SEXO NO CASAMENTO
Maior frequência de sexo no casamento está associada ao bem-estar conjugal

Algumas investigações têm apontado que existe uma relação positiva entre a frequência das relações sexuais em um casal e medidas de bem-estar conjugal. Pesquisas têm demonstrado que se tratando de sexo e bem-estar, mais é melhor, pelo menos até a frequência de uma vez por semana. Provavelmente, esse ponto de corte da frequência sexual obtida a partir de amostras norte-americanas é bem conservador para a nossa exuberante realidade brasileira, e se tivéssemos dados nacionais estes apontariam para uma frequência maior.
No entanto, as conclusões sobre como o nível da atividade sexual influencia o bem-estar se tornam complicadas por pesquisas que sugerem que a frequência sexual pode ter diferentes associações com o bem-estar, dependendo de como se mede essa variável. Certas medidas são voltadas a relatos explícitos, declarações conscientes dos membros do casal. Outras formas de mensuração estão focadas nas respostas automáticas ou implícitas, que são de natureza inconsciente.
Os pesquisadores Hicks, McNulty, Meltzer e Olson, em um estudo de 2016, analisaram ligações entre frequência sexual e qualidade de relacionamento em casais casados. Em duas amostras de casais casados que foram investigados, esses pesquisadores descobriram que os relatos das pessoas sobre a frequência com que tiveram relações sexuais nos últimos meses não previam suas respostas explícitas sobre a qualidade de seu relacionamento (como satisfeitos eles declaravam que eram), mas o nível de atividade sexual previa seus sentimentos mais automáticos e implícitos sobre seu relacionamento.
A forma adotada nesse estudo para obter medidas dos sentimentos implícitos dos sujeitos foi engenhosa. Os pesquisadores fizeram com que os participantes concluíssem uma tarefa em computador que foi projetada para avaliar como eles realmente se sentem sobre seus relacionamentos, focando nos sentimentos dos quais não têm consciência. Os participantes visualizavam fotos de sua esposa, com as imagens aparecendo uma de cada vez, muito rapidamente, na tela do computador. Depois de cada foto, eles visualizavam uma palavra positiva ou negativa. Sua tarefa era indicar o mais rápido possível se a palavra era positiva ou negativa, usando comandos de computador específicos.
O mais interessante dessa tarefa é que, em estudos anteriores, foi demonstrado que as imagens podem interferir nas respostas das pessoas às palavras. Se a imagem corresponder à palavra (imagem positiva, palavra positiva), as pessoas responderão mais rapidamente. Se a imagem for diferente da palavra (imagem positiva, palavra negativa), as pessoas demoram mais para responder. Ao comparar o tempo de reação das respostas às palavras positivas e negativas depois de ver a foto, os pesquisadores podem ter uma ideia de como as pessoas se sentem em relação ao cônjuge. Para garantir que o efeito seja exclusivo de seus sentimentos em relação ao cônjuge, os pesquisadores também testam os sujeitos em resposta a seus próprios rostos e faces de estranhos atraentes.
Os resultados desses estudos apontaram que os relatos das pessoas sobre sua frequência sexual não previam o quanto estavam satisfeitas com seus relacionamentos, mas, no entanto, mais sexo estava de fato associado a sentimentos inconscientes mais positivos. Um dos estudos mapeou os sentimentos das pessoas ao longo de vários anos e descobriu que as pessoas que relataram ter maior atividade sexual tinham crescimento no bem-estar, demonstrando ter sentimentos implícitos ainda mais positivos em relação ao parceiro ao longo do tempo. Portanto, sexo no casamento de fato aumenta o bem-estar, mas temos que ouvir o inconsciente para constatar seu efeito.

MEDINDO O INCONSCIENTE
Atualmente, a pesquisa em psicologia social tem desenvolvido uma série de métodos de investigação das avaliações inconscientes implicadas em uma variedade de tópicos, sendo que os mais estudados são atitudes, autoestima ou estereótipos. O teste mais conhecido para examinar associações inconscientes em relação a categorias de pessoas (geralmente grupos étnicos), objetos ou o próprio self é o lmplicit Association Test, desenvolvido pelo pioneiro da pesquisa do inconsciente, o psicólogo Anthony Greenwald e seus colegas Brian Nosek e Mahzarin Banaji. A apresentação dos conceitos no IAT é explícita, mas as associações implícitas em relação a esses conceitos, que são o principal foco do instrumento, não recebem atenção consciente do sujeito, pois são medidas pelo tempo despendido na resposta a cada par de palavras. Isso demonstra que temos atitudes em dois níveis, aquelas que ostentamos conscientemente, refletindo nosso conhecimento explícito e valores sobre o mundo, e as atitudes implícitas, que revelam correntes subterrâneas compostas pela somatória de informações coletadas e armazenadas em nosso cérebro.
MARCO CALLEGARO – é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed. 2011).
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