OUTROS OLHARES

FOME E DESEMPREGO NO BRASIL TÊM COR, APONTAM PESQUISAS

Desocupação, vulnerabilidade no trabalho e insegurança alimentar afetam mais os negros, principalmente as mulheres

A fome e o desemprego, que tiram o sono de milhares de chefes de domicílios têm  colocado as famílias em situação vulnerável e ajudado a ressaltar uma ferida histórica da sociedade brasileira: a desigualdade racial.

Enquanto 59,2% dos negros apresentam algum grau de insegurança alimentar (de leve a grave), esse percentual é de 51% entre brancos.

Os números estão no relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil’, publicado no início de 2021 pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

A pesquisa também aponta que 43,4 milhões de pessoas não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros enfrentavam a fome. A maioria em insegurança alimentar também é mulher e não completou o ensino médio.

A insegurança alimentar se caracteriza pela falta de acesso e disponibilidade aos alimentos em quantidade suficiente para a sobrevivência.

Para além dos números, a fome ganhou rosto nos últimos meses, seja nas cenas protagonizadas por famílias em busca de alimentos próximos do descarte no centro de São Paulo, seja buscando comida no lixo de Fortaleza, seja acompanhando o trajeto do caminhão do osso no Rio.

Além de rosto, a fome tem cor; gênero e endereço, diz Maitê Gauto, gerente de Programas e Incidência da Oxfam no Brasil.

“As mulheres negras representam 27% da população e ocupam metade dos empregos informais, sobretudo no trabalho doméstico. Elas formam um grupo de alta vulnerabilidade, sem garantia trabalhista e de proteção social.”

Ela ressalta que a relação entre fome e desigualdade racial é direta. Em um cenário de crise, como a causada pela pandemia da Covid-19, a população negra é a primeira a sentir e a última a se recuperar.

“O impacto da crise é muito diferente entre brancos e negros, homens e mulheres, ricos e pobres. A desigualdade no Brasil é construída a partir de estruturas muito profundas da sociedade brasileira.” Moradora de Colombo (Grande Curitiba), Adriana Jesus, 48, é um dos retratos das dificuldades que as mulheres negras enfrentam no mercado de trabalho”.

Ela perdeu o emprego fixo como doméstica no início da pandemia. Agora, quando dá sorte, consegue trabalhar quatro vezes por semana como diarista e complementa a renda distribuindo panfletos.

“Trabalhei com um único patrão por mais de 15 anos, mas eles também ficaram com desempregados na família e tiveram de me demitir. Agora está mais difícil conseguir emprego, não vejo sinais de melhora”.

No segundo trimestre, o desemprego entre identificados como negros e pardos era de 16,2%, e o dos brancos estavam em 11,7 %, segundo dados do Pnad Contínua do IBGE, compilados pela consultoria IDados. Quando se olha para o desemprego que se arrasta por mais tempo, acima de dois anos negros também acabam figurando entre os maiores números. São 2,5 milhões ante 1,4 milhão de brancos.

“A trajetória até chegar ao mercado de trabalho costuma ser muito mais difícil e cheia de desafios para os negros. As crianças brancas são, proporcionalmente, maioria na pré-escola, e mães brancas têm mais oportunidade de continuar trabalhando, sem ter de enfrentar os mesmos riscos de insegurança alimentar”, diz o economista Bruno Ottoni, do IDados.

Ele ressalta que a posição no mercado de trabalho, muitas vezes, acaba funcionando como um resumo das barreiras e dificuldades que os trabalhadores enfrentaram ao longo da vida. O acesso a escolas de qualidade mais baixa e a uma alimentação inadequada acaba se perpetuando no histórico da família.

Francisco Menezes, analista de Políticas da Action Aid, lembra que é impossível separar o cenário atual de desigualdade no acesso dos negros a trabalhos de melhor qualidade da herança histórica escravista e colonial, que fez com que o processo de emancipação dessa parcela da população fosse mais formal do que efetivo.

“Ocorreu também uma destruição de políticas públicas dirigidas para a segurança alimentar, que eram as que amparavam a população mais vulnerável em sua maioria negra, como a política de construção de cisternas no semiárido”.

Para Gauto, embora o auxílio emergencial tenha ajudado muitas famílias, sobretudo ao longo de 2020, algumas ações do governo aumentaram a sensação de insegurança, como a retirada do benefício no fim do ano passado e a volta quatro meses depois, com um valor menor.

“Além disso, a inflação também tem cor, por pesar mais sobre os mais pobres. Do aluguel ao gás de cozinha, a disparada de preços ajuda a perpetuar desigualdades. Alguém tem dúvida de que o maior número de pessoas em situação de risco nas grandes cidades também é algo que poderia ser aliviado com políticas públicas bem formuladas?”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 31 DE DEZEMBRO

A RECOMPENSA DA GENEROSIDADE

O generoso será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre (Provérbios 22.9).

A generosidade é o caminho da prosperidade. No reino de Deus, você tem o que dá e perde o que retém. Quem fecha as mãos com usura deixa vazar entre os dedos o que tenta segurar, mas quem abre as mãos para abençoar será cumulado de fartura. A alma generosa prospera, mas quem retém mais do que é justo sofre grandes perdas. Quem dá ao pobre empresta a Deus. Aquilo que fazemos ao próximo, fazemos a Jesus. Até um copo de água fria que damos a alguém em nome de Cristo não ficará sem recompensa. Moisés orientou, da parte de Deus, o povo de Israel nos seguintes termos: Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas cidades, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás as mãos a teu irmão pobre; antes, lhe abrirás de todo a mão e lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. Guarda-te não haja pensamento vil no teu coração, nem digas: Está próximo o sétimo ano, o ano da remissão, de sorte que os teus olhos sejam malignos para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada, e ele clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado. Livremente, lhe darás, pois, por isso, te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo o que empreenderes (Deuteronômio 15.7-10).

GESTÃO E CARREIRA

POR DENTRO DAS PROFISSÕES – ENFERMEIRO

Faltam enfermeiros em boa parte dos países desenvolvidos. E o Brasil é bem servido na área, tanto na quantidade como na qualidade dos profissionais. Resultado: uma porta aberta para quem deseja trabalhar no exterior.

Faltam enfermeiros no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, existem 27,9 milhões de profissionais de enfermagem atuando em todos os países. Destes, 19,3 milhões são, de fato, enfermeiros. Ou seja, fizeram um curso de graduação na área. Os demais são técnicos ou auxiliares. É pouco. A OMS estima um déficit de 5,9 milhões de profissionais.

O cálculo da OMS não diz respeito ao mercado de trabalho, mas à necessidade social. A maior parte desse déficit, então, se concentra nos países pobres. Mas o fato é que os países desenvolvidos também sofrem com a falta desses profissionais – por conta do envelhecimento populacional, que aumenta a demanda por cuidados hospitalares ano após ano.

Para driblar esse problema, vários governos pelo mundo estão se mobilizando para contratar mais gente. O Reino Unido, por exemplo, planeja recrutar 50 mil enfermeiros até 2024 para trabalhar no NHS, o SUS britânico. Eles calculam que 12 mil virão de outros países.

A Alemanha prevê mais ainda: 300 mil vagas de enfermagem a serem preenchidas até 2030. E sabe que vai precisar de profissionais de fora para preencher a demanda. Em 2019, o ministro da Saúde, Jens Spahn, criou uma agência para reduzir o processo de imigração desses profissionais de dois anos para seis meses.

O Canadá faz algo parecido. Entre maio e novembro deste ano, tocou um programa piloto de imigração para atrair 20 mil profissionais de saúde. A Austrália é outro país desenvolvido que facilita a entrada de enfermeiros interessados em trabalhar no país.

Nesse cenário, o Brasil entra como exportador de mão de obra. Estamos entre os países com maior densidade de enfermeiros. São mais de 100 profissionais para cada 10 mil habitantes, índice semelhante aos do Japão e da França. O Conselho Federal de Enfermagem estima haver 2,5 milhões de brasileiros no setor, sendo 439 mil auxiliares, 1,49 milhão de técnicos e 631 mil com curso superior.

“O Brasil é considerado um grande formador de enfermeiros, tanto na quantidade de profissionais quanto na qualidade do ensino”, afirma Ana Carolina Bhering, coordenadora da área de enfermagem do Senac São Paulo. De fato, os brasileiros ganham pontos no mercado internacional. “A formação do enfermeiro aqui no Brasil é mais generalista. E é isso que os hospitais estão procurando. Lá fora, o curso não tem uma interação com todo o resto do hospital. Ele é bem mais setorizado. Quando chega um profissional brasileiro, percebem que ele tem mais conhecimento sobre as diferentes áreas hospitalares, sabe trabalhar com crianças, adultos e idosos, além de lidar bem com casos de alta complexidade”, diz Mirian Paixão, diretora da empresa de recrutamento Conector RH.

PROCESSO BUROCRÁTICO

A oferta de profissionais no Brasil aliada à demanda no exterior, de qualquer forma, não garante que o caminho para trabalhar como enfermeiro fora do país seja suave. A enfermagem é uma profissão regulamentada. Significa que a graduação é obrigatória – sim, os auxiliares e técnicos ficam de fora dessa história, então simplesmente não podem atuar no exterior. Para quem tem diploma, é preciso revalidar o certificado – e cada local tem suas regras.

Quem cuida disso são os conselhos de enfermagem de cada país. O dos. EUA, inclusive, mantém uma comissão só para avaliar o currículo de enfermeiros estrangeiros: é o Commission on Graduates of Foreign Nursing Schools*. Eles avaliam a grade para garantir que ela seja equivalente aos cursos americanos – e só a tarifa para essa vistoria já custa USS 365.

Se estiver tudo certo, você recebe uma autorização para realizar o exame NCLEX (NationalCouncil Licensing Examination).Trata-se de uma prova de conhecimentos em enfermagem que os profissionais americanos e estrangeiros precisam fazer para poder exercer a profissão. É o equivalente para os enfermeiros americanos ao que o exame da OAB representa para os que se formaram em Direito.

Se a prova for feita lá nos EUA, ela custa US$ 200; se for realizada aqui no Brasil, rola uma taxa extra de USS150. Os estrangeiros também precisam de, no mínimo, dois anos de experiência na área para tentar a sorte.

Quem ainda não conseguiu revalidar o diploma geralmente atua como cuidador. “A gente vê muitos enfermeiros vindo aqui para o Canadá e trabalhando como cuidador de idosos ou de pessoas com necessidades especiais, enquanto passam pelo processo de revalidação”, afirma Cetina Hui, diretora da consultoria de imigração Immi Canada.

Independentemente do conselho local aplicar ou não uma prova, os profissionais precisam estudar sobre a prática de enfermagem no país. Por mais que saúde e doença sejam conceitos universais, as regras e procedimentos clínicos variam de acordo com a legislação. A vacina BCG, por exemplo, não é obrigatória na Itália e nos EUA. No Brasil, os bebês recebem nas primeiras horas de vida.

Nesse processo de revalidação, é preciso reunir toda a sua documentação profissional: diploma, descritivo e carga horária das disciplinas mais os comprovantes de estágio e de experiências profissionais. Tudo isso precisa de uma tradução juramentada, que garante que as informações são verdadeiras. E aí vêm mais custos: o valor médio de uma tradução desse tipo é de RS100 por página. Além disso, todos os países exigem a comprovação de proficiência no idioma local. Lógico: os profissionais de saúde lidam diretamente com o público e precisam compreender perfeitamente as queixas dos pacientes, além de orientar sobre tratamentos. Não dá para trabalhar na base do enrolation.

Bom, todos os processos que vimos aqui costumam levar de 12 a 24 meses.

UM DIA NA VIDA

O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA

Curso superior em Enfermagem e experiência de, pelo menos, três anos na área. Especializações e cursos de pós-graduação são bem-vindos. Mas todos os diplomas precisam ser validados no novo país. E, claro, o domínio avançado do Idioma local é indispensável.

PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS

Para a profissão, empatia, escuta ativa e perfil de liderança. Para o processo de imigração, organização e inteligência emocional, para lidar com as diferenças culturais.

PONTOS POSITIVOS

Além da experiência internacional, os profissionais que decidem sair do país têm contato com novas tecnologias e tratamentos de saúde. O salário, dependendo do país e da cotação da moeda, não se compara. Na Alemanha, por exemplo, são quase RS 20 mil, contra cerca de RS 6 mil no Brasil.

PONTOS NEGATIVOS

Prepare o bolso e a paciência. O processo de imigração e revalidação do diploma pode levar até dois anos e os custos são altos.

QUEM CONTRATA LÁ FORA

Hospitais, postos de saúde, clínicas e empresas, que oferecem serviços de cuidadores.

SALÁRIO MÉDIO**

Alemanha     – US$ 3.304

Austrália       – US$ 3.953

Canadá          – US$ 3.553

EUA                – US$ 4.410

Irlanda           – US$ 3.758

Reino Unido – US$ 3.389

Portugal        – US$ 1.422

** Fonte: Glassdoor 3.953

EU ACHO …

EMPATIA EM CONSTRUÇÃO

Quando você quer ou precisa perder ou ganhar peso por alguma razão, o que você faz? Não sou autoridade no assunto, mas na minha cabeça, o modo mais eficiente é ser intencional.

Procurar ajuda de especialistas é uma forma de começar, por exemplo. E eles vão apoiar em pontos fundamentais para o alcance do objetivo como na alimentação, exercícios físicos e conselhos sobre sono.

O que eu estou falando aqui não parece novidade, certo? Apenas reforço que enxergo que intencionalidade é chave em tudo o que quisermos tirar do papel. Por que na construção da empatia seria diferente? Há quem diga que sentimentos e afinidades devem nascer naturalmente. Acredito cada vez menos nisso como única alternativa.

Alguns afirmam que não lutam por uma determinada causa por não sentirem proximidade com a pauta no coração ou por não terem lugar de fala. Mas já sabemos que não é preciso ser homossexual para lutar pela inclusão LBGTQIA+, tampouco negro ou indígena para lutar pela luta antirracista ou pessoa com deficiência para lutar pela luta anticapacitista.

Ou seja, não é preciso viver exatamente o que outra pessoa vive para se projetar e entender suas perspectivas.

Repare, não estou falando em se identificar ou se conectar completamente. Estou falando em ouvir e não reduzir o que o outro sente e mudar hábitos, que precisamos desnaturalizar, que inferiorizam e hierarquizam pessoas e grupos.

Ao se disponibilizar intencionalmente para ouvir e se aprofundar em narrativas que não sejam semelhantes às suas, você se faz um favor e traz perspectivas que complementam visões de mundo.

Cabe também desmistificar que ser intencional sobre algo que não faz seu coração bater mais forte não faz desta uma relação meramente artificial. Muitas vezes nos deixamos levar pelo mito do “faça só o que você ama” e deixamos de entender o amor como uma construção. Como amar aquilo que você não conhece? Precisamos intencionalmente nos permitir conhecer diversas pautas, assuntos, pessoas para nos aproximarmos, pelo menos.

Pouco a pouco, entendi essa mesma lógica nas minhas relações. Você já reparou o perfil de pessoas com as quais se relaciona mais profundamente? Faça uma autocrítica sincera e observe suas cores e raças, orientações sexuais, origens. Eu percebi que me relacionava de maneira pouco profunda com algumas colegas, especialmente as brancas, em ambientes fora do trabalho. Convivemos mais com pessoas parecidas com a gente. Afirmamos ser amigos de alguém só por estarmos em mesmos grupos de WhatsApp, mas sabemos pouco sobre quem é diferente da gente. Vivemos em bolhas, mesmo sem admiti-las. Mas será que estamos dispostos a furá-las?

Liguei para algumas delas e perguntei porque nunca marcamos um momento para nossos filhos brincarem juntos, por exemplo. Algumas me olharam torto. Chamo isso de tentar furar a bolha. Medo do silêncio, da falta do assunto e do julgamento sempre vai existir, mas se não tentarmos, não saberemos.

Ainda não conseguimos marcar.

Liguei para algumas colegas negras e perguntei por que nossos cafés ou jantares são sempre adiados em função das agendas. Minha pauta é: “Bora nos priorizarmos?”

Grandes mudanças nascem de interações diárias e constantes, sejam com pessoas com as quais tenhamos mais ou menos proximidade. E, em ambos casos, tenho estado nessa jornada de ser mais intencional e priorizar momentos para nutrir a minha bolha, bem como para furá-la.

Permita-se fazer isso de vez em sempre. Que tal tentar?

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaiguadaderacial.com.br

ESTAR BEM

CAUTELA NO USO DA ASPIRINA

Uso diário da droga pode agravar risco de insuficiência cardíaca

O maior estudo já realizado sobre o uso da aspirina para evitar complicações entre pacientes que já possuem risco para insuficiência cardíaca terminou com resultados preocupantes. O trabalho indicou que o medicamento não apenas é ineficaz para a prevenção, mas também torna esses pacientes 26% mais propensos a desenvolver o problema.

O trabalho, publicado numa revista da Sociedade Europeia de Cardiologia, é uma análise do projeto Homage de acompanhamento clínico, que reuniu dados cardíacos de 46 mil pessoas nos EUA e na Europa. O estudo atual usou um subgrupo de 30 mil pessoas, o maior até agora para investigar o efeito da aspirina na prevenção de insuficiência cardíaca.

Foram reunidos 5 anos de dados entre pessoas com média de idade de 67 anos, um quarto deles relatando consumir aspirina diariamente como forma de prevenção. Liderado por médicos da Universidade de Leuven (Bélgica), o estudo foi o capítulo mais novo num cenário de pesquisa com histórico de resultados contraditórios.

“O uso de aspirina foi associado com um risco aumentado de insuficiência cardíaca em pacientes recebendo aspirina com ou sem histórico prévio de doença cardiovascular. Na ausência de evidências conclusivas em ensaios clínicos, nossas observações sugerem que a aspirina deva ser prescrita com cautela a pacientes sob risco de insuficiência cardíaca ou que já apresentem esse quadro”, escreveram os cientistas em artigo no periódico ESC Heart Failure.

Os pesquisadores reconhecem que o estudo tem algumas limitações, como a de que o uso da aspirina foi autodeclaratório, ou seja, sem acompanhamento frequente. Este não foi o primeiro trabalho a jogar dúvida sobre o uso preventivo do remédio pata cardíacos, mas talvez tenha sido o mais preocupante até agora.

SURPRESA NO RESULTADO

Por ampliar o risco de hemorragias intestinais e cerebrais em algumas pessoas, a prescrição de aspirina diária preventiva já vinha sendo objeto de cautela por parte dos médicos. Mas o fato de ela elevar o risco do próprio problema cardíaco que ela buscava prevenir surpreendeu os médicos.

“O estudo ter investigado mais um ponto potencial em que a aspirina pode ser deletéria foi importante”, afirma Evandro Tinoco Mesquita, presidente do departamento de insuficiência cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia – O aumento de risco em 26% foi uma surpresa. Embora não se trate de um ensaio clínico randomizado, como se desejaria, o achado foi bem consistente.

Para Mesquita, um aspecto importante do estudo é ele ter acompanhado voluntários sem histórico de doença cardíaca, mas com fatores de risco com tabagismo, obesidade, hipertensão e diabetes. No Brasil existe uma cultora popular grande de automedicação nessa população, e foi justamente para eles que a aspirina se mostrou mais nociva que benéfica.

A percepção de que a aspirina é uma droga segura para uso diário começou a mudar na última década. Alguns estudos mostraram tênue efeito positivo do medicamento em prevenção primária (nas pessoas que nunca manifestaram sintomas ou sinais clínicos cardíacos preocupantes) ou secundária (pessoas sem sintomas, mas com algum sinal clínico). Dois estudos recentes feitos em pacientes com risco para insuficiência cardíaca, porém, apontam para o oposto.

“Ensaios clínicos grandes multinacionais em adultos sob risco de insuficiência cardíaca são necessários para verificar esses resultados. Até lá, nossas observações sugerem que a aspirina deva ser prescrita com cautela”, diz o autor do estudo Blerim Mujaj, sobre esses pacientes.

Hoje, mesmo a Associação Americana de Cardiologia, responsável por popularizar o uso da aspirina como prevenção, pede cautela no emprego frequente. A entidade condena automedicação e libera os médicos para prescrever o uso diário a pacientes que já tiveram infarto ou AVC.

Mesquita diz que seria desejável ver estudos maiores.

“As agendas de governo veem cada vez menos a aspirina nesse conceito de droga milagrosa”, diz. O uso ocasional, porém, para febre ou dor de cabeça, ainda é visto como seguro.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RELIGIÃO E COVID AFETAM CRENÇA NO PARANORMAL

Acreditar em fenômenos sobrenaturais parece oferecer conforto e esperança de conexão em tempos de sofrimento

Existem diversas maneiras de quantificar a crença dos americanos nos chamados fenômenos paranormais. Uma delas é perguntar a um grupo de pessoas representativa da população se elas acreditam em fantasmas. Uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Ipsos em 2019 constatou que 46% acreditam.

Outra maneira de obter um resultado é perguntar se as pessoas têm medo de fantasmas. Este ano, segundo o levantamento Estatístico de Medos Americanos conduzido pela Universidade Chapman, cerca de 9% dos 1.035 adultos entrevistados disseram ter medo de fantasmas, e proporção semelhante de respondentes disse ter medo de zumbis; o número dos que disseram ter medo da corrupção governamental, do coronavírus, ou de distúrbios civis generalizados era muito mais alto.

A última pesquisa do Instituto Gallup sobre fantasmas, em 2005, apontou que 32% dos respondentes disseram acreditar em “fantasmas ou que os espíritos dos mortos possam retornar a certos lugares e em certas situações”.  Quando a mesma pergunta foi feita em 1995, 25% afirmaram acreditar em fantasmas.

Essas crenças estão presentes na mídia e na cultura dos EUA há  séculos. Mas pesquisadores agora estão estudando se sua ascensão pode ser vinculada ao crescimento do número de americanos que declararam não ter afiliação religiosa nas últimas décadas.

“As pessoas estão em busca de outras, coisas, não tradicionais, a fim de responder às grandes perguntas da vida de uma forma que não necessariamente envolva religião”, disse Thomas Mowen, sociólogo da Universidade de Bowling Green.

Como parte de um estudo de longo prazo sobre religião e crenças paranormais, por exemplo, Mowen disse que sua constatação mais recente era de que “os ateus tendem a apresentar crença mais forte em fenômenos paranormais do que as pessoas religiosas”.

No ano passado. a proporção de americanos que faziam parte de congregações religiosas caiu abaixo dos 50% pela primeira vez em mais de 80 anos, de acordo com pesquisa do Gallup. E a porcentagem de pessoas que afirmam não ter religião quase triplicou entre 1978 e 2018, de acordo com o Levantamento Social Geral, uma pesquisa anual conduzida desde 1972 pelo Centro Nacional de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago. Ainda assim, apesar de os enquadramentos religiosos para refletir sobre o significado da vida e da morte terem perdido popularidade nos EUA, as grandes questões existenciais permanecem.

O Levantamento Social Geral constatou que, apesar da queda das afiliações religiosas ao longo das quatro últimas décadas, a crença em um além da vida se manteve mais ou menos firme: em 1978, cerca de 70% dos entrevistados acreditavam em vida após a morte; em 2018, a proporção registrada foi de 74%.

Como aponta Joseph Baker, um dos autores do American Secularism: Cultural Contours of Nonreligious Belief Systems que descreve a cultura laica americana, “as pessoas agora não são mais parte das religiões organizadas, mas ainda assim têm interesse pelo sobrenatural”.

Programas de TV, filmes e mídia sobre assuntos paranormais continuam a desempenhar papel significativo na perpetuação da crença no sobrenatural. Sharon Hill, autora de “Scientific Americans: The Culture of Amateur Paranormal Researches, um livro de 2017 sobre amadores que pesquisam questões paranormais, vê a ascensão de programas de TV de não-ficção sobre assuntos paranormais, corno ‘Ghost Hunters’, do canal SyFy – cujo pico de audiência foi de três milhões de telespectadores por episódio – como especialmente influente na cultura americana.

Ghost Hunters, que estreou em 2004 e ficou no ar por 11 temporadas em sua versão inicial, retratava a busca de atividades paranormais como uma atividade técnica. “Eles tinham engenhocas, usavam jargão, tudo parecia profissional’, disse Hill. “Era convincente para as pessoas em casa, e a impressão era de que coisas como aquelas aconteciam no mundo”.

E então, “por conta do crescente interesse pelo paranormal, ficou realmente fácil para os jornais sensacionalistas encontrar histórias sobre pessoas que diziam que suas casas estavam infestadas por demônios, ou que tinham visto um fantasma, ou que uma imagem sinistra tinha surgido em sua câmera de vídeo.

A internet permitiu que pessoas de todo o planeta se conhecessem umas às outras com relação aos interesses paranormais, acrescentou Hill. O Reddit se tornou um fórum popular para discutir mistérios. O site acrescentou um novo elemento a essas histórias ao torná-las interativas, com leitores trocando comentários, expandindo a narrativa e participando dela.

Organizações de investigação paranormal nos EUA declararam ter recebido mais solicitações do que costumavam, durante a pandemia.

Don Collins, diretor do Fringe Paranormal, de Toledo, Ohio, que investiga informações sobre aparições não explicadas, disse que foram procurados para investigações residenciais ou em busca de informações pelo menos uma vez por semana este ano, ante a média de um ou dois pedidos mensais antes da pandemia.

“Acho que parte da questão é que porque muita gente precisou ficar em casa por conta da Covid, se existe alguma coisa paranormal de fato acontecendo, agora as pessoas estão em casa para perceber”, disse Collins.

“As pessoas tentam explicar como paranormais coisas que acontecem e para as quais elas não conseguem encontra outras explicações, ele prosseguiu.  “Coisas negativas acontecem ao redor delas, e elas podem atribuí-las a atividades paranormais”.

Baker expressa a questão de outra maneira. “A religião e a crença sobrenatural tendem a avançar em momentos que podemos definir como de crise existencial, ou de um perigo existencial maior”, afirmou.

“O sofrimento e o número de mortes cada vez maiores “ que a pandemia causou significa que as pessoas “apresentam uma probabilidade maior de ter mantido contato com a morte recentemente”, ele disse. “Isso pode despertar questões assim, sobre a  possível presença de espíritos de entes queridos”.

Acreditar no sobrenatural pode até ser fonte de consolo. Emily Midorikawa, que escreveu biografias de mulheres da era vitoriana, oferece um paralelo histórico. “Com certeza houve uma alta real no número de pessoas que passaram a recorrer a médiuns ou buscaram conforto no espiritismo, na época da guerra civil americana “, ela disse.

Então, como hoje, o paranormal era um canal de conexão. Na era vitoriana, sessões espíritas eram ocasiões de convívio em que as estruturas sociais eram menos rígidas, disse Midorikawa.

“Não era incomum, por exemplo, ter uma médium mulher comandando uma sessão e falando a grupos de homens e mulheres”, disse. “Havia um atrativo para as mulheres que iam às sessões apenas como participantes, talvez aquela fosse uma oportunidade de sair de casa e se misturar a outras pessoas em um ambiente um tanto mais incomum – e no qual talvez, existisse um pouco mais de liberdade”.

Hoje, acreditar em alguma forma de paranormal pode representar liberdade de outra espécie, talvez como avenida para conceituar outras possibilidades. Afinal, existem diversos mistérios que simplesmente aceitamos, como parte da vida moderna.

“Uma crença no paranormal talvez não seja vista como um grande salto”, disse Midorikawa, “se pensarmos em todas as coisas com as quais estamos interagindo o tempo todo que bem poderiam ser uma forma de mágica, se considerarmos nossa falta de entendimento sobre elas”.

OUTROS OLHARES

CRIANÇAS NEGRAS MORREM 3,6 VEZES MAIS POR ARMA DE FOGO

Estudo do Instituto Sou da Paz evidencia o papel da violência armada na desigualdade racial brasileira

“Parem de nos matar”. A frase tem sido para denunciar as altas taxas de mortes violentas da população negra no país. Na faixa entre 15 e 29 anos, a que mais concentra esse tipo de vítima, a proporção de mortes por armas de fogo é três vezes maior entre negros do que no restante da população.

A demanda, proferida por quem já está cansado de ver os seus iguais morrer, não é nova. Em 1978, o dramaturgo e político Abdias Nascimento (1914-2011) denunciava essa vitimização desproporcional no livro “O Genocídio do Negro Brasileiro – Processo de um Racismo Mascarado” (editora Perspectiva).

Mais de 40 anos depois, levantamento inédito feito pelo Instituto Sou da Paz (ISP) mostra que esse cenário desigual não mudou. Em 2019, 78% das vítimas por agressão com arma de fogo eram de pessoas negras, que compõem 56% da população, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O relatório, feito a partir de dados dos sistemas de notificação de violência do Ministério da Saúde, aponta também que criança e adolescentes negras de até 14 anos morrem 3,6 vezes mais em razão da violência armada do que as não negras.

Entre crianças negras de até 14 anos vítimas de morte violenta, 61% foram assassinadas com armas de fogo. No caso de crianças brancas, esse percentual é de 31%.

De 2012 a 2019, 3.288 crianças (de até 14 anos) e 148.241 jovens (de 15 a 29 anos) negros foram vítimas de agressões letais por arma de fogo – número cinco vezes maior que o total de civis mortos nos conflitos no Afeganistão (27.179) no mesmo período, segundo a ONU.

Esses dados servem como argumento para o movimento negro atual manter e amplificar as denúncias feitas por Abdias.

“É um uso político do conceito de genocídio, que é apropriado para ilustrar um processo gravíssimo que atinge uma população específica e que é negligenciado pelo Estado, que não faz nada para evitar essas mortes, avalia Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz.

Segundo Felipe Freitas, pesquisador do Núcleo de Justiça Racial da FCV, o cenário não mudou de Abdias até os dias de hoje porque as escolhas políticas “não apontaram com a força necessária para a mudança”.

Para o pesquisador, os dados só confirmam a persistência do racismo em organizar as relações de poder na sociedade.  “[As taxas] não se alteram e em algum sentido se agravam porque as escolhas  políticas feitas ao longo dos anos aprofundaram a desigualdade racial. Escolhas que expressam ações e omissões e celebram novos contratos do Brasil o racismo, atualizando a manutenção dessa realidade”, afirma ele.

De acordo como relatório, a taxa de pessoas negras mortas por arma de fogo é três vezes maior que a de pessoas não negras, uma desproporção que se mantém ao longo dos últimos oito anos. No Nordeste, essa diferença sobe para quatro vezes.

Para Cecília Oliveira, diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado, os dados revelam que a desigualdade que estrutura a sociedade brasileira se reflete ainda mais explicitamente no perfil dos mortos no país, inclusive crianças.

“Isso é resultado de uma série de decisões políticas que vão da falta de indicadores de raça em muitas estatísticas passando pela falida guerra às drogas e pelo desdém pela segurança que é tratada em palanques, em geral, desconsiderando diagnósticos, estudos e dados”, afirma ela.

O Brasil vive um aumento do acesso às armas de fogo desde que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou decretos que flexibilizaram a posse e o controle de armas, a partir de janeiro de 2019.

Os efeitos foram imediatos. Em 2019 e 2020, foram registradas pela Polícia Federal, em média, 387 armas por dia no país.

Com isso, em dezembro de 2020, o Brasil chegou à marca de 2.077.126 armas legais particulares ou 1 para cada 100 brasileiros, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Para Carolina Ricardo, diretora executiva do Sou da Paz, essa flexibilização do acesso às armas tem potencial para impactar a população negra.

“Tem uma dimensão racial importante da flexibilização porque a gente sabe, a partir de diversos estudos, que o aumento na circulação de armas tende a impactar no aumento da violência letal por arma de fogo”, afirma.

Freitas concorda que o descontrole das armas de fogo é decisivo para o incremento de todas as modalidades de violência armada.

“O mundo inteiro tem apostado no controle do comércio, da produção e da circulação de armas como estratégia fundamental para conter a violência letal. No entanto, o Brasil aponta na contramão do mundo e por isso colhe os resultados dramáticos”, afirma.

Em 2020, o general que editou decreto sobre rastreabilidade de armas e munições para aumentar o controle sobre sua circulação foi exonerado; e os decretos foram derrubados por Bolsonaro.

Para Carolina, a persistência da vitimização desproporcional das pessoas negras, apresentado pelo relatório, aponta para a vulnerabilidade e para a falta de acesso a direitos impostos historicamente a essa população expressos em dados como escolaridade das vítimas (menor entre negro) e local onde ocorreram as mortes. Em 2019, pessoas negras morreram majoritariamente na rua (54%). Entre não negras, a proporção foi de 48%.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 30 DE DEZEMBRO

A LEI DA SEMEADURA E DA COLHEITA

O que semeia a injustiça segará males; e a vara da sua indignação falhará (Provérbios 22.8).

A lei da semeadura e da colheita é um princípio universal. Não podemos semear o mal e colher o bem. Não podemos semear ventos e colher bonança. Não podemos plantar espinhos e colher figos. Não é possível semear na carne e colher vida eterna. Deus não se deixa escarnecer. Ele retribuirá a cada um segundo as suas obras e dará a colheita a cada um conforme sua semeadura. O que o homem semear, isso também ceifará (Gálatas 6.7). O que semeia a injustiça colherá males. Quem semeia a maldade colherá a desgraça e será castigado pelo seu próprio ódio. O castigo da sua indignação será completo. Muitas pessoas agem como se essa lei fosse uma farsa. Passam a vida semeando a maldade e esperam no final colher benesses. Fazem da sua história uma semeadura maldita de ódio e esperam colher compreensão e amor. Lançam na terra as sementes da impureza e esperam colher os frutos da santidade. Isso é absolutamente impossível. Assim como não podemos negar nem alterar a lei da gravidade, também não podemos alterar as leis morais e espirituais. Se quisermos fazer uma colheita de justiça, deveremos proferir palavras verdadeiras e regadas de amor e realizar obras que abençoam as pessoas e glorificam a Deus.

GESTÃO E CARREIRA

EMPRESAS DE IMPACTO MIRAM POBREZA MENSTRUAL COM EDUCAÇÃO

Negócios de absorvente lavável impactam comunidades com workshops

No início de dezembro, 20 detentas se juntaram em uma sala da Penitenciária Regional Dr. Agenor Martins Carvalho, em Ji-Paraná (RO), para escutar duas mulheres que visitavam o local para ministrar uma oficina. Raíssa Kist e Victoria Castro foram recebidas com olhares curiosos, mas já estão acostumadas. As cofundadoras da Herself, empresa de absorventes laváveis, aliam o braço comercial da empresa à parte educacional, com oficinas sobre educação menstrual, empoderamento feminino e confecção de calcinhas em institutos penais desde 2019, na luta contra a pobreza menstrual.

A Herself já visitou seis presídios, cinco deles no Rio Grande do Sul. Para as sócias, as oficinas contribuem para a dignidade das mulheres e, uma vez que as participantes desenvolvem habilidades técnicas, elas ganham a chance de se reinserir com mais sucesso fora dos presídios. “A gente repassa o modelo para que elas possam aprender a confeccionar seus próprios absorventes.”

Os produtos da Herself são costurados em tecido por costureiras de Guaporé (RS) e vendidos pelo e-commerce da marca. A empresa, criada em 2017, diz ter crescido 157% no último ano com o aumento da demanda por produtos sustentáveis, mas não abre mão do lado educacional. “Não fazia sentido apenas oferecer produtos menstruais sem ajudar mais mulheres”, diz Raíssa.

Outra empresa que alia práticas empresariais com projetos educacionais para combater a pobreza menstrual é a Morada da Floresta. Fundada por Ana Paula Silva, a empresa entrou em julho de 2009 no mercado com foco em composteiras domésticas e nos últimos anos vem desenvolvendo ações sociais. Em 2020, a Morada da Floresta desenvolveu o projeto Viva a Adolescência a partir da Ecoabs, marca de absorventes que faz parte da empresa. Com o objetivo de dar orientação para pré-adolescentes, o projeto produziu o Diário Lunar Ecoabs, livro que reúne dicas de alimentação, cuidados com o corpo e menstruação. A primeira escola a participar do projeto foi a EMEF Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo.

No caso da Korui, que vende coletores menstruais e calcinhas absorventes, a empresa fundou em 2017, em parceria com a Raízes – Desenvolvimento Sustentável, o projeto Dona do Meu Fluxo, com o qual assumiu o compromisso de promover educação menstrual em comunidades e doar um coletor a cada 10 vendidos.

“A gente não podia simplesmente empacotar e mandar para algum lugar. As pessoas não iam usar, pois um produto tão diferente gera estranheza”, conta Luísa Cardoso, que criou workshops. A equipe coloca o pé na estrada todos os anos, visitando lugares como o Território Indígena Xingu. Até hoje, a Korui já levou seus projetos a 21 comunidades.

EU ACHO …

A ARMADILHA DOS NARCISISTAS

Existe um transtorno de personalidade que toda mulher deveria conhecer em detalhes, principalmente em tempos de rede social. Sobre o qual deveria aprender desde pequena. Para identificar características e escapar a tempo. O narcisismo.

O nome vem de Narciso, figura da mitologia grega conhecida pela beleza que se apaixona por si mesma e, seduzida pela própria imagem, cai num lago e morre afogada.

Na vida real, conviver com uma pessoa com transtorno narcisista significa o tempo todo ter de dizer o quanto ela é maravilhosa, incrível, inigualável. Mesmo que te diga coisas absurdas. Se jurar que descende de um rei medieval, não ouse duvidar – você terá não só de acreditar como agradecer por estar com tão nobre figura.

Perto de um narcisista patológico, você sempre estará em segundo plano. Seus sentimentos, ideias e opiniões não contam. O que importa é o que ele – ou ela – viu, pensa, deseja, sabe. E jamais diga algo com o qual a figura não concorde – como castigo, ela passará dias fingindo que você é a parede.

Num relacionamento amoroso, a grande arapuca é que o narcisista começa muito sedutor. A pessoa imagina que tirou a sorte grande, que encontrou um ser especial, foi blindada pelo destino. ‘E vai viver o chamado “love bombing”. Após conquistada, porém, terá de reconhecer a todo momento o quanto ele é sábio e colocá-lo num pedestal. Mesmo que ele não mereça nenhum banquinho. Mesmo que te deprecie e humilhe.

Mas todo o esforço em reconhecer o lado divino do narcisista deixará em algum momento de ser suficiente. Para recompor a reserva de holofotes, ele então precisará agir. Traição é comum. Assim como mentiras e triangulações.

Psicólogos dizem que todos somos narcisistas em alguma medida, mas o saudável encara suas frustrações e sabe qual o seu lugar e o do outro na relação. Já o patológico se sente humilhado quando não consegue viver à altura do que acha que merece. E, para não sofrer ou lidar com a frustração, projeta no outro a responsabilidade. A culpa nunca será dele. Afinal, tudo o que faz é incrível.

O  narcisismo atinge homens e mulheres e pode ser tratado com psicoterapia. Mas há um grande obstáculo. Como o/a narc se acha perfeito/a, dificilmente considerará que tem um problema e admitirá que precisa de ajuda. Até porque acredita que sabe mais que psicólogos e psiquiatras.

Restará então a quem convive com a pessoa se conformar. Ou tentar escapar e se desvincular afetivamente. Nesse caso também a psicoterapia é altamente recomendável.

*** LUCIANA GARBIN

ESTAR BEM

SAIBA PROTEGER OS JOELHOS SEM DESISTIR DOS TREINOS

Manter-se ativo, fortalecer os músculos ao redor da articulação e desenvolver bons padrões de movimento podem alterar e, em alguns casos, até reverter uma trajetória de dores e lesões, dizem especialistas

Dentre todos os conselhos não solicitados, poucos foram distribuídos de forma tão ampla e com menos evidências científicas do que esse: ”Se você continuar com essas corridas, vai estragar seus joelhos”.

A última descoberta no debate sobre joelhos e corrida uma revisão de 43 estudos antigos de ressonância magnética que não encontrou evidências de que a corrida causa danos a curto ou longo prazo à cartilagem do joelho – provavelmente não convencerá aquele atleta de ponta que você conhece que jura que seu joelho machucado foi causado pelas corridas.

Mas uma vez que se espera que quase metade dos americanos desenvolva uma dolorosa osteoartrite do joelho em algum momento de suas vidas, as descobertas levantam uma questão incômoda: se deixar de correr não irá proteger seus joelhos em um passe de mágica, o que o fará?

NUTRA A CARTILAGEM

Os pesquisadores começaram recentemente a repensar dogmas antigos sobre as propriedades da cartilagem, a camada lisa de tecido que protege os ossos do joelho e outras articulações e cujo colapso é a principal causa da osteoartrite.

“Como a cartilagem não tem suprimento de sangue ou nervo, costumávamos pensar que ela não poderia se adaptar ou se reparar”, disse Michaela Khan, pesquisadora de doutorado da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e principal autora da nova revisão sobre corrida e cartilagem, publicada na revista Sports Medicine.

Mas não é esse o caso. Atividades cíclicas de sustentação de peso, como caminhar e, pasmem, correr comprimem a cartilagem na articulação do joelho como uma esponja, expelindo resíduos e, em seguida, puxando um novo suprimento de fluido rico em nutrientes e oxigênio a cada passo. Em vez de um amortecedor inerte condenado a ficar quebradiço e eventualmente falhar com a idade, disse Khan, a cartilagem é um tecido vivo que se adapta e se desenvolve com seu uso regular.

Isso ajuda à explicar porque trocar uma forma de exercício por outra ao primeiro sinal de dor no joelho pode ser contraproducente. Pessoas com problemas incipientes nos joelhos frequentemente mudam para atividades de baixo impacto como natação e ciclismo porque acreditam que isso protegerá suas articulações, disse Jackie Whitaker, fisioterapeuta e pesquisadora da universidade canadense, “mas na verdade estão matando a cartilagem de fome”.

TREINOS MAIS CURTOS

Há um limite para a rapidez com que a articulação se adapta a tensões desconhecidas.

Jean-François Esculier, chefe de pesquisa da The Running Clinic e co- autor do estudo, sugere que a dor no joelho que persiste por mais de uma hora após o exercício, ou que surge na manhã seguinte ao treino, é um sinal de que a articulação estaca sobrecarregada. Isso não significa que você precisa parar de se exercitar, disse ele, mas que você deve ajustar o que está fazendo.

Segundo Keith Baar, fisiologista da Universidade da Califórnia, que estuda as propriedades moleculares da cartilagem e de outros tecidos conjuntivos, as células da cartilagem respondem positivamente ao exercício por cerca de 10 minutos. Depois disso, você está apenas acumulando mais estresse e danos no tecido, sem outros benefícios adaptativos; Portanto, se um treino de tênis semanal, de duas horas deixa você com dores nos joelhos, considere substitui-lo por duas sessões de uma hora.

ATLETA DE FIM DE SEMANA

Claro, nenhum treino ocorre no vácuo: o que seus joelhos podem aguentar hoje depende do que você fez com eles nas semanas e meses anteriores. É  por isso que peladas de futebol são uma carnificina previsível para fisioterapeutas, à medida que entusiasmados atletas de fim de semana voltam às quadras no verão, após meses de inatividade.

Whitaker sugere pegar leve no primeiro dia e estar disposto a encurtar os dias subsequentes quando sentir que os músculos das pernas ou articulações estão cansados.

“É uma questão de adaptar o ritmo à capacidade do seu corpo para lidar com a carga”, firmou.

Melhor ainda, ela sugere fazer algum treinamento de força para preparar as pernas antes de colocar qualquer novo estresse sobre elas. Um programa simples e genérico de agachamentos e passadas pode fortalecer os músculos que mantêm os joelhos estáveis e enrijecer tendões e ligamentos ao redor da articulação.

LONGE DO HOSPITAL

No entanto, a longo prazo, o risco mais sério de atividades como o esqui não é o agachamento prolongado. E, sim, as lesões traumáticas no joelho, como no ligamento cruzado anterior, que em quase metade dos casos leva à osteoartrite em cinco a 15 anos. Isso se deve em parte a danos persistentes ou instabilidade na articulação, mas também porque as pessoas tendem a ser menos ativas e, consequentemente, ganham peso mesmo depois que o joelho cicatriza.

Felizmente, o risco de lesões agudas no joelho pode ser reduzido pela metade com a implementação do chamado programa de treinamento “neuromuscular”, explica Ewa Roos, pesquisadora de osteoartrite da Universidade do Sul da Dinamarca. Exercícios específicos adaptados a cada esporte promovem bons padrões de movimento que mantêm as articulações estáveis e podem ser realizados por conta própria por 15 minutos, três vezes por semana, ou como aquecimento prévio.

OTIMIZE SEUS MOVIMENTOS

Para os atletas, os benefícios de tais programas preventivos são claros. Para uma pessoa comum, sem dor no joelho, é mais discutível.

Existem, no entanto, algumas maneiras sutis de reduzir os riscos, mesmo se você estiver saudável no momento.

Roos sugere focar padrões de movimento de alta qualidade durante as atividades do dia a dia, como levantar de uma cadeira: use os dois pés e nenhuma mão, e mantenha o joelho e o quadril alinhados ao pé. Aplique um foco semelhante para subir escadas e sentar-se no banheiro; se você não consegue manter as articulações alinhadas, é um sinal de que precisa fortalecer os músculos da perna e do quadril.

Para Whitaker, a prioridade continua sendo desconstruir a noção de que você  deve parar de se exercitar assim que sentir dor no joelho. Manter-se ativo, fortalecer os músculos ao redor da articulação e desenvolver bons padrões de movimento podem alterar e, em  alguns casos, reverter essa trajetória, disse ela. “Muita gente pensa que a osteoartrite é apenas uma consequência normal do envelhecimento, mas não é inevitável. Há muita coisa que você pode controlar

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NEUROCIENTISTA PROPÕE VETAR TELAS ATÉ OS 6 ANOS

Em novo livro, francês Michel Desmurget argumenta que dependência prejudica aprendizagem e tem pouco uso educativo

Jovens entre 13 e 18 anos usam aparelhos digitais para fins recreativos por aproximadamente sete horas e meia por dia. Para uso escolar, no entanto, o tempo médio se resume a uma hora.

Dados como esses chamam a atenção de Michel Desmurget, neurocientista e diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, e estão presentes no seu novo livro, “A Fábrica dos Cretinos Digitais: Os Perigos das Telas para as nossas Crianças” (Editora Autêntica).

Na obra, o neurocientista tratados perigos que o mundo digital traz para o processo de aprendizado em crianças e adolescentes e defende a diminuição do uso de aparelhos tecnológicos, abordando sete passos que poderiam ajudar nesse processo. “Como mostra o conhecido programa Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, na sigla em inglês), por exemplo, quanto mais um sistema educacional investe em tecnologias digitais, pior é o desempenho acadêmico de seus alunos em matemática, linguagem e ciências”, afirma Desmurget em entrevista por e-mail. O autor defende que os produtos com telas digitais são utilizados por jovens principalmente para fins recreativos e pouquíssimo para estudo. Conteúdos audiovisuais, como filmes, séries e reality shows, figuram em primeiro lugar na ordem de consumo, seguidos por videogames e, na adolescência, pelas redes sociais.

“Os usos da tela para o dever de casa representam apenas uma fração marginal do tempo total de tela”, diz. O hábito acarreta problemas para o processo de aprendizagem, como déficit de atenção, distúrbios de concentração e impulsividade que diminuem o desempenho escolar dos jovens. Esse cenário de produtos digitais com uso exacerbado para fins recreativos piorou ainda mais com a Covid-19. “A pandemia não modificou esse desequilíbrio (entre mais horas para lazer e poucas para estudo). Muito pelo contrário, enquanto os usos escolares aumentaram, o uso recreativo explodiu”, diz.

A crise sanitária também ratificou outros problemas do ensino digital, como o fato de que poucos têm acesso a equipamentos tecnológicos de qualidade, o que pode causar aprofundamento de desigualdades sociais.

Para Desmurget, o fechamento das escolas desde o ano passado foi um desastre e uma tática dos governos “para economizar dinheiro substituindo o tempo humano, caro e qualificado, por tempo de computador, barato e automatizado”.

A desvalorização dos professores, inclusive, é um ponto abordado no livro – o autor argumenta que a escassez de mão de obra qualificada entre profissionais da educação é uma das razões do crescimento do ensino digital.

No entanto, essa substituição de profissionais por instrumentos tecnológicos é uma tentativa inadequada, já que exemplos demonstram que a educação presencial com professores ainda se mostra superior ao ensino digital.

Outra crítica de Desmurget se  volta à ideia de “nativos digitais”. O termo se refere à geração que nasceu imersa no universo tecnológico e, por isso, teria capacidades cognitivas mais adaptadas a essas tecnologias. Para ele, trata-se de uma falácia, uma vez que não existem evidências científicas que confirmem isso.

Segundo o autor, há, entretanto, pesquisas que sustentam que grande parte das pessoas mais velhas consegue se adaptar plenamente a ferramentas digitais. Portanto, o desenvolvimento de habilidades para utilizá-las não se reserva aos mais jovens.

Outro exemplo utilizado para rebater o argumento de “nativo digita!” também está relacionado a pesquisas. Surgiram estudos que sugeriam o aumento do cérebro de jovens jogadores de videogame em comparação ao de quem não jogava, o que ratificaria a ideia de uma superioridade de “nativos digitais”.

Desmurget, no entanto, afirma que “um cérebro maior” não constitui um indicador confiável de inteligência” porque qualquer operação que uma pessoa faça repetidamente pode resultar no aumento cerebral.

O neurocientista cita uma pesquisa que relacionou o uso de videogames e televisões com a diminuição da capacidade de memorização. Nesse estudo, jovens de 13 anos receberam a tarefa de aprender uma lista de palavras. Depois, foram divididos em três grupos: um assistiria a um filme na televisão: outro jogaria videogame; e o terceiro cumpriria qualquer atividade com exceção das duas últimas.

No outro dia, mensurou-se a quantidade de palavras esquecidas pelos integrantes de cada um dos grupos. O resultado: o que jogou videogame foi o que mais esqueceu os elementos, seguido daquele que assistiu ao filme.

Mesmo com suas críticas, o trabalho de Desmurget não é totalmente contra o uso de recursos tecnológicos por crianças e adolescentes. “É óbvio que os alunos precisam aprender algumas habilidades básicas de informática (codificação, uso de software de escritório, lidar com privacidade de dados etc.)”

Para lidar com a situação e modificar o panorama de tempo dedicado a aparelhos digitais, o autor afirma que “a primeira [principal] etapa é envolver as crianças e, se possível, obter seu acordo sobre uma série de regras fundamentais.

Nesse caso, o autor sugere sete regras que poderiam reverter o quadro viciante ao qual jovens estão submetidos. A primeira delas é a suspensão total das telas para crianças com menos de seis anos. ”A ausência de exposição digital durante os primeiros anos da vida não provoca nenhum impacto negativo a curto ou longo prazo,” afirma o especialista no livro.

As outras seis iniciativas seriam para crianças com mais de seis anos e envolvem tempo médio de uso entre 30 e 60 minutos de aparelhos com telas digitais, uso de um aparelho por vez, proibição de conteúdos inapropriados para menores, não utilização de dispositivos nos quartos, antes de dormir e antes de ir à escola,

Mais do que somente aplicar essas ações, segundo o autor, é importante envolver os jovens para que entendam que “as regras não têm o objetivo de puni-las ou frustra-las.

Prova disso, diz Desmurget, são estudos realizados sobre como crianças e jovens normalmente seguem as regras quando entendem por que são aplicadas.

OUTROS OLHARES

BLOQUEAR A TECNOLOGIA PARA PROTEGER AS CRIANÇAS PODE SAIR PELA CULATRA

Para Veda Woods, pais devem conciliar liberdade dos filhos com aplicativos de monitoramento

Abuso e exploração sexual online de crianças e adolescentes, com envio de imagens explícitas e pedido de fotos e vídeos, são cada vez mais comuns. Não adianta bloquear o acesso das crianças à tecnologia, porque isso só as estimulam a encontrar maneiras de burlar a proibição.

É importante deixar as crianças à vontade para conversar com os pais quando essas situações acontecerem  – e, eventualmente, adotar aplicativos e software de controle parental. Essas são as orientações de Veda Woods, especialista em cibersegurança que foi diretora de segurança da informação no governo de Barack Obama.

Fundadora da Protect Kids, entidade de combate ao abuso e exploração sexual on-line de crianças e adolescentes, Woods esteve no Brasil para lançar sua organização sem fins lucrativos, que já atua na Nigéria, Paquistão e Quênia, além de nos EUA.

QUAIS SÃO SITUAÇÕES COMUNS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL ONLINE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

Muitas vezes, os pais estão ao lado quando as crianças ou adolescentes estão recebendo, por mensagem, fotos de genitais, propostas para encontros ou pedidos de imagens. Nem todas as crianças vão dizer para seus pais que elas estão recebendo esses materiais. Crianças são curiosas. Elas acham que estão protegidas pelo anonimato, pensam que estão on­line, que não podem ser vistas. Então querem ver o que mais vão mandar. E elas têm medo da reação dos pais.

O importante é dar ferramentas para esses jovens tomarem decisões melhores. Porque é impossível retirar a tecnologia do mundo das crianças, ela estará cada vez mais presente, isso só vai aumentar. Mas estamos negligenciando as crianças nesse processo. Precisamos que eles entendam que, apesar de serem brilhantes, inteligentes, são crianças, são adolescentes. Eles se sentem inseguros, são vulneráveis à pressões do grupo. Antes, você tinha pressão dos amigos da escola. Agora, eles sofrem pressão de milhões de seguidores online. Se nós, adultos, às vezes temos dificuldade para diferenciar fantasia de realidade, imagine para as crianças?

Elas consomem uma quantidade de informação colossal. Então, às vezes, os pais pensam: eu conheço minha filha, eu sei o que ela está fazendo online, eu tenho aplicativos de controle parental no celular dela, eu sei tudo o que ela faz”.

Sim, os pais sabem tudo o que é possível saber. Mas as crianças são curiosas, elas são atraídas pelas imagens. Há desenhos animados e memes que têm um apelo para crianças, mas tem todo um subtexto explícito, por exemplo. E quando a criança está online, ela está conversando com milhares de outras pessoas – sejam outras crianças, ou adultos fingindo ser crianças. Nós, na tentativa de proteger nossos filhos, temos uma tendência de demonizar a tecnologia. Mas isso não funciona. A tecnologia é o mundo deles. Não adianta proibir. Eles vão achar maneiras de burlar e conseguir acessar, e, pior, não vão dizer nada para que os pais não proíbam.

É MUITO FREQUENTE CRIANÇAS E ADOLESCENTES RECEBEREM MENSAGENS IMPRÓPRIAS OU SEREM ALVOS DE PESSOAS QUE TENTAM SEDUZI-LAS?

É muito comum. Seja em jogos online ou redes sociais, eles recebem mensagens diretas. Pessoas que nem são seguidores delas nas redes sociais podem enviar essas mensagens. Não são só adultos que enviam, há crianças mais velhas também, adolescentes. Os de 14 anos que mandam para os de 9, por exemplo. E é ainda mais perigoso com crianças e adolescentes de comunidades pobres.

PORQUE?

 Porque eles são alvo preferencial de “grooming” (aliciamento). Adolescentes e crianças que querem ter coisas e não conseguem, como uma vida melhor. Os aliciadores se aproveitam disso. O aliciamento pode levar de alguns dias a alguns meses. O aliciador vai se tornando amigo da criança, um confidente, prometendo coisas. Eles usam muito os chats.

A gente os chama de “espreitadores”, eles ficam nas conversas só observando. Como muitos jovens usam redes sociais, como se fossem seus diários, expondo como se sentem, quais são seus anseios, há pessoas que ficam observando, em busca de alvos.

A PARTIR DE QUE IDADE AS CRIANÇAS DEVEM TER PERMISSÃO PARA USAR REDES SOCIAIS?

 É uma decisão pessoal dos pais. Mas eu, pessoalmente, não acho que crianças devam ter conta no TikTok, por exemplo. O essencial é os pais estabelecerem limites, da mesma maneira que há limites em casa – você diz para seus filhos que eles têm que limpar o quarto e arrumar as coisas, dizer aonde vão, a que horas voltam.

Na internet é igual, é preciso estabelecer regras para o mundo virtual. Você deve falar para o seu filho ou sua filha que, se ele ou ela receberem uma mensagem com uma foto de um pênis, eles devem parar imediatamente de falar com essa pessoa e ir conversar com você. Não adianta ter uma reação de, por exemplo, começar a gritar e confiscar o telefone do seu filho quando isso acontecer.

Mesma coisa se você surpreender seu filho assistindo a desenhos ou memes pornográficos, que são muito comuns. Muitas vezes eles vão assistir porque os amigos estão vendo e eles estão curiosos. Então é importante conversar, perguntar como a criança se sentiu, e explicar porque não é adequado. Não adianta partir direto para uma punição.

E é importante que os filhos sintam essa abertura para falar com os pais, e os adultos se disponham a ter essa conversa, ainda que seja desconfortável. Porque se os pais não falarem, as crianças vão falar com alguma outra pessoa, provavelmente online. E é melhor que elas recebam os conselhos dos pais do que de alguém que tem 9 anos ou que diz ter 9 anos e, na realidade, tem 29.

OS PAIS DEVEM MONITORAR AS ATIVIDADES ONLINE DOS FILHOS?

Alguns pais acham que os filhos têm direito à privacidade e que eles estariam violando esse direito ao monitorá-los. Eu não acho que seja errado você estabelecer limites e monitorar o comportamento das crianças e adolescentes online. Eles são crianças, precisam de orientação. E é como no mundo real ­ enquanto eles estão na casa dos pais, precisam obedecer às regras, não podem fazer tudo o que quiserem. No mundo virtual é  igual. Há software e aplicativos que não “leem” todas as conversas das crianças mas monitoram certos termos que podem indicar conversas perigosas e disparam alertas.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 29 DE DEZEMBRO

CUIDADO COM OS EMPRÉSTIMOS

O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta (Provérbios 22.7).

A dependência financeira gera escravidão. A dívida é uma espécie de coleira que mantém prisioneiro o endividado. É por isso que os ricos mandam nos pobres, pois detêm o poder econômico. Quem toma emprestado fica refém de quem empresta. A agiotagem é uma prática criminosa. É uma forma injusta e iníqua de se aproveitar da miséria do pobre, emprestando-lhe dinheiro na hora do aperto, com altas taxas de juros, para depois mantê-lo como refém. Muitos ricos inescrupulosos e avarentos, movidos por uma ganância insaciável, aproveitam o sufoco do pobre para emprestar-lhe dinheiro em condições desfavoráveis, apenas para lhe tomar, com violência, seus poucos bens. No tempo de Neemias, governador de Jerusalém, os ricos que emprestaram dinheiro aos pobres já haviam tomado suas terras, vinhas, casas e até mesmo escravizado seus filhos para quitar uma dívida impagável. O profeta Miqueias denuncia essa mesma forma de opressão, dizendo que em seu tempo muitos ricos estavam comendo a carne dos pobres. Uma pessoa sábia é controlada em seus negócios e não cede à pressão nem à sedução do consumismo. Não se aventura em dívidas que crescem como cogumelo, pois sabe que o que toma emprestado é servo do que empresta.

GESTÃO E CARREIRA

COACH DEFENDE ATIVIDADE, APESAR DE BANALIZAÇÃO

Grandes empresas usam coaching para desenvolver profissionais, vencendo associações indevidas da metodologia; saiba para que serve e como pode ajudar na carreira

Desde que surgiu e se popularizou no Brasil, a atividade de coaching ganhou ares pejorativos. Entre os leigos, criou-se a opinião de que qualquer um pode ser coach e de que a atividade é puramente motivacional. Porém, para além da banalização da profissão, coaches e associações tentam transformar essa imagem e mostrar que a metodologia ajuda a desenvolver profissionais.

Do lado deles, o mercado de trabalho corrobora a ideia: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por exemplo, possui comissões especiais de coaching jurídico. No mundo corporativo, empresas contratam o acompanhamento de coaches para funcionários.

“O olhar pejorativo acontece em várias profissões, principalmente naquelas que não têm barreira de entrada. Amanhã eu acordo e digo que sou coach. A piada tem fundo de verdade por esse conjunto de profissionais que não tem o preparo e a ética requeridos de um coach que tem certificação”, diz Marcus Baptista, vice-presidente do Conselho Deliberativo da International Coaching Federation (ICF Brasil), entidade que forma e certifica profissionais de coaching:

Por definição, o coaching é um processo de desenvolvimento que pode ser pessoal ou profissional. Com base no autoconhecimento e em técnicas, ele ajuda a pessoa a entender seus objetivos, seus limites e a traçar os caminhos para tomar decisões. Não existe uma graduação para ser coach, mas entidades que formam e certificam, como a Sociedade Brasileira de Coaching.

“Existe uma vilanização da profissão, porque a gente acha que coaching é motivacional. O coach não busca eliminar emoções. Ele entende que, quando você fala de raiva, você provavelmente está falando de uma injustiça e vai te ajudar a identificar o que pode estar sendo injusto”, diz Daniel Silva, que é coach e também especialista em metodologia ágil.

Profissional da área de tecnologia da informação, Daniel buscou o coaching há alguns anos como ferramenta de desenvolvimento no trabalho e acabou descobrindo uma nova forma de atuação. “Eu era um profissional típico de TI, um especialista muito bom, mas precisava desenvolver soft skills, como liderança.”

O coaching varia de acordo com o cliente e os objetivos. No caso da psicóloga e coach Lara Castro, os atendimentos de coaching têm de 10 a 12 sessões. Até ela chegam principalmente empresas interessadas em capacitar executivos. Nestes casos, há um alinhamento com o que a empresa espera desenvolver. “A maioria dos processos é de demandas de relacionamento interpessoal ou de gestão de líderes, de como exercer a liderança.”

EU ACHO …

TRECHOS

O mais difícil é não fazer nada: ficar só diante do cosmos. Trabalhar é um atordoamento. Ficar sem fazer nada é a nudez final. Há uns que não aguentam. Então vão se divertir. Estou escrevendo de madrugada. Talvez porque não queira ficar só diante do mundo. Mas de algum modo estou acompanhada. Não sei explicar. É bom.

Contaram-me que numa novela o homem não sabia para que serviam as lavandas (tacinhas cheias de água morna, com gotas de limão, por exemplo, para lavar as pontas dos dedos depois do jantar) (embora não se tenha comido com as mãos). Então me lembrei de um tempo em que eu cheguei ao refinamento (!?) de fazer o garçom em casa passar as lavandas a cada convidado do seguinte modo: cada lavanda com uma pétala de rosa boiando no líquido. Seria um ritual de benfazer? Hoje não faria mais isso. Ou faria? Não sei onde estão minhas lavandas. Com o tempo foram sumindo. Talvez roubadas. Ficou-me a lembrança.

Estou escrevendo com muita facilidade, e com muita fluência. É preciso desconfiar disso.

Lembro-me de uma embaixatriz em Washington que mandava e desmandava nas mulheres dos diplomatas que lá serviam. Dava ordens brutas. Dizia por exemplo à mulher de um secretário de embaixada: não venha à recepção vestida com um saco. A mim – não sei por quê – nunca disse nada, nenhuma palavra grosseira: respeitava-me. Às vezes se sentia angustiada, e me telefonava perguntando se podia ir me visitar. Eu dizia que sim. Ela vinha. Lembro-me de uma vez em que – sentada no sofá de minha própria casa – ela me confiou em segredo que não gostava de certo tipo de pessoa. Fiquei surpreendida: pois eu era exatamente essa pessoa. Ela não sabia. Desconhecia-me ou pelo menos parte de mim.

Por pura caridade – para não embaraçá-la – não lhe contei o que eu era. Se contasse ela ficaria numa situação péssima e teria que me pedir desculpas. Ouvi calada. Depois ela ficou viúva e veio para o Rio. Telefonou-me.  Tinha um presente para mim e pediu que eu a visitasse. Não fui. Minha bondade (?) tem limites: não posso proteger quem me ofende. Ou posso? Posso. Tenho sido obrigada a perdoar muito.

*** CLARICE LISPECTOR

ESTAR BEM

USO DE ‘HORMÔNIO DO SONO’ REQUER CUIDADOS

Melatonina pode chegar às farmácias como suplemento alimentar já no próximo mês; confira indicações e riscos

Indicada para tratar distúrbios do sono, a melatonina até muito recentemente só era vendida em farmácias de manipulação e com prescrição médica. A partir de dezembro, no entanto, é possível que você comece a se deparar com o hormônio na seção de suplementos alimentares na drogaria perto da sua casa. E a tentação de simplesmente comprar para se livrar de noites mal dormidas pode surgir. Algo que vem preocupando os médicos.

“A melatonina é um hormônio, não suplemento alimentar” , diz Bruno Halpern, integrante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Por isso, deve ser vista com cuidado para não causar alterações metabólicas”. As consequências do uso indevido podem variar desde fadiga e sono durante o dia até alterações nas funções hepáticas e nos níveis de glicose e insulina. Segundo o Conselho Federal de Farmácia, o déficit da substância também é prejudicial e provoca alterações que levam a doenças como diabetes, hipertensão e obesidade.

O ideal é que o nível de melatonina esteja equilibrado, “A orientação é que (a prescrição)seja feita por profissional habilitado: médico, farmacêutico e nutricionista”, diz Priscila Dejusre, integrante do conselho e farmacêutica especializada em suplementos alimentares.

Professor de Fisiologia e Biofísica da USP, José Cipolla também alerta que um dos usos indevidos comuns da substância é ela ser usada pela manhã, horário em que o hormônio não é naturalmente produzido pelo corpo. Isso pode levar a uma “confusão” interna. “A melatonina é produzida quando estamos em ambientes noturnos, sem luz, e por isso deve ser utilizada sempre a noite”, afirma.

Nos suplementos vendidos nos Estados Unidos, a recomendação de uso noturno da melatonina está na embalagem. Segundo Cipolla, essas informações também precisam ficar claras nos produtos brasileiros. Ele teme que, com o uso irrestrito, haja desinformação. Na internet, por exemplo, há quem recomende melatonina para emagrecer, sem nenhuma evidência cientifica.

A empresária Ana Paula Montanha, de 47 anos, mora nos Estados Unidos. Vice-presidente de uma multinacional, ela toma melatonina diariamente antes de dormir. “Por trabalhar em uma multinacional, lido com fusos diferentes durante reuniões e tinha muita dificuldade para dormir por conta disso”, conta ela, que comprou o produto como suplemento alimentar.

Em nota, o Sindicato das Indústrias Farmacêuticas afirma que ainda não é possível medir o impacto no setor com a liberação da melatonina. “Poucas indústrias estão atuando no mercado com esse produto”, afirma. Apesar do interesse e do início da produção por parte de algumas empresas, a substância ainda não começou a ser comercializada. A perspectiva da indústria é que os primeiros produtos cheguem às farmácias no mês que vem.

ANVISA LIBEROU USO PARA ADULTOS

A decisão de liberar o hormônio da prescrição médica foi tomada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro. A dosagem recomendada é de 0,21 mg por dia para pessoas com 19 anos ou mais – o uso é contraindicado para gestantes e lactantes. Segundo a Anvisa, trata-se de uma dosagem segura, por ser próxima da quantidade encontrada naturalmente em alimentos como morango, cereja e carnes de frango, além de no vinho. O Conselho Federal de Farmácia considera a dosagem aprovada pela Anvisa segura, mas defende ajuda especializada.

Em países como os Estados Unidos e a Alemanha, a melatonina é vendida como suplemento alimentar em doses maiores, que variam de 0,3 mg a 5 mg. No Brasil, a aprovação de quantidades mais altas não ocorreu porque a Anvisa considerou que foram apresentados poucos estudos que explorassem o uso mais prolongado da substância como suplemento alimentar em maior concentração.

Mas pesquisadores alertam que mesmo uma dosagem considerada baixa pode causar consequências e defendem a busca pela prescrição.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GORDURA VEGETAL FAZ BEM PARA O CÉREBRO, ATÉ EM DOSES GENEROSAS

Alimentos como óleo de soja, milho e girassol reduzem o risco de derrame, diz estudo apresentado em congresso americano

Já faz alguns anos que a gordura deixou o posto de vilã absoluta da saúde. Sabe-se que não dá para comparar a do tipo hidrogenada, criada pela indústria para dar sabor e crocância nos salgadinhos de pacote, por exemplo, com a monoinsaturada, que compõe o azeite de oliva. Um novo estudo, porém, identificou um grande impacto positivo no cérebro com o consumo de todos os tipos de gordura vegetal, incluindo o óleo de soja, milho, girassol e canola. O trabalho, apresentado na semana passada em uma sessão científica do American Heart Association 2021, importante congresso ocorrido em Boston, mostrou que esses alimentos previnem o derrame cerebral – mesmo em doses generosas.

De acordo com a pesquisa, que ainda não foi revisada por pares, pessoas que consomem gorduras vegetais, independentemente da quantidade, têm um risco 12% menor de sofrer um derrame em relação a quem não tem o hábito. Por outro lado, os que ingerem mais gordura saturada, como as provenientes de carne bovina, suína, embutidos e processados, são 16 % mais suscetíveis a ter o problema. Foram analisados os hábitos alimentares de 120 mil profissionais da saúde para se chegar às conclusões.

Em entrevista à CNN americana, Frank Hu, presidente do departamento de nutrição de Harvard e um dos autores da pesquisa, disse que uma redução moderada no consumo de carne vermelha e processada pode baixar a mortalidade por doenças cardíacas em 14%, as por câncer em 11%, e o risco de diabetes tipo 2 em 24%.

Antônio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explicita, em termos quantitativos, as porções ideais para uma alimentação saudável.

“Uma dieta equilibrada é composta com até 30 % do conteúdo calórico total diário em gorduras, porém, as gorduras saturadas, especialmente as de origem animal, não devem ultrapassar 10% do conteúdo calórico total diário”, diz o endocrinologista.

OUTROS OLHARES

CÂNCER DE PÊNIS LEVA A 400 MORTES NO BRASIL POR ANO

Dados de 2008 a 2018 mostram que principais vítimas têm baixa escolaridade, são casados e mais velhos

A mortalidade por câncer de pênis no Brasil se manteve praticamente inalterada entre 2008 e 2018, segundo levantamento do hospital A. C. Camargo Câncer Center. A média anual é de 400 óbitos. As biópsias utilizadas para diagnóstico da doença, no entanto, diminuíram, dificultando o sucesso do tratamento.

Os pesquisadores analisaram dados de 2008 a 2018 disponíveis no Datasus, serviço do  Ministério da Saúde, que disponibiliza informações sobre o sistema público de saúde.

Líder do Centro de Referência de Tumores Urológicos do hospital e um dos pesquisadores, Stênio de Cássio Zequi diz que o câncer de pênis é associado a regiões mais pobres do planeta, como Asia, América do Sul e África – o Brasil é um dos países com maior incidência da doença.

Zequi afirma que o país tem uma média de 2,9 a 6,8 casos por 100 mil habitantes – nos Estados Unidos, a incidência é de 0,6. No continente europeu, não ultrapassa 1.

A explicação para essa concentração se relaciona a uma percepção já antiga na literatura médica: o câncer de pênis tem uma grande prevalência em populações desassistidas, muitas vezes associadas a baixo nível de escolaridade serviços precários de saneamento básico e pouco acesso a sistema de saúde eficiente.

No Brasil, isso fica evidente quando são observadas as diferenças regionais. Ao analisar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que leva em consideração renda, educação e saúde, constata-se que Piauí, Tocantins e Maranhão, estados com um índice menor que 0,7 tiveram as maiores proporções de morte pela doença.

Já os estados que apresentaram menor taxa de mortalidade, como São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, contam com um IDH acima de 0,7.

Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer do A. C. Camargo concorda que há uma desigualdade na ocorrência da doença no Brasil, prejudicando principalmente o Norte e Nordeste.

Curado diz que há uma dificuldade maior em acessar serviços de saúde adequados nessas regiões, o que colabora para a maior taxa de mortalidade. O levantamento mostra, por exemplo, que as biópsias diminuíram desde 2012 no Norte e Nordeste. No Sudeste, houve aumento. Segundo ela. “cada vez mais precisamos diminuir a distância entre diagnóstico e tratamento” para que a chance de cura seja maior.

A demora no diagnóstico também já foi estudada por Zequi. Um trabalho seu publicado em 2008 indicava que há uma espera de aproximadamente 7 a 8 meses entre o aparecimento de uma lesão e a identificação da doença em serviços públicos de saúde.

Essa lentidão influencia o sucesso do tratamento. O médico explica que a doença não responde bem à quimioterapia ou à radioterapia, sendo mais indicada a realização de cirurgias para retirada do tumor. No entanto, caso o câncer já tenha se alastrado, esses procedimentos precisam  ser mais radicais, como os casos de amputação completa do órgão, que sofreram um aumento de 40% entre 2008 e 2018.

Além disso, o câncer pode sofrer metástase para a região da virilha. Nessas situações, além da amputação do órgão, é necessário recorrer a outras cirurgias e o paciente ainda sofre com problemas como dificuldade de locomoção e inchaço nas pernas.

O baixo nível de escolaridade também é um fator. Segundo a pesquisa, pessoas que estudaram por 12 anos tiveram uma taxa de mortalidade menor que 3%, enquanto aqueles que só estudaram por até três anos representam quase a metade dos mortos.

Dessa forma, os especialistas defendem campanhas educativas direcionadas a essas populações vulneráveis que têm pouco acesso à informação. Zequi menciona, por exemplo, ações de conscientização sobre a forma adequada de higienizar o órgão, já que essa é uma das principais formas de evitar a doença.

Além disso, uma maior rapidez no diagnóstico da doença é essencial para diminuir a taxa de mortalidade no país. A vacinação masculina contra o HPV (Vírus do Papiloma Humano) também é uma das melhores formas para prevenir o câncer de pênis.

Por fim, um acompanhamento recorrente ao urologista é necessário para analisar qualquer suspeita da doença. “Como a mulher faz prevenção de colo de útero, o homem também precisa fazer do pênis”, afirma Curado.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 28 DE DEZEMBRO

EXEMPLO, A FORMA EFICAZ DO ENSINO

Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele (Provérbios 22.6).

Os pais são os pedagogos dos filhos. Cabe a eles o ensino dos filhos. Compete-lhes a formação do caráter dos filhos. Mas como esse processo se desenvolve? Primeiro, os pais não devem ensinar o caminho no qual os filhos querem andar, uma vez que a estultícia está ligada ao coração da criança. Segundo, os pais não devem ensinar o caminho no qual os filhos devem andar. Isso significa apenas apontar uma direção para os filhos, sem estar presente na caminhada. É o mesmo que impor um padrão de comportamento para os filhos, mas viver de forma contrária ao que se ensina. Terceiro, os pais devem ensinar no caminho em que os filhos devem andar. Ensinar no caminho significa caminhar junto dos filhos, ser exemplo para eles, servir-lhes de modelo e paradigma. Albert Schweitzer disse que o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz de fazê-lo. A atitude dos pais fala mais alto do que suas palavras. Os filhos não podem escutar a voz dos pais se a vida deles reprova o que ensinam. O ensino estribado no exemplo tem efeitos permanentes. Até o fim da vida, o filho não se desviará desse caminho aprendido com os pais.

GESTÃO E CARREIRA

HOME OFFICE LEVA EMPRESAS A LEILOAREM ITENS OBSOLETOS

Com trabalho remoto ou híbrido ganhando espaço, grupos buscam leiloeiros para repassar materiais que não serão mais usados

Empresas que optaram por adotar um modelo híbrido ou totalmente remoto de trabalho estão buscando leiloeiros para vender bens que ficaram em desuso nos escritórios, de móveis a aparelhos eletrônicos. Em alguns casos, até mesmo o  próprio escritório está sendo colocado à venda.

O movimento reflete a decisão das empresas pelo regime remoto mesmo com o avanço da vacinação contra a covid- 19. Executivos relatam que a decisão tem relação com questões que vão desde a melhora da qualidade de vida dos funcionários até a redução de custos operacionais, ao se manter parte da equipe em casa.

Um dos maiores fundos de pensão do País, a Petros, dos funcionários da Petrobras, realizou leilões de móveis e eletrônicos neste fim de ano, após optar por um modelo híbrido de trabalho. Foram colocados à venda itens como mesas, cadeiras e sofás, além de eletrônicos como celulares, tablets e impressoras.

“Os leilões estão em linha com a política de eficiência administrativa, de redução de custos e busca de receitas. Com isso, a Petros busca recuperar parte do investimento feito na aquisição desses bens, além de economizar com eventuais custos de armazenamento, considerando que adotamos o modelo híbrido de trabalho”, disse o diretor de riscos, finanças e tecnologia da Petros, Leonardo Moraes.

TROCA

A Kantar Ibope Media também decidiu manter o formato totalmente remoto para algumas áreas e adotar o modelo híbrido para outras (a maioria das pessoas ficará de dois a três dias por semana em home office). Com isso, a empresa está trocando desktops por notebooks, o que facilitaria o trabalho nessas condições.

Melissa Vogel, presidente da empresa, explica que foi implementada uma política de atualização tecnológica, incluindo estações de trabalho, mouses e “headsets” (fones de ouvido com microfones acoplados). Apesar de terem sido trocados, os equipamentos antigos estão em perfeitas condições para uso pessoal e, por isso, surgiu a ideia de leiloá-los aos funcionários.

“O objetivo não é garantir recursos para a compra de novos ativos, mas uma forma de viabilizar a aquisição desses equipamentos pelos nossos colaboradores, principalmente os de baixa renda, pois o lance inicial é de aproximadamente 20% do valor de mercado”, acrescenta Melissa Vogel.

QUEM DÁ MAIS

Uma das principais empresas do setor, a Sato Leilões realizou neste ano cerca de 30 leilões específicos de desativação de espaços de empresas, uma quantidade recorde. Os leilões realizados incluíram desde itens de escritório, como cadeiras e mesas de R$ 50 a R$ 200 e até imóveis avaliados na casa de alguns milhões de reais.

Segundo Antônio Hissao Sato Junior, fundador da Sato Leilões, os leilões de desativação não ocorrem por falências de empresas, mas pela opção do regime de trabalho remoto. Os clientes mais frequentes são multinacionais europeias, embora também haja companhias privadas nacionais e fundos entre os clientes.

“Os funcionários dessas empresas acabam tendo espaços de coworking, para reuniões semanais. E esses espaços têm o próprio mobiliário”, explica o fundador da Sato, que tem operações em São Paulo, no Rio e em Brasília. “O mercado de leilões está muito aquecido, inclusive em outros segmentos, como mercado de carros.”

Outra empresa responsável por realizar os leilões é a Superbid, sediada em São Paulo. Ana Matheus, gerente comercial do Grupo Superbid, explica que os compradores são pequenas empresas que buscam móveis e equipamentos por preços mais em conta e também pessoas físicas que desejam montar um home office.

“Vemos uma procura muito grande principalmente por cadeiras, já que todo mundo está montando um pequeno home office em casa, por estação de trabalho, aquelas com tamanho maior, pois algumas pequenas empresas estão remodelando o escritório e comprando um mobiliário menor”, diz.

EU ACHO …

O QUE EU QUERIA TER SIDO

Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.

O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de “a protetora dos animais”. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas. Em Recife eu ia aos domingos visitar a casa de nossa empregada nos mocambos. E o que eu via me fazia como que me prometer que não deixaria aquilo continuar. Eu queria agir. Em Recife, onde morei até doze anos de idade, havia muitas vezes nas ruas um aglomerado de pessoas diante das quais alguém discursava ardorosamente sobre a tragédia social. E lembro-me de como eu vibrava e de como eu me prometia que um dia esta seria a minha tarefa: a de defender os direitos dos outros.

No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.

É pouco, é muito pouco.

*** CLARICE LISPECTOR

ESTAR BEM

TREINO DE ALTA INTENSIDADE IMPACTA CORAÇÃO E MENTE

Programa que consiste em breves sequências de exercício vigoroso intercaladas com descanso auxilia na memória e no fortalecimento dos músculos, mas deve ser praticado de forma complementar e restrita

Nos últimos cinco anos ou mais, o treinamento intervalado de alta intensidade, ou HIIT, tem sido uma das formas de exercício mais populares e controversas. Composto de breves sequências de exercício intenso intercaladas com descanso, várias versões de HIIT foram testadas, experimentadas, comentadas e às vezes ridicularizadas por incontáveis pesquisadores, coaches, jornalistas, influenciadores e quase qualquer pessoa interessada em ginástica. Franquias de academia e aulas online se especializaram em HIIT. Dezenas de estudos científicos a cada mês exploram seus benefícios e desvantagens. Em todos os aspectos, o HIIT é um assunto quente.

Mas muitas perguntas permanecem sobre a modalidade. Ela é particularmente boa para nossos corações? Mentes? Expectativa de vida? Medidas? É melhor para nós, a longo prazo, do que dar um passeio rápido diariamente? E o que significa exercício “intenso”? Com as resoluções de Ano Novo quase chegando e o “projeto verão” já em andamento, agora parece ser o momento certo para se concentrar no HIIT.

O QUE É HIIT?

Com o HIIT, você pedala, corre, nada, pula, faz abdominal ou outra forma de esforço aeróbico vigoroso por alguns segundos, diminui a intensidade ou descansa por mais alguns segundos, e repete essa sequência de três a quatro vezes ou mais. O objetivo é “desafiar” seu sistema cardiovascular e músculos durante cada intervalo, sem cair em uma exaustão ou lesão, explica Martin Gibala, professor da Universidade McMaster em Hamilton, no Canadá, e proeminente pesquisador de HIIT. Como atrativo, esses treinos podem ser bastante breves, muitas vezes levando menos de 10 minutos no total para serem concluídos.

Essa abordagem de exercício não é nova. Há décadas, atletas em busca de melhorias de desempenho incorporam sessões intervaladas em seus  treinamentos. Mas o HIIT de hoje é frequentemente promovido como o único exercício que você precisa fazer – e não um complemento para outros treinos mais longos e moderados.

O HIIT FUNCIONA?

“Para a maioria das pessoas, não há dúvida de que o HIIT leva a aumentos maiores no V02max (consumo máximo de oxigênio, uma medida de nossa aptidão aeróbica e resistência) do que exercícios de natureza mais moderada”, disse Ulrik Wisloft, professor e chefe do grupo de pesquisa de exercícios cardíacos da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, que estuda HIIT há mais de 20 anos.

Um V02 max mais alto está fortemente associado a uma maior longevidade, acrescentou ele, sugerindo que os intervalos de exercício vigoroso provavelmente têm uma influência mais potente em nossa longevidade do que por exemplo, caminhadas leves. O HIIT também pode ajudar a reduzir os estoques de gordura localizada de forma tão eficaz quanto exercícios mais longos e fáceis, e parece ser benéfico para o nosso cérebro.

Segundo Jennifer Heisz, professora da Universidade McMaster e autora do livro “Move the body, beal the mind” (“Exercite o corpo, cure a mente”) ,”o HIIT melhora a memória em adultos, jovens e em mais velhos” de uma forma que o exercício moderado padrão não consegue. Apenas exercícios extenuantes fazem os músculos produzirem lactato químico em grande quantidade, que então viaja pelo sangue até o cérebro, onde é conhecido por promover a criação de novas células e vasos sanguíneos, melhorando a saúde do cérebro e diminuindo o risco para demência”, completou.

Mais atraentes, os treinos HIIT podem ser incrivelmente rápidos. Em um famoso estudo de 2006, por duas semanas, um grupo de estudantes universitários pedalou bicicletas ergométricas moderadamente por 90 a 120 minutos, três vezes por semana, enquanto outro grupo suou a camisa por quatro a seis sessões de 30 segundos de pedalada intensa seguidas de quatro minutos de recuperação.

Os praticantes de exercícios moderados, que atingiram o máximo de 12 horas de exercício ao todo, mostraram melhores medidas de condicionamento físico e remodelaram de forma saudável o funcionamento interno de suas células musculares. Mas os praticantes de HIIT, que completaram 12 minutos no total de exercícios intensos, também ficaram em forma e mostraram ainda mais alterações moleculares dentro de seus músculos.

QUANDO O HIIT É INEFICAZ?

“Não é prático nem aconselhável fazer HIIT diariamente”, disse Jamie Burr, professor da Universidade de Guelph, em Ontário, que estudou os efeitos fisiológicos de muitos tipos de atividades físicas. Ele disse ainda que as diretrizes de saúde geralmente desaconselham esse tipo de exercido mais de três vezes por semana, para evitar esgotamento ou lesões.

Nesse caso, porém, não estaríamos nos exercitando por pelo menos quatro dias da semana, o que também pode ser problemático. Segundo Burr,”há uma série de benefícios para a saúde”; a maioria deles relacionados a melhores níveis de açúcar no sangue e níveis de pressão arterial, que ocorrem apenas nos dias em que fazemos exercícios. Quando  deixamos de malhar, mesmo que tenhamos feito HIIT no dia anterior, nosso açúcar no sangue e o controle da pressão arterial podem cair, prejudicando os ganhos metabólicos de longo prazo desses intervalos anteriores.

Portanto, se você decidir praticar HIIT, planeje outros tipos de exercícios, como caminhada moderada, pedalada, natação, corrida ou ginástica na maioria dos outros dias da semana, disse ele.

BARREIRA DO NOME

Talvez o maior obstáculo ao HIIT para muitas pessoas, no entanto, seja esse nome.

“Gostaria de começar a usar o termo mais abrangente “treinamento intervalado”, em vez de HIIT, disse Gibala. “Muitas pessoas ficam intimidadas, porque pensam que o HIIT tem que ser esse treino estafante. Pelo contrário. É um treino de esforço físico médio.

Em um experimento de grande escala há Alguns anos no Japão, quase 700 adultos de meia-idade e idosos caminharam por 30 minutos, alguns em seu ritmo normal, enquanto outros alternavam três minutos de trote com três minutos de caminhada. Ao final de cinco meses, os caminhantes intervalados estavam consideravelmente mais em forma e mais fortes do que os outros. E quando os pesquisadores analisaram os voluntários dois anos depois, 70% dos caminhantes intervalados haviam voluntariamente dado continuidade ao programa de exercícios.

NÃO COMPLIQUE

Interessado em experimentar o HIIT agora? ótimo! De acordo com Wisloft, o ideal é que se pratique ao menos uma sessão de HIIT por semana, “por uma questão de saúde’, afirmou. O primeiro passo é escolher a variedade de HIIT que mais te agrada. Você pode tentar intervalos de um minuto, o que significa que você se esforça por 60 segundos, descansa por 60 segundos, e então repete a sequência; ou os exercícios de intervalo de quatro minutos empregados frequentemente na pesquisa de Wisloft com quatro minutos de esforço extenuante seguido por quatro minutos de descanso.

Outros pesquisadores usam intervalos de quatro segundos, e eu tentei e gostei da abordagem 10-20-30, que foi iniciada por cientistas em Copenhagen, durante a qual você corre ou se exercita suavemente por 30 segundos, aumenta o esforço por20 segundos e em seguida acelera por 10 segundos antes de retornar à corrida suave de meio minuto.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO COLAR OS CACOS E SEGUIR EM FRENTE DEPOIS DO ‘ANO DAS SEPARAÇÕES’

Isolamento pandêmico potencializou rompimentos de casais. Especialistas ensinam a encarar a tristeza e retomar a vida

Quando Carla Carreon e seu namorado se separaram, em maio do ano passado, alguns meses depois do início da pandemia de Covid-19, “foi como a pior das tempestades”, disse ela. Carreon, uma gerente de marketing de 40 anos e moradora de São Francisco, Califórnia, estava com ele desde 2017.

“Tudo parecia maior, mais intenso e mais difícil do que o normal, porque minha cabeça estava cheia”, afirmou.

Ao que parece, 2020 foi o “ano das separações”, segundo uma pesquisa do aplicativo de relacionamentos Dating.com feita com 3 mil pessoas, que relatou quase o dobro de rompimentos entre janeiro e setembro em comparação com os dados de 2019.

As estatísticas de 2021 ainda são escassas, mas Melissa Hobley, diretora de marketing do OkCupid, disse que no início deste ano o site de namoro “definitivamente viu um aumento nos usuários que tiveram um romance durante a pandemia e agora estão solteiros novamente”.

Se você terminou com alguém este ano, pode ter sido por motivos relacionados à Covid – talvez o estresse da pandemia exacerbou as tensões existentes ou o isolamento com alguém revelou seu verdadeiro jeito de ser ­ ou talvez não tenha nenhuma relação. De todo modo, o rompimento (ou qualquer outra coisa) durante uma pandemia ocorre de maneira um pouco diferente.

Aqui estão algumas dicas de como superar esse momento!

ENTENDA POR QUE TUDO PODE PARECER PIOR

Depois de quase dois anos de turbulência induzida por uma pandemia, “o luto vai parecer maior agora”, disse Michael Alcée, psicólogo clínico de Nova York especializado em aconselhamento de estudantes universitários.

“Todas as nossas vulnerabilidades e fragilidades estão mais à flor da pele do que o normal, então podemos ser muito mais sensíveis ao modo como as coisas não dão certo”, disse ele. Isso se aplica mesmo a relacionamentos que não eram tão longos ou sérios, disse Elizabeth Earnshaw, terapeuta de casais na Filadélfia. As pessoas tendem a se aproximar devido a traumas compartilhados, então um rompimento durante uma pandemia pode tornar o tempo que passaram juntos mais significativo, afirmou. Você também pode estar sofrendo com as experiências que a pandemia o impediu de compartilhar. ”Talvez vocês sempre quiseram viajar juntos, mas não podiam”, afirmou. “Talvez vocês nunca tenham conhecido a família um do outro”.

AGENDE UM TEMPO DIÁRIO PARA A TRISTEZA

Embora seja crucial processar essas perdas, a atual falta de normalidade e estrutura que muitos de nós ainda sentimos “pode tornar mais fácil ficar preso naquela espiral de tristeza, olhando fotos antigas ou e-mails”, disse Earnshaw. Em vez disso, planeje um horário diário para lamentar e relembrar o que passou entre vocês.

“Programe um cronômetro, deixe vir à tona tudo o que está sentindo, e quando a contagem regressiva acabar, respire fundo e faça um exercício de transição, como tomar um banho”, disse ela.

SEJA DIRETO AO PEDIR AJUDA

Pode ser difícil para amigos e familiares saber o que uma pessoa que está sofrendo precisa, mesmo em tempos normais, mas agora “nossos cérebros estão tão sobrecarregados que não notamos a angústia um do outro”, disse Earnshaw. Isso significa que você pode precisar ser mais claro na hora de pedir ajuda.

“Envie uma mensagem de texto para um vizinho e diga: “Estou passando por um término de relação e não sei o que fazer à noite, você gostaria de dar um passeio?”, sugeriu.

Para Lorena Velázquez, cujo marido de 20 anos inesperadamente pediu o divórcio em setembro do ano passado, até mesmo notificar as pessoas sobre a separação parecia muito assustador.

“Normalmente, eu estaria perto dos meus amigos, colegas de trabalho, então a notícia teria viajado”, disse Velázquez, de 41 anos. “Mas todo mundo estava tão isolado por causa da Covid. Ninguém sabia que eu estava passando por isso.

PROCURE CONSOLO DE ESTRANHOS

Com nossos círculos de ajuda regulares comprometidos, pode ser útil confiar em estranhos que estão passando por algo semelhante, disse Latisha Taylor Ellis, terapeuta em Cumming, Geórgia, que tem visto um aumento constante no número de pessoas que se juntam ao grupo de apoio à separação on-line que ela dirige, chamado Thank U-Next (algo como “Obrigada. Próximo”).

“É o melhor espaço seguro”, disse Naz Perez, fundador do grupo de apoio Heart Broken Anonymous (Corações Partidos Anônimos), que realizou reuniões virtuais durante a pandemia. “Talvez você não tenha ninguém em sua vida, talvez seus amigos estejam cansados de ouvir sobre isso. O que é mais seguro do que estar em casa de pijama, com a câmera desligada, conversando com pessoas que sabem exatamente como você se sente?

CONECTE-SE COM AS PESSOAS PESSOALMENTE

Para se recuperar de uma separação, a maioria de nós precisa estar perto de outras pessoas, disse Karen Osterle, terapeuta em Washington, DC, que se especializou em ajudar casais a se separarem.

“Não se trata de substituir nosso parceiro, mas de trazer à tona aspectos de nós mesmos que podem estar adormecidos no relacionamento”, disse ela. “Precisamos nos sentir interessantes e interessados novamente.

Pense em algo que você gostaria do fazer por um tempo – jardinagem, tocar ukulele, aprender a cozinhar – e comece a fazer isso, disse. Você pode testar uma nova receita convidando um vizinho ou amigo próximo vacinado para jantar, por exemplo.

OUTROS OLHARES

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA AINDA ASSOMBRA MULHERES NO BRASIL

País, no entanto, avança na assistência ao parto; pesquisa da Fiocruz mostra que 30% de 626 maternidades públicas oferecem atenção inadequada a mãe e ao bebê

No trabalho de parto vaginal em maternidade pública de Pelotas (RS), a estudante de farmácia Sabrini Ramos de Carvalho, 29, não conseguia ficar deitada. Explicou ao médico que sentia dores insuportáveis. “Pedi para ficar em pé ou agachada, posições mais confortáveis. Mas ele disse não, que quem mandava ali era ele”.

Com dilatação de 9 cm e fortes contrações de expulsão do bebê, indicativos de que o parto estava próximo, Sabrini recebeu na veia, sem ser avisada, ocitocina (hormônio que provoca contrações no útero). Também sem informação prévia, sofreu um corte entre a vagina e o ânus (episiotomia) para facilitar a passagem do bebê. A episiotomia tem altas chances de complicações, como sangramento e infecção. A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que seja feita apenas em situações excepcionais, quando há risco para a mãe ou o bebé e, ainda assim, com aval da parturiente . “Levei muitos pontos, perdi muito sangue. Passei muito tempo na função de chorar, muito frustrada por não ter tido o parto que eu queria”.

A fisioterapeuta  Ariane Nogueira, 34, também sofreu uma episiotomia sem ser avisada. “Comecei a sentir muita dor; perguntei o que estava acontecendo e falaram que estavam suturando o corte. Não queria ter feito, não informaram que fariam. Depois, os pontos abriram, infeccionaram”.

Os sustos continuaram nos dias seguintes. O bebê apresentou icterícia que não melhorava com os banhos de luz na maternidade. Foi a própria Ariane que descobriu a causa: a máquina, com manutenção vencida havia mais de um ano, estava obsoleta. “As pessoas me perguntam se eu quero ter um outro filho, eu digo que não. Não quero passar nem perto daquilo de novo”, diz.

A bióloga Alinca Peres da Fonseca, 38, saiu da maternidade com uma fratura na costela. Durante o parto do filho caçula, ela foi submetida à manobra de Kristeller; prática que consiste em pressionar a barriga da gestante para empurrar o bebê. O mecanismo contraindicado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, pode comprometer a saúde da mãe e do bebê. No lugar da costela fraturada, Alinca tatuou a palavra “Renascimento”.

“Essa manobra (de Kristeller) considera o corpo da mulher um tubo de pasta de dente. Eu aperto aqui em cima da barriga e o bebê espirra lá em baixo. Há relatos de ruptura de útero, de fígado e de baço, de fratura de costela. O pessoal faz uma força tão descomunal que estoura a mulher”, diz a médica Daphne Rattner, professora da UnB (Universidade de Brasília) e presidente da Rehuna (Rede pela Humanização do Parto e Nascimento).

Além das práticas já descritas, também são frequentes relatos de violência psicológica e agressões verbais contra gestantes no trabalho de parto, como “na hora de fazer não gritou” ou “você não está ajudando, seu bebê pode morrer”.

Em 2014, a OMS reconheceu esse conjunto de abusos sofridos pelas mulheres como violência obstétrica, uma questão de saúde pública e de violação de direitos humanos.

Mas em 2019, o Ministério da Saúde assinou um despacho pedindo que a expressão fosse evitada e, possivelmente, abolida em documentos de políticas públicas. Atendia a uma reivindicação da classe médica, que não aceita o termo.

No entanto, por recomendação do Ministério Público Federal, a pasta recuou da decisão e reconheceu o legítimo direito de as mulheres usarem o termo “violência obstétrica” para relatar maus-tratos, desrespeito e abusos no momento do parto.

A maior pesquisa nacional sobre parto, a Nascer Brasil, realizada entre 2011 e 2013n com 24 mil mulheres, mostrou que 45% das gestantes que tiveram seus filhos no SUS relatavam maus-tratos. Uma nova edição está em curso para verificar como está a situação dez anos depois.

Mas há sinais de que houve avanços na humanização e assistência ao parto, segundo estudo feito em 2017 e divulgado em abril deste ano pelo Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pela Universidade Federal do Maranhão. O trabalho ouviu 10,5 mil mulheres que tiveram seus bebês  em 626 maternidades públicas que fazem parte da Rede Cegonha, estratégia do Ministério da Saúde criada em 2011 com o intuito de melhorar a assistência às mulheres na gestação, no parto e no puerpério. O índice de episiotomia, por exemplo, caiu de 47% em 2011 para 27%, em 2017. O da manobra de Kristeller, de 56% para 15%. E a taxa de mulheres que tiveram o direito ao acompanhante no parto passou de 30% para 85%.

O mesmo estudo mostra, porém, que ainda há muito que avançar. Por exemplo, apenas um quinto das mulheres teve acesso a analgésico no parto. Cerca de 30% das maternidades oferecem uma atenção considerada, inadequada a gestante e ao bebê. Dois terços das instituições (66,2%) têm condições estruturais precárias.

Para a médica Simone Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, o aumento da presença do acompanhante durante o parto tem sido fundamental na redução da violência obstétrica. “O acompanhante é uma testemunha. Ele tem um efeito mágico em reduzir formas de abuso verbal, de constrangimento de natureza sexual do tipo ‘na hora de fazer, você gostou”; de ridicularizar os pedidos de ajuda da mulher.”

Segundo ela, o fato de os movimentos sociais terem nomeado como violência obstétrica procedimentos técnicos que eram feitos rotineiramente, como a episiotomia e a manobra de Kristeller; também acelerou o ritmo das mudanças nos modelos de assistência obstétrica.

“Em alguns serviços de São Paulo, fazer atualmente manobra de Kristeller é motivo de demissão por justa causa. Era uma questão totalmente invisível há dez, 15 anos. Não tinha nem registro em prontuário”.

Para Daphne Rattner, nos últimos anos, a visão de humanização do Ministério da Saúde avançou nas ações de cidadania, como garantia de a gestante ter acesso a seis consultas de pré-natal e direito ao acompanhante, mas ainda há muitos problemas nas relações interpessoais do profissional de saúde com a gestante.

“A gestão do serviço de saúde é corresponsável por essa violência porque muitas vezes sabe que o profissional o comete, mas não faz nada para impedi-la”, diz a médica.

A adoção de práticas e cuidados não baseados em evidência científica também é outro problema recorrente.

“Muitos profissionais de saúde e faculdades de medicina não se atualizaram. Continuam adotando práticas nos corpos das mulheres que já deveriam ter sido banidas”, afirma.

Segundo o estudo da Fiocruz, houve avanços importantes na assistência ao parto pelos médicos. “Não só a enfermagem introduziu boas práticas. Os médicos, também aderiram a esse novo modelo de fazer parto. Claro que ainda não é na intensidade que a gente quer, disse a médica Maria do Carmo Leal, coordenadora do estudo.

A médica epidemiologista Fátima Marinho, consultora da organização de saúde pública Vital Strategies, fJirma que os casos de violência obstétrica refletem a ação dos direitos reprodutivos. “A maternidade ainda é vista como dever; obrigação social esperada da mulher”.

Segundo Marinho, é preciso que haja uma mudança na conduta ,médica a partir do rastreamento de problemas que inda persistem e resultam na violência.

“A impunidade gera as más condutas. $e [os obstetras] souberem que ninguém está olhando e vai tomar providências, eles mudam as práticas”. Em maio do ano passado, uma obstetra de Pelotas (RS) foi agredida a socos e pontapés durante um parto pelo marido de uma gestante, que o acusou de violência obstétrica. Um inquérito policial concluiu que o homem praticou crime de lesão corporal e ameaça contra a médica. Ambos os casos tramitam na justiça.

Depois do episódio, mais de cem denúncias de violência obstétrica vieram à tona. Segundo a advogada Laura Cardoso, presidente da ONG Nascer Sorrindo, grupo de apoio ao parto humanizado, as mulheres foram orientadas a procurar o Ministério Público Federal, mas nenhuma denúncia acabou prosperando.

Três meses antes desse episódio, o município havia aprovado a Lei do Parto Seguro, articulada pelo movimento de mulheres, após a morte da jovem Débora Duarte, de 22 anos por hemorragia depois de uma cesárea.

Após muita polêmica e pressão da classe médica, a expressão “violência obstétrica” foi retirada do texto da lei.  À época, o Simers (sindicato dos médicos do Rio Grande do Sul) disse que o termo “não dava segurança jurídica para o exercício da medicina”.

Não há uma lei federal que tipifique a violência obstétrica, mas certas condutas podem ser enquadradas como crime comum. Por exemplo, episiotomia e manobra de Kristeller podem ser enquadradas como lesão corporal.

Nesses casos, segundo a advogada Laura Cardoso, a mulher deve procurar uma delegacia de polícia e registrar um Boletim de Ocorrência. Na área cível, é possível ingressar com ação de indenização por danos materiais e/ou morais. Casos de violência obstétrica também podem ser denunciados pelo Disque 136, se o parto ocorreu em maternidade do SUS, ou pelo Disque 180, que recebe denuncia de violência contra  a mulher.

Dados do estudo ‘A cor da dor”, publicado em 2017, mostram que as negras tendem a sofrer ainda mais. “Por exemplo, oferta-se menos analgesia de parto como se elas lidassem melhor com a dor; tipo ‘ela é negra, ela aguenta”, afirma Daphne Rattner.

A pesquisa com maternidades da Rede Cegonha reforça a existência dessas disparidades raciais, mas mostra que elas foram reduzidas entre 2011 e 2017. Entre as mulheres brancas, a taxa de analgésico durante o parto passou de 10,2% para 26,1%. Entre pardas, de 6,5 para 17,2% e entre as pretas, de 6,1% para 17,6%.

A oferta de massagem aumentou  6,4  vezes entre as brancas (de 6,8% para 27,4%), sete vezes entre as pardas (de 4,1% para 24,6%) e nove vezes entre as pretas (de 2,6% para 21%). “Isso não quer dizer que elas (pretas e a pardas) estejam melhores, mas que estão mais próximas. Isso é algo que temos que fazer no sus”, disse a médica Maria do Carmo Leal.

Para Antônio Rodrigues Braga Neto, diretor do departamento de ações programáticas e estratégicas do Ministério da Saúde, embora ainda haja problemas, a pesquisa demonstra que houve claros avanços na assistência ao parto no país após a implantação da Rede Cegonha.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 27 DE DEZEMBRO

ARMADILHAS NO CAMINHO

Espinhos e laços há no caminho do perverso; o que guarda a sua alma retira-se para longe deles (Provérbios 22.5).

O caminho do homem mau está crivado de espinhos e salpicado por muitas armadilhas. É como um terreno minado, cheio de bombas mortais. Andar por esse caminho é caminhar para a morte. Um caminho cheio de espinhos é uma estrada de dor e desconforto. Espinhos ferem os pés e embaraçam os passos. Os espinhos nos impedem de caminhar vitoriosamente. Laços são tramas invisíveis, porém reais. São laços que prendem, arapucas que atraem e armadilhas que matam. Os prazeres da vida, as aventuras sexuais e a tentação do lucro fácil são banquetes convidativos. As taças cheias de prazeres resplandecem diante dos olhos dos transeuntes que atravessam esse caminho. Essas taças, no entanto, contêm veneno, e não o vinho da alegria; geram escravidão, em vez de liberdade; promovem a morte no lugar da vida. O pecado é um grande embuste. Usa uma máscara muito bonita e atraente, mas por baixo dessa aparência encantadora esconde uma carranca horrível, o espectro da própria morte. Quem guarda a sua alma retira-se para longe do perverso. Não anda em seus conselhos, não se detém em seus caminhos nem se assenta em sua mesa. O homem sensato foge das luzes falsas do caminho do perverso para andar na luz verdadeira de Cristo.

GESTÃO E CARREIRA

AS LIÇÕES DOS BEATLES SOBRE O TRABALHO EM EQUIPE

Paul está dedilhando seu baixo em um estúdio em Londres. George boceja e Ringo observa sem prestar muita atenção. John está atrasado, como de costume. De repente, a mágica acontece. Uma meio-dia  começa a tomar forma, George acompanha Paul com sua guitarra e Ringo, batendo palma. Quando John chega, o mais novo single dos Beatles, “Get Back, está incrivelmente reconhecível.

“Get Back” é a base tanto desse momento memorável como o título de um maravilhoso novo documentário de Peter Jackson, que mostra o registro dos dias que a banda  passou junta em janeiro de 1969, escrevendo e gravando músicas para um novo álbum. Para os fãs de música, cultura pop ou criatividade, o filme é uma coleção de pequenos tesouros. Quando George está tendo dificuldades para compor o trecho após “Something in the way she moves” (Algo na maneira como ela se movimenta), John dá um conselho. “Basta dizer o que vier à sua cabeça toda vez – ‘arrracts me like a cauliflower’ (Me atrai como uma couve-flor) – até encontrar as  palavras certas.”

Os executivos também deveriam ver esse documentário. A questão do que faz uma equipe “cantar” é um ponto básico da pesquisa em gestão, e o documentário dos Beatles é uma chance única de observar uma equipe realmente de alto nível em ação. O filme reforça princípios conhecidos e oferece outros também.

Pense no papel de Ringo, por exemplo. Quando não está tocando de verdade, o baterista da banda passa a maior parte do tempo sonolento ou parecendo estar perdido. Quando os outros três músicos discutem, Ringo sorri contente. Para um observador desatento, ele talvez pareça não ser necessário. Mas, musicalmente, nada funciona sem ele e, como integrante da equipe, ele atenua conflitos e limita divisões.

A composição psicológica é importante para a forma como as equipes unem forças. Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que o desempenho dos grupos não está correlacionado com a média da inteligência de seus participantes, mas com características como sensibilidade e o quanto as equipes são boas em dar a todos tempo para falar. Ringo oferece apoio; a banda seria menos coesa sem ele.

INSPIRAÇÃO

Outro princípio reforçado pelo documentário: procure inspiração aqui, ali e em todos os lugares. Em um estudo da McKinsey, mais de 5 mil executivos foram solicitados a descrever o ambiente no qual tiveram suas melhores experiências como parte de uma equipe. Entre outras coisas, foi identificada a importância da “renovação”, o hábito de evitar ficar ultrapassado correndo riscos, aprendendo com os demais e inovando.

“Get Back mostra uma equipe de superstars adotando exatamente esse ethos: tocar as músicas de outras bandas, agarrar ideias como aves capturam suas presas e aceitar conselhos e ajuda de pessoas de fora da equipe com todo prazer. É a participação de um pianista chamado Billy Prestou, conhecido do grupo desde os tempos em que tocou em Hamburgo, o que realmente faz as sessões de gravação começarem a funcionar. (“Vamos fazer dele o quinto Beatle”, sugere John. “Já é ruim o bastante com quatro”, suspira Paul).

Uma terceira mensagem do filme diz respeito a quando e como deixar uma equipe trabalhar. Em uma iniciativa de 2016 chamada Projeto Aristóteles, o Google tentou definir as características de suas equipes mais eficientes. Uma de suas descobertas foi que os objetivos devem ser “específicos, desafiadores e possíveis”.

Quando os músicos se encontram pela primeira vez, no segundo dia de 1969, a banda tem uma tarefa que se encaixa perfeitamente nesses critérios: compor novas  músicas dignas de um álbum em apenas alguns dias e apresentá-las em um especial de TV. Mas como alcançam esse objetivo fica, em grande parte, nas mãos deles. Isso nem sempre funciona.

A certa altura, Paul anseia por uma “figura central paterna” para orientá-los. Contudo, a combinação de prazo e autonomia produz resultados extraordinários.

Há limites para o que pode ser aprendido com “Get Back”. Os Beatles nem sempre apoiam uns aos outros – George, sentindo-se menosprezado por John e Paul, abandonou a banda por alguns dias. As drogas tiveram um papel importante no que eles produziram: o LSD talvez seja algo inaceitável para alguns gestores. Embora a habilidade técnica não seja o único fator de sucesso, o enorme talento ajudou. Qualquer banda com um Lennon, um McCartney e um Harrison teria uma vantagem.

Mas há uma lição maior. Os Beatles amam o que fazem para ganhar a vida. Quando não estão tocando, estão conversando sobre música ou pensando nisso. Eles tocam as próprias músicas, cena após cena e improvisam constantemente. Os gestores que pensam que para construir espírito de equipe é preciso uma atividade separada do trabalho – aqui vai uma dica: deixem para lá os arremessos de machado, batalhas de gifs ou qualquer outra coisa igualmente abominável – perdem de vista um ponto fundamental. As equipes com os melhores desempenhos alcançam maior satisfação não individualmente, mas pelo trabalho que realizam em conjunto.

EU ACHO …

DUAS HORAS DE PRESENTE

Ganhei duas horas memoráveis de presente de Natal. Numa noite da semana passada, exausta pelas atividades do dia e pela pressa que caracteriza essa época de festividades, me sentei em frente à tevê e escolhi para assistir, no cardápio da Netflix, ao novo filme do italiano Paolo Sorrentino, “A mão de Deus”. Não imaginava que estava abrindo o melhor pacote que poderia ser deixado embaixo da minha árvore.

É o que chamo de timing perfeito. No encerramento de mais um ano tenso e difícil, nos chega esse convite para pisar nas nuvens. Sorrentino, de “A grande beleza”, nos presenteia com outra epifania, um filme que inicia excêntrico e imprevisível, até que, aos poucos, começa a tocar ao divino. É a história de Fabietto, jovem de 17 anos que está prestes a realizar um sonho: ver seu ídolo Maradona jogar no Napoli, o time da sua cidade. Mas a vida lhe reserva ainda outra surpresa, um forte empurrão para que se despeça da sua inocência.

Parece um roteiro como qualquer outro, mas quem está no comando não é qualquer diretor. Sorrentino dá uma aula sobre seu ofício. Posiciona a câmera de modo a extrair ângulos incomuns e confirma a máxima felliniana de que o cinema não precisa servir para nada, a não ser para nos distrair da realidade. E assim somos arrebatados pelo extremo fascínio de suas imagens e flutuamos em outra dimensão, pra longe da vulgaridade dos julgamentos.

Por duas horas, esquecemos do mundo politicamente correto, das disputas entre o certo e o errado, da obrigatoriedade de tudo ter que fazer sentido. O absurdo vem buscar seu lugar de fala. O racionalismo cede lugar ao sensorial. A fantasia conquista o pódio máximo da realização humana. Nápoles, aquela cidade caótica, suja e barulhenta que costumamos ver em enquadramentos realistas, torna-se uma joia neoclássica, uma metrópole cintilante. Até um engarrafamento no trânsito apresenta-se em majestosa organização.

Sorrentino eleva o status das caricatura, abençoa as alegorias e impede nosso abatimento – é proibido ficar entediado. Não há uma única tomada que não seja gloriosa, mesmo as breves. É noite. Numa rodovia à beira-mar, um carro com urgência para chegar em um hospital vai ultrapassando os outros, num balé de faróis, sombras e movimento ritmado. E uma cena qualquer se torna “a” cena.

Que filme bem-vindo depois de uma pandemia que colocou a todos de joelhos diante da crueza dos fatos e da vida. E como se a mão de Deus nos tirasse do meio dessa bagunça e nos jogasse em outro plano. Uma experiência cinematográfica formidável. Se antes eu era admiradora, me tornei devota de Sorrentino, e devoção me parece uma palavra adequada ao final de mais um dezembro.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CINCO HORAS DE EXERCÍCIOS MODERADOS POR SEMANA PODEM PREVENIR ALGUNS TIPOS DE CÂNCER

Estudo concluiu que mais de 46 mil casos anuais da doença seriam evitados nos EUA se as pessoas tivessem rotinas ativas

Mais de 46 mil casos de câncer nos Estados Unidos podem ser evitados a cada ano se a maior parte da população americana caminhasse por cerca de 45 minutos por dia, mostrou um novo estudo revelador sobre sedentarismo, exercícios e doenças malignas. O trabalho, que analisou a incidência de câncer e os hábitos de atividade física de quase 600 mil homens e mulheres americanos descobriu que 3% dos casos de câncer comuns nos EUA estão fortemente ligados à inatividade. Algo tão simples como se levantar e se mover, sugerem as descobertas, pode ajudar dezenas e milhares de pessoas a evitar o desenvolvimento de câncer nos próximos anos.

Já temos multas evidências de que os exercícios têm impacto no risco de câncer. Em experimentos anteriores, a atividade física mudou o sistema imunológico de maneiras que ampliam a capacidade do corpo de lutar contra o crescimento do tumor.

A atividade física também foi associada a uma sobrevida maior de pessoas com certos tipos de câncer, possivelmente aumentando os níveis de substâncias inflamatórias que inibem o crescimento das células cancerígenas. Uma revisão de 2016 no JAMA Internal Medicine concluiu que nossos riscos para pelo menos 13 tipos da doença, incluindo câncer de mama, bexiga, sangue e reto, caem substancialmente se formos fisicamente ativos, e um relatório separado de 2019 calculou que essas reduções poderiam chegar a 69%.

Ao mesmo tempo, muitos estudos mostraram que ser inativo aumenta os riscos para vários tipos de câncer. Surpreendentemente, no entanto, os cientistas sabem pouco sobre como esses riscos se traduzem em casos reais ou, mais concretamente, quantas pessoas a cada ano têm probabilidade de desenvolver câncer por causa do sedentarismo.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Portanto, para o novo estudo, que foi publicado em outubro na Medicine & Sciencein Sports & Exercise, os pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer e da Universidade Emory, em Atlanta. Usaram um tipo sofisticado de análise estatística chamada “PAF” para medir a ligação entre câncer e inatividade.

PAF é a sigla em inglês para “fração atribuível à população” e é uma forma matemática de os cientistas estimarem quantas ocorrências de uma doença – ou respostas a medicamentos ou outras reações biológicas – em uma população grande podem ser o resultado de um comportamento específico ou de outro fator. Ela pode nos dizer por exemplo, quantos casos anuais de câncer de cólon – dentre todas as ocorrências conhecidas da doença a cada ano – podem ser atribuídos ao fumo, ao álcool, aos alimentos gordurosos ou a excessos em geral.

Para calcular o PAF de câncer resultante de inatividade, os cientistas da Sociedade Americana do Câncer inicialmente extraíram dados anônimos do banco de dados de Estatísticas do Câncer dos EUA sobre casos para todos os americanos com 20 anos ou mais entre 2013 e 2016. A equipe se concentrou no total de casos de câncer quanto em sete tipos de câncer que, em estudos anterior e estavam intimamente ligados em parte á atividade (ou inatividade), que são tumores de estômago, rim, esôfago, cólon, bexiga, mama e endometrial.

Em seguida, verificaram quanto os adultos americanos afirmam exercitar-se, com base em mais de meio milhão de respostas fornecidas a duas grandes pesquisas nacionais. Os pesquisadores extraíram as respostas e as agruparam com base no fato de as pessoas atenderem ou não as recomendações da Sociedade Americana do Câncer para atividade física. Essas diretrizes preconizam 300 minutos, ou cinco horas, de exercícios moderados, como uma caminhada rápida, a cada semana para reduzir o risco de câncer.

Finalmente, os pesquisadores ajustaram essas estatísticas para a massa corporal e outros fatores, reuniram dados adicionais sobre os riscos de câncer e conectaram todos os  números em uma equação, que então resultou no PAF para casos de câncer ligados à inatividade. Esse número acabou sendo 46.356, ou cerca de 3% do total de casos de câncer anual (excluindo os casos de câncer de pele não melanoma).

ESTÔMAGO

Quando eles examinaram os tipos individuais de câncer, o de estômago estava mais ligado à inatividade, com cerca de 17 de todos os casos anuais atribuíveis ao sedentarismo, contra 4% dos cânceres de bexiga.

A boa notícia, porém, é que esses números são maleáveis. Ou seja, temos a capacidade de reduzi-los. O exercício pode “prevenir potencialmente muitos tipos de câncer nos Estados Unidos”, disse Adair K. Minihan, cientista associada da Sociedade Americana do Câncer, que liderou o estudo. Se todos os americanos que podem se exercitar começarem a andar por uma hora na semana, disse ela, teoricamente os 46.356 casos ligados à inatividade vão desaparecer.

O câncer é uma doença complexa que tem muitas causas interligadas e sobrepostas, com o sedentarismo desempenhando apenas um pequeno papel. Além disso, os riscos estatísticos nunca caem a zero. Muitas pessoas ativas podem e de fato desenvolvem casos de câncer, explicou Minihan.

Esse estudo, ela enfatizou, não tem o objetivo de “envergonhar as pessoas por não se exercitarem” ou de sugerir que o tumor de alguém seja culpa da própria pessoa por faltar à academia. Segundo a pesquisadora, há muitos obstáculos à prática de atividade física e outros tantos fatores que influenciam quem, em última análise, desenvolve um câncer.

Mas os resultados sugerem que, se cada um pudesse encontrar uma maneira de acomodar 45 minutos por dia de exercícios simples, como caminhadas, poderíamos reduzir as chances de desenvolver muitas doenças malignas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO RAÇA E GÊNERO PESAM NA ESCOLHA DE APOIO PSICOLÓGICO

 Escolher o profissional que combine com o estilo do paciente nem sempre é fácil. Por isso, há quem prefira buscar aquele com vivências semelhantes às suas

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários.

CADASTRADOS

Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1 ,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam,   necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de  buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.” Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura. (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”; num cenário de opressão. aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona.

Amanda Andrade, de 25anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal.

DESMONTADA

“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vitrude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vai conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.”

OUTROS OLHARES

MARCAS LANÇAM HORTAS INTELIGENTES PARA QUEM NÃO TEM TEMPO DE CUIDAR DE PLANTA

Vasos têm lâmpada de LED e reservatório de água que só precisa ser abastecido uma vez por mês

O aumento do interesse pelo cultivo de plantas durante a pandemia fez com que marcas investissem em hortas inteligentes, pensadas para quem vive em apartamento e não tem tempo para se dedicar a jardinagem

Três empresas paulistas oferecem soluções semelhantes: a Brota, a Green Leaf e a Yes We Grow – que foi fundada em 2019, mas só em 2021 passou a vender esse tipo de item.

Nas hortas inteligentes, os vasinhos são posicionados sobre um reservatório plástico, que só precisa ser reabastecido uma vez por mês. Uma espécie de pavio, na base dos vasos, absorve a água aos poucos, mantendo a terra úmida. O produto também pode ser usado em ambientes que não recebem iluminação natural. Lâmpadas de LED programadas em ciclos automáticos garantem o tempo de luz necessário para a fotossíntese.

As hortas também foram pensadas para ocuparem pouco espaço: têm capacidade para seis vasos e medem em torno de 60 cm x 20 cm, com algumas variações de formatos.

Cada empresa oferece substrato com uma fórmula própria de nutrientes, para garantir a saúde das plantas por mais tempo.

Nos vasos, é possível cultivar não só ervas aromáticas, mas também verduras de maior porte e até flores comestíveis ou ornamentais. As sementes são fornecidas pelos fabricantes, em embalagens preparadas para o transporte – não há venda de mudas. Apesar de produtos parecidos, as três empresas têm modelos de negócios distintos. A Brota, lançada em junho de 2020, fica no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, e apostou na fabricação própria, a cargo de 28 funcionários.

A empresa compra os insumos que compõem o solo e complementa o processo internamente, segundo Rodrigo Farina, 24, fundador da marca. “Os nutrientes são embalados em cápsulas, com material nanotecnológico natural, que os libera aos poucos, conforme a planta precisa”.

Vendidas exclusivamente pelo e-commerce próprio da Brota, as hortas custam de R$ 125 (modelo sem iluminação) a R$379 (com LED).

Como parte da clientela não tem tempo nem para pensar na reposição das plantas, a empresa também oferece a opção de assinatura. Os pacotes, que custam a partir de R$49 mensais, dão direito à horta e ao fornecimento contínuo de sementes e cápsulas com substrato.

O manjericão, por exemplo, germina em sete dias, está no ponto para ser colhido pela primeira vez no 20º dia e dá várias colheitas por mais 45 dias. Ao fim do ciclo, é momento de trocar o solo e semeá-lo de novo.

“Já vendemos 16 mil plantas para todos os estados brasileiros, embora nosso foco sejam as áreas urbanas da região Sudeste”, diz o empresário.

A Green Leaf, também lançada em junho de 2020, foca as vendas online, mas de forma pulverizada. Os produtos são vendidos no e-commerce da marca e em grandes marketplaces, como Magazine Luiza, Mercado Livre e Madeira Madeira.

O preço regular é R$ 449, mas é possível encontrar promoções por até R$399,90.

Localizada em Diadema, na região metropolitana de São Paulo, a Green Leaf  também conta com fabricação própria, mas dispõe de estrutura bem mais enxuta – apenas três funcionários.

Já foram vendidas 1.140 hortas, segundo José Roberto Lopes Lima, 47, fundador da empresa. Ele afirma que investiu R$ 400 mil no empreendimento e que, no momento, está negociando a venda da companhia.

Das três marcas, a Yes We Grow é a única que oferece outros produtos além da horta inteligente. A marca foi criada em 2019 e, na época, vendia apenas um mix de plantio, substrato que leva mais 500 ingredientes em sua composição, afirma Rafael Pelosini, 45, sócio da empresa.

“[O substrato] foi projetado para reter mais água e pesar um terço comparado à terra comum. Dá para carregar na bike e não suja a mão”.

Hoje, a companhia tem 80 itens à venda, que vão de fertilizantes naturais a vasos e acessórios de jardinagem.

As hortas são vendidas a R$ 399 no e-commerce próprio da marca e em lojas físicas de grandes redes varejistas, como Petz, Big e Sodimac. Também foi instalado um lounge da Yes We Grow no Shopping Gardênia da avenida dos Bandeirantes ,na zona sul da capital paulista.

“A venda offline se baseia na construção de experiência. Muita gente quer plantar e não tem coragem de começar por falta de conhecimento. Oferecendo conteúdo, podemos desbloquear o ímpeto da clientela para o cultivo”, afirma.

A fabricação é 100% terceirizada, o que permite que seja replicada até em outros países. A empresa não tem sede própria – os funcionários fixos e os 30 prestadores de serviço já trabalhavam de forma remota mesmo antes da pandemia.

De 2019 para cá, três aportes de investidores garantiram a saúde financeira da empresa – o último, em dezembro do ano passado, somou RS3 milhões. O faturamento em 2020 foi de R$ 1 milhão, com expectativa de ser quadruplicado em 2021, segundo Rafael.

Agora, o próximo passo deve ser a internacionalização. “Já recebemos propostas de países da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá e da Costa Rica. Ainda não demos esse passo, mas é o caminho para os próximos anos”, diz o empreendedor.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 26 DE DEZEMBRO

O GALARDÃO DA HUMILDADE

O galardão da humildade e o temor do Senhor são riquezas, e honra, e vida (Provérbios 22.4).

A humildade é a rainha das virtudes. É o pórtico de entrada das bem-aventuranças. É a marca distintiva dos súditos do reino de Deus. Jesus, o Filho do Altíssimo, era manso e humilde de coração. A humildade e o temor do Senhor são duas faces da mesma moeda. É impossível ser humilde sem temer a Deus, como também é impossível temer a Deus sem ser humilde. Tanto a humildade como o temor do Senhor têm recompensa garantida. O galardoador é o próprio Deus. Três galardões são concedidos: riquezas, honra e vida. Riquezas sem honra têm pouco valor. Riquezas e honra sem vida não têm proveito. As três bênçãos vêm num crescendo. As riquezas que vêm como galardão de Deus produzem honra. A honra é sinal de que as riquezas foram granjeadas de forma honesta e concedidas por bondade divina. A vida para desfrutar tanto das riquezas quanto da honra é a coroação dessas dádivas. A humildade vai adiante da honra. É a porta de entrada da riqueza. A humildade pavimenta o caminho da vida. O temor do Senhor nos livra do mal, afasta nossos pés da queda, nos direciona pelo caminho da prosperidade. O temor do Senhor nos veste com a honra e nos concede a vida. Riquezas, honra e vida são todas dádivas de Deus. Procedem todas do céu. São todas destinadas àqueles que se dobram sob a poderosa mão do Altíssimo.

GESTÃO E CARREIRA

HOME OFFICE ACIONA TRANSFORMAÇÃO DE MODELOS DE TRABALHO E CARREIRA

Perfil ‘workaholic’ e ambição por altos cargos perdem espaço diante de demandas despertadas pela rotina em casa

O termo workaholic, definitivamente, ficou fora de moda. Depois da pandemia e do modelo remoto, muitos trabalhadores começaram a rever seus objetivos profissionais. No início da pandemia, havia um estresse de trabalhar todos juntos num mesmo espaço. Aos poucos, os profissionais foram conseguindo se autogerenciar, até o ponto que a maioria já não quer voltar ao modelo antigo dos escritórios, diz o presidente da Randstad, Fabio Battaglia.

A questão é que, em casa, os trabalhadores passaram a fazer múltiplas tarefas, combinando atividades profissionais e pessoais, sem perder a produtividade. “Agora com o modelo híbrido, temem mudar essa nova rotina”, afirma Bataglia. De acordo com a pesquisa da Randstad, 92% dos trabalhadores brasileiros querem formatos de trabalho e carreiras mais flexíveis para acomodar outras atividades ao longo do dia, enquanto a média global é 76%.” Hoje, o tema mais importante é flexibilidade”, diz o executivo da Randstad.

Um exemplo disso é a bancária Carolina de Almeida Ferraz, de 43 anos. Há 20 anos no setor e há mais de 10 como gerente de contas do segmento de alta renda, ela decidiu priorizar sua saúde mental e física e passar mais tempo com as duas filhas pequenas. “Foi uma decisão difícil, fiz muitas contas, mas troquei meu cargo comissionado por outro descomissionado”.

A decisão veio depois do nascimento da segunda filha e do aumento das cobranças e do nível de estresse. Segundo ela, hoje seu salário bruto é menor do que era o líquido. “Mas estou feliz, saudável e sinto que as crianças também percebem isso.” O lado bom, diz Carolina, é que ela conseguiu fazer toda essa mudança e continuar na empresa. ”Mas, se tivesse de trocar de emprego para ter esse benefício, eu trocaria, sem nenhuma dúvida.”

O diretor regional e sócio da empresa de recrutamento de executivos Tailor, Gustavo Leme, destaca que essas mudanças chegaram aos níveis mais altos das corporações. Antes, diz ele, era complicado atrair candidatos de grandes centros para o interior. “Hoje, mesmo quem não tem família aceita propostas para trabalhar fora das capitais como forma de melhorar o ritmo de vida.”

INCERTEZA X TEMPO

Foi pensando nessa qualidade de vida melhor que a personal trainer Brenda Oliveira abriu mão de um trabalho fixo numa academia e ficou apenas com as aulas particulares. Apesar da incerteza financeira por não ter uma carteira assinada, Brenda priorizou o tempo para equilibrar sua vida pessoal. A decisão coincidiu com a chegada de sua irmã caçula, agora com dois meses de idade. “No ritmo que estava, não dava tempo nem de ver a bebê. E queria acompanhar a evolução dela.” Além disso, diz a personal, conciliar as aulas particulares com a academia tirava tempo para coisas básicas como treinar, almoçar sossegada e se cuidar. “É claro que a questão financeira é importante, mas também tenho de pensar na minha saúde e no bem-estar.”

Na avaliação de Fabio Battaglia, as empresas não estavam preparadas para essa mudança tão radical, das características profissionais ou das exigências dos trabalhadores. Agora é que começam a se ajustar a esse novo momento. “Hoje, quando os recrutadores vão fazer uma entrevista, as exigências são muito diferentes das do passado. “Os candidatos querem saber se a empresa tem um propósito, se tem impacto na sociedade e, principalmente, se o modelo de trabalho é híbrido”, diz Leme.

EU ACHO …

O DITADOR MÊS DE DEZEMBRO

Dezembro olhava para ela sempre com desconfiança. Já no primeiro dia do mês, o próprio calendário, organizado milimetricamente para ser cumprido, mostrava-se cético: “não vai dar tempo, não vai dar tempo”, cochichava a folhinha no pé do seu ouvido. E para provar a tese, o tempo que mora dentro de cada mês, e que se espichava em janeiro, encontrava tempo para festas em fevereiro se espremia em dezembro. Não vai dar tempo.

E não dava mesmo. E se ela dormisse menos? Almoçasse na mesa do escritório? Incluísse reuniões no sábado e domingo? Não vai dar tempo.

Meses são como pessoas, com características e personalidades únicas, repleto de intenções e expectativas podem nos tornar reféns de suas vontades, nos envolver em seu próprio destino. Janeiro tem cheiro de férias, sol, mar e, mesmo vivido na capital, longe da praia, entre prédios, traz a leveza dos começos, o espaço das ruas vazias, o cheiro da limpeza, do novo; vem sem cobranças, só sonhos. Já dezembro  traz mandamentos e diretrizes para as metas que deveriam ter sido cumpridas, retornos que deveriam ter sido dados, mensagens que deveriam ter sido respondidas em qualquer que seja a mídia inventada. Dezembro cobra, acumula, espreme e nunca esquece que temos de carregar no rosto o pacote alegria e felicidade constante, afinal é o mês das festas. Coloque seu sorriso logo pela manhã do dia 1 e siga com ele enquanto tenta esticar os minutos para concluir tarefas que se acumularam e agora gritam: “é sua última chance”, porque e se não for feito em dezembro, quando será?

“E agora, José ?”, perguntaria Carlos Drummond de Andrade. A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. Ela, no entanto, diria que descobriu, depois de algumas dezenas de dezembros vividos: “Se apruma José! Que depois do ditador dezembro vem o suave e esperançoso janeiro, vem a folia e as fortes emoções do carnaval em fevereiro  e as chuvas de março lavando a alma”. Deixo dezembro  tentar te convencer que o mundo acaba nele, com ele. Deixa dizer, não discuta não, mas siga sabendo ali dentro que a vida é maior que qualquer dezembro.

*** ALICE FERRAZ

ESTAR BEM

CIRURGIA BARIÁTRICA MELHORA A SAÚDE DO FÍGADO

Estudo com 12 anos de duração identificou, além da perda de peso, a diminuição significativa de doenças hepáticas e cardíacas após o procedimento: obesidade é uma das principais causas da gordura no órgão

Um novo estudo relata que a cirurgia bariátrica, além de ajudar com a perda de peso, pode proteger o fígado. O trabalho avaliou um grupo de mais de 1.100 pacientes que tinham uma forma agressiva de doença hepática gordurosa e que passaram pela cirurgia bariátrica. O resultado foi que, além da perda de peso, os participantes reduziram o risco de gordura no fígado em quase 90%. Apenas cinco dos 650 pacientes que passaram pela cirurgia bariátrica  desenvolveram posteriormente um dos problemas, em comparação com 40 dos 508 pacientes que não fizeram o procedimento.

Os pacientes diagnosticados também apresentavam risco menor de doenças cardiovasculares. Eles tinham70% menos probabilidade de sofrer de derrame ou insuficiência cardíaca ou morte de doença cardíaca, de acordo com o estudo publicado no JAMA.

250 MIL CIRURGIAS POR ANO

Ali Aminian, diretor da Instituto Bariátrico e Metabólico da Clínica Cleveland e principal autor do estudo, disse que o impacto foi causado sobretudo pela drástica perda de peso.

“A obesidade é o principal fator do fígado gorduroso. O excesso de gordura deflagra Inflamação, o que leva à cirrose” afirma. “Quando um paciente perde peso, a gordura sai de todos os lugares, inclusive do fígado; a inflamação relacionada e parte do tecido cicatricial pode se reverter e melhorar. Os resultados foram notáveis, segundo Steven Nissen, diretor acadêmico do Instituto Cardíaco e Vascular da Clínica Cleveland autor sênior do estudo.

“O resultado da doença pós cirúrgica “foi o  mais baixo que vi em 30 anos de estudos, uma redução de 88% na progressão para doença hepática avançada”, disse ele.

O estudo observacional analisou casos na Clínica Cleveland ao longo de 12 anos. Os pesquisadores não identificaram exatamente a relação causal na diminuição dos riscos de doenças graves do fígado ou do coração nos procedimentos da perda de peso, mas consolidaram a certeza de que a cirurgia bariátrica pode fornecer benefícios à saúde além da perda de peso. Cerca de 100 milhões de adultos americanos são ultra obesos e cerca de 250 mil deles se submetem a operações bariátricas a cada ano.

A cirurgia acarreta sérios riscos, no entanto. Sessenta e dois dos 650 pacientes de cirurgia para perda de peso no grupo de estudo desenvolveram complicações graves após a operação, e quatro deles morreram dentro de um ano após o procedimento.

Uma das técnicas mais comumente realizadas na cirurgia bariátrica é denominada gastrectomia vertical (redução do estômago). Mas a mais utilizada é a chamada cirurgia de bypass gástrico em Y-de-Roux (uma grande parte do estômago é retirada e, depois, a porção restante é ligada ao início do intestino).

MUDANÇA DE HÁBITOS

Mais de 40% dos adultos americanos lutam contra a obesidade. Cerca de 75% têm doença hepática gordurosa não alcoólica, que costuma ser uma condição silenciosa, sem sintomas muito claros. Mas um em cada quatro ou cinco desenvolverá uma forma agressiva da doença chamada esteatose hepática não alcoólica, ou NASH, que causa fibrose do fígado, podendo levar ao transplante do órgão. Não existem medicamentos ou terapias aprovadas disponíveis para a doença hepática gordurosa não – alcoólica. Os médicos geralmente aconselham os pacientes a perder peso e mudar para uma dieta mais saudável em um esforço para reduzir a gordura, inflamação e fibrose no fígado, um órgão vital que transforma alimentos e bebidas em nutrientes e filtra substâncias nocivas do sangue.

Pacientes obesos que se submetem à cirurgia bariátrica geralmente perdem até 25% do peso corporal, muito mais do que pacientes que fazem dieta para perder peso. Após a cirurgia, eles também passam a precisar de menos medicações para manter doenças como diabetes tipo 2, pressão alta e colesterol sob controle.

O novo estudo é importante, mas não é definitivo. Foi um estudo observacional retrospectivo que comparou os resultados a longo prazo de 650 pacientes de cirurgia bariátrica com 508 pacientes semelhantes que não foram submetidos à cirurgia. Como tal, não foi um ensaio clinico randomizado, do tipo considerado o ouro em medicina, que distribui aleatoriamente pacientes com características semelhantes a um braço de intervenção ou um placebo. Vários dos 16 autores do artigo são consultores ou receberam financiamento de empresas que fabricam dispositivos usados em cirurgias para perda de peso. Aminian e Nissen recebem financiamento da Medtronic, a maior empresa de dispositivos médicos do mundo, e Nissen também recebe financiamento da Ethicon, um fabricante de dispositivos médicos e instrumentos cirúrgicos. Eles não receberam financiamento externo para esse estudo, no entanto.

Uma preocupação em estudos como esses é que os pacientes que optam pela cirurgia para perda de peso podem ser inerentemente diferentes dos que não optam. Eles podem estar mais motivados e têm cobertura de saúde, ou meios para pagar os procedimentos.

Neste caso, no entanto, disse Nissen, o benefício foi tão impressionante que “mesmo se estiver errado em relação a porcentagens, ainda significa que o risco é drasticamente reduzido”‘.

MULHERES SÃO 60%

O estudo analisou os casos da Clínica Cleveland de 1.158 pacientes obesos que apresentaram biópsia de fígado de 2004 a 2016 indistintamente se tinham doença hepática gordurosa não alcoólica avançada com fibrose. As mulheres representam mais de 60% dos pacientes; a idade média era de pouco menos de 50 anos; e o índice de massa corporal mediano foi de 44, o que é considerado perigosamente acima do peso.

As doenças cardíacas também foram reduzidas após a cirurgia para perda de peso, como estudos anteriores mostraram: cerca de 8,5% dos que fizeram a cirurgia bariátrica tiveram um evento cardíaco, em comparação com 15.7% dos que não fizeram a cirurgia.

“A doença hepática gordurosa é realmente uma doença muito importante e a maioria dos americanos não sabe nada sobre ela”, disse Nissen. “Já se tornou uma causa mais comum de insuficiência hepática do que o álcool. E com a epidemia de obesidade, esta doença está realmente aumentando em um ritmo assustador.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GENTILEZA REDUZ RISCO DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Em novo livro, educadora americana Traci Baxley mostra os benefícios de se cultivar desde cedo nas crianças o comportamento pró-social; ajudar o próximo pode ser um ato natural, mas geralmente precisa ser ensinado

As férias logo chegarão. O que te faria sentir melhor: receber um presente ou dar um a alguém necessitado? Pesquisas deixam claro que, como diz o provérbio, é melhor dar do que receber.

“Fazer coisas boas faz você se sentir melhor”, disse Andrew Miles, sociólogo da Universidade de Toronto. “Isso atende a uma necessidade psicológica básica, como dar ao nosso corpo uma alimentação adequada. Ajuda você a sentir que sua vida tem valor”.

Miles está atualmente conduzindo um amplo estudo com o objetivo de quantificar as maneiras pelas quais fazer o bem pode ajudar a conter a ansiedade e a depressão que atualmente prejudicam a saúde e o bem-estar de muitas pessoas em todas as esferas da vida.

E a necessidade de praticar a gentileza pode nunca ter sido maior. As tensões econômicas, educacionais e vocacionais associadas à pandemia continuam presentes. Além disso, a mídia, a internet e até mesmo as ruas dos bairros estão frequentemente repletas de ameaças físicas e comentários odiosos dirigidos a grandes segmentos da população.

Embora membros de grupos minoritários, sejam eles raciais, étnicos, religiosos ou sexuais, estejam cada vez mais dispostos a rebater ataques verbais e físicos e discriminação, muitos indivíduos-alvo continuam a sofrer em silêncio. Não é de admirar que as taxas de ansiedade e depressão permaneçam altas.

As crianças que podem sentir prontamente a angústia emocional de seus cuidadores, muitas vezes compartilham a dor. Mas os especialistas dizem que existe um antídoto que pode beneficiar a todos. Eles chamam isso de “comportamento pró-social”, ou agir de forma a ajudar outras pessoas.

Em seu livro recentemente publicado, “Social Justice parenting” (“Parentalidade com justiça social”, sem versão para o português), Trad Baxley, professora associada de educação na Universidade Florida Atlantic, enfatiza as recompensas de ensinar compaixão e bondade para uma nova geração. Seu objetivo em promover um mundo melhor para todos é criar os “que possam, no fim das contas, se autodefender, ter empatia com os outros, reconhecer a injustiça e se tornarem proativos para mudá-la”.

Seu livro está repleto de exemplos e conselhos que podem ajudar os pais a criar os filhos com uma autoimagem saudável e consideração pelo bem-estar dos outros. “É nossa obrigação ensinar nossos filhos a se levantarem e serem aliados de grupos marginalizados e silenciados”, escreveu Baxley. Mãe de cinco Olhos, ela disse que, ao retomarem à escola após a quarentena pandêmica, muitos jovens experimentaram um aumento na depressão e na ansiedade social que pode ser neutralizada por um comportamento pró-social.

“Apenas ver compaixão e bondade em ação libera substâncias químicas no cérebro que os ajudam a se acalmar”, afirmou. Isso diminui a frequência cardíaca e libera serotonina, que neutraliza os sintomas da depressão.

O comportamento pró-social pode vir naturalmente para alguns. Mesmo crianças de 2 ou 3 anos podem compartilhar espontaneamente uma guloseima ou brinquedo com um amiguinho que esteja triste. Mas a maioria das crianças provavelmente precisará aprender isso com as mesmas pessoas que as ensinam a dizer “por favor” e “obrigado”, enquanto mais cedo isso acontecer, melhor.

Para começar, o comportamento pró-social requer compaixão e empatia, a capacidade de reconhecer e se preocupar com as necessidades e o bem-estar dos outros. Mas a compaixão sem acompanhamento construtivo não beneficia a ninguém. O segundo passo é a bondade, também conhecida como compaixão em ação. Você pode ficar angustiado ao ver uma pessoa carregando sacolas pesadas, mas a menos que você se ofereça para ajudar ou expresse um desejo de ajudar, mas explique por que você não pode, sua compaixão não serve de nada.

DAR O EXEMPLO

Um dos melhores momentos de maior orgulho como avó foi aprender que um neto, então na primeira série, consolou um colega de classe que ficou enjoado durante uma viagem escolar de ônibus. Enquanto outras crianças se afastavam enojadas, meu neto colocou o braço sobre a criança que estava passando mal e perguntou se ele se sentia melhor.

Quando meus netos já estavam maiores, decidi parar de alimentar a pilha de roupas e brinquedos que eles tinham e passei a dar como presente de Natal, dinheiro para doar a qualquer grupo sem fins lucrativos que eles escolhessem e que trabalhasse para melhorar a vida de outras pessoas. Um dos meninos escolheu um programa de tutoria para crianças carentes; outro, um programa esportivo; outro enviou seu presente para a American Forest, dedicada a proteger e restaurar ecossistemas florestais; e o mais novo, de 10 anos, doou para um banco de alimentos local.

Baxley relata episódios semelhantes em “Social Justia, Parenting. Ela conta sobre a empolgação de um filho ao encontrar uma nota de US$ 20, logo depois de dá-la a uma família de imigrantes segurando uma placa que dizia “Você pode nos ajudar com o nosso aluguel?”

Com muita frequência, os pais valorizam mais tirar boas notas ou desempenho esportivo  do que ajudar as pessoas que precisam. Segundo ela, é importante promover o bem-estar emocional de uma criança aceitando e estimulando o filho que você tem, não tentando criar à força aquele que você deseja. Uma criança que não tem habilidade atlética e rejeita esportes não deve ser levada a participar de um porque os pais valorizam  isso, disse ela.

Baxley reconhece os desafios que os pais enfrentam ao lidar com questões delicadas como raça, deficiência, inconformidade de gênero e falta de moradia. Mas ela exorta os pais a não permitirem que o medo atrapalhe as conversas. Mesmo os tópicos mais difíceis, como racismo, bullying, sexismo e morte podem ser discutidos com sensibilidade e sinceridade em termos adequados à idade, afirma.

OUTROS OLHARES

O HYPE DO VAPE

Jovens influenciadores fazem propaganda de cigarro eletrônico nas redes sociais, mostrando que a indústria tabagista dá roupa nova a velhos hábitos prejudiciais à saúde

Moças e rapazes jovens, magros e sorridentes na balada, ao iate, em frente ao espelho com seus looks do dia e no restaurante com um drinque à mesa. A cereja do bolo ao feed do Instagram é o novo cigarro eletrônico. No vídeo, então, o vapor que sai da boca em câmera lenta ganha ainda mais likes. Imagens como essas são cada vez mais frequentes em uma turma cooptada pela indústria tabagista para reproduzir velhos hábitos nocivos sob novas roupagens. Se antes o marketing era feito em cima da figura do caubói soltando a fumaça do “Marlborão”, hoje ele se concentra em nanoinfluenciadores (pessoas com até dez mil seguidores) das redes sociais, que expelem vapor pelos cigarros eletrônicos. O crescimento de jovens usando os chamados DEFs (sigla para “dispositivo eletrônico para fumar”) tem preocupado especialistas.

“Hoje, no novo contexto de redes sociais, jovens de certa fama são usados como veículos de propaganda. Foi exatamente o que aconteceu em Hollywood no passado”, diz a médica Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção – Quadro para Controle do Tabaco e seus Protocolos no Brasil (Conicq), vinculado ao Instituto Nacional do Câncer.

A legislação brasileira não proíbe o uso de cigarro eletrônico, mas, desde 2009, é vedada a comercialização e a propaganda desses dispositivos, algo que é feito livremente no Instagram. Moças e rapazes marcam com frequência suas “lojas” preferidas e muitos se dizem até embaixadores de determinadas marcas, que se vendem como alternativas eficazes no combate ao tabagismo”.

De biquíni verde-água. com uma piscina azul ao fundo, a curitibana Julia Zarth que se descreve como “advogada, skydiver e aquariana”, posa com o vaporizador vermelho e a legenda “Curtindo meu nikbar1500 puffs. Meu sabor preferido é o ‘straberry ice’ e vc-s, de qual gostam?”. Vanessa Vaper, influencer da fumaça que investe pesado nos vídeos, faz propaganda de sabores e modelos diferentes do cigarro e ainda alerta sobre a importância de não compartilhar “o vape” em tempos de pandemia.

Procuradas pela reportagem, as duas e outras seis influenciadoras não quiseram dar entrevistas. Algo curioso para quem defende tão abertamente nas redes essa nova forma de tabagismo.

Para Gisele Birman Tonietto, do departamento de Química do CTC/PUC-Rio, o discurso da moçada do vaporizador é uma falácia para induzir toda uma geração que rejeita o cigarro tradicional a acabar viciada do mesmo jeito.  ”Há uma adequação a linguagem dos influencers, mas, a rigor, é a velha propaganda enganosa. Eles vendem como uma coisa mais limpa, menos tóxica, mas isso é completamente errado, diz Gisele.

O cozinheiro Mateus Henrique, de 22 anos, de Juiz de Fora, é um usuário do cigarro eletrônico  que sente os apelos do aparelho, criado no exterior há cerca de duas décadas, mas com popularidade em ascensão. Fumante há dois anos, ele prefere essa versão moderna porque não tem o cheiro forte do cigarro tradicional e ainda pode ter sabor (há refil que imita o gosto até de creme brulée). “Peguei essa fase bem no comecinho, mas cresceu muito no Instagram”, diz o jovem, que tem tentado convencer a mãe, fumante do cigarro tradicional, a trocar pelo vapor.

Essa é, inclusive, uma das abordagens de muitos países que liberam indiscriminadamente o uso dos eletrônicos: ajudar fumantes a abandonarem o cigarro tradicional, com alcatrão e monóxido de carbono. No Brasil, a conduta foi outra, já que a “redução de danos” para os fumantes poderia levar a um aumento em massa de novos jovens viciados em nicotina.

“Assim como o cigarro tradicional, o eletrônico aumenta risco de infarto e AVC. É trocar seis por meia dúzia. O que não traz danos à saúde é parar de fumar”, diz a cardiologista Jaqueline Scholz, diretora do programa antitabagista do Incor, em São Paulo. Além disso, o vapor passa pela bateria, que contém uma série de metais cujos efeitos no corpo, a longo prazo, são desconhecidos. Ou seja, melhor não entrar nessa onda.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 25 DE DEZEMBRO

SIGA AS PLACAS DE SINALIZAÇÃO

O prudente vê o mal e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena (Provérbios 22.3).

Deus coloca placas de sinalização ao longo da estrada da vida. O segredo de uma viagem segura é obedecer a esses sinais. Não observá-los é rumar ao desastre. As luzes vermelhas do mal acendem- se em nosso caminho. Alertam-nos sobre o perigo de continuar viagem por essa pista. O prudente não avança ignorando esses alertas. Só os tolos fecham os olhos a esses sinais e tapam os ouvidos a essas advertências. Seguir em frente quando a prudência nos ordena parar é sofrer inevitavelmente a consequência da escolha insensata. Quando Paulo embarcou para Roma, avisou o comandante do navio sobre os perigos da viagem, então não era prudente partir. Mas o comandante não deu ouvidos ao servo de Deus, e a viagem foi muito tormentosa. Eles enfrentaram ventos contrários e tufões. A carga do navio se perdeu, e o próprio navio ficou todo despedaçado. Isso porque o comandante não obedeceu às placas de sinalização. A Palavra de Deus diz que o prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue adiante e sofre as consequências. A pessoa sensata vê o mal e se esconde, mas a insensata segue em frente e acaba mal. Faça uma viagem segura; obedeça às placas de sinalização!

GESTÃO E CARREIRA

ENTRE A CARREIRA E A FAMÍLIA, ELAS ESCOLHEM AS DUAS

Mulheres que resolveram empreender para voltar ao mercado de trabalho após se tornarem mães investem em consultorias e startups que ajudam outras empresas a transformar a visão da maternidade no mundo corporativo

Por muito tempo, boa parte das mulheres seguiu o mesmo script: investem e avançam na profissão; aí vêm os filhos – outro projeto que abraçam com afinco – e a carreira para. Ou o mercado se fecha. E percebem que falta empatia em relação a elas, profissionais que viram mães. No entanto, recentemente esse tipo de roteiro começa a ganhar novos desfechos com o protagonismo de mulheres que, depois da transformação da maternidade, resolveram transformar o mundo corporativo. Com elas, florescem consultorias e  aceleradoras de startups nas quais atuam mães que, entre carreira e família, escolhem as duas.

A maioria desses negócios surgiu nos últimos seis anos ou menos e se expandem com o apelo crescente de um mercado mais inclusivo e com equidade de gênero. Com a  pandemia, houve um salto. Quando, para quem teve essa opção, o trabalho foi para casa,  crianças reviraram a rotina, apareceram nas videoconferências e a maternidade saiu do armário.

“A pandemia escancarou as dores e os desafios que transpareciam só nas olheiras das mães, e não deu para disfarçar mais. Os homens também viveram isso com as crianças em casa. O desempenho de equipes foi afetado. Por outro lado, motivou as pessoas a falarem muito mais do tema”, diz Daniela Scalco, CEO e fundadora da consultoria ParentsIn.

Daniela entrou duas vezes para as estatísticas mais comuns sobre mulheres e trabalho. Saiu do mercado depois de ter filhos – o que acontece após 24 meses com quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  Ao retornar, decidiu empreender –  75% das empreendedoras decidiram ter negócio próprio depois de virarem mães, mostra levantamento do Instituto Rede Mulher Empreendedora.

NEGÓCIO É A SAÍDA

A ParentsIn é o “terceiro filho” de Daniela, mãe de dois meninos, de 8 e 6 anos. A consultoria nasceu em 2019 justamente com a meta de trazer mil mulheres de volta ao mercado em três anos. A consultoria faz a ponte entre empresas e profissionais que buscam viver carreira e filhos juntos. A demanda, diz, tem crescido dos dois lados. E as contratadas viram porta-vozes da causa na nova posição.

“Uma coisa que me chamava a atenção era que muitas mães que começam a empreender faziam isso não porque queriam, mas porque não conseguiam retornar ao mercado. Não era possível que não existisse um caminho de volta – relembra Daniela.

As redes sociais também têm amplificado esse movimento. Entre postagens no LinkedIn sobre exaustão e como a pandemia fez retroceder a patamares de 30 anos atrás a participação das mulheres em um mercado de trabalho já desigual, a campanha #meufilhonocurrículo viralizou mês passado com essa hashtag. A sacada foi da consultoria Filhos no Currículo, que convidou mães e pais a contarem as habilidades adquiridas com o nascimento dos filhos como potências profissionais.

“Foram mais de 40 mil interações no início da campanha. Conseguimos entrar em fóruns e discussões onde isso não estava em pauta e trazer o tema para reflexão em um momento de planejamento para 2022, quando empresas estão repensando políticas, benefícios e metas de equidade”, diz Michelle Temi, CEO e cofundadora da Filhos no Currículo.

Seu enredo também é comum a muitas mulheres:  depois dos dois filhos, que hoje têm 6 e 4 anos, Michelle repensou vida e trabalho. Deixou o emprego em uma multinacional para se dedicar ao papel de mãe . Movida pelas reflexões da maternidade, debruçou-se sobre o impacto da chegada dos filhos na carreira de mulheres. Conheceu a sócia e também mãe Camila Antunes, e aí os scripts sem misturaram. A Filhos no Currículo nasceu em 2018 e ajuda empresas a construir um ambiente pró-família e acolher a mães e pais.

“O exercício diário da parentalidade é um convite a nos revisitarmos e a fazer um trabalho de desenvolvimento pessoal. Quando as empresas criam um ambiente que acolhe essa transformação, têm pessoas mais felizes trabalhando”, afirma Michelle.

MOVIMENTO SEM VOLTA

A ausência desse espaço, por outro lado, leva mães a buscar outras alternativas. Uma pesquisa da Filhos no Currículo com a Talenses Group com 742 mães que trabalham mostrou que 60.7% fizeram um curso de capacitação e 44,8% participaram de um processo seletivo durante a pandemia.

Quando começou com a B2Mamyi, aceleradora de startups para mães, em 2015, o terreno era pouco explorado, lembra a CEO Dani Junco.

“Quando fui no primeiro evento sobre inovação, disseram que ser mãe e ter uma startup era impossível. Saímos de 80 mulheres em 2015 para 50 mil na nossa rede. Hoje as empresas aportam capital para falar sobre inclusão. O olhar do feminino está entrando na cultura corporativa”, destaca Dani.

As consultorias a empresas representam metade do faturamento atual da B2Mamy, diz a empresária:

“Entrou uma agenda ESG forte e as empresas estão sendo cobradas por isso, inclusive financeiramente. É um movimento sem volta”.

EU ACHO …

MEU NATAL

Como as crianças eram pequenas e não conseguiriam se manter acordadas para uma ceia, ficou como hábito que o Natal seria comemorado não à meia-noite, mas sim no almoço do dia seguinte. Depois os meninos cresceram, mas o hábito ficou. E é no dia 25 pela manhã que vêm os presentes.

Pelo fato da ceia de Natal ser no dia 25, eu fiquei sempre livre na noite de 24 de dezembro. Mas há três ou quatro anos tenho um compromisso sagrado para a noite de 24.

É que, falando com uma moça que não era ainda minha amiga, mas hoje é, e muito cara, perguntei-lhe o que ia fazer na noite de Natal, com quem ia passar. Ela respondeu simplesmente: o que eu tenho feito todos os anos: tomo umas pílulas que me fazem dormir 48 horas. Surpreendi-me, assustada, perguntei-lhe por quê. É que o tempo de Natal lhe era muito doloroso, pois perdera pai e mãe, se não me engano perto de um Natal, e não suportava passá-lo sem eles. Fiz-lhe antes ver o perigo de tais pílulas: podia, em vez de 48 horas, dormir para sempre. E tive uma ideia: daquele Natal em diante, nós passaríamos parte da noite de 24 juntas, jantando num restaurante. Encontrar-nos-íamos às oito e pouco da noite, ela veria como os restaurantes estão cheios de pessoas que não têm lar ou ambiente de lar para passar o Natal e o celebram alegremente na rua. Depois do jantar, ela me deixa em casa com o seu carro, e vai para casa buscar a tia para irem à Missa do Galo. Nós combinamos que cada uma paga a sua parte no jantar e que trocaremos presentes: o presente é a presença de uma para a outra.

Mas houve um Natal em que minha amiga quebrou a combinação e, sabendo-me não religiosa, deu-me um missal. Abri-o, e nele ela escrevera: reze por mim.

No ano seguinte, em setembro, houve o incêndio em meu quarto, incêndio que me atingiu tão gravemente que fiquei alguns dias entre vida e morte. Meu quarto foi inteiramente queimado: o estuque das paredes e do teto caiu, os móveis foram reduzidos a pó, e os livros também.

Não tento sequer explicar o que aconteceu: tudo se queimou, mas o missal ficou intato, apenas com um leve chamuscado na capa.

***CLARICE LINSPECTOR

ESTAR BEM

DE QUANTA ÁGUA VOCÊ REALMENTE PRECISA?

Especialistas derrubam o mito da necessidade generalizada de ingerir 2 litros por dia: para a maioria das pessoas saudáveis, o correto é só beber quando estiver com sede. Cerveja, café e chá também hidratam

Se você passou algum tempo na redes Sociais ou visitou um evento esportivo      recentemente, com certeza foi bombardeado com incentivo para beber mais água. Os influenciadores e celebridades agora carregam garrafas de água do tamanho de um galão como o novo acessório da moda. O Twitter nos lembra constantemente de reservarmos mais tempo para nos hidratar. Algumas garrafas de água reutilizáveis carregam frases motivacionais do tipo “lembre-se do seu objetivo”, “Continue bebendo” e “Você está quase terminando” – para incentivar mais litros de água ao longo do dia.

Os supostos benefícios do consumo excessivo de água são aparentemente infinitos -desde a melhoria da memória e da saúde mental ao aumento da energia e uma aparência  melhor. “Mantenha-se hidratado” tornou-se uma nova  versão da velha saudação “Fique bem”.

Mas o que exatameme significa “manter-se hidratado?”

“Quando os leigos discutem a desidratação focam a perda de qualquer fluido”, diz Joel Topf, nefrologista e professor clínico assistente de medicina na Oakland University, em Michigan.

Mas essa interpretação é “totalmente desproporcional”, afirma. Kelly Anne Hyndman, pesquisadora da função renal da Universidade do Alabama em Birmingham. Manter-se hidratado é definitivamente importante, diz ela, mas a ideia de que o simples ato de beber mais água tornará as pessoas mais saudáveis não é verdade. Tampouco é correto que a maioria das pessoas segue cronicamente desidratada ou que devamos beber água o dia todo.

Do ponto de vista médico, acrescentou Topf, a medida mais importante de hidratação é o equilíbrio entre eletrólitos como sódio e água no corpo. E você não precisa engolir copo atrás de copo de água ao longo do dia para obter isso.

QUANTA ÁGUA EU REALMENTE PRECISO BEBER POR DIA?

Todos nós aprendemos que oito copos de 250 ml de água por dia é o número mágico para todos, mas essa noção é um mito, explica Tamara Hew-Butler, cientista de exercícios e esportes da Wayne State University.

Fatores únicos como o tamanho do corpo, temperatura externa e quantidade de suor são importantes. Uma pessoa de 90 quilos que acabou de caminhar sob o sol forte obviamente deve beber mais água do que um funcionário de escritório de 60 quilos que passou o dia em um prédio com temperatura controlada.

A quantidade de água de que você precisa por dia também depende da sua saúde. Alguém com uma condição como insuficiência cardíaca ou pedras nos rins pode exigir uma quantidade diferente do que alguém que toma medicamentos diuréticos, por exemplo. Ou talvez você pode precisar alterar sua ingestão se estiver  com episódios de vômitos ou diarreia.

Para a maioria das pessoas jovens e saudáveis, a melhor maneira de se manter hidratada é, simplesmente beber água quando estiver com sede, disse Topf. Aqueles que são mais velhos, na casa dos 70 e 80 anos, podem precisar fornecer mais atenção para obter líquidos suficientes porque a sensação de sede pode diminuir com a idade. E, apesar da tendência popular, não confie na cor da urina para indicar com precisão o seu estado de  hidratação, disse Hew-Butler. Sim, é possível que uma urina amarela escura ou âmbar possa significar que você está desidratado, mas não há nenhuma ciência sólida para sugerir que a cor, por si só, deva levar você a ir beber um copo da bebida imediatamente.

TENHO QUE BEBER ÁGUA PARA ME MANTER HIDRATADO?

Não necessariamente. Do ponto de vista puramente nutricional, a água é uma escolha melhor do que opções menos saudáveis, como refrigerantes açucarados ou sucos de frutas. Mas quando se trata de hidratação, qualquer bebida pode adicionar água ao seu sistema, explica Hew-Butler.

Uma noção popular é que beber bebidas com cafeína ou álcool desidrata você, mas, se isso for verdade, o efeito é insignificante, disse Topf. Um ensaio clínico randomizado e  controlado de 2016 com72 homens, por exemplo, concluiu que os efeitos hidratantes da água, cerveja, café e chá eram quase idênticos.

Você também pode obter água do que come. Alimentos ricos em líquidos e refeições como frutas, vegetais, sopas e molhos contribuem para a ingestão de água. Além disso, o processo químico de metabolização dos alimentos produz água como subproduto, o que também aumenta a ingestão, diz Topf.

EU PRECISO ME PREOCUPAR COM OS ELETRÓLITOS?

Alguns anúncios de bebidas esportivas podem fazer você pensar que precisa estar constantemente repondo eletrólitos para manter seus níveis sob controle, mas não há razão científica para a maioria das pessoas saudáveis ingerirem bebidas com eletrólitos adicionados artificialmente, disse Hew-Butler.

Eletrólitos como sódio, potássio, cloreto e magnésio são minerais carregados eletricamente que estão presentes nos fluidos do corpo (como o sangue e a urina) e são importantes para equilibrar a água em seu corpo. Eles também são essenciais pua o funcionamento adequado dos nervos, músculos, cérebro e coração.

Quando você fica desidratado, a concentração de eletrólitos no sangue aumenta e o corpo sinaliza a liberação do hormônio vasopressina, o que acaba eliminando a quantidade de água que é liberada na urina para que você possa reabsorvê-la de volta em seu corpo e obter esse equilíbrio novamente, Hyndman disse.

A menos que você esteja em uma situação incomum – fazendo exercícios muito intensos no calor ou perdendo muito líquido por causa do vômito ou diarreia – você não precisa repor os eletrólitos com bebidas esportivas ou outros produtos carregados com eles. A maioria das pessoas obtêm eletrólitos suficientes de sua alimentação, disse Hew-Butler.

BEBER MAIS ÁGUA, MESMO SEM SEDE VAI MELHORAR MINHA SAÚDE?

Não. É claro que as pessoas com certas condições de saúde, como pedras nos rins ou uma doença renal policística autossômica dominante, mais rara, podem se beneficiar ao fazer um esforço para beber um pouco mais de água do que sua sede exige, disse Topf.

Mas, na realidade, a maioria das pessoas saudáveis que atribuem a sensação de mal-estar à desidratação pode, na verdade, estar se sentindo mal porque estão bebendo água em excesso, especulou Hyndman.

Talvez eles tenham uma dor de cabeça ou se sintam mal, pensando: “Ah, estou desidratado, preciso beber mais”, e continuam bebendo cada vez mais e mais água, e continuam se sentindo pior e pior e pior.

Se você beber uma quantidade além da que seus rins podem excretar, os eletrólitos em seu sangue podem se tornar muito diluídos e, no caso mais brando, pode fazer você se sentir “mal”.

No caso mais extremo, beber uma quantidade excessiva de água em um curto período pode levar a uma condição chamada hiponatremia ou “intoxicação por água”.

Isso é muito assustador e ruim, disse Hyndman.

Se os níveis de sódio no sangue ficarem muito baixos, pode haver um inchaço do cérebro e problemas neurológicos como convulsões, coma ou até morte. Em 2007, uma mulher de 28 anos morreu de hiponatremia após supostamente beber quase dois galões de água durante três horas enquanto participava de um concurso que desafiava as pessoas a beber água e urinar o menos possível. A condição pode ser mais comum entre os praticantes de exercícios físicos.

COMO POSSO SABER SE ESTOU HIDRATADO O SUFICIENTE?

Seu corpo vai te dizer. A noção de que manter-se hidratado exige cálculos complexos e  ajustes instantâneos para evitar consequências terríveis para a saúde é pura besteira, segundo especialistas. E uma das melhores coisas que você pode fazer é parar de pensar demais nisto.

Em vez disso, o melhor conselho para se manter hidratado, explica Topf, também é o mais simples: beba quando estiver com sede. Simples assim.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO PAIS SEPARADOS PODEM TER UM FELIZ NATAL COM OS FILHOS E O EX

 Para uma reunião de sucesso, deixe conflitos e tensões de lado, comunique-se com antecedência e mantenha as expectativas claras

Morgan Havens e sua melhor amiga, Jerilyn, compartilham uma tradição de véspera de Natal: depois que Havens bota os filhos na cama, ela, Jerilyn e seus parceiros passam a noite assando cookies e embrulhando presentes. Não há nada incomum nessa história, exceto por um detalhe: Havens era casada com o atual marido de Jerilyn e as crianças dormindo são deles. Havens e sua família toda junta e misturada não estão sozinhas. A guarda compartilhada, especialmente nas festas de fim de ano, muitas vezes significa que um dos pais ou mães perde a decoração da árvore, o que pode gerar ansiedade entre os envolvidos. Uma solução é juntar todo mundo para celebrar. O tilintar dos copos com um ex­ parceiro não é para qualquer um. Mas as crianças se beneficiam com o arranjo.

Aqui vão estratégias para ter sucesso ao reunir ex-parceiros nas festas de fim de ano, sugeridas por especialistas em co- parentalidade. Todos fazem a mesma advertência: o primeiro ano pode ser desafiador.

DEIXE OS CONFLITOS DE LADO

As crianças são boas em sentir o que está acontecendo ao seu redor. ”Se nos propomos a fazer algo que achamos que é bom para nossos filhos, mas estamos ansiosos ou virando aquela segunda ou terceira taça de vinho para encarar a situação, não é uma boa escolha”, disse Karen Bonnell, divorciada, coach de parentalidade, mediadora e autora do The Co-Parenting Handbook. Marisa C. Franco, psicóloga e especialista em amizades concorda “Se surgir tensão ou ressentimento, tente deixar o assunto para mais tarde.”

Terapia pode ajudar. Foi o que fez a psicóloga Sarah Gundle. Nos últimos quatro anos, o ex-parceiro e a filha agora com 6 anos, vêm se reunindo para uma noite de Chanuká, junto com sua filha de 15 anos de um casamento anterior, a namorada de seu ex parceiro e a mãe dele. Gundle se encontra em ambas as extremidades da co-parentalidade. Ela e o ex-marido não compartilham a parentalidade, mas ela e o pai da filha mais nova a criam cooperativamente. “Vi isso nos meus dois filhos, e é melhor para a criança quando os pais mantêm algum tipo de contato positivo.”

RECONHEÇAM SEUS PAPÉIS COMO ADULTOS QUE COMPARTILHAM FILHOS

“É importante que, quando as pessoas encerram uma relação, elas não pensem mais em si mesmas como ex-parceiros”, avalia Bonnell. “Você precisa pensar nessa pessoa como o pai ou mãe de seus filhos.”

Na manhã de Natal, Laura Lopez, seu noivo e a filha de 5 anos, que divide com seu ex­ companheiro de uma relação de dez anos, se encontrarão na casa de seu ex para tomar café da manhã e abrir presentes com ele e sua nova esposa. No ano passado, Lopez encomendou pijamas combinando para todo o grupo e juntos tiraram uma foto natalina. “O relacionamento entre o pai da minha filha e eu nunca foi tão saudável”, garante.

ALINHE AS COISAS ANTES DAS FESTAS

Franco explica que a comunicação deve ser uma parte contínua da co-parentaildade. “Telefone antes para discutir ‘como vamos fazer para que nossos filhos tenham uma ótima experiência juntos? Onde queremos nos encontrar e quem cada um de nós pode levar?’ Isso pode fazer toda a diferença”, afirma.

Além disso, reserve alguns minutos para discutir os presentes. Bryan Johnson, pai de filhos de 21, 19 e 16 anos, coordena as ideias de presentes com a ex­ mulher. Eles compartilham sugestões sobre o que os filhos querem no Natal e dividem o custo dos itens mais caros.

DEFINA A INTENÇÃOE OS LIMITES PARA O DIA

Os ex-parceiros devem evitar impor um ao outro como o dia vai se desenrolar, mas é importante transmitir como cada um imagina o dia se desenrolando. Lembre-se de que o foco deve estar nos filhos e que não há exigência de que os ex-parceiros sejam próximos ou que os novos parceiros se tornem melhores amigos. Katherine Woodward Thomas, terapeuta matrimonial e familiar licenciada e autora de Conscious Uncoupling: 5 Steps to Living Happily Even After, sugere estabelecer limites para a reunião, especialmente se ainda houver tensão ou relacionamento. “Talvez seja uma boa ideia convidar o ex-parceiro para comer cookies, tomar chocolate quente e abrir um presentinho”, observa. “Veja se as pessoas estão dispostas a ficar tempo suficiente para que as crianças tenham uma sensação de coesão entre as famílias.”

Nos últimos sete anos, Johnson, que foi casado durante 16 e está divorciado há dez, passou o dia de Natal na casa de sua ex­ mulher e do marido dela. Ele chega para o café da manhã, os filhos desembrulham os presentes e ele vai embora algumas horas depois. “No início, era difícil ser uma visita na festa de Natal dos meus filhos”, lembra ele. “Foi preciso limpar a lousa e criar um novo conjunto de expectativas para as festas.”

PENSE EM FAZER OS EVENTOS EM LOCAL NEUTRO

Enquanto algumas famílias comemoram na casa de um dos pais ou mães, outras se sentem mais confortáveis se reunindo em outro lugar. Sage Herman, seu novo marido, sua filha de 9 meses, seu ex-parceiro e sua filha de 8 anos se encontram na casa de seus pais para o jantar de Natal. “É muito tenso receber meu ex na minha casa porque esta é a casa que compramos juntos”, conta ela.

FAÇA ALGO DE BOM PARA O NOVO PARCEIRO DE SEU EX-CÔNJUGE

Não foque no custo, mas sim na intenção. “Olhe-os nos olhos quando entrarem na sua casa e diga: “Obrigado por vir e estar conosco”, ressalta Woodward Thomas. “É  importante que as pessoas saibam que é possível ter uma família amigável e solidária após o divórcio. Você precisa criar esse sentimento de afinidade com pequenos gestos generosos.”

Os relacionamentos valiam muito, é claro, mas quando os pais e mães que compartilham a criação percebem que é menos trabalhoso se dar bem durante as festas do que forçar os filhos a se envolver num cabo de guerra, todos se beneficiam. Ver a alegria no rosto de uma criança quando ela vê pais e mães curtindo o tempo que passam juntos  pode fazer com que o planejamento e a disposição valham o esforço. “A dinâmica é que todos cooperamos e nos comunicamos”, conclui Laura Lopez. “Sempre temos o objetivo final de ajudar nossa filha a se sentir feliz, segura e saudável. Parece uma família de verdade”,

OUTROS OLHARES

EX-ANALÓGICOS

Conheça os avessos a tecnologia que na pandemia se renderam ao digital

A pandemia implicou enormes desafios para todos, mas alguns, mais do que outros, tiveram de correr atrás do prejuízo por não serem nativos digitais. A vida em home office deu muito trabalho para a geração que chegou ao mundo entre 1960 e 1980, alvo de uma campanha da agência Primeira Via Comunicação Integrada, de Santa Catarina, que decidiu dar uma ajudinha aos chamados ex- analógicos.

Se você é nostálgico e ainda usa agenda de papel, bloco de anotações, conteúdos impressos e, desde a chegada da Covid-19 ao mundo, vive de pedir ajuda a amigos e familiares mais habituados com as novas tecnologias, tenha certeza: vocêé um ex- analógico. Foi pensando nessas pessoas que Mariana Baima. diretora da Primeira Via, criou um projeto que procura olhar para os renegados de um mundo pensado quase exclusivamente para os fluentes no digital.

“Queremos criar um ambiente onde as pessoas se sintam acolhidas e não tenham medo de perguntar. Já percebemos que existe muita demanda porque, em geral, os cursos partem do pressuposto de que a gente sabe tudo”, conta Mariana. Na classe dos ex- analógicos existem extremos, como o do fotógrafo Valério Romahn, que antes da pandemia sequer tinha celular. Autor de enciclopédias sobre botânica, Valério, de 60 anos, teve de ceder à pressão social e comprar um aparelho, que boje usa apenas para fazer ligações ou enviar mensagens pelo WhatsApp. Nelas, nada de figurinhas, emojis ou abreviações coma “tb” ou “vc”. Cada uma é escrita em português perfeito, com virgula e ponto e vírgula.

“Não tenho vergonha alguma, assumo o que não sei fazer. Sei que terei de buscar ajuda para colocar meu trabalho nas redes sociais. Pedi a meus filhos, mas eles nunca têm tempo”, afirma Valério, que faca indignado quando vê a mulher e a filha no mesmo cômodo conversando pelo WhatsApp.

Seu filho de 18 anos, um nativo digital hiperconectado, criou uma empresa de dropshipping, nome dado ao método de vendas no varejo no qual o vendedor não tem estoque de produtos e atua como intermediário entre o consumidor e o produtor.

Uma espécie de vitrine terceirizada nas redes sociais, que pode oferecer itens de qualquer lugar do mundo e a possibilidade de recebê-los no Brasil em poucos dias.

GAMBIARRA DIGITAL

Aos 47 anos, a atriz Juliana Martins confessa que a pandemia exigiu esforços inimagináveis. Com a ajuda da filha, Luísa, de 21, fez editais e até estreou a peça “O prazer é todo nosso”, que começou on-line e finalmente chegou ao teatro presencial no segundo semestre deste ano.

“Fazer o edital da peça “Eu te amo”, com Heitor Martinez, foi uma loucura. Eu na minha casa com computador e celular, minha filha ajudando, gambiarra total. Não sou nada tecnológica e tive de aprender”, diz Juliana, que relatou as dificuldades de fazer teatro on-line. “A ligação com o público, por exemplo, é através do celular. O calor humano se deu através da tecnologia. Foi como trocar um pneu com o carro andando”.

A sensação generalizada é de que a vida mudou para sempre. A psicanalista Suely Sullivan, de 52 anos, não só passou a ter muitos pacientes fora do Brasil como reduziu o atendimento presencial em seu consultório de Botafogo a três vezes por semana. Depois de incorporar o lap­top e iPad à sua rotina, e aprender a utilizar as plataformas Skype (a única que já utilizava, mas com baixa frequência), Google Meet, FaceTime e WhatsApp, ela acredita que as mudanças chegaram para ficar.

“Meu filho de 24 anos me ajudou no começo, mas é isso, os dinossauros precisam se adaptar”, brinca.

Hoje, os pacientes de Suely enviam músicas, textões e vídeos de YouTube a qualquer hora. Foi preciso estabelecer alguns limites e, também, conhecer o submundo digital no qual convivem hoje os adolescentes.

AUDIÊNCIAS VIRTUAIS

A juíza Trabalhista Daniela Muller, nascida em 1973, chegou a usar máquina de escrever na faculdade e só teve acesso a um computador na década de 1990. Com a pandemia, as audiências passaram a ser on-line e ela recorreu muitas vezes à filha, Aurora, de 14 anos, para resolver questões técnicas.  A juíza é uma ex- analógica bem adaptada, mas hoje usa basicamente WhatsApp e plataformas como Zoom para reuniões de trabalho.

“Quando a pandemia apareceu eu estava terminando um mestrado. Essa foi a primeira pancada. Minha defesa de tese foi virtual, mas sempre que podia continuava pegando xerox na faculdade”, afirma.

Algus reagiram antes de ficar para trás. É o caso de Carlos Altafini, de 59 anos, formado em administração e empenhado em desvendar o mundo digital desde 2013, quando ficou desempregado e teve de se inventar.

“Comecei vendo tutoriais no Google e comprovei que o cérebro é capaz de fazer sinapses em qualquer momento da vida”, lembra Carlos, que boje tem uma empresa que apoia startups e ajuda a fazer conexões com companhias mais tradicionais.

Na pandemia, seu trabalho aumentou de forma expressiva. O segredo do sucesso, frisa, é não ter vergonha.

“Quando comecei, trabalhava com um grupo de jovens que paravam no meio do dia para jogar Playstation. Era tudo muito estranho pra mim. Hoje, essa empresa tem 300 funcionários e brincamos dizendo que toda startup tem uma piscina de bolinhas”, comenta o empresário digital.

Ele lamenta que as novas gerações ainda tenham dificuldade de entender o ritmo dos ex- analógicos.

“Quando percebi que a agenda do Google podia facilitar minha vida mergulhei de cabeça. Mas muitas pessoas ainda não usam e os mais jovens não entendem nossas dificuldades”,  afirma Carlos, hoje também envolvido no chamado live comerce, método de marketing digital focado em vender produtos durante uma transmissão ao vivo.

VERSÃO PODCAST

Existe uma legião de ex- analógicos no Brasil e no mundo, ainda tentando aprender a falar o idioma dos nativos digitais com desenvoltura. O projeto comandado por Mariana usará entrevistas em formato de podcast, que estarão disponíveis nas plataformas YouTube e Spotify, com o nome “eXanalógicos”. Quem dá os primeiros passos nesse aprendizado e adere às mesmas redes que seus filhos ou até netos usam muitas vezespassa a ser chamado de cringe. Mas essa já é outra história…

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 24 DE DEZEMBRO

O MISTÉRIO DO POBRE E O MINISTÉRIO DO RICO

O rico e o pobre se encontram; a um e a outro faz o Senhor (Provérbios 22.2).

Deus não faz acepção de pessoas. É o Criador tanto do rico quanto do pobre. Ama tanto o rico como o pobre. Faz tanto um como o outro. A grande questão é: Por que Deus, na sua soberania, faz o rico e de igual forma o pobre? O propósito de Deus é que, diante do mistério do pobre, o rico exerça um ministério de misericórdia. O rico é bem-aventurado quando socorre o aflito, pois mais bem- aventurado é dar do que receber. O pobre, ao receber a ajuda do rico, glorifica a Deus por sua vida e pelo socorro recebido. Assim, ambos exaltam a Deus por sua generosa providência. O apóstolo Paulo ensinou a igreja de Corinto nos seguintes termos: Completai, agora, a obra começada, para que, […] assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade, como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve falta (2Coríntios 8.11-15).

GESTÃO E CARREIRA

MULTINACIONAIS ENVIAM DE OPERÁRIOS A GERENTES PARA OCUPAR VAGAS NOS EUA

Sem mão de obra local, empresas optam por exportar trabalhadores, processo que é caro e lento

A dificuldade para encontrar profissionais nos Estados Unidos e na Europa deu início a um movimento incomum entre empresas multinacionais: a exportação de trabalhadores brasileiros para suprir falta de mão de obra até no chão de fábrica em outros países.

Esse tipo de migração é restrita, uma vez que a maioria das nações tem leis para defender o mercado de trabalho interno e impõe medidas rígidas e onerosas para esse tipo de trânsito. A pandemia deixa o processo mais complexo ainda.

Uma confluência de fatores, no entanto, tem deixado milhões de vagas em aberto em países desenvolvidos, especialmente nos EUA. A mão de obra está envelhecendo, os jovens estão insatisfeitos com as condições de trabalho atuais e alguns países vivem um boom de novos postos com a reabertura do comércio e a volta de serviços que ficaram suspensos no período mais crítico da pandemia.

Nos EUA, o número de postos em aberto chegou a 11 milhões no fim de outubro, segundo o Departamento de Trabalho americano. Falta trabalhador para indústrias, empresas de logística e saúde, bem como estabelecimentos como supermercados e redes de alimentos, restaurantes, hotéis e lojas dos mais diversos segmentos do varejo.

Canadá e países europeus até flexibilizam regras para atender ao déficit de profissionais. O vizinho dos Estados Unidos anunciou ainda em 2020 planos de receber mais de 1,2 milhão de imigrantes para trabalhar no país até 2023. A Alemanha aprovou uma nova lei trabalhista para imigrantes que acelera o processo de obtenção de vistos para profissionais qualificados, e países  como a Grécia passaram a permitir que estrangeiros com visto estudantil pudessem trabalhar no  território.

A falta de mão de obra na Europa ocorre especialmente nos setores de comércio e serviços. A rede de hotéis Vila Colé, com sede em Lisboa, por exemplo, prepara um reforço no intercâmbio de funcionários do Brasil, onde opera desde 2001, para Portugal. A migração está agendada para ocorrer entre março e outubro de 2022, segundo o administrador do grupo, Gonçalo Rebelo de Almeida.

Nos EUA, medida semelhante está sendo adotada pela Nitroquímica  Fundada em 1935 em São Miguel Paulista (SP), o grupo produtor de nitrocelulose inaugurou a unidade na Geórgia (EUA) em 2016. O braço local, sob o nome Alchemix, já recebia funcionários da matriz para funções executivas, mas a crise de falta de mão de obra, alterou o perfil dos enviados.

“O cenário mudou drasticamente. Se antes trazíamos um executivo ao ano, com perfil de crescimento acelerado em tarefas gerenciais, agora estamos precisando de funcionários de atividades operacionais. A oferta de mão de obra está baixíssima, e a demanda e os salários, altos. É uma bola de neve”, diz Fernando Matheus, gerente-geral de operações da empresa nos EUA.

A partir de janeiro, a companhia passará a levar operadores de fábrica com experiência na unidade brasileira, para atuar no país. Serão quatro profissionais na primeira leva, e a recepção dos funcionários à seleção interna tem sido positiva.

“Os profissionais estão super dispostos a vir, porque consideram um país muito atrativo”, diz o gerente. “Aqui, os gestores estão quebrando a cabeça para encontrar mão de obra para trabalhar. Quem tem e pode, transfere.”

A catarinense Tigre, fabricante de plásticos para materiais de construção, adotou estratégia semelhante. O grupo dobrou o tamanho de sua operação americana com a compra, em abril, da Dura Plastic, que produz conexões de PVC para irrigação e drenagem.

Segundo Patrícia Bobbato, diretora de pessoas, comunicação interna e sustentabilidade, a companhia passou a figurar entre as cinco maiores do segmento nos EUA e precisou abrir oportunidades para profissionais alocados no Brasil para trabalharem no país.

Durante a crise sanitária, os consulados do país no Brasil suspenderam a emissão de visto e priorizaram situações emergenciais. No segundo semestre deste ano, os processos voltaram a ganhar fôlego.

Em outubro de 2019, 1.072 brasileiros foram autorizados a trabalhar temporariamente nos EUA. O número chegou a cair para 134 em janeiro de 2021 e, no último mês de outubro, 624 brasileiros receberam a autorização.

Os puxadores da retomada são autorizações para vistos de transferência de profissionais de uma mesma companhia, que totalizam 497 em outubro.

Os números de transferência são modestos, mas chamam a atenção quando se leva em consideração os protocolos sanitários para trânsito entre países  durante a  pandemia, bem como os custos e o tempo requerido nesse tipo de processo.

Para transferir um funcionário para morar e trabalhar nos EUA, a empresa deve patrocinar formalmente a ida, arcando com os custos migratório. O processo leva em torno de 120 dias e pode sofrer restrições impostas pela pandemia.

A categoria de visto que contempla esses imigrantes veda que o próprio funcionário arque com as despesas do processo. A empresa também deve provar ao governo americano que tentou, sem sucesso, contratar profissionais americanos para a vaga.

As regras visam inibir a “compra” de vagas por imigrantes em empresas locais e proteger a força de trabalho americana da concorrência dos estrangeiros, diz Ingrid Perez, advogada de migração que atua em escritório localizado na Flórida, onde a maioria das empresas multinacionais brasileiras concentram suas operações americanas.

“Mesmo com a dificuldade de preencher as vagas, as leis migratórias continuam as mesmas e não facilitam para empregadores que queiram contratar”, diz.

Segundo a advogada, uma empresa nos EUA que deseje importar um funcionário para o país deve esperar gastar a partir de USS8.000 (RS44,7 mil), entre custos de processo e taxas ao governo americano para emissão do visto EB3, que permite a entrada de profissionais que exerçam atividades para as quais faltem trabalhadores qualificados no país.

EU ACHO …

HOJE NASCE UM MENINO

Na manjedoura estava calmo e bom.

Era de tardinha e ainda não se via a estrela-guia. Por enquanto a alegria serena de um nascimento – que sempre renova o mundo e fá-lo começar pela primeira vez – por enquanto a alegria suave pertencia apenas a uma pequena família judia. Alguns outros sentiam que algo acontecia na terra, mas ver ninguém via ou ao certo sabia.

Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro como um cordeiro, refulgia o menino, tenro como o nosso filho.

Bem de perto a cara de um boi e outra de jumento olhavam. E esquentavam o ar com o hálito do corpo.

Era depois do parto, e tudo úmido repousava, tudo úmido e morno respirava.

Maria descansava o corpo cansado – sua tarefa no mundo e diante dos povos e de Deus seria a de cumprir o seu destino, e ela agora repousava e olhava a criança doce.

José, de longas barbas ali sentado, meditava, apoiado no seu cajado: seu destino, que era o entender, se realizara.

O destino da criança era o de nascer.

Ouvia-se, como se fosse no meio da noite calada, aquela música de ar que cada um de nós já ouviu e de que é feito o silêncio. Era extremamente doce e sem melodia, mas feita de sons que poderiam se organizar em melodia. Flutuante, ininterrupta. Os sons como 15 mil estrelas. A pequena família captava a mais primária vibração do ar – como se o silêncio falasse.

O silêncio do Deus grande falava. Era de um agudo suave, constante, sem arestas, todo atravessado por sons horizontais e oblíquos. Milhares de ressonâncias tinham a mesma altura e a mesma intensidade, a mesma ausência de pressa, noite feliz, noite sagrada.

E o destino dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A doçura dos brutos compreendia a inocência dos meninos. E antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são.

Este menino, que renasce em cada criança nascida, iria querer que fôssemos fraternos diante da nossa condição e diante do Deus. O menino iria se tornar homem e falaria.

Hoje em muitas casas do mundo nasce um Menino.

*** CLARICE LISPECTOR

ESTAR BEM

TRADIÇÃO TURBINADA

Eletroacupuntura usa estímulo elétrico para tratar dores crônicas

Uma das técnicas mais antigas e tradicionais da medicina, com milhares de anos, ganhou uma versão que tem conquistado espaço nas clínicas do país: a prática da acupuntura feita com eletrodos. Com o nome de eletroacupuntura, o método lança pequenos estímulos elétricos às agulhas inseridas no corpo.

O procedimento tradicional surgiu na China e parte da ideia de que as doenças são decorrentes de um desequilíbrio da força vital. Os canais que transportam essa energia pelo corpo, chamados de meridianos são então estimulados em pontos específicos pela inserção de agulhas para restaurar o equilíbrio energético do paciente.

O ocidente abraçou a técnica, reconhecendo como uma terapia médica legítima. Há relatos do uso da eletricidade na acupuntura que remetem ao início do século passado, mas práticas e se aprimorou e se popularizou recentemente.

“Se pensarmos que o corpo funciona através de estímulos elétricos o tempo inteiro, como para falar, pensar, então, quando utilizamos a eletricidade como mais uma ferramenta, acrescentamos qualidades a essa técnica terapêutica”, explica Janete Bandeira, médica especialista em acupuntura e uma das diretoras do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

Bandeira conta que cerca de 95% dos atendimentos feitos por ela são com a eletroacupuntura. “Ela explica que o procedimento é feito com a introdução das agulhas nos pontos escolhidos e, depois, com a conexão dos fios, que se prendem às agulhas por clipes conhecidos como garras de jacaré.

Os fios são ligados a um aparelho de potência reduzida, normalmente de 9 volts, que produz uma corrente elétrica média de 10 miliamperes, também considerada baixa. A frequência com que os impulsos são emitidos geralmente é por volta de 1 a 2 hertz. Os estímulos são indolores, podendo no máximo causar um leve desconforto.

A eletroacupuntura é utilizada principalmente para casos em que o paciente busca aliviar dores intensas. Um dos primeiros benefícios da técnica comprovados pela ciência foi a liberação de opioides endógenos, substâncias analgésicas produzidas pelo próprio corpo.

Além disso, o CMBA aponta que outros mecanismos de ação importantes da eletroacupuntura são o efeito anti-inflamatório e a modulação de sistemas que controlam os impulsos do corpo.

“É uma técnica bastante reparadora dos tecidos. Quando o tendão fica inflamado, por exemplo, a gente sabe que não é só nessa estrutura que há alteração, mas em todo o circuito que envolve o músculo, o nervo e até o cérebro. E nós já sabemos que o estímulo elétrico consegue mandar mensagens reguladoras para o sistema nervoso cerebral”, destaca Janete Bandeira.

REDUÇÃO DE DOR

Os efeitos da eletroacupuntura para dores crônicas são cada vez mais comprovados. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, analisou 11 ensaios clínicos sobreo uso da técnica para tratamento de osteoartrite de joelho.

Os resultados apontam que ela ajudou a reduzir a dor e melhorar os movimentos, e sugerem que, quando combinada com baixas dosagens de analgésicos convencionais, a  técnica fornece uma ação eficaz que pode prevenir os efeitos colaterais de medicamentos às vezes debilitantes.

Há ainda mais um trabalho recente revelando os benefícios no uso de agulhas com eletrodos. Um estudo da Universidade de Harvard, publicado na revista científica Nature, descobriu como o uso da terapia com a eletricidade estimula a neuroanatomia (área que estuda a organização anatômica do sistema nervoso). Os resultados são parte de uma investigação que começou em 2014, quando os cientistas relataram que a eletroacupuntura conseguiu reduzir a tempestade de citocinas. processo inflamatório que acontece quando o organismo produz uma resposta imunológica excessiva dessas proteínas.

A redução aconteceu por meio da ativação de uma via do nervo vago, estrutura que passa pelo corpo conectando o sistema nervoso central a praticamente todos os órgãos. Em 2020, a equipe continuou o estudo e descobriu que esse efeito era específico da aplicação das agulhas em determinadas regiões, como nos membros inferiores, e formulou uma hipótese de que poderia haver neurônios sensoriais exclusivos responsáveis por essa resposta. Os cientistas confirmaram, portanto, a hipótese e identificaram as células nervosas necessárias para que a acupuntura desencadeie uma resposta anti-inflamatória.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EMPRESA ANUNCIA RESULTADOS DE MAIOR TESTE DE PSILOCIBINA PARA DEPRESSÃO

Pacientes foram separados em três grupos, que receberam a substância obtida de cogumelos

A empresa britânica Compass Pathways divulgou recentemente, resultados preliminares do maior ensaio clínico sobre psicoterapia com psilocibina para depressão resistente a tratamento. Concluíram o estudo 209 dos 233 pacientes recrutados em centros de dez países (Estados Unidos e Europa).

O anúncio da Compass, firma envolta em controvérsias, veio por comunicado a investidores e à imprensa, e não por publicação em periódico científico após análise crítica de especialistas (“peer review”). Não por acaso, foi feito no mesmo dia em que a empresa publicou resultados financeiros do terceiro trimestre de 2021.

No teste, os pacientes foram alocados em três grupos, que receberam 25 mg, 10 mg ou 1 mg, respectivamente, da substância originalmente obtida de cogumelos conhecidos popularmente como “mágicos”.

O objetivo deste ensaio de fase 2 era estabelecer a dose ótima para o teste clínico de fase 3 que a Compass pretende iniciar em 2022 para obter aprovação do tratamento talvez já em 2024.

O comunicado destaca que 36,7% dos participantes no grupo de 25 mg tiveram resposta positiva após três semanas, ou seja, diminuição de sintomas de depressão grave na escala padronizada MADRS.

Em comparação, entre os que tomaram o dose quase inócua de 1 mg, apenas 17,7% tiveram a mesma resposta, uma diferença estatisticamente significativa.

Mais ainda, 29,1% estavam em remissão no primeiro contingente, contra 7,6% no segundo. Para a dose intermediária (10 mg), não se obtiveram resultados com diferenças relevantes.

“Este é um momento importante e animador para a comunidade de cuidados com saúde mental”, disse no comunicado da Compass, o neurocientista Robin Carhart-Harris, estrela da ciência psicodélica que se mudou do Imperial College de Londres para a Universidade da Califórnia em São Francisco. Carhart-Harris esteve à frente de dois estudos pioneiros de psilocibina para depressão, no Imperial College, o primeiro sem grupo de controle e o segundo, publicado em abril, comparando-a como antidepressivo escitalopram (Lexapro).

“[O estudo da Compass] se apoia sobre mais de duas décadas de pesquisa a respeito da  viabilidade de compostos psicodélicos para tratar condições de saúde mental e demonstra o potencial que têm para ajudar pessoas que vivem com depressão resistente[a tratamento]. É encorajador ver como progrediu esse campo nos últimos 20 anos, e estou na expectativa pela continuação à pesquisa.

Nove entre dez registros de efeitos adversos durante o experimento foram considerados leves, como dores de cabeça, náuseas, insônia e fadiga. Mas houve 12 pacientes com colaterais mais sérios, como ideações e comportamentos suicidas – ocorrências nada incomuns nesses pacientes, pois até um terço dos 100 milhões de indivíduos no mundo com depressão resistente tentam suicidar-se ao menos uma vez na vida.

A Compass enfrenta resistência de parte da comunidade psicodélica por seu modelo de negócios baseado em propriedade intelectual sobre o poder curativo de uma substância em uso há séculos por comunidades tradicionais e clínicas alternativas. Os adeptos da modalidade de ciência aberta questionam as cinco patentes já concedidas à empresa nos EUA.

Criou-se até um portal com informações para municiar escritórios nacionais de propriedade intelectual (Porta Sophia), na expectativa de que seus funcionários reconheçam a falta de ineditismo. No estado americano de Oregon, a psicoterapia assistida por psilocibina está em fase de regulamentação, sem esperar pela aprovação da FDA (agência de fármacos dos EUA).

OUTROS OLHARES

‘MEU FILHO, NÃO SAIA DO CELULAR’

Pesquisas dizem ser benéfico o tempo de tela, mas não deixe de ler esta reportagem até o fim

Com apenas 5 anos, Lucca Argentino Martins liga o tablet e coloca em seu jogo favorito. Na televisão, entra no YouTube para assistir seu programa preferido, o canal de dois meninos que gravam vídeos sobre um jogo eletrônico. Sim, um game, o já clássico Minecraft. Lucca é um legítimo nativo digital. Nasceu em um mundo de smartphones e tablets.

O tempo que crianças e adolescentes gastam em frente às telas é uma preocupação para pais, educadores, médicos e autoridades de saúde. O receio não é infundado. Afinal, nas primeiras duas décadas de vida, o cérebro ainda está em formação e maturação.

Ainda assim, nos últimos anos, em especial após a pandemia, ganhou espaço a ideia de que o uso da tecnologia durante a infância e adolescência não é de todo ruim. Para o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), as novas tecnologias possibilitam o acesso a uma gama inédita de conhecimentos. Também ajudam no desenvolvimento do raciocínio espacial e em uma maior rapidez de resposta a certos estímulos.

REDE DE AMIGOS

Uma nova pesquisa, liderada por uma equipe do Instituto de Genética Comportamental da Universidade do Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos, analisou dados sobre a saúde infantil e o desenvolvimento do cérebro de quase 12.000 crianças com idades entre nove e dez anos.

Os resultados mostraram que mais tempo de tela estava relacionado a maiores redes de amizade. Os pesquisadores testaram a hipótese de que “a natureza social do tempo de tela fortalece os relacionamentos entre oscolegas e permite que eles permaneçam conectados, mesmo quando separados”.

É o que aconteceu com a estudante Naomi Gibin Tamura, 15 anos, aluna do 9º ano da escola Móbile Integral, em São Paulo.

“Na pandemia eu sentia necessidade de falar com as minhas amigas mais próximas. Começamos a fazer ligações de vídeo para contar tudo o que estava acontecendo na nossa vida. Depois começamos a fazer isso para estudar ou enquanto a gente se arrumava para a aula de balé. Às vezes até almoçávamos juntas e acabou se tornando meu momento de integração com o pessoal da minha idade. O que era estranho se tornou um hábito que continua até hoje”, conta a estudante.

“SCREEN HIGH”

Outro estudo, feito pelo Oxford Internet Institute, ligado à Universidade de Oxford, no Reino Unido, baseado em dados de mais de 35.000 crianças e seus cuidadores, sugere que aqueles que passam entre uma a duas horas por dia envolvidas em atividades com televisão ou dispositivos digitais têm melhores níveis de bem-estar social e emocional.

Uma das vantagens sempre lembradas do uso de dispositivos on-line por crianças e adolescentes é a ciência na tecnologia que eles proporcionam. Para a educadora Tatiana Almendra, diretora da Móbile Integral, é verdade que novos saberes entram no espaço escolar por vias digitais.

EXAGEROS

Para aqueles pais que deixam seus filhos ficar horas sem fim em frente à tela e já estavam começando a se sentir menos culpados com essa reportagem, uma ressalva de grande importância. Como diz Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), tudo é uma questão de equilíbrio. Tempo em excesso causa, sim, grandes problemas para crianças e adolescentes. A lista inclui uma série de prejuízos para a saúde e o bem-estar, incluindo aumento do risco de miopia; problemas com habilidades de comunicação, resolução de problemas e interações sociais, problemas para dormir e até aumento do risco do desenvolvimento de doenças mentais, como depressão e ansiedade.

O QUANTO É MUITO?

É por isso tudo que muitos pais e mães vivem se perguntando o que é considerado uso excessivo. Em sua recomendação mais recente, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda evitar a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, nem mesmo a de televisores. Depois dessa idade, a TV pode ser liberada, mas no máximo durante uma hora por dia. Smartphone próprio, ou tablet, tão somente depois dos 8 anos, e sempre com vigilância.

Entre seis e dez anos, o tempo de uso diário pode ser prolongado para até duas hora e, entre 11 e 18 anos, a recomendação é limitar o tempo de telas e jogos de videogames a até três horas por dia – o que é tarefa quase impossível em muitos lares.

“O que a gente costuma dizer é que as atividades on-line não devem se sobrepor ao que eles devem fazer na vida off-line porque isso faz com que esses jovens percam experiências extras que envolvem relacionamento e apresentação de situações são imprevisíveis que são importantes para a resiliência psicológica”, diz Nabuco.

Na Móbile Integral, por exemplo, apesar da incorporação de dispositivos digitais no ensino, o uso de smartphones é controlado nas dependências da escola.

O depoimento de Tatiana Almendra, a diretora, é ilustrativo por expor a experiência de quem está na linha de frente dessa questão.

A escola entende que toda criança e adolescente precisa de controle e limite. Por anos, os estudantes do sexto ano puderam usar celular na escola durante o recreio.

“O problema foi que nós fomos reconhecendo que isso era prejudicial para eles. Eles deixavam de interagir pessoalmente e interagiam apenas via celular ou por meio de jogos digitais. Nós analisamos isso conjuntamente e eles mesmos reconheceram este movimento. A solução encontrada foi postergar a possibilidade do uso do celular nestes espaços de socialização e interação para quem chegasse ao oitavo e nono ano.

“Esse é o papel do adulto. Reconhecer quando a tela está impedindo essas crianças de explorar outras experiências que também são fundamentais no seu desenvolvimento”, completa a educadora.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 23 DE DEZEMBRO

MAIS PRECIOSO DO QUE OURO

Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro (Provérbios 22.1).

Salomão podia falar de cadeira a respeito deste assunto, pois era o homem mais rico do seu tempo, e afirma categoricamente que há coisas mais preciosas do que as riquezas materiais. O bom nome vale mais do que muitas riquezas, e o ser estimado é melhor do que ouro e prata. Note que Salomão não apenas declara que o bom nome é melhor do que riquezas, mas que é melhor do que muitas riquezas. É melhor ter uma boa reputação do que ser um ricaço. É melhor ter o nome limpo na praça do que ter o bolso cheio de dinheiro sujo. É melhor andar de cabeça erguida, com dignidade, do que viver em berço de ouro, porém maculado pela desonra. A honestidade é um tesouro mais precioso do que os bens materiais. Transigir com a consciência e vender a alma ao diabo para ficar rico é consumada loucura, pois aquele que usa de expedientes escusos para enriquecer, subtraindo o que pertence ao próximo, em vez de ser estimado, passa a ser odiado na terra. A riqueza é uma bênção quando vem como fruto do trabalho e da expressão da generosidade divina. Mas perder o nome e a estima para ganhar dinheiro é tolice, pois o bom nome e a estima valem mais do que as muitas riquezas.

GESTÃO E CARREIRA

ELAS ESTÃO ESGOTADAS

Com mais tarefas domésticas e pressão profissional, as mulheres se sentem sobrecarregadas durante a pandemia. Entenda como ajudá-las neste momento delicado

Balancear trabalho e afazeres domésticos não é novidade para as mulheres. A pandemia, com home office forçado, educação à distância e preocupação com a saúde dos familiares, intensificou a jornada. Tanto que o estudo From Insights to Action: Gender Equality in the Wake of Covid-19 (“Das ideias para a ação: Igualdade de gênero na esteira da covid -19 “, em tradução livre), feito pela ONU Mulheres em parceria com a ONG Women Count, mostra que a crise sanitária aumentou o tempo gasto em cuidados não remunerados – tanto para homens quanto para mulheres. Mas elas trabalham mais.

De acordo com o levantamento, limpar a casa entrou na lista de novas tarefas de 49% das mulheres na pandemia, enquanto 33% dos homens passaram a realizar a mesma função. Cozinhar virou rotina para 37% delas, mas para apenas 16% deles. Além disso, 37% das mulheres são responsáveis por cuidar dos filhos e ajudá-los durante as aulas online, enquanto somente 26% dos homens realizam a mesma tarefa. Ainda segundo a pesquisa, se as mulheres têm filhos, o volume de trabalho é três vezes maior em comparação com os homens.

Esse acúmulo de tarefas e de preocupações tem deixado muitas trabalhadoras esgotadas física e emocionalmente – e pode ter um impacto profundo na carreira. A consultoria McKinsey, em seu relatório Women in  the Workplace 2020 (“Mulheres   no Trabalho”, em português), afirma que a pandemia afetou as trabalhadoras de forma tão negativa que poderia atrasá-las em meia década em termos de desenvolvimento profissional. De acordo com o estudo, executivas seniores são mais propensas a se sentir esgotadas na crise e a probabilidade de deixarem o cargo é 1,5 vez maior do que a de seus colegas homens. Entre as mulheres que pensam em se demitir, três em cada quatro apontam o esgotamento como o motivo principal.

MAIS EQUILÍBRIO

Lidar com duplas e triplas jornadas tem elevado os níveis de estresse nos lares, muito por causa da ideia – ainda enraizada em nossa sociedade – de que a mulher tem de ser a responsável pelo lar. “Culturalmente no Brasil, a mulher acaba por assumir os cuidados com a casa, com os filhos e, muitas vezes, com o marido. Além de administrar o próprio trabalho, ela tem de administrar a casa, e isso é estressante”, afirma Edwiges Parra, psicóloga organizacional, especialista em recursos humanos e fundadora da EMind Mente Emocional.

Michele Storino sentiu o peso do acúmulo de atividades tão logo voltou ao mercado de trabalho. Demitida em abril de 2020 da companhia em que trabalhou por dois anos, levou quatro meses para conseguir uma recolocação. No tempo em que ficou afastada, se dedicou às tarefas domésticas e aos cuidados com a filha, de quase dois anos. Em julho, foi contratada pela Youse, empresa de seguros online, para o cargo de gerente de performance. E sentiu o baque logo nos primeiros meses no novo emprego. “Queria voltar a trabalhar, então fiquei feliz quando fui chamada. Só que o começo foi muito estressante. Sempre tive ajuda para limpar, fazer comida, lavar roupa, mas com a pandemia tudo passou a ser responsabilidade minha e do meu marido”, diz Michele. “Tive muito medo de não dar conta. Meus pensamentos eram “Como vou cuidar da casa, do trabalho, da alimentação da minha filha e de mim?.”

Ela se sentia culpada por não dar total atenção nem à filha nem ao trabalho e se cobrava cada vez mais. “Estendia muito o tempo trabalhado. Minha filha ia dormir e eu voltava para o computador.

Foi estressante demais.” Depois de um tempo, Michele fez o que poucas fazem: dividiu suas angústias com a liderança e o RH da empresa. “Tive espaço para falar e fui muito bem acolhida como mulher e como mãe.”

Isso aconteceu porque a Youse já estava desenhando práticas para ajudar na qualidade de vida das profissionais. Por lá, 42% dos gerentes e diretores são mulheres. Por isso mesmo, desde o começo da pandemia, a empresa apostou em adaptação de jornadas, flexibilização de atividades e revisão de prazos de entregas. “A família está no trabalho e o trabalho está na família. Temos uma mentalidade extremamente flexível, então tudo aconteceu de forma orgânica. Antes da pandemia, já tínhamos a cultura de home office uma vez na semana e acompanhamos bem de perto a adaptação de todos”, explica Nádia Brandão, business partner na Youse.

Durante a crise, a empresa tem promovido rodas de conversa com psicólogas, incentivado a busca por atividades fora do trabalho, desenvolvido ações que envolvam toda a família e investido em uma central de atendimento psicológico e jurídico para que os empregados possam dividir seus principais anseios.

Por meio de pesquisas de satisfação, eles descobriram que 62% dos funcionários viram a qualidade de vida melhorar desde o início da quarentena, seja por meio de maior convivência com a família, mais concentração no trabalho, descoberta de um novo hobby, seja por mais tempo para se dedicar a outras atividades.

DISCUTINDO A RELAÇÃO

A Cia Athletica, rede de academias, também apostou em um canal de atendimento psicológico para atender os funcionários. E as mulheres estão usando muito o benefício: 62% das buscas por apoio foram feitas por mulheres sobrecarregadas e em crise conjugal. Enquanto os homens tinham preocupações financeiras, o que estava tirando o sono delas eram os relacionamentos. “Trouxemos dicas e técnicas da terapia cognitivo-comportamental, tanto para acalmar os ânimos em momentos de tensão quanto para estimular as funcionárias em momentos de baixa de energia”, diz Cinthia Guimarães, gerente corporativa de recursos humanos da Cia Athletica e responsável pelos atendimentos. “Sempre as orientamos a buscar aprendizado em cada contratempo. Isso é o que apazigua nossa mente e nos abastece de otimismo para continuar a caminhada.”

As sessões duram de 30 a 40 minutos, são feitas por meio de videochamada ou ligação telefônica e acontecem desde o começo da quarentena. “Os meses de março e abril foram os mais difíceis. A pandemia aconteceu de forma muito rápida e nos fez perceber que não temos controle sobre o que pode nos acontecer. Nem todo mundo está preparado emocionalmente para lidar com isso”, diz Cinthia. No último bimestre do ano passado, houve mais um pico de atendimentos. “O empilhamento de tantos meses difíceis, a sobrecarga de múltiplas tarefas somada às preocupações com saúde e finanças deixaram muitos à flor da pele. As queixas de ansiedade, irritação, cabeça quente e pavio curto foram as mais comuns. Em outro extremo, tivemos também casos de exaustão, dificuldade de concentração e desânimo”, explica Cinthia.

Perceber que está chegando à beira do esgotamento mental não é difícil. Os sintomas são clássicos e, segundo Luciana Lima, professora de liderança no Insper, bem visíveis. “É possível notar uma irritabilidade extremamente exacerbada. As pessoas ficam mais impacientes, intolerantes, impulsivas e com dificuldade de fixar memórias”, diz. “Isso pode desencadear síndrome do pânico, picos de ansiedade e depressão. As mulheres são mais afetadas, principalmente por causa da tripla jornada que levam. Não conseguem um equilíbrio”.

CUIDADO SOB DEMANDA

Ao notar os primeiros sinais de estresse e cansaço extremos em funcionárias com filhos em casa, o Olist, startup brasileira que atua no segmento de e-commerce, tratou de desenvolver projetos que, de alguma forma, pudessem aliviar a carga emocional que elas estavam sentindo.

Assim nasceu o Pit Stop, que oferece às mães (e aos pais) duas pausas de 30 minutos ao longo do expediente, de manhã e à tarde. “A agenda das mães é editável, obedecendo aos rituais de cada área. Não fizemos isso para ser legais, mas para que elas pudessem se sentir tranquilas e fazer o que quisessem dentro dessa pausa. A produtividade dessas mães, inclusive, aumentou depois da implementação do projeto”, revela Melissa Guimarães, diretora de pessoas do Olist.

Hoje, o quadro da empresa tem 48% de mães, e todas aderiram ao Pit Stop. Com o sucesso do programa, a startup passou a integrar os filhos no dia a dia e em datas especiais, como as semanas do Dia das Mães e do Dia das Crianças. As crianças participam de atividades com os pais durante o expediente. O programa de terapia online também é muito usado pelas mulheres – tendo filhos ou não. A adesão das funcionárias é de 67%, índice que cai para 32% entre os homens. “A pandemia trouxe a necessidade de inovar, acolher, entender e ajudar. Essa situação de confinamento nos fez pensar em maneiras de ajudar os funcionários, e temos nos empenhado em manter a energia deles lá em cima”, diz Melissa.

Um ponto importante no momento de desenhar práticas voltadas para o equilíbrio das mulheres é olhar para os profissionais individualmente – algo essencial para garantir o bem-estar. “Um programa que funciona para um profissional pode não funcionar para os outros. É preciso olhar caso a caso”, diz a professora Luciana Lima. “Uma mulher que é mais matutina não pode extrapolar o horário de trabalho. Ao fim do dia, ela estará esgotada. É preciso ter planos individualizados.”

As práticas devem ser para todos, mas sempre lembrando que, por estarem em realidades diversas, pessoas diferentes devem ser tratadas de formas diferentes – ainda mais em um momento delicado como o que estamos vivendo.

NO LIMITE

A consultoria McKinsey afirma que 2 milhões de mulheres estão considerando tirar licença ou deixar o mercado por causa da covid-19. Veja os principais motivos para essa decisão:

• Falta de flexibilidade

• Sensação de que é preciso estar sempre disponível

Sobrecarga de atividades domésticas e cuidados com a família

• Preocupação de que a performance seja negativamente julgada por causa da jornada dupla

Desconforto em compartilhar seus problemas pessoais com chefes e colegas

• Receio de ser pega de surpresa por decisões que afetam a rotina

• Sentimento de incapacidade de ser si própria no trabalho

EU ACHO …

O PENSAMENTO MÁGICO É DO BEM?

“Toda vez que eu uso esta roupa, chove”, dizia, desolada, minha irmã sobre uma blusa bege que ainda tinha o agravante de tender à transparência quando molhada. Como enunciamos uma frase assim? Todos nós temos uma parcela de pensamento mágico, estabelecendo relações de causa-efeito a partir de deduções sem base em pesquisas científicas. Há alguma chance, remota que seja, de uma blusa mudar o jogo de massas de ar e provocar acúmulo de nuvens de chuva? Todo ser humano mais ou menos equilibrado dirá: “Não! Absurdo!  No creo en brujas, pero quelas hay, las hay”.

Muitas casas possuem talismãs, imagens e disposições que mostram nosso desejo de ajuda extra de um cosmos fora da ciência  Já notou um elefante com o derriere voltado para a porta? Pode reforçar o círculo botânico da magia: experimente  espadas e lanças de  São Jorge, alecrim, manjericão, arruda de guiné. As energias  negativas serão bloqueadas e tudo de bom fluirá. Bem, vamos ser objetivos: tudo isso foi feito em 2020 e 2021 e o que veio depois foi um desastre…

Difícil lutar contra o pensamento mágico, está no ar, invisível e onipresente. Necessário combater? Nossa percepção do real é marcada pela modulação que as emoções produzem sobre a cognição. Sentimos, preferencialmente, analisamos depois.

Um amigo meu era taxativo: pensamento mágico era falta de boa formação. Eu sou mais sensível com a fauna da humanidade. Com boa ou má formação, os atos mágicos revelam muito sobre uma sociedade. Existem códigos e convenções que atribuem significado às coisas, mesmo às coisas de pessoas com excelente currículo. Céticos emolduram diplomas ou guardam pétalas de flores dadas pelo seu amor. Dizem que é pelo afeto e memória, porém, os objetos deslocados da sua função original costumam virar talismãs.

O ser humano é um animal que simboliza, metaforiza, torna alegoria o material concreto e busca lógicas e padrões em tudo. Faz parte da famosa Revolução Cognitiva, a capacidade de inventar e contar histórias e, sobretudo, de acreditar nelas. Tal força fez surgir o Estado, a divindade dos reis, as pirâmides e, como lembra Yuval Harari, até os direitos humanos. Quando o pensamento mágico é direto e linear, chamamos de folclore. Quando fica elaborado, pode virar política ou ritos acadêmicos de defesa de doutorado. A liturgia das coisas nos inunda. De todos os pensamentos mágicos, entrar com o pé direito no avião causa menos danos do que duvidar de vacinas. Desejo boa sorte e esperança a todos nós, algo totalmente mágico…

*** LEANDRO KARNAL

ESTAR BEM

INGERIR LATICÍNIOS DIMINUI RISCO DE DOENÇAS CARDÍACAS

Estudo com suecos, combinado a 17 outros trabalhos, mostra efeito benéfico da gordura presente em alimentos como queijo e iogurte

O consumo de uma boa quantidade de gordura láctea está associado a um risco menor de doenças cardiovasculares em comparação àquelas pessoas que ingerem pouco dela. Esse é o resultado de um estudo feito por pesquisadores do The George Institute for Global Health (Instituto George para a Saúde Global, em tradução livre), na Austrália.

No trabalho, os pesquisadores combinaram os resultados coletados com 4.150 suecos com dados de 43 mil pessoas que participaram de 17 pesquisas semelhantes nos EUA, Dinamarca e Reino Unido.

A quantidade de gordura láctea ingerida foi medida pelos níveis de alguns ácidos graxos presentes no sangue. Este modo de quantificar foi escolhido para evitar que os voluntários precisassem lembrar da quantidade de laticínios consumidos anteriormente, o que  é bem difícil, já que produtos derivados do leite são usados em variados tipos de alimentos. A medição por exame de sangue, dizem os pesquisadores, foi capaz de fornecer informações mais objetivas sobre a ingestão de gordura láctea.

O consumo de leite e laticínios na Suécia está entre os mais altos do mundo. Os voluntários foram acompanhados por 16 anos, em média, para ver quantos tiveram ataques cardíacos, derrames ou outros problemas circulatórios graves, e quantos morreram por alguma outra causa durante este tempo.

Depois de ajustar estatisticamente para outros fatores de risco conhecidos de doenças cardiovasculares, incluindo informações como idade, renda, estilo de vida, hábitos alimentares e outras doenças, o risco de doença cardiovascular foi mais baixo para aqueles que tinham altos níveis de ácido graxo (refletindo, portanto, alta ingestão de gorduras lácteas). Aqueles com os níveis mais elevados também não tiveram risco aumentado de morte por outras causas.

Os trabalhos não quantificaram o impacto, mas iluminamos os conceitos sobre o tema entre os especialistas. Há ainda polêmica em relação à gordura dos derivados do leite. Algumas diretrizes dietéticas defendem que o correto é que os consumidores escolham produtos lácteos com baixo teor de gordura.

Os autores do estudo destacam, inclusive, que a ação desse tipo de gordura também depende do tipo da comida em si (queijo, iogurte, leite e manteiga, por exemplo). Isso porque também apresentam uma ótima quantidade de outros nutrientes que podem fazer parte de uma dieta saudável.

Os próximos passos dos estudos serão detalhar o efeito da gordura isoladamente por alimento e compará-la com a gordura vinda dos frutos do mar, nozes e azeites, largamente comprovada ser extremamente benéficas à saúde.

Os efeitos da gordura monoinsaturada, que já foi condenada pela ciência, hoje são sacramentados. Além de fortalecer o sistema cardiovascular, ela fortalece os ossos e tem propriedades anticancerígenas, por exemplo. Nos ossos, ela permite melhor absorção de vitamina O. Contra tumores, pode participar do processo de morte de células da doença, sobretudo quando atinge a doença e a próstata.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUALIDADE E DURAÇÃO DO SONO PIORARAM DURANTE A PANDEMIA

Descanso foi mais afetado entre mulheres, jovens e pessoas de baixa renda

Tomar um banho morno, escovar os dentes, apagar as luzes e deitar na cama. Esse roteiro parece comum, mas pode ser o prenúncio de uma noite que se estende até a madrugada – de olhos abertos. Com o estresse e a ansiedade a florados durante a pandemia, dificuldades para dormir, sono fragmentado e até insônia passaram a ser mais frequentes. Dormir menos ou pior se reflete na saúde em geral, com quadros que vão de irritação e instabilidade emocional até queda na imunidade e maior risco de diabetes.

Asmática e com apneia do sono, a vendedora autônoma de cosméticos Angelina Dourado, de 55 anos, tem passado por dificuldades financeiras diante da falta de clientes. A moradora de Ceilândia, que fica a 30 quilômetros de Brasília, conta que passou por uma experiência “terrível” quando teve Covid-19 no fim de 2020 e o quadro de saúde se agravou. Ela se deita às 22h30, porém, quando dá 1h da madrugada, já está acordada.

“Daí, então, vou ler, leio até cansar, mas o sono não vem. Às 5h, levanto. Não tenho  tratado porque o meu custo de vida não dá para fazer tratamento e o SUS não ajuda a gente em nada”, diz Angelina, que reclama também da falta de concentração devido ao problema.

O perfil dela se enquadra naqueles traçados pela pesquisadora em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Campinas (Unícamp) Margareth Guimarães Lima, que estuda o sono durante a pandemia. Entre os mais suscetíveis a problemas, estão os de mulheres, jovens, pessoas de baixa renda, sedentárias e que tiveram aumento do trabalho doméstico e do uso de telas durante o período.

“ Vimos que 48% das pessoas já tinham problemas de sono e ele piorou. Outras 43,5% passaram a ter”, revela, sobre um dos estudos.

Segundo a cientista, existe uma associação muito forte entre o sono e os problemas emocionais: pessoas que enfrentam essas questões tem cinco vezes mais chances de ter descanso de baixa qualidade. Noutro estudo, publicado em Cadernos de Saúde Pública, considera a classe social na análise:

“O sono piorou naqueles que tinham pior renda antes da pandemia. Essa piora foi 34% maior nos que eram mais pobres em relação aos mais ricos”, completa Lima. Outro caso é o da Eduarda Rodrigues, de 20 anos, que começou a ter ansiedade e perder o sono após ter Covid-19 no ano passado. Hoje, avalia que o isolamento social e as preocupações econômicas foram as principais causas do distúrbio.

“Após pegar a doença e com a morte de familiares, passei a ter só pensamentos negativos. Nada estava bom, não saia de casa, dormia tarde e ficava acordando várias vezes à noite. Passei também a ficar mais agitada e, neste turbilhão todo, ainda perdi meu emprego”, desabafa.

Com o início de uma nova rotina devido à flexibilização da pandemia, Eduarda conseguiu novamente se inserir no mercado de trabalho. O sono deu uma melhorada, mas ainda não é o mesmo de antes. Ela tem indicação para fazer a terapia cognitiva comportamental, no entanto, ainda não sabe quando vai começar.

COVID LONGA

Segundo o neurologista Raimundo Nonato Delgado Rodrigues, estudos apontam a possibilidade de o vírus SARS-CoV-2 ter uma ação direta no sistema nervoso central e causar problemas de sono. Para o especialista, isso pode ocorrer não só imediatamente após contrair a doença, mas até seis meses depois. É a chamada síndrome da Covid longa.

“No quadro chamado de “brain fog”, que quer dizer nevoeiro do cérebro, a pessoa tem fadiga, dificuldade de concentração, dificuldade de memória e alterações de sono”, explica Rodrigues.

Em trabalho do grupo Cronobiologia Aplicada à Saúde Coletiva, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz) Liliane Teixeira alerta que a privação, a redução e a fragmentação do sono prejudicam também a saúde mental. Entre as estratégias que podem ajudar, estão deitar e levantar nos mesmos horários, evitar cochilos e anotar pensamentos para diminuir ansiedade e estresse.

OUTROS OLHARES

QUANDO A PISCINA É MORTAL

Em casa ou em clubes, há riscos para as crianças

Os empresários Ivan Franzen e Liane Pegorini, pais de Laíse Pegorini Franzen, de 10 anos, ainda tentam assimilar o que aconteceu na terça-feira, quando perderam a “princesinha da família”, como ela era chamada pelo casal e os dois irmãos. Presa pelos cabelos após ter sido sugada pelo ralo da banheira de hidromassagem de casa, em Faxinal do Guedes (SC), a menina se afogou e morreu a caminho do hospital.

O caso na cidade de pouco mais de 10 mil habitantes chamou a atenção para a necessidade de maior divulgação de alerta dos riscos que equipamentos de lazer podem trazer às crianças – mesmo as que sabem nadar. As histórias e os números mostram que incidentes como o que matou Laíse são muito mais comuns do que se imagina.

SABER NADAR NÃO BASTA

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) com dados do SIJS, publicado este ano, mostra que 1.460 crianças morreram por afogamento em todo o país em 2019. Destas, 59% em piscinas ou equipamentos similares na própria casa. O estudo aponta ainda que o afogamento é a segunda causa de morte mais frequente entre as crianças de 1 a 4 anos atrás apenas de pneumonia; a terceira causa entre crianças de 5 a 14 anos; e a quarta entre jovens de 15 a 24 anos.

Laíse era escoteira e sabia nadar. Nas fotos publicadas pelos pais, a menina sempre aparece se divertindo em piscinas, cachoeirasou no mar, ao lado dos irmãos. Mas apenas experiência, alertam os especialistas, não seria o suficiente para evitar um incidente técnico. A pesquisa publicada pela Sobrasa informa que a sucção da bomba em piscinas é a maior causa de morte de crianças de 4 a 12 anos que, mesmo sabendo nadar, se afogam no Brasil.

“A cada três dias uma criança de 1 a 9 anos morre em casa afogada, e isso é muito grave. São afogamentos não só em piscina, mas também em tampa de cisterna aberta, caixa  d’água aberta, banheiras. A razão principal de os pais colocarem as crianças na natação é a segurança aquática. A partir disso, acaba havendo um relaxamento natural. Mas é preciso estar atento a todos os riscos. Mesmo com a criança sabendo nadar, é preciso continuar com a prevenção a acidentes e que haja divulgação sobre estes procedimentos”, alerta David Szpilman, diretor do Sobrasa e médico do Corpo de Bombeiros do Rio, que durante anos trabalhou atendendo vítimas de afogamento na corporação e também no Hospital Miguel Couto, onde chefiou o CTI.

Tanto em banheiras de hidromassagem como em piscinas, a orientação é de que esses equipamentos tenham mais de um ralo para bombear a água, o que impede o vácuo que pode acabar prendendo uma pessoa. Além disso, há ralos antissucção, para impedir que o cabelo seja puxado. A tampa é exigida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em piscinaspúblicas. Mas muitas dessas informações, assim como orientações sobre não deixar as crianças sozinhas, cercar piscinas e manter as bombas desligadas durante o uso, não chegam ao conhecimento dos pais, segundo especialistas.

Antônio Santos, de 62 anos, sentiu a mesma dor dos pais de Laíse em 2011. Professor de educação física e de natação há mais de 30 anos, Antônio não estava presente quando sua filha Luiza, também de 10 anos, teve o cabelo puxado pelo ralo de uma piscina de condomínio em uma festa de aniversário de uma amiga. Depois da morte da menina, ele passou a dedicar a vida a espalhar o máximo de informações de prevenção a seus amigos e aos pais dos alunos. Hoje, está à frente do projeto Piscina + Segura, um braço da Sobrasa.

“A natação é uma maneira de se prevenir, mas não é uma garantia. A minha filha sabia nadar, mas havia ali um risco que potencializou a chance de afogamento”, contou Antônio. “Quando perceberam que estava se afogando, ela já devia estar debaixo d’água há muito tempo, e as pessoas não sabiam fazer um suporte básico de primeiros socorros o que também foi fatal. O ralo era único e muito pequeno, o que ainda aumentou o poder de sucção”.

Antônio conta que o trabalho do projeto, em escolinhas de natação, de surfe e em escolas municipais, teve o foco da abordagem mudado: de dar orientações de resgate passou a ser mais concentrado na prevenção dos acidentes e no conhecimento dos riscos. Hoje, os participantes se tornaram referência, dão palestras e têm voluntários pela América do Sul e Europa.

“Depois que aconteceu essa tragédia, eu não vi outro caminho na minha vida a não ser continuar a estudar a fundo isso. Ou me entregava à tristeza ou ia fazer algo útil para mim e para a sociedade. Comecei a estudar e ver o que era feito no mundo em termos de prevenção. Eu, por exemplo, tinha uma piscina em casa, que sempre foi cercada, mas não sabia que o ralo poderia causar um acidente”, afirma.

Flavia Souza Belo também tinha 10 anos quando, num dia de verão em janeiro de 1998, teve os cabelos puxados pelo ralo da piscina do condomínio em que vivia com a mãe em Moema (SP). Quando os colegas perceberam o que estava acontecendo, custaram a retirá-la por causa da força da sucção. Ela foi socorrida já desacordada e nunca mais despertou. Hoje com 33 anos, segue em estado de coma, com quadro irreversível.

A mãe, Odete Souza, aos 72 anos, dedica a vida a cuidar da filha e a lutar por maior segurança nas piscinas, sobretudo as de clubes e condomínios. Num blog criado em 2007, “Flávia, Vivendo em Coma”, Odete compartilha informações e notícias pelo mundo envolvendo acidentes aquáticos.

“Há a necessidade de uma campanha grande de conscientização acerca desse tipo de perigo. Tanto nos clubes, condomínios, mas também nas residências. Esses pais, coitados, jamais poderiam imaginar que isso poderia ter acontecido com a filha deles, justamente porque hoje falta conhecimento sobre esse tipo de acidente. Se os casos das nossas meninas servirem para evitar que outras crianças passem por isso, eu acredito que a luta já estará valendo”, diz Odete.

MAIOR DIVULGAÇÃO

Assim como Antônio, ela também nunca havia ouvido falar dos perigos de acidentes provocados pela sucção no fundo de piscinas ou banheiras.

“Até aquele momento, eu nunca tinha ouvido falar sobre esse tipo de acidente. Quando foi descoberta a causa, quando entendi o que havia acontecido com a minha filha, comecei a estudar e percebi que esse tipo de acidente é muito mais comum do que se pensa, no Brasil e no mundo. A partir daí, eu tenho me dedicado a fazer alerta sobre essas armadilhas submersas. Vários acidentes poderiam ser evitados se houvesse maior divulgação”, concluiu.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 22 DE DEZEMBRO

A VITÓRIA VEM DE DEUS

O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitória vem do Senhor (Provérbios 21.31).

Nós travamos muitas batalhas na vida. Há guerras reais e guerras fictícias. Há guerras visíveis e guerras invisíveis. Guerras inevitáveis e guerras que nós mesmos criamos. Com sua destreza, o homem faz planos e traça estratégias. Forma exércitos e equipa-os com as mais sofisticadas tecnologias de guerra. Sai a campo e trava as pelejas mais encarniçadas. A vitória, porém, não é resultado do braço humano nem da força dos cavalos. Não vem da terra, mas do céu; não procede do homem, mas de Deus. O homem pode fazer planos, mas é de Deus que vem a resposta. O homem pode treinar exércitos, mas é Deus quem dá a vitória. O homem pode reunir poderoso arsenal, mas é Deus quem abre o caminho do triunfo. Davi entendeu isso quando lutou contra o gigante Golias. Aquele homem insolente afrontou o exército de Israel e desafiou os soldados de Saul durante quarenta dias. Humilhou o povo de Deus e escarneceu do próprio Deus. Davi, porém, correu de encontro ao gigante filisteu, dizendo: Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos Exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo, o Senhor te entregará nas minhas mãos e toda a terra saberá que há Deus em Israel. […] pois o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra (1Samuel 17.45-47).

GESTÃO E CARREIRA

MULHER BRANCA É MAIORIA COMO LÍDER DE INCLUSÃO E REFLETE MODELO DAS EMPRESAS

Pesquisa sugere que gerentes de diversidade são mais escolhidos por gestão do que por representatividade, mas cenário vem mudando

Para liderar a pauta de diversidade e inclusão (D&I) dentro de uma empresa, é importante falar a língua do meio empresarial: ter habilidades de gestão, planejamento e lidar com metas. Quando esse perfil se combina com representatividade, a expectativa é de que as mudanças avancem mais rapidamente. Empresas que se desafiam a promover D&I no mercado estão atentas a isso e buscam reunir em um único profissional as características necessárias a essa transformação.

Exemplos recentes são da executiva Lisiane Lemos, que assumiu a gerência de programas de recrutamento de diversidade, equidade e inclusão do Google para América Latina, e Helena Bertho, nova head global de D&I do Nubank. Ambas mulheres negras, elas agregam experiência corporativa e representação, porém, nem sempre é o que ocorre no mercado.

Pesquisa da consultoria Tree Diversidade em parceria com o Grupo Top RH, realizada entre agosto e setembro, coletou respostas de 276 profissionais do ramo e apontou um perfil diferente. A maioria é branca (51,1%), mulher cisgênero (75,7%), heterossexual (63,8%), e sem deficiência (94,2,%).

“A gente encontrou essa falta de diversidade nos profissionais e isso se deve ao fato de que eles são os que estão nas empresas como os demais, é a falta de representatividade que se vê no geral”, observa Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree. Um dado que corrobora a percepção é  que 30,8% dos que atuam com D&I   acumulam outras funções, ou seja, geralmente são pessoas que já estavam na empresa com outras atividades.

PROCESSO INCOMPLETO

Na avaliação de Ricardo Salles, da Mais Diversidade, que presta consultoria para grandes empresas, a inclusão nas companhias ainda está “incompleta”. ‘”Tem poucas pessoas negras nessa função e é um desafio para o mercado aumentar essa representatividade”, diz. Mas ele percebe também que, apesar de incompleta, é um perfil de liderança mais diverso do que costuma ser o meio empresarial brasileiro.

A pesquisa da Tree apontou ainda que 40,2% dos profissionais trabalham com o tema entre um e três anos, o que coincide com o tempo que as organizações vêm desenvolvendo a pauta (37,3% no mesmo período e 22,5% há menos de um ano). Como o assunto é relativamente novo e está começando a criar referências no Brasil, foram primeiro os grupos privilegiados que tiveram acesso aos conteúdos que despontavam em outros países.

“A gente tem esse grupo que é mais privilegiado, que tem formação no exterior, até porque não tinha curso aqui. É natural que seja assim, mas a realidade é que a gente está inserido em um contexto desigual.

Se deixar acontecer naturalmente, a velocidade das mudanças será lenta”, diz Daniel Consani, do Grupo Top RH. Segundo ele, é preciso estimular a inclusão de pessoas diversas em postos de liderança, mas enquanto isso é preciso contar com quem já está lá.

Helen Andrade, diretora do Movimento pela Equidade Racial (Mover), que reúne 47 grandes empresas no Brasil, dá o exemplo das signatárias da iniciativa, que tem a meta de incluir mais negros no mercado. Ali, diz ela, CEOs homens e brancos são a maioria e estão envolvidos na luta antirracista. “Porque o racismo é um problema de todo mundo. Essas pessoas (CEOs) têm o poder de promover mudanças”.

HABILIDADES BUSCADAS

Para Ricardo Salles, um bom profissional de D & l é resultado da interação entre três dimensões: conhecimento do tema, a partir de uma perspectiva ampla e com base teórica sobre estudos de gênero e feminismo negro, por exemplo; conhecimento de gestão, com domínio da linguagem do meio empresarial; e conexão com a sociedade, porque “não posso ser profissional de diversidade só no meu escritório, tenho de estar na rua”. O especialista diz que, isoladamente, esses elementos não bastam, mas é possível desenvolvê-los. Segundo Letícia Rodrigues, cabe às empresas também investir na formação dessas pessoas.

Helen Andrade, que também é líder de diversidade e inclusão da Nestlé no Brasil, concorda que o profissional precisa estudar o tema, saber implementar projetos e conhecer comunidades diversas. “Quando a empresa resolve contratar, vai olhar de forma ampla, não para uma temática de diversidade”, diz. “As empresas não deveriam colocar uma pessoa na área de  D & l unicamente porque é mulher, negra, trans ou PCD para ter aquele ‘símbolo’ na companhia.”

No Mover, ela explica que não há imposição sobre a forma como cada empresa vai trabalhar, mas há compartilhamento de boas práticas. E acrescenta que, quando o direcionamento vem do alto escalão, o  movimento toma força dentro da empresa.

EU ACHO …

CONTRA A ANSIEDADE

O meu jeito de evitar a ansiedade é me concentrando no agora, no instante presente. Me ligo 100 % no lugar onde estou, com quem estou e no que estou fazendo. Assim, ganho foco, dou atenção plena ao outro e não fico me perdendo em projeções inúteis, deixando o pensamento escapulir para um lugar sem retorno. Até o sono melhora.

Isso sempre foi algo natural em mim, talvez o hábito da leitura ajude nesta concentração. Mas aí veio a pandemia e aquele estresse todo. Lidei razoavelmente bem com a situação, já que não perdi ninguém próximo e meu cotidiano não se alterou muito. Eu parecia tranquila em minha compenetrada quietude, até que a vacina chegou e os dias começaram a voltar ao velho ritmo: encontros entre amigos, viagens a trabalho, vida social. E só então percebi minha dificuldade em recuperar o ritmo anterior. Achava que não, mas também me encontro emocionalmente bagunçada. Eu, que tomava ansiolítico só em casos excepcionais, uma ou duas vezes por ano, passei a olhar para a cartela como se fosse uma caixa de Bis.

Para completar, semana passada perdi um amigo por infarto fulminante, aos 59 anos. Um amigo da minha juventude, da época em que eu era publicitária. Junto à imensa tristeza, duas coisas ficaram claras para mim. Uma delas é que temos que reavaliar nossas urgências. Refletir sobre essa nossa absurda disponibilidade on-line. Reagir à pressão para dizer “sim” a tudo o que nos é proposto, como se tivéssemos que compensar a parada brusca de um ano e meio. Calma, não temos que compensar nada, e sim continuar em frente encontrando soluções para viver melhor, e não problemas para morrer mais rápido.

A súbita ausência dele me fez ver, também, que além do presente momento, desse instante que tanto valorizo, o passado é muito valioso. Na hora em que recebi a notícia da morte do meu amigo, me vi diante de uma onda de recordações: a casa que nossa turma alugava na praia, as aventuras amorosas discutidas em mesas de bar, nossa imaturidade cheia de sonhos, a narrativa frenética das experiências vividas, nossos filhos nascendo, as interrogações jogadas para a frente, para um tempo que desconhecíamos – este aqui. Descobri que não quero mais seguir adiante sem olhar para trás, ajustei meu retrovisor sentimental.

Pretendo me manter no foco, mas “estar aqui e agora” não depende mais de rendição a esta modernidade esquizofrênica. Não preciso atender a expectativas febris, nem competir comigo mesma. Contra a ansiedade, incluo agora a saudade. Celebro o passado que me moldou e, por ora, penso apenas em cuidar bem da minha saúde, que isso também é cuidar de quem a gente ama. Tempo, entrei num acordo contigo.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

DIETA RICA EM GORDURA ELEVA NÍVEIS DE TESTOSTERONA

Estudo mostrou que alimentação pode ter efeito positivo ou negativo na produção do hormônio masculino

Muitos homens, principalmente à medida que envelhecem, se preocupam com seus níveis de testosterona, o hormônio masculino que faz crescer músculos e aumenta o apetite sexual e o vigor. Mas é improvável que os alimentos por si só tenham impacto nos níveis de testosterona – embora o consumo de quantidades extensivas de álcool possa ter. Se você está acima do peso, alterar sua dieta para emagrecer pode ajudar, uma vez que o sobrepeso é uma causa comum de baixa testosterona. Mas em termos de alimentação ou dieta específicas, qualquer mudança que você faça podenão ter um impacto perceptível na libido, disposição ou massa muscular.

“Com base nos dados que temos hoje, se um homem não tem sobrepeso, eu não o colocaria em uma dieta especifica para aumentar a testosterona”, disse Alexander  Pastuszak, professor assistente de urologia e cirurgia da Universidade de Utah nos EUA, que foi coautor de uma revisão sobre alternativas para terapia de testosterona.

Nos homens., os níveis normais de testosterona variam de 300 a 1.000 nanogramas por decilitro de sangue. Os altos e baixos dentro dessa faixa normal provavelmente não terão impacto no desejo sexual ou na vitalidade. Somente quando os níveis caem consistentemente abaixo de 300 é que sintomas como baixa libido, disfunção erétil, fadiga, mau humor ou perda de massa muscular podem aparecer, uma condição médica conhecida como hipogonadismo.

A partir dos 40 anos, os níveis de testosterona nos homens começam a diminuir cerca de 1% ao ano. Mas a queda pode variar enormemente com alguns homens mais velhos mantendo níveis semelhantes aos de jovens saudáveis. A trajetória da queda da testosterona é mais íngreme entre os homens que ganham muito peso, disse Shalender Bhasin, professor de medicina em Harvard e diretor do Programa de Pesquisa em Saúde Masculina do Brigham and  Women’s Hospital.

Estudos sobre alimentos ou dietas e níveis de testosterona têm sido geralmente discretos e os resultados longe de conclusivo. Uma recente revisão britânica que reuniu dados de 206 voluntários, por exemplo, descobriu que homens em dietas ricas em gordura tinham níveis de testosterona cerca de 60 pontos mais altos, em média, do que homens em dietas pobres em gorduras. Homens que seguiram uma dieta vegetariana tendem a ter os níveis mais baixos de testosterona, cerca de 150 pontos abaixo, em média, do que aqueles que seguem uma dieta rica em gordura à base de carne. Ainda assim, Joseph Whittaker, o autor principal do estudo e nutricionista da Universidade de Worcester, no Reino Unido, disse que não recomendaria a nenhum homem aumentar as gorduras em sua dieta a menos que tivesse níveis baixos de testosterona e sintomas de hipogomadismo e já estivesse restringindo as gorduras.

DIETAS RESTRITIVAS

Outro estudo no Journal of Strength and Conditioning Research testou dois estilos de dieta em 25 homens saudáveis com idade entre 18 e 30 anos. As calorias consumidas eram as mesmas, mas um grupo ingeriu uma dieta cetogênica com alto teor de gordura e baixíssimo teor de carboidratos, consistindo em 75% das calorias vindas de gorduras, 5% de carboidratos e 20% de proteínas. Já o outro grupo consumiu uma dieta ocidental -mais tradicional, com apenas 25% das calorias provenientes das gorduras, 55% dos carboidratos e 20% das proteínas. Após 10 semanas de ingestão da dieta rica em gordura, a testosterona aumentou 118 pontos, em média, no passo que após a dieta pobre em gordura, os níveis diminuíram cerca de 36 pontos.

Da mesma forma, um estudo com 3 mil homens descobriu que aqueles que relataram consumir uma dieta com baixo teor de gordura tinham níveis de testosterona ligeiramente mais baixos – cerca de 30 pontos a menos – do que os homens que comeram dietas com alto teor de gordura. Mas nenhum dos homens tinha testosterona baixa.

“A moral é homens saudáveis com peso normal sem comorbidades significativas provavelmente não se beneficiarão de dietas restritivas”, disse Richard Fantus, um dos autores do estudo e urologista do Sistema de Saúde da Universidade North Shore em Evanston, Illinois.

Estudos sobre dietas são complicados porque a mudança de um componente da alimentação, como a ingestão de gordura, altera muitas outras como a quantidade de carboidratos, proteínas e micronutrientes consumidos. Não está claro qual componente da dieta pode ter causado as mudanças hormonais, disse Bhasin. Além disso, os níveis de testosterona também podem ser influenciados por quanto uma pessoa dorme, ou se ela sofre de distúrbios do sono, ainda que temporários, ou se está ingerindo a maior parte de suas calorias à noite, ou em pequenas refeições ao longo do dia.

Faysal Yafi, chefe da divisão de Saúde Masculina e Urologia Reconstrutiva da Universidade da Califórnia em Irvine disse que seus pacientes que optam por seguir dieta específicas tendem a começar a se exercitar mais e a beber menos álcool, o que pode elevar os níveis de testosterona. Ele suspeita que qualquer ligação entre dieta e testosterona pode ser o resultado de um estilo de vida mais saudável em geral.

ABUSO DE ÁLCOOL

Alguns homens temem que comer muitos alimentos à base de soja possa fazer com que seus níveis de testosterona caiam, porque a soja é rica em isoflavonas, que imitam a estrutura do estrogênio. Mas a evidencia não apoia suas preocupações, mesmo que os homens comam alimentos como missô, tofu ou leite de soja em todas as refeições.

O abuso de álcool a longo prazo reduz a testosterona ao danificar as células dos testículos, que produzem o hormônio, e do fígado, que altera o metabolismo da testosterona. Mas a bebedeira de vez em quando não parece ter muito impacto – diminui a testosterona por apenas cerca de 30 minutos, de acordo com um estudo, com os níveis voltando ao valor basal após este tempo.

Homens obesos com baixos níveis de testosterona podem aumentar a produção do hormônio cortando calorias e perdendo peso – o tipo de dieta não importa, sugerem os estudos. No extremo oposto, Bhasin disse observar um número crescente de homens em sua clínica que têm problemas de dismorfia corporal e sofrem de baixa libido e fadiga. Restrição calórica estrita, exercícios intensos e estresse crônico podem fazer com que os níveis de testosterona caiam e são provavelmente os culpados, disse ele.

A conclusão é que, para homens sem comorbidades que seguem um estilo de vida razoavelmente saudável, perder tempo com alimentos específicos ou com a composição da dieta provavelmente não fará muita diferença no nível de testosterona.

“Não acho que haja uma maneira de burlar o sistema para obter aumentos (de testosterona) realmente grandes mudando a dieta”, disse Fantus, da North Shore University.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MULHERES QUE AMAMENTAM TÊM MENOS PROBLEMAS COGNITIVOS

Estudo apontou que aleitamento diminui risco de depressão e Alzheimer

Um novo estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia (UCLA), publicado na revista científica Evolution, Medicine and Public Health descobriu que mulheres com idade acima de 50 anos que amamentaram têm menos risco de desenvolver problemas cognitivos, incluindo a doença de Alzheimer.

Segundo o trabalho, a amamentação tem impacto positivo no desempenho cerebral das mulheres na pós-menopausa. Os cientistas afirmam ainda que um tempo maior de aleitamento também trouxe resultados melhores.

Entre os motivos, os pesquisadores citam que a amamentação ajuda a regular o estresse, promove o vínculo com o bebê e diminui o risco de depressão pós-parto, fatores sabidamente de risco para danos neurocognitivos.

Além disso, eles afirmam que existe uma correlação positiva entre o aleitamento e um menor risco de doenças como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, e apontam que essas condições estão fortemente ligadas a um maior risco de Alzheimer.

Para entender os impactos do aleitamento na saúde cognitiva feminina, os pesquisadores da UCLA analisaram dados de dois ensaios clínicos realizados pela instituição que tiveram a participação de 115 mulheres. Elas foram divididas em dois grupos, um com 64 delas que relataram estar deprimidas e outro com 51 que afirmaram não sofrerem com sintomas de depressão.

Todas elas completaram uma série de testes psicológicos que mediam aprendizagem, memória atrasada, funcionamento executivo e velocidade de processamento. Além disso, os participantes responderam um questionário que incluía perguntas sobre a idade de início da menstruação, número de gestações completas e incompletas, tempo de aleitamento materno para cada filho e a idade da menopausa.

As informações coletadas mostraram que 65% das mulheres não deprimidas relataram ter amamentado, enquanto esse percentual foi de 44% entre aquelas com sintomas de depressão. Já em relação à gravidez completa, todas do grupo de mulheres não deprimidas contaram ter ao menos um filho, enquanto esse índice foi de 57.8% no segundo grupo.

Em relação aos testes cognitivos, em ambos os grupos aquelas que amamentaram tiveram melhores resultados. Quando somado todo o tempo que uma mulher passou amamentando em sua vida, aquelas que se ocuparam da tarefa por mais de 12 meses tiveram um desempenho significativamente mais alto em todos os quatro quesitos que aquelas que passaram pela experiência.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as taxas globais de aleitamento estão baixas, atingindo apenas 41% dos bebês com menos de seis meses de idade.

OUTROS OLHARES

PÁGINA EM ABERTO

Estudos mostram que ler textos em suportes impressos é mais agradável, mais saudável e ajuda mais na absorção da informação do que em dispositivos digitais

As telas de smartphones, tablets e computadores se tornaram onipresentes nas duas últimas décadas. Nesta nova era tecnológica, a maior parte das atividades humanas ligadas ao trabalho e ao lazer pode ser realizada diante delas – na verdade, nada parece escapar ao domínio digital. Não seria diferente com a leitura. Estudantes se preparam para provas na companhia indispensável de celulares, acadêmicos esquadrinham textos de fôlego em aparelhos eletrônicos, literatos consomem milhões de palavras em dispositivos como Kindle e afins. Se é inegável que o conhecimento está mais acessível, descobriu-se agora que as telas podem afetar a assimilação da leitura. Segundo estudo conduzido por cientistas da Noruega e da França, o bom e velho papel – como as páginas de revistas  impressas – é mais eficaz para fixar as narrativas.

A pesquisa comparou a leitura de um texto longo em um aparelho digital com a sua versão impressa. Cinquenta jovens adultos com idades em torno de 25 anos, dos quais dezoito homens e 32 mulheres, receberam a novela Lusting for Jenny, Inverted, de Elizabeth George, em um dos dois formatos. Ao fim das 28 páginas, o grupo fez uma série de testes para medir os vários níveis de absorção da história de suspense. Os resultados mostraram que a compreensão foi semelhante em ambas as mídias, mas os leitores da versão impressa eram mais propensos a lembrar com precisão a ordem cronológica do texto. Ou seja: o papel inegavelmente venceu o digital.

A impressão fornece pistas sensoriais e motoras que aumentam o processamento cognitivo. Traduzindo: ao segurar um livro, somos constantemente lembrados de quantas páginas lemos e quantas restam para terminar. Além disso, podemos virar as folhas e voltar no texto conforme acharmos necessário. Tudo o que envolve a leitura, da visualização das palavras ao peso, passando até mesmo pelo cheiro, ativa várias áreas do cérebro de uma só vez, estimulando e facilitando o aprendizado. “É quase como meditar”, diz Anne Mangen, professora do Centro para Educação e Pesquisa em Leitura da Universidade de Stavanger, na Noruega, o principal nome do levantamento comparativo.

A impressão, reafirme-se, é visualmente menos exigente do que o texto digital, que tem por característica ser mais dispersivo em razão dos estímulos emanados da tela e da associação com atividades lúdicas. “Quando você está lendo em um nível superficial, não está necessariamente dando atenção aos tipos de detalhes que permitirão que compreenda a mensagem mais facilmente e melhor”, diz a neurocientista americana Maryanne Wolf, professora da Universidade da Califórnia e autora do recém-lançado O Cérebro no Mundo Digital (Editora Contexto). “As leituras no meio impresso e no digital são, de fato, diferentes”. Maryanne mostra que há uma escala de distração para textos impressos, monitores de computador e leitores digitais. O papel é o menos dispersivo e a tela do computador o que causa mais distração, enquanto os e-books estão no meio por causa da tinta eletrônica e outras características que atenuam o esforço de leitura.

Falar é uma habilidade natural do ser humano. Ler e escrever, não. A alfabetização tem pouco mais de 5.500 anos. Os primeiros livros impressos apareceram em torno de 23 a.C., em Roma e no Oriente Médio. O processo de impressão manual, invenção de Gutenberg, surgiria apenas por volta de 1430. Para a atividade da leitura, usamos outra capacidade que nos é atávica, o reconhecimento de objetos. Na mente do leitor, as palavras são associadas a elementos físicos dispostos em um cenário igualmente real, as páginas. Pesquisas nesse campo demonstram que o leitor, ao pensar em informações absorvidas de um texto, tende a lembrar do ponto físico onde elas foram lidas. O texto impresso, portanto, funciona como um mapa que ajuda nessa localização.

Na perspectiva histórica, o aprendizado da leitura transformou os circuitos neurais do cérebro e o desenvolvimento intelectual da espécie humana. “A transição para uma época digital está afetando todos os aspectos de nossa vida, incluindo o desenvolvimento intelectual de cada novo leitor”, escreveu Maryanne em um artigo para o jornal americano The New York Times. A boa notícia é que o papel desfruta excelente reputação. Realizada no ano passado, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil evidencia que, ao menos entre apreciadores de literatura, 70% preferem os livros físicos. O papel, como se vê, está longe de morrer.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 21 DE DEZEMBRO

DESAFIAR A DEUS É TOLICE

Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o Senhor (Provérbios 21.30).

Não há atitude mais insensata do que a criatura desafiar o Criador. Não há tolice maior do que o homem insurgir-se contra Deus. É consumada loucura o homem empregar sua suposta sabedoria ou sua pouca inteligência e entrar em conselho contra o Senhor, pois quem pode lutar contra Deus e prevalecer? Quem pode chocar-se nessa Pedra sem virar pó? Quem pode desafiar seu poder e escapar? Muitos séculos atrás os homens entraram em conselho contra o Senhor e tomaram a decisão de construir uma torre, a torre de Babel, cujo topo chegasse ao céu. Era um zigurate, uma torre astrológica para a leitura dos astros. Essa geração apóstata pensou que assumiria o comando do universo. Planejaram destronar Deus de sua glória e lançar de sobre si o jugo do Altíssimo. O resultado foi a confusão das línguas e a dispersão das raças entre as nações. Deus não se deixa escarnecer. De Deus não se zomba. Aquilo que o homem semeia, ele colhe. Nenhuma sabedoria, inteligência ou conselho pode ter sucesso contra o Senhor. Nenhum plano pode se opor ao Senhor e sair vitorioso. Todos os recursos dos homens são nada diante de Deus. O eterno Deus, Criador e sustentador da vida, Senhor absoluto do universo, Juiz de vivos e de mortos, aquele que está assentado no trono e tem as rédeas da história em suas mãos, é o vencedor invicto de todas as batalhas!

GESTÃO E CARREIRA

PRESENTE E DE VOLTA AO BATENTE

Retomada do trabalho fora de casa exige adaptação

Nos últimos meses, entre reuniões e demandas profissionais, a representante comercial Mariana Craveiro, de 28 anos, teve uma companhia inseparável no home office: o vira-lata Pingado, adotado no início da pandemia. Agora, com a proximidade de voltar ao trabalho presencial, ela se diz apreensiva com a adaptação a uma nova rotina.

“Essa vai ser a parte mais difícil para mim na “volta à realidade”. Pingado estava acostumado à minha presença 24 horas. Para me preparar, me amparei com dicas de como manter o ambiente mais rico para ele, com distrações e petiscos, busquei adestramento, creche”, conta Mariana.

Preparar os animais para o desgrude é um entre vários dilemas para quem teve opção de trabalhar em casa na pandemia e terá que retornar ao presencial. A volta implica também reaprender a encarar o trânsito e o transporte público, voltar a socializar e comer fora, conviver menos com os filhos, deixar o controle do lar, doce lar.

Veja nas dicas abaixo como sofrer menos na transição.

ACORDAR MAIS CEDO

Para muita gente, foi fácil se habituar a acordar em cima da hora do expediente. Afinal, o “local de trabalho”, o computador, estava logo na mesa ao lado. Com a necessidade de sair de novo, o corpo precisará se reacostumar a horários. Por isso, o primeiro conselho é mudar o ciclo de sono. Ou apenas: dormir mais cedo.

“É uma questão de estabelecer uma rotina de novo. Para ter o horário de acordar, vai ser preciso ter o de dormir. Se é preciso despertar às 6 h, é bom deitar às 22h. Com um sono regularizado, o resto vai se regulando. Existe toda uma questão hormonal e física baseada nisso”, diz a psiquiatra Danielle Admoni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

ABANDONAR OS PIJAMAS

Muita gente aposentou o guarda-roupa social e adotou roupas informais em casa. Devolver o pijama ao armário e investir em peças novas para o trabalho pode ser balde de água fria para a mente e o bolso, mas arrumar-se para sair tem suas vantagens.

“Além de se colocar apresentável para o outro e para si mesma, que é o mais importante, arrumar-se ajuda na construção da motivação para sair de casa – diz Danielle.

Vale até separara roupa do trabalho na noite anterior, afirma.

“Isso ajuda a planejar o dia seguinte. A rotina tem um potencial organizador, fisicamente e psiquicamente também. É importante encarar de maneira positiva.

COMPARTILHAR O BANHEIRO

Além da comodidade, o banheiro de casa virou local de limpeza controlada em tempos de Covid. Como voltar a compartilhar um espaço que requer tanta higiene?

“O banheiro de casa estava mal conservado, empoeirado, mas sentimos que é limpo porque é nosso. Não sentimos o próprio cheiro, a própria bagunça. Ao voltar a dividir o local, a primeira coisa deve ser reduzir expectativas de ordem. E se abrir ao aprendizado de como se misturar de novo”, diz o psicanalista Christian Dunker, da Universidade de São Paulo (USP).

Tentar manter esse e outros espaços coletivos em boas condições ajuda a todos no estranhamento inicial de voltar ao uso compartilhado.

ENCARAR O TRANSPORTE

Para quem escapou de buzinas e engarrafamentos durante este período pandêmico, não vai ter jeito agora: no início, a volta ao trânsito vai irritar, e a sensação de perda de tempo será inevitável. Mas, se o deslocamento for também impossível de evitar, a dica é tentar torná-lo um fardo mais leve.

“É essencial buscar coisas prazerosas nesse trajeto. Escutar uma música, ler um livro. Usar esse tempo aparentemente perdido para fazer algo bacana paro si. Vale pensar: “OK, o trânsito é chato, o trajeto pode ser longo, mas já que estou aqui, vou tentar aproveitar da   melhor maneira possível”, aconselha Danielle.

DEIXAR OS BICHOS SÓS

Pets foram “colegas de trabalho” no home office. Asmudanças devem ser graduais com eles.

“Para ficarem sozinhos, cachorros precisam de distração e atividades. Uma dica para prepará-los é pelo menos uma hora ao dia deixá-los em um cômodo diferente, com algum estímulo que os entretenha. Valem petiscos escondidos, brinquedos interativos”, sugere Sabrina Vidal, gerente-geral e adestradora da Escola do Latir, na Zona Oeste de São Paulo.

Sem estímulos e sós, os cães começam a buscar o que fazer, e muitas vezes isso pode virar destruição na casa. As creches podem ajudar no adestramento, na socialização e no gasto de energia.

MENOS TEMPO COM OS FILHOS

Com escolas fechadas e sem o tempo de deslocamento, pais e filhos ganharam mais tempo juntos. Mesmo com a rotina caótica, o aumento do convívio foi benéfico a muitas famílias. Na readaptação, as dicas variam com a idade dos filhos e a situação familiar, diz o pediatra Daniel Becker, professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ.

No caso de crianças pequenas, o ideal é que os pais negociem com os empregadores uma volta gradual.

“Pais e mães podem alternar ficar mais horas por dia em casa no começo, por exemplo”, diz.

Para crianças mais velhas, os pais devem explicar as mudança. Vale até levá-las ao local de trabalho.

EU ACHO …

REALIDADE EM CORES

Ver a série “Colin em preto e branco” foi uma das mais gratas surpresas que os algoritmos do streaming puderam me trazer. Passou, literalmente, um filme na minha cabeça. O mais próximo que cheguei de Colin Kaepernick, ex-jogador da NFL, Liga Nacional de Futebol Americano, foi quando trabalhava na Burrel Communications, em Chicago. Nessa agência de publicidade, trabalhei sob o comando de McGhee Williams e Fay Fergusson, duas mulheres negras, e foi uma experiência fundamental na minha trajetória profissional. Lembro sobre o quanto reforçavam com o cliente a necessidade de terem Kaepernick como porta-voz. Eles eram fãs de seu posicionamento. Seu talento, resistência e discurso me fizeram passar a admirá-lo, mesmo sem conhecê-lo muito na época.

Isso foi em 2013, e estávamos preparando uma campanha com o icônico quarterback. Ele já tinha um posicionamento forte antes mesmo do conhecido ato de se ajoelhar, em 2016, na hora do hino nacional americano. Com os joelhos no chão, alegou que não se levantaria para cantar o hino de uma nação conhecida por matar pessoas negras.

Kaepernick foi muito criticado por sua atitude, e atos políticos foram proibidos em eventos esportivos da Liga. Mais tarde, o contrato do talentoso atleta em seu pleno auge não foi renovado e causou um grande debate sobre o quanto os esportistas podem se manifestar diante de questões políticas.

Lembro-me também que Toro BurreII, fundador da agência, dizia que negros não poderiam ser vistos como pessoas brancas pintadas de preto. Aquela frase que me causava tanta dúvida no início, aos poucos, foi sendo elucidada com o desenrolar da minha vida. Passei a entender que a cor da pele e características físicas das pessoas impactavam diretamente nas experiências e não eram meros aspectos estéticos.

O primeiro episódio da série questiona fortemente a lógica do poder branco nos esportes. Uma das primeiras cenas compara os testes físicos aos quais são submetidos os jogadores negros das mais diversas modalidades esportivas às avaliações de força que os escravizados passavam. Sempre pensei nesses mecanismos de pesagem e outros procedimentos como uma espécie de objetificação. Verisso tão bem ilustrado reforça o quanto ainda temos e precisamos repensar esta continuidade de hábitos escravocratas, revestidos de modernidade, enquanto são apenas repetições do passado.

Também ressoou muito em minha reflexão da palavra “thug” bandido em tradução para português, termo usado até pelos pais adotivos do Kaepernick, um casal branco. ‘E como a mãe o descreve quando, na adolescência, o rapaz escolhe usar tranças. Seu pai chega a usar como argumento que sua preocupação com a estética causava uma fadiga de decisão no seu cérebro. Ou seja, desperdiçava energia cerebral em penteados em vez de concentrá-la na performance esportiva

O jovem Kaerpernick se espelhava no irreverente astro de basquete Allen Iverson, que usava tranças não apenas como algo estético, mas como um discurso de resistência.

Kapernick em preto e branco é um retrato de um filme a cores em curso que encontra ressonância em diversas trajetórias negras brasileiras. Quem quiser entender a necessidade de luta por uma sociedade antirracista para além da superfície deve correr para assistir.

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaigualdaderacial.com.br

ESTAR BEM

ABUSO DE ÁLCOOL PODE CAUSAR CÂNCER DE ESÔFAGO

Estudo internacional que teve o Inca como um dos participantes relacionou o alto consumo da substância com mutações capazes de provocar tumores; resultado pode dar origem a exames de sangue para cálculo de risco

Pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (Inca) participaram de um estudo internacional que buscava entender quais são as principais mutações sofridas por células do esôfago que desenvolvem o câncer neste órgão. Os resultados brasileiros mostram que o consumo excessivo de álcool é capaz de deixar marcas físicas nestas células, o que pode ocasionar um carcinoma epidermoide, o tipo de tumor mais frequente nesta área do corpo, confirmando que bebidas alcoólicas podem provocar alterações genéticas em seres humanos. O artigo final foi publicado na renomada revista cientifica Nature Genetics.

Os resultados encontrados pelo grupo de pesquisadores do qual fazem parte Luís Felipe Ribeiro Pinto, chefe do Programa de Carcinogênese Molecular e coordenador de pesquisa do Inca, e Sheila Coelho Soares Lima, chefe do setor de Epigenética da instituição, podem ajudar a desenvolver ­ num futuro próximo –  um exame de sangue capaz de apontar quem deve ou não investigar um possível câncer de esôfago.

Atualmente, o diagnóstico precoce deste tipo de tumor é extremamente raro. Isso ocorre porque os sintomas só começam a surgir quando a doença está em estágio avançado, quando os pacientes já não conseguem comer ou ingerir líquidos adequadamente. O perfil dos brasileiros acometidos dessa doença é de homens que consomem álcool excessivamente (cerca de 500 ml de cachaça todos os dias) e fumam com frequência ou então que tomam bebidas com temperaturas elevadas frequentemente.

A descoberta tardia da doença diminui drasticamente o prognóstico dela – apenas 15% dos pacientes com câncer de esôfago estão vivos cinco anos após o diagnóstico. Este é o sexto tipo de câncer mais frequente em homens brasileiros.

A análise dos pacientes brasileiros faz parte do projeto Mutographs, liderado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) e pelo Instituto Sanger do Reino Unido, que conta com um grupo de cientistas de dez países. Foram examinados 552 genomas de pacientes com câncer de esôfago de oito nações (Brasil, China, Irã, Japão, Quênia, Malawi, Reino Unido e Tanzânia) durante cinco anos. O objetivo era entender quais são os mecanismos que levam ao desenvolvimento deste tipo de tumor. Dados epidemiológicos mostram que, no Brasil, a doença está associada ao consumo de álcool – o que foi confirmado no estudo – , cigarro e bebidas em altas temperaturas, como o chimarrão, sendo predominante em homens.

No processo de digestão, o álcool é transformado em acetaldeido, substância tóxica para o corpo humano. É a alta concentração dele que gera mutações genéticas no gene TP53, conhecido como o “guardião do genoma” por seu papel de conservar a estabilidade do DNA. Modificado, ele perde sua capacidade de vigilância e possibilita o desenvolvimento do câncer.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MALES DA MENTE SÃO CAPAZES DE AFETAR O CORPO

Cientistas avançam na compreensão das relações entre questões emocionais como a depressão e a ansiedade e diversos problemas físicos, entre eles doenças cardíacas, gastrointestinais, respiratórias e dores crônicas

Não é nenhuma surpresa que, quando uma pessoa recebe um diagnóstico de uma doença no coração, um câncer, ou alguma outra condição médica limitadora ou potencialmente fatal, ela fique ansiosa ou deprimida. Mas o contrário também pode acontecer: ansiedade ou depressão excessivas são capazes de desencadear o desenvolvimento de uma doença física séria, e até mesmo impedir a capacidade de resistir ou se recuperar de um problema de saúde.

O organismo humano não reconhece a separação artificial da prática médica entre doenças mentais e físicas. Na verdade, mente e corpo formam uma via de mão dupla. Uma doença mental não tratada pode aumentar significativamente um risco de adoecimento físico, e distúrbios físicos podem resultar em comportamentos que deixam as condições mentais piores.

Em estudos que acompanharam a evolução de pacientes com câncer de mama, por exemplo, o médico David Spiegel e seus colegas da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, mostraram há décadas que mulheres cuja depressão estava diminuindo viviam mais do que aquelas cuja depressão estava piorando. Pesquisas mostraram claramente que “o cérebro é ligado intimamente ao corpo e o corpo ao cérebro”, disse Spiegel em uma entrevista: “O corpo tende a reagir ao estresse mental como se fosse um estresse físico”.

Apesar dessas evidências, afirmam ele e outros especialistas, o sofrimento emocional crônico é, muitas vezes esquecido pelos médicos. Normalmente, eles prescrevem tratamento para adoecimentos físicos, como doenças cardíacas ou diabetes, e depois se questionam porque alguns pacientes pioraram em vez de melhorarem.

Muitas pessoas são relutantes a procurar tratamento para doenças emocionais, às vezes por medo de serem estigmatizadas. É comum que tentem tratar por conta própria seus desconfortos, adotando comportamentos como beber excessivamente ou abusar do uso de drogas, o que só piora a doença pré-existente.

LUTA OU FUGA

Transtornos de ansiedade afetam quase 20% dos adultos americanos. Isso significa que milhões sofrem da superabundância de respostas de luta ou fuga que preparam o corpo para a ação. Quando você está estressado, o cérebro solicita a liberação de cortisol, o alarme do corpo. Ele evoluiu para ajudar os animais que enfrentam ameaças físicas, aumentando a respiração, frequência cardíaca e redirecionando o fluxo sanguíneo dos órgãos abdominais para os músculos.

Essas ações protetoras decorrem dos neurotransmissores epinefrina e norepinefrina, que simulam o sistema nervoso simpático. Quando ativados recorrentemente e de forma  indiscriminada, vários tipos de problemas físicos podem aparecer, incluindo sintomas digestivos, um aumento no risco de ataque cardíaco ou derrame.

A depressão, apesar de ser menos comum que a ansiedade crônica, pode ter efeitos ainda mais devastadores. Mais de 6% dos adultos têm sintomas não persistentes da doença que interrompem relacionamentos, trazem prejuízos no trabalho e no lazer e dificuldades para enfrentar desafios. Esse quadro pode ainda exacerbar as chances de uma pessoa de desenvolver dores crônicas.

“A de pressão diminui a capacidade de uma pessoa de analisar e responder racionalmente ao estresse”, afirmou Spiegel.

REFLEXOS NO CORPO

Um estudo com 1.204 idosos coreanos, homens e mulheres, inicialmente centrado em depressão e ansiedade, descobriu que, dois anos mais tarde, esses distúrbios emocionais aumentaram o risco de distúrbios físicos e outras incapacidades. A ansiedade foi ligada a doenças do coração, a depressão foi associada à asma, e as duas juntas mostraram relação com problemas de visão, tosse, asma, hipertensão, doenças cardíacas e males gastrointestinais. Embora a ansiedade e a depressão sejam tratáveis com medicamentos, terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia, sem tratamento essas condições tendem a piorar. Segundo o médico John Frownfelter, a resolução de qualquer questão de saúde é melhor quando os médicos entendem “as pressões que os pacientes enfrentam que afetam seu comportamento e resultam em danos clínicos”.

Frownfelter é diretor de uma startup chamada Jvion. A organização usa inteligência artificial para identificar não apenas fatores médicos, mas também psicológicos, sociais e comportamentais que podem impactar a eficácia de tratamentos. Seu trabalho detectou, por exemplo, que pessoas com diabetes que estão se sentindo desesperançosas podem não melhorar porque não tomam medicação nem seguem dieta com regularidade.

Para tratar questões emocionais, além da psicoterapia há opções sem acompanhamento. Spiegel e seus colegas criaram um aplicativo que ensina técnicas de auto- hipnose para ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, melhorar o sono e reduzir dores.

OUTROS OLHARES

LIFTING CASEIRO NÃO TEM EFICÁCIA COMPROVADA

Populares nas redes sociais, massagens com aparelhos portáteis de microcorrentes ou rolos de pedra podem melhorar a drenagem linfática, mas não promovem a produção de colágeno, afirmam especialistas

Levante a mão se você já esticou a pele do rosto depois de se olhar no espelho, só para ver como você ficaria. Parabéns: você acabou de fazer um lifting facial em casa. Por alguns segundos, pelo menos.

Segundo um relatório da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, os americanos gastaram USS 16,7  bilhões em procedimentos cosméticos em 2020, quase USS 1, 9 bilhão em plástica facial. Perdendo apenas para a remodelação do nariz e das pálpebras, o lifting foi a terceira intervenção cosmética mais popular, com 234.374 cirurgias no ano passado –  um aumento de 75% em relação aos 20 anos anteriores.

Mas, e se você pudesse esculpir seu rosto sem precisar de cirurgia estética, sentado no sofá de casa? Plataformas de mídia social como Tik Tok e Instagram estão repletas de tutoriais de beleza que oferecem maneiras de “dar um tapa” na sua aparência por meio de massagem facial, aparelhos de microcorrente e até mesmo fita adesiva.

É POSSÍVEL CONSEGUIR RESULTADOS DE LIFTING FACIAL COM MÉTODOS CASEIROS?

Para ser franco, não.

“O “lifting facial caseiro” é um ótimo termo de marketing”, disse Jacob Steiger, um cirurgião plástico facial na Flórida. “Mas o que você vai conseguir em casa é apenas tratar da pele. Você nunca vai chegar a uma profundidade suficiente para consertar os ligamentos do rosto.

Nossos rostos contêm ligamentos que sustentam as estruturas da bochecha, do queixo e do pescoço. Conforme as pessoas envelhecem ­ geralmente por volta dos 40 ou 50 anos – elas podem começar a ceder, provocando bochechas caídas e papadas.

Um lifting facial, ou ritidectomia, é um procedimento “que levanta as estruturas da face” que estavam causando a aparência flácida, disse Steiger. Isso resulta em um rosto mais estreito e com contornos que podem fazer você parecer mais jovem.

Você pode melhorar a textura da pele com resurfacing a laser, ou laserterapia, com um dermatologista, ou criar a ilusão de um lifting com preenchimentos injetáveis. Você pode até mesmo esticar áreas ”problemáticas” com terapia de rádio frequência, um procedimento não cirúrgico de retesamento da pele que aquece camadas mais profundas para estimular a produção de colágeno e elastina.

Mas, mesmo esse procedimento tem limites, disse Debra Jaliman, dermatologista da cidade de Nova York.

Uma prática antiga bastante conhecida é a da fita adesiva, que as atrizes do cinema clássico costumavam usar. Mas a dermatologista Michele Green lembra que isso é apenas um truque:

“Quando você remove a fita, tudo volta ao estado anterior, como um castelo de cartas.

OS APARELHOS PORTÁTEIS DE MICROCORRENTES, FUNCIONAM?

Dispositivos de tonificação facial de microcorrentes, como os da NuFace e Zlip, afirmam levantar e enrijecer a pele usando uma corrente elétrica de baixa voltagem para estimular os músculos faciais na produção de colágeno e elastina. Mas os especialistas são indiferentes quanto à sua eficácia.

“Não há muitos dados substanciais ou estudos bem conduzidos mostrando fortes evidências de que esses dispositivos realmente promovem a tonificação da pele”, disse Rina Allawh, dermatologista na Filadélfia, segundo a qual algumas melhorias notadas por pacientes podem vir do soro utilizado no processo. “Muitos desses aparelhos, com bases em gel que contêm ácido hialurônico, um ingrediente que usamos em preenchimentos para ajudar a aumentar a elasticidade da pele”.

A MASSAGEM FACIAL PODE AJUDAR?

Massagear o rosto com um pedaço de jade ou quartzo rosa pode estar em alta nas redes sociais, mas os rolos gua sha e de jade têm sido usados na medicina chinesa há séculos para mover o fluxo de ”chi” (ou energia) do corpo e aliviar dores musculares e tensão, disse Giselle Wasfie, especialista em medicina chinesa e fundadora da “Remix Acupuntura e Saúde Integrativa, com sede em Chicago.

Sua utilização pode aumentar o fluxo sanguíneo, melhorar a drenagem linfática e reduzir a inflamação e o inchaço, além de ajudar a aliviar a tensão dos músculos do rosto e da mandíbula. Mas o que ele não fará é promover a produção de colágeno ou apagar rugas, alertou Allawh.

O QUE POSSO FAZER EM CASA PARA TER UMA APARÊNCIA MAIS JOVEM?

O melhor é investir em produtos para a pele, aconselha Jaliman. Um retinol, tônico de ácido glicólico, soro de vitamina C e um creme com niacinamida podem “realmente fazer sua pele ficar linda em casa”, disse ela. Você também pode experimentar um produto com ácido hialurônico para hidratação e um creme para os olhos com peptídeos para estimular a produção de colágeno. E, claro, o uso de protetor solar é fundamental.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 20 DE DEZEMBRO

UM ROSTO DE PEDRA

O homem perverso mostra dureza no rosto, mas o reto considera o seu caminho (Provérbios 21.29).

Há homens que são mansos e humildes de coração como Jesus, o meigo Rabi da Galileia; outros são perversos e maus como o rei Herodes, que impiedosamente mandou matar as crianças de Belém. Há homens que são amáveis no trato; outros são homens de pedra, cujo coração é duro como o aço. Há aqueles cujo rosto anuncia benignidade; outros carregam a dureza no trato estampada na própria face. A Bíblia fala de Nabal, homem incomunicável e duro no trato, com quem ninguém podia falar. Esse homem era rico, mas insensato. Dava festas de rei sem ser rei. Gostava de receber benefícios, mas era incorrigivelmente egoísta. Só pensava em si mesmo, e tudo o que tinha estava a serviço do seu próprio deleite. Esse homem foi ferido por Deus e morreu como louco, pois tinha um coração cheio de trevas e um rosto duro como mármore. Não é assim que age o homem reto. O justo considera o seu caminho. Reconhece seus pecados e chora por eles. O justo tem o coração quebrantado e o rosto banhado pelas lágrimas do arrependimento. O justo não é duro no trato, mas amável com as pessoas. O reto humilha-se diante de Deus e trata o próximo com honra. O justo é estimado na terra e mui amado no céu!

GESTÃO E CARREIRA

AS ARMADILHAS DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

Na pressa de se digitalizar, muitas companhias cometem erros graves, prejudicando os negócios e as pessoas. Saiba como evitá-los

Há quase dois anos, o Brasil estava parando. Em março de 2020, a pandemia de covid-19 chegou por aqui e, em pouco tempo, transformou as grandes metrópoles em cidades-fantasma. Vias movimentadas, como as paulistanas  Faria Lima e Berrini, ficaram desertas sem as centenas de trabalhadores que ocupavam os prédios da região. Os índices de congestionamento e de poluição despencaram no mundo todo, ao mesmo tempo que a demanda pela internet aumentou. As avenidas esvaziadas em centros comerciais eram reflexo da necessidade de isolamento social – o que levou as empresas a correr para colocar todo mundo trabalhando em casa.

Só que a maioria foi pega de surpresa. Segundo levantamento da Citrix, companhia especializada em workspace, 68% das organizações brasileiras não permitiam o trabalho remoto em 2019. Resultado: quando a pandemia chegou, a inépcia era geral e atingia diferentes instâncias, da infraestrutura à liderança. Embora focado em home office, o índice é sintoma de um problema mais profundo das empresas brasileiras: o despreparo para conduzir a transformação digital.

Essas duas palavras, que já ecoavam pelos corredores corporativos há alguns anos, viraram um mantra. Afinal, a realidade se impôs e a digitalização se tornou crucial para a sobrevivência dos negócios. Mas a pressa na condução desse processo faz com que muitas empresas caiam em armadilhas e acabem perdendo tempo, dinheiro, engajamento e talentos. Para que isso não aconteça, é preciso analisar a tecnologia compreendendo não apenas seus pontos positivos, mas os problemas que podem surgir no caminho – que vão muito além das falhas da VPN.

SOLUÇÃO PARA TUDO?

Basicamente, existem dois tipos de inovações: as incrementais, que tornam alguma atividade mais rápida ou eficiente, mas não mudam sua essência; e as paradigmáticas, que transformam a realidade em uma camada mais profunda, modificando as relações e trazendo à tona novas necessidades e desafios.

Essas inovações ocorrem em qualquer época – já existiam bem antes de Steve Jobs inventar o iPhone. A criação da prensa mecânica por Johannes Gutenberg no século 15, por exemplo, foi o estopim para uma revolução no compartilhamento de informações. Sem a necessidade de copiar manualmente os livros, a troca de ideias era mais veloz – e isso foi o cerne de uma mudança profunda na religião. Se não houvesse a prensa, a impressão da Bíblia (primeiro livro a ter essa tecnologia) não seria possível e, consequentemente, a Reforma Protestante, que impactou não apenas a fé, mas os costumes, a ética e o desenvolvimento de sociedades inteiras, não viria à tona. José Borbolla, especialista em ciência de dados e conselheiro na escola digital Tera, conta que a prensa criou até problemas de gestão nos governos da Espanha e de Portugal. Até então, os documentos das coroas eram simplesmente despachados com a assinatura dos reis, mas com a prensa veio a possibilidade de que outras rubricas oficiais fossem incluídas na papelada – o que se tornou regra e demandou a adaptação dos monarcas. Nada mais atual.

Com esse poder de mudar tudo rápida e profundamente, a tecnologia pode acabar trazendo uma ilusão perigosa: a sensação de que ela, por si só, é capaz de resolver tudo. “É uma ideia incongruente pensar que precisamos de mais tecnologia para nos salvar de nossa própria desgraça e que, lá na frente, teremos ferramentas para solucionar o que estamos vivendo hoje”, diz José. Mas esse pensamento mágico, batizado de solucionismo tecnológico – tão presente em vários discursos vazios sobre a transformação digital -, não vem de hoje.

O movimento positivista, por exemplo, já pregava no século 19, durante a Revolução Industrial, só ser possível acessar a verdade por meio da racionalidade – que encontrou sua expressão máxima no maquinário tecnológico, mais do que pela capacidade humana. Daí vem a crença, explica José, de que a solução pela tecnologia é a única narrativa possível para a humanidade. Um perigo, pois deixa de lado o que realmente temos de mais rico a oferecer, como a sensibilidade, a individualidade e a criatividade. Só que esses aspectos parecem estar massacrados por outra armadilha ardilosa da transformação digital: o culto cego aos dados.

DESCONFIE PRIMEIRO

A batida frase de que “os dados são o novo petróleo” descreve bem o momento em que vivemos. Com a internet, os smartphones e os aplicativos ficou fácil rastrear as pegadas digitais que deixamos enquanto usamos nossos dispositivos. Algoritmos e buscadores passaram a memorizar nossos gostos, hábitos, compras, endereços e até indicadores de saúde.

Na onda do mapeamento de dados, a área de gestão de pessoas começou a trabalhar com o people analytics (que engloba e cruza diferentes indicadores gerados pelos funcionários, da avaliação de desempenho ao uso do plano de saúde) e com a inteligência artificial (muito usada para otimizar o recrutamento). Por um lado, os dados podem ser interessantes para ler melhor as necessidades do negócio e compreender quais ações a companhia deve tomar em termos de desenvolvimento e engajamento das equipes, por exemplo. Por outro, devemos ter cautela ao pensar que sistemas algorítmicos são um reflexo completamente fiel do que está acontecendo. “Os dados vão até certo ponto”, explica Vinicius Picollo, consultor especializado em estratégia e cultura digital.

É por isso que o pensamento crítico humano sempre precisa embasar a coleta e a análise de informações, além de acompanhar de perto a criação e o desenvolvimento de sistemas como o machine learning. Se uma inteligência artificial não estiver o tempo todo sendo monitorada de maneira criteriosa, corre o risco de reproduzir padrões condenáveis de comportamento. Ficou famosa uma experiência da Microsoft em 2016, quando a empresa criou um perfil de ‘Twitter para Tay, sua  robô de interação social. A ideia era que, com base nas conversas com os usuários, ela criasse seu próprio conteúdo. Tay seria “ensinada” pela rede, como são muitos chatbots hoje. No começo, suas postagens eram inocentes e bem-educadas, dizendo que os seres humanos eram muito legais. Mas em 24 horas a IA foi corrompida: tornou-se racista, homofóbica e defensora do nazismo. O experimento fez com que a Microsoft deletasse o perfil de Tay e serviu de alerta para o fato de que, sozinhas, as inteligências artificiais podem reproduzir o que há de pior na humanidade.

Outro foco de atenção quando falamos de dados é atentar aos “pontos fora da curva”, os comportamentos ou indicadores que não são mapeados pelos sistemas de análise. “Os algoritmos vão criando bolhas e repetem padrões. Por isso, não podemos deixar tudo nas mãos das máquinas. Elas terão vieses que farão com que elementos que seriam importantes para a mudança sejam deixados de lado, o que é péssimo para empregador e empregado”, diz Vinicius.

Ou seja, para conquistar bons resultados, temos que desconfiar das tecnologias. E, em hipótese nenhuma, devemos delegar a elas o processo decisório um erro muito comum de diversas lideranças que esperam que os robôs digam qual é o melhor caminho a seguir. “A inteligência artificial não toma decisão. Ela apenas lê aquilo que você escolheu para ser imputado no sistema”, diz Michele Martins, vice ­ presidente de RH da Neoway, empresa de big data. Evita-se esse problema garantindo a qualidade e a origem dos dados. Um exemplo: se a companhia quer melhorar os índices de diversidade no recrutamento, não pode criar um algoritmo de seleção baseado em perfis de empregados que não fazem parte dos grupos minoritários. Isso enviesaria o algoritmo e o colocaria longe dos resultados a serem alcançados.

NOVOS PARADIGMAS

Por estarmos vivendo uma transformação paradigmática, encaramos um impasse: há atitudes que ainda são repetidas, mas que simplesmente não fazem mais sentido neste novo cenário. O trabalho remoto e flexível, por exemplo, traz à tona uma série de desafios para todos. O mais profundo deles, talvez, seja o da autogestão. Uma vez que não há mais o “olho físico” da empresa sobre os funcionários, cada um passa a organizar as próprias entregas e agendas. “Estamos forçando as pessoas a ter uma autonomia muito maior e a criar seus processos de trabalho. Cada um está numa casa diferente, não tem mais como a empresa definir o processo”, diz Anderson Sant’Anna, professor na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp).

O resultado é que o culto do comando e controle precisa cair por terra. Para que o home office funcione, laços de confiança, avaliação por entregas (e não por tempo de trabalho) e objetivos compartilhados são essenciais. O problema é que nem todos conseguem se adaptar à nova ordem, ainda mais em companhias que valorizavam chefes controladores antes da pandemia. O resultado é uma empresa doente, com líderes que desconfiam de seus times e apelam para o microgerenciamento na ânsia de saber o que, como e quando eles estão produzindo. Os liderados, por sua vez, se sentem esgotados porque, além de trabalhar, precisam “mostrar serviço”.

NA MESMA PÁGINA

Um levantamento da consultoria Bain & Company feito em 2019 mostra que apenas 8% das empresas conquistam suas metas depois da transformação digital. Isso faz pensar e traz uma lição importante: não trocar ferramentas sem que elas estejam conectadas com as necessidades reais do negócio. Mas é o que acontece o tempo todo. Segundo Luís Banhara, diretor-geral ela Citrix, as companhias correram, em março de 2020, para implementar tecnologias e conseguir ficar, nas palavras dele, “com a cabeça fora da água”. O desespero passou, e agora chegou o momento de ver o que está funcionando – e muita coisa não está. “É uma colcha de retalhos que torna a vida dos funcionários miserável”, explica o executivo.

José Borbolla traz uma história elucidativa sobre os “puxadinhos tecnológicos”. Em um evento de lançamento de uma nova tecnologia numa grande empresa, ele foi chamado no café por alguns funcionários. A turma confessou que ninguém sabia usar o novo sistema e que, para driblá-lo, um colega tinha feito uma nova programação no bom e velho Excel. O CEO estava falando para o vazio – e perdendo tempo e dinheiro. “As pessoas usam o que conhecem”, afirma José.

Não é à toa que 94% dos empregados se sentem excluídos da transformação digital de suas empresas, segundo o relatório Four Insights on the Culture of Digital Transformotion Todoy, feito em 2020 pela consultoria Futurum Research em parceria com a Pega, empresa de desenvolvimento de softwares, que ouviu 500 líderes e empregados na América do Norte e na Europa. O levantamento revela ainda que 45% dos profissionais não sabem como ajudar suas empregadoras nesse processo. Por isso um projeto de transformação digital não pode, nunca, estar desvinculado da reformulação da cultura corporativa – o que significa treinar para uma nova mentalidade.

É necessário, por exemplo, desenvolver competências como pensamento crítico e data literacy (“alfabetização em dados”, numa tradução livre). Essas habilidades se tornam fundamentais para que líderes e liderados compreendam que dados não representam a realidade e que as métricas estabelecidas por uma companhia não podem se confundir com as metas que devem ser alcançadas – um erro comum em corporações que estão se transformando digitalmente. Em muitos casos, em vez de olhar para um objetivo de longo prazo, como o aumento da inclusão, as chefias ficam obcecadas pela métrica que pode (ou não) levar à conquista da meta, como o número de integrantes de grupos minoritários no quadro da empresa. “Isso é falho, porque você pode ter a quantidade de pessoas, mas não ter uma cultura diversa”, explica Vinicius, consultor de estratégia digital.

CONSCIÊNCIA SOCIAL

Uma das consequências mais discutidas sobre a transformação digital é a extinção de algumas profissões. Um estudo feito em 2013 pelo economista Carl Frey, diretor do programa Futuro do Trabalho na Oxford Martin School, da Universidade de Oxford, estima que 50% das profissões exercidas em países em desenvolvimento – como o Brasil – desaparecerão em 20 anos. As tarefas que estão com os dias contados, segundo o especialista, são as repetitivas. O perigo já é percebido pelos brasileiros. Por aqui, uma em cada três pessoas teme ser substituída por máquinas ou por programas de computador, segundo um estudo da Universidade de Oxford e da seguradora Zurich. Além disso, um levantamento da consultoria Degreed mostra que 65% dos brasileiros acreditam que suas habilidades profissionais estão em risco.

Nesse contexto, a educação continuada se mostra essencial. E, em um país com tantos problemas de ensino como o Brasil, as empresas têm um papel importante para desenvolver a força de trabalho. Se não fizerem isso, correm o risco de ficar sem profissionais qualificados para tocar os negócios.

Antônio Salvador, líder da área de carreira da consultoria Mercer, coautor do livro Transformação Digital Uma Jornada que Vai muito Além da Tecnologia (Atelier de Conteúdo, 44,90 reais) e experiente executivo de recursos humanos, recebeu inúmeros relatos de trabalhadores que, por falta de oportunidade, não possuíam o mínimo de capacitação. “Alguns não têm o básico para fazer contas de subtrair, mexer numa caixa registradora, usar o tablet, tirar um pedido. Não têm o elementar”, conta. Esse pessoal, que já fica prejudicado em um mercado que ainda emprega para funções operacionais de baixa complexidade, seria deixado totalmente para trás na corrida da transformação digital.

Essa apreensão, que se tornou mais forte durante a pandemia por causa dos altos índices globais de desemprego, já estava no radar do Fórum Econômico Mundial em 2019 em seu relatório O Futuro dos Empregos. No documento, ficava clara a preocupação de que, se a Quarta Revolução Industrial – conceito criado por Klaus Schwab, fundador do fórum, para representar o período de disrupção tecnológica que vivemos – não fosse conduzida com cuidado pelos países e pelas empresas, haveria um grande risco de os índices de desigualdade aumentarem em todo o mundo. “É fundamental que os negócios adotem um papel ativo para apoiar sua atual força de trabalho com base na requalificação, que os indivíduos se concentrem em seu aprendizado a vida inteira e que os governos criem um ambiente que facilite essa transformação da força de trabalho”, disse Klaus Schwab na época, segundo reportagem da RFI Brasil em Londres publicada no UOL.

Quando há desenvolvimento e segurança, os profissionais ganham força para parar de atuar como máquinas e se tornar mais humanos – utilizando competências essenciais para a inovação. “Como gestores, precisamos olhar para as oportunidades que aumentem o potencial humano e que tornem pessoas vistas como operacionais capazes de agregar com criatividade, inovação e tomada de decisão em cenários complexos”, diz Michele, da Neoway. Sem essa percepção, corre-se o risco de cair na maior armadilha para a transformação digital: deixar que as máquinas assumam o comando. Ou pior: robotizar nossa própria humanidade.

EU ACHO …

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?

Neste fim de ano, cuide muito do seu mundo imediato; cultive a mais profunda esperança

A frase é do poeta e pregador John Donne (1572-1631). O inglês comentava que não deveríamos perguntar, quando o toque no campanário anunciava uma morte, por quem era o som. A humanidade é uma e ninguém, portanto, é uma ilha. Assim, independentemente de quem estivesse sendo velado ou rememorado, os sinos dobravam por você, sempre… (“And therefore never send to know for whom the bell tolls; It tolls for thee”).

A frase foi usada como título de Ernest Heningway, em 1940, em romance sobre a terrível Guerra Civil Espanhola. Dali surgiu um clássico do cinema com a mesma dúvida de Donne, estrelado por Gary Cooper e Ingrid Bergman. O diretor, Sam Wood, foi o mesmo que terminara a filmagem de …E O Vento Levou, depois que Victor Fleming abandonou o set em uma crise de estresse. Por fim, o tema do toque de Finados moveu Raul Seixas a compor música com o mesmo título. Em versos de teor psicanalítico, o baiano colocou na letra: “É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro/E vira o aperto de mão de um possível aliado/Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo/Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo”.

Os sinos dobram por nós. Somos pan e de um todo. Cada homem ou mulher que termina sua existência torna a humanidade menor. A retirada de uma pequena porção de terra de um vasto território pode não se mostrar logo, mas o continente ficou menor. A metáfora é poética e religiosa.

O ano de 2021 foi de enormes perdas humanas no Brasil e no mundo. Ficamos bem menores com a pandemia. Entre tantas tragédias, eu perdi dois amigos. No começo dele, foi-se Contardo Calligaris (que não morreu de coronavírus). Era cheio de vida e  transbordava de ideias e de planos. No fim do ano da peste, faleceu Marcelo Cunha, conhecido oftalmologista de São Paulo.

A convite da família Cunha, falei na igreja na missa de réquiem. Seguindo Donne, toda liturgia de finados é para nós. Ritos fúnebres sempre nos envolvem pelo afeto a pessoas amadas e pelo medo que ronda a incerteza do nosso destino. Choramos por quem vai e pelos que ficam. Choramos por nós. Fiz, na Igreja São José, apinhada, o elogio necessário e sincero a um grande amigo, pai, avô, médico, marido e cidadão. Lembrei-me do seu humor refinado e atenção com os outros.

Fiz muitas viagens com Marcelo e Rosana, sua esposa. Na missa, lembrei-me de uma frase confessional enunciada diante do Muro das Lamentações, em Jerusalém.  Estávamos de quipá, separados das mulheres (a área de visita é diferente). Diante do Kotel, ele me disse que tinha  pouco a lamentar e que a vida dele era intensa e feliz. Ele avaliava, sem saber que era profético, que a vida dele tinha valido a pena e que ele poderia morrer tendo feito o que queria fazer. Respondia à pergunta do filósofo Luc Feny: “O que é uma vida bem-sucedida?”.

Vou citar outro inglês. O arquiteto da monumental  catedral Saint Paul, de Londres, foi Sir Christopher Wren. Enterrado na base daquele prédio, a lápide anuncia, em latim, que se algum leitor quiser ver obras, monumentos  da sua autoria, basta olhar ao  redor (“Lector: Simonumennun requiris circumspice”). Para aferir o gênio de Wren, basta olhar ao redor do túmulo e teremos a prova em perda. O talento dele cobre à memória do túmulo. Pensei na ideia naquela missa na Igreja de São José, aliás, o padroeiro da boa morte no mundo católico. Se ele quisesse ver as obras do Marcelo, ali estavam: a família, os pacientes, os amigos e os funcionários da Clínica e da Fundação. Ali, do púlpito, eu via a construção de uma vida: pessoas gratas e emocionadas. Naquele dia 19 de outubro de 2021, entendi que os sinos dobravam por nós. Todavia, não apenas anunciavam seu toque melancólico de dor, também o repicar entusiasmado de vida. Os sinos badalam sem cessar, pela ilha-homem que se liga ao arquipélago vasto da humanidade, somos o bem que fizemos, resta  o  carinho como obra, imortaliza-se o amor. Sim, os dois netos pequenos, Gabriele Cecília, talvez não se lembrem do avô brincalhão no futuro, mas a vida do Marcelo estava neles e eles levarão adiante o dever de tocar mais sinos, anunciando a todos que a lista de passageiros muda sempre e que a viagem continua.

A obra dele continua na visão de milhares de pessoas que ele tratou, a minha inclusive. O toque é por todos nós, em sons eufóricos a bimbalhar ou em toque de nênias. Vida que fica ou que segue: do alto das torres os sinos mostram nossa combalida mortalidade como um hiato possível de felicidade entre dois toques, o do nascer e o de morrer.

Querem obras, querida leitora e estimado leitor? Olhem para as pessoas ao seu redor. Há novos sineiros a cultivar. Hoje, aniversário da morte do meu pai, ouço o som forte dos carrilhões que ele amava escutar. Há algo maior indicado por Donne, algo que nos excede: cada outra pessoa que seguirá quando eu, ser oxidável, deixar de poder ouvir qualquer coisa. Cuide muito das obras ao seu redor. É isso que move os sinos da eternidade e do afeto. Os sinos choram e riem conosco, como a vida. Neste fim de ano, cuide muito do seu mundo imediato. Cultive, no seu campanário, a mais profunda esperança!

*** LEANDRO KARNAL

ESTAR BEM

OS SETE TIPOS DE CANSAÇO E COMO ENFRENTÁ-LOS

Comece se perguntando onde você usa a maior parte de sua energia ao longo do dia e os efeitos que isso causa no corpo. Assim, será possível criar estratégias para se recuperar

Para ter saúde, é preciso muito mais do que não ter alguma doença. Em resumo, pode-se dizer que estar com saúde tem o mesmo valor de estar descansado. O difícil é identificar o tipo de descanso necessário.

“Acredito que precisamos de uma mudança de pensamento. A maior parte do nosso foco, hoje em dia, está na produtividade e isso nos coloca numa roda de exaustão”, diz a psiquiatra Saundra Dalton-Smith, que identifica em seu livro Sacred Rest: Recover Your Life, Renew Your Energy, Restore Your Sanity (Descanso Sagrado: recupere sua vida, renove sua energia e restaure sua sanidade, em tradução livre) sete tipos de cansaço e, para cada um, uma forma de descanso.

Diferentemente do que se pode imaginar, não se cura o cansaço só com uma boa noite de sono, porque descansar não é o mesmo que dormir. “As pessoas não dizem que estão com sono, mas sim que estão cansadas. Existe uma confusão muito grande entre cansaço e sonolência”, diz a médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono. “Claro que o sono tem papel reparador, mas muitas vezes o cansaço pode até te impedir de dormir.”

A pandemia, com seus excessos de telas, informação e estresse, causou mais cansaço na sociedade – a mesma que, já em 2010, era chamada de Sociedade do Cansaço pelo filósofo Byung Chui Han. Hoje, tempo e sono se tornaram raros diante de uma demanda cada vez mais acelerada e exigente.

Para reconhecer o tipo de cansaço sentido e saber como se recuperar, é essencial se perguntar onde você está usando mais a sua energia durante o dia e os efeitos que isso causa no corpo. “Comece perguntando a si mesmo: ‘Que tipo de cansaço eu sinto?’. Pense no trabalho que você faz todos os dias – seja em um escritório, um prédio ou na sua casa. E comece a entender como você gasta sua energia, repassando cada um dos sete tipos de cansaço. Normalmente, a área em que você mais usa energia é a que tem maior probabilidade de ser deficiente de cansaço.” Veja abaixo os sete tipos:

CANSAÇO FÍSICO

É associado ao esforço físico e à fraqueza muscular. Comum depois de um dia todo caminhando ou após voltar a treinar. Também está associado a pessoas muito agitadas e com acúmulo de estresse, o que impede uma boa noite de sono. Para descansar, tente fazer alongamentos ao longo do dia, massagem e ter bons hábitos noturnos, como evitar coisas estressantes e estimulantes quando estiver na cama e ir dormir no mesmo horário.

CANSAÇO MENTAL

Já passou horas pensando cm algo que aconteceu ou que irá acontecer num futuro próximo? Os “overthinkers” (quem pensa demais) dominam esse tipo de cansaço. Em uma sociedade que compara produtividade a sucesso e exige que façamos múltiplas tarefas, todos recebem sua dose de ansiedade, esquecimento e preocupação. Para acalmar a mente, meditação é uma boa, mas atividades lúdicas como jogos e esportes, brincar com o pet e até cozinhar podem ajudar.

CANSAÇO EMOCIONAL

Já ouviu falar em pressão psicológica? A ideia de se colocar acima do outro e causar danos emocionais pode acontecer em locais de trabalho, casamentos e até amizades. Porém, na sociedade do cansaço, os indivíduos são “empresários de si mesmos”, de acordo com Byung Chui Han, o que faz com que sejamos nosso pior inimigo – sempre adicionando coisas na lista de tarefas. Falta de disposição, irritabilidade, tristeza profunda, angústia e pânico são alguns dos sintomas. O autoconhecimento é a chave. Terapias, escritas matinais e momentos de introspecção com atividades prazerosas e calmas são ideais. Tente impor limites.

CANSAÇO ESPIRITUAL

Não tem a ver com religião, mas sim quando vamos contra nossos princípios. Os principais sintomas são: medo da morte, sentimento de abandono e falta de pertencimento e perda da esperança. Redefinir seus propósitos de vida, prioridades e exercitar a compaixão podem ser interessantes. Também vale passar um tempo em contato com a natureza, fazer orações ou tomar um banho de ervas energizantes.

CANSAÇO SENSORIAL

O excesso de estímulo dos nossos cinco sentidos é a causa. Cheiros fortes, luz intensa, barulhos constantes. Durante a pandemia, pelo uso exacerbado das telas, o cansaço ganhou novas proporções. Uma maneira de recuperar a energia é ficar longe do celular e do computador e encontrar espaços neutros, como parques ou ambientes arejados.

CANSAÇO SOCIAL

Imagine-se em um jantar com a família do futuro namorado ou o primeiro dia na escola nova. Esforçar-se para agradar os outros pode ser cansativo. Ele também surge quando passamos algum tempo com pessoas que sugam nossas energias. O descanso está em ficar perto de pessoas que fazem bem e nos apoiam (mesmo virtualmente) e saber identificar esses contatos sociais positivos e verdadeiros.

CANSAÇO CRIATIVO

Se a procrastinação é sua melhor amiga no dia a dia, pode ser que você esteja cansado criativamente. Adiar tarefas importantes, ignorar prazos e ter falta de energia para inovar são alguns dos sintonias. Além da irritabilidade e de dúvidas sobre o trabalho, se ele está sendo bem-feito. As atividades automáticas, como tomar banho, escovar os dentes, lavar o rosto ou a louça podem ajudar. É importante também estabelecer momentos de ócio para recuperar a inspiração.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MECANISMO BIOLÓGICO EXPLICA PORQUE FAZ TANTO BEM FAZER O BEM

Pesquisas atestam: ato de ajudar leva à liberação de neurotransmissores, como dopamina e ocitocina, que trazem a sensação de felicidade

De segunda a sábado, faça chuva ou faça sol, a professora Claudia Carvalho, de 55 anos, sai do trabalho às 18 horas e vai para a sede da ONG Assistência sem Fronteiras, na zona sul de São Paulo, da qual é voluntária. Lá, coloca no seu carro o caldeirão de sopa quente que vai distribuir à população em situação de rua, em diversos pontos da cidade. A rotina é puxada, mas ela diz sentir-se recompensada. “Parece mágica. Muitas vezes cheguei para o trabalho voluntário com dor de cabeça, preocupações, cansaço, mas saía renovada.”

Mecanismos biológicos e sociais justificam a sensação positiva vivida por Claudia nesse voluntariado. A prática de atos de generosidade ativa o sistema límbico, um conjunto de estruturas presente no cérebro que controla comportamentos ligados à nossa sobrevivência, que desencadeia a liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina, ocitocina e endorfinas, explica o psicobiólogo Ricardo Monezi, pesquisador de  fisiologia do comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Essa liberação de neurotransmissores tem efeitos em muitos sistemas. Pesquisas já comprovaram efeitos positivos, como melhora de dores crônicas, como a fibromialgia, e  benefícios ao sistema cardiovascular, além da sensação de felicidade e realização”, diz.

E quanto mais se pratica o altruísmo, maior é a vontade de continuar a praticar, avisa o psicobiólogo. “Há um sistema de recompensa que deixa a pessoa ‘viciada’ nessa boa sensação. Por isso, ela tende a ficar cada vez mais generosa”.

Quem pratica generosidade exercita a compaixão, o que proporciona o sentimento de gratidão, relata a psicóloga clínica Lina Sue, do Curso de Terapia Cognitiva do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da  USP. “E quando temos gratidão, o cérebro entende que está tudo bem, o que resulta em bem-estar”,  afirma. Em seu mestrado, em  2018, Lina conduziu uma terapia em grupo com treino de habilidades de compaixão para pacientes com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Tept), que vivenciaram ou testemunharam doenças, tragédias, violência sexual e a percepção de morte – real ou não. Ao final, houve, na média, um aumento de 22% na escala de autocompaixão, com redução dos sintomas: Tept (54%), depressão (41%), ansiedade (32%) e desesperança (34%). Além disso, diminuiu a sensação de vergonha e autocrítica.

EVOLUCIONISMO

Comportamentos relacionados à generosidade, à doação e à ajuda ao próximo são importantes para o ser humano como espécie, dentro de uma perspectiva evolucionista, explica a psicóloga Mayara Wenice de Medeiros, do Laboratório de Evolução do Comportamento Humano (Lech), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Por sermos uma espécie que vive em sociedade, esses comportamentos são importantes para a nossa sobrevivência”, avisa.

Segundo ela, há estudos mostrando que bebês de poucos meses de vida já apresentam comportamentos de generosidade e preferem interagir com pessoas que fazem o mesmo. Funciona como uma moeda de troca: “É um mecanismo biológico que foi desenvolvido ao

longo da história da espécie”. Ela menciona também o “altruísmo recíproco”, que leva uma pessoa a ajudar outra pensando na possibilidade de precisar dela no futuro. “Isso não é premeditado, mas inconsciente”, explica Mayara.

Para que a generosidade proporcione bem-estar, é preciso que a motivação seja a capacidade de amar o próximo, na visão de Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP. “O senso comum diz que é melhor dar do que receber. Isso tem  embasamento científico”, afirma.  “Freud dizia que a capacidade de amar e trabalhar define a saúde mental. E esse ‘amar’ não se refere somente a um parceiro, mas também a outras pessoas e ideais. “Para ter esse amor, é preciso que a pessoa tenha obtido conquistas do desenvolvimento pessoal”, explica. Ou seja, se a culpa, a vaidade ou a ansiedade forem as motivações para uma ação altruísta, pode não haver o mesmo  bem-estar. “Se uma pessoa sente que não é merecedora e pratica ações solidárias para aplacar sua culpa, por exemplo, não faz bem.” Leila também fala da importância de ter autoestima, se respeitar. “A ação tem de fazer sentido para quem a pratica e para quem a recebe. Como humanos, receber também é relevante quando se necessita.”

BOM HUMOR

Quem se voluntaria para ajudar nas ONGs e instituições nunca está de mau humor nas ações sociais ou ambientais, na percepção de João Paulo Vergueiro, de 41 anos, um dos coordenadores do Dia de Doar, que no dia 30 de novembro promoverá mobilizações em todo o País por doações a projetos de impacto social e ambiental. “Quando uma pessoa percebe que está fazendo a sua parte, tem uma sensação de pertencimento que  proporciona bem-estar”, argumenta.

Atualmente, Vergueiro faz doações financeiras a cinco projetos sociais e é conselheiro de três ONGs. Além disso, faz voluntariamente o jornalzinho da paróquia do bairro onde cresceu. “Mesmo que a doação seja pequena, penso que outras pessoas estão fazendo o mesmo e que juntos estamos fazendo a diferença na vida de quem precisa de ajuda. Isso me deixa muito feliz.”

COMO DOAR E AJUDAR

Quer começar a praticar voluntariado ou fazer doações a ONGs e iniciativas sociais? Veja alguns canais que fazem essa ponte.

ATADOS

Nessa plataforma de voluntariado você encontra vagas nas ONGs e projetos sociais e ambientais em todo o Brasil. Tem uma ferramenta de busca por vagas com filtros como de localidade, causa e habilidade. Site: www.atados.com.br.    

BSOCIAL

Essa plataforma tem como principal objetivo fazer a ponte entre doador e beneficiados, selecionando projetos e ONGs relevantes e de credibilidade. Site:  www.bsocial.com.br.

DIA DE DOAR

O movimento mundial criado para promover a doação vai intensificar suas atividades no dia 30 de novembro. Para acompanhar e participar, vá no perfil do Instagram @diadedoar.  

DROPS OF ACTION

O perfil no Instagram reúne e apresenta iniciativas sociais e ambientais com objetivo de facilitar para o público geral as doações, voluntariado e outras atitudes que ajudem quem precisa. No @dropsofaction.

VOAA

O canal Razões para Acreditar, que divulga histórias de superação, tem um site voltado a vaquinhas para apoiar as causas que eles compartilham. Confira (e contribua) no https://voaa.me.

OUTROS OLHARES

DIVERTIDOS E ESQUISITOS

Os acessórios da temporada primavera/verão de 2022 chegam às passarelas permeados por toques de surrealismo e nostalgia. A proposta é subverter. Quem se atreve?

Até hoje, a pintura A Traição das Imagens (La Trahison des lmages, em francês), do artista belga René Magritte, confunde muita gente. O quadro, pintado em 1929 e hoje exposto no Museu de Arte de Los Angeles, nos Estados Unidos, faz parte de uma série na qual a imagem realista é acompanhada da inscrição “Ceein’est pas une pipe” (Isto não é um cachimbo, em português). Trata-se de uma obra-prima surrealista. Ao causar estranheza, estimula o espectador a entender o que está acontecendo ali. O quadro transcende a compreensão racional, relacionando-se diretamente com o imaginário e o absurdo.

Guardadas as mais que devidas proporções, foi um pouco desse desafio entre o lógico e o surreal que tomou conta dos espectadores da última edição da Semana de Moda de Paris –   a primeira presencial desde o início da pandemia – realizada entre setembro e outubro. Fashionistas são pessoas habituadas a ver coisas inusitadas, mas é fato que a temporada primavera/verão 2022 virá mais incrementada nesse quesito, em especial pela criação de acessórios surpreendentes e, por que não dizer, surreais. Ou, nas palavras dos designers, experimentais. “Fazer um show agora é como assumir uma forma estranha de um ato surrealista. É quase um ato neurótico, porque tudo é normal, mas ao mesmo tempo não é”, disse Jonathan Anderson, estilista da Loewe, marca que mais chamou atenção nas apresentações.

E logo ela, a grife preferida da realeza espanhola desde 1905, quando o rei Alfonso XIII nomeou o fundador Heinrich Loewe Rõssberg como designer oficial da casa real em reconhecimento aos seus clássicos sapatos de salto alto. Agora, os modelos vêm repletos de um evidente desejo de liberdade e espontaneidade criativa. “Não queria algo totalmente baseado na realidade”, explicou Anderson. O resultado foi uma sucessão de sandálias com saltos divertidos e bem esquisitos: em formato de sabonete, vela de aniversário, vidro de esmalte, rosa vermelha pisada e até ovo quebrado – um claro desafio às noções de normalidade. O salto alto é o maior sinônimo da autoestima feminina. Na passarela da Loewe, era como se as mulheres, não à toa intituladas “neuróticas, psicodélicas e completamente histéricas”, estivessem reaproveitando os objetos com os quais passaram meses e meses em casa para finalmente sair da escuridão da pandemia em direção à diversão.

Intervenções do gênero também apareceram em outros fashions shows seguindo o mesmo intuito de criar formas de escapismo para o período difícil que o mundo enfrenta. Batman, personagem criado pela DC Comics em 1939, ressurgiu em versão vintage e estilizada estampando sneakers e bolsas na passarela da Lanvin. Sapatos usados em casa ganharam suas versões exóticas nos desfiles. Loewe e Fendi, por exemplo, apostaram nos acessórios de pelúcia. Já Simone Rocha, Versace, Anna Sui, Miu Miu e Vivienne Westwood mergulharam no lúdico e trouxeram de plataformas pesadas a sandálias delicadas com meias, inclusive estampadas de motivos infantis. Do deslumbre das passarelas à realidade das ruas, no entanto, há uma distância imensa. Por isso, é de indagar se modelos à la Magritte serão vistos nos shoppings, restaurantes, cinemas. A designer de sapatos de luxo Adriana Farina acha que sim. Principalmente os divertidos criados pela Loewe. “Os saltos esculpidos são grande tendência. Dentro de um conceito do que é usável, a moda pega”, diz. Adriana lembra que os brasileiros gostam de roupas e acessórios inusitados e exclusivos, mesmo que sejam um pouco estranhos. “Especialmente entre os mais jovens, que também os usam em seus vídeos na internet.” É verdade. Se fica bem na passarela, vai fazer sucesso nas redes sociais. Ainda mais quando se fala de bolsas e sapatos, ótimos recursos para causar sensação. Como disse Marilyn Monroe: “Dê a uma mulher os sapatos certos e ela poderá conquistar o mundo”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 19 DE DEZEMBRO

A TESTEMUNHA FALSA PAGA COM A PRÓPRIA VIDA

A testemunha falsa perecerá, mas a auricular falará sem ser contestada (Provérbios 21.28).

A testemunha é uma pessoa que viu, ouviu e presenciou um fato e, perante juízo, narra com fidelidade os acontecimentos relacionados. Uma testemunha fidedigna está disposta a morrer, mas não a mentir sobre o que viu e ouviu. A palavra grega para “testemunha” é martíria, de onde vem a nossa palavra “mártir”. Pedro respondeu ao Sinédrio judaico diante das suas ameaças: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que  vimos e  ouvimos (Atos 4.19,20). Se a testemunha verdadeira prefere morrer a mentir, a testemunha falsa, por ocultar e torcer a verdade diante do tribunal, não ficará impune. A testemunha falsa morrerá. Primeiro vem a morte da credibilidade e do respeito. A verdade virá à tona, e a testemunha falsa cairá no opróbrio e no desprezo público. Depois vem a morte da honra. Uma pessoa mentirosa, que vende sua consciência por favores imediatos, será considerada maldita pelos homens e reprovada por Deus. Finalmente vem a morte eterna, pois os mentirosos não herdarão o reino de Deus. A menos que a testemunha falsa se arrependa, seu fim será receber a merecida punição do seu erro.

GESTÃO E CARREIRA

ETERNOS APRENDIZES

Para acompanhar as transformações do mundo e as novas oportunidades do mercado, o caminho é nunca deixar de aprender. Como as empresas podem ajudar os funcionários a se desenvolverem?

A mudança é a única constante. Essa é uma das máximas do historiador israelense Yuval Noah Harari em 21 Lições para o Século 21 (Companhia das Letras, 59,90 reais), lançado em 2018. “Se você se apegar a qualquer tipo de identidade, emprego ou visão de mundo estável, corre o risco de ficar para trás enquanto o mundo avança. Para se manter social e economicamente relevante, é preciso ser capaz de aprender e se reinventar constantemente”, escreve o autor.

Ser um eterno aprendiz é o que se espera do indivíduo e do profissional do presente e do futuro. O avanço cada vez mais veloz da tecnologia e a automação de processos vêm provocando mudanças profundas no mercado e nas relações de trabalho. Profissões tradicionais estão deixando de existir para outras, que sequer imaginávamos há até pouco tempo, surgirem. Tem mais: com o aumento da expectativa de vida e a permanência dos profissionais por mais tempo no mercado, será necessário atualizar constantemente o repertório de conhecimento.

“Estar aberto a todo tipo de experiência e saber transformá-la em aprendizado aplicável à vida e ao trabalho à medida que o mundo demanda é uma das competências mais importantes a se desenvolver”, afirma Roberta Campana, diretora de educação e inovação na Fundação Dom Cabral. É o que se chama de lifelong learning, ou aprendizado ao longo da vida. O conceito não é novo. Ganhou força nos anos 1990, quando o economista e político francês Jacques Delors presidiu a Comissão Internacional sobre Educação para o Século 21, da Unesco, e apontou a necessidade de uma educação extensiva por toda a vida como condição para navegar na sociedade do conhecimento. No documento Educação, um Tesouro a Descobrir, Delors destaca a necessidade de trocar o saber baseado na absorção de conhecimento transmitido pelo professor e restrito ao ambiente da sala de aula por uma abordagem autônoma, holística e capaz de preparar o indivíduo para se tornar independente e socialmente competente, e não talhado para se encaixar no mercado de trabalho. Mais importante do que diploma ou título, o que conta é saber pensar, selecionar informações, se relacionar (consigo mesmo e com os outros), “desaprender” o obsoleto ou desnecessário e “reaprender” de acordo com as demandas do mundo e dos negócios.

Em janeiro de 2017, a revista The Economist trouxe na capa e em reportagem especial o tema lifelong learning como saída imperiosa para os trabalhadores sobreviverem à era da automação e os negócios se manterem lucrativos. Foi a deixa para muitas empresas passarem a dar mais atenção ao assunto, criando ou revisando políticas e programas de desenvolvimento.

MUITO ALÉM DO DIPLOMA

Se até um passado recente o diploma universitário era o passaporte para o mercado de trabalho e o MBA era o mais longe que muitos profissionais enxergavam ao pensar em continuar estudando depois de formados, hoje não é mais assim. É claro que faculdade e pós-graduação seguem sendo caminhos válidos e são pré-requisitos para conseguir alguns empregos. Mas ser um eterno aprendiz vai além de frequentar aulas. “A educação não formal, fazer cursos livres de temas variados, por exemplo, e a informal, que é aquele conhecimento que você absorve em toda parte, seja assistindo a um programa de TV, viajando, seja conversando com uma criança, contam mais do que nunca”, diz Vivian Rio Stella, pesquisadora de lifelong learning e idealizadora da VRS Academy.

Dentro das organizações, apoiar os empregados por meio de oferta de cursos, treinamentos e subsídios para educação é a saída para desenvolver e manter talentos. “Muitas empresas têm dificuldade de contratar para determinadas funções por falta de qualificação, o que se deve em parte a falhas em nosso sistema de educação. E trazer profissionais prontos do mercado pode acabar saindo caro, além do risco de não haver alinhamento cultural”, diz Rafael Ricarte, líder de produtos de carreira da Mercer no Brasil. “Investir na requalificação e no crescimento dos já contratados pode ser mais demorado, mas é mais barato, gera valor ao negócio e profissionais mais satisfeitos.”

Não que seja responsabilidade exclusiva do empregador, chefe ou área de recursos humanos cuidar do desenvolvimento dos funcionários – mais do que nunca eles devem ser protagonistas da própria aprendizagem e trajetória profissional. Mas cabe às empresas apoiá-los na busca por aprimoramento. “Em primeiro lugar, é preciso fomentar uma cultura de lifelong learning, em que se instigam e valorizam a curiosidade e a autogestão do conhecimento”, afirma Mariana Achutti, CEO da Sputnik, escola de educação in company.

A partir daí, rodar pesquisas e ouvir as equipes sobre interesses e expectativas em relação à educação vai orientar uma curadoria eficiente de conteúdos e formatos de ensino, que deve ser variada o bastante para atrair e atender profissionais com personalidades e anseios de carreira distintos. Também deve-se levar em consideração as diferenças geracionais e os estilos de aprendizagem no mesmo espaço de trabalho.

VONTADE GENUÍNA

Outro ponto- chave é que a busca por educação não pode ser algo imposto pelo gestor ou pelo RH, caso contrário se torna mais uma tarefa dentre tantas que o profissional precisa cumprir. “Não basta colocar cursos à disposição. Para haver engajamento é preciso dar sentido ao que está sendo ofertado, mostrar para que aquele conteúdo será útil no dia a dia e como vai contribuir para o crescimento pessoal e profissional”, diz Mariana.

É o que faz desde 2013 a Klabin, que mantém a Escola de Negócios Klabin (ENK), com o propósito de desenvolver pessoas com treinamentos que vão resultar em conhecimento aplicável ao negócio. “Oferecer conteúdos de alta qualidade (alguns em parceria com FGV, Insper e Harvard, entre outras instituições) e experiências interessantes de aprendizagem é a aposta para que os profissionais vejam valor e se responsabilizem pelo próprio crescimento, em vez de esperar que seja cobrado pelo chefe”, explica Rodrigo Rubano, gerente de desenvolvimento organizacional da companhia.

Dentre as iniciativas da ENK, a learning sprint consiste em uma jornada de atividades e debates segmentada por grupos (comercial, RH, possíveis sucessores, por exemplo) que acontece periodicamente. Há também o portal ENK, disponível para 100% do time com cursos online, vídeos, fóruns de discussão, enquetes, biblioteca, pílulas de conhecimento e games interativos.

“Existe ainda um programa de apoio a quem deseja realizar algum curso no exterior, com a contrapartida de, na volta da viagem, replicar dentro da empresa o conhecimento adquirido, em uma apresentação para a área ou outro formato a combinar”, acrescenta Ana Cristina Barcellos, gerente de remuneração, performance e diversidade da Klabin.

EFEITO CORONAVÍRUS

A pandemia acelerou o movimento de busca por educação de todo tipo, inclusive a corporativa. Já nas primeiras semanas do isolamento social, o formato de aulas online facilitou o acesso de muitos a diversas instituições, que passaram a disponibilizar seus conteúdos de forma gratuita, ainda que por tempo limitado. Além disso, as mudanças na rotina resultaram, para algumas pessoas, em certo tempo livre que pode ser aproveitado para estudar em casa.

Pensando nessas questões, a Arteris, do setor de concessão de rodovias, digitalizou todos os cursos da Universidade Arteris de Desenvolvimento (UAD) no início da pandemia e criou o Arteris Play, programa de lives semanais de temas ligados ao impacto da covid-19 na vida, no trabalho e nos negócios (com temas como educação financeira, saúde mental e transformação em tempos de crise). Os funcionários têm acesso a mais de 100 treinamentos, alguns obrigatórios e outros livres, dependendo da área e do cargo, além de avaliações de desempenho, criação de trilhas de competências, biblioteca e videoteca online com materiais de apoio – tudo disponível também no aplicativo.

“Devemos facilitar o acesso e dar autonomia para que cada um escolha o que, quando e onde deseja aprender. Além de contribuir para que todos queiram estudar e compartilhar o conhecimento adquirido”, diz Jeane Cardoso, gerente de RH da Arteris.

TENDÊNCIAS DO ENSINO

A  pandemia impulsionou o setor das startups de educação, e novas tecnologias e metodologias de aprendizado vêm ganhando destaque entre as soluções corporativas. Confira as principais novidades apontadas por Sueli Andrade, especialista em edtechs do DOT Digital Group, empresa de educação digital focada no mercado corporativo

EU ACHO …

AS IRONIAS DA PANDEMIA

Muitos estão cheios de tesão pela nova variante

Devemos ou não fazer Carnaval em 2022? Na minha visão, não. Mas os argumentos a favor são sui generis quando se olha a pandemia sem medo de ser infeliz.

Os mortos da pandemia já foram esquecidos. A memória social tem a profundidade de uma asa de mosca. Todas as manifestações melosas pelos mortos se perderam no voo das moscas.

O primeiro fato óbvio é que encher a cidade com gente bêbada, mijando nas ruas, é a cara do luto, não?

Claro que não. Atenção para o conteúdo de ironia. Comemorar o carnaval agora é cuspir nos mortos. Acho bem feio, depois de tantas juras de afeto, a moçada mijar por aí ao sabor dos bloquinhos. Porque não mija logo nos túmulos?

Outro detalhe é que muito se xingou Bolsonaro durante a pandemia, com razão. Mas como fica a aglomeração no bloquinho? Agora pode?

Os mesmos que xingaram o presidente agora defendem o Carnaval porque é uma festa democrática. Será mesmo? O Carnaval sequestra a cidade, ele é zero democrático.

A pandemia, caso tivéssemos memória, poderia ser o túmulo de muitos especialistas. Muito se afirmou de coisas que não aconteceram. Verdade que pouco se sabia no início, mas há algo de novo nessa pandemia mesmo. O quê? O desalento quando a delta não nos levou de volta aos 4.000 mortos por dia era sentido da mesma forma como sentimos o vento. Invisível, mas material. A nova variante sul-africana ômicron pode ser, enfim, uma nova esperança. Especialistas e mídia estão cheios de tesão por uma nova chance de ampliar engajamento e negócios.

Uma nova “chave especialista” de análise, é: será esta pandemia um divisor de águas da humanidade? Talvez, se ela voltar com muita força e matar 1 bilhão de pessoas, destruir a economia. A gripe espanhola – que segundo estimativas matou algo entre 30 a 50 milhões de pessoas – não foi um divisor de águas. Voltamos a ser o que éramos antes de 1918.

Mas o que há de novo? O mercado em si. Uma grande diferença entre o mundo da gripe espanhola e o de hoje é que em 1918 o mercado era hem menos globalizado e profissional. Ele era uma criança em sua concupiscência por novos negócios e tinha pouca inteligência especializada.

Hoje sabemos que a pandemia é uma commodity de marketing. A gripe espanhola não foi um mercado em si, a Covid é. Interessa saber se esse mercado terá força para se impor e transformar a pandemia em um motor de startups.

De volta ao Carnaval. Agora especialistas afirmam que se pode fazer a festa com máscaras e exigência de atestado de vacina. Eis o fim da picada. O oportunismo credenciado foi longe demais. Nunca viram o que é o Carnaval? Bebe-se muito. Transa-se muito. Nenhuma noção de risco. Ninguém vai usar máscara e ninguém vai pedir atestado de vacina para ninguém.

E mais, com o idiota anti- vacina do Bolsonaro – todo anti- vacina é  idiota, não só ele -, turistas europeus e americanos sem vacina poderão vir aqui em busca de sexo. Sexo é o que buscam aqui no Carnaval porque as europeias e americanas, são umas azedas. Mas tudo bem, porque o Carnaval é uma festa democrática? Na  verdade, o Carnaval sempre foi em grande medida turismo sexual para estrangeiros. Pago pela hora ou não.

Mas tudo bem, porque o carnaval é uma festa popular? Os europeus fecham as portas para nós – menos para os nossos ricos -, mas nós abriremos as portas para eles, sem que eles tenham tomado vacina?

Há um elemento a mais. Muitos que pregaram o lockdown absoluto neozelandês num país de motoboys e operadoras de telemarketing o faziam porque tinham empregos públicos. Nunca podemos chegar ao padrão neozelandês, mas algum confinamento foi feito e ele era sem dúvida necessário. O comércio agonizou nas quarentenas. Os empregos públicos, não.

Por que justo agora o comércio que ganha com o Carnaval teria aliados entre especialistas? Quem responde essa pergunta de milhões de reais?

A pergunta final é: se estamos nos arrastando, tentando escapar da boca do leão da Covid, por que diabos deveríamos pôr nossas cabeças na boca do leão em nome de uma festa qualquer?

Os políticos, de olho nas eleições, podem sucumbir à pressão em nome da festa democrática. Em matéria de política, quem aposta no pior sempre acerta.

*** LUIZ FELIPE PONDÉ

ESTAR BEM

COMO INSERIR E ELIMINAR HÁBITOS EM SUA ROTINA?

 Não existe quantidade de dias certos ou regra milagrosa. Para mudar o seu dia, é preciso disciplina e muita paciência

Quem nunca desejou ter uma rotina matinal completa, daquelas com café reforçado, exercício físico, medicação e até tempo para leitura? Ou então quis ter tempo para cozinhar comidas saudáveis em vez de, na pressa, correr para o bom e velho aplicativo?  Pois bem. Querer mudar os hábitos do dia a dia é algo perfeitamente normal, mas para que essa mudança seja eficaz, é preciso ter disciplina.

“Nós vivemos uma epidemia de cansaço, estamos condenados ao automatismo e a principal forma de mudar algo é através do processo da repetição do comportamento que você almeja. Ou seja, repetir, até que esse novo hábito se torne constante”, explica o médico psiquiatra Pablo Vinícius.

Foi assim com o publicitário Alexandre Kiyohara, de 25 anos, que desde agosto pratica atividades físicas pela manhã. “Com a pandemia eu tive mais tempo para organizar minha rotina e decidi aproveitar o tempo que eu passava no trânsito para acordar mais cedo e ir pra academia”, diz. O amor pelo esporte cresceu tanto que, nos fins de semana, ele aproveita para ir aos encontros do grupo de corrida Vem Com Nois em parques de São Paulo. “O ar livre e o estar com o coletivo me incentivou bastante. Mas a academia não é um ambiente que eu gosto. Então foi preciso levar muito a sério. Tanto que eu coloco um alarme no celular, levanto e vou. Nem penso”, brinca ele.

A insistência deu frutos. “Melhorou meu físico, minha disposição, meu sono. Eu sinto que hoje tenho muito mais atenção de manhã e disposição ao longo do dia”, conta.

21 DIAS

Na década de 1960, o psicólogo e cirurgião plástico Maxwell Maltz criou a teoria de que 21 dias é o tempo que o cérebro precisa para interpretar um novo hábito como um padrão e torná-lo automático. Em 2013, o psicólogo Jeremy Dean refutou a teoria em seu livro Making Habits, Breaking Habits (Criando Hábitos, Quebrando Hábitos, em tradução livre). Para ele, a média é de 66 dias.

Mas na prática, não existe uma quantidade de dias exata. ”Não é sobre tempo, e sim insistência”, declara Larissa Rodrigues, comunicadora e criadora da página Hábitos Que Mudam.

“Quando a gente fala de hábitos, cada um tem seu ritmo. Tem casos em que a ação se consolida em apenas um dia, outras precisam de 120 dias. O mais importante é conhecer como ele funciona pra você”, ensina.

Tanto a página quanto a vida mais organizada de Larissa começaram com planners (caderno com divisões para organização de rotina e tarefas diárias). “Eu precisava  organizar meu tempo e fui compartilhando esse processo e os aprendizados na internet. Nisso surgiu uma comunidade de pessoas interessadas pelo assunto”, diz. Hoje, são mais de 250 mil internautas que trocam dicas de rotinas, hábitos e experiências. Além de pesquisas e livros sobre o assunto.

“Eu acredito que nada supera sair da tela do computador para planejar suas coisas, mesmo que depois você leve para o digital. A mente funciona muito melhor fora das telas”, diz.

OFF LINE

Ficar longe das telas, aliás, foi a maneira que a empresária Isabella Macera, 27 anos, encontrou para melhorar sua qualidade de vida. “Eu  tenho uma empresa e, principalmente na pandemia, veio uma sobrecarga muito intensa que me fez sentir sem fuga. Existe uma romantização de a gente sempre dar conta de tudo. Ou seja, até tem  uma demanda, mas tem também um vício de querer resolver, de estar ali não priorizando os momentos importantes”, declara.

Seu estopim foi durante o trabalho de parto de seu filho Luca, hoje com 6 meses, no qual ela estava resolvendo um problema com um cliente. “Minha mãe teve que arrancar o celular da minha mão”, lembra. Desde então ela segue uma regra: desligar o celular, todos os dias às 19h e ligar apenas às 8h do dia seguinte.

“No começo tinha vontade de ficar fuçando o Instagram até tarde, mas percebi que eu termino um turno e começo outro, então preciso ter essa rotina. Hoje, eu me percebo muito mais produtiva, mas claro que quando é preciso, eu estendo um pouco à noite”, diz. As manhãs, no entanto, são sagradas: “Eu acordo, brinco com meu filho com calma, faço meu café, tudo sem acelerar meus pensamentos”. Mesmo nas paradas durante o trabalho, ela se mantém longe do celular.

“Antes eu abria o olho e já via o celular, o que me fazia começar o dia preocupada”, declara. “É sobre estar presente no aqui e agora. Eu me sinto outra, me fez muito bem”.

NA PRÁTICA

Dicas de como colocar as tarefas no automático

TROCA-TROCA

Inserir dois hábitos novos ao mesmo tempo pode ser difícil. Mas destruir um enquanto constrói outro no lugar pode facilitar a mudança.

GENTILEZA É MOTIVAÇÃO

 Olhe para o seu calendário de forma amigável. Em vez de se criticar por não ter lido as 10 páginas de um livro por dia, como estabelecido, pense que conseguiu ler uma.

INSISTÊNCIA

Dificilmente você vai acordar com vontade de ir para o Crossfit. Se dedique para que a ida até lá se torne um hábito e foque nos benefícios que isso traz para sua vida.

FLEXIBILIDADE

Às vezes o hábito de uma pessoa pode não funcionar com a sua rotina. Teste, veja como adaptar e, se for o caso, desista. Crie algo bom para você.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CÉREBRO DA MOSCA PODE TRAZER PISTAS SOBRE O NOSSO

Análise de milhares de neurônios e sinapses do inseto foi considerada um marco pelos cientistas e abre caminho para entender como funcionam estruturas mais complexas em órgãos de outros animais, incluindo o ser humano

O cérebro de uma mosca é do tamanho de uma semente de papoula, e é quase tão fácil de ser ignorado.

“A maioria das pessoas, eu acho, nem mesmo pensa na mosca como tendo um cérebro”, disse o neurocientista do Campus de Pesquisa Janelia do Instituto Médico Howard Hughes, nos EUA, Vivek Jayaraman, que acrescenta: “No entanto, as moscas levam uma vida muito rica”.

As moscas são animais capazes de comportamentos sofisticados, incluindo navegar por diversas paisagens, brigar com rivais e realizar serenatas para parceiros em potencial. E seus cérebros, do tamanho de uma partícula, são extremamente complexos, com cerca de 100 mil neurônios e dezenas de milhões de conexões, ou sinapses, entre eles.

Desde 2014, cientistas, em colaboração com o Google, têm mapeado esses neurônios e sinapses em um esforço para criar um diagrama de fiação abrangente, ou o conectoma do cérebro da mosca.

O trabalho é demorado e caro, mesmo com a ajuda de algoritmos de última geração. Mas os dados que eles divulgaram até agora são impressionantes em seus detalhes, compondo um atlas de dezenas de milhares de neurônios retorcidos em muitas áreas cruciais do cérebro do inseto.

Em um novo artigo publicado na revista científica eLife, os  neurocientistas estão começando a mostrar o que podem fazer com essas descobertas. Ao analisar o conectoma de apenas uma pequena parte do cérebro da mosca – conhecido como complexo central, que tem um papel importante na navegação – Jayaraman e seus colegas identificaram dezenas de novos tipos de neurônios e localizaram circuitos neurais que parecem ajudar as moscas a seguirem seu caminho pelo mundo.

No final, o trabalho poderá ajudar a fornecer uma visão sobre como os cérebros de animais, incluindo o dos humanos, processam uma enxurrada de informações sensoriais e as traduzem em ações.

É também uma validação para o jovem campo da conectômica moderna, que foi construído com a promessa de que a construção de diagramas detalhados de fiação do cérebro traria dividendos científicos.

“É realmente extraordinário”, disse o pesquisador do Instituto Allen para Ciência do Cérebro, em Seattle, nos Estados Unidos, Clay Reid: “Acho que qualquer pessoa que olhar para o estudo dirá que a conectômica é de fato uma ferramenta de que precisamos na neurociência.

O único conectoma completo no reino animal já feito pertence à lombriga C. elegens. O biólogo pioneiro Sydney Brenner, que mais tarde ganharia o Prêmio Nobel, deu início ao projeto na década de 1960. Sua pequena equipe passou anos trabalhando nisso, usando canetas coloridas para desenhar os 302 neurônios à mão.

“Brenner percebeu que para entender o sistema nervoso era preciso conhecer sua estrutura. E isso é verdade em toda biologia, a estrutura é muito importante”, disse Scott Emmons, o neurocientista e geneticista da Faculdade de Medicina Albert Einstein.

Brenner e seus colegas publicaram artigo com 340 páginas em 1986. Mas o campo da conectômica moderna não decolou até os anos 2000, quando os avanços tecnológicos permitiram mapear as conexões em cérebros maiores.

Quando o Campus de Pesquisa Janelia foi inaugurado em 2006, Gerald Rubin, seu diretor fundador, voltou sua atenção para a mosca:

“Elas têm o cérebro mais simples que realmente executa um comportamento interessante e complexo.”

MICROSCÓPIO LIXA DE UNHA

Os pesquisadores cortaram o cérebro da mosca em placas e, em seguida, usaram uma técnica conhecida como microscopia eletrônica de varredura por feixe de íons focalizados para obter imagens de cada camada. O microscópio funcionava essencialmente como uma lixa de unha muito minúscula e precisa, tirando uma foto do tecido exposto e repetindo o processo até que não restasse mais nada.

A equipe então usou um software de visão computacional para juntar milhões de imagens resultantes do processo em um único volume tridimensional e enviar ao Google. Lá, algoritmos avançados de aprendizado de máquina identificaram cada neurônio individual e rastrearam seus ramos retorcidos.

No anopassado, os cientistas publicaram o conectoma para o que chamaram de “hemibrain”, uma grande parte central do cérebro da mosca, que inclui regiões e estruturas cruciais para o sono, aprendizagem e navegação.

O conectoma, que pode ser acessado gratuitamente online, inclui cerca de 25 mil neurônios e 20 milhões de sinapses, um número muito maior que o conectoma da lombriga C. elegans.

“É uma expansão dramática. Este é um passo tremendo em direção ao objetivo de descobrir como funciona a conectividade do cérebro”, disse o neurocientista da Universidade Rockefeller, em Nova York, Cori Bargmann.

PROBLEMAS SEMELHANTES

Assim que o conectoma do ”hemibrain” estava pronto, Jayaraman, que é um especialista sobre a neurociência da navegação da mosca, estava ansioso para mergulhar nos dados do complexo central.

A região do cérebro, que contém cerca de 3 mil neurônios e está presente em todos os insetos, ajuda as moscas a construir um modelo interno de sua relação espacial com o mundo e, em seguida, selecionar e executar comportamentos adequados às sus circunstâncias, como procurar comida quando estão com fome.

É claro que alguém poderia perguntar porque os circuitos cerebrais de uma, mosca são importantes.

As moscas não são camundongos, nem chimpanzés ou humanos, mas seus cérebros realizam algumas das mesmas tarefas básicas. Compreender o circuito neural básico de um inseto  pode fornecer pistas importantes de como cérebros de outros animais abordam  problemas semelhantes, explicou o neurocientista da Universidade de Washington, em St. Louis, David Van Essen.

Criar conectomas de cérebros maiores e mais complexos será um desafio enorme. O cérebro do rato, por exemplo, contém cerca de 70 milhões de neurônios, e o cérebro humano, impressionantes 86 bilhões.

OUTROS OLHARES

ANTES TARDE DO QUE NUNCA

Com a terceira idade muito mais prolongada e o mundo em volta bem mais tolerante, grisalhos saem do armário e assumem namoros e casamentos com parceiros do mesmo sexo

Ainda alvo de preconceito e discriminação, a comunidade LGBT escancarou as portas do armário nos últimos anos, exigindo direitos, denunciando abusos e exibindo sem disfarces, com as mãos dadas e beijos em público, a naturalidade das relações entre pessoas do mesmo sexo. Embora não existam dados abrangentes sobre a população gay do Brasil, é evidente que os jovens vêm sendo o motor dessa reviravolta, tirando vantagem dos traços de individualismo, indiferença às regras estabelecidas e maior tolerância presentes nas novas gerações. Não é só a garotada, porém, que anda assumindo sua homossexualidade – cada vez mais, senhores e senhoras de idade avançada, muitas vezes com casamento convencional e filhos no currículo, tomam coragem e apresentam parceiros de gênero inesperado.

Consultamos dez especialistas em envelhecimento na comunidade gay –  sexólogos, antropólogos, sociólogos, psiquiatras e geriatras – e eles foram unânimes em confirmar a saída mais frequente do closet entre a turma que já passou dos 50. “O tabu da sexualidade na terceira idade diminuiu e isso estimulou as pessoas dessa faixa etária a se assumir, o que era muito mais difícil há dez anos”, diz Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Faculdade de Medicina da USP. Um empurrão definitivo partiu, como sempre, do mundo das celebridades, onde parcerias homossexuais consolidadas por trás de um muro de silêncio agora vêm a público – sendo, em geral, assimiladas sem grandes traumas.

A revelação mais recente partiu do galã Carmo Dalla Vecchia, 50 anos, durante uma apresentação do Super Dança dos Famosos, do extinto Domingão. Em rede nacional, o ator falou sobre sua relação de dezesseis anos com o autor de novelas João Emanuel Carneiro, com quem tem o filho Pedro, de 2 anos. “Nunca escondi o fato de ser gay para as pessoas próximas. Agora me dei conta de que tinha a chance de tocar o coração de mais gente e que isso era uma responsabilidade. Também quero ser um exemplo de coragem para meu filho”, disse. Antes dele, o ator Marco Nanini, 73 anos, contou ser casado há mais de trinta anos com o produtor Fernando Libonati, com quem formalizou a união estável há dois anos. O cantor Lulu Santos, 68 anos, após um casamento de décadas com a jornalista Scarlet Moon, apresentou o baiano Clebson Teixeira como seu namorado em 2018 e os dois se casaram no ano seguinte. Outro ator, o humorista Luiz Fernando Guimarães, 71 anos, oficializou em 2019 a relação de mais de vinte anos com o empresário Adriano Medeiros, com quem acaba de adotar dois filhos, Dante,10, e Olivia, 9.

O processo de sair do armário nunca é fácil. Ele exige coragem e resiliência, especialmente para aqueles que passaram a vida inteira escondendo seus sentimentos. Mas o assunto hoje está longe ser tabu, sendo retratado em obras e no dia a dia das pessoas. Foi a partir da ficção que a enfermeira aposentada Ângela Fontes, de 69 anos, encontrou incentivo para revelar à família conservadora que era lésbica. Inspirada pelo casal vivido por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela Babilônia – protagonista do primeiro beijo de duas mulheres na TV brasileira – , Ângela deixou de esconder seu relacionamento com Willman Rocha, 74, e as duas enfim se casaram no civil e no religioso no início de outubro. “Assumir foi como tirar uma tonelada das costas”, afirma Ângela. Já o estilista mineiro Ronaldo Fraga, 54 anos, passou toda a vida adulta no meio da moda, repleto de gays, casado com uma mulher – até se apaixonar por um homem. Divorciou-se e contou para os dois filhos. “Esconder não seria justo com eles, comigo e com meu namorado. Me considero bissexual, e decidi viver essa experiência porque entendo que a vida é curta, mas pode ser larga”, diz Fraga, que há três anos namora o apicultor Hoslany Fernandes.

Os mais velhos que agora assumem parceiros gays eram jovens quando o movimento LGBT começou a se organizar, no fim dos anos 1960, após uma violenta batida policial no bar do hotel Stonewall lnn, em Nova York, frequentado pela comunidade. Dos tempos da pancadaria e do preconceito, que ainda acontecem, foi um duro caminho até aqui. “Mais de meio século depois, o patriarcado que colocou a masculinidade em posição de poder é cada vez mais questionado”, diz a psicanalista Regina Navarro Lins. Diversos momentos, porém, foram dificílimos nessa trajetória. Um deles provocado pelos estragos da epidemia de aids, chamada de “peste gay” nos seus primórdios, na década de 80, estigma que levou muita gente a se esconder sexualmente durante boa parte da vida.

Mas importantes vitórias aconteceram. Em 1990, a Organização Mundial da Saúde removeu homossexualidade da lista de doenças, o que abriu caminho para conquistas como o direito a casamento, adoção e herança. Começava aí a lenta mudança de mentalidade que resultou, primeiro, na maior exposição dos jovens gays e, recentemente, na abertura de portas para quem tem mais idade e percebe, feliz, que ainda pode usufruir muitos anos tirando vantagem de tempos mais liberais. O americano Kenneth Felts, por exemplo, diz que sabia ser homossexual desde os 12 anos, mas só contou à família aos 91, depois de os pais terem morrido, com os filhos adultos e após ter sobrevivido a um câncer. “Sempre é bora de sermos livres”, diz Pelts ao lado do namorado, Johnny Hau. Tem toda a razão.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 18 DE DEZEMBRO

O CULTO QUE DEUS NÃO ACEITA

O sacrifício dos perversos já é abominação; quanto mais oferecendo-o com intenção maligna! (Provérbios 21.26).

O culto que agrada a Deus tem duas marcas distintas: é verdadeiro e sincero. Deve ser oferecido a Deus em espírito e em verdade. Não basta ser um culto verdadeiro; precisa ser oferecido de todo o coração. Não basta ser sincero; é preciso ser bíblico. O culto ou é bíblico ou é anátema. Não podemos adorar a Deus do nosso jeito, segundo as inclinações do nosso coração. Deus estabeleceu a forma correta como deve ser adorado. O culto divino é prescrito pelo próprio Deus. Não temos liberdade de acrescentar nem de retirar nenhum elemento do culto. A adoração não pode ser separada do adorador. O culto não pode ser divorciado da vida. Antes de Deus aceitar nossa oferta, ele precisa aceitar nossa vida. É por isso que o sacrifício dos perversos é abominação para Deus. O Senhor se compraz mais na obediência do que em sacrifícios. Requer mais misericórdia do que holocaustos. Fazer ofertas a Deus com a vida errada e com as motivações erradas é tentar subornar aquele que é santo e justo. É consumada loucura, pois ninguém pode enganar aquele que sonda os corações. Deus não se impressiona com a quantidade das nossas ofertas nem com a eloquência das nossas palavras. Ele requer verdade no íntimo.

GESTÃO E CARREIRA

POR DENTRO DAS PROFISSÕES – ENÓLOGO

Há seis cursos de graduação em enologia no país. Entenda o que faz esse profissional, que controla toda a cadeia de produção dos vinhos: do cultivo das uvas até o cálice.

O ano é 1896. O casal de italianos Angelo Cristofoli e Maria Dalla Senta desembarcou no Brasil e se instalou na cidade de Bento Gonçalves (RS). Compraram algumas terras e começaram uma plantação de uvas. As frutas eram vendidas e, com o que sobrava, a família produzia alguns barris de vinho para consumo próprio.

A fazenda passou de pai para filho até chegar aos irmãos Loreno e Mário – bisnetos dos imigrantes. Nos anos 1980, a hiperinflação estava dificultando as vendas de uvas. Então decidiram aumentar o negócio para conseguir uma renda extra Assim, em 1986, abriram a Vinícola Cristofoli e passaram a vender os vinhos que, até então, eram só para a família. No mesmo ano, nasceu a primeira filha de Loreno, a Bruna.

A menina cresceu entre as parreiras e começou a ajudar na produção ainda criança. Por isso, não foi nenhuma surpresa para a família quando ela decidiu fazer, ao longo do ensino médio, um curso técnico em enologia. Para quem não está familiarizado com o mercado de bebidas, o enólogo é o profissional especializado na produção de vinhos, espumantes, conhaques e grappa (um destilado italiano feito com o bagaço de uva).

Bruna até pensou em prestar vestibular para Química, mas a paixão pelo vinho e a vontade de profissionalizar o negócio da família falaram mais alto. “Eles começaram sem muita instrução. Então, mesmo nova, passei a ver as melhorias que precisavam ser feitas na vinícola, no produto e também na área administrativa”, relembra.

Ela acabou fazendo um curso superior em Viticultura e Enologia, e também uma pós- graduação na área. Durante os estudos, no Instituto Federal de Bento Gonçalves, estagiou em uma vinícola vizinha à de sua família, a Dal Pizzol, e também na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Ainda teve a oportunidade de participar das vindimas (período entre a colheita das uvas e o início da produção do vinho) em vinícolas da Itália e Alemanha.

Bruna, hoje com 35 anos, controla a empresa desde 2004 — que, claro, continua familiar. O irmão Lorenzo e a prima Letícia (filha de Mário), ambos também enólogos, ajudam na parte administrativa. O pai e o tio continuam cuidando do vinhedo, enquanto a mãe e a tia preparam pratos típicos da região para harmonizar com os vinhos servidos para os turistas.

CIENTISTAS DO VINHO

A profissão foi regulamentada em 2007. Significa que, para atuar como enólogo, é necessária uma formação acadêmica na área.

Mas tem um problema: somente seis instituições de ensino oferecem cursos de enologia reconhecidos pelo Ministério da Educação. E quatro delas ficam no Rio Grande do Sul. O motivo é óbvio. O Estado é o principal produtor de vinho, segundo as estimativas da Embrapa, representando mais de 60% da produção nacional.

Entre as opções gaúchas, dá para estudar na Universidade Federal do Pampa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Caxias do Sul e nos campi de Bento Gonçalves e Visconde da Graça do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.

O Instituto Federal também tem cursos em Santa Catarina (Urupema) e São Paulo (São Roque). A única opção fora desse eixo é o Instituto Federal do Sertão Pernambucano, que fica em Petrolina, o polo nordestino da vinicultura. A cidade tem roteiros enoturísticos junto com outros municípios do Vale do São Francisco. A região, diga-se, vem despontando no setor de vinhos e já abastece 15% do mercado brasileiro.

Outra opção para atuar na área é fazer uma graduação em agronomia e depois partir para um curso de pós-graduação em Viticultura e Enologia.

Um enólogo é mais do que um especialista em vinhos. É um profissional que domina o processo de produção de ponta a ponta. Primeiro, o enólogo precisa entender tudo de uva: métodos de plantio, controle de pragas, condições do solo, genética para melhorar as mudas, colheita, processamento, maturação. Enfim: é alguém que sabe o longo caminho da planta ao cálice, e precisa lidar com os problemas que aparecem ao longo dessa jornada;

“É desafiador, porque você depende de coisas que fogem um pouco do controle, como a temperatura e quantidade de chuvas. É sempre um grande desafio conseguir as uvas no ponto de maturação para fazer o vinho que você deseja”, afirma Bruna.

Além disso, produzir vinho é quase um projeto científico. Você precisa entender de bioquímica para acompanhar devidamente o processo de fermentação, envelhecimento, conservação da bebida na adega e envase. O enólogo também é responsável pelo controle de qualidade e testes de estabilização, para garantir que o vinho não sofrerá alterações até o seu consumo. Você precisa, inclusive, ser registrado no Conselho Regional de Química para ser o responsável técnico de uma vinícola.

E, claro: também entra a parte mais conhecida. É o enólogo quem faz a análise sensorial das bebidas para avaliar se ela está dentro do esperado. “A gente degusta o vinho durante toda a produção. Então, você tem que experimentá-lo em várias etapas, antes de estar pronto, e identificar se tem as características necessárias para virar um bom vinho e se é preciso fazer algum ajuste, correção ou misturar uvas diferentes.”

ALÉM DAS VINÍCOLAS

Pode parecer que os enólogos passam os seus dias entre as parreiras e dentro das adegas. Mas hoje elestêm um papel mais amplo. Os profissionais ganharam espaço nas empresas de importação e exportação de vinhos, assim como nos e-commerces e lojas especializadas.

Tudo por conta do crescimento do mercado de vinhos no Brasil. De acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, no ano passado, o consumo da bebida no país cresceu 18,4%.

Os brasileiros beberam 430 milhões de litros no ano – ou uma média de 2,6 litros de vinho por pessoa com mais de 15 anos. Claro que não chega aos pés dos maiores consumidores: os portugueses encabeçam a lista, com 51,9 litros per capita ao ano.

Em seguida está a Itália (46,6 litros) e a França (46 litros). Mas também mostra que o setor tem muito para onde crescer.

Além disso, as regiões que abrigam as vinícolas tendem a se tornar pontos turísticos. E isso pede um quê de criatividade e de marketing ao enólogo. “Participei de missões de benchmarking (análise das melhores práticas usadas por empresas do mesmo setor)na Argentina, Chile e Portugal, que são lugares que recebem muitos brasileiros. Então, pude entender o que agradava essas pessoas, o que elas queriam ver ou consumir e como eu poderia oferecer tudo isso aqui no Brasil”, afirma Bruna. Um brinde.

UM DIA NA VIDA

ATIVIDADES-CHAVE

Controlar todo o processo de produção de uma vinícola, do cultivo de uvas à análise sensorial das bebidas; elaborar novos vinhos.

PRINCIPAIS CDMPETÊNCIAS

Planejamento para acompanhar as etapas de produção; criatividade para desenvolver novos produtos; paladar e olfato aguçados.

O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÀREA

Um curso técnico ou de graduação em enologia. Para quem é formado em agronomia, basta uma especialização ou pós-graduação na área. Um segundo idioma é bem-vindo. O Inglês é o principal, mas francês, Italiano e espanhol também são importantes.

PONTOS POSITIVOS

A ampla grade curricular permite trabalhar da produção do vinho até a sua comercialização. Em outros países, o mercado já está consolidado, o que abre portas para trabalhar no exterior.

PONTOS NEGATIVOS

Existem poucos cursos de enologia no Brasil, e a maioria deles fica na região Sul.

QUEM CONTRATA

Vinícolas, exportadoras e importadoras e indústrias de vinificação (como fabricantes de equipamentos e barris).

SALÁRIO MÉDIO ***

R$ 5.200

*** Fonte: Glassdoor

EU ACHO …

GORDOFOBIA EM AÇÃO

Há um exército de pessoas ocupadas em vigiar a balança alheia

Sempre me espantei com a importância que as pessoas dão ao peso alheio. Alguém me encontra e já vai comentando: “Engordou”… Ou “emagreceu”. Fala-se de regimes o tempo todo e surgem as dietas mais malucas possíveis. Agora, com a recente morte da cantora Marília Mendonça, poucos foram os obituários que não se referiram ao peso. Deu-se tanta importância a seu peso corporal quanto à sua voz e carreira musical. Existe uma avidez por discutir o peso alheio. Já se processa por gordofobia. É um direito. Mas, na vida comum, a rejeição continua. Soube de que nem gostavam de contratar gordos. Para a vaga, sempre o mais magro.

Fui esbelto até os 30 anos. Depois engordei e há tempos luto contra minha barriga. Toda semana ouço conselho para perder peso. Alguns vêm disfarçados de amizade: “Ter barriga é perigoso.” Até concordo, gordura no fígado não é bom. Outros de piada. Mas o que um gordo suporta não é fácil. Não são conselhos dados por médicos. Há um exército de seres humanos ocupados em lutar contra o peso alheio. Há algum tempo as modelos plus size ganharam espaço, por um simples motivo: as mulheres acordaram. Descobriram que nem sempre é possível ter um corpo magríssimo. São consumidoras ávidas de fotos, propagandas, nas quais se vejam de fato representadas.

Tudo tem a ver com um ideal estético, em que as mais vigiadas são as mulheres. Se um homem famoso morre, ninguém discute seu peso, como ocorreu com Marília Mendonça. Eu me pergunto de onde vem tanta raiva?

Até um tempo relativamente recente, magrice demais era feio. Vejam Marilyn Monroe, ícone da beleza, falecida em 1962. Era gordinha, com todo respeito. Um modelo estético que se invejava e desejava. A mulher mais bela do mundo. Se eu recuar no tempo, encontraremos mais e mais mulheres acima do peso sendo admiradas. As magras não faziam sucesso. Muito magra era considerada doente. Houve uma virada no conceito estético. Queria entender o porquê.

Segundo o livro O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, a sociedade aposta em um padrão que surgiu para que as mulheres sejam aceitas no mercado de trabalho. Isso também  se estendeu aos homens. Ao exibirem uma aparência saudável e atlética todos se mostrariam mais aptos a vitórias profissionais. Resultado: meninas e também meninos se submetem a dietas malucas e procedimentos estéticos cada vez mais cedo.

Naomi Wolf comparou as calorias que “deveriam” ser ingeridas para alcançar o chamado corpo perfeito: 800 a 1000 diariamente. No gueto de Lodz, durante o nazismo, os judeus se alimentavam com rações que tinham de 500 a 1200 calorias. Que tal a comparação? Não é à toa que aumentam as mortes por anorexia.

O adeus de Marília Mendonça provou que a gordura ainda tem sua patrulha. Gordofobia? Não acabou. Continua em alta. Ao chamar uma garota de “gordinha”, muitos acham que estão fazendo piada. Na real, estão mantendo um padrão, que dói, machuca e continua sendo repetido.

*** WALCYR CARRASCO

ESTAR BEM

CARETAS PARA A BELEZA

Ioga facial reúne adeptos que querem um resultado natural de pele rejuvenescida, mas sem recorrer a tratamentos estéticos

Arregalar os olhos, apertar os lábios, rodar a língua dentro da boca e praticar “caretas” já são um hábito da terapeuta nutricional Kiki Felipe, de 56 anos, nas mais diversas situações: quando está na fila do supermercado, no metrô ou em casa, por exemplo. Ela é praticante da chamada “ioga facial”, que inclui uma série de exercícios dos músculos do rosto, pescoço e colo, técnicas de respiração, automassagens e ajustes posturais. “A gente se preocupa em fazer ginástica para o corpo, mas se esquece dos mais de 50 músculos do rosto, que é o nosso cartão de visitas”, diz.

Duas vezes ao dia, Kiki faz os exercícios que aprendeu em um curso de ioga facial há três anos. Ela afirma que os resultados são visíveis. “Notei que as linhas de expressão nos olhos e vincos de sorriso melhoraram. Sinto que fiquei com uma aparência mais saudável no rosto, depois de adotar esse ritual de autocuidado.” A melhora impressionou tanto que ela resolveu fazer o curso avançado para poder dar aulas.

A professora de Kiki é Cláudia Reis, de 56 anos, que conheceu a ioga facial há 25 anos, mas sô se aprofundou no assunto nos últimos seis anos. Aprendeu a técnica com instrutores famosos mundialmente como Danielle Collins e Fumiko Takatsu. Em 2018, lançou a sua plataforma de cursos online de ioga facial, que já atraiu 350 alunos. Nesse mesmo ano, viu o interesse pela técnica aumentar quando a duquesa de Sussex, Meghan Markle, revelou, em 2018, que esse era o segredo para a beleza natural do seu rosto. As atrizes Gwyneth Paltrow e Jennifer Aniston também já anunciaram que são adeptas da técnica, assim como a brasileira Maitê Proença.

Para ver resultado, é preciso dedicar pelo menos 20 minutos diários aos exercícios, por 2 meses, no mínimo, diz Cláudia. “A ioga facial pode proporcionar melhora nos contornos do rosto, redefinição de volumes, mais tônus à pele, que fica com uma textura melhor. Não tem milagre nem perfeição e exige dedicação, por isso não é indicado para pessoas imediatistas.” Alguns acessórios, como espátulas e rolinhos, podem ser usados para algumas manobras no rosto (leia abaixo), mas geralmente só as mãos limpas com algum óleo ou hidratante são suficientes para realizar os exercícios.

O método criado por Cláudia inclui um trabalho de reorganização postural. “Prestamos atenção em detalhes, como a forma de olhar e a abertura de ombros, que têm reflexo na aparência”, exemplifica Cláudia. Ela explica que os exercidos que trabalham os músculos faciais promovem uma “massagem interna” que ativa os tecidos do pescoço e do rosto, permitindo uma melhor circulação sanguínea e drenagem linfática. Praticante de hatha yoga há 30 anos, ela diz que a ioga facial, assim como a ioga clássica, traz melhorias na saúde, na autoestima e no bem-estar – a beleza é apenas uma consequência.

“Recomendo a ioga facial porque é uma prática que deixa você bem com você mesma, por ter um resultado natural, diferentemente de um procedimento estético que pode mudar demais a sua aparência”, diz a psicóloga Ailla Stefano, outra aluna de Cláudia, de 45 anos. Ela pratica a ioga facial pelo menos três vezes por semana há cerca de dois anos e acha que a técnica é eficaz. ” O trabalho muscular ajuda a segurar a papada, deixa a bochecha mais firme. Meu rosto não tem inchaço e a pele está mais bonita. As pessoas percebem os benefícios.”

O termo “ioga facial” foi ”emprestado” da milenar prática indiana. Márcia de Luca, estudiosa da ioga, meditação e ayurveda (filosofia médica indiana), nunca viu o termo “ioga facial” nos textos clássicos da ioga. Apesar disso, ela considera que os exercícios faciais são válidos, já que devem ser trabalhados assim como os do restante do corpo.

E O BOTOX?

Aos 74 anos, Bartira Bravo afirma nunca ter passado por cirurgia plástica ou procedimentos estéticos invasivos para poder funcionar como garota-propaganda de seu próprio método de ginástica facial. Todos os dias, desde 1992, ela dedica 15 minutos a exercícios que envolvem músculos do rosto, pescoço e face. Ela explica que as tensões do dia a dia aceleram a criação de vincos na pele e que a ginástica facial ajuda a reduzir esse estresse, pois tem movimentos firmados e coordenados, combinados com descanso.

Bartira recebe interessados em aprender a ginástica facial de forma individual na Clínica Denise Steiner, em São Paulo, e monta o programa de exercícios específicos para a necessidade de cada um. Entre os diversos perfis de clientes, ela é procurada, por exemplo, por pessoas que perdem peso rapidamente e não querem ficar com o “rosto caído” por conta da flacidez. ”O resultado da ginástica facial vai depender de diversos aspectos como a genética e a alimentação. Orientais, por exemplo, têm uma resposta rápida. Mas, em todos os casos, quem praticar diariamente terá uma aparência mais saudável”, afirma Bartira. Na entrevista, ela exibiu orgulhosamente fotos suas e de seus clientes, para mostrar o resultado da dedicação.

As práticas de ginástica facial podem contribuir para a saúde se forem suaves, pois proporcionam relaxamento, afirma a dermatologista Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Sabemos da conexão entre doenças crônicas de pele, como a acne, com o estresse. Por isso, uma massagem suave pode trazer benefícios, sim.” Ela afirma, porém, que ainda não há evidências científicas de que essa prática traga benefícios estéticos.

No entanto, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, em Chicago, concluiu que uma rotina de exercícios faciais de 30 minutos diários, por cinco meses, pode rejuvenescer a pele em até três anos. O estudo, divulgado em 2018, foi realizado com mulheres de 45 a 60 anos. Os participantes fizeram diversos exercícios como para “esculpir” as bochechas, melhorar aparência do pescoço, levantar a pálpebra dos olhos e as sobrancelhas.

ORIENTAÇÕES

As instrutoras de ginástica e ioga facial não recomendam a prática a quem aplicou Botox ou que esteja com alguma lesão no rosto ou pescoço. “Não é que seja perigoso, mas com a ginástica facial o Botox perde o efeito mais rapidamente. Se ela já investiu nisso, é melhor aproveitar até o fim”, diz Bartira.

A instrutora de ioga facial Alessandra Scavone, de 47 anos, tem uma visão diferente. Ela inicia o plano de exercícios mesmo que o paciente tenha aplicado Botox. “Conseguimos fazer a transição do uso do Botox para a ioga facial. Em vez de paralisar o músculo com o Botox, passamos a aprender a treinar e relaxar, melhorando assim a aparência”, explica.  “As pessoas que me procuram querem ter uma aparência melhor, mas que se reconheçam. Não querem ficar superesticadas por um efeito Cinderela”, diz.

Esse é o caso da empreendedora social Juliana Rodrigues Dutra, de 36 anos, que procurou a ioga facial proposta por Alessandra para conseguir um ”rejuvenescimento” facial mais natural. “Já apliquei Botox e realizei uma série de tratamentos dermatológicos. Percebi que minha fisionomia estava cada vez mais artificial e comecei a notar isso também nas mulheres. Estava em um círculo vicioso de buscar sempre um tratamento moderno, ir a  uma clínica e pagar”, conta. Há cerca de um mês, ela dedica 15 minutos do seu dia aos exercícios faciais propostos por Alessandra, com a meta de alcançar 30 minutos diários.  “Pode ainda ser imperceptível para os  outros, mas já sinto algumas mudanças nos músculos do rosto. Inseri essa prática na minha rotina porque quero envelhecer de forma saudável.”

ACESSÓRIOS DEVEM SER USADOS COM ORIENTAÇÃO DE ESPECIALISTAS

Gua sha espécie de espátula, e rolinho, ambos feitos de jade, vieram da China e são adotados no tratamento facial

Praticantes de ioga ou ginástica facial muitas vezes recorrem a acessórios para turbinar a prática, como o roller facial (um rolinho) e o gua sha (espécie de espátula). Geralmente feitos de pedra, são deslizados pela pele do rosto e do pescoço.

Ambos os acessórios são muito utilizados na China, feitos com a pedra jade, segundo o presidente da Escola Brasileira de Medicina Chinesa (Ebramec), Reginaldo de Carvalho Silva Filho. Ele explica que gua sha traz em seu nome a característica da aplicação: “gua” significa ”raspar” e “sha” implica a reação da pele ao tratamento. “Quando aplicada com finalidades terapêuticas, na medicina chinesa, as raspagens são executadas até a obtenção do ‘sha’, que muitas vezes se apresenta de modo avermelhado com variações na intensidade. Mas, no caso da aplicação com finalidades estéticas, as raspagens são muito mais suaves.

A prática do gua sha estimula a pele e os tecidos faciais, segundo Reginaldo de Carvalho Silva Filho. “As regiões estimuladas recebem uma melhor nutrição e ganham mais brilho, suavidade e melhor aparência”, diz.

Ele afirma que a prática de autoaplicação em casa é segura, mas o ideal é seguir recomendações de profissionais capacitados, como aqueles que são especializados em medicina chinesa cosmética. “Esse profissional tem recursos para melhorar a aparência externa a partir de uma melhora nas condições internas, ou seja: a beleza como reflexo externo da saúde interna.”

Na visão da dermatologista Renata Sitonio, esses acessórios ajudam a eliminar fluidos linfáticos que causam inchaço. “Deslizar o roIler de forma suave na pele pode trazer benefício estético ao realizar uma drenagem facial, principalmente ao acordar, de manhã, quando olhos e maçãs do rosto ficam inchados.” Ela mesma tem o costume de usar o roller na sua rotina de cuidados com a pele, para melhorar a aparência ao redor dos olhos, junto com o creme facial.

Quando usado gelado, o roller pode amenizar problemas na pele como a rosácea, doença inflamatória que traz vermelhidão à pele, conforme explica a médica. “A temperatura mais baixa do instrumento ajuda a acalmar a pele, pois fecha os vasinhos. Mas é claro que isso tem que ser associado a um tratamento dermatológico correto e ao uso de cosméticos voltados para esse tipo de pele, que é mais sensível”.

A dermatologista alerta que usar esses acessórios com força e pressão na pele não é indicado. “Isso pode remover a barreira de proteção cutânea, o que danifica a pele e pode resultar até em inflamações”, explica.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO DRIBLAR O SOFRIMENTO NOS FERIADOS PÓS-DIVÓRCIO

Dias dedicados a um tempo com a família e os amigos também podem ser momentos de solidão para algumas pessoas. Mas, assim como você faz comsua lista de compras do Natal, planeje outros programas e projetos com antecedência

Os feriados de fim de ano estão chegando e eu já estou me preparando. Se você ou sua família estão passando por uma fase difícil, minha sugestão é que você não fique simplesmente esperando a chegada dos feriados, mas que se prepare para eles.

Antes de eu e meu ex-marido nos divorciarmos, eu pensava que o lado bom dessa situação normalmente terrível é que eu teria mais tempo para mim. Mas a realidade é que é agonizante ter saudades de seus filhos e estar longe deles, especialmente nas festas de fim de ano.

Até mesmo o Halloween pode ser difícil. O primeiro 31 de outubro depois que nos separamos, meu ex e eu concordamos que dividiríamos o feriado. Isso foi antes da pandemia, então saí do trabalho mais cedo e corri para casa para levar as crianças para pegar doces. Cheguei ao meu apartamento, peguei minha fantasia de chifres de Diabo e esperei. E esperei. O sol estava quase se pondo. Onde eles estavam?

Eu sabia que as crianças estavam provavelmente felizes com o pai, e é claro que isso é o mais importante. Mas, naquele momento, essenão era o problema. Eu queria que eles estivessem adoráveis com suas fantasias de dinossauros e felizes pegando doces comigo.

Rapidamente, mudei meus planos e sugeri ao meu ex que a gente se encontrasse na casa de um amigo nosso que fica no meio do caminho. Quando cheguei, vi meus meninos sentados nos primeiros degraus da escada. “Oi, pessoal” gritei. Eles me ignoraram. Conforme eu me aproximava, vi que o Isaac, com 5 anos na época, já havia retirado parte de sua fantasia. Ele parecia pronto para ir para casa jantar e contar o seu estoque de doces. Meu coração afundou ainda mais.

Eu os convenci a colocarem seus sapatos de volta e buscar doces naquele bairro também. Eles gentilmente concordaram.

LEMBRANÇAS DIFÍCEIS

Naquela noite, depois que os coloquei na cama, me lembrei dos Halloweens dos anos passados, os bons. Meu ex frequentemente tentava coordenar nossas fantasias em família. Num ano, quando Isaac era um bebê, ele escolheu uma fantasia de leão, então seu pai e eu nos vestimos ambos de domadores de leões com chapéus pretos. Tenho um vídeo de Isaac cambaleando pela nossa vizinhança. Ele agarrou o chicote falso de seu pai e tentou persegui-lo pela rua. O Facebook me lembra daquele momento todo Halloween.

No ano seguinte, Aarav tinha chegado. Eu comprel para ele uma fantasia de cordeiro, então meu ex decidiu que o resto de nós seríamos chefs de cozinha e comprou chapéus e  aventais brancos. Colocamos nosso cordeirinho rechonchudo numa panela grande e nos preparamos para ir. Mas Isaac, com 2 anos na época, de repente entendeu o conceito e gritou: “Eu não vou comer o Aarav!”

Esses foram os Halloweens que eu perdi, aqueles pelos quais eu aguardava ansiosamente. As memórias que, por um momento, me fizeram questionar se eu tinha tomado a decisão errada.

Depois do Halloween, vêm o Dia de Ação de Graças, o Hanukkah e o Natal. Todas datas apenas pedindo pela dor quando sua família está passando por uma fase difícil. Até mesmo o feriado do Dia de Martin Luther King me deixou perturbada num ano. Estava convencida de que, ao contrário de nós, todas as famílias intactas tinham planos incríveis. O que é possível, mas, agora percebo, improvável.

Os feriados muitas vezes nos trazem alegria, mas também são lembretes de quem perdemos. Durante anos difíceis, feriados nos mostram que a imagem que tínhamos de nossas vidas não se parece mais com a que imaginávamos. Essas datas, que são dedicadas a tempo com família e amigos também podem nos fazer sentir sozinhos. E mesmo assim, ironicamente, nós não estamos sozinhos nisso. Particularmente durante a pandemia que afetou milhões de famílias, é provável que muitas pessoas se sintam assim.

TIRE PROJETOS DO PAPEL

Nesse ano, eu vou me preparar para cada feriado com antecedência. No Halloween, meu plano foi garantir que o tempo que meus meninos e eu tivemos fosse o mais divertido possível – e tentei deixar minhas expectativas baixas. Se eles fossem pegar doces com o pai, então iríamos nos divertir mais cedo enquanto nos arrumávamos.

Terei meus meninos para o Dia de Ação de Graças, mas agora sei que o resto daquela semana pode ser deprimente sem eles. Talvez eu busque meu grupo de amigas que também são divorciadas para planejar um “Dia de Ação de Amigas” para um outro dia. Um feriado que dura o fim de semana também é uma ótima oportunidade para se voIuntariar em uma doação local de alimentos ou ajudar outras pessoas na comunidade – neste ano, farei isso.

Graças à minha própria experiência, estou mais ciente de que outras pessoas também podem estar passando por isso. Meu pai e meu padrasto estão ambos tendo anos difíceis, e vou garantir que durante os feriados passarei mais tempo com eles.

Meus filhos estarão com o pai durante as férias de inverno. Longos períodos sem eles podem ser difíceis, especialmente quando as pessoas estão postando fotos fofas de seus filhos acendendo a menorá (tradição judaica). A audácia. (Dica de profissional: em dias tristes, dê um tempo no Instagram).

Eu aprendi que focar em hobbies enquanto espero eles voltarem ajuda. Durante a pandemia, eu passei meus fins de semana sem eles escrevendo. Em vez de me sentir sozinha, ter um manuscrito para trabalhar me deu algo pelo qual me animar.

Durante essas férias de inverno (período de dezembro a março no Hemisfério Norte), eu já tenho tudo planejado. Vou fazer uma lista de projetos que tenho estado ansiosa para completar. Acabar meu livro! Aprender a pintar!

Limpar meu sótão! Virar uma bailarina – porque não! E caso tudo isso ainda não seja suficiente, estou programando uma viagem com uma amiga. Muitas famílias, especialmente aquelas que perderam um ente querido, passam por uma situação muito mais difícil que a minha. Meu coração está com elas e espero que elas também encontrem maneiras de lidar com a sua perda.

Para mim, sei que os feriados serão frequentemente desafiadores, mas a cada edição que passa, estou me apoiando em rituais antigos, adotando novos e aprendendo o que preciso para administrar a situação cada vez melhor.

Minha maior dica para outras pessoas recém-chegadas nesse barco: assim como você faz com a sua lista de compras do natal desse ano, planeje-se com antecedência. E lembre que apesar de como você pode estar se sentindo, você não está sozinho.

OUTROS OLHARES

A GERAÇÃO TIQUE-TOQUE

O aumento de casos de cacoetes repentinos, especialmente entre meninas adolescentes, intriga pesquisadores e pode estar ligado ao uso excessivo das redes sociais

Na França do início do século XIX, a marquesa de Dampierre costumava chocar a aristocracia local ao proferir palavrões e ofensas sem sentido, aos quais somava até sons de latidos. A jovem jurava não ter controle sobre seus atos, o que intrigava os médicos daquela época. Décadas depois, com base no caso de Dampierre e em outros, semelhantes, o neurologista francês Georges Gilles de la Tourette (1857-1904) descreveria uma síndrome que levaria seu nome. Trata-se de um transtorno neurológico hereditário, que costuma se manifestar na infância, caracterizado por movimentos repetitivos involuntários ou ruídos indesejados – ou, como se diz no jargão popular, tiques nervosos. Duzentos anos depois dos surtos da marquesa, pesquisadores de diversos países têm alertado para o surgimento de um novo e insólito tipo de cacoete. Sua origem é preocupante: as redes sociais, em especial o onipresente TikTok, com mais de 1 bilhão de usuários.

Uma série de artigos publicados em revistas médicas desde o começo da pandemia de Covid-19 tratou do aumento de casos de jovens que apresentaram início repentino de tiques motores e cônicos. Nas principais clinicas especializadas de Londres foram registrados seis por ano, em 2019, ante quatro por semana, no auge da pandemia, em 2020 e 2021. São sintomas diferentes dos da síndrome de Tourette (veja no quadro abaixo) e de prevalência feminina – os casos “clássicos” costumam acometer quatro homens para cada mulher. E o que tem o onipresente TikTok a ver com essa história? Verificou-se o uso e abuso de visualizações, entre as jovens acompanhadas em consultórios, de vídeos com a hashtag # tourettes. Um dos recortes do estudo cruzou dados dos consultórios e de mais de 3000 vídeos e revelou que diversas meninas passaram a replicar involuntariamente a palavra beans (feijão) com sotaque britânico, repetindo o tique de uma popular influenciadora. Ou seja, as meninas estavam “copiando” o transtorno alheio. Esse mimetismo já foi descrito como “doença psicogênica em massa”, mas costumava ocorrer em locais geográficos específicos. As redes sociais, porém, Ihe dão incômodo alcance global.

Dependendo da grande intensidade, os tiques podem ser tratados tanto com medicamentos quanto de maneira mais simples, com terapia cognitivo-comportamental. No entanto, já se sabe que os “tique­ toques” geralmente estão associados a problemas mais graves de autoestima, depressão e ansiedade. Eis o perigo da novíssima constatação. Assistir a vídeos de tiques pode representar um gatilho para grupos já vulneráveis. “Os adolescentes sentem uma necessidade muito primitiva de ser vistos e de ter uma identidade, mesmo que seja a de um doente”, diz Mauro Victor de Medeiros Filho, psiquiatra da infância e adolescência do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Ao ver vídeos de tiques, o corpo ‘aprende’ a imitá-los e isso pode acabar exacerbando o problema.” Complicações semelhantes ocorrem, segundo Medeiros, em conteúdos de autolesão não suicida, ou seja, de pessoas que se cortam sem intenção de se matar. Estudos comprovam que, quanto mais grave a mutilação exibida, mais os filmetes terão visualizações e comentários, viralizando. “As redes sociais reforçam esse comportamento, o que é muito preocupante”, diz Medeiros.

Ressalte-se que a profusão de tiques, agora revelada, acompanha uma tendência: na quarentena, entre quatro paredes, houve maciço aumento de casos de transtornos neuropsiquiátricos entre todas as idades. “Na pandemia, fomos privados de atividades mais sensoriais e de convivência, ficamos ilhados no ambiente doméstico”, diz o neurologista e neuropediatra Mauro Muszkat, coordenador do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Interdisciplinar da Unifesp. O uso abusivo de telas ao alcance das mãos representou, inegavelmente, um agravante. “Até mesmo bebês foram afetados por essa exposição exagerada”, afirma Muszkat. “Estimular o cérebro digitalmente é estimular o imediatismo, reações mais automáticas e menos reflexivas.”

Em nota, os responsáveis pelo TikTok se defenderam: “A segurança e o bem-estar de nossa comunidade são nossa prioridade, e estamos consultando especialistas do setor para entender melhor essa experiência específica”. Apesar da piada fonética pronta (tique-toque), os especialistas garantem que todas as redes podem apresentar efeitos nocivos. O que fazer, então? Moderação e atenção. Desde o ano passado, o TikTok, cuja idade mínima obrigatória para uso (nem sempre respeitada) é de 13 anos, tem uma ferramenta de controle parental, por meio da qual, ao ativar o emparelhamento familiar, os pais podem ter acesso aos vídeos vistos pelos filhos e gerenciar o tempo de tela. É recurso ainda pouco usado, mas é ótimo que exista. O zelo talvez seja a melhor arma contra o exagero, porque os tiques podem ser apenas a parte mais visível de um problema maior de saúde.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 17 DE DEZEMBRO

O PREGUIÇOSO PREFERE A MORTE AO TRABALHO

O preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam trabalhar (Provérbios 21.25).

O preguiçoso tem alergia a trabalho. Sente urticária só em ouvir tal palavra. Isso não significa que o preguiçoso se conforma com a pobreza. Ele tem muitos desejos, muitos sonhos, muitos projetos. Consegue até mesmo falar de seus altos ideais. Comenta com todos sobre seus sonhos audaciosos. Via de regra, é um indivíduo que tem um belo discurso, é articulado nas palavras e chega até a convencer as pessoas de seus arrojados empreendimentos. O problema é que os planos e desejos do preguiçoso estão apenas em sua cabeça. Ele não os tira do papel. Ele não põe o pé na estrada para perseguir seus ideais nem coloca a mão na massa para atingir seus alvos. O preguiçoso busca o resultado sem se comprometer com a causa. A riqueza, porém, é fruto do trabalho, e não da indolência. Os desejos se cumprem mediante o trabalho e o esforço. Como suas mãos se recusam a trabalhar, os desejos do preguiçoso não passam de devaneios. Ele morre desejando sem jamais alcançar o que deseja. Não tem coragem de estudar. Não tem ânimo para trabalhar. Não tem disposição para semear. O resultado é uma vida inteira de desejos e uma morte inevitável na pobreza.

GESTÃO E CARREIRA

POR DENTRO DAS PROFISSÕES – ENCARREGADO DE DADOS

Desde 2020, a Lei Geral de Proteção de Dados obriga empresas a terem um DPO (Data Protection Officer) – seja interno ou terceirizado. Cria-se aí uma nova oportunidade de carreira.

Saiu no Guardian,o jornal britânico, em 2015. Documentos mostravam que a empresa Cambridge Analytica, da Inglaterra, estava coletando e compartilhando indevidamente dados de milhões de usuários do Facebook para campanhas políticas.

Funcionava assim: as pessoas clicavam para jogar um quiz bobinho, e, sem perceber, concordavam em fornecer seus dados para o desenvolvedor – coisas como as páginas curtidas, a idade, a região onde mora. O app também coletava essas informações de todos os amigos do jogador.

Esses dados foram usados pela Cambridge Analytica para personalizar anúncios e propagandas em campanhas políticas, incluindo a do então candidato Donald Trump. No total, mais de 87 milhões de usuários podem ter sido afetados – 440 mil brasileiros.

O app, teoricamente, não descumpria nenhuma norma na coleta em si – o Facebook permitia (e permite até hoje, diga-se) que esses joguinhos armazenem dados do usuário, desde que avisem. Mas os termos de usuário do app não diziam para o que aqueles dados seriam usados.

O caso foi um escândalo global. E pressionou autoridades para que a regulação do uso de dados assim fosse mais rígida e clara. A pioneira foi a União Europeia, ainda em 2016. O bloco aprovou a primeira legislação que concentrava uma série de normas sobre como as empresas devem coletar, armazenar e usar os dados de seus usuários: o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, ou GDPR.

Não demorou para que o mundo começasse a copiar o texto. Em 2018, o Brasil aprovou a nossa própria versão da norma: a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em vigor desde 2020. Tanto a GDPR como a LGPD criaram uma nova profissão obrigatória, a da pessoa responsável por garantir que as empresas de fato passariam a cumprir a legislação. É o Data Protection Officer (DPO), chamado também de encarregado de dados.

O GUARDIÃO DOS DADOS

“O primeiro papel do DPO é ser o principal porta-voz e interlocutor sobre proteção de dados, seja com os titulares de dados, seja com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD)”, explica Patrícia Peck, sócia do Peck Advogados e conselheira titular do Conselho Nacional de Proteção de Dados (CNPD). Ou seja: se  um cliente tiver uma dúvida ou reclamação sobre quais dados a empresa coleta ou como são utilizados, é com o encarregado que deve falar. Por isso, seu nome e contato devem estar públicos para todos, de preferência no site da instituição. O cargo é obrigatório para todas as companhias que armazenem dados – incluindo as pequenas (ainda que haja discussões para tirar essa imposição das menores).

O encarregado também fica em contato com a ANPD, o órgão do governo federal criado para implementar e fiscalizar a LGPD. Caso o poder público tenha algum problema com a empresa, é o DPO que fará a ponte com o governo e tomará as medidas cabíveis.

Por lei, essas duas atividades de comunicação são as principais atribuições do encarregado. Mas o grosso do trabalho do cargo está na última função determinada pela LGPD: “orientar os funcionários da entidade a respeito das práticas a serem tomadas em relação à proteção de dados pessoais”.

O texto é vago, de fato. Mas, na prática, isso significa que o encarregado de dados é o responsável por assegurar que não aconteçam novos casos Cambridge Analytica, em suas respectivas proporções. Ele deve entender sobre todo processo da empresa que envolva dados de pessoas. Como e quais informações são coletadas? Quais funcionários têm acesso a esses dados? São usados para que tipo de atividades? E o armazenamento? É seguro?

A partir de toda essa análise, cabe ao DPO formular relatórios, manuais e sugerir alterações para assegurar que a empresa não tenha problemas com a LGPD. Para fazer isso bem feito, o DPO tem que combinar dois tipos de competências: as de teor jurídico, para entender o que pode e o que não pode, e as relacionadas a TI e cibersegurança.

Isso porque a LGPD também trata de vazamento de dados acidentais, quando hackers invadem o sistema das companhias para roubá-los, por exemplo. Nos últimos meses, Lojas Renner, JBS e Fleury sofreram ataques do tipo.

“No mercado, há dois perfis de DPO: o cyber, que traz habilidades mais da parte de tecnologia e cibersegurança, e o legal, que tem experiência com legislação, cornpliance e auditorias”. diz Peck. Em ambos os casos, o profissional deve procurar se atualizar na área em que tiver menos bagagem.

Falar é fácil, fazer é difícil. Por isso mesmo, a LGPD (diferentemente da GDPR) não exige que o encarregado de dados tenha exatamente essas competências para assumir o cargo. Qualquer um pode ser nomeado – inclusive, a lei permite o acúmulo de funções.

Não é incomum que pequenas e médias empresas nomeiem funcionários já contratados, como o próprio responsável pelo setor de TI, ou alguém formado em Direito que estivesse em outra área. Uma alternativa é contratar uma empresa externa para ser o DPO de seu negócio – a lei permite, e vários escritórios de advocacia e companhias de segurança cibernética já oferecem o serviço.

Empresas maiores, por sua vez, preferem investir em um profissional focado somente na área, o que cria uma nova oportunidade de carreira. Para quem pensa em ser DPO profissional, vale buscar certificações disponíveis no mercado, como a da EXIN e da IAPP, que trazem a combinação dos saberes necessários.

Há ainda uma terceira competência importante para profissionais do ramo, diz Patrícia: a da comunicação. Afinal, a função principal do DPO é ser um porta-voz. Se a empresa se envolver num escândalo de vazamento de dados, é esse o profissional que vai ter que lidar com a bomba – e tentar limpar a imagem da companhia.

Uma pesquisa do Comitê Privacy BR ouviu 83 executivos de grandes empresas para traçar o perfil do DPO no Brasil. Os resultados mostram que, entre os profissionais a assumir o cargo, 30% atuavam no setor jurídico, 16% em segurança da informação, 10% em tecnologia da informação, 10% em gestão de projetos e 8% em compliance.

UMA NOVA CARREIRA

Para Carla Prado Manso, ser DPO foi um caminho natural. Advogada de formação, ela atuava no setor jurídico da Compugraf, empresa de tecnologia da informação de São Paulo, quando a LGPD entrou em vigor. Então decidiu se candidatar ao cargo para assumir novas aventuras.

A principal mudança foi uma alteração da rotina: o trabalho com contratos e a lida com o juridiquês ficou para trás. Deu lugar a um dia a dia muito mais dinâmico. No papel de DPO, o contato com outras áreas da empresa virou uma constante, especialmente com os setores que mais lidam com dados- o RH e o marketing.

“O DPO precisa ter um bom relacionamento com todas as áreas. Se for uma pessoa chata, daquelas com quem ninguém quer falar, não vai rolar”, brinca Carla. “Às vezes você vai cutucar coisas que as pessoas já estão acostumadas a fazer, mas que precisam mudar.”

Outro desafio para a advogada foi desenvolver as skills necessárias na área de tecnologia. Neste ponto, Carla tem a vantagem de trabalhar em uma empresa relativamente grande, capaz de ter um time misto para dar suporte ao encarregado de dados – algo que está se tornando mais comum, mas ainda caminha devagar. Na pesquisa do comitê Privacy Br, 47% das empresas citaram a equipe reduzida como um dos desafios enfrentados pelo DPO; em 25% delas, a redução era drástica mesmo: o encarregado de dados trabalhava sozinho, sem auxiliares.

“Eu sempre falo: ’uma andorinha só não faz verão’. Sem meu time técnico me apoiando, não consigo ser DPO”, diz. “Se o marketing quer comprar um software novo para uma campanha, por exemplo, eu preciso entender como ele funciona e se garante a privacidade da informação”, e aí entra a ajuda da equipe técnica.

Neste ponto, vale lembrar que o DPO não é o comandante supremo dos dados de uma empresa – ele sequer é uma autoridade com poder de mandar e desmandar. “Não é o DPO que vai executar toda a implementação da legislação”, diz Patrícia Peck. Uma das recomendações é sempre formalizar e documentar suas atividades e orientações, para que, caso aconteça algum incidente, não pareça que houve uma omissão- o DPO pode ter feito uma recomendação que não foi implementada.

UM DIA NA VIDA

ATIVIDADES-CHAVE

Ouvir reclamações e dúvidas de clientes sobre os dados pessoais, fiscalizar a adequação da empresa à LGPD e orientar os funcionários sobre como manter os dados seguros.

PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS

Entender a LGPD e conhecimentos de compliance em geral; saber conceitos de cibersegurança e proteção de dados; ter boa comunicação com todos os setores da empresa.

O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA

A LGPD não traz nenhum pré-requisito – qualquer um pode ser DPO. Mas as empresas tendem a procurar pessoas com bom conhecimento jurídico.

PONTOS POSITIVOS

É uma profissão nova e obrigatória por lei. Com isso, as chances de iniciar uma carreira duradoura são boas, e quem começar agora sai na frente.

PONTOS NEGATIVOS

As atividades do DPO ainda estão sendo definidas pela ANPD. Além disso, algumas empresas jogam toda a responsabilidade da segurança dos dados no colo do encarregado, sem uma equipe para auxiliá-lo.

QUEM CONTRATA

Toda empresa deve ter um encarregado de dados, seja interno, seja externo. Escritórios de advocacia e empresas de T.I. contratam profissionais para servir de DPO remoto a outras companhias. E há as empresas que preferem contratar elas próprias o seu encarregado de dados.

SALÁRIO MÉDIO

Até R$ 20 mil

EU ACHO …

DIFERENÇAS POSITIVAS

Uma semana em que a frase ”sou diferente” foi dita a ela e repetida à exaustão como se ”o mundo” novamente estivesse testando sua compreensão e tentasse deixar clara a distinção entre grupos e, mais importante, desencorajasse-a a misturá-los. Sua realidade já tinha sido aceitar e viver dentro dessa regra das bolhas, mas foi rompida por uma curiosidade inata pelo outro, pelas tais diferenças irremediáveis. Sua história de vida passou a ser misturar-se com o diferente na vida pessoal e profissional. A tarefa diária de se manter quem se é, convivendo de perto com um mundo de outras possibilidades era um desafio que estava acostumada.

A vida seguia até que um encontro com alguém que estava categorizado como um definitivo “outro” e que deveria ser “descartado” como possibilidade de vínculo se tornou a prova final de sua tese, “somos mais parecidos que diferentes e o encontro com o diferente promove amadurecimento e preenche a vida”. Nascidos em países tão distintos quanto a Suécia e o Brasil, ele em uma família de designers, artistas e ela em uma tradicional família brasileira de um pai militar, estavam em momentos possivelmente mais distantes ainda do que já provavam suas histórias. Um homem focado no poderoso e rico mercado imobiliário versus uma mulher empreendedora com paixão por seu pequeno negócio. Fortes em suas posições, eles poderiam ter rapidamente descartado as possibilidades de contribuição com base no primeiro contato visual, pelas roupas que vestiam, já estava claro que eram incompatíveis. Será?

No entanto, escolheram avançar. Ele frio como um iceberg, ela um vulcão de emoções, se dedicariam a arranhar a casca das aparências, a eliminar a visão como primeiro sentido de reconhecimento, encarando com abertura e empatia o diferente para que a mágica pudesse acontecer. Nesse espaço aberto, o que era igual se tornou evidente e, assim, nasceram dois cúmplices. Tornaram-se sócios, enfrentaram os desafios de crenças vinculadas às suas culturas, usaram a audição como o  principal canal de conexão, o ouvir o outro como regra, o não reagir de imediato ao estímulos como fonte constante e desafiadora de reflexão, e a confiança no estranho como propulsor de um novo afeto. Completaram uma década de parceria profissional e pessoal. Continuam diferentes e naturalmente se tornaram mais parecidos do que nunca. Jantaram essa semana para comemorar um novo momento: o iceberg se emocionou, o vulcão o acolheu.

*** ALICE FERRAZ

ESTAR BEM

VOCÊ É MUITO COMPETITIVO? ENTENDA AS CONSEQUÊNCIAS

Pesquisadores debatem efeitos da competitividade em tempos de pandemia e sugerem que ela pode ser minimizada com cooperação

As pessoas competitivas são felizes? E ser competitivo é bom para os indivíduos ou, pelo menos, para a sociedade? Com atletas de ponta como a ginasta Simone Biles e a tenista Naomi Osaka falando abertamente sobre priorizar sua saúde mental em momento de pandemia, parece ser um bom momento para entrar em contato com especialistas para falar sobre o tema.

“A competitividade não é inerentemente boa nem ruim”, diz Jenny Crocker, professora de Psicologia Social da Ohio State University. “Ela pode ser motivadora, encorajar as pessoas a se esforçar, a expandir suas capacidades e a ter desempenho de alto nível. A competitividade é ruim quando competimos de maneiras que são ruins para as outras pessoas.”

Um estudo publicado em 2011 na revista Psychology descobriu que indivíduos hipercompetitivos – aqueles que precisam vencer a todo custo – eram mais impacientes do que seus colegas menos competitivos e apresentavam maiores problemas de saúde. Esses achados se somaram a pesquisas anteriores, entre elas um estudo de 1994 que descobrira que pessoas hipercompetitivas são altamente narcisistas e têm baixa autoestima e taxas mais altas de ansiedade e depressão do que as outras. “Um dos perigos de uma personalidade competitiva é que mesmo situações de não competitividade podem se tornar competitivas, e isso arruína sua experiência hedônica”, diz Stephen Garcia, professor de administração da Universidade da Califórnia em Davis.

Deforma mais ampla, Crocker diz que as pessoas são animais sociais que geralmente operam sob duas motivações principais: do ecossistema, que reconhecem grupos como conjuntos interconectados de indivíduos cujo comportamento afeta a saúde e o bem-estar dos outros; e o que ela chama de “motivações do ego-sistema”, em que as pessoas veem os outros como um meio ou um obstáculo para determinado fim. Entre os exemplos de atitudes de ego-sistema, estão apontar o erro de outra pessoa numa conversa para que você pareça melhor. “Ou quando você retém informações das outras pessoas com quem trabalha para resolver o problema antes delas.”

O OUTRO

Crocker é coautora de um estudo publicado em 2012 na revista Advances in Experimental Social Psychology, que descobriu que, quando as pessoas tentam gerenciar as impressões que os outros têm delas, “elas criam uma cascata de consequências negativas não intencionais para si mesmas e para os outros. Em contraste, quando as pessoas tentam contribuir para o bem-estar das outras, elas criam uma cascata de consequências positivas para si mesmas e para os outros”.

Alguns especialistas acreditam que a competitividade é ruim em quase todas as formas. “As evidências mostram que a quantidade ideal de competição em qualquer ambiente – na saúde mental, na qualidade dos relacionamentos, no interesse pelo que fazemos e pelo nosso desempenho – é nenhuma”, diz Alfie Kohn, autor de No Contest: The Case Against Competition.

“Quando não é possível eliminar a competição, o objetivo deve ser minimizá-la. O  arranjo ideal é a cooperação, onde meu sucesso depende do seu sucesso. O segundo melhor arranjo é a independência das metas, onde meu sucesso não é afetado por seu sucesso. O pior arranjo é competição, onde meu sucesso requer seu fracasso.”

CONTROLE-SE

***** Concentre-se numa meta que tenha a ver com a autossuperação e não com a derrota dos outros.

***** Se a competitividade lhe traz algum medo ou negatividade, tente liberar sua voz crítica.

***** Preste atenção à linguagem que você usa na competição. Almeje o esforço, a paixão e o “nós”.

***** Pense na diferença entre seus objetivos de resultado e seu propósito. O placar é só uma consequência de sua escolha.

***** Pratique a gratidão. Agradeça a cada pessoa que a ajudou a moldar positivamente suas capacidades.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MORTES LIGADAS A SELFIES SOBEM COM A MELHORA DA PANDEMIA

Ao menos 31 óbitos foram registrados este ano; comportamento arriscado é mais comum entre homens jovens

Tirar uma foto de si mesmo, ou apenas “fazer uma selfie”‘, nem sempre é inofensivo como parece. Para além dos perigos da exposição nas redes sociais, existe uma moda que cresce a cada ano: os registros em locais perigosos ou em situações arriscadas. E a preocupação de especialistas com a tendência não é à toa. Segundo um estudo publicado na última semana na revista científica Journal of Travel Medicine, pelo menos 379 pessoas morreram entre janeiro de 2008 e julho de 2021 enquanto faziam uma selfie considerada perigosa. O número, que havia diminuído com a chegada da pandemia de Covid-19, voltou a subir de forma rápida com a melhora da situação epidemiológica em diversos países, chegando a 31 mortes apenas nos primeiros sete meses de 2021, o equivalente a, em média, um óbito por semana, segundo dados de um estudo conduzido pela Fundação iO de Madrid, na Espanha, especializada em medicina tropical e do viajante.

Segundo a pesquisa, o país que mais registrou mortes desse tipo foi a Índia, com cem casos, seguida pelos EUA, com 39, e a Rússia, com 33. O Brasil ocupa o quinto lugar da lista, que contou com mais de 50 países, com 17 casos identificados durante o período analisado.

A organização também listou os dez locais mais mortíferos: as cataratas do Niágara, na divisa entre os EUA e Canadá; a catarata de Mlango, no Quênia; o Taj Mahal e o vale de Doodhipathri, na Índia: o arquipélago de Langkawi, na Malásia; os montes Urais, na Rússia; o Charco del Burro, na Colômbia; a ilha Nusa Lemborgan, na Indonésia; o Glen Canyon, nos EUA e, por fim, a praia da cidade de Penha, em Santa Catarina, no Brasil.

O local no sul do país registrou, inclusive, um dos 31 óbitos do ano, em 17 de janeiro, quando a professora Soliane Luíza, de 28 anos, caiu do costão da Ponta do Vigia enquanto fazia uma foto. A vítima foi arrastada por uma onda e chegou a ser resgatada pelos bombeiros, mas teve uma parada cardiorrespiratória e morreu antes de chegar ao hospital.

O estudo chama atenção, no entanto, que não são apenas turistas que acabam perdendo a vida nessas situações. Enquanto 141 mortes foram de pessoas que estavam viajando, 238 pessoas morreram no local onde moravam.

Os tipos mais comuns de mortes envolvendo selfies foram de correntes de quedas de lugares como cataratas, precipícios e telhados. que contabilizaram 216 dos 379 casos. Em seguida, situações que envolveram meios de transporte  deixaram 123 mortos; 66 pessoas morreram em afogamentos; 24 mortes foram por arma de fogo, 24 por descargas elétricas e 17 por animais selvagens.

Cerca de 41% das vítimas eram adolescentes de até 19 anos e 37% eram jovens com idade entre 20 e 29 anos. Além disso, 60% dos casos envolveram homens.

O levantamento foi possível graças a uma ferramenta de inteligência epidemiológica chamada Helmdllr-Project, que consegue identificar todas as informações publicadas na internet sobre esse tipo de acidente, como notícias em vários idiomas.

“AUSENTE PRESENTE”

A pós- doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e CEO da Bee Touch, startup de saúde mental, Ana Carolina Peuker, explica que dois fatores podem explicar o perfil da pessoa que busca essas situações de risco na hora de tirar uma selfie: o fenômeno descrito como “ausente presente”, em que as pessoas às vezes estão tão conectadas com a realidade virtual que acabam minimizando aspectos do seu ambiente imediato, e uma predisposição de algumas delas para comportamentos mais impulsivos.

“Hoje a gente tem uma cultura que reforça esse comportamento”, afirma.

OUTROS OLHARES

PESQUISA IDENTIFICA SINAIS DO CÂNCER DE PÂNCREAS

Cientistas apontaram 23 sintomas associados ao tumor, que costuma ser diagnosticado tardiamente, o que piora o prognóstico do paciente. Entre eles, estão sede constante, urina escura, inchaço e pele amarelada

Pesquisadores da Universidade de Oxford identificaram 23 sintomas associados ao câncer de pâncreas, incluindo dois até então não reconhecidos – como sentir sede e ter urina escura. O estudo foi apresentado na conferência virtual de 2021 do Instituto Nacional de Pesquisa sobre Câncer do Reino Unido, o NCRI Festival.

O levantamento mostrou que os pacientes normalmente apresentam sintomas até um ano antes de receberem o diagnóstico da doença e, no caso de sinais alarmantes, até três meses antes da descoberta.

O câncer de pâncreas é um dos mais letais por dois motivos: seu diagnóstico costuma ser tardio – o que piora o prognóstico – e seus tipos de tumores são agressivos – fazem metástase com facilidade e costumam voltar a aparecer no órgão mesmo depois da cirurgia. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer diagnosticados no Brasil e por 4% das mortes causadas pelo tumor. Os pesquisadores acreditam que seus achados ajudarão médicos generalistas ou de família – especialidades que normalmente têm um contato maior com a população não doente – a identificarem mais rapidamente sinais que possam contribuir para um diagnóstico precoce, aumentando as chances de sobrevida.

A pesquisa foi apresentada por Weiqi Liao, um cientista de dados da Universidade de Oxford. Ele e seus colegas analisaram dados de 24.236 pacientes que foram diagnosticados com câncer de pâncreas na Inglaterra entre 2000 e 2017, usando um grande banco de dados eletrônico (QResearch).

Os pesquisadores analisaram os sintomas dos pacientes em diferentes momentos antes de serem diagnosticados com câncer e os compararam com os sintomas de outros pacientes que não tiveram diagnóstico.

Pele amarelada (icterícia) e sangramento no estômago ou intestino foram os dois sintomas graves mais associados ao diagnóstico de adenocarcinoma ductal pancreático (ADP), o tipo mais comum de câncer de pâncreas, e aos tumores neuroendócrinos pancreáticos (TNE·P), a forma mais rara. Além disso, os pesquisadores identificaram a sede e a urina escura como sintomas previamente desconhecidos para ADP.

Os 23 sintomas ligados ao diagnóstico de ADP são: pele amarelada, sangramento no estômago ou intestino, problemas para engolir, diarreia, alteração do hábito intestinal,  vômitos, indigestão, massa abdominal, dor abdominal, perda de peso, prisão de ventre, gordura nas fezes, inchaço abdominal, náusea, flatulência, azia, febre, cansaço, perda de apetite, coceira, dor nas costas, sede e urina escura. Outros nove sinais foram relacionados aos TNE-P: pele amarelada, sangue nas fezes, diarreia, mudança nos hábitos intestinais, vômitos, indigestão, massa abdominal, dor abdominal e perda de peso.

Na avaliação de Alexandre Palladino, chefe da Oncologia Clínica do Inca e um dos líderes  do setor de tumores gastrointestinais do grupo Oncoclínicas, a pesquisa traz efeitos positivos e negativos.

“O estudo serve como um guia para médicos ficarem mais atentos para sintomas que podem ser importantes para o diagnóstico precoce. No entanto, por serem sintomas específicos, pode gerar um medo excessivo na população e uma grande demanda por diversos exames desnecessários.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 16 DE DEZEMBRO

CUIDADO COM A SOBERBA

Quanto ao soberbo e presumido, zombador é seu nome; procede com indignação e arrogância (Provérbios 21.24).

O homem vaidoso e arrogante, que trata os outros com orgulho e desprezo, é um zombador. O soberbo é aquele que se julga melhor do que os outros. Coloca-se acima dos outros e, por isso, sente-se no direito de zombar deles. O presumido se julga mais importante do que é, exalta-se a si mesmo acima dos demais e enche-se de indignação quando não é exaltado. A Bíblia fala do fariseu que foi ao templo para orar e, em vez de orar, fez um discurso de autoelogio, proclamando suas pretensas virtudes e comparando-se com o publicano, apenas para humilhá-lo. Esse fariseu soberbo não orou. Não falou com Deus. Falou apenas diante do espelho. Apenas acariciou sua vaidade e engrandeceu seu nome. O resultado dessa arrogância, porém, foi sua reprovação. Deus resiste ao soberbo e declara guerra àqueles que levantam monumentos a si mesmos. O soberbo e presumido zomba do próximo porque se sente possuidor de todas as virtudes e vê o próximo como o portador de todos os defeitos. Ele procede com indignação e arrogância porque pensa que todos devem arrastar-se a seus pés e dar-lhe a glória que julga merecer. O soberbo, porém, será humilhado, e sua zombaria se voltará contra ele mesmo.

GESTÃO E CARREIRA

MOVIMENTO ‘DESMOTIVACIONAL’ GANHA FORÇA

Durante a pandemia, redes sociais foram tomadas por memes que fazem piada do trabalho dos coachs e alertam para o excesso de positividade tóxica no trabalho

Os brasileiros alcançaram a maior taxa de ansiedade e de depressão entre 11 países analisados na pesquisa ”Mental Health Among Adults During the Covid- 19 Pandemic Lockdown” feita pela OMS. Neste contexto, frases como “Trabalhe enquanto eles dormem” surgiram como antídotos oferecidos por coaches, mas mostraram-se memes, ou melhor, frases desmotivacionais. “Aí vem o questionamento dessa exigência de um funcionamento positivo o tempo inteiro. A vida é feita de altos e baixos”, diz Paula Dione, psiquiatra da Holiste Psiquiatria.

A diretora de marketing da Associação Brasileira dos Profissionais de Coaching, Magnólia Abramo, acredita que “muitos que se dizem profissionais de coaching, por desinformação, acham que estão prontos para lidar com a natureza humana, e isso não é verdade”.

OS MEMES

A produtora de conteúdo Mila Costa resgatou vivências para produzir cenas satíricas de trabalho. Em um dos vídeos que compartilhou no Instagram, ela simula presentes inusitados de funcionários em uma comemoração ficcional. “Parabéns pelos seus 10 anos de empresa! Lapiseira é para quando você achar que acabou todas as forças você trabalhar mais e lembrar que sempre tem carga para botar”, ela dizia.

Falar de uma forma satírica sobrea romantização do excesso de trabalho não é estimular o pessimismo e a negatividade, defende Mila, é encontrar o equilíbrio. “Tem aquela pessoa que diz: ‘Vai da tudo certo’. Depois de, ‘pode não dar’.”

Outra integrante do movimento “desmotivacional” é Luíza Voll, sócia da plataforma de conteúdo e mídia Contente -, que lançou um desabafo no Instagram sobre o perigo das narrativas únicas ensaiadas por coaches: conquistas acompanhadas de  fórmulas ou receitas, que, como efeitos colaterais, afetam a autoestima a longo prazo. ”Nos culpamos, nos sentimos inferiores”, dizia no post. A necessidade de identificação foi repercutida na pandemia, principalmente pela nova noção de tempo, diz ela. “A gente viu uma completa falta de contorno, do início do trabalho, da hora do almoço, de um momento de descanso, das relações. Isso aos poucos nos adoece.”

Como efeito, os memes surgem para gerar uma provocação de que nada é definitivo.

EU ACHO …

O BARATO DO PEIXE

A sardinha plebeia deixou o nobre salmão para trás

A sardinha e o salmão são, no prato, uma espécie de Davi e Golias. Contra todas as probabilidades, e da mesma maneira que o jovem corajoso derrota o gigante na história bíblica, o peixinho leva a melhor em relação ao peixão. O salmão, que costuma se oferecer em postas atraentes, reúne todas as condições para vencer uma eventual disputa gastronômica e nutricional. A textura macia, a cor rosada e o sabor suave de sua carne inspiraram chefs do mundo todo a preparar receitas que entraram para o repertório de clássicos da cozinha. Já a modesta sardinha, em geral, vendida enlatada, não frequenta os cardápios dos melhores restaurantes e seria uma improvável piece de résistance num jantar para convidados especiais.

E, no entanto, o nobre das águas gélidas está sendo desbancado pelo mais plebeu dos espécimes que habitam os oceanos. A virada do jogo tem a ver com a poluição ambiental. O salmão, até pelo porte, é um peixe que, além de algas, se alimenta de outros peixes. Já a sardinha, que caberia na palma da mão, não tem tamanho para comer de tudo – é totalmente vegana. Num mundo ideal, o tamanho e a dieta dos peixes não seriam um problema. Mas, num mundo como o nosso, em que os oceanos se transformaram em depósitos do lixo produzido pelo homem, esses são aspectos que não podem mais ser ignorados. Nada seletivo com a comida, o salmão acaba ingerindo mercúrio. Não é o único a apresentar preocupantes níveis do metal tóxico em seu organismo. O atum e o bacalhau lhe fazem companhia, e o peixe-espada chegou a ter até sua comercialização proibida nos Estados Unidos. A sardinha, por sua vez, se mantém mais saudável pela alimentação mais rigorosa e limitada.

Não é de hoje, no entanto, que, mesmo sem espaço na alta gastronomia, o peixinho prateado faz algum sucesso. É uma iguaria típica portuguesa. Em Lisboa, por exemplo, o mês de junho é dedicado à sardinha, em homenagem ao santo padroeiro da cidade, Santo Antônio, que, segundo a tradição católica, pregava aos peixes. O bairro de Alfama, onde tudo acontece, fica tomado pelo aroma da sardinha assada em barracas espalhadas pelas ruas. É uma festa democrática, com portugueses e turistas consumindo sardinha no pão por pouco mais de 1 euro. Sim, além de nutritiva e gostosa, a sardinha é relativamente barata. Por aqui, dependendo do tipo, o preço é equivalente a um quinto do custo do salmão – uma comparação para prestar atenção em tempo de inflação em alta. Mas o valor que mais importa é o nutricional, não o comercial, ou a sardinha não estaria em alta, como se tem notícia, na preferência de milionários na costa do Mediterrâneo.

Aliás, é preciso desmistificar a ideia de que o alimento mais saudável é sempre o mais caro. Preço salgado e qualidade nutricional não andam necessariamente lado a lado. Alguns itens pouco prestigiados estão justamente entre os mais nutritivos. É o caso do amendoim, que, sendo o primo pobre das “nuts”, é o mais rico em proteínas. Outro exemplo é o ovo, já que a clara tem proteína com poucas calorias.

Considere, portanto, se não é hora de puxar a sardinha para a sua brasa.

*** LUCÍLIA DINIZ

ESTAR BEM

DIABETES ESTÁ ‘SAINDO DO CONTROLE’, ALERTA DOCUMENTO

Atlas de federação internacional aponta alta de 16% de casos no mundo

A Federação Internacional de Diabetes (IDF, sigla em inglês) divulgou esta semana os dados preliminares do Atlas Diabetes 2021. O documento mostra que houve um aumento de quase 16% nos casos da doença em adultos (de 20 a 79 anos) em todo o mundo.

Na última edição, publicada em 2019, eram 463 milhões de pessoas vivendo com a enfermidade, saltando para 537 milhões agora. Isto significa que dez a cada dez adultos desenvolveram a doença. E, apenas em 2021, a doença já foi responsável por 6,7 milhões de mortes em todo o mundo, ou seja, um a cada cinco segundos.

Para a IDF, este cenário mostra que o diabetes está “saindo do controle”. Rosane Kupfer, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes da Regional do Rio de Janeiro (SBD – RJ), explica que a constatação se dá pelo fato de o número de diabéticos ter crescimento muito acima das projeções feitas pela instituição. No relatório de 2019, a federação havia projetado que em 2030 a quantidade de pessoas com diabetes chegaria a 578,4 milhões, ou seja, um crescimento de 115,4 milhões em 11 anos. No entanto, em apenas dois anos, já são 74 milhões de novos casos da doença (64% do aumento projetado).

As novas projeções apontam que serão 643 milhões de adultos com diabetes em 2030 e 784 milhões em 2045. Os dados da IDF mostram também que quase metade dos diabéticos não sabem que possuem a doença. O dado é preocupante, já que a falta de tratamento pode gerar complicações graves à saúde – como problema de coração, lesões nos rins, cegueira e causar até a morte.

A federação alerta que quatro a cada cinco adultos com diabetes vivem em países de baixa e média renda.

“São vários os fatores que explicam esse dado. Primeiro, que nesses países falta acesso à informação, ao diagnóstico e ao tratamento. Além disso, a má alimentação, rica em carboidratos e gorduras, é um grande fator de risco para o diabetes. Nem sempre a população nesses locais tem acesso a uma dieta balanceada”, afirma Kupfer.

CASO BRASILEIRO

A nova estimativa da IDF sobre brasileiros com diabetes só será divulgada no próximo dia 6 de dezembro, quando o atlas for publicado. No entanto, os dados de 2019 apontavam que o país era o quinto colocado no ranking mundial, com 16,8 milhões de diabéticos. Nas primeiras colocações estavam a China (116.4 milhões), Índia (77 milhões), Estados Unidos (31 milhões) e Paquistão (19,4 milhões).

O Vigitel 2020 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), publicado em setembro de 2021 pelo Ministério da Saúde, mostra que Rio de Janeiro (11,2%), Maceió (11%) e Porto Alegre (10%) são as capitais com maior incidência de diabetes no país.

Os dados do levantamento brasileiro mostram que nas 26 capitais e no Distrito Federa, 18,2 % da população têm diagnóstico de diabetes, sendo a frequência maior entre as mulheres (9%) do que entre os homens (7,3%). A pesquisa mostra que em ambos os sexos, “a frequência dessa condição aumentou intensamente com a idade e diminuiu com o nível de escolaridade”.

Além da idade, são fatores de risco: obesidade ou sobrepeso, pressão alta, colesterol alto ou triglicérides altos no sangue, histórico familiar, histórico de diabetes gestacional e diagnóstico de pré-diabetes. A doença não costuma apresentar sintomas no começo, o que aumenta a importância dos exames de rotina.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O PASSADO PRESENTE

O primeiro medicamento capaz de retardar o avanço do Alzheimer no organismo entrou para avaliação na FDA, a agência regulatória americana

“Eu tenho medo de olhar para você e não saber quem você é”, disse Alice Howland (Juliane Moore, no papel que lhe deu o Oscar de melhor atriz em 2015), protagonista do filme Para Sempre Alice, acometida pelos primeiros sintomas de Alzheimer. De fato, poucos males são tão cruéis como viver sob a imposição do esquecimento – e ter consciência desta condição. Assim vivem os pacientes da doença nas fases iniciais. Principal causa de demência em homens e mulheres com mais de 60 anos, ela afeta 45 milhões de pessoas em todo o mundo, 1,2 milhão no Brasil. Há aproximadamente vinte anos as notícias não foram boas em relação aos tratamentos – os remédios se limitavam a postergar o avanço inexorável dos problemas cognitivos. Depois de décadas sem novidades, há uma mudança em movimento. O primeiro remédio capaz de retardar a enfermidade poderá ser aprovado pela FDA, a agência reguladora americana. Fabricado pela empresa de biotecnologia americana Biogen, em parceria com a japonesa Eisai, o aducanumabe mostrou conseguir ser capaz de reduzir o declínio neurológico, melhorando em especial a memória, o sentido de orientação e a linguagem dos voluntários. Além disso, também houve benefícios nas atividades diárias, incluindo administração de finanças pessoais, realização de tarefas domésticas como limpar, fazer compras e lavar roupa. A terapia consiste em uma infusão mensal e foi desenhada para pacientes nos estágios iniciais de Alzheimer. A conclusão da análise do órgão regulatório está prevista para o início de 2021. Um relatório publicado recentemente pela FDA concluiu que a Biogen mostrou evidências “excepcionalmente persuasivas” de que seu medicamento experimental é eficaz, o que aumenta as possibilidades de uma aprovação rápida. Um painel de especialistas, contudo, chegou a recomendar nesta semana que a FDA não aprovasse o medicamento, por falta de estudos que comprovem sua eficácia. A possibilidade de negativa deflagrou rápida reação de grupos de pacientes que temem atrasos. “O tempo perdido para os doentes, cônjuges, parceiros, mães, pais, avós, avós, tias, tios, amigos e vizinhos não pode ser recuperado. No equilíbrio dessas considerações, pedimos aprovação”, escreveu a Associação Americana de Alzheimer em uma carta ao painel.

Há o clamor por urgência pela notória falta de recursos da medicina contra o Alzheimer. Existem apenas quatro remédios disponíveis e todos agem nos sintomas da doença – e não na origem do problema em si. O novo remédio pertence a uma das novas e promissoras classes de substância, chamada de anticorpo monoclonal, que imita o funcionamento das células de defesa do organismo humano. Esse tipo de droga já é usada com enorme sucesso para câncer e está sendo testada com grande expectativa também em casos de Covid-19.

Vale para o Alzheimer o que é imperativo em outros acometimentos: o investimento em métodos de diagnóstico precoce. Diz a psiquiatra Tania Ferraz Alves, diretora das enfermarias do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo: “Até cerca de uma década atrás, um paciente diagnosticado com Alzheimer chegaria às fases mais graves da doença em apenas oito anos. O acompanhamento precoce praticamente dobrou esse prazo”. Isso porque uma pessoa precisava ter demência para ser diagnosticada com doença de Alzheimer. Hoje já é possível rastrear (ou ao menos suspeitar) com sinais muito sutis, como leve perda de memória e repetições. O objetivo da medicina agora é criar técnicas que detectem até mesmo antes do aparecimento de qualquer indício perceptível ao paciente, como acontece com diabetes ou doenças cardiovasculares. O processo de perda de neurônios e mudanças estruturais do cérebro começa de 15 a 20 anos antes de aparecerem os sintomas iniciais, “A intervenção nessa fase inicial de desenvolvimento da doença poderia mudar completamente o curso da doença”, diz o geriatra Otavio Castello, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer regional Distrito Federal.

Um dos exames mais impressionantes, desenvolvido pela Universidade Washington, nos Estados Unidos, poderá medir alterações na proteína beta-amiloide ao menos uma década antes dos primeiros estragos perceptíveis, por meio de um exame de sangue. Qualquer esforço é magnífico. “Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nossa ação, nosso sentimento. Sem ela, não somos nada”, escreveu o cineasta espanhol Luis Bunuci (1900 -1983) na autobiografia Meu Último Suspiro, sobre o Alzheimer que acometeu sua mãe. Vencer mais esse mal será uma grande vitória para a humanidade.

OUTROS OLHARES

STALKERS USAM INTERNET PARA ATERRORIZAR E DOMINAR MULHERES

Agora incluída no Código Penal, perseguição virtual tem efeitos concretos para vítimas, mas Justiça nem sempre entende que cabe reparação nesses casos

“Aceitaria sair comigo?” Não, obrigada.

“Gauchinha de merda”: “Não é não?” “Kkkkkkkk.” Não paras stalkers virtuais. Carolina  Cascaes, 33, queria muito trabalhar como atendente num camarote do Carnaval  paulistano de 2018. Era promotora de eventos, modelo gaúcha, recém-chegada à cidade. Tinha filha, marido. Explicou tudo isso para Junior, autor do convite acima. Em vão. Era dele o WhatsApp no anúncio das seleção.

Carol mandou sua foto, uma praxe no oficio, e de cara ele tentou emplacar um encontro. “Fui tentando me desvencilhar elegantemente sem perder a vaga. Até que começou a ficar muito pesado, começou com algumas grosserias”.

A conversa está lá, registrada sobre o desenho de um unicórnio fazendo cocô de arco-íris, a tela de fundo que ela usa no aplicativo. Junior primeiro diz que o parceiro de Carol não precisa saber se os dois saírem, depois pede: “Manda uma foto pra mim, de biquini ou lingerie, confia em mim”. Quando ela responde que não vai se submeter àquilo só para conseguir emprego, ele fica agressivo: “Vai se achando, filha. Do seu pacote já comi muitas kkkk”.

Conta vantagem sobre ganhar R$ 100 mil por mês “até mais, nunca contei, só sei o que entrego à Receita Federal. Promete por o nome dela na lista maldita para 450 empresas cadastradas.

Carol lamenta que o papo tenha tomado aquele rumo só porque ela “não quis transar” por trabalho. Decide alertar colegas. “Achei que fosse golpe só pra ver menina bonita, printei  tudo e postei no grupo de modelos que a gente tinha para avisar que era vaga fake. Eu não imaginava o que viria”.

As cenas do próximo capítulo ilustram um tipo de crime só recentemente reconhecido pelo Estado brasileiro: a perseguição, popularizada pela expressão em inglês, stalking.

Uma lei sancionada em março estipulou até três anos de prisão a quem “perseguir reiteradamente e por qualquer motivo, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade”.

O texto criou um tipo penal que não existia quando os caminhos virtuais de Carol e Júnior se cruzaram, três anos atrás. Quando a legislação deixa claro que o acossamento pode acontecer “por qualquer meio físico ou digital, “já reflete os tempos em que a gente vive”, diz a antropóloga Beatriz Accioly Lins.

A internet facilitou e muito o trabalho dos stalkers, afinal. Autora de “Caiu na Net: Nudes e Exposição de Mulheres na Internet”, Lins conta que acompanhou mulheres em situações que não se enquadravam nos tipos penais mais usados, como lesão corporal.

Daí que elas chegavam ao órgão público e “relatavam histórias em que eram  o tempo inteiro perseguidas, não tinham paz, mas não havia ofensa, ameaça”, afirma a antropóloga. “Então ficavam no limbo jurídico”.

Depois que Carol expôs nas redes o assédio que sofreu, Junior deixou de lado o kkkkk e partiu para o ataque. “Naquela noite me ligou 150 vezes, algumas de números desconhecidos. Ameaçou meu marido, minha filha. Aí começaram as ameaças de morte, perseguição. Sempre virtualmente”. Carol conta que o assediador postou telefone e fotos dela numa “página do Facebook de putaria” na qual meninas “se candidatavam para prostituição”.

Não foi só sua saúde mental que foi para o espaço. As intimidações a levaram a fechar seu perfil profissional no Instagram, vitrine para potenciais contratantes . Segundo a modelo, Junior também se passou por policial. “Disse que ia dar um tiro na minha cara. Foram meses e meses de inferno.” Carol nunca tinha visto esse stalker na vida. Samia Lisboa, 45, era casada com o dela.

A união se prolongou por duas décadas , mesmo depois de ele a agredir “a ponto de quebrar os dentes”. Na época, estava grávida pela segunda vez. “Foi por causa de  R$ 11. “Tinha ido fazer uma ultrassom. Bateu fome. Com o cartão do marido, comprou algo para comer. “Ele achou aquilo absurdo: por que não veio comer em casa?”, lembra. “Ela poderia ter morrido na minha barriga”, diz sobre a filha de 15 anos, que acabou de sair para uma academia perto da casa onde elas moram em Moema (zona sul de São Paulo).

Os anos foram passando, o marido enriqueceu, e refeições em restaurantes chiques viraram um “cala-boca” após ele se descontrolar, junto com viagens e carros importados (ela gosta de Mercedes).

Estava bem-servida no cardápio de violência contra a mulher: psicológica, patrimonial, física. “Vamos dizer que, de humilhação, degustei de todas . Fui chamada de lixo, de porcaria”, relata. “E ele gostava muito do meu pescoço, gostava de enforcar”.

Samia desculpava sempre. “Quando perdoei, perdoei por amor. Mas asa oscilações de humor do parceiro não pararam. As formas de falar que eu deveria morrer começaram a aumentar. Até um copo de vinho, se ele oferecesse, eu já ficava assim: o que é que tem dentro?”

O dia do “basta” chegou. Ela narra como se arrastou até uma porta de correr para se livrar do marido, que tentou estrangulá-la após uma discussão no escritório dele.

Com a ajuda do Justiceiras, rede de proteção à mulheres agredidas, Samia fez boletim de ocorrência e conseguiu uma medida protetiva. Fisicamente, o agora ex-marido não pode chegar perto. Veio então o cerco virtual.

A coisa começou a ficar estranha de dois anos para cá, após o término. Ele nunca teve redes sociais, mas pedia que funcionários fizessem perfis para segui-la, segundo sua ex.

De repente, muitas contas masculinas passaram a abordá-la. Esses homens conheciam seus gostos. Ela mostra sua página no Facebook – quase mil solicitações de amizade pendentes. Samia recebe a toda hora mensagens como “confesso que não pude me conter com tamanha beleza”.  Até pornografias no WhatsApp. “Eram pessoas me chamando de ‘meu amor’, aí mandavam vídeo pornográfico”.  Seu número de telefone também foi parar numa rede social de relacionamentos.

Ela sabe que a internet é um manancial de doidos e golpes. Mas o “timing” daquilo tudo, somado com o que ela ouviu de pessoas que conhecem o ex, lhe dão a certeza de que ele tem um dedo nisso.

Samia também desconfia que ele tenha implantado dispositivos clandestinos de monitoramento. “Eu falava coisas dentro do carro e da casa que ele vinha questionar. E eu: Ué, como ele está sabendo?”.

Para Samia, o pai de seus filhos espalha ratoeiras, virtuais tanto para vigiá-la quanto para jogar na sua cara que ela é saidinha demais com outros caras.

“Há a necessidade de provar que eu era uma traidora, uma pessoa de má índole, uma vagabunda. Mas quando o homem prova que a mulher é vagabunda, prova que ele é outra coisa, né? Fica ruim pro lado dele”.

Muito do cyberstalking tem a ver com ameaçar expor intimidades da mulher, como um nude enviado por ela ou o vídeo de uma relação sexual gravada sem seu conhecimento. Casos como o de Samia, contudo, escancaram como a perseguição ataca em várias frentes, sempre com um denominador comum.

“A tecnologia é mais um meio que o homem usa para silenciar a mulher; ter alguma forma de continuar mantendo domínio sobre ela”, afirma Juliana Cunha, diretora da Safernet, ONG que acolhe denúncias de crimes online. Como qualquer outra violência contra a mulher, tem muito a ver com reafirmar o poder que ele tem contra a mulher; levá-la a ter medo de você”. Em suma: “Fazer de tudo para fazer da vida dela um inferno”.

Cris Camargo, 49, que o diga. Seu pecado foi desenhar sobre um machismo típico em feiras de quadrinhos. A tirinha mostrava um rapaz parado para conferir o trabalho de um quadrinista, passando batido pelos próximos dois stands, de mulheres, voltando a se interessar pelo seguinte, outro homem. A legenda: “Ser artista mulher é ter sua mesa ignorada por machistas nos eventos”.

Quando a autora da HQ  “Ser Artista Mulher é”… decidiu reproduzir o que acontecia com ela e colegas, os haters não perdoaram. Uma “feminazi chata pra caralho” como ela só não era reconhecida por “ser fraca e copiar os traços do Maurício de Sousa”, disse um. “Ninguém tem culpa que a arte dela é uma merda que só atrai militante feminista, veio outro. “Bater uns bolos talvez resolva a doença mental que ela tem”.

E como esquecer deste comentário aqui? “Nesses eventos só tem virjão. Ter uma ppk te coloca em vantagem a qualquer desenhista homem do local. Se ainda assim não fez sucesso, é porque desenha mal pra caramba mesmo”.

“Os caras vão me atacar pra provar que não existe preconceito”, afirma Cris. ‘Chega a ser hilário”. Se ficasse só na artilharia rasteira das redes, vá lá. Mas não. A desenhista chegou a receber o que interpretou como ameaça velada de morte. “O cara dizendo que eu não devia mexer com esses assuntos, de criticar ações masculinas, porque eu poderia me arrepender, as pessoas sabiam onde me encontrar.”

Boa parte da violência de gênero que Cris sofre nas redes é crime de perseguição, diz sua advogada, Raphaella Reis, do DeFEMde (Rede Feminista de Juristas). O problema é que nem sempre a Justiça entende assim.

Quando um perfil forjou fake news sobre ela, que não reproduziremos para não dar corda a elas, Cris resolveu processar. O Judiciário paulista entendeu, em duas instâncias, que não caberia nenhum tipo de reparação.

Um trecho da sentença: “Ora, se ela estivesse de fato tão incomodada com as agressões verbais e, por conseguinte, com a sua reputação e com a repercussão que as acusações contra ela pudessem causar em sua vida, não teria se dado ao trabalho de responder as ofensas”.

A certa altura, um dos juízes do colegiado interrompeu a advogada. “Eu falando, ele rindo. Disse que o Judiciário não era pra frescura de internet”; afirma Reis. “É importante frisar que 76% das vítimas de feminicídio foram perseguidas, pois o homem autor de violência, ao perceber que não consegue “controlar a vida de uma mulher, prefere matar”, diz a advogada Sueli Amoedo, do Justiceiras.

O  dado é da entidade americana Stalking Resource Center, que inclui atitudes persecutórias presenciais e online.

Samia já teve medo de morrer. Com a ordem judicial de afastamento, a perseguição digital virou uma nova arma de silenciamento. Ela não se cala. Mostra no celular os perfis que inundam suas redes para importuná-la , muitos deles fakes. ‘Esses canalhas deveriam virar alimento de sucuri”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 15 DE DEZEMBRO

BOCA FECHADA, ALMA EM PAZ

O que guarda a boca e a língua guarda a sua alma das angústias (Provérbios 21.23).

Dizem que o peixe morre pela boca; o homem também. A língua desgovernada põe a vida toda a perder. Quem não domina sua língua envolve-se em muitas encrencas e entrega sua alma a muitas angústias. Precisamos colocar guardas à porta dos nossos lábios. Precisamos ser tardios para falar, pois até o tolo, quando se cala, é tido por sábio (Provérbios 17.28). Dificilmente arrependemo-nos do que não falamos. O silêncio é preferível às palavras tolas. Falar na hora errada, com as pessoas erradas, com a motivação errada e com o tom de voz errado é açoitar a nós mesmos com muitos flagelos. Uma língua destemperada é como uma fagulha que incendeia toda uma floresta. Uma língua maledicente é como um veneno mortal. Uma língua que espalha boatos e promove intrigas é um poço contaminado, cujas águas produzem morte, e não vida. Quantos casamentos já foram desfeitos por causa de palavras irrefletidas! Quantos relacionamentos já estremeceram e terminaram por causa de palavras insensatas! Quantas brigas e até mortes já aconteceram por causa de palavras prenhes de malícia e ensopadas de maldade! Se quisermos preservar nossa alma das angústias, teremos de primeiro dominar a nossa língua.

GESTÃO E CARREIRA

PRETOS E PARDOS COM FACULDADE GANHAM 31% MENOS QUE BRANCOS

Disparidade ocorre em todos os níveis educacionais e reflete desigualdade, diz IBGE

Pretos e pardos têm renda média do trabalho menor que brancos, mesmo com níveis de escolaridade iguais no Brasil. A conclusão é da Síntese de Indicadores Sociais de 2020, divulgada nesta sexta-feira (1) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o órgão, o resultado reflete o quadro de desigualdade de  oportunidades no mercado de trabalho.

A pesquisa mostra que, em 2020, a população identificada como preta ou parda tinha renda menor do que branco em qualquer um dos quatro níveis de instrução analisados.

Entre a população com ensino superior completo, pretos e pardos recebiam em média, por hora 30,8% a menos do que os brancos (RS 23,40 e RS 33,80, respectivamente). O indicador analisado é o rendimento real do trabalho principal por hora de trabalho, descontada a inflação.

Na faixa com menos estudo, que reúne pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, pretos e pardos recebiam 23,9% menos por hora do que brancos (RS7 e RS 9.10, respectivamente).

Na média das quatro faixas, pretos e pardos ganhavam 40,8% menos do que os brancos (R$10,90 e RS18,40). Com recorte anual, a Síntese avalia uma série de resultados nas áreas de economia, educação, habitação e saúde. O IBGE também indica que, em média, a população ocupada branca tinha rendimento médio real do trabalho principal estimado em RS3.056, por mês, no ano passado. Essa quantia era 73,3% maior do que a da população preta ou parda (R$1.764).

A administradora Sônia Lesse, 36, conhece bem a realidade desigual que os números divulgados evidenciam. Com duas graduações, especialização, pós-graduação e MBA, relembra diversas experiencias de trabalho em que ser negra e mulher significou disparidade de salário em relação aos colegas brancos e menor acesso a oportunidades.

Quando trabalhava em uma empresa de telecomunicações, ouviu dos gestores que a justificativa para a diferença salarial era a falta de diploma. “Quando me formei, disseram que os colegas recebiam mais porque tinham sido contratados em outro momento da empresa ou tinham mais experiência. Mas, conversando, eu via que a experiência deles era menor ou igual à minha”, conta.

Analista em uma instituição financeira, soube que um colega, homem e branco com a mesma formação e experiência, recebia o dobro pela mesma função.

A empresa prometeu a ela bônus e promoção, mas afirmou que a paciência em aguardar a reposição em sua renda era parte das habilidades esperadas da profissional.

“É como se buscassem justificativas para continuar dizendo não para quem é diferente. As exigências são maiores. A porta nunca está aberta por completo para nós”, diz.

As experiências inspiraram Sônia a se capacitar para ajudar pretos e pardos a enfrentarem a desigualdade de oportunidades. Hoje ela atua como consultora na área. A maioria dos profissionais que a procuram são mulheres. Oito em cada dez dizem que já passaram pela experiência de descobrir que ganhavam menos que os colegas.

“Diferença salarial é um ponto gritante. Pedem ajuda para negociar com a chefia cargos e salários cujas responsabilidades já exercem. Ter que convencer a liderança  de que devem ganhar o mesmo que colegas brancos é uma forma de violência”, diz Sônia. A assistente social, professora e consultora Verônica Vassalo, 39, enfrentou dificuldades similares. “Diversas vezes me vi em situações em que, mesmo com formação extensa e longa experiência, ganhava menos que pessoas brancas”, diz ela, que tem especialização, mestrado e pós-graduação em andamento.

Verônica construiu a carreira em grandes empresas e multinacionais e também passou a atuar como consultora empresarial na área de diversidade e inclusão. Para ela, as diferenças de renda média e remuneração evidenciam que os gargalos para redução da desigualdade racial entre profissionais perpetuam-se para além da admissão.

Embora exista um movimento recente de maior inclusão de negros no mercado de  trabalho – por meio de programas de trainees exclusivos para jovens pretos e pardos, por exemplo – é preciso pensar na retenção, remuneração e permanência desses profissionais, defende.

“Equidade racial não é só atrair para dentro da empresa. As empresas precisam pensar em estratégias para reduzir a desigualdade após essa inclusão”, afirma.

Segundo a consultora, o racismo estrutural persistente na sociedade brasileira reflete-se desde processos seletivos em que candidatos negros e pardos tenham as mesmas qualificações são preteridos até o momento em que o salário ou uma promoção definidas. Verônica e Sônia afirmam que os profissionais frequentemente se culpam pelo salário menor que recebem, atribuindo-os exclusivamente à própria formação ou desempenho, e são penalizados quando denunciam disparidades dentro das empresas.

E elas não se restringem ao salário. Verônica relata ter passado por situações explícitas de racismo em machismo em organização de assistência social em que trabalhou. Também relembra o momento, em outra empresa, em que seu gestor perguntou em frente à equipe como a profissional lavava os cabelos trançados.

Capacitar a alta liderança é medida estratégica para viabilizar a igualdade racial no mercado de trabalho, diz. Para atenuar a diferença salarial, avalia que as empresas precisam rever processos internos. “Elas precisam entender em quais momentos essas diferenciações entre os profissionais ocorrem e alterá-los para retirar esse viés”.

Sônia Lesse recomenda que os profissionais priorizem vagas em empresas que valorizem a competência profissional e equidade racial nos salários. “É importante também apontar os movimentos de exclusão que ocorrem e a responsabilidade das empresas em mudar esse cenário”.

EU ACHO …

SEM CARNE, SEM CARROS, SEM FILHOS

Até que ponto você está disposto a ir para ser ecologicamente correto?

“Eles” não fazem nada. “Eles” estão destruindo o planeta. “Eles” falam muito e agem pouco. Da rainha Elizabeth II à pirralhinha Greta Thunberg, todo mundo já teve um ou vários momentos de revolta contra a inação das autoridades competentes diante da degradação ambiental. O problema é que, nesse quesito, todos somos autoridades competentes. Na visão mais radical e menos confiante nas soluções tecnológicas, as dimensões da emergência ambiental exigem mudanças extremas de estilo de vida, muito maiores do que as reconhecidas pelos não iniciados. Até onde estamos dispostos a fazer sacrifícios em favor da limpeza do planeta? É conveniente conhecer algumas dessas mudanças e contemplar o que seria uma vida ecologicamente correta segundo padrões que emergem entre minorias e aos poucos vão se disseminando por estratos sociais mais amplos.

Roupas novas a toda hora, viagens de férias de avião e até banhos diários, confortos que se tornaram sinônimo de civilização, estão na lista negra. Churrasco, nem pensar. Tudo na criação de animais para consumo humano é considerado anátema para os ambientalistas, desde as pastagens onde 1 bilhão de cabeças de gado pisoteiam terras outrora virgens até os gases intestinais emitidos pelos simpáticos ruminantes. Bebidas e alimentos processados, embalados, envoltos em caminhas de plástico ou isopor? Esqueçam. E não adianta achar que separar o material reciclável alivia a barra. Reciclar embalagens plásticas “nem começa a resolver o problema”, avisou recentemente Boris Johnson, o primeiro-ministro que quer colocar o Reino Unido na vanguarda das mudanças ambientais nem que isso custe 1,4 trilhão de libras só para zerar a pegada de carbono até 2050. Johnson é do Partido Conservador, que normalmente seria mais simpático às necessidades da produção do que da conservação, mas também é antenado e entende o apoio da opinião pública ao combate aos estragos no meio ambiente. Pelo menos antes de saber quanto isso custa em impostos adicionais.

O primeiro-ministro britânico é um amador diante do príncipe Charles, um ecologista avant la lettre, pioneiro na implantação da agricultura orgânica. Ridicularizado, no passado, por falar com plantas, hoje ele fala como uma autoridade mundial no assunto e ganhou um palco especial na COP26. “Sei que estamos falando de trilhões, não de bilhões de dólares”, disse o futuro rei, apelando a uma mobilização ao “estilo militar” por parte das indústrias privadas. Na sua visão do futuro, as cidades serão recortadas por corredores verdes, por onde moradores vão caminhar ou pedalar por cinco a dez minutos até o trabalho. Pelo menos Charles teve a honestidade de avisar que vai custar caro.

A vida sem carros é até normal, se comparada à vida sem filhos. Uma pesquisa feita no ano passado nos Estados Unidos mostrou que a preocupação ambiental influenciou 26% dos adultos sem filhos na decisão de não procriar. É triste a demonstração de descrença na civilização manifestada quando números significativos de pessoas resolvem não ter filhos porque acham que agravarão a degradação ambiental. Parecem ter desistido da humanidade e da formidável capacidade de percepção de Albert Camus quando disse que “a grandeza do homem está na sua decisão de ser mais forte do que a sua condição”.

*** VILMA GRYZINSKI

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