PSICOLOGIA ANALÍTICA

MORTE ANTES DA HORA

O suicídio de adolescentes é especialmente perturbador, pois, além da violência intrínseca ao ato, contraria a lógica da sobrevivência da espécie, e nos lembra de que algo está fora da ordem. Tentativas e ações consumadas decorrem da depressão e de eventos traumáticos – que envolvem fracasso, perda e humilhação – compreendidos pelo jovem como absolutos e incontornáveis

Morte antes da hora

A notícia de que uma pessoa tirou a própria vida é chocante. Quando o protagonista da tragédia é um jovem, o fato parece ainda especialmente aterrador. Por mais triste que seja, o suicídio de um idoso doente ou solitário é, de alguma forma, psicologicamente compreensível. Mas a morte voluntária do adolescente é uma afronta à vida, uma atitude contrária à sobrevivência da espécie, que adquire contornos de tabu, dado o horror que provoca. São vários os comportamentos classificados como suicidas. Há o suicídio consumado, a tentativa (tecnicamente chamada de “parassuicídio”), o gesto que representa apenas um comportamento inicial e não chega à tentativa (a compra de uma arma, a contemplação do vazio do alto de algum lugar, o preparo de um nó corrediço) e a concepção do ato, que pode ser um gesto intempestivo causado por insatisfação geral com a vida, ou um projeto preciso de suicídio. Além disso, no aspirante a suicida a intenção de morrer apresenta vários níveis, e os métodos aventados podem ser mais ou menos letais.

Todos esses elementos entram na avaliação do comportamento e sugerem diferentes estratégias de prevenção e tratamento. É preciso acrescentar ainda o chamado “suicídio parcial”, muito frequente entre os jovens, em que traços de impulsividade se unem a comportamentos de alto risco, sem que a pessoa tenha de forma clara e consciente a ideia de morrer: é o caso de quem dirige de modo irresponsável ou se expõe a perigos fúteis. O fato de haver tantas vidas perdidas precocemente por causas externas, que poderiam ser combatidas, levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a definir o suicídio juvenil como assunto de preocupação urgente.

CAIXA DE PANDORA

Aproximadamente 90% dos suicídios podem ser atribuídos a causas psiquiátricas preexistentes, mas em 70% dos comportamentos suicidas o estado depressivo está presente em algum grau, na forma de transtorno maníaco-depressivo ou depressão recorrente. Além disso, rapazes que cometem suicídio em geral apresentam transtornos de ansiedade, personalidade antissocial e episódios de abuso de álcool e outros estimulantes. Aos transtornos psiquiátricos deve ser acrescentado o risco da herança familiar: não a hereditariedade propriamente dita, mas maior predisposição, por enquanto revelada apenas pelos dados da genética epidemiológica, mas que poderá ser confirmada também por estudos genéticos.

Se é verdade que metade dos suicidas sofre de alguma forma de depressão, é preciso salientar que apenas uma pequena parte dos depressivos projeta ou realiza atos autodestrutivos. A pesquisa dos fatores que aumentam o risco de suicídio identificou a associação do estado depressivo com diversos níveis de ansiedade, medo, raiva e profunda falta de esperança.

Nada de novo. Narra o mito que, quando Pandora abriu a famosa caixa, saíram de dentro dela a velhice, a doença e a loucura, mas também a esperança, que, a partir de então, iludiu a humanidade com suas mentiras, impedindo que os homens se matassem. Na década de 70, o psiquiatra americano Aaron Beck, professor emérito do Departamento de Psiquiatria na Universidade da Pensilvânia, retomou o mito e se deu conta de que a falta de esperança tinha papel decisivo nos que cogitavam suicídio.

Os rapazes se suicidam mais que as moças, e o fenômeno depende, em grande parte, dos transtornos psíquicos e do abuso de substâncias, mas a passagem ao ato suicida se dá, em geral, após a ocorrência de um evento psicológico traumático. O fator precipitador ou desencadeador, nos adolescentes, pode ser analisado em três categorias principais: fracasso, perda e humilhação. Uma nota ruim na escola, o fim de uma relação amorosa ou a derrota numa competição podem desencadear um sentimento de desespero, interiorizado e voltado contra o próprio indivíduo. Esse mecanismo foi estudado por Freud e outros psicanalistas, que viam no suicídio a expressão de uma violência extrema contra o próprio eu. A morte voluntária após a perda significativa de algo ou alguém (definida como um objeto de amor interiorizado) seria uma forma de descarregar a raiva por ter sido abandonado. Freud retomou a ideia de Santo Agostinho, que, para sustentar o caráter pecaminoso do suicídio, invocou o quinto mandamento, “não matarás”, aplicando-o também ao caso em que vítima e assassino são a mesma pessoa. A humilhação recorrente é um fator responsável por muitos suicídios durante a adolescência.

SINAL DE PERIGO

Bullying, não aceitação da própria sexualidade, raiva ou medo intensos e frequentes, tendência ao isolamento e mau desempenho escolar podem gerar ideação suicida e são hoje considerados situações de risco, sobretudo se o jovem faz uso de psicotrópicos ou passou por eventos estressantes recentes. Os pais devem ficar alertas e procurar avaliação psicológica ou psiquiátrica. Ideias agudas e recorrentes de suicídio exigem tratamento sedativo ou de estabilização do humor, principalmente com sais de lítio, a única terapia que mostrou resultados claros na prevenção farmacológica do suicídio.

Nessa fase, a psicoterapia é fundamental, em muitos casos até mais que antidepressivos. Há alguns anos, a agência americana de controle de drogas e alimentos (FDA, na sigla em inglês) apontou aumento do risco de suicídio em jovens tratados com antidepressivos, em particular os que estimulam a transmissão serotoninérgica. Como mostram vários estudos, a diminuição da serotonina parece estar ligada ao suicídio, mas as substâncias que elevam os seus níveis podem aumentar também o risco. O paradoxo indica bem o escasso conhecimento disponível sobre o impulso autodestrutivo e a importância do meio social como fator que leva adolescentes a procurar a morte antes do tempo. Se os jovens pensam em morrer, é sinal de que os adultos precisam estar atentos.

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TEMPOS SOMBRIOS

Os modelos contemporâneos apoiam- se numa idealização de estilo de vida, competências e resultados. E, quando falamos de ideal, trazemos facilmente o conflito entre o possível e o impossível, num maniqueísmo que nos aproxima da sensação de impotência. A essa dinâmica agrega-se o forte apelo à satisfação imediata, fruto da sociedade de consumo. Aliados estão também a abundância de informações e estímulos vindos da internet, mídias sociais, num movimento constante que parece atropelar o tempo e fragmentar a realidade. Esses excessos dificultam, em geral, a introspecção e a construção de um espaço para a subjetividade.

É importante lembrar que a adolescência é considerada uma fase de transformação e, consequentemente, de luto, com características peculiares; perdemos o corpo e os pais da infância, e um novo processo com intensas mudanças fisiológicas e psíquicas desorganiza e traz, muitas vezes, sentimentos de insuficiência e estranhamento. Num mundo que glorifica a perfeição e tende a ver o sofrimento e a tristeza como doença, não há um lugar disponível para o que é humano e singular. A fragilidade do jovem diante de tantos desafios e incertezas parece manifestar explicitamente as dores de toda uma sociedade

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INTOLERÁVEL, INESCAPÁVEL E INTERMINÁVEL

Profissionais da área de saúde mental concordam que certos fatores, como grande pressão social e familiar por escolha profissional e o aumento da competitividade no mercado de trabalho, tornam os jovens brasileiros particularmente vulneráveis ao suicídio. Enquanto os mais pobres deparam com a falta de oportunidades, os de estratos econômicos privilegiados sentem-se frustrados pelo fracasso nos estudos ou vestibulares, enfrentando o que alguns profissionais denominam “fobia de desempenho”.

A médica Alexandrina Meleiro, chefe do ambulatório e enfermaria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), supervisora de Interconsultas do hospital e coautora de Suicídio: estudos fundamentais, recorda uma menina de apenas 10 anos que se atirou do oitavo andar do prédio de classe média alta onde morava, deixando um bilhete para a mãe, desculpando-se por não ser boa aluna.

Além das pressões exteriores, também estão em jogo questões próprias da adolescência, que podem levar à desestabilização psíquica. “Nessa fase, o jovem vive distorções cognitivas, instabilidades emocionais e inabilidade para lidar com afetos intensos”, afirma Meleiro, lembrando que, para Freud, o suicídio é um “homicídio invertido”. Ao se matar, a pessoa mataria o outro que está interiorizado em si mesma. Segundo ela, muitos enfrentam a armadilha dos três “is”: sentir a situação como intolerável, inescapável e interminável. A perda da imagem que a criança tinha dos pais e de seu corpo é vivida como luto.

Embora nessa fase da vida sentimentos depressivos sejam necessários – e até bem-vindos – para o amadurecimento da personalidade, é indispensável que pais e professores permanecerem atentos a sinais que mostrem que o jovem possa cometer um ato violento contra si, como mudanças de comportamento, faltas constantes às aulas, queda de rendimento escolar, diminuição de contatos sociais e comportamento tristonho.

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ENTRE WERTHER E PAPAGENO

A série 13 reasons why causou furor. Na trama, uma estudante do ensino médio se suicida e deixa 13 fitas, uma para cada pessoa que ela acredita ter contribuído de alguma forma para sua decisão. Cada episódio refere-se a uma dessas gravações. Alguns dizem que a série é um retrato preciso e sensível da angústia e pode ajudar a esclarecer as motivações por trás do ato de atentar contra a própria vida. Os críticos, entretanto, temem a glamorização desse gesto ou sua normalização como uma opção legítima para tratar frustrações, o que pode conduzir ao aumento desse tipo de ocorrência. Afinal, é bem conhecido na literatura especializada o fato de que o suicídio pode ser um fenômeno contagioso.

Qualquer possível causa de tal proliferação deve ser levada a sério, embora, do ponto de vista científico, o papel da ficção na inspiração do suicídio seja, na melhor das hipóteses, pouco claro. Obviamente a série não é a primeira obra a deflagrar controvérsias. Romeu e Julieta, de William Shakespeare, foi acusada inúmeras vezes de exaltar o suicídio de jovens.

O romance de Johann Wolfgang von Goethe Os sofrimentos do jovem Werther, lançado em 1774, descreve a dor de um rapaz por causa de seu amor por Charlotte, que se casa com Albert, amigo do protagonista. Atormentado, Werther decide que um deles deve morrer e acaba atirando em si próprio com a pistola de Albert. Acreditava-se que o trabalho de Goethe tenha levado muitos jovens a decidir terminar sua vida em toda a Europa, vários deles usando armas e vestidos com roupa similar à descrita pelo autor. Alguns até tinham cópias do romance ao lado de corpo, abertos na página que relatava o suicídio.

O pesquisador David Phillips, que se dedicou a estudar o tema, cunhou o termo, “efeito Werther” para se referir ao fenômeno dos suicidas imitadores.

O resultado da pesquisa de Phillips, da década de 70, foi a recomendação de que as histórias sobre suicídio não fossem noticiadas com ênfase pela imprensa. Ele considerou também que a cobertura excessiva da mídia de suicídios de celebridades realmente levou a um aumento nas tentativas de atentar contra a própria vida. As mulheres na faixa dos 30 anos pareciam mais propensas ao ato após a morte de Marilyn Monroe, em 1962.

Em Viena, na década de 80, uma série de suicídios cometidos no metrô foi combatida pela decisão dos principais jornais da cidade de reduzir substancialmente a publicidade dessas mortes. Depois de certa data, essas ocorrências já não eram mencionadas. Isso coincidiu com uma queda progressiva no número de casos, o que ilustrou o poder da mídia para o bem.

Contrariando o efeito Werther, há o efeito de Papageno, numa referência ao personagem da ópera A flauta mágica, de Wolfang Amadeus Mozart. Convencido de que nunca vai conquistar seu amor, Papageno, ele tenta se enforcar, mas é persuadido por três espíritos a não acabar com sua vida.

Os pesquisadores King-wa Fu, professor associado no Centro de Estudos de Mídia e Jornalismo da Universidade de Hong Kong, e o cientista social Paul Yip, fundador e diretor do Centro de Pesquisa e Prevenção do Suicídio da Universidade de Hong Kong, examinaram os impactos da morte de três celebridades asiáticas, comparando registros semanas antes e depois das ocorrências. Eles descobriram um aumento substancial no número de suicídios na primeira, segunda e terceira semanas após a morte de cada celebridade em Seul, Hong Kong e Taiwan, em comparação com um período de referência. A maior incidência de vítimas estava entre pessoas com idade próxima e do mesmo gênero das celebridades.

Cientistas reconhecem, no entanto, que a evidência de relações entre suicídios em ficção de suicídio na TV e no cinema é mais complicada. A revisão da literatura sobre filmes e retratos televisivos de suicídio não revela conclusões sobre o impacto de suicídios ficcionais sobre os resultados suicidas reais na população em geral. Mas sabem que a identificação com a vítima é fator importante para desencadear a imitação. E circunstâncias que facilitam o comportamento suicida são contrabalançadas por fatores protetores que o inibem, como a fé religiosa, a presença de apoio social (amigos, família) e capacidade de perceber que as situações, por piores que pareçam – ou de fato sejam –, não são permanentes.

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NÚMEROS PREOCUPANTES

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o suicídio como uma prioridade de saúde pública, já que as taxas têm aumentado desde a década de 90, ano em que a OMS lançou um programa de prevenção. Em média, 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos, e 75% desses casos ocorrem em países de média e baixa renda. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a segunda maior causa de morte, perdendo apenas para acidentes de trânsito. O índice nessa faixa etária entre as mulheres é de 2,6 casos por 100 mil habitantes, mas a taxa salta para 10,7 na população masculina. Mas um dado chama atenção: entre 2010 e 2012, o mais recente período de análise de dados da OMS, o índice feminino cresceu quase 18%.

Os países que realizaram campanhas de esclarecimento a respeito do problema conseguiram baixar seus números.

Cerca de 90% dos casos poderiam ter sido evitados. Segundo estimativas da OMS, para cada caso há pelo menos 20 tentativas malsucedidas. Os maiores índices de suicídio no Brasil ocorrem em áreas de concentração de comunidades indígenas. Segundo estudo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), das cinco cidades com as maiores taxas de suicídio de jovens, quatro ficam no Amazonas.

Para lidar com a questão, em 1962 foi criada a organização filantrópica Centro de Valorização da Vida (CVV), que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional com o intuito de prevenir suicídio ou apenas atender pessoas que precisem e queiram conversar, com total sigilo. Após a exibição da série 13 reasons why, os pedidos de ajuda ao CVV duplicaram.

OUTROS OLHARES

O TIO C.

O maior caso de estupro em escolas da década ocorreu na pacata Ilha de Paquetá e continua há cinco anos sem investigação concluída, com o principal suspeito ainda desaparecido.

O tio C

Na tarde de 16 de junho de 2013, o filho de 8 anos de S. compartilhou um segredo com a mãe. Disse que o professor C., que dava aula para ele no turno da manhã, tinha um procedimento esquisito na hora da correção do dever de casa. Não colocava as respostas no quadro-negro. Mandava as crianças abaixarem a cabeça e obrigava que escondessem o rosto nos braços cruzados sobre a carteira. Então chamava um por um para explicar a lição corrigida e entregar o caderno. Movido pela curiosidade, o menino contou que um dia levantou os olhos. Viu que o professor colocava as meninas no colo. E as apalpava.

No momento em que S. ouviu o relato, entrou em contato com outras mães. Passou a noite fazendo ligações. Começava a tomar forma o maior registro de estupro em escolas desde 2010. Oito anos depois, o inquérito segue sem conclusões da polícia nem sentença da Justiça. Um exemplo de descaso com a saúde física e psíquica de dezenas de crianças.

O estupro em série abalou a rotina da Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, bairro com menos de 5 mil moradores, isolado na Baía de Guanabara e conhecido por ser um balneário livre da violência da capital. O epicentro da crise estava na Escola Municipal Joaquim Manuel de Macedo. A instituição homenageia o escritor romântico do século XIX, autor de A moreninha, obra clássica que narra um amor proibido numa ilha pacata, tal como Paquetá.

A escola é a maior do bairro. Tinha então 304 crianças, a maior parte entre 6 e 11 anos. O professor dava aula para duas turmas, somando cerca de 50 alunos. Na ilha, onde todo mundo se conhece, a história dos abusos correu mais veloz do que qualquer bicicleta – o principal meio de locomoção em Paquetá, onde carros não entram.

R., uma das mães, contou que vinha notando o comportamento atípico da filha de 8 anos. A criança andava desatenta. Antes vaidosa, sempre querendo se maquiar, não se arrumava mais. Nem sequer penteava o cabelo para ir à escola. Só prendia os fios num coque. Reclamava de dor de barriga com frequência, clássica desculpa para faltar às aulas. Tinha preocupação enorme em nunca deixar de fazer o dever de casa. “Chorava. Eu perguntava por que tanto desespero. Ela dizia que quem não fazia o dever tinha de passar o recreio sozinho com o professor.”

Em 17 de junho, quando recebeu a ligação de S., ela se lembrou de um alerta que ignorara meses antes. A filha havia comentado que o professor tinha dado um tapa na bunda de uma de suas amigas. “Não levei a sério, achei que ele podia ter tentado dar um tapinha nas costas da menina e acertou a bunda dela. Achei que era paranoia minha.”

R. questionou a filha novamente. “Ela disse que o tio C. botava a mão embaixo de sua camisa, fazia que sentasse em seu colo. Ameaçava dizendo que, se não o atendesse, não iria passar de ano e ficaria com nota zero”, disse o relato formalizado no posto avançado da 5ª Delegacia de Polícia (DP), que funciona no bairro.

Outras mães ouviram histórias parecidas. Em alguns casos, piores. Pelo menos duas relataram que as filhas, ambas de 7 anos, teriam sido obrigadas a praticar sexo oral no professor. Nesses casos, os abusos aconteciam dentro da sala de projeção, no auditório da escola. O professor, de acordo com as meninas, as colocava para assistir a um filme. Durante a projeção, escolhia aquela que levaria para dentro da sala, na qual ficavam a sós.

Os relatos diversos mostravam que o professor tinha um método. Ele misturava ameaças com incentivos para manter as vítimas em silêncio. Uma hora, prometia notas boas, depois, dizia que repetiria de ano quem não fizesse o que ele determinava. Em um caso, pelo menos, disse para a menina que, se contasse algo para a mãe, seria levada embora da família pelo Conselho Tutelar. Em outro, disse que mataria a família da criança. “Ele ia na maciota, usava a gente. O que mais me afetou foi isso. Nas reuniões de pais, ele pedia para a gente reforçar com nossas filhas que elas tinham de lhe obedecer, que ali ele era a lei. Eu mesma fiz, falei para minha filha ‘faz o que o professor tá falando”‘, contou R.

Inicialmente, quatro mães foram prestar queixa. Uma das mães nem conseguiu falar, só chorava. Do lado de fora do posto, uma multidão se aglomerou para entender o que acontecia. “Juntou um grupo de mães dizendo que a gente estava inventando, que o professor era bonzinho, que uma delas até levava bolo para ele na escola”, disse R.

Havia oito vítimas de estupro no registro de ocorrência, o maior registro de estupro em escolas, de acordo com o Instituto de Segurança Pública. O menino que reportou o caso também foi classificado como vítima. Na data do fato, a criança mais nova vítima de estupro tinha 7 anos e a mais velha 11. Embora o caso seja de junho de 2013, algumas foram molestadas em 2012, ano em que o professor começou a dar aulas em Paquetá. Posteriormente, o Ministério Público (MP) viria a entender que foram seis vítimas, mas enfatizou que o número de menores vítimas de abuso poderia ser maior.

“Teve muito mais meninas”, disse S. “Muitas mães decidiram não registrar queixa porque eram da igreja”.

Laudos psicológicos de três crianças foram elaborados para tentar averiguar se os depoimentos seriam fantasiosos ou resultado de falsa memória. Todos apontam que os discursos não têm indícios de ser fabricados. Finalizados nos primeiros meses de 2014, eles mostram ainda a confusão das meninas e o impacto que a denúncia teve na vida delas. “Os sentimentos de vergonha e culpa com relação aos contatos sexuais perpetrados pelo professor, bem como os sentimentos de raiva expressos com relação a ele, podem comprometer a autoestima de X., que, em alguns momentos, se vê como pessoa ruim por ter sentimentos tão negativos em relação ao professor, que, para ela, passou a ser também uma referência afetiva”, diz o laudo de uma das crianças. ‘”Eu via que ele parecia que gostava de mim, dizia que eu era bonita (…) às vezes penso em juntar dinheiro para tirar o tio C. da cadeia, mas às vezes queria que ele morresse’.”

Uma noite, no ano passado, a filha de R. acordou gritando. A mãe foi até o quarto acudir a criança, que contou ter sonhado com o professor. Não era a primeira vez. A mãe teve de reaprender a cuidar da criança. “Nunca quis ouvir os detalhes, mesmo ela querendo contar. Depois, fiquei muito protetora, não queria nem ela usando shortinho curto, não queria que ela chamasse a atenção. A psicóloga falou que era importante eu deixar ela ser criança, não tratar diferente.”

Hoje, a mãe conta que a filha voltou a ser criança. “Vejo outras meninas que passaram pela mesma coisa, mas não tiveram tratamento. Elas parecem mais adultas, como se tivessem crescido antes do tempo”, avaliou R. Além do sono tranquilo da criança, o caso destruiu seu sonho. “O sonho dela era ser atriz”, contou. Depois do estupro, a filha deixou de querer se expor. A reportagem perguntou qual era o sonho da criança hoje. “Hoje nem sei mais. Mas às vezes ela olha para a TV e me diz: ‘Podia ser eu lá, não é, mãe?’. Mexeu com ela, mexeu sim.”

Mais do que um caso de destaque pelo número de vítimas, os abusos em série ocorridos na ilha também chamam a atenção pela lentidão dos órgãos oficiais. Cinco anos depois, o inquérito não chegou aos tribunais e o professor continua integrando os quadros da prefeitura do Rio de Janeiro. Essa demora não é exceção. De 2010 a maio de 2017, houve 639 estupros em estabelecimentos de ensino, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP). Analisou-se dez casos com múltiplas vítimas, como o de Paquetá, e constatou-se que apenas um deles chegou aos tribunais. Foi arquivado por falta de provas. Todos os nove restantes são inquéritos, alguns mais antigos que os da ilha. Somados, esses dez casos contabilizam 48 estupros de menores.

A demora torna praticamente impossível a condenação dos culpados, afirmou Itamar Gonçalves, gerente da Childhood Brasil, ONG internacional que luta contra o abuso infantil. “Muitas vezes, a criança que faz a denúncia não é a única vítima. E, ao responsabilizar esse adulto, evita-se o abuso de outras. É preciso mostrar para a criança que a coragem dela valeu a pena”, declarou. “Hoje, na Justiça tradicional, uma denúncia desse tipo em geral entra pelo Conselho Tutelar, chega à delegacia e depois vai ao tribunal. Somando tudo isso, dá uns quatro anos. Se for rápido, vai em torno de dois. Muitas vezes a própria família exerce uma pressão tremenda em cima da criança para que deixe o assunto de lado, o que pode acabar acontecendo.”

Sandra Pinto Levy, coordenadora do Núcleo de Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes (Nudeca) do Tribunal de justiça (TJ) do Rio, apontou que a escuta de crianças no sistema da Justiça é um tema delicado. Em geral, casos de abuso sexual infantil não deixam vestígio, se a palavra da vítima é uma das poucas provas no processo. Diante de uma denúncia de um possível abuso, o sistema deve agir o mais rápido possível. principalmente quando se trata de uma criança mais nova.

O grande problema da demora de qualquer investigação no sistema legal é a memória das crianças. Maleável, ela pode sofrer distorções, transformar algo sugestionado em real. Esse sugestionamento por parte de um adulto pode ser proposital ou não. Levy deu como exemplo o pai ao cuidar da assadura da filha e passar pomada. Dependendo de como a pessoa que ouve o fato o recebe e faz indagações, pode alterar o acontecimento na mente da criança. “A menina pode chegar à casa da mãe e dizer que o pai passou a mão, que está ardendo. Sem querer, a mãe pode fazer perguntas indutivas, com perguntas fechadas de sim ou não. E a criança, em deferência ao adulto, vai respondendo positivamente, o que pode transformar aquilo em um outro acontecimento”, exemplificou. “Dependendo do tempo decorrido, até que um especialista venha ouvir a criança, poderá ser difícil ou impossível constatar se é real ou não. Quando se aborda de forma indutiva, pelo susto, sem cuidados com as perguntas, a mãe pode gerar uma memória na criança e aquilo pode passar a ser verdade para ela. Aí não há mais como saber.”

Na legislação, a luta contra o abuso infantil passou por duas revoluções recentes: a primeira em 2009, e a segunda neste ano. Antes de 2010, entendia se que só eram estupros os casos em que havia a chamada “conjunção carnal”, o que excluiria, por exemplo, os crimes cometidos em Paquetá. A nova legislação, porém, entende que outros atos de abuso sexual mediante força podem ser caracterizados como estupro. Caso a legislação antiga ainda estivesse valendo, nenhum dos dez casos analisados poderia ser considerado estupro.

A segunda mudança foi a chamada Lei da Escuta (Lei 13.431/2017), que estabelece princípios para a escuta protegida de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. O objetivo é evitar que a criança passe por diversas entrevistas na rede de proteção. Além de revitimizar, essa repetição de entrevistas influencia a lembrança, pois a cada conversa a criança absorve percepções, impressões ou palavras que poderão se associar à memória.

De acordo com Sandra Levy, pesquisas apontam que hoje meninas e meninos são ouvidos de oito a dez vezes ao longo de um processo, precisando repetir a situação de violência sofrida para diversos órgãos de atendimento. A nova legislação cria a “escuta especializada” e o “depoimento especial”, ambos já praticados no TJ do Rio por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais treinados.

Um grupo de trabalho que reúne membros do Tribunal de Justiça do Rio, do Ministério Público, da Polícia Civil, das secretarias estaduais de Saúde e Assistência, da OAB e da Fundação da Infância e Juventude (FIA) busca formas de aplicar a nova lei no estado. “O objetivo é organizar e instituir normas padronizadas para todo o estado, organizando as competências e as atribuições de cada órgão de atendimento e, além disso, como se dará a comunicação entre esses órgãos.”

Se o caso de Paquetá algum dia chegar aos tribunais, os depoimentos das crianças, hoje cinco anos mais velhas, serão determinantes. Elas precisarão voltar ao passado para rememorar o ocorrido, já dentro do sistema de “depoimento especial”. Nele, as crianças vão conversar com um psicólogo treinado, que servirá de intermediário entre as perguntas do promotor, da defesa e do juiz sobre o caso. O especialista usará um ponto eletrônico e o vídeo da criança será transmitido ao vivo para a sala onde ocorrerá o julgamento.

Como os laudos de corpo de delito deram todos negativos, a palavra das vítimas será a principal arma da promotoria. E a memória delas, depois de todo esse tempo, será testada.

A demora da Justiça pode ter dificultado a produção de provas físicas. Em 27 de junho o então promotor responsável pelo caso pediu a prisão temporária e a emissão de um mandado de busca e apreensão, mas só em 12 de agosto eles foram deferidos. A prisão ocorreu no dia 21 daquele mês. O computador de C. chegou a ser levado, mas nada de incriminador foi encontrado.

As consequências da acusação de abuso infantil foram devastadoras para a vida do docente. O professor foi afastado imediatamente. Trabalhou no setor de RH da 1ª CRE até sua prisão temporária ser decretada.

C. negou todas as acusações. “O declarante, ao tomar ciência do conteúdo dos autos, afirma que as meninas abraçavam e beijavam o declarante”, diz um trecho de seu depoimento de nove páginas. Ele afirmou que eram as crianças que tentavam subir em seu colo, e que ele as afastava. Confirmou que chegou a convidar uma delas para ir a um sítio, mas declarou que teria convidado a mãe a ir junto.

No auditório eram exibidos os filmes Transformers e X-Men, uma vez por semana. C. argumentou que ficava próximo à sala de projeção para o caso de algum problema no vídeo. Negou abusar das crianças ali dentro. “O declarante às vezes ia à sala de projeção sozinho, as crianças às vezes ficavam curiosas, ‘ih tio, que legal…’, e o declarante dizia ‘vamos embora…’.”

Se inocente, as acusações decretaram o fim de uma carreira iniciada em 2005. Quando pleiteou sua soltura na Justiça, um colega de C. enviou um depoimento à Justiça atestando ter total confiança no amigo. “(Ele) sempre me convenceu ser pessoa de total idoneidade e lisura moral. No tempo que trabalhamos juntos, como profissional sempre demonstrou em minha presença total carinho, apreço e atenção a seus alunos: regulares ou com necessidades especiais. Junto a sua família, sempre admirei o carinho com que trata e cuida do filho e da esposa. Por várias vezes me incentivou a ter filhos, o que veio a ocorrer no último ano.”

A igreja que frequentava reuniu 153 assinaturas de fiéis atestando sua conduta “moral, ética, espiritual e familiar”. O documento foi enviado para o MP, que em outubro de 2013 opinou favoravelmente a sua soltura, dois meses depois de ser preso. Segundo a mulher, ele não pôde voltar para casa, por medo da reação que a acusação poderia ter na comunidade, então ficou na casa da mãe. Antes mesmo de ser preso, o professor afirmou ter caído em depressão. Em depoimento, disse que estava sob acompanhamento psicológico, tomando “Rivotril na veia”. O filho também precisou de psicólogo. Nas redes sociais, C. foi alvo de linchamento virtual. “O declarante afirmou que viu no Facebook uma foto sua com a seguinte frase embaixo: ‘Este é o pedófilo que atacou aqui na escola’.” O autor da postagem pedia que a publicação fosse compartilhada, para que o professor fosse preso.

Em janeiro de 2014, a mulher de C. foi até a 74′ DP, em São Gonçalo. Registrou que o professor havia desaparecido. Na delegacia, ela disse acreditar que o marido surtou, pois estava em estado de pânico, depressivo, “em razão de ter sido acusado e preso injustamente”. No plano administrativo, a prefeitura do Rio cometeu erros. Apesar de o professor não estar mais trabalhando desde que saiu da prisão, continuou a receber. Mesmo após o registro de ocorrência de seu desaparecimento ser lavrado, o dinheiro continuou a entrar. O inquérito administrativo por faltas contra o professor só foi aberto em 29 de junho de 2015 e ainda segue em aberto sem qualquer punição contra o servidor.

Os recursos, ainda que indevidos, teriam sido um alento para a família: a mulher trabalha como cabeleireira, e a situação financeira do marido não era das melhores. Em fevereiro de 2014 seu salário bruto foi de R$ 2.306,20. Mas o professor tinha seis empréstimos consignados e mais a mensalidade do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) para pagar, totalizando um desconto de R$ 959,98 direto na folha de pagamentos. No fim das contas, no contracheque daquele mês constavam R$ 1.346,22 líquidos, depositados na conta do professor no Santander, responsável por administrar os pagamentos dos servidores da prefeitura do Rio.

Em 2015, a mulher do professor entrou na Justiça com uma ação declaratória de ausência, para ter acesso aos recursos depositados em sua conta. Na prática, ela admitia ali que não via mais possibilidade de encontrá­lo: essas ações normalmente são concedidas quando a pessoa é presumida como morta.

O professor continuou recebendo seu salário normalmente de novembro de 2013 até agosto de 2015, quando a prefeitura finalmente constatou o erro e encerrou os repasses, abrindo, finalmente, um inquérito por abandono de cargo. O montante pago no período foi de R$ 41.927,12. Na conta no Santander, em 11 de julho de 2017, constava um saldo de apenas R$ 0,50. Ou seja, alguém, em algum lugar, estava sacando esse dinheiro.

Em nota, a prefeitura disse que cobrará a devolução do dinheiro e que, se considerado culpado pela Justiça, excluirá o servidor de seus quadros. A servidora da Secretaria Municipal de Administração identificada como a responsável pelo suposto atraso em uma das etapas do inquérito sobre o abandono de cargo foi exonerada em dezembro de 2015.

O promotor responsável pelo caso dos abusos em Paquetá, Marcelo Muniz, assumiu a função há cerca de um ano. Ele nem sequer sabia do desaparecimento do principal suspeito. No mesmo dia, pediu novas diligências para o caso, como a elaboração de um auto de exame de corpo de delito de uma das vítimas, que até hoje não consta no inquérito. Faltam também o laudo de exame psicológico de três vítimas e a juntada de uma sindicância aos documentos. De acordo com Muniz, de posse dessas informações será possível oferecer ou não denúncia contra o professor na Justiça. O prazo dado por ele para essas diligências foi de 120 dias.

Muniz argumentou que a demora, de mais de cinco anos, para o caso chegar aos tribunais é natural. Ele apontou ser impossível oferecer a denúncia sem que todos os elementos tenham sido apurados. “É muito comum (demorar cinco anos). O prazo com o qual trabalhamos é o prazo prescricional. Temos a necessidade de concluir tudo para garantir o êxito. Se você não trabalha com o prazo prescricional, realmente pode parecer que demorou muito. Não posso oferecer uma denúncia frágil que resulte na absolvição.”

Como são seis vítimas, se considerado culpado, o professor poderá ser condenado a até 72 anos de prisão.

Os efeitos do terremoto causado pelo caso de Paquetá não são mais visíveis na superfície. Na escola, crianças pequenas continuam voltando sozinhas para casa, algo difícil de ver no “continente”, onde o risco de violência urbana está sempre presente. O portão da Joaquim Manuel de Macedo segue destrancado durante o dia e até as professoras que viveram o escândalo de perto precisam ouvir o nome do professor para se lembrar de que o caso aconteceu.                     

GESTÃO E CARREIRA

SEM FORÇAR A AMIZADE

Conviver com colegas com os quais você não tem afinidade é difícil. Mas é preciso tomar algumas atitudes para melhorar o relacionamento – caso contrário, a produtividade e a qualidade de vida podem ser afetadas.

Sem forçar a amizade

É Fato que passamos mais tempo ao lado das pessoas com quem trabalhamos do que com amigos e parentes. Por isso, o relacionamento com nossos colegas ou chefes acaba se tornando crucial para o bem-estar. De acordo com uma pesquisa feita por professores da Universidade Rutgers, quando os funcionários se tornam amigos, a avaliações de desempenho costumam ser melhores do que as de profissionais que trabalham em ambientes sem amizades. Entre as explicações está o fato de que, entre camaradas, fica mais fácil colaborar, pedir ajuda manter o bom humor. “Quando gostam um do outro, os indivíduos ficam mais abertos e tolerantes, a cooperação flui e a compaixão e a empatia se fazem presente”, diz Cintia Machado, diretora executiva da lnternational Coach Federation (ICF). Isso faz com que o trabalho pareça mais fácil, as tarefas árduas sejam feitas de forma mais leve e a solução de problemas seja mais criativa e eficaz. O problema é que nem sempre a turma do escritório é formada por gente com a qual passaríamos as férias. E desgostar desse pessoal, além de piorar as entregas, causa impactos negativos na saúde mental. No livro Toxic Coworkers (“Colegas ´Tóxicos, numa tradução livre, sem edição no Brasil), os psicólogos Alan A. Cavaiola e Neil J. Lavender publicam uma pesquisa que revela que 80% dos profissionais se sentem moderada ou gravemente estressados quando precisam conviver com pares, subordinados ou chefes difíceis. ”As pessoas não se dispõem a colaborar umas com as outras e há desmotivação”, diz Vanessa Cepello, professora na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Inverter esse quadro nem sempre é fácil, mas é possível melhorar o relacionamento – sem forçar a amizade. A seguir, um passo a passo para solucionar a situação.

1 – AROXIMAÇÃO CAUTELOSA

Aproximar-se de quem você não tem tanta afinidade é um exercício que estimula a empatia e a busca por diversidade. Afinal, colocar-se na pele do outro é entender um novo ponto de vista –   mesmo que ele seja completamente diferente do seu. Mas, às vezes, não dá para fazer isso no ambiente formal do trabalho e é preciso estar em momentos mais descontraídos, como num almoço ou numa happy hour. ‘Um encontro fora do escritório pode ser muito bom para quebrar o clima. Se estiver num pequeno grupo, sente-se à frente da pessoa com quem você não se dá para que possam iniciar um diálogo. Aproveite para observá-la enquanto conversa com outros e aprenda sobre suas necessidades, diz Cintia, da ICF. “Conhecer a história do indivíduo é a chave para compreender o mundo em suas perspectivas emocional e intelectual”.

2 – HONESTIDADE DELICADA

De nada adianta se aproximar se isso for feito com falsidade. Melhor ir direto ao ponto. “Minha dica é ser honesto com a pessoa. Diga: “Você sabe tão bem quanto eu que não somos os melhores parceiros de trabalho, mas temos uma tarefa a realizar. O que acha de deixarmos nossas diferenças de lado e cumprirmos nossos afazeres?”, diz Dinael Corrêa de Campos, vice coordenador do curso de especialização em gestão estratégica de pessoas e psicologia organizacional e do trabalho da Unesp.

3 – O CORPO FALA

Fazer uma saudação efusiva ao ver a pessoa de quem não gosta pode parecer irônico e piorar o relacionamento. Seja respeitoso e cordial, ouvindo com atenção, fazendo contato visual e até sorrindo ao cumprimentar. Mas a ideia principal não é usar técnicas corporais apenas para que o outro se sinta acolhido e menos ameaçado com relação a você, mas para que o relacionamento se torne natural. “A partir do momento em que você tem clareza sobre os motivos que fazem com que seu colega se araste, não precisa mais se preocupar com a linguagem corporal que tem de usar, pois serei natural – e não ameaçadora”, diz Dinael.

4 – OLHO NO OLHO

Você deve se comunicar com quem não gosta apenas quando necessário – e só por e-mail ou mensagem. Tudo para evitar diálogos que levem a conflitos. Mas isso só aumenta o distanciamento e piora a convivência. Por mais difícil que seja, evite esses atalhos e converse mais pessoalmente. Muitas vezes a comunicação escrita, principalmente a de mensagens Instantâneas, está sujeita a mal-entendidos e a omissão dos elementos não verbais, que correspondem a mais de 70% do processo de compreensão. “Busque o olho no olho. Apenas tome cuidado para que seu tom de voz e sua feição indiquem que você não está lá para criar problemas”, afirma Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

5 – GENTILEZA GERA GENTILEZA

Oferecer ajuda pode criar laços que, até então, eram impensáveis. “Isso ativa um gatilho mental poderoso que é o da reciprocidade, aquilo que é correspondido mutuamente -, diz Fellipe Silvester, consultor de carreiras e gestão organizacional. Essa pode ser, ainda, uma oportunidade de conhecer o potencial do outro e estabelecer uma conexão. Mas preste atenção. “A melhor maneira de oferecer ajuda é mostrando uma dificuldade própria. Tenha cuidado para não passar a impressão de que você sabe de tudo”, diz Maria, da Robert Half. E mantenha a discrição. Caso contrário, pode parecer que sua atitude tem o objetivo de autopromoção.

6 – MENOS EXPECTATIVAS

parou para pensar por que não gosta daquela pessoa? Será que não está tendo expectativas irreais sobre os colegas de trabalho? “O principal problema é a idealização, pois criamos alguém perfeito, que corresponda aquilo que queremos, mas não devemos nos esquecer que a relação a dois pressupõe dois e, por isso, é preciso baixar as expectativas para que aconteça um encontro real, afirma Dinael, da Unesp. Lembre-se, também, de que no ambiente profissional não podemos esperar ter a mesma proximidade emocional com todo mundo. E totalmente aceitável que alguém tenha um comportamento mais formal, cumprindo com suas obrigações, porém sem desejar proximidade.

7 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Lembre-se de que você não precisa gostar de todo mundo e que é normal alguém irritá-lo por agir de um jeito que não lhe agrade. A saída para se blindar dos momentos de estresse na convivência é entender, a fundo, os próprios gatilhos. “Trabalhe a inteligência emocional para perceber a emoção e compreender sua causa, o que lhe dá a possibilidade de decidir como agir”, diz Cintia, da ICF. Uma boa maneira de fazer isso é filtrar as informações recebidas (deixando de lado as coisas que chateiam) e treinar para sempre se acalmar antes das respostas.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 1-13

Alimento diário

O sermão de Cristo aos seus irmãos. Os rumores a respeito de Cristo

Aqui temos:

I – A razão pela qual Cristo passava mais tempo na Galileia do que na Judéia (v. 1): porque “os judeus”, o povo da Judéia e de Jerusalém, “procurava matá-lo”, por ter curado o paralítico no sábado, cap. 5.16. Eles pensavam em matá-lo, fosse por um tumulto do povo, ou por um processo legal, e por isto Ele ficava à distância, em outra parte da nação, fora das linhas de comunicação de Jerusalém. Não está escrito: Ele não andaria pela Judéia, mas: Ele “não queria andar pela Judéia”. Não foi por medo ou covardia que Ele se recusou, mas por prudência, porque sua hora ainda não era chegada. Observe que:

1. A luz do Evangelho é, com justiça, afastada daqueles que se esforçam para apagá-la. Cristo irá se afastar daqueles que o afastam de si, irá ocultar seu rosto daqueles que cospem nele, e, com razão, irá fechar suas profundezas àqueles que as desprezam.

2. Em tempos de perigo iminente, não é somente permitido, mas aconselhável, afastar-se e fugir, para nossa própria segurança e preservação, e escolher servir nos lugares que sejam menos perigosos, Mateus 10.23. Só seremos chamados para expor e entregar nossa vida quando não pudermos salvá-la sem pecar, e não em alguma situação diferente desta.

3. Se a providência de Deus leva as pessoas de mérito a lugares de obscuridade e pouca importância, isto não deve ser considerado estranho. Era a sorte do nosso próprio Mestre. Aquele que era digno de sentar-se na mais alta das cadeiras de Moisés voluntariamente andava na Galileia entre as pessoas comuns. Observe que Ele não ficou parado na Galileia, nem se enterrou vivo ali, mas andava. Ele andava por ali fazendo o bem. Quando não pudermos fazer o que queremos, e onde queremos, nós devemos fazer o que pudermos, e onde pudermos.

 II – A proximidade da Festa dos Tabernáculos (v. 2), uma das três solenidades que exigiam o comparecimento de todos os varões a Jerusalém. Veja a instituição desta festa, Levítico 23.34ss., e como ela foi revivida depois de muito tempo em desuso, Neemias 8.14. Ela pretendia ser tanto uma recordação da condição de Tabernáculo de Israel no deserto como uma imagem da condição do Tabernáculo do Israel espiritual de Deus neste mundo. Esta festa, que tinha sido instituída há muitas centenas de anos antes, ainda era religiosamente observada. Observe que as instituições divinas nunca ficam antiquadas, nem fora de moda, devido à passagem do tempo, nem devem ser esquecidas às graças do deserto. Mas ela é chamada de festa dos judeus, porque dentro de pouco tempo seria abolida, como uma característica meramente judaica, e deixada àqueles que serviam no Tabernáculo.

 III – O sermão de Cristo aos seus irmãos, alguns dos seus parentes, não se sabendo ao certo se sua mãe ou seu suposto pai estavam presentes. Mas estes eram os que fingiam ter interesse por Ele, e por isto interferiram para aconselhá-lo quanto à sua conduta. Observe:

1. Sua ambição e sua altivez ao insistir que Ele fizesse mais aparições públicas do que fazia: “Sai daqui e vai para a Judéia”, disseram eles, (v. 3), pois ali ficarás mais em evidência do que aqui.

(1) Eles dão duas justificativas para este conselho:

[1] Que isto seria um incentivo para que aqueles que habitavam em Jerusalém, e nas proximidades, tivessem respeito por Ele. Pois, à espera do seu reino temporal, o trono real que eles concluíam que devia estar em Jerusalém, eles queriam que os discípulos dali fossem particularmente incentivados, e consideravam que o tempo que Ele passava entre seus discípulos da Galileia era um tempo desperdiçado, e seus milagres não teriam mérito, a menos que as pessoas de Jerusalém os vissem. Ou: “Para que seus ‘discípulos’, todos eles, em geral, que estivessem reunidos em Jerusalém para observar a festa, pudessem ver suas obras, e não uns poucos em uma ou outra ocasião, como aqui”.

[2] Que isto promoveria seu nome e sua honra: “Não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto”. Eles supunham que Cristo procurava fazer-se conhecido, e por isto julgavam que era um absurdo que Ele ocultasse seus milagres: ‘”Se fazes essas coisas’, se és tão capaz de obter o aplauso do povo e a aprovação dos líderes pelos milagres, aventure-se ao estrangeiro, e ‘manifesta-te ao mundo’. Apoiado por estas credenciais, você não deixará de ser aceito, e por isto é o momento certo para definir um interesse, e pensar em ser grande”.

(2) Ninguém pensaria que houvesse algum mal neste conselho, mas ainda assim o evangelista o considerou como uma evidência da infidelidade deles: “Porque nem mesmo seus irmãos criam nele” (v. 5), pois se cressem, não teriam dito isto. Observe:

[1] Era uma honra ser parente de Cristo, mas não uma honra que levasse alguém automaticamente à salvação. Aqueles que ouvem suas palavras, e as guardam, são os parentes que Ele valoriza. Certamente, a graça não corre em nenhum sangue no mundo, exceto no sangue da família de Cristo.

[2] Era um sinal de que Cristo não almejava nenhum interesse secular, pois, se assim fosse, seus irmãos teriam se adequado a este, e Ele os teria beneficiado primeiro.

[3] Havia aqueles que eram parentes de Cristo segundo a carne, que realmente criam nele (três dos doze eram seus irmãos), ao passo que outros, tão relacionados a Ele quanto aqueles, não criam nele. Muitos dos que têm os mesmos privilégios e vantagens externos não fazem o mesmo uso deles. Mas:

(3) O que havia de errado com o conselho que eles lhe deram? Eu respondo:

[1] Era muita presunção por parte deles dar ordens a Cristo, e ensinar a Ele quais medidas tomar. Era um sinal de que eles não acreditavam que Ele fosse capaz de guiá-los, se não o julgavam suficiente para guiar a si mesmo.

[2] Eles revelaram uma grande despreocupação com a segurança dele, quando desejavam que Ele fosse à Judéia, onde sabiam que os judeus procuravam matá-lo. Aqueles que criam nele, e o amavam, dissuadiam-no de ir à Judéia, cap. 11.8.

[3] Alguns pensam que eles acreditavam que, se seus milagres fossem realizados em Jerusalém, os fariseus e líderes os experimentariam, e descobririam alguma trapaça ou algum truque neles, o que justificaria sua falta de fé.

[4] Talvez eles estivessem cansados da sua presença na Galileia (Pois não são galileus todos estes que falam?) e talvez isto fosse, na verdade, um desejo de que Ele saísse da sua região.

[5] Infundadamente, eles insinuam que Ele negligenciava seus discípulos, e lhes negava uma visão das suas obras, que seria necessária para dar suporte à sua fé.

[6] Tacitamente, eles o censuram como se Ele tivesse um espírito inferior, pois Ele não deseja fazer parte das listas dos grandes homens, nem colocar-se no palco da ação pública, coisa que, se tivesse alguma coragem e grandeza na alma, Ele faria, e não se esquivaria desta maneira, escondendo-se em um canto. Desta maneira, a humildade de Cristo, e sua humilhação, e a pouca presença que sua religião normalmente tem tido no mundo, sempre se conve1tiam em uma censura a Ele e a ela.

[7] Eles parecem questionar a verdade dos milagres que Ele realizava, dizendo: “Se você pode fazer estas coisas, se elas suportam o teste de um escrutínio público das cortes, realize-os lá”.

[8] Eles julgam que Cristo é alguém completamente igual a eles mesmos, tão sujeito à política do mundo e tão desejoso quanto eles de realizar uma boa exibição na carne, ao passo que Ele não procurava a honra dos homens.

[9] O egoísmo estava no fundo de tudo. Eles esperavam que, se Ele se apresentasse tão grandioso quanto podia, eles, sendo seus parentes, compartilhariam da sua honra, e seriam respeitados por causa dele. Observe que, em primeiro lugar, muitas pessoas carnais comparecem aos cultos públicos para adorar na festa, ou seja, somente para se exibirem, e toda sua preocupação é fazer uma boa apresentação pública, apresentarem-se de maneira agradável ao mundo. Em segundo lugar, muitos dos que parecem procurar a honra de Cristo, na realidade, estão procurando a sua própria, e procuram torná-la útil para si mesmos.

2. A prudência e a humildade do nosso Senhor Jesus, que fica evidente na sua resposta ao conselho que seus irmãos lhe deram, vv. 6-8. Embora houvesse tantas insinuações perversas no conselho, Ele responde mansamente. Observe que mesmo aquilo que é dito sem razão deve ser respondido sem paixão. Nós devemos aprender com nosso Mestre a responder com mansidão mesmo àquilo que é mais impertinente e imperioso, e onde for fácil encontrar muita incorreção, parecer não vê-la, e fechar os olhos à afronta. Eles esperavam a companhia de Cristo na festa, talvez esperando que Ele tolerasse o que eles diziam. Mas aqui:

(1) Ele mostra a diferença entre Ele e eles, em dois aspectos:

[1] Sua hora era fixada, e não a deles: “Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto”. Entendemos o tempo como sendo sua ida à festa. Era indiferente a eles a ocasião quando fossem, pois não tinham nada a fazer onde estavam, que os detivesse ali, nem onde iam, que os apressasse para lá. Mas cada minuto do tempo de Cristo era precioso, e tinha sua própria atividade designada a ele. Ele ainda tinha algum trabalho para realizar na Galileia antes de deixar a região. Na concordância dos Evangelhos, entre esta sugestão feita pelos seus irmãos e sua ida à festa, está a história do envio dos setenta discípulos (Lucas 10.1 ss.), o que foi um evento de grandes consequências. Seu tempo ainda não era chegado, pois isto deveria ser feito antes. Aqueles que vivem vidas inúteis têm seu tempo sempre pronto. Eles podem ir e vir quando quiserem. Mas aqueles cujo tempo está repleto de obrigações frequentemente se encontrarão presos, e não terão tempo para aquilo que os outros podem fazer a qualquer momento. Aqueles que são servos de Deus, como todos os homens deveriam sei e que se fazem servos de todos, como são todos os homens úteis, não devem esperar controlar seu próprio tempo. A prisão do trabalho é melhor do que a liberdade da ociosidade. Ou isto pode significar o tempo da sua aparição pública em Jerusalém. Cristo, que conhece todos os homens e todas as coisas, sabia qual era o momento melhor e mais adequado, pois seria aproximadamente no meio da festa. Nós, que somos ignorantes e de pouca visão, somos capazes de tentar dar ordens a Ele e de pensar que Ele deveria libertar seu povo e manifestar-se agora. O tempo presente é nosso tempo, mas o Senhor é mais capacitado para julgar, e pode ser que seu tempo ainda não seja chegado. Seu povo ainda não está preparado para a libertação, nem seus inimigos, prontos para a destruição. Portanto, esperemos com paciência pelo seu tempo, pois tudo o que Ele faz será mais glorioso na ocasião apropriada.

[2] Sua vida era procurada, e não a deles, v. 7. Ao se mostra rem ao mundo, eles não corriam riscos: “O mundo não vos pode odiar”, porque sois do mundo, sois seus filhos, seus servos, e estais no mundo com seus interesses, e sem dúvida o mundo irá amar os seus”. Veja cap. 15.19. Às almas ímpias, a quem o santo Deus não pode amar, o mundo que está na iniquidade não pode odiar. Mas Cristo, ao se apresentar ao mundo, expunha-se aos maiores perigos, pois “ele [o mundo] me odeia a mim”. Cristo não somente era desprezado, como insignificante no mundo (o mundo não o conhecia), mas odiado, como se tivesse sido prejudicial ao mundo. Assim, Ele era mal recompensado pelo seu amor ao mundo: o pecado reinante consiste em uma antipatia e uma inimizade enraizadas por Cristo. Mas por que o mundo odiava a Cristo? Que mal Ele lhe tinha feito? Teria Ele, como Alexandre, sob o pretexto de conquistar, assolado o mundo? “Não, mas porque”, diz Ele, “dele testifico que as suas obras são más”. Observe que, em primeiro lugar, as obras de um mundo mau são obras más. Os frutos são como é a árvore: é um mundo escuro, e apóstata, e suas obras são obras de trevas e rebelião. Em segundo lugar, nosso Senhor Jesus, tanto por si mesmo quanto por meio dos seus ministros, revelou e testemunhou contra as más obras deste mundo pecaminoso, e continuará a fazê-lo. Em terceiro lugar, é um grande constrangimento e uma provocação ao mundo ser condenado pela maldade das suas obras. É para a honra da virtude e da piedade que aqueles que são ímpios e maldosos não se preocupam em ouvir, pois suas próprias consciências os envergonham da maldade que existe no pecado, e os fazem temer o castigo que segue o pecado. Em quarto lugar, não importa qual seja o pretexto, a real causa da inimizade do mundo ao Evangelho é o testemunho que ele dá contra o pecado e os pecadores. As testemunhas de Cristo, pela sua doutrina e pelas suas palavras, atormentam aqueles que habitam na terra, e por isso elas são tratadas de maneira tão bárbara, Apocalipse 11.10. Mas é melhor sofrer o ódio do mundo, testificando contra sua maldade, do que obter sua boa vontade, acompanhando sua corrente.

(2) Ele os envia, com o desejo de permanecer por algum tempo na Galileia (v.8): “Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta festa”.

[1] Ele permite que eles subam à festa, embora fossem carnais e hipócritas. Note que mesmo aqueles que não comparecem às ordenanças sagradas por motivos justos e intenções sinceras não devem ser impedidos nem desencorajados de participar. Quem sabe se eles não serão transformados ali?

[2] Ele lhes nega sua companhia quando vão à festa, por que eles eram carnais e hipócritas. Aqueles que comparecem às ordenanças por ostentação, ou servem a algum propósito secular, vão sem Cristo, e o resultado será correspondente. Como é triste a condição daquele homem, embora se considere parente de Cristo, a quem Ele diz: “Suba a tal ordenança, vá orar, vá ouvir a palavra, vá receber o sacramento, mas Eu não irei com você. Vá e apresente-se diante de Deus, mas eu não me apresentarei com você”, como em Êxodo 33.1-3. Mas, se a presença de Cristo não for conosco, com que objetivo devemos ir? “Subi vós… eu não subo”. Quando nós estamos indo, ou voltando de ordenanças solenes, é conveniente que sejamos cautelosos quanto à companhia que temos e escolhemos, e evitemos aquela que for vaidosa e carnal, para que a brasa das boas intenções não seja apagada por uma comunicação corrompida. “Eu não subo ainda a esta festa”. Ele não diz: Eu não subo, de maneira nenhuma, mas diz: Não ainda. Pode haver razões para adiar uma obrigação particular, que, no entanto, não deve ser completamente omitida ou negligenciada. Veja Números 9.6-11. A razão que Ele dá é: “Ainda o meu tempo não está cumprido”. Observe que nosso Senhor Jesus é muito exato e pontual no conhecimento e acompanhamento do seu tempo, e assim como havia o tempo fixado, também havia o melhor tempo.

3. A permanência de Cristo na Galileia até que seu tempo tivesse chegado, v. 9. Ele, havendo-lhes dito isso, “ficou na Galileia”. Por causa deste sermão, Ele permaneceu ali, pois:

(1) Ele não seria influenciado por aqueles que o aconselhavam a procurar a honra dos homens, nem acompanharia aqueles que se aproveitariam dele para se exibirem. Ele não toleraria a tentação.

(2) Ele não deseja abandonar seu próprio objetivo. Ele tinha dito, com uma visão clara e deliberação amadurecida, que Ele não subiria ainda a esta festa, e, portanto, Ele permaneceu na Galileia. É conveniente que os seguidores de Cristo sejam também firmes, e não usem de leviandade.

4. Sua ida à festa, quando seu tempo chegou. Observe:

(1) Quando Ele foi: “Quando seus irmãos já tinham subido”. Ele não desejava subir com eles, para que eles não provocassem um alvoroço e distúrbio, com o pretexto de mostrá-lo ao mundo, considerando que, de acordo tanto com a predição como com seu espírito, “não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça”, Isaías 42.2. Mas Ele subiu depois deles. Nós podemos, legitimamente, estar presentes à mesma adoração religiosa daqueles com quem não desejamos ter um conhecimento íntimo, e um relacionamento de amizade que inclua frequentes conversas, pois a bênção das ordenanças depende da graça de Deus, e não da graça dos companheiros de adoração. Seus irmãos carnais subiram antes, e depois Ele subiu. Observe, que no desempenho externo da religião, é possível que os hipócritas oficiais possam obter as vantagens daqueles que são sinceros. Muitos podem ir ao templo antes, os que são levados pela arrogância, e sem justificativa, como o fariseu de Lucas 18.11. A questão não é: Quem vem primeiro? Mas: Quem vem mais preparado? Se nossos corações estiverem completamente voltados ao Senhor, não importará quem chegue antes de nós.

(2) Como Ele foi – como se estivesse se escondendo: “não manifestamente, mas como em oculto”, mais por medo de ofender do que de ser ofendido. Ele subiu à festa, por que esta seria uma oportunidade de honrar a Deus e fazer o bem, mas Ele subiu como em oculto, por que não desejava provocar o governo. Observe que a obra de Deus é realizada com eficácia, e é mais bem realizada, quando realizada com menos alvoroço. O reino de Deus não precisa vir com aparência exterior, Lucas 17.20. Nós podemos realizar a obra de Deus privativamente, e mesmo assim não realizá-la de modo enganoso.

5. A grande expectativa que havia sobre Ele entre os judeus de Jerusalém, vv. 11-14. Tendo vindo anteriormente às festas, e se identificado pelos milagres que realizava, Ele tinha se tornado o assunto de muita discussão e observação.

(1) Eles não podiam deixar de pensar nele (v. 11): “Os judeus procuravam-no na festa e diziam: Onde está ele?”

[1] As pessoas comuns desejavam vê-lo ali, para que pudessem ter sua curiosidade satisfeita com a visão da sua pessoa e dos seus milagres. Elas não julgavam que valesse a pena ir procurá-lo na Galileia, embora, se o tivessem feito, o esforço não teria sido perdido, mas esperavam que a festa o trouxesse a Jerusalém, quando então poderiam vê-lo. Se uma oportunidade de conhecer a Cristo lhes vem à porta, eles devem apreciá-la. “Procuravam-no na festa”. Quando nós nos apresentamos diante de Deus nas suas santas ordenanças, devemos procurar Cristo nelas, procurá-lo nas festas do Evangelho. Aqueles que desejam ver a Cristo em uma festa devem procurá-lo ali. Ou:

[2] Talvez fossem seus inimigos, que esperavam uma oportunidade de prendê-lo, e, se possível, interromper definitivamente seu progresso. Eles diziam: “Onde está ele?” Eles falavam dele de maneira desprezível e zombeteira. Quando deviam ter aproveitado a festa como uma oportunidade de servir a Deus, eles estavam satisfeitos por usá-la como uma oportunidade de perseguir a Cristo. Assim, Saul esperou assassinar Davi na lua nova, 1 Samuel 20.27. Aqueles que procuram uma oportunidade de pecar nas assembleias solenes de adoração religiosa estão profanando as ordenanças de Deus ao máximo, desafiando-o em seu próprio terreno. É como bater com o bordão da corte.

(2) As pessoas tinham sentimentos muito diferentes a respeito dele (v. 12): “Havia grande murmuração entre a multidão a respeito dele”. A inimizade dos governantes contra Cristo, e suas buscas, faziam-no ainda mais comentado e observado entre o povo. O Evangelho de Cristo conquistou este terreno devido à oposição feita a ele, que foi mais inquirido, e, sendo mal reputado em todo lugar, em todo lugar veio a ser reputado, e por meio deste expediente, foi propagado ainda mais, e os méritos de sua causa foram mais investigados. Estes murmúrios não eram contra Cristo, mas a respeito dele. Alguns murmuravam contra os líderes, porque não o toleravam e incentivavam. Outros murmuravam contra eles por­ que não o silenciavam e refreavam. Alguns murmuravam que Ele tinha muito interesse na Galileia. Outros, que Ele tinha pouco interesse em Jerusalém. Observe que Cristo e seu Evangelho têm sido, e serão, assunto de muita controvérsia e muito debate, Lucas 12.51,52. Se todos estivessem de acordo em receber a Cristo como deveriam, haveria uma paz perfeita. Mas como alguns recebem a luz e outros deliberam contra ela, haverá murmúrios. Os ossos no vale, embora estejam mortos e secos, estavam quietos. Mas quando lhes foi dito: Vivam, houve um ruído e uma agitação, Ezequiel 37.7. Mas o ruído e o reencontro da liberdade e do trabalho são preferíveis, certamente, ao silêncio e à conformidade de uma prisão. Quais eram os sentimentos do povo a respeito de Jesus?

[1] “Diziam alguns: Ele é bom”. Isto era uma verdade, mas estava longe de ser toda a verdade. Ele não somente era um bom homem, mas era mais do que um homem, Ele era o Filho de Deus. Muitos que não pensam mal de Cristo, ainda assim têm pensamentos inferiores a respeito dele, e mal o honram, mesmo quando falam bem dele, porque não dizem o suficiente. Mas o fato de que mesmo aqueles que não acreditavam que Ele fosse o Messias não podiam deixar de reconhecer que Ele era um bom homem era verdadeiramente uma honra para Cristo, e uma reprovação para aqueles que o perseguiam.

[2] “Outros diziam: Não; antes, engana o povo”. Se isto fosse verdade, Ele teria sido um homem muito mau. A doutrina que Ele pregava era sólida, e não podia ser contestada; seus milagres eram reais, e não podiam deixar de ser provados; suas palavras eram manifestamente santas e boas. E, ainda assim, supunha-se, apesar disto, que houvesse alguma trapaça não revelada no fundo, porque era interesse dos principais dos sacerdotes opor-se a Ele e destruí-lo. Murmúrios como estes que havia entre os judeus, a respeito de Cristo, ainda existem entre nós. Os socinianos dizem: Ele é um bom homem, e não dizem nada mais; os deístas não reconhecem isto, mas dizem: Ele engana o povo. Desta maneira, alguns o depreciam, outros o maltratam, mas grande é a verdade.

[3] Eles tinham medo de falar muito sobre Ele, devido aos seus superiores (v. 13): “Ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus”. Ou, em primeiro lugar, eles não ousavam falar bem dele abertamente. Embora todos tivessem liberdade de criticá-lo e reprová-lo, ninguém o defendia. Ou, em segundo lugar; eles não ousavam falar abertamente nada sobre Ele. Como nada poderia ser dito contra Ele com justiça, eles não toleravam que nada fosse dito sobre Ele. Era um crime dizer seu nome. Assim, muitos desejaram suprimir a verdade, sob o pretexto de silenciar as controvérsias sobre ela, e desejavam silenciar todas as conversas sobre religião, esperando, desta maneira, enterrar a própria religião no esquecimento.

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