A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MEDOS INCOMUNS E PERIGOSOS PARA A SAÚDE – III

A utilização de exemplos clínicos que permitam avaliações sobre as chamadas fobias estranhas é fundamental para mostrar a importância do trabalho desenvolvido pela Psicanálise na compreensão desses problemas

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FOBIAS ESTRANHAS E SEUS POSSÍVEIS NÓS

Torna-se cada vez mais imprescindível discorrer e dividir com todas as pessoas algumas reflexões a importância da fobia no trabalho desenvolvido pela Psicanálise. Para tanto, é fundamental usar exemplos clínicos que permitam análises e avaliações sobre fobias ditas estranhas. As fobias de botões e as fobias de balões são consideradas em nossos dias e no Brasil como fobias raras. Por isso, é interessante usar ocorrências clínicas para demonstrar o que está em jogo nesses casos.

O tema da fobia se apresenta como um desafio para a definição de uma entidade clínica: neurose, psicose ou perversão. Esse desafio se manifesta pelo momento estrutural do sujeito. É muito mais um desafio relacionado ao momento estrutural, porque tais manifestações decorrem das tentativas da pessoa construir para si mesma qual será a sua posição em relação ao seu objeto libidinal. É importante entender que com isso, nesses casos, ainda não se solidificou uma posição que permita a tais pessoas definirem seu fantasma inconsciente, que lhe servirá como um DNA de sua relação de satisfação com o “mundo”.

Vale esclarecer que quando se refere a momento é no sentido de salientar que as variáveis que constituirão a sua vida relacional já estão dadas. Porém, ainda não estão postas em uma disposição que organize certo estilo de satisfação desse sujeito. Essa organização será estabelecida segundo determinadas leis que a linguagem oferece a todos os seres falantes.

Freud se utilizou de um caso clínico de uma criança de 5 anos, o “pequeno Hans”, para tentar nos ensinar a matriz de todas as fobias. Assim, esse caso passa a ser o modelo de todas as fobias, desde que sigamos uma leitura psicanalítica. Tratava-se de uma criança que tinha medo de sair às ruas (agorafobia) porque receava ser mordida por cavalos (fobia de animais). Freud disse que o fato de ter medo de ser mordido pelos cavalos não permitia que o classificasse de agorafóbico.

Hans estava mergulhado na fase fálica e confrontava-se com a angústia de castração, através da falta de pênis na mãe. Em consequência, desenvolveu uma fobia por cavalos no lugar de estruturar a sua neurose. Freud justificou que sua fobia era um sintoma, porque houve um deslocamento, e não uma condensação, do pai para o cavalo e se trata de um momento de espera da solução edípica, ou seja, num momento pré-edipiano. Hans encontrava-se numa triangulação edípica ainda frouxa, devido à mãe não dar lugar ao pai junto a ele, somado a um pai que, por sua vez, não fazia grandes esforços para fazer valer a sua função paterna, contentando-se em ser mais amigo do que um pai.

A análise possibilitou dar um lugar ao Édipo e construir uma fantasia que organizava seu Eu em torno do representante fálico, que se expressava num sonho com o encanador que vem consertar a banheira. Freud concluiu que Hans estava curado de sua fobia, e que, em relação ao seu desejo de saber, apreende que cada saber construído é um retalho e que deixa atrás de si um resíduo: “Nosso jovem investigador simplesmente chegou um pouco cedo à descoberta de que todo o conhecimento é um monte de retalhos, e que cada passo à frente deixa atrás um resíduo não resolvido” (Vol. X Obras Completas).

A análise dos casos que se seguem irá dar chance de se reverem várias noções psicanalíticas a respeito do que Freud e Lacan desenvolveram. O caso Hans, que apresentou uma fobia de animais, é bastante comum. Por isso, é mais relevante discutir, ainda, dois casos que certamente são mais raros. Um se trata de uma apresentação feita na França, intitulada “A fetichização de um objeto fóbico”, e o outro é um caso de fobia por bexigas.

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FOBIAS VERSUS FETICHE

O botão é o seu pequeno pênis, que sua mãe o provoca dizendo que é o seu pequeno botão, passagem metonímica de pênis a botão. Aos 6 anos, a mãe lhe pediu para desabotoar seu vestido pelas costas. Foi a primeira vez que sentiu a excitação sexual. Ficou perturbado e inseguro, o que gerou um enrubescimento, tremores nas pernas, mas sempre estava pronto para atender essa demanda da mãe. Aos 7 anos, foi à praia com uma camiseta com um botão e seus amigos zombaram dele.

O botão tornou-se objeto de amor, de atração irresistível, objeto de busca frenética, objeto aparentemente eleito do desejo. Mas, ao mesmo tempo, objeto de horror, repulsão, terror, aversão insuperável, de má sorte, objeto de morte.

Esse objeto, o botão, o transtornou a ponto de ir fazer análise. Ao ver tal objeto sobre a mesa, ao imaginar entre os lábios ou até mesmo ouvir a palavra botão lhe causavam enorme asco, repugnância e ódio. Porém, existia uma modificação em sua relação com esse objeto, desde que o objeto se multiplicasse, viravam botões, aí se transformava em objeto do desejo. Todos os botões tinham que ser de osso ou de pérola e deviam estar preenchendo o vazio da casa. Se não fosse assim, não tinham a menor graça para ele. Sobretudo, deveriam estar sendo “vestidos” por uma mulher para lhe provocar a excitação erótica. Essa contradição no objeto foi analisada num artigo de 1938 por Freud, que diz que há uma constituição simultânea de um fetiche e de uma fobia. Assim, o mesmo objeto exerce atração e horror, busca e evitamento.

As vestimentas que tinham muitos botões o atraíam e as que tinham oito valiam mais dos que as que tinham sete botões. Quanto mais, melhor! Isso lhe causava grande excitação sexual. Mas os botões tinham que ser rigorosamente idênticos, da mesma cor, tamanho, forma, sem nenhuma mancha que os diferenciasse, e não podiam ser recobertos de tecido, tinham que ser dispostos da mesma maneira, e, sobretudo, não podia faltar nenhum. Se assim fosse, sentia grande prazer em contemplá-lo com o olhar, quanto tempo fosse possível. Caso contrário, o que tinha sido motivo de atração se transformava em objeto de extrema repulsão.

Seu pai foi, praticamente, escolhido pelo seu avô materno que o aceitou quando tudo levou a crer que o pretendente não poderia ter filhos, pois o avô havia expressado, explicitamente, que não queria que a sua filha fosse mãe. Ou seja, nascido de um pai proposto como ausente e de uma mãe que deveria ficar carente, segundo o desejo do avô materno.

O paciente sempre estava doente: resfriados, crises de bronquite, muitas complicações infecciosas, que eram, segundo palavras da mãe, verdadeiros calvários. Doenças que tinham a significação de preencher a mãe no lugar do marido e de seu pai. Tinha febres e constipação para fazer sua mãe vir cuidar dele e passou a ter ereções nessas ocasiões. Assim, ele é um pênis em ereção! Era um momento eufórico, em que ele era o sonho do desejo da mãe, a metonímia de sua carência, mas, por isso mesmo, passou a viver momentos de angústia, pois se via preso a esse órgão que denunciava seu desejo, órgão que é chamado de pequeno botão pela mãe e pelo pai, que ele o escuta dizendo colocar o botão na casa que associou com a relação sexual. Vale lembrar que as doenças somáticas podem se desenvolver no intervalo das crises de fobia, principalmente quando a fobia é recalcada por tratamentos medicamentosos ou por condicionamentos que forçam o desaparecimento do sintoma fóbico sem elaborar seus conflitos. Assim, em muitos casos, fica claro que a fobia protege a pessoa do desencadeamento de doenças somáticas. Pois a fobia põe o corpo em suspensão por não enodá-lo à palavra e ao trauma sexual.

FOBIA POR BEXIGA

Esse caso se refere a uma paciente mulher, que procurou análise, ao final da adolescência, por sofrer de ataques de pânico. Após uma intervenção do analista, ela rememorou uma cena infantil, a qual representou a sua primeira conscientização de excitação sexual, ao espiar pela fresta de uma janela os vizinhos fazendo sexo. Desenvolveu uma culpa que não a inibiu quanto à tentação de ver novamente. Dessa forma, a cada oportunidade, voltava para ver e depois se sentia culpada. No auge desse interesse sexual, passou por um grande susto associa- do a outra cena sexual, dessa vez entre uma criança e um adulto da família. O susto foi devido ao barulho do estouro de algumas bexigas, provocado por uma criança mais velha que espetava as bolas de gás. Ainda sob o impacto do susto, vê a cena sexual e conecta os três elementos: ver o ato sexual, ver a sedução e estouro de bexigas.

Podemos dizer que aí se deu o primeiro elemento para a construção da sua fantasia (cena primária): a per- furação de bexigas por um garoto foi a cena sexual violenta, que acarretou na perda da forma (imaginário corpo), ou seja, o seu corpo numa experiência sexual pode desaparecer, assim como o corpo da bexiga desaparece por ser ameaçado pelo trauma sexual que aniquila, dilacera, sidera o seu corpo/Eu. A palavra não tem ação de corte e costura sobre a sobreposição do trauma sexual sobre o corpo.

Passou a ter muito medo de bexigas, e desenvolveu uma série de crises respiratórias, que se intercalavam com as crises de fobia. Essas crises respiratórias são o espelhamento das bexigas perdendo o ar e sua forma.

Desde que nasceu, sua mãe tinha a saúde debilitada, o que não permitiu uma constância nem um processo de presença e ausência para constituir um objeto que pudesse investir a sua libido para formação do seu Eu. Esse fato se associou a um pai que, ao tentar preencher a falta da mãe, se ocupando da filha, perdeu a sua virilidade.

Ela, desde criança, precisava se preocupar com a saúde da mãe, e elegeu ficar no lugar de objeto que preenche a mãe, pois se separar poderia acontecer o pior, aos moldes da placa giratória da fobia descrita por Lacan. Em consequência disso, desenvolveu uma grande dificuldade de lidar com separações.

Assim, o medo de bexiga solucionava, de forma imaginária, sua angústia de castração, que vivia através das bexigas que desapareciam definitivamente, medo que desenvolveu em relação a sua mãe. A bexiga representava o perigo da perda. Portanto, a inibição em relação às bexigas era uma maneira de colocar o agente da castração a distância. Isso gerou uma forte inibição de ir a festas de crianças, a parques de diversões, no Brasil e no exterior, e a qualquer lugar que possa ter bexigas. Um sonho foi paradigmático durante a cura dessa paciente, onde ela apreende que oferece seu corpo para satisfazer a demanda do Outro.

Há um aspecto ligado à organização dos espaços, que se repete nesses três casos. É por isso que Freud apresentou o pequeno Hans como um paradigma da fobia. Esse aspecto é que os círculos de barbantes RIS não giram no sentido levogiro, anti-horário, como é esperado numa solução neurótica. Eles fazem um giro dextrogiro, no sentido do relógio, o que faz o círculo do Real (trauma) superar o do Imaginário (corpo), se distribuindo da seguinte maneira: RIS. O Real do trauma, tendo se sobreposto e superado ao Imaginário do corpo, o coloca de escanteio e promove uma limitação para o sujeito de se movimentar no espaço, o que é evidenciado pelos sintomas fóbicos e faz com que  o Simbólico da palavra (corte), na  confecção do nó de três, incorra num erro de alternância do nó. O impedimento imaginário do movimento no espaço, que se apresenta nos três casos, permite que o significante circule e seja recalcado, para vir outro em seu lugar, preservando, assim, certa dimensão do registro Simbólico. A castração, incidindo sobre o espaço imaginário, trará como consequência uma redistribuição dos gozos, que serão apertados e configurados diferentemente.

Assim sendo, não se pode falar de um nó borromeano na fobia, e sim de um momento de permutações do Real, do Simbólico e do Imaginário, o que pode elucidar o que tornam confusas e até incompreensíveis certas crenças dos fóbicos. Essa forma de distribuição fica evidente caso se aplainem os nós borromeanos em um desenho numa superfície plana. Existem diversas maneiras de representar os nós nos barbantes: no plano, em 3D, com as retas infinitas etc.

Cada círculo representa um registro e é caracterizado por diferentes propriedades: ex-sistência (Real), furo (Simbólico) e consistência (Imaginário): ex-sistência  é  que  cada  registro ex-siste ao outro, a ex-sistência é o que está fora da consistência, é o que da consistência faz furo. Para que haja ex-sistência tem que haver furo para se fazer uma imagem, somos sujeitos porque não somos seres totais, há um furo no ser.

FURO E CONSISTÊNCIA

Para haver um furo, tem que ter uma consistência em volta. Todos os registros são furados e, por isso, um nó entre eles é possível. A consistência se libera do Imaginário. Podemos dizer que cada registro é homogêneo a si próprio, dessa feita cada um tem sua própria consistência. Em todos os três casos há uma angústia frente à castração imaginária e uma resolução imaginária via metonímia (deslocamento), que resulta na fobia.

A resolução imaginária também se expressa pelo componente voyerista que está presente nos três casos: Hans olha as calcinhas, o sexo da irmã; Jean olhava a mãe e depois as mulheres com botões; no outro caso, olhava repetidamente a cena primária dos vizinhos e depois a cena de sedução na festa que vemos que para o psicanalista fazer um diagnóstico de fobia, ele precisará agrupar certos elementos que se apresentarão numa relação que determinará esse diagnóstico. No caso da fobia notamos como a pessoa irá atribuir ao objeto fóbico o valor de significante e, com isso, fazer um deslocamento de uma representação para outra. A perversão é enquanto fixado na posição de objeto imaginário que construirá sua relação com o mundo.

Tal uso do significante será encontrado em todas as fobias, das mais frequentes às mais raras, das mais intensas às mais leves, das mais resistentes às mais fáceis de serem elaboradas. Não diria o mesmo a respeito da bizarria dos sintomas fóbicos, já que como dizer que tal sintoma não seja bizarro?

 

OUTROS OLHARES

LOBBY EM PELE DE CORDEIRO

A profissão de lobista será enfim regulamentada no Brasil e os profissionais do setor advertem: o nome correto da função é Agente de Relações Institucionais e Governamentais. Ou apenas “RIG”. Por que essa mudança é positiva?

Lobby em pele de cordeiro

A expressão “lobista” foi inventada pelo presidente americano Ulysses S. Grant. Durante sua gestão, de 1869 a 1877, ele costumava fumar charutos no lobby do Willard Hotel, em Washington. Com o tempo, grupos de interesses diversos começaram a frequentar o local para assediar Grant e convencê-lo a aprovar leis que os favorecessem. Embora considerada uma atividade legítima em muitos países, o “lobby” é frequentemente associado à corrupção e ao tráfego de influência. Muitas vezes, injustamente. Isso tudo vai mudar quando o presidente Jair Bolsonaro emitir um decreto que regulamenta a atividade no País e dá a seus profissionais o nome de Agente de Relações Institucionais e Governamentais. Ou simplesmente RIG, como prefere quem atua no setor. Wagner Rosário, ministro da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU), garante que o texto final ficará pronto em 30 dias.

Inspirado em modelo adotado no Chile, o projeto estabelece que a representação de interesses nos processos de decisão política é atividade legítima e pode ser exercida por pessoas físicas e jurídicas, além de entidades que representem setores econômicos, sociais ou defenda causas coletivas. Para isso, no entanto, o lobista precisa se cadastrar nos órgãos em que atuará. Todas as reuniões e audiências com representantes do governo serão registradas num sistema unificado, com data, horário, local, participantes e motivo do encontro.

“Tecnicamente, o lobby é a defesa oral do que se deseja. Quando seu filho pede um brinquedo, ele está fazendo lobby para consegui-lo”, explica Guilherme Cunha Costa, presidente da Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais), entidade representativa do setor com mais de 200 associados. Mas, para exercer essa “defesa oral” junto a agentes governamentais será preciso dominar 91 competências listadas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). As principais são habilidades para negociação, construção de relações inter-pessoais e estratégia. Além disso, a atividade precisa se apoiar em três pilares: ética, transparência e isonomia de acesso —ou seja, não se pode oferecer vantagem ao interlocutor no governo.

QUARENTENA 

O profissional de RIG pode apresentar sugestões de emendas parlamentares, substitutivos e requerimentos num processo legislativo ou regulatório. Também pode fornecer ao agente público estudos, pesquisas e relatórios para embasar uma tomada de decisão. O que ele não pode, em nenhuma hipótese, é fazer pressão econômica para que sua pauta seja encaminhada. O projeto proíbe que a profissão seja exercida por pessoas envolvidas em casos de corrupção, tráfico de influência, obtenção de vantagem indevida e improbidade administrativa. Quem exerceu função pública precisa se submeter a uma quarentena de doze meses. Chefes do poder executivo só podem atuar na área depois de quatro anos.

“Esse projeto é um passo na direção correta e vem se somar às medidas anticorrupção que já existem”, diz Rodrigo Navarro, coordenador do MBA de Relações Governamentais da Fundação Getúlio Vargas e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). “Não adianta a empresa criar um departamento de compliance e depois colocar uma pessoa despreparada para as relações governamentais”, conclui

Lobby em pele de cordeiro. 2

GESTÃO E CARREIRA

A FORÇA DO PROPÓSITO

A crise que afeta as empresas e os trabalhadores brasileiros não é apenas econômica. É também uma crise de significado. O que as pessoas e as companhias podem fazer para ter uma vida mais plena, mais feliz… e mais lucrativa.

A força do propósito

Durante muito tempo acreditou-se – como apontava a hierarquia de necessidades pessoais, formulada na década de 40 pelo psicólogo americano Abraham Maslow – que a busca de sentido para a vida fosse um estágio avançado das preocupações humanas, a ser perseguido depois de resolvidas questões básicas, como as necessidades fisiológicas, a segurança e os laços afetivos. Essa visão está largamente ultrapassada. Foi suplantada por trabalhos como o do neurologista e psiquiatra austríaco Viktor Frankl, para quem o propósito não está no topo de uma pirâmide, e sim na base de qualquer estrutura racional e emocional. É essencial até mesmo quando não se tem praticamente mais nada, como o próprio Frankl testemunhou durante os três anos em que foi prisioneiro dos nazistas, inclusive no campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Depois de ser libertado, escreveu em apenas nove dias o livro Em Busca de Sentido, lançado em 1946, que soma mais de 9 milhões de cópias vendidas. Ele escreveu outros 31 livros antes de morrer, em 1997, aos 92 anos. Neles, desenvolveu a logoterapia, uma espécie de terapia do sentido, cuja base já foi resumida pela revista britânica The Economist com a frase: “Vá trabalhar”. Para Frankl, qualquer pessoa satisfeita em sua atividade produtiva é propensa a sentir bem-estar. Psiquiatra em Viena por 25 anos e professor de universidades americanas por 20 anos, ele recebeu 29 títulos honorários ao redor do mundo. Escalava montanhas e, aos 67 anos, aprendeu a pilotar aviões, embora afirmasse ter medo das duas atividades. Nunca se aposentou. Recebia, segundo contou numa entrevista aos 90 anos, mais de 20 cartas por dia de pessoas lhe agradecendo pelas mudanças provocadas por suas ideias.

Frankl não inventou a busca de um sentido para a vida, mas é uma das fontes primordiais para entender por que essa questão é crucial hoje em dia. E porque ela vem ganhando tanta força. O pesquisador da Universidade Yale Gabriel Grant analisou, com o auxílio de um software de inteligência artificial, a literatura acadêmica e popular de 11 países publicada nos últimos 200 anos e descobriu que em nenhum outro momento histórico a expressão “propósito para a vida” apareceu tanto quanto nos últimos 40 anos. Na internet, o interesse por “propósito” cresceu de 25 para 100 – o nível máximo possível na escala Google Trends dos termos que as pessoas mais buscam no mundo – desde que a ferramenta foi criada, em 1 de janeiro de 2004, até outubro de 2018. O tema, um terreno fértil para os filósofos desde a Grécia antiga, infiltrou-se nos meios científicos. Proliferam estudos nos campos da psicologia, da medicina e das neurociências sobre como o propósito, na vida e no trabalho, ajuda a alcançar uma existência mais plena e saudável.

É sintomático que as descobertas sobre a relevância do propósito estejam aumentando justamente quando as pessoas demonstram ver cada vez menos sentido em sua rotina. Muita gente pode até estar trabalhando mais horas, mas em geral com bem menos energia ou paixão. Segundo uma pesquisa internacional da consultoria Gallup, 85% dos empregados não se sentem engajados no trabalho, o mesmo tipo de insatisfação pode estar por trás da crescente perda de confiança nas instituições. A agência global de relações públicas Edelman realiza anualmente, desde 2000, a sondagem Barômetro da Confiança com 33.000 pessoas. Nos 27 países pesquisados, a crença em instituições como governo, empresas, mídia e ONGs em 2019 está abaixo de 60 pontos, numa escala de O a 100. Entre os brasileiros, 72% desacreditam no governo, a instituição com menor credibilidade. E a confiança nas empresas subiu apenas 1 ponto, e foi para 58, de um total de 100. De modo geral, nos últimos anos os dados relativos à média global decrescem acentuadamente desde a crise financeira de 2008. Para especialistas como o economista indiano Subramanian Rangan, professor de estratégia nas escolas de negócios Insead, na França e nos Emirados Árabes, e na Fundação Dom Cabral, no Brasil, existe uma falha no próprio modelo que rege as sociedades em geral. Ele acredita que os indivíduos desejam mais moralidade, e as instituições ainda não acompanham isso na mesma velocidade. “A modernidade está baseada em referências materiais, e não morais, e as pessoas não sentem que essa seja, na prática, uma realidade muito feliz”, diz Rangan, defensor de que as empresas terão um papel relevante nessa transformação. A relação entre o propósito e a felicidade tem sido amplamente estudada pela psicologia positiva, campo que se popularizou nas últimas duas décadas pelo estudo do estado de excelência da mente. O psicólogo americano Martin Seligman, considerado precursor dessa corrente, conduziu uma das pesquisas mais amplas e pioneiras sobre o tema ao se dedicar por seis anos a estudar milhares de voluntários e analisar o que torna uma pessoa realmente feliz. Segundo ele, o estudo separou a noção de felicidade em duas categorias. A primeira é uma acepção “hollywoodiana”, em que as pessoas dão demonstrações efusivas, mas episódicas, de alegria. A outra compreende a noção de plenitude, de satisfação duradoura. Para tentar encontrar o que distinguia esse grupo, considerou 120 aspectos que, ao longo da história – de Buda ao guru da motivação Tony Robbins -, foram propostos como fórmula para tornar as pessoas mais felizes. Um ponto em comum se destacou entre os que relataram uma felicidade duradoura: eles sabiam no que eram bons ou quais eram suas fortalezas e conseguiam aplicar essas características a serviço de algo ou alguém além de si mesmo – a família, a sociedade, a natureza, uma religião. Também eram sociáveis, estavam num relacionamento amoroso e tinham amigos. Considerando a realidade dos dias de hoje, prazeres como comprar um carro novo ou jantar em restaurantes caros, no entanto, tinham um efeito positivo passageiro. “A busca apenas do prazer gera quase nenhuma contribuição para a satisfação com a vida. A busca de sentido é a mais forte. A busca de envolvimento também é muito forte. Quando se alcançam o envolvimento e o significado, aí o prazer é a cereja no chantilly”, disse Seligman numa apresentação sobre o estudo.

Ter segurança material, claro, também é importante para uma vida plena e feliz. E existe uma média de equilíbrio financeiro para esse quesito. É o que mostra uma pesquisa sobre a relação entre renda e avaliação da própria vida, publicada na revista acadêmica Nature Human Behaviour em 2018. Com base nos estudos dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia Angus Deaton (2015) e Daniel Kahneman (2002), que, juntos, escreveram o artigo Renda Alta Melhora a Avaliação da Vida, Mas Não o Bem­ Estar Emocional, quatro pesquisadores das universidades de Virgínia e de Purdue, nos Estados Unidos, analisaram dados de 1,7 milhão de pessoas de 164 países, aferidos pelo instituto de pesquisa Gallup. O objetivo era discernir quanto o nível de bem-estar emocional aumenta em proporção à renda. Concluíram que há um limite. Na América Latina, o valor mínimo por pessoa para sentir bem-estar emocional, segundo a pesquisa, é de 35.000 dólares por ano, ou 13 salários de pouco mais de 10.000 reais. Na região, o salário líquido ideal para “satisfação máxima com a vida” gira em torno de 95.000 dólares por ano – algo como 28.000 reais por mês. Acima desse patamar, o aumento na renda individual tende a comprometer a satisfação com a vida e o bem-estar. Isso porque, conforme sugere o estudo, as pessoas podem ser movidas por desejos como buscar mais ganhos materiais e engajar-se em comparações sociais, o que tende a reduzir o bem-estar emocional.

Os japoneses têm no termo ikigai um conceito parecido com o de propósito. De acordo com o neurocientista Ken Mogi, pesquisador sênior na fabricante de eletrônicos Sony, professor visitante no Instituto de Tecnologia de Tóquio e autor do livro Ikigai: os Cinco Passos para Encontrar Seu Propósito de Vida e Ser Mais Feliz, lançado em maio de 2018 no Brasil, a tradução de ikigai é “razão de viver, motivo que faz as pessoas acordar todos os dias”. Para descobri-lo, é preciso compreender a interseção entre paixão e fazer o que se ama; missão e atender o que o mundo precisa; vocação e aquilo para o qual se é pago para fazer; e conhecimento técnico e o que a pessoa sabe fazer bem. O segredo, segundo os especialistas, é encontrar a conjunção de pelo menos parte desses aspectos até nas atividades mais prosaicas, como cuidar de um jardim ou, no caso da cultura Japonesa, participar de uma cerimônia do chá. O Japão é o país com a maior média de expectativa de vida no mundo: 84 anos. De acordo com inúmeros artigos científicos, além da dieta e do sistema integrado de saúde do país, o principal componente da longevidade do povo japonês é sua cultura – e faz parte dela manter-se ocupado, mesmo depois da aposentadoria. Embora o conceito seja difundido em todo o Japão, o ikigai é mais forte nas ilhas de Okinawa, uma das cinco regiões do mundo com maior concentração de pessoas centenárias.

O paranaense Edson Matsuo, diretor de criação e membro do conselho de administração da fabricante gaúcha de calçados Grendene, onde trabalha há 33 anos, diz que a vida o levou a descobrir seu ikigai bem antes de começar a estudar o tema, há uma década. Arquiteto e urbanista de formação, Matsuo identificou a paixão de desenhar –  e ver que as pessoas poderiam pagar por isso –  ainda no curso pré-vestibular. “Cheguei a pensar que o diretor estava me chamando para me expulsar, porque eu fazia caricaturas dos professores, mas foi para me contratar como cartunista do jornal do cursinho”, diz Matsuo. “Fiquei surpreso. Até então o que eu conhecia, pelo exemplo de meu pai, era que trabalho envolvia sofrimento e sacrifício. “Na função de responsável pela criação da companhia, ele desempenhou papel relevante com as equipes que lançaram as marcas Melissa, Rider e Ipanema. Ao conhecer o conceito de ikigai, Matsuo passou a tentar se cercar de pessoas que também escolheram a carreira por paixão.

E, no dia a dia, busca calibrar esse sentimento. Uma de suas práticas é fazer o que chama de check-in e check­Out emocional no início e no final as reuniões. Diz que isso possibilita conversas abertas entre os participantes para analisar como eles saem do encontro, se têm alguma ressalva, se veem sentido naquilo que será executado. “Encontrei um significado maior para meu trabalho ao cuidar das relações entre as pessoas e ao incentivar que todos mantenham a paixão acesa ou busquem fazer o que amam em outro lugar ou atividade”, diz. Diversas pesquisas mostram que poucos têm a sorte de aplicar uma paixão pessoal ao trabalho remunerado. Cerca de 80% das pessoas não sabem qual é sua paixão ou têm mais de uma e não sabem qual escolher. Especialistas dizem que muitas vezes a resposta está mais em como se trabalha, no valor das relações desenvolvidas no trabalho e na crença de fazer parte de algo maior. Para ajudar as pessoas a construir um caminho com mais significado, treinamentos comportamentais têm se valido do exercício de projetar o futuro. A questão é: qual legado você pretende deixar? Muitos fazem essa reflexão quando pode ser tarde demais para corrigir a rota. No curso Liderança Centrada, lançado em 2012 após uma extensa pesquisa para entender o que diferencia os profissionais satisfeitos com a própria vida e bem-sucedidos no trabalho, a consultoria de gestão McKinsey usa a técnica de conduzir os participantes a pensar no próprio aniversário de 80 anos. Mais de 900 consultores e 1.500 executivos de 400 empresas no mundo passaram pelo programa.

“Segundo pesquisas, a maioria das pessoas, sobretudo executivos, começa a se perguntar qual é seu legado aos 65 anos, perto de se aposentar”, diz Antônio Batista, presidente da Fundação Dom Cabral, que criou o programa CEOs’ Legacy. O grupo de discussão para estimular a reflexão sobre o legado de presidentes de empresa começou em 2017 e já contabiliza mais de 150 horas de encontros entre dezenas de executivos. A ideia é, além de promover reflexões pessoais, desenvolver projetos sociais. Por enquanto, há cinco iniciativas. Uma delas é na prefeitura de Holambra, no interior do estado de São Paulo, com a implementação de sistemas de gestão corporativa. A advogada Manuella Curti, de 34 anos, é uma das participantes do programa. No caso dela, a necessidade de dar um novo significado à própria existência veio depois de uma experiência traumática. Manuella assumiu a presidência da fabricante de purificadores de água Grupo Europa prematuramente, aos 26 anos. Seu irmão, o então sucessor, e seu pai, que era presidente do grupo, morreram em um intervalo de apenas seis meses. Ela se reuniu com a mãe, a irmã mais nova e o sócio, e os quatro decidiram que, em vez de um executivo contratado de fora, Manuella era a pessoa mais indicada para assumir a gestão da companhia. “No início tive uma crise de identidade, porque tentava agir conforme aquilo que as pessoas esperavam de mim, parecido com meu pai”, diz Manuella, que participou de cursos de autoconhecimento, coaching e meditação para se fortalecer. “Até que decidi ser autêntica, porque compreendi que todos vêm ao mundo para servir a algo, e que eu deveria aportar meu valor na empresa.” Ela liderou mudanças no modelo de negócios e na cultura, tornando-a menos hierárquica, e o Grupo Europa cresceu. Agora busca amadurecer a ideia do legado que pretende deixar não apenas na empresa, mas no mundo.

A reflexão sobre o tempo como inimigo implacável na busca por dar sentido à própria vida aparece também na obra do guru de gestão Clayton Christensen, professor na Universidade Harvard, conhecido por criar o termo “inovação disruptiva”. Depois de se recuperar de uma sequência de problemas de saúde – uma parada cardíaca, um AVC e um câncer -, ele publicou em 2012 o livro Como Avaliar Sua Vida. Uma de suas conclusões: é muito fácil se perder nos incentivos de curto prazo e se esquecer de construir as conquistas que exigem dedicação no longo prazo. Um exemplo prosaico que Christensen dá: perder um jantar com os amigos para concluir um projeto  importante pode parecer menos custoso e oferecer uma recompensa mais diluída ao longo do tempo do que um aumento ou um elogio do chefe. O problema é quando essa situação se torna rotina e o significado do vínculo com as pessoas próximas se perde. Assim como acontece na lógica dos resultados de uma companhia, o alcance de um propósito deriva das atitudes construídas todos os dias.

O executivo Laércio Albuquerque ouviu algo parecido quando foi promovido pela primeira vez ao cargo de presidente, aos 36 anos, na empresa CA Technologies. “Busquei conselhos de profissionais experientes, e um deles me disse para jamais perder meus filhos”, afirma. “Com o tempo, eu esqueceria o assunto da reunião que me fez faltar a um compromisso da família, mas os filhos jamais se esqueceriam de que foram trocados por trabalho.” Ele se tornou pai seis anos depois, com o nascimento da primeira filha. Hoje, à frente da companhia de tecnologia Cisco no Brasil, diz levar a sério o conselho que recebeu. “Meus maiores objetivos até então eram relacionados a ter sucesso na carreira”, afirma Albuquerque. Em 26 de junho de 2018, por exemplo, ele teria uma reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, em Brasília, mas escalou um de seus diretores, pois já havia combinado fazia meses uma viagem com a mulher à Argentina. Em 2017, deixou de ir à uma reunião de planejamento estratégico com os chefes nos Estados Unidos porque já tinha programado um cruzeiro na Disney com a família na mesma data. Para ele, que cresceu numa família humilde no interior de Mato Grosso do Sul e aos 9 anos já ajudava o pai num bar, trata-se da construção de uma herança emocional.

Brené Brown, pesquisadora da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, há mais de uma década estuda temas como propósito, vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia. Cinco de seus livros, publicados desde 2012, estão nas listas de mais vendidos do jornal The New York Times. O mais recente deles, Dare to Lead: Brave Work. Tough Conversations. Whole Hearts (algo como “Atreva-se a liderar: trabalho corajoso. Conversas difíceis. Coração inteiro”), é líder de vendas na categoria de livros de negócios desde seu lançamento em outubro de 2018. Segundo Brené, pessoas com propósito têm um senso de coragem necessário para seguir o que faz sentido dentro de suas escolhas, e não o que se espera delas. Como Gina Vieira Ponte, que nasceu e cresceu em Ceilândia, na periferia do Distrito Federal. Filha de pai analfabeto e vendedor ambulante e de mãe empregada doméstica, ela decidiu ainda criança que queria ser professora. Ao cursar o magistério, no ensino médio, muitas vezes não tinha dinheiro para o básico, como almoçar e pagar a passagem de ônibus. A força de sua convicção lhe permitiu ter uma carreira bem-sucedida. Com 27 anos de profissão, Gina coleciona conquistas. Há alguns anos, diante da constatação de que parte das alunas se divertia dançando de forma sensual, decidiu oferecer outras referências. Propôs aos alunos que estudassem a vida de dez mulheres inspiradoras, como a escritora brasileira Carolina de Jesus e a paquistanesa Malaia Yousafzai, que desafiou extremistas muçulmanos pelo direito de meninas irem à escola.

Depois, cada aluno escolheu a mulher inspiradora de sua vida – mãe, tia, avó -, entregou a ela um convite para uma entrevista e escreveu uma redação com o conteúdo da conversa. Ao final do curso, Gina publicou um livro com as histórias dos alunos. O projeto ganhou 11 prêmios e está em 40 escolas. “O mais gratificante foi ver os alunos de peito estufado, olhos brilhando, ao contar as descobertas que fizeram sobre essas mulheres”, diz Gina. “Muitas das mães, tias e avós entrevistadas também puderam reavaliar sua história e se descobriram mulheres inspiradoras.” Segundo o pioneiro psiquiatra Viktor Frankl, pode-se tirar qualquer coisa de uma pessoa, menos a liberdade de escolher como reagir às circunstâncias – e dar sentido a elas, por mais duras que sejam.

A força do propósito. 2 

MAIS SIGNIFICADO

O que especialistas dizem sobre os caminhos e as vantagens de encontrar um propósito na vida

 1 – CADA UM TEM UMA RESPOSTA

Em sua pesquisa para identificar a fonte da felicidade duradoura, o americano Martin Seligman, precursor da psicologia positiva, constatou que as pessoas que se mantêm satisfeitas por mais tempo conhecem as próprias fortalezas, como curiosidade ou persistência, e as aplicam na rotina do trabalho e na vida pessoal. E entendem que essas características são empregadas para produzir benefício coletivo.

 2 – ALÉM DO INSTINTO BÁSICO

Pesquisas médicas mostram que ir além dos instintos e ter um propósito reduz o risco de adoecer. Os instintos básicos, como o medo, foram desenvolvidos por nossos avós répteis, uma história que começou há 400 milhões de anos. Já a parte do cérebro que gera a autoconsciência e o senso de propósito é fruto da evolução humana nos últimos 4 milhões de anos.

3 – ANÁLISE EM PERSPECTIVA

Uma pesquisa da seguradora Allianz com 2.000 americanos mostra que as pessoas se dedicam a pensar no próprio legado em média aos 65 anos, fase em que há menos tempo para mudar o rumo da vida. Em treinamentos como o aplicado pela consultoria McKinsey, um dos exercícios propostos aos participantes é imaginar o que gostariam de ouvir das pessoas em seu aniversário quando completassem 80 anos.

 FONTES: Martin Seligman, Rudolph Tanzi e Allianz

 

ALIMENTO DIÁRIO

SEGREDOS DO LUGAR SECRETO

Alimento diário - livro

CAPÍTULO 16 – O SEGREDO DO TEMPO

 

Um amigo me disse recentemente: “O lugar secreto foi o ponto de maior frustração e ataque em minha caminhada pessoal”. Eu sei que ele não está sozinho. Visto que o lugar secreto contém as chaves para a autêntica superação do Reino, o inimigo fará com que os mais fortes ataques sejam direcionados a este importante ponto da vida de um cristão. Nosso inimigo fará tudo para reduzir a quantidade de tempo que dedicamos ao lugar secreto com Deus. Ele irá importunar, distrair, assediar, incitar, oprimir, seduzir, cansar, mentir, intimidar – custe o que custar.

Não se engane, quando você se dedica a conhecer a Deus, parece que o inferno inteiro se levanta contra você.

O potencial integral do lugar secreto com Deus requer um elemento predominantemente importante: tempo. Bastante tempo. Quanto mais tempo exclusivo você dedica a ele, mais significativo o relacionamento se torna. O princípio de 2Coríntios 9.6 se aplica, efetivamente, aqui: “Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente”. Quanto mais tempo você semear no lugar secreto, mais liberalidade usufruirá.

Há um limiar a ser cruzado em termos de descobrir a plena alegria do lugar secreto. Até você encontrar o limiar, terá a convicção de que está consistentemente se forçando a entrar no lugar secreto, como se fosse um fardo e não um prazer. Mas quando cruza o limiar, o lugar secreto torna-se um lugar de deleite que você priorizará com satisfação em relação às outras tarefas concorrentes.

Mas como encontramos esse limiar? Ao passarmos bastante tempo no lugar secreto. Nunca considero o tempo investido no lugar secreto como desperdiçado; e ainda que fosse, ficaria feliz em desperdiçá-lo com o meu Senhor! Mesmo quando sentimos que estamos perdendo nosso tempo espiritualmente, cada hora investida é como uma gota d’água enchendo o cálice. Um dia a última gota fará o cálice transbordar e o Senhor nos conduzirá através do limiar para outra dimensão de deleite e intimidade. Mas nunca conquistaremos isso sem investirmos tempo.

Outro amigo me disse que se sentia culpado por não passar tempo suficiente com Deus. Esse é um sentimento comum, porém, muito mal direcionado. Os sentimentos de culpa nunca motivarão ninguém a passar mais tempo com Deus; na verdade, eles desmotivarão você e farão com que se sinta um fracassado. A culpa tem o potencial de extinguir totalmente qualquer chama, ainda que pequena, que possa haver dentro de qualquer pessoa.

A culpa é sempre fundamentada nas mentiras de Satanás. Satanás deseja que acreditemos que Deus está chateado conosco, por não estarmos cumprindo a cota diária de tempo com Ele. Satanás milita contra a verdade da Palavra, a qual declara que a nossa aceitação por parte de Deus procede unicamente de nossa fé em Jesus Cristo.

Deus não fica nem um pouco impressionado com o seu desempenho, ao contrário, fica profundamente impressionado com o desempenho de Jesus Cristo. Quando você deposita uma fé pura em Jesus, o registro de desempenho dele é creditado a você. A fé em Cristo libera o coração do Pai para você. Quando você crê em seu Filho amado, o coração do Pai explode em afirmação, aceitação e deleite – de forma totalmente independente da sua diligência ou da falta dela.

Deus é o seu maior fã. Como seu Pai celeste, está constantemente persuadindo você a avançar em direção às alturas da vitória espiritual. Quando você negligencia o lugar secreto, Ele não fica desapontado com você, mas desapontado por você. Ele vê as riquezas espirituais disponíveis e seu coração fica partido ao observá-lo desviando-se delas. Ele deseja que compartilhe o melhor do céu e olha com tristeza quando você se priva espiritualmente.

Alguém me disse recentemente: “A maior mentira com a qual Satanás me ataca é: ‘Você merece uma folga hoje!”‘. Algumas mentiras de Satanás são tão estúpidas que chegam a ser, literalmente, ridículas. Como se tempo fora do lugar secreto fosse uma folga! Isso não é uma folga e sim uma perda.

Nesse tempo, você deixou de beber profundamente da fonte do Espírito; deixou de ser lavado, limpo e renovado em sua presença; deixou de ser alimentado pela iluminação da Palavra de Deus; deixou de aproveitar o tempo para acalmar seu coração agitado e ouvir a preciosa voz de Deus; deixou de ter comunhão íntima no jardim secreto. Resumindo: “Você foi roubado”.

E, em vez de se sentir culpado, sinta-se enganado! Quando as circunstâncias ou as emoções tiverem êxito em roubá-lo do lugar secreto, não se sinta culpado – fique indignado! Permita que a paixão nasça em seu coração. “Oh, Senhor, eu o amo tanto; estou realmente contrariado com a forma como permiti que os cuidados desta vida me impedissem de estar na sua presença. Isso tem que parar, as coisas têm que mudar. Não posso viver sem o Senhor. Estou voltando! Preciso dedicar mais tempo para ficar na sua presença. Você é minha própria vida, meu ar. Oh, como eu o amo, Senhor!” E, então, exerça a violência espiritual para colocar novamente suas prioridades em ordem.

Em uma observação prática, muitos daqueles que descobriram grande prazer em sua vida secreta com Deus acharam necessário dedicar uma parte específica do dia para se reunir com Ele. Entregar-se disciplinadamente a um período de tempo consistente passou a ser muito importante para encontrarem as dimensões mais altas de prazer e deleite.

Ao olharmos para trás, quando relegamos o lugar secreto à espontaneidade, percebemos que não destinamos muito tempo a ele. Faça o que melhor funcionar para você – porque o importante é dedicar bastante tempo a uma longa e agradável meditação na beleza e no esplendor de Jesus Cristo, nosso Senhor.

Veja outra dica prática: “Vá aumentando gradativamente seu tempo com Deus. Se você estiver dedicando dez minutos por dia atualmente, au­ mente para quinze ou vinte. Ao adicionar tempo, incrementalmente você estará desenvolvendo sua força espiritual.

Certa vez, estive com um irmão que desejava dedicar-se à oração e ao estudo da Palavra de Deus devido a um problema específico de sua vida. Fiquei surpreso, entretanto. Após ter se entregado ao estudo por alguns mi­ nutos, ele teve que parar para fazer qualquer outra coisa. Ele praticamente não desenvolveu nenhuma força espiritual. Até mesmo mera meia hora de estudo e oração era demais para ele. Ele tinha um caso de “Desordem de Déficit de Atenção” espiritual. Entretanto, aquele era o momento para ele amadurecer em Cristo e desenvolver a capacidade de passar mais tempo no lugar secreto.

Pratique isso como um atleta. Nenhum atleta espera correr uma maratona em sua primeira vez, depois de ter permanecido sedentário durante muitos meses. Ele sabe que antes precisará desenvolver resistência. Então, dia após dia vai acrescentando um pouco mais de exercícios até adquirir o nível de resistência desejado. Similarmente, você pode desenvolver sua força espiritual até chegar ao ponto de passar uma grande quantidade de tempo com Deus e ver isso tornar-se um grande deleite do seu coração.

Quando a ideia de correr essa corrida vem à minha mente, penso em Salmos 119.32: “Corro pelo caminho que os teus mandamentos apontam, pois me deste maior entendimento”. Um corredor deve desenvolver resistência cardíaca. Na medida em que ele se esforça para correr maiores distâncias ou a uma maior velocidade, a capacidade do coração de bombe­ ar sangue, que sustenta a vida, é aumentada. Pedi ao Senhor, então, para aumentar a resistência do meu coração para que eu pudesse correr mais velozmente para buscá-lo.

Ainda não terminamos esse tema. Portanto, continue lendo o próximo capítulo, onde falo sobre um modo específico de planejar mais tempo a sós com Deus.

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