PSICOLOGIA ANALÍTICA

SUTIL ARTE DE ENGANAR

Milhares de mensagens para orientar nossas escolhas nos bombardeiam diariamente. Muitas vezes somos cúmplices involuntários dos artistas da persuasão.

Sutil arte de enganar

Há os que falam em persuasão e os que, de forma explícita, falam em manipulação linguística ou, simplesmente, engano. O fato é que há milhares de maneiras de não dizer a verdade sem mentir. Na sociedade da comunicação, as técnicas midiáticas assumem importância cada vez maior. “Se você não comprar este livro, seu concorrente será o primeiro a fazê-lo” é a clássica frase com que os editores americanos promovem os textos de “psicologia da persuasão”. Mas o objetivo pode ser também alertar o leitor contra os truques empregados pelo persuasor, como no livro The age of propaganda, publicado nos Estados Unidos em 1991, em que os psicólogos Anthony Pratkanis e Elliot Aronson denunciavam a inundação de mensagens manipuladoras que assediam os americanos todos os dias. Mencionemos também Com Sabor de Chocolate, de Matteo Rampin, irônico ensaio escrito com o objetivo de evidenciar – e assim, pelo menos teoricamente, neutralizar – os mecanismos que desencadeiam o condicionamento. O título é sugestivo: um alimento “sabor chocolate” costuma conter pouco chocolate, pois caso contrário isso seria declarado explicitamente. Mas é um detalhe que tendemos a ignorar para grande alegria dos fabricantes, concentramo-nos no conceito de maior apelo. Segundo Rampin, nosso cérebro não reproduz fielmente a realidade exterior, mas a constrói segundo mecanismos que foram selecionados ao longo da evolução porque nos orientam no mundo. Para evitar a análise detalhada de todas as informações que chegam do exterior, a mente procura atalhos: eis porque é tão fácil induzir os outros a erro e até enganá-los deliberadamente”.

“Os truques retóricos que se aproveitam dos automatismos da mente sempre existiram: basta pensar no significado do termo ‘maquiavélico’. E Shakespeare fornece, no Otelo, uma longa lista de exemplos”, explica Cristiano Castelfranchi, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Comunicação, ligado ao Conselho Nacional de Pesquisa da Itália.

O interessante é que tais mecanismos de distorção funcionam mesmo se os conhecemos muito bem. “Sabemos perfeitamente que o prestidigitador não é um mágico verdadeiro, o que não nos impede de sermos vítimas dos mecanismos presentes em nossa mente. Por exemplo, diante de dois objetos em movimento, somos levados a seguir com o olhar aquele que se move mais rapidamente, diz Rampin. É assim que o “mágico” consegue distrair e move velozmente uma mão   para atrair a atenção, enquanto a outra executa o truque rapidamente.  Assim também podem enganar, “como bem sabem os adeptos da guerra psicológica e da propaganda política, explica o psiquiatra e psicoterapeuta. Mas o instrumento mais refinado de mistificação ainda é a linguagem, na qual nos baseamos para construir nosso mundo mental e de relações interpessoais.  “O processo pelo qual a pessoa que fala ou escreve dirige a atenção do interlocutor, empregando determinadas palavras e induzindo-o a ignorar certos conceitos, não é muito diferente do comportamento do prestidigitador”, afirma o psicólogo americano Michael Hall, autor de Mind lines.

Se, por exemplo, uma embalagem anuncia que o produto contém – ou não – determinado ingrediente, somos levados a pensar que isso representa para nós uma vantagem. Mas trata-se de uma dedução nossa: o fabricante limita-se a declarar a presença do ingrediente ou, no máximo, a afirmar que o produto “ajuda” a resolver certo problema. No entanto, o fato de que, para darmos mais um exemplo, determinada água mineral facilite a diurese ou a eliminação de toxinas não significa que seja um produto excepcional, pois essa é uma característica comum, em maior ou menor grau, a toda água potável. E um produto que “não contém” lactose, colesterol ou qualquer outro ingrediente não se torna, necessariamente (a menos que soframos de alguma intolerância em relação a eles), mais benéfico. Como observa Castelfranchi, “se a informação vier expressa tendemos a pensar que tal característica é digna de atenção: pelo menos é assim que nosso cérebro raciocina.

 

A PALAVRA FAZ A FORÇA

“Segundo os psicolinguistas   ‘dizer é fazer”, lembra Rampin, “e, nesse processo de construção da realidade mediante a palavra, a forma muitas vezes conta mais que a substância”. Um exemplo retirado de Com sabor de Chocolate ilustra a questão. Se promovo meu jornal com o seguinte slogan “Leia a Gazeta. Descubra a verdade”, não sou obrigado a respeitar códigos normativos rígidos, e o leitor é induzido a criar automaticamente um nexo lógico entre as frases, interpretando-a como “Leia a Gazeta e descobrirá a verdade”.

Castelfranchi acrescenta: “Pensemos nas propagandas de sabão em pó que afirmam que nenhum outro produto lava mais branco”. Interpretamos a sentença no sentido deque o sabão em questão é o melhor do mercado. Mas levando em conta o significado literal do que é dito, diversos produtos podem ser todos iguais, se digo ‘nenhum lava mais branco’ que meu produto não excluo que outros possam fazer o mesmo. Dessa forma se obtém um efeito semelhante ao da publicidade comparada, evitando-se, porém, a necessidade de provar a afirmação.

O problema é não conseguir desconfiar, nem mesmo quando deveríamos por que damos ouvidos ao vendedor que conta as vantagens de seu produto se, obviamente, ele é parte interessada? “Podemos nos consolar pensando que o mesmo vendedor será enganado por outro, há uma espécie de pacto de indulgência mútua que sustenta a sociedade”, comenta Rampin. Esse mecanismo está enraizado em nossa cultura. “O psicólogo da linguagem Paul Grice foi o primeiro a afirmar que os seres humanos agem conforme o ‘princípio da boa-fé, segundo o qual quem comunica algo, tende a transmitir informações verdadeiras e relevantes ao interlocutor”, explica Castelfranchi. Segundo ele, esse princípio foi muito criticado, mas de fato todo ser humano, quando não tem motivo específico para mentir, tende a dizer a verdade e o interlocutor, se não tiver bons motivos para duvidar, tende a acreditar no que ouve: a troca de informações é uma das bases da sociedade.

Dado que cada um de nós só pode ter acesso direto a uma pequena parte das informações necessárias à sobrevivência, o “altruísmo cooperativo da comunicação’ é elemento fundamental na história de nossa espécie. Isso não é menos verdade nas fases históricas, como esta em que vivemos, nas quais a confiança tende a ser mais rara, pelo menos em certos contextos: se outrora um aperto de mão bastava para sinalizar o acordo, agora necessitamos de um complexo contrato. Para Castelfranchi, algo similar está ocorrendo na internet, em que a abertura total e a falta de controle estão colocando em crise a confiabilidade da informação. Também porque a internet desintegra a comunidade, anulando os mecanismos de garantia que são a base das sociedades de dimensões mais reduzidas, nas quais os indivíduos se conhecem e têm uma reputação “a zelar”.

Mas mesmo em nossa desconfiada sociedade as palavras podem exercer efeitos quase mágicos. Hellen Langer, psicóloga da Universidade Harvard, mostrou experimentalmente que as pessoas estão mais dispostas a ceder seu lugar na fila – para tirar uma cópia, por exemplo – se o pedido for acompanhado de uma explicação, independentemente da validade desta. Frases como “posso passar na sua frente, vou fazer apenas uma cópia” ou “posso passar na frente? Estou muito atrasado” produzem um efeito que o pedido puro e simples não geraria. O psicólogo americano Robert Cialdini, da Universidade do Arizona, definiu os seis critérios que levam alguém a se deixar influenciar.

As pessoas que nos sugestionam são as que nos parecem simpáticas ou que pertencem ao nosso “grupo de pares”, as que parecem ter prestígio (pessoas endividadas, mas vestidas com elegância, são admiradas),as que nos envolvem em seus projetos (se assinarmos uma petição por uma causa, seremos mais inclinados a contribuir), as que nos oferecem algo, seja um presente, seja simplesmente atenção, as que propõem um bem que percebemos como raro ou precioso.

Mas há ainda outros tipos de astúcia. Podemos enganar dizendo a verdade: se a embalagem informar que os biscoitos “não contêm nitrato”, aponta Rampin, dirá a verdade. Mas com isso leva-se o consumidor a pensar que os produtos concorrentes contêm nitrato, “algo que não é verdade, ou ao menos se espera que não seja”. Castelfranchi acrescenta que por vezes nos limitamos a insinuar:  “Vi sua esposa em um carro com fulano’, deixando que nosso interlocutor extraia do que dizemos uma dedução pela qual, pelo menos em tese, não nos responsabilizamos”.                 Rampin chega a falarem “comunicação hipnótica”: Quando pensamos em hipnose nos vem à mente a imagem de uma pessoa em transe, com um pêndulo oscilando diante dos olhos. Mas, na verdade, há formas leves de transe que se apresentam espontânea e diariamente, por exemplo quando ‘sonhamos de olhos abertos,’ e que podem ser induzidas pela comunicação linguística apropriada”. Em tais casos é difícil distinguir entre retórica, poesia e hipnose: é a isso que nos referimos quando dizemos que um orador é “magnético” ou encantador.

E ainda mais se a pessoa for considerada como prestigiosa, um critério tão subjetivo (há os que dizem “acredito porque ouvi na televisão”) quanto falacioso. Castelfranchi salienta que “pode ser correto sustentar, como ocorre frequentemente, que algo que ‘todos dizem’ tem, por esse motivo, grande chance de ser verdadeiro, mas desde que a notícia tenha chegado de fontes independentes e não seja, por exemplo, a simples repetição, por vários jornais, de notícia divulgada por uma agência: é dessa forma que nascem as lendas urbanas, cuja característica é justamente não ter testemunhas oculares identificáveis”.

O poder da ciência em nos tranquilizar é ainda maior: um produto “clinicamente testado” parece oferecer por si só uma garantia, ainda que o importante seja, na realidade, o resultado do teste, para não falar do tipo de pergunta formulada, da amplitude e validade das amostras. Pelo mesmo motivo, tendemos a confiar nos números, mesmo quando eles proporcionam informações inúteis: Por exemplo, “contém menos 15% de sódio”, mas em relação a quê?  Interpretamos as estatísticas de modo favorável à intenção de quem as fornece, mas, como explica Rampin, “um contexto diferente pode dar aos mesmos números um significado bem diverso”.

Alguns psicólogos discordam da equivalência de persuasão e manipulação. Castellranchi considera mais apropriado falar de manipulação “quando estamos diante de um verdadeiro embuste, quando a pessoa quer influenciar o interlocutor sem que este saiba. Hoje, por outro lado, a publicidade mais sofisticada não se baseia na linguagem do engano, mas na sugestão, associando imagens atraentes ao produto que quer promover, de modo a evocar uma mensagem sem explicitá-la”.

Felizmente, as reações de nossa mente à linguagem também podem ser exploradas para o bem. Ser ludibriável, explica Rampin, significa ter um cérebro dotado de plasticidade, e é isso que nos permite compreender as experiências alheias. Se é verdade que vivemos no interior de uma ilusão tomada por realidade, então é possível modificar uma ilusão que nos faz sofrer e substituir por outra. Este é o princípio de muitas formas de psicoterapia. “Mas neste caso,” conclui Rampin, não há manipulação, pois é o paciente que pede para mudar e o terapeuta obedece a rigorosas normas profissionais.

OUTROS OLHARES

EPIDEMIA DE MENTIRAS

Praga na política, as fake news também se tornaram um caso grave de saúde pública. Emagrecimento, câncer e diabetes são os temas preferenciais das enganações.

Epidemia de mentiras

Ao ser diagnosticado com diabetes, em 2013, o comerciante Augusto Simeoni, hoje com 59 anos, ouviu a orientação de tomar comprimidos diariamente, equilibrar a alimentação e fazer exercícios. Com o nível de glicemia em jejum na alarmante casa dos 600 miligramas por decilitro de sangue (seis vezes o limite para uma pessoa saudável), Simeoni não pôs em prática as recomendações. Mas seguiu à risca uma dica que achou na internet: ingerir um copo de baba de quiabo com água todas as manhãs. “Parecia uma gosma com clara de ovo, então eu respirava fundo e bebia numa golada só”, rememora ele. A fórmula mágica, que eliminaria a doença, naturalmente não funcionou. No início deste ano, a desinformação lhe custou caro: Simeoni teve um dedo do pé esquerdo amputado, depois que uma pequena ferida, “menor que um grão de feijão”, não cicatrizou devido à glicemia fora de controle.

Grave em qualquer área de conhecimento, a profusão digital de textos e vídeos enganadores pode se tornar letal quando o alvo é a saúde. Só a mentira da baba milagrosa teve mais de 485.000 compartilhamentos (sim, quase meio milhão!) em uma página do Facebook que tem o suspeitíssimo nome de Denúncia Online Internacional. Publicado em 2013 (e até hoje no ar, multiplicando-se como vírus de gripe no inverno), o post é um bom exemplo de como são construídas as mentiras on-line. A falsa notícia da baba de quiabo surgiu depois da participação de estudantes em um concurso de ciências no programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, em 2013. O grupo apresentou um experimento com oito diabéticos em que mostrava que a baba de quiabo ajudava a reduzir o açúcar no sangue – conclusão semelhante à de algumas pesquisas preliminares. No entanto, a meleca vegetal não pode ser usada como antídoto. Na TV, Luciano Huck, apresentador do programa, deu um prêmio de 30.000 reais aos garotos, mas fez a ressalva alertando o telespectador para “jamais trocar seu remédio pela água de quiabo”. Na internet, porém, o que era um experimento virou santo remédio – e a baba de quiabo acabou vendida como cura para uma doença incurável, que só em 2016 matou mais de 61.000 pessoas no Brasil. Entre outras barbaridades, o post de 2013 prometia, em mau português: “Diabete vai sumir e suas injeções nunca mais. Tudo foi Deus quem criou”.

As fake news transformaram-se em uma grave questão de saúde pública. Por redes sociais, sites de busca e aplicativos de mensagens espalham-se milhares de receitas infalíveis, alimentos superpoderosos, estudos inexistentes ou distorcidos e outras enganações. O Ministério da Saúde, que monitora notícias falsas desde o surto da gripe H1N1 em 2009, montou no ano passado uma equipe com a função exclusiva de escarafunchar, ao longo do dia, tudo o que é publicado sobre enfermidades na web.

Em 2017, o time identificou 2.200 invenções. No primeiro semestre deste ano, cerca de metade disso já caiu no pente-fino.

O mais perverso: doenças graves, que assolam e matam milhões de brasileiros, são justamente as mais usadas para fisgar leitores desavisados. Um levantamento inédito recolheu 3.000 notícias sobre saúde em seis páginas do Facebook que se notabilizaram por difundir falsidades na área da medicina. Destas, selecionamos cerca de 1.000 que tiveram maior número de compartilhamentos. Entre elas, descobriu-se, com a ajuda de médicos consultados pela revista, que cerca de um terço divulgava falsidades inquestionáveis. Os temas mais frequentes na lista de fake news foram dieta para emagrecer, câncer e diabetes. O Facebook argumenta que trabalha em parceria com agências de checagem de dados e universidades para identificar mentiras na rede e reduzir o alcance dessas publicações. Claramente, é um trabalho que deixa a desejar.

A página do site Cura pela Natureza, com 3,5 milhões de fãs, é a mais popular entre as analisadas. De nome aparentemente inofensivo, é uma bomba. Traz dicas como “beba isto (refere-se a um suco feito com pepino, limão e salsa) por trinta dias para perder até dezesseis centímetros de barriga”. A mistura pode não ser nada calórica, mas não tem o poder de dizimar a gordura do organismo. “As pessoas querem a solução mágica da água com limão mantendo sua alimentação como antes. Não vai funcionar”, alerta a nutricionista Jéssica Borrelli, que atende em uma clínica particular. Outra mentira divulgada pelo Cura pela Natureza é uma suposta dieta que “mata o câncer e destrói o diabetes” à base de alimentos como brócolis e couve. Ela teve mais de 1300 compartilhamentos. Mas o alcance vai além do Facebook: o Cura pela Natureza está hospedado dentro do portal R7, ligado à TV Record, que destaca seus conteúdos no menu principal da homepage e nas redes sociais. Procurado, o R7 não quis comentar a parceria com o site.

Outra página carregada de mentiras perniciosas saiu do ar há cerca de um mês. Batizada de Bruno Gagliasso Amor e Fé, embromava duplamente seus cerca de 300.000 seguidores alternando manchetes forjadas (de assuntos que iam de saúde a eleições presidenciais) com fotos da vida privada do galã da Globo, dando a entender que ele próprio fazia as atualizações. Não se sabe a razão que levou os autores a tirá-la do ar. Bruno Gagliasso, que nada tem a ver com a página, diz que não entrou na Justiça. O Facebook, por sua vez, não informa se a removeu do ar ou se os autores tomaram a iniciativa de fazê-lo.

Quem sai das redes sociais e se aventura pelo Google, o maior site de buscas da internet, encontra o mesmo ambiente infectado por mentiras. fizemos uma procura com os termos “cura do diabetes”. Para evitar que o algoritmo do Google levasse em conta o histórico de navegação da reportagem, a pesquisa foi feita através de uma janela anônima. Resultado imediato: dois vídeos perigosos. O primeiro deles, com mais de 3 milhões de visualizações, aplica um truque explícito. Para ganhar credibilidade, abre com um depoimento do respeitado médico Dráuzio Varella, mas, em seguida, apresenta informações sobre a cura definitiva através de uma dieta que envolve o consumo de óleo de coco – uma completa invenção. O segundo vídeo vende a cura (“em poucos dias”) ao misturar uma insólita lista de ingredientes, como pimenta dedo-de-moça, ovos crus e sal do Himalaia.

Na busca por “cura do câncer”, dois dos cinco primeiros links oferecidos pelo Google são mentiras. Um exemplo: “Ela descobriu a cura do câncer em 1951, mas eles escondem isso de você”, sugerindo uma dieta exclusivamente vegetariana para curar o mal. Consultado sobre sua responsabilidade, o Google afirma que adota medidas como a redução do fluxo de audiência e publicidade em sites mal-intencionados. Além disso, a companhia mantém no Brasil uma parceria com o Hospital Albert Einstein, que produz quadros com informações relevantes sobre doenças pesquisadas. O resultado, porém, é bastante tímido: o espaço do Einstein não destaca o nome do centro médico nem diz que, ali, as informações são 100% confiáveis.

O ponto sensível é que, quando um embuste e um texto fidedigno são colocados lado a lado, o primeiro tende a reluzir mais que o segundo. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publicaram em março, na revista científica Science, uma análise de126.000 mensagens divulgadas no Twitter entre 2006 e 2017 por mais de 3 milhões de pessoas. A conclusão: a probabilidade de as fake news serem compartilhadas é 70% maior que a de uma notícia verdadeira. Não é difícil entender o porquê. “Vende-se um sonho de resposta rápida a pacientes de uma doença de tratamento demorado”, diz a dermatologista Íris Florio. Na página Bruno Gagliasso Amor e Fé, por exemplo, afirmava­ se que médicos cubanos haviam descoberto como acabar com o vitiligo com uma receita simples.

A adesão às inverdades médicas on-line guarda semelhança com algo notório quando os temas são política ou moral. “As pessoas tendem a acreditar no que reforça seus medos e suas ideias preconcebidas”, observa a pediatra Nina Shapiro, pesquisadora da Universidade da Califórnia, autora de Hype, livro a respeito de mitos difundidos entre pacientes, sem tradução para o português. “Para piorar, muitas fake news sobre saúde partem de algum fator verdadeiro, que se torna perigoso ao ser exagerado.”

Tome -se a patacoada segundo a qual a vacina contra sarampo, rubéola e caxumba provoca autismo. Duas décadas atrás, a prestigiada revista Lancet publicou artigo do então médico inglês Andrew Wakefield com dados de uma pesquisa com doze crianças que tinham traços da patologia. Em comum, anunciou o pesquisador, elas carregavam no corpo vestígios do vírus do sarampo – causado, supostamente, pela vacina. Bastou a afirmação espalhar-se para cair a imunização de crianças contra o sarampo em diversos países. Mais de vinte estudos científicos foram publicados desde então, todos desmentindo a relação da vacina com o autismo, mas o estrago continua. Passados dez anos, após a descoberta de um erro do estudo – nenhum dos menores tinha, na verdade, vestígio de sarampo -, a Lancet se retratou sobre a pesquisa, cujo conteúdo, ressaltou, era “totalmente falso”. Wakefield perdeu o registro profissional, mas o mito reverbera até hoje.

E chegou ao Brasil, que já foi exemplo mundial pela sua capacidade de fazer campanhas de vacinação em massa bem-sucedidas. Graças a essa competência, o país livrou-se da febre amarela urbana em 1942, da varíola em 1971, do tétano neonatal em 2003 e, mais recentemente, da rubéola. A poliomielite, que causa a paralisia infantil, está eliminada do Brasil desde 1989. Hoje em dia, porém, em parte por causa da disseminação de fake news que dizem que vacina faz mal e outras tolices, o Brasil está deixando de ser exemplo e, pior, está lidando com a possibilidade da volta de algumas doenças – inclusive da poliomielite. Segundo alerta feito pelo governo na terça-feira 3, cidades com cobertura vacinai abaixo de 95% estão em risco – na Bahia, por exemplo, em 15% das cidades a taxa é de apenas 50%. No início do ano, a campanha de vacinação contra a febre amarela em São Paulo começou como um fracasso. De acordo com os cálculos do infectologista David Uip, secretário de Saúde de São Paulo na época, a boataria digital foi um dos principais motivos para que até abril, no auge da transmissão, a dose tenha sido distribuída a apenas 5 milhões dos 9 milhões de pessoas pretendidas pelo governo. Quem compartilha essas irresponsabilidades faz vítimas como Amanda Canabarro, de 29 anos, hoje estudante de nutrição, que se submeteu a várias receitas espalhadas pela internet para tentar curar um câncer de mama descoberto quando tinha 27 anos. Chegou a tomar 3 litros de suco de graviola religiosamente todos os dias, mas nada reduziu o tamanho do tumor, então com 6,7 centímetros. Hoje, graças ao tratamento correto, seu tumor tem poucos milímetros. A advogada Krishna Caron, de 41anos, fiou-se em uma prescrição furadíssima encontrada no Google: consumir gotas de azeite com canela antes das refeições para emagrecer. “Não deu certo, e só perdi peso quando busquei uma nutricionista”, diz.

Essa crise de comunicação na saúde pública tem um importante ponto cego: as mensagens que se alastram por WhatsApp, no qual é impossível medir o tamanho dos boatos. Por isso o aplicativo é conhecido no meio digital como dark social (rede social escura). Para minimizar o problema, o WhatsApp anunciou um teste: o destinatário é informado se o texto que recebeu foi escrito por seu remetente ou está sendo apenas encaminhado. É um tímido paliativo, como tem acontecido com medidas adotadas pelo Facebook e pelo Google, pois as mentiras não deixam de circular nem são rastreadas. ”As iniciativas são positivas, mas, na prática, o número de notícias verificadas a cada dia não faz nem cócegas perto de tudo que é falso”, pondera o pesquisador Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo, referência acadêmica do país no tema.

O único remédio realmente eficaz contra esse mal é o acesso a dados confiáveis. Assustada com o número de pacientes que apresentavam dúvidas baseadas em aberrações lidas na web, a psicóloga Luciana Holtz, presidente do instituto Oncoguia, criou uma força-tarefa para combater a ignorância. O projeto Rede Causadores Oncoguia foi lançado em dezembro passado e já tem 33 pacientes treinados. A estudante Sonia Niara, de 27 anos, que lutou contra um linfoma há seis anos, é uma das “influenciadoras” autorizadas pelos especialistas da ONG a difundir fatos confiáveis e desmentir rumores a respeito da doença. Em vídeos divulgados no YouTube e nos textos de seu blog, a jovem fala de autoestima a cuidados na alimentação. “Quando recebemos o diagnóstico, queremos saber duas coisas: como é o tratamento e qual a chance de cura. Estou aqui para oferecer respostas certeiras.” Há alguns espaços para enviar dúvidas específicas. Nada, é claro, substitui a conversa entre médico e paciente. Também é preciso atentar para o veículo que está difundindo a informação. Num ambiente conectado, no entanto, a responsabilidade é sempre coletiva. Se o Google ou o Facebook ainda não conseguiram enfrentar a praga das fake news, os usuários da rede que as compartilham também estão ajudando a manter o problema. Estudo realizado pelo Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, em dezembro de 2016, mostrou que 60% dos entrevistados compartilham notícias pelas redes sociais depois de ler apenas a manchete. Agir assim hoje em dia é correr o risco de fazer mal à saúde de alguém.

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GESTÃO E CARREIRA

A QUÍMICA DA MENTE PRODUTIVA

Novos estudos sobre o cérebro inspiram grandes empresas a repensar a maneira como buscam formar equipes de alto desempenho.

A química da mente produtiva

Estatísticos, psicólogos e engenheiros dedicam-se há mais de uma década a uma das metas mais ambiciosas da gigante de tecnologia Google, segunda empresa mais valiosa do mundo. Eles buscam decifrar uma questão quase existencial, sem resposta definitiva, que interfere diretamente nos resultados de qualquer companhia: qual é a fórmula de sucesso de funcionários eficientes? Mais do que isso, o que explica a química de equipes que dão bons resultados? No final de 2014 começaram a ser compartilhadas internamente as primeiras conclusões do estudo, conhecido pelo codinome Projeto Aristóteles, em homenagem à máxima do filósofo grego de que “o todo é maior do que a soma de suas partes”. A frente contemplou a investigação de 180 equipes dentro da empresa, as quais, com rigor científico, buscaram padrões que diferenciassem os melhores grupos nos mais variados aspectos. Em geral, seus integrantes tinham os mesmos interesses? Cultivavam amizade fora do escritório? Nenhuma das correlações desse tipo, no entanto, comprovou-se estatisticamente. A química dos times mais bem-sucedidos, concluíram os pesquisadores, está relacionada, sobretudo, a como as pessoas se sentem na dinâmica do trabalho, influenciadas por aspectos como a frequência e a clareza do feedback entre chefe e subordinado e até mesmo pelas expressões faciais durante os diálogos. A fórmula gira em torno do que foi batizado de “segurança psicológica”. Em outras palavras, quando os funcionários estão à vontade para expor opiniões sem ser alvo de críticas, sentem-se livres de ameaça, são informados sobre o que se espera deles e ficam confortáveis em pedir ajuda.

O resultado deu origem a uma lista de recomendações que começa com a importância de manter contato visual nas conversas com os membros da equipe e vai até evitar buscar culpados para os problemas, focando as soluções. Presidente mundial do Google desde 2015, Sundar Pichai tornou-se o maior divulgador das novas práticas. Numa empresa formada majoritariamente por engenheiros que torciam o nariz para teorias clássicas de administração, a conclusão ganhou força não somente pela base estatística da própria companhia como também por encontrar eco em recentes descobertas da neurociência. Inconscientemente, segundo os pesquisadores, estamos o tempo todo buscando recompensas e tentando nos proteger de ameaças, um episódio que provoque a sensação de insegurança inunda o corpo com hormônios do estresse, interferindo no funcionamento da parte do cérebro, o córtex, responsável pela atenção e pelo raciocínio, fatores fundamentais para o bom desempenho de qualquer indivíduo, por mais brilhante que seja. Por outro lado, as recompensas desencadeiam a produção de dopamina, neurotransmissor ligado a foco, memória, entusiasmo inclinação para assumir riscos. O economista e neurocientista Paul Zak, diretor do centro de estudos em neuroeconomia na Universidade Claremont, estuda desde 2001 a relação do hormônio ocitocina – estimulado em equipes nas quais os integrantes confiam uns nos outros – com o aumento da criatividade, da capacidade de colaboração e da disposição de se submeter a sacrifícios. “Descobrimos que a ocitocina é a base das relações de confiança”, disse Zak. “E a confiança gera lucro.”

A obsessão por desvendar o código da eficiência individual – e das equipes – sempre existiu. A diferença é que nunca houve tantas possibilidades de obter confirmação científica para o que a experiência demonstrava na prática. O princípio das necessidades básicas do ser humano, difundido pelo psicólogo Abraham Maslow nos anos 50, como as fisiológicas e o senso de pertencimento, ainda guia empresas de todos os portes e origens. À parte evidências empíricas, porém, havia poucos argumentos para defender a relevância de certos aspectos, em detrimento de outros, na formação de times produtivos.

As análises vêm ganhando um novo componente científico com o advento da ressonância magnética funcional, criada há 27 anos, que mostra nas imagens o aumento do fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro em reação à variados estímulos externos. Existem mais de 85 bilhões de neurônios no cérebro humano. O ritmo do trabalho de decodificá-los dobra a cada sete anos desde os anos 50 – ainda assim, pesquisadores afirmam que estamos só no início. Um dos temas preferidos dos neurocientistas tem sido justamente o comportamento humano. Na última década, a psicologia passou do sexto para o primeiro lugar na lista de temas mais pesquisados por especialistas em cérebro. No campo da economia, os estudos já demonstraram que as pessoas tomam decisões irracionais baseadas em vieses, crenças e emoções, como os conduzidos pelo psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002 pelo conjunto de seu trabalho em parceria com o também psicólogo Amos Tversky (morto em 1996). Em 2017, o vencedor foi o economista americano Richard Thaler, por pesquisas que aprofundaram os mecanismos irracionais das decisões humanas. Na gestão de empresas, embora seja um campo que apenas começa a ser explorado, companhias pioneiras, como Google, Microsoft e a consultoria de gestão McKinsey, já se valem do que está sendo chamado de “neurociência organizacional”.

Parte das novas descobertas apenas reforça o bom senso – apesar de não ser bem isso o que se vê na prática. É o caso da importância da clareza na comunicação de metas e decisões, para reforçar o mesmo aspecto da segurança psicológica descrita pelo time do Google e por diversos pesquisadores. Estudos mostram que só 10% dos funcionários sabem qual é o papel deles na estratégia das empresas em que trabalham. Também não é novidade que comer e dormir bem é fundamental para ter um bom desempenho. Mas a neurociência hoje é capaz de provar que, a ausência desses cuidados compromete inclusive a habilidade de tomar decisões ponderadas. A primeira condição para não afetar a capacidade cognitiva de uma pessoa é ter um sono de qualidade que passe pelos diferentes ciclos de ondas cerebrais, e não do tipo que acorda várias vezes durante a noite”, diz a psiquiatra britânica Tara Swan, que trocou o trabalho em hospitais, há quase dez anos, para fundar uma consultoria especializada em atender companhias que passam por grandes mudanças e executivos submetidos a altos níveis de pressão. Segundo ela, para desenvolver resiliência, é preciso entender e cuidar da saúde cerebral. Nos dois cursos de extensão que leciona desde 2014 na faculdade de administração do Instituto Tecnológico de Massachusetts, Tara promete ensinar a criar um padrão mental voltado para o crescimento e para a resiliência.

Hoje, sabe-se que o cérebro usa de um quarto a um terço da energia oriunda do que uma pessoa come. Cerca de 2 horas depois da digestão, o órgão já não consegue ter seu melhor desempenho. Tara afirma que há pesquisas sobre juízes tomando decisões mais severas em relação aos réus quanto mais distantes estavam do horário em que haviam feito uma refeição. Logo depois de se alimentar, estavam mais abertos a ouvir e ponderar. Outros estudos revelaram que o estresse crônico, entre outros efeitos prejudiciais, diminui o tamanho dos telômeros, um componente dos cromossomos que protege o DNA, e isso aumenta o risco do desenvolvimento de diversas doenças. Uma delas a depressão, que, segundo a Organização Mundial da Saúde, superou as doenças respiratórias e, em 2017, tornou-se a principal causa de afastamento do trabalho no mundo. É um problema que cada vez mais empresas enfrentam, por isso muitas delas oferecem aos funcionários uma linha telefônica com psicólogos, assistentes sociais, jurídicos e financeiros para ajudar a resolver, de forma anônima, problemas pessoais ou ligados ao trabalho. Segundo uma pesquisa da consultoria Willis Towers Watson, 60 % das grandes empresas no mundo e 98% nos Estados Unidos têm serviços como esse. Na América Latina, só 35% oferecem esse apoio. No Brasil, dois exemplos são a corretora de seguros AON e a Ticket, empresa de benefícios do grupo francês Endered. Na Ticket, a mudança ocorreu há três anos, no contexto de uma grande mudança que vem conduzindo para adotar uma cultura de bem-estar. Outras medidas foram trocar os lanches disponíveis e o cardápio do refeitório para incluir opções mais saudáveis e introduzir aulas de pilates – modalidade escolhida pelos funcionários – após o expediente.

Pesquisas demonstram que mudanças positivas no estilo de vida – dieta, exercícios físicos, controle do estresse e meditação – afetam mais de 400 genes. “A produção química dos genes muda de acordo com todo tipo de acontecimento na vida. O comportamento molda a biologia”, escreve Rudolph Tanzi, professor de neurologia na Universidade Harvard e diretor do Alzheimers’ Genome Project, criado em 2005 para tentar reverter a doença degenerativa, no livro Supercérebro: Como Expandir o Poder Transformador de Sua Mente. Outros achados, como o fato da plasticidade cerebral, têm derrubado mitos. Atualmente, sabe-se que o sistema nervoso pode (e deve) ser treinado para adquirir novas habilidades e inclusive comportamentos. Até pouco tempo atrás, havia especialistas que defendiam a existência de uma janela de plasticidade, na juventude que se consolidava com o tempo. Hoje há evidências suficientes de que o volume e a potência do cérebro humano aumentam ou diminuem – do início ao fim da vida – conforme as experiências. Elas ajudaram a basear a tese da psicóloga da Universidade Stanford, na Califórnia, Carol Dweck, autora de Mindset – A Nova Psicologia do Sucesso, publicado em 2006 e até hoje na lista dos livros mais vendidos nos Estados Unidos, a pesquisadora analisou o efeito do que chama de “mentalidade fixa”, ou a atitude de pensar em si mesmo ou nos fatos como obras acabadas, em contraposição à “mentalidade de crescimento”, que pressupõe que tudo pode ser melhorado. De acordo com Carol, o segundo grupo tende a ser mais bem-sucedido porque acredita que a melhora vem do esforço, e não de características inatas. Nas empresas, acredita-se que seja possível desenvolver a atitude, ao centrar a discussão de feedback nos aprendizados necessários para melhorar o desempenho futuro.

Um adepto declarado da teoria é o indiano Satya Nadella, presidente mundial da Microsoft, responsável pela mudança cultural empreendida na companhia nos últimos quatro anos. Logo que assumiu o cargo, em fevereiro de 2014, ele sugeriu a leitura do livro de Carol para os 124.000 funcionários. Para os executivos, recomendou Comunicação Não Violenta, do psicólogo Marshall Rosenberg, publicado há 30 anos, o guia voltou a ter popularidade com as descobertas sobre o papel da “segurança psicológica”. Falar sem ouvir, reagir quando irritado ou ter uma atitude defensiva são formas de comunicação violenta. O oposto disso é a comunicação empática. Não se trata de relevar maus resultados, e sim de apontar o que vai mal e estimular a melhoria contínua. A questão não é o que está sendo dito, mas como. A influência dessa abordagem parece funcionar. Em quatro anos, as mudanças de Nadella geraram mais de 250 bilhões de dólares em valorização de mercado para a Microsoft.

MEDITAÇÃO

Mais e mais estudos também têm ajudado a atribuir valor científico ao que algumas décadas atrás era considerado puro misticismo. É o caso da meditação. Centenas de pesquisas em centros respeitados, como a Universidade Harvard, comprovaram mudanças estruturais no cérebro com a prática contínua. Elas sugerem que meditar cerca de meia hora diariamente durame pelo menos oito semanas promova o aumento da densidade do hipocampo, área do cérebro relacionada à memória e ao aprendizado. As empresas que perceberam os benefícios se adaptam para que os funcionários tenham tempo e espaço para aquietar a mente. Um levantamento da consultoria de recursos humanos Merrer Marsh com 690 empresas no Brasil em 2017 mostrou que 41% delas têm alguma ação de saúde emocional – dessas, dois terços contam com salas de descompressão. É o caso do escritório do Deutsche Bank em São Paulo. Desde setembro de 2014, uma sala é usada exclusivamente para a prática de Mindfulness (ou “atenção plena”) – termo cunhado nos anos 70 para despir a meditação oriental de conotações religiosas e preconceitos. As sessões ocorrem quatro vezes por semana e duram de 5 a 20 minutos. Em 2017, outra sala de reunião do banco foi adaptada para aulas de ioga e sessões de reiki (forma de terapia alternativa) após o expediente. Grupos de corrida e time de futebol existem há mais tempo. “Os participantes afirmam que passaram a ter mais foco e clareza e a administrar melhor a ansiedade e o estresse”, diz Regina Ferraz, diretora de riscos do Deutsche Bank e responsável pelo programa de qualidade de vida.

No Google o esforço para incentivar os funcionários a meditar deu origem ao Search Inside Yourself  Leadership Institute (Instituto de Liderança Busque Dentro de Si Mesmo”). Em 2007, surgiu como um curso de meditação para os funcionários da companhia. Logo se tornou um lucrativo negócio de consultoria, com clientes como Ford e American Express. A fabricante de bens de consumo e instrumentação médica Johnson & Johnson, dona do Human Performance Institute, também inclui a meditação entre os treinamentos oferecidos no centro de pesquisas sobre alta performance humana que adquiriu em 2008. “O curso dura dois dias e ensina a compreender a saúde de forma integral, considerando os aspectos físico, mental, emocional e espiritual”. diz Guilherme Rhinow, diretor de RH da J & J no Brasil. A companhia concluiu que os funcionários que param pelo treinamento têm 18% mais chance de alcançar a avaliação máxima de desempenho e 25% mais de receber uma promoção no ano seguinte. A meta é treinar pelo menos metade dos 6.000 funcionários até o final de 2018. A prática da meditação também pode ser um antídoto contra questões como o presenteísmo – quando o corpo está presente, mas a mente está em outro lugar. Uma pesquisa da Universidade Harvard com 15.000 pessoas de 18 a 90 anos em 80 países, e com 86 categorias de trabalho, observou que em 47 % do tempo as pessoas estão fazendo algo mas têm o pensamento distante. Os pesquisadores Matthew Killingsworth e Daniel Gilbert sugerem que o indivíduo que mantêm atenção total no momento presente tem maior satisfação pela vida.

As razões que levam uma pessoa a se dedicar a uma tarefa por longas horas com produtividade e foco têm sido cada vez mais estudadas pelas empresas. Um exemplo é o conceito de flow, ou “fluxo” -, descrito por psicólogos nos anos 90 e desvendado mais recentemente pela neurociência. É um estado em que não se percebe o tempo passar e as ideias fluem livremente. O fenômeno, ligado ao máximo desempenho de atletas e artistas, também ocorre no ambiente corporativo. A entrada nesse canal alterado de consciência em geral acontece quando a pessoa tem as habilidades necessárias para cumprir uma tarefa cujo desafio não é tão grande a ponto de causar ansiedade nem tão baixo que gere tédio ou apatia. É possível ter o flow em toda situação da qual se gosta de estar.

FLOW COLETIVO

Estudos mostram que durante o flow há alteração na frequência das ondas cerebrais e aumento da circulação de moléculas como endorfina e serotonina. A combinação melhora o foco, a criatividade, e a conexão entre as pessoas. Para chegar ao estado de fluxo, é preciso de 60 a 180 minutos sem interrupções. “Nesse sentido, ambientes de trabalho abertos facilitam a comunicação, mas atrapalham a concentração, disse Jamie Wheal, coautor de Roubando o Fogo: A Ciência por Trás dos Super-Humanos, recém-publicado no Brasil, em parceria com Steven Kotler. “É preciso criar uma cultura corporativa na qual se tenha consciência das tarefas mais importantes e não seja indelicado dizer não”, diz Wheal. No escritório da empresa de pagamentos PayPal em São Paulo, cartazes com memes da internet alertam os funcionários para pensar duas vezes antes de pedir “só 5 minutinhos” da atenção de um colega e para não se ofender ao receber um não. “É uma forma descontraída de chamar a atenção para comportamentos desejados”, diz. Valéria Porto, diretora de RH do PayPal para a América Latina.

A consultoria de estratégia McKinsey, cuja área de prática organizacional, talentos, liderança, mudança de cultura e desempenho é comandada globalmente por uma neurocientista, a alemã Julia Sperling acompanhou por uma década 6.000 executivos e concluiu que eles eram cinco vezes mais produtivos quando estavam no estado de flow. ”Notamos três necessidades básicas para estimular o flow coletivo, clareza de papéis e objetivos; ambiente de colaboração e confiança; e pessoas dotadas de motivação intrínseca”, diz Ana Karina Dias, responsável pela prática de RH da McKinsey no Brasil. Um pré-requisito para descobrir a motivação intrínseca, ou o propósito é o autoconhecimento. Nos treinamentos de “liderança centrada” da empresa que duram cinco dias, cerca de 90 minutos por dia são dedicados a ensinar mindfulness. Ferramentas de coaching incluem formas de identificar as próprias “forças pessoais” para descobrir os papéis que podem propiciar o estado de flow.

Os conceitos de flow e forças pessoais têm servido de base para as práticas de gestão de pessoas no Facebook desde 1999. “Para permanecer continuamente envolvidos com o trabalho nas diferentes fases da vida, além de promoções e movimentos laterais, os funcionários têm a opção de descer alguns degraus, escreveu Mike Hoefflinger, ex-vice-presidente de marketing da companhia, no livro Becoming Facebook (“Tornando-se Facebook”, numa tradução livre). Escolher cargos que demandem menos energia em certo período da carreira contribui para reter talentos. Outra prática é permitir a engenheiros recém­ contratados escolher, após seis semanas de treinamento, em qual equipe desejam trabalhar – e não o inverso. Uma pesquisada consultoria Payscale em 2016 com 33.500 profissionais das 18 principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos apontou os funcionários do Facebook como os mais satisfeitos (96%) e os menos estressados (44%).

Um dos fenômenos identificados, porém, ainda pouco compreendido, é o dos neurônios espelho”. São neurônios que se ativam ao observar a ação de outra pessoa. Estudos mostram que a habilidade de craques de futebol, como o argentino Lionel Messi, em prever a ação do adversário no momento de um drible está ligada a uma ativação maior do sistema de neurônios- espelho. Pesquisadores da Universidade Brunel, na Inglaterra, fizeram exames de ressonância magnética funcional no cérebro de dois grupos de jogadores – novatos e experientes. Nos mais qualificados, havia evidências de uma ativação mais intensa do sistema de neurônios-espelho quando viam um adversário se aproximar. Outros estudos relacionam os neurônios-espelho ao “contágio social” – tendência de sentir o que o outro sente.

Há uma série de hipóteses e conclusões preliminares sendo testadas que poderão trazer aplicações úteis para empresas e indivíduos. Uma delas é a tentativa de treinar o cérebro com a tecnologia do eletroencefalograma biofeedback, também chamado de neurofeedback. A técnica oferece recompensa visuais ou sonoras de estímulo ao cérebro para treinar novos padrões mentais, como a habilidade de meditar e a capacidade de ter empatia, ou para tratar problemas psiquiátricos, como o estresse pós-traumático. A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos observou um aumento de 490% na velocidade de soldados para resolver problemas complexos e dominar novas habilidades depois do treinamento de neurofeedback. O escritório de pesquisa naval americano financia um estudo iniciado em 2016 pela Universidade de Washington para tornar os militares proficientes numa língua estrangeira em apenas 20 horas.

À medida que os cientistas decodificam as atividades neurais, tais informações estão sendo usadas para a criação de implantes e de inteligência artificial. Já é possível, em certa medida, controlar máquinas com a mente. Em 2001, pesquisadores da Universidade Brown, nos Estados Unidos, implantaram eletrodos no cérebro de pacientes com paralisia. Uma mulher conseguiu controlar um braço robótico com a mente para tomar um gole de café sem a ajuda de um cuidador. Os implantes identificam neurônios que se ativam quando há intenção de se mover, emitindo sinais por sensores a uma interface computacional ligada ao braço robótico. Outra pessoa do experimento conseguiu digitar oito palavras por minuto. Em abril de 2017, o Facebook revelou seus planos de criar sensores não invasivos capazes de ler pensamentos e digitá-los diretamente por meio de um computador. Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, criou há dois anos a empresa Neuralink para desenvolver dispositivos que, implantados no cérebro, ampliem a capacidade cognitiva. Ele imagina que será possível acessar com a mente informações da internet, por exemplo. Musk prevê um futuro no qual humanos terão de se comunicar muito mais rápido entre si e as máquinas para não serem aniquilados pela Inteligência artificial. Pode ser que esse futuro chegue – ou não. Antes, porém, temos muito a descobrir sobre nossa própria capacidade de aprender e produzir mais e melhor.

 A química da mente produtiva.2

 

A química da mente produtiva.3

 

A química da mente produtiva.4

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 7: 14-36 – PARTE III

Alimento diário

Cristo na Festa dos Tabernáculos

2. Com isto, eles traziam suspeitas sobre seu julgamento. “Eles sabem que este é o Cristo?” Isto é dito ironicamente: “Como mudaram de ideia? Que nova descoberta fizeram? Eles deram oportunidade para que as pessoas pensassem que Ele era o Cristo, e lhes convém agir com vigor contra Ele, para se livrarem das sus­ peitas”. Desta maneira, os príncipes, que tinham tornado o povo inimigo de Cristo, faziam-no sete vezes mais filho do inferno do que ele mesmo, Mateus 23.15. Quando a religião e a profissão do nome de Cristo estão fora de moda, e, consequentemente, sem reputação, muitos são fortemente tentados a persegui-las e a combatê-las, somente para que não sejam vistos como favoráveis a elas. E por esta razão, os apóstatas, e a descendência degenerada de bons pais, algumas vezes, são piores do que outros, como se estivessem tentando limpar a mancha da sua profissão de fé. Era estranho que os príncipes, irritados desta maneira, não prendessem a Cristo, mas sua hora ainda não era chegada. Deus pode atar as mãos dos homens a ponto de causar admiração, mesmo optando por não converter seus corações.

Em segundo lugar; pela objeção ao fato de que Ele fosse o Cristo, o que parecia mais uma questão de malícia do que de conteúdo, v. 27. “Se os príncipes pensam que Ele é o Cristo, nós não podemos nem desejamos crer que Ele o seja, pois temos um argumento contrário, que nós ‘bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele 锑. Aqui está uma falácia na argumentação, pois as proposições não são adaptadas à mesma visão da questão.

1. Se eles falavam da sua natureza divina, poderiam considerar verdade que, quando Cristo veio, ninguém soube de onde Ele era, pois Ele é um sacerdote da ordem de Melquisedeque, que não teve ascendentes, “cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”, Miquéias 5.2. Mas então não é verdade que eles sabiam de onde este homem era, pois não conheciam sua natureza divina, nem como “o Verbo se fez carne”.

2. Se eles falavam da sua natureza humana, é verdade que eles sabiam de onde Ele era, quem era sua mãe, e onde Ele havia sido criado. Mas então é falso aquilo que se dizia sobre o Messias, que ninguém saberia de onde Ele era, pois já se sabia de antemão “onde havia de nascer o Cristo”, Mateus 2.4,5. Observe:

(1) Como eles o desprezavam, porque sabiam de onde Ele era. A familiaridade gera o desprezo, e nós somos capazes de desdenhar a serventia daqueles cuja origem conhecemos. Aqueles que conviviam com Cristo não o recebiam, porque Ele vinha do seu meio, razão pela qual eles deviam amá-lo, e ser agradecidos pelo fato de que sua nação e sua geração fossem honradas com sua manifestação.

(2) Como eles se empenhavam injustamente para fundamentar seus preconceitos nas Escrituras, como se elas os estimulasse, quando nelas não havia tal coisa. Desta maneira, as pessoas se enganam a respeito de Cristo, porque não conhecem as Escrituras.

[2] A resposta de Cristo a esta objeção, vv. 28,29. Em primeiro lugar, Ele falava livremente e ousadamente. Ele “clamava … no templo, ensinando”. Ele disse isto em tom mais alto do que o restante do seu sermão:

1. Para expressar sua veemência, entristecido pela dureza dos seus corações. Pode haver veemência na disputa pela verdade onde não existe calor nem paixão desenfreados. Nós podemos instruir os opositores com ardor, e ainda assim com mansidão.

2. Os sacerdotes e outros que tinham preconceitos contra Ele não se aproximavam o suficiente para ouvir sua pregação, e por isto Ele precisou falar mais alto do que lhe era usual sobre o que Ele queria que eles ouvissem. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.

Em segundo lugar, sua resposta à crítica deles foi:

1. Sob a forma de concessão, admitindo que eles podiam conhecer sua origem, no que dizia respeito à carne: “Vós me conheceis e sabeis de onde sou”. Vós sabeis que eu sou da sua nação, e sou um de vós”. Não representa um menosprezo à doutrina de Cristo o fato de que nela há o que se equilibra com as capacidades das verdades mais simples e claras, reveladas pela luz da natureza, das quais podemos dizer: Nós sabemos de onde elas são. “Vocês me conhecem, vocês pensam que me conhecem, mas estão enganados. Vocês pensam que Eu sou o filho do carpinteiro, e que nasci em Nazaré, mas isto não é verdade”.

2. Sob a forma de negação, negando que o que eles viam nele, e conheciam sobre Ele, fosse tudo o que havia para ser conhecido, e, portanto, se não procurassem saber mais, eles julgariam somente pelas aparências externas. Eles sabiam, talvez, de onde Ele vinha, e onde Ele tinha nascido, mas Ele lhes dirá o que eles não sabem, de quem Ele veio.

(1) Ele não veio de si mesmo: “Eu não vim de mim mesmo”. Ele não veio sem ser enviado, nem veio como uma pessoa privada, mas com um caráter público.

(2) Ele era enviado do seu Pai. Isto é mencionado duas vezes: ”Aquele que me enviou”. E novamente: “‘Ele me enviou’, Ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de fazer”. Disto, Ele mesmo tinha certeza, e por isto sabia que seu Pai o confirmaria. E é bom que também tenhamos certeza disto, para que possamos, com santa confiança, ir a Deus, por intermédio de Cristo.

(3) Ele era do seu Pai, não somente enviado por Ele, como um servo é enviado pelo seu senhor, mas dele, por geração eterna, como um filho de seu pai, por emanação essencial, como os raios do sol.

(4) O Pai que o enviou, “é verdadeiro”. Ele tinha prometido enviar o Messias, e embora os judeus tivessem perdido o direito à promessa, ainda assim aquele que fez a promessa é verdadeiro, e a cumpriu. Ele tinha prometido que o Messias veria sua semente e seria bem-sucedido na sua missão, e embora a maioria dos judeus rejeitasse Jesus e seu Evangelho, ainda assim Ele é verdadeiro, e irá cumprir a promessa quando chamar os gentios.

(5) Estes judeus descrentes não conheciam o Pai: ”Aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis”. Existe muita ignorância sobre Deus mesmo entre muitos que têm a forma da ciência, e a verdadeira razão pela qual as pessoas rejeitam a Cristo é porque elas não conhecem a Deus, pois existe tal harmonia dos atributos divinos na obra da redenção, e tal concordância admirável entre a religião natural e a revelada, que o conhecimento correto da anterior não somente admite, mas apresenta a segunda.

(6) Nosso Senhor Jesus estava infinitamente familiarizado com o Pai, que o enviou: “Mas eu conheço-o”. Ele o conhecia tão bem, que não estava em dúvida, sob qualquer condição, a respeito da sua missão da parte dele, mas perfeitamente seguro dela. Não estava às escuras, sob qualquer condição, a respeito da obra que tinha a fazer, mas perfeitamente informado dela, Mateus 11.27.

[3] A provocação que isto causou nos seus inimigos, que o odiavam porque Ele lhes dizia a verdade, v. 30. “Procuravam, pois, prendê-lo”, lançar mãos violentas sobre Ele, não apenas para fazer-lhe mal, mas, de uma maneira ou de outra, provocar-lhe a morte. Porém, pela restrição de um poder invisível, isto não ocorreu. Ninguém lançou mão dele, “porque ainda não era chegada a sua hora”. Não foi por alguma razão deles, que não o fizeram, mas por uma razão de Deus, que os impediu de fazê-lo. Observe que, em primeiro lugar, os fiéis pregadores das verdades de Deus, embora se comportem com muita prudência e mansidão, devem esperar ser odiados e perseguidos por aqueles que se julgam atormentados pelo seu testemunho, Apocalipse 11.10. Em segundo lugar, Deus tem os homens maus presos a uma corrente, e qualquer que seja o mal que eles desejem causar, não podem fazer nada além do que Deus permita que eles façam. A maldade dos perseguidores é impotente mesmo quando é muito impetuosa, e mesmo que Satanás encha seus corações, ainda assim Deus ata suas mãos. Em terceiro lugar, os servos de Deus, às vezes, são maravilhosamente protegidos por meios imperceptíveis e inexplicáveis. Seus inimigos não fazem o mal que pretendiam, e nem eles mesmos, nem ninguém, podem explicar por que não o fazem. Em quarto lugar, que Cristo tinha definida sua hora, que iria trazer o final do seu tempo e da sua obra na terra. Todo o seu povo e todos os seus ministros também têm, e até que chegue esta hora, os esforços de seus inimigos contra eles serão ineficazes, e seu tempo se prolongará enquanto seu Mestre tiver algum trabalho para que realizem. Nem podem todos os poderes do inferno e da terra derrotá-los, até que tenham acabado seu testemunho.

[4] O bom efeito que este sermão de Cristo, apesar disto, causou em alguns dos seus ouvintes (v.31): “E muitos da multidão creram nele”. Assim como Ele propiciava a queda de alguns, também a ressurreição de outros. Até mesmo onde o Evangelho encontra oposição, pode ser realizada uma grande quantidade de bem, 1 Tessalonicenses 2.2. Observe aqui, em primeiro lugar, quem eram as pessoas que creram. Não poucas, mas muitas, mais do que se poderia esperar, quando a corrente contrária era tão forte. Mas estes “muitos da multidão”, a multidão, eram a classe inferior, a ralé, a plebe, como alguns os teriam chamado. Nós não devemos avaliar a prosperidade do Evangelho pelo seu sucesso entre os grandes, nem devem os ministros dizer que se esforçam em vão, ainda que ninguém, exceto os pobres, e considerados insignificantes, recebam o Evangelho, 1 Coríntios 1.26. Em segundo lugar, o que os levou a crer: os milagres que Ele realizava, que eram não somente o cumprimento das profecias do Antigo Testamento (Isaias 35.5,6), mas uma justificativa de um poder divino. Aquele que tinha a capacidade de fazer o que ninguém, exceto Deus, pode fazer, controlar e dominar as forças da natureza, sem dúvida tinha autoridade para promulgar o que ninguém, exceto Deus, pode promulgar, uma lei que compromete a consciência, e um concerto que dá a vida. Em terceiro lugar, como era fraca sua fé: eles não afirmam positivamente, como os samaritanos: “Este é verdadeiramente o Cristo”, mas somente perguntam: “Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito?” Eles supõem que Cristo virá e, quando vier, fará mais milagres. “Então, este não é Ele? Nele, nós vemos, embora não toda a pompa terrena que imaginávamos, todo o poder divino com que cremos que o Messias se manifestaria, e, portanto, por que Este não pode ser Ele?” Eles creem, mas não têm coragem de admiti-lo. Observe que até mesmo a fé fraca pode ser uma fé verdadeira, e assim ser considerada, assim ser aceita, pelo Senhor Jesus, que não despreza o dia das coisas pequenas.

(2) Para onde Ele ia, vv. 32-36. Observe aqui:

[1] O desígnio dos fariseus e principais dos sacerdotes contra Ele, v. 32. Em primeiro lugar, a provocação de que foram alvo foi a informação trazida a eles pelos seus espiões, que se insinuaram na conversa do povo, e reuniram histórias para levar aos seus mestres invejosos, de que a multidão murmurava coisas a respeito de Jesus, de que havia muitos que o respeitavam e valorizavam, apesar de tudo o que eles tinham feito para apresentá-lo como odioso. Embora o povo apenas murmurasse estas coisas, e não tivesse coragem para dizê-las em voz alta, ainda assim os fariseus se enfureciam com isto. Com razão, é motivo de suspeita a justiça de um governo que duvida tanto de si mesmo a ponto de prestar atenção ou de ser influenciado por murmúrios secretos, variados e incertos das pessoas comuns. Os fariseus valorizavam muito o respeito do povo, e muito sensatamente temiam que se Cristo crescesse na opinião do povo, eles deveriam decrescer. Em segundo lugar, o projeto que eles tinham era o de prender Jesus e levá-lo à prisão: eles “mandaram servidores para o prenderem”, não para prender aqueles que murmuravam a respeito dele, nem para assustá-los. Não, a maneira mais eficiente de dispersar o rebanho é ferir o pastor. Os fariseus parecem ter sido os líderes desta perseguição, mas eles, como tal, não tinham poder, e por isto deificavam os principais dos sacerdotes, os juízes do tribunal eclesiástico, para que se unissem a eles, pois podiam fazê-lo. Os fariseus eram os que tinham grandes pretensões de aprendizado, e os principais dos sacerdotes, de santificação. Assim como o mundo, pela sabedoria, não conhecia a Deus, mas os maiores filósofos eram culpados dos erros mais grosseiros na religião natural, também a igreja judaica, pela sua sabedoria, não conhecia a Cristo, mas seus maiores rabinos eram os que tinham opinião mais tola a seu respeito, ou melhor, eram seus mais inveterados inimigos. Estes governantes perversos tinham seus servos, servos do seu tribunal, servos da igreja, que foram empregados para prender a Cristo, e que estavam dispostos a cumprir esta tarefa, embora fosse uma tarefa má. Se os criados de Saul não desejam virar-se e matar os sacerdotes do Senhor, ele tem um pastor de gado que o fará, 1 Samuel 22.17,18. Veja 1 Samuel 21.7.

[2] As palavras do nosso Senhor Jesus, em consequência disto (vv. 33,34): ”Ainda um pouco de tempo estou convosco e, depois, vou para aquele que me enviou. Vós me buscareis e não me achareis; e aonde eu estou vós não podeis vir”. Estas palavras, como a coluna de nuvem e fogo, tem um lado brilhante e um lado escuro.

Em primeiro lugar, elas têm um lado brilhante com respeito ao nosso Senhor Jesus mesmo, e trazem abundante consolo a Ele e a todos os seus fiéis seguidores que estão expostos a dificuldades e a perigos por causa dele. Aqui, Cristo é consolado com três coisas:

1. Que Ele tinha somente um pouco de tempo para continuar aqui neste mundo problemático. Ele vê que é provável que Ele nunca tenha um dia tranquilo entre eles, mas o melhor é que esta guerra em breve terá sido concluída, e então Ele já não estará mais no mundo, cap. 17.11. Seja quem for que estiver conosco neste mundo, amigos ou adversários, será por pouco tempo que estaremos com eles, e é um consolo para aqueles que estão no mundo, mas não são do mundo, e por isto são odiados por ele e estão cansados dele, que não estarão nele para sempre, não estarão nele por muito tempo. Devemos permanecer por algum tempo com aqueles que são espinhosos, mas, graças a Deus, será apenas por pouco tempo, e nós estaremos fora do seu alcance. Sendo maus nossos dias, é bom que sejam poucos.

2. Que, quando Ele deixasse este mundo problemático, Ele iria para aquele que o tinha enviado. “Vou”. Não: “Sou forçado a ir”, mas: “Vou voluntariamente. Tendo concluído minha missão diplomática, Eu vou para aquele cuja missão eu vim cumprir. Quando Eu tiver terminado meu trabalho com vocês, então, e não antes disto, vou para aquele que me enviou, e Ele me receberá, me promoverá, como os embaixadores são promovidos quando voltam”. A ira que sentiam de Jesus não somente o afastava deles, mas o apressava à glória e gozo que estavam diante dele. Que aqueles que sofrem por Cristo se consolem com o fato de que têm um Deus ao qual ir, e que estão indo para Ele, indo rapidamente, para estar com Ele para sempre.

3. Que, embora eles o perseguissem aqui, onde quer que Ele fosse, nenhuma das suas perseguições o seguiria ao céu: “Vós me buscareis e não me achareis”. Parece, pela inimizade dos seus seguidores, que depois da sua ida, se pudessem tê-lo achado, eles o teriam perseguido: “Mas vocês não poderão entrar naquele templo, como fazem neste”. ”Aonde eu estou”, isto é, onde Eu estarei então. Ele se expressou dessa maneira porque, mesmo quando estava na terra, pela sua natureza divina e pelos interesses divinos, Ele estava no céu, cap. 3.13. Ou isto denota que Ele estaria ali dentro de tão pouco tempo, que era como se já estivesse ali. Observe que o fato de que os santos glorificados estão fora do alcance do Diabo e de todos os seus perversos instrumentos aumenta a felicidade deles.

Em segundo lugar, estas palavras têm um lado escuro e tenebroso com respeito àqueles perversos judeus que odiavam e perseguiam a Cristo. Agora eles desejavam ver-se livres dele: “Que Ele seja tirado da terra”. Mas eles devem saber:

1. Que segundo sua escolha, também será sua condenação. Eles se esforçavam para afastá-lo do seu meio, e seu pecado será sua punição. Ele não os incomodará por muito tempo, mas por pouco, e se afastará deles. É justo que Deus abandone aqueles que pensam que sua presença é um peso. Aqueles que estão cansados de Cristo não precisam de nada mais para serem infelizes, além de conseguir o que desejam.

2. Que certamente eles se arrependeriam da sua escolha, quando fosse tarde demais.

(1) Eles procurariam, em vão, a presença do Messias: “‘Vós me buscareis e não me achareis’. Vós espereis que o Cristo venha, mas vossos olhos fracassarão ao procurar por Ele, e nunca o encontrarão”. Aqueles que rejeitaram o verdadeiro Messias quando Ele veio foram, com razão, abandonados a uma expectativa miserável e interminável daquele que nunca virá. Ou isto pode referir-se à rejeição final dos pecado­ res, dos favores e da graça de Cristo no grande dia: aqueles que procuram a Cristo agora irão encontrá-lo, mas se aproxima o dia quando aqueles que agora o rejeitam irão procurá-lo, e não o encontrarão. Veja Provérbios 1.28. Em vão, gritarão: “Senhor, senhor, abre-nos”. Ou, talvez, estas palavras sejam cumpridas no desespero de alguns dos judeus, que possivelmente poderiam ser convenci­ dos e não convertidos, que desejariam, em vão, ver a Cristo e ouvir outra vez sua pregação, mas o dia da graça estará terminado (Lucas 17.22). Porém, isto não é tudo.

(2) Eles esperariam, em vão, um lugar no céu: ”Aonde eu estou”, e onde todos os crentes estão comigo, “não podeis vir”. Não apenas porque estão excluídos, pela sentença justa e irreversível do Juiz, e a espada do anjo em cada porta da nova Jerusalém, para proteger o caminho da árvore da vida daqueles que não têm direito de entrar, mas porque eles estão desqualificados, pela sua própria iniquidade e infidelidade: “Não podeis vir”, porque não quereis. Aqueles que odeiam estar onde Cristo está, ouvindo sua palavra e prestando-lhe cultos na terra, estão muito desqualificados para estar onde Ele está, na sua glória no céu, pois o céu não seria um céu para eles. Na verdade, tais são as antipatias de uma alma não santificada em relação à felicidade desta condição.

[3] Seu comentário sobre este discurso (vv.35,36): eles disseram entre si mesmos: “Para onde irá este?” Veja aqui, em primeiro lugar, sua ignorância obstinada e cegueira. Ele dissera expressamente para onde iria – para aquele que o enviou, para seu Pai no céu, e eles ainda perguntam: “Para onde irá este?” E: Que modo de falar é este? Ninguém é tão cego como aqueles que não querem ver. As declarações de Cristo são evidentes para aquele que entende, e difíceis apenas para aqueles que estão dispostos a discutir. Em segundo lugar, seu menosprezo atrevido aos prenúncios de Cristo. Em vez de tremer com aquela terrível palavra: “Vós me buscareis e não me achareis”, a qual denota o extremo grau de miséria, eles brincam e zombam disto, como aqueles pecadores que escarnecem do terror, e não estão assustados (Isaias 5.19); Amós 5.18. ”Apresse-se”. Porém, “não mais escarneçais, para que vossas ligaduras se não façam mais fortes”. Em terceiro lugar, sua malícia inveterada e ira contra Cristo. O que todos eles temiam com seu afastamento era que Ele sairia do alcance do controle deles: “‘Para onde irá este, que o não acharemos?’ Se Ele estiver sobre a terra, nós o teremos sob controle. Não deixaremos lugar algum encoberto”, como Acabe à procura de Elias, 1 Reis 18.10. Em quaro lugar, seu desprezo orgulhoso dos gentios, a quem eles aqui chamam “os dispersos entre os gregos”, significando, ou os judeus que estavam espalhados no exterior, entre os gregos (Tiago 1.1; 1 Pedro 1.1). “Ele irá e despertará um interesse entre aquele povo tolo?” Ou os gentios dispersos por todo o mundo, em distinção aos judeus, que eram incorporados em uma igreja e nação. “Ele dirigirá sua corte para eles?” Em quinto lugar, sua inveja da mínima sugestão de favor aos gentios: “Ele irá e instruirá os gentios? Ele levará sua doutrina a eles?” Talvez eles tenham ouvido algumas notícias do respeito que Ele mostrou aos gentios, como no seu sermão em Nazaré, e no caso do centurião e da mulher cananeia, e não havia nada que eles temessem mais do que a inclusão dos gentios. Desta maneira, isto é comum àqueles que têm desperdiçado o poder do Evangelho por serem bastante zelosos pelo monopólio do nome. Eles, então, zombaram de sua partida para instruir os gentios. Mas não muito depois, Ele fez isto, de fato, através de seus apóstolos e ministros, e reuniu aquele povo disperso, muito para a tristeza dos judeus, Romanos 10.19. Assim, é verdade o que diz Salomão: “O temor do ímpio virá sobre ele”.

 

 

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