JOÃO 5: 1-16 – PARTE III

A Cura no Tanque de Betesda
V – O que aconteceu com o pobre homem depois que ele foi curado. Aqui nos é dito:
1. O que ocorreu entre ele e os judeus que o viram carregar sua cama no sábado. A cura foi realizada no sábado, e este era o sábado da semana da páscoa, e, portanto um grande dia, cap. 19.31. A obra de Cristo era tal, que ele não precisava estabelecer qualquer diferença entre os dias de sábado e outros dias, porque Ele estava sempre ocupado com os interesses de seu Pai. Entretanto, Ele realizou muitas curas notáveis no sábado, talvez para encorajar sua igreja a esperar dele, pela observância do dia de repouso cristão, aqueles favores espirituais que eram caracterizados por suas curas milagrosas. Aqui:
2. Os judeus discutiram com o homem por carregar sua cama no dia de sábado, dizendo-lhe que isso não era lícito, v. 10. Não está claro se eles eram magistrados, que tinham poder para puni-lo, ou pessoas simples, que só poderiam denunciá-lo, mas era louvável que, embora não soubessem sob qual autoridade ele estivesse agindo daquele modo, eles estivessem zelosos para com a honra do sábado, e não pudessem, com indiferença, vê-lo pro fanado, como Neemias, Neemias 13.17.
3. O homem justificou-se no que fez através de uma autoridade que o apoiava, v. 11. “Eu não faço isso com desprezo à lei e ao sábado, mas em obediência a quem, ao me curar, deu-me uma incontestável prova de que é maior do que qualquer um deles. Aquele que pode realizar um milagre como o de me curar; sem dúvida, pode me dar uma ordem para carregar minha cama. Aquele que pode dominar as forças da natureza, sem dúvida, pode prevalecer sobre uma lei positiva, especialmente em uma situação que não estava relacionada à essência da lei. Aquele que foi tão generoso em me curar não seria tão cruel em ordenar que eu fizesse algo pecaminoso”. Cristo, ao curar outro paralítico, demonstrou seu poder para perdoar os pecados, e aqui, para legislar. Se seus perdões são válidos, suas ordens também são, e seus milagres comprovaram ambas as coisas.
(3) Os judeus perguntaram ainda quem lhe dera essa ordem (v.12): “Quem é o homem?” Observe quão habilmente eles ignoraram aquilo que poderia ser um forte motivo para sua fé em Cristo. Eles perguntaram, não por curiosidade: “Quem é esse que te curou?” Embora eles habilmente entendessem aquilo que poderia ser uma base para uma reflexão sobre Cristo (“Quem é o homem que te disse: Toma a tua cama e anda?”), eles, de bom grado, intimariam o paciente a ser uma testemunha contra seu médico, e a ser seu traidor. Em suas perguntas, observe que:
[1] Eles decidem olhar Cristo como um mero homem: “Quem é o homem?” Pois, embora Ele já tivesse dado todas as provas convincentes de que era o Filho de Deus, eles haviam decidido que nunca o reconheceriam como tal.
[2] Eles resolvem olhar para Ele como um homem mau, e dão como certo que aquele que ordenou que esse homem carregasse sua cama, qualquer que fosse a autorização divina que pudesse apresentar; era certamente um infrator da lei, e, como tal, eles decidem processá-lo. “Que homem é esse que se atreve a dar tais ordens?”
(4) O pobre homem não tinha condições de prestar-lhes qualquer esclarecimento sobre Jesus: “O que fora curado não sabia quem [Ele] era”, v. 13.
[1] Cristo, quando o curou, era um desconhecido para ele. Provavelmente, ele havia ouvido falar do nome de Jesus, mas não nunca o tinha visto, e por isso não podia dizer que aquele era Ele. Note que Cristo concede muitos favores para aqueles que não o conhecem, Isaías 45.4,5. Ele nos instrui, fortalece, anima, conforta, e nós não sabemos quem Ele é, nem temos consciência do quanto recebemos diariamente através da sua mediação. Esse homem, que desconhecia Cristo, não podia realmente crer que receberia uma cura da parte dele, mas Cristo conhecia as características de sua alma e adequou seu ato de generosidade a elas, como fez para o homem cego em um caso semelhante, cap. 9.36. Nossa aliança e nossa comunhão com Deus originam-se não tanto de nosso conhecimento a respeito dele, mas do conhecimento que Ele tem a respeito de cada um de nós. Nós conhecemos a Deus, ou melhor, somos conhecidos dele, Gálatas 4.9.
[2] Por um determinado período, o Senhor Jesus se manteve incógnito, pois logo que realizou a cura, Ele se retirou. Ele se fez incógnito (assim alguns interpretam), “em razão de naquele lugar haver grande multidão”. Isto é mencionado para mostrar, ou, em primeiro lugar, como Cristo se retirou – misturando-se à multidão, para não ser distinguido de uma pessoa comum. Aquele que era frequentemente o comandante de milhões de milhões se fez um na multidão. É, às vezes, o destino daqueles que se notabilizam por suas obras serem nivelados à multidão, e passar em despercebidos. Ou, em segundo lugar; que Ele se retirou porque naquele lugar havia uma grande multidão, e Ele habilmente evitou tanto a aclamação daqueles que ficaram admirados com o m:ilagre, e o exaltariam, quanto a crítica daqueles que o reprovariam como um profanador do sábado, e o perseguiriam. Aqueles que são produtivos para Deus em sua geração devem esperar passar de uma reputação boa a uma reputação ruim, e é muito sábio evitar a ambos, para que não sejamos exaltados por um, e desvalorizados pelo outro, acima da medida. Cristo deixou que o próprio milagre o glorificasse, e que o homem em quem foi realizado o justificasse.
4. O que se passou entre o homem dantes enfermo e nosso Senhor Jesus em seu encontro posterior; v. 14. Observe aqui:
(1) Onde Cristo o encontrou: “no templo”, o lugar público de adoração. Em nosso comparecimento aos cultos públicos, podemos esperar nos encontrar com Cristo, e aperfeiçoar nossa intimidade com Ele. Observe:
[1] Cristo foi ao Templo. Embora Ele tivesse muitos inimigos, ainda assim Ele apareceu em público, porque ali Ele prestava seu testemunho às instituições divinas, e tinha a oportunidade de fazer o bem.
[2] O homem que fora curado foi ao Templo. Lá, Cristo o encontrou, ao que parece, no mesmo dia em que ele fora curado. Para lá, ele fora diretamente, em primeiro lugar, porque ele, devido à sua enfermidade, havia sido por muito tempo impedido de entrar naquele lugar: Talvez ele não tivesse estado ali por trinta e oito anos, e, por essa razão, tão logo o embargo é cancelado, sua primeira visita será ao Templo, como declara Ezequias que será a sua (Isaias 38.22): “Qual será o sinal de que hei de subir à Casa do Senhor? Em segundo lugar, porque ele tinha, devido à sua recuperação, uma boa missão para cumprir ali. Ele subiu ao Templo para agradecer a Deus pela sua recuperação. Quando, a qualquer tempo, Deus tiver restaurado nossa saúde, nós devemos nos ocupar naquilo que é dele com louvores solenes (Salmos 116.18,19), e quanto antes melhor; enquanto o sentimento de misericórdia é recente. Em terceiro lugar; porque, ao carregar sua cama, ele parecia ter desprezado sábado. Desta maneira, ele mostraria que tinha respeito por ele, e que estava consciente da santificação do sábado naquilo em que sua ênfase principal estava apoiada, que é a adoração pública a Deus. Obras inadiáveis de misericórdia são permitidas, porém, quando elas estiverem terminadas, nós devemos ir para o templo.
(2) O que Jesus lhe disse. Quando Cristo nos cura, há outras coisas que precisam ser feitas. Ele agora se dedica à cura da alma do homem, e também o faz pela palavra.
[1] Ele lhe dá uma lembrança de sua cura: “Eis que já estás são”. Ele se achava são, mesmo assim Cristo chama a atenção dele para isso. Contemple, considere seriamente quão rápida, quão estranha, quão barata, e quão confortável foi a cura. Aprecie-a. Contemple-a e maravilhe-se. Lembre-se dela. Permita que as impressões dela permaneçam, e nunca se percam, Isaías 38.9.
[2] Ele lhe dá um aviso sobre o pecado, considerando-o: “Já estás são; não peques mais”. Isto indica que sua doença era uma punição pelo pecado. Se por algum pecado muito escandaloso, ou apenas pelo pecado em geral, não temos como saber, porém sabemos que o pecado, às vezes, é a causa que induz a doença, Salmos 107.17,18. Alguns comentam que Cristo não fez menção de pecado a nenhum de seus pacientes, exceto a este homem incapaz e a outro que estava doente da mesma forma, Marcos 2.5. Enquanto essas doenças crônicas permaneciam, elas impediam a exteriorização de muitos atos pecaminosos, e por isso, quando a deficiência era eliminada, o cuidado era ainda mais necessário. Cristo revela que aqueles que são curados, que são libertados da presente punição concreta pelo pecado, correm o risco de voltar a pecar quando o medo e a moderação terminarem, a não ser que a graça divina seque a fonte. Quando o aborrecimento que apenas represava a correnteza acaba, as águas retornam ao seu curso anterior; e por esse motivo há uma grande necessidade de vigilância, para que, após a cura pela misericórdia, não retornemos outra vez à loucura. O sofrimento do qual fomos curados nos alerta para não mais pecarmos, tendo sentido a dor do pecado. O perdão pelo qual fomos curados é um compromisso de não escandalizarmos aquele que nos curou. Esta é a orientação de toda providência: “Vai-te e não peques mais”. Este homem começou sua nova vida muito esperançosamente no Templo, mesmo assim Cristo achou necessário transmitir-lhe este aviso, pois é comum que as pessoas, quando estão doentes, prometam muito, e quando recém curadas, façam alguma coisa, mas após algum tempo, esqueçam de tudo.
[3] Jesus o adverte do risco, caso ele retornasse à sua antiga rotina pecaminosa: “Para que te não suceda alguma coisa pior”. Cr isto, que conhece o coração de todos os homens, sabia que este era um homem que devia temer o pecado. Seria de se pensar que ser aleijado por trinta e oito anos era algo suficientemente ruim. Ainda assim, há algo pior que lhe acontecerá se ele reincidir no pecado, após Deus lhe ter dado um livramento como este, Esdras 9.13,14. O local onde ele se deitava era um local melancólico, mas o inferno é muito mais. A condenação dos apóstatas é algo muito pior do que uma deficiência física de trinta e oito anos.
VI – Agora, depois deste encontro entre Cristo e seu paciente, observe nos dois versículos que se seguem:
1. O anúncio que o pobre homem simples fez aos judeus concernente a Cristo, v. 15. Ele “foi e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara”. Temos motivo para pensar que ele planejou isto para a honra de Cristo e o benefício dos judeus, não imaginando que aquele que tinha tanto poder e bondade pudesse ter quaisquer inimigos. Mas aqueles que querem o bem do reino de Cristo devem ter a prudência ela serpente, para que não façam mais mal do que bem com seu zelo, e não deitem pérolas aos porcos.
2. A ira e a hostilidade dos judeus contra ele: “Por essa causa, os judeus perseguiram Jesus”. Veja:
(1) Como era absurda e irracional a hostilidade deles para com Cristo. “Por essa causa”, porque Ele havia curado um pobre doente, e assim aliviado o fardo público, às custas do qual é provável que ele havia subsistido. “Por essa causa”, eles o perseguiam, porque Ele praticava o bem em Israel.
(2) Como isso era sangrento e cruel: eles “procuravam matá-lo”. Nada menos do que se u sangue, sua viela, os satisfaria.
(3) Como isso era disfarçado com uma aparência de zelo pela honra do sábado, pois este fora o pretenso crime: “Porque [Ele] fazia essas coisas no sábado”, como se esta particularidade bastasse para invalidar as melhores e mais divinas ações, e para tornar odioso aquele cujas obras eram, pelo contrário, as mais meritórias. Dessa maneira, os hipócritas muitas vezes acobertam sua verdadeira hostilidade contra o poder da Divindade, através de um falso zelo pela forma desta.
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