EDUCANDO PARA O FUTURO
Durante toda a escolaridade é possível aparelhar gradativamente as crianças e jovens de modo a desenvolver as chamadas habilidades interpessoais
O homem é um ser social por natureza. Desde o momento de seu nascimento, independentemente de onde viva, já se encontra inserido em um grupo social, que se amplia conforme cresce e começa a frequentar a escola, constituindo novas e crescentes relações interpessoais.
Tal rede de relações é estabelecida segundo características do indivíduo, do próprio grupo e da cultura vigente e vai sendo construída gradativamente no decorrer de toda vida e, embora os primeiros anos sejam primordiais nesse aprendizado, é preciso aprender a aprender como planejar novas situações por toda a vida.
Ninguém duvida que o maior objetivo da educação seja criar a autonomia pessoal e social e que essa condição dependa em grande parte da formação acadêmica e depois profissional, de cada pessoa. A constituição de um perfil profissional que acompanhe as mudanças, as demandas de um mundo laboral hiperativo, competitivo e exigente é uma urgência das últimas décadas, à qual ninguém se pode furtar.
Paralelamente a isso, temos como certo que a formação do adulto capaz e autônomo, socialmente responsável, depende primordialmente da educação que recebe da família e da escolaridade que frequenta e que esta não se baseia mais na transmissão de valores e conhecimentos (de toda ordem) praticamente imutáveis, mas na necessidade de criar pessoas com um perfil adaptativo às rápidas mudanças sociais, científicas, mercadológicas, etc. Aprender como se aprende, para aprender sempre, constitui um padrão de realidade à qual ninguém pode se furtar.
Entretanto, além do imprescindível respeito aos talentos naturais, há de se levar em conta que habilidades de toda ordem devem ser aprendidas a partir da pré-escola, visando o desenvolvimento de um novo perfil, que vai passo a passo evoluindo até alcançar condições ideais de atender as exigências acadêmicas e, um dia, ser profissionalmente competitivo.
Capacidade de se adaptar a mu- danças, responder a desafios de modo organizado, coerente, ser capaz de trabalhar e resolver problemas junto a outras pessoas, demonstrar atitudes interpessoais de comunicação, lide- rança, domínio da tecnologia são imprescindíveis para a vida social e para atender as demandas do mercado de trabalho do século XXI.
No dia a dia é possível, por exemplo, criar métodos e estratégias que objetivam desenvolver as chamadas habilidades interpessoais das crianças e jovens em idade escolar. Isso pode ser realizado mediante jogos e tarefas de grupo, onde é maior a valorização dos comportamentos que demonstrem capacidade de trocas de informação eficientes, empatia, atitudes de comando, controle da frustração, capacidade de suportar pressão, resiliência e autonomia, entre outras.
Segundo Eric Smith, pesquisador da Universidade de Stanford, o controle emocional gera atitudes mais adaptativas em caso de mudanças, desafios, fracassos, estresse comuns na vida estudantil, e preparam para as vicissitudes do mundo profissional principalmente.
Portanto, preparar as crianças e jovens para atender a esse perfil de profissionais que a sociedade precisa para enfrentar as vicissitudes e os novos modelos do século XXI tornou-se um desafio realista para a família e a escola.
E, evidentemente, bons professores que também tenham essa feição tornaram-se indispensáveis: antes de dominar o conteúdo ou ser um mestre na didática, o importante passou a ser sua habilidade interpessoal, ou seja, saber estabelecer um bom relacionamento com seus alunos, desenvolver empatia, criar o sentimento de pertencimento a um grupo. Isso tudo favorece as habilidades cognitivas e influência de forma marcante no ensino e na aprendizagem.
Segundo revela uma importante pesquisa divulgada recentemente pelo Grupo Educacional Person, realizada em 23 países, sobre as características mais valorizadas por alunos, pais, professores e responsáveis pelas políticas educacionais em cada nação, as coincidências foram muitas.
Para os alunos brasileiros, a paciência é a principal qualidade de um bom professor (13%) e saber se relacionar é o segundo quesito mais importante, seguido do profissionalismo e habilidades didáticas.
Inqueridos os familiares dos alunos, 14,2% indicaram o profissionalismo, seguido do relacionamento e da paciência, como características-chave de um bom professor, o que não difere essencialmente do que pensam os próprios professores que agregam ainda a dedicação (9,8%).
A pesquisa revelou que para os representantes políticos se destaca outra qualidade, mas em quarta posição, que está relacionada ao gerenciamento da sala de aula (8,4%), perdendo apenas para o relacionamento (12,2%), paciência (12,2%) e dedicação (10,7%). Tais habilidades fazem com que a criança, no encontro e vivência com seus pares, conheça seus próprios sentimentos, suas reações emocionais frente ao cotidiano e seus desafios, seu modo de pensar e refletir sobre isso.
Portanto, oportunizar o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos professores é importante para melhorar a aprendizagem acadêmica e para ajudar a desenvolver as mesmas habilidades nas novas gerações.
MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.
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