crer que Jesus havia ressuscitado; mas a preocupação deles era impedir que outros cressem, e impedir que eles fossem envergonhados por causa de sua incredulidade. Eles o entregaram à morte, e não havia nenhum modo de justificar o que haviam feito; assim, nada mais lhes restava, a não ser confrontar as evidências de sua ressurreição. Desse modo, aqueles que se venderam para operar a maldade descobrem que um pecado atrai outro, e que eles mergulharam a si mesmos em uma vil necessidade de acrescentar iniquidade à iniquidade, algo que faz parte da maldição dos perseguidores de Cristo (Salmos 69.27).

O resultado da conversa deles foi que aqueles soldados deveriam ser subornados de qualquer maneira, para que não contassem a verdade.

1. Eles colocaram dinheiro nas mãos dos soldados. E qual é a maldade que os homens não farão por amor ao dinheiro? Eles deram aos soldados muito dinheiro, provavelmente uma quantia muito maior do que deram a Judas. Esses príncipes dos sacerdotes amavam o seu dinheiro, assim como a maioria das pessoas, e estavam relutantes a se indisporem dele; no entanto, para darem prosseguimento a seu plano malicioso contra o Evangelho de Cristo, eles foram bastante generosos. Eles provavelmente deram aos soldados o que eles pediram, e os soldados sabiam como tirar proveito de uma situação como essa. Os soldados receberam muito dinheiro para divulgar o que sabiam ser uma mentira, enquanto muitos relutam a dar pouco dinheiro para que seja divulgado o que sabem ser a verdade, mesmo tendo uma promessa de serem recompensados na ressurreição dos justos. Não sejamos avarentos em relação a uma boa causa, ao vermos uma causa má ser apoiada tão generosamente.

2. Eles colocaram uma mentira na boca dos soldados (v. 13). “Dizei: Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram” ; uma manobra lamentável é melhor do que nenhuma, mas essa manobra foi realmente desprezível.

(1)  Essa história inventada era ridícula, trazendo consigo a sua própria contestação. Se eles dormiram, como poderiam saber alguma coisa do que aconteceu, ou dizer quem foi até o sepulcro? Se qualquer um deles estivesse acordado para observar o que aconteceu, sem dúvida alguma teria acordado todos os demais para impedir que os discípulos fizessem algo; pois essa era a única missão deles. Era totalmente improvável que um grupo de homens pobres, fracos, amedrontados e desanimados fosse se expor em uma atividade tão impensada quanto resgatar um corpo morto. Por que as casas onde eles moravam não foram cuidadosamente vasculhadas, e outros meios usados para descobrir o corpo morto? Mas essa era uma mentira tão fraca que qualquer pessoa a poderia desmascarar facilmente. Mas, se ela alguma vez tivesse sido plausível:

(2)  Foi uma atitude perversa desses sacerdotes e anciãos contratar os soldados para contar uma mentira deliberada (como se essa tivesse sido uma questão de tão pequena importância), contra as suas consciências. Aqueles que levam outros a cometer um pecado premeditado não sabem o que fazem; pois isso pode corromper a consciência, e ser uma porta de entrada para muitos outros pecados. Mas:

(3)  Considerando que essa atitude teve a intenção de destruir a grande doutrina da ressurreição de Cristo, esse foi um pecado contra o último remédio, e foi, com efeito, uma blasfêmia contra o Espírito Santo, pois imputaram à malícia dos discípulos aquilo que foi feito pelo poder do Espírito Santo.

Mas, para que os soldados não fossem objetos da penalidade que eles sofreriam pela lei romana por dormirem durante uma guarda, pena que era muito severa (Atos 12.19), os judeus prometeram interceder junto ao governador: “Nós o persuadiremos e vos poremos em segurança”. Nós usaremos os nossos próprios interesses, de forma que ele não perceba a gravidade do fato; e eles, de fato, descobriram como poderiam manipulá-lo facilmente. Se esses soldados realmente tivessem dormido, permitindo assim que os discípulos roubassem o corpo, como o mundo teria que acreditar, os sacerdotes e anciãos teriam sido os primeiros a solicitar junto ao governador que os soldados fossem punidos pela sua traição. Dessa forma, o cuidado deles pela segurança dos soldados mostra claramente que eles divulgaram uma mentira. Eles se comprometeram a protegê-los da espada da justiça de Pilatos, mas não poderiam protegê-los da espada da justiça de Deus, que paira sobre a cabeça daqueles que amam a mentira, e mentem. Eles prometem mais do que podem cumprir ao se comprometerem a salvar um homem de qualquer dano, depois de cometerem um pecado premeditado.

Pois bem, assim o complô foi executado. Mas, que sucesso isso teve?

[1] Aqueles que estavam dispostos a enganar, pegaram o dinheiro e fizeram como foram instruídos. Eles se importavam tão pouco com Cristo e sua religião quanto os príncipes dos sacerdotes e anciãos; e os homens que não têm nenhuma religião poderiam ficar bastante satisfeitos se vissem o cristianismo ser destruído, e até mesmo ajudariam a destruí-lo, se fosse necessário, para servir à ocasião. Eles pegaram o dinheiro. Era isso a única coisa que os interessava, e nada mais. Observe que o dinheiro é uma isca para a tentação mais maligna; as línguas mercenárias venderão a verdade por ele.

O grande argumento para provar que Cristo é o Filho de Deus é a sua ressurreição. E ninguém poderia ter provas mais convincentes disso do que esses soldados; eles viram o anjo descer do céu, viram a pedra ser removida, viram o corpo de Cristo sair do túmulo, a menos que a consternação que sentiram os tenha impedido. No entanto, eles estavam tão longe de serem convencidos por tudo isso que foram contratados para desacreditá-lo, e impedir que outros cressem nele. Note que sem a operação conjunta do Espírito Santo, nem mesmo as evidências mais sensatas convencerão os homens.

[2] Aqueles que estavam predispostos a ser enganados não só acreditaram, mas propagaram a história. E foi divulgado esse dito entre os judeus, até o dia de hoje. A história falsa foi bem aceita, e atendeu ao seu propósito. Os judeus, que persistiam em sua infidelidade, quando ouviram o argumento da ressurreição de Cristo, ainda tinham esta resposta pronta: “Os seus discípulos vieram, e o roubaram”. A narrativa solene teve esse propósito (como Justino Mártir menciona em seu diálogo com Trifo, o judeu): o grande sinédrio divulgou essa mentira a respeito desse assunto a todos os judeus da dispersão, estimulando-os a uma resistência vigorosa ao cristianismo – disseram que quando eles o haviam crucificado e sepultado, os discípulos vieram à noite, e o roubaram do sepulcro. Assim, planejavam não só derrubar a verdade da ressurreição de Cristo, mas tornar os discípulos odiados no mundo, como os maiores vilões da natureza. Quando uma mentira é levantada, ninguém sabe até onde ela será divulgada, nem por quanto tempo ela irá durar, nem que malefício ela irá provocar. Alguns dão um sentido diferente a essa passagem. “E foi divulgado esse dito”, isto é, “apesar do artifício dos príncipes dos sacerdotes, desse modo imposto sobre o povo, a trama que havia entre eles e os soldados, e o dinheiro que foi dado para apoiar a trapaça, foi divulgada e sussurrada entre os judeus”. Pois, de um modo ou de outro, a verdade sempre é revelada.

O QUE A BÍBLIA ME ENSINOU

Igreja aprendendo a ser “Igreja”

O que a bíblia me ensinou

A missão da “Eklésia”, cujo significado é “chamados para fora” é:

“E sereis minhas testemunhas…”
Testemunhar de Cristo não é tão somente pregar as boas novas; é necessário que os que estão ”do lado de fora” da igreja percebam as transformações que por si só testifiquem a genuína conversão dos que antes eram pecadores e que, agora, são chamados de salvos exatamente porque suas ações mostram semelhança com o salvador.
Testemunho representa as qualidades de Cristo manifestas em nós: Paz, Amor, Misericórdia, Mansidão, Domínio Próprio, Temperança, Zelo pelo Senhor e por tudo o que diz respeito ao Criador. Lembre-se: as pessoas não crerão no que ouvirem se o próprio espírito de Deus não testificar o que professamos nem os perdidos perceberão em nosso caráter o caráter do próprio Cristo.

Pensemos nisto,

PSICOLOGIA ANALÍTICA

FORMAS FABRICADAS

Por trás da busca obsessiva de um corpo escultural, a clínica psicanalítica revela traços de desorganização, experiências de vazio e estados melancólicos depressivos.

Formas fabricadas

Todos os dias, a mídia nos oferece uma legião de pessoas sorridentes, bonitas e bem-humoradas que exibem beleza, poder, inteligência, dinheiro. São cidadãos do mundo que viajam, valorizam seus dotes, cultivam seu corpo, enaltecem seus feitos e divulgam fórmulas de sucesso. Convidam à admiração, suscitam inveja, capitalizam sua marca, alimentam especulações em torno de sua vida, fazendo a fortuna de uma verdadeira indústria de produtos e imagens de celebridades. Parecem felizes ao exibir uma satisfação aparentemente sem fim. Sofreriam também?

Para alguns, trata-se de vaidade. Para outros, de auto – estima elevada ou ainda, simplesmente da sensação de “estar de bem com a vida”. Sem dúvida, é bom sentir-se bem consigo mesmo, com o corpo, com a vida social e profissional, sonhar e fazer projetos, ter sucesso em realizações. Mas chama a atenção o excesso: a exuberância e a insistência de sorrisos que parecem nunca se desfazer, de biografias que não registram derrotas, dúvidas nem decepções. Uma felicidade plastificada, impermeável às intempéries da vida.

Mais que a própria satisfação, essas pessoas solicitam permanentemente o reconhecimento e a admiração do outro. Porém, mesmo quando a recebem, a admiração esperada logo se revela insuficiente, provocando uma busca duradoura de superação de seus atributos.

Vislumbramos em cenas como essas as tramas nas quais, desde o nascimento, se tecem as relações do humano com seu semelhante. As marcas de satisfações e prazeres, os traços narcísicos, as forças pulsionais no Inter jogo com seus objetos de satisfação, os anseios e inspirações que forjam a subjetividade, as dinâmicas identificatórias, a busca por um lugar satisfatório no mundo e nas relações sociais. A luta para existir para si e existir para o outro.

As características físicas, a inteligência, as habilidades, o poder, o dinheiro são apenas alguns dos meios através dos quais o homem busca ser reconhecido por seu semelhante e por si mesmo. Entre esses atributos, o corpo e as experiências a ele relacionadas ocupam um lugar especial como referência para a apreensão das relações com o mundo, com os outros, consigo mesmo.

Matriz da subjetividade, o corpo guarda as marcas de nossa chegada ao mundo, da acolhida e dos cuidados pelo outro, do reconhecimento, da satisfação ou da frustração de nossos desejos. O corpo é nosso principal capital. Nem todos podem oferecer ao olhar do outro o poder, os sinais de status, o dinheiro. Mas, em busca do reconhecimento, oferecemos o corpo a esse olhar. Da mesma forma, somos solicitados pelo corpo do outro a reconhecê-lo com nosso olhar.

O corpo é nosso primeiro universo. Ele nos concebe, abriga, registra as primeiras impressões que temos do mundo: cheiros, sabores, luzes, sons, calor, frio. São estados e movimentos do corpo que estabelecem as primeiras formas de comunicação, muito antes do pensamento e da linguagem. Nele se constrói uma história marcada por sensações, movimentos, percepções e traços do encontro com o desconhecido do mundo. É o corpo, ainda, o último reduto ao qual nos recolhemos nos momentos de dificuldade, tristeza, desamparo. Reconhecemos, assim, uma verdadeira dimensão hipocondríaca de nossa relação com o mundo, para sempre presente no humano.

Não surpreende, portanto, encontramos o corpo na linha de frente das formas de expressão do modo de existir contemporâneo, e, particularmente, como porta-voz privilegiado, das dificuldades do sujeito em lidar com o outro, com suas expectativas, com sua própria condição de vida.

Insatisfeitos com a degradação da qualidade de vida, com a violência crescente no mundo, inseguros quanto à situação econômica, solitários e empobrecidos por relações pessoais e sociais esgarçadas e vazias, incapazes de considerar a importância de valores e símbolos para nos situarmos, uma vez mais, buscamos o reconforto em nosso corpo. Porém, surpreendentemente, nesses tempos em que, como nunca, se promove o culto a exibição e o cuidado do corpo, também ele nos decepciona. É fato: estamos de mal com nosso corpo.

Uma pesquisa realizada pelo Observatoire Cidil des Habitudes Alimentaires (Ocha) na França, em 2003, num universo de mil mulheres, revelou que 86% delas se dizem insatisfeitas com suas formas anatômicas. Apenas 14% afirmaram sentir-se bem com seu corpo sem terem para isso utilizado qualquer procedimento de modificação. No Brasil, o quadro não é diferente. Pesquisas divulgadas pela revista Veja em 2014 revelam que somos o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas, 400 mil em 2013, metade delas puramente estéticas (40% lipoaspiração, 30% mamas, 20% face), na maioria realizadas entre os 20 e 34 anos. Dos 12.477 entrevistados pelo Instituto lnterScience, 90% das mulheres e 65% dos homens afirmam sonhar com mudanças no próprio corpo; 5% já tinham feito alguma plástica, e 90% pretendiam fazer outra. Entre os que nunca fizeram uma cirurgia plástica, 30% declararam que esperavam criar coragem para realizá-la.

Dos simples tratamentos cosméticos às cirurgias mais radicais, é ampla a gama de recursos utilizados para tentar ficar de bem com o próprio corpo. Adereços, roupas, maquiagens, tatuagens, piercings, atividades esportivas, musculação, cirurgias plásticas buscam dar conta de um mal-estar que, mesmo que referido ao corpo, geralmente tem pouco a ver com ele. Tentativas muitas vezes vãs de aplacar inquietações, angústias e experiências mais profundas de vazio que apenas no corpo encontram um porta-voz de mensagens incompreensíveis, de pedidos de socorro que não conseguem se fazer ouvir de outra forma. Diante da dificuldade de encontrar em si mesmo uma imagem que satisfaça, busca-se no olhar do outro, no social a imagem que possa agradar.

É frequente a experiência de cirurgiões plásticos que vêm pacientes chegar ao consultório com um retrato de uma atriz pedindo para ficar igual a ela. Diante deles, desfilam mulheres que anseiam poder encontrar no espelho reflexos de corpos que não são o seu, os seios turbinados de Daniele Winnits, o delicado nariz de Vera Fischer, toda a exuberância de Angelina Jolie. Muitos cirurgiões plásticos consideram com naturalidade esses pedidos, lembrando que a beleza, hoje, é um componente essencial no competitivo mercado de trabalho, nos negócios e na sociedade.

Para responder a expectativas e a ideais de beleza, não se medem esforços, despesas e, menos ainda, riscos físicos e psíquicos implicados em tais transformações. Cada vez mais, homens e mulheres procuram os tratamentos estéticos e a cirurgia plástica. Também adolescentes e até crianças vêm se preocupando com as formas e as condições de seu corpo, querendo adequá-lo a padrões estéticos e culturais, apesar de ainda estarem em transformação, o número de jovens que colocaram próteses para “turbinar seus peitos aumentou 300% nos últimos dez anos segundo reportagem publicada pela Folha de São Paulo.

Nesse ponto, é importante lembrar a distinção entre os procedimentos estéticos e reparadores. É inegável que os progressos da traumatologia, da medicina estética, da reabilitação e da cirurgia plástica propiciam para milhões de pessoas recuperações significativas de sequelas de catástrofes, guerras, malformações congênitas e de características anatômicas nocivas. Porém, em muitos casos, a dificuldade em compreender a natureza do “sofrimento emocional” que acompanha o desejo de uma plástica nubla essa distinção.

MAL ESTAR NO CORPO

Cientes dessas questões, alguns profissionais mais sensíveis convidam seus pacientes à reflexão sobre o exagero de muitas solicitações que lhes são dirigidas, ponderando sobre a necessidade de levar em conta a singularidade e a estrutura anatômica de cada paciente. Eles reconhecem que cirurgia plástica não faz milagres, não salva casamentos, nem sempre acaba com a angústia, tampouco com a depressão. Porém, diante da insistência dos pedidos que lhes são feitos, muitas vezes cedem às solicitações, inclusive por saber que não será difícil para o paciente encontrar um colega que se disponha a realizar a operação, mesmo que descabida.

Os ímpetos de transformação corporal alcançam ainda manifestações extremas. Sintonizada com o espírito dos tempos, a mídia transforma em espetáculo os dramas humanos. A rede americana ABC exibe semanalmente o programa Extreme makeover, que mostra a transformação radical de pessoas que se submetem a cirurgias, tratamentos, dietas, ginástica, aulas de moda e cabeleireiros para apagar todo e qualquer defeito que viam em seu corpo. Além das clássicas imagens de “antes” e “depois”, são minuciosamente exibidas também as etapas da “transformação”: a ação do bisturi sobre os tecidos, detalhes de manipulações cirúrgicas, inchaços, expressões de dor, lágrimas de sofrimento e de encantamento diante dos “milagres” operados, a reação de surpresa e fascínio de familiares e amigos.

Outro programa, The swan, promove um concurso em que as participantes passam por todos os recursos estéticos existentes, sem poder jamais se olhar no espelho durante o processo. Ao final, a ganhadora pode contemplar sua nova imagem. Nesse momento, é frequente as participantes declararem: “Essa não sou eu”. Do ponto de vista psicanalítico, podemos reconhecer nesse comentário um insight.

Descobrir-se, de súbito, num corpo radicalmente diferente daquele com o qual sempre se conviveu, coabitar, de repente, com um estranho em si: naquele programa, aparentemente, não ocorre estranhamento, medo, horror, apenas prazer, alegria, espetáculo. Na legitimação coletiva das fantasias mais onipotentes, na banalização de complexos desejos e da prática médica, no insidioso convite à despersonalização, todos parecem encontrar satisfação: os participantes, o público, muitas clínicas de estética e, naturalmente, as redes de televisão que ainda se comprazem com a imagem de fada madrinha que propicia a realização de desejos para quem não tinha condições de realizá-los. Nada de novo. A mídia continua preenchendo os vazios, formatando até mesmo a carne das vacilantes formas de subjetivação contemporâneas.

A experiência clínica nos convida a suspeitar de mundos encantados como esses. À radicalidade de todas essas manifestações e à tentativa de banalizar a violência de tais procedimentos, devem corresponder, no interior de cada personagem dos dramas da transformação corporal, fenômenos de brutalidade e violência comparáveis aos que são negados e que, mesmo contidos e silenciados, fermentam seu potencial nocivo, desorganizador e algumas vezes letal. Com efeito, longe dos palcos, das câmeras, dos holofotes, na intimidade dos consultórios, entre sofrimento e vergonha, muitas vezes não são felizes as lágrimas que brotam ao contato com os estranhos que alguns pacientes descobrem em seu próprio corpo.

Como as lágrimas de repulsa de uma mulher que, após uma plástica mamária considerada perfeita pelo médico, impedia qualquer aproximação do marido; as de solidão e de arrependimento daquela adolescente que, depois de muita insistência junto aos pais, realizou uma plástica no nariz  e passou a se sentir “uma intrusa” na família, na qual muitos parentes, de geração em geração, possuíam o formato característico do nariz que operara, ou ainda as lágrimas que acompanhavam as intensas crises de angústia e alguns episódios delirantes que mantinham reclusa em sua casa uma bela mulher submetida a uma cirurgia de  redução de estômago. Apesar de desaconselhada por duas equipes de gastrenterologia, ela encontrou uma terceira que aceitou operá-la. Perdeu os 20 quilos que desejava, mas passou a não conseguir mais se olhar no espelho para ver o corpo que tanto imaginara.

CORPOS SÃOS?

Na busca pela perfeição do corpo, também a atividade esportiva se vê marcada por dinâmicas semelhantes. Para alcançar formas socialmente valorizadas, frequentemente o esporte é esvaziado de sua dimensão lúdica, de prazer e de vivência coletiva tornando-se um imperativo social e estético, malhar horas a fio na academia, praticar esportes radicais, submeter-se a regimes draconianos, tudo isso complementado com a utilização de anabolizantes, esteroides e outras substâncias para a modelagem da massa muscular e para o aumento das performances esportivas. Uma legião de “sarados” e “bombados” vem cada vez mais povoando as cenas do cotidiano. Impulsionadas por doses crescentes da testosterona natural da juventude e pela adrenalina – não tão natural, mas intensamente secretada pela vida urbana – essa legião muitas vezes se aglutina em torcidas organizadas, gangues como skinheads e pitboys, e facções criminosas, sempre em busca de objetos para a descarga da poção explosiva que combinaram em si.

Porém, ao lado de corpos olímpicos, com habilidades e conquistas invejáveis, observamos também lesões, ligamentos que se rompem, articulações que se desgastam, repetidas cirurgias para corrigi-las, desrespeito pelo tempo de recuperação, noites mal dormidas antes e depois das competições. Os corpos-máquina acabam por revelar sua verdadeira natureza, limitada e frágil, nem sempre confiável. Constatação insuportável para muitos que, no anseio por mais uma partida, vitória ou recorde cedem à tentação de produtos dopantes para tentar superar tais fragilidades com mais riscos e sacrifícios do próprio corpo.

Diferentemente da anatomia imaginária revelada pela histeria, que mostra um corpo marcado por fantasias, prazeres e dores, muitas vezes aqueles belos corpos esculpidos por fármacos e exercícios extenuantes carecem de sonhos, de fantasias, encontrando-se anestesiados para tais afetos, pura massa, puro volume, força bruta, sem essência, sem alma. Para além das miragens de corpos esculturais revelam-se paisagens desérticas.

Marcada pelo excesso, essa ânsia pela busca do corpo ideal e as formas de alcançá-lo constitui apenas uma das pontas de um imenso iceberg que pode ser caracterizado como uma “psicopatologia do corpo na vida cotidiana”, como sugere Maria Helena Fernandes no livro Corpo. Ou seja, manifestações que evidenciam a precariedade de organizações subjetivas com dificuldade para manifestar o sofrimento em tempos psíquicos, que desafiam não apenas a clínica psicanalítica ou psicoterapêutica, mas, sobretudo, a clínica médica à escuta e à compreensão de fenômenos primitivos, aquém da palavra, impelindo terapeutas e pacientes a atuações sem fim.

O desenvolvimento humano visa a superação de dimensões automáticas e programadas da ordem biológica para alcançar funcionamentos mais abstratos e complexos da ordem psíquica. Esse processo ocorre segundo movimentos de organização progressiva de estruturas, funções e comportamentos, das mais simples às mais complexas, simultaneamente a movimentos de desorganização, de sentido oposto. Todas as etapas e todos os níveis de funcionamento anatômicos, fisiológicos, sensoriais, motores, afetivos e psíquicos – são marcados por essas dinâmicas.

A anatomia, a fisiologia, as funções sensório-motoras e psíquicas obedecem a esses princípios, marcados pelas dinâmicas organizadoras e desorganizadoras das pulsões de vida e de morte. A partir do nascimento, por exemplo, observamos no bebê a integração progressiva de movimentos e funções antes desorganizados, a convergência ocular, a coordenação motora, a discriminação auditiva, o reconhecimento e a distinção entre seres familiares e estranhos, o desenvolvimento da linguagem e do pensamento, entre outros mecanismos. Experiências traumáticas podem provocar a perda da especificidade e da complexidade dessas mesmas funções (desorganização psíquica, regressões psíquicas e motoras, perturbação do sistema imunológico etc.).

FUNÇÃO MATERNA

Nos primeiros tempos de vida, a sobrevivência e o desenvolvimento da criança dependem da presença de outro ser humano, bem como da qualidade dessa presença. A mãe (ou aqueles que exercem essa função) busca propiciar não apenas a satisfação das necessidades vitais do bebê, mas também estimular seu desenvolvimento. Ela também funciona como uma espécie de “película” de proteção contra os estímulos internos e externos que a criança ainda não é capaz de assimilar. Denominado por Freud de “para-excitações”, esse recurso tem um papel essencial nos processos de organização e desenvolvimento da criança. A qualidade dessa presença materna determina a possibilidade de aquisição e a qualidade de competências específicas, da autonomia e dos recursos mais evoluídos e harmônicos de funcionamento.

É também a qualidade dessas relações que determina a passagem da vivência biológica para a experiência do corpo erógeno, do instinto para a pulsão, da necessidade para o desejo, da excitação para a angústia, do sono fisiológico para o sonho. As relações objetais primitivas marcam também a qualidade do desenvolvimento do narcisismo e de todas as instâncias e funções do aparelho psíquico, bem como do equilíbrio entre as pulsões de vida (organizadoras) e de morte (desorganizadoras).

Nesse contexto, forjam-se também as representações do próprio corpo e as possibilidades de experimentá-lo como fonte de prazer para si e para o outro. Para além de critérios estéticos e de atributos anatômicos, a representação da beleza do corpo é também construída pelas experiências de satisfação e frustração, prazer e desprazer, de acolhimento e de rejeição que, no encontro com o semelhante e com o ambiente, o corpo pôde experimentar. A partir dessas experiências, configura-se um corpo imaginário, caixa de ressonância privilegiada das relações com o outro e com o mundo.

Desde a experiência do desamparo, prototípica do nascimento, somos permanentemente solicitados por estímulos e excitações internos (fisiológicos, instintivos e pulsionais) e externos (realidade, outras pessoas), fonte de desprazer, de traumas e conflitos. As manifestações orgânicas, da motricidade e psíquicas (normais ou patológicas) são recursos para alcançar um equilíbrio entre tais solicitações. Segundo P. Marty, os recursos psíquicos, mais evoluídos e complexos, são aqueles que, economicamente, melhor se prestam para lidar com solicitações às quais o ser humano é submetido. Porém, diante da impossibilidade de utilização das funções mais organizadas e hierarquizadas, muitas vezes esse equilíbrio só é alcançado por meio de funcionamentos anacrônicos, primitivos e insatisfatórios.

Falhas do desenvolvimento, determinadas por elementos congênitos, pela precariedade das relações parentais primitivas e do ambiente, por experiências traumáticas e desorganizadoras comprometem a estrutura e o funcionamento psicossomático, de forma duradoura ou temporária. Diante de deficiências estruturais ou funcionais dos recursos psíquicos podem ser mobilizadas tentativas de reorganização através de descargas motoras e comportamentais, ou ainda, no extremo, de manifestações e desorganizações orgânicas, como as doenças. É no contexto de tais deficiências que as manifestações corporais marcadas por excesso, repetição, fragilidades narcísicas e identificatórias e pelo vazio representativo fazem sua aparição.

 OS GALÉS VOLUNTÁRIOS

Houve um tempo em que as “galeras eram outras. Na Antiguidade, as galeras eram embarcações de guerra impulsionadas por cerca de 15 a 30 grandes remos por bordo, cada um manejado por até cinco homens. Os remadores eram em geral escravos ou pessoas sentenciadas a trabalhos forçados. Acorrentados a seus postos, os galés remavam de 12 a 16 horas por dia, às vezes mais.

Em nossos dias, uma multidão de homens e mulheres, apesar de livres e sem grilhões, parece condenada a uma permanente repetição para além do princípio do prazer. Como aponta G. Szwec, essas pessoas, galés voluntários, parecem fascinadas por uma espécie de robotização de seu corpo e de sua vida.

Apresentam modos de funcionamento que carecem de sentido e de prazer, frequentemente buscando utilizá-los como anteparos a situações de perigo e de desamparo.

A atividade esportiva, a música estridente e ritmada, os esportes de risco, os filmes de “adrenalina” e mesmo comportamentos cotidianos como bater

portas, dirigir bruscamente no trânsito ou o tabagismo podem, exercera função de descargas automáticas do nível de tensão, mesmo que, paradoxalmente, promovam também aumento da tensão. Essas atividades geralmente se realizam em um clima imperativo de urgência, exigindo constante repetição.

Esses procedimentos, denominados “auto- calmantes”, são fruto da precariedade da organização subjetiva, carente de recursos psíquicos para lidar com as exigências da vida. Eles “curto-circuitam” a via representativa e de fantasia, utilizando a realidade de forma específica, bruta, factual, operatória, sem carga simbólica. Eles se caracterizam por comportamentos motores ou perceptivos, passando pela dor, podem, inclusive, chegar a automutilações. Manifestam-se também em pessoas que procuram e se excitam com situações de perigo que colocam em risco sua integridade física e mesmo suas vidas.

Os procedimentos auto – calmantes são tentativas de trazer a calma ao aparelho psíquico empreendidas por um ego fragilizado e carente de um recurso de “para-excitações” autônomo. Ocorrem quando o ego é ameaçado pelo potencial traumático do excesso de excitações. Eles se assemelham a tentativas da mãe que procura acalmar seu bebê a qualquer custo, sem, no entanto. propiciar-lhe experiências de satisfação que poderiam verdadeiramente tranquilizá-lo, abrindo caminho para a autonomia psíquica e subjetiva.

Carências nas relações primitivas podem promover na criança a internalização da excitação de apaziguamento do embalo, calmante não gratificante da mãe, como forma de evitar as experiências depressivas do vazio, vividas a partir do próprio amparo da criança, mas também, muitas vezes, no contato com a depressão e o vazio maternos. A aproximação ou o contato com os núcleos primitivos de desamparo ou com experiências de vida desorganizadoras podem desencadear tentativas de reduzir a tensão resultante pela exacerbação da excitação materna internalizada. Essas tentativas são, entretanto, frustradas pela incapacidade de prescindir da presença real do corpo materno, ou de seus sucedâneos, como objeto calmante. Tanto nas experiências da mãe com o bebê, como nos procedimentos auto calmantes, os comportamentos são esvaziados de fantasia e de prazer.

Percebemos a intimidade dessa constelação com as que encontramos em alguns estados-limite, em condutas aditivas (toxicomanias, transtornos alimentares etc.) e nas “neonecessidades” descritas por D. Braunschweig e M. Fain. Estas se caracterizam como urna tentativa persistente da mãe de propiciar satisfações ao bebê independentemente da existência de uma necessidade a ser satisfeita, evidenciando muito mais o desejo da mãe de acalmar seu filho a qualquer preço do que de realmente satisfazê-lo. Cria-se assim na criança uma falsa necessidade, imperativa como as que caracterizam os instintos de auto – conservação, marcada por uma dependência acentuada do sujeito ao objeto real de satisfação, em detrimento da experiência alucinatória. Ficam perturbados a formação de um objeto materno satisfatório, o desenvolvimento do auto – erotismo e dos recursos representativos.

A precariedade do mundo interno e das representações resulta na hiper valorização da realidade e a grande dependência do sujeito dos objetos externos de satisfação. Agradar os outros, satisfazê-los, corresponder a suas expectativas e a seus ideais é vivido muitas vezes como uma questão de sobrevivência.

É perturbadora, impensável a possibilidade de desafiá-los ou contradizê-los. O sujeito torna- se refém de pessoas, ou mesmo de instituições, investidas de um poder que beira a onipotência. Com facilidade, ele se torna refém dos ideais de tais pessoas e instituições, refém dos ideais sociais de beleza, de modas, comportamentos, valores culturais dominantes, consumo etc.

LUTA INGLÓRIA

A fragilidade narcísica, a precariedade de recursos internos e a extrema dependência formam uma combinação explosiva que torna o sujeito presa fácil de qualquer imagem ou produto que lhe prometa a possibilidade de afastar-se da proximidade perigosa de seus terrores, de suas dores, de seu sofrimento. Presa fácil de qualquer um que lhe ofereça uma identidade, um corpo, uma vida que mascare seu desamparo e suas dolorosas feridas narcísicas.

A criação, a aquisição e a ostentação de sinais socialmente valorizados que favoreçam o reconhecimento e a aceitação do sujeito pelo outro torna­ se imperativa. A manutenção a todo custo de uma aparência que corresponda aos ideais do grupo, excluindo qualquer coisa que possa sugerir o vazio existencial ou a castração, vira uma questão de sobrevivência. A possibilidade de que uma falha se revele nessa complexa, mas frágil montagem torna-se insuportável.

Vive assim o sujeito uma luta inglória, sem fim, na qual – por melhor que seja a aparência – é sempre insatisfatória e qualquer nova conquista, insuficiente. Uma escalada na qual, a cada vez, algo mais deve ser acrescentado, apresentado, consumado, sacrificado, um novo carro, um novo milhão, uma nova mulher, um novo corpo, um novo recorde.

Em meio à excitação e à angústia inesgotáveis, acelera-se cada vez mais esse circuito infernal, impossível de ser interrompido pelo próprio sujeito. Como o jogador que, para bancar suas apostas, nada mais tem a oferecer a seus parceiros, esses escravos da excitação oferecem a seus tiranos, que não podem afrontar sua liberdade, sua alma, sua carne, sua vida.

Formas fabricadas.2 

RUBENS MARCELO VOLICH – é psicanalista. Doutor pela Universidade de Paris VII e professor do curso de psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae, é autor de Psicossomática De Hipócrates à psicanálise, Hipocondria Impasses da alma, desafios do corpo e, co-organizador e autor dos livros da série Psicossoma, todos editados pela Casa do Psicólogo.

OUTROS OLHARES

FORA DA FESTA

Desemprego baixo nos EUA esconde o aumento do número de trabalhadores em situação precária, sem moradia ou que dependem de ajuda oficial para comer.

Fora da festa

À primeira vista, é irónico pensar que Anthony Stevens trabalha em uma empresa de demolição que só existe por causa da especulação imobiliária, e não tem casa para morar. Mas este nova-iorquino de 56 anos natural do Brooklyn, não pensa assim: ele se acostumou a ver sua cidade se expandir, gentrificar(aburguesar-se), mudar de forma dinâmica, reinventar-se, o que ele considera paradoxal é seu salário não permitir mais que ele pague por um aluguel minimamente decente na metrópole. “Nos anos 1980, 90 só era sem-teto quem tinha desilusão amorosa, problema com álcool e mental, ou tudo isso junto. Agora, qualquer um pode ser sem-teto em Nova York, até quem tem emprego. O preço dos imóveis sempre foi alto aqui, sempre subiu. “A novidade é que os salários ficaram para trás”, disse ele.

Depois de passar o dia trabalhando em Nova Jersey – a expansão imobiliária em Nova York busca lugares cada vez mais distantes de Manhattan, como do outro lado do Rio Hudson e no bairro do Queens -, Stevens encontra abrigo no The Bowery Mission, entidade que acolhe homeless desde 1879 em Lower Manhattan, a poucas quadras do hypado SoHo. E cada vez mais seus colegas de abrigo são trabalhadores como ele. Isso reflete os problemas econômicos que se escondem por baixo do desemprego de apenas 3,8%, menor patamar para os Estados Unidos em cinco décadas. A economia americana está uma festa, comemorada por Donald Trump, mas ela não é para todos: especialistas afirmam que, se fossem se fossem considerados os subocupados e os que desistiram de procurar ocupação por desalento, essa taxa poderia estar rondando os 10%.

Stevens afirmou que precisaria pagar, ao menos U$$ 1.000 mensais para encontrar “um canto habitável na Grande Nova York, lar de 20,3 milhões de pessoas. Mas, como trabalha por empreitada, pode faturar U$$ 4 mil em um mês ou apenas USS 600 em outros. Stevens não recebe pelo “teto de sua remuneração” há pelo menos um ano, pois, como sua empresa tem muitos empregados cadastrados, existe um revezamento de “colaboradores”, como são chamados. Faz seis meses que ele nem sequer faz U$$ 2 mil por mês – e chegou a viver com o “piso de U$$ 600 de sua remuneração ao menos uma vez no período.

“Não sou mais um garoto, e cada vez mais me deixam de lado”, disse ele, indicando que, nesta época de uberização” do trabalho, há sempre mão de obra disponível a um clique ou uma ligação, fazendo com que todos se sintam ocupados, mas sem remuneração adequada – uma das explicações do baixo do desemprego e dos baixos. Nova York mudou muita. É a maior cidade do mundo. Mas não é mais a melhor cidade do mundo. Antes, se você tinha um emprego, tinha tudo. “Hoje não é mais assim”, afirmou, sem deixar de elogiar o abrigo que frequenta. “Aqui é bem limpo, a comida é boa, o chuveiro é bom. Não tem confusão”.

Se apertasse muito seu orçamento, Stevens talvez pudesse tentar pagar um teto todos os meses, de forma constante. Mas ele precisa escolher entre fazer gastos básicos para um “trabalhador normal”, correndo o risco de ficar sem dinheiro para outras coisas, e ficar em um abrigo para conseguir poupar algum dinheiro para o futuro. “Não me preocupo. Sabe por quê? Porque tenho um plano secreto: eu acredito em Deus”, disse, rindo, para depois completar: “Eu posso não ter casa, mas não deixo de pagar meu social security (Previdência Social). Vou me aposentar. E daí vou voltar para a Carolina do Norte. Lá é a terra de origem de minha mãe. Já passei uma temporada lá. A vida é boa, muito mais barata, mas não tem emprego.

Stevens, que não tem filhos e está atualmente sem namorada, também não gosta de incomodar os dois irmãos, um vivendo no Brooklyn e a outra no Queens. “Eles têm a vida deles, família. Não posso ser um estorvo, sempre me sustentei”, disse. Visita pouco seus parentes. Nas horas vagas, gosta de conversar com as pessoas e visitar a biblioteca pública do Lower East Side. Gosto de ler livros, mas meu predileto é a Bíblia”

Segundo John D. Stiver, professor da Universidade de Notre Dame (no estado de Indiana), os salários americanos estão praticamente estagnados desde o ano 2000 e não têm conseguido acompanhar os custos com a habitação, principal item de despesa da família americana. “Por todas as contas que fazemos, os preços da moradia dobraram nos 18 anos desde o ano 2000 (que se traduz em cerca de 4% ao ano, o dobro da taxa de inflação global.

Essa realidade ocorre na maior parte das cidades e dos estados mais ricos e que mais crescem nos Estados Unidos, uma comprovação de que a riqueza não está favorecendo a criação de oportunidades – embora também haja muitos empregos qualificados e bem pagos sendo criados, sobretudo no setor de tecnologia e no mercado financeiro, o que amplia as desigualdades. No ano passado o número de sem-teto nos EUA cresceu 4%, enquanto desemprego atingiu marcas históricas. Esse fenômeno foi muito mais intenso na próspera Califórnia, com 13,7% de alta no número de sem-teto, e na dinâmica Nova York, onde a população de pessoas sem casa beira os 100 mil, justamente os locais onde a economia também “bombou”.

Às vezes, não é apenas o teto que falta: há trabalhadores que têm dificuldade para garantir a comida. Atualmente, cerca de 52 milhões de americanos recebem algum tipo de benefício alimentar, os famosos food stamps, que conservam o nome de “cupom de alimentos”, mas cada vez mais se assemelham a um vale-alimentação em cartão magnético, aceito por restaurantes e supermercados. A grande maioria dos cupons de alimentos é destinada a trabalhadores; afinal, o desemprego atinge, “oficialmente”, apenas 6,4 milhões.

“As vezes, nem sei como fecho o mês”, disse Maria Cruz, dominicana de 58 anos que vive há três décadas em Atlantic City, a cidade que tentou ser a “Las Vegas da Costa Leste”, mas sofre uma profunda decadência com o fechamento de cassinos, inclusive o que pertencia a Donald Trump, “Ganho USS 350 por semana como camareira (em um hotel de uma grande cadeia internacional). Gasto com aluguel, luz, água, essas coisas, USS 1.500 por mês.”

O que lhe permite fechar as contas, além das gorjetas que variam de USS 50 a USS 75 por semana, são os US$ 300 por mês de food stamps e a cesta básica que recolhe no Exército da Salvação. A filha de 16 anos também começou a estagiar em um hotel da região e passou a ajudar em casa. Ela vive a duas quadras da praia, em um bairro popular e degradado, entre o Tropicana, o maior cassino da região, e os esqueletos do Taj Mahal – que pertenceu a Trump. “Isto aqui já foi muito rico. Já vimos tudo acabar, mas agora dizem que novos cassinos vão abrir. Seria ótimo”, disse ela, que aparenta menos idade do que tem.

Mesmo que os cassinos voltem com força, Maria Cruz acredita que a vida será mais difícil para seus filhos, AIya e Hector, que foram passar uma temporada com os parentes em Santo Domingo. Segundo ela, só quem tem dinheiro recebe oportunidades. “Antes, as pessoas vinham paro cá, enriqueciam com o trabalho. Hoje, lutam para sobreviver”, disse ela. Sua desesperança tem razões econômicas, mas também políticas. “É por isso que não voto, não gosto dessas coisas. Nada melhora para a gente, esteja quem estiver no governo.”

Os números do desemprego mostram que há 5 milhões de trabalhadores em tempo parcial que gostariam de estar ocupados em tempo integral. As estatísticas, porém, não captam os trabalhadores desalentados, que se sentem alijados do crescimento econômico e, sem qualificação para os dias atuais, simplesmente desistiram de procurar emprego. É um fenómeno que tende a se repetir em outros locais do mundo, inclusive no Brasil.

“Vemos um nível de pobreza muito maior agora que no ano 2000. Isso se relaciona com o mercado de trabalho. Talvez ainda seja consequência da recuperação da grande recessão (a recessão de zoo8, que deixou os trabalhadores em posição mais fraca nas negociações)”, afirmou William Darity, professor de economia da Escola Sanford de Políticas Públicas da Duke University.

Uma pesquisa do Fed, o banco central americano, publicada no fim de maio, aponta que 40% dos trabalhadores americanos não teriam, hoje, US$ 400 disponíveis se tivessem uma emergência. Mas Trump tenta usar o baixo desemprego a seu favor. Em uma série de tuítes, afirmou que a economia nunca esteve tão bem e reivindica para si esses avanços – ignorando os excluídos do mercado de trabalho e esquecendo que parte da melhoria do desempenho da economia é resultado de ações da era Obama, que deu incentivos para tirar os EUA do atoleiro de 2008. Trump tenta manter a fidelidade de seus eleitores, embora os problemas no mercado de trabalho afetem justamente a base de seu apoio – homens, em geral brancos do interior, com baixa instrução e na meia-idade.

No estado de Ohio, 8ª economia dos EUA, lar de 11,5 milhões de pessoas, parte do chamado “cinturão da ferrugem” – por causa do declínio das indústrias que fizeram a riqueza da região – um em cada dez trabalhadores recebe food stamps. Foi lá, em Cleveland, que Donald Trump fez sua convenção, o que garantiu sua vitória no estado em 2016, pavimentando seu caminho rumo à Casa Branca. Também lá 11.560 funcionários do Walmart e 9.962 do McDonald ‘s – dois ícones americanos – recebem auxílio-alimentação estatal.

Segundo Darity, da Duke University, a situação está tão degradada que o baixo desemprego não tem gerado inflação. Para ele, isso expõe um conceito equivocado – não é obrigatório que bons salários gerem automaticamente alta nos preços -, assim como demonstra que a maior parte dos novos postos gerados desde a crise de 2008 não é decente”. “Quarenta por cento dos trabalhadores hoje ganham menos de USS 13 por hora”, disse ele. O professor da Duke defende uma bandeira que começa a ganhar mais e mais adeptos entre os senadores democratas: a instituição de uma lei para garantir que nenhum trabalhador receba menos que o valor que delimita a linha da pobreza. O projeto embrionário funcionaria como uma espécie de “Bolsa Família”, em que haveria uma complementação salarial. Ele, porém, dificilmente alcançará a curto prazo, ainda mais com Trump na Casa Branca e republicanos no controle das duas casas do Congresso americano.

Se a situação já é ruim para quem tem uma ocupação, pode ser pior para os que nem sequer entram nas estatísticas, como é o caso de Angelina Santoro, de 40 anos, que não tem emprego – e nem está procurando. “Eu era taxista, parei de trabalhar quando estava louca nos opioides. Agora faz dois anos que parei de me drogar, estou limpa, mas ainda não consigo pensar em trabalho. Ando muito deprimida e com um problema na perna”, disse ela, que vive com um namorado em Filadélfia, principal cidade da Pensilvânia, estado tradicionalmente democrata, mas que em 2016 votou por Donald Trump. Mas tenho confiança de que logo vou voltar.”

Mais que um caso isolado, Santoro representa um fenômeno que altera totalmente o desemprego americano e ajuda a explicar o motivo por que, apesar de a taxa de desocupados estar historicamente baixa no país, não há uma sensação de boom econômico e nem mesmo de bem-estar na população. Vivendo da caridade e dos programas sociais do governo, ela tem sempre um sorriso no rosto e bom humor. Santoro só demonstrou apreensão ao pensar no filho de 16 anos, que vive com o pai, e que ela não via havia meses. ”Foi melhor para ele ficar com o pai”, disse ela, cabisbaixa. Depressão é algo sério, mas estou medicada e logo vou vê-lo.”

John O. Stiver, da Notre Dame, afirmou que a taxa de desemprego só é baixa porque menos trabalhadores, assim como Santoro, estão buscando emprego.  No ano 2000, quando a taxa de desemprego chegou a 3.9%, em pleno boom da internet, 67% da população com idade economicamente ativa estava no mercado de trabalho – ocupando ou procurando um posto. Hoje, com a taxa de desemprego um pouco menor, a participação é de 62.,8%. “Se contássemos as pessoas em idade produtiva que não participam do mercado de trabalho e não figuram nas estatísticas, como desempregados, a taxa de desemprego seria de cerca de 10 %”, disse ele.

Muitas teorias explicam essa baixa participação na força de trabalho. Uma delas é a crise dos opioides, que mata mais de 64 mil pessoas por ano nos EUA e deixa um exército de excluídos da vida social e, por consequência, do mercado de trabalho. O economista Austin Krueger, do Brookings lnstitution, descobriu que, desde 2016, 50% dos homens entre 25 e 54 anos que não estão na força de trabalho tomam analgésicos diariamente. Os opioides são responsáveis por 20% da redução da força de trabalho americana, como ocorre com Angelina Santoro.

Outra teoria é a do desalento: com baixos salários e poucas perspectivas em um mundo em transformação, uma legião de pessoas, em geral de meia-idade, simplesmente desistiu de buscar uma ocupação. Em geral, são eleitores de Trump que perderam o bonde da economia. Os brasileiros também sentem isso. Há cerca de dois anos, quando migrou de São Paulo para a região metropolitana de Washington, que inclui a capital americana e fatias dos estados de Virgínia e Maryland, Carlos (nome fictício, pois seu visto de turista venceu há tempos) pensava que seria fácil “conquistar a América”. “Eu via aqueles filmes, pensava que era cortar uma graminha na vizinhança e fazer dinheiro – disse ele, sorrindo. Aos 25 anos, tomou a decisão de abandonar seu posto de representante comercial no Brasil para tentar a sorte como imigrante ilegal. Hoje vejo que é muito mais puxado. “Lá no Brasil trabalhava seis horas por dia. Aqui trabalho no mínimo 12 horas, limpando supermercado de madrugada e depois como motorista de Uber.”

Apesar disso, Carlos não pensa em voltar. Se pensava em conquistas financeiras, agora é a segurança e a cultura americana que o fazem ficar. Ele aprendeu a dar mais valor ao planejamento, pois sabe que, nos meses de inverno, será mais difícil completar sua renda de USS 4 mil mensais, que menos pessoas irão aos bares e, assim, haverá menos chamadas para o Uber.

“A gente tem de trabalhar mais duro para ganhar bem. O custo de vida aqui é alto, sobra muito pouco. Quando digo a meus amigos como é a vida aqui, eles não acreditam. Acham que eu estou tentando desanimá-los. Eles falam: ‘Ah, você reclama, mas não volta’. É verdade, mas é por outras razões, não é por trabalho e dinheiro, que é muito mais puxado que eu imaginava”, disse ele. Seu maior receio é a perspectiva de nunca mais voltar ao Brasil. “Meu primo estava aqui (como imigrante sem documentação) quando minha tia ficou doente e faleceu. Ele não pôde estar com ela em seus últimos momentos.

GESTÃO E CARREIRA

SOLTE SUAS FERAS

Novos estudos mostram que não é a felicidade que garante a saúde e o bem-estar, e sim a capacidade de lidar bem com todos os sentimentos que existem, inclusive a raiva.

Solte suas feras

Sabe aquela história de que pessoas felizes vivem mais e melhor? Esqueça. Uma recente pesquisa publicada pela Associação Americana de Psicologia e pelo jornal Emotion mostra que a felicidade não é a responsável por evitar mal-estar e doenças inflamatórias no corpo – e, sim, a habilidade de lidar com as diversas emoções existentes.

A pluralidade de sentimentos, a que os cientistas chamam de “emodiversidade”, baseia-se em paralelos com as ciências naturais. Um ambiente na natureza é saudável quando várias espécies cumprem seus papeis. “É a mesma coisa com as emoções, já que cada uma delas ajuda a regular o comportamento para adaptar-se a determinada situação”, escreveu Jordi Quoidbach e seus colegas autores do estudo, representantes de universidades como Yale, Harvard e Cambridge. Em síntese: o mais importante para a saúde não é a felicidade, mas a variedade e a frequência de emoções que sentimos.

Isso não é carta branca para fazer como o paranaense José Buffo há 14 anos, quando chefiava a agencia de publicidade Heads, da qual era sócio. Ele admite que naquele tempo era irritante, neurótico, centralizador e mal-educado. “Eu era tudo o que um líder não pode ser, afirma José. Certo dia, frustrado com a quantidade de vezes que a impressora apresentava defeito, ele pegou o equipamento, levou até o jardim da casa onde ficava a sede da empresa (na cidade de Curitiba) e ateou fogo.

Embora tenha extravasado a raiva, isso não fez bem nem a ele nem à equipe – sem falar no prejuízo com a perda da máquina. Naquele ano, José decidiu tirar um período sabático. Em 2004, foi a centros de meditação na Índia em busca de autoconhecimento e adotou uma dieta macrobiótica. “Antigamente, depois que passava o nervosismo, eu pedia desculpas, só que o estrago já estava feito”, diz. ”Agora consigo cobrar, que é importante para o gestor, e sei que isso pode ser feito com respeito e carinho.” Talvez ainda mais importante: ele vendeu sua parte na agência, abriu negócio de apoio a novos empreendedores e passou a decidir em quais projetos se envolver. Hoje, José pode até trabalhar mais, mas tem menos estresse, o que lhe permite controlar melhoras emoções.

 

O ALFAIATE E O ALFINETE

O reconhecido psicólogo Steven Hayes, à frente do departamento de análise do comportamento na Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, reforça que expressar os sentimentos é bom, embora isso precise ser feito de forma apropriada e na hora adequada. Ele é irredutível, porém, quanto à importância de dar vazão a todas as emoções. Para Hayes, ao evitar certas reações no trabalho, agimos corno um alfaiate que entorpece os dedos para evitar urna alfinetada dolorosa. Isso pode driblar a dor no curto prazo, mas, com o tempo, os danos causados pelas picadas serão ainda mais prováveis e ele não produzirá uma boa peça. O risco aumenta e a probabilidade de eficácia diminui. “Tudo para evitar sentimentos difíceis”, diz Hayes.

A fuga pode resultar até mesmo em problemas de saúde. Diante de um chefe fechado, avesso a novas ideias e com medo de alguém da equipe o substituir, o administrador Luís Guilherme de Oliveira, hoje com 28 anos, começou a se sentir infeliz sob a influência de tanta negatividade. Como era jovem e estava no começo da careira, demorou para reagir à emoção e sua imunidade acabou baixando. Portador de toxoplasmose desde o nascimento, ele notou o protozoário incubado e inativo aproveitar-se da oportunidade e entrar em ação pela primeira vez, fazendo com que perdesse mais de 30% de sua visão.

Para a psicóloga Beatriz Brandão é saudável pôr para fora todos os sentimentos, sobretudo os ruins. “Senão o corpo direciona as emoções para outras áreas e a pessoa desenvolve transtornos, dores de estômago e ansiedade”, afirma.

Apesar de agir com educação ser algo bem-visto em nossa sociedade, extravasar é bom e há países incentivando esse comportamento. O inglês Luke Treglown, um dos autores do estudo “O lado obscuro da resiliência e da moderação”, publicado na revista Harvard Business Review, indica que algumas empresas no Reino Unido encorajam deixar que as emoções venham à tona. “Em ambientes de alta pressão e ritmo acelerado, os funcionários que são assertivos, diretos ou contundentes geralmente são vistos como os melhores naquilo que fazem”, diz Treglown.

Sair do controle pode ter um resultado positivo. Quando atuava em uma empresa que presta serviços de controle e monitoramento de bagagens para a Virgin Atlantics Always, a paranaense Gabriela Gaertner protagonizou um “barraco”. Vendo a gerente da companhia contratante maltratar sistematicamente um colega, mesmo quando ele não havia feito nada de errado, ela explodiu e, na frente de seu chefe, levantou o dedo para a mulher e disse – sem palavrões – que aquilo que ela fazia era errado. “Tive certeza de que seria demitida quando me chamaram logo depois para a sala da direção”, lembra. No entanto, para sua surpresa, o superior perguntou se ela gostaria de ser promovida a coordenadora da equipe em que trabalhava.

“As emoções negativas têm de existir para nos mostrar que é preciso fazer alguma coisa diante de determinadas situações”, afirma Flora Victoria, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching. Segundo ela, explodir é melhor do que ficar remoendo, mas o ideal é ter estratégias para compensar os sentimentos ruins e voltar a se sentir bem – inclusive para, no auge do problema, não estourar de forma a perder a razão. Entre as táticas mais conhecidas está praticar a respiração diafragmática e a meditação. Mas atitudes simples, como levantar e ir ao banheiro ou tomar água, também auxiliam no momento da explosão. Sereno, o profissional consegue acessar o racional por meio de emoções positivas. “Gosto da analogia de mudar de marcha, que aqui significa mudar o estado emocional de forma cada vez mais rápida”, diz Flora.

O administrador catarinense Cleomar Piola, por exemplo, chegou a quebrar telefones durante suas necessidades de extravasar no trabalho. Com o tempo, adotou uma daquelas bolinhas usadas por quem tem tendinite nas mãos. “Eu fechava a porta da minha sala e jogava a bola com força na parede, porque sabia como era importante colocar certas emoções para fora”, lembra. Agora, gerente corporativo da rede de supemercados Caitá, com experiência, acompanhamento terapêutico e maternidade, ele levanta, caminha por uma das lojas da rede ou dirige até outra unidade, sem que ninguém note seu estado.

 Solte suas feras.3

DE VOLTA AO CONTROLE

Estudos mostram que tudo bem sentir várias emoções, o importante é retomar a calma o mais rápido possível. Veja algumas dicas para isso:

 RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA

O QUE É: Respirar usando o músculo que fica entre o pulmão e a barriga

O QUE FAZ: Ajuda a restaurar a sensação de relaxamento.

CAMINHADA

O QUE É: Mudar de cenário, ir ao banheiro ou tomar água.

O QUE FAZ: Direciona a energia do momento para outros lugares e outras pessoas, arejando o cérebro

MEDITAÇÃO

O QUE É: Exercício mental de concentração num objeto, numa atividade ou num pensamento.

O QUE FAZ: Oxigena a mente para que a pessoa se concentre mais no presente e não altere demais suas emoções.

 Solte suas feras.2

 

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 28: 1-10 – PARTE III

Alimento diário

A Ressurreição

IV – A saída das mulheres do sepulcro, para anunciar aos discípulos (v. 8). E observe:

1. Em que estrutura e estado de espírito elas estavam. Elas saíram “com temor e grande alegria”. Uma mistura estranha, temor e alegria ao mesmo tempo, na mesma alma. Ouvir que Cristo havia ressuscitado foi um motivo de alegria; mas ser levada para dentro do seu túmulo, e ver um anjo, e falar com ele sobre isso, só poderia causar temor. Era uma boa notícia, mas elas estavam com medo de que fosse bom demais para ser verdade. Mas observe que isto foi dito da alegria delas, que era uma grande alegria; não é dito isso quanto ao seu temor.

Considere:

(1)  O temor santo vem acompanhado de alegria. Aqueles que servem ao Senhor com reverência, servem-no com alegria. (

2)  A alegria espiritual é misturada com tremor (Salmos 2.11). É somente o amor e a alegria perfeitos que afastam todo temor.

2. Com que pressa elas agiram. Elas correram. O temor e a alegria agilizaram o ritmo delas, e acrescentaram asas ao seu movimento. O anjo ordenou que fossem imediatamente, e elas correram. Aqueles que são enviados em uma missão de Deus não devem demorar, ou perder tempo; onde o coração está dilatado com as notícias alegres do Evangelho, os pés correrão o caminho dos mandamentos de Deus.

3. Que missão elas receberam. Elas correram a anunciá-lo aos seus discípulos. Não duvidando que essas notícias seriam alegres para eles, as mulheres correram, para consolá-los com os mesmos confortos com que elas mesmas foram consoladas por Deus. Os discípulos de Cristo devem estar dispostos a transmitir uns aos outros as suas experiências de doce comunhão com o céu; devem dizer aos outros o que Deus tem feito por suas almas, e lhes falado. A alegria em Cr isto Jesus, como o unguento na mão direita, irá se revelar, e encher com os seus odores todos os lugares dentro das linhas de sua comunicação. Quando Sansão achou mel, ele o levou para os seus pais.

 

V –  O aparecimento de Cristo às mulheres, para confirmar o testemunho do anjo (vv. 9,10). Essas mulheres boas e zelosas não só ouviram a boa notícia a respeito dele, mas foram as primeiras a vê-lo depois da sua ressurreição. O anjo instruiu aqueles que o veriam a ir para a Galileia. Mas, antes que esse dia chegasse, mesmo aqui, eles buscavam aquele que vive e os vê. Jesus Cristo é frequentemente melhor do que a sua Palavra, mas nunca pior. Ele frequentemente se antecipa, mas nunca frustra as expectativas confiantes do seu povo.

Aqui está:

1. O aparecimento de surpresa de Cristo para as mulheres. “E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro”. As visitas bondosas de Cristo geralmente nos encontram no caminho do dever, e aqueles que usam o que possuem para o benefício dos outros, receberão ainda mais. Essa entrevista com Cristo foi completamente inesperada (Cantares 6.12). Cristo está mais perto de seu povo do que eles imaginam. Elas não precisaram descer às profundezas para buscar a Cristo, como se Ele estivesse ali. Ele não estava ali, já havia ressuscitado. Também não precisariam subir aos céus, porque Ele ainda não havia subido; mas Cristo, mesmo estando tão elevado, está bem perto de cada um de nós.

2. A saudação com a qual Ele se dirige a elas: “Eu vos saúdo”. Essa era uma antiga saudação, desejando toda a saúde para aqueles que encontramos; esse é o significado de “Eu vos saúdo”, e é uma expressão grega de saudação, que corresponde à expressão hebraica “Paz seja convosco”. Ela indica:

(1)  A boa vontade de Cristo em relação a nós e à nossa felicidade, mesmo depois que Ele entrou em seu estado de exaltação. Embora Ele esteja à frente, sempre nos deseja o melhor; e se preocupa muito com o nosso conforto.

(2)  A liberdade e a familiaridade santa que o Senhor Jesus usou em seu relacionamento com os seus discípulos; porque Ele lhes chama de amigos. Mas a palavra grega significa “Regozijai-vos”. Elas foram tomadas de temor e alegria; o que Ele lhes disse estimulou a alegria delas (v. 9). Elas poderiam se regozijar, e silenciar o seu temor (v. 10): “Não temais”. Note que a vontade de Cristo é que o seu povo seja um povo alegre, e a sua ressurreição lhes proporcione uma alegria abundante.

3. O respeito afetuoso que elas lhe prestaram: “E elas, chegando, abraçaram os seus pés e o adoraram”.

Desse modo, elas expressaram:

(1)  A reverência e a honra que elas tinham por Ele; elas se lançaram aos seus pés, colocaram-se em uma posição de adoração, e o adoraram com humildade e temor piedoso, como o Filho de Deus agora exaltado.

(2)  O amor e a afeição que elas tinham por Ele; elas o detiveram (Cantares 3.4). Quão suaves eram os pés do Senhor Jesus para elas! (Isaias 52.7).

(3)  A situação de alegria em que elas estavam, agora que tinham mais essa confirmação de sua ressurreição; elas abraçaram essas notícias. Assim, devemos abraçar a Jesus Cristo, que nos é oferecido através do Evangelho. Com reverência devemos nos lançar aos seus pés, pela fé devemos nos agarrar a Ele, e com amor e alegria devemos colocá-lo em nossos corações.

4. As palavras encorajadoras que Cristo lhes disse (v. 10). Não encontramos que elas tenham dito qualquer coisa a Ele; seus abraços afetuosos, bem como a sua terna adoração, falaram de um modo suficientemente claro; e o que Ele lhes disse não foi mais do que o anjo já havia dito (vv. 5,7); porque Ele confirmará a palavra dos seus mensageiros (Isaias 44.26). E o seu modo de confortar o seu povo é falar pelo seu Espírito várias vezes aos seus corações a mesma mensagem que eles ouviram anteriormente através dos seus anjos, os seus mensageiros. Agora observe aqui:

(1)  Como o Senhor censura o temor delas: “Não temais”. Elas não devem temer esses avisos repetidos de sua ressurreição, nem temer qualquer dano a partir do ressurgimento de alguém dentre os mortos; porque a notícia, embora estranha, era tanto verdadeira como boa. Note que Cristo ressuscitou dos mortos para silenciar os temores do seu povo, e a notícia da sua ressurreição traz o suficiente para silenciá-los.

(2)  Como o Senhor repete a mensagem: “Ide dizer a meus irmãos” que eles devem se preparar para uma viagem à Galileia, e “lá me verão”. Se houver qualquer comunhão entre as nossas almas e Cristo, é Ele quem marca o encontro, e Ele observará o compromisso. Jerusalém havia perdido a honra da presença de Cristo, e era uma cidade tumultuada; portanto, o Senhor transferiu o encontro para a Galileia. “Vem, ó meu amado, saiamos ao campo” (Cantares 7.11). Mas o que é especialmente observável aqui é que Jesus chama os seus discípulos de seus irmãos. “Ide dizer a meus irmãos”; não só àqueles que eram seus consanguíneos, mas a todos os demais, pois todos eles são seus irmãos (cap. 12.50). Mas Ele nunca os chamou assim antes, fazendo-o apenas depois da sua ressurreição, tanto nessa passagem como em João 20.17. Tendo Ele mesmo, por sua ressurreição, declarado ser o Filho de Deus com poder, todos os filhos de Deus foram assim declarados como sendo seus irmãos. Sendo o Primogênito dos mortos, Jesus se tornou o primogênito entre muitos irmãos, de todos aqueles que são reunidos na semelhança da sua ressurreição. Cristo agora não conversava tão constante e familiarmente com os seus discípulos, como havia feito antes de sua morte; mas, para que não pensassem que Ele havia se tornado um estranho para eles, Ele lhes dá esse título carinhoso: “Ide a meus irmãos”. E assim se cumprem as Escrituras que, falando de sua entrada em seu estado exaltado, dizem: ”Anunciarei o teu nome aos meus irmãos”. Eles o haviam desertado vergonhosamente no momento de seus sofrimentos; mas, para mostrar que Ele poderia perdoar e esquecer, e para nos ensinar a fazer o mesmo, o Senhor não só dá continuidade ao seu propósito de se encontrar com eles, mas os chama de irmãos. Sendo todos seus irmãos, eles eram irmãos uns dos outros, e deveriam se amar como irmãos. O fato de o Senhor os considerar como seus irmãos coloca uma grande honra sobre eles, mas também há um grande exemplo de humildade em meio a essa honra.

 

O QUE A BÍBLIA ME ENSINOU

Igreja aprendendo a ser “Igreja”

O que a bíblia me ensinou

Quando nos referimos a igreja, estamos falando da “eklesia” como o corpo de Cristo cumprindo sua função no IDE…ou seja, o que somos dentro do corpo precisa refletir e influenciar os que estão fora dele!

A primeira missão dada a “Eklesia”, como “Chamados para fora” foi dada pessoalmente pelo Senhor Jesus quando da ressurreição em Mateus 28:19 constituindo a missão dos salvos que é:

1- Pregar as Boas Novas de Salvação e mostrar a necessidade que o pecador tem de se arrepender de seus maus caminhos e, principalmente, de ter um Salvador pessoal para redimir sua alma da morte eterna;

2 – O Ensino é a segunda missão dos salvos para que, ao tomar conhecimento da verdade, não enrede por falsos ensinamentos/falsas doutrinas.

3 – O Batismo nas águas só então se torna possível, haja visto, o mesmo só se consuma com o pleno conhecimento da importância deste no mundo físico (para os que se achegaram à Fé), e o Espiritual (para que suas batalhas sejam coroadas de vitória contra as tentações do inimigo).

Graça e Paz

PSICOLOGIA ANALÍTICA

BASES BIOLÓGICAS DA AGRESSIVIDADE

No substrato dos comportamentos agressivos, há um complexo mecanismo molecular. Mas, seria correto considerar a violência uma doença passível de ser curada com medicamentos?

Bases biológicas da agressividade

Em Boston, há uma lanchonete onde, antes de comer é preciso brigar. Trata-se de uma caixa de plexiglás transparente dentro da qual duas drosófilas disputam um pratinho de levedo em meio a golpes de patas e investidas furiosas. Os encontros deste bizarro clube de lutas, administrado por Edward Kravitz, neurobiólogo da Faculdade de Medicina de Harvard, são meticulosamente registrados em vídeo. O objetivo é estudar as bases biológicas da agressividade, uma das pulsões mais antigas e comuns a todas as espécies, mas cujos mecanismos desencadeantes permanecem um enigma.

Os modelos animais ajudaram pesquisadores a compreender patologias como câncer e diabetes e são hoje indispensáveis no desenvolvimento de todos os tratamentos modernos. No entanto, só nos últimos anos adquiriram importância na pesquisa sobre o comportamento humano. Isso porque as novas tecnologias de análise molecular, trazendo à luz a complexa rede de circuitos bioquímicos por trás de cada pulsão, permitem identificar pontos comuns a várias espécies.

“À primeira vista, a drosófila é muito diferente do homem”, observa Kravitz, “mas é um ótimo ponto de partida para isolar as moléculas que suscitam comportamentos agressivos porque conhecemos todo o mapa do seu DNA e muitos dos seus genes encontram correspondência no genoma humano. Fáceis e econômicas de criar, essas moscas-das-índias têm também a vantagem de apresentar comportamentos diferentes conforme o sexo, tanto que machos e fêmeas combatem de maneiras distintas, com esquemas reconhecíveis com base nos movimentos de cada um.

Numa pesquisa publicada recentemente nos Procedings of the NationaI Academy of Sciences, Kravitz demonstrou que, modificando geneticamente os neurônios de um inseto macho, podiam ser atribuídas ao seu cérebro as características cerebrais de uma fêmea em idade adulta. Muitos dos comportamentos dessas moscas alteradas, desde os sexuais aos rituais de corte, mudavam para assemelhar-se àqueles femininos. Apesar disso, seu modo de combater permanecia o mesmo.

 RAÍZES ANTIGAS E COMUNS

“É a primeira prova experimental de que, modificando um gene, se influi também sobre um comportamento”, observa Bruce Baker, biólogo da Universidade Stanford. Com o colega Kravitz, Baker estuda o papel da galanina, um dos principais neurotransmissores envolvidos no estímulo de agressividade e galanteio. “Mas significa também que a agressividade é um traço extremamente conservado ao longo do processo evolutivo, e depende de mecanismos que se desenvolvem muito cedo, antes mesmo da determinação do sexo. Os comportamentos podem ser muito diferentes de uma espécie para outra, mas parece claro que as moléculas na base desses estímulos são as mesmas.”

Os pesquisadores empregam técnicas de engenharia genética para obter animais knock–0ut –  privados de um gene de que sequer estudara função -, ou knock-in, quando a sequência de DNA é aumentada. No entanto, o alvo verdadeiro não são simplesmente os genes. A bem da verdade, a ideia de que existam “genes da violência” hoje está descartada, e vem sendo dada mais atenção para um grupo de neurotransmissores que têm como característica comum a presença, no interior da própria estrutura molecular, do aminoácido triptoíano. A agressividade parece se originar por moléculas diversas, mas há muitas outras que contribuem na modulação da intensidade da resposta agressiva.

Klaus Miczek, da Universidade Tufts, e Craig C. Ferris, da Universidade de Massachusetts, concentraram a atenção em dois neurotransmissores: serotonina e vasopressina. Em muitas espécies, entre elas o homem, baixos níveis de serotonina correspondem a comportamentos agressivos. Os ratos, por exemplo, atacam muito mais facilmente outro animal depois de consumirem substâncias que influem nos receptores da serotonina, impedindo o cérebro de absorver essa molécula. Ao contrário, fármacos como a fenfluramina, que aumenta o nível de serotonina, ou estimulam os receptores cerebrais que ligam esse neurotransmissor, diminuem a frequência dos comportamentos agressivos nesses animais. Os mesmos princípios são conhecidos e usados em nível farmacológico no homem. A fluoxetina, naturalmente presente no cérebro e utilizada em forma sintética em alguns antidepressivos, impede que os neurônios se liberem da serotonina produzida.

Se saturar os receptores de serotonina reduz a agressividade, a vasopressina, ao contrário, a alimenta, agindo diretamente sobre o hipotálamo, região do cérebro onde têm origem muitos estímulos comportamentais. Na década de 90, estudos clínicos conduzidos por Emil F. Coccaro, da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, mostraram que também no homem uma escassa secreção de serotonina é acompanhada de comportamentos agressivos.

MOLÉCULAS DE POTENCIALIZAÇÃO

Os instintos agressivos seriam, portanto, simplesmente provocados pela carência de uma molécula? A química da violência parece bem mais complexa. A serotonina desempenha papel central no controle da agressividade em todos os neurotransmissores desempenha papel de controle em todos os mamíferos, e conhecemos pelo menos 14 receptores diferentes no cérebro humano”, observa Robert Sapolsky, da Universidade Stanford. Ao lado de Lysa Share, o neurobiólogo estuda a biologia da agressividade nos macacos. “Mas muitas outras moléculas potencializam o comportamento agressivo. Entre elas a dopamina – ligada ao prazer e à busca de novas sensações – a adrenalina e a noradrenalina, que aumentam o metabolismo e a força. Também a testosterona contribui, mas em medida muito menos importante que usualmente se pensa. Nas fêmeas, é muito importante a relação entre progesterona e estrogênio liberados no sangue.” Nos mamíferos de ambos os sexos, além disso, altos níveis de estrogênio podem alterar o equilíbrio do eixo do stress, constituído por hipófise, hipotálamo e glândulas suprarrenais responsáveis pela secreção de glicocorticoides, conhecidos como hormônios do stress.

Em 2004, os estudos conduzidos com gatos por Alan Siegel, neurologista da Universidade de Nova Jersey, demonstraram que também algumas moléculas do sistema imunológico, como as citocinas, são capazes de potencializar o comportamento agressivo, da mesma forma que outros neurotransmissores como o ácido gama aminobutírico (GABA) e diversos neuropeptídios. A serotonina permanece, de qualquer modo, o detonador principal de cada resposta agressiva, e por isso as pesquisas se concentram sobre ratos, que têm receptores cerebrais extremamente semelhantes aos humanos.

Hoje é também possível criar roedores geneticamente modificados que apresentam traços típicos de problemas psiquiátricos complexos como a depressão e a esquizofrenia, mas os resultados destas pesquisas devem ser interpretados com cuidado.” Desenvolver modelos animais para estudar os distúrbios humanos é um instrumento muito importante para compreender as bases dos distúrbios psiquiátricos, mas os resultados obtidos em fase de pesquisa pré-clínica devem ser interpretados com cautela, explica Alessandro Bartolomucci, do Instituto de Neurociências do Conselho Nacional de Pesquisa de Roma, que estuda a resposta ao stress nos ratos. De acordo com ele, o estudo dos neurotransmissores e dos genes implicados em tais distúrbios podem dar apenas indicações sobre os mecanismos biológicos de base na espécie estudada. Dada a semelhança de estruturas e funções existentes entre os vertebrados, é provável que tais mecanismos sejam altamente conservados também no homem, mas isso deve ser verificado experimentalmente. No que diz respeito aos raios transgênicos, por sua vez, modificar um ou mais genes produziria animais com características análogas às de um paciente psiquiátrico, mas quase nunca podemos reduzir uma síndrome complexa à disfunção de um só gene”.

DO ESTADO AO COMPORTAMENTO

A própria definição de agressividade ainda não foi estabelecida pela comunidade científica. Nos animais, a agressividade é tipicamente medida pela frequência dos ataques dirigidos a um intruso que ultrapasse os limites do seu território. Mas é uma medida indireta, porque a agressão é um comportamento, enquanto a agressividade é o estado motivacional, o conjunto das alterações neuroquímicas e fisiológicas que estão na base da agressão”, diz Bartolomucci.

O limite conceituai é evidente também no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos (DSM-IV), que cita os comportamentos agressivos como sintoma de vários distúrbios psiquiátricos, mas não dá uma definição convincente da agressividade, como acontece para a depressão. O debate sobrea definição da agressividade é muito intenso, observa Bartolomucci. Está claro que estamos diante de um fenômeno complexo que pode ser desencadeado por razões diversas, que evoluiu como resposta a pressões seletivas muito diferentes, da defesa do território à sexualidade, mas é também modulado e atenuado por fatores sociais. Além disso, e felizmente, a agressividade pode ser inibida e não desembocar em comportamentos violentos.”

Nos países anglo-saxões, há uma grande atenção para o excesso de agressividade de crianças e adolescentes, muitas vezes descrito com a expressão inglesa bullying, que remete as atitudes agressivas a experiências sociais nos primeiros anos de vida do indivíduo. No entanto, estudos recentes indicam que também as relações sociais no interior de uma comunidade de idade adulta contam muito. As pesquisas de Sapolsky e Share com alguns grupos de macacos silvestres mostraram que depois da morte por doença dos machos dominantes e mais violentos, as fêmeas preferiam aqueles menos agressivos. Além disso. os pesquisadores constataram que, depois de dois anos da ausência dos mais agressivos, o grupo repudiava novos indivíduos muito violentos.

A PÍLULA DA MANSIDÂO

“A medida que se vão esclarecendo as bases biológicas da agressividade, aventa-se também a hipótese de tratar e controlar os comportamentos muito violentos com uma nova classe de fármacos, os serenics (agonistas do receptor de serotonina, por exemplo). Hoje, a atenção é dirigida aos inibidores seletivos de recaptação da serotonina, até agora utilizados como antidepressivos. O objetivo é modular a agressividade de maneira específica, sem induzir os pacientes a um estado de apatia. A fluoxetina já se demonstrou eficaz em alguns casos, assim como outras moléculas que agem sobre o receptor 1B da serotonina, mas ainda com muitos efeitos colaterais.

A possibilidade de expandir o emprego desses inibidores entrou, porém, em compasso de espera no fim do ano passado, quando a FDA, a agência americana de controle de alimentos e fármacos, verificou uma ligação entre o uso de fluoxetina e a frequência dos suicídios em adolescentes tratados por síndromes depressivas.

O freio principal aos investimentos de pesquisa farmacológica nesse campo deriva, porém, da impossibilidade de registrar novas moléculas para regular a agressividade. A FDA aprova, de fato, somente fármacos destinados à cura de patologias específicas e reconhecidas, mas, como já se disse, o DSM- IV não dá uma definição da agressividade como distúrbio patológico. O único estudo clínico específico iniciado por uma empresa farmacêutica é aquele sobre o uso da eltoprazina para controlar a agressividade de pacientes paranoicos e esquizofrênicos efetuado pela Solvay, que, porém, arquivou o projeto em 1994.

Se as empresas não investem, os pesquisadores parecem, porém, mais otimistas. Sapolsky recentemente propôs uma terapia gênica voltada para modificar a secreção de CRH, o hormônio que induz a hipófise a liberar o cortisol ou hormônio do stress e influencia consequentemente, o equilíbrio dos estrogênios. Segundo o pesquisador americano, seria tecnicamente possível inserir genes ativáveis por meio de fármacos em alguns neurônios, a fim de controlar a resposta ao stress e também a agressividade.

Seja qual for o caminho tomado pela pesquisa para novos tratamentos, os cientistas são os primeiros a lembrar que o controle farmacológico da agressividade é um terreno minado do ponto de vista ético. Quem sofre de agressividade patológica poderia beneficiar-se, mas o risco é que se crie uma zona cinzenta e se termine por encorajar o tratamento de um número sempre maior de pessoas cujo comportamento agressivo é determinado não por disfunções bioquímicas, mas por fatores sociais.

 O TEMPO DOS VALENTÔES

Entre as tantas formas de agressividade, uma em particular tomou conta das escolas: aquela que, na literatura internacional, ficou conhecida pelo termo inglês bullying. O pioneiro dos estudos sobre o bullying foi o psicólogo norueguês Dan Olweus, que, no início dos anos 70, na esteira de um grave incidente registrado pela crônica policial, começou a ocupar-se sistematicamente do fenômeno. A ele se deve a primeira definição: o aluno é objeto de ações de bullying, ou, de fato, é abusado ou vitimizado, quando é exposto, repetidamente, às ações ofensivas postas em prática por parte de um ou de mais colegas.

Na raiz dos comportamentos do “valentão” há quase sempre a vontade de intimidar e dominar, um abuso de poder que se manifesta com modalidades diversas. Aquela física, na qual se agride a vítima com socos e chutes, ou também se busca invalidar suas realizações pessoais. Aquela verbal, em que se ridiculariza, se insulta, se escarnece repetidamente. Enfim, há também uma modalidade indireta (registrada com mais frequência entre as meninas): o agressor difunde fofocas incômodas, pequenas calúnias, excluindo a vítima dos grupos de convivência social.

Os “valentões” que não modificam as suas modalidades de interação serão, quando adultos, pessoas com forte risco de comportamentos anti sociais, ou desviantes. As vítimas frequentemente perdem auto estima e se culpam, reações que comportam perda de concentração e rendimento escolar.  Em alguns casos, há somatização, com dores de cabeça, de estômago, ataques de ansiedade, pesadelos: todos distúrbios que podem ter consequências psicológicas também em idade adulta. Para subtrair-se aos comportamentos do “valentão”, ou dos “valentões”, as vítimas chegam a deixar a escola, a não sair mais de casa, e em casos extremos, ao suicídio.

Foi um caso de triplo suicídio que levou o governo norueguês a encarregar Olweus de estudar o fenômeno. Nos anos 80, a análise e as medidas para combater o bullying chegaram aos outros países escandinavos, e dali aos Estados Unidos, Canadá, Japão Holanda e Reino Unido.

O agressor ataca no trajeto entre casa e instalações escolares e nos banheiros de escolas, mas o lugar principal da agressão é dos mais insuspeitos: a sala de aula. Isto é, sob os olhos mais ou menos conscientes dos adultos.

OUTROS OLHARES

DIVERSIDADE FAMILIAR

As novas configurações da família moderna impõem inúmeras alterações comportamentais que transformam os perfis convencionais de pai e mãe.

Diversidade familiar2

Era uma vez a história da fundação de Roma. Os gêmeos Rómulo e Remo são cuidados (e amamentados) por uma loba. Essa é a história mítica de dois bebês que, criados por um outro animal mamífero não humano, sobrevivem, se tomam humanos, crescem e fundam Roma.

Por mais que se respeite as lobas, nos diz Donald Winnicott, pediatra e psicanalista, esse mito só não se sustenta… Um bebê não pode existir por si só, mas é parte essencial de uma relação humana (1988). Para se ter um bebê humano é necessário que um outro ser humano cuide dele, na melhor das possibilidades, exista uma mãe e ela seja um membro de uma família nuclear?

Para alguns estudiosos a família atual está mais sólida do que nunca. Com o nascimento do anonimato urbano e na ausência de qualquer comunidade profissional estável, a família se tornou hoje o único referencial e o único lugar onde ficar, repousar e ser compreendido. Para outros, muito pelo contrário, trata-se aí apenas de reações sintomáticas a uma crise profunda da família moderna: casais separados, famílias monoparentais ou recompostas, incompetência crescente dos pais na educação dos filhos, o declínio da imagem social do pai, o celibato prolongado das mulheres ou a postergação do nascimento dos filhos por motivo profissional etc. (Burd, 2015).

A família na atualidade se reinventou, como os cuidados ditos “maternos”, também se reinventaram. Só a mãe biológica pode maternar? Ou haveria outras pessoas que poderiam exercer essa função? Há possibilidades de terceirizar a maternagem?

“Essa é a nossa questão de hoje: Existe uma nova forma de maternagem e quem atualmente desempenha essa função?”

Vamos tentar responder essa pergunta porque hoje, (como na época de Rómulo e Remo, precisaremos de mais do que uma loba para isso. “Um bebê e alguém mais…”

Estamos no transcurso do século XXI e a função de maternar não se coloca especificamente na figura da mãe biológica, uma mulher que engravidou, gestou, deu à luz o seu bebê e cuidou dele. Através do panorama da evolução dos costumes e papéis sociais constata-se a caminhada das mulheres ao mercado de trabalho e dos homens aos cuidados com os filhos e a casa. As avós (e já vemos também as bisavós) estão ajudando a criar seus netos (e bisnetos). Outras vezes, a mulher posterga a maternidade para depois da universidade, da consolidação no trabalho, da sua independência financeira e, como o seu relógio biológico para engravidar vai se extinguindo, ela precisa recorrer à reprodução assistida. Por vezes não há o desejo de engravidar, a mulher (ou o casal) quer apenas adotar uma criança.

A colocação das crianças nas creches e escolinhas desde muito cedo e por períodos de tempo muito longos é uma alternativa aos pais que trabalham fora em regime de tempo integral. Outra possibilidade são as babás que cuidam das crianças. E essa terceirização do cuidado das crianças pode se estender ao celular, ao tablet, ao laptop, com filmes e jogos eletrônicos, da câmara de vídeo que monitoriza casa e a deixa à mostra em tempo e hora, sem falar da TV que foi e ainda é uma “babá eletrônica.

Estamos assistindo também à formação de novas configurações familiares. Casais homoafetivos, tanto masculinos quanto femininos, estão se formando e desejam ter filhos, biológicos ou adotados. Famílias separadas estão se recompondo com outros parceiros e os filhos de um se unem aos do outro e os filhos de ambos se reúnem numa mesma casa formando uma família recomposta e extensa.

UMA GRANDE CONTRIBUIÇÃO

Winnicott, pediatra e psicanalista, depositava grande confiança na capacidade natural das mães para a maternagem. Sua preocupação era de que esse talento inato não fosse prejudicado. As expressões de winnicottianas “mãe devotada comum “e “mãe suficientemente boa” criaram um ambiente aberto no qual a mãe passa a ter mais possibilidades de se sentir livre o suficiente para ser ela mesma. Ele dizia que passado o período da  “preocupação materno-primária”, no qual o bebê é o centro de tudo para ela, começa a existir um período de desilusão gradativa, necessária à construção do self interior do bebê e do mundo objetal à sua volta, e que a mãe, em contrapartida, tenha um espaço próprio para buscar outras satisfações e ineresses que não o bebê ou o ser exclusivamente mãe.

Isso quer dizer, em última análise, que a mãe não pode ser perfeita, pois corre o risco de não favorecer o desenvolvimento físico-psicológico do filho. A mãe (ou quem a substitua) não pode superproteger o bebê nem ser negligente. Isso também quer dizer que o “bebê cria a mãe”, ela começa a perceber que, apesar da importância da maternagem, o conhecimento das suas imperfeições é parte do processo do par cuidador e que isso constitui um momento mais liberador do que opressivo.

A mãe winnicottiana é empática, embora ainda preocupada consigo. Ela quer proporcionar cuidados, prazer e brincadeiras a seu filho, mas sabe que o mundo e a vida exigem limites, restrições, frustrações e desilusões graduais. A mãe dentro dessa ótica é uma pessoa comum que faz coisas comuns: segurá-lo (dar o holding), ter um bom manejo (o handling) que dê acalento ao filho, e ter a sensibilidade necessária para a “apresentação do objeto (o mundo) no momento ideal.

O bebê winnicottiano é a criança que descobre o mundo dessa forma e se torna a tempo preparada para receber bem as surpresas que o mundo oferece. Winnicott acreditava que, sendo uma mãe zelosa, ela pode evitar que o mundo (e ela própria) invada demais a criança antes que ela o descubra. Ele denomina a mãe e o bebe como o “par cuidador’; e os pais devem desempenhar um papel fundamental na proteção desse par contra as adversidades. O pai winnicottiano é necessário pelos seus próprios direitos e não como uma réplica da mãe. Winnicott sabia que “há certos pais que efetivamente seriam melhores mães que sua esposa” e que “homens maternais podem ser muito úteis. Quando não há o pai é preciso que alguém tome a si o papel protetor – que assuma a função paterna. O papel do pai é “abrir o mundo para a criança”, que o vê através de um novo par de olhos.

A família winnicottiana é o grupo que normalmente proporciona à criança segurança e força (um ambiente sustentador e um “grupo transicional”) que facilitam a individualização da criança, sua separação da família e adaptação à sociedade. O ambiente humano, para Winnicott, deve ser “suficientemente bom”, é adaptativo da forma correta, apropriado, de acordo com as necessidades do bebé. Winnicott diz em relação aos gêmeos Rómulo e Remo que alguém que era humano encontrou e cuidou dos bebês…

“A princípio éramos absolutamente dependentes, e por sorte fomos satisfeitos pela devoção comum (1988).

 CONSTELAÇÃO

Daniel Stern, outro psicanalista, fala da “constelação da maternidade” (1997), e enumera quatro temas que, na nossa cultura, surgem quando alguém que cuida de um bebe deve se perguntar:

Serei capaz de manter a vida e o crescimento do bebe? Serei capaz de me envolver emocionalmente com o bebê, de maneira pessoalmente autêntica, e será que esse envolvimento psíquico assegurará o desenvolvimento psíquico que se quer para o bebê? Saberei como criar e prover os sistemas de apoio necessários ao cumprimento dessas funções? Serei capaz de transformar a auto identidade para permitir e facilitar essas funções?

A constelação da maternidade não é universal e inata. Em outras épocas, histórias e culturas, esses temas não seriam tarefas da mãe, seriam diferentes ou quase inexistentes. Os homens poderiam elaborar uma nova constelação da maternidade quando as condições se mostrassem propicias. Além das influências hormonais, ou melhor, psicobiológicas, que preparam a mãe para cuidar de seu bebê, as condições socioculturais, também parecem dominantes em como e se essas vão agir.

Na nossa sociedade, nos diz Stern (1997), as condições culturais importantes na moldagem da forma final da constelação da maternidade conforme nós a conhecemos incluem os seguintes fatores:

“A sociedade atribui um grande valor aos bebês, à sua sobrevivência, bem-estar e desenvolvimento ótimo; supõe-se que o bebê seja desejado; a cultura atribui um grande valor ao papel maternal, e a mãe (ou quem a substitua) é, em parte, avaliada como pessoa por sua participação e sucesso no papel maternal; a responsabilidade básica pelos cuidados com o bebê é colocada na mãe {ainda o é hoje), mesmo que ela delegue grande parte das tarefas a outras pessoas; é esperando que a mãe ame o bebê; é esperado que o pai e outros proporcionem um contexto apoiador em que a mãe possa desempenhar seu papel maternal por um período inicial. Quanto aos pais, Stern distingue os “pais tradicionais” e os “novos pais”. Os primeiros não vivem muito a constelação da maternidade, podem até dar o apoio prático; os segundos podem participar de todas as tarefas de cuidados e do apoio prático. O “novo marido” é deixado com metade do trabalho e, se sentir gratificado no seu papel parental, deve apoiar a mãe.

Cada pessoa que cuida do bebe (mãe biológica ou quem o substitua) desenvolverá uma constelação de maternidade própria.

Daniel Stern (1997) se pergunta:

“E se o pai for o cuidador primário, será que ele também vai desenvolver uma constelação da maternidade? Afinal de contas, seu cuidador primário foi sua mãe (com toda a probabilidade), ou sua necessidade de se identificar com o pai vai alterar essa situação?”

 NOVAS CONFIGURAÇÕES

 

ADOÇÃO

Adotar significa acolher, por meios legais e de livre e espontânea vontade, uma criança, como se filho fosse essa criança, que estaria ora desamparada pelos pais legítimos, dando-lhe o direito que um filho natural teria. Quando alguém decide se tornar pai ou mãe, um desejo de adoção coloca­se em ato. Esse ato é uma declaração pública que diz sim à responsabilidade de ostentar um processo particular de filiação/adoção.

Na adoção, o cuidado necessário de uma criança pode ser exercido por qualquer indivíduo que supra essas necessidades, não sendo mais função exclusiva da mãe biológica. A maternagem, nesse caso, é entendida como uma vinculação de qualidade, de alguém que tenha a função do cuidar e de uma criança a ser acolhida. Tem base psicológica e é construída ao longo do tempo através das relações estabelecidas com os objetos escolhidos.

Paro que uma adoção seja bem-sucedida, o desejo de ser mãe ou pai deve estar presente, sendo essencial que haja capacidade de compreensão, disponibilidade e doação para com o outro.

 ADOÇÃO POR CASAIS HETEROSSEXUAIS

Para os pais adotantes, ter um filho por meios não naturais, ou seja, adotar, seria apenas um meio diferente, já que a ansiedade pela espera do filho, o sexo, saúde, preocupações com a educação, de comportamento, entre outros são os mesmos que se teria com um filho natural. Para Françoise Dolto (1998), a relação mãe-bebê vai além da herança genética e perpassa também pelo vinculo estabelecido entre eles, pois é na cultura e na linguagem que essa relação se estrutura. Laços consanguíneos não garantem o amor entre pais e filhos, pois este é construído e conquistado.

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Conforme a legislação, não há impedimento para que pessoa homossexual adote uma criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no seu art. 42, menciona que a adoção pode ser realizada tanto por homem, quanto por mulher, de forma “conjunta ou não”, estando ausente a necessidade de enlace matrimonial.

A educação de crianças por pais homossexuais não é novidade, embora a estabilidade do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo e o desejo de terem filhos ainda despertem a curiosidade de muitos. Pesquisas recentes revelam que aqueles que foram adotados e criados por pessoas homossexuais tiveram vida digna e feliz, da mesma forma que os filhos adotados por pessoas heterossexuais. Os interesses dos menores estarão mais bem protegidos se as famílias homoafetivas forem vistas sem preconceitos, sem temores e sem mitos.

As mães lésbicas são capazes de exercer perfeitamente o papel materno. Precisam se preocupar em cercar a criança de figuras masculinas adequadas para a identificação (irmãos, tios, avô). Estudos realizados demonstraram que crianças educadas por pais homossexuais desenvolvem identidade sexual apropriada e assumem atitudes heterossexuais, como aquelas criadas em lares de mães e pais heterossexuais.

 REPRODUÇÃO ASSISTIDA

 

POR CASAIS HETEROSSEXUAIS

Em 1984 foi anunciado o nascimento do primeiro bebê de proveta brasileiro, seis anos depois de ter nascido o primeiro bebê de proveta do mundo, na Inglaterra. As novas tecnologias de reprodução; no seu início, eram medicamente definidas como tratamentos da infertilidade e teriam sido desenvolvidas em função de uma demanda preexistente: o desejo de filhos, de continuidade pela reprodução, portanto uma demanda dirigida à “vida de fato, sem o desejo de filhos não há infertilidade.

POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Cada vez mais, os casais homoafetivos tem procurado clínicas de reprodução assistida. As novas normas aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) devem beneficiar um número maior de mulheres e homens homossexuais que desejam ter filhos biológicos. A medida permite que a técnica seja desenvolvida, independentemente do estado civil ou orientação sexual ou seja, pessoas do mesmo sexo e / ou mulheres solteiras.

No caso de mulheres homossexuais não se pode utilizar o sêmen de um familiar (irmão) de uma das parceiras para fertilizar os óvulos da companheira dessa forma. O especialista esclarece que o doador não pode ser um irmão, familiar ou conhecido da paciente, pois os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa. Obrigatoriamente, é mantido o anonimato.

Nos casais de homens, o processo envolve mais pessoas, pois é necessário o óvulo de uma doadora desconhecida e depois uma mulher da família que possa gerar o bebê. Eles dependem dos óvulos de doadora desconhecida e da gestação do útero, que, ao contrário dos óvulos doados deve ser de parente próxima, irmã ou mãe (que nem sempre aceitam gerar um bebê). O procedimento só é permitido em uma mulher parente do casal homossexual – a chamada “barriga solidária”.

MUDANÇAS

Os homens (tanto heterossexuais como homossexuais) estão cada vez mais participantes dos primeiros contatos com o bebê, como coparticipantes das atividades antes consideradas apenas atributos femininos. Na medida em que esse processo se dá, podemos falar de pais “suficientemente bons”. Todas as estruturas familiares são capazes de promover o desenvolvimento positivo da criança, desde que o ambiente seja afetuoso, estimulante e livre de conflitos e estresse.

O bebê humano nasce dependente de cuidados de maternagem e esses cuidados devem ser compartilhados pelas pessoas que cuidam dele; a mãe que amamenta ao seio, os homens que trocam fraldas e preparam a alimentação do bebê etc. São funções de ordem prática que possuem uma série de diferentes atributos, de acordo com a fase de desenvolvimento da criança, e são exercidas por adultos tutelares (mãe e pai, biológico ou adotivo).

A dinâmica por meio da qual atualizam-se as funções materna e paterna se organiza a partir de um Inter jogo de fatores conscientes e inconscientes. Portanto, as funções materna e paterna vão além dos papéis de pai e mãe.

Desde os primórdios da vida percebemos que essas funções se constituem numa relação dual – os pais formam os filhos/os filhos os tornam pais. O fato de descobrir e ir aprendendo ao viver a experiência nos remete à noção de processo: tomar-se mãe e tornar-se pai.

Tradicionalmente a função materna é exercida principalmente pela mãe biológica, mas não necessariamente é da quem a exerce. Em alguns casos, outras pessoas assumem o exercício dessa função. Nas novas configurações familiares, ela é, em geral, compartilhada pelos membros próximos da família e, eventualmente, por profissionais e funcionários de instituições. Entretanto, ao executar tais tarefas, os homens ainda são comparados com a mãe e frases como “esses pais que são verdadeiras ‘mães’ são usuais para definir os novos interesses masculinos. Isso já está mudando.

É fundamental, no entanto, que exista uma pessoa que seja a principal cuidadora do bebê, que represente uma referência constante e seguro. Essa pessoa deve, além de ser responsável pelos cuidados básicos de saúde, higiene e alimentação do bebê, nele investir emocionalmente. Isso significa que deve haver vínculo afetivo entre essa pessoa e o bebê de que ela cuida.

Diz a lenda que Roma foi fundada no ano 753 a.C. por Rômulo e Remo, filhos gêmeos do deus Marte e da mortal Rea Sílvia. Ao nascer, os dois irmãos foram abandonados junto ao rio Tibre e salvos por uma loba, que os amamentou e protegeu.

Um pastor de ovelhas os recolheu e lhes deu os nomes Rômulo e Remo.

Ele foi esse alguém mais na vida dos gêmeos humanos.

E não foi uma mãe!

WINNICOTT

Donald Woods Winnicott desenvolveu sua Psicanálise com base nas relações familiares entre a criança e o ambiente. Todo ser humano, segundo o pediatra inglês, tem um potencial para a evolução. Contudo, para tornar esse potencial algo real, o ambiente se faz necessário. Inicialmente, esse ambiente é a mãe – ou alguém que exerça a função materna – apoiada especialmente pelo pai.

SER PAI E MÃE

Ser pai e ser mãe na ótica psicanalítica não implica apenas paternidade biológica, demanda também, sentimentos e atitudes de adoção que decorrem do desejo pelo filho. O exercício da função materna e o exercício da função paterna são considerados necessários para a estruturação e desenvolvimento do psiquismo da criança.

 Diversidade familiar3

MIRIAN BURD – é psicóloga com experiência em atendimento clínico e autora de diversos artigos científicos em revistas especializadas.

 

 

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHAR SEM PERDER A QUALIDADE DE VIDA

Trabalhar sem perder a qualidade de vida

Ter equilíbrio entre a área pessoal e a profissional é algo fundamental, mas nem todos conseguem isso. Encontrar a harmonia entre essas duas esferas não é função exclusiva do empregado. As 150 Melhores Empresas para Trabalhar e as 35 Melhores Empresas para Começar a Carreira, listados nos guias publicados por VOCÊ S.A., sabem bem disso. Para que seus funcionários tenham satisfação tanto no emprego quanto fora dele, 61% das melhores evitam que as pessoas fiquem mais tempo no escritório do que o combinado, desligando sistemas de trabalho em horários predeterminados, por exemplo. Como resultado, 87% dos profissionais que atuam nessas companhias afirmam que a jornada deles permite conciliar a carreira com questões familiares.  Apesar de estar na vanguarda, as melhores ainda precisam desenvolver alguns pontos: apenas 8% delas oferecem licença – paternidade superior a dez dias e somente 17% têm instalações para cuidado dos filhos dos empregados.

Trabalhar sem perder a qualidade de vida.2

 

Trabalhar sem perder a qualidade de vida.3

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 28: 1-10

Alimento diário

A Ressurreição – Parte II

III – A mensagem que esse anjo entregou às mulheres (vv. 5-7).

1. Ele as encoraja contra os seus medos (v. 5). Aproximar-se de túmulos e sepulturas, especialmente em silêncio e solidão, tem algo de assombroso. Quanto mais para aquelas mulheres, que encontraram um anjo no sepulcro; mas logo ele as tranquiliza, dizendo: “Não tenhais medo”. Os guardas ficaram assombrados e como mortos, mas: “Não tenhais medo”. Deixe que os pecadores em Sião tenham medo, porque há razão para isso; mas: Não temas, Abraão, nem qualquer um da semente de Abraão. Por que deveriam as filhas de Sara, que fazem o bem, temer algum espanto? (1 Pedro 3.6). “Não tenhais medo. Não permitais que a notícia que eu tenho para vos dar seja uma surpresa para vós, porque vos foi dito anteriormente que o vosso Mestre ressuscitaria; não permitais que isso seja um terror para vós, porque a sua ressurreição será a vossa consolação; não temais, pois não vos farei qualquer dano, nem tenho más notícias para vós. ‘Não tenhais medo, pois eu sei que buscais a Jesus’. Eu sei que tendes simpatia pela causa. Eu não venho para vos assombrar, mas para vos encorajar.” Note que aqueles que buscam a Jesus não têm motivo para ficar com medo; porque, se eles o buscarem diligentemente, o acharão, e o acharão como o seu Redentor generoso. Todas as nossas indagações a respeito do Senhor Jesus, na fé, são observadas e registradas no céu. “Eu sei que buscais a Jesus”; e certamente receberão uma resposta, como essas receberam, com boas palavras, e palavras de conforto. “Buscais a Jesus, que foi crucificado”. Ele menciona o fato de Jesus ter sido crucificado, com a intenção de elogiar o amor que elas sentem por Ele. Em outras palavras: “Vós ainda o buscais, embora Ele tenha sido crucificado; mesmo assim, retendes a vossa bondade por Ele”. Observe que os verdadeiros crentes amam e buscam a Cristo, não só embora Ele tenha sido crucificado, mas pelo fato de ter sido crucificado.

2. Ele lhes assegura sobre a ressurreição de Cristo. E havia o suficiente nisso para acalmar os seus temores (v. 6). “Ele não está aqui, porque já ressuscitou”. Ouvir que Ele não estava ali não seria uma notícia bem-vinda para aquelas que o buscavam, se não tivesse sido acrescentada a frase: porque “já ressuscitou”. Note que é uma questão de conforto para aquelas que buscavam a Cristo, e não o encontravam onde esperavam, o fato de que Ele já tivesse ressuscitado; não o encontramos em um repouso, como poderíamos esperar, porém Ele já ressuscitou. Não devemos dar atenção àqueles que dizem: Cristo está aqui, ou: Ele está ali, porque Ele não está aqui ou ali; Ele já ressuscitou. Em todas as nossas indagações a respeito de Cristo, devemos nos lembrar de que Ele já ressuscitou; e devemos buscá-lo como aquele que ressuscitou.

(1)  Não com pensamentos totalmente carnais a respeito dele. Havia aqueles que conheciam a Cristo segundo a carne; mas, de agora em diante, não o conhecem mais assim (2 Coríntios 5.16). É verdade que Ele tinha um corpo completamente humano; mas agora o seu corpo é um corpo glorificado. Aqueles que fazem retratos e imagens de Cristo se esquecem de que Ele não está aqui, porque já ressuscitou; a nossa comunhão com Ele deve ser espiritual, pela fé em sua Palavra (Romanos 10.6-9).

(2) Devemos buscá-lo com grande reverência e humildade, e uma imensa consideração por sua glória, porque já ressuscitou. Deus o exaltou sobremaneira, e lhe deu um nome que está acima de todo nome, e, portanto, todo joelho e toda alma deve se dobrar diante dele.

(3) Devemos buscá-lo com o nosso pensamento nas coisas celestiais. Quando estivermos prontos para fazer deste mundo o nosso lar, e dizer: “Bom é estarmos aqui”, lembremo-nos de que o nosso Senhor Jesus não está aqui, porque já ressuscitou, e assim não deixemos que os nossos corações estejam aqui, mas deixemos que eles ressuscitem também, e busquemos as coisas que são do alto (Colossenses 3.1-3; Filipenses 3.20).

Duas coisas que o anjo menciona a essas mulheres, para a confirmação de sua fé, no tocante à ressurreição de Cristo.

[1] Sua palavra agora cumprida, da qual elas poderiam se lembrar: “Já ressuscitou, como tinha dito”. Isto ele afirma como o próprio objeto de fé: “Ele disse que iria ressuscitar, e vocês sabem que Ele é a própria Verdade; portanto, vocês tinham motivos para esperar que Ele ressuscitasse. E por que seriam relutantes em crer naquilo que Ele disse que ocorreria?” Nunca consideremos estranho aquilo de que a palavra de Cristo tem levantado as nossas expectativas, seja quanto aos sofrimentos do tempo presente, ou à glória que está para ser revelada. Se nos lembrarmos do que Cristo nos disse, não ficaremos surpresos com o que Ele faz conosco. Ao dizer: “Ele não está aqui, porque já ressuscitou”, esse anjo está indicando que não está anunciando um outro Evangelho diferente daquele que eles já haviam recebido, porque ele se refere à palavra de Cristo como sendo suficiente para confirmar: “já ressuscitou, como havia dito”.

[2] Seu túmulo agora vazio, para o qual elas poderiam olhar: “‘Vinde e vede o lugar onde o Senhor jazia’. Com­ pare o que ouviste com aquilo que estais vendo; juntando essas coisas, crereis. Vede que Ele não está aqui, e lembrando-se do que Ele disse, podeis ficar satisfeitas pelo fato de Ele já ter ressuscitado. Vinde e vede o lugar, e vereis que Ele não está ali, vereis que Ele não poderia ser roubado dali, e, portanto, deveis concluir que Ele já ressuscitou”. Note que pode ser útil para nos afetar, e pode ter uma boa influência sobre nós, vir e, com um olhar de fé, ver o lugar onde o Senhor jazia. Vejam ali as marcas do seu amor que Ele tem ali deixado ao rebaixar-se tanto por nós; vejam com que facilidade Ele fez essa cama, e com que alegria, por nós, deitou-se nela. Quando olhamos para dentro do túmulo onde sabemos que teremos de nos deitar, podemos remover o terror que sentimos olhando para dentro do túmulo onde o Senhor jazia; ou, como diz o texto Siríaco, o lugar onde o “nosso Senhor” jazia. Os anjos o têm como seu Senhor, assim como nós; porque toda a família, tanto no céu como na terra, recebe o nome dele.

3. Ele as orienta para que levem a notícia do que aconteceu aos seus discípulos (v. 7): “Ide, pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos”. É provável que elas desejassem ficar ali com a visão do sepulcro e conversar com os anjos. Era bom estar ali, mas elas tinham recebido uma outra incumbência; esse é um dia de boas notícias, e, embora elas tenham a posse principal do conforto, sendo as primeiras a desfrutar de notícias tão agradáveis, elas não devem ter o monopólio delas, não devem reter a paz deles, assim como aqueles leprosos (2 Reis 7.9). Elas devem ir contar aos discípulos. Observe que a utilidade pública que beneficia os outros deve ser preferida ao nosso próprio prazer e comunhão particular com Deus; porque é mais bem-aventurado aquele que dá, em comparação com aquele que recebe. Observe:

(1)  Os discípulos de Cristo devem receber primeiro a notícia. A ordem não é: Ide, dizei aos príncipes dos sacerdotes e aos fariseus, para que eles possam ficar perplexos; mas: Dizei aos seus discípulos, para que eles sejam confortados. Deus antecipa mais a alegria de seus amigos do que a vergonha de seus inimigos, embora esteja reservado para a vida eterna a plena realização de ambos. “Dizei aos seus discípulos”; pode ser que eles não acreditem em vosso relato, no entanto dizei-lhes:

[1] Para que eles possam se sentir encorajados sob as suas tristezas e dispersões presentes. Eles sofreram um período terrível, entre a dor e o medo. Que vivificante seria para eles, agora, ouvir que o seu Mestre ressuscitou!

[2] Para que eles mesmos pudessem dar prosseguimento às suas indagações. Esse alarme lhes foi enviado para despertá-los daquela estranha estupidez que os havia agarrado, e para aumentar as suas expectativas. Isso deveria fazer com que buscassem a Cristo, preparando-os para a ocasião em que o Senhor lhes apareceria. As indicações gerais nos levam a buscas mais intensas e profundas. Eles agora ouvirão a respeito dele, porém muito em breve o verão. Cristo se revela gradualmente.

(2)  As mulheres são enviadas para lhes anunciar, e assim foi feito; elas foram como apóstolos para os próprios apóstolos. Esta foi uma honra colocada sobre elas, e uma recompensa pela sua fidelidade constante e afetuosa ao Senhor Jesus, na cruz e no túmulo, e uma censura aos discípulos que o abandonaram. Mesmo assim, Deus ainda escolhe as coisas fracas do mundo para confundir as poderosas, e coloca o tesouro, não só em vasos de barro, mas aqui em vasos mais frágeis. Assim como a mulher, sendo enganada pelas sugestões de um anjo mal, caiu em transgressão (1 Timóteo 2.14), essas mulheres, sendo devidamente informadas pelas instruções de um anjo bom, foram as primeiras a crer na redenção da transgressão pela ressurreição de Cristo. Para que a reprovação por serem do sexo feminino pudesse ser afastada, colocando-as no mesmo nível dos homens, o que é o louvor perpétuo delas.

(3)  Elas receberam a ordem de cumprir essa missão imediatamente. Por que, que pressa havia? A notícia não se esfriaria, e seria bem recebida por eles a qualquer momento, não é? Sim, mas eles estavam agora tomados de pesar, e Cristo lhes mandaria apressadamente essa notícia vivificante; quando Daniel estava se humilhando diante de Deus por causa do pecado, o anjo Gabriel voou rapidamente com uma mensagem de conforto (Daniel 9.21). Devemos estar sempre prontos e dispostos:

[1] A obedecer às ordens de Deus (Salmos 119.60).

[2] A fazer o bem aos nossos irmãos, levando-lhes conforto, como aqueles que se compadecem de suas aflições. Não podemos dizer: “Vai e torna, e amanhã to darei”; mas devemos ajudar a quem pudermos agora, imediatamente.

(4)  Elas foram instruídas a informar aos discípulos de que deveriam encontrá-lo na Galileia. Houve outras aparições de Cristo a eles antes dessa ocasião na Galileia. Elas foram repentinas e de surpresa; mas o Senhor teria um encontro solene e público, e lhes avisou com antecedência. Então, a Galileia foi designada como o local desse encontro geral, a cerca de 130 ou 160 quilômetros de Jerusalém:

[1] Como um gesto de bondade para com os seus discípulos que permaneceram na Galileia, e não subiram (talvez por não poderem subir) até Jerusalém. Ele iria, portanto, para aquela terra, para manifestar-se aos seus amigos ali. “Eu conheço as tuas obras, e onde habitas”. Cristo sabe onde os seus discípulos habitam, e os visitará ali. Observe que a exaltação de Cristo não faz com que Ele se esqueça dos seus discípulos aparentemente mais insignificantes e mais pobres, mas Ele se manifestará com bondade até mesmo para aqueles que estão distantes da sepultura.

[2] Em consideração à fraqueza dos seus discípulos – que estavam agora em Jerusalém, que estavam no momento com medo dos judeus, e que não ousavam aparecer publicamente -, esse encontro foi transferido para a Galileia. Cristo conhece todos os nossos temores, e considera a nossa estrutura. Assim sendo, Ele marcou o seu encontro em um lugar onde haveria um risco muito menor de ocorrência de algum distúrbio.

Por fim, o anjo solenemente afirma, através da sua palavra, a verdade do que lhes havia relatado: “‘Eis que eu vo-lo tenho dito’, podeis estar certas disso, e depender disso. Eu vo-lo tenho dito, e não ousaria dizer uma mentira”. A palavra falada pelos anjos permaneceu firme (Hebreus 2.2). Deus havia estado habituado, anteriormente, a tornar o seu pensamento conhecido ao seu povo através da ministração de anjos, como na entrega da lei; mas, como Ele planejou nos tempos do Evangelho deixar de lado esse modo de comunicação (pois não foi aos anjos que Ele sujeitou o mundo por vir, nem os designou para serem os pregadores do Evangelho), esse anjo foi enviado agora para certificar os discípulos da ressurreição de Cristo, e assim deixar nas mãos deles o anúncio ao mundo (2 Coríntios 4.7). Ao dizer: “Eis que eu vo-lo tenho dito”, ele se exime da culpa da incredulidade delas, caso não recebessem esse relato, e lança toda a responsabilidade sobre elas: “Eu cumpri a minha missão, e de modo fiel entreguei a minha mensagem; agora vocês precisam olhar para ela e crer nela, assumindo a completa responsabilidade por suas decisões; quer vocês creiam, quer vocês se abstenham, eu lhes tenho dito”. Observe que os mensageiros de Deus que cumprem a sua responsabilidade fielmente podem ter o conforto que resulta dessa atitude, seja qual for o resultado (Atos 20.26,27).

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O QUE A VIDA ESPERA DE NÓS

A busca por sentido é uma necessidade fundamentalmente humana e pode estar relacionada a muitas aflições que hoje lemos como transtornos.

O que a vida espera de nós

Muitos gostam de frequentar academias e enxergam vantagens nas ergométricas e esteiras. Eu sempre vou preferir uma caminhada pelo bairro. Os benefícios físicos vêm de bónus, raramente são os principais motivadores. É um exercício, acima de tudo, de atenção ao mundo de fora; de admiração à vida que nos cerca e que as ocupações e preocupações não nos deixam perceber.

As caminhadas são recompensadas com cheiro das plantas e de gramados recém-cortados, frutas colhidas do pé, cantos de pássaros, cumprimentos de vizinhos – humanos e caninos – e, – algumas boas histórias. Sem falar nos registros, com a câmera do celular, de cores, cenas e fotogénicos gatos que nos espiam desconfiados, de alguns abrigos improváveis – como a branquinha aninhada em uma casinha de cachorro, no terreno de uma casa desocupada.

Quando me agachei para fazer a foto, fui surpreendida pela simpatia de um senhor que vinha trazer comida para ela. Foi então que descobri que se tratava de uma fêmea, particularmente arisca, que ele conseguiu conquistar depois de muito tempo de convivência. Revelou que a pequena morada de telhado azul, que havia comprado especialmente para a gatinha, pode ser puxada para perto da grade por um sistema de roldanas que inventou,

Mas a parte mais interessante da visita vem sempre depois de saciada a fome da amiguinha felina. É quando ele estende um pano branco no chão e se deita no meio da calçada para brincar e acariciar a Mimi. “Ela precisa disso”, explicou. Ela e os outros gatos que, mesmo vivendo na rua e dormindo em casinhas em terrenos desocupados, tiveram o privilégio de serem adotados por esse mecânico de coração grande, que divide a casa com 11 cachorros tirados da rua.

Os animais que estão sob sua responsabilidade lhe dão trabalho e lhe trazem preocupação: a principal delas, confessou, é que na sua falta, voltem a viver na rua, correndo o risco de serem maltratados ou de passarem fome. Mas eles não são os únicos a se beneficiar dessa relação: o homem precisa dos afagos da gatinha, assim como ela precisa dele. A retribuição oferecida pelos bichos pode parecer insignificante para muitos, mas para aquele senhor é o propósito de sair de casa em um dia chuvoso, de deitar­ se na calçada com a disposição de uma criança e de voltar com a sensação de missão cumprida. Não é movido por necessidade financeira, auto cobranças ou pressões externas, mas por uma busca por sentido. Algo que, para o psicanalista e filósofo alemão Erich Fromm, está no fundamento da condição humana, apesar de muitas vezes ser reprimido, ao custo do que podemos chamar de mente saudável. Uma das formas de reprimir essa tendência é seguir compulsivamente o que ele chama de “rotina de fuga”.

Décadas depois de escritas suas obras, o consumo e a produtividade continuam sendo algumas das principais rotas dessa fuga, facilitada recentemente pelo sedutor universo virtual que carregamos nos bolsos. Em Modern Mans Pathogy of Normaley (“A patologia da normalidade do homem moderno”) escreve: “Nós não conseguimos suportar viver apenas saciando a fome e a sede sem dar um sentido à existência. Temos que encontrar alguma resposta ao mistério da vida e essa resposta deve ser tanto teórica como prática. Refiro-me ao fato de precisarmos de uma estrutura    referencial que nos dê orientação, que de alguma forma torne significativo o processo da vida e nossa posição dentro dele”

Para Fromm, esse propósito não é necessariamente produto de um planejamento ou de justificativas intelectuais, mas consiste em um objeto de devoção – “algo para o qual dedicamos nossas energias, para além da finalidade de produzir ou de reproduzir”

Lançados em 1953, esses ensaios trazem uma reflexão incrivelmente atual sobre os parâmetros que utilizamos para definir os estados mentais –  critérios que estão cada vez mais estreitos, traçados por uma sociedade que parece estar perdendo as referências de normalidade; que em sua determinação de encontrar explicações simplificadas isola a biologia dos outros âmbitos que compõem o ser humano como o social e o espiritual. Aí se encontram a necessidade de vínculos e de servir a um propósito de fazer parte de algo maior que nós.

Fromm não foi o único a escrever sobre a busca pelo sentido e sua relação com a saúde mental. Para o psiquiatra austríaco Victor Frankl é isso que nos move – e não o prazer ou o poder, como se havia sugerido. Após um período em campos de concentração nazistas, concluiu que é possível encontrar propósito mesmo nos períodos mais difíceis, e que a falta desse motivador pode levar a excessos e compensações – hoje associados a diversos tipos de transtornos. Na obra Em Busca de Sentido (Editora Vozes), ele conta que durante a guerra tinha que ensinar àqueles sem esperança “que não importava o que eles esperavam da vida, mas sim o que a vida esperava deles”. A busca por sentido, portanto, só leva a algum lugar quando nos damos conta de que nós é que nós é que somos questionados pela vida e não o contrário.

Frankl cita Nietzsche ao lembrar que “aqueles que têm um porquê” podem suportar praticamente qualquer “como”. Esse porquê, sugere o psiquiatra, pode vir de diferentes fontes: flexibilidade diante de situações que não podemos mudar; auto expressão e criatividade; e amor, ao interagirmos de forma significativa com outros e com o ambiente. Essa foi a fonte de propósito do senhor que acolhe os animais e de todos os que se preocupam com a falta que, um dia, farão a alguém.

Em uma época em que um dos produtos mais lucrativos do merendo editorial é um grosso manual de diagnósticos psiquiátricos, reflexões que abordam as necessidades humanas de forma abrangente, e não as reduzem à biologia, fazem-se ainda mais urgentes. Conforme esses pensadores já haviam deixado claro mesmo antes da era das pílulas, 11e1n todas as respostas são encontradas em laboratórios e nem todas as soluções estão nas farmácias. A cultura na qual vivemos, nossas escolhas, as responsabilidades que abraçamos, a forma como compomos nossos dias e como interagimos são componentes básicos de quem somos e podem esconder a causa e a cura de muitas aflições.            

  

MICHELE MULLER – é jornalista pesquisadora especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site – http://www.michelemuller.com.br

OUTROS OLHARES

AS DUAS MATEMÁTICAS

Infelizmente, ensinamos a abstrata –  e não a aplicada.

As duas matemáticas

Seja no Pisa, seja nas provas tupiniquins de matemática, os resultados são igualmente lastimáveis. Os alunos dominam menos de 10% do esperado. Diante de tal situação, abundam diagnósticos. Com toda a modéstia, vai o meu.

Ao longo de muitos séculos, convivemos com duas matemáticas. Primeiro, nasceu a prática de contar e medir. Quantos cântaros de vinho? Quantas barricas de trigo? Cobraram-se impostos. Tudo muito concreto e visual.

Mas, no curso do seu desenvolvimento histórico, a matemática foi ganhando estrutura e notações próprias, e se tomando, ao mesmo tempo, mais abstrata. A invenção do zero constituiu-se em um grande salto da imaginação: um número para medir uma quantidade ausente. Aos poucos, a abstração matemática passou a ter vida própria. Somam-se 5 + 7, não importa se laranjas ou inimigos abatidos.

Mediu-se que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Mas o achado se metamorfoseia no Teorema de Pitágoras, expresso por símbolos e demonstrado formalmente. Cada vez mais, abstração e formalização correm em paralelo ao mundo real.

Desencarnada do concreto, a matemática ganha asas e voa pelos espaços do intelecto humano. Suas formulações são de uma beleza indescritível. Um teorema elegante é uma obra de arte, e a resolução de uma equação, um deleite. Mas atenção: abstrato não quer dizer inútil. A matemática é poderosa.

Os lindos roseirais matemáticos, contudo, têm espinhos pontiagudos. O fato de que a matemática pode prescindir do mundo real para desabrochar e crescer não significa que a maioria das pessoas consiga aprendê-la longe dele. Com efeito, pesquisas mostram que são poucos os que tiram proveito de uma matemática despida de suas aplicações práticas. Nos Estados Unidos, menos da metade dos alunos do ensino médio entende essa matemática elegantíssima e abstrata. Mas também se descobriu que o caminho para dominá-la começa com a velha matemática, lidando com coisas que se contam e medem. Encarnada no mundo real, os alunos a compreendem. É a chamada contextualização.

Infelizmente, ensinamos a matemática abstrata – e não a aplicada. Um levantamento do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) mostrou que nenhum livro de ensino médio brasileiro contextualizava a matemática. Em vez disso, eles expunham a versão abstrata – incompreensível para a maioria, que deixava de lidar com a matemática de resolver problemas quantitativos do mundo real, esta, sim, compreensível para quase todos. Ainda que o objetivo final deva ser a segunda matemática, o caminho passa pela primeira.

Ao contrário do que se faz nos países de primeira linha, nossos livros de matemática não a contextualizam, e ela se torna inexpugnável para a maior parte dos estudantes. Vai daí, eles decoram suas fórmulas sem entender como usá-las ou nem sequer saber para que servem.

A matemática nasceu no mundo real para resolver problemas concretos. E é somente assim que a maioria dos alunos consegue entendê-la. A versão dessa ciência abstrata não é inteligível para eles antes que aprendam a contextualizada. A tragédia mostrada nos testes, pelo menos em parte, deve-se a esse equívoco pedagógico.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE FAZ UM CEO?

Ele tem um salário 270 vezes maior do que o de um trabalhador comum, passa até 15 horas no escritório e se submete à sabatina de investidores e jornalistas.

 

O que faz um CEO

Muita gente sonha em alcançar a presidência de uma empresa. Afinal, os CEOs recebem uma fortuna, decidem o futuro dos negócios e são admirados no mercado. Alguns ganham status de celebridade, viram influencers nas redes sociais e arrastam milhares de seguidores.

O salário dos executivos caiu nos últimos quatro anos, é verdade. Mas, de acordo com um relatório publicado pelo Instituto de Políticas Econômicas dos Estados Unidos, ainda permanece estratosfericamente superior aos ganhos dos seres humanos convencionais. Os presidentes das maiores empresas americanas contam com uma receita anual média 271 vezes maior do que a de um típico trabalhador.

Levando em conta a evolução desde 1978, a remuneração anual desse executivo apresentou um crescimento de até 937% (dependendo de como se contabilizam os ganhos com opções de ações). Lawrence Mishel e Jessica Schieder, autores da publicação, chamam a atenção para o fato de esse aumento ser 70% maior do que o do mercado de ações e “dolorosamente acima” dos 11% que um funcionário comum recebeu no mesmo período.

Eles valem mesmo o que ganham? O que, de fato, faz um CEO? Como é sua rotina? Que tipo de decisão ele toma? E, mais importante, quais as características de um bom Chief Executive Officer?

Perguntamos isso aos presidentes Juliana Azevedo, da fabricante de bens de consumo P&G; Theo van der Loo, da química Bayer; Denise Soares, do hospital de Beneficência Portuguesa; e José Magela Bernardes, da empresa de logística Prumo. “Os funcionários esperam que você os lidere em todas as situações: não somente no ambiente de negócios”, diz José, que já enfrentou desde greves de sindicatos até desastres naturais em regiões como México, Bolívia e África Ocidental.

Para tudo que acontece de certo ou de errado na companhia, é o presidente que se coloca na linha de frente, quem responde às críticas e se submete ao escrutínio dos grandes investidores e da imprensa. A cada três meses, em corporações listadas na bolsa, é ele ou ela quem geralmente enfrenta a sabatina dos analistas de grandes bancos sobre os resultados dos negócios.

Uma pesquisa com 1.000 executivos de seis países mostra que, em média, o CEO passa um quarto do dia sozinho, o que inclui ler e escrever e­ mails.  Mais da metade de seu tempo é gasto em reuniões, em geral planejadas com antecedência. As áreas com as quais interage, segundo o estudo, são produção (35%), marketing (22%) e finanças (17%). Fora da corporação, ele passa mais tempo com clientes (10%) do que com fornecedores (7%). Denise, da Beneficência Portuguesa, participa diariamente de quatro ou cinco reuniões internas, que duram cerca de 1 hora e meia cada uma. Theo, da Bayer, procura limitar os encontros a 40 minutos, no máximo, para ganhar eficiência.

José, da Prumo, mantém uma agenda rígida. Toda segunda-feira reúne ­ se com o comitê executivo durante 2 horas. Ao longo do resto da semana, encontra-se com stakeholders, administradores públicos, controladores e funcionários. Afinal, além de tratar de negócios com seus subordinados diretos, os líderes desprendem boa parte das horas gerenciando pessoas. Denise, de 49 anos, dedica cerca de um quinto do tempo para conversar com alguns dos 3.000 médicos e dos demais 7. 500 empregados que formam o quadro do hospital. ”Também destino um tempo para falar com as pessoas que não respondem diretamente para mim”, diz Juliana, da P&G. Esse costume serve para os presidentes “sentirem a temperatura” da empresa e trabalharem a comunicação e a retenção de profissionais.

Outra parte importante da jornada do CEO é gasta com viagens (8%). Juliana, por exemplo, passa 48 horas por mês em aviões. “Meu marido e meu filho de 8 anos ainda estão nos Estados Unidos”, afirma a executiva de 42 anos, que voltou para o Brasil há apenas três meses, depois de ter sido expatriada.

Somado a isso, o smartphone, aliado ao WhatsApp, faz do executivo quase um servidor de alto desempenho: disponível, 24/7 (24 horas por sete dias da semana). “Tento limitar meu tempo no escritório a 9 horas, mas, com tanta tecnologia, é difícil apontar exatamente quantas horas são trabalhadas”, afirma Juliana.

MEIO ESTRATÉGICO, MEIO OPERACIONAL

Sobra pouco tempo para o líder apreciar a vista da janela de seu escritório solitário. ”Nós tendemos a imaginar o CEO sentado em uma torre de marfim, deliberando o que a organização fará e, então, boom, ele toma uma decisão e a decisão acontece – e todos ficam felizes”, afirmou a economista e professora na Escola de Negócios Harvard Raffaella Sadun, ao podcast Freakonomics. Mas, segundo ela, as companhias ainda falham em aplicar conceitos básicos de administração, o que faz com que dificilmente as coisas funcionem de maneira tão simples.

Quem aspira virar presidente imagina a estratégia como algo primordial na agenda executiva. Afinal, é a estratégia que estabelece como uma empresa responde à concorrência, ou à mudança de preferência do consumidor, ou à transformação digital. Na prática, esse líder mantém um olho na estratégia e outro nos “processos operacionais que definem como os produtos ou serviços são feitos ou entregues, como a qualidade é controlada e como o desempenho dos funcionários é medido”, afirma Raffaella. Depois de analisar os dados de 12.000 companhias, a pesquisadora concluiu que a estratégia até contribui com uma fração significativa para o sucesso de um negócio, mas o maior desafio de um CEO é alcançar a excelência operacional.

A pressão por eficiência e resultados se soma à agenda política dos executivos – que têm de lidar com cinco a seis “partidos”. Existem os acionistas (os reais donos do negócio), os bancos e os detentores de títulos de dívida. Como empregador, há a preocupação de que a empresa seja atraente para os melhores talentos e que os empregados recebam treinamentos adequados. E, como detentor da reputação corporativa, é do presidente o papel de assegurar que a organização mantenha bons indicadores de sustentabilidade e seja bem vista na sociedade.

José Bernardes, ao assumir o comando da Prumo em 2015, recebeu a missão de redesenhar a estratégia de modo a transformar o Porto do Açu e os demais ativos controlados pela companhia em operações rentáveis – a despeito do cenário de crise que assombrava os negócios e o país. (A Prumo é um dos antigos negócios do empresário Eike Batista, preso no ano passado por corrupção e lavagem de dinheiro, e que foi comprada pelo grupo americano EIG em 2013) “A vantagem é que, com a economia desaquecida, encontramos muita gente talentosa disponível no mercado”, diz o executivo de 57 anos. Entre os principais desafios embutidos no desenvolvimento do complexo portuário, localizado no norte do estado do Rio de Janeiro, a 330 quilômetros da capital, está a responsabilidade social e ambiental, o que torna obrigatória a ida de José ao local pelo menos uma vez por mês para conversar com a população e entender suas necessidades.

MODO DE SOBREVIVÊNCIA

Ser um chief execlltive officer é mais complexo hoje do que no passado. O revés econômico de 2015, do qual o Brasil ainda tenta se reerguer, impôs grandes desafios a esses profissionais. Eles foram obrigados a enxugar estruturas, demitir em massa, renegociar dívidas e lidar com novos sócios em fusões e aquisições. Com a reestruturação, tiveram de colocar a mão na massa e liderar pelo exemplo – já que precisam cobrar resultados rápidos, sem poder pagar bônus nem aumentar salários. E, claro, devem manter as pessoas motivadas e altamente produtivas, e ainda lidar com funcionários de diferentes gerações, dos 20 aos 60 anos de idade.

“O CEO entrou em modo de sobrevivência, com prioridades de curto prazo e uma agenda mais intensa em número de horas”, diz Fernando Andraus, diretor executivo para a América Latina da Page Executive, especializada no recrutamento de executivos de alto escalão. O grau de complexidade das decisões, ante à agilidade da transformação digital, também se aprofundou.

Denise Soares chegou a trabalhar 15 horas por dia enquanto repensava a imagem da Beneficência Portuguesa. Foi uma resolução difícil: o projeto, iniciado em 2014, previa a troca da tradicional cruz de malta – o emblema da organização durante seus 158 anos de história – por um design mais moderno: desenhado com as iniciais “BP”. A transformação, concluída em 2016, acompanhou ainda um reposicionamento do modelo de atendimento do hospital, mirando a segmentação dos serviços médicos oferecidos, o resgate da reputação como hospital de alta complexidade e o crescimento. Nas mãos de Denise o BP viu a receita sair do vermelho e chegar a 1,5 bilhão de reais em 2018.  “Meu principal desafio é construir um legado que dure mais 158 anos.” Foi a primeira vez que Denise se envolveu em uma mudança de marcas e, para solucionar as tantas questões envolvidas ela recorreu a amigos. ”Eu precisei conversar com milhares de profissionais em vários setores para decidir como conduzir o projeto.”

Mesmo com a correria do dia a dia. Theo arruma tempo para o networking. “A boa relação com colegas dentro da empresa é importante. Fora dela, é mais ainda”, diz. “Numa crise, você poderá contar como apoio dessas pessoas, tanto no engajamento para cumprir metas quanto no aconselhamento estratégico”. Theo é o primeiro brasileiro a ocupar o cargo de CEO da Bayer Brasil:  antes dele, só estrangeiros sentavam na principal cadeira. Essa troca de experiências tem servido de referência para o executivo de 63 anos buscar conhecimentos que permitam adequar-se às mudanças no mercado. “Quando me formei, em 1979, ninguém falava sobre responsabilidade social, mas, hoje, a geração dos millennials cobra esses valores”, afirma Theo, que tem se empenhado em melhorar a diversidade na corporação, levantando uma bandeira a favor da inclusão racial. “Cada vez mais, o presidente precisa assumir múltiplos papéis”, diz Marilda Peres, professora de liderança na escola de negócios Insper, em São Paulo.

O BOM CEO

Por mais de uma década, um grupo de 14 pesquisadores das universidades de Chicago e Copenhague estudaram o desempenho de 17.000 executivos do chamado C level, incluindo 2.000 líderes – dos mais variados setores e tamanhos de empresas. Batizado de Genoma CEO, o projeto revelou algumas curiosidades. Por exemplo, todos os presidentes já haviam cometido, no passado, erros com implicações materiais; e 45% deles tiveram pelo menos uma explosão que custou sua carreira ou foi prejudicial para o negócio.

A descoberta mais importante talvez seja a que indica que o executivo de sucesso tem em seu DNA quatro comportamentos específicos. Eles decidem com rapidez e convicção, engajam pelo impacto, adaptam-se proativamente e entregam de forma confiável. Diferentemente do que se imagina, esses super-heróis não se destacam por tomar grandes decisões o tempo todo, “eles se distinguem por serem mais decisivos”.

De acordo com os pesquisadores, a liderança não requer “traços inalteráveis” nem “pedigree inatingível”. Ao contrário, não há nada de exótico nas características de um bom CEO: capacidade de decisão, habilidade de envolver os interessados, adaptabilidade e confiabilidade. O caminho está aberto para os próximos candidatos.

O que faz um CEO.2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 28: 1-10 – PARTE I

Alimento diário

A Ressurreição

Para a prova da ressurreição de Jesus, temos aqui o testemunho do anjo, e do próprio Mestre, no que diz respeito à ressurreição. Agora podemos pensar que teria sido melhor se o fato tivesse sido organizado assim, que um número competente de testemunhas tivesse estado presente, e tivesse visto a pedra sendo tirada pelo anjo, e o corpo morto revivendo, como as pessoas viram Lázaro sair do túmulo, e então o assunto não seria objeto de disputa. Mas não estabeleçamos algo para a Infinita Sabedoria, que ordenou que as testemunhas de sua ressurreição devessem vê-lo ressuscitado, mas não vê-lo ressuscitar. A sua encarnação foi um mistério; como também foi essa ressurreição, esta nova formação do corpo de Cristo, para o seu estado exaltado. Ele foi, portanto, formado em segredo. “Bem-aventurados aqueles que não viram, e creram”. Cristo deu provas de sua ressurreição que foram comprovadas pelas Escrituras, e pela palavra que Ele havia falado (Lucas 24.6,7-44; Marcos 16.7); porque aqui devemos “andar por fé, e não por vista”. Aqui temos:

I – A ida das mulheres bondosas ao sepulcro. Observe:

1. Quando elas foram: no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana (v. 1). Isto fixa o dia da ressurreição de Cristo.

(1) Ele ressuscitou ao terceiro dia após a sua morte. Esse foi o dia em que Ele frequentemente havia pré-estabelecido, e manteve a sua palavra. Ele foi sepultado na noite do sexto dia da semana, e ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana seguinte, de forma que permaneceu no túmulo por cerca de trinta e seis ou trinta e oito horas. Ele ficou ali portanto tempo, para mostrar que estava real e verdadeiramente morto; e não mais tempo que isso, para que não visse a corrupção. Ele ressuscitou ao terceiro dia, como resposta à tipificação do profeta Jonas (cap. 12.40), e para cumprir aquela profecia (Oseias 6.2): “Ao terceiro dia, nos ressuscitará, e viveremos diante dele”.

(2)  Ele ressuscitou depois do sábado judaico, e aquele era o sábado de Páscoa. Ele permaneceu no túmulo durante todo aquele dia, o que significava a abolição das festas judaicas e as outras partes da lei cerimonial, e que o seu povo deveria eliminar essas observâncias, e não dar atenção a elas, assim como Ele fez quando jazia na sepultura. Cristo, no sexto dia, terminou a sua obra. Ele disse: “Está consumado”. No sétimo dia, Ele descansou, e então no primeiro dia da semana seguinte, agiu como se estivesse começando um mundo novo, e entrando em uma nova obra. Não permitamos, portanto, que homem algum nos julgue agora com respeito a luas novas, ou sábados judaicos, que eram, na verdade, uma sombra das coisas boas que estavam por vir; pois a essência delas era Cristo. Podemos, além disso, observar que o tempo que os santos ficam no túmulo é, para eles, o equivalente a um sábado (assim como era o sábado judaico, que consistia principalmente de descanso físico), porque ali eles repousavam de suas obras (Jó 3.17); e isso se deve a Cristo.

(3)  Ele ressuscitou no primeiro dia da semana. No primeiro dia da primeira semana, Deus ordenou que a luz brilhasse na escuridão; nesse dia, portanto, aquele que viria a ser a Luz do mundo brilhou nas trevas da sepultura; e o sábado do sétimo dia, sendo sepultado com Cristo, ressurgiu no sábado do primeiro dia, que é chamado de Dia do Senhor (Apocalipse 1.10). A partir daí, nenhum outro dia é mencionado em todo o Novo Testamento com o mesmo sentido deste. Este dia é frequentemente mencionado como o dia que os cristãos observavam religiosamente nas assembleias solenes, para a honra de Cristo (João 20.19,26; Atos 20.7; 1 Coríntios 16.2). Se a libertação de Israel da terra do Norte ultrapassou a lembrança da saída do Egito (Jeremias 23.7,8), muito mais a nossa redenção por Cristo eclipsa a glória das primeiras obras de Deus. O sábado foi instituído como lembrança do aperfeiçoamento da obra da criação (Genesis 2.1). O homem, através dessa revolta, causou uma ruptura naquela obra perfeita, que nunca foi perfeitamente reparada até que Cristo ressuscitasse dos mortos, e os céus e a terra fossem outra vez terminados, e as suas hostes desordenadas, realinhadas, e que o dia no qual isso foi feito fosse corretamente abençoado e santificado, e a partir daí seria o sétimo dia. Aquele que nesse dia ressuscitou dos mortos é o mesmo por quem, e para quem, todas as coisas foram no princípio criadas, e agora são criadas outra vez.

(4)  Ele ressuscitou quando começou o amanhecer daquele dia. Tão logo se poderia dizer que o terceiro dia havia chegado, o dia pré-determinado para a sua ressurreição, Ele ressuscitou. Depois de sua retirada do meio do povo, Ele retorna com toda a velocidade conveniente, e interrompe a obra, em justiça, tão bruscamente quanto pode. Ele havia dito aos seus discípulos que, embora por pouco tempo não o veriam, eles o tornariam a ver em breve, e Jesus abreviou esse intervalo tanto quanto possível (Isaias 54.7,8). Cristo ressuscitou quando já despontava o dia, porque então o oriente do alto outra vez nos visitou (Lucas 1.78). A sua paixão começou à noite. Quando Ele foi pendurado na cruz, o sol se escureceu. Ele foi colocado no túmulo no cair da noite. Mas o Senhor ressuscitou quando o sol estava quase nascendo, porque Ele é a resplandecente Estrela da manhã (Apocalipse 22.16), a verdadeira Luz. Aqueles que cedo, pela manhã, se dedicam aos serviços religiosos do sábado cristão, para que possam aproveitar o dia que está à sua frente, seguem assim o exemplo de Cristo, e o exemplo ele Davi: “Cedo te buscarei”.

2. Quem eram aquelas que foram ao sepulcro: Maria Madalena e a outra Maria, as mesmas que compareceram ao funeral, e se sentaram à entrada do sepulcro, como antes haviam se sentado ao pé da cruz. Ainda assim, elas procuraram expressar o amor que sentiam por Cristo. Ainda assim, estavam procurando saber mais a respeito dele. Nós o conheceremos cada vez mais, desde que perseveremos em conhecê-lo. Nenhuma citação é feita sobre a possibilidade de a Virgem Maria estar com elas; é provável que o discípulo amado, que a havia levado para a sua própria casa, tenha impedido que ela fosse para o sepulcro para chorar ali. O fato de elas terem ido não só até o sepulcro buscar a Cristo, mas terem entrado no sepulcro, representa o cuidado que o Senhor tem por aqueles que são seus quando esses passam a ter as suas camas nas trevas. Assim como Cristo, no túmulo, foi amado pelos santos, os santos, no túmulo, são amados por Cristo; porque a morte e a sepultura não podem afrouxar o laço de amor que existe entre eles.

3. O que elas foram fazer. Os outros evangelistas dizem que elas foram ungir o corpo. Mateus diz que elas foram ver o sepulcro, ver se estava como elas o haviam deixado. Ouvindo, talvez, mas não tendo certeza, que os príncipes dos sacerdotes haviam colocado guarda no sepulcro. Elas foram para mostrar a sua boa vontade em uma outra visita aos caros restos mortais de seu amado Mestre, e talvez não sem alguns pensamentos sobre a sua ressurreição, porque elas poderiam não ter esquecido de tudo o que Ele tinha dito sobre isso. Visitas ao túmulo são de grande utilidade para alguns cristãos, e ajudam a torná-lo familiar a eles, e remover o terror dele, especialmente visitas à sepultura do nosso Senhor Jesus, onde podemos ver o pecado enterrado fora da vista, o padrão da nossa santificação, e a grande prova do amor redentor brilhando intensamente mesmo nesta terra de trevas.

 

II – O aparecimento de um anjo do Senhor para elas (vv. 2-4). Temos aqui um relato do modo da ressurreição de Cristo, pelo menos quanto ao que nos era conveniente saber.

1. Houve um grande terremoto. Quando Jesus morreu, a terra que o recebeu agitou-se em temor. Agora que Ele ressuscitou, a terra que o resignou saltou de alegria em sua exaltação. Esse terremoto foi como se as amarras da morte fossem soltas, os grilhões do túmulo se abrissem, e o “Desejado de todas as nações” fosse introduzido (Ageu 2.6,7). Esse foi o sinal da vitória de Cristo; por meio dele, foi anunciado que, quando os céus se regozijassem, a terra também poderia se alegrar. Era um modelo do terremoto que se dará na terra por ocasião da ressurreição geral, quando montanhas e ilhas serão removidas, de forma que a terra não possa mais ocultar os seus mortos. Houve um ruído e um rebuliço no vale, quando os ossos se juntaram, cada osso ao seu osso (Ezequiel 37.7). O reino de Cristo, que agora se estabeleceria, fez a terra tremer; e a abalou terrivelmente. Aqueles que são santificados, e desse modo elevados a uma vida espiritual privilegiada, encontram, enquanto isso acontece, um terremoto em seu próprio seio, como Paulo, que tremeu e ficou espantado.

2. O anjo do Senhor desceu do céu. Os anjos frequentemente serviram ao nosso Senhor Jesus, em seu nascimento, em sua tentação, em sua agonia; mas na cruz não encontramos nenhum anjo servindo-o. Quando o seu Pai o desamparou, os anjos se afastaram dele; mas agora que Ele está retomando a sua glória que tinha antes da fundação do mundo, então, os anjos do céu o adoram.

3. Ele veio, e removeu a pedra da entrada, e sentou-se sobre ela. O nosso Senhor Jesus poderia, Ele mesmo, remover a pedra por seu próprio poder, mas preferiu que isso fosse feito pelo anjo. Isto significa que, tendo se assegurado de ter feito o pagamento pelos nossos pecados, que foram imputados a Ele, e tendo estado sob prisão em conformidade com essa imputação, Ele não fugiu da prisão, mas teve uma libertação legal e justa, obtida do céu. Ele não fugiu da prisão, mas um oficial foi enviado com o propósito de remover a pedra, e assim abrir a porta da prisão, o que nunca teria sido feito, se Jesus não tivesse feito um pagamento total. Mas, sendo liberto das nossas ofensas, para completar a libertação, Ele foi ressuscitado para a nossa justificação. Ele morreu para pagar a nossa dívida, e ressuscitou para obter a nossa quitação. A pedra dos nossos pecados foi rolada para a entrada do túmulo do nosso Senhor Jesus (revolver uma grande pedra significava assumir uma culpa, 1 Samuel 14.33). Mas para demonstrar que ajustiça divina foi satisfeita, um anjo foi comissionado para remover a pedra; não que o anjo o tenha ressuscitado dos mortos, da mesma forma que aqueles que retiraram a pedra do túmulo de Lázaro não o ressuscitaram, mas assim ficou patente o consentimento do Céu para a sua libertação, e a alegria do céu na Pessoa de Jesus Cristo. Os inimigos de Cristo haviam selado a pedra, resolvendo, como a Babilônia, não abrir a casa dos seus prisioneiros. “Tirar-se-ia a presa ao valente?” Porque essa era a hora deles; mas todos os poderes da morte e das trevas estão sob o controle do Deus da luz e da vida. Um anjo do céu tem poder para quebrar o selo, embora fosse o grande selo de Israel, e é capaz de remover a pedra, embora seja muito grande. Assim, os cativos dos poderosos são libertados. O fato de o anjo se assentar sobre a pedra, quando ele a havia removido, é notável, e revela um triunfo seguro sobre todos os obstáculos à ressurreição de Cristo. Ali ele se sentou, desafiando todos os poderes do inferno para rolar a pedra para o túmulo outra vez. Cristo eleva o seu lugar de repouso e o seu trono de juízo acima da oposição dos seus inimigos; o Senhor se assenta sobre as águas. O anjo se sentou como um guarda do túmulo, tendo afugentado para longe os guardas ímpios dos inimigos; ele se sentou, esperando as mulheres, e pronto para lhes dar a notícia da ressurreição do Senhor.

4. Que o seu aspecto era como um relâmpago, e as suas vestes, brancas como a neve (v.3). Essa foi uma representação visível – que classificamos como esplêndida e célebre – das glórias do mundo invisível, que não conhece diferença de cores. A aparência do anjo sobre os guardas era como relâmpagos; o Senhor vibra os seus raios, e dissipa-os (Salmos 144.6). A brancura de suas vestes era um emblema não só de pureza, mas de alegria e triunfo. Quando Cristo morreu, a corte do céu se entristeceu, e esse fato foi representado pelo escurecimento do sol; mas quando ele ressuscitou, eles colocaram novamente as vestes de louvor: A glória desse anjo representou a glória de Cristo, para a qual Ele então havia ressuscitado, porque essa é a mesma descrição dele, que foi dada em sua transfiguração (cap. 17.2). Mas quando Ele conversou com os seus discípulos após a sua ressurreição, Ele ocultou isso, e anunciou a glória dos santos na ressurreição deles, quando serão como os anjos de Deus no céu.

5. Que os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados e como mortos (v. 4). Eles eram soldados que se consideravam insensíveis em relação ao medo. No entanto, a própria visão de um anjo os encheu de temor. Portanto, quando o Filho de Deus se levantou para julgar, os ousados de coração foram despojados (Salmos 76.5,9). Note que, assim como a ressurreição de Cristo é a alegria dos seus amigos, ela também é o terror e a confusão dos seus inimigos. Eles ficaram muito assombrados. Quando a terra tremeu, esses filhos da terra, que tinham a sua porção nela, tremeram também; porém, aqueles que têm a sua felicidade nas coisas do alto não sentem qualquer temor mesmo que a terra seja removida. Os guardas ficaram como mortos, quando aquele a quem eles guardavam tornou-se vivo, e aqueles contra quem eles montavam guarda reviveram com ele. Eles foram tomados de terror ao verem a si mesmos frustrados no tocante à sua missão ali. Eles foram colocados ali para manter um homem morto em seu túmulo – certamente, o serviço mais fácil que lhes poderia ter sido atribuído; e, mesmo assim, isso se mostrou difícil demais para eles. Eles foram informados de que deveriam esperar ser atacados por um grupo de discípulos fracos e desanimados, que, por medo deles, logo ficariam muito assombrados e como mortos, mas se sentiram surpreendidos quando se acharam atacados por um anjo poderoso, cujo rosto não ousaram olhar. Assim Deus frustra os seus inimigos, assombrando-os (Salmos 9.20).

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A PSICOLOGIA DAS FAKE NEWS

Nos tornamos uma sociedade tecnológica atrás da velocidade alucinante de informações, muitas vezes questionáveis, mas que são aceitas sem filtro e ganham repercussão.

A psicologia das fake news

Fake news significa, de forma literal, “notícias falsas”. Indubitavelmente, somos inundados nessa sociedade tecnológica, em ritmo constante, por reportagens correntes e informações no mínimo questionáveis. Não importa a área, seja política, religião, clima, saúde, dentre tantas outras, a internet tornou-se cenários propício à proliferação das fake news. Waldrop (2017) menciona em seu artigo que o ano de 2005 foi o momento em que explodiram os spams (lixo informativo) na internet. Porém, além das inúmeras publicidades que aparecem em nossas telas sem aviso prévio, outro movimento ganhou força ao longo dos anos, segundo o pesquisador; a expansão de mentiras pela internet. Segundo o autor, em 2014 diversos casos preocuparam vários países: imigrantes carregando o vírus do ebola, Hillary Clinton (antiga candidata à Presidência dos Estados Unidos) vendendo armas para o Estado Islâmico ou o papa apoiando a candidatura de Donald Trump são alguns exemplos. E o mais interessante: muitos aceitam essas informações sem discernir se são verdadeiras. Então, quais os aspectos psicológicos das fake news?  Existem motivos para que estas mentiras sejam aceitas sem filtro?

A problemática está em diversos níveis: individual, institucional e societal.

Os interesses políticos, por exemplo, estão presentes desde o começo da civilização, porém, atualmente, é uma tríade de dificuldades. Primeiramente a tecnologia, ou seja, qualquer um pode acessar a internet e ser um proliferador de informações falsas e, para obter a atenção de outros, basta saber alcançar um ponto de interesse da população: isso já é suficiente para viralizar (diga-se de passagem, não é uma ação tão difícil enganar o próximo). Segundo, estamos inundados de informações, e a grande questão é que não temos tempo para separar fatos de falsas notícias (é praticamente impossível filtrar uma informação mentirosa em um primeiro momento). Terceiro, as pessoas buscam informações que estejam relacionadas a suas crenças, e esse é um grande desafio: a variedade de mídias sociais em nossa cultura significa que aquilo que é lido está vinculado com o que queremos ler, Então, é possível pensar que as fake news são, na realidade, ilustrações de pensamentos que não são socialmente aceitos e possuem o perfeito álibi por meio delas?

Diversas questões podem ser geradas neste momento: quais tipos de personalidades são mais suscetíveis às notícias falsas? Repetir notícias falsas as tornam verdadeiras? Pior, será que as fake news também podem contaminar os periódicos científicos e as conferências académicas? (Darbyshire, 2017). Esse último ponto está se tornando cada vez mais comum na ciência, que é a disseminação de notícias falsas e, após um curto período de tempo, um pronunciamento baseado na verdade. Esse tipo de mecanismo torna uma das áreas mais importantes do conhecimento humano pouco transparente. Esse fenômeno, diga-se de passagem, vem preocupando a comunidade científica. Basta pensarmos em dados que são publicados incorretamente em periódicos científicos por análises estatísticas incorretas. Pensemos: é possível calcular o maleficio que notícias falsas podem gerar?

De acordo com Oliveira e figueira (2017), a grande dificuldade para a prevenção da criação de fake news é que bloquear a origem da informação colide diretamente com a liberdade de expressão. Porém, os pesquisadores mencionam, já existem algoritmos que podem lidar com grandes dados da internet e verificar a origem de algumas informações. Porém, em paralelo, é necessário também compreender a consciência pública. Como dito anteriormente, a interpretação dos sujeitos sobre as temáticas, tendo como base seu sistema de crenças, é um grande dificultador na filtragem dessas notícias. Muitos aguardam apenas uma brecha para atacar terceiros ou reforçar suas distorções cognitivas, não importando se a priori, são fake News ou não. Portanto, quando se fala no comportamento da sociedade tecnológica, a questão está mais relacionada aos aspectos   emocionais e psíquicos do que à busca pelo conhecimento verdadeiro.   

 

IGOR LINS LEMOS – é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com

OUTROS OLHARES

ADEUS, QUIMIOTERAPIA

Novo estudo elimina o duro tratamento contra um tipo de câncer de mama em fase inicial e diz que um remédio que bloqueia a ação de um hormônio é suficiente para a cura.

Adeus, quimioterapia

A quimioterapia costuma ser um processo exaustivo, que abate o paciente e provoca uma série de efeitos colaterais, como queda de cabelo, fortes enjoos, fraqueza e até problemas cardíacos. Infelizmente, boa parte das pessoas que sofrem de câncer ainda precisa enfrentar isso. Para um grupo de mulheres, porém, uma nova pesquisa traz enorme alento: a quimioterapia já pode ser eliminada do tratamento de um tipo de tumor de mama muito comum e pouco agressivo, classificado como receptor hormonal. Ele acomete quatro de cada dez mulheres com a doença. O estudo, apresentado na convenção anual da prestigiosa Sociedade Americana de Oncologia Clínica, afirma que, quando esse tumor está em fase inicial (com até 5 centímetros de diâmetro e não se espalhou para os linfonodos), o caminho menos doloroso – e, claro, eficaz – é a ingestão de um remédio que bloqueia a ação de um hormônio. “O impacto do estudo é extraordinário”, diz o mastologista Antônio Frasson, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Publicada no The New England Journal of Medicine, a pesquisa é uma das mais amplas já realizadas sobre a doença. Foram recrutadas 10.000 mulheres com idade entre 18 e 75 anos, todas com o câncer em fase inicial. Elas passaram por um exame genético para definir a agressividade do tumor com precisão. Depois, submeteram-se a cirurgia ou radioterapia. O passo seguinte para banir as células que não tivessem sido eliminadas pelos procedimentos era a quimioterapia associada a um medicamento que tem o papel de bloquear a ação do hormônio estrógeno – este um alimento para as células doentes, uma vez que pode fazê-las crescer e se disseminar. Há diversos tipos de remédio com esse efeito. O mais conhecido é o tamoxifeno, existente desde a década de 70.

O estudo separou as voluntárias em dois grupos: o primeiro foi tratado de forma convencional, com quimioterapia combinada à hormonioterapia, enquanto o outro, apenas à base do remédio. A boa notícia veio mais tarde. A média de acompanhamento foi de sete anos – dois anos além do tempo definido como seguro para afirmar que uma pessoa está livre do câncer. Os pesquisadores observaram que os resultados em ambos os grupos foram estatisticamente idênticos. A sobrevida entre as mulheres que ingeriram o medicamento e seguiram com a químio foi de 93,9%; daquelas que tomaram só o remédio, 93,8% estavam livres da doença. Por sua eficácia indiscutível, a quimioterapia era até então utilizada como regra nos cuidados desse gênero de tumor, embora, além de todos os danos colaterais, atacasse também as células saudáveis. A possibilidade de suprimi-la é um tremendo avanço da ciência, que vem acumulando nos últimos anos conhecimento valioso sobre o câncer de mama, um dos mais estudados. Há apenas cinco anos a doença passou a ser agrupada em cinco grandes subtipos principais. Assim, cada um deles pode ser tratado de forma diferente – e mais certeira.

 NOS ESTADOS UNIDOS: 260.000 são os casos de câncer de mama por ano; destes, mulheres têm o diagnóstico da doença por ano; destes, 60.000 não precisarão mais ser tratados com quimioterapia.

NO BRASIL: 60.000 mulheres têm o diagnóstico da doença por ano; destas, 15.000 estarão livres da quimioterapia.

GESTÃO E CARREIRA

O PODER E O ASSÉDIO SEXUAL

O poder e o assédio sexual

Continuam saindo notícias sobre assédio, sexismo e ambientes de trabalho tóxicos para mulheres na indústria de tecnologia. Histórias de comentários obscenos e de investidas sexuais chegam de empresas como Uber, Google e companhias de capital de risco. Trabalho regularmente com executivas e suspeito que esses incidentes não se restringem ao setor de TI. Também não acredito que esse seja um fenômeno específico sobre como os homens veem as mulheres e reagem a elas. Em vez disso, minha pesquisa sugere ser um fenômeno de duas vertentes que se origina tanto da forma como as pessoas no poder se sentem liberadas para lidar com outras de menor poder quanto das normas sociais que foram propagadas ao longo do tempo.

Passei boa parte de minha carreira como pesquisadora, examinando de que forma a autoridade leva indivíduos a se sentirem invencíveis, a assumirem riscos, a não considerarem as perspectivas dos outros. Num de meus estudos com mais de 1.500 profissionais, descobri que os poderosos eram mais propensos a se envolver em atividades sexuais fora de suas relações porque se consideravam mais atraentes e desejáveis para o sexo oposto. Parte interessante desse projeto foi o fato de não termos encontrado diferenças de gênero. Entretanto, na maioria dos casos, quem detém o poder são homens. Dito isso, há uma diferença entre infidelidade e assédio sexual. A primeira ocorre entre dois adultos que consentem; a segunda, quando há investidas indesejáveis em direção ao outro. Penso que o domínio desempenha um papel central nesses casos, mas, ao mesmo tempo, não creio que a igualdade de gênero vista na infidelidade representada nos poderosos se aplique ao assédio sexual. Por quê? Nos negócios, certas regras insidiosas sobre o comportamento dos homens se propagaram. Quem está no comando define as normas aceitáveis e inaceitáveis e, como a maioria da liderança é formada por homens, essas normas ainda não mudaram. A sociedade considera menos aceitável que mulheres assediem ou façam comentários depreciativos a respeito dos homens.

Devido à natureza corruptora do poder, a questão sobre como isso afeta o comportamento e as percepções em relação aos menos influentes – independentemente de seu gênero – precisa ser confrontada, discutida e monitorada.

Há algumas vítimas em tudo isso. As mais óbvias são as mulheres. Mas os homens à parte desses comportamentos também o são. Vários executivos hesitam tratar da mesma forma homens e mulheres talentosos por temer que seus motivos sejam vistos como falsos ou que exista uma agenda oculta por trás de seu comportamento.

A solução é difícil. Enquanto o desequilíbrio de gênero permanecer tão grande no topo da hierarquia, será complicado equilibrar o poder.

 

JENNIFER JORDAN – é psicóloga social, professora de liderança e comportamento organizacional no IMD, na Suíça.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 57 – 66

Alimento diário

O Sepultamento de Cristo

Temos aqui um relato do sepultamento de Cristo, bem como da maneira e das circunstâncias em que foi realizado, e é possível observar:

1. A gentileza e a boa vontade de seus amigos, que o colocaram no sepulcro.

2. A maldade e a má vontade de seus inimigos, que foram muito solícitos em mantê-lo ali.

 I –  Seus amigos lhe proporcionaram um sepultamento decente. Observe:

1. De forma geral, que Jesus Cristo foi sepultado; quando a sua preciosa alma partiu para o paraíso, o seu corpo bendito foi depositado nas câmaras do sepulcro, para que correspondesse à tipificação de Jonas, e cumprisse a profecia de Isaías: “E puseram a sua sepultura com os ímpios”. Assim, Ele era como os seus irmãos, em todos os aspectos, exceto no que diz respeito ao pecado (pois Ele jamais pecou), e à questão do retorno ao pó. Ele foi sepultado para que a sua morte fosse ainda mais evidente, e a sua ressurreição fosse ainda mais notável. Pilatos não queria entregar o seu corpo para ser sepultado até que tivesse a plena certeza de que Ele estava realmente morto; enquanto as testemunhas não fossem sepultadas, haveria esperanças quanto a elas (Apocalipse 11.8). Mas Cristo, a Grande Testemunha, está como alguém que é livre e que está entre os mortos, como a vítima de assassinato que descansa na sepultura. Ele foi sepultado, para que pudesse destruir o terror que o ser humano sente em relação ao sepulcro, tornando-o confortável para nós, e assim Ele aqueceu e perfumou para nós aquela cama fria e fétida, e também o fez para que possamos ser sepultados com Ele.

2. As circunstâncias peculiares de seu sepultamento são aqui relatadas.

(1)  A hora em que foi sepultado: quando a tarde chegou; a mesma tarde em que Ele morreu, antes do pôr-do-sol, como é comum ao sepultar-se malfeitores. O seu sepultamento não foi postergado até o dia seguinte, pois era sábado; pois enterrar os mortos não é uma ocupação adequada para um dia de descanso ou para um dia de regozijo, como é o sábado.

(2)  A pessoa que cuidou do funeral foi José de Arimatéia. Todos os apóstolos haviam fugido e nenhum apareceu para demonstrar respeito pelo seu Mestre, o que os discípulos de João mostraram por este, depois que foi decapitado, quando tomaram o seu corpo e o sepultaram (cap. 14.12). As mulheres que o seguiram não ousaram entrar no sepulcro; então Deus encorajou esse bom homem a fazê-lo; pois Deus encontrará as pessoas certas para cada trabalho que deve ser feito. José era um homem adequado, pois:

[1] El e possuía recursos para fazê-lo, por ser um homem rico. Muitos dos discípulos de Deus eram homens pobres e, dessa forma, estavam mais adaptados a sair pelo país para pregar o Evangelho; mas aqui estava um homem rico pronto para ser empregado em uma tarefa que requeria um homem de posses. Note que a riqueza terrena, embora seja para muitos um obstáculo no caminho da fé, em algumas tarefas na obra de Cristo é uma vantagem e uma oportunidade. E aqueles que a possuem devem ser misericordiosos, utilizando-a para a glória de Deus.

[2] José de Arimatéia era muito ligado ao nosso Senhor Jesus, era seu discípulo, e cria nele, embora não o declarasse abertamente. Note que Cristo tem mais discípulos secretos do que sabemos; o Senhor tinha sete mil em Israel (Romanos 11.4).

(3)  A doação do cadáver conseguida junto a Pilatos (v. 58). José foi até Pilatos, a pessoa a quem era necessário recorrer nesse caso, pois dispunha do corpo; pois, nas coisas que dizem respeito ao poder do magistrado, deve-se manter a devida consideração a esse poder; e nada deve ser feito para desrespeitá-lo. Tudo aquilo que fizermos de bom deverá ser feito pacificamente, e não com tumulto. Pilatos queria entregar o corpo a alguém que o sepultasse de um modo decente. Ele desejava fazer algo que pudesse expiar a culpa de que a sua consciência o acusava, por condenar um inocente. No pedido de José, e na pronta entrega do corpo por Pilatos, uma grande honra foi prestada a Cristo, e ali foi dado um testemunho de sua absoluta integridade.

(4)  O envolvimento do corpo em sua mortalha (v.59). Embora fosse um senador honrado, ele mesmo tirou o corpo, ao que parece com seus próprios braços, do infame e amaldiçoado madeiro (Atos 13.29); pois, onde há o verdadeiro amor a Cristo, nenhum trabalho será considerado muito baixo ou humilhante. Após apanhá-lo, José de Arimatéia o envolveu em um lençol fino e limpo; pois sepultar em linho era, na época, a prática de praxe, e José a seguiu. Note que devemos cuidar dos cadáveres dos homens justos, pois há uma glória planejada para eles na ressurreição, e devemos dar testemunho de nossa crença nisso, sepultando os cadáveres de um modo que indique que há um lugar melhor como destino. Este simples ato humanitário, se feito com um propósito de fé, pode ser um exemplo cristão muito bem-vindo.

(5)  A colocação do corpo no sepulcro (v. 60). Nesse ponto, não há nada da pompa e solenidade com que os grandes do mundo são levados ao túmulo e sepultados (Jó 21.32). Um funeral privado seria mais adequado àquele Rei cujo Reino chegou sem qualquer pompa.

[1] O Senhor Jesus foi enterrado em um sepulcro emprestado, no sepulcro de José; assim como Ele não teve um lugar que fosse seu, onde pudesse reclinar a sua cabeça enquanto vivia, também não teve o seu próprio sepulcro, em que pudesse descansar o seu corpo quando morresse, o que era uma amostra de sua pobreza mate­ rial neste mundo. Até nisso pode haver algum tipo de mistério. A sepultura é a herança peculiar do pecador (Jó 24.19). Não há nada que podemos chamar de realmente nosso, a não ser os nossos pecados e os nossos sepulcros: “Eles tornam para sua terra” (Salmos 146.4). Quando vamos para o túmulo, vamos para o lugar que é nosso; mas o nosso Senhor Jesus, que não tinha pecado, não tinha o seu túmulo. Ao morrer pelos pecados que lhe foram imputados, era adequado que Ele fosse sepultado em um túmulo emprestado; os judeus  determinaram que Ele tivesse a sua sepultura com os ímpios, que fosse sepultado com os ladrões  com quem fora crucificado; mas Deus Pai indeferiu esse tipo de plano, determinando que o Senhor Jesus tivesse um sepulcro rico (Isaias 53.9).

[2] Ele foi colocado em um sepulcro novo, o qual José, provavelmente, planejara para si mesmo; entretanto, não haveria problema que o Senhor o utilizasse, pois ressuscitaria rapidamente. Melhor ainda, nele descansou aquele que mudou a característica da sepultura e certamente deu-lhe uma nova forma, transformando-a de uma cama de especiarias em uma cama de descanso para todos os santos.

[3] Em um sepulcro que foi talhado na rocha. O solo nas redondezas de Jerusalém era geralmente rochoso. Sebna teve seu sepulcro cavado em uma rocha (Isaias 22.16). A Providência determinou que o sepulcro de Cristo fosse em uma rocha, para que não houvesse espaço para suspeitar-se que os seus discípulos tivessem acesso a ele através de alguma passagem subterrânea ou abrissem caminho através de sua parede traseira, para roubar o corpo; pois não havia acesso a ele, a não ser através da porta frontal, que era vigiada.

[4] Uma grande pedra foi rolada para a porta do seu sepulcro; isto também estava de acordo com o costume dos judeus ao enterrarem seus mortos, como entendemos pela descrição do túmulo de Lázaro (João 11.38), indicando que aqueles que estão mortos ficam separados e desligados de todos aqueles que vivem; se o túmulo era a sua prisão, agora a porta da prisão estava trancada com um ferrolho. A rolagem da pedra para a entrada do sepulcro era, para eles, o equivalente a encher a cova com terra, como fazemos; isso finalizava o funeral. Tendo, assim, depositado em silêncio e com tristeza o que fora o corpo de nosso Senhor Jesus no túmulo, era hora de todos os vi­ vos voltarem para casa, e eles saíram sem qualquer de­ mora. A circunstância mais melancólica nos funerais de nossos amigos cristãos, após colocarmos seus corpos no túmulo escuro e silencioso, é irmos para casa deixando-os para trás; mas ai de nós, pois não somos nós que vamos para casa e os deixamos para trás; não, são eles que partiram para uma casa melhor e nos deixaram para trás.

(6)  O grupo que acompanhou o funeral. Era muito pequeno e aparentemente inexpressivo. Aqui não estava presente nenhum dos parentes enlutados para acompanhar o cadáver; não houve qualquer formalidade para honrar a solenidade, mas algumas mulheres virtuosas que estavam realmente de luto, como Maria Madalena e a outra Maria (v. 56). Estas, assim como o haviam acompanhado até a cruz, também o seguiram até o túmulo; como se tivessem se preparado para lamentar, elas assentaram-se defronte do sepulcro, não tanto para encher os seus olhos com a visão do que havia sido feito, mas para esvaziá-los através de rios de lágrimas. Note que o verdadeiro amor a Cristo nos levará a extremos para segui-lo. Nem mesmo a morte é capaz de apagar esse fogo divino (Cantares 8.6,7).

 

II – Seus inimigos fizeram o que puderam para impedir a sua ressurreição; aquilo que eles fizeram nesse lugar ocorreu no dia seguinte ao dia da preparação (v. 62). Aquele era o sétimo dia da semana, o sábado judeu, ainda não expressamente chamado assim, mas descrito por essa perífrase, porque estava agora a ponto de dar lugar ao sábado cristão, que começava no dia seguinte. Então:

1. Durante todo aquele dia, Cristo permaneceu deitado no túmulo; tendo trabalhado por seis dias e realizado todo o seu trabalho, no sétimo dia Ele descansou e se revigorou.

2. Naquele dia, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, quando deveriam estar em suas devoções, pedindo perdão pelos pecados da semana passada, estavam negociando com Pilatos sobre o trancamento do sepulcro e assim acrescentando rebelião ao seu pecado. Eles, que haviam tão frequentemente discutido com Cristo pelos atos de grande misericórdia naquele dia, estavam agora ocupados com um ato repleto da maior maldade e malícia. Observe aqui:

(1)  A abordagem deles diante de Pilatos; eles estavam irritados pelo fato de o corpo ter sido dado a alguém que o sepultaria decentemente; mas, já que deveria ser assim, eles queriam que fosse colocada guarda junto ao sepulcro.

[1] A apresentação do pedido deles: “que aquele enganador” (assim eles chamam aquele que é a própria verdade) havia dito: “Depois de três dias, ressuscitarei”. Ele dissera isso e os seus discípulos se lembravam dessas palavras com exatidão, como a confirmação da sua fé; mas os seus perseguidores as lembravam pela provo­ cação à sua ira e iniquidade. Assim, a mesma palavra de Cristo para uns tinha o sabor de vida para a vida, e para outros, de morte para a morte. Veja como eles cumprimentam Pilatos com o título de senhor, enquanto acusam a Cristo com o título de enganador. Assim, os maiores caluniadores dos homens justos são, comumente, os mais sórdidos bajuladores dos poderosos.

[2] Isso expõe mais detalhadamente a inveja deles: “Não se dê o que os seus discípulos vão de noite, e o furtem, e digam: Ressuscitou”.

Em primeiro lugar, o que eles realmente temiam era a ressurreição dele; aquilo que é a maior glória de Cristo e alegria do seu povo é o maior medo dos seus inimigos. Aquilo que enfureceu os irmãos de José contra ele era o presságio de sua elevação e de seu domínio sobre eles (Genesis 37.8); e tudo que eles pretendiam e fizeram contra ele teve a finalidade de impedir isso. “Vinde”, dizem eles, “e matemo-lo, e veremos o que será de seus sonhos”. Da mesma forma, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus se esforçaram para destruir as predições da ressurreição de Cristo, falando dele como fizeram os inimigos de Davi (Salmos 41.8): “E, pois que está deitado, não se levantará mais”; se ele ressuscitasse, todas as medidas deles seriam destruídas. Note que os inimigos de Cristo, mesmo tendo alcançado o seu objetivo, estão com medo de perdê-lo novamente. Talvez os sacerdotes estivessem surpresos com o respeito demonstrado pelo cadáver de Cristo por José e Nicodemos, dois homens ilustres, e consideraram isso como um presságio ruim; também não conseguem se esquecer de que Ele ressuscitou Lázaro dos mortos, o que lhes causava tanta perplexidade.

Em segundo lugar, eles demonstraram temer que os seus discípulos talvez viessem durante a noite, e o roubassem, o que era algo muito improvável, pois:

1. Eles não tinham tido a coragem de confessar o Senhor enquanto Ele estava vivo, quando podiam ter feito algo de bom por Ele e por si mesmos; e não era provável que a morte dele instilasse a coragem naqueles que se mostraram tão covardes.

2. Que esperança lhes daria roubai· o corpo do Senhor e fazer o povo acreditar que ressuscitou? Pois, caso Ele não ressuscitasse, poderia ser considerado um enganador: Os seus discípulos, que haviam abandonado tudo neste mundo por Ele na confiança de uma recompensa no mundo vindouro, seriam os que mais sofreriam com a fraude, e teriam motivos para atirar a primeira pedra contra o Nome dele. Que proveito lhes traria dar andamento a uma trapaça contra si mesmos, roubando o corpo dele e dizendo: “Ressuscitou”, quando, se Ele não ressuscitasse, a fé deles seria vã e eles seriam os mais infelizes de todos os homens? Os príncipes dos sacerdotes temiam que se a doutrina da ressurreição de Cristo fosse pregada e aceita, o último erro seria pior do que o primeiro. Esta expressão proverbial não insinuava nada mais do que isto: Seremos todos arruinados. Eles pensaram ter sido um erro o fato de serem, por tanto tempo, coniventes com a pregação e os milagres de Jesus, erro que eles pensavam ter corrigido ao causarem a sua morte; mas, se as pessoas fossem persuadidas de sua ressurreição, isso estragaria tudo novamente. O interesse do povo por Ele reviveria com Ele, e os interesses daqueles que o haviam tão barbaramente assassinado, naufragariam. Observe que aqueles que se opuserem a Cristo e ao seu Reino não apenas verão as suas tentativas destruídas, mas eles próprios estarão desgraçadamente confusos e envergonhados, pois a sucessão de seus erros, cada um pior do que o outro, terá um erro derradeiro que será o pior de todos (Salmos 2.4,5).

[3] Levando isso em consideração, eles humildemente propõem a colocação de uma guarda junto ao sepulcro até o terceiro dia. “Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança”. Pilatos ainda deve ser escravo deles, e o seu poder civil e militar deve estar comprometido em servir à iniquidade deles. Poderia se pensar que os prisioneiros da morte não precisassem mais de guardas, e que o túmulo fosse, em si, seguro o suficiente para contê-los. Mas o que não temerão aqueles que estão conscientes tanto de sua culpa quanto de sua impotência ao resistirem ao Senhor e ao seu Ungido?

(2)  A resposta de Pilatos a esse discurso (v. 65). “Tendes a guarda; ide, guardai-o como entenderdes”. Pilatos estava pronto para agradar aos amigos de Cristo dando-lhes o corpo, e aos seus inimigos, colocando uma guarda em seu sepulcro. Alguns pensam que Pilatos, desejando agradar a todos, talvez risse consigo daquela situação; ao causar tanto alvoroço, de um lado e do outro, a respeito do cadáver de um homem, quem sabe considerasse as esperanças de um lado e os temores do outro, classificando-os igualmente como ridículos. “Tendes a guarda”; ele quer dizer a guarda permanente que era mantida na torre de Antônia. Como resultado disso, ele lhes permite destacar quantos soldados quisessem para esse propósito, como se estivesse envergonhado de se ver envolvido em algo assim. Pilatos deixa que os líderes judeus cuidem totalmente da situação. Penso que esta frase: “Guardai-o como entenderdes”, se parece com uma provocação, ou esteja relacionada:

[1] Com os medos deles: “Estejam certos de colocar uma forte guarda para o morto”. Ou, preferivelmente:

[2] Com as esperanças deles: “Façam o pior que puderem, testem a sua sagacidade e força ao máximo; mas, se Ele veio da parte de Deus, Ele ressuscitará, apesar de vocês e de todos os seus guardas”. Estou inclinado a pensar que, nessa hora, Pilatos teve uma conversa com o centurião, seu próprio oficial, a quem ele estaria inclinado a perguntar como aquele Justo, a quem ele havia condenado com tanta relutância, morrera. O centurião lhe fez um relato das coisas que o haviam levado a concluir que, verdadeiramente, este era o Filho de Deus; e Pilatos daria mais crédito a ele do que a mil daqueles sacerdotes vingativos, que chamavam o Senhor de enganador: E, se for assim, não é de admirar que ele tacitamente ridicularize o projeto deles, pensando em dar segurança ao sepulcro daquele que havia tão recentemente fendido as rochas e feito a terra tremer. Tertuliano, falando sobre Pilatos, diz: – Em sua consciência, ele era um cristão. E é possível que ele pudesse ter tal convicção naquela hora, com base no relato do centurião, e ainda assim jamais estar inteiramente convencido de ser um cristão, como ocorreu com Agripa ou Félix.

(3)  O cuidado formidável que eles tomaram, logo em seguida, para dar segurança ao sepulcro (v. 66). Eles selaram a pedra; provavelmente, com o grande selo do seu sinédrio, com o qual eles contrapunham a autoridade que possuíam, pois quem ousaria romper o selo do estado? Mas não confiando muito nisso, também estabeleceram uma guarda, para evitar que os discípulos do Senhor o roubassem e, se possível, impedissem que Ele saísse do túmulo. Assim eles pretendiam, mas Deus Pai tirou disso algo de bom: aqueles que foram colocados para se oporem à sua ressurreição tiveram a oportunidade de observá-la. Eles o fizeram e contaram o que observaram aos príncipes dos sacerdotes, que com isso se tornaram ainda mais indesculpáveis. Aqui estavam todos os poderes da terra e do inferno combinados para manter Cristo como prisioneiro. Mas todos esses recursos foram vãos quando a sua hora chegou; a morte e todos aqueles filhos e herdeiros da morte não conseguiam mais segurá-lo, não tinham mais domínio sobre Ele. Guardar o sepulcro contra os pobres e fracos discípulos era um disparate, porque era desnecessário; mas pensar em guardá-lo contra o poder de Deus era um disparate muito maior, por ser uma atitude inútil e sem propósito; e ainda assim aqueles iníquos pensaram que haviam procedido sabiamente.

O QUE A BÍBLIA ME ENSINOU

DONS MINISTERIAIS PARA A IGREJA.

Dons ministeriais para a igreja

Efésios 4: 11–16

Tem havido muito debate sobre a relação precisa entre missão original e sem restrições dos apóstolos e evangelistas, por um lado, e o ministério local permanente dos pastores e mestres, governadores e auxílios, por outro lado. Essa última classe, segundo parece, sempre era nomeada pela primeira; mas se Atos 6 puder ser considerado como passagem que descreve uma ordenação típica, então a eleição popular desempenhava papel na escolha dos candidatos.
Em sua forma mais antiga, o ministério cristão é carismático, isto é, depende de um dom espiritual ou dote natural, cujo exercício testificava sobre a presença do Espírito Santo na igreja. Assim é que profecia e glossolalia acorreram quando Paulo impôs suas mãos sobre alguns crentes comuns, após haverem sido batizados (At 19: 6); e as palavras ali empregadas subtendem que a ocorrência até certo ponto foi uma repetição da experiência pentecostal no início da igreja (At 2). Três listas são providas nas epístolas paulinas acerca das várias formas que tal ministério poderia assumir, e é notável que em cada lista são incluídas funções mais claramente espirituais. Em Rm 12: 6-8 encontramos profecia, ministério, (diakonia), ensino, exortação, contribuições, governo e “exercício de misericórdia” (? Visitação aos enfermos e pobres). I Co 12: 28“Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas. O Apóstolo Paulo relaciona; apóstolos, profetas, mestres, juntamente com aqueles dotados de poder de operar milagres, curar os enfermos, prestar auxílio, governar ou falar em línguas.
Os vários dons alistados nessas passagens são funções ou maneiras diferentes de servir, e não ofícios regulares e estereotipados; um indivíduo podia e ainda pode agir em diversas capacidades ao mesmo tempo, porém, sua habilidade para cumprir qualquer uma delas dependia e sempre dependerá do preparo proporcionado pelo Espírito Santo.

APÓSTOLOS:
O Título “Apóstolo” se aplica a certos líderes cristãos no NT. Não apenas os doze foram incluídos no apostolado, mas igualmente Paulo, Barnabé, Tiago, o irmão do Senhor e Andrônico e Júnias. A qualificação primária de um “apóstolo” era que tivesse sido testemunha ocular do ministério terreno de Cristo, particularmente da ressurreição, e sua autoridade dependia do fato que de alguma forma tivesse sido comissionado por Cristo, quer nos dias de sua carne, quer depois dele haver ressuscitado dentre os mortos. O verbo “apostello” significa enviar alguém em missão especial como mensageiro e representante pessoal de quem o envia. O título é usado para Cristo, os doze discípulos escolhidos por Jesus, o apóstolo Paulo e outros
O termo “apóstolo” no NT em sentido geral, para um representante designado por uma igreja, como, por exemplo, os primeiros missionários cristãos. Logo no NT o termo se refere a um mensageiro nomeado e enviado como missionário ou para alguma responsabilidade especial. Eram homens de reconhecida e destacada liderança espiritual, ungidos com poder para defrontar-se com os poderes das trevas e confirmar o Evangelho com milagres. Cuidavam do estabelecimento de igrejas segundo a verdade e pureza apostólicas. Eram servos itinerantes que arriscavam suas vidas em favor do nome do nosso Senhor Jesus Cristo. E da propagação do evangelho.
Hoje no sentido geral, os “apóstolos” continuam sendo essenciais para o propósito de Deus na igreja. Pois se as igrejas cessarem de treinar, observar, discernir e enviar pessoas assim, cheias do Espírito Santo, a propagação do evangelho em todo o mundo ficará estagnada, paralisada. Logo enquanto a igreja estiver contextualizada com essa obrigação de produzir e enviar tais pessoas, estará cumprindo assim, sua tarefa missionária, e, permanecerá fiel à grande comissão do Senhor. O ministério apostólico referente àqueles que viram Jesus após a sua ressurreição, e que foram comissionados por Ele, é exclusivo e restrito, não há repetição, pois, os apóstolos originais do NT, não têm sucessores.

PROFETAS:
Os profetas eram homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja motivação, e, interesses principais eram a vida espiritual e pureza da igreja, transmitindo sempre uma mensagem da parte de Deus ao seu povo.
É o porta-voz de Deus. É aquele que movido pelo Espírito Santo, transmite mensagens da parte do Senhor. “Há realmente muita confusão a respeito do dom de profecia e o ministério profético; muitos acham que o ministério de profecia é o mesmo ministério de pregação, porém, entre eles há uma grande diferença”.
É certo que um pregador pode profetizar durante sua pregação, mas a pregação é diferente de uma mensagem profética. O pregador fala a mensagem iluminada, segundo a graça de Deus, de acordo com Sua palavra e “ninguém pode resistir”
A profecia, porém, é uma mensagem inspirada da parte de Deus; o profeta fica constrangido sob a mensagem, controlado pelo Espírito Santo.
O ministério profético no Novo Testamento é inteiramente diferente do ministério dos profetas do Velho Testamento, porque no Velho testamento a mensagem vinha a eles como está escrito: “Veio a mim a palavra do Senhor”. Enquanto que nos profetas do Novo Testamento, a palavra ou a mensagem são anunciadas inspiradamente pelo poder do Espírito Santo.
Os profetas, tanto do Antigo como do Novo Testamento não são infalíveis visto estarem sujeito a serem julgados pela Palavra de Deus. O ministério profético foi como um esteio na Igreja cristã primitiva. Contudo os dons proféticos não foram reconhecidos como regra guiadora para orientar ou dirigir a igreja ou ao seu pastor. Quem guiava era a palavra de Deus, a única regra para orientar e guiar a igreja. “Infelizmente, muitos não sabem guiar-se pela palavra de Deus, e por essa razão aparecem tantos absurdos doutrinários”.
Toda e qualquer revelação ou profecia devem ser submetidas à prova junto ao ministério da Palavra de Deus.
Existem três fontes das quais podem surgir as mensagens proféticas:
1- A fonte divina (Jr 23: 28, 29)
2- Fonte humana; mensagem do coração do próprio profeta (Ne 6:12; Jr 23:16,30-32).
3- A fonte demoníaca; mensagem que vem através de um demônio ou de um crente desobediente (I Tm 4: 1-3). “Daí pode surgir muita perturbação, dada a maioria dos crentes mais simples acreditarem mais no profeta, na realidade mais em profecias, do que no pastor, ou no dirigente da igreja”.
“Na edificação da igreja há necessidade dos dons proféticos, pois eles são como andaimes” na construção. Mas esses “andaimes”, devem estar bem firmados pelas armas e pregos da doutrina dos mestres da congregação. Deus não diz em sua palavra, que o seu povo foi destruído só por que lhe faltava profecia, e sim, por que lhe faltou conhecimento da palavra de Deus. Os 4: 6. Em João 8: 32 está escrito: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Portanto, não devemos consultar profetas como se fazia no tempo do Velho Testamento. O caminho seguro é orar a Deus e Ele revelará o que for necessário.
A lei e os profetas duraram até João, significando que até então o povo era guiado pela lei e pelos profetas (conferir na resposta de Abraão ao rico da parábola do rico e Lázaro.
A profecia visava naqueles dias e ainda hoje; exortar, admoestar, animar, consolar e edificar.

EVANGELISTAS:
São os mensageiros de boas novas. O evangelista desempenha a obra de um missionário, levando o Evangelho a lugares onde ainda é lugar desconhecido. É essencial no propósito de Deus para a igreja. A igreja que deixar de apoiar e promover esse ministério cessará de ganhar almas, e resgatá-las da perdição eterna.
Caberá a igreja local identificar e separar os evangelistas para o ministério, mas é o Senhor quem concede o dom de Sua graça a cada um para o ministério que for útil.
Paulo falando ao evangelista Timóteo, disse: “Faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”.
Qual será então a obra de um evangelista?
Segundo a palavra de Deus é:
a) Despertar o ânimo ou acordar as almas dormentes, através da mensagem da fé.
b). Fazer a obra de pioneiro em campos virgens, colocando o marco da fé cristã, promover o trabalho de avivamento espiritual nas igrejas a convite do pastor local;
Filipe em suas viagens missionárias, evangelizou todas as cidades até chegar a Cesaréia, em todas as cidades deixou a semente plantada. Portanto, a credencial mais bonita de um evangelista é a operação da graça, na conversão das almas como fruto da sua pregação.
Filipe deu prova de um bom evangelista e seu ministério; estava sob o controle divino (At 8: 39, 40): Depois de um grande avivamento, e, despertamento partiu e deixou a cidade de Samaria e seguiu a direção que o Senhor lhe mostrou; creio que para o deserto At 8: 26. Acredita-se que nunca mais voltou ali a não ser em visita. É lamentável dizer que; muitos evangelistas abrem as portas à pregação e eles mesmos as fecham, dificultando o trabalho para outros que venham depois deles.
Infelizmente há uma grande “onda de evangelistas” em nossos dias, dos quais podemos dizer sem medo de errar, que são perturbadores do ministério como pode? Lm 3: 22, mas é o Senhor que concede o dom de sua graça a cada um para o ministério em que for útil (I Co 12.7; Rm12: 5-8), quantos sofrimentos tem causado esses obreiros na seara do Senhor. Somente no dia de Cristo é que tudo será revelado.

PASTORES:
Homem que apascenta as ovelhas
O ministério pastoral é o mais conhecido e o mais necessário entre todos os ministérios. Nosso Senhor Jesus Cristo é o perfeito exemplo, pois Ele disse: “Eu sou o bom pastor” e acrescentou: “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. No Sl 23 encontramos o verdadeiro modelo para o ministério pastoral, cujas qualidades são:
1 – Apascentador, é, levar as ovelhas aos pastos verdejantes e saudáveis;
2 – Suavizador, isto é, levar as ovelhas ao refrigério espiritual e refrescar, aplicando o bálsamo divino. Infelizmente, muitos ministram soda cáustica ao invés de aplicar o bálsamo da doutrina bíblica. Nesse sentido Paulo disse: “Não espancador”;
3 – Disciplinador, isto é, cortar a lã sem ferir as ovelhas; quando as ovelhas não são tosquiadas, sentem-se mal, ficam com excesso de lã, sem contar que ficam feias. (má aparência espiritual)
Neste estado ficam geralmente enfastiadas, não vão aos cultos, perdem o desejo de contribuir e tornam-se queixosas.
No Velho Testamento era considerado pastor o guia espiritual do povo: Tanto podia ser um profeta como Samuel, um rei como Davi ou um sacerdote como Josué.
As igrejas primitivas tiveram em suas congregações presbíteros, que juntamente com os apóstolos e pastores, os quais foram designados para pastorearem, isto é, cuidarem do rebanho.
Alguns funcionaram como pastores, segundo a chamada direta do Senhor At 20:17-28.
Na palavra de Deus, encontramos pastores e presbíteros muito entrelaçados no apascentamento, assim Pedro testifica (I Pe 5: 1-4).
Só há uma diferença; e que o pastor além de responsável pelo rebanho é o anjo da igreja, colocado pelo Senhor, onde deve permanecer fiel, para não perder a linha espiritual de seu ministério.
Já os presbíteros eram eleitos ou designados pelos pastores ou pelos apóstolos.
A Palavra de Deus nos fala de presbíteros com honra dobrada; eram os que presidiam uma comunidade; esses eram naturalmente considerados pastores juntamente no ministério. Deve e precisa ser muito respeitado, com a mesma honra que se dá a um pastor.
O pastor está velando por uma obra que não é sua, da qual, um dia dará contas ao legítimo dono.
O pastor tem que ser:
a). Bom crente e andar com verdadeiro exemplo de sinceridade; b). Ser bom esposo; c). Ser bom pai; d). Ser bom companheiro; e). Ser bom cidadão, obediente às autoridades; f) Ser também um bom irmão.
As atividades do pastor englobam as funções de:
a). De pastor, b). De pregador, c). De administrador, d). De educador, e). De conselheiro.
Existem três coisas que elevam o pastor no desempenho das suas funções:
1- A experiência necessária; 2- O conhecimento geral daquilo que ele desempenha; 3- Maturidade: Ser longânimo: nunca precipitado em assuntos que envolvam o seu ministério.

DOUTORES OU MESTRES:
Pode ser chamado de homem que tem habilidade para o ensino.
São aqueles que têm de Deus um dom especial para esclarecer, expor e proclamar a palavra de Deus, a fim de edificar o corpo de Cristo. O ministério de mestre é realmente muito valioso no ensino da Palavra de Deus, enquanto se conservar aos pés do Senhor Jesus, o divino Mestre.
Os mestres são essenciais ao propósito de Deus para a igreja. A igreja que rejeita, ou se descuida do ensino dos mestres e teólogos consagrados e fiéis à revelação bíblica, não se preocupará pela autenticidade e qualidade da mensagem bíblica nem pela interpretação correta dos ensinos bíblicos. A Igreja onde, mestres e teólogos estão calados não terá firmeza na verdade. Tal igreja aceitará inovações doutrinárias sem objeção; e nela, as práticas religiosas e ideias humanas serão de fato o guia no que tange à doutrina, padrões e práticas dessa igreja, quando se deveria ser a verdade bíblica. Por outro lado, a igreja que acata os mestres e teólogos piedosos e aprovados terá seus ensinos, trabalhos e práticas regidos pelos princípios originais e fundamentais do evangelho. Princípios e práticas falsas serão desmascarados, e a pureza da mensagem original de Cristo será conhecida pelos seus membros. Paulo disse: “Aquele que está entre vós, não pense em si mesmo mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Alguém que com esse extraordinário dom ministerial de ensinar, mas por causa da exaltação perder a graça e continuar a ensinar, o fará, porém, sem autoridade na Palavra, dando alimentação não substancial.
O ministério de ensino ou de mestre funciona como ajudador na obra do Senhor, podendo por meio do ensino, edificar a obra do Senhor.
A missão dos mestres bíblicos é defender e preservar, mediante a ajuda do Espírito Santo, o evangelho que lhes foi confiado (II Tm1: 11-14). Têm o dever de fielmente conduzir a igreja à revelação bíblica e à mensagem original de Cristo e dos apóstolos, e nisso perseverar. Tg 1: 22ª “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes”… II Tm 2:15 “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não têm de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
Se verdadeiramente somos a “Igreja”, devemos observar os preceitos dados a nós pelas Santas Escrituras que é, essencialmente, nossa regra de FÉ e PRÁTICA…
Nisto pensemos e isto vivamos!

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O QUE OS PSICOPATAS DESEJAM?

O enfoque tradicional na pesquisa em neurociência da psicopatia é o foco em falta de sensibilidade à punição ou na ausência do medo, variáveis que estão associadas ao comportamento antissocial.

O que os psicopatas desejam

Tradicionalmente, a pesquisa em Neurociências enfoca a psicopatia como estando fundamentada em uma deficiência em certos circuitos cerebrais ligados ao controle dos impulsos, ou o aprendizado de consequências negativas. A falta de sensibilidade à punição tem sido apontada como uma das hipóteses de um substrato neural da psicopatia. Outras investigações apontam que não só a falta de medo, mas, consequentemente, as dificuldades de aprendizado com as experiências de medo são traços que estão por trás da psicopatia.

No entanto, até o momento, esses traços não se mostraram particularmente úteis para prever violência ou comportamento criminal. Uma nova linha de investigação sugere que pode ocorrer no cérebro de psicopatas uma forte tendência para a recompensa, e que isso tem sido negligenciado pela pesquisa convencional nessa área. Os indivíduos com traços de psicopatia têm de fato um forte impulso pela busca de recompensa, e esse impulso talvez supere o senso de risco ou a preocupação com as consequências negativas de determinado comportamento.

Para testar essa hipótese, foi realizado um experimento no qual indivíduos com psicopatia e pessoas sem essa característica recebiam uma droga e tinham seus cérebros submetidos a escaneamento para obtenção de imagens do funcionamento neural. O objetivo foi verificar como o cérebro das pessoas reagem a estimulantes, no caso um tipo de anfetamina chamado em língua inglesa speed, conhecido por suas propriedades de liberação de dopamina.

A dopamina é a moeda da recompensa no cérebro. Quando as moléculas desse neurotransmissor, provenientes da área tegmentar ventral atingem receptores na região do núcleo accumbens, o organismo sente prazer e desejo de repetir a experiência que levou ao estímulo dopaminérgico. Esse é o chamado sistema de recompensa do cérebro.

No experimento realizado, o que chamou atenção dos pesquisadores foi que pessoas com altos níveis de traços de psicopatia têm quatro vezes mais dopamina liberada em resposta à anfetamina do que as pessoas normais. Em uma segunda parte do estudo, os sujeitos tinham os cérebros escaneados enquanto ganhavam uma recompensa financeira por fazer uma tarefa em laboratório. Como no primeiro estudo, os psicopatas mostraram uma liberação muito maior de dopamina e níveis mais altos de atividades em antecipação ao ganho da recompensa.

Talvez pelo fato de ter uma resposta exagerada da dopamina, quando um psicopata foca na possibilidade de ganhar uma recompensa torna-se incapaz de alterar sua atenção até que consiga obter a gratificação. Esse escudo sugere que o cérebro do psicopata tem a circuitaria organizada para buscar fortemente recompensas, embora sem pesar o custo dessa procura.

Se o cérebro dos psicopatas libera quatro vezes mais dopamina em resposta a recompensas do que o de pessoas normais, podemos imaginar quanto prazer esses indivíduos podem ter ao atingir seus objetivos. Normalmente pensamos que psicopatas são pessoas de sangue frio, e que querem tomar o que desejam sem pensar nas consequências. Esse estudo mostra que um sistema de recompensa dopaminérgica hiperativo pode ser fundamento de alguns dos mais problemáticos comportamentos associados com psicopatia, como crimes violentos, reincidências e uso de drogas e álcool. Pensando na realidade brasileira. Podemos também imaginar o quanto a antevisão de prazer pode ser extraída a partir da simulação mental do recebimento de propinas e dinheiro de corrupção na mente de psicopatas, o que, infelizmente, torna mais tentadores os comportamentos que levam a essas recompensas.

 

MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental.

OUTROS OLHARES

O PECADO DAS CURTIDAS

O escândalo envolvendo o uso de dados do Facebook mostra que perdemos o controle das informações publicadas no ambiente online. Aí surge um dilema: sair da rede, ou aceitar os riscos.

O pecado das curtidas

O polêmico uso de dados do Facebook para influenciar a campanha presidencial americana em 2016 ganhou dimensão global e escancarou a forma como os indivíduos perderam o controle sobre o que postam na internet. Cerca de 87milhões de usuários nos Estados Unidos tiveram suas informações vazadas pela empresa de análise de dados políticos Cambridge Analytica. Os dados foram inicialmente coletados por um aplicativo de testes de personalidade na rede social e, segundo investigações, comprados pela consultoria que trabalhou na campanha do candidato republicano Donald Trump. Em posse da informação, a Cambridge Analytica previu o comportamento eleitoral dos usuários e os bombardeou com propaganda a favor de Trump, que venceu. Há indícios que o mesmo método tenha sido aplicado para influenciar a votação do Brexit, no mesmo ano, quando os britânicos optaram que o Reino Unido deixasse a União Europeia.

O auê foi tamanho que, no mês passado, o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi chamado a dar explicações no Congresso americano. Em depoimento de 5 horas, ele negou a comercialização de dados. O escândalo, no entanto, derrubou o valor de mercado do Facebook em quase 60 bilhões de dólares em menos de uma semana. E se engana quem pensa que o problema foi isolado.

O Brasil também coleciona uma série de casos recentes. Em abril, a operadora de telefonia celular Vivo foi acusada pelo Ministério Público de vender dados de 73 milhões de clientes. No mesmo mês, a Uber foi convocada pelo Ministério Público em Brasília para esclarecer a exposição de dados de 176.000 brasileiros, após a própria companhia revelar que informações de usuários e motoristas haviam sido roubadas. O mesmo ocorreu com a Netshoes, que perdeu dados de 2 milhões de clientes para cibercriminosos; e com a Porto Seguro, de onde os hackers levaram informações pessoais e bancárias dos segurados.

Para piorar, especialistas alertam para a tendência de abrirmos cada vez mais sobre nós sobretudo no varejo, que mapeia o comportamento do cliente que compra pela internet. O protótipo perfeito desse Big Brother é a Amazon Go, primeira loja física da Amazon, aberta em Seattle, nos Estados Unidos, em janeiro. Lá, não há atendentes e não são utilizados dinheiro ou cartão. O estabelecimento usa inteligência artificial e centenas de micro câmeras para rastrear os clientes e os itens escolhidos. Ao sair com os produtos, eles não passam pelo caixa, simplesmente recebem um recibo de compra (debitado no crédito) minutos depois. A experiência é incrível, mas o preço, alto: até os movimentos (e as emoções) dos clientes são filmados. Outro exemplo: o Google direciona a publicidade de lojas e marcas com base no que “escuta” de seus usuários (pelo microfone do celular).  De fato, perdemos o domínio de nossos dados.

Mas os usuários não parecem muito preocupados com isso. Um Estudo realizado pela empresa de segurança digital Kaspersky chamou a atenção para a falta de cuidado dos internautas. Segundo a pesquisa, apenas três em cada dez pessoas leem o contrato antes da instalação de um aplicativo. Como elas têm, em média, 66 aplicativos em seu aparelho Android – sendo que 95% deles começam a funcionar sem que o usuário os inicie e 83% têm acesso a dados confidenciais -, a exposição é enorme.

CÉREBRO EM METAMORFOSE

Mas por que somos negligentes com informações no ambiente digital? Para a professora Andrea Jota, do Laboratório de Estudos de Psicologia, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC de São Paulo, há duas razões. A primeira é a falta de informação. Como a indústria de tecnologia não costuma ser transparente sobre suas políticas de dados e serviços, uma parcela considerável desconhece os riscos. “E a única maneira de se proteger é lendo manuais e ajustando as configurações de privacidade”, diz a psicóloga. O problema é que, na ânsia de usar o serviço, quase ninguém lê as letras miúdas dos contratos. Em geral, clica-se no “Li e aceito” ou no “Permitir acesso a fotos, vídeos …” sem saber o que isto significa exatamente.

Um segundo motivo para o compartilhamento excessivo, segundo a psicóloga, é que o ser humano precisa alimentar sua persona social. No universo digital, isso significa exibir familiares, viagens e até mesmo as refeições. “A internet, e tudo relacionado a ela, se fundiu ao nosso cotidiano”, diz Andrea.

A neurocientista britânica Susan Greenfield, autora de livros corno Mind Change: How Digital Technologies Are Leaving Their Mark: on Our Brains (sem tradução no Brasil), vai além. “O ambiente digital está alterando nosso cérebro”, escreve ela no livro. Entre outras ideias, Susan afirma que as redes sociais e as novas tecnologias estão nos tornando menos empáticos e mais dependentes do “aqui e agora” e fragilizando nossa noção de quem somos. De acordo com ela, quando constroem sua identidade no ciberespaço, as pessoas não se preocupam com passado ou futuro. O que vale é tirar proveito do momento.

Mas a postura imediatista exige reflexão. Pense num site de busca de empregos. Ou no próprio Linkedin, rede social essencial para fazer networking no mundo do trabalho. Quanto mais informações o profissional passa, maior a chance de ser visto por um recrutador e conseguir uma boa vaga. Mas será seguro revelar tanto de si mesmo? E se uma informação aparentemente boba, que o indivíduo não dimensionou no momento da postagem, um dia vir à tona e prejudicá-lo?

Bem, aparentemente, isso faz parte do mundo moderno. E especialistas advertem que será preciso aprender a lidar – e a prever – os efeitos colaterais de seus rastros digitais.

Rodrigo Tafner, coordenador do curso de sistemas de informação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), é taxativo: não existe privacidade no ambiente digital. A empresa coleta dados e, em troca, oferece contrapartidas (como a possibilidade de encontrar um bom emprego). Se você deseja sua intimidade preservada integralmente, precisa manter-se offline. “Para se proteger 100%, o indivíduo precisa deixar de usar celular e computador. Mas isso é andar para trás”, afirma o especialista.

Como diz o ditado, “quem não é visto, não é lembrado”, e excluir-se das redes é praticamente não existir na sociedade atual. Quem fizer isso terá de abrir mão de seus contatos no Facebook, das pesquisas no Google (e todas as suas ferramentas, como Gmail, Google Maps e Google Tradutor), nas mensagens instantâneas do WhatsApp, das fotos do Instagram, dos filmes da Netflix, das músicas no Spotify e das compras online. Isso sem falar do aplicativo de trajetos Wase, do Uber, das notícias em sites, das vagas de emprego. A lista é grande.

A solução ideal, recomendam os estudiosos do assunto, é buscar o caminho do meio, minimizando os riscos. Rodrigo lembra que aplicativos escutam o que estamos falando e são capazes de saber até se estamos fazendo exercícios ou deitados na cama com o abajur desligado. Quem aceita tamanha exposição deve ler com atenção o termo de uso antes de baixar qualquer plataforma. Apesar de chato, é essencial analisar o que dizem os contratos, saber quais ferramentas precisam ser desabilitadas e entender o que não devemos dividir com ninguém, nem lojas nem redes sociais.

Especialista em direito digital, o advogado Leandro Bissoli, sócio da Peck Advogados, afirma que a primeira medida antes de informar um dado é entrar na página de Política de Privacidade da organização e analisar o quão exposta essa informação ficará. “Muitas vezes, é como se colocássemos uma faixa sobre nós na rua”, afirma Leandro. Nesse tipo de relatório está descrito o que a plataforma coleta de dados, o que faz com eles e como os descarta. O documento, em geral, é longo e mal escrito, mas necessário.

Qualquer pessoa que tenha rede social pode ter recebido nos últimos tempos uma mensagem do administrador avisando sobre mudanças nas medidas de segurança, na tentativa de deixá-las mais fortes. De acordo com Leandro, isso acontece porque as mídias sociais foram impactadas por um novo conjunto de regras aprovado pela União Europeia para proteção de privacidade de dados, que entrou em vigor no dia 25 de maio.

A legislação, conhecida como Regulamentação Geral para Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), é considerada a maior reformulação online desde o surgimento da internet. Incluir, excluir e corrigir dados a qualquer momento passa a ser um direito do usuário e as companhias são obrigadas a fornecer ferramentas explícitas que garantam essa liberdade. Além disso, empresas que armazenam informações das pessoas terão de comprovar que têm sistemas adequados para garantir tudo guardado a sete chaves.

“No Brasil, não temos regulamentação específica para tratar dados pessoais, somos lanterninhas da América Latina”, afirma o especialista da Peck Advogados, citando que há dois projetos em andamento nesse sentido – um na Câmara e outro no Senado.

A boa notícia é que, finalmente, autoridades e estudiosos têm questionado a balança desigual dessa relação. Os usuários fornecem dados preciosos de graça, enquanto as gigantes de tecnologia se locupletam com uma valiosa base de dados. Cresce o movimento contrário, e empresas começam a mudar suas políticas. Poucos meses atrás, o Facebook anunciou a expansão de seu programa que promete recompensas a quem denunciar aplicativos que fazem uso indevido das informações dos usuários. O prêmio chega a 100.000 dólares. Resta saber se isso será suficiente para dar às pessoas um pouco mais de alento digital.

 

MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR

Confira dicas dos especialistas para se proteger:

BLINDE-SE DAS ARMADILHAS VIRTUAIS

Jamais acesse links estranhos que surgem na tela de aplicativos, são enviados por e-mail ou por redes sociais. Em geral, esses links chegam como se fossem instituições financeiras ou mensagem de um contato pessoal. Quando você o acessa, o vírus se instala no dispositivo e passa a roubar seus dados. Na dúvida, não clique.

 LIMPE OS COOKIES PERIODICAMENTE

Cookies nada mais são do que informações trocadas entre seu navegador e o servidor de páginas acessadas. Eles ficam registrados num arquivo de texto no computador, o que permite que o site reconheça o visitante e saiba suas preferências – com isso, vai construindo um perfil do usuário.

LEIA OS TERMOS DE SERVIÇO E PRIVACIDADE

Antes de clicar em “aceito os termos e condições”, leia as informações básicas. Quem pode ter acesso aos dados? Alguém ou a plataforma pode utilizar as informações de sua conta? O controle do que é postado é totalmente seu? Se não tiver as respostas para essas perguntas, melhor abrir mão do serviço.

 ATENÇÃO AOS APLICATIVOS

Cerca de 20% deles não são confiáveis. Quando baixar qualquer um deles, não saia dando permissão para que acessem fotos, vídeos e outros arquivos, principalmente se estiver no sistema Android, mais vulnerável do que o IOS. Se não estiver claro, clique em “não permitir”. Se o uso do app depender disso, leia os termos de privacidade, e informe-se se pode desabilitar o recurso.

GESTÃO E CARREIRA

O RH E OS CONSELHOS

O RH e os conselhos

Ao mesmo tempo que ouvimos o discurso do RH estratégico e das evoluções que ocorreram nos últimos anos, vejo pouco avanço com relação a uma série de frentes. Uma delas é a relação dos RHs com os conselhos de administração. Pelo que observo, os profissionais de recursos humanos têm uma contribuição limitada nesse fórum de governança, mesmo quando falamos dos comitês de gestão de pessoas, ainda restritos a discussões ligadas à remuneração.  Apesar do discurso das organizações de que são voltadas para os indivíduos, os executivos responsáveis pelas políticas de gestão dos talentos, na maior parte das vezes, têm pouca influência se comparados aos de finanças, vendas ou operações.

São raros os comitês de RH liderando discussões estratégicas, entre elas a sucessão diante desse mundo de mudanças exponenciais; o desenvolvimento da alta liderança para gerir num cenário de revolução tecnológica e suas consequências para as pessoas; ou a composição de times necessária para enfrentar as novas eras. Ao mesmo tempo, vejo poucos executivos de RH preparados para inserir conhecimento dentro de uma discussão de negócios e estratégia.

O que os RHs podem fazer para mudar esse cenário? Uma das medidas fundamentais é sair do estigma de gente “de humanas” e mostrar que RHs também conseguem entender de estratégia, de negócios e de governança corporativa, elevando seu papel a outro patamar e se colocando como um dos protagonistas dentro do grupo de decisão da companhia.

Devemos enxergar nesse cenário uma grande oportunidade. Afinal, sabemos que temas ligados a pessoas são cada vez mais discutidos dentro de conselhos de administração. E, nesse sentido, ter um profissional com esse olhar apurado participando das discussões é fundamental.

Uma forma de os RHs melhorarem sua relação com o conselho de administração e assumirem esse protagonismo – até mesmo pensando em ocupar um papel de conselheiro –   é mergulhar no entendimento sobre o negócio atual, sobre a transformação das empresas e também sobre o que é governança, tendo clareza sobre as responsabilidades de um conselho.

É cada vez mais crucial que nos conselhos haja um olhar sobre as mudanças na sociedade e suas consequências para os negócios. Portanto, estudar questões emocionais nas crises, transformações sociais, novas formas de comunicação, governança do futuro e organizações exponenciais é fundamental para os líderes da área de RH.

O RH e os conselhos 2VICKY BLOCH – é psicóloga, sócia da Vicky Bloch Associados e professora nos cursos de especialização em RH da FGV-SP e da FIA.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 50-56 – PARTE II

Alimento diário

A morte de Cristo

III – O convencimento de seus inimigos que foram utilizados na execução (v. 54), o que alguns consideram mais um milagre, quando todas as coisas são analisadas em conjunto. Observe:

1. As pessoas persuadidas; o centurião e aqueles que estavam com ele, vigiando Jesus; um capitão e sua companhia, que estavam de guarda naquela ocasião.

(1)  Eles eram soldados, uma profissão que comumente endurece as pessoas, e cujos sentimentos não são comumente tão susceptíveis, como outros, às sensações de medo ou piedade. Mas não há espírito tão grande, tão seguro de si, que o poder de Cristo não consiga quebrantar e humilhar.

(2)  Eles eram romanos, gentios que não conheciam as Escrituras que eram agora cumpridas; ainda assim, parece que só eles ficaram convencidos. Um triste presságio da cegueira que acometeria Israel, quando o Evangelho fosse enviado aos gentios para abrir os seus olhos. Aqui estavam os gentios comovidos, e os judeus, insensíveis.

(3)  Eles eram os perseguidores de Cristo e aqueles que tinham acabado de insultá-lo, como entendemos a partir de Lucas 23.36. Quando conseguirá Deus, pelo poder que tem sobre as consciências dos homens, modificar o linguajar deles e obter o reconhecimento das suas verdades, para a sua própria glória, da boca daqueles que sussurraram nada além de ameaças, humilhações e blasfêmias!

2. Os meios de seu convencimento; eles perceberam o terremoto, que os assustou, e viram as outras coisas que aconteceram. Estas eram destinadas a reafirmar a glória de Cristo em seus sofrimentos, e tinham como alvo esses soldados, independentemente do impacto que fosse gerado nos outros. Observe que as terríveis manifestações de Deus em sua providência, às vezes, funcionam de forma estranha na persuasão e no despertamento dos pecadores.

3. A expressão desse convencimento em dois aspectos.

(1)  O terror que caiu sobre eles; eles temeram grandemente; temeram que talvez fossem enterrados na escuridão ou engolidos no terremoto. Note que Deus pode facilmente afugentar os seus adversários mais ousados, e fazê-los saber que não passam de homens. A culpa coloca medo nos homens. Há aquele que, quando a iniquidade está presente em abundância em sua vida, nunca tem medo; mas, quando os julgamentos ocorrem em profusão, ele te me, não com cautela, mas apenas com enorme espanto; enquanto há aqueles que não temerão, ainda que a terra se mude (Salmos 46.1,2).

(2)  O testemunho que foi arrancado deles. Eles disseram: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus”; uma nobre confissão. Pedro foi abençoado por isso (cap. 16.16,17). Aquela era a questão em discussão, o ponto sobre o qual o Senhor e os seus inimigos haviam entrado em disputa (cap. 26.63,64). Os seus discípulos acreditavam nisso, mas, nesse momento, não se atreviam a admiti-lo; nosso Salvador foi tentado a questioná-lo, quando disse: “Por que me desamparaste?” Os judeus, agora que Ele estava morrendo sobre a cruz, consideravam que estava claramente demonstrado que Ele não era o Filho de Deus, porque não desceu da cruz. Mesmo assim, nesse momento, aquele centurião e os soldados fazem essa confissão de fé cristã: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus”. O melhor de seus discípulos não poderia ter dito algo melhor em qualquer tempo; e, naquela hora, eles não tinham fé nem coragem suficiente s para dizer tudo isso. Note que Deus pode preservar e reafirmar a glória de uma verdade quando ela parecer estar aniquilada e em uma situação precária; pois a verdade é magnífica, e prevalecerá.

IV – A presença de seus amigos, que foram testemunhas de sua morte (vv. 55,56). Observe:

1. Quem eles eram; muitas dessas pessoas eram mulheres que o seguiram desde a Galileia. Não eram os seus apóstolos (somente em outra passagem encontramos João junto à cruz, João 19.26), seus corações os desapontaram, e eles não ousaram aparecer; por medo de sofrerem a mesma condenação. Mas aqui havia um grupo de mulheres. Alguns as chamaram de mulheres tolas, pois, com ousadia, apoiaram a Cristo, quando os seus discípulos o haviam abandonado de maneira vil. Note que os membros do sexo mais frágil são, muitas vezes, pela graça de Deus, fortes na fé, para que o poder de Cristo possa se aperfeiçoar na fraqueza. Existiram mulheres mártires que se tornaram famosas por sua coragem e resolução na causa de Cristo. Nessa circunstância, foi dito sobre essas mulheres:

(1)  Que elas haviam seguido a Jesus desde a Galileia, por causa do grande amor que tinham por Ele, e do desejo de ouvi-lo pregar; normalmente, só os homens eram obrigados a comparecer na festa para adorar a Deus. Nesse momento, tendo o seguido por uma jornada tão longa, desde a Galileia até Jerusalém, o que significava cerca de 130 a 150 quilômetros, elas decidiram não abandoná-lo agora. Note que os nossos trabalhos e sofrimentos anteriores por Cristo devem ser um argumento a nosso favo1; desde que seja fielmente mantido até o fim em nosso serviço a Ele. Será que o seguimos até tão longe, e por tanto tempo – deixamos tantas coisas, temos feito muito e gastado muitos recursos por amor a Ele-, e o abandonaremos agora? (Gálatas 3.3,4).

(2)  Que elas o serviram oferecendo recursos de sua própria subsistência, para que o Senhor tivesse o sustento necessário. Quão alegremente elas o serviriam agora, se lhes fosse permitido! Mas, sendo isso proibido, elas decidiram segui-lo. Note que, quando somos impedidos de fazer o que gostaríamos, devemos fazer o que pudermos, a serviço de Cristo. Agora, Jesus está no céu; e embora esteja longe do alcance de nossa ministração, Ele não está fora do alcance das nossas concepções e práticas de fé.

(3)  Algumas delas são particularmente citadas; pois Deus honrará aqueles que honrarem a Cristo. Elas se comportaram dessa mesma maneira quando as encontramos, muitas vezes, anteriormente, e foram dignas de elogios por terem se comportado dessa forma até o fim.

2. O que elas fizeram; elas ficaram observando de longe.

(1)  Elas ficaram de longe. Não sabemos se o seu próprio medo ou a fúria de seus inimigos as mantinham distantes; de qualquer forma, os sofrimentos de Cristo eram agravados pelo fato de seus amigos e parentes se afastarem de sua chaga (Salmos 38.11; Jó 19.13). Talvez elas pudessem chegar mais perto, se quisessem; mas as pessoas boas, quando estão sofrendo, não devem achar estranho se alguns de seus melhores amigos se afastarem delas. Quando Paulo correu um risco iminente, nenhum homem ficou junto a ele (2 Timóteo 4.16). Se formos olhados de forma estranha, lembremo-nos: o nosso Mestre passou por isso antes de nós.

(2)  Elas estavam ali observando, demonstrando assim preocupação e carinho para com Cristo. E, quando foram impedidas de realizar qualquer outro ato de amor a Ele, olharam-no com amor.

[1] Era um olhar de tristeza; elas olharam para Ele, agora traspassado, e se condoeram; e, sem dúvida, estavam amarguradas por causa dele. Podemos muito bem imaginar como cortava seus corações vê-lo nesse tormento; e que rios de lágrimas tudo isso arrancou dos olhos delas. Contemplemos com um olhar de fé a Cristo, e a Cristo crucificado, e nos comovamos por aquele grande amor com que Ele nos amou. Mas:

[2] esse não era mais do que um olhar; elas o contemplaram, mas não podiam ajudá-lo. Note que, quando Cristo estava sofrendo, os seus melhores amigos nada mais foram do que espectadores e observadores. Na opinião do Sr. Norris, até mesmo os anjos ficaram tremendo ao seu lado. Pois o Senhor Jesus, sozinho, pisou o lagar, e ninguém dentre os povos estava com Ele; assim o seu próprio braço trouxe a salvação.

O QUE A BÍBLIA ME ENSINOU

OS DONS PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Dons

I Coríntios 12:1 – 31 “A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes…
Como “Igreja” do Senhor, entendemos que somos Instrumentos e trabalhadores qualificados para a edificação do corpo de Cristo. Todavia o Senhor não usará os que já se acham qualificados, Ele qualificará e despertará os que já estão fazendo parte dessa obra, dando ferramentas e dons do Espírito para essa edificação.
Em uma construção natural, de prédios e casas por exemplo, são procurados profissionais qualificados, responsáveis e que desempenhem bem sua profissão, afim de que a construção fique sem falhas de maneira que não venha a sofrer danos futuros.
A igreja do Senhor só é possível de ser edificada quando existem homens e mulheres que fluem nos dons que o Espírito libera para sua igreja para aqueles que querem ser colunas na edificação dessa obra.
Nesses textos podemos perceber que a igreja do Senhor só pode ser edificada quando existem membros que fluem nos dons do Espírito, pois cada um desses dons, sendo usados de maneira sábia e organizada, cooperam para o crescimento e avanço da igreja.
Esses dons são liberados pelo próprio Senhor, para aqueles que desejam ser um edificador da igreja, afim de que ela se torne forte e prevalecente, todavia o grande problema que vemos hoje é que muitos irmãos desconhecem esses dons e até mesmo nem sabem quais possuem. O apóstolo Paulo diz claramente que não devemos ser ignorantes com relação aos dons do Espírito, ou seja, ele queria que a igreja do Senhor não fosse faltosa de conhecimento, seu desejo e encargo era para que todos conhecessem e tivessem prática nesses dons. Em nosso meio existem 3 classes de pessoas que são faltosas de conhecimento, com relação aos dons do Espírito:
1 – Aqueles que não tem nenhum conhecimento acerca dos dons, não sabem que existem; (geralmente esses são os novos convertidos) 2 – Aqueles que sabem que existe o dom, todavia não sabem qual possui; 3 – Aqueles que sabem que possui o dom, sabem qual é esse dom, porém não sabe como usar;
Uma igreja de vencedores só pode ser edificada quando seus membros sabem qual é o seu dom e sabem como e quando usá-los. Se todos os membros soubessem quais são os seus dons e fluíssem nesses dons, os nossos cultos certamente seriam totalmente diferentes, pois teríamos o Espírito Santo agindo com total liberdade na igreja.
Muitas pessoas não buscam esses dons pois acham que isso é exclusividade do pastor da igreja, todavia o próprio Senhor quebra esse paradigma quando o apóstolo Paulo diz que o Senhor é quem libera os dons para quem lhe apraz, ou seja, para quem Ele quer, e a quem deseja receber, porém, para receber esses dons devemos gastar tempo para buscá-los pois Deus diz que, quem procura acha.

Estamos acostumados em fazer jejuns, campanhas de oração e vigílias para tantas coisas, e isso é correto, mas devemos tomar o hábito de gastar esse mesmo tempo, com intensidade, em buscar cada um desses dons. A igreja do Senhor precisa que seus membros busquem com zelo os melhores dons para a edificação da sua obra.
Nós limitamos o liberar desses dons pois já temos um pré-conceito acerca de como Deus irá trabalhar e agir, com isso impedimos as diversas formas que Deus tem para manifestar e operar seus sinais e milagres.
Até hoje quanto tempo você já gastou para receber algum dom do Espírito? Você já se dedicou com zelo em busca de ferramentas para a edificação da igreja?
Para buscar esses dons precisamos saber para que serve cada um:

• Palavra de Sabedoria: Uma palavra que traz uma solução sobrenatural sobre os problemas naturais, uma resolução que ninguém jamais pensaria;

• Palavra de Conhecimento: É quando Deus revela algo oculto para um fim proveitoso, esse dom te capacita a ter conhecimento daquilo que está em oculto;

• Dom da Fé: Deus te capacita para crer no extraordinário, é ter a fé acima da sua própria fé;

• Dom de Cura: É a capacidade de orar pelos enfermos e eles serem curados, mas a cura acontecerá para a edificação da igreja.

• Dom de Operar Milagres: Você tem a capacidade de conduzir os milagres do Senhor, Ele te dá o poder de controlar a manifestação desses milagres;

• Dom de Profecia: Deus te capacita para antecipar aquilo que ainda não aconteceu, você anuncia o que ainda vai acontecer e chama a existência o que ainda não existe.

• Dom de Discernimento de Espíritos: Deus mostra para você qual é o espírito que está operando naquele lugar, afim de que você ore de maneira específica quebrando aquela manifestação;

• Dom de Orar em Línguas: Esse dom é para a edificação pessoal, é uma arma poderosa na disciplina da mente, só ocorre a edificação da igreja quando ele é acompanhado pelo dom de interpretar línguas;

• Dom de Interpretação de Línguas: Deus capacita você para interpretar a oração que está sendo feita em línguas, não é traduzir e sim interpretar fluindo debaixo do mesmo espírito.
Então, que nesses dias nós possamos buscar com zelo cada um desses dons, afim de que a igreja do Senhor venha ser edificada e totalmente transformada pela Sua Glória! Deseje, anseie por uma Igreja Prevalecente. Você faz parte desta edificação.

Pensemos nisto, busquemos isso…

PSICOLOGIA ANALÍTICA

POSIÇÕES QUE OSCILAM

O conceito de violência sempre envolve um emissor e um receptor e é percebido apenas por um dos dois polos: a vítima assim a denomina, mas o emissor pode nem se dar conta dessa relação.

Posições que oscilam

Estamos diante de um tema que não é agradável – muito pelo contrário, seria preferível não falarmos de violência ou, melhor, negá-la. Mas ela chega a nós sorrateiramente no trânsito, no caos das metrópoles, na TV, nas relações sociais, nos jornais, nas nossas casas. Como lidar com a violência?

Uma primeira tarefa pode ser defini-la, afinal, o que é violência? Podemos admitir que tudo o que excede nossa capacidade de absorção de estímulos (sensoriais, perceptivos, psíquicos) pode ser considerado um ato de violência. Violência é: acordar muito cedo para trabalhar, quando se mora distante, passar fome por falta de recursos; enfrentar o trânsito neurótico, numa cidade que cresceu desordenadamente; ser desrespeitado por outra pessoa (estranho ou amigo) etc. Mas não é bem essa qualidade de violência que mais nos impacta, não é?

Vamos adiante: é curioso que o conceito de violência sempre envolva um emissor e um receptor e seja percebido apenas por um dos dois polos: a vítima da violência assim a denomina, mas o emissor pode não se dar conta desse modo de relação. Muitas vezes, as posições oscilam: hoje, vítima, amanhã, agente.

A violência também não é um fenômeno da Modernidade. A humanidade sempre viveu guerras que resultaram em vencedores e vencidos, e apena, para os vencidos (ou derrotados) houve registro da violência, no caso dos que sobreviveram a ela.

Um primeiro exercício pode ser a identificação de violências cotidianas sutis, e a tarefa mais difícil: nossa posição não só de vítimas, mas também de pequenos agentes de violência, pela própria    alienação que muitas vezes toma conta de nós. A expressão violência psicológica nos leva diretamente a outra violência: a física, que tem o corpo como alvo e deixa marcas. Primeira conclusão: violência física contém algo de violência psicológica, mas o inverso não é verdadeiro. Como se a violência psicológica ocorresse num plano sutil, que deixa marcas psíquicas, que podem ou não ser digeridas.

Somos interrogados todo o tempo por essa percepção de violência, e cabe uma reflexão: o que há de inquietante na violência? Para onde ela nos remete? Qual o critério objetivo de definição de violência?

Um dos grandes problemas, ao tratarmos da violência, é diluir seu impacto e minimizar o horror, que ela carrega. Nesse exercício de pensamento, corremos o risco de sacralizá-la – por exemplo, utilizando conceitos psicanalíticos como Id, pulsão de morte, trauma, tratando-a como parte inerente à natureza selvagem e animal dos humanos, portanto, inexorável; ou de banaliza-la, quando a reconhecemos em todas as camadas de relações humanas: na família, nas escolas, na igreja, no Estado, no mundo corporativo, na política, nas grandes metrópoles, nos regimes autoritários etc.

Como se trata de um fenômeno complexo, resultante de múltiplas causas, corremos o risco de banalizar qualquer análise. Contextualizar os episódios de violência e escutar narrativas advindas de diversos ângulos podem ser um bom começo.

CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE

A psicanálise, aqui definida como um campo de conhecimento profundo sobre o mundo psíquico, pode fornecer algumas ferramentas. Cabe lembrar que a Psicanálise surge propondo um desenho do mundo psíquico, levando em conta nossa pulsionalidade, ancorada no corpo, na condição animal, em conversa com o mundo civilizado e a cultura, que nos insere no grupo social.  Uma das questões que a Psicanálise ilumina é a usina inconsciente, fonte e matriz de nossas produções, que às duras penas procuramos domesticar para garantir a vida em grupo.

Freud propõe um modelo psíquico caracterizado pelo conflito: como humanos, estamos negociando, sempre, entre nossos ideais e nossos desejos mais secretos entre nossa vontade a vontade do grupo; entre a civilização e a barbárie. Nem sempre essa negociação é equilibrada aceita; tampouco é consciente. Há perdas, renúncias, frustrações, restos.

Estamos mergulhados no território dos afetos, manifestações genuínas de nosso estar no mundo. O Par de afetos primordial é amor-ódio, expresso em todas nossas produções. Como símbolo desse afeto, está o Eros grego, muitas vezes traduzido por amor, o que deixa de lado as inclinações menos nobres e aceitas desse deus. Se Eros é paixão, é ligado, traz também em si o ódio, aqui tomado não como oposto do amor, mas como seu polo carregado de agressividade.

O afeto que caracteriza violência é o ódio, que nos desestabiliza e dá muito trabalho. Muitas vezes, o ódio fica como resto de relações amorosas frustrantes, abusivas, invasivas que nos marcaram. Cabem aqui os casos de separações, litígios, brigas por herança em grupos de irmãos, decisões por guarda de filhos após divórcios complicados, lutas históricas entre povos e tribos etc.

O ódio e o sentimento basal da violência. Se cavoucarmos fundo situações violentas, chegaremos a um núcleo de ódio. Também é comum que o ódio tenha uma história longa, transgeracional, passando de pai para filho e pautando relações sociais tensas.

A civilização criou códigos para nos defender desse afeto tão desestabilizador. As leis, o direito e as religiões estabeleceram um protocolo de delitos e penalidades que se transformam ao longo do tempo, mas sempre alertam: Cuidado! Homens à vista! Os códigos de conduta e as penalidades nos protegem, mas até certo ponto. Crimes, abusos, uso de poder, ameaças, humilhações, estão por nos rondando, constituindo as notícias escabrosas da mídia: abandono de crianças, teste do sofá de grandes executivos com candidatos/as a celebridade: corrupção; uso da máquina pública para enriquecimento pessoal; hostilidade a migrantes, minorias, classes desfavorecidas.  A lista é infinita e nos causa espanto.

LÁ NO INÍCIO

Nossa condição de desamparo e despreparo, quando nascemos, nos coloca em situação de vulnerabilidade. O homem, mais do que qualquer outro mamífero, nasce precário, dependente de um outro que o acolherá para satisfazer suas necessidades básicas e inserção no mundo simbólico de dependência do outro poderá deixar marcas de difícil digestão.

Autores como Ferenczi e Laplanche; com base na natureza traumática da sexualidade, pilar da teoria freudiana, apresentam reflexões profundas sobre as relações de poder e assimetria desde o grupo familiar, que podem desembocar em condutas violentas.

A primeira vulnerabilidade, portanto, é nossa condição infantil: nascemos num mundo construído e desemborcamos numa ordem simbólica que demanda tempo para ser digerida, internalizada, adquirida. Essa vulnerabilidade poderá ser ressignificada toda vez que o desamparo, o abandono, a hostilidade do meio circundante se apresentar.

Para enfrentarmos o mundo, interno e externo, somos dotados de arsenal de defesas, como acontece com nosso sistema imunológico: algumas defesas mais precárias, outras mais eficazes. Algumas defesas para enfrentar ameaças que se apresentam podem ser aqui enumeradas: negação, isolamento, esfriamento dos afetos, agressividade/ ataque. Cada situação convoca reações diversas, algumas mais sintônicas, outras mais patológicas. Os sintomas são criativos, produções próprias de cada sujeito, mas carregam uma história que nem sempre vem à luz.

Vamos tomar algumas reações que aqui nos interessam: a negação da realidade é um mecanismo básico e econômico que visa suprimir um conflito carregado de dor diante do mundo. Por exemplo, uma criança que sofre ameaças verbais em casa pode apresentar como reação apatia e desencanto, evitando estabelecer contatos. Nesse exemplo hipotético, mas bastante comum nos consultórios, instituições e nas escolas a apatia e a alienação podem estar na raiz de queixas escolares, meros sintomas, que escondem uma criança assustada, impotente, que não se contrapõe ao adulto violento, temendo a perda de seu amor. Um outro sintoma, oposto a este, seria uma reação agressiva e hostil diante de todos os que se apresentam na vida da criança: professores, escola, amigos e o próprio brincar.

Nos dois casos, estamos diante da violência e do ódio, produzindo efeitos nefastos, que constituirão um indivíduo que provavelmente terá dificuldades de negociar e criar saídas interessantes para sua vida. O custo é alto: a dessubjetivação, no caso da apatia; ou a propagação de uma rede de violência ininterrupta que sempre se reatualiza, independentemente do contexto, no caso de reações agressivas.

Um campo de violência, dual, familiar, grupal, não importa, parece requerer a presença de uma escuta, de um terceiro, que propiciará que uma narrativa aconteça, permitindo que a história se revele.

Se a violência é um sintoma, precisamos acolhê-la como expressão de um indivíduo e de um grupo. É muito comum que situações de violência representem esquemas repetitivos, automáticos, que impedem que o sujeito saia do circuito empobrecedor e assustador.

Estamos aqui lidando com fenômenos grupais complexos, nos quais a violência surge como emergente de um modo de relação potente, baseado no desejo (nossas pulsões de vida e morte) e na história cultural do grupo em questão. Hannah Arendt aponta que sem poder a violência não se sustenta. Portanto, é necessário um olhar que contemple o terreno do afeto e do desejo (esfera individual), e da história (dos grupos, das culturas, dos momentos), o que coloca a violência como estratégia racional de enfrentamento do mundo. Arendt nos lembra que o homem se comporta como um animal porque, afinal, é um animal.

Um filme recente, O Insulto (L’lnnsulte, França / Líbano, 2017), nos coloca diante da violência em várias camadas. Uma questão banal, cotidiana, (uma calha que vaza da varanda de um cidadão libanês), põe em tensão, em guerra, dois moradores da cidade: um libanês e um palestino.

Parece que a água que vaza é o pretexto, ou o detalhe, ou o resto que movimenta questões de ordem pessoal, familiar, global, racial, turbinadas por ódio e restos que não puderam ser metabolizados.

O ódio se manifesta através do insulto verbal (que dá nome ao filme), acompanhado de agressão física. E estes dois homens criam uma guerra particular, acompanhada por seus grupos étnicos.  Entra um terceiro: o tribunal, o Direito. E, nessa instância, uma das discussões passa pela comparação entre insulto e agressão física. Afinal, o que seria um crime: insultar ou agredir?

O tribunal também apresenta uma situação peculiar: os advogados escolhidos têm um parentesco importante. Trata-se de pai e filha, outra situação de poder e assimetria que tensiona as decisões.

O ódio entre os dois sujeitos transborda para toda a comunidade, levando a discussões de extrema importância, nas quais se contempla o individual e o coletivo, grupal. O filme caminha para a    narrativa das histórias de cada agressor/vítima. Tomamos contato com seu percurso sofrido, com suas perdas, com a destruição das cidades, o desenraizamento: o palestino era um engenheiro, em busca de trabalho, que se contenta com uma função de mestre de obras, uma vez que não é reconhecido pelo Estado. O libanês, a duras penas, rememora sua infância, durante o qual presenciou a destruição de sua cidade e ele também era um estrangeiro em seu próprio pais.

Aos poucos, o ódio vai dando espaço a histórias de perdas, rancores, humilhações e busca de um lugar de dignidade e afeto. Nesse filme podemos reconhecer os aspectos que Freud levanta em seus textos mais culturais, que tratam do mal-estar, do medo das perdas, das memórias que não passam e que muitas vezes retornam em forma de ódio e destrutividade.

Posições que oscilam.2

DESTRUIÇÃO

Retomando nosso tema, após algumas considerações, podemos concluir que a violência não é um instinto e que nem sempre é fruto do irracional. Se assim fosse, estaria naturalizada e aceita. A violência é o emprego da agressividade visando a destruição do outro, das redes simbólicas, dos contratos que cada cultura tem para si. Nas guerras, a violência é um método. E certas guerras emergem para denunciar esquemas violentos, como se decretassem: “daqui para frente, não mais”

Porém, como a Psicanálise nos ajuda a refletir, a irracionalidade reside no fato de que muitas vezes os homens desconhecem as raízes de seus atos, suas verdadeiras intenções. O próprio alvo da violência, usando uma linguagem freudiana, pode ser um mero deslocamento de objetos do passado, de traumas do passado impassado, que emergem de forma desviada e distorcida.

A culpa, ou o sentimento inconsciente de culpa que tanta angústia mobiliza, é fruto do conhecimento de uma norma que condena o ato. A partir dessa angústia, que pode ser grande catalizadora de atos violentos, é possível construirmos uma reflexão. Assistimos, em muitos grupos, a ideia utópica de uma última violência, de um novo ato fundante, espécie de sacrifício que interromperia, ao menos temporariamente o circuito de violências.

 FREUD DIZ A EINSTEIN QUE A VIOLÊNCIA TEM VÁRIAS FACES

Por que a guerra? Numa correspondência de 1932 entre Freud e Einstein, que versava sobre as possíveis razões das guerras, Freud reconhece que a história da humanidade é marcada por movimentos dinâmicos em que a violência surge com diversas roupagens. Da violência física, passamos ao Estado de direito, muitas vezes rompido, que não deixa de guardar em si certa violência, uma vez que exige renuncias instintivas de cada indivíduo. Lendo essas considerações, acompanhando o raciocínio complexo de Freud, pensamos que a convivência em grupo nos salva e nos escraviza. O equilíbrio é tênue e facilmente rompido. A passagem da barbárie à civilização não conseguiu evitar a solução violenta de conflitos no interior dos grupos. Parece que os resultados das conquistas não são duradouros, o que nos leva à conclusão de que nunca nos livraremos plenamente das guerras. Embora os vínculos afetivos sustentem nossa vida em grupo, nossa natureza humana cria um campo tenso, no qual a destrutividade e o ódio comparecem. Parece que não é possível abolirmos as tendências agressivas que habitam os homens, o que nos inclui.

SIMPLIFICAÇÃO

Edgar Morin no livro Introdução ao Pensamento Complexo aponta para o risco da simplificação, que habita, inclusive as ciências. A realidade sempre nos convoca a repensarmos os fenômenos que se apresentam e o tema da violência e do ódio mostra que a realidade humana não é uma máquina perfeita, que evolui como a tecnologia. A hiper simplificação dos fenômenos, as ideologias, a rapidez dos novos tempos representa grandes riscos que podem dar lugar a fenômenos do campo da violência. É importante considerar o conhecimento como limitado, insuficiente e colocá-lo também como objeto de investigação.

EGO E ID

No texto de Freud “O ego e o Id”, que retoma algumas ideias expressas em Além do Princípio e do Prazer, o ego não é senhor de si: escravo da natureza pulsional, sexual, do mundo externo e do superego, representante inconsciente de imperativos categóricos. O ego passa a ser considerado uma superfície tênue ancorada no id inconsciente irredutível, quase um estrangeiro dentro de nós. Se o ódio que a violência atualiza é sintoma, resta percorrer o caminho regressivo e as trilhas internas inconscientes para que o sujeito não fique alienado nem frente a seu mundo pulsional, nem nas demandas externas alheias à sua constituição.

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DORA TOGNOLLI – é psicanalista, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. É psicóloga e mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo e publica artigos em revistas e livros especializados.

OUTROS OLHARES

COMO LIDAR COM A EXIGÊNCIA DAS ESCOLHAS?

No mundo moderno é cada vez mais intensa a cobrança de uma atitude, ou seja, todos precisam optar por um lado: o partido político, a ideologia, a cor preferida, a orientação sexual e por aí vai.

Como lidar com a exigência das escolhas

Os últimos acontecimentos do país têm gerado uma cobrança de uma atitude cidadã em que todos precisam definir um lado da moeda, o partido político, uma ideologia, a cor preferida, a orientação sexual definida etc. Como isso influencia na perda do equilíbrio emocional?

Para começar, uma pergunta: “Existe equilíbrio emocional?” Já vimos algum bebe nascer sorrindo? A entrada no mundo para nós, seres humanos já é a porta de entrada para a angústia. Um afeto ou o único que não engana não se explica, não se nomeia, não tem um objeto. É o caos. Em sua etimologia, angústia tem sua origem do latim, angustus, estreiteza, limite de espaço ou de tempo. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia. Daí a expressão: “aperto no peito”.

Em seu livro O Conceito de Angústia, Kierkegaard defende que a diferença entre o medo e a angustia é que no medo existe um objeto definido, concreto, e ao identificarmos tal objeto é possível evitá-lo e controlar o medo. Ao contrário da angústia, que não temos clareza, certeza do objeto que a provoca, faz com que o estado de angústia permaneça em nós.

DOIS LADOS DA ANGÚSTIA

Daí, podemos afirmar que a angustia é e sempre será consequência da nossa existência humana. Mas também o motor de nossos desejos de eterna busca da felicidade. Para sempre incompleta. A angústia não é nossa condenação, é nossa condição de existir.

Imagina se existisse somente uma única cor, um único sabor, uma única forma de prazer, um único trabalho, uma única mulher, um único homem, que o fizesse se apaixonar por toda sua vida. Ou, mesmo existindo várias cores, vários sabores, várias formas de prazer, tudo que há no mundo, você seria predeterminado, direcionado a somente uma entre todas as possibilidades. E nada mais chamaria sua atenção. O que você perderia? E o que você ganharia?

Talvez você esteja pensando: seria enfadonho, monótono, previsível demais. Mas, convenhamos, por outro lado, muito reconfortante. Seria quietude. Seria a ausência da angústia que nos marca como humanos. Mas por que a angústia nos caracteriza como seres humanos? Porque, o homem sabe que sabe, por isso se angustia, e o animal, por não saber que sabe, apenas cumpre o que é da sua natureza.

Luc Ferry aponta que o que difere o homem dos animais é a liberdade.

O animal age por seu instinto natural, inato a toda espécie, “uma espécie de software do qual nunca pode desviar­ se”. E, por isso, está fadado à repetição, privado da liberdade de escolha. É o que é, por natureza. “‘O homem, ao contrário, vai se definir ao mesmo tempo por sua liberdade, não obedece a programas definidos, não é predeterminado. Ferry cita o texto abaixo de Rousseau como exemplificação magnífica dessa ideia:

Em cada animal não vejo senão uma máquina engenhosa, à qual a natureza ofereceu sentidos para recompor-se por si mesma, e para defender-se, até certo ponto, de tudo o que tende a destruí-la ou estragá-la. Percebo exatamente as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de que a natureza faz tudo nas ações do animal, enquanto o homem concorre para as suas, na qualidade de agente livre. Um escolhe ou rejeita por instinto, e o outro por um ato de liberdade: o que faz com que o animal não se afaste da regra que lhe é prescrita, mesmo quando lhe fosse vantajoso fazê-lo, e que o homem se afaste frequentemente dela em seu prejuízo. Assim é que o pombo morreria de fome perto de uma vasilha repleta das melhores carnes, e um gato, diante de uma porção de frutos ou de grãos, embora tanto um quanto o outro pudesse perfeitamente se nutrir com o alimento que desdenha, se ousasse experimentá-lo. É assim que os homens dissolutos se entregam a excessos que lhes provocam febre e morte porque o espírito deprava os sentidos, e a vontade fala, ainda quando a natureza se cala. Mas, mesmo que as dificuldades que cercam todas essas questões permitissem a discussão sobre essa diferença entre o homem e o animal, há outra qualidade muito específica que os distingue, e sobre o qual não pode haver contestação:  é a faculdade de se aperfeiçoar, faculdade que, com a ajuda de circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras e reside em nós, tanto na espécie quanto no indivíduo. Enquanto um animal é, ao fim de alguns meses, o que será durante toda a sua vida, e sua espécie, ao fim de mil anos, o que era no primeiro desses mil anos.  Por que o homem está sujeito a ser imbecil? Não é absolutamente porque retorna assim a seu estado primitivo, e o animal, que nada adquiriu e nada tem a perder, permanece sempre com seu instinto, e o homem, perdendo com a velhice e outros acidentes tudo o que a perfectibilidade lhe havia feito adquirir, torna a cair mais baixo do que o próprio animal?

 BICHO É BICHO

Amparo Caridade diz:  Na passagem do animal ao homem é a linguagem que faz a mediação e elucida a característica humana do desejo de ser desejado. É a linguagem que possibilita o anúncio e o reconhecimento desse desejo pelo outro. Dizer desse desejo ao outro e saber se dele desejado é o próprio gozo. Isso é tarefa da linguagem. É porque somos animais falantes, pensantes, imaginativos, que transformamos a linearidade do estabelecido”.

Podemos então caracterizar o homem como o único animal:

Que cria, que constrói história, que modifica a própria história, que tem liberdade, que escolhe, que tem angustia que se arrepende, que, por não poder voltar o tempo para refazer suas escolhas, rumina seu passado, para na vida. Que tem medo do futuro, ansiedade por não poder controlá-lo. Que arrisca prever seu futuro, que concretiza ou ultrapassa suas previsões. Que tem linguagem, que não entende o que o outro faz, mesmo escutando e falando a mesma língua. Que é perfectível, que se aperfeiçoa, que inventa, que constrói casas, que reforma casas, que guarda as suas primeiras invenções em museus. Tem censura, esconde o corpo, cria moda, compra vários sapatos para somente dois pés. Condena o sexo e faz sexo escondido, mas vende sexo explícito. Somente o homem fala dos outros pelas costas, inventa, conta mentira, sabe o que lhe faz bem e escolhe o que lhe faz mal. Sabe amar e também odiar, o único animal que planeja meticulosamente uma tortura, cria objetos para sua execução e escolhe quem torturar. É falante, nasce na França, fala francês, mas pode aprender mandarim. Nasce rico e pode se tornar pobre. Nasce pobre e pode se tornar rico. Cria leis e é julgado por seus atos. É constituído por extremos: coragem e medo, fraqueza e força, prazer e dor. Nomeia as virtudes e os vícios. Nasce dependente e precisa ser cuidadoso para sobreviver. Torna-se humano a partir das relações com o outro, através da educação, da linguagem, da cultura e do afeto. Pelas relações, torna-se um ser social, aparado pelo afeto. Pelas relações, legitima a importância do outro na vida. Pelas relações, conhece os prazeres e as dores. Entre o sofrimento e a alegria, elege a felicidade como significado para sua existência. Ilusoriamente, acredita e procura a felicidade permanente.

Buscamos a felicidade, principalmente no amor, a realização do desejo de amar e sermos amados como a alternativa de negarmos a nossa condição de ser só.

COMPLETUDE

O diálogo de Platão O Banquete retrata a explicação da eterna busca pela completude ainda tão almejada por todos nós. Aristófanes relata que, no início, os seres eram duplos e esféricos, tinham duas cabeças, quatro pernas e quatro braços, os órgãos genitais eram três: um possuía duas metades masculinas; o segundo, duas metades femininas e o terceiro, andrógeno, metade masculina e feminina. Tinham como características bravura e força excepcionais, que os levaram a escalar o céu com a intenção de desafiar os deuses, mas Zeus cortou-os ao meio como punição e enfraquecimento de suas forças. Acabava a completude, a unidade, a felicidade. Esse mito explica o anseio do homem por uma totalidade do ser a partir da busca incessante de sua outra metade. O mito de Aristófanes nos salvaria da solidão, nos resgatando ao estado de inteireza, de totalidade através da união perfeita. A vitória de sermos felizes para sempre.

Sponville, comentando esse mito: “A partir de então cada um é obrigado a buscar a sua outra metade, como se diz, e é uma expressão que devemos tomar ao pé da letra: outrora,” formávamos um todo, completo ( ..) , outrora éramos um”; mas eis-nos “separados de nós mesmos” não parando de buscar aquele todo que éramos. Essa busca, esse desejo e o que chamamos de amor, e, quando satisfeito, é a condição da felicidade. De fato, somente o amor recompõe a antiga natureza, ao se esforçar por fundir dois seres num só e curar a natureza humana. (p. 248).

Ainda em O Banquete, de Platão, Sócrates, em contrapartida como mito de Aristófanes através de Diotima, diz, em relação ao amor! que o amor não é completude, mas incompletude, não é fusão, mas busca. O amor é desejo e desejo é falta. O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor (p. 253).

E se sempre nos falta alguma coisa é porque somos incompletos. A partir dessa constatação de sermos só, podemos considerar que a angústia faz parte da existência humana.

É angustiante nascer e mais angustiante a constatação da morte. Somos seres afetivos e mortais. E a morte não tem uma lógica, uma sequência, uma “fila” com ordem certa.

A finitude é a única garantia da vida. Como conciliar o desejo de vida, por nós e por todos que amamos, diante da soberania da morte? Ao conhecermos o amor, o afeto, o desejo, automaticamente nos deparamos com o medo e com a angústia. Quanto mais amor, mais medo de perder. Somente por isso a felicidade perde a possibilidade de ser garantida. Mas também por isso a vida se revela como mistério. Uma aventura. A morte, que é tão temida, dá ainda mais sentido à vida. A incerteza que nos angustia é a mesma que nos impulsiona a viver. Uma provocação à nossa liberdade para driblarmos e irmos mais além do que somos.

Fantasticamente, vamos atrás daquilo que sabemos que nunca vamos encontrar movidos pela liberdade de ser.

Negar a angústia é negar nossa condição de seres temporais. Negar o tempo é querer parar seu impulso destruidor, parando também seu impulso criador. Isso é desejar a eternidade, mas a eternidade do presente. Um presente em que desaparece à perspectiva do ‘porvir’ e à memória do que ‘somos’ no passado de nossa história. Afinal, existir é coexistir com o passar do tempo, mesmo que isso signifique correr um risco constante. Ou coexistir com uma angústia que nunca cessa (Araújo, 2000, p. 171). Diante da compreensão da angústia não como uma patologia, mas inerente à nossa existência, é mera ilusão buscar a felicidade negando essa verdade do existir humano.

O exercício da liberdade é individual, escolher fazer da vida não um por acaso, mas um por querer. Escolhas movidas pelo desejo de sairmos do banco de passageiro e assumirmos o de motorista, tendo a angústia assentada ao lado, com companhia constante dessa viagem.

Mas o que nos impede de vivenciarmos a nossa liberdade! Somos seres livres, isso é fato. Mesmo com alguns determinismos: um corpo que ocupa um espaço e está sujeito à deterioração, um tempo que o limita, uma cultura que impõe leis e costumes, somos livres para ultrapassarmos, superarmos e criarmos novas formas de viver. Escolher entre o sim ou o não é sempre uma escolha. O não escolher, o ceder, o desistir, o delegar ao outro a nossa vida também são escolhas. Segundo Sartre: “O homem é escravo de sua liberdade.”

E como definir, simplistamente, a liberdade: liberdade não é poder fazer o que deseja? Então, o nosso ponto de partida não é a liberdade em si, mas o nosso desejo. Porque uma escolha exige um desejo. E o desejo, esse sim, exige um saber que é individual. O que eu desejo? Como reconhecer o meu desejo? Como assumir o meu desejo? Como identificar o meu desejo diante de tantas possibilidades?

Uma coisa puxa outra. O que está intrínseco na nossa angústia diante das nossas escolhas são as perdas. Porque o desejo é escolha, mas as perdas são consequências. E isso nos remete à total falta de garantia. Abandonar alternativas que poderiam ser talvez, melhores chances de felicidade. Escolher o que perder, no escuro, na incerteza, sem ter feito test. drive, sem ter conhecido, experimentado, sempre com a dúvida se as melhores possibilidades ficaram para trás.

EQUILÍBRIO EMOCIONAL

A ditadura do prazer impõe frustrações ou alternativas irreais para satisfazê-la. Não podemos eleger a felicidade permanente como sinônimo de saúde emocional, mas a diluição das inúmeras dimensões que formam os dois lados da moeda do viver. A alegria não seria tão encantadora se fosse a experiência de tristeza, a vitória não seria tão saborosa se não existissem os inúmeros momentos de esforços, a escolha não seria tão sofrida se não tivéssemos perdas. A vida como falta

de garantia, viver é sempre a tentativa de se viver intranquilamente bem.

E qual o nosso grande desafio, hoje, diante de um mundo de possibilidades? Como escolher, quando o muito é possível?

Se antes a escolha de uma profissão se restringia entre ciências biológicas, exatas ou humanas, hoje temos especialidade da especialidade da especialidade. Se ontem conhecíamos somente os meninos e as meninas da nossa rua, e as meninas, na sua maioria, “recatadas”, preservando seus “tesouros” para depois do casamento, deixavam de ser acessíveis, hoje todos e todas ou quase todos e todas são possibilidades reais.

Hoje, diante de tantas opções, é como se tivéssemos um saquinho de pipoca, que vamos comendo, comendo…sempre procurando pela mais doce. Porque a possibilidade de um prazer maior ainda está por vir.

Como conciliar a ditadura desse prazer permanente com a angústia de perder por ter que escolher? E diante de tantas possiblidades nos deparamos com uma liberdade mais real do que nunca. Porque, agora as possibilidades não estão mais restritas, tudo está de bandeja nas nossas casas. Como um álbum de fotos, que não tivemos tempo de vivera história. Fazemos parte da vida de todo mundo e todo mundo faz parte da nossa vida. Será que temos mais possibilidades do que desejamos? O que os olhos não veem o coração não sente. O que os ouvidos não ouvem o coração não sente. O que os dedos não teclam o coração não sente. O que a mente não sabe, o coração não sente. Quais as consequências desse excesso de informação em nossas vidas? Se antes estávamos blindados pela limitação dos recursos e lentidão de como chegavam as informações, nos protegendo da consciência sobre nossa ignorância, hoje é “esfregado em nossa cara” que estamos atrasados no tempo e no espaço. Cada minuto “desconectado” é um mundo que passou e que não fez parte da minha vida. Agora, fica constatada a minha ignorância. Agora, estou consciente de que não sei com a cobrança de que eu deveria saber o que “todo mundo” já está sabendo.

Essa nova realidade mudou radicalmente nossa forma de viver e estar no mundo: os nossos comportamentos, comunicação, relacionamento, fidelidade, educação, lazer, compras, trabalho, profissão, linguagem… Um outro mundo, mudanças tão rápidas que a maioria de nós não teve tempo para se preparar. Um sentimento de estranhamento, inadequação, peixe “fora d’água.  Mais do que nunca, quando as opções aumentam, a angústia se multiplica. Perder pouco é mais fácil do que perder muito. A poesia de Cecília Meireles, Ou Isto ou Aquilo, mais do que nunca; está atualizada:

‘”Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

Ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo”.

Mas perder é sempre perder. Antes a agonia era como conseguir andar em dois carrinhos ao mesmo tempo, hoje nem se fôssemos centopeias teríamos pés para tantos carrinhos.

Receitas mágicas, novidades, invenções, referências, manuais de certo e de errado, tudo instantâneo, provisório, transitório, o que fazia mal, volta fazendo bem, o que era vilão volta como herói, o que era desconhecido, surge como essencial, o que era consagrado some como condenado e nós nem havíamos experimentado ainda. O sentimento de dívida, de atraso faz parte do nosso dia a dia. Sempre teremos um lugar que deveríamos já ter visitado, uma comida que deveria ter sido saboreada, uma boca que deveria ter sido beijada, uma opinião que deveria ter sido compartilhada.

COBRANÇAS

Frente a esse universo de possibilidades nos é cobrado e nos cobramos posicionar com conhecimento e segurança. Liberdade de escolha não vem só. Intima a responsabilidade do que será escolhido e a angústia de abandonar o que foi perdido.

Quanto mais liberdade, mais escolhas. Quanto mais escolhas, mais responsabilidade. Quanto mais responsabilidade, mais medo, mais angústia

Finalizando esse trabalho, entrei em uma cafeteria pau dar a última lida no texto. Pedi um café. A atendente prontamente me serviu:

– Você deseja adoça-lo?

Cai na besteira de dizer que sim.

– O que você escolhe, Açúcar tradicional;

Refinado;

Mascavo;

Orgânico;

Adoçante liquido;

Em pó;

Diet;

Sucralose;

Sacarina;

Frutose;

Aspartame;

Sorbital;

Estévia.

E eu que queria tomar somente um cafezinho!

 Como lidar com a exigência das escolhas.2

CIDA LOPES – é psicóloga clínica, terapeuta cognitiva, educadora sexual, autora dos livros Gente é Gente, Bicho é Bicho e Rosazul: Nem tão Rosa, nem tão Azul. É professora do curso de pós-graduação em Sexologia Clínica (Fumec-BH), professora do curso de especialização Casc – Curso Avançado de Sexologia Clínica – BH, professora de Sexologia Clínica e Sexualidade na Infância e na Adolescência – Ciclo Ceap-BH/instituto Veda de Terapia Cognitiva – SP/Cetc-BH, coordenadora de projetos de Educação Sexual, consultora e palestrante em Sexologia, Sexualidade na Infância e na Adolescência e Relações Humanas.

GESTÃO E CARREIRA

MEU CHEFE NÃO DORME

Como lidar com gestores que telefonam, enviam e- mail e mandam mensagens de WhatsApp em plena madrugada?

Meu chefe não dorme

Carla Sarni, presidente do grupo Sorridents, em 2015 reuniu os diretores da empresa e foi direto ao ponto. Quem estivesse num momento pessoal atribulado, sem tempo para se dedicar ao dia a dia da companhia, poderia pedir demissão. Os que optassem por isso, receberiam um salário a mais de bônus. Naquele ano, o Brasil enfrentava os primeiros sinais da recessão econômica e a Sorridents lidava com um agravante: o endividamento bancário, que precisava de atenção. “Eu disse que a crise teria de ficar da porta para fora. Permaneceria na empresa quem acreditasse no propósito”, diz a executiva.

Passados três anos, a jornada diária de Carla continua intensa e chega a cerca de 15 horas. Toda vez que contrata um profissional para o alto escalão, avisa da rotina com antecedência. “Não espero que os diretores peguem a bolsa e larguem o problema para trás”, afirma. “Só trabalha comigo quem tem perfil e postura de dono.”

A rotina da executiva e de sua equipe ficou ainda mais atribulada quando ela se mudou com o marido e os dois filhos para os Estados Unidos em 2016. Agora, Carla administra o grupo (que tem 240 clínicas odontológicas em 16 estados brasileiros) viajando de um país para o outro. Às vezes, por causa do fuso, ela acorda às 2 horas da manhã para participar de reuniões virtuais com executivos no Brasil – que precisam responder ao chamado da chefe. “Eu acredito na liderança pelo exemplo. Não exijo das pessoas aquilo que não faço. Quando estou no Brasil, sou a primeira a chegar ao escritório e a última a sair’, diz Carla. Atitudes como a de Carla são recorrentes nas empresas. Seja por ter muito a fazer, seja por escolha própria, seja por dormir pouco por natureza, cada vez mais líderes acham que os subordinados devem estar sempre alerta. O problema é quando esse roteiro extrapola os limites profissionais e o funcionário tem a vida pessoal invadida. Essa tênue fronteira se rompe com mensagens de e-mail ou WhatsApp e até telefonemas fora do expediente.

Esse tipo de atitude se agravou nas últimas duas décadas, quando as tecnologias digitais possibilitaram a conexão dos trabalhadores com seu emprego. Mesmo longe do escritório, eles acessam os e-mails pelo celular, participam de grupos de discussão com colegas e são “amigos” do patrão em redes sociais.

A demanda constante é tão grave que levou a França a estipular limites. Em janeiro de 2017, o governo colocou em vigor uma norma que dá direito ao funcionário de ignorar e­-mails ou mensagens de celular em horários de folga. A iniciativa, batizada de “direito de se desconectar”, baseia se em estudos que provam que o trabalhador pode sofrer de estresse, síndrome de burnout, doenças do sono e até mesmo problemas de relacionamento quando submetido a esse tipo de situação.

Se as consequências são ruins, por que os gestores agem assim? Especialistas em cultura organizacional elencam os principais motivos: o chefe é o dono da empresa e está no modo “tudo ou nada”; ele está no momento de alavancar a carreira, portanto, tem de mostrar resultados; a companhia vive um período de crise ou reconfiguração, o que exige uma dedicação adicional de quem está no comando. “O modo como se age depende do momento da carreira e do estilo pessoal”, diz Leni Hidalgo, professora de liderança no Insper. “Só a experiência vai ajudar a perceber se o líder está passando do ponto.”

Edson, nome fictício de um administrador de 36 anos, usa a experiência de 12 companhias por onde passou para aguentar a atual chefe, executiva numa empresa do setor alimentício que envia frequentemente e-mails de madrugada. “Já tive tantos superiores com o mesmo perfil que aprendi a lidar com a situação. Hoje, foco aquilo que é urgente”, afirma. “Se é algo possível de ser adiado, escrevo que resolverei no dia seguinte, durante o expediente. Foi a forma que encontrei para ter um meio-termo.”

 GLAMOUR E RESULTADO

Do CEO da Apple, Tim Cook, que acorda às 3h45 da manhã para responder aos e mails, à apresentadora americana Oprah Winfrey, que afirma se sentir bem com apenas 5 horas de sono, ser um chefe insone virou sinônimo de sucesso. O fenômeno levou o Wall Street Journal a cunhar o termo sleepless elite (“elite insone”, numa tradução livre) para se referir a esse pessoal (somente 3% da população, segundo estudos) que precisa de poucas horas de sono. O próprio Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, diz repousar apenas 4 horas e já insinuou publicamente que alguém que durma 12 horas jamais será tão bem-sucedido quanto ele. No Brasil, quem mais encampa essa ideia é o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), hoje pré-candidato ao governo do estado. Em 2016, durante sua campanha para a prefeitura, ele fez questão de reforçar que imprimiria seu ritmo de 16 horas de trabalho na iniciativa privada à gestão pública. ”Minha rotina é intensa. Na área pública, passei a trabalhar inclusive aos sábados e domingos o dia todo”, diz Doria em entrevista, ao reconhecer que dorme no máximo 4 horas por noite.

Embora o ex-prefeito negue exigir as mesmas 16 horas de seu secretariado, parte dele chegou a reclamar do hábito. A vereadora Soninha Francine (PPS), que ocupou o cargo de secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do município por cerca de quatro meses, relata que sua jornada começava às 7h30 e terminava depois das 21 horas. Apesar do expediente puxado, ela diz que as horas a mais não eram o problema. O que a incomodava era a ansiedade de Doria. “A impaciência dele é louvável em alguns aspectos, mas, no caso da assistência social, não se muda a vida das pessoas de uma hora para a outra.”

SEM CONTRAPARTIDA

Para o pesquisador e gerente de Núcleo de Desenvolvimento de Liderança da Fundação Dom Cabral, Anderson Sant’Ana, há dois estilos de chefia. O tipo A, que assume mais tarefas do que dá conta, costuma ser perfeccionista, exige um grau de comprometimento da equipe semelhante ao seu e busca cumprir o serviço num curto espaço de tempo – custe o que custar. E o tipo B, mais tranquilo, que procura um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional – e que, aliás, pode ter a mesma produtividade de um vigilante por saber gerenciar melhor o time e distribuir as tarefas. “A imagem do líder que gera resultados e produz impacto se associou ao tipo A, e as empresas começaram a contratar gente com essas características, que coloca o trabalho no centro de sua existência”, diz Anderson.

À medida que a carreira avança rumo a cargos mais altos, mais difusa fica a fronteira entre o emprego e vida pessoal; mais horas se passam na companhia – e menos se dorme. Na alta gestão, executivos se comprometem com resultados agressivos e entregam boa parte de seu dia à organização. Em troca, recebem remuneração e bônus polpudos. O próprio Tim Cook, presidente da Apple, ganhou 13 milhões de dólares em 2017 – 3 milhões em salários e o restante em bonificação, segundo o site Business Insider. O problema é que profissionais de médio e baixo escalão não veem engordar suas contas bancárias na mesma proporção. E, quando precisam realizar alguma tarefa em plena madrugada, sentem-se lesados. “O pagamento não compensa a dedicação integral à companhia”, afirma Adriana Prates, CEO da consultoria de recrutamento Dasein e conselheira da Association of Executive Search and Leadership Consultants (Aesc), associação internacional de consultores de liderança, com sede em Nova York.

Ou seja, espalhar esse tipo de modus operandi à outras camadas da organização é um erro. E não só pelo fator dinheiro. Quando não conseguem dar atenção à vida pessoal, trabalhadores perdem a motivação. Rendem menos. No livro Rost; Why You Get More Done When You Work Less (sem tradução no Brasil), AIex Pang, pesquisador e famoso conselheiro de negócios no Vale do Silício, defende a ideia de que a jornada de trabalho não deveria exceder 4 horas diárias. Para comprovar sua tese, ele reúne décadas de estudos científicos que provam que o cérebro humano não funciona plenamente por horas a fio e traz exemplos de personalidades bem-sucedidas. Segundo o autor, Charles Darwin, responsável pela teoria da evolução e autor de 19 livros, atuava apenas 3 horas pela manhã e mais 1 hora no final da tarde. No restante do tempo, Darwin lia, caminhava e convivia com a família.

COMO LIDAR?

Apesar dos argumentos científicos sobre a necessidade do repouso e sobre a ineficácia de trabalhar demais, o fato é que chefes insones e workaholics inveterados continuam ocupando espaço nas empresas. Então, o que fazer quando o celular apita no meio da noite?

Especialistas em carreira sugerem uma conversa logo de cara, demarcando limites e cortando o mal pela raiz. Numa primeira situação, o ideal é que o funcionário ignore a mensagem que chegou fora do expediente. Se for questionado pelo chefe, a recomendação é justificar de maneira sincera e com exemplos concretos de por que deixou de atendê-lo – “nesse horário eu estou colocando meu filho para dormir” ou, então. “você ligou no meio da sessão de cinema e não pude atender”. No bate-papo com o gestor, o profissional deve dizer que estava num compromisso pessoal e que, ao ficar de vigília fora do horário sente-se desgastado, o que o torna menos produtivo.

Se não funcionar, o passo seguinte é procurar o departamento de recursos humanos. “Muitas vezes, esse tipo de líder não enxerga a situação. É um traço do comportamento desse perfil não se autoconhecer”, afirma Anderson Sant’Anna, da Fundação Dom Cabral. Se o problema for recorrente com um único patrão, vale pedir transferência de área.

Agora, se nada surtir efeito, a orientação, sobretudo em tempos de crise, como atualmente, é seguir o ritmo do líder enquanto arranja outro emprego. “Um funcionário raramente muda o chefe. Então, minha sugestão é que ele entre no jogo, fazendo o que é pedido, enquanto busca uma alternativa de carreira melhor,” afirma Adriana, da Dasein.

É o que tem feito Renata, também nome fictício de uma advogada de 33 anos. Hoje, ela faz de 2 a 4 horas extras diariamente, sem contar os inúmeros e-mails que recebe do superior à noite.”  Ele demanda muito porque, sozinho, não consegue responder a tudo o que é pedido”, diz Renata, que trabalha numa companhia de tecnologia. Como depende do emprego, criou uma estratégia:  passou a se desconectar completamente quando tem um tempo livre. “Como eu já tive chefes melhores nessa empresa, vejo este momento difícil como um ciclo. Sei que vai passar.”

Renata pode estar certa. Segundo especialistas, a tendência é que gestores desse tipo percam espaço no mundo corporativo. Com os millennials (jovens na faixa dos 30 anos) chegando ao topo da hierarquia, essa deve ser uma realidade cada vez mais distante. “A geração Y busca melhor qualidade de vida e não aceita essas condições de trabalho; preferem pedir demissão e empreender”, diz Adriana.

 SOS CORUJÃO

Veja cinco dicas de como agir numa situação em que o líder exagera na dose:

1. TENHA AUTOCONTROLE

Quem lida com um chefe insone deve ter disciplina para evitar o trabalho nos momentos de lazer. Evite responder a e-mails e mensagens fora da jornada. Se for preciso, justifique-se com firmeza e segurança, apontando a razão pela qual deixou de atender ao chamado.

2. PRIORIZE O QUE É URGENTE

Caso seja impossível separar trabalho e tempo de lazer, priorize o que realmente for urgente quando houver um chamado fora da hora do trabalho – evitando que o serviço domine toda a sua vida.

3. BUSQUE MUDANÇAS

Chefes insones costumam ser pouco maleáveis para mudar a rotina. Se essa for a sua realidade, entregue o que o chefe pede e busque uma mudança de área, ou até mesmo de emprego.

4. COMPLETE SEU CHEFE

Some à equipe uma competência que seu chefe não tem. Funcionários que se destacam costumam ser mais bem tratados pelos gestores, o que pode evitar um e-mail fora de hora ou até mesmo uma conbrança por não ter respondido à mensagem.

5. MOSTRE SEU VALOR

Seja visível para o chefe de seu chefe. Se as pessoas souberem que você é produtivo e competente, não será uma mensagem ignorada durante o fim de semana que causará demissão.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 50-56 – PARTE – I

Alimento diário

A Morte de Cristo

Temos aqui, em detalhes, um relato da morte de Cristo e várias passagens memoráveis em relação ao evento.

I – A maneira como Ele deu o seu último suspiro (v. 50). Entre a terceira e a sexta hora, ou seja, entre as nove da manhã e o meio-dia, conforme a nossa contagem do tempo, Ele foi pregado na cruz, e logo depois da hora nona, ou seja, entre as três e as quatro da tarde, Ele morreu. Esta era a hora da oferta do sacrifício da tarde, e a hora em que o cordeiro da páscoa era morto. Cristo, a nossa Páscoa, foi sacrificado por nós e ofereceu a si mesmo no entardecer do mundo como um sacrifício a Deus, sacrifício que tinha um cheiro bom. Foi a essa hora do dia que o anjo Gabriel comunicou a Daniel aquela gloriosa profecia a respeito do Messias (Daniel 9.21,24ss.). E alguns pensam que, desde aquele exato momento em que o anjo o pronunciou até esse momento em que Cristo morreu, se passaram apenas setenta semanas, quer dizer, quatrocentos e noventa anos, até esse dia, até essa hora; assim como a partida de Israel do Egito ocorreu ao final de quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia (Êxodo 12.41).

Duas coisas são registradas aqui quanto ao modo como Cristo morreu.

1. Que Ele gritou em voz alta, como antes (v. 46). Mas:

(1) Isso era um sinal, após todas as suas dores e cansaço, de que a sua vida era uma vida sadia, e a sua disposição era forte. A voz de homens moribundos é uma das primeiras coisas a falhar; com uma respiração ofegante e uma língua vacilante, algumas poucas palavras sem sentido são ditas com dificuldade, e mais dificilmente ouvidas. Mas Cristo, pouco antes de morrer, falou como um homem no vigor de suas forças, para mostrar que a sua vida não lhe fora arrancada, mas fora por Ele entregue, voluntariamente, nas mãos de seu Pai, como seu próprio ato e vontade. Aquele que tinha força para gritar dessa forma enquanto morria, podia ter se libertado da prisão sob a qual estava, e ter desafiado as forças da morte; mas, para mostrar que pelo Espírito Eterno Ele estava se oferecendo, sendo o Sacerdote e o Sacrifício, Ele gritou em voz alta.

(2) Essa passagem foi significativa. Essa voz alta mostra que Ele atacou os nossos inimigos espirituais com uma coragem desprovida de qualquer temor. Tal coragem e determinação revelam-no como sincero em sua causa, e ousado na batalha. Ele estava agora despojando os principados e as potestades, e com essa voz alta estava manifestando a sua autoridade, como alguém que é poderoso para salvar (Isaias 63.1). Compare essa passagem com Isaías 52.13,14. Ele agora se curvou com todo o seu poder, como fez Sansão, quando disse: “Morra eu com os filisteus” (Juízes 16.30). O seu chamado em voz alta, quando morreu, anunciava que a sua morte devia ser propagada e proclamada ao mundo todo; a sua morte diz respeito a toda a humanidade, e assim cada ser humano tem que prestar atenção a ela. O clamor de Cristo era como o toque da trombeta sobre os sacrifícios.

2. Que Ele então entregou o espírito. Esta é a perífrase comum para morrer; para mostrar que o Filho de Deus, sobre a cruz, morreu verdadeira e corretamente pela violência da dor a que foi submetido. A sua alma foi separada de seu corpo, e assim o seu corpo esteve ali verdadeira e realmente morto. Era correto que Ele, de fato, morresse, pois este era um requisito da obra da salvação; assim estava escrito, tanto nas cartas fechadas dos conselhos divinos como nas cartas abertas das profecias divinas; e, por essa razão, Ele deveria sofrer e morrer. Sendo a morte o castigo pela quebra do primeiro Testamento (Certamente morrerás), o Mediador do Novo Testamento deve fazer a expiação das transgressões através da morte, pois de outra maneira não há remissão (Hebreus 9.15). Ele havia se encarregado de tornar a sua alma uma oferta pelo pecado; e Ele o fez, quando rendeu o espírito e voluntariamente o entregou.

II – Os milagres que acompanharam a sua morte. Considerando que o Senhor Jesus Cristo realizou tantos milagres durante a sua vida, pode ríamos esperar a realização de alguns milagres relativos a Ele em sua morte, pois foi registrado que o seu Nome seria Maravilhoso. Se Ele tivesse sido levado, como Elias, em uma carruagem de fogo, isso já teria sido, por si só, um milagre suficiente; mas ser levado da terra através de uma cruz infame era essencial para que a sua humilhação fosse acompanhada da emanação de sinais da glória divina.

1. “E eis que o véu do templo se rasgou em dois”. Essa relação deve ter sido observada com admiração: “Vire-se para o lado e veja esse maravilhoso sinal, e fique maravilhado com ele”. Exatamente quando o nosso Senhor Jesus morria, na hora do sacrifício da tarde, e em um dia solene, quando os sacerdotes estavam oficiando no Templo e podiam ser testemunhas oculares desse milagre, o véu do Templo foi rasgado por uma força invisível; aquele véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo. Eles o haviam condenado por dizer: “Eu derribarei este templo”, interpretando as suas palavras de forma literal; agora, através dessa amostra do seu poder, Ele os fez saber que, se desejasse, poderia ter confirmado o pensamento deles, destruindo o templo de forma literal. Neste, como nos outros milagres de Cristo, havia um mistério.

(1)  Havia uma correspondência com o templo do corpo de Cristo, que agora se desintegrava. Esse era o templo verdadeiro, no qual habitava a plenitude de Deus; quando Cristo clamou em voz alta, e entregou o espírito, e assim dissolveu aquele templo, o templo literal fez como um eco àquele grito e respondeu ao golpe ao rasgar o seu véu. Note que a morte é o evento pelo qual o véu da carne é rasgado; esse é o véu que se interpõe entre nós e o Santo dos Santos. A morte de Cristo foi assim, e a morte dos verdadeiros cristãos também é assim.

(2)  Ele revelava e esclarecia os mistérios do Antigo Testamento. O véu do Templo servia para encobrir – como aquele que estava sobre o rosto de Moisés -, e por isso era considerado uma cobertura. Pois qualquer pessoa que visse a mobília do Santo dos Santos sofreria uma grande punição, exceto o sumo sacerdote, e apenas uma vez por ano, com grande cerimônia e através de uma nuvem de fumaça. Isso representava a escuridão dessa dispensação (2 Coríntios 3.13). Mas agora, através da morte de Cristo, tudo foi exposto, e os mistérios foram revelados, de forma que até mesmo aquele que passar correndo poderá interpretar o significado deles. Agora vemos que o propiciatório anunciava Cristo, a grande Propiciação; o pote de maná tipificava Cristo, o Pão da vida. Assim, todos nós, com o rosto descoberto, contemplamos, como em um espelho (o que ajuda a visão, enquanto o véu a prejudica), a glória do Senhor. Os nossos olhos veem a salvação.

(3)  Ele anunciava a união do judeu com o gentio, pela remoção da pare de divisória entre eles, representada pela lei cerimonial, pela qual os judeus eram diferenciados de todos os outros povos (como um jardim fechado), trazidos para perto de Deus, enquanto os outros eram mantidos à distância. Cristo, em sua morte, repelia a lei cerimonial, cancelava aquele manuscrito de leis, tirava -o do caminho, pregava-o na cruz, e destruiu assim aquele muro de separação; e, ao abolir essas instituições, eliminou a hostilidade e fez, em si, de dois um único novo homem (assim como dois quartos se transformam em um, e este se torna grande e luminoso ao se derrubar a divisória), dessa forma fazendo a paz (Efésios 2.14-16). Cristo morreu para despedaçar todos os véus que separa m, e para fazer de todos os povos um só povo em si mesmo (João 17.21).

(4)  El e indicava a consagração e demonstração de um novo e vigoroso caminho para Deus. O véu impedia as pessoas de chegarem perto do lugar santíssimo, onde estava a Shequiná. Mas o véu rasgado indicava que Cristo, através da sua morte, abriu um caminho para Deus:

[l) Para si mesmo. Esse era o grande dia de expiação, quando nosso Senhor Jesus, como o grande Sumo Sacerdote, não pelo sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no lugar santíssimo; o véu rasgado simboliza isso (Hebreus 9.7ss.). Tendo oferecido o seu sacrifício no tabernáculo externo, o sangue desse devia, agora, ser aspergido sobre o propiciatório que estava dentro do recinto que era separado pelo véu. Portanto: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória”; o Sacerdote da glória. “E o farei aproximar, e ele se chegará a mim” (Jeremias 30.21). Embora o Senhor Jesus não ascendesse ao lugar santíssimo pessoalmente até quarenta dias mais tarde, ainda assim Ele conquistou imediatamente o direito de entrar, e já tinha uma admissão virtual.

[2] Para nós nele: é dessa forma que o apóstolo o emprega (Hebreus 9.19,20). Nós temos ousadia de entrar no lugar santíssimo, através do novo e vigoroso caminho que Ele consagrou para nós, pelo véu. Ele morreu para nos levar a Deus e, assim, rasgou o véu da culpa e da ira que se interpunha entre nós e Ele, removeu os querubins e a espada inflamada, e abriu o caminho para a árvore da vida. Nós temos agora livre acesso, através de Cristo, ao trono da graça, ou ao trono de Deus, e no futuro teremos acesso ao trono da glória (Hebreus 4.16; 6.20). Rasgar o véu indicava (como expressa esplendidamente o antigo hino) que, quando Cristo tivesse derrotado a dureza da morte, Ele abriria o Reino dos céus para todos os crentes. Nada pode obstruir ou impedir o nosso acesso ao céu, pois o véu está rasgado; uma porta nos foi aberta no céu (Apocalipse 4.1).

2. A terra de fato estremeceu; não apenas o monte Calvário, onde Cristo foi crucificado, mas a terra toda e os países vizinhos. Esse terremoto indicava duas coisas.

(1)  A terrível maldade daqueles que crucificaram a Cristo. A terra, ao tremer sob tal angústia, dava o seu testemunho da inocência daquele que foi perseguido, e contra a impiedade daqueles que o perseguiram. A criação, como um todo, jamais havia gemido sob um fardo tão pesado quanto o da crucificação do Filho de Deus. E os miseráveis culpados que o crucificaram também sentiram esse peso. A terra tremeu, como se temesse abrir a sua boca para receber o sangue de Cristo, que era muito mais precioso do que o sangue de Abel, que ela havia recebido e pelo qual foi amaldiçoada (Genesis 4.11,12). Ao mesmo tempo, a terra parecia estar ansiosa para abrir a sua boca e engolir aqueles revoltosos que haviam levado o Senhor à morte, assim como havia engolido a Datâ e Abirão por um crime muito menor. Quando o profeta quis expressar o grande aborrecimento de Deus pela iniquidade dos iníquos, ele perguntou: “Por causa disso, não se comoverá a terra?” (Amos 8.8).

(2)  As gloriosas realizações da cruz de Cristo. Esse terremoto indicava o poderoso choque, mas também o golpe fatal, que agora fora desferido contra o reino de Satanás. Tão vigoroso era o ataque que Cristo desferia sobre as potestades do inferno, que (como na antiguidade, quando saiu de Seir, quando marchou pelo campo de Edom) a terra tremeu (Juízes 5.4; Salmos 68.7,8). Deus fará tremer todas as nações, quando o Desejado de todas as nações vier. Ainda haverá uma ocasião em que todas as coisas serão abaladas, e entendemos que ela está ligada a esse evento (Ageu 2.6,21).

3. As rochas se partiram. A parte mais dura e firme da terra sentiu esse choque poderoso. Cristo havia dito que, se as crianças parassem de gritar “Hosana”, as pedras gritariam imediatamente; e agora, de fato, elas o fizeram, proclamando a glória do Jesus sofredor, e se mostraram sensíveis ao mal que lhe fora feito, sim, mais sensíveis do que os judeus de coração endurecido, que também, em breve, ficariam contentes ao encontrar uma abertura em alguma rocha e uma rachadura nas rochas ás­ peras, para se esconderem do rosto daquele que está assentado sobre o trono. Veja Apocalipse 6.16; Isaias 2.21. Mas, quando a ira de Deus se derramar como um fogo, as rochas serão por Ele derribadas (Naum 1.6). Jesus Cristo é a Rocha; e a quebra daquelas rochas indicava a quebra dessa rocha:

(1)  Para que, em suas fendas, pudéssemos nos esconder, como Moisés na fenda da rocha em Horebe, para que ali possamos contemplar a glória do Senhor, como ele o fez (Êxodo 33.22). A pomba de Cristo está oculta nas fendas das penhas (Cantares 2.14), ou seja, como aludem alguns, abrigada nas feridas de nosso Senhor Jesus, a Rocha fendida.

(2)  Para que, de suas fendas, rios da água da vida possam fluir e nos acompanhar no deserto, como ocorreu com a rocha que Moisés feriu (Êxodo 17.6) e que Deus fendeu (Salmos 78.15); e aquela rocha era Cristo (1 Coríntios 10.4). Quando celebramos o memorial da morte de Cristo, nossos corações duros e insensíveis é que devem ser fendidos, e não as nossas vestes. Aquele coração que não se rende à apresentação do Cristo crucificado, nem se derrete em sua presença, é evidente­ mente mais duro que uma rocha.

4. Os sepulcros se abriram. Esse assunto não foi relatado de forma tão completa como desejaria a nossa curiosidade; pois as Escrituras não pretendiam satisfazê-la; aparentemente, o mesmo terremoto que fendeu as rochas abriu os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam ressuscitaram. A morte para os santos não é mais do que um descanso do corpo, e o sepulcro é a cama em que dormem. Eles se levantaram pelo poder do Senhor Jesus (v. 53), saíram dos túmulos após a ressurreição dele, e foram para Jerusalém, a cidade santa, e apareceram a muitos. Então, aqui:

(1)  Podemos levantar muitas interrogações relativas a isso, as quais não podemos responder, como, por exemplo:

[1] Quem eram esses santos que, de fato, ressuscitaram. Alguns pensam que eram os antigos patriarcas, que tiveram o cuidado de pedir para serem sepultados na terra de Canaã, talvez na convicção do benefício dessa ressurreição precoce. Cristo havia recentemente demonstrado a doutrina da ressurreição através do exemplo dos patriarcas (cap. 22.32), e aqui estava uma rápida confirmação de seu argumento. Outros pensam que aqueles que ressuscitaram eram santos que viveram naquela época, em que o Senhor Jesus Cristo viveu em carne, mas que morreram antes dele; como se u pai José, Zacarias, Simeão, João Batista e outros, que eram conhecidos dos discípulos, enquanto viviam, e eram, dessa forma, adequados para servir como testemunhos para eles, em uma aparição posterior. E se supusermos que eles eram os mártires, que, na época do Antigo Testamento, haviam selado as verdades de Deus com o seu sangue, e que foram assim exaltados e reconhecidos? Cristo particularmente os apontou como os seus antecessores (cap. 23.35). Também encontramos (Apocalipse 20.4,5) que aqueles que foram degolados pelo testemunho que deram a respeito de Jesus ressuscitaram antes do restante dos mortos. Aqueles que sofrem com Cristo reinarão primeiro com Ele.

[2] Não se sabe ao certo se (como pensam alguns) eles ressuscitaram por ocasião da morte de Cristo e permaneceram em algum lugar, só entrando na cidade depois da ressurreição dele. Ou se (como pensam outros), embora seus sepulcros (que os fariseus ha­ viam construído e adornado, cap. 23.29, e que assim se tornaram notáveis) tenham sido agora destruídos pelo terremoto (pois Deus jamais considera o apreço hipócrita), ainda assim eles não reviveram nem se levantaram até após a ressurreição do Senhor. Parece mais provável que os detalhes sejam mencionados aqui para que o relato seja mais conciso.

[3] Alguns pensam que eles ressuscitaram apenas para dar testemunho da ressurreição de Cristo para aqueles a quem apareceram e, terminado o seu testemunho, retiraram-se, novamente, para os seus sepulcros. Mas é mais apropriado à glória deles e de Cristo supor, embora não possamos prová-lo, que eles ressuscitaram como Cristo, para nunca mais morrer, e assim ascenderam à glória com Ele. O que sabemos com certeza a respeito deles é que a segunda morte não tem poder sobre aqueles que participam da primeira ressurreição.

[4] A quem eles apareceram (não para todas as pessoas, mas para muitos), se inimigos ou amigos, de que maneira apareceram, quantas vezes, o que disseram e fizeram, e como desapareceram, são segredos que não nos pertencem; não devemos desejar saber mais do que aquilo que foi escrito. O relato tão breve desse assunto é uma clara indicação, para nós, de que não devemos olhar nessa direção em busca de uma confirmação da nossa fé; temos uma profecia mais detalhada e precisa. Veja Lucas 16.31.

(2)  Ainda assim, podemos tirar boas lições desse episódio.

[1] Que mesmo aqueles que viveram e morreram antes da morte e da ressurreição de Cristo, obtiveram o benefício da redenção através delas, assim como aqueles que viveram depois; pois Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hebreus 13.8).

[2] Que Jesus, ao morrei venceu, desarmou e neutralizou a morte. Aqueles santos que ressuscitaram eram verdadeiros troféus da vitória da cruz de Cristo sobre os poderes da morte, que Ele, dessa maneira, expôs publicamente. Tendo, através da morte, destruído aquele que tinha o poder da morte, Jesus, desse modo, levou cativo o cativeiro e foi glorificado nesses cativos retomados, cumprindo neles as Escrituras: “E os resgatarei da morte” (Oseias 13.14).

[3] Que, em virtude da ressurreição de Cristo, os corpos de todos os santos, na plenitude dos tempos, ressuscitarão novamente. Esta era uma garantia da ressurreição universal no último dia, quando todos aqueles que estiverem em sepulturas ouvirão a voz do Filho de Deus. E, talvez, Jerusalém seja por isso chamada aqui de cidade santa, porque os santos, na ressurreição universal, entrarão na nova Jerusalém; esta será, na verdade, aquilo que a Jerusalém terrena era apenas no nome e no simbolismo, a cidade santa (Apocalipse 21.2).

[4] Que todos os santos, pela influência da morte de Cristo, e de conformidade com ela, em verdade ressuscitarão da morte do pecado para uma vida de justiça. Eles serão ressuscitados com Ele para uma vida divina e espiritual; eles entrarão na cidade santa, tornando-se seus cidadãos, e habitarão nela. Por essa razão, muitos os consideram como pessoas que não são deste mundo.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PERSONALIDADE DOS DELATORES

Delatar significa denunciar a responsabilidade de alguém por crime. Entre os delatores encontram-se os verdadeiramente arrependidos e os que não se arrependem nunca.

A personalidade dos delatores

O delator é um colaborador da Justiça que pode estar totalmente arrependido ou não se arrepender jamais.

Quanto ao primeiro tipo, delata pois não suporta conviver com algo que moralmente o incomoda. Nesse caso, a delação pressupõe um dilema e a revelação funciona como uma espécie de válvula de escape para aliviar a culpa. Esse tipo psicológico apresenta um certo comportamento atípico. Entre esses delatores encontram-se até inocentes. Por exemplo, os que entregam o vizinho ou o colega de trabalho e o fazem por sentir um incômodo interior, uma vez que, sabendo e não revelando o que sabem, podem tornar-se cúmplices.

Há outro tipo psicológico de delator, o que não se arrepende nunca, e é o mais comum. Recordemos que a legislação brasileira conta com a delação premiada, benefício legal, concedido a um réu em ação penal, que aceitou colaborar na investigação criminal e entregar os seus companheiros.

No Brasil essa prática tem sido muito procurada nos ditos crimes de colarinho branco, crimes de corrupção. Há um denominador comum entre essas personalidades. Por serem criminosos, pressupõe-se que lhes faltem valores éticos e morais, do contrário não seriam infratores.

Para se saber o quão comprometido está o arcabouço moral desses indivíduos, basta atentar no modus operandi do delito, considerando que a morfologia do crime revela, tal qual uma fotografia em cores, o comportamento do transgressor, e como quem manda na conduta é o psiquismo, vendo-se a forma do crime teremos alguns dados mentais de quem o praticou.

Nos crimes de corrupção, observamos indivíduos que desviaram verdadeiras fortunas, dotados de uma ganância incomensurável, pois, já milionários, com bens que dariam para viver e sustentar nababescamente suas famílias por infindáveis gerações, continuaram a pilhar a coisa alheia, a desviar dinheiro que seria aplicado em tantas áreas sociais.

Quando esses criminosos entram no programa de delação premiada, somente o fazem em benefício próprio, sem qualquer pudor ou arrependimento pelos atos que fizeram, e não trepidam em delatar até aqueles que eram seus “amigos inseparáveis”.

Em suma, são dois tipos básicos de delatores. Aquele que se arrepende, normalmente ligado a crimes menores. A delação ocorre em face de dor moral, por prática de ato errado. A revelação alivia a culpa. A ação é espontânea e, via de regra, não há reincidência na atividade delituosa. É um criminoso do tipo ocasional, tem bom prognóstico no que diz respeito à recuperação social.

Do outro lado, aquele que não se arrepende e somente delata se vir que há vantagem nisso, vislumbrando-a, entrega á tudo e a todos. Não age por dor moral ou arrependimento, mas para lograr vantagem. Esse indivíduo e incorrigível. Como a sua índole é ruim e o seu arcabouço de sentimentos superiores é raquítico, se tiver oportunidade, reincide. É um criminoso habitual. A maioria dos crimes de corrupção é praticada por esse tipo, quando a ambição, o desejo imoderado pela riqueza são a marca de sua personalidade condutopática.

 

GUIDO ARTURO PALOMBA – é psiquiatra forense e membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo.

OUTROS OLHARES

A BUSCA DA UTOPIA

Cresce por todo Brasil o movimento de volta à simplicidade e de criação de comunidades alternativas, que dão um novo sentido econômico e prático ao discurso hippie de paz e amor.

A busca da utopia

Em meio à crise econômica e política à greve dos caminhoneiros, ao crescimento da violência e à escassez de alimentos, a comunidade Olho D’Água, criada para ser um pequeno pedaço do paraíso em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, se desenvolve e floresce. Tem-se ali um projeto experimental de permacultura, sistema de população humana sustentável que une práticas tradicionais e conhecimentos avançados em agricultura, arquitetura e ciências sociais para prosperar em harmonia com a natureza. Seus pilares são o cuidado com a terra, o respeito às pessoas, o compartilhamento de excedentes e a eliminação de desperdícios. O clima é de paz e amor, no melhor estilo hippie, com crianças brincando livremente e aprendendo ao ar livre. Mas o que não falta é trabalho duro. A comunidade é hoje tocada por duas famílias e mantém um projeto, agroflorestal de produção de alimentos orgânicos. Eles também articulam redes colaborativas de agricultores da região e dão cursos de formação em permacultura para crianças e adultos. Nos fins de semana, o sítio, situado em uma área de proteção na Serra do Mar, recebe grupos de até 40 pessoas. “Antes, em comunidades como a nossa, havia o sentimento de ruptura com o sistema. Agora a gente quer dialogar com o mercado, criar novas formas de relações humanas e de economia”, afirma o engenheiro florestal e permacultor Rafael Bueno, de 37 anos, idealizador da comunidade, junto com sua mulher, a professora de ioga Renata Fontes.

Com dez anos de vida, a Comunidade Olho D’Água é um exemplo bem encaminhado de um movimento de comunidades alternativas e eco vilas que avança no Brasil. Um número crescente de jovens brasileiros está fazendo a transição das áreas urbanas para o campo, em busca de uma existência mais simples, com menos impacto ambiental e de elevação espiritual. Ganha força a utopia de uma vida equilibrada, sustentável e menos estressante.

Comunidades alternativas existem desde o século passado com finalidades espirituais, sexuais e produtivas. A novidade é que elas estão se integrando em rede e apresentando formas realmente viáveis de se envolver com a sociedade, sem pensar no lucro como um fim em si mesmo e erguendo uma microeconomia regional não predatória.

Segundo estimativas do Instituto Irradiando Luz, existem hoje no país cerca de 300 comunidades intencionais, nascidas a partir de um plano de ocupação controlada. Elas proliferam em locais como a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e o Sul da Bahia. Em São Paulo há dezenas de agrupamentos desse tipo, muitos em estágio embrionário. Em Mogi das Cruzes contam-se ao menos dez em atividade.

O economista Tomáz Ahau, 50 anos, é fundador e coordenador de projetos da Casa dos Hólons, uma rede colaborativa de produção de alimentos orgânicos que segue os princípios da permacultura e funciona no bairro de Parelheiros, na zona Sul de São Paulo. A força produtiva da rede está concentrada em duas propriedades na região: O Sítio Treze Luas, onde três famílias compõem uma comunidade intencional; e a Chácara Semente Solar, que emprega duas famílias. “Na verdade, tratam-se de duas eco vilas, no que se refere ao planejamento, ao design e à ocupação do solo, feita de maneira sustentável, diz Ahau. “Estamos em busca de novas formas de viver e de se conectar com a sociedade.” Um projeto lançado há três meses pela Casa dos Hólons foi a realização de uma feira de orgânicos.

 A EXPERIÊNCIA DE PIRACANGA

Uma das mais conhecidas e prósperas comunidades alternativas brasileira, é a de Inkiri Piracanga, pequeno reino de auxílio espiritual e busca de autossuficiência criado há sete anos pela terapeuta holística portuguesa Angelina Ataíde na Península de Maraú, no Sul da Bahia. Debaixo da sombra dos coqueiros que abundam por ali, 29 pessoas tratam de levar sua vida meditando, praticando reiki e ajudando seus semelhantes com soluções inteligentes de desenvolvimento social e contato com a natureza.  A comunidade cresceu tanto que hoje conta com um banco e dinheiro próprios. Há duas semanas. o banco Inkiri fechou sua primeira operação de microcrédito de R$2,56 mil. O beneficiado pelo empréstimo foi um dos agricultores do bairro de Massaranduba, onde são produzidos os alimentos orgânicos que abastecem o lugar. A iniciativa mostra como a comunidade vem se integrando com a economia e a sociedade, e evolui de maneira inovadora, como um dos principais centros de retiro místico do País. O inkiri, que funciona em paridade com o real já conta com 800 mil notas em circulação e aumenta em oito vezes a quantidade de trocas na economia local, que envolvem alimentos e produtos de higiene pessoal biodegradáveis fabricados internamente. Piracanga recebeu cerca de mil visitantes para retiros, em 2017, e movimentou 2.8milhões de reais. “Nosso objetivo não é crescer em faturamento, mas investir em nossa organização e criar projetos interessantes”. diz Vanessa Ruiz, jornalista e membro da comunidade Inkiri Piracanga. “O que temos aqui é uma tentativa de retorno à simplicidade de viver com mais amor”.

A INFLUÊNCIA DE OSHO

Um dos componentes mais importantes das comunidades alternativas é o espiritual. Em todas elas há algum tipo de influência mística que une as pessoas que buscam a expansão da consciência. O Santo Daime, por exemplo, costuma ser uma prática aglutinadora de alguns grupos. A meditação transcendental é outra. Em Piracanga, segue-se a técnica do reiki, em que se manipula a energia vital universal pelas mãos, e também se exercita a leitura de aura. Em algumas comunidades ainda se pratica a meditação dinâmica do indiano Bhagwan Shree Rajneesh, o Osho. Osho pregava uma forma de meditação vigorosa e entusiasmada, que servia de caminho para a libertação espiritual. Notabilizou-se por liderar uma comunidade alternativa no estado de Oregon, nos Estados Unidos, cuja história está contada na série “Wild Wild Country”, da Netflix. A comunidade fracassou, entre outros motivos, por conta da dificuldade de Integração com a sociedade local. Mesmo assim, as técnicas de Osho resistem e ganham adeptos. No Brasil há pelo menos 30 centros de meditação baseados nas ideias do guru. Eles oferecem programas terapêuticos e alguns funcionam como pequenas comunidades – em busca da utopia.

 

GESTÃO E CARREIRA

EM PRIMEIRA PESSOA

Danielle Torres, primeira executiva assumidamente trans. do país, fala sobre os desafios que enfrentou no processo de transição de gênero.

Em primeira pessoa

Danielle Torres assistiu à própria vida como espectadora durante 17 anos. É assim que a hoje sócia diretora da consultoria KPMG define o período em que lutou para se encaixar no gênero masculino, seu sexo biológico que designou, no momento de seu nascimento, que deveria gostar de carrinhos, cor azul e outros comportamentos aceitos pela sociedade. Danielle, entretanto, nunca se adequou aos padrões esperados de um menino. Colava adesivos nos cadernos, colecionava canetas coloridas, gostava de poesia e culinária. Durante muito tempo sofreu bullying na escola, sem compreender o motivo. “Eu não entendia por que a forma como eu caminhava era errada, por que agradecer no feminino em proibido. Era tudo uma grande interrogação”, diz Danielle, que prefere não se associar mais ao nome de batismo.

Na adolescência, as dúvidas se multiplicaram. Como sentia atração por mulheres, ela não conseguia compreender por que era alvo de piadas, ao mesmo tempo que não se sentia pertencer ao universo gay.

De uma família de classe média de São Paulo, Danielle não tinha referências de qualquer pessoa transexual em seu círculo de amigos. Com vergonha e acreditando que havia algo errado consigo, aos 13 anos, ela decidiu que iria se adequar. Cortou o cabelo curtinho, abandonou os velhos gostos e resolveu que dali para a frente preencheria os requisitos sociais esperados de um homem. Terminou os estudos, formou-se em administração e começou a trilhar sua trajetória profissional. “Escolhi um curso generalista e acho que isso reflete quão insegura eu era sobre mim e sobre o que eu queria ser.”

Depois de esconder as características femininas, o convívio social foi ficando mais fácil e as piadas foram diminuindo, embora continuassem presentes. Na própria KPMG, consultoria que opera em mais de 150 países, onde ingressou como trainee aos 21 anos, em 2005. Danielle foi alvo de brincadeiras – que davam a entender que ela deveria agir de forma mais masculina. Na época, ela usava uma barba comprida e tentava falar de futebol e cerveja, os clássicos comportamentos de macho, mas ainda assim carregava uma androginia difícil de disfarçar. “Mesmo que as pessoas me olhassem diferente, o fato de eu me relacionar com mulheres de certa forma validava meu comportamento. Até eu, de tão habilidosa que havia me tornado em fingir, passei a acreditar que não era nada demais”, diz Danielle, hoje com 34 anos.

Todos esses anos de repressão interna, no entanto, cobraram um preço alto. Em 2011, quando ganhou uma promoção e foi expatriada paro os Estados Unidos, Danielle teve um primeiro ataque de pânico e foi parar no hospital. Medo intenso, tremores e a certeza que queria morrer. O episódio seria o primeiro de uma série que a acompanharia por mais três anos. “Eu achava com absoluta certeza que era algo físico. Fui a diversos médicos, fiz muitos exames, mas todos diziam que estava tudo bem”, afirma.  “Acreditei que podia se tratar de estresse, por estar em outro país, assumindo uma nova posição”.

 AJUDA PROFISSIONAL

Com crises cada vez mais sérias, Danielle procurou ajuda de um profissional. E foi na terapia que ela percebeu que suas crises nada tinham a ver com a carreira.  “Eu não sabia quem eu era”, diz. Com o processo de autoconhecimento, começou a aflorar quase que inconscientemente a verdadeira identidade de gênero de Danielle. Ela se permitiu pintar as unhas, usar maquiagem e roupas da seção feminina. Num primeiro momento, apenas nos fins de semana. “Ainda não queria assumir para mim mesma, então eu dizia que eu era um homem metrossexual, moderno, e essas coisas. Ia experimentando porque estava segura dentro da identidade masculina.”

As mudanças ganharam força com o tempo. O cabelo cresceu, o “obrigado” voltou a ser ”obrigada”, e a Danielle mulher deixou de se restringir a dois dias da semana. Pesquisando sobre questões de gênero, a executiva percebeu que aquele, enfim, era seu universo. Porém, com uma infinidade de possibilidades, ela precisou se encontrar, inclusive, no mundo transgênero.  “Tudo fazia sentido: não binário, bi gênero, andrógino. Quem eu seria?”

Durante seis meses ela passou por esse processo sem comunicar à empresa. Contudo, depois de participar de um evento n a KPMG, sobre diversidade, sentiu-se encorajada a conversar com a liderança. Enviou um e-mail para Ramon Jubels, líder do Voices, grupo LGBT da consultoria e que havia ministrado a palestra, agradecendo o posicionamento da companhia. Em troca, recebeu um obrigado e um reforço no interesse em continuar a conversa. Embora com receio de jogar fora toda a sua carreira, Danielle decidiu marcar um almoço com o colega. “Fui conversar consciente de que aqueles poderiam ser meus últimos minutos dentro da vida corporativa, que eu talvez tivesse de perder meu status e tudo o que havia construído.”

Para sua surpresa, porém, a reação foi totalmente oposta. Não somente Ramon como também toda a KPMG a acolheram e apoiaram seu processo de afirmação de gênero. Com a ajuda do consultor de diversidade Ricardo Sales e de uma equipe designada para garantir a nova identidade, Danielle conseguiu, no começo de 2017, modificar nomes de e-mails e sistemas internos e se assumiu definitivamente mulher. Três meses depois, a companhia realizou um evento interno para comunicar a transformação para o resto da equipe. “Queríamos mostrar qual seria nosso valor e abrir um canal de conversa com os funcionários, já que seria um aprendizado para todos”, diz Ramon. Mesmo depois de assumir o nome, Danielle, ela ainda continuou por mais seis meses com características andróginas, mantendo inclusive a barba comprida. “Eu precisava me despedir de quem eu era”, afirma. Em nenhum momento a KPMG interferiu ou solicitou que a executiva apressasse seu processo. No período, inclusive, a profissional teve seu trabalho reconhecido e recebeu uma proposta para assumir um projeto global sobre a norma IRFS 17, que rege contratos de seguros e da qual é especialista, em Londres, onde passou a viajar com frequência.

Com lágrimas nos olhos, Danielle conta a gratidão que sentiu quando percebeu que seria (de fato) acolhida e valorizada. “Só agora minha ficha vem caindo de que não precisei deixar nada para trás, que toda minha dedicação e esforço foram considerados”, afirma. “Hoje, minha rotina continua igual, mas minha produtividade está no céu porque sou eu de verdade. Quando visito um cliente, em nenhum momento penso que sou uma executiva trans. Penso que sou uma executiva. E uma das pessoas mais qualificadas para fazer esse trabalho”. Com um sorriso largo completa: “Agora assisto à minha vida em primeira pessoa”.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 33-49 – PARTE II

Alimento diário

A Crucificação

III – Temos aqui o olhar de censura e reprovação do céu, sob o qual estava o nosso Senhor Jesus em meio a todos esses insultos e indignidades dos homens. Com relação a esse, observe:

1. Como isso foi expresso por um extraordinário eclipse do sol, que se estendeu por três horas (v. 45). Houve trevas sobre toda a terra; assim entende a maioria dos intérpretes, embora haja uma tradução que o limite àquela terra. Alguns povos da Antiguidade recorrem aos anais nacionais relativos a esse eclipse extraordinário na hora da morte de Cristo, como algo bem conhecido e que serviu de aviso àquelas partes do mundo sobre algo extraordinário que estava ocorrendo; como aconteceu com o sol ao retroceder na época de Ezequias. Dizem que Dionísio, em Heliópolis, no Egito, observou essa escuridão e disse – Ou o Deus da natureza está sofrendo, ou a máquina do mundo está se despedaçando. Uma luz extraordinária deu a conhecer o nascimento de Cristo (cap. 2.2), e por isso era adequado que uma escuridão extraordinária avisasse sobre a sua morte, pois Ele é a Luz do mundo. As afrontas cometidas contra o nosso Senhor Jesus deixaram os céus atônitos e terrivelmente abalados, e alguns pensam que houve ali alguma confusão; o sol nunca tinha visto tamanha maldade como essa, e se retirou para não vê-la. Essa escuridão surpreendente e assombrosa foi planejada para fechar a boca daqueles blasfemos que estavam insultando a Cristo enquanto Ele estava pendurado na cruz; e devia parecer que, naquele momento, lançou sobre eles tamanho medo que, embora seus corações não fossem mudados, ainda assim eles se calaram e ficaram em dúvida sobre o que aquilo poderia significar, até que três horas depois as trevas se dissiparam e então (como entendemos pelo v. 47), como o Faraó quando a praga se extinguiu, novamente endureceram os seus corações. Mas o que era realmente pretendido nessa escuridão:

(1) O presente conflito de Cristo com as potestades das trevas. Então, o príncipe deste mundo e suas forças, os senhores das trevas deste mundo, seriam expulsos, destruídos e derrotados; e para tornar a vitória de Cristo ainda mais gloriosa, Ele os combate no próprio território deles. O Senhor lhes dá todas as vantagens que poderiam ter contra Ele através dessa escuridão, permite que tomem o vento e o sol, e mesmo assim os confunde e se torna mais que vencedor.

(2) Sua presente necessidade de consolos celestiais. Essa escuridão representava aquela nuvem escura sob a qual estava agora a alma humana de nosso Senhor Jesus. Deus faz o seu sol brilhar sobre o justo e o injusto; mas até mesmo a luz do sol foi negada ao nosso Salvador quando Ele se fez pecado por nós. É agradável para os olhos contemplar o sol; mas, como agora a sua alma estava extremamente triste, e o cálice do divino desagrado fora enchido para Ele sem qualquer mistura, até a luz do sol fora afastada. Quando a terra lhe negou um gole de água fresca, o céu lhe negou um raio de luz; tendo que nos libertar das trevas absolutas, Ele próprio, na profundidade de seus sofrimentos, caminha nas trevas e não tem luz (Isaias 50.10). Durante as três horas pelas quais essa escuridão se estendeu, não se diz que Ele tenha pronunciado qualquer palavra; mas passado esse período, em um silencioso isolamento em sua própria alma, que estava agora em agonia, Jesus lutou com as potestades das trevas e absorveu as sensações da desaprovação de seu Pai, não contra Ele próprio, mas contra o pecado do homem, pelo qual Ele fazia, agora, de sua alma, uma oferta. Nunca houve um período de três horas assim, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Nunca houve um cenário tão sombrio e terrível; a crise da importante questão da redenção e da salvação do homem.

2. Como ele se queixou disso (v. 46). Por volta da hora nona, quando começou a clarear, após um longo e silencioso conflito, Jesus gritou: “Eli, Eli, lemá sabactâni”? As palavras estão relatadas na língua aramaica, na qual foram pronunciadas, porque são dignas de atenção redobrada e visam o significado perverso que os seus inimigos colocaram sobre elas, ao substituírem Eli por Elias. Nesse momento, observe aqui:

(1)  De onde o Senhor Jesus tomou as suas palavras de dor: do Salmo 22.1. Não é provável (como pensaram alguns) que Ele tenha repetido o salmo inteiro; mesmo assim, o Senhor Jesus aqui insinuou que o Salmo inteiro se aplicava a Ele, e que Davi, em espírito, falava ali da sua humilhação e exaltação. Parece que o Senhor também buscou, nos Salmos, a frase: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”, embora Ele pudesse ter se expressado em suas próprias palavras. Assim, Ele nos ensina como a Palavra de Deus é útil para nos direcionar em oração, e para nos recomendar o uso de expressões das Escrituras em nossas orações, o que nos ajudará em nossas fraquezas.

(2)  Como o Senhor exprimiu isso em voz alta; o que evidencia a sua dor e angústia extremas, a força da natureza remanescente nele e a grande dedicação de seu espírito nessa prova. Agora as Escrituras estavam cumpridas (Joel 3.15,16). “O sol e a lua se escurecerão. E o Senhor bramará de Sião, e dará a sua voz de Jerusalém”. Davi frequentemente fala de clamar em voz alta em oração (Salmos 55.17).

(3) Qual foi a queixa. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Uma estranha queixa, vinda dos lábios de nosso Senhor Jesus, que, temos certeza, era o Eleito de Deus, em quem a sua alma se comprazia (Isaias 42.1), e aquele de quem Ele sempre se agradava. O Pai, como sempre, o amava. E, além disso, Jesus sabia que havia uma razão pela qual o Pai o amava, porque Ele sacrificou a sua vida pelas ovelhas. E o que dizer desse momento em que Jesus se sentia abandonado por Deus Pai em meio aos seus sofrimentos! Certamente, a tristeza nunca foi como essa, que arrancou uma queixa desse tipo daquele que, sendo perfeitamente livre do pecado, nunca poderia ser um terror para si mesmo; mas o coração conhece a sua própria amargura. Não é de admirar que uma queixa como essa fizesse a terra tremer e as pedras se fenderem; pois ela bastaria para fazer com que as duas orelhas de todos aqueles que a ouvissem estremecessem, e deve-se falar dela com grande reverência. Considere:

[1] Que o nosso Senhor Jesus foi, em seus sofrimentos, por algum tempo, abandonado por Deus Pai. Ele mesmo disse isso, e temos a certeza de que falava de sua própria condição. Não que a união entre as naturezas divina e humana estivesse enfraquecida ou abalada, o mínimo que fosse. Não, mas Ele estava, agora, pelo Espírito eterno, oferecendo a si mesmo: não como se houvesse qualquer redução do amor de seu Pai por Ele, ou do seu amor por seu Pai. Temos a certeza de que não havia em sua mente qualquer repugnância a Deus Pai ou qualquer falta de esperança de seu auxílio, nem qualquer tormento do inferno. Mas seu Pai o abandonou; ou seja, em primeiro lugar, Ele o entregou nas mãos de seus inimigos e não veio livrá-lo das mãos deles. O Pai permitiu que as forças das trevas lutassem contra o Senhor Jesus, e que fizessem o pior que podiam, algo pior do que aquilo que fizeram contra Jó. Aqui foi cumprida essa Escritura (Jó 16.11): “Deus me entregou nas mãos dos perversos”. Nenhum anjo é enviado do céu para libertá-lo, e nenhum amigo se levanta por Ele. Em segundo lugar, Deus Pai retirou de Jesus o sentimento confortador da alegria que sentia em relação a Ele. Quando a sua alma ficou perturbada pela primeira vez, Ele teve uma voz do céu para consolá-lo (João 12.27,28); quando estava em agonia no jardim, ali apareceu um anjo do céu fortalecendo-o; mas agora o Senhor Jesus não tinha nem um nem outro. Deus Pai escondeu a sua face dele, e por um momento retirou a sua vara e o seu cajado em meio ao vale da sombra da morte. Deus o abandonou, não como abandonou a Saul, deixando-o em um desespero interminável, mas da mesma maneira como às vezes abandonou a Davi, entregando-o a um desânimo ocasional. Em terceiro lugar, Deus Pai permitiu que a alma do Senhor Jesus sentisse a aflição de sua ira contra o homem por causa do pecado. Cristo foi feito pecado por nós, uma Maldição por nós; e, por essa razão, embora Deus o amasse como Filho, Ele o olhou com um semblante sério, como um Fiador. O Senhor Jesus aceitou esses sentimentos de bom grado, e abriu mão de resistir a eles – algo que Ele poderia ter feito. Mas Ele suportou essa parte de sua tarefa, assim como havia feito com todas as outras, mesmo tendo o poder de evitá-la.

[2] Que o abandono de Cristo por seu Pai era o mais doloroso de seus sofrimentos, do qual Ele mais se queixou. Aqui Ele colocou as mais lúgubres entonações de voz. Ele não disse: “Por que estou sendo torturado? E por que sou tratado com desprezo? E por que fui pregado na cruz?” Nem disse a seus discípulos, quando viraram suas costas para Ele: “Por que me abandonastes?” Mas, quando o seu Pai se distanciou, Ele clamou dessa maneira; pois isto acrescentava amargura à sua aflição e à sua angústia. Isto levou as águas até à alma (Salmos 69.1-3).

[3] Que o nosso Senhor Jesus, mesmo quando abandonado dessa maneira pelo seu Pai, o manteve como o seu Deus, apesar disso: “Deus meu, Deus meu; mesmo me desamparando, tu ainda és o meu Pai”. Cristo era o Servo de Deus que estava levando adiante a obra da redenção. Ele deveria satisfazer a justiça do Pai, e através dessa obra Ele seria glorificado e coroado. Por essa razão, Ele chama a Deus Pai de seu Deus; pois estava agora fazendo a vontade dele. Veja Isaias 49.5-9. Isso o sustentava e o mantinha, de forma que, mesmo na profundidade de seus sofrimentos, Deus era o seu Deus, e assim Ele decide se apegar a essa poderosa verdade.

(4) Veja como os seus inimigos impiedosamente caçoaram e ridicularizaram essa queixa (v. 47). Eles disseram: “Este homem chama por Elias”. Alguns acham que isso foi um engano decorrente do desconhecimento dos soldados romanos, que tinham ouvido falar de Elias e da expectativa dos judeus pela vinda dele, mas desconheciam o significado da expressão “Eli, Eli,” e por isso fizeram esse comentário impensado a respeito dessas palavras de Cristo, talvez não ouvindo a última parte do que Ele dissera devido ao barulho que o povo estava fazendo. Note que muitas das reprovações lançadas sobre a Palavra de Deus e o povo de Deus se originam de enga­ nos grosseiros. As verdades divinas são muitas vezes corrompidas pela ignorância das pessoas em relação à linguagem e ao estilo das Escrituras. Aqueles que ou­ vem pela metade distorcem aquilo que ouvem. Mas outros pensam que esse era um engano deliberado de alguns dos judeus, que sabiam muito bem o que Ele dissera, mas estavam dispostos a maltratá-lo e divertirem tanto a si mesmos como aos seus companheiros, e apresentá-lo de forma inapropriada como alguém que, sendo abandonado por Deus, é levado a confiar em seres humanos. Talvez estivessem insinuando, desse modo, que aquele que tinha fingido ser o Messias estaria agora satisfeito por estar subordinado a Elias, que se considerava apenas como um anunciador e precursor do Messias. Note que não é novidade que as devoções mais pias dos melhores homens sejam ridicularizadas e distorcidas por escarnecedores profanos; também não devemos considerar estranho que, por várias vezes, aquilo que é bem colocado na oração e na pregação seja mal interpretado e utilizado contra nós. Essa mesma distorção aconteceu com as palavras de Cristo, embora jamais alguém tenha fala­ do como Ele.

IV – O frio consolo que os seus inimigos lhe forneceram em sua agonia, uma atitude semelhante à de todos os demais.

1. Alguns lhe deram vinagre para beber (v. 48); em vez de água refrescante, para restaurá-lo e renová-lo sob esse pesa do ônus, eles o atormentavam com o que não somente aumentava a acusação com que eles o oprimiam, mas representava, também de maneira perceptível, aquele cálice de estremecimento que o seu Pai havia colocado em suas mãos. Um deles correu para buscá-lo, parecendo obsequioso para com Ele, mas, na verdade, estava feliz por ter uma oportunidade de maltratá-lo e afrontá-lo, sentindo-se temeroso de que talvez alguém quisesse arrancá-lo de suas mãos.

2. Outros, com o mesmo propósito de maltratá-lo e abusar dele, comentaram que Ele recorria a Elias (v. 49): “‘Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo’. Vem, deixemo-lo a sós, pois a sua situação é desesperadora. Nem o céu nem a terra podem ajudá-lo; não façamos nada, não apressemos nem retardemos a sua morte; Ele apelou a Elias, deixemos que seja socorrido por ele”.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O TEMPO E O ESPAÇO NO CÉREBRO

Para entender conceitos relativos a localização, parece ser necessário aprender primeiro as noções associadas a temporalidade: pesquisas com voluntários que tiveram tensões neurológicas ajudam cientistas a compreender por que tendemos a imaginar o passado “à direita” ou “à esquerda”, dependendo da língua que falamos.

O tempo e o espaço no cérebro

Costumamos julgar a ideia abstrata de tempo em termos concretos de espaço. Dizemos, por exemplo, que estamos “ansiosos para o fim de semana” ou “que deixamos o passado para trás”. Esse modo de falar pode ser mais do que apenas metáfora. Um estudo publicado pelo periódico cientifico Psychological Science sugere que definir o espaço pode ser necessário para entender o tempo. Pesquisadores descobriram que, se não compreendemos o primeiro conceito com precisão, temos dificuldade com o outro.

Pessoas com a síndrome de negligência unilateral (que ignoram o que está do lado esquerdo) não se lembram de uma cena completa ou até mesmo deixam de comer metade da comida do prato após uma lesão ou acidente vascular cerebral (AVC) no lobo parietal inferior direito. Nesse novo estudo, cientistas investigaram como esses pacientes compreendem o tempo. Pessoas que falam idiomas escritos da esquerda para a direita, como o inglês ou francês, tendem a pensar a linha do tempo com o passado a esquerda e o futuro à direita. A equipe se concentrou em como a negligência unilateral pode alterar o lado esquerdo da cronologia mental, isto é, o pensamento sobre o passado.

Os cientistas selecionaram sete falantes do francês com negligência unilateral, sete pacientes com AVC sem a síndrome e sete pessoas saudáveis para participarem de um estudo simples de memória. Eles aprenderam alguns fatos sobre um personagem fictício, um homem de 40 anos chamado David. Algumas informações sobre ele faziam sentido dez anos no passado e outras só seriam possíveis em uma década no futuro. Os cientistas pediram, então, que os voluntários se lembrassem de todos os fatos que pudessem. Depois, deveriam dizer em que época aconteceram, aos 30 ou aos 50 anos de David. Como os pesquisadores suspeitavam, os participantes com diagnóstico de negligência unilateral tiveram dificuldade para recordar informações relacionadas ao passado, mas não ao futuro.

“Na hora de desenhar um rosto, por exemplo, as pessoas com esse tipo de dano cerebral podem representar apenas a sobrancelha e a orelha direitas ou agrupar todas as características desse lado”, explica a psicóloga Lera Boroditsky, autora do estudo, da Universidade da Califórnia, em San Diego. “As memórias ficam confusas: de alguma forma, os participantes tinham muita dificuldade de recordar elementos associados ao passado ou acreditar que fatos antigos aconteceram no futuro, diz.

A pesquisadora acredita que, quando perdemos a compreensão interna de espaço, a ordem correspondente de tempo é afetada. Ela pretende repetir o estudo com falantes de hebraico e árabe, que leem (e compreendem a linha do tempo) da direita para a esquerda, para verificar se negligenciam o futuro em vez do passado.

 QUANDO A DISTÂNCIA FÍSICA E A EMOCIONAL COINCIDEM

Tempo, espaço e relações sociais partilham uma língua comum de distância: falamos de lugares longínquos, amigos próximos e passado remoto. Talvez seja porque essas concepções dividem padrões comuns de atividade cerebral, de acordo com um estudo publicado no periódico científico Journal of Neuroscience.

Interessados em entender por que a metáfora de distância serve para diferentes domínios conceituais, psicólogos da Universidade de Dartmouth, em Hanover, nos Estados Unidos, usaram a ressonância magnética funcional para analisar o cérebro de 15 pessoas enquanto observavam objetos domésticos (próximos ou distantes), fotografias de amigos ou apenas conhecidos ou liam frases do tipo “em poucos segundos” ou “daqui a um ano”. Os padrões de atividade no lobo parietal inferior direito, uma região associada ao processamento de informações de distância, permitiram aos cientistas identificar quando os participantes pensavam sobre algo perto ou distante em qualquer categoria, o que indica que certos aspectos relacionados ao tempo, ao espaço e a relacionamentos são processados de maneira similar no cérebro. Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que as funções cerebrais superiores são organizadas mais em torno de cálculos, como perto em oposição a longe, do que domínios conceituais, como tempo ou relações sociais.

O tempo e o espaço no cérebro.2

OUTROS OLHARES

DÁ UMA LICENCINHA

Passageiros com transtorno psicológicos agora têm permissão para viajar de avião com seu animal de estimação – mesmo que seja um pato.

Da uma licencinha

Imagine a cena: nos Estados Unidos em um voo de cinco hora de Nova York para Los Angeles, o passageiro acomoda-se na poltrona e depara, instalado no assento ao lado com um pavão-azul.   Não, isso não aconteceu – mas, por pouco. Em janeiro, a artista plástica americana Ventiko queria porque queria embarcar com o exótico companheiro em um voo da United Airlines. A empresa vetou a entrada de Dexter, (o pavão, claro, tem nome) na aeronave e aproveitou a ocasião para fazer uma revisão e estabelecer limite mais claros em sua política de transportes dos chamados animais de suporte emocional, ou ESA, na sigla em inglês – uma categoria de pet cada vez mais comum no exterior e que está começando a pôr a patinha de fora no Brasil.

Só a concorrente Delta transporta anualmente cerca de 250.000 animais acomodados na cabine, junto aos donos. Eles se encaixam em três classes de, digamos, passageiro. Uma é o cachorrinho ou gato pequeno, levado em caixa apropriada. Outra é o animal de serviço, treinado para auxiliar pessoas com deficiência, principalmente cegos, que sabe se comportar e viaja solto. A terceira é o ESA, bicho de estimação do qual o dono não se separa porque ele lhe dá tranquilidade e confiança. Sua companhia é prescrita por psicólogos e psiquiatras, como parte do tratamento contra ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

Ainda pouco reconhecidos no Brasil, os animais de suporte emocional são cada vez mais vistos no exterior em ambientes nos quais bichos não são bem-vindos, como lojas, cinemas, shows, palestras e, claro, viagens, levados por donos munidos de prescrição que atesta sua necessidade constante. A modelo Ana Cláudia Carttori, de 28 anos, erradicada em Nova York, conta que chegou a sofrer crises agudas de ansiedade e pânico antes de viagens de trabalho até encontrar um terapeuta nos Estados Unidos que lhe recomendou a adoção de um cachorro. “Minha vida mudou completamente com a chegada da Jazz”, afirma Ana Cláudia. Sempre que precisa voar, a cadela mestiça de labrador veste um coletinho com a sigla ESA, para facilitar a identificação. Ao contrário da maioria dos colegas, ela passou por um treinamento. “Aprendeu a não brincar, não correr e não fazer suas necessidades no avião. Ninguém é obrigado a viajar com um cachorro indisciplinado”, diz a modelo

Jazz não está sozinha em seu programa de viajante frequente na condição de fornecedora de suporte emocional. A United registrou um aumento de 75% nos pedidos desse tipo de transporte entre 2016 e 2017.  Na Delta, o salto foi de 84%. O designer Thiago Oliver, de 31 anos, mudou-se de São Paulo para Lisboa para cursar um mestrado em 2017 e teve dificuldade para embarcar no avião, com o chow-chow Yuri. Diagnosticado com depressão, Oliver diz que, precisa do gigante de pelos escuros para levar vida normal. “Nunca viajei sem o Yuri e fiquei aflito com a ideia de mudar de país sozinho”, explica. Decidido, gastou 3.500 reais em documentação (laudo psiquiátrico e vacinas) e treinamento do cão.

É compreensível que as empresas façam restrições ao ESA. Em novembro do ano passado, uma mulher foi expulsa de um voo da US Airways por falta de etiqueta higiênica de seu porquinho de estimação. Em 2016, passageiros da Delta se surpreenderam com a presença de um peru de apoio emocional. No mesmo ano, um macaco teve a viagem interrompida em uma escala nos Estados   Unidos por falta de documentação. Entre os animais indispensáveis ao dono já se registrou a presença de uma lhama e de um mini cavalo. Ao rever suas regras depois do incidente com o pavão Dexter, a United proibiu viagens na cabine de porco-espinho, furão, cobra, aranha e répteis, em qualquer circunstância. Também passou a exigir certificado de treinamento e atestado veterinário. Alguns passageiros estavam tentando tirar vantagem da política da empresa de poder levar a bordo os animais de suporte. Daí a razão das novas normas, mais restritas, afirma o americano Charles Hobart, porta-voz da United.

A psicóloga Silvana Prado, fundadora da ONG Patas Therapeutas explica o benefício de ter um animal de apoio para quem sofre de transtornos psicológicos.

“A ciência já provou que acariciar e cuidar de um animal estimula a produção de hormônios relacionados ao bem-estar, como a dopamina, a prolactina e a ocitocina”, diz. “Muitos portadores de transtornos psicológicos têm dificuldade para construir vinculo e cuidar de si mesmo, obstáculos que o laço com um animal, desprovido das cobranças e julgamentos que acompanham as relações humanas, pode ajudar a transpor “, afirma a psicóloga.

No Brasil não existe legislação relativa aos ESA, mas eles também começam a se fazer presentes nos aviões.  A Azul já permite o transporte dos animais nessa categoria em voo para os Estados    Unidos, onde eles são bem­ vindos. A Latam, a primeira a aceitá-los em trajetos nacionais, registrou um aumento de 70% no transporte de animais de assistência nos primeiros quatro meses deste ano, em comparação com o mesmo período no ano passado. Por mais que possam causar problemas, alguns bichinhos têm lá seu charme. Em 2016, o pato Daniel viralizou nas redes sociais ao viajar de Charlotte para Asheville, na Carolina do Norte.

Quietinho, de sapatinhos vermelhos, passou o trajeto de 50 minutos observando as nuvens pela janela enquanto era acariciado pelo dono. Um bom garoto.

 Da uma licencinha2

PASSARADA A BORDO

Ter estes animais cheios de penas e plumas dentro do avião pode ser tanto uma experiência indolor, a depender do comportamento da ave, como, estranha –  tão estranha que há companhias que vetam sua presença

Da uma licencinha.3

GESTÃO E CARREIRA

TODOS POR ELAS

Impulsionada por estudos que revelam o potencial de ganhos econômicos da igualdade de gêneros, o tema do avanço das mulheres no mercado de trabalho entra na agenda das grandes empresas – desta vez com ações práticas, metas e métricas.

Todos por elas

Dominada nos últimos anos pela crise financeira e pela recessão desencadeada por ela, a agenda do Fórum Econômico Mundial, realizado todo mês de janeiro em Davos, na Suíça, incluiu na mais recente edição um novo tópico: o da desigualdade de gêneros. Na esteira de dois estudos de grande repercussão, publicados pela consultoria McKinsey no ano passado, e dos desdobramentos da campanha Eles por Elas, da ONU Mulheres, os líderes de negócios reunidos na estância gelada levaram a discussão do tema da diversidade para um novo patamar: menos blá- blá- blá e mais ação. Em vez de debates abstratos sobre a importância de ampliar a representação feminina no mundo corporativo, as conversas se deram em cima de indicadores de desigualdade, metas de curto e médio prazo e do potencial de ganhos econômicos trazido por um cenário mais equilibrado.

Duas iniciativas de vulto chamaram a atenção. A primeira, do Conselho de Investimentos do Estado de Washington, que gerencia um dos maiores fundos de pensão dos Estados Unidos, visa estimular um salto na contratação de mulheres pelas indústrias de private equity e gestão de fundos. E a segunda, de alcance global, é capitaneada pela ONU Mulheres, como parte do programa Eles por Elas (lançado com alarde pela atriz britânica Emma Watson, em 2014). Trata-se do Impact 10x10x10, programa piloto envolvendo chefes de Estado, universidades e dez empresas multinacionais que se voluntariaram a liderar pelo exemplo e pavimentar o caminho para a igualdade de gêneros, implementando mudanças culturais e, sobretudo, estruturais. Ao todo, são 30 líderes globais, publicamente comprometidos com a aceleração do processo de igualdade de gêneros. Em Davos, eles apresentaram o primeiro relatório anual, divulgando informações sobre o percentual de mulheres nessas empresas, ocupando cargos de liderança, postos no conselho de administração e também entre as novas contratações. “Isso nos permite entender em que ponto essas empresas estão e, principalmente, em que direção caminham, quais são as tendências de gênero em cada uma delas”, diz Nadine Gasman, representante do escritório da ONU Mulheres no Brasil. “Pela primeira vez, temos em mãos um indicador de progresso em tempo real, um conjunto amplo de indica- dores que irá permitir uma análise profunda dos desequilíbrios de gênero em dez corporações globais.”

PÉ NA TÁBUA

Unilever, Barclays, Grupo Accor, Vodafone, PriceWaterhouse Coopers, McKinsey, Tupperware, Twitter, Schneider Electric e o conglomerado europeu de origem turca Koç compõem o grupo das primeiras dez empresas signatárias da iniciativa da ONU Mulheres que, além do compromisso de transparência, estabeleceram também três metas de curto prazo para acelerar o processo de construção de um mercado de trabalho igualitário. A pesquisa mais recente do Fórum Econômico Mundial sobre a evolução da representatividade das mulheres no mercado de trabalho sugere que, ao passo atual, levaríamos pelo menos mais 80 anos para alcançar a igualdade de gênero. Segundo os líderes reunidos pela ONU Mulheres, a economia mundial não pode esperar tanto. Juntas, essas dez empresas empregam mais de 1 milhão de pessoas, distribuídas por 180 países. Os compromissos assumidos por elas não estão circunscritos a seus escritórios-sede. Há metas assinaladas para fábricas e até programas de treinamento para agricultores. As iniciativas contemplam auditorias sobre paridade de gênero na cadeia de fornecedores e a determinação de metas que devem ser cumpridas por aqueles que não se enquadram e querem seguir como parceiros. O objetivo é acelerar o progresso em diversas esferas.

Na Schneider Electric, por exemplo, uma das metas é elevar de modo significativo a representação feminina em todos os níveis hierárquicos da empresa, em suas subsidiárias no mundo todo: até 2017, a multinacional europeia de distribuição de energia deve ter 40% de mulheres no nível de entrada, 33% no nível gerencial e 30% nos postos de alta liderança. O desafio não é pequeno. Nos cargos de liderança, o percentual de mulheres era de 22 % ao final de 2015. Mas a experiência da subsidiária brasileira indica que não se trata de um objetivo impossível. Comandada pela engenheira Tânia Cosentino (que assumiu o cargo de CEO em 2009 e, desde o início de 2013, é também presidente regional para a América do Sul), a Schneider já tem 40% de mulheres entre as executivas que se reportam diretamente à CEO. No ano passado, em toda a América do Sul, 46% dos profissionais contratados foram mulheres. “Não posso descansar enquanto não tiver um pool de executivas de alto potencial prontas para assumir posições de liderança”, diz Tânia.

Ela conta que, além das metas de recrutamento, há em curso diversas iniciativas de desenvolvimento e capacitação. O esforço é coordenado por dois grupos envolvendo os presidentes de todas as subsidiárias, que foram criados para garantir a capilaridade dos programas: a Plataforma de Liderança pela Igualdade de Gênero e o Women Advisory Board, voltado especificamente para a alta liderança. “Nesse processo, garantir que as executivas de alto potencial tenham acesso a um programa estruturado de mentores é fundamental”, ressalta Tânia. Única mulher a presidir a multinacional francesa no Brasil, a executiva de 50 anos conta que os mentores foram essenciais ao avanço de sua carreira, desde muito cedo. Ainda no colégio, Tânia foi estimulada por seus professores a fazer o ensino médio em uma escola técnica, devido ao seu interesse acima da média pela matemática. “É importante deixar claro que todos esses esforços têm como ponto de partida a competência: ela é condição inegociável para que as metas de representatividade sejam atingidas”, diz Tânia. “Os mentores apenas ajudam essas profissionais de alto potencial a desenvolver suas habilidades.” A segunda meta da Schneider Electric para o ano que vem endereça outra questão fundamental quando se trata da igualdade de gênero: a paridade salarial. O compromisso da empresa é ampliar o programa de equidade, que hoje cobre os 20 mil funcionários da sede francesa, para um total de 150 mil empregados (o que equivale a 85% de sua força de trabalho no mundo todo).

Embora não seja signatária do Impact 10x10x10, a brasileira Natura compartilha dessas duas metas, com prazos diferentes. Fátima Rossetto, diretora de RH, conta que uma das prioridades da companhia é atingir, até o ano de 2020, o índice de 50% de mulheres em cargos de liderança, considerando os níveis de diretoria e superiores. Hoje, esse percentual é de 29%. A Natura também é uma das poucas empresas a publicar, em seu relatório anual, uma série de indicadores segmentados por gênero, como dados sobre o número de funcionários homens e mulheres por nível hierárquico, bem como a proporção dos salários das mulheres em relação ao dos homens, por categoria funcional. “Dar transparência à paridade salarial é uma questão de maturidade da em- presa. É uma prática alinhada aos valores da companhia”, diz.

A FORÇA DOS NÚMEROS

Partindo do princípio que as empresas não têm como melhorar indicadores que não são medidos de forma sistemática, Sheryl Sandberg, COO do Facebook, se uniu à consultoria McKinsey para realizar uma pesquisa. Divulgada em outubro do ano passado, Women in The Workplace ouviu mais de 30 mil executivos e executivas de 118 grandes companhias americanas. O levantamento mapeou os principais pontos críticos, estabeleceu benchmarks e disponibilizou os dados para que os gestores de empresas possam se comparar a seus concorrentes e a outras indústrias. Segundo o Banco Mundial, as mulheres respondem hoje por 40% da força de trabalho, e por um percentual crescente dos diplomas universitários. A despeito dos muitos progressos, a retenção e a promoção de mulheres aos níveis hierárquicos mais altos permanece um desafio. Um em cada quatro executivos sênior são mulheres. Nas 500 maiores companhias americanas (S&P 500), as mulheres ocupam 19,2% dos postos nos conselhos de administração, um percentual que cai para 17% quando analisada a média global. No Brasil, esse número é um terço disso: só 5% dos conselheiros de administração são mulheres. Na Noruega, onde uma política de cotas foi implementada no final dos anos 90, elas representam 39%.

Desnecessário dizer que políticas de cotas são alvo de muita polêmica em todo o mundo. Por aqui, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é contra. Acredita que o movimento pode gerar mais conflito de gêneros e que não teria impacto significativo sobre as situações de desigualdade de oportunidades. Andrea Menezes, CEO do banco sul-africano Standard Bank, que capitaneia no Brasil a comunidade internacional de mulheres conselheiras de administração (o Women Corporate Directors – WCD), pensa diferente. “Já fui contra as cotas e entendo quem ainda pensa assim”, diz. “Mas hoje defendo que precisamos de medidas extremas para uma situação extrema.” A executiva faz, no entanto, uma ressalva. Para ela, a política de cotas deve ser temporária e encarada apenas como um mecanismo para acelerar a chegada aos conselhos de mulheres extremamente bem preparadas. Ela mesma é um exemplo dessa mistura de oportunidade, planejamento e mérito. Física de formação e financista por vocação, passou pelo JP Morgan, Merrill Lynch e Lehman Brothers. Trabalhou na mesa de operações, na tesouraria e na área internacional antes de assumir a presidência do Standard Bank no Brasil, em 2012. Hoje, é também conselheira de seis startups. “Quem não tem competência não vai longe”, diz. Nem mesmo com cotas.

Acompanhar os índices de representação feminina nos diferentes níveis hierárquicos irá propiciar um melhor entendimento dos pontos de queda e permitir que estratégias específicas sejam desenhadas para endereçar essas perdas. Mariana Donatelli, gerente sênior da McKinsey no Brasil, participou nos últimos anos de estudos realizados pela consultoria como parte do programa Women Matter, que investiga questões de gênero e carreira em empresas do mundo todo. Diz que um grande ponto de inflexão nesse assunto é, sem dúvida, a maternidade – uma decisão que tem grande influência sobre o ritmo e o alcance do avanço das carreiras femininas. “Nas decisões sobre promoções ou expatriações, a vida pessoal da mulher sempre é incluída entre os fatores ponderados pelos superiores”, diz Mariana. “Por outro lado, a vida pessoal do homem muito raramente entra nessa equação.”

PONTO DE INFLEXÃO

Em geral, mulheres em idade de ter filhos (ou com filhos pequenos) são preteridas em processos de expatriação que, muitas vezes, são cruciais para o avanço da trajetória de um executivo. Andrea Alvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura, é uma das raras exceções. Quando trabalhava na PepsiCo, ela foi expatriada para a Argentina. Tinha dois filhos pequenos. O marido ficou no Brasil e ela se mudou com as crianças e uma babá. Ele passava uma semana inteira por mês com a família – nas outras três, as visitas se restringiam aos finais de semana. Quando a filha caçula nasceu, o arranjo começou a pesar e Andrea planejou com seus superiores a sua volta para o Brasil. “É preciso eleger prioridades e ficar em paz com elas.” Na volta, sua carreira não estagnou. Ela mudou novamente de área e liderou projetos que tiveram grande exposição dentro da companhia. Em janeiro deste ano, aceitou o convite para assumir a posição na Natura – e agora é uma de apenas duas mulheres presentes no corpo executivo da empresa.

Nessa seara, empresas do mundo inteiro vêm se mobilizando para implementar políticas de estímulo ao equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira, visando não apenas a mulher, mas a família toda. Nos Estados Unidos, a Netflix estabeleceu a política de licença parental mais ousada de que se tem notícia: é ilimitada no primeiro ano de vida (ou de adoção) para o pai ou para a mãe, que pode escolher uma combinação de licença total, jornada de trabalho reduzida, home office integral ou home office part time. Por aqui, a agenda dos direitos da família, que contempla tanto a mãe quanto o pai, avança. Além das iniciativas privadas (a maioria vinda de subsidiárias que trazem esse tipo de cultura de suas sedes), uma lei sancionada no início de março deve estimular a prática – ou pelo menos o debate. Trata-se do Marco Legal da Primeira Infância, que estabelece uma série de regras de atenção a crianças de 0 a 6 anos e que tem como principal destaque a ampliação da licença paternidade para 20 dias. O benefício se aplica apenas aos funcionários de companhias que aderem ao programa Empresa Cidadã (que concede licença maternidade estendida, de seis meses em vez de quatro). Até então, a licença paternidade ampliada só podia ser usufruída por funcionários públicos de 13 estados brasileiros.

No fim de fevereiro, Melinda Gates fez da divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres o tema da carta que publica todos os anos para divulgar os desafios da Fundação Gates, que toca com o marido, Bill. Apontando a diferença no número de horas dedicadas diariamente ao trabalho não remunerado, que inclui as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos, ela propõe um novo contrato social. “Imagine que metas surpreendentes você não poderia bater se tivesse uma hora extra por dia? Ou, no caso de muitas meninas de países pobres, cinco horas extras ou mais? Há muitas maneiras de responder a essa pergunta, mas é óbvio que uma boa parte dessas mulheres passaria mais tempo fazendo trabalhos remunerados, abrindo um negócio ou contribuindo de outra forma para o bem-estar econômico de sociedades ao redor do mundo. O fato de elas não poderem atrasa o desenvolvimento de suas famílias e comunidades”, diz Melinda.

POR QUE A IGUALDADE?

Mais do que uma questão ética e social, a igualdade de gêneros é vista como um imperativo de negócios. Diversos levantamentos mostram o seu impacto econômico. Empresas com alta representatividade de mulheres nos comitês executivos têm melhor performance financeira, com retorno médio sobre capital 47% maior que a de seus pares com menor índice de diversidade. Essa relação também foi confirmada pela comparação do faturamento bruto: nas empresas mais igualitárias, ele é 55% maior. E esse efeito sobre o resultado das empresas, evidentemente, se reflete na economia como um todo. O estudo O Poder da Paridade, publicado em setembro passado pelo McKinsey Global Institute, revela que zerar a desigualdade de gêneros em escala global viria a dobrar a contribuição das mulheres para o PIB mundial, já em 2025. Em um cenário de mercado de trabalho igualitário, US$ 28 trilhões seriam adicionados à economia do planeta – valor equivalente à soma das economias dos Estados Unidos e da China, em números de hoje.

Segundo os números levantados pela McKinsey, a contribuição da igualdade de gêneros é expressiva tanto para os países desenvolvidos quanto para os países em desenvolvimento. Em 46 das 95 nações estudadas, o crescimento do PIB em 2025 seria pelo menos 10% maior em um cenário de igualdade de gêneros. A Índia e a América Latina seriam as regiões em que esse impacto econômico seria maior. Para Tracy Francis, sócia-diretora da McKinsey no Brasil, além do impacto econômico, há nesses esforços para promover a igualdade de gêneros um componente de sustentabilidade dos negócios. “Hoje, cerca de metade dos profissionais formados por universidades de excelência é mulher. Não posso abrir mão de uma parte desses talentos sem consequências”, diz Tracy. “Sem contar que, comprovadamente, equipes mais igualitárias tendem a tomar decisões melhores e mais inovadoras.”

Todos por elas 2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 33-49 – PARTE I

Alimento diário

A Crucificação

Temos aqui o relato da crucificação de nosso Senhor Jesus Cristo.

I – O lugar onde o nosso Senhor Jesus foi morto.

1. Eles chegaram a um lugar chamado Gólgota, bem perto de Jerusalém, provavelmente o lugar público de execução. Se Jesus tivesse uma casa em Jerusalém, é provável que, para sua maior desgraça, eles o tivessem crucificado diante de sua própria porta. Mas então, no mesmo lugar onde os criminosos eram sacrificados para cumprir a justiça do governo, o nosso Senhor Jesus foi sacrificado para cumprir a justiça de Deus. Alguns pensam que o local era chamado de lugar da caveira porque ali se situava o ossuário público, onde os ossos e crânios dos mortos eram colocados lado a lado, fora do caminho, para que as pessoas não os tocassem e fossem assim contaminadas. Ali jaziam os troféus da vitória da morte sobre multidões de filhos dos homens; mas, ao morrer, Cristo destruiu o poder da morte. Ele adicionou essa circunstância de honra à sua vitória. Ele triunfou sobre a morte, no próprio campo em que a morte reinava.

2. Ali eles o crucificaram (v. 35). Pregaram suas mãos e seus pés na cruz, e então a levantaram, com o Senhor pendurado nela; pois essa era a maneira de os romanos crucificarem. Que os nossos corações sejam tocados pelo sentimento daquela dor cortante que o nosso bendito Salvador suportou, e olhemos para aquele que foi perfurado dessa maneira, e gemeu de tanta dor. Já houve alguma dor como a dele? E, quando contemplarmos a maneira como Ele morreu, observemos o quanto Ele nos amou.

II – O tratamento bárbaro e agressivo que eles dispensaram ao Senhor. Eles competiam em sagacidade e malícia para ver quem era superior. Como se a morte, um a morte tão sofrida, não fosse ruim o suficiente, eles contribuíam para aumentar o seu amargor e terror.

1. Pela bebida que eles providenciaram para Ele, antes que fosse pregado à cruz (v. 34). Era comum oferecer um cálice de vinho temperado àqueles que seriam mortos, conforme a orientação de Salomão (Provérbios 31.6,7): “Dai bebida forte aos que perecem”; mas naquele cálice do qual Cristo estava a ponto de beber, eles misturaram vinagre e fel para torná-lo azedo e amargo. Isso significava:

(1) O pecado do homem, que é uma raiz de amargura, que dá fel e absinto (Deuteronômio 29.18). O pecador talvez o revolva sob a sua língua como uma migalha, mas para Deus é uva de fel (Deuteronômio 32.32). Foi assim para o Senhor Jesus quando Ele tomou sobre si os nossos pecados, e mais cedo ou mais tarde será assim para o próprio pecador; amargura no final da vida, mais amarga do que a morte (Eclesiastes 7.26).

(2) Representava a ira de Deus, aquele cálice que Deus Pai colocara em sua mão, um cálice amargo, sem dúvida, como a água amarga que trazia a maldição (Números 5.18). Eles lhe ofereceram essa bebida como fora literalmente previsto (Salmos 69.21). E:

[1] Ele a provou, tendo assim o pior dela, sentindo o gosto amargo em sua boca. Ele não deixou de provai· o cálice da amargura, quando estava expiando toda a nossa predileção pecaminosa pelo fruto proibido. Ele estava provando a morte em todo o seu amargor.

[2] Ele não a beberia, pois não queria ter o melhor dela; o Senhor Jesus não queria ter nenhum narcótico par a diminuir a sua sensação de dor, pois Ele morreria de um modo que sentisse a morte em toda a sua força. Ele tinha uma grande obra a fazer como o nosso Sumo Sacerdote em seu esforço agonizante.

2. Pela partilha de suas vestes (v. 35). Quando eles o pregaram à cruz, arrancaram as suas vestes, pelo menos a parte de cima; pois, pelo pecado, ficamos nus, para nossa vergonha, e dessa maneira Ele comprou para nós trajes brancos para nos cobrirmos. Se formos, a qualquer tempo, despidos por Cristo de nossos consolos, suportemos isso pacientemente; Ele foi despido por nossa causa. Os inimigos podem tirar as nossas roupas, mas não podem nos privar de nossos melhores confortos; eles não podem tomar de nós as vestes de louvor. As roupas daqueles que são executados são o pagamento dos carrascos: quatro soldados foram utilizados para crucificar a Cristo, e eles devem, cada um, ter uma parte. A sua veste superior, se dividida, não seria útil para nenhum deles, e por isso resolveram lançar sortes sobre ela.

(1) Alguns pensam que a veste era tão fina e rica que valia a pena lutar por ela; mas isso pode não estar de acordo com a pobreza que Cristo aparentava.

(2) Talvez eles tivessem ouvido sobre aqueles que haviam sido curados ao tocar a orla de sua roupa, e a considerassem valiosa devido a alguma virtude “mágica” nela existente. Ou ainda (3) Eles esperavam conseguir dinheiro de seus amigos por uma relíquia sagrada como essa. Ou

(4) Por escárnio, eles pareciam lhe atribuir o valor das roupas de um rei. Ou

(5) Por diversão. Para passar. o tempo enquanto aguardavam a sua morte, eles jogavam dados pelas roupas; mas, quaisquer que fossem os seus desígnios, a Palavra de Deus é, nesse fato, cumprida. Em um famoso salmo, de cujas primeiras palavras Cristo fez uso do alto da cruz, está escrito: “Repartem entre si as minhas vestes e lançam sortes sobre a minha túnica” (Salmos 22.18). Isto nunca aconteceu a Davi, mas parece antes de tudo uma palavra direcionada a Cristo, de quem Davi falava em espírito. Então, essa parte da humilhação na cruz termina; pois parece ter sido por deliberação e conhecimento prévio de Deus. Cristo se despiu de suas glórias, para dividi-las entre nós.

Eles agora se sentaram e o vigiaram (v. 36). Os príncipes dos sacerdotes foram cuidadosos, sem dúvida, ao colocarem essa guarda, a fim de evitar que o povo, de quem eles ainda tinham muito medo, pudesse se revoltar e resgatá-lo. Mas a Providência assim o determinou, para que aqueles que foram designados para vigiá-lo, com isso se tornassem testemunhas irrepreensíveis dele. Tiveram a oportunidade de ver e ouvir aquilo que arrancou deles esta nobre confissão (v. 54): “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus”.

3. Pelo título colocado sobre a sua cabeça (v. 37). Era comum justificar o julgamento público e humilhar ainda mais os malfeitores que eram executados, não apenas colocando um arauto à frente deles para anunciar, mas um manuscrito acima da cabeça deles para informar o crime pelo qual eles sofriam; assim, colocaram sobre a cabeça de Cristo, por escrito, a acusação contra Ele, para avisar ao público porque Ele fora condenado: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Isto, eles planejaram para sua vergonha, mas Deus desconsiderou tanto isso, que até mesmo a acusação contra Ele contribuiu para a sua glória. Pois:

(1) Nela não havia nenhum crime alegado contra Ele. Não estava escrito que Ele era um pretenso Salvador ou um Rei usurpador, embora eles pensassem assim (João 19.21); mas: Este é Jesus, o Salvador; com certeza, isso não era um crime. E a expressão “Este é o Rei dos Judeus” também não é um crime; pois eles esperavam que o Messias fosse assim. Dessa forma, o Senhor Jesus não cometeu nenhuma transgressão, nem mesmo contra os seus próprios inimigos, que estavam na posição de juízes. Ao contrário,

(2) Aqui estava uma verdade, muito gloriosa declarada a respeito dele, de que Ele é Jesus, o Rei dos judeus, aquele Rei que os judeus esperavam e a quem deviam ter e submetido; de modo que a acusação contra Ele corresponde a isto: que Ele era o verdadeiro Messias e o Salvador do mundo. Aqui vemos algo parecido com o caso de Balaão, quando foi enviado para amaldiçoar Israel, porém os abençoou completamente por três vezes (Números 24.10), pois Pilatos, em vez de acusar a Cristo como criminoso, o proclamou Rei por três vezes em três inscrições. Desse modo, Deus faz com que os homens sirvam aos seus propósitos, muito mais do que aos propósitos deles.

4. Pelos seus companheiros de sofrimento (v. 38). Havia dois ladrões crucificados com Ele, ao mesmo tempo e no mesmo lugar e sob a mesma guarda; dois assaltantes de estrada ou salteadores, é o significado correto da palavra no texto original. É provável que aquele fosse o dia designado como o dia das execuções; e por isso, eles apressaram o processo de Cristo pela manhã, para que o tivessem pronto para ser executado com os criminosos. Alguns pensam que Pilatos determinou que as coisas fossem feitas desse modo, para que o ato de justiça da execução desses dois ladrões pudesse reparar a injustiça que ele praticou ao condenar a Cristo. Outros, que os judeus o planejaram, para aumentar a ignomínia dos sofrimentos do nosso Senhor Jesus; seja como for, as Escrituras foram cumpridas aqui (Isaias 53.12): “Ele foi contado com os transgressores”.

(1)  Ser crucificado com eles era uma vergonha para Jesus. Embora, enquanto vivo, ficasse separado dos pecadores, na morte eles não foram separados, mas Ele foi obrigado a compartilhar com os mais baixos malfeitores os seus flagelos, como se Ele tivesse sido um parceiro em seus pecados; pois Ele se fez pecado por nós e tomou para si a semelhança da carne pecaminosa. Ele foi, em sua morte, contado entre os transgressores e compartilhou o seu destino com os perversos para que nós, em nossa morte, possamos ser contados entre os santos e ter o nosso destino entre os escolhidos.

(2)  Era uma vergonha adicional que fosse crucificado entre os dois, como se Ele tivesse sido o pior dos três, o principal malfeitor; pois, entre três, o meio é o lugar reservado ao chefe. Cada detalhe foi planejado para a sua desonra, como se o grande Salvador fosse, de todos, o maior pecador. Foram, também, concebidos para contrariá-lo e embaraçá-lo, em seus últimos momentos, os gritos, os gemidos e as blasfêmias desses malfeitores, que, provavelmente, fizeram uma gritaria terrível quando foram pregados na cruz. Mas, nesse caso, tudo isso comoveria o próprio Cristo, pois Ele estava presenciando os sofrimentos dos pecadores, e estava padecendo pela salvação deles. Alguns apóstolos de Cristo foram, mais tarde, crucificados – como, por exemplo, Pedro e André-, mas nenhum deles foi crucificado junto com Ele, para que não parecesse que eles tivessem compartilhado com Ele o pagamento do pecado do homem, bem como a compra da vida eterna e da glória. Por isso, Ele foi crucificado entre dois malfeito­ res que não poderiam contribuir de forma alguma para a dignidade de sua morte. Jesus Cristo, e só Ele, levou os nossos pecados sobre o seu próprio corpo.

5. Pelas blasfêmias e insultos com os quais eles o oprimiram quando estava pendurado na cruz. Porém, não está escrito que eles tenham lançado acusações contra os ladrões que foram crucificados com o Senhor: Seria de se pensar que, quando o pregaram na cruz, tivessem feito o pior possível, e que a maldade tivesse se dissipado: sem dúvida, se um criminoso for colocado no pelourinho ou levado em uma carroça, por ser uma punição inferior à morte, isto geralmente é acompanhado de tais expressões de maus tratos; mas um homem moribundo, mesmo um homem infame, deve ser tratado com compaixão. É uma vingança insaciável, sem dúvida, aquela que não pode ser saciada nem mesmo com a morte, e uma morte tão notável. Mas, para completar a humilhação de nosso Senhor Jesus, e para mostrar que enquanto estava morrendo Ele carregava a iniquidade, Ele foi, então, oprimido com acusações. E, pelo que parece, nenhum de seus amigos, que há alguns dias gritavam “Hosana” para Ele, foi visto ousando mostrar algum respeito por Ele.

(1)  O povo que passava o insultava. Seu sofrimento extremo e paciência exemplar nessa condição, não os modificava nem os fazia demonstrar piedade; mas aqueles que, por sua gritaria, o conduziram a isso, agora pensavam se justificar através de suas acusações, como se houvessem pra ticado o bem ao condená-lo. Eles o insultavam: eles disseram blasfêmias contra Ele; e eram blasfêmias no sentido mais exato, pois estavam falando com maldade daquele que não considerava crime o fato de ser igual a Deus. Considere agora:

[1] As pessoas que o insultavam; aqueles que passavam, os viajantes que seguiam ao longo da estrada, e era uma grande estrada, que ia de Jerusalém a Gibeão. Elas estavam dominadas pelos preconceitos contra Ele, pelos relatos e clamores das pessoas dominadas pelos sacerdotes da religião judaica. Ter urna boa opinião a respeito das pessoas e das coisas que são depreciadas e criticadas em todo lugar é algo difícil, e requer mais dedicação e determinação do que aquelas com que geralmente nos deparamos. Todos tendem a repetir o que diz a maioria, e atirar uma pedra contra aquilo cuja reputação é ruim.

[2] O gesto que usaram, em desrespeito a Ele, meneando a cabeça; isso indicava o triunfo deles através da sua degradação, e os seus insultos contra Ele (Isaias 37.22; Jeremias 18.16; Lamentações 2.15). A linguagem era: “Eia, sus, alma nossa (Salmos 35.25). Desse modo, eles insultavam aquele que era o Salvador de seu país, assim como os filisteus fizeram com Sansão, o destruidor de seu país. Esse mesmo gesto fora profetizado (Salmos 22.7): “Eles meneiam a cabeça para mim”. E também o Salmo 109.25.

[3] Os insultos e os escárnios que eles disseram. Estes são registrados aqui.

Em primeiro lugar, eles o censuraram quanto à destruição do Templo. Embora os próprios juízes tivessem percebido que o que Ele dissera fora distorcido (como entendemos em Marcos 14.59), ainda assim eles habilmente espalharam entre o povo, para induzir ao ódio contra Ele, que era seu objetivo destruir o Templo; nada inflamaria mais o povo contra alguém. E essa não foi a única vez em que os inimigos de Cristo haviam se dado ao trabalho de fazerem os outros pensarem dessa forma sobre a religião e o povo de Deus, cuja acusação eles próprios sabiam ser falsa e injusta: “‘Tu que destróis o templo’, aquela estrutura enorme e poderosa, usa esse poder para descer agora da cruz, remove esses pregos e salva-te a ti mesmo; se tens o poder que apregoas, esta é a hora adequada para manifestá-lo e demonstrá-lo; pois espera-se que todo homem faça o máximo que puder para salvar a si mesmo”. Isso transformou a cruz de Cristo em um tremendo obstáculo para os judeus; eles a consideraram inconsistente com o poder do Messias. Ele foi crucificado em fraqueza (2 Coríntios 13.4); assim lhes parecia. Mas, sem dúvida, o Cristo crucificado é o Poder de Deus.

Em segundo lugar, eles o censuraram por dizer que era o Filho de Deus: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. Agora eles usam as palavras do Diabo, aquelas com as quais ele tentou o Senhor no deserto (cap. 4.3,6), e repetem a mesma agressão: “Se és o Filho de Deus”. Eles pensam que Ele deve provar agora que é o Filho de Deus ou nunca o fará; eles esqueceram de que Ele o havia provado pelos milagres que realizou, e, particularmente, ainda o faria ressuscitando dos mortos. Eles se recusavam a esperar pela prova completa, a sua própria ressurreição, a qual o Senhor Jesus havia tantas vezes mencionado. Se eles tivessem percebido realmente que Ele estava dizendo que iria ressuscitar, a humilhação da cruz teria sido antecipada. Este tipo de atitude resulta ele julgar as coisas pelos seus aspectos atuais, sem a de­ vida lembrança do que se passou e uma paciente espera pelo que pode acontecer no futuro.

(2)  Os príncipes dos sacerdotes e os escribas, os administradores da sinagoga judaica, os anciãos e os governantes o ridicularizaram (v. 41). Eles não pensaram que era suficiente convidar a multidão para fazê-lo, mas deram a Cristo a desonra, e a si mesmos, a diversão, reprovando-o em seus corações. Eles deviam estar no Templo em sua devoção, pois era o primeiro dia da festa dos pães asmos, quando deveria haver uma santa convocação (Levíticos 23.7); mas estavam aqui, em um lugar de execução, expelindo seu veneno contra o Senhor Jesus. Quão abaixo da grandeza e da seriedade de seu caráter estava isso! Podia qualquer outra coisa levá-los a se tornarem mais desprezíveis e baixos diante do povo? Podia-se pensar que, embora não temessem a Deus nem respeitassem o homem, ainda assim a prudência deveria lhes ter ensinado, sim, àqueles que tiveram uma grande participação na morte de Cristo, a se manter em o quanto pudessem nos bastidores e ficarem o menos possível à vista; mas nenhuma atitude má é tão ruim a ponto de a malícia não poder se agarrar a ela. Eles foram assim tão baixos, a ponto de causar um grande desgosto a Cristo. E será que devemos temer a aparente humilhaão ao nos juntarmos às multidões para glorificar ao Senhor, dizendo: “Se isto é ser vil, ele boa vontade me humilharei ainda mais?”.

Duas coisas pelas quais os sacerdotes e os anciãos tentaram censurá-lo.

[1] Disseram que Ele não podia salvar a si mesmo (v. 42). Ele havia sido ofendido anteriormente em seu ministério profético e real, e agora, em seu ministério sacerdotal, como o Salvador. Em primeiro lugar, eles tinham como certo que Ele não podia salvar a si mesmo, e por isso não tinha o poder que alegava ter, quando, na verdade, o Senhor Jesus não se livraria da morte porque morreria para nos salvar. Eles deviam supor: “Ele salvou a outros, portanto poderia salvar a si mesmo. E, se não o faz, é por alguma boa razão”. Mas, em segundo lugar, eles desejavam insinuar que, como Ele, agora, não salvava a si mesmo, toda a sua pretensão de salvar a outros nada mais era do que simulação e ilusão, e era algo que nunca, de fato, fora feito, embora a veracidade de seus milagres fosse demonstrada e estivesse além de qualquer contestação. Em terceiro lugar, eles o repreenderam por afirmar ser o Rei de Israel. Eles sonhavam com a pompa e o poder exterior do Messias, e por isso consideravam a cruz como algo completamente incompatível com o Rei de Israel e inconsistente com tal personagem. Muitas pessoas gostariam do Rei de Israel se Ele descesse da cruz, se eles pudessem ter o reinado dele sem a tribulação pela qual eles devem passar. Mas a questão está resolvida; se não há cruz, não há Cristo, nem coroa. Aqueles que reinariam com Ele, deveriam aceitar sofrer com Ele, pois Cristo e a sua cruz estão ligados um ao outro neste mundo. Em quarto lugar, eles o desafiaram a descer da cruz. E o que seria de nós, então, e da obra da nossa redenção e salvação? Se Ele tivesse sido incitado a descer da cruz por essas zombarias, deixando assim a sua missão incompleta, nós estaríamos arruinados para sempre. Mas o seu amor e resolução imutáveis o colocaram acima dessa tentação, e fortaleceram-no contra ela, de forma que Ele não foi mal- sucedido e nem desanimou. Em quinto lugar, eles prometeram que, se Ele descesse da cruz, eles acreditariam nele. Que Ele lhes dê essa prova de que é o Messias, e eles confessarão que Ele o é. Anteriormente, quando eles exigiram um sinal, Ele lhes disse que o sinal que lhes daria seria não a sua descida da cruz, mas algo que seria uma amostra maior do seu poder: ressuscitar dentre os mortos, algo que não tiveram a paciência de aguardar por dois ou três dias. Se o Senhor tivesse descido da cruz, eles poderiam utilizar o mesmo argumento que usaram quando Ele ressuscitou, dizendo que os seus discípulos vieram à noite e roubaram o seu corpo, ou pode­ riam dizer que os soldados haviam trapaceado ao pregá-lo na cruz. Mas prometer que acreditaríamos se tivéssemos tais e tais condições e motivos ele fé, conforme condições determinadas por nós mesmos, quando não aproveitamos os desígnios ele Deus, não é apenas um exemplo grosseiro ela falsidade de nossos corações, mas o triste refúgio, ou melhor, subterfúgio, ele uma obstina­ da infidelidade destruidora.

[2] Disseram que Deus, o seu Pai, não o salvaria (v. 43). Ele confiou em Deus, quer dizer, Ele assim o fingiu; pois disse: “Sou o Filho ele Deus”. Aqueles que chamam a Deus ele Pai, e a si mesmos ele seus filhos, estão declarando a sua confiança nele (Salmos 9.10). Agora eles sugerem que Ele apenas decepcionou a si mesmo e a outros, ao se mostrar como sendo tão querido pelos céus; pois, se Ele fosse o Filho de Deus (como os amigos ele Jó argumentaram a respeito dele), não teria sido abandonado à mercê ele todo esse sofrimento, e muito menos mantido nele. Isto era uma espada em seus ossos, como Davi se queixa em uma condição semelhante (Salmos 42.10); e era uma espada de dois gumes, pois foi planejado, em primeiro lugar, para difamá-lo e fazer os espectadores pensarem que Ele era um impostor; como se as suas declarações ele que era o Filho de Deus estivessem agora efetivamente desmentidas. Em segundo lugar, para aterrorizá-lo e fazê-lo desconfiar e perder a esperança do amor e do poder de seu Pai; o que, alguns pensam, era o que Ele temia, zelosamente, orando para que não ocorresse e que fosse livre dela (Hebreus 5.7). Davi se queixou mais dos esforços de seus perseguidores para abalar a sua fé e afastá-lo de sua esperança em Deus do que das suas tentativas de afastá-lo do seu trono e do seu reino. As afirmações deles eram: “Não há salvação para ele em Deus” (Salmos 3.2) e “Deus o desamparou” (Salmos 71.11). Nisso e em outras coisas, ele tipificou a Cristo. Nessa famosa profecia a respeito de Cristo, Davi menciona as palavras que foram ditas por seus inimigos (Salmos 22.8). Ele confiava que o Senhor o libertaria. Certamente, esses sacerdotes e escribas haviam-se esquecido elos seus Salmos, caso contrário, não teriam usado as mesmas palavras de uma forma tão exata, para responder ao tipo e á profecia: mas as Escrituras devem ser cumpridas.

(3)  Para completar o vitupério, os ladrões que também foram crucificados com Ele não apenas não foram insultados como Ele foi, como se tivessem sido santos quando comparados com Ele, mas, sendo seus companheiros de sofrimento, juntaram-se aos seus acusadores e lhe proferiam insultos face a face. Um deles chegou a dizer: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós (Lucas 23.39). Seria de se pensar que, de todas as pessoas, esse ladrão tinha menos motivos e deveria ter se preocupado menos em provocar ou ridicularizar a Cristo. Companheiros de sofrimento, ainda que por motivos diferentes, geralmente se solidarizam um com o outro; e poucos, a despeito do que tenham feito anteriormente, gastarão o seu último suspiro com insultos. Mas parece que as maiores mortificações do corpo e as repreensões mais humilhantes da Providência de Deus não mortificarão, por si mesmas, as corrupções da alma, nem conterão as iniquidades dos perversos, sem a graça de Deus.

Bem, desse modo, tendo o nosso Senhor Jesus tomado para si o encargo de satisfazer a justiça divina pelo mal que o pecado fez no tocante à honra de Deus, Ele o fez sofrendo em sua honra. E Ele o fez não apenas negando a si mesmo o que lhe era devido por ser o Filho de Deus, mas se submetendo à pior indignidade que poderia ser feita ao pior dos homens; porque Ele foi feito pecado por nós. Ele se tornou, assim, uma maldição por nós, para que possamos suportar com mais facilidade as situações mais difíceis, como, por exemplo, se formos acusados injustamente de todo tipo de iniquidade, por amor à justiça.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

UMA VEZ CONFIÁVEL, SEMPRE CONFIÁVEL?

Estudo iniciado há mais de seis décadas procura mostrar que alguns aspectos do caráter podem mudar significativamente ao longo da vida, em especial após a adolescência; conclusões, porém ainda intrigam cientistas.

Uma vez confiável, sempre confiável

Muitas pesquisas sugerem que aspectos marcantes de personalidade permanecem estáveis mesmo depois de décadas. No entanto, um experimento de longa duração sugere que características relacionadas com a confiabilidade diferem de forma substancial entre adolescência e vida adulta. Os resultados suscitam novas questões e destacam os desafios inerentes à tentativa de acompanhar os traços que definem uma pessoa ao longo dos anos.

Em um estudo publicado na Psychology and Aging, pesquisadores do Reino Unido acessaram os registros de 635 indivíduos de 77 anos, da Escócia, que haviam participado de uma pesquisa quando tinham 14. Na época, seus professores haviam feito uma análise dos adolescentes em relação a seis características de personalidade associadas com a confiabilidade: autoconfiança. perseverança, estabilidade do humor, capacidade de cuidar de si mesmo e dos outros, originalidade e desejo de se destacar. Agora, depois de mais de 60 anos, 174 participantes do grupo original se auto avaliaram em relação aos mesmos seis traços, além de receber a opinião de um parente ou amigo próximo.

O psicólogo lan Deary, professor da Universidade de Edimburgo e autor principal do artigo, esperava – com base em descobertas anteriores –  que os níveis de confiabilidade permanecessem estáveis com o passar do tempo. De fato, ele e seus colegas não encontraram nenhuma relação entre as classificações no período de 63 anos estudado.

Apesar de Deary enfatizar que os resultados se aplicam apenas a esses seis traços – não à personalidade em geral-, um dos pontos fortes da pesquisa é que abrange um período longo. Mas, essa característica também é um desafio. A psicóloga social Nate Hudson, professora da Universidade Estadual de Michigan, que não estava envolvida na pesquisa, afirma que a conclusão de que personalidade é maleável pode ser enganosa, considerando o fato de haver diferentes pessoas avaliando os participantes idealmente, o mesmo individuo deveria classificar a personalidade de um voluntario em ambos os momentos.

Ouro problema é que, ao longo das décadas de estudos, muitos participantes desapareceram, morreram ou optaram por não participar de avaliações de acompanhamento. Deary e seus colegas tiveram acesso a apenas 174 dos voluntários originais, o que traz obstáculos para encontrar correlações sutis, mas reais em conjuntos de dados. Embora o trabalho traga avanços. ainda são necessárias mais pesquisas para obter uma imagem mais completa de como o jeito de ser evolui ao longo da vida.

OUTROS OLHARES

ELES NÃO SERVEM PARA NADA

Uma revisão de mais de cem artigos científicos mostra que os quatro suplementos vitamínicos mais consumidos não têm efeito protetor.

Eles não servem para nada

Um estudo que acaba de ser publicado no jornal do Colégio Americano de Cardiologia parece colocar um ponto final na discussão sobre a utilidade de recorrer aos suplementos vitamínicos em busca de mais proteção para o coração e o cérebro. Segundo o artigo, de modo geral eles não têm qualquer interferência sobre a saúde cardiovascular. Ou seja, nem ajudam nem atrapalham. As exceções ficam por conta dos complementos de ácido fólico, que apresentam pequeno benefício para o cérebro. Realizada pelos pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, a pesquisa também concluiu que suplementos de niacina (vitamina B3) e de antioxidantes na verdade estão associados ao aumento do risco de morte por doenças.

A análise da eficácia dos suplementos sempre foi pautada por conclusões discrepantes. Apesar dos desencontros de informações, o consumo desses recursos mantém-se alto. Nos EUA, por exemplo, mais de 50% dos adultos tomam algum tipo de suplemento. No Brasil a indústria de suplementos cresce 15 % ao ano desde 2010.

O trabalho apresentado propôs-se a analisar os resultados de 179 pesquisas realizadas entre 2012 e 2017. Os cientistas descobriram que os quatro suplementos mais consumidos (multivitamínicos, vitamina D, cálcio e vitamina C) não apresentaram evidências consistentes de benefícios na prevenção de infarto ou de AVC. “O único exemplo de eficácia foi o uso de ácido fólico”, afirmou o coordenador do trabalho, médico David Jenkins.

DEFICIÊNCIAS

O resultado corrobora as orientações da força tarefa de especialistas montada pelo governo americano para a área de nutrição e prevenção de saúde. O grupo afirmava que não há evidência nem dos benefícios nem dos prejuízos causados pelos suplementos.

A vitamina D, por exemplo, tornou-se popular, mas, surpreendentemente, não mostrou efeito contra doenças cardíacas ou para prolongar a vida, diz Jenkins.

No Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Suplemento Nutricionais, Sinésio da Costa, diz que os produtos beneficiam grupos específicos. “Eles devem continuar sendo resposta para pessoas com deficiências”, diz. Ele cita como exemplo os esportistas, cujas atividades requerem do organismo desempenho superior ao normal.

AS ÚLTIMAS EVlDÊNCIAS CIENTÍFlCAS MOSTRAM QUE

  • Multivitamínicos e suplementação de vitaminas D e C e de Cálcio não ajudam na prevenção contra infarto e acidente vascular cerebral(AVC)
  • Complementos de ácido fólico e de complexos de vitamina B têm algum benefício na prevenção de AVC.
  • Niacina e antioxidantes estão associados ao aumento de risco de morte por todas as doenças.

O QUE SE RECOMENDA

  • adotar dietas alimentares comprovadamente benéficas, pobre em gorduras trans. (presente em alimentos como biscoitos e sorvete), saturada (manteiga e carne gordurosa) e ricas no consumo de frutas, verduras e

 Eles não servem para nada.2

GESTÃO E CARREIRA

COMO DEFINIR MEU PROPÓSITO?

Em algum momento da vida nos encontramos em um ponto em que vivemos no automático, na rotina, presos a esquemas mentais e de comportamentos repetitivos, desejando sair deles.

Como definir meu propósito

Atualmente, é normal nos depararmos com pessoas que se sentem perdidas em um dia a dia incessante, prisioneira de hábitos mecânicos e inconscientes que afetam negativamenete a  saúde, a famíia e a realização. É como se elas viessem com o piloto automático acionado, andando pela  vida com o freio de mão puxado, sem energia, força e motivação. Automaticamente, os planos projetos são substituídos pela obrigaçõo, pelo fardo e tédio de cumprir as tarefas e, assim, o desânimo e a falta de entusiasmo acabam tomando conta.

Nesses momentos, como nâo perder os próprios objetivos de vista? Como não cair no vazio? E como não se perguntar “qual é o meu propósito de vida?” Aristóteles nos deixou uma grande dica em um dos seus pensamentos, que está diretamente relacionada a essa questão: “Onde meus talentos e paixões encontram as necessidades do mundo, lá está meu caminho, meu lugar”.

Todos nós, em diferentes momentos da vida, nos perguntamos qual é o real sentido dela.   Perguntas como “O que estou fazendo faz sentido para mim?” e “estou vivendo o meu propósito?”   são corriqueiras, principalmente quando nos deparamos com adversidades ou decepções na vida pessoal e profissional.

Para encontrar a resposta de “como definir o propósito de vida?”, é necessário esclarecer, em síntese, o que é um propósito. Ele é o significado, o sentido e a finalidade maior pelos quais fazemos e realizamos objetivos e metas. Trata-se da motivação que nos move diariamente e pela qual buscamos um objetivo e um resultado.

O propósito é o combustível das nossas ações. Descobrimos “quem é ele”, quando conseguimos responder as perguntas: “Por que estou fazendo isso?”, “Por que quero esse objetivo?”, “Por que estou disposto a dedicar tempo e esforço para atingir uma determinada meta?”

Se tivermos as respostas para essas dúvidas, certamente encontramos nosso propósito. Para entender melhor, vou dar um exemplo: Por que me dedico ao trabalho? Muitos podem ser as motivações para essa dedicação: para proporcionar conforto e segurança a minha família, para fazer a diferença na minha comunidade, para gerar prosperidade a todos os envolvidos ou simplesmente para ser feliz e realizado.

Sem um propósito claro, as pessoas até alcançam os seus objetivos, mas não se sentem felizes. Elas concluem uma meta e não ficam satisfeitas, cumprem seus planos, mas não entram em um estado de plenitude e realização. Para elas, falta o significado maior do seu agir e fazer.

O seu propósito não é e nunca será igual ao de outras pessoas. Ele é especialmente único. É essencial saber que, para atingi-lo, percorrerá por objetivos e metas, por isso faz-se necessário saber se os objetivos que você tem como prioridade servem realmente para você.

É comum que as pessoas escolham objetivos que não são para elas, que não fazem parte da sua vida, nem dos seus valores. Isso significa que é preciso avaliar o que é realmente válido para ter aquele entusiasmo real e verdadeiro que motiva a correr atrás do propósito.

Preste atenção também para saber se seus objetivos não beiram ao impossível pois boa parte do êxito é ser realista, o que evita um círculo vicioso de metas e fracassos, de esforços e decepções, de tentativas e desistências.  Para isso, estabeleça as metas que são etapas de curto prazo, que nos levam à realização dos objetivos e propósitos.

Lembrando que encontrar o próprio propósito não é uma cobrança, nem um motivo de comparação ou desvalorização. Cada um de nós tem um caminho pessoal, tem seu tempo, seus talentos e unicidade. Precisamos olhar para o nosso interior e perceber o que amamos fazer, quais os nossos valores e princípios e quais as nossas habilidades.

As vezes as pessoas param de buscar seu propósito ou de acreditar nele porque as pressões da vida desmotivam, cansam, frustram e elas voltam a viver na superficialidade.

Mantenha cada vez mais o alinhamento e a coerência entre seus propósitos, objetivos e metas, mantenha o foco, avalie os resultados no decorrer do caminho e se falhar em algum momento ou desmotivar por um instante, reajuste a rota com determinação e comprometimento.

Estudos da Neurociência comprovam que estar alinhado e comprometido com sua meta estimula a cognição, e algumas substâncias do cérebro também potencializam a sensação de prazer.

Além disso, a dra. Bárbara Fredrickson, referência em Psicologia Social e pesquisadora de estudos sobre as emoções positivas evidenciou que estas são o grande objetivo da evolução humana. As emoções positivas ampliam os recursos intelectuais, físicos e sociais das pessoas. Quando sentem, por exemplo, emoções de realização, satisfação e alegria de estarem cumprindo seu propósito na vida, elas se tornam mais tolerantes, criativas e abertas a novas ideias e experiências mais felizes.

EDUARDO SHINYASHIKI – é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o crescimento e a auto liderança das pessoas.

http://www.edushin.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 26-32

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Cristo é açoitado e ridicularizado. Cristo é escarnecido pelos soldados

Nesses versículos, temos os preparativos para a crucificação de nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui:

I – A sentença foi lavrada, e assinada a autorização para a sua execução; e isso imediatamente, naquela mesma hora.

1. Barrabás, aquele criminoso notório, foi libertado: se ele não tivesse sido colocado em disputa com Cristo pela preferência do povo, é provável que tivesse morrido por seus crimes; mas aquela situação forneceu os meios para a sua libertação; para indicar que Cristo foi condenado para este propósito, que pecadores, mesmo o maior dos pecadores, poderiam ser libertados. Cristo foi entregue para que pudéssemos ser libertados; a praxe da Providência Divina é que o resgate do justo é o ímpio, e o resgate do reto, o iníquo (Provérbios 21.18; 11.18). Neste exemplo sem paralelos da graça divina, o Justo é oferecido como o resgate pelos transgressores; o justo pelos injustos.

2. Jesus foi açoitado; essa era uma punição infame e cruel, especialmente da maneira como era infligida pelos romanos, que não estavam sob a moderação da lei dos judeus, que proibia açoitamentos acima de quarenta chibatadas. Essa punição era mais irracionalmente imposta a alguém que estivesse sentenciado a morrer: os açoites não eram uma introdução aos machados, mas seus substitutos. Desse modo, a Escritura foi cumprida: “Os lavradores araram sobre as minhas costas” (Salmos 129.3), “dei as costas aos que me ferem” (Isaias 50.6), e, “pelas suas pisaduras, fomos sarados” (Isaias 53.5). Ele foi castigado com açoites, para que nós não fôssemos castigados para sempre com escorpiões.

3. El e foi, então, entregue para ser crucificado; embora a sua severa punição tenha ocorrido em prol de nossa paz, nenhuma paz é feita, a não ser pelo sangue de sua cruz (Colossenses 1.20). Consequentemente, o açoite não é o bastante. Jesus Cristo deve ser crucificado, um tipo de morte praticado apenas entre os romanos. Esse tipo de execução parece ser o resultado da combinação entre inteligência e crueldade, ambas estendidas ao máximo, para causar a morte no grau mais alto, terrível e miserável. Uma cruz era colocada no solo, nela as mãos e os pés eram pregados, nesses pregos o peso do corpo era pendurado, até que morresse de dor. Essa é a morte a que Cristo fora condenado, e correspondia ao simbolismo da serpente de metal colocada sobre uma haste. Era uma morte sangrenta, uma morte dolorosa, vergonhosa, amaldiçoada; era uma morte tão deprimente que príncipes piedosos determinaram que aqueles que fossem condenados a ela pela lei, fossem estrangulados primeiro, e então pregados na cruz. Assim Júlio César fez a alguns piratas, Suetônio, livro 1. Constantino, o primeiro imperador cristão, através de um edital, aboliu a aplicação daquela pena entre os romanos, para que o símbolo da salvação não fosse um instrumento para a destruição da vítima.

II – O bárbaro tratamento que os soldados impuseram ao Senhor, enquanto a sua execução estava sendo preparada. Quando Ele foi condenado, deveriam ter lhe concedido algum tempo para que se preparasse para a morte. Havia uma lei criada pelo senado romano no tempo de Tibério, talvez por conta ele queixas contra isso e a possível precipitação, para que a execução de criminosos fosse adiada em pelo menos dez dias depois da sentença. Mas nenhum minuto foi concedido ao nosso Senhor Jesus, e Ele mal teve tempo para respirar. Não lhe foi permitido nenhum tempo para pensar; as coisas pioraram cada vez mais e a tempestade continuou sem interrupção.

Quando Ele foi entregue para ser crucificado, isso já seria o suficiente. Aqueles que matam o corpo geralmente se conformam porque não há nada mais que possam fazer. Mas os inimigos de Cristo fariam mais e, se fosse possível, juntariam mil mortes em uma. Embora Pilatos o declarasse inocente, mesmo assim os seus soldados e os seus guardas se concentraram em maltratá-lo, sendo mais influenciados pela fúria do povo contra Ele elo que pelo testemunho de seu governante em favor dele. A turba judaica contagiou as tropas romanas. Também é possível que talvez eles o tenham maltratado dessa forma nem tanto por rancor a Ele, mas como uma diversão. Eles entenderam que Ele aspirava uma coroa; ridicularizá-lo com isso proporcionava-lhes um pouco de divertimento e uma oportunidade para alegrarem uns aos outros. Note que é uma atitude de um espírito baixo, servil e sórdido tripudiar sobre aqueles que estão sofrendo, e fazer das desgraças de alguém uma questão de divertimento e folia.

Considere:

1. Onde isso aconteceu: “no pátio”. A casa do governador, que deveria ter sido um abrigo para aqueles que sofressem abusos e maus tratos, tornou-se o teatro dessa barbaridade. Eu gostaria de saber se o goverador, que estava tão desejoso de se isentar da responsabilidade pelo sangue desse Justo, sofreu pelo fato de tudo isto ter acontecido em sua casa. Talvez ele não tenha ordenado que isso fosse feito, mas foi conivente; e aqueles que têm autoridade serão responsáveis, não pela maldade que fazem ou ordenam, mas por aquela que não reprimem, quando o poder está em suas mãos. Chefes de famílias não devem tolerar que as suas casas sejam palcos ele maus tratos a ninguém, nem que os seus empregados se divirtam com os pecados, ou sofrimentos, ou com a religião dos outros.

2. Quem estava envolvido com isso. Eles reuniram todo o bando, os soldados que cuidariam da execução, todo o regimento (no mínimo quinhentos, porém alguns acreditam que mil e duzentos ou mil e trezentos) compartilharia da diversão. Se Cristo se tomou desse modo um espetáculo, que nenhum de seus seguidores ache estranho ser posto nessa condição (1 Coríntios 4.9; Hebreus 10.33).

3. Que outras perversidades em especial foram feitas contra o Senhor Jesus.

(1)  Eles o despiram (v. 28). A vergonha da nudez veio com o pecado (Genesis 3.7); e então Cristo, quando veio para responder pelo pecado, e o removeu, foi despido e submetido àquela vergonha, para que Ele pudesse preparar para nós vestes brancas para nos vestir (Apocalipse 3.18).

(2)  Eles o cobriram com um manto escarlate, alguma velha capa vermelha, como as que os soldados romanos usavam, em uma imitação das capas escarlates usadas pelos reis e imperadores. Esta era uma censura pelo fato de Ele ser chamado de Rei. Essa simulação de realeza foi colocada sobre o Senhor quando o seu semblante transmitia uma impressão de miséria e sofrimento; a intenção daqueles algozes era exibi-lo aos espectadores da forma mais ridícula possível. Ainda assim, havia algum mistério nisso. Ele era aquele que tinha as vestes tintas (Isaias 63.1,2), que lavou as suas vestimentas no vinho (Genesis 49.11); por isso, Ele estava coberto com um manto escarlate. Os nossos pecados eram vermelhos como o escarlate e o carmesim. O fato de Cristo ser coberto por um manto escarlate indicava que Ele estava carregando os nossos pecados, para sua vergonha, em seu próprio corpo sobre o madeiro; assim, podemos lavar as nossas vestes e torná-las brancas, no sangue do Cordeiro.

(3)  Eles teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça do Senhor (v. 29). Eles o fizeram para continuar a escarnecer dele como um rei. Mesmo que eles tivessem planejado fazer isso apenas como vitupério, poderiam ter tecido uma coroa de palha, ou junco; mas eles a planejaram para ser dolorosa para Ele, e para ser, literalmente, aquilo que as coroas são de forma figurada, revestidas com espinhos; aquele que inventou essa crueldade provavelmente se valorizava pela sutileza. Mas havia um mistério nisso:

[1] Os espinhos vieram com o pecado, e estes eram parte da maldição que era o produto do pecado (Genesis 3.18). Consequentemente, Cristo tornando-se maldição por nós, e morrendo para removê-la, sentiu a dor lancinante daqueles espinhos e, além disso, Ele os ata como uma coroa para si (Jó 31.36); porque os seus sofrimentos por nós eram a sua glória.

[2] Então, Ele corresponde ao simbolismo do carneiro de Abraão que estava preso entre os arbustos e foi oferecido no lugar de Isaque (Genesis 22.13).

[3] Os espinhos simbolizam as aflições (2 Crônicas 33.11). Cristo colocou as aflições em uma coroa. Ele modificou muito a propriedade delas para aqueles que são seus, dando-lhes um motivo para se gloriarem na tribulação, fazendo com que isso lhes sirva como uma medida de glória.

[4] Cristo foi coroado com espinhos para mostrar que o seu reino não é deste mundo, nem a glória dele, uma glória terrena. O seu Reino está presente aqui com amarras e aflições, enquanto a sua glória está para ser revelada.

[5] Era costume de algumas nações pagãs levar os seus sacrifícios para os altares coroados com grinaldas; esses espinhos eram as grinaldas com as quais esse grande sacrifício foi coroado.

[6] Certamente, esses espinhos fizeram com que saísse sangue de sua bendita cabeça, que gotejou por seu rosto como o óleo precioso (tipificando o sangue de Cristo, com o qual Ele consagrou a si mesmo) sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, semelhante à barba de Arão (Salmos 133.2). Assim, quando Ele veio para desposar o seu amor, a sua pomba, a sua igreja imaculada, a sua cabeça estava cheia de orvalho, e os seus cabelos, das gotas da noite (Cantares 5.2).

(4)  Eles colocaram uma cana em sua mão direita. Esta se destinava a imitar um cetro, outro símbolo de realeza através do qual zombaram dele. Como se esse fosse um cetro suficientemente bom para um Rei como Ele, como se fosse uma cana agitada pelo vento (cap. 11.7). Eles queriam dizer que um cetro e um reino como esses eram ambos fracos e vacilantes, secos e sem valor; mas eles estavam completamente enganados, pois o trono dele é eterno e perpétuo, e o cetro do seu reino é um cetro de equidade (Salmos 45.6).

(5)  Eles se ajoelharam diante dele e o escarneceram, dizendo: “Salve, Rei dos Judeus!” Tendo agido como se Ele fosse um rei de mentira, eles fizeram gestos como quem o homenageia, zombando assim de suas pretensões à realeza, como os irmãos de José (Genesis 37.8). “Tu, pois, deveras reinarás sobre nós?” Mas, assim como eles foram, mais tarde, forçados a reverenciar José, confirmando os seus sonhos, estes se ajoelhavam com escárnio para com aquele que foi, logo depois disso, exaltado à mão direita de Deus, para que, diante da menção de seu precioso Nome, todo joelho se dobre, ou se submeta diante dele. É inadequado brincar com aquele que mais cedo ou mais tarde virá com toda a seriedade.

(6)  Eles cuspiram nele. Dessa maneira, Ele sofreu abusos no pátio do sumo sacerdote (cap. 26.67). A título de homenagem, os subalternos costumavam beijar o soberano, como símbolo de sua submissão; assim, Samuel beijou Saul, e nós somos convidados a beijar o Filho: mas eles, nessa homenagem irônica, em vez de beijá-lo, cospem em sua face; aquela face abençoada que brilha mais que o sol, e diante da qual os anjos cobrem as suas, foi assim profanada. Chega a ser estranho que os filhos dos homens cometessem um ato tão vil, e que o Filho de Deus sofresse tal humilhação.

(7)  Eles lhe tiraram a cana, e lhe golpearam com ela na cabeça. Aquilo que eles usaram como o falso símbolo de sua realeza, eles agora utilizam como o verdadeiro instrumento de sua crueldade e da dor que estavam infligindo ao Senhor: Eles o golpearam; é provável que o tenham golpeado sobre a coroa de espinhos, para que estes penetrassem em sua cabeça e o ferissem ainda mais profundamente, o que lhes divertiria ainda mais. Para esses iníquos, a dor do Senhor era o maior prazer. Assim, era Ele desprezado e rejeitado pelos homens; um homem de dores, familiarizado com o sofrimento. Ele passou por todo esse sofrimento e vergonha, para que pudesse comprar para nós a vida, a alegria e a glória eternas.

III – A condução dele ao local da execução. Depois de haverem escarnecido e abusado dele pelo tempo que quiseram, eles retiraram a sua capa, para indicar o seu despojamento de toda a autoridade real da qual o haviam investido ao colocá-la nele. Então vestiram-lhe as próprias vestes, porque estavam destinadas a serem compartilhadas pelos soldados que foram empregados na execução. Eles lhe tiraram a capa, mas não é feita nenhuma menção de que tenham tirado a coroa de espinhos, de que comumente se supõe (embora não haja nenhuma certeza disso) que Ele tenha sido crucificado com ela em sua cabeça; pois, assim como Ele é um Sacerdote em seu trono, Ele era um Rei em sua cruz. Cristo foi levado para ser crucificado com as suas próprias vestes, porque Ele mesmo deveria levar os nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro. E aqui:

1. Eles o levaram para ser crucificado. Ele foi levado como um cordeiro para a matança, como um sacrifício para o altar. Nós bem podemos imaginar como eles o apressaram, e o arrastaram com toda velocidade possível, para que nada os impedisse de satisfazer a sua ira cruel contra o seu precioso sangue. É provável que eles agora o oprimissem com zombarias e reprovações e o tratassem como o refugo de todas as coisas. Eles o levaram para fora da cidade; pois Cristo, para que pudesse santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta (Hebreus 13.12), como se Ele, que era a glória daqueles que esperavam pela redenção em Jerusalém, não fosse digno de viver entre eles. Ele próprio tinha isso em vista, quando, na parábola, fala de sua expulsão da vinha (cap. 21.39).

2. Eles obrigaram um homem cireneu, Simão, a levar a cruz do Senhor (v. 32). Parece que, a princípio, Ele mesmo carregou a cruz, como Isaque carregou a madeira para o sacrifício, que seria usada para consumi-lo na fogueira. E isso visava, como todos os demais flagelos, causar-lhe tanto dor quanto vergonha. Mas, depois de algum tempo, eles lhe tiraram a cruz, e alguns motivos para isso são os seguintes:

(1) Por compaixão por Ele, porque eles perceberam que ela lhe era uma carga muito pesada. Nós mal podemos imaginar que eles levassem isso em consideração; ainda assim, isso nos ensina que Deus leva em conta a resistência do seu povo, e não permitirá que eles sejam tentados acima do que podem suportar. Ele lhes dá algum tempo para respirar, mas eles devem esperar que a cruz retorne, e os intervalos apenas lhes dão um período para se prepararem para o próximo ataque.

(2) Talvez tenham agido assim porque Ele não poderia, com a cruz em suas costas, andar tão rápido quanto eles desejavam. Ou ainda:

(3) Talvez estivessem receosos diante da possibilidade de que Ele viesse a desfalecer devido ao peso de sua cruz e morrer; impedindo assim as outras maldades que eles pretendiam fazer contra Ele: portanto, mesmo as gentis compaixões dos perversos (que assim parecem ser) são realmente cruéis. Tirando dele a cruz, eles forçaram Simão cireneu a carregá-la, pressionando-o a ajudar através da autoridade do governador ou dos sacerdotes. Era um, vitupério, e ninguém faria isso se não fosse obrigado. Alguns pensam que esse Simão era um discípulo de Cristo, pelo menos um simpatizante dele, e que eles o sabiam e por esse motivo maldosamente o encarregaram de carregar a cruz. Note que todos aqueles que querem sei; comprovadamente, verdadeiros discípulos, devem seguir a Cristo, carregando a sua cruz (cap. 16.24), carregando o seu vitupério (Hebreus 13.13). Devemos compartilhar dos seus sofrimentos por nós, submetendo-nos pacientemente por amor a Ele a todos os sofrimentos para os quais formos chamados; pois só reinarão com Ele aqueles que sofrerem com Ele. Aqueles que beberem do seu cálice e forem batizados com o seu batismo, se sentarão com Ele em seu Reino.

PSICOLOGIA ANLÍTICA

POR QUE (UM POUCO DE) INSEGURANÇA FAZ BEM

Uma pequena dose de incerteza sobre os bons resultados em alguma situação específica, e, até mesmo, sobre nossa capacidade de forma geral favorece as interações sociais e funciona como um estímulo fundamental para nos mantermos atentos a nós mesmos.

por que um pouco de insegurança faz bem

Por mais que estejamos convictos de nossa capacidade, vez ou outra a maioria das pessoas se pergunta: Sou mesmo capaz? Que esboce o primeiro sorriso irônico quem nunca teve receio de parecer tolo ao fazer uma pergunta ou comentário durante uma aula ou reunião de trabalho. Ou quem jamais passou silenciosamente pela pessoa por quem se sentia atraído, tentando não chamar atenção. Ou, ainda, evitou assumir alguma responsabilidade pessoal ou profissional com medo do fracasso. Na busca de encontrar palavras e atitudes certas, muitas vezes prevalecem o silêncio e a inércia. Podemos chamar esse comportamento de ansiedade social, insegurança ou inibição. Qualquer que seja a denominação, estamos falando de insegurança, um aspecto da condição humana.

O desejo de nos esconder, que por vezes experimentamos, começa com a percepção de que algo está errado conosco, de que somos desajeitados, irritantes, chatos, estúpidos, incompetentes, ou qualquer outro milhão de traços que nos desabonam.  E pensamos que, a menos que escondamos a falha que percebemos ter, ela se tornará óbvia e todos nos julgarão e nos rejeitarão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 15% das pessoas apresentam sintomas de ansiedade social em alguma fase da vida. Isso pode se revelar numa equação complexa: traduzir (ou imaginar) o que os outros desejam de nós e tentar se adequar a essa expectativa. O problema, na prática, é que pessoas que pensam assim deixaram de aproveitar oportunidades com receio de se expor e, em alguns casos, até suspeitam que recebem convites ou são incluídas em variadas situações porque inspiram pena alheia.

É bastante frequente que as pessoas se reconheçam como tímidas, o que talvez seja apenas uma maneira de dizer que a insegurança emerge em situações sociais em que tememos que nossas falhas percebidas sejam reveladas. E então nos chutamos: “Isso é estúpido!”, “Por que não posso fazer isso?”; “O que há de errado comigo?”. A resposta: nada. A ansiedade social é um distúrbio precisamente porque a nossa falha fatal é apenas isto: uma percepção.

Se isso causa toda essa miséria e preocupação, por que a insegurança persistiu por milênios de evolução? Que uso tem? Por que não caiu com nossa cauda ou foi negociado por polegares opositores? Acontece que a insegurança não é um deslize da evolução. Ela tem sua função: uma dose saudável de insegurança nos estimula a monitorar a nós mesmos e nossas interações. Promove a introspecção e nos ajuda a identificar como nos relacionar melhor com nossos semelhantes. Em suma, duvidamos de nós mesmos para nos controlar. E essas duvidas nos compram pelo menos três benefícios rastreáveis.

Primeiro, o mais importante: propagação. Em 1984, a psicóloga desenvolvimentista Cynthia Garcia Coll chamou a tendência inata de se afastar de situações não familiares de inibição comportamental. Trata-se do nosso grau de cautela quando nos confrontamos com novas pessoas, lugares ou eventos. E não é encontrado apenas em crianças que se agarram a perna da mãe ou a gatos escondidos embaixo da cama quando a campainha toca. Em qualquer organismo – passando por bactérias e peixes e chegando aos humanos -, a inibição comportamental nos leva a “olhar antes de pularmos”. Ou seja: esse comportamento foi projetado para nos manter seguros e, em última instância, vivos – o que ajuda a garantir que nossos genes cheguem à próxima geração.

Ainda assim, podemos pensar que, embora tenha tido função ao longo do desenvolvimento de nossa espécie, hoje parece sem sentido manter esse comportamento. Para ilustrar melhor a importância da inibição comportamental, vamos fazer um pequeno exercício intelectual. Qual é o oposto da insegurança? Confiança total? Completo destemor? No começo, isso parece incrível. Mas tenha cuidado com o que você deseja. Apenas 1% da população atingiu esse objetivo duvidoso: psicopatas. Acontece que a total falta de insegurança é, na verdade, um sinal de que as coisas deram errado.

Um estudo realizado por Niels Birbaumer e sua equipe na Universidade de Tübingen avaliou o cérebro de indivíduos com transtorno de ansiedade social e psicopatas criminosos através de um escâner de ressonância magnética. Naqueles com ansiedade social, os pesquisadores encontraram a assinatura neural de uma espécie de “alarme social”: um circuito fronto límbico hiperativo. Em psicopatas, eles encontraram exatamente o oposto: um circuito fronto límbico subativo. Estudos adicionais reforçaram a ideia de que a psicopatia e a ansiedade social estão em lados opostos do espectro.

Um toque de insegurança parece favorecer a harmonia do grupo. Já que um pouco de receio de desagradar ou não ser aceito pelas pessoas com quem convivemos ajuda a manter a coesão social. em vez de permitir que psicopatas desenfreados abatam todo o grupo. Falando sério: um grupo que mantém a harmonia evita despender seu tempo e energia finitos no conflito interno. Com o tempo, aqueles que mantêm a harmonia tendem a obter mais sucesso que aqueles constantemente envolvidos em lutas internas e tomadas de poder. De fato, jogar bem com os outros é uma estratégia evolucionária mais inteligente para o grupo, para não mencionar todos os indivíduos dentro dele

A terceira coisa que a insegurança pode nos ajudar a conquistar é a segurança real. Mesmo que a   entrega de compras online tenha suplantado nossa dependência do grupo para caçar e coletar alimentos, ainda precisamos de uma comunidade da qual possamos fazer parte. Em outras palavras, pertencimento e afeto. E é justamente uma dose saudável de insegurança que nos permite conviver e desfrutar da sensação de segurança emocional.

Há mais: inibição comportamental e ansiedade social são um pacote. Elas geralmente vêm com habilidades psicológicas e cognitivas valiosas, como capacidade de cuidar de si mesmo e dos outros, senso de ética, capacidade de lembrar rostos individuais, empatia e tendência a trabalhar duro para se relacionar com outros seres humanos – uma habilidade que nunca foi tão importante quanto nos dias de hoje.

Portanto, do ponto de vista da natureza, é melhor ter um detector de fumaça social hiperativo, por mais que isso provoque frio na barriga e outros desconfortos. É mais seguro deixar tocar um alarme falso quando não há ameaça do que se expor a uma ameaça real. Alarmes falsos são irritantes, claro, mas pior seria que a casa queimasse ao nosso redor. Podemos pensar que a insegurança persiste porque nos compra mais do que nos custa: autoconsciência, segurança, harmonia grupal pertencimento.

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A VIAGEM DO TÍMIDO AO PRÓPRIO UMBIGO

Definida como sentimento de embaraço ou de inibição em situações sociais, a timidez faz a pessoa se concentrar quase exclusivamente em si mesma e ficar preocupada com o que o interlocutor poder pensar sobre aquilo que diz ou sobre o que está sentindo (por exemplo, ansiedade e embaraço revelados pelo rubor). No fundo, o tímido acredita que está no centro das atenções dos outros, o que o deixa bastante sobrecarregado emocionalmente. Em geral, a timidez e a introversão são consideradas sinônimas, mas não é exatamente assam: o introvertido procura a solidão, já o tímido não teme o contato social. Este último deseja a companhia de outro, porém considera-se incapaz de manter uma relação, o que leva a associação dessa característica à insegurança. Três componentes preponderantes podem ser reconhecidos na timidez. O afetivo refere-se a emoções típicas experimentadas em situações sociais novas ou levemente desconfortáveis: ansiedade, confusão, embaraço e vergonha. Elas vêm, em geral, acompanhadas por sensações, psicofisiológicas como tensão muscular, batimento cardíaco acelerado e um aperto no estômago. O aspecto cognitivo está associado à excessiva atenção dada aos julgamentos alheios (“Todos estão me olhando e me avaliando”), à avaliação negativa de si mesmo (“Só digo bobagens”) e a um sistema irracional de convicções (“Esta noite, na festa, ninguém me notará ou me achará interessante”): esses são os modos típicos de raciocinar das pessoas tímidas.

O resultado dessa combinação é uma acentuada ambição do comportamento, que consiste em evitar ativamente os contextos sociais e se manifesta no olhar que se desvia, na sistemática recusa a encontros sociais e no isolamento em geral. Evidentemente, tudo isso pode prejudicar a formação de relacionamentos e a obtenção de objetivos acadêmicos e profissionais.

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OUTROS OLHARES

ALTERNATIVA NO PRATO

Restrições alimentares por vezes poucos comuns indicam que a escolha da dieta tem fortes componentes psicológicos e culturais.

Alternativa no prato

Como as pessoas escolhem seus alimentos? O filósofo grego Plutarco fez essa pergunta há mais de 2 mil anos. Como ele, Pitágoras considerava o consumo de carne pelos homens algo pouco natural. Esses e outros ilustres vegetarianos como Sócrates, Leonardo da Vinci, Leon Tolstói e Franz Kafka, foram notáveis exceções de seu tempo. Hoje, porém, a abundância e a variedade de alimentos disponíveis nas sociedades industrializadas contribuem para difundir hábitos a alimentares alternativos, alguns deles um pouco estranhos, como o crudivorismo ou a macrobiótica.

Nas antigas sociedades agrícolas, as opções alimentares eram escassas – comia-se o que havia disponível, basicamente cereais, legumes e verduras, sempre que possível enriquecidos com produtos como ovos e leite. Considerada iguaria preciosa, a carne era consumida apenas em ocasiões especiais. Povos que viviam em condições climáticas adversas à agricultura, porém, fizeram da proteína animal sua principal fonte de nutrientes. Os humanos comem carne há milênios, mas é verdade também que a maior parte das culturas viveu à base de cereais e legumes. “Durante séculos a carne foi um alimento reservado à elite, explica Carol J. Adams, que estuda o vegetarianismo e o movimento feminista – combinação aparentemente insólita, não fosse pelo fato de a luta pelos direitos das mulheres e dos animais ter caminhado lado a lado em diversos momentos.

Alguns psicólogos estão interessados em saber se a exclusão deste ou daquele alimento poderia desencadear transtornos alimentares. É curioso, entretanto, que boa parte da discussão sobre hábitos alimentares parta de estudiosas vegetarianas e feministas, como a própria Adams ou a psicóloga Melanie Joy, da Universidade de Massachusetts em Boston, que dedicou seu doutorado à psicologia do “carnivorismo”, isto é, do comportamento alimentar carnívoro. “Não podemos estudar um grupo minoritário sem conhecer a ideologia da maioria. Do mesmo modo, não é possível entender o pensamento feminista sem analisar a cultura patriarcal. Penso que hoje o vegetarianismo é tão difundido entre mulheres exatamente porque para elas é mais difícil aceitar a estrutura hierárquica do mundo, que coloca os seres humanos acima das outras espécies”.

A convivência entre vegetarianas e carnívoros nem sempre é tranquila. “A alimentação tem raízes psicológicas e emocionais muito profundas. Basta lembrar que ela é o primeiro elemento por meio do qual nos relacionamos com o mundo externo. É compreensível, portanto, que quem segue uma dieta alternativa seja percebido como diferente e suscite alguma desconfiança, explica a pesquisadora italiana Emanuela Barbero.

Nos últimos anos ela estuda questões éticas relacionadas à alimentação. Segundo a especialista, é como se fosse difícil reconhecer como pertencentes à nossa própria espécie quem não compartilha o mesmo tipo de alimento. Deve ser por isso que as dietas mais radicais ou extravagantes são mais facilmente seguidas por artistas famosos, ricos e influentes para contratar cozinheiros que se adaptem a suas restrições alimentares. Já as pessoas comuns precisam estar absolutamente convictas de sua escolha para não se incomodar com a permanente discriminação “Tanto os vegetarianos quanto os veganos são motivados por questões éticas relacionadas ao bem-estar animal. A opção vegana é considerada ainda mais radical e politicamente à esquerda. Assim, muitas pessoas, principalmente quando movidas por razões de saúde, preferem permanecer apenas vegetarianas, para não ser marginalizadas ainda mais, explica Joy.

Qual será o peso relativo das motivações éticas e das preocupações com a saúde na escolha da dieta? Segundo Emanuela Barbero, pelo menos na Itália quem diz adeus à carne geralmente o faz por compaixão pelos animais. Outros são adeptos de filosofias ou religiões orientais, como a ioga ou o budismo, que defendem a ausência de carne no prato não apenas por respeito aos seres vivos, mas porque isso significa evolução espiritual.

Há ainda aqueles mais preocupados com as consequências ambientais, com a disponibilidade de recursos ou com a fome no mundo. Nas variações mais radicais, porém, a escolha quase sempre está pautada pela convicção ética, como no caso dos frugívoros, que se preocupam com o sofrimento das plantas e se alimentam apenas de frutos (no sentido botânico do termo). “É muito bonito que um comportamento ético traga vantagens, tanto para a minha saúde, como para o ambiente em que vivo. Ser vegetariano é uma forma de não abusar demais do planeta nem de suas criaturas”. afirma a pesquisadora Carol Adams. O escritor polonês Isaac Bashevis Singer é mais irônico· “Não é com a minha saúde que me preocupo, mas com a das galinhas!”.

FUNDAMENTALISMO

Ao lado das questões éticas e ambientais, a preocupação com a própria saúde é também uma motivação importante para aqueles que optam por algum tipo de restrição alimentar. No caso do crudivorismo, por exemplo, os alimentos cozidos são abolidos, pois acredita-se que os nutrientes sejam decompostos pelo calor. Macrobióticos pregam alimentação exclusivamente à base de cereais integrais e legumes, quase sempre de forma intermitente.

Há quem suspeite que dietas extremas, que alguns acusam de fundamentalistas, sejam manifestação inicial de algum transtorno alimentar. Adams não concorda: “E quem garante que a dieta onívora não é extrema? Além disso, temos certeza de que somos realmente onívoros?”

Segundo Melanie Joy, quem come carne vez por outra se sente culpado por ter no prato algo que já esteve vivo. “Há um processo de dissociação que serve para evitar a conexão entre o alimento que se come e o animal do qual provém.” De fato, a crescente atenção aos direitos dos animais tem causado muitos constrangimentos. “Quando falo que sou vegetariana as pessoas se apressam em dizer que comem muito pouca carne, conta Joy “Pode ser por gentileza, mas creio que isso esteja relacionado ao desconforto sentido pelos que dizem amar os bichos e precisam, assim, justificar um comportamento que contrasta com as próprias convicções.”

Nasce aí uma série de sutis distinções entre pessoas e culturas. “Não quero comer ninguém que sonhe”, escreveu o psicanalista canadense Jeffrey Moussaieff Masson. Em alguns países, cavalos, coelhos ou cães não são considerados comestíveis. Em quase todos, a ideia de comer ratos, serpentes e macacos é repulsiva. De forma geral, muitas pessoas admitem que não comeriam carne se isso implicasse matar pessoalmente um animal, até mesmo os criadores evitam a personalização dos bichos destinados ao matadouro, que nunca recebem um nome.

A diferença entre vegetarianos e onívoros é que para os primeiros qualquer carne é repulsiva enquanto a maior parte dos onívoros sente aversão por carnes incomuns, pouco usadas como alimento. Não por acaso, é bem mais raro encontrar uma pessoa disposta a experimentar um animal que não conhece do que uma fruta ou vegetal exótico, explica Joy.

Os poucos estudos sobre comportamento alimentar que se aprofundaram nos problemas relacionados ao consumo de carne mostram, de maneira bem previsível, que quem se comporta de forma ambígua em relação à oportunidade de comer carne tende a consumi-la com menos frequência. Diversas pesquisas, entre elas uma realizada em 2004 na Universidade da Colúmbia Britânica, Canadá, verificou que vegetarianos são mais atentos ao equilíbrio nutricional da própria dieta do que a população em geral. No entanto, um estudo da Universidade de Adelaide, Austrália, revelou que considerar a carne um alimento saudável ou não tem a ver principalmente com convicções morais e com o interesse pelo ambiente, e que os onívoros avaliam de forma positiva o estilo de vida vegetariano, ao passo que a recíproca raramente é verdadeira.

 ORTOREXIA NERVOSA

Há casos, entretanto, em que a atenção excessiva na escolha dos alimentos se torna patológica. O distúrbio é chamado ortorexia nervosa e se caracteriza pela preocupação obsessiva com a dieta. Os ortoréxicos acreditam que apenas os alimentos naturais e a ausência de carnes ou enlatados fazem bem ao organismo.

Qualquer que seja a motivação (ética ou de saúde), a verdade é que uma dieta restritiva pode trazer à tona transtornos psíquicos latentes. “O risco está no comportamento obsessivo de quem procura a perfeição mediante o controle da própria alimentação, limitando-se a consumir alimentos que reconhece como perfeitos, por exemplo as frutas”, explica o mestre de ioga americano Tom Billings. Ele dedica uma seção de seu site (www.beyondveg.com) à divulgação dos distúrbios que podem acompanhar dietas extremas “O problema não está no tipo de dieta escolhida, mas no comportamento de quem a segue, na incapacidade de aceitar as próprias imperfeições: certamente não há nada de saudável em passar fome à procura de magreza ou de pureza inatingíveis.

Problemas semelhantes ocorreram no passado, principalmente com a dieta macrobiótica, que, segundo Barbero, hoje está perdendo terreno justamente porque é muito rígida e distante de nossa tradição alimentar. O movimento americano Calorie Restriction, inspirado nos estudos do geriatra Roy L. Walford, propõe a restrição calórica relativa (cerca de 1.700 calorias por dia) como forma de retardar o envelhecimento, mas recomenda adesão moderada e gradual ao novo regime alimentar. No site, os criadores do movimento fazem distinção entre dieta saudável e transtorno alimentar. Quem sofre de anorexia tem como objetivo o emagrecimento, jejua, segue rigidamente as regras que se impôs sem se conceder exceções, despreza o alimento sem se preocupar com seu valor nutritivo e procura esconder as próprias escolhas.

Mas quem reduz calorias para se sentir melhor não está particularmente interessado em emagrecer, aprecia o alimento e procura nutrir-se com produtos mais ricos em nutrientes, sem se angustiar com eventuais transgressões. E, principalmente, fica contente em dividir a própria escolha com outros” Vale lembrar, porém, que alguns estudos apontam para a relação entre restrição calórica e comportamentos obsessivos, que parecem se manifestar em pessoas com predisposição a eles.

Seja qual for a dieta e as motivações para praticá-la, é possível segui-la com equilíbrio e serenidade, ainda que eventuais infrações possam causar culpa em quem é movido por princípios éticos. É possível transgredir por razões sociais para não ofender alguém ou porque é difícil renunciar a alimentos que para nós têm vínculo afetivo forte, lembra Emanuela Barbero.

 DIETAS PARA TODOS OS GOSTOS E CRENÇAS

VEGETARIANA: exclui carne e peixe, mas não outros alimentos de origem animal, como leite e ovos.

VEGAN: evita todos os alimentos de origem animal (ovos, laticínios, mel). (Por respeito aos animais, tampouco vestem roupas feitas com lã e couro.)

FRUGÍVORA: apenas à base de frutos, no sentido botânico do termo, o que inclui legumes, sementes e azeitonas, por exemplo.

CRUDÍVORA: composta somente de alimentos crus ou aquecidos, jamais cozidos. Quase sempre seus seguidores são veganos também.

MACROBIÓTICA: alimentação rica em cereais e legumes cozidos, com poucas verduras e peixe; raramente inclui carne.

RESTRIÇÃO CALÓRICA: redução significativa das calorias ingeridas; optam por alimentos ricos em vitaminas e oligoelementos.

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A NOVA REVOLUÇÃO DOS BICHOS: MAIS RAZÃO E MENOS PAIXÃO

Até poucos anos atrás, defender os direitos dos animais era uma atividade de grupos considerados radicais, em cujas manifestações a polícia nunca deixou de estar presente. Recentemente, porém, a causa vem ganhando o apoio de intelectuais, e os cartazes com frases de efeito estão sendo substituídos por uma argumentação menos apaixonada e bem mais elaborada. Cary Francione, professor de direito da Universidade de Rutgers, Estados Unidos, é um desses acadêmicos que defendem que o massacre dos animais é também um ato do ser humano contra si próprio. Segundo ele, enxergar nas outras espécies seres que sentem e sofrem é um enorme passo para nos livrarmos das brutalidades que cometemos contra nós mesmos. Sua palestra na Universidade de Valência, Espanha, em maio de 2006, repercutiu com força na Europa, a ponto de a Le Monde Diplomatique, a revista semanal do jornal francês Le Monde, ter elaborado o “Manifesto pela libertação dos animais, que pode ser lido gratuitamente e em português no site diplo.uol.com.br/2006-9, a1386.

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RESPEITANDO AS PREFERÊNCIAS ALIMENTARES

“Socorro! Meu filho não come mais carne!” é o título de um ensaio de Carol Adams que descreve as preocupações de quem precisa lidar com opções alimentares que não entende ou não adota –  como frequentemente acontece com os pais de jovens vegetarianos. Além do medo de possíveis carências nutricionais, há o temor de ver ameaçado o vínculo afetivo que o alimento carrega e que transmite muitas tradições familiares. “É comum haver tensão em certas famílias quando a opção vegetariana não é respeitada”, explica Luciana Baroni, médica e presidente da Sociedade Científica de Nutrição Vegetariana da Itália. “Muitos pais nos procuram para se informar, sobre a possibilidade de uma alimentação vegetariana equilibrada.”

As coisas podem ser mais difíceis quando o onívoro é o companheiro, geralmente o marido, já que as mulheres são maioria entre os vegetarianos. “É preciso ter coragem de expressar as próprias opiniões, de dizer que não se come mais carne nem se está disposto a cozinhá-la, mas que isso não tem nada a ver com o amor e a estima que temos pela pessoa que não compartilha nossa escolha”, sugere Adams. Alguns casais adotam estratégias diferentes, por exemplo: quem carne o faz apenas no restaurante. ” Mas quando a opção vegetariana depende motivações éticas, geralmente os comportamentos do casal tendem a convergir, e se isso não acontecer poderão surgir problemas”, explica Barbero.

De forma mais banal, mas também frequente, as relações entre quem come quem não come carne entram em crise em eventos sociais, em que a impossibilidade de cumprir o gesto fundamental de partilhar o alimento logo desencadeia intolerância de ambas as partes. “Convém servir pratos gostosos sem destacar que se trata de uma refeição vegetariana: é simplesmente boa comida, sugere. A presença de um vegetariano no jantar pode gerar dúvidas no anfitrião onívoro. Convém evitar que a conversa à mesa degenere em polêmica e acusações de que alguns comem cadáveres de animais ou aprofundar discursos sobre os horrores dos matadouros. Não é por acaso que os vegetarianos –  e, principalmente os veganos –  tendem a se associar em turmas de amigos e a casar-se entre si.

GESTÃO E CARREIRA

TUDO BEM PRA QUEM?

Para o pesquisador italiano Federico Pistono, a substituição do trabalho humano pelas máquinas pode ser a chance de adotarmos um novo contrato social. Mas isso vai doer.

Tudo bem pra quem

A automação, a inteligência artificial e outras tecnologias estão eliminando postos de trabalho em ritmo alucinante e amedrontador. Em poucos anos, muitas das atividades hoje exercidas por humanos serão realizadas por máquinas. Traduzindo: de forma melhor, mais rápida e, principalmente, mais barata. Alguns economistas dizem que, apesar da extinção de muitas profissões, outras surgirão. A questão é que dificilmente o número de novos postos de trabalho será suficiente para compensar os que se perderão. E as qualificações exigidas a partir de então serão outras, completamente novas, o que elimina as chances da imensa maioria das pessoas de conseguir uma recolocação. Serão os descartados do admirável mundo novo.

Apesar de tudo, o desemprego estrutural, no longo prazo, poderá ter efeitos positivos – ao menos para quem considera positivo ter mais tempo para fazer qualquer outra coisa que não seja trabalhar. Tudo vai depender de como a sociedade lidará com o problema, diz o escritor italiano Federico Pistono, que está lançando no Brasil o livro Os Robôs Vão Roubar Seu Trabalho, mas Tudo Bem. Não custa lembrar que algumas previsões feitas no passado se confirmaram simplesmente de forma degenerada: sim, a tecnologia nos deu mais tempo livre, só que o usamos para… trabalhar mais. Apesar do título poliana de seu livro, Pistono não tem ilusões: “Sem empregos, ou adotamos um novo contrato social, ou o sistema todo vai entrar em colapso”.

Formado em ciência da computação pela Universidade de Vero- na e pós-graduado na Singularity University, no Nasa Ames Research Center, Pistono se dedica a estudar os impactos das novas tecnologias sobre o trabalho e a sociedade. Seus livros já venderam dezenas de milhares de exemplares em diversos países.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 11-25 – PARTE III

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Cristo no Tribunal de Pilatos

 III – Eis aqui como a culpa do sangue de Cristo recai sobre o povo e os sacerdotes.

1. Pilatos se esforça para livrar-se da responsabilidade (v. 24).

(1) Ele não vê propósito em argumentar. O que ele dissesse:

[1] Não faria nenhum bem; ele não poderia controlar nada; ele não poderia convencê-los de quão injusto e irracional era para ele condenar um homem que ele acreditava ser inocente, e de quem eles não conseguiram provar qualquer culpa. Veja o quanto, às vezes, é forte a torrente de cobiça e ira; nem a autoridade nem a razão conseguirão refreá-la. Pelo contrário:

[2] Era mais provável que causasse dano; ele viu que um certo tumulto havia se formado. Essas pessoas rudes e animalescas puseram-se a dizer injúrias, e começaram a ameaçar Pilatos sobre o que fariam se ele não lhes fizesse a vontade; e em que grande incêndio esse fogo pode se tornar, especialmente quando os sacerdotes judeus, aqueles grandes incendiários, sopravam as brasas! Então aquele temperamento turbulento e violento dos judeus pelo qual Pilatos foi intimidado a condenar Cristo, contra a sua consciência, contribuiu mais do que qualquer coisa para a ruína daquela nação, pouco tempo depois; pois as suas frequentes insurreições fizeram com que os romanos os destruíssem, embora eles as ti­ vessem reduzido, e suas inveteradas disputas internas os tornassem presas fáceis para o inimigo comum. Desse modo, o seu pecado foi a sua ruína.

Observe quão facilmente podemos nos enganar quanto à preferência das pessoas comuns. Os sacerdotes estavam apreensivos de que os seus esforços para prender a Cristo causassem alvoroço, especialmente no dia da festa; mas ficou provado que os esforços de Pilatos para salvá-lo causariam tumultos, e isso em um dia de festa; os senti­ mentos da multidão são muito incertos.

(2) Isso coloca Pilatos em um grande dilema, entre a sua própria paz de espírito e a paz da cidade; ele se recusa a condenar um homem inocente, e também se recusa a desagradar ao povo e despertar um demônio que não seria controlado tão cedo. Se Pilatos tivesse se mantido firme e resoluto, fiel às sagradas leis da justiça, como deve fazer um juiz, não teria estado em qualquer dificuldade; o fato era claro e indiscutível: um homem em quem não se encontrou nenhuma falha não deveria ser crucificado, qualquer que fosse o pretexto. Também não deve ser cometida uma injustiça para satisfazer qualquer homem ou grupo de homens no mundo; a causa deve ser logo decidida. Justiça seja feita, ainda que o céu e a terra se unam. Se “a perversidade procede do perverso” (versão inglesa KJV), mesmo que sejam sacerdotes, ainda assim a minha mão será contra ele.

(3) Pilatos pensa em acertar as coisas e apaziguar o povo, e também a sua própria consciência; ele os atende. Mesmo não reconhecendo a validade de tal sentença, ele a executa, porém tenta se isentar da responsabilidade e da culpa. Precipitam-se sobre tais absurdos e autocontradições, aqueles cujas convicções são fortes, mas as corrupções, mais fortes ainda. Bem-aventurado aquele (diz o apóstolo, Romanos 14.22) que não se condena a si mesmo naquilo que aprova; ou, em outras palavras, bem-aventurado aquele que não permite a si mesmo aquilo que condena.

Então Pilatos se esforça para se eximir da culpa:

[1] Através de um gesto; ele apanhou água, e lavou as mãos diante da multidão; não como se ele pensasse com isso, em se purificar de qualquer culpa contraída diante de Deus, mas para se isentar diante do povo, como se isso o livrasse de qualquer culpa nesse assunto; como se ele ti­ vesse dito: “Se isso for feito, testemunhem que isso não é obra minha”. Ele tomou emprestado da lei o rito que era utilizado para expiar do povo a culpa por um assassinato não descoberto (Deuteronômio 21.6,7); e se valeu disso mais para influenciar o povo com a convicção que ele tinha da inocência do prisioneiro; e, provavelmente, tal era o barulho da ralé, que, se ele não tivesse usado algum sinal surpreendente à vista de todos eles, ele não teria sido ouvido.

[2] Por uma declaração; nessa, em primeiro lugar, ele tenta se eximir da culpa: “Estou inocente do sangue deste justo”. Que tolice era essa, condená-lo, e mesmo assim alegar que estava inocente de seu sangue! Para os homens, protestar contra alguma coisa e ainda assim praticá-la nada mais é do que proclamar que eles pecam contra as suas próprias consciências. Muito embora Pilatos professasse a sua inocência, Deus não o exime da culpa (Atos 4.27). Alguns acreditam que podem se justificar alegando que as suas mãos não fizeram parte do pecado; mas Davi mata pela espada dos filhos de Amom, e Acabe, pela dos anciãos de Jezreel. Pilatos aqui pensa que pode se justificar alegando que o seu coração não estava naquele ato; mas esta é uma afirmação que nunca será admitida. Ele protesta em vão contra o ato que, ao mesmo tempo, perpetra. Em segundo lugar, Pilatos lança a responsabilidade sobre os sacerdotes e o povo: “Considerai isso; se isso deve ser feito, eu não poderei evitar; vós respondereis por isso diante de Deus e do mundo”. Note que o pecado é uma criança mal-educada que ninguém está disposto a assumir; e muitos se enganam com isso, pensando que não arcarão com a culpa se encontrarem alguém sobre quem depositá-la; mas transferir a culpa pelo pecado não é uma coisa fácil, como muitos pensam. A condição daquele que está infectado pela praga não é menos perigosa pelo fato de contrair de outros a infecção, ou por transmitir a infecção para outros; nós podemos ser tentados a pecar, mas não podemos ser forçados a fazê-lo. Os sacerdotes tentaram lançar a culpa sobre Judas: “Isso é contigo”; e agora Pilatos a lança sobre eles: “Considerai isso; pois com a medida com que medirdes sereis medidos.

2. Os sacerdotes e o povo concordam em tomar a culpa para si mesmos; todos eles disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos”; nós estamos tão seguros de que não há nem pecado nem perigo em levá-lo à morte, que estamos dispostos a correr o risco. Disseram isso como se a culpa não fosse causar nenhum mal a eles ou aos seus. Eles viram que era o medo da culpa que fez Pilatos hesitar; e ele estava superando esse obstáculo através da ilusão de transferi-la; para impedir o retorno de sua hesitação e para corroborar com aquela ilusão, eles, no calor de sua ira, preferem concordar com isso a perder a presa que tinham em suas mãos, e gritaram: “O seu sangue caia sobre nós”. Então:

(1) Através disso, eles tencionavam compensar Pilatos, isto é, fazer com que ele se considerasse compensado, ao ser ligado à justiça divina, para eximi-lo da culpa. Mas aqueles que estão falidos, ou os mendigos, nunca serão aceitos como a segurança de outros, nem serão tomados como fiadores por eles. Ninguém poderia levar os pecados dos outros, exceto aquele que não tinha nenhum pecado pelo qual responder; é uma missão arrojada e muito grande para qualquer homem servir como garantia por um pecador diante do Deus Todo-poderoso.

[1] Mas eles realmente rogaram ira e vingança sobre si mesmos e seus descendentes. Que declaração desesperada era essa, e quão pouco eles pesaram sobre as terríveis consequências dela, ou o abismo de sofrimento que ela traria tanto a eles como aos seus! Cristo lhes tinha dito recentemente que sobre eles viria todo o sangue justo derramado na terra, desde o do justo Abel; mas, como se isso fosse pouco, aqui eles reivindicam para si a culpa pelo derramamento daquele sangue que era o mais precioso de todos, e cuja culpa seria ainda mais pesada. Oh! A ousada presunção dos pecadores obstinados, que estendem as suas mãos contra Deus, e desafiam a sua justiça! (Jó 15.25,2 6). Observe:

[1] Como eles eram cruéis em suas imprecações. Eles rogaram a punição desse pecado, não somente sobre si mesmos, mas também sobre seus filhos, mesmo aqueles que ainda não haviam nascido, sem sequer limitar o alcance da maldição, como o próprio Deus, que havia ficado feliz em limitá-la à terceira e quarta gerações. Era loucura estender a maldição a si mesmos, e uma barbaridade incalculável legá-la aos seus descendentes. Certamente, eles eram como avestruzes; eram insensíveis em relação às suas crias, como se não fossem deles. Que herança terrível era essa, ele culpa e castigo contra eles e seus herdeiros para sempre, e isso proferido em comum acordo, como um documento legal ele sua autoria, que certamente equivalia a um confisco e anulação da antiga Escritura: “Serei a ti por Deus, e à tua semente”. O legado da maldição do sangue do Messias para a sua nação põe fim à herança ele bênçãos que viriam desse sangue, e beneficiariam as suas famílias. De acordo com outra promessa feita a Abraão, nele todas as famílias da terra seriam abençoadas. Veja que inimigos malignos os homens podem se tornar para os seus próprios filhos e famílias; aqueles que condenam as suas próprias almas não se importam com quantos poderão arrastar consigo para o inferno.

[2] Como Deus foi justo em sua retribuição, de acordo com essa maldição. Eles disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”; e Deus disse amém a isto, assim será a vossa maldição; assim como eles adoravam praguejar assim a maldição viria sobre eles. Os miseráveis remanescentes daquelas pessoas devassas sentem isso até hoje em dia; desde o tempo em que eles lançaram esse sangue sobre si, foram perseguidos com um julgamento após o outro, até que estivessem totalmente devastados, tornados motivo de assombro, espanto, e zombaria; ainda sim, sobre alguns deles, e alguns dos seus, esse sangue veio, não para condená-los, mas para salvá-los; a misericórdia divina, mediante o seu arrependimento e fé, interrompeu essa herança, e então a promessa passou a lhes pertencer novamente, como também aos seus filhos. Deus é melhor para nós e para os nossos do que nós mesmos o somos.

 

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PRECONCEITO NUM PISCAR DE OLHOS

A discriminação em relação à cor da pele ou a etnia pode se manifestar em frações de segundos, levando o cérebro a fazer prejulgamento tendencioso.

Preconceito num piscar de olhos

Vários estudos têm mostrado que as pessoas têm maior probabilidade de identificar incorretamente objetos inofensivos como armas quando são segurados por uma pessoa negra. Agora, uma nova pesquisa identifica um contribuinte biológico para esse e feito. No estudo, os voluntários que estavam em uma área de tiro viram fotos de “suspeitos” segurando uma arma ou um telefone. Os pesquisadores acompanharam a atividade cardíaca dos participantes e descobriram que o viés racial na percepção da ameaça aumentava quando a imagem era programada para piscar durante um batimento cardíaco. Isso sugere que os sinais do coração para o cérebro desempenham papel importante na resposta ao medo dos estereótipos raciais.

”Fomos motivados a realizar esse trabalho pelas estatísticas muito graves que mostravam que pessoas negras desarmadas têm duas vezes mais risco de serem baleadas e mortas por policiais do que brancos, diz o autor principal do estudo, o neurocientista Mano Tsakiris, professor e pesquisador do Departamento de Psicologia da Universidade de Londres. “Embora muitos estudos mostrem que esses preconceitos existem, nos faltava a compreensão do mecanismo preciso que pode estar por trás desse fenômeno”, diz Tsakiris. Cientistas já haviam descoberto que os sinais emitidos pelo coração podem melhorar seletivamente o processamento do medo e dos estímulos interpretados pelo cérebro como ameaça. Essa experiência levou os cientistas a investigar se esse processo poderia influir nos estereótipos raciais.

“Cada vez que o músculo cardíaco bate, ativa os receptores chamados barorreceptores, sensíveis   à pressão, que são estimulados quando o coração ejeta o sangue”, explica a doutora em neurociência, Sarah Garfinkel, especializada em interações corpo-cérebro subjacentes à emoção e a cognição, que participou do estudo. A cada batida do coração são enviados sinais para o cérebro, o que ativa a amígdala, uma área do cérebro que lida com o medo e o processamento do que reconhecemos como um risco. “Devido a esse mecanismo, sincronizar as imagens com um batimento cardíaco significava que os participantes viam as imagens quando a amígdala estava particularmente ativa e, portanto, essencialmente preparada para uma resposta de medo, explica a neurocientista, professora de psiquiatria, ciência da consciência na Universidade de Sussex, na Inglaterra.

As descobertas sugerem que, no mundo real a fisiologia e a psicologia do medo podem se reforçar mutuamente. Quando nos sentimos ameaçados, nosso coração acelera. ”Um batimento cardíaco mais rápido e forte oferece maior potencial para exploração aos sinais de risco, resultando em um comportamento racista estereotipado, diz Garfinkel. No entanto, a identificação da presença desse contribuinte biológico para o medo racialmente tendencioso não justifica comportamentos de exclusão e ódio – e permanece a necessidade de combater esse funcionamento. Os autores enfatizam, aliás, que o mecanismo fisiológico não significa que ações motivadas pelo preconceito racial sejam inevitáveis.

A reação automática na amígdala compete com outras funções da parte pré-frontal do cérebro. Tsakiris explica. Podemos estar andando por um beco escuro, ver alguém vindo em nossa direção, que pode ser de um grupo étnico diferente, e ter essa ativação automática da resposta ao medo. Mas, ao mesmo tempo, não queremos fugir. Não queremos nos comportar de maneira racista, então assumimos os processos e, de forma inteligente, regulamos a ativação automática”. Ou seja: em última instância, o preconceito expressa nossa fragilidade, mas seu controle nos fortalece.  Estudos em andamento revelam que o estímulo cerebral é usado para aumentar essa capacidade. Mas, no dia a dia, a informação e a educação também ajudam a limitar os efeitos dos estereótipos raciais e ampliam nossa capacidade cognitiva.

“Quando entendemos o que acontece conosco, nos tornamos emocionalmente mais autônomos”, observa Tsakiris. Ele ressalta que o aparentemente simples fato de nos conscientizarmos sobre como o coração sinaliza o cérebro é importante, pois assim começamos a duvidar de nossas certezas. Pesquisas sobre os efeitos dos sinais do coração na memória mostram que treinar as pessoas para estarem atentas a seus batimentos cardíacos pode neutralizar a influência negativa. E, claro, há os contribuintes sociais para o racismo. Os autores dizem que o efeito não se limita ao medo enraizado no preconceito, mas representa uma resposta de ameaça mais ampla.  Nesse caso, estamos apenas explorando o estereótipo predominante na sociedade de que indivíduos negros são vistos como mais ameaçadores”, diz o psicólogo Ruben Azevedo, pesquisador da Universidade de Londres, que também participou do estudo.

Estereótipos, porém, podem dificultar não apenas a vida de pessoas e grupos estigmatizados. Os psicólogos sociais americanos Robert A. Baron e Donn Byrne observam que pessoas com atitudes preconceituosas tendem a se sentir frequentemente expostas a conflitos e enfrentam medos muitas vezes exagerados e desnecessários. Sentem constante temor, por exemplo, de ser atacadas ou molestadas por pessoas supostamente hostis, de classe social ou cor de pele diferente da sua. Ou seja: essa postura redunda em considerável prejuízo para a qualidade de vida dos preconceituosos.

Preconceito num piscar de olhos.2

A PONTA DO ICEBERG

Atitudes de discriminação se manifestam principalmente em situações cotidianas; traços físicos, cor de pele, roupas, orientação religiosa e nacionalidade de outras pessoas influem na forma como as tratamos.

A psicologia caracteriza o preconceito como a presença, profundamente arraigada na memória, de associações negativas vinculadas a pessoas de cultura estrangeiras. Estudos realizados em muitos países evidenciam que todo ser humano nutre várias reservas e age em consonância com elas. Nesse contexto, a violência, que em muitos casos culmina com assassinatos, é apenas a ponta do iceberg.

Como mostra um teste idealizado pelos psicólogos sociais Andreas Klink e Ulrich Wagner, das universidades alemãs Jena e Marburg, respectivamente, o comportamento discriminatório se manifesta principalmente em situações cotidianas.

Com a ajuda de uma estudante de psicologia, os pesquisadores propuseram a seguinte situação: na calçada, a jovem pergunta qual o caminho até a estação rodoviária. A maioria dos transeuntes ofereceu informações à moça e só uns poucos mal-educados ou apressados a ignoraram. Um pouco mais tarde, ela retornou ao local para fazer a mesma pergunta, mas com uma diferença: a garota vestia roupas orientais e um véu na cabeça. Resultado: o número de pessoas que ignoraram a suposta estrangeira mais que duplicou.

Em outro experimento, os dois psicólogos solicitaram a pessoas com nomes estrangeiros que respondessem a anúncios imobiliários e de emprego. A proposta da dupla era observar se haveria algum sinal de repúdio dos funcionários que analisavam os currículos e as propostas para alugar imóveis. E, de fato, houve: aqueles que tinham nomes estrangeiros eram preteridos. A causa, evidente, era uma: preconceito.

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OUTROS OLHARES

EDUCAÇÃO E SAÚDE MENTAL

A demasiada tolerância familiar na educação das crianças se faz sentir não apenas socialmente, mas de modo geral, na sua formação como pessoa.

Educação e saúde mental

“Melhor pecar pelo excesso do que pela falta (ditado popular).

As queixas dos adultos sobre comportamento infantil na escola e em casa não param de crescer. A precocidade das crianças em ultrapassar os limites comportamentais antes esperados na adolescência, assim como a evidente desorientação dos pais em encontrar respostas a essa e outras questões, vem criando uma geração em que as condutas infantis se transformaram em inúmeros casos e, devido ao excesso de tolerância familiar, em condutas socialmente inadequadas. Ao mesmo tempo, condutas patológicas e sérias muitas vezes se escondem e deixam de ser tratadas por profissionais, colocando vidas em perigo.

Falsas teorias de que as crianças não devem ser advertidas ou limitadas em seus comportamentos se misturam com o pressuposto ingênuo de que ser livre é ser feliz e se preparar para a autonomia futura é resultante do exercício contínuo de fazer tudo o que se deseja, desde o berço. E sem vivenciar consequências, sem respeitar os limites, conhecer os direitos alheios, as regras sociais, as normas da escola etc.

A tolerância familiar na educação influencia a maneira como a criança dirige desde cedo as suas obrigações e se prepara para assumir responsabilidades futuras. Interfere na sua qualidade de vida, e no quanto poderá ou não atingir suas potencialidades. Determina sua saúde física e mental e, resumidamente, seu bem-estar, sua tranquilidade, produtividade e felicidade.

A negligência do adulto ao observar o comportamento infantil inadequado pode até deixar passar prenúncios sérios de doença mental, que poderia ser tratada e evitada. Afinal, se nem tudo é patológico, nem tudo é também apenas evidência do temperamento forte, gênio difícil, extroversão, distratibilidade, “ele é igual ao avô” etc. Até porque esses pacientes podem ter sofrido muito em suas vidas com essas questões comportamentais.

Dou como exemplo três condutas que são verdadeiras “armadilhas” e fazem com que os pais percebam que há algo errado na condução dos filhos, mas não conseguem apontar e corrigir o erro de modo racional.

A primeira é a clássica, reclamação sobre a escola: “Não gosto de estudar, muitas pessoas vencem na vida sem diploma”. Isso gera nos pais a ideia de que estão sendo injustos e que suas expectativas estão absolutamente equivocadas no que diz respeito a educação formal do filho. As crianças utilizam esses dois pressupostos para nos fazer sentir que estamos e elas assim se livram de suas responsabilidades. Chegar na escola sem as tarefas, burlar notas, faltar em provas são consequências imediatas desse pensamento.

A segunda é a auto vitimização: crianças são doutoras nisso! Ao dizerem aos pais que, por exemplo, o professor não as valoriza, estão tirando de si a responsabilidade por aprenderem, fazerem suas obrigações, se empenharem para vencer dificuldades. Assim, “as lições são enormes”‘, “‘não sobra tempo para brincar ou para ajudar em casa” e a culpa, segundo a criançada, é do professor que sempre exige muito e valoriza pouco. QuaI o chefe que não será exigente com seu funcionário no futuro?

O terceiro exemplo é fácil de se encontrar em qualquer casa, à noite, ou no domingo, quando se deveriam ter as lições prontas e a mochila arrumada para o dia seguinte. “Você não gosta de mim, não me ajuda” em geral derruba qualquer pai ou mãe, que corre para praticamente fazer as lições, procurar os livros, arrumar a mala e assim evitar que o filho vá se deitar tarde…,mas essas coisas que ele deveria ter feito ao chegar da escola na sexta-feira! O pai se sente culpado e o filho aprende a lição da manipulação e do adiamento da responsabilidade.

Se isso parasse por aí, já seria muito grave em termos educacionais, mas sabe-se que as queixas mais numerosas em consultórios médicos, psiquiátricos infantis sobre saúde mental advêm de problemas relacionados à aprendizagem. Saúde mental é assunto tão sério quanto a saúde física da criança e do jovem e só se desenvolve com exemplo, responsabilidade, amorosidade e valores vivenciados em família.

A linha que separa o que se pode chamar em educação de normal e patológica é tênue, mas importante para a compreensão e conduta em vários momentos do desenvolvimento infantil. Assim, fazer uma grande birra aos 2 anos de idade é esperado, mas, aos 5, já aponta para outras questões.  Desobedecer a professora no maternal é diferente de sistematicamente desobedecer aos adultos aos 10 anos. Uma criança agitada ou extrovertida é diferente de outra com TODA/H, assim como alguém impaciente aos 4 anos deve chegar aos 12 sabendo aguardar a vez.

Observar os filhos e estar atento a suas pequenas artimanhas de pensamentos e comportamento – que podem levá-los a nos conduzir a erros e assim a deixar que eles também sofram no futuro – devem ser atitudes rotineiras.

Erros na educação são como os erros que cometemos ao fazer contas: só percebemos perto do final. E aí a solução pode se tornar muito mais complicada, difícil e os prejuízos incalculáveis.

 

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/2007. É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.

irenemaluf@uol.com.br

GESTÃO E CARREIRA

OS NOVOS ASSISTENTES PESSOAIS

Da organização de finanças e roupas à escolha de vinhos e decoração da casa, profissionais que simplificam o dia-a-dia deixam de ser exclusividade dos ricos.

Os novos assistentes pessoais

Contratar alguém para administrar uma adega particular, gerenciar as contas da casa ou cuidar da organização do guarda-roupa ou da decoração pode parecer um luxo reservado a poucos. Durante muito tempo, o acesso a esses serviços era bastante restrito. Não mais. Hoje é possível contar com os conselhos de um sommelier, uma “personal organizer” ou de alguém que cuide da papelada de contas, imposto de renda e da burocracia sem gastar quantias astronômicas. E o melhor: ouvir o que esses profissionais têm a dizer pode trazer mais qualidade de vida.

Popular em vários países, o trabalho de um organizador pessoal ainda é pouco comum no Brasil. Para quem se dedica à profissão, ela vai além da simples arrumação ou remanejamento da decoração para melhorar o espaço útil da casa, “Esse serviço amplia o tempo do cliente ao oferecer planejamento, estruturação e conhecimento técnico”, diz Sheila Marques, que comanda a Possível Pra Você. Segundo ela, a falta de organização pode desestruturar o ambiente e causar problemas como depressão e ansiedade. Delegando a tarefa a um especialista, sobra mais tempo para se dedicar à família e a si mesmo. “A gente percebe que está perdendo o controle da situação e sente uma enorme fadiga justamente onde devíamos nos sentir bem: em casa”, diz Antônia Mendonça, publicitária que contratou o serviço de Sheila. “Eu achava que era frescura, mas vejo agora que é uma questão de vida saudável, de sobrevivência até”, afirma.

Poupar o tempo dos clientes também é a proposta da gaúcha Letícia Rigolli, organizadora de documentos e questões administrativas para pessoas e instituições. “Quem não tem tempo e organização perde até exame médico”, diz ela, cuja clientela é formada principalmente por mulheres que trabalham fora. O preço varia de acordo com a tarefa. “Os valores são construídos junto com o cliente a partir da análise do binômio complexidade/horas necessárias e, geralmente, distribuídos por blocos que variam de três a oito horas de dedicação por semana – dependendo das demandas solicitadas”, diz Letícia.  Sheila também não tem tabela fixa: “Posso realizar um serviço específico, como organizar todos os armários da casa, e cobrar um valor para isso. Ou fechar um acordo de longa duração onde faço a manutenção, vejo o que foi feito e está funcionando com aquela família, ou não. Mas não cobro caro. Essa é minha proposta: levar o serviço para lares com orçamentos menores”.

APROXIMAÇÃO

Para quem ainda acha que contratar um serviço assim é mero esnobismo, vale lembrar que ter um profissional experiente como consultor não é um custo adicional e sim um investimento em aquisição de conhecimento. É isso que move parte da clientela que contrata um personal sommelier.  “Levamos em conta a customização específica para cada cliente. “Não importa se ele quer montar uma adega com 12 garrafas de R$ 50 cada. Vamos ajudá-lo na tarefa”, afirma o sommelier Paulo Brammer. Diretor da Enocultura, ele atende desde entusiastas veteranos com muito dinheiro para gastar até clientes interessados na opinião de um especialista na hora de organizar um evento especifico. Brammer conta a história de um cliente que entrou em contato com a empresa após assistir a uma palestra do sommelier. “Em sua festa de 50 anos, criamos um conceito para cada década de vida, com um vinho diferente para harmonizar”, diz ele. A expertise oferecida por Brammer, portanto, não se limita a montar uma adega, adaptando um cômodo na casa com controle de temperatura e paredes repletas de preciosidades esperando os melhores anos para serem abertas. Ele ensina o cliente e comprar, armazenar, servir e beber o vinho certo para cada ocasião. “O brasileiro poderia confiar no sommelier e usar mais o serviço”, diz ele. “Atender cada vez mais gente é um sonho que tenho”, afirma.

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LETÍCIA RIGOLLI – Organizadora de documentos

O QUE FAZ – Cuida de questões administrativas, tanto para pessoas quanto para empresas. Quando é preciso mergulhar na burocracia brasileira, ela faz a interface com o cliente.

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PAULO BRAMMER – Sommelier

O QUE FAZ – Além do trabalho para empresas, oferece consultoria na criação, customização e manutenção de adegas, sugere rótulos para eventos privados e dá aulas e palestras sobre vinhos.

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SHEILA MARQUES – Personal organizer

O QUE FAZ – Mais do que arrumar os armários bagunçados de uma casa, ela cria planos de longa duração em que mantém a organização da casa como objetivo de poupar o tempo do cliente.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 11-25 – PARTE II

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Cristo no Tribunal de Pilatos

II – A afronta e a violência do povo, ao pressionar o governador para crucificar a Cristo. Os príncipes dos sacerdotes tinham uma grande influência sobre as pessoas; elas os chamavam de Rabi, Rabi, e faziam deles os seus ídolos, e todas as suas palavras se tornavam oráculos. Esses líderes religiosos usaram isso para incitá-las contra Jesus, e pelo poder da multidão conseguiram o que de outra maneira não alcançariam. Assim sendo, aqui estão dois exemplos das ofensas deles.

1. Sua preferência por Barrabás em detrimento dele, e a escolha de libertá-lo em vez de Jesus.

(1) Parece que se tornara um costume entre os governadores romanos, para homenagear os judeus, honrar a festa da páscoa com a libertação de um prisioneiro (v.15). Isso, eles pensavam, honrava a festa, e era conveniente para a comemoração da libertação deles. Mas essa era uma invenção deles próprios, e não uma instituição divina, embora alguns pensem que era antiga, e mantida pelos príncipes judeus antes de se tornarem uma província do império. Seja como for, era um mau costume, uma obstrução à justiça e um estímulo à iniquidade. Mas a páscoa do Evangelho é celebrada com a libertação de prisioneiros, por aquele que tem, na terra, o poder par a perdoar pecados.

(2) O prisioneiro colocado em disputa com o nosso Senhor Jesus foi Barrabás; ele é aqui chamado de prisioneiro notável (v. 16). Ê provável que ele tivesse alguma reputação e caráter por conta de seu nascimento e educação, ou que tivesse se notabilizado por algo excepcional em seus crimes; não se sabe ao certo se ele era tão famoso a ponto de atrair a preferência das pessoas e assim ser aquele por quem eles provavelmente intercederiam, ou se era tão notavelmente perverso a ponto de se tornar mais repulsivo para eles. Alguns creem nesta segunda opção, e por isso Pilatos o teria mencionado, assumindo como certo que eles teriam preferido a libertação de qualquer outro à dele. Traição, assassinato e roubo são três dos maiores crimes que são normalmente punidos pela espada da justiça; e Barrabás era culpado de todos os três (Lucas 23.19; João 18.40). Esse era um prisioneiro realmente notável, cujos crimes eram muito complexos.

(3) A proposta foi feita por Pilatos, o governador (v. 17): “Qual quereis que vos solte?” É provável que o juiz nomeasse os dois, um dos quais o povo deveria escolher. Pilatos lhes propôs a libertação de Jesus; ele estava convencido de sua inocência, e de que a acusação era maldosa; mesmo assim, não teve coragem para absolvê-lo, como deveria ter feito, usando a sua própria autoridade, mas o libertaria através da escolha das pessoas, e assim esperava satisfazer tanto a sua própria consciência como o povo. Considerando que não encontrou nenhuma culpa em Jesus, Pilatos não deveria permitir que o povo o julgasse, nem poderia colocar a sua vida em risco. Mas pequenos truques e artifícios como esse, na tentativa de acertar as coisas e ficar em paz com a consciência e com o mundo, também são práticas comuns por parte daqueles que visam agradar mais aos homens do que a Deus. “Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?”, disse Pilatos. Ele lembrou ao povo de que esse Jesus, cuja libertação ele propunha, era considerado por alguns dentre eles como sendo o Messias, e havia dado provas abundantes de que o era: “Não rejeitem alguém em relação a quem a sua nação tem manifestado tamanha esperança”.

Pilatos se esforçou para absolver Jesus porque sabia que os príncipes dos sacerdotes o haviam entregado por inveja (v. 18); que Jesus não tinha nenhuma culpa, mas a sua bondade os havia irritado. Por essa razão, ele esperava libertá-lo pela ação do povo, imaginando que optariam pela soltura dele. Quando Saul teve inveja de Davi, este era o predileto do povo; e qualquer um que ouvisse as aclamações com as quais Cristo fora saudado em Jerusalém poucos dias atrás, pensaria dessa forma, e que Pilatos poderia, seguramente, ter entregado esse caso à plebe. Isto seria ainda mais verdadeiro especial­ mente quando um patife tão notório quanto Barrabás fora colocado como seu rival em uma disputa pela preferência deles. Mas aconteceu o contrário.

(4) Enquanto Pilatos estava tratando do assunto desse modo, ele teve a sua relutância em condenar Jesus confirmada por uma mensagem enviada por sua esposa (v. 19), por medida de precaução: “Não entres na questão desse justo” (e também expressou a razão desta advertência), “por que em um sonho muito sofri por causa dele”. É provável que essa mensagem tenha sido entregue a Pilatos em público, e ouvida por todos aqueles que estavam presentes, pois tinha a intenção de ser um aviso não apenas para ele, mas para todos os acusadores do Senhor Jesus. Observe:

[1] A providência especial de Deus, ao conceder esse sonho à esposa de Pilatos. Não é provável que ela tenha ouvido anteriormente qualquer coisa a respeito de Cristo, pelo menos não até o momento de seu sonho, mas aquela importante mensagem veio diretamente de Deus: talvez ela fosse uma das mulheres honradas e de votas e tivesse algum senso de religiosidade; apesar de Deus se revelar em sonhos para alguns que não possuíam nenhuma comunhão com Ele, como ocorreu com Nabucodonosor. Ela sofreu muitas aflições nesse sonho. Não se sabe se ela sonhou com as crueldades que poderiam ser cometidas contra uma pessoa inocente, ou com os juízos que recairiam sobre aqueles que tivessem qualquer responsabilidade sobre a morte do Senhor, ou até mesmo com ambos. Parece que fora um sonho assustador, e os seus pensamentos a inquietavam, como em Daniel 2.1: 4.5. Observe que o Pai dos espíritos tem muitas maneiras de acionar o espírito dos homens, e pode selar a instrução deles em sonhos ou em visões de noite (Jó 33.15,16). Já para aqueles que têm a Palavra escrita, Deus fala mais comumente através da consciência, quando se está acordado, do que em sonhos, quando o sono profundo cai sobre os homens.

[2] A ternura e o cuidado da esposa de Pilatos, ao enviar essa advertência ao seu marido: “Não entres na questão desse justo”. Em primeiro lugar; esse era um respeitável testemunho para o nosso Senhor Jesus, atestando que Ele era um homem justo, mesmo quando era perseguido como o pior dos malfeitores. Quando os seus amigos estavam atemorizados para aparecer em sua defesa, Deus fez até mesmo que aqueles que eram estranhos e inimigos falassem a favor dele. Quando Pedro o negou, Judas o confessou; quando os príncipes dos sacerdotes o declararam culpado de morte, Pilatos declarou não ter achado nenhuma culpa nele; quando as mulheres que o amavam ficaram à distância, a esposa de Pilatos, que pouco sabia a respeito dele, demonstrou preocupação por Ele. Note que Deus não deixaria a si mesmo sem testemunhas da verdade e da retidão da sua causa, mesmo quando ela parece estar maliciosamente enfraquecida por seus inimigos, e até mesmo vergonhosamente abandonada, principalmente por seus amigos. Em segundo lugar, essa era uma justa advertência para Pilatos. “Não tenha nada a ver com essa questão que está sendo trazida contra Ele”. Note que Deus tem muitos meios de alertar os pecadores em suas perseguições pecaminosas, e é uma grande graça receber esses alertas da Providência, através de amigos fiéis e de nossas consciências; é também nosso grande dever escutá-los atentamente. Se prestarmos atenção, poderemos ouvir uma preciosa voz quando estivermos caindo em tentação: “Não, não faça isto! Esta é uma atitude abominável, que o Senhor odeia”. A esposa de Pilatos lhe enviou esse aviso por conta do amor que tinha por ele; ela não temeu uma repreensão dele por intrometer-se naquilo que não lhe dizia respeito; mas o deixaria decidir; ela apenas o alertaria. Observe que este é um exemplo do verdadeiro amor para com os nossos amigos e parentes: fazermos o possível para preservá-los do pecado; e quanto mais íntimos alguns forem de nós, maior afeição teremos por eles, e mais cuidadosos devemos ser para que não permitamos o pecado que se encontra ou que se apoia neles (Levíticos 19.17). A melhor amizade é aquela que visa o bem da alma. Não nos é dito como Pilatos lidou com isso, e alguns pensam que é provável que ele tenha reagido com algum tipo de zombaria; mas, pela conduta dele contra o Justo, parece que não o levou em conta. Desse modo, as advertências sinceras podem não ser levadas a sério quando são feitas como advertências contra o pecado, mas não serão tão facilmente negligenciadas quando forem consideradas como agravos do pecado.

(5) Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos estavam ocupados durante todo esse tempo em influenciar o povo a favor de Barrabás (v. 20). Eles persuadiram a multidão tanto por si mesmos como através de seus emissários, a quem eles enviaram em grande número para se misturar entre o povo, para que eles pedissem Barrabás e destruíssem Jesus; eles insinuavam que esse Jesus era um impostor, associado a Satanás, um inimigo da sinagoga e do Templo; que, se Ele fosse deixado em paz, os romanos viriam e tomariam as suas casas e a sua nação; que Barrabás, muito embora fosse um homem mau, e que não despertava o mesmo interesse que Jesus, não podia causar tanto dano. Assim, eles manipularam a turba, que, de outro modo, era bem afeiçoada a Jesus, e, se não estivessem tanto sob o controle de seus sacerdotes, jamais teriam feito uma coisa tão absurda como preferir Barrabás a Jesus. Aqui:

[1] Podemos apenas olhar esses perversos sacerdotes com indignação; pela lei, em assuntos de controvérsia entre sangue e sangue, o povo devia ser orientado pelos sacerdotes, e agir segundo o que estes lhes instruíssem (Deuteronômio 17.8,9). Eles abusaram indignamente desse grande poder que foi colocado em suas mãos, e os líderes religiosos fizeram com que o povo errasse.

[2] Nós só podemos olhar com piedade para as pessoas enganadas. Eu tenho pena da multidão, ao vê-la precipitar-se violentamente em direção a tão grande iniquidade, ao vê-la dominada dessa forma pelos sacerdotes, caindo na vala com os seus líderes cegos.

(6) Sendo assim excessivamente dominada pelos sacerdotes, ela finalmente fez a sua escolha (v. 21). “Qual destes dois” (disse Pilatos) “quereis vós que eu solte?” Ele esperava ter alcançado o seu objetivo: ver Jesus libertado. Mas, para sua grande surpresa, eles disseram: “Barrabás”; como se os crimes daquele homem fossem menores, e, portanto, ele fosse o que menos merecesse morrer; ou como se os seus méritos fossem numerosos, e por isso ele merecesse mais viver. O clamor por Barrabás era tão generalizado que não havia nenhuma possibilidade de se exigir uma votação entre os candidatos. Ficai surpresos, ó céus, com isso, e tu, terra, ficai terrivelmente amedrontada! Será que alguma vez os homens que fingiram raciocinar, ou crer, já foram culpados de tão imensa loucura, de uma iniquidade tão horrível! Foi disso que Pedro os acusou tão diretamente (Atos 3.14): Pedistes que se vos desse um homem homicida. As multidões que escolhem o mundo, em vez de Deus, como seu governante e destino, também escolhem, desse modo, as suas próprias desilusões.

2. Sua pressão fervorosa para que Jesus fosse crucificado (vv. 22,23). Pilatos, estando surpreso pela escolha deles por Barrabás, tinha a esperança de que esta se devesse mais a um afeto por Barrabás do que por uma inimizade em relação a Jesus; e então ele lhes diz: “Que farei, então, de Jesus? Deverei libertá-lo igualmente, para a grande honra de sua festa, ou deixarão para mim essa decisão?” “Não”, todos disseram, “seja crucificado”. Esta era a morte que eles desejam que o Senhor tivesse, porque era vista como a mais vergonhosa e infame; e eles esperavam, através disso, fazer com que os seus seguidores se sentissem envergonhados de confessá-lo, bem como o seu relacionamento com Ele. Era um absurdo que eles determinassem ao juiz que sentença deveria proferir; mas a sua iniquidade e a sua ira fizeram com que se esquecessem de todas as regras da ordem e da decência, e transformassem a corte de justiça em uma assembleia barulhenta, turbulenta e sediciosa. Então, a verdade fora jogada na sarjeta, e a justiça não podia entrar em cena; onde se esperava por julgamento, via-se opressão, o pior tipo de opressão; por retidão, via-se um grito, o pior grito que jamais existiu: Crucifica-o, crucifica o Senhor da glória. Embora aqueles que assim gritavam, talvez, não fossem as mesmas pessoas que dias atrás gritavam “Hosana”, ainda assim veja que mudança se operou no pensamento das pessoas em um curto espaço de tempo: quando o Senhor Jesus entrou triunfante em Jerusalém, tão generalizadas eram as aclamações de louvor, que se poderia pensar que Ele não possuía inimigos; mas agora, quando Ele era conduzido em humilhação ao tribunal de Pilatos, os clamores de inimizade eram tão generalizados, que se poderia concluir que Ele não tinha amigos. Tais revoluções existem neste mundo mutável, através do qual o nosso caminho para o céu se estende como o do nosso Mestre, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, sempre mudando (2 Coríntios 6.8); para que não possamos ser erguidos pela honra, como se, quando formos louvados e acariciados, tivéssemos ganho o nosso lugar entre as estrelas e devêssemos morrer nele; nem tampouco nos abater ou nos desencorajar pela desonra, como se andássemos no fundo do inferno, do qual não existe redenção. Então, quanto a essa exigência, também nos é dito:

(1) Como Pilatos se opôs a ela. Porque, que mal Jesus tinha feito? Esta é uma pergunta apropriada para se fazer antes de censurarmos alguém em um discurso público; e muito mais para um juiz perguntar antes de pronunciar uma sentença de morte. Note que é uma grande honra para o Senhor Jesus o fato de que, embora Ele se dispusesse a sofrer como um malfeitor, nem o seu juiz nem os seus acusadores pudessem provar que Ele tivesse feito qualquer mal. Tinha Ele feito qualquer mal contra Deus Pai? Não, Ele sempre fez aquilo que o agradava. Havia Ele feito qualquer mal contra o governo civil? Não, Ele deu a César o que era de César, e ensinou outros a fazerem o mesmo. Tinha Ele feito qualquer coisa nociva contra a paz pública? Não, Ele não contendeu nem clamou, e o seu reino não veio através de alguma desordem. Havia Ele feito qualquer mal a alguém em particular? A quem Ele enganou? Ele tomou o boi de alguém? Não, bem longe disso, Ele cuidou de fazer o bem. Isto reiterou a afirmação de sua imaculada inocência, indicando claramente que Ele morreu como a expiação pelos pecados dos outros. Pois, se não fosse por nossas transgressões, pelas quais Ele foi ferido dessa forma, por nossos pecados, pelos quais Ele foi entregue, e por ter decidido expiá-los voluntariamente, não vejo como esses extraordinários sofrimentos de uma pessoa que nunca pensou, disse, ou fez qualquer coisa errada, poderiam ser reconciliados com ajustiça e a equidade da Providência que governa o mundo, e que no mínimo permitiu que isso lhe acontecesse.

(2) Como eles insistiram nisso. Eles gritaram ainda mais: “Seja crucificado!” Eles não tentam mostrar qual­ quer mal que Ele tenha feito, mas, seja isto certo ou errado, Ele deve ser crucificado. Abandonando todas as pretensões de provar as suas pressuposições, eles decidem manter a conclusão, e a falta de evidências foi com­ pensada por um grande clamor; Pilatos, o juiz injusto, estava cansado dos insistentes pedidos por uma sentença injusta, como aquele juiz da parábola a quem se pedia que fizesse justiça (Lucas18.4,5). Aqui, o processo foi vencido puramente pela gritaria.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PAPO-CABEÇA

 Ao abordar sem meios-tons o suicídio e os traumas causados pelo bullying, a série13 Reasons Why comprova a força de um filão: as histórias sobre jovens com problemas psíquicos.

Papo-cabeça

No meio da noite o jovem Clay Jensen, (Dylan Minnette) surge, com a respiração ofegante, escoriações pelo corpo e o semblante transtornado. É compreensível: prisioneiro da obsessão por vingar a morte de Hannah Baker (Katherine Langford), Clay tem alucinações com o fantasma da colega, que cometeu suicídio após sofrer bullying e ser estuprada no colégio. Enfrenta outra ameaça nada ilusória: os mesmos abusadores acabaram de atentar contra sua vida. Acena da segunda temporada da série 13 Reasons Why é capaz de provocar identificação e calafrios em qualquer pessoa com filhos adolescentes. Na produção ficcional da Netflix, os pais de Clay reagem como pais zelosos do mundo real reagiriam: pedem que o filho cumpra a promessa de se abrir se estiver passando por turbulências. “Quando a casa pega fogo, você não conversa. Você sai correndo”, justifica-se Clay. Uma casa em chamas é uma metáfora perfeita da temática explorada com notável realismo das séries de TV à literatura, a dos transtornos psíquicos dos adolescentes.

As dores de ser jovem são um motor caro à ficção, e de caráter incrivelmente atemporal ao menos desde o advento do romantismo. Uma obra como Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), na qual o alemão Johann W. Goethe narra a história de um rapaz que perde a vontade de viver em virtude de uma desilusão amorosa, já tocava em peculiaridades da cabeça do adolescente hoje explicadas pela ciência, como as oscilações de humor. Como ensina a especialista Lídia Weber, da Universidade Federal do Paraná, o adolescente tem corpo de adulto, mas um cérebro em maturação: a região do córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento. “A região pré-frontal está ficando cheia de ideias, por assim dizer, e o adolescente, cheio de tédio, o que aumenta a probabilidade de comportamentos de risco e transtornos psiquiátricos”, diz Lídia.

A safra atual de histórias sobre adolescentes exibe um diferencial marcante: além de expressarem o sentimento de inadequação típico dessa fase da vida, elas se debruçam sobre transtornos bem definidos nos manuais de psiquiatria. As Vantagens de Ser Invisível – livro de Stephen Chbosky vertido num filme de 2012 –  fala da depressão juvenil. O americano John Green lança luz sobre uma condição de que ele mesmo – o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) – com a heroína hipocondríaca de seu mais recente romance, Tartarugas até Lá Embaixo. Ainda na literatura, seu conterrâneo Neal Shusterman traduz a mente de um adolescente com esquizofrenia no recém-lançado O Fundo É Apenas o Começo – escrito, aliás, com conhecimento de causa. O autor é pai de um garoto com a doença. Na TV, o inventário clínico da mente adolescente vai da síndrome de Asperger na série Atypical, da Netflix, à psicopatia na comédia de humor negro inglesa The End of the F***ing World.

13 Reasons Why ocupa um lugar hors-concours. A série é um compêndio dos problemas psíquicos da juventude. Lá no começo da primeira temporada, ficava-se sabendo que o protagonista Clay tomara um medicamento chamado duloxetina em tempos anteriores aos fatos narrados – o que sugere que sofria de depressão. Suas conversas com o fantasminha de Hannah são, antes de tudo, uma hábil ferramenta dramatúrgica, mas deixam no ar indícios de esquizofrenia. Skye (Sosie Bacon,) sua nova namorada, tem compulsão para se cortar e é diagnosticada com transtorno bipolar. Jessica (Alisha Boe) passa a ter sintomas de síndrome do pânico depois de ser vítima do mesmo garanhão estuprador que traumatizara Hannah. Nerd oprimido, o fotógrafo Tyler (Devin Druid) também vai pela trilha da depressão. Se a série causou controvérsia com sua abordagem do suicídio, a nova leva de episódios não faz por menos: redobra-se a aposta na crueza. Um estupro masculino é decupado com brutalidade; o horror dos assassinatos em massa em colégios, assoma com violência. “Algumas cenas serão difíceis de ver. Mas acreditamos que falar sobre isso é melhor que o silêncio’,’ já declarou o roteirista Brian Yorkey. De fato, a hipocrisia é a pior opção na hora de tratar os tormentos dos jovens. Entretanto, como se verificou no debate sobre a cena do suicídio de Hannah, os especialistas veem com reservas a exposição dos adolescentes a imagens tão impactantes.  “A ficção faz com que as pessoas conversem sobre estes temas difíceis na escola, em casa, com os amigos.

Porém jovens perturbados deveriam assistir a série ao lado de algum familiar, para poderem conversar à respeito”, diz a psicóloga Diana Corso, autora do livro Adolescência em Cartaz. “É preciso falar de assuntos difíceis como suicídio e bullying na adolescência, e é possível utilizar a arte para isso. Mas devem ser tomados certos cuidados: na série, o suicídio surge com glamour e simplificam-se os determinantes comportamentais”, afirma · Lídia Weber.

Escaldados com a crítica –  ligas de pais americanos querem tirar a série do ar em razão das novas cenas fortes -, os produtores sacaram uma “vacina” contra seus excessos. A segunda temporada engata uma discussão sobre o papel de cada um – pais, amigos e professores – nos problemas. A discussão torna a nova temporada mais arrastada, e não a exime do pecado da simplificação, mas    ilumina um dado perturbador: outro tipo de patologia –  o ambiente social sufocante – tem um peso imenso nos transtornos. Estes, muitas vezes não dão sinal de alerta antes do pior.

“Sempre estarei aqui para conversar” e “você é linda de qualquer jeito, filha” são frases recorrentes dos pais. Mas a mente adolescente é uma casa misteriosa.

VIAGEM ÀS PROFUNDEZAS

O americano Neal Shusterman carrega, na vida real, a experiência de conviver com um jovem portador de transtorno mental: seu filho Brendan, de 29 anos, é esquizofrênico. “Vi um filho amado viajar até as profundezas da mente, sem nada poder fazer para impedir sua descida”, escreve o autor, com evidente emoção, no posfácio de seu novo romance. Embora seja uma obra de ficção, O Fundo é Apenas o Começo ilumina com precisão quase documental – e com o olhar carinho do de um pai – a mente de um personagem que exibe a mesma condição de seu filho.

Papo-cabeça.2 

OUTROS OLHARES

ARMADILHAS DA COMPULSÃO

Mecanismos cerebrais que regulam a fome e a sensação de saciedade são semelhantes aos que participam da dependência de droga.

Armadilhas da compulsão

Muita gente acredita que informação e força de vontade são suficientes para se livrar dos quilos a mais. Falar é fácil. Difícil é vencer as tentações, todos os dias e em toda parte. Embora estejamos cansados de saber malefícios do excesso de gordura e de açúcar e do risco da obesidade, para um número cada vez maior de pessoas é impossível resistir e controlar os apelos do estômago. Às vezes, a vontade de comer é mais forte que a melhor das intenções, as recomendações médicas e os ideais de beleza. Em nome de pequenos prazeres efêmeros, colocamos de lado os bons propósitos, a autoestima e até a saúde.

Porém, não basta atribuir à vontade do indivíduo todo o ônus de manter uma alimentação saudável. Hábitos alimentares são resultado de forças orgânicas e psíquicas que estão, em grande parte, fora do alcance de nossas decisões conscientes. Qualquer pessoa que já fez dieta sabe disso.  Hoje a obesidade é um dos grandes problemas de saúde pública mundial; o acúmulo de gordura corporal é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares e diabetes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só na Europa morrem todos os anos cerca de 250 mil pessoas em decorrência dos maus hábitos alimentares. No Brasil, 27 milhões de pessoas estão acima do peso e quase 7 milhões são obesas.

A identificação da leptina, um peptídeo secretado pelas células adiposas que desempenha um papel­ chave na regulação do apetite e do metabolismo energético, foi um dos grandes marcos na pesquisa da obesidade. Descoberta em 1994 pelo biólogo Jeffrey M. Friedman, da Universidade Rockefeller, a leptina interage com receptores, situada no núcleo ventral medial – região do hipotálamo conhecida como centro da saciedade, sinalizando quando já comeu o suficiente. Em condições ideais, o aumento dos depósitos de gordura produz sinais que inibem a ingestão de alimentos. Nos obesos, porém há uma disfunção nessa retroalimentação mediada pela leptina.

O que acontece na obesidade é o mesmo mecanismo do diabetes tipo II, em que níveis elevados de glicose estimulam a secreção excessiva de insulina, de forma que os recepto desta ficam dessensibilizados – por essa razão este tipo de diabetes é chamado resistente à insulina. De forma similar, o excesso de gordura faz com que níveis de leptina se tornem muito altos, e os receptores no hipotálamo deixam de responder. O resultado é a sensação de insatisfação e a vontade de comer mais.

Apontar a leptina como único fator responsável pelos quilos a mais, entretanto, é um equívoco: inúmeros determinantes físicos e psíquicos contribuem para esse quadro considerado, na maior parte das vezes, não um transtorno em si, mas um sintoma.

Há muito tempo os cientistas já perceberam aspectos comuns entre o comportamento alimentar compulsivo e a dependência química. Um deles é o craving, descrito Como um desejo intenso de ingerir algo muito específico, que pode ser chocolate, pizza, cerveja ou cocaína. Outro exemplo é o evidente aumento da ingestão de alimentos, quase sempre acompanhado de ganho de peso, experimentado por qualquer pessoa que quer parar de fumar.

Escondida nas profundezas do cérebro reside uma estrutura que nos ajuda a compreender o papel da compulsão alimentar na obesidade. Também conhecido como centro do prazer, o núcleo accumbens é um conjunto de neurônios comprovadamente envolvidos nos mecanismos de dependência. Importante na regulação da emoção e da motivação, ele é um local de convergência de fibras procedentes da amígdala, do hipocampo e dos lobos temporais, e emite projeções para regiões como córtex cingulado, lobos frontais e hipotálamo.

Todas as substâncias que levam à dependência promovem a liberação de grandes quantidades do neurotransmissor dopamina nessa região, o que na prática se traduz como uma sensação de enorme prazer. A cocaína e a anfetamina, por exemplo, aumentam em até 15 vezes a concentração de dopamina no núcleo accumbens, e algo semelhante acontece com a morfina e a heroína. Mas o que isso tem a ver com a obesidade?

Uma das projeções do núcleo accumbens exerce comando direto sobre o hipotálamo, que regula, entre tantas coisas, o comportamento alimentar. Animais de laboratório modificados geneticamente para não produzir dopamina dão mostras inequívocas dessa estreita relação: perdem a motivação, deixam de comer e acabam morrendo de inanição. À medida que seu cérebro recebe doses periódicas do neurotransmissor, voltam a se alimentar normalmente.

POUCOS RECEPTORES

Em 2001, a psiquiatra Nora Volkow, hoje diretora do Instituto Nacional contra o Abuso de Drogas, em Bethesda, Estados Unidos, observou, por meio de tomografia de emissão de pósitrons (PETscan), uma correlação negativa entre o índice de massa corporal (IMC) e concentração de receptores de dopamina no núcleo accumbens. Em outras palavras, quanto mais gordo o indivíduo, menor a disponibilidade dos receptores dopaminérgicos. Os resultados sugerem que a compulsão alimentar seria uma forma de compensar a ausência de efeito do neurotransmissor. Teoricamente, a ingestão de comida deveria liberar mais dopamina, mas como aqueles receptores, por algum motivo desconhecido, estão escassos, a solução é comer mais ainda, dando origem a um círculo vicioso que também é a principal característica do abuso de drogas.

Além do núcleo accumbens, a amígdala é outra estrutura essencial para a compreensão da compulsão alimentar. Já na década de 30, o neurocientista alemão Heinrich Klüver e seu colega americano Paul Bucy lesionaram a amígdala de macacos e assim os transformaram em verdadeiras máquinas devoradoras, levavam à boca tudo o que fosse comestível, e muitas vezes, também o que não era.

Responsável pelas reações de medo, a amígdala é uma estrutura muito antiga do ponto de vista evolutivo e de importância central para o sistema límbico. Seu papel sobre o comportamento alimentar em humanos foi demonstrado em 2001 por Kevin LaBar, do Centro de Neurociência Cognitiva da Universidade Duke. O pesquisador apresentou objetos comestíveis e não comestíveis a nove indivíduos cuja atividade cerebral foi monitorada por meio de tomografia helicoidal.

SOANDO O ALARME

Os participantes eram saudáveis, embora famintos, por um jejum de oito horas que precedeu o experimento. Mas o conforto durou pouco. Depois da primeira bateria de testes, eles puderam se deliciar com uma farta refeição, antes de serem novamente submetidos ao tomógrafo. Assim LaBar comparou a atividade cerebral das mesmas pessoas em duas situações: com fome e, depois, devidamente saciadas. Os resultados da primeira etapa do teste mostraram que no cérebro dos esfomeados a amígdala entrara em franca atividade sempre que algo comestível surgia em seu campo de visão. Esse efeito não se manteve na segunda etapa, após a refeição, o que mostra que a amígdala funciona como um alarme no organismo.

Quase simultaneamente aos experimentos de LaBar sobre os mecanismos da fome e da saciedade o neurocientista Clinton Kilts dirigia na Universidade Emory, em Atlanta, estudos semelhantes com dependentes de cocaína. O cientista lhes mostrava fotos perturbadoras, como as típicas fileiras de pó branco, por exemplo. Observada pelo PETscan, a amígdala reagia de forma exacerbada tão logo os indivíduos punham os olhos sobre a imagem.

Outra estrutura nitidamente envolvida na de pendência química é a porção superior da órbita ocular do córtex frontal, mais conhecido como córtex orbito frontal (COF), o qual tem grande participação na regulação do humor e no comportamento baseado em recompensa. Pacientes que sofreram lesão no COF em decorrência de traumatismo ou doença degenerativa geralmente apresentam dificuldades para controlar seus impulsos, falam tudo o que lhes vem à cabeça e manifestam suas compulsões tanto no jogo como na alimentação.

A bióloga Dana Small, da Universidade Noroeste, em Chicago, foi uma das primeiras a detalhar a participação do COF nas sensações de prazer decorrentes da ingestão de alimentos. Enquanto nove pessoas se deleitavam com seus chocolates preferidos, a pesquisadora lhes observava a atividade cerebral pelo PETscan. Juntamente com várias outras partes do córtex, sobretudo as responsáveis pela assimilação sensorial, a porção medial do COF vibrava intensamente. Pouco tempo depois, Small repetiu o experimento, mas com uma modificação crucial. Desta vez, os voluntários deveriam consumir quantidades cada vez maiores de chocolate, de forma que o prazer de outrora se transformasse em sofrimento. Os resultados mostraram que o COF médio, antes em franca atividade, foi inibido: Enquanto isso, uma região vizinha, o COF lateral, entrou em ação.

O que todos esses estudos revelam é que vários mecanismos cerebrais subjacentes são comportamentos alimentares muito semelhantes, se não, os mesmos aos implicados na dependência, seja de drogas como álcool ou cocaína, seja de jogo. Obviamente, nem toda obesidade pode ser explicada pelo comportamento alimentar compulsivo, em muitos indivíduos, o componente genético é muito forte. Na maioria dos casos, porém, o controle da ingestão de alimentos promove excelentes resultados.

ENTENDER A GULA

O sucesso da indústria de fast-food não deixa dúvidas de que o comportamento alimentar é facilmente influenciável por estímulos externos. Entender o que se passa no cérebro dos gulosos certamente ajudará a desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes para a luta contra a epidemia global de obesidade.

De fato, alguns medicamentos usados na terapia contra o abuso de drogas têm ajudado pacientes obesos a manter a boca fechada por mais tempo. Antagonistas opioides (que neutralizam o efeito da morfina), como naloxone e naltrexone, oferecem bons resultados. Droga bloqueadoras dos receptores canabinóides também ajudam a controlar a compulsão alimentar. No entanto, não há pílula mágica, e na maioria dos casos a perda de peso é lenta. Estudo de 2005 realizado pelo endocrinologista Luc van Gaal, do Hospital Universitário da Antuérpia, Bélgica, concluiu que esses medicamentos fizeram os pacientes perder em média 7 kg por ano, ao passo que aqueles que tomaram placebo perderam quase 2 kg no mesmo período. Obviamente, emagrecer apenas com remédio é uma ingênua pretensão. Mudar os hábitos alimentares, de preferência com o acompanhamento de um nutricionista, é a combinação que proporciona melhores resultados. Mas é fácil falar…

 CARGA GENÉTICA E ESTIGMA SOCIAL

Tanto os dependentes químicos quanto os obesos são estigmatizados pela sociedade, em parte por causa da crença muito disseminada de que abusar de comida ou de substâncias psicoativas é algo completamente sujeito ao controle voluntário- o que não é verdade. Hoje, obesidade e abuso de drogas são considerados distúrbios multifatoriais com forte presença de componentes genéticos. Até 60% da predisposição à dependência química e cerca de.50% dos casos de obesidade podem ser atribuídos a causas hereditárias, apoiadas por fatores subjetivos e ambientais. Vários estudos já identificaram mutações, igualmente importantes para a obesidade e a dependência, embora se saiba que a expressão de ambas depende da participação de vários genes. Mas como não somos apenas produto de nossa carga genética, a interação com o meio é o que dá contorno ao quadro epidemiológico atual.  Além da enorme oferta de alimentos de alto conteúdo calórico a preços muito acessíveis, os pesquisadores apontam o stress como um poderoso fator ambiental associado à propensão ao comportamento compulsivo relacionado tanto a drogas quanto a comida. Crianças estressadas, por exemplo, têm maior risco de ficar obesas ou de usar drogas na adolescência ou no início da vida adulta. Além dos aspectos psíquicos, genéticos e psicossociais, também micro-organismos podem influenciar as possibilidades de uma pessoa ser gorda ou magra. Segundo pesquisas recentes, a flora intestinal dos obesos tem maior proporção de micro-organismos que ajudam na digestão dos alimentos. Estudos com camundongos sugerem que a obesidade poderia ser contagiosa. Quando certas bactérias foram transplantadas de animais gordos para outros magros, em pouco tempo os últimos aumentaram a quantidade de gordura corporal.

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QUANDO O ALIMENTO PODE SER UMA DROGA

Nem todas as drogas causam dependência com a mesma rapidez ou na mesma intensidade. Um dos fatores que fazem a diferença é a forma como a substância é administrada. Quando são injetadas ou inaladas em geral se tornam mais poderosas que quando aspiradas ou ingeridas, e isso ocorre porque as primeiras atingem o cérebro em concentrações mais altas. Ainda assim, as substâncias psicoativas têm características intrínsecas que as distinguem quanto a sua capacidade de produzir dependência. O experimento clássico, em que ratos pressionam barras para obter uma dose de alguma droga por via Intravenosa, não deixa dúvidas. Quando lhes é oferecida cocaína ou anfetamina, eles se auto administram com tal frequência que deixam de comer e morrem por falta de alimento. O mesmo não ocorre com a nicotina ou a maconha, por exemplo. A diferença está no poder adictivo de cada uma, que reflete a atividade do núcleo accumbens no momento da administração. Quanto mais dopamina é liberada nessa região, mais intenso será o prazer do indivíduo e maior a probabilidade de que ele busque a sensação repetidas vezes.

Com comida não é diferente. Alimentos ricos em gordura e carboidratos estão muito mais relacionados a comportamentos compulsivos que os com alto teor de proteína e fibras. Quem nunca devorou uma caixa de bombons num só dia ou um pacote de batatas fritas em poucos minutos? Já encontrar quem coma mais de três bifes ou todo um pé de alface numa mesma refeição é bem mais difícil.  Aí está o problema das dietas para redução de peso. Como frutas, vegetais e alimentos ricos em proteínas (e pobres em carboidratos) não têm o mesmo poder de ativar nossos mecanismos de recompensa, resistir às tentações do dia a dia para muitos, é uma tarefa dificílima e viver de alimentos que lhes proporcionem muito menos prazer é quase uma tortura.

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GESTÃO E CARREIRA

VAI UMA AJUDINHA AI?

Na gestão colaborativa, os funcionários ganham voz para participar das estratégias e das decisões da empresa. Mas o excesso de interação se mostra um grande vilão da produtividade.

Vai uma ajudinha aí

Segunda-feira pela manhã. No meio de uma reunião com toda a equipe, vem a constatação: uma importante tarefa deixou de ser realizada. Todos trocam olhares constrangidos enquanto uma pergunta fica no ar: “Quem deveria ter feito isso”? Ninguém sabe responder ao certo. Situações corno essa são mais comuns do que se imagina em empresas que adotam a gestão colaborativa – modelo no qual todos os funcionários têm uma participação mais ativa nas estratégias e nas decisões. Diferentemente das companhias tradicionais, com silos departamentais, hierarquia rígida e orientações que vêm de cima para baixo, na gestão participativa as responsabilidades e os papéis são difusos. Em muitos casos, não há chefes – apenas os responsáveis pelos projetos. “Como não há uma hierarquia definida, em muitos casos, fica apenas insinuado o que cada um deve fazer”, diz o consultor Edson Herrero, professor na escola de negócios Integração. Nesse ambiente, é preciso que as pessoas reivindiquem seu protagonismo e tomem as responsabilidades para si. “Mesmo não existindo uma figura de chefia, é preciso que alguém divida as tarefas e aloque responsabilidades. Caso contrário, o resultado será afetado.”

Entretanto, a partir daí, surge outra questão: como fazer essa distribuição de tarefas sem sobrecarregar ninguém? É uma equação difícil de resolver. Uma pesquisa com mais de 300 organizações, citada em um artigo na revista Harvard Business Review, mostra que a repartição do trabalho em grupo costuma ser desequilibrada. O estudo aponta que apenas 3% a 5% dos funcionários contribuem com até 35% das tarefas. Ou seja, mesmo que as colaborações estejam abertas a todos, na prática, apenas uma minoria tem participação efetiva. Isso acontece porque, à medida que as pessoas se tornam conhecidas internamente como capazes e dispostas a ajudar, são convidadas a tomar parte de novos projetos. Resultado: uma sobrecarga de atribuições para os “maiores colaboradores”.

 LIBERDADE OU LIBERTINAGEM

O tempo que se perde com todas as interações exigidas pelo trabalho participativo não é desprezível. A estimativa é que, em muitas companhias, os profissionais gastem até 80% de sua rotina diária em reuniões e comitês, atendendo a ligações ou respondendo a e-mails – sobrando pouquíssimo tempo para realizar as tarefas realmente necessárias. “Cuidado para não confundir colaboração com mais reuniões ou mais comitês, ou com ‘sermos todos mais amiguinhos”, diz Christian Orglmeister, sócio e diretor da consultoria de negócios Boston Consulting Group.

Apesar das propaladas vantagens da gestão cooperada – como manter a motivação dos funcionários e proporcionar um ambiente mais favorável à criatividade e à inovação -, não é fácil colocar o modelo em prática. “Nossa empresa tem uma gestão colaborativa por natureza. As parcerias fluem com facilidade, mas isso também gerou um crescimento complexo e inorgânico”, diz Gabriela Vargas, diretora de desenvolvimento organizacional da Zenvia, que desenvolve plataformas digitais de interação com consumidores. Durante os 14 anos de existência da companhia, profissionais vindos de gerências tradicionais muitas vezes sentiam-se perdidos no dia a dia. “Eles não sabiam até onde poderiam ir, já que não existiam indicadores de produtividade”, afirma Gabriela. Além disso, muitos acabavam adotando uma mentalidade acomodada do tipo “se eu não fizer minha parte, ninguém vai ver”.

Sem abandonar suas raízes, a Zenvia começou, há um ano e meio, a investir em métodos organizacionais para azeitar seu modelo de gestão. “Encontramos em algumas ferramentas da metodologia Lean – cujo principal objetivo é enxugar os processos de gestão – a solução para continuarmos atuando dentro do que acreditamos, mas responsabilizando cada empregado por seus projetos e áreas”, diz Gabriela. “Foi, e ainda está sendo, uma mudança cultural para nós.” Alguns ainda tentam se adaptar ao novo modelo. “É preciso que as pessoas entendam que todos têm responsabilidade sobre o negócio.”

Numa empresa com gestão colaborativa, é comum perceber que alguém está saindo da linha sistémica de cooperação e a equipe não funciona mais como antes. Em que ponto a cadeia se rompeu? Houve um conflito, as pessoas criaram uma indisposição? Foi só uma “derrapada” de um funcionário ou ele não está na mesma página da companhia? Nesse caso, vale investigar, investir em melhorias ou, em último caso, até trocá-lo por um empregado com perfil mais adequado. “Em um ambiente que fomenta a ajuda mútua estão presentes indivíduos de diversos perfis, etnias, orientações sexuais e ideologias. É preciso que todos sejam abertos a conviver com o diferente para se dispor a fazer algo de maneira encadeada”, diz Herrero, da Integração. Ao mesmo tempo, é preciso que os times estejam alinhados. Por exemplo: duas áreas podem operar a todo vapor e serem superprodutivas. Mas, por falta de concatenação, criam-se estoques intermediários no processo entre elas. “Isso tem um custo, é urna ineficiência”, diz Orglmeister. “Colaborar é muitas vezes abrir mão de informações, disponibilizar recursos para outros, não centralizar poder, para que se possa de fato fomentar conversas produtivas, liberar recursos e criar valor.”

 A IMPORTÂNCIA DO LÍDER

A Linx, líder brasileira no fornecimento de software de gestão para o varejo, percebeu que para o trabalho colaborativo ser mais produtivo no cotidiano é preciso adotar um processo claro de liderança, além de alinhamento de estratégias e expectativas. Com esse objetivo, a empresa promove uma vez por ano um encontro de líderes, reunindo gestores de todo o Brasil. “Compartilhamos e acertamos os objetivos das áreas com o direcionamento geral da companhia”, diz Flávio Menezes, vice-presidente de marketing e RH da Linx. “Sentimos que, dessa forma, o trabalho no dia a dia fica mais fácil e encadeado.”

A companhia tem também um programa de desenvolvimento de liderança, que prepara os funcionários para as mais diferentes tomadas de decisão, além de trazer o desafio de gerenciar um time diverso, com profissionais vindos de corporações com culturas, experiências, conhecimentos e processos distintos. Segundo Menezes, a iniciativa tem adesão espontânea e está com a capacidade máxima, com mais de 200 participantes. “A taxa de satisfação dos inscritos é de 90% e, para nós, o ganho tem sido excepcional”, afirma.

Ao mudar de sede, em meados de 2017, a Linx pensou numa área especial de concentração para seus empregados. Além dos espaços de co criação, a companhia tem estações de trabalho individualizadas à disposição dos profissionais, utilizadas para momentos em que é necessária uma dose maior de concentração.

Afinal, para a gestão colaborativa dar certo, é preciso deixar as pessoas realizarem suas tarefas. “Hoje em dia, numa empresa, não podemos perder tempo com coisas que não são do trabalho”, diz o consultor Herrero. “Como a maioria de nós atua em ambientes abertos, é muito fácil acessar o parceiro ao lado o tempo todo. Isso pode tirar totalmente o foco dos dois.”

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 11-25 – PARTE I

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Cristo no Tribunal de Pilatos

Nós temos aqui um relato do que ocorreu na audiência com Pilatos, quando o bendito Senhor Jesus foi levado para lá, logo pela manhã. Embora não fosse dia de audiência do tribunal, Pilatos imediatamente aceitou que o seu caso fosse trazido perante ele. Aqui temos:

I – O julgamento de Cristo diante de Pilatos.

1. A sua acusação formal. Jesus ficou de pé diante do governador, como o prisioneiro fica diante do juiz. Nós não poderíamos ficar de pé diante de Deus por causa de nossos pecados, nem erguer os nossos rostos em sua preciosa presença, se Cristo não tivesse se tornado pecado por nós. Ele foi levado a julgamento para que nós pudéssemos ser perdoados. Alguns acham que isso evidencia a sua coragem e ousadia. Ele se levantou destemido, sem se mover diante da ira deles. Ele, então, ficou de pé nesse julgamento, para que nós pudéssemos ficar de pé no julgamento de Deus. Ele se tornou um espetáculo, como Nabote, quando foi acusado e colocado acima do povo.

2. Sua acusação: “És tu o Rei dos judeus?” Os judeus estavam agora não apenas sob o governo, mas sob uma guarda muito minuciosa das forças romanas, contra as quais eles tinham o mais alto grau de insatisfação; todavia, dessa vez, fingiam ter uma preocupação de servir, acusando Jesus de ser um inimigo de César (Lucas 23.2), do que eles não puderam produzir nenhuma outra prova, a não ser que Ele próprio havia recentemente reconhecido ser o Cristo. Agora eles pensavam que quem quer que fosse o Cristo, deveria ser o Rei dos judeus, e deveria livrá-los do poder romano e restabelecer para eles um governo terreno, permitindo-lhes que pisassem sobre todos os seus vizinhos. De acordo com esta quimera, eles acusaram o nosso Senhor Jesus de se passar por Rei dos judeus, em oposição ao jugo romano. Ê preciso considerar que embora Ele declarasse que era o Cristo, Ele não agiu como eles pensaram que o Cristo agiria. Note que muitos se opõem à santa religião de Cristo, apoiando-se em um engano quanto à sua natureza; eles a vestem com cores falsas e então lutam contra ela. Eles asseguram ao governador que se Ele declarou que era o Cristo, Ele se declarou Rei dos judeus. Então o governador toma como certo que o objetivo do Senhor Jesus era perverter a nação e subverter o governo. “Tu és rei?” Estava claro que Ele não representava isto de facto de fato “Fazes qualquer reivindicação ao governo, ou pretendes ter o direito de governar os judeus?” Note que a religião sagrada de Cristo teve, frequentemente, o árduo destino de cair injustamente sob as suspeitas dos poderes civis, como se ela fosse prejudicial aos reis e às províncias, apesar de beneficiar imensamente a ambos.

1. Seu argumento. “‘Jesus respondeu: Tu o dizes’. É como tu disseste, embora não como quisestes dizer; Eu sou o Rei, mas não sou como tu suspeitas que eu seja”. Assim, diante de Pilatos, Jesus deu um bom testemunho, e não ficou envergonhado ao reconhecer a si mesmo como Rei, embora isso pudesse parecer ridículo. Jesus também não teve medo, embora, nessa ocasião, uma afirmação como essa fosse muito perigosa.

2. A evidência (v. 12). Ele foi acusado pelos príncipes dos sacerdotes. Pilatos não achou culpa alguma nele. A despeito daquilo que tenha sido dito, nada foi provado; portanto, eles compensaram a falta de provas com barulho e violência, e o atacaram com repetidas acusações, as mesmas que eles haviam submetido anteriormente; eles pensavam que pudessem forçar o governador a acreditar através da repetição. Eles tinham aprendido, não apenas a calunia; mas, caluniar com veemência. Os melhores homens têm sido frequentemente acusados de cometer os piores crimes.

3. O silêncio do prisioneiro quanto às acusações dos promotores. Ele não respondeu nada:

(1) Porque não havia razão; nada foi alegado, exceto aquilo que carregava em si a sua própria impugnação.

(2) Ele estava agora absorvido pelo assunto de grande importância que se colocava entre Ele mesmo e o seu Pai, a quem Ele estava se oferecendo em sacrifício para atender às exigências da sua justiça, e no qual Ele estava tão concentrado que não se importava com aquilo que diziam contra si mesmo.

(3) A sua hora havia chegado, e Ele se submeteu à vontade de seu Pai: “Não seja como Eu quero, mas como tu queres”. Ele sabia qual era a vontade de seu Pai, e então se entregou silenciosamente àquele que julga justamente. Não devemos – através do nosso silêncio – jogar fora a nossa vida, porque não somos senhores de nossa vida, como Cristo era da dele. Também não podemos saber, corno Ele sabia, quando a nossa hora chegará. Mas, por essa razão, devemos aprender a não retribuir injúria com injúria (1 Pedro 2.23).

Então:

[1] Pilatos o pressionava a dar alguma resposta (v. 13): “Não ouves quanto testificam contra ti?” Podemos identificar a que Pilatos estava se referindo a partir de Lucas 23.3,5 e João 19.7. Pilatos, não tendo nenhuma má intenção contra o Senhor Jesus, estava desejoso de que Ele pudesse provar a sua inocência, e o induz a isso acreditando que Ele podia fazê-lo: “Não ouves?” Sim, Ele ouvia; e Ele ainda ouve tudo o que é testemunhado injustamente contra as suas verdades e caminhos. Mas Ele se mantém em silêncio, porque é o dia de sua paciência; e não responde, como o fará em breve (Salmos 50.3).

[2] Pilatos se maravilhou com o silêncio de Jesus. Este silêncio não foi interpretado tanto como um desprezo pelo tribunal, mas como um desprezo por si mesmo. Por isso, não foi dito que Pilatos ficou irritado com essa atitude, mas que ficou extremamente maravilhado com isso, como se fosse algo muito incomum. Ele acreditava que o Senhor Jesus era inocente, e talvez tivesse ouvido que nenhum homem jamais havia falado como Ele; e então considerou estranho que Ele não tivesse uma única palavra para dizer em sua defesa.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A SÍNDROME DO IMPOSTOR

Muita gente acredita que não merece o sucesso, mesmo quando trabalhou duro para atingir seus objetivos e é reconhecida por suas realizações. Essas pessoas na maioria mulheres, sentem-se farsantes e convivem com o medo, constante de que o suposto engodo seja descoberto.

A síndrome do impostor

Não importa se receberam elogios, aprovações, promoções, se tiraram boas notas ou se seus projetos são valorizados. Pessoas afetadas por um fenômeno psicológico conhecido como “síndrome do impostor”, não acreditam que seu sucesso possa ser atribuído, à sua capacidade. Em alguns casos, estão convencidas de que a boa avaliação de seu desempenho deve-se apenas à habilidade de enganar os outros a respeito de si mesmas ou a seus relacionamentos. Em outros, convencem-se de que foram beneficiadas simplesmente por um feliz acaso. E inevitavelmente se comparam a outras pessoas e duvidam da própria capacidade. Curiosamente, essas ideias surgem com frequência em pessoas com um bom currículo e até com histórico de ótimo desempenho.

Trata-se, inicialmente, de tendência a não se considerar responsável por resultados positivos, atribuindo-os a circunstâncias externas. Pessoas com essa síndrome, porém, vão além: sentem-se realmente impostoras que obtiveram sucesso por meio de fraude e não o mereceram. E, por conta disso, vivem com o medo constante de que alguém descubra sua suposta fraude.

Nos últimos anos, alguns pesquisadores estudaram características psíquicas daqueles que costumam se torturar com esses pensamentos. O psicólogo Scott Ross, da Universidade DePauw, em Greencastle, estado americano de Indiana, concluiu em 2001 que as pessoas afetadas pelo sentimento de que são uma fraude apresentam de maneira geral, baixa autoestima, às vezes disfarçada por atitudes aparentemente arrogantes ou simpatia exagerada. Isso é associado à sensação frequente de medo sem causa especifica, segundo descobriram em 2006 as psicólogas Shamata Kumar e Carolyn Jagacinski, da Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, ao realizar uma enquete com 130 estudantes.

Em alguns casos, o medo de ser descoberto pode estar associado a distúrbios psíquicos ou deficiências físicas. Em 2002, a psicóloga Naijean Bernard, da Universidade Southern Illinois em Carbondale, coordenou uma equipe que examinou quase 200 universitários por meio de questionários. Os pesquisadores descobriram uma associação entre os pensamentos associados à síndrome do impostor e tendências depressivas – uma constatação várias vezes confirmada nos anos posteriores.

DEMAIS OU DE MENOS

A expressão “fenômeno do impostor” foi usada pela primeira vez no fim dos anos 1970 pela psicóloga Pauline Clance, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta. Segundo ela, os pacientes que apresentam essa manifestação têm uma dolorosa consciência de suas fraquezas. Ao mesmo tempo, tendem a supervalorizar a capacidade e os pontos fortes dos outros – e sempre se consideram em desvantagem. Não é de admirar que essas pessoas tenham baixa autoestima.

Clance já supunha que, principalmente as mulheres, eram suscetíveis a esse tipo de funcionamento psíquico. Em u m estudo recente, realizado na Universidade de Heidelberg, Alemanha, Christine Roth examinou, junto comigo, a disseminação da síndrome do impostor entre estudantes de psicologia. Como se trata de um curso com vagas limitadas e bastante concorrido, a maioria dos estudantes havia sido muito bem-sucedida na escola – eles preenchem, portanto, uma importante condição para o fenômeno do impostor. E, de fato, a porcentagem de mulheres dentro do grupo que relatou ter esse tipo de pensamento, auto persecutório, era evidentemente mais alta do que entre os estudantes sem esse peso na consciência. Vários outros estudos apoiam essa constatação. A suposição leva a crer que o fenômeno contribui também para o fato de as mulheres ainda estarem raramente representadas em posições de ponta em sua vida profissional. Apesar de as meninas terem, em média, melhores notas escolares e completarem os estudos universitários com frequência bastante aproximada à de seus colegas do sexo masculino, aparentemente o sucesso parece imerecido para muitas delas. O tema, entretanto, ainda é controverso.

Mas como é possível, que pessoas que sempre conseguem ter bom desempenho, muitas vezes até acima da média, não acreditem em sua capacidade? Os sentimentos associados à síndrome do impostor são, provavelmente, tão perseverantes porque se estabilizam em um círculo vicioso psíquico. Para que a fraude não seja revelada, em uma situação que dependa do desempenho, como, por exemplo, uma prova, as pessoas adotam uma entre duas estratégias: overdoing” (fazer demais) ou “underdoing” (fazer de menos). No primeiro caso, se preparam de forma exageradamente longa e intensiva para uma situação em que seu desempenho será avaliado. Com isso, elevam a probabilidade de obterem um bom resultado. E, se isso ocorre – e geralmente ocorre – atribuem o sucesso não a sua capacidade, mas ao grande esforço. Ao mesmo tempo, têm consciência de que não poderão fazer sempre um esforço tão grande, o que reforça o medo de não conseguirem ter resultado semelhante no futuro.

No caso do underdoing, ocorre inicialmente o contrário: as pessoas se preparam pouco ou tarde demais para uma situação de avaliação e ocupam-se, em vez disso, de outras coisas. O psicólogo social Edward Jones (1927-1993) denominou esse comportamento de “self-handicapping”, referindo-se aqueles que colocam pedras no próprio caminho na medida em que pouco se esforçam ou rejeitam ajuda ofertada, protegendo-se, no caso de insucesso, de ter de atribuir o fracasso a si mesmos. E assim cultivam a crença de que teriam conseguido se realmente quisessem. Dessa forma, porém, sabotam o próprio desempenho.

Se, no entanto, a pessoa com a síndrome do impostor soluciona bem uma tarefa, apesar de ter criado obstáculos para si mesma, mesmo assim raramente atribui o sucesso a sua própria capacidade, mas à sorte. Por isso, os afetados que utilizam a estratégia do underdoing também são bastante inseguros quanto ao próprio futuro.

TEMPO E TRABALHO

Como é possível quebrar o ciclo do pensamento daqueles que sofrem da síndrome do impostor?  Clance, que estudou o fenômeno, acredita que um ponto de partida central seja aprender a atribuir o sucesso à própria capacidade quando isso é justo. Ainda que no início pareça estranho, trata-se de suportar o sucesso – e arcar com as responsabilidades que advêm dele. Por exemplo: se a pessoa recebe uma promoção no trabalho, terá de se haver com mais tarefas, cobranças e necessidade de tomada de decisões nem sempre confortáveis. Aceitar as próprias conquistas ajuda a lidar com eventuais frustrações, sem cultivar a ideia de que um fracasso colocará absolutamente tudo a perder. Trata-se, na verdade, de compreender que temos capacidades e podemos, sim, eventualmente, errar – sem que isso seja irreparável. Também vale a pena rever a explicação “eu só tive sucesso porque me esforcei muito” – comumente bastante aceita. É fundamental aprender a adequar quantidade de trabalho e investimento necessário em cada situação. Considerando o outro lado dessa moeda, muito cômodo explicar insucessos com causas que podem ser facilmente modificadas – como o pouco esforço ou a estratégia de estudos inadequada. O problema é que, agindo assim, a pessoa nunca saberá de fato o que pode obter.

Um caminho possível para reverter essa forma de lidar consigo mesmo e com os desafios é fortalecer a autoestima, o que ao mesmo tempo diminui o medo e a tendência à invalidação de si. Exercícios práticos para aprender a reconhecer – e valorizar – realizações pessoais, como fazer listas dos próprios pontos fortes e rever situações em que teve sucesso, destacando as qualidades que o favoreceram em cada ocasião, podem ser muito úteis. Mas o acompanhamento psicoterápico que contribua para a elaboração de conflitos antigos que alicerçam as crenças equivocadas sobre si mesmo é fundamental para rever posturas e formas prejudiciais de lidar consigo mesmo.

SORTE OU COMPETÊNCIA?

Afinal, quem ou o que é responsável tanto pelos acontecimentos bons quanto ruins em nossa vida?  Quando respondemos a essa questão, estamos fazendo uma “atribuição” –  conferimos uma causa aos fatos, estabelecendo relações de causa e efeito. Segundo o psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, toda pessoa possui um estilo de atribuição com  o qual explica preferencialmente os eventos de sua vida, que inclui três dimensões: os motivos para um acontecimento podem estar dentro ou fora da própria pessoa (interno versus externo): podem ser duradouros ou passageiros (estável versus instável): e podem se aplicar a várias situações ou a apenas uma única (global versus especifico).

O estilo de atribuição já foi muitas vezes associado à saúde mental: pessoas psiquicamente saudáveis tendem a considerar eventos positivos de forma internalizada, estável e global (“Nem sempre acerto, mas sou inteligente.”). No caso de acontecimentos negativos relevam aspectos externos, de forma instável e especifica (“Desta vez eu dei azar, mas isso não vai necessariamente acontecer sempre.”). Pessoas depressivas frequentemente apresentam o padrão inverso: consideram­ se sempre responsáveis pelos fracassos e explicam as próprias realizações como sorte. De fato, não se trata de negar a realidade ou subestimar aspectos concretos ou subjetivos: realmente há fatores que escapam à compreensão racional e posturas psíquicas (ou mesmo dificuldades) que sabotam boas intenções. Mas analisar cada situação sem tentar encaixá-la em modelos prontos – sempre sorte ou sempre incompetência – nos torna menos onipotentes e mais tolerantes com nossos erros e acertos.

DE OLHO NA TRAPAÇA

Segundo a psicóloga Pauline Clance, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta, o sentimento subjetivo de ser um farsante, em geral, surge pela primeira vez no final do período escolar, no início dos estudos universitários ou, ainda, com mais frequência, no começo da vida profissional – um período em que mesmo pessoas acostumadas ao sucesso precisam lidar com exigências mais intensas. Muitas vezes, quem atravessou o período escolar sem grande esforço não aprendeu a se preparar adequadamente para situações que dependam de seu desempenho e a atribuir seu sucesso à própria capacidade. Alguns especialistas se perguntam, entretanto, se as pessoas com síndrome do impostor realmente fingem ser mais do que são –  o que, em parte, justificaria seu sentimento de estar enganando os outros. O psicólogo Joseph Ferrari, da Universidade DePaul, investigou essa questão e constatou que os impostores imaginários tendiam menos à trapaça do que as pessoas do grupo de controle que não se consideravam trapaceiras.

A síndrome do impostor.2

OUTROS OLHARES

O AVESSO DA TATUAGEM

Descoberta de pesquisadores franceses abre caminho para a retirada de desenhos na pele sem deixar resíduos na forma de manchas e cicatrizes.

O avesso da tatuagem

Não é incomum que, depois do desejo de tatuar o corpo, brote a vontade de fazer o oposto, retirar a tatuagem – três em cada dez pessoas tatuadas decidem pela remoção. As sequelas da extração, contudo, podem ser feias. No lugar do desenho ficam manchas e cicatrizes. Os dermatologistas sempre buscaram uma saída que permitisse não estragar a pele após a eliminação da pintura. Recentemente, cientistas do Centro de Imunologia de Marseille-Luininy, na França, identificaram os mecanismos de absorção das tinturas – e a descoberta pode abrir uma avenida de oportunidades que permitiria a volta da tez a seu estado inicial.

Acreditava-se, até hoje, que os pigmentos dos desenhos apenas coloriam a derme onde ficam os fibroblastos, as células que sintetizam colágeno (composto que dá sustentação à pele), e lá permaneciam para sempre – e que somente sessões a laser seriam capazes de dar sumiço à tatuagem. A novidade: os pesquisadores observaram que as células de defesa do organismo, os macrófagos, identificam a tinta como uma ameaça ao corpo e a ingerem.

Mas os macrófagos não dão conta do recado – os grânulos de tinta são volumosos demais e parte do pigmento permanece retido. Com o tempo, essas células morrem, os pigmentos são liberados e aspirados por novos macrófagos. O ciclo, então, recomeça. “A descoberta quebrou um paradigma de décadas”, diz Jardis Volpe, dermatologista, de São Paulo. Na prática, portanto, é um atalho para a criação de tecnologias de remoção mais pontuais.

Submeter-se aos tratamentos atuais de remoção não significa apenas o ganho de marcas – custa caro. A extração com o laser de picossegundos, o que há de mais novo no mercado, exige ao menos quatro sessões a cada seis semanas, ao custo de no mínimo 1.000 reais cada uma. O valor pago para remover uma tatuagem do tamanho de uma moeda de 1 real pode ser 9 vezes maior do que o desembolsado na aplicação do desenho.

O passo dado pelos especialistas franceses precisa de tempo para ser adotado. Enquanto isso, trata-se de minimizar os danos. Uma solução é alterar o traço, em vez de extraí-lo. O clássico exemplo é o do ator Johnny Depp. Em homenagem à atriz e então noiva Winona Ryder, ele tatuou no braço “Winona Forever” (Winona para sempre). Depois de três anos, com o fim do relacionamento, Depp apagou apenas as duas últimas letras do nome da atriz, o que resultou na frase “Wino Forever” – bêbado para sempre.

O avesso da tatuagem.2

GESTÃO E CARREIRA

SIGA-ME, SOU ALTO E FORTÃO

Mera imagem de força física gera percepção de liderança.

Siga-me, sou alto e fortão

Embora figuras cultuadas como Bill Gates ou Tim Cook não se distingam exatamente por estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley, publicado no Journal of Personality and Social Psychology, chegou à conclusão de que a força muscular frequentemente é vista como uma característica positiva suplementar de um líder. Experimentos com fotografias de indivíduos demonstraram que os participantes identificavam os mais fortes como mais “capazes” e poderosos do que os de aparência mais frágil. Mas essa percepção se aplicou somente aos homens avaliados, pois, no caso das mulheres, a aparência de força pouco afetava esse tipo de avaliação.

Em uma segunda fase do experimento, os autores, valendo-se de um Photoshop, colocaram as cabeças dos mais fracos (que haviam recebido menos votos) no corpo dos mais fortes e, previsivelmente, os fracos agora receberam mais indicações como líder do que antes. Um terceiro experimento, também usando Photoshop, colocou a mesma cabeça em corpos de alturas diferentes, e aqueles mais altos receberam mais votos de liderança, independentemente de seus rostos. Mas os mais fracos ou baixinhos não devem entrar em pânico: os autores ressalvam que isso não significa que sua ascensão profissional será barrada, pois a percepção de força não é um fator definidor, embora ajude. O que vai determinar esse papel é a capacidade de agir como líder, independente do seu muque.