OUTROS OLHARES

AUDIÇÃO ANSIOSA DITA OS NOVOS HITS

As músicas estão encurtando para atender a geração que não consegue passar mais de 3 minutos ouvindo uma mesma faixa

Existe uma nova ordem no reino dos hits da música pop, e ela está sendo ditada pelos ouvintes de streaming, os consumidores de faixas disponíveis em plataformas como Spotify, Deezer e Amazon Music. Algo que já começa a ser chamado de “audição ansiosa” tem definido parâmetros do que seria um novo sucesso nas duas ou três pontas do processo. O compositor precisa pensar em canções com menor tempo de duração; o produtor tem de fazer com que tudo seja mais direto e funcional para que o ouvinte não vá embora e a própria plataforma deve responder rápido à nova demanda do ouvinte que ajudou a criar.

Uma boa produção feita em 2021 – e por boa entenda algo capaz de atrair milhares de ouvintes que não abandonem a faixa nos primeiros segundos e que, conquista das conquistas, passem a seguir o artista e a buscar por suas produções antigas – precisa, em resumo, ser objetiva e curta. Isso porque esse ouvinte que cresceu com o streaming não ouve, segundo as estimativas das próprias plataformas, músicas com mais do que dois minutos e 30 segundos de duração. Essa é a média. Se chegar a três, temos uma vitória digna de Grammy.

Mas, o que são músicas objetivas? Aqui é preciso ouvir os produtores, figuras que se tornam tão ou mais importantes do que o próprio compositor: mediadores que  transformam canções do novo e do velho mundo em possíveis potências de compartilhamento jogando no novo tabuleiro.

Dani Brasil é um deles. DJ renomado nos Estados Unidos, com residências em Atlanta, Washington, Miami, Chicago e Nova York, é um nome forte da tribal house que, ao lado de Rafael Dutra, recondicionou o hit The Best, de Tina Turner, para milhares de ouvintes. “Antes, podíamos contar uma história, criar uma narrativa. Havia uma introdução, uma melodia crescente, um auge. Mas, hoje, as pessoas não têm mais paciência. As mensagens devem ser diretas, o impacto precisa estar logo no início. “Se isso é ruim”, “O meu interesse é ter plays, quero que o ouvinte não vá embora e vou fazer de tudo para que ele fique.”

Outro nome da produção estelar, o carioca Tiago da Cal Alves, o Papatinho, DJ, beatmaker e produtor autodidata, viu tudo mudar desde que ajudou o grupo de rap Cone Crew Diretoria a acontecer, nos anos de 2010, e agora, quando já colaborou com Marcelo D2, Seu Jorge, Criolo, Black Alien e produziu Anitta nas faixas Tá com o Papato (1.830.652 visualizações no YouTube) e Onda Diferente,incluindo um feat (colaboração) com o rapper Snoop Dogg e Ludmilla (104.788.020 visualizações). Por suas constatações, o mundo musical não é mais da década de 2010.

ALTA VELOCIDADE

“Além das facilidades do streaming, a geração nova é bombardeada por informações rápidas ao mesmo tempo. Stories são de 15 segundos, músicas para o TikTok têm um minuto, o Twitter aceita pouco texto. Se sua música não for direto ao ponto, você perde esse ouvinte.” E ele sente que o encurtamento do discurso musical ainda não terminou. “A tendência é diminuir mais.” E joga o jogo. “Eu prefiro ter uma música de dois minutos ouvida por duas ou três vezes pela mesma pessoa a ter uma de quatro que ninguém ouve. Eu tento bater os dois minutos e meio, estourando.” Papato diz algo mais que pode chocar amantes dos álbuns de vinil, CDs ou de qualquer ideia de álbum. “Só os artistas que têm muitos fãs devem lançar álbuns. É muito difícil fazer uma pessoa ouvir um disco inteiro. Melhor é lançar uma faixa de cada vez.”

As plataformas mais ágeis identificaram as demandas de seus fregueses. “Eu não ouço nada com mais de três minutos de duração”, diz Mileny Ferreira, esteticista de 33 anos. “E só busco playlists por estado de espírito, como ‘música calma’, ‘música para dormir’, essas coisas…” Bruno Vieira, head da Amazon Music no Brasil, conta que músicos e produtores que hospedam faixas na companhia têm um mapeamento que informa o que deu e o que não deu. “Analytics em tempo real permitem que eles tenham mais informações para criar estratégias e se conectar com a audiência. Podem realizar testes, lançar singles, fazer pré-lançamentos em redes sociais, entender a aderência das canções, saber onde as músicas têm sido adicionadas… Tudo isso traz insights.”

Mas há algo importante que precisa vir para a discussão: as plataformas não são represas de produções pragmáticas para ouvintes ansiosos, mas polos distribuidores de artistas e consumidores representantes de três ou quatro gerações. Assim, o comportamento da maioria não é o de todos. Como explicar a Lulu Santos – que suas músicas, agora, não podem ter uma introdução maior? Ou melhor, que introduções e solos de guitarra ou de qualquer instrumento são coisas tão dé modés quanto a palavra dé modé? Como dizer a Caetano Veloso que os ouvintes irão embora se ele fizer algo com mais do que três minutos?

Lulu Santos fala primeiro: “Minha música Inocente (lançada há dois meses) tinha 4 minutos e dez segundos. Disseram que estava grande e editei para ficar com 3 minutos e 21 segundos. Quer saber? A música ficou melhor”. Caetano fala agora: “Amigos norte-americanos me contam que grandes nomes, como Kanye West,estão fazendo coisas muito mais curtas. Mesmo figuras já estabelecidas estão fazendo faixas curtas por causa dessa reação às longas. Eu sou de um tempo em que as canções podiam ter três, cinco, sete ou dez minutos, e continuo sendo desse tempo”.

O NOVO HIT

Produtores sentem o que funciona mais

INTRODUÇÃO

As aberturas são, em geral, dispensáveis. Mesmo sendo a música brasileira um celeiro de introduções históricas, elas não fazem mais sentido se o produtor e o compositor não souberem fazer com que o ponto alto da música chegue o mais rapidamente possível

SOLOS

Eles já estavam em queda no pop, mas o streaming pode sepultá-los. Segundo produtores, solos longos em um mega-hit pop podem ter um efeito dispersivo que faz com que o ouvinte pule de faixa. E o pular de faixa é o novo fantasma desse meio

VOZES

Dani Brasil, um dos produtores ouvidos para a reportagem, trouxe uma informação interessante: ”Vozes de mulheres passaram a ter um valor maior.” Ele sente que o canto feminino tem prendido mais ouvintes do que o masculino. Ótimo papo para neurocientistas

ÁPICE

Em geral, o ideal é que o ápice esteja antes do fim do primeiro minuto de uma produção musical. E isso só se a primeira parte for poderosa. O ideal mesmo para se fisgar os ouvintes é ter pistas desse ápice já no início da canção

DANCINHAS

Pensando em promoções na plataforma TikTok, é indicado que a música traga algo em sua letra que possa ser usado para uma dança em um clipe. Não é obrigatório, mas pode fazer a diferença

SEM SURPRESAS

Nada de viradas de ritmo nem modulações harmônicas. Tudo deve atender aos instintos mais simples do ouvinte

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 08 DE DEZEMBRO

UMA CAMINHADA RUMO À MORTE

O homem que se desvia do caminho do entendimento na congregação dos mortos repousará (Provérbios 21.16).

Há um caminho de entendimento e um caminho de loucura. O caminho do entendimento é estreito e íngreme, e poucos se acertam com ele. Já o caminho da loucura é largo e espaçoso, e uma multidão trafega por ele. O caminho estreito exige renúncia. O caminho largo não faz nenhuma exigência. Este é o caminho das liberdades sem limites. É o caminho dos prazeres e das aventuras. Nesse caminho é proibido proibir. Cada um anda como quer e faz o que quer. Mas esse caminho com tantas luzes e variadas vozes desembocará na morte. Ele leva o homem para longe de Deus, para uma noite eterna, onde há choro e ranger de dentes. Desviar-se do caminho do entendimento é matricular-se na escola da morte. É caminhar celeremente para a morte e fazer sua morada na companhia dos mortos. Esse é o caminho, por exemplo, do adúltero. A casa da mulher adúltera se inclina para a morte, e as suas veredas, para o reino das sombras da morte; todos os que se dirigem a essa mulher não voltarão e não atinarão com as veredas da vida. A Bíblia diz que o perverso morrerá pela falta de disciplina. O homem que corre para os braços de uma prostituta é como um boi que vai para o matadouro, como uma ave que voa para uma rede mortal, sem saber que isto lhe custará a vida.

GESTÃO E CARREIRA

INCLUSÃO RACIAL COMEÇA A GANHAR FORÇA DENTRO DAS EMPRESAS

Criada por Leizer Pereira, plataforma Empodera ajuda empresas como Google a criar ambientes de trabalho mais diversos

As noites de sono de Leizer Pereira, de 47 anos, não eram tão tranquilas em 2014. Mesmo depois de chegar a cargos de liderança, o executivo não se contentava em ser um exemplo fora da curva de profissional negro bem-sucedido. Ele passou, então, a se questionar sobre o que mais poderia fazer. O ponto de chegada da jornada foi a criação da Empodera, plataforma que oferece consultoria para o recrutamento de candidatos negros, LGBTQI+, mulheres e pessoas com deficiência.

Hoje, o empreendedor faz parte da transformação de milhares de jovens, como Fernanda Mariano, de 24 anos, que era estagiária do Google Brasil e, neste ano, assumiu o posto de coordenadora de marketing.

“Entrei no Google com minha família inteira”, conta Fernanda. Ainda que lentamente, o mercado de trabalho vem dando passos rumo à equidade racial, graças a iniciativas que visam o aumento da representatividade de profissionais negros. É o caso do Next Step, programa de estágio do Google com duração de dois anos que é focado na inclusão e no desenvolvimento de estudantes negros.

Mas nem sempre foi assim. E as empresas que hoje têm programas de diversidade precisaram do trabalho de consultorias como a Empodera para implementá-los. “Nós somos construtores de pontes”, define Pereira.

Pereira cresceu em uma família pobre na periferia do Rio. Filho de professor, aprendeu desde cedo a valorizar a educação. “Os livros me salvaram”, conta. Após estudar em escola pública, sua trajetória passou por uma faculdade de Engenharia de Telecomunicações e chegou a empresas como Embratel e Cisco. Homem negro, tornou-se um executivo de TI.

Mas queria mais. Com 20 anos de carreira, sentia um incômodo profissional, enquanto em viagens aos EUA ouvia falar da cultura do give back. “Se sou vitorioso, tenho que dar de volta para a sociedade.”

OPORTUNIDADE

Em 2014, após um coach de carreira, passou a fazer trabalho voluntário na Educafro, rede  de cursinhos pré-vestibular para jovens de baixa renda. “Sentia mais prazer na ONG do que no trabalho.” O passo para virar empreendedor veio quando, em 2015, a Coca-Cola bateu na porta da Educafro pedindo apoio para seu programa de trainee. “Foi aí que pensei: se a Coca­ Cola está pedindo ajuda para a questão racial e recrutar jovens, é sinal de que nenhuma empresa sabe fazer isso”, diz.

Quando topou ajudar a Coca-Cola, divulgando o processo na Educafro, Pereira identificou que também seria necessário preparar esses candidatos. Após um período intensivo, cerca de 50 candidatos participaram do trainee da Coca-Cola e uma das jovens foi contratada. “Desliguei o telefone e comecei a chorar.”

No ano seguinte, nasceu a Empodera, com dois focos: um nas empresas e outro nos candidatos. Atualmente, são 60 mil jovens cadastrados e mais de 1,5 mil contratados em empresas como Ambev, Bayer e Google.

PRÓXIMO PASSO

Em 2019, o Google Brasil estruturou seu primeiro programa para estagiários negros, o  Next Step, com dois anos de duração. Para a entrada dos candidatos, o primeiro passo foi eliminar a barreira do inglês fluente – apenas  5% da população brasileira afirma ter algum conhecimento do idioma, segundo o British Council. A multinacional entendeu que seria melhor proporcionar aulas de inglês posteriormente para os selecionados.

Ex-estagiária da primeira turma do Next Step, Fernanda Mariano conta que tinha aulas de inglês duas vezes por semana, além de almoços no idioma com funcionários do Google. “De toda a experiência no estágio, foi a que mais gostei. O inglês é uma herança que sempre vai estar comigo”, diz a hoje coordenadora de marketing.

Com nove irmãos, fez cursinho com bolsa e entrou em Administração, na USP, em 2016. Agora, sente a responsabilidade de representar, além da família, outros jovens negros. “Consigo ser um exemplo. Meus irmãos passaram a ter outra perspectiva para sonhar.”

PRÓXIMA TURMA

Segundo Lia Romano, gerente de programas de estágio do Google, o sucesso do Next Step está relacionado a um trabalho de desenvolvimento apoiado em três mentorias: funcional, cultural e por demanda. A primeira era dada por um especialista que trabalhava no dia a dia com o estagiário e dizia respeito ao desempenho de sua função. A segunda era oferecida pelos Afro Googlers, colaboradores que se autodeclaram negros e que ajudavam a turma a se aculturar na empresa. Já a terceira era realizada de acordo com as necessidades dos estagiários.

Com 21 estagiários, a primeira edição do Next Step terminou em agosto deste ano. Segundo o Google, a grande maioria foi efetivada. “A longo prazo, o objetivo é transformar a nossa força de trabalho no que é a representação da população brasileira, aumentando a inclusão de pessoas negras.” Em 2022, começa a segunda edição do Next Step.

EU ACHO …

O GATO, O FILHINHO, A CUECA PENDURADA

Nas reuniões do Zoom, a graça está quando o mundo real se apresenta

Meu caso não é dos mais exagerados, mas conheço pessoas que acabam passando o dia inteiro em reuniões do Zoom.  Pode ser muito estressante, claro. Mesmo assim, há pontos positivos no sistema.

Nem falo da possibilidade de fazer outras coisas enquanto a reunião se prolonga. Sempre dá para ter um celularzinho no colo. E também não é impossível desligar a câmera em situações estratégicas, enquanto conferimos um e-mail, encomendamos um tênis no loja online ou comemos uma barra de cereais.

Mesmo sem esses artifícios, por vezes encontro no Zoom algo que me ajuda a vencer a chatice em que me meti.

É um prazer afinal de contas, saber como é o quarto, a sala ou o escritório dos participantes. Os mais tímidos, como eu, se esforçam para falar a partir de um fundo neutro, a mera parede branca ou a porta do armário embutido fechado.

Há  casos intermediários – uma nesga de cama desarrumada, uma poltrona lateral onde se penduram casacos, calças, ou, com sorte, cuecas e sutiãs. Já é alguma coisa para quem gosta de xeretar.

O sujeito fala, fala e lá atrás está o cuecão, como um relógio de Salvador Dalí derretendo  no criado-mudo… Mas aí convém avisar a pessoa.

O clássico, como se vê em toda entrevista de televisão, é que o fundo do zoom seja uma parede de livros.

É frustrante quando não podemos examinar um por um, os itens de cada biblioteca. Reconhecemos os livrões – tipo “Notícias do Planalto; a série de Elio Gaspari sobrea ditadura, um dicionário Houaiss, as cem receitas do chef fulano de tal, a “História da Inteligência Brasileira”, de Wilson Martins. Mas eu queria mais.

E há os entrevistados que, pelas costas nada mais mostram além de lombadinhas de publicações acadêmicas e grossas teses de doutorado em espiral. Nem mesmo livros essa gente pode possuir! A vida universitária é de tal modo intensa que lhes roubou esse luxo.

Não – o bom é quando temos uma visão maior da sala, com tapetes artesanais em cima do chão de lajotinhas, a janela dando para uma vegetação tropical, um abajur com trançado de palha…

A pessoa faz o Zoom refugiada em alguma casa de campo, longe dos riscos da pandemia, e distrai os participantes da reunião com mais do que quatro paredes de um apartamento.

Mas minha maior torcida é pelas intervenções fora de controle. Alguém passa atrás do participante: quem será? Ele se vira, desliga o microfone, fala qualquer coisa. Contenho-me para perguntar o que se passa.

O que se passa? O que passa? Quem passa? A resposta não é difícil: a realidade. O mundo real, as pessoas reais.

Mais reais ainda quando são crianças pequenas. Aí é uma alegria, vale por cinco reuniões chatíssimas. O interlocutor, o  entrevistado, o especialista, alinham retrospectos, diagnóstico, planos e previsões, sem saber que um duendezinho de dois anos já entrou no quarto, derruba a xícara de café, rouba um peso de papel e – olha!­ já subiu pelas pernas do pai ou da mãe e bagunçou a reunião.

Nada melhor do que ver algo realmente importante interferir naquele Zoom tão rotineiro. Há figurinhas mais discretas que entram sem fazer barulho, os gatos pulam pelas costas do falante, caem com as quatro patas em cima de documentos e relatórios, voam do sofá até o tapete, sobem as poltronas e, cuidado! Jogaram a cueca para trás das costas da poltrona, de onde nenhuma empregada doméstica irá recuperá-la no curto prazo.

Adeus, cuecas! Bom dia, gato amarelo! Mas, que pena, já desapareceu. Lá se foi ele pela porta; provavelmente está atrasado, tem de entrar em outra reunião.

Meu interlocutor continua falando, nem percebeu o fantasma de pura vivacidade que acabou de cruzar a minha tela. O gato está submerso no silêncio de sua vida instintual; é  um mergulhador misterioso, que transita num mundo mais denso, menos quebradiço do que o nosso.

No Zoom, cada um de nós, é vibração irregular de fótons e frágeis sinais de telefonia. Já o gato, o bebê, a cueca pendurada, o tapete ,os livros – tudo isso tem outra pulsação, mais quente, feita de matéria real; coisa capaz de susto, imprevisto, encanto e surpresa, como a vida.

*** MARCELO COELHO

ESTAR BEM

O PESO NA BALANÇA

A proibição da venda de anfetamínicos no Brasil volta a tocar na polêmica sobre o uso de remédios para emagrecer. Se bem indicados por um profissional, não há problema algum nisso

Falta de força de vontade, de autocontrole. São muitas as fragilidades atribuídas ao indivíduo obeso. Infelizmente, até hoje prevalece o estigma de que a obesidade seria consequência de um comportamento preguiçoso, quando, na verdade, se trata de uma doença complexa contra a qual não há caminhos únicos. Na esteira da desinformação, quem mais sofre é o paciente, que se vê perdido e incapaz de compreender a própria condição. O fardo é maior para os que necessitam de remédios, com facilidade tachados de dependentes, fracos ou outras bobagens do gênero. Na semana passada, essa parcela de pacientes foi surpreendida com a notícia de que alguns medicamentos não estarão mais disponíveis no mercado. Isso graças a uma resolução do Supremo Tribunal Federal tomada no dia 14 de outubro, derrubando uma lei que autorizava a produção, venda e consumo dos anfetamínicos anfepramona, femproporex e mazindol. Na prática, o tribunal voltou a deixar a decisão a cargo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em 20ll já havia proibido a utilização das medicações.

Só ficou de fora da proibição a sibutramina, o emagrecedor com registro mais antigo no país – desde março de 1998 – e o único disponível no Sistema Único de Saúde. Criado como antidepressivo, ele aumenta a sensação de saciedade. Embora seja a primeira escolha quando é preciso usar medicamento, é contraindicado para quem tem doença cardiovascular ou faz acompanhamento psiquiátrico. Existem também pessoas que não respondem à droga. “Agora, com a proibição dos outros remédios, há pacientes que podem ficar sem medicamento nenhum”, diz Maria Edna de Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

A situação ocorreria porque, segundo a especialista, os outros dois fármacos para emagrecer liberados pela Anvisa, a liraglutida (retarda o esvaziamento gástrico, aumentando a saciedade) e o orlistat (impede a absorção de gordura), são caros e dificilmente serão disponibilizados pelo SUS. Uma caixa de liraglutida custa em média 450 reais e a do orlistat, 150 reais. A Anvisa, porém, mantém a posição de que os riscos dos anfetamínicos superariam os benefícios. Entre os perigos, estariam a possibilidade de desenvolvimento de dependência física e psíquica, ansiedade, taquicardia, hipertensão e problemas cardiovasculares. A agência também afirma que não existem evidências de eficácia a longo prazo.

As questões em torno da anfetamina são antigas. Droga sintética que estimula a atividade do sistema nervoso central, com indicações médicas para o transtorno do déficit de atenção e narcolepsia – distúrbio que causa sonolência excessiva -, foi preparada em laboratório pela primeira vez em 1887, pelo químico romeno Lazár Edeleanu, na Universidade de Berlim, na Alemanha. Utilizada durante a II Guerra Mundial, tinha a finalidade de manter os soldados acordados e ativos. Naquela época, observou-se que ela reduzia a fome e a fadiga. Mais tarde, quando se comprovou que realmente inibia o apetite, passou a ser usada por pessoas que queriam perder peso. Até hoje, é o remédio para emagrecer mais popular do planeta. Particularmente no Brasil, porém, ela se tornou um problema. Em 2007, o país apareceu como o maior consumidor de anorexígenos – medicamentos moderadores de apetite à base de anfetamina – do mundo em relatório anual da Organização das Nações Unidas, com ingestão de cerca de 12,5 doses diárias, contra 11,8 na Argentina, 9,8 na Coreia do Sul e 4,9 nos Estados Unidos.

No ano seguinte, surgiu no levantamento do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes como o terceiro maior consumidor de anfetaminas do globo. “Representa um padrão preocupante que indica abuso no número de receitas”, dizia o documento. Hoje, sabe-se, o problema envolvendo as anfetaminas por aqui é seu uso indiscriminado e excessivo. “Existe muita venda ilegal e prescrição abusiva com altas doses receitadas por médicos que não são da área”, diz a endocrinologista Maria Edna de Melo, da SBEM. O resultado são pacientes com agitação, irritabilidade acentuada, algo que não aconteceria com a dose correta. “Esses remédios estão há décadas no mercado e não se tem registro de efeitos colaterais graves quando usados adequadamente”, afirma.

A médica toca no ponto fundamental que determina se a utilização de remédios para perder peso será efetiva ou não. Assim como em todo tratamento, é preciso saber a quem, quais e como as medicações devem ser empregadas. Nas diretrizes brasileiras de tratamento, a indicação leva em conta o IMC (índice de massa corpórea) acima de 30 kg/m’ e a presença de doenças associadas à obesidade, como triglicérides aumentado, gordura no fígado e apneia do sono. Entre 30 e 25, faixa de sobrepeso, recomendam-se mudanças de estilo de vida com dietas, atividade física e hábitos saudáveis.

Nos Estados Unidos, onde é permitida a venda de anfetaminas para emagrecimento, o Instituto Nacional de Saúde preconiza que indivíduos com IMC 27 podem ser medicados caso apresentem enfermidades correlatas. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 96 milhões de brasileiros apresentam IMC maior do que 25 kg/m’, o que equivale a cerca de 60,3% da população adulta do país. É muita gente com a saúde sob ameaça, sabendo-se que o excesso de peso é fator de risco para infartos, acidente vascular cerebral e alguns tipos de câncer. Portanto, como qualquer outra doença, a obesidade precisa ser enfrentada adequadamente. Se tiver de ser com remédio, que seja.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO O TRABALHO É UM REMÉDIO PARA A MENTE

Pessoas com diagnóstico de transtorno mental lutam para combater estigma no mercado e afastar associação com incapacidade profissional. Enquanto o tema permanece tabu nas empresas, as oportunidades são escassas

Acompanhamento psicológico e medicamentos são essenciais para a saúde mental de Manoel Nogueira, de 55 anos, que recebeu diagnóstico de depressão e transtorno de ansiedade há sete anos. Mas o trabalho, conta, tem sido o melhor remédio. Repositor de produtos na rede de supermercados Super Prix, no Rio, Nogueira valoriza, além do salário, um lugar no mercado de trabalho, o convívio social e a sensação de ser visto, benefícios muitas vezes negados a pessoas com transtornos mentais no país.

“Foi o trabalho que me recuperou”, diz. “Para uma pessoa que está com transtorno mental, é essencial conviver com as pessoas, ocupar a cabeça e se sentir útil. A depressão mexe com a memória, com a concentração, e o trabalho me devolveu isso”.

Nogueira foi selecionado a partir do Projeto de Inclusão Social pelo Trabalho de Usuários da Rede de Saúde Mental (Pistrab), do Núcleo de Saúde Mental e Trabalho (Nusamt) da Secretaria de Trabalho e Renda do Estado do Rio. O projeto faz a ponte entre pacientes e empresas.

“São pessoas que querem trabalhar, e os tratamentos e medicamentos hoje disponíveis tornam as relações profissionais totalmente possíveis para elas. Mas há um descompasso no social. Falta acesso ao mercado de trabalho”, diz a psicóloga e psicanalista Doris Rangel Diogo, coordenadora do Polo Pistrab no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.

CAMPEÃO DE ANSIEDADE

Embora muitas empresas venham se pautando em temas de diversidade, a inclusão de profissionais com algum histórico de transtorno mental caminha lentamente. No fim de 2019, 48% dos pacientes atendidos no Pistrab e elegíveis para o trabalho ainda esperavam uma oportunidade.

Tampouco existem leis de incentivo à contratação dessas pessoas no país, que é o mais ansioso do mundo (com 20 milhões de casos) e o quinto mais deprimido (com 12 milhões de casos). Algumas são incluídas pela Lei de Cotas, que estabelece que empresas com cem ou mais empregados preencham parte das vagas com pessoas com deficiência física ou intelectual. Mas o termo, amplo demais, perpetua exclusões.

“Muitas vezes as empresas buscam pessoas com deficiências leves ou escolhem alguma deficiência específica, mantendo o raciocínio de exclusão”, diz Doris.

Não à toa, pessoas com diagnóstico de transtorno mental têm receio de admiti-lo a potenciais empregadores. A consultora autônoma Fabiana (ela prefere omitir o sobrenome), de 44 anos, deixou a carreira de executiva em São Paulo em meio a uma  depressão. Tempos depois, com um diagnóstico de transtorno bipolar e tratamento estabilizado, ela tentou retomar a atividade profissional, mas não foi fácil.

“Estava há muito tempo afastada e criei coragem. Mas, na entrevista para uma empresa, fiquei com medo de perguntarem (sobre o transtorno). O que eu diria? Mentiria?”, lembra. “Existem empresas que perguntam sobre isso e não contratam. E isso acaba com a pessoa que recebeu um diagnóstico, mas tem plena condição de exercer qualquer função.

RECORDE DE AFASTAMENTOS

No mês passado, Fabiana e uma amiga, a psicóloga Lucy Portela, fundaram um movimento para combater o estigma de pessoas com diagnósticos de transtorno mental no mercado. Da experiência delas, nasceu o Worthy minds (Mentes que valem).

“O projeto tem o apelo da arte como cura. Há uma vitrine para a exibição de trabalhos. É também um espaço de acolhimento, de depoimentos. E oferecemos apoio a pessoas como diagnóstico, além de rodas de conversas em empresas”, explica Fabiana.

Não há dados oficiais no país sobre trabalhadores com diagnóstico de transtorno mental, e é difícil saber se a ausência de informações causa o estigma ou se o estigma alimenta a falta de dados.

Segundo o Ministério do Trabalho e Previdência, os dados disponíveis referem-se aos afastamentos (temporários ou permanentes) relacionados à transtornos mentais. Em 2020, foram concedidos 285.221 benefícios de auxílio-doença relacionados a essa causa – o maior patamar dos últimos 14 anos e a terceira maior causa de concessão desse tipo de benefício do INSS no ano passado.

“A Organização Mundial da Saúde alerta que uma em cada quatro pessoas sofrerá com um transtorno de mente ao longo da vida. Apesar disso, são raras as empresas que mantêm um programa de saúde psicológica e emocional para seus empregados. A maioria dos casos ainda é tratada como tabu”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria(ABP).

Com tratamento estabilizado, diz Silva, não há nenhum empecilho à atividade profissional de pessoas com diagnóstico de transtorno mental. O estigma acaba relacionado ao desconhecimento na sociedade, que por sua vez leva ao preconceito, discriminação e distanciamento desse grupo, diz o presidente da ABP:

“Quando o trabalhador apresenta uma condição cardiovascular, diabetes ou até mesmo trauma ósseo, como ele é tratado pelo médico do trabalho? Por que esse tratamento muda quando falamos de depressão, esquizofrenia ou transtorno bipolar?”.

APOIO FEZ DIFERENÇA

Há exceções, e elas inspiram otimismo. A executiva Dyene Galautini, de 46 anos, foi diagnosticada com transtorno bipolar há 16 anos. Passou por internação, tratamento, grupos de apoio. Mergulhou fundo no estudo do diagnóstico. Quando melhorou, decidiu contar a amigos e colegas de trabalho, mas com medo.

“Para minha surpresa, meu chefe me apoiou e disse para assumir quem eu era”, lembra ela, que é diretora de Marketing Global da consultoria IHS Markit.

Em 2017, ela publicou o livro “Vencendo a mente”, que deu origem a um projeto homônimo, com palestras em organizações e empresas.

“Minha meta é a conscientização. Para as pessoas buscarem tratamento e, para as empresas e escolas, verem que não somos diferentes”, diz. “Quem tem transtorno mental e está estabilizado vive em segredo, porque tem medo do preconceito. E quem não está estabilizado não tem referências. As pessoas precisam ver que existe um futuro possível.

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