OUTROS OLHARES

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA AINDA ASSOMBRA MULHERES NO BRASIL

País, no entanto, avança na assistência ao parto; pesquisa da Fiocruz mostra que 30% de 626 maternidades públicas oferecem atenção inadequada a mãe e ao bebê

No trabalho de parto vaginal em maternidade pública de Pelotas (RS), a estudante de farmácia Sabrini Ramos de Carvalho, 29, não conseguia ficar deitada. Explicou ao médico que sentia dores insuportáveis. “Pedi para ficar em pé ou agachada, posições mais confortáveis. Mas ele disse não, que quem mandava ali era ele”.

Com dilatação de 9 cm e fortes contrações de expulsão do bebê, indicativos de que o parto estava próximo, Sabrini recebeu na veia, sem ser avisada, ocitocina (hormônio que provoca contrações no útero). Também sem informação prévia, sofreu um corte entre a vagina e o ânus (episiotomia) para facilitar a passagem do bebê. A episiotomia tem altas chances de complicações, como sangramento e infecção. A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que seja feita apenas em situações excepcionais, quando há risco para a mãe ou o bebé e, ainda assim, com aval da parturiente . “Levei muitos pontos, perdi muito sangue. Passei muito tempo na função de chorar, muito frustrada por não ter tido o parto que eu queria”.

A fisioterapeuta  Ariane Nogueira, 34, também sofreu uma episiotomia sem ser avisada. “Comecei a sentir muita dor; perguntei o que estava acontecendo e falaram que estavam suturando o corte. Não queria ter feito, não informaram que fariam. Depois, os pontos abriram, infeccionaram”.

Os sustos continuaram nos dias seguintes. O bebê apresentou icterícia que não melhorava com os banhos de luz na maternidade. Foi a própria Ariane que descobriu a causa: a máquina, com manutenção vencida havia mais de um ano, estava obsoleta. “As pessoas me perguntam se eu quero ter um outro filho, eu digo que não. Não quero passar nem perto daquilo de novo”, diz.

A bióloga Alinca Peres da Fonseca, 38, saiu da maternidade com uma fratura na costela. Durante o parto do filho caçula, ela foi submetida à manobra de Kristeller; prática que consiste em pressionar a barriga da gestante para empurrar o bebê. O mecanismo contraindicado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, pode comprometer a saúde da mãe e do bebê. No lugar da costela fraturada, Alinca tatuou a palavra “Renascimento”.

“Essa manobra (de Kristeller) considera o corpo da mulher um tubo de pasta de dente. Eu aperto aqui em cima da barriga e o bebê espirra lá em baixo. Há relatos de ruptura de útero, de fígado e de baço, de fratura de costela. O pessoal faz uma força tão descomunal que estoura a mulher”, diz a médica Daphne Rattner, professora da UnB (Universidade de Brasília) e presidente da Rehuna (Rede pela Humanização do Parto e Nascimento).

Além das práticas já descritas, também são frequentes relatos de violência psicológica e agressões verbais contra gestantes no trabalho de parto, como “na hora de fazer não gritou” ou “você não está ajudando, seu bebê pode morrer”.

Em 2014, a OMS reconheceu esse conjunto de abusos sofridos pelas mulheres como violência obstétrica, uma questão de saúde pública e de violação de direitos humanos.

Mas em 2019, o Ministério da Saúde assinou um despacho pedindo que a expressão fosse evitada e, possivelmente, abolida em documentos de políticas públicas. Atendia a uma reivindicação da classe médica, que não aceita o termo.

No entanto, por recomendação do Ministério Público Federal, a pasta recuou da decisão e reconheceu o legítimo direito de as mulheres usarem o termo “violência obstétrica” para relatar maus-tratos, desrespeito e abusos no momento do parto.

A maior pesquisa nacional sobre parto, a Nascer Brasil, realizada entre 2011 e 2013n com 24 mil mulheres, mostrou que 45% das gestantes que tiveram seus filhos no SUS relatavam maus-tratos. Uma nova edição está em curso para verificar como está a situação dez anos depois.

Mas há sinais de que houve avanços na humanização e assistência ao parto, segundo estudo feito em 2017 e divulgado em abril deste ano pelo Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pela Universidade Federal do Maranhão. O trabalho ouviu 10,5 mil mulheres que tiveram seus bebês  em 626 maternidades públicas que fazem parte da Rede Cegonha, estratégia do Ministério da Saúde criada em 2011 com o intuito de melhorar a assistência às mulheres na gestação, no parto e no puerpério. O índice de episiotomia, por exemplo, caiu de 47% em 2011 para 27%, em 2017. O da manobra de Kristeller, de 56% para 15%. E a taxa de mulheres que tiveram o direito ao acompanhante no parto passou de 30% para 85%.

O mesmo estudo mostra, porém, que ainda há muito que avançar. Por exemplo, apenas um quinto das mulheres teve acesso a analgésico no parto. Cerca de 30% das maternidades oferecem uma atenção considerada, inadequada a gestante e ao bebê. Dois terços das instituições (66,2%) têm condições estruturais precárias.

Para a médica Simone Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, o aumento da presença do acompanhante durante o parto tem sido fundamental na redução da violência obstétrica. “O acompanhante é uma testemunha. Ele tem um efeito mágico em reduzir formas de abuso verbal, de constrangimento de natureza sexual do tipo ‘na hora de fazer, você gostou”; de ridicularizar os pedidos de ajuda da mulher.”

Segundo ela, o fato de os movimentos sociais terem nomeado como violência obstétrica procedimentos técnicos que eram feitos rotineiramente, como a episiotomia e a manobra de Kristeller; também acelerou o ritmo das mudanças nos modelos de assistência obstétrica.

“Em alguns serviços de São Paulo, fazer atualmente manobra de Kristeller é motivo de demissão por justa causa. Era uma questão totalmente invisível há dez, 15 anos. Não tinha nem registro em prontuário”.

Para Daphne Rattner, nos últimos anos, a visão de humanização do Ministério da Saúde avançou nas ações de cidadania, como garantia de a gestante ter acesso a seis consultas de pré-natal e direito ao acompanhante, mas ainda há muitos problemas nas relações interpessoais do profissional de saúde com a gestante.

“A gestão do serviço de saúde é corresponsável por essa violência porque muitas vezes sabe que o profissional o comete, mas não faz nada para impedi-la”, diz a médica.

A adoção de práticas e cuidados não baseados em evidência científica também é outro problema recorrente.

“Muitos profissionais de saúde e faculdades de medicina não se atualizaram. Continuam adotando práticas nos corpos das mulheres que já deveriam ter sido banidas”, afirma.

Segundo o estudo da Fiocruz, houve avanços importantes na assistência ao parto pelos médicos. “Não só a enfermagem introduziu boas práticas. Os médicos, também aderiram a esse novo modelo de fazer parto. Claro que ainda não é na intensidade que a gente quer, disse a médica Maria do Carmo Leal, coordenadora do estudo.

A médica epidemiologista Fátima Marinho, consultora da organização de saúde pública Vital Strategies, fJirma que os casos de violência obstétrica refletem a ação dos direitos reprodutivos. “A maternidade ainda é vista como dever; obrigação social esperada da mulher”.

Segundo Marinho, é preciso que haja uma mudança na conduta ,médica a partir do rastreamento de problemas que inda persistem e resultam na violência.

“A impunidade gera as más condutas. $e [os obstetras] souberem que ninguém está olhando e vai tomar providências, eles mudam as práticas”. Em maio do ano passado, uma obstetra de Pelotas (RS) foi agredida a socos e pontapés durante um parto pelo marido de uma gestante, que o acusou de violência obstétrica. Um inquérito policial concluiu que o homem praticou crime de lesão corporal e ameaça contra a médica. Ambos os casos tramitam na justiça.

Depois do episódio, mais de cem denúncias de violência obstétrica vieram à tona. Segundo a advogada Laura Cardoso, presidente da ONG Nascer Sorrindo, grupo de apoio ao parto humanizado, as mulheres foram orientadas a procurar o Ministério Público Federal, mas nenhuma denúncia acabou prosperando.

Três meses antes desse episódio, o município havia aprovado a Lei do Parto Seguro, articulada pelo movimento de mulheres, após a morte da jovem Débora Duarte, de 22 anos por hemorragia depois de uma cesárea.

Após muita polêmica e pressão da classe médica, a expressão “violência obstétrica” foi retirada do texto da lei.  À época, o Simers (sindicato dos médicos do Rio Grande do Sul) disse que o termo “não dava segurança jurídica para o exercício da medicina”.

Não há uma lei federal que tipifique a violência obstétrica, mas certas condutas podem ser enquadradas como crime comum. Por exemplo, episiotomia e manobra de Kristeller podem ser enquadradas como lesão corporal.

Nesses casos, segundo a advogada Laura Cardoso, a mulher deve procurar uma delegacia de polícia e registrar um Boletim de Ocorrência. Na área cível, é possível ingressar com ação de indenização por danos materiais e/ou morais. Casos de violência obstétrica também podem ser denunciados pelo Disque 136, se o parto ocorreu em maternidade do SUS, ou pelo Disque 180, que recebe denuncia de violência contra  a mulher.

Dados do estudo ‘A cor da dor”, publicado em 2017, mostram que as negras tendem a sofrer ainda mais. “Por exemplo, oferta-se menos analgesia de parto como se elas lidassem melhor com a dor; tipo ‘ela é negra, ela aguenta”, afirma Daphne Rattner.

A pesquisa com maternidades da Rede Cegonha reforça a existência dessas disparidades raciais, mas mostra que elas foram reduzidas entre 2011 e 2017. Entre as mulheres brancas, a taxa de analgésico durante o parto passou de 10,2% para 26,1%. Entre pardas, de 6,5 para 17,2% e entre as pretas, de 6,1% para 17,6%.

A oferta de massagem aumentou  6,4  vezes entre as brancas (de 6,8% para 27,4%), sete vezes entre as pardas (de 4,1% para 24,6%) e nove vezes entre as pretas (de 2,6% para 21%). “Isso não quer dizer que elas (pretas e a pardas) estejam melhores, mas que estão mais próximas. Isso é algo que temos que fazer no sus”, disse a médica Maria do Carmo Leal.

Para Antônio Rodrigues Braga Neto, diretor do departamento de ações programáticas e estratégicas do Ministério da Saúde, embora ainda haja problemas, a pesquisa demonstra que houve claros avanços na assistência ao parto no país após a implantação da Rede Cegonha.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 27 DE DEZEMBRO

ARMADILHAS NO CAMINHO

Espinhos e laços há no caminho do perverso; o que guarda a sua alma retira-se para longe deles (Provérbios 22.5).

O caminho do homem mau está crivado de espinhos e salpicado por muitas armadilhas. É como um terreno minado, cheio de bombas mortais. Andar por esse caminho é caminhar para a morte. Um caminho cheio de espinhos é uma estrada de dor e desconforto. Espinhos ferem os pés e embaraçam os passos. Os espinhos nos impedem de caminhar vitoriosamente. Laços são tramas invisíveis, porém reais. São laços que prendem, arapucas que atraem e armadilhas que matam. Os prazeres da vida, as aventuras sexuais e a tentação do lucro fácil são banquetes convidativos. As taças cheias de prazeres resplandecem diante dos olhos dos transeuntes que atravessam esse caminho. Essas taças, no entanto, contêm veneno, e não o vinho da alegria; geram escravidão, em vez de liberdade; promovem a morte no lugar da vida. O pecado é um grande embuste. Usa uma máscara muito bonita e atraente, mas por baixo dessa aparência encantadora esconde uma carranca horrível, o espectro da própria morte. Quem guarda a sua alma retira-se para longe do perverso. Não anda em seus conselhos, não se detém em seus caminhos nem se assenta em sua mesa. O homem sensato foge das luzes falsas do caminho do perverso para andar na luz verdadeira de Cristo.

GESTÃO E CARREIRA

AS LIÇÕES DOS BEATLES SOBRE O TRABALHO EM EQUIPE

Paul está dedilhando seu baixo em um estúdio em Londres. George boceja e Ringo observa sem prestar muita atenção. John está atrasado, como de costume. De repente, a mágica acontece. Uma meio-dia  começa a tomar forma, George acompanha Paul com sua guitarra e Ringo, batendo palma. Quando John chega, o mais novo single dos Beatles, “Get Back, está incrivelmente reconhecível.

“Get Back” é a base tanto desse momento memorável como o título de um maravilhoso novo documentário de Peter Jackson, que mostra o registro dos dias que a banda  passou junta em janeiro de 1969, escrevendo e gravando músicas para um novo álbum. Para os fãs de música, cultura pop ou criatividade, o filme é uma coleção de pequenos tesouros. Quando George está tendo dificuldades para compor o trecho após “Something in the way she moves” (Algo na maneira como ela se movimenta), John dá um conselho. “Basta dizer o que vier à sua cabeça toda vez – ‘arrracts me like a cauliflower’ (Me atrai como uma couve-flor) – até encontrar as  palavras certas.”

Os executivos também deveriam ver esse documentário. A questão do que faz uma equipe “cantar” é um ponto básico da pesquisa em gestão, e o documentário dos Beatles é uma chance única de observar uma equipe realmente de alto nível em ação. O filme reforça princípios conhecidos e oferece outros também.

Pense no papel de Ringo, por exemplo. Quando não está tocando de verdade, o baterista da banda passa a maior parte do tempo sonolento ou parecendo estar perdido. Quando os outros três músicos discutem, Ringo sorri contente. Para um observador desatento, ele talvez pareça não ser necessário. Mas, musicalmente, nada funciona sem ele e, como integrante da equipe, ele atenua conflitos e limita divisões.

A composição psicológica é importante para a forma como as equipes unem forças. Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que o desempenho dos grupos não está correlacionado com a média da inteligência de seus participantes, mas com características como sensibilidade e o quanto as equipes são boas em dar a todos tempo para falar. Ringo oferece apoio; a banda seria menos coesa sem ele.

INSPIRAÇÃO

Outro princípio reforçado pelo documentário: procure inspiração aqui, ali e em todos os lugares. Em um estudo da McKinsey, mais de 5 mil executivos foram solicitados a descrever o ambiente no qual tiveram suas melhores experiências como parte de uma equipe. Entre outras coisas, foi identificada a importância da “renovação”, o hábito de evitar ficar ultrapassado correndo riscos, aprendendo com os demais e inovando.

“Get Back mostra uma equipe de superstars adotando exatamente esse ethos: tocar as músicas de outras bandas, agarrar ideias como aves capturam suas presas e aceitar conselhos e ajuda de pessoas de fora da equipe com todo prazer. É a participação de um pianista chamado Billy Prestou, conhecido do grupo desde os tempos em que tocou em Hamburgo, o que realmente faz as sessões de gravação começarem a funcionar. (“Vamos fazer dele o quinto Beatle”, sugere John. “Já é ruim o bastante com quatro”, suspira Paul).

Uma terceira mensagem do filme diz respeito a quando e como deixar uma equipe trabalhar. Em uma iniciativa de 2016 chamada Projeto Aristóteles, o Google tentou definir as características de suas equipes mais eficientes. Uma de suas descobertas foi que os objetivos devem ser “específicos, desafiadores e possíveis”.

Quando os músicos se encontram pela primeira vez, no segundo dia de 1969, a banda tem uma tarefa que se encaixa perfeitamente nesses critérios: compor novas  músicas dignas de um álbum em apenas alguns dias e apresentá-las em um especial de TV. Mas como alcançam esse objetivo fica, em grande parte, nas mãos deles. Isso nem sempre funciona.

A certa altura, Paul anseia por uma “figura central paterna” para orientá-los. Contudo, a combinação de prazo e autonomia produz resultados extraordinários.

Há limites para o que pode ser aprendido com “Get Back”. Os Beatles nem sempre apoiam uns aos outros – George, sentindo-se menosprezado por John e Paul, abandonou a banda por alguns dias. As drogas tiveram um papel importante no que eles produziram: o LSD talvez seja algo inaceitável para alguns gestores. Embora a habilidade técnica não seja o único fator de sucesso, o enorme talento ajudou. Qualquer banda com um Lennon, um McCartney e um Harrison teria uma vantagem.

Mas há uma lição maior. Os Beatles amam o que fazem para ganhar a vida. Quando não estão tocando, estão conversando sobre música ou pensando nisso. Eles tocam as próprias músicas, cena após cena e improvisam constantemente. Os gestores que pensam que para construir espírito de equipe é preciso uma atividade separada do trabalho – aqui vai uma dica: deixem para lá os arremessos de machado, batalhas de gifs ou qualquer outra coisa igualmente abominável – perdem de vista um ponto fundamental. As equipes com os melhores desempenhos alcançam maior satisfação não individualmente, mas pelo trabalho que realizam em conjunto.

EU ACHO …

DUAS HORAS DE PRESENTE

Ganhei duas horas memoráveis de presente de Natal. Numa noite da semana passada, exausta pelas atividades do dia e pela pressa que caracteriza essa época de festividades, me sentei em frente à tevê e escolhi para assistir, no cardápio da Netflix, ao novo filme do italiano Paolo Sorrentino, “A mão de Deus”. Não imaginava que estava abrindo o melhor pacote que poderia ser deixado embaixo da minha árvore.

É o que chamo de timing perfeito. No encerramento de mais um ano tenso e difícil, nos chega esse convite para pisar nas nuvens. Sorrentino, de “A grande beleza”, nos presenteia com outra epifania, um filme que inicia excêntrico e imprevisível, até que, aos poucos, começa a tocar ao divino. É a história de Fabietto, jovem de 17 anos que está prestes a realizar um sonho: ver seu ídolo Maradona jogar no Napoli, o time da sua cidade. Mas a vida lhe reserva ainda outra surpresa, um forte empurrão para que se despeça da sua inocência.

Parece um roteiro como qualquer outro, mas quem está no comando não é qualquer diretor. Sorrentino dá uma aula sobre seu ofício. Posiciona a câmera de modo a extrair ângulos incomuns e confirma a máxima felliniana de que o cinema não precisa servir para nada, a não ser para nos distrair da realidade. E assim somos arrebatados pelo extremo fascínio de suas imagens e flutuamos em outra dimensão, pra longe da vulgaridade dos julgamentos.

Por duas horas, esquecemos do mundo politicamente correto, das disputas entre o certo e o errado, da obrigatoriedade de tudo ter que fazer sentido. O absurdo vem buscar seu lugar de fala. O racionalismo cede lugar ao sensorial. A fantasia conquista o pódio máximo da realização humana. Nápoles, aquela cidade caótica, suja e barulhenta que costumamos ver em enquadramentos realistas, torna-se uma joia neoclássica, uma metrópole cintilante. Até um engarrafamento no trânsito apresenta-se em majestosa organização.

Sorrentino eleva o status das caricatura, abençoa as alegorias e impede nosso abatimento – é proibido ficar entediado. Não há uma única tomada que não seja gloriosa, mesmo as breves. É noite. Numa rodovia à beira-mar, um carro com urgência para chegar em um hospital vai ultrapassando os outros, num balé de faróis, sombras e movimento ritmado. E uma cena qualquer se torna “a” cena.

Que filme bem-vindo depois de uma pandemia que colocou a todos de joelhos diante da crueza dos fatos e da vida. E como se a mão de Deus nos tirasse do meio dessa bagunça e nos jogasse em outro plano. Uma experiência cinematográfica formidável. Se antes eu era admiradora, me tornei devota de Sorrentino, e devoção me parece uma palavra adequada ao final de mais um dezembro.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CINCO HORAS DE EXERCÍCIOS MODERADOS POR SEMANA PODEM PREVENIR ALGUNS TIPOS DE CÂNCER

Estudo concluiu que mais de 46 mil casos anuais da doença seriam evitados nos EUA se as pessoas tivessem rotinas ativas

Mais de 46 mil casos de câncer nos Estados Unidos podem ser evitados a cada ano se a maior parte da população americana caminhasse por cerca de 45 minutos por dia, mostrou um novo estudo revelador sobre sedentarismo, exercícios e doenças malignas. O trabalho, que analisou a incidência de câncer e os hábitos de atividade física de quase 600 mil homens e mulheres americanos descobriu que 3% dos casos de câncer comuns nos EUA estão fortemente ligados à inatividade. Algo tão simples como se levantar e se mover, sugerem as descobertas, pode ajudar dezenas e milhares de pessoas a evitar o desenvolvimento de câncer nos próximos anos.

Já temos multas evidências de que os exercícios têm impacto no risco de câncer. Em experimentos anteriores, a atividade física mudou o sistema imunológico de maneiras que ampliam a capacidade do corpo de lutar contra o crescimento do tumor.

A atividade física também foi associada a uma sobrevida maior de pessoas com certos tipos de câncer, possivelmente aumentando os níveis de substâncias inflamatórias que inibem o crescimento das células cancerígenas. Uma revisão de 2016 no JAMA Internal Medicine concluiu que nossos riscos para pelo menos 13 tipos da doença, incluindo câncer de mama, bexiga, sangue e reto, caem substancialmente se formos fisicamente ativos, e um relatório separado de 2019 calculou que essas reduções poderiam chegar a 69%.

Ao mesmo tempo, muitos estudos mostraram que ser inativo aumenta os riscos para vários tipos de câncer. Surpreendentemente, no entanto, os cientistas sabem pouco sobre como esses riscos se traduzem em casos reais ou, mais concretamente, quantas pessoas a cada ano têm probabilidade de desenvolver câncer por causa do sedentarismo.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Portanto, para o novo estudo, que foi publicado em outubro na Medicine & Sciencein Sports & Exercise, os pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer e da Universidade Emory, em Atlanta. Usaram um tipo sofisticado de análise estatística chamada “PAF” para medir a ligação entre câncer e inatividade.

PAF é a sigla em inglês para “fração atribuível à população” e é uma forma matemática de os cientistas estimarem quantas ocorrências de uma doença – ou respostas a medicamentos ou outras reações biológicas – em uma população grande podem ser o resultado de um comportamento específico ou de outro fator. Ela pode nos dizer por exemplo, quantos casos anuais de câncer de cólon – dentre todas as ocorrências conhecidas da doença a cada ano – podem ser atribuídos ao fumo, ao álcool, aos alimentos gordurosos ou a excessos em geral.

Para calcular o PAF de câncer resultante de inatividade, os cientistas da Sociedade Americana do Câncer inicialmente extraíram dados anônimos do banco de dados de Estatísticas do Câncer dos EUA sobre casos para todos os americanos com 20 anos ou mais entre 2013 e 2016. A equipe se concentrou no total de casos de câncer quanto em sete tipos de câncer que, em estudos anterior e estavam intimamente ligados em parte á atividade (ou inatividade), que são tumores de estômago, rim, esôfago, cólon, bexiga, mama e endometrial.

Em seguida, verificaram quanto os adultos americanos afirmam exercitar-se, com base em mais de meio milhão de respostas fornecidas a duas grandes pesquisas nacionais. Os pesquisadores extraíram as respostas e as agruparam com base no fato de as pessoas atenderem ou não as recomendações da Sociedade Americana do Câncer para atividade física. Essas diretrizes preconizam 300 minutos, ou cinco horas, de exercícios moderados, como uma caminhada rápida, a cada semana para reduzir o risco de câncer.

Finalmente, os pesquisadores ajustaram essas estatísticas para a massa corporal e outros fatores, reuniram dados adicionais sobre os riscos de câncer e conectaram todos os  números em uma equação, que então resultou no PAF para casos de câncer ligados à inatividade. Esse número acabou sendo 46.356, ou cerca de 3% do total de casos de câncer anual (excluindo os casos de câncer de pele não melanoma).

ESTÔMAGO

Quando eles examinaram os tipos individuais de câncer, o de estômago estava mais ligado à inatividade, com cerca de 17 de todos os casos anuais atribuíveis ao sedentarismo, contra 4% dos cânceres de bexiga.

A boa notícia, porém, é que esses números são maleáveis. Ou seja, temos a capacidade de reduzi-los. O exercício pode “prevenir potencialmente muitos tipos de câncer nos Estados Unidos”, disse Adair K. Minihan, cientista associada da Sociedade Americana do Câncer, que liderou o estudo. Se todos os americanos que podem se exercitar começarem a andar por uma hora na semana, disse ela, teoricamente os 46.356 casos ligados à inatividade vão desaparecer.

O câncer é uma doença complexa que tem muitas causas interligadas e sobrepostas, com o sedentarismo desempenhando apenas um pequeno papel. Além disso, os riscos estatísticos nunca caem a zero. Muitas pessoas ativas podem e de fato desenvolvem casos de câncer, explicou Minihan.

Esse estudo, ela enfatizou, não tem o objetivo de “envergonhar as pessoas por não se exercitarem” ou de sugerir que o tumor de alguém seja culpa da própria pessoa por faltar à academia. Segundo a pesquisadora, há muitos obstáculos à prática de atividade física e outros tantos fatores que influenciam quem, em última análise, desenvolve um câncer.

Mas os resultados sugerem que, se cada um pudesse encontrar uma maneira de acomodar 45 minutos por dia de exercícios simples, como caminhadas, poderíamos reduzir as chances de desenvolver muitas doenças malignas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO RAÇA E GÊNERO PESAM NA ESCOLHA DE APOIO PSICOLÓGICO

 Escolher o profissional que combine com o estilo do paciente nem sempre é fácil. Por isso, há quem prefira buscar aquele com vivências semelhantes às suas

A decisão de fazer terapia nem sempre é fácil. Conversar com um estranho sobre os pensamentos mais íntimos e lidar com questões difíceis é um processo que pode assustar muita gente. Por isso, as pessoas que resolvem seguir por este caminho estão se preocupando mais com a escolha desses profissionais. E muitas vezes o “match” dá errado.

Foi assim que a advogada Bárbara Magalhães, de 32anos, viralizou no Twitter ao perguntar a seguidores na rede social como poderia demitir a sua psicóloga e relatar um incômodo com comentários da profissional. “Basicamente, ela julgava o fato de eu querer estudar para concurso, mas ao mesmo tempo ficava questionando muitas coisas, como eu querer ter filho tendo uma carreira, gastar tempo fazendo unha e mexendo no cabelo”, contou em entrevista.

A publicação do dia 3 de novembro teve mais de 2 mil respostas de pessoas que ajudaram com conselhos e revelaram problemas na relação entre psicólogo e paciente. “Eu achava que só ela era assim. Percebi que muita gente tinha vergonha de falar sobre microagressões”, explica Bárbara.

Para tentar fugir de problemas em ambientes de terapia, alguns pacientes levam mais em consideração uma identificação com o psicólogo. A busca por esses profissionais, além de abordar a metodologia de trabalho, também passa por questões como raça, identidade de gênero, orientação sexual, idade, entre outras.

“Tendo alguma semelhança ou não, a pessoa tem a responsabilidade de acolher o sofrimento ou a questão”, afirma Thomaz Oliveira, supervisor do Acolhe LGBT+, plataforma que conecta pacientes e profissionais voluntários.

CADASTRADOS

Segundo ele, o grupo já realizou mais de 1,5 mil encaminhamentos e tem mais de 1 ,1 mil psicólogos cadastrados. Os profissionais voluntários da plataforma não precisam,   necessariamente, ser membros da comunidade LGBT+. “A gente tem essa proposta de  buscar profissionais sensibilizados e dispostos a atender essa população.” Julia Farias, de 20 anos, começou a fazer terapia aos 14. Na época, buscava lidar com a ansiedade e a depressão e sabia que se sentiria mais confortável conversando com uma mulher. “Hoje, expandi isso para procurar terapeutas negras que trabalhem com um olhar racializado, pois enxergo o impacto que ser uma mulher preta tem na minha vida”, afirma.

Foi pensando nessas qualificações que Lucas Veiga criou o curso Introdução à Psicologia Preta. Ele é mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro Clínica do Impossível: Linhas de Fuga e Cura. (Editora Telha). Desde que começou a capacitar psicólogos para lidar com o impacto do racismo na saúde mental, em 2019, já teve 1,2 mil alunos, entre turmas presenciais e online. Ele acredita que unir pacientes e terapeutas negros é uma experiência de “aquilombamento”; num cenário de opressão. aquele espaço promove um pertencimento.

“A terapia é um serviço de cuidado, acolhimento e escuta, mas é um serviço. Não se pode entregar esse cuidado a qualquer um. Um terapeuta que diz a uma pessoa que o racismo não existe no Brasil, ou desconfia de um relato de violência racial, faz com que a pessoa não se sinta acolhida e ouvida em um espaço que tem essa finalidade.”

Segundo Carú Seabra, coordenador do Acolhe, pacientes às vezes acreditam que o psicólogo terá todas as respostas para os problemas que são levados para aquele ambiente. “Quando a gente lida com populações vulneráveis, como tirar uma relação de poder desse espaço de cuidado?”, questiona.

Amanda Andrade, de 25anos, é especialista em Diversidade e Inclusão e levou tempo para lidar com um trauma de um ambiente que deveria ser terapêutico. Na adolescência, ela foi levada à igreja pelos pais e submetida a uma tentativa de reversão sexual por ser lésbica. Segundo ela, o processo era conduzido por pessoas que se diziam psicólogas, mas ela não teve acesso a dados para fazer uma denúncia formal.

DESMONTADA

“Esse processo me quebrou. O motivo de eu ter procurado a terapia depois foi porque eu me sentia completamente desmontada, foi uma coisa muito violenta para mim”, diz. Em busca de se reencontrar com a terapia, passou por várias profissionais até achar a que a acompanha atualmente. Amanda, uma pessoa negra não binária, se conectou com uma terapeuta negra. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me conectar comigo mesma”, afirma. Ainda segundo ela contou, a profissional também acolhe as suas demandas relacionadas à sua identidade de gênero e também de sexualidade.

Para ajudar com essa demanda crescente, o serviço de terapia online Vitrude está desenvolvendo um filtro para que o paciente busque o profissional por fatores como raça e identidade de gênero, por exemplo. De acordo com Fábio Camilo, doutor em Psicologia e responsável técnico pela plataforma, o objetivo é atender a demanda.

“Pode haver a necessidade de você se identificar mais com o profissional, mas não quer dizer que o profissional que não vivencia a mesma coisa que você não vai conseguir te ajudar”, avalia. “O que a gente preza, na psicologia, é tratar todo ser humano sem nenhum preconceito e entender como a gente pode fazer o melhor para ele.”

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