O FASCÍNIO PELOS SONHOS
O simbolismo cifrado e transcendente das produções oníricas sempre intrigou as pessoas e suscitou, desde a Antiguidade, os mais variados estudos e interpretações, dos míticos e proféticos aos psicanalíticos e neurofisiológicos.
Em Gênesis, capítulo 39, José está numa pior. A mulher de Potifar, a cujas investidas ele resistiu, intrigou-o junto ao marido, que mandou prender o jovem hebreu. Tudo muda, porém, quando, ainda na prisão, José começa a revelar-se intérprete de sonhos, primeiro dos servidores do faraó do Egito e depois do próprio faraó. O famoso sonho das sete vacas magras que devoram sete vacas gordas (e que se traduziria em sete anos de abundância seguidos por sete de más colheitas) vale para José, que havia sido vendido como escravo por seus irmãos, um elevado cargo governamental. A passagem bíblica traduz a importância que os sonhos tinham no mundo antigo e que têm em muitas culturas. Isto se deve ao caráter do próprio sonho, um evento que ocorre de forma espontânea, involuntária, que assume formas estranhas, bizarras e dá ao sonhador a sensação de uma mensagem que transcende os limites da realidade cotidiana. Mensagem que pode vir até da divindade.
A valorização dos sonhos na Bíblia hebraica não é exceção. Na antiga Mesopotâmia há referências a práticas divinatórias baseadas em sonhos já no segundo milênio antes de Cristo. Os egípcios os interpretavam como mensagem dos deuses; o papiro de Deral- Madineh (cerca de 2000 a.C.) dá instruções acerca de como obter uma mensagem onírica do deus Serapis; o postulante tinha de passar a noite num dos muitos templos dedicados ao deus e assim “incubar” seu sonho. Os Vedas, textos sagrados da Índia antiga (escritos provavelmente entre 1500 e 2000 a.C.), contêm interpretações de sonhos, interpretações estas que tinham de ser correlacionadas com o período da noite em que o sonho ocorrera e com o temperamento do sonhador. Na China, Chuang-tzu (século IV a.C.) sustentava ser impossível diferenciar o sonho do mundo real. Conta-se que certa vez ele sonhou que era uma borboleta; quando acordou, não sabia se era uma borboleta agora sonhando que era homem ou se era um homem que havia sonhado ser borboleta…Os sonhos relatados nas culturas do Oriente Médio tinham uma série de características em comum. Em primeiro lugar, o sonhador quase sempre era uma pessoa importante, como o faraó. Em segundo lugar, o sonho ocorria em um momento de crise, ou de proximidade de crise, mesmo que o sonhador disso não se desse conta. Em terceiro lugar, os sonhos frequentemente tinham caráter simbólico, não acessível ao sonhador, necessitando por isso de interpretação. Na Grécia antiga o sonho desempenhava papel transcendente; na obra homérica aparece várias vezes, mas a autoridade mais influente nesta matéria foi, sem dúvida, Aristóteles. Segundo ele, os sonhos têm origem no próprio órgão das emoções, o coração, e resultam dos movimentos dele. O sonho tem caráter profético e é também um incentivo, um roteiro, para futuras ações do sonhador. Já os estoicos dividiam os sonhos em três grupos: aqueles que vinham de divindades, aqueles que vinham de seres malignos e os que nasciam da própria alma do sonhador. Os gregos também valorizavam o sonho do ponto de vista da saúde e doença. Aristóteles sustentava que, por meio deles, um bom médico podia prever o surgimento de enfermidade, a cura ou o óbito. Hipócrates, o pai da medicina, também pensava assim. Reconhecia a existência de sonhos inspirados pelas divindades, mas assinalava que causas naturais, ligadas ao corpo, podiam ser evidências do estado físico deste. Esse posicionamento, aliás, perpassa toda a obra hipocrática; naquela época, a epilepsia, por exemplo, era considerada uma “doença divina”, evidência de que deuses se haviam apossado do corpo da pessoa. Nada disso, dizia Hipócrates, a epilepsia tem causas naturais, como outra enfermidade qualquer. No caso dos sonhos, quando se referem a lutas ou guerras, indicam uma desordem orgânica. Ao contrário, sonhar com o sol e a lua é sinal de boa saúde. E há equivalências; os rios, por exemplo, são análogos ao sistema circulatório. Se estiverem transbordando, indicam pletora, excesso de sangue; se estiverem secos, sugerem anemia, falta de sangue. Que o sonho era importante do ponto de vista da saúde, mostra-o o culto a Asclépio ou Esculápio, o deus da medicina, realizado no templo de Epidauro. Ali o enfermo era admitido. Depois de ritos purificadores, era conduzido ao abaton, um lugar reservado aos crentes, e onde deitava em um clinos, leito (daí vem a palavra “clínica”). Ali deveria dormir. Tudo dando certo, Asclépio lhe apareceria em sonhos, às vezes acompanhado de suas filhas, Higeia, a deusa da higiene, e Panaceia, a deusa da cura. Ou, então, podia aparecer sob a forma de serpente (a serpente enrolada no caduceu é símbolo da medicina). Em matéria de interpretação de sonhos, seguramente a obra mais importante da época é a Oneirocritica, trabalho em cinco volumes escrito no século II d.C. por Artemidoro, da cidade de Daldis (Ásia Menor) e que comporta a análise de mais de três mil sonhos. Para Artemidoro, os sonhos se dividem em não preditivos e preditivos. Os não preditivos compreendem os pesadelos e o phantasma, termo que parece indicar as alucinações hipnagógicas que comumente ocorrem quando a pessoa está adormecendo (sensação de queda, por exemplo). Os sonhos preditivos comportam três tipos: oneiros, que é alegórico, passível de interpretação; horama, explicitamente preditivo, antevisão; e chrematismos, em que aparece um deus anunciando algo. Para bem interpretar um sonho, Artemidoro estabelece regras, cuja validade qualquer psicanalista moderno endossaria: é preciso conhecer a pessoa que sonhou, sua vida, seu caráter, seu estado de ânimo, as circunstâncias em que vive. Outro autor importante viveu no século IV d.C. Trata-se de Ambrósio Teodósio Macróbio, um dos chamados cristãos neoplatônicos. Como Artemidoro, Macróbio faz uma classificação dos sonhos e assinala a importância da atividade onírica como iniciação ao conhecimento da própria alma. Na Roma antiga, a interpretação dos sonhos não era tão valorizada como na Grécia. Uma exceção é representada pelo filósofo do século II d.C., Tertuliano, para quem os sonhos poderiam provir de deuses, de demônios, de causas naturais ou de um estado de êxtase. Enquanto isto, o Talmud, coleção de comentários religiosos judaicos coletados entre os séculos II a.C. e III d.C., retomava a tradição bíblica da interpretação de sonhos, porque “um sonho não interpretado é como uma carta que não é aberta”. O cristianismo, de início, aceitou a ideia grega de que os sonhos pudessem ter origem divina. Cipriano, bispo de Cartago por volta de 250 d.C., afirmava que os concílios da Igreja eram guiados por Deus por meio de sonhos e visões dos participantes. Santo Agostinho descrevia certos sonhos como dádivas do Senhor. No século V, o bispo Sinésio escreveu (em uma única noite, segundo a tradição) um tratado sobre os sonhos, defendendo a ideia de que eles são proféticos, surgindo da própria alma, que alberga a imagem de acontecimentos futuros e as transmite à “fantasia”, uma espécie de vida que ocorre na profundidade do ser. Mas a possibilidade de que os sonhos pudessem ter também caráter pecaminoso ou sacrílego começou a emergir e veio inclusive a tornar-se uma preocupação da Inquisição. Já a cultura islâmica valorizava muito os sonhos; boa parte do Corão foi transmitida por Deus a Maomé através de sonhos. Nas culturas ditas “primitivas”, o sonho também tem papel importante, indicando, por exemplo, o melhor lugar para caçar ou encontrar uma erva curativa, ou alertando sobre uma ameaça à saúde. Entre os ojibwa, índios que vivem nos Estados Unidos e no Canadá, os sonhos fazem parte do rito de iniciação. Quando chegam à puberdade, e antes de ter relações sexuais, os jovens, depois de um jejum prolongado, são levados a um lugar isolado onde devem dormir; espera-se que durante o sonho tenham contato com imagens protetoras, não humanas (uma águia, por exemplo), e delas recebam uma “bênção”. “Se sonhares bem, terás uma vida longa e boa”, dizem os anciãos da tribo. Para muitos aborígenes australianos, a expressão “tempo do sonho” refere-se ao tempo que precedeu a existência do mundo real. Espíritos ancestrais vieram, então, ao mundo e fizeram surgir a terra, as plantas, os animais.
A ESTRADA DO REAL
O sonho é fundamental na iniciação do xamã. O termo saman, que vem de um idioma siberiano, significa “calor interno” e refere-se aos poderes mágicos e espirituais desses feiticeiros tribais. O xamanismo, prática que pode ser encontrada na Ásia, África, América, não depende de iniciativa pessoal; o indivíduo recebe um chamado, em geral sob a forma de sonho, no qual tipicamente o sonhador é arrebatado para um lugar longínquo, seu corpo sendo feito em pedaços. Entre os dyak de Bornéu, os iniciados informam que seu cérebro é removido e lavado, de modo a “limpar” o pensamento. Nessas culturas, as pessoas muitas vezes incorporam a seus sonhos os símbolos resultantes de mitos tribais. O que é o mito? É uma narrativa, em geral de caráter sagrado, que proporciona uma explicação para os fenômenos da vida e do Universo. Joseph Campbell, estudioso do assunto, define a relação entre mito e sonho da seguinte maneira: “Mitos são sonhos partilhados, sonhos são mitos privados”. Os povos possuem mitos; os sonhos possuem pessoas. Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, começou a estudar os sonhos depois de anos de pesquisa neurológica, à qual havia se dedicado no começo de sua carreira médica. Estagiando no serviço do psiquiatra Jean Martin Charcot, em Paris, observou vários casos de histeria, então muito comum entre mulheres, impressionando-se com a conotação sexual da doença e com o fato de as pacientes não se darem conta da causa dos problemas, o que sugeria a existência de um mecanismo não consciente. A princípio, usava o hipnotismo para tratar seus doentes, mas depois optou por um método terapêutico baseado na livre associação e na análise dos sonhos como forma de chegar aos conflitos; do sonho, particularmente, dizia que era a “estrada real”, ou seja, o caminho privilegiado para o inconsciente. Falava por experiência própria; no processo de autoanálise ao qual se submeteu durante um período atormentado de sua existência (a partir de 1892), os sonhos desempenharam papel fundamental. Começou a registrá-los e analisá-los. Foi quando se deu conta de que correspondem a desejos não realizados, muitas vezes de natureza sexual. Mas tais desejos aparecem de forma disfarçada, por causa da censura interna do ego; se assim não fosse, o sono seria impossível. Por essa razão precisam ser interpretados por meio do tratamento psicanalítico. Os sonhos, para Freud, têm um conteúdo manifesto, aquilo que aparece sob forma de imagens, e um latente, o significado oculto. O conteúdo latente é disfarçado através de processos como o simbolismo (a fantasia inconsciente se expressa sob a forma de um objeto: um bastão pode ser o pênis, uma caixa, a vagina), a condensação (dois ou mais símbolos se fundem), o deslocamento (que associa objetos aparentemente não conectados). Imagens resultantes da realidade cotidiana podem aparecer sob a forma de “restos diurnos”.
Para Freud, os sonhos são análogos às fantasias neuróticas; ora, considerando que é praticamente impossível diferenciar os sonhos de neuróticos dos sonhos de pessoas ditas normais, ele concluía que todos somos neuróticos, em maior ou menor grau. As ideias de Freud a respeito da atividade onírica estão na obra A interpretação dos sonhos, publicada em 1899 (mas datada 1900), considerada seminal para a psicanálise e da qual ele muito se orgulhava. Dizia que um dia uma placa seria colocada na casa onde morava (e onde dormia e sonhava) com os dizeres: “Nesta casa, em 24 de julho de 1895, o segredo dos sonhos foi revelado ao doutor Sigmund Freud”. A data marca a ocorrência daquele que fora o sonho mais famoso de Freud, o “sonho de Irma”, uma de suas pacientes. No dia anterior, um colega e amigo de Freud observara que “Irma” não parecia evoluir muito bem. No sonho, Freud examina a garganta de “Irma” e descobre que ela tem uma espécie de infecção, o que lhe dá grande alívio: ele não era culpado pelo fato de a paciente não ter melhorado. Ou seja, o sonho preenchia um desejo inconsciente do médico.
O psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) a princípio trabalhou com Freud, mas depois rompeu com ele e criou suas próprias teorias. Cunhou a expressão “inconsciente coletivo”, um nível da mente, herdado e partilhado por toda a humanidade, que produz mitos, visões religiosas… e sonhos. Nesses encontramos temas comuns, os arquétipos. Exemplo de arquétipo é a Grande Mãe, em cuja figura várias deusas do Oriente Médio foram calcadas.
Jung também formulou os conceitos de persona e sombra. Persona é a “máscara” atrás da qual nos ocultamos na vida cotidiana. Pessoas que assumem sua persona são propensas a ter sonhos nos quais aparece a sombra, o oposto da persona. Como exemplo, Jung cita o sonho de um funcionário público obcecado com regulamentos e com a honestidade, e que de noite sonha que um ladrão irrompe em sua casa: o ladrão é a sombra.
ROTEIROS, LABIRINTOS E PESADELOS
Sonhos são experiências altamente subjetivas e, portanto, extremamente variáveis de pessoa a pessoa; como observou Freud, existem até mesmo aqueles que não se lembram dos sonhos e concluem, erroneamente, que não sonharam. Isso durante muito tempo se constituiu em obstáculo para uma correlação objetiva entre a atividade onírica e o funcionamento do organismo, particularmente do cérebro. Porém, à medida que foram surgindo métodos de registro da atividade nervosa, como a eletroencefalografia (EEG), eletro-oculografia e eletromiografia, as pesquisas puderam avançar. Constatou-se então que o sono não é uma coisa só; pode ser dividido em fases ou estágios. O estágio 1 é o do início do sono; o estágio 2 é o do sono leve; e os estágios 3 e 4 correspondem ao sono profundo, no qual ocorre o movimento rápido de olhos (rapid eye movement, REM). Nesta fase, a atividade cerebral é maior e semelhante àquela da vigília; a atividade muscular é inibida, com exceção dos músculos oculares, que se movimentam rapidamente – daí a denominação. Em meados dos anos 1950 foi postulado que o sonho estava associado ao sono REM, mas depois foi constatado que se sonha em todas as fases. No período REM, contudo, os sonhos tendem a ser mais detalhados e parecem ter um “roteiro”. A ocorrência dos sonhos é explicada pela chamada hipótese da ativação-síntese, por meio da qual estímulos originários do tronco cerebral ativam o cérebro frontal, a parte mais “evoluída” de nosso sistema nervoso, que tenta dar “coerência” a tais estímulos; lesões nessa região frontal, mesmo com preservação do sono REM, tornam o sonho impossível. A hipótese ainda é objeto de discussão; trabalhos mostram que o tronco cerebral não é essencial para o ato de sonhar, nem mesmo o sono REM. De 26 pacientes que tiveram lesão no tronco cerebral, com desaparecimento do sono REM, só um perdeu a capacidade de sonhar. Animais também sonham? Uma experiência feita com ratos sugere que sim. Quando esses roedores são colocados num labirinto, o que acontece comumente em laboratório, ativa-se uma região cerebral conhecida como hipocampo; a ativação continua no sono REM. É como se estivessem “ensaiando” para a atividade que faziam quando estavam acordados. Esta ideia do “ensaio”, aliás, é usada em uma teoria evolucionista, darwiniana, do sonho. Nossos antepassados trogloditas enfrentavam um grande número de ameaças. Nos sonhos, eles podiam “ensaiar” para enfrentá-las, aumentando assim as chances de sobrevivência e transmitindo a habilidade para a progênie. A hipótese explicaria também por que o sono REM é mais frequente em recém-nascidos, podendo durar cerca de oito horas, declinando depois ao longo da vida. A longa duração do sono REM seria igualmente um “ensaio”, um passo importante no aprendizado e no processamento de memórias, um auxílio importante nos embates da vida. Essas pesquisas contrariam as ideias freudianas? Não necessariamente. O sono REM seria um desencadeador dos sonhos. Mas os sonhos em si, as imagens que neles aparecem, seriam condicionados por nosso psiquismo, por nossos desejos. Perturbações do sono REM podem se traduzir em pesadelos e em terror noturno. Pesadelos são muito comuns; ocorreram em cerca da metade de estudantes universitários americanos acompanhados durante um período de duas semanas. Outra pesquisa mostrou uma frequência de 8% na população geral. Além dos distúrbios do sono REM, há outros fatores desencadeantes: medicamentos, enfermidades, problemas respiratórios durante o sono (apneia, ou interrupção da respiração) e problemas psíquicos como o estresse pós-traumático, que surge após a pessoa ter vivido uma situação de grande tensão (na guerra, por exemplo). Já o terror noturno é um episódio que se acompanha de pânico e agitação. Afeta cerca de 4% da população, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é mais comum em crianças. Como o pesadelo, pode ser causado também por problemas orgânicos e psíquicos.
DRAMATURGIA NOTURNA
O potencial criativo do sonho sempre impressionou artistas e cientistas e parece corresponder à realidade: um trabalho mostra que a capacidade de associar palavras aumenta cerca de 30% imediatamente após um sonho. Há, na história, pelo menos dois exemplos famosos de criatividade associada a sonho. O primeiro é o do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834). Quando vivia numa fazenda no interior da Inglaterra, por conta de uma indisposição, tomou tintura de ópio (que causa sono) e adormeceu enquanto lia um texto descrevendo a construção do palácio do imperador mongol Kubla Khan. Em sonho compôs um poema sobre esse palácio, que, segundo ele, não teria menos de 200 a 300 linhas. Acordando, tratou de colocá-lo no papel, mas foi interrompido pela visita de alguém. Quando tentou terminar a tarefa, viu que já era impossível recapturar as imagens de sua mente. O segundo exemplo é o do químico alemão August Kekule von Stradonitz, que, em 1890, tentava descobrir a maneira pela qual os átomos de carbono se dispõem na molécula do benzeno, um derivado do petróleo. Problema difícil e obsessivo; certa vez, pensando no problema, o químico adormeceu em frente à lareira. No sonho, as chamas se transformaram em serpentes, uma das quais mordeu o próprio rabo, criando uma imagem circular que deu a Kekule a solução do problema: os átomos se dispõem sob a forma de anel. Detalhe interessante: a serpente que morde o próprio rabo é uma figura muito presente na mitologia e na alquimia. É um símbolo de autofecundação, uma imagem de padrão cíclico, do fim retornando ao princípio. Tanto na arte como na literatura, o clima onírico aparece com frequência. Os textos de Franz Kafka, por exemplo, lembram pesadelos. “O sonho é puro drama”, diz o dramaturgo Eugène Ionesco. Por causa disso, muitas tentativas têm sido feitas para aproveitar o potencial criativo dos sonhos. Uma delas é aquilo que se chama “sonho lúcido”: a pessoa tem consciência de que está sonhando e procura estabelecer um controle “lúcido” sobre a experiência. Transforma-se num “oneironauta”, num explorador de sonhos. O assunto foi objeto de estudos em universidades, mas atrai também místicos, ocultistas, escritores de auto ajuda e grupos new age. Existem na internet quase dois milhões de referências a respeito. O fato é que, apesar de todo o conhecimento acumulado, ainda há muita coisa a ser descoberta acerca dos sonhos. Escreveu o espanhol Calderón de la Barca (1600-1681): “La vida es sueño/y los sueños, sueños son”. Não: os sonhos não são apenas sonhos, são uma porta de entrada para a nossa vida, que é esta esplêndida e desafiadora mistura de sonho e realidade.
SETE VACAS MAGRAS devoram sete vacas gordas: a famosa passagem bíblica indica a importância do sonho no mundo antigo.
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