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PSICOPEDAGOGIA SEM BULA

Educar filhos é um desafio. Não há manuais que ensinem essa tarefa de forma eficaz, mas com observação atenta e planejamento é possível prevenir muitos problemas.

Psicopedagogia sem bula

“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade” – Kant

Em uma atualidade cheia de referências, manuais, aplicativos, sites de busca e orientação, a pessoa mais importante de nossas vidas – nosso filho(a) – continua a chegar sem sequer um rascunho de mapa, de bula, de guia… e isso vale para a criança também! Afinal, conhecer os pais, aprender a conviver com eles também não são tarefas fáceis, ainda mais se pensarmos na diferença, fragilidade e imaturidade física e mental entre crianças e adultos.

A competência para a maternidade ou paternidade não se resume na capa ­ cidade infinita de doação, abnegação, amor, intuição. É preciso também a aptidão para a reflexão, planejamento de estratégias, para fazer escolhas rápidas e assertivas, em um mundo sempre em vertiginosa mudança e referenciais múltiplos.

Educar sempre foi considerado uma tarefa difícil, mesmo no passado, época em que mudanças ocorriam em etapas mais ou menos previsíveis. Mas a atualidade exige que a família esteja constantemente atenta e previamente preparada para as ações educativas que se fizerem prementes. Novas atuações, novas posturas, maior complexidade!

Hoje, é preciso saber ser modelo, um líder, um herói para os filhos, sem perder a humanidade, a intimidade e sem esquecer nossa maior missão: educá-los para o mundo e, portanto, não para nós!

Pais nos remetem também a heróis, pois inspiram, protegem e ainda aludem aos grandes líderes, uma vez que cuidam, dão modelos de conduta e, estando próximos, oferecem desafios valiosos para estimular o crescimento.

Orientar, supervisionar, sem ser intrusivo, dando espaço ao erro e ao acerto, acolher e ensinar a pensar, a ser autônomo, não são objetivos fáceis de atingir no dia a dia. Educar exige, além do mais, que os próprios pais se preocupem em desenvolver seu autoconhecimento, procurando crescimento pessoal, equilíbrio emocional, saúde física e mental.

Educar não é tarefa para qualquer um: é uma decisão pessoal que requer grande empenho. Afinal, o desafio começa antes do nascimento do bebê e se desenrola até que o filho de fato adquira sua independência, seja financeira, seja profissional ou social.

E se acrescente, não se trata de ação solitária, de decisão unilateral: a criança nasce em uma família, portanto há o pai, a mãe, os avós, os tios etc. Todos exercem seus papéis e influências na sua educação, com maior ou menor intensidade, tornando mais complexas as medidas educativas.

Cada época corresponde a um estilo parental. Na atualidade, o mais usual é o estilo democrático, no qual, ao contrário do autoritário, em que o controle sobre a criança é excessivo, e do permissivo, em que a ausência de limites é marcante, manifesta-se firmeza com dignidade e respeito, regras de acordo com a fase de desenvolvimento infantil, escolhas permitidas sob limites, os pais encorajam e, portanto, aceitam os erros infantis como momentos que os ajudam a crescer.

Talvez o aspecto mais importante do estilo democrático de educação seja o perfil da criança que ele geralmente desenvolve: pessoal e socialmente responsável, resiliente, com boa autoestima, menos impulsiva e que, mais satisfeita consigo mesma, busca o sucesso em vários aspectos da sua vida.

Assim também a educação democrática é essencialmente preventiva, trabalha a capacidade de suportar frustrações desde a infância, promovendo situações em que se desenvolvem muitas possibilidades para a criança suportar experiências de várias ordens.

Fica claro, hoje, que a melhor forma de educar é a prevenção. Aliás, em todas as áreas de nossa vida, “prevenir é melhor que remediar”; principalmente quando há sentimentos envolvidos, a prevenção mantém a família unida, a autoestima de todos elevada, a atividade em seu melhor ritmo, a afetividade gerando boas ações.

Prevenir sempre é um exercício de lógica, que tem dois aspectos importantes: primeiro, quando se identifica um problema existente, procuram-se causas prováveis, determinam-se estratégias que diminuam o problema ou o extingam.

O segundo aspecto é a prevenção do comportamento que não se deseja, pela antecipação. Parece impossível, mas não é, pois, o ser humano tem um desenvolvimento neurológico e psicológico linear e coerente, marcado por etapas similares em quase todas as crianças e jovens, embora as vivências e a genética determinem as individualidades. Assim, há períodos críticos de desenvolvimento cerebral, comum a todas as crianças: todas andam, falam em idades similares, por exemplo.

Conhecendo nossos filhos, suas características pessoais e as de sua faixa etária, podemos planejar antecipadamente recursos para administrar seus comportamentos antes que ocorram. É o caso de prever acessos de birras em supermercados e shoppings e gerenciar antecipadamente recursos para administrar a situação.

Para isso é preciso levantar as necessidades de uma determinada situação, levando em conta os atributos da criança e sua tolerância a frustrações, de uma forma lógica, tendo por base sua fase de desenvolvimento.

Assim, sem bula, mas com uma educação democrática e disciplina preventiva, é possível educar na atualidade para o sucesso e com menos ansiedade e frustrações.

 

Maira Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07.) É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagemirenemaluf@uol.com.br

PSICOLOGIA ANALÍTICA

METAS E OBJETIVOS

Ser capaz de estabelecer metas e objetivos é uma importante habilidade, capaz de promover nosso desenvolvimento. Contudo, às vezes, ela também pode nos destruir.

Metas e objetivos

É irresistível. Chega o início do ano e somos tentados a escrever sobre perspectivas, metas e projeções para o ano que nasce.

Somos uma sociedade de objetivos que propaga o estabelecimento de metas como a forma mais eficiente de desenvolvimento humano.  É claro que aqui poderíamos discutir o conceito de desenvolvimento humano, incluindo uma crítica bastante pertinente, relativa ao fato de que, de  maneira geral, sermos muito mais incentivados ao estabelecimento de objetivos relacionados ao  ter do que ao ser. Como se o desenvolvimento de uma pessoa se limitasse ao aprendizado e à conquista de habilidades passíveis de serem utilizadas no mundo do trabalho (e, é claro, reconhecidas por meio do dinheiro), tais como a habilidade de falar um segundo idioma ou de  resolver equações do segundo grau (ainda que nos meus mais de 40 anos de vida profissional jamais, nem mesmo uma única vez, tenha me deparado com uma demanda profissional que exigisse o sombrio conhecimento acerca das equações do segundo grau. Ainda julgamos o “crescimento” de uma pessoa muito mais a partir do status que ela conquistou na sociedade do que por meio de qualquer outro indicador. “Fulano cresceu muito. Veio de família pobre, mas hoje tem casa própria, carro importado e viaja pro exterior duas vezes por ano”!

Sem que possamos nos dar conta, somos talhados a uma espécie de compulsão ao acúmulo como indicador de sucesso, de validação do nosso eu perante uma sociedade que prioriza as conquistas materiais, muitas delas legitimadas por meio de um trabalho que, alardeado por “dignificar” o homem, por vezes o destrói, compelindo-o a exceder seus próprios limites e levando-o à mais completa exaustão. Diante desse cenário, seguimos estipulando metas. Como se a simples conquista das metas fosse a exata medida do nosso valor. É verdade que alguns indivíduos o fazem com maior frequência do que outros, contudo uma coisa é certa: os primeiros meses do ano possuem um apelo especial ao estabelecimento de metas e objetivos. E embora não haja nada de errado quanto a isso, é preciso que se diga que às vezes tão ou mais importante do que estabelecermos metas e objetivos para as nossas vidas é, simplesmente, NÃO estabelecermos metas e objetivos para as nossas vidas! Afinal, de que adianta começarmos o ano com 32 objetivos que, ao longo dos 365 dias que temos pela frente, representarão para nós uma verdadeira condenação e/ou a certeza do fracasso? Talvez seja mais sábio escolher um número menor de objetivos mais realistas e, portanto, capazes de nos manter motivados ao longo do ano, do que iniciarmos com uma sobrecarga desnecessária e, pior, com alto potencial de se transformar em frustração ao final.

Porém, mais importante do que tudo é a compreensão da maneira silenciosa e perversa por meio da qual os objetivos podem se transformar em condenação. Nem mesmo o já mencionado excesso de objetivos tem a capacidade de fazê-lo! Para compreender o potencial de condenação de uma meta ou objetivo, precisamos analisá-lo de perto. Explorar seu conteúdo, bem como (e principalmente) a natureza da pessoa a qual se refere. Dizendo de uma maneira mais fácil, a receita para o estabelecimento de metas e objetivos é simples: em primeiro lugar, devemos ser comedidos em relação ao número de objetivos que estabelecemos a fim de evitarmos frustrações e sobrecargas desnecessárias. Chegando então a esses poucos objetivos devemos, em seguida (seguindo a recomendação de Viktor Frankl), nos questionar se tais objetivos são dignos de nós mesmos. Estariam eles alinhados com o nosso propósito? Com aquilo que de melhor temos a oferecer ao mundo? Essa é a verdadeira “pergunta do milhão” a qual um indivíduo desconhecido de si mesmo jamais terá condições de responder.

Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. onde oferece atendimento clinico, consultoria empresarial e cursos na área – graziano@psicologiapositiva.com.br

GESTÃO E CARREIRA

VOCÊ TEM MEDO DO SUCESSO?

Sete em cada dez profissionais pensam que não merecem o destaque que alcançaram. Veja como lidar com a “Síndrome do Impostor”.

Você tem medo do sucesso

Se você já se sentiu menos competente do que realmente é em algum momento da carreira, bem-vindo ao clube nada seleto dos potenciais portadores da síndrome do Impostor, problema que atinge 70% das pessoas bem-sucedidas, de acordo com uma pesquisa desenvolvida pela psicóloga Gail Matthews, da Universidade Dominicana da Califórnia, nos Estados Unidos. Não há porque se preocupar, pois não se trata de uma doença. Síndrome do Impostor é um nome popular que caracteriza o sentimento de fraude no trabalho, ou seja, o ato de questionar os méritos pessoais e buscar as justificativas para o sucesso em fatores externos como sorte, ajuda ou indicações. Esse comportamento é típico dos grandes realizadores. Consta que o gênio renascentista Leonardo Da Vinci, por exemplo, sofria desse mal. “Eu tenho ofendido a Deus e à humanidade, porque meu trabalho não alcançou a qualidade que deveria”, teria dito Leonardo Da Vinci no fim de sua brilhante e produtiva vida.

A primeira pesquisa sobre o tema foi publicada em 1978 pela psicóloga americana Pauline Rose Chance, responsável por cunhar o termo “síndrome do impostor” e uma das maiores especialistas na área até hoje. Segundo a pesquisadora, a sensação de ser uma fraude no trabalho atualmente é ainda mais presente na sociedade por dois fatores. Primeiro, as pessoas ficaram mais exigentes consigo mesmas na busca do sucesso. Segundo, o meio digital intensificou o hábito de se comparar aos outros, o que reforçou a presença da síndrome na vida das pessoas. “Existe muita competição, os profissionais querem ser os melhores em seu emprego e não se contentam mais em ser apenas bons o suficiente”, afirma Pauline. “A síndrome do impostor faz parte da essência do ser humano. Todos podem ter essa experiência em alguma fase da vida.”

O problema é ainda mais sério em profissionais que têm entre 20 e 40 anos e ocupam na maioria dos postos de trabalho do mercado hoje. São pessoas que tiveram a carreira acelerada para ocupar os muitos cargos que se abriram no período de relativa expansão da economia brasileira nos últimos dez anos. Muita gente, ao chegar precocemente determinada posição, sem ter passado pelas necessárias experiências de sucesso e de fracasso, desenvolveu algum grau de síndrome do Impostor. O perfil que mais exemplifica isso é o trainee (ou ex-trainee), profissional que é preparado em laboratório para ocupar muito cedo cargos de liderança chefiando até mesmo colegas mais experientes.

A sensação de fraude nasce de um desequilíbrio entre responsabilidade e autoridade, de acordo com Osvino Souza, professor de comportamento e desenvolvimento organizacionais na Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. Quando falta experiência para assumir responsabilidades de alto nível, o indivíduo pode ter medo de não dar conta do trabalho. Já profissionais competentes, mas desprovidos da autoridade necessária para solucionar as tarefas, desenvolvem um desagradável sentimento de baixa autoestima, que dificulta o crescimento na carreira. “Parte da culpa pelo desenvolvimento da síndrome em Jovens profissionais da pressão das empresas pela entrega de resultados quase inalcançáveis, o que provoca uma sensação de estar sempre em dívida”, afirma Osvino “Em outros casos, a pressão é imposta pelo indivíduo que, por buscar um elevado status social, nunca está satisfeito com o que consegue produzir·

 COMO A SÍNDROME DO IMPOSTOR SURGE

A síndrome tem fundo psicológico. O problema se desenvolve em pessoas que alcançaram algum tipo de realização – promoções no escritório, boas notas, livros publicados, prêmios, pesquisas desenvolvidas. Caso contrário, não haveria motivos para se sentir um embuste. De acordo com Luci Balthazar, especialista em psicologia do trabalho da ProMover, no Rio de Janeiro, pessoas de qualquer idade podem sofrer com o problema, independentemente do nível de carreira em que se encontram. “Muita gente inicia esse sentimento na infância, quando recebe comentários negativos sobre si mesma”, diz Luci. O profissional cria uma imagem negativa que o faz pensar que não pertence ao lugar de destaque que conquistou.

Líderes e executivos de alto nível que estabelecem relações tensas com seus subordinados frequentemente escondem um sentimento de impostor. Os chefes tentam blindar a insegurança com atitudes arrogantes e autoritárias, que intoxicam o ambiente e prejudicam a segurança de toda a equipe fenômeno definido como “toxicidade nas relações do trabalho” pelo antropólogo canadense Peter Frost, no livro Emoções Tóxicas do Trabalho (Editora Futura, 2003). É mais fácil identificar o sentimento de trapaça quando o portador exerce grande poder de influência dentro da organização. A situação fica óbvia quando os liderados perdem a confiança e não conseguem se inspirar no líder ou quando o próprio líder começa a perder o prazer de trabalhar. Muitos deles se tornam workaholics e atribuem seu sucesso ao fato de que trabalham mais do que os colegas. Por medo que os outros descubram sua suposta fraude, o gestor centraliza o poder e impede que outros se mostrem mais fortes do que ele”, afirma RaphaeI Falcão, diretor da Hays, empresa global de recrutamento do Rio de Janeiro.

Para quem está nos estágios iniciais de carreira, a síndrome aparece de forma mais sutil. Pequenas atitudes, como negar um elogio, manter distância dos colegas ou ser generoso demais, indicam possíveis sintomas. Quando o indivíduo escolhe seguir uma profissão, espera-se que ele trace o caminho que pretende seguir para chegar àquilo que considera o topo – o que, na maioria das vezes, é uma missão quase impossível. Frustrado por se sentir incapaz de tomar-se a figura que sempre sonhou, o profissional deixa de celebrar os obstáculos que, por mérito, foi capaz de superar. É comum pensar que nada do que fez foi realmente especial. “As pessoas querem ser líderes como Mandela ou Gandhi, mas não percebem são líderes todos os dias”, afirma Eva Hirsch Pontes, coach do Rio de Janeiro, Alguns portadores da síndrome optam por minar as próprias metas. Assim, conseguem comprovar a tese inventada por eles mesmos de que não seriam capazes de ir até o fim. “A pessoa tem capacidade, mas desencadeiam uma série de obstáculos que dificultam a conclusão da tarefa”, afirma Luci.

Porque, se der tudo certo, ela vai :ganhar uma projeção por algo que considera não merecer e não ser capaz de sustentar.” Procrastinar e deixar a execução da tarefa para última hora é a característica mais comum da auto sabotagem, Casos agudos de síndrome do impostor também aparecem em profissionais que batalharam muito ao longo da vida. Quando chegam ao topo e não enxergam mais possibilidades de crescimento, frustram-se pela falta de novos desafios diários.  “Os falsos impostores sempre esperam que algo pior aconteça e, quando as coisas fluem naturalmente, pensam que fizeram alguma coisa de errado ou que não chegaram aonde gostariam… diz Rogério Boeira, fundador da empresa de treinamentos Cultman Management & Education, do Rio de Janeiro.

 PRINCIPAIS VÍTIMAS

Quando os psicólogos começaram a pesquisar a síndrome do impostor, na década de 70, acreditava-se que o problema era majoritariamente feminino, por todas as dificuldades que as mulheres enfrentam para entrar no mercado de trabalho. Com o tempo, constatou-se que o sentimento atingia tanto homens quanto mulheres, porém os homens sempre foram mais encorajados a fingir ter confiança para alcançar o sucesso. Por isso as mulheres costumavam apontar casos mais agudos da síndrome. “Qualquer pessoa que tenha sofrido preconceito por gênero, cor ou cultura está mais propicia a se sentir uma fraude”, afirma Valerie Young, psicóloga americana especialista em síndrome do impostor. Em geral, as pessoas que se dizem impostoras tendem a atingir resultados maiores do que aquelas que são muito seguras em relação a si mesmas, porque se esforçam mais para que os outros não descubram sua suposta incompetência. “Pessoas ignorantes em relação a um tema acham que sabem mais do que os bem preparados, porque não entendem a responsabilidade que seria necessária para falar sobre o assunto”, diz Rogério, da Cultman. “A ignorância gera mais confiança do que o conhecimento em si”

O LADO POSITIVO

Em doses moderadas, a síndrome do impostor não é algo ruim. De certa forma, ela serve como impulso para que as pessoas busquem melhorar e atingir novos desafios. É altamente positivo querer sempre ser o melhor naquilo que faz. Mas quando o profissional acredita que engana os outros que o admiram, por achar que não é competente para ocupar sua posição, o estímulo se transforma em angústia permanente. Para superar esse fardo, é preciso aprender a anular o sentimento de impostor e entender que, embora a sorte possa até trazer situações favoráveis no crescimento, só consegue se manter bem-sucedido quem faz por merecer. Se a lição de casa está feita, pare de relembrar as falhas e aprenda a celebrar cada etapa de seu triunfo. Afinal, uma conquista grande sem celebração não vale nada.

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Fonte: Revista Você SA – Edição 189

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 15: 21-28

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A Cura da Filha da Mulher Cananéia

Aqui temos aquele famoso relato da ocasião em que Cristo expulsou o demônio da filha da mulher cananeia; ele tem algo singular e muito surpreendente, e que olha favoravelmente aos pobres gentios, e é uma antecipação da misericórdia que Cristo tem guardada para eles. Vemos aqui um lampejo daquela luz que devia iluminar os gentios (Lucas 2.32). Cristo veio para os seus, e os seus não o receberam, e muitos discutiram com Ele, e se ofenderam com Ele – observe o que acontece a seguir (v. 21).

I – Jesus partiu dali. Note que com justa razão a luz é removida daqueles que brincam com ela, ou se rebelam contra ela. Quando Cristo não pôde ficar com tranquilidade naquele lugar, Ele, juntamente com seus discípulos, o deixou, e assim deu um exemplo da sua própria regra (cap.10.14): “Sacudi o pó dos vossos pés”. Embora Cristo suporte muito, Ele não suportará para sempre as “contradições dos pecadores contra si mesmo”. Ele tinha dito (v.14): “Deixai-os”; e Ele fez isso. Os preconceitos deliberados contra o Evangelho, e as críticas a ele, frequentemente fazem com que Cristo se retire, e remova a luz do lugar (Atos 13.46,51).

II –  Quando partiu dali, Ele “foi para as partes de Tiro e de Sidom”; não àquelas cidades (elas foram excluídas de qualquer participação nos milagres de Cristo, cap.11.21,22), mas para aquela parte da nação de Israel que fica naquela direção. Para lá Ele foi, como Elias foi a Sarepta, uma cidade de Sidom (Lucas 4.26); para lá Ele foi, para cuidar dessa pobre mulher, a quem Ele tinha reservado a sua misericórdia. Embora continuasse fazendo o bem, Ele nunca abandonou o seu caminho. Os confins escuros da nação, que estão mais distantes, terão uma cota das suas influências benéficas. E assim como ocorreu com os confins da nação, no futuro a extremidade da terra verá a sua salvação (Isaias 49.6). Nesse lugar se operou esse milagre, na história em que podemos observar alguns detalhes:

1.Como a mulher cananeia se dirigiu a Cristo (v. 22). Ela era gentia, uma estrangeira à nação de Israel, provavelmente alguém descendente daquelas nações amaldiçoadas às quais foi dito: “Maldito seja Canaã”. A destruição de organismos políticos nem sempre alcança cada indivíduo que seja seu membro. Deus sempre terá remanescentes em todas as nações, vasos eleitos em todas as partes, até mesmo nas mais improváveis: ela veio dessa mesma região. Se Cristo não tivesse feito uma visita a essa região, embora por misericórdia fosse merecedora dessa viagem, é provável que ela nunca tivesse buscado a sua preciosa presença. Observe que é sempre um estímulo para uma fé e um zelo adormecidos, ter as oportunidades de contato com Cristo trazidas até à nossa porta, para podermos ter conosco a Palavra.

A maneira como ela se dirigiu a Cristo foi muito inoportuna, pois ela “clamou” a Cristo, como alguém fervoroso; clamou, por estar a alguma distância dele, não ousando aproximar-se muito, por ser cananeia, para não ofender a ninguém. Nas suas palavras:

(1).  Ela relata a sua infelicidade: “Minha filha está miseravelmente endemoninhada”, – ela está enfeitiçada pelo mal, ou possessa. Existiam graus desse tipo de desgraça, e este era o pior nível. Era um caso comum naquela época, e muito desastroso. Os tormentos dos filhos são problemas dos pais, e ninguém deveria estar mais atormentado do que os que estão sob o poder de Satanás. Pais amorosos sentem profundamente os tormentos daqueles que são partes de si mesmos. Em outras palavras: “Embora esteja endemoninhada, ela ainda é minha filha”. Os maiores sofrimentos das pessoas com quem nos relacionamos não eliminam as nossas obrigações para com elas, e, portanto, não devem separar delas o nosso afeto. O motivo que trazia essa mulher a Cristo foi o sofrimento de um membro da sua família. Ela não veio a Ele procurando algum ensino, mas uma cura; ainda assim, como ela veio com fé, Ele não a rejeitou. Mesmo que a necessidade nos leve a Cristo, nós não seremos afastados dele por essa razão. Foi o sofrimento da filha dessa mulher que lhe deu a oportunidade de procurar a Cristo. É bom tornarmos nossos os sofrimentos dos outros, em nossos sentimentos e em nossa solidariedade. Podermos sentir esses sofrimentos como se fossem nossos; essa atitude nos trará aperfeiçoamento e benefícios.

(2). Ela pediu misericórdia: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim”; ela admitiu que Ele era o Messias: este é o grande ponto em que a fé deveria se concentrar, e onde deveria encontrar consolo. Do Senhor, nós podemos esperar atos de poder. Ele pode ordenar libertação. Do Filho de Davi, nós podemos esperar toda a misericórdia e a graça que foram preditas a seu respeito. Embora fosse gentia, ela aceitou “a promessa feita aos pais” dos judeus, e a honra da casa de Davi. Os gentios devem receber o cristianismo, não apenas como um aperfeiçoamento da religião natural, mas como a perfeição da religião judaica, com a visão do Antigo Testamento.

O pedido dela foi: “Tem misericórdia de mim”. Ela não limita Cristo a esta ou aquela situação de misericórdia em particular, mas misericórdia é o que ela implora. Ela não alega ter mérito, mas confia na misericórdia: “Tem misericórdia de mim”. A misericórdia para os filhos é misericórdia para os pais; os favores para os nossos são favores para nós, e assim devem ser considerados. É um dever dos pais orar pelos seus filhos, e estar em fervorosa oração por eles, especialmente pelas suas almas, dizendo, por exemplo: “Eu tenho um filho (ou uma filha) miseravelmente atormentado por uma vontade arrogante, por um espírito imundo, pelo diabo, que cativa a sua vontade; Senhor, ajude o meu filho (ou filha)”. Este é um caso mais deplorável do que o da possessão física. Traga-os a Cristo pela fé e pela oração, pois só Ele pode curá-los e libertá-los. Os pais devem considerar esta disponibilidade de cura e libertação como uma grande misericórdia para consigo mesmos, pelo fato de o poder de Satanás poder ser eliminado das almas de seus filhos.

2.O desencorajamento que ela encontrou nas palavras de Jesus. Em toda a história do ministério de Cristo, não vemos nada parecido com isso. Ele estava acostumado a incentivar e a estimular todos os que vinham a Ele, e atender antes que lhe pedissem algo, ou a ouvir e curar enquanto ainda estavam falando, mas esta mulher foi tratada de outra maneira – e qual poderia ser a razão disso?

(1). Alguns pensam que Cristo mostrou-se hesitante em ajudar a essa pobre mulher, porque Ele não queria ofender os judeus, sendo tão livre e disposto na sua ajuda aos gentios como era com eles. Ele tinha dito aos seus discípulos que não passassem pelos caminhos dos gentios (cap.10.5), e por isso Ele mesmo não poderia parecer tão favorável a eles quanto aos outros, mas deveria parecer mais tímido. Ou:

(2). Cristo a tratou assim para colocá-la à prova. Ele sabia o que ela tinha no coração, conhecia a força da sua fé, e o quanto ela era capaz, pela sua graça, de superar tal falta de incentivo; por isso Ele a confrontou dessa maneira, para que a prova da sua fé pudesse ser achada em louvor, e honra, e glória (1 Pedro 1.6,7). Isso foi como a prova de Deus a Abraão (Genesis 22.1), como a luta dos anjos contra Jacó, somente para fazê-lo lutar (Genesis 32.24). Muitos dos métodos da providência de Cristo – e em especial da sua graça ao lidar com essas pessoas – que podem parecer obscuros e desconcertantes, podem ser explicados através da essência dessa história, que para esse fim foi registrada. Ela nos ensina que haverá sempre amor em sua face, e nos incentiva; portanto, ainda que Ele nos mate, nele confiaremos.

Observe os motivos desencorajadores que Jesus lhe apresentou:

[l]. Quando ela clamou atrás dele, “Ele não lhe respondeu palavra” (v. 23). O seu ouvido estava acostumado a estar sempre aberto e atento aos pedidos dos pobres suplicantes, e os seus lábios, dos quais manam favos de mel, sempre prontos para dar uma resposta de paz; mas a essa pobre mulher, Ele se fez de surdo, e ela não conseguiu nem uma esmola, nem uma resposta. É de admirar que ela não tivesse ido embora irritada, dizendo: “Este é aquele que é tão famoso pela clemência e pelo carinho? Tantos foram ouvidos e atendidos por Ele, e eu preciso ser a primeira pleiteante rejeitada? Por que Ele se mostra tão distante de mim, se é verdade que Ele se curvou para atender a tantos?” Mas Cristo sabia o que estava fazendo, e por isso não respondeu, para que ela fosse mais perseverante e fervorosa em sua oração. Ele a ouviu, e se agradou dela, e a fortaleceu com coragem no seu coração par a continuar com o seu pedido (Salmos 138.3; Jó 23.6), embora não lhe desse imediatamente a resposta que ela esperava. Ao parecer afastar dela a desejada misericórdia, Ele a levou a ser ainda mais inoportuna. Observe que toda oração aceita não é uma oração imediatamente atendida. Às vezes, Deus parece não considerar as orações do seu povo, como se estivesse adormecido ou cansado (Salmos 44.23; Jeremias 14.9; Salmos 22.1,2); ou ainda, como se estivesse “indignado contra a oração do seu povo” (Salmos 80.4; Lamentações 3.8,44). Mas é assim que o Senhor coloca à prova e aperfeiçoa a fé dos seus servos. Esse também é o modo como o Senhor faz com que as suas manifestações subsequentes sejam mais gloriosas para si, e mais bem recebidas por eles; pois “a visão… até ao fim falará, e não mentirá” (Habacuque 2.3. Veja Jó 35.14).

[2). Quando os discípulos intercederam pela mulher, Jesus deu a razão pela qual a tinha rejeitado, o que foi ainda mais desencorajador.

Em primeiro lugar, houve um certo alívio, porque os discípulos intercederam por ela. Eles disseram: “Despede-a, que vem gritando atrás de nós”. É desejável demonstrarmos interesse pelas orações das pessoas boas, e desejarmos que elas orem. Mas os discípulos, embora desejando que ela conseguisse o que tinha vindo pedir, levaram mais em conta a sua própria comodidade do que a satisfação da pobre mulher. Em outras palavras: “Mande-a embora com a cura, pois ela está gritando, e com muita ansiedade; ela está gritando atrás de nós, e isto é enervante e vergonhoso”. A impertinência contínua pode ser embaraçosa para os homens, até mesmo para os bons homens; mas Cristo gosta que as pessoas clamem a Ele.

Em segundo lugar, a resposta de Cristo aos discípulos praticamente acabou com as expectativas da mulher: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Em outras palavras: “Vocês sabem que Eu vim para os judeus, ela não é um deles, e vocês querem que eu vá além da minha comissão?” A impertinência raramente vence a razão estabelecida de um homem sábio e prudente; e aquelas recusas eram ainda mais silenciadoras, pois tinham esse respaldo. Ele não somente não a atendeu, mas argumentou contra ela, e fechou a sua boca com uma explicação. É verdade, ela é uma “ovelha perdida”, e tem muita necessidade da sua atenção, como qualquer outra pessoa, mas ela não pertence à “casa de Israel”, a quem Ele foi enviado primeiro (Atos 3.26), e, portanto, não é de interesse imediato da sua atenção, nem merecedora dela. Cristo era “ministro da circuncisão” (Romanos 15.8); e embora devesse ser a “luz dos gentios”, a plenitude dos tempos ainda não era chegada, o véu ainda não tinha sido rasgado nem a “parede de separação” tinha sido derrubada. O ministério pessoal de Cristo estava destinado a ser a glória do seu povo, Israel. Em outras palavras: “Se eu sou enviado a eles, o que eu tenho a ver com essas pessoas que não pertencem a eles?” Observe que é uma grande prova quando temos a oportunidade de questionar se pertencemos àqueles a quem Cristo foi enviado. Mas, bendito seja Deus, já não há lugar para esta dúvida; a distinção entre judeus e gentios já não existe, nós estamos certos de que Ele deu “a sua vida em resgate de muitos”, e se foi para muitos, por que não para mim?

Em terceiro lugar, à medida que ela continuou a importunar, o Senhor insistiu na inadequação da situação, e não apenas a rejeitou, como aparentemente também a repreendeu (v. 26): “Não é bom pegar o pão dos filhos e dei­tá-lo aos cachorrinhos”. Isto deveria ter destruído toda a esperança da mulher, e poderia tê-la levado ao desespero, se ela não tivesse, realmente, uma fé muito forte. A graça do Evangelho e as curas milagrosas (o direito a tudo isso) eram o pão dos filhos; essas coisas pertenciam àqueles relacionados com a adoção (Romanos 9.4), e não estão no mesmo nível que a chuva que cai do céu, e os tempos frutíferos, que Deus deu às nações a quem Ele permitiu que andas­ sem em seus próprios caminhos (Atos 14.16,17). Não. Estes eram favores peculiares, apropriados ao povo peculiar, o jardim fechado. Cristo pregou aos samaritanos (João 4.41), mas nós não lemos sobre nenhuma cura que Ele tenha operado entre eles; esta salvação era dos judeus; portanto, ela não tinha o objetivo de afastá-los. Os gentios eram considerados, pelos judeus, com grande desprezo, eram chamados de cães, e assim considerados; e, em comparação com a casa de Israel, que era tão dignificada e privilegiada, Cristo aqui parece permitir isso, e, portanto, parece não julgar que os gentios devessem compartilhar dos favores concedidos aos judeus. Mas veja como as posições se inverteram – depois de trazer os gentios à igreja, os judeus zelosos pela lei são chamados de cães (Filipenses 3.2).

E Cristo insiste, a este respeito, com essa mulher cananeia: “Como ela pode esperar comer o pão dos filhos, se ela não é da família?” Considere que:

1.Aqueles a quem Cristo pretende honrar de maneira mais notável, Ele primeiro humilha e rebaixa, para que possam perceber a própria insignificância e indignidade pessoal. Nós devemos, primeiro, nos considerar como cães, menores do que a menor de todas as misericórdias de Deus, antes de estarmos aptos para ser dignificados e privilegiados com elas.

2.Cristo gosta de exercitar a grande fé através de grandes provas, e algumas vezes Ele deixa a prova mais difícil para o final, para que, ao sermos provados, possamos emergir como o ouro. Esta regra geral se aplica a outros casos para orientação, embora aqui seja usada somente como prova. As regulamentações especiais e os privilégios da igreja são o pão dos filhos, e não devem ser prostituídos devido aos ignorantes e profanos. A caridade comum deve ser estendida a todos, mas as dignidades espirituais são apropriadas à família da fé. Portanto, a admissão promíscua a elas, sem distinção, desperdiça o pão dos filhos, e é como “dar aos cães as coisas santas” (cap. 7.6).

3.Aqui está a força da fé e determinação da mulher, ao vencer todos esses desencorajamentos. Muitos, assim postos à prova, teriam afundado em silêncio, ou explodido com fervor: ”Aqui há pouco consolo”, ela poderia ter dito, “para uma pobre criatura desesperada; seria melhor ter ficado em casa, em vez de vir até aqui para ser ridicularizada e maltratada dessa maneira; não apenas ver desprezado um caso digno de misericórdia, mas ser chamada de cão!” Um coração orgulhoso e altivo não teria suportado isso. A reputação da casa de Israel não era tão grande no mundo, mas esse desprezo direcionado aos gentios era possível de ser vingado, se a pobre mulher tivesse se importado. Se ela tivesse levado isso em consideração, poderia ter suscitado uma reflexão a respeito de Cristo, e poderia ter sido uma mancha na sua reputação, além de um choque para a opinião pública; pois nós somos capazes de julgar as pessoas como as vemos e pensar que elas são aquilo que vemos nelas. “É este o ‘Filho de Davi?” (ela poderia ter dito): “É Ele que tem tanta reputação de bondade, ternura e compaixão? Eu tenho certeza de que não tenho motivos para atribuir a Ele tais características, pois nunca fui tratada tão asperamente em toda a minha vida. Ele poderia ter feito por mim tanto quanto fez pelos outros; ou, se não, Ele não precisava ter me colocado junto com os cães do seu rebanho. Eu não sou um cão, eu sou uma mulher, e uma mulher honesta, uma mulher que sofre. E eu tenho certeza de que não é apropriado chamar-me de cão”. Não, não houve nenhuma palavra assim. Uma alma crente e humilde que verdadeiramente ama a Cristo, recebe bem tudo o que Ele diz e faz, e se edifica a partir disso.

A mulher cananeia venceu todos estes desencorajamentos:

(1). Com uma santa sinceridade e o desejo de insistir na sua súplica. Isso já apareceu depois da primeira negativa (v. 25): “Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me”.

[1]. Ela continuava a orar. O que Cristo disse havia silenciado os discípulos; não se ouve mais nada que eles tenham dito; mas a mulher não se calou. Quanto mais sensível nos for o peso do problema, mais decididamente devemos orar pela sua remoção. E é a vontade de Deus que continuemos em oração, que sempre oremos e não desistamos.

[2].  Ela se aperfeiçoou em oração. Em vez de culpar a Cristo, ou acusá-lo de falta de bondade, ela parece suspeitar de si mesma e colocar a culpa em si mesma. Ela temeu que, na primeira vez em que se dirigiu a Cristo, não tivesse sido humilde e reverente o suficiente, e por isso agora ela chegou, e o adorou, e lhe dedicou mais respeito do que tinha feito antes; ou ela temeu não ter sido suficientemente fervorosa, e por isso agora tenha implorado: “Senhor, socorre-me”. Quando as respostas à oração são demoradas, Deus está, dessa maneira, ensinando-os a orar mais e a orar melhor. Então é o momento de investigar de que maneira as nossas orações anteriores foram insuficientes, para que aquilo que esteve incorreto possa ser corrigido no futuro. Os desapontamentos quanto ao êxito da oração devem ser estímulos para o dever da oração. Cristo, na sua agonia, orou “mais intensam ente”.

[3].  Ela desiste de perguntar se estava incluída entre aqueles a quem Cristo tinha sido enviado, ou não; ela não irá discutir isso com Ele, embora talvez pudesse ter reivindicado algum parentesco com a casa de Israel; mas: “Seja eu uma israelita ou não, eu venho ao Filho de Davi pedindo misericórdia, e não vou deixar que Ele se vá, enquanto não me abençoar”. Muitos cristãos fracos ficam perplexos com questões e dúvidas sobre a sua escolha, se pertencem ou não à casa de Israel; eles fariam melhor em se preocupar com a sua missão para com Deus, e continuar perseverando em oração pela misericórdia e pela graça; atirar-se com fé aos pés de Cristo e dizer: “Se eu morrer, vou morrer aqui”. Então este assunto irá, gradativamente, se esclarecer. Se não podemos vencer a nossa descrença pela razão, devemos vencê-la pela oração. Um fervoroso e apaixonado “Senhor, socorre-me”, irá nos ajudar a vencer muitos dos desencorajamentos que algumas vezes estão prontos a nos derrotar e subjugar.

[4].  A sua oração é muito curta, mas abrangente e fervorosa: “Senhor, socorre-me”. Entenda isso, em primeiro lugar, como um lamento sobre a sua situação: “Se o Messias é enviado somente à casa de Israel, que o Senhor me socorra, o que será de mim e dos meus”. Note que não é inútil aos corações que estejam enfrentando o sofrimento se lamentarem; Deus os leva em consideração (Jeremias 31.18). Ou, em segundo lugar, como implorando que a graça persista nela nesta hora de provação. Ela estava achando difícil conservar a sua fé quando era desdenhada dessa maneira, e por isso, ora: “Senhor, socorre-me”, ou em outras palavras: “Senhor, fortaleça a minha fé agora; Senhor, deixe que a tua destra me sustente, enquanto a minha alma te segue de perto” (Salmos 63.8). Ou, em terceiro lugar, como reforçando a sua súplica original: “Senhor, socorre-me”, ou: “Senhor, conceda-me o que eu vim pedir”. Ela creu que Cristo podia e iria ajudá-la, embora ela não pertencesse à casa de Israel; do contrário, ela teria deixado de suplicar. Mas ela ainda preserva bons pensamentos sobre Cristo e não abandonará o seu intento. “Senhor, socorre-me” – é uma boa oração, se for adequadamente oferecida. E é uma pena que ela possa se transformar em uma frase comum, e que nela nós possamos estar tomando o nome de Deus em vão.

(2). Com uma habilidade santa relacionada à fé, o que sugere um apelo muito surpreendente. Cristo tinha colocado os judeus com os filhos, como oliveiras ao redor da mesa de Deus, e tinha colocado os gentios com os cães, debaixo da mesa; e a mulher não nega a adequação dessa comparação. Não se consegue nada ao contradizer alguma palavra de Cristo, embora ela possa nos parecer muito dura. Mas essa pobre mulher, como não pode objetar contra isso, resolve fazer o melhor possível em relação à situação (v. 27): “Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas”. Aqui:

[1]. Ela concordou muito humildemente: “Sim, Senhor”. Não se pode falar de maneira tão vil e desprezível de um humilde crente, mas essa mulher está disposta a falar de maneira vil e desprezível de si mesma. Algumas pessoas que parecem censurar e depreciar a si mesmas, tomarão como uma afronta se outras pessoas também o fizerem; mas aquele que é humilde, corretamente irá concordar com os desafios mais humilhantes, e não os achará abusivos. “É verdade, Senhor; eu não posso negar; eu sou um cão, e não tenho direito ao pão dos filhos”. Davi, você “procedeu loucamente”, muito tolamente. “Sim, Senhor”. Asafe, você se embruteceu e agiu como um animal diante de Deus; “Sim, Senhor”. Agur; você é mais bruto do que ninguém. “Sim, Senhor”. Paulo, você foi o maior dos pecadores, o menor de todos os santos, não merece ser chamado apóstolo. “Sim, Senhor”.

[2]. Ela aproveita e, de maneira muito habilidosa, transforma isso em uma súplica: “Também os cachorrinhos comem das migalhas”. Foi por uma perspicácia singular, além de agilidade e sagacidade espirituais, que ela encontrou campo para argumentar em meio àquilo que parecia desprezo. Uma fé viva e ativa irá fazer com que aquilo que parecia estar contra nós esteja a nosso favor; irá extrair alimento “do comedor”, e doçura “do forte”. A incredulidade pode confundir novos colegas com inimigos, e levar a terríveis conclusões, mesmo a partir de boas premissas (Juízes 13.22,23). Mas a fé consegue encontrar incentivo até mesmo naquilo que é desencorajador, e aproximar-se de Deus agarrando-se àquela mão que tencionava empurrá-la e afastá-la. É bom termos um entendimento rápido no temor elo Senhor (Isaias 11.3).

A súplica que ela faz é: “Também os cachorrinhos comem das migalhas”. É verdade, o alimento completo e regular é destinado somente aos filhos, mas as migalhas pequenas, ocasionais e negligenciadas, são permitidas aos cães, e eles não são repreendidos por isso; elas são para os cães que estão debaixo da mesa, que estão ali esperando-as. Os pobres gentios não podiam esperar os ministérios e os milagres do Filho de Davi, que pertencem aos judeus, mas agora eles começam a ficar cansados do seu ali­ mento, e começam a brincar com ele, encontram defeitos nele e o atiram para longe. Certamente, então, um pouco desse alimento irá cair para um pobre gentio: “Eu suplico uma cura que é apenas uma migalha do mesmo pão precioso, mas um pedaço insignificantemente pequeno, comparado com os pães que eles têm”. Quando estamos dispostos a nos saciar com o pão que Deus dá aos seus filhos, devemos nos lembrar de que existem muitos que ficariam felizes por ter apenas as migalhas. As nossas migalhas de privilégios espirituais seriam um banquete para muitas almas (Atos 13.42). Considere aqui:

Em primeiro lugar, que a humildade e a necessidade dela a faziam feliz em ter as migalhas. Aqueles que estão conscientes de que não merecem nada, serão gratos por qualquer coisa – estaremos preparados para a maior das misericórdias de Deus, quando nos considerarmos não merecedores da menor delas. A menor porção de Cristo é preciosa para um crente, e são as verdadeiras migalhas do pão da vida.

Em segundo lugar, a fé dessa mulher cananeia a incentivou a esperar essas migalhas. Por que não haveria migalhas da mesa de Cristo, como ocorre na mesa de um homem importante, onde os cães são alimentados com tanta certeza como os filhos? Ela se refere à mesa do seu senhor; se ela fosse um cão, ela seria o cão dele, e que privilégio é ter um relacionamento com Cristo, ainda que seja o menor relacionamento possível. “Embora in­ digna de ser chamada de filha, considere-me como um dos seus trabalhadores contratados: é melhor estar com os cães do que ser expulsa da casa; pois na casa do meu Pai há não somente pão suficiente, mas excedente” (Lucas 15.17-19). Ê bom estarmos na casa de Deus, ainda que estejamos na porta.

4.O feliz resultado e o êxito de tudo isso. Ela saiu dessa luta com crédito e consolo. E, embora fosse uma cananeia, foi confirmada como uma verdadeira filha de Israel, por aquele que, como um príncipe, tinha poder juntamente com Deus Pai, e prevaleceu. Até aqui, Cristo tinha escondido o seu rosto dela, mas agora se une a ela com bondade infinita (v. 28): “Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé”. Isto foi como José dando-se a conhecer aos seus irmãos: “Eu sou José”. Da mesma forma, aqui, o Senhor estava dizendo: “Eu sou Jesus”. Agora Ele começa a falar da maneira usual, e a mostrar a sua própria fisionomia. Ele não contenderá para sempre.

(1). Ele elogiou a fé da mulher. “Ó mulher, grande é a tua fé”. Considere:

[1]. É a fé dela que Ele elogia. Havia muitas outras graças que brilhavam no comportamento dela: sabedoria, humildade, mansidão, paciência e perseverança na oração; mas todas estas eram resultados da sua fé, e por isto Cristo enfatiza a fé como sendo a mais elogiável. Porque, entre todas as graças, a fé é a que mais honra a Cristo; por isso, entre todas as graças, Cristo honra mais a fé.

[2]. A grandeza de sua fé. Observe, em primeiro lugar, que, embora a fé de todos os santos seja igualmente preciosa, ela não é igualmente forte em todos; os crentes não têm todos a mesma estatura e o mesmo tamanho. Em segundo lugar, a grandeza da fé consiste numa aceitação determinada de Jesus Cristo como um Salvador plenamente suficiente, até mesmo diante dos desencorajamentos; significa amá-lo e confiar nele, como um amigo, mesmo quando Ele parece estar contra nós, como um inimigo. Esta é uma grande fé! Em terceiro lugar, embora a fé fraca não seja rejeitada, desde que seja verdadeira, uma grande fé será elogiada, e será muito agradável a Cristo. Pois é naqueles que assim creem que Ele é mais admirado. Assim, Cristo elogiou a fé do centurião, que também era gentio; ele tinha uma forte fé no poder de Cristo, e essa mulher tinha o mesmo tipo de fé na boa vontade de Cristo; ambas foram aceitas.

(2). Ele curou a filha da mulher: “Seja isso feito para contigo, como tu desejas”. Em outras palavras: “E u não posso lhe negar nada, apanhe aquilo que você veio buscar”. Os grandes crentes podem ter o que desejarem, pedindo. Quando a nossa vontade está em conformidade com a vontade expressa através dos preceitos de Cristo, a sua vontade e aquilo que desejamos estão de acordo. Aqueles que não negam nada a Cristo, irão descobrir que, afinal, Ele não lhes nega nada, mesmo que durante algum tempo Ele pareça ocultar o seu rosto deles. “Tiveste os teus pecados perdoados, a tua corrupção dominada, a tua natureza santificada, que seja ‘feito para contigo, como tu desejas”‘. E o que mais você pode desejar? Quando nós, como essa pobre mulher, oramos contra Satanás e o seu reino, nós concordamos com a intercessão de Cristo, e tudo será feito de acordo com essa disposição. Embora Satanás possa colocar Pedro à prova, e “esbofetear” Paulo, ainda assim, por meio da oração de Cristo e da suficiência da sua graça, nós seremos “mais do que vencedores” (Lucas 22.31,32; 2 Coríntios 12.7-9; Romanos 16.20).

O que aconteceu foi devido à palavra de Cristo: “Desde aquela hora, a sua filha ficou sã”; pois a partir de então, ela nunca mais foi atormentada pelo demônio – a fé da mãe foi essencial para a cura da filha. Embora a paciente estivesse distante, isso não foi obstáculo para a eficiência da palavra de Cristo. Ele “falou e tudo se fez”.

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