JOÃO 6: 28-59 – PARTE IV

Cristo, o verdadeiro Pão do Céu. Cristo dá as boas-vindas a todos os que veem a Ele. A necessidade de alimentar-se de Cristo
Em segundo lugar, aqui Ele nos informa como isto será feito. Como serão trazidos a Ele aqueles que lhe são dados? Duas coisas devem ser feitas para que isto aconteça:
A. Seus entendimentos serão esclarecidos. Isto está prometido, vv. 45,46. Está escrito nos profetas, que falaram destas coisas anteriormente: “E serão todos ensinados por Deus”. Isto nós encontramos em Isaías 54.13 e Jeremias 31.34. “Todos me conhecerão”. Observe que:
[1] Para crermos em Jesus Cristo, é necessário que sejamos ensinados por Deus, isto é:
[a] Que nos seja feita uma revelação divina, relevando-nos aquilo em que devemos crer, a respeito de Cristo, e por que devemos crer nisto. Há algumas coisas que até mesmo a natureza ensina, mas para nos levar a Cristo há a necessidade de uma luz mais elevada.
[b] Que exista uma obra divina que opere em nós, capacitando-nos a compreender e aceitar estas verdades reveladas e suas evidências. Deus, ao nos dar a razão, nos ensina mais do que aos animais da terra, mas ao nos dar a fé, nos ensina mais do que ao homem natural. Assim, todos os filhos da igreja, todos os que são genuínos, são discípulos de Deus. Ele empreendeu a educação deles.
[2] Como consequência, como dedução disto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu virá a Cristo, v. 45.
[a] Aqui está implícito que ninguém virá a Cristo, exceto aqueles que ouviram e aprenderam do Pai. Nunca seremos levados a Cristo, exceto por uma condução divina. A menos que Deus, pela sua graça, esclareça nossos entendimentos, informe nossos julgamentos e retifique nossos erros, e não somente nos diga o que podemos ouvir mas nos ensine, para que possamos aprender a verdade como ela existe em Jesus, nunca seremos levados a crer em Cristo.
[b] Que este ensinamento divino produz tão necessariamente a fé dos eleitos de Deus, que nós podemos concluir que aqueles que não vierem a Cristo nunca terão ouvido nem aprendido do Pai, pois, se tivessem, sem dúvida teriam vindo a Cristo. Em vão, os homens fingem ser ensinados por Deus, se não creem em Cristo, pois Ele não ensina outra lição, Gálatas 1.8.9. Veja como Deus lida com os homens, como sendo criaturas razoáveis, os atrai com cordas humanas, abre primeiro os entendimentos, e então, por ele, de modo regular, influencia as faculdades interiores. Assim, Ele entra pela porta, mas Satanás, como um salteador, sobe por outra parte. Mas para que ninguém sonhe com uma manifestação visível de Deus, o Pai. a estes filhos dos homens (para ensiná-los estas coisas), e alimente noções grosseiras sobre ouvir e aprender do Pai, Ele acrescenta v. 46): “Não que alguém visse ao Pai”. Aqui está implícito: não que alguém possa vê-lo, com olhos físicos. ou possa esperar aprender dele, como Moisés, a quem Ele falou face a face. mas Deus, ao esclarecer os olhos dos homens, e ao ensiná-los, trabalha de uma maneira espiritual. O Pai dos espíritos tem acesso ao espírito dos homens desapercebidos, e os influencia. Aqueles que não viram seu rosto, sentiram seu poder. Mas existe alguém que conhece intimamente o Pai, aquele que é de Deus, o próprio Cristo, Ele viu o Pai, cap. 1.18. Observe, em primeiro lugar, que Jesus Cristo é de Deus, de uma maneira peculiar, Deus de Deus, luz da luz, não somente enviado por Deus, mas gerado de Deus, antes de todos os mundos. Em segundo lugar, que é prerrogativa de Cristo ter visto o Pai, perfeitamente, e conhecê-lo e seus conselhos. Em terceiro lugar, que até mesmo este esclarecimento, que é uma preparação para a fé, nos é transmitido por meio de Cristo. Aqueles que aprendem do Pai, considerando que não podem vê-lo pessoalmente, devem aprender de Cristo, o único que o viu. Assim como todas as revelações divinas são feitas por meio de Cristo, também por meio dele são exercidos todos os poderes divinos.
B. Suas vontades se curvarão. Se a alma do homem agora tivesse sua retidão original, não haveria mais necessidade de influenciar a vontade, não mais do que o esclarecimento do entendimento. Mas na alma depravada do homem pecador existe uma rebelião da vontade contra os ditados justos do entendimento, uma mente carnal, que é a própria inimizade à luz e à lei divinas. Portanto, é necessário que exista uma obra de graça operando sobre a vontade, que aqui é chamada de “trazer” (v.44): “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer”. Os judeus murmuravam contra a doutrina de Cristo. Eles não somente não a aceitavam, mas se irritavam porque outros a aceitavam. Cristo ouviu seus murmúrios em segredo, e disse (v. 43): ” Não murmureis entre vós”. Não coloqueis a culpa do vosso descontentamento com minha doutrina sobre os outros, como se fosse porque vós a considerais desagradável, de maneira geral. Não, ele se deve a vós mesmos, e às vossas próprias disposições corruptas, que equivalem a uma impotência moral. Vossas antipatias às verdades de Deus e vossos preconceitos contra elas são tão fortes, que nada menos do que o poder divino pode derrotá-los”. E este é o caso de toda a humanidade: “Ninguém pode vir a mim”, ninguém pode persuadir-se a aproximar-se aos termos do Evangelho, “se o Pai, que me enviou, o não trouxer”, v. 44. Observe:
(a) A natureza da obra: é trazer, o que não indica uma força colocada sobre a vontade, por meio da qual de indispostos passamos a dispostos, e uma nova inclinação é dada à alma, pela qual ela se inclina a Deus. Parece ser mais do que uma persuasão moral, pois nisto está o poder de atração, mas não deve ser chamado de um impulso físico, pois está fora do caminho da natureza. Porém, aquele que formo u no homem seu espírito pelo seu poder criador, e modela os corações dos homens pela sua influência providencial, sabe como remodelar a alma, e alterar sua tendência e temperamento, e fazê-la conformável a si mesmo e à sua vontade, sem causar nenhum dano à sua liberdade natural. É urna atração tal, que opera não somente a obediência, mas uma obediência alegre, uma complacência: “Leva-nos tu, correremos após ti”.
(b) A necessidade desta obra: ninguém, nesta condição fraca e desamparada, pode vir a Cristo sem ela. Assim corno não podemos realizar nenhuma ação natural sem a ajuda da providência comum, também não podemos realizar nenhuma ação moralmente boa sem a influência da graça especial, na qual vive e se move o novo homem, na qual ele tem sua existência, tanto quanto o mero homem a tem na divina providência.
(c) O autor desta obra: o “Pai que me enviou”. O Pai, tendo enviado a Cristo, irá segui-lo, pois não o enviaria em uma missão infrutífera. Tendo Cristo se comprometido a trazer as almas à glória, Deus lhe prometeu, para isto, trazê-las a Ele, e, desta maneira, dar-lhe a posse daquelas às quais Ele lhe tinha dado o direito. Tendo Deus, pela promessa, dado o reino de Israel a Davi, após algum tempo levou os corações das pessoas a ele. De modo que, tendo enviado Cristo para salvar as almas, Ele lhe envia as almas, para que sejam salvas por Ele.
(d) A coroa e perfeição desta obra: “E eu o ressuscitarei no último Dia”. Isto é mencionado quatro vezes neste discurso, e sem dúvida inclui todas as obras intermediárias e preparatórias da divina graça. Quando os ressuscitar, no último dia, Ele dará o retoque final no seu empreendimento, colocará a pedra final. Se Ele realiza isto, certamente pode realizar qualquer coisa, e fará tudo o que for necessário para isto. Que nossas expectativas sejam levadas em direção à felicidade reservada para o último dia, quando todos os anos do tempo estiverem completos e concluídos.
C. Tendo se referido a si mesmo como o pão da vida, e tendo se referido à fé como uma obra de Deus, o Pai, Cristo mostra mais particularmente e especificamente o que é este pão: sua carne. O Senhor também está ensinando que crer é comer dela, vv. 51-58. O Senhor ainda está uti lizando a metáfora da comida. Observe, aqui, a preparação desta comida: “O pão que eu der é a minha carne” (v. 51), a carne do Filho do homem e seu sangue.
(2) Vejamos como estas palavras de Cristo estavam propensas a enganos e a más interpretações, de modo que os homens pudessem ver e não perceber.
[1] Elas foram mal interpretadas pelos judeus carnais, aos quais elas foram ditas em primeiro lugar (v. 52): “Disputavam, pois, os judeus entre si”. Eles murmuravam aos ouvidos, uns do outros, sua insatisfação: “Como nos pode dar este a sua carne a comer?” Cristo falou (v. 51) de dar sua carne por nós, de sofrer e morrer. Mas eles, sem a devida consideração, interpretaram a expressão “dar-se por nós” como “ser comido”. Isto deu oportunidade para que Cristo lhes dissesse que, embora o que Ele tinha dito tivesse intenções diferentes, ainda assim, mesmo isto, comer sua carne, não era uma coisa tão absurda (se corretamente interpretada) à primeira vista eles a entenderam.
[2] Elas foram indignamente mal interpretadas pela igreja de Roma, para sustentar sua monstruosa doutrina de transubstanciação, o que traz uma mentira aos nossos sentidos, contradiz a natureza de um sacramento, e destrói todas as evidências convincentes. Estes, como os judeus aqui, entendem que se trata de comer fisicamente e carnalmente o corpo de Cristo, como Nicodemos, cap. 3.4. A Ceia do Senhor ainda não tinha sido instituída, e, portanto, não poderia haver referência a ela. É um comer e beber espiritual que se menciona aqui, algo que não é sacramental.
[3] As palavras são mal interpretadas por muitas pessoas carnais e ignorantes, que deduzem que, se participarem do sacramento, quando morrerem, certamente irão para o céu. Isto, da mesma maneira, traz um desconforto desnecessário a muitos que são fracos. Eles podem pensar que, se não participarem deste sacramento, estarão desqualificados. Este conceito equivocado também faz com que muitos que são ímpios se sintam desnecessariamente confortáveis, pensando que, se participarem deste sacramento, serão salvos, mesmo sem o arrependimento, a conversão e o perdão dos pecados. Portanto:
[1] Vejamos como estas palavras de Cristo devem ser interpretadas.
[1] O que significam a carne e o sangue de Cristo. Isto é chamado (v. 53) “a carne do Filho do Homem e… o seu sangue”, seu, como Messias e Mediador; a carne e o sangue que Ele assumiu na sua encarnação (Hebreus 2.14), e que Ele entregou na sua morte e nos seus sofrimentos: Minha carne, que Eu darei, para que seja crucificada e morta. Está escrito que ela é dada “pela vida do mundo”, isto é, em primeiro lugar; em lugar da vida do mundo, que tinha sido perdida pelo pecado, Cristo dá sua própria carne como um resgate. Cristo foi nosso fiador, comprometendo corpo por corpo (como dizemos), e, portanto, sua vida deve tomar o lugar da nossa, para que a nossa possa ser poupada. “Aqui estou Eu, deixai ir estes”. Em segundo lugar; o Senhor Jesus Cristo deu sua vida para que todas as pessoas do mundo pudessem ter a vida, para oferecer a vida eterna a todo o mundo, sem exceções, e as garantias especiais dela a todos os crentes. De modo que a carne e o sangue do Filho do homem denotam o Redentor encarnado, morto e ressuscitado. Cristo, e este crucificado, e a redenção realizada por Ele, com todos os preciosos benefícios da redenção, a saber, o perdão dos pecados, a aceitação de Deus, a adoção como filhos, o acesso ao trono da graça, as promessas do concerto e a vida eterna. Tudo isto é chamado de carne e v. 53. Sua carne verdadeiramente é comida, e seu sangue verdadeiramente é bebida, v. 55. Observe, além disto, a participação desta comida: nós devemos comer a carne do Filho do Homem e beber seu sangue (v. 53). E outra vez (v. 54): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”. E as mesmas palavras (vv. 56,57): “Quem de mim se alimenta”. Esta é certamente uma parábola, ou um discurso figurativo, em que as atividades da alma em coisas espirituais e divinas são representadas por ações físicas em coisas perceptíveis, o que torna as verdades de Cristo mais inteligíveis a alguns, e menos a outros, Marcos 4.11,12. Agora:
1. Por ser tudo isto comprado pela sua carne e pelo seu sangue, por seu corpo moído, e pelo seu precioso sangue derramado. Os privilégios comprados podem, muito bem, ser chamados conforme o preço que foi pago por eles, pois isto mostra seu valor. Escreva sobre eles preço de sangue.
2. Por ser tudo isto a comida e a bebida para nossas almas. A carne com sangue era proibida (Genesis 9.4), mas os privilégios do Evangelho são como carne e sangue para nós, preparados para a nutrição das nossas almas. Anteriormente, Cristo tinha se comparado ao pão, que é um alimento necessário. Aqui, o Senhor se compara com a carne, que é saborosa. É uma festa com animais gordos, Isaías 25.6. A alma se fartará de Cristo, como de tutano e de gordura, Salmos 63.5. É comida, verdadeiramente, e bebida, verdadeiramente, verdadeiramente e espiritualmente. Assim como Cristo é chamado de vinho verdadeiro, ou de comida, verdadeiramente, em oposição às demonstrações e sombras com que o mundo engana aqueles que dele se alimentam. Em Cristo, e no seu Evangelho, existe uma provisão verdadeira e uma satisfação sólida. É verdadeiramente comida, e verdadeiramente bebida, que sacia e satisfaz, Jeremias 31.25,26.
[2] O que significa comer esta carne e beber este sangue, que é tão necessário e benéfico. É certo que isto significa nada mais que crer em Cristo. Da mesma maneira como nós compartilhamos a comida e a bebida, comendo e bebendo, também compartilhamos Cristo e seus benefícios pela fé, e crer em Cristo inclui quatro coisas, que estão relacionadas a comer e beber. Em primeiro lugar, implica em um apetite de Cristo. Este comer e beber espiritual tem início na sede e na fome (Mateus 5.6), desejos fervorosos e inoportunos em relação a Cristo, que não podem ser satisfeitos com algo que não seja o próprio Senhor: “Dá-me Cristo, senão morro”. Em segundo lugar, implica em uma aplicação de Cristo a nós mesmos. A comida somente olhada não nos alimentará, mas sim a comida consumida, e tornada nossa, e como se fosse uma coisa só, conosco. Nós devemos aceitar Cristo de modo a apropriá-lo a nós mesmos: “Senhor meu, e Deus meu”, cap. 20.28. E m terceiro lugar, implica em um deleite em Cristo e na sua salvação. A doutrina de Cristo crucificado deve ser comida e bebida para nós, agradável e prazerosa. Nós devemos nos banquetear com os manjares do Novo Testamento que nos são concedidos através do sangue de Cristo, tendo uma complacência tão grande nos métodos que a Sabedoria Infinita adotou para nos redimir e salvar quanto sempre tivemos com as provisões mais necessárias ou com as delícias mais prazerosas da natureza. Em quarto lugar, implica na obtenção da nutrição dele e em uma de pendência dele, para o sustento e o consolo da nossa vida espiritual, e a força, o crescimento e o vigor do novo homem. Alimentar-se de Cristo é fazer tudo no seu nome, em união com Ele, e pela virtude extraída dele. É viver dele, como vivemos do nosso alimento diário. Não sabemos descrever como nossos corpos são nutridos pelo alimento que comemos, mas sabemos que o são. Também é assim com esta nutrição espiritual. Nosso Salvador estava tão satisfeito com esta metáfora (por ser muito significativa e expressiva), que, quando Ele instituísse posteriormente alguns sinais perceptíveis externos, com os quais representaria a transmissão dos benefícios da sua morte para os cristãos, Ele escolheria o comer e o beber, e faria deles atos sacramentais.
(3) Tendo, desta maneira, explicado o significado geral desta parte do discurso de Cristo, os detalhes se reduzem a dois tópicos:
[1] A necessidade de que comamos de Cristo (v. 53): “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Isto é, em primeiro lugar: “Se vocês não tiverem desejo em relação a Cristo, nem deleite nele, isto é um sinal garantido de que não têm uma vida espiritual”. Se a alma não tiver fome nem sede, certamente não viverá. Se estivermos mortos para uma comida e uma bebida como estas, isto é um sinal de que estamos verdadeiramente mortos. Quando se deseja distinguir abelhas artificiais, que, por correntes curiosas, são levadas a se mover de um lado a outro, das naturais (dizem), basta colocar mel entre elas, pois somente as abelhas naturais se interessarão por este alimento. As artificiais não se importam, pois não têm vida em si mesmas. Em segundo lugar: “É certo que vocês não poderão ter vida espiritual, a menos que a obtenham de Cristo, pela fé. Separados dele, vocês não conseguem nada”. A fé em Cristo é o primeiro princípio vivo de graça. Sem ele, não temos a verdade da vida espiritual, nem nenhum direito à vida eterna. Nossos corpos podem viver sem comida tanto quanto nossas almas, sem Cristo.
[2] Os benefícios e as vantagens de nos alimentarmos de Cristo, em dois aspectos:
Em primeiro lugar, nós seremos um com Cristo, como nossos corpos são um com nossa comida, quando ela é digerida (v. 56): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”, que vive pela fé no Cristo crucificado (isto é dito como sendo uma ação contínua), “permanece em mim, e eu, nele”. Pela fé, nós temos uma união íntima com Cristo. Ele está em nós, e nós nele, cap. 17.21-23; 1 João 3.24. Os crentes residem em Cristo, como sua fortaleza ou cidade de refúgio. Cristo reside neles, como o senhor da casa, para administrá-la e prover para ela. Tal é a união entre Cristo e os crentes, que Ele compartilha das suas tristezas, e eles compartilham das suas graças e alegrias. Ele come com eles suas ervas amargas, e eles comem com Ele seus ricos manjares. É uma união inseparável, como aquela entre o corpo e o alimento digerido, Romanos 8.35; 1 João 4.13.
Em segundo lugar nós viveremos, viveremos eternamente, por Ele, assim como nossos corpos vivem pela nossa comida.
1. Nós viveremos por Ele (v.57): “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim”. Aqui temos a sequência e a ordem da vida divina.
(a) Deus é o Pai que vive, tem vida em si e emana vida de si. “Eu sou o que sou” é seu nome para sempre.
(b) Jesus Cristo, sendo Mediador, vive junto ao Pai. Ele tem vida em si mesmo (cap. 5.26), mas a recebe do Pai. Aquele que o enviou, não somente o capacitou com esta vida que era necessária para um empreendimento tão grandioso, mas também fez dele o tesouro da vida divina em nós. Ele soprou no segundo Adão o sopro da vida espiritual, assim como soprou no primeiro Adão o sopro da vida natural.
(c) Os crentes fiéis recebem esta vida divina em virtude da sua união com Cristo, o que é deduzido da união entre o Pai e o Filho, pois é comparada a ela, cap. 17.21. Portanto, “quem de mim se alimenta também viverá por mim”. Aqueles que vivem em Cristo, viverão por meio dele. A vida dos crentes é obtida de Cristo (cap. 1.16). Ela está escondida com Cristo (Colossenses 3.3-4). Nós vivemos por Ele assim como os membros vivem através da cabeça do corpo, e também como os ramos vivem através da raiz. Pelo fato de Ele viver, nós também viveremos.
A. Nós viveremos eternamente por Ele (v.54): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue”, como bênçãos preparadas no Evangelho para serem o alimento das almas, “tem a vida eterna”, e a tem agora, como lemos no versículo 40. Aquele que se alimenta de Cristo tem a vida eterna iniciada em si mesmo, tem um sinal e uma antecipação dela, como também a esperança dela. Este viverá para sempre, v. 58. Sua felicidade correrá em paralelo com a linha mais longa da própria eternidade.
Finalmente, o historiador conclui com uma consideração a respeito de onde Cristo teve este debate com os judeus (v.59): “na sinagoga, ensinando”, o que sugere que Ele ensinou-lhes muitas outras coisas antes destas. Mas, neste discurso, isto é que era novo. Ele acrescenta que disse estas coisas “na sinagoga” para mostrar:
1. A fidedignidade da Doutrina de Cristo. Suas verdades não publicadas pelos cantos, mas pregadas publicamente em assembleias mistas, foram submetidas aos mais imparciais e severos testes. Cristo declarou sobre sua doutrina (cap. 18.20):”Eu sempre ensinei na sinagoga”.
2. A credibilidade desta narrativa. Assegura a você que o pronunciamento foi plenamente exposto, Ele referiu-se à sinagoga em Cafarnaum, onde isto poderia ser examinado.
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