PSICOLOGIA ANALÍTICA

CONSTRUINDO RELAÇÕES SAUDÁVEIS

Para encontrar a tão sonhada felicidade no amor não é necessário apenas investir no próprio relacionamento, mas é imprescindível descobrir mecanismos para se autoconhecer e, a partir daí, compartilhar uma vida a dois.

Construindo relações saudáveis

A vida a dois é uma construção diária, não há milagres! É preciso investir em si mesmo, se autoconhecer, para que se possa ter uma relação amorosa saudável. A maioria das pessoas que têm problemas de relacionamento coloca expectativa demais no outro e esquece de fazer o necessário pela sua própria felicidade.

Aquela velha máxima “encontrar a outra metade da laranja” está um tanto obsoleta, se pensarmos que já somos uma laranja inteira, ou seja, que é investindo em nós mesmos, na nossa autoconfiança e amor próprio, que poderemos compartilhar com o outro um relacionamento amoroso saudável.

Nesse sentido é importante prestar atenção aos detalhes da relação, avaliar bem quais são suas necessidades e as do (a) companheiro(a), pois cada pessoa tem necessidades distintas, que, muitas vezes, podem até mesmo ser divergentes. Quando isso ocorre, é preciso conversar, compreender o que é importante para cada um e respeitar o seu espaço e o do outro.

Muitos relacionamentos que não dão certo estão pautados pela falta de diálogo, de empatia, que implica em se colocar no lugar do outro. Então, ao invés de buscar satisfazer apenas suas necessidades pessoais, é preciso que cada parte possa também se doar e buscar espaço de satisfação para o outro e para o casal.

Assim, é imprescindível que se tenha a atenção voltada para o outro e para si mesmo, pois uma pessoa nunca deve se abandonar dentro de uma relação, que deve ser como uma balança equilibrada, sem pender demais para um lado ou para o outro. Isso pode parecer muito difícil num primeiro momento, mas quando se consegue gerenciar e investir no cuidado com a relação, na observação dos detalhes que a compõem, fica fácil, pois basta investir no amor, nas qualidades e coisas boas da relação que tudo fica mais fácil.

Imagine um casal que tem dificuldades de se encontrar em função da vida profissional: um trabalha por escala de plantão e o outro em horário comercial. O momento de estar junto tem que ser muito bom, porque já é pouco. Caso seja ruim, o que fica marcado é a distância e o afastamento. Por isso, toda vez que estiver junto da pessoa que você ama, pense bem no que vai falar, no que prefere investir: no que está dando certo ou no que está dando errado.

A comunicação entre o casal deve ser sempre assertiva, preferencialmente em tom de afetividade, ou seja, é importante, antes de falar, lembrar o quanto uma simples fala pode magoar o outro e impactar negativamente na relação. Como cada pessoa que faz parte da relação é um ser singular, com suas capacidades, preferências, valores e gostos, cada um deve ter seu espaço, na relação, sem que um tenha mais poder do que outro, cabendo momentos de diálogo e também de silêncios, que são valorosos e devem ser respeitados.

A maioria dos problemas de relacionamento ocorre porque as pessoas não estão dispostas a olhar para si mesmas e fazer uma simples pergunta: “O que eu espero dessa relação?”. Aliás, essa é uma pergunta que deveria ser feita desde o início de toda e qualquer relação amorosa, e, tão logo a relação começasse de fato, um diálogo sobre o tema deveria ser travado, pois muitas vezes as pessoas esperam coisas completamente diferentes de um relacionamento. Uma pessoa pode querer um casamento com filhos, e a outra apenas uma relação saudável, duradoura, mas sem filhos, por exemplo. O simples desejo de querer ou não ter filhos pode ser um grande problema para o relacionamento a dois.

DIÁLOGO

Portanto, é preciso dialogar, saber o que se esperar, o que se deseja, até para que haja um consenso em prol da relação e a decisão por continuar nela ou não. Afinal, algumas pessoas não estão dispostas a abrir mão de seus desejos e necessidades em prol de um relacionamento.

Por isso, é sempre importante ser sincero consigo mesmo e não entrar na ilusão de que, com o tempo, será fácil mudar o outro. Ninguém muda ninguém. E a cobrança por mudança constante pode gerar mentiras desnecessárias, simplesmente porque é mais fácil não entrar em embates e encerrar o assunto. Portanto, prezar o diálogo aberto, a honestidade e a cumplicidade é essencial em toda e qualquer relação amorosa.

O amor precisa da cumplicidade, do vínculo de confiança. Sem isso, ele não sobrevive. E por falar em confiança, não tem coisa mais destruidora de relações do que o ciúme. Quando ele chega, principalmente em altos níveis, é porque todas as portas da confiança já foram fechadas; se ele não existia antes e surge de repente, então é porque a cumplicidade está afetada. É preciso rever as bases da relação e avaliar o que ocorreu para que ela se torne forte novamente.

O sucesso na relação amorosa depende de muitos fatores e talvez os mais importantes sejam o respeito e a amizade, principalmente porque depois de algum tempo de relação é isso que vai fazer a diferença e que vai ser a base forte da manutenção do amor, do carinho e dos modos de enfrentamento dos problemas. Sim, os problemas virão, eles sempre virão. Portanto, não adianta ficar com a “mala na porta”, esperando a próxima briga, para ir embora já pensando no próximo relacionamento, porque este, sim, será um conto de fadas. Ledo engano. Todas as relações têm problemas, porque envolvem pessoas e as pessoas têm problemas. Portanto, é preciso investir na felicidade.

Quando há investimento na felicidade por parte das pessoas envolvidas no relacionamento, mesmo que haja algumas divergências, a tendência é que se consigam superar as dificuldades. Quando estas forem muitas, é preciso dialogar, esclarecer os pontos de forma assertiva, sem agressividade, buscando soluções e negociando em um jogo ganha-ganha, ou seja, todos ganham e ninguém perde.

Alguns pontos a serem considerados: o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal; momentos de lazer para o casal; respeito ao direito do outro de ter emoções, de ficar com raiva, de ficar triste, de simplesmente sentir e ser; renove o amor constantemente, enamore-se novamente, busque o encantamento. Para refletir: o que nela ou nele encanta? O que faz admirar? Convide para algo novo. Dê o primeiro passo. Deixe o orgulho de lado.

Toda relação tem que ter espaço para o acolhimento, pois muita s vezes a agressividade é um pedido de ajuda. Então, como toda relação é uma troca contínua, abrace, acolha, entenda. Há momentos de aproximação e afastamento e isso é normal em toda e qualquer relação.

Cada um precisa ter bem delimitado seu espaço, suas necessidades, seus anseios e desejos, para não criar expectativas em cima do outro que podem gerar frustrações. E, nesse sentido, é preciso ser realista, pois há momentos e momentos: com mais trabalho, mais estresse, mais demandas, mais exigências familiares etc.

A compreensão é a chave para qualquer relação, mas não se deve se isolar, acreditando que o silêncio eterno vai resolver tudo; deixar de compartilhar emoções e pensamentos; perder a amizade, que é a base de qualquer relação, perder a admiração, que é necessária para continuar enamorado(a); permanecer por muito tempo em atitude defensiva, porque gera brigas desnecessárias; perpetuar brigas das quais você nem se lembra o motivo inicial (tente fazer as pazes antes de ir dormir).

Todo relacionamento tem problemas. É preciso aprender a lidar com os percalços do caminho e continuar investindo na relação para que ela seja saudável. Se não existem pessoas perfeitas, não existe relacionamento perfeito, mas existe vida a dois saudável, possível, feliz, na qual as pessoas conversam sobre seus problemas e lidam com eles, escolhendo ficar juntas e superar as dificuldades.

VIDA A DOIS

O espaço do casal – investir na intimidade do casal, nos momentos a dois, vale a pena. Com tantas demandas e exigências do trabalho, dos amigos, da família, filhos, é possível que o casal se perca de si mesmo e acabe dando atenção para tudo o que o cerca, menos para o seu próprio espaço, que deve ser cuidadosamente criado para que se tenha um “ninho de aconchego.

Se o casal mora junto deve sempre preservar o desejo de querer voltar para casa, de estar perto do outro, pois isso faz muito bem. Você já deve ter ouvido alguém dizer que não tem vontade de voltar para casa, o que acarreta em mais afastamento e denota que a relação já vem passando por sérios problemas. O ideal é não deixar criar um abismo na relação. Por isso, a palavra cuidado cabe tão bem aqui. É mesmo preciso muita dedicação e cuidado para perceber que as duas partes juntas constroem a relação cotidianamente e não adianta tentar culpar o outro quando as coisas não vão bem. Os dois têm responsabilidade, e assumir isso requer maturidade para avaliar a parte que lhe cabe e implementar as mudanças necessárias.

Todo mundo quer ser amado, todo mundo gosta de afeto e de se sentir valorizado. De nada adianta encher a pessoa amada de presentes se você não dá atenção e carinho necessários. Muitas pessoas pensam que presentes substituem esse espaço destinado ao casal, mas é uma grande ilusão, uma vez que o presente apenas oferta uma satisfação momentânea, que também pode ser muito agradável, mas se não houver um espaço real de carinho, dedicação e atenção com a relação, os presentes se tornam vazios de significado. Então, arrume tempo para exercitar a felicidade com a pessoa amada.

MAIS LEVEZA

Muito cuidado para não fantasiar a relação e jogar todas as suas expectativas de felicidade em cima do outro. O amor é um dos aspectos da vida, mas existem outros que também precisam estar bem resolvidos para que o relacionamento amoroso não seja sobrecarregado com cobranças. Por isso, invista na autorrealização, seja no trabalho, lazer, amizades, vida familiar ou espiritual. Quando há investimento em outros aspectos da vida para os envolvidos na relação, a tendência é que o amor fique mais leve, porque ambos já estão felizes e querem compartilhar essa felicidade, têm assuntos diferentes para conversar.

Contos de fadas só existem nos livros, a vida real exige esforço e dedicação. Assim, como uma flor precisa de atenção, água e adubo para crescer, uma relação precisa de amor, cuidado, diálogo e muito investimento das duas partes para que possa continuar a dar certo ao longo dos anos.

O relacionamento amoroso tem que ser leve, delicado, sem exigências descabidas, porque isso sufoca o outro. Quando alguém se sente sufocado, a primeira coisa que faz é sair para respirar e se afastar do elemento sufocador. E quanto mais longe, melhor. Ser leve implica em saber conversar, o que envolve saber ouvir e saber falar na hora certa. A pior coisa para uma relação é despejar em cima do outro frustrações e angústias sem se dar conta se o outro está preparado para ouvir e se aquele é o momento oportuno. Se uma pessoa está com muitos problemas, mas ainda não conseguiu falar sobre eles e a outra parte, sem perceber essa situação, despeja mais uma maratona de problemas em cima da pessoa, muito provavelmente ela se sentirá muito mal, com o peso do mundo nas costas e sem saber o que fazer. Então, quando estiver com seu balde cheio, cuidado para não esvaziar em cima do outro, dê uma volta no quarteirão, respire, converse com alguém, e somente quando estiver se sentindo bem pergunte ao outro qual o melhor momento para ele ouvir.

CONSTRUÇÃO DIÁRIA

A felicidade não pode ser comprada, vendida, emprestada nem tomada de alguém. Ela é uma construção diária, uma atitude perante a vida, uma decisão que requer olhar com atenção para si mesmo e suas escolhas. Se algo não vai bem agora, é importante questionar o que pode ser feito para melhorar, pois um dia nunca é igual ao outro e o modo como lidamos com os problemas faz com que possamos olhar para eles com diferentes tons. É uma questão de escolha.

Há pessoas que são felizes no casamento, que têm uma relação saudável, mas que estão sofrendo urna profunda angústia ou uma grande dificuldade em lidar com suas próprias emoções. Por isso, quando duas pessoas se amam, é preciso que se faça uma conta de somar: uma pessoa feliz + uma pessoa feliz = uma relação feliz.

Os motivos que fazem uma pessoa feliz são intrínsecos, isto é, de dentro para fora, e um a relação amorosa pode, de fato, incentivar esses motivos de felicidade, mas apenas se eles já existem. Lembre-se: ninguém dá o que não tem. Se a busca é por fidelidade, não adianta reclamar ao se envolver com uma pessoa que não valoriza esse atributo. É preciso ter consciência do que se quer e mais ainda do que não se quer para poder investir na relação mais adequada e não se envolver em relações destrutivas.

Se a felicidade está dentro, a auto­ estima também está. É preciso se valorizar e se respeitar e também valorizar e respeitar o outro para que a relação seja tratada como um verdadeiro diamante. Isso é essencial para que os momentos difíceis do relacionamento sejam superados e para que a felicidade se mantenha constante.

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PROCEDIMENTOS PARA UMA RELAÇÃO EXITOSA

Algumas dicas para o sucesso da relação: encontrem motivos para rir juntos – um relacionamento divertido faz as pessoas quererem estar juntas, simplesmente porque é bom quando elas se encontram e dá vontade de estar perto: respeito em primeiro lugar – estabelecer juntos regras de respeito, do que cabe ou não na relação desde o início é uma excelente estratégia, pois permite que as partes saibam exatamente como devem se comportar na relação e o que não é bem-visto e pode ser prejudicial: compartilhar responsabilidades – estabelecer responsabilidades para ambas  as partes com a casa, família, filhos e financeira: superação e acolhimento  –  os momentos de crise devem ser superados com acolhimento das fragilidades, o que fortalece os vínculos da relação:  surpresas, cuidados e mimos  –  fazem parte do investimento no outro, da conquista que deve ocorrer enquanto durar a relação: sensibilidade, percepção e admiração –  ligue seu sensor para o  outro, perceba como o outro está, se mudou alguma coisa em si, elogie (invista no poder do elogio). Admire.

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ACONCHEGO

O sentido da palavra aconchego pode ser definido como uma acomodação confortável, acolhedora. Sua sensação é conseguida por intermédio de inúmeras atividades, nos mais variados ambientes ou no contato com a pessoa amada, quando transmite uma espécie de relaxamento. Em momentos de enfrentamento de problemas sérios pessoais encontrar no outro uma disposição ao acolhimento, ao aconchego alivia o sofrimento e deixa a pessoa mais segura.

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CIÚME

Historicamente o ciúme é um dos grandes responsáveis pelo fracasso de relacionamentos. Segundo definição, trata-se de uma reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou a sua qualidade. Apresenta um caráter instintivo e natural e é marcado pelo medo – real ou irreal – e vergonha de perder o amor. O ciúme está relacionado à falta de confiança no outro e/ou em si próprio. Quando é exagerado, pode se tornar patológico.

 

BEATRIZ ACAMPORA – é psicóloga e especialista em comunicação e relacionamentos humanos e autora do livro e treinamento A Sétima Chave. http://asetimachave.com.br

JOÃO OLIVEIRA – é psicólogo e especialista em comunicação e análise comportamental. Diretor de cursos do Isec. Autor do livro Relacionamento em Crise – Perceba Quando os Problemas Começam; Tenha as Soluções.

OUTROS OLHARES

ERA UMA VEZ UM BÔNUS

Studio shot of babies sitting in row

O Brasil passou meio século desfrutando o perfil demográfico ideal para um país que quer enriquecer e se desenvolver. Não soube aproveitar a chance e agora a vantagem está indo embora.

Pelo menos uma vez na história, todos os países passam por um período especialmente favorável ao desenvolvimento, em que a parcela da população economicamente ativa, com idade para trabalhar, entre 20 e 64 anos, cresce mais rapidamente do que a fatia dos idosos e crianças, que não se sustentam sozinhos. A esse intervalo positivo de tempo, que dura por volta de cinquenta anos, dá-se o nome de bônus demográfico. Com mais gente dentro do que fora do mercado de trabalho, gera-se riqueza e fica mais fácil promover a educação, a saúde e a qualidade de vida. Bem administrado, o bônus demográfico é a porta de entrada para o mundo desenvolvido. Mal aproveitado, é a perda de uma chance de ouro para saltar de patamar. O Brasil, infelizmente, a perdeu.

A janela brasileira se abriu em 1970 e se fecharia em 2023, ou seja, já era um prazo apertado para virar uma mesa abarrotada de problemas. Agora, uma revisão de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levou especialistas à suspeita de que o bônus pode ter começado a se fechar já em 2018. Ou seja: pela primeira vez, o contingente de brasileiros aptos para o trabalho vai crescer em ritmo mais lento que o da população em geral.

Isso significa que o Brasil continua tendo muito a fazer, só que em condições bem mais desfavoráveis. Não é impossível avançar, mas o país terá de encontrar caminhos para fazer mais com menos gente produtiva. “A desaceleração do aumento da população ativa é um sinal de que a demografia brasileira, que antes ajudava, agora começa a atrapalhar o setor econômico”, afirma Samuel Pessoa, doutor em economia e professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio. Juntem-se à receita as previsões de que as mulheres terão cada vez menos filhos (de 1,77, em 2018, a média cairá para 1,66, em 2060); a proporção de idosos na população vai quase triplicar no período, saltando de 9,2% para 25,5%; e o contingente afeito ao trabalho cairá de 69,4% para 59,8% – e está pronto o bolo indigesto de um país que envelheceu antes de ficar rico.

Ninguém sabe o exato momento em que o bônus demográfico vai se fechar por completo. Economistas e demógrafos têm opiniões distintas. Para Pessoa e seus colegas, o fechamento acontece em 2018, porque, a partir do momento em que o contingente da população ativa começa a crescer em ritmo menor que o da população em geral, entra em operação uma engrenagem que não tem mais volta, é irreversível.

Já do ponto de vista dos demógrafos, que se debruçam nas estatísticas com outro olhar, o bônus tecnicamente só acaba quando o tamanho da população ativa começa a diminuir, fenômeno previsto para acontecer, segundo eles, em 2037. A diferença de mais de uma década nos cálculos de economistas e demógrafos se deve aos conceitos distintos de “população ativa”. Os economistas preferem a faixa etária dos 20 aos 64 anos, mais realista em termos de geração de renda. Os demógrafos trabalham com a faixa dos 15 aos 64 anos.

Diante da situação atual do país, porém, as diferenças nas projeções viraram uma questão de semântica. “O bônus não fechou, mas começa a se fechar. Na prática, no entanto, já jogamos a oportunidade fora. Não há como o Brasil se beneficiar dele com desemprego tão alto e a economia sem perspectiva de melhorar tão cedo”, diz o demógrafo José Eustáquio Diniz, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. O número de brasileiros sem trabalho está em 65,6 milhões, recorde da série iniciada em 2012, quando eram 60,7 milhões. É menos dinheiro girando para cobrir o rombo da Previdência, que está em 270 bilhões de reais em 2017 e deve mais que duplicar, para 700 bilhões, em dez anos.

Mais cedo ou mais tarde, o bônus demográfico acaba em toda parte. Quem faz a lição de casa aproveita o intervalo para melhorar as condições de vida da população e investir pesadamente em educação, um ingrediente vital para o desenvolvimento. O resultado é um salto de produtividade que, quando o bônus se for, compensará a presença menor de pessoas aptas ao trabalho na população em geral. Na Coreia do Sul, cujo bônus demográfico se abriu por volta de 1970, uma vasta reforma do sistema educacional culminou com 100% dos jovens no ensino médio e 80% avançando para a universidade. O Brasil tem 66% dos adolescentes no ensino médio, e destes mais da metade não se forma. Conclusão: enquanto a produtividade sul-coreana dispara 7% ao ano, a brasileira não chega a 1%. Em outra medida de progresso, o Índice de Desenvolvimento Humano (de O a 1), o país desperdiçou sua vantagem demográfica estacionado em 0,7.”Todas as nações que passam de 0,9 aproveitaram bem o bônus”, afirma Diniz. O Brasil agora terá de navegar para o futuro com os ventos demográficos soprando contra.

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GESTÃO E CARREIRA

AUTONOMIA COM RESPONSABILIDADE

A informação deve ser a base de qualquer processo da descentralização de poderes. O empowerment surge como uma forma de colocar o comprometimento da empresa com o seu mercado em primeiro plano.

Autonomia com responsabilidade

O momento atual exige velocidade nas respostas. Não há tempo para divagações entre as estruturas institucionais, pois o cliente pode optar pelo concorrente em segundos, graças às tecnologias disponíveis ao toque dos dedos. Ter uma equipe funcional afinada com os ideais da empresa é apenas parte do processo e é necessário utilizar o empowerment.

A burocracia não é o único empecilho no trâmite para a resolução de demandas no dia a dia de qualquer instituição. A falta de distribuição de responsabilidades com autonomia nos indivíduos da equipe, de fato, é o maior problema.

Uma intervenção que visa tornar os processos ágeis deve se preocupar em nivelar o conhecimento das ações para solucionar problemas. De nada adianta ter velocidade e causar danos à própria empresa em prol de atender solicitações. Temos que lembrar que essa mudança é necessária porque o mercado possui sua própria estrutura de poder, de escolha e de moldar a opinião futura. Um cliente que passa por um a experiência ruim de atendimento irá buscar outro fornecedor na próxima ocasião que precisar, e ainda pode influenciar outras pessoas com o relato de sua própria experiência. Dependendo da credibilidade desse cliente, outros nem buscarão a empresa, mesmo que nunca tenham tido nenhum contato bom ou ruim com a instituição.

As grandes multinacionais consideram a resolução rápida de situações, mesmo que possam gerar   pequenas perdas, como um investimento no futuro cliente, que é fidelizado e um agente promotor de seus serviços ou produtos. Um exemplo é o atendimento de um serviço mundial de streaming de vídeos, no qual os atendentes em todos os países em que o serviço opera, são capazes de ofertar descontos, deletar faturas ou aplicar créditos extras nas contas de seus usuários imediatamente enquanto falam ao telefone, sem nenhum tipo de prolongamento no debate. Solução em primeiro plano para gerar satisfação no usuário.

Nem todas as empresas podem atender seus clientes dessa forma, até mesmo pelo perfil de produto que fornecem. A limitação de estoque ou espaço – coisa inexistente nesse universo de serviços on-line – pode diminuir o percentual de êxito nas negociações entre as partes. No entanto, dar concessões ou alternativas deve ser padrão no atendimento ao cliente e, para isso, o empoderamento dos colaboradores que atuam diretamente com o mercado deve existir em plenitude.

A terceirização do SAC, cada vez mais comum, é a maior inimiga da resolução de demandas. Nesse tipo de atendimento ao cliente, a limitação de informações e autonomia é fato comprovado. Outra forte barreira é a tentativa de automatização nos atendimentos com opções de direcionamentos infindáveis. Isso ocorre pela especialização extrema de áreas, e o que, antes, parecia ser um investimento em solução, toma-se uma pirâmide inversa, levando o cliente a se perder no universo diversificado criado pela instituição, afinal pessoas gostam de falar com pessoas.

O sucesso não tem muito segredo. Geralmente tem muito investimento em tempo de planejamento e de trabalho na efetivação do projeto. Mas o resultado pode ter grande durabilidade se a execução for bem-sucedida. O empowerment surge como uma forma de colocar o comprometimento da empresa com o seu mercado em primeiro plano. Mas não existe empowerment sem distribuição, primeiro, da informação. Dar autonomia a um indivíduo que desconhece os recursos disponíveis para a resolução de conflitos é investir no breve fracasso de qualquer negociação com o mercado. As pequenas instituições podem, mais rapidamente, ofertar soluções internas e externas graças à limitação de contatos. Muitas vezes, supervisores ou gerentes são acionados, demandando alguns poucos minutos até que haja a dissolução do impasse. Mesmo assim, são recursos desviados de seus focos principais muitas vezes por situações de fácil finalização sem revés institucional.

Podemos inferir que o empowerment deve iniciar na empresa no momento de seu surgimento sem a centralização de decisões considera das cotidianas. Aqui entra o planejamento visando o plano futuro de crescimento. Não se deve entrar no mercado sem o pensamento voltado para a evolução. O contrário disso é o processo artesanal, no qual uma pessoa é responsável por todo o processo, sem distribuição de tarefas.

Treinamentos constantes são necessários, mesmo onde não existe a distribuição de responsabilidades, da mesma forma que uma comunicação aberta, em duas vias, é a única forma de transparecer alguma autonomia entre os elementos atuantes no corpo institucional. Quem não sabe os recursos que tem para resolução de demandas, e não consegue se comunicar com quem deveria saber, é inútil e ainda prejudica o crescimento da instituição em que opera.

A centralização de poderes pode ser atraente para quem possui uma autoestima duvidosa e questionável. Isso pode ser resolvido fora das fronteiras da instituição em um local terapêutico livre da possibilidade de causar danos na produtividade e ao conceito que o mercado pode construir sobre a empresa.

 

JOÃO OLIVEIRA – é psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isecpsc.br).Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise – Perceba Quando os Problemas Começam; Tenha as Soluções; Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida; Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 8: 12-20

Alimento diário

As palavras de Cristo aos fariseus

 

O restante do capítulo está repleto de debates entre Cristo e os pecadores que o contradiziam, que criticavam até as palavras mais cheias de graça que saíam dos seus lábios santos. Não se sabe ao certo se estas discussões ocorreram no mesmo dia em que a mulher adúltera foi absolvida. É provável que sim, pois o evangelista não menciona outro dia, e observa (v. 2) como Cristo tinha começado cedo este dia de trabalho. Embora aqueles fariseus que acusavam a mulher tivessem fugido, ainda havia outros fariseus (v. 23) para confrontar a Cristo, com suficiente bronze em suas testas para se conserva­ rem estimulados, embora alguns do seu grupo tivessem sido levados a uma retirada vergonhosa. Ou melhor, tal­ vez isto os tornasse mais empenhados em discutir com Ele, para recuperar, se possível, a reputação do grupo frustrado. Nestes versículos, temos:

I – A apresentação de uma grande doutrina, e sua aplicação.

1. A doutrina é que Cristo é a luz do mundo (v. 12): “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez”. Embora Ele já tivesse lhes falado muitas coisas, aparentemente alcançando poucos resultados, e o que Ele dizia fosse contrariado, ainda assim Ele lhes falou outra vez, pois Ele “fala uma e duas vezes”. Eles se fizeram de surdos ao que Ele dizia, e Ele novamente falou a eles, dizendo: “Eu sou a luz do mundo”. Observe que Jesus Cristo é a luz do mundo. Um dos rabinos diz que “Luz” é o nome do Messias, como está escrito, Daniel 2.22: “E com Ele mora a luz”. Deus é luz, e Cristo é a “imagem do Deus invisível”, Deus dos deuses, Luz das luzes. Esperava-se que Ele fosse uma luz para alumiar as nações (Lucas 2.32), e assim a luz do mundo, e não somente da igreja judaica. A luz visível do mundo é o sol, e Cristo é o Sol da Justiça. Um sol ilumina o mundo inteiro, e assim um Cristo, e não há necessidade de mais. Ao dizer que é a luz, Cristo expressa:

(1) O que Ele é em si mesmo – totalmente excelente e glorioso.

(2) O que Ele é para o mundo – a fonte de luz que ilumina cada homem. Que masmorra seria o mundo sem o sol! Também o seria sem Cristo, por cujo intermédio “a luz veio ao mundo”, cap. 3.19.

2. A conclusão desta doutrina é: “Quem me segue”, como um viajante segue a luz em uma noite escura, “não andará em trevas, mas terá a luz da vida”. Se Cristo é a luz, então:

(1) É nosso dever segui-lo, submeter-nos à sua orientação, e, em tudo, aceitar suas instruções no caminho que leva à felicidade. Muitos seguem falsas luzes, que os levam à destruição, mas Cristo é a verdadeira luz. Não é suficiente olharmos para esta luz, e contemplá-la, devemos segui-la, crer nela e andar nela, pois é uma luz para nossos pés, e não somente para nossos olhos.

(2) É a felicidade daqueles que seguem a Cristo o fato de que não andam em trevas. Eles não serão deixados destituídos, no caminho da verdade, daquelas instruções que são necessárias para protegê-los do erro destruidor, e no caminho do dever, daquelas instruções que são necessárias para protegê-los do pecado condenador. Eles terão a luz da vida, o conhecimento e a satisfação de Deus que serão para eles a luz da vida espiritual neste mundo e na vida eterna do outro mundo, onde não haverá morte nem trevas. Sigamos a Cristo, e seremos indubitavelmente felizes em ambos os mundos. Sigamos a Cristo, e o seguiremos até o céu.

II – A objeção extremamente insignificante e frívola que os fariseus fazem contra esta doutrina: “Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro”, v. 13. Nesta objeção, eles seguiram a suspeita que nós comumente temos da autocondenação dos homens, que podemos concluir que é a linguagem nativa do amor, próprio que somos tão dispostos a condenar em outros, mas que poucos estão dispostos a reconhecer em si mesmos. Porém, neste caso, a objeção era muito injusta, pois:

1. Eles fizeram disto seu crime, e a diminuição da credibilidade da sua doutrina, que, no caso de alguém que apresentava uma revelação divina, era necessária e inevitável. Moisés e todos os profetas não deram testemunho de si mesmos, quando afirmavam que eram mensageiros de Deus? Os fariseus não perguntaram a João Batista: “Que dizes de ti mesmo?”

2. Eles negligenciaram o testemunho de todas as outras testemunhas, que corroboravam o testemunho que Jesus dava de si mesmo. Se somente Ele tivesse dado testemunho de si mesmo, seu testemunho teria, realmente, sido suspeito, e a fé nele poderia ter sido interrompida, mas sua doutrina era confirmada por mais do que duas ou três testemunhas confiáveis, suficientes para confirmar cada palavra dela.

III – A resposta de Cristo a esta objeção, v. 14. Ele não devolve a acusação a eles, como poderia ter feito (“Vocês professam ser homens bons e devotos, mas seu testemunho não é verdadeiro”), mas simplesmente se defende. E, embora Ele tivesse evitado seu próprio testemunho (cap. 5.31), ainda assim aqui Ele se atém a ele, para que não diminuísse a credibilidade das suas outras evidências, mas era necessário mostrar-lhes a força delas. Ele é a luz do mundo, e é propriedade da luz ter evidência própria. Os primeiros princípios se provam. Ele insiste em três coisas que provam que seu testemunho, ainda que sendo de si mesmo, era verdadeiro e convincente.

1. Que Ele era consciente de sua própria autoridade, e que estava plenamente satisfeito a respeito dela. Ele não fala como alguém inseguro, nem propõe uma noção discutível, sobre a qual Ele mesmo hesitasse, mas promulga um decreto e dá uma explicação a respeito de si mesmo, e se atém a ela: “Sei de onde vim e para onde vou”. Ele estava completamente familiarizado com sua missão, desde o início até o final. Sabia de quem era a mis­ são que Ele realizava, e qual seria seu sucesso. Ele sabia o que Ele era antes da sua manifestação ao mundo, e o que Ele seria depois dela, que Ele vinha do Pai e ia para Ele (cap. 16.28), vinha da glória e ia para a glória (cap. 17.5). A satisfação de todos os bons cristãos consiste no fato de que, embora o mundo não os conheça, como não conhecia a Jesus, ainda assim eles sabem de onde vem sua vida espiritual e para onde vai, e caminham sobre terreno seguro.

2. Que eles são muito incompetentes para julgá-lo, e à sua doutrina, e não devem ser levados em consideração.

(1) Porque eram ignorantes, voluntariamente e decididamente ignorantes: “Vós não sabeis de onde vim, nem para onde vou”. Que objetivo há em falar com aqueles que não sabem nada sobre o assunto, nem desejam saber? Ele lhes tinha contado da sua vinda do céu, e que iria voltar para o céu, mas isto era uma tolice para eles, eles não aceitavam. “O homem brutal nada sabe”, Salmos 92.6. Eles se incumbiam de julgar o que não compreendiam, aquilo que estava fora do seu conhecimento. Aqueles que desprezam os do­ mínios e dignidades de Cristo, falam mal daquilo que não conhecem, Judas 8,10.

(2) Porque eram parciais (v. 15): “Vós julgais segundo a carne”. Quando a sabedoria da carne dita a regra do julgamento, e somente a aparência externa é dada como evidência, e o caso é decidido de acordo com estas, então os homens julgam segundo a carne. E quando a consideração de um interesse secular move a balança no julgamento de questões espirituais, quando nós julgamos a favor daquilo que agrada à mente carnal, e nos recomenda a um mundo carnal, então nós julgamos segundo a carne. E o julgamento não pode estar certo, se a regra estiver errada. Os judeus julgavam a Cristo e ao seu Evangelho segundo as aparências externas. E, por Ele parecer tão humilde, julgavam impossível que Ele fosse a luz do mundo. Como se o sol, encoberto por uma nuvem, não fosse mais o sol.

(3) Porque eram injustos com relação a Ele, o que é sugerido nisto: “‘Eu a ninguém julgo’. Eu não me intrometo nas suas questões políticas, nem minha doutrina se entrincheira contra seus direitos civis ou poderes seculares, nem interfere neles”. Ele não julgava a ninguém. Se Ele não militava segundo a carne, era muito pouco razoável que eles o julgassem segundo a carne, e o tratassem como alguém que ofendia o governo civil. Ou: “Eu a ninguém julgo”, isto é, “não agora, na minha primeira vinda, mas isto está adiado até que eu venha novamente”, cap. 3.17. A primeira vinda de Cristo teve o propósito de administrar, não a justiça, mas o remédio.

3. Que seu testemunho de si mesmo era suficientemente apoiado e corroborado pelo testemunho do seu Pai, com Ele e por Ele (v. 16): “E, se, na verdade, julgo, o meu juízo é verdadeiro”. Na sua doutrina, Ele julga (cap. 9.39), embora seu julgamento não seja político. Considere-o, então:

(1) Como um juiz, e seu próprio julgamento era válido: “Se eu julgo, Eu, que tenho autoridade de executar julgamentos, Eu, a quem todas as coisas são entregues, Eu, que sou o Filho de Deus, e que tenho o Espírito de Deus, se Eu julgo, meu juízo é verdadeiro, de incontestável retidão e autoridade incontrolável, Romanos 2.2. Se eu julgo, meu juízo deve ser verdadeiro, e então vocês serão condenados. Mas o dia do juízo ainda não é chegado, vocês ainda não serão condenados, mas poupados, e por isto agora, Eu não julgo a ninguém”, segundo Crisóstomo. O que torna seu julgamento irrepreensível é:

[1] A conformidade do seu Pai com Ele: “Não sou eu só, mas eu e o Pai”. Ele tem os conselhos de concordância do Pai para orientação. Assim como Ele estava com o Pai antes do mundo, formando os conselhos, também o Pai estava com Ele no mundo, acionando e executando estes conselhos, e nunca o deixou sem conselhos, Isaías 11.2. Havia todos os conselhos de paz (e também de guerra) “entre ambos”, Zacarias 6.13. O Senhor Jesus também tinha o poder de concordância do Pai para autorizar e confirmar aquilo que Ele fazia. Veja Salmos 89.2lss.; Isaías 42.1. Ele não agia separadamente, mas no seu próprio nome e no do seu Pai, e pela autoridade anteriormente mencionada, cap. 5.17; 14.9,10.

[2] A comissão do seu Pai a Ele: “O Pai que me enviou”. Observe que Deus acompanhará aqueles a quem Ele envia. Veja Êxodo 3.10,12: “Vem, e enviar-te-ei” e “Eu serei contigo”. Veja que, se Cristo tinha uma comissão do Pai, e a presença do Pai consigo em todas as suas administrações, sem dúvida seu julgamento era verdadeiro e válido. Não há exceção a este, nem qualquer apelação em relação a ele.

(2) Considere-o como um testemunho, e agora Ele não aparecia de outra maneira (não tendo ainda assumido o trono do julgamento), e como tal seu testemunho era verdadeiro e irrepreensível. Isto Ele mostra, vv. 17,18, onde:

[1] Ele cita uma máxima da lei dos judeus, v.17. Que “o testemunho de dois homens é verdadeiro”. Não como se fosse sempre verdadeiro em si mesmo, pois muitas vezes mãos se uniam para dar um falso testemunho, 1 Reis 21.10. Mas isto era admitido como evidência suficiente sobre a qual basear um veredicto e se não houvesse nada em contrário, era aceito como verdadeiro. Aqui se faz referência àquela lei (Deuteronômio 17.6): “Por boca de duas ou três testemunhas, será morto o que houver de morrer”. E veja Deuteronômio 9.15; Números 35.30. Era exigida a presença de duas testemunhas a favor da vida em casos de pena de morte, como no nosso meio, em casos de traição. Veja Hebreus 6.18.

[2] Ele aplica isto ao caso em questão (v. 18): “Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou”. Eis as duas testemunhas! Nos tribunais humanos, onde duas testemunhas são exigidas, o criminoso ou acusado não tem a permissão de dar testemunho de si mesmo. Mas em uma questão puramente divina, que só possa ser provada por um testemunho divino, e o próprio Deus deva ser a testemunha, se a formalidade de duas ou três testemunhas for mantida, elas não poderão ser outras senão o eterno Pai, o eterno Filho do Pai e o eterno Espírito. Agora, se o testemunho de duas pessoas diferentes, que são homens, e, portanto, podem ser enganados, ou enganar, é conclusivo, muito mais deve ser o testemunho do Filho de Deus, a respeito de si mesmo, respaldado pelo testemunho do Pai a seu respeito, para obrigar a aceitação. Veja 1 João 5.7,9-11. Isto prova não apenas que o Pai e o Filho são duas pessoas diferentes (pois seus respectivos testemunhos são aqui mencionados como sendo testemunhos de duas pessoas diferentes), mas que eles são um só, não somente um só no seu testemunho, mas iguais em poder e glória, e, portanto, em substância. Austin aqui aproveita a oportunidade para alertar seus ouvintes contra o sabelianismo, por um lado, que confundia as pessoas da Divindade, e o arianismo, por outro lado, que negava a divindade do Filho e do Espírito. O Filho é uma Pessoa, e o Pai é outra. No entanto, Eles não constituem dois Seres, mas o Pai é o mesmo Ser que o Filho, isto é, o único Deus verdadeiro. Aqui Cristo fala de si mesmo e do Pai como testemunhas ao mundo, dando evidência à razão e à consciência dos filhos dos homens, com quem Ele lida como homens. E estas testemunhas ao mundo agora, no grande dia, serão testemunhas contra aqueles que persistirem na incredulidade, e sua palavra irá julgar os homens.

Este é o resumo da primeira conversa entre Cristo e estes judeus carnais, em cuja conclusão nós lemos como suas línguas se soltaram, e suas mãos foram atadas.

Em primeiro lugar, como suas línguas se soltaram (tal era a maldade do inferno) para criticar as palavras de Jesus, v.19. Embora naquilo que Ele dizia não aparecesse nada de política ou artifícios humanos, mas uma segurança divina, ainda assim eles se dispõem a interrogá-lo. Ninguém é tão irremediavelmente cego como aqueles que decidem não ver. Observe:

1. Como eles se esquivaram da convicção com uma crítica: “Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai?” Eles podiam ter compreendido facilmente, pelo teor desta e de outras conversas, que, quando Ele falava do seu Pai, Ele não se referia a ninguém senão ao próprio Deus. Ainda assim, eles fingiram compreender que Ele falava de uma pessoa comum e, como Ele apelava para seu testemunho, eles lhe pedem que chame sua testemunha, e o desafiam, se Ele puder, que o apresente: “Onde está teu Pai?” Assim, como Cristo tinha dito sobre eles (v. 15), eles julgam segundo a carne. Talvez eles pretendessem uma reflexão sobre a humildade e a obscuridade da sua família: “‘Onde está teu Pai’, que deveria ser capaz de dar evidências em um caso como este?” Dessa forma, eles o rejeitavam com um gracejo, quando não podiam resistir à sabedoria e ao espírito com que Ele falava.

2. Como Ele evitou a crítica com uma convicção adicional: Ele não disse a eles onde estava seu Pai, mas os acusou de ignorância voluntária: “‘Não me conheceis a mim, nem a meu Pai’. É inútil conversar convosco sobre coisas divinas, pois falais delas como os cegos conversam sobre cores. Pobres criaturas! Vós não sabeis nada sobre o assunto”.

(a) O Senhor Jesus os acusa de ignorância a respeito de Deus: “Não conheceis a meu Pai”. Deus era conhecido em Judá (Salmos 76.1). Eles tinham algum conhecimento sobre Ele, como aquele Deus que criou o mundo, mas seus olhos estavam obscurecidos e eles não podiam ver a luz da sua glória brilhando no rosto de Jesus Cristo. Os filhinhos da igreja cristã conhecem o Pai, conhecem-no como o Pai (1 João 2.13), mas estes governantes dos judeus não, porque não queriam conhecê-lo.

(b) Ele lhes mostra a verdadeira causa da sua ignorância sobre Deus: “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai”. A razão pela qual os homens são ignorantes sobre Deus é o fato de que não conhecem a Jesus Cristo. Se conhecêssemos a Cristo:

[a] Ao conhecê-lo, conheceríamos o Pai, de cuja pessoa Ele é a imagem expressa, cap. 14.9. Crisóstomo prova, então, a divindade de Cristo e sua igualdade com seu Pai. Nós não podemos dizer: ”Aquele que conhece um homem conhece um anjo”, nem: ”Aquele que conhece uma criatura conhece o Criador”, mas aquele que conhece a Cristo conhece o Pai.

[b] Por Ele, deveríamos ser instruídos no conhecimento de Deus, o Pai, e no conhecimento dele mesmo. Se conhecêssemos melhor a Cristo, conheceríamos melhor ao Pai. Mas, onde a religião cristã é desprezada e combatida, a religião natural em breve será perdida e negligenciada. O deísmo abre o caminho para o ateísmo. Aqueles que não aprendem a respeito de Cristo tornam inúteis suas imaginações a respeito de Deus.

Em segundo lugar, veja como suas mãos estavam atadas, embora suas línguas estivessem soltas. Tal era o poder do céu para restringir a maldade do inferno. “Essas palavras”, estas palavras corajosas, estas palavras de condenação e reprovação, Jesus pronunciou “no lugar do tesouro”, um cômodo do Templo, onde, com certeza, os principais dos sacerdotes, que lucravam com sua santidade, ficavam a maior parte do tempo, cuidando dos assuntos da sua renda. Cristo ensinava no Templo, algumas vezes em um lugar outras, em outro, conforme Ele via oportunidade. Agora os sacerdotes, que tinham tanto zelo pelo Templo, e que cuidavam dele como sua propriedade, podiam facilmente, com a ajuda dos servidores que esperavam seu sinal, ter prendido Jesus e o exposto à fúria da multidão, e àquela punição que eles chamavam de espancamento dos rebeldes. Ou, pelo menos, tê-lo silenciado, e calado sua boca ali, como Amós, embora tolerado na terra de Judá, foi proibido de profetizar no santuário do rei, Amós 7.12,13. Mas, mesmo no Templo, onde eles o tinham ao seu alcance, ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada sua hora. Veja aqui:

1. A restrição imposta aos seus perseguidores por um poder invisível. Nenhum deles ousou intrometer-se com Ele. Deus pode estabelecer limites para a ira do homem, como Ele faz com as ondas do mar. Portanto, não temamos o perigo no caminho do dever, pois Deus tem Satanás e todos os seus instrumentos acorrentados.

2. A razão desta restrição: ”Ainda não era chegada a sua hora”. A frequente menção disto indica quanto a hora da nossa partida deste mundo depende do conselho e decreto de Deus. Ela virá, ela se aproxima. Ainda não chegou, mas chegará. Nossos inimigos não podem apressá-la, nem nossos amigos retardá-la, além do tempo indicado pelo Pai, o que é muito consolador para todo homem bom, que pode olhai para o alto e dizer, com prazer: “Os meus tempos estão nas tuas mãos”, Salmos 31.15, e é melhor que estejam nas mãos do Senhor do que em nossas próprias mãos. Sua hora ainda não era chegada, porque seu trabalho ainda não estava terminado, nem seu testemunho, concluído. Há um tempo certo para todos os propósitos de Deus.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

FRONTEIRAS ENTRE O PRAZER E O SOFRIMENTO

A interação sexual pela internet não exige a presença física do(a) parceiro(a) sendo considerada uma revolução na sexualidade, porém, esse fruto nem sempre é saudável.

Fronteiras entre o prazer e o sofrimento

A internet, espaço virtual amplamente debatido, gerou novas e diversas possibilidades no acesso às informações, algumas delas específicas ao público adulto. Nesse grupo etário, um ponto que sofreu alterações significativas foi o circunscrito à sexualidade. Sabe-se que as modernas mídias de comunicação proporcionam alternativas na expressão psicopatológica, e a internet, em particular, possui uma relevante tendência no desenvolvimento e manutenção de diversos adoecimentos psíquicos (seja no campo dos transtornos de ansiedade, transtornos do controle dos impulsos, dentre outros) no campo da sexualidade no ciberespaço.

O cibersexo pode ser considerado uma subcategoria da intitulada atividades sexuais on-line. Essa definição ocorre quando duas ou mais pessoas compartilham de uma conversa sexual enquanto estão conectadas com propósitos de prazer sexual, podendo ou não incluir a masturbação. Três características fundamentais classificam o cibersexo: acessar pornografia on-line, áudio, vídeo e histórias textuais; interação em tempo real com um parceiro virtual (ou fantasioso) e, por fim, softwares multimídia (CD, DVD e Blu-ray.

Apesar da dependência de sexo virtual ser considerada mais uma expressão patológica dos comportamentos desadaptativos relacionados à tecnologia, é importante salientar que a maior parte dos usuários de pornografia virtual apresenta um usufruto saudável. Esse grupo, que não revela problemas em seu comportamento on-line, constitui aproximadamente 80% dos internautas que utilizam recursos pornográficos da internet. Existem relatos na literatura de que esses indivíduos revelam uma melhor comunicação sexual em seus relacionamentos devido ao uso de pornografia na rede.

Distante daquilo que é considerado adaptativo, o grupo de usuários dependentes apresenta dificuldades na liberdade de escolha, comportamentos compulsivos, pensamentos obsessivos, isolamento e tempo excessivo na prática de sexo virtual. Um estudo revela que o transtorno depressivo maior, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade e uso de substâncias podem acometer dependentes de sexo virtual e usuários que apresentam comportamento sexual compulsivo off-line. Um dos fatores que podem servir para a manutenção desta possível psicopatologia é a existência, segundo os usuários, de algumas vantagens na prática do sexo virtual: fácil acesso, anonimato, mercado ilimitado, prevenção do medo da rejeição, comunicação interativa, espaço para experimentação entre a fantasia e o comportamento da vida real, identidades virtuais e, por fim, baixo risco de apreensão.

Técnicas importantes podem ser implantadas no manejo e prevenção do uso problemático do sexo virtual, como: assegurar que o computador seja utilizado apenas em locais de grande movimentação; limitar os dias e o tempo de uso; utilizar o computador apenas quando outras pessoas estiverem próximas; especificar locais onde a internet possa ou não ser usada; ter certeza de que o monitor está visível para terceiros e, por fim, instalar planos de fundo (screen savers ou backgrounds) de pessoas importantes (familiares, parceiro/a). Técnicas efetivas no tratamento da dependência de sexo virtual são: melhora na intimidade, recondicionamento de estimulação e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Outros modelos de tratamento eficazes são: a terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar, treinamento de habilidades sociais e intervenções farmacológicas.

IGOR LUÍS LEMOS – é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com

OUTROS OLHARES

DESAFIOS DA ADOLESCÊNCIA

A passagem da vida infantil para a adulta não é fácil – e não só para os jovens, mas também para pais e educadores. Nos últimos anos essa fase se tornou mais longa e as mudanças sociais e culturais que determinam o processo de amadurecimento e a constituição subjetiva. O que antes era coletivo e tradicional se tornou nos últimos anos “patológico”, “problemático”.

Desafios da adolescência

Sabemos que o ser humano não nasce com um destino já estabelecido em seu genoma. Embora muita coisa esteja prevista geneticamente, a grande vantagem do homem sobre as outras espécies é sua capacidade de ser moldado pela relação com o outro, com a sua própria história e com a cultura. Desde o nascimento, ou até antes dele, o sujeito irá se constituir a partir daquilo que experimenta enquanto vivências reais, imaginárias e simbólicas. Um efeito dessa historicidade do desenvolvimento humano é percebido nas evidentes mudanças nas suas etapas ao longo dos últimos 300 anos, a ponto de podermos localizar a origem do conceito de infância no século 17 e a origem do da adolescência no século 20.

As transformações sociais, culturais e psicológicas têm alongado o tempo de passagem da infância à maturidade. Desse processo, emerge um sujeito meio criança, meio adulto, e demorou muito tempo para que a própria ciência passasse a reconhecê-lo. Adolescente, adolescência e adolescer. Mas em que consiste esta etapa da vida, pela qual passam todos os homens contemporâneos? A definição de adolescência é importante, pois existe muita confusão em relação a isso. A forma mais fácil de defini-la é tomar como referência a idade. A partir do referencial cronológico a Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como o período da vida que vai precisamente dos 10 anos até os 19 anos, 11 meses e 29 dias. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescente entre 12 e 18 anos podendo ir até 21 anos em casos especiais, quando os jovens cumprem medidas socioeducativas.

Nessa fase ocorrem pelo menos três fenômenos importantes do desenvolvimento humano: do ponto de vista biológico, a puberdade, com o amadurecimento sexual e reprodutor; do ponto de vista social, a passagem da infância para a vida adulta, com a assunção de papéis adultos e a autonomia em relação aos pais; e, do ponto de vista psicológico, a estruturação de uma identidade definitiva para a subjetividade.

PUBERDADE PRECOCE

Houve nos últimos anos uma mudança nos limites de idade que definem a adolescência, que antes começava aos 12 anos e terminava aos 18. Por que essas mudanças ocorreram? Estamos aqui diante de um dos fenômenos mais interessantes dos últimos 120 anos, que evidencia a historicidade dos períodos do desenvolvimento e da vida humana acima apontada, determinada por transformações sociais, psicológicas, culturais e biológicas.

Entre outras mudanças, vem ocorrendo uma antecipação do começo da puberdade. A menarca, como se define a primeira menstruação, no início do século 20 surgia por volta dos 15 anos. Atualmente acontece, em média, aos 12. Como geralmente a menarca é antecedida de três anos pelos primeiros sinais da adolescência, seu início pode ser aos 9 anos, em média. Essa antecipação se deve a vários fatores. Um deles é o aumento do peso corporal, que se deu em função das melhores condições de saúde e alimentação, mas também por um maior apelo para o amadurecimento sexual, determinado pelo imaginário veiculado nos meios de comunicação. Meninos e meninas fortemente submetidos a esse apelo, que atingem certa estatura e peso precocemente, têm a menarca ou a ejaculação mais cedo.

A própria existência da adolescência é bem marcada historicamente. Podemos dizer que ela é um fenômeno da contemporaneidade. Nas sociedades que não passaram pelas transformações que delineiam hoje o mundo ocidental, e mesmo nas sociedades atuais tradicionais, a passagem da infância para a vida adulta acontece de forma tranquila, amparada por rituais socialmente estabelecidos, fazendo com que esta mudança seja vivida de forma coletiva, ritualizada, tradicional. Além disso, é transmitida de uma geração a outra por séculos.

Nas sociedades ocidentais que se caracterizam pela globalização e pela emergência de modalidades complexas nos papéis sociais em função da sofisticação do trabalho e uma maior diversidade de subjetividades, ocorre, de um lado, um alargamento do tempo da formação profissional, que chega até os 25 anos e a antecipação do término da infância, por outro uma infinidade de possiblidades no devir sujeito. A adolescência, assim, torna-se um período ampliado. Nas sociedades modernas, o adolescer passou então a ser um processo vivenciado de forma individual, de acordo com os ideais de liberdade e singularidade reinantes. Assim, todas as dificuldades que envolvem a passagem da infância para a vida adulta terão de ser vividas pelo jovem solitariamente. Com as transformações físicas e psicológicas, o adolescente e quem compartilha de sua vida se veem mobilizados a criar formas de se estabelecer na vida adulta. Sem rituais, cada um vai viver esse processo de forma única, singular.

A necessidade de “ritualizar” a passagem passa então a ser considerada problemática, e isso torna-se “o” adolescer. Daí o importante conceito de “síndrome da adolescência normal”, dos psicanalistas Arminda Aberastury e Maurício Knobel. O que antes era coletivo e tradicional hoje é “patológico e problemático”. O que antes era marcado pelo amadurecimento biológico, e finalizado por um ritual de iniciação, hoje é vivido singularmente e de forma muito diversificada: é o primeiro beijo, a primeira transa, o piercing, a tatuagem, a viagem sem os pais e o trabalho. Dentre essas diversas formas de adolescer encontramos as mais problemáticas, as mais sofridas, e também as patológicas. Porém, a diferenciação entre o normal e o patológico é difícil, e promove-se muita estigmatização e patologização diante dos estranhos comportamentos dos jovens.

O conceito de “síndrome da adolescência normal” foi criado para evidenciar exatamente este aspecto: na passagem da infância para a vida adulta, mais do que um período de tempo, o sujeito terá de cumprir a tarefa de viver os lutos pela perda do corpo infantil, luto pelos pais idealizados da infância e situar-se subjetivamente como adulto. Aqui devemos ressaltar a presença da palavra “luto”, que revela a perda de algo muito valioso.  Essa perda é vivida com grande sofrimento, mas temos de criar meios de substituí-la por novas aquisições reais, imaginárias e simbólicas. Na adolescência temos duas grandes formas do sofrimento psíquico: melancolia e atuação impulsiva.

Ser do contra, ter manias com alimentos diferentes, vestir-se de forma estranha, cultuar ídolos, passar a gostar mais dos amigos que dos pais, conhecer novas religiões e até mesmo experimentar variadas formas de ser, inclusive na sexualidade, todas essas vivências são comportamentos que fazem parte do processo de experimentação para encontrar a forma nova do ego. Estar meio deprimido, chorar sem motivo aparente, ser alegre de forma exagerada, reivindicar atitudes inesperadas dos pais são parte dessa elaboração do luto. O processo também é vivenciado com angústia, depressão e agressividade.

É importante salientar que na contemporaneidade todas as passagens são problemáticas, pois os parâmetros históricos foram perdidos para todas as etapas do crescimento humano, por conta da complexidade do mundo ocidental contemporâneo. Assim, é difícil crescer, adolescer, ser adulto, assumir a paternidade, envelhecer e morrer. Mas o adolescer passou a ser o problemático, numa espécie de condensação dos problemas sobre os jovens.

O adolescer dos pais de hoje já é antigo e o novo adolescer lhes parece problemático, mais pela falta de identificação entre o processo de amadurecimento das diferentes gerações que propriamente porque estamos diante de uma “juventude perdida”. O que perdemos foram as semelhanças: outrora o adolescer era o mesmo durante séculos, além de ser totalmente ritualizado. Hoje, com a velocidade das mudanças, o adolescente de uma geração causa estranhamento e perplexidade para a anterior. Todos sofrem com isso. Os pais, principalmente, sentem-se desorientados e vivem o luto da perda do filho dócil, companheiro – e muito idealizado –, que agora os troca pela “balada com a turma” e não é mais o primeiro aluno da classe. Os jovens, por outro lado, ficam expostos a um excesso de crítica, são estigmatizados e, infelizmente, muitas vezes abandonados e incompreendidos.

O adolescer é um dos eventos cheios de emboscadas que temos de enfrentar na vida moderna. As crises relacionadas às transformações envolvem a todos. Pais, educadores e profissionais da saúde também fazem parte dela e frequentemente manifestam sintomas ao enfrentar a convivência com os jovens, revivendo suas próprias adolescências. O desamparo e a necessidade de criar os próprios rituais de passagem estão presentes em todos os períodos da vida humana, como no envelhecer, no aposentar-se e até mesmo no morrer. O homem contemporâneo está pagando, e caro, com solidão e angústia a troca dos rituais tradicionais pela liberdade e pela individualidade.

Algumas culturas ainda mantêm esses rituais, e penso que são muito acolhedores para muitos jovens e pais, como por exemplo, o bar mitzvah (para os meninos) ou bat mitzvah (para as meninas) entre os judeus.

Desafios da adolescência.2

NO BRASIL

Os problemas nessa fase da vida existem e não são poucos. O mais grave aspecto que envolve o adolescente brasileiro se refere à mortalidade por causas externas, entre as quais se destacam os óbitos violentos: homicídios, suicídios e acidentes, que atingem níveis alarmantes. Tudo se passa como se estivéssemos em guerra declarada. Hoje, na faixa etária que vai de zero a 20 anos, é entre os 15 e os 20 que se concentra a maior mortalidade. Há 30 anos, o grande desafio era reduzir a mortalidade infantil, ou seja, na faixa de zero a 1 ano de vida. De certa forma, essa batalha importante foi vencida. Houve um deslocamento do pico de mortalidade para a faixa etária entre 15 e 24 anos, bem como nos tipos de óbito, pois se antes a criança morria de desnutrição ou infecção, hoje os jovens es- tão morrendo por causas violentas. É esse o grande desafio de quem trabalha com adolescentes no Brasil na atualidade, principalmente em regiões de maior carência e violência.

O que estaria determinando esses números? Não pretendemos esclarecer de forma definitiva o assunto, até porque sobre ele não existe consenso, mas podemos fazer algumas observações a partir de certas experiências. Os jovens são vítimas e também agentes nesse cenário. Um aspecto evidente é que muitas dessas mortes são consequência do envolvimento com ações ilegais, até mesmo criminosas – jovens são mortos no enfrenta- mento entre grupos, por domínio e poder, ou no choque com a polícia. Muitas mortes de- correm de conflitos em bares ou bailes, onde a violência e as brigas terminam de forma trágica. Existe exagero quando se relaciona a violência à pobreza, embora essa associação seja em parte verdadeira. Estamos diante de um problema complexo, em que atuam muitos determinantes.

Um olhar mais cuidadoso para esta realidade encontra o que se chama de “comportamento de risco”, e a morte é o resultado de um processo que tem seus antecedentes ou sua história individual e única. Por isso, o estudo de caso é uma ferramenta muito valiosa, pois nos leva a conhecer as singularidades dos componentes deste cenário. Falhas da função materna e paterna somam-se à falta de acolhimento, de oportunidades, num cenário social de carências e falta de seriedade por parte do Estado, pois a grande maioria desses jovens está em regiões carentes das grandes cidades. Assim, a “crônica da morte anunciada” é evidente. Em geral ocorre algum problema na constituição familiar ligado à ausência do pai (é comum o adolescente ser filho de uma primeira ligação da mãe, e o novo parceiro dela não aceitar o jovem muito bem, podendo ocorrer hostilidade contra o rapaz). Alia-se a essa situação uma atitude superprotetora da mãe, que toma o filho como parceiro de suas desilusões, em geral submetendo-se aos caprichos de um jovem exigente. O quadro recorrente apresenta um jovem que, embora arrogante, não tem êxito nos estudos e no trabalho, e com frequência é analfabeto funcional (de certa forma, resultado de falhas no processo educacional).

Não se destaca em atividades esportivas e artísticas, ou não teve oportunidade de se descobrir competente em alguma delas, por falhas e faltas de uma educação mais consciente sobre o que é ser jovem. Em geral, a vida escolar torna-se algo sem valor. Não existe oportunidade para descobrir competências ou vocações desconhecidas. O comportamento agressivo manifesta-se diante de qualquer frustração. Encaminhado para algum atendimento psicológico, ou não se vinculou ou foi atendido de forma inadequada. Ao se ver mais livre, o jovem envolve-se em condutas ilegais, é capturado por apelos midiáticos e fundamentalistas. Está no “olho do furacão”, já que muito perto de se envolver com lideranças negativas ou com formas imaginárias de ter poder e conseguir realizar seus desejos através da violência.

Como interromper esse caminho é um desafio. Mas a experiência tem mostrado que políticas públicas intersetoriais são eficientes na medida em que se trabalha em parcerias, envolvendo todos os tipos de profissionais e a família. O ECA é uma referência para esse tipo de trabalho, porém existe um grande vazio na sua realização. Mas devemos principalmente atuar cedo e caso a caso. Jean-Jacques Rassial afirma que dois filmes tocaram pontos essenciais para o público jovem: Imensidão azul e Sociedade dos poetas mortos. Esses filmes tratam do gozo não sexual que é avizinhar-se com a morte.

Entre os filmes brasileiros essa realidade é retratada de forma muito adequada e sensível no filme Através da janela (2000, de Tata Amaral) que conta a história de um jovem e sua mãe em processo de luto e melancolia pela morte do pai e marido. Os dois se envolvem numa dinâmica incestuosa que, de um lado, alivia a dor decorrente da perda e, de outro, impele o jovem a um comportamento transgressivo, sem a interdição necessária da função paterna e com uma alienante conivência da mãe. No filme, o jovem acaba envolvido na criminalidade. Esse “outro” com poder de uma captura alienada sobre o jovem pode ser encarnado por muitos agentes.

O adolescer pode lançar os jovens a desafios de independência, de escolhas profissionais e da barreira do vestibular. É comum   encontrar uma saída para esse desafio numa gravidez precoce, que os recoloca no papel de cuidadores de bebês, escolhendo ser mãe, ou pai, o que funciona como uma solução inconsciente de retorno à condição infantil. Portanto, nem sempre a gravidez adolescente é indesejada. Pelo contrário, é uma saída, ou fuga, para o espaço doméstico como alternativa ao enfrentamento do árduo caminho para a vida adulta.

A adolescência pode ser muito traumática para um jovem que já tenha dado mostras de fragilidades egoicas. As transformações físicas e psicológicas vão resultar numa violenta fragmentação do ego. É por isso que na adolescência costumam ocorrer problemas de saúde mental importantes, tais como anorexia, esquizofrenia, pânico, depressão, (principalmente a depressão manifestada por sintomas agressivos), melancolia, auto e hetero- agressividade, todos tendo como desencadeantes dificuldades no processo de elaboração dos três lutos anteriormente vivido. Assim, alguns pais não conseguem mais enfrentar o desafio e as dificuldades que envolvem a tarefa de exercer a paternidade de um adolescente. Muitos se deprimem, se angustiam e usam o discurso dos perigos e dos riscos para impedir que o filho cresça, mantendo-o na posição infantil, a fim de garantir a posição de pais de uma eterna criança. É comum esse processo de domínio sobre o filho ser perpetrado com atitudes autoritárias, geradoras de grandes conflitos familiares.

Mas encontramos mais uma vez situações opostas: diante de um jovem caseiro, inibido e desinteressado pelas baladas, alguns pais se preocupam, pois entendem que algo não está normal. É interessante notar que diante de pais muito liberais e avançados, o processo do adolescimento vai se dar na direção oposta. Ser retraído é forma de o adolescente “ser do contra” ou diferente dos pais e encontrar sua própria subjetividade.

Desafios da adolescência.3

PROFISSÃO, ÍDOLOS E AMOR

A passagem da infância para a maturidade será concluída se o jovem encontrar um caminho na busca de um papel social, o que não é fácil num país de grande índice de desemprego. A escolha de uma carreira é muito importante nesse caminho, mas a organização dos vestibulares por carreiras antecipa e dificulta muito a escolha. Nem sempre as dificuldades com o vestibular decorrem de nível de conhecimento e de uma concorrência extrema. Podem ocorrer por uma total falta de decisão e de escolhas. Aos 18 anos, é algo que pode ser esperado. Se o jovem ainda nem sabe bem quem é, como pode escolher o que será profissionalmente?

Encontrar referências para seguir no processo de construção de uma identidade na adolescência implica busca de parâmetros fora dos modelos parentais. Os pais já estão incorporados à subjetividade, às vezes até demais, e agora é preciso certo afastamento dessas referências. Daí vem a necessidade que os adolescentes sentem de buscar seus ídolos e amigos. Nem sempre, porém, as referências existentes são adequadas.

Nesse momento de transição as companhias afetivas são fundamentais, e aqui destacamos as amizades, intensas, profundas e prazerosas. Não existe adolescência sem a turma ou a “galera”.

É sempre bom lembrar que muitas revoluções nas ciências e nas artes tiveram como protagonistas os jovens. O amadurecimento implica numa grande potência intelectual e criativa, que podem se perder no labirinto de imagens e propostas nas redes sociais contemporâneas.

A grande descoberta da adolescência é a do amor, que vai ser um importantíssimo sinal de qualidade na construção da subjetividade. Ter a capacidade de investir uma pessoa como um verdadeiro parceiro no amor vai marcar definitivamente o fim das escolhas edípicas (com a dissolução do complexo de Édipo), posicionando o jovem no caminho definitivo da maturidade. Os adolescentes são sensíveis, disponíveis e ávidos para viver o namoro, e há exagero quando se fala de promiscuidade amorosa entre eles, pois muitos buscam viver uma grande paixão. Aqui encontramos, talvez, a essência e a beleza de todo o processo do adolescimento.

Novamente surgem emboscadas, pois diante da angústia desencadeada pelas perdas e transformações, a relação amorosa pode ser vivida com sentimentos de domínio, simbiose, dependência, representando um deslocamento de modalidades relacionais problemáticas da infância. Grandes sofrimentos, ou mesmo suicídios, decorrem de frustrações nas relações amorosas.

O amor na adolescência inspira romancistas, poetas, músicos e cineastas, muitas vezes com ênfase em seus aspectos apaixonados, violentos e trágicos. Mas com a psicanálise constatamos que, desde a infância, é a partir dos cuidados e do amor do outro que se constitui o corpo e, depois, o ego infantil. Em outras palavras, é do olhar impregnado de amor do outro que o ego infantil tira sua força para se constituir e ter seu lugar na cultura. Na adolescência mudam os protagonistas, o espelho constitutivo agora é o outro do sexo e das relações na turma. O corpo e o ego revivem a experiência de não integração e da ressignificação e é novamente no encontro com o olhar de um parceiro, na amizade, no amor e na transferência terapêutica que o sujeito vai se reapropriar de sua nova identidade.

WAGNER RANÑA – é pediatra e psicanalista, mestre em psiquiatra infanto juvenil, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, onde é professor do curso de Psicossomática Psicanalítica.

GESTÃO E CARREIRA

PRATIQUE A AUTO COMPREENSÃO

Competência técnica é importante. No entanto, já não é mais mandatória para conseguir resultados. Para obter êxito no trabalho, é essencial desenvolver as habilidades socioemocionais.

Pratique a autocompreensão

Atualmente, o fator humano tem maior peso quando um indivíduo se depara com situações adversas, de estresse ou baixo rendimento que acontecem no ambiente profissional. A forma como o ser humano reage às pressões externas e as exigências profissionais faz toda a diferença entre a realização e o fracasso. Há duas habilidades muito próximas quando lidamos com esse tipo de situações. São elas a autocrítica e a auto compreensão. É muito importante entender o papel de cada uma para identificar como se expressam no contexto profissional.  Uma excessiva autocrítica leva a pessoa a não se considerar boa o suficiente, a ter dúvidas sobre o próprio valor e a se sentir   inadequada e vulnerável ao contexto externo. A pressão interna e a cobrança influenciam negativamente o humor, o pensamento, a autoconfiança, as decisões e as ações.

Por exemplo, um jovem que só tira notas máximas nas provas e tem elogios de todos os professores não consegue nunca estar satisfeito com sua atuação e apenas reclama após as provas, não conseguindo relaxar e comemorar o merecido resultado e aproveitar os sucessos conquistados. Às vezes, não percebemos o quanto podemos ser duro e exigentes com nós mesmos. Quantas vezes nos pegamos criticando nosso trabalho e forma de agir, senti, sentir e expressar?  Treinar a auto compreensão no lugar da autocrítica permite fazer uma avaliação mais clara e objetiva da situação e dos pontos a serem melhorados ou fortalecidos.

As pesquisas na área da Psicologia demostram que a excessiva autocrítica é ligada essencialmente a duas correntes de pensamento: a preocupação com aquilo que os outros podem pensar de nós e a preocupação com o que nós mesmos pensamos sobre nós. Ou seja, o mundo externo e interno é fonte de ameaças e a sensação é que na realidade não existe um lugar seguro onde se proteger. Autocrítica é auto exigência e auto cobrança excessiva que fazem mal, que bloqueiam, que impedem de dar passos ao estado desejado.

No estado de autocrítica, quando não atingimos uma meta, entramos em uma sensação de fracasso generalizado e com a tendência de atribuí-lo unicamente a si mesmo e à própria incapacidade, vivendo um contínuo sentimento de inadequação.

Quando uma pessoa repete obsessivamente que não é capaz de fazer nada e que é inútil, está automaticamente condenando a sua vida a contínuas frustrações e alimentando uma baixa autoestima. Mas, quando se realiza uma autocrítica saudável e positiva, permite a si mesmo crescer e melhorar.

A autocrítica disfuncional não permite considerar os sucessos obtidos e os aspectos positivos da pessoa, pois leva a atenção aos erros e insucessos. A pessoa convive com um constante diálogo interno negativo que a acusa e a julga constantemente, perdendo o foco.

Quando a auto compreensão está presente, essa situação é substituída pela avaliação das possíveis causas e das razões da falta de resultados para poder se preparar aos próximos passos. Desenvolvê-la significa avaliar-se com um olhar muito mais objetivo para poder entender melhor a realidade. O diálogo interno negativo, então, é substituído pela voz interior, pela capacidade de falar consigo mesmo de forma não punitiva mas positiva e motivadora para ir em busca de soluções.

Suponhamos que esteja inseguro em relação a algo ou a alguma coisa. Procure então conversar amorosamente consigo mesmo: Você está se sentindo inseguro, não é mesmo! E o que precisa para não se sentir assim? O que está faltando para atingir esse objetivo?

É preciso começar a se perguntar para poder ouvir a sua voz interior, pois é a auto compreensão que o coloca em contato consigo mesmo, e num momento você estará aberto para ouvir à sua intuição. E é quando estamos com problemas, incertezas ou dificuldades que a intuição é mais necessária.

Talvez você faça uma pergunta em que a autocrítica responda, por isso é importante ficar atento: se a resposta o deprime, ignore-a. A intuição é a voz que acolhe e protege – e as respostas que pode obter dela são de tal sabedoria e profundidade que você ficará impressionado.

O autor americano Zig Ziglar disse que a pessoa mais influenciável com a qual você falará todos os dias é você. Tenha cuidado, então, com o que você diz para si mesmo”. A frase traduz perfeitamente a relação entre a autocrítica e a auto compreensão. A conversa diária que temos com nós mesmos é responsável pela forma como lidamos e enfrentamos os mais diferentes tipos de situação na vida profissional, por isso não podemos atribuir a ninguém o nosso desempenho.

Desenvolver a auto compreensão e compaixão por si mesmo requer coragem para poder enfrentar a viagem em direção às próprias emoções e sofrimentos. É preciso coragem para aceitar uma derrota sem se afogar no mar inútil da autocrítica que denigre a si mesmo. É necessário coragem para aceitar as próprias imperfeições e assim poder superá-las.

A auto compreensão, que não é auto justificação, portanto leva à aceitação, à autoestima e à identificação das próprias capacidades, competências e pontos fortes, que nos permitem ter motivação e perseverança para superar os limites mesmo diante de dificuldades.

 Pratique a autocompreensão.2

EDUARDO SHINYASHIKI – é mestre em Neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, e referência em ampliar o crescimento e a auto liderança das pessoas. w.w.w.edushin.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 8: 1-11

Alimento diário

A Mulher flagrada em adultério

 

Embora Cristo tivesse sido desprezivelmente maltratado no capítulo anterior, tanto pelos principais como pelo povo, contudo nós o vemos ainda em Jerusalém, ainda no Templo. Com que frequência Ele os reunia! Observe:

I – Seu afastamento à noite, saindo da cidade (v. 1): “Jesus foi para o monte das Oliveiras”. Não se sabe ao certo se para a casa de algum amigo, ou para alguma tenda ali armada, na Festa dos Tabernáculos, nem se Ele descansou ali, ou, como julgam alguns, continuou a noite toda em oração a Deus. Mas Ele saiu de Jerusalém, talvez porque não tivesse ali nenhum amigo que tivesse bondade ou coragem suficiente para hospedá-lo por uma noite. Enquanto seus perseguidores tinham suas casas para onde ir (cap. 7.53), Ele não podia sequer ter um lugar emprestado onde pudesse descansar a cabeça, exceto aquele em que Ele deveria se afastar da cidade cerca de um a três quilômetros. Ele retirou-se (como pensam alguns) porque não queria arriscar-se ao perigo de um tumulto popular à noite. Sempre que pudermos, é prudente sair do caminho do perigo sem sair do caminho do dever. Durante o dia, quando tinha trabalho a fazer no Templo, Ele voluntariamente se expunha, sob proteção especial, Isaías 49.2. Mas à noite, quando não tinha trabalho a fazer, Ele se retirava para o campo e ali se abrigava.

II – Seu retorno pela manhã, ao Templo e ao seu trabalho, v. 2. Observe:

1. Que pregador diligente era Cristo: “Pela manhã cedo, voltou para o templo… e os ensinava”. Embora tivesse ensinado no dia anterior, Ele ensinava hoje novamente. Cristo era um pregador constante, “a tempo e fora de tempo”. Três coisas são observadas aqui, a respeito da pregação de Cristo.

(1) A hora: “Pela manhã cedo”. Embora Ele se hospedasse fora da cidade, e talvez tivesse passado grande parte da noite em oração particular, ainda assim Ele veio cedo. Quando o trabalho de um dia deve ser feito para Deus, e para as almas, é bom começar logo, e ter o dia diante de nós.

(2) O lugar: o “templo”. Não tanto porque fosse um lugar consagrado (pois Ele o tinha escolhido em outras ocasiões), mas porque agora era um lugar de grande afluxo de público. E assim Ele podia estimular assembleias solenes para adoração religiosa, e incentivar as pessoas a virem ao Templo, pois Ele não o tinha deixado desolado.

(3) Sua postura: “Assentando-se, os ensinava”, como alguém que tinha autoridade e como alguém que tencionava permanecer ali por algum tempo.

2. Com que diligência as pessoas compareciam à sua pregação: “Todo o povo vinha ter com Ele”, e talvez muitos deles fossem gente do campo, que, neste dia, terminada a festa, voltariam para casa, e estavam desejosos de ouvir mais um sermão da boca de Cristo, antes de voltarem. Eles vinham ter com Ele, embora Ele chegasse cedo. “Os que de madrugada me buscam me acharão” (Provérbios 8.17). Embora os principais estivessem descontentes com aqueles que vinham para ouvir Jesus, ainda assim eles vinham. E Ele os ensinava, embora os principais estivessem irados com Ele também. Embora houvesse poucos ou nenhum entre eles que eram pessoas de alguma importância, ainda assim Cristo lhes dava as boas-vindas e os ensinava.

III – A maneira como Ele lidou com aqueles que lhe trouxeram a mulher apanhada em adultério, para tentá-lo. Os escribas e fariseus não somente não queriam ouvir pessoalmente a Cristo, mas também o perturbavam quando o povo comparecia para ouvi-lo. Observe aqui:

1. O caso que os escribas e fariseus lhe propuseram, que contribuiria para iniciar uma discussão com Ele, e atraí-lo a uma cilada, vv. 3-6.

(1) Eles levam a prisioneira ao tribunal (v. 3): “Trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério”, talvez apanhada recentemente, durante o período da Festa dos Tabernáculos, quando, possivelmente, o fato de que habitassem em tendas e em meio à festa e alegria pudesse, pelas mentes pervertidas, que corrompem as melhores coisas, promover oportunidades de pecado. Aqueles que eram apanhados em adultério deviam, segundo a lei judaica, ser levados à morte, e sua execução era permitida pelas autoridades romanas, e, portanto, ela foi trazida diante da corte eclesiástica. Observe que ela foi apanhada em adultério. Embora o adultério seja uma obra das trevas, que os culpados comumente tomam todo o cuidado possível para ocultar, ainda assim, algumas vezes, ele vem estranhamente à luz. Aqueles que se comprometem secretamente com o pecado se enganam. Os escribas e fariseus a trazem até Cristo, e a colocam no meio da assembleia, como se pretendessem deixá-la completamente ao julgamento de Cristo, estando Ele assentado como um juiz no tribunal.

(2) Eles apresentam a acusação contra ela: “Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando”, v.4. Aqui eles chamam de Mestre àquele que apenas um dia antes eles tinham chamado de enganador; esperando, com suas adulações, atraí-lo a uma cilada, como aqueles mencionados em Lucas 20.20. Mas, embora os homens possam ser influenciados por tais elogios, aquele que sonda os corações não pode.

[1] O crime de que a prisioneira é acusada é nada menos do que adultério, que, mesmo na era patriarcal, antes da lei de Moisés, era considerado como uma iniquidade a ser punida pelos juízes, Jó 31.9-11; Gênesis 38.24. Os fariseus, com sua acusação vigorosa a esta criminosa, pareciam ter grande zelo contra o pecado, quando, mais adiante, será demonstrado que eles mesmos não estavam livres dele. Na verdade, interiormente estavam cheios de toda imundícia, Mateus 23.27,28. Observe que é comum que aqueles que são indulgentes com seus próp1ios peca­ dos sejam severos com os pecados de outras pessoas.

[2] A prova do crime vinha da evidência notória do fato, uma prova incontestável. Ela tinha sido apanhada no ato, de modo que não havia lugar para alegar inocência. Se ela não tivesse sido apanhada neste ato, poderia ter cometido outro, até que seu coração estivesse completamente endurecido, mas, às vezes, é uma graça de misericórdia para os pecadores quando seu pecado vem à luz, para que possam não continuar cometendo-o arrogantemente. É melhor que nosso pecado nos envergonhe do que nos destrua, e seja apresentado diante de nós para nossa acusação do que para nossa condenação.

(3) Eles apresentam os estatutos deste caso, sobre os quais ela era acusada, v. 5: “Na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas”. Moisés ordenava que elas fossem levadas à morte (Levíticos 20.10; Deuteronômio 22.22), mas não que fossem apedrejadas, a menos que a adúltera fosse desposada, não casada, ou uma filha de sacerdote, Deuteronômio 22.21. Observe que o adultério é um pecado extremamente pecaminoso, pois é a rebelião de uma luxúria vil, não somente contra o mandamento, mas também contra o concerto do nosso Deus. É a violação de uma instituição divina em inocência, pela indulgência de um dos mais vis desejos do homem na sua degeneração.

(4) Eles pedem que Jesus julgue este caso: “‘Tu, pois, que dizes?’ Tu, que reivindicas ser um mestre vindo de Deus para substituir as leis antigas e promulgando novas? O que tens a dizer neste caso?” Se eles tivessem feito esta pergunta com sinceridade, com um humilde desejo de conhecer sua mente, isto teria sido altamente elogiável. Aqueles a quem é confiada a administração da justiça devem olhar para Cristo pedindo orientação, mas “isso diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar”, v. 6.

[1] Se Ele confirmasse a sentença da lei, e deixasse que seguisse seu curso, eles o censurariam como incoerente consigo mesmo (por ter recebido publicanos e prostitutas) e com o caráter do Messias, que deveria ser manso, e trazer salvação, e proclamar o ano da remissão, e talvez o acusassem diante do governador romano por estimular os judeus no exercício de um poder judiciário. Mas:

[2] Se Ele a absolvesse, e desse a opinião de que a sentença não deveria ser cumprida (como eles esperavam que Ele fizesse), eles o apresentariam, em primeiro lugar; como um inimigo da lei de Moisés, e como alguém que usurpava uma autoridade para corrigi-la e controlá-la, e iriam confirmar o preconceito contra Ele que tão engenhosamente propagavam seus inimigos, de que Ele tinha vindo destruir a lei e os profetas. Em segundo lugar, como amigo de pecadores e, consequentemente, como alguém favorável ao pecado. Se Ele parecesse tolerar tais pecados, permitindo que não recebessem uma punição, eles o apresentariam como alguém que estaria estimulando as ofensas, e sendo um patrono destas, como se fosse um protetor dos criminosos. E nenhuma reflexão poderia ser mais injusta e odiosa sobre alguém que professava a rigidez e a pureza de um profeta no desempenho de suas atividades.

2. O método que Ele usou para resolver esta situação, evitando a armadilha.

(1) Ele pareceu menosprezar o caso, e fazer-se de surdo: “Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra”. É impossível dizer, e, portanto, desnecessário perguntar, o que Ele escrevia, mas esta é a única menção feita nos Evangelhos de Cristo escrevendo. Eusébio, na verdade, menciona que o Senhor Jesus escreveu a Abgar, rei de Edessa. Alguns pensam que têm alguma liberdade para conjeturar quanto ao que Ele escrevia aqui. Grotius diz: “Eram algumas palavras graves e sérias, e era usual que os homens sábios, quando muito concentrados a respeito de alguma coisa, fizessem isto”. Jerônimo e Ambrósio supõem que Ele tenha escrito: “Que os nomes destes homens maus estejam escritos na terra”. Outros sugerem que foi: ”A terra acusa a terra, mas o julgamento é meu”. Com isto, Cristo nos ensina a sermos lentos ao falar quando nos forem propostos casos difíceis, e não disparar nossa resposta com rapidez. E quando formos provocados ou desafiados, devemos fazer uma pausa para fazermos considerações antes de responder, a pensar duas vezes antes de falar uma. O coração dos sábios pensa para responder. Nossa tradução de algumas cópias em grego, que acrescentam me prospoioumenos (embora algumas cópias não incluam isto) , dá esta explicação da razão pela qual Ele escreveu no chão, como se Ele não os tivesse ouvido. Ele fez como se estivesse olhando para outro lado, para mostrar que não estava disposto a prestar atenção nas palavras deles, dizendo, na verdade: “Quem me pôs a mim por juiz ou repartidor?” É seguro, em muitos casos, ser surdo àquilo a que não é seguro responder, Salmos 38.13. Cristo não deseja que seus ministros se envolvam em questões seculares. Ele deseja que eles sejam mais bem empregados em qualquer estudo lícito, e preencham seu tempo escrevendo no chão (ao que ninguém vai prestar atenção), e não se ocupem daquilo que não lhes pertence. Mas, embora parecesse que Cristo não estivesse ouvindo aqueles homens, Ele deu a entender que não somente tinha ouvido suas palavras, mas que também conhecia seus pensamentos.

(2) Quando, de modo inoportuno, ou melhor, impertinente, o pressionaram em busca de uma resposta, Ele voltou a condenação da prisioneira sobre os acusadores, v. 7.

[1] Eles continuaram perguntando a Ele, e o fato de que Ele parecesse não prestar atenção os fez mais veementes, pois agora eles tinham certeza de que o tinham deixado sem saída, e que Ele não poderia evitar a imputação de contradizer a lei de Moisés, se absolvesse a prisioneira, ou sua própria doutrina de misericórdia e perdão, se a condenasse, e por isto eles apelavam a Ele vigorosamente, embora pudessem ter interpretado sua desatenção para com eles como uma reprovação aos seus desígnios, e uma sugestão para que desistissem, enquanto provavam sua própria reputação.

[2] Por fim, Ele os envergonha e silencia com urna palavra: Ele se endireitou, como se estivesse despertando de um sono (Salmos 78.65), e lhes disse: ”Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”.

Em primeiro lugar, aqui Cristo evita a armadilha que eles lhe tinham preparado, e efetivamente salva sua própria reputação. Ele não refletiu sobre a lei nem desculpou a culpa da prisioneira, nem, por outro lado, incentivou a acusação ou estimulou seu calor. Veja o bom resultado da reflexão. Quando não pudermos expressar diretamente o que desejamos, é bom que falemos utilizando certos artifícios de linguagem.

Em segundo lugar, “na rede que ocultaram ficou preso o seu pé”. Eles podem ter vindo com desejos de acusá-lo, mas foram forçados a acusar a si mesmos. Cristo reconheceu que era adequado que a prisioneira fosse acusada, mas apelou às suas consciências se eles eram adequados para serem os acusadores.

a. Aqui Ele se refere à regra que a lei de Moisés prescreveu na execução de criminosos, de que a mão das testemunhas seria primeiro contra eles (Deuteronômio 17.7), corno no apedrejamento de Estêvão, Atos 7.58. Os escribas e fariseus eram as testemunhas contra esta mulher. Agora Cristo lhes pergunta se, de acordo com sua própria lei, ousariam ser os executores. Ousariam eles tirar, com suas mãos, aquela vida que estavam agora tirando com suas línguas? Suas consciências não se lhes oporiam, caso o fizessem?

b. Ele constrói uma máxima incontestável de moralidade, pela qual é completamente absurdo que os homens sejam zelosos em punir as ofensas de outros, enquanto eles mesmos são completamente culpados, e não sejam melhores do que autocondenados que julgam os outros. Porém, existem aqueles que ainda assim fazem a mesma coisa: “Se houver algum entre vocês que esteja sem pecado, sem pecado desta natureza, que não tenha nunca, em nenhuma ocasião, sido culpado de fornicação ou adultério, que atire a primeira pedra sobre ela”. Os magistrados, que estavam conscientes da culpa em si mesmos, não poderiam, portanto, ser coniventes com a culpa de outros. Por isto:

(a) Quando encontrarmos faltas em outros, devemos refletir sobre nós mesmos, e ser mais severos contra o pecado em nós do que nos outros.

(b) Nós devemos ser favoráveis, embora não aos pecados, mas às pessoas, daqueles que ofendem, e restabelecê-las com um espírito de mansidão, considerando a nós mesmos e à nossa própria natureza corrupta. Nós somos, ou já fomos, ou podemos ser o que ele é. Devemos nos conter, e não atirar pedras em nossos irmãos. Não devemos divulgar suas faltas. Que aquele que esteja sem pecado comece um discurso como este, e então aqueles que estão verdadeiramente humilhados pelos seus próprios pecados enrubescerão e ficarão felizes em esquece r o assunto.

(c) Aqueles que, de alguma maneira, são obrigados a observar as faltas dos outros devem se preocupar em olhar bem para si mesmos, e conservarem-se puros (Mateus 7.5). Os apagadores do Tabernáculo eram de ouro puro.

c.Talvez Ele se refira ao julgamento da mulher de quem o marido ciumento suspeita, movido pelo ciúme. O homem devia trazê-la perante o sacerdote (Números 5.15), assim como os escribas e fariseus tinham trazido esta mulher perante Cristo. Era uma opinião admitida pelos judeus, e confirmada pela experiência, que, se o marido que trazia sua esposa para este julgamento tivesse sido, em alguma ocasião, culpado de adultério. “Então”, diz Cristo, “Eu julgarei vocês de acordo com sua própria tradição. Se vocês estão sem pecado, levantem-se para a acusação, e que a adúltera seja executada. Mas, se ela for culpada, enquanto vocês, que a apresentam, também forem igualmente culpados, ela ficará livre de acordo com a regra que vocês mesmos estabeleceram”.

c. Com isto, Ele cumpria a grande missão para a qual Ele veio ao mundo, que era trazer os pecadores ao arrependimento. Não para destruir, mas para salvar. Ele desejava trazer, não apenas a prisioneira ao arrependimento, mostrando-lhe sua misericórdia, mas também seus acusadores, mostrando-lhes seus pecados. Eles procuravam apanhá-lo em uma armadilha, Ele procurava convencê-los e convertê-los. Assim, “os homens sanguinários aborrecem aquele que é sincero, mas os retos procuram o seu bem”.

[3] Tendo lhes dito estas palavras assombrosas, Ele os deixou considerando-as, e “tornando a inclinar-se, escrevia na terra”, v. 8. Como quando eles se dirigiram a Ele, Ele pareceu dar pouca importância à sua pergunta, também agora que lhes tinha dado uma resposta, Ele dava pouca importância ao ressentimento deles, não se importando com o que eles diriam. Na verdade, eles não precisavam responder nada. A questão se alojava em seus próprios corações, que eles aproveitem o melhor dela. Ou, Ele não pareceu esperar por uma resposta, para que eles não se justificassem repentinamente, e então se julgassem presos pela honra a persistir no julgamento, mas lhes deu tempo para pensarem e se comunicarem com seus próprios corações. Deus diz: “Eu escutei e ouvi”, Jeremias 8.6. Algumas cópias em grego trazem aqui as seguintes palavras: “Ele escrevia na terra, os pecados de cada um deles”. Isto Ele podia fazer, pois nossas iniquidades estão diante dele, e isto Ele fará, pois Ele as apresentará diante de nós também. Ele sela nossas transgressões, Jó 14.17. Mas Ele não escreve os pecados dos homens na areia. Não, eles são escritos com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante (Jeremias 17.1), para nunca serem esquecidos, até que sejam perdoados.

[4] Os escribas e fariseus ficaram tão estranhamente aturdidos com as palavras de Cristo, que abandonaram sua perseguição a Cristo, a quem não mais tentaram, e a perseguição à mulher a quem não mais acusaram (v. 9): “Saíram um a um”.

Em primeiro lugar, talvez o fato de que Ele estivesse escrevendo na terra os assustasse, como os dedos que escreviam na parede assustaram a Belsazar (Daniel 5.5). Eles concluíram que Ele estava escrevendo coisas amargas contra eles, escrevendo sua condenação. Felizes são aqueles que não têm motivos para temer o que Cristo escreve!

Em segundo lugar, o que Ele disse os assustou, porque os remeteu às suas próprias consciências. Ele lhes tinha mostrado a si mesmos, e eles tiveram medo de ficar até que Ele se erguesse novamente, pois acreditavam que sua próxima palavra seria mostrá-los ao mundo, e envergonhá-los diante dos homens, e por isto julgaram melhor retirar-se. Eles saíram um a um, para que pudessem sair delicadamente, e não perturbar a Cristo com uma fuga ruidosa. Eles saíram furtivamente, como as pessoas envergonhadas fazem quando fogem da peleja, 2 Samuel 19.3. A ordem da sua partida é observada, começando pelos mais velhos (ou porque fossem os mais culpados, ou porque estivessem mais conscientes do perigo que corriam de se envergonharem). E, se os mais velhos deixam o campo, e se retiram sem glória, não admira que os mais jovens os sigam. Veja aqui:

1. A força da palavra de Cristo para a condenação dos pecadores: aqueles que a ouviam eram acusados pelas suas próprias consciências. A consciência é a representante de Deus na alma, e uma única palavra dele se põe em ação, Hebreus 4.12. Aqueles que eram veteranos em adultérios, e, há muito, haviam fixado uma orgulhosa opinião de si mesmos, estavam aqui, até mesmo os mais velhos deles, atemorizados pela palavra de Cristo. Até mesmo os escribas e fariseus, que tinham mais orgulho de si mesmos, são, pelo poder da palavra de Cristo, levados a retirar-se envergonhados.

2. A tolice dos pecadores sob estas acusações, como mostram estes escribas e fariseus.

(1) É tolice que aqueles que são acusados assumam como sua principal preocupação evitar a vergonha, como Judá (Genesis 38.23): “Para que porventura não venhamos a cair em desprezo”. Nossa preocupação deve ser mais salvar nossas almas do que salvar nossa credibilidade. Saul evidenciou sua hipocrisia quando disse: “‘Pequei; honra-me’, te rogo”. Não há maneira de obter a honra e o consolo dos penitentes, exceto removendo sua vergonha.

(2) É tolice que aqueles que são acusados tramem como transferir suas condenações e livrar-se delas. Os escribas e fariseus tiveram a ferida aberta, e agora deviam estar desejosos de examiná-la, e então ela poderia ser curada, mas isto era o que eles temiam e recusaram fazer.

(3) É tolice que aqueles que são acusados se afastem de Jesus Cristo, como estes fizeram, pois Ele é o único que pode curar as feridas da consciência, e nos trazer a paz. Aqueles que são acusados pelas suas consciências serão condenados pelo seu Juiz, se não forem justificados pelo seu Redent01: E estes se afastam dele? Para onde irão?

[5] Quando os acusadores arrogantes deixaram o campo, e fugiram pela vergonha, a prisioneira que se autocondenava permaneceu, com a determinação de esperar o julgamento do nosso Senhor Jesus. O grupo de escribas e fariseus deixou Jesus em paz, livre das suas perturbações, e também deixou a mulher em pé no meio da assembleia que assistia à pregação de Cristo, onde a tinham colocado, v. 3. Ela não procurou fugir, embora tivesse a oportunidade de fazê-lo, mas seus acusadores tinham apelado a Jesus, e a Ele ela iria. Nele, ela iria esperar sua condenação. Observe que aqueles cuja causa é trazida diante do nosso Senhor Jesus nunca terão oportunidade de levá-la a nenhum outro tribunal, pois Ele é o refúgio dos penitentes. A lei que nos acusa, e convoca o julgamento contra nós, é, pelo Evangelho de Cristo, levada a retirar-se. Suas exigências são atendidas, e seus clamores, silenciados, pelo sangue de Jesus. Nossa causa está perante o tribunal do Evangelho. Nós somos deixados a sós com Jesus. É somente com Ele que devemos tratar agora, pois a Ele foi entregue todo o julgamento. Portanto, asseguremos nosso interesse nele, e estaremos salvos para sempre. Que o Evangelho nos governe, e ele infalivelmente nos salvará.

[6] Aqui está a conclusão do julgamento, e seu resultado: “Endireitando-se Jesus e não vendo ninguém…”, vv. 10,11. Embora possa parecer que Cristo não preste atenção ao que é dito e feito, e que os filhos dos homens lutem uns contra os outros em meio às suas contendas, quando chegar a hora de pronunciar seu julgamento, Ele não manterá silêncio. Quando Davi tinha apelado a Deus, ele orou: “Levanta-te, Senhor”, Salmos 7.6; 94.2 (versão NTLH). A mulher, provavelmente, ficou tremendo no tribunal, como alguém em dúvidas quanto ao resultado. Cristo era sem pecado, e podia atirar a primeira pedra, mas, embora não exista ninguém mais severo contra os pecados do que Ele, pois Ele é infinitamente justo e santo, não existe ninguém mais compassivo do que Ele para com os pecadores, pois Ele é infinitamente cheio de graça e misericordioso, e esta pobre malfeitora descobre isto, agora que espera pela libertação. Aqui está o método que as cortes de magistratura observavam.

Em primeiro lugar, os acusadores são chamados: “Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?” Ninguém, exceto Cristo, sabia onde eles estavam. Mas Ele perguntou, para poder envergonhar aqueles que recusaram seu julgamento, e para incentivar aquela que decidiu esperar por ele. O desafio do apóstolo Paulo é como este: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” Onde estão seus acusadores? O acusador dos irmãos será, com razão, afastado, e todas as acusações serão legalmente e regularmente canceladas.

Em segundo lugar, eles não aparecem quando a pergunta é feita: “Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Ela fala com Cristo respeitosamente, chamando-o de Senhor, mas não diz nada a respeito dos seus acusadores, não diz nada em resposta à pergunta a respeito deles: “Onde estão aqueles teus acusadores?” Ela não triunfa com a retirada deles, nem os insulta como testemunhas contra si mesmos, nem contra ela. Se nós esperamos ser perdoados pelo nosso Juiz, nós devemos perdoar nossos acusadores. E se as acusações deles, por mais dolorosas que sejam, forem a feliz oportunidade para despertar nossas consciências, nós podemos facilmente perdoar-lhes este erro. Mas ela respondeu à pergunta que dizia respeito a ela: “Ninguém te condenou?” Os verdadeiros penitentes julgam que é suficiente prestar contas de si mesmos a Deus, e não se empenham em prestar contas de outras pessoas.

Em terceiro lugar, a prisioneira é, desta maneira, absolvida: “Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais”. Considere isto:

1. Como sua absolvição da punição temporal. “Se eles não a condenam a ser apedrejada até à morte, tampouco Eu o farei”. Não que Cristo tenha vindo desarmar o magistrado, tirando-lhe sua espada de justiça, nem que sua vontade seja que as penas de morte não sejam aplicadas aos malfeitores nos países em que ela é parte da justiça. Longe disto, a administração de justiça pública é estabelecida pelo Evangelho, e deve se tornar sub­ serviente ao reino de Cristo: “Por mim, reinam os reis”. Mas Cristo não condenaria esta mulher:

(a) Porque esta não era sua função. Ele não era juiz nem divisor, e por isto não se intrometeria em questões seculares. Seu reino não era deste mundo. Que cada um atue na sua própria esfera de ação.

(b) Porque ela era acusada por aqueles que eram mais culpados do que ela, e não puderam, por vergonha, insistir na sua exigência de justiça contra ela. A lei indicava as mãos das testemunhas para serem as primeiras sobre o criminoso, e, depois, as mãos de todo o povo, de modo que, se os acusadores dessa mulher fugiram, e não a condenaram, a acusação foi anulada. A justiça de Deus, ao infligir julgamentos temporais, às vezes observa um julgamento comparativo, e poupa aqueles que, de outra maneira, seriam odiosos, quando a punição destes só iria satisfazer àqueles que são piores do que eles, Deuteronômio 32.26,27. Mas quando Cristo a absolveu, foi com esta advertência: “Vai-te e não peques mais”. A impunidade incentiva os malfeitores. Portanto, aqueles que são culpados e encontram um meio de escapar à força da lei, precisam redobrar sua vigilância, para que Satanás não obtenha alguma vantagem. Quanto mais justa for a absolvição, mais justa será a advertência para ir e não pecar mais. Aqueles que desejam ajudar a salvar a vida de um criminoso devem, como Cristo fez aqui, ajudar a salvar sua alma através desta advertência.

d. Como sua absolvição da punição eterna. Pois Cristo dizer: “Eu não te condeno”, na verdade, significa: “Eu te perdoo”. E “o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados”, e pode, com bom fundamento, dar esta absolvição, pois assim como Ele conhecia a dureza e os corações impenitentes dos acusadores, e por isto disse aquilo que os confundiu, também Ele conhecia a ternura e o sincero arrependimento da prisioneira, e por isto disse o que a confortaria: “Nem Eu também te condeno”, assim como fez com aquela mulher que era uma pecadora como esta, que, da mesma maneira, foi desprezada por um fariseu (Lucas 7.48,50): “Os teus pecados te são perdoados… vai-te em paz”. Observe:

(a) São verdadeiramente felizes aqueles a quem Cristo absolve, pois sua absolvição é uma resposta suficiente a todas as outras acusações. Elas estão todas diante de um juiz não autorizado.

(b) Cristo não irá condenar aqueles que, embora tenham pecado, irão e não mais pecarão, Salmos 85.8; Isaías 55.7. Ele não usará a vantagem que tem contra nós, das nossas rebeliões anteriores, se apenas abaixarmos as armas e retornarmos à nossa fidelidade.

(c) A graça de Cristo para nós, na remissão dos pecados passados, deve ser um argumento predominante para que não pequemos mais, Romanos 6.1,2. Cristo não vai lhe condenar? Então vá, e não peque mais.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

UMA REFLEXÃO IMAGINATIVA

Na Psicologia poética, a poesia pode ser explorada no âmbito psicológico para acessar uma realidade transpessoal, ao nível dos arquétipos e demais teorias.

Uma reflexão imaginativa.2

“De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo. O mundo, cheio de departamentos, não é bola, bonita caminhando solta no espaço.” (Adélia Prado)

Começo este texto sobre a poesia narrando uma história que aconteceu recentemente em meu consultório: um garoto de 18 anos decidiu procurar Psicoterapia após passar sete horas consecutivas descendo a timeline, curtindo e compartilhando no Facebook.

Como cultura e sociedade, estamos de braços com a urgente superação da clivagem, do tudo ou nada das redes sociais. Diante do cenário no qual meu jovem paciente está inserido, mais como objeto do que como sujeito, o torpor ontológico ganha ares de constatação de Carlos Drummond de Andrade, de que “nada sobrou para nós senão o cotidiano”. Além dos princípios norteadores para uma conduta clínica e prospectiva do caso em questão, veio-me quase que instantaneamente a força sensível da poeta Adélia Prado em seu poema Paixão, na forma de uma resposta imaginativa ao enigma que aquela Esfinge me propunha.

Diante da condição de enclausuramento de um sujeito capturado pelo sintoma (aquele que vê o mundo dividido em “departamentos”), do personagem encoberto pelas ficções de si em meio ao palco sedutor das redes sociais é que percebemos a importância de uma reflexão imaginativa que se aproprie da poesia como elemento capaz de criar um espaço entre, operando uma útil organização dos eventos cotidianos (de considerável ganho terapêutico) ;a fim de mobilizar a “doenças das literalizações”, como diz Hillman. Tudo isso, om a finalidade de desobstruir os canais criativos e imaginativos do ser e facilitar a experiência estética/poética necessária para o fazer alma.

O principal objetivo deste texto é propor uma reflexão imaginativa sobre a importância da poesia no cotidiano, partindo de um enfoque psicológico. Seguiremos a trilha de pensadores como Carl Jung, James Hillman, Edgar Morin e tantos outros que, além das categorias nosológicas, da dimensão conceitual e racional, estruturaram igualmente a dimensão mito poética da psique, enfatizando sua função regulatória do real a partir da irrupção do mundo simbólico. Para eles, a dimensão poética da psique põe em movimento uma dinâmica imaginativo-afetiva, oposta complementar (…) que representa a polaridade antagônica à da racionalidade técnica e da concepção utilitarista da vida’. Trata-se de acessar uma realidade transpessoal ao nível dos arquétipos, cuja energia criativa ­ destrutiva move-se para além e independentemente da percepção retilínea do ego. Ao propormos aqui essa reflexão, movemo-nos nós também ao redor do âmbito psicológico dessa temática e, por isso, apostamos no fecundo encontro entre a consciência de racionalidade e a consciência imaginante.

Ao focarmos nos valores psicológicos da imaginação poética, estamos nos apoiando no desenvolvimento de um olhar poético ancorado nos valores promotores da individuação, segundo C. G. Jung, isto é, do desenvolvimento do ego em direção ao self e da consciência em suas trocas com o inconsciente. Essa percepção considera os valores afetivos e emocionais do indivíduo, não buscando seu objeto num mundo conceitual, abstrato e geral, mas na vida do dia a dia, ou seja, nas experiências e sonhos do indivíduo”. Em outras palavras, reafirmamos o potencial integrativo da psique, tal como o apresenta Gilbert Durand quando reconhece a necessidade de integrar ciência e poética. Segundo a atual leitura a partir de um paradigma hegemônico e unilateral, esses e outros polos da experiência permanecem travados na condição de opostos irreconciliáveis, como rios que desaguam para fazer transbordar a disrupção que impede uma experiência autêntica do existir. Como reitera Durand, uma “ciência sem poesia, inteligência pura sem compreensão simbólica dos fins humanos, conhecimento objetivo sem expressão do sujeito humano, objeto sem felicidade apropriadora é apenas inclinação do homem.

METÁFORAS

Nessas linhas iniciais precisamos reforçar um lembrete ao leitor para que não estranhe o nosso abuso das metáforas. Em um texto sobre poesia, precisamos do refúgio das imagens e daquilo que funcione como um convite para não antecipar o processo imaginativo, amplificando, assim, a compreensão poética para além dos clichês, das ideias congeladas, pré-fabricadas. Para Ortega y Gasset, a metáfora é provavelmente a potência mais fértil que o homem possui. A metáfora seria assim um modo de organização e rejuvenescimento da linguagem em seu modo de mediar o real, uma resposta não linear ao plano linear da vida que a dimensão do ego fomenta. Reafirmando Ortega Y Gasset, “só a metáfora nos facilita a evasão e cria, entre as coisas reais, recifes imaginativos, florescimento de ilhas sutis”.

Num esforço para desarmar a consciência de seu aparato lógico­ conceitual e de seu compromisso aristotélico com a unilateralização reducionista, Paul Valery lembra ­ nos que a função da emoção poética é lançar-nos na vertigem do real.

 

OUTROS OLHARES

SOB A AMEAÇA DA PÓLIO

Erradicada no Brasil desde 1990, a doença pode voltar ao País devido à baixa cobertura vacinal. Há a ideia de que ela não seja mais perigo. É um erro grave.

Sob a ameaça da polio

Depois da febre amarela, a poliomielite, sem casos registrados no Brasil desde 1990 e erradicada das Américas quatro anos depois, pode voltar ao País. Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que 312 cidades, 44 em São Paulo, apresentaram alto risco para o surgimento de casos, significando que ao menos 800 mil crianças estão sob ameaça de contrair o vírus causador da doença. A pólio pode apresentar sintomas que vão desde febre, ânsia de vômito até paralisia, insuficiência respiratória e levar à morte.

DESASTRE PARA A SAÚDE

A Organização Mundial de Saúde recomenda que a cobertura vacinal contra a pólio seja superior a 95,9%. O panorama brasileiro está longe disso. Em 2017, 22 estados não atingiram a cobertura mínima. Na Bahia,15% dos municípios imunizaram menos da metade das crianças. “É uma situação multo grave”, afirma Carla Domingues, coordenadora do Programa de imunizações do Ministério da Saúde. “Um estado com esses indicadores tem toda a condição de voltar a registrar a transmissão da doença no nosso País. Será um desastre para a saúde como um todo. “Por causa da urgência, a campanha nacional de vacinação deve ter seu início antecipado de setembro para agosto. Na semana passada, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão solicitou ao Ministério da Saúde informações sobre o problema. O órgão quer saber suas causas e as providências que estão sendo tomadas.

Vários fatores explicam a situação. As vacinas estão disponíveis na rede pública, mas questões como o horário de funcionamento dificultam a ida das crianças aos postos. A maioria abre em horário comercial, quando boa parte dos pais está no trabalho. Aliado a isso, cresce a ideia de que a doença não é mais perigo. É um equívoco registrado entre a população e profissionais de saúde. “Não podemos deixar que a situação avance. Não se pode desvalorizar a prevenção”, afirma a médica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Na opinião da especialista, é preciso rever o acesso aos postos e fazer com que a população entenda que cada um tem sua responsabilidade. “É preciso ser proativo, diz. O caso da pólio evidencia um problema amplo que ocorre no Brasil em relação à vacinação. O País apresenta baixa cobertura para todas as vacinas Infantis – em 2017, 26% dos 5.570 municípios não atingiram a cobertura recomendada – e registra casos de sarampo, doença que também estava sob controle.

 Sob a ameaça da polio.2

GESTÃO E CARREIRA

É HORA DO PAI CUIDAR

À medida que a licença paternidade estendida começa a se disseminar no Brasil e no mundo, surge uma questão: contar com a adesão dos homens ao benefício.

É hora do pai cuidar

No primeiro dia de julho, a empresa americana desenvolvedora de softwares CA Technologies anunciou para seus 11.000 funcionários em todo o mundo que, daquela data em diante, os pais – homens ou mulheres – de crianças recém-nascidas ou adotadas teriam direito a uma licença remunerada de12 semanas seguidas ou divididas ao longo de um ano. A iniciativa surgiu após um teste que acontecia desde outubro de 2017, com uma licença parental de seis semanas, ou um período maior caso obrigasse a legislação local. “O objetivo era definir um equilíbrio dos direitos entre os gêneros”, diz Silvio Trindade, diretor de recursos humanos da CA Technologies no Brasil. Aqui, até o momento, seis pais foram contemplados com o período anterior, de um mês e meio. Um deles é o analista de contas a pagar Alexandre Codreansky, de 34 anos. Quando sua mulher precisou ser internada dez dias antes do parto, ele decidiu usufruir o benefício para cuidar dela e da enteada de 4 anos.

Às seis semanas, o funcionário adicionou dez dias de férias. “Foi tudo tão rápido e intenso que hoje entendo a importância de ter mais semanas disponíveis”, diz Codreansky, que já voltou ao trabalho.

A nova realidade da CA Technologies ainda está longe de ser regra no país. De acordo com a legislação brasileira, os pais podem tirar cinco dias corridos de licença, ou 20 dias caso trabalhem numa companhia que opte por participar do programa do governo federal Empresa Cidadã, existente há dez anos. Em 2017, apenas 12% das 160.000 empresas habilitadas a fazer parte do programa tinham aderido. Mas, à medida que a discussão sobre equidade de gênero avança, sobretudo entre companhias de origem americana e europeia, surge uma questão: a baixa adesão dos homens. Segundo uma pesquisa da consultoria Deloitte nos Estados Unidos, um terço dos homens com direito ao benefício não planeja usá-lo com receio de ter sua posição profissional ameaçada. “Muitos homens sentem que a ausência pode prejudicá-los no trabalho”, diz Ângela Castro, sócia de solução de progresso empresarial na Deloitte.

Mesmo em países com tradição na oferta de licença – paternidade, há pouca adesão. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os três países do mundo com os melhores benefícios entre remuneração e tempo de afastamento são Bulgária, Grécia e Reino Unido. Na Bulgária, as mulheres têm direito a 410 dias corridos. A partir do sexto mês de vida do bebê, elas têm a opção de voltar ao trabalho e ceder os dias remanescentes ao pai da criança. Mas dados oficiais do país mostram que, em 2016, menos de 1% dos homens elegíveis ocupou o período de licença disponível. No Canadá, ocorre algo semelhante. A licença parental, a que serve homens e mulheres indistintamente, é de 12 meses, que podem ser repartidos entre mães e pais. Apenas 10% dos homens usam o benefício. Neste ano, o governo canadense criou um estímulo para tentar mudar a situação: oferecer mais cinco semanas remuneradas de licença – além das 35 previstas até então – desde que no novo período o filho fique com a parte do casal que não assumiu a licença no início.

A lógica de equilibrar os direitos nesse caso está – entre outros fatores – em aliviar justamente o estigma de que apenas as mulheres se afastam do trabalho após o nascimento de um filho. Há um consenso sobre o peso da licença-maternidade na carreira das mulheres, a começar pela própria decisão de contratar ou não uma mulher. Segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, 59% das pessoas desempregadas no Brasil no ano passado eram mulheres. “O modo como são vistas socialmente, com mais responsabilidade sobre os filhos do que os homens, afeta a presença delas em cargos de todos os níveis, sobretudo na liderança. A extensão da licença paternidade é uma solução para mudar o cenário”, diz Regina Madalozzo, professora na escola de negócios Insper e pesquisadora da atuação da mulher no mercado.

Diante da resistência dos homens, a saída das empresas tem sido oferecer alternativas. Na CA Technologies, quando os pais podiam tirar um mês e meio de licença, metade dos seis beneficiados escolheram voltar antes do fim do período. “No começo, há o receio de acharem que não precisam mais de você”, diz Codreansky, um dos funcionários que usaram o benefício. “Os que renunciaram trabalhavam na área de vendas, e contou o peso da remuneração variável”, afirma o diretor de RH Trindade. Para ampliar a aceitação no futuro, a companhia permite que os pais tirem esse período em até um ano. É o mesmo caminho que a startup de gastronomia brasileira Chefs Club usou para convencer Gustavo Pelaez, líder em experiência do usuário, a tirar os seis meses a que tinha direito de março, quando nasceu sua filha, em diante. Ele foi o primeiro funcionário da Chefs Club a ter direito à licença desde a fundação da empresa, em 2012. Na hora de sair, Pelaez combinou que tiraria o período ao longo de dois anos, para conciliar o trabalho com o apoio à família. Desde o nascimento de sua filha, ele se divide e passa dois meses com a família e dois meses no trabalho, combinação que deve levar até a licença chegar ao fim. “Não quis ficar de fora do desenvolvimento de novos projetos, mas também preciso apoiar minha mulher e filha”, diz Pelaez. Na rotina de startup, rapidamente a empresa comunicou a decisão e tornou o combinado uma nova regra dali em diante.

Oferecer um afastamento que possa ser fracionado também é uma forma de permitir que o funcionário apoie a mulher num momento posterior ao nascimento, e a ajude a voltar ao trabalho com mais tranquilidade. Na fabricante de bens de consumo Johnson & Johnson, os pais têm direito a 40 dias de afastamento desde maio de 2017, fracionáveis por até um ano. Entre os197 beneficiados pela novidade, o gerente de estratégia de vendas Luiz Arthur Fernandes decidiu usar a prerrogativa de dividir o período. Seus filhos gêmeos nasceram há três meses. Mas ele vai tirar alguns dias de sua licença em agosto, enquanto a mulher, que é autônoma, participa de um congresso a trabalho. Outra empresa que oferece 40 dias de licença paternidade é a fabricante de cosméticos Natura. Por lá, não há a opção de fragmentar as saídas. Desse modo, 80% dos 200 pais que se ausentaram após a chegada de uma criança, desde que a licença foi estendida, em junho de 2016, resolveram tirar o período completo. Cerca de 10% deles ficaram em casa pelo menos 20 dias e os outros 10% optaram por um tempo ainda mais curto. “Quem escolhe pegar menos tempo tem motivações pessoais. Culturalmente, queremos incentivar o funcionário a ter a chance de participar mais dessa fase da vida”, diz Marcos Milazzo, diretor de remuneração e reconhecimento da Natura.

No esforço de incentivar o que ainda é uma mudança de hábito da própria sociedade, algumas empresas se dispõem a estar próximas também antes da dispensa. Na Johnson & Johnson, os homens participam há três anos do curso para gestantes oferecido trimestralmente durante um dia. Mas, desde o segundo semestre de 2017, eles têm as 2 horas iniciais exclusivas para compartilhar suas experiências com outros homens, sob o acompanhamento de uma psicóloga. Fernandes participou da edição de abril deste ano. Na ocasião, ele e outros 15 homens falaram, por exemplo, sobre suas expectativas em relação à paternidade e de como poderiam participar dos cuidados com o bebê, inclusive no caso de eventuais complicações. “As mulheres grávidas reconhecem umas às outras nos corredores da empresa e passam a compartilhar ideias. No caso dos homens, só se descobre que o outro será pai quando há a chance de ficar próximo e dividir esse momento”, diz Fernandes, da Johnson & Johnson. Inserir o homem também na gestação é mais uma forma de criar vínculos. “Quando passam por experiências como o curso e a licença, os pais naturalmente se tornam embaixadores da ação”, afirma Guilherme Rhinow, diretor de recursos humanos da Johnson & Johnson. Após o nascimento ou a adoção da criança, uma forma de oferecer proximidade na relação família-empresa é por meio da creche, mais comumente disponível para filhos de funcionárias. Mas, na fabricante de medicamentos Eurofarma, desde 1998, quando o primeiro berçário foi inaugurado, os homens também podem deixar os filhos de até 6 anos no local. Atualmente, os 4.000 funcionários têm à disposição 220 vagas nas creches de duas cidades onde a empresa atua. “Não é possível materializar a relação entre o benefício oferecido ao funcionário e o retorno que a empresa tem”, diz Ângela Castro, da Deloitte. “Como a média de natalidade no Brasil é menor do que dois filhos por mulher, o investimento da empresa com o período de licença tende a ficar diluído ao longo de toda uma carreira do funcionário.” Ao participar das relações familiares, as empresas miram os atuais funcionários e clientes, mas acertam também a geração que ainda está por vir. Segundo uma pesquisa global da consultoria EY, 74% dos empregados chamados de millennials – aqueles nascidos entre 1981 e 1994 – em oito países (entre os quais o Brasil) dizem ser importante contar com uma licença parental remunerada. Eis um sinal de que uma mudança de hábito pode estar em curso.

É hora do pai cuidar.2

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 45-53 – PARTE II

Alimento diário

O Testemunho dos servidores a respeito de Cristo.

 

II – O que aconteceu entre eles e Nicodemos, um membro do seu grupo, v. 50ss. Observe:

1. A objeção justa e racional que Nicodemos levantou contra sua conduta. Até mesmo no seu Sinédrio corrupto e perverso, Deus não ficou completamente sem testemunho contra a inimizade deles, nem foi o voto contra Cristo e unânime. Observe:

(1) Quem se manifestou contra eles. Foi Nicodemos, “o que de noite fora ter com Jesus”, e era um deles, v. 50. Observe, a respeito dele:

[1] Que, embora ele tivesse estado com Jesus e o tivesse aceito como seu mestre, ainda assim ele conservava seu lugar no conselho, e seu voto, entre eles. Alguns atribuem isto a fraqueza e covardia, e pensam que ele era culpado por não deixar sua posição, mas Cristo nunca lhe tinha dito: “Segue-me”, caso contrário ele teria feito como os outros que deixavam tudo para segui-lo. Portanto, parece mais ter sido prudente da sua parte não ter imediatamente abandonado este lugar, porque ele podia ter oportunidade de servir a Cristo e aos seus interesses, e controlar a fúria dos judeus, e que talvez ele tenha feito mais do que temos conhecimento. Ele podia ser como Husai entre os conselheiros, de Absalão, um instrumento usado para converter seus conselhos em tolices. Embora não devamos, em nenhuma hipótese, negar nosso Mestre, ainda assim devemos esperar por uma oportunidade de confessá-lo quando for mais vantajoso. Deus tem os seus entre todos os tipos de pessoas, e muitas vezes encontra, ou coloca, ou realiza algum bem nos piores lugares e sociedades. Houve Daniel, na corte de Nabucodonosor, e Neemias, na de Artaxerxes.

[2] Que, embora no início ele tivesse ido te com Jesus à noite, por medo de ser reconhecido, e tivesse permanecido no seu posto, ainda assim, quando houve oportunidade, ousadamente manifestou-se em defesa de Cristo, e opôs-se a todo o conselho que estava contra Ele. Assim, muitos crentes que, a princípio, eram medrosos e prontos para fugir ao agitar de uma folha, gradativamente, pela divina graça, tornaram-se corajosos E capazes de rir ao agitar de uma lança. Que ninguém seja justificado por encobrir e ocultar sua fé com o exemple de Nicodemos, a menos que, como ele, esteja pronto, na primeira ocasião, a aparecer publicamente pela causa de Cristo, ainda que esteja sozinho nisto, pois foi isto o que Nicodemos fez aqui, e em João 19.39.

(2) O que Nicodemos alegou contra a conduta dele, (v. 51): “Porventura, condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir” – ouvir o que ele diz “e ter conhecimento do que faz?” De maneira nenhuma, nem a lei de nenhuma nação civilizada o permite. Observe que:

[1] Ele fala prudentemente dos princípios da sua própria lei, e de uma regra de justiça incontestável, de que nenhum homem deve ser condenado sem ser ouvido. Se ele tivesse elogiado a excelência da doutrina de Cristo ou a evidência dos seus milagres, ou repetido para eles as palavras divinas de Cristo a ele (cap. 3), isto teria sido apenas como atirar pérolas aos porcos, que as pisoteariam, e voltariam e o destruiriam Por essa razão, ele desiste disto.

[2] Embora eles tivessem reprovado o povo, especialmente os seguidores de Cristo, como ignorantes da lei, aqui ele tacitamente de volve a acusação a eles mesmos, e mostra como ele, eram ignorantes de alguns dos primeiros princípios da lei, de tal modo que eram inadequados para dar a lei aos outros.

[3] Aqui se diz que a lei julga, e ouve, e tem conhecimento, quando os magistrados que governam e são governados por ela julgam, e ouvem, e têm conhecimento, pois eles são a voz da lei, e quem eles prenderem 01 soltarem de acordo com a lei será, com justiça, considerado preso e solto pela lei.

[4] É altamente adequado que ninguém receba a sentença da lei, até que tenha tido um julgamento justo sob o escrutínio da lei. Os juízes, quando recebem as queixas do acusador, devem sempre reservar em suas mentes lugar para a defesa do acusado pois eles têm dois ouvidos, para que se lembrem de ouvi os dois lados. Está escrito que esta era a maneira dos romanos, Atos 25.16-18. O método da nossa lei é primeiro ouvir e depois deliberar.

[5] As pessoas devem ser julgadas não segundo o que se diz delas, mas segundo o que fazem. Nossa lei não irá perguntar qual é a opinião dos homens sobre elas, nem quais são suas queixas contra elas, mas o que elas fizeram. De que atos declarados elas podem ser condenadas? A sentença deve ser dada segundo o que é alegado e provado. Fatos, e não rostos, devem ser conhecidos em um julgamento, e a escala da justiça deve ser usada antes da espada da justiça.

Podemos supor que a moção que Nicodemos fez a este respeito foi que Jesus podia ter desejado vir pessoalmente e dar-lhes um relato de si mesmo e da sua doutrina, e que eles deveriam favorecê-lo ouvindo-o de maneira imparcial e sem preconceitos. Mas, embora nenhum deles pudesse contradizer sua máxima, nenhum deles apoiou sua moção.

2. O que foi dito em resposta a esta objeção. Não há uma resposta direta a ela, mas, quando não puderam resistir à força dos argumentos de Nicodemos, eles se lançaram sobre ele, e o que devia ser buscado na razão, eles construíram com insultos e censuras. Observe que é um sinal de que a causa é ruim quando os homens não podem suportar ouvir a razão, e se ofendem ao serem lembrados de suas máximas. Quem estiver contra a razão provocará suspeitas de que a razão está contra si. Veja como eles ridicularizam a Nicodemos: “És tu também da Galileia?” v.52. Alguns pensam que ele foi bem recompensado permanecendo no meio daqueles que ele sabia que eram inimigos de Cristo, e por falar em defesa de Cristo não mais do que poderia ter dito em defesa do pior criminoso, que Ele não deveria ser condenado sem ser ouvido. Se ele tivesse dito: “Quanto a este Jesus, eu mesmo o ouvi, e sei que Ele é um mestre vindo de Deus, e vocês, ao combatê-lo, estão lutando contra Deus”, como deveria ter dito, ele não poderia ter sido mais maltratado do que foi por este débil esforço de ternura por Cristo. Quanto ao que eles disseram a Nicodemos, podemos observar:

(1) Como eram falsas as bases da sua argumentação, pois:

[1] Eles supõem que Cristo era da Galileia, e isto não era verdade, e se eles tivessem se esforçado para fazer uma investigação imparcial, teriam descoberto isto.

[2] Eles supõem que, pelo fato dos discípulos serem galileus, todos eles o seriam, embora Ele tivesse abundância de discípulos na Judéia.

[3] Eles supõem que nenhum profeta surgiu da Galileia, e para isto apelam ao exame de Nicodemos. Mas isto também era falso: Jonas era de Gate-Hefer, e Naum era um elcosita, ambos da Galileia. Desta forma, eles fazem das mentiras seu refúgio.

(2) Como eram absurdos seus argumentos sobre tais bases, de tal modo que eram uma vergonha aos principais e aos fariseus.

[1] Algum homem de valor e virtude será pior para a obscuridade e a pobreza da sua região? Os galileus eram a semente de Abraão, os bárbaros e os citas são a semente de Adão, e não temos todos um único Pai?

[2] Supondo que nenhum profeta tenha surgido da Galileia, ainda assim não é impossível que nenhum surgisse dali. Se Elias foi o primeiro profeta de Gileade (como talvez tenha sido), e se os gileaditas eram considerados fugitivos, deverá ser questionado se ele era ou não um profeta?

3. O rápido adiamento da seção daquele tribunal. Eles interromperam a assembleia em meio a uma confusão, e precipitadamente, “e cada um foi para sua casa”. Eles tinham se reunido para planejar contra o Senhor e seu Ungido, mas tinha sido um pensamento inútil, e não somente aquele que está no céu se riu deles, mas nós podemos estar na terra e rir deles também, ao ver toda a política da trama despedaçada por uma única palavra honesta. Eles não desejavam ouvir Nicodemos, porque não podiam lhe responder de forma séria e coerente. Tão logo perceberam que tinham alguém como ele no seu meio, eles viram que não adiantaria prosseguir com seu desígnio, e por isto adiaram o debate para uma ocasião mais conveniente, quando Nicodemos estivesse ausente. Assim, o conselho do Senhor permanece, apesar das artimanhas dos corações dos homens.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

DELÍRIOS DA PAIXÃO

Como reconhecer a paixão doentia quando a convicção delirante da relação amorosa parece tão real. O comportamento de fixação amorosa é perigoso e precisa de cuidados.

Delírios da paixão

O psiquiatra francês De Clêrambault descreveu o problema como uma síndrome de emoções doentias que passa pelos estágios de esperança, despeito e rancor. A fase de rancor seria a mais importante delas. Após sofrer diversos sinais de rejeição, a pessoa busca se vingar do objeto de seu amor, podendo transferir suas retaliações para terceiros.

Pessoas que alimentam esse tipo de fantasia são reservadas, socialmente inexpressivas; solitárias, muitas são privadas de contato sexual por anos, a maioria ocupa cargos subalternos, e, em muitos casos, são pouco atraentes. Esse perfil pode resultar numa personalidade hipersensível, em desconfiança acentuada ou assumida superioridade em relação aos outros.

Por outro lado, os objetos de amor delirante (na realidade ou em fantasia), são sempre superiores em inteligência, posição social, aparência física, autoridade ou uma combinação dessas qualidades. Quase sempre o amor doentio pode ser visto como um meio de proteger o sujeito que o sente contra um profundo e doloroso estado de solidão.

Embora atos físicos ou sexuais sejam incomuns, essas pessoas podem trazer grandes conturbações às suas vítimas. O inconveniente varia de chamadas telefônicas no meio da noite a declarações de amor em ambientes públicos. A pessoa pode desejar ter relações sexuais com o objeto de seu amor delirante. Os homens tendem mais à perseguição do que as mulheres.

Há casos em que o amor fantasioso se desenvolve a partir de um único e específico incidente – o que já é suficiente para que a pessoa se convença do amor que sente por seu objeto. Alimenta-se a crença de que ele iniciou o caso de amor a partir de olhares, mensagens cifradas, mensagens de jornal, de televisão ou até mesmo telepáticas.

A pessoa pode até rejeitar o objeto do seu amor, porém, o aceita e se apaixona por ele de maneira obsessiva. A despeito de vigorosas negações da outra pessoa, a fantasia de estar sendo amado persiste por anos, havendo necessidade de hospitalizações ou de ações legais que impeçam a perseguição da vítima pelo paciente.

O paciente crê no imenso amor que a outra pessoa tem por ele, ao mesmo tempo em que preserva certo senso de inocência ao considerar que o objeto de seu amor jamais será feliz sem a sua companhia.

Quem sofre com esse amor geralmente racionaliza a conduta da pessoa que elege: interpreta as rejeições que sofre como afirmações secretas de amor, testes de fidelidade ou tentativas de despistar outras pessoas de seu “romance”. Pensam que são amados por um bom tempo, quando então renunciam a esse amor para reiniciar suas fantasias com outra pessoa.

Existe um potencial para comportamento violento e vingativo, com taxas de comportamento   agressivo chegando a 57% em amostras de homens que foram diagnosticados com esse tipo de problema. Apesar de haver poucos estudos sobre o tema, alguns pesquisadores sugerem que a sua frequência não deva ser considerada tão baixa quanto se acredita. As causas podem variar. Déficits no funcionamento da visão espacial ou lesões no sistema límbico, particularmente nos lobos temporais, em combinação com experiências amorosas ambivalentes e de isolamento afetivo   poderiam contribuir com as interpretações delirantes. E a falta de flexibilidade cognitiva faria com

que esses delírios persistissem.

O sistema límbico medeia a interpretação do ambiente ao acrescentar um a resposta afetiva aos estímulos externos. Assim, interpretações inadequadas do meio poderiam ser causa das por anormalidades límbicas. O conteúdo específico do delírio, entretanto, seria determinado pela cultura e pelas experiências pessoais de cada paciente.

O desenvolvimento dos delírios pode originar-se de percepção ou interpretação anormais do meio, mas a manutenção de uma crença delirante, em face de informações distorcidas, tem sido atribuída a um funcionamento deficiente do sistema frontal. O lobo pré-frontal desempenha um importante papel nos testes de realidade.

Um fator que pode contribuir para a manutenção dos delírios é a rigidez cognitiva, surgida de disfunção frontal sub ­ cortical, a que pode resultar numa dificuldade em alterar determinado sistema de crenças. Disfunções nessas mesmas áreas têm sido associadas a outros tipos de delírios. Também ficou constatado que pessoas que sofriam com esse problema tinham um comprometimento maior do hemisfério cerebral direito.

A integridade dessas funções é crítica para o reconhecimento das interpretações delirantes que ocorrem com maior probabilidade, em pacientes privados de relacionamentos íntimos, porém, altamente motivados a tais experiências. Esse desejo por relacionamento pode ser contrabalançado por temores de rejeição e de intimidade.

O amor patológico é perigoso e necessita de tratamento psicológico e muitas vezes medicamentoso. Fique alerta.

 

ROBERTA DE MEDEIROS é Jornalista científica.

E-mail: robertaneurociencias@gmail.com

 

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Além dos efeitos estimulantes, a bebida mais popular do mundo é rica em nutrientes e pode ajudar a combater doenças.

O bom e velho cafezinho

Desde o século VIII a. C., quando um pastor árabe descobriu suas propriedades estimulantes, o café se tornou uma bebida popular, de consumo diário, e em vários países, como o Brasil, está muito arraigado aos hábitos sociais. No mundo todo são consumidas mais de 120 mil toneladas de café por ano. E embora seja notório seu efeito de aumentar o alerta e de reduzir a fadiga, a ação de seu componente mais importante – a cafeína – já foi e continua sendo muito estudada pela ciência.

A cafeína promove alterações no estado de alerta, memória, aprendizado, orientação espacial e variáveis psicomotoras, como tempo de reação e de locomoção. Seus efeitos, entretanto, dependem da dose e do tipo de tarefa estudada. Alcaloide pertencente ao grupo das metil xantinas ela parece atuar no sistema de ativação reticular ascendente, localizado no tronco cerebral, por isso sua evidente influência nos processos atencionais. Sabe-se que a atenção pode modificar a atividade neural de áreas corticais específicas que participam na análise perceptiva. Assim, a atenção –  ou melhor, a ampliação dela –  é capaz de aumentar a resposta dos neurônios a determinados estímulos.

Capaz de combater a fadiga e a sonolência, a cafeína é muito usada por médicos plantonistas, motoristas de caminhão e outros profissionais que precisam estar bem acordados durante a noite. Alguns autores concordam que, apesar de não melhorar diretamente o aprendizado, seu efeito direto na atenção e na atividade motora espontânea acaba contribuindo para ganhos significativos de desempenho, o que é multo difícil de distinguir do aprendizado em si.

Em relação à memória, não há evidências de melhora na capacidade de recordação; por outro lado, as respostas tendem a ser mais rápidas e precisas. Estudos realizados em 2010 pelo farmacologista Alain Patat, então do laboratório Synthélabo Recherche, em Bagneux, França, indicam também efeitos benéficos no desempenho psicomotor e na atividade motora espontânea. Seus experimentos mostraram diminuição do tempo de reação e aumento na velocidade de digitação após o consumo de cafeína. Outras evidências sugerem que os efeitos facilitadores desse alcaloide ocorrem tanto antes, quanto depois do surgimento da fadiga e do declínio do desempenho.

Apesar de ser a substância psicoativa mais consumida do mundo, a cafeína não é considerada uma droga de abuso. Segundo a Organização Mundial da Saúde, “não existem evidências de que o uso da cafeína possa levar às consequências físicas e sociais associadas às verdadeiras drogas de abuso· Nas últimas décadas, diversos estudos mostraram que as alterações cognitivas e psicomotoras causadas pela cafeína não levam ao desenvolvimento de dependência química.

É possível observar, entretanto, algum grau de tolerância nos casos de consumo regular, mas não se trata da tolerância típica, em que os usuários aumentam a dose da droga de forma exponencial, como ocorre com a cocaína ou as anfetaminas. O fenômeno parece estar associado a um incremento na atividade do receptor de adenosina. Por outro lado, vários estudos mostram que a cafeína não é capaz de sensibilizar o sistema de recompensa do cérebro.

O consumo de cafeína se caracteriza, de forma geral, por padrões de consumo relativamente fixos.  As pessoas evitam doses que possam induzir ansiedade ou privá-las de sono além do desejado. Isto sugere que a ingestão tende a se restringir a limites individuais muito variáveis de tolerância e sensibilidade.

A cessação do uso de cafeína não parece provocar um quadro completo de abstinência. Em contrapartida, o organismo costuma apresentar respostas fisiológicas para se ajustar à falta da substância. Os sintomas são brandos e incluem sonolência, dificuldade de concentração, cansaço e dores de cabeça que desaparecem em poucos dias. A sonolência e o cansaço podem ser explicado pelo acúmulo do neuromodulador adenosina, que deixa de competir com a cafeína pelos mesmos receptores e pode novamente exercer efeito inibitório sobre a atividade neuronal. As dores de cabeça também são resultado da ligação, agora em maior quantidade, da adenosina ao seu receptor, já que ela produz vasodilatação no sistema nervoso central. Além de mais sangue chegar ao cérebro, ele chega com muito mais pressão

 CONTRA O PARKINSON

A cafeína já foi sugerida como droga coadjuvante da L-dopa no tratamento da doença de Parkinson, com melhora de sintomas motores, como o tremor dos membros superiores. O distúrbio é resultado da degeneração de neurônios dopaminérgicos em regiões cerebrais conhecidas como substância negra e estriado. A cafeína evita a depleção da dopamina, principalmente no estriado.

Diversos estudos, entre eles os do farmacologista Alberto Ascherio, da Universidade Harvard, sugerem que a cafeína poderia reduzir o risco de Parkinson. Levantamentos epidemiológicos verificaram que a maior ingestão de café durante a vida está associada a menor incidência da doença. Essa relação pode ser explicada pela inibição causada pela cafeína nos receptores de adenosina do tipo A2A.

Alguns pesquisadores acreditam que esse efeito protetor abre uma nova possibilidade de tratamento da doença. Na verdade, drogas desse tipo já estão em teste e poderão não apenas aliviar os sintomas do Parkinson, mas quem sabe retardar o progresso da doença

Nos últ1mos anos, vem crescendo também o interesse na possibilidade de o consumo de café proteger contra o Alzheimer. Em 2002, um estudo retrospectivo realizado por pesquisadores da Universidade de Lisboa demonstrou que a ingestão de cafeína nos 20 anos precedentes era inversamente proporcional ao risco de desenvolver a doença. No mesmo ano, um estudo prospectivo realizado na Universidade de Ottawa revelou resultados semelhantes. Ainda assim, mais pesquisas são necessárias para a completar a elucidação do assunto.

O café parece exercer efeito benéfico também nas pessoas com diabetes tipo 2. Estudo recente, realizado na Holanda, com mais de 17 mil adultos observou que as pessoas que ingeriam no mínimo sete xícaras de café por dia tinham metade da probabilidade de desenvolver o problema. O resultado vem sendo confirmado por diversas pesquisas realizadas desde 2006 em diferentes populações e que mostram correlação parecida.

A relação da cafeína com as doenças cardiovasculares é outra área imensamente estudada. Algumas pesquisas investigam a relação entre consumo excessivo de café e as doenças do coração, mas falham, porém, no controle de outros fatores importantes como dieta e tabagismo. Segundo o lnternational Food lnformation Council Foundation (lfic), a ingestão de cafeína não contribui para o aumento do risco de doença coronária, diferentemente da dieta rica em gorduras e do tabagismo; em compensação um leve aumento de HDL, conhecido como colesterol bom, é esperado naqueles que têm o hábito de tomar café.

A associação do principal componente do café com a hipertensão também vem sendo sugerida há tempos. O que muitos estudos mostram, entretanto, é um pequeno aumento transitório da pressão, menor que o provocado pelas atividades normais diárias. A cafeína não causa hipertensão crônica ou incremento persistente da pressão arterial. Alguns indivíduos sensíveis a essa substância, porém, podem experimentar um ligeiro aumento de pressão que geralmente não dura mais que algumas horas,

BOM PARA OS OSSOS

Diversas pesquisas examinaram também a relação entre cafeína e osteoporose, mostrando que não há relação entre o consumo desta substância e fratura de quadril, exceto em mulheres que ingeriam mais de 450 mg de cafeína e menos de 800 mg de cálcio por dia.

Além do Parkinson, a relação benéfica entre café e outras doenças, vem sendo muito estudada atualmente. Pesquisa realizada entre 1980 e 1990 na Universidade de Boston, com mais de 200 mil pessoas, mostrou que quatro xícaras de café por dia podem ajudar a prevenir depressão e suicídio. Nesse caso, o princípio ativo não é a cafeína, mas um grupo de antioxidantes resultantes do processo de torrefação, os chamados ácidos clorogênicos.

Assim como as drogas usadas no tratamento do alcoolismo, essas substâncias também atuam como antagonistas opioides e poderiam ajudar as pessoas a se livrar desta dependência. Vale lembrar, entretanto, que esses estudos se encontram em fase inicial, sendo necessárias mais pesquisas nessa área.

A tecnologia atualmente disponível permitiu descobrir a variedade de substâncias e princípios ativos presentes nessa bebida. Além da cafeína e dos ácidos clorogênicos, o café, ao contrário do que se imaginava recentemente, contém muitos minerais, como potássio, magnésio, cálcio, sódio e ferro.  Entre os aminoácidos estão a alanina, arginina, asparagina, cisteína, ácido glutâmico, glicina, histidina, isoleucina, lisina, metionina e muitos outros. Triglicerídeos e ácido graxos livres constituem os lipídeos, e entre os açúcares, estão a sucralose, glicose, frutose, arabinose, galactose, maltose e os polissacarídeos. Vale lembrar, contudo, que a maioria desses nutrientes pode se degradar se a torrefação for excessiva, exceto a cafeína, que é termoestável.

Como se pode notar essa bebida tão popular no Brasil e malvista em certas épocas e culturas é uma boa fonte nutricional e pode dar um empurrãozinho mental na hora em que mais precisamos. Não há motivos convincentes, portanto, para dispensarmos aquele bom e velho cafezinho.

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DESEMPENHO NO ESPORTE

Embora não haja evidências conclusivas, muitos atletas acreditam que a cafeína melhora o desempenho e aumenta a resistência em atividades que requerem intenso gasto energético. Para alguns pesquisadores, porém, trata-se apenas de uma alteração da percepção do esforço e da disponibilidade física.

Seja como for, uma pesquisa mostrou que corredores que tomaram 300 mg de cafeína (o equivalente a duas xícaras de café) uma hora antes do início do exercício correram em média 15 minutos mais do que os que fizeram o mesmo sem cafeína nas veias. Em outro estudo, ciclistas que consumiram 2,5 mg de cafeína por quilo de peso corporal tiveram rendimento 29% maior que o grupo controle.

Até 2004 a cafeína fazia parte da lista de substancias proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional. Mais de 12 µg/ml de urina – que podem ser facilmente atingidos com a ingestão de cinco xícaras de café – configuravam doping e eliminação da competição.

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RECOMPENSA E RESISTÊNCIA À FADIGA

Produzida em regiões específicas do cérebro, como a área tegmental ventral e a substância negra, a dopamina é o neurotransmissor de excelência do chamado sistema de recompensa. Quando fazemos coisas que nos dão prazer (alimentação, sexo e drogas, por exemplo), ocorre: uma intensa liberação de dopamina numa estrutura conhecida como núcleo accumbens, o que nos motiva a experimentar a sensação outras vezes. Essa estrutura está intimamente relacionada aos mecanismos de dependência e ao abuso de drogas como a cocaína e a heroína.

Alguns estudos já mostraram que, apesar de a cafeína elevar a concentração de dopamina na circulação, ela não interfere no núcleo accumbens. Evidências sugerem, entretanto, que seus efeitos estimulantes dependem de uma transmissão dopaminérgica intacta, particularmente de circuitos mediados por receptores do tipo D2, mas sem afetar o sistema de recompensa; por essa razão a cafeína não apresenta potencial de abuso.

A transmissão noradrenérgica também é afetada pela cafeína e, nesse caso, o efeito é mais duradouro. Essa substância estimula a hipófise a liberar hormônios cuja ação culmina na secreção de adrenalina pelas glândulas adrenais. Resultado: taquicardia, dilatação da pupila, aumento da pressão arterial, dilatação das vias respiratórias, contração muscular, constrição de vasos sanguíneos na região abdominal e maior secreção de lipase, enzima que mobiliza os depósitos de gordura para utilizá-los como fonte de energia – isso reduz o uso de glicogênio muscular, o que aumenta a resistência à fadiga.

CAMILA FERREIRA-VORKAPIK – Bióloga, professora de educação física e pesquisadora do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-motora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

GESTÃO E CARREIRA

O DESAFIO DE UMA NOVA CULTURA

Implementar boas práticas de governança exige mudar velhos hábitos e engajar colaboradores no processo.

O desafio de uma nova cultura

A necessidade de implementar boas práticas de governança cresce a cada dia no ambiente corporativo. Trata-se de uma demanda dos investidores, das autoridades regulatórias e da sociedade em vários âmbitos, os quais exigem mais transparência e responsabilidade social, ambiental e financeira das empresas. A boa governança também é fundamental para a saúde das próprias companhias. Além de proporcionar maior valorização em bolsa, ela reduz o risco de fraudes. Um relatório da Association of Certified Examiners analisou 2.140 casos de fraude no mundo todo, entre 2014 e 2015, que provocaram perdas estimadas em US$ 6,3 bilhões. Em média, cada empresa perdeu US$ 150 mil. Na América Latina e no Caribe, onde foram examinados 112 casos, o prejuízo médio foi de US$ 174 mil.

Mas, se as boas práticas de governança são tão saudáveis para as empresas e para a sociedade, por que elas não são automaticamente adotadas por todos? É que o processo vai além do manual de conduta e do código de ética da empresa. É preciso incorporar esse comportamento à rotina da companhia em todos os níveis hierárquicos. E mudar a cultura interna de uma empresa não é tarefa simples.

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COMPROMISSO DA CÚPULA

O primeiro passo para essa mudança deve ser da alta administração. É ela que representa a influência mais forte na cultura organizacional, e é ela que vai determinar o estímulo às mudanças. Em resumo, a conduta da cúpula da empresa deve balizar o comportamento dos demais níveis da hierarquia, criando um efeito cascata dentro da organização. Afinal, o compromisso e as ações devem ser condizentes com o discurso de mudança, ou não haverá colaboração da força de trabalho. Sem o exemplo de cima, qualquer reforma de governança corre sério risco de virar um documento sem grande utilidade.

Também é preciso contar com profissionais capacitados e um departamento responsável pelo que deve garantir o respeito às regras e aos códigos internos e a adequação de todas as práticas da companhia às normas legais do país em que opera.

Um bom código de ética e conduta e um setor de compliance bem estruturado, no entanto, não são suficientes para garantir a transformação cultural na empresa. É preciso investimento em comunicação e treinamento dos colaboradores para disseminar as novas práticas e sua incorporação no dia a dia do negócio.

Esse processo deve levar à conscientização dos funcionários sobre os novos valores da companhia. Aos poucos, as novas práticas devem ser internalizadas, criando uma consciência coletiva sobre a governança. O discurso deve ser afinado para evitar dissonâncias e as comunicações da alta cúpula devem ser frequentes na fase de implementação.

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MODELO TRANSFORMADOR

Um bom exemplo de transformação no modelo de governança no Brasil é a Petrobras. Nos últimos anos, a empresa vem reformulando suas práticas. Por isso, milhares de profissionais foram treinados, com foco em atividades expostas a riscos como contratação, fiscalização de contratos e comercialização.

O processo começou justamente pelos membros do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva, para servir de exemplo da mudança na política da empresa. Essa ação foi divulgada em amplas campanhas internas para preparar o terreno para a transformação cultural na empresa.

Essa política de engajamento na transformação conta com os próprios funcionários como multiplicadores. No âmbito de seu Programa de Prevenção da Corrupção, a Petrobras conta com 150 profissionais de diversas áreas formados como agentes de Compliance, divulgando e promovendo essa cultura entre os demais. É importante observar que os Agentes não estão vinculados à Diretoria de Governança e Conformidade da companhia. Eles ajudam a identificar riscos e propõem melhorias nos mecanismos de prevenção dos desvios de conduta. E incentivam o debate sobre as leis e o cumprimento das normas internas, com atenção ao combate à corrupção.

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CANAL DE DENÚNCIA

Para que a mudança cultural seja completa, é preciso que os colaboradores sintam confiança de que serão ouvidos caso denunciem desvios de conduta. Essa é uma das tarefas mais delicadas no processo de implementação da boa governança em qualquer empresa.

Para cumpri-la, a Petrobras criou um Canal de Denúncia independente, com funcionamento 24 horas. Esse canal é terceirizado e garante o sigilo do denunciante, que pode acompanhar o desdobramento do caso de forma anônima. Apesar do número expressivo de denúncias, não houve ocorrência de queixas sobre retaliações.

O desempenho da empresa brasileira nesse sentido é algo a se destacar. Uma pesquisa da Ethics & Compliance Initiative nos Estados Unidos apontava, em 2013, que 21% dos trabalhadores americanos que usaram canais de denúncias de suas empresas sofreram retaliações. Já em empresas com programas eficientes de Ética e Compliance, a média caía para 4%. Mais um sinal de que a transparência e a confiança devem ser construídas todos os dias para que o ciclo da boa governança se fortaleça no interior das companhias.

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ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 45-53 – PARTE I

Alimento diário

O Testemunho dos servidores a respeito de Cristo

 

Os principais dos sacerdotes e os fariseus estão aqui tramando juntos, planejando como eliminar a Cristo. Embora este fosse “o grande dia da festa”, eles não compareceram aos serviços religiosos do dia, mas os deixaram à multidão, para quem era comum que estes grandes eclesiásticos transferissem e delegassem as atividades de devoção, se julgassem que estariam mais bem empregados nos assuntos da política da igreja. Eles ficaram na sala do conselho, esperando que Cristo fosse trazido prisioneiro, pois tinham enviado servidores para o prenderem, v. 32. Aqui temos:

I – O que aconteceu entre eles e seus próprios servidores, que retornaram sem Ele, re infecta – sem ter feito nada. Observe:

1. A repreensão que eles fazem aos servidores, por não terem executado a ordem de prisão de que lhes tinham incumbido: “Por que o não trouxestes?” Ele aparecia publicamente, muitas pessoas da multidão estavam desgostosas e os teriam ajudado a prendê-lo, este era o último dia da festa, e eles não teriam outra oportunidade como esta. “Por que vocês negligenciaram seu dever?” Eles se irritaram com o fato de que aqueles que eram seus subordinados, que dependiam deles, e em quem eles confiavam, em cujas mentes eles tinham instilado preconceitos contra Cristo, os desapontassem assim. Observe que os homens perversos se irritam por não poderem realizar o mal que desejam, Salmos 112.10; Neemias 6.16.

2. A razão que os servidores apresentam para a não execução da ordem de prisão: “Nunca homem algum falou assim como este homem”, v. 46. Veja:

(1) Isto era uma grande verdade, pois nenhum homem falava com tanta sabedoria, e poder, e graça, e a clareza convincente, e a doçura encantadora, com que Cristo falava, nenhum dos profetas, não, nem o próprio Moisés.

(2) Os mesmos servidores que tinham sido enviados para prendê-lo tinham sido cativados por Ele, e admitiam isto. Embora fossem provavelmente homens sem nenhum sentido de razão ou eloquência, e certam ente sem nenhuma tendência para pensar bem de Jesus, ainda assim havia tanta evidência no que Cristo dizia, que eles não podiam deixar de preferi-lo a todos os que se sentavam na cadeira de Moisés. Desta maneira, Cristo foi preservado pelo poder que Deus tem sobre as consciências, até mesmo dos homens perversos.

(3) Eles disseram isto aos seus senhores e mestres, que não podiam suportar ouvir qualquer coisa com a tendência de honrar a Cristo e, no entanto, não puderam evitar ouvir isto. A Providência ordenou que isto lhes fosse dito, para que pudesse ser um agravo do pecado deles, e para que fossem envergonhados. Seus próprios seguidores, de quem não se podia suspeitar que estivessem influenciados a favor de Cristo, são testemunhas contra eles. Est e testemunho dos servidores deveria tê-los levado a refletir com este pensamento: “Saberemos nós o que estamos fazendo, quando odiamos e perseguimos a alguém que fala tão admiravelmente bem?”

3. Os fariseus se empenharam em assegurar o apoio dos servidores aos seus interesses, e a produzir neles preconceitos contra Cristo, pois viram que eles começavam a se influenciar por Ele. Eles sugeriram duas coisas:

(1) Que se eles aceitassem o Evangelho de Cristo, eles seriam enganados (v. 47): “Também vós fostes enganados?” O cristianismo foi, desde seu surgimento, representado ao mundo como uma grande trapaça, e os que o aceitavam eram vistos como homens enganados, justam ente quando começavam a deixar de ser enganados. Aqueles que procuravam um Messias com pompa exterior julgavam que os enganados eram os que acreditavam em um Messias que aparecia em pobreza e desgraça. Mas o evento declara que ninguém era mais vergonhosamente enganado, nem era alvo de maior trapaça, do que aqueles que se prometiam riquezas terrenas e dominação secular com o Messias. Veja o “elogio” que os fariseus fazem a estes servidores: “Também vós fostes enganados?’ Que! Homens com sua inteligência, e conhecimento, e posição. Homens que não seriam estúpidos a ponto de serem enganados por cada impostor e professor recém-surgido?” Eles se empenhavam em torná-los preconceituosos contra Cristo, persuadindo-os a pensar bem sobre si mesmos.

(2) Que eles seriam desacreditados. A maioria dos homens, mesmo na sua religião, está disposta a ser governada pelo exemplo dos elementos de classe mais alta.

Estes servidores, portanto, cuja promoção lhes dava um sentido de honra, deveriam considerar:

[1] Que, se porventura se tornassem discípulos de Cristo, seriam contrários àqueles que eram pessoas de qualidade e reputação: ‘”Creu nele, porventura, algum dos principais ou dos fariseus?’ Vocês sabem que eles não creram, e vocês deveriam ser influenciados pelo julgamento deles, e crer e agir, na religião, de acordo com a vontade dos seus superiores. Ou vocês pretendem ser mais sábios do que eles?” Alguns dos principais tinham aceitado Cristo (Mateus 9.18; João 4.53), e mais deles criam nele, mas lhes faltava a coragem para confessá-lo (cap. 12.42). Porém, quando o interesse por Cristo diminui no mundo, é comum que seus adversários o representem como menor do que realmente é. Mas também era verdade que poucos, muito poucos deles, o aceitaram. Observe que, em primeiro lugar, a causa de Cristo raramente tinha os principais dos sacerdotes e os fariseus do seu lado. Ela não precisa de apoios seculares, nem propõe vantagens seculares, e, portanto, nem corteja nem é cortejada pelos grandes homens deste mundo. A renúncia a si mesmo e a cruz são duras lições para os principais dos sacerdotes e os fariseus. Em segundo lugar, o fato de que os principais dos sacerdotes e os fa1iseus não o viam com bons olhos confirmava a muitos seus preconceitos contra Cristo e seu Evangelho. Pretenderão os homens seculares se preocupar mais com as coisas espirituais do que os próprios homens espirituais, ou ver mais na religião do que aqueles que têm por profissão o estudo da religião? Se os principais e os fariseus não creem em Cristo, aqueles que creem nele serão as pessoas mais singulares, antiquadas e mal-educadas do mundo, e sem preferências. Desta maneira, as pessoas são tolamente influenciadas por motivações externas em questões de gravidade eterna, dispõem-se a serem condenadas em nome da moda, e a irem para o inferno como um gesto de cortesia aos governantes e fariseus.

[2] Que eles irão se unir a um tipo vulgar e desprezível de pessoas (v. 43): “Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita”, referindo-se especialmente àqueles que eram influenciados pela doutrina de Cristo. Observe, em primeiro lugar, com que zombaria e desdém eles se referem a estas pessoas: “Esta multidão”, para distingui-los dos que eram o clero, mas, esta gentalha, estas pessoas patéticas, escandalosas e ordinárias, a quem eles desdenhavam a ponto de colocá-las com os cães do seu rebanho, embora Deus as tivesse colocado com os cordeiros do seu. Se eles queriam referir-se às pessoas comuns da nação judaica, estas eram a semente de Abraão, e tinham um concerto com Deus, e não deviam ser mencionadas com tanto desprezo. Os interesses comuns da igreja são traídos quando uma parte dela trama para tornar a outra inferior e desprezível. Se eles queriam referir-se aos seguidores de Cristo, embora fossem, em geral, pessoas de pouca fama, ainda assim, reconhecendo a Cristo, eles revelavam inteligência, integridade e interesse pelos favores do Céu, o que os tornava verdadeiramente grandes e dignos de consideração. Observe que, assim como a sabedoria de Deus frequentemente escolhia elementos humildes, e que eram desprezados, também a tolice dos homens comumente humilhou e desprezou aqueles a quem Deus escolheu. Em segundo lugar, com que injustiça eles os repreendem, como sendo ignorantes da palavra de Deus: “Esta multidão… não sabe a lei”, como se ninguém conhecesse a lei, exceto os que a conheciam por intermédio deles, e nenhum conhecimento sobre as Escrituras existisse, exceto o que saía das suas mentes, e como se ninguém conhecesse a lei, exceto aqueles que observavam seus cânones e suas tradições. Talvez muitos daqueles que eram assim desprezados conhecessem a lei, e também os profetas, melhor do que eles. Muitos discípulos de Cristo, simples, honestos e sem instrução, pela meditação, experiência, orações, e principalmente pela obediência, obtêm um conhecimento mais claro, sólido e útil da palavra de Deus do que muitos grandes estudiosos, com toda a sua inteligência e todo o seu estudo. Assim, Davi veio a ter mais conhecimento do que os velhos e todos os seus mestres, Salmos 119.99,100. Se as pessoas comuns não conheciam a lei, ainda assim os principais dos sacerdotes e os fariseus, entre todos os homens, não deviam tê-las censurado por isto, pois de quem podia ser a culpa, exceto deles mesmos, que podiam tê-las ensinado melhor, mas, em vez disto, removiam a chave da ciência? Lucas 11.52. Em terceiro lugar, a maneira magistral como proferem uma sentença sobre a multidão: ela “é maldita”, odiosa a Deus e a todos os homens sábios, um povo execrável. É interessante que o fato de que a pronunciassem maldita não a tornava maldita, pois a maldição sem causa não virá (Provérbios 26.2). É uma usurpação da prerrogativa de Deus, além de uma grande falta de caridade, dizer a quaisquer pessoas em particular, muito menos a qualquer grupo de pessoas, que elas são reprováveis. Nós somos incapazes de julgar, e, portanto, inadequados para condenar, e nossa regra é: ”Abençoar e não amaldiçoar”. Alguns pensam que eles não queriam dizer nada além de que as pessoas podiam ser enganadas e ludibriadas, mas eles usam estas palavras odiosas: “Esta multidão é maldita”, para expressar sua própria indignação, e para amedrontar os servidores, por terem algo a favor da multidão. Assim, a linguagem do inferno, na nossa época profana, chama de maldita, condenável e desgraçada qualquer coisa que lhe seja desagradável. Pelo que parece, estes servidores tiveram suas convicções confundidas e asfixiadas por estas sugestões, e nunca mais procuraram a Cristo. Uma palavra de um principal ou fariseu influenciará mais a muitas pessoas do que a verdadeira razão das coisas e os maiores interesses das suas almas.

 

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O NINHO EM REFORMA

A Psicologia Positiva Costuma ter uma versão funcional para alguns “problemas” psicológicos. Seria esse o caso da “Síndrome do Ninho Vazio?

Ninho em reforma

Na chamada síndrome do ninho vazio, doença cunhada pelo conhecimento de senso comum para designar a tristeza e o vazio que os pais, (sobretudo as mães) sentem quando seus filhos saem de casa para viver a própria vida. O alerta é também sobre os perigos de se renunciar a si mesma sob aplausos de uma sociedade hipócrita que mitifica a figura da mãe, incentivando (de forma velada, é claro) que essas pobres criaturas substituam (de bom grado) o papel de mulher pelo de mãe, estabelecendo as bases para que no futuro se sintam unidas quando perceberem que seus filhos se sintam traídas quando perceberem que seus filhos seguirão a própria jornada e viverão sua vida (coisa que ela, a pobre mãe da renúncia, não fez, razão pela qual terá grandes chances de viver a tal síndrome).

Mas o que a Psicologia Positiva teria a dizer sobre isso? Bem, devo confessar que desconheço qualquer teoria em Psicologia Positiva que trate desse assunto. Contudo, partindo de minha experiência pessoal, farei aqui algumas reflexões, não com a pretensão de transformá-las em uma explicação científica sobre o tema, mas talvez sim de lançar alguma luz capaz de estabelecer um ponto de partida para futuros estudos mais aprofundados.

Na medida em que todos vivemos em constante metamorfose, o segredo da longevidade de todo e qualquer relacionamento humano é fazê-lo evoluir no mesmo ritmo de transformação de cada uma das pessoas nele envolvidas. Podemos observar isso nos relacionamentos afetivos e nas   relações de amizade. Por que o mesmo não ocorreria no relacionamento entre pais e filhos? É muito comum vermos pessoas que, de fato, se distanciam de seus pais depois que deixam seus lares de infância. Ainda que telefonem semanalmente para eles, estão apenas cumprindo a “agenda social do bom filho”, razão pela qual tais telefonemas se transformam, não raro, em discursos monótonos e vazios de significado.

Quando a nossa evolução acompanha a dos nossos filhos, abrimos as portas para as descobertas, para as possibilidades que o novo contexto nos reserva. Aprendemos que não podemos mais pegar nossos filhos no colo, que já não seria de bom tom escrevermos “meu filhinho querido” nas mídias sociais, e que devemos esperá-los na esquina quando vamos buscá-los na balada. Viver cada uma dessas fases é se preparar para a prova final, quando chega a hora do voo e é preciso que o jovem pássaro se lance ao infinito. É quando o ninho fica vazio. Porém, olhar para o ninho vazio é vê-lo pequeno demais para abrigar o pássaro agora adulto. É ter a certeza de sua incapacidade de acomodar os novos elementos que o desbravar do universo trará para o novo pássaro. Portanto, chorar pelo ninho vazio é recusar-se à transformação e, por isso mesmo (embora paradoxalmente), é o mesmo que garantir o não retorno do pássaro.

Talvez viver esse momento sob a perspectiva da Psicologia Positiva signifique compreender a necessidade de fazermos uma espécie de “reforma” no ninho esvaziado; derrubar paredes, deixá-lo mais arejado e espaçoso, capaz de receber não aquele mesmo jovem pássaro que um dia o abandonou, mas o pássaro que cresceu, que venceu o infinito e que agora traz na bagagem as coisas do mundo que ele ousou desbravar. Trata-se do que chamo de “síndrome” do ninho estendido, uma aventura pra lá de instigante que tenho vivido desde que meu filho mais novo decidiu morar sozinho. Desde então, o ninho está em reforma. E acreditem, por estar mais espaçoso este ninho, já tem abrigado, inclusive, novos pássaros.

 Ninho em reforma.2

LILIAN GRAZIANO – é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área.

graziano@psicologiapositiva.com.br

OUTROS OLHARES

INSULINA EM CÁPSULA

Pesquisadores da Harvard estão perto de uma conquista que se busca desde 1921: testam, com grandes resultados, uma pílula que libertará os diabéticos das Injeções.

Insulina em cápsula

Um trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, pode estar prestes a revolucionar o estilo de vida dos 4.251 milhões de diabéticos no mundo: a insulina em cápsula. Para quem temo tipo1 da doença – auto­imune, em que o pâncreas não produz insulina, o hormônio crucial para regular os níveis de açúcar no sangue-, a única opção é injetar a substância em sua forma sintética sob a pele até quatro vezes por dia. Para os cerca de 90% da população com o tipo 2 – em que o corpo não produz insulina suficiente ou não responde ao hormônio como deveria -, as injeções também podem ser necessárias.

Estudiosos desenvolveram uma fórmula inovadora de transportar o hormônio por via oral. Até então, havia uma série de barreiras naturais no estômago e no intestino que impediam a insulina via oral de chegar à corrente sanguínea e, assim, transportar a glicose no sangue para as células. Por isso, a busca por esse sistema de administração do hormônio tem sido considerada o “santo graal” na pesquisa sobre diabetes desde 1921, quando os estudiosos canadenses Frederick Bantinge Charles Best isolaram a substância em laboratório pela primeira vez. Nessa recente tentativa, os pesquisadores da Harvard inseriram o hormônio em um líquido feito de duas substâncias sabidamente seguras para humanos: a colina (molécula natural presente em vitaminas do complexo B) e o ácido gerânico (usado como aromatizante alimentar). O líquido – chave da nova abordagem – foi então colocado em uma cápsula cujo revestimento a impede de ser dissolvida por enzimas no sistema digestivo. O revestimento – de polímero – dissolve-se quando atinge o ambiente alcalino do intestino delgado, permitindo que só então o líquido que transporta a insulina seja liberado.

Ainda em fase de teste na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas (Seas) John A. Paulson, da própria universidade, a fórmula mostrou-se promissora quando foi usada em ratos: baixas doses de insulina em cápsula promoveram a diminuição nos níveis de açúcar no sangue dos camundongos. “Essa cápsula revelou-se tão eficiente quanto um canivete suíço: dispõe de ferramentas capazes de contornar cada um dos problemas que dificultavam a utilização do hormônio por via oral”, disse Sarnir Mitragotri, engenheiro químico e coautor do estudo. O trabalho foi publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo.

Outra novidade obtida pelo trabalho foi que, ao contrário das soluções de insulina para injeções, que devem ser refrigeradas e se mantêm apenas por algumas semanas, o líquido usado na pílula permaneceu estável por dois meses à temperatura ambiente, e pelo menos por quatro meses quando refrigerado. “Até agora, essa foi uma das mais promissoras pesquisas envolvendo insulina por via oral. Além de alcançar bons resultados quanto à eficácia da ação, mostrou­ se mais durável para o armazenamento”, observa Fabio Trujilho, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Outras equipes de pesquisa pelo mundo estão trabalhando em tentativas de encapsular o hormônio. Contudo, nenhuma formulação eliminou com sucesso todos os obstáculos clínicos. Até agora, não há produto de insulina oral comercialmente disponível. Em países emergentes como o Brasil, em decorrência do estilo de vida da população e do consumo de dietas altamente calóricas, há cada vez mais doentes. Hoje, já são 12,5 milhões os brasileiros com diabetes. O Brasil está em quarto lugar entre os dez países que apresentam maior número de diabéticos.

Apesar dos resultados promissores, a pílula de insulina precisa passar por ensaios clínicos em humanos, o que, de acordo com os autores do estudo, deve acontecer em até cinco anos. Enquanto ela não chega, americanos e europeus – e, em breve, brasileiros – já se beneficiam de outro tipo de insulina indolor: a inalável. Com o nome comercial de Afrezza, o medicamento é uma versão do hormônio em pó, para ser inalado com o auxílio de um aplicador similar a um apito. No entanto, sua ação tem início em apenas doze minutos e, justamente por ser muito rápida, ela não dispensa a aplicação diária da insulina injetável – vantagem apresentada pela pílula em estudo. No Brasil, o Afrezza se encontra em processo de avaliação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a entidade responsável por aprovar a circulação de remédios no país. O lançamento está previsto para ocorrer no primeiro semestre de 2019.

Insulina em cápsula.2

GESTÃO E CARREIRA

A UTOPIA DO VALE DO SILÍCIO

Bilionários americanos do setor de tecnologia embarcam no movimento pela adoção da renda básica universal.

A utopia do Vale do Silício

O tradicional discurso de formatura da universidade Harvard teve um teor político incomum neste último ano. Convidado a falar de suas experiências e valores aos graduandos de uma das mais importantes universidades de negócios do mundo, o bilionário Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, deixou de lado as fronteiras da tecnologia, das redes sociais e do empreendedorismo digital. Escolheu como tema central “a criação de propósito”. E defendeu como caminho uma alternativa ainda polêmica, mas que vem ganhando espaço no mundo: a de que os Estados garantam uma renda mínima a seus cidadãos, independentemente de classe socioeconômica, para que eles deem conta de despesas básicas como alimentação, moradia e saúde. Sim, aqui no Brasil a gente já ouviu um bocado sobre isso, assunto preferido e projeto de vida do ex-senador Eduardo Suplicy, do PT. Virou até folclore, mas, na prática, não saiu do papel: seu projeto de Renda Básica de Cidadania, transformado em lei em 2004, nunca foi regulamentado. Zuckerberg ainda não conversou com Suplicy, mas, na formatura de Harvard, já falou como ele: “Chegou a hora de nossa geração definir um novo contrato social. Deveríamos explorar ideias como a da renda básica universal para garantir que todos tenham segurança para testar novas ideias”.

A proposta de inclinação socialista na boca de um dos homens mais ricos do mundo pode soar estranha. Mas Zuckerberg não é doido, nem está sozinho. Ele faz parte de um grupo de lideranças do Vale do Silício que vêm ampliando a visibilidade de um movimento internacional em favor da renda básica universal, organizado em rede desde meados dos anos 80. Elon Musk, fundador da Tesla, a montadora de carros elétricos que recentemente ultrapassou a Ford em valor de mercado, declarou em fevereiro que o modelo é possivelmente a melhor solução para lidar com a crescente abundância de bens e a escassez de empregos geradas pelas novas tecnologias. Albert Wenger, sócio da Union Square Ventures, empresa de capital de risco com aplicações em companhias como Duolingo, SoundCloud e Kickstarter, escreveu um livro em que defende a ideia, chamado World After Capital (“Mundo pós-capital”, em uma tradução livre). E Sam Altman, presidente da Y Combinator, investidora de estrelas da nova economia como Airbnb, Reddit e Dropbox, não só é favorável ao modelo como está bancando, por meio da companhia que dirige, um experimento do tipo em Oakland, na Califórnia – o projeto começou este ano distribuindo entre US$ 1 mil e US$ 2 mil mensais a cem participantes, e deve crescer para mil participantes nos próximos meses.

O tema é antigo e tem atraído pensadores à direita e à esquerda do espectro político. Formas de renda básica universal são discutidas ao menos desde a Antiguidade. Entre seus defensores ao longo da história estão nomes como o do matemático e ativista político Antoine Caritat, marquês de Condorcet; o político britânico Thomas Paine, um dos signatários da independência dos Estados Unidos; e o pensador John Stuart Mill, autor de Princípios da Economia Política. Em décadas recentes, a ideia atraiu a atenção de economistas liberais como Milton Friedman e Paul Krugman. E por muito pouco não foi implantada pelo governo americano, na década de 70, sob o governo Nixon – com o escândalo de Watergate e a renúncia do presidente, o projeto acabou enterrado. Para muitos liberais, o modelo é atraente por abrir a possibilidade de simplificação dos sistemas de seguridade social e eliminar a burocracia relacionada a eles. Para a esquerda, é uma forma de reduzir desigualdades sociais geradas pelo capitalismo.

UM MUNDO SEM EMPREGO

Mas existe um motivo bem mais inquietante pelo qual o tema se tornou recorrente nas declarações públicas dos bilionários do Vale do Silício. Com novos avanços da tecnologia, incluindo a Inteligência Artificial, são grandes as chances de que muitos postos de trabalho deixem de existir nos próprios anos. E não somente trabalhos de baixa qualificação, como dirigir um táxi. Estudo recente da consultoria McKinsey indica que 45% das atividades hoje remuneradas podem ser automatizadas com tecnologias já demonstradas. Na lista estão trabalhos feitos atualmente por executivos de finanças, médicos e CEOs. Só nos Estados Unidos, essas atividades rendem atualmente cerca de US$ 2 trilhões anuais em salários.

O estudo foi feito lá fora. Mas trata-se de uma realidade cada vez mais presente também no Brasil. Por aqui, há exemplos, como o da EDP, que ilustram a velocidade das transformações em curso. A companhia de energia de origem portuguesa já tem mapeados mais de 190 processos em sua operação no país que pretende robotizar nos próximos três anos. A promessa é a de que os funcionários que antes se dedicavam às tarefas automatizadas sejam realocados ou assumam funções estratégicas. Mas Miguel Setas, presidente da EDP no Brasil, admite que haverá dispensas.

Há no mundo uma intensa controvérsia sobre os efeitos da tecnologia na redução dos postos de trabalho. Uma corrente defende que para cada tarefa extinta surgem outras novas. As novas atividades, contudo, exigirão requalificação técnica, e muitas pessoas que não forem capazes de se adaptar ficarão sem emprego. Basta lembrar os estragos causados pelos luddistas na primeira Revolução Industrial ou, mais recentemente, os protestos de taxistas contra o Uber para imaginar o potencial de confusão que vem por aí. Ter uma renda básica impediria que essa parcela da população ficasse desamparada e pudesse se requalificar ou empreender. Também garantiria a manutenção de um mercado consumidor amplo para dar vazão ao aumento da produtividade. E neutralizaria efeitos sociais negativos das inovações, reduzindo o potencial de críticas aos seus principais beneficiários, as companhias de tecnologia.

Para Martin Ford, futurologista e autor do best-seller Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future (“Ascenção dos robôs: Tecnologia e a ameaça de um futuro sem emprego”), essa revolução das máquinas não é um cenário tão distante. Algo entre 15 e 20 anos. “Pode ser até mais cedo do que isso. Qualquer tipo de trabalho que seja repetitivo e previsível será automatizado. Pessoas com um nível de escolaridade menor são as que estão em maior perigo. Mas cada vez mais pessoas formadas serão impactadas também”, diz Ford. “A questão é: o que você vai fazer, então? Muitas pessoas estão percebendo que algum tipo de renda básica universal seja a melhor solução. E claro, você ouve isso de executivos do Vale do Silício porque são muito próximos da tecnologia e estão vendo o que está acontecendo. Estão preocupados, por isso estão dando atenção ao assunto.”

EMPIRISMO SOCIAL

Em meio ao crescente debate, uma série de projetos de renda básica universal vêm sendo estudados e anunciados ao redor do mundo nos últimos anos. Na Suíça, uma proposta de adoção em escala nacional chegou a ir à consulta popular – onde foi rejeitada, em meados de 2016. Países como Holanda, Finlândia, Quênia e Canadá têm projetos em fase inicial de adoção. Cidades da Escócia e da Espanha discutem a ideia. Mas ainda há um longo caminho pela frente até que iniciativas do gênero sejam adotadas em escala nacional – se é que um dia serão. O número de pessoas contrárias à renda mínima universal ainda é muito maior que o de seus defensores – na Suíça, por exemplo, a ideia foi rejeitada por 77% dos eleitores.

Entre os motivos para isso estão principalmente questões de ordem moral e financeira, além da percepção de que exigiria mudanças culturais e políticas tão grandes que é simplesmente impossível que venha a ser adotada. Segundo os críticos morais, a entrega de dinheiro de forma regular e sem contrapartidas pode ter efeitos psicológicos nocivos sobre a população, como o desinteresse pela busca de trabalho e – dá para acreditar? – incentivo ao vício em drogas. A forma de financiamento, em um momento em que muitos países estão afogados em déficits fiscais, é outra preocupação.

Muitas questões permanecem de fato em aberto. O valor ideal dos pagamentos, a melhor forma de entrega do dinheiro e os efeitos macroeconômicos da adoção em larga escala da renda básica universal são pontos a serem discutidos, admitem seus defensores. Para eles, porém, a dificuldade de adoção é tão grande quanto a enfrentada no passado por ideias consideradas utópicas, como o fim da escravidão, a democracia e os direitos civis. E já há bons indícios de que os receios no campo moral sejam infundados. Um estudo assinado por Ioana Marinescu, professora assistente da Escola Harris de Políticas Públicas da Universidade de Chicago, por exemplo, mostrou que no Alasca, onde funciona o mais amplo e antigo projeto de renda básica universal do mundo, o abandono do trabalho foi irrelevante. Em contrapartida, houve redução no número de internações hospitalares e aumento do consumo e dos níveis de escolaridade da população. O estudante americano Kevin Simmons, de 23 anos, é um exemplo dos efeitos do programa. Ainda bebê, mudou-se do estado de Washington com a família para o Alasca. Durante toda a vida, cerca de US$ 1,2 mil eram depositados anualmente na sua conta bancária sem que ele precisasse fazer nada. Quando terminou o ensino médio, usou o dinheiro para ajudar a pagar a faculdade. Hoje, cursa design de produto em Los Angeles. Simmons conta que muitas famílias não têm as mesmas condições que a dele e usam o dinheiro que recebem para contribuir no pagamento das contas de casa. Mas que nunca chegou a ver alguém depender exclusivamente dos recursos que vêm do fundo, criado em 1976 pelo governo com royalties do petróleo – o programa de renda básica, porém, só começaria a funcionar em 1982. O Alasca, coincidência ou não, é o estado menos desigual dos Estados Unidos.

Na África, outro experimento iniciado no ano passado tem mostrado resultados igualmente positivos, ainda que sobre aspectos diferentes. Ele foi criado para avaliar o impacto da renda mínima sobre a vida de populações inteiras no longo prazo. A ONG americana GiveDirectly, queridinha no Vale do Silício, recebe doações ao redor do mundo e, como o nome bem diz, dá diretamente aos moradores de vilarejos rurais pobres no Quênia – tão pobres que, em alguns deles, comer em público, “ostentar” a comida, é considerado falta de educação. Os pagamentos em dinheiro começaram a chegar a um vilarejo piloto em outubro do ano passado e têm sido usados pelos beneficiários para a construção de casas, compra de gado, redes de pesca ou, simplesmente, comida – o que não seria possível de outra forma. Cada beneficiário recebe cerca de US$ 22 por mês, uma fortuna para os padrões locais.

Hoje, no vilarejo piloto, aproximadamente cem pessoas recebem o dinheiro. No segundo semestre, a iniciativa completa será colocada em prática. Seis mil receberão dinheiro mensalmente durante 12 anos. Um segundo grupo, de 10 mil pessoas, receberá mensalmente por dois anos. E um terceiro, também de 10 mil pessoas, receberá o valor referente a dois anos, mas de uma vez só. A organização quer analisar os efeitos em cada uma das “amostras”. “Nosso principal objetivo é aprender”, diz Joe Huston, diretor financeiro da GiveDirectly. “Se você tem uma renda garantida, esse nível de segurança muda as suas escolhas? Universalidade, ou seja, dar o dinheiro para todos na população, e não só à parte mais vulnerável dela, é importante?”

O resultado desses e de outros programas em fase inicial de implantação servirão de base para o avanço da discussão nos próximos anos. Sejam eles positivos ou negativos. Como coloca o futurista Federico Pistono, autor do livro A Tale of Two Futures (“Um conto de dois futuros”), em sua leitura na plataforma de vídeos TED Talks, ainda não existem evidências suficientes, nem contra nem a favor da renda básica universal. Para ele, é preciso testá-la em populações maiores, realmente representativas, com grupos controle e levando em consideração as diferentes realidades de cada país, durante períodos de tempo mais amplos. “Precisamos de mais informações e de informações melhores”, afirma. “Mas, diante dos desafios, não há por que não tentar.”

Suplicy explica de outro jeito. “A maior vantagem de um programa de renda mínima é do ponto de vista da dignidade e da liberdade do ser humano”, ele diz. “É a moça que não consegue dar de comer em casa para suas crianças e acaba vendendo o seu corpo… É o jovem que, pelas mesmas razões, resolve ser o ‘aviãozinho’ da quadrilha de narcotraficantes… Com o básico, essas pessoas vão ganhar o direito de dizer ‘não’.”

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 37-44

Alimento diário

O Convite do Evangelho

 

Nestes versículos, temos:

I – O sermão de Cristo, com sua explicação, vv. 37-39. É provável que estas sejam somente pequenas indicações daquilo sobre o que Ele discorria, mas nelas estão a essência de todo o Evangelho. Aqui está um convite do Evangelho para ir até Cristo, e uma promessa do Evangelho, de consolo e felicidade nele. Observe: 

1. Quando Jesus fez este convite: “No último dia” da Festa dos Tabernáculos, “o grande dia da festa”. O oitavo dia, que concluía a solenidade, deveria ser uma “santa convocação”, Levítico 23.36. Cristo divulgou este chamado do Evangelho neste dia, porque:

(1) Havia muitas pessoas reunidas, e, se o convite fosse feito a muitos, poderia se esperar que alguns o aceitassem, Provérbios 1.20. Assembleias numerosas dão oportunidade para fazer um bem maior.

(2) As pessoas agora estavam voltando para suas casas, e Ele lhes daria estas palavras para que as levassem consigo como suas palavras de despedida. Quando uma grande congregação está prestes a ser despedida, e prestes a dispersar-se, como aqui, é comovente pensar que, com toda probabilidade, eles nunca voltarão a se reunir, todos, outra vez neste mundo. Portanto, se pudermos dizer ou fazer alguma coisa para ajudá-los a ir ao céu, esta deve ser a hora. É bom estar atento no encerramento de um culto ao Senhor. Cristo fez esta oferta no “último dia da festa”.

[1] Àqueles que tinham se feito de surdos à sua pregação nos dias anteriores desta semana santa. Ele irá testá-los uma vez mais, e se eles ouvirem sua voz, viverão.

[2] Àqueles que talvez nunca viessem a ter outra oferta, e, portanto, teriam interesse em aceitar esta. Haveria meio ano antes que houvesse outra festa, e neste período, muitos deles poderiam já estar em seus túmulos. “Eis aqui agora o tempo aceitável”.

2. Como Ele fez este convite: “Jesus pôs-se em pé e clamou”, o que indica:

(1) Sua grande veemência e persistência. Seu coração se empenhava em trazer as pobres almas para si. O fato de Ele levantar-se e de elevar seu tom de voz eram indicações da intensidade da sua intenção. O amor às almas dá vida aos pregadores.

(2) Seu desejo de que todos pudessem prestar atenção e receber este convite. “Jesus pôs-se em pé e clamou”, para que pudessem ouvi-lo melhor, pois isto é o que qualquer que tenha ouvidos deve se preocupar em ouvir. A verdade do Evangelho não procura cantos, porque ela não teme testes. Os oráculos pagãos eram transmitidos privadamente por aqueles que espiavam e murmuravam, mas os oráculos do Evangelho eram proclamados por alguém que se punha em pé, e clamava. Como é triste a situação do homem, que deve ser importunado para ser feliz, e como é maravilhosa a graça de Cristo, pois Ele irá importunar o homem! “Ó vós todos”, Isaías 55.1.

3. O convite propriamente dito é bastante geral: “Se alguém tem sede”, quem quer que seja, está convidado a vir a Cristo, seja ele nobre ou humilde, rico ou pobre, jovem ou velho, escravo ou livre, judeu ou gentio. Ele também é cheio de graça: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba”. Se algum homem deseja ser verdadeiramente e eternamente feliz, que se dirija a mim, e que seja governado por mim, e Eu me encarregarei de fazê-lo assim”.

(1) As pessoas convidadas estão como sedentas, o que pode ser interpretado, ou:

[1] Como a miséria da sua situação, seja com relação à sua condição exterior (se algum homem estiver destituído do conforto desta vida, ou fatigado com suas cruzes, que sua pobreza e suas aflições o levem a Cristo, obtenha obter aquela paz que o mundo não pode dar nem remover), ou com relação à sua condição interior: “Se algum homem deseja bênçãos espirituais, Ele pode obtê-las de mim”. Ou:

[2] Como a tendência das suas almas e dos seus desejos, de uma felicidade espiritual. Se algum homem tiver sede e fome de justiça, isto é, desejar verdadeiramente a boa vontade de Deus para com ele, e a boa obra de Deus nele.

(2) O convite propriamente dito: “Que venha a mim”. Que não procure a lei cerimonial, que não poderá tranquilizar a consciência, nem purificá-la, e, portanto, não pode aperfeiçoar os que a ela se chegam, Hebreus 10.1. Nem procure a filosofia pagã, que apenas engana os homens, os leva a um bosque e os abandona ali. Mas que procure a Cristo, aceite sua doutrina, seja seu discípulo, creia nele. Venha até Ele como “o manancial de águas vivas”, aquele que dá todo o consolo.

(3) A satisfação prometida: “Que venha ‘e beba’. Ele terá aquilo que veio buscar, e abundantemente. Terá o que não somente refresca, mas abastece, uma alma que deseja ser feliz”.

4. Uma promessa de graça anexa a este convite de graça (v. 38): “Quem crê em mim… correrão do seu ventre”.

(1) Veja aqui o que significa vir a Cristo: significa crer nele, como as Escrituras dizem. E recebê-lo e aceitá-lo como Ele nos é oferecido no Evangelho. Não devemos construir um Cristo de acordo com nossa fantasia, mas crer em um Cristo de acordo com as Escrituras.

(2) Veja como as almas sedentas, que vêm a Cristo, podem beber: Israel, que creu em Moisés, bebeu da pedra que os seguia, e saíram muitas águas, mas os crentes bebem de uma rocha que há dentro deles, Cristo, que está neles. Neles, Ele é uma fonte de água viva, cap. 4.14. A provisão é feita não somente para sua satisfação atual, mas para seu conforto contínuo e eterno. Aqui temos:

[1] “Água viva”, água que jorra, que a língua hebraica chama de viva, porque está em movimento. As graças e os consolos do Espírito são comparados à água viva (com o significado de “em movimento”), porque são os princípios vivificadores ativos da vida espiritual, e o penhor e o princípio da vida eterna. Veja Jeremias 2.13.

[2] “Rios” de água viva, que indicam abundância e constância. O consolo flui tão abundantemente e constantemente quanto um rio, forte como uma correnteza, para suportar as oposições das dúvidas e dos temores. Em Cristo, existe abundância de graça sobre graça.

[3] Estes rios correm do seu ventre, isto é, do seu coração ou da sua alma, que é o objeto da obra do Espírito e o centro do seu governo. Estes princípios de graça são plantados, e do coração, onde habita o Espírito, procedem “as saídas da vida”, Provérbios 4.23. Estes consolos divinos estão arraiga­ dos em nosso ser, e trazem uma alegria na qual nenhum estranho é capaz de interferir. “Quem crê no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho”, 1 João 5.10. Observe, além disto, onde estão as fontes de graça e consolo na alma, de que fluem águas: “Rios de água viva correrão do seu ventre”. Em primeiro lugar, a graça e o consolo irão produzir boas ações, e um coração santo será visto em uma vida santa. A árvore é conhecida pelos seus frutos, e a fonte, pelas suas águas. Em segundo lugar, elas serão transmitidas para o benefício de outros. Um bom homem é um bem comum. ”A boca do justo é manancial de vida”, Provérbios 10.11. Não é suficiente que bebamos as águas da nossa própria cisterna, que recebamos, nós mesmos, o consolo da graça que nos é dada, mas devemos permitir que nossas fontes fluam para o benefício de outros, Provérbios 5.15,16.

Estas palavras: “como diz a Escritura”, parecem referir-se a alguma promessa no Antigo Testamento com este propósito, e houve muitas delas. Como a de que Deus derramaria seu Espírito, que é uma metáfora emprestada das águas (Provérbios 1.23; Joel 2.28; Isaias 44.3; Zacarias 12.10); a de que a terra seca se transformaria em mananciais (Isaias 41.18); de que haveria rios no ermo (Isaias 43.19); de que as almas graciosas serão como um manancial (Isaias 58.11); e de que a igreja é um poço de águas vivas, Cantares 4.15. E aqui pode ser uma alusão às águas saindo do templo de Ezequiel, Ezequiel 47.1. Compare com Apocalipse 22.1, e veja Zacarias 14.8. O Dr. Lightfoot e outros nos dizem que havia um costume, entre os judeus, que eles recebiam por tradição, de que no último dia da Festa dos Tabernáculos houvesse uma solenidade, que eles chamavam de Libatio aquae – O derramar da água. Eles tomavam um vaso dourado de água do tanque de Siloé, traziam-no ao Templo com tocar de trombetas e outras cerimônias, e, na subida ao altar, derramavam-na diante do Senhor, com todas as exclamações de alegria possíveis. Alguns dos seus autores entendem que a água significa a lei, e fazem referência a Isaías 12.3; 55.1. Outros, o Espírito Santo. E se acredita que nosso Salvador aqui possa estar fazendo alusão a este costume. Os crentes terão o consolo, não de um vaso de água apanhada de um tanque, mas de um rio, correndo de si mesmos. A alegria da lei, e o derramamento da água, que isto significava, não devem ser comparados com a alegria do Evangelho nos poços da salvação.

5. Aqui está a explicação do evangelista a esta promessa (v. 39): “Isso disse ele do Espírito”. Não de nenhuma vantagem exterior que se acumule sobre os crentes (como alguns poderiam ter interpretado, de maneira equivocada), mas dos dons, das graças e dos consolos do Espírito. Veja como as Escrituras são os melhores intérpretes das Escrituras. Observe:

(1) A todos os que creem em Cristo, é prometido que receberão o Espírito Santo. Alguns recebiam seus dons milagrosos (Me 16.17,18). Todos recebem suas graças santificadoras. O dom do Espírito Santo é uma das grandes bênçãos prometidas no novo concerto (Atos 2.39), e, se prometidas, sem dúvida realizadas a todos os que se interessam por aquele concerto.

(2) O Espírito habitando e operando no crente é como uma fonte de águas vivas, da qual fluem abundantes correntezas, refrescantes e purificadoras como a água, calmantes e umedecedoras como a água, tornando-o frutífero, e aos outros, alegres. Veja cap. 3.5. Quando os apóstolos falaram tão fluentemente das coisas de Deus, quando o Espírito lhes deu o discurso (Atos 2.4), e posterior mente pregaram e escreveram o Evangelho de Cristo com tal fluência de eloquência divina, então isto se cumpriu: “Rios de água viva correrão do seu ventre”.

(3) Este abundante derramamento do Espírito era ainda tema de uma promessa, pois “o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”. Veja aqui:

[1] Que Jesus ainda não havia sido glorificado. Era certo que Ele seria glorificado, e Ele era realmente merecedor de toda a honra, mas Ele ainda estava em um estado de humilhação e desprezo. Ele nunca tinha perdido o direito à glória que tinha antes de todos os mundos. Na verdade, Ele merecia uma glória adicional, e, além das suas honras, o Senhor podia reivindicar a conquista de uma coroa mediadora. Ainda assim, tudo isto está em reversão. Jesus agora é sustentado (Isaias 42.1), agora está satisfeito (Isaias 53.11), agora é justificado (1 Timóteo 3.16), mas ainda não está glorificado. E, se Cristo deve esperar pela sua glória, não julguemos que é demais termos que esperar pela nossa.

[2] Que “o Espírito Santo ainda não fora dado”, ou pois o Espírito Santo ainda não havia sido derramado. O Espírito de Deus estava presente na eternidade, pois, no princípio, Ele se movia sobre a face das águas. Ele estava nos profetas e santos do Antigo Testamento, e Zacarias e Isabel foram, ambos, cheios do Espírito Santo. Portanto, isto deve ser interpretado como o derramamento eminente, abundante e geral do Espírito, que tinha sido prometido, Joel 2.28, e realizado, Atos 2.l ss. O Espírito Santo ainda não tinha sido dado daquela maneira visível que era pretendida. Se compararmos o conhecimento claro e a forte graça dos próprios discípulos de Cristo, depois do Pentecostes, com suas fraquezas e sua ignorância anteriores, nós compreenderemos em que sentido o Espírito Santo ainda não tinha sido dado. Os penhores e as primícias do Espírito tinham sido dadas, mas a colheita abundante ainda não era chegada. Aquilo que é mais adequadamente chamado de dispensação do Espírito ainda não tinha se iniciado. O Espírito Santo ainda não havia sido dado na forma de rios de águas vivas, como aqueles que regam toda a terra, até mesmo o mundo gentílico, não na dádiva de línguas, a que, talvez, esta promessa principalmente se refere.

[3] Que a razão pela qual o Espírito Santo ainda não tinha sido dado era “por ainda Jesus não ter sido glorificado”. Em primeiro lugar, a morte de Cristo algumas vezes é chamada de sua glorificação (cap. 13.31), pois, na sua cruz, Ele derrotou e triunfou. Agora o dom do Espírito Santo era comprado pelo sangue de Cristo. Esta era a consideração valiosa em que se baseava sua concessão, e, portanto, até que este preço fosse pago (embora muitos outros dons fossem concedidos mediante a garantia de que seriam pagos), o Espírito Santo não seria dado. Em segundo lugar, não havia tanta necessidade do Espírito enquanto o próprio Cristo estivesse aqui na terra, como depois que Ele ti­ vesse partido, para suprir sua falta. Em terceiro lugar, a concessão do Espírito Santo devia ser tanto uma res­ posta à intercessão de Cristo (cap. 14.16) como um ato do seu domínio, e, portanto, o Espírito Santo não seria concedido até que Ele fosse glorificado, e iniciasse as duas coisas. Em quarto lugar, a conversão dos gentios era a glorificação de Jesus. Quando alguns cegos começaram a procurar por Cristo, Ele disse: “É chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado”, cap. 12.23. Agora, o tempo em que o Evangelho seria propagado entre as nações ainda não era chegado, e, portanto, ainda não havia a oportunidade para o dom de línguas, este rio de águas vivas. Mas observe que, em­ bora o Espírito Santo ainda não fosse concedido, Ele era prometido. Esta era agora a grande promessa do Pai, Atos 1.4. Embora os dons da graça de Cristo possam demorar muito, ainda assim estão todos garanti­ dos. E enquanto estamos esperando pela boa promessa, nós temos a promessa pela qual viver, a promessa que “falará e não mentirá”.

 

II – As consequências destas palavras, a recepção que elas encontraram. De maneira geral, elas provocaram divergências: “Entre o povo havia dissensão por causa dele”, v. 43. Houve um cisma, que é o que significa a palavra. Houve diversas opiniões, e houve aqueles que foram movidos pelo calor e pela disputa, sentimentos variados, e que os deixavam em desacordo. Pensamos que Cristo veio trazer paz, que todos iriam unanimemente aceitar seu Evangelho? Não, o resultado da pregação do seu Evangelho seria a divisão, pois, enquanto alguns se unissem a favor dele, outros se uniriam contra ele, e isto iria agitar as coisas, como aqui. Mas isto não é culpa do Evangelho. É como um remédio benéfico que agita os fluidos que são prejudiciais ao corpo, para livrar-se deles. Observe o que foi este debate:

1. Alguns se encantaram com Ele, e ficaram bem impressionados a respeito dele: “Muitos da multidão, ouvindo essa palavra”, ouviram-no com tanta compaixão e gentileza convidando os pobres pecadores para que fossem até Ele, e com tal autoridade convidando-os a serem felizes, que não podiam deixar de pensar muito bem dele.

(1) Alguns diziam: “Verdadeiramente, este é o Profeta”, aquele profeta de que Moisés falou aos patriarcas, que seria como ele. Ou: Este é o profeta que, de acordo com as noções recebidas da igreja judaica, deverá ser o arauto e o precursor do Messias. Ou: Este é verdadeiramente um profeta, alguém inspirado e enviado por Deus.

(2) Outros iam mais além, e diziam: “Este é o Cristo” (v. 41), não o profeta do Messias, mas o próprio Messias. Os judeus tinham, nesta época, uma expectativa extraordinária do Messias, o que os tornava prontos a dizer a cada momento: Eis aqui o Cristo, ou: Ei-lo ali, e isto parece ser apenas o resultado de algumas noções confusas e instáveis que os dominavam em um primeiro instante, pois nós não lemos que estas pessoas tenham se tornado discípulos e seguidores de Cristo. Uma boa opinião a respeito de Cristo está muito aquém de uma fé vívida em Cristo. Muitos dão a Cristo uma palavra boa e nada mais. Estes diziam: “Este é o profeta”, e “este é o Cristo”, mas não conseguiam se persuadir a abandonar tudo e segui-lo. Assim, seu testemunho em relação a Cristo era apenas um testemunho contrário a si mesmos.

2. Outros eram preconceituosos em relação a Ele. Tão logo esta grande verdade de que Jesus era o Cristo foi apresentada, imediatamente foi contradita e combatida. E o fato de que sua origem era (como eles supunham) da Galileia, era considerado suficiente para responder a todos os argumentos de que Ele era o Cristo. “Vem, pois, o Cristo da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi”. Veja aqui:

(1) Um louvável conhecimento das Escrituras. Eles estavam completamente convencidos de que o Messias seria um rebento do tronco de Jessé (Isaias 11.1), e de que de Belém sairia o Senhor de Israel, Miquéias 5.2. Isto até mesmo as pessoas comuns sabiam, pelas explicações tradicionais que os escribas lhes davam. Talvez as pessoas que tivessem estas passagens das Escrituras tão prontas para objetar contra Cristo não conhecessem, da mesma maneira, outras passagens dos textos sagrados, mas estas palavras lhes tinham sido postas na boca pelos seus líderes, para fortalecer seu preconceito contra Cristo. Muitos que podem adotar certas noções corruptas, e desperdiçar seu zelo defendendo-as, parecem ser muito conhecedores das Escrituras, quando, na verdade, sabem pouco além daquelas passagens das Escrituras que lhes foram ensinadas para sua perversão.

(2) Uma ignorância condenável sobre nosso Senhor Jesus. Eles falam como se fosse uma discussão certa e passada que Jesus era da Galileia, embora investigando sobre Ele, ou sua mãe, ou seus discípulos, ou consultando a genealogia da família de Davi, ou os registros de Belém, pudessem ter sabido que Ele era o Filho de Davi, e um nativo de Belém. Mas disto eles são voluntariamente ignorantes. Desta maneira, falsidades flagrantes sobre fatos a res­ peito de pessoas e coisas são frequentemente aceitas por homens parciais e preconceituosos, e grandes decisões se baseiam sobre elas, no mesmo lugar e na mesma época em que vivem as pessoas e ocorrem as coisas, embora a verdade possa ser facilmente descoberta.

3. Outros estavam enfurecidos contra Ele, e o queriam prender, v. 44. Embora o que Ele dizia fosse doce e cheio de graça, eles se exasperavam contra Ele por isto. Assim, nosso Mestre sofreu por dizer e fazer o bem. ”Alguns deles queriam prendê-lo”. Eles esperavam que um ou outro o prendesse, e se tivessem pensado que ninguém o faria, eles mesmos teriam feito isto. Eles “queriam prendê-lo”, mas ninguém lançou mão dele, restritos como estavam por um poder invisível, porque sua hora ainda não era chegada. Assim como a maldade dos inimigos de Cristo é sempre irracional, também algumas vezes sua restrição é inexplicável.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SUTIL ARTE DE ENGANAR

Milhares de mensagens para orientar nossas escolhas nos bombardeiam diariamente. Muitas vezes somos cúmplices involuntários dos artistas da persuasão.

Sutil arte de enganar

Há os que falam em persuasão e os que, de forma explícita, falam em manipulação linguística ou, simplesmente, engano. O fato é que há milhares de maneiras de não dizer a verdade sem mentir. Na sociedade da comunicação, as técnicas midiáticas assumem importância cada vez maior. “Se você não comprar este livro, seu concorrente será o primeiro a fazê-lo” é a clássica frase com que os editores americanos promovem os textos de “psicologia da persuasão”. Mas o objetivo pode ser também alertar o leitor contra os truques empregados pelo persuasor, como no livro The age of propaganda, publicado nos Estados Unidos em 1991, em que os psicólogos Anthony Pratkanis e Elliot Aronson denunciavam a inundação de mensagens manipuladoras que assediam os americanos todos os dias. Mencionemos também Com Sabor de Chocolate, de Matteo Rampin, irônico ensaio escrito com o objetivo de evidenciar – e assim, pelo menos teoricamente, neutralizar – os mecanismos que desencadeiam o condicionamento. O título é sugestivo: um alimento “sabor chocolate” costuma conter pouco chocolate, pois caso contrário isso seria declarado explicitamente. Mas é um detalhe que tendemos a ignorar para grande alegria dos fabricantes, concentramo-nos no conceito de maior apelo. Segundo Rampin, nosso cérebro não reproduz fielmente a realidade exterior, mas a constrói segundo mecanismos que foram selecionados ao longo da evolução porque nos orientam no mundo. Para evitar a análise detalhada de todas as informações que chegam do exterior, a mente procura atalhos: eis porque é tão fácil induzir os outros a erro e até enganá-los deliberadamente”.

“Os truques retóricos que se aproveitam dos automatismos da mente sempre existiram: basta pensar no significado do termo ‘maquiavélico’. E Shakespeare fornece, no Otelo, uma longa lista de exemplos”, explica Cristiano Castelfranchi, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Comunicação, ligado ao Conselho Nacional de Pesquisa da Itália.

O interessante é que tais mecanismos de distorção funcionam mesmo se os conhecemos muito bem. “Sabemos perfeitamente que o prestidigitador não é um mágico verdadeiro, o que não nos impede de sermos vítimas dos mecanismos presentes em nossa mente. Por exemplo, diante de dois objetos em movimento, somos levados a seguir com o olhar aquele que se move mais rapidamente, diz Rampin. É assim que o “mágico” consegue distrair e move velozmente uma mão   para atrair a atenção, enquanto a outra executa o truque rapidamente.  Assim também podem enganar, “como bem sabem os adeptos da guerra psicológica e da propaganda política, explica o psiquiatra e psicoterapeuta. Mas o instrumento mais refinado de mistificação ainda é a linguagem, na qual nos baseamos para construir nosso mundo mental e de relações interpessoais.  “O processo pelo qual a pessoa que fala ou escreve dirige a atenção do interlocutor, empregando determinadas palavras e induzindo-o a ignorar certos conceitos, não é muito diferente do comportamento do prestidigitador”, afirma o psicólogo americano Michael Hall, autor de Mind lines.

Se, por exemplo, uma embalagem anuncia que o produto contém – ou não – determinado ingrediente, somos levados a pensar que isso representa para nós uma vantagem. Mas trata-se de uma dedução nossa: o fabricante limita-se a declarar a presença do ingrediente ou, no máximo, a afirmar que o produto “ajuda” a resolver certo problema. No entanto, o fato de que, para darmos mais um exemplo, determinada água mineral facilite a diurese ou a eliminação de toxinas não significa que seja um produto excepcional, pois essa é uma característica comum, em maior ou menor grau, a toda água potável. E um produto que “não contém” lactose, colesterol ou qualquer outro ingrediente não se torna, necessariamente (a menos que soframos de alguma intolerância em relação a eles), mais benéfico. Como observa Castelfranchi, “se a informação vier expressa tendemos a pensar que tal característica é digna de atenção: pelo menos é assim que nosso cérebro raciocina.

 

A PALAVRA FAZ A FORÇA

“Segundo os psicolinguistas   ‘dizer é fazer”, lembra Rampin, “e, nesse processo de construção da realidade mediante a palavra, a forma muitas vezes conta mais que a substância”. Um exemplo retirado de Com sabor de Chocolate ilustra a questão. Se promovo meu jornal com o seguinte slogan “Leia a Gazeta. Descubra a verdade”, não sou obrigado a respeitar códigos normativos rígidos, e o leitor é induzido a criar automaticamente um nexo lógico entre as frases, interpretando-a como “Leia a Gazeta e descobrirá a verdade”.

Castelfranchi acrescenta: “Pensemos nas propagandas de sabão em pó que afirmam que nenhum outro produto lava mais branco”. Interpretamos a sentença no sentido deque o sabão em questão é o melhor do mercado. Mas levando em conta o significado literal do que é dito, diversos produtos podem ser todos iguais, se digo ‘nenhum lava mais branco’ que meu produto não excluo que outros possam fazer o mesmo. Dessa forma se obtém um efeito semelhante ao da publicidade comparada, evitando-se, porém, a necessidade de provar a afirmação.

O problema é não conseguir desconfiar, nem mesmo quando deveríamos por que damos ouvidos ao vendedor que conta as vantagens de seu produto se, obviamente, ele é parte interessada? “Podemos nos consolar pensando que o mesmo vendedor será enganado por outro, há uma espécie de pacto de indulgência mútua que sustenta a sociedade”, comenta Rampin. Esse mecanismo está enraizado em nossa cultura. “O psicólogo da linguagem Paul Grice foi o primeiro a afirmar que os seres humanos agem conforme o ‘princípio da boa-fé, segundo o qual quem comunica algo, tende a transmitir informações verdadeiras e relevantes ao interlocutor”, explica Castelfranchi. Segundo ele, esse princípio foi muito criticado, mas de fato todo ser humano, quando não tem motivo específico para mentir, tende a dizer a verdade e o interlocutor, se não tiver bons motivos para duvidar, tende a acreditar no que ouve: a troca de informações é uma das bases da sociedade.

Dado que cada um de nós só pode ter acesso direto a uma pequena parte das informações necessárias à sobrevivência, o “altruísmo cooperativo da comunicação’ é elemento fundamental na história de nossa espécie. Isso não é menos verdade nas fases históricas, como esta em que vivemos, nas quais a confiança tende a ser mais rara, pelo menos em certos contextos: se outrora um aperto de mão bastava para sinalizar o acordo, agora necessitamos de um complexo contrato. Para Castelfranchi, algo similar está ocorrendo na internet, em que a abertura total e a falta de controle estão colocando em crise a confiabilidade da informação. Também porque a internet desintegra a comunidade, anulando os mecanismos de garantia que são a base das sociedades de dimensões mais reduzidas, nas quais os indivíduos se conhecem e têm uma reputação “a zelar”.

Mas mesmo em nossa desconfiada sociedade as palavras podem exercer efeitos quase mágicos. Hellen Langer, psicóloga da Universidade Harvard, mostrou experimentalmente que as pessoas estão mais dispostas a ceder seu lugar na fila – para tirar uma cópia, por exemplo – se o pedido for acompanhado de uma explicação, independentemente da validade desta. Frases como “posso passar na sua frente, vou fazer apenas uma cópia” ou “posso passar na frente? Estou muito atrasado” produzem um efeito que o pedido puro e simples não geraria. O psicólogo americano Robert Cialdini, da Universidade do Arizona, definiu os seis critérios que levam alguém a se deixar influenciar.

As pessoas que nos sugestionam são as que nos parecem simpáticas ou que pertencem ao nosso “grupo de pares”, as que parecem ter prestígio (pessoas endividadas, mas vestidas com elegância, são admiradas),as que nos envolvem em seus projetos (se assinarmos uma petição por uma causa, seremos mais inclinados a contribuir), as que nos oferecem algo, seja um presente, seja simplesmente atenção, as que propõem um bem que percebemos como raro ou precioso.

Mas há ainda outros tipos de astúcia. Podemos enganar dizendo a verdade: se a embalagem informar que os biscoitos “não contêm nitrato”, aponta Rampin, dirá a verdade. Mas com isso leva-se o consumidor a pensar que os produtos concorrentes contêm nitrato, “algo que não é verdade, ou ao menos se espera que não seja”. Castelfranchi acrescenta que por vezes nos limitamos a insinuar:  “Vi sua esposa em um carro com fulano’, deixando que nosso interlocutor extraia do que dizemos uma dedução pela qual, pelo menos em tese, não nos responsabilizamos”.                 Rampin chega a falarem “comunicação hipnótica”: Quando pensamos em hipnose nos vem à mente a imagem de uma pessoa em transe, com um pêndulo oscilando diante dos olhos. Mas, na verdade, há formas leves de transe que se apresentam espontânea e diariamente, por exemplo quando ‘sonhamos de olhos abertos,’ e que podem ser induzidas pela comunicação linguística apropriada”. Em tais casos é difícil distinguir entre retórica, poesia e hipnose: é a isso que nos referimos quando dizemos que um orador é “magnético” ou encantador.

E ainda mais se a pessoa for considerada como prestigiosa, um critério tão subjetivo (há os que dizem “acredito porque ouvi na televisão”) quanto falacioso. Castelfranchi salienta que “pode ser correto sustentar, como ocorre frequentemente, que algo que ‘todos dizem’ tem, por esse motivo, grande chance de ser verdadeiro, mas desde que a notícia tenha chegado de fontes independentes e não seja, por exemplo, a simples repetição, por vários jornais, de notícia divulgada por uma agência: é dessa forma que nascem as lendas urbanas, cuja característica é justamente não ter testemunhas oculares identificáveis”.

O poder da ciência em nos tranquilizar é ainda maior: um produto “clinicamente testado” parece oferecer por si só uma garantia, ainda que o importante seja, na realidade, o resultado do teste, para não falar do tipo de pergunta formulada, da amplitude e validade das amostras. Pelo mesmo motivo, tendemos a confiar nos números, mesmo quando eles proporcionam informações inúteis: Por exemplo, “contém menos 15% de sódio”, mas em relação a quê?  Interpretamos as estatísticas de modo favorável à intenção de quem as fornece, mas, como explica Rampin, “um contexto diferente pode dar aos mesmos números um significado bem diverso”.

Alguns psicólogos discordam da equivalência de persuasão e manipulação. Castellranchi considera mais apropriado falar de manipulação “quando estamos diante de um verdadeiro embuste, quando a pessoa quer influenciar o interlocutor sem que este saiba. Hoje, por outro lado, a publicidade mais sofisticada não se baseia na linguagem do engano, mas na sugestão, associando imagens atraentes ao produto que quer promover, de modo a evocar uma mensagem sem explicitá-la”.

Felizmente, as reações de nossa mente à linguagem também podem ser exploradas para o bem. Ser ludibriável, explica Rampin, significa ter um cérebro dotado de plasticidade, e é isso que nos permite compreender as experiências alheias. Se é verdade que vivemos no interior de uma ilusão tomada por realidade, então é possível modificar uma ilusão que nos faz sofrer e substituir por outra. Este é o princípio de muitas formas de psicoterapia. “Mas neste caso,” conclui Rampin, não há manipulação, pois é o paciente que pede para mudar e o terapeuta obedece a rigorosas normas profissionais.

OUTROS OLHARES

EPIDEMIA DE MENTIRAS

Praga na política, as fake news também se tornaram um caso grave de saúde pública. Emagrecimento, câncer e diabetes são os temas preferenciais das enganações.

Epidemia de mentiras

Ao ser diagnosticado com diabetes, em 2013, o comerciante Augusto Simeoni, hoje com 59 anos, ouviu a orientação de tomar comprimidos diariamente, equilibrar a alimentação e fazer exercícios. Com o nível de glicemia em jejum na alarmante casa dos 600 miligramas por decilitro de sangue (seis vezes o limite para uma pessoa saudável), Simeoni não pôs em prática as recomendações. Mas seguiu à risca uma dica que achou na internet: ingerir um copo de baba de quiabo com água todas as manhãs. “Parecia uma gosma com clara de ovo, então eu respirava fundo e bebia numa golada só”, rememora ele. A fórmula mágica, que eliminaria a doença, naturalmente não funcionou. No início deste ano, a desinformação lhe custou caro: Simeoni teve um dedo do pé esquerdo amputado, depois que uma pequena ferida, “menor que um grão de feijão”, não cicatrizou devido à glicemia fora de controle.

Grave em qualquer área de conhecimento, a profusão digital de textos e vídeos enganadores pode se tornar letal quando o alvo é a saúde. Só a mentira da baba milagrosa teve mais de 485.000 compartilhamentos (sim, quase meio milhão!) em uma página do Facebook que tem o suspeitíssimo nome de Denúncia Online Internacional. Publicado em 2013 (e até hoje no ar, multiplicando-se como vírus de gripe no inverno), o post é um bom exemplo de como são construídas as mentiras on-line. A falsa notícia da baba de quiabo surgiu depois da participação de estudantes em um concurso de ciências no programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, em 2013. O grupo apresentou um experimento com oito diabéticos em que mostrava que a baba de quiabo ajudava a reduzir o açúcar no sangue – conclusão semelhante à de algumas pesquisas preliminares. No entanto, a meleca vegetal não pode ser usada como antídoto. Na TV, Luciano Huck, apresentador do programa, deu um prêmio de 30.000 reais aos garotos, mas fez a ressalva alertando o telespectador para “jamais trocar seu remédio pela água de quiabo”. Na internet, porém, o que era um experimento virou santo remédio – e a baba de quiabo acabou vendida como cura para uma doença incurável, que só em 2016 matou mais de 61.000 pessoas no Brasil. Entre outras barbaridades, o post de 2013 prometia, em mau português: “Diabete vai sumir e suas injeções nunca mais. Tudo foi Deus quem criou”.

As fake news transformaram-se em uma grave questão de saúde pública. Por redes sociais, sites de busca e aplicativos de mensagens espalham-se milhares de receitas infalíveis, alimentos superpoderosos, estudos inexistentes ou distorcidos e outras enganações. O Ministério da Saúde, que monitora notícias falsas desde o surto da gripe H1N1 em 2009, montou no ano passado uma equipe com a função exclusiva de escarafunchar, ao longo do dia, tudo o que é publicado sobre enfermidades na web.

Em 2017, o time identificou 2.200 invenções. No primeiro semestre deste ano, cerca de metade disso já caiu no pente-fino.

O mais perverso: doenças graves, que assolam e matam milhões de brasileiros, são justamente as mais usadas para fisgar leitores desavisados. Um levantamento inédito recolheu 3.000 notícias sobre saúde em seis páginas do Facebook que se notabilizaram por difundir falsidades na área da medicina. Destas, selecionamos cerca de 1.000 que tiveram maior número de compartilhamentos. Entre elas, descobriu-se, com a ajuda de médicos consultados pela revista, que cerca de um terço divulgava falsidades inquestionáveis. Os temas mais frequentes na lista de fake news foram dieta para emagrecer, câncer e diabetes. O Facebook argumenta que trabalha em parceria com agências de checagem de dados e universidades para identificar mentiras na rede e reduzir o alcance dessas publicações. Claramente, é um trabalho que deixa a desejar.

A página do site Cura pela Natureza, com 3,5 milhões de fãs, é a mais popular entre as analisadas. De nome aparentemente inofensivo, é uma bomba. Traz dicas como “beba isto (refere-se a um suco feito com pepino, limão e salsa) por trinta dias para perder até dezesseis centímetros de barriga”. A mistura pode não ser nada calórica, mas não tem o poder de dizimar a gordura do organismo. “As pessoas querem a solução mágica da água com limão mantendo sua alimentação como antes. Não vai funcionar”, alerta a nutricionista Jéssica Borrelli, que atende em uma clínica particular. Outra mentira divulgada pelo Cura pela Natureza é uma suposta dieta que “mata o câncer e destrói o diabetes” à base de alimentos como brócolis e couve. Ela teve mais de 1300 compartilhamentos. Mas o alcance vai além do Facebook: o Cura pela Natureza está hospedado dentro do portal R7, ligado à TV Record, que destaca seus conteúdos no menu principal da homepage e nas redes sociais. Procurado, o R7 não quis comentar a parceria com o site.

Outra página carregada de mentiras perniciosas saiu do ar há cerca de um mês. Batizada de Bruno Gagliasso Amor e Fé, embromava duplamente seus cerca de 300.000 seguidores alternando manchetes forjadas (de assuntos que iam de saúde a eleições presidenciais) com fotos da vida privada do galã da Globo, dando a entender que ele próprio fazia as atualizações. Não se sabe a razão que levou os autores a tirá-la do ar. Bruno Gagliasso, que nada tem a ver com a página, diz que não entrou na Justiça. O Facebook, por sua vez, não informa se a removeu do ar ou se os autores tomaram a iniciativa de fazê-lo.

Quem sai das redes sociais e se aventura pelo Google, o maior site de buscas da internet, encontra o mesmo ambiente infectado por mentiras. fizemos uma procura com os termos “cura do diabetes”. Para evitar que o algoritmo do Google levasse em conta o histórico de navegação da reportagem, a pesquisa foi feita através de uma janela anônima. Resultado imediato: dois vídeos perigosos. O primeiro deles, com mais de 3 milhões de visualizações, aplica um truque explícito. Para ganhar credibilidade, abre com um depoimento do respeitado médico Dráuzio Varella, mas, em seguida, apresenta informações sobre a cura definitiva através de uma dieta que envolve o consumo de óleo de coco – uma completa invenção. O segundo vídeo vende a cura (“em poucos dias”) ao misturar uma insólita lista de ingredientes, como pimenta dedo-de-moça, ovos crus e sal do Himalaia.

Na busca por “cura do câncer”, dois dos cinco primeiros links oferecidos pelo Google são mentiras. Um exemplo: “Ela descobriu a cura do câncer em 1951, mas eles escondem isso de você”, sugerindo uma dieta exclusivamente vegetariana para curar o mal. Consultado sobre sua responsabilidade, o Google afirma que adota medidas como a redução do fluxo de audiência e publicidade em sites mal-intencionados. Além disso, a companhia mantém no Brasil uma parceria com o Hospital Albert Einstein, que produz quadros com informações relevantes sobre doenças pesquisadas. O resultado, porém, é bastante tímido: o espaço do Einstein não destaca o nome do centro médico nem diz que, ali, as informações são 100% confiáveis.

O ponto sensível é que, quando um embuste e um texto fidedigno são colocados lado a lado, o primeiro tende a reluzir mais que o segundo. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publicaram em março, na revista científica Science, uma análise de126.000 mensagens divulgadas no Twitter entre 2006 e 2017 por mais de 3 milhões de pessoas. A conclusão: a probabilidade de as fake news serem compartilhadas é 70% maior que a de uma notícia verdadeira. Não é difícil entender o porquê. “Vende-se um sonho de resposta rápida a pacientes de uma doença de tratamento demorado”, diz a dermatologista Íris Florio. Na página Bruno Gagliasso Amor e Fé, por exemplo, afirmava­ se que médicos cubanos haviam descoberto como acabar com o vitiligo com uma receita simples.

A adesão às inverdades médicas on-line guarda semelhança com algo notório quando os temas são política ou moral. “As pessoas tendem a acreditar no que reforça seus medos e suas ideias preconcebidas”, observa a pediatra Nina Shapiro, pesquisadora da Universidade da Califórnia, autora de Hype, livro a respeito de mitos difundidos entre pacientes, sem tradução para o português. “Para piorar, muitas fake news sobre saúde partem de algum fator verdadeiro, que se torna perigoso ao ser exagerado.”

Tome -se a patacoada segundo a qual a vacina contra sarampo, rubéola e caxumba provoca autismo. Duas décadas atrás, a prestigiada revista Lancet publicou artigo do então médico inglês Andrew Wakefield com dados de uma pesquisa com doze crianças que tinham traços da patologia. Em comum, anunciou o pesquisador, elas carregavam no corpo vestígios do vírus do sarampo – causado, supostamente, pela vacina. Bastou a afirmação espalhar-se para cair a imunização de crianças contra o sarampo em diversos países. Mais de vinte estudos científicos foram publicados desde então, todos desmentindo a relação da vacina com o autismo, mas o estrago continua. Passados dez anos, após a descoberta de um erro do estudo – nenhum dos menores tinha, na verdade, vestígio de sarampo -, a Lancet se retratou sobre a pesquisa, cujo conteúdo, ressaltou, era “totalmente falso”. Wakefield perdeu o registro profissional, mas o mito reverbera até hoje.

E chegou ao Brasil, que já foi exemplo mundial pela sua capacidade de fazer campanhas de vacinação em massa bem-sucedidas. Graças a essa competência, o país livrou-se da febre amarela urbana em 1942, da varíola em 1971, do tétano neonatal em 2003 e, mais recentemente, da rubéola. A poliomielite, que causa a paralisia infantil, está eliminada do Brasil desde 1989. Hoje em dia, porém, em parte por causa da disseminação de fake news que dizem que vacina faz mal e outras tolices, o Brasil está deixando de ser exemplo e, pior, está lidando com a possibilidade da volta de algumas doenças – inclusive da poliomielite. Segundo alerta feito pelo governo na terça-feira 3, cidades com cobertura vacinai abaixo de 95% estão em risco – na Bahia, por exemplo, em 15% das cidades a taxa é de apenas 50%. No início do ano, a campanha de vacinação contra a febre amarela em São Paulo começou como um fracasso. De acordo com os cálculos do infectologista David Uip, secretário de Saúde de São Paulo na época, a boataria digital foi um dos principais motivos para que até abril, no auge da transmissão, a dose tenha sido distribuída a apenas 5 milhões dos 9 milhões de pessoas pretendidas pelo governo. Quem compartilha essas irresponsabilidades faz vítimas como Amanda Canabarro, de 29 anos, hoje estudante de nutrição, que se submeteu a várias receitas espalhadas pela internet para tentar curar um câncer de mama descoberto quando tinha 27 anos. Chegou a tomar 3 litros de suco de graviola religiosamente todos os dias, mas nada reduziu o tamanho do tumor, então com 6,7 centímetros. Hoje, graças ao tratamento correto, seu tumor tem poucos milímetros. A advogada Krishna Caron, de 41anos, fiou-se em uma prescrição furadíssima encontrada no Google: consumir gotas de azeite com canela antes das refeições para emagrecer. “Não deu certo, e só perdi peso quando busquei uma nutricionista”, diz.

Essa crise de comunicação na saúde pública tem um importante ponto cego: as mensagens que se alastram por WhatsApp, no qual é impossível medir o tamanho dos boatos. Por isso o aplicativo é conhecido no meio digital como dark social (rede social escura). Para minimizar o problema, o WhatsApp anunciou um teste: o destinatário é informado se o texto que recebeu foi escrito por seu remetente ou está sendo apenas encaminhado. É um tímido paliativo, como tem acontecido com medidas adotadas pelo Facebook e pelo Google, pois as mentiras não deixam de circular nem são rastreadas. ”As iniciativas são positivas, mas, na prática, o número de notícias verificadas a cada dia não faz nem cócegas perto de tudo que é falso”, pondera o pesquisador Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo, referência acadêmica do país no tema.

O único remédio realmente eficaz contra esse mal é o acesso a dados confiáveis. Assustada com o número de pacientes que apresentavam dúvidas baseadas em aberrações lidas na web, a psicóloga Luciana Holtz, presidente do instituto Oncoguia, criou uma força-tarefa para combater a ignorância. O projeto Rede Causadores Oncoguia foi lançado em dezembro passado e já tem 33 pacientes treinados. A estudante Sonia Niara, de 27 anos, que lutou contra um linfoma há seis anos, é uma das “influenciadoras” autorizadas pelos especialistas da ONG a difundir fatos confiáveis e desmentir rumores a respeito da doença. Em vídeos divulgados no YouTube e nos textos de seu blog, a jovem fala de autoestima a cuidados na alimentação. “Quando recebemos o diagnóstico, queremos saber duas coisas: como é o tratamento e qual a chance de cura. Estou aqui para oferecer respostas certeiras.” Há alguns espaços para enviar dúvidas específicas. Nada, é claro, substitui a conversa entre médico e paciente. Também é preciso atentar para o veículo que está difundindo a informação. Num ambiente conectado, no entanto, a responsabilidade é sempre coletiva. Se o Google ou o Facebook ainda não conseguiram enfrentar a praga das fake news, os usuários da rede que as compartilham também estão ajudando a manter o problema. Estudo realizado pelo Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, em dezembro de 2016, mostrou que 60% dos entrevistados compartilham notícias pelas redes sociais depois de ler apenas a manchete. Agir assim hoje em dia é correr o risco de fazer mal à saúde de alguém.

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GESTÃO E CARREIRA

A QUÍMICA DA MENTE PRODUTIVA

Novos estudos sobre o cérebro inspiram grandes empresas a repensar a maneira como buscam formar equipes de alto desempenho.

A química da mente produtiva

Estatísticos, psicólogos e engenheiros dedicam-se há mais de uma década a uma das metas mais ambiciosas da gigante de tecnologia Google, segunda empresa mais valiosa do mundo. Eles buscam decifrar uma questão quase existencial, sem resposta definitiva, que interfere diretamente nos resultados de qualquer companhia: qual é a fórmula de sucesso de funcionários eficientes? Mais do que isso, o que explica a química de equipes que dão bons resultados? No final de 2014 começaram a ser compartilhadas internamente as primeiras conclusões do estudo, conhecido pelo codinome Projeto Aristóteles, em homenagem à máxima do filósofo grego de que “o todo é maior do que a soma de suas partes”. A frente contemplou a investigação de 180 equipes dentro da empresa, as quais, com rigor científico, buscaram padrões que diferenciassem os melhores grupos nos mais variados aspectos. Em geral, seus integrantes tinham os mesmos interesses? Cultivavam amizade fora do escritório? Nenhuma das correlações desse tipo, no entanto, comprovou-se estatisticamente. A química dos times mais bem-sucedidos, concluíram os pesquisadores, está relacionada, sobretudo, a como as pessoas se sentem na dinâmica do trabalho, influenciadas por aspectos como a frequência e a clareza do feedback entre chefe e subordinado e até mesmo pelas expressões faciais durante os diálogos. A fórmula gira em torno do que foi batizado de “segurança psicológica”. Em outras palavras, quando os funcionários estão à vontade para expor opiniões sem ser alvo de críticas, sentem-se livres de ameaça, são informados sobre o que se espera deles e ficam confortáveis em pedir ajuda.

O resultado deu origem a uma lista de recomendações que começa com a importância de manter contato visual nas conversas com os membros da equipe e vai até evitar buscar culpados para os problemas, focando as soluções. Presidente mundial do Google desde 2015, Sundar Pichai tornou-se o maior divulgador das novas práticas. Numa empresa formada majoritariamente por engenheiros que torciam o nariz para teorias clássicas de administração, a conclusão ganhou força não somente pela base estatística da própria companhia como também por encontrar eco em recentes descobertas da neurociência. Inconscientemente, segundo os pesquisadores, estamos o tempo todo buscando recompensas e tentando nos proteger de ameaças, um episódio que provoque a sensação de insegurança inunda o corpo com hormônios do estresse, interferindo no funcionamento da parte do cérebro, o córtex, responsável pela atenção e pelo raciocínio, fatores fundamentais para o bom desempenho de qualquer indivíduo, por mais brilhante que seja. Por outro lado, as recompensas desencadeiam a produção de dopamina, neurotransmissor ligado a foco, memória, entusiasmo inclinação para assumir riscos. O economista e neurocientista Paul Zak, diretor do centro de estudos em neuroeconomia na Universidade Claremont, estuda desde 2001 a relação do hormônio ocitocina – estimulado em equipes nas quais os integrantes confiam uns nos outros – com o aumento da criatividade, da capacidade de colaboração e da disposição de se submeter a sacrifícios. “Descobrimos que a ocitocina é a base das relações de confiança”, disse Zak. “E a confiança gera lucro.”

A obsessão por desvendar o código da eficiência individual – e das equipes – sempre existiu. A diferença é que nunca houve tantas possibilidades de obter confirmação científica para o que a experiência demonstrava na prática. O princípio das necessidades básicas do ser humano, difundido pelo psicólogo Abraham Maslow nos anos 50, como as fisiológicas e o senso de pertencimento, ainda guia empresas de todos os portes e origens. À parte evidências empíricas, porém, havia poucos argumentos para defender a relevância de certos aspectos, em detrimento de outros, na formação de times produtivos.

As análises vêm ganhando um novo componente científico com o advento da ressonância magnética funcional, criada há 27 anos, que mostra nas imagens o aumento do fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro em reação à variados estímulos externos. Existem mais de 85 bilhões de neurônios no cérebro humano. O ritmo do trabalho de decodificá-los dobra a cada sete anos desde os anos 50 – ainda assim, pesquisadores afirmam que estamos só no início. Um dos temas preferidos dos neurocientistas tem sido justamente o comportamento humano. Na última década, a psicologia passou do sexto para o primeiro lugar na lista de temas mais pesquisados por especialistas em cérebro. No campo da economia, os estudos já demonstraram que as pessoas tomam decisões irracionais baseadas em vieses, crenças e emoções, como os conduzidos pelo psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002 pelo conjunto de seu trabalho em parceria com o também psicólogo Amos Tversky (morto em 1996). Em 2017, o vencedor foi o economista americano Richard Thaler, por pesquisas que aprofundaram os mecanismos irracionais das decisões humanas. Na gestão de empresas, embora seja um campo que apenas começa a ser explorado, companhias pioneiras, como Google, Microsoft e a consultoria de gestão McKinsey, já se valem do que está sendo chamado de “neurociência organizacional”.

Parte das novas descobertas apenas reforça o bom senso – apesar de não ser bem isso o que se vê na prática. É o caso da importância da clareza na comunicação de metas e decisões, para reforçar o mesmo aspecto da segurança psicológica descrita pelo time do Google e por diversos pesquisadores. Estudos mostram que só 10% dos funcionários sabem qual é o papel deles na estratégia das empresas em que trabalham. Também não é novidade que comer e dormir bem é fundamental para ter um bom desempenho. Mas a neurociência hoje é capaz de provar que, a ausência desses cuidados compromete inclusive a habilidade de tomar decisões ponderadas. A primeira condição para não afetar a capacidade cognitiva de uma pessoa é ter um sono de qualidade que passe pelos diferentes ciclos de ondas cerebrais, e não do tipo que acorda várias vezes durante a noite”, diz a psiquiatra britânica Tara Swan, que trocou o trabalho em hospitais, há quase dez anos, para fundar uma consultoria especializada em atender companhias que passam por grandes mudanças e executivos submetidos a altos níveis de pressão. Segundo ela, para desenvolver resiliência, é preciso entender e cuidar da saúde cerebral. Nos dois cursos de extensão que leciona desde 2014 na faculdade de administração do Instituto Tecnológico de Massachusetts, Tara promete ensinar a criar um padrão mental voltado para o crescimento e para a resiliência.

Hoje, sabe-se que o cérebro usa de um quarto a um terço da energia oriunda do que uma pessoa come. Cerca de 2 horas depois da digestão, o órgão já não consegue ter seu melhor desempenho. Tara afirma que há pesquisas sobre juízes tomando decisões mais severas em relação aos réus quanto mais distantes estavam do horário em que haviam feito uma refeição. Logo depois de se alimentar, estavam mais abertos a ouvir e ponderar. Outros estudos revelaram que o estresse crônico, entre outros efeitos prejudiciais, diminui o tamanho dos telômeros, um componente dos cromossomos que protege o DNA, e isso aumenta o risco do desenvolvimento de diversas doenças. Uma delas a depressão, que, segundo a Organização Mundial da Saúde, superou as doenças respiratórias e, em 2017, tornou-se a principal causa de afastamento do trabalho no mundo. É um problema que cada vez mais empresas enfrentam, por isso muitas delas oferecem aos funcionários uma linha telefônica com psicólogos, assistentes sociais, jurídicos e financeiros para ajudar a resolver, de forma anônima, problemas pessoais ou ligados ao trabalho. Segundo uma pesquisa da consultoria Willis Towers Watson, 60 % das grandes empresas no mundo e 98% nos Estados Unidos têm serviços como esse. Na América Latina, só 35% oferecem esse apoio. No Brasil, dois exemplos são a corretora de seguros AON e a Ticket, empresa de benefícios do grupo francês Endered. Na Ticket, a mudança ocorreu há três anos, no contexto de uma grande mudança que vem conduzindo para adotar uma cultura de bem-estar. Outras medidas foram trocar os lanches disponíveis e o cardápio do refeitório para incluir opções mais saudáveis e introduzir aulas de pilates – modalidade escolhida pelos funcionários – após o expediente.

Pesquisas demonstram que mudanças positivas no estilo de vida – dieta, exercícios físicos, controle do estresse e meditação – afetam mais de 400 genes. “A produção química dos genes muda de acordo com todo tipo de acontecimento na vida. O comportamento molda a biologia”, escreve Rudolph Tanzi, professor de neurologia na Universidade Harvard e diretor do Alzheimers’ Genome Project, criado em 2005 para tentar reverter a doença degenerativa, no livro Supercérebro: Como Expandir o Poder Transformador de Sua Mente. Outros achados, como o fato da plasticidade cerebral, têm derrubado mitos. Atualmente, sabe-se que o sistema nervoso pode (e deve) ser treinado para adquirir novas habilidades e inclusive comportamentos. Até pouco tempo atrás, havia especialistas que defendiam a existência de uma janela de plasticidade, na juventude que se consolidava com o tempo. Hoje há evidências suficientes de que o volume e a potência do cérebro humano aumentam ou diminuem – do início ao fim da vida – conforme as experiências. Elas ajudaram a basear a tese da psicóloga da Universidade Stanford, na Califórnia, Carol Dweck, autora de Mindset – A Nova Psicologia do Sucesso, publicado em 2006 e até hoje na lista dos livros mais vendidos nos Estados Unidos, a pesquisadora analisou o efeito do que chama de “mentalidade fixa”, ou a atitude de pensar em si mesmo ou nos fatos como obras acabadas, em contraposição à “mentalidade de crescimento”, que pressupõe que tudo pode ser melhorado. De acordo com Carol, o segundo grupo tende a ser mais bem-sucedido porque acredita que a melhora vem do esforço, e não de características inatas. Nas empresas, acredita-se que seja possível desenvolver a atitude, ao centrar a discussão de feedback nos aprendizados necessários para melhorar o desempenho futuro.

Um adepto declarado da teoria é o indiano Satya Nadella, presidente mundial da Microsoft, responsável pela mudança cultural empreendida na companhia nos últimos quatro anos. Logo que assumiu o cargo, em fevereiro de 2014, ele sugeriu a leitura do livro de Carol para os 124.000 funcionários. Para os executivos, recomendou Comunicação Não Violenta, do psicólogo Marshall Rosenberg, publicado há 30 anos, o guia voltou a ter popularidade com as descobertas sobre o papel da “segurança psicológica”. Falar sem ouvir, reagir quando irritado ou ter uma atitude defensiva são formas de comunicação violenta. O oposto disso é a comunicação empática. Não se trata de relevar maus resultados, e sim de apontar o que vai mal e estimular a melhoria contínua. A questão não é o que está sendo dito, mas como. A influência dessa abordagem parece funcionar. Em quatro anos, as mudanças de Nadella geraram mais de 250 bilhões de dólares em valorização de mercado para a Microsoft.

MEDITAÇÃO

Mais e mais estudos também têm ajudado a atribuir valor científico ao que algumas décadas atrás era considerado puro misticismo. É o caso da meditação. Centenas de pesquisas em centros respeitados, como a Universidade Harvard, comprovaram mudanças estruturais no cérebro com a prática contínua. Elas sugerem que meditar cerca de meia hora diariamente durame pelo menos oito semanas promova o aumento da densidade do hipocampo, área do cérebro relacionada à memória e ao aprendizado. As empresas que perceberam os benefícios se adaptam para que os funcionários tenham tempo e espaço para aquietar a mente. Um levantamento da consultoria de recursos humanos Merrer Marsh com 690 empresas no Brasil em 2017 mostrou que 41% delas têm alguma ação de saúde emocional – dessas, dois terços contam com salas de descompressão. É o caso do escritório do Deutsche Bank em São Paulo. Desde setembro de 2014, uma sala é usada exclusivamente para a prática de Mindfulness (ou “atenção plena”) – termo cunhado nos anos 70 para despir a meditação oriental de conotações religiosas e preconceitos. As sessões ocorrem quatro vezes por semana e duram de 5 a 20 minutos. Em 2017, outra sala de reunião do banco foi adaptada para aulas de ioga e sessões de reiki (forma de terapia alternativa) após o expediente. Grupos de corrida e time de futebol existem há mais tempo. “Os participantes afirmam que passaram a ter mais foco e clareza e a administrar melhor a ansiedade e o estresse”, diz Regina Ferraz, diretora de riscos do Deutsche Bank e responsável pelo programa de qualidade de vida.

No Google o esforço para incentivar os funcionários a meditar deu origem ao Search Inside Yourself  Leadership Institute (Instituto de Liderança Busque Dentro de Si Mesmo”). Em 2007, surgiu como um curso de meditação para os funcionários da companhia. Logo se tornou um lucrativo negócio de consultoria, com clientes como Ford e American Express. A fabricante de bens de consumo e instrumentação médica Johnson & Johnson, dona do Human Performance Institute, também inclui a meditação entre os treinamentos oferecidos no centro de pesquisas sobre alta performance humana que adquiriu em 2008. “O curso dura dois dias e ensina a compreender a saúde de forma integral, considerando os aspectos físico, mental, emocional e espiritual”. diz Guilherme Rhinow, diretor de RH da J & J no Brasil. A companhia concluiu que os funcionários que param pelo treinamento têm 18% mais chance de alcançar a avaliação máxima de desempenho e 25% mais de receber uma promoção no ano seguinte. A meta é treinar pelo menos metade dos 6.000 funcionários até o final de 2018. A prática da meditação também pode ser um antídoto contra questões como o presenteísmo – quando o corpo está presente, mas a mente está em outro lugar. Uma pesquisa da Universidade Harvard com 15.000 pessoas de 18 a 90 anos em 80 países, e com 86 categorias de trabalho, observou que em 47 % do tempo as pessoas estão fazendo algo mas têm o pensamento distante. Os pesquisadores Matthew Killingsworth e Daniel Gilbert sugerem que o indivíduo que mantêm atenção total no momento presente tem maior satisfação pela vida.

As razões que levam uma pessoa a se dedicar a uma tarefa por longas horas com produtividade e foco têm sido cada vez mais estudadas pelas empresas. Um exemplo é o conceito de flow, ou “fluxo” -, descrito por psicólogos nos anos 90 e desvendado mais recentemente pela neurociência. É um estado em que não se percebe o tempo passar e as ideias fluem livremente. O fenômeno, ligado ao máximo desempenho de atletas e artistas, também ocorre no ambiente corporativo. A entrada nesse canal alterado de consciência em geral acontece quando a pessoa tem as habilidades necessárias para cumprir uma tarefa cujo desafio não é tão grande a ponto de causar ansiedade nem tão baixo que gere tédio ou apatia. É possível ter o flow em toda situação da qual se gosta de estar.

FLOW COLETIVO

Estudos mostram que durante o flow há alteração na frequência das ondas cerebrais e aumento da circulação de moléculas como endorfina e serotonina. A combinação melhora o foco, a criatividade, e a conexão entre as pessoas. Para chegar ao estado de fluxo, é preciso de 60 a 180 minutos sem interrupções. “Nesse sentido, ambientes de trabalho abertos facilitam a comunicação, mas atrapalham a concentração, disse Jamie Wheal, coautor de Roubando o Fogo: A Ciência por Trás dos Super-Humanos, recém-publicado no Brasil, em parceria com Steven Kotler. “É preciso criar uma cultura corporativa na qual se tenha consciência das tarefas mais importantes e não seja indelicado dizer não”, diz Wheal. No escritório da empresa de pagamentos PayPal em São Paulo, cartazes com memes da internet alertam os funcionários para pensar duas vezes antes de pedir “só 5 minutinhos” da atenção de um colega e para não se ofender ao receber um não. “É uma forma descontraída de chamar a atenção para comportamentos desejados”, diz. Valéria Porto, diretora de RH do PayPal para a América Latina.

A consultoria de estratégia McKinsey, cuja área de prática organizacional, talentos, liderança, mudança de cultura e desempenho é comandada globalmente por uma neurocientista, a alemã Julia Sperling acompanhou por uma década 6.000 executivos e concluiu que eles eram cinco vezes mais produtivos quando estavam no estado de flow. ”Notamos três necessidades básicas para estimular o flow coletivo, clareza de papéis e objetivos; ambiente de colaboração e confiança; e pessoas dotadas de motivação intrínseca”, diz Ana Karina Dias, responsável pela prática de RH da McKinsey no Brasil. Um pré-requisito para descobrir a motivação intrínseca, ou o propósito é o autoconhecimento. Nos treinamentos de “liderança centrada” da empresa que duram cinco dias, cerca de 90 minutos por dia são dedicados a ensinar mindfulness. Ferramentas de coaching incluem formas de identificar as próprias “forças pessoais” para descobrir os papéis que podem propiciar o estado de flow.

Os conceitos de flow e forças pessoais têm servido de base para as práticas de gestão de pessoas no Facebook desde 1999. “Para permanecer continuamente envolvidos com o trabalho nas diferentes fases da vida, além de promoções e movimentos laterais, os funcionários têm a opção de descer alguns degraus, escreveu Mike Hoefflinger, ex-vice-presidente de marketing da companhia, no livro Becoming Facebook (“Tornando-se Facebook”, numa tradução livre). Escolher cargos que demandem menos energia em certo período da carreira contribui para reter talentos. Outra prática é permitir a engenheiros recém­ contratados escolher, após seis semanas de treinamento, em qual equipe desejam trabalhar – e não o inverso. Uma pesquisada consultoria Payscale em 2016 com 33.500 profissionais das 18 principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos apontou os funcionários do Facebook como os mais satisfeitos (96%) e os menos estressados (44%).

Um dos fenômenos identificados, porém, ainda pouco compreendido, é o dos neurônios espelho”. São neurônios que se ativam ao observar a ação de outra pessoa. Estudos mostram que a habilidade de craques de futebol, como o argentino Lionel Messi, em prever a ação do adversário no momento de um drible está ligada a uma ativação maior do sistema de neurônios- espelho. Pesquisadores da Universidade Brunel, na Inglaterra, fizeram exames de ressonância magnética funcional no cérebro de dois grupos de jogadores – novatos e experientes. Nos mais qualificados, havia evidências de uma ativação mais intensa do sistema de neurônios-espelho quando viam um adversário se aproximar. Outros estudos relacionam os neurônios-espelho ao “contágio social” – tendência de sentir o que o outro sente.

Há uma série de hipóteses e conclusões preliminares sendo testadas que poderão trazer aplicações úteis para empresas e indivíduos. Uma delas é a tentativa de treinar o cérebro com a tecnologia do eletroencefalograma biofeedback, também chamado de neurofeedback. A técnica oferece recompensa visuais ou sonoras de estímulo ao cérebro para treinar novos padrões mentais, como a habilidade de meditar e a capacidade de ter empatia, ou para tratar problemas psiquiátricos, como o estresse pós-traumático. A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos observou um aumento de 490% na velocidade de soldados para resolver problemas complexos e dominar novas habilidades depois do treinamento de neurofeedback. O escritório de pesquisa naval americano financia um estudo iniciado em 2016 pela Universidade de Washington para tornar os militares proficientes numa língua estrangeira em apenas 20 horas.

À medida que os cientistas decodificam as atividades neurais, tais informações estão sendo usadas para a criação de implantes e de inteligência artificial. Já é possível, em certa medida, controlar máquinas com a mente. Em 2001, pesquisadores da Universidade Brown, nos Estados Unidos, implantaram eletrodos no cérebro de pacientes com paralisia. Uma mulher conseguiu controlar um braço robótico com a mente para tomar um gole de café sem a ajuda de um cuidador. Os implantes identificam neurônios que se ativam quando há intenção de se mover, emitindo sinais por sensores a uma interface computacional ligada ao braço robótico. Outra pessoa do experimento conseguiu digitar oito palavras por minuto. Em abril de 2017, o Facebook revelou seus planos de criar sensores não invasivos capazes de ler pensamentos e digitá-los diretamente por meio de um computador. Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, criou há dois anos a empresa Neuralink para desenvolver dispositivos que, implantados no cérebro, ampliem a capacidade cognitiva. Ele imagina que será possível acessar com a mente informações da internet, por exemplo. Musk prevê um futuro no qual humanos terão de se comunicar muito mais rápido entre si e as máquinas para não serem aniquilados pela Inteligência artificial. Pode ser que esse futuro chegue – ou não. Antes, porém, temos muito a descobrir sobre nossa própria capacidade de aprender e produzir mais e melhor.

 A química da mente produtiva.2

 

A química da mente produtiva.3

 

A química da mente produtiva.4

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 14-36 – PARTE III

Alimento diário

Cristo na Festa dos Tabernáculos

2. Com isto, eles traziam suspeitas sobre seu julgamento. “Eles sabem que este é o Cristo?” Isto é dito ironicamente: “Como mudaram de ideia? Que nova descoberta fizeram? Eles deram oportunidade para que as pessoas pensassem que Ele era o Cristo, e lhes convém agir com vigor contra Ele, para se livrarem das sus­ peitas”. Desta maneira, os príncipes, que tinham tornado o povo inimigo de Cristo, faziam-no sete vezes mais filho do inferno do que ele mesmo, Mateus 23.15. Quando a religião e a profissão do nome de Cristo estão fora de moda, e, consequentemente, sem reputação, muitos são fortemente tentados a persegui-las e a combatê-las, somente para que não sejam vistos como favoráveis a elas. E por esta razão, os apóstatas, e a descendência degenerada de bons pais, algumas vezes, são piores do que outros, como se estivessem tentando limpar a mancha da sua profissão de fé. Era estranho que os príncipes, irritados desta maneira, não prendessem a Cristo, mas sua hora ainda não era chegada. Deus pode atar as mãos dos homens a ponto de causar admiração, mesmo optando por não converter seus corações.

Em segundo lugar; pela objeção ao fato de que Ele fosse o Cristo, o que parecia mais uma questão de malícia do que de conteúdo, v. 27. “Se os príncipes pensam que Ele é o Cristo, nós não podemos nem desejamos crer que Ele o seja, pois temos um argumento contrário, que nós ‘bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele 锑. Aqui está uma falácia na argumentação, pois as proposições não são adaptadas à mesma visão da questão.

1. Se eles falavam da sua natureza divina, poderiam considerar verdade que, quando Cristo veio, ninguém soube de onde Ele era, pois Ele é um sacerdote da ordem de Melquisedeque, que não teve ascendentes, “cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”, Miquéias 5.2. Mas então não é verdade que eles sabiam de onde este homem era, pois não conheciam sua natureza divina, nem como “o Verbo se fez carne”.

2. Se eles falavam da sua natureza humana, é verdade que eles sabiam de onde Ele era, quem era sua mãe, e onde Ele havia sido criado. Mas então é falso aquilo que se dizia sobre o Messias, que ninguém saberia de onde Ele era, pois já se sabia de antemão “onde havia de nascer o Cristo”, Mateus 2.4,5. Observe:

(1) Como eles o desprezavam, porque sabiam de onde Ele era. A familiaridade gera o desprezo, e nós somos capazes de desdenhar a serventia daqueles cuja origem conhecemos. Aqueles que conviviam com Cristo não o recebiam, porque Ele vinha do seu meio, razão pela qual eles deviam amá-lo, e ser agradecidos pelo fato de que sua nação e sua geração fossem honradas com sua manifestação.

(2) Como eles se empenhavam injustamente para fundamentar seus preconceitos nas Escrituras, como se elas os estimulasse, quando nelas não havia tal coisa. Desta maneira, as pessoas se enganam a respeito de Cristo, porque não conhecem as Escrituras.

[2] A resposta de Cristo a esta objeção, vv. 28,29. Em primeiro lugar, Ele falava livremente e ousadamente. Ele “clamava … no templo, ensinando”. Ele disse isto em tom mais alto do que o restante do seu sermão:

1. Para expressar sua veemência, entristecido pela dureza dos seus corações. Pode haver veemência na disputa pela verdade onde não existe calor nem paixão desenfreados. Nós podemos instruir os opositores com ardor, e ainda assim com mansidão.

2. Os sacerdotes e outros que tinham preconceitos contra Ele não se aproximavam o suficiente para ouvir sua pregação, e por isto Ele precisou falar mais alto do que lhe era usual sobre o que Ele queria que eles ouvissem. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.

Em segundo lugar, sua resposta à crítica deles foi:

1. Sob a forma de concessão, admitindo que eles podiam conhecer sua origem, no que dizia respeito à carne: “Vós me conheceis e sabeis de onde sou”. Vós sabeis que eu sou da sua nação, e sou um de vós”. Não representa um menosprezo à doutrina de Cristo o fato de que nela há o que se equilibra com as capacidades das verdades mais simples e claras, reveladas pela luz da natureza, das quais podemos dizer: Nós sabemos de onde elas são. “Vocês me conhecem, vocês pensam que me conhecem, mas estão enganados. Vocês pensam que Eu sou o filho do carpinteiro, e que nasci em Nazaré, mas isto não é verdade”.

2. Sob a forma de negação, negando que o que eles viam nele, e conheciam sobre Ele, fosse tudo o que havia para ser conhecido, e, portanto, se não procurassem saber mais, eles julgariam somente pelas aparências externas. Eles sabiam, talvez, de onde Ele vinha, e onde Ele tinha nascido, mas Ele lhes dirá o que eles não sabem, de quem Ele veio.

(1) Ele não veio de si mesmo: “Eu não vim de mim mesmo”. Ele não veio sem ser enviado, nem veio como uma pessoa privada, mas com um caráter público.

(2) Ele era enviado do seu Pai. Isto é mencionado duas vezes: ”Aquele que me enviou”. E novamente: “‘Ele me enviou’, Ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de fazer”. Disto, Ele mesmo tinha certeza, e por isto sabia que seu Pai o confirmaria. E é bom que também tenhamos certeza disto, para que possamos, com santa confiança, ir a Deus, por intermédio de Cristo.

(3) Ele era do seu Pai, não somente enviado por Ele, como um servo é enviado pelo seu senhor, mas dele, por geração eterna, como um filho de seu pai, por emanação essencial, como os raios do sol.

(4) O Pai que o enviou, “é verdadeiro”. Ele tinha prometido enviar o Messias, e embora os judeus tivessem perdido o direito à promessa, ainda assim aquele que fez a promessa é verdadeiro, e a cumpriu. Ele tinha prometido que o Messias veria sua semente e seria bem-sucedido na sua missão, e embora a maioria dos judeus rejeitasse Jesus e seu Evangelho, ainda assim Ele é verdadeiro, e irá cumprir a promessa quando chamar os gentios.

(5) Estes judeus descrentes não conheciam o Pai: ”Aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis”. Existe muita ignorância sobre Deus mesmo entre muitos que têm a forma da ciência, e a verdadeira razão pela qual as pessoas rejeitam a Cristo é porque elas não conhecem a Deus, pois existe tal harmonia dos atributos divinos na obra da redenção, e tal concordância admirável entre a religião natural e a revelada, que o conhecimento correto da anterior não somente admite, mas apresenta a segunda.

(6) Nosso Senhor Jesus estava infinitamente familiarizado com o Pai, que o enviou: “Mas eu conheço-o”. Ele o conhecia tão bem, que não estava em dúvida, sob qualquer condição, a respeito da sua missão da parte dele, mas perfeitamente seguro dela. Não estava às escuras, sob qualquer condição, a respeito da obra que tinha a fazer, mas perfeitamente informado dela, Mateus 11.27.

[3] A provocação que isto causou nos seus inimigos, que o odiavam porque Ele lhes dizia a verdade, v. 30. “Procuravam, pois, prendê-lo”, lançar mãos violentas sobre Ele, não apenas para fazer-lhe mal, mas, de uma maneira ou de outra, provocar-lhe a morte. Porém, pela restrição de um poder invisível, isto não ocorreu. Ninguém lançou mão dele, “porque ainda não era chegada a sua hora”. Não foi por alguma razão deles, que não o fizeram, mas por uma razão de Deus, que os impediu de fazê-lo. Observe que, em primeiro lugar, os fiéis pregadores das verdades de Deus, embora se comportem com muita prudência e mansidão, devem esperar ser odiados e perseguidos por aqueles que se julgam atormentados pelo seu testemunho, Apocalipse 11.10. Em segundo lugar, Deus tem os homens maus presos a uma corrente, e qualquer que seja o mal que eles desejem causar, não podem fazer nada além do que Deus permita que eles façam. A maldade dos perseguidores é impotente mesmo quando é muito impetuosa, e mesmo que Satanás encha seus corações, ainda assim Deus ata suas mãos. Em terceiro lugar, os servos de Deus, às vezes, são maravilhosamente protegidos por meios imperceptíveis e inexplicáveis. Seus inimigos não fazem o mal que pretendiam, e nem eles mesmos, nem ninguém, podem explicar por que não o fazem. Em quarto lugar, que Cristo tinha definida sua hora, que iria trazer o final do seu tempo e da sua obra na terra. Todo o seu povo e todos os seus ministros também têm, e até que chegue esta hora, os esforços de seus inimigos contra eles serão ineficazes, e seu tempo se prolongará enquanto seu Mestre tiver algum trabalho para que realizem. Nem podem todos os poderes do inferno e da terra derrotá-los, até que tenham acabado seu testemunho.

[4] O bom efeito que este sermão de Cristo, apesar disto, causou em alguns dos seus ouvintes (v.31): “E muitos da multidão creram nele”. Assim como Ele propiciava a queda de alguns, também a ressurreição de outros. Até mesmo onde o Evangelho encontra oposição, pode ser realizada uma grande quantidade de bem, 1 Tessalonicenses 2.2. Observe aqui, em primeiro lugar, quem eram as pessoas que creram. Não poucas, mas muitas, mais do que se poderia esperar, quando a corrente contrária era tão forte. Mas estes “muitos da multidão”, a multidão, eram a classe inferior, a ralé, a plebe, como alguns os teriam chamado. Nós não devemos avaliar a prosperidade do Evangelho pelo seu sucesso entre os grandes, nem devem os ministros dizer que se esforçam em vão, ainda que ninguém, exceto os pobres, e considerados insignificantes, recebam o Evangelho, 1 Coríntios 1.26. Em segundo lugar, o que os levou a crer: os milagres que Ele realizava, que eram não somente o cumprimento das profecias do Antigo Testamento (Isaias 35.5,6), mas uma justificativa de um poder divino. Aquele que tinha a capacidade de fazer o que ninguém, exceto Deus, pode fazer, controlar e dominar as forças da natureza, sem dúvida tinha autoridade para promulgar o que ninguém, exceto Deus, pode promulgar, uma lei que compromete a consciência, e um concerto que dá a vida. Em terceiro lugar, como era fraca sua fé: eles não afirmam positivamente, como os samaritanos: “Este é verdadeiramente o Cristo”, mas somente perguntam: “Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito?” Eles supõem que Cristo virá e, quando vier, fará mais milagres. “Então, este não é Ele? Nele, nós vemos, embora não toda a pompa terrena que imaginávamos, todo o poder divino com que cremos que o Messias se manifestaria, e, portanto, por que Este não pode ser Ele?” Eles creem, mas não têm coragem de admiti-lo. Observe que até mesmo a fé fraca pode ser uma fé verdadeira, e assim ser considerada, assim ser aceita, pelo Senhor Jesus, que não despreza o dia das coisas pequenas.

(2) Para onde Ele ia, vv. 32-36. Observe aqui:

[1] O desígnio dos fariseus e principais dos sacerdotes contra Ele, v. 32. Em primeiro lugar, a provocação de que foram alvo foi a informação trazida a eles pelos seus espiões, que se insinuaram na conversa do povo, e reuniram histórias para levar aos seus mestres invejosos, de que a multidão murmurava coisas a respeito de Jesus, de que havia muitos que o respeitavam e valorizavam, apesar de tudo o que eles tinham feito para apresentá-lo como odioso. Embora o povo apenas murmurasse estas coisas, e não tivesse coragem para dizê-las em voz alta, ainda assim os fariseus se enfureciam com isto. Com razão, é motivo de suspeita a justiça de um governo que duvida tanto de si mesmo a ponto de prestar atenção ou de ser influenciado por murmúrios secretos, variados e incertos das pessoas comuns. Os fariseus valorizavam muito o respeito do povo, e muito sensatamente temiam que se Cristo crescesse na opinião do povo, eles deveriam decrescer. Em segundo lugar, o projeto que eles tinham era o de prender Jesus e levá-lo à prisão: eles “mandaram servidores para o prenderem”, não para prender aqueles que murmuravam a respeito dele, nem para assustá-los. Não, a maneira mais eficiente de dispersar o rebanho é ferir o pastor. Os fariseus parecem ter sido os líderes desta perseguição, mas eles, como tal, não tinham poder, e por isto deificavam os principais dos sacerdotes, os juízes do tribunal eclesiástico, para que se unissem a eles, pois podiam fazê-lo. Os fariseus eram os que tinham grandes pretensões de aprendizado, e os principais dos sacerdotes, de santificação. Assim como o mundo, pela sabedoria, não conhecia a Deus, mas os maiores filósofos eram culpados dos erros mais grosseiros na religião natural, também a igreja judaica, pela sua sabedoria, não conhecia a Cristo, mas seus maiores rabinos eram os que tinham opinião mais tola a seu respeito, ou melhor, eram seus mais inveterados inimigos. Estes governantes perversos tinham seus servos, servos do seu tribunal, servos da igreja, que foram empregados para prender a Cristo, e que estavam dispostos a cumprir esta tarefa, embora fosse uma tarefa má. Se os criados de Saul não desejam virar-se e matar os sacerdotes do Senhor, ele tem um pastor de gado que o fará, 1 Samuel 22.17,18. Veja 1 Samuel 21.7.

[2] As palavras do nosso Senhor Jesus, em consequência disto (vv. 33,34): ”Ainda um pouco de tempo estou convosco e, depois, vou para aquele que me enviou. Vós me buscareis e não me achareis; e aonde eu estou vós não podeis vir”. Estas palavras, como a coluna de nuvem e fogo, tem um lado brilhante e um lado escuro.

Em primeiro lugar, elas têm um lado brilhante com respeito ao nosso Senhor Jesus mesmo, e trazem abundante consolo a Ele e a todos os seus fiéis seguidores que estão expostos a dificuldades e a perigos por causa dele. Aqui, Cristo é consolado com três coisas:

1. Que Ele tinha somente um pouco de tempo para continuar aqui neste mundo problemático. Ele vê que é provável que Ele nunca tenha um dia tranquilo entre eles, mas o melhor é que esta guerra em breve terá sido concluída, e então Ele já não estará mais no mundo, cap. 17.11. Seja quem for que estiver conosco neste mundo, amigos ou adversários, será por pouco tempo que estaremos com eles, e é um consolo para aqueles que estão no mundo, mas não são do mundo, e por isto são odiados por ele e estão cansados dele, que não estarão nele para sempre, não estarão nele por muito tempo. Devemos permanecer por algum tempo com aqueles que são espinhosos, mas, graças a Deus, será apenas por pouco tempo, e nós estaremos fora do seu alcance. Sendo maus nossos dias, é bom que sejam poucos.

2. Que, quando Ele deixasse este mundo problemático, Ele iria para aquele que o tinha enviado. “Vou”. Não: “Sou forçado a ir”, mas: “Vou voluntariamente. Tendo concluído minha missão diplomática, Eu vou para aquele cuja missão eu vim cumprir. Quando Eu tiver terminado meu trabalho com vocês, então, e não antes disto, vou para aquele que me enviou, e Ele me receberá, me promoverá, como os embaixadores são promovidos quando voltam”. A ira que sentiam de Jesus não somente o afastava deles, mas o apressava à glória e gozo que estavam diante dele. Que aqueles que sofrem por Cristo se consolem com o fato de que têm um Deus ao qual ir, e que estão indo para Ele, indo rapidamente, para estar com Ele para sempre.

3. Que, embora eles o perseguissem aqui, onde quer que Ele fosse, nenhuma das suas perseguições o seguiria ao céu: “Vós me buscareis e não me achareis”. Parece, pela inimizade dos seus seguidores, que depois da sua ida, se pudessem tê-lo achado, eles o teriam perseguido: “Mas vocês não poderão entrar naquele templo, como fazem neste”. ”Aonde eu estou”, isto é, onde Eu estarei então. Ele se expressou dessa maneira porque, mesmo quando estava na terra, pela sua natureza divina e pelos interesses divinos, Ele estava no céu, cap. 3.13. Ou isto denota que Ele estaria ali dentro de tão pouco tempo, que era como se já estivesse ali. Observe que o fato de que os santos glorificados estão fora do alcance do Diabo e de todos os seus perversos instrumentos aumenta a felicidade deles.

Em segundo lugar, estas palavras têm um lado escuro e tenebroso com respeito àqueles perversos judeus que odiavam e perseguiam a Cristo. Agora eles desejavam ver-se livres dele: “Que Ele seja tirado da terra”. Mas eles devem saber:

1. Que segundo sua escolha, também será sua condenação. Eles se esforçavam para afastá-lo do seu meio, e seu pecado será sua punição. Ele não os incomodará por muito tempo, mas por pouco, e se afastará deles. É justo que Deus abandone aqueles que pensam que sua presença é um peso. Aqueles que estão cansados de Cristo não precisam de nada mais para serem infelizes, além de conseguir o que desejam.

2. Que certamente eles se arrependeriam da sua escolha, quando fosse tarde demais.

(1) Eles procurariam, em vão, a presença do Messias: “‘Vós me buscareis e não me achareis’. Vós espereis que o Cristo venha, mas vossos olhos fracassarão ao procurar por Ele, e nunca o encontrarão”. Aqueles que rejeitaram o verdadeiro Messias quando Ele veio foram, com razão, abandonados a uma expectativa miserável e interminável daquele que nunca virá. Ou isto pode referir-se à rejeição final dos pecado­ res, dos favores e da graça de Cristo no grande dia: aqueles que procuram a Cristo agora irão encontrá-lo, mas se aproxima o dia quando aqueles que agora o rejeitam irão procurá-lo, e não o encontrarão. Veja Provérbios 1.28. Em vão, gritarão: “Senhor, senhor, abre-nos”. Ou, talvez, estas palavras sejam cumpridas no desespero de alguns dos judeus, que possivelmente poderiam ser convenci­ dos e não convertidos, que desejariam, em vão, ver a Cristo e ouvir outra vez sua pregação, mas o dia da graça estará terminado (Lucas 17.22). Porém, isto não é tudo.

(2) Eles esperariam, em vão, um lugar no céu: ”Aonde eu estou”, e onde todos os crentes estão comigo, “não podeis vir”. Não apenas porque estão excluídos, pela sentença justa e irreversível do Juiz, e a espada do anjo em cada porta da nova Jerusalém, para proteger o caminho da árvore da vida daqueles que não têm direito de entrar, mas porque eles estão desqualificados, pela sua própria iniquidade e infidelidade: “Não podeis vir”, porque não quereis. Aqueles que odeiam estar onde Cristo está, ouvindo sua palavra e prestando-lhe cultos na terra, estão muito desqualificados para estar onde Ele está, na sua glória no céu, pois o céu não seria um céu para eles. Na verdade, tais são as antipatias de uma alma não santificada em relação à felicidade desta condição.

[3] Seu comentário sobre este discurso (vv.35,36): eles disseram entre si mesmos: “Para onde irá este?” Veja aqui, em primeiro lugar, sua ignorância obstinada e cegueira. Ele dissera expressamente para onde iria – para aquele que o enviou, para seu Pai no céu, e eles ainda perguntam: “Para onde irá este?” E: Que modo de falar é este? Ninguém é tão cego como aqueles que não querem ver. As declarações de Cristo são evidentes para aquele que entende, e difíceis apenas para aqueles que estão dispostos a discutir. Em segundo lugar, seu menosprezo atrevido aos prenúncios de Cristo. Em vez de tremer com aquela terrível palavra: “Vós me buscareis e não me achareis”, a qual denota o extremo grau de miséria, eles brincam e zombam disto, como aqueles pecadores que escarnecem do terror, e não estão assustados (Isaias 5.19); Amós 5.18. ”Apresse-se”. Porém, “não mais escarneçais, para que vossas ligaduras se não façam mais fortes”. Em terceiro lugar, sua malícia inveterada e ira contra Cristo. O que todos eles temiam com seu afastamento era que Ele sairia do alcance do controle deles: “‘Para onde irá este, que o não acharemos?’ Se Ele estiver sobre a terra, nós o teremos sob controle. Não deixaremos lugar algum encoberto”, como Acabe à procura de Elias, 1 Reis 18.10. Em quaro lugar, seu desprezo orgulhoso dos gentios, a quem eles aqui chamam “os dispersos entre os gregos”, significando, ou os judeus que estavam espalhados no exterior, entre os gregos (Tiago 1.1; 1 Pedro 1.1). “Ele irá e despertará um interesse entre aquele povo tolo?” Ou os gentios dispersos por todo o mundo, em distinção aos judeus, que eram incorporados em uma igreja e nação. “Ele dirigirá sua corte para eles?” Em quinto lugar, sua inveja da mínima sugestão de favor aos gentios: “Ele irá e instruirá os gentios? Ele levará sua doutrina a eles?” Talvez eles tenham ouvido algumas notícias do respeito que Ele mostrou aos gentios, como no seu sermão em Nazaré, e no caso do centurião e da mulher cananeia, e não havia nada que eles temessem mais do que a inclusão dos gentios. Desta maneira, isto é comum àqueles que têm desperdiçado o poder do Evangelho por serem bastante zelosos pelo monopólio do nome. Eles, então, zombaram de sua partida para instruir os gentios. Mas não muito depois, Ele fez isto, de fato, através de seus apóstolos e ministros, e reuniu aquele povo disperso, muito para a tristeza dos judeus, Romanos 10.19. Assim, é verdade o que diz Salomão: “O temor do ímpio virá sobre ele”.

 

 

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SEXUALIDADE DESVIANTE

De onde vem o impulso libidinal anômalo que faz sentir atração sexual por crianças e adolescentes? E o que fazer contra ele? A pedofilia tem componentes psicológicos e neurológicos – e talvez genéticos – identificáveis e passíveis de tratamento.

Sexualidade desviante

Um homem e uma menina estão sentados num banco de parque. Ela olha para um livro. Ele a observa. Em pouco tempo eles iniciam uma conversa e são simpáticos um com o outro. “Quer sentar no meu colo? “, ele pergunta em voz baixa. Nesse momento, um traço de excitação é revelado em sua voz.

No cinema, os espectadores afundam na cadeira. Eles assistem ao filme de Nicole Kasell, O Lenhador (2003), que conta a história de um homem pedófilo. Após 12 anos de prisão por abuso infantil, Walther tenta começar uma nova vida – com apartamento próprio, trabalho e uma mulher a seu lado. Porém, retomar vida normal não é tão simples. Walther sentiu a fria rejeição de seus colegas de trabalho, sofreu com o desprezo da irmã e com o preconceito da polícia. Com razão, talvez? Os espectadores se perguntam: será que um homem como Walter é capaz de mudar? Ou suas pulsões são tão extremas que é mais conveniente mantê-lo permanentemente afastado?

A opinião pública é quase unânime: todo indivíduo que sente atração por crianças representa um perigo. No entanto, os dados científicos dizem o contrário. Nem todos os homens com tendências pedófilas chegam a vivê-las e agem de forma violenta. Além disso, homens que abusam de crianças não são necessariamente pedófilos.

O conceito de pedofilia (do grego Pais: menino, criança, e Philia, amizade) foi criado em 1890 pelo psiquiatra alemão Richard Freiher von Krafft Ebing. Em sua obra Psycopathia Sexuals, que mais tarde se mostrou revolucionária, descreveu padrões de doenças relacionadas a diferentes preferências sexuais. Desde então, sexualidade desviante não foi mais considerada crime, mas entendida, em determinados casos, como distúrbio patológico. Krafft Ebing distingue a Pedophilia erótica, na qual as pessoas se sentem atraídas por crianças desde a puberdade, de outras formas de abuso infantil, como por exemplo, a de “homens, impotentes com baixa autoestima que se satisfazem com um objeto sexual mais fraco (como uma criança)”.

FRUSTRAÇÃO E HUMILHAÇÃO

Hoje os especialistas identificam dois tipos de pedófilos: reativos e violentos (agressivos e deslocados socialmente). Os primeiros são, sobretudo, homens sexualmente inexperientes ou com atraso do desenvolvimento psicomotor e que por isso não conseguem manter uma relação equilibrada com adultos. Eles vivenciaram frustrações e humilhações em seus relacionamentos amorosos e escolheram crianças como compensação. O mesmo vale para a chamada pedofilia de idade, descrita por Krafft-Ebing, homens que por causa da senilidade ou da diminuição da potência sexual concentram seu interesse em parceiros sobre os quais mantêm ascendência. Além disso, ao grupo dos reativos somam-se também aqueles que por causa da profissão têm intenso contato com crianças. Esses indivíduos se sentem protegidos pelo trabalho e aproveitam-se dessa situação para estabelecer um relacionamento de interesse sexual com as crianças.

Indivíduos violentos, em geral deslocados socialmente, por outro lado, muitas vezes são sexualmente sádicos e procuram vítimas para sua satisfação ao acaso – dentre elas, crianças incapazes de se defender contra agressões. Em geral, têm distúrbios de relacionamento e buscam simplesmente satisfazer suas necessidades sexuais, sem sentir falta de uma relação ou segurança íntimas. Elas utilizam o sexo para se auto- afirmar ou como recompensa, sobretudo quando passam por fases frustrantes na vida.

A divulgação das pesquisas de Krafft-Ebing deu início a uma busca por causas psicológicas e biológicas de tal sexualidade desviante. A partir da metade da década de 80, estudos do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Toronto notaram a existência de uma suposta cadeia de relações entre pedofilia e determinadas afecções no cérebro. O grupo, organizado pelo psicólogo Ron Langvin, descobriu alterações semelhantes na região do lobo frontal de homens que abusavam de crianças. Essa área é responsável por funções importantes da cognição, bem como pela capacidade de se planejar ações e controlar emoções e relacionamentos. Com isso, os pesquisadores registraram que a preferência sexual se modifica em pacientes com tumores cerebrais localizados no lobo temporal.

Em 2002, uma equipe do mesmo instituto organizada por Ray Blanchard pesquisou essas relações em 1.200 pacientes, buscando entender em que grau lesões no cérebro ocasionadas na primeira infância aumentam a probabilidade de desenvolver tendências pedófilas. Nesse procedimento, os psicólogos dividiram os pacientes de acordo com suas preferências sexuais, separando-os em grupos de pedófilos e não-pedófilos. Os pesquisadores lhes perguntavam sobre dados de sua história patológica pregressa – sobretudo se eles tinham sofrido algum trauma craniano com perda de consciência. A conclusão foi que, por um lado, os acidentes ocorridos antes do sexto ano de vida em geral acarretavam baixo nível de inteligência e formação; por outro, essas mesmas lesões eram frequentemente acompanhadas por pedofilia.

Portanto, perturbações do sistema nervoso central na infância podem levar a tendências sexuais fora do padrão biológico na idade adulta. Ao mesmo tempo, é possível que um déficit de desenvolvimento congênito também cause propensão para a pedofilia. O transtorno de hiperatividade, também conhecido como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, é associado à pedofilia por alguns estudiosos. Médicos diagnosticam esse transtorno com frequência na infância e adolescência de pedossexuais.

Outros pesquisadores supõem que as causas biológicas da pedofilia estejam na herança genética humana. Em 1984, a equipe de Fred Berlin, da Universidade John Hopkins, em Baltimore, avaliou a frequência com que ocorrem casos de pedofilia e de outros comportamentos sexuais desviantes em indivíduos de famílias com boas condições socioeconômicas. A pesquisa restringia-se a um pequeno número de casos. Causas genéticas, principalmente, não puderam ser comprovadas. Porém, tal explicação simplista não seria esperada no atual estágio do conhecimento, em que se sabe que existem complexas relações entre efeitos genéticos e ambientais.

O PRIMEIRO AMOR

O foco de atenção da pesquisa está hoje nas fases críticas do desenvolvimento de um homem na infância e na adolescência. Essa é a fase em que a sexualidade é formada – assim como preferências e modos de agir, os chamados “lovemaps”, que determinam com que idade alguém escolhe suas preferências sexuais ou que papel mais gosta de representar: se uma pessoa se comporta em relação ao seu parceiro de forma carente, egoísta, tímida, passiva ou agressiva.

De acordo com o cientista social americano Davis Finkelhor, da Universidade de New Hampshire, quatro fatores principais contribuem para o desenvolvimento de um comportamento pedófilo. Seu modelo, de 1984, parte de uma espécie de falha de conduta, não tolerada, de homens adultos que reagem com excitação ao sinal “criança”. Mais uma vez, as causas desse tipo de atração são múltiplas e estão relacionadas, na maioria dos casos, a indivíduos que tiveram infância e adolescência difíceis. Assim, pode-se dizer que homens pedófilos foram, muitas vezes, vítimas de violência e abusos sexuais na infância.

Um segundo fator é a identificação emocional do adulto com a vida e o pensamento infantis – em consequência de uma formação psicológica frágil ou de baixa auto- estima. A isso se soma um terceiro fator que é um bloqueio do desenvolvimento de uma sexualidade normal, gerado por um medo sexual profundo e cristalizado. Por fim, há ainda uma “dedução” geral, pedófilos sofrem, geralmente, de psicoses, transtorno obsessivo compulsivo ou alcoolismo.

Depois desses resultados, duas equipes inglesas desenvolveram diferentes pesquisas para estudar a influência de experiências traumáticas na infância e na adolescência no desenvolvimento da pedofilia. Em 2001, pesquisadores do Hospital Escola Royal Free analisaram 747 pacientes de uma policlínica forense e concluíram que os protagonistas de abusos eram com mais frequência vítimas de violência sexual. Em2003, um estudo do Instituto da Saúde da Criança de Londres revelou que vítimas de abuso tendem a se tomar futuros agressores sexuais: os pesquisadores interrogaram 224 jovens que sofreram abusos e descobriram que 12% dos meninos se tornaram eles próprios protagonistas de abusos. Nessa troca de papéis, de vítima a agente, parece que a tese psicanalítica se comprova, com o desejo sexual desviante procura se transformar uma derrota na infância em triunfo na idade adulta.

Uma outra motivação para os homens está no fato de que eles se identificam com o modo de pensar das crianças (de acordo com o segundo fator de Finkelhor). Nesses casos, a chamada congruência emocional faz com que os homens experimentem um sentimento de sorte e segurança quando estão na companhia de crianças – ocasião em que podem se tornar criança novamente. Atos sexuais não estão necessariamente no foco de seu interesse, ao contrário, seu desejo surge de uma “genuína” vontade de estabelecer relacionamento. É famoso o caso do autor de livros infantis Charles Ludwig Dodgson (1832-1898), conhecido por seu pseudônimo Lewis Carroll. Ele criou o mundo de sonhos infantil de Alice no País das Maravilhas, lugar onde ele parecia se sentir melhor.

TRAUMA NO PROPRIO CORPO

Temos a impressão de que o distúrbio pedófilo está relacionado a uma dimensão decisiva da vida amorosa de um indivíduo, tal como conflitos com pessoas próximas na infância, como a mãe ou o pai, por exemplo. A psicoterapia é indicada para conhecer e superar acontecimentos traumáticos, assim como crises de identidade e auto estima da vida de um homem considerado pedófilo. Com frequência, os pacientes sofrem de alterações cognitivas enganosas, muitos abusadores se convencem que “no fim das contas, a criança gostou”.

Além da psicoterapia, medicamentos como antidepressivos do grupo de “inibidores seletivos de recaptação de serotonina”(ISRS) são geralmente utilizados no tratamento. Eles são indicados em casos de depressão, distúrbios de medo e ansiedade, assim como em casos de distúrbio de preferência sexual. Esses inibidores aumentam a quantidade disponível de serotonina no cérebro, causando no indivíduo uma sensação de bem-estar. Estudos realizados em 2003 por nosso grupo comprovam, especialmente no tratamento de pedófilos, a existência de um efeito dos ISRS na orientação dos afetos: com o uso de ISRS observou-se evidente diminuição das fantasias sexuais e das necessidades sexuais e de masturbação. No entanto, faltam ainda estudos de controle mais definitivos, com o auxílio de placebos.

Médicos depositam novas esperanças em substâncias que agem em um plano mais superior do ciclo regular hormonal do hipotálamo e da hipófise. No cerne da pesquisa estão os chamados “análogos dos hormônios liberadores do hormônio luteinizante” (análogos de LH e RH). Essas substâncias são utilizadas no tratamento de câncer de próstata: o crescimento do carcinoma depende, entre outros fatores, da produção do hormônio masculino testosterona. Os médicos conhecem há 30 anos a influência desse hormônio na agressividade e na anti- sociabilidade de um indivíduo. Análogos de LH e RH influenciam não apenas a produção de testosterona, como são capazes de diminuí-la até níveis de castração. Pacientes que trataram sua sexualidade desviante com esse medicamento mostraram-se claramente menos agressivos com o uso dessa fórmula.

Apesar do sucesso no uso de tais medicamentos, a psicoterapia não pode ser abandonada. Ao contrário do que se pensa, às vezes o medicamento utilizado alivia o paciente e faz com que ele não sinta mais necessidade de falar abertamente sobre suas fantasias sexuais angustiantes e sobre seu comportamento. Quando a parte do cérebro responsável pela sexualidade desviante, pela confiança e pela estabilidade da auto estima é alterada, a identidade do indivíduo sofre um abalo e observamos, com frequência, crises pessoais agudas. Em tais casos, o psicoterapeuta deve, junto com o paciente, procurar encontrar um substituto para a função da atividade pedófila. A bem da verdade, a maioria dos pedófilos deve aprender a controlar sua inclinação sexual por toda a vida.     

Sexualidade desviante.3        

NO BRASIL, FALTA DE RECURSOS E SILÊNCIO DIFICULTAM LEVANTAMENTO

O tema é delicado e grave. As estatísticas, escassas no Brasil. Embora a pedofilia já aparecesse nos escritos de Sigmund Freud em 1896, só na última década o assunto passou a ser discutido no país de forma mais sistemática, inclusive entre profissionais de saúde. É comum que especialistas se referiram ao tema, muitas vezes considerado tabu, como “um campo de areias movediças”. Segundo dados obtidos pela Associação Brasileira Multidisciplinar de Proteção à Infância (Abrapia), o Sudeste é a região com mais casos de denúncias a órgãos públicos (52 %) nos últimos cinco anos. O estado do Rio é líder de denúncias, com 29% do total, seguido por São Paulo, com 15%.

De acordo com psicólogos e psicanalistas, porém, os números podem estar longe de revelar a dimensão do problema. “As dificuldades para obter dados confiáveis são inúmeras. Faltam recursos para realização de levantamentos e a pressão que se coloca sobre a vítima impõe códigos de silêncio; a própria família, muitas vezes, oculta o caso”, diz o psicólogo judiciário e psicanalista Sidney Shine, que estuda o tema. No Brasil, a Lei 8069 /90, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tomou a notificação obrigatória a professores, médicos e profissionais de saúde em geral (incluindo psicólogos e psicanalistas).

A doutora em psicologia clínica Sandra Dias, professora de psicopatologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, lembra que o termo pedofilia (amor e desejo por crianças, surgido na Grécia), por si só, não designa um crime. “O que é condenável é o abuso sexual, físico ou psicológico, uma vez que a criança não tem condições emocionais e psíquicas para fazer escolhas e se defender”, ressalta. O abuso pode se dar de forma incestuosa – e é nesse ambiente que a maioria dos casos ocorre-, a partir de um profissional ou amigo dos pais, com quem a vítima mantém relação de proximidade afetiva ou, num nível mais amplo, com a prostituição infantil ou a veiculação de imagens pornográficas.

“Embora seja delicado falar de um perfil do abusador, sabemos que a maioria é do sexo masculino, tem entre 30 e 45anos, bom nível de inteligência e informação, independentemente da classe social a que pertence, é habilidoso para se aproximar da criança.” Muitos apresentam tendência à compulsão, baixa auto- estima e histórico de abuso sofrido na infância.  Especialistas ressaltam, porém, que a presença dessas características não basta para identificar um pedófilo.

“O pedófilo sente-se atraído pela criança amada pela mãe que ele mesmo foi um dia; ele está fixado nessa imagem e na maioria dos casos não sente culpa; baseado em racionalizações chega mesmo a acreditar que foi a criança quem o seduziu”, diz Sandra. Muitas vezes, o abusador está bem mais perto do que se imagina e em lugares inusitados. São frequentes os registros de casos nos quais o pedófilo se aproxima da vítima e a conquista, usando a relação profissional privilegiada que mantém com ela para trair sua confiança e cometer o abuso.

Em 2002, por exemplo, os pais de mais de 2 mil adolescentes, clientes do pediatra Eugenio Chipkevitch, ficaram alarmados diante das imagens contidas num lote de 37 fitas. O material revelava cenas de abuso sexual praticado contra cerca de 40 meninos, com idades entre 8 e 17 anos, que ocorriam durante as consultas médicas. Depois de sedá-los, ele os despia, e enquanto estavam inconscientes, fazia-lhes carícias e tocava seus órgãos genitais. Ucraniano naturalizado brasileiro, o pediatra era conhecido como uma das maiores autoridades do país quando o assunto era adolescência. Pouco antes dos escândalos, Chipkevitch havia sido mencionado pela Universidade de Cambridge na listados 2 mil cientistas mais importantes do século XX.

O advento da internet tem facilitado a vida de muita gente em todo o planeta. E também dos pedófilos. A psicóloga Dalka Chaves de Almeida Ferrari, coordenadora do Centro de Referência às Vítimas de Violências, do Instituto Sedes Sapientiae, diz que crianças na faixa dos 8 anos, ainda sem condição de discernimento são as mais suscetíveis ao assédio online. Pela rede, possíveis abusadores entram facilmente em chats infanto-juvenis e blogs e assumem personalidades fictícias para convencer as crianças. “Para se aproximar dos pequenos e conquista-los, os criminosos usam termos da linguagem infantil e muitos até criam sites com temática que interessem às crianças”, afirma Sandra Dias. “É fundamental que pais e professores estejam em alerta, conversem com seus filhos e orientem sobre riscos e pessoas mal-intencionadas.”

Dados da organização não-governamental Itália na Telefono Arcobaleno, empenhada na defesa da infância, mostram que o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de países com números de sites voltados para a pornografia infantil (atrás da Rússia, Coréia do Sul e Estados Unidos). No relatório de 2003, a entidade – que trabalha com informações fornecidas por polícias de vários países, pela Interpol (Polícia Internacional) e pelo FBI (polícia federal dos EUA) – rastreou mais de 1.200sites de pornografia infantil no Brasil.

Mas, se há abusadores, também existem pessoas empenhadas em denunciar e coibir o abuso virtual. É o caso do técnico em informática Anderson Batista e sua mulher, a advogada Rosane Miranda, de São José dos Campos. Os dois criaram um site (www.denuncia.org.br) para receber e encaminhar informações sobre pedofilia e para as polícias no Brasil e no exterior. Graças ao trabalho voluntário, já foram elaborados quase 7 mil registros de abuso infantil.

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PEDOFILIA E A LEI

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) válida mundialmente, o conceito de pedofilia engloba fantasias intensas, excitantes e reincidentes, que pressupõem ato sexual com crianças de 13 anos ou menos e que ocorrem há, no mínimo, mais de seis meses.

Isso pode soar um pouco árido, mas possui consequências importantes: a pedofilia foi categorizada como distúrbio patológico – ao menos ainda é considerada assim. Algumas pessoas são a favor da exclusão de parafilias da CID, por exemplo casos de exibicionismo e voyeurismo. Pedofilia tem para a OMS o mesmo peso que o homossexualismo, como uma forma de orientação sexual, que tem sua origem no desenvolvimento pessoal.

Apesar de a pedofilia não ser considerada juridicamente como crime de orientação sexual desviante, na maioria dos países tal condição, assim como o contato sexual com crianças, é reprovado. Da mesma forma, medidas compensatórias como a produção, a propriedade ou a aquisição de representações que mostrem crianças em ato ou posição sexuais (pornografia infantil) também são reprováveis. De acordo com estatísticas policiais todo ano cerca de 20 mil crianças são vítimas de violência sexual.

OUTROS OLHARES

A DURA VIDA DO BEIJA-FLOR

A aparência frágil e delicada esconde uma espécie agressiva e egoísta. Sexo, por exemplo, só consegue à força.

A dura vida do beija-flor

Nem tudo são rosas para quem vive de flores. Os dias num mundo feito de néctar e cores se passam em ataques contra inimigos maiores e coração acelerado a literais 1.000 batidas por minuto. Sexo, só o conquistado no grito. É dura a vida do beija-flor. O deleite está em apreciá-los, o que no Brasil pode ser feito em quase qualquer lugar, do asfalto à floresta. Ou até mesmo nas páginas de livros, como o recém-lançado Beija-flores do Brasil (editora Marte), que torna essas obras-primas da natureza em obras de arte em papel.

Esse não é o primeiro guia sobre beija-flores brasileiros, mas inova ao tratar a arte com o rigor da ciência. “Ilustrações são melhores porque muitas espécies são difíceis de fotografar, e as fotos nem sempre mostram os detalhes”, explicou Luís Fábio Silveira, um dos autores do livro e o curador da maior coleção de aves brasileiras do mundo, a do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).

Silveira assina os textos, e Eduardo Parentoni Bretta as ilustrações. O mineiro Bretta trabalha para alguns dos principais centros de ornitologia do país e do exterior, como os da USP e o da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. “É um privilégio ter o trabalho de Brettas, o maior pintor de aves do Brasil”, elogiou Silveira.

Ganham novos ares o brilho-de-fogo (Topaza pella), o maior e um dos mais belos colibris do Brasil, e raridades como o rabo-branco-de-margarette, ou balança-rabo-de-margarette (Phaethornis margarettae), cujo nome popular acabou por se tornar uma duvidosa homenagem a Margaretta du Pont Greenewalt, mulher de Crawford Hallock Greenewalt, que foi presidente da DuPont e conservacionista. Hoje esse rabo -branco só existe em algumas poucas áreas do litoral da Bahia e do Espírito Santo.

O livro chama a atenção também para o pouco conhecido micro­ cosmo dos beija-flores, onde a aparência muitas vezes engana. Nele, as cores não se originam de pigmentos, mas da iridescência. O fenômeno óptico é produzido por estruturas nas penas que refletem a luz em diferentes ângulos e fazem com que a tonalidade e o brilho mudem de acordo com a posição do observador.

Daí se originam os nomes indígenas colibri – resplandecente – guainumbi – ave cintilante – e guaraciaba – raio de sol. Para reproduzir em tinta o espetáculo de plumas e penas de cada uma das 87 espécies do Brasil, Brettas precisou recorrer a uma paleta de mais de 2 mil cores.

As menores espécies, como o topetinho-vermelho (Lophornis magnificus), pesam 2 gramas, menos que a finada moeda de R$ 0,01, e chegam a não mais que 6 centímetros – perdem até para besouros. As maiores, como o brilho-de-fogo e o beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) – uma das mais comuns do país -, figuram fácil em qualquer jardim, pesam 9 gramas e medem até 20 centímetros.

Tudo é superlativo na vida desses passarinhos que comem para se mover e se movem para comer. Um colibri precisa visitar até 2 mil flores por dia. Para isso, voa quase sem cessar, chega a 80 quilômetros por hora, com tiros curtos de 150 quilômetros por hora. O coração alcança 1.200 batimentos por minuto em movimento, reduzidos para 600 quando a ave está pousada. O coração do ser humano bate de 60 a 100 vezes por minuto. Nem Usain Bolt, o homem mais rápido do planeta, que já chegou a 45 quilômetros por hora, tem fôlego para se comparar ao menor dos colibris.

Gastar tanta energia exige a ingestão de até oito vezes o peso do próprio corpo por dia em comida. Mas essas avezinhas que amam açúcar são tudo menos doces. Por flores e pela própria vida, brigam com o planeta. Audácia, excesso de autoestima e absoluta falta de noção de perigo se explicam por necessidade. Néctar não é tão abundante quanto parece. Símbolos de jardins de paz e contemplação, beija-flores são fúria concentrada em plumas.

“São agressivos com outros beija-flores e até mesmo com aves muito maiores. Chegam a atacar predadores de passarinhos, como gaviões e corujas. Tamanho definitivamente não é problema para eles: disse Fernando Pacheco, um dos mais respeitados especialistas em aves do Brasil. O beija-flor-tesoura, por exemplo, concorre ao título de peso-pena mais folgado do reino animal. Pesa 9 gramas. mas não se furta a atacar preventivamente gaviões-carijós, ávidos comedores de passarinhos, que pesam cerca de 30 vezes mais do que eles.

Quando um beija-flor descobre uma boa flor, cheia de néctar, toma-a para si. Fica de guarda empoleirado na vizinhança e ai de quem se atreva a beijar sua preferida, mesmo que seja da própria espécie, observou Pacheco. Invasores são repelidos a bicadas. Não há espaço para gentileza numa vida sem descanso.

Mesmo os minúsculos topetinhos encaram espécies maiores. Pense em 2 gramas de impetuosidade e beleza. “Eles nem são os mais agressivos, mas ainda assim são superbriguentos: contou Luciano Lima, coordenador do primeiro observatório de aves do Brasil, o do Instituto Butantan, em São Paulo.

O açúcar faz do beija-flor um prisioneiro do dia, destinado a jamais ver a noite. Só lhe resta se recolher ao fechar das pétalas, pois, com tamanho gasto energético, morreria de fome em poucas horas. O beija-flor então busca um lugar seguro para se empoleirar e entra em profundo torpor. A temperatura cai à metade, e os batimentos cardíacos para menos de 40 por minuto. Ele passa assim as horas de escuridão, até que a luz o ponha de novo em movimento.

Se comida é guerra, amor significa disputa. É possível que o comportamento agressivo também seja uma espécie de chamariz para a reprodução. Uma hipótese é que exibir agressividade seja uma mensagem do tipo “Veja como estou bem, sou forte e vou sobreviver. Tenha filhos comigo”, acrescentou Pacheco.

Certo mesmo é que os beija-flores fazem tumultos. Esse é o nome dado a aglomerações de passarinhos que podem acontecer para espantar no grito – ou a piados – predadores como corujas e cobras. É também no grito que conquistam as fêmeas. Os machos de algumas espécies do grupo dos balança-rabos ou ermitões se reúnem e formam “arenas” em galhos próximos.

Vinte a 30 machos balança-rabos cantam o mais alto que conseguem, explicou Vítor Piacentini, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso e um dos maiores especialistas em beija-flores do Brasil. A tese de doutorado de Piacentini trata justamente dos ermitões.

“A fêmea passa entre eles e escolhe quem quiser. Mas, depois que copula, é abandonada. Cabe a ela construir o ninho e criar os filhotes sozinha. As fêmeas também são agressivas e disputam comida e território. O beija-flor é bélico’; afirmou Piacentini.

Para conseguir néctar, é preciso saber voar ao sabor do vento que balança as flores e se alimentar sem destruir sua delicada fonte de alimento. É por isso que os beija-flores são capazes de parar em pleno ar e voar em qualquer direção, com uma rapidez sem comparação. Isso exige que batam as asas até 200 vezes por minuto.

“Eles são os baladeiros da floresta. Não param nunca, tamanha a energia, e volta e meia se envolvem em confusão”. divertiu-se Pacheco. Porém, colibris não são veganos adoradores de néctar, mas onívoros vorazes, que não dispensam mosca, mosquito, vespa e o que der para pegar. As flores podem ser o prato principal, mas não o único do cardápio. Eles tiram dos insetos as proteínas de que precisam para sustentar os músculos.

No Brasil, não faltam lugares para apreciar beija-flores. Mesmo grandes cidades têm muitas espécies. O município do Rio de Janeiro, disse Piacentini, é campeão: tem pelo menos 30, graças à diversidade de ambientes, da restinga às florestas dos maciços da Tijuca e da Pedra Branca. Mas São Paulo, Brasília e Manaus não ficam muito atrás. Entre as florestas, as mais ricas, além da Amazônia, são

as remanescentes da Mata Atlântica no Espírito Santo e na Bahia.

“Talvez o lugar mais rico do Brasil e um dos mais especiais do mundo seja a ainda pouco conhecida Serra da Mocidade, em Roraima. Ela mal começou a ser estudada e já tem 30 espécies; destacou Piacentini, autor de um respeitado guia sobre os beija-flores do Brasil em parceria com o fotógrafo Luiz Carlos Ribenboim.

Para viver cercado de beija-flores – que para o ser humano representam inofensivas fontes de delicadeza, beleza e deslumbramento -, basta lhes oferecer flores. Ou recorrer às garrafinhas com água açucarada, injustamente demonizadas, acusadas de transmitir fungos e bactérias. Bobagem, asseguraram Luciano Lima e Luís Silveira. É só lavá-las uma vez por dia para eliminar os riscos – e, em troca, receber a visita de mais de uma espécie das espetaculares, mas não tão meigas, avezinhas.

A dura vida do beija-flor.2

 

A dura vida do beija-flor.3

 

A dura vida do beija-flor.4

 

GESTÃO E CARREIRA

NETWORKING E O GERENCIAMENTO DE CARREIRA

Networking e o gerenciamento de carreira

É considerado um desafio para a maioria dos profissionais reconhecer que um dos mais importantes pilares de suas carreiras depende da eficiência com que é gerenciada sua rede de relacionamentos – o networking. Essa habilidade, tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexa e necessária, vem sendo imposta àqueles que necessitam dela para a sua sobrevivência no mundo corporativo, principalmente para aqueles que optaram por seguir a carreira corporativa.

Diante das exigências da função e do atual ambiente em constante mudança, a maioria dos executivos não se atenta da necessidade de construir e gerenciar uma rede de contatos profissionais. Afinal de contas, como muitos alegam, não têm tempo para isso!

Essa desculpa explica, mas não justifica. Isso porque o profissional deve, sobretudo, saber distinguir o contato amigo, aquele com quem nos relacionamos informalmente, do contato profissional, ou seja, o contato o qual fomos apresentados por outro profissional em algum momento (por isso o termo rede). Exatamente ai é que começamos a construir nossa rede de relacionamentos.

O objetivo desse contato será para troca de informações no qual, você leva informações relevantes sobre mercado e, ao mesmo tempo, recebe outros tantos dados que irão mantê-lo, além de tudo, bem-informado. É um processo interessante de troca.

O mais importante é compreender que o networking não deve se restringir ao círculo do mercado em que você se encontra naquele momento. Ele deve expandir sua rede, abrindo oportunidades de relacionamentos em outros círculos profissionais, cujos segmentos de mercado serão atrativos no futuro. É o profissional se expondo em setores do mercado que julga promissores para sua carreira futura. É exatamente essa expansão que fortalecerá sua exposição e consequentemente, sua empregabilidade.

CONTATO

Mas, a pergunta que fica é: como você deve construir uma rede que seja eficiente e permita que continue administrando sua agenda e seus compromissos com o cargo que exerce no momento?

Procure reservar um almoço por semana para se encontrar com um profissional que nunca tenha visto, mas que tenha sido apresentado por outro contato de suas relações. Isso vai exigir pesquisa sobre quais mercados você tem interesse em acessar e, por conseguinte quais profissionais contatar que irão lhe ajudar a acessar esses novos segmentos.

Você deve reservar tempo para essas atividades: pesquisa dos mercados promissores, lista de empresas desses mercados, principais concursos em suas redes e ainda, se preparar para conduzir a reunião, uma vez que foi você quem a solicitou.

Após realizar o contato, você deve garantir o vínculo. Se você não cria um vínculo na primeira reunião, dificilmente vai conseguir manter esse relacionamento profissional ao longo de sua c:arreira. Os assuntos discutidos e os planos individuais conversados devem ser mantidos e arquivados como o histórico do relacionamento, e existem muitas oportunidades para criar esse vínculo.

Por exemplo, um plano de iniciar um novo curso de seu novo contato pode ser o motivo de enviar a ele um e-mail. Após 4 ou 5 meses, perguntando se gostou e valeu a pena o tal curso, e assim por diante.

Se você mantiver o vínculo com apenas vamos dizer, 50 desses contatos, sua rede seria extremamente poderosa, atraindo oportunidades para sua cultura, criando fontes de referências e informações, novas alternativas de investimentos em novas competências, atraindo ainda mais contatos e, assim, expandindo sua rede num círculo vicioso extremamente produtivo.

Saiba que o networking é uma atividade que deve ser exercida por todos os profissionais que queiram crescer em suas carreiras, independente da escolha: mundo corporativo, atividade da consultoria, o empreendedorismo, a carreira acadêmica, dentre outras. Porém, no mundo corporativo, como dito anteriormente, o networking é um dos principais pilares de sustentação de um executivo.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 14-36 – PARTE II

Alimento diário

Cristo na Festa dos Tabernáculos

 

Aqui o povo rudemente interrompeu as palavras de Jesus, e contradisse o que Ele dizia (v. 20): “Tens demônio; quem procura matar-te?” Isto evidencia:

[l] A boa opinião que o povo tinha dos seus líderes, que, na opinião deles, nunca tentariam algo tão atroz como matá-lo. Tal era a veneração que tinham pelos seus anciãos e principais dos sacerdotes, que poderiam jurar que eles não fariam mal a um homem inocente. Provavelmente, os lideres tinham, no meio da multidão, seus emissários, que lhes sugeriram isto. Muitos negam a maldade ao mesmo tempo em que a planejam.

[2] A má opinião que tinham do nosso Senhor Jesus: “Tens demônio”. Tu estás possuído por um espírito mentiroso, e és um homem mau por dizeres isto”, segundo alguns intérpretes. Ou, mais exatamente: “Você é melancólico, e um homem fraco. Você se amedronta com temores infundados, como fazem as pessoas hipocondríacas”. Não apenas as loucuras declaradas, mas também as melancolias silenciosas eram comumente atribuídas ao poder de Satanás. “Você está louco, está com a mente perturbada”. Não devemos julgar estranho se aos melhores homens forem atribuídas as piores características. A esta calúnia vil, nosso Salvador não responde diretamente, mas aparenta não ter tomado conhecimento dela. Observe que aqueles que desejam ser como C1isto devem tolerar pacientemente as afrontas, e ignorar as indignidades e ofensas que lhes forem feitas, não devem levá-las em consideração, e muito menos se ressentir por elas, e ainda menos se vingar delas. “Eu, como surdo, não ou­ via”. Quando Cristo era injuriado, não injuriava.

(2) Ele argumenta sob a forma de apelação e defesa.

[1] Ele recorre aos seus próprios sentimentos sobre este milagre: “Fiz uma obra, e todos vos maravilhais”, v. 21. “Vocês não podem deixar de se maravilhar, porque esta obra é verdadeiramente grandiosa, e completamente sobrenatural. Todos vocês devem reconhecer que ela é maravilhosa”. Ou: “Embora Eu tenha realizado apenas uma obra na qual vocês têm algum pretexto para encontrar algum defeito, vocês se ofendem e desagradam como se Eu fosse culpado de algum crime terrível ou hediondo”.

[2] Ele apela para suas próprias práticas em outros exemplos: “Eu ‘fiz uma obra’ no sábado, e ela foi realizada facilmente, com o pronunciar de uma palavra, e vocês todos se assombram, vocês acham estranho que um homem religioso tenha ousado realizar tal coisa, ao passo que vocês mesmos, muitas vezes, fazem no sábado o que é um trabalho muito mais servil, no caso da circuncisão. Se é lícito para vocês, e se é seu dever, circuncidar uma criança no sábado, quando acontece do sábado ser o oitavo dia, sem ter nenhuma dúvida, muito mais lícito e bom era que Eu curasse um homem enfermo no mesmo dia”. Observe:

Em primeiro lugar, o rito e a origem da circuncisão: “Moisés vos deu a circuncisão”, ele lhes deu a lei a este respeito. Aqui:

1. Está escrito que a circuncisão foi dada, e (v. 23) está escrito que eles a receberam. Ela não lhes foi imposta como um jugo, mas lhes foi conferida como uma graça. Observe que as ordenanças de Deus, e particularmente aquelas que são selos do concerto, são dons dados aos homens, e assim devem ser recebidas.

2. Está escrito que Moisés a deu, porque ela era parte daquela lei que lhe fora dada. No entanto, como Cristo falou a respeito do maná (cap. 6.32), Moisés não o deu, mas foi Deus. Ou melhor, não era de Moisés, a princípio, mas dos pais, v. 22. Embora estivesse incorporada à instituição mosaica, ela tinha sido ordenada muito antes, pois era um selo da justiça da fé, e, portanto, tinha tido início com a promessa, quatrocentos e trinta anos antes, Gálatas 3.17. A irmandade de crentes da igreja, e sua semente, não era de Moisés ou de sua lei, e, portanto, não caiu com ela. Ela era dos pais, pertencia à igreja patriarcal, e era parte daquela bênção de Abraão que devia chegar aos gentios, Gálatas 3.14.

Em segundo lugar, o respeito devotado à lei da circuncisão, acima do devotado ao sábado, na prática constante da igreja judaica. Os judeus casuístas frequentemente observam: A circuncisão e sua cura afastam o sábado, de modo que se uma criança nascesse em um sábado, sem dúvida seria circuncidada no sábado seguinte. Então, se quando o descanso do sábado era algo em que se insistia com tanta rigidez, ainda assim estas obras eram permitidas, porque eram para preservar a religião, muito mais eram elas permitidas agora, sob o Evangelho, quando a ênfase é colocada mais sobre o trabalho aos sábados.

Em terceiro lugar, a conclusão que Cristo tira disso para justificativa de si mesmo, e daquilo que Ele tinha feito (v. 23): “Um filho varão recebe a circuncisão no sábado, para que a lei da circuncisão não seja quebrantada”. Os mandamentos divinos devem ser interpretados como tendo coerência uns com os outros. “Se isto é permitido por vocês, como vocês são pouco razoáveis, pois estão irados comigo porque curei um homem no sábado!”. A palavra é usada somente aqui, originada de  fé e rancor. Eles estavam enfurecidos com Ele, com a máxima indignação. Era uma ira rancorosa, uma ira com rancor em si. Observe que é extremamente absurdo e irracional que condenemos nos outros aquilo que defendemos em nós. Observe a comparação que Cristo faz entre a circuncisão que eles faziam de uma criança e a cura que Ele fez de um homem no sábado.

1. A circuncisão era apenas uma instituição cerimonial. Era realmente dos pais, mas não desde o início. Porém, o que Cristo fazia era uma boa obra, pela lei da natureza, uma lei mais excelente do que aquela que fazia da circuncisão uma boa obra.

2. A circuncisão era uma ordenança sangrenta, e trazia dor, mas o que Cristo fazia era cura, e trazia plenitude. As obras da lei causam aflição, e se estas obras podem ser realizadas aos sábados, muito mais as obras do Evangelho, que produzem paz.

3. Considerando especialmente que, quando se circuncidava uma criança, a preocupação era somente curar aquela parte que tinha sido circuncidada, o que podia ser feito, e ainda assim a criança poderia sofrer de outras enfermidades. Porém, Cristo curou este homem de uma forma completa, fez com que o homem se tornasse saudável em todo o seu organismo. O corpo todo foi curado, pois a doença afetava o corpo todo, e foi uma cura perfeita, de modo que não houve sequelas da doença. Na verdade, Cristo não somente curou seu corpo, mas também sua alma, com a advertência: “Não peques mais”, e desta maneira, Ele verdadeiramente curou o homem todo, pois a alma é o homem. O propósito da circuncisão, na verdade, era o bem da alma, e atingir o homem todo, como deveria ser. Mas eles a tinham corrompido, e a tinham transformado em uma mera ordenança carnal. Porém, as curas exteriores que Cristo realizava eram acompanhadas com a graça interior, e, desta maneira, tornavam se sacramentais, e curavam o homem todo.

Ele finaliza esta argumentação com a regra (v. 24): “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”. Isto pode ser aplicado, ou, em primeiro lugar, particularmente a esta obra, que eles argumentavam que era uma violação da lei. Não sejam parciais no seu julgamento. Não julguem com respeito às pessoas, de acordo com a aparência das pessoas, que é a expressão em hebraico, Deuteronômio 1.17. É contrário à lei da justiça, assim como da caridade, censurar aqueles que têm opiniões diferentes das nossas, como se fossem transgressores, assumindo aquela liberdade que só permitimos àqueles que fazem parte do nosso próprio círculo, e caminho, e opinião. Também é errado elogiar alguns que demonstram uma rigidez e severidade desnecessária, algo que, em outros, nós condenamos como imposição e perseguição. Ou, em segundo lugar, de maneira geral, à pessoa e à pregação de Cristo, com que eles se ofendiam e das quais tinham preconceitos. As coisas que são falsas, e que são designadas a impor-se sobre os homens, normalmente têm melhor aparência quando julgadas segundo a aparência externa, elas parecem mais plausíveis à primeira vista. Foi isto que conquistou aos fariseus tanto interesse e reputação, que por fora realmente pareciam formosos (Mateus 23.27,28), e os homens os julgavam de acordo com esta aparência, e eram tristemente enganados por eles. “Mas”, diz Cristo, “não confiem excessivamente que todos os que parecem santos realmente o são”. Com referência a si mesmo, sua aparência externa estava muito longe da sua verdadeira dignidade e excelência, pois Ele assumiu a forma de servo (Filipenses 2.7), era em semelhança da carne do pecado (Romanos 8.3), não tinha parecer nem formosura, Isaías 53.2. De modo que aqueles que se dedicavam a julgar se Ele era ou não o Filho de Deus, pela sua aparência exterior certamente não faziam um julgamento justo. Os judeus esperavam que a aparência exterior do Messias fosse pomposa e magnífica, e de acordo com todas as cerimônias de grandiosidade secular. E julgando Cristo segundo esta regra, seu julgamento foi, do princípio ao fim, um contínuo engano, pois o reino de Cristo não seria deste mundo, não viria com aparência exterior. Se um poder divino o acompanhava, e Deus lhe dava testemunho, e as Escrituras se cumpriam nele, ainda que sua aparência fosse humilde, eles deviam recebê-lo, e julgar pela fé, e não segundo a vista dos seus olhos. Veja Isaías 11.3 e 1 Samuel 16.7. Cristo e sua doutrina e suas obras não desejam nada além de um julgamento justo. Se a verdade e a justiça pudessem apenas dar a sentença, Cristo e sua causa seriam vitoriosos. Não devemos julgar a ninguém segundo sua aparência exterior, nem segundo seus títulos, segundo o papel que desempenha no mundo, ou pela sua manifestação agitadora, mas pelo seu valor intrínseco, e pelos dons e graças do Espírito de Deus em sua vida.

4. As palavras de Cristo a respeito de si mesmo, de onde Ele vinha e para onde Ele ia, vv. 25-36.

(1) De onde Ele vinha, vv. 25-31. Quanto a isto, observe:

[1] A objeção feita por alguns dos habitantes de Jerusalém, que pareciam ter mais preconceitos contra Ele do que os demais, v. 25. Poderíamos pensar que aqueles que viviam junto à origem do conhecimento e da religião fossem os mais dispostos a receber o Messias. Mas, na verdade, era exatamente o contrário. Aqueles que têm abundância dos meios do conhecimento e da graça, se não são aperfeiçoados por eles, normalmente são piorados, e nosso Senhor Jesus frequentemente encontrava a pior acolhida por parte daqueles de quem se esperaria a melhor. Não foi sem justa razão que isto se transformou em provérbio: Quanto mais próximo da igreja, mais distante de Deus. Estas pessoas de Jerusalém mostravam sua má vontade para com Cristo:

Em primeiro lugar, por sua reflexão sobre os líderes, porque eles o abandonavam: “Não é este o que procuram matar?” A multidão de pessoas que vinha de fora para a festa não suspeitava que houvesse algum desígnio em andamento contra Jesus, e por isto perguntaram: “Quem procura matar-te?” v. 20. Mas os que habitavam em Jerusalém conheciam a trama, e incentivavam seus líderes a colocá-la em execução: “Não é este o que procuram matar?” Por que não o fazem então? Quem os impede? Eles dizem que desejam tirá-lo do caminho, e ainda assim, veja! Ele está falando abertamente, e nada lhe dizem. “Porventura, sabem, verdadeiramente, os príncipes, que este é o Cristo?” v. 26. Aqui, eles insinuam astutamente e maliciosamente duas coisas, para exasperar os príncipes contra Cristo, quando eles realmente precisavam de incentivo.

1. Ao conspirarem contra sua pregação, eles traziam o desprezo sobre sua autoridade. “Um homem que é condenado pelo Sinédrio como sendo enganador pode receber a permissão para falar abertamente, sem nenhuma censura ou contradição? Isto faz com que a sentença seja apenas uma ameaça inútil. Se nossos líderes toleram ser pisoteados desta maneira, eles podem agradecer a si mesmos, se ninguém se maravilhar com eles ou com suas leis”. Observe que a pior das perseguições frequentemente é realizada sob o pretexto do apoio necessário à autoridade e ao governo.

OUTROS OLHARES

DE COSTINHAS ERETAS

Estudo mostra que os efeitos da meditação são mais expressivos em crianças. No Brasil, a prática já faz parte do currículo de escolas particulares.

De costinhas eretas

Fim da aula de matemática, os vinte alunos do 6º ano do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo, se dispersam e conversam alto. Em meio à balbúrdia, a professora da disciplina seguinte entra na sala, posta-se em frente ao grupo e pergunta: “Vocês acham que a mente de vocês tem mais pensamentos positivos ou negativos?”. A maioria grita: “Negativos!”. Eles contam ter medo de ir mal numa prova, machucar-se no jogo de futebol e fazer algo que resulte em bronca dos pais. A professora, então, diz que eles podem treinar o corpo para melhorar isso. “Sentem-se com as costas eretas, mãos nos joelhos e pés no chão. Respirem fundo, fechem os olhos e prestem atenção nas palavras boas que vou dizer.” Ela pede que eles se imaginem no quarto de casa de manhã e que emitam um pensamento de felicidade. Após quatro minutos, findo o exercício, a classe está notoriamente mais tranquila. Os estudantes passam a falar mais baixo e aparentar calma. Perguntados, todos dizem se sentir mais relaxados. O que se viu foi uma aula de meditação para crianças, prática adotada em duas dezenas de escolas particulares de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, estima-se que 1 milhão de meninos e meninas sejam adeptos regulares da meditação, disciplina eletiva na maior parte dos estados.

Um levantamento publicado na revista científica americana Psychology Research and Behavior Management mostrou que os efeitos já comprovados da meditação são poderosos no organismo infantil. Das vinte crianças de 9 anos analisadas, todas com algum grau de ansiedade, apenas as que se exercitaram na prática (por 45 minutos diários em oito semanas) apresentaram melhoras em aspectos emocionais, como maior socialização e redução de sentimentos como tristeza, medo e raiva, além de aumento da concentração. A melhora geral foi da ordem de 35%, diz o levantamento. Uma das explicações para esse bom resultado reside no fato de que o cérebro da criança é mais receptivo a estímulos, por estar em formação. “Quanto antes ela passar a praticar, mais eficaz será a ação”, diz a pediatra Paula Pasqualucci, instrutora do Estúdio de Meditação Moved by Mindfulness, em São Paulo. Manuela Eizirik Polanczyk, de 9 anos, começou a meditar há dois meses, em casa, com a irmã Clara, de 6 anos. A mãe, Mariana, adepta da prática, contratou uma professora para iniciar as meninas nos exercícios. Manuela gostou: “Isso me acalma quando estou irritada ou triste”.

Para aumentar a capacidade de concentração e relaxamento, o praticante da meditação é ensinado a ter “consciência plena” do momento presente – algo que os adultos conseguem mais facilmente: quase sempre, basta que prestem atenção na própria respiração. Com as crianças, é diferente. “Elas precisam de situações mais figurativas, como imaginar­ se em algum lugar descrito em detalhes”, diz Daniela Degani, professora de meditação do Oswald de Andrade e de outras escolas. Os efeitos na saúde começaram a ser estudados nos anos 70. Comprovou-se, então, que o hábito de esvaziar a mente ajuda a controlar as taxas de hormônios ligados ao stress. Na década de 90, as pesquisas avançaram com o aperfeiçoamento dos exames de imagem cerebral. Entre as crianças, elas tiveram início há uma década apenas – mas os ânimos dos pequenos já parecem mais serenos.

GESTÃO E CARREIRA

SONHAR E REALIZAR

“A melhor forma de lidar com o sonho é sonhá-lo como uma criança, de um jeito destemido”

Sonhae e realizar

Quero compartilhar com vocês um fato que tenho constatado nas palestras que realizo. Após o encerramento, quando vou conversar com o pessoal que assistiu a palestra, chama minha atenção o número de pessoas que me diz o seguinte:

– Elias, eu tenho o sonho – ou a ideia – de escrever um livro. Mas o problema é que…

Ou seja, inspiradas no fato de eu ser escritor e biógrafo, elas se encorajam em dividir comigo a vontade de escrever um livro. Mas, ao mesmo tempo, começam “destruindo” o sonho ao dizerem: “Mas o problema é que…”

Enfim, já criam um fator que pode atrapalhar o desenvolvimento do projeto!

Recentemente recebi uma mensagem pelo Linkedin de uma moça que havia participado de uma palestra minha e escreveu uma ideia brilhante sobre um livro, mas encerrou dizendo:

”Não tenho experiência com o tema nem com a escrita de um livro. Então eu fico com a impressão de que as pessoas não vão levar em consideração o que eu escrever sobreo assunto”.

Respondi que não ser da área é um fator positivo, pois trará um olhar diferente. E também que o determinante e que despertará a atenção dos leitores é a qualidade do resultado do trabalho que ela desenvolver a nível de pesquisa sobre o tema, as fontes que ela reunir para colher entrevistas e informações, a forma de abordar o tema… E quanto à inexperiência da escrita a editora poderia trabalhar o texto no futuro.

Eu não era escritor nem biógrafo, mas repórter esportivo. Conquistei meu espaço como autor de biografias pelo nível de trabalho comprometido que busco desenvolver, pelo meu estilo de escrita e pela grande expressão do nível de empreendedores que tenho biografado.

Infelizmente, esse tipo de boicote acontece com muitas pessoas, não só no desejo de ser autor/a, mas em muitas outras situações. Parece que as pessoas têm medo de ir em busca da felicidade.

Quando idealizei meu primeiro livro, lembro que fui para o computador, abri um arquivo, dei o título e comecei a escrever! Não dei tempo para que “problemas” e “auto boicotes” começassem a me desmotivar e me demover da escrita do livro.

Entendo que a melhor forma de sonhar é aquela que acontece quando somos crianças. Não temos medo do nada. Podemos “voar”, enfrentar o exército do rei para conquistar a princesa. Ir para outros planetas, marcar gol na final da copa do mundo. Mas aí a gente cresce e fica cético. Um ser humano não voa. Não existe rei, nem o exército e muito menos princesa. Ir para outro planeta, é patético. E jamais vou marcar gol em uma final de copa do mundo.

Por isso, acredito que a melhor forma de lidar com o sonho é sonhá-lo como uma criança, de um jeito destemido. E a melhor forma de realizar o sonho é usar a inteligência, criatividade, conhecimento, autoconfiança e perseverança de um adulto para fazer com que se torne um projeto de sucesso.

Tenho inúmeros exemplos de pessoas que fizeram e fazem isso. Entre eles estão meus biografados e tantos outros que desafiaram adversidades e chegaram ao sucesso.

Continue a sonhar e inspire-se nesses exemplos na hora de realizar os seus sonhos. Todo projeto nasce de um sonho. Todo projeto morre quando não deixa de ser apenas um sonho.

 

ELIAS AWAD – é biógrafo, palestrante e autor especializado em livros sobre empreendedorismo e motivação. Seu último livro publicado foi Mário Cazan – A Arte de Inspirar Pessoas e Encantar Clientes. E-mail: eliasawad.com.br e palestraseliasawad.com.br

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 14-36 – PARTE I

Alimento diário

Cristo na Festa dos Tabernáculos

 

Aqui temos:

I – A pregação pública de Cristo no Templo (v. 14): Ele “subiu… ao templo e ensinava”, de acordo com seu costume, quando estava em Jerusalém. Seu trabalho era pregar o Evangelho do reino, e Ele o fazia em todos os lugares onde houvesse gente. Seu sermão não está registrado, provavelmente porque tinha o mesmo propósito dos sermões que Ele tinha pregado na Galileia, que foram registrados pelos outros evangelistas. Pois o Evangelho é o mesmo, para os simples e para os cultos. Mas o que é notável aqui é que isto aconteceu “no meio da festa”, o quarto ou quinto dos oito dias da festa. Não se sabe se Ele não subiu a Jerusalém até o meio da festa, ou se Ele subiu no início, mas se manteve oculto até agora. Mas, podemos perguntar; por que Ele não foi ao Templo para pregar antes? Resposta:

1. Porque o povo teria mais tempo livre para ouvi-lo, e, poderia esperar-se, estaria mais disposto a ouvi-lo depois que tivesse passado alguns dias em suas tendas, como faziam na Festa dos Tabernáculos.

2. Porque Ele desejou manifestar-se quando tanto seus amigos quanto seus inimigos tivessem deixado de procurar por Ele, e assim deu uma amostra do método que usa nas suas manifestações, que é o de chegar à meia-noite, Mateus 25.6. Mas por que Ele apareceu publicamente agora? Certamente para envergonhar seus perseguidores, os principais dos sacerdotes e os anciãos.

(1). Mostrando que, embora eles estivessem muito irados contra Ele, ainda assim Ele não os temia, nem ao seu poder. Veja Isaías 50.7,8.

(2) Tirando o trabalho deles das suas mãos. O trabalho deles era ensinar o povo no Templo, e, particularmente, na Festa dos Tabernáculos. Neemias 8.17,18. Mas, ou eles não ensinavam nada, ou ensinavam, como doutrinas, mandamentos de homens, e por isto Ele sobe ao Templo e ensina o povo. Quando os pastores de Israel fizeram do rebanho uma presa, esta se tornou a ocasião para a manifestação do Sumo Pastor, como havia sido prometido, Ezequiel 34.22,23; Malaquias 3.1.

II – Seu sermão aos judeus ali, e tudo o que Ele disse, se reduz a três títulos:

1. A respeito da sua doutrina. Veja aqui:

(1) Como os judeus a admiraram (v. 15): eles “maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?” Observe aqui:

[1] Que nosso Senhor Jesus não tinha sido educado nas escolas dos profetas, nem aos pés dos rabinos. Ele não somente não viajava para aprender, como faziam os filósofos, mas não fez nenhum uso de escolas e academias no seu próprio país. Moisés foi ensinado sobre os conhecimentos dos egípcios, mas Cristo não foi ensinado sobre os conhecimentos dos judeus. Tendo recebido o Espírito sem medida, Ele não precisava receber nenhum conhecimento dos homens, nem pelos homens. Na ocasião da manifestação de Cristo, o estudo florescia, tanto no império romano quanto na igreja judaica, mais do que em qualquer outra época antes ou depois, e nesta época de indagações, Cristo decidiu estabelecer seu Evangelho, não em uma época de ignorância, para que não parecesse como um desígnio imposto ao mundo. Contudo, Ele mesmo não tinha o aprendizado que estava em voga.

[2] Que Cristo sabia letras, embora nunca as tivesse aprendido. Era poderoso nas Escrituras, embora nunca tivesse tido nenhum doutor da lei como tutor. É necessário que os ministros de Cristo tenham conhecimento, como Ele tinha, e uma vez que eles não podem esperar tê-lo como Ele o teve, por inspiração, eles devem empenhar-se para obtê-lo da maneira usual.

[3] Que o fato de que Cristo tinha conhecimento, embora não tivesse sido ensinado, fazia-o verdadeiramente grandioso e maravilhoso. Os judeus falavam disto maravilhados. Em primeiro lugar, alguns, provavelmente, observavam isto para sua honra: Aquele que não tinha conhecimento obtido pelos homens, e ainda assim superava tanto a todos os que tinham, certamente deve estar dotado de um conhecimento divino. Em segundo lugar, outros, provavelmente, mencionavam isto para desprezá-lo: Por mais que Ele pareça ter, Ele não pode ter realmente nenhum conhecimento verdadeiro, pois Ele nunca esteve na universidade, nem se formou. Em terceiro lugar, alguns, talvez, sugerissem que Ele tinha adquirido seu conhecimento por mágica, ou algum outro meio ilícito. Uma vez que eles não sabem como Ele podia ter conhecimento, eles o julgam como se fosse um ilusionista.

(2) O que Ele afirmou a este respeito. Três coisas:

[1] Que sua doutrina é divina (v. 16): ”A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou”. Eles se ofenderam porque Ele começou a ensinar, embora nunca tivesse aprendido, e em resposta, Ele lhes diz que sua doutrina era do tipo que não se aprende, pois não era o produto do pensamento humano e das forças naturais elevadas pela leitura e conversação, mas era uma revelação divina. Sendo Deus, igual ao Pai, Ele podia verdadeiramente ter dito: ”A minha doutrina é minha, e daquele que me enviou”. Mas estando agora no seu estado de humilhação, e sendo, como Mediador, servo de Deus, era mais coerente dizer: “A minha doutrina não é minha”, não é somente minha, nem originalmente minha, como homem e mediador, mas ‘daquele que me enviou’. Ela não se centra em mim, nem conduz, em última instância, a mim, mas àquele que me enviou”. Deus tinha prometido, a respeito do grande profeta, que Ele poria suas palavras na sua boca (Deuteronômio 18.18), ao que Cristo parece aqui fazer referência. Observe que o consolo daqueles que aceitam a doutrina de Cristo, e a condenação daqueles que a rejeitam, é que ela é uma doutrina divina: ela é de Deus, e não do homem.

(1). Que os mais competentes juízes da verdade e da autoridade divina da doutrina de Cristo são aqueles que têm um sincero e justo desejo e se empenham para realizar a vontade de Deus (v.17 ): “Se alguém quiser fazer a vontade dele”, fundir sua vontade com a vontade de Deus, “pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo”. Observe aqui, em primeiro lugar, que a questão, a respeito da doutrina de Cristo, é se ela é de Deus ou não. Se o Evangelho é uma revelação divina ou uma falsa doutrina. O próprio Cristo estava disposto a ter sua doutrina questionada quanto a se ela era ou não de Deus, e muito mais deveriam seus ministros. E devemos nos preocupar em examinar em que fundamentos nos baseamos, pois, se estivermos engana­ dos, estaremos miseravelmente enganados. Em segundo lugar, quem provavelmente será bem-sucedido nesta investigação: aqueles que fazem a vontade de Deus, ou que, pelo menos, têm desejo de fazê-la. Veja:

1. Quem são aqueles que fazem a vontade de Deus. Eles são imparciais nas suas investigações a respeito da vontade de Deus, e não se influenciam por nenhum desejo ou interesse, e estão decididos, pela graça de Deus, quando descobrem qual é a vontade de Deus, a agir em conformidade a ela. Eles têm um princípio honesto de consideração a Deus, e são verdadeiramente desejosos de glorificar e agradar a Ele.

2. Como esta pessoa conhecerá a verdade da doutrina de Cristo.

(1) Cristo prometeu lhe dar conhecimento. Ele disse: Ele “conhecerá”, e poderá ter um entendimento. Aqueles que aproveitam a luz que têm, e cautelosamente estão à sua altura, estão assegurados, pela graça divina, contra enganos destrutivos.

(2). Eles estão dispostos e preparados para receber tal conhecimento. Aquele que se dispõe a submeter-se às regras da lei divina se dispõe a aceitar os raios da luz divina. A qualquer que tiver, será dado. Terão bom entendimento aqueles que obedecerem seus mandamentos, Salmos 111.10. Aqueles que se assemelham a Deus têm uma probabilidade maior de compreendê-lo.

(3). Que, com isto, parecia que Cristo, como um mestre, não falava de si mesmo, porque Ele não buscava a si mesmo, v. 18. Em primeiro lugar, veja aqui o caráter de um enganador: ele “busca a sua própria glória”, o que é um sinal de que ele fala de si mesmo, como faziam os falsos cristos e os falsos profetas. Aqui está a descrição da trapaça: eles falam de si mesmos e não receberam a autoridade nem as instruções de Deus, nenhuma autoridade, exceto sua própria, nenhuma inspiração, exceto sua própria imaginação, sua própria política e seus próprios estratagemas. Os embaixadores não falam de si mesmos. Os ministros que falam de si mesmos renunciam ao caráter de embaixadores. Mas veja a revelação da trapaça. Suas pretensões são contestadas, eles procuram somente sua própria glória. Quem fala de si mesmo busca sua própria glória. Aqueles que falam da parte de Deus irão falar a respeito dos interesses de Deus, e para sua glória. Aqueles que almejam sua própria promoção e seus próprios interesses deixarão patente que não foram comissionados por Deus. Em segundo lugar, veja o caráter oposto que Cristo dá de si mesmo e da sua doutrina: “O que busca a glória daquele que o enviou”, como Eu, “esse é verdadeiro”.

1. Ele era enviado por Deus. Os mestres que são enviados por Deus, e somente eles, devem ser recebidos e aceitos por nós. Aqueles que trazem uma mensagem divina devem provar uma missão divina, seja por revelação especial ou por instituição regular.

2. Ele buscava a glória de Deus. Glorificar a Deus era, ao mesmo tempo, a tendência da sua doutrina e o teor de toda sua conduta. 3. Isto era uma prova de que Ele era verdadeiro e de que não havia injustiça nele. Os falsos mestres são extremamente injustos. Eles são injustos com Deus, cujo nome usam inadequadamente, e injustos com as almas dos homens, das quais se aproveitam. Não pode haver injustiça maior do que esta. Mas Cristo mostrou que Ele era verdadeiro, que realmente era o que dizia ser, que nele não havia injustiça, nem falsidade na sua doutrina, nem falácia nem fraude nos seus procedimentos conosco.

3. Eles falam sobre o crime que lhe fora imputado, de curar o paralítico, e de ordenar que ele carregasse sua cama em um sábado, do qual já o tinham acusado, e que ainda era o pretexto da sua inimizade por Ele.

(1) Ele argumenta com eles de modo recriminador, condenando-os de práticas muito piores, v. 19. Como podiam eles censurá-lo por infringir a lei de Moisés, quando eles mesmos eram tão notórios infratores dela? “Não vos deu Moisés a lei?” E era privilégio deles o fato de que tinham a lei, pois nenhuma outra nação tinha a lei. Mas sua maldade era tal, que nenhum deles observava a lei, que eles se rebelavam contra ela, e viviam contraria­ mente a ela. Muitos dos que têm a lei que lhes foi dada, quando a têm, não a obedecem. Era total a negligência que tinham pela lei: “E nenhum de vós observa a lei”, nem aqueles que estavam em posições de honra, que deviam ter mais conhecimento, nem aqueles que estavam em posições de submissão, que deviam ter sido mais obedientes. Eles se vangloriavam da lei, e fingiam ter zelo por ela, e estavam enfurecidos por Cristo parecer transgredi-la, e ainda assim nenhum deles a obedecia, como aqueles que dizem que são a favor da igreja, mas nunca vão à igreja. Sua maldade se agravava, ao perseguir a Cristo por transgredir a lei, porque eles mesmos não a observavam: “‘Nenhum de vós observa a lei’. Por que procurais matar-me por não observá-la?”. Observe que normalmente aqueles que têm mais falhas são os que mais criticam os outros. Desta maneira, os hipócritas, que estão dispostos a tirar o argueiro do olho do seu irmão, não percebem uma trave no seu próprio olho. “Por que procurais matar-me?” Alguns interpretam isto como a evidência de que não observavam a lei: “Vocês não observam a lei. Se observassem, compreenderiam melhor a si mesmos, e não procurariam matar-me por fazer algo bom”. Aqueles que apoiam a si mesmos, e aos seus interesses, por meio da perseguição e da violência, não importa o que pretendam (embora eles possam se intitular – os guardiões das duas tábuas), não observam a lei de Deus. Chemnitius interpreta isto como uma razão pela qual era o momento de substituir a lei de Moisés pelo Evangelho, porque a lei era considerada insuficiente para restringir o pecado: “Moisés deu a vocês a lei, mas vocês não a observam, nem são protegidos por ela das maiores maldades. Por­ tanto, existe a necessidade de que sejam introduzidas uma luz mais clara e uma lei melhor. Por que vocês procuram me matar por introduzi-las?”

PSICOLOGIA ANALÍTICA

MORTE ANTES DA HORA

O suicídio de adolescentes é especialmente perturbador, pois, além da violência intrínseca ao ato, contraria a lógica da sobrevivência da espécie, e nos lembra de que algo está fora da ordem. Tentativas e ações consumadas decorrem da depressão e de eventos traumáticos – que envolvem fracasso, perda e humilhação – compreendidos pelo jovem como absolutos e incontornáveis

Morte antes da hora

A notícia de que uma pessoa tirou a própria vida é chocante. Quando o protagonista da tragédia é um jovem, o fato parece ainda especialmente aterrador. Por mais triste que seja, o suicídio de um idoso doente ou solitário é, de alguma forma, psicologicamente compreensível. Mas a morte voluntária do adolescente é uma afronta à vida, uma atitude contrária à sobrevivência da espécie, que adquire contornos de tabu, dado o horror que provoca. São vários os comportamentos classificados como suicidas. Há o suicídio consumado, a tentativa (tecnicamente chamada de “parassuicídio”), o gesto que representa apenas um comportamento inicial e não chega à tentativa (a compra de uma arma, a contemplação do vazio do alto de algum lugar, o preparo de um nó corrediço) e a concepção do ato, que pode ser um gesto intempestivo causado por insatisfação geral com a vida, ou um projeto preciso de suicídio. Além disso, no aspirante a suicida a intenção de morrer apresenta vários níveis, e os métodos aventados podem ser mais ou menos letais.

Todos esses elementos entram na avaliação do comportamento e sugerem diferentes estratégias de prevenção e tratamento. É preciso acrescentar ainda o chamado “suicídio parcial”, muito frequente entre os jovens, em que traços de impulsividade se unem a comportamentos de alto risco, sem que a pessoa tenha de forma clara e consciente a ideia de morrer: é o caso de quem dirige de modo irresponsável ou se expõe a perigos fúteis. O fato de haver tantas vidas perdidas precocemente por causas externas, que poderiam ser combatidas, levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a definir o suicídio juvenil como assunto de preocupação urgente.

CAIXA DE PANDORA

Aproximadamente 90% dos suicídios podem ser atribuídos a causas psiquiátricas preexistentes, mas em 70% dos comportamentos suicidas o estado depressivo está presente em algum grau, na forma de transtorno maníaco-depressivo ou depressão recorrente. Além disso, rapazes que cometem suicídio em geral apresentam transtornos de ansiedade, personalidade antissocial e episódios de abuso de álcool e outros estimulantes. Aos transtornos psiquiátricos deve ser acrescentado o risco da herança familiar: não a hereditariedade propriamente dita, mas maior predisposição, por enquanto revelada apenas pelos dados da genética epidemiológica, mas que poderá ser confirmada também por estudos genéticos.

Se é verdade que metade dos suicidas sofre de alguma forma de depressão, é preciso salientar que apenas uma pequena parte dos depressivos projeta ou realiza atos autodestrutivos. A pesquisa dos fatores que aumentam o risco de suicídio identificou a associação do estado depressivo com diversos níveis de ansiedade, medo, raiva e profunda falta de esperança.

Nada de novo. Narra o mito que, quando Pandora abriu a famosa caixa, saíram de dentro dela a velhice, a doença e a loucura, mas também a esperança, que, a partir de então, iludiu a humanidade com suas mentiras, impedindo que os homens se matassem. Na década de 70, o psiquiatra americano Aaron Beck, professor emérito do Departamento de Psiquiatria na Universidade da Pensilvânia, retomou o mito e se deu conta de que a falta de esperança tinha papel decisivo nos que cogitavam suicídio.

Os rapazes se suicidam mais que as moças, e o fenômeno depende, em grande parte, dos transtornos psíquicos e do abuso de substâncias, mas a passagem ao ato suicida se dá, em geral, após a ocorrência de um evento psicológico traumático. O fator precipitador ou desencadeador, nos adolescentes, pode ser analisado em três categorias principais: fracasso, perda e humilhação. Uma nota ruim na escola, o fim de uma relação amorosa ou a derrota numa competição podem desencadear um sentimento de desespero, interiorizado e voltado contra o próprio indivíduo. Esse mecanismo foi estudado por Freud e outros psicanalistas, que viam no suicídio a expressão de uma violência extrema contra o próprio eu. A morte voluntária após a perda significativa de algo ou alguém (definida como um objeto de amor interiorizado) seria uma forma de descarregar a raiva por ter sido abandonado. Freud retomou a ideia de Santo Agostinho, que, para sustentar o caráter pecaminoso do suicídio, invocou o quinto mandamento, “não matarás”, aplicando-o também ao caso em que vítima e assassino são a mesma pessoa. A humilhação recorrente é um fator responsável por muitos suicídios durante a adolescência.

SINAL DE PERIGO

Bullying, não aceitação da própria sexualidade, raiva ou medo intensos e frequentes, tendência ao isolamento e mau desempenho escolar podem gerar ideação suicida e são hoje considerados situações de risco, sobretudo se o jovem faz uso de psicotrópicos ou passou por eventos estressantes recentes. Os pais devem ficar alertas e procurar avaliação psicológica ou psiquiátrica. Ideias agudas e recorrentes de suicídio exigem tratamento sedativo ou de estabilização do humor, principalmente com sais de lítio, a única terapia que mostrou resultados claros na prevenção farmacológica do suicídio.

Nessa fase, a psicoterapia é fundamental, em muitos casos até mais que antidepressivos. Há alguns anos, a agência americana de controle de drogas e alimentos (FDA, na sigla em inglês) apontou aumento do risco de suicídio em jovens tratados com antidepressivos, em particular os que estimulam a transmissão serotoninérgica. Como mostram vários estudos, a diminuição da serotonina parece estar ligada ao suicídio, mas as substâncias que elevam os seus níveis podem aumentar também o risco. O paradoxo indica bem o escasso conhecimento disponível sobre o impulso autodestrutivo e a importância do meio social como fator que leva adolescentes a procurar a morte antes do tempo. Se os jovens pensam em morrer, é sinal de que os adultos precisam estar atentos.

Morte antes da hora.5

TEMPOS SOMBRIOS

Os modelos contemporâneos apoiam- se numa idealização de estilo de vida, competências e resultados. E, quando falamos de ideal, trazemos facilmente o conflito entre o possível e o impossível, num maniqueísmo que nos aproxima da sensação de impotência. A essa dinâmica agrega-se o forte apelo à satisfação imediata, fruto da sociedade de consumo. Aliados estão também a abundância de informações e estímulos vindos da internet, mídias sociais, num movimento constante que parece atropelar o tempo e fragmentar a realidade. Esses excessos dificultam, em geral, a introspecção e a construção de um espaço para a subjetividade.

É importante lembrar que a adolescência é considerada uma fase de transformação e, consequentemente, de luto, com características peculiares; perdemos o corpo e os pais da infância, e um novo processo com intensas mudanças fisiológicas e psíquicas desorganiza e traz, muitas vezes, sentimentos de insuficiência e estranhamento. Num mundo que glorifica a perfeição e tende a ver o sofrimento e a tristeza como doença, não há um lugar disponível para o que é humano e singular. A fragilidade do jovem diante de tantos desafios e incertezas parece manifestar explicitamente as dores de toda uma sociedade

Morte antes da hora.2

INTOLERÁVEL, INESCAPÁVEL E INTERMINÁVEL

Profissionais da área de saúde mental concordam que certos fatores, como grande pressão social e familiar por escolha profissional e o aumento da competitividade no mercado de trabalho, tornam os jovens brasileiros particularmente vulneráveis ao suicídio. Enquanto os mais pobres deparam com a falta de oportunidades, os de estratos econômicos privilegiados sentem-se frustrados pelo fracasso nos estudos ou vestibulares, enfrentando o que alguns profissionais denominam “fobia de desempenho”.

A médica Alexandrina Meleiro, chefe do ambulatório e enfermaria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), supervisora de Interconsultas do hospital e coautora de Suicídio: estudos fundamentais, recorda uma menina de apenas 10 anos que se atirou do oitavo andar do prédio de classe média alta onde morava, deixando um bilhete para a mãe, desculpando-se por não ser boa aluna.

Além das pressões exteriores, também estão em jogo questões próprias da adolescência, que podem levar à desestabilização psíquica. “Nessa fase, o jovem vive distorções cognitivas, instabilidades emocionais e inabilidade para lidar com afetos intensos”, afirma Meleiro, lembrando que, para Freud, o suicídio é um “homicídio invertido”. Ao se matar, a pessoa mataria o outro que está interiorizado em si mesma. Segundo ela, muitos enfrentam a armadilha dos três “is”: sentir a situação como intolerável, inescapável e interminável. A perda da imagem que a criança tinha dos pais e de seu corpo é vivida como luto.

Embora nessa fase da vida sentimentos depressivos sejam necessários – e até bem-vindos – para o amadurecimento da personalidade, é indispensável que pais e professores permanecerem atentos a sinais que mostrem que o jovem possa cometer um ato violento contra si, como mudanças de comportamento, faltas constantes às aulas, queda de rendimento escolar, diminuição de contatos sociais e comportamento tristonho.

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ENTRE WERTHER E PAPAGENO

A série 13 reasons why causou furor. Na trama, uma estudante do ensino médio se suicida e deixa 13 fitas, uma para cada pessoa que ela acredita ter contribuído de alguma forma para sua decisão. Cada episódio refere-se a uma dessas gravações. Alguns dizem que a série é um retrato preciso e sensível da angústia e pode ajudar a esclarecer as motivações por trás do ato de atentar contra a própria vida. Os críticos, entretanto, temem a glamorização desse gesto ou sua normalização como uma opção legítima para tratar frustrações, o que pode conduzir ao aumento desse tipo de ocorrência. Afinal, é bem conhecido na literatura especializada o fato de que o suicídio pode ser um fenômeno contagioso.

Qualquer possível causa de tal proliferação deve ser levada a sério, embora, do ponto de vista científico, o papel da ficção na inspiração do suicídio seja, na melhor das hipóteses, pouco claro. Obviamente a série não é a primeira obra a deflagrar controvérsias. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, foi acusada inúmeras vezes de exaltar o suicídio de jovens.

O romance de Johann Wolfgang von Goethe Os sofrimentos do jovem Werther, lançado em 1774, descreve a dor de um rapaz por causa de seu amor por Charlotte, que se casa com Albert, amigo do protagonista. Atormentado, Werther decide que um deles deve morrer e acaba atirando em si próprio com a pistola de Albert. Acreditava-se que o trabalho de Goethe tenha levado muitos jovens a decidir terminar sua vida em toda a Europa, vários deles usando armas e vestidos com roupa similar à descrita pelo autor. Alguns até tinham cópias do romance ao lado de corpo, abertos na página que relatava o suicídio.

O pesquisador David Phillips, que se dedicou a estudar o tema, cunhou o termo, “efeito Werther” para se referir ao fenômeno dos suicidas imitadores.

O resultado da pesquisa de Phillips, da década de 70, foi a recomendação de que as histórias sobre suicídio não fossem noticiadas com ênfase pela imprensa. Ele considerou também que a cobertura excessiva da mídia de suicídios de celebridades realmente levou a um aumento nas tentativas de atentar contra a própria vida. As mulheres na faixa dos 30 anos pareciam mais propensas ao ato após a morte de Marilyn Monroe, em 1962.

Em Viena, na década de 80, uma série de suicídios cometidos no metrô foi combatida pela decisão dos principais jornais da cidade de reduzir substancialmente a publicidade dessas mortes. Depois de certa data, essas ocorrências já não eram mencionadas. Isso coincidiu com uma queda progressiva no número de casos, o que ilustrou o poder da mídia para o bem.

Contrariando o efeito Werther, há o efeito de Papageno, numa referência ao personagem da ópera A flauta mágica, de Wolfang Amadeus Mozart. Convencido de que nunca vai conquistar seu amor, Papageno, ele tenta se enforcar, mas é persuadido por três espíritos a não acabar com sua vida.

Os pesquisadores King-wa Fu, professor associado no Centro de Estudos de Mídia e Jornalismo da Universidade de Hong Kong, e o cientista social Paul Yip, fundador e diretor do Centro de Pesquisa e Prevenção do Suicídio da Universidade de Hong Kong, examinaram os impactos da morte de três celebridades asiáticas, comparando registros semanas antes e depois das ocorrências. Eles descobriram um aumento substancial no número de suicídios na primeira, segunda e terceira semanas após a morte de cada celebridade em Seul, Hong Kong e Taiwan, em comparação com um período de referência. A maior incidência de vítimas estava entre pessoas com idade próxima e do mesmo gênero das celebridades.

Cientistas reconhecem, no entanto, que a evidência de relações entre suicídios em ficção de suicídio na TV e no cinema é mais complicada. A revisão da literatura sobre filmes e retratos televisivos de suicídio não revela conclusões sobre o impacto de suicídios ficcionais sobre os resultados suicidas reais na população em geral. Mas sabem que a identificação com a vítima é fator importante para desencadear a imitação. E circunstâncias que facilitam o comportamento suicida são contrabalançadas por fatores protetores que o inibem, como a fé religiosa, a presença de apoio social (amigos, família) e capacidade de perceber que as situações, por piores que pareçam – ou de fato sejam –, não são permanentes.

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NÚMEROS PREOCUPANTES

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o suicídio como uma prioridade de saúde pública, já que as taxas têm aumentado desde a década de 90, ano em que a OMS lançou um programa de prevenção. Em média, 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos, e 75% desses casos ocorrem em países de média e baixa renda. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a segunda maior causa de morte, perdendo apenas para acidentes de trânsito. O índice nessa faixa etária entre as mulheres é de 2,6 casos por 100 mil habitantes, mas a taxa salta para 10,7 na população masculina. Mas um dado chama atenção: entre 2010 e 2012, o mais recente período de análise de dados da OMS, o índice feminino cresceu quase 18%.

Os países que realizaram campanhas de esclarecimento a respeito do problema conseguiram baixar seus números.

Cerca de 90% dos casos poderiam ter sido evitados. Segundo estimativas da OMS, para cada caso há pelo menos 20 tentativas malsucedidas. Os maiores índices de suicídio no Brasil ocorrem em áreas de concentração de comunidades indígenas. Segundo estudo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), das cinco cidades com as maiores taxas de suicídio de jovens, quatro ficam no Amazonas.

Para lidar com a questão, em 1962 foi criada a organização filantrópica Centro de Valorização da Vida (CVV), que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional com o intuito de prevenir suicídio ou apenas atender pessoas que precisem e queiram conversar, com total sigilo. Após a exibição da série 13 reasons why, os pedidos de ajuda ao CVV duplicaram.

OUTROS OLHARES

O TIO C.

O maior caso de estupro em escolas da década ocorreu na pacata Ilha de Paquetá e continua há cinco anos sem investigação concluída, com o principal suspeito ainda desaparecido.

O tio C

Na tarde de 16 de junho de 2013, o filho de 8 anos de S. compartilhou um segredo com a mãe. Disse que o professor C., que dava aula para ele no turno da manhã, tinha um procedimento esquisito na hora da correção do dever de casa. Não colocava as respostas no quadro-negro. Mandava as crianças abaixarem a cabeça e obrigava que escondessem o rosto nos braços cruzados sobre a carteira. Então chamava um por um para explicar a lição corrigida e entregar o caderno. Movido pela curiosidade, o menino contou que um dia levantou os olhos. Viu que o professor colocava as meninas no colo. E as apalpava.

No momento em que S. ouviu o relato, entrou em contato com outras mães. Passou a noite fazendo ligações. Começava a tomar forma o maior registro de estupro em escolas desde 2010. Oito anos depois, o inquérito segue sem conclusões da polícia nem sentença da Justiça. Um exemplo de descaso com a saúde física e psíquica de dezenas de crianças.

O estupro em série abalou a rotina da Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, bairro com menos de 5 mil moradores, isolado na Baía de Guanabara e conhecido por ser um balneário livre da violência da capital. O epicentro da crise estava na Escola Municipal Joaquim Manuel de Macedo. A instituição homenageia o escritor romântico do século XIX, autor de A moreninha, obra clássica que narra um amor proibido numa ilha pacata, tal como Paquetá.

A escola é a maior do bairro. Tinha então 304 crianças, a maior parte entre 6 e 11 anos. O professor dava aula para duas turmas, somando cerca de 50 alunos. Na ilha, onde todo mundo se conhece, a história dos abusos correu mais veloz do que qualquer bicicleta – o principal meio de locomoção em Paquetá, onde carros não entram.

R., uma das mães, contou que vinha notando o comportamento atípico da filha de 8 anos. A criança andava desatenta. Antes vaidosa, sempre querendo se maquiar, não se arrumava mais. Nem sequer penteava o cabelo para ir à escola. Só prendia os fios num coque. Reclamava de dor de barriga com frequência, clássica desculpa para faltar às aulas. Tinha preocupação enorme em nunca deixar de fazer o dever de casa. “Chorava. Eu perguntava por que tanto desespero. Ela dizia que quem não fazia o dever tinha de passar o recreio sozinho com o professor.”

Em 17 de junho, quando recebeu a ligação de S., ela se lembrou de um alerta que ignorara meses antes. A filha havia comentado que o professor tinha dado um tapa na bunda de uma de suas amigas. “Não levei a sério, achei que ele podia ter tentado dar um tapinha nas costas da menina e acertou a bunda dela. Achei que era paranoia minha.”

R. questionou a filha novamente. “Ela disse que o tio C. botava a mão embaixo de sua camisa, fazia que sentasse em seu colo. Ameaçava dizendo que, se não o atendesse, não iria passar de ano e ficaria com nota zero”, disse o relato formalizado no posto avançado da 5ª Delegacia de Polícia (DP), que funciona no bairro.

Outras mães ouviram histórias parecidas. Em alguns casos, piores. Pelo menos duas relataram que as filhas, ambas de 7 anos, teriam sido obrigadas a praticar sexo oral no professor. Nesses casos, os abusos aconteciam dentro da sala de projeção, no auditório da escola. O professor, de acordo com as meninas, as colocava para assistir a um filme. Durante a projeção, escolhia aquela que levaria para dentro da sala, na qual ficavam a sós.

Os relatos diversos mostravam que o professor tinha um método. Ele misturava ameaças com incentivos para manter as vítimas em silêncio. Uma hora, prometia notas boas, depois, dizia que repetiria de ano quem não fizesse o que ele determinava. Em um caso, pelo menos, disse para a menina que, se contasse algo para a mãe, seria levada embora da família pelo Conselho Tutelar. Em outro, disse que mataria a família da criança. “Ele ia na maciota, usava a gente. O que mais me afetou foi isso. Nas reuniões de pais, ele pedia para a gente reforçar com nossas filhas que elas tinham de lhe obedecer, que ali ele era a lei. Eu mesma fiz, falei para minha filha ‘faz o que o professor tá falando”‘, contou R.

Inicialmente, quatro mães foram prestar queixa. Uma das mães nem conseguiu falar, só chorava. Do lado de fora do posto, uma multidão se aglomerou para entender o que acontecia. “Juntou um grupo de mães dizendo que a gente estava inventando, que o professor era bonzinho, que uma delas até levava bolo para ele na escola”, disse R.

Havia oito vítimas de estupro no registro de ocorrência, o maior registro de estupro em escolas, de acordo com o Instituto de Segurança Pública. O menino que reportou o caso também foi classificado como vítima. Na data do fato, a criança mais nova vítima de estupro tinha 7 anos e a mais velha 11. Embora o caso seja de junho de 2013, algumas foram molestadas em 2012, ano em que o professor começou a dar aulas em Paquetá. Posteriormente, o Ministério Público (MP) viria a entender que foram seis vítimas, mas enfatizou que o número de menores vítimas de abuso poderia ser maior.

“Teve muito mais meninas”, disse S. “Muitas mães decidiram não registrar queixa porque eram da igreja”.

Laudos psicológicos de três crianças foram elaborados para tentar averiguar se os depoimentos seriam fantasiosos ou resultado de falsa memória. Todos apontam que os discursos não têm indícios de ser fabricados. Finalizados nos primeiros meses de 2014, eles mostram ainda a confusão das meninas e o impacto que a denúncia teve na vida delas. “Os sentimentos de vergonha e culpa com relação aos contatos sexuais perpetrados pelo professor, bem como os sentimentos de raiva expressos com relação a ele, podem comprometer a autoestima de X., que, em alguns momentos, se vê como pessoa ruim por ter sentimentos tão negativos em relação ao professor, que, para ela, passou a ser também uma referência afetiva”, diz o laudo de uma das crianças. ‘”Eu via que ele parecia que gostava de mim, dizia que eu era bonita (…) às vezes penso em juntar dinheiro para tirar o tio C. da cadeia, mas às vezes queria que ele morresse’.”

Uma noite, no ano passado, a filha de R. acordou gritando. A mãe foi até o quarto acudir a criança, que contou ter sonhado com o professor. Não era a primeira vez. A mãe teve de reaprender a cuidar da criança. “Nunca quis ouvir os detalhes, mesmo ela querendo contar. Depois, fiquei muito protetora, não queria nem ela usando shortinho curto, não queria que ela chamasse a atenção. A psicóloga falou que era importante eu deixar ela ser criança, não tratar diferente.”

Hoje, a mãe conta que a filha voltou a ser criança. “Vejo outras meninas que passaram pela mesma coisa, mas não tiveram tratamento. Elas parecem mais adultas, como se tivessem crescido antes do tempo”, avaliou R. Além do sono tranquilo da criança, o caso destruiu seu sonho. “O sonho dela era ser atriz”, contou. Depois do estupro, a filha deixou de querer se expor. A reportagem perguntou qual era o sonho da criança hoje. “Hoje nem sei mais. Mas às vezes ela olha para a TV e me diz: ‘Podia ser eu lá, não é, mãe?’. Mexeu com ela, mexeu sim.”

Mais do que um caso de destaque pelo número de vítimas, os abusos em série ocorridos na ilha também chamam a atenção pela lentidão dos órgãos oficiais. Cinco anos depois, o inquérito não chegou aos tribunais e o professor continua integrando os quadros da prefeitura do Rio de Janeiro. Essa demora não é exceção. De 2010 a maio de 2017, houve 639 estupros em estabelecimentos de ensino, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP). Analisou-se dez casos com múltiplas vítimas, como o de Paquetá, e constatou-se que apenas um deles chegou aos tribunais. Foi arquivado por falta de provas. Todos os nove restantes são inquéritos, alguns mais antigos que os da ilha. Somados, esses dez casos contabilizam 48 estupros de menores.

A demora torna praticamente impossível a condenação dos culpados, afirmou Itamar Gonçalves, gerente da Childhood Brasil, ONG internacional que luta contra o abuso infantil. “Muitas vezes, a criança que faz a denúncia não é a única vítima. E, ao responsabilizar esse adulto, evita-se o abuso de outras. É preciso mostrar para a criança que a coragem dela valeu a pena”, declarou. “Hoje, na Justiça tradicional, uma denúncia desse tipo em geral entra pelo Conselho Tutelar, chega à delegacia e depois vai ao tribunal. Somando tudo isso, dá uns quatro anos. Se for rápido, vai em torno de dois. Muitas vezes a própria família exerce uma pressão tremenda em cima da criança para que deixe o assunto de lado, o que pode acabar acontecendo.”

Sandra Pinto Levy, coordenadora do Núcleo de Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes (Nudeca) do Tribunal de justiça (TJ) do Rio, apontou que a escuta de crianças no sistema da Justiça é um tema delicado. Em geral, casos de abuso sexual infantil não deixam vestígio, se a palavra da vítima é uma das poucas provas no processo. Diante de uma denúncia de um possível abuso, o sistema deve agir o mais rápido possível. principalmente quando se trata de uma criança mais nova.

O grande problema da demora de qualquer investigação no sistema legal é a memória das crianças. Maleável, ela pode sofrer distorções, transformar algo sugestionado em real. Esse sugestionamento por parte de um adulto pode ser proposital ou não. Levy deu como exemplo o pai ao cuidar da assadura da filha e passar pomada. Dependendo de como a pessoa que ouve o fato o recebe e faz indagações, pode alterar o acontecimento na mente da criança. “A menina pode chegar à casa da mãe e dizer que o pai passou a mão, que está ardendo. Sem querer, a mãe pode fazer perguntas indutivas, com perguntas fechadas de sim ou não. E a criança, em deferência ao adulto, vai respondendo positivamente, o que pode transformar aquilo em um outro acontecimento”, exemplificou. “Dependendo do tempo decorrido, até que um especialista venha ouvir a criança, poderá ser difícil ou impossível constatar se é real ou não. Quando se aborda de forma indutiva, pelo susto, sem cuidados com as perguntas, a mãe pode gerar uma memória na criança e aquilo pode passar a ser verdade para ela. Aí não há mais como saber.”

Na legislação, a luta contra o abuso infantil passou por duas revoluções recentes: a primeira em 2009, e a segunda neste ano. Antes de 2010, entendia se que só eram estupros os casos em que havia a chamada “conjunção carnal”, o que excluiria, por exemplo, os crimes cometidos em Paquetá. A nova legislação, porém, entende que outros atos de abuso sexual mediante força podem ser caracterizados como estupro. Caso a legislação antiga ainda estivesse valendo, nenhum dos dez casos analisados poderia ser considerado estupro.

A segunda mudança foi a chamada Lei da Escuta (Lei 13.431/2017), que estabelece princípios para a escuta protegida de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. O objetivo é evitar que a criança passe por diversas entrevistas na rede de proteção. Além de revitimizar, essa repetição de entrevistas influencia a lembrança, pois a cada conversa a criança absorve percepções, impressões ou palavras que poderão se associar à memória.

De acordo com Sandra Levy, pesquisas apontam que hoje meninas e meninos são ouvidos de oito a dez vezes ao longo de um processo, precisando repetir a situação de violência sofrida para diversos órgãos de atendimento. A nova legislação cria a “escuta especializada” e o “depoimento especial”, ambos já praticados no TJ do Rio por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais treinados.

Um grupo de trabalho que reúne membros do Tribunal de Justiça do Rio, do Ministério Público, da Polícia Civil, das secretarias estaduais de Saúde e Assistência, da OAB e da Fundação da Infância e Juventude (FIA) busca formas de aplicar a nova lei no estado. “O objetivo é organizar e instituir normas padronizadas para todo o estado, organizando as competências e as atribuições de cada órgão de atendimento e, além disso, como se dará a comunicação entre esses órgãos.”

Se o caso de Paquetá algum dia chegar aos tribunais, os depoimentos das crianças, hoje cinco anos mais velhas, serão determinantes. Elas precisarão voltar ao passado para rememorar o ocorrido, já dentro do sistema de “depoimento especial”. Nele, as crianças vão conversar com um psicólogo treinado, que servirá de intermediário entre as perguntas do promotor, da defesa e do juiz sobre o caso. O especialista usará um ponto eletrônico e o vídeo da criança será transmitido ao vivo para a sala onde ocorrerá o julgamento.

Como os laudos de corpo de delito deram todos negativos, a palavra das vítimas será a principal arma da promotoria. E a memória delas, depois de todo esse tempo, será testada.

A demora da Justiça pode ter dificultado a produção de provas físicas. Em 27 de junho o então promotor responsável pelo caso pediu a prisão temporária e a emissão de um mandado de busca e apreensão, mas só em 12 de agosto eles foram deferidos. A prisão ocorreu no dia 21 daquele mês. O computador de C. chegou a ser levado, mas nada de incriminador foi encontrado.

As consequências da acusação de abuso infantil foram devastadoras para a vida do docente. O professor foi afastado imediatamente. Trabalhou no setor de RH da 1ª CRE até sua prisão temporária ser decretada.

C. negou todas as acusações. “O declarante, ao tomar ciência do conteúdo dos autos, afirma que as meninas abraçavam e beijavam o declarante”, diz um trecho de seu depoimento de nove páginas. Ele afirmou que eram as crianças que tentavam subir em seu colo, e que ele as afastava. Confirmou que chegou a convidar uma delas para ir a um sítio, mas declarou que teria convidado a mãe a ir junto.

No auditório eram exibidos os filmes Transformers e X-Men, uma vez por semana. C. argumentou que ficava próximo à sala de projeção para o caso de algum problema no vídeo. Negou abusar das crianças ali dentro. “O declarante às vezes ia à sala de projeção sozinho, as crianças às vezes ficavam curiosas, ‘ih tio, que legal…’, e o declarante dizia ‘vamos embora…’.”

Se inocente, as acusações decretaram o fim de uma carreira iniciada em 2005. Quando pleiteou sua soltura na Justiça, um colega de C. enviou um depoimento à Justiça atestando ter total confiança no amigo. “(Ele) sempre me convenceu ser pessoa de total idoneidade e lisura moral. No tempo que trabalhamos juntos, como profissional sempre demonstrou em minha presença total carinho, apreço e atenção a seus alunos: regulares ou com necessidades especiais. Junto a sua família, sempre admirei o carinho com que trata e cuida do filho e da esposa. Por várias vezes me incentivou a ter filhos, o que veio a ocorrer no último ano.”

A igreja que frequentava reuniu 153 assinaturas de fiéis atestando sua conduta “moral, ética, espiritual e familiar”. O documento foi enviado para o MP, que em outubro de 2013 opinou favoravelmente a sua soltura, dois meses depois de ser preso. Segundo a mulher, ele não pôde voltar para casa, por medo da reação que a acusação poderia ter na comunidade, então ficou na casa da mãe. Antes mesmo de ser preso, o professor afirmou ter caído em depressão. Em depoimento, disse que estava sob acompanhamento psicológico, tomando “Rivotril na veia”. O filho também precisou de psicólogo. Nas redes sociais, C. foi alvo de linchamento virtual. “O declarante afirmou que viu no Facebook uma foto sua com a seguinte frase embaixo: ‘Este é o pedófilo que atacou aqui na escola’.” O autor da postagem pedia que a publicação fosse compartilhada, para que o professor fosse preso.

Em janeiro de 2014, a mulher de C. foi até a 74′ DP, em São Gonçalo. Registrou que o professor havia desaparecido. Na delegacia, ela disse acreditar que o marido surtou, pois estava em estado de pânico, depressivo, “em razão de ter sido acusado e preso injustamente”. No plano administrativo, a prefeitura do Rio cometeu erros. Apesar de o professor não estar mais trabalhando desde que saiu da prisão, continuou a receber. Mesmo após o registro de ocorrência de seu desaparecimento ser lavrado, o dinheiro continuou a entrar. O inquérito administrativo por faltas contra o professor só foi aberto em 29 de junho de 2015 e ainda segue em aberto sem qualquer punição contra o servidor.

Os recursos, ainda que indevidos, teriam sido um alento para a família: a mulher trabalha como cabeleireira, e a situação financeira do marido não era das melhores. Em fevereiro de 2014 seu salário bruto foi de R$ 2.306,20. Mas o professor tinha seis empréstimos consignados e mais a mensalidade do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) para pagar, totalizando um desconto de R$ 959,98 direto na folha de pagamentos. No fim das contas, no contracheque daquele mês constavam R$ 1.346,22 líquidos, depositados na conta do professor no Santander, responsável por administrar os pagamentos dos servidores da prefeitura do Rio.

Em 2015, a mulher do professor entrou na Justiça com uma ação declaratória de ausência, para ter acesso aos recursos depositados em sua conta. Na prática, ela admitia ali que não via mais possibilidade de encontrá­lo: essas ações normalmente são concedidas quando a pessoa é presumida como morta.

O professor continuou recebendo seu salário normalmente de novembro de 2013 até agosto de 2015, quando a prefeitura finalmente constatou o erro e encerrou os repasses, abrindo, finalmente, um inquérito por abandono de cargo. O montante pago no período foi de R$ 41.927,12. Na conta no Santander, em 11 de julho de 2017, constava um saldo de apenas R$ 0,50. Ou seja, alguém, em algum lugar, estava sacando esse dinheiro.

Em nota, a prefeitura disse que cobrará a devolução do dinheiro e que, se considerado culpado pela Justiça, excluirá o servidor de seus quadros. A servidora da Secretaria Municipal de Administração identificada como a responsável pelo suposto atraso em uma das etapas do inquérito sobre o abandono de cargo foi exonerada em dezembro de 2015.

O promotor responsável pelo caso dos abusos em Paquetá, Marcelo Muniz, assumiu a função há cerca de um ano. Ele nem sequer sabia do desaparecimento do principal suspeito. No mesmo dia, pediu novas diligências para o caso, como a elaboração de um auto de exame de corpo de delito de uma das vítimas, que até hoje não consta no inquérito. Faltam também o laudo de exame psicológico de três vítimas e a juntada de uma sindicância aos documentos. De acordo com Muniz, de posse dessas informações será possível oferecer ou não denúncia contra o professor na Justiça. O prazo dado por ele para essas diligências foi de 120 dias.

Muniz argumentou que a demora, de mais de cinco anos, para o caso chegar aos tribunais é natural. Ele apontou ser impossível oferecer a denúncia sem que todos os elementos tenham sido apurados. “É muito comum (demorar cinco anos). O prazo com o qual trabalhamos é o prazo prescricional. Temos a necessidade de concluir tudo para garantir o êxito. Se você não trabalha com o prazo prescricional, realmente pode parecer que demorou muito. Não posso oferecer uma denúncia frágil que resulte na absolvição.”

Como são seis vítimas, se considerado culpado, o professor poderá ser condenado a até 72 anos de prisão.

Os efeitos do terremoto causado pelo caso de Paquetá não são mais visíveis na superfície. Na escola, crianças pequenas continuam voltando sozinhas para casa, algo difícil de ver no “continente”, onde o risco de violência urbana está sempre presente. O portão da Joaquim Manuel de Macedo segue destrancado durante o dia e até as professoras que viveram o escândalo de perto precisam ouvir o nome do professor para se lembrar de que o caso aconteceu.                     

GESTÃO E CARREIRA

SEM FORÇAR A AMIZADE

Conviver com colegas com os quais você não tem afinidade é difícil. Mas é preciso tomar algumas atitudes para melhorar o relacionamento – caso contrário, a produtividade e a qualidade de vida podem ser afetadas.

Sem forçar a amizade

É Fato que passamos mais tempo ao lado das pessoas com quem trabalhamos do que com amigos e parentes. Por isso, o relacionamento com nossos colegas ou chefes acaba se tornando crucial para o bem-estar. De acordo com uma pesquisa feita por professores da Universidade Rutgers, quando os funcionários se tornam amigos, a avaliações de desempenho costumam ser melhores do que as de profissionais que trabalham em ambientes sem amizades. Entre as explicações está o fato de que, entre camaradas, fica mais fácil colaborar, pedir ajuda manter o bom humor. “Quando gostam um do outro, os indivíduos ficam mais abertos e tolerantes, a cooperação flui e a compaixão e a empatia se fazem presente”, diz Cintia Machado, diretora executiva da lnternational Coach Federation (ICF). Isso faz com que o trabalho pareça mais fácil, as tarefas árduas sejam feitas de forma mais leve e a solução de problemas seja mais criativa e eficaz. O problema é que nem sempre a turma do escritório é formada por gente com a qual passaríamos as férias. E desgostar desse pessoal, além de piorar as entregas, causa impactos negativos na saúde mental. No livro Toxic Coworkers (“Colegas ´Tóxicos, numa tradução livre, sem edição no Brasil), os psicólogos Alan A. Cavaiola e Neil J. Lavender publicam uma pesquisa que revela que 80% dos profissionais se sentem moderada ou gravemente estressados quando precisam conviver com pares, subordinados ou chefes difíceis. ”As pessoas não se dispõem a colaborar umas com as outras e há desmotivação”, diz Vanessa Cepello, professora na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Inverter esse quadro nem sempre é fácil, mas é possível melhorar o relacionamento – sem forçar a amizade. A seguir, um passo a passo para solucionar a situação.

1 – AROXIMAÇÃO CAUTELOSA

Aproximar-se de quem você não tem tanta afinidade é um exercício que estimula a empatia e a busca por diversidade. Afinal, colocar-se na pele do outro é entender um novo ponto de vista –   mesmo que ele seja completamente diferente do seu. Mas, às vezes, não dá para fazer isso no ambiente formal do trabalho e é preciso estar em momentos mais descontraídos, como num almoço ou numa happy hour. ‘Um encontro fora do escritório pode ser muito bom para quebrar o clima. Se estiver num pequeno grupo, sente-se à frente da pessoa com quem você não se dá para que possam iniciar um diálogo. Aproveite para observá-la enquanto conversa com outros e aprenda sobre suas necessidades, diz Cintia, da ICF. “Conhecer a história do indivíduo é a chave para compreender o mundo em suas perspectivas emocional e intelectual”.

2 – HONESTIDADE DELICADA

De nada adianta se aproximar se isso for feito com falsidade. Melhor ir direto ao ponto. “Minha dica é ser honesto com a pessoa. Diga: “Você sabe tão bem quanto eu que não somos os melhores parceiros de trabalho, mas temos uma tarefa a realizar. O que acha de deixarmos nossas diferenças de lado e cumprirmos nossos afazeres?”, diz Dinael Corrêa de Campos, vice coordenador do curso de especialização em gestão estratégica de pessoas e psicologia organizacional e do trabalho da Unesp.

3 – O CORPO FALA

Fazer uma saudação efusiva ao ver a pessoa de quem não gosta pode parecer irônico e piorar o relacionamento. Seja respeitoso e cordial, ouvindo com atenção, fazendo contato visual e até sorrindo ao cumprimentar. Mas a ideia principal não é usar técnicas corporais apenas para que o outro se sinta acolhido e menos ameaçado com relação a você, mas para que o relacionamento se torne natural. “A partir do momento em que você tem clareza sobre os motivos que fazem com que seu colega se araste, não precisa mais se preocupar com a linguagem corporal que tem de usar, pois serei natural – e não ameaçadora”, diz Dinael.

4 – OLHO NO OLHO

Você deve se comunicar com quem não gosta apenas quando necessário – e só por e-mail ou mensagem. Tudo para evitar diálogos que levem a conflitos. Mas isso só aumenta o distanciamento e piora a convivência. Por mais difícil que seja, evite esses atalhos e converse mais pessoalmente. Muitas vezes a comunicação escrita, principalmente a de mensagens Instantâneas, está sujeita a mal-entendidos e a omissão dos elementos não verbais, que correspondem a mais de 70% do processo de compreensão. “Busque o olho no olho. Apenas tome cuidado para que seu tom de voz e sua feição indiquem que você não está lá para criar problemas”, afirma Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

5 – GENTILEZA GERA GENTILEZA

Oferecer ajuda pode criar laços que, até então, eram impensáveis. “Isso ativa um gatilho mental poderoso que é o da reciprocidade, aquilo que é correspondido mutuamente -, diz Fellipe Silvester, consultor de carreiras e gestão organizacional. Essa pode ser, ainda, uma oportunidade de conhecer o potencial do outro e estabelecer uma conexão. Mas preste atenção. “A melhor maneira de oferecer ajuda é mostrando uma dificuldade própria. Tenha cuidado para não passar a impressão de que você sabe de tudo”, diz Maria, da Robert Half. E mantenha a discrição. Caso contrário, pode parecer que sua atitude tem o objetivo de autopromoção.

6 – MENOS EXPECTATIVAS

parou para pensar por que não gosta daquela pessoa? Será que não está tendo expectativas irreais sobre os colegas de trabalho? “O principal problema é a idealização, pois criamos alguém perfeito, que corresponda aquilo que queremos, mas não devemos nos esquecer que a relação a dois pressupõe dois e, por isso, é preciso baixar as expectativas para que aconteça um encontro real, afirma Dinael, da Unesp. Lembre-se, também, de que no ambiente profissional não podemos esperar ter a mesma proximidade emocional com todo mundo. E totalmente aceitável que alguém tenha um comportamento mais formal, cumprindo com suas obrigações, porém sem desejar proximidade.

7 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Lembre-se de que você não precisa gostar de todo mundo e que é normal alguém irritá-lo por agir de um jeito que não lhe agrade. A saída para se blindar dos momentos de estresse na convivência é entender, a fundo, os próprios gatilhos. “Trabalhe a inteligência emocional para perceber a emoção e compreender sua causa, o que lhe dá a possibilidade de decidir como agir”, diz Cintia, da ICF. Uma boa maneira de fazer isso é filtrar as informações recebidas (deixando de lado as coisas que chateiam) e treinar para sempre se acalmar antes das respostas.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 1-13

Alimento diário

O sermão de Cristo aos seus irmãos. Os rumores a respeito de Cristo

Aqui temos:

I – A razão pela qual Cristo passava mais tempo na Galileia do que na Judéia (v. 1): porque “os judeus”, o povo da Judéia e de Jerusalém, “procurava matá-lo”, por ter curado o paralítico no sábado, cap. 5.16. Eles pensavam em matá-lo, fosse por um tumulto do povo, ou por um processo legal, e por isto Ele ficava à distância, em outra parte da nação, fora das linhas de comunicação de Jerusalém. Não está escrito: Ele não andaria pela Judéia, mas: Ele “não queria andar pela Judéia”. Não foi por medo ou covardia que Ele se recusou, mas por prudência, porque sua hora ainda não era chegada. Observe que:

1. A luz do Evangelho é, com justiça, afastada daqueles que se esforçam para apagá-la. Cristo irá se afastar daqueles que o afastam de si, irá ocultar seu rosto daqueles que cospem nele, e, com razão, irá fechar suas profundezas àqueles que as desprezam.

2. Em tempos de perigo iminente, não é somente permitido, mas aconselhável, afastar-se e fugir, para nossa própria segurança e preservação, e escolher servir nos lugares que sejam menos perigosos, Mateus 10.23. Só seremos chamados para expor e entregar nossa vida quando não pudermos salvá-la sem pecar, e não em alguma situação diferente desta.

3. Se a providência de Deus leva as pessoas de mérito a lugares de obscuridade e pouca importância, isto não deve ser considerado estranho. Era a sorte do nosso próprio Mestre. Aquele que era digno de sentar-se na mais alta das cadeiras de Moisés voluntariamente andava na Galileia entre as pessoas comuns. Observe que Ele não ficou parado na Galileia, nem se enterrou vivo ali, mas andava. Ele andava por ali fazendo o bem. Quando não pudermos fazer o que queremos, e onde queremos, nós devemos fazer o que pudermos, e onde pudermos.

 II – A proximidade da Festa dos Tabernáculos (v. 2), uma das três solenidades que exigiam o comparecimento de todos os varões a Jerusalém. Veja a instituição desta festa, Levítico 23.34ss., e como ela foi revivida depois de muito tempo em desuso, Neemias 8.14. Ela pretendia ser tanto uma recordação da condição de Tabernáculo de Israel no deserto como uma imagem da condição do Tabernáculo do Israel espiritual de Deus neste mundo. Esta festa, que tinha sido instituída há muitas centenas de anos antes, ainda era religiosamente observada. Observe que as instituições divinas nunca ficam antiquadas, nem fora de moda, devido à passagem do tempo, nem devem ser esquecidas às graças do deserto. Mas ela é chamada de festa dos judeus, porque dentro de pouco tempo seria abolida, como uma característica meramente judaica, e deixada àqueles que serviam no Tabernáculo.

 III – O sermão de Cristo aos seus irmãos, alguns dos seus parentes, não se sabendo ao certo se sua mãe ou seu suposto pai estavam presentes. Mas estes eram os que fingiam ter interesse por Ele, e por isto interferiram para aconselhá-lo quanto à sua conduta. Observe:

1. Sua ambição e sua altivez ao insistir que Ele fizesse mais aparições públicas do que fazia: “Sai daqui e vai para a Judéia”, disseram eles, (v. 3), pois ali ficarás mais em evidência do que aqui.

(1) Eles dão duas justificativas para este conselho:

[1] Que isto seria um incentivo para que aqueles que habitavam em Jerusalém, e nas proximidades, tivessem respeito por Ele. Pois, à espera do seu reino temporal, o trono real que eles concluíam que devia estar em Jerusalém, eles queriam que os discípulos dali fossem particularmente incentivados, e consideravam que o tempo que Ele passava entre seus discípulos da Galileia era um tempo desperdiçado, e seus milagres não teriam mérito, a menos que as pessoas de Jerusalém os vissem. Ou: “Para que seus ‘discípulos’, todos eles, em geral, que estivessem reunidos em Jerusalém para observar a festa, pudessem ver suas obras, e não uns poucos em uma ou outra ocasião, como aqui”.

[2] Que isto promoveria seu nome e sua honra: “Não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto”. Eles supunham que Cristo procurava fazer-se conhecido, e por isto julgavam que era um absurdo que Ele ocultasse seus milagres: ‘”Se fazes essas coisas’, se és tão capaz de obter o aplauso do povo e a aprovação dos líderes pelos milagres, aventure-se ao estrangeiro, e ‘manifesta-te ao mundo’. Apoiado por estas credenciais, você não deixará de ser aceito, e por isto é o momento certo para definir um interesse, e pensar em ser grande”.

(2) Ninguém pensaria que houvesse algum mal neste conselho, mas ainda assim o evangelista o considerou como uma evidência da infidelidade deles: “Porque nem mesmo seus irmãos criam nele” (v. 5), pois se cressem, não teriam dito isto. Observe:

[1] Era uma honra ser parente de Cristo, mas não uma honra que levasse alguém automaticamente à salvação. Aqueles que ouvem suas palavras, e as guardam, são os parentes que Ele valoriza. Certamente, a graça não corre em nenhum sangue no mundo, exceto no sangue da família de Cristo.

[2] Era um sinal de que Cristo não almejava nenhum interesse secular, pois, se assim fosse, seus irmãos teriam se adequado a este, e Ele os teria beneficiado primeiro.

[3] Havia aqueles que eram parentes de Cristo segundo a carne, que realmente criam nele (três dos doze eram seus irmãos), ao passo que outros, tão relacionados a Ele quanto aqueles, não criam nele. Muitos dos que têm os mesmos privilégios e vantagens externos não fazem o mesmo uso deles. Mas:

(3) O que havia de errado com o conselho que eles lhe deram? Eu respondo:

[1] Era muita presunção por parte deles dar ordens a Cristo, e ensinar a Ele quais medidas tomar. Era um sinal de que eles não acreditavam que Ele fosse capaz de guiá-los, se não o julgavam suficiente para guiar a si mesmo.

[2] Eles revelaram uma grande despreocupação com a segurança dele, quando desejavam que Ele fosse à Judéia, onde sabiam que os judeus procuravam matá-lo. Aqueles que criam nele, e o amavam, dissuadiam-no de ir à Judéia, cap. 11.8.

[3] Alguns pensam que eles acreditavam que, se seus milagres fossem realizados em Jerusalém, os fariseus e líderes os experimentariam, e descobririam alguma trapaça ou algum truque neles, o que justificaria sua falta de fé.

[4] Talvez eles estivessem cansados da sua presença na Galileia (Pois não são galileus todos estes que falam?) e talvez isto fosse, na verdade, um desejo de que Ele saísse da sua região.

[5] Infundadamente, eles insinuam que Ele negligenciava seus discípulos, e lhes negava uma visão das suas obras, que seria necessária para dar suporte à sua fé.

[6] Tacitamente, eles o censuram como se Ele tivesse um espírito inferior, pois Ele não deseja fazer parte das listas dos grandes homens, nem colocar-se no palco da ação pública, coisa que, se tivesse alguma coragem e grandeza na alma, Ele faria, e não se esquivaria desta maneira, escondendo-se em um canto. Desta maneira, a humildade de Cristo, e sua humilhação, e a pouca presença que sua religião normalmente tem tido no mundo, sempre se conve1tiam em uma censura a Ele e a ela.

[7] Eles parecem questionar a verdade dos milagres que Ele realizava, dizendo: “Se você pode fazer estas coisas, se elas suportam o teste de um escrutínio público das cortes, realize-os lá”.

[8] Eles julgam que Cristo é alguém completamente igual a eles mesmos, tão sujeito à política do mundo e tão desejoso quanto eles de realizar uma boa exibição na carne, ao passo que Ele não procurava a honra dos homens.

[9] O egoísmo estava no fundo de tudo. Eles esperavam que, se Ele se apresentasse tão grandioso quanto podia, eles, sendo seus parentes, compartilhariam da sua honra, e seriam respeitados por causa dele. Observe que, em primeiro lugar, muitas pessoas carnais comparecem aos cultos públicos para adorar na festa, ou seja, somente para se exibirem, e toda sua preocupação é fazer uma boa apresentação pública, apresentarem-se de maneira agradável ao mundo. Em segundo lugar, muitos dos que parecem procurar a honra de Cristo, na realidade, estão procurando a sua própria, e procuram torná-la útil para si mesmos.

2. A prudência e a humildade do nosso Senhor Jesus, que fica evidente na sua resposta ao conselho que seus irmãos lhe deram, vv. 6-8. Embora houvesse tantas insinuações perversas no conselho, Ele responde mansamente. Observe que mesmo aquilo que é dito sem razão deve ser respondido sem paixão. Nós devemos aprender com nosso Mestre a responder com mansidão mesmo àquilo que é mais impertinente e imperioso, e onde for fácil encontrar muita incorreção, parecer não vê-la, e fechar os olhos à afronta. Eles esperavam a companhia de Cristo na festa, talvez esperando que Ele tolerasse o que eles diziam. Mas aqui:

(1) Ele mostra a diferença entre Ele e eles, em dois aspectos:

[1] Sua hora era fixada, e não a deles: “Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto”. Entendemos o tempo como sendo sua ida à festa. Era indiferente a eles a ocasião quando fossem, pois não tinham nada a fazer onde estavam, que os detivesse ali, nem onde iam, que os apressasse para lá. Mas cada minuto do tempo de Cristo era precioso, e tinha sua própria atividade designada a ele. Ele ainda tinha algum trabalho para realizar na Galileia antes de deixar a região. Na concordância dos Evangelhos, entre esta sugestão feita pelos seus irmãos e sua ida à festa, está a história do envio dos setenta discípulos (Lucas 10.1 ss.), o que foi um evento de grandes consequências. Seu tempo ainda não era chegado, pois isto deveria ser feito antes. Aqueles que vivem vidas inúteis têm seu tempo sempre pronto. Eles podem ir e vir quando quiserem. Mas aqueles cujo tempo está repleto de obrigações frequentemente se encontrarão presos, e não terão tempo para aquilo que os outros podem fazer a qualquer momento. Aqueles que são servos de Deus, como todos os homens deveriam sei e que se fazem servos de todos, como são todos os homens úteis, não devem esperar controlar seu próprio tempo. A prisão do trabalho é melhor do que a liberdade da ociosidade. Ou isto pode significar o tempo da sua aparição pública em Jerusalém. Cristo, que conhece todos os homens e todas as coisas, sabia qual era o momento melhor e mais adequado, pois seria aproximadamente no meio da festa. Nós, que somos ignorantes e de pouca visão, somos capazes de tentar dar ordens a Ele e de pensar que Ele deveria libertar seu povo e manifestar-se agora. O tempo presente é nosso tempo, mas o Senhor é mais capacitado para julgar, e pode ser que seu tempo ainda não seja chegado. Seu povo ainda não está preparado para a libertação, nem seus inimigos, prontos para a destruição. Portanto, esperemos com paciência pelo seu tempo, pois tudo o que Ele faz será mais glorioso na ocasião apropriada.

[2] Sua vida era procurada, e não a deles, v. 7. Ao se mostra rem ao mundo, eles não corriam riscos: “O mundo não vos pode odiar”, porque sois do mundo, sois seus filhos, seus servos, e estais no mundo com seus interesses, e sem dúvida o mundo irá amar os seus”. Veja cap. 15.19. Às almas ímpias, a quem o santo Deus não pode amar, o mundo que está na iniquidade não pode odiar. Mas Cristo, ao se apresentar ao mundo, expunha-se aos maiores perigos, pois “ele [o mundo] me odeia a mim”. Cristo não somente era desprezado, como insignificante no mundo (o mundo não o conhecia), mas odiado, como se tivesse sido prejudicial ao mundo. Assim, Ele era mal recompensado pelo seu amor ao mundo: o pecado reinante consiste em uma antipatia e uma inimizade enraizadas por Cristo. Mas por que o mundo odiava a Cristo? Que mal Ele lhe tinha feito? Teria Ele, como Alexandre, sob o pretexto de conquistar, assolado o mundo? “Não, mas porque”, diz Ele, “dele testifico que as suas obras são más”. Observe que, em primeiro lugar, as obras de um mundo mau são obras más. Os frutos são como é a árvore: é um mundo escuro, e apóstata, e suas obras são obras de trevas e rebelião. Em segundo lugar, nosso Senhor Jesus, tanto por si mesmo quanto por meio dos seus ministros, revelou e testemunhou contra as más obras deste mundo pecaminoso, e continuará a fazê-lo. Em terceiro lugar, é um grande constrangimento e uma provocação ao mundo ser condenado pela maldade das suas obras. É para a honra da virtude e da piedade que aqueles que são ímpios e maldosos não se preocupam em ouvir, pois suas próprias consciências os envergonham da maldade que existe no pecado, e os fazem temer o castigo que segue o pecado. Em quarto lugar, não importa qual seja o pretexto, a real causa da inimizade do mundo ao Evangelho é o testemunho que ele dá contra o pecado e os pecadores. As testemunhas de Cristo, pela sua doutrina e pelas suas palavras, atormentam aqueles que habitam na terra, e por isso elas são tratadas de maneira tão bárbara, Apocalipse 11.10. Mas é melhor sofrer o ódio do mundo, testificando contra sua maldade, do que obter sua boa vontade, acompanhando sua corrente.

(2) Ele os envia, com o desejo de permanecer por algum tempo na Galileia (v.8): “Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta festa”.

[1] Ele permite que eles subam à festa, embora fossem carnais e hipócritas. Note que mesmo aqueles que não comparecem às ordenanças sagradas por motivos justos e intenções sinceras não devem ser impedidos nem desencorajados de participar. Quem sabe se eles não serão transformados ali?

[2] Ele lhes nega sua companhia quando vão à festa, por que eles eram carnais e hipócritas. Aqueles que comparecem às ordenanças por ostentação, ou servem a algum propósito secular, vão sem Cristo, e o resultado será correspondente. Como é triste a condição daquele homem, embora se considere parente de Cristo, a quem Ele diz: “Suba a tal ordenança, vá orar, vá ouvir a palavra, vá receber o sacramento, mas Eu não irei com você. Vá e apresente-se diante de Deus, mas eu não me apresentarei com você”, como em Êxodo 33.1-3. Mas, se a presença de Cristo não for conosco, com que objetivo devemos ir? “Subi vós… eu não subo”. Quando nós estamos indo, ou voltando de ordenanças solenes, é conveniente que sejamos cautelosos quanto à companhia que temos e escolhemos, e evitemos aquela que for vaidosa e carnal, para que a brasa das boas intenções não seja apagada por uma comunicação corrompida. “Eu não subo ainda a esta festa”. Ele não diz: Eu não subo, de maneira nenhuma, mas diz: Não ainda. Pode haver razões para adiar uma obrigação particular, que, no entanto, não deve ser completamente omitida ou negligenciada. Veja Números 9.6-11. A razão que Ele dá é: “Ainda o meu tempo não está cumprido”. Observe que nosso Senhor Jesus é muito exato e pontual no conhecimento e acompanhamento do seu tempo, e assim como havia o tempo fixado, também havia o melhor tempo.

3. A permanência de Cristo na Galileia até que seu tempo tivesse chegado, v. 9. Ele, havendo-lhes dito isso, “ficou na Galileia”. Por causa deste sermão, Ele permaneceu ali, pois:

(1) Ele não seria influenciado por aqueles que o aconselhavam a procurar a honra dos homens, nem acompanharia aqueles que se aproveitariam dele para se exibirem. Ele não toleraria a tentação.

(2) Ele não deseja abandonar seu próprio objetivo. Ele tinha dito, com uma visão clara e deliberação amadurecida, que Ele não subiria ainda a esta festa, e, portanto, Ele permaneceu na Galileia. É conveniente que os seguidores de Cristo sejam também firmes, e não usem de leviandade.

4. Sua ida à festa, quando seu tempo chegou. Observe:

(1) Quando Ele foi: “Quando seus irmãos já tinham subido”. Ele não desejava subir com eles, para que eles não provocassem um alvoroço e distúrbio, com o pretexto de mostrá-lo ao mundo, considerando que, de acordo tanto com a predição como com seu espírito, “não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça”, Isaías 42.2. Mas Ele subiu depois deles. Nós podemos, legitimamente, estar presentes à mesma adoração religiosa daqueles com quem não desejamos ter um conhecimento íntimo, e um relacionamento de amizade que inclua frequentes conversas, pois a bênção das ordenanças depende da graça de Deus, e não da graça dos companheiros de adoração. Seus irmãos carnais subiram antes, e depois Ele subiu. Observe, que no desempenho externo da religião, é possível que os hipócritas oficiais possam obter as vantagens daqueles que são sinceros. Muitos podem ir ao templo antes, os que são levados pela arrogância, e sem justificativa, como o fariseu de Lucas 18.11. A questão não é: Quem vem primeiro? Mas: Quem vem mais preparado? Se nossos corações estiverem completamente voltados ao Senhor, não importará quem chegue antes de nós.

(2) Como Ele foi – como se estivesse se escondendo: “não manifestamente, mas como em oculto”, mais por medo de ofender do que de ser ofendido. Ele subiu à festa, por que esta seria uma oportunidade de honrar a Deus e fazer o bem, mas Ele subiu como em oculto, por que não desejava provocar o governo. Observe que a obra de Deus é realizada com eficácia, e é mais bem realizada, quando realizada com menos alvoroço. O reino de Deus não precisa vir com aparência exterior, Lucas 17.20. Nós podemos realizar a obra de Deus privativamente, e mesmo assim não realizá-la de modo enganoso.

5. A grande expectativa que havia sobre Ele entre os judeus de Jerusalém, vv. 11-14. Tendo vindo anteriormente às festas, e se identificado pelos milagres que realizava, Ele tinha se tornado o assunto de muita discussão e observação.

(1) Eles não podiam deixar de pensar nele (v. 11): “Os judeus procuravam-no na festa e diziam: Onde está ele?”

[1] As pessoas comuns desejavam vê-lo ali, para que pudessem ter sua curiosidade satisfeita com a visão da sua pessoa e dos seus milagres. Elas não julgavam que valesse a pena ir procurá-lo na Galileia, embora, se o tivessem feito, o esforço não teria sido perdido, mas esperavam que a festa o trouxesse a Jerusalém, quando então poderiam vê-lo. Se uma oportunidade de conhecer a Cristo lhes vem à porta, eles devem apreciá-la. “Procuravam-no na festa”. Quando nós nos apresentamos diante de Deus nas suas santas ordenanças, devemos procurar Cristo nelas, procurá-lo nas festas do Evangelho. Aqueles que desejam ver a Cristo em uma festa devem procurá-lo ali. Ou:

[2] Talvez fossem seus inimigos, que esperavam uma oportunidade de prendê-lo, e, se possível, interromper definitivamente seu progresso. Eles diziam: “Onde está ele?” Eles falavam dele de maneira desprezível e zombeteira. Quando deviam ter aproveitado a festa como uma oportunidade de servir a Deus, eles estavam satisfeitos por usá-la como uma oportunidade de perseguir a Cristo. Assim, Saul esperou assassinar Davi na lua nova, 1 Samuel 20.27. Aqueles que procuram uma oportunidade de pecar nas assembleias solenes de adoração religiosa estão profanando as ordenanças de Deus ao máximo, desafiando-o em seu próprio terreno. É como bater com o bordão da corte.

(2) As pessoas tinham sentimentos muito diferentes a respeito dele (v. 12): “Havia grande murmuração entre a multidão a respeito dele”. A inimizade dos governantes contra Cristo, e suas buscas, faziam-no ainda mais comentado e observado entre o povo. O Evangelho de Cristo conquistou este terreno devido à oposição feita a ele, que foi mais inquirido, e, sendo mal reputado em todo lugar, em todo lugar veio a ser reputado, e por meio deste expediente, foi propagado ainda mais, e os méritos de sua causa foram mais investigados. Estes murmúrios não eram contra Cristo, mas a respeito dele. Alguns murmuravam contra os líderes, porque não o toleravam e incentivavam. Outros murmuravam contra eles por­ que não o silenciavam e refreavam. Alguns murmuravam que Ele tinha muito interesse na Galileia. Outros, que Ele tinha pouco interesse em Jerusalém. Observe que Cristo e seu Evangelho têm sido, e serão, assunto de muita controvérsia e muito debate, Lucas 12.51,52. Se todos estivessem de acordo em receber a Cristo como deveriam, haveria uma paz perfeita. Mas como alguns recebem a luz e outros deliberam contra ela, haverá murmúrios. Os ossos no vale, embora estejam mortos e secos, estavam quietos. Mas quando lhes foi dito: Vivam, houve um ruído e uma agitação, Ezequiel 37.7. Mas o ruído e o reencontro da liberdade e do trabalho são preferíveis, certamente, ao silêncio e à conformidade de uma prisão. Quais eram os sentimentos do povo a respeito de Jesus?

[1] “Diziam alguns: Ele é bom”. Isto era uma verdade, mas estava longe de ser toda a verdade. Ele não somente era um bom homem, mas era mais do que um homem, Ele era o Filho de Deus. Muitos que não pensam mal de Cristo, ainda assim têm pensamentos inferiores a respeito dele, e mal o honram, mesmo quando falam bem dele, porque não dizem o suficiente. Mas o fato de que mesmo aqueles que não acreditavam que Ele fosse o Messias não podiam deixar de reconhecer que Ele era um bom homem era verdadeiramente uma honra para Cristo, e uma reprovação para aqueles que o perseguiam.

[2] “Outros diziam: Não; antes, engana o povo”. Se isto fosse verdade, Ele teria sido um homem muito mau. A doutrina que Ele pregava era sólida, e não podia ser contestada; seus milagres eram reais, e não podiam deixar de ser provados; suas palavras eram manifestamente santas e boas. E, ainda assim, supunha-se, apesar disto, que houvesse alguma trapaça não revelada no fundo, porque era interesse dos principais dos sacerdotes opor-se a Ele e destruí-lo. Murmúrios como estes que havia entre os judeus, a respeito de Cristo, ainda existem entre nós. Os socinianos dizem: Ele é um bom homem, e não dizem nada mais; os deístas não reconhecem isto, mas dizem: Ele engana o povo. Desta maneira, alguns o depreciam, outros o maltratam, mas grande é a verdade.

[3] Eles tinham medo de falar muito sobre Ele, devido aos seus superiores (v. 13): “Ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus”. Ou, em primeiro lugar, eles não ousavam falar bem dele abertamente. Embora todos tivessem liberdade de criticá-lo e reprová-lo, ninguém o defendia. Ou, em segundo lugar; eles não ousavam falar abertamente nada sobre Ele. Como nada poderia ser dito contra Ele com justiça, eles não toleravam que nada fosse dito sobre Ele. Era um crime dizer seu nome. Assim, muitos desejaram suprimir a verdade, sob o pretexto de silenciar as controvérsias sobre ela, e desejavam silenciar todas as conversas sobre religião, esperando, desta maneira, enterrar a própria religião no esquecimento.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

EXISTE ESCOLHA CERTA?

Todos os dias, tomamos milhares de decisões, desde as corriqueiras sobre o tipo de bebida que preferimos até aquelas a respeito da pessoa com quem queremos dividir (ou continuar dividindo) a vida.

Existe escolha certa

Os mecanismos que influenciam nossas decisões têm sido investigados pela ciência há muito tempo. Um marco nesse campo foi a troca de cartas entre dois eminentes matemáticos franceses, Blaise Pascal e Pierre de Fermat, em 1654. Seus insights sobre jogos de azar formaram a base da teoria da probabilidade. No século 20, o tema atraiu a atenção de psicólogos, cientistas sociais e economistas. Algumas “teorias da decisão” consideram que os seres humanos tendem a pesar cada opção, levando em conta seu valor e probabilidade para, em seguida, tomar a resolução “mais adequada”. Na prática, porém, não é bem assim. Talvez seja mais fácil entender como gostaríamos de fazer escolhas, guiados por princípios lógicos, do que como de fato as fazemos. A verdade é que uma gama de fatores molda e embasa nossas opções: tendências inatas, emoções, expectativas, equívocos, características de personalidade, aspectos culturais e conteúdos inconscientes. Às vezes, a tomada de decisão pode parecer inconsistente ou perversa, e o mais intrigante talvez seja o quão frequentemente forças aparentemente irracionais nos ajudam a fazer a opção certa – se é que ela existe.

Todos os dias, tomamos milhares de decisões – desde definir a marca de café que preferimos até avaliar relacionamentos. Não é novidade que nossas emoções podem ser a força motriz nos processos de tomada de escolha. Do ponto de vista evolutivo, muitas vezes o que sentimos (mais até do que aquilo que pensamos) nos direcionou para a sobrevivência. A raiva, por exemplo, pode nos motivar a punir um transgressor, o que, para nossos antepassados, foi fundamental na manutenção da ordem e da coesão do grupo. Já o nojo nos torna exigentes e moralistas, levando a escolhas que podem evitar doenças e o descumprimento de normas sociais. O medo, por sua vez, nos deixa mais cuidadosos – e, às vezes, nos mantém vivos. Se pensarmos na reação de seres humanos pré-históricos diante de um ruído nos arbustos, talvez valha considerar que os mais corajosos, que não apostaram na possibilidade de haver um predador escondido entre as folhagens, tenham pago com a própria vida pelo erro de avaliação – e, assim, não conseguiram passar seus genes para a geração seguinte. Especialistas consideram que emoções nos ajudam a nos concentrar no que realmente importa em dado momento, já que até mesmo as situações diárias mais básicas são complexas para nosso cérebro e exigem que inúmeras informações sejam levadas em conta. Por isso, sempre que possível é preciso simplificar.

O pesquisador Gordon Brown, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirma, porém, que na maioria das vezes tendemos a classificar possibilidades com base em processos cognitivamente fáceis, como comparações binárias. Por exemplo: ao decidir se R$ 5,50 é muito para pagar por um suco, você pode se lembrar de meia dúzia de ocasiões em que o mesmo produto custou menos e de apenas duas nas quais pagou mais, o que o fará colocar essa bebida específica na categoria “cara” – e, eventualmente, optar por não comprá-la. Essa é uma típica “decisão por amostragem”, útil quando temos à disposição opções simplificadas, mas que podem levar a decisões ruins quando as informações usadas para classificar possibilidades estiverem incorretas, forem limitadas ou se basearem em crenças falsas. A decisão por amostragem pode influenciar nossas escolhas até quando enfrentamos ameaças mais imediatas. Pessoas que vivem em sociedades com altas taxas de mortalidade, por exemplo, são mais propensas a decidir colocar-se em risco em comparação com alguém que tem pouca experiência de perigo.

SEGUINDO O REBANHO

Ainda do ponto de vista da evolução, por meio da aprendizagem podemos aprimorar nossa capacidade de escolher as informações sobre as quais baseamos nossas decisões. A seleção natural pode explicar até a intrigante propensão da maioria das pessoas para evitar fazer escolhas mais amplas – e simplesmente “seguir o rebanho”. O pesquisador Rob Boyd, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, destaca que nós, humanos, evoluímos à medida que aprendemos com os outros e os imitamos – até porque essa é, muitas vezes, uma boa opção.

Na maioria das situações, saber por si só qual é a melhor coisa a fazer está além da capacidade de um único indivíduo. Mas somos bons em reconhecer o que os outros fazem de forma acertada – e copiar. Resultado: nossas tendências conformistas em geral nos levam a escolhas surpreendentemente eficazes, que nos permitem nos socializar quando começamos um novo curso ou trabalho e a adquirir produtos de qualidade mesmo quando não somos experts.

O lado ruim da situação é que, excessivamente conformados, corremos o risco de nos desresponsabilizar por nossas opções e cair nas armadilhas da manipulação, sem sequer nos darmos conta disso. Desabituados a exercitar o pensamento crítico, abrimos espaço para preconceitos. Assim, em situações novas ou nas quais trabalhamos com informação limitada, temos o hábito infeliz de basear nossas decisões em conexões aleatórias. Esse efeito, conhecido como “ancoragem”, foi apresentado pela primeira vez pelos psicólogos Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, ganhador do Nobel de Economia em 2002, e Amos Tversky, já falecido, que participou da pesquisa que rendeu o prêmio ao colega.

Os dois revelaram algumas atitudes peculiares em relação ao risco. Por exemplo, tendemos a ser muito mais cautelosos quando há a possibilidade de grandes ganhos ou de perdas pequenas. No entanto, escolhemos opções arriscadas sem grande apreensão se existe a probabilidade de pequenos ganhos ou de perda significativa. Essa inclinação para subestimar eventos raros, mas catastróficos, tem sido chamada de “efeito cisne negro”. O que se pode dizer sem medo de errar é que nossas escolhas, quaisquer que sejam, grandes ou pequenas, estão sujeitas a uma quantidade enorme de influências e variáveis, nem todas sob nosso controle. Mas tudo indica que a compreensão mais clara das forças que sustentam nossas decisões pode nos ajudar a fazer melhores escolhas. Um exemplo prático? A descoberta recente de pesquisadores das universidades Ben-Gurion, em Israel, e Stanford sobre a “fadiga de decisão”, que faz com que juízes sejam quatro vezes mais propensos a conceder penas menores de manhã do que à tarde, poderá persuadir não só os profissionais, mas qualquer pessoa a ser mais cuidadosa quando se vê diante de um dilema. E, com certeza, de todas as escolhas que enfrentamos todos os dias, a de se comprometer a tomar boas decisões é seguramente a melhor.

RECONHECER O ERRO FAZ BEM

Do ponto de vista evolutivo, o arrependimento por ter tomado uma decisão errada está associado à preservação da espécie. Embora seja desagradável, esse sentimento tem enorme importância, já que deveríamos tirar dele lições e, assim, correr menos riscos de sofrer decepções quando novamente precisarmos fazer escolhas no futuro. Os mais habilidosos para tomar decisões contariam com uma espécie de “superioridade”, teriam maiores chances de viver mais, de forma saudável, e, consequentemente, transmitir seus genes.

Hoje, numerosos estudos mostram que pessoas com lesão no lobo orbito frontal apresentam grande dificuldade para tomar decisões que as beneficiem e, por isso, tendem a perder o emprego, são incapazes de manter relações pessoais estáveis e fazem repetidamente investimentos financeiros desastrosos. Porém, essa anomalia não resulta de falta de conhecimento, criatividade ou inteligência.

O neurocientista Antônio Damásio, professor de psicologia e neurologia da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles, acredita que o problema está relacionado a um déficit emocional. Esses pacientes seriam incapazes de produzir “marcadores somáticos”, isto é, reações emocionais manifestadas quando antecipamos uma decisão, as quais nos previnem dos resultados prováveis da escolha que nos preparamos para fazer (por exemplo, o desconforto que sentimos diante da ideia de repreender severamente um amigo).

Estudos desenvolvidos pela neuropsicóloga Ângela Sirigu, em parceria com os neuroeconomistas Giorgio Coricelli e Nathalie Camille, então do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), sugerem que o arrependimento constitui um marcador somático controlado primeiramente pelo córtex orbito frontal – daí lesões nessa região acarretarem consequências tão específicas. Essa área teria se tornado muito importante por conduzir todas as situações de escolha, produzindo os “arrependimentos antecipados” − daí a sensação desconfortável, uma espécie de “efeito colateral” de nossa capacidade de fazer escolhas. Inversamente, as pessoas incapazes de se arrepender tomam decisões que com frequência lhes trazem dificuldades.

OUTROS OLHARES

ALTRUÍSMO VERSUS EGOÍSMO

A era na qual é politicamente correto fazer trabalho voluntário debate essa questão. Afinal, doar- se ao outro é consciência social ou satisfação do ego?

Altruísmo versus egoísmo

Diante das dores e dificuldades que rondam a população nesse momento atual de crise, aliadas ao desejo de muitos em tentar ajudar o seu próximo, muitas questões podem ser levantadas e refletidas acerca do tema: altruísmo versus egoísmo.

Até que ponto abrir mão de si para cuidar do bem-estar do outro pode ser considerado altruísmo? Até que ponto colocar uma vontade ou necessidade sua em primeiro lugar pode ser considerado egoísmo? É evidente que cada caso deve ser analisado à parte, mas o fato é que qualquer situação que envolva esse tipo de questão exige uma reflexão acerca de ambos os lados envolvidos. Pois caso contrário, caímos num problema de outra ordem, como falta de amor-próprio, abnegação, julgamento equivocado, críticas e condenações injustas etc.

LIMITE TÊNUE

Vamos começar a pensar nessa questão que atormenta e é motivo de culpa e críticas em todas as esferas de relações interpessoais. Pegando a definição dos termos, temos o seguinte:

Altruísmo é um tipo de comportamento encontrado em seres humanos e outros seres vivos, em que as ações voluntárias de um indivíduo beneficiam outros. É sinônimo de filantropia. No sentido comum do termo é, muitas vezes, percebida como sinônimo de solidariedade. A palavra “altruísmo” foi criada em 1831 pelo filósofo francês Auguste Comte para caracterizar o conjunto das disposições humanas (individuais e coletivas) que inclinam os seres humanos a se dedicarem aos outros. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são as inclinações específicas e exclusivamente individuais (pessoais ou coletivas).

Egoísmo (ego + ismo) é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona. Nesse sentido, é o antônimo de altruísmo.

Olhando de longe, e grosso modo, notamos que ambos são tidos como antônimos. Mas há que se tomar cuidado com esse tipo de conceito na prática diária. Muito cuidado deve se ter ao buscar o limite saudável ou equilibrado entre um e outro. Deve-se estar atento no sentido de não prejudicar nenhum dos lados para beneficiar o outro. Se a ajuda ao próximo implica em prejuízo ao ajudador, deve ser avaliada a extensão e a profundidade desse prejuízo. Dependendo do prejuízo, não se justifica efetivar esse tipo de “ajuda” que beneficia o necessitado, mas lesa o ajudador e/ ou os que dele dependam de alguma forma. E sendo dessa maneira, não se pode apontar essa decisão como egoísta.

Tomando esse tipo de cuidado, o de não prejudicar nenhum dos lados – o ajudador-ajudado ou eu -outro -, nada há de errado em colocar seus cuidados e necessidades pessoais em primeiro lugar. Há quem afirme, inclusive, que o ideal é procurar cuidar de si primeiro e estar pleno para então cuidar do outro. Atribui-se o nome de amor-próprio para esse tipo de conduta.

A generosidade consiste em dar ao outro o que excede em você.

Como dar ao outro o que nos falta? Se não me cuido, como posso estar apto e pronto a cuidar do próximo? Dessa forma, pressupõe-se que você deveria estar minimamente abastecido de algo para então poder compartilhar com os demais o que lhe abunda e falta ao outro.

Lembremos da instrução dada pelas aeromoças nos procedimentos para decolagem: em caso de despressurização das cabines, os pais devem colocar primeiramente as máscaras de oxigênio em si para então colocar em seus filhos. Um conceito um tanto controverso em uma sociedade em que aprendemos que crianças e idosos devem ter a prioridade e que é errado pensar primeiro em si. Mas, dependendo da situação, como num caso de ajuda como esse, se você não se cuida e salva como poderá cuidar e salvar a vida do outro?

Seria altruísta tirar sua roupa do corpo para aplacar o frio do outro e passar a sentir e sofrer com o frio? Quantos adultos vemos hoje tentando ensinar o altruísmo às suas crianças, tentando fazer com que elas abram mão do que estão brincando e emprestem ao amiguinho para não serem egoístas? Seria correto ensinar uma criança pequena a abrir mão de suas vontades, gostos e desejos em detrimento da vontade alheia? Qual o limite entre altruísmo e egoísmo?

Precisamos sim ensinar as crianças a pensar no próximo, ensiná-las a dividir coisas e lidar com a espera e a frustração. Mas há que se estar atento ao momento certo e à forma de ensinar esse tipo de valor tão complexo de ser compreendido em sua essência real. Não estamos defendendo, por exemplo, o caso da criança que possui um saco cheio de biscoitos e se nega a dar alguns aos coleguinhas.

Mas devemos estar atentos para não ensiná-la, mesmo sem notar, que seus desejos ou necessidades não devem importar diante do desejo ou necessidade do outro.

Precisa-se tomar cuidado com a maneira que ensinamos para que, realmente, se aprenda sobre altruísmo e egoísmo, e na vida adulta não padeça com relações na quais ela se anula e prejudica em benefício do seu próximo para ser querida, valo­ rizada ou reconhecida pelos demais como uma boa pessoa.

As crianças menores, por estarem ainda formando sua personalidade, necessitam se abastecer e nutrir para formarem o seu mundo interno e sua personalidade primeiramente. Mais tarde, a partir disso, podem e devem aprender a reconhecer e a lidar melhor com o mundo e as necessidades do outro. E precisarão aprender a avaliar e decidir o que fazer quando seus desejos e necessidades vão contra os desejos e as necessidades do outro, de forma a poder compor uma solução mais equilibrada possível. Uma solução que prejudique o menos possível ambas as partes, sem desconsiderar nenhuma das partes, porque mesmo que a outra parte seja a aparente­ mente prejudicada pela decisão es­ colhida, sabemos já que o prejuízo real recai sobre todos os envolvidos em alguma proporção.

O mais efetivo no sentido da transferência de valores como esses para as crianças está no exemplo dado pelos pais. As crianças aprenderão sobre altruísmo ou egoísmo vendo como os adultos mais próximos agem nesse sentido. E o processo de aprendizagem se dará de uma forma mais natural, numa espécie de imitação. Se aliamos isso a muita conversa e orientação, conseguimos ajudar que eles compreendam esses conceitos e apliquem em suas vidas.

Altruísmo versus egoísmo.5

TRABALHO VOLUNTÁRIO

Muitas instituições e pessoas se encontram hoje dedicando seu tempo, suor e/ou dinheiro com o objetivo de ajudar pessoas carentes. Podemos ver movimentos significativos em instituições ou através de mídias sociais com essa finalidade; de prover o que alguns necessitam para sobreviver ou ajudar a viver de forma mais digna e saudável.

Acerca disso, há muito o que se discutir. Há quem diga que a facilidade de receber doações e ajuda faz com que pessoas se acomodem e permaneçam na condição de pedinte, ao invés de procurar algum tipo de trabalho remunerado para o autossustento ou sustento da família.

Ouvimos muitos casos nos quais pessoas simulam uma doença ou situação caótica para angariar fundos de pessoas bondosas e utilizar essa verba para fins não explicitados e não tão nobres. E isso vai tirando a capacidade do ser humano de acreditar no seu próximo, vai nos tornando desconfiados e arredios quando abordados por algum necessitado. E, infelizmente, alguns pagam pela má-fé de tantos outros.

Mas o fato que não podemos esquecer é do benefício que o trabalho voluntário, feito com amor e com disposição para servir, traz para quem o recebe e lógico que para os que o praticam também. Muitas crianças e idosos abandonados, doentes esquecidos em leitos de hospitais, portadores de necessidades especiais, moradores de rua, pessoas sem recurso financeiro suficiente para sustentarem suas famílias, e tantos outros grupos com alguma demanda, são hoje beneficiados por diversas instituições de caridade espalhadas por aí.

Com ou sem um vínculo religioso, essas instituições se propõem a aliviar a dor e o sofrimento de algum grupo específico de pessoas, e quem participa de um programa desses pode se sentir útil e satisfeito consigo por poder dedicar parte de seu tempo ao cuidado de quem precisa.

Com afeto, respeito, atenção, música, brincadeiras, alimentos, serviços profissionais dos mais variados tipos ou conversas, esses voluntários passam a fazer a diferença no dia a dia das pessoas carentes. E não se pode negar seu precioso valor.

Outra coisa que não se pode negar é o bem-estar e a satisfação pessoal que esse tipo de prática traz ao ajudador. Há pessoas que encontram o sentido de vida ou o alento para suas almas nesse tipo de tarefa no bem. E os ganhos, nesses casos, são infinitamente maiores do que o que é ofertado aos necessitados.

FUGA DE PROBLEMAS

trabalho de assistência e caridade deveria começar em casa, com o cuidado de sua família e manutenção de um ambiente familiar saudável. Parece paradoxo ver um voluntário saindo para realizar um bonito trabalho de assistência a pessoas carentes, deixando em casa seus familiares desassistidos em qualquer âmbito dessa palavra – de cuidado, afeto, atenção, preocupação ou de sua simples presença no dia a dia familiar.

Infelizmente, esse quadro não é algo raro de acontecer. É comum nos surpreendermos com a informação de que algum voluntário dedicado e amoroso em seu trabalho assistencial se transforma em casa com seu (ua) parceiro(a) e filhos agindo de forma intolerante, rude e seca, por exemplo. Será que essas pessoas notam sua drástica mudança? Como um familiar seu deve se sentir ao vê-lo tão amável e prestativo nos demais ambientes, ao mesmo tempo que se mantém tão pesado e difícil de lidar dentro de casa?

Há pessoas que não consegue m manter uma convivência harmoniosa em casa e acabam se embrenhando em algum tipo de trabalho assistencial de forma a fugir um pouco de seu ambiente hostil, onde mantêm relações desafiadoras, para se sentirem melhor de alguma forma a serviço do bem. Um perigo, nesses casos, é a pessoa manter o trabalho voluntário como uma bengala para um casamento falido, por exemplo, ou para a manutenção de uma situação dolorosa em sua vida pessoal, que acaba alienada pela distração nos afazeres do bem. Enquanto o trabalho fica nesse lugar, de certa forma preenchendo o es­ paço vazio e amenizando os embates e mal-estar, o problema tarda a ser solucionado. E a dor se mantém ali, preservada e inalterada.

Às vezes, a dificuldade está em se modificar, outras está em modificar algo em sua relação. Mas se não dedicamos nossa atenção a isso, apenas prolongamos amarguras e dor e retardamos o nosso desenvolvimento e crescimento pessoal e/ou nas relações. Temos também os casos nos quais as pessoas parecem ter uma boa relação em casa, mas estão tão preocupadas com o externo que acabam por deixar seus “afortunados filhos” de lado para cuidar dos carentes, sem ter a menor consciência do que estão fazendo.

Está aí mais um ponto importante a se avaliar. De que vale acolher e cuidar das pessoas carentes de qualquer instituição se deixo de dar assistência aos participantes do meu núcleo familiar, deixando-os, de certa forma, carentes ou desprovidos de algo tão fundamental quanto o afeto? Isso pode acontecer por elas julgarem o trabalho voluntário mais importante e glorioso, por necessitarem do reconhecimento e admiração social, pela dificuldade de encarar seu trabalho pessoal de reforma íntima ou a necessidade de resolução de seus conflitos interpessoais em família.

Quem nunca conheceu alguém irrequieto, que viveu uma vida inteira correndo de um lado para o outro, se atribulando com ocupações e tarefas externas evitando estarem quietas e sozinhas consigo mesmas, para não se depararem com suas questões internas? São pessoas que têm tanta dificuldade de se olharem e entrarem em contato com suas mazelas e dores na alma que passam sua vida ou parte dela se “distraindo” em cuidar e resolver os problemas dos outros. E esses outros vão de parceiros, filhos ou parentes, vizinhos até trabalhos assistenciais e pessoas carentes conhecidas ou não. E nessa busca desenfreada de negar o contato com seu ser e com as dores e marcas que carregam, muitas pessoas têm vivido uma vida praticamente superficial e artificial. Pois o vazio na alma toma conta, cada vez mais, fazendo com que elas pareçam alegres e agradáveis do lado de fora, mas permaneçam secas e amarguradas por dentro.

Nesse sentido, podemos questionar a manutenção do trabalho voluntário na vida de pessoas assim. O quanto será que essa ajuda mecânica – possível para esse tipo de pessoa destruída e perturbada internamente acrescenta mais aos necessitados do que a possibilidade de cura e alívio de sua dor interna?

Será que para o necessitado existe diferença em receber algo que transborda e extrapola do outro ou receber de quem esburaca sua alma para ajudar? Talvez não superficialmente. Então, podemos concluir que o autocuidado é tão importante quanto o cuidado ao próximo. Se queremos ser boas ferramentas no alívio do sofrimento humano, precisamos lembrar também de cuidar de nosso sofrimento pessoal. Um cuidado fortalece e potencializa o outro. Ambos são importantes e necessários e nenhum exclui a necessidade do outro, apenas se complementam e empoderam.

DIFICULDADE RELACIONAL

Existem pessoas que tendem a trabalhar demais. Geralmente são pessoas que só encontram conforto nessa área da vida e, por isso, permanecem focados nela. Ter que sair da sua zona de conforto e segurança para encarar novas áreas desafiadoras da vida acaba sendo uma tarefa deixada de lado. E, dessa forma, as pessoas se acomodam em áreas que dominam com facilidade, mas, com isso, evitam seu desenvolvimento e crescimento através de experiências novas.

O trabalho voluntário passa a ser uma forma de essas pessoas se inserirem em um grupo e manterem algum tipo de relação; mesmo que distanciada e impessoal. Representa, muitas vezes, a possibilidade de aplacar a solidão em que se encontram e passam a ser um alento muitas vezes maior para o voluntário do que para o ajudado.

Mesmo que nesse tipo de tarefa o contato não necessite ser estreito e as relações não se aprofundem, essa passa a ser uma forma, mesmo que distanciada de relação. Longe de um relacionamento íntimo, mas, muitas vezes, a forma possível daquela pessoa de se relacionar.

Além de todas as questões levantadas até agora acerca da prática do trabalho voluntário, temos ainda o conflito entre o motivo de muitos voluntários estarem na posição de ajudadores para alimentar seu ego e não pelo altruísmo.

Isso se dá de forma muito sutil e parece mais frequente do que se imagina. Existem instituições nas quais a entrada de novos voluntários já se torna algo difícil e seletivo. Como compreender uma instituição de caridade que limita ou condiciona a entrada de novos voluntários de forma que inviabiliza o aumento de seu potencial de ajuda?

E quando a pessoa interessada em participar de um programa voluntário consegue, por vezes com muito custo, ingressar em alguma instituição de caridade, passa a ter de lidar com outras dificuldades. E dentre as causas desse rol de dificuldade algumas passam pela vaidade e pela necessidade de satisfação do ego pessoal. Fatores como tempo de serviço ou função ocupada na instituição, classe social, estado civil dentre outros são razões utilizadas para criar certa ascendência de uns perante outros.

E diante de tudo isso, muitas vezes vemos os interesses dos assistidos serem sobrepostos pela necessidade dos dirigentes estarem numa posição de comando, poder ou superioridade.

Seria caridade ingressar num trabalho assistencial, que tem o in­ tuito de ajudar o próximo, munido de uma crença de superioridade que o faz humilhar e submeter os demais voluntários?

Altruísmo versus egoísmo.4

CAMINHOS DA VAIDADE

Existem pessoas que se embrenham por esse campo e são seduzidas e arrebatadas pelo status e reconhecimento adquirido lá. E passam cada vez mais a dedicar seu tempo e esforço para esse tipo de atividade não pelo sentido de caridade que aquele trabalho tem, mas pela necessidade de ser cada vez mais reconhecido e valorizado.

É tentador ser reconhecido na rua, receber regalias e certo destaque e não querer mais e mais disso. E, em nome desse prazer, alguns deixam de dar atenção a outras áreas de suas vidas e se tornam escravos desse tipo de satisfação: a satisfação do ego. Nada lhe parece mais importante. A família fica de lado e os compromissos sociais se tornam mais frequentes. Até seu cuidado com a saúde fica de lado quando o assunto é se manter no foco dos holofotes!

Com isso, os vaidosos acabam por criar verdadeiros personagens dotados das características exatas para encantar e seduzir sua plateia de admiradores. Personagens que seduzem seguidores e ouvintes, mas que os distanciam cada vez mais de seu eu interior. Personagens que os tornam prisioneiros do aplauso e da admiração que vêm de fora. E os isolam de relações próximas e verdadeiras.

Pensando nisso, podemos afirmar que os maiores enganados não são as pessoas que recebem a ajuda, mas sim os ajudadores que estão ali em nome de outra coisa que não seja ajudar o próximo.

Por essas e outras razões precisamos estar atentos e nos questionar a todo momento em nome do que realizamos determinado trabalho voluntário. Quanto mais alinhados com nosso propósito estivermos, mais força nosso trabalho terá e mais poderemos ajudar.

Altruísmo versus egoísmo.2 

ESTATÍSTICA

Segundo dados divulgados em março deste ano, quatro em cada 100 pessoas desenvolvem algum trabalho voluntário no Brasil. Em números absolutos são 6,5 milhões de pessoas, o que representa 3.9% da população de mais de 14 anos. A informação é do módulo Outras Formas de Trabalho, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Continua), que concluiu que a proporção é maior entre mulheres (4.6%) que homens (3.1%) e maior nas regiões Norte (5.6%) e Sul (5.0%). Nordeste (3%) apresentou a menor taxa.

Altruísmo versus egoísmo.3

ENTIDADE

O Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP) foi criado em 1997 por um grupo de pessoas de diferentes segmentos da sociedade e por participantes de várias organizações sociais. A ideia surgiu devido à grande demanda de iniciativas da sociedade civil em relação ao trabalho

voluntário. O CVSP é uma organização sem fins lucrativos e integra uma grande rede de centros de voluntariado no país. Mais informações: http://www.voluntariado.org.br

GESTÃO E CARREIRA

E A VAGA VAI PARA…

Enviar vídeos vendendo o próprio peixe se torna cada vez mais comum nas disputas por um emprego. Saiba como se preparar para sair bem na fita.

e a vaga vai para.

Você acessa seu computador ou smartphone e grava um vídeo de 90 segundos mostrando por que você é especial. Parece seleção do Big Brother, mas é entrevista de emprego. Em vez de chamar a atenção de produtores de TV, o desafio está em convencer recrutadores. A seleção de talentos mudou.

Aquelas etapas longas e burocráticas estão sendo substituídas por processos mais tecnológicos. Isso ocorre por várias razões, segundo um relatório da consultoria Deloitte. Uma é o avanço da inteligência artificial, que possibilita às empresas aperfeiçoar metodologias. Outra é a entrada dos jovens no mercado de trabalho, que obriga as mesmas companhias a se reinventar. Assim, dinâmicas de grupo são substituídas por jogos virtuais e conversas com o RH perdem espaço para as filmagens caseiras. “Os vídeos proporcionam uma experiência mais atraente e confortável a quem procura emprego”, escrevem os autores do estudo. Na visão da Deloitte, além de as gravações serem mais práticas do que os encontros presenciais, elas ajudam a melhor identificar futuros funcionários, economizando dinheiro e reduzindo o tempo de contratação. Os vídeos também são mais seguros do que as conversas não padronizadas entre o profissional e os recrutadores, pois obrigam o candidato a responder de maneira objetiva a perguntas direcionadas – e permitem aos selecionadores tirar a teima revendo o arquivo de maneira minuciosa.

“Esse movimento surgiu nos Estados Unidos e chegou timidamente ao Brasil há cerca de seis anos. Agora cresce”, afirma André Miceli, coordenador do MBA de marketing digital na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Projeções mostram que até 2020, 80% do tráfego digital será de vídeos. Para André, a estatística deverá se estender à seleção de pessoas, com oito em cada dez processos usando essa ferramenta.

Na consultoria EY (antiga Ernest & Young), com 5.000 funcionários no Brasil, 40% das entrevistas de emprego conduzidas no escritório de São Paulo já ocorrem pelo Skype. Conversa olho no olho? Só na reta final. “0 vídeo permite observar o comportamento, a forma como o profissional se expressa e sua postura. Ainda assim, podemos perder alguns detalhes, como movimentos sutis que demonstrem nervosismo. Então, sempre fazemos um encontro presencial com o candidato, afirma Elisa Garra, diretora de RH da E.Y.

LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Itaú, Natura, Via Varejo e Drogasil são exemplos de grandes corporações que usam vídeo em alguma etapa do processo seletivo. As startups especializadas em soluções para gestão de pessoas (as HRTechs) são as principais responsáveis por levar o modus operandi de reality show ao recrutamento. Entre elas estão Kenoby, Connekt e Apponte. “O modelo serve para avaliar competências técnicas ou inglês”, diz Celso Hupfer, CEO da Connekt. Já Marcel Lotufo, sócio- fundador da Kenoby, diz que as gravações são solicitadas nas etapas mais avançadas do processo para facilitar a vida do RH. “Os vídeos funcionam melhor no final, quando boa parte dos candidatos já foi eliminada na análise de currículo ou nos questionários on-line.”

Mesmo com propostas diferentes, os empreendedores recomendam aos interessados que façam vídeos curtos, de até 2 minutos, apresentando a si mesmos ou respondendo a perguntas estratégicas – a filmagem pode ser feita no computador ou no celular. Às vezes, as companhias só dão uma chance ao profissional: depois de apertado o play, não dá para voltar atrás nem editar o que foi gravado.

Por enquanto, o recurso tem sido usado com candidatos em início de carreira, como estagiários, trainees, analistas e coordenadores. Rafael Henrique, de 28 anos, passou por esse tipo de recrutamento há dois meses. Para conquistar a vaga de analista de gestão de portfólio no banco Itaú, teve de fazer cinco vídeos respondendo a questões técnicas e comportamentais. Sua tática foi filmar em casa, num ambiente tranquilo e bem iluminado. “Isso me ajudou a manter a calma e a responder com autoridade”, afirma. Segundo ele, além de economizar no tempo de deslocamento, os vídeos também o ajudaram na posterior entrevista pelo Skype. “Já estava familiarizado com as exigências, então a conversa foi mais assertiva e produtiva para ambos os lados.”

DESCONFIANÇA

Embora os vídeos sejam cada vez mais comuns nos processos seletivos, Mário Custódio, gerente de treinamento da consultoria Robert Half vê o excesso de gravações com reserva. “A tecnologia ajuda, dando agilidade, mas atrás dela existe um ser humano e o contato pessoal não pode ser descartado.”

A analista financeira Gisele Tayar Varella, de 28 anos, era resistente à ideia de gravar a si mesma e já havia desistido de outros processos por causa disso. Até que resolveu encarar a câmera para conseguir uma vaga na Agente Imóvel, startup de imóveis. Ela teve de fazer cinco vídeos, sendo um deles em inglês, de 1 minuo cada um, respondendo a questões como: “O que você faria numa manhã de segunda-feira?” Gisele escreveu um roteiro para cada pergunta e leu os textos em voz alta. “Depois, filmei duas vezes para testar, porque estava atropelando as palavras.” Apesar de ter se empenhado nas gravações, a conversa presencial, na qual detalhou sua experiência na Austrália, foi decisiva. Como o atual gestor é sueco, eles buscavam alguém com vivência internacional.

Uma vez que as gravações podem ser o passaporte para a sonhada vaga de emprego, é melhor se preparar. Veja as dicas para se sair bem na fita.

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO

Recomendações de Fátima Toledo, responsável por preparar atores de filmes como Tropa de Elite e Cidade de Deus, e Dirceu Lemos, professor de rádio, TV e internet na Faculdade Cásper Libero

TESTE DE VÍDEO

Faça uma ou duas experiências rápidas de filmagem antes de começar o processo para valer – mas evite ensaiar muitas vezes para não ficar engessado. “Mantenha uma distância cujo enquadramento seja do busto para cima e olhe diretamente para a lente, imaginando que há uma pessoa do outro lado”, diz Dirceu. Ficar muito perto da lente, além de mostrar falsa intimidade com o interlocutor, destaca apenas o rosto e não permite que o recrutador avalie os movimentos corporais, o que pode prejudicar a escolha. Também não grave como se fosse uma selfie, pois é informal demais e dá a sensação de desleixo e descompromisso.

PREPARAÇÃO

É verdade que os atores fazem alguns exercícios antes das filmagens, mas são profissionais e, em geral, gravam várias horas seguidas, interpretando uma personagem. Como esse não é o caso, Fátima diz que o ideal é procurar relaxar antes de ligar a câmera. Não é necessário fazer exercício especifico. “Respire calmamente e fale como se estivesse conversando com alguém conhecido”, diz a preparadora de elenco. “Você vai se apresentar e falar de suas competências. Quanto mais natural, melhor.”

VISUAL DISCRETO

Evite peças brancas, listradas ou com padrões miúdos, como bolinhas, que podem confundir a visão no vídeo e causar o famoso ruído: quando a roupa chama mais a atenção do que aquilo que está sendo dito. Mulheres devem usar maquiagem leve. O cabelo pode ficar solto ou preso, tanto faz. O importante é estar confortável com o visual. Isso porque, de acordo com os especialistas, a câmera transparece quando se quer “vender” uma imagem que não é real. “Exagerar no esforço, na maioria das vezes, gera incômodo,” diz Fátima.

TELEPROMPTER IMPROVISADO

Antes de gravar os vídeos, crie um script. Organize as informações que pretende abordar de forma clara e objetiva, tendo em mente que você terá de ressaltar sua experiência profissional recente e destacar resultados obtidos. Para se sentir mais seguro, um truque é deixar um cartaz ao lado da câmera com palavras-chave para você se lembrar do que precisa dizer. Só cuidado para não parecer que está lendo, o que pegará mal. “Olhe discretamente, apenas para se manter dentro do roteiro”, diz o professor Dirceu. Desviar o olhar da lente o tempo todo demonstra insegurança, timidez ou, pior, que não se está falando a verdade.

AMBIENTE ADEQUADO

Na hora de gravar, escolha com atenção o local. “Recomendo uma parede neutra – se for gravar no quarto, cuidado com o ângulo da câmera para não mostrar sua cama desarrumada ou a porta de um armário aberta”, afirma Fátima. Lembre-se: quem precisa chamar a atenção é você, não os objetos de decoração. Como você não terá iluminação profissional à disposição, terá de se virar com a luz do ambiente. “Esse tipo de iluminação não favorece a imagem, pois gera sombra. O ideal é acender uma luminária ou abajur próximo a você”, diz Dirceu. O abajur com cúpula é o mais indicado, pois esse tipo de cobertura funciona como um difusor da luz. O professor recomenda ainda passar um lenço de papel no rosto para evitar que a pele brilhe. “Brilho remete a medo e tensão.”

ROTEIRO AMARRADO

O roteiro deve ser coerente e apresentar uma estrutura com começo, meio e fim. Isso evitará improvisos e, consequentemente, tropeços. Segundo Dirceu, para que o discurso não soe afetado ou, então, mecânico demais, use palavras e uma linguagem com a qual esteja acostumado. Priorize informações mais relevantes sobre você e sua carreira. Calcule também o tempo de gravação, para não falar rápido demais e atropelar as palavras, nem muito devagar, pois fica cansativo.

DETALHES TÉCNICOS

Antes de começar a filmar, limpe com um pano seco a lente da câmera – se ela estiver suja, a imagem pode ficar embaçada. Tenha cuidado, também, com o áudio. Desligue aparelhos (como telefone e alarmes) e feche janelas para evitar que o som exterior comprometa a qualidade da gravação. Se estiver gravando pelo celular, atenção para não cobrir o microfone do smartphone e abafar o som. Aliás, uma dúvida recorrente é se é melhor gravar no celular ou no computador. De acordo com os especialistas, depende do tipo de equipamento que você tem. Dirceu lembra que até filmes recentes, como Tangerine (2015) e o brasileiro Charlote SP (2016), foram feitos com iPhone 5. “Hoje, é possível criar um vídeo com qualidade acessando alguns tutoriais na internet e baixando programas gratuitos. Quem baixá-los pode ter um resultado ainda melhor.”

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 60-71 – PARTE II

Alimento diário

O Sermão de Cristo aos seus discípulos. O efeito do sermão de Cristo. O caráter de Judas

II – Suas palavras foram, para outros, cheiro de vida para vida. Muitos voltaram atrás, mas, graças a Deus, não todos. Mesmo nesta ocasião, os doze permaneceram com Ele. Embora a fé de alguns possa ser abalada, ainda assim a fundação de Deus permanece segura. Observe aqui:

1. A pergunta carinhosa que Cristo faz aos doze (v. 67): “Quereis vós também retirar-vos?” Ele não disse nada àqueles que se retiraram. Se os incrédulos se retiram, que se retirem. Não era grande a perda daqueles que Ele nunca teve. Vêm fácil, vão fácil. Mas o Senhor aproveita esta oportunidade para falar com os doze, para confirmá-los e, testando sua constância, deixá-los mais estáveis: “Quereis vós também retirar-vos?”

(1) “Vocês decidem, se vão ou não. Se desejam me abandonar, a hora é agora, quando tantos o fazem. É uma hora de tentação. Se vocês desejam tornar atrás, vão agora”. Observe que Cristo não deterá ninguém consigo, contra a vontade. Seus soldados são voluntários, e não homens pressionados. Os doze agora tinham tido tempo suficiente para julgar o que pensavam a respeito de Cristo e da sua doutrina, e, para que nenhum deles pudesse, posteriormente, dizer que tinham caído na armadilha do discipulado, e que, se pudessem fazê-lo novamente, não o fariam, aqui Ele lhes dá um poder de revogação, e deixa que eles decidam. Como em Josué 24.15; Rute 1.15.

(2) “Será por sua própria conta, se forem embora”. Se havia alguma inclinação secreta, no coração de qualquer um deles, de separar-se dele, Ele a interrompe com esta pergunta para despertá-los: ‘”Quereis vós também retirar-vos?’ Não penseis que tendes tão poucos objetivos como eles, e podeis ir embora tão facilmente como eles puderam. Eles não eram tão íntimos a mim como tendes sido, nem receberam de mim tantos favores. Eles se foram, mas vós também ireis? Lembrai-vos do seu caráter, e dizei: Não importa o que os outros façam, nós nunca partiremos. ‘Um homem, como eu, fugiria?”‘ Neemias 6.11. Observe que, quanto mais próximos estivermos de Cristo, e quanto mais tempo tivermos estado com Ele, mais vínculos teremos com Ele, e maior será nosso pecado, se o abandonarmos.

(3) “Tenho motivos para pensar que vocês não irão. Quereis retirar-vos? Não, Eu tenho uma influência mais forte sobre vocês do que sobre eles. Eu espero coisas melhores de vós (Hebreus 6.9), pois vós sois os que tendes permanecido comigo”, Lucas 22.28. Enquanto a apostasia de alguns é uma tristeza para o Senhor Jesus, a constância de outros é sua honra em uma medida muito maior, e Ele se compraz nela de uma forma bastante adequada. Cristo e o crente conhecem muito bem um ao outro, para que se separem a cada dissabor desta vida.

2. A resposta de fé que Pedro, em nome dos demais, deu a esta pergunta, vv. 68,69. Cristo lhes fez a pergunta, assim como Josué, que deixou Israel escolher a quem desejava servir, com o desejo de extrair deles uma promessa de união a Ele, e teve o resultado desejado. “Não, nós desejamos ser vir ao Senhor”. Pedro era, em todas as ocasiões, a boca dos demais, não tanto porque o Mestre o ouvisse mais do que a eles, mas porque ele tinha mais disposição para falar, e o que ele dizia era, às vezes, aprovado, e em outras ocasiões, repreendido (Mateus 16.17,23) – o destino comum daqueles que são rápidos para falar. Isto foi bem dito, admiravelmente bem dito, e provavelmente Pedro o disse mediante a orientação e o consentimento expresso dos seus co-discípulos. Pelo menos, ele sabia o que eles pensavam, e falava o que eles sentiam. E, se não fosse por Judas, poderíamos esperar o melhor de todo aquele grupo.

(1) Aqui está uma boa decisão de unir-se a Cristo, e é expressa de modo a indicar que eles não alimentariam o menor pensamento de deixá-lo: “‘Senhor, para quem iremos nós?” Seria tolice fugir de ti, a menos que soubéssemos onde haveria alguém melhor. Não, Senhor, nós conhecemos nossa escolha bem demais para mudar”. Observe que aqueles que deixam a Cristo deveriam considerar a quem irão, e se poderão esperar encontrar descanso e paz em algum lugar, exceto nele. Veja Salmos 73.27,28; Oséias 2.9. Para onde iremos? Cortejaremos o mundo? Ele certamente nos enganará. Retornaremos ao pecado? Ele certamente nos destruirá. Deixaremos a fonte de águas vivas à procura de cisternas quebradas? Os discípulos decidem continuar na sua busca de vida e felicidade, e desejam um guia para isto, e ficarão unidos a Cristo como seu guia, pois jamais poderão ter alguém melhor. “Iremos aos filósofos pagãos, e nos tornaremos seus discípulos? Eles se tornam inúteis nas suas imaginações, e, professando ser sábios em outras coisas, tornam se tolos em religião. Iremos aos escribas e fariseus, e nos sentaremos aos pés deles? Que bem podem nos trazer aqueles que anularam os mandamentos de Deus, substituindo-os pelas suas tradições? Iremos a Moisés? Ele nos mandará de volta a ti. Portanto, se encontrarmos o caminho para a felicidade, será seguindo a ti”. Observe que a santa religião de Cristo se mostra em grande vantagem, quando comparada a outras instituições, pois é patente e claro como ela é superior a todas as outras. Que aqueles que encontram defeitos nesta religião encontrem uma melhor antes de abandoná-la. Precisamos do Mestre divino. Poderíamos encontrar alguém melhor do que Cristo? Não podemos ficar sem a revelação divina. Se as Escrituras não fossem esta revelação, onde poderíamos procurá-la?

(2) Aqui está uma boa razão para esta decisão. Não foi a decisão irrefletida de um afeto cego, mas o resultado de uma deliberação madura. Os discípulos decidiram que jamais se afastariam de Cristo:

[1] Por causa dos benefícios que lhes foram prometidos pelo próprio Senhor Jesus: “Tu tens as palavras da vida eterna”. Eles ainda não compreendiam plenamente as palavras de Cristo, pois a doutrina da cruz ainda era um enigma para eles. Mas, de maneira geral, eles se contentavam com o fato de que Ele tinha as palavras da vida eterna, isto é, em primeiro lugar, que a palavra da sua doutrina mostra o caminho para a vida eterna. Ele é colocado diante de nós, e nos indica o que fazer, para que possamos herdá-la. Em segundo lugar; que a palavra da sua determinação deve conceder a vida eterna. O fato de que Ele tem as palavras da vida eterna é a mesma coisa que Ele ter o poder de dar a vida eterna a todos os que lhe forem dados, cap. 17.2. No discurso anterior; o Senhor Jesus tinha garantido a vida eterna aos seus segui­ dores. Estes discípulos se apegaram a estas palavras claras, e por isto decidiram continuar com Ele, enquanto os demais ignoraram isto, e somente ouviram as palavras mais severas, decidindo abandoná-lo. Embora não possamos explicar todos os mistérios e todas as coisas obscuras, na doutrina de Cristo, ainda assim sabemos, de maneira geral, que ela é a Palavra de vida eterna, e por isto devemos viver e morrer de acordo com ela, pois, se abandonarmos a Cristo, nós estaremos abandonando nossas próprias misericórdias.

[2] Por causa da certeza que eles tinham a respeito dele (v. 69): “Nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo”. Se Ele é o Messias prometido, então Ele deve trazer a justiça eterna (Daniel 9.24), e por isto tem as palavras de vida eterna, pois ajustiça reina para a vida eterna, Romanos 5.21. Observe, em primeiro lugar; a doutrina em que eles criam: que este Jesus era o Messias prometido aos pais e esperado por eles, e que não era um mero homem, mas o Filho do Deus vivo, o mesmo a quem Deus tinha dito: “Tu és meu Filho”, Salmos 2.7. Em tempos de tentação à apostasia, é bom recorrermos aos nossos primeiros princípios, e permanecermos firmes neles, e, se agirmos fielmente de acordo com aquilo que é indiscutível, seremos mais capazes tanto de encontrar quanto de conservar a verdade nos assuntos que causam debates duvidosos. Em segundo lugar, o grau da sua fé: ela nascia de uma certeza completa: “Nós temos… conhecido”. Nós sabemos por experiência. Este é o melhor conhecimento. Nós devemos aproveitar a oportunidade da hesitação de outros para ficarmos ainda mais firmes, especialmente na verdade que está diante de nós. Quando tivermos uma fé tão forte no Evangelho de Cristo, tão ousada a ponto de arriscarmos nossas almas nele, sabendo em quem cremos, então, e não antes disto, estaremos dispostos a arriscar tudo o que tivermos por amor ao Senhor e ao seu Evangelho.

3. A melancólica observação que nosso Senhor Jesus fez à resposta de Pedro (w. 70,71): “Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo”. E o evangelista nos diz a quem Ele se referia: “Dizia ele de Judas lscariotes”. Pedro tinha se pronunciado em nome de todos, garantindo que todos os apóstolos seriam fiéis ao seu Mestre. Agora Cristo não condena a caridade demonstrada por Pedro (é sempre bom esperar o melhor), mas, tacitamente, corrige sua confiança. Jamais devemos pensar que podemos ter absoluta certeza a respeito de alguém. Deus conhece aqueles que são seus, porém nós não. Observe aqui:

(1) Os hipócritas e aqueles que traem a Cristo não são melhores do que os demônios. Judas não somente tinha um demônio, mas era um demônio. “Um de vocês é um caluniador”, pois diabolos, às vezes, tem este significado (2 Timóteo 3.3), e é provável que Judas, quando vendeu seu Mestre aos principais dos sacerdotes, o tivesse descrito como um homem mau, para justificar a atitude que estava tomando. Mas eu prefiro interpretar o texto como se lê: Ele é um diabo, um diabo encarnado, um apóstolo caído, assim como o Diabo é um anjo caído. Ele é Satanás, um adversário, um inimigo de Cristo. Ele é Abadom, e Apoliom, um filho da perdição. Judas era do seu pai, o demônio, realizava seus desejos, cuidava dos seus interesses, como Caim, 1 João 3.12. Aqueles cujos corpos estão possuídos pelo demônio nunca são chamados de demônios (são chamados de endemoninhados, mas não de demônios), mas Judas, em cujo coração Satanás entrou, enchendo-o, é chamado de diabo.

(2) Muitos daqueles que aparentemente são santos, são, na realidade, demônios. Judas tinha a mesma aparência que muitos dos apóstolos. Seu veneno era, como o da serpente, coberto com uma pele fina. Ele expulsava demônios, e parecia ser um inimigo do reino do Diabo, mas era um diabo durante todo o tempo. Não somente seria um, em breve, mas era um, já naquele momento. Isto é estranho e assombroso, e Cristo fala disto com assombro: Não escolhi? É triste e lamentável que até mesmo o cristianismo possa ser, em algumas ocasiões, um disfarce para o Diabo.

(3) Os disfarces dos hipócritas, por mais que possam enganar os homens e trapacear contra eles, não podem enganar a Cristo, pois seus olhos penetrantes enxergam através deles. Ele pode distinguir aqueles demônios que se dizem cristãos, como na saudação do profeta à esposa de Jeroboão, quando ela se apresentou disfarçada diante dele (1 Reis 14.6): “Entra, mulher de Jeroboão”. A visão divina de Cristo, muito mais precisa do que qualquer visão excelente, é capaz de enxergar o espírito de cada pessoa.

(4) Existem aqueles que são escolhidos por Cristo para serviços especiais, e que, apesar disto, se mostram falsos para com Ele: Escolhi vocês para o apostolado, pois está escrito expressamente que Judas não foi escolhido para a vida eterna (cap. 13.18), e ainda assim, um de vocês é um diabo. Observe que a promoção a posições de honra e confiança na igreja não é uma evidência garantida da graça salvadora. “Nós profetizamos em teu nome”.

(5) Nas mais seletas sociedades deste lado do céu, não é novidade encontrar-se com aqueles que são corruptos. Dos doze que foram escolhidos para uma conversa íntima com uma Divindade encarnada, uma honra e um privilégio maiores do que quaisquer outros para os quais os homens pudessem ser escolhidos, um deles era um diabo encarnado. O historiador enfatiza este fato, de que Judas era um dos doze, que foram tão honrados e distinguidos. Não devemos rejeitar ou execrar os doze pelo fato de um deles ter sido um diabo, nem dizer que todos foram trapaceiros e hipócritas porque um deles o foi. Que aquele que o é leve a culpa, e não aqueles que, enquanto ele não é descoberto, se associam a ele. Existe um grupo do lado de dentro do véu, ao qual nada impuro terá acesso, uma igreja dos primogênitos, na qual não há falsos irmãos.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O CÉREBRO SE ACOSTUMA COM A DESONESTIDADE

Agir de forma honesta é um hábito, assim como o oposto. E, ao contrário do que durante muito tempo se acreditou, não é muito simples desmascarar mentirosos, pois, quanto mais acostumados à enganação, mais hábeis se tornam nessa atitude – especialmente se estão convencidos do que dizem.

O cérebro se acostuma com a desonestidade

Quando repetimos seguidamente uma ação, tendemos a nos aperfeiçoar nessa prática. Com mentiras a lógica é a mesma: faltar com a verdade com frequência nos torna mentirosos cada vez mais habilidosos – e constantes. Começamos com engodos mais “inocentes” e, aos poucos, eles abrem espaço para outros maiores. Do ponto de vista neurológico, o cérebro se familiariza com esse comportamento. Um estudo publicado no periódico Nature Neuroscience sobre uma pesquisa desenvolvida na Universidade College de Londres revelou uma conclusão inquietante: nós nos acostumamos à desonestidade e nossos julgamentos a respeito do que classificamos como certo e errado se tornam gradativamente mais elásticos.

Exames de ressonância magnética realizados enquanto voluntários eram convidados a mentir em variadas circunstâncias mostraram que as amígdalas (estruturas em forma de amêndoa que têm papel fundamental no processamento de emoções) passam a ser gradualmente menos ativadas à medida que se pratica a desonestidade com maior constância. E mentir se torna uma prática corriqueira, principalmente quando a pessoa acredita realmente na mentira que conta.

Em 1976, no prefácio de O gene egoísta (Companhia das Letras), do biólogo evolutivo britânico Richard Dawkins, seu colega Robert Trivers defendeu a ideia de que, ainda que não seja de forma planejada, nos auto- enganamos com o objetivo de ludibriar os outros. O objetivo seria criar uma espécie de vantagem social. Agora, após quatro décadas, Trivers e seus colegas publicaram a primeira pesquisa que sustenta sua tese.

Estudos feitos por psicólogos já haviam identificado vários mecanismos psíquicos que usamos para enganar a nós mesmos, como coleta de informações parciais, raciocínio distorcido e memórias tendenciosas ou encobridoras. Existem ainda as “lembranças encobridoras”, um termo cunhado por Freud, que se refere a recordações construídas, em geral agradáveis que se sobrepõem ao que de fato vivemos, com o objetivo de nos livrar da angústia que essa rememoração mais próxima da realidade evoca. O novo trabalho, publicado no periódico científico Journal of Economic Psychology, centra-se no primeiro item: a maneira como buscamos informações que suportem o que queremos crer e evitar o que não desejamos.

Em um experimento, Trivers e sua equipe pediram a 306 voluntários, que participavam online, que escrevessem um discurso persuasivo sobre um personagem de ficção, um homem chamado Mark. As pessoas foram informadas de que receberiam um bônus, dependendo de quão convincente fosse sua argumentação. Alguns foram instruídos a apresentar Mark como simpático; outros, orientados a descrevê-lo como desagradável e um terceiro grupo deveria escolher livremente o que preferiam escrever, segundo as próprias impressões. Para coletar informações sobre Mark, os participantes assistiram a uma série de vídeos curtos, que eles poderiam deixar de ver a qualquer momento. Para alguns dos espectadores, a maioria dos primeiros vídeos apresentou um Mark “bondoso”, reciclando o lixo e devolvendo uma carteira a um estranho que acabara de perdê-la. As cenas que apareciam na sequência apresentavam facetas pouco nobres, como com atitudes agressivas e superficialidade.

Os voluntários incentivados a apresentar Mark como uma boa pessoa tendiam a parar mais cedo de assistir aos vídeos, concentrando-se nas cenas agradáveis. Ou seja: não buscavam informações completas, desde que tivessem os dados necessários para convencer a si mesmos, e outros, dos traços positivos da personalidade de Mark. Consequentemente, as próprias opiniões sobre o personagem foram melhores, o que levou seus ensaios sobre a boa natureza do rapaz a serem mais convincentes, conforme avaliação de outros participantes. “Parece que, intuitivamente, compreendemos que é preciso, primeiro, acreditar em algo para só depois dissuadir as outras pessoas”, diz o psicólogo William von Hippel, da Universidade de Queensland, coautor do estudo. Em resumo, seguimos três etapas: processamos informações de forma tendenciosa, acreditamos nelas e nos empenhamos em convencer os outros de sua veracidade.

Na vida real, não costumamos ser orientados a dizer algo sobre determinado personagem, mas podemos debater uma ideia sobre política, a respeito de um projeto profissional ou de uma crença pessoal – e o mecanismo psicológico empregado nesses casos seria o mesmo, segundo os pesquisadores. Um dos tipos mais comuns de autoengano diz respeito a nossas próprias habilidades. Algumas abordagens da psicologia argumentam que evoluímos para superestimar nossas boas qualidades porque isso nos traz enorme satisfação – embora sentir-se bem, por si só, não tenha relação com a sobrevivência ou a reprodução. No entanto, aumentam as possibilidades de sermos aceitos nos grupos dos quais participamos. Além disso, o auto- aperfeiçoamento poderia aumentar a motivação, levando a maior realização. Talvez. Mas, se a motivação fosse a meta, então teríamos evoluído para sermos mais motivados – sem os custos da distorção da realidade.

Trivers argumenta que uma autoimagem positiva faz com que os outros nos vejam da mesma forma, atraindo o interesse de nossos semelhantes e atitudes mais cooperativas. Apoiando esse argumento, a psicóloga Cameron Anderson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, mostrou em um estudo realizado em 2012 que pessoas superconfiantes tendem a ser vistas como mais competentes do que geralmente são e têm status social mais elevado. “Parece haver uma boa possibilidade de que o autoengano tenha evoluído com um propósito de nos trazer vantagens”, diz Anderson.

Em outro estudo, publicado no periódico Social Psychology and Personality Science, Von Hippel e colaboradores testaram três argumentos juntos, de forma longitudinal. Queriam saber se o excesso de confiança, por si só, aumenta a saúde mental, a motivação e a popularidade. Acompanhando quase mil jovens australianos durante dois anos, os pesquisadores descobriram que ao longo do tempo o excesso de confiança em relação ao desempenho nos esportes e na própria inteligência não garantiu melhores indicativos de saúde mental, desempenho físico ou acadêmico. No entanto, a autoconfiança em relação aos esportes causou maior popularidade ao longo do tempo, apoiando a ideia de que as percepções a respeito de si mesmo podem garantir vantagem social. Os autores acreditam que as habilidades intelectuais não tiveram tanto destaque no aumento de popularidade dos garotos porque entre adolescentes a inteligência pode ter importado menos do que o sucesso nos esportes.

RAZÕES PARA EVOLUIR

Por que teria levado tanto tempo para que surgissem comprovações científicas das hipóteses de Trivers? Em parte, porque a tese era substancialmente teórica. Além disso, o biólogo acredita que outros pesquisadores não consideraram a autoestima ou motivação razões suficientes para a evolução.

O cientista Hugo Mercier, pesquisador do Instituto de Ciências Cognitivas da França, que não esteve envolvido nos novos estudos, está familiarizado com a teoria, mas a questiona. Ele acredita que, a longo prazo, o excesso de confiança pode ser contraproducente. Mercier e outros também debatem se os preconceitos sobre si mesmo podem ser chamados de autoengano. “Todo o conceito é, pelo menos em parte, enganoso; não podemos pensar que haja uma parte de nós deliberadamente ludibriando outra parte”, argumenta. Trivers, Von Hippel e Anderson, obviamente, discordam de Mercier a respeito da terminologia do autoengano.

“Meu conselho maquiavélico é que sugestionar a si mesmo a respeito do que queremos provar para os outros é uma ferramenta poderosa, que realmente funciona”, diz Von Hippel. “Se você precisa convencer alguém de alguma coisa, se sua carreira ou sucesso social depende da persuasão, então a primeira pessoa que precisa ser convencida é você mesmo.” Por outro lado, sempre que alguém lhe apresenta uma ideia com veemência, vale a pena pensar sobre o que poderia estar por trás dessa atitude. Afinal, mesmo que a pessoa não esteja deliberadamente mentindo para você, pode estar enganando a si própria – e aos outros.

PARA DETECTAR UM MENTIROSO, MAIS VALE OUVIR DO QUE VER

Como podemos perceber se estamos diante de um mentiroso? Durante muito tempo, as pessoas acreditaram que podiam identificar um mentiroso por comportamentos ou sinais corporais – como coçar a cabeça com frequência; movimentar-se de forma agitada ou ficar com as faces coradas. No entanto, um grupo de pesquisadores coordenado pela psicóloga Bella M. DePaulo, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, garante que, em geral, as coisas não são tão simples. Há dez anos ela analisou resultados de 120 estudos sobre os sintomas físicos que acompanham mentiras – e concluiu que os estereótipos raramente são verdadeiros: mentirosos não escorregam nervosos na cadeira nem evitam o contato visual de seu interlocutor. Segundo a pesquisadora e seu colega Charles F. Bond, da Universidade Cristã do Texas, para a maioria das pessoas é realmente muito difícil discernir se uma declaração é verdadeira ou falsa. Em um trabalho mais recente, os dois cientistas revisaram 206 estudos sobre a cota de acertos em julgamentos sobre credibilidade. No total, apenas 54 desses julgamentos sobre a veracidade ou não de uma declaração estavam corretos, um valor estatisticamente pouco significativo – que talvez pudesse ter sido atingido também por meio de pura adivinhação. Mas convém levar em conta que, na média, os participantes dos experimentos reconheceram mais frequentemente afirmações verdadeiras do que mentiras. No entanto, há estratégias com as quais as enganações podem ser descobertas com alguma margem de segurança.

Tomando por base os estudos levantados por Bond e DePaulo, pesquisadores da mesma equipe compararam diversos canais sensoriais. Ao analisar os resultados dos exames, eles chegaram à conclusão de que sinais acústicos ajudam mais que os visuais na hora de reconhecer engodos. Nos experimentos, os voluntários podiam diferenciar de forma mais nítida as mentiras quando ouviam a declaração duvidosa com atenção, em vez de observar o falante, à procura de sinais reveladores. Se as pessoas assistiam a um vídeo sem som, a cota de acertos era apenas aqueles 50%, obtidos também por adivinhação. Mas se durante a exibição das imagens eram apresentadas as vozes correspondentes, a cota de acerto de seus julgamentos aumentava para 54%.

Mais uma vez, nada assombroso, mas de qualquer forma havia uma alteração estatística. O que de fato surpreendeu os pesquisadores foi o resultado não ser pior quando somente se apresentou o som sem imagem. Ou seja: quem se concentra apenas no comportamento não verbal reduz suas chances de desmascarar um mentiroso.

Aparentemente, nossos olhos se deixam enganar mais facilmente. Por isso, vale a pena prestar atenção principalmente no que uma pessoa diz, ficando alerta, por exemplo, para possíveis contradições.

Especialistas afirmam que os mentirosos contumazes são, em geral, pouco plausíveis e lógicos. Além disso, raramente admitem que tenham de corrigir sua descrição ou que não consigam se lembrar de algo – para “encobrir os brancos da memória”, eles simplesmente inventam informações. Se a pessoa ainda parece nervosa e fala em tom mais alto do que o de costume, então devemos ter cuidado: ela tem grandes possibilidades de estar mentindo. Os estudos avaliados por DePaulo e Bond revelaram também que vários participantes conseguiram reconhecer as declarações falsas de forma mais clara quando o mentiroso foi pego de surpresa e não teve tempo de planejar o que diria. Por isso, cobrar explicações imediatas pode desmascarar um provável mentiroso.

Para o psicólogo Aldert Vrij, pesquisador da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, uma boa estratégia é fazer a pessoa da qual desconfiamos que esteja mentindo falar o máximo possível. Nesse momento, ela precisa pensar rapidamente e corre o risco de contradizer-se. E, quanto mais ela falar, mais difícil será para ela controlar tanto o conteúdo do que diz quanto o próprio comportamento. Portanto, pedir que repita trechos do que foi dito também costuma ser eficaz para detectar brechas nos discursos. “Essa técnica de interrogatório, muito conhecida de romances e filmes policiais, revela-se, de fato, sensata”, observa Vrij.

OUTROS OLHARES

A PASSOS (MUITO) LENTOS

Apesar de avanços recentes, teocracias como a Arábia e o Irã continuam a negar direitos fundamentais às mulheres.

A passos (muito) lentos

TOTALITARISMO MASCULINO

Imagine dormir em um país livre e acordar na República de Gilead, um regime totalitário e teocrático com uma doutrina baseada no Velho Testamento, onde as mulheres – todas, em diferentes níveis – são submetidas aos caprichos de um homem. Trata-se de uma história de ficção, o mote da série The handmaid’s tale, inspirada no livro O conto da aia, de Margaret Atwood, publicado em 1986. Mas poderia ser o Irã, pós-Revolução Islâmica, a Nigéria, atormentada por extremistas do Boko Haram, ou a Arábia Saudita, sob o regime do poderoso príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Na ficção, as mulheres são divididas por castas: as “aias” servem os militares para procriação, o que torna o estupro permitido por lei. As “esposas”, embora estejam acima das aias, podem ser punidas pelos maridos, inclusive com agressões físicas. As “Marthas” são empregadas domésticas que só têm permissão para realizar suas tarefas dentro de casa. Antes da implantação do regime, eram médicas, advogadas, cientistas, usavam a roupa que queriam e eram livres para fazer o que bem entendessem. Agora, são obrigadas a vestir uniformes, de acordo com sua respectiva função, que não deixam qualquer parte do corpo à mostra.

Embora O conto da aia seja considerado uma distopia, seu roteiro é assustadoramente parecido com a Revolução Islâmica no Irã, que começou como um movimento popular em um dos países mais liberais da região e terminou com a criação da primeira república islâmica do mundo. Segundo o Código Civil iraniano, vigente de lá para cá, as mulheres precisam usar véu em público e não podem se maquiar. O estupro dentro do casamento e a violência doméstica não são reconhecidos como crimes.

Assim como na República de Gilead, autoridades iranianas vêm recorrendo à lei para tentar confinar as mulheres às funções de mãe e esposa. Quem deseja se divorciar precisa provar que padece de “sofrimentos insuportáveis”. Os homens, por sua vez, têm o direito de possuir ao menos duas esposas permanentes em matrimônios polígamos – e todas as outras que desejarem em casamentos temporários.

A passos (muito) lentos.3

Nesta semana, Mona Hoobeh Fekr e Samira Shimardi entraram para a história do jornalismo esportivo iraniano como as primeiras mulheres autorizadas a cobrir uma Copa do Mundo pelo país – mulheres são proibidas de assistir a jogos nos estádios dentro do Irã ou trabalhar neles, mas foram em grande número às arenas da Rússia. As imagens das iranianas assistindo aos jogos da seleção sem véu viralizaram nas redes.

Mas as semelhanças não se restringem ao Irã. No Iêmen, a lei obriga as mulheres a satisfazer seus maridos na cama, queiram elas ou não. Na Nigéria, o homem pode bater na mulher para “corrigi-la”.

Em um artigo publicado no jornal The New York Times, em março de 2017, Margaret Atwood, autora do livro que deu origem à série, explicou o nome da personagem principal. Offred é composto de um nome de batismo masculino, Fred – o comandante militar que “a possui” -, e um prefixo que denota “pertencente à”. Nesse caso, é impossível não se lembrar da Arábia Saudita, onde, apesar de mudanças recentes, as mulheres continuam sob a tutela de um homem – seja o pai, o marido ou até o próprio filho – para realizar tarefas como estudar ou ir ao médico.

No domingo, o país ganhou os holofotes com a esperada permissão para que as mulheres, enfim, dirijam veículos. No ano passado, elas já haviam conquistado o direito de frequentar estádios. As mudanças foram feitas pelo jovem príncipe herdeiro que assumiu o trono em junho de 2017.

A mudança, no entanto, tem sido acompanhada do aumento da repressão. Poucos dias depois, a polícia saudita prendeu a proeminente ativista de defesa dos direitos femininos Hatoon al- Fassi.

“A Arábia Saudita está dando um passo para a frente e dois para trás na implementação de reformas”, avaliou Dana Ahmed, ativista e representante da Anistia Internacional no país. Para ela, as autoridades não podem alegar que buscam mudanças quando fecham o espaço para o envolvimento da sociedade civil nessas reformas.

Segundo Ahmed, todos os ativistas independentes de direitos humanos da Arábia Saudita, assim como qualquer um que seja crítico às autoridades, foram detidos, forçados a permanecer em silêncio ou fugiram. “O fim da proibição de dirigir é um passo importante, mas deve ser seguido por novas reformas para acabar com o sistema de tutela masculina e todas as formas de discriminação contra as mulheres”, afirmou a representante da Anistia Internacional.

Por isso, para grande parte dos ativistas, as conquistas são insuficientes – ou soam hipócritas.

O novo príncipe tenta passar uma imagem de reformista no Ocidente, sendo saudado por presidentes como (o francês Emmanuel) Macron e (o americano Donald) Trump. Ao meu ver, no entanto, esse reformismo é bem marginal e uma clara tentativa de dar uma capa de um regime mais confiável ao país”, explicou Juliana Costa, professora de relações internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Em sua opinião, a situação das mulheres não mudou na Arábia Saudita.

A especialista afirmou ainda que os retrocessos não acontecem apenas em países onde religião e política se misturam: em nações africanas como Serra Leoa, costumes profundamente arraigados nas culturas locais permitem violações como a mutilação genital feminina – outra prática retratada na série.

“Cada país tem seu perigo para a mulher, por isso é muito complicado dizer onde ela estaria mais ou menos segura no mundo. No Brasil, por exemplo, o estupro vem aumentando”, disse Costa. Em sua avaliação, a política de imigração dos Estados Unidos, separando mães e filhos, é também um retrocesso em relação às mulheres.

Em países como a Síria ou a Nigéria há ainda outro monstro: o extremismo. Grupos como o Estado Islâmico ou o Boko Haram impõem a sharia, que permite o estupro, e obrigam ao uso da burca – traje islâmico que cobre todo o corpo e o rosto. As mulheres também não têm permissão para falar com um homem em público e são submetidas a agressões em casa. Assim como na República de Gilead.

A passos (muito) lentos.2

GESTÃO E CARREIRA

NOVAS FORMAS DE CRESCER NA CARREIRA

Almejar cargos do alto escalão é coisa do passado; o que fará a diferença profissional na era da empregabilidade é aumentar a própria capacidade de enfrentar desafios.

Novas formas de crescer na carreira

Vivemos uma fase de profundas transformações, tanto nos negócios quanto na sociedade. Ao mesmo tempo em que o século 21 impõe uma série de desafios, oferece intensas oportunidades. Cientes disso, as empresas compreenderam que é preciso mudar seus ambientes e repensar suas estruturas. Modelos tradicionais baseados em emprego de longo prazo, crescimento linear, plano de carreira e hierarquia serão, em breve, retratos de museu.

Muitas companhias ainda estão engatinhando na construção de um novo cenário, é verdade, mas passar por isso será inevitável. Por mais que esperemos por mudanças nas organizações, existe uma transformação fundamental nesse processo: o modelo mental do indivíduo. E a primeira questão para refletir é a visão do que é trabalho.

A antiga orientação de nossos pais de que é necessário lembrar para ter um bom emprego não serve mais. A atual deve ser: prepare-se para as oportunidades. Estamos na era da trabalhabilidade. Isso significa estar aberto para diferentes formas de atuação. O emprego formal é uma delas, mas não é a única. Como você enxerga, por exemplo, participar de um projeto temporário, ser voluntário, consultor ou empreendedor! Tudo isso conta muito na nova carreira.

Se você estiver numa organização que ainda opera no modo tradicional, há um segundo ponto na jornada de transformação de seu modelo mental: a forma como encara o crescimento no mundo corporativo. Quando analisamos as estruturas de trabalho de 30 anos atrás, tínhamos um número enorme de cargos e níveis. Isso foi tremendamente reduzido pelos ganhos com a tecnologia – e pela necessidade de competição.

As maiores companhias do mundo, hoje, não têm mais do que sete níveis hierárquicos. Isso mexeu bastante na forma de avançar profissionalmente. Não é mais possível pensar num alvo fixo, como um cargo de liderança. A nova meta de crescimento é flexível e visa aumentar a prontidão para novos desafios, realizando movimentações laterais ou integrando novos projetos. Desejar uma ascensão vertical, baseada em planos de carreira obsoletos, só vai gerar frustração.

Portanto, será fundamental estar aberto a novos formatos. O emprego formal não será extinto, mas está em rápida transformação. Precisamos nos preparar para alternativas de trabalho e de crescimento. O sucesso não será medido por cargos, e sim pela capacidade do indivíduo de contribuir para a evolução da companhia – e da sociedade.

 

RAFAEL SOUTO – é fundador e CEO da Consultoria Produtive, de São Paulo. Atua com planejamento e gestão de carreira, programas de demissão responsável e de aposentadoria.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 60-71 – PARTE I

Alimento diário

O sermão de Cristo aos seus discípulos. O efeito do sermão de Cristo. O caráter de Judas

 

Aqui temos uma narrativa sobre os efeitos do sermão de Cristo. Alguns se sentiram ofendidos, e outros, edificados, por ele. Alguns se afastaram dele, e outros se sentiram atraídos a Ele.

I – Para alguns, era um cheiro de morte para morte. Não somente para os judeus, que eram inimigos declarados, seus e da sua doutrina, mas até mesmo para muitos dos seus discípulos, como os que eram discípulos em geral, que eram seus ouvintes frequentes e que o seguiam em público. Uma multidão mesclada, como aquelas, entre Israel, que iniciavam todos os descontentamentos. Aqui, temos:

1. Suas murmurações, diante da doutrina que ouviam (v. 60): “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”

(1) Eles não gostam do sermão: “Que é isto? Torna a carne, e beba o sangue do Filho do homem! Se isto deve ser interpretado de modo figurado, não é compreensível. Se deve ser interpretado literalmente, não é praticável. O que? Devemos nos transformar em canibais? Não podemos ser religiosos, mas devemos ser bárbaros?”. Mas, quando consideraram duro este discurso, se tivessem humildemente implorado que Cristo lhes explicasse esta parábola, Ele a teria esclarecido, e teria aberto também seus entendimentos, pois aos mansos ensinará seu caminho. Mas eles não desejavam a explicação das palavras de Cristo, porque não desejavam perder este pretexto para rejeitá-lo, que Ele proferia discursos severos demais.

(2) Eles julgam impossível que qualquer pessoa o aprecie: “‘Quem o pode ouvir? Certamente ninguém”. Desta maneira, aqueles que zombam da religião estão prontos a garantir que toda a porção inteligente da humanidade esteja de acordo com eles. Eles concluem, com grande segurança, que nenhum homem de bom senso irá aceitar a doutrina de Cristo, nem qualquer homem que aja segundo o espírito irá se sujeitar às suas leis. Por não suportarem ser instruídos desta maneira, eles pensam que ninguém mais poderá fazê-lo: Quem o pode ouvir? Graças a Deus, milhares de milhares ouviram as palavras de Cristo, e as julgaram não somente confortáveis e confortadoras, mas agradáveis, o alimento necessário a todas as pessoas.

2. As repreensões de Cristo às suas queixas.

(1) Ele conhecia bem suas murmurações, v. 61. Suas críticas eram secretas, nos seus próprios seios, ou eram sussurradas, entre eles, nos cantos. Mas:

[1] Cristo as conhecia. Ele as via, Ele as ouvia. Observe que Cristo percebe não somente os desafios ousados e abertos que são feitos ao seu nome e à sua glória, pelos ousados pecadores, mas também a indiferença secreta que é dedicada à sua doutrina pelos que professam a fé, porém sendo carnais. Ele sabe aquilo que o tolo diz no seu coração, e não se atreve, por vergonha, a dizer abertamente. Ele observa como sua doutrina provoca ressentimento naqueles a quem é pregada; quem se alegra com ela, e quem reclama dela; quem está em conformidade com ela, e se curva diante dela, e quem discute com ela, e se rebela contra ela, ainda que o faça secretamente.

[2] Ele sabia, em si mesmo, não por alguma informação que lhe fosse dada, nem por alguma indicação exterior, mas pela sua própria onisciência divina. Ele sabia, não como os profetas, por uma revelação divina (pois aquilo que os profetas desejavam saber estava, muitas vezes, oculto deles, como em 2 Reis 4.27), mas por um conhecimento divino residente em si mesmo. Ele é aquela Palavra essencial, que discerne os pensamentos do coração, Hebreus 4.12,13. Para Cristo, os pensamentos são palavras. Nós devemos, portanto, tomar cuidado, não somente com o que dizemos e fazemos, mas com o que pensamos.

(2) Ele sabia perfeitamente bem como responder a eles: “‘Isto vos escandaliza? ‘Isto é uma pedra de tropeço para vós?” Veja como as pessoas, pelos seus próprios enganos deliberados, criam ofensas a si mesmas. Elas se ofendem quando nenhuma ofensa lhes foi feita, e até mesmo tomam a ofensiva quando não é necessário. Observe que nós podemos, com razão, nos admirar de que a doutrina de Cristo causasse tanta ofensa, com tão pouca causa. Cristo fala sobre isto com admiração: “Isto vos escandaliza?” Em resposta àqueles que condenavam sua doutrina como sendo intrincada e obscura.

[1] Ele lhes faz uma alusão à sua ascensão ao céu, como aquilo que lhes daria uma evidência incontestável da verdade da sua doutrina (v.62): “Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do Homem para onde primeiro estava?” Que aconteceria, então? Em primeiro lugar: “Se Eu lhes dissesse isto, certamente se ofenderiam muito, julgando que minhas pretensões seriam realmente altas demais. Se este é um discurso tão duro, e vocês não conseguem ouvi-lo, como digerirão minhas palavras quando Eu lhes falar sobre meu retorno ao céu, de onde vim?” Veja cap. 3.12. Aqueles que tropeçam nas menores dificuldades devem considerar como conseguirão passar pelas maiores. Em segundo lugar: “Quando vocês virem o Filho do homem ascender; isto lhes ofenderá muito mais, pois então meu corpo terá menos capacidade de ser comido por vocês naquele sentido mais bruto com que vocês agora interpretam minhas palavras”. Ou, em terceiro lugar: “Quando vocês virem, ou ouvirem daqueles que o verão, certamente, então, ficarão satisfeitos. Vocês pensam que Eu sou pretensioso quando digo que desci do céu, pois este foi um motivo de discussão entre vocês (v. 42). Mas será que vocês pensarão a mesma coisa quando me virem retornando ao céu?” Se Ele subiu, certamente desceu, Efésios 4.9,10. Cristo frequentemente se refere, desta maneira, a provas subsequentes, como em João 1.50,51; 2.14; Mateus 12.40; 26.64. Esperemos um pouco, até que o mistério de Deus seja concluído, e então veremos que não havia nenhuma razão para nos escandalizarmos por causa de alguma palavra de Cristo.

[2] Ele lhes dá uma explicação para este e para todos os discursos semelhantes, em forma de parábolas, ensinando-lhes que eles devem ser interpretados espiritual­ mente, e não de uma maneira corpórea ou carnal: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita”, v. 63. Assim como no corpo natural o espírito o vivifica e anima, e sem ele o alimento mais nutritivo não se aproveitaria (que tornaria o corpo melhor para o alimento, se não estivesse vivificado e animado pelo espírito?), o mesmo também ocorre com a alma. Em primeiro lugar, a simples participação nas ordenanças, a menos que o Espírito de Deus trabalhe com elas, e vivifique a alma por meio delas, não traz nenhum benefício. A palavra e as ordenanças, se o Espírito trabalha com elas, são como o alimento para um homem vivo. Caso contrário, são como alimento para um homem morto. Nem mesmo a carne de Cristo, o sacrifício pelo pecado, nos servirá para algo, a menos que o bendito Espírito vivifique, com ela, nossas almas, e intensifique as poderosas influências da sua morte sobre nós, até que nós, pela sua graça, sejamos semeados à sua semelhança. Em segundo lugar, a doutrina de comer a carne de Cristo, e beber seu sangue, se interpretada literalmente, não traz nenhum benefício, mas nos conduz a enganos e preconceitos. Porém, o sentido ou significado espiritual da doutrina vivifica a alma, torna-a viva e vívida. E isto ocorre de acordo com o que está escrito a seguir: ”As palavras que eu vos disse são espírito e vida”. Comer a carne de Cristo! Este é um discurso duro, mas crer que Cristo morreu por mim, obter desta doutrina a força e o consolo quando eu me dirigir a Deus, minha oposição ao pecado e meus preparativos para um estado futuro, este é o espírito e a vida deste discurso. E, se o interpretarmos assim, constataremos que se trata de um discurso excelente. A razão pela qual os homens não gostam das palavras de Cristo é por que eles as interpretam mal. O sentido literal de uma parábola não nos traz benefícios, nós não nos tornamos mais sábios através dele, mas o significado espiritual é instrutivo. Em terceiro lugar, a carne para nada aproveita – aqueles que estão na carne (assim alguns interpretam), que estão sob o poder de uma mente carnal, não se beneficiam dos discursos de Cristo. Mas o Espírito vivifica – aqueles que têm o Espírito, que são espirituais, são despertados e vivificados por eles, pois eles são recebidos de um modo correspondente ao estado da mente de quem os recebe. Eles encontram defeitos nas palavras de Cristo, quando, na verdade, o defeito estava neles mesmos. É somente para as mentes carnais que as coisas espirituais não têm sentido nem vida. Porém, as mentes espirituais as saboreiam. Veja 1 Coríntios 2.14,15.

[3] Ele lhes dá uma indicação do seu conhecimento sobre eles, e que Ele não esperava nada melhor deles, embora se dissessem seus discípulos, vv. 64,65. Agora se cumpriam as palavras do profeta, ao falar a respeito de Cristo e da sua doutrina (Isaias 53.1 ): “Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor?” Cristo aqui toma conhecimento de ambas as coisas.

Em primeiro lugar, eles não criam na sua pregação: “Há alguns de vocês que disseram que deixariam tudo para seguir-me, mas que ainda assim, não creem”, e esta foi a razão pela qual a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé, Hebreus 4.2. Eles não creram que Ele era o Messias, caso contrário teriam se submetido à doutrina que Ele pregava, e não teriam contendido com ela, embora houvesse algumas coisas nela difíceis de serem compreendidas. Os jovens principiantes no aprendizado devem crer na palavra do seu professor. Observe:

1. Entre aqueles que são cristãos nominais somente, existem muitos que são verdadeiros infiéis.

2. A incredulidade dos hipócritas, antes de se revelar ao mundo, está nua e aberta diante dos olhos de Cristo. Ele sabia, desde o início, quem eram aqueles da multidão que o seguiam, que criam, e qual dos doze iria traí-lo. Ele sabia, desde que começaram a se relacionar com Ele, e a acompanhá-lo, quando estavam demonstrando o zelo mais acalorado, conhecia aqueles que eram sinceros, como Natanael (cap. 1.47), e quais não o eram. Antes que eles se distinguissem por um ato aberto, Ele podia, infalivelmente, distinguir aqueles que criam e os que não criam, aqueles cujo amor era dissimulado e aqueles cujo amor era cordial. Com base nisto, podemos concluir:

(1) Que a apostasia daqueles que fizeram uma profissão plausível de religião há muito tempo é uma prova certa da sua hipocrisia constante, e de que desde o início não criam, mas não é uma prova da possibilidade da apostasia total e final de qualquer crente fiel. Tais revoltas não devem ser consideradas como a queda dos verdadeiros santos, mas como a revelação dos falsos. Veja 1 João 2.19. A estrela que cai, nunca foi uma estrela.

(2) Que é prerrogativa de Cristo conhecer o coração. Ele conhece aqueles que não creem, mas fingem na sua profissão de fé, e ainda assim os mantém na sua igreja, no desempenho das suas ordenanças, e na credibilidade do seu nome, e não os revela a este mundo, a menos que eles, pela sua própria iniquidade, se revelem, porque tal é a constituição da sua igreja visível, e o dia da revelação que ainda está por vir. Mas, se nós pretendermos julgar os corações dos homens, estaremos subindo ao trono de Cristo, como se pudéssemos antecipar seu julgamento. Nós somos frequentemente enganados em relação aos homens, e vemos motivos para modificar nossos sentimentos por eles, mas disto podemos ter a certeza, que Cristo conhece todos os homens, e que seu juízo é de acordo com a verdade.

Em segundo lugar, a razão pela qual eles não creram na sua pregação era porque o braço do Senhor não tinha se manifestado a eles (v. 65): “Por isso, Eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai lhe não for concedido”, v. 44. Cristo, portanto, não podia deixar de saber quem cria e quem não cria, porque a fé é um dom e uma obra de Deus, e todos os dons e obras do seu Pai não poderiam deixar de ser conhecidos por Ele, pois todos passaram pelas suas mãos. Ali, Ele tinha dito que ninguém poderia vir a Ele, a menos que o Pai o trouxesse. Aqui Ele diz: “Se por meu Pai lhe não for concedido”, o que mostra que o Senhor Deus traz as almas, dando-lhes graça e forças, e uma coragem de vir, sem as quais, tamanha é a impotência moral do homem, no seu estado caído, ele não poderia vir.

3. Aqui temos sua apostasia final em relação a Cristo: “Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com Ele”, v. 66. Quando nós admitimos, nas nossas mentes, maus pensamentos sobre a palavra e as obras de Cristo, e alimentamos um desagrado secreto, e estamos dispostos a ouvir insinuações que tendam a reprová-las, então estamos entrando em tentação. Ê como o gotejar da água, que, mais tarde, se tornará uma torrente. E como olhar para trás. Se a infinita misericórdia não evitar que esta situação danosa se intensifique, o resultado será o retrocesso. Portanto, cuidado com o início da apostasia.

(1) Veja aqui as apostasias destes discípulos. Muitos deles voltaram para suas casas, e famílias, e vocações, que tinham deixado, por algum tempo, para segui-lo. Voltaram, um para sua casa, e outro para seu trabalho. Voltaram, como voltou Orfa, ao seu povo e aos seus deuses, Rute 1.15. Eles tinham entrado na escola de Cristo, mas voltaram, não somente fugiram da aula uma vez, mas abandonaram o Senhor e sua doutrina para sempre. Observe que a apostasia dos discípulos de Cristo, ao abandoná-lo, embora seja realmente algo estranho, ainda assim é algo relativamente comum, com que não devemos nos surpreender, de maneira alguma. Aqui houve muitos que se retiraram. Isto acontece frequentemente. Quando alguns retrocedem, vários retrocedem com eles. Esta é uma doença infecciosa.

(2) A ocasião em que esta apostasia aconteceu: “desde então”, desde a ocasião em que Cristo pregou esta confortável doutrina, que Ele é o pão da vida, e que aqueles que pela fé se alimentarem dele viverão por Ele (que, poderíamos pensar; deveria ter motivado os discípulos a se apegarem mais fortemente a Ele) – desde então, se retiraram. Observe que o coração corrupto e perverso dos homens frequentemente transforma em motivo para ofensa aquilo que, na verdade, é motivo para o maior consolo. Cristo previu que eles se ofenderiam com o que Ele dizia, mas ainda assim o disse. Porque aquilo que é a palavra indubitável e a verdade de Cristo deve ser fielmente transmitida, não importando a quem ela ofenda. A disposição dos homens deve ser cativada pela Palavra de Deus, e não a Palavra de Deus se acomodar à disposição dos homens.

(3) O grau da sua apostasia: eles “já não andavam com Ele”, não mais voltaram a Ele, e não acompanharam mais seu ministério. Há fortes empecilhos para que aqueles que foram esclarecidos uma vez, e provaram a boa Palavra de Deus, se renovem para o arrependimento depois de terem caído, Hebreus 6.4-6.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ADOLESCENTES EM RISCO

A transição entre infância e fase adulta pode ser psiquicamente dolorosa. E lidar com as pressões se tornar uma ameaça à própria vida.

Adolescentes em risco

Os filmes Tubarão, de 1975, e Orca: a baleia assassina, de 1977, povoaram a adolescência com a ideia de que por trás, ou mais abaixo, da nossa calmaria marinha, pode haver monstros insuspeitos. Tipicamente são histórias sobre uma família pacata em férias, ou um pequeno vilarejo sossegado, que ignora a existência de perigos próximos, que no mais das vezes eles mesmos incitam desavisada- mente. Esta também foi a moral subliminar de filmes como Jurassic Park e sua extensa fauna de dinossauros congêneres entre 1993 e 2001. A geração que cresceu acalentando o terror subterrâneo, que emerge repentinamente, de modo assassino e devorador, tem agora filhos adolescentes. E é essa mesma geração que está às voltas com um incremento de suicídios juvenis, não só no Brasil como no mundo, especialmente nos países asiáticos. Nos anos 1980 o Brasil tinha uma taxa de 0.2 para o suicídio infantil, hoje estamos em 1%, o que fez o número de mortes ultrapassar aqueles causados pelo HIV-aids.

Muitas causas serão levantadas aqui, desde os números maiúsculos para a presença de transtornos mentais nessa situação até transformações nos modos de criação e na expectativa de sucesso ou felicidade. Não creio que uma estatística semelhante, feita nos anos 1980, com os mesmos critérios diagnósticos de hoje, nos levaria a números distintos. Também desconfio dos progressos de nossas exigências narcísicas, quando penso o que significava uma gravidez adolescente antes e hoje. A relação entre adolescência e suicídio é contemporânea da invenção da adolescência como uma fase da vida ligada a certa experimentação do real, mais além e mais aquém das próprias capacidades corporais, cognitivas e desejantes.

O fato que me parece crucial e distintivo nesta tendência, e que se confirma tanto nos usuários típicos de jogos como Baleia Azul e narrativas existenciais como 13 reasons why é a reincidência de um traço já anunciado em Tubarão: a angústia vivida em silêncio. O mar calmo com suas profundezas silenciosas, contudo assassinas. Particularmente o Brasil assistiu à formação de uma nova geração extremamente acossada pelo moralismo. O discurso sobre a própria fragilidade ou vulnerabilidade é repudiado pelo novo código de honra que opõe o silenciamento forçado à denúncia e a consequente imagem vitimista. Pais compreensivos, escolas inclusivas, discursos de renovação cultural, tudo converge para a produção de uma subjetividade na qual a palavra, este fator protetor universal do suicídio, se torna um bem cada vez mais escasso. Desta forma, o perigo silencioso continua a prosperar nas profundezas de vi- das regidas por procedimentos cada vez mais estritos de aceitação e reconhecimento.

Tipicamente nos filmes dos anos 1970 um erro acidental, como um arpão que atinge uma orca grávida, desencadeava uma sequência de ataques vingativos, incompreensíveis para os marinheiros e banhistas. Há coisas que fazemos sem saber que estamos fazendo, e estas se voltam contra nós. Por exemplo, Hannah, em uma das suas 13 razões, se deixa fotografar em um beijo lésbico, por um fotógrafo mirim que talvez estivesse interessado nela. Depois de entregar os originais, ele a convida para um encontro e ela o despacha rindo. Humilhado, ele retransmite o material para a escola, o que atrapalha sua relação com a amiga e estraga seu baile de formatura. O raciocínio jurídico-moral verá aqui mais uma razão para culpar o Outro pelo progresso da miséria psíquica da menina. Na mesma linha ele argumentará que não se deve inverter os motivos e culpar a vítima. Contudo, ao excluir o efeito “orca assassina”, seja ele representado pelo riso de desprezo, seja pela vingança fotográfica, deixamos de dar lugar àquilo pelo qual somos responsáveis, mesmo não sendo culpados. Caminho certo para reverter a angústia e a inconformidade com o mundo para a agressividade contra si. Encurtamos o pensamento, reduzindo causas a motivos e motivos a razões. Ao reduzir o pensamento e privar a circulação da palavra é a Baleia Azul quem vence.

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OUTROS OLHARES

ATENÇÃO PARA O EXAGERO

Na era das selfies, a profusão desenfreada de procedimentos estéticos provoca resultados artificiais e mesmo aberrações. A culpa é tanto do paciente quanto do médico.

Atenção para o exagero

Os números comprovam que há um exagero na realização de procedimentos estéticos no Brasil. De acordo com o censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2017 o Brasil registrou um aumento de nada menos que 390% nesse tipo de intervenção em relação a 2014. Isso nos coloca em segundo lugar no ranking mundial da prática, atrás apenas dos americanos. Nos Estados Unidos, o mais novo levantamento da American Society of Plastic Surgeons mostrou que, no ano passado, foram realizados 17,5 milhões de procedimentos estéticos. Desse montante, 15,7 milhões foram não invasivos (a toxina botulínica segue campeã, com 7,23 milhões dos casos). No Brasil, há menos estatísticas disponíveis, mas o cenário é semelhante.

Por que as brasileiras e os brasileiros buscam tanto modificar seu rosto e seu corpo? Muitas teorias tentam explicar o fenômeno. Em minha opinião, o grande responsável por esse quadro é o impacto das redes sociais em nossa vida e em nossos desejos. Na era das selfies, da foto milimetricamente perfeita, as pessoas parecem dar uma atenção microscópica à aparência. A autocrítica atingiu níveis extremos. Isso, no entanto, não explica tudo.

Os brasileiros têm ainda uma peculiaridade que poderá fazer com que muito em breve o país passe para o primeiro lugar nessa lista de busca por mudanças estéticas. Além de usuários contumazes das plataformas sociais, estamos entre os povos mais vaidosos do mundo. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Gallup, 61% da população considera a aparência física o fator mais importante para o sucesso. Jovens de 20 a 30 anos, os chamados millennials, estão cada vez mais fixados no assunto. Procuram, muito mais cedo do que deveriam, técnicas de preenchimento e aplicação de toxina botulínica para prevenir sinais de envelhecimento que estão longe de aparecer.

Constato a presença desse comportamento em todas as classes sociais. Mesmo populações de baixo poder socioeconômico gastam uma parcela significativa da renda mensal com produtos e serviços de beleza. Digo mais: o brasileiro investe mais em beleza do que em educação. Segundo estudo feito pela Fecomercio de São Paulo, em 2015 parte da classe chegou a comprometer 30% da renda com procedimentos estéticos.

Nesse cenário de adoração à imagem jovem e “sem defeitos”, surgem, obviamente, as aberrações e artificialidades: lábios demasiadamente grandes e irreais, bochechas avolumadas em excesso e expressões congeladas. Há três causas para o exagero. A primeira é de ordem patológica. Trata-se do paciente que sofre de dismorfofobia, um distúrbio de imagem corporal em que ele enxerga em si um defeito maior do que aquele que existe. Essa percepção equivocada provoca uma elevada carga de insatisfação pessoal e impacta na forma como seu portador vê sua vida e sua relação com os outros. Na população em geral, a doença atinge entre 1% e 2% das pessoas, enquanto nas clínicas dermatológicas esse número chega a representar 20% dos pacientes. Na prática, são indivíduos que querem resolver um problema que não existe. E, como não aceitam limites, vão de clínica em clínica até que algum profissional faça o que eles desejam (sempre haverá um). O segundo motivo para os excessos que observamos são, como no primeiro caso, resultado da insistência do paciente, com a diferença de que aqui ele é um indivíduo saudável – embora, em geral, com baixa autoestima, o que faz com que ache sempre que não está com a pele suficientemente lisa ou com as formas desejadas. Os maiores exageros nesse sentido são vistos nas bochechas levantadas e nos rostos excessivamente esticados. Mulheres acabam adquirindo o chamado “contorno leonino” da face, e ocidentais passam a se assemelhar a orientais. Não tem sido incomum ver mulheres que, submetidas a preenchimentos labiais excessivos (muitas vezes com produtos definitivos), ou vítimas de erros técnicos, ficam com a boca tão disforme que parecem ter sido atacadas por abelhas. Pacientes assim, no entanto, não podem levar a culpa sozinhos – e eis aqui o terceiro motivo dos exageros que grassam por aí. Do outro lado de uma face desarmônica e artificial está o profissional que falta em apontar ao paciente os riscos que o aguardam. Atribuo isso à sua formação. No Brasil, as técnicas não invasivas podem ser executadas por diversos profissionais da saúde, como o dentista e o biomédico. O mercado da estética é multiprofissional, mas o papel de cada um deveria ser mais bem regulado. Não estou dizendo que somente o médico fará um bom trabalho. No entanto, se queremos que o paciente esteja resguardado, o profissional formado em medicina é o especialista mais adequado para realizar procedimentos injetáveis avançados. Com seis anos de formação básica, e conhecimentos de anatomia, ele não apenas tende a cometer menos equívocos como está mais capacitado para prevenir e tratar as complicações.

E o que dizer do adolescente que, no auge do vigor físico, quer se submeter a correções estéticas? Trata-se de uma realidade cada vez mais comum nos consultórios brasileiros. Mensalmente, 3.400 adolescentes de 13 a 18 anos se submetem a uma cirurgia plástica para alterar algo que não lhes agrada – um crescimento de 55% nos últimos anos. Atenção: não estão incluídos na conta os procedimentos realizados por questões de saúde. São meninas e meninos que decidem mudar o “nariz de batatinha”, ou aumentar o “queixo pequeno demais”. Muitos desses casos estão associados à urgência em adequar-se ao olhar dos amigos, ser aceito.

O contraponto disso tudo é uma crescente demanda de pacientes por aquilo que chamamos de positive aging (envelhecimento positivo). São tratamentos baseados na prevenção, o maior antídoto para a artificialidade. Cuidados dessa natureza são mais eficazes quanto mais precoces, e terão sempre um resultado suave. A dermatologia hoje dispõe de recursos modernos que favorecem a naturalidade. Em vez de aplicarmos substâncias para dar volume às bochechas, podemos, por exemplo, recorrer a um ácido hialurônico de alta densidade, que, usado em pequenas quantidades, ajuda a prevenir a flacidez facial. Presente no organismo, o composto é uma molécula que preserva a elasticidade da pele. Sua versão sintética, produzida em laboratório, é muito semelhante à natural. Além disso, existem os estimuladores de colágeno, substâncias que, quando aplicadas na pele, aumentam a firmeza e previnem rugas sem o risco de resultar em excesso de volume. Optar sempre por produtos que sejam absorvidos pelo corpo é, a meu ver, uma escolha acertada. Que esse tipo de medicina vença a dos exageros.

 

JARDIS VOLPE – é dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.

GESTÃO E CARREIRA

BOM NÃO É O BASTANTE

O excesso de auto exigência é o mal da vez entre os profissionais. Enquanto tentam se encaixar nas expectativas altas demais e nas limitações pessoais, eles sofrem, adoecem e perdem produtividade.

Bom não é o bastante

Eles são incansáveis no trabalho desapegados dos modelos convencionais de emprego, têm urgência do sucesso e um compromisso com a felicidade profissional – sem ela, trocam de empresa sem olhar para trás. Falando assim, pode parecer que os millennials, geração nascida entre 1980 e 2000, estão muito bem resolvidos na vida e na carreira. Mas uma pesquisa recente publicada no periódico Psycological Bulletin, da Associação Americana de Psicologia, mostrou que os jovens de hoje estão insatisfeitos e se cobram como nunca para ser bem-sucedidos. Em relação à geração anterior com a mesma idade, são 10% mais exigentes quanto ao próprio desempenho e se sentem 33% mais pressionados por expectativas externas de sucesso. O estudo, realizado com mais de 41.000 universitários nos Estados Unidos, no Canadá e no Reino Unido entre 1989 e 2016, mostrou, ainda, que esses jovens são 16% mais críticos sobre a performance dos outros em comparação com duas décadas atrás.

Para os autores do estudo, Thomas Curran, Ph.D. em psicologia e pesquisador na Universidade de Bath, e Andrew Hill, da York St. John University, ambas as escolas no Reino Unido, o comportamento é resultado de mudanças culturais, econômicas e sociais desencadeadas a partir dos anos 70. A industrialização, a abertura econômica e o sistema baseado nas vontades do mercado abriram as portas de uma era dominada pelo individualismo, pela preocupação com o status social e material e pela competitividade. 0s pesquisadores citam, por exemplo, uma pesquisa que mostra que para 81% dos americanos nascidos na década de 80 acumular riqueza está entre as principais metas de vida – índice 20% mais alto do que entre os nascidos nos anos 60 e 70. A geração também estaria mais disposta do que os pais a tomar empréstimos e a gastar uma proporção maior dos rendimentos em artigos de luxo como forma de se destacar em relação aos outros. Esse contexto fomentou a ideia de indivíduos superiores e inferiores, o medo da desaprovação social e a rejeição ao fracasso. “Essas pessoas adotaram ideais inatingíveis de sucesso e perfeição como essenciais para se sentir seguros, incluídos e importantes”, diz Thomas Curran.

O PERIGO DA COMPARAÇÃO

Nos dias atuais. o fenômeno das redes sociais tem papel fundamental no aumento da auto cobrança. “Elas permitem editar uma imagem de si mesmo em que se vê apenas sucesso e felicidade”, afirma Danilca Galdini, diretora da Next View People, empresa de pesquisa voltada para gestão e desenvolvimento de pessoas. “Muitas vezes o retrato não corresponde à realidade. Mesmo quando é real, ninguém leva em conta o esforço e os fracassos por trás daquele resultado. Fica a sensação de que o outro está se dando bem enquanto você está estagnado.”

As referências de empreendedores que ficaram bilionários antes dos 30 anos, como Mark Zuckerberg e Evan Spiegel (um dos criadores do Snapchat), também aumentam a pressão. Afinal, alimentam a ideia de que riqueza, sucesso e poder estão ao alcance de qualquer um que se esforce o bastante para consegui-los – o princípio da meritocracia. Mas isso não é verdade, sobretudo na realidade brasileira. “São exceções que combinam capacidade com sorte, mas que muitos assumem como padrões de sucesso. Isso gera frustração e sofrimento porque são modelos inalcançáveis para a maioria”, afirma Adriana Prates, consultora de carreira e presidente da Dasein Executive Search.

Há, ainda, a crueldade do mercado. Processos seletivos complexos e exigências inatingíveis por parte das empresas elevam a angústia. “O profissional fica achando que está defasado ou despreparado, sendo que, muitas vezes, não teve sequer tempo de acumular referenciais e o conhecimento exigido”, afirma Adriana Gomes, orientadora de carreira e professora de pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

O PAPEL DOS PAIS

Em casa, a pressão para acertar também pesa. Seja pela cobrança dos genitores por empenho dos filhos nos estudos e no trabalho, seja por uma noção dos próprios profissionais de que há uma dívida a ser paga aos mais velhos. “Muitos se sentem no dever de retribuir logo o esforço dos pais em lhes garantir uma boa formação, o que provoca ansiedade e culpa”, afirma Danilca, da Next View People.

A relações públicas Giovana Felix de Araújo Guedes, de 21 anos, gerente de pré-vendas da startup Rank­ My App, precisou contar com a ajuda da mãe para pegar mais leve na auto- exigência que se impunha no colégio e na faculdade. “Tirar nota 9 para mim não estava bom, achava que tinha fracassado em corresponder às expectativas do professor e do restante da classe”, diz. Aos poucos, foi aprendendo a valorizar o esforço durante o processo, e não apenas no resulta do final – estratégia que agora procura exercitar profissionalmente. Giovana admite que não se libertou da vontade de se superar, mesmo quando o trabalho já está bom o bastante. “Quero sempre entregar algo melhor do que antes, encontrar um jeito novo de fazer. frequentemente o chefe percebe minha mania de perfeição e dá feedbacks do tipo ‘já está ótimo assim’, mas várias vezes fico com a sensação de que poderia ter ido além”, afirma. Líder de uma equipe de cinco estagiários, ela se como minoria perfeccionista e garante que não cobra dos subordinados a excelência que faz questão de entregar. “Exijo dedicação, mas tenho consciência de que nem todo mundo é metódico como eu. Procuro extrair as potencialidades de cada um”.

CRÍTICA PESSOAL

Quando a imposição por ser melhor motiva a busca equilibrada por aperfeiçoamento pessoal e profissional, tudo bem. Mas o mais comum é que acabe prejudicando os planos para a carreira, como ocorreu com a professora Debora Cavalcante, de 42 anos. Na faculdade, ela percebia que demorava demais para concluir tarefas simples, mas de cara não achou que fosse um problema. “Considerava excesso de rigor e até um cuidado desejável com os detalhes”, diz. Até que se deu conta de que, na verdade, agia pressionada pela opinião de terceiros e pelo medo de não ser julgada como gostaria. “Abria mão de boas ideias e projetos e adiava decisões importantes para não ter de lidar com a pressão que eu mesma me impunha.” Nesse ritmo, Debora ficou quatro anos a mais na faculdade porque protelou a entrega do projeto de conclusão, usando como pretexto o fato de estar sem tempo. “Aceitava todos os trabalhos que apareciam para ter a desculpa da agenda lotada.” Já formada, acabou repetindo o comportamento: foram cinco anos adiando o sonho do mestrado e se sentindo massacrada pela dificuldade de administrar a auto –   exigência. Os anos desperdiçados a fez pensar, mas não resolveram a questão. ”Quando trabalho em equipe, me policio para que meu grau de exigência não prejudique o grupo. Quando dou uma palestra ou sou a única responsável por um projeto, faço de tudo para honrar os prazos, ainda que o custo emocional e físico seja alto”, afirma.

A soma de auto cobrança excessiva e falta de maturidade para lidar com a frustração também produz resultados devastadores sobre a saúde, a auto estima” o crescimento profissional. Primeiro, porque muita autocrítica e auto cobrança nem sempre se refletem em mais eficiência. “Pelo contrário: o perfeccionista evita errar a qualquer custo e, com isso, acaba deixando de mostrar seu potencial e não tendo o destaque que busca, afirma Adriana Prates, da Dasein.

Não à toa, ansiedade, depressão, insônia, burnout, transtornos alimentares, automutilação e abuso de medicamentos se tornam mais recorrentes entre os jovens. No limite, infelizes como estão, essa geração acaba com a própria vida. No Brasil, o número de pessoas de 15 a 29 anos que se suicidaram subiu 37% entre 1990 e 2014 – passando de 4,1 (em 100.000 jovens) para 5,6, de acordo com o Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente com base em informações oficiais sobre mortalidade do Ministério da Saúde. A taxa é equivalente à do Reino Unido, que registrou 5,5 mortes por 100.000 jovens em 2015, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do país.

Os dados mostram que essa geração – e quem tem o perfil exigente, independentemente da idade – precisa tirar um pouco o peso que sentem por querer ser sempre a melhor.

VOCÊ ESTÁ PASSANDO DOS LIMITES?

Analisar o próprio comportamento é o melhor caminho para saber se não está pegando pesado demais.

1 – SENSAÇÃO DE QUE NINGUÉM VALORIZA SEU ESFORÇO

Você passou o dia inteiro preparando um relatório pedido pelo chefe, que leu só até a metade e ficou satisfeito. A sensação pode ser de que você se dedica mais do que a empresa merece ou que impera a lei do mínimo esforço. A mensagem real, no entanto, tem a ver com identificar prioridades, gastar horas numa tarefa e ir além do que foi solicitado apenas com o objetivo de impressionar não é nada mais do que perda de tempo. “Não adianta entregar algo com qualidade, mas sem utilidade”, afirma Danilca Galdini, diretora da Next View People, empresa de pesquisa voltada para a gestão e desenvolvimento de pessoas.

2 – SÓ JOGA PARA GANHAR

O erro é parte de qualquer processo de desenvolvimento, mas para quem se cobra demais, fracassar é voltar várias casas no jogo profissional. Na ansiedade de acertar, mas muitas vezes sem ter as ferramentas necessárias para isso – por inexperiência ou imaturidade própria da idade -, é comum o sujeito autoexigente travar, procrastinar, deixar de agir e, com isso, perder a oportunidade de se destacar ou simplesmente aprender algo novo.

3 – OS PENSAMENTOS NÃO DÃO TRÉGUAS

A atividade mental excessiva pode se tornar uma inimiga perigosa. Remoer pensamentos, planejar à exaustão e questionar demais rouba tempo e energia que poderiam ser direcionados à ação. Em outras palavras, pare de pensar e comece a agir em direção ao que deseja alcançar. Na maioria das vezes, detalhes e ajustes podem ser definidos com os projetos em andamento.

4 – TRABALHAR EM EQUIPE É UM PESADELO

O perfeccionista não só tende a ser intolerante  com as falhas  alheias (ainda que não tão implacavelmente quanto com as próprias), como teme ser julgado pelo trabalho feito por outros. Assim, corre o risco de assumir mais do que é capaz de realizar, tem dificuldade para delegar e frequentemente  se vê sobrecarregado – o que é um tiro no pé porque acaba sendo um obstáculo para cumprir tarefas com eficiência.

5 – SEU FOCO É O NEGATIVO

A mania de colocar uma lente de aumento no que não deu certo ou não saiu como esperado é característica de quem exige muito de sí mesmo. Experimente um exercício no fim do expediente. Liste os pontos altos e baixos daquele dia de trabalho, sendo honestos. Uma reunião, uma conversa com o chefe, um elogio, uma entrevista, um relatório entregue no prazo, tudo entra no balanço. É provável que você se surpreenda com o fato de que há menos coisas com o que se preocupar do que você imagina. 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 28-59 – PARTE IV

Alimento diário

Cristo, o verdadeiro Pão do Céu. Cristo dá as boas-vindas a todos os que veem a Ele. A necessidade de alimentar-se de Cristo

 

Em segundo lugar, aqui Ele nos informa como isto será feito. Como serão trazidos a Ele aqueles que lhe são dados? Duas coisas devem ser feitas para que isto aconteça:

A. Seus entendimentos serão esclarecidos. Isto está prometido, vv. 45,46. Está escrito nos profetas, que falaram destas coisas anteriormente: “E serão todos ensinados por Deus”. Isto nós encontramos em Isaías 54.13 e Jeremias 31.34. “Todos me conhecerão”. Observe que:

[1] Para crermos em Jesus Cristo, é necessário que sejamos ensinados por Deus, isto é:

[a] Que nos seja feita uma revelação divina, relevando-nos aquilo em que devemos crer, a respeito de Cristo, e por que devemos crer nisto. Há algumas coisas que até mesmo a natureza ensina, mas para nos levar a Cristo há a necessidade de uma luz mais elevada.

[b] Que exista uma obra divina que opere em nós, capacitando-nos a compreender e aceitar estas verdades reveladas e suas evidências. Deus, ao nos dar a razão, nos ensina mais do que aos animais da terra, mas ao nos dar a fé, nos ensina mais do que ao homem natural. Assim, todos os filhos da igreja, todos os que são genuínos, são discípulos de Deus. Ele empreendeu a educação deles.

[2] Como consequência, como dedução disto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu virá a Cristo, v. 45.

[a] Aqui está implícito que ninguém virá a Cristo, exceto aqueles que ouviram e aprenderam do Pai. Nunca seremos levados a Cristo, exceto por uma condução divina. A menos que Deus, pela sua graça, esclareça nossos entendimentos, informe nossos julgamentos e retifique nossos erros, e não somente nos diga o que podemos ouvir mas nos ensine, para que possamos aprender a verdade como ela existe em Jesus, nunca seremos levados a crer em Cristo.

[b] Que este ensinamento divino produz tão necessariamente a fé dos eleitos de Deus, que nós podemos concluir que aqueles que não vierem a Cristo nunca terão ouvido nem aprendido do Pai, pois, se tivessem, sem dúvida teriam vindo a Cristo. Em vão, os homens fingem ser ensinados por Deus, se não creem em Cristo, pois Ele não ensina outra lição, Gálatas 1.8.9. Veja como Deus lida com os homens, como sendo criaturas razoáveis, os atrai com cordas humanas, abre primeiro os entendimentos, e então, por ele, de modo regular, influencia as faculdades interiores. Assim, Ele entra pela porta, mas Satanás, como um salteador, sobe por outra parte. Mas para que ninguém sonhe com uma manifestação visível de Deus, o Pai. a estes filhos dos homens (para ensiná-los estas coisas), e alimente noções grosseiras sobre ouvir e aprender do Pai, Ele acrescenta v. 46): “Não que alguém visse ao Pai”. Aqui está implícito: não que alguém possa vê-lo, com olhos físicos. ou possa esperar aprender dele, como Moisés, a quem Ele falou face a face. mas Deus, ao esclarecer os olhos dos homens, e ao ensiná-los, trabalha de uma maneira espiritual. O Pai dos espíritos tem acesso ao espírito dos homens desapercebidos, e os influencia. Aqueles que não viram seu rosto, sentiram seu poder. Mas existe alguém que conhece intimamente o Pai, aquele que é de Deus, o próprio Cristo, Ele viu o Pai, cap. 1.18. Observe, em primeiro lugar, que Jesus Cristo é de Deus, de uma maneira peculiar, Deus de Deus, luz da luz, não somente enviado por Deus, mas gerado de Deus, antes de todos os mundos. Em segundo lugar, que é prerrogativa de Cristo ter visto o Pai, perfeitamente, e conhecê-lo e seus conselhos. Em terceiro lugar, que até mesmo este esclarecimento, que é uma preparação para a fé, nos é transmitido por meio de Cristo. Aqueles que aprendem do Pai, considerando que não podem vê-lo pessoalmente, devem aprender de Cristo, o único que o viu. Assim como todas as revelações divinas são feitas por meio de Cristo, também por meio dele são exercidos todos os poderes divinos.

B. Suas vontades se curvarão. Se a alma do homem agora tivesse sua retidão original, não haveria mais necessidade de influenciar a vontade, não mais do que o esclarecimento do entendimento. Mas na alma depravada do homem pecador existe uma rebelião da vontade contra os ditados justos do entendimento, uma mente carnal, que é a própria inimizade à luz e à lei divinas. Portanto, é necessário que exista uma obra de graça operando sobre a vontade, que aqui é chamada de “trazer” (v.44): “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer”. Os judeus murmuravam contra a doutrina de Cristo. Eles não somente não a aceitavam, mas se irritavam porque outros a aceitavam. Cristo ouviu seus murmúrios em segredo, e disse (v. 43): ” Não murmureis entre vós”. Não coloqueis a culpa do vosso descontentamento com minha doutrina sobre os outros, como se fosse porque vós a considerais desagradável, de maneira geral. Não, ele se deve a vós mesmos, e às vossas próprias disposições corruptas, que equivalem a uma impotência moral. Vossas antipatias às verdades de Deus e vossos preconceitos contra elas são tão fortes, que nada menos do que o poder divino pode derrotá-los”. E este é o caso de toda a humanidade: “Ninguém pode vir a mim”, ninguém pode persuadir-se a aproximar-se aos termos do Evangelho, “se o Pai, que me enviou, o não trouxer”, v. 44. Observe:

(a) A natureza da obra: é trazer, o que não indica uma força colocada sobre a vontade, por meio da qual de indispostos passamos a dispostos, e uma nova inclinação é dada à alma, pela qual ela se inclina a Deus. Parece ser mais do que uma persuasão moral, pois nisto está o poder de atração, mas não deve ser chamado de um impulso físico, pois está fora do caminho da natureza. Porém, aquele que formo u no homem seu espírito pelo seu poder criador, e modela os corações dos homens pela sua influência providencial, sabe como remodelar a alma, e alterar sua tendência e temperamento, e fazê-la conformável a si mesmo e à sua vontade, sem causar nenhum dano à sua liberdade natural. É urna atração tal, que opera não somente a obediência, mas uma obediência alegre, uma complacência: “Leva-nos tu, correremos após ti”.

(b) A necessidade desta obra: ninguém, nesta condição fraca e desamparada, pode vir a Cristo sem ela. Assim corno não podemos realizar nenhuma ação natural sem a ajuda da providência comum, também não podemos realizar nenhuma ação moralmente boa sem a influência da graça especial, na qual vive e se move o novo homem, na qual ele tem sua existência, tanto quanto o mero homem a tem na divina providência.

(c) O autor desta obra: o “Pai que me enviou”. O Pai, tendo enviado a Cristo, irá segui-lo, pois não o enviaria em uma missão infrutífera. Tendo Cristo se comprometido a trazer as almas à glória, Deus lhe prometeu, para isto, trazê-las a Ele, e, desta maneira, dar-lhe a posse daquelas às quais Ele lhe tinha dado o direito. Tendo Deus, pela promessa, dado o reino de Israel a Davi, após algum tempo levou os corações das pessoas a ele. De modo que, tendo enviado Cristo para salvar as almas, Ele lhe envia as almas, para que sejam salvas por Ele.

(d) A coroa e perfeição desta obra: “E eu o ressuscitarei no último Dia”. Isto é mencionado quatro vezes neste discurso, e sem dúvida inclui todas as obras intermediárias e preparatórias da divina graça. Quando os ressuscitar, no último dia, Ele dará o retoque final no seu empreendimento, colocará a pedra final. Se Ele realiza isto, certamente pode realizar qualquer coisa, e fará tudo o que for necessário para isto. Que nossas expectativas sejam levadas em direção à felicidade reservada para o último dia, quando todos os anos do tempo estiverem completos e concluídos.

C. Tendo se referido a si mesmo como o pão da vida, e tendo se referido à fé como uma obra de Deus, o Pai, Cristo mostra mais particularmente e especificamente o que é este pão: sua carne. O Senhor também está ensinando que crer é comer dela, vv. 51-58. O Senhor ainda está uti lizando a metáfora da comida. Observe, aqui, a preparação desta comida: “O pão que eu der é a minha carne” (v. 51), a carne do Filho do homem e seu sangue.

(2) Vejamos como estas palavras de Cristo estavam propensas a enganos e a más interpretações, de modo que os homens pudessem ver e não perceber.

[1] Elas foram mal interpretadas pelos judeus carnais, aos quais elas foram ditas em primeiro lugar (v. 52): “Disputavam, pois, os judeus entre si”. Eles murmuravam aos ouvidos, uns do outros, sua insatisfação: “Como nos pode dar este a sua carne a comer?” Cristo falou (v. 51) de dar sua carne por nós, de sofrer e morrer. Mas eles, sem a devida consideração, interpretaram a expressão “dar-se por nós” como “ser comido”. Isto deu oportunidade para que Cristo lhes dissesse que, embora o que Ele tinha dito tivesse intenções diferentes, ainda assim, mesmo isto, comer sua carne, não era uma coisa tão absurda (se corretamente interpretada) à primeira vista eles a entenderam.

[2] Elas foram indignamente mal interpretadas pela igreja de Roma, para sustentar sua monstruosa doutrina de transubstanciação, o que traz uma mentira aos nossos sentidos, contradiz a natureza de um sacramento, e destrói todas as evidências convincentes. Estes, como os judeus aqui, entendem que se trata de comer fisicamente e carnalmente o corpo de Cristo, como Nicodemos, cap. 3.4. A Ceia do Senhor ainda não tinha sido instituída, e, portanto, não poderia haver referência a ela. É um comer e beber espiritual que se menciona aqui, algo que não é sacramental.

[3] As palavras são mal interpretadas por muitas pessoas carnais e ignorantes, que deduzem que, se participarem do sacramento, quando morrerem, certamente irão para o céu. Isto, da mesma maneira, traz um desconforto desnecessário a muitos que são fracos. Eles podem pensar que, se não participarem deste sacramento, estarão desqualificados. Este conceito equivocado também faz com que muitos que são ímpios se sintam desnecessariamente confortáveis, pensando que, se participarem deste sacramento, serão salvos, mesmo sem o arrependimento, a conversão e o perdão dos pecados. Portanto:

[1] Vejamos como estas palavras de Cristo devem ser interpretadas.

[1] O que significam a carne e o sangue de Cristo. Isto é chamado (v. 53) “a carne do Filho do Homem e… o seu sangue”, seu, como Messias e Mediador; a carne e o sangue que Ele assumiu na sua encarnação (Hebreus 2.14), e que Ele entregou na sua morte e nos seus sofrimentos: Minha carne, que Eu darei, para que seja crucificada e morta. Está escrito que ela é dada “pela vida do mundo”, isto é, em primeiro lugar; em lugar da vida do mundo, que tinha sido perdida pelo pecado, Cristo dá sua própria carne como um resgate. Cristo foi nosso fiador, comprometendo corpo por corpo (como dizemos), e, portanto, sua vida deve tomar o lugar da nossa, para que a nossa possa ser poupada. “Aqui estou Eu, deixai ir estes”. Em segundo lugar; o Senhor Jesus Cristo deu sua vida para que todas as pessoas do mundo pudessem ter a vida, para oferecer a vida eterna a todo o mundo, sem exceções, e as garantias especiais dela a todos os crentes. De modo que a carne e o sangue do Filho do homem denotam o Redentor encarnado, morto e ressuscitado. Cristo, e este crucificado, e a redenção realizada por Ele, com todos os preciosos benefícios da redenção, a saber, o perdão dos pecados, a aceitação de Deus, a adoção como filhos, o acesso ao trono da graça, as promessas do concerto e a vida eterna. Tudo isto é chamado de carne e v. 53. Sua carne verdadeiramente é comida, e seu sangue verdadeiramente é bebida, v. 55. Observe, além disto, a participação desta comida: nós devemos comer a carne do Filho do Homem e beber seu sangue (v. 53). E outra vez (v. 54): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”. E as mesmas palavras (vv. 56,57): “Quem de mim se alimenta”. Esta é certamente uma parábola, ou um discurso figurativo, em que as atividades da alma em coisas espirituais e divinas são representadas por ações físicas em coisas perceptíveis, o que torna as verdades de Cristo mais inteligíveis a alguns, e menos a outros, Marcos 4.11,12. Agora:

1. Por ser tudo isto comprado pela sua carne e pelo seu sangue, por seu corpo moído, e pelo seu precioso sangue derramado. Os privilégios comprados podem, muito bem, ser chamados conforme o preço que foi pago por eles, pois isto mostra seu valor. Escreva sobre eles preço de sangue.

2. Por ser tudo isto a comida e a bebida para nossas almas. A carne com sangue era proibida (Genesis 9.4), mas os privilégios do Evangelho são como carne e sangue para nós, preparados para a nutrição das nossas almas. Anteriormente, Cristo tinha se comparado ao pão, que é um alimento necessário. Aqui, o Senhor se compara com a carne, que é saborosa. É uma festa com animais gordos, Isaías 25.6. A alma se fartará de Cristo, como de tutano e de gordura, Salmos 63.5. É comida, verdadeiramente, e bebida, verdadeiramente, verdadeiramente e espiritualmente. Assim como Cristo é chamado de vinho verdadeiro, ou de comida, verdadeiramente, em oposição às demonstrações e sombras com que o mundo engana aqueles que dele se alimentam. Em Cristo, e no seu Evangelho, existe uma provisão verdadeira e uma satisfação sólida. É verdadeiramente comida, e verdadeiramente bebida, que sacia e satisfaz, Jeremias 31.25,26.

[2] O que significa comer esta carne e beber este sangue, que é tão necessário e benéfico. É certo que isto significa nada mais que crer em Cristo. Da mesma maneira como nós compartilhamos a comida e a bebida, comendo e bebendo, também compartilhamos Cristo e seus benefícios pela fé, e crer em Cristo inclui quatro coisas, que estão relacionadas a comer e beber. Em primeiro lugar, implica em um apetite de Cristo. Este comer e beber espiritual tem início na sede e na fome (Mateus 5.6), desejos fervorosos e inoportunos em relação a Cristo, que não podem ser satisfeitos com algo que não seja o próprio Senhor: “Dá-me Cristo, senão morro”. Em segundo lugar, implica em uma aplicação de Cristo a nós mesmos. A comida somente olhada não nos alimentará, mas sim a comida consumida, e tornada nossa, e como se fosse uma coisa só, conosco. Nós devemos aceitar Cristo de modo a apropriá-lo a nós mesmos: “Senhor meu, e Deus meu”, cap. 20.28. E m terceiro lugar, implica em um deleite em Cristo e na sua salvação. A doutrina de Cristo crucificado deve ser comida e bebida para nós, agradável e prazerosa. Nós devemos nos banquetear com os manjares do Novo Testamento que nos são concedidos através do sangue de Cristo, tendo uma complacência tão grande nos métodos que a Sabedoria Infinita adotou para nos redimir e salvar quanto sempre tivemos com as provisões mais necessárias ou com as delícias mais prazerosas da natureza. Em quarto lugar, implica na obtenção da nutrição dele e em uma de­ pendência dele, para o sustento e o consolo da nossa vida espiritual, e a força, o crescimento e o vigor do novo homem. Alimentar-se de Cristo é fazer tudo no seu nome, em união com Ele, e pela virtude extraída dele. É viver dele, como vivemos do nosso alimento diário. Não sabemos descrever como nossos corpos são nutridos pelo alimento que comemos, mas sabemos que o são. Também é assim com esta nutrição espiritual. Nosso Salvador estava tão satisfeito com esta metáfora (por ser muito significativa e expressiva), que, quando Ele instituísse posteriormente alguns sinais perceptíveis externos, com os quais representaria a transmissão dos benefícios da sua morte para os cristãos, Ele escolheria o comer e o beber, e faria deles atos sacramentais.

(3) Tendo, desta maneira, explicado o significado geral desta parte do discurso de Cristo, os detalhes se reduzem a dois tópicos:

[1] A necessidade de que comamos de Cristo (v. 53): “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Isto é, em primeiro lugar: “Se vocês não tiverem desejo em relação a Cristo, nem deleite nele, isto é um sinal garantido de que não têm uma vida espiritual”. Se a alma não tiver fome nem sede, certamente não viverá. Se estivermos mortos para uma comida e uma bebida como estas, isto é um sinal de que estamos verdadeiramente mortos. Quando se deseja distinguir abelhas artificiais, que, por correntes curiosas, são levadas a se mover de um lado a outro, das naturais (dizem), basta colocar mel entre elas, pois somente as abelhas naturais se interessarão por este alimento. As artificiais não se importam, pois não têm vida em si mesmas. Em segundo lugar: “É certo que vocês não poderão ter vida espiritual, a menos que a obtenham de Cristo, pela fé. Separados dele, vocês não conseguem nada”. A fé em Cristo é o primeiro princípio vivo de graça. Sem ele, não temos a verdade da vida espiritual, nem nenhum direito à vida eterna. Nossos corpos podem viver sem comida tanto quanto nossas almas, sem Cristo.

[2] Os benefícios e as vantagens de nos alimentarmos de Cristo, em dois aspectos:

Em primeiro lugar, nós seremos um com Cristo, como nossos corpos são um com nossa comida, quando ela é digerida (v. 56): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”, que vive pela fé no Cristo crucificado (isto é dito como sendo uma ação contínua), “permanece em mim, e eu, nele”. Pela fé, nós temos uma união íntima com Cristo. Ele está em nós, e nós nele, cap. 17.21-23; 1 João 3.24. Os crentes residem em Cristo, como sua fortaleza ou cidade de refúgio. Cristo reside neles, como o senhor da casa, para administrá-la e prover para ela. Tal é a união entre Cristo e os crentes, que Ele compartilha das suas tristezas, e eles compartilham das suas graças e alegrias. Ele come com eles suas ervas amargas, e eles comem com Ele seus ricos manjares. É uma união inseparável, como aquela entre o corpo e o alimento digerido, Romanos 8.35; 1 João 4.13.

Em segundo lugar nós viveremos, viveremos eternamente, por Ele, assim como nossos corpos vivem pela nossa comida.

1. Nós viveremos por Ele (v.57): “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim”. Aqui temos a sequência e a ordem da vida divina.

(a) Deus é o Pai que vive, tem vida em si e emana vida de si. “Eu sou o que sou” é seu nome para sempre.

(b) Jesus Cristo, sendo Mediador, vive junto ao Pai. Ele tem vida em si mesmo (cap. 5.26), mas a recebe do Pai. Aquele que o enviou, não somente o capacitou com esta vida que era necessária para um empreendimento tão grandioso, mas também fez dele o tesouro da vida divina em nós. Ele soprou no segundo Adão o sopro da vida espiritual, assim como soprou no primeiro Adão o sopro da vida natural.

(c) Os crentes fiéis recebem esta vida divina em virtude da sua união com Cristo, o que é deduzido da união entre o Pai e o Filho, pois é comparada a ela, cap. 17.21. Portanto, “quem de mim se alimenta também viverá por mim”. Aqueles que vivem em Cristo, viverão por meio dele. A vida dos crentes é obtida de Cristo (cap. 1.16). Ela está escondida com Cristo (Colossenses 3.3-4). Nós vivemos por Ele assim como os membros vivem através da cabeça do corpo, e também como os ramos vivem através da raiz. Pelo fato de Ele viver, nós também viveremos.

A. Nós viveremos eternamente por Ele (v.54): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”, como bênçãos preparadas no Evangelho para serem o alimento das almas, “tem a vida eterna”, e a tem agora, como lemos no versículo 40. Aquele que se alimenta de Cristo tem a vida eterna iniciada em si mesmo, tem um sinal e uma antecipação dela, como também a esperança dela. Este viverá para sempre, v. 58. Sua felicidade correrá em paralelo com a linha mais longa da própria eternidade.

Finalmente, o historiador conclui com uma consideração a respeito de onde Cristo teve este debate com os judeus (v.59): “na sinagoga, ensinando”, o que sugere que Ele ensinou-lhes muitas outras coisas antes destas. Mas, neste discurso, isto é que era novo. Ele acrescenta que disse estas coisas “na sinagoga” para mostrar:

1. A fidedignidade da Doutrina de Cristo. Suas verdades não publicadas pelos cantos, mas pregadas publicamente em assembleias mistas, foram submetidas aos mais imparciais e severos testes. Cristo declarou sobre sua doutrina (cap. 18.20):”Eu sempre ensinei na sinagoga”.

2. A credibilidade desta narrativa. Assegura a você que o pronunciamento foi plenamente exposto, Ele referiu-se à sinagoga em Cafarnaum, onde isto poderia ser examinado.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A MANIA DE DEIXAR PARA DEPOIS

A tendência à procrastinação compromete a carreira, a saúde e a vida financeira de muita gente; embora a biologia possa ser responsabilizada (pelo menos em parte) por esse hábito, é possível se livrar dele.

A mania de deixar para depois

Quase todo mundo adia decisões e tarefas – e, em algum grau, enfrenta as consequências dessa opção. É o que o economista Piers Steel, professor da Universidade de Calgary, no Canadá, define como procrastinar voluntariamente uma ação pretendida, apesar de saber que essa atitude trará consequências negativas – que poderia facilmente evitar. Ele estima que 20% dos adultos adiam de forma rotineira atividades que melhor seria se fossem realizadas imediatamente. Estilo de vida e situações específicas são particularmente propensos para esse comportamento. Segundo uma pesquisa coordenada por Steel, o problema aflige 90% dos estudantes universitários.

Mas atenção: procrastinar não significa programar deliberadamente tarefas menos cruciais para momentos futuros. O termo é mais adequado para situações em que uma pessoa deixa de seguir essa lógica e acaba adiando as tarefas de maior urgência. Ou seja: se o simples pensamento sobre o trabalho a ser entregue na semana que vem provoca um arrepio desagradável ou a compulsão de fazer algo mais trivial, a pessoa provavelmente está procrastinando. O adiamento, porém, cobra seu preço: coloca em risco a saúde (quando se trata de ir ao médico ou fazer exercícios físicos, por exemplo), prejudica relacionamentos, acarreta perdas financeiras e põe fim a carreiras profissionais. “A procrastinação mina o bem-estar, mas pode haver ganhos secundários recorrentes do mau hábito: os perpetuamente vagarosos parecem obter o benefício, pelo menos imediato, de evitar coisas desagradáveis”, observa o psicólogo Timothy A. Pychyl, professor da Universidade Carleton, em Ottawa, que coordena um grupo de pesquisa sobre o tema. Ele reconhece que, ao longo da vida, todos nós aprendemos a adiar atividades, mas alguns traços estruturais de personalidade aumentam a probabilidade de uma pessoa adquirir o hábito. “Procrastinação é uma dança entre o cérebro e a situação”, resume Pychyl.

A aversão a tarefas é um dos principais gatilhos externos da procrastinação. Quem deixa para fazer depois algo que adora? De acordo com a análise de Steel, metade dos estudantes entrevistados citou a natureza da própria tarefa como o motivo da protelação. Na prática, parece que a maioria não se entusiasma com obrigações como escrever uma dissertação sobre a reprodução dos nematoides ou limpar o armário. “Procrastinação muitas vezes tem a ver com a falta de projetos que realmente reflitam nossas metas”, diz Pychyl.

Do ponto de vista neurológico, somos mais propensos a nos distrair e adiar algo quando o prazo de entrega de um projeto está distante. O motivo está num fenômeno conhecido como retardo temporal, que significa que quanto mais perto uma pessoa estiver de uma recompensa (ou de uma sensação de realização), mais valiosa parecerá a gratificação e, portanto, menos provável será que ela adie a realização do trabalho necessário para merecê-la. Ou seja: gratificação imediata é mais motivadora que os prêmios ou o reconhecimento futuros – o que pode ter forte base evolutiva. Para nossos antepassados, o amanhã era imprevisível e as chances de estar vivo nos próximos dias, não muito animadoras. Portanto, pelo menos desse aspecto, havia verdade no dito “mais vale um pássaro na mão que dois voando”. “Em prol da sobrevivência, as pessoas têm tendência à procrastinação embutida em seu cérebro”, diz Pychyl.

Há alguns anos, o neurocientista Barry Richmond e colegas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos relataram a descoberta de uma base biológica dessa tendência. Primeiro, a equipe treinou macacos a soltar uma alavanca sempre que um ponto vermelho na tela do computador se tornasse verde. Quando as cobaias continuavam a manipular corretamente a alavanca, o brilho de uma barra cinza aumentava, deixando que os animais soubessem que estavam se aproximando do momento de ganhar uma guloseima. Assim como os procrastinadores humanos, os animais eram relaxados durante as primeiras etapas do experimento, cometendo muitos erros. Mas, quando o saboroso prêmio ficou mais próximo, se tornaram mais perseverantes e cometeram menos equívocos.

Cientistas levantaram a hipótese de que a dopamina, um dos neurotransmissores responsáveis por detectar a sensação de recompensa, poderia estar na base desse comportamento. Trabalhando com Richmond, o geneticista molecular Edward Ginns utilizou um engodo molecular chamado DNA antissentido para impedir parcialmente a produção de um receptor de dopamina na região do cérebro dos macacos chamada córtex rinal, que associa indícios visuais com recompensa. A intervenção diminuiu os efeitos da dopamina até o ponto em que os animais não conseguiam mais prever em que momento do experimento teriam a guloseima. Assim, eles reforçaram as apostas, trabalhando duramente o tempo todo. Mas nem todos os macacos com respostas diminuídas de dopamina se comportaram da mesma maneira. Alguns permaneceram sossegados depois do trata- mento que reprimia a dopamina, empenhando-se pouco, mesmo quando o tempo até a recompensa diminuiu. Essa observação nos alerta sobre as características individuais da procrastinação: alguns de nós somos mais propensos a ela.

A procrastinação também se origina da ansiedade. Muitas vezes, procrastinadores protelam por medo do fracasso, receio de cometer um erro ou de não lidar bem com o sucesso. Esses traços de personalidade entram em cena em situações particulares, em combinação com o ambiente. Os pesquisadores agora estão tentando unificar as teorias existentes da procrastinação e predizer quem tem propensão ao adiamento de tarefas importantes e em quais circunstâncias. Quando uma pessoa espera se sair bem numa atividade ou valoriza essa tarefa, é mais propensa a realizá-la. Por outro lado, se uma recompensa ou punição se situar muito longe no futuro ou se uma pessoa for particularmente “sensível”, com propensão à distração, impulsiva ou com falta de autocontrole, será bem menos propensa a fazer a tarefa, pelo menos a tempo.

Vários cientistas, no entanto, discordam da ideia de que um comportamento humano complexo possa ser definido de maneira tão pragmática. Em lugar de quantificar os traços de personalidade e resolver fórmulas, alguns pesquisadores preferem “extrair” a psicologia por trás do comportamento. Dois elementos importantes no desejo de deixar que os projetos desmoronem são a sensação de desconforto com uma atividade e o desejo de evitá-lo. Um procrastinador diz, “eu me sinto mal com uma tarefa, e, portanto, me afasto para me sentir melhor”. O psicólogo Joseph Ferrari, da Universidade DePaul, cunhou a expressão “procrastinador por esquiva” para descrever aquele em quem a evitação é a principal motivação.

Outro propulsor psicológico da protelação é a indecisão. Digamos que uma mulher pretende visitar uma amiga no hospital. Em lugar de simplesmente apanhar as chaves e sair, a moça indecisa começa a debater internamente se irá de carro ou de metrô. A dúvida pode continuar até que passe tempo bastante para que o horário de visita se encerre.

Uma terceira explicação muitas vezes citada para um atraso irracional é o estado de excitação. O “procrastinador pela excitação” jura que trabalha melhor sob pressão e precisa da adrenalina do último minuto para dar a partida. Essa pessoa acredita que a protelação propicia uma experiência que o psicólogo Mihaly Csíkszentmihályi, da Escola Drucker de Administração da Universidade de Pós-Graduação de Claremont, define como se perder na atividade. Nesse momento, é como se o tempo desaparecesse e o ego se dissolvesse.

Mas procrastinação não facilita o fluxo, de acordo com o cientista social Eunju Lee, da Universidade Halla, da Coreia do Sul. Ele realizou uma pesquisa com 262 estudantes e descobriu que os procrastinadores tendiam a ter menos, e não mais desse tipo de experiência. Afinal, uma pessoa precisa conseguir se libertar de si própria para “se perder” dentro de uma experiência, e os procrastinadores geralmente têm dificuldade em fazê-lo.

Pychyl e seu aluno de pós-graduação Kyle Simpson mediram os traços associados à excitação, entre os quais a busca de emoções e a extroversão, em estudantes que frequentemente procrastinavam. Mas eles acreditam que os adiadores não estão realmente precisando de excitação, mas usam a crença de que necessitam da pressão do último minuto para justificar o fato de estarem se arrastando vagarosamente, quando, na verdade, tentam contornar o desprazer. Outros, protelam estrategicamente os projetos como desculpa para um eventual mau desempenho. Dizem a si mesmos ou aos outros que poderiam ter se saído melhor se tivessem começado antes. Em alguns casos, tal estratégia pode servir de escudo para um ego frágil.

TRUQUES DO OFÍCIO

Procrastinação nem sempre é prejudicial. Em uma pesquisa com 67 universitários, que se reconheciam como “adiadores” de tarefas, o psicólogo Gregory Schraw, da Universidade de Nevada, Las Vegas, e colegas aprenderam que esses voluntários tinham encontrado maneiras criativas de usar o mau hábito a seu favor. Muitos deles, por exemplo, só escolhiam cursos nos quais o professor oferecia um sumário detalhado, em lugar de um esboço grosseiro, dos trabalhos a serem entregues. Essa especificidade permitia adiamentos “planejados”: os jovens poderiam programar como prorrogar a execução da tarefa e, desta forma, se dar ao luxo de ter o máximo de tempo para atividades mais atraentes.

Para lidar com a culpa e a ansiedade acarretadas pela espera até o último minuto, alguns jovens adquiriam logo todos os livros necessários para a realização do trabalho – e os punham numa prateleira. Assim se desviavam da culpa, dizendo a si próprios: pelo menos providenciei os livros. Só 48 horas antes do prazo para a entrega do projeto o procrastinador passava a produzir freneticamente para conseguir terminar a tarefa. Consequentemente, os estudantes faziam o máximo num tempo mínimo – com um mínimo de dor.

Portanto, embora esses alunos estives- sem adiando o trabalho por mais tempo do que deveriam, ainda assim conseguiam ter- minar a tarefa e, ao mesmo tempo, manter a sanidade. Schraw enfatiza que seu estudo não pretende defender a procrastinação, mas destacar que a prática é capaz de engendrar algumas aptidões úteis para a sobrevivência, como planejamento tático, para realizar uma tarefa em tempo limitado e com o mínimo de tensão. “A moral da história é que as pessoas protelam na tentativa de ter uma vida mental melhor”, diz Schraw.

HORA MARCADA

Mas nem todos os especialistas concordam com ele. De fato, a análise de Steel sugere que 95% dos procrastinadores gostariam de mudar essa característica, mas não conseguem. “Hábitos são processos cerebrais não conscientes. Quando a procrastinação se torna crônica, uma pessoa está essencialmente andando em piloto automático”, diz Pychyl.

Alguns especialistas sugerem substituir o reflexo de protelação pelas prescrições de ação cronologicamente determinadas. O psicólogo Peter Gollwitzer, das Universidades de Nova York e de Konstanz, Alemanha, aconselha a criação de “intenções de implementação”, que especificam onde e quando uma pessoa exibirá determinado comporta- mento. Então, em vez de colocar uma meta vaga como “vou ficar saudável”, ela define uma estratégia, inclusive cronológica, embutida: “digamos, vou encaminhar amanhã, às 7h30”, por exemplo, ou “a partir de hoje deixo de comer carne vermelha”.

A definição de prescrições tão específicas parece realmente inibir a tendência de procrastinar. O psicólogo Shane Owens e colegas da Universidade Hofstra demonstraram que procrastinadores que produziam intenções de implementação eram oito vezes mais propensos a cumprir uma intenção do que aqueles que não usavam esse recurso. “Você precisa criar, de antemão, um compromisso específico com uma hora e lugar em que você agirá. Isto o tornará mais propenso a ir até o fim”, diz Owens. Um cronograma inteligente também pode frustrar a procrastinação. Em um experimento feito pelo o economista comportamental da Universidade Duke, Dan Ariely, que na época era do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e o professor de marketing Klaus Wertenbroch, da Insead, uma escola de administração com campina França e Cingapura, pediram a alunos de um curso para executivos que determinassem seus próprios prazos para a entrega de três monografias naquele semestre. Ariely e Wertenbroch estabeleceram punições, impostas para aqueles que se atrasassem. Entre os estudantes, 70% escolheram datas de entrega espaçadas ao longo do semestre, em vez que agrupá-las no final do curso. O curioso foi que aqueles que definiram prazos menores se saíram melhor, em média, que os frequentadores de um curso similar, no qual Ariely definiu uma única data para os três artigos no final do semestre. Tal planejamento pode neutralizar a inclinação para adiar o trabalho.

 A mania de deixar para depois.2

 

 

 

 

OUTROS OLHARES

O PODER DO JEJUM

Cientistas descobrem que abster o organismo de alimentos por alguns períodos pode ajudar a combater a depressão e estimular a reciclagem dos neurônios. Alguns estudos em animais revelam que a prática tem potencial para fortalecer a memória, aumentar a vitalidade e até diminuir sintomas de demência. A privação, porém, não é um consenso entre médicos e pesquisadores e, em muitos casos, pode ser prejudicial. 

O poder do jejum

O pinguim-rei é um grande jejuador. Durante cinco meses no ano, a ave não come um peixe sequer, sobrevive do depósito de gordura do próprio corpo e pode perder quase metade de seu peso, em torno de 15 kg, vivendo em temperaturas abaixo de 60°. Já os seres humanos reagem de forma bem diferente. Exceto em situações extraordinárias de escassez, em geral estamos sempre comendo – com exceção de quando dormimos. A obrigação de termos sempre de ingerir três refeições diárias foi, durante gerações, tão fixamente colocada na nossa consciência que renunciar a essa tradição pode parecer inconcebível. E vale lembrar que, entre as refeições, muita gente “belisca”, toma refrigerantes refrescantes, come guloseimas, frutas e, no fim do dia, se rende a uma taça de vinho ou uma cerveja, às vezes acompanhadas de algum salgadinho.

A indústria alimentícia fica contente com esse hábito, mas o nosso corpo não. “Somos uma sociedade de abundância; a comida sempre à nossa disposição e, ao mesmo tempo, nos movimentamos pouco”, observa o pesquisador Dieter Melchart, professor de medicina complementar e alternativa da Universidade Técnica de Munique. Esse excesso deixa marcas, que podem se traduzir em patologias como obesidade, diabetes, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), hipertensão, cardiopatias e Alzheimer.

Hoje talvez pareça difícil não desfrutar de hábitos adquiridos nas últimas décadas, a ponto de nos esquecermos de que, assim como os outros animais, durante muito tempo sobrevivemos sem celulares, açúcar e fast-food. A vida na Terra se desenvolveu regida pelos ritmos naturais, do dia e da noite, do clima frio e quente, da fartura e da escassez. “Considerando isso, é possível pensar que poderíamos nos readaptar e mudar o hábito de comer sem parar”, diz Melchart. “Mesmo sem dispor de um laboratório bem equipado, o médico e filósofo Paracelso (1493-1541) já sabia disso no século 16.” Atualmente, existem comprovações de que o excesso de alimento prejudica o corpo, em especial o cérebro. A dieta baseada em alimentos industrializados e processados, com altos índices de gordura, é a mais nociva. Por outro lado, aqueles que já renunciaram à comida perceberam que o processo envolve uma causa superior. “Depois de passados os três primeiros dias, considerados os mais difíceis, há uma melhora no humor em dois terços dos pacientes”, afirma o naturopata Andreas Michalsen, médico do Hospital Immanuel, de Berlim, onde um grupo de 800 pessoas jejua voluntariamente pelo bem da saúde.

MAIS HORMÔNIOS DA FELICIDADE 

Por mais paradoxal que pareça, a evolução biológica mostra que, quando sentimos fome, durante um curto espaço de tempo, é liberada uma sensação de bem-estar. Mas atenção: “Quem simplesmente ficar sem comer durante três dias, sem preparação para isso, provavelmente adoecerá e pode até morrer”, alerta Michalsen. Por isso, no curso da evolução, nossa espécie foi agraciada com uma espécie de “programa de jejum”. Assim que ocorre uma escassez de comida, o cérebro muda a chave para “eufórico” e cuida para que a pessoa não recue, mas sim procure ativamente por comida. É uma reação parecida com a provocada por antidepressivos: o corpo recebe quantidades menores do aminoácido triptofano – que o organismo não consegue produzir por si só, precisa do alimento para esse processo –, importante para a produção do neurotransmissor serotonina. Para compensar essa deficiência, durante a sinapse o sistema nervoso reduziria o número de transportadores de serotonina, que normalmente eliminam o transmissor novamente. É o mesmo processo que ocorre com os medicamentos prescritos para o tratamento contra a depressão, que funcionam como inibidores seletivos de receptação de serotonina. Nesse caso, elevam-se a concentração de terminações nervosas, o tempo de residência e o efeito dos “hormônios da felicidade”. E o que acontece quando alguém vive durante alguns dias com menos de 500 calorias? “Depois de 24 horas a glicose do açúcar armazenada no fígado começa a se quebrar. Na sequência, o cérebro implora por açúcar e, como não obtém, precisa mudar o metabolismo”, explica Melchart. “Dessa forma, são iniciados processos como a gluconeogênese, na qual o corpo produz glicose a partir de fontes alternativas. A gordura do corpo é consumida e fornece ácidos graxos livres para que os tecidos possam produzir energia. O cérebro retira sua energia da nova formação de glicose e dos recém-formados corpos cetônicos – compostos orgânicos formados no fígado a partir de ácidos graxos.  Graças a esse processo, a pessoa pode sobreviver 30 dias ou mais sem comer nada sólido, dependendo, claro, da constituição do corpo de cada um.

FOME SAUDÁVEL

Viver no limite pode trazer algumas vantagens, desde que a experiência seja acompanhada por médicos e psicólogos, apenas durante alguns dias – e jamais deve ser feita por conta própria, sem assistência de profissionais. Em países da Europa e nos Estados Unidos já existem “clínicas de jejum”. De acordo com o especialista em biologia celular Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles, a restrição alimentar desacelera o envelhecimento e pode também ter efeito positivo no tratamento de câncer. “Há casos em que o jejum de fato pode ajudar a combater a doença, mas também existem situações em que pode agravá-la; o limite entre o que faz bem e o que faz mal é muito tênue” observa o doutor em farmacologia Gustavo Pereira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que trabalha com modelos neuronais mimetizados em doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington in vitro, no Laboratório de Farmácia/Setor Modo de Ação de Drogas da universidade. “Quando a restrição calórica, independentemente da estratégia utilizada, promove perda de peso, geralmente resulta em melhora na saúde metabólica, reduzindo a inflamação sistêmica e, consequentemente, o risco de doenças crônicas como aterosclerose, diabetes e câncer”, diz a nutricionista Bruna Zavarize Reis, doutoranda em ciências dos alimentos/nutrição experimental, no Laboratório de Nutrição-Minerais da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).Mas faz um alerta: jejum não é ausência total de alimentos e é diferente de restrição calórica intensa. “Os estudos que avaliam os efeitos do jejum intermitente se encaixam nessa premissa, já visto que a maioria deles não observa diferença significativa nos parâmetros metabólicos quando comparam o grupo que realiza jejum com aquele que adota restrição calórica contínua; dessa forma, os efeitos benéficos não podem ser atribuídos necessariamente ao jejum intermitente, e sim à perda de peso proporcionada por ele.” O biogerontólogo italiano Luigi Fontana, pesquisador do Instituto de Saúde Pública da Universidade de Washington em Saint Louis, defende o efeito positivo do jejum no sistema cardiovascular. O médico Mark Mattson, do Instituto Nacional da Idade, em Baltimore, vai mais longe: aposta que a prática é capaz de “tornar funções cerebrais mais eficientes e prevenir doenças degenerativas”. Embora tenha vários adeptos entre biólogos e médicos, o assunto é polêmico. O efeito do jejum no organismo foi estudado, na maioria das vezes, apenas em animais. Nos laboratórios de pesquisa sobre o tema, vivem levedura, larvas e moscas. No entanto, os preferidos para a experiência são os camundongos e ratos. Nas gaiolas em que as tigelas estão sempre abastecidas com comida, os animais parecem preguiçosos. Já os roedores que recebem menos calorias vivem mais e de forma mais saudável que os colegas que têm comida à disposição. Animais que temporariamente jejuam mostram mais equilíbrio no metabolismo das taxas de açúcar, e os marcadores inflamatórios do sangue caem, assim como a pressão arterial e a frequência cardíaca. Com o processo de jejum acontece também algo na cabeça: são criados novos neurônios a partir de células-mãe, e isso ocorre especialmente numa área fundamental para a memória, o hipocampo. As interconexões com a rede neural mudam e as células fazem novas ligações entre si. A experiência mostra que os animais obtêm melhores resultados em testes de memória e de aprendizado. Os neurônios de camundongos, que são geneticamente suscetíveis a doenças como epilepsia, AVC, Alzheimer ou Parkinson, se mostram mais frágeis depois da redução de calorias.

AUMENTO DA RESISTÊNCIA

Segundo Michalsen, dos experimentos com animais, dois principais mecanismos favoráveis à influência do jejum podem ser deduzidos: a diminuição de sinais que danificam o cérebro e promovem a perda de nervos e o nível elevado permanente de insulina e de mediadores inflamatórios. Por outro lado, a falta de comida estressa o organismo, o que o leva a reagir de forma defensiva. Assim, as células aumentam a produção de enzimas que protegem o corpo dos compostos reativos do oxigênio ou reparam os danos no DNA. Por consequência, os animais sobrevivem por mais tempo. Similar ao efeito do esporte, o jejum parece aumentar a resistência. Esse efeito, em que influências negativas têm repercussões positivas, é conhecido como hormesis (palavra grega para estímulo, impulso). Pelo menos quatro das principais células e moléculas – corpos cetônicos, BDNF, mitocôndrias – e processos autofágicos se cristalizam, produzindo o efeito benéfico do jejum ao cérebro. A cetona, assim como a gordura no fígado, produz o ácido B-hidroxibutírico, passando a barreira de sangue do cérebro e servindo células neurais com glicose como combustível. Uma alimentação rica em cetona nos experimentos com ratos resultou na diminuição das conexões proteicas típicas de Alzheimer, beta-amiloide e tau – como as descobertas do pesquisador Mark Mattson já indicavam em 2013. O estudo revelou também que os animais se mostravam mais dispostos e menos ansiosos. Os corpos cetônicos simultaneamente aumentam a produção de fatores de crescimento como BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que favorece autoproteção e a proliferação de neurônios. A produção do BDNF em animais e em humanos diminui de acordo com a idade, assim como o consumo excessivo de alimentos, a falta de exercícios e a propensão a ter doenças neurodegenerativas como o Parkinson e o Alzheimer. Cabe aqui uma pergunta: não seria mais fácil, portanto, administrar porções de BDNF para proteger o cérebro contra a demência como uma fonte da juventude de terapia alternativa? “Não, isso não funciona dessa maneira”, diz Mark Mattson. Ele explica que o fator de crescimento está diretamente relacionado à função da atividade individual dos neurônios e trabalha individualmente no nível das sinapses. O sistema não é controlado ou induzido diretamente, mas sim indiretamente – como por meio de esportes, de uma alimentação com poucas calorias e até pela vontade de desenvolver o intelecto com novas atividades.

A redução de calorias em animais também tem um efeito positivo nas mitocôndrias, conhecidas como “usina de energia das células”. O experimento mostrou que a geração de energia dessas células é mais efetiva e mais apta a formar novas células. Além disso, a falta de comida estimula o processo de reciclagem dos tecidos nervosos. Tudo que não é usado, como organelas e macro-moléculas danificadas, é digerido. Graças a esse processo de limpeza celular chamado de autofagia. Esta foi a conclusão do biólogo celular japonês Yoshinori Ohsumi, ganhador do Nobel de Medicina de 2016. A célula remove potenciais materiais danosos que voltam para o sistema como matéria-prima.

ENTRE HOMENS E CAMUNDONGOS

Com todos esses efeitos, aparentemente, jejuar melhora o funcionamento do cérebro, retardando os efeitos da idade – ou ainda diminuindo, em taxas significativas, a propensão de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Os experimentos com animais mostraram que a dieta afeta as estruturas cerebrais e as funções da rede neural. Mas e se o estudo fosse aplicado aos humanos? Será que os resultados também seriam semelhantes aos do estudo proposto com ratos? Observa-se que o jejum alivia as dores de pacientes com reumatismo, hipertensão e sobrepeso. Jejuar também diminui a incidência do desenvolvimento de fatores de risco, como o estresse oxidativo – que causa demência –, reduz os marcadores inflamatórios e ainda aumenta o nível de glicose e insulina no sangue. Em 2013, o estudo da pesquisadora Lucia Kerti e seus colegas, da Berliner Charité, encontrou mais uma referência: o aumento permanente nos níveis de açúcar no sangue afeta a microestrutura do hipocampo em homens e mulheres. Essas pessoas têm um desempenho pior em testes de memória do que aquelas que possuem um índice de açúcar mais baixo no sangue. De qualquer forma, há diferenças entre o jejum em homens e roedores. Por exemplo: no hipocampo, a formação de novas células nervosas na fase adulta é muito mais intensa em ratos do que em humanos. Outro exemplo: o hormônio da fome (grelina), que está diretamente ligado ao controle do apetite e do sono, melhora a memória e a curva de aprendizagem nos ratos. No entanto, no estudo de 2016 do Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, liderado por Martin Dresler, não houve a demonstração de melhora de performance em memória em humanos mesmo quando administradas doses adicionais de grelina. “Mark Mattson mostrou em vários experimentos que se pode inibir a evolução de doenças neurodegenerativas em animais, mas em humanos estamos em fase de transição dessa descoberta”, explica Andreas Michalsen. “O que parece ter sido bem promissor nos experimentos com ratos precisa ser ainda testado em pessoas. Os estudos controlados parecem ainda sofrer com a falta de dados antes, durante e depois do jejum dos seguintes fatores: volume cerebral, plasticidade sináptica, performance cerebral e análises bioquímicas dos líquidos cerebrais. Contudo, ninguém precisa esperar até que haja resultados tão detalhados em seres humanos. Os efeitos positivos do jejum já são considerados incontestáveis desde a época de Paracelso. O lado positivo do jejum – assim como na dieta saudável e no treinamento físico – é que todos podem fazer algo pela saúde. “Quando o corpo é bem preservado, obviamente o risco de adquirir diabetes diminui”, comenta Michalsen. Não há evidências que comprovem que essa doença regride em uma idade mais avançada. Pessoas de origem asiática não costumam ter a mesma propensão a ganhar, ao longo dos anos, barrigas tão salientes quanto as dos ocidentais – também não têm diabetes nem Alzheimer na mesma proporção – assim como os pinguins-reis na Antártica.

EFEITOS SOBRE O ORGANISMO

O jejum afeta todo o corpo humano. No cérebro, que se comunica com todos os órgãos envolvidos no metabolismo energético, a neuroquímica e as atividades das redes neurais são alteradas e se ajustam à diminuição de calorias. Esse processo se dá no hipocampo (fundamental para a memória), estriado (que participa dos processos de controle dos movimentos), o hipotálamo (envolvido no mecanismo de ingestão de alimentos e regulação da temperatura) e o tronco cerebral (que controla a circulação e o sistema digestivo).O neurotransmissor acetilcolina estimula o sistema nervoso parassimpático, que inerva o intestino, o coração e os vasos sanguíneos. O processo acelera a atividade intestinal, os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea. Na ausência de suprimentos, o estoque armazenado em forma de glicogênio logo se esgota. O fígado, ao contrário, produz corpos cetônicos, que podem usar as células nervosas como combustível alternativo para geração de energia. O fígado e as células do tecido muscular são mais reativos ao hormônio insulina, que regula o açúcar no sangue. Ademais, jejuar também reduz, nos órgãos e no cérebro, processos danosos de decomposição advindos de reações alérgicas ou de estresse oxidativo, causado pelos radicais de oxigênio.

CÉREBRO

Aumento da produção de fatores de crescimento de nervos como o BDNF

  • Aumento da for mação de novas células nervosas (neurogênese)
  • Formação de novas ligações celulares cerebrais
  • Aumento da produção de mitocôndrias para produzir energia
  • Aumento da resistência contra o estresse oxidativo
  • Diminuição das reações inflamatórias

MUSCULATURA

  • Otimização do metabolismo
  • Aumento da sensibilidade para insulina
  • Aumento da resistência contra o estresse oxidativo
  • Diminuição da temperatura corpórea

VEIAS SANGUÍNEAS

Diminuição da glicose na corrente sanguínea e a insulina

  • Diminuição da saturação do hormônio leptina
  • Aumento da grelina, conhecida como hormônio da fome
  • Aumento da produção dos corpos cetônicos, fontes de energia

CORAÇÃO

  • Redução de batimentos cardíacos
  • Redução da pressão arterial
  • Aumento da resistência ao estresse oxidativo

FÍGADO

Aumento de glicogênio

  • Aumento da for mação de glicose (gliconeogênese)
  • Aumento da perda de gordura
  • Aumento da produção de corpos cetônicos como fonte de energia alternativa

INTESTINO

  • Redução do consumo de energia
  • Diminuição de reações inflamatórias
  • Diminuição da proliferação de células

O poder do jejum 6

EM PRINCÍPIO, FAZ MAL

capa20observa o doutor em farmacologia Gustavo Pereira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que trabalha com modelos neuronais mimetizados em doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington in vitro, no Laboratório de Farmácia/Setor Modo de Ação de Drogas da universidade. “Quando a restrição calórica, independentemente da estratégia utilizada, promove perda de peso, geralmente resulta em melhora na saúde metabólica, reduzindo a inflamação sistêmica e, consequentemente, o risco de doenças crônicas como aterosclerose, diabetes e câncer”, diz a nutricionista Bruna Zavarize Reis, doutoranda em ciências dos alimentos/nutrição experimental, no Laboratório de Nutrição-Minerais da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Mas faz um alerta: jejum não é ausência total de alimentos e é diferente de restrição calórica intensa. “Os estudos que avaliam os efeitos do jejum intermitente se encaixam nessa premissa, já visto que a maioria deles Não é à toa que a questão do jejum ou mesmo da redução drástica de ingestão calórica causa polêmica. Se a privação de nutrientes for muito longa, os efeitos passam a ser negativos. O professor de farmacologia da Unifesp Gustavo Pereira ressalta que a autofagia contribui para a reciclagem celular e o jejum é um indutor metabólico, capaz de diminuir a morte de neurônios, o que contribui para a saúde cerebral. Ressalta, porém, que se esse processo for longo demais para o organismo, a célula pode começar a degradar componentes benéficos – daí o perigo do excesso. E o que pode ser considerado demais varia muito de uma pessoa para outra. Atualmente não há comprovação científica a respeito do tempo que o jejum e a redução calórica devem ser adotados sem causar prejuízos. Quando ficamos várias horas sem nos alimentar, as reservas de glicose do organismo diminuem e outras fontes de energia, como proteínas e gordura, passam a ser utilizadas pelo organismo. Quanto mais longo for o jejum, mais gordura e proteínas serão consumidas. Quando isso acontece, os índices metabólicos diminuem, o humor se altera, a pessoa fica mais irritável, o processo de cetose torna o hálito desagradável, podem ocorrer crises de enxaqueca, gastrite e hipoglicemia. Dentro de um longo período, uma alteração grave pode ser a chamada hipoglicemia rebote, ou seja, a pessoa deixa de produzir insulina pela não ingestão de nenhum tipo de carboidratos e quando o jejum é interrompido, há uma elevada secreção de insulina, eventualmente maior do que a necessária, levando à hipoglicemia. Jejuar por muitos dias pode trazer danos graves ao corpo, principalmente queda de resistência imunológica e infecções. “Em princípio, jejum prolongado faz mal”, afirma o diretor técnico do Serviço de Clínica Geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade  de São Paulo (USP). Apesar de considerar os estudos sobre os benefícios de interromper a alimentação por longos períodos, ele é cauteloso: “Uma porção de fatos coerentes resultam, necessariamente, numa verdade”. Outro risco é o jejum intermitente ser usado como uma desculpa para mascarar transtornos alimentares como anorexia e bulimia, que em cerca de 20% dos casos levam pacientes, em geral mulheres, à morte.

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FECHAR A BOCA DE MANEIRA SAUDÁVEL

“Qualquer um que jejua de tempos em tempos passa a se abster de forma mais fácil dos alimentos e a obter uma visão mais crítica da própria existência”, acredita o médico Dieter Melchart. Ele afirma, no entanto, que somente pessoas comprovadamente saudáveis devem utilizar método desenvolvido pelo médico Hellmut Luetzner. A prática não é recomendável para pessoas idosas e doentes, crianças, gestantes, lactantes e pessoas propensas a distúrbios alimentares. Segundo o método, nada sólido deve ser consumido durante uma semana, somente caldos de legumes, chás específicos para jejum e sucos de frutas e de verduras. Ele salienta também que a experiência deve ser guiada por profissionais. Mas, jejuar não significa necessariamente alimentar-se uma semana apenas de caldo de legumes nem ficar sem comer por intervalos de vários dias. Existem variações dessa dieta, que podem ser integradas à vida diária, dependendo de cada situação e do estado físico de cada pessoa. Há situações em que durante cinco dias da semana se come normalmente e nos outros dois dias a pessoa faz jejum, tal como proposto pela nutricionista britânica Michelle Harvie, da Universidade de Manchester. Pesquisas recentes sugerem que é benéfico à saúde o corpo sempre “esperar” e se preparar por um período longo sem ingestão de alimentos. Algumas pessoas tentam fazer uma pausa de 16 horas entre as refeições. Isso significa, por exemplo, jantar às 10h e só voltar a se alimentar às 12h do dia seguinte. Com isso, a digestão sofre uma pausa, os níveis de insulina caem num processo de longo prazo e o fator de crescimento neural BDNF aumenta. É importante deixar claro que quem se interessar pela prática deve primeiro debater o tema com um médico.

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HORÁRIO CERTO PARA FECHAR A BOCA

A ideia de utilizar o jejum intermitente para a perda de peso partiu da observação dos padrões alimentares dos nossos ancestrais e de muitos outros mamíferos, caracterizados pela ingestão de energia de forma não contínua. De fato, o organismo humano tem a capacidade, adquirida ao longo da evolução, de armazenar glicose e substratos energéticos de maior duração, como ácidos graxos no tecido adiposo. No jejum intermitente a pessoa permanece por longos períodos – 16 ou até 24 horas, por exemplo –, com pouca ou nenhuma ingestão calórica e, na sequência, se alimenta normalmente. Embora seja mais comum a alternância de 24 horas de jejum/restrição e dieta convencional, atualmente existem vários protocolos aplicados nos estudos experimentais que avaliam os efeitos do jejum intermitente: redução calórica extremamente baixa (sem jejum) em dois ou três dias da semana, com dieta normal nos outros; uma semana de restrição calórica (cerca de 1.300 kcal/dia) alternada com uma semana de dieta normal etc. No entanto, não existe homogeneidade de protocolos para o jejum intermitente, o que pode dificultar a comparação entre os estudos. A estratégia do jejum intermitente muitas vezes é utilizada como uma terapia nutricional, principalmente para pacientes hospitalizados (pré ou pós-operatório) e para pessoas que, por qualquer motivo, ficam impossibilitadas de realizar alguma refeição por um período prolongado (médicos durante a realização de cirurgias longas, por exemplo). Nesses casos de jejum involuntário é fundamental o acompanhamento de um nutricionista para reduzir a inadequação da ingestão de nutrientes, minimizar a sensação de fome e o desconforto causados pela privação de alimentos. Se a proposta é perder peso, outros fatores devem ser considerados. Um deles: restringir o consumo alimentar a uma refeição ao dia pode comprometer a qualidade da dieta. Após uma privação energética prolongada, a pessoa tende a selecionar alimentos com elevada densidade energética, reduzindo a ingestão de fibras, vitaminas e minerais. Outro ponto: sabemos hoje que o café da manhã (geralmente omitido no jejum intermitente) é a principal refeição responsável pela ingestão de diversas vitaminas e minerais. Além disso, realizar apenas uma refeição por dia exclui a possibilidade de colocar em prática dois dos principais pilares da nutrição: variedade e equilíbrio.

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ALIMENTO E RELIGIÃO

O jejum é utilizado há centenas de anos em práticas religiosas e assume várias conotações. De barriga vazia, imersos na contemplação e na oração, imagina-se que os fiéis tenham novos insights e ampliem suas percepções. A prática estaria a serviço da purificação da alma e do arrependimento, ajudaria a afastar o mal, favorecer a meditação avançada e até a redenção ou a iluminação. As prioridades são diferentes para as distintas religiões. Comum a todas é a reflexão sobre o que realmente é importante: a busca do sagrado. Para os judeus, há várias datas fixas para o jejum. A maior data de celebração em que a prática se aplica no calendário judaico é o Yom Kippur. No 17º dia do mês do calendário judaico tradicional, a privação de comida funciona como um sinal de arrependimento. São 25 horas de jejum nessa ocasião: comer, beber, trabalhar, exercitar o corpo e até fazer sexo é proibido, a data é reservada para celebrar orações e cultos. No cristianismo, há dois longos períodos de jejum: 40 dias antes do Natal, nos dias do Advento, que começam em 11 de novembro, e 40 dias antes da Páscoa. Na prática, porém, o tempo de jejuar nos dias do Advento (exceto na Igreja Ortodoxa) ficou no passado. Os cristãos veem a abstinência como penitência, uma forma de se preparar para tomar decisões importantes e para o encontro com Deus. O ato é acompanhado de orações e pelo compromisso de ajudar os pobres e necessitados.  Jejuar é um dos cinco pilares do Islã que o Alcorão prescreve aos muçulmanos. No islamismo jejua-se no período do Ramadã (o nono mês no calendário lunar islâmico) como sinal de devoção a Deus. Nesse período, não é permitido ingerir nenhum tipo de alimento, líquido ou sólido, entre o amanhecer e o pôr do sol. Já no hinduísmo, não há nenhuma época prevista para o jejum, embora a renúncia à comida seja uma forma de punição pelos pecados. Para o budismo, o jejum está associado ao compromisso de controlar a própria mente. Em algumas linhas budistas, monges e monjas optam pelo voto de não comer mais nada após o almoço, por exemplo. Uma das razões está no empenho para que nada atrapalhe a meditação, nem mesmo a sensação incômoda de peso e sonolência provocada por refeições fartas.

ULRIKE GEBHARDT – é bióloga e jornalista com especialização em divulgação científica.

GESTÃO E CARREIRA

COM TRABALHO, SEM EMPREGO

O avanço da tecnologia, a reforma trabalhista e a crise econômica levam mais de 34 milhões de pessoas a atuar sem carteira assinada no Brasil. Veja como sobreviver na era da informalidade – uma condição que deve crescer em todo o mundo.

Com trabalho, sem emprego

Camila Menezes, de 26 anos, aprendeu a fabricar vacinas na universidade e conseguiu serviço em um dos poucos lugares do estado de São Paulo ligados à sua formação, o Instituto Butantã. Desempregada há um ano, ela vende roupas on-line, trabalha de recepcionista em eventos e dá aula particular de biomedicina pela internet. Seu salário chega à metade do que recebia em tempos de estudante.

A jovem de Santos (SP) faz parte dos 34,3 milhões de brasileiros que mantêm algum tipo de trabalho sem ter um emprego formal. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017 a quantidade de gente sem registro ultrapassou, pela primeira vez, a de quem tem carteira assinada, superando em quase 1 milhão o contingente de funcionários formais.

Essa é uma condição que vem crescendo gradualmente desde 2014 e chegou a bater 37% da força de trabalho no país. Segundo dados do IBGE, dos 2,3 milhões de postos criados em 2017, apenas um quarto oferecia vínculo empregatício. Além disso, só no primeiro trimestre do ano, quase meio milhão de vagas formais deixaram de existir.

Por mais que a situação seja agravada pela recessão, alguns especialistas acreditam que a informalidade deve continuar, mesmo após a melhora econômica, impulsionada por alguns fatores. O principal seria o avanço da tecnologia, que possibilita a qualquer pessoa realizar as mais variadas tarefas de qualquer lugar. Outro seria a reforma trabalhista, que permite novas modalidades de contrato flexíveis, como o intermitente (em que o indivíduo só recebe quando é convocado) e o temporário (no qual a pessoa atua por um período predeterminado), sem falar na Lei da Terceirização, que liberou as companhias para contratar terceiros, inclusive para as principais atividades do negócio. Ao que tudo indica, muitos brasileiros terão de se virar por conta própria para sobreviver.

E engana-se quem pensa ser essa uma realidade apenas para os menos escolarizados. Com os diplomas perdendo a relevância e as habilidades comportamentais e mentais passando a valer o mesmo ou até mais do que o conhecimento técnico, todo mundo se toma candidato a operar dessa forma. Dados do IBGE apontam que, nos últimos cinco anos, a proporção de desempregados com ensino superior completo aumentou quase 50%. São os casos da Camila, mestranda em engenharia bioquímica na Universidade de São Paulo, e de Ricardo Cuogui, engenheiro civil graduado pela USP com MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) – duas das melhores universidades do país. Sem emprego formal há dois anos, ele paga parte das contas com o dinheiro que recebe de uma casa alugada e atua como corretor de imóveis, enquanto se estrutura para abrir a própria imobiliária.

O avanço do serviço sem carteira acende um sinal vermelho sobre os indicadores do Brasil.  Segundo dados da FGV, a informalidade foi responsável por quase metade da perda de produtividade do país durante os anos de crise. Com menos assalariados registrados, há também menos consumidores. O comércio retrai, reduz custos e provoca mais desemprego. “Sem alternativa, boa parte das pessoas acaba migrando para ocupações como motorista de aplicativos ou vendedor autônomo,” diz Cimar Azeredo, coordenador da área de trabalho e rendimento do IBGE.

Nesse compasso, o Brasil caminha para se tornar uma África do Sul, um dos países recordistas em informalidade no mundo, com 80% da mão de obra se mantendo por conta própria. “Se nossa economia seguir no ritmo atual, atingiremos o patamar sul-africano em cinco anos, afirma Ruy Braga, professor da USP especializado em sociologia do trabalho e autor de A Rebeldia do Precariado (Boitempo, 53 reais). O pior é que a falta de uma política de trabalho pode levar à precarização das condições do profissional.

Estudos confirmam aquilo que Camila e Ricardo sentem na pele; os informais ganham até metade do que aqueles com carteira assinada. Sem a estabilidade financeira, a organização das contas é tortuosa. Muitas vezes, pressupõe acumular dois ou mais serviços, ultrapassando as jornadas estabelecidas por lei. O contador Márcio Bindandi, de 46 anos, sabe disso. Ele atua mais de 12 horas por dia como motorista de aplicativo para ganhar 3.000 reais à menos de quando era registrado em uma companhia de São Paulo. Sem o respaldo da lei trabalhista, os informais ficam entregues à própria sorte.

LIVRE ESCOLHA

Apesar das dificuldades, há quem opte por esse modelo. Um grupo cada vez maior de pessoas, especialmente as mais jovens, desiste de ter um emprego dentro de uma estrutura corporativa e com um chefe no cangote a mandar e desmandar. Soma­ se ao desejo de mais flexibilidade, a facilidade dos aplicativos que possibilitam o compartilhamento de bens; das lojas virtuais que permitem a venda de produtos sem intermediários; e dos sites que conectam autônomos a quem busca prestadores de serviços. A tendência é que haja cada vez mais empreendedores digitais e profissionais qualificados realizando projetos pontuais de acordo com a necessidade do cliente. É a chamada gig economy, ou economia sob demanda, que deve se espalhar inclusive por países mais desenvolvidos. Segundo levantamento da consultoria americana Emergent Research, o número de gig workers nos Estados Unidos passará dos 4 milhões atuais para 7,7 milhões em 2020, chegando a 9,2 milhões no ano seguinte.

A quem refuta a ideia de permanecer 8 horas confinado dentro de um escritório, a notícia agrada. Significa autonomia, independência e liberdade. Significa também que a carreira sai das mãos do empregador; e tudo, absolutamente tudo, passa a ser responsabilidade do empregado: aonde se quer chegar, dias trabalhados, valor do serviço e planejamento da aposentadoria. Um modelo que exige disciplina, organização, determinação e criatividade. Para dar uma mão a quem já se encontra nessa situação ou para quem ainda vai passar por ela – seja por opção, seja por falta de opção-, preparamos um guia básico de sobrevivência na informalidade. Você descobrirá desde como se preparar emocionalmente até a melhor maneira de programar a aposentadoria.

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PREPARE-SE PARA A CARREIRA DO FUTURO

Com o fim do registro em carteira, quase ninguém entrará numa corporação estagiário para sair CEO. A carreira deixará de ser linear para se tornar um ziguezague.

Os vínculos serão formados por projetos, obrigando boa parte das pessoas a operar como freelancer. Nesse contexto, é importante se especializar, mas não ficar preso a uma indústria. Um advogado que entende tudo de regulamentação do setor farmacêutico, por exemplo, pode ficar para trás quando o segmento que estiver demandando serviços jurídicos for o de energia. O profissional vai se fortalecer se tiver uma visão holística da carreira, atuando em diversas frentes, em vários tipos de contrato.

Nesse novo contexto, as competências comportamentais, chamadas de soft skills, passam a ser tão importantes quanto o conhecimento técnico.

É preciso aprender rápido e ter pensamento crítico, além de ser criativo e desenvolver inteligência emocional. Par a obter essas aptidões, Andersen Sant’Anna, coordenador do núcleo de desenvolvimento de liderança da Fundação Dom Cabral, sugere que o trabalhador subverta seus costumes. Se gosta de frequentar bares, deve ir a museus. Se curte rock, deve ouvir MPB. Sair da zona de conforto amplia a visão e ajuda a enxergar as oportunidades enquanto elas estão começando. “O ideal é a pessoa se expor ao limiar de seus conhecimentos para, assim, identificar limites, desenvolver pontos fortes e exercitar a humildade”, afirma Andersen.

A capacidade de articular amplas redes de contatos e estreitar relacionamentos também conta demais. “A não ser que faça algo único, o Indivíduo terá de se diferenciar da massa para conseguir contratos interessantes”, diz João Lins, professor na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. “Se vou contratar alguém para montar o sistema de segurança de minha companhia quero alguém que faça isso bem. Mas o que me fará escolher entre um e outro será a capacidade do profissional de se conectar ao meu time.”

Camila Menezes, jovem do começo da reportagem, redesenhou as possibilidades, desde que perdeu o emprego no Instituto Butantã. Engatou, ao mesmo tempo, um mestrado em engenharia bioquímica na USP e uma pós-graduação em biomedicina estética. “Assim, posso tanto seguir carreira acadêmica quanto abrir uma clínica estética, diz. Enquanto investe na profissionalização, ela se vira com “bicos” para pagar as contas. Atua como recepcionista em eventos, vende roupas em brechós online e dá aula particular de biomedicina pela internet.

ENXERGUE AS OPORTUNIDADES

Outro segredo para ter sucesso sem ser CLT é diversificar o campo de atuação, identificando funções e setores aquecidos. Para evitar análises distorcidas, recorra a ex-chefes ou colegas, ou ainda considere contratar um especialista. Um coach, por exemplo, pode ajudar a enxergar seu perfil. Norberto Chadad, da consultoria de gestão de pessoas Thomas Case & Associados, sugere levantar pontos fortes e pontos fracos, assim como as áreas de interesse. “Ter um plano de partida determina o bom encaminhamento das demais estratégias adotadas”, afirma.

Definidos os caminhos, a dica dos especialistas é circular – e bastante. Pode ser como consultor; freelancer, empreendedor ou autônomo, o importante é o profissional frequentar palestras, cursos e eventos em espaços de coworking para conhecer gente nova e fazer networking. Também vale conversar com familiares, colegas e antigos clientes para detectar as chances de negócios – ou até para aprender com quem já sobrevive sem carteira assinada

Essas interações abrem a mente e ajudam a entender o novo mundo do trabalho, derrubando antigas concepções. Foi batendo papo com parentes que o paulistano Marcio Bindandi, de 46 anos, percebeu um novo caminho. Formado em contabilidade, ele estava registrado numa companhia até dois anos atrás. Além da estabilidade, recebia um salário de 12.000 reais mais benefícios. Mas a empresa terceirizou seu departamento e demitiu todo o time.

A forma encontrada por Marcio para pagar as contas foi virar motorista de aplicativo. “Mas a jornada, para que eu ganhe entre 8.000 e 9.000 reais, é de 12 horas”, diz, enquanto sonha com um novo posto com carteira assinada, ele pesquisa cursos de pós-graduação em comércio exterior “Descobri autônomos progredindo nessa área”.

Marcio está certo em voltar a estudar. Pesquisas apontam que especializações contribuem para um aumento de até 75% no pagamento dos informais. “Certificados são uma maneira de se diferenciar num mar de profissionais”, diz Guilhermo Bracciaforte, presidente da Workana, plataforma que conecta freelancers a empresas em busca de gente em toda a América Latina. Dica: para quem deseja se capacitar, mas está sem dinheiro, há bons cursos gratuitos disponíveis na internet em plataformas de educação, como Lidemy, Coursera, EduK e Prime Cursos.

ORGANIZE AS FINANÇAS

Não ter salário fixo nem os benefícios assegurados pelo registro de trabalho, como plano de saúde, vales transporte e alimentação, exige controle e uma rígida programação de despesas. Segundo Jacques Cohen, membro da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), o ideal é fazer cálculos anuais, pois isso ajuda a ter uma visão global de quanto, em média, será preciso pingar no banco mês a mês. “Um erro comum entre quem se vira por conta própria é superestimar os rendimentos. Estudos de psicologia mostram que a pessoa olha quanto ganha no mês e fica com o número na cabeça, ignorando impostos e custos para realizar o trabalho na profissão (como energia, internet e transportes”, afirma Jacques.

Para definir os valores, inclua gastos com moradia, alimentação, lazer, transporte e saúde. Não esqueça de considerar uma quantia para depósito do INSS. Como a instabilidade é maior, os especialistas recomendam que o autônomo reserve o equivalente a seis meses de trabalho. Assim, se a demanda cair, não será preciso recorrer a empréstimos e contrair dívidas. Na hora de definir o ganho mensal, lembre-se de prever os impostos – autônomos não são isentos e precisam deixar para o leão até 30% dos proventos.

O próximo passo é separar despesas profissionais das pessoais – para analisar se há lucro na atividade. Se não sobra dinheiro, é hora de rever o orçamento. “O início de uma carreira liberal requer sacrifícios inclusive no estilo de vida”, diz Luiz Fernando Mendonça Schvanzman, sócio da Life Finanças Pessoais, consultoria de planejamento financeiro. Foi o que acabou fazendo Ricardo Cuogui, de 46 anos. Demitido em 2016, o engenheiro civil formado pela USP e com MBA em gestão empresarial pela FGV teve de rever gasto por gasto. Antes de ser dispensado pelo antigo empregador, conseguiu juntar um pé-de-meia correspondente a dez meses de salário. Após a demissão, ele e a mulher cortaram a mensalista e a van que levava as duas filhas à escola. O dinheiro foi alocado para o plano de saúde da família, com mensalidade de 1.600 reais. “Saber economizar possibilita investir com calma em novas frentes de trabalho’, diz o engenheiro, que está vivendo do aluguel de uma casa em São José dos Campos, (SP) que construiu com parte do dinheiro da rescisão.

Ciente de que os tempos mudaram, Ricardo ensaia agora se tornar empreendedor. Está trabalhando como corretor de imóveis e planeja abrir a própria imobiliária.

 FORTALEÇA O LADO EMOCIONAL

Irvin Schonfeld, professor de psicologia na City University and College de Nova York e pesquisador do estresse nos trabalhadores, afirma que aqueles que não tem vínculo empregatícios, são naturalmente mais preocupados. Embora não enfrentem a competição por uma promoção, não tenham a obrigação de estar todos os dias na companhia nem encarem a pressão de bater metas, eles têm de lidar com o “monstro da insegurança”. ‘Em um de nossos estudos, descobrimos que o maior desafio dos autônomos é receber pelo serviço. Outro é conseguir serviço·, diz lrvin. “Às vezes, a pessoa que atua por conta gasta mais tempo prospectando negócios do que trabalhando.” De acordo com o professor, uma tática simples pode minimizar o estresse emocional. “Sempre sugiro que autónomos cobrem metade do pagamento ames de iniciar o projeto, diz. Basta um e-mail de resposta com um “aceito” ou “de acordo” para servir de proteção legal. Além de poupar dinheiro e ter organização, outro importante recurso para blindar o lado emocional é descobrir um propósito para seu trabalho.

Cristiane Barros Echeli, de 45 anos, trabalhava havia 13 como coordenadora deum posto de saúde da prefeitura de Castro, no interior do Paraná. Formada em enfermagem, fazia um tempo que ela estava insatisfeita com a inflexibilidade de horários e com a falta de reconhecimento do setor público. “Queria uma nova vida, sem vínculo, e me preparei”, diz. Durante três anos, ela levou uma jornada dupla: em paralelo ao emprego formal, atuava como consultora de uma marca de cosméticos nas horas vagas. Em 2009, quando contou a amigos e familiares que pediria exoneração do cargo para virar consultora de beleza, não encontrou apoio, mas foi em frente mesmo assim. Na época, ela já ganhava como informal o equivalente ao salário na prefeitura, cerca de 5.000 reais.

Para manter o psicológico à prova dos altos e baixos, Cristiane definiu uma rotina rigorosa. Todo começo de semana mapeia pelo menos seis tarefas prioritárias, como agendar aulas de beleza, fazer reuniões com outras consultoras, organizar exposições de produtos e entrar em contato com potenciais consumidores. Doze meses depois de sair do cargo público, Cristiane já tinha 200 clientes a mais. A nova ocupação rende à ex – enfermeira de 8.000a 12.000 reais por mês. “Mesmo com essa variação, recebo mais do que antes, tenho tempo para meus filhos e estou mais feliz, diz.

PROGRAME A APOSENTADORIA

A paulistana AneLisa Macedo, de 51 anos, se formou em publicidade e propaganda, mas nunca atuou na área nem teve carteira assinada. Apaixonada pela Língua inglesa fluente no idioma desde a adolescência, escolheu dar aula particular em vez de ir para uma agência. Além da classe, ela presta consultoria a jovens que querem se inscrever em faculdades americanas – tarefa que exige não só domínio de Inglês como também conhecimento do processo e das necessidades de cada universidade. Hoje, entre seus clientes e alunos estão diretores de bancos e até presidentes de empresas – apesar de bem-sucedida, Anelisa parou somente agora para planejar a aposentadoria. “Estou discutindo com meus filhos, que cursaram faculdade de negócios, e também com amigos da área financeira quais os melhores investimentos para meu perfil”, diz. “Percebi que não posso esperar mais.” Anelisa já está atrasada, na visão dos consultores financeiros.

Fábio Gallo Garcia, professor na Fundação Getúlio Vargas e coautor de Como Planejar a Aposentadoria (Publifolha, 19,90 reais), recomenda começar a poupar quanto antes. Se uma pessoa na faixa dos 40 anos quiser uma renda mensal de 7.000 reais aos 70 anos, precisará economizar 167 reais por mês. Mas, se deixar para guardar dinheiro aos 60 anos, terá de guardar 2.550 reais mensalmente. “O esforço fica muito maior quando se está mais perto da aposentadoria”, diz Fabio.

Em essência, a preparação não é tão diferente de quem trabalha em regime CLT. O teto máximo do INSS é de 5.645,80 reais. Quem quiser viver com mais terá de aplicar o dinheiro para que ele renda conforme as projeções de custo de vida. Até mesmo onde se pretende morar na velhice fará diferença nesse planejamento. Cidades pequenas, por exemplo, tem custo de vida menor do que capitais. De modo geral, Fabio diz que autónomos devem montar uma carteira com poucos investimentos de risco. Isso significa não colocar mais do que 20% em ações, especialmente se deixar para poupar depois dos 40 ou 50 anos de idade. As três principais alternativas seguras e rentáveis no Longo prazo, segundo o professor, são os títulos de renda fixa, como Tesouro Direto, além de fundos e planos de previdência.

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ENTENDA AS DIFERENÇAS ENTRE OS PROFISSIONAIS QUE ATUAM SEM VÍNCULO

INFORMAL

Não tem registro de emprego, não participa do sistema da previdência social e não recolhe impostos, embora seja parte da população economicamente ativa. É um profissional que faz o que chamam de “bicos”, tendo formação especializada ou não.

AUTÔNOMO

Não é subordinado de nenhuma empresa. Deve estar inscrito no cadastro da prefeitura e emitir o registro de pagamento de autônomo (RPA). Tem imposto retido na fonte e aquele que o contrata tem de recolher INSS de 20% sob o valor pago.

LIBERAL

Pode ser autônomo ou constituir uma empresa em seu nome (pessoa jurídica). Em geral, presta serviços à várias organizações ou pessoas. Os exemplos mais comuns são os médicos e os advogados.

FREELANCER

É um neologismo de origem americana. Pode apresentar registro de autônomo ou abrir uma empresa (pessoa jurídica) para emitir nota.

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SEM ISSO, NÃO ROLA

Cinco competências para ser bem-sucedido nos modelos flexíveis de trabalho

NETWORKIKG

Só será convidado a apresentar projetos quem estiver inserido numa ampla rede de contatos que ajude a circular a sua reputação profissional. Estar engajado num grupo que admira garantirá a sobrevivência no mercado de trabalho do século 21.

APRENDIZADO CONTÍNUO

Coco não haverá mais RH desenhando o plano de desenvolvimento, o empregado de si mesmo terá de estar sempre aberto ao novo em busca de fontes de aprendizado e experiências que garanta desenvolver as competências mais valorizadas no momento.

Criatividade

Os 200 anos passados foram de automação do trabalho físico. Já a revolução em curso, marca a informatização do trabalho intelectual, como pensamento padronizado sendo realizado por robôs, o que vai diferenciar o indivíduo das máquinas é o raciocínio inovador.

ADAPTABILIDADE

A facilidade de se adaptar rapidamente a diferentes situações e de superar revezes ajudará a enfrentar as turbulências da era da informalidade, na qual a rotina muda frequentemente e não é possível planejar com precisão o amanhã.

VISÃO ESTRATÉGICA

Será necessário encarar a carreira não como um funcionário, mas sim, como um microempresário. A capacidade de prever novos cenários e encontrar soluções inteligentes para atuar neles é o que vai garantir trabalho e renda.

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O LADO BOM

Os benefícios do dia a dia de quem adota esse novo jeito de viver

AUTONOMIA

Uma das grandes vantagens dos autônomos é a independência para tocar as tapas de trabalho. A escolha de quais projetos aceitar é toda deles, assim como a organização do tempo. Dá para fazer o próprio horário e não ficar engessado nas 8 horas de expediente diárias previstas por lei.

FÉRIAS

Os “formais” recebem salário integral acrescido de um terço antes de desfrutar do descanso, mas muitas vezes não conseguem escolher a data, sendo obrigados a sair no período mais conveniente à empresa. Quem trabalha por conta, embora não tenha férias remuneradas, escolhe quando e por quanto tempo ficará fora.

CARREIRA

No modelo tradicional, os empregados precisam alinhar com a liderança os treinamentos e as expectativas em relação aos cargos que desejam concorrer – e nem sempre as coisas caminham do modo como gostariam. Os informais têm mais liberdade para decidir que caminho trilhar e o que estudar.

METAS

Quando se é funcionário de uma companhia. É ela que define o que é preciso realizar. Raras são as exceções em que o profissional pode opinar se o objetivo é alcançado. Quem fica com a maior parte do dinheiro conquistado é a empresa. Os autônomos são 100% responsáveis por suas metas, e isso tem um lado bom: a sensação de sucesso ao atingi-las é toda deles – assim como o dinheiro conquistado.

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ALIMENTO DIÁRIO

 

JOÃO 6: 28-59 – PARTE III

Alimento diário

Cristo, o verdadeiro Pão do Céu. Cristo dá as boas-vindas a todos os que veem a Ele. A necessidade de alimentar-se de Cristo

2. Ao falar desta maneira a respeito de si mesmo, como o pão da vida que desce do céu, Cristo nos deixa ver as observações que seus ouvintes fizeram.

(1) Quando ouviram falar de algo como o pão de Deus, que dá a vida, eles fervorosamente pediram (v. 34): “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Eu não consigo pensar que isto tenha sido dito de maneira zombeteira, como a maioria dos intérpretes entende: “Dê-nos um pão como este, se puderes. Que sejamos alimentados com ele, não em uma refeição, como a dos cinco pães, mas para sempre”. Como se esta fosse uma oração diferente daquela do salteador impenitente: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas eu entendo que, embora de forma ignorante, este pedido foi feito honestamente e teve boa intenção, pois eles o chamam de Senhor, e desejam uma parte daquilo que Ele dá, não importando o que Ele quer dizer com isto. Noções gerais e confusas das coisas divinas produzem, em corações carnais, algum tipo de vontade em relação a elas, e desejo delas, como o desejo de Balaão, de morrer a morte dos justos. Aqueles que têm um conhecimento indistinto das coisas de Deus, que veem os homens como árvores que andam, fazem, como eu as chamo, orações desconexas pedindo bênçãos espirituais. Eles julgam que o favor de Deus é uma coisa boa, e que o céu é um bom lugar, e não podem deixar de desejá-los para si mesmos, embora não valorizem nem desejem, de maneira nenhuma, esta santidade, o que é necessário tanto para uma coisa quanto para a outra. Que este seja o desejo das nossas almas. Já provamos que o Senhor é bondoso? Já fomos alimentados com a Palavra de Deus, e por Cristo, que está na Palavra? Devemos dizer: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Que o pão da vida seja nosso pão diário, o maná celestial, nosso constante banquete, e que nunca sintamos a falta dele”.

(2) Mas, quando compreenderam que, por este pão da vida, Jesus se referia a si mesmo, eles o desprezaram. Não sabemos se estas eram as mesmas pessoas que tinham pedido deste pão (v. 34), ou outras pessoas no grupo, pois não está escrito. Aparentemente, eram outras, pois são chamadas de judeus. Agora está escrito (v. 41): “Murmuravam … dele”. Isto está escrito imediatamente depois da solene declaração que Cristo tinha feito sobre a vontade de Deus e sua própria missão a respeito da salvação do homem (vv. 39,40), que certamente foram algumas das palavras mais poderosas e graciosas que saíram da boca do nosso Senhor Jesus, as mais fiéis e mais dignas de toda aceitação. Poderíamos pensar que, como Israel no Egito, quando ouviram que Deus os tinha visitado, teriam curvado suas cabeças e o adorado. Mas, ao contrário, em vez de aceitar a oferta que lhes era feita, eles murmuraram, discutiram com o que Cristo tinha dito e, embora não se opusessem abertamente, contradizendo-o, ainda assim, privadamente, sussurraram entre eles, desprezando a oferta, e instilando, nas mentes uns dos outros, preconceitos contra ela. Muitos que não se atreverão a contradizer abertamente a doutrina de Cristo (suas críticas são tão fracas e infundadas, que se envergonham de reconhecê-las, ou temem vê-las silenciadas), dizem, em seus corações, que não gostam dela. Agora:

[1] O que os ofendeu foi a declaração de Cristo, de que sua origem era do céu, vv. 41,42. “Como, pois, diz ele: Desci do céu?” Eles tinham ouvido sobre anjos vindos do céu, mas nunca sobre um homem vindo do céu. Eles ignoraram as provas que Ele lhes tinha dado, de que era mais do que um homem.

[2] O que eles pensavam que os justificava era o fato de que conheciam a origem de Cristo na terra: “Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos?” Eles julgaram impróprio que Ele dissesse que vinha do céu, sendo um deles. Eles falam com desprezo do seu bendito nome, Jesus: “Não é este Jesus”. Eles tinham por certo que José era realmente seu pai, embora ele somente tivesse a reputação de sê-lo. Observe que equívocos a respeito da pessoa de Cristo, como se Ele fosse um mero homem, concebido e nascido por geração comum, são ocasionados pelas ofensas e provocações à sua doutrina e às suas obras. Não é de admirar que aqueles que o colocam no mesmo nível que os demais filhos dos homens, cujo pai e mãe conhecemos, menosprezem a honra da sua expiação e os mistérios da sua missão, e, como os judeus aqui, murmurem contra sua promessa de nos ressuscitar no último dia.

3. Tendo falado da fé como a grande obra de Deus (v. 29), Cristo discursa longamente a respeito desta obra, instruindo-nos e incentivando-nos nela.

(1) Ele mostra o que é crer em Cristo.

[1] Crer em Cristo é vir a Cristo. A expressão “aquele que vem a mim” é a mesma coisa que “aquele que crê em mim” (v. 35), e também é mencionada outra vez através da frase (v. 37): “O que vem a mim”. Também vv.  44,45. O arrependimento em relação a Deus é vir a Ele (Jeremias 3.22), como nosso bem supremo e nosso objetivo mais elevado, e a fé em relação ao nosso Senhor Jesus Cr isto consiste em vir a Ele, como nosso príncipe e Salvador, e nosso caminho para o Pai. Isto denota nossa afeição por Ele, pois estes são os impulsos da alma, e as ações correspondentes. Isto consiste em deixar todas aquelas coisas que estão em oposição a Ele, ou em competição com Ele, e, ir àqueles termos nos quais a vida e a salvação nos são oferecidas, por seu intermédio. Quando Cristo estava na terra, isto significava mais do que simplesmente, ir até onde Ele estava. Agora também é mais do que vir à sua Palavra e às suas ordenanças.

[2] É alimentar-se de Cristo (v. 51): “Se alguém comer desse pão”. A expressão anterior denota aplicar-se a Cristo. Esta denota aplicar Cristo a nós mesmos, com apetite e deleite, para que possamos receber dele a vida, a força e o consolo. Alimentar-se dele, como os israelitas se alimentaram do maná, tendo deixado a vida que tinham no Egito, e não dependendo do trabalho das suas mãos (para comer), mas vivendo puramente do pão que lhes era dado do céu.

(2) O Senhor mostra o que é conseguido quando se crê nele. O que Ele nos dará, se viermos a Ele? Em que seremos melhores, se nos alimentarmos dele? A necessidade e a morte são nossos principais temores. Se tivermos a certeza dos consolos da nossa existência, e da continuidade dela em meio a estes consolos, teremos o suficiente. Estas duas coisas são, aqui, asseguradas aos verdadeiros crentes.

[1] Eles nunca terão necessidades, nunca terão fome, nunca terão sede, v. 35. Desejos, eles terão, desejos ardentes, mas são tão adequadamente, tão oportunamente e tão abundantemente satisfeitos, que não podem ser chamados de fome e sede, que são desconfortáveis e dolorosas. Aqueles que comiam o maná, e bebiam da rocha, sentiam fome e sede depois. O maná os satisfazia por algum tempo, e a água da rocha os refrigerava. Mas em Cristo existe uma plenitude tão abundante, que nunca poderá ser esgotada. Ele transmite constantemente sua graça e seu poder; e estas bênçãos nunca podem ser interrompidas.

[2] Eles nunca morrerão, não morrerão eternamente, pois, em primeiro lugar, aquele que crê em Cristo “tem a vida eterna” (v. 47). Ele tem a certeza disto, a garantia disto, o depósito dela. Ele a tem na promessa e nas primícias. A união com Cristo e a comunhão com Deus são o início da vida eterna. Em segundo lugar, em­ bora aqueles que comiam o maná morressem, Cristo é um pão que um homem pode comer e nunca morrer, vv. 49,50. Observe aqui:

1. A insuficiência do maná típico: “Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram”. Pode-se fazer muito bom uso da morte dos nossos pais. Seus túmulos nos dizem, e seus monumentos nos lembram, particularmente, que a maior plenitude do alimento mais delicioso jamais prolongará o fio da vida, nem desviará o golpe da morte. Aqueles que comiam o maná, o manjar dos anjos, morriam, como os outros homens. Não havia nada errado na sua dieta que encurtasse seus dias, nem suas mortes poderiam ser apressadas pelos esforços e fadigas da vida (pois eles não semeavam nem colhiam), e ainda assim, morriam.

(1) Muitos deles morreram pelos golpes imediatos da vingança de Deus, pela sua descrença e pelas suas murmurações, pois, embora eles comessem aquela comida espiritual, Deus não estava satisfeito com muitos deles, mas eles foram prostrados no deserto, 1 Coríntios 10.3-5. O fato de que comessem o maná não os protegia da ira de Deus, como crer em Cristo protege a nós.

(2) O restante deles morreu pelo curso da natureza, e suas carcaças caíram, por uma sentença divina, naquele mesmo deserto onde tinham comido o maná. Naquela mesma época em que os milagres eram o pão diário, a vida do homem foi aparentemente reduzida ao limite que agora tem, Salmos 90.10. Assim, os judeus não deveriam e não poderiam se vangloriar tanto do maná.

2. A suficiência do verdadeiro maná, do qual o outro era somente um tipo: “Este é o pão que desce do céu”, este alimento verdadeiramente divino e celestial, “para que o que dele comer não morra”, isto é, não caia sob a ira de Deus, que é morte para a alma, não morra a segunda morte. Não, nem a primeira morte, pois esta será uma situação final e irrecuperável. Não morra, isto é, não pereça, não deixe de alcançar a Canaã celestial, como os israelitas deixaram de alcançar a terrena, por falta de fé, embora tivessem o maná. Isto é ainda mais explicado pela promessa contida nas palavras seguintes: “Se alguém comer desse pão, viverá para sempre”, v. 51. Este é o significado deste “nunca morrer”. Embora o crente desça à morte, ele passará por ela e entrará naquele mundo em que não haverá mais morte. Viver para sempre não significa existir para sempre (os condenados no inferno existirão para sempre, pois a alma do homem foi feita para um estado eterno), mas ser feliz para sempre. E como o corpo precisa morrer, e ser como água derramada no chão, aqui Cristo se compromete a cuidar da situação (como antes, v. 44: “Eu o ressuscitarei no último Dia”). E assim viveremos para sempre.

(3) O Senhor Jesus mostra os incentivos que nós temos para crer nele. Cristo aqui fala de alguns que o tinham visto, e ainda assim, não criam, v. 36. Eles viram sua pessoa e seus milagres, mas não foram levados a crer nele. A fé nem sempre é o resultado da visão; os soldados foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo, e ainda assim, em vez de crerem nele, mentiram a seu res­ peito. Assim, vemos que é difícil levar as pessoas a crer em Cristo. Mas, pela operação do Espírito da graça, muitos daqueles que não viram, creram. Duas coisas nos são asseguradas aqui, para encorajar nossa fé:

[1] Que o Filho dará boas-vindas a todos aqueles que vierem a Ele (v. 37): “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Quão bem-vindas são às nossas almas estas palavras de boas-vindas da pare de Cristo! “O que vem” está no singular, denotando favor, não somente ao corpo de crentes em geral, mas a toda alma, em particular, que se apresente a Cristo. Aqui, em primeiro lugar, o dever exigido é um puro dever expresso pelo Evangelho: vir a Cristo, para que possamos vir a Deus por seu intermédio. Sua beleza e seu amor, estes grandes atrativos, devem nos atrair a Ele. O sentimento de necessidade e o medo do perigo devem nos levar a Ele. Qualquer coisa que nos levar a Cristo será vantajosa para nós. Em segundo lugar, a promessa é uma pura promessa do Evangelho: de maneira nenhuma o lançarei fora. Há duas negativas: Não o farei, não o farei.

1. Grandes favores estão expressos aqui. Nós temos razões para temer que Ele nos lance fora. Considerando nossa mesquinhez, nossa vilania, nossa indignidade ao vir, nossa fraqueza em vir, nós podemos, com razão, esperar que Ele nos repreenda e feche suas portas para nós. Mas Ele apaga estes temores com esta certeza: Ele não fará isto. Embora sejamos mesquinhos, não desdenhará de nós, embora sejamos pecadores, não nos rejeitará. Os pobres alunos vêm até Ele para serem ensinados? Embora sejam tolos e lentos, Ele não os lançará fora. Os pobres pacientes vêm até Ele para serem curados, os pobres clientes vêm até Ele para serem aconselhados? Embora sua situação seja difícil, e embora venham de mãos vazias, Ele não os lançará fora, de maneira nenhuma. Mas:

2. Há mais favores implícitos do que expressos. Quando está escrito que Ele não os lançará fora, o significado é: Ele os receberá, e lhes dará as boas-vindas, e lhes dará aquilo por que vieram até Ele. Assim como Ele não os rejeita por ocasião da primeira vez em que vieram a Ele, também depois, a cada desprazer, não os lançará fora. “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”.

[2] Que o Pai irá, sem dúvida, trazer a Cristo, no devido tempo, todos os que foram dados a Ele. Nas transações entre o Pai e o Filho, com relação à redenção do homem, assim como o Filho empreende a justificação, a santificação e a salvação de todos os que vêm a Ele (“Que sejam postos nas minhas mãos, e eu cuidarei deles”), também o Pai, a fonte e a origem da existência, da vida e da graça, tem prazer em colocar nas mãos de Jesus todos aqueles que lhe foram dados, trazendo-os a Ele.

Em primeiro lugar, aqui Ele nos assegura que isto será feito: “Tudo o que o Pai me dá virá a mim”, v. 37. Cristo tinha se queixado (v. 36) daqueles que, embora o tivessem visto, ainda assim não criam nele. E então Ele acrescenta isto:

[1] Para a convicção e motivação deles, dando a entender claramente que se insistissem em não vir a Ele e não cressem nele, isto seria um sinal certo de que não pertenciam à escolha da graça. Como podemos pensar que Deus nos entregou a Cristo, se nos entregamos ao mundo e à carne? 2 Pedro 1.10.

[2] Para seu próprio consolo e encorajamento: “Israel não se deixou ajuntar; contudo… serei glorificado”. A eleição foi feita e alcançará seus objetivos, ainda que as multidões estejam endurecidas, Romanos 11.7. Embora o Senhor perca muitas das suas criaturas, por não desejarem se entregar a Ele, ainda assim, não perderá nenhuma daquelas que estiverem sob seus cuidados: tudo o que o Pai lhe dá, virá a Ele. Aqui temos:

(a) A descrição da escolha: “Tudo o que o Pai me dá”, todas as coisas que o Pai me dá. Os eleitos, e tudo o que pertence a eles. Todos os seus serviços, todos os seus interesses. Assim como tudo o que Ele tem é deles, também tudo o que eles têm é dele, e Ele fala deles como seus. Eles lhe foram dados, como recompensa total da sua missão. Não somente todas as pessoas, mas todas as coisas, são congregadas em Cristo (Efésios 1.10), e reconciliadas com Ele, Colossenses 1.20. A entrega do remanescente escolhido a Cristo é mencionada (v. 39) como algo já concluído. Ele os deu. Esta entrega é aqui mencionada como algo em andamento. Ele os dá, porque, quando o Primogênito foi trazido ao mundo, aparentemente houve uma renovação da garantia. Veja Hebreus 10.5ss. Agora Deus estava prestes a dar a Cristo os pagãos, por sua herança (Salmos 2.8), a dar-lhe a posse das herdades as­ soladas (Isaias 49.8), e dar-lhe a parte de muitos, Isaías 53.12. E embora os judeus, que o viram, não cressem nele, estes (diz Ele) “virão a mim”. As outras ovelhas, que não pertencem a este aprisco, serão agregadas, cap. 10.15,16. Veja Atos 13.45-48.

(b) O resultado assegurado: eles “virão a mim”. Isto não faz parte da natureza de uma promessa, mas é uma predição de que tantos quantos foram, no conselho de Deus, ordenados para a vida, serão trazidos à vida, sendo trazidos a Cristo. Eles estão dispersos, misturados entre as nações, mas ainda assim nenhum deles será esquecido. Nem um grão do trigo de Deus será perdido, como foi prometido, Amós 9.9. Eles estão, por natureza, alienados de Cristo, e são contrários a Ele, e ainda assim, virão. Assim como a onisciência de Deus está envolvida para encontrar todos os que estão de fora, sua onipotência também está envolvida para trazê-los, a todos, para dentro. Não: Eles serão forçados a vir a mim, mas: Eles virão livremente, voluntariamente.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ADMINISTRANDO A EMPATIA

Bons sentimentos não bastam; é importante aprender a lidar com as emoções que o sofrimento alheio nos causa, não só para evitar o próprio desconforto, mas também para ter alguma chance de ser útil aos outros.

Administrando a empatia

Reconhecer quando um amigo ou colega está assustado, triste, irritado ou surpreso é uma espécie de chave fundamental para manter bons relacionamentos. Um novo estudo sugere, no entanto, que, se a habilidade para escutar os sentimentos alheios tomar proporções grandes demais, pode provocar uma dose extra de estresse – e, na prática, não ajudar quem está sofrendo nem aquele que se comove com a dor alheia.

Em um estudo publicado no periódico Emotion, as psicólogas Myriam Bechtoldt e Vanessa Schneider, da Escola de Frankfurt de Administração e Finanças, na Alemanha, entrevistaram 166 estudantes universitários do sexo masculino e fizeram a eles uma série de perguntas com o objetivo de medir a sua capacidade de lidar com as emoções. Na sequência, as pesquisadoras mostraram aos voluntários uma série de fotografias de rostos de várias pessoas e perguntaram até que ponto sentimentos como felicidade ou desgosto eram expressos em seu semblante. Num segundo momento, os estudantes participaram de um exercício no qual deveriam fazer negociações como se estivessem numa situação profissional, em frente de juízes exibindo expressões faciais severas. Os cientistas mediram concentrações do cortisol, hormônio associado ao estresse, presente na saliva dos alunos antes e depois da tarefa.

Nos voluntários avaliados como mais inteligentes emocionalmente, as medidas de estresse aumentaram mais durante o experimento e demoraram mais tempo para voltar ao nível inicial. Os resultados sugerem que algumas pessoas podem ser emocionalmente espertas, mas isso não se reverte, necessariamente, para o seu próprio bem, diz Hillary Anger Elfenbein, professora de comportamento organizacional na Universidade de Washington em St. Louis, que não participou do estudo. “O envolvimento emocional pode causar apenas preocupação se não for canalizado de forma saudável”, observa.

Essa e outras pesquisas desafiam a visão predominante de que a empatia é sempre benéfica para quem a sente. Um trabalho publicado em 2002 já sugeria que as pessoas emocionalmente perceptivas podem ser particularmente suscetíveis a sintomas de depressão, decorrentes da sensação de impotência por não conseguir ajudar os outros a sair de seu sofrimento.

“Não há dúvidas de que a empatia é uma qualidade extremamente útil, mas não basta; é fundamental aprender a lidar adequadamente com as emoções, tanto as nossas quanto as alheias”, diz Bechtoldt. Segundo ela, pessoas muito sensíveis podem se sentir identificadas demais ou inclinadas a assumir a responsabilidade pela tristeza ou raiva alheias. Por mais que uma situação nos mobilize, é importante ter em mente que cada um tem responsabilidade sobre a própria história, e, às vezes, o melhor a fazer num momento delicado é estar perto, escutar e suportar que a pessoa sofra, sem tentar aplacar a dor por causa das nossas próprias fragilidades. “Pode parecer pouco, mas é transformador”, comenta a psicóloga.

Ela enfatiza que para ajudar alguém é fundamental não se misturar às suas mazelas.

Especialistas acreditam que o autoconhecimento, alcançado por meio da psicoterapia, é uma forma bastante eficaz de mobilizar e desenvolver recursos psíquicos, capaz de fortalecer a capacidade de reconhecer as próprias limitações – e possibilidades.

Outros estudos mostram facetas ainda menos exploradas da capacidade de compreender o que as pessoas sentem. Um deles, publicado em 2013 na Plos One, revela que essa habilidade pode ser usada para manipular outros e, assim, obter ganho pessoal. Mais pesquisas são necessárias para mostrar com maior clareza de que maneira se dá a relação entre inteligência emocional e estresse. Estão em andamento atualmente investigações similares em que são acompanhadas mulheres e grupos mistos com pessoas de diferentes idades e formação.

OUTROS OLHARES

A ORDEM É DESAPERGAR-SE

Nestes tempos de promoção da simplicidade, ter um armário abarrotado não pega bem. Resultado: os brechós e bazares vendem como nunca.

A ordem é desapergar-se

Foi-se o tempo em que mulheres abastadas lotavam o Facebook com fotos de seus closets abarrotados. Diante de uma combinação de fatores que começa na crise econômica, passa pelas onipresentes pregações ambientalistas e desemboca na propagada conversão de famosos a um estilo de vida mais simplesinho, as consumidoras vorazes vêm se rendendo a uma realidade inescapável: ter coisa demais no guarda­ roupa não pega bem.

O movimento em direção à diminuição dos cabides alimenta um ramo de negócios de pouco destaque até algum tempo atrás, o dos brechós on-line. Antes confinado a lojas meio empoeiradas, o comércio de peças seminovas, inflado pelos novos tempos, vem migrando para a internet. Segundo pesquisa do Sebrae, entidade voltada para pequenas e médias empresas, em 2015 os brechós on-line já eram quase 20% do total de brechós no país – e continuam aumentando.

Que fique claro: comprar vestido, bolsa, sapato e bijuterias continua sendo o esporte preferido de boa parte da população feminina do planeta. Mas cada vez que Kate, a futura rainha da Inglaterra, repete roupa – e ela repete com frequência-, ou que alguma atriz no tapete vermelho diz que comprou seu vestido “num brechó de Los Angeles”, o ato de entupir armários vai parecendo menos glamouroso. Daí para a primeira bolsa usada de grife é um passo, como mostram os números do comércio de segunda mão. A enjoei, a maior plataforma-brechó brasileira, tem mais de 3,5 milhões de usuários e faz 180.000 transações por mês. As vendas nos primeiros seis meses deste ano ficaram 60% acima das do mesmo período de 2017. “É um hábito recente. As pessoas estão percebendo o atrativo econômico de adquirir o que alguém dispensou e perdendo a vergonha de usar esses produtos”, explica a gerente Ludmila Brait.

Em geral, são as donas das peças que procuram os brechós, que, por sua vez, examinam as fotos e decidem se aceitam revendê-las. Aprovados, os produtos vão para o site a preços até 90% inferiores ao original. O brechó cobra uma comissão de 20% a 40% pela venda; a dona da peça tem a opção de receber sua parte ou deixá-la como crédito na loja – uma alternativa tentadora, que, convenhamos, não colabora com o objetivo inicial (aliás, qual era ele mesmo?).

Daniela Carvalho, que comanda o Peguei Bode com a irmã Gabriela, oferece o estoque mais luxuoso (e caro) da comunidade: nas prateleiras virtuais circulam marcas como Dior, Chanel e Versace – tudo usado. “O preconceito está sendo vencido em todas as faixas de renda. Muitas milionárias compram com a gente”, afirma Daniela, que cita entre as clientes-vendedoras Camila Pitanga, Marina Ruy Barbosa e Fernanda Lima. Já outra atriz, Luana Piovani, resolveu virar sócia de um brechó on-line, o Cansei Vendi, onde também se abastece. “Agora que tenho família, filhos, funcionários, não dá para gastar dinheiro só comigo”, argumenta.

Ao lado dos brechós, crescem e aparecem as iniciativas de troca de roupas usadas, o clothing swap. As paulistas Giovanna Nader e Raquel Vitti idealizaram o Projeto Gaveta, que efetua o troca-troca – sem dinheiro envolvido – em encontros (físicos) duas vezes por ano. A própria Giovanna é propaganda viva de seu projeto. “Fiquei grávida e não comprei roupa nova. Amigas me emprestaram, usei duas calças de elástico que já tinha e pronto. Foram sete peças durante toda a gravidez”, diz. A cantora Preta Gil promove há dez anos, no Rio de Janeiro, o Bazar da Preta, recheado de peças do armário de artistas, com renda revertida para instituições beneficentes. O movimento cresceu tanto que, em maio, teve sua primeira versão em São Paulo. “O bazar virou moda, coisa chique”, comemora.

A reciclagem do closet tem impulsionado uma profissão nova, “o personal encolhedor de guarda­ roupa” (ah, era esse o objetivo inicial!). A carioca Alexandra Melo cobra 120 reais por hora e explica o seu trabalho: “Eu ajudo em uma coisa que as clientes simplesmente não conseguem fazer sozinhas: descartar peças. No fundo, ofereço mesmo é suporte emocional para a tarefa”. Em junho, Fiona Golfar, editora da revista Vogue inglesa, relatou no jornal The Times o que chamou de detox do seu enorme closet. Ela acabou o dia com caixas e mais caixas de excedentes, “considerável dor no coração” e grande alívio. E, se não deu seu obrigatório passinho na direção de uma vida mais simples, ao menos conseguiu um armário com espaço para acomodar umas roupinhas novas.

GESTÃO E CARREIRA

OLHAR VIGILANTE

O data protection officer, ou encarregado de proteção de dados, alinha conhecimento jurídico e tecnológico para garantir que empresas utilizem informações sobre os cidadãos de forma correta.

Olhar vigilante

Os recentes escândalos envolvendo vazamento de dados pessoais por empresas estão obrigando os governos a correr para editar ou atualizar leis sobre o uso de informações nas organizações. Com isso, surge a necessidade de um profissional que ajude as companhias nessas tarefas. Esse é o trabalho do data protection officer (DPO), ou encarregado de proteções de dados. “Ele cria procedimentos e protocolos internos para que empresas desenvolvam produtos que coletem dados de maneira lícita”, diz Alexandre Pacheco, professor da fundação Getúlio Vargas. A obrigatoriedade de contratação desse especialista, por enquanto, é só por parte de companhias europeias, por causa de uma legislação local. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais tramita no Senado P, se aprovada, fará com que as organizações tenham de seguir o mesmo caminho. “Empresas nacionais que prestem serviços e utilizem informações sobre cidadãos europeus podem ser cobradas por ter esse profissional, já que as europeias podem ser responsabilizadas por vazamentos na contratada”. diz Alexandre.

De olho nessa oportunidade, o advogado Adriano Mendes, de 39 anos, passou a atuar como DPO para multinacionais em maio – mas ele estuda o assunto desde 2004. “Sempre fui nerd, o que me ajudou. Porém, tive de fazer uma série de cursos sobre tecnologia para entender itens como a arquitetura de dados, afirma Adriano.

É bom saber que o encarregado de proteção de dado não é, necessariamente, formado em direito. “É uma área jurídica, porque exige a interpretação de normas, mas esse papel também precisa de conhecimento técnico. Nada impede que um especialista em TI faça um curso em proteção de dados”, afirma Alexandre. Com salários que variam de 8.000 a 20.000 reais, o futuro da profissão é promissor. Só na Europa, de acordo com especialistas, será preciso 28.000 DPOs para atender à normativa. Ele é um padre no confessionário: precisa alertar e evangelizar a empresa a fazer o correto. É preciso estar ciente caso corrobore com posturas antiéticas, diz Adriano.

OUVIDOS A POSTOS

O paulistano Rodrigo Galvão entrou na Oracle, gigante global de tecnologia, como estagiário na área de finanças – embora quisesse trabalhar com vendas. Formado em administração, ele viu a vaga na multinacional no mural da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e se encantou com a companhia. “Até o prédio super futurista me impressionou. “De lá para cá, 16 anos se foram e o executivo assumiu a presidência da organização em 2017, aos 35 anos. Agora, ele lidera 1.900 pessoas no país com um estilo aberto ao diálogo, conduzindo conversas periódicas com os funcionários, pedindo sugestões para projetos da Oracle e deixando sua mesa à disposição de quem quiser se sentar para conversar.

Muitos dizem que sua carreira foi acelerada. Concorda com isso?

Se olhar pela idade, pode parecer que sim, mas estou na Oracle há 16 anos. Fiz tudo com intensidade, mas sem pular etapas. Passei por diversas áreas e comecei como estagiário em finanças. Não era o departamento com o qual eu mais me identificava, queria ir para o comercial. Mas abracei a chance.

Um dos pontos positivos de finanças é ter a oportunidade de se relacionar com toda a companhia, não?

Sem dúvida. Muita gente acha que a única área que conta é a de vendas. Mas o BackOffice tem muito valor, pois ajuda a conhecer a companhia e a estabelecer conexões. Usei muito isso. Fui efetivado depois de sete meses e comecei a crescer. Fui vendedor em campo, gerente de contas, diretor da vertical de comunicação, vice-presidente de CRM e atuei na América Latina antes de assumir a presidência.

Não enfrentou preconceito por ser um jovem com crescimento rápido?

Nunca. Tem de ter humildade para aprender – e eu aprendi muito com o pessoal experiente. Quando comecei a trabalhar no campo, era o mais novo. Ficava como uma sombra no pessoal para me inspirar.

A questão da idade não pesou nem quando você se tornou líder?

Ser chefe de pessoas mais velhas pode até soar um pouco estranho. Mas a liderança se estabelece naturalmente por meio de suas atitudes do dia a dia. É lógico que tive de lidar com um monte de coisas quando virei gestor. Existem as expectativas que as pessoas colocam sobre você, a vontade de não querer frustrar ninguém, a necessidade de fazer o que considera correto. Encaro meu papel de líder como o de facilitador. Como CEO, 90% do meu tempo é dedicado a isso. Preciso fazer com que todo mundo corra ladeira acima. E só atingimos esse objetivo quando estabelecemos laços de confiança e estamos abertos para ouvir. Converso com todo mundo que senta à minha mesa e gosto de ouvir o que os outros têm a dizer.

Quais foram os feedbacks que mais marcaram sua trajetória?

O primeiro ouvi quando estava começando. Meu chefe me disse: “Não importa onde estamos, temos de ser aquilo que sempre fomos”. Aí eu entendi que nunca somos donos de uma posição, apenas a ocupamos por um período. Por isso, não devemos nunca ir contra nossa essência.

E o segundo?

Foi recente, e nunca linha falado sobre isso antes. Eu estava cuidando de uma linha de produtos da Oracle na América Latina, muito feliz com a oportunidade. Mas me trouxeram de novo para o Brasil para cuidar de uma fatia de negócio que até era maior, mas voltei a ser local. Fiquei meio assim. Meu atual chefe me olhou e falou: “Você me tem como líder? Então tem de confiar em mim”. Às vezes somos céticos com as decisões dos gestores. Depois percebi que ele me preparava para assumir a presidência da companhia no Brasil. Na vida, você tem de confiar nas pessoas.

Olhar vigilante.2

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 28-59 – PARTE II

Alimento diário

Cristo, o verdadeiro Pão do Céu. Cristo dá as boas-vindas a todos os que veem a Ele. A necessidade de alimentar-se de Cristo.


III – Tendo respondido às suas perguntas, Cristo aproveita a oportunidade da objeção que fizeram a respeito do maná para falar de si mesmo, por meio da comparação com o pão, e da fé, por meio da comparação com o comer e o beber. O Senhor uniu isto com comer sua carne e beber seu sangue, e com as observações feitas a este respeito pelos ouvintes. Assim pode ser entendido o restante desta conversa.

1. Tendo falado de si mesmo como o grande dom de Deus, e o pão verdadeiro (v. 32), Jesus explica e confirma o assunto detalhadamente, para que possamos conhecê-lo corretamente.

(1) Aqui o Senhor Jesus mostra que Ele é o pão verdadeiro. Isto Ele repete diversas vezes, vv. 33,35,48-51. Observe:

[1] Que Cristo é pão, Ele é para a alma o que o pão é para o corpo. Ele nutre e sustenta a vida espiritual (é o que a sustem), assim corno o pão nutre e sustenta a vida corpórea. Ele é o sustento da vida. As doutrinas do Evangelho a respeito de Cristo – que Ele é o mediador entre Deus e o homem, que Ele é nossa paz, nossa justiça, nosso Redentor. Por estas coisas vivem os homens. Nossos corpos poderiam viver por algum tempo sem ali­ mentos, porém nossa alma não pode viver um segundo sem Cristo. O trigo é esmiuçado (Isaias 28.28), e assim também foi Cristo. Ele nasceu em Belém, a casa de pão, e foi tipificado pelo pão da proposição.

[2] Que Ele é o pão de Deus (v. 33), o pão divino. Ele é aquele que é “de Deus” (v.46), é pão que “meu Pai” dá (v.32), o pão que Ele criou para ser o alimento das nossas almas, o pão da família de Deus, o pão dos seus filhos. Os sacrifícios dos levitas eram chamados o pão de Deus (Levíticos 21.21,22), e Cristo é o grande sacrifício. Cristo, na sua palavra e nas suas ordenanças, é o banquete do sacrifício.

[3) Que Ele é o pão da vida (v. 35, e outra vez, v. 48), aquele pão da vida, uma alusão à árvore da vida no meio do jardim do Éden, que foi para Adão o selo daquela parte do concerto: “Faze isso e viverás”, da qual ele podia comer e viver. Cristo é o pão da vida, pois Ele é o fruto da árvore da vida. Em primeiro lugar, Ele é “o pão vivo” (assim é que Ele se explica, v. 51): “Eu sou o pão vivo”. O pão é, em si mesmo, uma coisa morta, e não alimenta, exceto pela ajuda das faculdades de um organismo vivo, mas Cristo é, Ele mesmo, o pão vivo, e alimenta pelo seu próprio poder. O maná era uma coisa morta. Se guardado apenas uma noite, ele apodrecia e criava bichos. Mas Cristo é o pão sempre vivo, eterno, que nunca embolora nem envelhece. A doutrina de Cristo crucificado agora é tão fortalecedora e consoladora a um crente como sempre foi, e sua mediação ainda tem tanto valor e eficiência quanto sempre teve. Em segundo lugar, Ele dá “vida ao mundo” (v. 33), vida espiritual e eterna. A vida da alma em união e comunhão com Deus aqui, e na visão dele e na comunhão com Ele no futuro. Uma vida que inclui em si toda a felicidade. O maná somente sus­ tentava a vida, não a preservava e perpetuava, muito menos a restaurava, mas Cristo dá a vida àqueles que estão mortos no pecado. O maná era ordenado somente para a vida dos israelitas, mas Cristo é dado para a vida do mundo. Ninguém está excluído do benefício deste pão, exceto os que se excluem voluntariamente. Cristo veio para dar vida às mentes dos homens, como também os princípios produtivos para que tenham desempenhos aceitáveis.

[4) Que Ele é o pão que desceu do céu. Isto é repetido muitas vezes aqui, vv. 33,50,51,58. Isto indica, em primeiro lugar, a divindade da pessoa de Cristo. Sendo Deus, Ele tinha uma existência no céu, de onde Ele veio para assumir nossa natureza: “Eu desci do céu”, com o que podemos deduzir sua antiguidade, Ele estava no início com Deus; sua capacidade, pois o céu é o “firmamento do… poder”; e sua autoridade, Ele veio com uma comissão divina. Em segundo lugar, a origem divina de todo o bem que flui para nós, por meio dele. Ele desce, não somente que desceu (v.51), mas que desce. Ele está descendo, o que indica uma constante comunicação de luz, vida e amor, de Deus aos crentes, por intermédio de Cristo, assim como o maná vinha todos os dias. Veja Efésios 1.3.  Todas as coisas do céu.

[5) Que Ele é aquele pão do qual o maná era um tipo e um exemplo (v. 58), este pão, o pão verdadeiro, v. 32. Assim como a pedra da qual eles beberam era Cristo, o maná que eles comeram também era um manjar espiritual, 1 Coríntios 10.3,4. Assim como o maná foi dado a Israel, Cristo é dado ao Israel espiritual. Havia maná suficiente para todos. Desse modo, em Cristo, há uma plenitude de graça a todos os crentes. Aquele que colher uma grande porção deste maná não terá sobras quando vier a usá-lo, e aquele que colher pouco descobrirá que não lhe falta, quando sua graça vier a ser aperfeiçoada em glória. O maná devia ser colhido pela manhã, e aqueles que desejam encontrar Cristo devem procurá-lo cedo. O maná era doce e, como nos diz o autor do livro apócrifo Sabedoria de Salomão (Sabedoria 16.20), “satisfazia o gosto de todos”. Isto enfatiza como Cristo é precioso. Israel viveu de maná até que chegasse a Canaã. E Cristo é nossa vida. Havia uma lembrança do maná preservada na arca. A lembrança de Cristo está na Ceia do Senhor, como alimento da nossa alma.

(2) Aqui Cristo mostra qual era sua missão, e qual era sua tarefa no mundo. Deixando de lado as metáforas, Ele fala claramente, e não fala em parábolas, dando-nos uma explicação das suas atividades entre os homens, vv. 38-40.

[1] Ele nos assegura, de modo geral, que veio do céu para cuidar dos negócios do seu Pai (v. 38), não para fazer sua própria vontade, mas a vontade daquele que o enviou. Ele desceu do céu, o que evidencia que Ele é um ser inteligente e ativo, que voluntariamente desceu a este mundo inferior, uma longa viagem, e um grande passo descendente, considerando as glórias do mundo do qual Ele vinha e as calamidades do mundo ao qual Ele vinha. Nós podemos perguntar, com admiração: “O que o levou a fazer tal expedição?” Aqui Ele nos conta que veio não para fazer sua própria vontade, mas a vontade do seu Pai. Não que Ele tivesse qualquer vontade que estivesse em competição com a vontade do seu Pai, mas aqueles com quem Ele estava falando suspeitavam que Ele pudesse ter. “Não”, diz Ele, “minha própria vontade não é o que me impulsiona, nem o que Eu obedeço, mas Eu venho para fazer a vontade daquele que me enviou”. Isto é, em primeiro lugar, Cristo não veio ao mundo como uma pessoa que age somente por si mesmo, mas sob uma característica pública, para agir pelos outros, como um embaixador, ou plenipotenciário, autorizado por uma comissão pública. Ele veio ao mundo como o grande representante de Deus, e o grande médico do mundo. Não era nenhum interesse privado o que o trazia até aqui, mas Ele veio para acertar as questões entre duas partes consideráveis: o grande Criador e toda a criação. Em segundo lugar, Cristo, quando esteve no mundo, não realizou nenhum desígnio particular, nem teve nenhum interesse separado, distinto dos interesses daqueles pelos quais Ele agia. O escopo de toda a sua vida foi o de glorificar a Deus e fazer o bem aos homens. Portanto, Ele nunca procurou sua própria comodidade, segurança ou tranquilidade, mas, quando estava para entregar sua vida, embora tivesse uma natureza humana que se atemorizava com isto, Ele deixou de lado estas considerações e compatibilizou sua vontade como homem à vontade de Deus, o Pai: “Não seja como eu quero, mas como tu queres”.

[2] Ele nos dá a conhecer, em particular, a vontade do Pai que Ele veio realizar. Aqui Ele declara o decreto, as instruções que Ele devia seguir.

Em primeiro lugar, as instruções particulares dadas a Cristo, de que Ele deveria certificar-se de salvar todos os escolhidos restantes, e este é o concerto da redenção, entre o Pai e o Filho (v.39): “Esta é ‘a vontade do Pai, que me enviou’. Esta é a incumbência que me foi confiada, e consiste em que Eu não perca nenhum de todos aqueles que Ele me deu”. Observe:

1. Existe um determinado número de filhos dos homens dados pelo Pai a Jesus Cristo, para estarem sob seus cuidados, e pertencerem a Ele, por um nome e um louvor, dados a Ele como herança, para posse. O Pai fará por eles tudo o que as situações exigirem. Ele os ensinará, curará, pagará suas dívidas, defenderá suas causas, os preparará e preservará para a vida eterna, e então permitirá que Cristo faça o melhor por eles. O Pai pode dispor deles como desejar: como criaturas, suas vidas e existências derivavam dele; como pecadores, suas vidas e existências estavam afastadas dele e perdidas. Ele poderia tê-los vendido para a satisfação da sua justiça, e tê-los entregado aos torturadores, mas Ele os indicou para serem os monumentos da sua misericórdia, e os entregou ao Salvador. Aqueles a quem Deus escolheu para serem objetos do seu amor especial, Ele colocou, em confiança, nas mãos de Cristo.

2. Jesus Cristo comprometeu-se a não perder nenhum daqueles que foram, assim, dados a Ele pelo Pai. Os muitos filhos que Ele devia levar à glória estarão todos disponíveis, e nenhum deles se perderá, Mateus 18.14. Nenhum deles se perderá, por falta de graça suficiente para santificá-los. “Se eu não to trouxer e não o puser perante a tua face, serei réu de crime para contigo para sempre”, Gênesis 43.9. 3. O comprometimento de Cristo com aqueles que lhe são dados se estende à ressurreição dos seus corpos. “Eu o ressuscitarei no último Dia”, o que pressupõe que tudo o que veio antes deve coroar e completar a missão. O corpo é parte do homem, e, portanto, uma parte da compra e da incumbência de Cristo. Ele pertence às promessas, e, por essa razão, não deverá ser perdido. A missão não é somente não perder ninguém, nenhuma pessoa, mas também não perder nada, nenhuma parte da pessoa, e, portanto, nem o corpo. A missão de Cristo nunca será completa até a ressurreição, quando as almas e os corpos dos santos serão reunidos e congregados a Cristo, para que Ele possa apresentá-los ao Pai: “Eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus me deu”, Hebreus 2.13; 2 Timóteo 1.12. 4. A fonte e a origem de tudo isto é a vontade soberana de Deus, os conselhos da sua vontade, segundo a qual Ele opera tudo isto. Este foi o mandamento que Ele deu ao seu Filho, quando o enviou ao mundo, e que o Filho sempre teve em mente.

Em segundo lugar, as instruções públicas que deviam ser dadas aos filhos dos homens, de que maneira e em quais termos eles poderiam obter a salvação por Cristo, e este é o concerto da graça, entre Deus e o homem. Quem eram as pessoas, em particular, que eram dadas a Cristo, é segredo: “O Senhor conhece aqueles que são seus”, nós não, e nem é adequado que conheçamos. Mas, embora seus nomes estejam ocultos, suas características são divulgadas. É feita uma oferta de vida e felicidade nos termos do Evangelho, para que, por ela, aqueles que foram dados a Cristo possam ser trazidos a Ele, e outros, deixados inescusáveis (v. 40): “Esta é ‘a vontade’, a vontade revelada, ‘daquele que me enviou’, o método definido, pelo qual tratar com os filhos dos homens, ‘que todo aquele’, judeu ou gentio, ‘que vê o Filho e crê nele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia”‘. Isto é verdadeiramente Evangelho, boas novas. Não é revigorador ouvir isto?

1. Que a vida eterna pode ser obtida, se não houver falta nossa. Que, embora pelo pecado do primeiro Adão, o caminho da árvore da vida tenha sido bloqueado, pela graça do segundo Adão, ele está aberto outra vez. A coroa da glória está apresentada diante de nós como o prêmio da nossa soberana vocação, à qual podemos nos candidatar e obter.

2. Todos podem tê-la. Este Evangelho deve ser pregado, esta oferta deve ser feita a todos, e ninguém poderá dizer: “Ela não pertence a mim”, Apocalipse 22.17.

3. Esta vida eterna é certa a todos aqueles que creem em Cristo, e somente a eles. Aquele que vê o Filho, e crê nele, será salvo. Alguns entendem este “ver” como uma limitação desta condição de salvação somente àqueles que recebem a revelação de Cristo e da sua graça. Todo aquele que tem a oportunidade de conhecer Cristo, e aproveitar esta oportunidade tão bem a ponto de crer nele, terá a vida eterna, de modo que ninguém será condenado por descrença (por mais que possa estar condenado por outros pecados), exceto aqueles que tiveram o Evangelho pregado a eles, que, como estes judeus (v. 36), viram, e ainda assim não creram, conheceram a Cristo, e não creram nele. Mas eu prefiro interpretar “ver” como significando a mesma coisa que “crer”, pois é theoron, o que não significa tanto a visão do olho (como no v. 36, heorakate me – vós me vistes) quanto a contemplação da mente. Todo aquele que vê o Filho, isto é, aquele que crê nele, aquele que o vê com os olhos da fé, pelos quais che­ gamos a ser devidamente familiarizados e influenciados pela doutrina do Evangelho a respeito dele. É olhar para Ele como os israelitas feridos olharam para a serpente de metal. A fé que Cristo exige não é uma fé cega, como se estivéssemos dispostos a arrancar nossos olhos e então segui-lo. Nós devemos vê-lo, enxergando em que terrenos andamos na nossa fé. Tudo então estará certo, quando não for aceito com base em rumores (devemos crer como a igreja crê), mas quando for o resultado de uma devida consideração dos motivos da credibilidade: ”Agora te veem os meus olhos”. “Nós mesmos o temos ouvido”.

1. Aqueles que creem em Jesus Cristo, para que tenham a vida eterna, serão ressuscitados pelo seu poder, no último dia. Ele recebeu esta incumbência como vontade do seu Pai (v. 39), e aqui Ele solenemente faz disto sua própria missão: “Eu o ressuscitarei”, o que significa não somente o retorno do corpo à vida, mas a colo­ cação de todo o homem na posse plena da vida eterna que está prometida.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O PREÇO DE UM EGO INFLADO

Neurocientistas descobrem que narcisistas têm elevação em um dos mais importantes hormônios do estresse.

O preço de um ego inflado

O narcisismo é um traço de personalidade que é caracterizado por um senso inflado de importância pessoal, grandiosidade e uma superestimação de suas qualidades como indivíduo. O narcisismo está positivamente correlacionado com auto- referências enaltecedoras, atenção autofocalizada e necessidade de ser reconhecido em sua unicidade. A pesquisa tem demonstrado que narcisistas superestimam suas habilidades intelectuais, seus traços de personalidade positivos e sua atratividade em relação a parceiros do sexo oposto.

No entanto, o narcisismo também está associado a um grande número de problemas interpessoais. Embora pessoas que têm alta pontuação em escalas de narcisismo possam causar primeiras impressões pessoais positivas, a longo prazo, em interações sociais, as pessoas as avaliam de forma negativa. Em relações românticas, os narcisistas têm baixa capacidade de compromisso em relacionamentos, têm maior probabilidade de adotarem estilos relacionais que fazem jogos em relacionamentos e preferem se encontrar ou se relacionar com pessoas que aumentam suas autopercepções grandiosas. Narcisistas têm baixa empatia e alta hostilidade, com uma tendência para agressão, especialmente quando desafiados em suas autopercepções positivas.

Apesar de alimentarem percepções grandiosas sobre si mesmos, os narcisistas também apresentam simultaneamente visões frágeis e sentimentos de inferioridade e falta de valor pessoal. Uma pesquisa demonstrou, por exemplo, que a percepção de uma ameaça ao ego ativa pensamentos de ausência de valor naqueles sujeitos com altos escores em uma escala de narcisismo, enquanto aqueles com baixos escores não tiveram essa reação.

Na verdade, a razão desse aparente paradoxo é que a autoestima dos narcisistas não é saudável e estável, havendo muita limitação conforme as circunstâncias no contexto interpessoal. As pessoas com autoestima saudável têm maior estabilidade, enquanto os narcisistas oscilam entre a grandiosidade de um “eu idealizado”, caindo dramaticamente em função de um feedback negativo para a miséria psicológica de um “eu denegrido”.

Com o objetivo de proteger sua estrutura psíquica, os narcisistas usam mais estratégias defensivas para lidar com os sentimentos de inferioridade que derivam de ameaças a sua visão enaltecida de si mesmos. Por exemplo, quando submetidos a uma avaliação de terceiros que produz um resultado crítico, os narcisistas usam mais frequentemente a negação, um mecanismo defensivo que procura invalidar eventuais percepções negativas. Nesse caso, os narcisistas invalidam a capacidade diagnóstica do teste ou avaliação usada e desmerecem o avaliador, rotulando-o como menos competente ou capaz. Quando submetidos a um insulto, narcisistas se comportam de forma mais agressiva e exibem mais agressão frente a uma ameaça percebida à sua visão grandiosa de si mesmos.

Até o momento, poucos estudos enfocaram aspectos neurobiológicos do narcisismo patológico. No entanto, uma pesquisa que avaliou o nível basal do hormônio cortisol em narcisistas revelou um custo alto para o ego inflado característico dessa condição psicológica. Segundo a investigação, os homens com alta pontuação no “inventário de personalidade narcisista” (uma escala usada internacionalmente para avaliar o grau de narcisismo) têm níveis elevados de cortisol, um dos mais importantes hormônios liberados sob condições de estresse. Os pesquisadores concluíram que o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, ou eixo HPA em sua sigla em inglês, está cronicamente ativado em pessoas com elevado narcisismo.

Em outras palavras, os egos inflados típicos de pessoas com narcisismo patológico. têm elevado custo para a saúde, na medida em que deixam o indivíduo cronicamente estressado na tentativa de defender e alimentar sua grandiosidade. Esse aumento não foi verificado em mulheres com alta pontuação, mostrando uma diferença de gênero importante na reatividade hormonal. Considerando que os dados mostram aumento de narcisismo ao longo de gerações na maior parte das culturas ocidentais pesquisadas, a descoberta tem implicações para a saúde mental em nossa sociedade e aponta os custos de nutrir uma visão inflada de si mesmo.

 

MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC)e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

OUTROS OLHARES

MÃE AOS 64 ANOS

Norma Maria de Oliveira, procuradora municipal em Minas, deu à luz Ana Letícia após décadas tentando engravidar.

Mãe aos 64 anos

Minha luta para ser mãe era muito antiga. Eu tentava engravidar e não conseguia. Aos 30 e poucos anos, meu companheiro e eu procuramos um hospital público, vinculado a uma universidade, para tentar a inseminação artificial (injeção de espermatozoides no útero). Por um ano e meio, fiz várias consultas e exames. Fui diagnosticada com ovários policísticos e trompa obstruída, além de outros fatores que impediam que eu engravidasse de forma natural.

Nesse ínterim, meu companheiro faleceu. Aos 46 anos, eu tinha um novo relacionamento, e meu desejo de ser mãe aumentou. Fomos atrás do processo de fertilização in vitro (fecundação do óvulo em laboratório). Exigia-se, porém, um comprovante de união estável do casal por um período superior a cinco anos. Chegamos a providenciá-lo, mas, tempos depois, nós nos separamos – e meu sonho foi de novo adiado.

Para piorar, o Conselho Federal de Medicina publicou uma resolução que proibia mulheres com mais de 50 anos de se submeter a reprodução assistida. Como advogada, fiz uma petição ao órgão em que explicava minha situação e anexei a ela todos os exames que comprovavam que meu corpo era saudável para a gestação. No entanto, meu pedido foi negado.

O tempo passava e meu sonho de ser mãe ficava cada vez mais distante. Eu já tinha 60 anos quando comecei a pesquisar alternativas na internet e descobri que na Índia é muito comum mulheres mais velhas fazerem o tratamento de reprodução assistida com óvulos doados por jovens anônimas. Eu e meu atual companheiro não pensamos duas vezes: fomos tentar o procedimento na cidade de Jabalpur.

Atravessamos o mundo pelo meu sonho de maternidade. Contudo, ao chegarmos a Nova Délhi, soubemos que não havia voos para Jabalpur, por causa de um terremoto. A alternativa seria ônibus ou trem, porém ficamos com medo, por não conhecer o país. Voltamos frustrados. Às vezes eu me desanimava bastante, pensava que não tinha mais como meu projeto dar certo, mas retomei o fôlego e tentei de novo.

Um casal comentou que havia feito fertilização em Belo Horizonte, a duas horas de onde moro. Fomos para lá. Os exames deram o.k. Como entrei na menopausa aos 50 anos, recorri ao método de ovo doação (doação de óvulos por outra mulher), associado ao espermatozoide de meu companheiro. Fertilizamos sete embriões – quatro aptos à implantação. Decidi implantar um – engravidei na primeira tentativa. Eu tinha conseguido! Sempre quis ser mãe de menina e, embora não me preocupasse com o sexo, chorei muito ao saber que era uma garota. Meus pais já haviam morrido, e meus três irmãos só souberam da gestação quando a barriga estava grande. No momento em que dei a notícia a eles, achei que iam desmaiar, tamanho o susto.

No quarto mês de gravidez, afastei-me da prefeitura de Itabira (MG), porque minha pressão arterial começou a subir. Com 33 semanas, houve perda de líquido amniótico, e um exame que mostra a irrigação do bebê apontou alteração e queda de plaquetas – o que indicava pré-eclâmpsia, situação de extremo perigo para qualquer gestante. Em razão da minha idade, a médica decidiu fazer cesariana e evitar outros riscos.

No dia 10 de abril, Ana Letícia nasceu saudável, pesando 1,71 quilo e medindo 43 centímetros. O parto foi bem tranquilo, eu estava calma. Minha filha foi para a UTI, por ter nascido prematura. Peguei-a no colo somente três dias depois. Não me contive de tanta emoção. Ela tomava meu leite por meio de sonda, mas logo aprendeu a mamar no peito.

O preconceito que sofro por ter sido mãe aos 64 anos me deixa triste. E o maior preconceito vem das mulheres, principalmente as desconhecidas, que me abordam para dizer que sou muito velha para isso. Ninguém tem nada a ver com as minhas decisões. Há muitas mulheres que querem ser mãe, mas não têm a coragem de fazer o que eu fiz.

GESTÃO E CARREIRA

DE BICO EM BICO, NASCE UM NEGÓCIO

Trabalhos extras após o expediente podem abrir os caminhos para quem deseja empreender.

De bico em bico, nasce um negócio

Já dizia o físico alemão Albert Einstein: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”. Mais de 13 milhões de milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil, segundo balanço trimestral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), encerrado em abril de 2018. Diante desse cenário, restam nos brasileiros sobreviver com empregos temporários ou 1trabalhos individuais. Mas saiba que de bico em bico alguns profissionais deixam a informalidade e se tornam grandes empreendedores.

Entre as ocupações informais mais comuns estão os serviços gerais – como pedreiros, pintores e eletricistas, cozinheiras e diaristas. O levantamento realizado este ano pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas aponta que a dedicação desses profissionais ao “bico” é de, em média, três dias por semana.

Outra pesquisa realizada pelo Free­lancer.com – empresa do mercado para freelancers e crowdsourcing – mostrou no se último relatório trimestral o Fast 50 Report, que trabalhos ligados à internet e ao conteúdo on-line também estão em alta entre os “bicos”. As vagas no site saltaram 53,4% em apenas um trimestre, ou seja, enquanto no último trimestre de 2017 foram publicados 4.314, esse número subiu para 6.833 no primeiro trimestre de 2018. Entre os tipos de trabalhos mais procurados neste segmento estão Data Mining, Processamento de Dados, Java script, Search Engine Marketing, designers, etc.

De acordo com o consultor de negócios Emerson Weslei Dias, os bicos, também conhecidos como freelancers, sempre foram uma boa opção para quem não está no mercado formal, embora ainda sofram preconceito dos próprios trabalhadores. “Com os aplicativos de transporte, até quem tem registro em carteira pode trabalhar em uma loja de manhã e dirigir à noite para complementar a renda”, detalha o educador financeiro.

Para que bicos esporádicos se transformem em trabalhos rentáveis, Dias afirma que o profissional precisa se especializar na tarefa que realiza e ampliar a base de clientes.

Treinamentos gratuitos pela internet, workshops e palestras organizadas por associações e universidades reciclam os conhecimentos de trabalhadores que não podem gastar com cursos técnicos. Além de disseminar novos conhecimentos, ambientes culturais ampliam a rede de contatos e, dessa forma, podem favorecer a base de clientes.

CUIDADOS NECESSÁRIOS

Trabalhar só de bicos traz consigo uma série de vantagens, como construir a própria rotina, fazer o que gosta e não ter de ir ao escritório todos os dias. Mas como tudo que é bom tem um preço, viver de freelas exige organização na agenda e priorização de tarefas. É preciso rever a própria rotina. Às vezes; é necessário readequar prioridades, delegar tarefas a terceiros e até negar trabalhos. O dia só tem 24 horas e isso não muda”, reforça Dias.

O empreendedor também deve criar o hábito de planejar sua semana e priorizar diariamente o que deve fazer, deixando de duas a três horas livres para eventuais urgências – acredite, elas sempre acontecem.

Dessa forma, ele terá um dia com atividades importantes e não acumulará trabalho extra ou terá grandes surpresas no final do expediente. Quanto mais o empresário se planejar, situações fora da programação serão menos frequentes.

No caso de profissionais especializados, é crucial estar atento à gestão de tempo e demanda para que a credibilidade do trabalho não seja prejudicada por atrasos e falhas. Segundo o consultor de negócios, os clientes podem até entender e “perdoar” eventuais imprevistos, mas esses problemas geralmente refletem nas recomendações – as famosas “indicações boca a boca”.

O empresário paranaense André Oliveira começou a fazer bicos aos 11 anos. Na época, ele vendia geladinhos na região de Umuarama, interior do Paraná, com seu irmão, Adriano, para ajudar a família e comprar seus próprios brinquedos.

Depois da escola, a dupla batia de porta em porta em busca de clientes interessados nas mercadorias. “fazia um planejamento de venda, produzia os geladinhos e só voltava para casa quando conseguíamos vender tudo”, recorda ele.

E engana-se quem acredita que a experiência de Oliveira com vendas parou na infância. Para custear a faculdade de administração, o paranaense complementou a renda de um salário mínimo, que recebia quando trabalhava em uma concessionária de carros, vendendo pão caseiro e cosméticos.

Com o que acumulou, o administrador lançou há 14 anos a Credfácil, rede de franquias e empréstimos, e chamou seu irmão, Adriano, para ser sócio.  “Falo aos meus franqueados que toda crise tem uma oportunidade. Quando a pessoa sai da zona de conforto, ela encontra oportunidade para “voltar ao mercado”, destaca.

FINANÇAS

Quando os serviços esporádicos tornam- se uma fonte de renda, a primeira coisa que o profissional deve fazer é regularizar sua situação – já pensando, de fato, como empreendedor.

Negócios que geram rendimentos mensais de até R$ 6.750,00 por exemplo, já podem se enquadrar no MEI (Microempreendedor Individual. Isso já vai oferecer benefícios fiscais e previdenciários ao empresário e possibilitar ainda que ele tire nota fiscal, um fator que contribui muito na hora de conseguir “bicos”.

Há também outras modalidades para empresas de rendimento maior, como as limitadas, Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) e individuais. O Sebrae possui um guia completo sobre esses formatos no site: sebrae.com.br

Assim que a empresa for regularizada, o empreendedor deve também separar as finanças pessoais das corporativas. Ou seja, criar uma conta bancária para o seu negócio, de forma que todo rendimento possa ser gerenciado com mais controle, sem gerar problemas ao fisco, aconselha o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joel Sampaio. “É necessário separar cada entrada e saída de dinheiro da empresa. Existem programas gratuitos na internet que fazem uma gestão simples do fluxo de caixa da empresa para empreendedores que estão começando, sugere.

Com as finanças organizadas, é possível evitar problemas comuns em pequenas empresas, como falta de recursos para pagar fornecedores, mão de obra ou insumos para a produção. E, ao perceber isso, o novo empreendedor pode antecipar o problema e buscar soluções, como tomar empréstimo, antecipar recebíveis ou até reduzir a produção. “Em fases mais calmas, a gestão adequada do fluxo de caixa é a chave para a rentabilidade. Já em tempos difíceis, é a chave para

a sobrevivência do negócio”, sugere o economista que é especialista em finanças corporativas.

CENÁRIO FUTURO

Com o fluxo de caixa organizado, o empreendedor também pode trabalhar com cenários futuros, uma vez que terá como calcular demanda e gastos no decorrer dos meses. No caso de pequenos negócios, o planejamento pode ser de até dois anos. “O indicado também é contar com a ajuda de um contador para auxiliar o empresário nos balanços. Hoje, inclusive, há serviços a distância de baixo custo específicos para pequenas empresas”, indica o professor da FGV.

Esse profissional é responsável por manter a documentação contábil da empresa em dia – o que é crucial para qualquer processo de tomada de decisão. Além disso, um profissional especializado em contabilidade ajuda o empreendedor a estar sempre por dentro das mudanças na legislação, em especial no que diz respeito ao recolhimento de impostos.

COMO VIVER APENAS DE FREELAS

  1. Acorde cedo e seja produtivo

Um dos erros mais cometidos por freelancers é acordar tarde por estar em casa. Comece a manhã cumprindo tarefas básicas do dia.

  1. Mude de escritório

Para aumentar a produtividade reserve um dia para trabalhar fora de casa. Cafeterias, casa de amigos e restaurantes podem ser boas opções.

  1. Separe o ambiente profissional do pessoal.

Reserve um espaço para trabalhar na sua casa. Utilizar o notebook na cama, por exemplo, pode derrubar a produtividade do dia todo.

  1. Desligue eletrônicos

Smartphones, televisão e rádio tiram o foco do trabalho. Dessa forma, o ideal é que estejam desligados e, longe do escritório.

  1. Faça uma autoavaliação

Freelancer não tom líder, mas também não tem salário fixo. Dessa forma, crie metas e mensure sua produtividade pana saber se está fazendo um bom trabalho.

De bico em bico, nasce um negócio.3

DICAS PARA FAZER DAR CERTO

faça um planejamento estratégico para estruturar um bom plano de negócios e ter sucesso nesta carreira. Tudo requer muita organização, tendo os procedimentos necessários bem estruturados e organizados.

É importante considerar o uso de ferramentas que gerem produtividade, uma vez que você precisará primar pelo bom relacionamento com seus clientes, conciliando com outras atividades, como demandas, reuniões, entregas de conteúdos e projetos, prazos, visitas e outros processos diários. Separe algumas horas para entender como essas tecnologias funcionam. E procure se familiarizar com elas.

Da mesma forma, desenhe um planejamento para cada projeto, crie tarefas para si mesmo em diferentes datas e organize-se para dedicar algumas horas para cada cliente, evitando perder tempo e conflitos entre suas demandas.

Repense sobre seus serviços e preços anualmente. Tire um tempo também para olhar com calma tudo o que fez no último ano, elimine tarefas que não fazem mais sentido e crie uma lista mais concisa de serviços a oferecer para seus clientes. Isso vai mantê-lo mais focado em suas principais habilidades e com certeza eliminará boa parte do estresse de entregar projetos tão diferentes entre si para seus clientes.

Um dos mais comuns e difíceis problemas que todos os freelancers enfrentam é manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Grande parte do tempo em que este tipo de profissional trabalha é dentro de casa, por isso o ambiente faz toda a diferença. O estereótipo de trabalhar de pijama, acordar e logo pegar o computador ou trabalhar ”jogado” no sofá costuma não ser nada produtivo. A melhor recomendação, neste sentido, é para que o freelancer acorde e tenha hábitos de como se fosse sair, tome um banho, um bom café da manhã e tenha um espaço simples, mas que seja seu espaço de trabalho, com horário de entrada, almoço e saída.

Programe as férias ao longo do ano. Procure viajar, conhecer lugares novos e descansar. Isso alimenta a alma e renova as energias para dar continuidade ao trabalho.

De bico em bico, nasce um negócio.4

De bico em bico, nasce um negócio.2 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 28-59 – PARTE I

Alimento diário

Cristo, o verdadeiro Pão do Céu. Cristo dá as boas-vindas a todos os que veem a Ele. A necessidade de alimentar-se de Cristo

 

Se esta conversa se realizou com os habitantes de Cafarnaum, em cuja sinagoga Cristo estava agora, ou se com aqueles que tinham vindo do outro lado do mar, não é certo, nem importante. No entanto, é um exemplo da condescendência de Cristo, o fato de que Ele lhes deu permissão para fazer-lhe perguntas, e não considerou a interrupção como uma afronta, não, não destes seus ouvintes comuns, embora não fossem seus segui­ dores próximos. Aqueles que desejam estar aptos a ensinar devem ser rápidos para ouvir, e esforçar-se para responder. É a sabedoria dos professores, quando lhes fazem perguntas, até mesmo impertinentes e improdutivas, aproveitar a oportunidade para respondê-las com o que é produtivo, ou seja, a pergunta pode ser rejeitada, mas não o pedido. Agora:

I – Como Cristo tinha dito a eles que deviam trabalhar pela comida de que Ele falava, deviam labutar por ela, eles perguntam que trabalho devem fazei e Ele lhes responde, vv. 28,29.1. Sua pergunta era suficientemente pertinente (v. 28): “Que faremos para executarmos as obras de Deus?” Alguns a interpretam como uma pergunta arrogante: “Quais obras de Deus nós podemos fazer, mais e melhor do que aquelas que fazemos em obediência à lei de Moisés?” Mas eu prefiro interpretá-la como uma pergunta séria e humilde, mostrando que eles estavam, pelo menos nesta ocasião, com boa mente, e desejosos de conhecer e realizar seu dever. E eu imagino que as pessoas que fizeram esta pergunta, “que” e “quais” (v. 30, RA), e fizeram o pedido (v. 34), não eram as mesmas que murmuravam (vv. 41,42) e disputavam (v. 52), pois aquelas são chamadas expressamente de judeus, que vinham da Judéia (pois estes eram estritamente chamados de judeus) par a criticar, ao passo que estas eram da Galileia, e vinham para ser ensinadas. Esta pergunta indica que eles estavam convencidos de que aqueles que desejam obter esta comida eterna:

(1) Devem almejar fazer algo grandioso. Aqueles que olham para o alto nas suas expectativas, e esperam desfrutar da glória de Deus, devem almejar grandes coisas em tais empreendimentos, e empenhar-se em fazer as obras de Deus, obras que Ele exige e que irá aceitar, obras de Deus, distintas das obras dos homens munda­ nos, em suas buscas mundanas. Não é suficiente falar as palavras de Deus, devemos fazer as obras de Deus.

(2) Devem estar dispostos a fazer qualquer coisa: “Que faremos?” Senhor, eu estou pronto para fazer qualquer coisa que indicares, ainda que seja desagradável à carne e ao sangue, Atos 9.6. 2. A resposta de Cristo foi suficientemente clara (v. 29): ”A obra de Deus é esta: que creiais”. Observe que:

(1) A obra de fé é a obra de Deus. Eles perguntam sobre as obras de Deus (no plural), tomando cuidado sobre muitas coisas, mas Cristo os orienta a uma única obra, que inclui a todas, a única coisa necessária: “que creiais”, o que substitui todas as obras da lei cerimonial. Esta é a obra que é necessária para a aceitação de todas as demais obras, e que as gera, pois sem fé é impossível agradar a Deus. É a obra de Deus, pois é sua obra em nós que submete a alma à obra que o Senhor tem em nossa vida, e desperta a alma para trabalhar para Ele.

(2) Esta fé é a obra de Deus, que é concluída em Cristo, e que depende dele. É crer nele como aquele a quem Deus enviou, como o representante de Deus na grande questão da paz entre Deus e o homem, para que descansemos nele e nos resignemos a Ele. Veja cap. 14.1.

II – Como Cristo tinha dito a eles que o Filho do homem lhes daria esta comida, eles perguntam sobre Ele, e Ele lhes responde.

1. Sua pergunta é sobre um sinal (v. 30): “Que sinal, pois, fazes tu?” Até aqui, eles tinham certeza de que, uma vez que Ele exigia que lhe dessem crédito, Ele apresentaria suas credenciais, e lhes mostraria, por meio de milagres, que Ele era enviado de Deus. Tendo Moisés confirmado sua missão por meio de sinais, era necessário que Cristo, que veio para deixar de lado a lei cerimonial, da mesma maneira confirmasse a sua: “‘Que operas tu?’ Que queres dizer? Que características duradouras de um poder divino pretendes dar à tua doutrina?” Mas aqui, eles se enganaram:

(1) Pois ignoraram os muitos milagres que tinham visto realizados por Ele, e que representavam uma prova abundante da sua missão divina. Será que era hora de perguntar: “Que sinal fazes tu?” Especialmente em Cafarnaum, o centro dos milagres, onde Ele tinha realizado tantas obras poderosas, sinais tão significativos do seu trabalho e da sua missão? Não foram, estas mesmas pessoas, outro dia, milagrosamente alimentadas por Ele? Ninguém é tão cego como aquele que não deseja ver. Uma pessoa pode ser tão cega a ponto de questionar se é dia ou não, quando o sol brilha no seu rosto.

(2) Pois preferiam a milagrosa alimentação de Israel no deserto a todos os milagres que Cristo realizava (v. 31): “Nossos pais comeram o maná no deserto”. Para fortalecer a objeção, eles citam uma passagem das Escrituras: “Deu-lhes a comer o pão do céu” (extraída de Salmos 78.24), “deu-lhes do trigo do céu”. Que bom uso poderia ser feito desta história à qual eles se referem aqui! Este era um memorável exemplo do poder e da bondade de Deus, frequentemente mencionado para a glória de Deus (Números 19.20,21), mas, ainda assim, veja como estas pessoas o perverteram, e fizeram um mau uso dele.

[1] Cristo os reprovou pela admiração que sentiam pelo pão milagroso, e lhes recomendou que não trabalhassem pela comida que perece. “Por que”, eles dizem, “o alimento para o estômago foi a grande coisa boa que Deus fez pelos nossos pais no deserto? E por que não devemos nós, então, trabalhar por esta comida? Se Deus fez tanto por eles, por que também não deveríamos ser favoráveis a Ele, sabendo que também fará muito por nós?”

[2] Cristo tinha alimentado cinco mil homens com cinco pães, e lhes tinha feito isto como um sinal que provava que Ele era enviado de Deus. Mas, sob o pretexto de enaltecer o milagre de Moisés, eles tacitamente subvalorizaram este milagre de Cristo, e se esquivaram da sua evidência. “Cristo alimentou seus milhares, porém Moisés, suas centenas de milhares. Cristo os alimentou somente uma vez, e então repreendeu aqueles que o seguiam, com a esperança de ainda serem alimentados, e os dispensou com um sermão sobre a comida espiritual, mas Moisés alimentou seus seguidores durante quarenta anos, e os milagres não eram raridades, mas seu pão diário. Cristo os alimentou com pão da terra, pão de cevada, e peixes do mar; mas Moisés alimentou Israel com pão do céu, alimento de anjos”. Desta maneira elogiosa, estes judeus falam do maná que seus pais comeram, mas seus pais o tinham chamado de pão vil (Números 21.5), desprezando-o tanto quanto agora eles desprezavam os pães de cevada. Assim, somos capazes de desprezar e ignorar as manifestações do poder e da graça de Deus no nosso próprio tempo, enquanto pretendemos admirar as maravilhas que nossos pais nos contaram. Suponhamos que este milagre de Cristo fosse superado por aquele de Moisés. No entanto, houve outras situações nas quais os milagres de Cristo superaram o dele. E, além disto, todos os verdadeiros milagres provam uma doutrina divina, embora não igualmente ilustrativa em termos de circunstâncias, que eram sempre diversificadas, conforme a ocasião exige. Por mais que o maná fosse superior aos pães de cevada, muito mais a doutrina de Cristo superava a lei de Moisés, e suas instituições divinas superavam as ordenanças carnais daquela dispensação.

2. Aqui está a resposta de Cristo a esta pergunta, onde:

(1) Ele retifica seu engano a respeito do maná típico. Era verdade que seus pais haviam comido maná no deserto. Mas:

[1] Não foi Moisés que o deu a eles, nem eles ficaram gratos a ele por isto. Ele foi somente o instrumento, e, portanto, eles devem olhar além dele, para Deus. Nós não lemos que Moisés tenha feito muito mais que orar a Deus, pedindo o maná. E ele falou inadvertidamente quando disse: Porventura, “tiraremos água desta rocha?” Moisés não lhes deu nem aquele pão nem aquela água.

[2] O maná não lhes foi dado, como eles imaginavam, do céu, dos altos céus, mas somente das nuvens. Portanto, não era tão superior àquele que tinha vindo da terra, como pensavam. Porque as Escrituras dizem: Deu-lhes a comer o pão do céu, isto não significa que fosse um pão celestial, ou que fosse o alimento das almas. Interpretar mal a linguagem das Escrituras ocasiona muitos enganos quanto às coisas de Deus.

(2) Jesus lhes instrui a respeito do verdadeiro maná, do qual aquele era um tipo: “‘Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu’. Aquilo que é verdadeiramente e apropriadamente o pão do céu, do qual o maná era somente uma sombra e um exemplo, é dado agora, não aos vossos pais, que estão mortos, mas a vós, nesta época atual, a quem estão reservadas melhores coisas. Ele está agora dando-vos este pão do céu, que é verdadeiramente assim chamado”. Tanto quanto o trono da glória de Deus está acima das nuvens, o pão espiritual do Evangelho eterno está acima do maná. Ao chamar Deus de seu Pai, Jesus se proclama maior que Moisés. Pois Moisés era fiel, mas somente como servo, porém Cristo, como um Filho, Hebreus 3.5,6.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

FILHOS ON-LINE

A infância deve ter aprendizados incitados a partir da diversidade de experiências e estímulos cognitivos, mentais, físicos e afetivos. Será que a tecnologia oferece essas características?

Filhos on-line

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.” (Bill Gates)

Em educação, há uma máxima que deve conduzir todas as condutas: bom senso. O que é isso? É a capacidade de ponderar, de discernir sobre limites que temos que impor para segurança das próprias crianças, na aquisição de novos comportamentos e aprendizagens. Isso se aplica muito bem à questão do uso dos eletrônicos. Dificilmente encontramos adultos que não façam uso diário desse recurso para falar, escrever, se comunicar de modo geral, trabalhar, se divertir e se informar. Ainda que os familiares não utilizem esses recursos, há apelos por toda parte nesse sentido. Como a televisão nos anos 50, os eletrônicos vieram para ficar. Ensinar a lidar com essa ferramenta de modo inteligente, sadio e seguro é uma obrigação dos pais.

Não é difícil perceber que existem exageros tanto naqueles que apoiam o uso de forma indiscriminada como naqueles que enxergam perigo em tudo. A questão é que, assim como ensinamos nossas crianças a usarem uma série de coisas novas durante seu crescimento, a terem condutas cada vez mais autônomas e assumirem responsabilidades, também devemos pensar de modo lógico nas regras que vamos gradativamente impor para que aprendam a utilizar com segurança todos os recursos eletrônicos de que hoje dispomos. Recentemente, dois grandes e conceituados institutos americanos, a Sociedade Canadense de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria, publicaram resultados de estudos que alertam pais e educadores e que podem ser resumidos na forma de alguns itens:

Crianças pré-escolares devem ter um tempo controlado e reduzido de exposição a eletrônicos, pois seu cérebro está em um período muito sensível de formação e alguns estudos mostram que a superexposição pode ser prejudicial e vir a ser a causa de déficit de atenção, atraso cognitivo, gerando posterior dificuldade de aprendizado, aumento de impulsividade e diminuição da habilidade de regulação própria das emoções. Aliás, antes dos 24 meses, o uso deve ser evitado. Não é proibido, mas deve realmente ser controlado no tempo e no conteúdo: há materiais criados para bebês e estes não duram mais que 5 a 10 minutos.

A obesidade infantil está diretamente atrelada aos hábitos sedentários e alimentação desregulada. As consequências são de ordem física (problemas de saúde), emocionais e sociais (baixa autoestima e bullying). Estima-se que crianças com aparelhos no próprio quarto têm 30% mais chance de serem obesas, pois poucas trocam espontaneamente a inatividade frente ao conforto que os eletrônicos incitam pelas brincadeiras no parque.

Está comprovado que a luz das telinhas excita o cérebro e impede o sono. Infelizmente muitas crianças e jovens levam seus portáteis para o quarto à noite e trocam os momentos de descanso por jogos e conversas nos aparelhos.

Distúrbios de ordem emocional, cansados por uso excessivo de tecnologia na infância, são citados em vários estudos: depressão, ansiedade, isolamento, comportamento social inadequado etc. Como as crianças tendem, por natureza, a copiar e repetir não apenas os comportamentos que observam nos adultos, mas aqueles que são elogiados e permitidos com aval dos pais, é normal que copiem alguns personagens que tomam como referência. Por isso muitos estudiosos recomendam cuidado especial com o conteúdo de jogos e filmes que incitem a violência, a agressividade como comportamento usual, até os 12 anos.

Pela velocidade e superficialidade do tratamento dos temas em alguns conteúdos digitais, há possibilidade de aumento de déficit no desenvolvimento do sistema atencional e de memória dos pré-escolares. Mas é bom lembrar que há estudos provando que jogos construídos com a finalidade de atender corretamente as necessidades desse período de desenvolvimento infantil não trazem esses problemas, se usados de modo apropriado, e são muito úteis para o desenvolvimento da cognição.

Qualquer material radioativo deve ser evitado antes dos 2 anos e usado com parcimônia durante a infância, pois não se sabe ao certo qual o grande prejuízo que pode trazer, já que essa geração é das primeiras a ter o uso de eletrônicos tão disponível.

O tempo de exposição da criança aos estímulos virtuais deve ser liberado paulatinamente e sempre considerando a adequação dos conteúdos à sua idade: a partir dos 2 anos pode-se acrescentar 5 minutos de exposição diária para cada ano de vida. Assim, aos 7 anos a criança pode ter de 35 a 40 minutos liberados para brincar, jogar, com os seus eletrônicos. Aos 11 ou 12 anos, 2 horas diárias de uso já devem incluir as pesquisas escolares, por exemplo.

Eletrônicos podem ser ferramentas de comunicação e desenvolvimento. Mas a presença e o diálogo familiar é que desenvolvem e mantêm o equilíbrio mental e emocional de que as crianças precisam para se desenvolverem e estarem aptas a se adaptar com sucesso às grandes inovações e desafios que as aguardam no futuro.

Filhos on-line.2

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial, Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem – irenemaluf@uol.com.br

OUTROS OLHARES

A SAÚDE VIROU UM FARDO

A crise tirou 3 milhões de brasileiros dos planos médicos privados, e a classe média sofre para pagar as mensalidades, que sobem bem acima da inflação.

A saúde virou um fardo

 

O publicitário Luiz Sztutman, de 39 anos, pagava em torno de 200 reais por seu plano básico de saúde e, em pouco tempo, viu a mensalidade subir para 400 reais. Depois que deixou o trabalho fixo, a conta ficou pesada para ele. Vivendo como autônomo e sem carteira assinada, tomou uma decisão difícil: encerrou o plano e hoje tem seguro médico. Sua história é o retrato fiel de um problema que vem atormentando a classe média. Nos últimos três anos, em decorrência do arrocho econômico, mais de 31 milhões de brasileiros deixaram de pagar o plano privado de saúde. Essas pessoas, na grande maioria, contavam com o seguro da empresa em que trabalhavam. Demitidas, não tiveram condições de contratar planos individuais ou familiares, bem mais caros que os coletivos oferecidos pelas companhias. Sem os planos privados, elas agora precisam cobrir suas despesas de exames, consultas e internações exclusivamente com dinheiro do próprio bolso ou aguardar na fila do atendimento da rede pública – e isso em um momento no qual a qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS), historicamente mal avaliada, tem sido ainda pior nos estados em crise financeira. Uma pesquisa divulgada na semana passada, feita pelo Datafolha sob encomenda do Conselho Federal de Medicina (CFM), atesta a insatisfação dos brasileiros: 54% avaliam o atendimento público como ruim ou péssimo, 28% como regular e somente 17% como ótimo ou bom.

Atualmente, apenas um quarto da população (47,1 milhões de pessoas) tem algum tipo de seguro médico. Os outros 160 milhões de brasileiros precisam recorrer ao serviço público. O índice de cobertura privada, que havia avançado nos anos de bonança e crescimento do número de trabalhadores com carteira assinada, recuou. A explicação é uma só: o preço. Para os que conseguem bancar um plano privado, com ou sem a ajuda do empregador, a dificuldade é enfrentar o custo crescente das mensalidades. O encarecimento das despesas médicas é uma realidade vivida em muitos países, por causa do envelhecimento populacional e da in­ corporação de novos tratamentos. No Brasil, os reajustes dos planos de saúde, ano após ano, ficam acima da inflação. Na semana passada, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão do governo que regula o setor, autorizou um aumento de até 10% para os planos individuais, retroativo a 12 de maio. É simplesmente o triplo da atual inflação corrente no país. Em 2017, o repasse máximo permitido para os planos (13,6%) já havia sido mais que o quádruplo da inflação (3%) e, nos anos anteriores, a situação não foi muito diferente. AANS controla apenas o reajuste dos planos individuais. Nos planos coletivos, a negociação é feita livremente entre as empresas e as operadoras do serviço de saúde, mas os reajustes nas mensalidades pagas pelos beneficiários também têm se mantido acima do índice geral de custo de vida. Os aumentos autorizados motivaram a ação de institutos de defesa do consumidor e do Tribunal de Contas da União(TCU), que consideram as razões para os valores aplicados um tanto obscuras. Segundo o diretor da ANS Leandro Fonseca, os reajustes devem refletir os custos dos procedimentos e o aumento no uso. “Precisamos zelar pela manutenção da solvência das operadoras. Limitar os ajustes por ação judicial pode ameaçar a sustentabilidade do sistema. Os penalizados serão os próprios usuários,” diz Fonseca. José Seripieri Junior, presidente da Qualicorp, uma das maiores administradoras de planos de saúde do país, defende a formulação de um indicador mais transparente: “Faz-se necessário um novo índice de referência, acima do bem e do mal. Só assim será possível discutir reajustes sustentáveis e justos para todos”, afirma.

O fato é que os gastos com saúde mordem uma fatia cada vez maior do orçamento das famílias. Cerca de 40% das despesas totais dos brasileiros na área médica dizem respeito ao pagamento dos planos. Para quem trabalha em uma grande empresa, a conta é dividida com o patrão. São 38 milhões de pessoas nessa situação hoje privilegiada. Outros 9,1 milhões de brasileiros pagam integralmente o custo para utilizar um plano individual, e, nesse tipo de contrato, as mensalidades são bem mais caras. O preço médio para uma pessoa de 40 anos fica ao redor de 500 reais (para os idosos, a mensalidade é ao menos o dobro disso). Para que se tenha direito a usar os hospitais de primeira linha em São Paulo, como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês, por exemplo, a conta explode. É tão pesada que nem existem planos individuais com esse tipo de cobertura em comercialização. Essa modalidade só é disponibilizada para quem está ligado a uma empresa ou associação. As mensalidades para as pessoas de até 40 anos ficam em torno de 3.000 reais e, para os idosos, sobem para a casa dos 8.000 reais. Como o salário médio dos trabalhadores é de 2.100 reais, fica evidente que são poucas as famílias capazes de arcar com esses preços.

Dentro do possível, os brasileiros vêm procurando encontrar maneiras para driblar a pressão dos gastos. Uma das alternativas é trocar de operadora, buscando opções mais econômicas. Existem planos em que os exames e atendimentos médicos são feitos exclusivamente na rede hospitalar do próprio convênio. É mais barato, embora o cliente não possa escolher o hospital de sua preferência (os preços variam sempre de acordo com o perfil da pessoa e seu histórico médico). Outra saída é procurar os planos por adesão, ligados a associações ou sindicatos. Essa é uma situação comum entre executivos e profissionais de salários elevados que tenham perdido o emprego e deixaram de ter plano coletivo. Trabalhando como autônomos, engenheiros, médicos e advogados podem aderir aos planos conveniados de suas associações, com mensalidades inferiores às de plano individual. Para as operadoras, esse tipo de contrato dilui riscos e custos, da mesma maneira que ocorre nos contratos coletivos com as grandes empresas. Daí por que as mensalidades são mais baixas.

Um bom contingente de brasileiros da classe média, entretanto, vive atualmente à margem do cobertor do seguro médico. De acordo com uma pesquisa da consultoria SPC Brasil, quase metade das famílias das classes A e B não tem plano de saúde. “Quem contrata o plano, no entanto, considera o serviço como de primeira necessidade, tanto que a inadimplência é baixíssima”, diz a economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti. Entre as pessoas que já tiveram plano, mas não têm mais, a maior parte afirma que perdeu o emprego ou que não tem condições de pagar as mensalidades, enquanto um pequeno porcentual diz que o utilizava pouco e não via necessidade de contratar o serviço privado. Essas pessoas recorrem ao atendimento público ou pagam do próprio bolso as eventuais despesas com consultas particulares e exames.

A saúde virou um fardo.2

Outra opção, que começa a ganhar espaço, são os grupos privados que oferecem consultas a preços mais em conta. São companhias como Dr. Consulta, Global Med e Doutor Agora. Antes focados na classe C, esses serviços vêm conquistando público entre as classes B e até mesmo A. É a esse nicho mais abastado que pertence mais da metade da clientela do Dr. Consulta, afirma Renato Velloso, vice-presidente de desenvolvimento de mercado da companhia. “São pessoas atraídas pela facilidade para marcar o atendimento, tudo feito via aplicativo, e também pelo custo”, diz Venoso. Outra parte dos clientes são pessoas insatisfeitas com o serviço público. O valor das consultas dessas novas empresas varia de acordo com a especialidade, mas as mais caras não passam de 180 reais – e quem tem algum plano sempre poderá pedir o reembolso.

Os grupos de consultas a preços populares são um paliativo, mas não lidam com situações mais complexas. Por isso, segundo os especialistas, é necessário reavaliar os procedimentos – e, como consequência, os custos da saúde por aqui. Em termos de gasto em relação ao tamanho do PIB, o Brasil tem índices similares aos das nações europeias e fica atrás dos Estados Unidos, um país notório pelo excesso de despesas na área e onde existe um esforço para reformular o sistema de atendimento. Na comparação com os europeus, os americanos fazem mais consultas, mais exames, mais cirurgias – e nem por isso são mais saudáveis. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, o sistema regulatório incentiva o gasto excessivo. Os hospitais e laboratórios são remunerados pela quantidade de serviço prestado, e não pela qualidade. É um estímulo ao desperdício. Muitos países mudaram esse modelo e partiram para a adesão a padrões de atendimento de acordo com os sintomas do paciente. É necessário seguir protocolos predeterminados, o que impede abusos na requisição de exames, por exemplo. O médico e o hospital têm pouca liberdade para pedir análises adicionais. Países como Alemanha, França e África do Sul passaram a adotar esse modelo. No caso alemão, as despesas hospitalares caíram 25%, segundo o Instituto de Estudos em Saúde Suplementar (IESS).

As operadoras de saúde, tantas vezes criticadas por dificultar a realização de procedimentos requeridos pelos médicos, dizem que tentam coibir os abusos para evitar que as contas fujam do controle. “Existe um uso abusivo”, afirma Reinaldo de Camargo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). “Batemos no teto. Os consumidores precisam ser chamados para discutir a questão dos custos.” De fato, existem fatores inexoráveis de pressão sobre o preço, sobretudo o envelhecimento populacional e o aumento no custo dos tratamentos de alta complexidade. Mas, de acordo com os especialistas na área, a inflação médica seria bem menor caso o país seguisse o exemplo de nações que equilibraram as despesas sem perda na qualidade, em vez de seguir o modelo em crise dos americanos. Se houver desperdício – como no caso da realização de exames caros e desnecessários -, a conta fatalmente terá de ser rateada entre todos os segurados.

A saúde virou um fardo.4

Chama atenção o caso das ressonâncias magnéticas. Entre os brasileiros com plano privado, são feitos, a cada ano, 148 exames para cada grupo de 1.000 pessoas. É um número ligeiramente superior ao dos exagerados americanos – e vergonhoso quando comparado aos de outros países. Na Austrália, por exemplo, são feitos 42 exames para cada 1.000 habitantes. No Canadá, cerca de 56. Exames mais sofisticados são uma importante fonte de receita financeira tanto para médicos como para hospitais. Outro exemplo de disparidade nacional é o famoso excesso de cesarianas. Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa ideal de partos naturais deve ficar entre 90% e 85%. No Brasil, é de ridículos 16%. “As cesáreas são dominantes, seja pela opção da mãe, seja pela comodidade do médico – e, é claro, são procedimentos mais caros do que partos normais”, diz o consultor Luiz Edmundo Rosa, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos. “Precisamos corrigir esse escândalo nacional.” A inflação da medicina não pesa apenas no bolso das famílias. Para as empresas, essa já é uma de suas maiores despesas no orçamento, atrás apenas da folha de pagamento dos funcionários (e dos impostos). Mais uma vez, o Brasil copiou uma anomalia americana. Como os tributos não baixam e a prioridade é manter a mão de obra, as companhias estão se esforçando para controlar os gastos com a saúde dos funcionários. Isso significa que mesmo aqueles que estão empregados vêm paulatinamente pagando mais e tendo menos benefícios. De acordo com os especialistas em gestão de recursos humanos, as companhias devem avaliar melhor as despesas médicas dos trabalhadores e acompanhar a saúde dos funcionários. Os grupos que não tratam o assunto com o devido cuidado correm o risco de enfrentar no futuro uma bola de neve de gastos crescentes.

Nos Estados Unidos, uma experiência inédita com o intuito de controlar o aumento de gastos com saúde das empresas estará sob a atenção de todo o mundo: a Amazon, em associação com o banco JP Morgan e a empresa de investimentos Berkshire Hathaway, pretende investir em uma nova companhia, que vai explorar maneiras de reduzir as despesas com saúde. Os três grupos possuem ao todo mais de 1 milhão de funcionários nos Estados Unidos. A iniciativa será capitaneada pelo médico e consultor Atul Gawande, que escreveu alguns livros sobre o tema e colaborou também com reportagens para a revista The New Yorker. Em uma delas, publicada em 2009, ele tratou justamente dos gastos excessivos em alguns hospitais. No texto, comparava a prestação de serviços médicos à construção de uma casa. Imagine, dizia ele, se, em vez de pagar um empreiteiro pelo projeto como um todo, você pagasse o eletricista de acordo com o número de tomadas sugeridas por ele, o encanador pelo número de torneiras que ele julgasse necessárias, da qualidade e da marca que ele escolhesse, e assim por diante. A conclusão, óbvia, é que isso seria um incentivo para que os custos do projeto fugissem do controle. Escreveu Gawande: “Você se surpreenderia se tivesse no fim uma casa com milhares de tomadas e torneiras, construída pelo triplo do preço estimado, e ainda assim ela desabasse dois anos mais tarde?”. A analogia descreve, em grande medida, o que acontece atualmente no sistema privado brasileiro. Sem correções, feitas em acordo com médicos, hospitais e operadoras, o custo dos planos particulares ficará inviável para uma parcela cada vez maior da população, e eles serão, infelizmente, um privilégio para poucos. Bem poucos.

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GESTÃO E CARREIRA

AMBIENTE LEVE, FUNCIONÁRIO FELIZ

Sabe aquela dor de cabeça que não passa? Pode ser a iluminação errada do seu local de trabalho ou até a cor que escolheu para pintar as paredes. Saiba por que o seu escritório precisa estar em harmonia com o seu negócio.

Ambiente leve, funcionário feliz

Receber bem um cliente, motivar a equipe, criar condições para o desenvolvimento criativo. Tudo isso pode ser facilitado quando você leva em coma detalhes que vão da Inter pessoalidade à decoração da empresa.

O VP de Estratégia e Criatividade da Weber Shandwick, Everton Schultz, conta que gerencia cerca de 40 profissionais e se envolve na orientação de toda a agência, composta por 200 pessoas. Segundo ele, é importante garantir um ambiente que permita a todos se sentirem à vontade para colaborar, opinar e entende, que a evolução da empresa garante o sucesso deles também.

Mas existe um desafio no mundo corporativo para quebrar paradigmas culturais sobre a relação entre os profissionais. “Ainda estamos apegados a um modelo hierárquico vertical, que amarra a evolução para um modelo mais circular. É algo inerente à nossa cultura, mas que está mudando. Processos amarrados ou o controle da informação podem ser a ruína das empresas. Em agências de comunicação e engajamento como a nossa, é muito importante garantir um ambiente aberto à diversidade. Ideias e visões complementares que garantem projetos mais conectados com a realidade, argumenta Schultz.

Essa transição traz novas necessidades à tona e as ferramentas são variadas.

A tendência open space, por exemplo, forma espaços literalmente abertos, que permitem maior interação. Independentemente da sua escolha, leve em consideração que elementos básicos de arquitetura e organização afetam o andamento do trabalho. “Ter colaboradores tumultuados em um mesmo ambiente pode gerar desconforto e diminuição produtiva. Colocá-los em frente à parede e sem visão para a sala ou janela também não é recomendado. Ilhas de trabalho com núcleos distintos, espaço de circulação e conforto fazem toda a diferença ao funcionário”, explica o arquiteto e cenógrafo Eduardo Vieira, também vencedor do episódio 13 do programa “Missão Design, da GNT.

NA PRÀTICA

Em espaços como o open space, é importante comunicar o espírito de equipe e colaboração, mas deve-se ter cuidado com os excessos, que podem poluir visualmente os ambientes. As cores gerais devem ser mais neutras para não causar agitação ou perda de foco. Forros ou paredes muito coloridas em áreas de grande permanência (como estações de trabalho) podem prejudicar a concentração e o raciocínio”, conta a sócia do Studio BR Arquitetura, Bruna de Lucca.

Eduardo Vieira concorda! Ele completa explicando que cores quentes como vermelho, amarelo-gema ou laranja são estimulante, o que pode deixar a equipe inquieta. Por isso, são usadas em redes de fast-food, onde as pessoas precisam ter um ciclo rápido dentro do estabelecimento. Podem também ser aplicadas a espaços para reuniões curtas e dinâmicas. Já cores frias e pastéis com mesclas assimétricas em faixas e formas geométricas podem ser boas aliadas da sua empresa. Verde, azul e roxo, por exemplo, são calmantes e geram conforto, dependendo da maneira como compõem o escritório. “Quando um cliente chega, o espaço acaba tornando-se o cartão de visita. Caso esteja bagunçado ou desleixado, ele verá isso como padrão, para o método de trabalho. O mesmo vale para um escritório limpo e organizado, ressalta.

Em espaços que exigem maior criatividade e energia, Bruna indica também móveis confortáveis, porém que não sejam um convite a permanecer no local por mais tempo. Já onde é preciso estar focado, além de cores, é preciso móveis e formas que auxiliem o processo, a acústica precisa ser feita de maneira que o colaborador se sinta confortável e com sensação de privacidade respeitada.

A palavra de ordem é wellness, que significa bem-estar. Nesse contexto, ambientes com melhor iluminação natural, ventilação e interação com o exterior são boas escolhas. A saúde física deve ser levada em conta, principalmente se a atividade exigir muito tempo sentado ao computador. A máquina precisa manter uma distância contornável aos olhos e a empresa deve estimular pequenas paradas para exercícios laborais, essenciais na prevenção de tendinites, torcicolos e dores. Preste atenção também aos apoios reguláveis para os pés, que melhoram a circulação sanguínea.

Um escritório mal iluminado prejudica não apenas os colaboradores, que ficam facilmente com as vistas cansadas, como dá uma má primeira impressão a clientes que chegam ao local. Outro ponto importante são as baias. Elas podem representar um ambiente onde conversas não são toleradas e dão um caráter impessoal, com exceção daquelas horizontais que apenas dividem a mesa ao meio para melhor aproveitamento do espaço.  “Baias individuais acabam tornando o ambiente claustrofóbico. As mesas compartilhadas caem muito bem quando o método de trabalho é colaborativo. Já as individuais são importantes em trabalhos que necessitam de mais lógica e pensamento exato, completa Eduardo Vieira.

FORA DA CAIXINHA

Criar setores alternativos para movimentação do colaborador é essencial, uma vez que está comprovado que mudar de local ajuda na circulação sanguínea, na oxigenação do cérebro e consequentemente na produtividade.

Espaços criativos são aqueles que auxiliam na qualidade de vida de seus colaboradores. Eles podem ser físicos, como uma sala de jogos, e também subjetivos, como liberar cerveja durante o expediente às sextas. Isso demonstra um voto de confiança da empresa no profissionalismo da pessoa. É um sinal que a organização acredita no bom senso e na responsabilidade do indivíduo de utilizar com moderação e inteligência os incentivos”, conta o consultor de empresas e professor de pós-graduação Luciano Miguel Salamacha. Ele reforça que são ambientes bem-vindos, mas que não devem ter toda a responsabilidade na criação de um escritório agradável, uma vez que é a relação entre as pessoas que vai orquestrar a convivência de maneira positiva ou negativa. Hoje em dia, não é preciso estar no Google para idealizar escritórios dessa maneira. Alguns coworkings, como o We Work de São Paulo, por exemplo, já possuem salas específicas para interação, com diferentes    jogos, pufes e chopeiras. “A sala de descompressão tem sido multo utilizada nas modernas multinacionais e principais startups. Geralmente, elas contam com sofás confortáveis, videogames, mesas de sinuca etc. O principal objetivo é que o funcionário se sinta acolhido e, para isso, é preciso lidar com visual e sensorial. Mas indico para esses espaços cores agradáveis que possam relaxar e móveis confortáveis para um descanso rápido. Além disso, opções interativas que não ocupem muito tempo do funcionário, como uma mesa de pinball”, sugere o vencedor do programa da GNT.

ALÉM DAS PAREDES

Uma vez que o espaço está totalmente apto à criatividade e ao conforto, outras questões entram em pauta. “Profissionalismo nas relações interpessoais. Esse é o grande pilar que mantém uma equipe unida e com um bom clima. Não se pode confundir bons amigos na empresa com flexibilidade no profissionalismo. A alta gestão deve ter em mente que não adianta um bom clima em um ambiente em que as pessoas têm preocupação de debater um determinado problema ou de chamar a responsabilidade de alguém na discussão por receio”, acrescenta Vieira.

Eventualmente, momentos de tensão podem surgir e tentar esconder a realidade ou redimensionar a gravidade da situação não são as melhores atitudes a se tomar. O erro mais comum é buscar os culpados ao invés da resolução. Organizar prazos de maneira que haja tempo hábil para a realização de uma tarefa também é essencial. Salamacha lembra ainda que o foco nos resultados gera comprometimento, enquanto que o foco apenas nas tarefas leva ao isolamento e individualismo.

AO COLABORADOR, COM CARINHO

Para as cadeiras dos colaboradores, as ergométricas com encosto telado são as mais indicadas, como exp1ica o arquiteto Vieira. Elas ajudam na saúde da lombar e fazem fluir melhor a produção. “Além disso, todo colaborador deve se sentir ponto fundamental das reuniões e atividades em grupo. Mensagens motivacionais são importantes, mas devem ser embasadas pelos reais valores da empresa. Usar clichês apenas para decorar é ultrapassado. A motivação e o engajamento precisam ser fundamentados”, acrescenta Bruna.

Ambiente leve, funcionário feliz.2 

TIPOS DE AMBIENTE

SALAS DE REUNIÃOCOMUNS: salas fechadas com acústica e privacidade. Essencial serem dotadas de móveis ergonômicos para reuniões de média e longa duração, cores neutras, tecnologia de rápida comunicação e uso de equipamentos, iluminação acima de 4000k para conforto da visão.

 SALAS DE REUNIÃO FLEXÍVEIS: salas com divisórias que podem abrir e integrar-se com outras, aumentando tamanho e alternando função de trabalhos focados a trabalhos dinâmicos e de criação/inovação. Essencial ter elementos físicos e cores que promovam a criatividade e o engajamento e, se possível, itens naturais que promovam conforto (luz natural, paisagismo, ventilação natural).

 PRAÇA/RECEPÇÃO DE CLIENTES: a recepção dos clientes deixa de ser tradicional, e integra-se em um formato praça em que o cliente pode ter contato com a essência e equipes da empresa Diversidade de texturas, materiais e cores devem interagir com a diversidade de móveis e tecnologias do espaço.

 Ambiente leve, funcionário feliz.3

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 22-27

Alimento diário

O Discurso de Cristo à Multidão

 

Nestes versículos, temos:

I – A busca cuidadosa das pessoas para encontrar Cristo, vv. 23,24. Eles viram os discípulos saindo para o mar. Viram Cristo, retirando-se para o monte, provavelmente com uma indicação de que Ele desejava um pouco de privacidade por algum tempo. Mas, como seus corações estavam decididos a fazê-lo rei, eles ficaram espreitando seu retorno, e no dia seguinte, o ardoroso ataque de zelo ainda continuava.

1. Eles estavam muito confusos por causa dele. Cristo havia partido, e eles não sabiam o que teria acontecido com Ele. Eles viram que não havia barcos ali, exceto aquele no qual os discípulos haviam zarpado, pois a Pro­ vidência assim o ordenou, para a confirmação do milagre que contemplaram: Cristo andando sobre o mar. Não havia nenhum barco que Ele pudesse utilizar. Eles observaram, também, que Jesus não acompanhou seus discípulos, mas que eles saíram sozinhos, e o deixaram entre eles, neste lado da água. Note que aqueles que desejam encontrar Cristo devem observar diligentemente todos os seus movimentos, e aprender a compreender os sinais da sua presença e ausência, para que possam mover-se de maneira correspondente.

2. Eles foram muito empenhados ao procurá-lo. Eles procuraram nos lugares próximos, e quando viram que Jesus não estava ali, nem seus discípulos (nem Ele nem ninguém que pudesse dar notícias dele), decidiram procurá-lo em outros lugares. Observe que aqueles que desejam encontrar Cristo devem realizar uma busca diligente, devem procurar até encontrar devem ir de mar a mar, procurar a Palavra de Deus, ao invés de viver sem ela. E aqueles a quem Cristo alimentou com o pão da vida devem ter suas almas repletas de fervorosos desejos em relação a Ele. Muito mais terão, em comunhão com Cristo. Agora:

(1) Eles decidiram ir a Cafarnaum, à procura de Jesus. Ali era o quartel-general de Cristo, onde Ele normalmente residia. Para lá, seus discípulos tinham ido, e eles sabiam que Ele não ficaria muito tempo separado deles. Aqueles que desejam encontrar a Cristo devem seguir os passos do rebanho.

(2) A Providência lhes concedeu uma oportunidade de ir para lá por mar, que era o modo mais rápido, pois outros barquinhos tinham chegado de Tiberíades (que ficava um pouco afastada, na mesma costa, perto, embora não muito, do lugar onde comeram o pão), nos quais eles poderiam logo fazer uma viagem a Cafarnaum, e provavelmente os barcos rumariam àquele porto. Observe que aqueles que procuram sinceramente Cristo, e procuram oportunidade para estar com Ele, normalmente são reconhecidos e auxiliados pela Providência, nas suas buscas. O evangelista, tendo oportunidade de mencionar que eles comeram do pão multiplicado, acrescenta: “havendo o Senhor dado graças”, v. 11. Os discípulos ficaram tão influenciados pelo fato de seu Mestre dar graças, que nunca poderiam esquecer a impressão que isto lhes causou, tendo um prazer em lembrar das graciosas palavras que então saíram da sua boca. Est a tinha sido a graça e a beleza daquela refeição, e que a tornaram notável. Seus corações ardiam dentro deles.

3. Eles aproveitaram a oportunidade que se oferecia, e “entraram… também nos barcos e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus”. Eles não tardaram, esperando vê-lo outra vez neste lado da água, mas, como suas convicções eram fortes, e seus desejos, fervorosos, eles o seguiram imediatamente. Os bons impulsos são frequentemente esmagados, e reduzidos a nada, por não serem obedecidos a tempo. Eles foram a Cafarnaum, e, pelo que parece, estes seguidores hipócritas e imperfeitos de Cristo tiveram uma travessia calma e agradável, ao passo que seus discípulos sinceros tiveram uma travessia difícil e tempestuosa. Não é estranho que neste mundo aconteça o pior com os melhores homens. Eles vieram, procurando a Jesus. Observe que aqueles que desejam encontrar Cristo, e encontrar consolo nele, devem estar dispostos a se esforçar, e, como aqui, a percorrer terra e mar para procurar e servir àquele que veio do céu à terra para nos procurar e servir.

II – O sucesso desta busca: eles o acharam “no outro lado do mar”, v. 25. Observe que Cristo será encontrado por aqueles que o procuram, quer sejam os primeiros ou os últimos. E vale a pena cruzar um mar ou melhor, ir ” de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra”, para procurar a Cristo, se pudermos encontrá-lo, por fim. Estas pessoas pareceram, posteriormente, imperfeitas e não motivadas por nenhum bom princípio, e ainda assim foram tão zelosas. Observe que até os hipócritas podem se mostrar muito motivados a atender as ordenanças de Deus. Se os homens não tiverem mais nada a apresentar pelo seu amor por Cristo do que sua procura por sermões e orações, e sua angústia em reação à boa pregação, eles têm motivos para suspeitar de que não são melhores do que esta ansiosa multidão. Mas, embora estas pessoas não tivessem melhores princípios, e Cristo soubesse disto, ainda assim Ele estava disposto a ser encontrado por eles, e os aceitou na comunhão consigo. Mesmo que pudéssemos conhecer os corações dos hipócritas, que procuram apresentar uma profissão de fé plausível, não poderíamos excluí-los da nossa comunhão. Quanto menos poderíamos fazê-lo sem conhecer seus corações.

III – A pergunta que eles fizeram a Jesus quando o encontraram: “Rabi, quando chegaste aqui?”

Parece, pelo texto do versículo 59, que o encontraram na sinagoga. Eles sabiam que este era o lugar mais provável onde procurar Cristo, pois era seu costume comparecer às assembleias públicas para a adoração religiosa, Lucas 4.16. Observe que Cristo deve ser procurado, e será encontrado, nas congregações do seu povo, e na administração das suas ordenanças. Cristo se compraz em reconhecer e agraciar a adoração pública com sua presença e com suas manifestações. Eles o encontraram ali, e tudo o que tiveram para dizer a Ele foi: “Rabi, quando chegaste aqui?” Eles viram que Ele não desejava ser feito rei, e, portanto, não mais falaram sobre isto, mas o chamaram de Rabi, seu mestre. Sua pergunta se refere não somente à hora, mas à maneira como Ele foi para lá; não somente: “Quando”, mas: “Como vieste até aqui?” Pois não havia barco onde Ele pudesse entrar. Eles eram curiosos para perguntar a respeito dos movimentos de Cristo, mas não solícitos para observar os seus próprios.

IV – A resposta que Cristo lhes deu, não direta à sua pergunta (Quando e como Ele tinha ido para lá?), mas uma resposta conforme exigia sua situação.

1. Ele revela o princípio corrupto que os havia levado a procurá-lo (v.26): “Na verdade, na verdade vos digo”, Eu, que sondo o coração, e que sei o que há no homem, Eu, o Amém, a Testemunha Fiel, Apocalipse 3.14,15. Vós ‘me buscais’, o que é bom, mas isto não é proveniente de um bom princípio”. Cristo sabe não somente o que nós fazemos, mas por que o fazemos. Estes seguiam a Cristo:

(1) Não por causa da sua doutrina: “Não pelos sinais que vistes”. Os milagres eram a grande confirmação da sua doutrina. Nicodemos o procurou por causa dos milagres (cap. 3.2), e investigou desde o poder das suas obras até a veracidade da sua palavra. Mas estes eram tão tolos e descuidados, que jamais consideraram os fatos como deveriam ser considerados.

(2) Por causa dos seus estômagos: “Porque comestes do pão e vos saciastes”. Eles não o seguiram porque Ele os ensinou, mas porque Ele os alimentou. Ele lhes tinha dado:

[1] Uma refeição completa: eles comeram, e ficaram saciados. E alguns deles talvez fossem tão pobres, que não soubessem, há muito tempo, o que significava ter o suficiente, comer o quanto quiser e ainda sobrar.

[2] Uma refeição extremamente saborosa. É provável que, da mesma maneira como o vinho produzido pelo milagre foi o melhor vinho, também o alimento produzido pelo milagre tenha sido mais agradável do que seria usualmente.

[3] Uma refeição gratuita, que não lhes custou nada. Nenhuma conta foi apresentada. Observe que muitos seguem a Cristo por causa de pão, e não por amor. Assim agem aqueles que visam um benefício secular através da sua profissão de religiosidade, e o seguem porque, com este artifício, conseguem o que desejam. Estas pessoas chamaram Cristo de Rabi, e lhe demonstraram grande respeito, mas Ele lhes falou fielmente da hipocrisia que estavam demonstrando. Seus ministros devem, então, aprender a não adular aqueles que os adulam, nem ser comprados por palavras bonitas, de forma que declarem a paz a todos aqueles que lhes chamem de Rabi. Os ministros fiéis devem repreender aqueles que precisarem ser repreendidos, no momento certo, e com as palavras certas.

2. Ele os orienta a melhores princípios (v. 27): “Trabalhai… pela comida que permanece para a vida eterna”. Com a mulher de Samaria, Ele tinha falado de coisas espirituais, fazendo comparação com a água. Aqui, Ele lhes fala fazendo comparação com a comida, aproveitando a oportunidade dos pães que eles tinham comido. Seu objetivo era:

(1)  Moderar todas as nossas buscas terrenas: “Trabalhai não pela comida que perece”. Isto não proíbe o trabalho honesto pelo alimento conveniente, 2 Tessalonicenses 3.12. Mas não devemos fazer das coisas deste mundo nosso principal interesse. Observe:

[1] As coisas do mundo aqui consistem na comida que perece. A riqueza, a honra e o prazer mundanos são comida. Eles alimentam a imaginação (e muitas vezes, isto é tudo) e enchem o estômago. Estas são coisas de que as pessoas sentem fome como de comida, e se empanturram com elas. E, com um coração carnal, desejam viver para as coisas do mundo enquanto estas durarem. Mas elas perecem, elas têm uma natureza perecível, esgotam se, e estão expostas a milhares de acidentes. Aqueles que têm grandes porções delas não têm a certeza de que as terão enquanto viverem, mas podem ter a certeza de que um dia as deixarão. Eles as perderão quando morrerem.

[2] Portanto, é tolice trabalharmos desordenadamente por tais coisas. Em primeiro lugar, não devemos trabalhar na seara de Deus, nem realizar sua obra, pela comida que perece, tendo-a como propósito. Não devemos tornar nossa religião subserviente a um interesse mundano, nem desejar obter benefícios seculares através dos nossos procedimentos sagrados. Em segundo lugar, não devemos, de maneira nenhuma, trabalhar por esta comida, isto é, não devemos fazer destas coisas que perecem nosso bem principal, nem fazer da nossa preocupação e dos nossos esforços por elas nossa ocupação principal. Não procure estas coisas acima de todas as demais, Provérbios 23.4,5.

(2)  Despertar e incentivar nossas buscas pela graça: “Esforcem-se para alcançar objetivos melhores, e trabalhem por aquela comida que pertence à alma”. Com referência a esta, o Senhor mostra:

[1] Que ela é indescritivelmente desejável. É uma “comida que permanece para a vida eterna”. É uma felicidade que irá durar tanto tempo quanto nós, que não somente dura eternamente por si só, mas que nos irá nutrir até a vida eterna. As bênçãos do novo concerto são nossos preparativos para a vida eterna, nosso conservante para ela, e a garantia e o depósito dela.

[2] Que é indubitavelmente alcançável. Deverão todos os tesouros do mundo ser saqueados, e todos os frutos da terra reunidos, para nos proporcionar provisões que irão durar por toda a eternidade? Não, diz o mar, não está em mim, nem mesmo entre todos os tesouros escondidos na areia. “Não se dará por ela ouro fino”. Mas ela é aquilo que “o Filho do Homem vos dará”, qualquer que seja a comida, ou a vida, o Filho do Homem vos dará. Observe aqui, em primeiro lugar; quem dá esta comida: o “Filho do homem”, o grande chefe de família e administrador dos celeiros, a quem é confiada a administração do reino de Deus entre os homens, e a dispensação dos dons, graças e consolos de tal reino, e que tem o poder de dar a vida eterna, bem como todos os seus meios e preparativos para ela. Nós lemos que devemos trabalhar por ela, como se ela devesse ser obtida pelo nosso próprio esforço, e vendida com valiosa consideração, como diziam os pagãos: Os deuses vendem todos os benefícios aos que se esforçam. Mas mesmo que trabalhemos muito por ela, nós não a merecemos como nosso salário, mas o Filho do homem a dá. E o que pode ser mais gratuito do que um presente? O fato de que aquele que a dá é o Filho do homem é um incentivo para nós, pois assim podemos esperar que os filhos dos homens que a procuram, e se esforçam para obtê-la, não deixarão de obtê-la. Em segundo lugar; que autoridade Ele tem para dá-la: “Porque a este o Pai, Deus, o selou”, por Ele, o Pai selou (provou e evidenciou) que é Deus, alguns assim interpretam. Ele declarou que era o Filho de Deus com poder. O Pai o selou, isto é, deu-lhe plena autoridade para lidar entre Deus e o homem, como embaixador de Deus junto ao homem e intercessor do homem junto a Deus, e provou sua comissão por meio de milagres. Ao dar-lhe autoridade, Ele nos deu a certeza disto. Tendo-lhe concedido poderes ilimitados, Ele nos satisfez com indubitáveis provas de tais poderes. De modo que o Senhor pôde prosseguir com confiança na sua missão por nós, e também nós, em nossa resignação a Ele. Deus, o Pai, o selou com o Espírito que havia nele, por meio da voz do céu, pelo testemunho que Ele lhe deu através de sinais e prodígios. A revelação divina é aperfeiçoada nele. Nele, a visão e a profecia estão seladas (Daniel 9.24), todos os crentes confirmam que Ele é verdadeiro (cap. 3.33), e nele todos são selados, 2 Coríntios 1.22.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

CHÁ CONTRA A DEPRESSÃO

Pesquisa conduzida no Brasil mostra que a ayahuasca, chá alucinógeno usado em rituais religiosos, tem efeito benéfico sobre o tipo mais grave da doença.

Chá contra a depressão

O chá ayahuasca, utilizado em rituais religiosos como os do santo-daime, mostrou-se eficaz no combate ao tipo de depressão mais severa, aquela que responde mal aos medicamentos disponíveis e acomete 100 milhões de pessoas no mundo, 4 milhões delas no Brasil. Conduzido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e recém- publicado no periódico britânico Psychological Medicine, o trabalho é o primeiro a avaliar deforma controlada os benefícios de uma substância psicodélica (ou seja, que provoca alterações na percepção e consciência) no tratamento da doença. O estudo envolveu 29 pacientes, com idade entre 21 e 59 anos, que conviviam com a doença havia onze anos, em média. Parte deles ingeriu uma bebida inócua e a outra parte recebeu uma única dose do chá, em quantidades que variaram de um quarto a meia xícara, dependendo do peso corporal de cada um deles.

A administração da ayahuasca exigiu cuidados especiais. Para que seus efeitos colaterais agudos fossem minimizados – além das alucinações, ela pode provocar tonturas e enjoos -, os pacientes receberam a bebida no hospital.

Os quartos foram preparados para proporcionar-lhes um ambiente de tranquilidade – decorados com plantas e iluminados por luz natural. Depois de ingerirem o chá, os participantes, sempre acompanhados de dois pesquisadores do estudo, foram orientados a permanecer em silêncio, pensando no próprio corpo e com os olhos fechados. A maioria recebeu alta no fim do dia. O efeito foi gradual. Todos os pacientes se submeteram a um questionário sobre a depressão, além de exames de sangue e de imagem, antes e depois do experimento. Um dia depois, aqueles que haviam ingerido o chá tiveram redução de 50% na intensidade dos sintomas da depressão. Uma semana depois, essa diminuição foi ainda mais pronunciada – de 64%, o dobro do verificado entre os participantes que tomaram o placebo.

O resultado significa que, de portadores de depressão grave, os pacientes passaram a ser portadores do tipo leve da doença. Os achados ainda não permitem dizer se os efeitos notados –   redução de pensamentos suicidas, melhora na qualidade do sono e diminuição do sentimento de tristeza – são permanentes. Para averiguar esse aspecto decisivo, novos estudos serão necessários. As primeiras suspeitas de que a ayahuasca teria alguma ação contra a doença mental surgiram nas últimas duas décadas, quando avaliações psiquiátricas observaram que os consumidores da bebida em rituais apresentavam índices baixos de desânimo crônico.

As origens do uso da ayahuasca remontam à pré-história. Há evidências arqueológicas pictóricas que indicam a utilização da planta alucinógena desde 2000 a.C. No século XVI, padres colonizadores já descreviam o emprego da bebida entre indígenas. O chá popularizou-se por meio do movimento religioso santo-daime, na década de 20. O Brasil é um dos poucos países que liberam a ayahuasca, mas com restrições – apenas para rituais de doutrinas específicas. Tal uso, porém, só foi autorizado por lei em 1987.

Amargo e de coloração marrom-escura, o chá é feito da mistura de compostos de duas plantas encontradas apenas na Floresta Amazônica: as folhas do arbusto Psychotria viridis e do cipó Banisteriopsis caapi. A primeira contém uma substância que causa alucinações cujo nome é difícil

pronunciar: dimeititriptamina, conhecida pela sigla DMT. Ela age contra a depressão ao se ligar aos neurônios, aumentando a disponibilidade de serotonina, hormônio deficitário na maioria dos portadores da doença. Já o cipó contém substâncias que facilitam a ação da primeira, mantendo a serotonina por mais tempo em circulação no organismo. “Além disso, a ayahuasca estimula a irrigação de sangue em áreas do cérebro envolvidas no processamento das emoções e modulação dos estados de humor”, explica o neurocientista Dráulio Araújo, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A pesquisa brasileira com a ayahuasca marca uma volta aos estudos dos efeitos das drogas psicodélicas nas doenças mentais, populares nos anos 60. Um dos mais conhecidos foi o de autoria do psicólogo Timothy Leary, da Universidade Harvard. Leary, que analisou os efeitos terapêuticos do LSD, foi acusado de falta de rigor científico e acabou demitido da universidade – terminou a vida como guru.

Nos últimos anos, porém, os conhecimentos aprofundados sobre o funcionamento do cérebro mostraram que é possível conduzir esse tipo de trabalho com maior rigor e segurança. Levantamentos com a psilocibina, por exemplo, um alucinógeno encontrado nos cogumelos, têm se mostrado efetivos no alívio da ansiedade em pacientes com câncer terminal.

O estudo mais avançado, no entanto, é com o MDMA, o princípio do ecstasy, no tratamento do transtorno pós-traumático. Prestes a passar para a fase 3, ou seja, a última etapa, uma pesquisa publicada neste ano na revista britânica The Lancet Psychiatry revelou que a droga reduziu os sintomas da doença em 68% dos 26 participantes (socorristas e veteranos de combate). O MDMA aumenta no cérebro a disponibilidade de hormônios associados a sentimentos de confiança e bem-estar – além da serotonina, também o cortisol. No tratamento do transtorno pós-traumático, esses hormônios permitem que os pacientes passem a lidar melhor com as lembranças ruins. Se os testes em larga escala conseguirem repetir os resultados obtidos até agora, o medicamento poderá ser aprovado para uso legal até 2022.

 Chá contra a depressão.2

 

OUTROS OLHARES

GOTAS DE MAROMBA

Um novo e perigoso anabolizante bomba em sites e academias.

Gotas de maromba

O frasquinho chegara pelo correio, embrulhado em uma caixa de papelão. Tinha um rótulo pouco convidativo: “Impróprio para consumo humano”, dizia em inglês. Lucas Cabral, de 30 anos, 1,74 metro e bíceps de 44 centímetros, contou que não se importou com a advertência. Passava pouco das 7 da manhã quando pressionou o conta ­ gotas e sugou 10 milímetros do líquido transparente. Aquela era a medida ideal, segundo lera em um fórum na internet, para obter os melhores efeitos do LGD-4033- ou Ligandrol -, um tipo novo de anabolizante que Cabral descobrira. As gotas foram despejadas sobre a língua. Não tinham gosto. Cabral tomou o café da manhã e foi trabalhar.

Cabelo cortado rente, ombros largos e uma tatuagem tribal que lhe desce pelo lado direito do dorso, Lucas Cabral exibe, com orgulho, o corpo esperado de um rato de academia, como se define. Treina, religiosamente, de segunda a sábado, sempre no mesmo horário. O desejo de ter o corpo trincado surgiu há cerca de três anos, quando Cabral decidiu que devia parar de fumar e eliminar a barriga de chope. “Vi meu corpo secar”, disse, animado. “Minha saúde melhorou, e minha autoestima também.”

Mas, no final de 2017, a transformação obtida na academia pareceu estagnar. Cabral já não emagrecia com a mesma facilidade, nem seus músculos cresciam no mesmo ritmo. Foi quando descobriu o Ligandrol num fórum de discussão. O composto prometia ganho muscular sem efeitos colaterais e – dado importante – dispensava o uso de agulhas. Bastavam algumas gotinhas insípidas tomadas antes do treino.

Cabral usou o Ligandrol por 49 dias, duas vezes ao dia: de manhã, pouco antes do café, e à noite, antes do treino. Os resultados vieram aos poucos: o volume muscular cresceu, a gordura corporal diminuiu. Mais importante que isso, a estética melhorou. “Deu para notar as pessoas na academia me olhando de um jeito diferente”, disse, satisfeito. “Eu não queria usar um anabolizante tradicional. E o Ligandrol me pareceu um bom ponto de partida.”

O LGD-4033 é mais uma “bomba”, como outras usadas por frequentadores de academias. Desenvolvidas a partir de meados da década de 1990, receberam o complicado título de “moduladores seletivos do receptor de androgênio”. Ou, para facilitar, ARMs, da sigla em inglês. O Ligandrol é um entre mais de uma dezena de SARMs, uma resposta da indústria farmacêutica aos dissabores causados pelos esteroides anabolizantes tradicionais. A maioria dos anabolizantes tenta imitar o funcionamento da testosterona, o hormônio sexual masculino. Uma vez injetados nos músculos, conectam-se a estruturas no interior das células e dão a partida numa sequência de reações que culminam na produção de proteína.

São usados para tratar pacientes que perdem massa óssea e muscular.

Mas o uso prolongado de anabolizantes – mesmo com acompanhamento médico – pode provocar câncer de próstata ou problemas de fígado. Nas mulheres, provoca o surgimento de características masculinas, como pelos na face ou engrossamento da voz. Os ARMs têm a vantagem de se conectarem somente aos receptores dos músculos esqueléticos. “Em teoria, isso deveria permitir que eles estimulassem a síntese de proteína sem provocar os mesmos efeitos colaterais”, disse o professor Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. O primeiro membro desse novo grupo foi descoberto quase por acidente, por uma equipe de cientistas da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos. Na época, o professor James Dalton estudava uma substância que promovia o aumento dos músculos em ratinhos: “Foi quando percebemos que nosso composto não vinha acompanhado por efeitos androgênicos”, disse Dalton. “Para nós, foi uma grata surpresa.”

A novidade deu a largada numa corrida pelo desenvolvimento de novas substâncias com características similares. Gigantes do setor farmacêutico, como Johnson & Johnson e Merck, criaram seus próprios SARMs.  As pesquisas pareciam muito promissoras: ‘Mas a primeira geração desses compostos desapontou”, disse Hohl. No ano passado, a Food and Drug Administration (FDA) – a agência americana que se encarrega de avaliar a segurança e eficiência de novas drogas – publicou um relatório atestando que os ARMs estudados até ali podiam provocar problemas hepáticos e cardiovasculares, aumentando o risco de ataques cardíacos. “Era um sinal de que precisavam de mais anos de desenvolvimento”, disse Hohl.

Entretanto, como sempre, algo saiu do controle. Atletas profissionais começaram a usar os SARMs, tanto que em 2008 a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) os colocou entre as substâncias proscritas. Mas uma droga que aumenta músculos só podia cair nas graças daqueles que são ávidos por isso e topam experimentalismos: os fisiculturistas.

Num vídeo postado em março deste ano, o fisiculturista Fernando Maradona fez o anúncio entusiasmado. “Hoje, estamos aqui para falar sobre um suplemento que está invadindo o meio do bodybuilding”, disse, encarando a câmera com o dedo em riste. “Isso aí: SARMs.” Nas redes sociais, os fãs chamavam Maradona pelo manjado apelido de “Hulk brasileiro”: os músculos retesados já lhe renderam títulos importantes em competições no Brasil e no exterior e boas colocações no Mr. Olympia – uma das principais competições do meio. “O bodybuilder é como um ratinho de laboratório”, disse Maradona. “Ele testa toda substância nova que promete melhorar seu desempenho.” Fisiculturista há 20 anos, há três Maradona virou também youtuber. Seus vídeos documentam, é claro, sua rotina de treino, dão dicas de dieta e exercícios e fazem a crônica do que há de novo no “meio bodybuilding”.

Em 2010, Maradona participava de uma competição nos EUA quando ouviu falar nos SARMs pela primeira vez. Um amigo, dono de uma loja de suplementos, decidiu presenteá-lo com o composto novo: “Mas, na época, não levei a sério. Achei que fosse papo de vendedor”. A droga ficou esquecida em alguma prateleira. Cerca de três anos depois, durante uma viagem a Las Vegas, o amigo refez a oferta. Dessa vez, Maradona deu uma chance à substância. “Eu me surpreendi”, disse. “Melhorou minha performance, resistência e capacidade de recuperação.”

Cinco anos depois, Maradona viu o interesse pelos SARMs explodir para além do meio competitivo. Foi quando decidiu gravar vídeos sobre o assunto. Afirmou que sua intenção não era estimular a procura pelos compostos, apenas tirar dúvidas sobre um tema que seus fãs já discutiam. “O que acontece é que todo mundo quer ter os mesmos resultados que um fisiculturista”, teorizou. Para ele, o interesse por anabolizantes varia como a moda. “Toda vez que a ciência aparece com algo novo, há um boom. Hoje, o boom é dos SARMs.”

O personal trainer Maurício Medeiros tem 36 anos, cabelos curtos e pele levemente bronzeada. Na internet, ganhou notoriedade ao integrar o elenco do Fábrica de Monstros – um canal no YouTube (bastante) satírico, por vezes sério, criado pelo marombeiro profissional Leo Stronda. A atração tem mais de 2 milhões de inscritos. Medeiros terminara de dar uma aula quando recebeu uma mensagem pelo WhatsApp: “Olha só. Esse é o SARM da moda”, disse, entregando o celular à reportagem. Troncudo, sério, sentava-se empertigado na poltrona. Na foto, havia um frasco com um rótulo azul, no qual fora impressa uma cadeia de carbonos. “A promessa é que a pessoa perca 30 quilos ao mês. Imagine o risco.”

Imerso nesse universo de anilhas, halteres, barras e suplementos alimentares, Medeiros vive atento ao inevitável burburinho que acompanha o surgimento de um novo anabolizante. “Há sempre alguém que conhece alguém que usa”, disse. Por seus cálculos, o bochicho sobre os SARMs chegou às academias – já além do meio dos fisiculturistas – há cerca de três anos e ganhou vigor nos últimos 12 meses. A percepção é confirmada por estatísticas do Google. A procura pelo termo “melhor SARM” cresceu cerca de 5.000% no último ano no Brasil.

O frequentador de academia que procura SARMs, mesmo sem intenção de competir, o faz por vaidade. “Aquele menino magro, que as garotas nunca notaram, começa a ganhar corpo”, disse Medeiros. “E isso vicia. Resultado vicia.” A propagação do assunto é explosiva. Essa nova vaga de anabolizantes tem um instrumento que faltava às anteriores: as redes sociais. “Costumo dizer que a internet foi como uma bomba de Hiroshima para os anabolizantes”, disse Medeiros. “Hoje, se quiser comprar isso aqui” – disse, apontando para o frasco na foto do celular -, “basta passar meia hora no Google.”

No YouTube há canais especializados nos SARMs. Alguns usuários narram suas experiências com os anabolizantes por semanas a fio – sob o olhar atento de uma audiência que comenta e pede dicas. Quem os vê quer saber qual SARM usar para conquistar o corpo ideal, qual a dosagem mais adequada e qual a duração do ciclo – no jargão do setor, o tempo de uso da droga. São todas questões para as quais a ciência ainda não tem resposta. Mas para as quais os internautas juram ter uma saída. “Meu cabelo começou a cair demais, toda vez que passava os dedos por ele”, disse um rapaz, antes de apontar a solução. “Acho que a questão era a dosagem. Diminuí.”

A empreitada do gaúcho Renan Duarte com os SARMs começou no final de janeiro deste ano. “Oi, galera do YouTube. Hoje, inicio meu ciclo”, anunciou num vídeo do dia 27 daquele mês – óculos escuros no rosto, franja jogada de lado. Seu “Projeto SARMs” durou 90 dias e 120 cápsulas de uma substância chamada S23. Os vídeos foram gravados no quarto, com a câmera parada e com Duarte devidamente descamisado. “Eu quis fazer os vídeos para auxiliar quem pretendia comprar. Para essas pessoas terem algo verdadeiro em que acreditar”, disse. Foram 11 vídeos, um por semana. O último guardava um desapontamento. “A promessa dos laboratórios era puro marketing”, contou Duarte. “O produto que usei não cumpriu nada do que prometeu.”

A procedência duvidosa dos SARMs representa um risco adicional. Como não há controle por qualquer agência governamental, é impossível garantir o conteúdo do frasco – e quais seus efeitos sobre o corpo. Um estudo publicado em novembro do ano passado, conduzido por uma equipe da Universidade Harvard, pôs à prova 44 produtos vendidos on-line como SARMs. A maioria falhou: somente 23 tinham, de fato, um SARM em sua composição. Outros 17 continham substâncias ilegais na mistura – incluindo aí um composto tóxico, cujo desenvolvimento foi abandonado pela indústria farmacêutica há mais de dez anos, por provocar câncer em animais. Os outros quatro não apresentavam qualquer ingrediente ativo – não eram melhores que farinha. “Estamos falando de remédios. É como se eu vendesse uma droga controlada, como o Diazepam, livremente pela internet e ninguém fizesse nada”, disse Hohl, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Enquanto isso, milhares se arriscam por um corpo trincado, ao alcance de alguns cliques. “Ainda não sabemos se essas substâncias são seguras”, disse James Dalton. “A verdade é que quem as usa se expõe a riscos muito grandes.”

GESTÃO E CARREIRA

AS OITO HORAS QUE FAZEM A DIFERENÇA

As 8 goras que fazem a diferença

O dia tem 24 horas para todas as pessoas. Não tem ninguém que tenha um minuto a mais. E essas 24 horas, teoricamente, estão divididas em três blocos de 8 horas. No primeiro bloco de oito horas, descansamos, dormimos. No segundo bloco, trabalhamos. E no terceiro bloco de oito horas? O que fazemos?

Aí está a chave do sucesso. É justamente o que fizermos dessas oito horas restantes que determinará o nosso sucesso ou fracasso. É nesse período que percorreremos o “quilômetro extra”. É nesse período que faremos a diferença.

Ser o melhor, o mais dedicado, o mais competente durante as oito horas de trabalho, não é mais do que nossa obrigação. Se não formos os melhores nas oito horas de trabalho, o fracasso é certo, as promoções não virão e poderá até vir o desemprego. A verdade é que para se obter sucesso total na vida e mesmo no trabalho, não basta ser excelente nas oito horas de trabalho.

O que fizermos das oito horas restantes do sono e do trabalho que fará a grande diferença. E, geralmente, utilizamos mal essas valiosas oito horas. Não planejamos o que fazer com elas. Simplesmente “as perdemos” – perdemos tempo – como se diz. E esse tempo jamais voltará. Um minuto mal gasto é um minuto que jamais será recuperado. Vencerá quem utilizar mais sabiamente essas oito horas restantes. Seja em atividades desportivas, de lazer ou utilizando-as para o aperfeiçoamento intelectual, fazendo cursos, participando de concertos, indo ao cinema, ao teatro, assistindo a programas educativos e culturais na televisão, essas oito horas devem ser motivo de análise e planejamento para todos nós. Elas farão a diferença, acredite!

É preciso que cada um de nós entenda, sem ilusão, que hoje, o mercado só terá lugar para os realmente competentes, diferenciados; somente para os melhores. E para que sejamos melhores é preciso que façamos mais do que simplesmente dormir bem oito horas e trabalhar bem oito horas por dia. É preciso que façamos a diferença exatamente utilizando melhor as terceiras oito horas além do sono e do trabalho.

E o que fazemos com as nossas 8 horas além do sono e do trabalho? No que estamos empregando esse valioso tempo? Estamos criando em nós a diferença necessária para vencermos neste mundo competitivo onde só os melhores sobreviverão com dignidade? Fazemos algum planejamento para a ocupação inteligente desse tempo livre não comprometido? Investimos nessas oito horas para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional?

Pense nisso…

Luís Almeida Marins Filho.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O DESAFIO DE ENCONTRAR A UNIDADE PERDIDA

As mudanças nos relacionamentos interpessoais provocadas pela internet geram solidão real na era virtual; por isso, cada vez mais, é importante tentar compreender esse fenômeno.

O DESAFIO DE ENCONTRAR A UNIDADE PERDIDA

Aristófanes foi um dos mais antigos dramaturgos da Grécia Antiga. Numa celebração de louvor a Eros conferida a ele, no livro O Banquete de Platão, encontraremos o mito do andrógino. No diálogo com Erixímaco, ele outorga grande poder à força do amor. Para ele, o amor seria um íntimo desejo de restituição de um reencontro com a totalidade, isto é, a plenitude outrora perdida.

Para ele, a humanidade originalmente compunha-se de seres completos e esféricos. Eram dotados de quatro pernas, quatro braços, um rosto de cada lado da cabeça e um genital de cada lado do corpo. Eram ainda filhos do sol, da terra e da lua, o que explicava sua forma esférica. Os filhos do sol possuíam dois genitais masculinos, os da lua, dois genitais femininos e os da terra, que possui a luz de um astro e a sombra de outro, um genital de cada sexo. A esses últimos, um tipo de terceiro sexo, era dado o nome de andrógino. Tais criaturas não andavam de pé, mas rolando, girando sobre seus muitos membros. Eram tão completas em sua redondice que resolveram escalar até o céu e desafiar os deuses. O que deixou Zeus furioso. Mas eliminá-las deixaria os deuses sem adoradores. Admirando­se pela praticidade de sua solução, que dobraria o número de seus adoradores, Zeus, como punição, parte ao meio todos seres esféricos. Após o corte, Zeus envia Apolo, para que curasse as feridas e que virasse o rosto dos cortados e o pescoço para o lado em que a separação havia sido feita a fim de que o homem, pela contemplação do corte, se tornasse mais humilde e que se curasse de seu orgulho. Apolo alisou a maior parte das rugas criadas pelas cicatrizes. Como arremate final da costura, Apolo deixou o umbigo, para o qual as infelizes criaturas passaram o resto de sua vida tendo de olhar.

Desesperadas, as criaturas partidas passaram a buscar sua metade perdida. Quando ambas ex-metades se encontravam, se abraçavam até morrer. Num ato de piedade, Zeus novamente enviou Apolo à Terra para que virasse o genital dessas criaturas para o outro lado, assim, quando se encontrassem, as ex-metades poderiam fazer algo que por breve momento as restaurasse em uma só.

A partir do mito, o que se pode suscitar é que há um desejo humano de se unir com o ser amado e de dois formarem um só. E assim, desse modo, a espécie humana só poderia alcançar a felicidade no momento em que a metade da humanidade se encontrasse com sua outra metade.

Todavia, desde os primórdios da vida humana sabemos que há um papel considerado fundamental nas relações e que se dá início no período em que a mãe carrega seu bebê dentro de seu ventre e, posteriormente, a isso viriam os primeiros anos de desenvolvimento emocional e do sentimento de cumplicidade dessa relação inicial, que formariam todo pano de fundo para relações posteriores. Freud (1915) nos disse que o caráter essencial de todo estado amoroso é justamente que o amor consiste em novas edições de antigas características e que repete ações infantis. Para ele, não existe estado desse tipo que não reproduza protótipos da velha infância. A questão é como fica essa organização interna na vida adulta.

A sensação de plenitude advinda do amor sexual é, sem dúvida, uma das principais coisas da vida, e a união entre o físico e o mental na satisfação constitui um de seus pontos mais altos. Freud (1915) vai nos dizer que a intimidade e plenitude obtidas através desse encontro reconstituem a unidade perdida, que reproduz a primitiva relação um dia experimentada no útero de nossa mãe. E menciona que não é por acaso que, após um encontro amoroso pleno de intimidade e satisfação, os amantes, assim como os bebês satisfeitos de leite e amor, costumam dormir.

O advento da internet, fenômeno de nosso tempo, abre espaço para inúmeras indagações que emergem desse dispositivo. Uma delas seria refletir sobre o papel da intimidade e do vínculo em tempos de modernidade. Afinal, é a era da interface, dos relacionamentos virtuais, da rapidez, das redes sociais, dos contatos, dos relacionamentos fugazes, mas, nem por isso, fáceis assim. Lembremo-nos que esses contatos surgem protegidos em sua intimidade por uma tela. Paradoxalmente, com todo esse aparato e aparente facilidade é a era também de uma enorme solidão, uma busca incessante por essa unidade perdida.

O DESAFIO DE ENCONTRAR A UNIDADE PERDIDA5

APROXIMAÇÃO

Surgem novas tecnologias, vários sites e aplicativos para todas as categorias de aproximação. Abre­ se uma janela iluminada diante de olhos ávidos que procuram um mundo de oportunidades dos mais diversos tipos possíveis de encontros. Com base em um cadastro, cria-se um perfil e o primeiro contato vai ocorrer de forma virtual, protegido em suas privacidades geográficas, no conforto de seus refúgios e entre telas de computador ou do smartphone.

É nesse ciberespaço que os desconhecidos dissertam sobre suas expectações e projetam em seus perfis on-line algo como seu “ego ideal’ termo introduzido por Freud (1914) em Sobre o Narcisismo: uma Introdução. Isso ocorre por meio de fotos criteriosamente selecionadas e textos sobre aquilo que se é; que gostaria de ser; e que se acredita que o outro expecta; nada mais humano. “Esse ego ideal é agora o alvo do amor de si mesmo (self- love), desfrutado na infância pelo ego real. O narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse novo ego ideal, o qual, como o ego infantil, se acha possuído de toda perfeição de valor. Como acontece sempre que a libido está envolvida, mais uma vez aqui o homem se mostra incapaz de abrir mão de uma satisfação que outrora desfrutou. Ele não está disposto a renunciar à perfeição narcisista de sua infância; e quando, ao crescer, se vê perturbado pelas admoestações de terceiros e pelo despertar de seu próprio julgamento crítico, de modo a não mais poder reter aquela perfeição, procura recuperá-la sob a nova forma de um ego ideal. O que ele projeta diante de si como sendo seu ideal é o substituto do narcisismo perdido de sua infância, na qual ele era seu próprio ideal”.

O enamorado projetaria no objeto de sua paixão o ego ideal, forjado segundo o modelo onipotente do narcisismo infantil. Sem nos esquecermos de que o amor primário é selvagem, quer devorar, possuir, controlar o objeto e negar qualquer diferença. Ao mesmo tempo em que essa sensação de plenitude do narcisismo primário exerce um fascínio, uma idealização e uma atração quase irresistível.

IDEALIZAÇÃO

Segundo Freud (1914), a idealização é possível tanto na esfera da libido do ego, isto é, a mim mesmo, quanto na da libido objetal, que é idealizar o outro no caso do enamoramento. Tudo isso para dizer que se a relação for construída em cima dessas bases mais frágeis da idealização ficará difícil estabelecer um relacionamento baseado na intimidade, cumplicidade e, por que não, realidade.

Quando pensamos na forma de relações que os sujeitos fazem protegidos no mundo virtual observamos que há a utilização de um espaço, nesse caso uma tela, entre ele e o outro. Nesse contexto, essa relação estaria sendo mediada por um computador. Buscar transformar o mundo desagradável e hostil e tentar ser mais feliz são também fantasiar, sem que possamos nos esquecer de que é na realidade que podemos de fato ser felizes. A internet poderia se configurar em um espaço lúdico onde o exercício da criatividade torna-se mais tolerável. Desse modo as fantasias se exteriorizariam nesse ciberespaço simbólico, num encontro entre a intimidade singular atualizada em construções fantasísticas do sujeito. Isso pode significar que os aspectos da intimidade poderiam estar de alguma forma protegidos no mundo real. E relacionamento sem intimidade e cumplicidade tende a naufragar.

Parece ser a fantasia um conceito psicanalítico apropriado que pode nos oferecer algum entendimento sobre as relações virtuais e algumas pistas para a compreensão entre a relação virtual e as dificuldades do relacionamento dito como real. Afinal, com tantos recursos e oportunidades dos mais diferentes tipos de encontros, ao fechar a tela do computador os sujeitos continuam a se sentir sozinhos, isto é, a solidão ainda é a grande companheira.

Nos encontros reais, ao se propor a construção de algo em parceria será preciso criar a tal intimidade do casal. Primeiro a intimidade precisa ser consigo próprio e depois com o outro. A intimidade seria, portanto, a arte de penetrar e se deixar ser penetrado pelo outro, mantendo a sua singularidade e se permitindo a cumplicidade com seu par. Por cumplicidade estamos falando de um processo de amizade, carinho e respeito entre o par.

MATCH

Voltando à problemática do relacionamento virtual ou aplicativos de relacionamento, os indivíduos se escolhem por meio de uma lista de fotografias e dizeres e, como falávamos, fantasias inconscientes, e, se tudo der “certo”, ocorre um match. A palavra match é usada para definir o momento em que duas pessoas se interessaram mutuamente e, portanto, ambas pressionam o botão like na tela. Esse match passa a ser então o ponto de partida para um encontro real, que pode ser uma experiência de alguns instantes, pode se transformar em um envolvimento amoroso duradouro ou não. Tudo isso para se falar que sempre estamos às voltas com o tema do relacionamento.

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, em seu livro Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, nos fornece algumas pistas sobre a dificuldade de se fazer vínculos. Ele vai dizer que existe um desespero em relacionar-se e uma tensão entre estar ligado ao outro e a perda da liberdade.

Para Bauman, “relacionamento é o assunto mais quente do momento, e aparentemente o único jogo que vale a pena, apesar de seus óbvios riscos”.

POESIA DE VINÍCIUS

No Samba da Bênção, Vinicius de Moraes, em meio a sua arte e poesia, vai nos contar que “a vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”. Em outro trecho da canção, o poeta ilumina a noite escura da solidão e revela que “a tristeza tem sempre uma esperança, de um dia não ser triste não”. O mote central da canção é o amor e, consequentemente, o relacionamento. O assunto relacionamento nunca sai de moda. Os riscos intrínsecos ao assumir um compromisso parecem ser centrais na atualidade. Ansiedade de viver junto e também de viver separado parece ser uma equação que não fecha.

Com a utilização da internet, das formas tecnológicas de relacionamento e da rapidez de informações torna-se mais simples se conectar e mais fácil ainda se desconectar. Se não gosta, ou algo incomoda, é só apertar a tecla deletar (apagar) e desligar a máquina. As tecnologias são novas, mas os seres humanos continuam sendo humanos, isso quer dizer que possuem sentimentos e emoções e esse processo de ligar e desligar não funciona assim.

Bauman, em seu livro, aponta para um discurso ambíguo do ser humano na atualidade, como se os sujeitos estivessem preocupados com uma coisa, porém falando outra. Estariam garantindo que seu desejo e paixão têm por objetivo o relacionar-se. Entretanto, parecem estar evitando o relacionar-se, temendo que sejam aprisionados no congelamento da união. Ao que tudo indica, estariam mais preocupados em relacionamentos frouxos e leves, para que pudessem se desconectar a qualquer momento, a fim de rompê-los sem dor, evitando o sofrimento. O que acaba por tornar mais difícil o processo de intimidade e feitura de laços.

PROTEÇÃO

De nada adianta ter um computador de última geração no conforto de sua casa se o mundo mental da pessoa que maneja essa máquina é um desastre. Isso quer dizer que é preciso proteger o outro de nossos impulsos destrutivos e vice-versa. Ou então é possível que se fique nessa busca interminável, sem conseguir experimentar o sabor do relacionamento a dois de forma mais profunda.

Propõe-se para esse entendimento a observação entre o mundo real, a realidade – e estamos falando da realidade de ambos -, e o mundo virtual; direcionamos para não só as expectativas, como também as fantasias inconscientes. Klein, M., no prefácio de seu livro O Sentimento de Solidão, vai nos dizer que a escolha dos parceiros aponta para as raízes primitivas da nossa personalidade e os vínculos iniciais.

Ainda segundo a autora, o sentimento de solidão nunca desaparece no ser humano; mas não tem o sentido de estar só. Para ela, revela antes uma implicação de se sentir “mal acompanhado”, sob o ponto de vista interno. Isso é, resulta da fantasia da presença de figura ou figuras perseguidoras. “É ele, no entanto, que, no comum, impele a humanidade à busca inconsciente da imagem boa do começo de vida (a mãe ou substituta), na relação com o mundo, e, alienando-se à esperança de reencontrá-la, favorece e propicia a capacidade de estar só externamente, sem se sentir muito em solidão.”

A autora observou que para compreender como o sentimento de solidão se origina teríamos que nos reportar à primeira infância e reconhecer sua influência sobre os estágios ulteriores.

Segundo Francoise Dolto, psicanalista francesa, em seu livro intitulado Solidão, existe uma diferença entre a solidão que permite ao ser humano estruturar-se e a solidão que o impede de se estruturar. Para a autora, a solidão presente, a que está sendo vivida no atual momento pelo indivíduo, tem suas raízes lá atrás, nos anos que se passaram. Se isso não ficar compreendido, pouco ajudaria na compreensão dessa busca incessante por esse ser externo que possa trazer essa paz interna consigo próprio.

“Um ser humano não pode viver sem sentir solidão; não pode estar constantemente com alguém. O estruturante é estar habitado, desde pequeno, por uma solidão povoada de intercâmbios em palavras com os próximos, e não somente de intercâmbios de corpo a corpo ou de presença apenas visível”.

CONVITE À REFLEXÃO

Dolto nos convida a refletir que não é sempre factível estar na companhia de alguém, mas é sempre crível estar na própria companhia. Afinal, a relação que se estabelece consigo próprio é a única não factível de divórcio, portanto é melhor se conhecer bem, ou passará a vida com um desconhecido. E isso quer dizer que existe uma solidão que é estruturante e enriquecedora para um ser humano durante toda sua vida, que estaria emocionalmente unida às lembranças de momentos eleitos de relações psíquicas verdadeiras e não vinculadas tão somente às necessidades – vai estudar, vai tomar seu banho ou vai dormir -, mas àquele que povoa o mundo da afetividade. Quando a criança só escuta isso, ela não terá como alimentar sua solidão, seu mundo interno. Tudo está carregado de afeto, de relações humanas, de reminiscências de momentos felizes, comunicação entre lembranças de pessoas amadas que se amam mutuamente sendo como são, tanto nas horas de tristeza quanto de alegria.

Em Escritores Criativos e Devaneios (1908), a fantasia pode ter esse papel de “reajustar” o que se encontra em desajuste, como as brincadeiras ou o ato de comprar também podem fazer. Todos os objetos com os quais os sujeitos se relacionam tentam camuflar a falta que nos é intrínseca, assim como também é a solidão.

Observa-se que há um entrecruzamento do mundo virtual e real e que cenários que esbarram em nossas fantasias e traumas passeiam pelo mundo interno e provocam atualizações em nossas cadeias simbólicas. A modernidade da tecnologia pode ser um facilitador, um recurso para aproximar, desde que os seres humanos não se esqueçam de que são humanos dotados de seu mundo interno repleto de significados, sentimentos e emoções. O papel de estabelecer laços é feito no exercício diário do próprio relacionar-se. Todo indivíduo é marcado pelo desamparo primordial e pela falta do objeto para sempre perdido. O vazio é comum a todos os sujeitos; sempre falta alguma coisa. Buscar compreender como cada um lida com a falta e com a própria solidão é o desafio para se relacionar.

 TECNOLOGIA NÃO SUBSTITUI FATORES HUMANOS NO RELACIONAMENTO

O DESAFIO DE ENCONTRAR A UNIDADE PERDIDA3

Em Black Mirror, série da Netflix. o episódio de nome “Hang the Dj vai apresentar, num mundo qualquer, relacionamentos em que, a partir de um aplicativo situado, uma espécie de bússola, os casais são escolhidos através do cruzamento dos perfis pelo sistema operacional, criando assim um encontro. No momento do encontro, os dois terão que pressionar o botão desse dispositivo tecnológico que vai prever o tempo que permanecerão juntos. Esse tempo pode ser contado em minutos, horas, meses ou anos. Vai depender do que o indivíduo terá que aprender com aquele relacionamento. Esses encontros vão ocorrendo sucessivamente. Vivem a experiência e, quando chega a hora de se separar, agradecem pelo tempo de união e começam uma nova história com outra pessoa. Essas breves histórias de amor ou não estariam preparando o sujeito para encontrar o tão almejado homem ou mulher de sua vida. Entretanto. um casal que já havia se encontrado antes através dessa tecnologia se esbarra novamente e decide não pressionar o botão do aplicativo. Essa proposta foi feita pela personagem feminina que, cansada de relacionamentos com prazo de validade previamente definido, acreditava não servir para ela, pois as trocas sexuais não estavam sendo o bastante; ela queria estabelecer vínculos. Nota-se que nesse momento ambos decidem por viver a experiência da relação sem saber previamente quanto tempo irá durar. E o que acontecerá? Só assistindo ao tal episódio, assim como na vida, só é possível viver vivendo-se. Isso quer dizer que os infinitos recursos tecnológicos podem facilitar a vida, mas não substituem as características humanas de se relacionar. Os sentimentos sempre irão existir, e seria importante se dar conta deles.

AMOR LÍQUIDO

“E no entanto, desconfiados da condição de “estar ligado”, em particular de estar ligado “permanentemente”, para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões que eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para sim, seu palpite está certo – relacionar- se. (prefácio do livro Amor Liquido).

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RENATA BENTO – é psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e família. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais. Filiada a IPA – International Psychoanalytical Association, à Fepal – Federacion Psicoanalítica de América Latina e à Febrapsi – Federação Brasileira de Psicanálise.

OUTROS OLHARES

TRABALHO ESCRAVO INFANTIL

A nova CLT continua preservando os direitos da criança e do adolescente, mas em tempos de crise econômica é preciso dobrarmos a atenção.

Trabalho escravo infantil

A escravidão foi legalmente abolida no Brasil em 1888 com a Lei Imperial 3.353 de 13 de maio de 1988, tal ato legislativo ficou conhecida como Lei Áurea. Porém, tal norma não conseguiu cabalmente cessar a prática do trabalho humilhante. Da mesma forma que uma doença mal curada, foram surgindo novas modalidades de prestação de serviços semelhantes à escravidão. Deixa de existir o conceito de propriedade utilizado em relação aos trabalhadores escravos, vez que esse conceito passa a ser ilegal em virtude da lei. Entretanto, não é somente a ausência de liberdade que faz de um trabalhador um escravo, mas também a ausência de dignidade.

O trabalho escravo contemporâneo pode ser entendido como uma forma de trabalho forçado, e que envolve restrição da liberdade do trabalhador, onde ele é obrigado a prestar um serviço sem receber contraprestação, ou ainda, receber um valor ínfimo pelo serviço prestado. Também acontece nas modalidades onde o empregado oferece seu trabalho como forma de receber em troca mercadorias, como exemplo podemos citar os alimentos e a moradia. A ideia do presente artigo não é esgotar o tema relativo ao trabalho escravo, mas sim estabelecer uma relação com o trabalho infantil.

O trabalho escravo em muitas vezes é verificado em âmbito infantil. É notório que o trabalho infantil é ainda hoje um dos grandes desafios sociais que merece ser enfrentado com profundidade. No passado, o trabalho infantil acontecia dentro do ambiente doméstico, onde o menor aprendia com a própria família o ofício, não se havia muita distinção do que era um trabalho a ser realizado por adultos e um trabalho que poderia ser realizado por crianças, mas como se tratava de um âmbito familiar, era respeitada a capacidade e idade da criança.

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, surge a descoberta do vapor como forma de energia, o que fomentou a expansão dos setores industriais e comercial, tendo em vista que passaram a utilizar o vapor nas fábricas e nos meios de transporte. Podemos entender essa fase como o início da exploração do trabalho infantil, o menor passou a ser utilizado em diversas funções em que se adaptavam muito bem e eram úteis em virtude de seu tamanho, agilidade, sociabilidade, serem facilmente controlados e uma redução de custos, tendo em vista a mão de obra barata.

Para os donos das indústrias, os menores significavam uma mão de obra muito barata, que em grande parte das vezes era somente remunerada com habitação e alimentação, esses menores trabalhavam entre 12 e 16 horas por dia, em situações degradantes e exercendo trabalhos insalubres, perigosos, cansativos e repetitivos. Como forma de se beneficiar da condição estrutural das crianças, os trabalhos realizados eram em minas, subsolos, limpezas de chaminé, tecelagem etc. Os menores eram mal alimentados, dormiam poucas horas e os acidentes eram frequentes, sendo um elevado número de crianças doentes, mortas, feridas e mutiladas. A utilização do trabalho desses menores era justificada pelos empregadores como uma forma de proporcionar a essas crianças pobres e abandonadas o seu próprio sustento.

Juntamente com Revolução Industrial surgem os movimentos trabalhistas que começam a denunciar a exploração do trabalho infantil em virtude das consequências enfrentadas pelos menores, na Inglaterra é criada a Carta dos Aprendizes que possuía como objetivo a proteção das crianças.

 

MUDANÇAS

A industrialização somente ganha força no Brasil no fim do século XIX, mas a mão de obra infantil remonta o tempo da escravidão, pois não existia distinção entre crianças e adultos. As crianças eram inseridas nas industrias desde muito novas, para aprender um ofício e contribuir com a renda familiar. A onda migratória vinda da Europa contribuiu ainda para que essa massa de trabalhadores imigrantes fossem alocadas nas industrias, juntamente com as crianças que compunham as famílias.

Em 1891, na época do Império, foi publicado um decreto que proibia o trabalho de crianças em máquinas em movimento e faxina. Em 1917 começou a ocorrer a proibição de pessoas menores de quatorze anos a trabalharem em fábricas.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) surge em 1919, e desde o princípio se preocupada com as questões relacionadas ao trabalho infantil, buscando coibir e estabelecer limites para o trabalho de crianças e, estabelecer garantias mínimas aos trabalhadores, bem como evitar a exploração do trabalho de crianças.

Em 1927 foi publicado o Código de Menores, que foi posteriormente suspenso em virtude um habeas-corpus, com o argumento de que violava o direito da família decidir o que é melhor para seus filhos.

Com a Constituição de 1934, foi deter­ minada a proibição do trabalho para menores de quatorze anos, salvo o caso de permissão judicial.

A Constituição de 1967, retrocedeu ao fixar a idade mínima para trabalho aos doze anos de idade.

A Constituição de 1988, disciplinava que o trabalho do menor somente seria permitido a partir dos quatorze anos de idade, mas com a Emenda Constitucional nº 20 de 1998 a idade mínima foi aumentada para dezesseis anos, com exceção para condição de aprendiz que é a partir dos quatorze anos.

O termo “direitos das crianças” foi utilizado pela primeira vez em 1924 com a Declaração de Genebra, onde foi um texto reconhecido de forma internacional quando a Liga das Nações aprovou uma resolução enaltecendo a declaração dos direitos das crianças, entretanto tal declaração não alcançou o impacto necessário ao pleno reconhecimento internacional dos direitos da criança. Em decorrência, em 1933, outra Convenção de Genebra tratava do combate ao tráfico de crianças e de mulheres.

A Convenção de Genebra deu força ao assunto em questão, e em 1948 foi elaborada pela ONU (Organização das Nações Unidas) a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que dispunha sobre cuidados especiais às crianças e adolescentes. Foi um grande avanço com relação a proteção dos direitos fundamentais, uma vez que tratava-se de um instrumento a nível internacional e todos os países membros que subscreveram e ratificaram introduzem em seus ordenamentos jurídicos o reconhecimento de todos os indivíduos como sujeitos de direito e proteção a sua dignidade. Nesse passo, diversos organismo internacionais, tais como: UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Educação e Cultura), UNESCO e OIT, passam a apoiar e resguardar os direitos das crianças e do adolescente.

 

NOVA VISÃO

Em 1959 foi adotada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos da Criança, o que se transformou em um dos documentos fundamentais que visam assegurar e proteger a criança, de forma a lhe facultar condições de liberdade, igualdade, identidade, educação, proteção, desenvolvimento mental, físico, moral, social de forma sadia, direito ao lazer e proteção contra qualquer forma de exploração, negligência, crueldade e discriminação de qualquer natureza.

A criança passa a ser reconhecida como sujeito de direitos a nível internacional, é a chamada doutrina jurídica da proteção integral, onde a criança é entendida como indivíduo em desenvolvimento e que precisa de ampla proteção, e essa proteção se expande do ciclo familiar e passa também a ser obrigação do Estado e da Sociedade. Uma sociedade que preza pelos direitos fundamentais dos seres humanos, devem em princípio respeitar e zelar por suas crianças, de forma que se tornem adultos plenos e potenciais.

Em 1990 a ONU elaborou a Convenção dos Direitos das Crianças, e foi o tratado internacional de direitos humanos que alcançou o número mais elevados de ratificações, as crianças passam a ser prioridade do estado. Após realizada a abordagem do contexto histórico do trabalho infantil no mundo e das formas que os organismos internacionais e nacionais visam combater tal prática, passamos a explicitar a triste realidade que ainda nos acompanha. Milhares de crianças e adolescentes nos dias atuais são vítimas de trabalho escravo contemporâneo, tanto nas grandes cidades, quanto no interior do país. O assunto é um tanto quanto desagradável, mas está enraizado em nosso dia a dia, em nosso cotidiano e passamos por ele de forma despercebida, agimos com naturalidade e nem sequer, nos damos conta de que se trata de exploração, de trabalho análogo ao escravo e muitas vezes, essa exploração é vista com bons olhos, como uma forma de benfeitoria.

O Brasil devido à falta de condições de vida digna, falta de condições mínimas de saúde, falta de condições de acesso à educação, de moradia, em virtude da situação econômica e do elevadíssimo índice de pobreza e miséria, devido a uma desigualdade social latente, propicia a exploração infantil. As questões culturais arraigadas na sociedade, onde se entende como “normal” começar a trabalhar desde muito cedo, sem levar em consideração que a criança e o adolescente precisam usufruir de experiências próprias de sua idade, como estudar e brincar, também é fator que propicia a erradicação desta modalidade de trabalho.

Os prejuízos para as crianças e adolescentes são inúmeros, tendo em vista que estão em fase de desenvolvimento físico e psicológico, tendo as resistências naturais reduzidas, e sendo assim, passam a ter a saúde e segurança em risco, por exemplo. A criança que é submetida a trabalhos cansativos, sistêmicos, em condições insalubres e perigosas, tem todo o seu desenvolvimento comprometido, além de imputar as crianças responsabilidades de adultos e impedir que possam frequentar as escolas.

Atualmente no Brasil existe uma grande mobilização para erradicação do trabalho escravo infantil na área rural, entretanto, existe uma pungente exploração infantil no meio urbano e doméstico, que na maioria das vezes passa desapercebida, pois infelizmente para muitos, se tornou comum. O cenário atual é difícil de ser mensurado, sabe-se da ocorrência, mas não existem dados concretos e o número de denúncias é insignificante. O trabalho infantil se situa na informalidade, as escondidas e muitas vezes são os próprios pais que obrigam as crianças a esse tipo de trabalho, como forma de complementar a renda.

 

REALIDADE

O trabalho infantil em âmbito doméstico é responsável por 10% dos casos de trabalho infantil de acordo com OIT, mas ainda é muito difícil de mensurar, tendo em vista que na maioria das vezes ocorre de forma velada, dentro das casas, armazéns etc. Em muitos casos, não recebem salários, e trocam seus serviços por moradia e comida, e obviamente sem nenhum dos seus direitos trabalhistas respeitados, e em muitos casos sendo até submetidos à exploração sexual.

Neste momento faremos uma breve análise do ordenamento jurídico brasileiro com relação ao tema. A verdade é que temos ampla e extensa legislação que oferece proteção e dignidade ao menor, mas não é devidamente aplicada, e cabe à sociedade e aos membros do poder público exigir que as leis sejam aplicadas em profundidade. A Constituição Federal em seus artigos 7°, XXX e XXXIII e 277, estabelece normas de proteção ao trabalho do menor, a legislação infraconstitucional nos artigos 80, 402 a 439 da CLT, também trata de forma especifica da duração do trabalho, admissão, CTPS, deveres inerentes aos responsáveis legais dos menores e dos empregadores, dos menores aprendizes e disposições gerais de proteção ao trabalho do menor. A Lei nº 8.069 de 13.07.1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, é considerada uma das legislações mais avançadas do mundo para proteger a infância e a adolescência, e dispõem de forma ampla sobre a proteção do menor, no capítulo V, por exemplo, se dedica a tratar do direito à profissionalização e a proteção no trabalho. Além dos dispositivos internacionais já mencionados no bojo do presente artigo, o governo brasileiro ratificou a Convenção nº 182, e a Recomendação nº 190 da OIT que trata sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação. De acordo com a Convenção nº 182, as piores formas de trabalho infantil são: o trabalho escravo, o trabalho em condições análogas à escravidão, o trabalho decorrente da venda e do tráfico de menores, a escravidão por dívida, a exploração sexual de menores através da prostituição e pornografia, o uso de menores para a produção ou venda de drogas, o uso de menores em conflitos armados e por fim, todo e qualquer trabalho que possa prejudicar a saúde, a segurança e a dignidade do menor. O Brasil assumiu o compromisso perante a comunidade internacional de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2015, e erradicar a prática de maneira total até 2020.

De acordo com dados da UNICEF o Brasil é o terceiro país da América Latina com maior índice de exploração infantil, e as causas como já explicitadas anteriormente se justificam em grande parte pela pobreza. Nos grandes centros urbanos tornou-se corriqueiro ver crianças pedindo esmolas em sinais, engraxando sapatos, entregando panfletos nas ruas, vendendo balas, e pouco se reflete de que tais funções desempenhadas são autênticas formas de trabalho escravo infantil, que aquelas crianças deveriam estar nas escolas e não serem obrigadas pelo pais, em grande parte dos casos a trabalharem dessa forma.

Em função desse problema social, a OIT e a UNICEF passaram a diferenciar o trabalho infantil explorador proibitivo e aquele trabalho que pode ser forma de socializar o jovem e que, respeite seus estudos e momentos de descanso. As crianças e adolescentes que são submetidos ao trabalho forçado sofrem danos irreversíveis ao desenvolvimento.

Em 1996, o Governo Federal criou o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), tal programa busca erradicar o trabalho infantil através do bolsa-escola, da criação de atividades extracurriculares para crianças que eram exploradas e de programas que busquem capacitar os pais para que possam aferir renda. Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social, para que o trabalho infantil seja reduzido é necessário identificar essas crianças trabalhadoras e sensibilizar a sociedade sobre os danos morais, físicos, intelectuais que essas crianças estão sofrendo. O Fórum pela Erradicação do Trabalho Infantil que reúne a OIT, a UNICEF e mais de 40 organizações governamentais e não governamentais, sindicatos e associações patronais vem buscando melhorar a compreensão da sociedade sobre o quão nocivo é o trabalho infantil, uma vez que a sociedade acaba por não entender quais são os reais malefícios, e por ter um percepção cultural muito inadequada, onde acreditam ser melhor que esteja trabalhando, do que esteja roubando, ou traficando, sendo que a mentalidade deveria se r que o melhor para uma criança seria estar brincando e estudando.

 Trabalho escravo infantil.2

AÇÕES

Diante do exposto, é de suma importância que seja criada uma nova cultura, baseada em princípios morais, de dignidade e respeito aos direitos fundamentais. A sociedade atual tem olhado para o trabalho infantil com excessiva permissibilidade e aceitação. De acordo com os dados do IBGE em 2009 e 2011 existem cerca de 3,6 milhões de trabalhadores entre 10 e 17 anos, ou seja, mais da metade (52%) das crianças e adolescente do país exercem atividade laborativa.

Outra problemática que deve ser enfrentada é a criminalização do trabalho infantil, eis que ainda não é considerado crime. O empregador que é flagrado explorando crianças e adolescentes, é julgado pela justiça trabalhista e responde sempre nessa mesma esfera, com relação aos direitos trabalhistas dos indivíduos, como se fossem trabalhadores comuns e a obrigatoriedade de pagamento de multa pela infração cometida, entretanto, não respondem criminalmente. Somente irão responder criminalmente quando encontrados elementos que caracterizem abusos sexuais, cárcere privado, violências físicas e no caso em que seja configurado um caso de trabalho escravo. Recentemente foi aprovado pelo Senado um projeto de lei que criminaliza a exploração do trabalho infantil, mas ainda encontra-se em votação na Câmara dos Deputados.

 Trabalho escravo infantil.3

 

GESTÃO E CARREIRA

DE CARONA NO SUCESSO

Com o forte crescimento das barbearias e salões masculinos, empresárias aproveitam o momento para criar produtos cosméticos com foco nesse público.

De carona no sucesso

Não dá para negar que as barbearias voltaram com tudo para o mercado. Algumas com estilo retrô e outras mais modernas, mas todas oferecem o “velho” serviço completo, barba, cabelo e bigode, em de quebra, os clientes ainda se divertem em um happy hour com jogos e tomando uma boa cervejinha.  De volta ao ponto de encontro dos homens! Investidores de outros setores também enxergaram o potencial deste mercado e decidiram aproveitar essa onda positiva de crescimento, como foi o caso das empresárias Andréa Moreira e a Dra. Juliana Rosa.

Em 2016. elas notaram esse forte crescimento das barbearias e salões masculinos dos bairros. Já trabalhavam no setor de cosméticos, mas, o foco era no seguimento feminino através de uma empresa de venda direta. “Enxergamos, contudo, uma grande oportunidade em oferecer produtos voltados para o setor masculino após realizarmos pesquisas com barbeiros, donos de barbearias e clientes finais. Essa pesquisa apontou que não havia produtos finalizadores de boa qualidade no mercado e isso chamou a nossa atenção para desenvolvê-los. Foi assim que, em agosto de 2016, iniciamos um plano de negócios e surgiu a Senhor Barba Cosméticos, conta a diretora comercial, Andréa Moreira.

 EXCLUSIVIDADE

A Senhor Barba Cosméticos desenvolve e fornece produtos masculinos para barbearias, salões mistos e estúdios de maquiagem, que são os clientes diretos da empresa.  Estes compram os produtos para uso profissional e também para revenda. Já o consumidor final só pode adquirir a linha da empresa nesses estabelecimentos.

De acordo com a diretora de produtos e farmacêutica responsável da marca, Dra. Juliana Rosa, o principal diferencial da Senhor Barba é escutar o profissional mais importante da cadeia de vendas: o barbeiro. “Nossa empresa só lança produtos após receber 100% de aprovação do time de barbeiros que participa das pesquisas de campo”, afirma.

Na pesquisa, elas deixam as amostras dos futuros lançamentos para o time avaliar: performance, textura e fragrância dos produtos. Após o período de avaliação e aprovação, se todos os requisitos forem atingidos com excelência, elas lançam os produtos no mercado.

No momento, a empresa conta com uma linha de produtos finalizadores, que são: óleo, balm, shampoo, pomada modeladora efeito seco, pomada modeladora efeito brilho e a pomada efeito mate (esta última lançada na Barber Veek). Há também a linha profissional: shaving gel, creme de   limpeza esfoliante e shampoo para barba, cabelo e bigode e pentes de madeira.

Juliana, além de sócia-proprietária da empresa, é também a técnica responsável pelo desenvolvimento dos produtos. Ela (JUC escolhe os ativos, fragrância, performance e textura. E contam também com dois laboratórios terceirizados que fabricam os produtos, um em São Paulo e outro no interior do estado.

Além da excelente qualidade dos produtos da Senhor Barba, que são atestados pelos farmacêuticos, segundo as fundadoras, outro grande diferencial é que todas as embalagens são sustentáveis.  “Nós nos preocupamos com o planeta e estamos fazendo a nossa parte para minimizarmos os impactos nocivos ao meio ambiente, escolhendo fornecedores que têm a mesma preocupação com a sustentabilidade. Exemplo: nossos pentes de madeira são feitos artesanalmente com madeira de reflorestamento e as sacolas são de papelão reciclável”, conta a diretora de produtos.

MERCADO

Segundo Andréa Moreira, são muitos os desafios que a empresa enfrenta. Como trabalham com uma linha considerada “premium”, por exemplo, não são todas as barbearias que conseguem adquiri-la. “Desde que lançamos os produtos no mercado, temos como público-alvo, as barbearias que têm um ticket médio mínimo de R$70,00 no corte de cabelo e barba. Dessa forma, conseguimos nos posicionar como uma linha de alta qualidade e performance, sendo a linha nacional mais escolhida no lugar das internacionais, que, em função da flutuação do dólar, são bem mais caras que a nossa”, afirma.

Dentro desse posicionamento de mercado, Andréa diz que estão crescendo e ingressando nas melhores barbearias de São Paulo e do interior. Temos a percepção de que, apesar de sermos novos no mercado, já somos notados e percebidos como uma empresa que surpreendeu o consumidor final, através de produtos de alta performance e qualidade. Recebemos elogios diariamente em nossas redes sociais de clientes finais e também dos barbeiros que usam a linha da Senhor Barba. Eles dizem que finalmente encontraram os melhores produtos!, celebra.

A diretora comercial relembra e se motiva, inclusive, com o comentário de um barbeiro que chamou muito a atenção das sócias, quando disse: “Tem como vocês lançarem algum produto ruim?”, dando aquela gargalhada no teor de brincadeira.

A expertise profissional de ambas em suas respectivas áreas foi a “chave” para o nascimento da empresa. Mas elas revelam que, ao criarem o programa de incentivo a vendas da companhia, inspiraram-se na Multinacional Mary Kay.

ESTRATÉGIAS

As sócias iniciaram a empresa com recursos próprios e muito pé no chão. Lançaram um produto por vez e aguardaram o retomo do investimento de cada um para poderem reinvestir em novos produtos. “O nosso primeiro produto (óleo para barba, cabelo e bigode) foi lançado em abril de 2017. Conseguimos recuperar o investimento deste item em seis meses de operação. Com o retorno conseguimos reinvestir em outros produtos e assim temos feito com os demais itens da linha”, reforça Andréa.

De acordo com ela, o modelo de negócio da Senhor Barba Cosméticos está mais voltado para distribuição do que para franchising.  Por esse motivo a estratégia de crescimento também é outra, gira em torno da expansão da operação, que no segundo semestre de 2018 será voltada para   outras capitais do Brasil, iniciando por Belo Horizonte. Mas sempre também com a intenção de duplicar o número de barbearias parceiras na cidade de São Paulo e interior. “Por isso estamos investindo em lançamentos frequentes a cada bimestre; ampliando o portfólio da linha profissional e participando inclusive de feiras do setor como a Feira Barber da América Latina: a Barber Week, que acorreu no mês de junho em São Paulo, mostra a diretora comercial.

Outra ação é o desenvolvimento de um e-commerce para a venda de produtos no atacado com foco nas barbearias e salões de todo o Brasil. A previsão para lançarem o sistema é ainda no segundo semestre de 2018.

QUE VENHA MAIS!

A Senhor Barba fechou o ano de 2017 com quatro produtos cosméticos no portfólio: óleo, balm e duas pomadas para cabelo. Hoje, já possuem o dobro de produtos e finalizarão o ano com mais lançamentos. A tão esperada pomada modeladora mate, que chegou ao mercado em junho e temos uma grande expectativa de ela se tomar a ‘menina dos olhos’ da empresa. E também a linha profissional da Senhor Barba, que visa atender uma grande necessidade nos salões e barbearias”, destacam.

 De carona no sucesso 2

CIDADES EM QUE JÁ ESTÁ PRESENTE

BELO HORIZONTE/MG

CAIEIRAS/SP

COTIA/SP

DRACENA/SP

GUARULHOS/SP

JUNDIAÍ/SP

MAUÁ/SP

MOGI DAS CRUZES/SP

SANTO ANDRÉ/SP

SÃO BERNARDO DO CAMPO/SP

SÃO CAETANO DO SUL/SP

SÃO PAULO/SP

SUMARÉ/SP

 

ENTRE PARA O TIME!

A Senhor Barba Cosméticos está em busca de profissionais com ampla experiência na área comercial para compor o time de gerentes comerciais na cidade de São Paulo, interior do estado, além da representantes e distribuidores em outros estados também. Que tal ser parceiro desse negócio?

site: senhorbarbacosmeticos.com.br

 

 

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 15-21

Alimento diário

Cristo anda sobre as águas

Aqui temos:

I – Cristo afastando-se da multidão.

1. Observe o que fez com que Ele se retirasse. Ele se retirou porque percebeu que aqueles que reconheciam que Ele era aquele profeta que devia vir ao mundo, “haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei”, v. 15. Aqui temos um exemplo:

(1) De zelo irregular de alguns dos seguidores de Cristo. Eles não desejavam outra coisa, senão fazê-lo rei. Agora:

[1] Este era um ato de zelo, pela honra de Cristo, e contra o desprezo que a parte governante da igreja judaica lhe devotava. Eles estavam inconformados por verem um benfeitor tão grande para o mundo sendo tão pouco estimado nele. Portanto, uma vez que os títulos reais representam os mais ilustres, eles desejaram fazê-lo rei, sabendo que o Messias deveria ser um rei. E, sendo o Messias um profeta, como Moisés, então Ele deveria ser um príncipe soberano e legislador. Assim, se não puderem colocá-lo sobre o “santo monte Sião”, um monte na Galileia servirá. Aqueles a quem Cristo presenteou com os manjares reais do céu devem, em recompensa pelo seu favor, fazê-lo seu rei, e colocá-lo no trono das suas almas. Que aquele que nos alimentou, nos governe. Mas:

[2] Foi um zelo irregular; pois, em primeiro lugar·, ele se baseava em um engano a respeito da natureza do reino de Cristo, como se ele devesse ser deste mundo, e Cristo devesse aparecer com pompa exterior, uma coroa na cabeça, e um exército aos seus pés. Eles desejavam fazer dele um rei como este, mas isto era um menosprezo tão grande à sua glória como seria laquear ouro, ou pintar um rubi. As noções corretas do reino de Cristo deveriam nos manter nos métodos corretos para progredir. Em segundo lugar, este zelo era motivado pelo amor à carne. Eles fariam seu rei àquele que tinha podido alimentá-los com tanta abundância sem seu trabalho, e os tinha salvado da maldição de comer seu pão com o suor do seu rosto. Em terceiro lugar, este zelo pretendia cumprir um desígnio secular. Eles esperavam que esta pudesse ser uma excelente oportunidade para livrar-se do jugo romano, do qual já estavam cansados. Se eles tivessem alguém para liderá-los, que pudesse suprir um exército, com menos custos do que alguém poderia prover para uma família, eles teriam, certamente, os fundos para a guerra, e não poderiam deixar de ser bem-sucedidos, e de recuperar sua antiga liberdade. Assim, a religião é frequentemente prostituída por um interesse secular, e alguns só servem a Cristo para que Ele sirva a uma mudança, Romanos 16.18. Jesus é normalmente procurado por algum outro motivo, não por si mesmo. Em quarto lugar, era um esforço turbulento, e sedicioso, e uma perturbação da ordem pública. Isto levaria o país a um estado de guerra, e o exporia ao rancor do poder romano. Em quinto lugar, era contrário à vontade do próprio Senhor Jesus, pois eles o levariam à força, quer Ele o desejasse ou não. Observe que aqueles que forçam sobre Cristo honras que Ele não pediu, desagradam-no, e lhe fazem uma grande desonra. Aqueles que dizem: Eu sou de Cristo, em oposição àqueles que são de Apolo e Cefas (fazendo de Cristo o líder de um grupo), arrebatam-no pela força, para fazerem-no rei, contrariamente à sua própria vontade.

(2) Temos aqui um exemplo da humildade e da abnegação do Senhor Jesus: quando desejaram fazer dele um rei, Ele partiu. Tão longe Ele estava de aceitar este desígnio, que, na verdade, Ele o reprimiu. Com isto, Ele deixou um testemunho:

[1] Contra a ambição e a ostentação da honra terrena, para a qual Ele estava completamente mortificado, e nos ensinou a agir da mesma maneira. Se eles tivessem vindo para levá-lo à força e fazê-lo prisioneiro, Ele não poderia ter sido mais engenhoso para esconder-se do que foi quando desejaram fazê-lo rei. Não desejemos ser os ídolos da multidão, nem sejamos desejosos de vanglória.

[2] Contra a facção e a sedição, traição e rebelião, e qualquer coisa que tenda a perturbar a paz de reis e províncias. Com isto, parece que Ele não era inimigo de César, nem desejava que seus seguidores o fossem, mas era um quieto na terra. Ele desejava que seus ministros recusassem qualquer coisa que pareces­ se sedição, ou que se destinasse a isto, e que seus interesses só estivessem voltados ao bem do seu trabalho.

2. Observe para onde Ele se retirou: “Tornou a retirar-se… para o monte”, o monte onde tinha pregado (v. 3), de onde desceu à planície, para alimentar o povo. Ele retornou para lá, só, para ter privacidade. Embora Cristo seja muito útil nos lugares onde há público, Ele decidia, às vezes, ficar sozinho, para nos ensinar a nos retirarmos do mundo, de vez em quando, para convivermos mais livremente com Deus e com nossas próprias almas. Os cristãos sérios devem dedicar tempo para estarem a sós. O serviço público não deve prejudicar as devoções particulares.

II – Aqui está a aflição dos discípulos, no mar. “Os que descem ao mar em navios… esses veem as obras do Senhor… Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso”, Salmos 107.23-25. Aplique isto a estes discípulos.

1. Aqui está seu relato da saída dos discípulos ao mar, em um barco (vv. 16,17): “Quando veio a tarde”, e já tinham concluído o trabalho do dia, era hora de ir para casa, e por isto “entrando no barco, passaram o mar em direção a Cafarnaum”. Isto eles fizeram por instrução especial do seu Mestre, cujo objetivo era, aparentemente, tirá-los do caminho da tentação, evitando o contato com aqueles que desejaram fazê-lo rei.

2. Aqui está o vento tempestuoso surgindo e cumprindo a Palavra de Deus. Eles eram os discípulos de Cristo, e agora estavam a caminho do seu dever, e Cristo estava no monte, orando por eles. E ainda assim, estavam nesta aflição. Os perigos e aflições da época atual podem ser consistentes com nosso interesse por Cristo, e pela sua intercessão. Eles tinham recentemente tido um banquete à mesa de Cristo, mas depois do sol do consolo, espera-se uma tormenta.

(1) “Era já escuro”. Isto tornou a tempestade ainda mais perigosa e desconfortável. Algumas vezes, o povo de Deus se depara com dificuldades e não consegue ver a saída. No escuro, quanto à causa da sua dificuldade, quanto ao que ela pretende, e qual será o resultado.

(2) Ainda Jesus não tinha chegado perto deles”. Quando eles estavam naquela tempestade (Mateus 8.23ss.), Jesus estava com eles, mas agora seu amado tinha se retirado, e tinha partido. A ausência de Cristo é o que agrava enormemente os problemas dos cristãos.

(3) “O mar se levantou, porque um grande vento assoprava”. Havia bom tempo quando eles saíram ao mar (eles não teriam a presunção de zarpar em uma tempestade), mas o mar se levantou quando já estavam no mar. Em tempos de tranquilidade, devemos nos preparar para os problemas que podem surgir quando menos esperarmos. Consolemos as pessoas boas, quando estiverem nas tempestades no mar, com o fato de que os discípulos de Cristo também lá estiveram. E que as promessas de um Deus de graça compensem as ameaças de um mar enfurecido. Embora em meio a uma tempestade, e no escuro, elas não estarão em pior situação do que os discípulos de Cristo já estiveram. As nuvens e a escuridão, às vezes, cercam os filhos da luz e do dia.

3. Aqui está a oportuna vinda de Cristo para junto deles, quando estão em meio a este perigo, v. 19. Eles tinham remado (tendo sido forçados, pelos ventos contrários, a tomar seus remos) por cerca de vinte e cinco ou trinta estádios. O Espírito Santo, que permitiu esta tempestade, poderia ter expressado o número de estádios com exatidão. Mas por se tratar de uma informação circunstancial, foi deixada para ser registrada de acordo com as conjeturas do escritor. E, quando eles já haviam adentrado uma boa distância no mar, “viram Jesus andando sobre o mar”. Veja aqui:

(1) O poder que Cristo tem sobre as leis e os fatores da natureza, para controlá-los e utilizá-los conforme desejar. É natural que os corpos pesados afundem na água, mas Cristo andou sobre a água como se estivesse andando sobre terra firme, o que foi mais do que Moisés dividir as águas e caminhar entre elas.

(2) A preocupação que Cristo tem com seus discípulos em aflição: Ele aproximou-se do barco. Portanto, Ele andou sobre as águas, assim como “cavalga sobre os céus”, para a ajuda do seu povo, Deuteronômio 33.26. Ele não os deixará sem conforto, quando eles parecerem estar sacudidos com tempestades e sem conforto. Quando eles estiverem exilados (como João) em lugares remotos, ou encerrados (como Paulo e Silas) em lugares fechados, Ele terá acesso a eles, e estará junto com eles.

(3) O alívio que Cristo dá aos seus discípulos, em meio aos seus temores. Eles sentiram medo, mais medo de uma aparição (pois isto foi o que eles supuseram que Ele era) do que dos ventos e das ondas. É mais terrível lutar “contra os príncipes das trevas deste século” do que com um mar tempestuoso. Quando eles pensaram que um demônio os assombrava, e talvez tivesse sido usado para levantar a tempestade, ficaram ainda mais assustados do que tinham ficado quando não viram nada nela, exceto o que era natural. Observe que:

[1] Nossas verdadeiras aflições são, frequentemente, muito ampliadas pelas criaturas imaginárias da nossa própria imaginação.

[2] Até mesmo a aproximação de consolo e resgate frequentemente é tão mal interpretada, que se torna motivo de medo e perplexidade. Com frequência, não somente ficamos mais assustados do que feridos, mas ficamos mais assustados quando estamos prestes a ser ajudados. Mas, quando os discípulos estavam sentindo este temor, com que afeto Cristo silenciou seus temores, dirigindo-lhes estas palavras piedosas (v. 20): “Sou eu; não temais”. Nada é mais poderoso para convencer os pecadores do que estas palavras: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Nada é mais poderoso para consolar os santos do que estas: “Eu sou Jesus, a quem tu amas. Sou Eu, que te amo, e procuro teu bem. Não tenha medo de mim, nem da tempestade”. Quando o perigo está próximo, Cristo está próximo.

4. Aqui está sua chegada bem-sucedida ao porto ao qual se dirigiam, v. 21.

(1) Eles receberam a Cristo no barco. Eles o receberam de boa mente. Observe que a ausência de Cristo por algum tempo é apenas para valo­ rizar-se, na sua volta, aos seus discípulos, que valorizam a presença dele mais do que qualquer coisa. Veja Cantares 3.4.

(2) Cristo os trouxe em segurança à terra firme: “Logo o barco chegou à terra para onde iam”. Observe que:

[1] O barco da igreja, no qual os discípulos de Cristo embarcaram, junto com tudo o que tinham, pode estar muito abalado e desamparado, mas ele finalmente chegará, em segurança, ao porto. Jogados ao mar, mas não perdidos; abatidos, mas não destruídos; a sarça ardendo, mas não se consumindo.

[2] O poder e a presença do Rei da igreja irá apressar e facilitar seu resgate, vencendo as dificuldades que encobriram os talentos e o engenho de todos aqueles que lutaram a seu favor. Os discípulos tinham remado duramente, mas não conseguiram nada até que Cristo entrou no barco, e então o trabalho se fez repentinamente. Se recebemos a Cristo Jesus, o Senhor, se o recebemos de boa mente, mesmo que a noite seja escura e o vento forte, ainda assim podemos nos consolar com o fato de que, em breve, estaremos em terra firme, e estamos mais próximos disto do que pensamos estar. Muitas almas em dúvida são atraídas para o céu por uma surpresa agradável, ou sem se dar conta.

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 6: 1-14

Alimento diário

Os Cinco mil são alimentados

Aqui temos uma narrativa da ocasião em que Cristo alimentou a cinco mil homens com cinco pães e dois peixes, milagre que é, neste respeito, extraordinário, e que é a única passagem das atividades da vida de Cristo que é registrada por todos os quatro evangelistas. João, que normalmente não relata aquilo que já tinha sido registrado por aqueles que tinham escrito antes dele, relata este episódio, por causa da referência com o sermão que o segue. Observe:

I – O lugar e a época em que este milagre se realizou, que são registrados para a maior evidência da veracidade da história. Não está escrito que ele foi realizado em uma ocasião indeterminada, ninguém sabe onde, mas as circunstâncias que podem ser indagadas a respeito do fato estão especificadas.

1. A região e hora em que Cristo estava (v. 1): Ele “partiu para o outro lado do mar da Galileia”, lugar chamado, em outras passagens, de “lago de Genesaré”, e aqui de mar “de Tiberíades”, por causa de uma cidade vizinha, que Herodes tinha ampliado e embelezado recentemente, e a tinha assim chamado em honra ao imperador Tibério, e provavelmente tinha feito aí sua metrópole. Cristo não cruzou diretamente este mar interior, mas fez uma viagem costeira a outro lugar, na mesma margem. Não é tentar a Deus, quando se decide ir pela água, quando existe a conveniência para se fazer isto, mesmo àqueles lugares aos quais poderíamos ir por terra, pois Cristo nunca tentou o Senhor, seu Deus, Mateus 4.7.

2. O grupo que o acompanhou: “Grande multidão o seguia, porque via os sinais que operava sobre os enfermos”, v. 2. Observe que:

(1) Nosso Senhor Jesus, enquanto viajava fazendo o bem, vivia continuamente em meio a uma multidão, o que lhe causava mais problemas do que honra. Os homens bons e úteis não devem reclamar de uma confusão no trabalho, quando estão servindo a Deus e à sua geração. Haverá tempo suficiente para nos deleitarmos quando formos para aquele mundo onde desfrutaremos de Deus.

(2) Os milagres de Cristo atraíam a muitos que não eram, na realidade, atraídos por Ele. Eles tinham sua curiosidade satisfeita pela estranheza dos milagres, não tendo suas consciências convencidas pelo poder deles.

3. Cristo colocou-se em uma posição vantajosa para acolhê-los (v. 3): “Jesus subiu ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos”, para que Ele fosse visto e ouvido de maneira mais conveniente pela multidão que se aglomerava ao segui-lo. Este era um púlpito natural, e não, como o de Esdras, feito propositadamente. Cristo agora era levado a ser um pregador campal, mas sua palavra nunca foi menos importante, ou menos aceitável, por causa disto, àqueles que sabiam como valorizá-la, que ainda o seguiam, não somente quando Ele se dirigia a um lugar deserto, mas quando Ele subia um monte, embora a subida desanime. Ele se assentou ali, como os professores fazem in cathedra na cadeira da instrução. Ele não se assentou descansando, nem em pompa, mas assentou-se como alguém que tem autoridade, assentou-se pronto para receber os que se dirigissem a Ele. Qualquer pessoa que assim o desejasse poderia vir, e o encontraria ali. Ele assentou-se com seus discípulos. Ele condescendeu em levá-los para assentar-se com Ele, para dar-lhes uma reputação perante o povo, e dar-lhes um sinal da glória que, em breve, desfrutariam com Ele. Está escrito que nós nos assentamos com Ele, Efésios 2.6.

4. A época em que isto aconteceu. As primeiras palavras, “depois disso”, não significam que isto aconteceu imediatamente depois daquilo que foi relatado no capítulo anterior, pois aconteceu bastante tempo depois, e estas palavras não significam nada mais que o decorrer do tempo. Mas nós lemos (v. 4) que foi quando a Páscoa estava próxima, o que é aqui registrado:

(1) Porque, talvez, isto tivesse trazido todos os apóstolos das respectivas expedições às quais tinham sido enviados como pregadores itinerantes, para que pudessem acompanhar seu Mestre a Jerusalém, para observar a festa.

(2) Porque observar a aproximação da Páscoa, trinta dias antes, com algum tipo de solenidade, era um costume observado religiosamente entre os judeus, de modo que muito tempo antes que ela estivesse próxima, eles consertavam as estradas e pontes, se houvesse oportunidade, e discursavam a respeito da Páscoa e sua instituição.

(3) Porque, talvez, a aproximação da Páscoa, quando todos sabiam que Cristo iria subir a Jerusalém, e ficaria ausente por algum tempo, tenha levado a multidão a procurá-lo mais, e a acompanhá-lo mais diligentemente. Observe que a perspectiva de perder nossas oportunidades deve nos motivar a aproveitá-las com o dobro da diligência, e, quando as ordenanças solenes se aproximarem, é bom que nos preparemos para elas, conversando sobre a Palavra de Cristo.

II – O milagre propriamente dito. Observe aqui:

1. Como Cristo percebeu a multidão que o acompanhava (v. 5): Ele levantou os olhos e viu que uma grande multidão vinha ter com Ele, pessoas pobres, humildes, comuns, sem dúvida, pois delas são feitas as multidões, especialmente neste tipo de região remota do país. Ainda assim, Cristo mostrou-se satisfeito com sua presença, e preocupado com seu bem-estar, ensinando-nos a ser condescendentes com aqueles de posição inferior, e a não colocarmos com os cães do nosso rebanho aqueles a quem Deus colocou com os cordeiros do seu. Para Cristo, as almas dos pobres são tão preciosas quanto as dos ricos, e assim devem ser para nós.

2. A pergunta que Ele fez a respeito da maneira de prover por eles. Ele dirigiu-se a Filipe, que tinha sido seu discípulo desde o início, e tinha visto todos os seus milagres, e particularmente aquele da transformação da água em vinho, e, portanto, seria de esperar que ele tivesse dito: “Senhor, se tu quiseres, será fácil para ti alimentar a todos”. Àqueles que, como Israel, foram testemunhas das obras de Cristo, e compartilharam do benefício delas, é imperdoável dizer: Poderá, porventura, preparar-nos uma mesa no deserto? Filipe era de Betsaida, em cuja vizinhança Cristo estava agora, e, portanto, ele tinha mais probabilidade de ajudá-los com a provisão a um custo menor. E provavelmente grande parte do grupo era de conhecidos seus, e ele estaria preocupado com eles. Agora Cristo perguntava: “Onde compraremos pão, para estes comerem?”

(1) Jesus dá como certo o fato de que todos devem comer com Ele. Alguém poderia pensar que depois de tê-los ensinado e curado, Ele já teria feito sua parte, e agora eles deveriam estar planejando como alimentá-lo, e aos seus discípulos, pois algumas das pessoas provavelmente eram ricas, e temos certeza de que Cristo e seus discípulos eram pobres. Mas, ainda assim, Ele se preocupa em recebê-los bem. Aqueles que desejam aceitar os dons espirituais de Cristo, em vez de pagar por eles, serão pagos por aceitá-los. Tendo alimentado suas almas com o pão da vida, Cristo alimenta seus corpos, também, com alimento conveniente, para mostrar que é o Senhor do corpo, para nos incentivar a orar pelo nosso pão de cada dia, e para nos dar um exemplo de compaixão pelos pobres, Tiago 2.15,16.

(2) Sua pergunta é: “Onde compraremos pão?” Poderíamos pensar, considerando sua pobreza, que Ele deveria ter perguntado: Onde conseguiremos dinheiro para comprar pão para eles? Mas Ele prefere dar tudo o que tem a ver que lhes falta comida. Ele irá comprar para dai; e nós devemos trabalhar, para podermos dar, Efésios 4.28.

3. O objetivo desta pergunta era experimentar a fé de Filipe, “porque ele bem sabia o que havia de fazer”, v. 6. Observe que:

(1) Nosso Senhor Jesus nunca se confunde nos seus conselhos, mas, por mais difícil que seja o caso, Ele sabe o que deve fazer, e que curso irá tomar, Atos 15.18. Ele sabe os pensamentos que pensa do seu povo (Jeremias 29.11), e nunca tem incertezas. Quando nós não sabemos, Ele mesmo sabe o que irá fazer.

(2) Quando Cristo se contenta em confundir seu povo, é somente com o objetivo de testá-los. A pergunta confundiu a Filipe, mas ainda assim Cristo a fez, para ver se ele iria dizer: “Senhor, se exerce­ res teu poder por eles, não precisaremos comprar pão”.

4. A resposta de Filipe a esta pergunta de Jesus: ‘”Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão’, v. 7. Mestre, é inútil falar em comprar pão para eles, pois nem a região terá tanto pão, nem nós poderemos dispor de tanto dinheiro. Pergunte a Judas, que é quem está com a bolsa”. Duzentos dinheiros, na moeda deles, são aproximadamente seis libras do nosso, e, se eles dessem todo este dinheiro de uma vez, isto acabaria com seus fundos, e os levaria à falência, e então eles mesmos passariam fome. Grotius avalia que duzentos dinheiros de pão não seriam suficientes para duas mil pessoas, mas Filipe desejava fazer o máximo que pudesse, desejava que cada um pudesse receber um pouco, e a natureza, dizemos, se contenta com pouco. Veja a fraqueza da fé de Filipe, que, nesta situação difícil, como se o Mestre da família fosse uma pessoa comum, procurou por suprimentos somente da maneira normal. Cristo poderia agora ter-lhe dito, como fez posteriormente: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe?” Ou, como Deus disse a Moisés, em uma situação semelhante: “Ter-se-ia encurtado a mão do Senhor?” Nós somos capazes de perder a confiança no poder de Deus quando os meios normais e visíveis fracassam, isto é, só confiamos nele se pudermos vê-lo.

5. A informação que Cristo recebeu de outro dos seus discípulos a respeito da provisão que tinham. Foi ”André”, aqui descrito como sendo “irmão de Simão Pedro”. Embora ele fosse mais antigo que Pedro no discipulado, e tivesse sido útil para trazer Pedro a Cristo, ainda assim Pedro, posteriormente, o superou tanto, que ele agora é descrito pelo seu parentesco com Pedro. Ele deu a conhecer a Cristo o que tinham disponível, e nisto podemos ver:

(1) A força do seu amor por aqueles com os quais ela via seu Mestre preocupado, pois estavam dispostos a dar tudo o que tinham, embora soubessem que eles mesmos poderiam ter necessidades, e que alguém poderia ter dito: A caridade começa em casa. Ele não procurou esconder, com o pretexto de ser um melhor administra­ dor da sua provisão do que era seu Mestre, mas honestamente informa tudo o que tinham. Aqui está um rapaz, um rapazinho, provavelmente alguém que costumava acompanhar este grupo, como os colonos fazem no campo, com provisões para vender, e os discípulos tinham reservado o que ele tinha para si mesmos, e eram “cinco pães de cevada e dois peixinhos”. Aqui:

[1] A provisão era rústica e comum. Eram pães de cevada. Canaã era uma terra de trigo (Deuteronômio 8.8). Seus habitantes normalmente se sustentavam com o trigo mais fino (Salmos 81.16), a gordura da flor do trigo (Deuteronômio 32.14), mas Cristo e seus discípulos se satisfaziam com pão de cevada. A conclusão aqui não deve ser a de que nós devamos nos prender a uma refeição tão rústica, estabelecendo-a como um padrão religioso (quando Deus traz aquilo que é mais fino às nossas mãos, devemos receber e ser gratos), mas que não devemos cobiçar manjares gostosos (Provérbios 23.3), nem murmurar se nossa alimentação estiver reduzida a refeições comuns, porém devemos ficar satisfeitos e agradecidos, sentindo-nos em paz. Pão de cevada é o que Cristo tinha, e é mais do que merecemos. Não devemos desprezar a provisão humilde dos pobres, nem considera-la com desprezo, lembrando-nos da provisão que Cristo tinha.

[2] Era pequena e insuficiente. Havia apenas cinco pães, e eles eram tão pequenos, que um rapazinho os carregava. E sabemos (2 Reis 4.42,43) que vinte pães de cevada, com outra provisão para ajudar, não alimentaram cem homens, sem um milagre. Havia apenas dois peixes, e pequenos, tão pequenos, que um deles era somente um pedacinho. Eu imagino que os peixes estivessem prontos para consumo, pois eles não fizeram fogo para condimentá-lo. A provisão de pão era pequena, e a de peixe era ainda menor, de modo que alguns entendem que eles deviam comer muitos pedaços de pão seco antes de fazerem uma refeição com esta provisão. Mas, na realidade, o Senhor multiplicou os pães e os peixes e todos comeram o quanto quiseram. O pão é alimento para a saciar nossa fome, mas sobre aqueles que murmuravam por carne está escrito: Pediram carne para satisfazerem seu apetite, Salmos 78.18. Com acerto, André desejava que o povo comesse o suficiente. Observe que um medo desconfiado de que nos falte não deve impedir que sejamos caridosos para com os outros.

(2) Veja aqui a fraqueza da fé de André, nas seguintes palavras: “‘Mas que é isso para tantos?’ Oferecer isto a uma multidão como esta é somente zombar dela”. Filipe e André não tiveram aquela verdadeira consideração sobre o poder de Cristo (do qual já tinham tido uma experiência tão grande) que poderiam ter tido. Quem alimentou o povo de Israel no deserto? Aquele que podia fazer um só homem perseguir a mil, podia fazer um pão alimentar a mil.

6. As instruções que Cristo deu aos discípulos, para que os homens se assentassem (v. 10): “‘Mandai assentar os homens’, embora não tenhais nada para colocar diante deles, confiai em mim”. Isto era como enviar a providência ao mercado, e ir às compras sem dinheiro. Assim, Cristo desejava colocar à prova a obediência dos discípulos. Observe:

(1) A mobília da sala de refeições: “Havia muita relva naquele lugar”, embora fosse um deserto. Veja como a natureza é generosa, ela faz produzir erva sobre os montes, Salmos 147.8. Esta relva não tinha sido comida pelos animais do campo, e serviu para as pessoas se sentarem. Cristo não somente dá o suficiente, porém mais do que o suficiente. Havia abundância de relva onde Cristo estava pregando. O Evangelho traz outras bênçãos consigo: “Então, a terra dará o seu fruto”, Salmos 67.6. Esta abundância de relva tornou o lugar mais confortável para aqueles que deviam se sentar no chão, e lhes serviu de almofadas, ou leitos (como eles chamavam o lugar onde se assentavam para comer, Ester 1.6). E considerando o que Cristo diz sobre a erva no campo (Mateus 6.29,30), estes leitos eram superiores aos de Assuero. A pompa da natureza é a mais gloriosa.

(2) O número de convidados: quase cinco mil, uma grande recepção, representando a do Evangelho, que é uma festa para todas as nações (Isaias 25.6), uma festa para todos aqueles que se aproximam dele.

7. A distribuição da provisão, v. 11. Observe:

(1) Foi feita com um agradecimento: Ele deu graças. Observe:

[1] Nós devemos dar graças a Deus pelo nosso alimento, pois o fato de tê-lo é uma graça, e nós o temos pela mão de Deus, e devemos recebê-lo “com ações de graças”, 1 Timóteo 4.4,5. E esta é a doçura dos nossos consolos de criaturas, que eles nos fornecerão motivo, e nos darão oportunidade, para este excelente dever de dar graças.

[2] Embora nossa provisão seja simples e insuficiente, e não tenhamos manjares refinados, ainda assim devemos dar graças a Deus pelo que temos.

(2) Ela foi distribuída a partir da mão de Cristo, passando pelas mãos dos seus discípulos, v. 11. Observe que:

(1] Todos os nossos consolos nos vêm, originalmente, da mão de Cristo. A despeito de quem quer que os traga, é Ele quem os envia. Ele os distribui àqueles que os distribuem a nós.

[2] Ao distribuir o pão da vida àqueles que o seguem, Ele se alegra em fazer uso do ministério dos seus discípulos. Eles servem à mesa de Cristo, ou melhor, administram sua casa, para dar a cada um “o sustento a seu tempo”.

(3) Foi feita para satisfação de todos. Eles não comeram apenas um pouquinho cada um, mas todos comeram “quanto queriam”, não uma porção pequena, mas uma refeição completa. E considerando o tempo que tinham jejuado, e o apetite com que se assentaram, como deve ter sido agradável esta refeição milagrosa, mais do que aquela que ser ia proporcionada por um alimento comum. Não lhes foi servido pouco alimento, uma vez que comeram o quanto quiseram, e sem custos. Cristo não economiza com aqueles a quem alimenta com o pão da vida, Salmos 81.10. Havia apenas dois peixinhos, e ainda assim eles comeram tanto quanto quiseram. Ele não reservou os peixinhos para os melhores convidados, nem dispensou os pobres com pão seco, mas os tratou a todos da mesma maneira, pois todos eram igualmente bem-vindos. Aqueles que dizem que alimentar-se de peixe é o mesmo que jejuar, desaprovam a recepção que Cristo fez aqui. Mas este foi, de fato, um banquete completo.

8. O cuidado que se tomou com o alimento que sobrou.

(1) As ordens que Cristo deu a este respeito (v. 12): “Quando estavam saciados”, e cada homem tinha em si mesmo uma testemunha da verdade do milagre, Cristo “disse aos seus discípulos”, os servos que Ele tinha empregado: “Recolhei os pedaços que sobejaram”. Observe que nós devemos sempre tomar cuidado para não desperdiçar nenhuma das boas dádivas de Deus, pois a concessão que temos delas, embora grande e abundante, tem uma condição: jamais desperdiçar algo por negligência, ou de forma deliberada. É justo que Deus nos faça faltar aquilo que nós desperdiçamos. Os judeus eram muito cuidadosos para não perder nenhum pão, nem deixá-lo cair ao chão, para ser pisoteado. Aquele que despreza o pão, cai nas profundezas da pobreza, era um ditado dos judeus. Embora Cristo pudesse ordenar provisões quando desejasse, ainda assim desejou que os pedaços que sobraram fossem reunidos. Quando estamos satisfeitos, nós devemos nos lembrar de que outros têm necessidades, e nós mesmos poderemos tê-las. Aqueles que desejam ter com que ser caridosos, devem ser econômicos. Se este alimento tivesse sido deixado sobre a relva, os animais e as aves os teriam apanhado. Mas aquilo que é adequado para ser alimento dos homens, é desperdiçado e perdido, se for atirado às criaturas brutas. Cristo não ordenou que o alimento fosse recolhido antes que todos estivessem saciados. Não devemos começar a ajuntar e acumular até que todo o alimento devido tenha sido distribuído, pois isto é reter, mais do que satisfazer. O Sr. Baxter observa aqui: “Quanto menos devemos perder a Palavra de Deus, ou seu auxílio, ou nosso tempo, ou outras misericórdias tão grandes como estas!”

(2) A obediência a esta ordem (v. 13): “Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos de pedaços”, o que em uma evidência, não somente da verdade do milagre (de que eles estavam alimentados, não com alimento imaginário, mas com comida verdadeira), mas da grandeza do milagre. Eles não somente ficaram saciados, mas houve alimento para isto, e ainda mais. Veja como é grande a generosidade divina. Não somente enche o cálice, mas o faz transbordar. Há pão suficiente, e de sobra, na casa do nosso Pai. As sobras encheram doze cestos, um para cada discípulo. Assim, eles eram recompensados, com juros, pela sua disposição em compartilhar o que tinham para o bem público. Veja 2 Crônicas 31.10. Os judeus tinham como uma lei, entre si, quando tivessem feito uma refeição, certificar- se de deixar sobre a mesa um pedaço de pão, no qual permanecesse um a bênção posterior à refeição, pois uma das maldições que recaem sobre o homem ímpio (Jó 20.21) é que “nada lhe sobejará para comer”.

III – Aqui está a influência que este milagre teve sobre as pessoas que tiveram seu benefício (v. 14): “Diziam: Este é, verdadeiramente, o profeta”. Observe:

1. Até mesmo os judeus comuns, com grande segurança, esperavam que o Messias viesse ao mundo, e fosse um grande profeta. Eles falam aqui da sua vinda com grande segurança. Os fariseus os desprezavam como não sendo conhecedores da lei. Mas, aparentemente, eles conheciam mais sobre Ele, que é o fim da lei, do que os fariseus.

2. Os milagres que Cristo realizou claramente demonstravam que Ele era o Messias prometido, um Mestre vindo de Deus, o grande profeta, e não poderiam deixar de convencer os espectadores maravilhados de que este era aquele que devia vir. Havia muitos que, mesmo estando convencidos de que Ele era aquele profeta que devia vir ao mundo, não recebiam cordialmente sua doutrina, pois não permaneceram nela. Existem uma incoerência e inconsistência tão infelizes entre as faculdades da alma corrupta e insatisfeita, que é possível que os homens reconheçam que Cristo é aquele profeta, e ainda assim se façam de surdos a Ele.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O NINHO VAZIO

A síndrome do ninho vazio costuma afetar os pais quando os filhos saem de casa, mas, de fato, ela começa bem antes disso.

O ninho vazio

Qualquer problema, quando ignorado, guarda em si o terrível potencial de provocar desastres no futuro. Acrescente-se a isso toda uma sabedoria popular que, neste caso, de sábia pouco possui, a aplaudir um comportamento pra lá de disfuncional e que, a despeito disso, é tido como referência. O resultado? Uma “doença” (curiosamente também criada pelo senso comum) chamada de síndrome do ninho vazio. Apesar de não estar incluída no Manual de Transtornos Mentais (DSM- 5), a síndrome do ninho vazio parece ser bastante real e se caracteriza por um sentimento de tristeza e desânimo intensos (que podem até mesmo evoluir para um quadro depressivo) que os pais sentem quando os filhos saem de casa e vão viver suas vidas. Geralmente a síndrome costuma ser acompanhada por outros sintomas tais como distúrbios do sono, raiva, distúrbios alimentares e perda de libido, e parece atingir mais as mulheres que os homens, o que de fato não chega a surpreender, dada a figura mítica que o papel de mãe representa em nossa sociedade e que acredito estar na raiz da etiologia dessa “doença”. Vivemos em uma época de distorções na qual superestimamos nosso poder de determinar o tipo de adultos que nossos filhos se tornarão. Trata-se de uma tendência a um ambientalismo exagerado que parece desconhecer as bases genéticas da personalidade e que já foi devidamente denunciada por pesquisadores renomados, tais como Steven Pinker; mas que, nem por isso, abandona o imaginário popular. Assim, seguimos acreditando que tudo o que temos a fazer é “apertar o botão certo” para que nossos filhos se tornem adultos maravilhosos. Uma tremenda responsabilidade que (ainda) costuma recair mais sobre os ombros femininos, afinal, como todos sabem, tudo é culpa da mãe! E se tudo é culpa da mãe, cabe a ela dedicar sua vida aos filhos, a fim de que eles cresçam felizes, dignos e bem­ -sucedidos, certo? Pois é aí que os problemas começam. Pressionadas pelo mito da maternidade, e embaladas pelo delírio de um ambientalismo exacerbado na determinação da personalidade de seus filhos, muitas mulheres acabam levando essa missão às raias da loucura. Falando de uma maneira mais simples, elas simplesmente abandonam o papel de mulher para se tornarem mães. E é exatamente nesse momento, de forma sorrateira, que as bases da síndrome do ninho vazio se instalam. Dia desses, em uma sessão de coaching, perguntei a uma cliente como ela avaliava o aspecto da diversão em sua vida. Espantada com a pergunta, ela me disse que há 10 anos havia deixado de pensar sobre isso, e que pensava apenas na diversão do filho. Como clínica, vejo isso como algo desastroso. Mas o mais perverso de tudo é ver a sociedade aplaudindo esse tipo de comportamento: a renúncia de uma boa mãe! Fazendo uma analogia com fatores de risco para a saúde física, vejo isso como um severo caso de hipertensão que, se não for devidamente tratado hoje, implicará em graves riscos futuros, dentre eles a síndrome do ninho vazio. Afinal, qual seria o prognóstico de uma mãe que, depois de passar 30 anos renunciando à diversão e, é claro, a si mesma, vê seu filho (traidor) sair de casa para viver sua própria vida? Podemos imaginar que essa mãe passará então a se divertir? Certamente não. Principalmente porque, após tamanho afastamento de suas próprias necessidades, essa mulher acabará como uma pobre desconhecida de si mesma. Alguém que nem mesmo ela própria saberia como agradar. Esse é o ninho que verdadeiramente está vazio: o seu próprio ninho que ela escolheu abandonar quando entendeu, erroneamente, que esta seria a melhor forma de se tornar uma boa mãe.

A Psicologia Positiva possui uma versão positiva para vários temas considerados disfuncionais ou degenerativos, tais como o crescimento pós­ traumático (em oposição ao estresse pós-traumático) ou o succesful aging (contrapartida do simples envelhecimento). Haveria uma versão positiva para a síndrome do ninho vazio? Falaremos sobre isso na próxima oportunidade. Até lá!

 

LILIAN GRAZIANO – é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área – graziano@psicologiapositiva.com.br

 

OUTROS OLHARES

O TOTALITARISMO DA ERA DIGITAL

De quem são seus dados pessoais? A quem eles pertencem? A você, ao Estado ou a alguma empresa privada?

O totalitarismo da era digital

Essa é das questões mais controversas da ética digital. Podemos reformulá-la com mais precisão da seguinte maneira: serão seus dados algo inerentemente pessoal, um bem inalienável ou uma mercadoria que pode ser comercializada?

Essa polêmica ganhou impulso na mídia quando os dados de milhões de pessoas foram derramados na internet pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, órgão governamental cuja existência foi mantida em segredo por vários anos. Nunca saberíamos disso se Edward Snowden, um engenheiro de software da NSA, que sofre de síndrome de Asperger, não tivesse vazado esses dados para alertar o mundo e para se vingar de seus empregadores.

Penso que desenvolver algo parecido com uma ética dos dados pessoais não faz sentido, pois todos os nossos dados já foram devassados e hackeados. Não adianta fechar a porteira depois que o cavalo escapou. O que nos resta fazer é administrar o desastre, isto é, saber como poderemos sobreviver no totalitarismo digital. Temos de aprender a conviver com notícias falsas, feitas sob medida para nos persuadir a votar em um determinado candidato nas próximas eleições. Temos de resistir ao impulso de comprar alguns produtos escolhidos especialmente para cada um de nós. As pessoas gostam de fazer compras, pois pensam que estão tomando decisões, sem saber que, de fato, suas escolhas são induzidas subliminarmente, sobretudo quando alguém dispõe de seus dados pessoais e pode prever suas tendências de consumo.

Ainda não existe nenhuma legislação internacional para regular o acesso aos dados pessoais. Temos de conviver com esse vácuo jurídico e ético. Para os governos e para as grandes corporações digitais é conveniente manter a internet uma terra de ninguém. É nela que se cultivam as fake news e outra formas de manipular opinião pública, usando os dados pessoais de milhões de pessoas. A Rússia gasta 350 bilhões de dólares por ano para manter fabricantes de fake news e hackers, que criam, todos os anos, novos vírus que ameaçam a segurança de grandes empresas. Coincidentemente, a maior empresa de proteção contra vírus corporativos é russa.

Como seria possível inibir a pirataria de dados pessoais? Pouco adianta multar grandes corporações. Há dois anos, a Volkswagen nos Estados Unidos foi multada em 25 bilhões de dólares por falsificar, deliberadamente dados sobre a poluição causada por seus novos modelos de carro a diesel. A empresa pagou a multa e continuou operando.

Da mesma forma, pouco adiantaria multar uma grande corporação digital pelo vazamento de dados pessoais. O Facebook fez isso. Vazou os dados de 90 milhões de pessoas e interferiu nas eleições presidenciais americanas de 2016, que levaram Trump ao poder. O CEO do Facebook, o arquibilionário Mark Zuckerberg, foi intimado a depor no Congresso. Em sua conversa melosa, pediu desculpas aos usuários do Facebook e declarou que isso nunca mais acontecerá. Como o governo dos Estados Unidos poderia multar o Facebook se até a polícia americana utiliza as postagens para rastrear dados de pessoas que desejam obter visto de entrada no país? O Facebook se tornou tão poderoso que pode apedrejar político e destruir lideranças em poucas horas, expondo algum segredo íntimo das autoridades públicas em nome da transparência. Quem se atreveria a confrontar esse monstro?

O uso dos dados pessoais quase sempre sem conhecimento é antiético. No entanto, a maioria dos governos atuais acredita que o processamento desses dados usando técnicas de Big Data permitirá aperfeiçoar as políticas públicas, os programas sociais e fazer previsões econômicas mais seguras, que levarão à prosperidade. Países como Singapura já falam de Big Bang Data, o uso de dados pessoais para melhorar a economia, a democracia e a participação dos cidadãos no governo.

A Estônia, um país com aproximadamente 1,3 milhão de habitantes, está se tornando a primeira república digital do planeta e se proclamou a E-stonia. A inovação é o uso obrigatório de um cartão de identidade eletrônico por todos os cidadãos estonianos. Sem esse cartão não é possível sequer acessar a internet e se conectar às plataformas de serviços públicos on-line. Quando dados pessoais como prontuários médicos ou fichas criminais são alterados ou atualizados, o portador do cartão é automaticamente alertado. É uma técnica semelhante ao blockchain.

Na Estônia os dados pessoais não são públicos; só o Estado e o portador do cartão têm acesso a eles. O Estado estoniano se redefiniu, nos últimos anos, como um grande prestador de serviços, entre eles o de ser o guardião dos dados pessoais de seus cidadãos. O uso do cartão obrigatório     permite identificar os usuários estonianos das redes sociais, pois ele é um rastro digital indelével. Não há como introduzir avatar nas redes sociais, e alguém postar fake news ou discursos de ódio, rapidamente será rastreado. Será que esse Leviatã eletrônico será bem-sucedido? Ou apenas mais uma versão do totalitarismo digital?

A privacidade não é mais um direito, um privilégio. Mas, para aqueles que não puderem pagar por esse luxo pós-moderno, pense que seria razoável leiloar, na internet, seus dados pessoais. As grandes empresas teriam de fazer lances com base no nome da pessoa e, no máximo, sua localização. Os riscos seriam menos assimétricos e a ética do informe consentido seria respeitada.

O totalitarismo da era digital.2 

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA – é paulistano, formado em filosofia na USP, viveu e estudou na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre filosofia da mente e tecnologia. Lecionou na UNESP, na UFSCar e na PUC-SP.

GESTÃO E CARREIRA

AQUELES QUE A SUA EMPRESA REPRESENTA

Encontre espaço apoiando públicos específicos e carentes de representatividade.

Aqueles que a sua empresa representa

O Brasil é o país que mata LGBT+ – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros – no mundo.  Segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGBA) os assassinatos aumentaram em 30% entre 2016 e 2017. Aumentou também, entre 2012 e 2016, a população que se declara preta do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número subiu 14,9%. Mesmo assim, o Atlas da Violência 2018 mostrou que os assassinatos de negros cresceram 23% enquanto os de brancos caíram 6,8%. Os dados mostram algo importante nas entrelinhas: essas pessoas precisam de representatividade – desde a luta organizada por direitos até a inclusão de mercado.

É importante considerar ainda que, mesmo a população brasileira com ensino superior sendo formada majoritariamente por mulheres, elas ainda possuem menores salários em relação aos homens. Além disso, faltam serviços e produtos focados nelas que transcendam estereótipos. Por fim, uma pesquisa do IBGE divulgada este ano mostra que o número de idosos já ultrapassa 30 milhões. As pessoas acima dos 60 anos também têm mudado seu padrão de comportamento e, consequentemente, de consumo.

O Estudo Oldiversity 2018, da Croma Solutions, aponta que 47% dos entrevistados “não têm lembrança de fatos ou conteúdos relevantes capazes de conectar marcas a causas ou questões humanas”. E tem mais: o público LGBT+ mostra-se protagonista em suas causas, além de atuar de forma mais contundente em causas de raça, longevidade e PcDs (Pessoas com Deficiência). Apresenta ainda maior expressividade em todos os indicadores, apontando que sua fidelidade a marcas Oldiverstiy© (72%) é mais significativa que a média (43%) de toda a amostra afirmam, ter uma mudança de comportamento de compra e consumo. Pessoas com deficiência são o segundo público com maior expressividade, seguidos por negros e, por fim, héteros sem deficiência”, detalha o CEO do Cromo e responsável pelo estudo, Edmar Bulia.

ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES?

Há empresas de previdência como a Ciclic, fundada no final de 2017, que encontra uma boa demanda dentro desse mercado – já estruturado e com definições claras de como atuar. Além disso, com o já projetado aumento do número de idosos e diminuição de nascidos, não falta público consumidor.  A empresa mostra que diferenciais como trazer um plano complementar para a realização de sonhos a curto prazo – viagens ou festas de casamento, por exemplo-, podem ajudar a se destacar no segmento.

Bulia ressalta que há demandas claras e com grande potencial, com oportunidades não apenas de novos canais nos quais essas populações possam se expressar, mas com produtos e serviços que permitam o diálogo e supram necessidades específicas, incluindo no plano de negócios uma estratégia de comunicação aderente à realidade. E para entender o que seu público precisa, nada melhor do que sentir o que ele sente. Nesse contexto, vale lembrar que os empreendimentos ainda são restritos quanto à contratação dos colaboradores, sem julgar gênero ou cor.

Uma pesquisa de 2016 do Instituto Ethos com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostrou que, entre as 500 maiores empresas do País, mulheres ocupavam somente 13,6% dos altos cargos, enquanto apenas 6,3% dos gerentes e 4,7% dos executivos eram negros. Quando o comportamento humano é tomado como protagonista de um negócio, todos os benefícios florescem.  A recomendação e a recompra talvez sejam os melhores indicadores de um novo negócio focado 100% em necessidades”, completa Edmar Bulla, destacando que 72% dos participantes de sua pesquisa não acreditam na autenticidade das marcas quando falam sobre o tema.

COMO EU ME PREPARO?

Em 2017, a campanha “Viajar Quebra Preconceitos”, de uma marca de carros, tentava romper com estereótipos, mas acabou reforçando preconceitos como “baianos são lentos. Outra ação, que utilizava o papel higiênico na cor preta enrolado ao corpo de uma atriz branca, usou a expressão “Black is Beautiful” – frase do movimento cultural afro-americano da década de 1960, o que fez parecer uma apropriação indevida. “Lugar de discurso é aquele em que você tem experiência, vivenciou contextualizações que fazem com que tenha propriedade no discurso. Sou psicólogo de pessoas em situação de rua. Não sou viciado em drogas, mas tenho contato aprofundado com as pessoas que vivem essa realidade, então sei quais são os efeitos e prejuízos. O maior desafio é se apropriar de um discurso que, além de não ser o seu, você não teve contato.  “Texto sem contexto, é pretexto”, explica o psicólogo e músico Lucas Adon.

Ele completa que uma marca precisa estar atenta ao tomar para si coisas destoantes do público a que ela atende ou à própria história da empresa, seja na hora de escolher uma causa para abraçar ou na maneira de comunicar o produto.

O Lady Driver é um exemplo de quem fez certo. O aplicativo que serve como um Uber apenas com motoristas e passageiras mulheres, completou um ano com 18 mil motoristas cadastradas e 210 mil downloads em São Paulo, Guarulhos e Rio de Janeiro. “Sofri assédio e foi muito mim. Então, iniciei o projeto em 2016. Fiquei quase um ano entre desenvolver o aplicativo e conseguir a legalização da empresa na prefeitura. Começamos com 1.800 motoristas. Hoje, o número de corridas aumentou, cerca de 100%, de um mês para o outro conta a empresária Gabryella Correa.

Sabendo ainda que as mulheres que dirigem Uber ganham 7% a menos que os homens, segundo pesquisa da Universidade de Stanford, ela faz questão de promover incentivos que paguem melhor a elas. “Não adianta as empresas passarem uma imagem (com discursos, propagandas) e serem totalmente diferentes na prática”, acrescenta.

Já o Afrobusiness, criado em 2015, é voltado à inserção da população preta no mercado de trabalho, especialmente no comércio eletrônico, logística, contabilidade, finanças, gestão do tempo e outros. Hoje, já são mais de mil pessoas capacitadas. “O mercado está propício para atender a demandas represadas. e o público negro tem muita. Se pensarmos que há dez anos não existia a variedade de produtos para cabelos afro e cacheados, já dá para ver o potencial deste mercado. Os empreendedores negros têm todos os desafios de quem empreende; mais os ocasionados pelo racismo. Existem pesquisas, por exemplo, que mostram que eles têm o crédito negado três vezes mais do que um empreendedor branco, destaca a cofundadora, Fernanda Leôncio.

Nesse cenário, a Feira Preta é case desde 2002.”Queria trabalhar com dois segmentos: atuar em todas as linguagens artísticas, produção, valorização e disseminação da cultura; e reunir empreendedores voltados para uma segmentação com uma estética negra, como roupas, acessórios, maquiagens, objetos de decoração, livros, peças de artes, conta a empreendedora social Adriana Barbosa.

O próximo passo foi mapear informações, coletar expositores, e colocar a mão na massa. Pouco tempo depois, já havia patrocínio da Unilever, Kaiser, Red Bull e da Prefeitura de São Paulo. “Ela é gerida pelo Instituto Feira Preta, uma plataforma que há 16 anos fortalece a cultura negra no Brasil. A feira Preta reuniu mais de 150 mil pessoas em 16 edições, promovendo a circulação de mais de R$4,5 milhões, destaca.

SIMPATIZAR X REPRESENTAR

O simpatizante apoia a causa. O representante está contextualizado no meio – seja por vivenciar, sentir ou por produzir sentido. Nesse contexto, a Absolut criou uma campanha focada no público LGBT+ incluindo, entre outras ações, um clipe com Lino da Quebrada e As Bahias e a Cozinha Mineira. “A ligação de Absolut com esse público não vem de hoje. Globalmente, apoiamos públicos minoritários para dar visibilidade a temáticas sociais. A partir disso, “criamos a Absolut Art Resistance”, apoiando artistas que usam a arte como uma ferramenta de resistência cultural para estimular o debate do tema na sociedade”, conta a Brand Manager Absolut & Absolut Elyx, Patrícia Graicar.

A profissional destaca que um dos desafios previstos eram os haters, que foram poucos. “Recebemos o apoio dos consumidores, que abraçaram a causa. A campanha nos trouxe uma combinação perfeita entre visão social e negócios”, completa Patrícia, reforçando a necessidade de consistência no discurso ao longo do tempo.

Laís Carneiro trabalha com audio­visual e aproveitou uma brecha para apoiar um discurso parecido. “O cantor João Bernardo me convidou para dirigir o clipe de “Hoje Só Volto Amanhã. É uma música de amor, e percebi que o eu lírico não tinha gênero. Resolvi sair do lugar-comum e trouxe duas atrizes trans que compõem respectivamente um casal heterossexual e um casal lésbico, junto a uma atriz e um ator cis. O mais interessante é que a música em si não traz um discurso, mas a gente trouxe por essa escolha, explica.

 Aqueles que a sua empresa representa.2

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PSICOLOGIA ANALÍTICA

A ESTRANHA ATRAÇÃO POR CRIANÇAS

Casos de abuso contra meninos e meninas costumam causar comoção social. Parece difícil acreditar que gente considerada “normal” seja capaz de cometer esse tipo de ato. No entanto, pessoas comuns costumam praticar crimes mais graves do que aquelas apontadas como doentes mentais; associar diagnósticos com a violência só tende a aumentar o estigma em relação aos distúrbios psíquicos.

A estranha atração por crianças

O clube esportivo anuncia que está à procura de um voluntário para supervisionar a área das piscinas infantis. Yago se inscreve e, poucos dias depois, consegue a vaga. Cuidadoso e dedicado, rapidamente ganha a confiança das crianças. Para muitos pais e funcionários, o adolescente tem um verdadeiro dom para lidar com os pequenos. O que ninguém sabe é que o rapaz de 16 anos guarda um segredo: ele gosta de admirar o corpo seminu das crianças, o que lhe provoca excitação sexual – e culpa. Temendo colocar em prática o que se passa em sua cabeça, volta para casa e se masturba.

A atração por crianças apareceu cedo. O adolescente se deu conta das fantasias sexuais quando tinha 11 anos. Desde então, diz lutar contra esses impulsos. A angústia o levou a desabafar com um amigo antes de chegar a um profissional. Mas, assim que assumiu o que sente em relação aos pequenos, sofreu represálias e ameaças de responsabilização criminal – o que não é de admirar, afinal, casos de violência sexual contra crianças causam repugnância à sociedade. A antropóloga Laura Lowenkron, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que cenas de abuso infantil – reais ou fictícias – representam o inimaginável, o indizível, e podem violentar simbolicamente o espectador. Mas será que fantasia e comportamento devem ser considerados equivalentes?

ESTIGMA E SISTEMA PENAL

O horror de escutar um relato com esse conteúdo tende a nos fazer tomar a fantasia como algo que já aconteceu. Vejamos, entretanto, o que diz a lei sobre isso. As previsões que encontramos no Código Penal brasileiro e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) permitem o enquadramento daqueles que venham a praticar o abuso sexual em suas mais variadas formas. Do ponto de vista da Justiça, a responsabilização jurídica incide sobre atos, não sobre fantasias.

Yago conta que nunca fez sexo com nenhuma criança. Aliás, diz que não mantém relações sexuais com ninguém. No entanto, quem escuta que alguém fantasia sexualmente com uma criança, ainda que o abuso jamais se concretize, pode se sentir horrorizado. Para muitos, essa pessoa pode ser passível de punição, mesmo que pela lei o desejo não seja crime.

Claro, existe a preocupação de que o adolescente passe da fantasia ao ato. O que há com esse indivíduo? Será que é pedófilo? Abusador? Pode se transformar em um? Segundo definição da quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), da Associação Psiquiátrica Americana (APA), a pedofilia é um transtorno psiquiátrico que envolve impulsos sexuais intensos, recorrentes e, por vezes, incontroláveis em relação a crianças. No entanto, no senso comum, muitas vezes o termo “pedofilia” é utilizado no contexto de qualquer ato de abuso sexual infantil, ainda que as características acima não estejam presentes.

Mesmo entre profissionais, é bastante comum a associação de pedófilos com abusadores. A literatura aponta, porém, que 75% dos pedófilos nunca chegam a passar da fantasia para o crime, segundo o psicólogo Antônio Serafim, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IP-q-HCFMUSP). O psiquiatra Miguel Chalub, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), esclarece que somente de 2% a 10% dos indivíduos que abusam de crianças podem ser considerados pedófilos. Uma pessoa que venha a praticar qualquer ato de natureza sexual contra os pequenos, sem dúvida, comete abuso e crime, mas não necessariamente se enquadra no diagnóstico pedofílico. A pedofilia é uma entre outras possibilidades de denominar e compreender o fenômeno da violência sexual infanto-juvenil. Casos de abuso contra crianças costumam causar comoção social. Para muitos, é difícil acreditar que uma pessoa considerada “normal” seja capaz de cometer esse tipo de ato, atribuindo, assim, a culpa ao “louco”, ao “perverso”, ao “pedófilo”. Mas Serafim relembra que pessoas comuns costumam praticar crimes mais graves do que aquelas apontadas como doentes mentais. Segundo ele, associar diagnósticos com a violência tende a aumentar o estigma em relação aos distúrbios psíquicos. O fato é que a maior parte dos abusos sexuais é praticada por quem não tem nenhum diagnóstico. Isso mesmo: por pessoas comuns e que não têm compulsão por se relacionar sexualmente com crianças nem fixação por elas. Um estudo recente conduzido pelo psiquiatra Alexandre Martins Valença, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que agressores sexuais em geral são pessoas conhecidas da criança e consideradas “normais”, sendo capazes de entender a gravidade de seus crimes.

O criador da psicanálise, Sigmund Freud, já sabia disso em 1905, quando publicou Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. “A experiência ensina que não se observam entre os loucos quaisquer perturbações da pulsão sexual diferentes das encontradas entre os sadios, bem como em raças e classes inteiras. Assim, com a mais insólita frequência encontra-se o abuso sexual infantil entre aqueles que cuidam de crianças, simplesmente porque a eles se oferece a melhor oportunidade para isso”, escreveu.

É comum que o abusador sexual tenha algum tipo de vantagem sobre a criança ou o adolescente, com acesso facilitado, e que esteja num nível hierárquico maior, como um parente ou amigo íntimo da família. Uma de suas características é que nem sempre sente forte e contínuo interesse por crianças, diferentemente do pedófilo. 

Até hoje, me recordo de pouquíssimos casos que atendi em que a pessoa acusada de cometer abuso sexual infantil demonstrasse compulsão sexual ou fixação por crianças. O mais comum é escutar histórias em que, por exemplo, um avô – casado e com vida sexual ativa com a esposa – tenha tocado as partes íntimas da neta depois de a menina, um pouco mais crescida, se sentar em seu colo com vestido. Ou situações na escola, em que um garoto maior tenha chamado um mais novo para ir ao banheiro para comparar o tamanho do órgão genital e pedido que a criança menor o tocasse. Certa vez, uma tia que costumava cuidar do sobrinho foi flagrada pela família acariciando sexualmente a criança enquanto beijava seus lábios, sem violência física. Em todos esses casos, não se observou nenhum tipo de compulsão. Nossa tendência, no entanto, é alimentar um imaginário estereotipado a respeito da figura do abusador. Pessoas completamente diferentes – de qualquer classe social, etnia, profissão – são capazes de cometer esses atos.

CIVILIZAR, REPRIMIR, SUPRIMIR

Muito além da questão moral ou criminal, o abuso sexual é contra a cultura. Há rompimento da aliança social. No livro Pacto edípico e pacto social (Rocco, 1987), o psicanalista brasileiro Hélio Pellegrino, falecido em 1988, afirma que, na idade adulta, se acrescenta ao pacto com a “lei da cultura”, centrado em torno da renúncia aos impulsos sexuais, acrescentar-se o pacto social. “Civilizar é, portanto – e por um lado –, reprimir ou suprimir. A lei não existe para humilhar e degradar o desejo, mas para estruturá-lo, integrando-o no circuito do intercâmbio cultural”, destaca.

Bem, se a questão tem a ver com a cultura, qual seria então o impedimento da interação sexual com crianças pequenas nos casos em que o círculo social tolera? Não são raras as vezes em que, depois de ministrar alguma palestra sobre o tema, alguém me procure em privado para fazer essa pergunta. Para nos ajudar nessa reflexão, vejamos o que acontece, por exemplo, em algumas regiões do Afeganistão. O documentário The dancing boys of Afghanistan  (Os meninos dançarinos do Afeganistão, em tradução livre), de 2010, dirigido pelo jornalista afegão Najibullah Quraishi, aborda a centenária tradição bacha bazi (meninos para brincar), em que homens ricos e influentes sequestram ou compram garotos pobres, entre 10 e 18 anos, para serem usados como escravos sexuais. Nessas situações, meninos maquiados, vestidos com roupas femininas, devem se apresentar dançando e, assim, satisfazer sexualmente homens mais velhos. Símbolo de autoridade e influência, a prática foi proibida pelos talibãs quando estiveram no poder no Afeganistão, entre 1996 e 2001, mas ressurgiu nos últimos anos e, surpreendentemente, é amplamente aceita em um país que condena a homossexualidade, sendo comum em zonas rurais do sul e do leste do país, assim como nas regiões tayikas do norte, segundo informações divulgadas pela agência de notícias francesa France-Presse (AFP).

Um relatório de 2014 da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC, na sigla em inglês, que pode ser consultado em http://www.aihrc.org.af/home/research-reports/3324) denuncia estupros constantes desses garotos. O documento diz ainda que eles “apresentam sinais de estresse e de perda da autoestima, desesperança e pessimismo”. O bacha bazi desperta temor entre as outras crianças, mas também sentimentos de vingança e hostilidade. O que sustenta a prática, segundo a AIHRC, é a falta de um estado de direito e de acesso à Justiça, assim como a corrupção, o analfabetismo, a pobreza, a insegurança e a presença de grupos armados.

E, mais uma vez, recorremos também ao criador da psicanálise. Freud revolucionou e ampliou a compreensão sobre a sexualidade, trazendo a ideia de que ela está presente desde a infância e que, nesse momento, está ligada à sobrevivência e ao prazer que a criança encontra no próprio corpo, por exemplo, quando suga a mamadeira. No entanto, jamais defendeu a vivência da sexualidade infantil como na vida adulta. Isso seria uma violência e poderia provocar traumas, pois o psiquismo da criança não é capaz de traduzir as sensações provocadas por esse tipo de experiência.

DA PRODUÇÃO AO CONSUMO

Resumir o complexo fenômeno da violência sexual de crianças à figura do pedófilo nos impede de olhar com mais atenção para muitos fatores envolvidos na violência sexual infantil, como as desigualdades de poder, que, segundo Lowenkron, é problemática central dessa discussão. “O estigma em relação à pedofilia tende a nos levar a focar na ‘ameaça’ das perversões, como se a causa do abuso sexual infantil e da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes pudesse ser atribuída predominantemente a uma tara ou perversão sexual”, afirma a pesquisadora.

De fato, a pornografia infantil, por exemplo, envolve uma relação de mercantilização dentro de uma estrutura capitalista muito bem organizada, que não se resume a um diagnóstico ou a uma estrutura psíquica. Nesses casos, o ciclo começa na produção, passa pela comercialização e a divulgação e se encerra no consumo das imagens.

A antropóloga detalha o circuito da exploração sexual. No primeiro estágio, crianças e adolescentes participam de alguma cena de sexo explícito ou pornográfica. A segunda etapa da cadeia é a comercialização do material produzido, o que torna a pornografia infantil um negócio lucrativo e retroalimenta a produção de fotos e vídeos infantis. O terceiro passo é a divulgação. A aquisição, a posse e o armazenamento dessas imagens fecham assim o ciclo que inclui todas as etapas do fenômeno da pornografia infantil. É importante saber que qualquer envolvimento, por menor que seja, em qualquer parte desse circuito é crime.

Nesse contexto, o voyeurismo é absorvido como demanda de consumo e os pequenos, tratados como mercadoria erótica. Esse processo mais amplo de abuso e exploração sexual comercial alimenta os anseios de lucro da máfia de aliciadores e vendedores de crianças, bem como produtores e negociantes de pornografia infantil.

A maioria dos pedófilos não se relaciona sexualmente com menores de idade de forma direta. No livro Child pornography: an internet crime (Psychology Press, 2003, não publicado no Brasil), os pesquisadores de comunidades e redes de pedofilia Max Taylor e Ethel Quayle observam que quem consome pornografia infantil costuma colecionar, catalogar e classificar imagens, interagindo sexualmente com elas por meio da masturbação e da fantasia. Muitos passam horas na rede em busca de pornografia infantil ou em salas de bate-papo na internet, onde se sentem à vontade para dar vazão a suas fantasias, ambiente que, segundo Lowenkron, é um lugar privilegiado de falseamento das identidades e outras fabulações.

Aqui é preciso esclarecer que, ainda que não pratiquem sexo com menores de idade, esses indivíduos participam do abuso contra crianças, pois consomem pornografia infantil. Nesse ponto, não faz diferença se a pessoa é pedófila, abusadora, doente mental ou apenas curiosa – qualquer envolvimento com cenas de sexo com menores de idade é crime, pois a integridade física e psicológica da criança está em primeiro lugar e quem atentar contra isso deverá sofrer as sanções penais cabíveis. Já em relação ao tratamento ou a qualquer tipo de intervenção, a distinção é imprescindível – é o que permite diferenciar cada situação e elaborar estratégias para lidar com o problema.

A FANTASIA E O ATO

Pornografia, prostituição e tráfico e venda com propósitos sexuais com crianças são formas de exploração sexual infantil. Sem dúvida, os casos envolvendo a mercantilização do corpo são os mais complexos e hediondos de que me recordo. Ainda assim, algo pode ser feito. Eu me lembro de uma adolescente que, com apenas 16 anos, já estava numa rede de exploração havia uma década. Aos 6 anos, começou a fazer favores sexuais para estranhos em troca de comida para a mãe e os irmãos, a pedido da própria família, que vivia na miséria. Foi assim que aprendeu a ganhar balas, bolachas, brinquedos. Com apenas 10 anos, negociava em dinheiro. O lucro ia para o aliciador e o pouco que sobrava acabava nas mãos do traficante, em troca de alguma droga.

Dependente de cocaína e outros entorpecentes, a garota passou boa parte da vida nessa rede de exploração, em meio à degradação, numa área pobre no limite entre São Paulo e Guarulhos – uma realidade bem conhecida pela mídia e pela população local. Seus clientes? Caminhoneiros de todo o Brasil que continuam, ainda hoje, parando por lá antes de seguir viagem. Um pequeno detalhe sempre chamou atenção da garota: a aliança dourada no quarto dedo da mão esquerdados clientes.

Depois de muito esforço multiprofissional, uma boa articulação com o Sistema de Garantia de Direitos (SGD), infindáveis discussões de caso e perseverança dos profissionais envolvidos e da adolescente, ela saiu da rede de exploração sexual. Não sem intimidações e ameaças, inclusive de morte a ela e sua família. De um ponto de vista mais subjetivo, ainda há muito trabalho pela frente com a adolescente, mas ela começa a vislumbrar outras possibilidades de experiência, de trocas afetivas e de relações.

Muitos que cometem atrocidades, como nos exemplos mencionados aqui, recebem o diagnóstico de perversão (ou, como prega o senso comum, de psicopatia), como se o fenômeno em si, o ato moralmente condenável, correspondesse a determinada estrutura psíquica. É muito comum, mesmo entre profissionais, a associação entre perversão e crueldade.

Entretanto, para quem trabalha com esses casos, faz toda a diferença distinguir entre o sentido comum do termo “perversão” (que está associado com depravação, imoralidade, desumanidade, maldade) e o da perversão como diagnóstico. É o que permite orientar o tipo de intervenção. Mas isso não é nada fácil. O jeito de pensar a saúde mental é, em grande parte, orientado pela observação e comparação dos comportamentos. Assim, uma pessoa com determinadas condutas pode ser enquadrada em tal categoria. Desse ponto de vista, é natural atribuir o diagnóstico de perversão a alguém que tenha praticado um ato que julgamos perverso.

A psicanálise, entretanto, tem uma proposta diagnóstica que considera os fenômenos apenas como ponto de partida, mas não como definidores da estrutura psíquica. Diagnosticar um sujeito perverso, assim, requer escutar sutilezas. Em Kant com Sade (1963), o psicanalista francês Jacques Lacan nos ensina que não basta detectar um cenário de gozo perverso, mas é preciso identificar a posição que o sujeito ocupa diante do outro na fantasia e como isso aparece em relação ao seu desejo inconsciente.

Afinal, como reconhece Freud (1905), a perversão sexual é encontrada em todos. “A disposição às perversões é a disposição originária e universal da pulsão sexual dos seres humanos”, escreve. No clássico artigo O estranho, de 1919, o criador da psicanálise faz também uma importante distinção entre construções imaginárias e ato, esclarecendo que a fantasia é capaz de realizar, sem realizar, o desejo. E completa que, na fantasia, o sujeito se encontra diante de algo que diz respeito a si, mas que vê como estrangeiro, que gera prazer, mas também é repugnante.

Os mais diferentes e insólitos tipos de satisfação estão presentes em todos nós, de forma atenuada, disfarçada ou restrita, segundo o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia, da Universidade de São Paulo (IP-USP). “Não é pela ausência ou presença dessas tendências que podemos definir a perversão. Os perversos não são extra-humanos, mas demasiadamente humanos. O problema para definir a perversão, nesse sentido, é que temos de resolver o chamado paradoxo ético do ato. Não basta saber se ele é conforme ou contrário à lei, mas saber qual tipo de experiência ele produz em quem o realiza e o tipo de posição que ele confere ao outro”, esclarece.

Aliás, há vários tipos de fantasias perversas comuns, como exibicionismo, voyeurismo, sadismo e masoquismo – mas, novamente, não é a categoria da pulsão que determina a perversão como estrutura psíquica. Dunker não nos deixa esquecer as montagens perversas da vida cotidiana. “Nessa medida, há tanta perversão nos excessos alimentares – no bulímico e no anoréxico – quanto no discurso de vigilância sanitária sobre nossa alimentação, para não falar do exibicionismo de uma infância sexualizada pela moda, o voyeurismo de nossos reality shows, a estética pornográfica de nossas produções culturais, o sadismo de nossos programas de violência ao vivo, o masoquismo do trabalho e da ‘vida corporativa’, o descompromisso ‘líquido’ de nossa vida amorosa, a cultura da drogadição (legal e ilegal) e tantos fenômenos”, destaca.

Segundo o psicanalista, ao contrário da perversão clássica, em nossos tempos a perversão é flexível, silenciosa e pragmática. E as articulações que a constituem, como a transgressão, a exageração e a dissociação, se tornaram aspectos decisivos do nosso laço social cotidiano.

TERRENO NEBULOSO

Muitos que souberam do caso de Yago rapidamente propuseram que a melhor resposta ao relato de um adolescente que confessa desejar crianças sexualmente seria tratar a situação no âmbito judicial e o mais indicado seria a internação do rapaz na Fundação Casa  (antiga Febem), com privação total de liberdade. Embora precipitada, a ideia de encarceramento parece justificável, pois abusadores existem e o adolescente diz sentir atração sexual por crianças.

Em geral, nosso primeiro impulso é procurar resguardar os pequenos de um crime tão abominável. Desde 2014, o Ministério da Saúde (MS) prevê aos serviços públicos de saúde em todo o território nacional, por meio da portaria GM/MS nº 1.271, a obrigatoriedade de notificação imediata (24 horas) de casos de violência sexual à Secretaria Municipal de Saúde. A psicóloga judiciária Elizabeth Constantino, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, entretanto, chama atenção para o excesso de judicialização dos casos. Ela argumenta que a expectativa de que as instituições legais possam trazer a solução para o problema da violência sexual contra crianças tende a nos fazer levar essas situações principalmente à Justiça, embora, não raro, seria indicado tratar o problema também em outros âmbitos, no campo social, político e psíquico.

Precisamos tomar muito cuidado para não colaborar com injustiças tão graves quanto as que pretendemos combater. No entanto, é um grande desafio atender esses casos por causa da repulsa que pode causar no profissional. Assim, muitas vezes, agimos sem procurar fazer um exercício de escuta que nos permita avaliar as particularidades de cada situação e tomar melhores decisões. Mas, sem maior neutralidade, que impacto nossas ações podem causar?

O filme A caça (2012), de Thomas Vinterberg, retrata de forma admirável a complexidade que se esconde atrás da intensa perseguição que costuma ocorrer nessas situações. O longa conta a história de uma criança que, depois de entregar uma cartinha de amor ao professor e se sentir desprezada, insinua à diretora da escola que sofreu abuso sexual. Com uma averiguação questionável, o relato se torna evidência do crime e, a partir daí, os mecanismos sociais para punir o “pedófilo” são acionados. A acusação transforma o professor num monstro aos olhos de quem está ao redor, e isso traz consequências desastrosas.

A reação da diretora e da comunidade, porém, é natural. O terreno é nebuloso. Assim como Yago, o personagem do filme acusado de pedofilia apresenta certa ambiguidade e tem uma atividade que favorece o contato com crianças. O que realmente teria ocorrido? É muito difícil fazer uma avaliação objetiva. Até mesmo quem se propõe a escutar esses casos também pode ser visto com maus olhos. Ainda assim, com todas as dificuldades que se apresentam, não podemos perder de vista que a complexidade humana exige avaliações profundas, cuidadosas e com muita seriedade, pois a linha de demarcação entre normalidade e patologia é frágil e incerta.

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THE DANCING BOYS OF AFGHANISTAN (2010): documentário trata do sequestro de garotos para serem vendidos como escravos sexuais.

 O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO

As previsões que encontramos no Código Penal brasileiro que tipificam os crimes sexuais contra vulnerável, descritos nas categorias “estupro de vulnerável” e “corrupção de menores”, permitem o enquadramento daqueles que venham a incorrer em:

  • Art. 217-A – Estupro de vulnerável
  • Art. 218 – Mediação de menor de 14 anos para satisfazer a lascívia de outrem
  • Art. 218-A – Satisfação da lascívia mediante a presença de menor de 14 anos
  • Art. 218-B – Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou vulnerável.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também trata de crimes envolvendo o abuso sexual infantil e prevê responsabilização criminal nos casos em que há:

  • Art. 240 – Utilização de criança ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo explícito
  • Art. 241 – Comércio de material pedófilo
  • Art. 241-A – Difusão de pedofilia
  • Art. 241-B – Posse de material pornográfico
  • Art. 241-C – Simulacro de pedofilia
  • Art. 241-D – Aliciamento de menores (O art. 241-E se trata de norma explicativa dos crimes previstos no art. 240, art. 241, art. 241-A a art. 241-D, do ECA).

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A VIOLAÇÃO DA ALIANÇA

Vivemos em uma sociedade em que os relatos de violação sexual são muito frequentes. “Abusa quem pensa que pode forçar um beijo. Legitima a violência sexual a pessoa que apresenta um programa de televisão e chama uma fã de ‘arrombada’ ou que convida um ator para relatar um caso de estupro como se fosse piada. As estatísticas de abuso infantil são graves e, muitas vezes, não consideramos aqueles que estão próximos como possíveis agressores. Muitos acham aceitável pagar para ter sexo com outro ser humano ou consumir filmes sem se importar se há crianças e adolescentes envolvidos”, denuncia a escritora feminista Maria Gabriela Saldanha, apresentadora do programa online Elas por Elas, veiculado pela Web Radio Petroleira. Ela destaca dados nacionais escabrosos: “Qual é a solução para um país que hospeda quase 80% dos sites do mundo que exibem sexo com crianças, sendo que 12% do total deles expõem abusos contra bebês com menos de 6 meses? Qual é a solução para um país que cria mil novos sites desse tipo por mês? Qual é a solução para um país onde aproximadamente 70% dos abusos notificados ocorrem com menores, sendo que 50,7% envolvem crianças de menos de 13 anos? Qual é a solução para um país onde a média de idade dos relatos de primeiro assédio é de 10 anos?”, questiona.

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ONDE PROCURAR AJUDA?

Encontrar serviços públicos que atendam pessoas que reconhecem sentir atração sexual por crianças nem sempre é fácil, mas existem algumas opções, como o Ambulatório de Transtornos da Sexualidade (ABSex), da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC (FMABC), em Santo André. As consultas podem ser agendadas no próprio ambulatório de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, na Avenida Príncipe de Gales, 821, em Santo André. Há também um programa terapêutico para esses casos no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia (Nufor) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP). As consultas pelo telefone (11) 2661-7929. O Centro de Estudos Relativos ao Abuso Sexual (Cearas), do Instituto Oscar Freire, em São Paulo, atende famílias incestuosas e indica especialistas, telefone (11) 3061-8429. Em Belo Horizonte, o Centro de Estudos e Atendimento de Abuso Sexual, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), oferece tratamento. Informações pelo telefone (31) 3409-9458.

  

LUCA LOCCOMAN – é psicólogo e psicanalista, especialista em atendimento clínico infantil do Serviço de Proteção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência (SPVV), de São Paulo.

OUTROS OLHARES

UM APLICATIVO CONTRA O ASSÉDIO

A empreendedora Priscila Gama criou um aplicativo que ajuda as mulheres a se proteger de abuso sexual em lugares públicos.

Um aplicativo contra o assédio

Especialista em urbanismo, Priscila Gama, de 34 anos, ficou revoltada e indignada durante o auge da campanha #MeuPrimeiroAssédio, que no fim de 2015 incentivou mulheres a expor nas redes sociais relatos de assédio sexual.  “Percebi que muitas das histórias tinham a ver com mobilidade, com mulheres que estavam sozinhas no momento em que o abuso aconteceu. E passei a pensar em como resolver essa questão. Foi quando tive a ideia de um aplicativo que funcionasse como uma companhia virtual”, diz a arquiteta. Em dezembro daquele ano, seu projeto conquistou o segundo lugar em um concurso do Startup Weekend BH, promovido por agências de fomento à pesquisa de Minas Gerais. Com isso, sua startup obteve monitoria especializada para se desenvolver e progredir. Assim surgiu o aplicativo Malalai, destinado a ajudar as mulheres a enfrentar a insegurança das ruas.

Superando a introspecção que a acompanhava desde a adolescência, Priscila conquistou os jurados com a seguinte provocação: “Sabe aquela mensagem ‘avisa quando chegar’? Pois é, quem vai avisar se você não chegar?”. Em seguida, ela lembrou que, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a cada onze minutos uma mulher é vítima de estupro no Brasil. Com o nome Malalai (inspirado em Malala, a jovem paquistanesa que ganhou o Nobel da Paz em 2014 por sua luta pelo direito das mulheres à educação), a startup é tocada por ela e seu sócio, Henrique Mendes. O principal produto da Malalai é um aplicativo de celular, disponível por enquanto apenas para Android, que pretende combater a violência investindo em três vertentes.

A primeira, de ação preventiva, é o mapeamento de rotas mais seguras para as mulheres que andam a pé nas cidades, com base em critérios como iluminação pública, existência de comércio aberto e de postos policiais, entre outros. A segunda tem foco no aumento da sensação de segurança: o recurso de companhia virtual permite que a mulher escolha alguém, via celular, que acompanha sua rota e o tempo de chegada a seu destino. A terceira consiste no impedimento do abuso: o aplicativo tem um botão de emergência que, acionado, envia mensagens de pedido de socorro a três contatos de confiança pré-selecionados. O serviço tem mais de 4.000 usuárias cadastradas. Para complementar o negócio, Priscila está desenvolvendo um anel discreto que permite o uso do botão de emergência de forma mais rápida, via Bluetooth.

Priscila também pretende tornar a startup rentável atuando em uma área que ela conhece bem: dona de um MBA em gestão de projetos imobiliários pela Fundação Getúlio Vargas (FGV,) a arquiteta acredita que informações compiladas em big data sobre o nível de segurança para as mulheres de cada quarteirão das cidades podem interessar a construtoras e seguradoras. “Queremos ter um negócio social: que a empresa ganhe dinheiro para ser sustentável e gerar algum lucro, mas que se concentre em alcançar seu objetivo de tornar o deslocamento a pé das mulheres mais seguro.” Enquanto isso, ela se divide entre um emprego de meio período como funcionária no Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU-MG) e palestras, pelas quais não cobra. Pelo ineditismo da iniciativa, a Malalai tornou­ se referência na junção de tecnologia, questão de gênero, segurança pública e urbanismo. Priscila participa de cerca de trinta eventos por ano, além de dar monitoria a grupos de desenvolvedoras femininas voltadas para a inovação.

Criada em urna família matriarcal, de mulheres fortes, Priscila tem uma história de provações. Seus pais, que passaram fome na infância, sacrificavam quase todo o orçamento familiar com aluguel para conseguir viver em um bairro de classe média de Divinópolis, onde não dependessem de transporte público para trabalhar e levar os filhos à escola. Diz Priscila, que estudou em uma instituição de ensino particular, com bolsa integral: “Fui vítima de racismo e sofri muito bullying na escola. Acabei ficando retraída”.

Houve outro fator que contribuiu para torná-la introspectiva e desconfiada: ela começou a ser abordada com comentários de teor sexual na rua, na volta da escola, já a partir dos 12 anos. “A mulher negra é hipersexualizada pela sociedade desde cedo”, afirma. Ela conseguiu vencer a timidez graças ao sucesso da Malalai: “Foi um divisor de águas. Existem duas ‘Priscilas’, a de antes e a de depois do aplicativo. Nunca pensei que seria capaz de falar para plateias de mais de 100 pessoas”.

Seu projeto não ficou imune às críticas de algumas feministas, que argumentam que o aplicativo joga nas costas das mulheres a responsabilidade por serem assediadas – ou seja, que cabe a elas escolher o caminho mais seguro para andar sozinhas e não aos homens aprender a respeitá-las. ” Mais triste do que existir uma ferramenta como essa é saber que ela é necessária e ninguém fazer nada. Todo mundo sabe que o problema existe e que ele acontece diariamente, “defende-se Priscila. Ela se diz cansada de perceber que o mundo das startups é dominado por ” homens, heterossexuais e brancos”. E espera que um dia possa olhar para uma plateia e não ter de constatar que, de 300 pessoas envolvidas em um evento sobre inovação, apenas três são negras, como já ocorreu.

Priscila quer que a Malalai vá além da segurança de gênero: “Meu objetivo é que meninas e mulheres acreditem em seus potenciais produtivos”.

GESTÃO E CARREIRA

QUANTO MAIS AMARRADOS, MELHOR!

Se você deseja ter segurança nos seus contratos de prestação de serviços, não se arrisque. Na hora de fechar o negócio, opte pelos Contratos Blindados.

Quanto mais amarrados, melhor

Apesar de normalmente os empresários e executivos não gostarem de contratos com mais de cinco páginas, por considerá-los óbvios e repetitivos, muitas vezes são esses os mais seguros e corretos.

A tentação de optar por contratos rápidos, curtos e resumidos acaba fazendo as empresas pagarem preços muito altos e caírem em litígios que seriam facilmente evitáveis com um contrato um pouco mais bem elaborado e, portanto, mais extenso.

Para evitar essas situações, entram em cena os contratos blindados, que recebem esse nome por preverem todas as possíveis situações decorrentes da prestação de serviços. O socio fundador do escritório Zaroni Advogados, Raphael Zaroni, explica que fazer isso é importante justamente para que se busque uma análise completa do ambiente negocial, do equilíbrio de forças entre as partes, dos possíveis cenários e tentar se antecipar e já propor as soluções.

BLINDADOS X NORMAIS

Os Contratos Blindados diferenciam­ se dos demais por serem mais completos e tentarem prevenir todas as possibilidades de litígios.

Eles devem conter tudo, desde definições aparentemente desnecessárias, cláusulas estabelecendo obrigações básicas até a prevenção de situações improváveis. Quanto mais claras as cláusulas, obrigações e direitos, menores as chances de haver litígio no futuro.

Zaroni explica que, em primeiro lugar, é importante que esses contratos contenham dispositivos que sirvam como verdadeiros princípios de interpretação do sentido do contrato em geral e de suas cláusulas. Em seguida, o objeto do contrato deve ser muito bem explicado, de forma que até mesmo um leigo possa entendê-lo e não tenha dúvidas acerca de para que serve a contratação e quais são os seus limites. “É preciso que contenha a cláusula de ‘obrigações das partes’, que deve prever desde obrigações simples e evidentes até algumas hipotéticas e de ocorrência improvável, exemplifica.

O advogado lembra a importância de não se esquecer dos termos de “confidencialidade”, não competição, “Quando aplicáveis, devem também estar previstos no contrato. Além de “garantias”, podem ser desejáveis tanto para quem contrata, quanto para quem é contratado, a depender das características do contrato e das entregas previstas”, diz Zaroni.

As “limitações de responsabilidade” são cláusulas essenciais para uma pequena ou média empresa. Raphael Zaroni conta que muitas vezes ocorre o prejuízo potencial para o cliente, caso haja erro na prestação do serviço. Esse é maior do que o valor total do contrato ou mesmo da própria empresa contratada, exemplifica.

Quanto mais amarrados, melhor.3

VARIEDADE DE CONTRATOS

O coordenador do contencioso cível do escritório Bueno, Mesquita e Advogados, Lucas Morelli explica que independentemente do tipo de contrato de prestação de serviços, é imprescindível que nele conste, de forma clara e objetiva, alguns requisitos. São eles: O serviço a ser prestado: suas condições de prestação (quantos funcionários serão utilizados, onde o serviço será prestado, de que forma será prestado), forma de pagamento: responsabilidade no caso de danos originados pela prestação de serviços ao tomador, responsabilidade no caso de atraso na prestação dos serviços;  responsabilidade na hipótese de atraso no  pagamento: responsabilidade no caso da impossibilidade da prestação do serviço por culpa do prestador ou do tomador ou  por fato estranho ao contrato: cláusula com a lei aplicável e o foro judicial competente na hipótese de discussão judicial;  prazo do contrato e suas hipóteses de renovação e inadimplência, não podendo celebrar uma prestação de serviço sem prazo, ou com prazo superior a quatro anos: e cláusula de sigilo para proteção de informações que eventualmente o tomador de serviço entre em contato ao longo do contrato.

Além de todos esses requisitos, é necessária a presença dos aspectos formais dos contratos, como a citação das partes contratantes adequadamente caracterizadas, principalmente as jurídicas, cujos representantes pessoas físicas que assinam o contrato também precisam ter seus dados constantes no documento.

Morelli lembra que um contrato assinado por pessoa sem poderes para tanto, ou com forma insuficiente pelo Estatuto/Contrato Social da pessoa jurídica, não é válido. “Enseja a responsabilização pessoal da pessoa que assinou de forma irregular, ou até do representante da outra parte contratante caso este soubesse que o outro não poderia ter assinado, ou foi negligente na análise da documentação apresentada pela parte irregular”, exemplifica.

Quanto mais amarrados, melhor.4

COMO FAZER?

Esses contratos não exigem maiores formalidades e dispensam o registro. No entanto, Morelli explica que se eventualmente o contrato envolver valores muito elevados ou uma cadeia de outros contratos que dele dependa, caso da celebração de um outro cujas condições para sua realização dependa que as partes cumpram com o disposto em outro contrato, é importante o registro tendo em vista a publicidade presumida nos termos do outro instrumento contratual registrado. “Como a lei não determina formalidades na sua celebração, a presença do advogado, ou mesmo sua assinatura, não é imposta por lei sendo sua atuação importante para uma análise de risco do contrato e para empreender um controle quanto à legalidade das obrigações determinadas por contrato, indica Morelli.

O advogado do escritório Bueno, Mesquita e Advogados explica que é comum nesses contratos a inclusão de cláusulas, como o caso de responsabilização de uma das partes pela ocorrência de eventos externos imprevisíveis, eventos da natureza ou que aloquem responsabilidade de forma indevida para um dos contratantes ou mesmo isentem de responsabilidade um dos contratantes.

Quanto mais amarrados, melhor.2 

AS MUDANÇAS

Lucas Morelli lembra que, no curso do contrato, novos cenários que exijam a mudança de seus termos podem acontecer, tais como inclusão de serviços, alteração da forma de pagamento ou alteração da data de pagamento.

Pode acontecer de, excepcionalmente, o pagamento de um mês não ocorrer da forma contratualmente prevista, ou excepcionalmente que o serviço seja prestado de forma diversa do acordado, mas com a concordância das partes. Nesse caso, o simples fato de as partes concordarem em executar o contrato de forma diversa daquela estabelecida em um mês ou dia especifico não resulta em uma alteração do contrato. No instrumento deve constar uma cláusula expressa que bem delimite que; alterações pontuais ao longo da contratação não ensejam em alteração dos termos do contrato. “Se habitualmente aquele fato excepcional passa a ocorrer, é importante a formalização de aditivo”, finaliza Morelli.

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 31-47 – PARTE III

Alimento diário

Cristo Prova sua Missão Divina. A Infidelidade dos Judeus é Reprovada

 

(3) A este testemunho, o Senhor acrescenta uma reprovação da infidelidade e da maldade deles em quatro exemplos. Particularmente:

[1] Seu desprezo por Ele e por sua doutrina: “‘E não quereis vir a mim para terdes vida’, v. 40. Vós examinais Escrituras, credes nos profetas que encontrais sempre testificando de mim, e ainda assim não vireis a mim, a quem eles vos guiam”. Sua alienação em relação a Cristo era culpa não tanto de sua compreensão, mas de sua força de vontade. Isto é expresso como uma queixa. Cristo ofereceu vida, e esta não foi aceita. Note que, em primeiro lugar, existe uma vida a ser recebida de Jesus Cristo, e está reservada às pobres almas. Nós podemos ter vida, a vida de perdão, graça, conforto e glória. A vida é o aperfeiçoamento de nossa existência, e abrange toda a felicidade. E Cristo é nossa vida. Em segundo lugar; aqueles que desejam ter essa vida devem ir a Jesus Cristo para recebê-la. Nós podemos recebê-la através de nossa busca. Isso presume uma aceitação pelo entendimento da doutrina de Cristo e do testemunho a respeito dele. Isso reside na submissão da vontade à sua autoridade e graça, e produz uma obediência responsável nos sentimentos e nos atos. Em terceiro lugar, a única razão por que os pecadores morrem é devido ao fato de que eles não virão a Cristo em busca de vida e felicidade. E não é porque eles não possam, mas porque não querem. Eles não aceitarão a vida oferecida, por ser espiritual e divina, nem concordarão com os termos sob os quais ela é oferecida. Tampouco se dedicarão ao uso dos meios determinados: eles não serão curados, porque não observarão os métodos da cura. Em quarto lugar; a determinação e a obstinação dos pecadores em rejeitar as ofertas de graça são uma grande tristeza para o Senhor Jesus, e Ele se queixa disto. Aquelas palavras (v. 41): “Eu não recebo glória dos homens”, vêm entre parênteses em algumas versões, para evitar uma objeção contra o Senhor, como se Ele buscasse sua própria glória, e se fizesse líder de um grupo, obrigando todos a virem a Ele, e a aclamarem-no. Note que:

1. Ele não desejava nem solicitava a aclamação dos homens, nem de longe se influenciou por aquela pompa e esplendor mundanos com os quais os judeus esperavam que seu Messias aparecesse. Ele encarregou aqueles a quem curou de não torná-lo conhecido, e afastou-se daqueles que o teriam feito rei.

2. O Senhor não teve a aclamação dos homens. Ao invés de receber reverência dos homens, Ele recebeu muita desonra e descrédito, pois aniquilou-se a si mesmo.

3. Ele não precisava da aclamação dos homens. Isso nada acrescentava à glória daquele a quem todos os anjos de Deus adoram. E Ele também não se satisfaria com o contrário, na medida que isto não estivesse de acordo com a vontade de seu Pai, e não contribuísse para a felicidade daqueles que, ao glorificá-lo, receberam dele uma glória ainda maior.

(2)  Sua carência do amor de Deus (v. 42): “‘Bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus’. Por que deveria me admirar por não virdes a mim, quando vos falta até mesmo o primeiro princípio da religião natural, que é o amor de Deus?” Note que a razão por que as pessoas não dão importância a Cristo se deve ao fato de não amarem a Deus, pois, se verdadeiramente amássemos a Deus, deveríamos amar aquele que é sua imagem expressa, e correr para Ele, o único através de quem podemos ser restituídos à benevolência de Deus. Ele os acusara (v.37) de ignorância a respeito de Deus, e aqui os acusa da falta de amor a Ele. Consequentemente, os homens não têm o amor de Deus porque não desejam o conhecimento dele. Observe, em primeiro lugar, o pecado que lhes foi imputado: “Não tendes em vós o amor de Deus”. Eles fingiam que tinham um grande amor a Deus, e pensavam que o demonstravam através de seu zelo pela lei, pelo Templo, e pelo sábado, e mesmo assim estavam sem o amor a Deus. Note que existem muitos que fazem uma grande manifestação da religião, e ainda assim demonstram que carecem do amor de Deus através do menosprezo por Cristo e do desprezo por seus mandamentos. Eles odeiam sua santidade, e subestimam sua generosidade. Observe que o que Deus aceitará é o amor a Ele, aquele amor entranhado no coração, um princípio vivo e ativo ali, o amor derramado ali, Romanos 5.5.

Em segundo lugar, a prova dessa acusação é demonstrada pelo conhecimento pessoal de Cristo, que sonda o coração (Apocalipse 2.23) e s abe o que está dentro do homem: “Eu vos conheço”. Cristo vê através de nossos disfarces, e pode dizer a cada um de nós: “Eu te conheço”.

1. Cristo conhece os homens melhor do que seus vizinhos os conhecem. As pessoas pensavam que os escribas e fariseus fossem homens muito devotados e bons, mas Cristo sabia que eles não tinham o amor de Deus dentro de si.

2. Cristo conhece os homens melhor do que eles próprios se conhecem. Esses judeus tinham uma opinião muito boa sobre si mesmos, mas Cristo sabia como o interior deles era corrompido, não obstante sua enganosa aparência exterior. Podemos enganar a nós mesmos, mas ninguém pode enganar a Ele.

3. Cristo conhece os homens que não o conhecem e não o conhecerão. Ele olha para aqueles que persistentemente desviam o olhar para longe dele, e chama por seus próprios nomes, seus nomes verdadeiros, aqueles que não o conheceram.

(3)  Outro pecado imputado a eles é sua disposição para acolher falsos Cristas e falsos profetas, enquanto obstinadamente não aceitavam aquele que era o verdadeiro Messias (v. 43): “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais. se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis”. “Espantai-vos disto, ó céus” (Jeremias 2.12,13). “Porque o meu povo fez duas maldades”, realmente, grandes maldades.

Em primeiro lugar, eles deixaram o manancial de águas vivas, pois não iriam aceitar a Cristo, que veio em nome de seu Pai, recebera sua autoridade de seu Pai, e fez tudo por sua glória. Em segundo lugar, eles cavaram cisternas rotas. Eles ouvem atentamente a qualquer um que se levante em seu próprio nome. Eles abandonaram sua própria misericórdia e compaixão, o que é ruim o suficiente, e o fizeram por causa de vaidades mentirosas, o que é pior. Observe, neste ponto:

1. Esses são falsos profetas que vêm em seu próprio nome, que correm sem ser enviados, e que só se interessam por si próprios.

2. É justo que Deus permita que esses, que não recebem o amor da verdade, sejam enganados por falsos profetas, 2 Tessalonicenses 2.10,11. Os enganos do anticristo são um castigo justo para aqueles que não obedecem a doutrina de Cristo. Aqueles que fecharam seus olhos quando tiveram a oportunidade de estar em contato com a verdadeira luz, estão, pelo julgamento de Deus, fadados a vagar eternamente seguindo falsas luzes, e a serem desviados do caminho por cada vento de doutrina.

3. A completa estupidez de muitos fica patente. Enquanto repudiam antigas verdades, estão apaixonados por erros arrogantes. Eles odeiam o maná, e, ao mesmo tempo, alimentam-se de cinzas. Depois que os judeus haviam rejeitado a Cristo e seu maravilhoso Evangelho, eles foram frequentemente assombrados por espectros, por falsos Cristas e falsos profetas (Mateus 24.24), e sua predisposição a segui-los ocasionou os transtornos e revolta s que apressaram a ruína que sofreram.

[4] Eles são aqui acusados de orgulho, altivez, e descrença, e de estarem sofrendo os efeitos de tudo isto, v. 44. Tendo reprovado severamente a descrença deles, como um sábio médico, o Senhor busca a causa, e coloca o machado à raiz. Eles, portanto, desprezaram e subestimaram a Cristo, porque admiraram e supervalorizaram a si próprios. Eis aqui:

Em primeiro lugar, a ambição que tinham pela glória terrena. Cristo a desprezava, v. 41. Eles concentraram seus corações nela: “Vós recebeis honra uns dos outros”. Isto é: “Procurais um messias em esplendor externo, para que assegureis, a vós mesmos, uma honra terrena através dele”. “Vós recebeis honra”:

1. “Desejais recebê-la, e a buscais em tudo o que fazeis.”

2. “Vós concedeis honra a outros, e os aclamais, apenas para que eles possam devolvê-la, e possam vos aclamar”. Nós pedimos e nós concedemos. O artifício do homem orgulhoso é prestar honra aos outros apenas para que ela possa repercutir sobre si mesmo.

3. “Sois muito diligentes em guardar todas as honras para vós mesmos, e restringi-las a vosso próprio grupo, como se tivésseis o monopólio daquilo que é honroso”.

4. “O respeito que vos é mostrado, acolheis como vosso, e não o transmitis a Deus, como Herodes”. Idolatrar os homens e seus sentimentos, e fingir ser idolatrado por eles e suas aclamações, são obras de idolatria tão diretamente contrárias à cristandade como qualquer outra.

Em segundo lugar, sua negligência da honra espiritual, chamada aqui de honra que vem apenas de Deus. Essa eles não buscavam, não se importavam. Note que:

1. A honra verdadeira é apenas aquela que vem de Deus, que é uma honra real e duradoura. São verdadeiramente honoráveis aqueles a quem o Senhor recebe em uma aliança e comunhão consigo.

2. Todos os santos têm essa honra. Todos os que creem em Cristo, através dele recebem a honra que vem de Deus. Ele não é parcial, mas concederá glória onde quer que conceda graça.

3. Essa honra que vem de Deus, nós devemos procurar, devemos tê-la em vista, e agir nesse sentido, não nos envolvendo com nada, exceto com ela (Romanos 2.29). Nós devemos considerá-la como sendo nossa recompensa, assim como os fariseus consideravam o louvor dos homens.

4. Aqueles que não quer em vir a Cristo, e aqueles que ambicionam as glórias terrenas, fazem parecer que não buscam a honra que vem de Deus, e isso é sua estupidez e ruína.

Em terceiro lugar, a influência que isso tinha sobre sua infidelidade. “Como podeis vós crer” naqueles que são influenciados desta maneira? Observe, neste ponto, que: 

1. A dificuldade para acreditar surge de nós mesmos e de nossa própria perversão. Nós tornamos nosso trabalho difícil para nós mesmos, e então nos queixamos de que ele é impraticável.

2. A ambição e a artificialidade da glória mundana são um grande obstáculo para a fé em Cristo. Como podem crer aqueles que fazem do elogio e do aplauso dos homens seus ídolos? Quando a confissão e a prática da religiosidade séria estão em desuso, são criticadas em toda parte. Quando Cristo e seus seguidores são homens que causam espanto, e ser um cristão é como ser como uma ave de várias cores (e esta é uma circunstância comum), como poderão crer aqueles cujo ponto mais alto da ambição é mostrar uma boa aparência na carne?

3. A última testemunha aqui convocada é Moisés, v. 45ss. Os judeus nutriam uma grande veneração por Moisés, valorizavam se por serem os discípulos de Moisés, e fingiam seguir a Moisés, mesmo na sua oposição a Cristo. Mas Cristo, neste ponto, lhes mostra:

(1) Que Moisés era uma testemunha contra os judeus descrentes, e os denunciava ao Pai: “Há um que vos acusa, Moisés”. Isto pode ser entendido, ou:

[1] Como mostrando a diferença entre a lei e o Evangelho. Moisés, isto é, a lei, vos acusa, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Ela vos condena, ela é, para aqueles que nela confiam, um ministério de morte e condenação. Mas nos acusar não é o propósito do Evangelho de Cristo: “Não cuideis que eu vos hei de acusar”. Cristo não veio ao mundo como alguém que tem a intenção de descobrir erros e promover discussões com todo mundo, ou como um espião das ações dos homens, ou um promotor em busca de crimes. Não, Ele veio para ser um advogado, não um acusador; para reconciliar Deus e o homem, e não para provocar mais divergências entre eles. Que tolos foram, então, aqueles que se apoiaram em Moisés contra Cristo, e queriam estar sob a lei! Gálatas 4.21. Ou:

[2) Como mostrando a manifesta irracionalidade de sua infidelidade: “Não cuideis que eu vos hei de acusar perante Deus e desafiar-vos a responder pelo que fazeis contra mim, como a inocência ferida normalmente o faz. Não, Eu não preciso disto. Vós já sois acusados, e julgados, no tribunal do céu. O próprio Moisés diz o suficiente para acusar-vos de incredulidade, e condenar-vos por ela”. Que eles não se enganem a respeito de Cristo. Embora Ele fosse um profeta, não se aproveitava de seu poder no céu contra aqueles que o perseguiam. Ele não intercedeu, como Elias, contra Israel (Romanos 6.2), nem como Jeremias, que desejava ver a vingança de Deus. O Senhor também não deixou que se enganassem no tocante a Moisés, como se o patriarca fosse ficar ao lado deles na rejeição a Cristo. “Não, há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais”. Note que, em primeiro lugar, os privilégios e vantagens materiais são, geralmente, a vã segurança daqueles que rejeitam Cristo e sua graça. Os judeus confiavam em Moisés, e acreditavam que a aceitação de suas leis e rituais os salvaria. Em segundo lugar, aqueles que confiam em seus privilégios, e não se aperfeiçoam, descobrirão não só que sua confiança será frustrada, mas que esses mesmos privilégios testemunharão contra si mesmos.

(2) Que Moisés era uma testemunha de Cristo e de sua doutrina (vv. 46,47): “De mim escreveu ele”. Moisés expressou detalhadas profecias a respeito de Cristo, como a Semente da mulher, a Semente de Abraão, o Siló, o grande Profeta. As cerimônias da lei de Moisés eram símbolos daquele que estava para vir. Os judeus fizeram de Moisés o patrono de sua oposição a Cristo, mas Cristo aqui lhes mostra o erro grosseiro que estavam cometendo, pois Moisés estava muito longe de escrever contra Cristo. De fato, Moisés escreveu a respeito do Senhor Jesus Cristo, e a favor dele. Mas:

[1] Cristo, neste ponto, acusa os judeus de não acreditarem em Moisés. Ele tinha dito (v. 45) que eles confiavam em Moisés, e, ainda assim, aqui Ele se encarrega de comprovar que eles não acreditavam em Moisés. Eles confiavam em seu nome, mas não aceitavam sua doutrina em seu verdadeiro sentido e significado; eles não entendiam corretamente, nem davam crédito ao que estava registrado nas Escrituras de Moisés relativas ao Messias.

[2] O Senhor prova essa acusação através da incredulidade deles em relação a Moisés: “Se crêsseis em Moisés, creríeis em mim”. Note que, em primeiro lugar, o julgamento mais seguro da fé é feito através dos efeitos que ela produz. Diz-se que muitos acreditam naqueles cujas ações desmentem suas palavras, pois, se tivessem crido nas Escrituras, teriam feito o contrário do que fizeram.

Em segundo lugar, aqueles que creem corretamente em uma parte das Escrituras aceitarão todas as partes dela. As profecias do Antigo Testamento foram tão completamente cumpridas em Cristo, que aqueles que o rejeitaram negaram, efetivamente, suas profecias, e deixaram-nas de lado.

[3] A partir da descrença deles em relação a Moisés, o Senhor conclui que não era estranho que eles o rejeitassem: “Se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” Como se pode pensar que deveríeis? Em primeiro lugar: “Se não credes nas sagradas Escrituras, naquelas profecias que estão escritas de forma clara, que são o meio mais preciso de comunicação, como crereis nas minhas palavras, palavras que estão sendo menos consideradas?”

Em segundo lugar: “Se não credes em Moisés, por quem tendes tão profunda veneração, como é possível que creiais em mim, a quem olhais com tanto desprezo?” Veja Êxodo 6.12.

Em terceiro lugar: “Se não credes no que Moisés disse e escreveu a meu respeito, que é um testemunho forte e convincente a meu favor, como crereis em mim e em minha missão?” Se não admitirmos as premissas, como admiti­ remos a conclusão? A verdade sobre a religião cristã, sendo ela uma questão genuinamente de revelação divina, depende da autoridade divina das Escrituras. Se, portanto, não crermos na divina inspiração destes escritos, como poderemos aceitar a doutrina de Cristo?

Então, chega ao fim o argumento de Cristo quanto a si mesmo, em resposta ao testemunho exibido contra Ele. Que efeito ele produziu não sabemos; a impressão é que suas bocas foram emudecidas por um momento, e não poderiam prosseguir pela vergonha de terem perdido a causa. Ainda assim, seus corações continuaram endurecidos.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

TECHNOFERENCE

Pesquisa mostra que a tecnologia interfere no convívio dos pais com os filhos, afetando o comportamento das crianças e trazendo riscos de problemas emocionais e de saúde.

Technoference.2

No início do mês de junho, um vídeo exibindo um coral infantil de uma escola privada do Rio de Janeiro ganhou espaço nas redes sociais do país. As crianças emocionaram os espectadores ao apresentarem uma música que falava sobre passar tempo demais conectado no celular e não com os filhos. Em um gesto sofisticado, os filhos estavam criticando os pais que, segundo a própria letra da música cantada, permaneciam: “de corpo presente, cabeças ausentes, visitando um mundo paralelo”. A letra prossegue com versos que criticam o uso excessivo de bluetooth, wi-fi, selfies e diferença de energia dos “dedos” e no “coração”.

Não há dúvidas de que o celular se transformou no HUB* social do século XXI, que nos conecta ao mundo de uma forma diferente e nos impele a responder mensagens de parentes, do trabalho ou de pessoas a quem vendemos ou de quem compramos serviços. É um HUB que comunica de forma eficiente e rápida, mas em troca nos cobra o tempo e exige atenção dedicada aos bipes e “pingos” da enxurrada de mensagens recebidas.

Um estudo publicado em 2018 mostrou que existe uma correlação entre deixar de interagir com uma criança para verificar o celular e o aparecimento de problemas comportamentais nessa criança. O trabalho investigou a chamada “technoference” – termo cunhado a partir das palavras “tecnologia” e “interferência”. Brandor MacDaniel e Jane Radesky, da Universidade do Estado do Illinois e da Universidade de Michigan, respectivamente, entrevistaram pais norte-americanos, os quais, em sua grande maioria, relataram que o uso da tecnologia interrompia as interações entre as crianças três ou mais vezes por dia. Os pesquisadores constataram que isso se relacionava, nas crianças, a comportamentos como agitação, frustração, irritação e fúria. Segundo os pesquisadores, comportamentos internalizados e externalizados estão associados à technoference. Dito de outro modo, as crianças começam a agir ou talvez a chorar e a agitar-se mais quando se sentem desconectadas de seus pais devido à frequente interrupção pela tecnologia. Alguns pais tentam dividir a atenção entre o presencial e o virtual, dizendo: “pode falar que estou ouvindo” – enquanto permanecem com os olhos vidrados e os dedos tocando a tela. Mas não adianta, a criança percebe que ela não está recebendo toda a atenção que solicita e precisa para se comunicar. É verdade também que nosso cérebro é limitado demais para lidar com eventos simultâneos. No mínimo, a comunicação entre emissor e receptor, nesse contexto disputado, é prejudicada. O prejuízo é imediato e também futuro, haja vista que o comportamento dos pais no uso de tecnologia é um fator importante para promover resultados positivos do seu uso pelas próprias crianças – é o que aponta um estudo realizado por pesquisadores holandeses. Nikken (2017), que avaliou o tempo que os pais e as crianças passam em diversas mídias, levando em consideração variáveis quantitativas (status socioeconômico, nível educacional, número de dispositivos digitais com telas em casa, número de horas despendidas pelas crianças em mídias) e qualitativas (tipo de conteúdo consumido e facilidade na mediação com as crianças).

Como esperado, o uso de tecnologias pelos pais é um importante preditor do consumo de tecnologia pelas crianças. Crianças criadas em famílias com alto uso de tecnologia são motivo de preocupação, podendo estar associado a maior risco de excesso de peso, problemas relacionados à concentração, TDAH, baixo desempenho escolar etc. Essas crianças são usuárias mais proficientes e interagem mais com conteúdos de entretenimento e educativo. Os pais desse grupo também se sentem mais confiantes para realizar uma mediação e escolher conteúdos educacionais específicos e configurar uma dieta balanceada de atividades analógicas e digitais. Possivelmente, esses pais têm menos medo de tecnologia e estão mais aptos a utilizá-la. No entanto, quando há uma “overdose” de possibilidades de tecnologias em casa, diminui a familiarização da tecnologia pela criança, gerando mais ansiedade e menor envolvimento dos pais com os filhos. Outro resultado revelador do estudo apontou que as famílias com alto uso de tecnologias tendem a ser menos instruídas e menos ricas, mas são equipadas com mais telas em casa, inclusive no quarto da criança. Em 14% das famílias desse grupo, crianças de O a 7 anos têm pelo menos uma tela eletrônica (TV, videogame, tablet) no quarto, o que pode explicar o alto uso de tecnologia por essas crianças.

Em minhas palestras sobre uso de tecnologias digitais e videogames sempre alerto sobre essa situação, recomendando para que os dispositivos digitais, tanto da criança quanto dos pais, permaneçam sempre em áreas comuns, justamente para favorecer o convívio familiar. Em relação ao uso do celular é necessária uma vigilância constante do próprio comportamento. A maioria de nós acredita que o uso que faz dos aparelhos não afeta nossas crianças, mas as pesquisas mostram que as pessoas costumam subestimar a quantidade de tempo que gastam em seus aparelhos e que é muito fácil o celular levar-nos a situações preocupantes, como o uso em demasia ou o uso como uma tentativa de regular a tristeza e outras emoções. Se não somos conscientes e não prestamos atenção nisso quando estamos com nossos filhos, é muito fácil sermos atraídos para o celular em prejuízo da interação face a face com eles.

*HUB (traduzido do inglês “pivô”) ou “concentrador” é o processo pelo qual se transmite ou difunde determinada informação, tendo, como principal característica, que a mesma informação está sendo enviada para muitos receptores ao mesmo tempo (broadcast). Este termo é utilizado em rádio, telecomunicações e em informática.

Technoference 

TIAGO J. B. EUGÊNIO – é mestre em Psicobiologia e Estudos do Comportamento Humano. É designer de aprendizagem na Rhyzos Educação e escreve sobre educação, tecnologias e Neurociências. E-mail: tiagoeugenio20@gmail.com:site: www.tiagoeugenio.com.br

 

OUTROS OLHARES

VIOLÊNCIA NAS REDES SOCIAIS E A BANALIZAÇÃO DO MAL

A tecnologia propiciou mais democracia para as pessoas se expressarem. E vemos muita liberdade na expressão do ódio e das informações mentirosas. Mas as consequências disso são extremamente maléficas para a sociedade.

Violência nas redes sociais e a banalidade do mal

Desde 2014, antes e após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), vimos surgir uma onda de posts agressivos e repletos de mensagens violentas nas redes sociais no Brasil. Naquele momento, as publicações dos usuários, em geral, ligavam os nordestinos ao resultado do segundo turno da corrida presidencial. Chegamos a ter um deputado estadual de São Paulo defendendo a alteração da Constituição Federal para que os beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, não votassem. Por fim, postagens falando de uma possível divisão do Brasil – uma espécie de muro de Berlim – separando o Sudeste/Sul do restante do país pareciam ganhar força no mundo virtual.

O ÓDIO NÃO É PRECISO

Em 2016, no auge do processo político do impeachment (teria sido um golpe) sofrido pela presidenta, pudemos observar, novamente, a divulgação de posts com mensagens de ódio, incitando a violência. Muitas dessas publicações continham violência simbólica, aquela violência produzida pelos grupos dominantes e imposta aos grupos subordinados, a qual legitima e naturaliza um status quo, e mentiras que passaram a ser replicadas sem a devida crítica, ou seja, análise do conteúdo pelos diferentes usuários do dispositivo.

Porém nos enganamos ao pensar que essa violência e a criação de um inimigo comum surgiram agora no Brasil. A violência está presente em nossas relações sociais desde o período colonial. Gilberto Freyre, em Casa grande e senzala, retrata as relações entre “brancos” e escravos e como a empreitada colonial no Brasil se fez debaixo de relações violentas e truculentas entre ambos. Maria Tereza Caldera, em seu famoso livro Cidade de muros, levanta a hipótese da não efetivação dos direitos humanos no país ao discutir a questão “direitos humanos são para defender bandidos” e o potencial risco dessa não efetivação para a jovem democracia brasileira.

Vale ressaltar que após a abolição da escravatura e o surgimento dos cortiços e favelas, surge o conceito de “classes perigosas”, termo utilizado já em 1857 por Morel em seu trabalho Tratado das degenerescências, para designar aqueles que não possuiriam “nem a inteligência do dever, nem o sentimento da moralidade dos atos, e cujo espírito não é suscetível de ser esclarecido ou mesmo consolado por qualquer ideia de ordem religiosa”. “Nossa política higienista do início do século XX foi baseada nesse conceito e muito do discurso adotado por nós, enquanto sociedade, é baseado nessa figura das classes perigosas e inimigo comum”.

Notamos assim que a violência simbólica tem um importante papel na reprodução dos estereótipos e dos estigmas sociais. Goffman (1963) explica que o estigma constitui as marcas e atributos pelos quais alguém é criticado e marginalizado pela sociedade. O estigma, assim, é uma marca que é construída como ‘negativa’ pelo grupo e que caracteriza a identidade do Outro e da qual este não consegue libertar-se, uma marca percebida também em relação àqueles que não a possuem, que não são estigmatizados. É como se a sociedade ficasse cega para os outros atributos que determinada pessoa tem, vendo apenas seu traço estigmatizado. Caracteriza, assim, categorias de indivíduos e as especificidades esperadas dessas categorias, através de seus estereótipos negativos”. Se por um lado esse discurso e violência simbólica já existem na sociedade brasileira e são constituídos de diversas maneiras e atores, as redes sociais on-line apenas os tornam mais visíveis a lodos que dela fazem parte, pois a necessidade criada de tudo exprimir e compartilhar faz com que esses discursos estigmatizados ganhem mais força devido à mudança no esquema comunicacional tradicional, um emissor (aquele que fala) para vários receptores (aqueles que escutam) e o diálogo entre eles era praticamente inexistente para vários emissores e receptores. Ou seja, muitos falando para muitos e sendo “vistos” por muitos.

Esse fluxo comunicacional ocorre através da publicação de informação de sua autoria ou do compartilhamento da publicação de outros sujeitos (de amigos ou de perfis institucionais, tais como revistas, jornais etc.), que pode ser lida, “curtida comentada e/ou compartilhada. Assim surge o público cm rede, que se caracteriza pela possibilidade de armazenamento do que foi publicado; a possibilidade de busca dessas informações; replicabilidade e o surgimento das audiências invisíveis. É importante notar que ao compartilhar um link com informações que não foram produzidas por si, compartilha-se uma informação mediada por outra mediação e que carrega consigo o olhar daquele que primeiramente a publicou.

 A violência nas redes sociais e a banalização do mal.3

INTERNET E A BANALIDADE DO MAL

Com essa facilidade de divulgar ideias e posições e o apelo por “participar e se mostrar socialmente, notamos que a violência se torna cada dia mais banal. Hannah Arendt, ao analisar o contexto histórico do nazismo, nos alerta quanto à banalidade desse mal e os resultados que ele pode gerar. Percebemos isso a cada frase de ódio escrita com orgulho nas timelines de Facebook. O ódio pelo outro, pelo diferente, pela opinião divergente, gerado pela falta de informação ou pela avalanche de informações das quais se leem somente manchetes. Um ódio que a qualquer momento pode se materializar e muitas vezes se materializa na violência, seja ela psicológica, física ou virtual.

Por estarem vinculados à nossa realidade social, esses discursos encontram ressonância e ao encontrá-la passam a ser legitimados por outros grupos, seja através da concordância, apoio, curtidas ou compartilhamentos. O que perpetua a violência simbólica contida dentro dele que encontra sentido e explica a realidade para determinado grupo.

Dessa forma, é necessário compreender que esse ódio aos defensores dos direitos humanos, aos ativistas negros, LGBTS e todas as outras minorias que sofrem ataques nas redes sociais on-line não é algo novo na sociedade brasileira, mas algo construído por subjetividades ao longo de um processo histórico no qual o sujeito não reconhece o outro como ser de direito que é. O diferente passa a ser o culpado, o inimigo comum, que deve ser extirpado da sociedade. Nesse caso, aplicativos como Facebook apenas potencializam esse discurso, criando e alimentando a necessidade de luta/guerra contra o inimigo, afastamento e desqualificação dele enquanto sujeito participante da vida social. Esse tipo de discurso e atitude é encontrado em diferentes regimes ditatoriais. nos quais o diferente é visto como ameaça. Precisa-se dessa forma muita atenção para não estimular mais essa violência simbólica e, possivelmente, apenas com a mudança de como nossas relações sociais são construídas é que consigamos erradicá-la de nosso dia a dia.

Violência nas redes sociais e a banalidade do mal.2 

PATRÍCIA CUCIO GUlSORDI – é mestre em Ciências Sociais, pesquisadora da sociedade da informação, consultora de projetos ligados à Direitos Humanos.

GESTÃO E CARREIRA

É HORA DE DEMITIR?

 Na atual situação que estamos vivendo, com altos custos para manter-se um funcionário, chega a hora de colocarmos na balança se aquele funcionário que está conosco vale a pena ou não. Muitas vezes esta não é uma situação fácil de ser resolvida, principalmente em empresas menores onde a proximidade de líderes e subordinados é grande.

É hora de demitir

O QUE NOS VEM À CABEÇA QUANDO AVALIAMOS UM FUNCIONÁRIO?

Primeiramente pensamos se aquele funcionário está nos gerando resultados. Um funcionário sem motivação e que nem mesmo cumpre as tarefas diárias pode estar trazendo mais resultados negativos do que positivos.

Um funcionário que chega atrasado todos os dias, não tem nenhuma motivação para fazer nem mesmo as atividades mais simples do dia a dia, pode estar passando uma má impressão aos demais funcionários.

Não cobra-lo de suas tarefas e atitudes erradas pode ser outro erro muito comum em pequenas empresas.

Se um funcionário não consegue nem mesmo manter o foco em suas atividades, será que não é a hora de chamá-lo para uma conversa? É chegada a hora do famoso Feedback, palavra que nem sempre soa bem quando o mesmo é negativo.

ALERTA

Pontuar atitudes e metas não cumpridas nem sempre é vista com bons olhos pelos funcionários, ainda mais quando alguns deles possuem muitos anos de casa. Ninguém gosta de ser lembrado que suas atividades não estão sendo exercidas com o êxito esperado.

outro ponto importante na avaliação é saber se o funcionário consegue trabalhar em equipe. Em um ambiente pequeno, o mais importante é manter uma boa convivência entre seus funcionários. Fofocas, maus exemplos (como falta de pontualidade, falta de entrega de tarefas no prazo estipulado, etc.) podem gerar um ambiente ruim e com isso prejudicar a motivação dos demais funcionários. Se não estamos em um ambiente confortável e que nos incentive a melhorar, nossa vontade de crescer junto com a empresa desaparece.

Ai você para e pensa: não vou demitir um funcionário para não gerar um custo no orçamento. Será que isso é o correto?

Manter uma pessoa desmotivada e que não consegue ter um bom relacionamento com a equipe é uma boa opção? Você pode não estar vendo o prejuízo que isso acarreta em sua empresa e isso pode te custar mais do que uma demissão.

Funcionários que não estão alinhados à cultura e valores de sua empresa podem acarretar grandes perdas. Como diz o ditado ‘Uma laranja podre pode contaminar a caixa toda”.

Se esta pessoa está tendo dificuldades em realizar as tarefas diárias, não tem comprometimento com prazos e horários, não possui boa convivência com os demais colaboradores, será mesmo que você deve mantê-la?

Nunca será fácil demitir um funcionário, mas neste momento temos que refletir se o mesmo está alinhado ao perfil da empresa. Uma empresa que busca crescimento tem que manter os funcionários motivados e em um ambiente saudável para que possa obter o resultado esperado.

Líderes que adiam o inevitável acabam prejudicando toda a equipe, pois, na intenção de economizar tempo ou dinheiro em novos processes seletivos, optam por manter alguém na equipe que não está preocupada com o desenvolvimento, alguém que “não veste a camisa do trabalho”.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 31-47 – PARTE II

Alimento diário

Cristo Prova sua Missão Divina. A Infidelidade dos Judeus é Reprovada

4. O Senhor Jesus apresenta, mais completamente do que antes, o testemunho de seu Pai referente a Ele (v. 37): “O Pai, que me enviou… testificou de mim”. O príncipe não costuma seguir seu próprio embaixador, para confirmar sua autorização através de palavras, mas Deus estava satisfeito por testificar a respeito de seu próprio Filho através de uma voz vinda do céu em seu batismo (Mateus. 3.17): Este é meu embaixador, “este é o meu Filho amado”. Os judeus reconhecem Bath-kol- a filha de uma voz, uma voz vinda do céu, um dos meios através dos quais Deus torna seu pensamento conhecido. E, daquele modo, Ele havia reconhecido o Cristo de forma pública e solene, e o repetiu, Mateus 17.5. Note que:

(1) Daqueles a quem Deus envia, Ele testifica. Quando Ele conceder uma autorização, não deixará de apoiá-la. Aquele que nunca deixou a si mesmo sem testemunho (Atos 14.17) nunca deixará assim quaisquer de seus servos que estejam a seu serviço.

(2) Onde Deus exige fé, Ele não deixará de conceder evidências suficientes, como fez em relação a Cristo. Aquilo que era para ser testemunhado no que concerne a Cristo era principalmente isto: que o Deus que havíamos ofendido desejava aceitá-lo como Mediador. Sendo assim, no tocante a isso, Ele próprio nos deu uma plena satisfação (e Ele era o mais adequado para fazer isso), declarando-se bem satisfeito nele. Se nós formos assim, a obra será feita. Nessas circunstâncias, poderia ser sugerido que, se assim o próprio Deus testificou a respeito de Cristo, por que Ele não foi amplamente aceito, sem exceção, pela nação judaica e seus governantes? A isto, Cristo aqui responde. Esta situação não deveria ser considerada estranha, nem a infidelidade deles poderia enfraquecer sua credibilidade, devido a duas razões:

[1] Porque eles não estavam familiarizados com aquelas extraordinárias revelações de Deus e de sua vontade: “Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer”, ou sua forma. Eles demonstraram que eram muito ignorantes a respeito de Deus, embora professassem uma proximidade com Ele, como fazemos a respeito de alguém que nunca sequer vimos ou ouvimos. “Mas por que vos falo do testemunho de Deus a meu respeito? Ele é alguém de quem nada sabeis, nem tendes com Ele qualquer comunhão ou relação”. Note que o desconhecimento de Deus é a verdadeira razão de os homens rejeitarem o testemunho que Ele deu a respeito de seu Filho. O correto entendimento de uma religião natural nos revelaria tantas congruências admiráveis na religião cristã, que, em grande medida, inclinariam nosso pensamento a aceitá-la. Alguns dão o seguinte sentido à Palavra do Senhor: “O Pai de mim testificou através de uma voz, e da descida de uma pomba, que é uma coisa tão extraordinária, que vós nunca vistes ou ouvistes nada semelhante. E ainda em meu benefício havia uma voz e um parecer. Sim, e poderíeis ter ouvido aquela voz, poderíeis ter visto aquela aparição, como fizeram outros, se tivésseis considerado atentamente o ministério de João. Mas, ao desprezá-lo, perdestes aquele testemunho”.

[2] Porque eles não foram influenciados pelos meios habituais através dos quais Deus havia se revelado a eles: “E sua palavra não permanece em vós”. v. 38. Eles tinham as Escrituras do Antigo Testamento. Será que elas não os deixavam dispostos a aceitar Cristo? Sim, se eles tivessem tido a devida influência delas sobre si. Mas, em primeiro lugar, a Palavra de Deus não estava neles. Estava entre eles, em sua nação, em suas mãos, mas não dentro deles, em seus corações. Não estava guiando suas almas, mas apenas brilhando em seus olhos e soando em seus ouvidos. O que lhes adiantou terem as palavras de Deus confiadas a si mesmos (Romanos 3.2), quando eles não eram governados por elas? Se tivessem, eles teriam aceitado a Cristo prontamente. Em segundo lugar, a Palavra de Deus não permaneceu neles. Muitos têm a Palavra de Deus entrando em si mesmos, e causando alguns efeitos durante algum tempo, mas elas não permanecem neles. Não estão constantemente dentro deles, como um homem dentro de casa, mas apenas de vez em quando, como um viajante. Se a palavra permanecer em nós, se conversarmos com ela através de uma meditação constante, se a consultamos em todas as ocasiões, e se a obedecermos em nossas relações, deveremos então receber rapidamente o testemunho do Pai a respeito de Cristo. Veja cap. 7.17. Mas, como se tornou evidente que eles não tinham a Palavra de Deus de forma permanente em si mesmos? Isso se tornou aparente através de um fato: “Naquele que Ele enviou não credes vós”. Muita coisa fora dita a respeito de Cristo, no Antigo Testamento, para orientar as pessoas sobre quando e onde procurá-lo, e assim facilitar sua revelação, de forma que, se eles tivessem considerado essas coisas devidamente, não poderiam ter rejeitado a certeza de que Cristo fora enviado por Deus. Deste modo, sua descrença em Cristo era certamente um indício de que a Palavra de Deus não permanecera neles. Note que a permanência da Palavra, e do Espírito, e da graça de Deus em nós é mais bem avaliada através de seus efeitos, particularmente na nossa aceitação daqueles que o Senhor enviou: as ordens, os mensageiros, as providências que ele envia, e especialmente o Cristo a quem Ele enviou.

5. O último testemunho a que o Senhor recorre é o Antigo Testamento, que testifica dele, e a este Ele apela (v. 39ss.): Examinai as escrituras.

(1) Isto também pode ser interpretado, ou:

[1] “Examinai as Escrituras, e vós fazeis bem em proceder assim. Vós as ledes diariamente em vossas sinagogas, vós tendes os rabinos, e os doutores, e os escribas, que fizeram do estudo delas seu trabalho, e julgam com base nelas”. Os judeus se gabavam da proliferação do aprendizado das Escrituras nos dias de Hillel, que morreu cerca de 12 anos após o nascimento de Cristo, e consideraram alguns daqueles que eram então membros do Sinédrio como as maravilhas de sua sabedoria e as glórias de sua lei. E Cristo reconhece que eles realmente examinaram as Escrituras, mas que o fizeram em busca da sua própria glória: “‘Examinais as Escrituras’. Então, se vós não estivésseis deliberadamente cegos, creríeis em mim”. Note que é possível os homens serem grandes estudiosos das palavras das Escrituras, e ainda assim desconhecerem o poder e a influência delas. Ou:

[2] Como o interpretamos: “Examinai as Escrituras”, e assim, em primeiro lugar; isso lhes foi dito em caráter de apelo: “Vós professais aceitar e crer nas Escrituras. Nisto Eu concordo convosco, deixemos que elas sejam o juiz, desde que vós não vos apegueis às palavras, mas procureis nelas”. Note que, quando se recorre às Escrituras, elas devem ser examinadas. Examine ao longo dos livros inteiros das Escrituras, compare um parágrafo com outro, e explique um com base no outro. Nós devemos igualmente examinar parágrafos específicos até o fim, e entender não o que eles parecem dizer à primeira vista, mas o que eles realmente significam. Em segundo lugar, nos é dito em caráter de conselho, ou de uma ordem para todos os cristãos, que examinemos as Escrituras. Note que todos aqueles que desejam encontrar Cristo devem examinar as Escrituras. Não apenas lê-las, e ouvi-las, mas examiná-las, o que denota:

1. Empenho na busca, trabalho, estudo, e uma cuidadosa dedicação do pensamento.

2. Desejo e intenção de encontrar. Nós devemos tencionar algum benefício espiritual e algum proveito ao ler e estudar as Escrituras, frequentemente perguntando: “O que busco agora?” Nós devemos ler as Escrituras como aqueles que procuram tesouros escondidos (Provérbios 2.4), como aqueles que procuram ouro ou prata, ou que mergulham em busca de pérolas, Jó 28.1-11. Isto enobrecia os crentes de Beréia, Atos 17.11.

(2) E agora existem duas coisas que aqui somos orientados a ter em vista em nosso exame das Escrituras: o céu, que é nosso objetivo, e Cristo, que é nosso caminho.

[1] Nós devemos examinar as Escrituras tendo o céu como nosso objetivo: “Porque vós cuidais ter nelas a vida eterna”. As Escrituras nos asseguram de uma condição eterna estabelecida diante de nós, e nos oferecem uma vida eterna que está fundamentada naquela condição. Elas contêm o mapa que a descreve, o estatuto que conduz a ela, a direção do caminho que leva a ela, e a base sobre a qual a esperança dela se apoia. E vale a pena procurar por ela onde estamos certos de encontrá-la. Mas para os judeus, Cristo disse apenas: “Vós pensais que tendes a vida eterna nas Escrituras”, porque, embora eles conservassem a crença e a esperança da vida eterna, e fundamentassem suas expectativas sobre ela nas Escrituras, ainda assim, aqui, eles a deixaram escapar, pois a procuravam na mera leitura e estudo das Escrituras. Este era um dito comum, porém deturpado, entre eles: ”Aquele que tem as palavras da lei tem a vida eterna”. Eles pensavam que estariam seguros a respeito do céu se conseguissem dizer de cor, ou por hábito, o maior número possível de passagens das Escrituras, à medida que eram dirigidos pela tradição dos antigos. Como pensavam que todos os incultos eram amaldiçoados porque não conheciam a lei dessa forma (cap. 7.49), eles concluíam que todos os instruídos eram indubitavelmente abençoados.

[2] Nós devemos examinar as Escrituras em nossa busca a Cristo, como o novo e vivo caminho que conduz a Ele. Essas são aquelas, as grandes e principais testemunhas que testificam de mim. Note que, em primeiro lugar, as Escrituras, mesmo aquelas do Antigo Testamento, testificam a respeito de Cristo, e através delas Deus, o Pai, testifica a respeito dele. O Espírito de Cristo nos profetas testificou dele anteriormente (1 Pedro 1.11), dos propósitos e promessas de Deus, o Pai, em relação a Ele, dos avisos que o antecediam. Os judeus sabiam, muito bem, que o Antigo Testamento testificava do Messias, e eram críticos em suas observações sobre os parágrafos referentes a isso, e ainda assim foram descuidados e miseravelmente negligentes na aplicação destes. Em segundo lugar, por isso devemos examinar as Escrituras, e podemos esperar encontrar a vida eterna nessa busca, porque elas testificam a respeito de Cristo. Para isso, temos a vida eterna, para conhecê-lo. Veja 1 João 5.11. Cristo é o tesouro oculto no campo das Escrituras, a água naquelas fontes, o leite naqueles peitos.

 

PSICOLOGIA ANALÍTICA

APRENDA A OUVIR SEM JULGAR

Em um mundo onde todos têm espaço para falar, mas poucos se mostram dispostos a escutar, é natural nos sentirmos, por vezes, tão desconectados e fragilizados.

Aprenda a ouvir sem julgar

Nancy havia tentado tirar a própria vida mais de uma vez e sua postura indicava que estava longe de desistir da ideia. Até o dia em que o psiquiatra da clínica de prevenção ao suicídio precisou tendê-la após um longo período sem sono e sem descanso. Com a percepção abalada pelo esgotamento, ele teve a sensação de estar vendo o mundo pelos olhos da paciente. E não era um mundo colorido. Essa experiência resultou em uma nova abordagem, mais próxima da perspectiva de Nancy, sem o julgamento da mente analítica. Ele mostrou que compreendia a gravidade da sil1iação. Disse que se ela realmente desistisse da vida, ele sentiria falta dela, mas não a julgaria. Assim que disse aquilo, se arrependeu: e se suas palavras fossem interpretadas como permissão? Mas naquele momento, a paciente o olhou nos olhos pela primeira vez e disse: “Se você realmente consegue entender as minhas razões, talvez eu não precise me matar”. E, assim, seguiram a terapia que devolveu sentido à vida da menina.

Nancy é o codinome da garota que mudou para sempre a forma como o psiquiatra americano Mark Goulston trata seus pacientes. A partir daquele episódio, ele percebeu que olhar e escutar são diferentes de perceber, de buscar uma conexão verdadeira a partir de uma escuta sem julgamentos. Ele desenvolveu uma série de técnicas de comunicação que fazem com que outras pessoas sintam-se verdadeiramente ouvidas e compreendidas. E estendeu esse conhecimento para além do consultório com seu livro Just Listen (Simplesmente Ouça), valioso a qualquer um que busque relações mais significativas e gratificantes – do mundo dos negócios ao núcleo familiar.

Em um cenário bem diferente das clínicas de prevenção a suicídio, outro homem salvou centenas de vidas usando o mesmo recurso: ouvidos interessados. O sargento Kevin Briggs, conhecido como “guardião da Golden Cate”, encontrou formas eficazes de se comunicar com aqueles a quem, literalmente, estendia o braço.

Ao fazer perguntas e ouvir com atenção, impediu cerca de 200 pessoas de pularem da ponte nas duas décadas em que trabalhou ali. Uma das táticas que ele infinitivamente usava para alcançar um nível maior de conexão com aquelas pessoas era tirar a jaqueta e vestir-se como elas: só de camiseta, mesmo em temperaturas muito baixas. E então, em meio à conversa, as convidava para uma bebida quente para que ambos pudessem se esquentar. Seus relatos estão no livro The Guardian of The Golden Gate (O Guardião da Golden Gate).

São histórias que evidenciam que a escuta atenta é uma das formas mais eficazes de conexão. E por isso salva vidas. Somos tão dependentes de afeto quanto de alimentos e sono. Apesar de menos evidentes que as dores físicas, as dores sociais pedem buscas desesperadas por alívio. Drogas de todos os tipos, lesões auto infligidas, sono excessivo e, de forma extrema, o suicídio, são sedutores convites para a fuga de um mundo que se mostra hostil e de uma realidade à qual pode parecer muito difícil de se adaptar.

Essa dificuldade está assustadoramente comum: em países desenvolvidos, o suicídio hoje representa um risco maior para os jovens que qualquer doença física. Em todo o mundo, o número de pessoas que desafiam o instinto de sobrevivência para aliviar aflições geralmente incompreendidas cresce em índices alarmantes.

As cansas podem não divergir de um único fator. Mas não podemos ignorar o peso do contexto social nessas tendências. Afinal, não se trata de um fenômeno homogêneo, mas extremamente suscetível a variáveis fáceis de identificar. Ainda no final do século XIX, o sociologista francês Émile Durkheim analisou dados de diversos países europeus e percebeu a estreita relação entre a economia de uma sociedade e o suicídio. A medida que o país enriquecia, as taxas de suicídio aumentavam.

O individualismo resultante de uma sociedade que nos convence, desde cedo, de que o sucesso está ao alcance de todos e depende das nossas próprias escolhas seria, segundo ele, uma das consequências da Modernidade que podem parecer penosas para muitos. Em paralelo a essa carga de responsabilidade que carregamos sozinhos, somos expostos às inúmeras possibilidades de sucesso, representadas por valores extrínsecos, produtos e estilos de vida que, ao se apresentarem ao nosso alcance, nos fazem permanentemente insatisfeitos com o próprio desempenho quando não podemos tê-los.

As pressões sociais e o individua­ lismo analisados por Durkheim encontram sua representação extrema na forma como hoje nos relacionamos. A carga que nos foi lançada em sua época, quando começamos a nos desprender dos grupos sociais para uma busca solitária aos novos conceitos de sucesso, passa a ser muito maior quando as conexões são fragilizadas por uma comunicação ineficaz. Vale analisar a comunicação feita hoje com uma carga virtual que pauta as relações gratificantes dependentes da fama e da quantidade de curtidas em redes sociais.

Mas quando aprendemos a escutar atentamente e encontramos alguém que nos olhe nos olhos e nos ofereça consolo, a felicidade nos parece tão possível e tão inalcançável ao mesmo tempo.

 

MICHELE MULLER – é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos est reunidos no site www.michelemuller.com.br

OUTROS OLHARES

AS ARMADILHAS DA DIABETES

O número de mortes pela doença subiu 12% no Brasil. Apesar dos avanços em tecnologia e medicação, ainda falta informação entre médicos e pacientes.

As armadilhas da diabetes

Cerca de 425 milhões de pessoas no mundo sofrem de diabetes. Em torno de 10% apresentam o tipo 1, uma doença auto­imune. Nela, o sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina, hormônio que possibilita a entrada, nas células, do açúcar presente no sangue. A maioria da população apresenta o tipo 2, relacionado ao acúmulo de peso e caracterizado pela deficiência na produção ou aproveitamento da substância. Na quarta-feira 27 de junho, o Ministério da Saúde divulgou um aumento de 12% no número de mortes pela doença entre 2010 e 2016. De 54 mil, passaram a 61 mil. Na origem do crescimento está a desinformação de pacientes e médicos e uma estrutura pública de atendimento longe do ideal.

O diagnóstico preciso do quadro foi feito por especialistas brasileiros que participaram do encontro anual da Associação Americana de Diabetes (ADA), realizado em Orlando (EUA) e encerrado na última semana. Na opinião do endocrinologista Levimar Rocha Andrade, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, existe entre os profissionais de saúde resistência em prescrever insulina à portadores do tipo 2 assim que a doença se instala. “Antigamente ela era usada como último recurso. Isso mudou”, diz. “Mas os médicos receiam perder o paciente. “Introduzir um pouco do hormônio desde o começo do tratamento preserva a função original das células. Porém, nem sempre os benefícios são visíveis de imediato, ao contrário do que ocorre com efeitos colaterais como a queda repentina da taxa de açúcar no sangue, a hipoglicemia. “O paciente não vê sentido”, diz a médica Solange Travasses, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Existem opções que driblam a consequência. Entre elas as drogas Toujeo, fabricada pela Sanofi, e a Tresiba, da Novo Nordisk No encontro da associação americana, foram divulgados estudos demonstrando que as medicações reduzem o risco de hipoglicemia no início do tratamento. Porém, elas custam caro (cerca de R$150 por 3 ml) e não estão disponíveis no SUS. Também foram apresentadas combinações de remédios mais eficazes para tratar de condições associadas, como a obesidade, e diversos dispositivos que ajudam no monitoramento dos indicadores da doença pelos próprios pacientes.

O entendimento dos especialistas é de que ao mesmo tempo em que a ciência avança, permanece uma lacuna. “A expectativa de ver novas drogas e tecnologias é grande, mas não podemos nos esquecer do básico”, afirma Levimar Andrade. Por básico inclui-se tempo de consulta suficiente para informar o paciente sobre de que maneira a alimentação e exercidos físicos afetam o manejo da doença. Na rede pública o problema é mais grave, com consultas que, na melhor das hipóteses. duram quinze minutos.

MUDANÇA DE HABITO

Sem a compreensão não há como a enfermidade ser controlada, uma vez que o excesso de gordura e a pouca atividade física estão não só na sua origem como também na sua permanência. Nenhum medicamento sozinho impede sua progressão sem que esteja combinado a uma mudança real de hábitos que envolve a prática de exercidos e a troca de uma alimentação rica em gordura e açúcar por outra, baseada no consumo de frutas, verduras e alimentos integrais. “A alimentação é metade do tratamento. A outra é formada pela prática de exercícios e de medicação”, diz a endocrinologista Erika Parente, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Reside na questão uma das principais armadilhas no trato da diabetes tipo 2, fator de risco para infarto e acidente vascular cerebral. Seu manejo é, a princípio, simples. Porém, fazer com que as pessoas mudem de hábito é um desafio. “É como educar um filho. Tem que repetir mil vezes”, diz Solange Travassos. Pela urgência na solução do problema, que está associado a diversas outras enfermidades, ganha espaço a área da medicina comportamental.  Seu objetivo é incluir no tratamento táticas baseadas nos achados científicos sobre comportamento e tomada de decisões, entre outros aspectos.

 As armadilhas da diabetes.2

 

 

GESTÃO E CARREIRA

PRESSÃO PROFISSIONAL

Transtorno mental está entre as três maiores causas de incapacitação para o trabalho.

Pressão profissional

No Brasil, os transtornos mentais e comportamentais foram a terceira causa de incapacidade para o trabalho, considerando a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, no período de 2012 a 2016.

Estão relacionados a riscos emergentes – os fatores psicossociais -, crescentes em nossa época de mudanças velozes nos modos de viver e trabalhar. Com aproximadamente 17,5 mil casos novos, reconhecidamente relacionados ao trabalho, geram cerca de 2,4 milhões de dias de trabalho perdidos por ano.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), “apesar de não consistir em doença, o estresse é o primeiro sinal de um problema; se o corpo experimenta uma tensão continua, o estresse pode causar alterações agudas e crônicas, o que pode provocar danos de longo prazo a sistemas e órgãos, particularmente se o corpo não consegue descansar e se recuperar”.

Para a OIT, evidências demonstram que os riscos psicossociais (como insegurança no emprego, baixo controle sobre a atividade, altas demandas e desequilíbrio entre esforço e recompensa), assim como o estresse relacionado ao trabalho, estão associados a riscos comportamentais afetos à saúde, incluindo consumo exagerado de bebida alcoólica, fumo e abuso de drogas. Ainda segundo a OIT, na Europa, o estresse ocupa a segunda posição entre os problemas de saúde relacionados ao trabalho, afetando cerca de 40 milhões de pessoas e que entre 50 e 60 % de todos os dias de trabalho perdidos no continente estariam ligados a esta condição.

APOSENTADORIA PRECOCE

Os dados constam do Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, produzido pela secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Trabalho, que trata do adoecimento mental e trabalho: a concessão de benefícios por incapacidade relacionados a transtornos mentais e comportamentais entre 2012 e 2016. Nos dados apresentados na pesquisa, os benefícios concedidos por incapacidade temporária para o trabalho, os auxílios­ doença, alcançaram 7.168.633 de concessões no período entre 2012 e 2016 para o segurado empregado, enquanto as aposentadorias por invalidez, que retiram o trabalhador definitivamente da vida laboral, totalizaram 283.423 casos. “Esses indicadores têm sido observados nas diversas atividades da Inspeção do Trabalho, sendo uma preocupação e um desafio para a fiscalização em Segurança e Saúde do Ministério”, afirma o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.

A publicação do Ministério e da Previdência cita um estudo sobre o estresse relacionado ao trabalho, publicado pela OIT no ano de 2016, segundo o qual “trabalhadores de todo o mundo enfrentam mudanças significativas na organização e nas relações de trabalho; eles estão sob grande pressão para atender às demandas da vida laboral moderna. Com a velocidade do trabalho ditada por comunicações instantâneas e altos níveis de competição global, as linhas que separam trabalho e vida pessoal estão se tornando cada vez mais difícil de identificar”.

RISCOS

Conforme o Boletim, a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho apresenta abordagem semelhante e cita algumas características das condições de trabalho que conduzem a riscos psicossociais como cargas de trabalho excessivas; exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções; falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho; má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral; comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas; e assédio psicológico ou sexual, violência de terceiros.

Contribuem ainda para o cenário de agravamento do adoecimento mental no âmbito do trabalho, “as situações de banalização da violência, como o assédio moral institucionalizado, as relações interpessoais norteadas por autoritarismo e competitividade, a demanda constante por produtividade e a desvalorização das potencialidades e subjetividades dos trabalhadores”.

De acordo com o estudo da OIT, a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho apresenta abordagem semelhante e cita algumas características das condições de trabalho que conduzem a riscos psicossociais como cargas de trabalho excessivas; exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções; falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho; má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral; comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas; e assédio psicológico ou sexual, violência de terceiros.

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 31-47 – PARTE I

Alimento diário

Cristo Prova sua Missão Divina. A Infidelidade dos Judeus é Reprovada

 

Nestes versículos, nosso Senhor Jesus testifica e confirma a autoridade que Ele mostrara, e comprova que fora enviado por Deus, o Pai, para ser o Messias.

I – Ele desconsidera seu próprio testemunho de si mesmo (v. 31): “‘Se eu der testemunho de mim mesmo’, embora ele seja com certeza verdadeiro (cap. 8.14), apesar disso, de acordo com a regra geral de julgamento entre homens, ele não será aceito como uma prova legal, nem é permitido que ele seja considerado como uma evidência”. Sendo assim:

1. Isto espelha a repreensão sobre os filhos dos homens, bem como sua veracidade e integridade. Com certeza, nós podemos dizer, refletidamente, o que Davi disse precipitadamente: “Todo homem é mentira”, do contrário não existiria jamais uma máxima aceita de que o testemunho de alguém a respeito de si mesmo é suspeito, e não se deve confiar nele. Isto é um sinal de que o amor-próprio é mais forte do que o amor à verdade. E, além disso:

2. Isto reflete a honra do Filho de Deus, e revela sua maravilhosa condescendência. Pois, embora Ele seja a fiel testemunha, a própria verdade, que pode reivindicar ser aceita com base em sua honra e em seu próprio testemunho isolado, mesmo assim Ele se compraz em dispensar seu privilégio e, para a confirmação de nossa fé, reporta-se a seus testemunhos, para que possamos ficar completamente satisfeitos.

 

II – Ele apresenta outros testemunhos que prestam depoimento de que Ele era o enviado de Deus, o Pai.

1. O próprio Pai testificou a respeito dele (v. 32): “Há outro que testifica de mim”. Eu interpreto isto como se referindo a Deus, o Pai, pois Cristo menciona o testemunho do Pai junto com seu próprio testemunho (cap. 8.18): “Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica o Pai”. Observe:

(1)  O selo que o Pai colocou em sua autoridade: ”Aquele que testifica de mim, não apenas fez isso através de uma voz do céu, mas ainda o faz através dos sinais de sua presença comigo”. Veja quem são aqueles a quem Deus testificará.

[1] Aqueles que Ele envia e emprega. Quando o Senhor delega autoridade, Ele fornece credenciais.

[2] Aqueles que testificam dele. Assim fez Cristo. Deus confessará e honrará aqueles que o confessarem e honrarem.

[3] Aqueles que se negarem a testificarem sobre si mesmos. Assim fez Cristo. Deus cuidará para que aqueles que se humilham, e não procuram sua própria glória, não sofram perdas por isso.

(2)  A satisfação que Cristo tinha em seu testemunho: “Sei que o testemunho que Ele dá de mim é verdadeiro”. Estou muito seguro de que tenho uma missão divina, e não hesitarei o mínimo no que se refere a isto”. Deste modo, Ele tinha o testemunho em si mesmo. O Diabo o tentou a questionar se Ele era o Filho de Deus, mas Ele jamais cedeu.

2. João Batista deu testemunho de Cristo, v. 33ss. João veio para que testificasse da luz (cap. 1.7). Seu objetivo era preparar o caminho para o Senhor, e encaminhar as pessoas a Ele: “Eis o Cordeiro de Deus”.

(1) Nessas circunstâncias, o testemunho de João foi:

[1] Um testemunho público e solene: “Enviastes uma missão de sacerdotes e levitas a João, o que lhe deu uma oportunidade de proclamar o que tinha a dizer. Isto não foi um testemunho comum, mas judicial”.

[2] Foi um testemunho verdadeiro: ele dá testemunho da verdade, como deve fazer uma testemunha, toda a verdade, e nada além da verdade. Cristo não diz: “Ele deu testemunho de mim” (embora todos soubessem que João o fez), mas João agiu como um homem honesto: “Ele deu testemunho da verdade”. João era reconhecidamente um homem santo, um homem bom, tão humilhado para o mundo e tão versado nas coisas divinas, que não se poderia imaginá-lo como sendo culpado de tamanha falsificação e impostura, como dizer o que disse a respeito de Cristo, se assim não fosse, e se ele não estivesse certo disso.

(2) Duas coisas são acrescentadas no que se refere ao testemunho de João:

[1] Que era um testemunho mais do que ele precisava testemunhar (v. 34): “Eu … não recebo testemunho de homem”. Embora Cristo considerasse adequado, citar o testemunho de João, Ele o fez com uma declaração para que isso não seja considerado ou interpretado como prejudicial à prerrogativa de sua auto – suficiência. Cristo não necessita de cartas ou recomendações, nem testemunhos ou certificados, apenas daquilo que seu próprio valor e excelência trazem consigo. Por quê, então, Cristo ressaltou aqui o testemunho de João? “Ora, estas coisas eu digo para que vos salveis”. Este era o objetivo dele durante todo esse sermão: não para salvar sua própria vida, mas as almas de outros. O Senhor apresentou o testemunho de João porque, sendo um deles próprios, era de se esperar que eles o ouvissem atentamente. Note que, em primeiro lugar, Cristo deseja e planeja a salvação até mesmo de seus inimigos e per­ seguidores. Em segundo lugar, a palavra de Cristo é o meio de salvação. Em terceiro lugar, Cristo, em sua palavra, leva em consideração nossas fraquezas e é condescendente com nossas limitações, considerando não tanto o que convém a um príncipe tão notável dizer, mas o que podemos suportar, e o que mais provavelmente nos fará bem.

[2] Que era um testemunho  para o homem, porque João Batista era alguém a quem eles respeitavam (v. 35): ele era uma luz entre eles.

Em primeiro lugar, a natureza de João Batista: “Ele era a candeia que ardia e iluminava”. Cristo muitas vezes falou honrosamente de João. Ele estava agora em uma prisão, sob suspeita, ainda assim Cristo lhe presta o devido louvor, o que devemos estar prontos a fazer a todos aqueles que servem a Deus fielmente.

1. Ele era uma luz, não a luz (pois Cristo era a luz), mas uma luminária, uma luz derivada e subordinada. Seu trabalho era iluminar um mundo em trevas com alertas da aproximação do Messias, que era como a estrela da manhã.

2. Ele era uma luz ardente, o que denota sinceridade. O fogo artificial pode ter brilho, mas aquele que arde é o fogo verdadeiro. Isto denota, também, sua diligência, zelo e fervor, ardendo em amor a Deus e às almas dos homens. O fogo está sempre trabalhando em si mesmo ou em alguma outra coisa. Dessa maneira, João pode ser considerado um bom pastor.

3. Ele era uma luz brilhante, o que indica, ou sua conversa exemplar, na qual nossa luz resplandecerá (Mateus 5.16), ou uma influência eminente e ampla. Ele era renomado perante os outros. Embora tivesse a tendência de se manter anônimo e de se isolar, e vivesse nos desertos, mesmo assim sua doutrina, seu batismo e sua vida eram tais, que ele se tornou muito notável e atraía para si os olhos da nação.

Em segundo lugar, a afeição das pessoas por ele: “Quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz”.

1. Eles estavam em êxtase pelo surgimento de João: vós vos alegrastes com sua luz. Vós vos orgulhastes muito por terdes entre vós um homem assim, que era uma glória para vossa nação. Quisestes dançar e fazer alarde a respeito desta luz, como garotos próximos a uma fogueira”:

2. Isto era apenas temporário e logo acabou: “Gostastes muito dele, por um a hora, por algum tempo, como crianças pequenas gostam de uma coisa nova, ficastes satisfeitos com João por algum tempo, porém logo vos cansastes dele e do seu ministério, e dissestes que ele tinha demônio, e agora o tendes preso”. Note que muitos que parecem inicialmente ter afinidade e estar satisfeitos com o Evangelho, mais tarde o desprezam e rejeitam. E comum que os adeptos entusiastas e ruidosos tornem-se indiferentes e se rebelem. Estes aqui se regozijavam na luz de João, mas nunca andaram nela, e por isso nela não se mantiveram. Eles eram como pedregais. Enquanto Herodes era amigo de João Batista, o povo o tratou com carinho, mas quando ele caiu em desgraça junto a Herodes, perdeu o tratamento preferencial deles: “Vós tolerastes João, isto é, com finalidades mundanas” (assim alguns interpretam). “Vós vos contentastes com ele, com esperanças de fazer dele uma ferramenta, tirar proveito dele e sob a proteção de seu nome livrar-vos do jugo romano, recobrando a liberdade civil e a glória de vossa nação”. Sendo assim:

(1) Cristo menciona o apreço deles por João, para condená-los pela sua atual oposição a si próp1io, pois João dera testemunho do Senhor. Se tivessem dado seguimento ao seu respeito por João, como deveriam ter feito, eles teriam aceitado Cristo.

(2) O Senhor menciona o término do apreço deles, para justificar porque Deus os privou, como fazia agora, do ministério de João, e porque ocultou aquela luz.

1. As próprias obras de Cristo testificam a seu respeito (v. 36): “Eu tenho maior testemunho do que o de João”, pois se acreditamos no testemunho de homens enviados por Deus, como era João, o testemunho direto de Deus, não através do ministério de homens, é maior, 1 João 5.9. Observe que, embora o testemunho de João fosse um testemunho menos convincente e menos importante, mesmo assim, nosso Senhor estava satisfeito por fazer uso dele. Devemos estar satisfeitos por todos os apoios que se apresentarem para a confirmação de nossa fé, ainda que eles não possam equivaler a uma prova conclusiva. E não devemos desqualificar qualquer um deles, sob o pretexto de que existem outras provas mais conclusivas. Nós precisamos de todos eles. E este testemunho maior era o das obras que seu Pai lhe havia confiado, e que deveriam ser consumadas. Isto é:

(1) Em geral, o curso inteiro de sua vida e de seu ministério. Sua revelação de Deus e de seu propósito para conosco, estabelecendo seu reino entre os homens, reformando o mundo, destruindo o reino de Satanás, devolvendo aos homens caídos sua antiga pureza e felicidade, e derramando amplamente nos corações dos homens o amor de Deus e amor mútuo de uns pelos outros. Ao morrer, o Senhor Jesus Cristo, referindo-se à sua obra completa, disse: “Está consumado”, tudo está consumado, do princípio ao fim, uma obra digna de Deus. Tudo o que Ele disse e fez era sagrado e celestial, e uma pureza divina, poder e graça resplandeciam nela, provando plenamente que Ele fora enviado por Deus.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O FASCÍNIO PELOS SONHOS

O simbolismo cifrado e transcendente das produções oníricas sempre intrigou as pessoas e suscitou, desde a Antiguidade, os mais variados estudos e interpretações, dos míticos e proféticos aos psicanalíticos e neurofisiológicos.

O fascínio pelos sonhos

Em Gênesis, capítulo 39, José está numa pior. A mulher de Potifar, a cujas investidas ele resistiu, intrigou-o junto ao marido, que mandou prender o jovem hebreu. Tudo muda, porém, quando, ainda na prisão, José começa a revelar-se intérprete de sonhos, primeiro dos servidores do faraó do Egito e depois do próprio faraó. O famoso sonho das sete vacas magras que devoram sete vacas gordas (e que se traduziria em sete anos de abundância seguidos por sete de más colheitas) vale para José, que havia sido vendido como escravo por seus irmãos, um elevado cargo governamental. A passagem bíblica traduz a importância que os sonhos tinham no mundo antigo e que têm em muitas culturas. Isto se deve ao caráter do próprio sonho, um evento que ocorre de forma espontânea, involuntária, que assume formas estranhas, bizarras e dá ao sonhador a sensação de uma mensagem que transcende os limites da realidade cotidiana. Mensagem que pode vir até da divindade.

A valorização dos sonhos na Bíblia hebraica não é exceção. Na antiga Mesopotâmia há referências a práticas divinatórias baseadas em sonhos já no segundo milênio antes de Cristo. Os egípcios os interpretavam como mensagem dos deuses; o papiro de Deral- Madineh (cerca de 2000 a.C.) dá instruções acerca de como obter uma mensagem onírica do deus Serapis; o postulante tinha de passar a noite num dos muitos templos dedicados ao deus e assim “incubar” seu sonho. Os Vedas, textos sagrados da Índia antiga (escritos provavelmente entre 1500 e 2000 a.C.), contêm interpretações de sonhos, interpretações estas que tinham de ser correlacionadas com o período da noite em que o sonho ocorrera e com o temperamento do sonhador. Na China, Chuang-tzu (século IV a.C.) sustentava ser impossível diferenciar o sonho do mundo real. Conta-se que certa vez ele sonhou que  era uma borboleta; quando acordou, não sabia se era uma borboleta agora sonhando que era homem ou se era um homem que havia sonhado ser borboleta…Os sonhos relatados nas culturas do Oriente Médio tinham uma série de características em comum. Em primeiro lugar, o sonhador quase sempre era uma pessoa importante, como o faraó. Em segundo lugar, o sonho ocorria em um momento de crise, ou de proximidade de crise, mesmo que o sonhador disso não se desse conta. Em terceiro lugar, os sonhos frequentemente tinham caráter simbólico, não acessível ao sonhador, necessitando por isso de interpretação. Na Grécia antiga o sonho desempenhava papel transcendente; na obra homérica aparece várias vezes, mas a autoridade mais influente nesta matéria foi, sem dúvida, Aristóteles. Segundo ele, os sonhos têm origem no próprio órgão das emoções, o coração, e resultam dos movimentos dele. O sonho tem caráter profético e é também um incentivo, um roteiro, para futuras ações do sonhador. Já os estoicos dividiam os sonhos em três grupos: aqueles que vinham de divindades, aqueles que vinham de seres malignos e os que nasciam da própria alma do sonhador. Os gregos também valorizavam o sonho do ponto de vista da saúde e doença. Aristóteles sustentava que, por meio deles, um bom médico podia prever o surgimento de enfermidade, a cura ou o óbito. Hipócrates, o pai da medicina, também pensava assim. Reconhecia a existência de sonhos inspirados pelas divindades, mas assinalava que causas naturais, ligadas ao corpo, podiam ser evidências do estado físico deste. Esse posicionamento, aliás, perpassa toda a obra hipocrática; naquela época, a epilepsia, por exemplo, era considerada uma “doença divina”, evidência de que deuses se haviam apossado do corpo da pessoa. Nada disso, dizia Hipócrates, a epilepsia tem causas naturais, como outra enfermidade qualquer. No caso dos sonhos, quando se referem a lutas ou guerras, indicam uma desordem orgânica. Ao contrário, sonhar com o sol e a lua é sinal de boa saúde. E há equivalências; os rios, por exemplo, são análogos ao sistema circulatório. Se estiverem transbordando, indicam pletora, excesso de sangue; se estiverem secos, sugerem anemia, falta de sangue. Que o sonho era importante do ponto de vista da saúde, mostra-o o culto a Asclépio ou Esculápio, o deus da medicina, realizado no templo de Epidauro. Ali o enfermo era admitido. Depois de ritos purificadores, era conduzido ao abaton, um lugar reservado aos crentes, e onde deitava em um clinos, leito (daí vem a palavra “clínica”). Ali deveria dormir. Tudo dando certo, Asclépio lhe apareceria em sonhos, às vezes acompanhado de suas filhas, Higeia, a deusa da higiene, e Panaceia, a deusa da cura. Ou, então, podia aparecer sob a forma de serpente (a serpente enrolada no caduceu é símbolo da medicina). Em matéria de interpretação de sonhos, seguramente a obra mais importante da época é a Oneirocritica, trabalho em cinco volumes escrito no século II d.C. por Artemidoro, da cidade de Daldis (Ásia Menor) e que comporta a análise de mais de três mil sonhos. Para Artemidoro, os sonhos se dividem em não preditivos e preditivos. Os não preditivos compreendem os pesadelos e o phantasma, termo que parece indicar as alucinações hipnagógicas que comumente ocorrem quando a pessoa está adormecendo (sensação de queda, por exemplo). Os sonhos preditivos comportam três tipos: oneiros, que é alegórico, passível de interpretação; horama, explicitamente preditivo, antevisão; e chrematismos, em que aparece um deus anunciando algo. Para bem interpretar um sonho, Artemidoro estabelece regras, cuja validade qualquer psicanalista moderno endossaria: é preciso conhecer a pessoa que sonhou, sua vida, seu caráter, seu estado de ânimo, as circunstâncias em que vive. Outro autor importante viveu no século IV d.C. Trata-se de Ambrósio Teodósio Macróbio, um dos chamados cristãos neoplatônicos. Como Artemidoro, Macróbio faz uma classificação dos sonhos e assinala a importância da atividade onírica como iniciação ao conhecimento da própria alma. Na Roma antiga, a interpretação dos sonhos não era tão valorizada como na Grécia. Uma exceção é representada pelo filósofo do século II d.C., Tertuliano, para quem os sonhos poderiam provir de deuses, de demônios, de causas naturais ou de um estado de êxtase. Enquanto isto, o Talmud, coleção de comentários religiosos judaicos coletados entre os séculos II a.C. e III d.C., retomava a tradição bíblica da interpretação de sonhos, porque “um sonho não interpretado é como uma carta que não é aberta”. O cristianismo, de início, aceitou a ideia grega de que os sonhos pudessem ter origem divina. Cipriano, bispo de Cartago por volta de 250 d.C., afirmava que os concílios da Igreja eram guiados por Deus por meio de sonhos e visões dos participantes. Santo Agostinho descrevia certos sonhos como dádivas do Senhor. No século V, o bispo Sinésio escreveu  (em uma única noite, segundo a tradição) um tratado sobre os sonhos, defendendo a ideia de que eles são proféticos, surgindo da própria alma, que alberga a imagem de acontecimentos futuros e as transmite à “fantasia”, uma espécie de vida que ocorre na profundidade do ser. Mas a possibilidade de que os sonhos pudessem ter também caráter pecaminoso ou sacrílego começou a emergir e veio inclusive a tornar-se uma preocupação da Inquisição. Já a cultura islâmica valorizava muito os sonhos; boa parte do Corão foi transmitida por Deus a Maomé através de sonhos. Nas culturas ditas “primitivas”, o sonho também tem papel importante, indicando, por exemplo, o melhor lugar para caçar ou encontrar uma erva curativa, ou alertando sobre uma ameaça à saúde. Entre os ojibwa, índios que vivem nos Estados Unidos e no Canadá, os sonhos fazem parte do rito de iniciação. Quando chegam à puberdade, e antes de ter relações sexuais, os jovens, depois de um jejum prolongado, são levados a um lugar isolado onde devem dormir; espera-se que durante o sonho tenham contato com imagens protetoras, não humanas (uma águia, por exemplo), e delas recebam uma “bênção”. “Se sonhares bem, terás uma vida longa e boa”, dizem os anciãos da tribo. Para muitos aborígenes australianos, a expressão “tempo do sonho” refere-se ao tempo que precedeu a existência do mundo real. Espíritos ancestrais vieram, então, ao mundo e fizeram surgir a terra, as plantas, os animais.

A ESTRADA DO REAL

O sonho é fundamental na iniciação do xamã.  O termo saman, que vem de um idioma siberiano, significa “calor interno” e refere-se aos poderes mágicos e espirituais desses feiticeiros tribais. O xamanismo, prática que pode ser encontrada na Ásia, África, América, não depende de iniciativa pessoal; o indivíduo recebe um chamado, em geral sob a forma de sonho, no qual tipicamente o sonhador é arrebatado para um lugar longínquo, seu corpo sendo feito em pedaços. Entre os dyak de Bornéu, os iniciados informam que seu cérebro é removido e lavado, de modo a “limpar” o pensamento.  Nessas culturas, as pessoas muitas vezes incorporam a seus sonhos os símbolos resultantes de mitos tribais. O que é o mito? É uma narrativa, em geral de caráter sagrado, que proporciona uma explicação para os fenômenos da vida e do Universo. Joseph Campbell, estudioso do assunto, define a relação entre mito e sonho da seguinte maneira: “Mitos são sonhos partilhados, sonhos são mitos privados”. Os povos possuem mitos; os sonhos possuem pessoas. Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, começou a estudar os sonhos depois de anos de pesquisa neurológica, à qual havia se dedicado no começo de sua carreira médica. Estagiando no serviço do psiquiatra Jean Martin Charcot, em Paris, observou vários casos de histeria, então muito comum entre mulheres, impressionando-se com a conotação sexual da doença e com o fato de as pacientes não se darem conta da causa dos problemas, o que sugeria a existência de um mecanismo não consciente. A princípio, usava o hipnotismo para tratar seus doentes, mas depois optou por um método terapêutico baseado na livre associação e na análise dos sonhos como forma de chegar aos conflitos; do sonho, particularmente, dizia que era a “estrada real”, ou seja, o caminho privilegiado para o inconsciente. Falava por experiência própria; no processo de autoanálise ao qual se submeteu durante um período atormentado de sua existência (a partir de 1892), os sonhos desempenharam papel fundamental. Começou a registrá-los e analisá-los. Foi quando se deu conta de que correspondem a desejos não realizados, muitas vezes de natureza sexual. Mas tais desejos aparecem de forma disfarçada, por causa da censura interna do ego; se assim não fosse, o sono seria impossível. Por essa razão precisam ser interpretados por meio do tratamento psicanalítico. Os sonhos, para Freud, têm um conteúdo manifesto, aquilo que aparece sob forma de imagens, e um latente, o significado oculto. O conteúdo latente é disfarçado através de processos como o simbolismo (a fantasia inconsciente se expressa sob a forma de um objeto: um bastão pode ser o pênis, uma caixa, a vagina), a condensação (dois ou mais símbolos se fundem), o deslocamento (que associa objetos aparentemente não conectados). Imagens resultantes da realidade cotidiana podem aparecer sob a forma de “restos diurnos”.

Para Freud, os sonhos são análogos às fantasias neuróticas; ora, considerando que é praticamente impossível diferenciar os sonhos de neuróticos dos sonhos de pessoas ditas normais, ele concluía que todos somos neuróticos, em maior ou menor grau. As ideias de Freud a respeito da atividade onírica estão na obra A interpretação dos sonhos, publicada em 1899 (mas datada 1900), considerada seminal para a psicanálise e da qual ele muito se orgulhava. Dizia que um dia uma placa seria colocada na casa onde morava (e onde dormia e sonhava) com os dizeres: “Nesta casa, em 24 de julho de 1895, o segredo dos sonhos foi revelado ao doutor Sigmund Freud”. A data marca a ocorrência daquele que fora o sonho mais famoso de Freud, o “sonho de Irma”, uma de suas pacientes. No dia anterior, um colega e amigo de Freud observara que “Irma” não parecia evoluir muito bem. No sonho, Freud examina a garganta de “Irma” e descobre que ela tem uma espécie de infecção, o que lhe dá grande alívio: ele não era culpado pelo fato de a paciente não ter melhorado. Ou seja, o sonho preenchia um desejo inconsciente do médico.

O psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) a princípio trabalhou com Freud, mas depois rompeu com ele e criou suas próprias teorias. Cunhou a expressão “inconsciente coletivo”, um nível da mente, herdado e partilhado por toda a humanidade, que produz mitos, visões religiosas… e sonhos. Nesses encontramos temas comuns, os arquétipos. Exemplo de arquétipo é a Grande Mãe, em cuja figura várias deusas do Oriente Médio foram calcadas.

Jung também formulou os conceitos de persona e sombra. Persona é a “máscara” atrás da qual nos ocultamos na vida cotidiana. Pessoas que assumem sua persona são propensas a ter sonhos nos quais aparece a sombra, o oposto da persona. Como exemplo, Jung cita o sonho de um funcionário público obcecado com regulamentos e com a honestidade, e que de noite sonha que um ladrão irrompe em sua casa: o ladrão é a sombra.

ROTEIROS, LABIRINTOS E PESADELOS

Sonhos são experiências altamente subjetivas e, portanto, extremamente variáveis de pessoa a pessoa; como observou Freud, existem até mesmo aqueles que não se lembram dos sonhos e concluem, erroneamente, que não sonharam. Isso durante muito tempo se constituiu em obstáculo para uma correlação objetiva entre a atividade onírica e o funcionamento do organismo, particularmente do cérebro. Porém, à medida que foram surgindo métodos de registro da atividade nervosa, como a eletroencefalografia (EEG), eletro-oculografia e eletromiografia, as pesquisas puderam avançar. Constatou-se então que o sono não é uma coisa só; pode ser dividido em fases ou estágios. O estágio 1 é o do início do sono; o estágio 2 é o do sono leve; e os estágios 3 e 4 correspondem ao sono profundo, no qual ocorre o movimento rápido de olhos (rapid eye movement, REM). Nesta fase, a atividade cerebral é maior e semelhante àquela da vigília; a atividade muscular é inibida, com exceção dos músculos oculares, que se movimentam rapidamente – daí a denominação. Em meados dos anos 1950 foi postulado que o sonho estava associado ao sono REM, mas depois foi constatado que se sonha em todas as fases. No período REM, contudo, os sonhos tendem a ser mais detalhados e parecem ter um “roteiro”. A ocorrência dos sonhos é explicada pela chamada hipótese da ativação-síntese, por meio da qual estímulos originários do tronco cerebral ativam o cérebro frontal, a parte mais “evoluída” de nosso sistema nervoso, que tenta dar “coerência” a tais estímulos; lesões nessa região frontal, mesmo com preservação do sono REM, tornam o sonho impossível. A hipótese ainda é objeto de discussão; trabalhos mostram que o tronco cerebral não é essencial para o ato de sonhar, nem mesmo o sono REM. De 26 pacientes que tiveram lesão no tronco cerebral, com desaparecimento do sono REM, só um perdeu a capacidade de sonhar. Animais também sonham? Uma experiência feita com ratos sugere que sim. Quando esses roedores são colocados num labirinto, o que acontece comumente em laboratório, ativa-se uma região cerebral conhecida como hipocampo; a ativação continua no sono REM. É como se estivessem “ensaiando” para a atividade que faziam quando estavam acordados. Esta ideia do “ensaio”, aliás, é usada em uma teoria evolucionista, darwiniana, do sonho. Nossos antepassados trogloditas enfrentavam um grande número de ameaças. Nos sonhos, eles podiam “ensaiar” para enfrentá-las, aumentando assim as chances de sobrevivência e transmitindo a habilidade para a progênie. A hipótese explicaria também por que o sono REM é mais frequente em recém-nascidos, podendo durar cerca de oito horas, declinando depois ao longo da vida. A longa duração do sono REM seria igualmente um “ensaio”, um passo importante no aprendizado e no processamento de memórias, um auxílio importante nos embates da vida. Essas pesquisas contrariam as ideias freudianas? Não necessariamente. O sono REM seria um desencadeador dos sonhos. Mas os sonhos em si, as imagens que neles aparecem, seriam condicionados por nosso psiquismo, por nossos desejos. Perturbações do sono REM podem se traduzir em pesadelos e em terror noturno. Pesadelos são muito comuns; ocorreram em cerca da metade de estudantes universitários americanos acompanhados durante um período de duas semanas. Outra pesquisa mostrou uma frequência de 8% na população geral. Além dos distúrbios do sono REM, há outros fatores desencadeantes: medicamentos, enfermidades, problemas respiratórios durante o sono (apneia, ou interrupção da respiração) e problemas psíquicos como o estresse pós-traumático, que surge após a pessoa ter vivido uma situação de grande tensão (na guerra, por exemplo). Já o terror noturno é um episódio que se acompanha de pânico e agitação. Afeta cerca de 4% da população, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é mais comum em crianças. Como o pesadelo, pode ser causado também por problemas orgânicos e psíquicos.

DRAMATURGIA NOTURNA

O potencial criativo do sonho sempre impressionou artistas e cientistas e parece corresponder à realidade: um trabalho mostra que a capacidade de associar palavras aumenta cerca de 30% imediatamente após um sonho. Há, na história, pelo menos dois exemplos famosos de criatividade associada a sonho. O primeiro é o do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834). Quando vivia numa fazenda no interior da Inglaterra, por conta de uma indisposição, tomou tintura de ópio (que causa sono) e adormeceu enquanto lia um texto descrevendo a construção do palácio do imperador mongol Kubla Khan. Em sonho compôs um poema sobre esse palácio, que, segundo ele, não teria menos de 200 a 300 linhas. Acordando, tratou de colocá-lo no papel, mas foi interrompido pela visita de alguém. Quando tentou terminar a tarefa, viu que já era impossível recapturar as imagens de sua mente. O segundo exemplo é o do químico alemão August Kekule von Stradonitz, que, em 1890, tentava descobrir a maneira pela qual os átomos de carbono se dispõem na molécula do benzeno, um derivado do petróleo. Problema difícil e obsessivo; certa vez, pensando no problema, o químico adormeceu em frente à lareira. No sonho, as chamas se transformaram em serpentes, uma das quais mordeu o próprio rabo, criando uma imagem circular que deu a Kekule a solução do problema: os átomos se dispõem sob a forma de anel. Detalhe interessante: a serpente que morde o próprio rabo é uma figura muito presente na mitologia e na alquimia. É um símbolo de autofecundação, uma imagem de padrão cíclico, do fim retornando ao princípio. Tanto na arte como na literatura, o clima onírico aparece com frequência. Os textos de Franz Kafka, por exemplo, lembram pesadelos. “O sonho é puro drama”, diz o dramaturgo Eugène Ionesco. Por causa disso, muitas tentativas têm sido feitas para aproveitar o potencial criativo dos sonhos. Uma delas é aquilo que se chama “sonho lúcido”: a pessoa tem consciência de que está sonhando e procura estabelecer um controle “lúcido” sobre a experiência. Transforma-se num “oneironauta”, num explorador de sonhos. O assunto foi objeto de estudos em universidades, mas atrai também místicos, ocultistas, escritores de auto ajuda e grupos new age. Existem na internet quase dois milhões de referências a respeito. O fato é que, apesar de todo o conhecimento acumulado, ainda há muita coisa a ser descoberta acerca dos sonhos. Escreveu o espanhol Calderón de la Barca (1600-1681): “La vida es sueño/y los sueños, sueños son”. Não: os sonhos não são apenas sonhos, são uma porta de entrada para a nossa vida, que é esta esplêndida e desafiadora mistura de sonho e realidade.

 O fascínio pelos sonhos.2

SETE VACAS MAGRAS devoram sete vacas gordas: a famosa passagem bíblica indica a importância do sonho no mundo antigo.

OUTROS OLHARES

O LIXO DA REDE 

Como funciona o maior grupo de propagação de ódio na internet brasileira, que ganha dinheiro com ações misóginas, racistas e homofóbicas.

O lixo da rede

TROLLANDO O INIMIGO

Além da superfície de imagens fofas e curtidas, a internet cultiva o ódio. Rede narcísica, estimula um novo personagem: o troll. É aquele usuário que provoca e enfurece outras pessoas, com comentários injustos, ignorantes e, muitas vezes, criminosos. O objetivo do troll é provocar a ira dos outros internautas – e, se possível, ganhar algum dinheiro de modo fácil. Os trolls se alimentam da atenção que atraem e se valem de qualquer coisa para tal. Talvez, por isso, esta reportagem possa não ser uma boa ideia, exceto pelo fato de que precisamos falar sobre esse novo Kevin.

É um monstrinho digital à moda do personagem da escritora americana Lionel Shriver. O Kevin, de Shriver, é aquela criança mimada que aprende que a violência é um método aceitável e simples para obter o que quer. O Kevin digital o emula nas redes sociais e, principalmente, em fóruns privados de discussão.

A internet nasceu como pátria do livre fluxo de informações. Se você não sabe como enrolar o cabo do fone de ouvido para que caiba na caixinha original, alguém na internet explica. Se quer descobrir qual a razão para tomar cloreto de magnésio, surgirá quem prometa equilíbrio e vigor a cada colherada. Se você disser, no entanto, que está sofrendo com a depressão, haverá quem tentará incitá-lo a se matar. Os psicólogos definem tal comportamento como efeito de desinibição on-line, no qual fatores como anonimato, invisibilidade, solidão e falta de autoridade eliminam os costumes que a sociedade construiu milenarmente. Por meio de telefones celulares inteligentes, tal desinibição está se infiltrando no dia a dia de todos.

No mundo digital, troll era inicialmente o método de pesca em que ladrões on-line usam iscas – uma foto fofa ou promessa de riqueza – para encontrar vítimas. A palavra se origina de um mito escandinavo que vive nas profundezas. Passou a simbolizar também os monstros que se escondem na escuridão da rede e ameaçam as pessoas. Os trolladores da internet têm um tipo de manifesto, em que afirmam que agem para o “luiz”, a zoeira, numa tradução livre. O que os trolls fazem na busca do “luiz” vai de brincadeiras inteligentes – como os memes da tomada de três pinos – a assédio e ameaças violentas. Abusam do doxxing – a publicação de dados pessoais, tais como números de carteira de identidade, CPF, telefones e contas bancárias – e de trotes como pedir uma dezena de pizzas no endereço de uma vítima ou ligar para a polícia denunciando supostas plantações caseiras de maconha.

Os trolls estão transformando as mídias sociais e painéis de comentários em um gigante recreio de adolescentes malcriados, repetindo epítetos raciais e misóginos, definiu uma reportagem recente da revista Time. Uma pesquisa que a publicação cita mostrou que 7 em cada 10 jovens sofreram algum tipo de assédio por meio da internet. Um terço das mulheres já se disse perseguida on-line. Um estudo de 2014 publicado no periódico de psicologia Personality and Individual Differences constatou que 5% dos usuários da internet que se identificaram como trolladores obtiveram pontuação extremamente alta em traços obscuros de personalidade: narcisismo, psicopatia, maquiavelismo e, principalmente, sadismo. E não pense que isso não ocorre em sua vizinhança.

 

Ao atender o telefone, o analista de sistemas Ricardo Wagner Arouxa, de 28 anos, achou que seu pai havia morrido. A caminho do trabalho, no bairro carioca da Tijuca, recebeu a ligação desesperada de sua mãe. Naquele dia, 27 de dezembro de 2017, seu pai se recuperava de um cateterismo realizado após sofrer o terceiro infarto. Pensou no pior ao perceber a mãe aos prantos. Ela demorou a recuperar-se para explicar o motivo da aflição: a Polícia Civil havia invadido a casa da família em Pilares para o cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Estavam prestes a arrombar a porta da residência quando ela voltava do hospital, ainda sem o marido, que fora mantido internado. Quando Arouxa conseguiu chegar em casa, a polícia já havia recolhido seus computadores, celulares e discos rígidos – até hoje não devolvidos.

A razão da operação policial seria uma ameaça de bomba, supostamente feita por Arouxa. Os alvos seriam a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro e o advogado Rodrigo Mondengo. Ambos haviam processado Arouxa. A pendenga, que tramita em segredo de Justiça, só não tomou proporções maiores porque o analista de sistemas colabora há um ano com as investigações sobre imputações falsas de crime, em inquérito da Delegacia de Repressão de Crimes de Informática da Polícia Civil do Rio.

De anônimo, Arouxa quase se tornou réu da acusação de terrorismo. Na realidade, ele sofria por ter se tornado um dos alvos da maior quadrilha de crimes de ódio da internet brasileira, que hoje se articula por meio de fórum de discussão que tenta se manter anônimo. Chamado Dogolachan, o fórum foi criado por Marcelo Valle Silveira Mello – a primeira pessoa condenada por racismo na internet no Brasil – e Emerson Eduardo Rodrigues. A Polícia Federal considera Mello e Rodrigues os grandes articuladores da maior rede de ódio que atua há ao menos uma década no Brasil. usando ferramentas digitais. Eles chegaram a ser presos na Operação Intolerância, em 2012, mas se livraram porque havia, naquela altura, vácuo na legislação brasileira para crimes cometidos na internet. Antes do Marco Civil da Internet (2014) e da Lei Antiterrorismo (2016), os ataques reiterados articulados pelo grupo só podiam ser enquadrados em crimes contra a honra ou injúria racial, por exemplo.

Integrantes do Dogolachan registraram o portal Rio de Nojeira, que publicava textos de cunho racista, machista e homofóbico, no nome de Ricardo Wagner Arouxa, utilizando seus dados pessoais. Quem chegava ao registro da página, feito propositalmente de forma pública, tinha acesso a informações privadas do carioca, como seu telefone e endereço. Arouxa também era o nome usado por um dos supostos redatores do Rio de Nojeira, deixando sempre rastros de ódio na tentativa de incriminar outros desafetos do grupo.

O primeiro post de notoriedade do Rio de Nojeira fazia ataques racistas a alunos da Unicarioca, faculdade localizada no Rio Comprido, região central do Rio, onde Ricardo estudava. “Quando foi que a Unicarioca deixou de pertencer à elite branca e passou a ser infestada por favelados, mulatos, negros cotistas?”, questionavam os autores. Segundo especialistas e investigadores ouvidos pela reportagem, o Rio de Nojeira faz parte de uma longa linhagem de páginas usadas pelo grupo criminoso para propagar discurso de ódio.

O primeiro site do grupo a ganhar os holofotes foi o Blog do Silvio Koerich, que se apropriou do nome de um empresário catarinense. Até março de 2012, a página havia sido alvo de 69.729 denúncias à Polícia Federal. O site compartilhava textos e fotos com conteúdo discriminatório e fazia apologia de crimes como violência sexual e pedofilia. Um dos artigos de maior repercussão buscava “ensinar a prática de estupros corretivos” em lésbicas. Outros blogs do gênero, como o Homem de Bem, tiveram trajetória parecida até serem tirados do ar. O modus operandi dos integrantes da quadrilha é criar sites e fazer postagens propositalmente absurdas, provocando repercussão, aquela história de “luiz”. Além de apostarem em conteúdo que gere indignação, como apologia da pedofilia ou ataques racistas, também elegem como alvo personalidades com fama na internet – do deputado federal Jean Wyllys e da blogueira feminista Lola Aronovich, à esquerda, até a advogada Janaína Paschoal, ícone do antipetismo, à direita. A ousadia é demonstrada em pequenos detalhes: Marcelo Mello trabalhava em uma prestadora de serviços para a Justiça Federal e diversas vezes usou a rede Wi-Fi do Conselho da Justiça Federal para realizar os ataques.

A zoeira, no entanto, não era a única aspiração dos líderes da quadrilha. Eles queriam mesmo é ganhar dinheiro. Em 2012, quando a Polícia Federal prendeu Emerson Rodrigues e Marcelo Mello na Operação Intolerância, uma das constatações foi que, já naquela época, a quadrilha se preparava para implantar um sofisticado mecanismo de captação de recursos por meio dos sites que mantinham. Quando leitores indignados acessassem os sites para se deliciar ou denunciar os absurdos publicados, seus computadores seriam utilizados involuntariamente para a mineração de criptomoedas, como o bitcoin. A mineração é um complexo processamento de verificação de dados que exige cada vez mais computadores e energia elétrica para gerar algum valor transformável em dinheiro. Também há indícios de que os criminosos captavam recursos por meio de publicidade. “Eles tentavam fazer com que o site bombasse para ter lucro”, afirmou o delegado da PF Flúvio Cardinelle, responsável pela operação e uma das maiores autoridades em crimes virtuais do país. Após deixarem a prisão, esse mecanismo foi implantado.

Já em liberdade, com o primeiro site fora do ar, Emerson Rodrigues e Marcelo Mello passaram a criar juntos outros portais pela internet brasileira, entre eles o fórum Dogolachan. Foi nesse último que os dois entraram em contato com Alemão, o perfil falso que passou a coordenar os ataques contra Ricardo Arouxa, por causa de um desentendimento em uma comunidade da finada rede social Orkut chamada Cartola FC.

Depois de se desentenderem em mensagens pela internet, Alemão prometeu “acabar com a vida” de Ricardo Arouxa. Em 31 de março de 2017, colocou um anúncio on-line para uma vaga de serviços gerais remetendo ao endereço de Pilares. Seis pessoas apareceram à porta de Arouxa, parte delas sem sequer dinheiro para voltar para casa.

Era só o início do que seria uma escalada de ataques. Arouxa foi contatado por uma criança que tentava lhe enviar mensagens de cunho sexual. Ele desconfiou e rastreou o perfil da mãe do autor. Descobriu que Alemão, novamente se passando por ele, começou a tentar aliciar crianças de uma escola de boxe comunitária da Maré. Oferecia vídeo­ games em troca de fotos de conteúdo sexual, que deveriam ser enviadas para o telefone de Arouxa. Para isso, passou o verdadeiro número do celular do analista de sistemas e seu endereço, onde os brindes deveriam ser recolhidos, tentando incriminá-lo.

Em setembro do ano passado, uma postagem da advogada Janaína Paschoal no Twitter afirmava que Arouxa havia ameaçado de morte a ela e a seus filhos. A articuladora do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ficou amedrontada com as mensagens enviadas em nome do analista de sistemas. Um telefonema entre os dois colocou fim à confusão e revelou tratar-se de obra de trolladores.

Ricardo Arouxa disse não ter medo de Alemão ou dos diversos membros da comunidade do Dogolachan, mas não escondeu sua ansiedade. Diariamente se divide entre o trabalho e o constante monitoramento das atividades do grupo, tentando “antever o próximo passo”. Não consegue ficar mais de duas horas sem fazer esse tipo de checagem. Disse que nunca procurou psicólogos para lidar com o estresse. Contou ter conseguido estabilizar sua vida, mantendo amizades e o namoro apesar dos ataques de ódio. Seu empregador também está ciente da situação. O tom, porém, é de resignação. “Sei que esse é um câncer em minha vida de que nunca vou me livrar.”

O grupo que esparrama ódio voltou a ser alvo das autoridades neste ano, quando a PF deflagrou a Operação Bravata, prendendo novamente Marcelo Mello e outros membros do Dogolachan. Desta vez, eles podem ser enquadrados na Lei Antiterrorismo. “Mesmo que não exista a conduta concreta, simplesmente criar um clima de terror já é enquadrado na lei”, afirmou o delegado Flúvio Cardinelle.

A origem da desavença de Arouxa e seus detratores está na sigla Goec, Grupo de Operações Especiais Cartola. Originalmente nada mais era que um esforço coletivo dos membros da comunidade do Orkut do Cartola para alcançar algum objetivo em comum. Faziam ataques virtuais coordenados, com o intuito de perturbar alguém marcado pela comunidade, fosse por uma atitude considerada inaceitável ou por farra. Os métodos variavam. Podiam pedir dezenas de pizza para a casa do alvo, com informações obtidas em bancos de dados. Ou tentavam hackear a vítima e expor publicamente dados privados.

A ação coordenada de grupos se faz presente em diversas comunidades digitais. O exemplo mais notório é o praticado pelos usuários do fórum de imagens americano 4chan, um dos maiores do mundo. É uma força importante na produção cultural da internet desde a metade final da década passada.

Desde o início, o Dogolachan se propunha a ser o centro de referência para usuários machistas, de ideologia ultradireitista, pautados para o ataque e a degradação de mulheres. Mas não só. Usuários apoiaram, por exemplo, o Massacre de Realengo, no qual Wellington Menezes de Oliveira matou 12 crianças – dez delas meninas – e depois se suicidou.

Dogolachan, o nome de batismo do fórum de extremistas, é homenagem a um dos primeiros memes dos usuários brasileiros. Dogola é um cachorro branco russo, que se tornou mascote na internet brasileira. Tudo porque aparece em uma foto com uma espécie de sorriso debochado, compartilhada à exaustão. Dogola foi então apelidado de Deus do Mal, imperador Cão.

Um dos temas mais recorrentes do fórum é o da “feminização” da sociedade, em que os homens estariam se relegando a posições subalternas socialmente para agradar às mulheres e ao politicamente correto em voga.

Para os usuários do Dogolachan, uma ação de contra-ataque seria necessária para devolver o “lugar de direito” aos homens héteros e brancos, derrotados pela revolução cultural dos anos 1960. O feminismo, o combate ao racismo e as causas LGBT são seus principais inimigos, personificados em um rol de figuras que são alvos de ataques constantes pela comunidade do fórum.

Em 13 de outubro de 2008, Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu a casa de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, de apenas 15 anos, portando um revólver. Ele estava inconformado com o fim do relacionamento de quase três anos. A menina fazia trabalhos escolares com um grupo de colegas quando ele chegou e transformou todos em reféns no que foi o mais longo sequestro em cárcere privado já registrado pela polícia do estado de São Paulo. O caso ganhou enorme repercussão dentro e fora do Brasil. Após 100 horas presa com o sequestrador, Eloá Pimentel levou dois tiros e morreu.

Em janeiro daquele ano, a professora universitária Dolores Aronovich criou o blog “Escreva, Lola, Escreva” – nome em referência ao filme cult alemão Corra, Lola, corra -, onde compartilharia resenhas de filmes e opiniões sobre os mais variados temas, principalmente o feminismo. Hoje, ela é uma das blogueiras da causa feminista com maior influência nas redes sociais. O caso de Pimentel rendeu uma postagem na qual Lola discorreu sobre aquilo que anos depois seria popularmente conhecido como feminicídio. A partir daí, a vida de Lola nunca mais foi a mesma: os masculinistas – os quais ela apelidou de mascus -, entre eles Marcelo Mello e Emerson Rodrigues, descobriram seu blog. Eles viam heroísmo na atitude de Lindemberg Alves e vilanismo nas críticas sociais da blogueira. A professora da Universidade Federal do Ceará passou, então, a ser ameaçada de morte, a ver dados pessoais serem publicados indiscriminadamente na internet e a lidar com publicações difamatórias. Apelaram até para seu marido: os “mascus” criaram perfis falsos com fotos de Silvio Cunha Pereira, que é professor de xadrez para crianças, e publicaram conteúdos de pedofilia em seu nome.

Qualquer pessoa que tivesse contato com Lola na internet poderia ser alvo dos odiadores. Em novembro de 2016, levantaram uma empreitada contra perfis que republicaram textos da blogueira. Publicaram fotos de professores e professoras universitárias, acompanhadas de telefone e endereço, em sites de swing e prostituição. Uma das vítimas foi um professor de tecnologia da informação do Paraná. Ameaçaram a filha dele, de 13 anos, e publicaram montagens pornográficas utilizando seu rosto infantil.

Lola fez seu primeiro boletim de ocorrência contra o grupo quatro anos depois do início das ameaças. Deflagrada a Operação Intolerância, em 2012, o ódio contra a professora se intensificou. Os membros do fórum atrelaram as denúncias da blogueira às prisões dos líderes das comunidades. Em 2015, depois que Marcelo Mello e Emerson Rodrigues já estavam longe da cadeia, foi criado um falso blog no nome de Lola, no qual se postavam discursos de ódio e incitação ao infanticídio de meninos, a queimas da Bíblia e à venda de medicamentos para aborto.

O site ficou conhecido na internet quando o escritor Olavo de Carvalho e o músico Roger Moreira, do Ultraje a Rigor- ambos expoentes da direita brasileira -, compartilharam o link. A blogueira recebeu, durante meses, ligações de homens raivosos com o conteúdo do site. “Eles me fizeram conhecer um grau de misoginia que nem imaginava que existia. Machistas genéricos acham que nenhuma mulher presta, só a mãe. Esses mascus acham que nenhuma mulher presta.” O caso da blogueira levou à aprovação da Lei Lola, que atribui à Polícia Federal – mas não só a ela – a investigação de crimes de ódio contra mulheres pela internet. A norma entrou em vigor em abril deste ano.

De lá para cá, mais pessoas com notoriedade na internet por defender pautas sociais foram alvo do grupo. A história de Anderson França, um escritor carioca conhecido por suas crônicas sobre a cidade, se mistura com a de Ricardo Arouxa e Lola por causa da atuação da quadrilha. Em meados de 2017, França recebeu uma denúncia em sua página de Facebook, que conta com 120 mil curtidas. Uma suposta leitora entrou em contato, apontando-o para uma postagem de cunho racista. França, que constantemente discute temas relacionados ao movimento negro, a compartilhou. Seu autor supostamente era Ricardo Arouxa.

Anderson descobriu que a origem das postagens estava nos administradores do site Rio de Nojeira. Então vieram as ameaças de morte. “Eles se apresentam como vítimas e pedem ajuda para que você divulgue e tenha um alcance maior. É o que eles buscam. A partir daquele dia, comecei a receber pelo menos 15 ameaças de morte por dia, principalmente no e-mail”, afirmou França, que chegou a compartilhar sua história com Lola. Os difamadores acessaram a conta de e-mail do escritor e divulgaram ameaças a seus contatos.

A série de ataques e mensagens de ódio se estendeu à Câmara dos Deputados. O parlamentar Jean Wyllys (PSOL-RJ) é alvo do grupo desde o começo de seu primeiro mandato, em 2011. “A princípio, eram difamações e calúnias, incluindo a de que eu teria dito que era a favor da pedofilia em uma entrevista à Rádio CBN, o que foi desmentido pela própria emissora”, disse Wyllys. Os ataques, que também eram estendidos a seus funcionários e assessores, ampliaram-se. O grupo afirmava ter mapeado todas as câmeras de vigilância do Congresso. Dizia que atacaria o deputado “quando ele menos esperasse”.

“Eles descobriram, não sei de que maneira, o nome, telefone e endereço de minha mãe, de meus irmãos. Nos ameaçaram por e-mails, dizendo que cometeriam barbaridades contra minha mãe. E aí eu acabei tomando providências e instalei câmeras de segurança em minha casa e na de minha mãe”, disse o deputado. Parte dos e-mails enviados contra Jean Wyllys tem origem no fórum Dogolachan.

São dezenas de mensagens que esmiúçam detalhes da vida pessoal do parlamentar, além de atacar a defesa que faz dos direitos dos homossexuais. Ainda que considere os ataques bravataria, o deputado vê perigo no aliciamento de “pessoas que estão no limite”. “Se eles querem me calar e constranger, não vão conseguir. Vou continuar trabalhando e defendendo o que sempre defendi”, desabafou.

O lixo da rede.2

GESTÃO E CARREIRA

ANTÍDOTOS CONTRA A GROSSERIA

Trabalhar em ambientes onde as pessoas são desrespeitosas costuma aumentar os casos de depressão, ansiedade e outros tipos de adoecimento. Segundo pesquisadora, a cada oito pessoas que relatam trabalhar num local hostil, pelo menos uma acaba saindo da empresa. Para as organizações, os efeitos também são nocivos, já que causam queda de produtividade.

Antídotos contra a grosseria

Quando eu tinha 22 anos, consegui o que imaginei ser o emprego dos meus sonhos. Eu me mudei do gelado Meio Oeste dos Estados Unidos para a ensolarada Flórida com um grupo de ex- atletas colegas de faculdade para ajudar uma marca desportiva global a lançar uma academia de esportes. Mas, em dois anos, eu e vários dos meus colegas tínhamos saído do emprego.

Fomos vítimas de uma cultura de trabalho repleta de bullying, grosserias e mau comportamento já disseminada na empresa por todos os níveis hierárquicos e institucionalizada por uma chefia ditatorial. No melhor dos casos, os funcionários se mostravam desinteressados e, no pior, cometiam atos de sabotagem ou descarregavam sua frustração em membros da família e amigos. Além disso, frequentemente havia casos de adoecimento físico, ansiedade e depressão. Na época em que deixei a empresa, muitos dos que haviam começado juntos a carreira naquele local estavam exaustos, viviam desanimados, irritados e tristes.

Essa experiência calou tão fundo que decidi passar minha vida profissional estudando a falta de civilidade no local de trabalho – e seus custos e soluções. Minha pesquisa mostrou que é quase impossível não ser atingido pela violência das relações durante a carreira. Nos últimos 20 anos, entrevistei centenas de trabalhadores e descobri que 98% têm sido vítimas de comportamentos pouco educados e 99% testemunharam essas grosserias. Em 2011, 50% afirmaram que eram maltratados pelo menos uma vez por semana – em 1998, eram 25%. Os comportamentos grosseiros iam da pura maldade e sabotagem intencional à indiferença ou menosprezo pelas opiniões das pessoas, até atitudes mais corriqueiras de descaso, como a leitura de e-mails durante as reuniões em que outros faziam apresentações.

Como eu e meus colegas da academia de esportes descobrimos, a falta de educação no local de trabalho degrada o desempenho e cobra um ônus pessoal. Nos testes experimentais, constatei que o simples fato de observar as pessoas agindo de forma constante mente agressiva as torna muito menos dispostas a absorver informação. Presenciar ou sofrer comportamento grosseiro prejudica a memória de trabalho (de curto prazo) e, consequentemente, a capacidade cognitiva. Já foi demonstrado também que acarreta prejuízos ao sistema imunológico, e os efeitos negativos repercutem no relacionamento familiar, desencadeando outros nocivos.

A resiliência à agressividade (explícita ou velada) foge parcialmente ao controle individual. É verdade que o jeito como lidamos com ameaças, humilhações, perdas ou derrotas é influenciada tanto pela formação genética quanto pelas experiências de infância. No entanto, essa é só parte da história. A forma como interagimos no momento atual com o ambiente e respondemos a essas situações desagradáveis pode ser revista, para que aquilo que é inevitável em dada circunstância possa ser vivido de maneira menos traumática. “No local de trabalho, talvez a forma mais eficaz de reduzir os custos da grosseria seja criar uma cultura que rejeite esse tipo de comportamento e incentive as pessoas a adotar a regra óbvia ‘não seja grosseiro’, que nem sempre é respeitada”, afirma o doutor em psicologia organizacional Robert Sutton, professor da Universidade Stanford. Mas ele mesmo reconhece que nem todas as organizações conseguem aplicar essa norma com eficiência.

Então, o que as pessoas devem fazer quando deparam com a má educação alheia? Minha pesquisa revelou algumas táticas que qualquer um pode utilizar para minimizar os efeitos do mau comportamento nas interações com chefes e colegas.

É MELHOR PREVENIR

Algumas pessoas optam por atacar de frente a falta de educação alheia – por meio de retaliação ou discussão direta. Outra resposta comum é tentar contornar o problema evitando o convívio com a pessoa grosseira. Embora essas abordagens possam ajudar em situações específicas, meus estudos mostraram que adotá-las costuma não ser a saída mais eficiente. Evitar o conflito geralmente não funciona porque, às vezes, não temos a escolha de não trabalhar com colegas mal-educados. E um confronto pode piorar a dinâmica. Em minhas pesquisas, descobri que 85% ou mais das pessoas que optaram por evitar ou enfrentar os perpetradores ficaram insatisfeitas com a forma como a situação terminou ou como lidaram com ela; os que optaram pelo confronto não estavam mais satisfeitos que os que não optaram. Confiar em soluções institucionais também raramente funciona – apenas 15% dos entrevistados relataram estar satisfeitos com a forma como os funcionários e a empresa tratavam a falta de civilidade. Para ser justa, muitas vezes a organização nem sequer tem oportunidade de intervir: mais de metade dos que responderam aos questionários afirma não relatar atos de grosseria ao departamento de recursos humanos (RH), principalmente por medo ou pela sensação de impotência.

Da mesma forma que a medicina está mudando seu foco, optando pela prevenção ao tratamento sempre que possível, no âmbito organizacional as pesquisas revelam que é muito mais eficiente trabalhar para melhorar o bem-estar no ambiente de trabalho do que tentar mudar o ofensor ou intervir num relacionamento profissional corrosivo já instalado.

Isso não significa dizer que a pessoa que se sente agredida não deva procurar a chefia, relatar ao RH que foi vítima de alguma forma de abuso ou até tentar resolver o conflito diretamente. Mas uma forma mais sustentável de tratar o mau comportamento é tornar-se impermeável a ele ou menos vulnerável. Para isso, é útil analisar o que sabemos sobre prosperidade (thriving, no original em inglês) – estado psicológico em que vitalidade e autorrealização fortalecem a pessoa contra as vicissitudes da vida sobre as quais não temos controle. O importante é que esse conceito não seja visto como um fim, mas como uma maneira de se fortalecer emocionalmente.

Em minha pesquisa, descobri que pessoas prósperas são mais saudáveis, resilientes e dispostas a focar aquilo que é realmente importante. O trabalho, em geral, é visto como uma significativa fonte de prazer. Elas são menos expostas a distrações, estresse e negatividade. Num estudo com seis organizações de vários segmentos, os funcionários destacaram que pessoas altamente prósperas se sentiam 50% menos fatigadas que seus colegas, 52% confiavam mais em si mesmas e na sua capacidade de assumir o controle das situações, e seu desempenho era 34% menos abalado depois de um incidente desagradável.

Se você está se desenvolvendo, crescendo – e prosperando -, é menos provável que se preocupe com uma investida descuidada de outra pessoa ou considere a situação uma ofensa pessoal irremediável. Ou seja: está mais imune às contingências e mais focado na execução de sua meta. No entanto, pouco mais da metade das pessoas que pesquisei focava a si mesmas e trabalhava para estimular uma mentalidade de prosperidade depois de enfrentar um episódio de grosseria da qual tinham sido alvo. Raramente percebiam que o antídoto pode estar totalmente desconectado do incidente em questão.

Um bom caminho para cuidar de si mesmo parece ser incrementar a própria prosperidade. Como fazer isso? Sugiro uma abordagem em duas frentes: procurar prosperar cognitivamente, o que inclui crescimento, dinamismo e aprendizagem contínua, e afetivamente, o que significa sentir-se saudável e vivenciar paixão e entusiasmo no trabalho e fora dele. Essas duas táticas muitas vezes se reforçam. Se você tiver energia, terá probabilidade maior de ser motivado a aprender e uma sensação de crescimento alimentará a sua vitalidade. Distinguir uma da outra ajuda a identificar em que área elas podem estar defasadas e a tomar as medidas necessárias para melhorar suas defesas e, assim, enfrentar o próximo encontro hostil.

MUDANÇA O FOCO

Se você já enfrentou um colega grosseiro ou se sentiu injustiçado, provavelmente sabe como é difícil superar isso. Estudos neurocientíficos já mostraram que lembranças ligadas a emoções fortes são mais fáceis de acessar e têm maior probabilidade de serem reproduzidas. E ficar remoendo um incidente impede que você o esqueça, o que aumenta a insegurança, concorre para diminuição da autoestima e favorece a sensação de impotência. Vale lembrar, porém, que você pode sentir­ se ferido ou ultrajado – mas somente por certo tempo.

Por isso, mudar o foco pode ser muito eficiente, usando o funcionamento neurológico a seu favor. Conscientemente, somos capazes de pensar apenas uma coisa por vez (ainda que seja frequente mudarmos de um para outro pensamento rapidamente, mas nunca são dois ao mesmo tempo). Enquanto estamos ocupando nossa atenção com novidades ou coisas prazerosas, criamos novas conexões neurais e estabelecemos novas memórias.

Quando sua atenção muda para vias mais produtivas, várias medidas podem ajudá-lo a focar o crescimento cognitivo. Comece identificando áreas de desenvolvimento e tente encontrar nelas oportunidades de aprendizagem. Os pesquisadores Teresa Amabile e Steven Kramer mostraram que o progresso é o motivador mais poderoso no local de trabalho, mais até que reconhecimento ou remuneração. Ele pode ser igualmente eficiente para ajudar os funcionários a se recuperar de situações desagradáveis.

Convém destacar, aliás, que esses esforços de desenvolvimento não precisam estar diretamente ligados ao trabalho. Desenvolver uma nova habilidade, um hobby, ou praticar um esporte pode ter efeito similar. É bem mais difícil ficar arrasado quando você se sente em ascensão. Outra forma de promover o crescimento cognitivo é se conhecer melhor, entender que nossas reações em situações difíceis costumam se repetir e, muitas vezes, não são saudáveis, seguem um padrão que pode estar ligado a vivências e traumas antigos. Uma situação desagradável, portanto, se torna uma oportunidade de iniciar um processo psicoterápico, por exemplo.

GENTE “DO BEM”

Pode ser interessante pensar no comportamento grosseiro no local de trabalho como um patógeno infeccioso, uma espécie de vírus. Suas defesas contra ele dependem, em boa parte, de como você é capaz de administrar sua energia. Muitos dos fatores fundamentais para evitar doenças – como boa alimentação, sono reparador e controle do estresse – ajudam também a afastar os efeitos nocivos da falta de educação.

O sono é particularmente importante: dormir pouco aumenta a suscetibilidade à distração e mina o autocontrole. Torna a pessoa menos confiante, mais hostil, mais agressiva e mais ameaçada, mesmo por estímulos fracos, e pode induzir ao comportamento antiético. Em resumo, a privação de sono (geralmente definida como menos de cinco horas de sono por noite) é a receita para responder mal à falta de civilidade e talvez até para prejudicar a carreira.

Exercícios são outro caminho muito eficiente para se proteger de emoções como raiva, medo e tristeza, que normalmente são acompanhadas por comportamento grosseiro. Eles melhoram tanto o poder de fogo cognitivo como o humor, amenizam as preocupações, reduzem a tensão muscular e fortalecem a resiliência. Já foi constatado que reduzem os sintomas da ansiedade em mais de 50% e, não raro, se mostram mais eficientes no tratamento da depressão que os medicamentos frequentemente prescritos pelos psiquiatras. As pessoas que se exercitam regularmente tendem a se tornar menos mal-humoradas e mais capazes de sobreviver à onda de interações negativas.

Manter as energias de outras formas, como alimentar-se de maneira saudável, também ajuda a se colocar em boa forma para responder suavemente a uma situação não civilizada. Quando estão com fome, muitas pessoas tendem a responder à frustração com rudeza.

Mas não se trata de cuidar apenas do corpo. Esses cuidados – mudar sua mente para processar as situações mais devagar e ponderadamente e responder com mais precaução – facilitam a manutenção do equilíbrio num ambiente difícil e permitem descobrir um sentido de propósito em seu trabalho. Lembrar­ se das vantagens não financeiras que mais o atraíram em seu trabalho pode fomentar a gratidão e a satisfação. Mais uma vez é importante se lembrar da importância do autoconhecimento e do quanto a psicoterapia pode proporcionar melhorias profundas na qualidade de vida de forma geral.

Relacionamentos positivos dentro e fora do escritório também produzem um estado emocional elevado que pode ser um antídoto direto aos efeitos da falta de civilidade. Estudos que realizei com os pesquisadores Andrew Parker e Alexandra Gerbasi mostram que, em diversos níveis organizacionais, os relacionamentos “desestimulantes” têm de quatro a sete vezes mais impacto na sensação de prosperidade dos funcionários que os positivos e estimulantes. Em outras palavras, precisa-se de um pequeno grupo de “gente do bem” por perto para compensar os efeitos de cada elemento grosseiro. Pense, então, nas pessoas com quem convive que fazem você rir e sentir vontade de ser um profissional e ser humano melhor. De preferência, passe mais tempo com elas e peça-lhes que o/ a apresentem aos amigos delas.

Finalmente, em estudos com executivos de MBAs e funcionários, encontrei uma correlação consistentemente positiva entre prosperidade fora do trabalho e resiliência à grosseria. Num estudo com pessoas que vivenciaram maus comportamentos, as que se davam bem em atividades fora do ambiente profissional relataram ter saúde 80% melhor, prosperidade no trabalho 89% maior, e 38% estavam mais satisfeitas com a forma como administraram episódios de grosseria. Procurar por postos de liderança na comunidade – principalmente se não tiver uma oportunidade imediata na organização – estimula tanto a prosperidade cognitiva como a afetiva. Um executivo que entrevistei decidiu participar do conselho de uma organização sem fins lucrativos dedicada a melhorar a qualidade de vida de pessoas autistas, síndrome apresentada por sua filha. Ele liderou campanhas para levantar fundos, ajudou a despertar interesses científicos e administrou as finanças do grupo. Essas experiências e recompensas o fizeram sentir-se praticamente indestrutível no trabalho. Podia até conviver com a má educação, eventualmente, mas ela jamais se tornava o centro de suas preocupações.

Antídotos contra a grosseria.2

SE VOCÊ PREFERIR O CONFRONTO

Caso esteja disposto a “encarar” um colega grosseiro, responda antes a estas três perguntas:

  1. Sinto-me seguro ao conversar com essa pessoa?
  2. Seu comportamento foi intencional?
  3. Foi a única vez que ele /ela mostrou esse comportamento?

Se você respondeu não a qualquer uma das questões, não discuta o incidente com o ofensor. Concentre-se no próprio potencial e, em futuros encontros, siga o acrónimo BIAF: seja breve, informativo, amistoso e firme. Mas, se você respondeu sim às três questões, pense em expor ao ofensor sua posição diante desse comportamento. Alguns itens a serem lembrados:

Esteja preparado para a discussão. Escolha o momento oportuno e um ambiente seguro onde os dois possam sentir-se confortáveis. Considere se deve ou não convidar outras pessoas ou mediadores como testemunhas.

 Ensaie suas ideias com alguém que possa lhe oferecer feedback sincero. Peça que essa pessoa faça o papel do perpetrador, de forma bem temperamental.

Fique atento à sua comunicação não verbal. Isso inclui postura, expressões faciais, gestos, ritmo, timing e, principalmente, tom de voz. As pessoas treinam muito mais “o que dizer” do que “como dizer”, mas estudos indicam que as palavras significam menos do que a forma como são ditas.

Tenha como meta um ganho mútuo. Durante a discussão, foque o assunto (não a pessoa) e como o comportamento específico prejudica o desempenho.

Esteja preparado para uma resposta emocional. Se o ofensor começar desabafando, tente ser tolerante: isso pode levar a um resultado mais produtivo. Use expressões como “eu entendo” ou “você tem razão”. Admitir responsabilidade quando apropriado pode ajudar na conversa.

Seja um bom ouvinte. Procure realmente entender a posição do interlocutor e repita o que ouvir. As pessoas ganham credibilidade e agradam mais quando fazem perguntas despretensiosas.

Procure estabelecer normas de cortesia para o futuro. Como você vai interagir de modo que nenhum de vocês sofra deterioração no comportamento daqui para a frente? Ainda que vocês não se tornem amigos, estabeleçam um combinado de res peito e boa convivência, que vai favorecer as duas partes.

  

CHRISTINE PORATH – é doutora em administração, especializada em comportamento e professora da Universidade Georgetown. É coautora do livro Mastering civility: o manifesto for the workplace (Grand Central Publishing, 2016) e coautora de The cost of bad behavior (Portfolio, 2009), nenhum deles publicado no Brasil.

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 17-30 – PARTE III

Alimento diário

A Discussão de Cristo com os Judeus. Todo julgamento foi entregue a Cristo. O Privilégio Cristão

 

Em terceiro lugar, Ele também lhe deu autoridade para exercer o juízo, v. 27. Observe:

1. A autoridade com que nosso Redentor é investido: uma autoridade para exercer o juízo. Ele tem não apenas um poder legislativo e judicial, mas também um poder executivo. A frase aqui é usada particularmente para o julgamento de condenação, Judas 15. Para exercer o juízo sobre todos, o mesmo que tomar vingança, 2 Tessalonicenses 1.8. A destruição dos pecadores contumazes vem da mão de Cristo. Aquele que exerce o juízo sobre eles é o mesmo que realizaria a salvação deles, o que torna a condenação irrepreensível, e não há remédio contra o julgamento do Redentor. A própria salvação não pode salvar aqueles a quem o salvador condena, o que torna a destruição irremediável.

2. De onde Ele recebe essa autoridade: o Pai lhe deu. A autoridade de Cristo, como Mediador, é delegada e derivada. Ele age como o vice regente do Pai, como o Ungido do Senhor, o Cristo do Senhor. E tudo isso contribui muito para a honra de Cristo, inocentando-o da culpa por blasfêmia ao fazer-se igual a Deus, o Pai. Este é um grande consolo para todos aqueles que creem, que podem, com insuperável segurança, se entregar por completo a tais mãos.

[2] Aqui estão as razões (razões de estado) pelas quais esta autorização lhe foi dada. Ele tem todos os julgamentos entregues a si por duas razões:

Em primeiro lugar, porque Ele é o “Filho do homem”, o que denota três coisas:

1. Sua humilhação e generosa condescendência. O homem é um verme, o filho do homem, um verme. Apesar disso, esta foi a natureza, esta foi a característica que o Redentor assumiu na execução dos desígnios do amor. Nesta humilhante condição, Ele se sujeitou e se submeteu a todas as mortificações que a acompanham, pois esta era a vontade de seu Pai. Em recompensa por causa dessa maravilhosa obediência, Deus, o Pai, o exaltou de forma sublime. Porque Ele condescendeu em ser o Filho do homem, seu Pai o fez o Senhor de todos, Filipenses 2.8,9.

2. Sua afinidade e aliança conosco. O Pai lhe entregou a autoridade sobre os filhos dos homens, pois, sendo o Filho do homem, Ele é da mesma natureza daqueles sobre os quais Ele é posto, e, portanto, ainda mais irrepreensível e ainda mais bem-vindo, como Juiz. Seu governador sairá do meio deles, Jeremias 30.21. Disto, esta lei era simbólica. “Dentre teus irmãos porás rei sobre ti”, Deuteronômio 17.15.

3. Que Ele é o Messias prometido. Naquela famosa visão de seu reino e glória, Daniel 7.13,14, Ele é chamado de Filho do homem. E também em Salmos 8.4-6. Fazes com que o Filho do homem “tenha domínio sobre as obras das tuas mãos”. Ele é o Messias, e, portanto, é investido de todo este poder. Os judeus, habitualmente, chamavam o Cristo de Filho de Davi. Porém, Cristo geralmente chamava a si mesmo de Filho do homem, que era o título mais humilde, e que o anunciava como um príncipe e Salvador, não apenas para a nação judaica, mas para toda a raça humana.

Em segundo lugar, “para que todos os homens honrem o Filho”, v. 23. Honrar Jesus Cristo é aqui descrito como o grande desígnio de Deus (o Filho planejava glorificar o Pai, e, portanto, o Pai planejava glorificar o Filho, cap. 12.32), e este é o grande dever de todo homem, em conformidade com esse desígnio. Se Deus fará com que o Filho seja honrado, o dever de todos que o conhecem é honrá-lo. Observe aqui:

1. O respeito que deve ser prestado ao nosso Senhor Jesus: devemos honrar ao Filho, devemos considerá-lo como alguém que deve ser honrado, por conta de suas qualidades transcendentais e da perfeição que Ele tem em si próprio, e das ligações que Ele tem conosco, e devemos procurar honrá-lo por isso; devemos confessar que Ele é o Senhor e adorá-lo; devemos honrar aquele que foi humilhado por nossa causa.

2. A intensidade disso: da mesma maneira como honram ao Pai. Isto pressupõe ser nosso dever honrar ao Pai, pois a religião revelada se baseia na religião natural, e nos instrui a honrar o Pai, a honrá-lo com uma honra divina. Devemos honrar o Redentor com a mesma honra com que honramos o Criador. Estava tão longe de ser uma blasfêmia, para Ele, fazer-se igual a Deus, o Pai, que considerá-lo de outra maneira é a maior ofensa que podemos lhe fazer. As verdades e as leis da religião cristã, da forma como são reveladas, são tão sagradas e honrosas como as da religião natural, e devem ser igualmente estimadas, pois nós vivemos sob as mesmas obrigações para com Cristo, o Autor de nossa existência, e temos uma dependência necessária da graça do Redentor, como também da providência do Criador, o que é uma base suficiente para esta lei – honrarmos o Filho como honramos o Pai. Para reforçar esta lei, é acrescentado: “Quem não honra o Filho, não honra o Pai”, que o enviou. Alguns alegam uma reverência pelo Criador e falam dele com nobreza, não levando o Redentor a sério, falando dele com desdém. Mas saibam estes que as honras e interesses do Pai e do Filho estão tão inseparavelmente entrelaçados e mesclados, que o Pai jamais se considera honrado por qualquer um que afronte o Filho. Note que:

(1) As indignidades cometidas contra o Senhor Jesus recaem sobre o próprio Deus, e assim serão interpretadas e consideradas no tribunal do céu. O Filho adere tanto à honra do Pai, a ponto de tomar para si próprio as injúrias lançadas contra Ele (Romanos 15. 3). O Pai, por sua vez, não apoia menos a honra do Filho, e se considera atingido pelas ofensas contra Ele.

(2) A razão para isso é que o Filho é enviado e autorizado pelo Pai. Foi o Pai quem o enviou. As afrontas a um embaixador causam, de forma justa, o ressentimento ao príncipe que o enviou. E através desta regra, aqueles que verdadeiramente honram o Filho, honram também o Pai. Veja Filipenses 2.11.

(3) Aqui está a regra pela qual o Filho desempenha sua missão, e assim estas palavras parecem surgir (v.24): aquele que ouve e crê tem a vida eterna. Aqui temos a essência de todo o Evangelho. O prefácio dirige a atenção para algo mais importante, e reconhece uma certeza: “‘Na verdade, na verdade vos digo’ que a mim, a quem ouvis, todo julgamento é confiado. Eu tenho em meus lábios uma sentença divina. Adote m de mim a natureza cristã, e os privilégios cristãos”.

Em primeiro lugar, a natureza de um cristão: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou”. Ser um cristão é verdadeiramente:

1. Ouvir a palavra de Cristo. Não basta estar ao alcance de ouvi-la, mas devemos prestar atenção a ela, como os estudantes agem em relação às instruções de seus professores, e atentar para ela, como ser vos às ordens de seus senhores. Devemos ouvi-la e obedecê-la, devemos ser fiéis ao Evangelho de Cristo como a regra rígida de nossa fé e prática.

2. Crer naquele que o enviou, pois o desígnio de Cristo é nos fazer ir a Deus. E, assim como Ele é a origem de toda a graça, da mesma forma Ele é o objetivo final de toda a fé. Cristo é nosso caminho, Deus é nosso descanso. Devemos crer em Deus como aquele que enviou Jesus Cristo, e encomendou a si mesmo à nossa fé e amor, ao manifestar sua glória na face de Jesus Cristo (2 Coríntios 4.6), como seu Pai e nosso Pai.

Em segundo lugar, o estatuto de um cristão, no qual todos os que são cristãos estão interessados. Veja o que conseguimos através de Cristo:

1. Um alvará de perdão: ele não entrará em condenação. A graça do Evangelho é uma completa dispensa do tormento da lei. Um crente não só não ficará sob a condenação eterna, como também não ficará sob condenação agora, não estará sob o risco dela (Romanos 8. 1), não entrará em julgamento, e se­ quer será levado a juízo.

2. Um estatuto de privilégios: ele é levado da morte para a vida, é investido de uma felicidade atual na vida espiritual e designado para uma felicidade futura na vida eterna. O sentido da primeira aliança era: “Faça isto e viva”, o homem que os praticar, viver á por eles. Agora, isto demonstra que Cristo é igual ao Pai, que Ele tem o poder de propor aos que ouvem suas palavras o mesmo benefício proposto àqueles que guardavam a antiga lei, ou seja, a vida. Ouvir e viver, crer e viver, é no que podemos arriscar nossas almas, quando somos incapazes de fazer e viver. Veja cap. 17.2.

(4) Aqui está a justiça de seus procedimentos correspondentes à sua autoridade, v. 30. Sendo todo o juízo entregue ao Senhor Jesus, nós só podemos perguntar como Ele o exerce. E aqui, Ele responde: “O meu juízo é justo”. Todo s os atos de autoridade de Cristo, tanto legislativos como judiciários, estão exatamente de acordo com as regras da justiça. Veja Provérbios 8.8. Não podem existir exceções contra quaisquer das determinações do Redentor, e, portanto, assim como não haverá nenhuma revogação de quaisquer de suas leis, da mesma forma não haverá revogação de quaisquer de suas sentenças. Seus julgamentos são seguramente justos, pois eles são conduzidos:

Em primeiro lugar, pela sabedoria do Pai: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”, nada sem o Pai, mas “como ouço, assim julgo”. É como Ele havia dito antes (v. 19): “O Filho não pode fazer coisa alguma, se não o vir fazer o Pai”. Da mesma forma aqui: coisa alguma, a não ser o que Ele ouve o Pai dizer. “Como ouço”:

1. A partir das deliberações eternas e particulares do Pai, “assim eu julgo”. Saberíamos nós do que poderíamos depender em nosso relacionamento com Deus? Ouçamos a palavra de Cristo. Não precisamos nos aprofundar nas deliberações divinas, aquelas coisas misteriosas que não nos competem, mas devemos prestar atenção aos preceitos revelados da autoridade e do julgamento de Cristo, que nos proverão com um guia infalível, pois o que Cristo determinou é uma cópia exata ou uma duplicata daquilo que o Pai decretou.

2. A partir dos relatos propagados do Antigo Testamento. Cristo, em toda a execução da sua missão, tinha em vista as Escrituras, e fez com que sua missão estivesse de acordo com elas e as cumprisse: “Como estava escrito no rolo do livro”. Dessa maneira, Ele nos ensinou a não fazermos nada por nós mesmos, mas julgar as coisas e agir de acordo com a Palavra de Deus que ouvimos.

Em segundo lugar, pela vontade do Pai: “Meu juízo é justo”, e não pode ser diferente, “porque não busco a minha vontade”, mas a daquele “que me enviou”. Não como se a vontade de Cristo fosse contrária à vontade do Pai, assim como, em nós, a carne é contrária ao espírito, mas:

1. Cristo possuía, como homem, as emoções naturais e inocentes da natureza humana, os sentimentos de dor e prazer, uma inclinação para a vida, uma aversão à morte. Ainda assim, Ele satisfazia não a si mesmo, não deliberava com estes, nem os consultava, quando estava para dar continuidade à sua missão, mas se submetia à vontade de seu Pai.

2. O que Ele fazia corno Mediador não era o resultado de qualquer propósito peculiar ou particular e desígnio dele mesmo. O que Ele realmente procurava fazer não levava em consideração sua própria vontade, mas o Senhor era, nesse sentido, guiado pela vontade de seu Pai, e pelo propósito que Ele havia designado para si mesmo. A isto, nosso Salvador, em todas as oportunidades, fez alusão e se submeteu.

Portanto, nosso Senhor Jesus expôs sua autoridade (quer para a convicção de seus inimigos quer não) para sua própria honra, e conforto perene de todos os seus amigos, que aqui veem-no capaz de salvar até o fim.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

PINTINHOS E HUMANOS PENSAM OS NÚMEROS DA MESMA FORMA

Assim como as crianças, filhotes de galinha parecem ter preferência inata por algarismos menores à esquerda e maiores à direita.

Pintinhos e humanos pensam os números da mesma forma

Pense em um número. Agora imagine um maior. Tente visualizar os dois na sua frente. Se você enxerga o menor do lado esquerdo, apenas confirma um dado encontrado frequentemente: tendemos a posicionar números no espaço da esquerda para a direita. Cada vez mais evidências, incluindo pesquisas com bebês lactentes pré-verbais, sugerem que nascemos com essa tendência que pode ser facilmente influenciada pela cultura e alterada. O curioso é que um estudo publicado há alguns meses pela Science, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Trento, na Itália, mostra que bebês de uma espécie completamente diferente também preferem colocar os algarismos maiores nessa ordem. Os cientistas treinaram pintinhos de três dias de vida para andar em torno de um painel em busca de alimento. Num primeiro momento, alguns filhotes aprenderam a encontrar comida atrás de uma divisão em que havia cinco pontos desenhados. Em seguida, os cientistas, coordenados pela psicóloga cognitiva Rosa Rugani, substituíram o painel por outros dois. Quando essas novas separações mostravam duas marcações cada uma, os bichos caminhavam inicialmente para a marca da esquerda em 70% das vezes. Quando os painéis exibiam oito, os pintinhos tendiam a escolher o número da direita, como se tivessem certa preferência pela disposição numérica. Os pesquisadores repetiram então o experimento com outros filhotes que foram treinados com divisões exibindo 20 pontos e testados com marcação de oito ou 32. Surpreendentemente, em ambos os ensaios, os animais viraram à esquerda para os números pequenos e à direita para os grandes. Os cientistas escolheram como menor o oito em um contexto e maior no outro para mostrar que o efeito depende de quantidades relativas, e não de qualquer preferência absoluta por algum número. Os resultados confirmam fortemente a ideia de que essa predisposição é inata. A pesquisa indica, porém, que essa preferência pode ser facilmente modificada pela experiência; por isso, é bem provável que substitui-la não represente muita dificuldade para cérebros jovens numa cultura que escreve nesse sentido. Falantes de árabe, por exemplo, mostram tendência espacial inversa. Outros povos que escrevem da direita para a esquerda e os dígitos na outra direção, como em hebraico, não mostram nenhuma predileção particular. Os autores do estudo sugerem que esses resultados estão relacionados com o fato de que cérebros não são simétricos. O hemisfério direito domina o processamento visuoespacial, levando a uma preferência para o lado esquerdo do espaço para comandar a atenção – o que talvez explique por que tendemos a pensar nos “primeiros” números nessa direção enquanto contamos. O esquema espacial pode surgir também de um mapa físico dos algarismos no cérebro, algo encontrado em humanos no córtex parietal posterior direito, mas ainda não observado em animais.

 Pintinhos e humanos pensam os números da mesma forma.2

GEOMETRIA E ATENÇÃO AOS SENTIMENTOS DOS OUTROS

A lista de habilidades cognitivas das galinhas continua crescendo com cada nova descoberta científica. O neurocientista Giorgio Vallortigara, da Universidade de Trento, na Itália, mostrou que pintos jovens têm a capacidade de distinguir números e utilizar noções de geometria. Quando apresentados a um triângulo, por exemplo, eles identificam qual deve ser a forma do desenho final com todas as suas partes. Outra pesquisa desenvolvida pela cientista Joanne Edgar, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, revelou que, assim como os humanos, essas aves são capazes de sentir empatia. No experimento, galinhas mães observavam enquanto seus pintinhos recebiam um inofensivo sopro de ar que fazia esvoaçar sua plumagem macia. Os filhotes perceberam o sopro como ameaça e manifestaram sinais clássicos de estresse, como o aumento da frequência cardíaca e queda de temperatura. Curiosamente, suas mães ficaram perturbadas ao observar a reação dos pintinhos, emitiram mais cacarejos e apresentaram os mesmos sinais de estresse que os filhotes, embora elas mesmas não tivessem recebido o sopro de ar e os filhotes não estivessem em perigo evidente. Essas descobertas indicam que galinhas conseguem se colocar na posição de outros da sua espécie, uma capacidade previamente observada apenas em um pequeno número de animais, a maioria mamíferos e, claro, humanos.

OUTROS OLHARES

O ERRO DE LOUVAR O GORDO

A “gordofobia” é abjeta e execrável, mas o seu contrário, a “gordofilia”, ou glorificação da obesidade, é, além de obtuso, perigoso: desconsidera que a obesidade é uma doença.

O erro de louvar o gordo

Enquanto escrevia este texto, o Ministério da Saúde divulgou uma notícia boa: a prevalência da obesidade no Brasil parece ter se estabilizado de 2015 a 2017. Infelizmente, ela continua alta, mas talvez esse platô prenuncie o início de uma queda. O fato de eu achar essa notícia boa pode, no entanto, ser fonte de polêmica –  o que tem ressonância no tema deste artigo. Será que é “gordofobia” querer que a obesidade no país diminua? A gordofobia refere-se a um sentimento de raiva – ou asco ou desprezo – diante de uma pessoa unicamente pelo fato de ela ser obesa. É considerado obeso todo indivíduo com índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 30. Esse sentimento impede qualquer possibilidade de aproximação, contato e empatia entre observador e observado, preenchendo as lacunas referentes ao que a pessoa é (além de obesa) com ideias e certezas negativas preconcebidas, independentes da realidade, que passa a ser secundária.

A gordofobia é, portanto, parente do racismo e da homofobia, para citar só dois exemplos (e, aqui, um lembrete: a gordofobia não tem relação com transtornos fóbicos específicos). Existe há muito tempo (nem sempre com esse nome) e pode aparecer em todas as idades. Não só as pessoas obesas se sentem ofendidas e enojadas com a gordofobia. Ela é mesmo desprezível, agressiva, geradora de bullying e stress em todas as faixas etárias (e, às vezes, transtornos mentais e mesmo suicídios), além de inútil.

Esclareço o último ponto com um exercício de raciocínio, que não é uma sugestão de conduta: se a gordofobia fosse capaz de produzir mudanças saudáveis na vida de um indivíduo, haveria uma tênue linha de defesa a ela – desde que a pessoa obesa autorizasse atitudes gordofóbicas. Seria algo remotamente parecido com fazer uso de um tratamento médico agressivo que, apesar dos bons resultados, causa graves efeitos adversos. Bem, a gordofobia não tem essa utilidade. Nem desse ponto de vista imaginário e utilitário ela é defensável

Mas há outro neologismo perigoso em voga, a “gordofilia” –  em certo sentido, oposto à gordofobia (o sufixo “filia” exprime a noção de afeição, gosto ou preferência). Digo “perigoso” porque observo que ela vem ganhando contornos de defesa ideológica da manutenção da obesidade. Alguns grupos a equiparam com situações não patológicas como, por exemplo, a orientação sexual, etnia ou religião de um indivíduo. Não há dúvida de que a gordofobia causa sofrimento similar ao provocado por outras discriminações, mas isso não anula o fato de que a obesidade é uma doença.

A gordofobia é abjeta, deve ser repudiada e combatida. Mas achar alguém bacana só por ser obeso é tão obtuso quanto o oposto (avalio você principalmente pelo seu teor de gordura corporal: se ele for alto, você é legal; se for baixo, não. É o mesmo tipo de raciocínio da gordofobia, só que ao contrário.

Como disse, a gordofilia pode ser igualmente perigosa.

Repito: a obesidade é considerada doença. Sozinha, ela já se associa à morte precoce, à má qualidade de vida e a uma lista imensa de enfermidades físicas (além de vários transtornos mentais): diabetes, hipercolesterolemia, alguns cânceres, alterações cardiológicas (incluindo hipertensão e infartos), articulares, cerebrais (demência, AVCs) etc. Essas doenças não são consequência de estigma social: se a gordofobia acabasse hoje, elas continuariam lá. Mesmo assim, todos nós já ouvimos que uma pessoa obesa pode ser saudável. Isso é só meia verdade. Qual a chance de alguém ser assim? Estudos apontam estimativas variadas, de 2% a 40%, sendo esta a situação mais frequente em mulheres e em jovens.

Outra questão: esse estado costuma ser passageiro. Para a maioria dos obesos “saudáveis”, na saúde evanesce com o tempo. Com a maturidade, as doenças aqui relacionadas começam a aparecer. É mais ou menos como o uso de tabaco: seus efeitos pioram quanto maiores o tempo de exposição e a dose.

Existem algumas possíveis causas para o surgimento da gordofilia. Vou citar seis.

Confunde-se defender a obesidade com defender o obeso (como na gordofilia), assim como atacar a obesidade com atacar o obeso (como na gordofobia).

O padrão estético há muitas décadas é o da magreza. A maioria das pessoas acha bonito, desejável, saudável e sinal de sucesso ser magro. Isso pode oprimir quem não é.

Há uma sensação de que, por ser obeso, o indivíduo é condenado à pena de máxima exclusão por um júri kafkiano que permeia a sociedade. Essa sensação pode levar a outra: quando inserida num grupo gordofílico, a pessoa pode experimentar uma sensação muito prazerosa de pertencimento, ainda mais se se sentia excluída antes.

Alguns profissionais de saúde ainda culpam o obeso por fracassos terapêuticos (isso, felizmente, tem diminuído). Não vou me estender sobreo assunto, mas já faz tempo que se sabe que isso é uma bobagem.

Os tratamentos para a obesidade cientificamente comprovados têm resultados muito úteis para a saúde, mas modestos em termos de perda de peso (com exceção do cirúrgico, com resultados mais expressivos.) Por outro lado, há uma multifacetada oferta de tratamentos “milagrosos”, com roupagem cientifica ou não, ineficazes ou perigosos, que minam a seriedade com a qual o problema deve ser abordado.

A gordofobia provoca reações justificadamente acaloradas, e a gordofilia talvez seja uma delas. Mas, na área de saúde, reações acaloradas raramente geram condutas adequadas.

Veja, as pessoas têm liberdade de escolher o que farão com sua obesidade – e entre as alternativas disponíveis está até mesmo não tratar dela. O tratamento é apenas o meio para tentar atingir um objetivo desejado ou necessário. Faz quem precisa e quer. Não faz quem não quer (mesmo sendo uma decisão errada). Querer manter-se obeso é direito individual inalienável. Agora, impor isso como regra moral tácita ou explícita é um erro perigoso. A gordofilia pode tornar uma pessoa mais exposta a problemas que nenhum grupo gordofílico será capaz de solucionar. Repetindo: a obesidade é uma doença com vários níveis de gravidade. Ela causa outras doenças ou está associada a diversas delas. Piora tanto a qualidade quanto a expectativa de vida. E os tratamentos médicos não têm como objetivo principal adequar o paciente à norma estética.

Creio que a divulgação do conhecimento científico é um recurso mais efetivo contra a gordofobia do que posturas inflamadas. Ninguém deve tomar a decisão sobre tratar-se ou não com base na repugnante gordofobia nem estimulado pela gordofilia, às vezes bem-intencionada, mas ainda assim cúmplice da primeira. Em nenhuma situação elas serão boas conselheiras.

 

ADRIANO SEGAL – é diretor de psiquiatria e transtornos alimentares da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e responsável pela área de psiquiatria do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

GESTÃO E CARREIRA

SÍNDROME DE BOREOUT E A APATIA NO TRABALHO

A motivação do trabalhador é um tema de grande complexidade e a compreensão do seu funcionamento é um imenso desafio para empresas de pequeno a grande porte, assim como para suas lideranças.

Síndrome de boreout e a apatia no trabalho

O sentido que os trabalhadores atribuem aos seus trabalhos é amplamente estudado por diferentes disciplinas e múltiplas perspectivas teóricas. Através do trabalho, o ser humano transforma seu meio e é transformado, em função dos direitos, deveres, da importância que o trabalho tem para o indivíduo e os resultados valorizados por ele.

Dessa forma, podemos afirmar que, na atualidade, o trabalho não é somente uma forma de obter renda, mas uma atividade que proporciona desenvolvimento e realização pessoal. Através do trabalho, os indivíduos estabelecem e mantêm contatos pessoais, status social, vínculos afetivos, ocupação do tempo, propósito pessoal, dentre outros.

Quando tratamos de estudar a motivação do ser humano na esfera do trabalho podemos perceber o quanto as áreas de Administração de Empresas e de Psicologia podem, juntas, oferecer respostas às perguntas acerca do comportamento humano em um ambiente de trabalho, dos desafios enfrentados, da superação (ou não) das limitações existentes e da capacidade de resiliência.

A motivação do trabalhador é um assunto de extrema complexidade, e o entendimento do seu funcionamento, um grande desafio para empresas de pequeno a grande porte, bem como para suas lideranças. É possível motivar sua equipe? Motivação não é intrínseca? O que motiva o trabalhador? Como explorar positivamente esse recurso a fim de tornar os trabalhadores mais satisfeitos e, em consequência, mais produtivos? O senso comum nos orienta que chegar a esse resultado não depende obrigatoriamente de quem motiva e nem de quem é motivado, mas sim da associação de outros fatores.

Responder a essas perguntas no intuito de motivar equipes de trabalho passou a ser pauta de reuniões estratégicas quando se constatou que um funcionário motivado aumenta sua produtividade e gera mais ganhos à empresa. Em contrapartida, tornou-se uma preocupação quando gestores perceberam o tamanho do impacto negativo que alguém desmotivado no ambiente de trabalho pode gerar nos resultados, na sua equipe e em seus clientes.

Em 1975, Freudenberger descreve a síndrome de Burnout, na qual o esgotamento profissional, suas causas e efeitos do estresse laboral acarretam prejuízos financeiros, humanos e sociais, incapacitando trabalhadores. A síndrome acomete principalmente os que atuam em profissões caracterizadas pela intensa relação interpessoal, com alto nível de abnegação e entrega. Maslach e Jackson (1981) relacionaram algumas funções clássicas acometidas pela síndrome, como policiais militares, professores, médicos e enfermeiros. Mas não se restringe a estas.

Empresas e instituições têm lançado programas internos de saúde ocupacional na expectativa de mitigar o impacto negativo que a síndrome de Burnout causa na sua folha de pagamento, nos seus índices de absenteísmo, afastamentos, aposentadorias precoces, atestados, erros e processos trabalhistas. Sim, a saúde mental do trabalhador é um assunto que entrou na pauta dos gestores e não tem data prevista para sair.

Por outro lado, surge o Boreout, identificado por Rothlin e Werder, síndrome na qual funcionários frustrados não conseguem encontrar tarefas que gostem ou se sentem desenquadrados em suas empresas, subvalorizam aquilo que executam, muitas vezes por achar as suas atividades monótonas e pouco desafiadoras. São profissionais que atuam mal e vagarosamente, apresentando resultados de baixo desempenho, frequentemente usando seu tempo durante o expediente para assuntos pessoais (sempre de forma discreta para garantir seu status quo, temendo ser identificado e perder a estabilidade de seu emprego, embora deteste as tarefas a serem desempenhadas). Trabalhadores com Boreout, quando possível, se camuflam em reuniões intermináveis e em comissões que o mantêm longe de suas atividades originais, pois preferem atuar dentro das tarefas desenhadas sem metas e sem resultados claros ou mensuráveis.

Em uma visão otimista, podemos perceber que para o estresse ocupacional ou Burnout, empresas e lideranças têm mostrado alguma capacidade de organização de reação. No entanto, o mesmo não se aplica quando o assunto é o Boreout.

O aspecto possivelmente mais assustador para as atuais lideranças do mercado é que o modelo de liderança tradicional, calcado numa visão materialista das pessoas e das organizações e em modelos de gestão de comando e controle, já não atende mais às demandas dos seres humanos que atuam nas organizações.

COMPARAÇÃO

As empresas são comparadas aos seres humanos e o conceito de empresa orgânica ou viva, que aprende e reage aos impulsos do ambiente, acentua a rapidez das mudanças, o avanço da tecnologia e da ciência e a autoconsciência das pessoas aumenta. Os novos paradigmas da liderança consideram, além dos aspectos materiais, os aspectos psíquicos, sociais e espirituais. Sim, compreender os aspectos espirituais nas corporações também é assunto da gestão moderna.

Os valores morais e éticos, a capacidade de sentir empatia, o respeito e o acolhimento são atributos humanos e humanizadores das relações e compõem perfis de pessoas religiosas e não religiosas, na busca por uma sociedade equitativa.

Estabilizadas as necessidades básicas e vitais do ser humano (acesso a alimento, vestimenta, saúde, moradia e segurança), uma boa parte dos seres humanos concentra seus esforços na busca da satisfação das necessidades fundamentais relacionadas aos afetos e à autorrealização, que culminam na felicidade. Há um importante componente ético e cognitivo na felicidade, nossos valores e crenças fazem muita diferença na forma como percebemos e como atribuímos sentido a nossa existência – que pode ser extremamente gratificante mesmo em meio a adversidades.

“O colaborador com Boreout determina o tempo que o processo deve levar, conforme seu interesse e motivação em ‘ganhar’ tempos livres durante a sua jornada. Por não existir nenhuma forma de mensuração e haver autonomia na execução, o próprio colaborador comunica o tempo de entrega, seu rendimento e produtividade, que raramente é comparada a um padrão ou cuja eficiência seja discutida”.

Com o desenvolvimento da auto­ consciência e a felicidade como meta pessoal, precisamos ajustar – com certa agilidade – a forma como fazemos gestão das pessoas nas empresas. Mais que empregos, precisaremos – se quisermos reter talentos e desenvolver pessoas (e com e por isso reduzir custos, melhorar nossos serviços e produtos) – apoiá-las a encontrar sua felicidade, despertando sua motivação e seu propósito no trabalho.

Percebe-se claramente que ter um propósito (ou a ausência dele), a existência de um senso de contribuição, de um significado, do pertencimento que fundamenta aquilo que a pessoa faz (ou deveria fazer) cria engajamento ou, quando inexistem, um enorme aborrecimento profissional.

A CHAVE

Talvez esteja aí a chave da recuperação desse tipo de profissional acometido pelo Boreout e uma ferramenta para aumento de engajamento nas mãos da liderança: quando a organização e o indivíduo se alinham em suas identidades e valores, cria-se um propósito comum, que cria um nível superior de engajamento. Ou seja, criamos e aprendemos mais quando somos desafiados, nos sentimos motivados, confiantes e nos sentimos parte de uma comunidade de interesse.

O processo de aprendizagem e engajamento está intimamente ligado ao estado emocional do aprendiz. Quando temos pessoas em constante aprendizagem, temos empresas que aprendem.

Senge, sugere que a aprendizagem organizacional é um processo no qual os membros da empresa aprendem a identificar erros na medida em que vão ganhando novos conhecimentos e ainda afirma: “A vantagem competitiva de uma organização não está mais em quanto suas pessoas sabem, e sim na capacidade de quanto essas pessoas aprendem”.

Sem dúvida, trabalhos sem desafios, sem metas, sem um processo formal da liderança de dar e receber feedback para estruturar resultados e alinhar o desempenho sobre suas tarefas pode em algum momento parar de fazer sentido para o colaborador e aos poucos se tornar monótono, previsível e mecânico.

Segundo Zull, o cérebro humano evolui a partir da “jornada cérebro-mente” e não o contrário. O autor ainda classifica essa jornada em diversas etapas: explorar, agir, descobrir, emocionar, imitar, perceber, imaginar, comunicar, criar, planejar, gerenciar e transformar.

Guillazo, Redotar e Torras afirmam que os nossos pensamentos influenciam nossas emoções e as emoções movimentam nosso comportamento. Assim podemos começar a compreender o vazio existente para o colaborador acometido pelo Boreout: o cinismo existente por se manter aparentemente ocupado, sobrevivendo a mais um dia de trabalho, todos os dias. E obviamente entregando para a organização um potencial medíocre em termos de produtividade.

PREVENÇÃO

Líderes que conseguem eliminar da gestão a centralização do poder, o individualismo e o imediatismo podem atuar positivamente e preventivamente em relação a funcionários com Boreout.

A centralização do poder no líder se revela um fator desmotivador mesmo para os profissionais mais engajados, visto que trabalhar em um ambiente em que não se desenvolve a autonomia, não se assume responsabilidades e em consequência não existe reconhecimento pelas iniciativas empobrece os afetos e desqualifica a capacidade mental do trabalhador, contribuindo para os estados de desânimo do Boreaut.

A gestão individualista afeta o desempenho, pois isola o trabalhador e não promove o compartilhamento dos saberes e a troca de experiências. Em uma sociedade com uma oferta de informações acima da nossa capacidade individual de absorção, usar como ponto de referência somente o próprio conhecimento ou perspectiva de com­ preensão é um comportamento condenado ao insucesso.

E, por fim, o imediatismo que acomete muitos trabalhadores, quando se trata de suas carreiras, precisa ser identificado e tratado. A cada dia são mais comuns relatos de iniciantes que questionam quando serão promovidos – incluindo a cargos de liderança. Há uma cultura de ascensão profissional em um ritmo mais acelerado do que muitas empresas estão prontas a praticar e, se essas expectativas não forem devidamente alinhadas, as chances de desmotivação e queda do desempenho durante as fases iniciais da carreira são imensas.

Ouvimos muito que as novas gerações que entram no mercado de trabalho parecem pouco engajadas, imediatistas e desejam um rápido desenvolvimento. Caso contrário não têm a perseverança e maturidade necessárias para aguardar de forma espontânea as “coisas acontecerem”. Precisam estar constantemente movidas por desafios. Na realidade, os cérebros jovens de hoje têm a mesma estrutura funcional e a tal da jornada (cérebro-mente) dos cérebros jovens de ontem. A diferença é que experienciam diferentes estímulos e desafios (sociais e tecnológicos).

Criamos e aprendemos mais quando somos desafiados, nos sentimos motivados, confiantes e podemos questionar os “porquês” e não somente os “comos”. Para isso precisamos de líderes que consigam perceber a maturidade do liderado sobre seu desempenho como um dos pontos de atenção para a sua motivação na realização de uma determinada tarefa e para envolvê-lo na busca por seu desenvolvimento e crescimento.

As atividades podem ser realizadas e administradas de forma mais horizontal, mais flexível e moderna. Os trabalhadores podem questionar, opinar, contribuir e realizar – quando o gestor atua de forma consciente e intencional na promoção dessa cultura de engajamento.

 MATÉRIA- PRIMA

O ser humano é a principal matéria­ prima no mundo dos negócios e as peculiaridades de cada um nos aspectos do significado de seu trabalho podem trazer implicações em seu desempenho profissional e em seu relacionamento com os demais profissionais.

Esse é um desafio para nosso mundo do trabalho de hoje. Nesse ainda início de século XXI, cinco gerações diferentes podem coexistir em um mesmo ambiente de trabalho, contribuindo umas com as outras e todas em benefício da empresa.

Zull ainda nos chama a atenção que as gerações X (1961- 1980), os Milênios (Milleniuns), também conhecidos como a Geração Y (1981-1995), e a Geração Z (a partir de 1995) têm o mesmo cérebro, mas diferentes estímulos. Todos podem ficar aborrecidos ou engajados com as tarefas que resultam de sua atividade profissional. E todos, à sua maneira, podem estar aborrecidos em desempenhar o trabalho. Uma liderança atuante deve obrigatoriamente perceber essas mudanças no mundo do trabalho e atuar sobre elas – caso contrário, poderá ele ser o gerador das frustrações por exigir resultados sem perceber o entendimento daqueles que executam e o contexto existente na organização, que pode não ser visível sem um esforço da liderança nessa direção.

A questão é que um grupo de trabalho acessível pelo smartphone é muito mais estimulante e eficiente para gerar a comunicação entre turnos ou colegas de trabalho do que uma reunião a que as pessoas estão indo sem saber o propósito dela.

Uma plataforma que consiga apresentar meus resultados de forma corporativa aos meus contratantes pode ser mais estimulante do que prestar contas no modelo formal. As lideranças devem reagir proativamente e se apropriar de forma a conseguir avaliar produtividade de maneira que as pessoas estejam em um ambiente arrojado e “livres” para oferecer um desempenho superior. Ou seja, o repertório de um líder deve ter em sua composição atributos para oferecer estímulos diferentes, conforme a situação exigir, e ter em seu radar os sintomas do Boreout antes que ele já tenha dominado toda a equipe. Ou seja, criar um espaço para que cada um, dentro da crença sobre a sua própria capacidade em eleger e usar o melhor método para resolver uma tarefa, tenha condições de implementá-la. Claro que derivado de orçamentos, protocolos e processos preestabelecidos – mas seguramente existe uma margem enorme de criação e do uso do talento individual em qualquer tarefa, por mais operacional que seja a execução dessa atividade.

Ou seja, estamos falando tanto do CEO da organização como do auxiliar de higiene e, principalmente, dos executivos da média gerência.

CONTROLE

Segundo Malone, os adultos, em especial, precisam sentir que têm um certo grau de controle quanto ao seu aprendizado. Eles precisam perceber que o sucesso é resultado de seu esforço. Isso vale para a aprendizagem em sala de aula, já com métodos e técnicas consagrados, e precisa ser compreendido para que seja utilizado no mundo do trabalho. É parte da recuperação de colaboradores com Boreout, que atuam sem metas e que não têm a sensação de que sua tarefa afeta os resultados da organização.

Muitos pensadores e autores, ao longo desse e do último século, contribuíram e ofereceram melhor entendimento do ser humano, a ponto de elaborarem técnicas genéricas de como motivar o indivíduo na direção de metas e objetivos. Muitos autores nos mostraram que é impossível mutilar o ser humano e tentar excluir todos as outras dimensões (pessoais e familiares) para que no ambiente de trabalho a pessoa esteja “limpa” de qualquer interferência do meio externo, ainda que em pleno século XXI algum líder irá despejar por cima de seus colaboradores: “Deixe os seus problemas da porta da empresa para fora”. A motivação atinge todos os níveis de uma pessoa, desde seu comportamento em família, ou em sua profissão ou mesmo em seus momentos de lazer.

Muitas teorias que funcionaram e fundamentaram o aumento de produtividade no século XX tiveram que ser repensadas à medida que o mundo do trabalho evoluía e se moldava, recebendo estímulos de todas as outras perspectivas. Nossas lideranças nas empresas de hoje devem buscar novas respostas, compreendendo os desafios dos tempos atuais. Claro que não iremos descartar tudo que nos trouxe até aqui, algumas linhas de pensa­ mento sobreviverão a qualquer tempo e aos bombardeios tecnológicos dos nossos tempos. Existirão sempre novas formas de motivação e novas formas de aborrecimento.

 Síndrome de boreout e a apatia no trabalho.2 

DISTANCIAMENTO

O Boreout é resultado de um distanciamento do colaborador do trabalho, por não ver mais sentido naquela ocupação, ou, às vezes, pode acontecer por se sentir “superqualificado” para aquelas tarefas, ou por não se identificar com aquilo que a empresa desenvolve ou produz – em suas metas e visões corporativas. Pode também se sentir pouco valorizado pelo baixo salário que recebe, quando comparado com o potencial que imagina ter, se frustrando por ter que se submeter a atividades tão pouco desafiadoras.

Síndrome de boreout e a apatia no trabalho.3

SINTOMAS

A sensação do Burnout é de esgotamento físico e emocional. que se reflete em atitudes negativas. como agressividade, isolamento, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome.

 Síndrome de boreout e a apatia no trabalho.4 

PARCERIA EMPRESA-COLABORADOR

Missão, visão e valores devem ser incorporados na relação empresa- colaborador. As pessoas só se desenvolvem se a empresa também se desenvolver e vice-versa. Um dos passos iniciais no desenvolvimento da empresa é que a sua identidade esteja publicada e incorporada à cultura organizacional. Missão, visão e valores não são um conjunto de belas palavras emolduradas, adornando uma sala de reuniões ou o site da organização. Eles devem ser conceitos “vivos”, que permeiam as relações entre setores e pessoas, que norteiam estratégias e condutas e, portanto, podem criar vínculo de compatibilidade com seus empregados e propósitos.

  

MARCELO BOEGER – é administrador de empresas, mestre em Planejamento Ambiental pela Universidade Ibero americana e mestre em Gestão da Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Coordenador e professor do curso de especialização do Hospital Albert Einstein e professor convidado nos cursos de MBA em Gestão da Saúde e MBA em Infecção Hospitalar (Inesp). Autor de diversos livros na área de saúde. entre eles, coautor de Liderança em Cinco Atos.

RITA DE CÁSSIA CALEGARI – é psicóloga, especialista em Psicologia da Saúde (PUC-SP), mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem da USP (SP) e coordenadora psicossocial corporativa dos Hospitais São Camilo de São Paulo.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 17-30 – PARTE II

Alimento diário

A Discussão de Cristo com os Judeus. Todo julgamento foi entregue a Cristo. O Privilégio Cristão

1. Naquilo que Ele comunicará. Ele lhe mostrará, isto é, o designará e orientará a fazer obras mais notáveis do que estas.

(1) Obras de maior poder do que a cura do homem incapaz, pois ele devia ressuscitar os mortos, e devia ressuscitar a si mesmo dos mortos. Através do poder natural, com o uso de recursos, uma doença pode ser curada a tempo, mas a natureza não podia jamais, pela utilização de qualquer meio, em qualquer tempo, ressuscitar os mortos.

(2) Obras de maior autoridade do que autorizar o homem a carregar sua cama no sábado. Eles consideravam isto um ousado atentado, mas o que era isto, comparado com a revogação de toda a lei cerimonial e instituição de novas leis que Ele traria em breve: “Para que vos maravilheis!” Neste momento, eles contemplavam as obras de Jesus com desprezo e indignação, porém em breve Ele faria coisas que eles contemplariam com admiração, Lucas 7.16. Muitos são levados a se maravilhar com as obras de Cristo, pelas quais a glória lhe pertence, que não são persuadidos a crer; o que lhes traria os benefícios delas.

2. Em particular. Ele demonstra sua igualdade com o Pai ao descrever algumas das obras que realiza e que são obras específicas de Deus. Esta lista é expandida, vv 21-30. Ele faz, e fará, aquilo que seja trabalho relativo ao soberano domínio e jurisdição de Deus – julgar e exercer o juízo, vv. 22-24,27. Estes dois temas estão entrelaçados, estando quase unidos, e o que é dito uma vez, é repetido e incutido. Coloque os dois juntos e eles demonstrarão que aquilo que Cristo disse, quando se igualou a Deus, o Pai, era absolutamente correto.

(1) Observe o que é dito aqui quanto ao poder do Mediador de ressuscitar os mortos e dar vida. Veja:

[1] Sua autoridade para fazê-lo (v. 21): ‘:Assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer”. Em primeiro lugar, é prerrogativa de Deus ressuscitar os mortos e dar a vida, e foi Ele o primeiro que soprou no homem o fôlego da vida, e assim o fez alma vivente. Veja Deuteronômio 32.30; 1 Samuel 2.6; Salmos 68.20; Romanos 4.17. Através dos profetas Elias e Eliseu, Deus ressuscitou mortos, e isso foi uma confirmação da missão deles. A ressurreição dos mortos nunca se encaixou no caminho habitual da natureza, nem jamais coube no pensamento daqueles que estudaram apenas a extensão do poder da natureza, dos quais um dos axiomas admitidos foi apontado abertamente contra ela: A existência, ao ser apagada, não pode ser reacendida. Por isso, a ressurreição era ridicularizada em Atenas como uma coisa absurda, Atos 17.32. Ela ocorre genuinamente por obra do poder divino e pelo conhecimento dele. O conhecimento da ressurreição ocorre, genuinamente, por meio de uma revelação divina. Os judeus, entretanto, reconheciam a ressurreição. Em segundo lugar, o Mediador é investido desta prerrogativa: Ele “vivifica aqueles que quer”, ressuscita a quem lhe agrada, e quando lhe agrada. Ele não vivifica as coisas por necessidade natural, como faz o sol, cujos raios de luz, como se sabe, fazem reviver. Não obstante, Ele age como um agente livre, tem a concessão de seu poder em sua própria mão, e não é jamais constrangido ou reprimido em sua utilização. Assim, como Ele tem o poder, da mesma forma tem a sabedoria e a soberania de Deus, tem “as chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1.18), não como um servo, para abrir e fechar como lhe é ordenado, pois Ele a tem como a chave de Davi, da qual ele é dono, Apocalipse 3.7. Um príncipe absoluto é descrito por meio da seguinte frase (Daniel 5.19): ”A quem queria matava e a quem queria dava a vida”. Isto é verdadeiro para Cristo, sem exagero.

[2] Sua capacidade de ressuscitar mortos. Ele tem poder para ressuscitar a quem quiser, assim como faz o Pai, pois Ele tem vida em si mesmo, assim como o Pai, v. 26. Em primeiro lugar, é certo que “o Pai tem a vida em si mesmo”. Ele não apenas é um Ser auto existente, que não descende ou depende de nenhum outro (Êxodo 3.14), mas também é o soberano doador da vida. Ele tem o controle da vida em si mesmo, e de todo o bem (pois, às vezes, isto é o que a vida significa). Tudo adveio dele, e é dependente dele. Ele é, para suas criaturas, a fonte da vida, e de todo o bem; criador de suas existências e bem-estar; o Deus vivo, e o Deus de tudo o que vive. Em segundo lugar é igualmente certo que Ele “deu… ao Filho ter a vida em si mesmo”. Assim como o Pai é o progenitor de toda a vida natural e de todo o bem, sendo o grande Criador, da mesma maneira, o Filho, como o Redentor, é o progenitor de toda a vida espiritual e de todo o bem. Ele é para a igreja, aquilo que o Pai é para o mundo. Veja 1 Coríntios 8.6; Colossenses 1.19. O reino da graça, e toda a vida nesse reino, estão tão inteira e absolutamente nas mãos do Redentor como o reino da providência está nas mãos do Criador. E como Deus, que dá vida a todas as coisas, é o dono de sua própria existência, da mesma forma Cristo, que dá a vida, ressuscitou a si mesmo para a vida através de seu próprio poder, cap. 10.18.

[3] Seu comportamento de acordo com essa autoridade e capacidade. Tendo a vida em si mesmo, e sendo autorizado a ressuscitar a quem quiser, em virtude disso há, de forma correspondente, duas ressurreições realizadas através de sua poderosa palavra, sobre as quais se comenta aqui:

Em primeiro lugar, uma ressurreição que, nas presentes condições, é (v. 29) uma ressurreição da morte do pecado para a vida da justiça, pelo poder da graça de Cristo. “Vem a hora, e agora é”. É uma ressurreição já iniciada, e que deve ser levada mais adiante, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus. Esta ressurreição é claramente diferenciada daquela no versículo 28, que fala da ressurreição no fim dos tempos. Este versículo nada diz, ao contrário daquele, sobre os mortos quanto aos seus méritos, sobre todos eles, e seus destinos. Agora:

1. Alguns pensam que isto se cumpriu naqueles a quem Ele milagrosamente ressuscitou: a filha de Jairo, o filho da viúva e Lázaro, e é visível que a todos a quem Cristo ressuscitou, foi lhes dito no momento: “Menina … levanta-te”; “Jovem … Levanta-te”; “Lázaro, vem para fora”. Enquanto aqueles ressuscitados sob o Antigo Testamento foram ressuscitados, não através de uma palavra, mas por outros mecanismos, 1 Reis 17.21; 2 Reis 4.34; 13.21. Alguns entendem isso como relativo aos santos que ressuscitaram com Cristo, mas não lemos a respeito da voz do Filho de Deus chamando-os. Porém:

2. Eu prefiro entendê-lo como relativo ao poder da doutrina de Cristo, pela recuperação e ressurreição daqueles que estavam mortos em ofensas e pecados, Efésios 2.1. Estava chegando a hora quando almas mortas seriam vivificadas pela pregação do Evangelho e pelo espírito de vida de Deus que o acompanha. Talvez fosse assim naquele tempo, enquanto Cristo estava sobre a terra. Isto pode se referir especialmente ao chamado dos gentios, do qual se diz que é como a ressurreição dos mortos, e, pensam alguns, fora representado previamente pela visão de Ezequiel (Ezequiel 37.1), e profetizado: “Os teus mortos viverão”, Isaías 26.19. Mas isto deve ser aplicado a todo o maravilhoso sucesso do Evangelho entre os judeus e os gentios. Uma hora que agora é, e que ainda está chegando, até que todos os eleitos sejam efetivamente chamados. Note que:

(1) Os pecadores estão espiritualmente mortos, destituídos de vida, consciência, força e impulsos espirituais, mortos para Deus, infelizes, porém inconscientes de sua desgraça e incapazes de saírem por si mesmos desta condição.

(2) A conversão de uma alma a Deus é sua ressurreição da morte para a vida. Ela começa a viver quando começa a viver para Deus, a viver de acordo com Ele, e caminhar em direção a Ele.

(3) É pela voz do Filho de Deus que almas são ressuscitadas para a vida espiritual. Isto é realizado pelo seu poder, e esse poder é transmitido e comunicado por sua palavra: “Os mortos ouvirão”, serão compelidos a ouvir, a entender, aceitar e crer na voz do Filho de Deus, a ouvi-la como a voz dele. Depois o Espírito, através dela, dá a vida. Por outro lado, a letra mata.

(4) A voz de Cristo deve ser ouvida por nós, para que possamos viver por ela. Aqueles que ouvem e atentam para o que ouvem, viverão. “Ouvi, e a vossa alma viverá”, Isaías 55.3. Em segundo lugar, é uma ressurreição ainda por vir. Isto é dito nos versículos 28 e 29, e introduzido com as palavras: ‘”Não vos maravilheis disso’, do que eu disse sobre a primeira ressurreição, não o rejeitai como inacreditável e absurdo, pois no fim dos tempos, todos vereis uma prova mais concreta e maravilhosa do poder e autoridade do Filho do homem”. Assim como sua própria ressurreição estava reservada para ser a prova final e conclusiva de sua designação pessoal, a ressurreição de todos os homens está reservada para ser uma prova semelhante de sua designação, e será executada pelo seu Espírito. Neste momento, observe aqui:

A. Quando será essa ressurreição: “Vem a hora”. Ela é pré-determinada, este encontro marcado é bastante exato. O julgamento não está adiado para algum momento ainda não escolhido. Não, Ele marcou um dia. “Vem a hora”.

(a) Ainda não chegou, não é a hora de que se fala no versículo 25, que é chegada, e agora é. Erraram perigosamente aqueles que disseram que a ressurreição era já feita, 2 Timóteo 2.18. Mas:

(b) Com certeza virá, ela está avançando; está a cada dia mais próxima do que antes; está à porta. A que distância está, nós não sabemos, porém sabemos que ela está infalivelmente definida e inalteravelmente determinada.

B. Quem será ressuscitado: “Todos os que estão nos sepulcros”, todos os que morreram desde o início dos tempos, e todos os que morrerão até o fim dos tempos. Foi dito (Daniel 12.2): ” Muitos… ressuscitarão”. Cristo nos fala aqui que aqueles muitos serão todos. Todos terão que comparecer diante do Juiz, e por isso todos devem ser ressuscitados. Cada pessoa, e cada uma delas em seu todo. Cada alma retornará para seu corpo, e cada osso para sua estrutura. O túmulo é a prisão dos corpos mortos, onde eles estão detidos; sua fornalha, onde eles são consumidos (Jó 24.19). Mesmo assim, na esperança da ressurreição deles, podemos chamá-lo de suas camas, onde eles dormem para serem novamente despertados; seu cofre, onde eles estão guardados para que possam ser novamente utilizados. Mesmo aqueles que não são postos em túmulos ressuscitarão, mas, porque muitos são colocados em túmulos, Cristo utiliza essa expressão: “todos os que estão nos sepulcros”. Os judeus usavam a palavra sheol para túmulo, o que representa a condição dos mortos. Todos os que estão nessa condição ouvirão.

C. Como eles serão ressuscitados. Duas coisas nos são ditas aqui:

(a) A eficácia dessa ressurreição: eles “ouvirão” sua voz. Isto é, Ele fará com que eles a ouçam, assim como Lázaro ouviu aquela ordem: “Vem”. Um poder divino acompanhará esta ordem, para neles colocar vida e permitir que a obedeçam. Quando Cristo ressuscitou, nenhuma voz foi ouvida, nenhuma palavra, dita, pois Ele ressuscitou por seu próprio poder. Mas na ressurreição dos filhos dos homens, nós encontramos três vozes mencionadas, 1 Tessalonicenses 4.16. O Senhor descerá com um alarido, o alarido de um rei, com a voz do arcanjo. Ou o próprio Cristo, o príncipe dos anjos, ou o comandante-em-chefe, sob as ordens dele, acompanhado dos exércitos celestiais. E com a trombeta de Deus, a trombeta do soldado fazendo soar o alerta de guerra, e a trombeta do juiz proclamando as convocações para o tribunal.

(b) O efeito disso: eles sairão de seus túmulos, como prisioneiros saindo de suas prisões. Eles ressuscitarão do pó e o sacudirão de si. Veja Isaías 52.1,2,11. Mas isto não é tudo. Eles comparecerão diante do tribunal de Cristo, sairão como aqueles que serão julgados, comparecerão ao tribunal para receber publicamente sua sentença.

D. Para o que eles serão ressuscitados. Para uma condição de felicidade ou sofrimento, de acordo com a atitude que tomaram em relação ao Evangelho da graça de Deus. Eles irão para um estado de recompensa, conforme o que fizeram no estágio de provas.

(a) Aqueles que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida. Eles viverão novamente, para viver para sempre. Note que:

[a] Qualquer que seja o nome pelo qual os homens sejam chamados, ou qualquer que seja aquilo que professem, no grande dia somente serão galardoados aqueles que fizeram o bem, aquilo que agrada a Deus e que é proveitoso para os outros.

[b] A ressurreição do corpo será uma ressurreição para a vida para todos aqueles, e apenas aqueles, que foram sinceros e resolutos em fazer o bem. Eles não somente serão publicamente absolvidos, como um criminoso perdoado, como dizemos, que recebe sua vida de volta, mas eles serão admitidos na presença de Deus, e isto é vida, aliás, é melhor do que a vida. Eles serão cuidados com os consolos da perfeição. Viver é ser feliz, e eles serão elevados acima do medo da morte. Esta é, sem dúvida, a vida em que a morte será tragada para sempre.

(b) Aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para a ressurreição da condenação. Eles viverão novamente, para serem condenados para sempre. Os fariseus pensavam que a ressurreição dizia respeito apenas aos justos. mas aqui Cristo retifica esse engano. Note que:

[a] Os que fazem o mal, apesar do que aleguem, serão tratados, no dia do julgamento, como homens maus.

[b] A ressurreição será, para os homens que fazem o mal, que não reverteram através do arrependimento o que fizeram de errado, a ressurreição da condenação. Eles sairão para serem publicamente declarados culpados de rebelião contra Deus, e publicamente sentenciados ao castigo eterno; para serem sentenciados a isso, e enviados imediatamente a isso sem descanso. Assim será a ressurreição.

(2) Observe o que é dito aqui com relação à autoridade do Mediador para exercer o juízo, vv. 22-24,27. Assim como Ele tem um poder glorioso, da mesma forma tem uma jurisdição autônoma. E quem está mais preparado para presidir as questões importantes da outra vida do que aquele que é o Pai e a fonte da vida? Aqui está:

[1] A comissão ou delegação de Cristo para o cargo de juiz, do qual se fala por duas vezes aqui (v. 22): “o Pai… deu ao Filho todo juízo”, e outra vez (v. 27): “deu-lhe o poder de exercer o juízo”.

Em primeiro lugar, o Pai a ninguém julga. Não que o Pai tenha renunciado à autoridade, mas Ele se apraz em reger através de Jesus Cristo, de modo que o homem não esteja sob o temor de tratar diretamente com Deus, mas tenha o consolo de ter acesso a Ele através de um Mediador. Tendo nos feito, o Senhor pode fazer o que quiser conosco, como o oleiro faz com o barro. Mesmo assim, ele não tira vantagem disso, mas nos atrai para si com os laços humanos. Ele não determina nossa condição perpétua pelo pacto da inocência, nem emprega a vantagem que tem contra nós pela violação desse pacto. O Mediador, tendo tomado para si a tarefa de realizar uma expiação vicária, a questão lhe é apresentada, e Deus está desejoso de assumir um novo pacto, não sob a lei do Criador, mas sob a graça do Redentor.

Em segundo lugar, Ele confiou todo o juízo ao Filho, e o estabeleceu como o Senhor de todos (Atos 10.36; Romanos 14.9), como José, no Egito, Gênesis 41.40. Isto fora profetizado, Salmos 72.1; Isaías 12.3,4; Jeremias 23.5; Miquéias 5.1-4; Salmos 67.4; 96.13; 98.9. Todo juízo é dado ao nosso Senhor Jesus, pois:

1. Ele está encarregado da administração do reino da providência, está sobre todas as coisas (Efésios 1.11), sobre todos os homens, 1 Coríntios 12.3. Todas as coisas subsistem por ele, Colossenses 1.17.

2. A Ele, é dado o poder para fazer leis de imediato para obrigar as consciências. “Eu vos digo”, esta é agora a forma como os estatutos do reino do céu funcionam. Seja ela promulgada pelo Senhor Jesus, e pela sua autoridade. Todas as leis agora em vigor têm, necessariamente, o toque do seu cetro.

3. Ele está autorizado a fixar e estabelecer os termos da nova aliança, e a redigir os artigos da paz entre Deus e o homem. É Deus em Cristo que reconcilia o mundo, e a Cristo Ele tem dado o poder para conceder a vida eterna. O livro da vida é o livro do Cordeiro. Pela sua decisão, devemos nos colocar de pé ou cair. 

4. Ele está comissionado para levar avante e concluir a guerra com os poderes das trevas, para expulsar e realizar o julgamento contra o príncipe deste mundo, cap. 12.31. Ele está comissionado não apenas para julgar, mas para pelejar, Apocalipse 19.11. Todos aqueles que lutam por Deus contra Satanás devem se alistar sob seu estandarte.

5. Ele está estabelecido como o único administrador do julgamento do grande dia. Os antigos geralmente interpretavam essas palavras como o ato de coroação de seu poder como juiz. O julgamento final e universal está reservado para o Filho do homem. O tribunal é seu, é o foro de Cristo. A comitiva é sua, de seus poderosos anjos. Ele julgará as causas e dará o veredicto, Atos 17.31.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ESTÁ ENTEDIADO? O COMPUTADOR SABE!

Muitas vezes, a sensação combinada de desânimo e desinteresse está associada à dificuldade de se conectar com os estímulos externos e perceber as próprias necessidades; esse estado mental provoca estresse, dificulta a aprendizagem e, às vezes, nos leva a comer por compulsão. A novidade é que a tecnologia pode ser uma aliada para combater esse estado.

Está entediado, o computador sabe

Não importa quantas coisas você tenha para fazer nem mesmo a diversidade de opções para se divertir. De repente, é como se tudo fosse muito sem graça. É um misto de preguiça e desânimo, como se o mundo todo se tornasse extremamente desinteressante. Segundo pesquisa desenvolvida por cientistas da Universidade de York e publicada no periódico científico Perspectives on Psychological Science, o tédio está associado à dificuldade de perceber os próprios estados mentais e se conectar com o que está ao nosso redor. A incapacidade de concentração provoca a sensação de desconforto e estresse. Um estudo publicado no periódico científico International Journal of Epidemiology relacionou o aumento do tédio ao risco de morte precoce. Para a psicologia, essa conclusão encontra respaldo na ideia de que uma vida entediante tem poucos apelos para que se mantenha um “investimento libidinal” e, caso esse sentimento persista, aos poucos a pessoa vai se desligando psiquicamente da própria vida, tornando-se mais vulnerável a doenças.

E quem já sentiu sabe: uma das manifestações do tédio de fato aparece no corpo. Os entediados dobram o pescoço para o lado, mostrando que não querem ouvir ou lidar com o que a outra pessoa está dizendo; colocam a mão no queixo, apoiando o cotovelo na mesa e durante uma conversa não olham diretamente para o interlocutor, mas parecem focalizar algo bem longe, fora do contexto. Gestos “não instrumentais”, como contrair os músculos, se coçar e mudar de posição, também costumam revelar esse estado mental. A novidade agora é que máquinas podem detectar sinais de inquietação. Um novo estudo mostra que, quando usuários de computadores se concentram em material na tela, sua agitação diminui. Algoritmos podem usar essa informação para discernir atenção em tempo real.

 Para medir o envolvimento, o psicobiólogo Harry Witchel, da Faculdade de Medicina Brighton e Sussex, no Reino Unido, pediu a 27 voluntários que usassem marcadores equipados com rastreadores de movimentos para que a câmera de um computador pudesse acompanhá-los. Os participantes do experimento leram trechos digitais de um romance e também dos regulamentos da Autoridade Bancária Europeia. Com base em movimentos da cabeça, do tronco e das pernas, o computador detectou quando uma pessoa tinha se desligado mentalmente. A análise dos movimentos cumulativos revelou que, quando pessoas leram trechos do romance, elas se mexiam quase 50% menos do que quando liam as diretrizes bancárias.

O sistema, descrito em Frontiers in Psychology, se soma às pesquisas sobre “tecnologia afetivo-consciente”, diz Nadia Berthouze, cientista da computação da Universidade College de Londres. Witchel crê que uma futura versão do programa possa criar aulas digitais que percebam quando a atenção do aluno diminui e respondam com estratégias para “redespertar” seu interesse. O sistema ajudaria também a construir robôs emocionalmente mais sensíveis para humanos.

“Em nossa sociedade, o oposto do tédio é o espetáculo, e cada vez mais, se não houver alguém ou alguma coisa para nos distrair, nos entediamos”, afirma o antropólogo Peter Stromberg, autor de Caught in play: how entertainment works on you (Stanford, 2009, não publicado no Brasil). “Todos os que pretendem vender algo ‘estimulante’ têm grande interesse em que fiquemos aborrecidos e empregam recursos enormes para se assegurar de que isso ocorra no instante em que nos afastamos do mundo do entretenimento.”

O pensador francês de origem russa Vladimir Jankélévitch acredita que podemos definir o tédio como uma patologia do bem-estar, uma espécie de “desventura de ser feliz demais”. Tecnicamente falando, porém, o tédio nunca foi identificado como uma patologia, ainda que – associado a outros sinais – esteja entre sintoma de distúrbios mentais como depressão e esquizofrenia. “Nesses casos, o tédio assume características específicas, aparece junto com sensação prolongada de vazio e inutilidade, é contínuo e parece invencível até transformar-se em medo de imaginar o futuro e, em muitos casos, se acentua nas primeiras horas do dia”, afirma o psiquiatra francês Patrick Lemoine.

Embora pouco usados, existem testes como o Boredom Propensity Scale, desenvolvido pelos psicólogos Norman D. Sundberg, professor da Universidade de Oregon, e Richard F. Farmer, do Instituto Oregon Research, composto de 28 perguntas para avaliar a propensão para se entediar. Os psicólogos James Danckert e Ava-Ann Allman, da Universidade de Waterloo, em Ontário, utilizaram a ferramenta para demonstrar como a percepção do tempo tem papel decisivo na experiência subjetiva. Um grupo de 176 estudantes foi submetido ao teste e em seguida subdividido de acordo com os resultados. Depois foi solicitado que observassem um movimento ilusório – um ponto que aparecia e se movia em círculos – e avaliassem em quantos segundos o movimento se concluía.

Os participantes com altos níveis de inclinação ao tédio tendiam a superestimar a duração, enquanto aqueles com pontuação baixa a subestimavam. Ou seja: os entediados crônicos perceberiam a passagem do tempo de forma mais lenta e por isso teriam dificuldade de manter a atenção em algum objeto específico, já que essa atividade seria mais “longa” para eles. Outro estudo desenvolvido na Universidade de Michigan mostrou que o tédio causa alterações no funcionamento do cérebro. Cientistas pediram a voluntários entediados que identificassem letras numa tela durante uma hora inteira, enquanto permaneciam conectados a um equipamento de ressonância magnética que media suas reações neurológicas. Os exames mostraram que, nos momentos em que a sensação de tédio se acentuava, as áreas neurais associadas à visão, à linguagem e ao autocontrole se desconectavam umas das outras, e desempenhar qualquer atividade se tornava bastante penoso. Esse funcionamento explica, por exemplo, por que quando estamos entediados temos dificuldade de assimilar informações (pense em como é difícil aprender qualquer coisa numa aula chata) e comemos mesmo sem fome, como se nos “desligássemos” da sensação prazerosa de comer ou mesmo da necessidade de nos nutrir. Não por acaso, quando estamos entediados em casa, abrimos várias vezes a geladeira e nos contentamos em comer coisas nem sempre muito saborosas ou que nos fazem bem.

 UM ABORRECIMENTO ANTIGO

Para a filosofia, o conceito de tédio surgiu no início da Idade Moderna. O primeiro a mencioná-lo foi o francês Blaise Pascal, que atribuiu à ideia uma acepção religiosa, relacionada ao sentimento de desespero do homem ligado ao pecado original. “A referência era uma angústia que somente a busca de Deus poderia combater”, explica o professor de filosofia Roberto Garaventa, da Universidade de Chieti, estudioso do tema. A palavra “tédio” deriva do latim taedium (desgosto, aborrecimento, enfado), desdobramento da expressão in odio habere – ter ódio, detestar. Outros pensadores também dedicaram atenção ao tédio, como o italiano Giacomo Leopardi (1798-1837), que o via “como o desejo de felicidade deixado em estado puro, sem ter em vista um projeto”; o dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) e Schopenhauer, para os quais a vida oscilava entre a dor e o tédio, sendo este a demonstração da inutilidade da existência humana: se nossa existência tivesse valor efetivo, seria suficiente para nos satisfazer – e o aborrecimento profundo sem causa clara não existiria. Mas o filósofo que mais se dedicou ao tédio foi Martin Heidegger (1889-1976). Ele escreveu mais de 100 páginas sobre o tema, embora fale, mais especificamente, sobre angústia (Angst), um estado caracterizado pelo medo que prenuncia a visão trágica do existencialismo. “Em suas aulas, ele descrevia o tédio que coloca o homem diante da perda do sentido da existência. Há, no entanto, outros tipos de tédio: o da espera de algo que deve ocorrer e se resolve com o evento esperado e o que nasce da repetição da existência, definido como bovarismo, em alusão à protagonista do romance de Gustave Flaubert Madame Bovary”, lembra Garaventa.

 Está entediado, o computador sabe.2

QUANDO A VIDA PARECE SEM GRAÇA

*Escala de Propensão do Tédio (BPS), desenvolvida pelos psicólogos Norman D. Sundberg e Richard F. Farmer, mede a tendência de uma pessoa a se tornar entediada, o que – dependendo de outras características de personalidade – pode revelar inclinação à depressão ou busca de comportamentos que provoquem emoção. As afirmações são pontuadas de 1 a 7, com 1 para “discordo totalmente” e 7 para “concordo completamente”. Quanto mais alta a contagem final, maior a suscetibilidade ao tédio

  1. Tenho facilidade para me concentrar no que estou fazendo.
  2. Quando trabalho, me pego sempre pensando em outros problemas.
  3. Parece-me que o tempo passa sempre muito devagar.
  4. Muitas vezes me sinto perdido, sem saber o que fazer.
  5. Muitas vezes me vejo enredado em situações nas quais devo fazer coisas sem sentido.
  6. Assistir a filmes na casa de amigos é um tédio mortal.
  7. Nunca me faltam projetos, coisas para fazer.
  8. Não tenho problemas em me divertir sozinho.
  9. Muitas das coisas que devo fazer são monótonas e repetitivas.
  10. Em comparação com a maioria das pessoas, preciso de mais estímulos para “funcionar” adequadamente.
  11. Acho a maioria das coisas que faço excitante.
  12. Meu trabalho raramente é fonte de entusiasmo.
  13. Em qualquer situação, consigo encontrar algo interessante para ver ou para fazer.
  14. Penso muitas vezes em ficar sentado sem fazer nada.
  15. Sou capaz de esperar pacientemente.
  16. Tenho, em geral, tempo disponível e nada para fazer.
  17. Fico impaciente quando sou obrigado a esperar, por exemplo, numa fila.
  18. Muitas vezes acordo com uma nova ideia na cabeça.
  19. Para mim seria muito difícil encontrar um trabalho suficientemente estimulante.
  20. Gostaria de enfrentar mais desafios em minha vida.
  21. Na maior parte do tempo, tenho a sensação de trabalhar abaixo de minhas capacidades.
  22. Muitas pessoas me definiriam como uma pessoa criativa e dotada de imaginação.
  23. Tenho tantos interesses e falta tempo de ir atrás de todos.
  24. Entre os meus amigos, sou o mais persistente.
  25. Se não estou empenhado em uma atividade excitante ou perigosa, parece que vou morrer de tédio.
  26. Novidades e mudanças são indispensáveis para me deixar realmente feliz.
  27. Tenho a impressão de que na televisão e no cinema vejo sempre as mesmas coisas, assuntos velhos.
  28. Quando era mais jovem, me via muitas vezes em situações monótonas. 

* O resultado não tem caráter diagnóstico.

OUTROS OLHARES

SEXO E BEBIDA: NEM SEMPRE UMA COMBINAÇÃO PRAZEROSA

Muitos acreditam que a interação social se torna mais fácil depois do uso de álcool e ainda enfatizam que propicia um desempenho sexual mais satisfatório. Será mesmo?

Sexo e bebida - uma combinação nem sempre prazerosa

O consumo de bebidas alcoólicas e o uso de outras drogas, por exemplo cocaína, maconha, anfetaminas, podem influenciar para que o indivíduo se envolva em comportamentos sexuais de risco, como sexo desprotegido (não usar preservativos), além de atividades sexuais que poderiam ser consideradas abusivas caso a pessoa não estivesse sob efeito dessas substâncias.

As bebidas alcoólicas, para muitos, facilitam a interação social, e seu uso pode ser considerado como um aditivo para promover os encontros sexuais; há a crença de que ingerir álcool propicia um desempenho sexual mais satisfatório, pois aumenta o prazer durante o ato sexual ao diminuir a ansiedade e a inibição; por sua vez, o seu uso influencia na tomada de decisões, o que pode ser prejudicial.

O álcool provoca diversas alterações no organismo. Durante o seu uso, ele age diretamente no sistema nervoso central, provocando desinibição e reduzindo a capacidade de julgamento. Em geral, a mesma quantidade de bebida alcoólica afeta mais rapidamente pessoas do gênero feminino em relação ao gênero masculino; ao deixar que as mulheres fiquem mais vulneráveis, não é incomum ouvirmos a ocorrência de comportamentos sexuais considerados agressivos, além da própria violência por si, quando as pessoas estão alcoolizadas. Uma pesquisa mostrou que mulheres universitárias, durante o efeito do álcool, praticavam sexo sem preservativo com maior frequência em relação às que não consumiam bebidas alcoólicas.

Estudos também demonstram a associação entre o uso abusivo de álcool e maior vulnerabilidade para as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo a Aids -, como a crítica fica prejudicada, a capacidade de ponderação para situações de risco diminui. Além do mais, a desinibição do comportamento pode fazer com que o uso de preservativos durante a atividade sexual não tenha a mesma importância, caso as pessoas não estivessem sob seu efeito.

Pesquisas demonstram que aqueles que ingerem bebidas alcoólicas em maior quantidade e frequência têm mais chances de se envolverem em comportamentos de risco (inclusive os sexuais). Não podemos esquecer que o uso do álcool é socialmente aceito, desde que não seja em excesso – é o que habitualmente escutamos. Entretanto, um estudo que pesquisou a associação entre práticas sexuais e o consumo de bebidas alcoólicas, com frequentadores de bares em diversas cidades da Europa, evidenciou que os indivíduos que ingeriram grandes quantidades de álcool nas quatro semanas antes do início da pesquisa eram os mais suscetíveis para se envolverem em situações de risco (sexo desprotegido, múltiplas parcerias, comportamento violento), além de serem os que referiam mais arrependimento relacionado a essas circunstâncias. Outro estudo com pessoas jovens que frequentam bares mostrou que o uso de álcool estava associado à não utilização de preservativo durante a atividade sexual e a comentários de esquecimentos do que havia ocorrido em termos de comportamentos sexuais, por exemplo: se determinada prática sexual havia sido consensual ou não.

Outro aspecto que merece consideração é o consumo de bebidas alcoólicas entre os adolescentes. Estudos apontam que o seu uso está associado a comportamentos de risco, maior predisposição para as DSTs e gravidez indesejada. Além do mais, quanto antes os adolescentes começam a beber, maiores são as chances de envolvimento nas situações já mencionadas. Do mesmo modo, a puberdade é uma fase em que as habilidades sociais estão se desenvolvendo; assim sendo, ingerir bebida alcoólica, durante a atividade sexual, tem sido relatado pelos adolescentes como um recurso que facilita na conquista de parceiros sexuais, entretanto estudos apontam que uma das implicações são as práticas sexuais desprotegidas.

Portanto, mais do que nunca, é imprescindível que conheçamos os efeitos que o álcool ocasiona no organismo, mas também, do risco e da vulnerabilidade que o uso de bebidas alcoólicas acarreta no psiquismo, como a capacidade de julgamento, e consequentemente, na percepção do prazer associado à atividade sexual.

 Sexo e bebida

GIANCARLO SPIZZIRRI –  é psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em Sexualidade Humana da USP.

GESTÃO E CARREIRA

UM POUCO DE CIÊNCIA PARA ARRUMAR EMPREGO

Se em tempos de economia mais equilibrada já vale a pena recorrer a algumas constatações embasadas em pesquisas para aumentar as chances de obter uma colocação profissional desejada, em época de escassez de vagas esses conhecimentos podem ser ainda mais valiosos.

Um pouco de ciência para arrumar emprego

Os índices de desemprego nunca estiveram tão altos no país. Os números impressionam: no trimestre encerrado em janeiro, ficou em 12,6%, o que representa a maior taxa da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que começou a ser acompanhada em janeiro de 2012. De novembro do ano passado a janeiro, a população desocupada chegou a 12,9 milhões de pessoas, número 7,3% maior do que o registrado no trimestre de agosto a outubro de 2017. Diante do período de novembro a janeiro do ano passado, o aumento foi ainda maior: 34,3%. Na prática, equivale a dizer que as vagas disponíveis estão mais escassas – e concorridas. Mais do que nunca, algumas atitudes podem ser bastante úteis na hora de pleitear um posto de trabalho. E as descobertas científicas melhoram as chances dos candidatos de processos seletivos.

FAÇA UMA PEQUENA ARRUMAÇÃO

Antes mesmo que comece a enviar suas solicitações de emprego, é prudente se livrar de conteúdos digitais potencialmente prejudiciais (conversas políticas, selfies tomando cerveja, comentários preconceituosos, reclamações sobre seu atual empregador). “Atualmente, é quase certeza que o futuro patrão faça uma busca nas contas de mídia social do profissional”, diz a psicóloga Therese Macan, professora da Universidade de Missouri St. Louis, que estuda o processo de seleção e recrutamento de funcionários. “Se o seu Facebook, Twitter, Instagram e outras redes não forem privados, o entrevistador pode construir uma impressão sua antes mesmo que você entre na sala; por isso, é indicado pelo menos fazer uma busca sua no Google para ver o que aparece quando seu nome é digitado. ”Também é interessante fazer busca no LinkedIn para ver se há mais alguém no seu ramo com o mesmo nome (e um perfil cheio de erros de digitação, eventualmente, algo que pode ser péssimo para sua carreira). “Uma das minhas alunas de pós-graduação descobriu que havia mais alguém na região onde morava, em um departamento de psicologia, que tinha um nome incomum exatamente igual ao seu e tinha uma foto provocativa em seu site. Ela teve de assegurar aos seus empregadores de que não se tratava dela”, lembra a professora.

PREPARE ALGUMAS RESPOSTAS- CHAVE

Muitas empresas utilizam as chamadas entrevistas estruturadas, que se concentram em solicitar aos candidatos que descrevam comportamentos passados. Alguns exemplos: “Conte-me sobre um tempo em que trabalhou com um colega com quem era difícil se relacionar e o que você fez para lidar com a situação”, ou “Conte-me sobre um projeto difícil em que trabalhou e como conseguiu realizá-lo”. Procure dar exemplos concretos daquilo que fez naquelas situações, diz Macan. “Para imaginar quais são as possíveis perguntas, pense sobre aquilo que o trabalho implica. Ele exige que as pessoas atuem em equipe? Requer que o profissional se apresente diante das pessoas?  Então pode ser que lhe peçam que descreva esses momentos de seu passado. ”Outra opção é buscar um profissional da área de psicologia que o ajude a lidar com situações que a pessoa sabe que será difícil enfrentar. Há alguns anos, os pesquisadores de gestão Todd Maurer e Jerry Solamon constataram que 91% das pessoas que se submeteram a um programa de treinamento de entrevista sentiram que isso as havia ajudado a ter um melhor desempenho em suas entrevistas reais.

IMAGINE-SE CONSEGUINDO SEU OBJETIVO

A visualização se tornou um recurso essencial de treinamento para atletas de elite – e há fortes evidências de que possa funcionar para candidatos a empregos também. As pessoas que usaram a técnica ficaram menos estressadas e conseguiram melhores avaliações do que aquelas que não o fizeram, segundo um estudo de 2003 publicado no Journal of Managerial Psychology. O protocolo de 10 a 20 minutos é bastante simples: imagine sentindo-se confiante e no controle durante o curso de uma entrevista, então mentalize a coisa toda culminando em uma oferta de emprego que lhe agrade muito. Quanto mais detalhada e realista for a visualização, mais benefícios a técnica trará – não porque “magicamente” a pessoa terá acesso ao posto que almeja, mas porque estará mais confiante e com mais clareza para atingir seu objetivo.

TIRE PROVEITO DE SUAS HABILIDADES

Costuma ser bastante desagradável quando alguém abertamente se gaba de si mesmo. Mesmo assim, um estudo de 2013 no Journal of Applied Social Psychology confirmou que fazer autopromoção com algum entusiasmo durante uma entrevista pode ser uma coisa boa. Cerca de 70 gravações de entrevistas simuladas de emprego foram ouvidas e classificadas por mais de 200 avaliadores. Candidatos que falavam mais, faziam autopromoção, sorriam e elogiavam os entrevistadores – sem exageros – recebiam avaliações muito mais positivas do que as pessoas que agiam de modo mais modesto, como se dessem pouca importância às próprias conquistas. O “segredo” parece ser mostrar valorização das próprias conquistas e capacidades, sem superestimá-las nem tecer elogios mentirosos ou fantasiosos a si mesmo, à empresa ou ao avaliador.

Um pouco de ciência para arrumar emprego.2

DO OUTRO LADO DO BALCÃO

Avaliação de currículos, pesquisas em redes sociais, testes e outros tantos recursos são importantes na hora de escolher um funcionário ou colaborador. Mas a empatia e a intuição também são fundamentais na decisão para uma boa contratação. O objetivo do recrutador, seja o diretor de recursos humanos, o gerente ou diretor de determinada empresa, é encontrar a pessoa que melhor se adapte às necessidades, à missão e à cultura da instituição. Tradicionalmente, o responsável por essa tarefa cria algum tipo de anúncio para a vaga, em alguns casos envia para empresas especializadas em divulgação e seleciona ofertas e, em geral, referências são bem-vindas. Por fim, são convocados alguns candidatos para entrevista. Na maioria os casos, entretanto, esse processo não considera importantes descobertas da psicologia organizacional. Testes de inteligência, por exemplo, podem indicar possibilidades de desempenho em diversas áreas de trabalho e ajudam a inferir a capacidade de aprender, o que pode ser eficaz durante o treino que será oferecido pela empresa. No entanto, a ferramenta não é a primeira opção para a maioria das empresas devido aos custos.

Pesquisas recentes apontam que entrevistas semiestruturadas, ou seja, em que vários interessados numa vaga respondem às mesmas perguntas, são preferíveis a conversas não técnicas. O método ajuda diferentes avaliadores a chegar a conclusões semelhantes a respeito da mesma pessoa. Apesar disso, ainda predominam os tradicionais “bate-papos” na hora da seleção, em parte porque provavelmente os contratantes não se dão conta das falhas desse tipo de abordagem ou por acreditarem que seguir um método pode interferir em sua autonomia.

Outra estratégia interessante que vem ganhando espaço nesse cenário enfatiza o aspecto lúdico, usando jogos online para avaliar candidatos. A vantagem em relação às técnicas tradicionais, como testes de personalidade, é propor uma experiência mais atraente ao participante. O recurso é baseado em teorias comportamentais e ajuda a identificar padrões de acordo com as ações do jogador, por meio de um software que gera um complexo perfil de personalidade.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 5: 17-30 – PARTE I

Alimento diário

A Discussão de Cristo com os Judeus. Todo julgamento foi entregue a Cristo. O Privilégio Cristão

Temos aqui a dissertação de Cristo na ocasião em que foi acusado de ser um infrator do sábado, e esta parece ser a justificativa que o Senhor apresentou perante o Sinédrio, quando foi acusado perante eles. Ela pode ter sido expressa no mesmo dia, e não parece ter sido expressa dois ou três dias depois. Provavelmente, foi no mesmo dia. Observe:

I – A doutrina formulada, através da qual Jesus justificou o que fez no dia de sábado (v. 17): Ele “lhes respondeu”. Isto sugere a possibilidade de Ele ter sido acusado de alguma coisa. Ou Ele sabia o que eles sugeriram uns aos outros, quando procuravam matá-lo (v.16), e deu esta resposta: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Em outras ocasiões, em resposta a uma acusação similar, o Senhor lembrou o exemplo de Davi, que comeu o pão da proposição, que pertencia aos sacerdotes que imolavam os sacrifícios, e também o povo dando de beber ao gado no sábado. Porém, aqui Ele vai mais longe e alega o exemplo do seu Pai e sua autoridade divina. Renunciando a todas as outras alegações, Ele insiste naquela que seria equivalente ao todo, e mantém-se fiel àquela que Ele havia mencionado em Mateus 12.8: “O Filho do Homem até do sábado é Senhor”. Mas aqui Ele a amplia.

1. Ele declara abertamente que é o Filho de Deus, ao chamar Deus de seu Pai, e, sendo assim, sua santidade era inquestionável, e sua soberania era incontestável, e Ele podia fazer a alteração que quisesse na lei divina. Com certeza, eles respeitarão o Filho, o herdeiro de tudo.

2. Ele declara que trabalha junto a Deus.

(1) “Meu Pai trabalha até agora”. O exemplo do descanso de Deus no sétimo dia, de todo o seu trabalho, está no quarto mandamento e serve como base para nós o guardarmos como o sábado ou o dia de descanso. Agora Deus simplesmente descansava de trabalho semelhante, da mesma forma como fizera nos seis dias anteriores. Porém, Ele trabalha até hoje, Ele está trabalhando todos os dias, dias de sábado e dias da semana, cuidando e regendo todas as criaturas e contribuindo para sua própria glória, através de sua providência universal para todos os movimentos e atividades da natureza. Por isso, quando nos é ordenado que descansemos no dia de repouso, ainda assim não somos impedidos de fazer aquilo que tem a finalidade de glorificar a Deus, como tinha o homem ao carregar sua cama.

(2) “Eu trabalho também”. Não apenas por isso eu posso trabalhar, como Ele, fazendo o bem nos dias de sábado como nos outros dias, mas eu também trabalho com Ele. Assim como Deus criou todas as coisas através de Cristo, da mesma forma Ele sustenta e governa tudo através dele, Hebreus 1.3. Isto coloca o que Ele faz acima de qualquer contestação. Aquele que é um trabalhador tão formidável deve necessariamente ser um regente incontrolável. Aquele que faz tudo é o Senhor de tudo, e, portanto, Senhor do sábado, tem este poder especial e autoridade que agora afirma ter. E Ele estava a ponto de mostrar ainda mais estes atributos, na mudança do dia do repouso, do sétimo dia da semana para o primeiro dia da semana.

II – O escândalo que sua doutrina causou (v. 18): “Os judeus ainda mais procuravam matá-lo”. Sua defesa se tornou seu escândalo, como se, ao se justificar, Ele tivesse tornado o ruim pior. Note que aqueles que não forem iluminados pela palavra de Cristo, se enfurecerão e exasperarão por causa dela, e nada mais atormenta os inimigos de Cristo do que Ele declarar sua autoridade. Veja Salmos 2.3-5. Eles procuravam matá-lo:

1. Porque Ele havia quebrantado o sábado, pois o que quer que Ele diga em sua própria justificação, eles estão resolvidos, seja certo ou errado, a julgá-lo culpado por quebrantar o sábado. Quando a maldade e a inveja fazem o julgamento, a razão e a justiça podem muito bem permanecer caladas no tribunal, pois o que quer que elas possam dizer será, sem dúvida, rejeitado.

2. Não somente isto, mas Ele também havia dito que Deus era seu Pai. Agora, eles fingem que têm zelo pela honra de Deus, como fizeram antes pelo sábado, e acusam a Cristo disso, como se o fato de Ele ter se igualado a Deus fosse um crime monstruoso. Porém, um crime monstruoso teria sido se Ele realmente não o fosse. Este foi o pecado de Lúcifer: “Serei semelhante ao Altíssimo”. E:

(1) Isto foi, de maneira correta, inferido do que Ele disse, que Ele era o Filho de Deus, e que Deus era seu Pai, seu próprio Pai. Seu, como se Ele não fosse de mais ninguém. Ele havia dito que trabalhava com seu Pai, pela mesma autoridade e poder, e, por meio disto, Ele se fez igual a Deus. Eis que os judeus entendem o que os arianos não entendem.

(2) Ainda assim, o fato de Ele se igualar a Deus foi lhe injustamente atribuído como uma transgressão, pois Ele era e é Deus, igual ao Pai (Filipenses 2.6). E por isso, em resposta a esta acusação, Cristo não se opõe à insinuação como sendo artificial ou forçada, comprova sua afirmação e mostra que Ele é igual a Deus, em poder e glória.

III – O sermão de Cristo sobre este caso, que continua, sem interrupção, até o fim do capítulo.

Nestes versículos, Ele explica, e posteriormente confirma, sua autoridade como Mediador e embaixador no pacto entre Deus e o homem. E a glória que a Ele é conferida por meio disto é tal, que ninguém é digno de receber. Assim também o trabalho que por meio disto lhe é confiado é tal, que não é possível para qualquer ser humano levar a cabo, e, portanto, Ele é Deus, igual ao Pai.

1. Em geral. Ele é um com o Pai em tudo o que faz como Mediador, e havia um entendimento perfeitamente virtuoso entre Eles em todos os assuntos. Isto é introduzido com um prefácio solene (v. 19): “Na verdade, na verdade vos digo”. “Eu, o Amém, o Amém, o digo”. Isto implica em que as coisas declaradas são:

(1 ) Muito impressionantes e notáveis, de tal maneira que exigem a mais solene atenção.

(2) Muito confiáveis, de tal maneira que exigem um reconhecimento sincero.

(3) Que estes são puramente assuntos de revelação divina, coisas que Cristo nos disse, e cujo conhecimento não alcançaríamos de outra forma. Duas coisas Ele diz, de forma geral, relativas à igualdade do Filho com o Pai quanto ao trabalho:

[1] Que o Filho age conforme o Pai “(19): “O Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai”, pois o Filho faz tais coisas. O Senhor Jesus, como Mediador, é, em primeiro lugar, obediente, à vontade do seu Pai. Tão completamente obediente que Ele por si só não pode fazer coisa alguma, no mesmo sentido em que é dito: “Deus não pode mentir; não pode negar-se a si mesmo”, o que expressa a perfeição de sua verdade, não qualquer imperfeição em sua força. Assim aqui, Cristo era tão inteiramente devotado à vontade de seu Pai, que era impossível para Ele agir separadamente em qualquer coisa. Em segundo lugar; Ele pratica o desígnio do seu Pai. Ele não pode fazer e não fará nada, exceto o que vir seu Pai fazer. Ninguém pode descobrir a obra de Deus, mas o Filho unigênito, que repousava em seu seio, vê o que Ele faz, está intimamente familiarizado com seus desígnios e tem os planos destes sempre diante de si. O que Ele fez como Mediador, ao longo de todo o seu empreendimento, era a transcrição exata ou a reprodução do que fez o Pai. Ou seja, o que Ele planejou, quando criou o plano da nossa redenção em seus desígnios eternos, e determinou esses padrões em todas as coisas. Estes padrões nunca poderiam ser violados, e jamais precisariam ser modificados. Era a cópia do notável original. A fidelidade de Cristo, como foi a de Moisés, levou-o a fazer tudo de acordo com o modelo que lhe fora mostrado no monte. Isto está expresso no tempo presente, que Ele vê o Pai fazer. Por esta razão, quando Ele esteve aqui na terra, foi dito: Ele está no céu (cap. 3.13), e está no seio do Pai (cap. 1.18). Por sua natureza divina, o Senhor também estava, na mesma hora, completamente ciente daquilo que se passava no céu. O Filho tinha sempre em vista aquilo que o Pai planejou e designou, e já o tinha em vista quando Davi, em espírito, falava dele: “Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim”, Salmos 16.8. Em terceiro lugar, ainda assim, Ele é igual ao Pai ao trabalhar, pois sejam quais forem as coisas que o Pai faz, essas também o Filho faz: “Tudo quanto ele [o Pai] faz, o Filho o faz igualmente”. Ele fazia as mesmas coisas, não coisas similares, mas as mesmas coisas, e Ele as fazia da mesma forma, igualmente, com a mesma autoridade, liberdade e sabedoria, com a mesma energia e eficácia. O Pai decreta, rejeita e altera leis positivas? Ele desconsidera o curso da natureza e conhece os corações dos homens? Da mesma forma, o Filho. O poder do Mediador é o poder divino.

[2] Que o Pai se comunica com o Filho, v. 20. Observe: Em primeiro lugar, a indução a isso: “O Pai ama ao Filho”. Ele afirmou: “Este é o meu Filho amado”. Ele não tinha apenas boa vontade para com a empreitada, mas uma infinita complacência com o empreiteiro. Cristo era agora odiado pelos homens, alguém que as nações abominavam (Isaias 49.7), mas Ele se consolava com o fato de saber que seu Pai o amava.

Em segundo lugar, os exemplos do seu amor. Ele o mostra:

2. aquilo que comunica ao Filho: Ele “mostra-lhe tudo o que [Ele próprio] faz”. As leis do Pai ao fazer e governar o mundo são mostradas ao Filho, para que Ele possa utilizar as mesmas ações ao compor e dirigir a igreja, cujo trabalho devia ser uma duplicação da obra da criação e da providência, e é por causa disso chamado “o mundo futuro”. Ele lhe mostra todas as coisas que ele faz, isto é, que o Filho faz, assim pode ser interpretado. Tudo que o Filho faz é por orientação do Pai. Ele lhe mostra.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

AS DUAS FACES DO NASCISISMO

Para entender melhor esse traço – necessário para a autoestima, mas que em excesso prejudica relacionamentos –, psicólogos criam “subdivisão”, com base em características de personalidade.

As duas faces do narcisismo

Narcisismo é um daqueles termos bastante usados por muita gente, mas nem sempre da forma como o fazem psicólogos e psicanalistas. No senso comum, aliás, muitas vezes assume conotação pejorativa, como sinônimo de egoísmo ou orgulho. Para a psicanálise, é um aspecto fundamental para a constituição psíquica. Nos primeiros anos de vida, é importante ter a sensação de que somos amados e valorizados para um desenvolvimento emocional saudável. Aos poucos, porém, conforme vamos crescendo e nos fortalecemos, percebemos que as frustrações são inevitáveis e podemos sobreviver a elas. Fundamental para confirmar e sustentar a autoestima, o amor-próprio se traduz de maneiras variadas, que incluem desde cuidados consigo mesmo até tolerância aos próprios erros e capacidade de se expor, seja dançando ou falando em público, por exemplo. O exagero, no entanto, indica a fixação numa identificação vivida na infância – o que pode comprometer relacionamentos tanto na vida pessoal quanto profissional e causar grande insatisfação. Atualmente, vários psicólogos consideram uma distinção entre dois aspectos marcantes do narcisismo: busca de admiração e reconhecimento de um lado; competição e tendência a desenvolver rivalidades do outro. Pesquisas recentes se dedicaram a investigar o comportamento de um tipo específico de profissional, associado à busca literal de aplausos: os atores. As observações revelam nuances interessantes de personalidades em que predominam traços narcísicos. Por exemplo, os artistas pareciam desejar a admiração muito mais fortemente do que a maioria das pessoas, no entanto tendiam a ser menos competitivos do que a média: almejavam ser o centro das atenções, mas não necessariamente tentavam impedir que os outros alcançassem esse lugar. Esse novo jeito de compreender o narcisismo, considerando duas dimensões, aparece pela primeira vez em um artigo publicado no Journal of Personality and Social Psychology.  “Teorias e medidas anteriores abordavam o traço a partir de uma construção unitária, relacionando aspectos denominados “agênticos”, como assertividade e dominância, com antagônicos, agressividade e desvalorização dos outros, por exemplo”, observa o psicólogo Mitja Back, professor da Universidade de Münster, na Alemanha, principal autor do estudo. Juntar esses dois elementos, porém, pode confundir a compreensão do comportamento narcisista. A equipe de Back estudou centenas de indivíduos saudáveis e descobriu que as características relacionadas a esse tipo de personalidade podem ser agrupadas em duas categorias que, de qualquer forma, servem para manter a autoimagem positiva. Quem se autopromove pode aumentar as chances de conseguir elogios, enquanto aqueles que assumem uma posição defensiva, não raro, tentam humilhar outros para se defender de críticas. A busca pela admiração e a rivalidade provocam efeitos diferentes sobre a linguagem do corpo, a qualidade dos relacionamentos e a personalidade. O artigo mais recente sobre o tema, publicado na Social Psychological and Personality Science, mostra que atores e estudantes de teatro foram considerados por si mesmos e por outros como mais preocupados com a admiração quando comparados com pessoas que não eram da área. “Embora ganhar papéis relevantes exija competir com os colegas, trabalhar em grupo requer colaboração – e esse aspecto também os atrai: os resultados mostram que atores tendem a apresentar poucos comportamentos de rivalidade”, diz o coordenador da pesquisa, psicólogo Michael Dufner, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, que colaborou com Back nos dois artigos. “Esse resultado nos faz pensar que, embora as pessoas sejam egoístas, não vão necessariamente ‘puxar o tapete’ das outras.” Back observa ainda que aquilo que nos atrai em parceiros sociais à primeira vista não costuma ser o que nos deixa satisfeitos em relações de longo prazo. “Mas em todos os casos um fato tende a se repetir: mesmo que pessoas com traços predominantemente narcisistas apresentem um lado brilhante e encantador, quase sempre é questão de tempo antes que essa imagem se desfaça e aqueles que estão por perto se afastem”, acredita Back.

As duas faces do narcisismo2

O RAPAZ QUE SE APAIXONOU PELA PRÓPRIA IMAGEM

Segundo o mito grego, Narciso era uma criança tão bela que sua mãe resolveu pedir conselhos ao sábio Tirésias sobre o futuro do garoto. O ancião lhe disse que o menino teria uma vida curta se mirasse a própria imagem. Na adolescência, Narciso era um jovem belíssimo, mas muito orgulhoso. Um dia, inclinou-se num lago para matar a sede, quando viu seu reflexo e encantou-se pela própria imagem. Deslumbrado, não comia nem dormia. Uma jovem chamada Eco, apaixonada por ele, tentava chamar sua atenção, mas Narciso só olhava para si mesmo. Realiza-se, então, a profecia de Tirésias: o rapaz mergulha no espelho e desaparece no encontro impossível, perdendo-se na própria imagem, sem perceber a possibilidade de um encontro efetivo com Eco.Com base no mito, Freud desenvolveu um dos conceitos mais importantes de sua teoria – o narcisismo. Mencionado pela primeira vez em seus escritos em 1909, é apresentado como uma fase própria do desenvolvimento humano, quando se realiza a passagem do autoerotismo, do prazer centrado no próprio corpo, para o reconhecimento e a busca da satisfação fora de si mesmo.

OUTROS OLHARES

A CASA CAIU

Por que o Brasil passou a comprar reais no exterior?

A casa caiu

A observação do dinheiro de um país é uma maneira interessante de conhecer sua história. Através dos tempos, cédulas e moedas narram ascensão e queda de poderosos, homenageiam heróis (e os relegam ao ostracismo), registram batalhas épicas, exibem símbolos nacionais e recebem marcas temporárias, como carimbos. A esses elementos visuais, somam-se marcas que chamam menos a atenção, como quem assina a cédula e o nome do fabricante daquele dinheiro. Esse último elemento, praticamente imperceptível, é o foco de uma licitação internacional do Banco Central (BC) brasileiro e de uma discussão que está apenas começando. No início de junho, cinco empresas de quatro continentes atenderam a um edital para a fabricação de 211 milhões de moedas, de RS 0.05 a RS 1. As Casas da Moeda do Chile, do Canadá, da Finlândia, da Polônia e da Índia enviaram suas credenciais e disputarão a encomenda, de olho em um dos maiores mercados consumidores de dinheiro do mundo. A demanda do BC por cédulas em 2018 é de 1,4 bilhão de unidades, o que equivale a cerca de 20 % de toda a produção da Thomas De La Rue, a maior fabricante privada de dinheiro do mundo.

Esse é o segundo movimento do BC em dirão ao mercado internacional de cédulas e moedas em dois anos. Em 2016, por meio de Medida Provisória, o governo Michel Temer autorizou o BC – a quem compele a emissão de papel-moeda e moeda metálica – a importar dinheiro, tirando da Casa da Moeda a garantia de exclusividade na produção de dinheiro no Brasil. A MP estabeleceu que a inviabilidade, a “fundada incerteza” ou o descumprimento de prazos quanto ao atendimento da demanda por dinheiro caracterizam situação de emergência. Com base nela, o BC foi dispensado de abrir licitação e enviou carta-convite a 14 grandes empresas de 12 países. A Crane AB, empresa americana com sede na Suécia, foi a escolhida para fornecer 100 milhões de cédulas de RS 2 ao BC. A compra chamou a atenção basicamente dos colecionadores, que acompanham qualquer mudança no dinheiro brasileiro e chegaram a pagar, na ocasião, quase RS s por cédula. Paro o público, a diferença é praticamente imperceptível: em vez de casa da Moeda do Brasil, lê-se nas notas “Crane AB”, em letras miudíssimas.

O comércio internacional de dinheiro é dominado por não mais do que 20 grandes empresas, que abaste cem todas as nações do mundo e operam uma complicada logística de transporte por terra, mar e ar, garantida por altíssimas apólices de seguro e resseguro. A logística é desafiadora pelo valor e pelos volumes é pesos das cargas. Em 2016, as cédulas de RS 2 constituíram uma carga de 5 mil caixas, cada uma com 20 mil cédulas e peso total aproximado de 81 toneladas, transportada de Estocolmo para Brasília de avião, devido à emergência da entrega – a carta convite foi feita em setembro com o fim do prazo de entrega marcado para 31 de dezembro. Agora, as moedas que são objeto do edital de pré­qualificação em curso virão de navio em 41.4o8 caixas, que pesam em conjunto mais de 1.200 toneladas.

Naufrágios, sequestros de aviões, ataques terroristas e quadrilhas de piratas poderiam fazer parte da trama. No entanto, uma simples leitura cotidiana do noticiário internacional joga essa parte mais apimentada do enredo para o terreno da ficção. Já no quesito roubo de cargas nos portos e nas estradas no Brasil, os motivos de preocupação são reais. Mas o Banco Central afirma que não há motivo de alarme, uma vez que já existe uma larga experiência acumulada na distribuição de numerário em país de dimensões continentais como o Brasil. “Estamos bem tranquilos quanto à segurança, disse o advogado Marcel Mascarenhas, procurador do BC. “Temos a estrutura necessária e o apoio das Policias Militares dos estados.”

O advogado Rodrigo Ferreira, da Casa da Moeda, atenta para riscos que considera mais graves do que roubos e acidentes, como o inevitável compartilhamento de segredos industriais e itens de segurança com empresas estrangeiras. O BC assegura que há uma legislação severa de acesso à informação e uma garantia de sigilo com as quais todas as casas impressoras se comprometem. Ferreira, no entanto, vê com preocupação principalmente a compra externa de moedas, produto mais vulnerável à falsificação do que as cédulas, que têm itens de segurança como marca d’água papel especial e outros. Mascarenhas, do BC, rebate com a convicção de que a concentração do mercado é fator de tranquilidade. “Existem poucas grandes produtoras no mundo. E o grande ativo delas é a segurança”, disse. O BC informou também que todos os procedimentos de verificação de conformidade obrigatórios para o dinheiro produzido no Brasil são seguidos quando o produto vem de fora. Durante o desenvolvimento e a produção das cédulas pela Crane AB, servidores do BC estiveram na fábrica para acompanhar e dar aceite nas etapas de produção e nos elementos de segurança. Posteriormente, foi produzido um lote-prova que foi enviado ao Brasil para testes.

As compras externas de dinheiro não são novidade no Brasil. Fundada em 1694, a Casa da Moeda sempre produziu as moedas metálicas, mas as cédulas foram adquiridas externamente em boa parte do tempo. Entre os anos 1950 e 1970, as cédulas que circulavam aqui eram fornecidas pela Thomas De La Rue. Só a partir de 1973, quando a Casa da Moeda foi transformada em empresa pública (antes ero uma autarquia), o termo “do Brasil” foi acrescentado a seu nome, e, dentro da lógica das reservas de mercado do regime militar, ela ganhou exclusividade na fabricação de papel-moeda.  Em 1994, quando a edição do Plano Real exigiu a substituição de todo o meio circulante brasileiro – em números de hoje, 6,2 bilhões de cédulas e 19,6 bilhões de moedas-, foi preciso importar apenas cerca de 10% da dinheirama. De lá para cá, não tinham acontecido novas compras externas.

As que acontecem agora tem diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. A resolução mais recente do CMN estabelece que, para o ano de 2018, o BC deverá, em caráter excepcional”, destinar à Casa da Moeda um percentual mínimo de 80% dos recursos reservados para adquirir dinheiro. Esse percentual foi estabelecido com a condição de que a estatal mantivesse os preços de 2017 –  o que não só foi atendido, como superado, com descontos de até 50%. Na prática, a importação das moedas, objeto da licitação em curso, é muito inferior aos 20% autorizados. O volume a ser comprado no exterior equivale, em valor, a apenas um sexto da encomenda total de RS 130 milhões em moedas feita pelo BC para este ano. “todo o resto será comprado da Casa da Moeda, assim como a totalidade das cédulas – 1,4 bilhão.

Mas a porta está aberta. E é aí, quando a autorização de importar se torna ampla, como um instrumento do qual o Banco Central pode lançar mão regularmente, que está o conflito principal entre as duas instituições.

No computo geral, as importações até agora são uma gota no oceano do meio circulante brasileiro, mas este é um assunto que atiça convicções ideológicas poderosas.

O embate mais evidente é aquele que opõe os que acreditam ser a produção de dinheiro uma prerrogativa do Estado e uma garantia de soberania nacional e os que consideram que as Casas da Moeda são gráficas sofisticadas, especializadas em papéis de segurança que podem ser cédulas, selos diversos ou passaportes (todos itens do catálogo da Casa da Moeda brasileira, aliás), capazes ou não de produzir moedas metálicas, mas que, em sua essência, são fábricas como outras quaisquer.

O primeiro grupo enxerga na mudança de política de aquisição do BC uma estratégia para desacreditar a Casa da Moeda e, assim, justificar sua privatização – anunciado em uma lista de 57 estatais em agosto do ano passado e que está parada até hoje. “É preciso desqualificar para justificar a privatização”, afirmou o deputado federal Celso Pansera, do PT fluminense, que preside a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Casa da Moeda, criada no final do ano passado. Por essa visão, a perspectiva de privatizar a estatal põe em risco a execução da política monetária e aumenta o risco de fraudes. O segundo grupo considera que é um passo acertado, uma vez que a Casa da Moeda não é responsável pela política monetária e tem demonstrado a ineficiência característica das estatais, com custos inflados por estruturas inchadas e práticas arcaicas de gestão. “A Casa da Moeda tem de melhorar sua eficiência e ocupar seu espaço no mercado internacional. Essa não é uma atividade estratégica, daqui a 20 anos o papel­ moeda vai ser coisa do passado, coisa de colecionador, disse Marcelo Mello, professor de economia e finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (lbmec).

É exatamente nos quesitos eficiência e competitividade que a Casa da Moeda tem seu calcanhar de Aquiles. Seus preços são expressivamente mais altos que os valores colhidos pelo BC no mercado internacional. No caso da importação de cédulas, a diferença foi de cerca de 20%. O BC gastou RS 20,205 milhões, o que corresponde a um custo por milheiro importado de RS 102,05, em comparação aos RS 242,05 cobrados pelo Casa da Moeda – uma diferença espantosa, levando em conta que a Crane arcou com os custos do transporte aéreo de Estocolmo para Brasília de uma carga de pouco mais de 80 toneladas e do seguro de transporte de valores. Na importação de moedas, o BC estima a diferença de preço em RS 42 milhões, sendo que o volume físico de moedas importadas equivale a quase metade do que foi pedido à estatal.

A Casa da Moeda apresenta uma série de justificativas para a disparidade. A principal é que ela tem a obrigação de manter uma capacidade instalada à disposição do Banco Central, haja ou não demanda, de forma a manter a autossuficiência nacional para a produção de dinheiro. Já os fornecedores estrangeiros fazem seus cálculos com base em suas capacidades ociosas, sem levar em consideração o custo fixo. Além disso, não prestam serviços ao BC. como custódia e perícias, que são incorporados aos preços da Casa da Moeda, nem arcam com o custo Brasil ou a alta carga tributária nacional. Também pesam no custo outros fatores, como um histórico de interferência política na indicação de dirigentes e de ineficiência da gestão, além dos sucessivos prejuízos do Cifrão, fundo de pensão dos empregados da empresa – fundos que a atual administração tem a enfrentar com um corte de gastos que incluiu redução de 20 % em seu quadro funcional.

Marcel Mascarenhas, o procurador do Banco Central, considera esse um problema que diz respeito à gestão da Casa da Moeda, sobre o qual, portanto, o BC não tem por que se manifestar. Ele lembra que a autoridade monetária tem de garantir as demandas da sociedade em “tempestividade, segurança e preço, o que não foi viabilizado pela Casa da Moeda em 2016, configurando a situação de emergência que levou à dispensa de licitação. Foi enviada uma carta-convite a 14 empresas, e seis delas compareceram à reunião de consulta de preços e viabilidade de entrega, realizada no Rio de Janeiro.  Além da Crane, que acabou vencedora por ser a única a se comprometer com o prazo de entrega estabelecido, participaram as alemãs Bundes ­ druckerci e Giesecke & Devrient, a Casa de Moneda de Chile, a inglesa De La Rue e a francesa Obenhur Fíduciaire.

A importação realizada em 2016 foi destaque no Relatório da Auditoria Anual de Contas feito em 2017 pela Corregedoria-Geral da União. Esses relatórios são rotina na administração pública federal. Esquadrinham a prestação de contas de cada órgão, para posterior envio ao Tribunal de Contas da União. O relatório, de 56 páginas, foi aprovado por esse Tribunal, sem nenhuma constatação de irregularidade ou danos ao Erário, como destacou o procurador Marcel Mascarenhas. No entanto, fez ressalvas à gestão da compra de dinheiro e recomenda a adoção de medidas de aprimoramento em tal processo. Em relação à importação de cédulas, questionou a necessidade e a emergência, mostrando que o estoque de notas de RS 2 disponível para o Banco Central era, na ocasião, superior à quantidade que a Casa da Moeda havia admitido ter dificuldade em fornecer. O relatório aponta ainda a demora do BC em fechar a encomenda de 2016, como determinante para a diferença do preço da Casa da Moeda em relação ao valor cobrado pela Crane. Naquele ano, o Programa Anual de Produção do BC foi entregue à Casa da Moeda, em dezembro, mas o controlo só foi assinado em maio, devido a um atraso na definição do Orçamento da Autoridade Monetária.

Esse desencontro foi apenas um entre muitos. A capacidade de atendimento da Casa da Moeda também tem versões conflitantes. O Banco Central sustenta que a empresa vinha atrasando sistematicamente suas entregas, provocando transtornos no abastecimento do meio circulante, como falta de troco. A situação estava insustentável”, disse Marcel Mascarenhas. A estatal admitiu que houve alguns atrasos, mas não a ponto de comprometer o abastecimento, e que sempre atendeu integralmente às encomendas do Banco Central. Especificamente em 2016, houve uma conjunção de problemas. Em julho, dois meses depois da assinatura do contrato, a Casa da Moeda comunicou em oficio ao Banco Central que o programa de produção de cédulas estava comprometido por problemas técnicos em um de seus principais equipamentos. O fornecedor – a alemã KBA – estabeleceu prazo de 12 semanas para solucionar o caso. O ofício informou que a produção de cédulas sofreria uma redução de 280 milhões de unidades nas denominações de RS 2, RS, RS 10 e RS 100. A Casa da Moeda comunicou em setembro ao BC que a situação estava resolvida, mas a decisão de editar a MP 745, que autorizaria a importação, já estava tomada, usando como justificativa o oficio de julho.

Em 2017 não se caracterizou emergência, e como o Banco Central não teria tempo de abrir processo de licitação, no caso obrigatório, ele adquiriu 100% de seu Programa Anual de Produção na Casa da Moeda. Para 2018, o Conselho Monetário Nacional, do qual fazem parte, além do BC, o Ministério da Fazenda e o Ministério do Planejamento, decidiu que era preciso aproveitar a vantagem de preço verificada em 2016, se, mesmo em situação de emergência, com prazo muito curto, a Crane conseguiu oferecer um preço vantajoso, não havia como deixar de lançar mão desse recurso.

Faz parte de nossas obrigações”, disse Mascarenhas. Muitos especialistas acreditam que o mercado internacional de dinheiro físico tende a minguar nos próximos anos. É fato que os meios eletrônicos de pagamento crescem aceleradamente. Mas, no futuro próximo, o papel-moeda continuará a reinar absoluto entre os meios de pagamento mais utilizados no mundo. Os dados são da Thomas De La Rue: hoje, 85% das transações de consumo são feitas em dinheiro. E mais: a demanda média por dinheiro em circulação aumentou em 9% no mundo inteiro, de acordo com dados do relatório de 2017 da Pacific Rim Banknote Conference.

Esse e outros dados formam a base de um trabalho coordenado por Rodrigo Ferreira no Núcleo de Estudos Estratégicos da Casa da Moeda. O Brasil é um mercado extremamente cobiçado no mundo –  como ficou demonstrado na excelente resposta às duas investidas feitas até agora pelo BC. Isso representa uma vantagem de preço quando o país entra no mercado. O outro lado da moeda, segundo o estudo, é que essa mesma demanda pode se tornar um risco se a política do Banco Central caminhar para um grande aumento nas compras externas, deixando a produção local em segundo plano. O relatório anual 2017 da De La Rue indica que, dos cerca de 172 bilhões de cédulas emitidas em 2016, praticamente 90% foram fabricadas por empresas estatais. Apenas 11% das cédulas no período foram produzidas por casas impressoras comerciais. Segundo esse relatório, países com elevada demanda mantêm suas próprias casas impressoras. Foi investigada a política dos países donos dos 15 maiores PIBs em 2016 –  lista liderada por EUA, China e Japão – e verificou-se que apenas o Canadá fabrica cédulas por meio de uma empresa privada. Alemanha e Reino Unido têm fornecimento misto de cédula. Todos os países listados têm produção estatal de moedas.

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