ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 22 – A HISTÓRIA DE LISA

John e eu trouxemos diferentes formas de pecado sexual e de dificuldades para o nosso casamento. Enquanto John lutava suas próprias batalhas, eu tive de lutar minha própria guerra íntima. Nunca imaginei que escolhas sexuais aparentemente despreocupadas que eu havia feito quando era uma estudante universitária de dezenove anos voltariam para confrontar minha liberdade como uma mulher recém-casada de vinte e dois anos.

Quando meus pais conversaram comigo sobre sexo pela primeira vez, eles me explicaram que o sexo estava reservado para o casamento, mas não me disseram por quê. O que lembro foi que a ênfase principal da conversa era o medo de contrair uma doença e a vergonha de ter uma gravidez fora do casamento.

O casamento dos meus pais era muito instável e parecia haver muita inconsistência entre o que eles diziam e o que de fato faziam. Um exemplo característico dessa inconsistência é o fato de que meus avós por parte de pai terem tido múltiplos casos sexuais. O conceito de pureza ou virtude nunca entrou na conversa. Segundo o que eu podia observar, parecia que o segredo era fazer o que você quisesse desde que se comportasse de forma responsável e não fosse apanhado.

Adotei essa lógica de ação durante a faculdade e a somei a um senso de moralidade que construí ao conviver com minhas amigas: eu só dormiria com pessoas a quem amasse e, além disso, faria sexo com responsabilidade. Um aspecto dessa “responsabilidade” era usar contraceptivos. Quando necessário, eu até levava algumas de minhas colegas menos responsáveis ao meu médico para que elas também pudessem adotar a pílula.

Então conheci John e, ainda no nosso primeiro encontro, ele me conduziu ao Senhor. Eu tinha vinte e um anos. Nasci de novo, fui cheia do Espírito Santo e fui curada, tudo na mesma noite. Durante a nossa conversa, eu disse algo ridículo. Fiz o comentário: “Fico feliz por nunca ter tido um comportamento imoral”.

Tenho de me perguntar por que eu disse algo tão estúpido! Não faço ideia da resposta, a não ser o fato de que eu não entendia a diferença entre moral e santo. Lembro-me de que eu pensava que dormir com pessoas que você amava era igual a ter moral. Embora eu tivesse nascido de novo, naquelas primeiras horas, minha mente estava longe de ter sido renovada.

Mais tarde, quando começamos a namorar, esperava que John tivesse esquecido o que eu dissera. Imagine meu terror quando ele me disse: “Fico muito feliz porque nós dois nos guardamos”.

Tive vontade de gritar: “Não! Aquilo era um bebê cristão ignorante e recém-nascido falando!” Foi quando descobri o quanto as consequências das minhas escolhas pessoais poderiam ser dolorosas para os outros.

Então chegou o dia em que eu soube que John ia me pedir para passar o resto da vida com ele, e eu soube que tinha de lhe contar a verdade.

Eu sentia que não merecia John e acreditava haver perdido a preciosa oportunidade de construir minha vida com um homem que amava a Deus e se importava comigo. Saí para caminhar um pouco e clamei a Deus. Eu sabia que havia sido perdoada, mas estava dominada pelo remorso que sentia das consequências das minhas escolhas sexuais.

Fui ao apartamento de John para falar com ele, mas, antes que eu pudesse confessar meu segredo vergonhoso, ele disse:

—  Você se importa se eu ler um versículo da Bíblia? Senti o desejo de compartilhá-lo com você.

Concordei, então John começou a ler:

— “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17, AA). Sei que isso parece estranho — ele continuou —, mas senti como se Deus me falasse para dizer a você que as coisas velhas passaram. Você é inteiramente nova, e é como… uma virgem.

Pensei que fosse vomitar.

— Eu não sou virgem — eu disse. — Era isso que eu ia lhe dizer. John segurou-me pelos ombros, olhou-me nos olhos, e disse:

— Se Deus diz que você é, quem somos nós para discutir? Naquele instante, toda a minha vergonha desapareceu.

RESTAURANDO A SEXUALIDADE QUEBRADA

Ainda assim, eu havia despertado a minha sexualidade na dimensão da luxúria e não do amor. Quando entrei no casamento e quis amar, eu não sabia como fazer isso. Na minha mente, sexo era ruim. Era errado. Era proibido. Agora que estávamos casados, o sexo de repente era bom e era algo de Deus e devia ser celebrado. Eu não sabia como fazer essa transição.

Se John e eu ficávamos sozinhos, eu tinha um súbito e aterrorizante flashback de uma imagem de algum filme pornográfico horroroso que havia assistido cinco anos antes na faculdade. Ou eu me fechava sexualmente com vergonha por causa das memórias que tinha de encontros sexuais passados com um ex-namorado. Era terrível.

Quando devia ser capaz de me entregar livremente a meu marido com total abandono, eu me via amarrada ao passado. John merecia tudo de mim, e eu não conseguia ter liberdade sexual por causa das minhas violações anteriores. Eu lutava contra pensamentos e imagens impuras, comparações e vergonha. Eu lutava contra essas coisas, mas parecia que nada adiantava. Foi nesse período da minha vida que aprendi sobre o poder de quebrar os laços da alma e as maldições hereditárias.

Falamos das maldições hereditárias anteriormente neste livro. Como mencionei, havia uma história de imoralidade e infidelidade na minha linhagem, à qual eu tinha de renunciar. Mas eu também tinha de quebrar laços em minha alma criados por encontros passados para que a minha sexualidade fragmentada pudesse ser restaurada. Vamos ler um versículo que trata desse assunto:

Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma prostituta? De maneira nenhuma! Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: “Os dois serão uma só carne”. 1 Coríntios 6:15-16

Não estou chamando meus ex-namorados de prostitutos, mas o princípio aqui é o mesmo. Eu havia me unido a eles e sido uma só com eles, e agora eu tinha uma aliança com outro homem. A cada união e separação, minha alma havia sido fragmentada até eu não ser mais inteira – e agora, eu estava quebrada sexualmente. Quando você está quebrado sexualmente, torna-se incrivelmente difícil você se entregar completamente ao seu cônjuge, porque você não está mais completo.

Para andar em pureza e desfrutar o dom da intimidade, precisamos estar inteiros, e só Deus pode restaurar nossa integridade quando ela foi maculada. Só Deus pode restaurar a honra da nossa sexualidade onde houve violação e desonra. Só Deus pode pegar o impuro e contaminado e torná-lo santo e puro novamente. Só Deus pode nos dar uma bela coroa pelas cinzas que nós levamos a Ele.

Se sua sexualidade foi maculada por causa da imoralidade no passado (quer seja promiscuidade, pornografia unida à masturbação ou qualquer outra impureza), gostaríamos de convidá-lo mais uma vez a dedicar um tempo para uma oração de restauração. Mais uma vez, prepare-se espiritualmente antes de orar, e ore somente com seu cônjuge, com um amigo próximo, com um parceiro de oração, ou apenas com a presença do Espírito de Deus. Diga em voz alta:

Pai celestial,

Obrigado por enviar Teu Filho para sofrer a punição pelo meu pecado. Porque estou em Cristo, todas as coisas velhas passaram da minha vida. Agora todas as coisas são novas. De acordo com 2 Coríntios 5:21, Jesus levou meu pecado para que eu pudesse me tornar a Tua justiça. Isto é o que sou hoje.

Agora confesso e renuncio ao meu pecado e aos pecados de meus antepassados por todo e qualquer envolvimento em pecado sexual e por toda impureza, perversão e promiscuidade. (Tenha o cuidado de citar aqui especificamente os pecados aos quais você está renunciando. Diga-os em voz alta diante de Deus sem vergonha. Não há nada em oculto – Ele já conhece cada um deles e anseia por remover de você o peso da culpa e da vergonha. Então, quando estiver pronto, prossiga.)

Pai, toma a espada do Teu Espírito e corta todo laço sexual impuro que prenda a minha alma à alma de… (ouça o Espírito Santo e diga cada nome à medida que for ouvindo. É bem possível que os nomes possam ser de pessoas com quem você não teve relações sexuais, mas com quem você se envolveu sexual ou emocionalmente de uma maneira que deveria estar reservada ao seu cônjuge ou ao seu Salvador somente).

Depois de dizer cada nome individualmente, ore:

Pai, libera Teus anjos para recuperar os fragmentos da minha alma presos a essas pessoas. Restitui-os a mim pelo Teu Espírito para que eu possa ser íntegro, santo e separado para o Teu prazer.

Pai, renuncio à influência de toda imagem pervertida e promíscua. Perdoa-me por permitir que imagens vis e pervertidas fossem colocadas diante dos meus olhos. Faço uma aliança de acordo com o Salmo 101:3, de guardar as fontes do meu coração através da porta dos meus olhos. Não permitirei que nenhuma coisa vil esteja diante dos meus olhos. Renuncio a todo espírito impuro e ordeno que ele e sua influência saiam da minha vida.

Pai, lava-me no sangue purificador de Jesus, pois só ele tem o poder para purificar e expiar. Eu me consagro agora como Teu templo; pelo poder do Teu Santo Espírito, remove toda contaminação do espírito, da alma e da carne deste santuário. Enche-me até transbordar com a presença do Teu Espírito Santo. Abre meus olhos para ver, meus ouvidos para ouvir e meu coração para receber tudo o que tens para mim. Sou Teu. Faz a Tua obra em minha vida.

Com amor, Teu filho.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CRIMES, TESTEMUNHOS E FALSAS RECORDAÇÕES

Podemos acreditar no relato de alguém que presencia um crime? Se a testemunha tem boa memória, tendemos a confiar em suas observações, mas os mecanismos que elaboram as lembranças pedem cautela

Jura dizer a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade? “Juro.” Apesar da fórmula ritual, em geral estamos dispostos a acreditar nos relatos de uma testemunha ocular com boa memória e, obviamente, desinteressada, inclusive nos detalhes relativos às roupas e ao aspecto físico da pessoa que cometeu o delito. Mas a psicologia cognitiva ensina que a mais sincera das testemunhas pode se enganar. Não se trata de uma questão de boa-fé, mas de um problema ligado aos mecanismos que elaboram as recordações.

Entre juízes e magistrados é disseminada a convicção de que a psicologia diz respeito, quase exclusivamente, aos transtornos psíquicos. A disciplina é associada ao uso de testes psicológicos ou terapias, instrumentos para diagnosticar e tratar problemas psicológicos no nível individual ou sistêmico. Assim, o psicólogo só é solicitado como especialista quando o juiz deve conhecer características da personalidade, desenvolvimento intelectual e o eventual tipo de psicopatologia do réu.

Mas, na realidade, um campo da psicologia pode dar contribuições fundamentais a certos aspectos da atividade jurídica e de investigação, como o interrogatório e o testemunho: o estudo da memória e dos processos cognitivos. Não por acaso, há duas associações científicas de psicologia e direito – uma europeia e uma americana – formadas por pesquisadores que se dedicam à interface entre psicologia e aspectos jurídicos.

Para se ter uma ideia da importância da psicologia cognitiva nessa área, basta mencionar que, nos Estados Unidos, durante a administração Bill Clinton, alguns estados modificaram a lei seguindo resultados de pesquisas realizadas no campo cognitivo-jurídico. Essas pesquisas apontaram problemas no modo pelo qual era realizado o lineup, o procedimento que tenta identificar culpados mediante a exibição de retratos ou pessoas. O típico lineup simultâneo leva à identificação de um dos indivíduos mostrados, ainda que o culpado não esteja entre eles. As falsas identificações chegam a atingir níveis muito altos, em torno de 70%.

A psicologia cognitiva é importante para avaliar os testemunhos porque estes se baseiam na memória. Compreender como funciona a memória, quando uma recordação é correta ou incompleta, errada ou inteiramente falsa, permite estabelecer se um testemunho é exato e se pode ser utilizado como prova.

Objeto de investigação dos gregos antigos e dos romanos, o estudo científico da memória só foi iniciado no final do século XIX, com Hermann Ebbinghaus. Apesar disso, seus mecanismos são bastante conhecidos, graças ao surgimento da psicologia e da neuropsicologia cognitivas. Sabemos hoje que a memória humana não é composta de um sistema único, mas de vários, parcialmente independentes. Entre os principais sistemas estão a memória “semântica”, de longa duração, que contém informações relativas aos fatos e aos conceitos, e a “episódica”, também de longo prazo. Nela estão contidos os dados sobre eventos singulares, como o local e o momento em que aconteceram. Lembrar de uma lista de palavras apresentadas uma hora atrás, de um roubo ou do rosto do culpado são tarefas da memória episódica. A parcial independência entre essas duas formas de memória foi formulada e demonstrada por Endel Tulving em uma série de pesquisas realizadas nos anos 70. Recentemente, essa tese foi confirmada por estudos neuropsicológicos sobre pacientes que sofrem de uma forma de déficit seletivo (nos quais só uma pequena área cerebral estava lesionada ou que só tinham alguns aspectos comportamentais delimitados comprometidos).

Estudos na área da psicologia e da neuropsicologia cognitivas possibilitam a compreensão do funcionamento de um dos aspectos humanos mais opacos e difíceis de observar a mente. As experimentações feitas em pessoas normais, os estudos de casos singulares de pacientes neurológicos com problemas específicos e a técnica de imageamento cerebral permitiram formar um quadro aprofundado do funcionamento da memória. Além da memória episódica e da semântica, as investigações delinearam o funcionamento de uma memória de trabalho de curta duração, de uma memória autobiográfica de longa duração, de uma memória explícita e de uma implícita.

Esses sistemas são permeáveis entre si, os conteúdos e processos de um informam os conteúdos e processos dos outros. A interação entre as memórias episódica e semântica é crucial para o testemunho. Envolvendo a recordação de um ou mais eventos específicos, um testemunho recorre à memória episódica e segue suas regras de funcionamento. Várias pesquisas demonstraram, porém, como o conteúdo dessa memória é influenciado por elementos presentes na memória semântica e como os conhecimentos gerais estão ativos no momento em que se assiste à cena ou se tenta recordá-la.

Na literatura científica, há exemplos interessantes que mostram como a ativação do conteúdo da memória semântica influi e modifica o conteúdo da memória episódica. Quando um estudante universitário é instado a recordar as notas que recebeu nos exames de meio de semestre, em geral lembra das mais altas ou mais baixas, dependendo da nota final obtida. Se a nota final for alta, as intermediárias recordadas serão maiores que na realidade o foram, se for baixa, serão recordadas notas menores que as efetivamente obtidas no meio do semestre.

Um efeito similar, embora mais extremo, foi descoberto por uma pesquisa recente sobre a memória autobiográfica. Os participantes foram informados que, no ano em que nasceram, várias maternidades tinham música nos berçários. A informação, apesar de falsa, teve o efeito de fazê-los “recordar” a música. Fenômenos como esse se devem ao fato de que, no momento da recordação, os dados mais recentes da memória são os mais facilmente ativados. Estes interagem e passam a fazer parte do conteúdo da memória episódica ou autobiográfica, produzindo modificações relevantes na recordação originária, como no caso das notas, ou criam lembranças inexistentes, como no caso da música no berçário.

Tais resultados sugerem que a memória não é comparável a um filme ou a uma sequência de fotografias, que poderiam ser reproduzidas e revistas à vontade e sem que seus conteúdos sofressem qualquer alteração. A memória não é reprodutiva. Ao contrário, está articulada a uma série complexa de processos – entre os quais aqueles relativos à atenção e à percepção, cujo papel é preponderante – mediante os quais informações são codificadas de modo fragmentário e distribuídas em várias áreas do cérebro. O hipocampo parece ser responsável pelos processos de codificação. Algumas áreas do lobo parietal e temporal seriam decisivas na representação de informações a longo prazo. Caberia ao lobo frontal planificar e  organizar os processos ativos no momento da codificação e da recordação.

A informação codificada, portanto, jamais será a cópia exata do que foi visto ou do que ocorreu. A recuperação efetuada pela memória pode ser o resultado de processos de reconstrução, que reativam e criam informações de natureza episódica e semântica relevantes para o que se deseja lembrar. Essas informações são integradas entre si e a “recordação” é o resultado final dessa integração.

Assim, no momento em que se testemunha um assalto, o fato não é codificado como se fosse uma cena coerente e completa em si mesma. Codifica-se, sim, o fato de que um assalto está ocorrendo, processo que ativa na memória semântica as informações relativas ao que ocorre normalmente durante um evento desse tipo. Além disso, são codificados elementos dispersos relativos ao lugar, aos objetos e às pessoas, mas nem tudo é registrado, e muita coisa se perde. Se houver uma arma, por exemplo, a atenção será concentrada nela e suas características provavelmente serão codificadas de forma clara (no que se conhece como weapon effect), em detrimento de outros elementos, sobre os quais a atenção não se detém. Muitas vezes a testemunha sabe reconhecer perfeitamente a arma do delito, mas não consegue identificar quem a segurava, ainda que o lineup seja conduzido de forma correta.

A informação codificada permitirá à pessoa recordar que presenciou um assalto, reconhecer a arma e, talvez, identificar outros elementos da cena. Mas jamais será possível extrair da memória a recordação completa da cena, como se fosse um filme. Dado que a memória é sempre reconstitutiva, ainda que em graus variáveis, uma testemunha nunca terá o relato exato do ocorrido.

Outro aspecto importante é que o próprio ato de rememorar pode modificar o conteúdo daquilo que se recorda e que será lembrado mais uma vez. Pesquisas recentes demonstram como a lembrança de um elemento reforça sua representação na memória, inibindo e enfraquecendo gradualmente a representação de outros elementos.

Um exemplo claro da interação entre as memórias episódica e semântica é a influência exercida por estereótipos e preconceitos sobre a lembrança episódica. Um estereótipo é uma forma de conhecimento, ou melhor, de convicção, estruturada de forma rígida e, portanto, dificilmente modificável, mesmo que sejam apresentadas informações contrárias a ela. A presença de estereótipos em nossa consciência está vinculada à tendência de nosso sistema cognitivo, em particular aos processos de raciocínio, de privilegiar a rapidez e a eficiência, sacrificando às vezes a precisão ou a verdade.

Nos Estados Unidos é comum entre brancos o preconceito de que os jovens negros são criminosos. Quando há um delito, costuma-se deduzir que o infrator seja negro. Suponhamos que uma pessoa branca presencie um assalto e vislumbre o culpado. Se ela compartilhar do preconceito, este será ativado de modo quase automático na memória no momento em que assistir à cena ou quando tentar recordá-la. O conteúdo do preconceito contaminará assim a lembrança que se tem do ladrão. Ao prestar depoimento, ela provavelmente “recordará” um infrator negro e jovem, ainda que não o tenha visto de forma clara.

A recordação de um negro no papel de ladrão não é um sinal de má-fé ou de confusão mental, mas produto da ativação inconsciente de informações prévias. Esse procedimento de acesso aos dados contidos na memória semântica e sua interferência nas informações da memória episódica é responsável também por outras formas de recordações equivocadas (e, portanto, de depoimentos errados).

Vimos até aqui, que oconteúdo de um testemunho depende da codificação e da recordação e que um papel importante é desempenhado nesses processos pela interação entre os conteúdos das memórias semântica e episódica. Mas o conhecimento que a testemunha possui não é o único fator que pode modificar a recordação. Uma importante fonte de alteração é a informação verbal fornecida durante ou após um interrogatório ou uma entrevista investigativa. Descobriu-se, por exemplo, que se os interrogatórios contêm perguntas que sugerem a resposta ou apresentam versões incorretas dos fatos, novos conteúdos podem ser incorporados na recordação do evento original (missinformation effect). Isso torna problemático decidir se o testemunho é verdadeiro ou não. Falar de pessoas ou objetos que não estavam presentes na cena originária determina um significativo aumento na recordação deles, como se de fato tivessem participado. Sugestões sutis, como a substituição de um artigo indefinido por um definido (“era o homem” em vez de “era um homem”), são capazes de alterar substancialmente a lembrança: é mais provável que as pessoas se lembrem da presença de um homem quando o artigo é definido. Esse efeito é criado pelas informações ativadas automaticamente na memória. Perguntar “era um homem” não fornece dados precisos, ao passo que indagar “era o homem/ativa a ideia de que um homem estava de qualquer forma presente, e a sua presença é codificada na memória.

São comuns os interrogatórios realizados de forma incorreta ou os procedimentos de investigação em que são apresentados fatos e dados, sobre os quais a testemunha nada falou, como se fossem verdadeiros. O resultado de casos registrados e analisados é sempre o mesmo: a testemunha acaba por aceitar os conteúdos sugeridos e, com o tempo, passa a considerá-los parte da recordação do evento originário. O fenômeno é evidente sobretudo nos interrogatórios e nas entrevistas investigativas realizadas com crianças. Quando os inspetores sugerem informações, elas inicialmente negam, mas depois cedem às insistências e aceitam o que lhes é dito.

Além disso, a pressão da conversa durante a entrevista também pode levar as pessoas a criar falsas recordações. Não é difícil encontrar casos em que a testemunha é instada a afirmar falsidades, insistindo-se quando ela nega e estimulando-a, de modo mais ou menos explícito, a descrever o fato como se este tivesse realmente ocorrido.

Um exemplo que gosto de citar é o do suposto abuso sexual sofrido por uma menina. O psicólogo que conduzia a entrevista solicitou que esta fosse filmada. A menina recusou, mas o psicólogo insistiu e ela por fim aceitou a presença de uma câmera, prosseguindo seu relato e informando quem teria sido e como se chamava a pessoa que abusara dela. Essas informações foram repetidas pela menina em várias investigações, após meses e anos.

O estudo mais recente sobre o tema demonstra que, uma vez induzidas a falar e por vezes a inventar detalhes falsos sobre um fato não ocorrido, um percentual elevado de crianças recorda, após muito tempo, do conteúdo dos próprios relatos, como se fossem parte de experiências realmente vividas, e só de forma hesitante conseguem distinguir a realidade da fantasia. Em suma, o conteúdo da narrativa pode se tornar realidade. Um fenômeno similar também foi observado entre adultos, mas no caso das crianças os percentuais foram altíssimos. Mais de 80% afirmam que o conteúdo do narrado durante a conversa era parte do evento vivido.

Infelizmente, os processos responsáveis por tais erros são latentes e escapam à consciência dos indivíduos, seja dos que formulam as perguntas, seja dos que devem responder. Assim, uma testemunha pode, de boa-fé, relatar coisas que não são verdadeiras e modificar bastante o conteúdo dos episódios que narra.

Vimos como o conteúdo da recordação de um evento ao qual se assistiu pode ser alterado. Nesses casos, porém, são modificadas apenas partes da recordação de um fato que, de qualquer forma, ocorreu e foi testemunhado pela pessoa.

Mas, durante a década passada, as pesquisas demonstraram como é relativamente fácil ocorrer a criação de lembranças inteiramente falsas.

A partir de um estudo realizado em 1995 pela equipe de Elizabeth Loftus várias pesquisas mostraram como as pessoas criam recordações autobiográficas falsas. Em um desses estudos, universitários foram informados de que, quando crianças, haviam se perdido em um centro comercial, algo que, de fato, não ocorrera. Para dar mais peso, o episódio era contado a eles por um irmão ou irmã mais velhos, devidamente instruídos pelos pesquisadores. Um certo número de estudantes, após ouvir o relato, disse “recordar’ o evento, enriquecendo-o com detalhes e elementos novos. Essas recordações eram verdadeiras ou falsas. Provavelmente falsas, já que, segundo a família, essas pessoas jamais haviam se perdido num centro comercial.

Como uma pessoa pode recordar eventos que jamais ocorreram? Uma pesquisa recente que realizei com alguns colegas mostra que o simples ato de imaginar um evento pode levar à criação de lembranças autobiográficas falsas. Solicitamos que estudantes imaginassem ou lessem sobre dois acontecimentos. Um destes era um fato comum: ir ao dentista para extrair um dente. O outro, um evento que jamais poderia ter ocorrido aos pesquisados, a extração de um fragmento da pele do dedo mínimo feita por uma enfermeira, procedimento inexistente no país dos participantes. Os estudantes foram então solicitados a fechar os olhos e imaginar a si mesmos aos 6 anos, quando estavam no dentista ou no consultório médico. Deveriam imaginar a cena com detalhes: pessoas que os acompanhavam, roupas, cores, conversas, o tempo transcorrido e o que haviam sentido e pensado naqueles momentos.

Os resultados foram impressionantes. O processo imaginativo, que durava menos de dez minutos, levou muitos deles a aumentar significativamente a certeza que tinham dos eventos, e não só no que se refere à extração do dente, que pode ter lhes acontecido, mas também à remoção da pele, que, como sabemos, é falsa. Cerca de 25% afirmaram lembrar da intervenção no dedo. A imaginação ´permitiu que criassem uma lembrança relativamente completa, ainda que incorreta, de um evento que jamais ocorreu. As falsas lembranças, além disso, eram detalhadas e difíceis de distinguir das verdadeiras. Ouvimos, por exemplo, relatos como este: A escada era cinza, os degraus reluziam. A enfermeira era alta e loira. Ela pegou em minha mão, mas não senti nada. Minha mãe me comprou balas, pois eu me comportei bem”.

A importância da imaginação já havia sido enfatizada por outros pesquisadores. Seu papel pode ser explicado fazendo-se referência, de um lado, a seus efeitos sobre a memória, de outro, ao fenômeno do chamado “monitoramento da fonte de informação”(source monitoring). Há muito se estudam as imagens mentais, e hoje algumas de suas características são relativamente bem conhecidas. Sabemos, em particular, que elas têm aspectos de natureza representativa e funcional em parte similares aos da percepção, isto é, ao conteúdo mental derivado de um ato de percepção visual. Simplificando processos que são na realidade muito complexos, pode-se dizer que o fato devermos uma xícara envolve a criação de uma imagem mental do objeto. Durante certo tempo, a representação conserva algumas de suas características físicas, como cor, luminosidade, e detalhes.

Em geral, para sabermos se a xícara criada na mente é fruto da imaginação ou foi mesmo vista, empregamos uma série de processos de natureza metacognitiva (mecanismos de avaliação relativos aos processos cognitivos), por meio dos quais as características da xícara mental” são confrontadas com as características de uma imagem mental e com as de uma percepção. Essa série de processos metacognitivos é definida como source monitoring, já que permite distinguir a fonte da qual provém a informação que se tem na mente. Imagens mentais detalhadas e vívidas podem enganar os processos de source monitoring e levar a confundir algumas representações mentais com objetos vistos de fato. “Enganos” similares impedem às vezes sabemos se a cena que se tem em mente foi vivida ou sonhada.

A imaginação não é o único meio de criação de falsas recordações autobiográficas. A intervenção de outras pessoas (terapeutas, parentes, entrevistadores) pode levar uma pessoa a acreditar que viveu certo acontecimento e, em seguida, recordá-lo, ainda que isso não seja verdade. Alguns estudos mostram como a interpretação dos sonhos ou a hipnose levam alguém a acreditar que viveu um fato e a desenvolver a lembrança correspondente a ele.

Para estudar o efeito da técnica hipnótica da regressão sobre a memória autobiográfica, Nicholas P. Spanos e colaboradores solicitaram aos seus pesquisados que retrocedessem no tempo até os primeiros meses de vida. Nesse ponto, foram instados a visualizar o brinquedo colorido suspenso em seu berço. Após esse procedimento, cerca de 30% diziam recordar do brinquedo, descrevendo-o com detalhes. As pessoas do grupo de controle, que não foram instadas a visualizar o brinquedo, não eram capazes de recorda-lo.

Estes exemplos sugerem que é relativamente fácil criar falsas recordações autobiográficas. E de fato é. Mas a maioria das pesquisas sobre o tema revelou que cerca de 25% a 30% dos participantes criam uma recordação falsa, enquanto os outros parecem relativamente imunes. Esse dado, por um lado, suscita a pergunta, quais são as características dos indivíduos que criam lembranças falsas e em que se distinguem dos outros? Por outro, indica que a criação de recordações autobiográficas falsas ocasionadas pela intervenção externa não é a norma. Não se trata, porém, de uma exceção, já que o percentual envolve cerca de um terço da população investigada, o que não é pouco

Vale notar que o percentual citado refere-se à criação de recordações falsas de natureza autobiográfica, isto é, de situações em que a pessoa recorda como teriam ocorrido fatos que na verdade jamais aconteceram, ao menos no período de tempo especificado. Mas vimos que as pessoas também criam lembranças falsas na memória episódica não autobiográfica. O exemplo mais simples e claro é o da recordação de uma lista de palavras como sonho -noite – travesseiro – cansaço – cama, todas associadas à uma palavra ausente da lista: “sono”. Ora, os vários experimentos realizados com essa técnica confirmaram que a palavra sono é, em geral (até 80% dos casos, recordada como se tivesse sido apresentada. Isso indica como o fato de recordar coisas que não ocorreram pode ser um fenômeno muito difuso, que não se limita a um percentual relativamente baixo da população.

Parece razoável perguntar se, dada a facilidade com que criamos recordações erradas ou falsas, é possível acreditarem um testemunho. Seria digno de um furo jornalístico dizer que  não, mas nosso propósito não é esse.

Os fenômenos bizarros que descrevemos, segundo os quais um indivíduo pode, de boa-fé, recordar eventos jamais ocorridos, suscitam reflexão e sugerem prudência na avaliação da veracidade do relato de uma testemunha. Cabe notar, porém, que a memória humana é exata o suficiente para permitir ao homem sobreviver num mundo e numa sociedade complexas. A memória, em geral, é um instrumento no qual, com razão, confiamos no dia a dia.

A testemunha muitas vezes recorda de modo relativamente preciso alguns aspectos do que ocorreu. Mas a memória, num depoimento, não é formada apenas por conteúdos esquemáticos e dados de base. Trata-se de uma memória de detalhes, às vezes minuciosos (“O senhor lembra se o chapéu do ladrão tinha aba?), e essa memória pode ser mais facilmente manipulada que a memória cotidiana. É preciso, pois, extrema cautela.

OUTROS OLHARES

A DIFÍCIL DECISÃO DE ENVELHECER

A longevidade foi a grande promessa da Modernidade. O que fazer agora?

“Acho que decidiu envelhecer.” A frase perdida lá pelo meio do livro A ridícula ideia de nunca mais te ver, o mais recente da escritora espanhola Rosa Montero, surpreende o leitor. Sobretudo aquele interessado no tema da longevidade. O texto de estilo indefinível é um relato sobre o luto baseado ou transpassado nos diários da cientista Marie Curie (1867-1934) e ora se faz de biografia. ora de romance, ora de reportagem, mas sempre de maneira potente.

A conclusão de Montero sobre sua personagem torna impossível apagar da cabeça um monte de perguntas filosóficas que insistem em andar atrás da falsa ingenuidade da frase. A tal “decisão” de Curie, conta a escritora, teria sido tomada depois de a cientista, única mulher vencedora de dois prêmios Nobel, viver um dos anos mais difíceis de sua vida.

Curie ficou repentinamente viúva de Pierre, atropelado por uma carruagem; enfrentou um linchamento público sob a acusação de ser o pivô do fim do casamento de seu novo companheiro, um ex-aluno bem mais jovem; lutou contra o machismo da academia sueca para receber, ela mesma, seu prémio, subindo em um palco reservado exclusivamente aos homens. “Estava destruída”, conclui Montero em um momento biógrafa. No ano seguinte, Curie, sempre segundo a romancista, voltou a ficar de pé. “Mas de alguma maneira nunca mais foi a mesma.” Eis outra frase reveladora da ideia do envelhecer. Pelo menos no início do século passado.

O que terá mudado? Nas últimas semanas, um exército de internautas pelo mundo todo –    com perdão da redundância – decidiu envelhecer. Saíram colocando fotos e mais fotos em um aplicativo e, em fração de segundos, estava tomada a tal da “decisão”. Simples assim. Só que não. Curie que o diga. Naquele ano de 1913, Albert Einstein (1879- 1955) disse que ela parecia “fria como um peixe”. Montero o reprova: “Mal sabia ele que estava vendo apenas a capa endurecida pela intempérie de um núcleo de lava”.  O mergulho dos internautas no túnel do aplicativo remete à mesma frieza. Ilusão. Einstein deixou-se impressionar por uma senhora ativa a fazer ciência de ponta em seu laboratório a despeito das desgraças da vida.

As representações gratificantes da velhice, no entanto, são dúbias. Ao mesmo tempo que ajudam a desconstruir os estereótipos, o preconceito ou o idosismo (minha tradução de ageism, a discriminação etária), ampliam o risco de a sociedade alimentar o processo de “reprivatização da velhice”, um termo já clássico na literatura das ciências sociais, cunhado em 1999 pela antropóloga Guita Grim Debert.

Assim como se entra em um aplicativo e enruga-se voluntariamente o rosto e branqueiam- se os cabelos, vive-se o perigo de atribuir a uma “decisão” do indivíduo aquilo que é coletivo, construído socialmente, e fazer a velhice desaparecer do leque de preocupações sociais. Cada um poderia tomar a “decisão” de maneira unilateral, a seu tempo e de forma fria. Sempre sem dor. E quem a toma sem precauções ou na hora errada, sublinha Debert, é julgado pela sociedade e condenado por ter sido negligente.

Faz tempo que essa falsa “decisão” é objeto de reflexão de pensadores. Em 2007, a Presse Universitaires de France (PUF) publicou um livro de professores e pesquisadores do envelhecimento com a coincidente indagação: Quand est-ce que je vieillis? (Quando é que eu envelheço?, em tradução livre). O ponto de interrogação no fim do título incomoda tanto quanto aquele torturante band-aid no calcanhar da música de Aldir Blanc. Claro, bem antes, tivemos Cícero (106 a. C- 43 a.C.) a nos alertar que “somente os idiotas se lamentam de envelhecer”. E tivemos Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) a convencer Paulino de que mais importante do que ocupar um alto cargo ou acumular riqueza era estudar filosofia. Por que? Porque a vida é breve.

Mas agora a vida é longa. Ao menos na promessa da longevidade, a grande revolução ou a grande conquista da Modernidade. Ah, a modernidade! Prometera-nos tanta coisa. Liberdade, democracia, bem-estar, e deixou muito a dever com sua ideia de progresso. Mas uma coisa terá sido cumprida. Nos deu uma vida mais longa. A tecnologia aplicada à medicina prolonga – até quando? – a expectativa de vida. O que mudou com a longevidade? Muitas coisas. Com uma exceção, segundo os filósofos franceses Eric Deschavanne e Pierre-Henri Tavoillot em Philosophie des dges de ln vie (Filosofia das idades da vida, em tradução livre): a idade como o critério irremovível na identidade legal. Escrevem eles: “podemos mudar de aparência, de nome, de nacionalidade e até mesmo de sexo, mas não de idade”. Talvez.

Essa assertiva de Deschavanne e Tavoillot é inquestionável no aspecto normativo, obviamente. Mas, se a modernidade falhou em vários aspectos, a Pós-Modernidade, se encarada como sua contendora, teria ganho um ponto ao afirmar o desaparecimento ou a compressão do espaço e do tempo. Como disse Paul Virílio (1932-2018), as duas referências sucumbiram como dimensões significativas do pensamento e da ação humanos. Se passamos a habitar ”o globo” e estamos “on-line”, em qualidade vivemos? Quando envelhecemos?

Em Economie du vieillissement (Economia do envelhecimento, em tradução livre), o economista Grégory Ponthiére, da Paris School of Economics, nos oferece uma alternativa bastante relevante. Vivenciamos o deslocamento da idade segundo ele, para o campo econômico. No século XXI, a humanidade vive uma perigosa exacerbação de uma definição da idade pela funcionalidade, produtividade ou status socio- econômico do indivíduo. Nessa perspectiva, a velhice pode chegar a qualquer momento?

A gerontologia – o estudo do envelhecimento – sempre trabalhou com a idade cronológica e a idade biológica em sua ardorosa tentativa de descolar velhice e doença. A velhice, de acordo com esse entendimento, é um processo biopsicossocial, o resultado de um ciclo de vida e o momento no qual desagua tudo o que foi acumulado neste percurso jamais preciso, como nos disse Fernando Pessoa.  No entanto, quando reforçamos nessa interpretação o pilar socioeconômico, o resultado é desafiador – ou desesperador neste século XXI.  Existem várias velhices!

Vivemos mais e melhor. E isso vale, relativamente, para todas as classes sociais em comparação com as gerações anteriores. A economia contemporânea, todavia, assumiu uma hegemonia como determinante da idade do indivíduo deste século, e o fato de isso ocorrer justamente quando o mundo envelhece é algo opressor. Segundo Ponthiére, além das idades biológica e cronológica, temos uma idade econômica. Essa última, ainda pouquíssimo explorada, passa a influenciar as outras duas. A economia esvazia qualquer poder de decisão e pode até devolver o indivíduo a um conceito de idade que pensamos superado pela modernidade, no qual a velhice precisava ser ocultada dos olhos alheios.

A velhice, como e sabe, era invisível. (Era?) Apenas os povos tribais valorizavam seus velhos e o conhecimento adquirido. A partir da ascensão de uma certa estética humana, o envelhecimento foi escondido, pois era um sinal de perda de poder. Os monarcas absolutistas envelheciam escondidos, a ponto de despertarem dúvidas sobre a data exata de sua morte. Era o refúgio aos aposentos, daí a palavra aposentadoria. Uma decisão difícil.

William Shakespeare (1564-1616) explorou o dilema em Rei Lear, curiosamente, baseado na primeira tragédia inglesa de inspiração senequiana. O intento de Lear era, como diz na cena inicial, “livrar nossa velhice de cuidados”. Calculou mal. Ou teria, já naquela época, tomado sua decisão sem considerar uma idade econômica? Desleixou o parentesco de direitos e deveres. Foi vítima da quebra do pacto de solidariedade intergeracional. A tempestade lembrou-lhe que o envelhecer é, por natureza, um fato social. Jamais poderá ser algo privado.

Se é assim, e se é tão difícil para os indivíduos, que o diga para a sociedade. Quando a sociedade decide envelhecer? Eis a questão para o Brasil. As estatísticas sobre o envelhecimento da população são públicas e conhecidas, entretanto agimos como um ingênuo Lear a vislumbrar apenas a parte de maior interesse egoístico ou ganancioso, sem nos darmos conta da complexidade do todo. Goneril e Regan, as filhas ingratas, estão a nossa espreita.

A questão que se coloca é menos a de o Brasil envelhecer antes de ficar rico, como se repete à exaustão, ou a velocidade de nosso envelhecimento – embora esse seja um ponto importante -, mas, sim, em qual economia estamos envelhecendo. Os países ricos desfrutaram da economia desenvolvimentista do pós-Segunda Guerra Mundial, endividaram-se em condições generosas no Plano Marshall – sobretudo os europeus ocidentais -, modernizaram seus parques industriais importando petróleo do Oriente Médio a preços irrisórios, praticaram o protecionismo espalhando subsídios agrícolas durante décadas. Em 1955, o barril bruto de petróleo custava USS 1,93 e, em janeiro de 1971, continuava a custar apenas USS 2,18. Em termos reais, observou o historiador Tony Judt (1948-2010), o petróleo nesse período glorioso do capitalismo tomou-se inacreditavelmente mais barato, desafiando a lei da oferta e da procura.

Esse é apenas um resumo do quadro econômico que permitiu aos países ricos viverem um interstício do capitalismo chamado Trinta Anos Gloriosos (1945-1975), o de mais prolongado crescimento econômico mundial em tempos de paz. Nesse período, os países ricos construíram seus campeões nacionais, reforçaram suas universidades e seus sistemas de ensino e, principalmente, ergueram o chamado Estado de Bem-Estar Social, que vai, até hoje, muito além da Previdência social. Decidiram, eles sim, envelhecer.

Depois dos anos 70, com os dois choques do petróleo a ampliar a vulnerabilidade da economia americana já cambaleante devido aos gastos na Guerra do Vietnã, tudo mudou na economia global. O presidente do Banco Central Paul Volcker reagiu à ameaça de inflação com uma pancada nas taxas básicas de juros. É o chamado “golpe de 1979”. O capital financeiro assumiu a hegemonia definitiva sobre a vida de todos nós. Mas o mundo rico já estava velho. A decisão de envelhecer – lembre-se de Marie Curie! – éirreversível. Assim como o indivíduo nunca mais será o mesmo, as sociedades também não.

O envelhecimento das populações alterou de maneira categórica a geopolítica global. E está estabelecendo uma nova corrida entre os países. Se na Guerra Fria era a corrida armamentista, agora é a “corrida populacional”. Os países ricos pagaram com duas guerras mundiais em seus territórios o preço da construção do Estado de Bem-Estar Social. Jamais assistirão à economia capitalista do século XXI destruir e o patrimônio, esse “seguro coletivo” em nome da paz, de braços cruzados.

Quem financiará o envelhecimento de quem? No século passado, a grande fonte de financiamento do bem-estar foi o petróleo barato. Essa riqueza natural ainda está em cena, mas outras fontes precisam ser exploradas alhures. O “seguro coletivo” dos países do Hemisfério Norte ainda é portentoso, embora sob risco.

O Brasil, além do petróleo, tem outras duas fontes econômicas almejadas na geopolítica do envelhecimento: a Amazônia e o sistema de Previdência por repartição. As novas caravelas já partiram para além-mar. O objetivo nessa corrida é o de sempre. Elas vêm explorar a riqueza alheia, desta vez, não mais para sustentar a construção de grandes catedrais de ouro, mas para manter a maior delas, o Estado de Bem-Estar Social. Os países ricos sabem que nenhuma Cordélia virá salvá-los em meio à tempestade.

O Brasil precisa tomar essa decisão difícil de envelhecer. Envelhecer de verdade. Não o envelhecimento fake do aplicativo. Isso implica, antes de mais nada, fazer valer o que está no papel, o marco normativo da Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/1994) e do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). Mas, principalmente, o país precisa enxergar o fenômeno do envelhecimento muito além da Previdência, onde o tema, sempre com lentes fiscalistas, está confinado faz tempo.

Além da defesa de suas principais riquezas, o Brasil necessita agir para que a sociedade, o Estado e os indivíduos assumam seus papéis na difícil tarefa de envelhecer. Aliás, tal como está escrito no artigo 230 da Constituição Federal. O maior risco, neste momento, é o envelhecimento populacional ser um fator a mais a acentuar a desigualdade social. Uma interpretação da dinâmica demográfica apenas con1 lentes fiscalistas, indubitavelmente, resultará nesse desastre.

Os países ricos, a despeito do desafio de emprestarem sustentabilidade a seus sistemas de seguridade social, já perceberam o envelhecimento como a grande transformação econômica do século. Se por um lado a transição demográfica implica custos, por outro gera riqueza. O investimento em educação epesquisa na área do envelhecimento aparece nos documentos oficiais da União Europeia como prioridade. De 2014 a 2018, apenas o Projeto Horizon 2020 investiu €2 bilhões na área do envelhecimento, recursos somados ao orçamento dos países e das agências de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento.

O objetivo dessas pesquisas é dominar outra área emergente, a gerontecnologia, a tecnologia para os cuidados de longa duração de pessoas idosas. Esses produtos de alto valor agregado constituem uma parte importante daquilo que é denominado “economia da longevidade”, um filão de (re)industrialização dos países ricos a partir de uma nova cesta de consumo das famílias – com menos crianças e mais idosos. Os países ricos estão preocupados em construir um complexo industrial da saúde e do cuidado. Solidariedade, ecologia e tecnologia formam a tríade-chave quando uma sociedade decide envelhecer bem. Deschavanne e Tavoillot falam da necessidade de emergência de um “Estado solidário”, enquanto o sociólogo Serge Guérin prefere um “Estado acompanhante”. O envelhecimento transforma o meio ambiente: o uso de recursos naturais e o consumo de energia são diferenciados nos domicílios com mais idosos. A tecnologia amplia, ainda mais, seu poder de intermediação no cuidado cotidiano e nas atividades básicas e instrumentais da vida, principalmente com seu impacto no mundo do trabalho.

A decisão de envelhecer implica promover a saúde, a educação ao longo de toda a vida, a adaptação das cidades, a adaptação das moradias, as boas condições de trabalho, a segurança alimentar. Não adianta confinar o tema apenas na Previdência. O perfil epidemiológico do Brasil, por sinal, assume o contorno de uma sociedade envelhecida, com ampliação de doenças crônicas, no entanto sem perder o aspecto de jovem, isto é, insistindo ainda em doenças bacterianas.

A educação na pré-escola, como destaca a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é o período mais fundamental para o bom envelhecimento e para uma força de trabalho produtiva. É preciso preparar a capacidade cognitiva para uma vida mais longa e para um mercado de trabalho no qual as habilidades perdem valor cada vez mais rápido devido ao avanço tecnológico. Na faixa entre 55 e 64 anos, mostra o IBGE, daqueles que ingressaram no ensino superior, apenas 13% terminaram, e 21% têm ensino superior incompleto.

Quando falamos de envelhecimento populacional, estamos falando de redução do quantum de força de trabalho. Se a solução apontada ê o prolongamento do tempo laboral, a saúde torna-se uma barreira. É curioso assistir ao debate sobre sustentabilidade do sistema de Previdência descolado das condições de trabalho e da saúde no trabalho. Um dado: 9% dos idosos não consomem a dose diária mínima de vitamina D. A obesidade, um problema social, atinge 20% da população. Estudar eestar apto a novas aprendizagens depois dos 50 anos depende de exercício físico, pegar sol e ter uma alimentação saudável. Se estivermos negligenciando esses fatores, estamos desperdiçando vidas e encurtando a idade econômica da população.

A mudança do perfil epidemiológico dos trabalhadores brasileiros tem elevado o número de aposentadorias por invalidez. De 1992 a 2017, passou de 64 mil para 211 mil. As pesquisadoras do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano, Daniele Fernandes e Solange Kanso questionam: a saída precoce do mercado de trabalho, tão apontada no debate da reforma da Previdência, é uma consequência do custo de oportunidade do aspecto normativo ou um sinal de uma ampla discriminação com as pessoas idosas, sobretudo asde menor escolaridade, pele preta e piores condições de saúde? Se a resposta for a segunda opção, o Brasil ainda está longe de tomar a difícil decisão de envelhecer.

JORGE FELIX – jornalista, professor, doutor de gerontologia da Universidade de São Paulo e comentarista de longevidade do Bem-Estar (Rede Globo) Lançará o livro Economia da longevidade (Ed. 106 Ideias)

GESTÃO E CARREIRA

DO ZERO AO BILHÃO

Nunca uma startup da América Latina levantou tanto investimento em tão pouco tempo quanto o aplicativo colombiano de entregas Rappi. Agora, ele quer crescer ainda mais depressa

Existem poucas empresas de tecnologia no mundo que já levantaram mais de 1 bilhão de dólares com fundos de capital de risco em apenas uma rodada de investimentos. Até mesmo no Vale do Silício, onde não falta dinheiro para financiar desde aplicativos de paquera até fabricantes de carros autônomos, é raro encontrar startups que tenham arrecadado tamanho volume de recursos. Nas poucas ocasiões em que isso ocorreu, as empresas tornaram-se candidatas naturais a liderar a “próxima revolução” da tecnologia. Foi assim com o aplicativo de transporte Uber, com a empresa de escritórios compartilhados WeWork e com o site de hospedagem Airbnb. A nova empresa a entrar para essa lista de privilegiados é a Rappi, um aplicativo de entregas criado há três anos e nove meses por empreendedores colombianos e que cresce como poucas vezes se viu na América Latina.

No fim de abril, o conglomerado japonês Softbank — que tem investimentos em uma série de empresas de tecnologia, incluindo a Uber — revelou ter feito um aporte de 1 bilhão de dólares na Rappi. Metade dos recursos veio do Vision Fund, fundo da empresa japonesa destinado a apostas de longo prazo no setor de tecnologia. A outra metade teve origem no Innovation Fund, fundo de 5 bilhões de dólares criado recentemente também pelo Softbank para investir em startups latino-americanas. Mas a realidade é que o investimento total levantado pela Rappi é maior do que o anunciado. Ele soma 1,2 bilhão de dólares (aproximadamente 4,8 bilhões de reais). Os 200 milhões de dólares adicionais foram aplicados pelos fundos de capital de risco que já tinham participação no aplicativo de entregas, entre eles os americanos Sequoia Capital, Andreessen Horowitz e Tiger Global, além do DST Global, fundo de origem russa. Esses fundos são alguns dos principais investidores por trás das maiores empresas de tecnologia do planeta.

Com a nova rodada de investimentos — a quarta da Rappi —, o volume total já levantado pela empresa subiu para 1,7 bilhão de dólares. É um feito sem precedentes para uma empresa de tecnologia da América Latina em tão pouco tempo de existência. “Para mim, não faz muito sentido que a América Latina, com um mercado tão grande, com mais de 640 milhões de pessoas, uma economia equivalente à metade da China, um PIB per capita quatro ou cinco vezes mais alto do que o da Índia, não receba mais investimentos as- sim. A gente espera que a Rappi seja parte de uma mudança desse cenário”, diz Sebastian Mejía, de 34 anos, um dos fundadores da Rappi, em sua primeira entrevista depois do novo investimento. Mejía fundou a empresa com os sócios Simón Borrero, presidente executivo, e Felipe Villamarin, responsável pela área de tecnologia. Os três já tinham uma startup que oferecia uma ferramenta digital para que os supermercados criassem suas lojas on-line, chamada Grability. Daí para desenvolver a Rappi foi um pulo.

O que tem atraído o interesse de investidores pela Rappi e por outras startups de entregas ao redor do mundo é a combinação entre uma mudança de comportamento do consumidor e o avanço das novas tecnologias. Nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as pessoas buscam cada vez mais conveniência e usam seus smartphones para resolver as tarefas no dia a dia. A Rappi aposta nisso. O aplicativo de entregas per- mite não só pedir uma pizza ou outra opção de comida em casa ou no trabalho, assim como os concorrentes iFood e Uber Eats, mas também um leque crescente de produtos — compras de supermercado, itens de farmácia, fraldas para bebês, bebidas alcoólicas, ração para animais etc. Outros serviços também estão disponíveis, como despachar encomendas ou pedir a entrega de dinheiro em espécie. Num dos pedidos mais inusitados já feitos, segundo Mejía, um usuário chegou a encomendar a entrega de uma iguana pela Rappi.

Assim como as pessoas passaram a usar aplicativos de táxi ou de carro particular, a expectativa é que cada vez mais consumidores passem a fazer compras cotidianas sob encomenda. Nos Estados Unidos, o número de consumidores que utilizam aplicativos para fazer compras de supermercado e mantimentos deverá passar de 18 milhões em 2018 para 30 milhões em 2022, na estimativa da consultoria eMarketer. No Brasil e na América Latina, os números são mais modestos, mas o crescimento segue a mesma tendência. A Rappi tem hoje 6,5 milhões de usuários nos sete países em que atua (Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai), que fizeram cerca de 70 milhões de pedidos nos últimos 12 meses. O Brasil, onde a empresa desembarcou em 2017 e está presente em 20 cidades, já é responsável por, aproximadamente, 35% das vendas. O volume de entregas no país tem crescido 30% ao mês, segundo os executivos da startup. A expectativa é que o novo investimento ajude a acelerar a expansão nas cidades onde a empresa já atua e também nos demais municípios do país com mais de 400 000 habitantes.

SUPERMERCADO EM CASA

Nem sempre é mais prático e rápido fazer uma compra de supermercado num aplicativo, pois a entrega pode levar horas até chegar em casa, dependendo do volume. Mas, por causa do trânsito e da vida cor- rida nas cidades, cada vez mais pessoas vêm se acostumando com essa ideia. No ano passado, as vendas de alimentos e bebidas pela internet estiveram entre as que mais cresceram, de acordo com a consultoria Ebit, uma das principais fontes de dados sobre as vendas na internet no Brasil. A categoria ainda é incipiente, mas tem ganhado participação no comércio eletrônico, um setor que, ao todo, deverá movimentar mais de 61 bilhões de reais neste ano no país. É de olho nesse mercado que varejistas como o Grupo Pão de Açúcar, dono das redes Extra, Pão de Açúcar e Assaí, tem apostado em soluções digitais. Além de permitir realizar compras pela internet, hoje é possível fazer o pagamento pelo aplicativo da empresa. Em algumas lojas da rede Pão de Açúcar também dá para escolher os produtos pessoalmente e pedir para que sejam entregues em casa. Já os usuários que não querem ir ao supermercado têm a opção de fazer o pedido pelo aplicativo James Delivery, uma startup concorrente da Rappi comprada pelo Pão de Açúcar no ano passado. Antes disponível apenas em Curitiba, a James Delivery começou a fazer entregas em São Paulo em maio.

Segundo uma fonte ouvida, o Grupo Pão de Açúcar preferiu apostar na própria startup porque viu a atividade da Rappi como parte do negócio central da companhia, já que todo o conhecimento sobre os hábitos de compra dos consumidores acaba ficando com o aplicativo. “É como se o supermercado virasse um mero fornecedor da Rappi”, diz a fonte. Um risco, porém, é perder vendas por estar fora do aplicativo. Outros varejistas, como o grupo Carrefour, preferem investir na parceria com a Rappi, adaptando as lojas para atender os pedidos feitos pelo aplicativo e enviar as compras por meio de seus entregadores.

As entregas de compras de supermercado já são a segunda maior categoria da Rappi, depois do atendimento a pedidos de restaurantes. Mas é essa última área que a Rappi deseja expandir nos próximos meses. Mejía, o cofundador, afirma que a startup deve implementar uma estratégia agressiva para integrar mais restaurantes em sua plataforma. É uma briga que deve esquentar o já aquecido mercado de entrega de comida pela internet. Só o aplicativo iFood atende 50.000 restaurantes, tem 9 milhões de usuários e processa quase 11 milhões de pedidos por mês. Já o Uber Eats tem crescido no Brasil fazendo promoções agressivas para atrair usuários. Como se pode ver, a briga entre as empresas para entregar a pizza em sua casa — ou sua compra de supermercado — nunca foi tão emocionante.

PEÇA PELOS APPS

O uso de aplicativos de entrega de compras de supermercado e comida deve crescer nos Estados Unidos

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CONTE RÁPIDO: QUANTOS SÃO?

Cientistas estimam que de 3% a 6% da população sejam incapazes de contar objetos rapidamente. Eles isolaram a região da contagem no cérebro e, com isso, tentam descobrir como as pessoas calculam o número de itens existente em determinado recinto.

O problema em identificar com precisão essa área é que o ato de contar implica obrigatoriamente usar a linguagem, e as regiões da linguagem são ativadas quando o cérebro enumera. Para mantê-las desativadas, a pesquisadora Fúlvia Castelli, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, usou cores.

Isso porque ela descobriu que o sulco intraparietal – uma longa “lasca” de tecido na parte de trás do cérebro – tabula “quantos?” e não “quanto”. Voluntários convocados para um teste foram expostos a uma série de clarões de azul e verde que preenchiam retângulos num tabuleiro apresentado em vídeo. Quando as cores apareciam em quadrados isolados, o sulco era ativado – mas, quando as cores eram combinadas em fileira, isso não ocorria.

Uma analogia com esse processo na vida real é, por exemplo, perceber de imediato qual fila no caixa do supermercado éa mais curta. Há quem visualize as pessoas uma a uma para ver quantas há na Ala, outras criam uma representação mental de seu comprimento real. Pessoas com a chamada disfunção de cálculo não conseguem desenvolver esse mapa mental, o que as obriga a contar todo mundo lentamente. Castelli espera estudar maneiras de fortalecer essa capacidade de representação.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NOVA TECNOLOGIA PARA CRIANÇAS

A terapia do esquema é uma forma inteiramente nova de trabalhar fortalecendo e enriquecendo a personalidade infantil em formação

Em uma sala de psicoterapia projetada para o atendimento infantil, uma criança representa seus conflitos em um cenário semelhante a sua sala de aula, por meio de fantoches retratando a professora e os colegas. Na encenação é dia de entrega de notas. Ela afirma, com um rosto desconcertado, que não faz sentido a nota que tirou, pois ela é muito inteligente. 

A cena prossegue e a criança fica cada vez mais tensa. Seu fantoche simula olhar demoradamente a nota. O fantoche da terapeuta, que agora representa a professora, lhe diz: “Você foi bem!”. E o fantoche da criança, que quase não tem mais sua função mediadora, diz: “Mas por dois décimos eu não tirei oito, dois décimos! Isso não é possível, eu sou muito inteligente! Isso não pode ser! Tem algo de errado com essa nota!”.

A cena continua com a terapeuta utilizando todos os fantoches a sua disposição para diminuir a inconformidade e o sofrimento presentes na cena, mas a criança insiste: “São dois décimos para oito, e nem é um nove, ou dez”. A terapeuta percebe que há uma grande tensão interna na criança, pois ela vê incoerência entre quem acredita ser e o que a realidade, “a nota”, lhe trouxe por evidência. Reatar os fios da conexão consigo mesma e promover um senso de eficácia são prementes, pois é preciso ajudar essa criança a suprir suas necessidades psíquicas de se sentir ela mesma, acertando ou errando.

Mas é difícil vencer o “pai exigente” que essa criança tem internalizado, que tenta punir a “criança vulnerável” que chora a perda da nota. Sabendo disso, sua terapeuta a convida para uma outra atividade: analisar o que aconteceu na “sala do conselho de modos”. A terapeuta usará agora outra técnica. Ela sabe que a criança já conhece bem os vários lados (modos) de seu “eu” e sabe identificar quando sua parte vulnerável, zangada, impulsiva, exigente ou punitiva acionou um botão mental e a fez pensar, agir e sentir de uma forma que não ajuda.

Pede, então, que a criança identifique qual botão estava acionado em sua cabecinha quando ela representou ter recebido a nota, e a criança diz: “Minha criança fraquinha!” (vulnerável em termos técnicos). Nesse momento a criança, que já sabe que dentro dela existem vários botões mentais que quando “acionados” lhe causam grande sofrimento, é convidada pela terapeuta a analisar seu conflito de forma diferente.

Ela pega o boneco que sempre tem representado o modo frágil da criança e o leva para um tabuleiro onde estão dispostos um trono e nove outros lugares ao redor. Cada lugar é ocupado por um “modo” do seu “jeito de ser”. Há lugar para todos seus lados criança: a zangada, a impulsiva, a vulnerável e a feliz. Também há lugar para seus lados pais: exigente e punitivo. Há ainda três lugares para as formas desengonçadas (estratégias desadaptadas) para lidar com os problemas da vida, nesse caso a nota.

Ela pode se afundar no problema, pode agir como se o problema não existisse, ou pode agir como se, dada sua suposta superioridade, não devesse se importar com a nota. Mas finalmente há lugar para sua parte sábia, criativa e inteligente, que a ajuda a se equilibrar e encontrar formas mais adequadas de atender suas necessidades psicológicas.

Todos os lados (modos) têm bonecos que os representam e estão presentes nessa sala de conselho dos “modos” de ser: no trono, primeiro se senta o lado “fraquinho”, e a criança fala de todo o seu sofrimento, fragilidade, medo, dor e incompreensão através de seu boneco. O trono vai sendo ocupado sucessivamente pelos outros modos na tentativa de resolver o problema, mas apenas o modo sábio e o modo feliz conseguem encontrar soluções saudáveis.

Depois disso tudo, a criança é convidada a fazer uma técnica de relaxamento ou de mindfulness. Entretanto, antes de ir embora, a terapeuta procura fazer pontes para a vida e, com o auxílio da criança, procura estender os aprendizados da sessão para as situações concretas que ela enfrenta. Essa é uma sessão típica de terapia de esquema com crianças. Técnicas mais sofisticadas podem ser utilizadas com adolescentes, mas a tônica é sempre a mesma: dar voz aos vários “modos de esquema” que a criança e o adolescente possuem dentro deles, debater, refletir, questionar, encontrar soluções e fazer pontes para a vida.

Neste artigo procuraremos apontar como uma psicoterapia cognitiva de terceira onda, originalmente orientada para o trabalho com pacientes com transtornos de personalidade e transtornos crônicos graves, pode ajudar no trabalho com crianças e adolescentes. Numa primeira e superficial leitura dos textos sobre terapia do esquema pode parecer que essa abordagem se aplicaria apenas a crianças e adolescentes com transtornos graves, como os externalizantes, ou aos pequenos e adolescentes que parecem apresentar sinais prodômicos de futuros transtornos de personalidade. Isso é falso. Essa é uma forma inteiramente nova de trabalhar, fortalecendo e enriquecendo a personalidade em formação.

INTEGRAÇÃO

Para avançarmos na compreensão do poder transformador da terapia do esquema na infância e, especialmente, na adolescência podemos começar definindo claramente o que é personalidade, como ela se constitui e como se desenvolve, já que os esquemas iniciais adaptativos estão na base de uma personalidade saudável, e é sobre a promoção de esquemas iniciais adaptativos que o trabalho do terapeuta do esquema se dará, especialmente o daqueles que se dedicam à infância e adolescência. O dicionário da American Psychological Association afirma que personalidade diz respeito “a configuração de características e comportamento que inclui o ajustamento de um indivíduo à vida, incluindo traços, interesses, impulsos, valores, autoconceito, capacidade e padrões emocionais importantes. A personalidade é vista como uma integração ou uma totalidade complexa e dinâmica, moldada por muitas forças, incluindo hereditariedade e tendências constitucionais, maturidade física, treinamento precoce, identificação com indivíduos e grupos significativos, valores e papéis culturalmente condicionados e experiências e relacionamentos críticos. Várias teorias explicam a estrutura e o desenvolvimento da personalidade de diferentes formas, mas todas concordam que a personalidade ajuda a determinar o comportamento”.

A partir dessa definição, algumas perguntas nos saltam aos ouvidos: quando um indivíduo começa um processo de desajuste psíquico na vida? Isso pode começar na infância? Quando e como suas estratégias para lidar com seus problemas cotidianos, seus interesses, seu autoconceito começam a lhe trazer sofrimento significativo? Na infância? Às vezes! Na adolescência? Muitas vezes!

Um ouvido ainda mais aguçado ficaria atento a algumas coisas a mais: se a personalidade é moldada por múltiplas forças, aquelas que são constitucionais ou herdadas (por exemplo, o temperamento) e aquelas que advêm do ambiente no qual as pessoas estão inseridas (modelos e modelagem de habilidades e competências sociais), como proteger o desenvolvimento da personalidade de experiências e relacionamentos críticos e desastrosos? Terapeutas do esquema apresentam uma resposta simples, porém muito consistente: identificando, avaliando e oferecendo o suprimento de necessidades psicológicas básicas, quais sejam: senso de conexão e pertencimento; senso de autonomia e capacidade; padrões de comportamento equilibrados e responsabilidade e limites adequados.

Fica claro que essas necessidades começam a surgir e se desenvolvem ao longo da infância e da adolescência e que o não suprimento delas levaria a quadros psicológicos mais graves, especialmente os transtornos de personalidade. Sendo assim, quanto mais precocemente aplicarmos tecnologias psicológicas para melhorar o processo de formação de uma personalidade saudável, mais saúde mental ofereceremos às pessoas em geral. O objetivo dos terapeutas do esquema que trabalham com crianças, adolescentes e com famílias é auxiliar na aquisição ou ativação de estratégias saudáveis para obtenção de senso de pertencimento, autonomia responsável, senso de capacidade realista, regulação emocional e comportamental e senso de limite.

MODOS DE ESQUEMA

Todos são estados ou partes do self que estão ativos em um dado momento e envolvem uma combinação de emoções, cognições e respostas comportamentais. Essa combinação de elementos aponta para um ou mais EIDs ativos momento a momento, apresentam dez modos de esquemas que são distribuídos em quatro categorias: modos criança, modos de enfrentamento disfuncionais, modos pais disfuncionais e modos adulto saudável.

Os modos criança são inatos, sendo assim todas as crianças têm o potencial de manifestá-los de quatro formas: modo criança vulnerável ou ferida, modo criança zangada, modo criança impulsiva e modo criança feliz. A criança vulnerável agrupa grande parte dos EIDs como os de abandono, abuso, privação emocional. Com esse modo ativo, a criança/adolescente acredita que ninguém é capaz de perceber as “injustiças” que ela acredita estar sofrendo. O modo criança feliz diz respeito ao momento no qual a pessoa sente que suas necessidades emocionais foram atendidas.

Os modos de enfrentamento disfuncionais são: o capitulador complacente, no qual a pessoa se submete às pessoas e situações, mantendo seu conflito. No caso dos adolescentes, por exemplo, eles se submetem a desejos e interesses do grupo de amigos temendo perdê-los; o protetor desligado, no qual o indivíduo se afasta do sofrimento utilizando diferentes formas de evitação (comportamental, emocional e cognitiva). Nesse caso, o adolescente passa a evitar situações e emoções conflituosas desligando-se emocionalmente de pessoas e situações que ele insiste em dizer que não o afetam. Por último, o hipercompensador reage aos EIDs através de comportamentos hostis contra outras pessoas ou de autoengrandecimento, que nos jovens aparece quando eles exageram competências e qualidades para se sentirem mais seguros.

Os modos pai/mãe disfuncionais são resultantes da internalização dos cuidadores (pais, educadores, avós) da criança ou do adolescente e podem ser classificados como punitivos ou exigentes. O primeiro (pais punitivos) diz respeito à punição de um dos modos criança devido ao seu “mau comportamento”. Nesses casos, os adolescentes começam a pensar que são inadequados, incapazes, sem valor e podem se punir de diferentes maneiras, como, por exemplo, em casos mais graves, infringindo-se cortes (automutilação) enquanto pensam:

“Você não merece…”; “Você não é digno…”; “Você não tem o direito…”.

O modo pai/mãe exigentes é a cobrança de padrões altos de desempenho. Neste caso, a criança e o adolescente apresentam um perfeccionismo que os leva a sofrimento, sentindo-se algemados a altos padrões de performance. Os pensamentos giram em torno de: “Seja forte!”, “Seja o melhor!”; “Sempre há algo para melhorar!”.

O décimo e último modo identificado é o modo sábio e inteligente. A criança/adolescente deve ser capaz de monitorar, cuidar e curar os outros modos disfuncionais, encontrando formas saudáveis de obter a satisfação de suas necessidades de conexão, autonomia e desempenho, autocontrole e livre expressão de ideias e sentimentos de forma equilibrada.

ETAPAS

A terapia do esquema para adolescentes consiste em três etapas principais: identificação, psico – educação e modificação de EIDs e modos de esquema, tanto nas crianças e adolescentes quanto em seus pais/cuidadores diretos.

O conceito de modo de esquema é trabalhado extensamente nos protocolos por meio de diferentes técnicas, como teatro de fantoches – técnica utilizada na etapa cujo objetivo é avaliar, psicoeducar e modificar modos presentes na criança, relacionando-os às situações de conflito reais (pontes para a vida). Com as mesmas finalidades,

usam-se “clipcharts”, nos quais se inserem os modos dentro de uma representação gráfica do próprio adolescente, ou ainda a técnica das cadeiras, na qual cada uma delas representa um modo que deve ser explicitado pela criança ou adolescente quando estes se sentam na respectiva cadeira.

Da mesma forma, os pais são avaliados e psicoeducados. Busca-se diminuir o efeito dos modos disfuncionais dos pais na relação com os filhos. Não é incomum encontrarmos pais com seus modos criança ativos procurando educar seus filhos adolescentes, ou ativando seus pais punitivos e exigentes quando não conseguem alcançar objetivos em suas práticas de educação, sentindo-se frustrados, ineficazes e cobrando exageradamente de si e de seus filhos. Outros ainda evitam suas tarefas de orientar e educar, ou hipercompensam exagerando habilidades que lhes faltam. Em muitas ocasiões, compreendem que esses modos se perpetuam há gerações em suas famílias e sabem que não é simples conscientizarem-se para combater suas formas desadaptadas de lidar com conflitos. À medida que a terapia dos pais e dos filhos evolui, assistimos ao nascimento ou ao ressurgimento de relações entre pais e filhos nas quais as necessidades psicológicas de conexão e pertencimento vão emergindo, e núcleos familiares, muitas vezes, se sentem “família” pela primeira vez em muito tempo.

Buscar a conexão saudável entre pais e filhos, senso de competência e eficácia em todos os membros da família; verificar em pais e filhos a capacidade de se autocontrolar e gerenciar de forma equilibrada suas emoções e comportamentos; encontrar o equilíbrio dinâmico de dar e receber auxílio e afeto e aprender que há formas adequadas para expressar qualquer ideia e sentimento são as metas da terapia do esquema.

A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA FAMÍLIA

Os esquemas iniciais desadaptativos (EIDs), que obstaculizam o desenvolvimento da personalidade saudável, se organizam a partir de uma atmosfera nociva presente no núcleo familiar, nas experiências escolares e nos grupos de amigos. Eles se originam, grosso modo, nas condições de privação de necessidades psicológicas básicas não atendidas, gerando crenças de desconexão e rejeição; uma visão de incapacidade ligada a um senso de autonomia e desempenho prejudicados; falta de limites precisos, o que leva a comportamentos impulsivos e mimados; um forte direcionamento a suprir as necessidades dos outros e, ainda, uma expectativa de punição ou exigências que levam à supervigilância do ambiente e à inibição de comportamentos mais espontâneos

ATMOSFERA EM QUE OS EIDS SE DESENVOLVEM NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

DESCONEXÃO E REJEIÇÃO

Os pais ou responsáveis, professores e/ou colegas são geralmente individualistas, frios, rejeitadores, explosivos, imprevisíveis ou abusivos.

AUTONOMIA E DESEMPENHOS PREJUDICADOS

Os pais ou responsáveis, professores e/ou colegas são, geralmente, emaranhados, afetiva e comportamentalmente à criança/adolescente, minando sua confiança, superprotegendo-os.

LIMITES PREJUDICADOS

Os pais ou responsáveis, professores e/ou colegas são caracterizados por excessiva permissividade, abuso, falta de direção e por inflarem um senso de superioridade.

DIRECIONAMENTO PARA O OUTRO

Os pais ou responsáveis. professores e/ou colegas foram ou são pessoas que baseiam sua relação com a criança em aceitação condicional: as crianças devem suprimir aspectos importantes de si mesmas a fim de ganhar amor, atenção e aprovação de seus pares.

SUPERVIGILÂNCIA E INIBIÇÃO

Os pais ou responsáveis, professores e/ou colegas são cruéis, exigentes e às vezes punitivos. Nestes contextos relacionais desempenho, dever, perfeccionismo, seguimento de regras, ocultar as emoções e evitar erros predominam sobre o prazer, alegria e relaxamento.

OUTROS OLHARES

ESSE É “FREE-BOI”

A procura por hambúrgueres que imitam a textura e o sabor de carne deixou as grandes redes de fast- food com água na boca. Até o Burger King entrou na onda

Uma das maiores redes de fast­ food do mundo, o Burger King tem a tradição de louvar em seus cartazes a cultura da gastronomia ogra, estratégia comum também entre seus principais concorrentes. E tome fotos de sanduíches com vários andares de carne, intercalados por queijo e fatias de bacon. No último dia 12, a empresa fundada nos Estados Unidos em 1954 fez um dos movimentos mais radicais de sua história, anunciando a versão vegetariana de um dos carros- chefe do seu cardápio, o Whopper. A cadeia de lanchonetes lançou no mercado americano o Impossible Whopper, que leva esse nome por usar o hambúrguer desenvolvido pela Impossible Foods, companhia especializada em produtos plant­ based, ou seja, alimentos criados a partir de vegetais, imitando a textura e o sabor da proteína animal. A novidade tem 40% menos gordura saturada em comparação ao similar tradicional.

O negócio chega ao Brasil em setembro, em 58 lojas da cidade de São Paulo. Por aqui o lanche plant- based será chamado de Rehei Whopper e, outro grande sinal da mudança dos tempos, sua proteína terá a marca da Marfrig, uma das líderes na produção de carne bovina no mundo, em parceria com a americana Archer Daniels Midland Company, processadora agrícola e fornecedora de ingredientes alimentícios que está entre as maiores do planeta. O interesse é tão grande que os dois gigantes também vão produzir o seu hambúrguer vegetal para a venda em supermercados. “Muita gente quer reduzir o consumo de carne ou até se tornar vegetariana, mas valoriza seu sabor”, diz Ariel Grunkraut, diretor de marketing do Burger King no Brasil.

Os investimentos mostram que o produto está deixando de ser um negócio de nicho. A primeira rede brasileira a usar um hambúrguer 100% vegetal foi a Lanchonete da Cidade, com cinco endereços em São Paulo. Em maio passado, a cadeia lançou o Futuro Burger, que tem proteína de ervilha e soja, além de grão-de-bico e beterraba. A receita leva ainda queijo e maionese veganos. O hambúrguer é fornecido pela Fazenda Futuro, startup brasileira especializada ao assunto e que já recebeu mais de 30 milhões de reais de investidores externos. “A sacada foi perceber que o consumidor poderia comer algo com um significado, um propósito, que não seja apenas satisfazer a fome”, teoriza Vinícius Abramides, diretor-geral da Companhia Tradicional de Comércio, dona da Lanchonete da Cidade. Existe mesmo demanda pelo Futuro Burger, que custa 29 reais: no último mês, foram vendidos cerca de 10.000 sanduíches do tipo, o equivalente a 20% do total de lanches comercializados. Ele só não agrada ao paladar de alguns críticos gastronômicos (veja o quadro abaixo).

O estabelecimento não é o único atendido pela Fazenda Futuro (no Rio, a TT Burger usa seu produto). São mais de 3.000 pontos de venda atualmente, contando as bandejas de hambúrgueres comercializadas pelas redes Extra, Pão de Açúcar e Carrefour. A empresa fechou recentemente urna parceria com o Spoleto e vai fornecer também almôndega e carne moída vegetal à franquia de massas. Até o fim do ano, a Futuro terá capacidade de produção de 550 toneladas de carne vegetal. “Existe espaço no país para a criação de um player global de alimentos plant-based”, diz Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro.

O apetite para abocanhar esse negócio está em sintonia com a onda do consumo consciente de alimentos. Segundo levantamento do Datafolha em 2017, 63% dos brasileiros querem reduzir a ingestão de carne. A preocupação com a saúde ajuda a acelerar o processo de mudança. A Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, nos Estados Unidos, acaba de divulgar um estudo que mostra que pessoas com uma dieta baseada em produtos animais e carboidratos têm probabilidade 32% maior de morrer de doenças cardíacas em comparação com as que adotam uma alimentação baseada em vegetais. “Se eu impacto menos o meio ambiete, não existe animal envolvido, tem menos gordura, não tem colesterol, por que não trocar de hambúrguer?”, diz Alessandra Luglio, diretora do departamento de saúde e nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira. Até o Burger King já entendeu que para uma parte considerável de clientes a resposta é “sim”.

NÃO HÁ MILAGRES NA NATUREZA: VEGETAL É VEGETAL

Para quem gosta de comer carne, os hambúrgueres vegetais que pretendem imitar a textura e o sabor dos que são preparados tradicionalmente decepcionam. Têm a consistência pastosa demais e lhes falta a granulação natural, decorrente da fibra animal. Carecem também da umidade e do suco da carne. Além disso, por mais que camuflem, ainda permanecem com o paladar da leguminosa predominante em seu preparo, soja, grão-de-bico ou ervilha.

Mas os hambúrgueres vegetais sabor carne não se destinam a quem quer evitá-la? Eis um paradoxo. Por que, então, apresentar textura e sabor similares aos dela? Talvez fosse melhor deixar essas características neutras. A não ser que o público-alvo seja o das pessoas loucas por uma picanha mal­passada ou uma costela gorda que, por convicções dietéticas, filosóficas ou até religiosas, se sintam culpadas depois de saborear a carne.

Não está em questão a qualidade dos produtos lançados agora no mercado, até porque são tecnicamente benfeitos. Algo que os ajudará a surfar na onda vegana e talvez cair no gosto descolado dos jovens millennials, a faixa demográfica da população mundial nascida entre a década de 80 e o começo dos anos 2000.

A soja, o grão-de-bico, a ervilha ou qualquer leguminosa recebem diversos tratamentos para que a textura do hambúrguer vegetal se assemelhe à da carne e passam por outros procedimentos destinados a obter um sabor parecido. Para que esses resultados sejam alcançados, faz-se necessária a intervenção cientifica. O espessante utilizado, por exemplo, costuma ser a metilcelulose, um composto químico derivado da celulose. Não há milagres na natureza: é inútil tentar recorrer a uma varinha de condão. Vegetal é vegetal: carne é carne.

GESTÃO E CARREIRA

PECHINCHA A BORDO

Os ônibus entram na onda dos aplicativos de viagens compartilhadas no estilo Uber, provocam queda significativa nos preços e sacolejam o mercado

Fretar um ônibus remete à ideia de um negócio de alta envergadura, que envolve logística complicada. Pois esqueça o velho conceito, reinventado nos dias de hoje para atender a um novo propósito: transportar gente que quer viajar pagando menos e sem ter trabalho. Até agora, duas empresas vêm chacoalhando o universo rodoviário ao oferecer um serviço já conhecido como o “Uber dos ônibus”. A exemplo do aplicativo que imprimiu outra lógica em um setor dominado pelos táxis, a safra que abarca os coletivos só opera on-line e consegue emagrecer os preços à base do casamento da demanda com a oferta. À medida que as pessoas compram as passagens na internet, a ocupação vai subindo, subindo, até que a turma reunida é suficiente para garantir o aluguel do ônibus com motorista — afinal é disso que tratam a paulista Buser, a maior do mercado que se desbrava no Brasil, e a gaúcha Levebus. Elas são “facilitadoras no compartilhamento”, como reza o jargão, e não companhias de transporte, já que não têm um único veículo na garagem.

Primeira a demarcar espaço nas estradas brasileiras, a Buser (pronuncia-se com “u” mesmo) surgiu na cabeça do engenheiro aeronáutico Marcelo Abritta, 37 anos, quando ele estava para se casar, na Bahia, em 2016, e queria levar trinta amigos de ônibus à cerimônia. Abritta fez as contas e concluiu que saía mais barato fretar um ônibus com motorista e deixá-lo esperando durante os quatro dias de festejos, até a volta, do que comprar as passagens. Decidiu então apostar junto com um amigo em um negócio que fizesse o meio de campo para os viajantes. A Buser começou a funcionar para valer em março de 2018 e, atualmente, roda em quarenta cidades brasileiras do Sudeste, carregando 1 500 pessoas por dia em ônibus fornecidos por trinta empresas, que também garantem o motorista. A Levebus, que estreou em fevereiro de 2019, alcança trinta cidades na Região Sul e em São Paulo. Graças a estruturas muito enxutas, ambas conseguem preços em média 60% mais baixos que os do mercado. “Fiquei na dúvida, mas passei a usar o aplicativo da Buser e nunca tive problema”, disse a produtora carioca Larissa Moraes, prestes a embarcar para São Paulo em sua décima viagem no esquema de frete.

A novidade está provocando uma pequena revolução no nicho rodoviário. Enquanto se vê uma enxurrada incomum de promoções, um dos grandes grupos, o Águia Branca, dono da Expresso Brasileiro, foi mais longe e criou em julho o braço Aguiaflex, que duela em preço com os novatos no estilo Uber. O embarque nem sempre é feito em rodoviária, pode ocorrer em algum ponto pré-combinado, e os bilhetes são vendidos exclusivamente pela internet — o que poda custos e faz com que as cifras ombreiem com as da Buser e da Levebus. Mas nem tudo é igual ao serviço convencional (veja o quadro). O administrador Denis Silva, 38 anos, ficou perdido na hora de achar o local exato do embarque, no Centro do Rio. “Faltou sinalização”, conta. “O serviço ainda está em fase de testes e aperfeiçoamento”, explica Thiago Chieppe, diretor do Águia Branca. No caso deles, o assento comprado é garantido, mas não na Buser ou na Levebus, que não marcam lugar e eventualmente precisam cancelar a viagem por falta de quórum. É prudente monitorar o site para saber. A Buser não revela a lotação mínima necessária para assegurar a partida; a Levebus informa que sai com uma ocupação em torno de 50%.

Como ocorreu com a Uber, o fretamento compartilhado é questionado juridicamente. “Essa é uma forma clandestina de prestação de serviços regulares”, afirma o advogado Alde Santos Júnior, que representa a associação do setor, a Abrati, em uma ação que tramita no Supremo Tribunal Federal. Um dos argumentos é que as novas plataformas digitais não cumprem exigências legais, como gratuidade para idosos e deficientes, além das normas de segurança que se aplicam à concorrência. Marcelo Abritta, da Buser, rebate: “A lei nos permite operar e seguimos, sim, os padrões de segurança”.

Muitas variações de transporte coletivo on demand têm surgido dentro e fora do Brasil, sempre contando com inteligência artificial para unir demanda e oferta. É o caso da goiana CityBus 2.0, que dita o trajeto de seus ônibus graças a um sistema acionado pelos próprios passageiros. As rotas são adaptadas à sua localização. Iniciativas semelhantes pululam em outras cidades, como Oxford e Nova York. No Cairo (Egito), a Uber acaba de inaugurar um serviço de vans compartilhadas, que tem tudo para vingar. É uma mudança no modo como as pessoas se locomovem e um impulso para trazer um quê de racionalidade ao quebra-cabeça do cada vez mais intrincado transporte urbano.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 21 – INTIMIDADE

O sexo foi feito para os relacionamentos totalmente comprometidos, porque ele é uma amostra da alegria que sentimos quando estamos em total união com Deus por meio de Cristo. O amor mais extasiante entre um homem e uma mulher na Terra é apenas um indício disso. — Timothy & Kathy Keller, The Meaning of Marriage (O Significado do Casamento)

… Vocês que se amam, comam e bebam, até ficarem embriagados de amor! — Cântico dos Cânticos 5:1, NTLH

A Bíblia não é tímida ao descrever os planos de Deus para o ato de fazer amor. Na verdade, ela é bem explícita e às vezes beira o erotismo. Se você não acredita em nós, passe algum tempo lendo o Cântico dos Cânticos com seu cônjuge e veja o que acontece.

Diferentemente de muitos de nós, Deus não tem vergonha do sexo. Ele tem prazer na sua beleza e celebra seu propósito. Deus quer estar intimamente envolvido com a nossa intimidade. O sexo dentro do contexto conjugal não é apenas bom e permitido – ele é sublime e incentivado!

“Bebam até ficarem embriagados de amor!” diz o Cântico dos Cânticos. Em outras palavras, o sexo é misterioso e profundo; não há motivo para se contentar com uma experiência superficial. Prove e desfrute da satisfação inigualável da intimidade.

Fazer sexo é como apertar um botão de “recarregar” no relacionamento, e por isso não nos surpreende que a Bíblia costume usar a água como uma metáfora para o prazer e a realização sexual. A água é essencial para a continuação da vida. Ela promove refrigério e vitalidade. Uma vida sexual saudável não é a essência do casamento, mas seu valor não pode ser menosprezado. Deus pretende que o ato de fazer amor seja uma celebração, um lembrete maravilhoso da aliança profunda que entrelaça duas vidas.

E você sabia que sexo faz bem para sua saúde? Além de aumentar o nível de intimidade no seu relacionamento, ele estimula seu sistema imunológico, ajuda você a manter um peso saudável, diminui sua pressão sanguínea, reduz a dor e diminui o risco de enfarte – para citar apenas alguns dos benefícios.

Alguns grupos da Igreja criaram um estigma em relação ao desejo por intimidade sexual e o igualaram a um apetite carnal e depravado. Por causa disso, até o sexo dentro do casamento adquiriu má reputação. Alguns até querem nos fazer acreditar que ele é um ato de obrigação que a esposa realiza em favor do marido. Mas o sexo na verdade foi feito para ser desfrutado por ambos os cônjuges! Alguns estigmatizaram o sexo como um mal necessário, tolerado em nome da procriação. Essa noção equivocada, somada às múltiplas perversões satânicas desse ato sagrado, fez com que muitos o vissem com grande apreensão.

A reprodução é um dos propósitos do sexo, mas desde o princípio Deus o designou para que fosse uma fonte de êxtase. “Seja bendita a sua fonte!”, diz a Bíblia. “Alegre-se com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os seios da sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os carinhos dela” (Provérbios 5:18-19). Outras traduções desse versículo dizem: sê encantado (AA), sejas atraído (ACF), e aproveite o prazer (ABV).

Está claro que Deus não é nenhum puritano. Ele criou os órgãos sexuais e não fica constrangido com as funções deles. Ele criou o sexo e configurou suas sensações. Nosso prazer é o prazer Dele. Ele não quer abreviar nossos desejos sexuais. Ele quer santificá-los.

SEXO SANTIFICADO

A santificação é a jornada da santidade, que também poderíamos dizer que é a jornada para alcançar o melhor de Deus para as nossas vidas. Pense nisso como a extração da natureza humana e a infusão da natureza divina. Começamos a desenvolver uma vida sexual excelente (o que faz parte do melhor de Deus para nós) quando abraçamos o chamado de Deus à santidade no quarto do casal. Ao fazer isso, descobriremos a gratificação sexual que transcende os limites da imaginação humana.

Mas Deus só pode santificar, ou tornar santo, aquilo que oferecemos a Ele. Infelizmente, muitos de nós nos recusamos a apresentar nossa sexualidade a Deus porque temos vergonha dos erros cometidos ou porque somos prisioneiros dos abusos que vivemos no passado. Essas experiências fazem com que vejamos nossa natureza sexual como ímpia, de modo que tentamos esconder essas dimensões obscuras daquele que é Santo. É surpreendente a rapidez com que muitos se esquecem de que o Criador do sexo tem o poder para redimi-lo e torná-lo santo.

A vergonha quer manter o foco em nós e longe de Deus. Ela nos aprisiona na tentativa de fazer com que rejeitemos a misericórdia e a graça de Deus. No fim das contas, o que inicialmente parece ser vergonha pode se transformar em uma forma de orgulho. Insultamos a misericórdia de Deus, como se o que Ele fez não fosse o bastante para curar essa área íntima de nossas vidas. Continuamos a manter a nossa dor bem pertinho de nós, em vez de liberá-la diante da luz do amor. Aqueles que sentem que Deus não os protegeu como deveria em sua vida sexual no passado muitas vezes têm medo de convidá-Lo para participar do seu presente. O fato é que Deus não falhou com você; o que aconteceu foi consequência da humanidade caída. Não permita que a vergonha do pecado ou do abuso o impeça de desfrutar toda a plenitude da intimidade conjugal e o êxtase sexual. Deus anseia curar tudo o que está quebrado e torná-lo santo.

Assim como muitos casais cristãos, quando nos casamos, presumíamos que nossos votos matrimoniais apagariam o histórico da nossa vida sexual passada e nos colocariam a caminho do paraíso. Acreditávamos que porque nos amávamos e estávamos comprometidos um com o outro, nenhuma sombra do passado atravessaria o limiar do nosso futuro. Imaginávamos que o acesso regular à intimidade sexual baniria os padrões egoístas ou a vergonha maculada. Infelizmente estávamos errados, e abordaremos as nossas próprias histórias aqui a fim de compartilhar as escolhas e revelações que nos trouxeram libertação.

Nenhuma herança ou fracasso pode desqualificar os filhos de Deus impedindo-os de estabelecer um novo legado sexual. Mas só Deus pode santificar a nossa sexualidade e redimir nossos erros passados, presentes e futuros. E é somente pela Sua graça que o leito matrimonial se torna um refúgio de realização e amor.

Seja qual for sua história passada, Deus deseja restaurar sua sexualidade de modo completo e radical. A graça Dele é maior do que qualquer coisa que você já tenha feito ou sofrido. Mas você não pode ter acesso à graça de Deus a não ser que primeiro faça Dele o Senhor da sua sexualidade. Reconheça sua necessidade e entregue-a a Deus. Ele transformará seu pesadelo sexual em um lindo sonho.

HONRANDO O LEITO MATRIMONIAL

O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros. Hebreus 13:4

Se existe um problema no seu casamento, ele aparecerá primeiro na sua cama. A falta de paixão no leito matrimonial geralmente é um sinal de outros problemas, e não de um mau desempenho sexual. Os problemas ocultos se manifestam nos lugares de vulnerabilidade, e não há ocasião em que sejamos mais vulneráveis do que nos momentos de intimidade sexual.

O princípio mais importante da intimidade sexual é a honra. Muitos acreditam erroneamente que não há como desonrar ou contaminar o leito matrimonial, de modo que vale tudo entre o casal. Contudo, nada está mais distante da verdade.

Honramos nosso casamento quando, na época em que somos solteiros ou noivos, permanecemos puros e separados para o nosso futuro cônjuge. Honramos nosso leito matrimonial depois do dia do casamento ao nunca permitir que outros tenham espaço nele (cometendo adultério), tampouco permitindo que qualquer outra coisa diminua a beleza da intimidade sexual (como a pornografia, a perversão ou a impureza).3 O leito matrimonial não santifica os nossos vícios sexuais impuros; ao contrário, o comportamento impuro contamina o leito matrimonial e nos impede de desfrutar da verdadeira intimidade. Também honramos nosso leito vendo-o como um lugar no qual podemos servir ao nosso cônjuge procurando fazer o que é melhor para ele, como discutimos no último capítulo. Servir ao nosso cônjuge sexualmente significa honrar as necessidades dele dentro da definição de Deus de santidade.

Às vezes, servimos ao nosso cônjuge fazendo sexo mesmo quando não nos sentimos desejáveis. Quanto mais você envelhece, menos importa se sentir desejável. Você deixa de encarar o sexo como algo que funciona meramente como uma afirmação da sua atração física para seu cônjuge. Ele passa a ser mais uma atração íntima. Deus criou o sexo como uma maneira de maridos e esposas se conectarem um com o outro; não permita que a insegurança o impeça de desfrutar dessa conexão. (Nesse mesmo espírito de serviço, você não deve pressionar seu cônjuge a realizar qualquer ato com o qual ele ou ela se sinta desconfortável em nome do seu próprio prazer.)

Por termos feito do nosso leito matrimonial um lugar de honra, fazer sexo aos cinquenta é melhor do que era quando tínhamos vinte anos de idade – embora tivéssemos uma aparência bem melhor aos vinte anos do que temos agora. Fazer amor de forma maravilhosa não tem a ver com sua aparência ou com seu desempenho. Tem a ver com quem vocês são juntos.

Quando fazemos amor, estamos celebrando nossos mais de trinta anos de casamento. Nossas alegrias, dores, dificuldades e vitórias acrescentam significado e valor à nossa intimidade. Nossa intimidade espiritual, emocional e fisiológica culmina em um prazer e uma satisfação que vêm de Deus. A cultura sexual que estabelecemos no nosso casamento é um testemunho do poder redentor de Deus, pois estamos longe de onde começamos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A TRANSIÇÃO EMOCIONAL

Uma das fases mais decisivas e conturbadas na vida do ser humano, a adolescência provoca grandes transformações, que envolvem mudanças biológicas, cognitivas e socioemocionais

“Primeiro aspecto a se abordar é o que vem a ser a adolescência? Etimologicamente, adolescência é um termo de origem latina, do verbo adolescere, que significa desenvolver-se, crescer; é próximo, no entanto, do termo addolescere, que significa adoecer. A proximidade entre os dois sentidos é sugestiva e anuncia a dimensão de crise a que ficou associado este termo desde a modernidade.

Essa etapa pode ser definida como o período desenvolvimentista de transição entre a infância e a vida adulta, que envolve mudanças biológicas, cognitivas e socioemocionais. O processo biológico envolve mudanças físicas no corpo do indivíduo; o processo cognitivo envolve mudanças no pensamento e na inteligência; e, por último, o socioemocional, que traz alterações no relacionamento com as pessoas, na emoção, na personalidade e nos contextos sociais.

Uma segunda indagação também se faz necessária: onde começa e onde termina o processo adolescente? Bem, esses limites são variáveis de acordo com a cultura, à época, a sociedade, as condições econômicas, a geografia etc. De qualquer modo, é possível falarmos de forma mais elástica em adolescência considerando-a entre as idades de 10/ 11 a 22/24 anos. Na clínica, no entanto, parece que podemos encontrar adolescentes de todas as idades, afinal temos que reconhecer que há uma criança e um jovem dentro de cada um de nós.

Diz-se que a infância é o tempo de ensaiar, já a adolescência é o tempo de estrear. ”A puberdade é a hora dos primeiros: primeiro sutiã, primeira maquiagem, primeiro cigarro, primeiro beijo etc.” As mudanças biológicas que ocorrem nessa fase são visíveis e de todos sabidas, as transformações no corpo, com o aparecimento de pelos pubianos e nas axilas, o crescimento dos órgãos genitais masculino e feminino, o crescimento desordenado do corpo (orelhas, nariz e membros crescem primeiro que o dorso), de modo que a cada dia que o jovem se olha no espelho vê alguém diferente e não se reconhece.

Há o desenvolvimento hormonal e a variação de humor, com uma avalanche de emoções e sensações. Neurologicamente, estudos revelam que o cérebro do adolescente é uma obra em andamento, daí a pertinência da discussão que se dá sobre a responsabilização, especialmente criminal, dos jovens que ainda não completaram 18 anos. Assim, podemos pensar que a questão deixa de ser meramente jurídica ou política e passa à esfera da garantia dos direitos humanos.

E psiquicamente, o que ocorre com os jovens?

É possível entender que com a adolescência há a fragmentação do sujeito, de seu corpo, de seu psiquismo e de suas referências, é um “maravilhoso renascer”, é um “segundo nascimento”. É um processo complexo diante do qual se faz necessária a compreensão da identificação, do luto, da idealização/ desidealização e da individuação.

A identificação é um fenômeno que ocorre já com o bebê e nos persegue a vida toda. A primeira identificação se dá com os genitores ou com aqueles que devem cuidar do bebê.

Na adolescência, a identificação também pode se manifestar de forma muito intensa. A Psicanálise conhece a identificação como “a mais antiga manifestação de uma ligação afetiva a uma outra pessoa”. Esta, todavia, é ambígua, vale dizer, tanto pode expressar afeto como desejo de eliminar o outro (Freud, in Psicologia das Massas e Análise do Eu.

Esse processo pode explicar no jovem não só a identificação com grupos, com gangues, como com ídolos, personagens (cosplayer, por exemplo) etc. Também a idealização precisa ser compreendida. Podemos dizer que ela consiste em todas as “fantasias” que criamos em relação aos nossos pais e em relação aos outros no decorrer da vida.

Todavia, isso vai se desconfigurando com o progressivo desenvolvimento intelectual. Assim, enquanto na infância há a idealização dos pais, na adolescência eles são desidealizados e passam de rainha/rei para pessoas que não sabem de nada, não entendem nada, são desconstruídos; os jovens precisam “matar” os pais para poderem viver.

DESPRENDIMENTO

A importância desse processo é revelada por Freud ao afirmar que a adolescência é uma fase dolo­ rosa que implica no desprendimento da autoridade dos pais, o que é absolutamente necessário que se faça, posto que “o progresso da sociedade se funda na oposição entre as duas gerações”. Assim, o adolescente terá que fabricar para si um novo referencial.

Isso pode ajudar a compreender os muitos conflitos que afloram entre pais e filhos nessa fase. Some-se a isso o narcisismo dos próprios pais e a “guerra” está declarada.

Há também o luto vivido pelos jovens. Os adolescentes vivem o luto pela perda do corpo infantil, da infância, da bissexualidade e dos pais idealizados. Não é pouca coisa.

Um outro processo também corre em paralelo: é a individuação que se verifica durante toda a vida, que vai assumindo diferentes contornos em cada fase e que encontra seu ápice na adolescência.

Poderíamos dizer que a individuação é uma luta do adolescente por autonomia e diferenciação, ou identidade pessoal. Não é de se estranhar, assim, que muitos jovens façam tatuagens, coloquem piercings, pintem os cabelos de laranja, cor-de-rosa ou azul, usem roupas exóticas na busca de uma marca de singularidade, da sua identidade.

O processo de individuação ou o processo de desenvolvimento da personalidade da pessoa encontra seu ápice nessa fase, quando os pais, a sociedade, os amigos lhe cobram decisões, definições. Isto, aliado a toda alteração hormonal, biológica, psíquica e emocional, representa uma sobrecarga da qual o adolescente pode não dar conta. Por isso é importante a participação dos pais nessa empreitada.

Uma questão recorrente trazida pelos pais diz respeito ao afastamento ou isolamento dos adolescentes. Eles se distanciam da família e se aproximam dos amigos e de conteúdos que reafirmem quem querem ser. Esse comportamento, embora angustiante para os pais, pode ser saudável, uma vez que estão vivenciando mudanças físicas, biológicas e, também, psíquicas, como vimos. O “retiro” dos jovens é consequência do processo de individuação ao qual nos referimos linhas acima.

Na realidade, ocorre que eles sentem a verdadeira tensão entre a dependência dos pais e a necessidade de se libertarem. Já os pais querem que os filhos sejam independentes, contudo, acham difícil “deixá-los partir”. Devemos nos lembrar, no entanto, que essa despedida é imprescindível a cada ser humano, faz parte do seu desenvolvimento.

O certo é que existe uma linha tênue entre dar suficiente independência aos adolescentes e protegê-los de falhas de julgamentos naturais da imaturidade. As tensões podem levar a conflitos familiares, certamente, e os estilos de parentalidade dos genitores podem influenciar sua forma e desfecho. De outro lado, o monitoramento eficaz depende do quanto eles deixam seus familiares saberem sobre sua vida e essas revelações podem depender da atmosfera que os pais estabeleceram.

ESPAÇO

Como lidar com isso? Nesse momento, é preciso abrir espaço para o filho e ter consciência de que eles se afastaram pela necessidade de elaboração das inúmeras mudanças pelas quais estão passando, porque faz parte do seu desenvolvimento e crescimento e de que sobre isso não há controle.

Não podemos parar o tempo. É preciso que os pais deem orientação, acolhimento, mas é imprescindível que acreditem na semeadura que fizeram até então, e deixem os filhos “partirem”.

É importante respeitar o espaço do adolescente, o isolamento, seu silêncio. Contudo, também é importante que os pais saibam que é possível estabelecer uma relação de parceria – o que não é o mesmo que ser amigo -, com diálogo e muita negociação. Na verdade, pode ser uma fase de grande aprendizado para toda a família.

Enfim, vê-se que os adolescentes têm que elaborar as perdas da infância e dar conta da carga de responsabilidades que começa a aparecer. Eles buscam respostas, eles sentem angústia. Precisam ganhar independência e autonomia.

A passagem pela adolescência, poderíamos dizer, é um “tornar-se sujeito de modo inteiro”.

ISOLAMENTO DO ADOLESCENTE NÃO É SAUDAVEL

É bastante comum o isolamento ou afastamento do adolescente. No entanto, quando ele pode ser considerado preocupante? Quando o “quero ficar sozinho” não é saudável? Se o isolamento se tornar profundo, com falta de interação com familiares e amigos de sua idade, deixando-o demasiadamente solitário, e por um período substancial de tempo; o isolamento pode ser um problema quando atrasa o desenvolvimento do jovem e, com isso, o impede de adquirir uma série de competências afetivas, sociais e instrumentais, a exemplo do adolescente que se isola de tal maneira que acaba por não aprender sobre questões afetivas. sociáveis, não vivencia a amizade, a paixão adolescente, a descoberta da sexualidade etc.; o isolamento pode ser preocupante, ainda, quando perturba o curso habitual do desenvolvimento e causa um sofrimento evidente para ele e para a família; é a situação do adolescente que se afasta, se isola e se sente infeliz. É preciso reconhecer que muitas vezes é difícil distinguir o saudável do doente, mas é por isso que se faz necessário compreender e estar atento ao comportamento do jovem e às suas demandas.

OUTROS OLHARES

POR QUE O UBER ESTÁ EM CRISE

Empresa aumenta faturamento e atende 100 milhões de pessoas por mês, mas vê seus custos crescerem acima do esperado e registra prejuízo recorde

É comum uma empresa de tecnologia ter escassos lucros nos primeiros anos de seu funcionamento. E nem mesmo o Uber, considerado uma máquina de ganhar dinheiro, foge dessa sina. Apesar de apresentar números impressionantes de desempenho, como o uso da plataforma por quase 100 milhões de pessoas por mês, o aplicativo de transporte teve um prejuízo de US$ 5,2 bilhões no segundo trimestre de 2019, contra cerca de US$ 880 milhões no mesmo período do ano passado. Após a divulgação dos resultados, as ações da empresa despencaram 12% em Wall Street. E os acionistas, é claro, não gostaram nem um pouco. A própria entrada do Uber na Bolsa de Valores, em maio desse ano, que levantou US$ 8 bilhões, foi considerada decepcionante por analistas. O CEO Dara Khosrowshahi clamou por paciência e destacou a concorrência global como um dos fatores formadores do cenário. “Só estamos no começo dessa incrível jornada”, argumentou.

REDUÇÃO DE PREÇOS

A situação do Uber é parecida com a da concorrente Lyft nos Estados Unidos. Ambas, ainda deficitárias, têm um histórico de diminuir os valores das viagens para atrair mais passageiros. O quadro se complica quando entra na conta a grande quantidade de ofertantes, ou seja, de motoristas, em contraposição a uma demanda insuficiente que força a redução dos preços. A quantidade de corridas no Uber subiu 35% no segundo trimestre e a receita alcançou US$ 3,17 bilhões, mas as despesas no mesmo período aumentaram 147%. Diante do desequilíbrio operacional e dos péssimos resultados, congelou-se a contratação de novos motoristas nos Estados Unidos e no Canadá.

A economista Celina Ramalho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), explica que o aplicativo serviu de esperança aos tantos desempregados, na situação atual da crise brasileira. E isso pode ser um termômetro para entender o que ocorre a nível global. Aqui há um aumento acelerado da oferta de serviços do aplicativo e a demanda não cresce no mesmo ritmo. A América Latina, onde o faturamento encolheu 24%, foi justamente o destaque negativo da empresa. No restante do mundo, a receita cresceu, mas abaixo do esperado e necessário. O caso do Uber mostra que a economia compartilhada, sustentada pelos aplicativos de serviços, ainda está provando a sua viabilidade.

GESTÃO E CARREIRA

SEM DOR DE CABEÇA

Microcervejarias evoluem no modo de atuar, livram-se dos entraves burocráticos e logísticos e especializam-se em criar receitas dignas de brinde – inclusive financeiras

Foi na cozinha do apartamento do publicitário Marcelo Bellintani, situado no bairro do Campo Belo, em São Paulo, que ele e um amigo, Felipe Gumiero, químico de formação, fizeram cerveja pela primeira vez – por puro hobby.

Era 2009, e os dois não imaginavam que a brincadeira iria tão longe: a bebida doméstica, preparada em uma panela de 20 litros, caiu no gosto dos companheiros de copo da dupla, e o boca a boca se encarregou do resto. Depois de seis anos de operação mambembe, Bellintani e Gumiero resolveram dar o passo inicial rumo ao profissionalismo.

Para começar, desenvolveram uma marca para o seu produto: surgiu assim, em 2015, a Juan Caloto. A partir daí, o negócio deslanchou. Pressionada pela falta de espaço para ser fabricada, a Juan Calota virou cigana. Explica-se: cervejarias ciganas são aquelas que não têm maquinário próprio para produzir e fermentar a bebida, e por isso alugam o equipamento das concorrentes maiores. Gumeiro e Bellintani passaram a usar a estrutura da Blondine, em Itupeva (SP), para chegar a 1.400 litros por mês, os quais escoavam em três pontos de venda. O sucesso só fez crescer a iniciativa – e, consequentemente, o trabalho para cuidar da empresa. Os amigos decidiram então abandonar os respectivos empregos. Não adiantou. Ao perceberemque mesmo largando a carreira original não davam conta de administrar o empreendimento sozinhos, eles radicalizaram no “ciganismo”: terceirizaram todo o trabalho burocrático da companhia. ”Esse modelo nos permite focar o core do negócio, que são o desenvolvimento de outras variedades de cerveja ea gestão da marca”, explica Bellintani.

A dupla da Juan Caloto não está sozinha nessa escolha. Segundo a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), o país conta hoje com 889 cervejarias tradicionais, enquanto as ciganas já somam mais de 2.000. Num mercado em transformação, no qual os gigantes do setor têm perdido espaço para as cervejas artesanais, até a Ambev abriu as portas para essa nova concorrência. A multinacional disponibiliza, desde abril, a fábrica da Bohemia, em Petrópolis (RJ), para parcerias com tal tipo de cervejeiros. A condição de nômade beneficia as duas pontas. Por um lado, o modelo permite que pequenos empreendedores testem seus produtos com um investimento inicial baixo e uma tributação mais leve, por causa da ausência de maquinário. Por outro, as grandes marcas lucram com o aluguel e reduzem a ociosidade de suas unidades fabris. O avanço do ciganismo no setor, com a transferência das etapas industriais e comerciais do processo para empresas especializadas – o que envolve a compra de insumos, pagamento de impostos, distribuição etc. – livrou os nômades das dores de cabeça que as cervejas e os negócios ruins provocam. Isso sem tirar deles a parte mais saborosa: testar novas receitas e, sobretudo, receber os royalties, que giram em torno de 1 a 2,50 reais de cada garrafa vendida (ou de 16.000 a 50.000 reais por mês, em uma conta aproximada).

Não é fácil, porém, chegar à hora do brinde. Os altos impostos e os custos de produção elevam o preço das nômades, restringindo o público e dificultando a competição com as marcas campeãs. Mutilo Foltran, sócio da DUM Cervejaria, que terceiriza produção e burocracias para a Gauden­Bier (ambas situadas em Curitiba), alerta sobre a ”concorrência desleal” que as pequenas produtoras enfrentam na guerra contra os gigantes. “As cervejarias artesanais não têm incentivos fiscais e nem sequer podem renegociar dívidas.” Ciente dessas pedras no caminho, a paulista StartUp Brewing oferece consultoria para auxiliar em questões financeiras, de marketing e até mesmo relacionadas à fórmula das cervejas. “Orientações como a redução de gramas de lúpulo por litro podem diminuir custos sem afetar o sabor da bebida”, afirma André Franken, CEO da Biewing.

Para os consumidores contumazes de cerveja que sonham em, por assim dizer, passar para o outro lado do balcão, vale um lembrete: afim de evitarem problemas com aventureiros irresponsáveis, as companhias de apoio as ciganas só aceitam parceria com marcas já minimamente consolidadas. Dito de outra forma: o percurso se anuncia longo. Mas, para começar, pode não ser má ideia arranjar uma panela de 20 litros.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 20 – ADAPTANDO OS PAPÉIS ÀS SUAS NECESSIDADES INDIVIDUAIS

A Bíblia tem muito a dizer sobre os papéis do homem e da mulher no casamento, mas há muitas coisas que ela não diz. Do mesmo modo que Deus disse a Adão e Eva para se multiplicarem e encherem a Terra sem dar maiores detalhes, Deus dá limites aos nossos casamentos, mas não nos fecha dentro de uma caixa. Ele nos forneceu a estrutura e serviu de modelo para a maneira como devemos servir, mas Ele não administra meticulosamente cada detalhe.

É como se recebêssemos um enorme lote de terra no qual devemos projetar o jardim, construir e desfrutar da maneira que acharmos mais conveniente. Algumas pessoas vão querer construir uma piscina, outras podem querer uma quadra de basquete, e outras vão querer as duas coisas ou nenhuma delas. Do mesmo modo, o casamento é “a sua casa e o seu terreno” para construir e desfrutar. Se a esposa é melhor em paisagismo, que ela fique com essa parte. Se o marido gosta de jardinagem, que ele faça isso. Ambos desfrutarão os benefícios do serviço do outro. Ninguém tem o direito de dizer que só os homens podem fazer o paisagismo e as mulheres devem cuidar do jardim. Faça da maneira que for melhor para vocês, tendo sempre em mente a base que é servir. Os detalhes cabem a você, ao seu cônjuge, e à direção do Espírito de Deus.

Um dos principais motivos de discussão quando o tema é serviço no casamento é o fato de esperamos que nosso cônjuge nos sirva da maneira que nós o servimos, e isso nem sempre acontece. Na nossa família, costumávamos rir quando John nos dizia que ele era um servo. Ele é famoso por desaparecer da cozinha assim que o jantar termina, me deixando (Lisa), juntamente com nossos filhos, para limpar tudo e lavar a louça. Não nos parecia que ele estava servindo.

Não reconhecíamos que John estava servindo de uma maneira diferente. Enquanto estávamos tirando a mesa, ele estava supervisionando nossas finanças, abrindo a correspondência e pagando as contas. Ele estava optando por isentar-se de uma tarefa que podíamos administrar sem ele para cuidar de outras coisas que precisavam ser feitas – tarefas que ele, entre todos os membros da nossa família, por acaso faz melhor.

Esse exemplo nos leva a um ponto importante: a divisão de responsabilidades. Uma das coisas mais úteis que você pode fazer para criar uma cultura de serviço no seu casamento é determinar o que cada um de vocês é responsável por fazer. Conhecer suas responsabilidades acordadas previamente o ajudará a servir ao seu cônjuge. Cuidar das suas responsabilidades dá ao seu cônjuge tempo e tranquilidade. Em segundo lugar, quando você sabe o que seu cônjuge é responsável por fazer, você sabe em que áreas pode procurar oportunidades de servi-lo além das expectativas.

Talvez você tenha notado que nenhum dos versículos de Efésios 5 reforça qualquer estereótipo sobre os interesses ou habilidades de homens e mulheres. Você não precisa se sentir pressionado a limitar a distribuição de deveres no seu lar ao que é considerado “tradicional” ou “normal”. Alguns maridos amam cozinhar. Algumas esposas gostam de cuidar do carro. Um de vocês pode gostar de supervisionar o dever de casa das crianças ao passo que o outro prefere levá-los ao treino de futebol.

Aquele que é melhor com as finanças pode ficar encarregado do dinheiro. Essa pessoa pode servir tanto providenciando os recursos que serão aplicados pelo cônjuge quanto ajudando a garantir que a família não fique endividada.

Você também pode servir ao seu cônjuge cuidando do seu corpo, da sua aparência e não sendo levado pelas opiniões dos seus amigos em detrimento dos interesses do seu parceiro ou parceira. Você pode servir com palavras e gestos assim como com atos. Há muitas possibilidades no casamento, e há muitas oportunidades para servir.

Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem. João 13:17

Embora o serviço abençoe a pessoa que o recebe, a maior bênção recai sobre aquele que serve.

Seu casamento, com o convés limpo e uma visão estabelecida, está pronto para se tornar uma bela imagem do amor de Deus na Terra. A melhor maneira de edificá-lo corretamente é aproveitar todas as chances que tiver para servir. Edifiquem um ao outro e vejam as bênçãos de Deus fluir.

Quando começamos a edificar um ao outro, Deus começou a nos edificar. Ele expandiu os limites do nosso mundo e permitiu que compartilhássemos Seu amor e graça com muitas pessoas ao nosso redor. À medida que vocês edificam um ao outro por meio do serviço, Deus abrirá oportunidades para vocês ministrarem àqueles que estão na sua esfera de influência. O plano brilhante Dele é transformar seu casamento em uma obra prima capaz de chamar a atenção até mesmo do mais cético entre os descrentes.

Servir tem a ver tanto com ação quanto com atitude. Sempre que surgir a oportunidade de servir ao seu cônjuge, você pode escolher uma entre três reações: recusar-se e optar pelo egoísmo; servir por se sentir obrigado e com má vontade; ou entregar alegremente sua vida porque sente prazer em apoiar seu parceiro ou parceira.

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus… esvaziou-Se de Si mesmo, vindo a ser servo… Filipenses 2:5-7

Quando se casa com alguém, você está basicamente se propondo a servi-lo pelo resto de sua vida. Na verdade, o seu “aceito” foi outra maneira de dizer: “Estou dedicando minha vida a fazer o que é melhor para você. Escolho abrir mão alegremente da minha vida por amor a você. Seus sonhos, desejos e objetivos agora são o meu maior interesse. Quero aprender a demonstrar o amor de Deus a você”.

Se abordarem o casamento com a postura realmente humilde de um servo, vocês experimentarão uma união divina. Nem sempre será fácil, mas se vocês lutarem para viver o melhor de Deus e escolherem viver de maneira altruísta, seu lar transbordará de amor, alegria, paz, felicidade e realização – e vocês serão para o mundo um retrato do amor de Deus.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO O CORPO SE TORNA UM ESTRANHO

Lesões no hemisfério direito do cérebro fazem com que pacientes ignorem tudo que se passa no lado esquerdo do corpo, braços e pernas inclusive

A primeira descrição de anosognosia foi feita pelo neurologista francês Joseph Babinski, em 1914. Do grego nossos, “doença” e gnosis, “conhecimento” é o que se dá a um estranho quadro desenvolvido por pessoas com determinadas lesões cerebrais, em geral confinadas ao hemisfério direito, que passam a não reconhecer a metade paralisada do próprio corpo, ignorando sua doença.

Uma paciente com paralisia do lado esquerdo em decorrência de derrame sofrido dois dias antes aguardava minha avaliação. Quando entrei no quarto do hospital, ela falava animadamente no telefone, enquanto os parentes se entreolhavam assustados. Ninguém podia compreender como uma mulher ativa como ela estava paralisada numa cama e ainda conversava animadamente por telefone com pessoas da família e amigos, como se nada houvesse acontecido. Notei que ela segurava o aparelho com a mão direita e movimentava ostensivamente a cabeça de um lado para o outro enquanto falava. Tive a impressão de que procurava abarcar em seu ângulo de visão todos os que estavam no quarto – sete ou oito pessoas, entre filhos, noras e netos. Assim que ela deu por encerrada a conversa telefônica, uma das filhas me apresentou como o neurologista que fora chamado para examiná-la. Ela me estendeu a mão direita num aperto forte e um sorriso franco nos lábios:

– Como vai, doutor? Espero que o senhor não tenha entrado na conversa dessa gente.

– A senhora está se referindo exatamente a quê? – perguntei, como se não tivesse entendido aonde ela queria chegar.

– Eu não preciso de neurologista, doutor. Já devia estar em casa, onde tenho inúmeros afazeres, e estão me prendendo aqui sem nenhum motivo. Ainda bem que o senhor veio me libertar.

Se a senhora me permitir, vou examiná-la antes de sua saída do hospital. Estamos de acordo?

– Claro, doutor. O senhor não vai encontrar nada errado comigo.

– A senhora pode movimentar ambos os braços?

– Perfeitamente – ao mesmo tempo, ela levantou o braço direito para o alto.

– Pode fazer o mesmo com o braço esquerdo?

– Naturalmente – e, mais uma vez elevou o braço direito.

– A senhora pode mover as duas pernas?

– Não tenha nenhuma dúvida disso.

– Quer dizer que pode mover a perna direita:

– Claro – e levantou a perna direita em 45 graus.

– Pode fazer o mesmo com a perna esquerda7

– Sim! Como não!?

– Então levante a sua perna esquerda – insisti.

E levantou de novo a perna direita. Na continuação do exame, notei que ela negligenciava tudo o que estivesse a sua esquerda. Ao tentar testar a extensão de seu campo de visão, usando um método simples solicitei que olhasse fixamente para meu nariz e contasse os dedos que eu colocava em seu campo visual esquerdo. Errou em todas as tentativas, ao contrário do que ocorria quando lhe apresentava os dedos em sua área direita de visão. Porém, quando insisti para que prestasse mais atenção, pois assim teria condições de responder corretamente, de fato acenou algumas vezes. Ela apenas confirmava o que acontece com quase todos os pacientes com anosognosia e lesão no hemisfério direito – ignoram tudo que se encontra a sua esquerda. A negligência chega a ser tão completa que essas pessoas podem comer o alimento que se encontra no lado direito do prato, sem tocar na parte oposta. Ao vestirem-se, enfiam sem dificuldade o braço direito na manga da camisa, a perna direita na calça e, se não forem alertadas, simplesmente ignoram que é preciso vestir também o outro lado. Quando, parcialmente, recuperados, readquirem a capacidade de se locomover, vão de encontro a móveis e portas por desconhecerem a metade esquerda do corpo.

COMANDOS INDEPENDENTES

Nos casos em que a anosognosia persiste durante muito tempo, a própria reabilitação é dificultada. Como poderia um paciente que ignora que seu lado esquerdo está paralisado participar ativamente de sua recuperação? O cotidiano, já conturbado pela paralisia, fica agravado pela negligência. Homens com o distúrbio podem, por exemplo, sebarbear apenas do lado direito. Quando procuram a xícara de café sobre a mesa, exasperam-se por não encontrá-la, até que alguém aponte o objeto colocado ligeiramente à sua esquerda. Caso se peça a um anosognósico que desenhe um relógio, ele poderá até traçar um círculo completo, mas amontoará os números no lado direito. Se lhe solicitam que desenhe uma figura humana, há grande probabilidade de que faça apenas a metade direita do corpo, deixando-a sem os membros esquerdos. Se questionado, não se importará – talvez diga que está tudo bem ou invente uma pequena história.

Porque apenas a lesão hemisférica direita provoca a negação? Algumas pistas podem ser delineadas pela constatação de que existe especialização entre os hemisférios. A mais notória é a linguagem falada, própria do lado esquerdo do cérebro, em 95% das pessoas, incluindo os canhotos. O surgimento da especialização talvez tenha sido um recurso incorporado pela espécie durante a evolução. A realização de movimentos coordenados e harmônicos com as duas mãos só seria bem-sucedida se houvesse apenas um controlador, um único comando. Se durante a execução de um ato motor complexo que exigisse as duas mãos os comandos fossem independentes – cada mão querendo executar o movimento do seu modo – esse indivíduo hipotético teria muito poucas chances de sobreviver num mundo competitivo, cheio de ameaças. A dominância cerebral do hemisfério direito em relação à integração global do corpo, envolvendo a noção das sensações viscerais, a posição dos membros em relação ao espaço, do tronco e dos músculos é hoje bastante aceita e amplamente discutida por especialistas. Eduardo Bisiach e Claudio Luzzatti estudaram dois pacientes milaneses com um dano no lobo parietal direito que os deixou com a síndrome de  negligência visual, seus olhos registravam todo o campo, mas os dois pacientes prestavam atenção só na metade direita: não faziam caso dos talheres do lado esquerdo do prato, desenhavam um rosto sem olho nem narina esquerda e, ao descrever um aposento, ignoravam detalhes volumosos – como uma cadeira ou um piano – à esquerda. Bisiach e Luzzatti pediram que eles se imaginassem na Piazza dei Duomo, em Milão, de frente para a catedral, e que descrevessem os edifícios da praça. Os pacientes mencionaram apenas os prédios que seriam visíveis direita – deixando de lado a metade esquerda do espaço imaginário. Em seguida, pediram que, mentalmente, atravessassem a praça, se colocassem na escadaria da catedral, de frente para a praça, e descrevessem o que havia nela. Eles mencionaram os prédios que haviam omitido da primeira vez e deixaram de fora os que haviam citado antes. Os surpreendentes resultados desse experimento nos mostra que o processo de negação que se segue a uma lesão do córtex parietal direito envolve não só imagens reais do próprio corpo do paciente como suas imagens mentais.

À primeira vista, podemos ter a falsa impressão de que um paciente com anosognosia está confuso, ou mesmo demente. No entanto, a negação da doença é apenas mais um sintoma específico do seu quadro clínico e não envolve a memória como um todo nem a consciência para outros fatos que lhe dizem respeito – exceto a própria paralisia. Podem argumentar com sensatez sobre qualquer assunto, reconhecem seus interlocutores, realizam cálculos complexos, lembram-se de eventos antigos e recentes perfeitamente situados no tempo e no espaço. O fato destoante é a não identificação do lado paralisado. Agem como se a paralisia não existisse e, por isso mesmo, estão propensos a acidentes quando tentam sair da cama, sofrendo quedas frequentes.

O BRAÇO DO CADÁVER

O caso mais estranho de anosognosia de que se tem notícia é mencionado por Oliver Sacks, sobre um homem, internado num hospital, que caíada cama várias vezes na mesma noite. A cada queda, os enfermeiros o levantavam e certificavam- se de que estava bem acomodado. Alguns minutos depois, ouvia-se de novo o ruído do seu corpo chocando-se contra o chão. Intrigado, o médico perguntou-lhe por que continuava caindo da cama. O pobre homem, demonstrando verdadeiro pavor, respondeu, ‘Doutor, esses estudantes de medicina colocam o braço de um cadáver na minha cama e eu tento me livrar dele a noite inteira. Como não admitia a existência de seu membro paralisado, o homem era arrastado para o chão toda vez que tentava empurrá-lo para fora do leito.

Uma particularidade presente nesses pacientes é atribuírem o membro paralisado a outra pessoa. Se lhes perguntam a quem pertence a parte paralisada do corpo, respondem com naturalidade, “Ao meu filho”, “Ao meu médico ou “À minha esposa”.

Há indícios consistentes de que a avaria que acomete os circuitos cerebrais responsáveis pelo aparecimento da negação em pacientes anosognósicos não é definitiva e pode ser compensada depois de algum tempo. Na maioria dos casos, o fenômeno tende a desaparecer depois das primeiras semanas, embora persista em alguns pacientes. A constatação experimental dessa afirmativa foi obtida por Bisiach e seus colaboradores. Os pesquisadores conseguiram a remissão temporária da doença estimulando o sistema vestibular dos pacientes, injetando água fria em seu ouvido esquerdo. O neurocientista indiano Villayamur S. Ramachandran retomou a experiência de Bisiach com uma paciente com anosognosia. Depois de constatar que ela repetia não estar paralisada e dizia que seu braço pertencia ao seu filho, o pesquisador injetou-lhe 10 ml de água fria no ouvido esquerdo. Ramachandran pretendia investigar a memória da paciente durante o período em que ela estava sob a ação do estímulo calórico. O diálogo abaixo foi transcrito do trabalho de Ramachandran.

Experimentador: A senhora está se sentindo bem?

Paciente: Meu ouvido está muito frio, mas do outro lado eu estou bem.

Experimentador: A senhora pode usar as mãos?  

Paciente: Posso usar meu braço direito, mas não meu braço esquerdo. Eu queria movê-lo, mas ele não se mexe.

Experimentador, pegando o braço paralisado e colocando-o em frente da paciente)

De quem é este braço?

Paciente: É o meu braço, claro

Experimentador: A senhora pode usá-lo?

Paciente? Não, ele está paralisado.

Experimentador: Há quanto tempo seu braço está paralisado? A paralisia começou agora ou já existia antes?

Paciente: Ele está continuamente paralisado, agora por vários dias.

Depois de passado completamente o efeito calórico, o experimentador aguardou mais meia hora e perguntou:

Experimentador: A senhora pode usar seu braço?

Paciente: Não, meu braço esquerdo não funciona.

Oito horas mais tarde, as questões foram repetidas.

Experimentador: A senhora pode andar?

Paciente: Sim.

Experimentador: Pode usar ambas as mãos?

Paciente? Sim.

Experimentador: Pode usar seu braço esquerdo?

Paciente: Sim.

Experimentador: Esta manhã, dois médicos fizeram alguma coisa com a senhora. A senhora se recorda?

Paciente: Sim, eles colocaram água no meu ouvido: ela estava muito fria.

Ecérimentador: A senhora se lembra de que eles fizeram algumas perguntas sobre seus braços, e a senhora então lhes deu algumas respostas. A senhora se lembra do que respondeu?

Paciente: Não me lembro, o que foi que eu disse?

Experimentador: O que a senhora pensa que disse? Tente relembrar.

Paciente: Eu disse que meus braços estavam OK.

Algumas conclusões podem ser tiradas dessa experiência. Em primeiro lugar, ela confirma o trabalho de Bisiach quanto à extinção da negação pela ação do estímulo calórico no ouvido esquerdo. Segundo, ao admitir que esteve paralisada por vários dias, a paciente nos permite supor que, embora negasse continuamente sua paralisia, a informação estava sendo armazenada em seu cérebro, sem que aflorasse à sua consciência, ou, como quer Ramachandran: o acesso a eles fora bloqueado, isto é, a negação não impediu a consolidação da memória. A água fria agiu como uma espécie de ‘soro da verdade’, trazendo à tona as lembranças reprimidas sobre sua paralisia”.

O estímulo calórico fez aflorar a consciência da paralisia. Podemos supor, por esse resultado, que ela tinha conhecimento de seu estado, pelo menos em nível mais profundo, ao qual em condições normais não tinha acesso. Foi preciso, porém, a estimulação do ouvido esquerdo para que a constatação viesse à tona. É interessante notar ainda que, quando a paciente estava sob esse efeito, admitiu a paralisia, mas, ao ser questionada oito horas depois, não somente reverteu a negação como reprimiu o fato de ter reconhecido a paralisia naquela situação.

É notável o fato de que, ao admitir estar paralisada, aparentemente não esboçou nenhuma reação que denunciasse surpresa ou sofrimento. De certa forma, nesse momento ela “estaria reprimindo a negação à qual estivera engajada dez minutos antes”, como escreveu Ramachandran. O fato de não haver projeções do nervo vestibular para o córtex parietal do hemisfério direito, nem para parte alguma desse lado cerebral, dificulta a compreensão do fenômeno. Embora tudo indique que a estimulação do nervo vestibular esquerdo produza o “despertar” dos circuitos interrompidos no hemisfério direito, fazendo a pessoa tomar consciência da paralisia, não podemos, até o momento, determinar com exatidão como isso acontece.

O fenômeno da negação foi testado por Ramachandran com outras experiências simples. Numa delas, solicitou ao paciente que executasse uma tarefa que exige o uso das duas mãos. Como esperado, o paciente se atrapalhou, agindo como se as duas mãos estivessem disponíveis para a ação. Repetimos a experiência de Ramachandran com um de nossos pacientes com anosognosia e paralisia do lado esquerdo do corpo. Pedimos que pegasse uma bandeja redonda, colocada sobre a mesa, com cinco copos de plástico com água até a metade. Uma pessoa com os dois lados do corpo funcionando normalmente costuma pegar a bandeja pelas beiradas, com cada uma das mãos. Se você amarrar um de seus braços e solicitar que pegue a bandeja, provavelmente vai tentar segura-la pelo meio, qualquer que seja a mão livre, evitando derramar os copos com água. Quando pedi a meu paciente paralisado e anosognósico que pegasse a bandeja, sua mão saudável (a direita) foi para o lado direito da bandeja. Obviamente, ao tentar levantá-la da mesa, os copos caíram e a água derramou. O mais surpreendente é que esse paciente ao perceber o desastre, não se mostrou impressionado, apenas usou uma justificativa: “Estou meio desajeitado hoje”. Repeti a experiência três vezes com o mesmo paciente. Surpreendentemente em todas as ocasiões ele tentou levantar a bandeja pelo lado direito.

A MÃO CINZA

Ramachandran e sua equipe realizaram uma experiência curiosa utilizando uma caixa de realidade virtual, semelhante à empregada para estudar membros ­ fantasmas. Vestiram com luva cinza a mão direita de um anosognósico e pediram que a colocasse no interior da caixa onde havia um espelho. Em seguida, solicitaram-lhe que movimentasse a mão para baixo e para cima no ritmo de um metrônomo. O paciente o fez com desenvoltura. Pediram-lhe depois que olhasse através de um buraco na caixa e visse o que estava ocorrendo.

–  Vejo minha mão mover-se para baixo e para cima.

Em seguida, orientaram o paciente para que fechasse os olhos. E, sem seu conhecimento, um estudante escondido por trás da caixa enfiou a mão com luva cinza dentro da caixa. Mudaram a posição do espelho de tal forma que, quando o paciente olhasse para o interior da caixa, veria o reflexo da mão enluvada do aluno que participava da experiência e não a sua. Os examinadores determinaram que o estudante mantivesse a mão absolutamente imóvel e ordenaram ao paciente que continuasse movendo a sua e olhasse para o interior da caixa:

– Vejo minha mão se mexendo para cima e para baixo no ritmo do metrônomo, exatamente como antes.

A pessoa saudável que fosse submetida a esse tipo de experimento e nem de longe sonhasse que havia alguém oculto na caixa provavelmente pularia da cadeira assustada. Não foi o caso do paciente de Ramachandran. Embora visse a mão imóvel do estudante, insistiu que era sua a mão em movimento. Entre as especulações que o autor faz sobre os resultados desse experimento, está que a negação atravessou para o lado direito do corpo – o lado normal. Ele argumenta que essa experiência põe por terra a teoria da desatenção para explicar a anosognosia. É como se o que estivesse danificado nos pacientes fosse o modo pelo qual o cérebro lida com uma discrepância em informações sensoriais relacionadas à imagem corporal. A discordância pode se originar tanto do lado esquerdo quanto do direito do corpo. Para Ramachandran, porém, o hemisfério esquerdo é considerado “um conformista”, em grande parte indiferente a incongruências da imagem corporal, enquanto o direito é altamente sensível a perturbações.

O neurocientista indiano especula se a estimulação calórica não poderia ser útil em casos de pacientes com anorexia, doença psiquiátrica que pode levar à morte por inanição. Nesses casos há distúrbio do apetite, e as pessoas se iludem sobre sua imagem corporal, como nos casos de dismorfofobia, em que o paciente está firmemente convencido de que seu corpo ou parte dele sofreu modificações que apenas ele constata. Quem sabe um procedimento tão simples como a estimulação calórica do nervo vestibular “desperte o hemisfério direito de pacientes com depressão grave, que veem o mundo com cores escuras demais, muitos deles procurando uma saída no suicídio. Talvez pudéssemos tentar sem nenhum dano adicional, estimular o nervo vestibular de pacientes depressivos graves, antes de enviá-los para a eletroconvulsoterapia, que sabidamente pode deixar sequelas graves, sobretudo relacionadas à memória. Até o momento, essa experiência ainda não foi tentada.

OUTROS OLHARES

ECOLÓGICOS E POSSANTES

Começam a aparecer nas concessionárias e ruas brasileiras modelos de carros movidos somente a eletricidade, o novo padrão mundial da indústria

Anunciadas com pompa na mais recente edição do Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro do ano passado, chegaram finalmente ao mercado brasileiro as mais recentes e “baratas” versões de carros 100% elétricos. As aspas se tornam necessárias pois os três modelos mais em conta disponíveis nas concessionárias ultrapassam a faixa de preço de seis dígitos, chegando a 195.000 reais. Eles não transportam o mesmo luxo dos veículos a combustão de custo equivalente. No entanto, sua autonomia, ou seja, a distância máxima que conseguem percorrer com apenas uma carga, se tornou equiparável àquela obtida com um tanque de gasolina. É justamente nessa característica que as montadoras se agarram para alcançar as metas de vendas. “Com essa autonomia, esperamos atingir os early adapters, o grupo ligado nas mais recentes tecnologias”, disse Hermann Mahnke, diretor de marketing da General Motors, fabricante que em outubro oferecerá a seus clientes o Chevrolet Bolt, modelo compacto capaz de rodar por 380 quilômetros sem necessidade de recarga. Resolvida essa questão, dirigir carros elétricos é uma experiência extremamente prazerosa. Eles são mais ágeis que qualquer automóvel a combustão de potência equivalente – na aceleração de zero a 100 quilômetros por hora, o Bolt é mais rápido que o Golf GTI, um dos hatches esportivos mais desejados do país, fabricado pela Volkswagen. Trata-se de uma vantagem e tanto para quem vive no anda e para das grandes cidades. A expectativa da GM é pôr 400 Bolts nas ruas até o fim de 2020. Uma meta ousada, considerando-se que nos primeiros seis meses de 2019 foi comercializada apenas uma centena de carros movidos pela energia acumulada em uma bateria de íon-litio instalada no assoalho do veículo. Estima-se que a frota elétrica brasileira atualmente seja de 500 unidades, um grão de areia perto dos 37 milhões de automóveis em circulação no país.

O preço marcado na etiqueta dos modelos elétricos assusta, claro, mas por trás dela há uma série de benefícios que podem reduzir seu custo total de propriedade, a começar pelo reabastecimento. Hoje, o valor médio do quilômetro rodado de um carro a combustão está em 43 centavos de real. No caso do elétrico, esse gasto seria bem menor: 10 centavos a cada 1 quilômetro. Como são dotados de um sistema de recuperação de energia dissipada pelas frenagens, esses modelos têm a capacidade de carregar as próprias baterias em movimento, o que pode baixar ainda mais essa cifra. A manutenção desse tipo de veículo é mais simples e econômica, dado que existem menos componentes mecânicos debaixo de seu capô. Somem-se, ou subtraiam-se, alguns incentivos governamentais – em São Paulo, por exemplo, além de desconto de 50% no IPVA, os 100% elétricos não fazem parte do rodíziomunicipal de veículos. No Paraná, além de isenção no imposto anual sobre automóveis, quem compra um carro zero-quilômetro movido a bateria tem abatimento total de ICMS. Mesmo sem um programa de subsídio governamental agressivo como o de países como China e Noruega, os especialistas do setor automotivo apontam o Brasil como um mercado promissor. Nos próximos anos, o custo deve baixar ainda mais. Isso porque o principal fator de encarecimento da produção desse tipo de veículo deve sofrer uma drástica redução de preço. “As baterias representam quase metade do valor do carro elétrico”, afirma Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo da consultoria KPMG. ”Mas respeitam a Lei de Moore, que pressupõe mais capacidade a preços cada vez mais baixos”. Entre 2008 e 2015, o custo de fabricação das baterias caiu 75%, e estima-se que será reduzido em mais 20% a 25% até 2025.

Mesmo com toda essa economia, dirigir um automóvel tão caro ainda parece um sonho distante para a maioria da população. Há, contudo, uma alternativa muito mais barata. No início deste mês, chegou ao Brasil o primeiro serviço de compartilhamento desse tipo de veículo: a startup beepbeep colocou dez unidades do Renault Zoe espalhadas pelas zonas Sul e Oeste da capital paulista. Além dos veículos, a empresa disponibilizou quase 100 vagas de estacionamento exclusivas ao estabelecer parcerias com shoppings, supermercados, estacionamentos e hotéis – a expectativa é ampliar a frota para 300 carros até o fim de 2021.”Queremos expandir o serviço para locais que ofereçam infraestrutura adequada”, diz um dos fundadores da beepbeep, André Fauri. Para andar em um de seus veículos, o processo é parecido com o de aluguel de patinetes: basta baixar um aplicativo, cadastrar um cartão de crédito (e a carteira de motorista, claro) e desbloquear o carro. O valor do aluguel é competitivo com o de serviços de mobilidade como Uber e 99 e de locadoras tradicionais. Vive-se, enfim, o limiar da era dos elétricos, uma tendência global.

ESTÃO NA MODA, MAS DOEM NO BOLSO

Conheça os modelos 100% elétricos mais baratos disponíveis no mercado brasileiro

GESTÃO E CARREIRA

BRASILEIRINHOS DO MUNDO

Na onda da globalização, as escolas bilíngues com currículos multiculturais se espalham pelas grandes cidades do país. Isso é bom – e custa caro

Ouvir que seu filho vai sair da escola falando inglês perfeitamente soa como rock and roll     para pais da era da globalização. Eles sabem que ser fluente na língua franca dos tempos da internet já não é mais só desejável – virou ferramenta obrigatória em boa parte das carreiras. Prometendo justamente isso – ensinar aos alunos inglês desde criancinhas -, multiplicam-se em ritmo acelerado, sobretudo nas capitais, as escolas bilingues, que martelam o segundo idioma quase tanto quanto o português, e suas irmãs mais radicais, as escolas internacionais onde a última flor do Lácio é o segundo idioma. Nos dois casos o aprendizado se mescla com um currículo carregado de interatividade e de reforço das chamadas habilidades socioemocionais um movimento planetário que tem como propósito formar cidadãos do mundo. “O bilinguismo hoje em dia está quase sempre vinculado a uma experiência mais ampla, com ambições globais” explica a consultora Letícia Pimentel, que trabalhou na implementação desse tipo de ensino em diversas escolas de São Paulo.

Um levantamento da Associação Brasileira do Ensino Bilingue (Abebi) mostra que, desde 2014, o mercado cresceu 10% e movimenta 250 milhões de reais atualmente. Só em São Paulo, onde existem 71 instituições de ensino bilingue e oito internacionais, o número de alunos saltou em cinco anos, de 2.800 para 4.600 segundo a Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo. Não há uma legislação detalhada para a distribuição do tempo entre inglês e português nas escolas que ensinam duas línguas, embora todas elas apliquem, em paralelo as disciplinas previstas na Base Nacional Comum Curricular. A Eleva, no Rio de Janeiro apresenta metade do conteúdo em inglês em todas as séries, ao passo que na Concept, de São Paulo, os pequeninos recebem 90% do que lhes é ensinado em inglês e os mais velhos, 60%. A proporção muda nas escolas internacionais, aquelas que têm sua matriz no exterior e priorizam os currículos de seu país de origem – na Escola Americana do Rio, quase todo o conteúdo é em inglês e a carga de português é maior para os alunos daqui do que para os estrangeiros.

Em vista dessas variações, o bom senso recomenda um equilíbrio entre os dois idiomas para quem vai seguir os estudos no Brasil e maior proporção da segunda língua para os que planejam continuar sua educação fora – e uma seleção criteriosa por parte dos pais (veja o quadro abaixo), já que bilíngue não é sinônimo automático de qualidade. “O segundo idioma tem de fazer parte do dia a dia da escola, e não só de uma disciplina”, alerta o coordenador pedagógico da Eleva, Márcio Cohen. Seja qual for a quantidade de línguas oferecida, a ciência mostra que apresentar a criança a dois idiomas só faz bem ao seu desenvolvimento – e, quanto mais cedo, melhor. Como o aprendizado da segunda língua envolve áreas do cérebro distintas da usada para aprender a língua-mãe, ele incentiva a formação de novas sinapses. “Esse estímulo melhora, inclusive, o desempenho em outras tarefas cognitivas, como memória, raciocínio e criatividade”, diz Ariovaldo Silva, neurocientista da Universidade Federal de Minas Gerais.

O sonho de consumo dessa nova leva de escolas é a Avenues, nascida em Nova York (conhecida, entre outros famosos, por ser a alma mater de Suri, a filha de Tom Cruise) e instalada em São Paulo desde 2018. Ela aplica um currículo personalizado e, na unidade paulista, apenas os chamados world courses (história, geografia e ciências sociais) são dados em português – além das aulas do próprio idioma. Não se fala mais em bilinguismo sem considerar o multiculturalismo, explica Cristine Conforti, a diretora pedagógica da instituição. Uma característica comum a todas as boas escolas que ensinam em duas línguas é a utilização do Project Based Learning, metodologia na qual as disciplinas interagem por meio da elaboração de projetos. No Mastery, atividade eletiva da Avenues para as três últimas semanas do ano, os alunos desenvolvem projetos pessoais em qualquer área, desde que conciliem princípios de português, matemática e inglês.

No âmbito das onipresentes competências socioemocionais, a Eleva carioca oferece uma “aula de vida”, na qual os alunos são ensinados a lidar com as emoções. A escola conta também com um maker space, espaço onde se aprende (em inglês) questões práticas do dia a dia, como mexer com eletricidade. “Minha filha está tendo uma ótima preparação para a vida adulta”, diz a gerente de produtos Bruna Accioly, 41 anos, mãe de Rafaela, 11 anos, e de Felipe, 8, que também estuda lá. A Gurilândia, de Salvador, explorou no primeiro trimestre o tema “Onde estamos”. “Todas as turmas estudaram imigração. Falamos sobre xenofobia, preconceito, e junto trabalhamos geografia, história e gramática”, diz a diretora pedagógica Denise Rocha. Escolas tradicionais também estão se convertendo ao bilinguismo. A Pueri Domus, de São Paulo, promoveu uma reviravolta em 2016. O novo currículo, quase todo em inglês e em período integral, abraçou os projetos interdisciplinares e o desenvolvimento de habilidades como liderança e resiliência. “Do total, 90% permaneceram na escola, apesar do aumento da mensalidade”, afirma a diretora Christina Sabadell.

Desde a chegada de dom João VI e sua corte ao Brasil que idiomas estrangeiros são disciplinas obrigatórias nas escolas. Naqueles tempos em que a elite era fluente em francês, um decreto real institucionalizou o ensino público dessa língua e também do inglês. Como aqui tudo cresce e floresce, só que bem devagar, a teoria viraria prática 29 anos depois, na inauguração do Imperial Colégio de Pedro II (no Rio até hoje). Mas em geral o inglês nas escolas é fraco e nos cursos particulares, até por falta de tempo, também deixa a desejar. É nessa lacuna que as bilíngues crescem.

No mundo ideal, todas as salas de aula brasileiras seriam bilíngues. No entanto, a Abebi calcula que no máximo 3% das 40 000 escolas privadas do Brasil ensinem um segundo idioma para valer (na Argentina e no Chile o porcentual chega a 10%). A disseminação do aprendizado em duas línguas empaca na barreira do preço. Nas escolas bilíngues, a mensalidade vai de 3 000 a 5 000 reais. Nas internacionais, o preço é ainda mais salgado, beirando os 10 000 reais na Avenues. “Vivemos em um mundo conectado, e falar só português, de fato, limita os relacionamentos”, diz Claudia Costin, do Centro de Excelência em Políticas Educacionais da FGV. “Mas não se pode dizer que a escola tradicional esteja ultrapassada, desde que ela cumpra seu papel mais importante, que é ensinar a pensar.” “A educação do futuro é aquela que prepara os jovens para alcançar objetivos, fazer grandes coisas”, concorda o especialista americano Marc Prensky, da Universidade Harvard. Ele vai mais longe e considera a urgência atual de aprender inglês um fenômeno transitório: em poucos anos, a função de entender um idioma estrangeiro caberá aos tradutores digitais, como o do Google.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 19 – A ESPOSA: APOIE SEU MARIDO

Esposa, entenda e dê apoio ao seu marido, pois assim demonstrará seu apoio a Cristo. O marido exerce liderança em relação à esposa, mas da mesma forma com a qual Cristo faz à Igreja: com carinho, não por dominação. Assim como a Igreja se submete à liderança de Cristo, a esposa deve submeter-se ao marido. Efésios 5:22-24, A Mensagem

Você deve se lembrar de que Paulo introduziu suas instruções aos maridos e às esposas dizendo a eles “sujeitam-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Efésios 5:21). No versículo seguinte, ele explica melhor: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor” (v. 22). Muitos veem essa ordem como algo que não beneficia as mulheres, mas não é o caso.

Pelo fato de que o casamento não tem a ver com dominação, a esposa divide o exercício do domínio com seu parceiro de maneira igualitária. Isso não entra em conflito com a liderança do marido, pois tanto o marido quanto a esposa possuem áreas exclusivas de autoridade e influência dentro do casamento e no mundo que os cerca. O domínio diz: “Exercerei minha autoridade e influência em seu benefício, e você exercerá sua autoridade e influência em meu benefício”.

O apoio da esposa a seu marido é um ato de serviço. Esposa, a você foi confiado o coração do seu marido. Proteger o coração dele dizendo a verdade em amor e respeito pode ser um dos seus maiores atos de serviço. Aprenda a servir a seu marido ajudando-o a expressar o que há no coração dele. Em vez de tirar conclusões precipitadas, ajude-o a crescer em visão e propósito aperfeiçoando a vida dele por meio da comunicação.

As mulheres são vulneráveis na área da força física, enquanto os homens geralmente descobrem que seus corações correm perigo. As mulheres são tão responsáveis por cuidar do coração dos homens, quanto os homens o são por proteger e prover para suas esposas em relação a qualquer fraqueza física que elas possam ter. Existe alguma missão mais nobre do que ser a guardiã de um coração?

Quando o marido começa a servir e entrega sua vida por sua esposa, ela responde honrando-o como o cabeça da união. Essa é a parte que cabe a ela em revelar o amor de Cristo ao mundo. A honra, o amor e o respeito da esposa por seu marido mostram como é ser liderado por Jesus. Deus não pediu às mulheres para se submeterem porque elas são secundárias. Ele as está convidando a demonstrar como deveria ser a Igreja. No casamento, temos a chance de mostrar como pode ser a vida quando somos guiados por um Senhor e Salvador bom, fiel, amoroso e generoso. Por isso é trágico quando permitimos que o inimigo perverta esse papel transformando-o em algo que desprezamos ou lamentamos. Ao dar esse papel às mulheres, Deus pediu que Suas filhas demonstrassem que Ele é confiável.

Deus sabe que Ele fez as mulheres fortes e capazes. Ao longo da História, Ele escolheu mulheres para liderar, julgar, profetizar, interceder e até mesmo para gerar e cuidar do Seu Filho unigênito. Ao chamar as mulheres para respeitar a liderança de seus maridos, Ele não está querendo dizer que elas são fracas ou indignas. Ao contrário, Ele está dizendo: “Sei que você é capaz e forte porque você é Minha filha. Mas no simbolismo eterno do casamento, preciso que alguém demonstre a bondade encontrada na submissão a Mim. Você está disposta a assumir esse papel de apoio e submissão para mostrar às outras pessoas que Eu mereço a devoção delas?”

O FARDO DA LIDERANÇA

Diferentemente de Deus, os maridos não são perfeitos. Eles nem sempre tomam as decisões corretas e nem sempre servem às suas esposas como deveriam. Isso pode ser uma grande fonte de frustração até mesmo para as mulheres que desejam honrar e apoiar seus maridos. Com o tempo, elas podem se sentir tentadas a resolver as coisas por conta própria. No entanto, a resistência à posição de liderança do marido, que pode parecer ser algo libertador, pode na verdade causar às mulheres muita dor e sofrimento.

Quando nosso primeiro filho ainda era um bebê, eu (Lisa) estava trabalhando longas horas com uma agenda apertada que incluía finais de semana. Eu enfrentava desafios pessoais e profissionais no trabalho, e ao mesmo tempo estava esforçando-me para ser a mãe e esposa perfeita. Enquanto isso, John estava atravessando um período de transição. Enquanto eu vivia estressada por causa do trabalho e com saudades do meu filho, John trabalhava em meio expediente, orava, jejuava, conversava com seus amigos e jogava golfe. Eu sentia uma pressão enorme e colocava a culpa de tudo isso nele. Sentia que era eu que segurava sozinha todo o peso, e que não aguentaria mais por muito tempo.

Eu queria que John também se preocupasse, mas ele se recusava a fazer isso. Quando contei a meu marido sobre meu temor e minha preocupação, ele me disse: “Lisa, pare de se preocupar e entregue isso nas mãos de Deus”.

Eu pensei: Nunca! Se eu não cuidar de tudo isso, ninguém mais o fará. A tensão me aprisionava como um carrasco enquanto eu me sentia incapaz de escapar da pressão que havia sobre mim.

Uma noite, enquanto estava no chuveiro, reclamei com Deus do meu fardo pesado. Não posso entregar nenhum desses fardos a John, argumentei. Eu tenho de lembrá-lo até mesmo de colocar o lixo para fora. Como poderia confiar a ele qualquer coisa mais importante? Eu lutava comigo mesma, justificando porque eu não podia abrir mão do controle.

— Lisa, você acha que John é um bom líder? — O Senhor me perguntou gentilmente.

— Não, não acho! — disse decididamente. — Não confio nele!

— Lisa, você não precisa confiar no John — Ele respondeu. — Você só precisa confiar em Mim. 

Você não acha que John está fazendo um bom trabalho como o cabeça desta casa. Você acha que pode fazer melhor. A tensão e a inquietação que você está sentindo são o peso e a pressão de ser o cabeça de uma família. Isso é um jugo para você, mas é um manto para John.

Entregue-o, Lisa.

Imediatamente entendi a fonte do meu fardo. A liderança do nosso lar, que eu estava tentando assumir, era opressiva para mim porque aquela posição não cabia a mim. Ela não seria opressiva para meu marido, porque Deus o havia ungido como o cabeça do lar.

Reconheci o quanto eu havia manipulado e lutado pela posição de liderança em nosso lar.  Eu destruíra meu marido em vez de edificá-lo e de acreditar nele. Ele, por sua vez, abrira mão da sua posição de autoridade entregando-a a mim, e eu criei uma grande confusão.

Quebrantada, desliguei o chuveiro e peguei uma toalha. Imediatamente encontrei John em nosso quarto. Chorei e me desculpei.

— Sinto muito. Passo o tempo todo brigando e discordando de você — eu disse.  —  Estava com medo de confiar em você. Vou deixar meu emprego amanhã se você quiser. Quero somente que voltemos a ser um.

— Não quero que deixe seu emprego — John respondeu. — Não creio que seja esse o problema. Mas acho que você precisa parar de pensar que você é a fonte.

Ele estava certo, eu não era a nossa fonte; Deus era. Perder de vista essa verdade fez de   mim uma pessoa estressada e incapaz de apoiá-lo. Conversamos bastante, e prometi a John:

— Vou apoiá-lo. Acredito em você.

Naquele momento eu não sabia exatamente o que eu estava apoiando ou no que estava acreditando. Só sabia que John precisava desse apoio mais do que eu precisava saber de todos os detalhes e porquês. Reconheci que tudo estava terrivelmente fora do lugar em nossa casa. Eu queria que Deus trouxesse ordem ao caos que eu havia criado. John, por sua vez, pediu desculpas por não atuar como líder e por se afastar de mim. Firmamos uma aliança prometendo amar, apoiar e contar um com o outro.

Aquela noite foi a primeira vez em anos que dormi e consegui realmente descansar. O meu jugo de escravidão havia sido removido.

Sempre que carregamos um fardo que Deus nunca teve a intenção de colocar sobre nós, assumimos um pesado jugo de escravidão. Por outro lado, qualquer coisa que Deus nos ungiu para fazer repousa sobre nós como um manto, um sinal de posição e poder que traz em si proteção e provisão.

Ao assumir a liderança do nosso lar, fiquei debaixo de um jugo, e John ficou descoberto. Era uma bagunça! Quando me submeti à ordem estabelecida por Deus para a família, meu jugo foi quebrado e John foi revestido do manto de liderança que lhe foi dado pelo Senhor. Eu também fui coberta, pois o manto se estendia para me cobrir e proteger, assim como a todas as pessoas que estavam sob os cuidados de John.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ASSASSINO INTERIOR

O funcionamento da consciência nos leva a dizer: Eu tenho um corpo. Esse “eu” é uma dimensão psíquica que rege as experiências conscientes e se relaciona com a alma

Quem somos nós? Somos um corpo ou temos um corpo? Se temos, quem em nós é o “assassino interior” que quer destruí-lo quando a insuportabilidade do existir é o estilo dominante da consciência? Talvez nunca possamos saber essas respostas enquanto não soubermos olhar para o sentido da vida e para a ideologia da morte como duas linhas paralelas que se encontram no infinito.

No romance de Diana Chamberlain, Segredos e Mentiras, Noelle é uma parteira que morreu sem conseguir terminar a carta suicida que revelaria a uma mãe o crime que cometera 16 anos antes. Ela roubara um bebê cuja mãe estava em coma. Esse roubo tinha como razão repor a uma outra mãe o recém-nascido que ela havia matado em estado de total inconsciência. O bebê morto foi enterrado como uma semente e sobre ele foi feito um jardim especial. Noelle cuidou desse jardim, no fundo de sua casa, como quem cuida de uma criança com vida.

Tara e Emy eram suas amigas-irmãs, que foram surpreendidas pelo suicídio de Noelle, pois ela nunca apresentou sinais de depressão, ansiedade, vazio existencial ou qualquer outro sintoma que poderia não tornar aquele ato tão surpreendente. Os mesmos remédios que lhe aliviavam as dores físicas foram transformados em veneno pelo “assassino interior”, que a fez ingerir sua dose letal.

Podemos pensar em qual teria sido o sofrimento da alma de Noelle que fez esse Eu ceder lugar ao “assassino interior” que destruiu o corpo que habitava. O Eu é um complexo sujeito da consciência, mas não de toda a comunidade psíquica. Construímos, ao longo da vida, outros complexos que são capazes de atuar quando os afetos, que dialogam na psique, tornam-nos vencedores do Eu regente da consciência.

Noelle foi um bebê rejeitado. Amada pela mulher que a adotou, cresceu assistindo a luta dessa mãe como parteira leiga, mas que às escondidas resolvia a situação aflitiva de muitas famílias que a procuravam.

Poderíamos nos perguntar como essa outra mãe que a rejeitou atuava em Noelle como um complexo, que poderia ser, para ela, ainda que de forma inconsciente, a razão de matar o bebê de uma mãe e substituí-lo pelo bebê sequestrado de uma outra mãe. Dessa forma ela conseguiu que uma criança fosse criada por uma mãe adotiva sem que nenhuma das duas soubesse, e deixou uma mãe biológica sofrendo por ter perdido sua filha.

No modelo junguiano, podemos pensar que, antes de surgir um Eu, havia um todo inconsciente que chamamos de Self, o arquétipo do destino, que precisa de um Eu para se realizar em consciência.

A relação entre o Eu e o Self acontece por meio do que chamamos de símbolos, que nada mais são do que a forma do oculto se revelar. Assim, o jardim que Noelle cuidava com todo carinho compensava, na sua psique, o incômodo dos seus atos inconscientes.

A linguagem da consciência é literal, mas a da alma é simbólica. A compensação é uma autorregulação do sistema psíquico, mas, em casos de uma psicose latente, o Eu frágil facilmente é dominado pelo “assassino interior”.

Temos dois centros de decisões: o Eu e o Self. Enquanto o Self quer uma transformação e fala ao Eu por metáfora, o Eu é literal e abre caminhos a essa transformação da ideia da morte concreta. Quando nos relacionamos com o Self, a expressão é simbólica, mas, sem essa relação, ela é literal.

O impulso para uma vida mais plena e o impulso para a morte se confundem na busca da transformação. Se tivéssemos acesso a Noelle como paciente, em lugar de tentar reverter heroicamente a determinação da voz que diz “eu quero morrer”, o mais correto seria deslocar a questão para uma perspectiva simbólica: “o que precisa morrer em você?” ou “quem deseja morrer em você?”. Procuraríamos dessa forma as pistas sobre o “assassino interior” que habita a psique. Precisamos dar a ela uma oportunidade de elaborar os lutos que estão em jogo.

A psicologia analítica é uma ciência dos processos inconscientes. Ficamos atentos à maneira em que o oculto se revela. Noelle teve, como a mãe que a adotou, uma parteira não autorizada e que constantemente transgredia para trazer novas vidas ao mundo. Noelle então compensa tornando-se uma enfermeira-parteira autorizada, mas passa sua vida também como uma transgressora, transformando o seu crime em um jardim, símbolo de um espaço sagrado, que guarda um segredo protegido por uma mentira.

Nascimento e morte são opostos e, ao mesmo tempo, uma unidade. Uma coisa não existe sem a outra. Noelle pode ter desistido de viver por um segredo jamais revelado nem a ela mesma. No entanto, as amigas precisavam encontrar razões e, nesses casos, sempre as encontram e creem nelas.

Quando alguém conta ao analista o seu sofrimento, ele apenas escuta e procura encontrar um significado de como foram construídas aquelas ideias por trás desse significado. É como a vida de uma semente: expressa-se em vegetação depois que a enterramos. É assim que o oculto se revela, plantado, cuidado e fertilizado. O oculto é a necessidade da alma para se revelar em momentos especiais e de grande significado. Os problemas podem ser solucionados; os mistérios, apenas vividos. O complexo materno poderia ter sido o “assassino interior” que fez Noelle se libertar de todos os segredos e mentiras.

OUTROS OLHARES

AMORES TÓXICOS

Em movimento nas redes sociais, mais de 45.000 brasileiras postam depoimentos de abusos sofridos em relações, incluindo xingamentos, chantagens e humilhações

Elas ficaram em silêncio durante muito tempo, sofrendo caladas. De uns anos para cá, no entanto, resolveram botar a boca no trombone nas redes sociais para denunciar as barbaridades de um mundo ainda extremamente machista. Em 2017, mais de 1 milhão de internautas de todo o planeta publicaram relatos de assédio sexual seguidos pela hashtag #MeToo (ou #EuTambém). O movimento tomou corpo na esteira do escândalo protagonizado pelo produtor cinematográfico Harvey Weinstein, acusado de atacar mais de setenta mulheres. Agora, um novo movimento surgido nas redes se propõe a tornar pública outra forma de violência, mais subjetiva e, na maior parte das vezes, sutil, embora com potencial traumático quase igual: os abusos psicológicos típicos de relacionamentos tóxicos, incluindo xingamentos, manipulações, chantagens e humilhações.

Batizada com a hashtag #MeuExAbusivo, a campanha nasceu no Brasil no mês passado e já acumula mais de 45.000 relatos, quase todos de mulheres. “Eu nunca me senti tão culpada por ser eu mesma.” Foi assim que a youtuber Dora Figueiredo definiu, em um vídeo de quase vinte minutos publicado no dia 17 de julho, as diversas situações agressivas e humilhantes às quais relata ter sido submetida por seu ex-namorado (a peça já tem mais de 2 milhões de visualizações). No dia 29 do mesmo mês, ela lançou a hashtag #MeuExAbusivo na sua conta de Twitter, dando mais detalhes das ofensas e propondo uma discussão sobre o tema. Antes da ação, alguns estudos já haviam abordado o assunto. Em 2016, por exemplo, quase 30% das 10.000 mulheres entrevistadas em uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará contaram ter sido vítimas desse tipo de tortura psicológica.

Relacionamentos abusivos costumam apresentar algumas características em comum: monitoramento da(o) parceira(o) – seja por redes sociais, seja pessoalmente – , intimidações, ameaças, tentativas de diminuir a(o) outra(o) com xingamentos ou palavras duras, dificuldade em assumir os próprios erros e egocentrismo são apenas algumas delas. Também é comum que o abusador tente isolar a outra pessoa de seus amigos ou da família. Assim, a vítima não tem a quem recorrer e fica ainda mais à mercê do abusador. Dora Figueiredo, por exemplo, conta no vídeo que seu ex-namorado a rotulava de gorda e fraca (ela sofria de depressão), chegando a afirmar que a odiava. “Aguentei por quase um ano, até que consegui forças para me libertar”, relata. Parte da inexplicável resiliência diante de tantas humilhações está relacionada à destruição da autoestima da vítima. Cria-se, assim, uma dependência emocional e um temor que a impedem de pôr fim ao relacionamento. “Meu ex dizia que, se terminássemos, eu nunca encontraria outro homem”, conta a designer Gisleide de Sousa, de 30 anos. Mas esse não é o único elo que prende a vítima. De acordo com um estudo do ano passado realizado pelo psicólogo americano Daniel Saunders, da Universidade de Michigan, dependência financeira, medo de retaliação em caso de rompimento e falta de apoio por parte de amigos e familiares engrossam alista de motivos que levam a situação a se arrastar por muito tempo.

Pode ser difícil identificar uma relação abusiva, sobretudo quando não há violência física. Nesses casos, a opressão se dá de modo sutil e silencioso, com ações que gradualmente se tornam mais e mais problemáticas e controladoras. Em muitos casos, o próprio abusador não faz ideia do estrago que está provocando. “Vivemos ainda em uma cultura na qual controle, posse, manipulação e ciúme podem ser sinônimos de afetividade”, diz Pollyanna Abreu, psicóloga fundadora do Não Era Amor, projeto que informa e atende on­line mulheres que estão em um relacionamento abusivo ou que saíram dele. “Não raro, a pessoa acredita que aquilo pelo que está passando seja normal” A dificuldade em enxergar os limites pode ter um preço alto, na forma de traumas carregados pelo resto da vida.

CIÚME EXAGERADO E OFENSAS PESADAS

” Meu ex era extremamente ciumento. Ficamos juntos por onze meses. Ele me afastou das minhas amizades e reclamava sempre que eu demorava mais de meia hora para responder a uma mensagem. Para me rebaixar, dizia que as outras namoradas eram melhores na cama do que eu. Quando terminamos, ele me chamou de prostituta no Facebook.”

MARÍLIA CÂNDIDO, 24 anos, especialista em redes sociais

A TRAIÇÃO DELE ERA CULPA DELA

“Quando descobri que estava sendo traída, meu ex fez de tudo para me convencer de que eu estava ficando louca. Cheguei a conversar com a amante. Mesmo assim, ele continuava negando. Nessas horas, chorava ou me agredia, segurando meu pescoço ou me sufocando com o travesseiro. Até que começou a dizer que a culpa da traição era minha, por causa da minha personalidade.”

CARLA VIEIRA, 32, bióloga

PUXÕES DE CABELO E INSULTOS

“Namorei um homem dezesseis anos mais velho. Ele não me deixava sair de casa sem maquiagem, reclamava de quanto eu comia, insultava meu corpo. Nas brigas, chegava a puxar meu cabelo e dizia que, se terminássemos, eu nunca encontraria outro homem que me quisesse. Ele me mandou embora de casa mais de uma vez, mas depois se dizia arrependido. Aguentei isso por dois anos.

GISLEIDE SOUSA, 30 anos, designer

GESTÃO E CARREIRA

ADORAMOS REUNIÕES

É quase consenso. Todo mundo costuma dizer que odeia reuniões de trabalho. “A afirmação entrou de tal forma para o anedotário empresarial que ficou difícil questiona­ la”, diz o psicólogo organizacional Steven G. Rogelberg, da Universidade da Carolina do Norte de Charlotte. Mas, quando ele e seus colegas deram a 980 funcionários um de dois questionários sobre o tempo que passavam em reuniões programadas e sobre o grau de satisfação geral com o emprego, por unanimidade as reuniões não foram vistas como algo ativo.

Funcionários que têm metas definidas e cujo trabalho não exige muita contribuição vinda de fora da empresa tendem mesmo a mostrar insatisfação com reuniões. Mas indivíduos cujo desempenho profissional depende da interação com outros e têm funções de certa forma flexíveis e menos estruturadas mostram-se mais satisfeitos quanto mais são convidados a participar delas. Que tal convocar uma reunião para debater o problema?

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PRESO NUMA VIDA PRETÉRITA

 A dor pela ruptura de uma relação gera dificuldade em superar os obstáculos e seguir em frente, fazendo com que a pessoa se torne refém de si própria

Nota-se que muitas pessoas quando se separam têm grande dificuldade em superar os obstáculos e seguir em frente com suas vidas. Ficam amarguradas e em busca de algo que justifique a dissolução da união, tornando-se reféns de si próprias e/ou importunando a vida do(a) outro(a), principalmente através dos filhos. Presos numa vida pretérita, com dificuldades no presente e sem expectativa de esperança no futuro. É natural que no início se tenha muita dor pela ruptura, até mesmo quando a separação já era apontada como a melhor alternativa para o casal. Separar, de fato, não é simples.

Nesse sentido, digo da dor e da necessidade de elaboração, o divórcio pode ser considerado uma grande crise da vida adulta porque desorganiza tudo, deixando a pessoa com velhos e novos problemas, o que requer um imenso trabalho interno. Esse trabalho pode começar pela quebra da idealização da família perfeita, já que família perfeita está longe de existir. Além disso, vem a angústia por se sentir fracassado na construção de uma casa representada por esse ideal de relação e de família.

Tudo isso não será resolvido com uma sentença judicial, apenas uma parte disso. É bem verdade que em não havendo melhor alternativa, recorre-se ao Judiciário. Todavia, no tribunal serão avaliadas as situações objetivas. O que quer dizer que, apesar da necessidade do processo judicial, o tribunal não será o melhor local para cuidar dos conflitos emocionais.

O processo judicial é muitas vezes utilizado inconscientemente com esse fim, e, nesse sentido, se observa que há brigas infinitas em que se espera uma restituição de todo investimento emocional depositado naquela relação; uma solução para a qual ninguém, tampouco o Judiciário, tem competência. Nesse caso, trata-se de atravessar o luto (a dor) e de ressignificar a própria história, e isso poderá ser feito pela própria pessoa com acompanhamento psicológico. Falar sobre as dores em local apropriado pode ajudar a desbloquear a vida emocional e fazer nascer a esperança de uma realidade diferente.

Algumas pessoas saem tão machucadas da relação que acreditam que não irão mais se relacionar amorosamente e se fecham na crença de que toda sua disposição emocional deverá ser depositada na criação dos filhos. Entretanto, não percebem, ou não acreditam, que os filhos também necessitam, para o seu desenvolvimento e amadurecimento emocional, que seus pais, adultos, sigam em frente com sua vida pessoal equilibrada, além dos cuidados com a prole. Muitas vezes, na impossibilidade de lidar com o vazio interno, por exemplo, permitem que o filho(a) concretamente ocupe o espaço livre em sua própria cama, muitas vezes justificando a dor emocional do filho, mas não observando a própria. Desse modo, oferecem à criança um lugar que não pertence a ela, criando, assim, um novo problema.

Faz bem para os filhos terem o próprio espaço em sua casa, e saberem que cada um tem o seu lugar; além disso, ébastante positivo que observem que seus pais não estão paralisados apenas nos cuidados com eles, que, sim, cuidam deles e os preservam, mas que também têm outras necessidades, como: o trabalho, os amigos e um novo relacionamento. Tudo isso em equilíbrio significa que a vida está seguindo e isso é muito positivo.

Quando os pais sofrem demasiado com sentimentos de dor, culpa ou traição, torna-se quase impossível acreditar que possa existir alguma via de esperança em um novo cenário. Aí está o engano, passada a maior turbulência, se está diante de uma redefinição da vida familiar que sugere aprender a conhecer e delimitar seu próprio território, estabelecer seus padrões, buscar acordos, tentar cultivar a comunicação a respeito dos filhos e evitar importunarem-se mu­ tua1nente sem necessidade. Aos poucos, começarão a adquirir capacidades que lhes per1nitirão dizer um adeus lento, mas definitivo à sua antiga relação conjugal, e desse modo deixar livre o espaço para estabelecer outra.

Com muita frequência, se nota, em perícia psicológica, que as dificuldades mais comuns estão relacionadas à falta de compreensão e elaboração da própria dor; e à falta de percepção de que é preciso modificar a forma como se lida e/ou fala com aquela pessoa que um dia fez parte de sua intimidade, isso serve tanto para as brigas quanto para a forma amorosa que pode ter existido. As duas formas são nocivas: buscar brigar todo o tempo, insultar, humilhar ou agredir verbalmente pode significar ressentimento, entre outras coisas. A forma amorosa com intimidade confunde e aprisiona emocionalmente o(a) ex-cônjuge. Ambas demonstram que ainda não se está confortável ou não entendeu que houve ruptura da relação, isto é, ainda não se separou emocionalmente. É preciso respeito pela história pretérita para se criar um novo modo de se relacionar.

Quando bem elaborada a separação, seu reflexo será visto externamente em sua própria vida, em suas relações, na forma como lida com os filhos e com o(a) ex-cônjuge.

RENATA BENTO – é psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e família. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais. Filiada à IPA – lnternational Psychoanalytical Association, à Fepal – Federación Psicoanalítica de América Latina e à Febrapsi – Federação Brasileira de Psicanálise.  renatabentopsi@gmail.com

OUTROS OLHARES

O CORPO PÓS-MODERNO

Se cérebro e corpo são a mesma coisa, a mente de um doador de órgãos seria incorporada ao transplantado?

O que é o corpo? Essa é uma pergunta que muitas vezes passa despercebida para os filósofos da mente quando eles se referem ao “problema mente-corpo”.

Nas últimas décadas, os progressos da neurociência levaram a reformular esse problema, que passou a ser o “problema mente­ cérebro”. Mas nem todos os neurocientistas pensam assim. António Damásio, por exemplo, afirma no seu livro E o cérebro criou o homem (2011) que “exagera-se a separação entre corpo e cérebro, pois os neurônios que compõem o cérebro são células corporais, e esse fato é de grande importância para o problema mente-corpo”.

Muitos filósofos da mente do século passado aderiram à ideia de tratar o problema mente­ corpo como o “problema mente- cérebro”. Outros, os fisicalistas, consideram o problema mente-corpo como uma variação de um problema mais amplo, o problema mente-matéria. Penso que essa é uma formulação muito vaga e que deveríamos atentar para o que há de específico quando se fala em relações entre mente e corpo. A matéria é composta por moléculas. Nosso corpo também é um conjunto de moléculas. Mas, como tudo é constituído por moléculas, essa explicação não ajuda muito.     

No Tratado do homem (1662), Descartes concebia o corpo como um grande dispositivo hidráulico no qual todas as partes estavam ligadas por meio de nervos que funcionavamcomo cordas para movê-los. O corpo era percorrido por tubos (artérias e veias) que ligavam seus membros ao cérebro. Quando ele recebia um estímulo, os espíri­os animais, uma forma sutilíssima de matéria, eram transmitidos por meio desses tubos (veias e artérias) até chegarem ao cérebro, que os redistribuía e, com isso, acionava de volta outras cordas para fazer os membros se moverem. Nesse modelo mecânico, a distinção entre o movimento dos objetos físicos e o movimento muscular era a presença de um cérebro.

No caso dos seres humanos, os espíritos animais, além de chegarem ao cérebro, eram retransmitidos para a mente por meio da glândula pineal, um órgão abrigado sob as duas metades do cérebro. Descartes acreditava que a glândula pineal tinha propriedades especiais que a tornava m uma interface entre a mente e o corpo, duas entidades radicalmente distintas. Ele acreditava que os animais não possuíam mentes (ou almas) e, por isso, não tinham, tampouco, uma glândula pineal.

No entanto, a dissecação de animais revelou que as hipóteses de Descartes eram incorretas, pois alguns animais possuíam uma glândula pineal. Além disso, pesquisas realizadas na época mostraram que havia animais que não precisavam do cérebro para se mover. Um contraexemplo era a tartaruga que, mesmo tendo o cérebro amputado, ainda era capaz de se mover por três dias. O mesmo ocorria com cobras quando eram decapitadas.

Em um livro recentemente publicado, Novos horizontes no estudo da linguagem e da mente, Noam Chomsky observa que, apesar de as hipóteses fisiológicas de Descartes terem sido abandonadas, sua descrição do corpo por meio de uma metáfora mecânica não foi descartada pelos filósofos e cientistas que o sucederam. Até hoje a medicina concebe o corpo como uma máquina extraordinariamente complexa comandada por uma consciência. O problema é que nada foi proposto para substituir as ideias de Descartes.

Nas últimas décadas, a ideia de corpo foi se tornando cada vez mais complicada e elusiva. Sabemos, hoje em dia, que ao longo da evolução muitas espécies de bactérias foram incorporadas em células do corpo humano. Muitas bactérias vivem no nosso corpo em uma simbiose harmoniosa e há mais células bacterianas no interior de cada organismo do que células humanas. Só nos intestinos há cerca de 100 bilhões de bactérias, e no resto do corpo mais 1O bilhões. Se mente e corpo são o mesmo, como sustentam alguns filósofos, nossas mentes são compostas, primordialmente, por bactérias. E se dermos um passo a mais e reduzirmos as bactérias a seus elementos constituintes, encontraremos 70% de moléculas de água.

O problema mente-corpo pode se tornar ainda mais bizarro quando consideramos a tecnologia dos transplantes. Essa tecnologia reforça ainda mais a ideia de que o corpo é uma máquina, pois suas peças são substituíveis como em qualquer tipo de mecanismo.

Muitas pessoas, no desespero da pobreza, vendem um rim, uma parte do fígado, um pulmão ou um testículo. A Organização Mundial da Saúde estima que ocorram, todos os anos, 10 mil cirurgias no mercado negro envolvendo transplantes de órgãos.

Imagine um milionário cristão praticante que tenha recebido rins de um muçulmano jihadista. Ou um supremacista branco que respire com o auxílio de pulmões de negros e enxergue o mundo através dos olhos de algum moleque de rua africano. Ou, quem sabe, um cardeal com o fígado de uma prostituta de uma comunidade carioca? Já não temos mais apenas um corpo, mas uma justaposição de peças de uma máquina, cuja origem contradiz nossa intuição costumeira de unidade. Supondo que a tese da identidade mente ­ corpo ou mente-cérebro seja correta, como defendem muitos filósofos, será que a mente do transplantado incorporará parte da mente dos doadores?

Temos corpos pós-modernos. Uma colcha de retalhos indefinível, na qual há organismos vivendo em outros organismos, máquinas dentro de máquinas. Reduzir a mente ao corpo ou à matéria, como querem os fisicalistas, parece tornar o problema mente-corpo, mente-cérebro ou mente-matéria mais obscuro. E querer explicar o obscuro pelo obscuro.

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA – é paulistano, formado em filosofia na USP. Viveu e estudou na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre filosofia da mente e tecnologia. Lecionou na UNESP, na UFSCAR e na PUC- SP.

GESTÃO E CARREIRA

QUANTO VALE UMA EMPRESA?

Dados como crescimento e fluxo de caixa já não bastam para calcular o valor de mercado de companhias novatas nem das bem estabelecidas. É bom se acostumar: os mercados estão numa daquelas fases ”irracionais”

“Não há nada mais perigoso do que procurar uma política racional de investimentos em um mundo irracional”, disse o famoso economista inglês John Maynard Keynes, durante uma reunião com investidores em 1931. Naquele momento, as economias ainda viviam sob os escombros da quebra da bolsa de valores americana em 1929, e não se tinha uma visão clara de como poderiam se recuperar. Passados 90 anos desde a crise mais grave do século 20 e 11 anos desde a maior turbulência financeira deste século, o que se vê é um cenário de crescente irracionalidade, com empresas pouco ou nada lucrativas valendo bilhões de dólares graças ao avanço de novas tecnologias e às mudanças radicais nas relações sociais. Da mesma forma, gigantes do capitalismo vão à lona na mesma velocidade. Nesse contexto, um tema recorrente nas mesas de operação, nas redes sociais e nas rodinhas de investidores é como calcular, afinal, o valor de uma empresa.

Um exemplo dos novos tempos é o banco Inter, criado pela família Menin, dona da construtora MRV, de Belo Horizonte. O banco passou de um valor de mercado de 1,9 bilhão para 15 bilhões de reais em apenas um ano e três meses. O primeiro valor foi atribuído à instituição mineira em sua oferta inicial de ações, realizada em maio de 2018, quando captou 722 milhões de reais na bolsa brasileira. Naquele momento, havia certa desconfiança do mercado sobre o primeiro banco digital a se listar na B3. De acordo com um relatório da casa de análise Eleven, o Inter precisava fazer de TUDO (com letras maiúsculas mesmo) para conquistar os investidores. Por TUDO entenda-se entregar resultados, mas sobretudo vender futuros. O Inter encerrou 2018 com 1 milhão de clientes e projeta alcançar 3,5 milhões de correntistas neste ano – atualmente, são 2,5 milhões. O lucro ainda é modesto para os padrões bancários brasileiros: 33 milhões de reais no segundo trimestre. Ainda assim, no fim de julho, o Inter captou 1,3 bilhão de reais em uma oferta subsequente de ações, dos quais 760 milhões vieram do fundo de investimento japonês Soft Bank, que ficou com 8% do banco. “Se não há valor para os clientes, em algum momento, não haverá para os acionistas”, diz João Vítor Menin, presidente do Inter. Antes do Inter, a gestora japonesa chegou a se interessar pelo concorrente Nubank, mas a operação não foi adiante. No fim, o Nubank recebeu um aporte do fundo de investimento americano TCV, e isso elevou seu valor de mercado para 10 bilhões de dólares – mesmo com um prejuízo de 49 milhões de reais reportado no último semestre de 2018. O valor de mercado do BTG Pactual, que teve lucro de 972 milhões de reais no segundo trimestre, é de 12 bilhões de dólares. Descasamentos entre resultado e valor de mercado são ainda mais comuns nos Estados Unidos, onde o aplicativo de transportes Uber vale 62 bilhões de dólares apesar de ter mostrado prejuízo de 5,2 bilhões no segundo trimestre. A Uber também tem o Soft Bank como sócio. “Muitas pessoas perguntam se não pagamos caro demais por nossos investimentos, e a resposta é que só compramos ativos que devem se valorizar”, afirma André Maciel, sócio do Soft Bank na América Latina.

Na teoria, uma empresa deveria valer o equivalente ao fluxo de caixa futuro trazido a valor presente. Mas há cada vez mais exceções à regra. consultamos mais de uma dezena de analistas, investidores, advogados especializados em fusões e aquisições e empreendedores para explicar esse novo mundo do valuation. O certo é que as métricas de matemática financeira não são suficientes para medir risco e retorno num cenário em que a economia pode ser transformada a qualquer momento por companhias disruptivas. Investidores aceitam pagar um ágio para ser um dos primeiros a investir em empresas que podem despontar, como Uber, WeWork e Airbnb – e lá na frente obter uma rentabilidade maior do que a dos demais. “Não dá para usar múltiplos tradicionais, como preço sobre lucro; é necessário construir um modelo de longo prazo. Quem diria que a Amazon, que passou nove anos sem dar lucro, chegaria aonde chegou?”, diz Bruno Amaral, líder de fusões e aquisições na América Latina do BTG Pactual. Esse apetite dos investidores por mais risco se dá por haver excesso de dinheiro em busca de retornos maiores do que os juros, que estão em patamares historicamente baixos. Um levantamento feito pela consultoria Economática aponta que o valor de mercado das 249 ações que tiveram maior negociação nos últimos cinco anos na B3 quase dobrou de 2015 a 2019, passando de 2 trilhões para 3,6 trilhões de reais. Já o avanço do patrimônio líquido dessas mesmas empresas foi de 1,5 trilhão para 1,8 trilhão de reais. “O problema é que isso pode ser o início de uma bolha”, afirma Fernando Borges, diretor-geral do Carlyle, fundo de participações que tem 223 bilhões de dólares sob gestão ao redor do mundo.

De fato, há semelhanças entre o momento atual e a bolha da internet do início dos anos 2000, quando empresas ponto-com viram suas ações subir vertiginosamente na bolsa americana. Naquela época, como agora, os juros estavam baixos nos Estados Unidos, o lema das companhias era “fique grande rapidamente” e muitos investidores abriram mão de métricas tradicionais de avaliação de preço, confiando nos avanços tecnológicos e na transformação da economia. O resultado dessa combinação, então, foi um quebra-quebra generalizado e a queda geral dos índices de ações. Por outro lado, aquela crise trouxe lições. Agora é mais comum as companhias passarem por estágios de investimento e receberem sucessivos aportes à medida que provam ser capazes de entregar resultados. É assim que funciona o ecossistema de capital de risco, que começa com investidor-anjo, passa pelo venture capital e pelo private equity, até chegar à bolsa de valores. “Esse passo a passo ajuda a trazer alguma racionalidade ao mercado”, diz Rodrigo Baer, sócio do fundo de capital de risco Redpoint eventures.

Para analistas de ações mais tradicionais e avessos a aventuras, há duas pedras no caminho. A primeira: empresas tradicionais nunca correram tanto risco de ser atacadas por novatas. A segunda: as constantes mudanças no ambiente de negócios têm levado a mudanças dos reguladores. Um dos dados mais relevantes para a avaliação tradicional, o Ebitda (o lucro antes de descontar juros, impostos, depreciação e amortização), que ajuda a balizar um competidor com seus pares, sofreu alterações recentemente com a adoção do modelo contábil IFRS16.

NOVA NORMA CONTÁBIL

Pelo novo padrão adotado pelas empresas de capital aberto de 100 países, e válido a partir deste ano no Brasil, os aluguéis passam a ser reconhecidos na depreciação do ativo e nas despesas financeiras do passivo, e não mais como despesa operacional nas demonstrações de resultado. Com isso, é de esperar que o Ebitda registre aumento e o lucro líquido caia. Foi o que aconteceu com a empresa de aluguel de carros Movida, que viu um incremento de 9% no Ebitda e uma redução de 3% no lucro líquido do segundo trimestre. “Empresas que até então não tinham interesse em terceirizar a frota agora veem com bons olhos esse aumento do Ebitda. Já observamos crescimento de demanda”, afirma Fábio Costa, diretor de relações com investidores da Movida.

De acordo com um levantamento realizado por Oscar Malvessi, professor de finanças corporativas na Fundação Getúlio Vargas, se o IFRS16 fosse usado nos anos de 2016, 2017 e 2018, as empresas de varejo brasileiras abertas teriam um incremento no Ebitda de 18%, 39% e 37%, respectivamente. As despesas financeiras também aumentariam: 41%, 51% e 92%. “Esses números são ilusórios. O importante é analisar se houve criação de valor nesse período, e o que se vê é uma queda de 2% em 2016 e 2017 e de 1% em 2018”, diz Malvessi. Para Menin, do banco Inter, a criação de valor é de fato uma bússola nesse cenário de tantas mudanças. O Inter montou uma equação voltada para a criação de valor que inclui tanto o crescimento da base de correntistas quanto da receita de serviços. Essa operação, somada a um menor custo de captação de crédito, resulta em geração de valor no longo prazo, mesmo que ainda não baste para chegar perto do lucro dos bancões. Menin sabe que uma hora ou outra o acionista cobrará rentabilidade. Períodos de maior e menor racionalidade, afinal, são tão antigos quanto o mercado de capitais. A discussão sobre quanto vale uma empresa também.

NA PONTA DO LÁPIS?

Apesar do pouco (ou nenhum) lucro, novatas já valem quase tanto quanto bancos tradicionais

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 17 – CHEIOS DO ESPÍRITO

Quando as pessoas se referem à chamada “passagem do casamento” em Efésios 5, elas costumam começar com o versículo 22 – aquele que diz às esposas para se submeterem. Mas, na verdade, a exortação de Paulo começa bem antes nesse capítulo. Para entendermos plenamente como nosso casamento deve retratar o relacionamento entre Cristo e a Igreja, vamos voltar ao versículo 18:

… mas enchei-vos do Espírito. Efésios 5:18, ACF

No original grego, a palavra traduzida aqui como enchei-vos descreve o processo de estar impregnado do Espírito como uma experiência contínua. Uma vez não basta. Quando não somos continuamente cheios com o Espírito de Deus e estimulados por Ele, esperamos que nosso cônjuge preencha necessidades que somente Deus pode preencher. Por mais incrível que seu cônjuge seja, ele ou ela jamais poderá substituir Deus. Se você espera que seu cônjuge dê propósito e significado à sua vida, bênçãos que só Deus pode oferecer, ficará decepcionado, frustrado e será incapaz de demonstrar o amor de Deus.

Nossos casamentos só refletirão Cristo na mesma medida em que Seu Espírito for bem-vindo em nossas vidas. Cristo é a pedra angular da nossa salvação, mas o Espírito Santo é o agente de transformação. Permitindo que nossas vidas sejam continuamente cheias com o Espírito, podemos experimentar a renovação da nossa mente e a transformação do nosso comportamento. Deus diz:

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem… a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. Efésios 4:22-24

Tentar amar e servir como Cristo estando separado do Seu Espírito é como tentar tirar água de uma mangueira que não está conectada a uma torneira. Uma mangueira não pode produzir água sozinha; ela é meramente um condutor. Do mesmo modo, só quando abraçamos a capacitação do Espírito Santo podemos amar e servir nossos cônjuges da maneira que Deus deseja.

A força de vontade e a mudança do comportamento têm sua importância, mas no fim das contas elas não podem renovar nossa mente ou vencer os desejos da nossa carne. Somente quando abraçamos a Pessoa e o poder do Espírito de Deus é que podemos experimentar Sua influência transformadora em nossas vidas e através delas – uma influência que é demonstrada por meio de atitudes e atos semelhantes aos de Cristo para com nossos cônjuges. Qualquer tentativa de modificar nosso comportamento sem que haja o envolvimento do Espírito de Deus levará à frustração e à desilusão.

Recebemos inúmeras mensagens de homens e mulheres cujos casamentos estavam destruídos pela manipulação e pela dominação. Em muitos casos, essas pessoas tinham conhecimento da Bíblia, mas lhes faltava o amor e a graça do Espírito. Como resultado disso, aquelas mesmas palavras que se destinavam a libertar e capacitar, eram usadas para confinar, minar ou envergonhar. Esses males estão presentes onde quer que o egoísmo esteja à espreita. O egoísmo floresce quando não nos beneficiamos da obra do Espírito de Deus e, por conseguinte, rejeitamos o serviço como nosso principal papel conjugal.

Durante o restante deste capítulo, exploraremos o que significa servir dentro do contexto do casamento. Nosso objetivo é oferecer uma fundamentação bíblica segundo a qual podemos conduzir nosso casamento e edificá-lo por meio do serviço. Com esse espírito, nós o incentivamos a não usar este capítulo como uma licença para condenar qualquer comportamento passado ou presente de seu cônjuge. Em vez disso, use-o como um modelo que o permita seguir em frente.

Entendemos que estamos moldando esses conceitos sob a premissa de que ambos os cônjuges desejam honrar o plano de Deus acerca do papel que devem cumprir em seu casamento. Sabemos que nem sempre é assim. Seja qual for sua situação, lembre-se de que você não pode mudar seu cônjuge. Se tentar fazê-lo, você será somente um obstáculo no caminho de Deus. Abra seu coração para a obra do Espírito de Deus, e dê espaço a Ele para fazer o que só Ele pode fazer em seu cônjuge.

IDENTIDADES E PAPÉIS

Para entender o papel que assumimos no casamento como servos, precisamos examinar mais uma vez o Jardim do Éden:

Criou Deus o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Gênesis 1:27

Tanto o homem quanto a mulher são detentores de uma imagem que reflete a natureza de Deus. O homem e a mulher são diferentes, mas são igualmente importantes para demonstrar a natureza de Deus na Terra.

Marido e mulher são papéis. Eles são papéis únicos, e a Bíblia dá informações específicas sobre o que eles envolvem, mas esses papéis não são nossa identidade. Nossa identidade tem a ver com o nosso projeto original. Fomos criados para sermos portadores da semelhança de Deus na Terra. A Queda distorceu esse propósito, mas o sacrifício de Cristo o restaurou. Nossa salvação em Cristo é, antes de qualquer coisa, uma mudança de identidade.

Nenhum papel – marido, esposa, profissional, ministro, pai, amigo – pode estar acima da sua identidade. E justamente porque uma mudança de papel (de solteiro para casado, por exemplo) não é o mesmo que uma mudança de identidade, homens e mulheres são tão valiosos aos olhos de Deus depois do casamento quanto são antes dele.

Infelizmente, muitas pessoas (principalmente as mulheres) acham que seu valor muda depois que se casam. As mulheres temem que para honrar seus maridos, precisem se tornar secundárias em termos de importância ou contribuição. Nesse cenário, em vez de se elevar para praticar atos de amor e serviço, a mulher se encolhe em servidão até praticamente desaparecer.

Embora possa parecer a princípio que o marido se beneficie com esse arranjo, não é assim. Na verdade, ambos os cônjuges perdem quando o egoísmo é cultivado como um estilo de vida. Um marido que não vê sua esposa como um parceiro igual no casamento não apenas é roubado de uma aliada íntima, como também perde uma das suas maiores oportunidades de crescimento. Os homens se tornam mais semelhantes a Cristo quando servem às suas esposas como Jesus serve à Igreja. Lembre-se de que Jesus deu o modelo de Sua liderança servindo àqueles a quem Ele lidera e ama.

O amor, o respeito e a honra são essenciais para ambos os cônjuges. Ambos os cônjuges importam e ambos os cônjuges servem. Abordar o casamento dessa maneira ajuda a devolver ao homem e à mulher o poder do domínio, o dom da força e da autoridade de Deus que nos foram confiados no instante da nossa criação.

DOMÍNIO VERSUS DOMINAÇÃO

Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a Terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” … E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom… Gênesis 1:28, 31

No início os homens e as mulheres não eram inimigos. Eles eram aliados íntimos e cooperadores – duas pessoas distintas unidas com um só coração. A eles foi confiada a missão de encher e subjugar a Terra. Deus lhes deu uma comissão (sejam férteis e multipliquem-se) e deixou que eles definissem os detalhes. Ele lhes deu domínio.

O domínio está associado ao poder de governo, à autoridade ou ao controle. Ele descreve uma área de influência e está associado à posse de poder. Como aprendemos com a história da Última Ceia, toda autoridade, quer seja ela confiada a um homem ou a uma mulher, é dada para servir aos outros para o benefício e crescimento deles.

A guerra dos sexos começou depois da Queda. Com a total ruptura entre Deus e Sua criação, o domínio sofreu uma mutação e se transformou em dominação e manipulação. Essas distorções dos poderes dados por Deus guerreiam continuamente contra o plano Dele para uma bela união. O casamento se tornou um instrumento de divisão em vez de multiplicação.

A intenção nunca foi que o casamento fosse uma luta pelo poder. Ele foi criado para ser uma união de poder. O casamento funde duas pessoas com qualidades e forças muito diferentes e depois usa essas diferenças para criar a oportunidade para a multiplicação. Tudo isso é parte do plano de Deus para reconciliar o que parecia estar além da reconciliação. Jesus disse:

Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido. Lucas 19:10

Costumamos entender esse versículo como se ele descrevesse apenas o aspecto evangelístico, quando na verdade ele carrega em si um significado muito maior. Jesus não veio meramente para salvar os perdidos; Ele veio para salvar aquilo que estava perdido. Na Queda, perdemos nossa comunhão com Deus. Mas também perdemos a unidade dos nossos relacionamentos uns com os outros. Isso inclui nossos relacionamentos como irmãos, como pais e filhos e como marido e mulher. E perdemos a beleza que havia em nosso relacionamento com o restante da Criação.

A obra salvadora de Jesus tem a ver com mais do que sobreviver até chegar ao Céu. Ela tem a ver com abundância e restauração no presente. Por causa da Cruz, todo relacionamento que sofreu alguma perda tem o potencial de ser restaurado. Isso significa que podemos experimentar cura em nossos casamentos hoje. Homens e mulheres podem viver novamente como um só!

Quando temos um só coração e propósito, nós nos multiplicamos, porque Deus diz que onde existe unidade Ele ordena uma bênção (ver Salmos 133). O inimigo de nossas almas não quer que experimentemos a bênção de Deus, nem quer que nos multipliquemos. Portanto, ele faz tudo que está ao seu alcance para destruir nossa unidade. Contudo, quando contendemos contra o engano da dominação e abraçamos a verdadeira natureza do domínio, nos tornamos parceiros de Deus para ver Sua vontade cumprida na Terra.

Agora passaremos a uma discussão mais específica a respeito dos diferentes papéis que homens e mulheres desempenham no casamento como servos. Sem entender a perspectiva de Deus acerca de identidade, valor e domínio, poderíamos facilmente nos equivocar e pensar que esses papéis divinamente estabelecidos favorecem um cônjuge em detrimento do outro. Uma vez tendo estudado o primeiro mandato de Deus para o casamento e tendo reconhecido a diferença entre identidade e papéis, acreditamos que você verá como os papéis de ambos os cônjuges são empolgantes, importantes e valiosos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEXO NO CASAMENTO

Maior frequência de sexo no casamento está associada ao bem-estar conjugal

Algumas investigações têm apontado que existe uma relação positiva entre a frequência das relações sexuais em um casal e medidas de bem-estar conjugal. Pesquisas têm demonstrado que se tratando de sexo e bem-estar, mais é melhor, pelo menos até a frequência de uma vez por semana. Provavelmente, esse ponto de corte da frequência sexual obtida a partir de amostras norte-americanas é bem conservador para a nossa exuberante realidade brasileira, e se tivéssemos dados nacionais estes apontariam para uma frequência maior.

No entanto, as conclusões sobre como o nível da atividade sexual influencia o bem-estar se tornam complicadas por pesquisas que sugerem que a frequência sexual pode ter diferentes associações com o bem-estar, dependendo de como se mede essa variável. Certas medidas são voltadas a relatos explícitos, declarações conscientes dos membros do casal. Outras formas de mensuração estão focadas nas respostas automáticas ou implícitas, que são de natureza inconsciente.

Os pesquisadores Hicks, McNulty, Meltzer e Olson, em um estudo de 2016, analisaram ligações entre frequência sexual e qualidade de relacionamento em casais casados. Em duas amostras de casais casados que foram investigados, esses pesquisadores descobriram que os relatos das pessoas sobre a frequência com que tiveram relações sexuais nos últimos meses não previam suas respostas explícitas sobre a qualidade de seu relacionamento (como satisfeitos eles declaravam que eram), mas o nível de atividade sexual previa seus sentimentos mais automáticos e implícitos sobre seu relacionamento.

A forma adotada nesse estudo para obter medidas dos sentimentos implícitos dos sujeitos foi engenhosa. Os pesquisadores fizeram com que os participantes concluíssem uma tarefa em computador que foi projetada para avaliar como eles realmente se sentem sobre seus relacionamentos, focando nos sentimentos dos quais não têm consciência. Os participantes visualizavam fotos de sua esposa, com as imagens aparecendo uma de cada vez, muito rapidamente, na tela do computador. Depois de cada foto, eles visualizavam uma palavra positiva ou negativa. Sua tarefa era indicar o mais rápido possível se a palavra era positiva ou negativa, usando comandos de computador específicos.

O mais interessante dessa tarefa é que, em estudos anteriores, foi demonstrado que as imagens podem interferir nas respostas das pessoas às palavras. Se a imagem corresponder à palavra (imagem positiva, palavra positiva), as pessoas responderão mais rapidamente. Se a imagem for diferente da palavra (imagem positiva, palavra negativa), as pessoas demoram mais para responder. Ao comparar o tempo de reação das respostas às palavras positivas e negativas depois de ver a foto, os pesquisadores podem ter uma ideia de como as pessoas se sentem em relação ao cônjuge. Para garantir que o efeito seja exclusivo de seus sentimentos em relação ao cônjuge, os pesquisadores também testam os sujeitos em resposta a seus próprios rostos e faces de estranhos atraentes.

Os resultados desses estudos apontaram que os relatos das pessoas sobre sua frequência sexual não previam o quanto estavam satisfeitas com seus relacionamentos, mas, no entanto, mais sexo estava de fato associado a sentimentos inconscientes mais positivos. Um dos estudos mapeou os sentimentos das pessoas ao longo de vários anos e descobriu que as pessoas que relataram ter maior atividade sexual tinham crescimento no bem-estar, demonstrando ter sentimentos implícitos ainda mais positivos em relação ao parceiro ao longo do tempo. Portanto, sexo no casamento de fato aumenta o bem-estar, mas temos que ouvir o inconsciente para constatar seu efeito.

MEDINDO O INCONSCIENTE

Atualmente, a pesquisa em psicologia social tem desenvolvido uma série de métodos de investigação das avaliações inconscientes implicadas em uma variedade de tópicos, sendo que os mais estudados são atitudes, autoestima ou estereótipos. O teste mais conhecido para examinar associações inconscientes em relação a categorias de pessoas (geralmente grupos étnicos), objetos ou o próprio self é o lmplicit Association Test, desenvolvido pelo pioneiro da pesquisa do inconsciente, o psicólogo Anthony Greenwald e seus colegas Brian Nosek e Mahzarin Banaji. A apresentação dos conceitos no IAT é explícita, mas as associações implícitas em relação a esses conceitos, que são o principal foco do instrumento, não recebem atenção consciente do sujeito, pois são medidas pelo tempo despendido na resposta a cada par de palavras. Isso demonstra que temos atitudes em dois níveis, aquelas que ostentamos conscientemente, refletindo nosso conhecimento explícito e valores sobre o mundo, e as atitudes implícitas, que revelam correntes subterrâneas compostas pela somatória de informações coletadas e armazenadas em nosso cérebro.

MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed. 2011).

OUTROS OLHARES

JUSTIÇA: UM FIO TÊNUE ENTRE A SUBJETIVIDADE E A OBJETIVIDADE

”Não é justo!!!” O que é de fato justiça? Os vários sentidos que empregamos na vida cotidiana estão coerentes com o que justiça pode significar?

“Professor, eu estudei tanto e não tirei nota, o meu colega não estudou nada e tirou 10, não é justo”

“Acabei de comprar o carro e um ladrão o roubou, não é justo””Eu não roubei a casa da senhora, não é justo ir preso” Esses e outros exemplos demonstram como a ideia de justiça está sendo aplicada em quase todas as situações. Porém, são situações distintas e muitas vezes não se trata de justiça ou não. Uma análise mais cuidadosa das situações acima é suficiente para demonstrar que o argumento/justificativa para a conclusão não é o mesmo. Nem todo raciocínio acima pode terminar com não é justo. Por que não é justo ter estudado muito e não tirar nota? Vamos imaginar que você estudou muito e mesmo assim não aprendeu. Como quer tirar nota? Vamos imaginar que seu colega, que não estudou, tenha compreendido todo o conteúdo que o professor passou em sala, qual é a injustiça de ele tirar nota na prova sem ter estudado? Ao dizer que não é justo você que estudou não tirar nota e o colega que não estudou tirar nota, no fundo você está dizendo que é injusto quem não estuda tirar nota. Me pergunto: por que estudar e não tirar nota e não estudar e tirar nota? Em que sentido o termo justiça está sendo empregado nessa situação?

Qual a relação causal entre ter acabado de comprar o carro e ter sido roubado com a questão da justiça? Quanto tempo a pessoa tem que ficar com o carro para depois ser justo roubá-lo? Existe tempo justo para depois poder fazer o roubo? Existe roubo justo? Coloque um comunicado no seu carro: acabei de comprá-lo, não é justo roubá-lo, volte daqui seis meses! Não estou aqui defendendo o roubo, mas mostrando a complexidade de algumas afirmações feitas sem a devida reflexão. O que é injusto no caso do roubo do carro?

O terceiro exemplo parece ter uma relação mais direta com a questão da justiça. Se não foi você quem roubou não é justo ser preso, não é justo pagar por algo que não cometeu, ou seja, prendê-lo será um ato de injustiça. Inclusive participei de alguns tribunais do júri e sempre ouvia o advogado de defesa fazer a seguinte observação: é melhor mil bandidos soltos do que um inocente preso. Esta afirmação parece, numa análise rápida, bastante aceitável, principalmente se o inocente preso for você.

JUSTIÇA COMPLEXA

As situações acima expostas demonstram o quão é complexa a discussão sobre justiça. Ela abrange um grande universo de teorias e situações que se misturam ao longo da história. Primeiramente quero dizer o que não pretendo com este artigo: não pretendo fazer uma leitura histórica da justiça ou de seu conceito; não pretendo tomar como base um determinado autor: Aristóteles, Tomas de Aquino ou Hans Kelsen, entre tantos outros; não pretendo ter como referência uma determinada vertente/ corrente filosófica e também não pretendo fazer uma análise voltada para a questão do direito e todas as suas implicações, caindo assim no campo da Filosofia do Direito. Pretendo, antes de mais nada, trazer alguns elementos para reflexão que há muito tempo vêm me acompanhando, e “não é justo” perdê-los e não compartilhar com ninguém. Porém, mesmo sendo um partilhar de ideias, elas serão, ao longo da reflexão, confrontadas com conceitos e teóricos, buscando uma fundamentação.

Tendo como referência o pensamento ocidental, pode-se afirmar que, desde o mundo grego clássico, a justiça, ou a ideia de justiça, esteve no centro do filosofar e na prática da vida em sociedade, e que esse tema percorreu toda a Idade Média, passando pelo mundo moderno e chegando até a sociedade contemporânea. Não temos por certo um único conceito que se desenrolou ao longo da história, pois o próprio conceito é fruto da história, mas é possível encontrar, grosso modo, uma leitura que tende a colocar a justiça no campo da pura objetividade e uma leitura que tende a colocar a justiça no campo da pura subjetividade. Essa talvez seja uma das questões centrais que marcaram toda a discussão sobre a problemática da justiça. Será ela passível de ser medida, calculada e mensurada, será possível chegar a um justo independentemente do olhar do sujeito ou será a justiça total subjetividade, ou seja, algo pode ser justo para você, mas não para mim e vice-versa. Essas posturas, o objetivismo e o subjetivismo, ao extremo podem levar a um absolutismo ou a um relativismo. Aliás, a sociedade contemporânea tem demonstrado certa dificuldade em encontrar a justa medida; geralmente saímos de um extremo para o outro e não há espaço para o diálogo, tão necessário quando o assunto é justiça.

Como está presente no título deste artigo, o objetivo central é discutir a subjetividade e a objetividade presentes no termo justiça, ou melhor, o quanto a justiça pode ser considerada pura subjetividade e o quanto a justiça pode ser considerada pura objetividade, ou será que ela mantém um pouco de subjetividade e um pouco de objetividade? Entendo que nada de novo será apresentado e que muitas vezes irá parecer que estou falando o óbvio, mas o óbvio às vezes é bom ser dito novamente.

Muitos termos são difíceis de serem definidos, ou seja, é difícil dizer o que ele é. Nesse caso, fica mais fácil buscar sua definição por exclusão, ou seja, por aquilo que ele não é. A justiça é um desses casos. Entendo que é difícil defini-la positivamente, mas acredito que é possível se aproximar de uma definição pelo seu “negativo’: ou seja, afirmando aquilo que não é justiça. Por outro lado, surge uma nova questão: é possível dizer que tudo o que não é justiça é injustiça? Não cometer o ato justo já é por si só um ato injusto? Por exemplo: é justo o aumento salarial solicitado pelos trabalhadores, mas seria injustiça não dar o aumento? Será que é justo o aumento solicitado ou é legítimo o aumento solicitado? Justo e legítimo são sinôni1nos? Como fica a possibilidade de uma total impossibilidade de se fazer justiça? A impossibilidade de se fazer justiça já é por si mesma injusta. Como fazer justiça por alguém que já faleceu, parece não ser nada efetivo, mas um tanto quanto romântico. Aqui entramos numa discussão sobre a base na qual se assenta a justiça. Ela pertence ao campo ético, estético, gnosiológico, ontológico, entre outros? Podemos dizer: a justiça é bela!, a justiça é certa!, a justiça é um ser! Existe o justo ou somente práticas justas? Uma afirmação é possível fazer diante de tantas questões: a justiça é a única virtude que não pode estar a serviço do mal ou da injustiça. É possível às demais virtudes cardeais: prudência, temperança e coragem estarem a serviço do mal. Um assassino precisa de coragem, pois sem ela ele pode se acovardar; um ladrão de banco precisa de prudência e de coragem, pois caso contrário o assalto pode não dar certo. Porém, a justiça nunca compartilhará do mal e o mal nunca desejará a companhia da justiça – eles não convivem no mesmo espaço. A justiça é sem dúvida a única que é absolutamente boa. Porém, mesmo concordando com a colocação acima, a pergunta permanece: tudo o que não é justo é injusto?

SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE

As questões e colocações acima são fundamentais quando se pensa a justiça, mas vamos retornar ao tema central deste artigo: o quanto de subjetividade e objetividade está presente quando discute-se a questão da justiça.

Podemos começar nossa reflexão olhando à nossa volta e constatando quantas injustiças estão presentes. É injusto um ser humano morrer sem atendimento na porta de um hospital. É injusto alguém ser arrancado de sua cidade por causa de guerras. É injusto tantas pessoas ao redor do mundo morrendo de fome, enquanto lixões estão cheios de restos de comida. Mesmo afirmações como estas podem ser questionadas e defrontadas diante da subjetividade e do olhar específico do outro sobre cada situação, ou seja, é possível não encontrar unanimidade em relação aos exemplos acima mencionados.

Numa visão mais essencialista pode-se afirmar que a justiça existe e que é possível “alcançá-la”. Os gregos de maneira geral partilhavam dessa visão, ou seja, existe o justo e temos condições de contemplá-lo ou mesmo alcançá-lo. Caso ele não exista, é possível chegar a uma posição comum na qual racionalmente a justiça foi firmada, nesse caso a justiça não cairia numa discussão centrada num subjetivismo, mas respaldada na racionalidade humana e sua capacidade objetiva. Aliás, racionalidade que também hoje está sendo questionada, uma vez que vivemos uma época de certa descrença no próprio poder da razão e até mesmo na própria existência da razão. O problema é que a objetividade, marcada por uma suposta exterioridade e anterioridade da justiça, nem sempre dá conta da situação posta no momento, nem sempre se consegue um consenso em torno de uma dada situação para que se possa dizer “justiça foi feita”. Nem sempre é possível contemplar a justiça como se ela estivesse guardada num local, como se ela fosse um ser existente à espera da ação do homem. Para que a justiça seja feita, ela precisa passar pela aprovação de todos ou a maioria basta? Algo que possui um grau de objetividade precisa da aprovação para ser? O fogo queima é um fato objetivo, e penso que ninguém afirma o contrário, mas a dor que a queimadura causa, quanto de objetividade ela tem? Dor é objetiva ou subjetiva? Como medi-la? Ao dizer que a lei é justa eu tenho um componente objetivo, mas a lei não é a própria justiça. A justiça é uma ideia, um conceito, e como tal não tem existência ontológica?

Isso nos leva a uma outra dimensão da justiça, que é a possibilidade de ela ser mais subjetiva ou totalmente subjetiva. Hans Kelsen, de maneira geral, defende essa leitura e é por isso que ele, buscando dar valor de ciência e autonomia ao Direito, o afasta da discussão sobre justiça por entender que essa discussão é subjetiva e o impediria de construir uma teoria pura do Direito. “… todo juízo de valor é irracional porque baseado na fé e não na razão; nesta base, pois, é impossível indicar cientificamente – ou seja, racionalmente – um valor como preferível a outro; portanto, uma teoria científica da justiça deve limitar-se a enumerar os possíveis valo­ res de justiça, sem apresentar um deles como preferível ao outro” (Kelsen, 1993, XXVI).

De maneira geral, quem defende que a justiça, ou a ideia de justiça, é uma questão subjetiva entende que não é possível chegar a um denominador comum ou mesmo a um consenso. Pense a seguinte situação: o professor logo no início da prova pegou você colando e retirou a prova e lhe deu zero. Imediatamente você argumentou que não deu tempo para consultar a cola e pediu para que ele deixasse você continuar fazendo a prova. O professor, porém, não permitiu e manteve o zero. Pergunto: qual foi o critério de justiça utilizado pelo professor? Qual foi o seu critério de justiça para pedir a prova de volta? E você, caro leitor, de qual lado se posiciona? Afinal de contas, qual justiça se comete ao tirar a prova do aluno que ainda não tinha feito nenhuma consulta? Na visão do professor se fez justiça, na visão do aluno se fez uma injustiça. Quem está com a razão, ou será que ambos estão certos: é justo ter tirado a prova como também seria justo ter deixado o aluno fazer a prova? A norma da escola obriga o professor a tomar essa atitude, ele seguiu a norma, mas foi justo? Toda norma/lei é justa?

Entendo que a linha divisória entre a visão subjetiva e a visão objetiva de justiça é bastante tênue. Tanto a visão subjetiva como a visão objetiva têm seus limites e não conseguem atender satisfatoriamente a realidade. O risco da visão subjetiva é que o critério para considerar algo justo ou injusto é você mesmo, ou seja, não há critério claro e determinado, existe sim a sua leitura da situação e o seu posicionamento “particular” sobre o assunto. Corre-se o risco de cair num relativismo extremo, e o que era considerado justo para você, hoje, pode não ser mais amanhã. Por outro lado, o risco da visão objetiva é não fazer uma leitura das circunstâncias que envolvem a situação. É eleger um determinado “valor” como norteador e absoluto e assim elaborar o juízo de forma determinista e objetiva.

LEI DIVINA E JUSTIÇA DIVINA

Na sociedade medieval, o referencial último da ação do homem era o transcendente, ou seja, a lei divina e a justiça divina. Existia uma leitura objetiva de justiça que era obedecer os mandamentos de Deus. Mas os próprios mandamentos divinos são passíveis de serem submetidos a uma leitura subjetiva, ou seja, eles ao longo da história passaram a ser analisados a partir de um olhar pessoal e de uma interpretação também pessoal e histórica.

O mundo moderno, diferentemente do mundo medieval, é o berço do sujeito e com ele da subjetividade. Praticamente tudo passa a ser submisso ao sujeito, seja ele transcendental ou não. Nesta nova realidade a justiça assume uma dimensão subjetiva até então nunca atribuída a ela. A lei materializa a ideia de justiça e dá a ela uma possível objetividade. O dever passa a ser norteador das práticas, mas este é validado pelo próprio sujeito que em última instância é subjetivo e objetivo.

Enfim, a complexidade do conceito ou do fato chamado justiça não nos permite cair numa visão simplista e sem uma maior reflexão. Faz-se necessário buscar uma visão mais ampla e ao mesmo tempo não cair numa lógica reducionista. A justiça permeia a existência humana e se faz necessário pensá-la.

GESTÃO E CARREIRA

A ERA DO CANDIDATO

Por que assumir o papel de protagonista durante os processos seletivos e as entrevistas de emprego se tornou um enorme diferencial para os profissionais

Um dos principais pontos de atenção para que o profissional construa uma trajetória de sucesso é saber fazer escolhas de carreira pertinentes. A princípio, isso pode parecer algo simples, mas não é, sobretudo quando se está desempregado ou insatisfeito com o emprego. Isso porque, na ânsia de conquistar um novo desafio, é comum sermos arrebatados pelas promessas do processo seletivo, deixando de lado a cautela ao analisar a empresa e os projetos que serão ali conduzidos.

O atual cenário do país, de economia cambaleante e 13 milhões de profissionais desocupados, complica ainda mais as coisas. Com medo de não conseguir nada melhor, muita gente acaba abraçando um trabalho pouco alinhado com as próprias expectativas. No entanto, é bom frisar que, a despeito da crise, vivemos na era da experiência do candidato. Foi-se o tempo em que apenas a companhia fazia uma avaliação do indivíduo. Hoje, o o futuro empregado pode — e deve — usar a fase de recrutamento para questionar e analisar minuciosamente as oportunidades que o posto lhe oferece.

Nesse sentido, aconselho a quem estiver em busca de uma ocupação a fazer a avaliação de três pontos importantes: a cultura, o propósito e o jeito de trabalhar da organização. Isso é peça-chave para calibrar as expectativas e compreender se os valores e as crenças pessoais têm sinergia com o que a companhia acredita e pratica. Por exemplo: alguém que preza pelo trabalho em grupo e pela colaboração talvez não se sinta confortável num lugar em que as metas individuais são o mantra da cultura.

Para descobrir esse tipo de informação, é preciso acessar pessoas que atuam ou já atuaram nesse ambiente. Ajuda, também, ler notícias sobre o negócio e seu setor de atuação, além, claro, de observar os sinais emitidos pelo contratante durante as entrevistas. Nessas conversas, faz toda a diferença ter uma atitude de protagonista e investigar no detalhe a atividade a ser desempenhada.

Mais que o título do cargo, deve-se compreender as responsabilidades e os desafios da posição. Um estudo recente sobre pedidos de demissão mostrou, por exemplo, que 46% das pessoas que saíram de uma empresa num período de até seis meses após a contratação o fizeram por desalinhamento entre a proposta e as tarefas desempenhadas de fato no dia a dia. Só depois de fazer essa lição de casa é que recomendo analisar o salário. Lembrando que o ideal é calcular a remuneração anual incluindo bonificações e pacote de benefícios.

Sem cálculos, sem capacidade analítica e sem uma boa dose de coragem para questionar o status quo, dificilmente se faz uma boa mudança de carreira.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 16 – LEVANTE-SE E CONSTRUA

… Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos. — Mateus 20:25-28

Só existe um método eficaz para construir um casamento saudável. Para muitos de nós ele está escondido bem debaixo do nosso nariz. Precisamos advertir você de que esse método não é empolgante, e definitivamente não é fácil. Mas é a única maneira de captar toda a realização, o propósito e o amor que todos nós desejamos ter em nosso casamento. Você está preparado para o grande segredo? Aqui está: servir. A única maneira de construir o casamento dos seus sonhos é dedicar sua vida a servir o seu cônjuge.

Por favor, resista ao desejo de fechar este livro ou de pular para o próximo capítulo. Sabemos que o conceito de servir não costuma despertar uma grande empolgação. É mais provável que ele inspire sentimentos de relutância ou até de pavor. Tendemos a recuar diante da ideia de estarmos sujeitos aos interesses, desejos ou preferências de outros. Porém, Jesus, o Filho de Deus e Rei dos reis, escolheu se tornar um servo em busca do que era melhor para nós. Fazer o que é melhor para nós se tornou Sua maior preocupação. Ele rejeitou o lugar de autoridade e privilégio que era Seu por direito para ser uma ponte sobre o abismo entre Deus e o homem. E agora que Ele abriu o caminho para nos reconciliar com Deus, Ele tem prazer em realizar nossos sonhos, desejos e alegrias mais profundos, capacitando-nos a viver uma vida extraordinária e a nos tornarmos semelhantes a Ele. Até mesmo quando entregou Sua própria vida, Jesus ofereceu tornar nossa vida abundante. Essa forma ilimitada e sem precedentes de serviço é o padrão segundo o qual devemos lidar com todos os relacionamentos, principalmente com nosso casamento.

Agora que o convés foi limpo, você tem a oportunidade de construir o casamento dos seus sonhos. Mas a única maneira de realizar o seu sonho conjugal – aquele projeto de felicidade divinamente inspirado – é dar sua vida em troca disso. No Reino de Deus, você só mantém aquelas coisas das quais abre mão livremente. A alegria, o amor e a realização que deseja ter em seu casamento só podem se tornar realidade quando você sacrifica a busca dos seus maiores interesses em nome dos maiores interesses do seu cônjuge.

Você já percebeu que os cristãos mais infelizes tendem a ser aqueles que são consumidos pela busca de seus próprios interesses? Os mais debilitados são aqueles que nunca fazem nada por ninguém. Isso acontece porque, em Cristo, o DNA espiritual de Jesus de servir está entrelaçado na nossa natureza. Jesus é o servo por excelência. Quando nos recusamos a abraçar nossa identidade Nele – que inclui, entre outras coisas, viver como servos – nós nos separamos do Seu poder transformador. Esse poder é essencial para construir vidas e casamentos segundo o coração de Deus, e só podemos ter acesso a ele quando procuramos viver como Jesus viveu. Se não servimos, não podemos construir o casamento que desejamos.

TORNANDO-SE O MENOR

Durante Sua última refeição com os discípulos, Jesus contou aos Seus amigos mais próximos que Sua morte era iminente e que em breve Ele seria traído. Como eles reagiram? Primeiro negaram ardentemente qualquer chance de traírem Jesus. Depois passaram rapidamente para uma discussão sobre qual deles era o maior.

Que absurdo! Jesus estava contando detalhes da Sua morte iminente, e tudo que Seus amigos mais chegados podiam fazer era discutir sobre a própria grandeza. Veja como Jesus reagiu à loucura deles:

… O maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa, como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas Eu estou entre vocês como quem serve. Lucas 22:26-27

As palavras de Jesus provavelmente atingiram os discípulos como uma bolada no rosto. Eles haviam deixado claro que estavam interessados em ser grandes. Agora Ele estava dizendo a eles que ser grande significava servir com excelência.

Mas Jesus não parou aí, apenas dizendo palavras duras. Ele prosseguiu fazendo algo que deixou Seus discípulos ainda mais desconfortáveis e confusos. A Bíblia diz:

Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do Seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; assim, levantou-Se da mesa, tirou Sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos Seus discípulos, enxugando-os com uma toalha que estava em Sua cintura. João 13:3-5

O que é impressionante nessa passagem é o porquê de Jesus ter lavado os pés dos Seus discípulos. A resposta encontra-se na leitura atenta de uma palavra: assim. Jesus havia recebido autoridade sobre tudo, assim Ele Se humilhou e abraçou a responsabilidade de um humilde servo. Jesus não tinha problemas relacionados à falsa modéstia. Ele obviamente estava ciente da Sua posição de poder. Mas em lugar de Se gabar ou de abusar de Sua vasta autoridade, Ele usou Sua posição como uma plataforma para um ato de serviço inimaginável.

No primeiro século, as estradas não eram pavimentadas e não havia shoppings onde os viajantes pudessem comprar um par de tênis. As pessoas usavam sandálias (ou nada), de modo que seus pés ficavam expostos a muita sujeira e fezes de animais. Não há dúvidas de que, em um ambiente como esse, o fedor e a sujeira dos pés chegavam a um nível que é incompreensível para nós em nosso mundo moderno.

Por causa da quantidade de pés sujos, servos ou escravos tinham de limpar os pés de seus senhores e dos convidados deles. Em uma casa rica, havia muitas responsabilidades: estábulos para serem cuidados, comida para ser preparada, quartos para serem limpos. Mas o trabalho de lavar os pés era reservado ao servo mais humilde. Em alguns círculos, essa designação ia ainda mais longe, e essa tarefa desagradável era designada exclusivamente às servas, as únicas consideradas “indignas” o bastante para fazer algo tão humilhante e repugnante.

Jesus escolheu realizar o mais inferior dos atos de serviço. Por quê? Porque Ele precisava que Seus discípulos entendessem a importância de Sua lição sobre o serviço. Ele até mesmo retirou Sua veste, um símbolo da Sua posição como Mestre, e enrolou uma toalha em torno de Sua cintura como um escravo faria. Tenha em mente que Jesus fez tudo isso para lavar os pés de homens que logo O negariam, O trairiam ou O abandonariam.

Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus tornou a vestir Sua capa e voltou ao Seu lugar. Então lhes perguntou: Vocês entendem o que lhes fiz: Vocês me chamam “Mestre” e “Senhor”, e com razão, pois Eu o sou. Pois bem, se Eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. Digo-lhes verdadeiramente que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem. João 13:12-17

Depois de lavar os pés dos Seus discípulos, Jesus colocou de volta a Sua veste, retomou Seu papel como Mestre, e deu os toques finais em uma lição que Seus discípulos jamais esqueceriam. A lição eterna aqui contida pode ser resumida em quatro pontos:

1. Como Senhor e Mestre, Eu sou o seu exemplo por excelência.

2. Se Eu mesmo executei voluntariamente esse ato humilde, não imaginem que esse ou qualquer outro ato de serviço está abaixo de vocês.

3. Eu sou Seu Senhor, Aquele que é maior do que vocês, porém estou disposto a servir como o servo mais inferior.

4. Eu abençoo aqueles que seguem Meu exemplo de liderança de servo.

CHAMADOS PARA SERVIR

Jesus disse que seremos abençoados se seguirmos Seu exemplo. Isso significa que Sua bênção repousará sobre os nossos casamentos quando nós O imitarmos servindo aos nossos cônjuges.

Não estamos encorajando você a imitar Jesus iniciando um ritual noturno de lava-pés. A questão é introduzir o padrão de serviço Dele em nossas vidas. No casamento, imitamos melhor o exemplo de Cristo quando usamos nossos respectivos papéis como oportunidades para servir. Paulo escreveu:

Nada façam por ambição egoísta… mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus. Filipenses 2:3, 5

Qual era a atitude de Cristo? Ele escolheu Se ver como um servo que colocava os outros e o que era melhor para eles acima do Seu próprio interesse. Ele levou isso ao extremo morrendo por aqueles a quem amava. A maioria de nós nunca será chamado a fazer um sacrifício dessa dimensão por seus cônjuges, mas fomos chamados para abandonar nosso egocentrismo por amor a eles.

Então, se servir é tão maravilhoso – e se atrai a bênção de Deus – por que mais pessoas não estão fazendo isso? O problema é nossa natureza humana caída, que luta constantemente contra os caminhos do Espírito de Deus e nos encoraja a fazer dos nossos próprios interesses nosso objetivo. Nossa carne exige que reconheçamos os desejos dela, insistindo que seus anseios sejam satisfeitos. Mas por mais que a alimentemos, a natureza humana sempre irá querer mais.

A natureza pecaminosa promove constantemente o egoísmo e o descontentamento, ao passo que o Espírito de Deus nos capacita a ser altruístas e oferece realização duradoura. A cada momento, escolhemos se vamos ser guiados pelo Espírito de Deus ou pelos desejos insaciáveis da nossa carne:

Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o bem que desejam. Gálatas 5:17

Jesus nos libertou da nossa natureza pecaminosa para que pudéssemos entregar nossas vidas livremente. A salvação não nos libertou para recebermos mais; ela nos libertou para que pudéssemos dar mais! “Vocês foram chamados”, escreveu Paulo, “para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gálatas 5:13).

Recebemos liberdade para que possamos sacrificar nossas vidas. Se vivemos meramente para nós mesmos, desperdiçamos nossa liberdade em Cristo e nos sujeitamos ao mesmo pecado e egoísmo do qual Cristo morreu para nos libertar. Mas ao aprendermos a viver servindo aos outros, especialmente ao nosso cônjuge, passamos a fazer parte da vida abundante que Ele disponibilizou para nós.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RELAÇÕES AFETIVAS E SUAS NUANCES

Como é a “linha do tempo” das suas relações afetivas? Ela é recheada de histórias de amor ou de histórias desgastantes e conflituosas? Entenda seus padrões repetitivos e o que precisa ser trabalhado dentro de si

Histórias de amor são fáceis e leves de contar, quase que como privilégios de quem as vive. Porém, se a maioria das suas histórias é acompanhada de qualquer tipo de falta de respeito, submissão, abuso, rejeição e falta de honra, você já se perguntou o porquê de atrair parceiros(as) com esse padrão? Por que permanecer em uma relação desconfortável, mesmo sabendo conscientemente que não faz bem? Por que há uma incoerência entre o que o cérebro pensa e o que sentimos e temos dificuldade de ter um equilíbrio nessa balança?

Então, por trás desses padrões repetitivos estão crenças limitantes que carregamos e que nos levam à autossabotagem, ou seja, quando você contribui inconscientemente para que tudo dê errado na sua vida. Para entender melhor como formamos nosso sistema de crenças, é importante entender que cada pessoa tem o seu, pois cada um de nós reage a eventos de formas diferentes.

Imagine um mesmo evento vivenciado por duas pessoas diferentes: uma delas pode olhar para esse evento de uma forma tranquila e ele não passar de um fato vivido como outro qualquer, enquanto que para a outra esse mesmo evento pode ser devastador e fazer com que ela se paralise diante da vida, com medos aparentemente infundados e que a impedem de criar uma realidade diferente. Esse sistema de crenças, segundo Vianna Stibal, fundadora da técnica do ThetaHealing, possui diferentes níveis, que vêm de diferentes lugares e experiências diversas. São eles: níveis primário, genético, histórico e de alma. E como esse sistema de crenças funciona nas relações afetivas?

O primeiro nível de crença é o primário, que são aquelas crenças que adquirimos desde o momento da nossa concepção até os dias de hoje. Elas são criadas através da educação dos nossos pais, dos grupos de amigos, dos nossos professores na escola, de alguma religião ou filosofia, de leituras, do que nos contam, de coisas que ouvimos e vemos na televisão e na internet, ou seja, qualquer input desse pode cri.ar uma crença.

E uma crença, quando é criada, vai influenciar na nossa vida, na nossa realidade. Dos O aos 7 anos não temos filtro para as informações que chegam a nós. Imaginemos que uma pessoa na sua infância assistiu a um casamento conflituoso, sem amor e sem respeito de seus pais. Ela, naquele momento, registra dentro dela aquilo que ela mesma interpreta como sendo uma verdade daquilo que está vivenciando.

Por exemplo, ela pode interpretar que “casamento faz sofrer”, “amar dói”, “relações são desgastantes e conflituosas”, enfim a mente dessa criança por si só inicia um  processo de guardar informações que vão influenciar na sua fase adulta, atraindo esse tipo de relação, quando não parecida, igual ao que ela assistiu quando criança.

Conscientemente, essa pessoa sabe que aquilo não é bom para ela. Por que então na fase adulta ela fica atraindo esse tipo de situação? O primeiro passo é entender que a missão da nossa mente é nos manter vivos. Ela sempre vai nos proteger se algo nos colocar em perigo. Se você atrair uma situação diferente daquela que registrou na sua mente como sendo uma verdade absoluta, ela rapidamente vai tratar de colocar a pessoa em segurança, acionando todos os seus autossabotadores.

Para ficar ainda mais claro, se você colocou na sua mente, lá na sua infância, que “relações são desgastantes e conflituosas”, então, para manter você seguro, sua mente vai atrair pessoas nesses padrões que você mesmo colocou, pois, do contrário, você estaria se colocando em “risco” se sair desse padrão.

Se você, em algum momento, registrou na mente que “melhor sozinho do que mal acompanhado”, inconscientemente a sua mente fará com que você permaneça sozinho(a) para não “correr riscos”. Parece estranho, não é mesmo? Mas saiba que a sua mente não vai discutir com você sobre aquilo que você registra dentro dela, ou seja, ela não julga.

Em muitos casos, essas pessoas desenvolvem ressentimentos e rejeições em relação ao amor. E nesse caso a mente perde urna incrível quantidade de tempo e espaço nessas questões, que incluem raiva, vitimização, baixa autoestima, ódio, implicância e indiferença que às vezes sentimos por alguém.

“Sinto raiva dele/dela…”

“Eu não merecia isso…”

“Eu me dediquei e não fui reconhecido (a)…”

“Não sou prioridade para ele/ela… “

“Sinto raiva de mim por ter perdido tanto tempo com essa pessoa…”

Levanta a mão quem nunca teve algum desses sentimentos por alguém e ficou remoendo dentro de si?

Pois bem, agora chegou a hora de tomar consciência de que todos esses sentimentos nos tiram do nosso estado de presença e colocam nossa referência fora, ou seja, começamos a julgar e criticar o outro e damos a essa pessoa o “poder” de nos fazer sentir mal. Passamos a colocar no outro a culpa por uma insatisfação própria e paramos de tomar a responsabilidade de toda situação que foi criada a partir dessa relação. Isso acaba nos colocando num lugar de “vítima”, num lugar no qual você não se coloca como responsável e se distancia da possibilidade de estar conectado com o outro pelo sentimento nobre e elevado do amor.

É impossível mudar alguém, é impossível querer que o outro seja aquilo que você quer que ele seja, porque a responsabilidade de mu­ dança começa dentro de você. Se isso não acontece, a possibilidade de ter contato com a energia do amor fica bloqueada e, por consequência, a expansão da sua consciência em di­ reção a uma evolução espiritual tam­ bém. Tudo porque você estará preso em algum lugar do passado, em algu­ ma situação mal resolvida. O padrão que você viveu naquela situação vai se repetir de uma forma ou de outra em algum outro momento, porque não está resolvido dentro de você.

É importante entender que a pessoa pela qual você alimenta um ressentimento está ali para mostrar o que precisa ser trabalhado dentro de si. Então, as perguntas-chave são: O que estou aprendendo com esse sentimento? O que essa pessoa está representando para mim? E quando você descobre, você se coloca no estado de presença e se reconecta com a energia do perdão. A energia do perdão não tem nada a ver com a energia do julgamento, é uma energia de alta vibração e que transforma. Mas primeiro é preciso se perdoar, se olhar com consciência para que a transformação se inicie dentro de você e não fora.

MUDANÇA

Vamos seguir com as explicações sobre o sistema de crenças para depois falarmos como iniciar a mudança. Afinal, saber disso faz com que a gente queira mudar, correto?

Um outro nível de crenças que existe é o genético, que são aquelas herdadas de pai, mãe, avôs e avós até a sétima geração. São crenças que nos fazem ter um sentimento de pertencimento à nossa família e essas crenças podem até ser vistas como um padrão da família, um padrão de sucesso, por exemplo, uma tendência para determinada carreira, uma inclinação para um dom artístico ou até mesmo uma doença que se propaga de geração em geração.

Uma vez entendido o que é esse nível, podemos olhar para a nossa linhagem familiar e perceber se estamos repetindo comportamentos que são deles nas nossas relações afetivas. Podemos herdar um comportamento de nos colocar na posição de pai ou mãe nos relacionamentos e colocar nosso parceiro/parceira na posição de filhos, repetir comportamentos de submissão porque sempre foi assim na sua família, ou mesmo comportamentos agressivos em suas relações. Fazemos isso de forma inconsciente, como se fosse uma forma de nos manter conectados a nossa família através das mesmas ações e comportamentos.

Há também o nível histórico, que são histórias que toda humanidade já viveu, nas quais se criaram as crenças coletivas, que influenciam a sociedade como um todo. Criamos a identificação com determinados grupos também através dessas crenças coletivas.

Esse nível nos mostra que há muitas crenças que fazem parte do inconsciente coletivo que dita regras muitas vezes “duras”, que fazem com que as pessoas façam de tudo para se encaixar em padrões para serem aceitas pela sociedade. Por exemplo, de acordo com o inconsciente coletivo, “toda mulher tem que casar e ter filhos”, caso contrário, parece que uma mulher que não cumpre esse papel “não será uma mulher plena”. Caso você acredite nessa informação do inconsciente coletivo, você é uma candidata a sofrer por não se encaixar nesse padrão e se sentir excluída, além de ter a autoestima comprometida. Se você é mulher solteira com filhos, pode estar acompanhada da crença de que isso fará com que um novo relacionamento seja difícil ou ter o medo de um companheiro não amar os seus filhos, de que há poucos homens/ mulheres legais para se relacionar e permanecer em um relacionamento abusivo para não ficar sozinho(a).

Enfim, muitas vezes nos forçamos a entrar nas regras do inconsciente coletivo, mesmo que de alguma forma façamos isso sem perceber. Você repete padrões que muitas vezes não são seus e permanece neles como se fosse algo imutável ou como se fosse uma pseudo zona de conforto.

E finalmente tem o que chamamos de crenças no nível da alma, que são aquelas que vêm da nossa essência, do nosso âmago. Quem de verdade nós somos, o nosso melhor, que somos “governados” pelo nosso sistema de crenças. Essas informações que dialogam dentro de nós criam movimentos que muitas vezes percebemos conscientemente que não são os mais interessantes para a nossa vida e parece que não sabemos como sair deles. Nos sentimos estagnados, paralisados e sendo jogados ao acaso, achando que a vida é uma grande sucessão de coincidências.

IDENTIFICAÇÃO

A técnica do ThetaHealing, que trabalha na frequência da onda cerebral Theta, onde o cliente fica totalmente consciente, atua nessas crenças limitantes. Identifica crenças limitantes e padrões sem as “armaduras” que acabamos por criar em nossa vida por causa dos nossos medos ou para nos encaixar nos padrões da sociedade.

Dito tudo isso, podemos entender que somos seres complexos e negativos que nos impedem de acessar todo potencial que existe em nós e influenciam diretamente na nossa realidade.

O ThetaHealing traz essas crenças do subconsciente para o consciente, faz uma reprogramação e nos empodera para que essa mudança aconteça nos níveis físico, energético, mental, emocional e espiritual. Eleva e modifica nosso campo vibracional e energético para a frequência de saúde plena de equilíbrio e perfeito funcionamento de nossas células manifestando assim uma nova realidade.

A primeira ação no processo de cura e no processo de mudança é a tomada de consciência de que uma ou mais crenças existem em você, pois só podemos trabalhar naquilo que é consciente, naquilo que existe.

Com a técnica ThetaHealing trabalhamos primeiro a tomada de consciência dos bloqueios e limites existentes, depois o empoderamento para que a pessoa esteja apta à mudança e de fato mudar e criar uma nova realidade harmoniosa.

Dessa forma, você faz o resgate do seu amor-próprio, levanta a cabeça e dá a volta por cima. Hora de finalizar o ciclo que não faz bem, sair do campo da vitimização e passar a ser o protagonista da sua realidade.

Outra técnica que auxilia na liberação de crenças limitantes são as barras de Access Consciousness, do americano Gary Douglas.

Consistem em 32 pontos energéticos em torno da cabeça, que são ligados com aspectos de nossa vida e que armazenam toda corrente eletromagnética das sinapses neurais que criam os padrões comportamentais e reações programadas de cada pessoa. O terapeuta, ao tocar em uma barra, dá início à liberação dos registros e a um processo de limpeza energética e desprogramação de crenças, pontos de vista e juízos de valor que criam limitações frente às possibilidades da vida começam a ser liberados.

Por fim, é importante dizer que não eliminamos todas as nossas crenças independentemente da técnica ou filosofia de vida escolhida. E saiba que isso está ok. O que acontece é a expansão quando resolvemos olhar para dentro de nós e mudar a nossa realidade, a forma como pensamos, como agimos e reagimos, como nos colocamos, como nos posicionamos, quando retiramos medos de julgamentos, vitimização e retiramos de nosso campo energético aquelas crenças que nos paralisam em várias áreas da nossa vida. Quando trabalhamos em uma área da vida específica, as relações afetivas, por exemplo, todas as outras, profissional, financeira, social, familiar e área da saúde são afetadas de forma positiva, porque somos um ser único e não tem como mudar apenas uma sem que todas as outras sejam afetadas. A energia de todas as áreas se movimenta e inicia um fluxo leve e abundante, como a vida deve ser.

Mudar é, de fato, uma escolha. Isso jamais podemos terceirizar para outra pessoa. Mesmo que a sua escolha seja ficar onde está, apenas tenha em mente que as mesmas ações trarão os mesmos resultados. Se você escolher isso, também está ok. Escolhas são somente escolhas, não são certas nem erradas. A nossa felicidade é responsabilidade nossa. É responsabilidade nossa sair do lugar onde estamos e ir para urna nova forma de vida. Deixar de culpar os outros por nossas mazelas. É nossa responsabilidade olhar aquilo que precisamos mudar em nós para que nos tornemos pessoas agradáveis e felizes, em primeiro lugar, para nós mesmos. Aí, sim, depois de estarmos em lua de mel conosco, é que nos tornamos pessoas interessantes, nossa vibração se eleva e passamos a atrair a abundância em todas as áreas da nossa vida. Porque isso é possível, é seguro e é permitido nesse aqui e agora.

PROCESSO DE REPROGRAMAR AS CRENÇAS LIMITANTES

Há uma expectativa equivocada nas relações afetivas, como se o outro tivesse a responsabilidade de nos fazer feliz e atender todas as nossas expectativas, caso contrário embarcamos em uma relação fadada ao fracasso e à frustração. Nós somos responsáveis pela nossa felicidade e essa crença de que só somos inteiros somente se tivermos alguém é um equívoco. Nós não procuramos uma relação afetiva, nós atraímos alguém pela nossa energia. Se amamos a nós mesmos, somos pessoas muito mais interessantes para nós e para os outros. Para mudar tudo isso, existem técnicas quânticas que auxiliam no processo de reprogramar as crenças limitantes, substituindo-as por uma nova consciência. Quando fazemos isso, substituímos crenças limitantes (“casamento faz sofrer”, “amar dói”, “relações são desgastantes e conflituosas”, “é mais seguro ficar sozinho (a)” por  “casamento é amor”, “amar é maravilhoso”, “relações são agregadoras e harmoniosas”, “é possível ter um relacionamento e ainda assim permanecer em segurança”. Com isso, as memórias daquela criança no nível primário são substituídas, dando lugar a uma nova forma de pensar mudando o comportamento e empoderando a pessoa de que é possível, é permitido e é seguro amar sem a necessidade de repetir padrões dos outros.

OUTROS OLHARES

A LITERATURA DO F*DA-SE

A profusão de títulos que contêm palavrões anima o segmento da autoajuda com a adoção de uma linguagem que o leitor acha mais próxima da realidades

Por alguma virada de chave que certamente tem a ver com a ausência de filtros das redes sociais, nas quais se dialoga e se monologa sem que um olhe na cara do outro e o baixo calão é regra, o palavrão, esse termo tão condenado nos ambientes sérios, tomou conta das livrarias, exibido com destaque – e asteriscos – na capa de um sem-número de publicações, a maior parte enquadrada no segmento de autoajuda. O movimento de superação pessoal amparado em expressões desbocadas é capitaneado pelo fenômeno de vendas A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, em que o americano Mark Manson ensina ao leitor que não dá para todo mundo ser feliz o tempo todo e… bem, a conclusão está no título. Publicado no Brasil no fim de 2017, no ano seguinte o livro se sagrou o mais vendido no país. Atualmente, junto com F*deu Geral, um texto recém-lançado que procura amparar a tese original em pesquisas, Manson crava 1,3 milhão de exemplares distribuídos no Brasil – no mundo, passa dos 9 milhões.

Boa parcela desse sucesso é creditada ao termo que faz com que os pais ameacem lavar a boca dos filhos com sabão. “O palavrão reflete irreverência e sugere uma linguagem mais próxima do leitor, algo muito valorizado hoje em dia no mercado editorial”, explica Cristiane Ruiz, editora de aquisição da Intrínseca, que publicou as obras do blogueiro americano. Misturar literatura com palavreado chulo é mérito atribuído a François Rabelais, escritor francês da época do Renascimento que, reproduzindo o modo de falar do homem do povo, criou a obra-prima Gargântua e Pantagruel, coletânea de cinco romances satíricos que contêm listas e listas de palavrões, alguns deles especialmente inventados. A prosa irreverente manteve Rabelais afastado dos meios intelectuais de seu tempo, mas não impediu que ele viesse a fazer parte dos grandes nomes da literatura clássica da França. A diferença entre o uso progressivo de obscenidades em textos literários e o fenômeno atual das capas com asteriscos é o tratamento dado à palavra proibida, que virou uma espécie de mercadoria, à venda nas vitrines das livrarias. “É a capitalização do insulto”, define, meio brincando, o historiador Leandro Karnal.

Depois que a semente vingou, a árvore dos títulos que contêm palavrões só faz crescer, forte e frondosa. Publicado em 2017, Seja F*da! (sem asterisco no original), do brasileiro Caio Carneiro – uma espécie de antítese dos conceitos pregados em A Sutil Arte… -, foi o quarto livro mais vendido no Brasil no ano passado, com 160.000 exemplares. A antropóloga Mirian Goldenberg, de sólida carreira acadêmica e autora de 26 livros com títulos do tipo censura livre, acaba de lançar Liberdade, Felicidade & F*da-se! (o “o”, mais criativamente, é substituído por uma bolinha de papel), sobre o público feminino que ultrapassou a casa dos 80 anos. “O f*da-se representa um botão imaginário que, ao ser acionado, proporciona uma velhice mais feliz, mais plena e mais livre, tanto de preconceitos quando de obrigações”, justifica ela.

O verbo utilizado em uma enorme variedade de situações que nada têm a ver com seu sentido original não é a única medalha a figurar no panteão dos títulos desbocados: Como Parar de Se Sentir uma M*rda, estocada nas mulheres “autodestrutivas” escrita pela lifecoach americana Andrea Owen, e Resolva a P*rra dos Seus Problemas, em que Laura Jane Williams ensina o leitor a focar as coisas “que realmente importam”, também estão vendendo muito bem, obrigado. “O título precisa saltar à vista, entre tantas obras do gênero. Além disso, o palavrão soa moderno e atrai um público que, em geral, torce o nariz para a autoajuda clássica”, diz Raissa Castro, editora executiva da Best Seller.

A aceitação do palavrão que praticamente pula na frente das pessoas foi um processo gradual que só se popularizou nos últimos dois anos. Marcos da Veiga Pereira, sócio da Sextante e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, lembra que, em 2011, lançou Vai Dormir, P*rra, tradução de Gothe F*ck to Sleep, livro infantil que tinha uma versão em audiobook narrada pelo ator Samuel L. Jackson e fazia tremendo sucesso nos Estados Unidos. A editora imprimiu 20.000 exemplares, contratou o humorista Hélio de La Pena para fazer a dublagem – e o livro não vendeu nem 5.000 unidades. Agora, ao contrário, os leitores mostram se encantar com a nova embalagem da autoajuda em títulos profanos, impronunciáveis à mesa do jantar.

Especialistas apontam nessa atitude uma espécie de via de escape das pessoas reprimidas, como aquelas que morrem de rir ao ouvir um palavrão no teatro ou no cinema. Agora, se você se diverte com os títulos citados e alguém chega com explicações psicológicas, já sabe – ligue o botão e siga em frente, sem culpa nem remorso. Um asterisco de vez em quando é bom.

GESTÃO E CARREIRA

CADA UM POR SI

A crise econômica e a Gig Economy criaram uma legião de trabalhadores sem carteira assinada no Brasil. Embora seja uma oportunidade de gerar renda, a informalidade pode trazer prejuízos para toda a sociedade

A carteira vazia e a incerteza de quando isso mudará compõem um retrato da atual situação de Wanderley Júnior, de 39 anos. Com duas décadas de experiência na área comercial e passagens por empresas como Unilever e Makita, o profissional está desempregado há 14 meses. Sobrevivendo de bicos que faz como marido de aluguel, em que realiza pequenas manutenções em residências, e como assistente de produção de eventos, Wanderley viu seu padrão de vida mudar radicalmente. “Tive de vender meu carro para quitar o financiamento do automóvel, e minha renda diminuiu cerca de 60%”, afirma.

Casos como o de Wanderley, infelizmente, estão se tornando cada vez mais comuns. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), até maio de 2019, assim como o paulistano, outros 40 milhões de brasileiros trabalhavam no mercado informal. O número é 8% maior quando comparado ao mesmo período do ano anterior. O avanço da informalidade é um dos reflexos da crise econômica, que perdura no Brasil desde 2014. “A recessão e o aumento do desemprego fazem com que cresçam os subempregos: trabalhos sem vínculo empregatício cujas principais características são a baixa produtividade e a má remuneração”, afirma Ruy Braga, pesquisador e professor na Universidade de São Paulo. Os dados comprovam essa realidade. Em março, o número de desempregados no Brasil atingiu a marca de 13,4 milhões de pessoas, segundo o IBGE, enquanto a economia do país retraiu cerca de 0,68%.

Nesse cenário, a informalidade muitas vezes é a única opção para os trabalhadores recém-desempregados, incluindo pessoas com experiência e formação superior, como Wanderley, formado em ciências tecnológicas pela Universidade Federal do ABC, de São Paulo. “Na situação em que estou hoje, sinto-me depreciado. Existem muitos profissionais qualificados aceitando cargos inferiores aos que poderiam ocupar para ter estabilidade. O último trabalho que consegui não dava nem sequer para pagar as contas do mês”, diz.

Com a reforma trabalhista, aprovada em 2017, os bicos ganharam respaldo legal. Na nova legislação há a previsão da modalidade de contrato em regime intermitente, pelo qual as empresas podem admitir os trabalhadores por horas, dias ou meses específicos. Embora ofereça a possibilidade de conseguir uma ocupação com o mínimo de estabilidade, especialistas criticam a opção por representar uma precarização das condições de trabalho. De acordo com Bruno Ottoni, pesquisador do Idados e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a adoção desse novo modelo, contudo, ainda não é expressiva. “A falta de segurança jurídica sobre esse tipo de contrato, já que a legislação é recente e existem muitos pontos que não estão claros, faz com que as empresas se sintam receosas em contratar mediante esse regime”, afirma.

UBERIZAÇÃO E GIG ECONOMY

Além do contexto econômico, o avanço da tecnologia também é um dos responsáveis pelo aumento dos informais. E a tendência de contratação de freelancers por plataformas digitais, como Uber, Ifood e Rappi, ganhou até um nome: Gig Economy, ou economia dos bicos. No Brasil, estima-se que 5,5 milhões de pessoas trabalhem para esses aplicativos de serviços. Se elas fossem reunidas em uma mesma folha de pagamentos, em conjunto, o algoritmo seria o maior empregador do país. “Com o aumento do desemprego, essas ferramentas tornaram-se uma das maneiras que as pessoas encontraram para a criação de renda”, diz o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria. A estudante de farmácia Renata Meira, de 39 anos, é um desses trabalhadores. Há três meses, a pau- lista largou o emprego fixo em uma agência de aluguel de automóveis para trabalhar como motorista de aplicativos de transporte, como 99 e Lady Driver. Seu objetivo era ter mais flexibilidade. “Como optei por me demitir, estou feliz em ter liberdade”, afirma. Para conseguir obter a mesma renda que possuía com o antigo emprego, cerca de 2.500 reais mensais, Renata afirma trabalhar 10 horas por dia. Embora tenha largado o emprego fixo por vontade própria, a profissional reconhece os desafios, principalmente o assédio ao qual está sujeita sendo mulher e trabalhando nas ruas. Tanto é que a escolha pelo Lady Driver, plataforma de transporte exclusiva para mulheres, não foi à toa. “Sinto-me muito mais segura com essa opção”, diz Renata. Contudo, como atua com outras empresas, que atendem público misto, a profissional teve de recorrer a recursos próprios para se prevenir. “Tenho um grupo no WhatsApp com outras mulheres, no qual trocamos experiências, conversamos sobre nossa rotina e mandamos uma para a outra nossa localização. Funciona como uma rede de proteção”, afirma.

Para os gigantes de tecnologia detentores desses aplicativos, Renata e os outros motoristas são trabalhadores autônomos, que não possuem vínculo empregatício. Além de não estarem sujeitos a nenhuma regulamentação e proteção legal, os profissionais que desenvolvem esse tipo de trabalho deixam de contribuir para a Previdência e de possuir benefícios como FGTS, férias ou décimo terceiro e arcam com todo o custo da atividade que exercem. Segundo Trebor Scholz, professor na The New School, em Nova York, e autor do livro Uberworked and Underpaid (“Uberexplorados e sub-remunerados”, numa tradução livre), esses trabalhos, embora sejam considerados ocupações fáceis e com alto grau de flexibilidade, escondem problemas que não são nítidos. “As tarefas da economia dos bicos são muitas vezes curtas, temporárias, precárias e imprevisíveis, e há pouca esperança de progresso na carreira”, afirma.

Motoristas ouvidos pela reportagem, aliás, afirmam sofrer com problemas de coluna e pressão psicológica pelo estresse no trânsito, além das longas jornadas de trabalho. Por esses motivos, as empresas da chamada Gig Economy estão no centro de uma discussão mundial sobre a responsabilidade dessas companhias milionárias sobre as condições de trabalho da mão de obra que contratam. No dia 8 de maio de 2019, por exemplo, motoristas da Uber fizeram uma paralisação em cidades no mundo todo, demandando direitos como maior garantia de segurança pela companhia e diminuição da taxa de corrida que é descontada pela corporação. “Como podemos falar em ‘compartilhamento’ ou ‘inovação’ quando um terceiro monetiza sobre todas as suas interações para o benefício de um pequeno grupo de acionistas?”, questiona Trebor Scholz em seu livro. No Brasil, o autônomo dessas plataformas não possui direito trabalhista definido. Embora algumas decisões da Justiça do Trabalho tenham determinado que há vínculo empregatício entre motoristas e empresas de aplicativos de serviços, outras vão no caminho oposto. “A tecnologia está levantando questões jurídicas que o direito ainda não está pronto para responder”, diz o advogado Renato Lang. Renan Kalil, procurador do Ministério Público do Trabalho, completa: “Como o Tribunal Superior do Trabalho ainda não julgou nenhum caso sobre os direitos trabalhistas desses profissionais, não há uma decisão final sobre o reconhecimento ou não desse vínculo”. No meio do limbo jurídico, quem sofre são os trabalhadores dessas plataformas, que ficam duplamente desprotegidos — pelas empresas e pelo Estado.

TENDÊNCIA PARA O FUTURO?

Segundo especialistas, se por um lado a informalidade tende a cair com a retomada da economia e a criação de postos de trabalho formais, por outro a nova economia criada pelos aplicativos de serviços veio para ficar. A questão, segundo eles, é a pressão cada vez maior por uma legislação que regulamente essa atividade. “É impossível manter uma jornada de 10 horas por dia ao longo de dez a 20 anos. Chegará uma hora em que será preciso criar parâmetros legais”, afirma Ruy Braga, da USP.

Mas se engana quem acredita que os prejuízos da informalidade estejam restritos aos trabalhadores. Segundo economistas, a dinâmica do PIB, um dos termômetros do crescimento da economia, está mais ligada à população ocupada no trabalho formal do que no informal. Isso acontece porque entre os informais o rendimento médio é menor e, consequentemente, o poder de compra também é. “Se a pessoa possui um salário fixo por mês, ela também consegue se comprometer com dívidas de longo prazo, como o financiamento de um automóvel ou imóvel e empréstimos no banco, o que aquece a economia”, diz Thiago Xavier.

Além disso, com tamanha parcela de trabalhadores que deixam de contribuir com o INSS, a previdência social do país também é afetada. “Todos vão pagar a conta. Os contribuintes terão de arcar com a aposentadoria dos informais, e isso virá de onde?”, questiona Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. No caso dos aplicativos, em maio deste ano o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto 9.792, que obriga motoristas de plataformas digitais a contribuir com o INSS. De acordo com o texto, eles podem optar por ser microempreendedor ou contribuinte individual.

Por fim, a informalidade também afeta as condições de vida dos cidadãos e aumenta as desigualdades. Por isso, no relatório Trabalho para um futuro mais brilhante, publicado em janeiro deste ano, a Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), recomenda que governos e empresas aumentem os investimentos em ocupações sustentáveis e decentes para diminuir esse processo de precarização. “Os trabalhadores da economia informal frequentemente melhoram sua situação por meio da organização, trabalhando em conjunto com cooperativas e organizações baseadas na comunidade”, afirma o relatório. Trebor Scholz, inclusive, defende a criação de cooperativas que representem os trabalhadores que atuam por aplicativos. Em seu outro livro, Cooperativismo de Plataforma (Editora Elefante, 20 reais), ele defende dez princípios para a existência de uma relação equânime entre empresas e profissionais, entre eles: pagamentos decentes e seguridade de renda, transparência de dados, uma moldura jurídica protetora, rejeição de vigilância excessiva no trabalho e direito de se desconectar.

Um cenário com todos esses direitos, contudo, parece longe de se concretizar. Basta lembrar do episódio recente, no qual um motorista da empresa de entregas rápidas Rappi morreu depois de sofrer um acidente vascular cerebral e ser ignorado pela companhia, em São Paulo. O caso gerou repercussão e fez com que a startup tivesse de prestar esclarecimentos ao Procon do estado. Em nota, a Rappi respondeu que “não contrata entregadores parceiros. Muito pelo contrário, são os entregadores que contratam a Rappi para, por meio da plataforma tecnológica disponibilizada, entrar em contato com os usuários e angariar clientes para sua atividade comercial de motofrentistas”. A empresa ainda informou que, após o incidente, está desenvolvendo um botão de emergência para auxiliar os trabalhadores. Mesmo com essas alegações, o parecer inicial do Procon-SP concluiu que a falta de vínculo não isentava a Rappi da responsabilidade sobre os entregadores que prestam serviços para a empresa. A decisão pode ser encarada como uma pequena vitória, mas o episódio mostra a urgência na criação de mecanismos que protejam os profissionais — e evitem que histórias trágicas como essa se repitam.

DE OLHO NO BOLSO

Como se organizar financeiramente para enfrentar a informalidade

SEM PERDER DE VISTA

O consultor financeiro Mauro Calil orienta ao trabalhador informal que evite parcelar as compras no cartão de crédito e opte por pagar as despesas à vista para não se enrolar.

DENTRO DA LEI

Para o planejador financeiro José Raymundo de Faria Júnior, todo trabalhador autônomo deve contribuir para o INSS, segundo a lei. Ele afirma que a Receita Federal está fiscalizando com mais intensidade quem sonega esse imposto e indica a categoria de Microempreendedor Individual (MEI) como a mais barata para o informal.

RESERVA DE EMERGÊNCIA

Embora difícil em contextos em que o dinheiro não está sobrando, Mauro Calil orienta ao trabalhador que tente economizar o equivalente à de seis a 12 meses de despesas para situações inesperadas. “Isso vai proporcionar tranquilidade. Se houver algum empecilho de saúde, por exemplo, o indivíduo terá um período para se recuperar”, diz.

A ECONOMIA DOS BICOS

Enquanto os empregos formais caíram, os informais cresceram nos últimos anos

QUESTÃO GLOBAL

O trabalho sem vínculo formal é uma realidade em todo o planeta

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 15 – SOGROS CONTROLADORES

Problemas com sogros controladores são mais comuns entre recém-casados, mas com certeza podem ser um fator que se estende além dos primeiros anos de casamento. Quando enfrentamos conflitos entre nosso cônjuge e nossas famílias, é natural querer defender os pais (ou outros parentes) a quem conhecemos por toda a vida. Todos nós deveríamos ter um grande amor e respeito pelos nossos pais. Mas embora você possa frequentemente aceitar de bom grado o conselho de seus pais, uma vez que tenha se casado, sua obrigação principal é para com o seu cônjuge.

Antes de nosso filho mais velho se casar, eu (John) disse a ele: “Addison, não vou lhe dizer o que fazer em nenhuma área a não ser que você peça meu conselho. Não vou mais tomar a iniciativa de direcionar sua vida. Você está estabelecendo sua própria família, e quero lhe dar espaço para aprender e crescer”. Addison expressou sua gratidão por essa postura e me consulta sempre que deseja o meu conselho.

Meu desejo não é controlar meu filho ou moldá-lo, transformando-o em um clone meu. Quero que Addison se torne tudo o que Deus o criou para ser – e meu excesso de envolvimento em seu casamento poderia impedi-lo de assumir seu papel como líder do próprio lar. (Francamente, tenho ficado impressionado com o que ele tem feito com a sua família. É muito melhor do que eu consegui realizar quando tinha a idade dele!)

A Bíblia é clara:

… O homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. Gênesis 2:24, grifo do autor

Deixar seu pai e sua mãe desse modo significa deixar a autoridade da casa de seus pais. Também significa que você deixa qualquer influência pouco saudável que seus pais possam ter sobre você. É importante honrar seus pais, mas você pode honrá-los sem obedecer a eles. Você formou uma nova família com uma nova hierarquia. Seus pais não são mais as suas figuras de autoridade, de modo que eles não devem dirigir sua vida ou seu casamento.

Talvez você tenha de lidar com sogros que tentam se envolver demais no seu casamento. No início do nosso casamento, um de nossos sogros tentou nos manipular e gerar divisão na nossa união. O envolvimento dela estava se tornando destrutivo, e nossas tentativas sutis de tratar do problema não estavam adiantando. Finalmente, nos encontramos com essa pessoa (a quem ambos honramos e amamos) e expressamos nossa posição claramente.

Eu (John) disse: “Você não vai se envolver na maneira como minha casa é conduzida. Este é um lar totalmente novo. Nós honramos você, mas você não vai controlar as decisões nesta casa. Você não vai nos manipular nem conseguir que as coisas sejam do seu jeito”. Tive de usar palavras fortes porque as abordagens mais indiretas haviam falhado. Felizmente, esse parente entendeu o que estava acontecendo, e agora ela ocupa um lugar apropriado e saudável no nosso relacionamento.

Como casais, devemos proteger nossa união contra toda forma de ataque, inclusive dos membros de nossa família. Geralmente esses ataques não são maliciosos e podem parecer inofensivos. Eles frequentemente assumem a forma de pequenas piadas depreciativas, mas essas observações sutis são sempre destrutivas. Quando realizo cerimônias de casamento, olho para todos os amigos e para a família que está presente e digo: “Ai de vocês que falarem contra esta união. Esta é uma união ordenada por Deus. Não ousem tentar manipulá-la ou separá-la. Declarem apenas vida sobre o que Deus estabeleceu hoje”.

Quando Addison se casou, decidimos deliberadamente não fazer com que ele escolhesse entre sua esposa Juli e nós. A verdade é que ele fez sua escolha no dia em que se casou com Juli, e ficamos muito felizes com sua decisão! Nesse contexto da dinâmica familiar, o amor nunca faz as pessoas escolherem. O amor apoia e constrói pontes entre os relacionamentos antigos e os novos.

Amamos Juli e sentimos que ela é muito mais uma filha que uma nora. Essa proximidade só é possível porque respeitamos sua nova família e permitimos que ela e Addison escrevam sua própria história.

EXPECTATIVAS NÃO REALISTAS

Expectativas não realistas estão entre os motivos para o divórcio mais citados nos Estados Unidos.8 Muitos de nós entramos no casamento esperando felicidade eterna, sexo ininterrupto e um relacionamento tranquilo. Não esperamos que o casamento exponha fiel e irredutivelmente nosso egoísmo e nossas inseguranças, nem prevemos as fraquezas e falhas que encontraremos em nossos cônjuges. Nossas expectativas equivocadas podem se tornar uma fonte de amargura e descontentamento, o que invariavelmente nos impedirá de construir uniões segundo o coração de Deus.

Expectativas não realistas são frequentemente alimentadas por comparações feitas de maneira tola. Estamos impregnados de uma cultura guiada pelo entretenimento. Portanto, estamos constantemente tendo oportunidades de comparar nossos casamentos com aqueles que são retratados nas telas. O cinema e a televisão nos oferecem amor sem trabalho, beleza sem sacrifício e confiança sem risco. Eles enfatizam o aspecto romântico do relacionamento sem retratar os momentos menos “hollywoodianos” da vida.

Se já está casado há algum tempo, você percebeu que o casamento é feito de mais do que encontros românticos, compatibilidade perfeita e dias livres de responsabilidade. Casamento é trabalho árduo, e em geral ele é caótico.

Só porque seu casamento é difícil isso não significa que você não deveria estar casado. Os desafios do casamento são bons porque eles o levam a dar mais de si. Eles refinam seu caráter e o tornam mais capaz. Esse relacionamento tem a ver com grandeza, lembra-se? Todos amam a ideia de crescer e amadurecer, até que passam por uma situação que exija amadurecimento.

A questão das expectativas não realistas não tem a ver apenas com a maneira como a mídia retrata o casamento. Também cometemos o erro de comparar nossos casamentos com os de nossos amigos ou vizinhos. Essa é uma péssima ideia. Não há como sabermos o que se passa por trás dos bastidores do relacionamento dessas pessoas. Tudo pode parecer excelente, mas eles podem estar destruindo um ao outro por trás das portas fechadas.

Também é tentador comparar as diferentes fases dentro do nosso relacionamento. Podemos comparar o momento atual – com filhos, fraldas e pouco tempo livre – a como nosso relacionamento era antes de termos filhos. Logicamente, isso não faz sentido algum. Não há como a sua vida ficar exatamente a mesma depois de você ter filhos. Criar filhos envolve muito menos liberdade e muito mais responsabilidade. Ter filhos muda a sua vida de forma inerente, portanto seu relacionamento matrimonial também será diferente. Sabemos que isso não é muito difícil de entender, mas quantas vezes nos vemos fazendo comparações tolas que diminuem ou sugam a alegria e a realização que estão à nossa disposição no presente?

Theodore Roosevelt disse: “A comparação é o ladrão da alegria”. Se quiser encontrar alegria no seu casamento, você precisa parar de comparar seu relacionamento com outros que parecem ser melhores, quer sejam eles os relacionamentos dos seus vizinhos ou os que são retratados em uma tela. Você nunca encontrará alegria na comparação. A alegria não é mesquinha, portanto, não pode ser obtida através da mesquinharia. Ela transcende as circunstâncias, não está confinada aos sentimentos e encontra sua força em uma consciência do quadro maior – a totalidade do plano de Deus para a sua vida.

A alegria é um fruto do Espírito (ver Gálatas 5:22-23), o que significa que ela é recebida de Deus e não das circunstâncias. Ela não pode ser gerada pela vontade humana. Embora a felicidade seja um sentimento afetado pelas lutas temporais, a alegria transcende as dificuldades. Ela se origina na esperança inspirada pela nossa posição em Cristo. Se nos falta alegria em Deus, nos faltará a força que precisamos para viver bem o casamento, porque a alegria Dele é a nossa força (ver Neemias 8:10). Paulo ecoou esse sentimento nas suas palavras à igreja de Filipos:

Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus. Filipenses 4:4-7

Quando você estiver ansioso por causa do seu relacionamento, leve os seus pedidos a Deus com alegres ações de graças. Ele prometeu trocar as suas preocupações pela paz Dele. Essa é uma boa troca!

Expectativas não realistas roubarão sua alegria e, portanto, roubarão de você a força necessária para seu casamento. Não caia nessa armadilha. Identifique quaisquer expectativas que tenham criado fortalezas no seu relacionamento e arrependa-se por permitir que elas tenham precedência sobre a verdade da Palavra de Deus e o Seu plano único para a sua vida.

AGORA É A SUA VEZ

Por favor, dedique algum tempo para conversar com seu cônjuge sobre o conteúdo deste capítulo. Peça ao Espírito Santo para guiar vocês enquanto anotam o que precisa ser eliminado do seu casamento. Algumas das alterações necessárias serão ajustes de atitude e mudanças de comportamento, que Deus os capacitará a fazer pelo poder da Sua graça. Outras, como as maldições hereditárias, devem ser confrontadas em oração.

Não desanime se você descobrir que suas listas de alterações necessárias têm diversas páginas. Esse exercício não tem a ver com o quanto há de “errado” no presente, nem tem a ver com qual dos cônjuges tem mais problemas. Ele tem a ver com as coisas magníficas que podem ser geradas no seu futuro. Tratando desses problemas agora, vocês estão posicionando sua família para escrever uma história brilhante, um legado do Céu revelado na Terra. Queremos que vocês limpem o convés, para poder seguir em frente livres de tudo que poderia impedi-los de receber todo o bem que Deus tem para vocês. Nós construímos a oração abaixo para ajudá-los a começar a andar nesse caminho.

Que este seja um momento sagrado.

Pai, nós Te agradecemos por nos oferecer um novo começo e um novo legado. Ao fazermos um registro das coisas que precisam ser eliminadas do nosso relacionamento, oramos para que uma atmosfera celestial nos cerque.

Nós Te pedimos, Espírito Santo, para nos conduzir e nos instruir.

Oramos para que os anjos de Deus acampem ao nosso redor, prontos para executar vingança sobre o inimigo que tem devastado nossas famílias de geração em geração.

Oramos por grande graça que nos capacite a perdoar e gere transformação.

Oramos pela renovação das nossas mentes de acordo com a Tua Palavra.

Pedimos pela revelação do Teu amor que lança fora todo o medo.

Pedimos restauração da confiança e purificação dos relacionamentos.

Oramos para que Tu tragas unidade onde tem havido divisão.

Pedimos que Tu nos inspires a sonhar de acordo com as Tuas promessas, e não de acordo com qualquer expectativa ímpia.Declaramos libertação em nossa família. Declaramos libertação no nosso casamento e em nossas vidas individualmente, em nome de Jesus Cristo. Declaramos que o Reino de Deus habita dentro de nós. A vontade de Deus será feita no nosso casamento e no nosso lar, assim na Terra como no Céu. No nome poderoso de Jesus, amém

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

Até algumas décadas atrás era quase impensável aceitar como conceito de família senão aquele que definia um grupo social formado por um casal, ou seja pai, mãe e seus filhos

A Lei do Divórcio, que em 1977 consagrou a dissolução do vínculo matrimonial, mudou também algumas das bases consagradas anteriormente, como o regime de comunhão de bens e a adoção facultativa do nome do marido pela esposa. A consagração da igualdade, o reconhecimento da existência de outras estruturas de convívio, a liberdade de reconhecer filhos nascidos fora do casamento trouxeram profundas e irreversíveis transformações na família, já não identificada pelo casamento, mas pelo vínculo afetivo.

A cada dia surgem, no mundo todo, novas expressões que procuram identificar da melhor forma as famílias resultantes da pluralidade das relações parentais decorrentes de divórcios, novas uniões e separações.

Antigamente, os casais e as famílias geralmente se afastavam definitivamente após o divórcio, reconhecidamente uma ruptura de grandes proporções, mesmo quando havia consenso. Mas hoje existe maior tendência para superar embates pessoais e agregar os membros das famílias em constantes reagrupamentos, tendo em vista a compreensão do papel do outro na vida dos filhos, a necessidade de superar lutos relativos a perdas afetivas e materiais pós- separações e de construir uma vida mais pautada na realidade e na aceitação não preconceituosa. Um passo à frente na construção de lares mais harmoniosos afetivos, dos quais todos precisam.

Um exemplo das dificuldades vivenciadas em outras décadas era a situação que enfrentavam as crianças nascida de pais que não eram oficialmente casados, os solteiros ou desquitados, que chegavam a não ser aceitas em grande escolas e afastadas do convívio de coleguinhas e amigos cujos pais, por um questão de preconceito, não permitia essa aproximação. Temia-se o “mau exemplo”, os “costumes liberais” e outras tantas expressões eram utilizadas para hostilizar e afastar aquelas crianças e jovens cujos pais não seguiam as normas sociais vigentes.

Hoje, 42 anos depois, grande parte da sociedade renovou o conceito tradicional de família, o divórcio ocorre com larga aceitação social e novos casamentos foram criando situações antes raras e até outras inusitadas, pela mudança de costumes e superação de preconceitos.

Foram surgindo novos modelo de família, que inclusive ultrapassa o modelo tradicional do casamento tradicional, para abranger um amplo espectro de possibilidades que vão da união de pessoas de mesmo sexo, pessoas que decidem permanecer sem vínculo matrimonial etc.

A adoção de crianças sem qualquer laço sanguíneo e de filhos vindos de antigas uniões também acabou por se tornar constante: são muitos novos tios, avós, primos que acabam por fazer crescer o núcleo familiar e que se tornam mais evidentes em datas festivas, mas que no dia a dia se adaptam a novas formas de convivência harmoniosa, com mais ou menos facilidade.

As uniões que não têm como objetivo a criação de filhos, como as de mães lésbicas e pais homossexuais, famílias monoparentais criadas a partir do desejo de ter e criar um filho de modo independente, levaram ao surgimento de um quadro que o mundo ocidental e as novas gerações, principalmente, aceitam, mas ainda há pouco entendimento.

Famílias “mosaico” que se formam pela reunião de filhos que cada um traz do casamento anterior são cada dia mais comuns. Mas é importante que cada casal reflita sobre a forma de conduzir essa situação em que, é preciso conviver não apenas com os filhos do parceiro atual, mas com a mãe e o pai dessas crianças, para construir um lar harmonioso.

O tempo sempre ajuda a ajustar comportamentos reativos, comuns nos primeiros tempos de adaptação, quando é preciso receber novos irmãos, que afinal são meros desconhecidos com quem terão que dividir espaço, coisas e atenção. Além disso, há os ciúmes, o apego ao pai ou mãe que não pertence a essa nova família, a saudade de sua vida antiga, a necessidade de se adaptar a novas regras, que podem retardar a assimilação da nova configuração familiar.

Uma questão que está mais próxima das discussões atuais é a dos casais homoafetivos, que cada vez mais optam por criar seus filhos biológicos trazidos de outros casamentos e por adoção.

Nos EUA, país que tem estatísticas sólidas sobre o assunto, mais de 1 milhão de casais gays criam mais de 2 milhões de crianças. E cada vez mais casais gays optam por criar filhos.

No Brasil, onde mais de 60 mil casais gays vivem numa união estável (reconhecida perante a lei em 2011), a história é mais recente e ainda gera muitas dúvidas infundadas. Aliás, foi apenas após 1988, quando entrou em vigor a atual Constituição Federal, que o casamento heterossexual deixou de ser a única forma admissível de formação da família.

Seja qual conformação adote, a família é um núcleo indispensável ao desenvolvimento sadio das crianças: “monoparental”, “mosaico”, formada por casal hetero ou homossexual, sempre que tiver como base os laços afetivos, a vontade de partilhar, o cuidar e o educar, esse núcleo humano será urna família e vai enriquecer e melhorar a qualidade de vida da sociedade como um todo.

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.

irenemaluf@uol.com.br

OUTROS OLHARES

O PREÇO DA LONGEVIDADE

Entra em fase de testes com humanos a rapamicina, droga que adia o envelhecimento – mas para que viver mais se não frearmos as doenças da idade?

O clássico As Viagens de Gulliver, escrito em 1726 pelo irlandês Jonathan Swif’t (1667-1745), é imediatamente relacionado aos minúsculos moradores de Lilliput, pessoinhas de 15 centímetros de altura – menos conhecidos são os struldbrugs, os imortais habitantes do reino de Luggnagg, levados ao exílio dentro da própria terra justamente por viverem para sempre. O que seria o sonho dos sonhos, a eternidade, constata o médico Lemuel Gulliver, transforma-se em drama. Anota ele ao descrever o difícil cotidiano dos struldbrugs: “O modo de vida em que você pensou é insensato, já que supõe que juventude, saúde e vigor duram para sempre: ninguém é tolo o bastante para contar com isso. Se é assim, como passar uma vida eterna com todas as desvantagens que a velhice traz consigo? Entretanto, todos parecem desejar adiar a morte, por mais tarde que ela venha. É raro ouvir dizer que alguém desejou morrer, a menos que estivesse no auge da dor ou da tortura”.

Ao completarem 80 anos, os struldbrugs perdem os direitos legais. Seus herdeiros tomam posse de seus bens, restando-lhes apenas uma pequena pensão para o sustento. São considerados incapazes de exercer cargo de confiança ou atividade lucrativa. Aos 90, perdem dentes e cabelos; não distinguem mais o sabor das coisas. Aos 200 anos, como a língua do país muda constantemente, os struldbrugs de uma época já não entendem os de outra. Para que, enfim, a imortalidade se ela pode ser apenas o prolongamento de uma vida angustiante? E, no entanto, nós, seres humanos, sempre sonhamos com o elixir da juventude das figuras de Gulliver – desdenhando, tal como no folhetim do século XVIII, dos problemas derivados de uma hipotética imortalidade.

O elixir da hora é a rapamicina, um imunodepressor comumente utilizado contra o processo de rejeição a órgãos transplantados e que se mostrou eficiente no bloqueio de uma enzima que acelera a divisão celular, atalho para o envelhecimento. A rapamicina foi descoberta acidentalmente nos anos 1970, na Ilha de Páscoa, ao verificar-se que evitava casos de tétano em quem andava descalço, apesar das perfurações nos pés- seu nome deriva da denominação aborígine do território chileno, Rapa Nui. Constatou-se, em camundongos, um aumento de até 38% na expectativa de vida. A novidade: a substância entra agora na fase de testes clínicos com mulheres e homens. Há, em todo o mundo, pelo menos 2.000 estudos simultâneos em torno do medicamento, com o envolvimento das grandes companhias farmacêuticas. Talvez seja a mais fascinante corrida médica da atualidade. Imagina-se que a rapamicina possa reduzir o ritmo do crescimento de alguns tipos de câncer e frear distúrbios neurodegenerativos, como o Alzheimer. Ela parece ter um efeito semelhante ao de uma dieta de redução calórica, que já se provou eficaz no aumento da expectativa de vida. A rapamicina atua numa proteína chamada mTOR, que controla parte das respostas do metabolismo a situações de stress. O acúmulo de resíduos e proteínas defeituosas nas células cresce ao longo do tempo e estimula o envelhecimento. A rapamicina age nessa estrutura “defeituosa”. Funciona como um disjuntor, que liga e desliga o mecanismo, embora carregue efeitos colaterais relevantes. “O complicado é encontrar a dosagem ideal”, diz o geneticista Hugo Aguilaniu, presidente do Instituto Serrapilheira. “Uma dose menor não dá resultado, e uma dose muito alta pode desencadear efeitos colaterais graves, incluindo dificuldade de cicatrização, pneumonia, maior vulnerabilidade a infecções bacterianas e câncer. É uma troca muito desvantajosa para alcançar a longevidade.”

Vivemos cada vez mais, e desejamos ainda mais tempo – em 1960, a expectativa de vida no mundo era de 52 anos; hoje é de 72. No Brasil, o salto foi de 54 anos, há seis décadas, para 75 anos. A humanidade ganhou longevidade e, ao que tudo indica, conquistará ainda mais fôlego com compostos como a rapamicina. Mas há um dilema, interessante demais para ser abandonado: de que valerá viver tanto quanto um struldbrug, ansiar pela condição de um personagem como Peter Pan, a inesquecível criação do britânico J.M. Barrie (1860-1937), que não cresce e permanece atrelado à mágica e à ingenuidade da infância, sem problemas de saúde e da mente, se formos incapazes de controlar as doenças do envelhecimento?  Trata-se de uma corrida que traz embutida esperança – a esperança de que, adiando o relógio da morte, seja possível descobrir a cura de alguns males mortais, especialmente os associados ao câncer e à falência do coração. Diz o gerontologista britânico Aubrey de Grey, para quem, numa conhecida provocação, o ser humano que terá 1000 anos já nasceu, está vivíssimo entre nós: “Nosso corpo será tratado pela medicina como a engenharia lida com uma máquina – danificou, reparou”.

GESTÃO E CARREIRA

TUDO AO MESMO TEMPO AGORA

Diante de cada vez mais mudanças impostas às mais diversas frentes de seus negócios, grandes empresas criam uma nova estrutura de controle para colocá-las em prática simultaneamente sem perder o foco

Em fevereiro, a fabricante de cosméticos Avon nomeou uma executiva para ocupar, globalmente, um cargo inédito na companhia: a diretoria de transformação organizacional. Enquanto Kay Nemoto constrói, de Londres, a estratégia para a reestruturação da Avon, imersa na maior crise de sua história, as ações de mudança no Brasil são organizadas por Fabíola Bezerra, diretora executiva do escritório de transformação local. Fabíola construiu sua carreira na Whirlpool, onde exerceu a mesma função durante todo o ano de 2018. Batizado de Inova Avon, o movimento de transformação não é simples: envolveu uma reestruturação de equipes, com a extinção recente de dois dos então cinco cargos de vice-presidente, além da criação de 15 frentes de trabalho em praticamente todas as pontas do negócio. Há tarefas tão distintas quanto redução do número de fornecedores e melhoria do relacionamento com as consultoras e o sistema de vendas online, simultaneamente. Cada projeto é acompanhado em um sistema interno, que mostra aos funcionários envolvidos e à diretoria o estágio de cada um. Se há um problema, o grupo em questão aparece em destaque. E é preciso explicar o porquê. A cada semana, a quarta e a quinta-feira são inteiramente dedicadas às reuniões das frentes de trabalho com o escritório de transformação. Às segundas, o comitê diretivo de transformação, com a presença de José Vicente Marino, presidente da Avon no Brasil, supervisiona o processo e entende seu andamento. “Desse modo, conseguimos ter muitas frentes de mudança em paralelo e ainda assim manter o foco em todas elas com indicadores e resultados”, diz Marino. A companhia, adquirida globalmente pela rival Natura em junho, só deverá iniciar a integração com a nova dona em dezembro, após a aprovação dos órgãos reguladores envolvidos.

Uma pesquisa global da empresa de contratação de altos executivos Russell Reynolds, obtida com exclusividade, e realizada com 3.000 líderes de diversas regiões dos cinco continentes, aponta que a urgência em transformar variados aspectos do negócio ao mesmo tempo é uma preocupação quase onipresente no topo das companhias hoje. Com base em informações da consultoria de estratégia McKinsey, o estudo indica que 80% dos presidentes de empresa entrevistados consideram que seus modelos de negócios estão em risco – e que é preciso mudar. Em outro levantamento global, também da Russell Reynolds, apenas 18% dos respondentes afirmam que a cultura da empresa permite que haja mudança. “A pressão para que os líderes sejam capazes de realizar transformação é cada vez maior por diversos fatores, desde a disrupção tecnológica até a mudança no comportamento do consumidor”, diz Mareio Gadaleta, consultor da área de tecnologia da Russell Reynolds.

Com o objetivo de criar uma governança eficiente para lidar com tantas prioridades simultâneas, algumas empresas têm recorrido à figura de um executivo exclusivamente dedicado. É uma forma de combater dois dos principais entraves identificados em qualquer processo de transformação numa empresa: a inércia e a colaboração ineficiente entre áreas que, mesmo interdependentes, funcionam como silos separados. Assim como a Avon, a operadora americana de logística UPS recorreu a essa solução. Em dezembro de 2017, o executivo Scott Price passou a ocupar a recém-criada área de estratégia e transformação. Foi a primeira contratação de alguém externo à UPS, empresa que tem 112 anos, para a alta liderança. Price fez carreira na fabricante de bebidas Coca-Cola, na empresa de logística DHL e na varejista Walmart, presidindo subsidiárias e liderando programas de crescimento. Sob a gestão do novo executivo, a empresa listou 26 tendências com as quais acredita poder tomar impulso para crescer – entre elas a crescente urbanização e a popularização do comércio eletrônico. Para acompanhar esta última, por exemplo, criou, em semanas, a subsidiária Ware2Go, que conecta pequenas e médias empresas em expansão com dificuldades de armazenamento àquelas que oferecem espaço para estoque. “A base da transformação é a estratégia de negócios, é impossível transformar sem tê­la bem definida”, disse Price em entrevista. Para comandar o conjunto de ações de transformação, um comitê de gestão reúne toda a alta liderança em um encontro mensal, que define o investimento a ser feito em cada projeto. A supervisão, no entanto, é acompanhada com mais rigor: a cada semana, o mesmo grupo analisa as iniciativas de transformação em todos os níveis hierárquicos, sejam eles operacionais ou não operacionais. O investimento da UPS em transformação nos próximos três anos será robusto: 20 bilhões de dólares, envolvendo o aumento da frota aérea em 10% e a automação de centros de distribuição. Para motivar uma mudança de comportamento, incentivos também podem ajudar. Foi o que fez a Avon, que alterou o modelo de recompensa dos empregados. “Passamos a reconhecer, na avaliação dos funcionários, atributos como inovação, agilidade e pioneirismo”, diz Danielle Bibas, vice-presidente de marcas, comunicação e cultura corporativa da Avon. A empresa também reduziu a estrutura hierárquica para ganhar agilidade nas decisões. Além de duas vice-presidências a menos, a Avon passou a ter menos níveis hierárquicos. O mesmo aconteceu em meio às mudanças de gestão na rede de lanchonetes McDonald’s, intensificadas no ano passado, quando a matriz americana anunciou demissões e a dissolução de dois níveis hierárquicos. Nesse caso, a intenção era aproximar a liderança da empresa da realidade das franquias. Em 2017 foram definidos três pilares globais de aceleração de transformações. O primeiro diz respeito ao que foi chamado de “experiência do futuro”, com reforma dos típicos restaurantes para inclusão de totens de atendimento, por exemplo, no lugar dos caixas convencionais. Outro é a digitalização da experiência do consumidor, com o uso da tecnologia para criar um marketing mais personalizado. Por fim, há a intensificação do crescimento do sistema de entregas. Esses pilares influenciaram na criação de outras três diretrizes específicas para a operação no Brasil, mas que conversam com a nova linha global de gestão: modernização dos restaurantes, modernização do serviço e inovação constante de produto. A governança dessa transformação é coordenada pelo próprio Paulo Camargo, presidente no Brasil do McDonald’s, administrado pela master­ franquia Arcos Dourados, dona do braço latino-americano da rede. Como parte do processo, foram unidas num mesmo local as equipes antes espalhadas em três escritórios em São Paulo. “Percebemos que a mudança trouxe agilidade à comunicação e aumento da produtividade”, diz Camargo. Em 2017, ele criou, com os diretores da empresa, um painel de controle para medir indicadores em reuniões mensais batizado de Mc Evolution. Ali é possível acompanhar desde o andamento das vendas até o desempenho operacional. “No último ano, tivemos 6,8% de crescimento em vendas, o dobro do que o setor cresceu em média no Brasil”, afirma Camargo. “Também vimos um aumento na retenção dos funcionários.” O resultado final é o argumento mais poderoso de que o esforço valeu a pena.

O QUE ATRAPALHA A TRANSFORMAÇÃO

Segundo um levantamento global realizado com 1.300 executivos, os principais obstáculos à mudança dizem respeito à cultura da organização e à mentalidade dos gestores

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 14 – MALDIÇÕES FAMILIARES

No início do nosso casamento, sabíamos que Deus queria fazer algo novo em nós e em nossos filhos. Era evidente que havia fortalezas que envolviam a vida de nossos pais e avós: coisas como o alcoolismo, a imoralidade e a feitiçaria haviam atormentado nossa linhagem familiar. Antes que pudéssemos receber um novo legado, tínhamos de confrontar as maldições que haviam atormentado nossas famílias por gerações. Essas coisas só podiam ser combatidas em oração e destruídas pela Palavra de Deus.

As especificidades das maldições familiares são diferentes para cada casal, mas eis um exemplo. Em um capítulo anterior, mencionamos que nosso histórico familiar é muito diferente. Eu (Lisa) estava preocupada em como a família de John reagiria à disfunção gritante na minha família. No nosso jantar de noivado, meu pai estava embriagado e flertou desavergonhadamente com a mãe de John – bem na frente do marido dela! Seus atos estavam focados em ferir minha mãe e não em qualquer intenção real para com a mãe de John. Mais tarde, a mãe de John expressou sua profunda preocupação de que nosso casamento seria a primeira vez em que alguém com um histórico de divórcio na família se uniria ao seu clã puro. Ouvi-a comentar com alguém: “Nunca tivemos divórcios na nossa família antes”.

Pensei: É assim que ela me vê? Será que vou estragar esta linhagem?

Saí do jantar sentindo tanto a dor da minha mãe quanto minha própria vergonha profunda. Era como se houvesse balanças capazes de medir o “bem” e o “mal” da contribuição familiar, o bem estava drasticamente pendendo em favor de John. Eu estava trazendo todo o mal: adultério, divórcio e vícios estavam entre os problemas da minha linhagem familiar.

A reviravolta veio quando percebi que Deus não estava preocupado com o bem de John ou com o meu mal. Ele queria uma linhagem santa.

Ouça, ó filha, considere e incline os seus ouvidos: Esqueça o seu povo e a casa paterna. O rei foi cativado pela sua beleza; honre-o, pois ele é o seu senhor… Os teus filhos ocuparão o trono dos teus pais; por toda a Terra os farás príncipes. Perpetuarei a tua lembrança por todas as gerações; por isso as nações te louvarão para todo o sempre. Salmos 45:10-11, 16-17

Esta passagem é primeiramente uma descrição de Jesus e da Sua Noiva, mas Deus usou-a para pintar uma imagem de Sua promessa para a minha vida, uma promessa que não era limitada pelos erros cometidos por minha família no passado. Quando li as palavras “Ouça, ó filha”, algo em mim se tornou vivo. Deus estava falando comigo como Sua filha! Naquele instante, uma nova compreensão da minha identidade em Cristo foi revelada. Rejeitei as fortalezas do meu passado e abracei uma nova esperança para o futuro da minha família.

Percebi que em vez de serem parecidos com meu pai natural (um homem adúltero, alcoólatra e profundamente destruído), meus filhos herdariam não apenas as características do seu pai terreno (um homem de Deus), mas herdariam ainda mais as características do seu Senhor. Firmei-me na promessa de que meus filhos se tornariam príncipes do Altíssimo.

Ao tratarmos das maldições de nossas famílias, vimos a Palavra de Deus se provar verdadeira. Nossa família floresceu nas promessas que Deus estabeleceu sobre nossas vidas durante aqueles momentos de oração e declaração.

ORAÇÃO PARA QUEBRAR AS MALDIÇÕES FAMILIARES

Gálatas 3:13 diz: “Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando Se tornou maldição em nosso lugar…”. Sejam quais forem as maldições que seguiram sua família através das gerações, em Cristo, você não está mais sujeito a elas.

Se você está ciente das maldições presentes em sua linhagem familiar, queremos posicioná-lo a quebrar o que tem limitado e definido seu legado. Esta oração o ajudará a lidar com as fortalezas de satanás com a espada da Palavra de Deus. A libertação das maldições familiares não acontece por acaso; você precisa identificar e atacar os estratagemas de satanás. O alvo dele é impedi-lo de desfrutar a alegria, a paz e a realização que Deus colocou diante de você. Mas por meio da autoridade que agora possui em Cristo, você pode ver seu inimigo ser vencido.

Por favor, separe um momento para fazer uma pausa e ficar a sós antes de prosseguir com esta oração. Se pretende orar agora mesmo, certifique-se de estar sozinho ou apenas com seu cônjuge ou com um amigo próximo ou parceiro de oração. Este é um tempo pessoal e privado, e você precisará fazer suas petições e renúncias em voz alta, bem como dizer suas respostas.

A oração a seguir trata de algumas das maldições específicas que ameaçaram nosso casamento e nossa família. Construímos esta oração combinando versículos, pois a Palavra é a afiada e poderosa Espada de dois gumes do Espírito. Se existem problemas na sua linhagem familiar que não estão incluídos nesta oração, nós o encorajamos a encontrar versículos que tratem desses problemas com a verdade e a promessa de Deus. Crie uma declaração ousada em concordância com a Palavra de Deus e quebre as maldições de sua vida com o poder do nome de Jesus. Incluímos referências para seu estudo posterior no fim da oração.

Querido Pai celestial,

Venho diante de Ti em nome do Teu precioso Filho, Jesus. Entro nas Tuas portas com ações de graças e nos Teus átrios com louvor. Estou maravilhado com Tua graciosa misericórdia e amor por mim, e Te agradeço antecipadamente pela obra poderosa de redenção que realizaste em minha vida.

Agora pretendo fazer uma aliança com o Senhor, o Deus de Israel. Tu és o Senhor, o Deus do Céu e da Terra, o Deus grande e tremendo, que guarda a Sua aliança de amor com aqueles que O amam e obedecem aos Seus mandamentos. Estejam Teus ouvidos atentos e Teus olhos abertos para ouvir a oração do Teu servo. Confesso os meus pecados e os pecados da casa de meu pai, toda transgressão que cometemos contra Ti. Perdoa-nos, pois agimos maliciosamente contra Ti. Mas Tu, Senhor, nosso Deus, és misericordioso e perdoador, embora tenhamos nos rebelado contra Ti e não tenhamos obedecido ao Senhor nosso Deus nem guardado as leis que Ele nos deu através dos Seus servos, os profetas. Nós Te pedimos para circuncidar os nossos corações e retirares o pecado, a vergonha e a acusação do nosso passado.

Confesso e renuncio ao meu pecado e aos pecados de meus antepassados, a todo e qualquer envolvimento com o ocultismo, a feitiçaria ou a adivinhação. (Faça uma pausa aqui, e mantenha-se sensível para acrescentar qualquer coisa que o Espírito Santo traga à sua atenção, para fazer renúncias específicas antes de continuar. Isso pode incluir, mas com certeza não está limitado a astrologia, sessões espíritas, filmes, jogos e livros de terror, etc.). Renuncio ao meu envolvimento com essas coisas e quebro a maldição delas da minha vida e das vidas de meus filhos, dos filhos deles, e dos filhos de seus filhos.

Confesso e renuncio ao meu pecado e/ou aos pecados de meus antepassados na área das drogas e do abuso de álcool. Pai, fecha qualquer porta que isso possa ter aberto na dimensão espiritual para o pecado, o cativeiro ou a opressão. Renuncio ao meu envolvimento com (cite as drogas especificamente pelo nome, se for o caso), e quebro o poder da maldição delas sobre minha vida e sobre a vida de meus filhos, dos filhos deles, e dos filhos de seus filhos. Em nome de Jesus, amém.

Continuaremos a edificar sobre esse princípio tratando das maldições e das amarras da alma relacionadas ao pecado sexual em um capítulo posterior. Por causa da irrevogabilidade da vitória de Jesus na Cruz, você está livre dessas maldições. Você não precisa temê-las nem se preocupar com a possibilidade desses pecados seguirem você ou seus filhos. Você estabeleceu um novo legado para sua família hoje.

Para maiores estudos, veja: Salmos 100:4; 2 Crônicas 29:10-1; Neemias 1:5-7; Daniel 9:8-10; Josué 5:9; Mateus 10:34; Hebreus 4:12; 2 Crônicas 29:5-6.7

OUTROS OLHARES

A BANALIZAÇÃO DA MORTE

A morte é um tabu sempre presente em nossas vidas. Mas os que sonham com a imortalidade podem agora imaginar possibilidades mais concretas, mostradas na ficção científica e que, quem sabe, serão concretizadas pelos avanços da tecnologia

Uma das descobertas mais importantes do homem foi a morte. Nunca saberemos quando ela ocorreu. Foi uma descoberta avassaladora: a morte como algo universal, predestinado. Tudo que vive é um prefácio de uma morte certa, o tempo de vida é muito curto. Uma descoberta traumática. A inescapável mortalidade. O homem é o animal que sabe que será derrotado pela morte.

Com a descoberta da morte, vieram as tentativas de driblá-la. As religiões inventaram a vida após a morte. Ensinaram-nos a não valorizar tanto a vida, para não sofrermos tanto com a perspectiva da morte. “Quem quiser salvar sua vida a perderá”, diz o Evangelho. E sugere que Deus expulsou Adão e Eva do paraíso pois, ao comerem o fruto da Árvore do Conhecimento, poderiam querer se tornar imortais. A promessa da ressurreição da carne é o coroamento da vida eterna para os cristãos. Curiosamente, o Velho Testamento não faz referência, em nenhuma de suas passagens, à vida após a morte.

“O nosso destino é a escuridão”, proclamou Shakespeare na sua peça Antônio e Cleópatra (ato V, cena lI). A morte é um terna sempre presente na literatura e na Filosofia. Há uma longa estirpe de filósofos que se dedicaram a ele, passando por Agostinho, Pascal, Schopenhauer, Kierkegaard e muitos outros. No século passado, Heidegger foi um dos filósofos que mais se preocuparam com esse tema. Para ele, a morte é o Nada, o abismo cardinal, a fonte de toda inquietação humana e do pensamento. Seguindo as pegadas de Heidegger, alguns pensadores existencialistas como Camus e Sartre se debruçaram sobre o significado da morte e da finitude do homem.

O homem do século XXI continua a se debater com o horror absoluto da morte e da extinção de sua espécie. A biologia moderna é a nova narrativa sobre a vida e a morte. A imortalidade da alma é a ancestralidade da vida, sua reprodução indefinida como estratégia para triunfar sobre a morte. O código genético é praticamente o mesmo em todos os seres vivos e é sempre reeditado através das gerações.

Em seu livro mais famoso, O gene egoísta, o zoólogo Richard Dawkins defende que nossos corpos são apenas portadores de genes sobreviventes que, por meio de sucessivas gerações, garantiram otriunfo da vida nos últimos 3,5 bilhões de anos. Todas as espécies que existem são ramificações que surgiram de uma única linhagem primordial. A morte de uma pessoa pode ser um a tragédia individual, mas a espécie humana continuará por mais alguns milhões de anos. Nossa missão, como seres vivos, é transmitir genes.

Mas a biologia não consola ninguém. Quando a questão é a morte de um ser humano, ela serve, no máximo, para que o refrão “e a vida continua” possa ser repetido. A engenharia genética, o transplante de órgãos e até o transplante de cabeças estão a serviço do prolongamento da vida. Mas não nos contentamos com apenas prolongar a vida. Queremos a imortalidade, queremos uma ciência que negue que ela está reservada apenas para os deuses e não para os homens.

Atualmente, alguns gurus do Vale do Silício tentam nos convencer de que é possível fazer uma cópia digitalizada do cérebro das pessoas, com todos os seus circuitos neurais e lembranças. Essa cópia poderia ser enviada para a nuvem, na qual ela duraria indefinidamente. Quem lê esses gurus acaba se convencendo de que a ciência poderá, em breve, burlar a morte. Mas a estratégia para nos convencer de que a ciência poderá lidar com a morte é resultado de uma manobra sutil nas entrelinhas desses textos. Para laicizar a morte, esvaziá-la de todo sentido trágico, é preciso torná-la cada vez mais banal.

O sintoma dessa manobra aparece na ficção científica. Na novela Carbono alterado, livro de estreia de Richard Morgan (que se tornou um seriado de TV), o autor descreve um mundo no qual todas as pessoas têm um “cartucho”, um chip extraordinariamente poderoso que contém uma cópia digitalizada do cérebro. O corpo de uma pessoa pode ser destruído, mas se o cartucho ficar intacto, ele poderá ser implantado em um outro corpo no futuro, que o autor chama de “capa”. Todos passam a vida economizando para comprar uma capa. A única exceção são os católicos, que se recusam a viver novamente e, por isso, assinam um documento registrado no Vaticano para que seus cartuchos não sejam reimplantados.

O cenário descrito por Morgan é bizarro. Nessa sociedade, ninguém teme morrer, pois a morte pode acontecer várias vezes para uma pessoa e ela continuará a viverse o cartucho for reimplantado em outra capa. Uma ameaça de morte não surte efeito. A destruição do corpo e do cartucho não amedronta ninguém. O corpo pode ser substituído por uma nova capa e para o cartucho sempre haverá um backup, que poderia ficar armazenado na nuvem. A morte não é apenas secularizada. Ela é banalizada.

No seriado Westworld há, também, personagens que dizem não temer a morte pois já morreram e voltaram à vida várias vezes. A morte é algo trivial, pois se tornou um problema científico que em breve será solucionado.

Mas o que significa a banalização da morte? Morgan nos fornece a resposta em uma passagem de sua novela, na qual ele afirma: “Mas gente? Pessoas se reproduzem como células cancerosas, são abundantes […) A carne humana é mais barata que uma máquina. É a verdade axiomática de nossos tempos”

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA – é paulistano, formado em filosofia na USP. Viveu e estudou na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre filosofia da mente e tecnologia. Lecionou na UNESP, na UFSCAR e na PUC-SP.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE VALE NO VALE VALE AQUI?

Área rica, com uma abundância de jovens talentos com ideias disruptivas, no vale do silício existe uma cultura organizacional que serve de exemplo

O Vale do Silício não é um território demarcado no mapa com linhas precisas. Ocupa, na Califórnia, uma área que começa no sul da baía de São Francisco e inclui muitas cidades como: Redwood City, Menlo Park, Palo Alto, Los Altos, Mountain View, Sunnyvale, Cupertino, Santa Clara e San Jose. Nelas estão as maiores (e mais prósperas) empresas desta era de inovação digital. O aparente centro gravitacional de tudo isso é a Universidade de Stanford, em Palo Alto.

Com uma abundância de jovens talentos com ideias disruptivas, lá existe uma cultura organizacional, aparentemente única. Se isso é um fato que pode ser transformado em um protocolo de ação, por que o mesmo sucesso não ocorre em outras áreas no mundo?

Não é por falta de tentativas. Muitas cidades criaram modelos semelhantes com incentivos a startups de tecnologia, mas o resultado ficou longe de ser igual. Segundo o Global Startup Ecosystem Report 2019, elaborado pela Startup Genome, o perfil de hoje coloca o Vale em primeiro lugar seguido, de muito longe, por Nova York, Londres, Pequim, Boston, Tel Aviv e Los Angeles. São Paulo aparece na lista como um ecossistema promissor, mas em uma posição distante das demais.

Todos os indicadores, incluindo o número de empresas e os resultados financeiros do Vale do Silício, destoam de forma significativa de quaisquer outras áreas que, teoricamente, competem pelo primeiro lugar em agrupamento de startups de tecnologia. Pelo que se pode notar, mesmo que sejam replicadas as mesmas condições de apoio técnico e financeiro, pela parte governamental, o resultado não se repete.

O segredo do que se observa hoje, como sucesso alcançado, faz parte de uma cultura organizacional impossível de ser transcrita como um protocolo de uma única empresa, pois é a própria estrutura mental do Vale. Podemos tentar desmembrar em alguns itens:

1. QUALQUER IDEIA DEVE SER VALIDADA: Em uma reunião em 14 de junho/2019, na The Vault, em São Francisco (CA-EUA), com Fernando Figueiredo, brasileiro que é cofounder e CEO da Oaktech, empresa de estratégia global e internacionalização, ficou claro que a cultura aceita qualquer ideia nova desde que possa ser validada. Um exemplo disso é LiLou, o porquinho terapêutico do aeroporto de São Francisco. Alguém teve a coragem de apresentar um projeto que afirmava a importância de um porco circulando pelo aeroporto para acalmar os passageiros nervosos, e o gestor teve a coragem de colocar essa ideia em prática para ser validada. Hoje é um sucesso!

2. DESENVOLVIMENTO DE GRUPOSPARA TROCAS DE IDEIAS: Laís de Oliveira, brasileira que desponta como diretora de Desenvolvimento de Comunidades na Startup Genome (essa mesma que faz o levantamento dos ecossistemas de startups), com sede em São Francisco, nos fala da importância da criação de grupos com origens diversas. As comunidades podem, pela sua miscigenação, gerar ideias novas, parcerias produtivas e, além de tudo, financiamentos mútuos. Os projetos podem se intercambiar – sinergia -, gerando desafios impossíveis de serem alcançados por uma só pessoa: parceria é tudo nesse ambiente.

3. PARA TER ABUNDÂNCIA DEVE-SE COMPARTILHAR: Bruno Solis, da Kong lnc., hoje executivo de Contas para a América Latina com sólida experiência em vendas de sucesso, fala com orgulho dos mais de 600 mil usuários de seu sistema que não pagam um centavo sequer. No entanto, o faturamento da Kong é de vários milhões de dólares. Sua base é oferecer plataformas de código aberto e serviços em nuvem para quem deseja gerenciar, monitorar e escalar interface de programação de aplicativos e microservices. A base do pensamento é que quando você distribui o mercado pagador retorna aceitando o preço da credibilidade alcançada.

4. O TALENTO DEVE SER VALORIZADO: Vinícius Depizzol, brasileiro do estado do Espírito Santo, um dos principais designers no escritório da Microsoft Corporation na Market St., em São Francisco, disse que hoje, na cultura do Vale, há um grande cuidado das empresas para manter seus colaboradores o mais seguros e confortáveis possível. Não é o horário de saída ou entrada no prédio da empresa que vai trazer a solução da demanda. Muitos colaboradores passam mais tempo trabalhando em casa do que na empresa e, com responsabilidade e engajamento, apresentam os resultados em seus devidos prazos.

5. NÃO DISPENSAR O PASSADO POR CONTA DO FUTURO: Com Martin Spier, arquiteto de performance da Netflix, numa conversa no Steins Beer Garden em Cupertino, CA – EUA, sobre cultura organizacional e a liberdade que deve ser colocada à disposição dos colaboradores, foi ressaltado algo muito interessante: a Netflix ainda entrega DVDs mensalmente a 1mlhões de usuários. Como uma empresa que é líder mundial em streaming ainda carrega esse peso? A resposta foi direta: é um mercado de milhões de dólares. Embora a tecnologia esteja à disposição, muitas pessoas, por motivos quaisquer, preferem o velho DVD. A Netflix, que começou dessa forma, não abre mão desses clientes e mantém toda estrutura para atendê-los, mesmo que o retorno não seja o mesmo do modelo atual.

6. PENSAR DIFERENTE SEMPRE: A consultora sobre o ecossistema do Vale, Mariangela Smania, quando conduz o seu treinamento “Path to lnnovation” pelo campus da Universidade de Stanford, reforça a estrutura valiosa do Design Thinking, olhar o todo e os detalhes para inovar. Não basta apenas saber da necessidade e ter a solução, muitas pessoas desenvolveram produtos e serviços fantásticos que não tiveram êxito ou foram ultrapassados rapidamente pela concorrência. O pensamento disruptivo é um talento, mas pode e deve ser replicado com a utilização de técnicas apropriadas. São apenas alguns pontos que podemos extrair da cultura reinante no Vale que, pelo que vemos, apresenta resultados. Este texto trata de um pequeno resumo das principais ideias que nos foi possível colher no mês de junho de 2019, quando estivemos imersos nesse ambiente do Vale do Silício e tivemos a oportunidade de ter encontros- verdadeiras aulas – com muitosexecutivos de várias empresas. Esta coluna retrata um pouco do que pude apreender deles sobre a cultura organizacional do Vale. Não é a chave do segredo, mas uma porta importante que vem dando resultados significativos na inovação de grandes e pequenas empresas.

JOÃO OLIVEIRA – é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br).Entre seus livros estão Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam Tenha as Soluções, Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional, Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida, e Saiba Quem Está à sua Frente Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora)

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CONSTRUÇÃO ABSTRATA NA MENTE

Conceitos abstratos são construídos por um conjunto de relações que só fazem sentido quando essa rede está bem trançada. Ela envolve uma série de elementos concretos

A linguagem cumpre um papel fundamental não apenas na comunicação, como na interpretação do ambiente e na identificação das próprias emoções, o que possibilita a formulação consciente de respostas mais apropriadas.

Se, por um lado, a ampliação do vocabulário permite a ampliação da própria consciência e modifica a forma como as pessoas processam suas experiências no mundo, por outro são as próprias experiências que dão sentido à palavra, em uma relação recíproca e interdependente. No entanto, a educação não leva em consideração a forma como a linguagem é compreendida e desenvolvida ao trabalhar uma série de conteúdos que, no decorrer no ensino fundamental, vão ficando cada vez mais abstratos e distantes do universo dos alunos.

As apostilas e livros didáticos esperam que crianças de menos de 10 anos entendam que, na época do descobrimento, havia “características comuns” aos povos indígenas, apesar da “grande diversidade” entre eles, como o fato de não “considerarem a terra uma propriedade particular”. Também devem entender que a “subsistência” era o “produto do trabalho” e não o lucro. Nesse caso, o domínio desses conceitos é um pré-requisito para a compreensão desta pequena parte de um conteúdo, que vai muito além dos fatos citados. O problema é que, em geral, as crianças não têm. Isso não quer dizer que nessa idade não seja possível compreender conceitos complexos: significa que o conteúdo de disciplinas como história, geografia e ciências ainda é totalmente voltado a fatos e pressupõe que os alunos irão, naturalmente, absorver o significado – ou, normalmente, os muitos significados – de um vocabulário abstrato, muitas vezes relacionado a práticas longe da realidade delas. Aprender história sem entender profundamente o sentido de palavras como “subsistência”, “propriedade particular”, “influência” e “diversidade” é como assistir a um filme em baixa resolução e numa língua estrangeira: se tem uma ideia vaga e muitas vezes distorcida do que acontece.

As abstrações, como no caso de “subsistência”, a terra, a plantação, o alimento, os animais – e outros abstratos, como “o lucro, a propriedade, o consumo, o essencial -, estão, por sua vez, ligadas a outros conceitos, em uma série de incontáveis relações. A aprendizagem só ocorre quando o novo elemento é encaixado nessas redes já existentes. Se não é relacionado, não faz sentido, e se não faz sentido, será descartado pelo cérebro.

Essas relações permitem que o novo conceito seja visualizado, ou seja, que o cérebro crie uma imagem mental para ele, o que geralmente ocorre de forma inconsciente. Tanto é que o fato de a mente dar forma a palavras abstratas não era amplamente aceito até recentemente, quando estudos com neuroimagens passaram a amparar essa teoria. Muitas teorias no início do século passado já relacionavam os processos cognitivos às sensações físicas, mas até pouco tempo atrás, a visão mais aceita era de que corpo e mente agiam de forma separada, de que o pensamento envolvia certas partes do cérebro e as percepções envolviam outras. Hoje sabemos que essa divisão não é bem definida.

Temos consciência de uma parte muito pequena – estima-se que 1% – do que se passa em nossa mente. Enquanto esses processos conscientes são lineares, geralmente seguindo – uma sequência lógica, a mente segue vários caminhos paralelos simultaneamente, que caracterizam a forma como as pessoas interpretam e passam por movimentos, imagens e outras percepções.

Investigações neurocientíficas mostram que quando pensamos sobre conceitos amplos – como fracasso, inspiração, ambição, comodismo, rejeição, confiança – ativamos áreas visuais e motoras do cérebro, ou seja, associamos a abstração a elementos concretos. Pode parecer difícil identificar essa relação, por ser inconsciente, mas o mais provável é que o cérebro crie sentido às palavras de forma metafórica.

Quando falamos em afeto, por exemplo, ativamos no cérebro regiões associadas ao conforto e ao calor. Visualizamos o futuro como algo que está à frente; sentimentos negativos são universalmente compreendidos como “para baixo”; descrevemos etapas da vida como caminhos; relações são descritas em termos de percursos e direções. O linguista George Lakoff, autor do termo corporização cognitiva – em bodied cognition -, ampara todo o seu trabalho na ideia de que o pensamento é, necessariamente, metafórico.

Segundo o linguista Benjamin Berger, em seu livro Louder Than Words (Mais alto que palavras), “ações imaginadas, relacionadas metaforicamente às situações, abstratas produzem melhor compreensão dos conceitos expostos”. Juntamente com Nian Liu, em um de seus estudos ele investigou se a mente cria simulações mentais de espaços quando utilizada linguagem abstrata da mesma forma como procede na linguagem concreta, medindo o tempo de resposta dos participantes com relação à locação espacial implicada na frase. Eles encontraram evidências de que mensagens abstratas também acionam simulações mentais, embora precisem de um tempo maior para serem processadas.

A utilização de metáforas e analogias no entendimento de conceitos abstratos, ao descrevê-los em termos mais concretos, está diretamente relacionada à forma corno o cérebro processa a linguagem. Muito mais que um recurso poético ou literário, ensinado de forma isolada, é essencial para se compreender mensagens que dependem de relações com o mundo físico ou que, muitas vezes, estão inconscientemente relacionadas a diferentes sensações e emoções.

MICHELE MÜLLER – é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências. Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br

OUTROS OLHARES

UM PORRE DE SOBRIEDADE

Em nome da saúde e do bem-estar, adolescentes e jovens adultos trocam os coquetéis clássicos por drinques preparados sem uma gota de álcool

Em termos de comportamento, o universo dos “baby boomers”, como são chamadas as pessoas nascidas após a II Guerra Mundial, parece outro planeta comparado ao dos millennials, a turma com idade entre 24 e 39 anos. No lugar dos guitar heroes, passaram a brilhar nos palcos os DJs e seus pickups. Saíram de cena os bólidos possantes e motos envenenadas, entraram em campo os aplicativos de transporte e as bicicletas. Os cigarros que compunham um figurino charmoso viraram sinônimo de péssimo gosto. Agora, os mais jovens podem brindar esse fosso geracional com drinques que contenham na receita xaropes, especiarias e energéticos, entre outros ingredientes. Esqueça dry martinis, mojitos e cosmopolitans: a onda virou “encher a cara” à base de misturas sem nenhuma gota de álcool. Sim, isso mesmo. Em vários bares nos Estados Unidos e na Europa, a happy hour já é movida a várias doses de sobriedade.

Chamada de mindful drinking, ou bebendo deforma consciente, em uma tradução livre, a tendência começa a chegar ao Brasil. Em um passado não muito distante, as cartas etílicas dos bons estabelecimentos daqui traziam escondidas uma ou outra opção sem álcool, em geral feitas de forma improvisada para atender um número residual de clientes. O negócio vem mudando a um ritmo veloz. Cada vez mais, os bartenders investem tempo e criatividade no desenvolvimento de drinques sem álcool. Um dos melhores bares de coquetéis de São Paulo, o Guilhotina Bar, oferece hoje quatro opções do tipo e cerca de dez com médio ou baixo teor alcoólico. “A ideia é disponibilizar alternativas para que as pessoas que não queiram ou não possam beber frequentem a casa e tenham a experiência de curtir o clima do bar”, afirma o bartender e proprietário Márcio Silva.

Vários estudos conseguiram quantificar essa mudança de comportamento. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Nielsen revelou que metade das pessoas com idade entre 21 e 34 anos está tentando beber menos. Na Austrália, a ingestão de álcool atingiu recentemente o seu ponto mais baixo desde o início dos anos 60. O declínio foi causado quase inteiramente pela redução do consumo entre jovens. Na Alemanha e na Inglaterra, países conhecidos pelo alto consumo de cerveja, houve uma diminuição drástica desse hábito no dia a dia dos adolescentes e dos jovens adultos. Por aqui, um levantamento realizado pela empresa de pesquisa de mercado Mintel, em 2018, mostrou que 35% dos millennials limitam a quantidade de álcool ingerida como parte de sua rotina de cuidados com a saúde e 17% trocaram o consumo de bebidas alcoólicas pelo de não alcoólicas. ”Essa geração busca formas diferentes de viver a vida”, entende a psicóloga Ceres Araújo, professora da PUC de São Paulo. “Eles sabem que o álcool faz mal e engorda, e acabam se afastando disso”.

Outra pesquisa da Nielsen ressaltou que 70% dos brasileiros com até 35 anos estabelecem como objetivo de vida ter saúde, e uma das formas de alcançar essa meta é pela mudança de hábitos. No quesito consumo de álcool, isso significa beber menos, sem necessariamente abster-se. O momento de encher o copo fica guardado para festas e ocasiões especiais (às vezes, com algum exagero na data escolhida). De acordo com dados da OrganizaçãoMundial da Saúde, a prática de beber em binge– ou seja, o consumo de pelo menos cinco doses por homens ou quatro por mulheres dentro de um período de duas horas – subiu de 12,7% para 19,4% no Brasil entre 2010 e 2016. No restante do mundo, houve uma redução de 20,5% para 18,2% entre 2000 e 2016. Crescente, o movimento dos drinques sem álcool já provoca mudanças importantes no setor de negócios etílicos. Marcas tradicionais como Heineken e Guinness lançaram recentemente no exterior versões de cerveja sem álcool. A AB InBev, dona da Budweiser e da Brahma, entre outras, assumiu o compromisso de fabricar 20% de seus rótulos com pouco ou nenhum álcool até 2025. Um dos movimentos mais emblemáticos foi protagonizado pela Diageo, a segunda maior empresa de destilados do mundo. Em 2016, a dona do uísque Johnnie Walker comprou a Seedlip, companhia britânica especializada em coquetéis sem álcool. No setor de alimentação, as grandes redes de fast-food tiveram de engolir as mudanças de comportamento e substituíram itens calóricos do cardápio por comidas mais saudáveis. A indústria de bebidas sofre agora pressão semelhante e poderá virar a bola da vez – pelo menos no que depender do gosto dos millennials

GESTÃO E CARREIRA

EXECUÇÃO OU ESTRATÉGIA?

Em muitas empresas, só se pensa no estratégico. Mas nada funciona direito sem pessoas que executem bem. É fundamental um equilíbrio entre as duas funções

Um aspecto da gestão moderna que sempre me preocupou é o endeusamento dos executivos que possuem visão estratégica. Claro que é importante, claro que ter essa habilidade ajuda muito na gestão, mas os líderes que são bons executores também precisam ser igualmente reconhecidos. Como diz o grande consultor indiano Ram Charan, “a melhor estratégia é aquela que é bem executada”.

Sabemos de muitas empresas que possuem um magnífico planejamento estratégico, mas não conseguem colocá-lo em prática, pois tratam a execução como uma disciplina menos importante. O que se ouve é: “O topo faz a estratégia e os ‘lá de baixo’ executam”. Grande erro. O executor é tão valioso quanto o formulador. Eles se complementam e devem ser tratados igualmente, com as mesmas recompensas e reconhecimento.

Existem algumas regras para o processo de execução, as quais reúnem técnicas e comportamentos. Vejamos o que Larry Bossidy e Ram Charan nos indicam em seu livro Execução (Alta Books, 69,90 reais).

1. Conheça bem seu pessoal e seu negócio. Isso parece óbvio, mas não é. Faça as seguintes perguntas: “Qual é o time que vai fazer a execução?” “Será que eu, líder, conheço bem as características de cada um?” “Até que ponto posso desafiá-los?” “Qual o nível de comprometimento de cada um?”

2. Insista no realismo. O bom executor sabe ler nas entrelinhas do plano e sacar sua viabilidade. Essa análise pragmática é fundamental para o sucesso, pois sempre é necessário ter uma dose de realismo para conduzir a execução.

3. Estabeleça metas e prioridades claras e as comunique. As famosas frases “Somos todos adultos” ou “Qualquer criança entende o que precisamos fazer” são inadequadas, desmotivadoras e sem nexo.

4. Trabalhe para concluir o que foi planejado. Não deixe pedaços para serem feitos mais tarde, não pare no meio e não procrastine.

5. Recompense quem faz. Muito cuidado para recompensar aqueles que realmente executaram, que deram o sangue, que fizeram a virada.

6. Amplie o leque de competências do time propondo desafios. Lembre-se de que as pessoas são sempre melhores do que pensam. Portanto, desafie-as, faça com que saiam de sua zona de conforto e cresçam por meio dos desafios.

7. Conheça seus limites. Muitas vezes, não é a equipe que não funciona. É você que está indo além de seus limites e de suas convicções — ou, até, contra seus valores. Por isso, entenda até onde você aguenta. Somos seres humanos com limites que devem ser respeitados.Capriche na execução e você terá a melhor estratégia funcionando

LUIZ CARLOS CABRERA – escreve sobre carreira, é professor na EAESP-FGV e diretor na PMC-Panelli Motta Cabrera & Associados

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 11 – LIMPE O CONVÉS

Limpe o convés: (verbo) Prepare-se para um evento ou objetivo específico lidando antecipadamente com qualquer coisa que possa impedir o progresso

Esse termo náutico originalmente era uma ordem dada a bordo dos navios que se aproximavam de uma batalha. Quando recebiam essa instrução, os marujos sabiam que deviam remover quaisquer ferramentas, cordas ou outros objetos que pudessem impedi-los de se movimentar livremente pela embarcação. Hoje esse termo se aplica a qualquer preparação que nos posicione para agir sem maiores embaraços.

No capítulo anterior, falamos sobre o casamento como um projeto funcional e vivo. O propósito deste capítulo é tratar de quaisquer problemas que possam impedi-lo de avançar e de experimentar a grandeza do casamento. O ato deliberado de limpar o convés de um navio serve para impedir que as cordas se emaranhem umas às outras. Se o convés estiver em desorganizado ou cheio de entulho, é fácil, em tempos difíceis ou em mares revoltos, tropeçar em alguma coisa que você poderia facilmente contornar se estivesse navegando em águas tranquilas.

Amamos a ideia de posicioná-lo para velejar rumo ao seu futuro, levando com você tudo aquilo que lhe sustentará, enquanto ao mesmo tempo lança fora qualquer coisa que possa lhe trazer peso ou deixá-lo ancorado ao passado.

Muitas pessoas não apenas “tropeçaram no convés” e se feriram, como também caíram do barco e se perderam no mar.

O projeto de Deus para o casamento é infalível. No entanto, o casamento parece colocar as falhas de cada um dos cônjuges em evidência como nenhuma outra instituição. Em vez de esperar até estar navegando em uma embarcação que esteja desesperadamente fora da rota – com velas rasgadas, carga perdida, vazamentos no casco e cordas desgastadas – queremos posicioná-lo corretamente para abrir caminho.

Ainda fazendo uso da analogia náutica, a recusa em tratar adequadamente os problemas fundamentais do relacionamento poderia ser comparada a se lançar ao mar com uma rolha tampando um buraco no casco do seu navio. Vai funcionar por algum tempo, mas quando a pressão aumentar, a rolha não irá aguentar.

Não queremos que você tropece ou afunde. Queremos que seu casamento seja uma arca que pode resistir a qualquer tempestade que você encontrar. Enquanto trabalhava no projeto do seu casamento no capítulo anterior, você talvez já tenha reconhecido alguns problemas que precisa tratar antes de poder avançar com aquilo que visualizou. Portanto, vamos procurar cada falha que pode atrapalhá-lo cujas raízes são o egoísmo, o orgulho e a ofensa. Vamos nos libertar de toda maldição que nos acorrenta e de todo medo que nos amarra e deixar que a esperança seja nossa âncora.

NOSSO COMEÇO

Sabemos que limpar o convés é importante porque não foi assim que iniciamos nossa jornada juntos. Não prestamos muita atenção durante o aconselhamento pré-nupcial. Quando nosso conselheiro tentou nos aconselhar sobre como navegar nas águas turbulentas dos conflitos, pensamos: Brigar? Nunca vamos brigar! Deus nos uniu. Este conselho é para pessoas que não estão apaixonadas como nós. Nós não somos essas pessoas. A mão de Deus está sobre nossas vidas.

Depois de apenas algumas semanas de casamento, os problemas começaram. Não demorou muito para entendermos o quanto estávamos errados. Havíamos entrado no casamento enxergando nosso cônjuge como alguém perfeito, mas logo ficamos cada vez mais conscientes de todas as falhas um do outro. Então começamos a trabalhar duro para mudar um ao outro. Em resultado disso, nosso casamento feliz se tornou um campo de batalha entre duas pessoas com muita força de vontade. As fagulhas voavam enquanto ferro tentava afiar ferro.

Ainda não tínhamos a consciência de que nossa união era na verdade fraca e frágil. Sim, estávamos profundamente comprometidos um com o outro, mas cada um de nós valorizava excessivamente o próprio caráter, especificamente nas áreas da paciência e do altruísmo. Tínhamos mais problemas do que gostaríamos de admitir, e até o que era bom precisava ser fortalecido para resistir aos desafios que estavam por vir.

Em vez de permitir que Deus limpasse nosso convés, queríamos apenas limpar um ao outro. O casal que acreditava ser um par perfeito havia acordado do sonho. Ainda fingíamos que tudo estava bem quando íamos à igreja, mas nossa vida doméstica começava a se parecer mais com uma disputa de luta livre.

Durante nosso primeiro ano de casamento, houve um dia em que estávamos envolvidos no que alguns chamariam de “comunhão intensa”. John não queria que eu (Lisa) saísse do quarto, então ele me disse para sentar na nossa cama. Eu queria sair do quarto antes que pudesse dizer qualquer outra coisa da qual me arrependeria logo de manhã. John disse para eu me sentar, e quando eu já estava me levantando para sair, ele tentou fazer com que eu me sentasse na cama para discutirmos as coisas. A combinação do meu movimento levantando e o empurrão de John me fez cair no chão.

Levantei-me e fiquei de pé, segurando um abajur na mão. John olhou para mim incrédulo, com um olhar de terror no rosto.

— O que você vai fazer com isso? — ele perguntou.

— Não sei — resmunguei.

O ridículo daquela cena criou uma oportunidade para nós dois nos acalmarmos e conversarmos sobre o problema, mas a raiz do problema continuou sem solução.

Alguns dias depois desse episódio, eu estava almoçando com uma de minhas amigas. Ela estava casada há mais tempo que eu, e me senti relativamente confortável em me abrir com ela sobre meus problemas matrimoniais. Mas em vez de contar os detalhes do incidente com o abajur, decidi fazer uma abordagem mais sutil. Perguntei de forma casual:

— Você já teve um desentendimento com seu marido e de repente se viu com um abajur nas mãos?

Ela me olhou como se a pergunta fosse absurda:

— Não!

Respondi depressa:

— Nem eu!

Obviamente, eu estava mentindo. Minha amiga provavelmente conseguiu deduzir que a minha pergunta supostamente aleatória era um grito de socorro. Mas a máscara conjugal nos impediu de levar a conversa adiante.

John e eu sentíamos como se não tivéssemos para onde ir. Sérios problemas estavam surgindo em nosso casamento, mas não sabíamos a quem recorrer. Na igreja, escondíamos nossas dificuldades e mascarávamos nossa dor. Sabíamos que o grau de conflito no nosso relacionamento estava aumentando, mas não sabíamos como responder a isso. A vergonha e falta de esperança provenientes da nossa situação fizeram com que as coisas fossem de mal a pior. Consequentemente, a tensão em nossa casa se tornou insuportável.

E então aconteceu. Nosso conflito chegou ao ápice quando eu (John) bati em Lisa. Antes desse incidente, nossas brigas eram físicas – eu já a empurrara uma vez – mas essa foi a primeira vez que dei um tapa nela. Imediatamente, percebi o que havia feito e fiquei completamente horrorizado com meu comportamento e consumido pelo remorso. Lisa revidou e depois se trancou no banheiro. Ambos fomos nos deitar naquela noite sentindo que algo havia se perdido.

Na manhã seguinte, enquanto nós dois nos preparávamos para sair para o trabalho, Lisa estava em silêncio e cada vez mais distante. Parecia que a inviolabilidade e a confiança do nosso relacionamento haviam sido rompidas. Ambos estávamos trabalhando em tempo integral, e à medida que a semana passava, a distância entre nós aumentava. Lisa estava trabalhando com vendas naquela época, e começou intencionalmente a ficar fora até tarde, olhando as vitrines da região para evitar ter contato comigo. Quando finalmente ela voltava para casa, recusava-se a falar ou a jantar comigo e ia direto para a cama ler. Eu estava esperando ansiosamente pelo fim de semana para que pudéssemos finalmente resolver o que havia acontecido.

MEU JURAMENTO

Quando era jovem, eu (Lisa) havia feito um juramento de que se meu futuro marido algum dia me batesse, eu o deixaria. Fui criada em um lar desequilibrado e ficava aterrorizada com a possibilidade de me encontrar em outra situação abusiva. Quando John me bateu, lembrei-me do meu juramento e fui confrontada com uma decisão que poderia transformar minha vida. Será que conseguiria permanecer casada? Será que conseguiria amar e me entregar a um homem que havia me batido?

As pessoas com quem eu trabalhava sabiam que algo estava me perturbando profundamente. Uma de minhas supervisoras supôs o que havia acontecido. Ela me encorajou a deixar John imediatamente, sem conversa. Eu estava esperando o fim de semana chegar para poder trancar John do lado de fora da casa. Além de falar com meus colegas de trabalho, eu estava lendo o livro do Dr. James Dobson O Amor Tem Que Ser Firme, que me inspirou a elevar a situação ao nível de uma crise.

Quando John voltou para casa naquela noite, ele não conseguiu entrar no apartamento. Eu havia trancado a porta por dentro e ele não tinha como entrar. Isso foi antes dos telefones celulares, de modo que ele ficou do lado de fora e chamou: “Lisa, cheguei. Por favor, deixe-me entrar!” Acabei abrindo uma janela para informá-lo de que eu sabia que ele havia chegado, mas que ele precisava encontrar outro lugar para passar a noite. John não conseguia acreditar. Depois de algum tempo, ele percebeu que não entraria em casa, então decidiu passar a noite com um amigo, com o pretexto de orar e jejuar.

Agora que eu tinha a casa toda para mim, decidi ter uma conversa séria com Deus. Creio que minha oração começou mais ou menos assim: “Tudo bem, Deus, tenho algumas sugestões para o Senhor. Enquanto John está fora, ele precisa ter uma revelação do quanto tem sido terrível comigo. Talvez o Senhor possa dar a ele um sonho mau ou assustá-lo com um relâmpago. Apenas não o mate porque ele não tem um seguro de vida muito bom”.

Mas por mais que eu orasse sobre John, a única pessoa a respeito de quem Deus queria falar comigo era eu mesma. Deus não estava interessado em discutir os problemas de John comigo. Ele queria falar sobre como estava o meu coração. Ele me disse: “Lisa, você precisa de uma intervenção sobrenatural no seu casamento. E se quiser uma intervenção sobrenatural no seu casamento, você terá de agir sobrenaturalmente. Isso significa que você deve perdoar mesmo achando que o perdão não é merecido”.

“Lisa”, Deus continuou dizendo, “você está guardando todas as suas mágoas contra o John”.

GUARDANDO MÁGOAS

Quando John e eu brigávamos, não brigávamos apenas sobre o problema imediato. Usávamos a munição acumulada nos nossos meses de casamento para diminuir e desacreditar um ao outro. Um registro sempre crescente de ofensas, condenação e amargura era o fundamento para todos os desentendimentos. Até as discussões menores evoluíam para o que pareciam batalhas de proporções épicas.

Eu, a maior culpada nesses longos conflitos, não estava disposta a perdoar John e suas ofensas passadas. Por causa da mágoa que eu havia trazido para o nosso relacionamento, eu temia a possibilidade de que, se eu cancelasse as dívidas dele, poria em risco minha segurança emocional e física. Mas Deus me disse que embora John estivesse longe de ser perfeito, ele merecia meu perdão.

Continuei tentando dirigir a atenção de Deus novamente para John, mas Ele não estava cooperando. Supliquei “Por que sou sempre eu que tenho de mudar? Espero que o Senhor esteja dizendo a John para fazer o mesmo porque ele não vai mudar a não ser que o Senhor diga a ele para fazer isso”.

Mas em meio a tudo isso, Deus estava revelando a corrupção do meu próprio coração. O orgulho e o egoísmo logo surgiram com suas consequências terríveis. Eu me vi pensando em como as pessoas reagiriam se John e eu não estivéssemos sentados juntos ou de mãos dadas na igreja no domingo. Decidi que permitiria que ele voltasse para casa apenas a tempo de se vestir e me levar para a igreja, para que pudéssemos manter as aparências. Eu não estava preocupada com John ou com nosso relacionamento. Estava preocupada com o que as outras pessoas pensavam a nosso respeito. Meu orgulho estava me impedindo de experimentar o efeito transformador da graça de Deus exatamente onde eu mais precisava dela.

Finalmente me quebrantei e permiti que Deus fizesse Sua vontade no meu coração. Mesmo depois do terrível erro de John, escolhi reconhecer a minha parte no que havia ocorrido. Assim que eu me humilhei, a graça de Deus se manifestou. A humildade sempre abre as comportas da graça:

“Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes.” 1 Pedro 5:5

Ficou evidente para mim que eu não podia mudar John. Só Deus poderia fazer isso. Mas eu podia permitir que Deus mudasse a mim mesma.

Depois daquele fim de semana fora, John voltou para casa um homem diferente. Depois que Deus tratou com ele nos primeiros anos do nosso casamento, ele nunca mais me bateu – e hoje fazem mais de três décadas desde que isso aconteceu. Nossa união foi transformada quando ambos respondemos com humildade diante de Deus e diante um do outro com esperança de uma restauração e reconciliação completas.

MORAL DA HISTÓRIA

Gostaríamos de poder dizer que as feridas daquele período de nossas vidas se curaram da noite para o dia, mas não foi assim. Os dois anos seguintes do nosso casamento continuaram a ser marcados por grandes lutas e dificuldades emocionais enquanto tentávamos aprender a viver juntos de uma maneira que honrava a Deus. Ouvimos todo tipo de conselhos, que variavam desde ambos sermos o chefe até Lisa desaparecer completamente tanto na sua voz quanto no seu papel.

Na nossa imaturidade, frequentemente atacávamos um ao outro verbalmente enquanto Deus estava fazendo uma obra em nossas vidas individuais. Saímos dos nossos quatro primeiros anos de casamento nos sentindo extremamente quebrantados. Em alguns aspectos, vivíamos as consequências dos nossos erros. Havia até mesmo evidências físicas ao nosso redor dos fracassos que vivemos, inclusive uma geladeira amassada e uma janela substituída. Mas Deus não perdeu a esperança em nós. Ele estava redimindo os nossos erros transformando-os em oportunidades de limpar o convés. O que o inimigo havia preparado para destruir nosso casamento, Deus usou como alicerce para o que estava por vir.

Embora sempre tenhamos dito que tivemos dificuldades, nunca entramos em tantos detalhes assim nos nossos ensinamentos. Estamos compartilhando mais informações agora não como uma desculpa para o nosso comportamento, mas para encorajar você a saber que a mudança pode acontecer. Ao mesmo tempo, sabemos que nem todo abuso tem final feliz, e não estamos incentivando nenhuma mulher ou homem a permanecer em uma situação onde eles ou seus filhos não estejam em segurança. Se você está nessa situação, vá para um lugar seguro. Não se envergonhe. Fique em segurança e procure a ajuda que necessitar. Falaremos mais sobre isso em breve.

Durante esses anos desafiadores, nosso casamento parecia completamente destituído de esperança. Trinta anos depois, porém, estamos desfrutando a vida juntos mais do que nunca. Nosso casamento é maravilhoso, o que é verdadeiramente um testemunho do poder de Deus de operar milagres. Isso não quer dizer que não passamos por outros vales ao longo do caminho. Mas de uma coisa sabemos: à medida que escolhemos amar, Deus foi fiel para nos fazer atravessar cada um deles.

Não sabemos como está seu relacionamento hoje, mas podemos lhe garantir que há esperança! Volte seu coração para Deus e permita que Ele trate com você. Você não pode mudar seu cônjuge, mas Ele pode. Entregue a responsabilidade a Ele. Deus começará uma linda mudança se você permitir.

UMA PALAVRA SOBRE ABUSO

Queremos deixar isto claro: marido, nunca é aceitável que você parta para o embate físico com sua esposa. A Bíblia diz que você deve honrá-la como o vaso mais frágil (ver 1 Pedro 3:7). Os ataques emocionais ou até físicos de sua esposa não lhe dão o direito de reagir da mesma maneira. Afaste-se se for preciso. Não reaja fisicamente, ainda que seja apenas em retaliação aos ataques dela, ou você perderá a confiança de sua esposa. Ela não se sentirá mais segura nos seus braços. Se você cometeu abuso contra sua esposa, arrependa-se imediatamente diante de Deus e peça perdão a ela.

Esposa, o desejo natural do seu marido é protegê-la. Deus deu a muitos homens uma força superior com esse propósito específico. Você pode considerar ataques físicos a seu marido como ataques de raiva banais e inofensivos, já que eles não causam danos físicos a ele. Mas para seu marido, seus ataques são devastadores. Certo ou errado, os homens foram feitos para reagir fisicamente quando são atacados. Não queremos provocar ou despertar o pior um no outro; queremos trazer para fora o melhor. Se você cometeu abuso contra seu marido, arrependa-se e pare imediatamente com esse comportamento.

Talvez você tenha crescido dentro de uma cultura familiar violenta. Talvez em sua família o abuso verbal, emocional ou físico fosse algo normal. Queremos que você saiba que essa nunca é uma maneira saudável de resolver os conflitos. O aconselhamento cristão pode lhe dar as ferramentas necessárias para resolver os desafios de sua vida pessoal e familiar de forma saudável. Muitas igrejas oferecem pequenos grupos de estudo sobre esses temas. Jamais sinta vergonha de procurar ajuda profissional e espiritual.

E isso vale tanto para maridos quanto esposas: se seu cônjuge se sente inseguro com relação a você, saia de perto dele e trabalhe para recuperar essa confiança. Não tente forçar uma conversa em qualquer ambiente onde ele ou ela se sinta em risco. Se fizer isso, as coisas só irão piorar, e você provavelmente fará algo que lamentará mais tarde.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AS DIMENSÕES DA PAIXÃO

A ideia de se apaixonar provoca desejo e medo. Não é um terreno seguro. Ainda que a paixão seja correspondida, gera fragilidade, pois o objeto de amor pode ou não suprir as expectativas

Há uma supervalorização das ações e significados de tudo que envolve o ser amado. Por isso o medo das pessoas de se verem enredadas nas garras da paixão. Evitar a todo custo relacionar- se por medo da paixão e do amor é um indício de grande bloqueio e revela mecanismos de defesa muito consolidados, provocados geralmente por vivências traumáticas.

Como escreve o psiquiatra Renato Mezan no livro Os Sentidos da Paixão: “A defesa – qualquer defesa – tem a finalidade óbvia: evitar o desprazer. Isso não a impede de gerar, por vezes, um intenso desprazer; mas esse último será sempre fantasiado como um mal menor, se comparado com aquilo que sucederia caso a defesa fosse abandonada. Boa parte do trabalho psicanalítico, aliás, consiste no reexame das fantasias e das angústias que povoam a vida psíquica do paciente”. Entregar-se à paixão é antes de tudo um ato de coragem.

Baixar as defesas que impedem o contato com o outro e o risco da paixão como possível consequência é iniciar uma jornada de heroísmo. O que enfrentaremos nessa empreitada é um mistério. Quando se está aberto à vida e às experiências, estamos sujeitos ao apaixonamento. Esse processo geralmente revela a nossa “sombra”. Sombra é um conceito da psicologia junguiana que designa conteúdos arquetípicos tanto destrutivos como construtivos, que foram recalcados e esquecidos e assim passíveis de projeções. A revelação da nossa sombra e de nossos complexos, através da relação com o outro, pode ser equiparado simbolicamente aos 12 Trabalhos de Hércules, ao enfrentamento da Medusa e das sereias na jornada de Ulisses e seus companheiros ou aos desafios de Psique para reencontrar o amor de Eros. Metáforas da mitologia que podemos considerar como os desafios de viver e amadurecer. Todos os seres assustadores desse caminho estão dentro de todos e podem ser despertados. Não há melhor forma de conhecermos nossas fragilidades psíquicas e inseguranças do que na relação com o outro. Após algum tempo de relação, as idealizações iniciais começam a colapsar e a realidade se apresenta. Se os parceiros avançaram pouco na senda do amadurecimento e autoconhecimento, podem surgir muitos conflitos e o relacionamento pode tornar-se um campo de disputas. Por questões narcísicas arcaicas pode não ser fácil para o indivíduo reconhecer a parte que lhe cabe nos conflitos, gerando mágoa e ressentimento no parceiro. Principalmente se houve interrupções em seu processo de amadurecimento afetivo.

Amar talvez seja a tarefa mais complexa da existência humana. Desde que nascemos, de uma forma ou de outra, estamos nos preparando para amar. “Talvez seja o trabalho para o qual todos os outros trabalhos não sejam mais do que a preparação”, disse o psiquiatra Ronald Laing (1954). O amor diferentemente da paixão exige um grau de maturidade a ponto de se ter condições de considerar o outro e suas necessidades, diferentemente da paixão que é permeada por questões mais narcísicas e autocentradas. Na busca de alcançar a maturidade para que a paixão possa evoluir para um sentimento verdadeiro e compartilhado em que o outro é tão igualmente importante e1n seus desejos e necessidades, existe um árduo caminho.

Esse caminho é descrito por Carl Jung nos estudos alquímicos e o processo de individuação. Transformar nossas mazelas na “pedra filosofal” como desejavam tanto os alquimistas é tarefa nobre. Não alcançaremos o Opus sem antes passar por todos os processos de transformação, tão bem descritos por Edward F. Edinger em seu livro Anatomia da Psique. Nesse livro o autor descreve as etapas do processo alquímico a que são submetidos os materiais e a sua correspondência ao processo de autoconhecimento. Esses processos incluem: submeter-se ao fogo, à água, ao ressecamento, à dissolução para que ocorra a verdadeira transformação do “metal bruto” em “ouro”. Tudo isso simbolicamente pode acontecer quando estamos apaixonados e sujeitos a todas as intempéries que isso significa. Não vamos ganhar os louros sem antes enfrentar nossas batalhas internas.

Neste momento, esse trajeto pode ser feito com muito mais conforto e profundidade se o indivíduo estiver disposto ao processo psicanalítico. A situação transferencial da análise também é de certa forma uma relação amorosa, que pode reproduzir em seu contexto os enfrentamentos reais do paciente em seu cotidiano. A análise se propõe a propiciar local adequado e seguro para que as defesas sejam aos poucos identificadas e afrouxadas, enquanto outros recursos mais saudáveis estão sendo alicerçados no trabalho conjunto com o analista.

ELAINE CRISTINA SIERVO – é psicóloga. Pós-graduada na área Sistêmica- Psicoterapia de Família e Casal pela PUC- SP. Participa do Núcleo de Psicodinâmica e Estudos Transdisciplinares da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica – SBPA. Atuou na área de dependência de álcool e drogas com indivíduos, grupos e famílias.

OUTROS OLHARES

AMEAÇA DEVASTADORA

Relatório da ONU revela que se o aquecimento global não for contido antes do fim do século, com a proteção de florestas, por exemplo, será mais difícil produzir alimentos para a humanidade

“Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que ele pode ser produzido.” A máxima, de autoria do gênio italiano Leonardo da Vinci, que morreu há cinco séculos, caberia bem como epígrafe do novo relatório do IPCC, o órgão da ONU que trata de mudanças climáticas, divulgado na quinta-feira 8. Nele, mais de 100 cientistas de 52 nações fazem um alerta sobre os riscos à produção de alimentos representados pelo aquecimento global – a causa em questão que pode levar a natureza a produzir seus efeitos, danosos, no mais breve período possível. Ao tratar de alimentação, um aspecto pouco observado nas discussões sobre a elevação da temperatura terrestre, o documento do IPCC pode ser classificado – metafórica ou literalmente – como um autêntico soco no estômago.

O estudo foi produzido com o propósito de, mais uma vez, chamar atenção para as providências que têm de ser tomadas a fim de que se cumpram as metas fixadas pelo Acordo de Paris, definidas em 2015, que teve a adesão de 195 países. O tratado estabeleceu um limite de aumento de 1,5 grau na temperatura do planeta até 2100. Mas, para que isso aconteça, cada nação deve adotar medidas capazes de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Para se ter uma ideia da gravidade do problema no que tange aos alimentos, a elevação de 1 grau na temperatura da Terra significará a redução de 7,4% na produção mundial de milho até o fim do século. Diante disso, o relatório do IPCC lista as saídas para evitar o pior. Para começar, será preciso conciliar as atividades agropecuárias que recorrem ao desmatamento com a perspectiva da necessidade de alimentar quase 10 bilhões de pessoas em pouco mais de três décadas (estima-se que essa será a população do globo em 2050). Ao mesmo tempo, as áreas de plantio terão de dividir espaço com a produção de biocombustíveis, como o etanol, para zerar de vez o uso de fósseis como fonte de energia. Em resumo, a forma de conservar e utilizar o solo precisará ser transformada radicalmente para evitar o aumento da temperatura no planeta.

O relatório dividiu a discussão do problema em quatro pilares: a redução do desmatamento de florestas tropicais (para a pecuária e a mine ração, por exemplo), como a Amazônia; a necessidade de investir em reflorestamento, visando à retenção de C0 2 e à segurança hídrica; a produção sustentável de alimentos; e a adoção definitiva, e com urgência, dos biocombustíveis. Em seu documento, o IPCC costurou dados da literatura científica publicados até 2016 – a última data em que se consolidam informações sobre o assunto – e apontou as ameaças para a população de toda a Terra. O estudo não especificou as ações que devam ser adotadas em cada país. Os dados estão postos para que os governos definam o melhor modo de agir, de acordo com a sua realidade.

Segundo o IPCC, as atividades humanas têm algum tipo de impacto sobre mais de 70% da superfície terrestre – são as áreas onde as populações se estabeleceram para produzir comida e encontrar água doce, por exemplo. Cerca de 25% do solo é usado para cultivar alimentos e madeira e gerar energia, o que acaba aumentando em 23% os gases do efeito estufa. A terra é tanto causa como solução para o problema dessas emissões. O sequestro de dióxido de carbono da atmosfera ocorre durante a fotossíntese, na qual os vegetais tiram o C02 do ar e expelem oxigênio. Por isso derrubar florestas para abrir lavouras e pastos reduz a área que auxilia no combate ao aumento da temperatura global. Há aproximadamente 1,4 bilhão de cabeças de gado em todo o mundo, responsáveis por nada menos que 40% da emissão anual de gás metano – que pode causar desequilíbrio no efeito estufa. Ou seja: os animais que alimentam a população também atacam o meio ambiente.

Para a diretora executiva da seção brasileira do World Resources Institute (WRI), instituição americana dedicada ao estudo do clima, Rachel Biderman, o relatório põe em xeque a segurança alimentar da humanidade – e o Brasil está diretamente ligado à questão. “O país é um dos maiores emissores de gases e está caminhando na direção contrária do que foi proposto em 2015, em Paris. O Brasil possui exemplos de produção sustentável, e temos de colaborar mais para resolver o desafio das mudanças climáticas”, afirmou ela.

A controversa posição brasileira no que diz respeito ao meio ambiente tem um sinônimo: Jair Bolsonaro. Ainda quando candidato ao Planalto, ele deu a entender que poderia sair do Acordo de Paris, a exemplo do que fizera o presidente americano Donald Trump. Contudo, nem mesmo a ala ruralista apoiou os planos do então presidenciável, o que o levou, depois de eleito, a manter a Pasta dedicada à área e o compromisso climático assinado quatro anos atrás. Entretanto, os primeiros meses de seu governo foram repletos de decisões equivocadas no setor ambiental. Na sexta-feira 2, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, foi exonerado em consequência das críticas que fizera a Bolsonaro quando ele questionou os números da instituição sobre o desmatamento no Brasil – que revelaram um aumento de 68% na devastação da Floresta Amazônica na primeira quinzena de julho, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O presidente considera que, nesse assunto, o Brasil é vítima de números mentirosos e tem de se defender do interesse internacional na Amazônia. Por sua vez, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, recomendou a criação de outro sistema de monitoramento do desmatamento. A revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do planeta, citou o episódio do Inpe e defendeu a tese de que os cientistas não trabalham para a esquerda ou para a direita, e sim pela sobrevivência e pela prosperidade da própria humanidade.

O relatório do IPCC também chamou atenção para a emergência da transformação de certos comportamentos. Atualmente, algo entre 25% e 30% dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados. Mudanças nos padrões de consumo contribuíram para que cerca de 2 bilhões de adultos estejam obesos ou com sobrepeso, ao mesmo tempo que 821 milhões de pessoas estão subnutridas. Uma das recomendações do IPCC é adaptar a dieta. De acordo com o órgão, uma alimentação mais equilibrada, saudável e sustentável será essencial.

Segundo o físico brasileiro Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), que participou da elaboração do documento, a questão da produção de alimentos é crucial. “O setor da agricultura é responsável por 23% das emissões de gases do efeito estufa. Quando as populações com menor renda, como africanos e asiáticos, puderem consumir carne, a demanda vai aumentar. Precisamos encontrar o equilíbrio”, disse ele.

Desde o período pré-industrial – que vai de 1850 a 1900 – a temperatura nos continentes, onde a maior parte da população da Terra está concentrada, aumentou mais do que a média global. Em terra, os termômetros já ultrapassaram desde então o acréscimo de 1,5 grau, a previsão otimista estabelecida no Acordo de Paris. Quando se considera o planeta como um todo, a elevação da temperatura, no mesmo recorte temporal, foi de 1 grau. Durante a mais recente onda de calor na Europa, Paris atingiu o seu pico em 25 de julho, data em que os termômetros marcaram 41 graus e o governo francês declarou, pela segunda vez em menos de um mês, um alerta vermelho de calor – o nordeste do país estava com máximas previstas de 43 graus.

Ao mesmo tempo que o cenário internacional preocupa, há chance de reverter o caos que se desenha no horizonte. Todavia, para além do esforço político, será preciso investir muito em tecnologia. “Ainda não temos meios técnicos para reduzir a emissão de metano na produção de carne, por exemplo”, explicou Paulo Artaxo.

A ONU reconhece a relevância do papel de comunidades tradicionais e indígenas como aliadas no trabalho da conservação ambiental. No mundo, elas são responsáveis por manter em pé cerca de 40% de todas as áreas protegidas e mais de 65% das terras mais remotas e menos habitadas do planeta. Assim, a parceria entre ciência e tradição pode ser a chave para a contenção de uma resposta que a natureza, tendo como causa a humanidade, pode nos dar muito em breve.

FOME E SEDE

O cenário desolador apontado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

** Entre 7% e 40% da superfície da Terra Já está degradada. A ação humana é a principal responsável por isso

** No caso do Brasil, 8% do território se encontra atingido por alguma forma de degradação

** A piora do solo deve reduzir a produção global de alimentos em 12% até 2100

** A cada elevação de 1 grau na temperatura do planeta haverá redução de 7,4% na produção de milho, 6% na de trigo, 3,2% na de arroz e 3,1% na de soja ** As áreas secas em todo o mundo devem aumentar 10% antes que o século termine. levando 700 milhões de pessoas a viver em regiões

GESTÃO E CARREIRA

O GUIA DO AUTOCONHECIMENTO – II

PROCURAM-SE LÍDERES MAIS HUMANOS

Por que o autoconhecimento é importante para a boa gestão

Um estudo, divulgado neste ano, em parceria entre a consultoria em desenvolvimento de lideranças Green Peak e a Universidade Cornell, ambas nos Estados Unidos, analisou a experiência, o estilo de gestão e os resultados de 72 executivos de empresas públicas e privadas e revelou o seguinte: os profissionais capazes de construir boas relações com e entre o time entregaram melhores resultados financeiros do que os que eram vistos como tiranos. Entre as explicações dos pesquisadores, a habilidade de compreender como se dá a interação dentro do time e a consciência das potencialidades e fraquezas de cada um (incluindo a si mesmo) permitiria ao líder montar uma equipe equilibrada e produtiva. Além disso, a curiosidade de olhar além das experiências pessoais e de se interessar pela realidade do cliente favoreceria a tomada de decisões assertivas e focadas em resultado.

Nas organizações, espera-se que o líder pratique e propague a cultura criando significados para os subordinados produzirem se sentindo engajados e valorizados em sua individualidade. Ser acessível, saber se comunicar e agir com transparência — inclusive em relação ao que não sabe e precisa de apoio do time —, em vez de distribuir e fiscalizar ordens e processos, são atributos de uma gestão moderna e autoconsciente. Porém, nem sempre há empenho por parte das chefias para olhar além de si mesmo, muito menos admitir a própria vulnerabilidade. Pesquisas mostram que, quanto maior o poder de um gestor, mais ele tende a superestimar suas capacidades (em comparação com a opinião dos subordinados).Ainda assim, o futuro aponta para profissionais conscientes de que o aprimoramento como pessoa é condição para criar e inspirar culturas organizacionais mais saudáveis e estafes mais eficientes. Em escolas de educação executiva de referência no mundo, como Harvard, Stanford e Yale, a arte vem sendo usada há algum tempo como recurso na formação desse tipo de liderança. A ideia não é exatamente usar pintura, escultura, teatro e música de forma lúdica ou para entretenimento, mas como objetos de análise e interpretação para levantar discussões sobre ética, racionalidade, inovação e liberdade. “A arte estimula novas formas de pensar, permite olhar as situações além do óbvio, desenvolver pensamento crítico e resgatar valores humanos, como generosidade, respeito e sensibilidade, tão importantes nos ambientes de trabalho”, explica o professor e pesquisador Ricardo Carvalho, especialista em arte e gestão da Fundação Dom Cabral

ALTO IMPACTO

Saber mais sobre você mesmo faz muita diferença nos assuntos abaixo

VALORES: Entender que há condições inegociáveis e esforços que você não está disposto a fazer quando o assunto é trabalho é um bom ponto de partida para tomar decisões com menos desgaste mental e emocional. O emprego permite trabalhar home office, mas a carga horária inclui fins de semana e feriados? O salário é bom, mas são muitas conduções e horas no trânsito para chegar ao escritório? Com autoconhecimento fica mais fácil dizer “não, obrigado” com convicção e evitar agir levado por motivações de curto prazo.

COMPETÊNCIAS: Após muito tempo numa função ou quando se está operando no piloto automático, é comum achar que você é bom apenas em certas tarefas ou que sabe fazer as coisas de um único jeito. Só que não. Manter o olhar atento e generoso para suas habilidades é uma forma de ampliar a visão que tem de si mesmo e seguir sempre estimulado. Inclua nessa investigação capacidades que tem fora do ambiente de trabalho — muitas delas podem ser empregadas no contexto profissional —, assim como a opinião de terceiros sobre suas qualidades. Aprenda também a separar o que você realmente é do que gostaria de ser — eis uma cilada frequente. Ter essa imagem clara a seu respeito é útil, inclusive na hora de preparar uma descrição realista em um currículo ou entrevista de emprego.

PRODUTIVIDADE: Conhecer sua personalidade e seus interesses é chave para desenhar uma rotina de trabalho fluida e eficiente. Serve, por exemplo, para descobrir se você desempenha com mais disposição e foco de manhã ou à tarde, na tranquilidade do home office ou interagindo no coworking, entre tantas outras escolhas que influenciam diretamente a rotina profissional.

RELAÇÕES: Quem enxerga bem a si mesmo, aceitando e acolhendo as próprias falhas, dúvidas e inseguranças sem cair no excesso de autocrítica, tende a ser mais tolerante com os erros e as inseguranças dos outros. Isso melhora a colaboração na equipe, aumenta o bem-estar e se reflete em resultados positivos. Mas não se trata de forçar o entrosamento ou achar que precisa se dar bem com todos daqui para a frente. Em ambientes com muitas personalidades é normal que nem todos os santos batam. E tudo bem, desde que o esforço seja pela civilidade e pelo respeito.

SAÚDE: Conhecer (e respeitar) os próprios limites, saber dizer não, ajustar expectativas em relação a si mesmo e aos outros. Essas atitudes, que vêm com a maturidade e o autoconhecimento, nem sempre são fáceis de colocar em prática, mas demonstram autocuidado e previnem males tão presentes no cotidiano profissional quanto nocivos para a saúde e a autoestima, como ansiedade, insônia, abuso de medicamentos, depressão e burnout.

VOCÊ SABE QUEM É DE VERDADE?

Reflita sobre as afirmações abaixo e, deixando o julgamento de lado, marque sim (S) ou não (N) de acordo com a percepção que tem de si mesmo. Peça a uma pessoa em quem confia e que considera que o conheça bem para também responder às questões com base na percepção que tem de você (e não dela mesma). Em seguida, compare os resultados. Aproveite as discordâncias para saber mais sobre a imagem e as impressões que vem transmitindo e detectar possíveis fontes de conflito (interno e no ambiente). Você deve usar   as informações como ponto de partida para definir mudanças de comportamento e caminhos para desenvolver o autoconhecimento

  1. Quando erro, sou capaz de reconhecer o erro. S ( ) N ( )
  2. Tenho clareza sobre o que me faz feliz. S ( ) N ( )
  3. Sei o que me faz bem e mal em meu ambiente de trabalho. S ( ) N ( )
  4. Sou flexível e adaptável a mudanças. S ( ) N ( )
  5. Tenho clareza sobre minhas metas pessoais e profissionais. S ( ) N ( )
  6. Reconheço padrões em meu comportamento. S ( ) N ( )
  7. Tenho consciência do impacto de minhas ações nos outros. S ( ) N ( )
  8. Meus valores e crenças orientam minhas atitudes. S ( ) N ( )
  9. Gosto de analisar a situação antes de tomar decisões. S ( ) N ( )
  10. Me relaciono bem com a maioria das pessoas no trabalho. S ( ) N ( )
  11. Sei quais são meus sabotadores de produtividade. S ( ) N ( )
  12. Não tenho dificuldade em pedir ajuda. S ( ) N ( )

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 10ESCREVENDO SUA VISÃO

Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo.Habacuque 2:2, ARA

Mais uma vez, nunca é tarde demais para escrever a visão que você tem para seu casamento. Sinta-se livre para escrevê-la e reescrevê-la até ter algo que seja nítido e fácil de entender. Uma visão clara lhe dará a energia que você precisa para correr até a linha de chegada.

Dedique algum tempo para conversar com seu cônjuge (ou futuro cônjuge) sobre a visão que vocês compartilham para seu casamento. Se você é solteiro, comece a documentar o seu lado da visão agora. Encontre um lugar onde possa sonhar. Seja específico quanto aos seus desejos e expectativas. Determine aquilo do qual não abre mão, e não tenha medo de sonhar grande! Essa visão será a estrela que o guiará nos dias que se seguirão.

O casamento é como uma corrida de longa distância na qual décadas separam a linha de saída e a linha de chegada. Muitos casais sonham em curto prazo. Eles sonham em comprar uma casa e criar uma família, o que são grandes alvos, mas nenhum deles os levará muito longe. Há muito mais. Continue sonhando!

Tenha em mente que você e seu cônjuge estão correndo juntos, e não competindo um com o outro. Você não pode completar sua corrida sozinho, por isso vocês precisam trabalhar como uma equipe. Se tiveram um começo difícil, sintam-se consolados por saber que a maneira como terminarão importa muito mais do que a maneira como vocês começaram. Escrever seu plano é uma maneira de definir sua linha de chegada. Você precisa ter a visão à sua frente, para ter algo em direção ao qual possa correr.

Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará… o justo viverá pela sua fé. Habacuque 2:3-4, ARA

Sua visão inspirada por Deus irá adiante de vocês para forjar um caminho para sua realização. Se mantiverem seus olhos na visão, ela certamente irá se cumprir. Talvez, em alguns momentos, possa parecer que as palavras ditas por Deus não podem ser verdadeiras. O caminho trilhado por vocês pode levá-los a lugares onde não queriam ou esperavam ir. Confiem no processo. Deus sabe o que precisa ser retirado de vocês para que completem a jornada. O poder Daquele que inspirou sua visão os fortalecerá nos momentos de necessidade. Mas vocês precisam manter a visão diante de vocês.

Seu plano deve ser um documento vivo, que respira, que cresce com o tempo. Isso significa que ele deve incluir duas coisas:

UMA DEFINIÇÃO CLARA DO QUE NÃO SE PODE ABRIR MÃO

Certas convicções e compromissos proporcionarão a estrutura necessária para sua visão, coisas como “nosso casamento honrará a Deus” ou “colocaremos as necessidades do outro antes da nossa própria necessidade”. Essas são as coisas que vocês consideram inegociáveis. Elas nunca mudarão e não se deve fazer concessões sobre elas.

ESPAÇO PARA CRESCER

Ter um bom plano não significa ter respostas para todas as perguntas. Ele ajuda a dar clareza, mas somente Deus sabe tudo o que está diante de vocês. No entanto, vocês podem gradualmente descobrir aspectos do plano de Deus através da orientação do Seu Espírito. Com o tempo sua visão deverá se tornar mais clara e definida, adaptando-se para acomodar as vantagens e desafios de cada estação. Essas mudanças podem incluir a quantidade de tempo que investem na criação de seus filhos à medida que crescem ou as maneiras como vocês apoiam a carreira e o chamado um do outro.

EIS CINCO PASSOS PRÁTICOS QUE SUGERIMOS QUE VOCÊS DEEM PARA ESCREVER SEU PLANO DE CASAMENTO:

1. OREM

Peçam a Deus para preencher suas conversas, pensamentos e aspirações com o Seu Espírito.  Peçam a Ele para fornecer a estrutura de esperança que Ele deseja ver preenchida pela fé de vocês.

2. REÚNAM INSPIRAÇÃO

Colecionem versículos, artigos, histórias, fotos, letras de músicas, recortes de revistas e qualquer outra coisa que fale ao coração de vocês.

3. VÃO A UM LUGAR ONDE POSSAM SONHAR

Esse lugar não precisa ser refinado ou caro. Ele pode ser tão simples quanto o restaurante no fim da rua ou o banco do parque no seu bairro.

4. IDENTIFIQUEM SEUS OBJETIVOS

Sonhem grande! Não permitam que as circunstâncias atuais ou o passado limitem vocês.

Os tópicos a serem considerados incluem: finanças, criação de filhos, dinâmica familiar, desenvolvimento pessoal, crescimento espiritual, comunicação, descanso e recreação,     carreiras, responsabilidades domésticas, envolvimento na igreja, comunidade e muito mais.

5. DETERMINEM COMO ALCANÇÁ-LOS

Depois que tiverem estabelecido sua visão, façam uma análise: onde vocês estão agora em relação a onde querem chegar? Avaliem seu estado atual e montem uma estratégia dos padrões, passos ou mudanças que os colocarão – ou os manterão – no seu rumo.

Seu plano abrangerá diferentes estações da vida. Tendo seus objetivos em mente, responda a estas perguntas:

Como será nosso casamento quando estivermos… Casados sem filhos?

Criando nossos filhos? Criando adolescentes? Morando em um ninho vazio? Desfrutando nossos netos?

Em nossa última estação juntos?

Se você é solteiro, está namorando ou é noivo, como você pode se posicionar deliberadamente para ter o casamento que deseja no futuro?

Vocês estabeleceram objetivos quanto a finanças, criação de filhos e muito mais. Eles são objetivos maiores, mas serão sustentados pelos seus padrões, escolhas e hábitos do dia a dia. Pense nestas perguntas:

Como e quando vocês lidarão com seu orçamento mensal? Que tipo de férias vocês terão, e como vocês as planejarão?

Que tipos de atividades e entretenimento vocês desfrutarão juntos? Como você continuará a namorar seu cônjuge?

Como você resolverá as diferenças com seu cônjuge? Como vocês passarão tempo com seus filhos?

Como vocês disciplinarão seus filhos?

Vocês dois querem seguir carreiras fora de casa? Se for esse o caso, isso terá um impacto diferente nas diferentes estações do seu casamento?

Como vocês apoiarão a carreira um do outro ou outros objetivos maiores?

Que tipos de oportunidades educacionais vocês buscarão para si mesmos? E para seus filhos?

Que tipos de oportunidades recreativas estarão disponíveis para seus filhos? Como vocês apoiarão os interesses e talentos deles?

Como vocês investirão no seu bem-estar físico? (Exercício, descanso, nutrição, etc.)

Como vocês investirão no seu bem-estar espiritual?

Como vocês criarão seus filhos no conhecimento de Deus?

Como seu casamento e sua família beneficiarão o mundo que os cerca? (Sua igreja, sua comunidade, seu bairro, seus locais de trabalho, etc.)

Como mencionamos anteriormente, as especificidades do seu plano provavelmente mudarão e evoluirão à medida que vocês amadurecerem em sabedoria e adquirirem experiência. Não há problema algum nisso. Mas é essencial que estabeleçam uma estrutura para o plano de vocês e se comprometam com os padrões e valores que serão o alicerce para o que está por vir.

ESCALANDO O EVEREST

Imagine um casal entrando em um avião. Eles estão empolgados com sua viagem, mas não fazem ideia de para onde estão indo. Tudo que eles sabem é que esse avião os levará para uma grande aventura. Eles supõem que estão indo para um lugar quente, então só estão levando roupas de praia e alguns casacos leves caso esfrie à noite. Depois de muitas horas de voo, eles chegam ao seu destino – e descobrem que aterrissaram no Nepal. O que eles pensavam ser uma excursão tropical acabou sendo uma subida gelada ao Monte Everest. Está claro que eles não estão preparados para empreender uma jornada tão traiçoeira e arriscada, de modo que eles imediatamente voltam para casa.

Muitos encaram o casamento como uma viagem à praia, mas ele é mais parecido com escalar uma montanha: é recompensador e estimulante, mas é preciso trabalhar arduamente. E embora a ilustração possa parecer um pouco absurda, vale considerar que a taxa de mortalidade dos casamentos é vinte e cinco vezes mais alta que a dos alpinistas que escalam o Everest.

Por que os escaladores do Everest são muito mais bem-sucedidos do que os casados? Porque eles têm uma visão para sua jornada e sabem o que esperar. Eles não ficam chocados quando encontram ar rarefeito, temperaturas congelantes e ventos implacáveis. Infelizmente, muitos casamentos fracassam por causa das expectativas não realistas e da falta de visão. Vale a pena dedicar tempo agora para estabelecer seu plano para o futuro.

FAÇA BEM FEITO

À medida que sua história se desenrolar, Deus expandirá a estrutura da sua visão e acrescentará lindos enfeites a ela, mas Ele nunca profanará a vida que você está construindo com o seu cônjuge. As provações podem parecer tentativas de Deus destruir sua história, então você pode ser tentado a atacá-Lo verbalmente em meio à ira ou às frustrações. Mas saiba que Deus não é o autor das suas provações, e Ele faz com que todas as coisas cooperem para o seu bem (ver Romanos 8:28). Sua graça e Seu Espírito nunca o deixarão, e Ele prometeu que nunca permitirá que você passe por uma provação que não possa vencer.

…Deus é fiel; Ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas quando forem tentados, Ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar. 1 Coríntios 10:13

Talvez você às vezes se sinta como se tudo estivesse desmoronando, mas se você se agarrar à esperança, poderá resistir às tempestades. No fim de tudo, você ouvirá as palavras do Mestre dizendo:

“Muito bem, servo bom e fiel! …” Mateus 25:23

Não é interessante que o Mestre diga “muito bem”, e não “perfeito”? Nenhum de nós faz nada nesta vida com perfeição. Mas podemos ter uma vida e um casamento que sejam muito bem vividos. Isso significa termos casamentos saudáveis e marcados pela humildade, aprendendo com nossos erros e prosseguindo na graça de Deus para receber o Seu melhor. Se você escolher andar nesse caminho, seu casamento fará mais do que simplesmente sobreviver. Ele florescerá. Deus o ajudará.

Desejamos que cada um de vós mostre o mesmo zelo até ao fim, para completa certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas. Hebreus 6:11-12, ACFDeus quer que você receba as promessas que Ele tem para seu casamento. Reivindique a esperança concedida pelo Espírito Santo. Seja paciente com seu cônjuge e tenha fé naquilo que seu casamento pode se tornar. Você ficará impressionado com o que Deus pode fazer em duas pessoas imperfeitas e através delas. Deus tem paixão por construir casamentos cujas maiores histórias estão relacionadas à maneira como terminam, e não à maneira como começam

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O HOMO DEMENS NA REDE

Usando a inteligência artificial (IA) para colocar o rosto de uma pessoa no corpo de outra, os vídeos deepfake já são uma ameaça a demandar intervenções governamentais

Os vídeos são absolutamente convincentes, num amplo espectro. Estrelas de cinema já tiveram seus rostos adicionados a outros corpos em filmes pornô, políticos foram e ainda são utilizados em filmagens e discursos falsos.

A realidade aumentada, por sua vez, é uma tecnologia que cria um ambiente de imersão, mesclando elementos computacionais e a realidade, onde se realizam atividades. Não é o mesmo que realidade virtual. O jogo Pókemon Go é um exemplo. Após o lançamento, o jogo alcançou rapidamente mais de 100 milhões de downloads!

“O homem é um animal racional”, aprendemos cedo na escola. É o único dotado de logos, segundo Aristóteles. A mítica da nossa racionalidade já foi duramente atingida pelo pensamento freudiano e sua postulação da sexualidade e das determinações inconscientes, e a era da computação lança mais luz sobre a força de captura do desejo que tem a virtualidade em suas muitas formas. Pois o que importa aqui não é o valor da tecnologia, mas seu poder. O de ser usada para afetar e manipular sentimentos e comportamentos.

Analistas têm destacado como a mídia digital vem matando a democracia com seus bots, animadores digitais etc. O debate entre o valor da de1nocracia direta (via mobilização das redes sociais pelos populistas) e democracia representativa seria exaustivo. O que cabe aqui examinar mais uma vez é como o Homo sapiens é igualmente o Homo demens.

Imagens, notícias, afirmações jogadas na rede tornam-se rapidamente “verdades”, independentemente de sua veracidade, por razões de aceitação sem senso crítico por parte do “consumidor usuário” das mesmas. É como um efeito manada. Assim é porque o usuário é capturado a funcionar como consumidor, a partir do seu desejo.

O místico e filósofo Gurdjief apontava que estaríamos todos numa espécie de estado de “adormecimento ” parcial, do qual seria necessário acordar. Nos anos 60 e 70, a psicologia da Gestalt sublinhava o trabalho na condição de Awereness, um aqui e agora pleno. W. Reich examinou a relação entre a neurose e a capacidade de contato. Ou seja, a nossa relação com a realidade e como esta é afetada pelas circunstâncias históricas – a nossa, pessoal, e as da sociedade – são antigas questões. Se o que vem acontecendo na política e na vida pessoal é parâmetro para se avaliar o nosso futuro, então o que temos pela frente é sombrio. A alienação, no sentido mais amplo, é o principal obstáculo à nossa sobrevivência. Sobrevivência como indivíduos.

NICOLAU JOSÉ MALUF JR. – é psicólogo, analista reichiano, doutor em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia (HCTE/ UFRJ). Contato: nicolaumalufjr@gmail.com

OUTROS OLHARES

CORTINA DE FUMAÇA

O Brasil discute a regulamentação do cigarro eletrônico, visto como uma epidemia nos Estados Unidos

No ano em que completaria uma década como fumante, a radialista e executiva na área de audiovisual Luísa Campos, de 34 anos, moradora do Rio de Janeiro, descobriu o cigarro eletrônico — por meio da amiga de uma amiga que presenteou esta última com o produto. “Fui olhar aqui no Rio onde eu poderia comprar, não achei nada. Achei na internet”, contou Campos.

Havia vários motivos para a troca do tabaco enrolado em papel — que libera nicotina por meio da combustão e tem milhares de toxinas — pelo vaporizador — que prescinde da combustão para liberar a nicotina, substância responsável tanto pela sensação de prazer e alívio proporcionada pelo cigarro como pela dependência. “O cheiro do cigarro me incomoda muito. Quem fuma tem de fazer algumas adaptações na vida”, disse a radialista.

O outro fator era a saúde. Campos havia fumado por cinco anos, até 2013. Parou e voltou a fumar em 2015. Em janeiro de 2018 aderiu ao cigarro eletrônico como forma de reduzir danos. “Logo que comecei a usar o cigarro eletrônico não usei mais o normal. Foi um meio de parar de fumar quase instantâneo. Não quero dizer que é um milagre. Tenho amigos que não substituíram.”

O cigarro eletrônico, produto que começou a ser comercializado no final da década passada em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, pode funcionar por meio de um vaporizador que libera a nicotina ou do tabaco aquecido, inserido no objeto por meio de cápsulas ou tubos. Números da Public Health England, agência de saúde pública ligada ao governo inglês, mostram que o cigarro eletrônico tem um potencial de danos de 5% em relação ao cigarro comum. Embora não conte com a mesma quantidade de toxinas de um cigarro comum e não precise de combustão, que, no cigarro comum, libera as substâncias tóxicas, sua comercialização é proibida no Brasil desde 2009 — quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um princípio de precaução, uma forma de “garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados”. Os termos para uma regulamentação do produto serão discutidos em 8 de agosto durante audiência pública em Brasília.

“Considerando que a toxicidade dos cigarros já é tão elevada, é relativamente fácil alguma coisa ser menos tóxica que os cigarros convencionais, mas nem por isso quer dizer que não represente ameaça à saúde humana”, afirmou o médico Alberto José de Araújo, coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira. “A enorme variedade de sabores, as diferentes composições e emissões tóxicas dos cigarros eletrônicos e aquecidos indicam que uma eventual liberação de sua comercialização deveria ser realizada caso a caso, e não de forma ampla, sem considerar as diversas formulações, tipos e voltagens aplicadas.” Para Araújo, “os benefícios dessa proibição (da Anvisa) foram maiores e mais significativos que os supostos e não comprovados benefícios da liberação desses produtos”.

Ainda assim, o cigarro eletrônico vem sendo utilizado como forma de redução de danos no combate ao tabagismo, ao lado de outras estratégias, como os adesivos que liberam nicotina. Um estudo publicado em 2019 na revista científica The New England Journal of Medicine , realizado por pesquisadores do Reino Unido e dos EUA, mostrou que entre aqueles que utilizaram o cigarro eletrônico como um meio de abandonar o cigarro 18% tiveram sucesso, enquanto entre os que usaram outros métodos para substituir a nicotina, como os adesivos e chicletes, o sucesso foi de 10%. No entanto, 80% dos que utilizaram cigarro eletrônico continuaram a consumi-lo, enquanto apenas 9% daqueles que usaram outros produtos permaneceram com eles. “É uma questão que a literatura médica ainda discute”, disse André Nathan, especialista em tabagismo e médico no Hospital Sírio-Libanês. Segundo o pesquisador, embora o cigarro eletrônico seja “uma via mais limpa” que o cigarro comum, deve-se atentar para seu uso como forma de reduzir danos do tabagismo. “Ainda não temos dados que provem que ele seja efetivo.”

Nos EUA o cigarro eletrônico é hoje considerado uma epidemia entre os jovens. De acordo com um levantamento feito a partir de seis estudos com mais de 91 mil participantes, adolescentes e jovens adultos que usam cigarros eletrônicos têm duas vezes mais chances de fumar cigarros comuns em comparação com aqueles que nunca usaram o produto. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão ligado ao governo americano, mostram que, entre adolescentes em idade escolar, o consumo de cigarros eletrônicos aumentou 900% entre 2011 e 2015. Entre adolescentes no ensino médio, o uso cresceu 78%, de 11,7% para 20,8%, em dois anos. Em 2018, mais de 3,6 milhões de jovens americanos usavam o cigarro eletrônico.

Na Alemanha, pesquisadores também constataram maior incidência no consumo de cigarro convencional entre jovens que experimentaram o cigarro eletrônico. Segundo pesquisa feita com estudantes na faixa dos 12 aos 17 anos, os que experimentaram o cigarro eletrônico tiveram 2,2 vezes mais chances de se tornarem fumantes.

A professora Gisele Birman Tonietto, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, vê esse risco para o Brasil, caso a regulamentação do cigarro eletrônico, por exemplo, não atinja a propaganda ao produto, como no caso dos cigarros tradicionais. “O que a gente está vendo no mundo é uma epidemia. O jovem que não fumava está suscetível ao apelo. Nós (brasileiros), que somos referência em antitabagismo, não queremos jogar fora o trabalho (voltado à redução do tabagismo).”

Para a gerente sênior de Relações Científicas da Souza Cruz, Analúcia Saraiva, “o maior risco que o Brasil está assumindo é não regular a categoria”. Ela citou o caso americano como exemplo das consequências da falta de regulamentação. “Quando (a substância) não é regulada, quando não existe, por exemplo, uma idade mínima para adquirir esses produtos, aí sim esse risco (de epidemia) existe”, afirmou. “O vapor do cigarro eletrônico não é um vapor de água. Ele contém nicotina. Se não tiver nicotina, o consumidor não vai migrar para esse produto. O benefício é, justamente, que o fumante deixe de consumir o cigarro tradicional, que traz essa série de substâncias geradas durante a combustão, e migre para um produto de menor risco.”

Na opinião de Fernando Vieira, diretor de assuntos externos da Philip Morris Brasil, é preciso “ter uma regulamentação que não exponha os não fumantes e os menores a esse tipo de produto. A Anvisa, ao regulamentar, pode ser bem proativa nesse sentido”. A Philip Morris anunciou no ano passado que deixará, futuramente, de produzir os cigarros comuns e terá como um de seus focos os cigarros eletrônicos.

Luísa Campos, que fumava de sete a oito cigarros por dia e, sempre que viajava, levava uma mala três vezes maior que a que leva hoje, devido ao cheiro da fumaça do cigarro, pretende, ainda, deixar de fumar. “O ideal é não ter nada que nos amarre. Não podemos negligenciar a questão do cigarro.”

A discussão em torno do uso do cigarro eletrônico como forma de reduzir danos do tabagismo ocorre em um momento em que a redução de danos deixa de ser a diretriz do Ministério da Saúde para o combate ao uso abusivo de drogas e à dependência química, voltando-se, novamente, à busca pela abstinência — por meio da internação.

Para o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que trabalha com redução de danos desde 1991, a atual política do governo federal é “um retrocesso” que coloca o Brasil em uma situação comparável à de países islâmicos. “Na melhor das hipóteses, 30% (dos dependentes) conseguem realmente largar a droga. A redução de danos entra justamente para esses 70% que não conseguiram a abstinência”, disse. “Quando você coloca um indivíduo num programa de redução de danos a médio prazo, ele consegue a abstinência. A redução de danos não se contrapõe à abstinência. É um jeito de dar mais tempo para a pessoa consegui-la.”

O psicólogo Maurício Cotrim, especialista em dependência química, vê na redução de danos um meio para chegar à abstinência, e não um fim para o combate do uso abusivo de drogas e outras substâncias. “Trabalho buscando a abstinência. Senão ficamos enxugando gelo. Os casos de sucesso que conheço são das pessoas que tentaram a abstinência. Senão vira prorrogação de danos.”

Dependente químico “em eterna recuperação”, Cotrim, filho de pai alcoólatra, experimentou álcool ainda na infância. Foi a porta de entrada para substâncias ilícitas, que usou a partir dos 10 anos. Passou por diversas tentativas de tratamento — inclusive religiosas. “Aos 17, pedi ajuda, fui internado.” Deixou a clínica seis meses depois. Teve recaídas. “Fiquei limpo de vez aos 18 anos.” Mantém-se assim há 24 anos.

GESTÃO E CARREIRA

O GUIA DO AUTOCONHECIMENTO – I

A competência essencial para ser feliz e realizado no trabalho está dentro de você, à espera de ser explorada. Veja por onde começar essa jornada e descubra como ela pode ser transformadora

Muitas qualidades e competências são fundamentais para pavimentar o caminho até o sucesso profissional. Acima de todas, porém, existe uma habilidade da qual as outras dependem para serem colocadas em prática de forma efetiva: o autoconhecimento. Ele é indispensável para o profissional do século 21. De acordo com o relatório mais recente do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, aptidões como criatividade, colaboração, flexibilidade, pensamento crítico, capacidade de trabalhar sob pressão e resolver problemas complexos serão obrigatórias para evoluir na carreira daqui para a frente. E o autoconhecimento é o ponto de partida para o desenvolvimento dessas e outras soft skills, como são chamadas as habilidades comportamentais. Não que algum dia ele tenha deixado de ser importante. Mas as transformações pelas quais o mundo do trabalho vem passando e as demandas das novas gerações de profissionais — trabalho remoto, freelancer e sem carga horária fixa, por exemplo — cada vez mais vão exigir boa capacidade de gestão de si próprio. “A responsabilidade pelos rumos da carreira está mais do que nunca nas mãos do indivíduo e menos sob responsabilidade da empresa”, afirma Wilma Dal Col, diretora do ManpowerGroup. “Ampliar a visão de si mesmo dentro e fora do ambiente de trabalho permite fazer escolhas mais alinhadas com o que você quer para a vida.”

O problema é que a maioria das pessoas não tem boa percepção de si mesma. Foi o que descobriu a psicóloga organizacional Tasha Eurich no livro “Insight — Por que não nos conhecemos tão bem quanto pensamos e como ter clareza de quem somos ajuda a alcançar o sucesso na vida e no trabalho” (numa tradução livre; ainda sem edição brasileira). Tasha ouviu quase 5.000 pessoas e descobriu que apenas de 10% a 15% acreditam se conhecer bem. Um índice preocupante, já que mais autoconhecimento está associado a índices mais elevados de satisfação no trabalho e nos relacionamentos, produtividade, autoconfiança e felicidade, além de menos estresse, ansiedade e depressão.

AS ETAPAS DA JORNADA

Alguns têm interesse natural por si mesmos e fazem da busca pelo autoconhecimento uma constante na vida. Outros podem ser surpreendidos por alguma situação difícil envolvendo saúde, dinheiro, família ou trabalho que os leve a querer ver sentido e encontrar saídas para o problema. “Ao mesmo tempo, a rotina automatizada, o excesso de estímulos no dia a dia e a ideia de que é preciso acelerar para se adaptar a tantas mudanças não poupa quase ninguém e leva à perda de consciência da própria vida e do que é preciso de fato para se sentir realizado”, afirma Edwiges Parra, psicóloga organizacional, coach executiva e fundadora da Emind Mente Emocional. Resultado: uma multidão de seres desconectados de quem são, do que estão fazendo aqui e do que desejam. Conhecer a si mesmo é uma investigação que tem início, mas nunca acaba. A seguir, mostramos quais são as cinco principais etapas para conhecer a si mesmo.

FAÇA AS PERGUNTAS CERTAS

O primeiro passo para tomar as rédeas de sua vida fazer questionamentos do tipo: “Estou feliz fazendo que faço?”, “Que atenção estou dando à saúde e a meus relacionamentos?”, “O que me dá prazer hoje?”, “Quanto espaço estou reservando para isso no meu dia a dia?” “Preferia estar fazendo outras coisas?”, “O que me deixa desmotivado?” O objetivo é conectar-se, focar o que está acontecendo no presente e detectar possíveis conflito e fontes de insatisfação. Mas vale saber que não é preciso estar passando por uma crise para decidir buscar autoconhecimento — ao contrário, saber mais sobre si mesmo é uma forma de evitar que a crise apareça.

Nesse exercício, a psicóloga Tasha Eurich sugere que evitar se perguntar o porquê — por exemplo, “por que não consigo me dar bem com meu chefe?” ou “por que insisto em procrastinar?” — pode ser produtivo. Ela explica: “Primeiro, porque dificilmente se chega a respostas úteis, já que o mais provável é que, inconscientemente, acabemos ‘inventando’ explicações que no pareçam satisfatórias”, diz. “Além disso, tentar entende os porquês tende a gerar pensamentos ruminativos, que levam mais para o passado do que ajudam a entende o que está ocorrendo no presente. É por isso que pessoas com perfil muito analítico tendem a sofrer mais de ansiedade e depressão.”

PEÇA FEEDBACK

Somos o resultado da soma do que sabemos sobre nós mesmos com a maneira como o mundo (formado por nosso círculo de relações pessoais e profissionais) nos enxerga. Dar ouvidos ao feedback externo, portanto, leva a uma consciência maior de quem somos — afinal, todos temos pontos cegos na personalidade, que dificilmente enxergamos sozinhos. Além disso, o exercício nos torna mais empáticos, ou seja, capazes de compreender o outro e ver as coisas pela perspectiva dele.

Observar nossas reações diante da opinião de terceiros também é parte da autoanálise e geralmente revela bastante sobre nós. Mas é importante acolher a visão do outro e olhar para si mesmo com menos julgamento e mais curiosidade e gentileza, tendo em mente que não é porque você age de determinada maneira hoje, por mais nociva que seja, que precisa ser assim para sempre. “Pensar desse modo diminui o impacto negativo que você gera sobre si mesmo”, diz a coach e psicóloga Edwiges Parra.

DEFINA O QUE PRECISA MUDAR

Com uma visão mais nítida de quem você é, do que deseja e de como vem agindo, é mais fácil definir quais aspectos deveriam ser desenvolvidos ou modificados no comportamento ou na rotina. Nessa fase, prepare-se para analisar hábitos, reações, convicções e modos de realizar suas tarefas. Questionar e se desapegar de atitudes e mentalidades que se tornaram padrões e já não servem a seu momento atual ou à meta que está buscando tem o mesmo efeito de tirar obstáculos do caminho de sua evolução.

Observar se seu “sistema operacional” interno possibilita, por exemplo, perceber se precisa mesmo madrugar para frequentar a academia todo dia (e morrer de sono antes do fim do expediente) ou se dormir mais e malhar à noite não o deixaria mais bem disposto e produtivo. Também ajuda a descobrir se precisa aprender a ouvir mais, se vem guardando boas ideias para você por falta de autoconfiança ou se está deixando de lado a vida social em nome da profissional. Em resumo, se está levando uma vida que faz sentido. Escolha uma meta por vez e trabalhe nela, celebrando seus avanços e avaliando o impacto real na rotina, em vez de querer mudar a vida inteira de uma vez — e acabar se frustrando e voltando à estaca zero.

ESCOLHA SEUS RECURSOS

A busca por autoconhecimento é pessoal e intransferível, mas contar com ajuda profissional durante o percurso, em vez de dar esse mergulho por conta própria (ou com auxílio de livros e aplicativos apenas), faz diferença. É mais ou menos como aprender a tocar um instrumento: você até pode conseguir sozinho, mas talvez demore mais e deixe de absorver lições importantes de quem tem mais experiência do que você no assunto.

Seu perfil e suas metas individuais devem orientar quais estratégias e ferramentas usar para descobrir mais sobre si mesmo. O coaching é uma alternativa quando o foco das mudanças é a carreira. Se a queixa for uma rotina desorganizada e improdutiva, dificuldade para se adaptar a mudanças no trabalho — como explorar com mais profundidade seus talentos ou organizar a vida financeira —, cliente e coach podem trabalhar juntos para detectar possíveis obstáculos, traçar metas e avaliar sua evolução ao longo das sessões (de dez a 15, em média).

É certo que não dá para evitar que dramas da vida pessoal afetem o dia a dia profissional e vice-versa, mas, quando os conflitos internos têm mais a ver com questões emocionais e me- nos com a performance no trabalho, o melhor é considerar a psicoterapia. Os prejuízos emocionais (tristeza, impaciência) e cognitivos (falta de foco, lapsos de memória) desencadeados por uma separação ou uma doença na família impactam a rotina no escritório, mas devem ser tratados no consultório do psicólogo ou psiquiatra. Questões como assédio e bullying também são caso de psicoterapia.

Meditar, praticar esportes, manter um hobby ou atividade que tragam prazer, e cuidar das relações próximas são estratégias que, além de aliviar tensões do dia a dia, favorecem a conexão consigo mesmo e com os outros e ajudam a compreender nossos padrões de pensamento e de comportamento.

REPITA O CICLO

O processo de autoconhecimento é uma investigação permanente. “O tempo e as experiências transformam nosso comportamento, necessidades e anseios, de modo que é importante revisitar nossas reflexões de tempos em tempos e nunca perder o interesse em nós mesmos”, destaca Rafael Nunes, psicólogo, coach de carreira e líder de inteligência emocional na escola Conquer. Mudanças de cargo ou função no trabalho, assim como novos ciclos na vida pessoal tornam ainda mais importante voltar a se perguntar se você está satisfeito onde se encontra ou se é hora de refazer a rota.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 9 – O RESTAURANTE CHINÊS

Quando nos casamos, tínhamos um lugar especial aonde íamos para conversar sobre o nosso futuro. Era um pequeno restaurante chinês não muito longe do nosso apartamento. Havíamos terminado a faculdade há pouco tempo, e nosso orçamento era tão apertado que dividíamos um único prato de “frango mu shu” com uma panqueca extra e molho extra. Era um ambiente tranquilo e humilde, apesar de estrangeiro, que encorajava um jovem casal a ousar sonhar com terras e esperanças distantes enquanto tomavam chá.

Naquela época não sabíamos muito, mas tínhamos certeza de uma coisa: queríamos servir a Deus juntos com todo o nosso coração, nossa mente e nossa força. Desejávamos apaixonadamente viver bem e cuidar bem de nossa família. Posso dizer que não sabíamos ao certo para onde iriamos ou onde nossa vida terminaria, mas sabíamos o quanto queríamos viajar. Queríamos viver de tal maneira que Deus pudesse estabelecer um novo legado através de nós.

Eu (John) venho de um ótimo contexto familiar. Meus pais estão casados há mais de sessenta e cinco anos. Meu pai amou e supriu fielmente nossa família, e minha mãe é uma dona de casa clássica. Meus pais serviram de modelo para mim em relação a coisas maravilhosas, tanto no que diz respeito ao casamento quanto à vida, e serei eternamente grato pelo exemplo deles.

Eu (Lisa) venho de uma dinâmica familiar muito diferente. Os pais de John parecem perfeitos quando comparados à minha família, que foi arruinada por alcoolismo, adultério, comportamento abusivo, traição, ganância, perda e divórcio. Quando John e eu começamos nossa vida juntos, ficou óbvio que eu não tinha nenhuma compreensão prática do que era uma família saudável; mas eu tinha um anseio desesperado por fazer parte de uma família assim.

Enquanto conversávamos naquele restaurante chinês, sabíamos que queríamos ter um tipo de casamento diferente. Embora tivéssemos um respeito absoluto pela maneira como os pais de John conduziram seu casamento, aquele não era o modelo certo para nós. Ambos sabíamos que havia mais no casamento do que havíamos visto; havia um chamado divino sobre a própria instituição do casamento. O casamento não se resumia apenas a ficarmos juntos até o fim de nossas vidas; ele dizia respeito a construir um legado eterno através da nossa união. É claro que isso incluiria nossos filhos e os filhos de nossos filhos, mas também incluiria impactar inúmeras outras vidas.

Começamos a pintar uma visão para o nosso casamento. Fazíamos perguntas um ao outro, estabelecíamos parâmetros e sonhávamos tão grande quanto possível. Concordamos que nosso objetivo principal era servir a Deus juntos e honrá-lo com nossas escolhas. Tudo o mais teria de passar por esse filtro.

Ao longo de trinta e dois anos de casamento, passamos por estações nos quais o único motivo pelo qual escolhemos ficar juntos foi nosso compromisso de honrar a Deus. Houve um período em que eu (Lisa) não sentia amor algum por John, e John chegou a me dizer que não sentia amor por mim. Ele se lançou em uma agenda de viagens intensa enquanto eu ficava para trás, em casa, com nossos filhos pequenos.

Para ser sincera, eu não via esperança para o amor no futuro. Minha alma estava marcada por um período no qual fui muito ferida. Eu me sentia completamente abandonada tanto emocional quanto fisicamente. Se tivesse considerado o divórcio uma opção, eu teria tomado esse caminho com satisfação. Eu não tinha uma visão para o futuro do nosso casamento, apenas uma sombra desbotada do que ele poderia ter sido. A certa altura, cheguei a pensar: Deus, vou ficar neste casamento desde que Tu me prometas que não terei de viver com John no Céu. Eu me sentia muito só, e é difícil para as esposas de pastores compartilharem sua dor com qualquer pessoa.

Eu (John) também lutava naquela época contra a falta de esperança. Sentia que nada que eu fizesse estaria certo aos olhos da Lisa, e acreditava estar certo nesse pensamento devido à falta de respeito e às palavras duras que ela me dizia. Estávamos afundando rapidamente, e nenhum de nós via qualquer possibilidade do amor, do respeito e do carinho serem restaurados.

A dor emocional e espiritual daquele período parecia insuportável. Era terrível, mas foi apenas uma estação, e as estações mudam. O tempo do choro pode durar por uma noite muito longa, mas temos a promessa de Deus de que a alegria vem pela manhã (ver Salmos 30:5). Olhando para trás, aquele período parece surreal, como se tivesse acontecido com outro casal. Pela graça de Deus, permanecemos fieis ao nosso objetivo de honrar a Deus. Através do arrependimento genuíno pelo nosso egoísmo aliado à obediência à visão de Deus, vimos nosso casamento e nosso amor crescerem até se tornarem extremamente fortes.

Uma das forças motrizes que nos mantiveram seguindo em frente ao longo daquela estação difícil foi nossa visão de vida. Nós não a víamos como um período de setenta ou oitenta anos; nós a víamos através de uma perspectiva eterna. Setenta ou oitenta anos não passam de um piscar de olhos se comparados à eternidade. A Bíblia ensina que o que fazemos com a Cruz determina onde passaremos a eternidade; entretanto, a maneira como vivemos como crentes determina como passaremos a eternidade. Paulo escreve:

… Preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor… Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas, quer sejam más. 2 Coríntios 5:8, 10

Está claro que Paulo não está escrevendo sobre os incrédulos, pois quando os incrédulos estão ausentes do corpo, eles não estão na presença do Senhor. Ele está se dirigindo àqueles que entraram para a família de Deus por meio da graça salvadora de Jesus Cristo. Compareceremos perante Ele e prestaremos contas sobre as decisões que tomamos e a maneira como vivemos como crentes. O julgamento presidido por Cristo resultará em diferentes recompensas eternas ou perdas eternas, que irão variar desde termos o trabalho da nossa vida totalmente queimado pelo fogo até sermos eternamente recompensados por ele ou até mesmo reinarmos ao lado Dele por toda a eternidade. O conhecimento dessa doutrina fundamental nos manteve no caminho certo. Nenhum de nós queria prestar contas diante do trono de Jesus por ter profanado a Sua arte, que é a união do casamento. (Para saber mais sobre o Tribunal de Cristo, leia o livro de John Movido pela Eternidade.)

Depois do objetivo de honrar a Deus, nosso segundo alvo era estar mais apaixonados um pelo outro no fim de nossa jornada do que estávamos no começo. Esse objetivo nos compeliu a passarmos pelos tempos difíceis e amarmos um ao outro, mesmo quando não sentíamos vontade. C. S. Lewis escreveu:

O amor… é uma profunda unidade, mantida pela vontade e fortalecida deliberadamente pelo hábito, reforçada pela graça (nos casamentos cristãos) com a qual ambos os parceiros pedem e recebem de Deus. Assim, eles podem ter esse amor um pelo outro mesmo nos momentos em que não gostam um do outro.

Definitivamente houve momentos em que não gostávamos um do outro. Mas Deus nos deu graça para navegarmos por esses momentos difíceis, e Ele fará o mesmo por você. Gostamos um do outro e amamos mais um ao outro hoje do que no dia do nosso casamento – essa é a verdade! E esperamos crescer mais em amor a cada década que passa.

DEUS ESTÁ ANOTANDO TUDO

Enquanto escrevíamos nossos sonhos em guardanapos de restaurante, conversávamos sobre como criaríamos os filhos que não tínhamos. Discutíamos sobre como lidaríamos com a disciplina, as concessões, as tarefas e a divisão dos quartos. Falávamos sobre nosso legado e o impacto que nossas decisões teriam sobre nossos filhos e netos. Era importante para nós transmitir-lhes uma herança espiritual e financeira (ver Provérbios 13:22).

Imaginávamos nossa futura casa. Não era importante para nós ter uma casa grande ou elegante; queríamos que a nossa casa fosse aconchegante e calorosa, um lugar onde as pessoas se sentissem seguras assim que entrassem. Queríamos que ela fosse um lugar divertido aonde nossos filhos quisessem levar seus amigos.

Conversávamos ainda sobre o que acreditávamos que Deus havia nos chamado para fazer e sobre como nossos chamados afetariam a dinâmica do nosso casamento. Discutíamos os papéis desempenhados pelas mulheres e pelos homens. Determinávamos como administraríamos nosso dinheiro e ficaríamos livres de dívidas. Conversávamos sem parar até que olhávamos para o que tínhamos em nossas mãos e descobríamos que os rabiscos nos guardanapos haviam se transformado em projetos provisórios da vida que queríamos construir.

Gostamos de pensar que enquanto fazíamos nossos planos em pedaços de papel, Deus também estava escrevendo.

Depois, aqueles que temiam o SENHOR conversaram uns com os outros, e o SENHOR os ouviu com atenção. Foi escrito um livro como memorial na Sua presença acerca dos que temiam o SENHOR e honravam o Seu nome. Malaquias 3:16

Houve muitas coisas sobre as quais falávamos naqueles primeiros dias das quais Deus Se lembrou, mesmo quando já as havíamos esquecido, e Ele fez com que elas se realizassem. Deus registra as conversas que ocorrem entre aqueles que O temem. Enquanto você faz planos para um casamento que honra ao Autor da vida, o Céu toma nota.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 8 – CRENDO NO MELHOR

… Eu sou Deus… e não há nenhum como Eu. Desde o início faço conhecido o fim…Isaías 46:9-10

Parece falta de originalidade escrever que “não há outro como o nosso Deus”, mas frequentemente esquecemos o poder e a verdade dessa afirmação. Como filhos de Deus, somos convidados a nos tornarmos como Ele e a assumirmos Sua natureza. Pela fé, podemos nos tornar futuros formadores, moldando nossas vidas, nossos filhos e nossos casamentos declarando o fim desde o começo.

Procuramos deixar claro desde o começo que felizes para sempre não é algo que encontramos ao acaso; é algo que construímos deliberadamente. A próxima pergunta óbvia é: “Como construir meu final feliz?” Talvez você já tenha lido estes versículos muitas vezes, mas leia-os novamente:

Ora a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos… Pela fé entendemos que o universo foi formado pela Palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi efeito do que é visível. Hebreus 11:1, 3

Nosso objetivo é construir um felizes para sempre que ainda não existe, e a fé é o material de construção do que ainda não é realidade.

Deus acreditou em nós antes que fizéssemos qualquer coisa que fosse digna de crédito. Ele tem uma grande fé em você porque Ele tem uma grande fé em Si mesmo. Ele sabe que o poder Dele pode realizar qualquer coisa em sua vida. A única coisa que nos impedirá de desfrutarmos o poder engrandecedor de Deus é a incredulidade, que em última análise tem suas raízes no orgulho.

O orgulho se manifesta como arrogância ou extrema confiança na nossa própria capacidade. Também há uma forma mais sutil de orgulho, que se disfarça de autodepreciação. Em qualquer uma dessas formas, ele é uma recusa em abraçar tudo o que o poder magnífico de Deus comprou para nós através da obra consumada de Cristo na Cruz. Jesus morreu para tornar você extraordinário. “Podemos nos contentar”, escreveu C. S. Lewis, “em permanecer o que chamamos de ‘pessoas comuns’; mas Ele está determinado a colocar em prática um plano bem diferente. Recuar diante desse plano não é humildade; é preguiça e covardia. Submeter-se a ele não é arrogância ou megalomania; é obediência”.3 Abraçamos a vida fantástica que Deus nos oferece fazendo com que nossas opiniões estejam à altura da Sua provisão.

Você acredita que é digno de um grande casamento? Talvez algum dos seguintes pensamentos esteja assolando sua mente:

Tenho bagagem demais.

Não venho de uma boa família. Meus pais não venceram na vida. Já cometi erros demais.

Preciso me contentar simplesmente em sobreviver.

Caso não tenha notado, Deus ama um desafio. Mas a falta de fé limitará o alcance do poder Dele em nossas vidas. Ter uma revelação da Sua grandeza nos inspira a sermos confiantes Nele, enquanto ao mesmo tempo nos mantém humildes. A humildade abre a porta para o melhor de Deus em nossa vida. Isaías 55:8-9 declara:

“Pois os Meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os Meus caminhos”, declara o SENHOR. “Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os Meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos”.

Você deve aceitar que Deus é mais inteligente, mais perspicaz e mais capaz do que você. “Em Deus”, escreveu Lewis, “você encontra algo que em todos os aspectos é imensuravelmente superior a você”.4 Se deseja ter acesso aos materiais essenciais para construir um grande casamento, você precisa acreditar nisso.

Não importa qual achemos que seja o potencial do nosso casamento, Deus tem um sonho imensamente maior. Ele não apenas pensou muito a respeito dele, como também fez grandes planos.

“Porque sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o SENHOR, “planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro”. Jeremias 29:11

Essa promessa nos apresenta duas escolhas: crer que essa afirmação é verdadeira e abraçar a visão de Deus para o nosso casamento ou presumir que Ele é um mentiroso. Quando Deus olha para o futuro da sua união, Ele vê a expressão do Seu Filho. A única maneira dessa visão se concretizar é receber a Sua graça (capacitação) através da humildade e da fé. Embora felizes para sempre seja algo que planejamos, não é algo limitado pela nossa própria força. É uma expressão do amor de Deus consumado pelo Seu Espírito operando por meio de nós.

Talvez você esteja pensando: Tenho certeza de que Deus desistiu do meu casamento. Não existe esperança para nós. Não temos quaisquer perspectivas para o futuro. Perdemos aquele sentimento de amor.

É possível que você se sinta assim porque agiu com base em suas próprias forças? Troque seus esforços e sonhos para seu casamento pelos sonhos de Deus. À medida que você confiar o seu casamento a Ele, Ele pegará seus sonhos, os encherá de vida, e plantará uma versão celestial dentro do seu coração.

Isso significa, maridos, que Ele os capacitará a amar suas esposas assim como Cristo ama a Igreja, abandonando todo egocentrismo. Esposas, da mesma forma Ele capacitará vocês a respeitarem seus maridos. Desse modo, ambos estarão preparados para crescer até a grandeza do casamento.

A Bíblia deixa claro que sem fé é impossível agradar a Deus (ver Hebreus 11:6). Por que Deus ama tanto a fé? Porque por meio da fé Nele recebemos poder para nos tornarmos como Ele, e não existe uma existência melhor do que uma vida semelhante a Deus. Ele tem prazer no seu prazer – e não estamos falando de uma felicidade passageira. O que estamos descrevendo é alegria, satisfação e realização duradouras. Deus quer o melhor Dele para seu casamento, e o melhor Dele só pode ser alcançado em uma união que encontra sua essência Nele.

O PROJETO

Fé e esperança geralmente são confundidas como sendo a mesma coisa, mas elas são diferentes. Se a fé é o material com o qual se constrói um grande casamento, a esperança é o projeto. Em outras palavras, a esperança é como um molde, e a fé é o que o preenche. Sem esperança, a fé é uma substância sem forma, praticamente tão útil quanto materiais de construção sem um projeto.

Você deve se lembrar de que Deus escolheu Abraão a dedo como aquele que receberia uma aliança com um objetivo específico: que Abraão instruísse seus descendentes nos caminhos do Senhor. Abraão não tinha filhos quando Deus o chamou para entrar nessa promessa, mas o Senhor lhe garantiu que ele seria o pai de uma grande nação.

Abraão era um homem de uma fé extraordinária, uma fé que a Bíblia descreve assim: “… não duvidou nem foi incrédulo em relação à promessa de Deus” (Romanos 4:20). E, no entanto, em Gênesis 15, vemos que ele lutou contra o desânimo antes de entrar na dimensão da fé.

… O SENHOR falou a Abrão numa visão: “Não tenha medo, Abrão! Eu sou o seu escudo; grande será a sua recompensa!” Mas Abrão perguntou: “Ó Soberano SENHOR, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro do que possuo é Eliezer de Damasco?” E acrescentou: “Tu não me deste filho algum! Um servo da minha casa será o meu herdeiro!”

Então o SENHOR deu-lhe a seguinte resposta: “Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado por você mesmo será o seu herdeiro”.

Levando-o para fora da tenda, disse-lhe: “Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las”. E prosseguiu: “Assim será a sua descendência”.

Abrão creu no SENHOR, e isso lhe foi creditado como justiça. Gênesis 15:1-6

Talvez esperássemos que Deus desse a Abraão uma nova medida de fé. Mas em vez disso, Ele deu à fé de Abraão uma visão à qual se agarrar. Isso fortaleceu a fé dele dando uma base para a sua esperança. Deus convidou Abraão a sair de sua tenda para contar as estrelas. O céu noturno pintava um projeto estelar para sua fé enquanto as inumeráveis estrelas acima dele se transformavam nos rostos de filhos na tela da sua mente. Em vez de simplesmente dizer a Abraão que seus descendentes seriam incontáveis como as estrelas, Deus deu ao seu destino uma ilustração constante, vibrante e física. Através desse processo celestial no qual algo não apenas foi mostrado a Abraão, mas também dito, a visão de Deus foi impressa na imaginação dele.

Do mesmo modo, Deus quer usar sua imaginação para transmitir a visão que Ele tem para o seu casamento, pois onde há visão há esperança. Foi por isso que Paulo nos encorajou a expulsarmos qualquer imaginação que se levanta contra o conhecimento de Deus (ver 2 Coríntios 10:4-5). Você precisa proteger a tela de sua mente porque ela determinará a natureza e o valor dos seus atos. Pense na sua imaginação como uma prancheta de desenho para a esperança.

Deus prometeu nos encher de esperança, mas como podemos ter acesso a ela? É na oração que Seu Espírito gera em nossos espíritos a esperança superior:

[Oro para] Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança Nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo. Romanos 15:13

Deus é a nossa fonte de esperança. Se pedirmos, Ele nos encherá de alegria e paz, que é o que todos nós queremos para nossos casamentos. À medida que formos a Ele em humildade, transbordaremos de esperança pelo poder do Seu Espírito. Que promessa!

Provérbios 29:18 nos diz que sem visão pereceremos. Realmente, os casamentos sem uma visão dada por Deus são destituídos de vida. Então nós o desafiamos a sonhar grande! À medida que você se prepara para escrever seus sonhos e objetivos, ore para que Deus desperte o seu coração para o plano Dele.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

4 ATITUDES DOS CASAIS FELIZES

Ao contrário do que prega o imaginário popular, a vida a dois não é um desses presentes do universo que, uma vez alcançado, está garantido por tempo infinito. Mesmo com muito amor envolvido é preciso investimento emocional e requer o compromisso consciente de fazer dar certo. Alguns comportamentos facilitam muito essa tarefa

Manter uma relação longa e estável é uma tarefa trabalhosa. “É preciso tempo e esforço para compreender e apreciar a pessoa ao nosso lado”, deixa claro o psicólogo John Gottman, um dos maiores pesquisadores das relações amorosas no mundo. Professor emérito da Universidade de Washington, coordenou uma equipe que entrevistou casais ao longo de vários experimentos, alguns deles filmados. A análise dessas interações resultou em modelos, escalas e fórmulas para apontar fatores relacionados à estabilidade conjugal, o que valeu o popular apelido de love lab (laboratório do amor) ao Laboratório de Pesquisa Familiar liderado por Gottman. De acordo com o psicólogo, conflitos são inerentes a todo relacionamento. O que conta é a maneira de lidar com eles. “Um dos principais determinantes da felicidade em uma relação é a capacidade que ambos têm de reparar e sair de estados negativos”, diz. A seguir, algumas sugestões de Gottman em prol de uma melhor convivência e do fortalecimento do respeito e cumplicidade.

1. PEQUENOS GESTOS

Gottman constatou que casais felizes demonstram, em média, uma proporção de cinco interações positivas para cada negativa. “Isso praticamente saltou das páginas de análise de dados”, diz, explicando que essa relação é recorrente em relacionamentos, incluindo aqueles em que os envolvidos são bastante independentes, distantes ou críticos. Interações favoráveis podem ser gestos simples: “Um sorriso, um aceno de cabeça ou apenas um som para mostrar que está ouvindo a pessoa amada”, sugere o pesquisador. Também é importante estar atento ao hábito de agradecer pelas delicadezas, seja uma carona, um copo de água ou uma massagem nos pés. Em geral expressamos gratidão em relação a pessoas de quem somos socialmente distantes, mas às vezes deixamos de lado esse comportamento com aqueles com quem temos maior proximidade. Vale lembrar que gentilezas, nas atitudes ou palavras, favorecem a sensação de bem-estar.

2. O ENCONTRO NO MEIO DO CAMINHO

O psicólogo evoca o “equilíbrio de Nash”, conceito utilizado para compreender a lógica dos processos de decisão e ajudar a resolver conflitos de interesse na economia, na ciência política e na sociologia. Por muito tempo, foi amplamente aceita a ideia de que as negociações eram, em sua maioria, situações de soma zero, ou seja, para um ganhar o outro teria de perder. Nos anos 50, porém, o matemático John Nash provou, usando a teoria dos jogos, que havia outra proposta: em um contexto em que nenhum jogador pode melhorar a sua situação dada a estratégia seguida pelo jogador adversário, a melhor estratégia é não investir no prêmio maior. O princípio, também conhecido como equilíbrio cooperativo, rendeu a Nash um Prêmio Nobel em 1994. No campo dos relacionamentos, esse equilíbrio pode ser traduzido por cooperar para encontrar soluções parcialmente vantajosas para ambos e não apenas para uma das partes. Em outras palavras, quando na maioria das vezes os interesses do casal se sobrepõem aos individuais, os dois tendem a ficar mais satisfeitos.

3. OLHAR E ESCUTAR

“Buscamos chamar a atenção e o interesse da pessoa amada o tempo todo”, diz Gottman. Em sua pesquisa, ele descobriu que os casais felizes percebem essas investidas e retribuem em 86% das vezes. Os que se divorciam respondem apenas 33% do tempo nos sete primeiros anos de convivência. “É o momento em que optamos por ouvir nosso par desabafar sobre um dia ruim em vez voltar a atenção para a televisão”, exemplifica a psicóloga Dana R. Baerger, professora assistente de psiquiatria clínica e ciências comportamentais na Escola Feinberg de Medicina da Universidade Northwestern. “Temos a escolha, em qualquer interação, de nos conectarmos com nosso parceiro ou não. A constância da segunda opção pode, ao longo do tempo, corroer lentamente o relacionamento, mesmo sem haver um conflito claro.”

4. VALORIZAÇÃO DE ASPECTOS POSITIVOS

A observação de casais em suas casas revela que os indivíduos que se concentram nos aspectos desfavoráveis não conseguem enxergar ações positivas do companheiro. Uma característica nítida dos casais felizes é que procuram relevar os aborrecimentos e focar o lado agradável da relação. Não se trata de negar o que não está bem, mas sim de não dar espaço excessivo ao que incomoda e colocar de lado as experiências satisfatórias. “Se um dos dois acorda irritadiço em uma manhã de domingo, por exemplo, isso não é motivo suficiente para estragar toda a programação do dia, o que seria pouco vantajoso para ambos”, comenta Gottman. Ele alerta também para o risco de guardar mágoas e usar o ressentimento para ferir ao outro e a si mesmo. Em seus estudos, o psicólogo constata que os casais mais satisfeitos são aqueles em que ambos se esforçam para cuidar emocionalmente do parceiro.

OUTROS OLHARES

TECNOLOGIA DE VESTIR

Como os novos dispositivos “wearables” estão revolucionando a forma de se relacionar com o mundo e o próprio corpo

Pessoas que caminham pelas ruas e aparentam estar falando sozinhas, mas na verdade estão se comunicando com outras por meio dos óculos escuros. Crianças que parecem estar brincando no condomínio do prédio sem a supervisão de um adulto na realidade estão sendo atentamente monitoradas pelos pais por meio de seus relógios. Roupas que aparentemente estão apenas cobrindo a pele, mas fazem muito mais do que proteger o corpo e embelezar o usuário: monitoram a saúde e emitem alertas quando o nível de estresse está acima do normal. Esses itens lembram cenas de filme futurista, porém já fazem parte do dia a dia de muita gente e protagonizam o início de mais uma revolução tecnológica e comportamental. Os novos “wearables”, dispositivos tecnológicos de vestir, estão dominando o investimento em pesquisas das empresas e chegando com tudo no mercado. Apenas no Brasil, no primeiro trimestre de 2019, o número de vendas desses dispositivos cresceu 51,6% em relação ao mesmo período do ano passado. E as expectativas são bastante otimistas: estima-se que até o final do ano a alta deve ser de 91,3%. Os dados são de uma pesquisa realizada recentemente pelo IDC Tracker Brazil.

MUDANÇA DE HÁBITOS

Enquanto esses aparelhos estão trazendo bons retornos financeiros para as empresas pioneiras, do outro lado dessa cadeia estão os usuários cujos hábitos de vida já estão sendo transformados. É o caso da administradora de empresas Daniela Cuqui. Ela comprou para a filha Lorenza, de 8 anos, um relógio que se conecta com seu smartphone. Com um só aparelhinho, ela eliminou diversas preocupações. O objeto possui função GPS, então ela sempre sabe onde a filha está e ainda recebe um alerta se ela sair da área demarcada. E o melhor: o dispositivo está sempre preso ao seu pulso. “Dei um celular há um tempo para ela, mas ela tinha de ficar carregando e acabava esquecendo. Então comprei uma bolsinha para ela carregar o celular, mas também acabava deixando o acessório esquecido em um canto. Agora não tem como esquecer, e se ela tirar do braço eu também recebo um aviso no celular”, diz Daniela. Além de mostrar a localização da filha, o aparelho, que leva um chip próprio de uma operadora de telefonia, recebe e faz ligações para números previamente autorizados e ainda conta com botão SOS. Uma mão na roda para a mãe que trabalha e não tem como acompanhar a menina o dia todo. Além de Lorenza, sua filha mais velha, de 23 anos, seu marido, sua mãe, que mora sozinha, e suas irmãs também usam relógios inteligentes. “É uma segurança, nossa família toda está conectada. Todo mundo fica mais tranquilo porque sabe que todos estão bem”, diz ela.

Outro entusiasta dessa nova tecnologia é o advogado Flávio Schmidt, de 43 anos. Ele sempre viaja a trabalho para a Europa e para os Estados Unidos e aproveita a oportunidade para voltar com o que há de mais novo na área. Uma de suas mais recentes aquisições foram óculos que funcionam como fones de ouvido. Além de proteger os olhos, o item permite que ele ande de moto e faça exercícios sem se preocupar em carregar muitos objetos. Conectado ao smartphone via bluetooth, o equipamento é utilizado para ouvir músicas e fazer ligações por meio de comandos de voz e botões presos nas próprias hastes. “Parece uma trilha sonora, porque consigo ouvir o que as pessoas estão falando com som ao fundo. A gente tem a impressão de que a vida vira um filme”, diz ele. “Também é mais seguro, porque escutar o que se passa ao meu redor é fundamental para quem gosta de passear de moto”. Apesar de adorar os novos lançamentos, ele não os adquire no Brasil, mas apenas quando viaja. Devido aos altos impostos, os dispositivos chegam muito caros no País.

Esse é um dos motivos que faz com que muitos desses aparelhos, que já fazem parte da vida das pessoas em outros países, levem um tempo para chegar por aqui. Mas existem outros. “Muitos dos ‘wearables’ estão em fase de teste e só passam a ser exportados quando realmente são aceitos pelos usuários”, diz Edney Souza, Diretor Acadêmico da Digital House. Os relógios que monitoram a saúde são um exemplo disso. Após serem vendidos com sucesso para o mercado no exterior, eles chegaram com tudo no Brasil, e com diversas marcas. Além de já incentivarem os usuários a terem hábitos mais saudáveis, como caminhar e se movimentar, eles prometem vir com funções ainda mais aprimoradas. “Os pesquisadores estão conduzindo estudos em que os dados de batimento cardíaco coletados estão sendo aceitos como eletrocardiograma para identificar quem tem mais risco de problemas no coração. Em um futuro muito próximo, teremos menos pessoas falecendo em decorrência de um infarte”, diz Edney.

Marina Toeters, designer e pesquisadora em tecnologia fashion, organizou o livro “Unfolding Fashion Tech: Pioneers of Bright Future”, que reuniu 50 projetos na área, tanto em fase de protótipo quanto já disponíveis no mercado. De acordo com ela, as principais dificuldades para comercializar esses produtos são a aceitação do público e o preço de venda. Marina desenvolveu uma blusa que, por meio de finos sensores acoplados à blusa, coletam dados como batimento cardíaco e movimentos do usuário. “Eles ajudam as pessoas a se preocuparem mais com sua saúde e a relaxarem, enquanto podem continuar fazendo suas atividades”, afirma ela. O protótipo está sendo negociado com uma marca e deve chegar ao mercado em cerca de um ano. A ideia é produzir um volume de três mil unidades ao mês.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O “AZAR” DE ADOECER

A má sorte pode ser levada em conta quando se estuda a incidência de câncer na população? Por incrível que possa parecer, um grupo de respeitados cientistas acredita que sim

Ao longo dos anos, o acaso tem desafiado a ciência. Recentemente, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Escola de Saúde Pública Bloomberg, nos Estados Unidos, fizeram uma afirmação polêmica. Claro, há fatores ambientais a serem levados em conta, hábitos de risco, influência da alimentação e do sedentarismo e aspectos genéticos e biológicos. Mas, segundo os cientistas, a ocorrência da maior parte dos tipos de câncer pode ser atribuída, pelo menos em parte, à “má sorte”. Em um artigo publicado no periódico científico Science, estudiosos afirmaram acreditar que a explicação para esse fator aleatório está na maneira como os tecidos do corpo se regeneram.

A pesquisa revela que dois terços de todos os tipos de câncer analisados são originados por mutações genéticas e a explicação para essa alteração pode estar na maneira como as células se regeneram. O estudo que levou a essa conclusão tem o objetivo de explicar a razão de alguns tecidos do corpo serem mais vulneráveis ao câncer do que outros.

Células mais antigas e desgastadas são constantemente substituídas por células-tronco, que se dividem para formar novas estruturas celulares. Mas em cada divisão há o risco de que ocorra uma mutação anômala, que aumenta o perigo de aparecer um câncer. O ritmo dessa renovação varia de acordo com a região do corpo, sendo mais rápida no intestino e mais lenta no cérebro, por exemplo. Os pesquisadores compararam o número de vezes que essas células se dividem em 31 tecidos do corpo durante a vida média de uma pessoa com o índice de incidência de câncer nessas partes do corpo e concluíram que dois terços dos tipos de câncer seriam causados pelo “azar” de células-tronco em processo de divisão sofrerem mutações imprevisíveis. Apesar da observação, cientistas de todo o mundo ressaltam que um estilo de vida saudável aumenta muito as chances de uma pessoa não desenvolver a doença. Ou seja, favorece “a sorte” de se manter saudável.

MELHORES AMULETOS

Para a psicanálise não existe acaso – pelo menos não da maneira como estamos acostumados a considerar essa ideia. Sigmund Freud postula que somos conduzidos por nossos desejos inconscientes sem nos darmos conta deles. E, não raro, nos sentimos completamente à mercê das situações, imersos em certo grau de alienação. Porém, por meio da análise ou do próprio processo de amadurecimento, tendemos a nos apropriar de nossa história, nos tornando mais autônomos tanto para fazer escolhas e arcar com os resultados delas, quanto para aceitar, sem grande sofrimento, que não é possível ter tudo sob nosso controle. E não se trata de abrir mão dos próprios desejos porque não podemos dominar as consequências – pelo contrário.

A capacidade de receber de bom grado os benefícios que a vida oferece – sem desvalorizar “a medalha de bronze porque não é de ouro” – costuma perpetuar a sensação de satisfação. Nesse sentido, uma das maneiras mais eficientes de atrair a sorte está na escolha no nível racional, na opinião do psicólogo inglês Richard Wiseman. Professor da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, ele trabalhou como ilusionista na época da graduação e, mais tarde, conduziu um complexo estudo sobre os mecanismos possivelmente relacionados à sorte. Segundo Wiseman, desenvolver conscientemente o hábito de nos atermos àquilo que nos faz bem, sem nos apegarmos excessivamente ao que provoca dor e desconforto. Para o psicólogo, o empenho em ser saudável e a confiança de que merecemos essa oportunidade são bons amuletos contra o “azar” da doença.

OUTROS OLHARES

A EDUCAÇÃO VEGANA

O pioneirismo das escolas brasileiras em trabalhar o tema “veganismo”, com base em Filosofia, e as vertentes por detrás desse movimento

Definimos no Brasil a educação vegana como uma ação direta pedagógica crítica e autocrítica, cuja missão é levar a teoria dos direitos animais e todo o debate ético animalista, assim como sua aplicação, prática, o modo de vida vegano ao conhecimento de toda a população.

Para entendermos essa questão, é preciso dizer que tudo isso teve início em 1944, em Londres, quando um grupo de dissidentes da Vegetarian Society, funda a Vegan Society e cunha o termo “vegan” para se referir à pessoa que busca no seu dia a dia abolir tudo que advém do uso e da exploração dos animais não humanos. Essa ideologia passou a se chamar “veganism” (veganismo).

Nesses 75 anos de existência, o veganismo adquiriu uma solida fundamentação filosófica. As bases teóricas desse modo de vida tiveram seu início – poderíamos dizer – com o surgimento do Grupo de Oxford. Assim foi chamado, informalmente, o grupo de estudiosos de diversos campos que levantaram, na década de 1970, na Inglaterra, uma série de questionamentos críticos aos mais diversos usos que os humanos fazem dos animais não humanos, em especial para experimentação científica e para alimentação. Inspirados na obra de Ruth Harrison, “Animal Machines” de 1964, os membros do Grupo de Oxford começam a editar argumentos filosóficos em defesa da expansão do círculo moral para além da espécie humana.

As obras pioneiras foram, do casal Stanley e Rosalind Godlovitch e John Harris, chamada Animals, men, and Morals (1971); de Rosalind Godlovitch, Animais and Morais (1971); de Peter Singer, Animal Liberation (1973); de Richard Ryder, Victims of Science (1975); de Tom Regan, “The moral basis of vegetarianism” (é um ensaio, 1975); de Andrew Linzey, Animais Rights: a christian perspective (1976); de Tom Regan e Peter Singer, Animal Rights and Human Obligations (1976); de Stephen Clark, The moral status of animais (1977); de Michael Fox e Richard Knowles, On the fifth day: animal Rights and human ethics (1978); de Peter Singer, Practical Ethics (1979); de David Paterson e Richard Ryder, Animais Rights: a symposium (1979). Nesse mesmo período, importantes revistas acadêmicas dedicaram edições à questão do status moral dos animais não humanos: Ethics (jan/1978), Philosophy (out/1978), Inquiry (verão de 1979) e Etyka (1980).

A partir daí, durante as décadas de 1980 e 1990, a literatura sobre essa temática aumentou assustadoramente. Dentro das mais diversas correntes éticas tivemos o surgimento de filósofos escrevendo defesas da ampliação do círculo moral para incluir os animais não humanos, como pessoas, como sujeitos de suas vidas, como indivíduos conscientes de seus prazeres e sofrimentos. Filósofos utilitaristas, neokantianos, eticistas das virtudes neoaristotélicos, eticistas do cuidado, entre outras vertentes.

Diferentemente do que ocorre nos EUA e na Europa, onde a educação vegana é apenas uma frase dita em panfletos de ativistas veganos, no Brasil, de modo pioneiro, a educação vegana foi aplicada em diversas escolas. O Brasil é o único país do mundo onde professores de Filosofia, Biologia, Educação Física, Física, Matemática, Sociologia introduziram em sala de aula as questões éticas levantadas pelos filósofos animalistas. Porém, são nas aulas de Filosofia, nas quais a temática é mais desenvolvida, devido ao fato de terem sido os filósofos que a elaboraram. Isso facilita ao professor de filosofia, pois tanto no currículo escolar oriundo dos PCNs quanto no livro didático, ele encontra os principais tópicos que levam a esse debate ético contemporâneo.

Nas aulas de Filosofia no ensino médio brasileiro, nas escolas onde a temática foi trabalhada, o professor de Filosofia, ou “educador vegano” como também é chamado, pode desenvolver os debates no campo ético por três vias: primeira, por temas (conceitos); segunda, pela História da Filosofia (em ordem cronológica ou não) e, terceira, por autores (escolhendo quais pensadores apresentar).

A educação vegana demonstrará que a tradicional visão de que o humano é o único animal que pensa, que raciocina, que tem linguagem articulada, que usa instrumentos para modificar seu ambiente, que tem alma, que tem senso de justiça, que produz cultura; não se sustenta mais. Não só pelo recurso aos avançados estudos da Etologia Cognitiva pós-darwiniana, mas pelo debate ético realizado na História da Filosofia desde os gregos. As teses especistas, ou seja, as teses advindas da ideologia que defende a suposta superioridade dos animais humanos sobre os não humanos, comum em pensadores como Aristóteles, Tomás de Aquino, Descartes e Kant, serão contrapostas por vozes dissidentes do mesmo período. Por exemplo, o especismo da teoria cartesiana do “animal machine”, será contraposta pela belíssima defesa da senciência animal na “Apologia de Raymond Sebond” de Montaigne e pelas repostas de Voltaire a Descartes no Dicionário Filosófico e no Filósofo Ignorante.

Se o professor de filosofia ou educador vegano escolher ministrar suas aulas pela via temática/conceitual, podemos usar como exemplo, a questão da senciência. A senciência é o critério moral que iguala todos os animais. Para os animais que ainda não temos certeza se são sencientes, concedemos­ lhe o benefício da dúvida. Negar que os animais não humanos têm consciência da dor e do prazer, é negar a animalidade que nos configura. Em sala de aula, a senciência pode ser discutida a partir de vários filósofos e cientistas como: Pitágoras, Teofrasto, Plutarco, Montaigne, Voltaire, Primatt, Bentham, Nietzsche, Darwin, Peter Singer, Tom Regan, Bernard Rollin, Steve Sapontzis, Evelyn Pluhar, James Rachel e Antônio Damásio.

Se a forma da aula for escolhida pela via da História da Filosofia, sabemos que em todo livro didático de filosofia, temos um capítulo dedicado à Filosofia da Ciência. A partir da perspectiva da educação vegana, a problemática da experimentação animal é colocada tendo como objetivo refletir sobre os alcances e limites das ciências. Aristóteles herdou do pai que era médico na corte macedônica o fascínio pelas pesquisas zoológicas. O educador vegano não ignora o fato de que o Estagirita era um vivissector e anatomista, foto comprovado pelos detalhes com que descreve as composições dos animais em seus tratados biológicos. Em seu longo tratado, História Animalium, encontramos as bases do que denominamos hoje de Psicologia Comparada, assim como, da Etologia Cognitiva. E como falar da experimentação animal sem passar pelo “pai” da filosofia moderna: René Descartes? As aulas podem ser ilustradas com um ótimo recurso cinematográfico que é o documentário chamado “Não matarás: os homens e os animais nos bastidores da ciência’: que conta com a participação de dois importantes filósofos dos direitos animais: a brasileira Sônia Felipe e o estadunidense Tom Regan.

A educação vegana pode ser desenvolvida nas aulas de filosofia pela terceira via, a apresentação de alguns filósofos. Devido ao pouco tempo de aula de filosofia nas escolas, infelizmente, a escolha acaba privilegiando uns e deixando outros de fora, o que não quer dizer que não podem ser citados, indicados como leitura extraclasse. A escolha normalmente é feita tendo em mente os filósofos da chamada Ética Animal ou dos Direitos Animais. Por exemplo, Peter Singer, autor de duas obras fundamentais dentro da perspectiva utilitarista, que são: Libertação Animal e Ética Prática. Singer desenvolveu o “princípio da igual consideração de interesses semelhantes’: cuja base é o critério da senciência. Se um animal não humano tem os mesmos interesses básicos que o animal humano, esses interesses não podem ser negligenciados apenas por que ele não pertencer a minha espécie. Isso seria especismo, um preconceito baseado na formatação biológica do indivíduo, como é o caso do racismo e do sexismo.

Ainda nessa terceira via, a educação vegana pode ser trabalhada pela perspectiva dos direitos. Nesse caso, o filósofo mais conhecido é Tom Regan. Regan é um conhecido deontologista neokantiano, e a sua teoria dos direitos animais foi estruturada em sua obra magna: The Case for Animal Rights. Regan se funda em Kant e na Declaração dos Direitos Humanos para propor que todos os animais sencientes devem ter direitos morais básicos. Devem ser reconhecidos como pessoas que são sujeitos – de ­ suas – vidas e devem ser respeitados por isso.

E por fim, ainda nessa terceira via, os pensadores neoaristotélicos também podem ser usados para que os alunos vejam a amplitude de perspectivas em defesa da expansão do círculo moral humano. Os filósofos mais conhecidos nessa linha de pensamento são: Stephen Clark, Rosalind Hursthouse, Martha Nussbaum, Daniel Dombrowski e Bernard Rollin. Esses pensadores vão resgatar conceitos aristotélicos como eudaimonia, aretê e telos. A educação vegana a partir dessa perspectiva tem como foco a formação do caráter moral humano. Mesmo que nas escolas, contraditoriamente, encontramos uma barreira à formação de uma segunda natureza moralmente excelente, ou seja, um habitus que nos possibilite buscar a realização de nosso telos eudaimônico sem com isso, impedir que o mesmo seja alcançado pelas outras espécies animais; é nesse ambiente que a educação vegana acredita, através de uma ação direta pedagógica, que as virtudes fundamentais para o viver uma vida boa, como: prudência, temperança, coragem, justiça, fidelidade, veracidade, amabilidade, simplicidade, responsabilidade e compaixão, devem ser introduzidas e trabalhadas.

Educação vegana é um outro olhar sobre nossas relações com os animais não humanos e com o meio ambiente que nos circunda, cuja base, é o diálogo crítico com toda a milenar História da Filosofia. Educação vegana é a prática da criticidade que caracteriza a Filosofia.

GESTÃO E CARREIRA

VOANDO ALTO

A MaxMilhas, que surgiu em 2013 e hoje tem 400 funcionários, desenvolve os empregados para o futuro

Encontrar uma maneira de economizar nas viagens foi o que levou o mineiro Max Oliveira a criar, em 2013, a MaxMilhas, que conecta consumidores que estão em busca de uma passagem aérea mais barata a pessoas que querem vender suas milhas e faturar uma grana extra. A ideia fez sucesso e, até hoje, a empresa já negociou 40 bilhões em milhas e emitiu 4 milhões de passagens — o que representa 160.000 voltas ao mundo em milhagem aérea. Para dar conta da demanda, a empresa aumentou o quadro. Nos últimos três anos, dobrou o número de empregados e, atualmente, 400 funcionários trabalham juntos no escritório da startup, em Belo Horizonte.

DENTRO DE CASA

Encontrar gestores com a cara da MaxMilhas era um desafio. Por isso, a empresa criou um programa de desenvolvimento de líderes. Com duas turmas por ano e aberto para qualquer funcionário com mais de seis meses de casa, o projeto dura 12 meses e foca habilidades comportamentais

A REGRA É CLARA

Os pré-requisitos para conquistar cada um dos cargos da startup estão estampados na parede. Duas vezes ao ano, todos recebem feedbacks do RH. Em 2019, 75 pessoas mudaram de cargo ou tiveram aumento de salário.

DIVERSIDADE

Apesar de não possuir políticas formais de inclusão, a empresa tem diversidade: 52% do quadro não se considera branco; 51% são mulheres (elas compõem 43% da liderança) e 11% se declaram LBGTI+ (há três transexuais).

TODOS JUNTOS

Nas datas de alta demanda por passagens de avião, como Black Friday e o dia mundial das milhas, todas as áreas ajudam a equipe de atendimento, que tem 200 pessoas. Até Max, o fundador, emite passagens.

ENTREVISTA COMPLETA

Na hora de contratar, a empresa checa não apenas a capacidade técnica, mas os valores do candidato — para verificar o alinhamento com a cultura. Há perguntas sobre racismo, privilégios e trabalho em equipe. Os que são aprovados passam para uma segunda fase, na qual desenvolvem um case que depois é apresentado aos gestores. Por fim, o time com o qual o candidato vai trabalhar valida, ou não, a contratação. O processo leva cerca de 15 dias.

CENÁRIO

O escritório é aberto e sem distinção de hierarquia. A decoração foi pensada para ajudar os funcionários a lembrar que estão numa empresa de viagem: Há um por – do – sol na recepção, uma sala de reunião que imita uma pista de pouso e nuvens no teto do andar principal.

NO RITMO

A pedido dos empregados, a MaxMilhas fez uma parceria com o lá da favelinha, grupo de dança que dá aulas semanais a um grupo de 20 funcionários — que até já realizou apresentações na empresa.

TROCA-TROCA

Uma vez a cada quatro meses, os funcionários trabalham na área de atendimento durante 4 horas. A ideia é estimular a troca de experiências, ampliando a noção de negócio. Desse projeto também saem inovações e melhorias em processos.

PENSANDO NO FUTURO

Além do curso voltado para a preparação de líderes, a empresa tem outro programa com foco no desenvolvimento de habilidades que serão importantes para o crescimento dentro da MaxMilhas, como resiliência e empatia. a participação é voluntária, mas 270 funcionários já passaram pelo treinamento, que é trimestral e dura 3 horas.

FOCO NA FORMAÇÃO

A MaxMilhas oferece aulas de inglês e espanhol para todos os funcionários e arca com 50% do custo. Além disso, a companhia subsidia um valor correspondente a até 20% do salário do empregado para outros cursos que auxiliem na carreira. Até dois funcionários do mesmo time podem estudar ou participar de eventos ao mesmo tempo. A aprovação fica por conta do gestor.

VAGAS

Cerca de 50 vagas até o fim do ano

COMPETÊNCIAS

A MaxMilhas busca profissionais colaborativos e que sejam capazes de se colocar no lugar do outro. Ter espírito empreendedor é importante, assim como disposição para aprender e evoluir

SITE PAR A ENVIO DE CURRÍCULO

maxmilhas.com.br/trabalhe-conosco

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 7 – FILHOS DE DEUS

Foi o Eterno que fez o casamento, não você. Seu Espírito permeia até os menores detalhes dessa união. E o que ele espera do casamento? Ora, filhos de Deus. Malaquias 2:15, A Mensagem, grifo do autor

“Filhos de Deus…”. É isso que Deus espera do casamento. Mas será que significa que Ele espera que tenhamos mais bebês para povoarem a Terra? Sim e não.

A passagem de Malaquias 2:15 não diz que Deus quer que o casamento produza filhos. Diz que Ele deseja que o casamento produza filhos de Deus. Deus deseja filhos – de qualquer idade – que O glorifiquem e andem nos Seus caminhos. Lembre-se de que somos Seus embaixadores. Seu objetivo é se revelar a nós e por meio de nós.

O Breve Catecismo de Westminster diz: “O objetivo principal do homem é glorificar a Deus, e desfrutá-Lo para sempre”. Amamos isso! Glorificar não é uma palavra usada por nós em nossa linguagem diária; devido ao seu uso frequente na Bíblia ela é vista como algo espiritual e distante. Mas glorificar significa simplesmente tornar Deus conhecido. O desejo de Deus é ser conhecido através das nossas vidas, casamentos e legados. E não existe catalisador como o casamento para nos transformar em filhos de Deus.

Mesmo se você nunca criar um filho, Deus quer usar seu casamento para transformar você em um filho de Deus. Ele quer refiná-lo, transformando-o em um agente da Sua glória, e moldá-lo à semelhança de seu Pai. Compartilhar sua vida com outra pessoa cria muitas oportunidades para nos tornarmos mais semelhantes a Deus. Descobrimos que, com muita frequência, um caráter temente a Deus não é desenvolvido em meio a oceanos de bênção. Ele é forjado na fornalha do fogo matrimonial.

Eu (John) assemelho o casamento a uma fornalha e nossas vidas a uma liga, ou mistura, de metal precioso. O que uma fornalha ardente faz com uma liga? Expõe suas impurezas. Minha aliança de casamento pode parecer ser feita de ouro puro, mas aproximadamente cinquenta por cento dela é composta de outras substâncias. Se eu colocasse minha aliança dentro de uma fornalha, essas impurezas seriam expostas. Do mesmo modo, os desafios que encontramos no casamento – desde os desentendimentos triviais até os momentos extremamente difíceis – revelarão impurezas em nossas vidas. (Algumas impurezas precisam de mais calor do que outras para serem reveladas.)

Quando o casamento revela implacavelmente nossas imperfeições, é fácil culpar nossos cônjuges. Afinal, nada disso acontecia antes de nos casarmos. Quando percebermos que estamos nos sentindo frustrados porque nossos cônjuges estão agravando nossas “fraquezas”, devemos agradecer a Deus porque o casamento está nos tornando mais semelhantes a Jesus. Não é esse o objetivo final?

ENCONTRANDO PROPÓSITO NOS TEMPOS DIFÍCEIS

Sabemos que nossa analogia com a fornalha não é empolgante, mas a jornada para um final feliz está longe de ser um conto de fadas. Às vezes a sua história pode parecer mais com uma escalada ao Monte Everest do que com a cena final de um conto de fadas.

Aqueles que desbravam as ladeiras cobertas de neve dos Himalaias para fazer a rigorosa e desafiadora jornada até o pico do Everest, devem fazer isso tendo duas coisas em mente. Primeiramente, devem saber que o empreendimento testará os limites de sua capacidade física e emocional. Esses homens e mulheres ousados não conhecem todas as particularidades dos perigos iminentes, mas sabem que desafios virão. Em segundo lugar, eles precisam se lembrar do seu objetivo: subir a montanha mais alta do mundo. Para eles, a vitória é claramente alcançada quando se atinge 29.029 pés acima do nível do mar. Sem a consciência desse objetivo, esses viajantes desistiriam rapidamente assim que encontrassem seu primeiro grande obstáculo.

O mesmo se aplica ao casamento. Se reconhecermos que os desafios são parte inerente da construção das nossas histórias, então não seremos esmagados quando nossas capacidades emocionais, físicas e espirituais forem testadas. Se começarmos – e construirmos – tendo o fim em mente, não desistiremos quando encontrarmos grandes problemas.

Ao ensinar sobre maturidade espiritual, Jesus disse que tribulação e perseguição viriam sobre aqueles que creem na Palavra de Deus (ver Marcos 4:17). No original grego, essas palavras são thlipsis e diogmos. Thlipsis é “transtorno que inflige sofrimento, opressão, aflição, tribulação”.1 Diogmos é “um programa ou processo projetado para perturbar e oprimir alguém”.2 Nenhum dos dois parece ser divertido, mas essas forças facilitam o nosso crescimento em Deus. Paulo repetiu as palavras de Jesus:

Também nos gloriamos nas tribulações [thlipsis], porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou Seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu. Romanos 5:3-5

Paulo escreveu que devemos nos gloriar, ou seja, que devemos nos alegrar nas tribulações. Por quê? As tribulações geram uma oportunidade de desenvolvermos um caráter aprovado. Os problemas nos posicionam para nos tornarmos mais semelhantes a Deus. E podemos ter esperança no conhecimento de que Deus nos ama e quer sempre o melhor para nós – a ponto de nos ter dado Seu Espírito para encher nossos corações de amor, mesmo em meio às nossas maiores lutas.

A Bíblia também deixa claro que Deus não é o autor dos nossos problemas. Satanás é aquele que está por trás da tribulação e da perseguição (ver Marcos 4:15 e Tiago 1:12-13), mas Deus usa os estratagemas do inimigo contra ele. Nas mãos do grande Redentor, o que se destina a nos afastar de Deus se torna um instrumento para nos tornar mais semelhantes a Ele.

Lembre-se de que o inimigo odeia o casamento e tudo o que ele representa. Ele fará tudo que estiver ao alcance dele para dividir nossas uniões e perturbá-las com tribulações aparentemente insuportáveis. Ter uma visão para as nossas uniões – e a fé de que Deus nos fará atravessar as dificuldades – nos dá o poder da esperança para resistir aos ataques do inimigo. Deus não quer que meramente sobrevivamos aos ataques contra o nosso casamento. Ele quer que nos tornemos mais fortes por meio deles. A chave é lembrar por que estamos lutando (o propósito de Deus), contra quem estamos lutando (satanás), e quem está do nosso lado (o Espírito de Deus). Nossa fé e esperança realmente são fortalecidas através dos desafios – desde que não desistamos antes que Ele possa completar Sua obra em nós.

O “FELIZES PARA SEMPRE” DE JESUS

Jesus sofreu mais profundamente do que qualquer outro ser humano. Ele, o Deus perfeito, tornou-se como nós para sofrer a dor e a humilhação de uma morte injusta. Ele abriu o caminho para sermos reconciliados com Deus, mas a maior parte da humanidade ainda O rejeita.

Como Jesus foi capaz de suportar tamanha dor e rejeição? A resposta é simples, mas tremendamente profunda: Ele nunca perdeu de vista Seu “felizes para sempre”. No Seu exemplo, encontramos um modelo para escrevermos nossas histórias:

Mantenham os olhos em Jesus, que começou e terminou a corrida de que participamos. Observem como Ele fez. Porque Ele jamais perdeu o alvo de vista – aquele fim jubiloso com Deus. Ele foi capaz de vencer tudo pelo caminho: a Cruz, a vergonha, tudo mesmo. Hebreus 12:2, A Mensagem

Jesus resistiu porque sabia para onde estava indo. Ele olhou através do sofrimento e viu a promessa.

A Bíblia Nova Versão Internacional traduz esse versículo do seguinte modo:

… Corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que Lhe fora proposta, suportou a Cruz…. Hebreus 12:1-2, grifo do autor

Captou a ideia? “A alegria que Lhe fora proposta.” Jesus estava entusiasmado com a ideia de suportar a Cruz? Absolutamente não. Ele estava tão angustiado que passou a noite anterior à Sua execução suplicando ao Pai por um caminho alternativo. Mas Jesus tinha algo que falta em muitos casamentos. Ele tinha uma visão extraordinária. Ele podia ver além das circunstâncias ao Seu redor e visualizar o poder e a promessa que viriam através das Suas escolhas. E a atenção de Jesus estava voltada para que? Encontramos a resposta em Efésios 5:

Cristo amou a igreja e entregou-Se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a Palavra, e para apresentá-la a Si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. v. 25-27, grifo do autor

Somos o final feliz de Jesus. Nós fomos a alegria que estava diante Dele. Jesus suportou a Cruz para que Ele pudesse ser reconciliado conosco, Sua Noiva. A Igreja agora pode abraçá-Lo sem se sentir envergonhada por sua antiga condição miserável, pois Nele temos uma nova identidade. Esse é o tipo de perseverança, misericórdia e amor incondicional que deveria estar presente em nossos casamentos. Mas é preciso ter uma visão – uma esperança do que o casamento poderá ser – para nos sustentar em meio aos desafios.

O escritor de Hebreus continua com esta exortação:

Cruz. Quando sua fidelidade ao seu cônjuge estiver enfraquecendo, lembre a si mesmo da fidelidade de Jesus a você. Lembre-se de tudo o que Ele suportou para Se reconciliar com você. O exemplo Dele injetará adrenalina em sua alma!

Quando se sentirem cansados no caminho da fé, lembrem-se da história Dele, da longa lista de hostilidade que Ele enfrentou. Será como uma injeção de adrenalina na alma! Hebreus 12:3, A Mensagem

Todos nós nos sentimos fracos em nossa fé de tempos em tempos. É por isso que o escritor de Hebreus diz quando e não se vocês se sentirem cansados no caminho da fé. Um grande casamento requer uma grande fé, porque é a raiz de toda fidelidade. Quando seu casamento estiver tendo dificuldades, lembre- se do que Cristo suportou. Releia a história Dele. As suas dificuldades momentâneas, por mais dolorosas que sejam, não são nada se comparadas à Cruz. Quando sua fidelidade ao seu cônjuge estiver enfraquecendo, lembre a si mesmo da fidelidade de Jesus a você. Lembre-se de tudo o que Ele suportou para Se reconciliar com você. O exemplo Dele injetará adrenalina em sua alma!

OUTROS OLHARES

CONHECER PARA RESPEITAR

Um grande desafio para banir a desigualdade e a discriminação do cotidiano escolar

Nas considerações de Paulo Freire, “você, eu, um sem-número de educadores sabemos, que a educação não é a chave das transformações do mundo, mas sabemos também que as mudanças do mundo são um quefazer educativo em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua força reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço de nossos sonhos.”

Faz-se necessário compreender a educação como transformação social, oportunizar aos nossos al unos desde a educação infantil serem sujeitos construtores da própria história. A escola deve educar para a vida desde bem cedo, daí a importância de se trabalhar na escola questões como: a desigualdade social, a discriminação racial e a diversidade cultural; oportunizando aos alunos a quebra de paradigmas desde cedo, reconstruindo valores e verdades a respeito do outro, respeitando as diferenças sociais, culturais e raciais no seu cotidiano.

É imprescindível, a escola atual, trabalhar de maneira eficaz a matriz africana no seu currículo. Pois a História africana, sua formação e delineamento da identidade cultural afro-brasileira, é de suma importância no cenário educacional, pois será interpretando e recriando as práticas de outras culturas, que os alunos irão ter possibilidades de conhecer e assim respeitar o outro.

Herdeiros de uma escola que sempre privilegiou, em grande parte de sua trajetória, conteúdos eurocêntricos, vivemos hoje a urgência de rever conteúdos e temas formativos em nossos bancos escolares. Dessa maneira, conhecer e refletir sobre os costumes e tradições, as práticas e as representações culturais, a mitologia e a religião, a linguagem e as escritas, a resistência e as lutas, a memória e a história do povo africano; assim ensinar, aprender, refletir e debater sobre as identidades, é um exercício fundamental para o combate à intolerância, à discriminação, à xenofobia, ao racismo.

A importância de se discutir tais questões no âmbito da educação é atestada pela amplitude e incidência de crimes e violência no Brasil. Estes ocorrem no contexto de uma história e uma cultura que favorece a violências de todo tipo. Tratar a discussão sobre a cultura afro-brasileira, como matéria/disciplina, significa dar um passo importante para reduzir as desigualdades e a violência que marcam nosso país e o cotidiano escolar. A luta contra o preconceito é tanto política quanto acadêmica.

Para a Unesco, debater essas questões em sala de aula é fundamental, é primordial que ensinem aos estudantes que todas as pessoas são iguais, independentemente da cultura ou até mesmo de sua cor. Um dos compromissos dos países-membros da Organização das Nações Unidas é garantir o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pelo Brasil e todos os outros Estados – membros da ONU em 2015. Entre os 17 objetivos globais da agenda, está a garantia de ambientes de aprendizagem seguros e não violentos, inclusivos e eficazes, e a promoção da educação para a igualdade e os direitos humanos.

A Carta Magna Brasileira prevê, no Art. 3.0, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Prevê, ainda, em seu Art. 206, no que tange ao direito à educação:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino.

Neste sentido, a política de educacional é imprescindível, é na educação básica que as crianças podem tornar-se seres mais esclarecidos e livres para entender o mundo, sem imposições. Para o alcance dessas propostas, é necessário, implementar a educação sobre os temas dos direitos humanos e da diversidade na formação inicial e continuada, oferecida por faculdades e universidades; disponibilizar material didático-pedagógico para auxiliar os profissionais de educação na abordagem destes temas; e realizar pesquisas para o monitoramento e avaliação desse trabalho. Penso que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) [BRASIL, 1997] são propostas do Ministério da Educação e do Desporto (MEC), datadas de 1997, 1998 e 1999, para a abordagem curricular da educação básica, com o objetivo de serem um referencial comum para a educação de todos os Estados do Brasil, não é suficiente, pois muitos professores têm tido dificuldades em aplicar as sugestões apresentadas por eles, o trabalho interdisciplinar ainda é um desafio no cotidiano escolar, sendo necessário políticas educacionais que atendam a regionalidade de cada lugar no Brasil. Desse modo, verifica-se que a Nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997, enfatizam a ideia de diversidade cultural, múltiplos olhares sobre a cultura e a História do patrimônio material e imaterial do Brasil. Nos permitindo, como professores ampliar estes temas, incorporando leituras críticas de textos em sala de aulas, resgates de lendas e tradições regionais, pesquisas de fontes históricas, estudo de textos literários, possibilitar discussões a respeito da diversidade cultural, narrativas cotidianas. Mas isso só será viável pedagogicamente, se Escola, Docentes e Alunos estiverem abertos para a realidade da comunidade escolar, pelo saber adquirido a partir das vivências e tradições da mesma.

Quando a escola aborda a questão racial, cultura afro-brasileira, numa perspectiva plural, ela mostra ao aluno que tudo o que existe na nossa sociedade são construções culturais, e que elas mudam ao longo do tempo. Dar essa perspectiva histórica ao aluno, de que nem sempre foi assim e nem sempre vai ser assim, faz com que eles reflitam e aí, sim, se tem um ganho progressivo de liberdade, de autonomia, que são características importantes. Nesta perspectiva, os PCN’s oportunizam à escola refletir sobre o seu currículo, sobre as necessidades de sua comunidade escolar quanto à realidade de diversificar as práticas pedagógicas, pois rompem a limitação da atuação dos educadores em relação às atividades formais e ampliam um leque de possibilidades para a formação do (a) educando (a).

A escola pode e deve contribuir na construção de princípios de igualdade e justiça, culminando assim no desenvolvimento de uma cultura democrática e participativa. Se queremos uma sociedade mais justa e igualitária, é sem dúvida na escola que iremos reverter o quadro desolador de desigualdade. E atitudes preconceituosas e discriminatórias somente podem ser mudadas por meio da educação – em todos os níveis e modalidades – em direitos humanos e de respeito à diversidade humana, em todas suas manifestações.

O currículo escolar também é uma outra ação necessária, pois deveriam dar maior ênfase ao cotidiano escolar, permitir estudos de Histórias regionais, locais, que incentivassem a formação de uma identidade cultural e consequentemente nacional; dar ênfase as tradições, valores, memórias, vivências e uma nova percepção do tempo e do espaço. Levar esta discussão para o universo escolar é abrir-se para uma educação que vai além da reprodução de valores, é entender que se deve educar para a crítica às reproduções culturais, tornar prioridade nas políticas curriculares. Os professores podem oportunizar, por meio de atividades pedagógicas, a busca pelas raízes culturais junto aos alunos, através de projetos pedagógicos que trabalhem educação e cultura. No que se refere à contribuição africana é evidente, principalmente, na culinária, dança, religião, música e língua. Deste intercâmbio cultural formou-se a cultura afro-brasileira, sendo visível à influência africana em todos os aspectos da sociedade brasileira, em diálogo com valores humanos de várias etnias e grupos sociais, imprimimos valores civilizatórios de matriz africana à nossa brasilidade que é plural. É imprescindível trabalhar esses temas no cenário educacional, iniciando desde a educação infantil até ao Ensino Médio; além do Ensino superior. Para assim edificarmos valores essenciais para a vida e na vida! E assim, estarmos contribuindo por uma educação crítico social no cumprimento das leis: 10.639/03 e 11.645/08.

É cumprir nosso papel social, enquanto professores, fortalecendo nossa identidade social, para que nossos alunos conheçam e reconheçam o espaço em que vivem, proporcionando mudanças no seu modo de entender a si mesmo, entender os outros, as relações sociais e a própria História; entendendo que saber sua história é saber narrar a si mesmo e ao outro; é ser sujeito de sua própria história, um agente ativo na sociedade, um sujeito capaz de pensar e transformar, exercendo sua plena cidadania. A ideia de educação deve estar intimamente ligada às de cultura, liberdade, democracia e cidadania.

É importante refletir esta questão, como a Cultura se traduz em experiências escolares? Qual a imagem que os alunos têm de si mesmos, de seu lugar, de seu país, do mundo em que vivem? É preciso, enquanto professores, buscarmos esse olhar, essa identidade, esse sujeito capaz de transformar a sua realidade a partir do conhecimento obtido. Oportunizar ao aluno a busca de suas raízes, em relembrar coisas do passado, seja na família ou comunidade, na cidade ou região, tornando a história viva; tornando-se sujeitos de sua própria História, sendo capaz de transformá-la de maneira crítica e consciente, propiciando a sociedade cidadãos críticos, transformadores e sensíveis ao meio em que vivem.

A cultura é plural, implica sujeitos, valores, manifestações artístico-culturais e materiais, imaginário social, identidade, conhecimento, relações de poder, religião, etc. ; possibilitando assim várias possibilidades de projetos interdisciplinares, girando em torno de grandes temas, como: Identidade e Pluralidade; Cultura de massa e Consumo; Patrimônio e Herança Cultural; Cultura e Cidadania. Todos estes temas estão interligados, valorizando a cultura no cenário educacional. Assim sendo, a cultura configura um mundo de símbolos, que atribui significados e delimita a forma como se lê, se sente, se vive; definindo a maneira de ser e de agir do indivíduo.

Nessa perspectiva, o ensino­ aprendizagem oportuniza um espaço – tempo de reflexão crítica acerca da realidade social e, sobretudo, referência para o processo de construção das identidades destes sujeitos e de seus grupos a qual pertence, o que é determinante na construção da leitura de mundo deste aluno. Para uma boa prática, é necessário conhecer e fortalecer a identidade social, possibilitando ao aluno conhecer e reconhecer o espaço onde vivem, pertencer e se apropriar do mesmo no decorrer da sua História, promovendo a troca de significados e vivencias. Incentivar a diversidade cultural, o conhecimento e respeito a cultura do outro, fortalecer a memória e novos saberes, conhecer tradições e o lugar em que vive. Conhecer para respeitar! Aprender a ser, só é possível quando existem trocas de saberes, partilha de experiências e situações instigadoras. Assim, vamos gerar cidadãos capazes de mudar e transformar o lugar em que vivem, sem precisar mudar de lugar.

A História das populações indígenas e afro brasileira, é de suma importância de ser compreendida e vivida na atualidade; como meio de conscientização e valorização do passado dos povos indígenas e africanos, oportunizando ao aluno a reflexão e o respeito às diferenças culturais em nosso país. A promulgação da Lei 10.639/03, alterando a LDB, estabeleceu a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de ensino da educação básica, oportunizando a visibilidade e o reconhecimento da cultura e memória do povo africano e suas experiências, na sociedade brasileira ao longo da História. A mesma lei foi novamente alterada pela de n. 11.645/08, com a inclusão da temática indígena nas escolas, em uma abordagem que possibilita ao aluno dos ensinos fundamental, médio e superior, ter uma visão crítica à imagem dos povos indígenas, sua diversidade étnico-cultural, sua história e presença na atualidade.

Desta forma, a escola deve reconhecer e valorizar a história e a cultura africana, a afro-brasileira e a indígena, que são imprescindíveis para o ensino da diversidade cultural no Brasil. Trata-se de um momento em que a educação brasileira busca valorizar devidamente a história e a cultura de seu povo afrodescendente e indígena, buscando assim desconstruir paradigmas racistas e eurocêntricos da memória e História desses povos, que devem ser reconhecidos e respeitados. A escola deve educar para a vida e na vida, desde bem cedo, entendendo a sociedade como um espaço de realizações instigando no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã. Para isso, será necessário, que a escola tenha clareza de seu currículo, de sua proposta pedagógica, de seu sistema de avaliação no processo de ensino e de aprendizagem, na ação educativa; discutindo-a, e colocando como perspectiva a possibilidade de mudar essa realidade, repensar a formação de homens capazes de transformar, caracterizada pela ação transformadora do mundo.

Compreender que o homem é um ser histórico, capaz de construir sua história participando ativamente com os outros no mundo. Uma educação transformadora, é capaz de promover mudanças por meio da leitura do espaço; o qual traz em si todas as marcas da vida dos homens, construído cotidianamente e que expressa tanto as nossas utopias, como os limites que nos são postos; é oportunizar a reflexão sobre o papel de sujeitos de nossa História, mobilizando para os caminhos de acesso ao conhecimento, associada a cultura, leitura crítica da realidade, desafiando-nos para que percebamos que o mundo pode ser mudado, transformado, reinventado.

A escola tem como desafio nos dias atuais, a formação do cidadão, para que este tenha conscientemente participação social, política e atitudes críticas diante da realidade que vive, oportunizando uma atuação e transformação da realidade histórica na qual está inserido. É imprescindível, que a sociedade e o Estado, percebam e assumam que a escola é uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania. Se fazendo necessário, repensar o significado da transformação social no cenário educacional e assim buscar para o nosso país. Assim, um dos desafios da educação é inspirar, criar e recriar possibilidades de lutas contra o preconceito, a violência, a alienação, o autoritarismo, enfim uma nova ressignificação da atuação pedagógica para aceitar e incluir as diferenças do outro, das nossas próprias diferenças e assumir uma postura diante das diferenças produzidas ao longo da História da Humanidade.

GESTÃO E CARREIRA

LÁ DE CASA

O home office é uma alternativa para conciliar maternidade e carreira. Mas tocar os negócios da sala de jantar requer cuidados específicos

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Trabalhar em casa era algo que não passava pela cabeça de Nathana Lacerda, de 34 anos. Fundadora, há 15 anos, da Sigma Six, empresa especializada em construção de imagem e reputação, de segunda a sexta ela se arrumava para ir até a sede do escritório, a 15 minutos de sua casa, no bairro Padre Bento, em Itu, a 100 quilômetros de São Paulo. Lá, passava de 7 a 9 horas diárias. “Nunca havia pensado em home office, achava que isso era para quem estava começando”, diz Nathana. Mas tudo mudou há dois anos, quando ela deu à luz a seu primeiro filho, Bento. Após a maternidade, a empreendedora se deu conta de que sua antiga rotina não funcionava. “Vivia correndo para cima e para baixo, era um caos”, diz. Da desorganização surgiu a necessidade de otimizar o tempo, e Nathana chegou à conclusão de que trabalhar remotamente diminuiria a correria. “Percebi que poderia fazer meu trabalho de qualquer lugar.” Mas o começo não foi fácil. No primeiro dia, ela chorou muito. “Era como se estivesse abrindo mão de minha segurança. Ir para um local trabalhar gera uma sensação de estabilidade.” Nos dias seguintes, porém, notou que antes vivia em um ritmo impossível de aguentar por muito tempo. “Perdia horas e energia nos deslocamentos. Hoje, almoço com calma, ao lado do meu filho. Com o pai e a mãe mais tempo em casa, Bento está mais tranquilo. E a mudança de comportamento dele me ajudou a entender que tomei a decisão certa.”

Assim como Nathana, muitas mães encontram no home office uma solução possível para conciliar a carreira e o cuidado com os filhos. Tanto que uma pesquisa feita pelas autoras Patrícia Travassos e Ana Claudia Konichi para o livro Minha Mãe É um Negócio (Saraiva, 29,90 reais) mostra que 58% das mães tocam suas empresas de dentro de casa. “O home office é o trabalho em domicílio moderno, que sempre existiu. Trabalhar de casa tem sido uma estratégia para mulheres com filhos pequenos e vontade de exercer de uma forma específica sua maternidade”, aponta Bárbara Castro, socióloga e professora da Unicamp. “Além disso, é preciso levar em conta o preço alto dos berçários e escolas e a ausência de universalidade de creches públicas para deixar a criança. Estar em casa é uma maneira de conseguir prover cuidado, já que o Estado não o faz e os serviços privados não cabem no orçamento.”

PÉS NO CHÃO

Mas é preciso tomar cuidado com a glamourização desse estilo de trabalho. É comum que a mulher que faz home office se sinta sobrecarregada, somando funções domésticas às atribuições profissionais. Isso porque, na cultura brasileira, ainda se acredita que cuidar da casa seja uma função feminina. “A inclusão das mulheres no mercado de trabalho ficou mais forte a partir da segunda metade do século passado. Entretanto, as tarefas de cuidado nunca foram redistribuídas. E, mesmo trabalhando, as mulheres continuavam com a responsabilidade do cuidado de filhos, idosos e casa, enquanto homens permaneciam na posição de provedores oficiais, sem responsabilidades domésticas”, explica Regina Madalozzo, professora e pesquisadora do Insper. Tanto é que as mulheres trabalham 20,9 horas por semana em afazeres domésticos e no cuidado de pessoas, quase o dobro das 10,8 horas dedicadas pelos homens. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 (Pnad Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018.

E no home office isso fica evidente. A socióloga Bárbara Castro fez uma pesquisa qualitativa com cerca de 70 pessoas que trabalham em casa, entre homens e mulheres, e constatou que o comportamento é bem diferente entre os dois sexos. “Elas ficam no centro da casa, geralmente na mesa de jantar, acordando mais cedo para se concentrar, observando o cuidado da babá quando podem ter uma, tendo o trabalho muito interrompido e acabam se sentindo improdutivas. Já os homens trabalham em escritório com porta fechada, para que ninguém os interrompa, e se sentem mais produtivos do que na empresa”, explica a pesquisadora.

Para que o trabalho de casa realmente funcione e seja prazeroso, compartilhar as tarefas com o companheiro ou companheira é fundamental. E atenção: não se trata de ajuda, mas de divisão real de tempo e responsabilidades. “O caminho é se posicionar. Deixar claro o que espera, mostrar quando está trabalhando em algo e não pode ser interrompida”, diz Nathana, que criou uma rotina para o home office funcionar. Ela acorda antes das 6 horas para resolver questões estratégicas e poder ficar com o filho quando ele se levanta — cuida dele das 7h30 às 13 horas. À tarde, Bento fica com os avós, e Nathana pode fazer reuniões e atender os clientes. Às 19 horas, ela busca o pequeno. “O grande desafio é manter o foco, mas me sinto muito produtiva, mesmo que trabalhe menos horas”, diz.

Outro desafio do home office é lidar com o isolamento de ficar em casa por muito tempo. Quem sentiu isso na pele foi Débora Emm, de 35 anos, criadora da empresa Inesplorato, que promove curadoria de conhecimento. Há quatro anos, quando sua companhia já estava sólida, Débora resolveu que era hora de se tornar mãe. Nasceu Adélia. Durante seis meses após dar à luz, a empreendedora ficou afastada da rotina profissional, já que a empresa de seis sócios e 22 funcionários conseguia operar sem sua presença. Aos poucos, Débora retomou a rotina. Mas não mais em São Paulo, onde morava antes da maternidade, e sim em Aruã, perto de Mogi das Cruzes, cidade do interior paulista que fica a cerca de 100 quilômetros da capital. “Sentia falta da troca que o escritório promove e, por isso, uma vez por semana vou até São Paulo”, diz. Com a viagem, Débora se sente mais produtiva e feliz.

Em casa, ela criou um espaço dedicado ao trabalho. Embora não tenha portas ou paredes, o local é respeitado por sua filha. “Ela sabe que ali existe uma barreira para não atrapalhar minha concentração. Quando me proponho a trabalhar, fico imersa, e nenhum barulho me distrai. Acho muito interessante que minha filha observe meu dia a dia e eu o dela. Ela sabe o que significa trabalho e como conviver com isso”, afirma Débora.

E AS EMPRESAS?

Existe uma triste estatística no Brasil: após dois anos de retorno da licença-maternidade, 48% das mulheres são demitidas, de acordo com uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas, que aponta ainda que a maior parte dos desligamentos ocorre sem justa causa. “Não é à toa que uma mulher no ambiente formal de trabalho se sente com medo no minuto em que se descobre grávida. Ela sabe que naquele momento o risco de ser desligada por qualquer motivo aumenta. Também sabe que, ao tentar retornar ao mercado de trabalho, encontrará dificuldade e que jamais vai competir em condições iguais fora do período considerado de risco”, diz Vivian Abukater, sócia da Maternativa, rede cujo objetivo é transformar a relação entre mães e mercado de trabalho. Ela própria foi vítima de uma demissão quando retornou de sua licença-maternidade em uma multinacional.

Por isso, muitas optam por empreender — não por vontade própria, mas como alternativa. “Boa parte das companhias não está preparada para acolher mães. E, assim, grandes talentos são perdidos, pois várias têm filho quando estão no auge de suas carreiras”, diz Luciana Cattony, da consultoria Maternidade nas Empresas. Algumas companhias, no entanto, começam a entender essa questão e passam a criar ambientes mais amigáveis às mães e que estimulem o desenvolvimento de suas funcionárias. “Já identificamos no mercado empresas que têm equidade de gênero como um valor, um contexto que facilita abordarmos a maternidade”, diz Luciana.

Ao pensar em políticas para mulheres que recentemente se tornaram mães, é necessário prover flexibilidade e acolhimento. “No grupo de países que mais incentivam a participação feminina no mercado após a maternidade, há adoção de iniciativas como licença parental mais longa (licença para o pai e a mãe, com obrigatoriedade de divisão do período entre ambos) e remunerada, jornada flexível e possibilidade de trabalho remoto”, afirma Regina Madalozzo. Creches, pré-escolas e escolas em horário integral também fazem parte do pacote.

No fundo, o que falta para que as mães optem por trabalhar como preferirem é um olhar mais receptivo, como resume Luciana: “Em um mundo regido pelo valor humano, onde se pedem ambientes acolhedores e líderes mais empáticos, não faz sentido ter de escolher entre carreira e filhos”.

MÃES EMPRESÁRIAS

Mulheres com filhos encontraram no empreendedorismo uma oportunidade para se recolocar no mercado de trabalho

***Entre os novos empreendedores — aqueles que têm negócios com até 3,5 anos

—, a maioria é mulher. Elas têm 15,4% dos empreendimentos. Os homens têm 12,6%.

***O número de mulheres que abrem empresa motivadas por uma necessidade é maior do que o de homens. Entre as novas empresárias, 48% o fazem porque precisam. Já entre os homens esse número cai para 37%.

***Apesar de elas serem mais escolarizadas, ainda ganham menos: 73% recebem até três salários mínimos, ante 59% do universo masculino.

Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2016, realizada pela parceria entre Sebrae e IBQP, e Consultoria Maternidade nas empresas

FAZENDO DAR CERTO

Rita Monte, criadora do Coaching em Grupo para Mães (CGM), dá dicas sobre home office

TEÇA SUA REDE DE APOIO

É fundamental se cercar de pessoas que possam compartilhar responsabilidades sobre a criação dos pequenos.

INVISTA EM UM COWORKING FAMILIAR

Ou coloque a criança em uma creche ou um espaço de brincar por um período. O tempo da criança é caótico. Não ache que você vai conseguir ficar com seu filho e trabalhar no mesmo ambiente.

MAXIMIZE SUA PRODUTIVIDADE

Aquele tempo de 8 horas não vai acontecer. Organize seu fluxo de trabalho para ser concentrado e intenso em 3 horas. A gente produz muito mais em pouco tempo.

PRATIQUE O AUTOCUIDADO

Para ser produtiva, você precisa de sono e lazer. Cuidar-se significa ouvir as próprias necessidades. Aprenda a dizer não aos filhos, parceiros e chefes para dizer sim às suas próprias vontades.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 6 – COMECE COM O FIM EM MENTE

Você já percebeu que a maioria dos filmes e livros românticos só se concentra no início de uma história de amor? Pense no seu filme romântico clássico favorito. (Sabemos que isso pode ser mais fácil para alguns de vocês do que para outros.) Qual é o enredo da história? Ela é marcada pela tensão emocional expressa na primeira dança romântica entre o casal? Você fica com os olhos colados na tela enquanto o filme o instiga com voltas que impedem que os pombinhos apaixonados desfrutem o tão esperado primeiro beijo? Certamente, existem adversidades temporárias – um rival, uma discussão intensa, ou um trauma inesperado – mas todos nós sabemos como tudo acabará no fim. Apesar dos problemas que ameaçavam mantê-los separados, os pombinhos sonhadores encontram uma maneira de vencer e a história se encerra com “E viveram felizes para sempre”.

Sabemos que eles viveram felizes para sempre, mas como? Um início maravilhoso é a parte mais fácil. O trabalho árduo é construir o meio e o fim da história.

É evidente que a nossa cultura tem uma obsessão distorcida sobre a maneira como as histórias de amor devem começar. Um casal pode passar horas incontáveis planejando seu casamento, mas muito pouco tempo se preparando para os anos que virão após a cerimônia. Uma noiva pode passar muitas horas procurando o vestido perfeito, enquanto dedica apenas algumas horas ao aconselhamento pré-nupcial. Consequentemente, o casal está extremamente despreparado quando o conto de fadas se desvanece e eles se veem navegando em um relacionamento real com problemas muito reais.

O dia do casamento foi feito para ser um dia cheio de esperança, beleza e celebração. Entretanto, a esperança e a beleza de longo prazo em um relacionamento se concretizam melhor quando os casais planejam seus finais felizes com o mesmo fervor que celebram seus começos. Ser felizes para sempre não é algo que acontece por acaso; é um propósito que buscamos determinadamente e construímos cuidadosamente.

Olhe em volta e localize um objeto de beleza, um objeto habilmente fabricado pela engenhosidade humana. Talvez seja uma casa, um carro ou até a cadeira onde você está sentado. Seja o que for, é uma obra artesanal realizada com extrema habilidade. O que você talvez não perceba é que esse objeto, na verdade, foi construído duas vezes: uma quando foi projetado criativamente na mente do desenhista e outra quando foi efetivamente construído. O projeto cognitivo sempre precede a construção material. A primeira montagem requer uma visão clara do resultado pretendido; a segunda emprega materiais e trabalho para realizá-lo. Tudo que construímos, quer seja tão simples como um sanduíche ou tão complexo quanto um arranha-céu, primeiro é imaginado antes de poder se materializar.

Nem sequer passaria por sua mente construir uma casa sem um projeto. Seria um verdadeiro caos! Toda linda casa começa com um projeto habilmente calculado. A casa só pode ser construída depois que o plano é esboçado, empregando-se muito trabalho árduo e os materiais corretos.

Os projetos e plantas baixas também são essenciais para determinar o custo da construção. Você se sentiria confortável construindo uma casa sem saber primeiro quanto ela lhe custaria? Jesus fez esta pergunta quando nos ensinou como deveríamos edificar nossas vidas:

Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completa-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de termina-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: “Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar”. Lucas 14:28-30

As mesmas regras que se aplicam à construção de um prédio também sem aplicam à construção de um casamento. E então, que tipo de casamento você está construindo? Você calculou o custo e está disposto a assumir o que a construção desse casamento exigirá de você?

Deus não quer que nossos casamentos terminem em dor ou vergonha. Ele não quer que desistamos antes que eles estejam concluídos. Quer o seu casamento esteja apenas começando ou esteja passando por dificuldades há anos, nunca é tarde demais para abraçar o plano de Deus. Somente Nele descobrimos a visão, as ferramentas e o poder necessários para construir casamentos que reflitam Sua grandeza. A incrível verdade é que Deus deseja que você tenha um final feliz – a construção concluída de Sua obra prima – ainda mais do que você.

Este capítulo contém verdades que o ajudarão a se preparar para planejar bem e, depois, viver bem a sua história. Compartilharemos o que fizemos no início do nosso casamento que estabeleceu um fundamento sólido capaz de resistir às tempestades da vida. E vamos equipar e comissionar vocês para criarem um plano que os leve a serem felizes para sempre. Começaremos com princípios e terminaremos com a parte prática. Este capítulo não é apenas para os recém-casados ou para os que ainda não se casaram. Veteranos no casamento, vocês também podem se beneficiar olhando o seu relacionamento sob uma nova ótica. Isso aconteceu conosco!

DEUS COMEÇA COM O FIM EM MENTE

É tolice entrar em um relacionamento de aliança sem primeiro perguntar: “Por que estamos fazendo isto e para onde estamos indo?” Toda aliança deveria ter uma visão correspondente. Veja o caso de Deus, por exemplo. Ele tinha um propósito específico em mente quando optou por fazer uma aliança com Abraão.

Por que você acha que Deus escolheu Abraão para ser o pai do Seu povo escolhido? Sempre que fazemos essa pergunta, a resposta mais comum é: “Porque Abraão tinha uma grande fé”. Embora a fé seja essencial para sermos parceiros no plano de Deus, não foi por isso que Deus escolheu Abraão. Deus o escolheu porque sabia que ele ensinaria seus descendentes a seguirem o Senhor:

Pois eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seus descendentes que se conservem no caminho do SENHOR, fazendo o que é justo e direito, para que o SENHOR faça vir a Abraão o que lhe prometeu. Gênesis 18:19, grifo do autor

Quando Deus escolheu esse nômade sem filhos, Ele olhou além de Abraão e viu sua linhagem. Era crucial para Deus que Abraão “ordenasse a seus filhos que se conservassem no caminho do SENHOR”, porque Deus queria tecer Sua história de redenção por meio da linhagem familiar de Abraão. Ele sabia que Abraão e Sara cometeriam erros, mas também sabia que eles tinham a matéria prima certa. Sempre que Deus estabelece uma aliança conosco, Ele está pensando em termos de gerações, porque Ele já visitou o amanhã e sabe o que precisa acontecer hoje para que cheguemos até lá.

A aliança que Deus fez com Abraão se ampliou até alcançar também as nossas vidas. Por meio da fé, Abraão foi transformado de um homem sem filhos em um homem com descendentes tão numerosos quanto as estrelas. O homem que um dia fora um andarilho sem nação se tornou o pai na fé de todas as nações.

…Abraão será o pai de uma nação grande e poderosa, e por meio dele todas as nações da Terra serão abençoadas. Gênesis 18:18

Nossas vidas podem parecer diferentes da de Abraão, mas o princípio é o mesmo: Deus procura pessoas que permitam intencionalmente que Sua aliança se propague por meio delas. Sua história não se resume a apenas você e o seu cônjuge.

Só o Céu revelará o tamanho do impacto que a aliança de Deus expressa através do seu relacionamento com Ele terá. Ele deseja alcançar cada vida que passar através de você (seu legado) e toda vida que estiver dentro da sua esfera de influência. Isso significa que você precisa abraçar uma visão que não termine com você nem esteja confinada à sua compreensão limitada. A intenção de Deus com a sua história sempre incluirá as gerações que estão por vir.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HORMÔNIO DO AMOR FAZ AUMENTAR ANSEIO POR VINGANÇA

Oxitocina não enfatiza apenas emoções pró-sociais, que entendemos como positivas; age de acordo com a situação em que a pessoa se encontra e pode incrementar sentimentos de inveja e crueldade

Conhecido como “hormônio do amor, a oxitocina favorece a criação de vínculos, deflagra sentimentos de confiança e fortalece a ligação da mãe com seu bebê. Mas também pode ter efeito bastante adverso: pode contribuir para aumentar sentimentos negativos, como inveja, desejo de vingança e satisfação com o sofrimento daquele que nos fez mal. A constatação vem de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel.

Durante o experimento, 59 voluntários participaram de um jogo que prevê ganhos e perdas monetárias. Os pesquisadores perceberam que os participantes do experimento sentiam mais inveja depois de serem derrotados por um oponente virtual se tivessem recebido uma dose de oxitocina. Os integrantes do grupo que usou placebo tiveram essa reação bastante atenuada. A oxitocina também impulsionou sentimentos de prazer com o infortúnio alheio quando as pessoas ganharam mais dinheiro que seu oponente. “Esse hormônio não enfatiza apenas emoções pró-sociais, que entendemos como positivas; tem efeito sobre sentimentos em geral e age de acordo com a situação em que a pessoa se encontra”, diz a especialista em cognição.  Simone Shamy-Tsoory, que coordenou a pesquisa. Ela reconhece, porém, que nem sempre é fácil pesquisar o tema em razão da dificuldade das pessoas de admitir diante de um pesquisador aspectos sombrios da personalidade, como inveja e regozijo com a infelicidade alheia.

Experimentos anteriores realizados com animais já sugeriam esse “efeito duplo” da oxitocina. Fêmeas de ratos que receberam uma infusão de oxitocina em uma área do cérebro onde o hormônio age, foram mais agressivas com os intrusos da mesma espécie. A maioria das pesquisas com seres humanos, entretanto, tem mostrado que o hormônio nos torna mais propensos a confiar nos outros, a ser mais tolerantes, a avaliar as pessoas com benevolência e a se lembrar do rosto daqueles com quem interagimos. O artigo sobre o estudo realizado em Israel foi publicado no periódico científico Journal of Biological Psychiatry.

OUTROS OLHARES

UMA DOENÇA AINDA ESCONDIDA

A falta de notificações oficiais do câncer de pulmão, o mais mortal no Brasil e no mundo, dificulta a adoção de políticas públicas

No Brasil, assim como no mundo, o câncer de pulmão é o tipo mais mortal. No ano passado, 92% dos 34.511 novos casos levaram a óbito, segundo o Globocan, projeto internacional que compila dados de cada país. Esse ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que essa doença dos órgãos respiratórios atingirá 31.000 novos casos. Mas, apesar da gravidade, a doença ainda é subnotificada no País. Somente 24,5% dos casos foram registrados nos dados mais recentes do Registro Hospitalar de Câncer (RHC), de 2016, segundo levantamento do Instituto Oncoguia. Das 28.220 incidências, apenas 6.915 acabaram notificadas. Para Luciana Holtz, presidente do Oncoguia, há muitos desafios ainda para se conseguir atingir dados confiáveis. Eles vão desde a falta de obrigatoriedade na notificação por parte das instituições até a demora na compilação das informações. A falta de conhecimento da realidade tem como consequência a morosidade nas decisões e a dificuldade em se adotar políticas públicas eficientes — por exemplo, a indicação de tomografias de baixa dose para pessoas de alto risco. No mundo, o câncer de pulmão é o mais frequente. No Brasil, a incidência é inferior ao de mama, próstata e colorretal, nessa ordem.

Além da subnotificação, os registros também não reportam com precisão os hábitos que podem ter contribuído para a doença. Somente metade deles (51,6%) tem dados sobre o tabagismo. É uma lacuna importante, já que o fumo é associado à maioria dos casos. Quando é conferida essa informação, a conexão é clara. 79,1% dos doentes são fumantes ou ex-fumantes, enquanto 20,9% nunca tiveram contato com tabaco.

Uma das razões para a alta taxa de mortalidade é o registro tardio. Em 86,2% dos casos apontados em 2016, a doença já estava em estágio avançado, o que compromete as chances de tratamento e cura. No entanto, os dados internacionais não desmentem o alto índice de letalidade no Brasil (92,3%). No mundo, dos 2 milhões de casos ocorridos em 2018, a mortalidade foi de 84,1%.
A melhor forma de combater a doença ainda é a prevenção: por exemplo, o combate ao tabagismo. “O Brasil está bem nisso. É um câncer evitável”, afirma Luciana. Ela aponta o risco de modismos como o uso de cigarros eletrônicos, que podem estimular o hábito nos jovens.

USO DE MICRO-ONDAS

Uma notícia positiva para o combate à doença – assim como na luta os tumores de fígado, rim e ossos – vem do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A instituição está desenvolvendo uma técnica que utiliza radiação eletromagnética de alta frequência (micro-ondas) para tratar lesões de forma menos invasiva e mais rápida. O método já demonstrou resultados semelhantes aos obtidos nas cirurgias, mas sem remoção de tecidos sadios. Ele é indicado para tumores de até 3 cm de diâmetro e não pode ser aplicado em regiões perto de brônquios grandes. É uma boa notícia para uma doença que ainda exige toda a atenção – pública e privada.

GESTÃO E CARREIRA

PROFISSÃO: SOCIAL MEDIA

Com 140 milhões de usuários de mídias sociais na mira, empresas demandam profissional capaz de criar engajamento e ter boas conversas com os internautas

Segundo uma pesquisa da Digital Global Overview, feita neste ano, seis em cada dez brasileiros são usuários de algum tipo de rede social: 130 milhões estão no Facebook e 69 milhões no Instagram. Diante desse cenário, um profissional ganha protagonismo: o social media, ou analista de redes sociais. Sua missão é identificar temas que estão em alta na internet, criando conversas com os internautas e propagando informações das marcas de um jeito criativo. “Essas plataformas garantem um contato direto com o cliente. As oportunidades para quem sabe fazer isso são gigantes”, diz João Kluppel, diretor da consultoria de recrutamento Michael Page.

Com funções como elaborar conteúdo, desenvolver memes e compartilhar os links certos (que geram tráfego e audiência), esse profissional deve ser curioso e analítico. Precisa entender de ferramentas de engajamento, fazer leitura de métricas e ser antenado — afinal, não é qualquer coisa que funciona na internet. O desafio é ir além do óbvio. “Os algoritmos fornecem informações, mas tudo diz respeito ao humano. É preciso um olhar aprofundado e inovador”, diz Gabriel Ishida, consultor e professor de analytics e marketing de influência. Isso fez Bruno Lacerda, de 28 anos, crescer na área de marketing da Nuuvem, distribuidora brasileira de jogos digitais. Quando foi contratado como analista júnior, em 2016, sua missão era só alimentar o blog e divulgar produtos nas redes sociais. Formado em publicidade e propaganda pela PUC do Rio de Janeiro, ele tinha pouca experiência na área, mas era usuário assíduo das plataformas. Sabia que as propagandas não dariam resultado e começou a estudar por conta própria para aprender como melhorar o engajamento. “Criei o ‘Estagiário’, uma persona que deu cara à Nuuvem. As pessoas passaram a brincar e a se sentir próximas para interagir”, diz. Antes, uma postagem alcançava, em média, 25.000 internautas. Com as inovações, incluindo memes direcionados, cerca de 315.000 pessoas são impactadas. Com essa mudança, Bruno recebeu uma promoção. Hoje, gerencia as mídias digitais do Brasil, da América Latina e dos Estados Unidos.

UM DIA NA VIDA

ROTINA DE TRABALHO

Horas trabalhadas: 8 horas por dia

DIVISÃO DO TEMPO

25% – Pesquisa de assuntos quentes na internet

25% – Planejamento de ações de engajamento

25% – Produção de conteúdo

25% – Avaliação de resultados das postagens

VAGAS: 1.423**

ATIVIDADES-CHAVE

Análise e monitoramento das métricas, pesquisa de referências em páginas de empresas que possuem uma boa interação digital; produções criativas que liguem o assunto do momento à marca representada; gerenciamento das publicações com a escolha de horário, forma de interatividade (memes, vídeo, foto) e resposta aos clientes e consumidores.

PONTOS POSITIVOS

***Participar do momento de alta demanda do mercado.

***Ficar antenado ao que acontece no mundo em várias áreas, como política, entretenimento, esportes e economia.

***Ter reconhecimento diário por meio do engajamento do público e de resultados mensuráveis.

***Estar em uma posição estratégica, que possibilite exposição dentro da empresa.

PONTOS NEGATIVOS

***Por ser uma área nova, boa parte do aprendizado é autodidata.

***Pode-se concorrer com profissionais de diferentes áreas, como publicidade, marketing, jornalismo e estatística.

***As mudanças constantes de algoritmo exigem aprendizado contínuo para manter a relevância da marca e o alcance das postagens.

PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS

Além de usuário assíduo de redes sociais, é preciso ser criativo e entender de métricas e dados. Conhecimento de programas de design gráfico (como Photoshop, Adobe Illustrator e Coreldraw) é importante. No mais, inglês é necessário, visto que as plataformas são americanas — Instagram, Facebook e YouTube —, e muitos indicadores são mais fáceis de encontrar em sites estrangeiros.

QUEM CONTRATA

Indústrias e companhias que estão passando por uma transformação digital e preocupadas com a experiência do cliente. Os setores que mais recrutam são bens de consumo, entretenimento, moda, finanças e e-commerce.

O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA

Como não há um curso próprio, a graduação mais indicada é comunicação social com foco em propaganda e marketing. É recomendado buscar especializações em Digital Analytics, além de cursos de métricas digitais e uso de ferramentas de redes sociais, como Facebook e Instagram Insights, Google Ads e YouTube Trends.

SALÁRIO

1.200 Reais (estagiário);

4.000 Reais (analista); e

6.000 Reais (coordenador) **

** Segundo consulta ao site glassdoor em 25 / 7

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 5 – A GRANDEZA DO CASAMENTO

Jesus respondeu: “Ninguém é maduro o suficiente para viver a vida de casado. É preciso ter certa aptidão e graça. Casamento não é para qualquer um. Alguns, desde que nasceram, nunca pensaram em casamento. Outros nunca propõem nem aceitam. Outros ainda decidem não se casar por causa do Reino. Mas se você é capaz de crescer até à grandeza do casamento, faça-o”. Mateus 19:11-12, A Mensagem, grifo do autor

Embora o foco dos discípulos estivesse na ideia de se sentirem sem saída, Jesus estava fazendo uma afirmação que tinha o potencial de ampliar os limites da existência deles. Jesus não vê o casamento como uma armadilha; Ele o vê como algo que pode ampliar sua vida.

Pode parecer que o casamento faz diminuir o número e o valor dos seus participantes; afinal, dois não se tornam um? Entretanto, em vez de diminuir ou dividir, o casamento gera crescimento. Quando dois se tornam um, há multiplicação em todas as áreas da vida. Somente após a criação de Eva Deus pôde dar a Adão a ordem para ser frutífero e se multiplicar – um decreto que não se limitava a fazer bebês. É impossível quantificar o verdadeiro potencial da multiplicação no casamento e ele é grande demais para ser medido.

Podemos garantir que você não estaria lendo este livro (ou qualquer livro escrito por um de nós dois) se não fosse pelo nosso casamento. Teríamos vivido vidas pequenas. Eu (John) sou quem sou hoje por causa da graça de Deus e por causa do presente que Ele me deu, Lisa Bevere. Nosso casamento sempre foi fácil? Absolutamente não! Mas Deus o usou para engrandecer a minha vida de todas as maneiras possíveis.

Eu (Lisa) sinto exatamente o mesmo e sou muito grata pela maneira como Deus expandiu a minha vida por intermédio do meu marido. Quando nos casamos, eu ficava aterrorizada diante de outras pessoas, em grande parte devido à insegurança por ter perdido um olho em consequência de um câncer aos cinco anos de idade. John conhecia meu medo, mas afirmou o dom de Deus que estava sobre a minha vida assim mesmo. O encorajamento dele me ajudou a me entregar ao plano de Deus e a uma vida mais ampla, a qual, para minha surpresa, envolvia muitas formas de ministrar às pessoas.

Como mencionamos, quando Deus nos encarregou de multiplicar, Ele não estava apenas falando sobre fazer bebês. Deus entendia que a união do homem e da mulher (o que parece ser a simples soma de um mais um) criaria a oportunidade para uma grande multiplicação. Esse princípio é verdadeiro em todas as áreas da vida: na sua carreira, na sua vida em família, na sua vida espiritual, e muito mais. No casamento, Deus nos deu algo que pode romper os nossos limites. Se você percebe que falta bênção e multiplicação em sua vida, é hora de parar de lutar e começar a honrar e amar seu cônjuge.

NÃO É FÁCIL

Um bom estrategista militar lhe dirá que um elemento-chave de toda grande batalha é ter um conhecimento íntimo do inimigo e de seus estratagemas. (Por que você acha que times de futebol passam tanto tempo assistindo a vídeos dos jogos dos seus oponentes?) Quando o inimigo ataca os casamentos, principalmente os casamentos cristãos, a intenção dele é dividir para conquistar. Esse conhecimento deveria nos dar a motivação para resistir aos seus estratagemas.

Quando lutamos pelo nosso casamento, estamos lutando por uma ideia nascida de Deus. Lembre-se de que foi Deus que criou o casamento, e não você. Satanás odeia o casamento porque ele é muito mais que uma conexão sexual – é uma união espiritual. Pelo fato de seu casamento possuir tamanha importância, ele encontrará oposição. Mas você deve prosseguir para o alvo, a fim de ganhar o prêmio (ver Filipenses 3:14). Jesus nunca disse que seria fácil. Na verdade, Ele nos desafiou com estas palavras:

… “Ninguém é maduro o suficiente para viver a vida de casado. É preciso ter certa aptidão e graça.” Mateus 19:11, A Mensagem

Uma grande parte do amadurecimento é a disposição de crescer e aprender. Em seu livro Casamento Sagrado, o escritor Gary Thomas escreve: “Se você quer se tornar mais semelhante a Jesus, não posso imaginar nada melhor a fazer do que se casar. Ser casado o obriga a encarar alguns problemas de caráter que, de outro modo, você nunca enfrentaria”.9 Jesus deixou claro que a vida de casado irá expor nossas imaturidades, mas se estivermos dispostos a crescer na Sua graça (o que requer humildade, altruísmo e paciência), finalmente desfrutaremos a grandeza do casamento.

CONTRATO OU ALIANÇA

As pessoas frequentemente consideram a aliança do casamento como um contrato. Isso é um problema. Um contrato é simplesmente um acordo criado para restringir a ação. Ele diz implicitamente: “Estes são os limites. Você não irá quebrar este acordo. Se violar os nossos termos, então terei o direito de estar liberado das minhas obrigações”. Em outras palavras: Não estou sem saída.

O verbo contratar também quer dizer, de acordo com o dicionário, “comprimir, encolher, contrair”. Ora, isso não se parece nada com o que Jesus chamou de a grandeza do casamento. O casamento deve engrandecer nossas vidas, e não torná-las menores.

Deus não vê o casamento como um mero contrato; Ele o vê como uma aliança espiritual. É um acordo no qual as partes exclamam: “Estou dando tudo de mim a tudo de você. Tudo o que sou e tudo o que tenho é seu, e tudo o que você tem agora é meu. Tudo que fizermos será multiplicado, engrandecido e aumentado por causa dessa bela troca”. Uma aliança proclama alegremente: “Estou sem saída! E estou feliz por isso!” Isso é engrandecimento!

Paulo disse aos Efésios:

Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a Igreja… Efésios 5:25, grifo do autor

Paulo encorajou os maridos a amarem suas esposas assim como Cristo ama a Igreja. Esse amor é um amor de aliança, muito mais que um contrato. Maridos, vocês não estão felizes porque Jesus ama vocês mesmo quando vocês não são muito amáveis? Vocês não estão felizes porque Jesus nunca vê o relacionamento Dele com vocês como apenas um contrato, algo do qual Ele “não tem saída”? Nosso objetivo deve ser imitar o amor de Jesus nas nossas reações e atitudes para com nossas noivas. (A propósito, Paulo não para por aí. Ele continua falando para renunciarmos às nossas vidas em favor de nossas esposas. Que mandamento!)

Tenha em mente que em Efésios 3, pouco antes de escrever essas palavras, Paulo descreveu a profundidade do amor de Deus pelo Seu povo. Apenas dois capítulos depois, ele ordenou que o mesmo tipo de amor fosse encontrado em nossos casamentos – que amemos “assim como Cristo amou a Igreja”.

Nossos casamentos devem ser um modelo do amor de Cristo pela Sua Noiva. Por que aqueles que não conhecem a Jesus iriam querer ter um relacionamento com Ele se os relacionamentos entre os que são parte do Seu povo são destituídos de amor, poder, harmonia e compromisso? Está entendendo por que o seu casamento é tão importante? Não se trata apenas de você. Trata-se do anseio de Deus por alcançar o mundo com Seu amor.

Como compartilhamos anteriormente, o verdadeiro amor pelo seu cônjuge deve ser um transbordamento do amor de Deus recebido por você. Um amor tão profundo assim não pode ser fabricado. Ele deve ser recebido Daquele cujo amor desafia a compreensão humana.

Temos de admitir que a visão de Deus para o casamento não é fácil. Houve momentos em nosso casamento nos quais tivemos vontade de cortar os laços que nos unem. Parecia não haver mais esperança. Mas depois de estarmos casados por mais de trinta anos, somos mais felizes hoje do que nunca, e aguardamos os próximos trinta anos com esperança e expectativa.

UMA ÁRVORE DE VIDA OU UMA ÁRVORE DE MORTE?

Eu (Lisa) amo jardinagem, mas John não compartilha do meu interesse. Ele gosta do que o jardim produz, mas não do trabalho que ele requer. Jardins dão muito trabalho e exigem muito tempo. Felizmente para John, temos a opção de comprar nossos legumes e verduras frescos, de modo que ele não precisa sujar as mãos.

De forma muito semelhante à jardinagem, cultivar um casamento requer muito tempo e energia. Se quisermos que nossos casamentos sejam saudáveis, não existe uma opção enlatada que nos permita evitar o trabalho necessário, o que é bom. Por quê? Porque valorizamos aquilo pelo qual trabalhamos, e precisamos valorizar nossos casamentos.

A boa (e às vezes má) notícia é que tudo que você planta no seu casamento, você colherá em diferentes áreas da sua vida. Anteriormente neste capítulo, exploramos o conceito dos nossos casamentos como árvores de vida. O contrário também é verdade. Seu casamento também pode ser uma árvore de morte.

Vamos rever a nossa descrição das duas árvores do Éden:

Ambas as árvores desfrutavam das mesmas condições imaculadas e incontaminadas. No entanto, uma delas gerava vida, e a outra morte.

A instituição do casamento feita por Deus é como a terra, e seu casamento, atual ou futuro, é como a árvore. O plano original para o casamento é a boa terra onde sua união pode crescer, mas a escolha é sua: seu casamento será uma árvore que gera vida? Seu cônjuge, sua família, seus amigos e seus colegas de trabalho experimentarão amor, alegria e paz através do fruto gerado por ele? Ou ele oferecerá desânimo, egoísmo e amargura àqueles que comerem de seu fruto?

Muitos de nós temos visto a própria instituição do casamento como a fonte dos nossos problemas. Outros procuram culpar seus cônjuges. Ambas as perspectivas expõem a recusa em reconhecer e em tratar dos nossos próprios corações corrompidos. Esperamos que esse não seja mais o seu caso.

Antes de continuar esta jornada, é preciso tomar uma decisão. Você precisa escolher crer que seu casamento pode se tornar tudo o que Deus o destinou para ser, e que assim ele será.

Talvez você esteja inclinado a pensar: Vou acreditar quando puder ver. Mas a crença na mudança sempre precede a evidência da mudança, porque todas as promessas de Deus são recebidas pela fé. A boa notícia é que seu casamento não diz respeito a você – diz respeito a Ele. Tudo que você tem de fazer é deixar a si mesmo de lado e deixar Deus ser Deus. Afinal, seu casamento é a obra de arte Dele. Se você deixar, Ele o transformará em uma bela obra prima.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DE ONDE VÊM EMOÇÕES E PENSAMENTOS

Neurocientistas recorrem a novas ferramentas para analisar o funcionamento dos circuitos neurais e desenvolver tecnologias que registrem a atividade do cérebro

Apesar de mais de um século de pesquisas ininterruptas, a dificuldade em estabelecer ligação entre a biologia e o comportamento em humanos é ainda grande. Sofisticados exames de imagem mostram atividade em locais específicos do cérebro, É o caso de quando nos sentimos rejeitados ou falamos um idioma estrangeiro, por exemplo, e essas constatações podem dar a impressão de que a tecnologia atual fornece percepções essenciais sobre o funcionamento do cérebro, mas não é bem assim.

Um exemplo notável desse descompasso é um estudo muito divulgado, que identifica uma célula do cérebro em particular capaz de disparar um impulso elétrico em resposta ao rosto da atriz Jennifer Aniston. No entanto, pesquisadores ainda são completamente ignorantes a respeito de como a atividade elétrica pulsante desse neurônio influencia nossa capacidade de reconhecer o rosto de Aniston e depois relacioná-lo a uma cena da comédia Mistério no Mediterrâneo, em cartaz na Netflix. Para que seu cérebro reconheça a atriz, provavelmente é necessária a ativação de um conjunto enorme de neurônios, todos se comunicando por um código neural que ainda não foi decifrado.

O “neurônio de Jennifer Aniston” também exemplifica a encruzilhada que a neurociência atingiu. Já temos técnicas para registrar a atividade de neurônios individuais em humanos vivos, mas, para avançar de forma significativa, a área precisa de novas tecnologias que permitirão a cientistas monitorar e também alterar a atividade elétrica de milhares ou mesmo milhões de neurônios – técnicas capazes de decifrar o que o pioneiro neuroanatomista espanhol Santiago Ramón y Cajal chamou de “a selva impenetrável, onde muitos investigadores se perderam”.

Esses métodos inovadores poderiam, em princípio, começar a preencher a lacuna entre o disparo de neurônios e a cognição: percepção, emoção, tomada de decisão e, por fim, a própria consciência. Decifrar os padrões exatos da atividade cerebral subjacente ao pensamento e ao comportamento também fornecerá percepções críticas sobre o que acontece quando circuitos neurais deixam de funcionar em distúrbios psiquiátricos e neurológicos – esquizofrenia, autismo, Alzheimer ou Parkinson.

Apelos para um salto tecnológico no estudo do cérebro começam a ser ouvidos fora dos laboratórios. Há pouco mais de três anos, o governo dos Estados Unidos anunciou o início de um projeto de grande escala: o Brain Research through Advancing Innovative Neurotechnologies Initiative, ou Iniciativa BRAIN, um grande empreendimento de pesquisa.

O projeto, com um nível de financiamento inicial de mais de US$ 100 milhões, visa o desenvolvimento de tecnologias para registrar sinais de células cerebrais em número muito maior e até de áreas completas do cérebro. O BRAIN complementa outros grandes projetos em neurociência fora dos Estados Unidos. O Human Brain Project (Projeto Cérebro Humano), financiado pela União Europeia, é uma ação de U$ 1,6 bilhão, já com mais de uma década, voltado para o desenvolvimento de uma simulação de todo o cérebro em computador. Projetos de pesquisa ambiciosos de neurociência também foram lançados na China, no Japão e em Israel.

Investigar como células cerebrais processam o conceito de Jennifer Aniston – ou algo comparável àquilo com que nos deparamos por meio da experiência subjetiva ou percepções do mundo externo – é atualmente um obstáculo intransponível. Exige deslocar a medição de um neurônio para a compreensão de como um grupo dessas células pode se envolver em interações complexas que dão origem a um todo integral maior – que cientistas chamam de propriedade emergente. A temperatura de qualquer material ou o estado magnético de um metal, por exemplo, só surge a partir de interações de uma multidão de moléculas ou átomos. Considere o elemento químico carbono: os mesmos átomos podem se ligar tanto para criar a dureza do diamante como a maciez do grafite, que se desgasta facilmente, formando palavras no papel. Dureza ou maciez, essas propriedades emergentes não dependem de átomos individuais, mas do conjunto de interações entre eles.

O cérebro provavelmente também apresenta propriedades emergentes totalmente ininteligíveis a partir de inspeção de neurônios individuais, ou mesmo de uma pintura grosseira de baixa resolução da atividade de enormes grupos de neurônios. A percepção de uma flor ou a recuperação de uma memória de infância podem ser discernidas apenas observando-se a atividade dos circuitos cerebrais que transportam sinais elétricos ao longo de cadeias complexas de centenas ou milhares de neurônios.

GESTÃO E CARREIRA

CRÉDITO, DÉBITO E SMARTPHONE

A tecnologia de pagamento por aproximação, disponível na maioria dos sistemas operacionais, permite que você saia de casa somente com o celular ou com uma pulseira que substitua o cartão de crédito

O empresário Frank MacNamara estava com alguns executivos do mercado financeiro em um restaurante da cidade de Nova York quando percebeu que havia esquecido seu talão de cheques e não tinha dinheiro vivo para pagar a conta. Era o começo dos anos 50 e, embora alguns estabelecimentos oferecessem crédito aos clientes mais fiéis, as duas formas de pagamento anteriores eram as únicas existentes. Por sorte, o empresário conseguiu sair da situação constrangedora com a ajuda de sua esposa, que foi socorrê-lo e evitou um calote. Um ano depois do episódio, MacNamara, ao lado de um sócio, fundou a primeira empresa de cartão de crédito do mundo, o Diners Club Card, e mudou a forma como compraríamos nas próximas décadas. Mas, se há meio século os cartões de plástico revolucionaram os meios de pagamento e chegaram a prometer o fim elo dinheiro de papel, há quem diga que ele também está com os dias contados.

No mundo altamente conectado, sair sem a carteira começa a deixar de ser um problema. Por meio do celular é possível pedir comida, chamar um táxi, pagar contas e transferir dinheiro para outra pessoa. E, se até um tempo atrás comprar um sorvete ou ir à padaria ainda dependia de uma cédula ou de um cartão, agora as carteiras virtuais, ou wallets, no termo em inglês, prometem substituir o dinheiro (de papel e de plástico). “Vivemos no mundo da experiência do usuário. Wallets são formas de facilitar a vida”, afirma Leonardo Militelli, presidente da IBliss, consultoria em segurança digital.

As carteiras virtuais, ou sistemas de pagamento por aproximação, funcionam com a tecnologia near field communication (NFC), que consiste na troca de informações entre dispositivos com chips compatíveis, sem o uso de cabos ou fios. É algo semelhante ao sistema Bluetooth, disponível há algum tempo no mercado. Na hora de pagar a conta, se houver compatibilidade, basta aproximar o celular da máquina de cartão, a uma distância de até 10 centímetros, e pronto. Embora pareça algo futurista ou restrito a pessoas altamente conectadas, essa inovação faz parte da vida de mais gente do que se imagina. Segundo dados da Mastercard, em 2018 cerca de 1,3 milhão dos 18,8 bilhões de transações com cartões magnéticos foram realizadas utilizando-se a opção de pagamento por aproximação no Brasil – crescimento de 344% no primeiro semestre de 2018 em comparação com o segundo semestre do ano anterior. Especialistas acreditam que cerca de 90% das maquininhas disponíveis nos estabelecimentos brasileiros sejam compatíveis com a NFC.

A Apple foi a primeira empresa a permitir a opção de pagamento por aproximação em seus dispositivos, com o lançamento do Apple Pay em 2014. Mas não demorou e as concorrentes Samsung e Google também entraram nessa briga. E, enquanto o Apple Pay chegou ao Brasil apenas em 2018, os rivais Samsung Pay e Google Pay ficaram disponíveis em território brasileiro bem antes, em 2016 e 2017, respectivamente. “Nossa missão é trazer facilidade e praticidade a nossos clientes nas compras realizadas tanto no mundo físico como no online”, afirma Felipe Cunha, diretor de parcerias do Google Pay para a América Latina.

PÁREO DURO

Os gigantes de tecnologia perceberam há muito tempo a influência que passaram a ter na vida das pessoas (e o potencial de lucro que podem obter) e têm ampliado a oferta de serviços para as mais diversas áreas, incluindo o mercado financeiro. Em março deste ano, por exemplo, a Apple fechou uma parceria com o banco Goldman Sachs e a Mastercard para lançar o Apple Card, seu primeiro cartão de crédito próprio. Em fase de testes pelos funcionários da empresa, o serviço deverá estrear para os americanos até o terceiro trimestre deste ano. Outro que pretende se aventurar pelos serviços financeiros é o Facebook. Em junho, a empresa anunciou que lançará uma criptomoeda própria que permitirá que os usuários façam transferências de quantias para outras pessoas pelo WhatsApp. Por causa da promessa, a Comissão de Assuntos Financeiros da Câmara dos Estados Unidos exigiu que o Facebook interrompesse o desenvolvimento do projeto até que o Congresso americano compreendesse do que se trata. Polêmicas à parte, o fato é que a tecnologia mudou completamente a forma como nos comportamos, consumimos, fazemos sexo, trabalhamos. Não é de se espantar que ela mude também o que conhecemos por dinheiro.

E, mesmo que os bancos tradicionais, que já sentem os impactos dessas transformações por causa das fintechs, não enxerguem a tecnologia por aproximação necessariamente como um perigo – já que um número de cartão de crédito e uma conta no banco ainda são necessários em quase todos os casos -, isso não quer dizer que eles não estejam se mexendo. Para diferenciar-se das empresas do Vale do Silício, a saída foi ousar e apostar em soluções mais disruptivas, como pulseiras que também permitem o pagamento apenas com contato. Em 2017, por exemplo, o Santander lançou a Santander Pass, pulseira digital que se conecta diretamente com a conta bancária do cliente. “Fizemos os primeiros testes com motociclistas que passavam pelos pedágios. É muito difícil pegar a carteira no bolso da jaqueta com as luvas. E a experiência foi bem-sucedida”, afirma Rodrigo Cury, diretor de cartões do Santander. O produto hoje conta com 500.000 usuários. “O número de transações dobrou, e acreditamos que os clientes ficam satisfeitos quando damos mais possibilidades”, diz.

O Santander não foi pioneiro em trazer para o Brasil a tecnologia de pagamentos atrelada a um acessório. Um ano antes, a fintech Atar, de São Paulo, lançou a Atar Band, pulseira com sistema NFC. Integrado a uma conta digital de pré-pagamento, na qual o usuário insere créditos, o acessório pode ser usado em estabelecimentos que aceitem a bandeira Mastercard. Apesar de não abrir números, Orlando Purim, CEO da Atar, afirma que o negócio tem prosperado. “Registramos o uso da nossa pulseira em mais de 8.000 locais em 15 países. E, desde janeiro, aumentamos nove vezes o volume transacionado”, diz. Embora a tecnologia de pagamento por aproximação tenha crescido, ainda existem muitos entraves na adoção desse método em larga escala. O principal é a questão de acesso. Cerca de 28% da população brasileira é desbancarizada, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE). Isso quer dizer que 60 milhões de cidadãos não têm sequer uma conta-     corrente em alguma instituição financeira. “Essas novas opções podem gerar uma inclusão dessa camada que hoje não é representada”, afirma Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD).

VANTAGENS E DESVANTAGENS

Para os usuários, fora a comodidade, especialistas apontam que a principal vantagem desses métodos é a segurança. Isso acontece porque, além da ausência de contato do cartão com a maquininha, a cada compra realizada com a tecnologia NFC é gerado um cartão virtual criptografado, com dados diferentes do original, dificultando a clonagem. “Adotamos um sistema de segurança com várias camadas para proteger a conta e os dados pessoais de maneira automática e contínua”, afirma Felipe, do Google.

Foi exatamente depois de uma experiência ruim que o advogado Theo Santos Cabral da Hora, de 29 anos, trocou o cartão de crédito pelo pagamento por aproximação. Ele, que teve o cartão clonado depois de usá-lo em um bar na região central de São Paulo, não gosta nem de relembrar a dor de cabeça para provar que não havia realizado as compras, que totalizavam mais de 600 reais. “Foram inúmeras ligações para o banco e muito tempo perdido. Isso tudo sem contar os dias em que eu fiquei sem cartão”, diz Theo, que agora utiliza o Google Pay. De acordo com o advogado, embora grande parte dos estabelecimentos tenha uma máquina compatível com esse método, não é todo mundo que sabe como operar a função. “Já paguei de conta no posto de gasolina a dentista, mas geralmente tenho de ensinar como a ferramenta funciona”, diz. Contudo, Theo afirma que não se arrepende de ter adotado a NFC e não pensa tão cedo em voltar a usar apenas os métodos tradicionais. “Além da segurança e da facilidade, tenho um histórico organizado das minhas compras. Sem contar a principal vantagem: não preciso andar com minha carteira o tempo todo”, diz.

Mas essa opção não está isenta de fraudes. “A NFC é uma tecnologia de comunicação como qualquer outra e permite que dispositivos mal-intencionados coletem informações. No Reino Unido, ataques de radiofrequência aumentaram 40% os golpes com cartões que utilizavam o pagamento por aproximação”, afirma Leonardo Militelli, presidente da IBliss. Segundo ele, até mesmo a proximidade não é garantia de seguridade. “Já tivemos alguns casos de fraude de Bilhete Único, que também usa a tecnologia NFC, com saldo roubado por dispositivos maliciosos que simplesmente ficam próximos do cartão”, diz Leonardo. Diante dessa realidade, o especialista em segurança digital ressalta que os mesmos cuidados recomendados para cartões de plástico devem ser tomados por quem usa o pagamento por aproximação. “Os cartões devem ser usados apenas em locais confiáveis. Algumas máquinas podem conter o que chamamos de chupa-cabra, um dispositivo que coleta os dados do cartão e os repassa a terceiros que cometem as fraudes”, afirma. E, mesmo que em casos de roubo ou perda o acesso à NFC requeira senha, o que dificultaria um golpe, Leandro aconselha se prevenir. “O ideal é habilitar padrões de autenticação do telefone e redobrar essa barreira de proteção”, afirma.

A inovação é grande, mas não pense que haverá a extinção do dinheiro de papel ou do cartão de crédito físico. “Apesar de nos grandes centros existir uma adoção das novas tecnologias de forma acelerada, isso muda para cidades menores ou mesmo outros contextos”, afirma Ségio Biagini, líder da área de serviços financeiros da Deloitte. Isso é um fato. Segundo o IBGE, cerca de 22% dos brasileiros, por exemplo, não possuem um smartphone. “Ao longo do tempo as coisas podem mudar, mas não acredito que as formas de pagamento existentes hoje sumam. Ocorrerá uma coexistência de opções”, diz o executivo. Por via das dúvidas, é bom saber que existe uma alternativa para a próxima vez que tiver esquecido a carteira na hora de pagar a conta (e não quiser parecer caloteiro).

PASSA NA NFC?

Saiba mais sobre os principais métodos de pagamento por aproximação

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 4 – UM NOVO CORAÇÃO

“… Estou apresentando o plano original. Assim, se alguém se divorciar de uma esposa fiel e se casar com outra pessoa, a responsabilidade do adultério recairá sobre ele…” Mateus 19:9, A Mensagem

Mais uma vez, Jesus nunca nos pedirá para fazer alguma coisa que Ele não nos capacite para realizar. Ele nos apresenta o plano original de Deus para o casamento porque Ele está disposto a nos capacitar a vivê-lo. A Lei de Moisés fez concessões para os duros de coração, mas através do sacrifício de Jesus recebemos novos corações nascidos do Espírito e não corações de pedra.

“… Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.” Ezequiel 36:26

Vemos essa mensagem ecoar no Novo Testamento. O apóstolo Paulo nos encorajou com as seguintes palavras:

E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou Seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu. Romanos 5:5

Esse novo coração não pode ser gerado por nós mesmos. Ele depende do poder de Deus e da força do Seu amor. Somos, no entanto, responsáveis por nos humilharmos e aceitarmos esse poder. Tenha em mente que Deus nunca lhe imporá o Seu amor. Ele é um cavalheiro que nunca Se impõe a nós.

Por termos um novo coração, capaz de receber o amor de Cristo, agora podemos abraçar a afirmação intimidadora de Jesus sobre o plano original de Deus para o casamento e o divórcio.

A versão A Mensagem em inglês usa a palavra liable (que significa “responsável perante a lei; legalmente responsável”) para descrever a condição de alguém que se divorcia de um cônjuge fiel. Sabemos que isso pode soar como uma ordem nada fácil de cumprir, mas se Deus estabelece esse padrão para nós, Ele está mais do que disposto a nos dar a graça para cumpri-lo. Mas pelo fato de a jornada não ser fácil ou automática, muitos optam por desistir quando deveriam continuar avançando.

De acordo com uma pesquisa, dois entre três casais infelizes com seus casamentos hoje estarão felizes dentro de cinco anos, desde que não se divorciem.7 Portanto, não desista! Não sabemos como está seu casamento hoje, mas ainda que você se sinta sem saída, há esperança. Sua vitória talvez esteja mais próxima do que imagina. Jesus veio para tornar os bons casamentos ainda melhores e para restaurar os casamentos destruídos.

A EXCEÇÃO

A única exceção é o caso quando uma das partes comete imoralidade sexual. Mateus 19:9, A Mensagem

Jesus deixou claro que existe uma exceção ao plano original. Mesmo em caso de adultério, porém, terminar um casamento é questão de escolha. Se seu cônjuge foi infiel, você não precisa ficar, mas também não tem de partir. Seja qual for sua decisão, você tem de perdoar.

Há uma enorme diferença entre perdão e reconciliação. Você deve perdoar alguém que o roubou, mas isso não significa que precisa convidar o ladrão para ir à sua casa. A reconciliação só é possível se a união do casal puder ser restaurada depois de uma ruptura dolorosa de aliança, fé e confiança.

Nós nunca sofremos a ruptura do adultério, mas ficamos ao lado de amigos que experimentaram seus horrores. Alguns desses casais optaram por abraçar a reconciliação. Eles trabalharam arduamente para reparar os pedaços quebrados de sua aliança. Em cada um dos casos, o cônjuge infiel chegou a um lugar de quebrantamento e arrependimento. Precisamos ser claros aqui: não pode haver reconciliação sem arrependimento. Até Deus, na Sua infinita bondade e misericórdia, exige que nos arrependamos – que passemos por uma mudança de mente e coração – antes que sejamos reconciliados com Ele.

Também conhecemos casais que não conseguiram se reconciliar. Eles não precisam sentir um peso de condenação por causa disso. Jesus compreendeu a gravidade da traição e fez uma concessão necessária. Vimos Deus abençoar esses amigos enquanto eles se recuperavam das marcas do divórcio.

Se você passou por um divórcio, nós o encorajamos a não permitir que isso o defina. Ele faz parte do seu passado, mas não precisa determinar os contornos do seu futuro.

O passado não é seu. Ele pertence a Deus. O inimigo da sua alma tentará usar seu passado para frustrar os planos de Deus para seu futuro. Lembre-se de que Deus lhe deu o hoje, e que as escolhas feitas por você hoje moldarão seu amanhã – e não o seu ontem. Se você fez escolhas erradas, abrace a sabedoria e o poder de Deus. Humilhe-se por meio do arrependimento e experimente as maravilhas da Sua graça, que tem o poder para transformar a mais sombria das circunstâncias.

SERÁ QUE ESTOU SEM SAÍDA?

A descrição de Jesus do projeto de Deus para o casamento certamente fugiu radicalmente às expectativas da época. Em vez de inspirar Seus discípulos, as palavras Dele os deixaram nervosos. Veja a reclamação deles:

Os discípulos de Jesus fizeram objeção: “Se essas são as condições do casamento, estamos sem saída. Por que se casar?” Mateus 19:10, A Mensagem, grifo do autor

Sem saída? Que perspectiva terrível da vida de casado! Porém, assim como os discípulos, muitos de nós vemos o casamento como algo que nos limita e confina. Quantos homens e mulheres solteiros são atormentados pelo medo de casar com a pessoa errada e ficar sem saída?

O que nós aprendemos é que o casamento tem muito mais a ver com ser a pessoa certa do que encontrar a pessoa certa. Não nos entenda mal, ao procurar por um cônjuge, é importante buscar a orientação de Deus e ter a paz do Espírito. Mas frequentemente acreditamos que a pessoa certa preencherá todo o vazio de nossas vidas. A questão é que nenhum ser humano está apto a cumprir essa tarefa; esse é um papel que somente Deus pode exercer. E você não tem o poder de controlar o estado em que alguém se encontra nem mudar essa pessoa para transformá-la exatamente em quem você acha que precisa ter ao seu lado. O que você pode fazer é abraçar o processo de refinamento de Deus e tornar-se um homem ou uma mulher que entrega sua vida de forma abnegada ao seu cônjuge ou futuro cônjuge. Você encontrará mais realização no processo de entrega do que buscando seus próprios interesses.

Mateus 6:22 diz que a luz do corpo são os olhos. Isso significa que suas percepções definirão sua realidade. Ao pensar “não tenho saída”, você limitará o que Deus pode fazer no seu casamento e através dele. Se você pensar em seu casamento como uma armadilha na qual não há esperança de escape, é isso que ele se tornará. Suas circunstâncias naturais sempre acabam sendo determinadas pela sua visão espiritual, e o casamento não é exceção.

Talvez você esteja pensando: John e Lisa, vocês estão pedindo demais. Vocês querem que eu entregue minha vida ao meu cônjuge? Isso é ridículo. E quanto às minhas necessidades, esperanças e sonhos? Jesus quer que eu seja feliz. O que vocês compartilharam nada mais é do que uma ideia interessante, um ideal que devemos almejar. Podemos lhe garantir que Deus de fato quer que você seja feliz – mas a verdadeira felicidade é o produto derivado de uma busca maior. A felicidade vem quando realizamos um propósito mais elevado, e qualquer propósito pelo qual valha a pena lutar exigirá que você abra mão de sua vida. Na erradicação do egoísmo, encontramos a verdadeira felicidade. O casamento oferece o ambiente perfeito para esse confronto com o egocentrismo.

Timothy e Kathy Keller escreveram: “Se ambos os cônjuges dizem: ‘Vou lidar com meu egocentrismo como se ele fosse o principal problema em meu casamento’, eles têm a chance de ter um casamento realmente maravilhoso”.8 O egocentrismo nos impede de desfrutar um casamento maravilhoso, o que significa que o sacrifício do eu é a chave para desfrutarmos o casamento em sua plenitude. Se você está tendo dificuldades no relacionamento com seu cônjuge, o egocentrismo provavelmente é a fonte do problema.

OUTROS OLHARES

O SILICONE QUE DÁ CÂNCER

Seguindo os passos dos Estados Unidos, a Anvisa retirou do mercado próteses mamárias associadas a linfoma. A medida, tardia, foi comemorada pelas mulheres já diagnosticadas

Elena Greene, enfermeira de 53 anos, recebeu aliviada a notícia de que a Anvisa eliminou no Brasil a comercialização das próteses mamárias Biocell, da marca Natrelle, produzida pela empresa Allergam. O anúncio seguiu os passos da U.S. Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos EUA. “Pelo menos novas mulheres não terão risco de passar pelo que passei”, diz Elena. A enfermeira sentiu na pele as consequências da falta de informação sobre os riscos de desenvolver câncer em decorrência de uma prótese mamária. Em 2017, ela, que era maratonista e tinha feito há sete anos um implante de silicone da marca condenada, resolveu trocar a prótese porque o seio esquerdo estava inchado e atrapalhava seu desempenho na corrida. Na época, Elena se sentia cansada e possuía manchas na perna e no braço, mas não associava esses sintomas ao inchaço da mama. Por coincidência, seu marido, que é clínico geral, entrou na sala de cirurgia de troca das próteses e pediu para o seroma, ou seja, o líquido que o corpo desenvolve em volta da prótese, fosse analisado. Poucos dias depois, eles voltaram para apanhar o resultado. “Quando o médico falou que eu tinha linfoma, o chão se abriu. Em cinco segundos passei de uma paciente estética para uma paciente oncológica”, diz ela.

O caso de Elena ilustra bem como esse problema pode estar sendo subdiagnosticado no Brasil e no mundo. Se o seu marido não estivesse na sala de operações, o seroma não teria sido analisado. Essa é justamente a suspeita de especialistas que atuam na área. “Trocar a prótese faz parte do tratamento. Os médicos podem estar tratando o linfoma sem saber que ele existe”, diz Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da USP. O FDA já registrou 573 relatos de linfomas relacionados à prótese mamária e 33 mortes. Apesar do alto número de letalidade, a comunidade médica ainda afirma que são casos muito raros, já que a quantidade de implantes é grande – nos Estados Unidos, por exemplo, apenas em 2017 foram 281 mil. “De um modo geral, quem quer o implante aceita riscos que são de cem a mil vezes mais frequentes que esse, como alergias e infecções. O linfoma não é mais grave, a única diferença é a palavra câncer”, diz Bernardo Nogueira Batista, cirurgião plástico do Hospital Sírio Libanês.

PESQUISAS E MARCAS

As pacientes que desenvolveram a doença lamentam a falta de informação. Muitas delas, quando diagnosticadas, foram às redes sociais para alertar outras pessoas. Profissionais da área afirmaram à reportagem, sob a condição de não serem identificados, que a falta de pesquisas e a demora no reconhecimento do problema, inclusive por conceituadas associações médicas, são fruto da força econômica da indústria farmacêutica. Agora as mulheres esperam que o reconhecimento das agências seja apenas o pontapé inicial para o desenvolvimento de mais pesquisas e informações sobre o tema, inclusive a respeito de problemas relacionados a outras marcas.

OUTROS OLHARES

A TERCEIRA GUERRA, VIRTUAL

A imagologia se sofisticou e se transformou em fake news. Na terceira guerra haverá uma tempestade de fake news, ainda maior do que a que temos agora. Tudo pode ser fotografado, filmado e distorcido indefinidamente

E se um dia as superpotências mundiais resolverem iniciar uma terceira guerra mundial? Algumas pessoas afirmam que ela já está ocorrendo, com focos de violência crônica, guerras civis intermitentes, escassez de alimentos em algumas regiões e hordas migratórias. São múltiplas guerras em bora com um objetivo comum: o genocídio. É uma grande guerra que envolve todas as outras, uma guerra que ninguém declarou, mas que todos os governos praticam. É preciso diminuir a população. Sem mencionar nunca a palavra “superpopulação” que é um tabu para as religiões e para aqueles que acreditam tanto no poder da justiça distributiva que a confundem com o milagre da multiplicação dos peixes. Se um a terceira guerra mundial fosse declarada, não saberíamos quem a começou e porque, quem a ganhou ou quem a perdeu. Seria uma guerra travada na infosfera, uma guerra de fake news. Sucumbiríamos confinados em um casulo de informações desencontradas e falsas. Tudo se passaria como a invasão de marcianos transmitida por Orson Welles que em 1938 conseguiu, com uma simples transmissão radiofônica, fazer com que a população dos Estados Unidos acreditasse estar sendo invadida por alienígenas. A transmissão durou menos de uma hora, mas o pânico se espalhou.

O quarteirão no qual moramos seria arrasado por uma bomba. Mas a mídia continuaria declarando que estamos ganhando em outras frentes de batalha. Conhece a história do cidadão assaltado perto de casa, mas que, ao ligar a TV ouve que o crime no seu bairro diminuiu? Milan Kundera chamava isso de imagologia.

A imagologia se sofisticou e se transformou em fake news. Na terceira guerra haverá uma tempestade de fake news, ainda maior do que a que temos agora. Tudo pode ser fotografado, filmado e distorcido indefinidamente. O real pode se transformar em fake. Consequentemente, o fake pode se transformar na única realidade de que dispomos. Todos poderão enganar a todos, seja para tranquilizar, seja para desassossegar. A era da informação acabou.

Nunca vivemos um período no qual a troca de mensagens fosse tão rápida, eficiente e barata como nos últimos anos. Mas, paradoxalmente, as redes sociais estão nos arrastando para o grau zero da informação e a sociedade da informação se transformou na sociedade do ruído. Quando todos falam, ninguém consegue escutar. Poluímos a infosfera com informações incorretas ou inúteis. Criamos a poluição mental e, agora, não sabemos como nos livrar dela.

As fake news são um dos mais sérios problemas ecológicos da nossa era. Fábricas de fake news são um problema ecológico tão sério quanto a crescente emissão de C02 na atmosfera. Ele não será resolvido com meia dúzia de técnicas e com o desejo de ser um bom samaritano como apregoa Mark Zuckerberg, presidente do Facebook.

Transformamos o mundo em um cenário cinematográfico, o real em imaginário e o imaginário em real. É a época do apocalipse, palavra que originalmente significa “revelação”, mas que, por conta de mistificações, passou a significar “o fim do mundo”. Poderemos ver tudo, ver todas as versões do mundo, tudo estará escancarado diante dos nossos olhos, mas não saberemos o que é real ou o que é fake. Um sonho dentro do qual sonhamos e sabemos que estamos sonhando, mas do qual é impossível acordar. É o que os neurocientistas chamam de sonho lúcido, a forma mais sutil da alucinação.

Ao longo da história, as sociedades humanas sempre definiram suas políticas da experiência, ou seja, determinaram o que pode ser percebido, sonhado ou dito na composição do que se convenciona serem estados normais de consciência. As políticas da experiência têm o papel de uma espécie de tribunal que decide o que existe. Na Idade Média o mundo era habitado por milhares de bruxas e espíritos que eram considerados tão reais como nós. Hoje em dia, a política da experiência é decidida pelas tecnologias da consciência, que passaram a regular a percepção e a introspecção a partir de critérios determinados pela mídia, pela internet e pela psicofarmacologia.

As fake news afetam radicalmente a cognição. No longo prazo, perderemos a capacidade de distinguir entre o real e o imaginário. Um animal que não sabe distinguir entre o real e o imaginário não sabe distinguir entre comida e veneno, entre o certo e o errado, na política, na ciência e na ética. É um animal em extinção. Um animal apocalíptico que morrerá pela fome que ele produziu, pela radiação que ele produziu ou pelas doenças que ele produziu.

Mas é possível que a internet encolha muito antes de algo como uma guerra virtual acontecer. Há um grande gargalo que precisa ser enfrentado: a geração de energia. Atualmente, a quantidade de energia para rodar os servidores internacionais que mantêm a internet funcionando lançam na atmosfera, anualmente, mais C02 do que o produzido pela aviação mundial. E, sem a energia limpa, o aquecimento global será acelerado. As consequências, todos já sabemos.

Hoje em dia há no mundo 4 bilhões de pessoas sem acesso à internet. Quase 10% desse número são jovens e crianças. Será que teremos de migrar para as áreas pré-tecnológicas do planeta para sobrevivermos? Seremos os futuros migrantes que fugirão para essas paragens que, atualmente, correspondem às áreas pobres e semi­povoadas na Terra?

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA – épaulistano, formado em filosofia na USP. Viveu e estudou na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre Filosofia da Mente e Tecnologia. Lecionou na UNESP, na UFSCAR e na PUC-SP.

GESTÃO E CARREIRA

PROFISSIONAIS RADICAIS

Praticar atividades esportivas de risco elevado auxilia no desenvolvimento de competências como liderança e tomada de decisões, além de aliviar o estresse

Estado de alerta, pupilas dilatadas, mãos suadas, frio na barriga e coração acelerado. Essas são algumas das sensações que ocorrem quando se praticam esportes radicais. Por mais que a ideia de pular de um avião a cerca de 4.000 metros de altura, torcendo para o paraquedas abrir, seja assustadora para alguns, muitos profissionais estão deixando de lado as tradicionais aulas de yoga, meditação e lutas em busca de esportes que aumentem o nível de adrenalina no corpo. Além de relaxar, as atividades de alto risco auxiliam no desenvolvimento de habilidades importantes para o dia a dia. de trabalho, como liderança, autocontrole, comunicação e gerenciamento de tempo. “É como uma válvula de escape. Ajuda a reconectar com o próprio corpo e a liberar hormônios que trazem bem-estar”, diz Bruno da Matta Machado, sócio e diretor da consultoria de recursos humanos Upside Group.

É difícil encontrar números exatos sobre a popularidade dos esportes radicais, principalmente porque muitos adeptos são amadores e não há um controle por parte das associações. Mas alguns dados mostram um aumento da prática de atividades de aventura. O Ministério do Turismo do Nepal, por exemplo, registrou em abril um número recorde de 381 autorizações para escalada do Monte Everest. A procura foi tanta que no mês de maio houve um engarrafamento de alpinistas, causando a morte de pelo menos 11 pessoas. Além disso, um estudo divulgado em 2017 pela Allied Market Research prevê crescimento de 200% no mercado global de turismo de aventura até 2023 – o nicho movimentou 683 bilhões de dólares em 2018, segundo a Adventure Travel Trade Association.

Entender por que algumas pessoas se aventuram a ponto de colocar a vida em risco não é fácil. Nem a literatura médica tem um consenso sobre isso. Um estudo publicado em 2014 por Cynthia Thomson, da Universidade British Columbia, Ph.D. em cinesiologia (ciência que estuda o movimento corporal), sugere que indivíduos atraídos por esportes mais arriscados podem ter uma predisposição genética que modifica os receptores da dopamina – basicamente, quanto mais receptores a pessoa possui, mais hormônio precisa ser liberado para que ela se sinta estimulada. Além disso, com mais receptores e mais dopamina, o indivíduo sente mais prazer em situações de estresse. Outras pesquisas indicam que altos níveis de testosterona durante o pré-natal podem influenciar na redução do medo ao risco. A psicóloga e psicanalista Michele Silveira ressalta que qualquer escolha na vida envolve questões conscientes, inconscientes e experiências. E isso vale também para os esportes. “Esse tipo de atividade não é para qualquer um e não acredito que seja algo que possa ser desenvolvido. Quando você se identifica com um esporte de risco, já existe uma predisposição”, afirma.

CORPO, MENTE E UM POUCO MAIS

Além dos clássicos benefícios da prática de esportes, como melhora do condicionamento físico, equilíbrio, flexibilidade, emagrecimento e ganho de resistência, estudos mostram que os esportes radicais podem resultar em melhorias nos casos de ansiedade, depressão, hiperatividade e déficit de atenção graças à liberação de hormônios neurotransmissores de bem-estar, como dopamina, serotonina e endorfina. Uma pesquisa feita em 2004 por Irwin Lucki, professor de psiquiatria e farmacologia na Universidade da Pensilvânia Medical Center, na Filadélfia, descobriu que a adrenalina pode provocar no cérebro o mesmo efeito dos antidepressivos.

O tipo de esporte escolhido também resulta em efeitos diferentes no corpo. Uma escalada, por exemplo, parece ser mais efetiva na luta contra a depressão do que esportes tradicionais, de acordo com um artigo científico publicado no periódico BMC Psychiatry. Tanto que hospitais psiquiátricos na Alemanha já usam a atividade como uma abordagem terapêutica. Um estudo francês de 2017, publicado no Frontiers in Psychology, revela que o mergulho pode se comparar à meditação por causa do controle respiratório. Os praticantes percebem redução do estresse, melhora do humor e aumento das habilidades de atenção e concentração, além da percepção sensorial.

A prática de esportes radicais ainda permite aprimorar as habilidades necessárias para lidar com a ansiedade. Isso porque os adeptos regulares sofrem uma mudança química no cérebro, o que os ajuda a permanecer calmos e concentrados por mais tempo. “As pessoas que praticam esportes radicais apresentam mudanças na produção de noradrenalina e neuroreceptores, por isso têm determinadas reações e conseguem sair mais rápido de situações estressantes ou perigosas”, diz a psiquiatra Michele. Além disso, essas atividades estimulam a leitura rápida do ambiente (quais são as condições favoráveis e desfavoráveis), a percepção de seus pontos fortes e fracos e o controle do medo. “Aprender a gerenciar e avaliar o risco assumido no esporte é similar ao ambiente de trabalho, em momentos como as tomadas de decisões importantes”, afirma Bruno, da Upside Group.

EM GRUPO

As vantagens da prática de esportes radicais não são apenas individuais. Tanto que muitas empresas passaram a usar o turismo de aventura para integrar a equipe. Giancarlo Valias, sócio-diretor da companhia de viagens e atividades de aventura para ambiente corporativo Ventura Empresarial, afirma que desde multinacionais até pequenos escritórios buscam atividades para trabalhar sincronismo, planejamento, liderança e confiança. “No rafting, por exemplo, criam-se algumas situações durante a descida do rio para trabalhar conceitos como liderança e confiança”, diz Giancarlo. “Fazemos um rodízio entre as pessoas para que cada uma se torne instrutora do bote por um período e colocamos uma venda nos olhos dos outros participantes para que eles sigam somente a instrução daquela pessoa.”

Outras atividades, como acampa­ mento e trekking, ajudam no desenvolvimento de trabalho em equipe e melhoram a comunicação, uma vez que cada integrante do grupo é responsável por um trabalho ou objeto importante para que tudo dê certo. “Um fica com a bússola, outro com a medição, outro com o cronômetro e outro com a planilha. Eles exercitam planejamento, gestão de tempo e trabalho em equipe”, afirma Giancarlo. Independentemente do esporte escolhido, o fato é que o elevado risco de morte requer mais comprometimento do atleta, exigindo que ele se desligue completamente dos problemas e esteja focado no que está fazendo. Qualquer erro pode ser o último, mas os aprendizados podem superar os receios.

VAI SE JOGAR NO RADICAL?

Se quiser praticar, é necessário se preparar com antecedência

1. CHECK- UP

Antes de começar qualquer esporte, faça um check-up médico para saber se tem alguma restrição ou problema de saúde que possa se agravar.

2. PESQUISE

Descubra qual atividade mais lhe interessa, levando em conta suas habilidades, seus medos e o que gostaria de melhorar. A insegurança com altura, por exemplo, pode ser vencida com esportes radicais.

3. SEGURANÇA

Qualquer erro pode resultar em acidentes graves e até fatais. Por isso, faça cursos de segurança, autorresgate e primeiros socorros.

4. GRUPOS

As atividades de aventura costumam incentivar a interação social. Procure grupos de praticantes do mesmo esporte para compartilhar experiências e participar de excursões.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CAUSA DA DEPRESSÃO PODE ESTAR NA FRAGILIDADE DE FIBRAS NERVOSAS

Distúrbio seria consequência de problemas na estrutura neural fina

Uma equipe da Universidade Johns Hopkins descobriu que ratos medicados com Prozac não apenas apresentavam alterações na química cerebral, como também desenvolviam novas fibras nervosas em áreas estreitamente vinculadas ao estado de humor. A constatação sugere que a depressão é reflexo de problemas na estrutura neural fina e não apenas fruto de alterações na química cerebral, o que deve dar fôlego à recente “hipótese da rede neural’ na explicação dos estados de ânimo.

Nos últimos 20 anos, vigorou a ideia de que a depressão é, primariamente, um problema químico que ocorreria em grande parte porque a falta do neurotransmissor serotonina em sinapses importantes reduz sinais neurais que regulam o estado de ânimo, abrindo a porta para a depressão. Os resultados, porém, indicam que ao menos parte dos distúrbios do humor surge de estruturas sinápticas frágeis, como terminações nervosas fracas e fibras mortas, que interrompem a transmissão de sinais.

Por meio de intrincadas técnicas de coloração, os pesquisadores da Johns Hopkins descobriram que animais tratados com Prozac produziam mais axônios – terminações neurais que enviam os sinais – em neurônios :sensíveis à serotonina nas regiões cortical e frontal do cérebro, determinantes do estado de ânimo. O pesquisador Lijun Zhou sugere que esta mudança seja “o efeito estrutural de antidepressivos à base de serotonina” e ajude a explicar porque alguns tratamentos contra a depressão costumam ter sucesso. As descobertas corroboram outros estudos recentes em seres humanos que mostram que tanto drogas quanto psicoterapias, quando atingem seus resultados, aumentam os níveis de substâncias químicas importantes, chamadas neurotrofinas. A sua ausência pode contribuir para o enfraquecimento estrutural das redes neurais.

Segundo o neurocientista especializado em neurotrofinas, Eero Castrén, da Universidade de Helsinque, “essas descobertas devem indicar onde procurar, em seres humanos, indícios de mudanças similares”. Isso por sua vez, pode levar a uma compreensão mais completa sobre a depressão e a outros tratamentos.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 3 – A FONTE DO AMOR

“… O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês” – Romanos 2:24

Enquanto nós, o Corpo de Cristo, não vivermos e amarmos de maneira adequada, as pessoas blasfemarão o nome de Deus. Isso não é nenhuma surpresa, pois se nos consideramos “cristãos”, afirmamos ser embaixadores de Cristo. O apóstolo Paulo escreveu:

Ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o Seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos… 2 Coríntios 5:19-20

Um embaixador é um mensageiro ou representante autorizado.3 Como cristãos, falamos por Cristo. Que privilégio! Fomos convidados, e até mesmo encarregados, de participar no ministério da reconciliação de Deus. Falamos por Deus com nossas palavras e atos. Esse é o nosso propósito de vida. Somos colaboradores com Deus, fazendo avançar o Seu Reino na Terra.

Então o que Cristo pediu que nós, Seus embaixadores, façamos? Jesus disse: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como Eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” (João 13:34).

Felizmente essa missão não é algo que devemos realizar por meio da nossa própria força de vontade. A Bíblia deixa claro que, para cumprir nosso propósito, precisamos primeiramente estar em Cristo – ser herdeiros da Sua graça por intermédio da Sua obra salvadora na Cruz. Só então podemos agir pelo poder transformador do Seu Espírito, e só então podemos amar uns aos outros como Ele nos ama.

Sob a nova aliança da graça, Deus nunca nos dá uma ordem sem nos dar o poder para cumpri-la. Porque estamos em Cristo, Seu Espírito capacitará nossos casamentos e nossas vidas individuais para que possam revelar Sua presença e amor ao mundo. Entretanto, não podemos revelar Seu amor até que nós mesmos o experimentemos primeiro. Em Efésios, Paulo oferece a chave para recebermos o poder do amor de Cristo:

Oro para que, com as Suas gloriosas riquezas, Ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do Seu Espírito, para que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para que, estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus. Efésios 3:16-19, grifo do autor

Para receber a revelação do amor de Cristo, primeiro temos de permitir que Deus nos fortaleça no íntimo do nosso ser com poder por meio do Seu Espírito. Mas isso não pode acontecer se você não entregou sua vida a Ele. A partir do momento em que a sua vida for Dele, você terá a oportunidade de crescer continuamente no Seu amor, uma jornada que por fim levará a uma vida plena e íntegra.

Apenas dois versículos após ter escrito sobre o poder que recebemos quando conhecemos o amor de Cristo, Paulo explica o propósito desse poder:

… rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Efésios 4:1-3, grifo do autor

Observe que Paulo escreveu “vivam de maneira digna da vocação que receberam”. Mais uma vez, ele está falando do nosso propósito: revelar o amor, a verdade e o modo de vida de Deus (Seu Reino) ao mundo. Nada disso é possível sem que se tenha experimentado o amor de Deus. O conhecimento teórico não bastará. Somente quando possuímos a experiência pessoal do amor de Deus é que somos revestidos de poder para edificar vidas – e casamentos – dignos do nosso chamado.

Nessa passagem, Paulo descreveu certos padrões comportamentais muito similares aos que são necessários a um bom casamento: ser humilde, ser dócil, ser paciente, suportar uns aos outros e fazer todo esforço para conservar a unidade por meio da paz. Não é coincidência que logo no capítulo seguinte de Efésios encontremos alguns dos versículos mais famosos da Bíblia sobre o casamento. (Lembre-se de que as designações de capítulo e versículo foram acrescentadas pela Igreja no século 13 e não apareciam na carta original de Paulo.) Seria possível que em Efésios 1 a 4 Paulo estivesse preparando o coração de seus leitores para o que ele estava prestes a compartilhar – as verdades radicais sobre o casamento que exigiriam um conhecimento radical do amor de Deus?

Então, eis a progressão: antes que você possa amar de maneira adequada (quer seja o seu cônjuge ou qualquer outra pessoa), você precisa primeiro descobrir as profundezas do amor de Deus por você. O seu conhecimento do amor de Deus não pode se basear em informações de segunda mão; você precisa experimentá-lo pessoalmente. Quando experimentar o amor de Cristo, você será “cheio de toda a plenitude de Deus”. Só então você poderá levar uma vida digna do seu chamado. O poder para viver e amar adequadamente vem do conhecimento íntimo do imenso amor de Deus por você.

O PROPÓSITO DO CASAMENTO

Se seu propósito individual é ser uma representação de Cristo na Terra, qual é o propósito do seu casamento?

Vamos começar por aqui: Deus é amor. O amor não é apenas algo que Deus faz. Não é apenas algo que Ele tem. É quem Ele é. O casamento é uma instituição de amor, a primeira instituição que Deus estabeleceu. O casamento não é apenas a primeira instituição estabelecida por Deus, é também o simbolismo poético usado por Ele para representar as profundezas do Seu amor por nós e do Seu compromisso conosco, Sua Igreja e Noiva. A noiva e o noivo são uma imagem da Igreja e de Cristo.

Por causa desse simbolismo profundo, há uma intenção ainda mais profunda e mais obscura por trás do ataque contra o casamento, um motivo que poucos reconhecem. Os ataques contra o casamento – contra sua definição, sua designação e suas raízes divinas – têm a ver com mais do que política ou progresso social. A Bíblia deixa claro que não guerreamos meramente contra carne e sangue, que nosso adversário não é um governo ou organização (ver Efésios 6:12). Há um antigo adversário – o inimigo das nossas almas – trabalhando por trás dos bastidores para distorcer e perverter a fusão divina. Ele não vai parar de atacar o casamento até ter distorcido completamente a nossa base de referência acerca da maneira como Deus ama e se relaciona com Seu povo. A última coisa que satanás quer é que descubramos e recebamos o amor transformador de Deus. Mas pela graça de Deus, podemos derrotar nosso adversário e abraçar tudo o que Deus deseja no nosso casamento e para o nosso casamento.

O QUE JESUS PENSA?

Deus não apenas criou o casamento; Ele também tem um plano e um propósito para ele que não mudou. Embora o debate sobre as particularidades do casamento seja um tema polêmico há milhares de anos, Deus ainda o garante como Seu plano original. Veja o que Jesus disse aos fariseus em uma de Suas mais famosas conversas com relação ao casamento:

Um dia, os fariseus vieram provocá-Lo: “É permitido um homem divorciar-se da esposa por qualquer razão?” Ele respondeu: “Vocês não leram que o Criador, no plano original, fez o homem e a mulher um para o outro, macho e fêmea? Por causa disso, um homem deixa pai e mãe e une-se à sua esposa, tornando-se uma carne com ela. Não são mais dois, mas apenas um. Deus criou uma união perfeita, que ninguém pode ter a ousadia de profaná-la, separando-os”. Mateus 19:3-6, A Mensagem

Os fariseus se contentavam em saber o que era legalmente correto, mas Jesus queria que eles compreendessem o poder do amor.

Não podemos negar o fato de que Deus originalmente planejou os homens e as mulheres uns para os outros. No casamento, eles deixam seus pais para formar uniões vivas. A partir do momento em que os dois sexos estão unidos, ninguém deveria separar essa fusão.

POR QUE DEUS SE IMPORTA COM O DIVÓRCIO?

A versão da Bíblia A Mensagem chama o divórcio de uma profanação da união perfeita que Deus criou. É o fato de o casamento ser uma união criada por Deus que torna o divórcio algo tão sério.

Profanar é tratar algo sagrado com um desrespeito violento.4 Os sinônimos de profanar incluem palavras como blasfemar, difamar, maldizer, corromper, vandalizar, insultar e violar. Todos esses termos extremos transmitem uma sensação de violência. Fizemos referência à versão parafraseada de A Mensagem, mas todas as versões transmitem a gravidade de dividir o que Deus uniu. E ao fazer um estudo contextual adequado, podemos deduzir com segurança que Jesus está falando de todos os casamentos.5

Você pode imaginar como o mundo reagiria se alguém profanasse o quadro Mona Lisa, de Leonardo da Vinci? Todas as redes de notícias transmitiriam a história. O autor do crime seria condenado pela sociedade e provavelmente passaria o resto da vida na prisão. Como alguém ousaria profanar uma das maiores obras de arte da humanidade? Leonardo rolaria no túmulo.

Bem, Deus considera o casamento como uma das maiores obras de arte a serem expressas através de Sua criação favorita. A Paixão Dele pelo casamento é evidenciada na resposta de Jesus aos fariseus. As palavras Dele eram tão poderosas que eles não sabiam como lidar com elas, de modo que simplesmente se recusaram a responder-Lhe. Incapazes de compreender o casamento à luz da intenção original de Deus, eles se escondiam atrás da Lei de Moisés – uma abordagem que lhes permitia partir em vez de lhes dar o poder e a autoridade para ficar.

Eles retrucaram: “Se é assim, por que Moisés ordenou que o marido mandasse sua mulher embora, dando-lhe uma certidão de divórcio?” Jesus disse: “Moisés deixou o divórcio apenas como concessão por causa do coração duro de vocês, mas não era parte do plano original de Deus. Estou apresentando o plano original. Assim, se alguém se divorciar de uma esposa fiel e se casar com outra pessoa, a responsabilidade do adultério recairá sobre ele. A única exceção é o caso quando uma das partes comete imoralidade sexual”. Mateus 19:7-9, A Mensagem

Sob a Lei de Moisés, eram feitas concessões por causa da dureza do coração humano. Isso era algo provisório, e não o propósito original de Deus. Não se engane; Deus odeia as consequências do divórcio. Quando um marido e sua esposa são separados, um dos mistérios da Criação de Deus (como o casamento é descrito em Efésios 5:31-32) é violado e destruído.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MENTIR EXIGE DECISÕES RÁPIDAS E DISCERNIMENTO

A mentira patológica pode ter origem em um desequilíbrio raro da substância cerebral, segundo cientistas da Universidade do Sul da Califórnia. Para sua pesquisa de doutorado, Yaling Yang escaneou o cérebro de 12 mentirosos confessos e de outros voluntários que não tinham histórico de mentir compulsivamente. Yang ficou surpresa ao descobrir que o cérebro dos mentirosos tinha 22% a mais de substância branca nas regiões pré-frontais, relacionadas à tomada de decisão e ao discernimento. A substância branca liga os neurônios entre si – que, em conjunto, são chamados de substância cinzenta.

A mentira patológica pode ser muito complicada. Mentirosos compulsivos precisam apresentar informações que pareçam corretas, embora falsas. “Talvez, para essas pessoas, seja apenas mais fácil mentir”, diz Yang. Segundo ela, o excesso de substância branca cria conexões abundantes entre dados que, de outra forma, seriam contraditórios e compartimentados. Por ora, mais estudos são necessários para determinar se os mentirosos nascem com mais substância branca ou se a desenvolvem como resultado de suas frequentes invenções.

Outros cientistas que realizaram escaneamentos por ressonância magnética em tempo real de pessoas no ato de mentir constataram a ativação excessiva da área dos lobos pré-frontais. Eles concordam que esses padrões de atividade podem servir como detectores de mentira bastante confiáveis. Se for assim, é possível que algum dia as imagens cerebrais saiam dos laboratórios e passem a fazer parte dos tribunais.

OUTROS OLHARES

EPIDEMIA HOMICIDA

Crimes de agressão à mulher e feminicídios disparam e mostram que o Brasil enfrenta uma grave doença social, que nem o endurecimento das leis é capaz de conter

São seis horas da tarde na cidade de São Paulo. Na avenida Sumaré, uma mulher é agredida por assaltantes que tentam levar a sua bolsa. Ela grita e pede socorro às pessoas que passam ao seu redor: “Estou sendo assaltada!”. A comoção se insinua, mas logo termina quando o assaltante investe no disfarce de marido traído. “Não é um assalto. Você me traiu, sua vagabunda”. E como se aprendeu que em briga de marido e mulher não se põe a colher, ninguém se mete e a mulher termina a noite assaltada e agredida. Nessas terras, desde que homem nasce homem e mulher nasce mulher, uma bolsa, ou um atentado à propriedade, é mais grave do que a violação de um corpo feminino. O fato de homens atacarem e matarem mulheres à luz do dia sem qualquer pudor acontece porque a violência de gênero é autorizada pela sociedade e o comportamento agressivo masculino é justificado pela culpabilização da vítima. A escalada dos feminicídios revela que o País enfrenta uma doença social em que atitudes extremas eclodem de uma hora para outra em lugares insuspeitos.

Os últimos números de violência contra a mulher deixam claro que a sociedade brasileira sofre de uma séria enfermidade. Há algo muito errado acontecendo com os homens, e atos sexistas, em que eles se impõem pela força, estão sendo cometidos em proporções alarmantes. Uma epidemia de agressões e de assassinatos passionais acomete o País. Dados do Mapa da Desigualdade Social 2019 divulgados terça-feira 5, pela Rede Nossa São Paulo, uma ONG que acolhe vítimas, mostram que os casos de feminicídio na capital paulista aumentaram 167% no ano passado. No primeiro semestre deste ano, o crime de morte por questão de gênero cresceu 44% na cidade, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Foram 82 casos. Em Brasília, estudos mostram que enquanto os homicídios caem, os feminicídios sobem. Registros de outros tipos de agressão contra as mulheres também crescem. O serviço “Ligue 180” do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos recebeu 60.580 denúncias de violência entre janeiro e agosto, uma a cada seis minutos.

“A maior parte dos casos de feminicídio ocorre depois da ruptura de um relacionamento, quando a mulher termina uma relação abusiva. Os homens não aceitam a nova situação e matam”, diz a psicóloga Vanessa Molina, porta-voz da Associação Fala Mulher, que oferece assistência e proteção para vítimas de violência doméstica e atendeu oito mil mulheres em 2018. “Os abusos começam antes da violência física, com manifestações de ciúmes, xingamentos e com o afastamento da mulher de familiares e amigos. É como se o homem achasse que a mulher pertence a ele, que não se conforma com a perda do controle sobre sua ‘posse’”. Para Vanessa há uma necessidade urgente de mudar a cultura machista que está por trás dos crimes de ódio, que acontecem em famílias de todas as classes sociais e, frequentemente, são cometidos dentro de casa, no lugar em que a mulher deveria se sentir mais segura. Foi o que aconteceu com Patrícia Salviano Irrthum, de 23 anos, assassinada na segunda-feira 4, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ela foi morta com tiros na nunca, no rosto e no peito e o principal suspeito é o marido, o sargento da PM Glaysson de Souza Costa, de 46 anos, que está foragido. Depois do crime foram publicados vários posts no WhatsApp de Patrícia, escritos pelo criminoso, e um deles dizia: “Fui trair meu marido ‘polícia’ e deu nisso”.

Apesar do endurecimento das leis que penalizam esse tipo de violência, a epidemia de crimes passionais não arrefece. A Lei Maria da Penha, que estabelece cinco formas de agressão machista (física, psicológica, moral, patrimonial e sexual) e a Lei do Feminicídio, que caracterizou o homicídio de gênero, deram proteção legal para as mulheres, aumentaram o rigor da pena para agressores e assassinos, mas não inibiram os atos extremos.

Na semana passada, em mais uma demonstração de que a sociedade tenta reagir à doença social, o Senado aprovou em primeiro e segundo turno proposta de emenda constitucional (PEC) que modifica o inciso 42 do artigo 5º da Constituição e torna inafiançável e imprescritível o crime de feminicídio. A PEC segue agora para a Câmara e tornará a cadeia inevitável para os assassinos de mulheres. O que se vê, porém, é que o feminicida, na maioria dos casos, não está preocupado com as consequências de seu ato. Age enlouquecidamente e acha que está com a razão. O ódio e o desejo de vingança são maiores do que o medo da pena. Ele mata a mulher no meio da rua ou em lugares públicos e depois foge ou se suicida. No fim de semana, quando as famílias se reúnem, há uma incidência maior desses crimes.

MEDIDAS PREVENTIVAS

“Não será só com leis que vamos resolver o problema. É preciso reeducar a sociedade, é um processo evolutivo”, afirma Larissa Schmillevitch, gerente do Mapa do Acolhimento, ONG que cuida de mulheres ameaçadas e agredidas. “Outra questão é achar que a violência contra a mulher é algo privado em que ninguém se mete. A sociedade precisa entender que se trata de algo público, que pode ser evitado”. O Mapa do Acolhimento é uma rede de solidariedade coordenada pela ONG Nossas, um laboratório de ativismo feminista. Para Larissa, o aumento das denúncias tem relação direta com o crescimento da violência, e também com o fato de as mulheres terem mais acesso às informações e estarem menos caladas e conseguindo identificar com clareza as situações abusivas de seu relacionamento. Isso permite que se tomem medidas para impedir atitudes violentas de maridos e namorados transtornados.

A medida principal que as ativistas dos direitos da mulher defendem para conter a onda de feminicídios é a prevenção. Segundo ela, esse crime pode ser inibido com uma atuação assistencial no início do ciclo da violência, quando começam os abusos. Mas mulheres que denunciam seus algozes precocemente se expõem a um risco maior e necessitam de proteção. “A lei é muito boa, mas precisa ser aplicada de forma adequada”, afirma Larissa. “A gente enfrenta problemas nas delegacias da mulher por falta de profissionais qualificados e percebe um sucateamento nos serviços públicos de atendimento.

É difícil realizar uma denúncia”. Quer dizer, as mulheres estão falando mais sobre seus dramas, mas não estão sendo ouvidas.

GESTÃO E CARREIRA

APROVEITE O DIA

Profissionais estão restringindo o uso da internet para reduzir a ansiedade de querer saber de tudo o que acontece e poder curtir mais os momentos offline

Assim que deixa o escritório do Google, em São Paulo, a primeira providência de Vinícius Malinoski é colocar o smartphone em modo avião — e o celular só vai voltar ao estado-padrão no dia seguinte, quando o diretor do The Zoo, área de criatividade do Google, sair de casa para ir ao trabalho. Sem notificações nem a necessidade de checar e responder às mensagens, Vinícius fica longe de interrupções e sentimentos como ansiedade, o que o ajuda a desopilar e a encontrar tempo para apreciar momentos em que possa se fazer presente de maneira mais intensa. Aos 37 anos, os últimos quatro dedicados à multinacional de tecnologia mais valiosa do planeta, ele adotou essa postura por notar que a hiperconectividade pode ser prejudicial. “Percebi que era mais saudável não estar conectado o tempo todo, que precisava sair um pouco desse círculo virtual e aproveitar para relaxar”, diz. “Nas manhãs corro, nado, faço ioga ou jogo tênis. Depois, vou de bicicleta até o trabalho, onde fico das 9 às 18 horas. Deixo 30 minutos do meu almoço para meditar e, à noite, depois de jantar com minha esposa, leio um livro ou estudo música”, conta. E essa postura se reflete em sua equipe, composta de quatro profissionais. “Tento preservar, pois tenho pessoas no meu time que preferem adotar um horário diferente do meu para estar com a família.”

O comportamento de Vinícius — e de outros que, como ele, estão sentindo prazer em ficar longe da internet — já tem nome: Jomo, acrônimo de joy of missing out, que significa algo como “alegria em ficar por fora”. A atitude, que surgiu dentro das empresas de tecnologia, é um contraponto ao Fomo ( fear of missing out), que, segundo o dicionário Oxford, pode ser traduzido como “ansiedade gerada pela possibilidade de um evento emocionante ou interessante estar acontecendo em outros lugares, muitas vezes despertada pelas redes sociais”.

Basicamente, enquanto o Fomo representa o desespero em saber de tudo o que acontece no mundo digital e o pavor de ficar de fora de todo o burburinho das redes sociais, o Jomo vai no caminho contrário e estimula as pessoas a se desconectarem para que possam experimentar intensamente alguma coisa no mundo offline. “Na busca pela consciência sobre os próprios desejos e com vontade de viver o momento presente e usufruir dele, as pessoas têm se questionado sobre o uso da internet e suas funções. Por estarem mais criteriosas e selecionando melhor o que fazem e as informações que consomem, elas acabam dando espaço ao Jomo”, diz Karen Vogel, psicóloga e professora da The School of Life, de São Paulo. Essas são preocupações importantes em tempos atuais. Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, o Brasil conta hoje com 230 milhões de celulares ativos. Computadores, notebooks e tablets somam 180 milhões. Já o Cetic.br, responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre disponibilidade e uso da internet no Brasil, aponta que, em 2017, mais da metade da população brasileira já tinha acesso à rede mundial de computadores. Os números expressivos fizeram o governo olhar o assunto com atenção. Em julho deste ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos anunciou um programa de “detox digital”, o Reconecte, que, além de alertar a população para os riscos do uso excessivo da tecnologia, propõe um desafio ao público: trocar, durante um dia inteiro, o tempo gasto com celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos por atividades offline. E o Instagram, que, segundo uma pesquisa do Reino Unido, é a rede social mais prejudicial para a saúde mental, está escondendo o número de curtidas nas fotos. Segundo a empresa, isso é feito para “aliviar a pressão” que as pessoas sentem ao postar uma imagem.

IMPACTOS NA CARREIRA

Mas nem todos parecem entender a necessidade de ter momentos de prazer fora da internet. A pressão por resultados, a facilidade de falar com subordinados e colegas em grupos corporativos do WhatsApp e do Telegram e de acessar o e-mail do trabalho pelo celular estariam dificultando o processo de desconexão por parte dos empregados não só nos fins de semana e feriados mas também nas férias. Uma pesquisa do LinkedIn realizada em 2018 demonstra isso. De acordo com o estudo, 70% dos consultados admitiram não se desligarem do emprego nas férias. A prática de não aproveitar o período de descanso para se desconectar e recarregar as energias, apesar de comum, tem consequências bem negativas: estresse, ansiedade, queda do potencial produtivo, diminuição da criatividade e baixa capacidade de inovação. “A redução da concentração e da inventividade pode afetar a produtividade em setores em que a criação é importante. O acesso digital excessivo também pode limitar vivências não previstas ou que não tenham sido filtradas por dispositivos digitais”, diz Anderson Sant’Anna, professor adjunto da FGV-Eaesp. “Daí a importância de praticar momentos de oxigenação que possam colocar o indivíduo em contato com diferenças, inovações e possibilidades de surgimento do novo, fora do controle dos algoritmos.”

Foi o que percebeu a publicitária Cláudia Gambaroni, de 40 anos. Depois de meses vivenciando uma exaustiva rotina digital, sentiu que era hora de repensar seus hábitos e suas relações pessoais após um alerta feito por sua mãe. “Ela disse que, quando eu a visitava ou estava em momentos de lazer com familiares, ficava apenas no celular. Que era como se eu não estivesse ali e que sentia falta da minha presença. Aquilo me fez refletir”, afirma a empresária.

Durante quase um ano, enquanto coordenava diversas equipes e redes sociais, Cláudia chegou a trabalhar por até 20 horas seguidas hiperconectada. Ela teve problemas de ansiedade, estresse, insônia e irritação depois de assumir a liderança de uma grande campanha de marketing político na internet. “Estava com os nervos à flor da pele. Falava com muitas pessoas, avaliava informações o tempo todo e até dormia com o celular embaixo do travesseiro para responder às mensagens da equipe. Só percebi que algo não ia bem, entretanto, quando, após o término da campanha, com o alerta da minha mãe, notei que estava condicionada a olhar a internet de maneira agressiva mesmo sem estar trabalhando”, diz. A mudança de comportamento ocorreu de forma mais drástica num primeiro momento. “Fiquei fora das redes sociais por quatro meses e passei a investir esse tempo em atividades físicas e a me dedicar a meus relacionamentos presenciais, com amigos e familiares. Não queria nada mais a distância. Também estabeleci uma meta diária e hoje uso menos a internet, apenas no escritório. Nos fins de semana, acesso a rede por apenas 15 minutos para ver coisas pessoais — e só”, diz Cláudia, que controla as horas que gasta na web depois de instalar um app com essa finalidade. “Não foi fácil no começo, mas encontrei uma maneira mais saudável de viver cuidando da mente, do corpo e do espírito. Passei a usar meu tempo para ler, praticar esportes e estar com minha família. Ganhei qualidade de vida.”

MAIS EQUILÍBRIO

De acordo com o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o Brasil é o segundo país do mundo no ranking de navegação na internet. Segundo ele, cada usuário gasta, em média, 9 horas e 29 minutos por dia na rede. E, apesar de não haver um estudo que mostre o percentual de dependentes tecnológicos no Brasil, a premissa internacional aponta que 10% dos usuários de computadores e smartphones estão sujeitos a algum grau de vício em internet.

O impacto na saúde dos funcionários poderia ser menor, principalmente se as empresas já trabalhassem com políticas corporativas de bem-estar digital para despertar hábitos online mais conscientes nas equipes e, claro, se os profissionais não acreditassem que o comportamento multitarefa é positivo para o currículo. “Ser multitarefa não é melhor para a produtividade. Ao contrário, o cérebro não é multitarefa, é programado para focar uma coisa por vez. Ele trabalha com o único propósito de finalizar o que foi iniciado”, explica Cristiano.

Se soubesse disso, o advogado e especialista em direito do consumidor Marco Antônio Araújo Júnior, de 44 anos, teria evitado um ciclo tecnológico de 16 horas diárias na internet a partir de 2013, prática que afetou seu foco e sua produtividade. Para dar conta das duas funções que exercia na época, a de diretor executivo de um grupo educacional e a de professor de direito em um curso preparatório para o exame da OAB, e despachar o que era preciso, Marco se valeu dos benefícios da internet, mas logo passou a ter problemas. “No home office respondia a mais de 400 e-mails por dia, fazia reuniões online e, mesmo trabalhando das 7 às 23 horas, acordava de madrugada para responder a dúvidas de alunos pelas redes sociais. Eram cerca de 500 mensagens por dia”, conta.

Com um horário hiperextendido de trabalho e sem conseguir um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, Marco passou a não se alimentar direito, permanecia longos períodos sentado e tinha menos interações com a família. A consequência veio no ano seguinte: uma hérnia, resultado de meses de uma postura indevida no uso de dispositivos digitais. Apesar dos tratamentos médicos aos quais foi submetido para o problema na coluna, o “detox” das redes, entretanto, só aconteceu anos mais tarde. “Em 2018 percebi que não estava sendo realmente produtivo por causa da internet. Foi então que comecei a aplicar algumas técnicas de coaching que aprendi no dia a dia e a mudar meus hábitos”, explica Marco, que começou a monitorar o tempo gasto na rede de computadores e estabeleceu metas pessoais. “O início foi difícil. Eu queria saber o que estava acontecendo nas redes o tempo todo, mas logo consegui organizar as tarefas com a ajuda de estratégias.”

Hoje, além da prática de exercícios e de fazer seu horário de almoço sem o celular, Marco trabalha 1h30 sem as distrações da internet faz uma pausa de 30 minutos para responder aos e-mails e às mensagens profissionais. Sua meta é chegar a 3 horas ininterruptas, o que ele garante que conseguirá em breve. A organização trouxe uma rotina diferente para sua vida. “Ganhei tempo de qualidade om minha família, fora da internet, e com base em minha experiência pude ensinar táticas a meus alunos para se concentrarem mais nos estudos fazendo menos uso do celular”, diz o profissional, que administra uma plataforma de cursos preparatórios online chamada Meu Curso.

SINAIS DE ATENÇÃO

Como identificar se é hora de dar um tempo na internet e nas redes sociais

*** Você dorme com o celular embaixo do travesseiro ou na cabeceira da cama e acorda para responder às mensagens.

*** Fica ansioso e angustiado quando percebe que a bateria está acabando e não está com o carregador.

*** Escuta o alerta de notificação e fica aflito para ler e responder às mensagens rapidamente.

*** Se pega pensando em qual momento poderá mexer no celular novamente.

*** Negligencia atividades importantes para usar o smartphone e, no fim do dia, percebe que foi improdutivo.

*** Tenta reduzir as informações que consome na internet, mas não consegue.

*** Ignora momentos com familiares e amigos e põe em risco o emprego por não se desconectar das redes.

*** Busca informações quando não precisa, muda de tela continuamente e se sente frustrado por não encontrar nada interessante.

*** Fica se comparando: acha que a vida dos outros é mais interessante e mais bem aproveitada que a sua.

SEM CONEXÃO

Dicas para se desintoxicar do mundo digital e experimentar o conceito Jomo

AVALIE O TEMPO QUE GASTA NA INTERNET

Consulte o consumo de dados de seu celular para saber quais apps mais acessa, reduza o tempo gasto nos que estiverem no topo da lista e estabeleça metas diárias de uso.

REVEJA SUA ROTINA

Escolha atividades que gostaria de incluir no dia a dia — e antes não tinha tempo — e organize para que a prioridade de sua agenda seja você.

FAÇA O QUE LHE DÁ PRAZER

Coloque em sua rotina momentos prazerosos, como música, esporte, culinária, leitura e passeios. Descubra o que lhe dá prazer e garanta que não seja incomodado nesse período.

OFFLINE E SEM CULPA

Quando estiver em seu momento pessoal, liberte-se de responder a mensagens imediatamente. Desligue o celular, deixe-o em “modo avião” ou silencie as notificações, preservando apenas grupos e contatos prioritários — como o da família.

TENHA UM DIA (OU VÁRIOS) LONGE DA INTERNET

Experimente ficar fora das redes sociais nas folgas, nos fins de semana e nas férias. use o tempo livre para ler, ver amigos, viajar e trabalhar em projetos pessoais que não exijam acesso à web.

CURTA O MOMENTO

Experiências devem ser aproveitadas na hora que acontecem, com quem está a seu lado. Por isso, desligue o celular enquanto almoça com a família ou conversa com amigos.

SEJA UM LÍDER DANDO O EXEMPLO

Evite incomodar sua equipe com assuntos profissionais fora do expediente.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 2 – QUANDO SUA HISTÓRIA É DESAFIADA

O número de anos de uma jornada não conta toda a sua história. Um casamento de cinquenta anos pode significar cinquenta anos de dificuldades, ou cinquenta anos de felicidade constante. Mas, com muito mais frequência, o casamento é um mosaico de estações variáveis e diversas.

Quando olhamos a imagem da árvore na capa deste livro, fica evidente que cada anel aumenta o diâmetro da árvore. Não importa se o ano foi de dificuldade ou abundância, ele acrescentou volume à história e significado à jornada. Será que O Peregrino, de John Bunyan – um livro que continua sendo publicado mesmo depois de três séculos – seria uma obra prima duradoura se Cristão (o personagem principal da história) tivesse chegado à Cidade Celestial (seu destino) sem ter passado pelo Pântano da Desconfiança ou sem ter triunfado sobre o gigante Desespero? Sem o enredo complexo entremeado por alegrias e desafios, sua história seria monótona e vazia de acontecimentos especiais. Os perigos que Cristão suporta e vence são o que fazem com que sua história valha a pena ser lida. Os desafios pelos quais passamos em nossos casamentos têm o potencial de acrescentar às nossas histórias empolgação e significado semelhantes.

Não despreze os momentos de desânimo. Use-os para se aproximar da graça de Deus e encontrar Sua força divina que desafiará os limites da sua capacidade emocional e espiritual. Ao longo de mais de três décadas de casamento, descobrimos que foram exatamente os momentos que pareceram ser mais sombrios que se tornaram mais tarde faróis para iluminar nosso caminho. Eles nos compeliram a nos levantarmos e nos posicionarmos. Seus problemas atuais podem se tornar alguns dos mais importantes momentos da sua história.

O ESPÍRITO DO CASAMENTO

Antes de mergulharmos na história do casamento, vamos parar por um instante e explorar seu propósito. Não há dúvidas de que o casamento é maravilhoso, mas às vezes ele é um processo doloroso. A maioria de nós tende a ter muito mais paciência com a dor envolvida em um processo quando entendemos seu propósito. Por exemplo, você pode suportar duas horas na cadeira de um dentista se souber que o procedimento cumprirá o propósito de erradicar uma dor de dente incessante. No seu casamento, você provavelmente já passou por dias que pareciam mais uma visita ao dentista do que um passeio na praia (e se ainda não passou por isso, você passará). É nesses momentos dolorosos que ter consciência do seu propósito torna-se ainda mais crucial.

Hoje em dia, o propósito do casamento está sendo questionado. Por não entenderem o propósito de suas uniões, muitas pessoas estão prontas para pular fora quando as águas turbulentas fazem seus barcos balançarem. Outros argumentam que a instituição do casamento como um todo está falida, e precisa ser revista ou eliminada. Alguns até sugerem que os contratos de casamento deveriam ser limitados a um período predeterminado – aparentemente, para sempre é muito tempo para se esperar de qualquer um de nós. Essas pessoas argumentam que é irrealista tomar decisões sobre como vamos nos sentir daqui a vinte anos, quando mal podemos controlar a maneira como vamos nos sentir amanhã.

Na conhecida canção “Mrs. Jackson”, o grupo de hip-hop OutKast expressou um sentimento popular: Eu e sua filha

Temos algo especial

Você diz que é coisa de criança Nós dizemos que é um amor maduro Espero que nos sintamos assim, que nos sintamos assim para sempre Você pode planejar um bonito piquenique Mas não pode prever se vai haver sol

A música “Mrs. Jackson” é o pedido de desculpas de um homem à mãe de uma jovem que ele engravidou, mas por quem não sente mais amor. Infelizmente, essa canção reflete perfeitamente uma visão predominante do amor e do casamento: eles devem fazer com que eu me sinta bem. Essa perspectiva se fundamenta na convicção de que nossas emoções nos dizem o que é certo e errado, e que somos incapazes de controlá-las. Se não me sinto feliz, então obviamente tenho de fazer alguma coisa para mudar isso. Afinal, não posso controlar como me sinto, assim como não posso controlar a mudança das estações. Ou, como o grupo OutKast diz, você pode planejar um bonito piquenique, mas não pode prever se vai haver sol.

Há outros que querem que a definição de casamento se adapte às diferentes épocas. Eles perguntam: “Por que não podemos ser mais flexíveis? Se esta instituição vai sobreviver, ela precisa se ampliar para incluir uniões entre dois homens e entre duas mulheres”. Certas celebridades estão até mesmo se recusando a se casarem até que os parâmetros do casamento tenham sido revistos. (Para ser claro, todo casamento deve sempre crescer e se adaptar, mas a definição e os participantes do casamento não mudam.) Então, a quem devemos ouvir? Quem tem o direito de definir – ou redefinir – o casamento? Quem tem as credenciais para nos dizer como o casamento deve impactar nossas vidas?

Acreditamos que Deus é o Único que tem esse direito. Sua Palavra declara: Foi o Eterno que fez o casamento, não você. Seu Espírito permeia até os menores detalhes dessa união… Portanto, guarde o espírito do casamento dentro de você. Malaquias 2:15, A Mensagem

Esse versículo não deixa espaço para dúvida: “Foi o Eterno que fez o casamento, não você”. Ele não apenas criou o casamento, como também Se envolveu pessoalmente no processo pelo qual duas pessoas se tornarem uma.

Todo casamento é composto de muitos elementos diferentes, alguns simples e alguns tremendamente complexos, mas, pelo Seu Espírito, Deus revigora (ou traz vida a) os detalhes mais íntimos do casamento.

Observe que Malaquias 2:15 diz: “Seu Espírito [de Deus] permeia até os menores detalhes dessa união”. Em outras palavras, Deus nos permite ter expressão criativa no casamento, mas Ele retém todos os direitos de Criador sobre o que é o casamento e a quem ele inclui. O casamento não pode ser recriado sem o consentimento e a participação de Deus, e Ele é claro quanto às questões fundamentais: “Eu sou o Senhor e não mudo” (Malaquias 3:6, NTLH).

DE VOLTA AO ÉDEN

Vamos voltar ao jardim. Você se lembra das duas árvores? Uma delas, a árvore do conhecimento do bem e do mal, era a única árvore cujo fruto era proibido a Adão e Eva. Deus os advertiu que se eles comessem de seu fruto, eles morreriam. Mas algo naquela árvore fez com que eles se recusassem a ouvir a advertência de Deus e partilhassem o fruto proibido.

E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento… Gênesis 3:6 (ACF), grifo do autor.

Certamente muitas árvores nesse jardim eram boas para se comer e agradáveis aos olhos. Mas uma árvore cujo fruto tinha o poder de elevar uma pessoa à condição de Deus era outra coisa completamente diferente! Eva pensou que houvesse algo além daquilo que já lhe havia sido dado. Achamos impressionante o fato de a mulher ter agarrado algo que não devia ter (igualdade em relação a Deus) perdendo nesse processo algo que ela já tinha o potencial para possuir (sabedoria).

Adão e Eva desejaram ser como Deus, separados de Sua influência e autoridade. Eles se agarraram a um papel que não lhes era lícito assumir. Essa decisão contrasta claramente com a escolha feita por um de seus descendentes:

[Jesus], embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se… Filipenses 2:6

Adão e Eva foram feitos à imagem de Deus, mas não iguais a Ele. A imagem de algo fala de um reflexo, e não de uma representação em sua totalidade. A falsa promessa de igualdade com Deus fez com que o homem e a mulher pensassem que estavam recebendo alguma coisa, quando na verdade ambos estavam perdendo. Eles não receberam sabedoria; eles aceitaram um engano.

O casal enganado e desobediente foi banido do jardim. Eles nunca mais teriam acesso ao fruto encontrado na árvore da vida. Sem esse fruto vivo, Adão e Eva estavam condenados à mortalidade. Eles morreram, e o jardim deles desapareceu há muito tempo. Mas, de certa maneira, eles vivem, porque somos sua descendência. Homens e mulheres não têm mais imortalidade individual nesta Terra, mas o casamento é uma maneira de dar continuidade à vida através da reprodução.

A boa notícia é que a Cruz de Cristo agora é nossa árvore da vida definitiva. Ela restaura tudo o que foi perdido no jardim. E um casamento segundo o coração de Deus pode funcionar como uma árvore que perpetua a vida. Ele tem em si a base necessária tanto para o legado quanto para a intimidade. Por isso é tão importante para Deus honrarmos o casamento, guardarmos o seu espírito e amarmos um ao outro.

Não é preciso ser um especialista em relacionamentos para perceber que algo significativo se perdeu na transição do jardim para o agora. Muitos casamentos são o oposto de uma árvore que perpetua a vida. Divórcio, adultério, decepção, infelicidade e ofensa destroem nossos casamentos e lares. Por causa desses momentos em que o amor falha, muitos não entendem o propósito do casamento – ou sequer por que eles deveriam querer se casar. Outros, que são casados, estão simplesmente tentando sobreviver ao fogo cruzado. Para eles, o casamento não é um porto seguro. É uma zona de guerra.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MULHER ELÁSTICO

Assim como a personagem do desenho animado, a mulher contemporânea tem de ser elástica para dar conta das demandas do cotidiano

Em uma tarde de domingo caía uma fina garoa paulistana. Fui despertada de meus pensamentos longínquos por uma solicitação dos meus Alunos. Eles me pediam que os levasse para assistir ao filme Os incríveis, da Disney.

Arrastada pelo entusiasmo deles, entrei numa longa fila, na companhia barulhenta de pais, avós e crianças que se acotovelavam na porta da sala do cinema, na tentativa de conseguir um bom lugar. Pipoca, Coca-Cola e chocolate! Enfim, bem instalados nas poltronas, esperamos o filme começar.

Na tela, desenhou-se a imagem do cotidiano de uma vida familiar cheia de encantos e desencantos, como todas as outras. Tarefas, alegrias e tristezas, limites e frustrações, lamentos e questionamentos são experimentados pelos personagens: um casal de ex­ super herois e seus filhos que, impedidos de exercer seus poderes, são obrigados a levar uma vida “normal”. O poder do Sr. Incrível está na força. A Sra. Incrível transforma-se na mulher -elástico. A filha mais velha, uma garota de uns 12 anos, magrinha e tímida, pode se tornar invisível. Falante e ágil, o filho do meio, tem a habilidade de correr a uma velocidade enorme. E o caçula, um bebê engraçadinho e comilão, de início parece ser o único membro da família sem capacidades extraordinárias.

À medida que me vejo interessada pela figurada mulher­ elástico, me dou conta da sutileza do filme na escolha dos poderes dos personagens. Percebo, pela reação dos meus filhos, que eles também se interessavam pelas características dos diversos personagens, identificando semelhanças e diferenças entre os protagonistas e eles próprios. Não demorou muito para trocarmos olhares de cumplicidade e risadinhas diante de algumas cenas que lembram situações conhecidas por todos nós.

Saímos do cinema comentando animadamente o filme e continuamos a discuti-lo durante toda a semana. A partir daí, a imagem da mulher-elástico, excelente representação para a mulher na contemporaneidade, não me abandonou mais. Lembrei-me de que Freud localiza o mal-estar do seu tempo na repressão da vida sexual devido à moral civilizada daquela época. Inicialmente, ele compreende que a neurose atinge mais as mulheres que os homens – embora certamente esteja presente também neles – justamente porque são elas o alvo privilegiado dessa moral repressora. Ao restringir a sexualidade ao casamento, a sociedade no início do século XX organizava-se para manter a mulher no espaço privado, longe da “tentação” do âmbito público, fonte de saber e de autonomia.

Desde a década de 50, as transformações no modo de vida das mulheres vêm se processando de maneira mais acelerada. A entrada no mercado de trabalho, o acesso à formação universitária e às novas formas de erotismo organizaram a luta feminina em defesa dos seus direitos. A pílula anticoncepcional e as mudanças nos contratos matrimoniais também foram, aos poucos, organizando a saída da mulher do  universo doméstico e do exclusivo cuidado dos filhos, conduzindo-a para o espaço público, antes reservado quase exclusivamente aos homens.

IDEAIS AMPLIADOS

A progressiva conquista de novos lugares e papéis femininos trouxe uma infinidade de ganhos que, como não poderia deixar de ser, teve seu preço. Isso solicita uma mudança na posição subjetiva da mulher, o que certamente exige a passagem pelo luto da perda de garantia das antigas posições. Caminho tortuoso e difícil, pois a estrada é em direção à autonomia, única via de acesso a novas realizações, pede que a mulher assuma o preço da responsabilidade de uma posição de sujeito, propriamente desejante.

A mudança dos tempos traz sempre consigo a transformação dos ideais, resultado de novas conquistas do ser humano no saber sobre si mesmo. Ocorrem aí o abandono de interesses antigos e a descoberta de novos interesses e necessidades. No entanto, para as mulheres essa mudança trouxe também uma ampliação dos ideais. No que diz respeito à sua inserção na cultura, elas confrontam se hoje não apenas com as modificações dos ideais, mas com um verdadeiro acúmulo deles.

Presas à necessidade de corresponder ainda aos ideais do âmbito doméstico, reinado de suas mães e avós, as mulheres se vêm hoje requisitadas pelas demandas próprias do espaço público – profissional e social. Às voltas com o difícil caminho que qualquer mudança de posição subjetiva exige as mulheres parecem ter diante de si um espectro amplo de ideais a alcançar.

Esticadas entre uma identificação passiva e materna e outra ativa e fálica, tentam lidar com o excesso que caracteriza as demandas do seu cotidiano. Resulta dar um verdadeiro acúmulo que requer uma elasticidade nunca antes sequer imaginada. Se a necessidade de perseguir ideais constrói a trajetória cultural do ser humano ao longo do tempo, o percurso das mulheres, em particular, nos permite constatar que, ao modelo de santidade e beleza, veio juntar-se também o de sucesso – tão caro à cultura contemporânea.

Assim, uma boa representação do ideal de feminino dos dias atuais é a figura da mulher-elástico. Para tentar dar conta de tantos ideais, a mulher atual – tão bem representada pela Sra. Incrível – precisa ter um funcionamento verdadeiramente elástico. Deve desempenhar com sucesso, uma gama tão variada de funções que só mesmo uma elasticidade originária poderia lhe garantir ao menos, algum êxito numa empreitada tão fantástica, própria dos super-heróis!

Se a particularidade da relação da menina com a castração, tal como destacou Freud, assinala a dificuldade de acesso à sublimação e à construção do superego, é essa mesma particularidade que parece lhe garantir a elasticidade de sua organização libidinal e, consequentemente sua diversidade de possibilidades identitárias.

Se, por um lado, a mulher pode desfrutar de inúmeras possibilidades de gozo sexual, por outro, essa diversidade lhe garante uma elasticidade considerável de interesses – e não apenas sexuais. Fala-se com frequência na capacidade feminina de fazer muitas coisas e investir simultaneamente, em campos diversos. No entanto, para além dessa elasticidade originária, não existiria também uma dimensão essencialmente conflitiva nessa amplitude de exigências?

Para corresponder às inúmeras demandas próprias de sua época, a mulher-elástico precisa não só ser ideal, mas também ter o corpo ideal. Além de mãe dedicada, compreensiva e bem-humorada, deve conservar-se sempre jovem. Amante ardente e bem-disposta, precisa ter uma diversidade de investimentos. Com igual obstinação, realiza os exercícios físicos indispensáveis à manutenção do corpo perfeito e mantém vivos seus interesses culturais nos destinos da humanidade.

Mantendo um pé na academia de ginástica e o outro na mostra de cinema do momento, a mulher­ elástico é medianamente culta. Bem informada, é capaz de falar sobre qualquer assunto, mesmo que deixe transparecer certa mediocridade em muitos deles. Além de magra, realizada e bem-sucedida profissionalmente, é bonita, bem-cuidada e economicamente independente. Assiste a filmes de Godard com o mesmo entusiasmo com que entra em uma churrascaria, embora se prive de boa parte do menu disponível. Serena e controlada, a mulher-elástico come carne – desde que acompanhada de salada!

MAGREZA EM DESTAQUE

A hipervalorização da magreza tem acentuado a relação entre a autoestima e a imagem do corpo esguio, particularmente para o sexo feminino. Há 20 anos, as modelos pesavam 8% a menos que a média das mulheres, atualmente a diferença chega a 20%. Embora a aparência física seja um elemento fundamental para a imagem feminina em diversas épocas e culturas, a magreza nem sempre foi o ideal almejado. Muito pelo contrário.

Uma breve passagem pela história da arte revela que a Renascença valorizava corpos fartos, quadris grandes e abdomens avantajados. Embora se saiba que a exigência de magreza nas mulheres tenha começado por volta dos anos 20, em sintonia com o início do movimento de liberação feminina, nas décadas de 40 e 50 as estrelas de Hollywood, como Rita Hayworth, por exemplo, exibiam seios abundantes e formas a curvilíneas, valorizadas pela sensualidade. A exigência de magreza intensificou-se nos anos 60 e acentuou-se consideravelmente na década de 70. As formas do corpo idealizado tornaram-se menos arredondadas.

Embora padrões estéticos tenham se modificado, a luta para atingir o modelo de beleza vigente marca a relação da mulher com seu corpo em todas as épocas e culturas. Em 1580, o escritor Michel de Montaigne (1533-1592) já chamava a atenção em seus ensaios para o fato de que as mulheres desprezam a dor em função da vaidade. É assim que, ao longo dos tempos, elas escravizam o corpo em nome de parâmetros ao qual aspiram em cada época.

Houve o tempo em que esfolavam a pele para adquirir a tez mais fresca, ou buscavam propositalmente desenvolver problemas estomacais para conseguir a palidez valorizada na ocasião ou, ainda, apertavam o ventre em duros espartilhos para exibir a cintura delgada. Qualquer semelhança com a submissão aos atuais tratamentos estéticos e cirúrgicos, muitas vezes bastante dolorosos, e a especial dedicação às dietas alimentares para emagrecer, algumas radicais e perigosas para a saúde, não uma mera coincidência.

O ideal de magreza domina a cena contemporânea, não somente como ícone desucesso. Constitui-se até como modelo de perfeição moral, o corpo magro é a senha para se conseguir aprovação, poder e dinheiro. A idealização de forma bem esculpidas exige da mulher-elástico disciplina e firmeza – só desse modo poderá permanecer no ringue da luta pela beleza fetichizada pela cultura.

Engajada na busca pelo valorizado corpo fino e rígido, ela se lança na corrida insana para não perder o bonde de seu tempo, Escrava da amplitude e da diversidade dos ideais, dos quais precisa ao menos conseguir se aproximar, mulher-elástico, vitimada pelo excesso e pelo cansaço diante de suas incríveis atribuições, vive culpada diante da constatação da impossibilidade de ser tudo o que se exige dela.

CONFLITO E QUESTÃO

Endividada consigo mesma e com os que a cercam, ela é, ao mesmo tempo, culpada e impotente. Experimentando frequentemente uma dolorosa sensação de que algo lhe escapou, de que alguma coisa transborda sempre do seu cotidiano assoberbado, a mulher­ elástico constata, desamparada, que seu corpo dói!

E para que tudo isso? Às vezes, é no ponto extremo da dor que se pode encontrar, ou reencontrar o próprio limite a essa espécie de tirania velada que nos leva, frequentemente, a nos posicionar como objeto no desejo do outro. Poder reinventar cada dia, os caminhos do próprio desejo e seguir construindo um discurso próprio supõe uma mudança de pergunta, para quem tudo isso? A mudança da questão supõe a existência de um sujeito a quem se destinam os esforços realizados e, certamente, também os prazeres das vitórias conquistadas. Isso exige que a mulher se pergunte se é ela mesma o destinatário desses esforços, o sujeito dessa pergunta.

Todas nós, mulheres, experimentamos na carne as diversas formas de manifestação da angústia que a exigência de elasticidade acaba por despertar no cotidiano. Se abandonar o terreno das certezas não é nem mesmo uma possibilidade para a mulher contemporânea, visto que há muito as certezas já se foram, resta reconhecer a dimensão essencialmente de conflito colocada em cena pelas próprias conquistas em direção à autonomia.

Obviamente, não se trata de nos culpar pelas conquistas e pelos avanços obtidos, muito menos de defender o retrocesso a posições anteriores. Sem ilusões ou hipocrisias, devemos admitir que o que tínhamos antes certamente não era melhor do que o que temos hoje. Devemos, ao contrário, usufruir prazerosamente de tudo que foi conquistado. Trata-se, então, de nos colocarmos no interior do conflito para problematizá-lo, para circunscrevê-lo com a circulação de perguntas e não com a enunciação de ingênuas certezas. Assim, em nosso caro mundo contemporâneo, seguiremos, todas nós, mulheres-elástico, cansadas, doloridas, culpadas e cheias de incertezas, porém sem jamais perder um certo brilho que insiste em sobreviver e clarear perguntas – uma espécie de testemunho de rebeldia que nos habita e constitui Herdeiras da Fênix, somos consumidas pelo fogo com mais frequência do que seria desejável. No entanto, renascemos das cinzas! Talvez somente por teimosia ou, simplesmente, por insistir em sustentar a esperança de viver meramente como diz Caetano Veloso, sabendo a dor e a delícia de ser o que é”.

MARIA HELENA FERNANDES – é psicanalista, doutora em psicanálise e psicopatologia pela Universidade de Paris VII, com pós-doutoramento pelo Departamento de Psiquiatria da Unifesp, professora do curso de psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae.

OUTROS OLHARES

A VEZ DOS TIKTOKERS

Aplicativo chinês de vídeos curtos vira mania entre adolescentes e cria nova leva de influencers

Há algumas semanas, em sua edição comemorativa de 10 anos, a VidCon — conferência realizada anualmente no sul da Califórnia para celebrar influenciadores e criadores de conteúdo digital — pareceu ter testemunhado o início de uma revolução. Tratados como superestrelas do evento, com direito a segurança reforçada e contato quase impossível com os fãs, os youtubers passaram a ter de dividir atenções e idolatria com uma rede de criadores praticamente desconhecida até o começo deste ano: os tiktokers. Adolescentes ou jovens adultos cujos vídeos de até 15 segundos acumulam milhões de visualizações eram tratados como astros do rock em meio à multidão juvenil que tomou a cidade de Anaheim. Acessíveis, eles distribuíram autógrafos, fizeram selfies e gravaram conteúdo com os fãs — e podem ganhar até US$ 1 milhão por publicação.

É bem provável que você desconheça a existência de uma plataforma chamada TikTok — apesar de o aplicativo ter sido o terceiro mais baixado do mundo no primeiro quadrimestre de 2019, o primeiro, se considerarmos apenas redes sociais —, mas isso é questão de tempo. Tente perguntar para um adolescente conhecido e terá uma resposta, provavelmente confusa, sobre de que se trata.

Grosso modo, o TikTok é um aplicativo baseado na criação e no compartilhamento de vídeos curtos. Ele nasceu a partir de outra plataforma, o Musical.ly, que era voltado à produção de lip syncs (dublagem performática de uma música, como um playback) e virou um fenômeno teen. Criado em 2014, o Musical.ly foi vendido para a startup chinesa ByteDance num negócio estimado em US$ 1 bilhão em novembro passado. A nova dona juntou a base de dados da aquisição com a do Douyin, nome em chinês do TikTok, e tornou global a rede social.

Hoje, o TikTok está disponível em mais de 150 países, em 75 idiomas, e conta com mais de dez escritórios espalhados pelo mundo (incluindo um em São Paulo), tendo base em Pequim. Apesar de não divulgar números oficiais, estima-se que a plataforma tenha 1,2 bilhão de usuários mensais, superando o Instagram (que afirmou ter 1 bilhão em 2018) e ficando atrás apenas do YouTube (1,9 bilhão) e Facebook (mais de 2 bilhões).

Mas, afinal, o que diferencia o TikTok de outros sistemas baseados em vídeos curtos, como o Snapchat e os stories do Instagram?

“É um lugar de vídeos curtos e autênticos. Rápidos, de pessoas reais para pessoas reais. O grande diferencial também é a narrativa que você consegue construir com as ferramentas de trilha sonora, filtros, efeitos e até mesmo usando os cortes ao gravar”, explicou Bruno Carvente, formado em sistemas de informação na Universidade de São Paulo (USP). Na rede social, onde é especializado em vídeos com efeitos especiais (fruto de um intercâmbio em Nova York), Carvente atende pelo nome de @iBugou e é um dos principais tiktokers do Brasil, com 2,4 milhões de seguidores.

Presente em mais de 150 países, em 75 idiomas, o TikTok tem cerca de 1,2 bilhão de usuários mensais, o que o coloca atrás apenas do YouTube (1,9 bilhão) e do Facebook (mais de 2 bilhões) principais tiktokers do Brasil, com 2,4 milhões de seguidores.

O TikTok disponibiliza toda uma gama de efeitos de edição rápidos e intuitivos dentro do aplicativo, além de filtros especiais e a possibilidade de procurar sons e músicas para usar como trilhas dos vídeos.

Os usuários ainda são fortemente incentivados a interagir com outros, mesmo aqueles que não estão em sua lista de seguidores — outro diferencial em relação às demais plataformas. Tanto é que, quando o usuário abre o aplicativo, a primeira coisa que vê não é um feed de publicações de amigos, mas uma página chamada “Para você”. Ela é criada por meio de um algoritmo baseado nos vídeos com os quais o usuário interagiu ou aos quais acabou de assistir. O material é interminável. A prioridade ali não é necessariamente saber o que seus amigos estão fazendo, mas estimular a criação de conteúdo a partir de vídeos que você parece ter demonstrado querer assistir. A partir deles, o usuário pode fazer vídeos de “resposta” ou criar “duetos” — duplicando um vídeo famoso e adicionando seu próprio conteúdo. Ou participar de um dos muitos desafios de hashtags (de dança, canto, esportes, memes ou o que quer que seja) propostos pelo próprio aplicativo ou por outros usuários.

“Lá podemos ser plurais: fiéis a nosso conteúdo, mas não limitados a ele”, explicou Letícia Gomes (@leticiafgomes), cujo perfil tem 1,1 milhão de seguidores. Na plataforma, ela é especialista em vídeos de transformação — seu conteúdo mais famoso, visto mais de 12 milhões de vezes, é um vídeo de 15 segundos em que, usando maquiagem e criatividade, ela se “transforma” em Michael Jackson. “Outra vantagem é que podemos postar um vídeo a qualquer momento, sem horário específico, diferente das outras redes, que possuem várias métricas. Um vídeo que você postou há uma semana, por exemplo, continua sendo entregue para as pessoas, e os números crescem cada vez mais.”

Em um artigo intitulado “O TikTok vai mudar a maneira como suas redes sociais funcionam — mesmo que você o esteja evitando”, o jornal The New York Times explica que a plataforma “responde assertivamente à pergunta ‘O que eu devo ver?’ com uma inundação de conteúdo. Da mesma forma, fornece muitas respostas para a paralisante dúvida ‘O que devo postar?’”. O resultado é um leque enorme de possibilidades que os jovens — 60% dos usuários ativos têm entre 16 e 24 anos, de acordo com pesquisa da consultoria Mediakix — não teriam capacidade de inventar sem um empurrãozinho.

Com um volume tão grande e diverso de conteúdo sendo criado, e a formação de influenciadores próprios, seguidos por milhões de usuários, o TikTok passou a pautar outras redes sociais e até a “vida real”. “Hoje o público do aplicativo está ficando mais velho, e o motivo para ter mais adultos e adolescentes são os memes, os trends e os virais criados por lá”, reforçou Yurgen Maas, outro influencer brasileiro, cujo vídeo mais famoso, em que limpa seu teclado, de onde caem farelos, moedas, canetas e até um gato de verdade, passou pelas mais diferentes redes, por fóruns de humor, por um programa da RedeTV! e até mesmo por um canal de televisão chinês. Outro exemplo é o baiano Kaique Brito, de apenas 14 anos, que fez sucesso no Twitter e no WhatsApp com um vídeo ironizando discursos sobre “racismo reverso”.

Mas talvez o mais famoso caso de meme do TikTok que ganhou o mundo esteja na música. Na última segunda-feira 22, a música “Old town road”, do rapper Lil Nas X com o cantor country Billy Ray Cyrus, igualou o recorde histórico de “Despacito” (de Luis Fonsi e Daddy Yankee) e “One sweet day” (de Mariah Carey) como canção a ocupar por mais tempo a liderança das paradas americanas — são 16 semanas consecutivas. Isso só foi possível depois de a música — lançada de forma independente pelo americano de 20 anos, que comprou a melodia de um produtor holandês pelo YouTube — ter atingido o tiktoker Michael Pelchat (@nicemichael). Com traje de caubói, ele gravou um vídeo engraçado de 15 segundos e postou para seus 123 mil seguidores na plataforma em fevereiro. O clipe inocente inesperadamente viralizou e gerou uma série de versões de outros usuários. A partir daí, Lil Nas X assinou com gravadora, lançou um EP, apresentou-se em grandes festivais, como o inglês Glastonbury, saiu da casa dos pais e vem acumulando recordes.

O TikTok não revela quantos usuários brasileiros estão em seu banco de dados, mas confirma que tem planos de expansão no país. “O Brasil é um mercado importante para o TikTok e, por ter a maior população do continente, há um potencial enorme para mais brasileiros mostrarem seu talento e criatividade. Estamos trabalhando com marcas e também com superstars brasileiros”, afirmou em nota a empresa, que não trabalha com porta-vozes.

Recentemente, a cantora Anitta fez uma parceria com a plataforma para lançar o álbum Kisses, com desafios de coreografias voltados para diferentes países. O mesmo aconteceu com o DJ Alok, cujo single Pray também foi foco de uma ação no TikTok, que premiou o melhor vídeo com um iPhone X. Segundo a revista The Atlantic, só em 2018, a ByteDance gastou mais de US$ 1 bilhão em propaganda, chegando a pagar US$ 1 milhão para um vídeo de 15 segundos. Tudo isso para expandir sua atuação e não ser só mais uma rede social passageira.

Todos os influencers procurados pela reportagem confirmam que já receberam para criar conteúdos para marcas (os famosos publieditoriais), citando empresas como Sony Pictures, Warner Music, Disney e Amaro como contratantes. “Ao contrário de outras plataformas estabelecidas, como Facebook, Twitter e Instagram, o TikTok não tem seus formatos de mídia estabelecidos. Isso pode parecer uma desvantagem para o anunciante, mas é uma vantagem do ponto de vista criativo”, defendeu Larissa Magrisso, vice-presidente de criação e conteúdo na W3haus, agência pioneira na comunicação e publicidade digital.

“A linguagem do TikTok é muito contemporânea: são vídeos curtos, com uma linguagem pop, com música, os principais territórios são humor e música, mas ele também é usado para fazer tutoriais supercriativos de maquiagem, de receitas… E as possibilidades do aplicativo, como missões, desafios de dança, humor e lip sync, permitem, do ponto de vista da publicidade, ser mais criativo que na concorrência”, afirmou Magrisso.

GESTÃO E CARREIRA

PEGA NA MENTIRA

Mentir é humano, mas tem limite. Entenda até onde e quando isso é aceitável nas relações de trabalho e quando pode ter consequências sérias

Fale a verdade: você já contou alguma mentira no trabalho? Você pode não se lembrar ou não querer admitir, mas o mais provável é que sim. Quem garante são os especialistas em comportamento, que definem a mentira como uma espécie de estratégia de defesa necessária à sobrevivência em sociedade. “Onde houver relações humanas haverá mentira”, diz Luiz Scocca, psiquiatra no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “Falar a verdade o tempo inteiro é tão raro quanto seria contraproducente para uma boa socialização.” Há quem diga que a presença da mentira obedece ao princípio de Pareto (também conhecido como regra dos 80/20): 20% das pessoas contam 80% das lorotas e os 80% restantes falam os outros 20%. Ou seja, uns inventam mais, outros menos, mas todo mundo mente.

No contexto do trabalho não poderia ser diferente. Valorizar o currículo com experiências e habilidades e maquiar pontos fracos e deslizes na carreira são clássicos. Um levantamento recente da DNA Outplacement revelou que 75% dos brasileiros mentem no CV. Informações sobre o salário no último emprego, domínio de inglês, tempo de inatividade e qualificações de ensino são as principais inverdades. Mesmo prevista pelos recrutadores, a prática pode custar caro. Em uma pesquisa deste ano da consultoria de recolocação Robert Half, 33% dos executivos disseram ter descartado candidatos no processo seletivo ao perceberem que não falavam a verdade.

De estagiários a executivos, o que pode variar é o grau de elaboração, mas todos mentem. Nem autoridades e profissionais altamente qualificados escapam. Há pouco tempo, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e a professora e pesquisadora Joana D’Arc Félix de Sousa viraram notícia por terem inflado o currículo com títulos que, na verdade, não têm – ele, o diploma de doutorado em direito; e ela, de pós-doutorado na área de química, ambos pela Universidade Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo. Sem explicar muito bem a manobra, depois de flagrados, os dois apenas corrigiram a informação na plataforma de currículos na internet, mas o filme já estava queimado. Para Marcela Esteves, gerente de recrutamento da Robert Half, nenhuma mentira está liberada quando se está buscando uma vaga. “Nem o nervosismo ou a pressão pela necessidade do emprego podem justificar faltar com a verdade. A rotina profissional é repleta de situações que colocam o indivíduo sob tensão e, se ele mente na entrevista, entende-se que vai agir do mesmo modo no dia a dia de suas funções”, avalia.

Mas nem toda mentira deve ser julgada pelo viés moral. Pense naquela vez que você inventou uma pendência para escapar do almoço ou café com o colega chato. Ou quando tranquilizou o chefe dizendo que estava terminando uma tarefa que nem sequer tinha começado. Ou quando deixou de dar uma opinião sincera sobre a roupa, o corte de cabelo ou uma ideia de alguém. São exemplos de mentiras sociais, quase sempre inofensivas e necessárias para manter girando a roda dos relacionamentos.

POR QUE INVENTAMOS?

Cada um tem uma motivação: uns para obter vantagens, outros para se sentirem valorizados; uns para evitar algum conflito, outros para ser aceitos no grupo. Na maioria das vezes, o que está em jogo é a segurança e a autoestima.

Há, é claro, mentirosos mal-intencionados, que manipulam pessoas e informações de olho em objetivos pessoais. A servidora pública Ângela*, de 43 anos, chegou a ser exonerada do órgão em que atuava em um dos ministérios do governo federal por causa das invenções de uma subordinada. Há quatro anos, quando a mãe de Ângela faleceu, ela tirou o período de licença a que tinha direito. Depois de alguns dias afastada, a subordinada levou ao coordenador que a chefe não ia trabalhar há dias e que havia deixado projetos pendentes. Sem checar a situação no RH, o gestor acabou não só dispensando Ângela como promovendo a subordinada ao cargo dela. O emprego – em outra posição – foi recuperado em algumas sema nas, mas para isso foi preciso ameaçar com um processo e reunir outras vítimas das mentiras da funcionária: um estagiário acusado de furto, outra que levou fama por intriga e até a moça do cafezinho, acusada de falta de higiene quando, na verdade, era a outra, dissimulada, que a boicotava jogando sujeira na bebida.

Como agir com um colega, subordinado ou líder mentiroso vai depender da mentira, do autor dela e das consequências para as pessoas e aos interesses da companhia. O mesmo vale para a punição aplicada. No universo das corporações, o prejuízo de faltar com a verdade pode render desde uma advertência ou suspensão temporária até a dispensa do funcionário. Pelo Artigo nº 482 da CLT, atos de improbidade validam a demissão por justa causa. Ações ou omissões desonestas por parte do candidato ou empregado – como inventar uma morte ou doença para justificar falta ou apresentar documentos falsos, de atestados médicos a certificados de ensino, por exemplo – encaixam o trabalhador nessa categoria.

A punição está prevista em lei, mas a decisão de aplicá-la cabe ao empregador. De qualquer forma, sempre que uma mentira é contada no trabalho, o maior prejudicado é o autor dela. “Primeiro, porque ele sabe que mentiu, e o medo de ser desmascarado pode se transformar em estresse e insegurança, prejudicando o bem-estar e a produtividade do trabalhador”, diz Adriana Fellipelli, CEO da consultoria em desenvolvimento humano Fellipelli. Além disso, o mais comum é que equipe e gestor percebam o comportamento mentiroso, ainda mais quando é recorrente. “Isso coloca em dúvida o caráter e a credibilidade do colaborador, muitas vezes de forma irreversível. Talvez ele não seja despedido, mas poderá ser mais cobrado, rebaixado ou até excluído de projetos e processos, o que também dificultará a vida dele no ambiente profissional”, diz Nathana Lacerda, especialista em imagem e reputação. O indivíduo tem sempre a escolha entre dizer a verdade e mentir, mas os especialistas destacam que os líderes têm responsabilidade na criação de ambientes à prova de desonestidade e subterfúgios. “Culturas organizacionais pouco abertas a aceitar o erro como parte do aprendizado acabam estimulando a mentira”, afirma Maria Junior, sócio da S2, consultoria especializada em investigações corporativas e prevenção de fraudes nas empresas. Ele cita, ainda, hierarquias rígidas demais, alta pressão por resultados e gestores pouco acessíveis como fomentadores de insegurança. É claro que nada disso isenta o profissional do compromisso de ser honesto. “Valorizar a transparência e a vulnerabilidade ao erro, assim como desenvolver nas equipes a consciência de que a confiança é a base das relações de trabalho saudáveis, evitaria mentiras e desgastes causados por delas”, afirma Adriana Fellipelli.

OS DOIS LADOS DA TECNOLOGIA

Nunca se mentiu tanto quanto após o surgimento do e-mail e das redes sociais. Três vezes mais na comunicação por mensagens de texto em comparação com o olho no olho. Por e-mail, cinco vezes mais. Essa foi a conclusão de um estudo feito por psicólogos da Universidade de Massachusetts Amherst. Para os pesquisadores, a tecnologia permite uma distância psicológica maior do que a física, o que alimenta, a falsidade. Além disso, estar invisível atrás de uma tela evita ser denunciado pelos sinais não verbais, como a timidez e o nervosismo aparentes.

Por outro lado, as redes sociais podem se tornar uma armadilha para pegar mentirosos no pulo. Quem sabe bem é Gustavo*, de 31 anos, que trabalha no atendimento de uma agência de marketing esportivo. Na empresa era vetado aos empregados aceitar presentes de clientes e parceiros. Regra que a gerente de Gustavo desrespeitou algumas vezes, até que foi denunciada por si mesma ao postar uma foto durante uma viagem oferecida por um potencial cliente. Quem percebeu, e chamou Gustavo para explicações, foi o diretor-geral da companhia. “Como eu era do atendimento, primeira interface da agência com o cliente, o gestor imaginou que eu tivesse recebido e repassado o benefício, o que não havia acontecido”, lembra. A própria gerente admitiu o erro e tentou minimizá-lo dizendo que estava “fazendo relacionamento”. Enquanto Gustavo engoliu a seco a sensação de humilhação e desrespeito, ela foi demitida algum tempo depois.

AS LOROTAS MAIS CONTADAS

Nenhuma está liberada ou deve ser incentivada, mas é praticamente impossível eliminá-las do ambiente profissional. Veja a gravidade de algumas das mentiras mais repetidas no trabalho

TOLERÁVEIS

***De vez em quando, inventar uma desculpa para chegar atrasado ou sair mais cedo

***Elogiar o desempenho ou a aparência de um par ou do gestor só para agradar

***”Estou terminando”, quando nem começou ou está iniciando uma tarefa

***”Não recebi seu e-mail”, quando esqueceu ou não abriu a mensagem

***”Preciso terminar uma pendência” para escapar do almoço com um colega indesejado

PERIGOSAS

***Exagerar no currículo ou na entrevista de emprego em relação à fluência em outro idioma ou ao domínio de uma habilidade específica. Quando a competência em questão não é imprescindível à função diária ou há espaço para ser desenvolvida, é menos grave

***Agir contra as normas de conduta da empresa. Por exemplo: aceitar vantagens (materiais ou não) quando isso é vetado pela companhia

***Pegar sozinho o crédito por trabalhos feitos em parceria

IMPERDOÁVEIS

***Apresentar documentos adulterados, de atestado médico a certificados de ensino

***Mentir no currículo ou entrevista em relação à experiência anterior ou formação profissional, entre outras invenções que possam prejudicar o desempenho da função para a qual foi contratado

***Criar histórias envolvendo colegas. Por exemplo: Participação em atos lícitos ou ilícitos, envolvimento íntimo ou qualquer coisa que seja ofensivo à pessoa

***Alterar documentos ou manipular informações da companhia para fins internos, externos ou particulares

OS TIPOS DE CASCATEIRO

Nem todo mundo mente igual ou pelas mesmas razões. A seguir, listamos os principais perfis

SOCIAL

Age para despistar pequenas falhas, se valorizar, pertencer a um grupo ou forçar intimidade. Nem sempre as mentiras contadas afetam processos ou o trabalho coletivo, mas tiram pontos de credibilidade perante pares e gestores e deixam, sim, o contador com má fama. Por exemplo, distribui elogios só para agradar, está sempre a par dos assuntos e tem uma história para contar, raramente admite que comete falhas no trabalho.

CONVICTO

Exagerar, dar desculpas e simular que está por dentro é com ele mesmo. ele mente e não nega, porque crê na função social da prática, e não necessariamente por falta de caráter. Para Luiz Scocca, psiquiatra do HC-USP, mentir com eficiência não deixa de ser uma demonstração de inteligência. ” É preciso esforço mental para dominar os sinais não verbais (expressões faciais, postura, gestos) em alinhamento com a fala”, diz. Atenção para não passar dos limites e contaminar o ambiente.

MANIPULADOR

Mal-intencionados, psicopatas e pessoas com transtorno de personalidade antissocial têm consciência da dissimulação e normalmente estabelecem um objetivo específico. Agem por falta de empatia, ou seja, sem considerar o lado do outro, por isso frequentemente causam danos ou geram conflito.

PATOLÓGICO (MITÓMANO)

Não mente para conseguir alguma coisa, mas porque não consegue controlar. Pode criar de pequenas mentiras a histórias mirabolantes e é comum cair em contradição e contar versões fantasiosas de situações na frente de pessoas íntimas – o que não o faz mudar de comportamento, pois se trata de um transtorno psiquiátrico, que demanda tratamento complexo.

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 1 – O PLANO ORIGINAL

Então o SENHOR Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. — Gênesis 2:9

Era uma vez um jardim que crescia em torno de duas árvores. Como você já deve saber, esse não era um jardim comum. Nele não havia sofrimento ou degradação. Rios cruzavam a paisagem do Éden, fornecendo água pura e cristalina a todos os que habitavam no jardim.

Imagine só o esplendor das árvores que cresciam em um ambiente como esse. Cada uma delas era um símbolo sem defeito da vida que crescia em um solo rico, despertada por cascatas de águas e nutrida por raios de sol radiantes e ao mesmo tempo amenos. Havia muitas árvores no jardim, mas a Bíblia menciona apenas duas: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Ambas as árvores desfrutavam das mesmas condições imaculadas e incontaminadas – um estado de existência que esta Terra caída jamais poderia reproduzir. No entanto, uma delas gerava vida, e a outra morte.

Você provavelmente já ouviu essa história antes, pois toda história de casamento tem sua origem nessas duas árvores do Éden. De muitas maneiras, nossos casamentos podem ser comparados a árvores de vida. Casamentos crescem em velocidades diferentes em diferentes estações, e são melhores quando estão fincados por raízes maduras. Eles experimentam tanto anos frutíferos quanto estéreis, assim como anos de crescimento excepcional e outros em que o crescimento é atrofiado. Cada casamento é afetado pelo clima local, pela mudança de estações e pelas tempestades que os açoitam, mas o casamento oferece abrigo contra os ventos da vida em constante mudança.

A imagem de capa deste livro nos dá um vislumbre do que é a vida de uma árvore. O que vemos neste agrupamento de anéis é, na verdade, a história de vida da árvore – a impressão digital de sua jornada.

Na escola, muitos de nós aprendemos um pouco sobre dendrologia (o estudo das árvores e arbustos) e podemos determinar aproximadamente a idade de uma árvore contando seus anéis. Entretanto, ainda que saibamos contar os anéis de uma árvore, estamos longe de ser especialistas em dendrologia (mesmo que a gente saiba apreciar uma bela árvore). Além da idade exata, especialistas poderiam nos dar detalhes íntimos sobre a vida de uma árvore simplesmente observando seu corte transversal. Para o olho treinado, cada anel da árvore representa uma história. As diferentes espessuras de cada faixa dizem se a árvore passou por um inverno ameno ou excepcionalmente rigoroso, revelando padrões de seca ou chuva abundante. Uma inspeção detalhada revelaria a ocorrência de lesões ou ataques de pragas. Cada anel é um ano de estações, circular na forma e único em sua natureza.

Cada ano de casamento poderia ser comparado à trajetória do anel de uma árvore: circular na forma e único em sua natureza. Os aniversários marcam o fim de um ano e o início do próximo. A data anual é uma marca evidente, mas os meses, semanas e dias que enchem o calendário anual são uma coleção de alegria, dor, trabalho e até surpresas.

SUA HISTÓRIA

Ao iniciar esta jornada conosco, lembre-se de que sua história (ou futura história) é simplesmente isto: sua história. Toda vida e todo casamento são uma coleção de alegrias, vitórias e desafios. Por tempo demais, grande parte da Igreja se contentou em oferecer receitas genéricas para os problemas que afligem nossos casamentos. Ouvimos: “Esposas, submetam-se. Maridos, amem”. Embora haja verdade e valor nessas palavras, francamente, não existe um guia para a edificação de um casamento que sirva para todos, porque cada casamento tem uma impressão digital única.

Vamos olhar as coisas do seguinte modo: o projeto de toda casa inclui uma fundação, paredes de sustentação e um teto, mas o arquiteto tem a liberdade criativa para variar o projeto de acordo com as necessidades e desejos específicos de seus moradores. O mesmo acontece com nossos casamentos. Somos livres para projetá-los a fim de que eles nos sirvam da melhor maneira possível. Cada parte deles deve ter a aparência mais conveniente e ter a liberdade de variar de acordo com o momento que se está atravessando na vida. Em nosso casamento, por exemplo, estamos entrando em um tempo no qual criar filhos não será mais nosso papel predominante dentro da família. Isso significa que não demorará muito para que nossa casa não precise de tantos quartos quanto tinha no passado. Essa mudança em nossos casamentos é tão natural quanto a mudança das estações. Tudo isso é normal.

Existem verdades e valores universais e eternos que impulsionarão seu casamento a ser tudo o que Deus o chamou para ser. Deus quer que cada casamento seja construído com amor, respeito, alegria, submissão, provisão, fidelidade, cuidado, intimidade e legado – para citar apenas alguns alicerces. Mas, a maneira como esses blocos de fundação são expressos em sua vida refletirão a singularidade da sua personalidade e a estação que o seu casamento atravessa. Deus esboça os princípios fundamentais, porém deixa espaço para que você se expresse nas particularidades.

Deus ama a diversidade. Uma olhada na Criação confirmará isso. Queremos deixar claro desde o princípio que não acreditamos que todos os casais se encaixem em um molde genérico para o casamento. Nos dias de hoje, é mais comum que ambos os cônjuges trabalhem fora de casa (em 2012, aproximadamente 60% das mulheres em idade para trabalhar nos Estados Unidos estavam empregadas),1 e uma esposa talvez ganhe mais do que seu marido. A capacidade da esposa de gerar renda não significa que ela não seja submissa ou que o marido não seja um líder. Significa simplesmente que ambos estão contribuindo para a renda familiar, o que significa que o casamento deles provavelmente parece ser diferente do casamento de seus avós.

Nosso casamento é assim. Ambos trabalhamos e ambos somos líderes fora do nosso casamento. Às vezes trabalhamos juntos (como no caso deste livro), às vezes trabalhamos separados, mas o objetivo do nosso casamento e os nossos valores essenciais não oscilam. Os papeis do marido e da mulher no relacionamento não variam de acordo com a nossa capacidade de gerar renda.

Naquele primeiro jardim, Deus disse tanto a Adão quanto a Eva para serem frutíferos e se multiplicarem. Ele não disse que Eva deveria ficar em casa e administrar a multiplicação de Adão. A mulher virtuosa de Provérbios 31 era uma administradora do lar e uma empreendedora impressionante. Se isso parece ser o certo para seu casamento, faça-o! Ou talvez um de vocês queira ficar em casa em tempo integral – tendo ou não tendo filhos. Não há nada de errado com nenhuma dessas abordagens.

A princípio parece natural presumir que o que funcionou tão bem para os outros funcionará bem para todos. Mas estamos vivendo dias únicos com desafios únicos em todas as frentes. Queremos que o nosso casamento seja forte. Isso significa que você precisa ter a liberdade para construir o casamento dos seus sonhos, e não o casamento com o qual outra pessoa sonhou.

Encorajamos você a parar por um instante e pedir ao Espírito de Deus, que é o Espírito da verdade, para revelar como as Suas verdades eternas podem transformar seu casamento em uma união especial – aquela que Ele projetou exclusivamente para vocês antes do início dos tempos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O QUE OS CACHORROS PENSAM

Exames de neuroimagem revelam o que se passa na cabeça dos cães quando ouvem um comando; seu principal foco de atenção são os seres humanos

Aquela carinha expressiva e olhinhos que parecem sempre querer dizer algo fazem com que donos de cães se perguntem o que seu bicho de estimação “imagina” quando escuta sua voz. Agora, cientistas interessados em compreender a relação entre o homem e esses animais, com base na perspectiva dos cachorros, tentam descobrir, utilizando técnicas de escaneamento cerebral, o que pensam nossos amigos caninos. Os pesquisadores divulgaram suas descobertas na revista on-line PLoS ONE.

Levando em conta que o adestramento de cães pelo exército para desempenhar funções complexas como saltar de helicópteros e aviões é uma prática comum, o neurocientista Gregory Berns, do Centro de Neuropolítica da Universidade Emory, considerou que não seria difícil treinar esses animais para entrar acordados em um tubo de ressonância magnética para que pesquisadores tentassem descobrir o que pensavam.

Berns e seus colegas ensinaram dois cães a ficar completamente imóveis dentro do aparelho: Callie, uma fox terrier de 2 anos, e McKenzie, um border collie de 3, Também os treinaram para responder a sinais – mão esquerda apontando para baixo significava receber uma recompensa; ambas as mãos direcionadas para a horizontal indicava tratamento neutro. Eles descobriram que, no momento em que os cachorros visualizavam o sinal de gratificação, a região do núcleo caudado (associada a recompensas em seres humanos) mostrava atividade. A mesma área não revelava alterações quando os cães não viam o sinal do tratamento especial. O vídeo do experimento pode ser acessado em: http://www.youtube.com/watch?v=UsJf9NwTFhw&feature=player_embedded

“Quando observamos os primeiros resultados, notamos que as imagens eram diferentes de qualquer outra obtida em estudos anteriores. Ninguém, até onde eu sei, já havia capturado fotos do cérebro de um cachorro que não estivesse sedado”, diz Berns. Os resultados também indicam que os bichos prestam muita atenção aos sinais humanos.

Segundo os pesquisadores, a descoberta abre portas para futuros estudos sobre a cognição canina e responde perguntas sobre a profunda ligação afetiva dos seres humanos com os cães. Outro objetivo do estudo é compreender como os animais processam a linguagem e de que maneira as expressões faciais são representadas em sua mente. O amor por essas criaturas de quatro patas tem raízes profundas nos primórdios da evolução humana e Berns acredita que isso pode ter moldado como os nossos ancestrais desenvolveram a linguagem e outras ferramentas da civilização. “O cérebro do cão revela algo especial sobre como homens e animais se reuniram e a história evolutiva entre ambas as espécies pode fornecer um espelho único da mente humana”, argumenta o neurocientista.

OUTROS OLHARES

DESCONSTRUIR PARA ENTENDER

Diante das possibilidades de estudo sobre o assunto, o filósofo Michel Foucault descontrói as convenções e questiona: “que saberes têm poderes para falar sobre sexualidade?”

O que é desconhecido gera sensações e reações diferentes para cada indivíduo. A predisposição de querer desvendá-lo é o que move muitas pessoas, porém, o desprezo por aquilo que não se conhece e muito menos se quer conhecer também movimenta muitas outras. Entre um tipo e outro, ainda há aquelas que ficam na coluna do meio absorvendo passivamente o significado estabelecido e posto para explicar sobre algo que se apresenta. Um exemplo: as palavras. Quando não se sabe o que determinada palavra quer dizer, algumas providências são toma­ das, a depender de quem as toma. Os interessados vão buscá-la em dicionários, nos livros, debater com o professor, conversar com pais, trocar ideias com amigos ou aguardar as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação. Os desinteressados vão simplesmente apagá-la do cérebro mesmo sem antes ter sabido o conceito daquela junção de sílabas. E o pessoal da coluna do meio ficará exatamente ali onde sempre esteve, aguardando de qualquer emissor – de preferência, aquele que for mais ligeiro uma sopa pronta de letrinhas com temperos de significados. O que todo isso quer dizer? Que a desconstrução do muito ou pouco do que se sabe do desconhecido pode ser um bom caminho para conhecê-lo de fato.

Nos últimos anos no Brasil – e principalmente nos dias de hoje – não nos faltam palavras imbuídas de seus significados e ressignificados produzindo “verdades”. A lista é grande, mas neste artigo o foco estará em uma delas: gênero. Ela merece destaque, afinal, para milhares de brasileiros só de imaginar uma possível discussão sobre gênero, o caos instala-se.

Em novembro de 2017, vimos o episódio da filósofa norte-americana Judith Butler sendo hostilizada por grupos de manifestantes, em São Paulo, na porta do local onde foi convidada a palestrar. Nas redes sociais, Butler já estava queimando na fogueira da Inquisição online. Esses manifestantes não pouparam Buttler nem mesmo no aeroporto, quando se preparava para voltar para casa, e a estudiosa sofreu mais alguns ataques verbais raivosos.

DETALHE UM: Butler foi convidada para ministrar uma palestra sobre democracia, e não sobre gênero.

DETALHE DOIS: a intolerância ao assunto já se mostrava no Brasil muito antes de Butler.

Portanto, quando algo que está no imaginário provoca tamanha confusão e, pior, fere a existência do próximo, é hora de dar um passo para trás para desconstruir tudo aquilo que até então era uma verdade irrefutável. Paradoxalmente, é na desconstrução que pode surgir uma construção, trocando as velhas crenças por novos saberes diante de muita análise. Como muito bem aborda e debate incansavelmente o filósofo francês Michel Foucault, a produção discursiva deve ser praticamente dissecada. Quem produz? O que é produzido? Para quem é produzido? E por que é produzido?

Este artigo não propõe uma receita pronta sobre a questão, muito menos esgotar as possibilidades de reflexão sobre o assunto, mas é um convite a uma reflexão sobre o tema gênero. Historiadores (as), filósofos (as), educadores (as) e escritores (as) nos auxiliam nessa jornada. Desta forma, vamos aqui estabelecer um recorte, pois, discutir gênero é algo inesgotável.

Iniciamos nosso percurso com a historiadora Joana Maria Pedro, partindo do básico: a gramática.

Todas/os nós sabemos que, em gramática, quando perguntamos pelo gênero de uma palavra, a resposta, invariavelmente em português, é: masculino ou feminino. Em português não temos o neutro como no latim, por exemplo. Como exemplo, vamos analisar gramaticalmente a palavra cadeira: ela é substantivo, singular e feminino, não é? E a palavra mar: em português é masculino, mas em francês la mer é feminina. Em português, como na maioria das línguas, todos os seres animados e inanimados têm gênero. Entretanto, somente alguns seres vivos têm sexo. Nem todas as espécies se reproduzem de forma sexuada; mesmo assim, as palavras que as designam, na nossa língua, lhes atribuem um gênero. E era justamente pelo Jato de que as palavras na maioria das línguas têm gênero, mas não têm sexo, que os movimentos feministas e de mulheres, nos anos oitenta, passaram a usar esta palavra ‘gênero” no lugar de “sexo”. Buscavam, desta forma, reforçar a ideia de que as diferenças que se constatavam nos comporta­ mentos de homens e mulheres não eram dependentes do “sexo” como questão biológica, mas sim eram definidos pelo “gênero” e, portanto, ligadas à cultura’.

As feministas anglo-saxãs foram as primeiras, nos anos 1970 a usar o termo gender (gênero) como distinto de sex (sexo). Aqui no Brasil, gênero começou a ser timidamente utilizado pelas feministas no final dos anos 1980. Em todo mundo, a palavra ecoou e expandiu por meio de diferentes movimentos sociais como das feministas, gays, lésbicas, trans e etc. O termo gênero compõe a trajetória que acompanha a luta por direitos civis e direitos humanos de todas essas pessoas. Gênero será um conceito fundamental neste novo debate porque, como aponta Guacira Lopes Louro, é necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico.

Guacira Lopes Louro completa:

Ao dirigir o foco para o caráter “fundamentalmente social”. não há, contudo, a pretensão de negar que o gênero se constitui com ou sobre corpos sexuadas, ou seja, não é negada a biologia, mas enfatizada, deliberadamente, a construção social e histórica produzida sobre as características biológicas’.

Para a educadora, gênero é construção social e cultural do feminino e masculino a partir do aspecto biológico. Não é binário (mulher e homem), é relacional. Linda Nicholson, pesquisadora que também tem sido uma grande referência para as discussões sobre o gênero, acompanha o raciocínio, mas vai além. Ela simplesmente rompe com o discurso do biológico porque em suas pesquisas – baseadas em leituras de Foucault, Laquer e Butler – ela expõe que o próprio biológico é uma produção discursiva. Para Linda, o biológico pode ser “um” discurso e não “o” discurso. Em seu denso artigo Interpretando Gênero, a historiadora aponta que separar sexo de gênero e considerar o primeiro como essencial para elaboração do segundo pode ser uma forma de fugir do determinismo biológico, mas constitui­se, por sua vez, num fundacionalismo biológico. Linda explica:

O que estou chamando de fundacionalismo biológico, mais do que uma posição única, pode ser entendido como representante de um leque de posições unidas de um lado por um determinismo biológico estrito, de outro por um construcionismo social total.”

Se gênero é relacional como aponta Guacira, se ele rompe com o biológico como diz Linda, para Joan Scott – especialista na história do movimento operário no século XIX e do feminismo na França – ele aborda relações de poder. Em seu instigante artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica, a professora e historiadora Scott retoma a diferença entre sexo e gênero e a articula com a noção de poder. Ela define gênero em duas partes: a primeira aponta que “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e a segunda de que o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder.”

Neste ponto, o conceito gênero serve como uma ferramenta analítica e também política. Em seus ensaios, a professora de Ciências Sociais no Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, informa que “gênero significa o saber a respeito das diferenças sexuais”. Scott pontua que usa a palavra saber de acordo com o sentido dado por Michel Foucault. Scott explica:

“Tal saber não é absoluto ou verdadeiro, mas sempre relativo. Seus usos e significados nascem de uma disputa política e são os meios pelos quais as relações de poder de dominação e de subordinação são construídas. O saber não se refere apenas a ideias, mas a instituições e estruturas, práticas cotidianas e rituais específicos, já que todos constituem relações sociais. O saber é um modo de ordenar o mundo e, como tal, não antecede a organização social, mas é inseparável dela. Daí se segue que gênero é a organização social da diferença sexual. O que não significa que gênero reflita ou implemente diferenças físicas fixas e naturais entre homens e mulheres, mas sim que gênero é o saber que estabelece significados para as diferenças corporais”.

Ao interligar gênero com relações de poder, inevitavelmente Foucault é chamado para essa conversa. Scott vê sentido quando o filósofo relativiza a verdade justamente porque ele já descobriu que não existe discurso gratuito. Para o filósofo, o poder produz saber e, consequentemente, os discursos são teorias que dizem o que é verdade sobre o sujeito. Ao escrever os três volumes de A História da Sexualidade, na década de 1980, Foucault questiona o tempo todo: que saberes têm poderes para falar sobre sexualidade?

De fato, Foucault vira de ponta cabeça as concepções convencionais, que geralmente tendem a centralizar o poder. O filósofo desmistifica e diz que “o poder está em toda a parte; não porque engloba tudo e sim porque provém de todos os lugares”.

Posto isso já é possível entender porque a palavra gênero tem causado tanto alvoroço só pelo fato que ela pode começar a ser discutida, por exemplo, dentro de uma sala de aula. Seus significados e ressignificados vêm de toda parte onde haja poder. Foucault continua:

É preciso admitir um jogo com­ plexo e instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder; reforça-o, mas também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo. Da mesma forma, o silêncio e o segredo dão guarida ao poder, fixam suas interdições; mas, também, afrouxam seus laços e dão margem a tolerâncias mais ou menos obscuras.

Um pouco antes de sair de cena nesta vida, em 1984, Foucault começa a investigar um tema que ele dá o nome de bio­ poder, o que também traz luz para entender o conceito de gênero. Foucault escreve:

Pela primeira vez na história, sem dúvida, o biológico se refletiu no político; o fato de viver não é mais esse sustentáculo inacessível que só emerge de tempos em tempos, no acaso da morte e da sua fatalidade: cai, em parte, no campo de controle do saber e de intervenção do poder. Este não estará mais somente a voltas com sujeitos de direito sobre os quais seu último acesso é a morte, porém com seres vivos, e o império que poderá exercer sobre eles deverá situar-se no nível da própria vida; é o fato do poder encarregar-se da vida, mais do que a ameaça da morte, que lhe dá acesso ao corpo.

“O poder encarregar-se da vida, que lhe dá acesso aos corpos”, é uma fala de Foucault que certamente faz muito sentido para Judith Butler que “acha que discursos, na verdade, habitam corpos. Eles se acomodam em corpos; os corpos na verdade carregam discursos como parte de seu próprio sangue. E ninguém pode sobreviver sem, de alguma forma, ser carregado pelo discurso. Então, não quero afirmar que haja uma construção discursiva de um lado e um corpo vivido de outro”.

Daí a luta de Butler para a possibilidade de que as pessoas e seus corpos tenham vidas mais vivíveis. No final de 1989 ela publicou o livro intitulado Gender Trouble, lançado em português em 2003 como Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Na obra, ela propõe descrever o caráter performativo do gênero. Butler explica:

A cada um de nós é atribuído um gênero no nascimento, o que significa que somos nomeados por nossos pais ou pelas instituições sociais de certas maneiras. No entanto, muitas pessoas sofrem dificuldades com sua atribuição são pessoas que não querem atender aquelas expectativas, e a percepção que têm de si próprias difere da atribuição social que lhes foi dada. Algumas pessoas vivem em paz com o gênero que lhes foi atribuído, mas outras sofrem quando são obrigadas a se conformar com normas sociais que anulam o senso mais profundo de quem são e quem desejam ser. Para essas pessoas é uma necessidade urgente criar as condições para uma vida possível de viver.

O texto Como os corpos se tornam matéria: entrevista Judith Butler aprofunda sobre o que a filósofa quer dizer com corpos abjetos que, nas palavras de Butler, estão relacionados a todo tipo de corpos cujas vidas não são consideradas vidas. A entrevista foi realizada por Irene Meijer e Baukje Prins, do Departamento de Estudos da Mulher, do Instituto de Artes da Universidade de Utrecht, na Holanda. Butler diz que “a abjeção de certos tipos de corpos, sua inaceitabilidade por códigos de inteligibilidade, manifesta-se em políticas e na política, e viver com um tal corpo no mundo é viver nas regiões sombrias da ontologia”.

Para que realmente as pessoas possam ter vidas mais vivíveis e saírem de fato das sombras, Guacira Louro Lopes ressalta que “o conceito de gênero passa a exigir que se pense de modo plural, acentuando que os projetos e as representações sobre mulheres e homens são diversos. Observa-se que as concepções de gênero diferem não apenas entre as sociedades ou os momentos históricos, mas no interior de uma dada sociedade, ao se considerar os diversos grupos (étnicos, religiosos, raciais, de classe) que a constituem”.

O que importa aqui considerar é que tanto na dinâmica do gênero como na dinâmica da sexualidade as identidades são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num determinado momento. Não é possível fixar um momento seja esse o nascimento, a adolescência, ou a maturidade que possa ser tomado como aquele em que a identidade sexual e/ou a identidade de gênero seja assentada ou estabelecida. As identidades estão sempre se constituindo, elas são instáveis e, portanto, passíveis de transformação.

GESTÃO E CARREIRA

O MITO DA MERITOCRACIA

Porque devemos tomar cuidado com esse conceito em um país tão desigual como o brasil e o que fazer para corrigir as distorções sociaisno mundo do trabalho

Duzentos e vinte e cinco anos. Esse é o tempo que um brasileiro nascido entre os 10% mais pobres levaria para alcançar a renda média do país – hoje de 1.370 reais. A conclusão é da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo o estudo da instituição, O Elevador Social Está Quebrado? Como Promover a Mobilidade Social, a desigualdade por aqui é tamanha que são necessárias nove gerações para que o membro de uma família desafortunada conquiste uma condição melhor. Crianças cujos pais não completaram o ensino médio, por exemplo, têm apenas 15% de chance de chegar à universidade, probabilidade que sobe para 60% quando pelo menos um deles é diplomado.

De acordo com a Oxfam, que luta pelo combate à desigualdade no mundo, o Brasil é o nono país mais desigual do planeta. Quem recebe um salário mínimo hoje, por exemplo, precisa trabalhar 19 anos para ganhar o equivalente a um mês de rendimento do 0,1% mais rico.

Fato é que desvantagens no início da jornada podem perseguir uma pessoa ao longo da vida, traduzindo­ se não só em salários mais baixos, mas em mortalidade precoce. “A situação socioeconômica influencia o aprendizado, as perspectivas de emprego e até a saúde. Um homem de 25 anos que frequentou faculdade pode esperar viver quase oito anos mais do que seu par de pouca escolaridade. Entre as mulheres, a diferença é de 4,6 anos”, diz o relatório da OCDE, divulgado no ano passado.

É dessa perspectiva que a meritocracia vem sendo questionada. O conceito – mistura da palavra latina meritum, “mérito”, com o sufixo grego cracia, “poder” – sugere que o sucesso é determinado única e exclusivamente pelo esforço pessoal.

Isso, em tese, coloca o presidente da empresa e o operário da fábrica em pé de igualdade. Mas como comparar o desempenho de um profissional de classe alta com o de um suburbano? Um tem comida farta, o outro pula refeições por falta de dinheiro; um corre para hospitais de ponta quando está doente, o outro enfrenta filas do SUS; um realiza cursos fora do país; o outro faz bicos para complementar a renda. “A meritocracia é um mito. Ela só faria sentido se a sociedade promovesse igualdade de oportunidades educacionais, econômicas e sociais. Não sendo esse o caso, é um jogo de cartas marcadas. Ganha quem larga na frente: os que estudaram em boas escolas e tiveram recursos para acessar livros e bens culturais”, diz Sidney Chalhoub, pesquisador brasileiro e professor de história na Universidade Harvard. Para ele, nivelar a competição no mercado de trabalho, desconsiderando a história, a raça e o gênero, é um equívoco.

A questão é que, mesmo controversa, a meritocracia caiu nas graças dos líderes. Está no discurso dos políticos para evidenciar que não há nepotismo nem fisiologismo na gestão pública e na fala dos empresários para mostrar que os sistemas de recompensa são justos. Ganhou a simpatia dos RHs, o vocabulário das startups e os corredores do mundo corporativo.

CORRENDO EM CÍRCULO

Quem inventou o conceito, no entanto, não o imaginava como algo tão positivo assim. Quando cunhou a expressão no livro The Rise of the Meritocracy (“A ascensão da meritocracia”, sem edição no Brasil), em 1958, Michael Young, sociólogo e membro do Partido Trabalhista britânico, o fez de maneira crítica. Na obra, ele narra a meritocracia como um mecanismo que divide a sociedade entre os bem-sucedidos e os fracassados. Os vencedores se tornam arrogantes, pois supostamente são os únicos responsáveis pelo próprio êxito, e os perdedores ficam amargurados, uma vez que não podem culpar nada além de si mesmos.

Embora ninguém discorde de que seja correto avaliar as pessoas de maneira democrática, recompensando quem se dedicou com afinco e entregou bons resultados, o que se observa é que, ao ignorar o contexto e os recursos de cada um, a prática reforça as injustiças. Imagine a seguinte cena: dois funcionários recebem a missão de avaliar o que enxergam por cima de um muro de 2 metros de altura. A melhor análise será recompensada pelo chefe. Um deles tem 2,10 metros e o outro 1,60. Para que ambos sejam avaliados de maneira justa pela entrega – a melhor versão do que veem do outro lado -, o mais baixo precisaria receber um banco de 50 centímetros para ficar em pé de igualdade. A altura do primeiro profissional não é mérito dele, é privilégio.

Essa é a linha de raciocínio dos estudiosos que consideram a meritocracia problemática. Segundo eles, se as organizações quiserem ter legitimidade em promoções e seleções, devem levar em conta deformidades sociais, culturais e estruturais do país. Em outras palavras, o que se defende é que negros e brancos, homens e mulheres, estudantes de escolas públicas e privadas não sejam avaliados todos pela mesma régua. “E não se trata de baixar a régua, mas de ajustá-la a cada realidade. Da forma como são feitos os recrutamentos hoje só reproduzimos as desigualdades”, diz Vanessa Cepellos, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getúlio Vargas (FGV- Eaesp). Vanessa se refere aos processos de estágio e trainee que triam os currículos pelo nome da faculdade do candidato ou usam o teste de inglês como corte. Nesse tipo de peneira é inevitável eliminar alunos de escolas públicas, que, por causa de circunstâncias difíceis, não conseguiram entrar numa universidade de elite ou aprender outro idioma. “Como alguém da periferia vai competir de igual para igual com pessoas com inglês fluente e experiências internacionais? É dessa forma que as empresas têm excluído certos grupos e favorecido outros”, diz Patrícia Santos, CEO e fundadora da consultoria Empregue ­ Afro. “Numa dessas, as organizações contratam quem tem inglês em detrimento de quem trabalha desde os 12 anos e possui inteligência emocional e uma enorme resiliência por tudo que já viveu”, completa Liliane Rocha, fundadora da Gestão Kairós, especializada em sustentabilidade e diversidade.

Núbia Mota, de 29 anos, estudou a vida toda em colégio do governo e não aprendeu inglês na adolescência. Filha de uma empregada doméstica e de um vendedor de carros, começou a trabalhar aos 14 anos como recepcionista para complementar a renda da família. Aos 19, foi selecionada para ser atendente em uma das primeiras autorizadas da Apple no Brasil. Os anos em que lidou com o público ajudaram-na a desenvolver habilidades como comunicação e negociação. Hoje diretora de marketing e novos negócios para América Latina da Magento, empresa americana de plataforma para e-commerce, adquirida em 2018 pela Adobe, ela conta que sua sorte mudou quase por acaso. Na loja da Apple, Núbia conheceu um empresário que a convidou para participar da seleção de estágio na empresa dele, uma multinacional de tecnologia. Na época, a jovem cursava gestão comercial na UniCid, em São Paulo. “Eu concorri com gente de faculdades de renome, mas fui escolhida porque minha história de vida fez diferença”, diz. Uma vez contratada, precisou compensar a falta de bagagem. “Qualquer dinheiro que sobrava, eu investia para impulsionar meu currículo e ser mais respeitada.” Com 50% da mensalidade subsidiada pela companhia, Núbia fez MBA em vendas na Fundação Getúlio Vargas e bancou um curso de inglês de cinco meses no Canadá. Em três anos, passou de atendente de call center a gerente de vendas. Há três meses, recebeu a proposta para se tornar executiva da Magento. Quem lê sobre a trajetória dela pode imaginar que foi fácil. Núbia discorda. “Todas as vezes que fui promovida ou recebi aumento, tive de levantar a mão e pedir. Para alguns, as portas se abrem. No meu caso, eu tive de empurrá-las.”

É um erro pensar, portanto, que profissionais de origem humilde não saem da inércia porque não se esforçam o suficiente. Conforme apontou a pesquisa da OCDE, o elevador social está quebrado: apenas 7% dos pobres no Brasil conseguem saltar da base para o topo da pirâmide. Sem saúde, educação, moradia e alimentação de qualidade, é complicado abraçar oportunidades, criar redes de contatos e romper o ciclo de pobreza. No caso de Núbia, ponto fora da curva, houve muito esforço, é verdade, mas também aleatoriedade (de estar no mesmo lugar e hora que um empresário) e a flexibilização de critérios por parte da empresa, que priorizou a história de vida ao currículo – algo que ainda acontece pouco nas entrevistas de emprego.

EFEITO COLATERAL

Um estudo liderado pelo acadêmico Emílio Castilla, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em parceria com o sociólogo Stephen Benard, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, investigou por qual razão, mesmo quando supostamente há meritocracia, as mulheres continuam ganhando menos e ocupando cargos de menor relevância do que os homens – inclusive quando são mais qualificadas. O estudo simulou a aplicação de políticas meritocráticas em companhias privadas para observar se haveria mudanças no comportamento da liderança. Os pesquisadores descobriram que, em locais que consideravam o mérito algo fundamental, os gerentes atribuíam recompensas maiores aos homens do que às mulheres, mesmo com avaliações idênticas. A conclusão? “Trabalhar em um ambiente que destaca a meritocracia como valor pode, ironicamente, fazer com que as pessoas acreditem ser mais honestas e objetivas do que são. Como resultado, ficam propensas a preconceitos”, escreveram os autores. A realidade feminina no mercado de trabalho é o retrato de que nem sempre funciona gratificar só pelo empenho. De acordo com números do Instituto Ethos e da ONU Mulheres, nas 500 maiores empresas do Brasil, há 38,8% de mulheres na supervisão, 31,3% na gerência, 13,6% no quadro executivo e apenas 11% no conselho administrativo. Nenhuma dessas esferas de poder reflete o censo, onde elas são 51,4% da população. “A ausência feminina na liderança significa a ausência de modelos, Elas não se sentem representadas e não se enxergam naquele lugar, por isso, muitas desistem no meio do caminho ou nem chegam a vislumbrar uma carreira executiva”, diz Amanda Gomes, sócia-fundadora do Elas, escola de liderança e desenvolvimento feminino.

Para alguns especialistas, a meritocracia reforça o preconceito de gênero à medida que recompensa o excesso de trabalho e a disponibilidade de tempo. Isso porque muitos chefes ainda acreditam que quem fica até tarde no escritório é mais merecedor. Como boa parte das mulheres sai no horário para buscar os filhos na escola e dar andamento às atividades da casa, cria-se uma desvantagem. A questão é estatística. Dados do IBGE mostram que elas dedicam, em média, 21,3 horas por semana aos afazeres domésticos, quase o dobro dos homens – que gastam 10,9 horas com as mesmas responsabilidades. Talvez por isso, num levantamento global da auditoria Grant Thornton, as profissionais tenham apontado a falta de tempo livre (32%) e o excesso de tarefas fora do trabalho (25%) como dois dos principais impedimentos para se desenvolverem na carreira.

Neuza Chaves, conselheira sênior da consultoria de negócios Falconi e autora de Meritocracia – A Influência da Cultura Brasileira no Desempenho e no Mérito (Falconi, 51 reais), ressalta que um traço cultural dos executivos brasileiros é a influência por relacionamento, o que acaba por favorecer quem é parecido com eles ou está mais presente em seu networking. O dilema é que muitas mulheres não conseguem conciliar a happy hour da firma com a vida pessoal. “A empresa deve preparar os gestores para reconhecer distorções que inibem a meritocracia”, diz. Ao desenvolver pesquisas para o livro, ela concluiu que o conceito funciona melhor na teoria do que na prática. “Constatei que o mérito é amplamente desejado, mas dificultado por traços de nossa cultura, como personalismo, subjetividade e o famoso jeitinho brasileiro.”

Em economias desenvolvidas, como a de países nórdicos, há políticas públicas para ajustar assimetrias e estimular a cultura do merecimento. A Islândia, por exemplo, instituiu multas para organizações com diferenças salariais entre homens e mulheres. Foi a primeira nação do mundo a tornar ilegal a disparidade nos pagamentos. Já a Finlândia e a Suécia são pioneiras em oferecer programas de trabalho flexíveis: 92% das empresas finlandesas e 86% das suecas oferecem jornadas inteligentes para mulheres. “Se realmente quisermos avançar em direção a um sistema mais justo, precisamos enfrentar a realidade das grandes desigualdades de remuneração entre os gêneros, pensar em como atuar juntos de forma cooperativa, e não mais competitiva, e trabalhar duro para recrutar pessoas de diversas origens e experiências”, afirma Jo Little, codiretora de pesquisa do departamento de sociologia da Universidade de Londres, e autora do livro Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (“Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade”, sem edição no Brasil).

OUTRO TOM

Foi ao se tornar diretor de operações da Aegea, maior grupo de saneamento do segmento privado no país, que Josélio Alves Raymundo, de 42 anos, colocou em xeque o poder do mérito. “Como filho de uma dona de casa e de um detonador de pedreira, que só estudaram até a 4ª série, eu acreditava na meritocracia, afinal, cheguei até aqui porque batalhei muito. Mas, ao me tornar líder, olhava para o lado e era o único negro. Isso me incomodou.”De fato, só 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros nas empresas brasileiras, de acordo com o Instituto Ethos. “Ou existe algo estrutural ou a maioria de nós não quer nada com nada. E eu não acredito na segunda opção”, diz. A pedido do CEO da Aegea, Hamilton Amadeo, Josélio encabeça hoje o programa de diversidade da companhia, chamado Respeito Dá o Tom. Seu primeiro passo foi visitar as 49 unidades da empresa para dar um testemunho pessoal. Estudante de escola pública, aos 13 anos foi apadrinhado por professores dispostos a oferecer a ele reforço durante as tardes para que passasse no curso de edificações da Escola Técnica do Espírito Santo. Depois de formado, ganhou bolsa em um cursinho de Vitória e ingressou em engenharia civil na Universidade Federal de Viçosa. Mesmo com os obstáculos, considera-se privilegiado. “Sou negro, mas não parti do mesmo lugar que todos de minha raça. Meu pai fazia questão que eu não trabalhasse para me dedicar aos estudos. Quando se aposentou, virou ajudante de pedreiro para que eu pudesse seguir na escola. Quantos têm a mesma possibilidade?”, questiona.

Hoje, a mensagem que ele passa aos colegas líderes é que a meritocracia não existe no Brasil. “Precisamos olhar de forma atenciosa para o racismo em nosso país. Ele é real e muito presente. No condomínio onde moro não há negros. A maioria de meus vizinhos pergunta se sou militar”, conta. O programa que ele coordena na Aegea tem 12 comitês para reforçar a inclusão e um profissional contratado para manter vivos três pilares: desenvolvimento, empregabilidade e relacionamento com grupos minoritários. Em 2017, a Aegea realizou processo seletivo na comunidade quilombola Tia Eva, em Campo Grande, onde fica uma de suas unidades. “Contratamos um quilombola. Uma de nossas metas é representar internamente o censo da cidade em que estamos inseridos”, diz Ricardo Malvestite, diretor de recursos humanos.

Como a última nação do mundo a abolir a escravidão, em 1888, o Brasil prejudicou os negros. Pouco antes de alforriá-los, o Parlamento aprovou uma lei eleitoral, em janeiro de 1881, proibindo o voto de analfabetos (até então autorizado) e aumentou a já existente renda anual mínima para ter direitos políticos. “Somos o resultado de um acúmulo de violências que criaram condições permanentes para a reprodução de desigualdades”, diz Sidney Chalhoub, de Harvard. O professor explica que a abolição não foi acompanhada de medidas para reparar a população escravizada. Pelo contrário. “Com a proibição de votar e sem condições de estudar, gerações de negros permanecem até hoje excluídas da cidadania e das oportunidades econômicas. Qualquer processo que desconsidere esse passivo de nossa história é ilusório”, completa o pesquisador.

Luana Santos Braguin, de 29 anos, é filha de pai negro com mãe branca e faz parte da primeira geração da família, juntamente com seu irmão, a cursar uma universidade. Ela foi a única a estudar em uma faculdade pública. Visto que apenas 4,5% dos alunos dessas instituições são negros, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luana realizou um feito e tanto. Para obter o diploma de engenharia de materiais da Universidade Federal de São Carlos, no entanto, a jovem enfrentou uma série de entraves.

O primeiro desafio foi financeiro. Como a família morava em Bauru, no interior de São Paulo, a 155 quilômetros de São Carlos, ela precisou pleitear auxílio-moradia e alimentação para a universidade, inscrevendo-se no programa para alunos de baixa renda da UFSCar: vivia num alojamento com mais nove pessoas, dividia o quarto com três colegas e podia almoçar e jantar de graça no refeitório da instituição. Por seis meses, recebeu também a bolsa-atividade, que representava 180 reais em troca de prestação de serviços na própria universidade, como limpar e organizar os laboratórios. Ela utilizava essa renda para as demais refeições e para pagar as cópias das apostilas necessárias para as aulas.

Outro obstáculo foi a defasagem escolar. Filha de pais semianalfabetos que vieram da Bahia tentar a sorte em São Paulo, Luana só estudou em escola pública. “Realizei meu sonho de passar em uma federal utilizando o benefício da cota para negros e estudantes de escolas públicas, mas foi muito difícil me manter lá porque minha formação não estava nivelada com a exigência do curso.” Disciplinas que derivavam da matemática, como cálculo e geometria analítica, eram a principal dificuldade. “Quando pedia ajuda, os professores questionavam: “Como posso te ajudar? Como vou tirar nove anos de atraso de você?” Luana pegou DP nas duas matérias. Para correr atrás do prejuízo, começou a participar de mentorias e grupos de estudos. ”Eu me tornei ainda mais disciplinada e virei figura carimbada nas monitorias e salas de professores”, lembra.

Com dificuldade de se sustentar, tentou se inscrever para bolsas de iniciação científica. No entanto, a Fapesp não aceitava pesquisadores que tinham DP e o CNPQ só os aprovava se tivesse uma boa justificativa do professor orientador. “A universidade é cruel quando vê os alunos apenas como números e notas, mas não enxerga a história e a luta para ir bem. Um professor me deu a chance. Ele foi realmente meritocrático, considerando meu esforço e quanto eu queria aprender. E isso era muito raro”, diz a engenheira, que desenvolveu o projeto de pesquisa na área de materiais amorfos e teve a bolsa renovada por mais de um ano. O apoio do professor, somado à batalha pessoal renderam a oportunidade de estudar um ano na Austrália pelo programa Ciências Sem Fronteiras, quando ela cursou engenharia metalúrgica na Curtin University. “A oportunidade que o professor me deu, ao olhar para mim e para minha história, e não apenas para meu currículo escolar, me colocou em posição de igualdade para pleitear esta vaga”, conta Luana, que, logo depois, conquistou uma vaga de trainee na mesma Aegea de Josélio, na qual 75% das vagas do programa de trainee são ocupadas por negros.

CAMINHO MAIS JUSTO

Se a meritocracia gera assimetrias no mundo corporativo, excluindo de seleções e promoções os qt1e possuem menor escolaridade e menos recursos financeiros, no universo das startups é pior. Nas rodadas de investimentos e nos processos de aceleração, o lugar-comum são jovens abastados e ultra qualificados, com retaguarda dos pais para dedicar tempo e dinheiro a algo incerto, que pode dar errado. Esse não era o caso do empresário Fábio Leger, de 37 anos. Criado por uma diarista, ele começou a vender picolés aos 11 anos. Aos 16, virou menor aprendiz no Instituto de Tecnologia do Paraná, onde desenvolveu apreço por tecnologia. Há seis anos, após uma tentativa anterior frustrada, ele fundou a Certus Software, especializada na implantação de ferramentas de gestão para pequenas indústrias. Em 2017, decidido a escalar o negócio, ele se inscreveu para um pitch em busca de aceleração. “Na ocasião, eu nem sabia o que significava. Fiquei constrangido com os termos em inglês que as pessoas usavam. Por outro lado, demonstrei uma força que os jovens de classe média não tinham”, diz.

Fábio ficou em segundo lugar na competição, mas ganhou 10 horas de mentoria. Com os conselhos e feedbacks que recebeu, abocanhou três acelerações alguns meses depois. Em uma delas, passou o ano inteiro viajando de ônibus de Curitiba a Campinas (SP), onde tinha treinamento às segundas-feiras. As 20 horas de bate e volta valeram a pena. No final de 2018, ele recebeu 1 milhão de reais de aporte de três fundos. “Crescemos 230% no ano passado e esperamos crescer mais 400% em 2019. O verdadeiro mérito não é a formação que você tem, mas o conhecimento que adquire”, diz o empreendedor, que pretende abrir sete filiais neste ano. Na opinião de especialistas, ações afirmativas, tanto dentro como fora das empresas, são a solução para corrigir essas defasagens e dar a indivíduos inteligentes, com vontade de realizar, a chance de superar barreiras e prosperar. No setor público, as medidas mais conhecidas são as cotas em universidades, os financiamentos estudantis, como o Fies, e o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que oferece auxílio-moradia, alimentação e transporte, entre outros, aos alunos de baixa renda. Elas funcionam como aquele banco de 50 centímetros do início da reportagem, lembra? E visam equilibrar o acesso dos menos afortunados, dando a eles a oportunidade de disputar vagas entre si, e não mais com concorrentes da elite, que, por razões óbvias, acumularam maior capital intelectual. “São medidas para corrigir, pelo menos em parte, desigualdades sociais criadas por uma história violenta”, diz Sidney, de Harvard. Desde que a política foi instituída no sistema educacional brasileiro, em 2000, o número de negros e pardos que concluíram a graduação cresceu mais de 7%.

Já no mundo corporativo as cotas garantem mais presença de mulheres na liderança e de negros, PCDs e público LGBTI+ nos processos seletivos. Nesses casos, Liliane, da Gestão Kairós, faz um adendo: o termo “cota” carrega uma pecha, por isso, a expressão mais adequada a usar é “meta”. “Minha lógica é simples: “Sua empresa tem metas financeiras? Tem metas de gestão? Tem metas de RH? Por que só em diversidade não se tem meta?”, diz. De acordo com a consultora, objetivos claros – como 50% de mulheres na liderança ou 40% de negros nos programas de trainee – funcionam como um freio às anomalias sociais. Mas é preciso ter em mente que essas estratégias são temporárias e destinadas a consertar, pelo menos em parte, mecanismos que excluem os mais fracos dos ambientes onde circulam conhecimento e dinheiro. Não se trata, portanto, de puro assistencialismo.

Filho de uma cozinheira e caçula de cinco irmãos, Diego Pereira dos Santos, de 28 anos, só está conseguindo mudar o enredo de sua história por causa de políticas afirmativas. Estudante de economia na Universidade Paulista (Unip), cursa o ensino superior graças ao empréstimo estudantil público. “Tirei uma nota boa no Enem e consegui o financiamento”, diz. Há seis meses, ele também se beneficiou de ações desse tipo no mercado de trabalho, tornando-se estagiário de responsabilidade social na Gerdau, maior produtora de aço do Brasil. “Vi a divulgação do programa no LinkedIn, mas não achei que pudesse dar certo. No último processo, eu e outros quatro candidatos negros fomos dispensados na fase presencial porque não estávamos no ‘perfil da vaga’. E só havia branco nos avaliando”, afirma. No ano passado, a Gerdau realizou dois processos seletivos só para negros. Em outra iniciativa, contratou apenas mulheres para repor o turnover na área de logística de uma das unidades de negócio. Nessas situações, para lidar com críticas internas, como a de que um grupo está sendo favorecido em detrimento de outro, comunica os motivos de maneira direta. “Fazemos os times refletirem se estamos sendo justos ou criando barreiras na porta de entrada”, diz Carla Fabiana Santos, gerente de desenvolvimento organizacional e de pessoas. A RH acredita na meritocracia. E diz que, se a empresa faz um trabalho inclusivo, o sistema de recompensa se equilibra naturalmente. Além disso, quando há representatividade dentro do escritório, criam­ se produtos e serviços que refletem melhor as necessidades das pessoas. A convivência entre trabalhadores de realidades diversas desafia o statu quo e fortalece a inteligência coletiva da organização. Não à toa, um estudo da consultoria McKinsey mostrou que companhias com pouca diversidade étnica e de gênero tendem a ter ganhos 29% inferiores aos de concorrentes mais heterogêneas. Por isso é tão importante que as lideranças se sensibilizem para a causa. Quando a alta cúpula toma consciência de que nem todos tiveram as mesmas oportunidades de desenvolvimento, flexibiliza exigências que reforçam a exclusão social, como diploma de primeira linha e flt1ência em inglês, e abre espaço para que profissionais aparentemente menos qualificados, mas tão competentes quanto os colegas bem-nascidos, façam a diferença nos negócios e na sociedade.

TÃO DESIGUAL

O abismo social do brasil em números

19 ANOS – É quanto uma pessoa que recebe salário mínimo teria de trabalhar para ganhar o equivalente a um mês da renda de um brasileiro que pertence ao grupo do 0,1% mais rico do país.

6 BRASILEIROS – Todos homens brancos, concentram riqueza equivalente à metade mais pobre da população (cerca de 100 milhões de pessoas). E os 5% mais ricos do país recebem por mês o mesmo que os demais 95% juntos.

2089 – É quando, se mantida a tendência dos últimos 20 anos, os negros conseguirão, enfim, ganhar o mesmo que os brancos. As mulheres só devem alcançar equidade salarial em relação aos homens em 2047.

36 ANOS – Éo tempo que os seis maiores bilionários brasileiros, juntos, levariam para esgotar todo o seu patrimônio, mesmo gastando 1 milhão de reais ao dia.

SINAL DE FOGO

Seis indícios de que a meritocracia é um mito

1. Mesmo sendo mais qualificadas, elas ganham menos do que os homens. segundo a pesquisa profissionais Catho, 30% das mulheres têm nível superior ou pós-graduação, ante 24% dos homens – mesmo assim, eles ganham até 52% mais do que elas.

2. Jovens menos favorecidos não concorrem de igual para igual com os de elite a uma vaga em universidade porque a qualidade de colégios públicos e privados é díspar. Segundo o Inep, 91% das escolas públicas estão abaixo da nota mínima do Enem.

3. Sete em cada dez negros no país são pobres e apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por eles. A exclusão se reflete m outras esferas: de acordo com o Censo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), apenas 1,4% dos juízes são negros.

4. Quando conseguem ingressar em uma boa faculdade, negros e pobres têm dificuldades de bancar os custos dos estudos. Segundo um levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 42% dos estudantes de Universidades Federais advindos de escola pública apontam a dificuldade financeira como um entrave ao desempenho acadêmico.

5.  Enquanto boa parte dos adolescentes brancos de classe média tem tempo para estudar, a realidade de jovens de periferia é outra. Segundo um estudo da Oxfam, na idade em que deveriam estar na faculdade, entre 18 e 24 anos, 53,2% dos negros estão trabalhando e ainda cursando ensino fundamental ou médio.

6. De acordo com consultorias de recrutamento, quase 10% dos processos seletivos para estágio e trainee aplicam teste de inglês e, na maioria das companhias, universidades de primeira linha ainda são critério de corte – o que vem perpetuando a homogeneidade das contratações: em sua maioria, brancos bem-nascidos e qualificados.

PULANDO OBSTÁCULOS

Veja as dicas dos especialistas para driblar os entraves que a meritocracia impõe

CORRA POR FORA

Faça o que estiver ao seu alcance para se qualificar. Invista em cursos gratuitos, inclusive on-line; e frequente reforço em universidades e plantões de professores. Buscar instrução, mesmo remando contra a maré, conta pontos a favor.

SEJA FIRME

Não tema as acusações de assistencialismo. Não há vergonha em se beneficiar de cotas, bolsas e auxílios. Esses recursos existem para corrigir uma distorção social.

FREQUENTE O ECOSSISTEMA

Busque entidades de classe, fóruns e ONGs que discutam a situação das minorias as quais pertence. Esses grupos possuem redes de contatos e informações sobre oportunidades.

CRIE REDES DE CONTATO

Construa um networking com profissionais inspiradores que o representem, como mulheres, negros e líderes humildes que partiram do zero e construíram grandes negócios. Siga-os nas mídias sociais e esteja por dentro de eventos e dicas que dão.

BUSQUE AJUDA

Conecte-se a consultorias especializadas em diversidade. Elas sabem onde as vagas estão e podem ajudar no caminho das pedras.

ALIMENTO DIÁRIO

QUALIFICADOS

CAPÍTULO 31 – A LEI DO AMOR

“Amor é a soma de todas as virtudes, e o amor nos dispõe para o bem.” — Jonathan Edwards

PENSAMENTO-CHAVE: Líderes que operam nos mais altos níveis de qualificação são aqueles que mantêm o seu caminho no amor — amando a Deus e aos outros — diante de todas as suas decisões e ações.

Escrevendo estas páginas, venho continuamente ponderando: o que todos os jovens líderes espirituais precisam saber para serem mais efetivos, mais qualificados? Existem tantas coisas que poderiam ser enumeradas, até coisas práticas como maneiras, cortesia, verdadeiramente ser respeitoso e valorizar os outros, escrever cartas de agradecimento, e tantas outras coisas.

Pensei no comentário de Paulo para o jovem Timóteo: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Timóteo 3:14-15).

Saber como se conduzir na casa de Deus enquanto estamos fazendo as coisas Dele é grandioso! Mas se existe algo que deveria ser ressaltado no final é a lei final de Deus — a lei do amor. Paulo disse: “O amor nunca falha” (1 Coríntios 13:8), e aqueles que desejam resultados de um verdadeiro ministério duradouro deveriam ter certeza de que o amor — o amor de Deus — é a base e a essência de tudo que eles fazem.

Quando Jesus foi questionado a respeito do mandamento mais importante, Ele respondeu: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37-39, NVI).

Em vez de procurar manter dúzias de regras, Paulo instruiu os crentes do Novo Testamento a se concentrarem na lei de Deus, a lei do amor. Ele disse:

A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. — Romanos 13:8-10

Quero que foquemos a parte do versículo 10 que diz: “O amor não pratica o mal contra o próximo”. Se nós verdadeiramente andamos em amor, não traremos mal ou prejuízo aos outros; o amor sempre busca edificar a outra pessoa. Se uma pessoa estiver andando em amor, ela não se envolverá em fofocas destrutivas, ela não enfraquecerá outra pessoa ou mentirá sobre ela.

Tiago disse que a lei do amor iria ser a base pela qual seríamos julgados:

Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguídos pela Lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a Lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. — Tiago 2:8-12

Enquanto você busca conduzir-se apropriadamente em cumprir o plano de Deus, talvez a questão mais importante que você se perguntará seja esta: o que o amor faria? Você não se conduzirá fora de ética se o amor — o amor do tipo de Deus — governar as suas decisões e ações.

Aqui está uma lista inspirada em como o amor age:

O amor dura muito e é paciente e bondoso; o amor nunca é invejoso nem ferve de ciúmes, não é orgulhoso nem vanglorioso, não se apresenta altivamente.

Não é vaidoso (arrogante e inflado com orgulho); não é rude (sem modos) e não age indecorosamente. O amor (o amor de Deus em nós) não insiste nos seus próprios direitos ou na sua própria maneira, porque não é egoísta; não é irritável ou irascível ou ressentido; não leva em conta o mal feito contra ele [não presta atenção a um sofrimento].

Não se regozija com a injustiça e a perversidade, mas se regozija quando o certo e a verdade prevalecem.

O amor resiste a tudo e a qualquer coisa que venha, está sempre pronto para acreditar no melhor de cada pessoa, suas esperanças não se findam sob qualquer circunstância, e dura sobre todas as coisas [sem enfraquecer]. O amor nunca falha [nunca acaba ou se torna obsoleto ou chega a um fim]… — 1 Coríntios 13:4-8 (AMP)

Não é suficiente concordar somente mentalmente com esses versículos e dizer: “Sim, isso é o que o amor faz”. Deus quer que nós sejamos transformados e governados pelo Seu amor e que nós sejamos capazes de dizer: “Sim, é assim que eu sou. É assim que eu vivo a minha vida porque eu permito o amor de Deus, a Palavra de Deus e o Espírito de Deus governarem todas as minhas decisões e ações”.

Outra forma de avaliar como nós estamos é olhar para o que tem sido chamado como “A regra de ouro”. Amo a forma como a versão A Mensagem parafraseia esta frase de Jesus:

“Aqui está um guia simples e objetivo de conduta: pergunte a você mesmo o que quer que os outros façam a você, e, então, faça o mesmo a eles!” — Lucas 6:31 (A Mensagem)

Faça a si mesmo a seguinte pergunta: “É dessa forma que eu gostaria de ser tratado se a situação fosse reversa? Gostaria que alguém falasse de mim, ou me fizesse o que eu tenho falado e feito?”

Alguém poderia listar milhares de faça e não faça, mas nunca haveria regras suficientes e regulamentos para cobrir todas as situações. Mas se pudermos aprender como andar no Seu amor, ser governados pela Sua Palavra e Espírito, e verdadeiramente andar em sabedoria, nós tomaremos as decisões corretas e faremos aquilo que glorificará a Deus e ajudará as pessoas.

A congregação romana a que Paulo dirigiu as suas palavras era composta de pessoas de diferentes experiências, e tais diferentes experiências estavam causando que os crentes tivessem convicções divergentes a respeito dealgumas questões não essenciais. Quando Paulo chega ao capítulo 14 de Romanos, ele fala aos crentes de lá sobre não julgarem uns aos outros, para não empurrarem as suas próprias convicções uns nos outros e que não se tratassem de uma forma que faria que os irmãos mais fracos caíssem. Isso significaria algumas vezes sacrificar as preferências pessoais de alguém em favor do que era melhor para o outro.

Paulo faz uma afirmação dramática a respeito daqueles que buscam agradar em primeiro lugar ao Senhor: “Honre o seu irmão em segundo, e coloquem suas preferências pessoais em último”. Ele diz: “… e quem está nesse caminho devotadamente servindo a Cristo, Deus tem prazer nele e os homens o elogiam” (Romanos 14:18, versão de Weymouth).

Não consigo pensar em uma expressão maior de ser qualificado do que isso. Buscando a honra e a glória do Senhor primeiro, e buscando o benefício e a edificação dos outros em segundo. Oro para que todos nós possamos correr as nossas respectivas carreiras para que, quando tudo tiver sido dito e feito, Deus tenha tido prazer em nós e os homens nos elogiem.

ORAÇÃO DE SALVAÇÃO

Deus o ama, não importa quem você seja, não importa o seu passado. Deus o ama tanto que deu o Seu Filho unigênito por você. A Bíblia nos diz que “… todo aquele que Nele crê não perecerá, mas terá a vida eterna” (João 3:16). Jesus entregou a Sua vida e ressuscitou para que pudéssemos passar a eternidade com Ele no céu e experimentar o Seu melhor na Terra. Se você deseja fazer de Jesus o Senhor da sua vida, faça a seguinte oração em voz alta e de todo o seu coração.

Querido Pai Celestial,

Eu venho a Ti em Nome de Jesus.

Tua Palavra diz: “… aquele que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37), de modo que sei que Tu não me lançarás fora, mas me receberás e eu Te agradeço por isso. Tu disseste na Tua Palavra: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Romanos 10:13). Estou invocando o Teu Nome, por isso sei que Tu me salvaste agora.

Tu também disseste: “… se com a tua boca confessares o Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o levantou dentre os mortos, serás salvo. Pois com o coração se crê para a justiça; e com a boca se confessa para a salvação” (Romanos 10:9-10). Creio em meu coração que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Creio que Ele foi ressuscitado dentre os mortos para a minha justificação, e confesso-o agora como meu Senhor.

Porque a Tua Palavra diz: “… com o coração se crê para a justiça…” e eu creio em meu coração, agora tornei-me a justiça de Deus em Cristo (2 Coríntios 5:21) …E estou salvo!

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO A BARRIGA AFETA O CÉREBRO – II

ALIMENTAÇÃO PARA O EQUILÍBRIO MENTAL

Pesquisadores investigam a importância da dieta em quadros de fadiga crônica e depressão. Ainda não está claro se os seres invisíveis que habitam nosso organismo são tanto causa como consequência de problemas emocionais e mentais

O que comemos afeta a composição da população de microrganismos de nosso aparelho digestivo. O mais inusitado, porém, é que a flora intestinal tem influência sobre o desenvolvimento do cérebro e, portanto, sobre nosso comportamento. “Os seres que vivem em nosso intestino fazem a interface entre a alimentação e a genética”, afirma a neurocientista Jane Foster, da Universidade MacMaster de Hamilton, no Canadá. Ela e seus colegas descobriram que os ratos de laboratório privados de bactérias intestinais são mais curiosos e menos cuidadosos – expondo-se assim a mais situações de risco – que as espécies com colonização normal no intestino. Além disso, verificaram que o fator de crescimento BDNF (brain derived neurotropic factor) se acumula no hipocampo de ratos de laboratório e que, nesse meio-tempo, há variação da composição dos receptores na amígdala, área cerebral fortemente envolvida nas reações de medo.

O contrário também é verdadeiro: o estresse influencia a composição bacteriana do trato intestinal. Ao expor ratos de laboratório a uma situação estressante, a equipe dirigida pelo microbiólogo Michael Bailey, quando na Universidade do Estado de Ohio, constatou que se multiplicavam determinadas espécies de bactérias no intestino dos roedores. Os pesquisadores registraram também o aumento dos mensageiros do sistema imunológico, por exemplo, a interleucina 6A, que intervém nos processos inflamatórios – como se o organismo se preparasse para a situação de risco de possíveis ferimentos.

Que o estresse favorece a queda de resistência imunológica é um fato conhecido e há tempos se suspeita de uma relação entre os fatores inflamatórios e a depressão. Entretanto, outra descoberta de Michael Bailey lança uma nova luz sobre os mecanismos de ação. Quando os ratos estressados eram tratados com antibióticos, o nível dos mensageiros imunológicos não aumentava. Evidentemente, na primeira parte do experimento as bactérias eram responsáveis pelo excesso de mediadores da inflamação.

MICRÓBIO CONTRA ESTRESSE

Os microrganismos intestinais podem também ter efeitos exclusivamente positivos. É o caso das bifidobactérias – típicas de flora intestinal saudável, os recém-nascidos as ingerem já com o leite materno – que teriam potencialidades antidepressivas: pelo menos nos ratos, como demonstrou em 2010 a equipe dirigida pelo farmacologista irlandês John Cyran, da Universidade College de Cork.

Os cientistas separaram filhotes de rato das respectivas mães, provocando forte estresse nos animais; como consequência, o nível de interleucina 6 em seu sangue aumentou, enquanto caiu o nível do neurotransmissor noradrenalina no tronco cerebral, exatamente como ocorre em pessoas com depressão. Esses roedores tinham tendência à depressão, como revelou um teste comum: se eram colocados em uma banheira com água, permaneciam na superfície menos tempo que os animais de controle, não estressados.

Mas algo diferente ocorria com os filhotes de rato cujo alimento havia sido enriquecido com a bifidobactéria. Os roedores nadavam energicamente na banheira e, além disso, seu nível de IL-6 e de noradrenalina era normal. Um estudo posterior realizado pelos mesmos pesquisadores irlandeses demonstrou que o alimento probiótico favorecia o aumento do fator de crescimento neural BDNF no hipocampo, estrutura importante na aprendizagem, e em média menor nas pessoas com depressão.

John Cyran e seus colegas visaram também os Lactobacillus rhamnosus, bactéria que produz ácido lático. Nesse caso, os pesquisadores demonstraram pela primeira vez em 2011 que os microrganismos intestinais enviam sinais do abdômen ao cérebro através do nervo vago. Os ratos que recebiam alimento enriquecido com lactobacilos eram não apenas mais resistentes que os alimentados com comida sem o acréscimo de bactérias, como ficava evidente seu comportamento menos assustado. Foi constatado, porém, o aumento do nível de corticosterona, o hormônio do estresse.

Os pesquisadores descobriram no cérebro dos roedores quantidade maior de receptores de GABA, os pontos de ancoragem do neurotransmissor ácido gama-aminobutírico, em particular nas regiões onde os receptores de GABA são mais escassos nas pessoas com depressão. Também quando os estudiosos irlandeses cortaram o nervo vago dos ratos de laboratório, os efeitos positivos dos lactobacilos permaneciam. “Estes resultados ressaltam o papel das bactérias intestinais na comunicação entre intestino e cérebro, além disso, são um primeiro passo para desenvolver estratégias baseadas nos micróbios específicos para o tratamento dos distúrbios psicológicos”, confirma o pesquisador.

EM BUSCA DE EQUILÍBRIO

Porém, ratos obviamente não são pessoas. A possibilidade de transferir os resultados para o ser humano ainda deve ser comprovada, embora alguns resultados preliminares sejam encorajadores. Um grupo de pesquisa da Universidade de Swansea, no País de Gales, recrutou 132 voluntários saudáveis para um experimento interessante. Metade dos participantes consumiu, durante três semanas, um placebo, enquanto a outra parte ingeriu uma bebida à base de leite probiótico. Antes e depois desse período os psicólogos conduziram um teste para avaliar a saúde mental dos voluntários. O resultado revelou que o humor de quem havia bebido o leite probiótico tinha melhorado sensivelmente, em particular aqueles que antes apresentavam visão predominantemente pessimista. 

Efeito comparável foi observado por cientistas canadenses da Universidade de Toronto, em um estudo-piloto realizado com um pequeno grupo de pacientes que sofriam de síndrome de fadiga crônica. Os participantes, que por dois meses tinham ingerido uma bebida à base de leite enriquecido com lactobacilos, no final do estudo estavam menos deprimidos e temerosos que os integrantes do grupo que recebeu placebo. Porém, ainda faltam estudos que ampliem a compreensão de como microrganismos influenciam o cérebro humano.

Diante das últimas descobertas, já não é surpresa o fato de milhares de seres minúsculos que hospedamos dentro de nós terem lugar estável no delicado sistema capaz de contribuir para o equilíbrio mental. Embora a resolução de questões psíquicas não possa ficar restrita ao âmbito da alimentação, cientistas concordam que a estreita relação entre corpo e mente parece cada vez mais óbvia.

OUTROS OLHARES

ESCOLAS SEM PARTIDO II

Eliminação das ideologias no ensino ou hegemonia de uma? O que é e quem defende o Escola sem Partido

Um dos temas que tem causado maior quantidade de debates por todo o meio acadêmico, em todas as áreas, desde o ensino infantil até o das universidades é o projeto Escola Sem Partido. De um lado, pessoas acusando professores de diversas áreas da educação de praticarem a chamada doutrinação ideológica; de outro, estudantes e professores defendendo aquilo que chamam de liberdade de cátedra como um dos pilares da liberdade de expressão. Para se compreender o que está em discussão, devemos nos perguntar: o que é o Escola Sem Partido? Quem são os principais atores políticos que reivindicam a implementação do projeto? Que ideias defendem seus precursores?

De acordo com o próprio site:

é uma iniciativa conjunta de estudantes e pais preocupados com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, em todos os níveis: do ensino básico ao superior.

A pretexto de transmitir aos alunos uma “visão crítica” da realidade, um exército organizado de militantes travestidos de professores prevalece-se da liberdade de cátedra e da cortina de segredo das salas de aula para impingir-lhes a sua própria visão de mundo.

O Escola Sem Partido* é um movimento que teve a sua gênese no ano de 2003, quando o advogado Miguel Nagib resolveu fazer uma carta aberta a um professor de sua filha, com 300 cópias entregues aos pais no estacionamento do colégio. O professor, no caso, havia comparado o revolucionário Che Guevara a São Francisco de Assis, no contexto de que ambos largaram seus lares para seguir uma ideologia. O advogado, no entanto, entendia aquela analogia como uma santificação de Che Guevara. A direção do colégio o chamou para uma reunião e informou que não era nada daquilo que havia ocorrido. Os pais dos outros alunos ignoraram a indignação do advogado e pai, e os alunos fizeram passeata em apoio ao professor.

Diante de toda essa situação, Nagib resolveu criar uma associação que lutasse contra o que chama de abusos nos quais as crianças estavam sendo vítimas, inspirado num suposto site norte-americano, que Nagib diz estar fora do ar, mas que tinha a mesma finalidade. E foi assim que, no ano de 2004, surgiu o Escola Sem Partido.

Mas foi no ano de 2015 que o movimento passou a ganhar mais visibilidade, em consequência da avaliação do ENEM daquele mesmo ano. O tema de uma das questões era um trecho do livro escrito por Simone de Beauvoir, intitulado O segundo sexo, que dizia: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino” (Beauvoir, 1960).

Colocando o trecho em seu devido contexto, a autora busca fazer uma clara diferenciação entre natureza e cultura, sendo a primeira como algo que vem do nascimento, da biologia, traços imutáveis que nascem e morrem com o ser humano. Mas o que Beauvoir queria chamar a atenção é para a questão da mulher no que tange à cultura, pois esta sim tem uma flexibilidade muito maior que a natureza, e ela não se constitui no nascimento, mas sim nas relações sociais.

Beauvoir atenta para o fato de que a sociedade impõe para a mulher padrões comportamentais que a impedem de decidir sobre si mesma; padrões esses não decididos entre outras do mesmo sexo, mas sim por pessoas do sexo masculino, estabelecendo assim uma relação de dominação sobre si e estabelecendo os papéis da mulher na sociedade. O livro e a autora em questão foram umas das maiores influências no movimento feminista da época, o que gerou na sociedade uma mudança brusca nos valores e nos costumes.

Mas o trecho em si foi o suficiente para os opositores do movimento tirarem o texto completamente de contexto e divulgar apenas a parte selecionada pelo MEC, sem sequer publicar também as alternativas que respondiam o que a autora quis dizer com tais afirmações.

Por meio do Twitter, o deputado e pastor Marco Feliciano, escreveu: “Essa frase da filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”.

O atual presidente eleito, na época deputado federal, Jair Bolsonaro, também se posicionou a respeito da questão, dizendo que “Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto à nossa juventude”, chamando ironicamente o ENEM de Exame Nacional do Ensino Marxista.

E não apenas na época, mas uma das propostas mais citadas na campanha eleitoral de Bolsonaro foi justamente, nas palavras dele, a imposição do projeto no PNE (Plano Nacional de Educação).

IDEOLOGIA DE GÊNERO: ISSO DE FATO EXISTE?

O carro chefe da campanha do Escola Sem Partido, sem dúvidas, é o que políticos, associações, militantes e subcelebridades simpatizantes ao projeto chamam de “ideologia de gênero”. O termo vem sendo divulgado, reproduzido e repetido incansavelmente como um mantra para os simpatizantes ao projeto, e junto com ele, há uma forte conotação religiosa e tradicional.

De acordo com o site da Canção Nova, comunidade pertencente a ala conservadora da igreja católica, a renovação carismática; a ideologia de gênero é uma desconstrução da família e os vínculos existentes dentro dela. Os fiéis das muitas vertentes da igreja evangélica também aderiram ao termo e o reproduzem, entre os mais destacados estão os pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia.

O próprio termo convida a interpretar que há uma ideologia que quer se impor no imaginário de todas as pessoas, de modo a contaminar a sociedade. Essa ideologia, de acordo com eles, se funda na eliminação da classificação de gênero entre os seres humanos para que assim se alcance uma igualdade entre todos.

O principal alvo das críticas dos simpatizantes do Escola Sem Partido é a filósofa Judith Butler, que revirou o meio acadêmico ao tratar o gênero como uma construção social inacabada e falha. E ao contrário de todos e todas que a antecederam, ela ousou a trazer a biologia também para o campo social, se perguntando se o sexo possui história ou é uma dada estrutura, sendo que este também deve estar no campo social, e não apenas no biológico.

Para Butler, as categorias “homem” e “mulher” trazem consigo uma série de papéis a serem desempenhados por ambas as partes, desenvolvidos ao longo dos séculos, principalmente nas sociedades ocidentais, onde o sexo masculino obtém sua dominância. Também essa teoria foca na crítica ao feminismo, que vê a mulher como uma categoria singular a ser interpretada. Para a autora, os gêneros devem ser pensados de forma mais livre, sem tanto pragmatismo, pois está suscetível a erros que acabam prejudicando outra parte da sociedade que acaba sendo esquecida, no caso os LGBT.

Para a autora, um dos grandes problemas das nomeações pragmáticas de homem, mulher, heterossexual e homossexual traz consigo uma regulação de normas estabelecidas e a exclusão social.

Críticas e polêmicas à parte, a autora traz uma discussão que pouquíssimo saiu da academia e que uma mudança cultural desse porte na sociedade levaria décadas para ter resultados significativos, e na educação, principalmente, esse debate sempre esteve longe de ser feito nas escolas.

O que se procura trazer à discussão em sala de aula nos últimos tempos nas escolas, pouco está relacionado às ideias da autora, já que as categorias criticadas por Butler não estão sendo colocadas em xeque.

O que se busca nos novos tempos é algo muito mais simples: a ideia da aceitação à diversidade e da igualdade na sociedade, e para que isso possa obter resultados, deve ser colocado em sala de aula o aprendizado ao respeito e à igualdade.

Quando se apelida um colega de bicha, por quais razões o professor não teria de questionar o que o aluno quer dizer com esse apelido? Por que não ter o direito de trazer reflexão ao fato de a homossexualidade ser motivo de chacota? Pois quando se reflete, não há explicação lógica para tratar a homossexualidade de forma pejorativa, pois é uma característica humana como qualquer outra. No final das contas, a única explicação que se consegue obter a esse tipo de “xingamento” é o tratamento dessa característica como uma anomalia, uma doença mental, ou seja, algo já superado pela ciência há muitas décadas, e sendo assim, o preconceito perde a sua cortina de fumaça. E por que não o desvelar?

Como garantir a democracia de um país, quando se opõe a direitos humanos básicos de diversidade e igualdade racial, regional, de gênero e orientação sexual?

No ano de 2017, o Brasil alcançou a marca de 445 assassinatos a homossexuais, e entre 2008 e 2016, 868 travestis e transexuais perderam as suas vidas de forma violenta, como é o caso da travesti Dandara dos Santos.

Num vídeo que circulou pela internet, cinco homens aparecem espancando a travesti com chutes e chineladas, ordenam-na a subir num carrinho de mão, e ao cair no chão novamente, dão mais pancadas em sua cabeça. Gritos e ofensas marcam a gravação, e um dos rapazes a atinge com um pedaço de madeira. Após a gravação, segundo a polícia, o grupo a espancou até a morte.

No ano de 2015, a atriz transexual Viviany Beleboni, de 26 anos, durante a Parada LGBT, encenou sua crucificação para demonstrar o sofrimento vivido por LGBT em todo o país devido ao preconceito, fazendo uma menção à cruz de Jesus. Isso causou impacto na sociedade de forma a sofrer repúdio por parte da igreja católica. Mas a vida imitou a arte, e Dandara dos Santos teve o seu destino selado por homens que, iguais a inúmeros outros espalhados por todo o país, não aceitam sua identidade.

Também no ano de 2017, o Brasil teve documentado mais de 600 casos por dia de violência doméstica, totalizando em 221.238 registros, um aumento de 6,1% comparado ao ano anterior. Desse número, 1.133 foram vítimas de feminicídio.

Por quais razões não se deve abrir um debate sobre esses assuntos em sala de aula? Não há registro algum de professores incitando alunos a mudarem seus padrões de vida, sua orientação sexual. Mas o que pode ser discutido é justamente os porquês de ser um fardo assumir sua orientação. É pela censura de propor esse diálogo que o país possui um número tão alarmante.

O que está sendo posto à mesa não é o fim de uma suposta ideologia que quer se impor a qualquer custo como uma lavagem cerebral a crianças e adolescentes, mas sim a eliminação de ideias que hoje são defendidas pela esquerda, contudo, não são necessariamente exclusivas da mesma. Pois quando se fala de igualdade de gênero, raça e orientação sexual, não está em xeque os valores universais do liberalismo econômico de igualdade de oportunidades, direito à propriedade, à cidadania, ao respeito, ao trabalho, etc.

Os valores do liberalismo estão diretamente conectados as reivindicações por igualdade entre seres humanos de diferentes categorias. Por exemplo: quando se estabelece cotas raciais nas universidades, é justamente para trazer mais justiça às formas de se ascender socialmente, já que parte da sociedade, para ser mais específico os negros, é historicamente prejudicada e, por isso, sempre começa a partir de um ponto inferior à raça branca, sendo empurrado para as atividades mais braçais e servis. O que se busca é um ponto de partida mais justo entre as pessoas para que possam competir de igual, e isso não traz a eliminação do mundo competitivo, embora o torne ainda mais acirrado.

Na questão do gênero, sob outras formas, está também diretamente ligada a essa racionalidade. Historicamente, embora as lutas das mulheres, dos negros e dos gays tenham trazido resultados significativos à sociedade, não tiraram da sociedade o seu caráter discriminatório e desigual, mesmo quando as constituições e os códigos civis garantam cidadania a todos sem nenhuma restrição.

Isso está mais ligado a ações concretas do que um embate de ideias. Não está sendo proposto um debate se gênero existe ou não, seja nas escolas ou na câmara dos deputados e no senado. O que está sendo proposto é o cumprimento das legislações que garantem cidadania a todos os seres humanos sem qualquer restrição.

O ESPECTRO DE PAULO FREIRE E A SUPOSTA DOUTRINAÇÃO

Um outro alvo do movimento Escola Sem Partido é o educador e Filósofo Paulo Freire, cujas obras dão base às críticas ao modelo educacional no Brasil, sendo ele, para os seus opositores um dos maiores responsáveis pelo atraso da educação no país. Quem é Paulo Freire? O que tem a dizer? Que influência ele exerce na educação brasileira?

Os opositores de Paulo Freire o acusam de ser o responsável por uma educação ideológica no Brasil, sendo ele um socialista que pretende ensinar os alunos a serem subversivos e não seguirem os valores aprendidos dentro de casa. Nos trabalhos acadêmicos das ciências humanas, sua obra “Pedagogia do Oprimido” é a terceira mais citada em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento feito no Google Scholar – ferramenta de pesquisa dedicada à literatura acadêmica.

No ano de 2012, por unanimidade na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do senado, foi sancionada a lei que o tornava patrono da educação brasileira, sendo demonstrado o seu reconhecimento tanto por organizações de esquerda como as de direita.

Paulo Freire defendia a ideia de que a educação não era uma mera transmissão de conhecimento, o que ele chama de educação bancária, aquela em que o professor deposita sobre seus alunos um conhecimento padronizado e nada reflexivo. Assim diz o autor:

O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir- se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes.

O autor nos diz nessa passagem que, a partir do momento em que se deposita ideias uns nos outros, trata-se de tornarmos uns aos outros como seres manipuláveis. Portanto, para Freire, isto faz parte de um processo de doutrinação.

Os opositores de Paulo Freire e simpatizantes do projeto dizem que, a partir dessa lógica de ensino, o professor se aproveitaria da fragilidade intelectual de seus alunos e traria reflexões que fossem apenas nos interesses de suas convicções ideológicas.

Quando se lê Paulo Freire com a única intenção de confrontá-lo sem dá-lo ao menos uma chance de expor suas ideias, erros podem facilmente ser cometidos, como os opositores o fazem. Pois Paulo Freire era também um crítico da autoridade do professor como uma figura que preenche mentes que até o momento estão vazias. O professor mantém uma certa autoridade no sentido de conduzir, mas não pode ser uma figura autoritária. Em suma, Freire acreditava numa relação dialógica entre professor e aluno em que ambos aprendessem. Em 1962, quando era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife, Freire criou um método que visava alfabetizar adultos, e na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, e sem nenhuma cartilha, alfabetizou 300 cortadores de cana em 45 dias. Freire era crítico do sistema de educação feito à base de cartilhas, que ensinavam por meio da repetição palavras e frases de maneira forçada. Por isso criou o que se chama de Método Paulo Freire.

O método consiste em três etapas, sendo elas:

1) INVESTIGAÇÃO: professor e aluno buscam palavras e temas mais significativos de seu cotidiano e de onde vive;

2) TEMATIZAÇÃO: tomada de consciência do mundo por meio das palavras e temas procurados no item 1;

3) PROBLEMATIZAÇÃO: etapa em que o professor incentiva o aluno a olhar os temas de maneira mais crítica.

O método Paulo Freire trouxe avanços significativos na educação quando o então presidente João Goulart lançou a Campanha Nacional de Educação, criando a Comissão de Cultura Popular (a CCP), tendo o educador como presidente. Contudo, após o golpe militar de 1964, o autor foi preso e exilado, e a partir de então, passou o seu conhecimento em outras partes do mundo.

O que o criador do Escola Sem Partido diz de Freire, é que o autor promove, por meio de seus métodos uma doutrinação ideológica de cunho marxista nos alunos, e uma educação que tem por base os seus conhecimentos é uma educação ideológica. E quanto a Nagib: não propõe algo tão quanto ideológico? Afinal, como afirma o filósofo Slavoj Zizek em seu livro Um mapa da ideologia, quando se diz que determinado processo é ideológico, certamente o seu inverso também o será.

Zizek acertou na colocação, pois no ano de 2009, o procurador e criador do Escola Sem Partido escreveu, no site do Instituto Millenium, um artigo intitulado “Por uma educação que promova os valores do milênio”. E os valores que ele propõe são o da propriedade e da meritocracia. Isto é ou não ideológico?

Paulo Freire, ao contrário do que dizem seus críticos, foi opositor da doutrinação ideológica nas escolas, mas sob outra perspectiva. Ao criar uma educação acrítica, indiferente e padronizada, tira- se dos alunos a sua capacidade ser sujeito dono de sua própria história enquanto cidadão, como diz na seguinte passagem:

Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.

Para Freire, a neutralidade nada mais que a perpetuação de uma ideologia, pois para qualquer um que estude linguística, não há neutralidade na linguagem, no falar. O ato de falar em si já é o suficiente na transmissão de valores mundanos que passam do emissor ao receptor, e isso se reproduz em todas as relações sociais.

Ao buscar uma neutralidade na educação, se busca uma neutralidade diante de todos os problemas sociais, econômicos e ambientais no mundo em que vivemos, e dessa maneira, essa suposta neutralidade acaba por ser tão ou até mais ideológica. Pois o faro de silenciar diante de todos os problemas que a humanidade enfrenta é a legitimação e a perpetuação dos mesmos. Portanto, conclui-se que não há, de maneira nenhuma, uma educação que possa garantir isenção de conteúdo ideológico.

* Disponível em: http://escolasempartido.org/quem-somos

GESTÃO E CARREIRA

QUEM PRECISA DE DIPLOMA?

Empresas estão contratando sem exigir curso superior, mas a oportunidade só existe para os profissionais que levam na bagagem conhecimento técnico e uma boa dose de inteligência emocional

Quando jovens empreendedores criaram impérios de tecnologia, como Microsoft, Google e Facebook, largando a faculdade no meio do caminho, o mercado de trabalho teve um presságio de que, no futuro, o diploma universitário poderia não ser tão importante assim. Acontece que agora o futuro chegou – e não apenas no Vale do Silício. Várias empresas que atuam no mercado brasileiro já começaram a abrir mão da formação universitária na hora de escolher seus candidatos.

As de tecnologia são as líderes desse movimento. Isso acontece porque, na hora de recrutar, essas organizações enfrentam um problema: a diferença entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido no dia a dia de trabalho. Por ser um mercado de transformações rápidas, o diploma não é garantia total de conhecimento – se o profissional não aprender por conta própria, ficará defasado em pouco tempo. “As universidades não estão conseguindo acompanhar a velocidade de atualização de conhecimento necessária para essas empresas”, afirma Maria Luíza Nascimento, diretora de recursos humanos da consultoria Randstad.

Entre as profissões que começam a não exigir formação universitária estão programação, designer digital, gerente de produto, profissionais de vendas e de marketing. No Grupo Movile, que tem em seu portfólio marcas como PlayKids, iFood, Sympla e Maplink, 30% dos 2.300 funcionários não têm diploma. “Estamos à procura de talentos que saibam aprender rapidamente e por conta própria. É importante trabalhar com velocidade em um ambiente dinâmico”, diz Luciana Carvalho, diretora de gente do grupo Movile. O mesmo raciocínio é usado pela fintech Nubank, que não exige que gerentes de produtos, programadores e desenvolvedores tenham passado pelos bancos das faculdades. “Queremos um perfil que não seja óbvio, que faça algo diferente do que a maioria das pessoas faz, como trabalhar em alguma comunidade ou morar num país pouco usual”, afirma Thaís Bertoni, recrutadora do Nubank.

Várias carreiras, no entanto, devem ficar fora dessa tendência porque são regulamentadas por órgãos específicos – como advogados, contadores e profissionais da saúde. Nas corporações mais tradicionais, o processo de abrir mão do diploma ainda é tímido, mas existe uma mudança de comportamento dos recrutadores em relação às faculdades dos candidatos. “Mesmo quando o curso superior é exigido, ele já não é tão determinante quanto foi no passado”, explica Wilma Dal Col, diretora do Manpower­ Group. Em sua visão, as empresas mais conservadoras também terão de flexibilizar as exigências em relação à formação universitária para ampliar sua capacidade de atrair talentos no futuro.

CONHECIMENTO VALE OURO

Ao contrário do que pode parecer, a dispensa do diploma não facilita a conquista de uma oportunidade. O que o trabalhador sabe continua sendo muito importante – o que deixa de ser tão importante é a maneira como a competência foi adquirida. “As empresas que não exigem diploma não estão abrindo mão do estudo, muito pelo contrário. Elas contratam os profissionais que, mesmo sem a formação formal, têm conhecimento técnico aprimorado”, diz Roberto Picino, diretor executivo da Michael Page, consultoria especializada em recrutamento e seleção.

A trajetória do desenvolvedor Bruno Azisaka, de 31 anos, é um exemplo de que é preciso ter um alto padrão técnico para conseguir uma boa posição no mercado. Ele aprendeu a programar por conta própria, aos 15 anos de idade, usando como referência materiais da internet e livros importados. “Devo ter lido uns 40 livros técnicos sobre programação e teorias da computação entre os meus 15 e 18 anos”, diz o desenvolvedor, que gostava de passar as férias escolares estudando. Na adolescência, optou por um ensino técnico na área de processamento de dados. Como costumava desenvolver software livre, um de seus códigos foi descoberto por uma startup americana, que o contratou para trabalhar de forma remota em 2009. De lá para cá, ele passou por várias empresas do setor e chegou a cursar o primeiro ano da faculdade de ciências da computação. Bruno desistiu do curso quando foi contratado por uma empresa no Rio de Janeiro. “Decidi não voltar para a faculdade porque o mercado já estava me validando como um profissional sênior”, afirma. Atualmente, ele é diretor de tecnologia da Agendor, uma plataforma de gestão comercial com sede em São Paulo. Em sua entrevista de emprego para a vaga, em 2017, Bruno teve a chance de demonstrar seus conhecimentos na prática, quando o sistema caiu. “Eu me ofereci para ajudar, fiz um teste e deu certo”, diz. Entrou na empresa como líder técnico e em abril de 2019 foi promovido a diretor de tecnologia.

VONTADE DE APRENDER

Uma das características de quem não frequenta a universidade e se desenvolve por outros caminhos é a gana por conhecimento. Essa atitude é cada vez mais valorizada. Na Loca­ web, companhia de hospedagem de sites, esse comportamento é muito importante. Para Simony Fernanda, gerente de gente e gestão da Locaweb, a formação superior tradicional nem sempre garante as ferramentas necessárias para uma atuação plena no mercado de tecnologia, principalmente nas posições técnicas. “Hoje valorizamos muito os profissionais autodidatas, as formações informais, os cursos técnicos e a participação em eventos da área”, afirma.

A Locaweb tem 68 desenvolvedores e quatro líderes sem diploma universitário em seu quadro. Um deles é o coordenador de operações André Bili. Aos 46 anos, ele comanda uma equipe de 40 pessoas, das quais um terço também não possuí curso superior completo. “Nas empresas de tecnologia, a pessoa tem sucesso quando sabe resolver problemas, e a vida acadêmica não ajuda a resolver esses problemas”, afirma. André largou a faculdade de processamento de dados no último ano porque não se sentia desafiado pelo curso. Ele já atuava no mercado de trabalho quando a internet ainda era uma novidade. No ano 2000, decidiu abrir a própria empresa de tecnologia, que prestava suporte técnico. Em 2018, a companhia foi comprada pela Locaweb, e ele assumiu a posição de coordenador de operações.

O gosto pelos estudos é uma marca na trajetória de André, que teve seu primeiro computador aos 9 anos e dava aulas de computação quando frequentava o ensino médio. Influenciado pela mãe, pedagoga, ele sempre teve muito prazer em ler e estudar sozinho. Hoje avalia que a faculdade não fez falta – e que não faz falta para quem trabalha ao lado dele. “Não existe nenhum curso superior que ensine o que minha equipe precisa saber para atuar”, afirma. Para se norte­ ar nos processos seletivos, ele privilegia profissionais certificados em ferramentas de programação que são usadas no dia a dia de trabalho.

OLHARES DIVERSOS

Um efeito positivo da flexibilidade em relação ao diploma é a maior diversidade dentro da empresa, porque garante que pessoas com diferentes histórias de vida façam parte da equipe, o que beneficia a inovação. Esse é um dos motivos que levam a Stone, fintech que atua com meios de pagamento, a não exigir diploma para as áreas de vendas, tecnologia, logística, finanças, recursos humanos, marketing e operações. “Se eu seleciono apenas engenheiros da computação, vou ter um viés em tudo o que eu faço, falo e construo”, afirma o presidente da empresa, Augusto Lins.

A defasagem entre o que a faculdade ensina e o que o mercado procura é muito grande, e isso desestimula os jovens a continuar os estudos. “Vemos muitos profissionais entrar na faculdade e achar aquilo chatíssimo.” Quando necessário, a Stone oferece formações complementares para os profissionais, como treinamentos e palestras. A empresa também proporciona cursos de liderança, tema pouco explorado pelas universidades, segundo o presidente da startup.

NOVA GRADE

Para lidar com as demandas das empresas, algumas universidades começam a modificar seus programas para incluir, por exemplo, disciplinas de desenvolvimento comportamental. É o caso da BandTec Digital School, faculdade de tecnologia com sede em São Paulo, que soma 400 alunos. Há dois anos, a instituição tem uma disciplina de formação socioemocional, que vai do primeiro ao último dia de aula. Nessa matéria, ensina-se sobre autoconhecimento, disciplina, foco, resiliência e motivação. Além disso, a faculdade determinou que o estágio seja obrigatório a partir do segundo semestre, para que os estudantes sintam as dificuldades do dia a dia do trabalho e possam trazer suas dúvidas para a faculdade, onde contam com profissionais de recursos humanos para orientá-los em sessões individuais e em grupo. O objetivo é ensinar os jovens a gerir suas emoções, o que é determinante para o sucesso no mercado de trabalho. “A grande dificuldade das empresas é lidar com o comportamento desse profissional, pois ele tem pressa, desiste fácil, tem dificuldade de ouvir e se comunicar, além de baixa resistência à frustração”, afirma Alessandro Goulart, presidente da BandTec.

A iniciativa da instituição pode ser um indício de que as escolas estão ficando cientes da enorme distância entre a sala de aula e o dia a dia de trabalho. Segundo especialistas, existe uma chance de essa lacuna diminuir de tamanho conforme as faculdades forem se reinventando e trazendo mais flexibilidade para a grade curricular, permitindo um ensino mais ágil e com mais foco na inteligência emocional dos alunos. Caso isso não ocorra, é possível que a tendência da carreira sem diploma seja um caminho sem volta em um mercado em transformação.

O QUE IMPORTA

As competências que as empresas valorizam mais do que a passagem pela faculdade

***Domínio do conhecimento técnico em profundidade

***Capacidade de aprender sozinho e de forma rápida

***Iniciativa de buscar conhecimentos de diferentes fontes

***Realização e espírito empreendedor

***Inteligência emocional

***Saber se relacionar com pessoas diferentes

***Poder de adaptação a novas situações

***Trabalho colaborativo

***Experiências de vida enriquecedoras

ALIMENTO DIÁRIO

QUALIFICADOS

CAPÍTULO 30 – O ANTÍDOTO PERFEITO — SER CRISTOCÊNTRICO

“Faça de Cristo o diamante cravado em cada sermão.”  — Charles Spurgeon

PENSAMENTO-CHAVE: Manter Cristo central e supremo em nossas vidas e ministérios é um dos melhores protetores que os líderes espirituais podem ter.

Cristocêntrico. Gosto desse termo. Simplesmente significa que o Senhor Jesus Cristo está no centro. Se a Bíblia ensina algo, é que Jesus é supremo, preeminente e central em todas as coisas.

Colossenses 1 na versão A Mensagem se refere a Jesus, dizendo que “… tudo começou nele e nele encontra propósito” (vs. 16, 19) Quando você olha para esses versículos em um contexto, você pode observar quão fortemente Paulo enfatiza a centralidade do Senhor Jesus Cristo.

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia…  — Colossenses 1:15-18 (NVI)

Cada seção maior da Bíblia apresenta um aspecto diferente concernente ao caráter de Jesus, Sua pessoa e Sua obra.

•   O Antigo Testamento é uma preparação para Jesus.

•   Os Evangelhos são a manifestação de Jesus.

•   O livro de Atos é a propagação da mensagem de Jesus.

•   As epístolas são a explanação da obra de Jesus.

•   Apocalipse é a consumação do Reino de Jesus.

Parece haver uma tendência em alguns de fazer tudo ser o centro, menos o Senhor Jesus. As pessoas com frequência ficam animadas a respeito de um ensino, um movimento, uma doutrina, uma causa, e depois dão maior ênfase àquela questão do que dão ao próprio Jesus. O que quer que ensinemos, deve ser fundamentado e centrado na Pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, além disso, deve apontar para a Sua glória e honra.

“AS PESSOAS FICAM ENTEDIADAS COM JESUS”

Muitos dos meus amigos ministros lembram-se do pastor Sam Smith. Sam e sua esposa, Donna, estabeleceram o Centro de fé Cristã, em Seekonk, Massachusetts, e pastorearam lá por muitos anos, antes de Sam se aposentar e partir para o céu. Sam era o tipo de cara sincero e prático, que amava ver as pessoas sendo salvas. Ele sempre comentava que infelizmente os ministros pareciam buscar todo tipo de novo vento de doutrina e ficar obcecados com as novidades, pulando de um extremo para o outro. Ele comentou: “As pessoas ficam entediadas com Jesus”. Que comentário triste, mas verdadeiro.

Uma perspectiva cristocêntrica não quer dizer que não ensinemos outras verdades bíblicas; significa que mantemos Jesus no centro e sendo supremo em nosso ensino. Por exemplo:

•  É ótimo ensinar fé, mas precisamos lembrar que Jesus é o autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12:2).

•  É importante ensinar graça, mas devemos lembrar que a graça que proclamamos não é nada menos que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo (Atos 15:11 e treze referências similares).

•  É maravilhoso ensinar escatologia, mas é a vinda de Cristo que estamos contando.

•  Adorar é maravilhoso, mas não adoramos o ato de adorar, adoramos a Jesus.

•  Liderança é ótimo, mas somente se estivermos liderando pessoas para um relacionamento mais próximo de Jesus e a um serviço mais efetivo para Ele.

•  É tremendo ensinar santidade, mas devemos lembrar que Jesus é a base e o recurso para a nossa santidade.

•  Queremos proclamar e ver os dons do Espírito em operação, mas eles são para glorificar a Cristo.

A história da igreja, por exemplo, testemunhou alguns grupos focados no batismo nas águas (e algumas crenças específicas e práticas sobre batismo), até a quase exclusão de outras ênfases importantes do Novo Testamento. Em vez do batismo no seu próprio contexto, um “altar” foi construído ao redor do batismo nas águas, e mais ênfase pareceu ser colocada sobre isso do que sobre o próprio Senhor Jesus Cristo. Batismo é importante; eu não estou contestando isso. Contudo, o batismo, em si mesmo (sem fé e foco em Jesus) é um mero ritual. Seu significado não existe separado do Senhor Jesus e é parte da nossa identificação com a Sua morte, sofrimento e ressurreição. Ele é o que faz o batismo importante.

Da mesma forma, nós ouvimos ensinamentos a respeito de batalha espiritual e demonologia que magnificam os demônios e os poderes demoníacos mais do que o nosso Senhor Jesus Cristo. Qualquer ensino legítimo deveria nos tornar mais informados, conscientes e impressionados com Jesus, não com os inimigos que Ele destronou e derrotou.

APEGANDO-SE AO CABEÇA

Paulo deu uma indicação de como ele reconhecia falsos ensinos (Colossenses 2:19). Ele disse que tais indivíduos são “… desgarrados do Cabeça”, e é uma referência direta ao Senhor Jesus. Outra versão declara: “… e eles não estão conectados a Cristo, o cabeça da Igreja”. Antes de ensinar ou receber ensinamento, talvez devamos parar e fazer algumas perguntas:

•  Como isso está relacionado a Jesus, o Cabeça?

•  Como isso está conectado e como isso nos conecta a Ele?

•  Como isso glorifica, honra e exalta a Ele?

•  Esse ensino realmente reflete e representa as Suas palavras, a Sua obra e a Sua natureza?

Jesus certamente não era tímido ou acanhado acerca de declarar a Sua própria centralidade; contudo, não havia nenhuma arrogância ou orgulho Nele. Jesus simplesmente sabia quem Ele era, e o que Ele tinha vindo realizar. Considere o seguinte:

“Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito”. — João 5:39 (NVI)

“… eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. — João 14:6

“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.” — Lucas 24:27

“Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” — Apocalipse 22:13

Se alguém mais fizesse tais afirmações, nós estaríamos horrorizados diante da sua grandeza delirante e seu narcisismo exagerado, mas Jesus estava meramente falando a verdade.

Ser cristocêntrico em uma teologia não exclui ou diminui a importância do Pai ou do Espírito Santo. Não somente o Espírito Santo deu poder para Jesus para o ministério (Atos 10:38), mas Jesus disse: “… quando o ajudador vier… o Espírito da verdade… Ele testificará de mim” (João 15:26). João 16:14 diz que o Espírito Santo trará glória para Jesus revelando para nós o que quer que Ele (o Espírito Santo) receber de Jesus.

O Pai também chamou atenção para Jesus quando disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:5). Além disso, em Hebreus 1:6 e 9, nós lemos mais do testemunho de Deus Pai acerca de Jesus:

•  “E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem”.

•  “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.”

A descrição de Paulo da forma pela qual Deus Pai honrou Jesus é ilustre:

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. — Filipenses 2:9-11

Podemos descansar seguros de que não há tensão, atrito, inveja ou competição entre os membros da Trindade; Eles trabalham em absoluta e perfeita harmonia. Quando você exalta a Jesus, você também está honrando o Pai e o Espírito. A Bíblia revela quão infalível é o senso de trabalho em equipe Deles quando nós aprendemos que o dia está vindo: “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder” (1 Coríntios 15:24).

Faríamos bem em seriamente considerar se o que nós ensinamos está realmente atraindo pessoas a Jesus e exaltando-o como Ele merece, ou se somos culpados por disseminar distrações e diversões doutrinárias. Estamos trazendo clareza ou confusão no que diz respeito à Sua glória, centralidade e preeminência? Jesus não é algo que usamos para conseguir qualquer coisa. Em outras palavras, não meramente um “fim para os meios”. Jesus é o nosso “meio” e o nosso “fim”. Ele é “o caminho!”, Ele é o nosso “Destino!”

Que você seja ricamente abençoado enquanto se apega a Cristo, o Cabeça, e enquanto você mantém o Senhor Jesus como centro de tudo que você faz e diz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO A BARRIGA AFETA O CÉREBRO – I

Cientistas comprovam que bactérias da flora intestinal – presentes em alimentos como iogurte, queijo e bebidas lácteas – podem influenciar fortemente a memória, o humor e a saúde mental, participando até de mecanismos que deflagram o estresse

Há um fervilhar de vida dentro da sua barriga. Os milhares de hóspedes silenciosos instalados em seu intestino chegam a pesar juntos até dois quilos. Algo considerável, ainda que cada inquilino seja tão minúsculo que só possa ser visto ao microscópio. Essa comunidade que mora dentro de nós é extremamente diversificada: só no cólon existem mais de 400 espécies de microrganismos. E, segundo as estimativas, até hoje foi descoberta apenas uma pequena parte dessas criaturas.

Antigamente os médicos consideravam que essas formas de vida eram a causa de diversas doenças depois que, em 1876, o médico e microbiólogo alemão Robert Koch demonstrou que as bactérias provocam doenças infecciosas. Na ocasião falava-se em “toxiemia intestinal” e “intoxicação intestinal”. Para combater as supostas doenças, alguns profissionais aconselhavam aos pacientes a retirada do cólon.

Hoje sabemos que os microscópicos organismos residem no trato digestivo. Os lactobacilos e as bifidobactérias – presentes em alimentos comuns, como iogurte, queijo e bebidas à base de leite – constituem a flora intestinal, uma população absolutamente natural – e necessária. Instalam-se ali logo após o nascimento e impedem que eventuais agentes patogênicos, absorvidos pelos recém-nascidos através do próprio alimento, se propaguem no organismo. Estes micro-organismos contribuem para a digestão, estimulam a motilidade intestinal, nos protegem de substâncias prejudiciais e reforçam o sistema imunológico. Produzem, entre outras coisas, diversas vitaminas e fornecem energia às células da mucosa intestinal. Enfim, as bactérias das nossas vísceras são vitais para o nosso bem-estar.

As vantagens não se limitam ao organismo. Há fortes indícios de que o fervilhamento visceral influencie também o humor e até processos cognitivos. O pesquisador Emeran Mayer, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, estudioso das interações entre intestino e cérebro, escreveu um artigo panorâmico, no qual afirma que “micróbios intestinais influenciam na formação das lembranças e no estado emotivo”.

Sabemos hoje que os seres microscópicos se comunicam entre si e com o organismo por intermédio de diversos tipos de “mensageiros”. Milhares de células nervosas recebem sinais dos organismos unicelulares e os retransmitem ao cérebro através do nervo vago.  Desse modo, os microrganismos influenciam processos inflamatórios e algumas bactérias produzem o triptofano, aminoácido precursor da serotonina, o “hormônio da felicidade”, que pode ser acumulado no intestino. Assim, tudo leva a crer que esse microbioma afete o nosso bem-estar. “Se os micróbios intestinais de fato influenciam problemas psicológicos, é possível estabelecer as bases de uma terapia dirigida”, espera Mayer.  Ele reconhece, porém, que ainda há muito a compreender sobre essa correlação e, certamente, esse fator não pode ser considerado isoladamente.


CONHEÇA O SEU INTESTINO

FLORA INTESTINAL

Mais de 400 espécies de bactérias habitam nosso intestino, ao lado de outros micro-organismos. Além de contribuírem para a digestão, elas nos defendem dos agentes patogênicos. Alguns desses seres microscópicos produzem aminoácidos e vitaminas, fundamentais para a sobrevivência.

NERVO VAGO

Os micro-organismos se comunicam também fora do intestino, com outras partes do corpo. O nervo vago recebe os sinais e os retransmite ao cérebro, mas regula também a atividade do intestino, para o qual envia informações do cérebro.

FATOR DE CRESCIMENTO NEURAL BDNF

O fator de crescimento BDNF (brain derived neurotrophic factor) é um mensageiro produzido pelo organismo, uma espécie de “fertilizante do cérebro”. Essa molécula se liga a receptores específicos da membrana celular, conectando células nervosas entre si e contribuindo para a defesa e a formação das redes neurais.

TRIPTOFANO E SEROTONINA

Algumas bactérias intestinais produzem o aminoácido triptofano, o precursor da serotonina, mais conhecida como o “hormônio da felicidade”. No organismo humano, a serotonina está presente, sobretudo, no aparelho digestivo.

INTERLEUCINA 6 (IL-6)

Este mensageiro do sistema imunológico tem um papel importante nas reações inflamatórias. Os valores de IL-6 resultam mais elevados no sangue no caso de doenças autoimunes e no curso de infecções bacterianas e virais.

LACTOBACILOS E BIFIDOBACTÉRIAS

Fazem parte dos micróbios intestinais, e fermentam o açúcar produzindo o ácido lático. Ambos estão presentes no iogurte e são importantes pelo efeito probiótico, reforçando a flora intestinal. Lactobacilos e bifidobactérias acidificam o ambiente intestinal e previnem a instalação de outras bactérias, potencialmente prejudiciais.

RECEPTORES DE GABA

Estes pontos de ancoragem nas membranas das células nervosas ligam em particular o ácido gama-aminobutírico (GABA), um mensageiro cerebral. Quando são ativados, inibem a excitabilidade dos neurônios.

OUTROS OLHARES

ONDE A TERRA É CONVEXA

Comunidade no interior de Mato Grosso do Sul constrói pirâmide de 63 metros, contesta ciência e se prepara para o dia do Apocalipse

Os viajantes desavisados que chegam à vila de Zigurats, em Corguinho, no interior de Mato Grosso do Sul, não sabem que nem todos os seus habitantes podem ser vistos a olho nu. Entre as dezenas de casinhas redondas do povoado, erguido num matagal e contornado por uma vista privilegiada do Cerrado, há uma residência em especial que não foi destinada a um ser humano. O nome desse morador é Bilu, o extraterrestre que se popularizou depois de ser retratado por programas de TV a partir de 2009 e que ajudou a projetar o lugar.

A exposição midiática, em geral de forma jocosa, tirou do anonimato os moradores de Zigurats, um tipo de condomínio com 30 residentes fixos e outros 40 temporários que começou a ser construído na virada do século por uma associação chamada Dakila Pesquisas, cujos membros estudam, entre outros assuntos, alienígenas e civilizações antigas. Desde os primeiros programas de TV, cresceu o número de curiosos que visitam o lugar, a cerca de 100 quilômetros de Campo Grande.

O mais novo grande projeto da Dakila foi o lançamento no ano passado de um documentário (link do documentário no final do post) que coloca em xeque o fato de a Terra ser esférica. Para os moradores de Zigurats, nosso planeta é plano em sua superfície e convexo na “base”. O mundo como o conhecemos, dizem eles, estaria limitado a uma imensa borda de gelo, a Antártida, além da qual existiria uma região ainda inexplorada pela humanidade. Os membros da Dakila a chamam de “Norte Maior”, o continente onde nenhum desbravador jamais colocou os pés.

Urandir Fernandes de Oliveira, considerado o “pai do ET Bilu”, fundador da Dakila, pode ter uma teoria diferente das ideias convencionais do terraplanismo, que não defendem a existência de novos continentes inexplorados. Em comum, Oliveira concorda que a Terra não tem o formato comprovado pela ciência. E ele não está só. Sete por cento da população brasileira acredita que a Terra seja plana, segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada em julho. Assim como outros terraplanistas, os membros da Dakila apresentam como principal evidência para comprovar a teoria a ideia de planicidade das superfícies aquáticas. Segundo eles, se a Terra fosse de fato curva, um objeto que se afastasse demais ao longo de um plano aquático, como no mar ou num lago extenso, sumiria no horizonte. “Nós fomos no Lago Titicaca (no Peru), numa época em que a água está muito gelada, para ela não evaporar, e a gente via a rua lá do outro lado, a 180 quilômetros de distância. Cadê a meleca da curvatura? Não tem. A água é plana, você pode ter certeza”, disse o engenheiro civil Paulo Parra, de 72 anos, membro da Dakila. “Agora imagina chegar para mim, que sou engenheiro civil, baseado na ciência, e falar que a Terra não é redonda? Ô, gente, eu sofri demais.” Alessandro Drago de Oliveira, também autointitulado “pesquisador”, disse que a descoberta da Dakila “acaba com tudo que se sabia sobre astronomia no mundo” e prova que “todos os astrônomos estavam muito, muito errados”.

A pista para a descoberta da Terra convexa, afirmou a professora aposentada Vera Pedrosa, de 70 anos, que largou a vida no Rio de Janeiro para viver na comunidade em Mato Grosso do Sul, pode ter vindo como uma revelação do próprio ET Bilu, durante um contato com uma equipe de TV que foi a Corguinho para tentar captar imagens do ser de outro mundo. “Um repórter veio aqui e ouviu do Bilu que a Terra não era redonda, que a gente tinha de pesquisar mais. O Bilu queria se mostrar para ele, mas o repórter recuou, ficou com medo e não publicou a matéria. Ele tinha a oportunidade de ganhar o prêmio mundial de jornalismo. Era uma notícia que mudaria o mundo”, declarou a ex-professora. “O Bilu disse para buscarem conhecimento, e hoje a internet toda fala sobre isso.”

A frase que se tornou quase um mote do extraterrestre foi levada a sério pelos membros da Dakila. Eles se definem como “buscadores de conhecimento”, e a mensagem foi até estampada nos caminhões que trabalham nas obras do local. “Nós somos o legado de Bilu”, afirmou Paulo Vieira, de 23 anos, que largou a faculdade de engenharia e foi morar em Zigurats há dois anos. “Eles são erroneamente chamados de ETs, porque são muito mais parecidos com a gente do que os filmes mostram. O termo correto é ser extradimensional. São seres de outra dimensão que simplesmente vibram numa faixa de frequência diferente”, completou.

Acreditar que a Terra não é esférica é tão estranho quanto acreditar em extraterrestres. O conhecimento do formato de nosso planeta é anterior ao nascimento de Jesus Cristo. Defender o contrário requer sair do campo da ciência e de princípios fundamentais da geografia comprovados por mais de dois milênios e entrar num pensamento mágico. Para Vera Jatenco, professora do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), a teoria terraplanista e da Terra convexa não tem pé nem cabeça. “Que a superfície da água não é plana pode muito facilmente ser comprovado, observando um navio que se afasta perpendicularmente ao continente. Primeiramente o casco começa a desaparecer e, aos poucos, o navio todo desaparece, sendo o mastro a última parte a desaparecer. Embora os terraplanistas digam que isso não acontece, esse fenômeno já foi, e tem sido observado, milhares de vezes”, disse.

ser uma pirâmide de 63 metros. A localização escolhida não foi por acaso. Segundo Oliveira, o fundador, o terreno se encontra no paralelo que está 19 graus a sul do plano equatorial da Terra, “um dos vórtices mais poderosos de energia hoje em dia”. Ele afirmou que nessa faixa são abundantes as aparições de fenômenos não naturais. E também disse acreditar que a imagem de extraterrestres como criaturas macabras foi inventada pelas “lideranças mundiais” para assustar a população.

Pensada para perdurar por mais de 1.000 anos, segundo os membros da comunidade, a vila terá até mesmo um “sistema antiapocalipse”. Quando estiverem prontas, planeja-se que as casas, quase todas em formato de iglus, vão ser interligadas por galerias e corredores subterrâneos, por onde será possível se deslocar sem precisar subir à superfície e estocar comida para longos períodos de crise. A ocupação do lugar tem outras propriedades, disseram alguns moradores. “Até a arquitetura das casas promove um acréscimo de energia”, disse a ex-atriz gaúcha Lígia Rigo, que mora na comunidade com o marido Telmo Flores, de 68 anos.

Os moradores de Zigurats levam a sério a sustentabilidade. Além de evitar ao máximo o consumo de produtos industrializados, dizem se esforçar para plantar a própria comida ou comprá-la das três comunidades quilombolas existentes na região, que produzem alimentos diversos sem agrotóxicos ou demais produtos químicos. Tetos solares ajudam na economia de energia, o lixo orgânico é separado para compostagem e o demais é selecionado para reciclagem.

Nascida no Paraguai, Amanda Riveros, de 60 anos, largou tudo para se mudar para a vila. Ela afirmou que vivia viajando pelos Estados Unidos, fazendo compras para sua loja de perfumes, até que parou para pensar em si mesma. “Minha vida deu uma reviravolta. Perdi família, amigos, trabalho, quando conheci isto aqui. Me chamaram de louca, mas hoje não troco (Zigurats) por nada. Se eu pudesse recomeçar minha vida conhecendo isto aqui, seria outra pessoa. Quando você vem para cá, você se conhece. Conquistei uma família aqui. A gente acaba pensando igual, querendo as coisas da mesma forma”, disse a ex- comerciante, antes de começar a chorar, emocionada.

A vida saudável é outra regra seguida à risca. Paulo Vieira, que trabalha no CTZ e monitora os visitantes, declarou que uma das metas da Dakila é alcançar a máxima longevidade da vida humana — talvez até a vida eterna, dizem eles. “A gente se aprofunda, além daquilo que a gente chama de lacunas da ciência, na questão da alimentação, de atividades físicas e do prolongamento da vida. Chegar a 80, 90, 100 anos com saúde”, afirmou Vieira, citando a argila “mágica” da região como uma das promessas para alcançar esse objetivo. O engenheiro Parra vai além. Ele indagou se haveria surpresa caso ele, daqui a três anos, se encontrasse rejuvenescido, décadas mais jovem. “No futuro, me vejo cabeludo de novo”, comentou ele, tateando a careca.

A argila de Zigurats é o produto xodó da Dakila, que até abriu uma nova empresa, a Kion Cosmetics, só para vender os cremes de beleza, cuja propaganda está sendo estampada em revistas da região. “Essa argila não tem em outro local. Ela tem uma substância que não é conhecida pela ciência ainda”, afirmou Oliveira, orgulhoso. “Para cosmético, rejuvenescimento da pele, ela é especial, porque tem propriedades eletromagnéticas. Mandamos o material para fora do país. Lá no Canadá eles não conseguiram registrar todos os minerais que ela contém. São mais de 123 elementos, que fogem da tabela periódica que conhecemos”, sustentou Oliveira.

Além da Kion, a comunidade tem outras 12 empresas, entre as quais uma fábrica de cerâmica — para economizar na construção de Zigurats —, uma atacadista de produtos alimentícios, uma varejista de bebidas e uma companhia de construção civil. O capital social de todas as empresas soma cerca de R$ 700 mil, mas Oliveira não dá detalhes de como chegou a essa cifra. Ele jura que todo o financiamento da Dakila vem das mensalidades de R$ 150 pagas pelos 4.500 associados.

Além do grande apreço pela vida saudável, da desconfiança no governo e nas grandes companhias e da descrença num planeta Terra esférico, os moradores de Zigurats compartilham experiências próprias com Bilu e outros seres de outra dimensão. Oliveira disse que a criatura tem 1,40 metro. Já Vieira deparou com uma versão um pouco mais alta, de aproximadamente 1,70 metro. O aspecto comum, eles concordam, fica por conta da voz, um tanto infantilizada, cuja gravação pode ser encontrada no YouTube.

Questões envolvendo Bilu continuam perseguindo a comunidade até mesmo nessa nova fase, mais voltada para o formato da Terra. Existe uma disputa entre os terraplanistas e o grupo liderado por Oliveira, contou uma moradora de Zigurats. “Alguns até entraram para nossas pesquisas e continuam defendendo a Terra plana”, disse ela. A explicação para a teimosia em não aceitar a teoria de Oliveira seriam feridas religiosas da época em que o ET Bilu ganhou notoriedade na imprensa. “Como eles (terraplanistas) são muito ligados à religião, e a maioria é evangélica, eles acham que ET é demônio. Então eles não aceitam de jeito nenhum. Tem gente que acha que é farsa, você acredita?”

A casa em construção em formato de pirâmide será destinada a Urandir Fernandes de Oliveira, o fundador de Zigurats.

https://www.youtube.com/watch?v=Nk0C_1xey54

ALIMENTO DIÁRIO

QUALIFICADOS

CAPÍTULO 29 – DISCORDÂNCIA REDENTORA

VOCÊ ESTÁ CRIANDO PÉROLAS OU APENAS FICANDO IRRITADO?

“Aquele que aprendeu a discordar sem ser desagradável descobriu o mais valoroso segredo de um diplomata.”  — Robert Estabrook

PENSAMENTO-CHAVE: Líderes espirituais podem ser bondosos mesmo quando eles discordam. Nós podemos até mesmo aprender coisas por meio da discordância.

Existe uma grande lição em entender a formação de pérolas. Pérolas naturais são formadas quando um grão de areia ou outro objeto desliza entre as duas conchas da ostra. Devido à irritação natural provocada pela areia, a ostra encapsula o grão em camadas da secreção de madrepérola, e a pérola cresce em tamanho proporcional ao crescimento do número das camadas, formando uma joia.

Então, da próxima vez que você se encontrar discordando de alguém (ou alguém discordando de você), pergunte a si mesmo: Estou apenas ficando irritado ou estou produzindo pérolas? A sabedoria nos ensina a nos beneficiarmos das discordâncias e transformar cada incidente em uma experiência redentora de crescimento, não importando o quão irritante possa parecer a princípio.

Heráclito, o antigo filósofo grego, disse: “O improvável é unido, e das diferenças resulta a mais bela harmonia, e todas as coisas tomam lugar pelos conflitos”. Minha reação natural à palavra “conflito” é recuar diante dela como algo ruim e indesejável. Certamente existe uma forma tóxica de conflito que destrói e fere; contudo, existe outro entendimento desse princípio que é bem menos ameaçador.

Quando pessoas com bom coração discordam, mas são respeitáveis e ensináveis, isso pode ser benéfico para ambos. Esse é o tipo de vantagem que é derivada do princípio falado em Provérbios 27:17: “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo”. Tenho visto homens maravilhosos em conflito a respeito de algo que discordam, mas porque eles mantiveram um coração aberto e não eliminaram um ao outro, eles se tornaram melhores amigos (ou uma grande amizade), e ambos aprenderam e foram acrescentados como um resultado do que eles aprenderam trabalhando por meio do conflito.

George Whitfield teve um conflito afiado com John Wesley a respeito da questão calvinista-arminiana, embora quando Whitfield foi perguntado (antagonicamente) se ele pensava que veria John Wesley no céu, Whitfield respondeu: “Eu temo que não, porque ele estará tão próximo ao trono eterno e nós a tamanha distância, que dificilmente teremos uma visão dele”.

CULTIVANDO A ARTE DO CONFLITO REDENTOR

Estou maravilhado com a graciosidade, o caráter e a maturidade que foram demonstrados por Pedro depois de ter recebido a repreensão pública de um enfurecido apóstolo, Paulo. Paulo não apenas corrigiu a Pedro em frente à congregação em Antioquia, mas ele também relatou o evento em sua epístola aos Gálatas, o que resultou nesse conflito sendo revivido repetidamente por crentes em gerações incontáveis (Gálatas 2:11-14).

Enquanto Paulo foi correto doutrinariamente, é admirável como Pedro respondeu tão humildemente. Inicialmente, ele provavelmente sentiu-se ferido e se irritou com a repreensão, mas isso é algo que nós podemos apenas especular a respeito. Contudo, nós sabemos que ele posteriormente deixou essa experiência torná-lo melhor, não o amargurou. Homens menores, que foram embaraçados, teriam provavelmente permanecido rancorosos e seriam levados a depreciar Paulo. Não obstante, Pedro permitiu que o conflito o amadurecesse e recusou deixar que ele o envenenasse.

Em vez de agir com insegurança, Pedro posteriormente honrou e defendeu a Paulo: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:15-16).

Quando eu era jovem, era extremamente importante para mim “estar certo”. Quando eu me graduei na escola bíblica, eu era quase onisciente (ou pelo menos pensava ser), e estava alerta para derrotar qualquer crença ou ideia que não concordasse com a minha. À medida que eu cresci um pouco, é impressionante quão menos eu sei agora do que eu sabia trinta anos atrás! Continuo segurando firmemente certas crenças centrais, e acredito que isso seja importante. Contudo, aprendi a ser mais respeitoso com as crenças de outras pessoas, ideias e pontos de vista que podem não concordar com o meu. Em vez de vê-los como ameaças a derrotas, eu agora os enxergo como oportunidades de aprendizado. Tenho achado muito libertador abraçar a atitude (em muitos assuntos não essenciais relacionados a estilos, métodos, etc.): “Você não tem que estar errado para que eu esteja certo”.

Muitos indivíduos sábios têm aprendido a beneficiar-se, crescer e aprender por meio do conflito, eles têm cultivado a arte do conflito redentor. Considere o seguinte:

Nós encontramos conforto entre aqueles que concordam conosco, mas crescemos entre aqueles que discordam.  — Sydney Harris

Quando estamos debatendo uma questão, lealdade significa me dar sua opinião mais honesta, quer você pense que eu vou gostar quer não. Discordância nesse estágio me estimula. Mas uma vez que uma decisão foi tomada, o debate se encerra. Desse ponto em diante, lealdade significa executar as decisões como se elas fossem nossas.  — Colin Powell

Tenha um amigo para lhe dizer as suas falhas, ou melhor ainda, acolha um inimigo que irá assisti-lo atentamente para feri-lo selvagemente. Que bênção tal crítica irritante será para um homem sábio, e que incômodo intolerável para um tolo!  — Charles H. Spurgeon

Em seu livro O Despertar da Graça, Charles Swindoll compartilhou as seguintes orientações para moldar a graça em tempos de discordâncias:

•  Sempre abra espaço para um ponto de vista oposto.

•  Se um argumento precisa ocorrer, não o assassine.

•  Se não for da sua forma, supere isso, siga sua vida.

•  Às vezes, a melhor solução é a separação.

A respeito do quarto ponto, Swindoll citou Paulo e Barnabé, e disse: “Se eu não posso ir em frente com a forma que as coisas estão em um ministério em particular, eu preciso me resignar! Mas fazendo isso eu deveria não arrastar as pessoas para os meus conflitos não resolvidos porque as coisas não aconteceram do meu jeito. Se a separação é a melhor solução, fazer isso com graça é essencial”.

GESTÃO E CARREIRA

GADGET, GADGET MEU

Tecnologia e inovação estão movimentando o mercado de beleza no Brasil e no mundo. Saiba quais oportunidades podem surgir com essas transformações

Se os contos de fadas fossem atualizados para os tempos modernos, a madrasta da Branca de Neve provavelmente perguntaria para uma tela espelhada, gigante, não se existe alguém mais bela do que ela, mas qual rotina de beleza ela própria deveria adotar. É isso, por exemplo, o que faz o HiMirror, um espelho inteligente capaz de analisar a pele do usuário com câmeras, avaliando a saúde dos poros e revelando, por exemplo, a presença de manchas de sol – que já estão evidentes ou que ainda vão surgir. Depois de realizada a análise, o espelho sugere quais produtos deveriam ser aplicados, além de dar dicas de maquiagem simulando vários tipos de iluminação, corno a de um escritório, de um restaurante ou do pôr do sol.

O HiMirror ainda não chegou ao Brasil, mas faz parte de uma tendência mundial: aliar tecnologia a tratamentos de beleza. Segundo a consultoria de investimento em startups CB Insights, os últimos anos têm registrado recorde de ofertas de financiamento no setor de Beauty Tech, do qual fazem parte iniciativas como o HiMirror. Em 2017, foram cerca de 150 investimentos movimentando quase 600 milhões de dólares. Mas o mercado é muito maior do que isso. De acordo com a empresa de pesquisa Orbis Research, o setor global de cosméticos terá taxa de crescimento anual superior a 7% entre 2018 e 2023, alcançando 805 bilhões de dólares. E boa parte desse crescimento se deve às transformações tecnológicas. Entre as novidades apresentadas pela indústria no último ano estão aplicativos com reconhecimento facial e realidade aumentada, produtos personalizados ou à base de ingredientes inusitados, como frutas e legumes, e gadgets específicos para deixar a pele do rosto mais lisinha e limpa.

NOVA CULTURA

Vários aspectos da era digital transformam esse setor. Entre eles estão o compartilhamento de informações sobre o assunto por meio de redes sociais, o impacto dos influenciadores sobre as marcas e a cultura da selfie, que aumenta a preocupação com a própria imagem. “A dinâmica da indústria, que era dominada por grandes players, mudou. Há a ascensão de marcas de nicho e voltadas para as novas necessidades e exigências do consumidor”, diz Julia Faria, gerente de vendas da consultoria de tendências WGSN.

Entre as novatas que movimentam o setor está a Foreo, empresa sueca fundada em 2013 que desembarcou no Brasil em julho do ano passado e produz as escovas de limpeza facial eletrônicas que qualquer seguidor de blogueiras de beleza já viu em algum vídeo. O carro-chefe da companhia é a escova Luna, feita de silicone, que massageia, limpa e promete combater o envelhecimento da pele. O produto foi criado por Filip Sedie, fundador da empresa. Engenheiro, ele teve a ideia em 2012, depois que sua mulher reclamou de ter tido uma piora nas condições da pele após usar uma escova facial com cerdas de náilon. No mundo, a Foreo já ultrapassou 10 milhões de produtos vendidos e 1 bilhão de dólares em receita, tem mais de 200 patentes globais e um laboratório na China. Por aqui, a companhia deverá investir 20 milhões de reais até o fim de 2019, principalmente em marketing e operações. Desde sua inauguração no país em 2018, o crescimento nacional da empresa foi de 300%. A filial brasileira alavancou a carreira dos três profissionais que haviam sido contratados inicialmente para a abertura do escritório em São Paulo. “Hoje somos 14 e vamos chegar a 20 até o fim do ano, com mais contratações nas áreas de marketing, vendas, logística e financeira”, diz Bianca Magnani Tavares, gerente­ geral da Foreo no Brasil que teve, ela própria, uma promoção. Depois de uma breve passagem pela Cabify e de uma carreira anterior de cinco anos no Grupo Boticário, Bianca foi contratada para a área de desenvolvimento de negócio em julho de 2018. Apenas oito meses depois, quando sua chefe deixou a companhia, acabou assumindo a direção-geral. Agora sua missão é educar o consumidor. “Apesar de haver muita informação, precisamos explicar como usá-la. Não é simples romper paradigmas e vender um produto completamente novo. Por um lado, não existe concorrência; por outro, temos de mostrar o que fazemos”, diz Bianca.

RECAUCHUTANDO A IMAGEM

A Sephora, gigante do setor de beleza, presente em 34 países com 2.530 lojas – 23 delas (além de 15 pop­ up stores) no Brasil -, também percebeu as transformações e se movimentou. “A tecnologia e a globalização mudaram tudo no mercado de beleza. Com novos lançamentos de produtos e marcas, um número maior de formadoras de opinião [como as blogueiras] e mais acesso à informação, o consumidor mudou: exige mais personalização, mais tecnologia e mais cuidado com o meio ambiente, com procura por produtos naturais e veganos”, diz Andrea Orcioli, CEO da Sephora Brasil e líder de 700 profissionais no país.

Para não ficar para trás, a Sephora começou a se envolver no ecossistema de startups de beleza. Por isso criou, em 2016, um programa global batizado de Sephora Accelerate, que ajuda mulheres empreendedoras a desenvolver seus negócios. Todos os anos, a companhia seleciona algumas participantes que, durante seis meses, ganham treinamentos e mentoria de especialistas do mercado. No final do projeto, cada empreendedora recebe 5.000 dólares e tem a oportunidade de fazer um pitch para investidores – e conseguir mais dinheiro para aplicar no negócio. Pollini Jorão, de 36 anos, primeira brasileira a participar de uma edição, em 2017, fez carreira na área de marketing da Nivea e havia criado, junto com um sócio, um software para ajudar as pessoas a encontrar o produto ideal para seu tipo de pele ou cabelo. Sua empresa, a Brand Lovers, começou com um investimento pessoal de 300.000 reais. Depois que Pollini passou pelo programa da Sephora, sua tecnologia foi vendida para a Natura por 2 milhões de reais. “Comecei a empreender na área de beleza porque identifiquei uma oportunidade, mas, no fim das contas, continuo trabalhando com a mesma coisa: tecnologia”, diz Pollini, que fundou outra startup, desta vez voltada para práticas de gestão de pessoas. No programa, ela foi mentorada justamente por Andrea Orcioli, CEO da Sephora.

CUIDADO COM O AMBIENTE

Da edição mais recente do Sephora Accelerate estão participando a advogada Patrícia Camargo, de 35 anos, fundadora da Care Natural Beauty, e sua sócia, a administradora de empresas Luciana Navarro, de 37. Depois de um momento de questionamento sobre a vida pessoal e profissional delas, as paulistanas identificaram uma paixão em comum pelo universo da beleza natural. “Luciana estava passando por um tratamento de quimioterapia e não podia usar m1ritos dos produtos disponíveis, porque tinha alergia. Eu, que trabalhei muito tempo em farmacêutica e sempre me interessei pela composição dos produtos, notava que a indústria não tinha esse cuidado com ingredientes. Vimos a oportunidade”, diz Patrícia. Com os pilares de sustentabilidade, performance e responsabilidade social, a Care usa o argumento de produção consciente. “Queremos desmistificar que produtos com ativos naturais e orgânicos são, necessariamente, artesanais – não são. Há muita pesquisa, estudo e tecnologia”, diz.

O portfólio da marca conta com 22 produtos, que vão desde blushes e iluminadores com esqualeno de oliva (composto orgânico que ajuda na hidratação) até um trio de batons infantis naturais.

“Não usamos ingredientes de origem animal, e os produtos são todos veganos, mas, mais do que isso, queremos mostrar que eles tratam a pele. O blush, por exemplo, não resseca o rosto, as embalagens são feitas de papel e vidro, e todos os artigos são certificados com um selo internacional de proteção aos animais. Buscamos ser bastante sustentáveis em toda a nossa cadeia”, diz Patrícia. Por isso há um trabalho de logística reversa (para receber de volta as embalagens) e parceria com ONGs focadas em vulnerabilidade social, que indicam para as empreendedoras bordadeiras e costureiras que possam produzir os nécessaires vendidos pela marca.

OUTROS OLHARES

UM BASTA AO FACEBOOK

Após ter sido obrigada a pagar bilhões de dólares pelo uso indevido de dados de usuários, a rede social terá de passar a se preocupar mais em como lucrar com seu negócio

“Se filmasse hoje, trataria mais do Facebook e de todo o seu poder.” A autocrítica é da cineasta americana Jehane Noujaim e foi extravasada em uma entrevista concedida por ocasião do lançamento de seu documentário Privacidade Hackeada, que estreou no último dia 24 na Netflix. O filme relata o maior escândalo a atingira rede social que une 2,6 bilhões de pessoas mundo afora. No início do ano passado, ex-funcionários da consultoria política inglesa Cambridge Analytica revelaram que a empresa havia colhido, de forma ilegal, dados privados de cadastrados no site a fim de traçar estratégias para duas campanhas controversas (e vitoriosas): a que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, em 2016; e a que sustentou o Brexit, na Inglaterra, naquele mesmo ano. O documentário, no entanto, foca mais a vileza da consultoria, e não “o Facebook e todo o seu poder”, como definiu Jehane. “Ao longo da história há exemplos de experimentos extremamente imorais. Brincamos com a psicologia de um país inteiro sem a autorização das pessoas, e no contexto de um regime democrático”, confessou o analista de dados canadense Christopher Wylie, que trabalhou na Cambridge Analytica, em depoimento exibido no filme.

Ninguém duvida que a consultoria tenha culpa no cartório. Entretanto, ela não estava só. A celeuma pôs em xeque a imagem do Facebook, levando Mark Zuckerberg, fundador e CEO, a depor no Congresso americano e no Parlamento inglês. Abriram-se investigações ao redor do planeta, principalmente na Europa e também no território americano. No mesmo dia em que o documentário Privacidade Hackeada foi ao ar no universo digital, no mundo real ocorria o que deve ser um dos capítulos finais do famigerado caso da Cambridge. Naquela data, o gigante do Vale do Silício firmou um acordo de 5 bilhões de dólares com a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) para encerrar os processos aos quais respondia no país em consequência do escândalo. Mais do que isso, estabeleceram­ se ali as exigências que, em tese, devem evitar que se repita uma invasão de privacidade de igual patamar.

A multa da FTC foi a maior que o órgão já determinou – e segue uma tendência, iniciada na Europa, de punir o Facebook quando há exploração indevida das informações de usuários (leia o quadro). O acordo pode ainda abrir portas para que multas sejam aplicadas também em outros países nos quais a Cambridge Analytica garimpou dados – entre eles, o Brasil.

Uma das providências exigidas do Facebook pelo governo americano para tentar evitar que o problema volte a ocorrer é a criação de um “programa de privacidade”, que incluirá o monitoramento regular feito por um comitê independente, composto de políticos, cientistas e ativistas. A rede social ainda terá de, na prática, parar de repassar dados brutos a outras empresas – entre as quais, consultorias como a Cambridge Analytica e também anunciantes. A partir de agora, as informações dos usuários serão mais bem filtradas antes de ter autorizado o seu uso em propagandas.

Apesar da imagem arranhada em decorrência do episódio da consultoria inglesa, o Facebook nem de longe viu sua saúde financeira ser ameaçada por causa das multas que lhe foram aplicadas. No ano passado, a empresa registrou lucro líquido de 56 bilhões de dólares – mais de onze vezes o valor com que teve de arcar para encerrar o assunto da Cambridge Analytica nos EUA. “Desde que começou a operar, o Facebook sabe que, ao mexer com um negócio novo, acabaria por violar leis. E que teria de lidar com isso sem deixar afetar os lucros”, disse o cientista social americano Binoy Kampmark , do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, conhecido por ter cunhado o termo “economia de irregularidades”, com o qual descreve o método da rede social. O que se espera agora é que o caso da Cambridge Analytica sirva para que o Facebook passe a se preocupar mais com aquilo que é a base “de todo o seu poder”: os dados confiados a ele por mais de um terço da população da Terra.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O QUE OS OLHOS VÊEM…

O único fator que impede alguém de ter problemas com a alimentação pode ser uma dose generosa e saudável de auto- ilusão. Psicólogos tentaram identificar se pessoas com problemas relacionados à comida têm percepções ou sentimentos distorcidos a respeito de seu corpo, mas as descobertas nesse campo não se revelaram convincentes. Pesquisadores da Universidade de Maastricht, Holanda, recentemente tentaram uma abordagem diferente. Primeiro, pediram a indivíduos de dois grupos que avaliassem seu próprio poder de atração. Um dos grupos apresentava sintomas de problemas com alimentação. Aspessoas do outro – o de controle – tinham sido escolhidas por terem o corpo semelhante aos do grupo acometido de perturbações. Os pesquisadores apresentaram fotos do corpo de todos, com os cabelos bem cortados e aparados, a dois painéis de avaliadores. De alguma forma, a despeito da semelhança entre os corpos, ambos os painéis consideraram menos atraentes os que apresentavam distúrbios em relação à comida – em conformidade com as avaliações de si mesmos feitas pelos próprios indivíduos afetados por essas perturbações.

Em contraste, no grupo de controle os voluntários superestimaram seu próprio poder de atração, o que revela, da parte deles, uma imagem preconcebida e protetora do corpo. Para tratar pessoas com problemas relativos à alimentação, os médicos talvez tenham de ensiná-las a se concentrar em seus traços atraentes – é o que propõem os realizadores do experimento.

GESTÃO E CARREIRA

A PSICOLOGIA DA PROCRASTINAÇÃO

Para combater esse problema, não basta gerenciar melhor o tempo — é preciso descobrir quais são os gatilhos emocionais que levam a adiar tarefas, decisões e projetos

Todo mundo já deixou uma tarefa chata ou complexa para o dia seguinte — e não há nada de errado nisso. Muitas vezes até precisamos de um tempo extra para tomar uma decisão importante, refletir sobre um ponto de vista ou avaliar um projeto da empresa. A procrastinação só vira de fato um problema quando acontece com frequência e impacta negativamente a saúde física e mental. “É o atraso de um ato voluntário, que ocorre apesar de sabermos que ele vai nos prejudicar”, define Timothy A. Pychyl, professor de psicologia na Carleton University, no Canadá, em seu livro Solving the Procrastination Puzzle (“Solucionando o quebra-cabeça da procrastinação”, em tradução livre, sem edição no Brasil). De acordo com Timothy, que estuda o assunto há mais de 20 anos, o hábito de “empurrar com a barriga” não está ligado à lassidão ou à má administração da agenda, como a maioria de nós acredita. “A procrastinação constante é uma inabilidade para gerenciar emoções e impulsos”, afirma. Por isso, segundo ele, é fundamental descobrir quais gatilhos psicológicos dão origem a seu “depois eu faço” antes de combater esse inimigo da produtividade.

ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE

Pesquisas indicam que cerca de 20% dos adultos são procrastinadores crônicos, ou seja, vivem postergando o início ou o término de uma atividade, mesmo sabendo que esse comportamento provoca algum desconforto (estresse, arrependimento, frustração, ansiedade, culpa) e geralmente causa danos aos estudos, à carreira e aos relacionamentos. Ora, se a procrastinação prejudica nosso bem-estar, por que promovemos essa autossabotagem? “Ao protelar algo que nos parece desagradável, usufruímos uma súbita sensação de prazer”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Só que esse alívio é temporário, pois em algum momento teremos de resolver as pendências. Como é uma necessidade humana buscar a satisfação e fugir do sofrimento, quem cultiva o hábito de “transferir para outro dia” entra num círculo vicioso, do qual é difícil se libertar. Portanto, a procrastinação constante não está ligada à má gestão do tempo — ela nada mais é do que uma estratégia do cérebro para lidar com as emoções negativas. “Sendo assim, é preciso aceitar o problema e entender o que está por trás dele para começar a superá-lo”, afirma Tânia Campanharo, psicóloga clínica de São Paulo.

Quando se transforma num estilo de vida, a procrastinação pode ser um sintoma de ansiedade — estado emocional que aparece ao encararmos algo que provoca medo, expectativa ou dúvida. “As pessoas ansiosas não pensam nem agem”, diz Christian. Como geralmente estão com a cabeça voltada para o futuro, elas têm dificuldade de realizar algumas atividades e acabam jogando-as para a frente. A ansiedade também é um dos fatores que desencadeiam a depressão, outra mola propulsora do adiamento ou do atraso frequentes. Quem apresenta essa condição sofre com pensamentos negativos, sensação de inutilidade e sentimento de culpa. Qualquer tarefa se torna incômoda e complicada. “O depressivo não tem vontade nem energia para agir”, diz Tânia. Vale dizer que a procrastinação e a depressão se retroalimentam — e nem sempre é fácil apontar qual delas surgiu primeiro.

Outro elemento é o estresse, que também está relacionado a quadros de depressão e ansiedade. Nesse estado de ânimo, a pessoa vive nervosa e frustrada, se distrai com facilidade e, como se cobra demasiadamente, às vezes tem bloqueios mentais. Ela costuma deixar de lado uma tarefa relevante, priorizando as secundárias como forma de alívio. Aliás, essa é uma característica do procrastinador de carteirinha: avaliar a realização de uma atividade pela satisfação que ela proporciona, e não pelo nível de importância que ela tem para si mesmo ou para os outros. “A procrastinação também pode estar associada a transtornos de personalidade e ao déficit de atenção”, diz Rita Martins, psicanalista e professora na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

O FANTASMA DO MEDO

Há mais fatores emocionais que podem sustentar o comportamento. Um deles é o medo — do fracasso ou do sucesso, por exemplo. Pessoas com esse perfil postergam decisões e tarefas sobretudo por três motivos: primeiro, porque desejam evitar a crítica alheia; segundo, porque as coisas podem não sair do jeito que gostariam; e terceiro, porque acham que não vão “dar conta do recado”. “O medo é uma das maiores travas que enfrentamos na vida”, afirma José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching. Um exemplo disso foi o que aconteceu com o designer gráfico David Arty, de 31 anos. Na última empresa em que atuou, ele fazia home office e tinha dificuldade de organizar a rotina — acabava deixando tudo para a última hora. “Dormia mal, vivia estressado e não me sentia produtivo”, diz. Nessa época, David já sonhava em trabalhar por conta própria, mas o receio de fracassar fez com que adiasse esse projeto. Depois que tomou coragem e virou freelancer, aprendeu a estabelecer prioridades e a administrar a agenda. “Também passei a lidar melhor com o perfeccionismo, outra razão pela qual eu procrastinava”, afirma. A mania de perfeição, aliás, pode andar de mãos dadas com o atraso frequente. Além do medo de ser julgado, quem sofre desse mal presta tanta atenção nos detalhes que conclui os trabalhos só no último segundo. Isso faz com que o perfeccionista cometa erros, mantendo-se preso à ciranda da procrastinação.

A desmotivação também costuma estar por trás do adiamento constante — quando a pessoa não vê sentido naquilo que faz, fica propensa a “empurrar com a barriga”. Segundo Timothy A. Pychyl, esse comportamento pode indicar problemas maiores, como falta de direção na vida ou de identidade. Esse era o caso de Sousete Silva, de 50 anos, coordenadora de compras do Minas Tênis Clube. Embora atuasse nessa mesma área, ela se sentia frustrada no emprego anterior e vivia cheia de pendências. “Procrastinava no escritório e na vida pessoal”, diz. Ao se desligar da empresa, Sousete buscou o autoconhecimento frequentando cursos de filosofia. “Descobri que o antigo trabalho não estava alinhado com meus valores, daí o motivo da insatisfação”, afirma. Hoje ela fez as pazes com a rotina e mantém a procrastinação sob controle focando três princípios: organização, disciplina e eficiência.

MUDANÇA DE HÁBITO

Independentemente dos motivos que nos levam a atrasar decisões e tarefas, algumas dicas podem ajudar todo mundo a combater (ou talvez superar) a procrastinação. Aqui vão elas:

INVISTA NO AUTOCONHECIMENTO

Não ignore suas emoções. Se você vive procrastinando, pergunte-se: “O que me afasta dessa atividade? Por que não quero realizá-la? Ela está alinhada às minhas ambições?” Olhar para dentro é o primeiro passo para diminuir os atrasos constantes. Se preciso, busque ajuda profissional.

FOQUE AQUILO QUE É IMPORTANTE

“Priorize de acordo com o impacto que determinada atividade vai causar em sua vida e na dos outros”, diz Bia Nóbrega, psicóloga e coach de São Paulo. Se possível, elimine da rotina aquilo que não faz diferença, não traz satisfação e gera desperdício de tempo.

FAÇA UM BOM PLANEJAMENTO

Reservar um tempinho para analisar e organizar todas as etapas de uma tarefa ajuda a executá-la no prazo. Pense nos recursos de que vai precisar, onde vai encontrá-los, em quantos dias eles chegarão a suas mãos, quem pode ajudá-lo na empreitada, e daí por diante.

DIVIDA A ATIVIDADE EM PEQUENAS PARTES

Quando temos de encarar uma tarefa chata ou desafiadora, o melhor a fazer é estabelecer metas diárias e avançar passo a passo rumo à sua conclusão.

USE A TECNOLOGIA A SEU FAVOR

“Alguns aplicativos permitem organizar tarefas e registrar quantas horas você dedica a suas atividades”, diz Jeane Lucena, psicóloga e professora no IAG — escola de negócios da PUC-RIO.

COMEMORE CADA CONQUISTA

Quando não procrastinar, dê a si mesmo uma recompensa, nem que seja só uma pausa de 10 minutos.

SEJA CRIATIVO

Pense em maneiras mais agradáveis de realizar a atividade — pode ser trabalhar de um lugar diferente, usar aquela ferramenta de que você gosta…

MEDITE

“Experimente o Mindfulness ou outras técnicas que desenvolvam a atenção plena e nos mantenham no presente”, diz Bia Nóbrega.

QUE TIPO DE PROCRASTINADOR VOCÊ É?

Faça o teste, criado pela psicóloga Tânia Campanharo, e saiba com qual perfil selecionado você mais se identifica. Depois veja dicas para mudar de atitude

ALIMENTO DIÁRIO

QUALIFICADOS

ASSASSINOS DE MINISTÉRIO QUE VOCÊ PRECISA VENCER: A ESTUPIDEZ

CAPÍTULO 28 – EVITANDO ENGANOS, EXTREMOS E DESEQUILÍBRIOS

“O engano nunca se mostra na sua realidade nua, a fim de não ser descoberto. Ao contrário, ele se veste elegantemente, para que o incauto seja levado a crer que ele é mais verdadeiro do que a própria verdade.” — Irineu de Lyon

PENSAMENTO-CHAVE: A sã doutrina e as práticas saudáveis devem ser a marca registrada de um líder espiritual que teme a Deus.

Quando reuni o material dos “assassinos de ministério”, percorri as duas epístolas escritas por Paulo a Timóteo para verificar se Paulo havia dirigido algo nessas áreas ao seu protegido, e ele o fez.

Observe alguns versículos que representam cada uma dessas áreas:

•  O Ouro – “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentara com muitas dores” (1 Timóteo 6:10).

•  As Mulheres – “Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam Senhor” (2 Timóteo 2:22).

•  A Glória – “… não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça incorra na mesma condenação do diabo” (1 Timóteo 3:6).

•  A Rotina – “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros. Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1,3).

•  Os Estraga-prazeres – “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” (2 Timóteo 4:14).

Quando Walt Disney precisou dar nome a um personagem de desenho que seria doido, desajeitado e um pouco menos inteligente, ele escolheu o nome “Pateta”. Pateta é um sinônimo de ser tolo, excêntrico, bobo, ridículo ou grotesco. Então, usaremos esse termo para descrever crenças e práticas que são extremas, errôneas e desequilibradas.

Comecei a fazer um levantamento das cartas de Paulo a Timóteo, a fim de localizar versículos acerca da tolice, e fiquei chocado ao descobrir que ele disse mais acerca da necessidade de uma doutrina sólida do que ele fez sobre outros “Assassinos de Ministério” juntos. Considere o seguinte:

Peço que você continue na cidade de Éfeso, como já pedi quando estava indo para a província da Macedônia. Existem aí nessa cidade alguns que estão ensinando doutrinas falsas, e você precisa fazer com que eles parem com isso. Diga a essa gente que deixe de lado as lendas e as longas listas de nomes de antepassados, pois essas coisas só produzem discussões. Elas não têm nada a ver com o plano de Deus, que é conhecido somente por meio da fé. Essa ordem está sendo dada a fim de que amemos uns aos outros com um amor que vem de um coração puro, de uma consciência limpa e de uma fé verdadeira. Alguns abandonaram essas coisas e se perderam em discussões inúteis. Eles querem ser mestres da Lei de Deus, mas não entendem nem o que eles mesmos dizem, nem aquilo que falam com tanta certeza.  — 1 Timóteo 1:3-7 (NTLH)

… um bispo (superintendente, supervisor) precisa… ser um mestre capaz e qualificado.  — 1 Timóteo 3:2 (AMP)

Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência…  1 Timóteo 4:1-2

Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas… 1 Timóteo 4:6-7

Enquanto você espera a minha chegada, dedique-se à leitura em público das Escrituras Sagradas, à pregação do evangelho e ao ensino cristão.  — 1 Timóteo 4:13 (NTLH)

Cuide de você mesmo e tenha cuidado com o que ensina. Continue fazendo isso, pois assim você salvará tanto você mesmo como os que o escutam. — 1 Timóteo 4:16 (NTLH)

Ensine e recomende estas coisas: se alguém ensina alguma doutrina diferente e não concorda com as verdadeiras palavras do nosso Senhor Jesus Cristo e com os ensinamentos da nossa religião, essa pessoa está cheia de orgulho e não sabe nada. Discutir e brigar a respeito de palavras é como uma doença nessas pessoas. E daí vêm invejas, brigas, insultos, desconfianças maldosas.  — 1 Timóteo 6:2-4 (NTLH)

Timóteo, guarde bem aquilo que foi entregue aos seus cuidados. Evite os falatórios que ofendem a Deus e as discussões tolas a respeito daquilo que alguns, de modo errado, chamam de “conhecimento”. Algumas pessoas, afirmando que tinham esse “conhecimento”, se desviaram do caminho da fé. Que a graça de Deus esteja com vocês! – 1 Timóteo 6:20-21 (NTLH)

Tome como modelo os ensinamentos verdadeiros que eu lhe dei… guarde esse precioso tesouro que foi entregue a você.  – 2 Timóteo 1:13-14 (NTLH)

Recomende essas coisas aos que você dirige e ordene severamente, na presença de Deus, que não briguem por causa de palavras. Brigar não é bom, pois somente prejudica os que estão presentes. Faça todo o possível para conseguir a completa aprovação de Deus, como um trabalhador que não se envergonha do seu trabalho, mas ensina corretamente a verdade do evangelho. Evite os falatórios contrários aos ensinamentos cristãos, pois eles fazem com que as pessoas se afastem de Deus. As coisas que os falsos mestres ensinam se espalham como a gangrena. Dois desses mestres são Himeneu e Fileto, os quais abandonaram o caminho da verdade…  — 2 Timóteo 2:14-18 (NTLH)

Assim como Janes e Jambres foram contra Moisés, assim também esses homens são contra a verdade. Eles perderam o juízo e fracassaram na fé. Mas não irão longe, pois todos verão como eles são tolos. Foi isso que aconteceu com Janes e Jambres.  — 2 Timóteo 3:8-9 (NTLH)

Quanto a você, continue firme nas verdades que aprendeu e em que creu de todo o coração. Você sabe quem foram os seus mestres na fé cristã.  — 2 Timóteo 3:14 (NTLH)

Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver.  — 2 Timóteo 3:16 (NTLH)

Portanto, intensifique o trabalho de divulgação da mensagem e seja vigilante. Desafie, advirta e insista com seus ouvintes. Não desista. Use linguagem compreensível. Você descobrirá que daqui a um tempo o povo não vai mais ter estômago para ensino sólido, no entanto se encherão de alimento espiritual estragado, mensagens cativantes que combinam com suas fantasias. Eles vão virar as costas para a verdade, vão trocá-la por ilusão.  — 2 Timóteo 4:2-4 (A Mensagem)

Paulo ensina a Timóteo clara e repetidamente que se levantar a favor da verdade da Palavra de Deus era uma das suas responsabilidades mais importantes. Quanto mais isso é necessário para os líderes hoje? Vivemos na era da informação, e os cristãos têm acesso a mais ensino e influência hoje do que em qualquer tempo da História. Ideias religiosas de todas as formas estão sendo divulgadas por meio de livros, televisão, rádio, revistas, CDs, downloads e podcasts. Perspectivas doutrinárias são apresentadas aos crentes até mesmo por intermédio dos meios de comunicação social, como o Facebook e Twitter.

Os crentes estão sendo influenciados por inumeráveis vozes exteriores, e algumas dessas vozes não são sadias ou benéficas. É preocupante para pastores quando os membros das igrejas abraçam e começam a promover entusiasticamente desequilíbrios e visões erradas para outros dentro da congregação. Como líderes espirituais, queremos que o nosso foco primário seja a promoção proativa da verdade, não reativa, corrigindo o erro. Não queremos estar sempre apagando incêndios e ter reações instintivas para todas as ideias variantes que possam vir durante o caminho, ainda que essas questões precisem ser abordadas.

Alguns procuram minimizar a importância da doutrina (ensino), contudo, a doutrina é importante porque o que as pessoas acreditam eventualmente afetará o que elas fazem.

Doutrina e prática estão interligadas. Quando Jesus dirigiu-se às igrejas primitivas na Ásia Menor, Ele disse que odiava a doutrina e as práticas dos nicolaítas (Apocalipse 2:6-15).

O ensino libertino não é errado simplesmente porque ignora e viola os textos bíblicos concernentes à santidade e à piedade, mas também porque facilita e encoraja o comportamento pecaminoso e suas associações.

O universalismo não é errado apenas porque contradiz uma grande parte dos ensinos bíblicos acerca de julgamento e a necessidade do novo nascimento. Isto também é errado porque remove a motivação para o evangelismo. Se nosso ensino afinal não estiver apontando para a obra consumada de Cristo e promovendo obediência à Palavra de Deus, então algo está errado.

Paulo desejou para todos os crentes o que ele expressou para os efésios: “Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4:14). Quão seriamente Paulo considerou o tratamento e o dano em potencial de uma falsa doutrina? Considerando a sua admoestação aos líderes da igreja de Éfeso:

Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um.  — Atos 20:28-31

Alguns anos atrás, fiz uma lista de algumas observações relacionadas aos ventos de doutrina. Aqui estão alguns pontos dessa lista:

•  O erro não está completamente errado. Às vezes, o maior engano está enrolado em um bom pedaço de verdade.

•  O erro capitaliza-se sobre as áreas que têm sido ignoradas ou negligenciadas pela igreja.

•  Os dois objetivos do diabo são que a igreja: (a) aceite o engano, ou (b) rejeite o verdadeiro sem aversão aos excessos e abusos envolvendo o engano.

•  O erro resulta no estabelecimento de uma consciência imprópria nas pessoas (por exemplo: mais foco nos demônios do que em Jesus, mais foco nas obras do que na graça, etc.).

•  O erro resulta no estabelecimento de uma dependência imprópria nas pessoas.

•  O erro ocorre quando existe uma ênfase maior sobre uma questão de menor importância, ou uma ênfase menor em uma questão de grande importância.

•  Com o erro, há com frequência um forte apelo feito para elementos privados e subjetivos para fundamentar a doutrina e métodos (exemplo: “O Senhor me disse…”). Isso muitas vezes envolve uma revelação “exclusiva” e “superior”, a qual produz isolamento e alienação de outros.

•  Com o erro, princípios básicos da interpretação bíblica são com frequência ignorados e negligenciados.

•  Aqueles que promovem o erro com frequência recusam ter sua doutrina ou métodos   julgados, ou se mostram ofendidos se questões são levantadas. Eles não demonstram o espírito aberto de Paulo (Atos 17:11).

•  Aqueles que promovem o erro com frequência precisam difamar e depreciar os seus oponentes. Além disso, aqueles que ousarem questionar a doutrina deles são rotulados de “perseguidores”. Eles são rápidos ao usar o título de mártires se os seus ensinos são desafiados.

Que passos um ministro pode dar para permanecer equilibrado em seu ensino?

•   Estude! Teologia não é uma má palavra! O que é ruim é a má Teologia. Doutrina não é uma má palavra! O que é ruim é a má doutrina.

•  Precisamos estar enraizados e firmados nas grandes doutrinas da Bíblia. Se não estivermos estabelecidos nas grandes verdades da Palavra de Deus, então estaremos mais favoráveis à queda para a mais nova doutrina da “moda” que aparecer no caminho.

•  Adicionando à teologia, precisamos estar estabelecidos nos princípios de hermenêutica, a interpretação apropriada da Bíblia. Estar fundamentados na hermenêutica irá nos encorajar a:

—Ler as passagens bíblicas com o contexto histórico, cultural e teológico próprio (fique alerta sobre os ensinos que são apresentados sem um suporte neotestamentário sólido e significante).

—Evitar falsas combinações (colocar passagens bíblicas juntas que não foram designadas para estar juntas).

—Evitar colocar ênfase excessiva em um aspecto do texto bíblico, enquanto negligencia o aspecto complementar ou de equilíbrio da Bíblia. Mais importância nos importantes e menos nos assuntos menores!

—Preste conta! Tenha bons amigos ministros com os quais você pode discutir questões.  Encoraje-os a desafiá-lo, especialmente se você estiver considerando ensinar algo delicado ou controverso.

—Não caia no orgulho e sinta que você está acima da prestação de contas ou correção, ou que as pessoas deveriam receber o seu ensino, por causa de quem você é. Lucas (ver Atos 17:11) elogiou os crentes em Bereia que examinavam “… as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”. Eu tenho ouvido que alguns ministros menosprezam e diminuem pessoas por não aceitarem imediatamente o que elas estão dizendo, em vez de elogiá-las por estar conferindo se as coisas são de fato assim.

• Precisamos considerar o fruto ou a aplicação da nossa doutrina. Expressando uma profunda apreensão no que diz respeito à ingenuidade da igreja dos coríntios, Paulo disse (2 Coríntios 11:4): “Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou Evangelho diferente que não  tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”. Observe que Paulo não estava meramente preocupado quanto ao falso evangelho, ou uma percepção distorcida de Jesus; ele estava preocupado sobre um espírito “diferente”. O Espírito Santo foi enviado para nos guiar a toda verdade. Espíritos religiosos e atitudes erradas precisam ser evitados tanto quanto a falsa doutrina.

•  Aprenda pela História! A história da Igreja é cheia de revelações sobre vários indivíduos e grupos que têm se mantido fora da pista. Nem todos que caíram no erro ou se tornaram desequilibrados eram pessoas malignas; muitos eram bons, pessoas sinceras que podem até mesmo terem começado bem antes de sair do curso.

Em seu livro, John Alexander Dowie, Gordon Lindsay aborda os fatores que precederam a ruína de Dowie. Lindsay falou de hábitos de trabalho excessivos de Dowie que o deixaram exausto e o levaram a ter um julgamento prejudicado. Ele também disse que Dowie absteve-se de tomar conselhos com outros. Ao longo do tempo, Dowie desenvolveu o que Lindsay chamou de uma “fixação”, e disse que “praticamente toda falsa doutrina envolve uma fixação na mente da vítima que a abraça”. Lindsay disse: “O apóstolo Paulo com frequência advertia os crentes a aderir à ‘sã doutrina’. A alternativa é montar algum ‘cavalo de pau’ ou descer na tangente que viola o espírito da verdade evangélica, dividindo assim o Corpo de Cristo”. Ele posteriormente disse: “Quão triste é ver um homem cujas habilidades, sem dúvida, poderiam ser grandemente usadas por Deus, que perdeu o interesse nas grandes verdades do Evangelho, a salvação de vidas, e se tornou obcecado com um ‘cavalo de pau’ que imobilizou seu talento para Deus, e reduziu o seu valor para Deus e para a humanidade…”

O grande pioneiro pentecostal, Donald Gee, escreveu em “A voz da Cura”, em 1953: “Tantos de nós estamos [firmemente estabelecidos] em extremos. Se nós virmos algum raio da verdade nós o empurramos a tal extremo que nossa pressão constante contra ele torna-se ofensiva, vã e, por último, errônea. Se descobrimos alguma linha bem-sucedida de pregação nós a perseguimos a tal extensão que a tornamos nauseante e esgotada. Estamos sempre perdendo a genuína utilidade pela nossa falha constante em nos mantermos bem balanceados. Por fim, os homens perdem a confiança em nós, a nossa intemperança entristece o Espírito Santo, e somos lançados no ferro-velho dos servos rejeitados e inúteis”.

Mantenha um Bom Coração

Gosto das palavras de Richard Baxter:

Em essencial, unidade.

Não essencialmente, liberdade.

Em todas as coisas, caridade.

Motivados pela questão de manter a pureza doutrinária, alguns têm se tornado francamente mesquinhos. Eles se autonomeiam “caçadores de heresias” que são rápidos em julgar e condenar todos que discordam deles, até mesmo no que concerne a áreas não essenciais. Eles têm uma atitude de “eles estão certos e todos os outros estão errados”. Eles fizeram muito pouco para edificar outros para fazerem um trabalho construtivo no Reino de Deus, enquanto prosperam em demolir outros.

O Dr. Bob Cook sabiamente disse: “Deus reserva o direito de usar pessoas que discordam de mim”.

Lembro-me de ter ouvido uma história de um pregador ignorante, que no meio da mensagem, mencionou como o apóstolo Paulo e sua mulher, Silas, estavam na prisão em Filipos, e seu pobre filho Timóteo estava andando para cima e para baixo na rua chorando porque sua mãe e seu pai estavam na cadeia. No final de sua mensagem, ele fez um convite ao altar e seis pessoas vieram à frente e entregaram suas vidas a Jesus.

Embora esse ministro tenha compreendido completamente errado quem era Silas e desconhecido o fato de que Timóteo era apenas filho espiritual de Paulo, ainda assim havia sobrado verdades suficientes em suas mensagens a respeito de Jesus, que o Espírito Santo foi capaz de alcançar os corações desses indivíduos.

Deus é o “Deus da Verdade”, mas, às vezes, Deus trabalha a despeito de algumas doutrinas erradas que são misturadas. Se Deus tivesse de aguardar até toda a nossa doutrina estar 100% perfeita antes de Ele poder nos usar, então nunca seríamos usados. É um erro sério pensar que porque alguém foi abençoado, isso automaticamente legitima 100% do que está sendo ensinando ou dá total validação ao ministério que está promovendo o ensino.

Precisamos ser cuidadosos para que não desenvolvamos uma atitude de “combate”, e por causa disso falhemos em ver o bem na simplicidade das pessoas porque discordamos com uma parte do que elas estão dizendo. Um grande exemplo de um coração certo em ajudar outros pode ser encontrado na maneira que Priscila e Áquila responderam a Apolo.

Nesse meio tempo, chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de João. Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus.  — Atos 18:24-26

Apolo era correto, tanto quanto ele conhecia, mas seu conhecimento era incompleto. Em vez de rotulá-lo como um falso mestre ou atacá-lo publicamente, Priscila e Áquila passaram tempo pessoalmente com Apolo e o ajudaram a entender algumas coisas com as quais ele não estava familiarizado ainda.

Aparentemente, existiam algumas questões que Paulo acreditava que não deveriam ter sido o foco de argumentos minuciosos. Porque ele valorizava altamente a verdade, ele disse para uma igreja: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá” (Filipenses 3:15). Paulo parecia satisfeito em apenas deixar Deus mostrar às pessoas algumas coisas ao longo do tempo, e não sentiu a necessidade de querer corrigir a todos sobre todo assunto pequeno.

Contudo, em questões maiores, Paulo estava completamente pronto para lutar pela verdade do Evangelho, especialmente se era uma área que minava a significância da obra consumada de Cristo. Quando Paulo viu a fé dos crentes da Galácia sendo subvertida pelo legalismo, ele não se poupou, dizendo:

Estou muito admirado com vocês, pois estão abandonando tão depressa aquele que os chamou por meio da graça de Cristo e estão aceitando outro evangelho. Na verdade, não existe outro evangelho, porém eu falo assim porque há algumas pessoas que estão perturbando vocês, querendo mudar o evangelho de Cristo. Mas, se alguém, mesmo que sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que temos anunciado, que seja amaldiçoado! Pois já dissemos antes e repetimos: se alguém anunciar um evangelho diferente daquele que vocês aceitaram, que essa pessoa seja amaldiçoada! — Gálatas 1:6-9 (NTLH)

Um sábio cirurgião sabe quando irá ao fundo do problema até extirpar uma malignidade mortal, mas ele também sabe quando deixar uma pequena condição permanecer, uma que irá se resolver sem uma intervenção drástica. Podemos receber sabedoria e maturidade de Deus a fim de lidar com questões doutrinárias com o mesmo tipo de sabedoria.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

POUCAS PALAVRAS

Sete em cem crianças têm algum grau de dificuldade para aprender corretamente a língua materna – embora sejam saudáveis e tenham desenvolvimento normal

No início tudo parecia correr bem com o desenvolvimento de Daniel. Aos 12 meses, ele falou as primeiras palavras. E ficou nisso. Aos 2 anos e 8 meses, balbuciava apenas “au-au”, “mama”, “aqui”, “não” e “oi”. Nessa fase, outras crianças já dominam algumas dezenas de expressões, substantivos e verbos. Enquanto os amiguinhos de classe de Daniel combinavam muito bem palavras e até frases, ele se expressava com um único vocábulo. Dizia simplesmente ‘au-au’ quando seus coleguinhas já formulavam “Vamos brincar com o cachorro”.

Ao contrário de Daniel, a maioria das crianças aprende a língua materna sem muito esforço. As origens dessa dificuldade ainda são mistério, já que ele sempre se mostrou uma criança esperta, sociável, de inteligência normal, saudável, sem problemas locomotores nem de audição. Os pais se perguntavam apreensivos, se o garotinho teria um desenvolvimento normal.

Sete por cento das crianças da mesma idade têm problemas parecidos, sofrem de dificuldade específica no desenvolvimento da linguagem. Pesquisadores como o psicólogo Laurence B. Leonard, da Universidade Purdue Indiana, Estados Unidos, usam essa denominação quando o déficit se apresenta como problema central e único – diferentemente, por exemplo, do que ocorre com crianças autistas, cujas dificuldades linguísticas estão entre as várias consequências da deficiência.

Os pediatras diagnosticam o distúrbio quando, usando critérios de exclusão, eliminam todas as outras causas potenciais, tais como danos provocados por traumatismos cranianos ou epilepsias, retardo mental, comprometimento ou má-formação do aparelho da fala (como lábio leporino), dificuldades de audição (desencadeadas, por exemplo, por inflamações no ouvido médio) e perturbações emocionais ou sociais importantes (como autismo). Dificuldades de linguagem frequentemente estão ligadas a todas essas ocorrências.

Muitos pesquisadores, porém, consideraram esses critérios de exclusão insuficientes para o diagnóstico e se esforçaram para definir positivamente o distúrbio, descrevendo suas características. Usaram como critério os eventuais atrasos no início ou no processo de desenvolvimento da linguagem e o conhecimento limitado da língua (no que se refere à pronúncia, ao vocabulário ou à gramática) – o que influi na compreensão e na pronúncia.

O desenvolvimento de Daniel foi marcado pelo adiamento do início da fala. Assim como outras crianças com o mesmo problema, aos 2 anos ele tinha um vocabulário com menos de 50 palavras e era incapaz de fazer combinações entre elas. De 30% a 50% dessas crianças se recuperam até o terceiro ano de vida e se desenvolvem normalmente – elas apenas são mais lentas no processo de aquisição da linguagem. Outras, porém, não conseguem fazer essa conexão após os 3 anos, e se sua capacidade de falar não for estimulada a tempo por uma terapia eficaz, os problemas poderão se consolidar ao longo da fase pré-escolar.

‘VIDROS PARA VER’

Os pais de Catarina, 5 anos, observaram na filha dificuldades que revelavam problemas com a gramática. A garotinha expressava-se com frases como “Não quer ele descer”, “Ele sai gramado fora” ou “Então portão tranca”. Era especialmente difícil para ela colocar o verbo no lugar correto; conjugava-os de forma equivocada ou não os flexionava, não usava artigos, atrapalhava-se com o plural, suprimia preposições como “na” (“já estou escola”), suas frases soavam estranhas, e nem sempre ficava claro o que queria dizer.

Os problemas de Estevão, 6anos e meio, eram de outro tipo. Ele tinha dificuldade para encontrar as palavras que desejava usar. Já nos primeiros meses da pré-escola as professoras constataram que ele não conhecia muitos vocábulos e conceitos – e não podia fazer com segurança uso do saber adquirido. Disfarçava isso com uma pronúncia pouco clara ou simplesmente interrompia as frases. Quando tinha de descrever imagens, trocava os substantivos que não encontrava por palavras semelhantes, de forma bastante criativa, buscando desvios para formar as próprias palavras ou expressões.

Usava, por exemplo, “boneco de ar” para designar uma pipa. Ou parafraseava a seu modo, em vez de lua, dizia “sol noite”, banco, cadeira, “cadeira de parque”, óculos, “vidros para ver”. Quando, por exemplo, via a imagem de uma zebra, dizia, cavalo, pato, vaca e bra”. Esse artifício lhe trazia problemas. Tinha consciência de sua dificuldade e frequentemente reagia com agressividade ou tentava escapar de conversas, evitando o convívio com outras pessoas. Em muitas ocasiões Estevão não empregava verbos ou então recorria a alguns de sentido mais geral, como “fazer’ – colher era substituído por “fazer maçãs sair”. Também trocava palavras que indicam ação, quem bocejava, para ele, simplesmente “abria a boca”.

Em um estudo na Universidade de Potsdam, Alemanha, em 2005, constatamos que esses sintomas são típicos de crianças com dificuldade específica no desenvolvimento da linguagem. Dez delas usavam substantivos e verbos com mais esforço que as integrantes de um grupo de controle de meninos e meninas da mesma idade sem déficit linguístico.

O que intriga os pesquisadores é o fato de tantas crianças, como Estevão, desenvolverem problemas de linguagem tão nítidos enquanto o desenvolvimento em outras áreas transcorre normalmente. Há vários indícios de influências genéticas, pois perturbações da fala surgem mais em meninos que em meninas e são mais frequentes em algumas famílias. Crianças como distúrbio muitas vezes têm pelo menos um parente com problemas na fala. Estudos com gêmeos também mostram que esse tipo de perturbação é significativamente mais frequente em univitelinos que em bivitelinos. Mas, mesmo sem antecedentes, o transtorno pode aparecer por diversas outras razões, por exemplo nos déficits auditivos, especialmente quando os estímulos acústicos são rapidamente encadeados. Em certos casos, o aparelho auditivo infantil demora a amadurecer. Estudos recentes indicam que algumas pessoas acometidas pelo distúrbio têm alterações em certas áreas do hemisfério direito. A neuropsicóloga Dorothy Bishop, da Universidade de Oxford, chama essa descoberta de “irregularidade neuroanatômica” e a avalia como fator de risco para o distúrbio.

Diversas pesquisas desarmam o argumento comum segundo o qual os problemas da fala seriam desencadeados pelo fato de os pais falarem pouco com os filhos ou usarem linguagem empobrecida. Mesmo quando os pais atribuem alto valor à língua materna, preocupam-se com o uso correto do idioma e passam muito tempo com seus filhos, o risco de desenvolvimento do distúrbio não está afastado.

Como o pesquisador Laurence Leonard já relatou em 1998, pais de crianças com perturbações no desenvolvimento da linguagem se comunicam da mesma forma que pais de filhos normais – eles conversam com os pequenos, incentivam a interação social e usam estruturas verbais complexas. No entanto, algumas diferenças são extremamente sutis. Os especialistas acreditam que, com a intenção de não sobrecarregá-los, os pais se adaptam às possibilidades limitadas dos filhos. Perturbações no desenvolvimento da fala não surgem porque a criança está exposta a uma linguagem empobrecida, mas porque ela pode aproveitar menos aquilo que ouve.

Ê claro que também há crianças que, por causa de suas condições de vida, estão muito distantes da língua que devem aprender. Como às vezes ocorre com pessoas que crescem entre dois idiomas: por exemplo, um menino espanhol que vive com a família no Brasil e mantém pouco contato com brasileiros. Ele poderá falar português de uma forma que, observada superficialmente, dá impressão de que há uma perturbação no desenvolvimento da fala. A diferença decisiva, no entanto, é que tais crianças dispõem das aptidões necessárias para assimilar e processar a oferta linguística. É preciso justamente aumentar seu contato com a língua, ou seja, que mais pessoas falem português ao seu redor – seja na pré-escola, seja em cursos de idiomas.

Monika Rothweiler estuda a aquisição de linguagem na Universidade de Hamburgo. Ela observou que em filhos de imigrantes o multilinguismo, por si só, não desencadeia perturbação do desenvolvimento da linguagem nem agrava manifestações existentes. “Algumas crianças usufruem pouco da maior oferta de informações verbais porque seus mecanismos de aprendizado não funcionam efetivamente, elas constroem um saber linguístico próprio, mas com muita dificuldade”, diz Dorothy Bishop. Para ela, os principais motivos desse quadro são elaborações neurais insuficientes para representação da língua. Por isso, o cérebro aprende com mais esforço e lentidão, e o conteúdo adquirido permanece suscetível à perturbação. Fica clara a importância de apoiar as crianças de forma persistente.  Se elas não podem usufruir adequadamente daquilo que lhes é oferecido no cotidiano, precisam de um estímulo mais intensivo: ambiente de aprendizado mais favorável e informações bem direcionadas. Terapia pode oferecer tais condições à medida que, por um lado, coloca à disposição estímulos linguísticos ricos, de forma que a criança possa assimilá-los melhor e, por outro, estimula os mecanismos de elaboração infantil.

O que isso significa na prática? Quando completa 2 anos já é possível saber se a criança apresenta atrasos no desenvolvimento da fala. Nesse caso, os pais não devem simplesmente esperar que a situação mude, mas acompanhar de perto o desenvolvimento linguístico e geral do filho e buscar a avaliação de um profissional – fonoaudiólogo, foniatra ou pediatra – que possa indicar o acompanhamento mais adequado. Os pais serão, provavelmente, submetidos a uma anamnese (entrevista detalhada para fornecer dados ao especialista e ajudá-lo a se inteirar do processo de desenvolvimento infantil). Um teste de vocabulário poderá mostrar quanto a criança de fato assimila conhecimentos.

Pais e terapeutas devem dedicar muita atenção para a faixa etária entre 24 e 30 meses. Se nesse período não são constatados indícios de recuperação do atraso, o apoio psicoterapêutico é recomendável, entre outras razões para oferecer à criança o suporte emocional para lidar com essa dificuldade específica. Mesmo no caso das que parecem se recuperar por volta dos 3 anos, é preciso avaliar cuidadosamente se o que a mudança de comportamento realmente revela é uma reabilitação. O linguista suíço Zvi Penner, cujos programas para facilitar a aquisição da língua começaram a ser usados por pré-escolas alemãs, fala da falsa recuperação, da “melhora simulada”. Segundo ele, é possível que os pacientes apenas criem estratégias de compensação, usando o idioma de maneira discreta e superficial.

O QUE É UM ERR0?

Outra razão de equívoco na avaliação decorre da atenuação dos problemas ao fim da idade pré-escolar. Entretanto, quando a criança aprende a ler e escrever as dificuldades se tornam mais visíveis. É importante checar se as manifestações estão de acordo com a idade. A criança de 2 anos faz pequenas combinações de palavras como ‘brincar também”, típicas dessa faixa etária. Mas se no ano seguinte não puder construir frases de forma mais completa, há um indício de problemas. Aos 3 anos, as substituições de letras ainda são comuns. Por volta dos 5 anos isso já não é mais adequado.

Há controvérsias sobre qual é a melhor terapia para reverter esse distúrbio. Recomendamos que os terapeutas trabalhem objetivamente com a criança, de maneira individualizada, em áreas linguísticas específicas. É fundamental prestar atenção à manifestação particular da perturbação, à idade e à personalidade do paciente. Devem-se oferecer métodos variados, combiná-los e ajustá-los de acordo com cada situação. Daniel, Catarina e Estevão foram submetidos a essas técnicas terapêuticas no Instituto de Linguística de Potsdam, Alemanha.

Em geral, nesses casos são usados exercícios nos quais a criança desenha imagens que se ajustam a frases. É comum que o terapeuta leia pequenas histórias em voz alta ou nelas insira enredos nos quais aparecem exatamente as estruturas que estimulam a aquisição da língua, por exemplo alternando propositalmente orações principais e orações subordinadas.

É preciso explicar aos pacientes quais são as diferenças entre palavras foneticamente similares, como “mola” e “bola”; e apresentar questões de gramática: “Leu sob/sobre o efeito do remédio”. Essa comparação entre vocábulos ou expressões é chamada contraste. Já a modelagem (sugerida pelo terapeuta e pedagogo alemão Friedrich M. Dannenbauer) tem o objetivo de retomar manifestações verbais da criança e repeti-las de forma corrigida ou ampliada. Exemplo, Catarina diz: “E sai ele gramado fora”, e o terapeuta retruca, “Ah, ele sai e vai para o gramado”.

Por meio de outra técnica da metalinguagem, o terapeuta explica relações entre os tempos: aponta palavras que soam de maneira idêntica, mas têm diferentes significados dependendo da construção (é o caso de “para”, conjugação do verbo parar, e da preposição “para”). Outra preocupação é chamar a atenção do paciente para o papel e para a posição do verbo na frase. Após alguns meses de terapia, Daniel aprendeu a combinar as palavras e ampliou seu vocabulário. Por fim, apropriou-se dos verbos, que compõem o fundamento para a construção de frases: depois de interiorizar significados de ações como “comprar”, ‘lavar” ou “costurar”, esses verbos foram relacionados às suas respectivas peças de vestuário “comprar calça”, “lavar calça”, “costurar calça”. Foram então incorporados outros tempos e, aos poucos, ele aprendeu a construir suas próprias frases. Depois foi a vez de nos dedicarmos ao aperfeiçoamento da pronúncia. Ao fim da terapia, ele já não apresentava problemas de comunicação e seu desempenho escolar melhorou significativamente.

Catarina também fez nítidos progressos na terapia. Aprendeu a reconhecer e a empregar regras de sintaxe. Desviamos sua atenção para o posicionamento correto do verbo, mostrando-lhe a diferença entre oração principal e oração subordinada. Com o passar do tempo, suas manifestações verbais tomaram-se cada vez mais adequadas à estrutura correta da língua.

ESCAMAS E PENAS

Estevão precisou aprender, em primeiro lugar, a lidar com a frustração e a raiva que sentia quando deparava com a dificuldade de encontrar as palavras certas, ou seja, de simplesmente procurar conceitos – sem se irritar quando elas não apareciam imediatamente. Ao mesmo tempo esclarecemos a ele as características dos tempos com perguntas como: “Que bichos têm pelos, que bichos têm penas, que bichos têm escamas?” ou “Quais nadam, quais voam e quais andam?”. Assim, ele pôde preencher lacunas no vocabulário e armazenar conceitos afins de forma ordenada. Depois, treinamos com ele o emprego objetivo de palavras.

Ao fim do acompanhamento, o garoto mostrou-se mais seguro. Se ele não se lembrava de uma palavra – ou a desconhecia – já não reagia mais com agressão ou negação, mas partilhava seu problema, falava sobre a dificuldade de forma tranquila. A frequência com que usava frases interrompidas diminuiu e a pronúncia se tornou mais clara. Com isso, constatamos que ele de fato tinha dificuldade com a gramática eisso pôde ser trabalhado em outra fase da terapia.

Nossa conclusão é que os distúrbios específicos da fala prejudicam o desenvolvimento infantil e podem surtir efeitos negativos sobre o percurso escolar e o comportamento social. Tendo em vista a relação entre o diagnóstico fonoaudiológico precoce e as melhorias alcançadas no tratamento, os pais não devem se contentar com a recomendação de “esperar’ quando percebem que seu filho pode ter um atraso no desenvolvimento da fala. As crianças se sentem mais seguras quando as palavras fluem facilmente.

SINAIS DE ALERTA

Se uma criança fala pouco aos 24 meses, o fonoaudiólogo deve considerar:

* se há problemas semelhantes na família

* como transcorreram a gravidez e o nascimento

* se houve ocorrências de internações hospitalares

* como foi o desenvolvimento geral da criança

* se a criança emitiu sons (como “gugu”, “dadá”) no primeiro ano de vida (é com tais exercícios que ela treina seu aparelho da fala)

* quando disse as primeiras palavras

* como se comunica com seus pais e com outras crianças

* se há Indícios de que a criança está consciente de suas dificuldades

* que palavras e frases utiliza

* quais e quantas palavras compreende 

OUTROS OLHARES

UM RIO DE TRANSTORNOS

A violência faz crescer no Rio de Janeiro os casos de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático e até psicose

Falta de ar, tremores pelo corpo, sudorese nas mãos, sensação de aperto no peito, taquicardia, diarreia. O leitor e a leitora podem julgar que se trata, aqui, de uma reportagem restrita à medicina. Nada mais natural, mas o certo é que o enfoque é bem amplo – e localizado. Fala-se, na verdade, sobre o Rio de Janeiro. Os sintomas acima descritos são apenas alguns entre os que compõem enfermidades psiquiátricas como transtorno da ansiedade generalizada, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático. E onde entra a ex-cidade maravilhosa nessa história? Não é difícil imaginar. Considerável parcela de seus moradores já demonstram sinais claros dessas três doenças psíquicas por viverem diuturnamente em meio à crescente violência. E há gente desenvolvendo delírios persecutórios e psicotizando. Ainda que os ouvidos se habituem ao estampido de tiros, existe em todos nós, seres humanos, um sistema nervoso central em que ficam “impressas”, entre outras emoções, também aquelas que nos foram ruins. Após essa “impressão” ocorrer, o organismo pendula, autonomamente, entre a liberação de hormônios estressantes e hormônios relaxantes, numa repetição enlouquecedora. O mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado há menos de um mês, aponta sofrimento emocional em um a cada cinco indivíduos que habitam áreas conflagradas. Resta alguma dúvida de que o Rio de Janeiro é palco de uma conflagração, de uma “guerra” entre traficantes, milícias e policiais?

Quem passou por um assalto ou teve de se esconder de um tiroteio, por exemplo, pode desenvolver lembranças intrusivas (o mesmo tipo de pensamentos recorrentes em portadores de transtorno obsessivo compulsivo), flashbacks e pesadelos. E, como se o corpo estivesse programado para periódicas descargas de adrenalina, lá vem a crise de ansiedade. Há muita gente com tal sintomatologia. Outras pessoas que atravessaram situações de violência relatam nos postos de saúde que ficaram bem durante um bom tempo até que a depressão as abateu. Ou, mais grave ainda, a mania de perseguição. “Entra-se em pânico apenas com o barulho de um helicóptero. Quem é de fora não sabe o quanto é angustiante viver aqui”, diz a assistente social Liliane Santos, moradora no Complexo da Maré, na zona norte da cidade. Para se ter uma ideia da evolução das morbidades emocionais, os trinta e três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcionam no Rio de Janeiro atendem mensalmente, em média, quinze mil enfermos. Somente na Maré, nos últimos doze meses, houve uma escalada de 326 atendimentos. Então é isso, o Rio de Janeiro se tornou uma clínica e sua população está institucionalizada. Talvez com a finalidade de tentar evitar que uma criança sofra dos mesmos males, agora ou no futuro, um juiz da Vara da Família do Rio de Janeiro tomou uma decisão bastante incomum no campo jurídico. Saiu de seu roteiro do dia a dia e deu a guarda de um garoto de oito anos de idade, da favela de Manguinhos, ao pai, que mora em Santa Catarina, e não à mãe, que vive na comunidade. A sua justificativa na sentença é de gelar: “(…) a cidade do Rio de Janeiro tornou-se uma sementeira de crimes, havendo (…) o risco diuturno de morrer (…); reputo muito mais vantajoso para a criança (…) a morada com o pai (…)”. Reforçando a tese do juiz, o advogado do pai, Ricardo Afonso Batista, explica que “o progenitor não consegue sequer visitar o filho em Manguinhos porque os criminosos do local o ameaçam de morte”. A mãe, compreensivelmente abalada, rebate: “aqui, sempre fomos felizes. A casa é simples, mas ele adora a convivência com o irmão de quinze anos e continua estudando na mesma escola privada desde os três”, (seu prenome é Rosilaine, o sobrenome foi mantido em sigilo).

A decisão do magistrado pode ser reformada, e isso rapidamente, já que ele saiu da ortodoxia das leis. O Ministério Público recorreu da sentença alegando que a pobreza, por si só, não pode ser vista como um fator determinante para a perda da guarda. A OAB-RJ, por intermédio de Rodrigo Mondego, membro da Comissão de Direitos Humanos, declarou que a decisão “está calcada em mero preconceito”.

“A PANELA EXPLODE”

Deixando-se de lado o aspecto judicial, o fato é que a determinação do juiz demonstra de modo emblemático que a perspectiva de morte, “o risco diuturno de morrer” está sempre a rondar. Esse sentimento de proximidade da morte, segundo especialistas, ainda que ele migre emocionalmente para o inconsciente, é um dos fortes alimentos do transtorno de ansiedade generalizada e da depressão profunda. É o que acomete agora a moradora do Morro do Gambá Marcia Jacinto, que jamais imaginou que o som de um único disparo de arma de fogo derrubaria a sua vida para sempre – e não é para menos, o alvo da bala foi seu filho de dezesseis anos. “O que ele tinha a ver com essa guerra entre bandidos e policiais?”, pergunta Marcia. Em decorrência de sua dor psíquica, ela já sofreu um primeiro infarto e a ameaça do segundo. Nesse cenário, os próprios policiais, responsáveis por um dos mais altos índices de letalidade no País, engrossam as estatísticas de vítimas fatais: no ano passado (dado mais recente), aproximadamente trinta mil atendimentos psicológicos ou psiquiátricos foram realizados. “Somos cobrados para ser heróis e, por isso, não exibimos nossas fragilidades, principalmente as de cunho psicológico”, diz o policial Alexandre (nome fictício). “Se não buscamos tratamento, a panela explode”.

“Há uma precarização da saúde mental da população como um todo”, diz Dayse Assunção Miranda, cientista política da USP. Uma infeliz mulher do bairro do Botafogo (não quer se identificar) relata que após sofrer dois assaltos demorou a reconhecer que estava doente. Chegou-lhe o dia no qual não mais conseguiu dar um passo além da portaria de seu prédio. Palpitações e tremores tomaram-lhe o corpo. Imaginou-se anêmica. Foi ao médico. Viu-se encaminhada para serviços de atendimento à saúde mental. Ela mergulhara, não em um rio, mas em um mar de síndrome do pânico. É imprescindível e urgente que as autoridades responsáveis pela segurança no Rio de Janeiro – incluindo-se aí o governador Wilson Witzel que já brincou de passear de helicóptero sobre Angra dos Reis exibindo armamento – ouçam o relato de tantos aflitos. Dê-se voz à psicóloga do SUS Mariana Ferreira que assiste as vítimas que poderíamos chamar de enfermas da violência: “Existem pacientes que psicotizam gravemente. Acreditam ouvir vozes, ser alvos de perseguições e até ter chips implantados no corpo”.

VIOLÊNCIA E DIABETES

Estudo inédito do Ministério da Saúde retrata a morte de mulheres, em todo o País, a partir de doenças desenvolvidas em decorrência de elas terem vivenciado situações de violência. Os pesquisadores analisaram os registros de aproximadamente dezessete mil óbitos ocorridos entre 2011 e 2016. Triste conclusão: mulheres expostas à violência psicológica, sexual ou física apresentam risco de mortalidade oito vezes maior em comparação com a população feminina em geral.

Um dos aspectos mais originais e relevantes do trabalho está no fato de ele englobar doenças crônicas que surgem a partir de agressões. Uma delas, bastante grave, é a depressão. O dado mais surpreendente da pesquisa é que, em consequência do estado depressivo, uma das enfermidades prevalentes é o diabetes. O risco de morte devido a tal doença em mulheres que são vítimas de violência é quatro vezes maior se cotejado com o risco que correm as mulheres não agredidas.

Quanto a males cardíacos, meninas de quinze anos de idade que experimentam situações de extrema violência são seis vezes mais vulneráveis quanto ao risco de vida. “O impacto da violência à saúde da mulher vai muito além das feridas, das cicatrizes, das fraturas, dos hematomas”, diz Wânia Pasinato, uma das mais conceituadas sociólogas do País e consultora do Conselho Nacional do Ministério Público. “Tem impacto interno, subjetivo, na sua saúde física e mental que gera outras doenças”. O estudo do Ministério da Saúde contou com o trabalho de especialistas e pesquisadores da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade de Toronto e da organização internacional Vital Strategies que se dedica ao desenvolvimento de políticas de saúde pública.

GESTÃO E CARREIRA

COMO DESENVOLVER HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS?

O mundo se transformou radicalmente nas últimas seis décadas e, mais do que nunca, as pessoas estão frente a frente com incertezas quanto à vida e ao futuro, tendo de lidar com inúmeros desafios, crises e transições.

Vivemos em uma época em que as pessoas pensam cada vez mais em si próprias, no seu bem­ estar, na sua satisfação pessoal, no seu enriquecimento. Para muitos, o outro – se não for da sua família ou do seu grupo – pouco importa. Há uma crise de valores, pessoas valorizam mais o ter do que o ser; mais o individual do que o coletivo. Valorizam mais o “eu quero!” do que “eu posso'” ou “eu devo?”. O outro se torna um objeto que é utilizado para atingir objetivos e interesses pessoais. Há pouca consideração com ele e com o bem comum.

Nesse contexto, crianças e jovens precisam estar preparados para lidar não só com os desafios da aprendizagem, mas com os da vida cotidiana que enfrentam em uma sociedade complexa. O mundo mudou drasticamente nos últimos 60 anos, ocorreram transformações sociais, políticas e econômicas que modificaram as relações interpessoais (tanto hierárquicas quanto entre pares), as práticas educativas, os valores transmitidos de geração em geração e as representações que as pessoas têm da realidade. Mais do que nunca as pessoas estão frente a frente com as incertezas quanto à sua vida e ao futuro, tendo de lidar com vários desafios, crises e transições.

Torna-se fundamental “re – humanizar” as pessoas, ajudá-las a refletir sobre seus comportamentos, valores e projeto de vida. Ou seja, está na hora de pararmos e pensarmos que mundo desejamos deixar para as próximas gerações.

Vários estudiosos (Erikson, Fromm, Bandura, Lewin, Bee, Papalia, dentre outros) se preocuparam em compreender o desenvolvimento psicossocial das pessoas, levantando características importantes da personalidade e do comportamento humano. Há aspectos em comum, mas não há consenso, pois as teorias partem de pressupostos diferentes, de visões de homem e de mundo diversas. É difícil apreender a complexidade do ser humano e teorias são apenas modelos para nos acercar da realidade. Além disso, temos que ficar atentos, porque nem sempre os conceitos são utilizados com o mesmo significado. Por exemplo, muito se fala de competência socioemocional. Contudo, alguns autores consideram competência um potencial a ser desenvolvido, e outros, um atributo avaliativo de um comportamento ou conjunto de comportamentos bem-sucedidos. Mas o importante é que, independentemente da abordagem teórica, a maioria dos teóricos concorda que as habilidades socioemocionais podem ser desenvolvidas e esse aprendizado constitui um fator relevante para as pessoas em geral.

O aprendizado das habilidades socioemocionais tem efeito positivo no processo educacional, pois ajuda os alunos a se sentirem motivados, comprometidos e os leva a ter aspirações em relação ao próprio desempenho acadêmico e ao futuro.

Além disso, as habilidades socioemocionais parecem trazer benefícios para a saúde, fomentar a cidadania, reduzir a violência interpessoal e abuso de drogas. São habilidades importantes para toda a vida e podem favorecer a ocorrência de futuros processos de resiliência. Sem dúvida alguma, podem ajudar a criar um mundo mais humano, com valores e pessoas se responsabilizando pelos seus atos.

Contudo, fica uma questão: como desenvolver tais habilidades?

ABORDAGENS

Não existe uma resposta simples e direta para essa pergunta. Vários grupos com abordagens teóricas diferentes atuam na área há bastante tempo. Em geral, as intervenções são realizadas por organizações não governamentais ou por grupos de pesquisa, ligados a universidades. As intervenções realizadas por ONGs, muitas vezes, são bem-sucedidas, mas nesses trabalhos, em geral, não há a preocupação em avaliar os resultados ou replicar a atividade. Isso ocorre de forma sistemática nos grupos ligados a alguma universidade, pois estão preocupados em integrar teoria e prática, avaliar programas e intervenções de forma que possam ser replicados. Dentre os pesquisadores da área no Brasil, podemos citar os trabalhos de equipes orientados por Sílvia Koller, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Zilda e Almir Dei Prette, da Universidade Federal de São Carlos; Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, da USP de Ribeirão Preto; e Rosane Mantilla de Souza, da PUC de São Paulo, dentre outros.

Um grupo que se preocupa em fornecer os fundamentos teóricos e avaliar as intervenções realizadas na área da aprendizagem socioemocional, considerando-a parte essencial da educação ao longo de todo o ensino regular (pré­ escola ao ensino médio), é o CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning). Ele foi criado em 1994 por educadores e pesquisadores de diversas universidades e fundações dos Estados Unidos, comprometidos com o avanço da aprendizagem socioemocional. Em 2017, avaliaram 82 programas de aprendizagem socioemocional realizados em escolas (38 fora dos Estados Unidos) com follow-up de 6 a 18 meses. Observaram que os participantes apresentaram melhora nas habilidades e atitudes socioemocionais, assim como em índices de bem-estar social, independentemente do background socioeconômico cultural.

Para eles, aprendizagem socioemocional é o processo pelo qual tanto crianças e adolescentes quanto adultos adquirem e efetivamente utilizam os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para entender e lidar com suas emoções; determinar e alcançar seus objetivos; sentir e mostrar empatia pelos outros; estabelecer e manter relacionamentos positivos e tomar decisões responsáveis (CASEL). Interessante observar que enfatizam a necessidade de os programas desenvolverem conhecimentos e habilidades, assim como a aquisição de atitudes. Ou seja, enfatizam o saber, o saber fazer e o querer fazer – aspectos fundamentais para o desenvolvimento de competências.

Para esse modelo as cinco áreas ou competências fundamentais que devem ser abordadas em programas de aprendizagem socioemocional são: autoconhecimento – entendido como capacidade de reconhecer com precisão as próprias emoções, pensamentos e valores e como influenciam o comportamento. É a habilidade de avaliar com precisão os próprios pontos fortes e limitações, com base em senso bem fundamentado de autoconfiança, otimismo e desejo de crescimento; autorregulação – capacidade de regular com sucesso emoções, pensamentos e comportamentos em diferentes situações. É a habilidade de gerenciar efetivamente o estresse) controlar os impulsos e auto motivar-se, bem como a capacidade de estabelecer metas pessoais e acadêmicas. Essa competência) às vezes, também é nomeada como autocontrole. Contudo, preferimos usar o termo autorregulação, por transmitir a ideia de algo que pode ser modulado, regulado e não apenas contido; habilidade de relacionamento – capacidade de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e gratificantes com diversos indivíduos e grupos. Inclui habilidades de comunicação (saber ouvir e saber falar), cooperação, a possibilidade de resistir a pressão social inadequada, negociar conflito de forma construtiva, bem como procurar e oferecer ajuda quando necessário; consciência social – capacidade de empatia e de entender a perspectiva dos outros, mesmo que de culturas e backgrounds diversos. É a habilidade de compreender normas sociais e éticas de comportamento, assim como reconhecer a família, a escola e a comunidade como fonte de recurso e apoio; tomada de decisão responsável ­ capacidade de fazer escolhas construtivas sobre o comportamento pessoal e as interações sociais baseadas em padrões de ética, preocupações de segurança e normas sociais. Habilidade de avaliar realisticamente as consequências de várias ações e considerar o bem-estar próprio e dos outros.

Além disso, para que programas sejam efetivos eles devem incluir todos os envolvidos no processo: crianças e/ ou adolescentes, professores, pais e toda a comunidade educacional. Ou seja, é importante ter uma visão sistêmica do fenômeno e uma intervenção que privilegie os seus diversos atores.

PESQUISA

A autora iniciou atividades na área no grupo de pesquisa da drª. Rosane Mantilla de Souza, em uma intervenção no 1° ano do ensino fundamental de uma escola pública. Como é psicóloga clínica e trabalha há bastante tempo com crianças, ficou surpresa com a rápida melhora das crianças e decidiu continuar os estudos na área. Em 2007, realizou a pesquisa do doutorado.

Tinha interesse em ajudar crianças a enfrentar crises e auxiliá-las a levar esse conhecimento para a vida. Para isso, realizei, no doutorado, um programa de promoção de habilidades socioemocionais em escola com o intuito de facilitar a transição do ensino fundamental I para o II, de forma que pudesse ser replicado por professores em geral. Para montar o programa, levantei os interesses com todos os envolvidos (alunos, pais e equipe docente) e estabeleci temas a serem trabalhados. Realizei 18 encontros semanais, nos quais abordei temas relativos à adolescência; mudança escolar e habilidades socioemocionais (autoconhecimento, autorregulação, habilidade de relacionamento, tomada de decisão responsável e consciência social).

Em cada tema desenvolvi conceitos para que os alunos adquirissem os conhecimentos necessários sobre o assunto. A seguir, propus atividade de arte terapia para que vivenciassem esses conteúdos e desenvolvessem as habilidades para saber fazer e pudessem refletir sobre suas atitudes, escolhendo como agir. Esse material foi compilado em um caderno de atividades que, ao final, cada aluno levou para casa. Esse caderno serviu como registro do que foi vivido e também como material de consulta, que permitiu compartilhar o conhecimento com pais e familiares, ampliando a comunicação e o alcance da intervenção.

Escolhi a arte terapia como recurso para as atividades, pois todos são capazes de se expressar por meio da arte, independentemente de suas diferenças educacionais, culturais e econômicas. Ela possibilita autoconhecimento, facilita a comunicação, o desenvolvimento da criatividade e o aprendizado de técnicas de resolução de conflito. Além disso, o objeto criado facilita a troca entre os participantes, a expressão de emoções e sentimentos, prescindindo das palavras. Torna possível entrar em contato com o “novo”, o saudável e promove o protagonismo social na medida em que cada um escolhe o que e como.

MARIA BETÂNIA PAES NORGREN – é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP: especialista em Arteterapia pelo Instituto Sedes Sapientiae; coordenadora acadêmica do curso de especialização em Arteterapia desse mesmo instituto; professora e supervisora nesse curso e no curso de especialização do Instituto da Família de Porto Alegre, RS. Trabalha em clínica há mais de 30 anos, atendendo crianças, adolescentes e suas famílias em psicoterapia e orientação. Autora do livro Arteterapia:  Promoção de Saúde e Aprendizagem Socioemocional.

ALIMENTO DIÁRIO

QUALIFICADOS

CAPÍTULO 27 – TATO E DIPLOMACIA, CHAVES PARA EDIFICAR (NÃO DESTRUIR) PONTES

“Nunca corte o que você pode desatar.”  — Joseph Joubert

PENSAMENTO-CHAVE: Aprender a trazer à tona o melhor das pessoas e relacionamentos é uma das mais importantes habilidades que um líder espiritual pode possuir.

UM ESTUDO DE CASO ACERCA DA INSENSIBILIDADE

Houve um tempo na História em que o reino de Israel se dividiu, mas muitos não se recordam de que evento promoveu essa divisão. A divisão ocorreu quando o rei Roboão demonstrou insensibilidade e dureza àqueles que estavam sob o seu cuidado e respondeu a eles grosseiramente.

A influência de Roboão como um líder foi drasticamente diminuída por causa da sua falta de diplomacia e tato em lidar com as pessoas (ele perdeu 10 das 12 tribos). A parte mais triste foi que ele fora avisado por conselheiros sábios exatamente como se relacionar adequadamente com aqueles que estavam sob o seu cuidado (2 Crônicas 10:7): “Eles lhe disseram: Se te fizeres benigno para com este povo, e lhes agradares, e lhes falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre”.

Em vez de responder ao povo severamente, Roboão teria sido sábio em atentar para as palavras de Provérbios 15:1: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”.

Quebras de relacionamentos podem ocorrer por muitas razões, contudo, não queremos negligenciar e perder essa importante lição concernente a tato e diplomacia.

MAS EU NÃO QUERO SER ALGUÉM QUE AGRADA A TODOS

Muitos hesitam diante do pensamento de “agradar as pessoas”, porque eles pensam na falsidade da qual Colossenses 3:23 fala. Não querem ser como o líder artificial, bajulador, de duas caras que eles já viram falando com uma voz suave e agradável na tentativa de abrir seu caminho para o topo. Apesar disso, ainda existe um lado positivo em agradar as pessoas. Considere essas duas passagens dos escritos de Paulo:

Assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.  — 1 Coríntios 10:33

Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação.  — Romanos 15:2

O motivo para agradar as pessoas é a chave. Paulo não estava em uma briga pela popularidade (Gálatas 1:10), não estava obcecado em ser politicamente correto, ele não estava buscando agradar as pessoas para um ganho pessoal. Em vez disso, ele procurou edificar pontes que serviriam posteriormente para os propósitos do Reino. Ele foi muito deliberado e intencional nisso (veja 1 Coríntios 9:19-23).

CONTEÚDO, TEMPO E TATO

A comunicação efetiva, a qual é uma das nossas maiores ferramentas na edificação de relacionamentos positivos, envolve três componentes-chave:

•  Conteúdo (o que dizer)

•  Tempo (quando dizer)

•  Tato (como dizemos)

Infelizmente, muitas pessoas parecem focar exclusivamente no conteúdo em sua comunicação, enquanto ignoram os componentes vitais de tempo e tato. O que dizemos (conteúdo) é importante, mas não nos foi dito apenas para falar a verdade, mas para falar a verdade em amor (Efésios 4:15). O amor não apenas considera o conteúdo ou a exatidão da mensagem, mas também considera o bem-estar do ouvinte e se preocupa o suficiente para buscar a melhor maneira para comunicar a verdade. Neste capítulo, iremos falar do tato, e é essencial entender que até mesmo o melhor conteúdo pode ser minado significativamente se não exercermos a sabedoria e a sensibilidade em como o comunicamos.

Tato é definido como:

•  Um senso apurado de o que dizer ou fazer para evitar ofender alguém.

•  Habilidade em lidar com situações difíceis ou delicadas.

•  Um senso apurado do que é apropriado, de bom gosto ou esteticamente agradável.

•  Sabor.

•  Discriminação.

Ouvi rapidamente uma história imaginativa que ilustra o significado de tratar as pessoas com tato. Um rei chamou um de seus videntes para inquirir a respeito de seu futuro. O vidente respondeu: “Você viverá para ver todos os seus filhos mortos”. Ouvindo isso, o rei irou-se e ordenou que o vidente fosse morto. O rei então fez a um segundo vidente a mesma pergunta. Esse vidente disse: “Você será abençoado com uma longa vida, e morrerá em uma idade madura. Você viverá mais do que todos os da sua família”. O rei ficou satisfeito e galardoou esse vidente com ouro e prata. Ambos reportaram basicamente os mesmos fatos, mas apenas um deles teve tato na maneira de comunicar a mensagem.

GRANDE SABEDORIA

Discutindo as razões por que ministros falham, Gordon Lindsay disse: “… uma das maiores causas de falha é a falta de delicadeza ou tato. Muitos ministros possuem todas as qualificações para o serviço, exceto uma. E por que eles não têm isso? Acontece em grande parte porque eles não tiram tempo para dominá-la. Tato é delicadeza para com outros; é sensibilidade à atmosfera do momento; é uma combinação de interesses, sinceridade e fraternidade, dando a outro companheiro um senso de bem-estar na sua presença. Em uma palavra, é o amor cristão, a prática da regra de ouro”.

Oswald Sanders, outro grande líder espiritual, disse: “O significado original da palavra ‘tato’ se refere ao senso de toque, e veio a significar a habilidade em lidar com pessoas ou situações sensíveis. Tato é definido como ‘a percepção intuitiva, especialmente uma percepção rápida e fina do que cabe e é próprio e correto’. Isso alude à habilidade de alguém de conduzir negociações delicadas e assuntos pessoais de uma forma que reconhece os direitos mútuos, e ainda guia a uma solução harmoniosa”.

J. G. Randall declarou: “Tato é uma quantidade de qualidades trabalhando mutuamente: compreensão da natureza humana, simpatia, autocontrole, um talento especial de induzir os outros a um autocontrole, evitar ser desajeitado, prontidão para dar a uma situação imediata uma mente compreensiva e um segundo olhar. Tato não é apenas bondade, mas uma bondade habilidosamente estendida”.

Baltasar Gracian disse: “Cultive o tato, porque é a marca de cultura… o lubrificante das relações humanas, suaviza contatos e minimiza fricções”.

O comentarista bíblico Alexander Maclaren comentou: “Bondade faz uma pessoa mais atrativa. Se você quiser ganhar o mundo, faça-o derreter, e não o martele”.

Outro sábio disse: “Tato é a arte de argumentar, sem fazer um inimigo”.

Se alguma pessoa entendeu que era impossível agradar a todos, esse foi o presidente Abraham Lincoln. Ele guiou os Estados Unidos através dos dias mais difíceis e divididos. Entendendo a importância de manter bons relacionamentos sempre que possível e evitar todas as ofensas desnecessárias, Lincoln disse: “A nitidez de uma recusa ou a proximidade de uma censura podem ser anuladas por uma história apropriada de modo a poupar sentimentos feridos e ainda servir ao propósito”. Em outras palavras, Lincoln sabia que ele tinha de tomar decisões duras que nem todos concordariam, mas ele buscou comunicar aquelas decisões e posições de uma maneira que causasse o mínimo de dano, e que poderia esperançosamente facilitar relacionamentos positivos em seu intercurso.

Considere os seguintes versículos que lidam com graciosidade na comunicação:

•  O SENHOR Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos (Isaías 50:4).

•  Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo (Provérbios 25:11).

•  Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo (Provérbios 16:24).

•  Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam: Não é este o filho de José? (Lucas 4:22).

•  A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um (Colossenses 4:6).

AS LIMITAÇÕES DO TATO

Seria enganoso dar a impressão, contudo, de que a delicadeza e a diplomacia são varinhas mágicas que garantem o sucesso em todas as situações. O fato de que você faz a sua parte, exercendo sabedoria e graciosidade, não garante que outros irão agir automaticamente da forma que você gostaria que eles agissem. As pessoas se maravilharam com as palavras graciosas que foram proferidas por Jesus, mas Ele ainda assim foi crucificado. João foi conhecido como “O Apóstolo do Amor”, mas ele ainda acabou sendo exilado na ilha de Patmos.

Independentemente da reação dos outros, se eles fazem a coisa certa ou não, continuamos com a responsabilidade de nos tornarmos os melhores comunicadores que pudermos, andando em bondade e sabedoria e fazendo tudo o que está em nosso poder, com a ajuda divina, para edificar os melhores relacionamentos que pudermos com as pessoas.

Que Deus nos dê sabedoria enquanto tomamos a decisão de que as nossas palavras irão ministrar graça para todas as pessoas que as ouvem.

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