CÂNCER DE PÊNIS LEVA A 400 MORTES NO BRASIL POR ANO
Dados de 2008 a 2018 mostram que principais vítimas têm baixa escolaridade, são casados e mais velhos

A mortalidade por câncer de pênis no Brasil se manteve praticamente inalterada entre 2008 e 2018, segundo levantamento do hospital A. C. Camargo Câncer Center. A média anual é de 400 óbitos. As biópsias utilizadas para diagnóstico da doença, no entanto, diminuíram, dificultando o sucesso do tratamento.
Os pesquisadores analisaram dados de 2008 a 2018 disponíveis no Datasus, serviço do Ministério da Saúde, que disponibiliza informações sobre o sistema público de saúde.
Líder do Centro de Referência de Tumores Urológicos do hospital e um dos pesquisadores, Stênio de Cássio Zequi diz que o câncer de pênis é associado a regiões mais pobres do planeta, como Asia, América do Sul e África – o Brasil é um dos países com maior incidência da doença.
Zequi afirma que o país tem uma média de 2,9 a 6,8 casos por 100 mil habitantes – nos Estados Unidos, a incidência é de 0,6. No continente europeu, não ultrapassa 1.
A explicação para essa concentração se relaciona a uma percepção já antiga na literatura médica: o câncer de pênis tem uma grande prevalência em populações desassistidas, muitas vezes associadas a baixo nível de escolaridade serviços precários de saneamento básico e pouco acesso a sistema de saúde eficiente.
No Brasil, isso fica evidente quando são observadas as diferenças regionais. Ao analisar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que leva em consideração renda, educação e saúde, constata-se que Piauí, Tocantins e Maranhão, estados com um índice menor que 0,7 tiveram as maiores proporções de morte pela doença.
Já os estados que apresentaram menor taxa de mortalidade, como São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, contam com um IDH acima de 0,7.
Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer do A. C. Camargo concorda que há uma desigualdade na ocorrência da doença no Brasil, prejudicando principalmente o Norte e Nordeste.
Curado diz que há uma dificuldade maior em acessar serviços de saúde adequados nessas regiões, o que colabora para a maior taxa de mortalidade. O levantamento mostra, por exemplo, que as biópsias diminuíram desde 2012 no Norte e Nordeste. No Sudeste, houve aumento. Segundo ela. “cada vez mais precisamos diminuir a distância entre diagnóstico e tratamento” para que a chance de cura seja maior.
A demora no diagnóstico também já foi estudada por Zequi. Um trabalho seu publicado em 2008 indicava que há uma espera de aproximadamente 7 a 8 meses entre o aparecimento de uma lesão e a identificação da doença em serviços públicos de saúde.
Essa lentidão influencia o sucesso do tratamento. O médico explica que a doença não responde bem à quimioterapia ou à radioterapia, sendo mais indicada a realização de cirurgias para retirada do tumor. No entanto, caso o câncer já tenha se alastrado, esses procedimentos precisam ser mais radicais, como os casos de amputação completa do órgão, que sofreram um aumento de 40% entre 2008 e 2018.
Além disso, o câncer pode sofrer metástase para a região da virilha. Nessas situações, além da amputação do órgão, é necessário recorrer a outras cirurgias e o paciente ainda sofre com problemas como dificuldade de locomoção e inchaço nas pernas.
O baixo nível de escolaridade também é um fator. Segundo a pesquisa, pessoas que estudaram por 12 anos tiveram uma taxa de mortalidade menor que 3%, enquanto aqueles que só estudaram por até três anos representam quase a metade dos mortos.
Dessa forma, os especialistas defendem campanhas educativas direcionadas a essas populações vulneráveis que têm pouco acesso à informação. Zequi menciona, por exemplo, ações de conscientização sobre a forma adequada de higienizar o órgão, já que essa é uma das principais formas de evitar a doença.
Além disso, uma maior rapidez no diagnóstico da doença é essencial para diminuir a taxa de mortalidade no país. A vacinação masculina contra o HPV (Vírus do Papiloma Humano) também é uma das melhores formas para prevenir o câncer de pênis.
Por fim, um acompanhamento recorrente ao urologista é necessário para analisar qualquer suspeita da doença. “Como a mulher faz prevenção de colo de útero, o homem também precisa fazer do pênis”, afirma Curado.

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