AS SETE DOENÇAS MAIS BUSCADAS
De Covid-19 a influenza, burnout e Alzheimer: o impacto da pandemia nas pesquisas do brasileiro

Ao pesquisar o termo “dor de cabeça forte” na internet os resultados podem tanto tranquilizar (“nem sempre é sintoma de uma doença”) quanto aterrorizar (está listado entre os sinais de um derrame cerebral). Dificilmente o “Dr. Google”, como ficou conhecido esse tipo de procura nas variadas plataformas online, apresentará o diagnóstico exato e tampouco está qualificado para substituir o médico. Estudo da Universidade Edith Cowan, da Austrália, mostrou que as fontes online acertam o diagnóstico em um terço das vezes. Estar a par dos sintomas faz o paciente chegar ao consultório mais informado para debater com o profissional de saúde e seguir o tratamento prescrito pelo médico.
Entre as sete doenças mais procuradas nas redes sociais neste momento, está, naturalmente, a Covid-19. As consultas pela frase “é sintoma de Covid” vêm crescendo desde a primeira semana de dezembro de 2021 e estão em seu nível mais alto desde a semana de 27 de junho de 2021, quando a média diária de mortes girava em torno de estrondosos 1500 registros. A Influenza está no topo também, mas os clássicos, que nunca deixam de despertar muita atenção, corno infarto e Alzheimer, Burnout, distúrbio causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho, em outros tempos seria uma surpresa, mas o problema explodiu com a pandemia.
PRIMEIROS SINAIS
Trombose é outro exemplo. Até bem pouco tempo atrás, era mais associada a um problema de idosos ou a viagens aéreas com longo tempo de duração. Mas se tornou um efeito colateral comum entre os casos graves de coronavírus . A trombose é caracterizada pela formação de coágulos nas veias, muito comum nas pernas e ocasionalmente nos braços. O maior perigo associado é o descolamento do coágulo, que pode alcançar os vasos sanguíneos do pulmão e causar a embolia pulmonar ou até mesmo os vasos sanguíneos do cérebro, provocando uma embolia cerebral, um tipo de AVC isquêmico.
A detecção de sintomas como dor inchaço no local, vermelhidão e aumento de temperatura na região em que se formou o trombo é o primeiro passo para o tratamento. Ao apresentar estes sinais, o paciente deve procurar imediatamente um hospital. A trombose costuma aparecer em pessoas que passam muito tempo sem se mexer, que ficam por longos períodos sentadas, em pé ou deitadas.
“É importantíssimo o diagnóstico rápido, para a avaliação do tamanho do acometimento pelo trombo. Sabendo a dimensão do problema, pode-se introduzir a medicação para dissolver o coágulo e diminuir os riscos de embolias”, explica Paola Smanio, coordenadora de cardiologia do Grupo Fleury e especialista em Medicina Nuclear.
O infarto é uma das doenças mais importantes para ser detectada aos primeiros sinais. A ação rápida frente os sintomas iniciais salvam uma vida. A doença nunca perdeu o interesse nas redes sociais, mas, com a pandemia, ela aumentou ainda mais. O motivo foi que o crescimento da incidência de mortes por problemas cardiovasculares saltaram em até 132% nos últimos dois anos, para se ter uma ideia- o infarto está entre as mais frequentes.
Diz o cardiologista Daniel Setta, presidente do Departamento de Doença Coronária da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), que os protocolos médicos -para os casos de infarto evoluíram muito nos últimos anos, o que tem diminuído a letalidade do evento. No entanto, para que seja possível proporcionar os cuidados devidos ao paciente, é preciso que ele seja levado a uma emergência o quanto antes e, por isso, é preciso saber identificar os sintomas.
O infarto tem sintomas muito diversos – nenhum deles menos importante. Dor no peito forte e prologada, sudorese, irradiação da dor para o braço ou queixo estão entre eles. Idosos e pacientes psiquiátricos podem ter sintomas atípicos do problema, sem reclamar de dor súbita no peito, podendo apresentar apenas quadros de enjoo ou desmaio.
Outro clássico na procura é a diabetes. A doença, porém, muitas vezes não dá sinais precoces. Perceber em si mesmo ou em outra pessoa sintomas como aumento da fome, da frequência urinária e de sede, associado à perda de peso e a fraquezas frequente são alguns dos sintomas da condição, que não demanda ida à uma emergência, mas que não deve ser subestimada.
No entanto, é possível diagnosticar (de forma fácil) a doença antes mesmo que os primeiros sinais apareçam. Através de exames simples, é possível identificar se a glicemia está acima do recomendado.
“Até que se alcance essa condição clínica que induzirá o surgimento de sintomas pode ter se passado muitos anos, onde os níveis elevados de glicemia provocaram danos, eventualmente graves”, aleta o endocrinologista Antônio Carlos do Nascimento, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
O estado de pré-diabetes não é uma sentença de desenvolver a doença, mas acende o alarme para a condição. Ele produz no corpo um estado metabólico que facilita a formação de placas arterioscleróticas (de gordura) nos vasos sanguíneos, aumentando as chances de evolução para infarto, AVC e para o comprometimento da árvore arterial de membros inferiores e em todo o universo vascular.
CRESCIMENTO DO ALZHEIMER
O interesse pelos sintomas do Alzheimer está associado não só a alta nos casos, mas estudos que mostram que os casos da doença irão crescer drasticamente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que existam 35,6 milhões de pessoas com o problema no mundo(1,2 milhão no Brasil) e os números deverão dobrar até 2030. Uma das principais explicação é o aumento do tempo de vida.
Partindo para o campo da psicologia, a pandemia de Covid-19 escancarou uma síndrome descrita desde a década de 1970, mas que só ganhou notoriedade nos dias atuais: o burnout. O problema é caracterizado pelo esgotamento físico e emocional, muitas vezes atrelado a excesso de trabalho. Dor de cabeça, dificuldade de concentração e a sensação constante de fracasso são alguns sintomas da síndrome.
Há síndromes, no entanto, que costuma surgir ainda na infância, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Pais de crianças agitadas ou que tenham dificuldade de aprendizado na escola costumam procurar saber os sintomas do transtorno para buscar o tratamento para os filhos.
“É uma síndrome mais comum em meninos e é considerado um distúrbio de neurodesenvolvimento, ou seja, condições neurológicas que aparecem na infância antes da idade escolar e prejudicam o desenvolvimento pessoal e acadêmico. Normalmente, as causas incluem fatores genéticos, bioquímicos e também comportamentais”, detalha Maria Rita Zoéga Soares, professora da Universidade Estadual de Londrina.
