POESIA CANTADA

A VIDA NÃO PRESTA

LEO JAIME

LEO JAIME (nome artístico de Leonardo Jaime; nasceu em Goiânia, em 23 de abril de 1960) é um ator, cantor, compositor e jornalista brasileiro.
Participou da formação original do grupo carioca de rockabilly João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, e saiu do grupo para seguir carreira solo. Foi Leo Jaime quem indicou Cazuza à então nascente banda Barão Vermelho, recusando o posto de vocalista.
Leo Jaime fez muito sucesso na década de 80, onde emplacou vários hits nas rádios do Brasil, além de fazer trilhas sonoras para filmes e novelas. Seus principais discos solo são Sessão da Tarde e Phoda C. Lançou Todo Amor em 1995, uma obra de intérprete e Interlúdio, em 2008, com canções inéditas.
Como ator, Léo Jaime atuou na telenovela Bebê a Bordo, de 1988, como Zezinho, e nos filmes O Escorpião Escarlate, Rádio Pirata, Rock Estrela e As Sete Vampiras.
Também escreve para televisão, jornais e revistas.

A VIDA NÃO PRESTA

COMPOSIÇÃO: LEANDRO / LEO JAIME / SELVAGEM BIG ABREU

Você vai de carro prá escola
E eu só vou a pé
Você tem amigos à beça
E eu só tenho o Zé…

Prá consolar
As tardes de domingo
Que eu passo à sofrer
Sonhando em ter
Um carro conversível
Prá você me querer…

Quantas noites
Em claro eu passei
Tentando te esquecer
Quando à noite
Eu consigo dormir
Eu sonho é com você…

A me dizer:
Prá não ter ilusões
Que entre nós não pode ser
E é mesmo assim
Nem mesmo no meu sonho
Eu posso ter você prá mim…

Eu tentei naquela festa
Você fugiu de mim
E eu pensei:
A vida não presta
Ela não gosta de mim…(2x)

Eu pensei:
Ela não gosta de mim
Oh! Oh! Oh! Oh!
Ela não gosta de mim…

Eu pensei:
A vida não presta
Ela não gosta de mim
Oh! Oh! Oh! Oh!…

Eu pensei:
A vida não presta
Ela não gosta de mim
Uh! Uh! Uuuuuuuh!…

OUTROS OLHARES

CADÊ AS SOBRANCELHAS?

A tendência vinha de antes, mas a quarentena abriu espaço para a experimentação. Resultado? Os fios descoloridos conquistaram as mulheres que ditam a moda

Vem de longe o fascínio pelas sobrancelhas. Finíssimas como as de Greta Garbo ou grossas iguais às de Cara Delevingne, elas ajudam a contar capítulos decisivos da história da beleza feminina. No Egito, a homenagem ao Deus Hórus era feita com olhos e sobrancelhas fortemente delineados (quem se esqueceria de Cleópatra?). Na Grécia Antiga acreditava-se que a mulher que nascia com as sobrancelhas emendadas era abençoada pelos deuses. Ao longo dos séculos, sua forma e estilo passaram por muitas alterações, algumas radicais.

É o que ocorre neste 2021, depois de um ano e meio de quarentena e muitas experimentações na parte superior da face, a única de fora por causa das máscaras. Elas exibem agora uma coloração desbotada, quase imperceptível. Recentemente, celebridades como a atriz Maisie Williams, a modelo Haley Bieber, a influencer Kim Kardashian e a cantora Lizzo exibiram supercílios despigmentados no Instagram. As hashtags #bleachedeyebrows e # bleachedbrows (sobrancelhas descoloridas, em tradução livre) somam cerca de 50 milhões de menções no TikTok. De acordo com o mais recente relatório da rede de compartilhamento de fotos Pinterest, as pesquisas para “sobrancelhas descoloridas” cresceram 160%.

Os fios descoloridos desviam a atenção da metade superior do rosto. O efeito? Olhos e cílios em destaque e a face sutilmente equilibrada. O visual pode ser conquistado com maquiagem (corretivo e pós translúcido) ou por meio da descoloração dos fios com produtos químicos.

Nesse caso, é necessário cuidado. “O ideal é que o procedimento seja feito por um profissional especializado, pois há risco de reações alérgicas”, alerta a especialista em nano pigmentação Natalia Martins, CEO do Grupo Natalia Beauty. A inquietude feminina ao longo das décadas é pontuada pelas sobrancelhas. “As sobrancelhas dão expressão e dialogam com as questões estéticas de determinado período”, diz João Braga, professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), de São Paulo. Hoje, com tanta ebulição e rapidez, é de esperar, portanto, que elas ainda mudem muito.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 31 DE JULHO

CUIDADO COM A ARMADILHA DA SEDUÇÃO

Quem fecha os olhos imagina o mal, e, quando morde os lábios, o executa (Provérbios 16.30).

Os olhos são as janelas da alma. Por eles entram a luz da bondade ou as sombras espessas da maldade. Aqueles que sorriem sedutoramente e piscam os olhos maliciosamente têm más intenções. Muitas aventuras loucas e paixões crepitantes começam com esse tipo de riso maroto, com um piscar de olhos sedutor, e terminam com lágrimas amargas e feridas incuráveis. Muitas jovens inocentes caíram na rede da sedução de conquistadores irresponsáveis, arruinando sua reputação e destruindo seus sonhos. Muitas mulheres destruíram sua vida e reputação porque se encantaram com falsos galanteios de espertalhões aproveitadores. Muitas mulheres casadas jogaram sua honra na lama, traíram seu cônjuge e quebraram a aliança conjugal porque foram apanhadas nessa rede mortal da sedução. Há pessoas que são surpreendidas pela falta, mas há outras que maquinam o mal. Há aqueles que escorregam e caem por falta de vigilância, mas há outros que incubam o mal no coração e buscam ocasião para executá-lo. Precisamos ter os olhos bem abertos e a mente bem aguçada para reconhecer essas armadilhas e fugir. O segredo da vitória contra a sedução não é resistir, mas fugir. Dialogar com o tentador já é o primeiro degrau da queda.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE FAZER EM MEIO A UM ATAQUE DE RANSOMWARE?

Identificação da variante do ataque e localização dos backups estão entre as ações recomendadas pela Fortinet

Os ataques de ransomware estão ada vez mais frequentes. De cordo com o relatório global de ameaças do FortiGuard Labs, da Fortinet, esse crime aumentou sete vezes na última metade de 2020 e se tornou ainda mais extensivo, atingindo quase todos os setores e países do mundo.

Ao mesmo tempo, as táticas dos criminosos mudam constantemente e já não basta possuir as estratégias defensivas corretas, mas avaliar continuamente as políticas de segurança, para garantir que as redes possuam as respostas atualizadas contra esse tipo de ataque.

Com isso em mente, a Fortinet, líder global em soluções de cibersegurança, preparou um checklist para ajudar organizações a lidarem com um ataque de ransomware quando ele acontecer:

EXECUTE O PLANO DE RI: Se disponível, comece a executar seu plano de resposta a incidentes (RI) imediatamente. Se você não tiver um, as etapas abaixo podem ajudar. Em alternativa, contate o seu fornecedor de segurança para obter ajuda ou reporte o incidente à sua companhia de seguros; eles podem já ter uma lista de provedores de segurança especializados que podem ajudá-lo. Considere o potencial impacto que o incidente de segurança pode ter.

ISOLE SEUS SISTEMAS E INTERROMPA A PROPAGAÇÃO: Existem várias técnicas para isolar a ameaça e impedir que ela se espalhe. Primeiro, identifique o alcance do ataque. Se o incidente já for generalizado, implemente bloqueios no nível da rede, como isolar o tráfego no switch ou na borda do firewall, ou considere desligar temporariamente a conexão com a Internet. Se disponível, a tecnologia de detecção e resposta de endpoint (EDR) pode bloquear o ataque no nível do processo, o que seria a melhor opção imediata com o mínimo de interrupção dos negócios. A maioria dos invasores de ransomware encontra uma vulnerabilidade para entrar em sua organização, como RDP exposto e e-mails de phishing.

IDENTIFIQUE A VARIANTE DO RANSOMWARE: Muitas das táticas, técnicas e procedimentos (TTPs) de cada variante de ransomware estão documentados publicamente. Determinar com qual cepa você está lidando pode dar pistas sobre a localização da ameaça e como ela está se espalhando. Dependendo da variante, algumas ferramentas de descriptografia podem já estar disponíveis para você quebrar a criptografia de seus arquivos.

IDENTIFIQUE O ACESSO INICIAL: Determinar o ponto de acesso inicial, ou o primeiro sistema comprometido, ajudará a identificar e fechar a brecha em sua segurança. Os vetores de acesso inicial comuns são phishing, exploits em seus serviços de borda (como serviços de Área de Trabalho Remota) e o uso não autorizado de credenciais. Determinar o ponto inicial de acesso às vezes é difícil e pode exigir a experiência de equipes forenses digitais e especialistas em RI.

IDENTIFIQUE TODOS OS SISTEMAS E CONTAS INFECTADOS (ESCOPO): Identifique qualquer malware ativo ou sobras persistentes em sistemas que ainda estão se comunicando com o servidor de comando e controle (C2). As técnicas de persistência comuns incluem a criação de novos processos que executam a carga maliciosa, o uso de chaves de registro de execução ou a criação de novas tarefas programadas.

DESCUBRA SE OS DADOS FORAM EXFILTRADOS: Muitas vezes, os ataques de ransomware não apenas criptografam seus arquivos, mas também exfiltram seus dados. Eles farão isso para aumentar as chances de pagamento de resgate, ameaçando postar dados proprietários ou embaraçosos online. Procure por sinais de exfiltração de dados, como grandes transferências de dados em seus dispositivos de borda de firewall. Procure comunicações estranhas de servidores que vão para aplicações de armazenamento em nuvem.

LOCALIZE SEUS BACKUPS E DETERMINE A INTEGRIDADE: Um ataque de ransomware tentará limpar seus backups online e cópias de sombra de volume para diminuir as chances de recuperação de dados. Por isso, certifique-se de que sua tecnologia de backup não foi afetada pelo incidente e ainda está operacional. Os invasores geralmente ficam em sua rede por dias, se não semanas, antes de decidirem criptografar seus arquivos. Isso significa que backups podem conter cargas maliciosas e que não podem ser restaurados para um sistema limpo. Analise seus backups para determinar sua integridade.

LIMPE OS SISTEMAS OU CRIE NOVAS ARQUITETURAS: Se existe confiança na capacidade de identificar todos os malwares ativos e incidentes de persistência em seus sistemas, então talvez não seja necessário reconstrui-los. No entanto, pode ser mais fácil e seguro criar sistemas novos e limpos. Você pode até considerar a construção de um ambiente limpo e totalmente separado para o qual poderá então migrar. Isso não costuma demorar muito em um ambiente virtual. Ao reconstruir ou higienizar sua rede, certifique-se de que os controles de segurança apropriados estejam instalados e de que estejam seguindo as práticas recomendadas para garantir que os dispositivos não sejam infectados novamente.

REPORTE O INCIDENTE: É importante relatar o incidente. É preciso também determinar se o relato às autoridades legais é necessário e obrigatório. Sua equipe jurídica pode ajudar a resolver quaisquer obrigações legais em torno de dados regulamentados. Se o ataque for grave e sua empresa abranger várias regiões geográficas, você pode precisar entrar em contato com os serviços de aplicação da lei nacionais e não locais.

PAGANDO O RESGATE?: As autoridades policiais desaconselham o pagamento do resgate, no entanto, se você estiver pensando em fazê-lo, deverá contratar uma empresa de segurança com habilidades especializadas para ajudá-lo. Além disso, pagar o resgate não corrigirá as vulnerabilidades exploradas pelos invasores, portanto, certifique-se de ter identificado o acesso inicial e fechado as brechas.

CONDUZA UMA REVISÃO PÓS-INCIDENTE: Analise sua resposta ao incidente para entender o que deu certo e para documentar oportunidades de melhoria. Isso garante a melhoria contínua de suas capacidades de resposta e recuperação para o futuro. Considere simular os detalhes técnicos e não técnicos do ataque para que você possa revisar suas opções.

“Quando ocorre um ataque de ransomware, tomar as medidas corretas é essencial para minimizar o impacto sobre a equipe e a organização”, explica Alexandre Bonatti, diretor de Engenharia da Fortinet Brasil. “Depois que um ataque ocorre, o pânico pode se espalhar pela empresa e criar problemas maiores. Os CISOs sabem que sobreviver a um ataque de ransomware requer um plano de resposta a incidentes, mas o desafio está na hora de documentar um plano completo e ter os recursos certos para implementá-lo quando necessário.”

EU ACHO …

A DOR DO PAVÃO E A NOSSA

O que você tem eu não tenho e, como defesa, me agarro ao que parece melhor em mim

A cauda do pavão macho encanta a humanidade há milênios. São tons hipnóticos de verde e de azul brilhante, como se mil olhos abertos nos desafiassem. É um símbolo nacional da Índia. Conduz deuses como Escanda (Kartikeya) na tradição hindu.). Foi gravado em tronos por toda a Asia como símbolo da realeza. Mesmo na variante inteiramente branca, a majestade da ave impressiona. Em versão barroca intensa ou minimalista moderna, o pavão parece ter um impacto estético insuperável.

A beleza do animal, claro, será alvo de detratores. Sempre fomos duros com glórias alheias. Pavão virou símbolo do orgulho e da vaidade. O verbo “pavonear-se” implica ostentação. Pobre ave que não parece mais humilde ou cheia de soberba do que um simples pardal. Os animais são espelhos antropomórficos das nossas dores e anseios. A abelha é trabalhadora, a águia, corajosa, a raposa, astuta e o pavão…orgulhoso. Será?

Várias histórias ilustram bem o processo, quase todas atribuídas a Esopo. O pavão foi ligado à rainha dos deuses na Grécia, Hera (a Juno romana). Ao ouvir o canto mavioso do rouxinol, a ave foi se queixar a sua protetora. Como uma ave pequena tinha uma voz tão extraordinária? A lenda narra que a deusa desconversou: “Não se pode ter tudo!”. Em outra cena, ao reivindicar o título de rei das aves, o pavão teria invocado sua beleza. O corvo indagou se as garras do vaidoso emplumado seriam fortes e suficientes para defenderem o reino do ataque das águias? Ainda outra: ao ver a cauda orgulhosa do pavão aberta, a garça perguntou se suas asas eram fortes para que ele voasse no alto céu. O pavão sabemos, voa como as galinhas: de forma curta e desajeitada. Nas três historietas, a mesma característica. Sim, reconhecemos sua beleza, porém há algo em você que pode ser atacado: a voz, os pés ou a força das asas. Como eu tenho algo em mim que pode lhe ser superior (sou um rouxinol, uma garça ou um águia), reconheço que nós dois temos uma carência: o que você tem eu não tenho e, como defesa, eu me agarro ao que parece melhor em mim. Sem querer, as narrativas tornam-se não apenas fábulas morais (cuidado com a vaidade), porém, igualmente, psicanalíticas (sua crítica pode ser um espelho das suas carências).

Há uma narrativa na qual o pavão não é o único vilão soberbo. Trata de uma gralha que, invejando o brilho do bando colorido, pegou penas caídas e encheu o corpo com elas. Assim disfarçada, foi para o meio que almejava. Descoberta, foi bicada com fúria pelos pavões. Magoada e ferida, voltou ao bando das gralhas que a rejeitou, pois, agora, tinha se mostrado insatisfeita com a origem e incapaz de ascensão.

Quase sempre as narrativas tradicionais indicam a humildade como virtude suprema. Estar resignado com a posição de origem é indicado como preceito de felicidade. Talvez tenham sido compostas para aquietar ambiciosos, calar pessoas insatisfeitas ou invocar uma ordem preestabelecida e imutável. Pior: o desejo de mudança é ruim em si. Quem nasceu gralha assim morrerá! Esopo talvez não endossasse todos os ideais de empreendedorismo.

Sim, a cauda do pavão incomoda. Seria ele orgulhoso? Claro que se trata de uma projeção nossa. O leão não manda nos animais porque teria sido sagrado rei. Ele come animais menores como as zebras e foge dos maiores, como elefantes. A cobra não é traiçoeira nem o hipopótamo “gordo”. São animais bem adaptados a um meio e com os recursos que a evolução lhes conferiu. O ser humano projeta seus medos e anseios para os degraus zoológicos e vegetais que contempla. Lembro-me de um amigo dando um conselho de dieta e insistiu que eu evitasse o modelo do urso. Por quê? Ele come doce (mel), frutas e proteína (peixes), logo, fica obeso. Imaginei se um urso fitness enfrentaria bem o rigoroso inverno ou a hibernação. Fosse Esopo e surgiria a fábula do enterro do urso que teve a vaidade de só tomar uma sopinha leve à noite para manter a forma esbelta.

Há, sim, muitas pessoas vaidosas como o pavão, ou… como imaginamos que o pavão seja. A questão do orgulho alheio é sempre incômoda. Desagradável quem proclama suas virtudes reais ou exageradas em microfones potentes. Porém, entendemos também que mesmo as virtudes de alguém que seja humilde nos incomodam. Uma vez, um amigo, sabendo que sou próximo da atriz Maria Fernanda Cândido, brincou que ela deveria ter um chulé terrível, porque ninguém poderia ser tão perfeita assim. Versão humana da crítica do corvo da lenda? Bem, parece que ela não tem e teremos de conviver com a beleza ou o talento de muita gente que ilumina, com sua luz própria, a nossa sombra. Para minha dor, o pavão que abre e exibe sua potência estética é insuportável. Reconheço que, sendo a cauda belíssima, o pavão que só a ostenta em lugares discretos também incomoda. Por fim, fazendo muita terapia, a simples existência do pavão pode ser causa de um enorme incômodo. O mundo não é justo. Bem, existe muita gente linda, brilhante, rica, agradável e, ainda por cima, carismática. Ao menos a mim, ave pequena, sozinho em meu quarto, esmagado pelo esplendor alheio, restou-me o pífio consolo: “A voz? inferior à do rouxinol”. Melhor nem trazer à tona quem veio sem a plumagem do pavão, a voz do rouxinol, as asas da garça ou sequer a garra da águia. Que espectro político atenderá este ser? Boa semana

***LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de “O Dilema do Porco-Espinho”, entre outros

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FELICIDADE INTEGRADA – I

Formas de intervenção, como coaching, Psicologia Positiva e TCC, apesar de suas diferenças conceituais, se aproximam na prática, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas

COACHING NA ANTIGUIDADE

Estudo de especialista evidencia que tanto no Ocidente quanto no Oriente existe a ideia do aperfeiçoamento de habilidades, focando principalmente o treinamento físico

Apesar das semelhanças e de reunirem condições de trabalhar de forma integrada, o coaching, a Psicologia Positiva, assim como outras formas de intervenção, guardam diferenças. No entanto, a Psicologia Positiva é relevante no processo de transformação e consolidação do coaching em uma metodologia cientificamente reconhecida. Ao contrário do que se imagina, o coaching deu seus primeiros sinais já na Antiguidade. A coach Vikki Brock, em sua tese de doutorado (2008) e diversos artigos publicados, realizou um estudo sobre as raízes do coaching. Para ela, há indícios de que o processo remonta desta época. Tanto no Ocidente quanto no Oriente existe a ideia do aperfeiçoamento de habilidades, focando principalmente o treinamento físico. No Ocidente, tem-se o atletismo, cujo papel do treinador é evidenciado nos desenhos presentes em ânforas gregas. Por sua vez, no Oriente, essa ideia estará representada nas artes marciais, na figura do mestre. Ela defende ainda que Sócrates atuava como coach, uma vez que encorajava o autoconhecimento. Assim como Confúcio e Buda queriam que as pessoas encontrassem as próprias respostas para suas questões.

Mas modernamente, entre 1930 – 1950, consultores, terapeutas e psicólogos organizacionais iniciaram um trabalho com executivos onde estes eram aconselhados através do uso de práticas semelhantes aos que hoje temos no coaching. O foco era em vendas, em como se tornar um melhor vendedor. A abordagem era motivacional e voltada para aumento de performance e desenvolvimento gerencial.

Nos anos 1960-1970 apareceu o termo “consultor de processo” e criaram-se programas para a liderança, que eram aplicados nas empresas. Havia uma expectativa que o líder empresarial unisse o desenvolvimento da organização ao estudo da Psicologia emergente na época, sobretudo a visão comportamentalista americana.

É publicado, em 1974, o livro de Tim Gallwey, The Inner Game of Tennis. Nessa obra, Gallwey relata o que acontece na mente dos jogadores durante uma partida, levando-os a perder o foco e a atenção. Gallwey desenvolve uma metodologia na qual a mente toma consciência através da observação direta e do não julgamento, aumentando a aprendizagem, o desempenho e o prazer no jogo. Essa metodologia do mundo esportivo é adaptada ao mundo dos negócios e passa a ser chamada de coaching.

Na década seguinte, nos Estados Unidos e Reino Unido, empresas começam a oferecer treinamentos individuais e empresariais em coaching. Outras propostas surgem como a de John Withmore, piloto de corrida, que desenvolve um modelo de coaching com o objetivo de ensinar as pessoas a aprenderem a partir de perguntas abertas que levasse ao aumento da percepção quanto ao seu estado atual e das possibilidades para o futuro.

Em 2000, o movimento da Psicologia conduzido por Martin Seligman é integrado ao coaching. A Psicologia Positiva é o nome guarda-chuva dado ao campo de pesquisa e de aplicação da Psicologia que trabalha com aquilo que funciona no ser humano. Estuda as condições e as experiências que conduzem ao bem-estar e à felicidade.

Em 2005, Seligman propõe um modelo de coaching de Psicologia Positiva chamado Authentic Happiness Coaching, ou Coaching da Felicidade, com o objetivo de oferecer um conjunto de técnicas para estimular a felicidade. Baseia-se na ideia de que a felicidade pode ser alcançada por todos e que as habilidades envolvidas na criação de uma vida mais feliz podem ser aprendidas. Isso inclui o ensino de habilidades para o pensamento otimista; a identificação e utilização dos pontos fortes; e o desenvolvimento de relações positivas.

VISÕES

Coaching e Psicologia Positiva são ramos que podem ter relação direta com a terapia cognitivo­ comportamental (TCC). Os autores Mônica Portella e Maurício Canton Bastos, durante o período que tiveram contato com alunos de diversas origens, interessados na formação em TCC, no Centro de Psicologia Aplicada e Formação em TCC (CPAF-RJ), encontraram muitas visões (crenças) a respeito desse modelo. Alguns consideram que essa é uma terapia superficial, que trata de sintomas, mas não se aprofunda nas reais fontes dos conflitos, de modo a gerar resultados apenas transitórios e paliativos. Outros consideram o modelo como rígido e inflexível, de modo a apenas beneficiar algumas poucas categorias de pacientes. Outros ainda consideram que esse é um modelo baseado na aplicação de princípios estudados em ratos e outros animais e que não fazem justiça à complexa subjetividade do sujeito.

Muitas outras concepções distorcidas são apresentadas, mas vamos destacar essas como estando na base da maioria delas. Além disso, a TCC recentemente vem ampliando o escopo de suas intervenções a partir do que vem sendo conhecido como a terceira onda nas TCCs.

As abordagens de terceira onda incluem a valorização cada vez maior do uso da relação terapêutica como instrumento de mudança, a importância das emoções como estratégias de intervenção e, até mesmo, a inclusão da releitura de estratégias milenares (meditação) como técnica para potencializar o processo terapêutico. O objetivo é apresentar uma visão ampliada da TCC, a partir das descobertas oriundas dos estudos em Psicologia Positiva e sistemas dinâmicos.

POESIA CANTADA

FLOR DE IR EMBORA

FÁTIMA GUEDES

Maria de FATIMA GUEDES nasceu numa terça-feira, dia 6 de maio de 1958, na rua Dr. Satamini, Tijuca, no coração do Rio de Janeiro. Foi neste bairro que cursou o primário no Instituto de Educação e na Escola Azevedo Sodré. Mudou-se aos 8 anos para o Rio Comprido onde passou a juventude lendo muito e ouvindo música: clássicos por influência do padrasto, hits românticos por influência da moda, e MPB por influência da mãe, professora de literatura, que a introduziu no mundo das palavras. Foi ela que a presenteou com o LP “Chico Buarque Volume 4”, quando Fatima tinha apenas 11 anos.

Começou a compor aos 15 anos e aos 18 já tinha uma linguagem amadurecida em letras e melodias. Inscreveu-se no festival do Colégio Hélio Alonso, onde estudava, e ganhou os prêmios de melhor composição e melhor letra com a canção “Passional”. No júri do festival estavam, entre outros, Maria Bethânia, o produtor Mariozinho Rocha, o poeta e letrista Paulo César Pinheiro e o jornalista Roberto Moura. Este último foi responsável por apresentar Fatima às pessoas do meio musical da época. Numa reunião na casa do músico João de Aquino, ela conheceu Renato Corrêa, cantor, compositor e na época produtor da gravadora Odeon, que a convidou para gravar seu primeiro disco. Nesse mesmo ano conheceu a cantora Elis Regina que a apresentou em seu especial de fim de ano da TV Bandeirantes.

No início da década de 1990 foi morar em Los Angeles onde fez apresentações em casas de jazz, voltando ao Brasil um ano depois.

Aprimorou seu canto buscando tonalidades mais graves e tornou-se também professora, ministrando aulas e cursos.

Foi gravada por quase todos os grandes nomes da MPB, como Maria Bethânia, Nana Caymmi, Simone, Alcione, Leny Andrade, Beth Carvalho, Ney Matogrosso, Alaide Costa, Jane Duboc, entre outros.

Costuma compor sozinha, mas atualmente seus parceiros vão se tornando cada vez mais numerosos, e entre eles estão artistas como Djavan, Ivan Lins, Joyce, Sueli Costa, Jorge Vercilo e Adriana Calcanhoto.

Amante da natureza, Fatima reside em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro. É casada com o baixista e engenheiro de som Zeca Winicki com quem tem uma filha, Beatriz.

FLOR DE IR EMBORA

COMPOSIÇÃO: FÁTIMA GUEDES

Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta do que a gente chora
Rompe a terra decidida
Flor do meu desejo de correr o mundo afora
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu
E lá vou eu
Flor de ir embora, eu vou
Agora esse mundo é meu

Une Fleur

OUTROS OLHARES

XÍCARAS SAUDÁVEIS

Uma leva de novas pesquisas deixa de lado o vaivém científico de décadas e confirma: tomar café faz bem ao organismo e evita uma série de doenças

O poeta gaúcho Mario Quintana (1906-1994), que sabia das boas coisas da vida, mas também das pequenas e grandes agruras do cotidiano, escreveu algumas linhas definitivas em torno de um de seus hábitos: “O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite acompanhamento sólido. Mas eu driblo, saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas na manteiga que alguém pediu na mesa próxima”. Todos os anos, cada um dos brasileiros como Quintana bebe, em média, de três a quatro xícaras diárias. A relação com a bebida quentinha começa aos 18 anos, mas é a partir dos 40 que o consumo se torna mais intenso. Muito já se disse em torno do líquido feito a partir do grão torrado, que faz mal ao organismo, atalho para insônia e que anularia os efeitos positivos da vitamina E e do cálcio. E então renovadas pesquisas indicavam o contrário, reafirmando as qualidades da semente do cafeeiro. Até que, ufa, novos estudos apontassem o oposto, em um ciclo infinito. É gangorra que está com os dias contados – e, tal qual já aconteceu com o ovo (ora feito vilão, ora transformado em mocinho, mas que foi definitivamente reabilitado), pode-se dizer que o café faz bem.

Uma coleção de novos estudos realizados em todo o mundo revela que a ingestão de quatro a cinco xícaras de café diariamente (ou cerca de 400 miligramas de cafeína) estaria associada a taxas de mortalidade reduzidas. A mais recente evidência veio dos laboratórios das universidades de Southampton e Edimburgo, no Reino Unido. A partir do acompanhamento de cerca de 500.000 pessoas durante onze anos, verificou-se que o consumo regular de café – moído, instantâneo e até descafeinado – tem potencial para reduzir o risco de doenças hepáticas em 20%. “No geral, apesar de várias preocupações que surgiram ao longo dos anos, o café é extremamente seguro e tem uma série de benefícios relevantes”, diz o clínico geral e endocrinologista Fabiano Serfaty.

Não há um único e salvador composto responsável pelo efeito protetor. Os benefícios são deflagrados por uma combinação de substâncias. Não é só a cafeína. “Existem outros elementos, como os polifenóis, que parecem favorecer esse processo de proteção, em todos os níveis,” diz Antônio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Os polifenóis atuam como um potente antioxidante, combatendo os radicais livres, atalho para o envelhecimento do corpo e a formação de placas de gordura nas artérias.




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Ressalve-se, porém, que café não é remédio. No entanto, um relatório da Escola de Saúde Pública de Harvard recomendou o consumo com moderação como “parte de um estilo de vida saudável”. É o avesso do que indicou a Organização Mundial da Saúde em 1991, ao informar que a cafeína tinha efeito cancerígeno. A conclusão foi revista, com a constatação de que fumar, e não beber café (os dois frequentemente andam de mãos dadas), era o responsável pelo perigo alegado.
Convém sempre ficar atento também aos danos reais. A cafeína pode prejudicar o sono, causar arritmia e gastrite. Na gestação, pode haver risco de aborto e parto prematuro. “O consumo da bebida com grandes quantidades de açúcares e gordura pode comprometer seus efeitos positivos”, diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração. “A melhor forma de desfrutar o café é de maneira equilibrada e com moderação.”
Tomando em prestado o conhecido verso do Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes, de um amor que seja infinito enquanto dure, posto que é chama, em relação ao café é possível dizer que a relação sentimental agora pode ser incondicional, irrecorrível, embora sem exageros – é o que diz a ciência da alimentação. E o que autoriza os fãs de Brigitte Bardot, hoje com 86 anos, terem ido ao Instagram, em 1º de outubro do ano passado, para exibi-la ainda jovem, com uma xícara em mãos, para celebrar o Dia Internacional do Café – que pode ser todo santo dia, sem dor na consciência.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 30 DE JULHO

CUIDADO COM O HOMEM VIOLENTO

O homem violento alicia o seu companheiro e guia-o por um caminho que não é bom (Provérbios 16.29).

O homem violento tem forte poder de sedução e imensa capacidade de aliciar as pessoas. Viver em sua companhia é um risco. Cultivar amizade com gente desse jaez é colocar os pés numa estrada perigosa e navegar por mares revoltos. A atitude mais sensata é desviar-se do caminho do homem violento. Não é possível andar com uma pessoa com esse perfil sem receber os respingos de suas atitudes perigosas. Ser conduzido por um homem violento é ser guiado por um mau caminho. É envolver-se em encrencas perigosas. É flertar com o perigo e comprometer-se com tragédias mortais. A Palavra de Deus é assaz oportuna quando alerta: Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. Se disserem: Vem conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes; traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova; acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa; lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa. Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés; porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue (Provérbios 1.10-16).

GESTÃO E CARREIRA

COMO TROCAR DE EMPREGO EM MEIO À PANDEMIA?

Apesar das dificuldades impostas pela Covid-19, muitos profissionais ainda desejam fazer mudanças em suas carreiras, seja em outra área ou em uma nova empresa. Mesmo com a necessidade de adaptações, a troca de emprego é bastante possível nesse momento.

Inclusive, o trabalho remoto criou novas oportunidades, antes inimagináveis. A maior delas é o fato de um profissional poder trabalhar de qualquer lugar do mundo. A mesma vantagem vale para as empresas, que não precisam mais ficar limitadas aos profissionais que moram nas suas cidades de atuação. Com tantas possibilidades, o mais importante é não ter medo da mudança.

Abraçar os novos modelos de processos seletivos e de integração nas empresas pode ser o melhor a fazer, dependendo do seu momento de carreira. Por isso, listei aqui cinco dicas para te ajudar a conquistar e ter sucesso em um novo emprego em meio à pandemia:

1. SEJA VISTO: o mundo está mais digital do que nunca. E, se existe algo bom nisso, é a possibilidade de se fazer presente em vários locais ao mesmo tempo. Quem deseja conquistar o emprego dos sonhos precisa ser visto. Para isso, é imprescindível marcar presença em redes sociais profissionais como o LinkedIn, além de espaços mais ligados à comunidade da sua área de atuação, como fóruns, meetups, hackatons, lives, entre outros.

Fica aqui mais uma dica: é importante ser ativo e contribuir com os grupos a fim de se manter em uma posição de destaque.

2. PROCURE UM HEADHUNTER: você sabia que atualmente boa parte das oportunidades profissionais nem chegam a ser divulgadas? Por isso, é muito importante investir em um networking de qualidade, principalmente com headhunters. São esses profissionais que conhecem as necessidades das empresas e partem em busca dos candidatos ideais.

Invista na criação de um relacionamento cordial com eles para que você seja lembrado quando surgir uma vaga com o seu perfil.

3. PREPARE-SE PARA O RECRUTAMENTO REMOTO: praticamente todos os processos seletivos migraram instantaneamente para o online desde o início da pandemia. Isso quer dizer que o cordial aperto de mãos ficou para trás, dando espaço a novos formatos de seleção, que vão muito além da entrevista. Atualmente, é comum o candidato não somente ser entrevistado, mas também trabalhar em algum case, apresentá-lo e ser bastante questionado online pelos contratantes.

Na prática, isso representa uma ótima oportunidade para o profissional apresentar suas habilidades e mostrar o seu estilo de trabalho.

4. ESTEJA PRONTO PARA A INTEGRAÇÃO A DISTÂNCIA: uma vez conquistada a vaga, o próximo desafio é passar pelo momento de integração na empresa, porém agora de forma totalmente remota. Descobrir as suas tarefas e criar a sua nova rotina vai demandar a utilização de uma série de tecnologias.

Felizmente, há várias ferramentas que facilitam esse processo, como o WhatsApp, o Slack e o Trello, que ajudam a organizar as atividades e até a criar um fluxo para a realização de cada uma delas. Esteja aberto para mudanças!

5. CONECTE-SE COM AS PESSOAS: provavelmente ainda vai demorar um pouco mais para conhecer seus novos colegas em um almoço ou em um happy hour, mas isso não quer dizer que o contato deva ser exclusivamente profissional. É muito importante suavizar as relações por meio de videoconferências que não visem apenas a deliberação das tarefas.

Alguns minutos de conversa sobre assuntos gerais, visando conhecer a pessoa além do profissional, pode ajudar muito no estreitamente das relações. É preciso conhecer os colegas e se fazer conhecido por eles. Esse tipo de aproximação pessoal ajuda muito no dia a dia de trabalho.

Estando adaptado à nova rotina, é importante buscar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Como não temos mais o deslocamento até a empresa, muitas pessoas têm dificuldade de se desligar dos afazeres e acabam trabalhando muito mais do que deveriam. Por isso, é preciso estipular os horários e cumprir as tarefas dentro deles, evitando o excesso de trabalho. A saúde física e mental também impacta no bom desempenho profissional. Ainda mais quando se é novo na empresa.

*** IGOR TRISUZZI – É formado em Administração de Empresas pela FEA/USP, é Consultor Sênior da Yoctoo, com certificação internacional em Coaching pela SLAC

 www.yoctoo.com  

EU ACHO …

ALÉM DO VALE

Que tal rompermos com o complexo de vira-lata e referenciarmos exemplos nacionais, femininos e não brancos?

Minha pulguinha atrás da orelha tem me feito reparar, cada vez mais, em citações de livros, exposições e apresentações: quantas das referências são brasileiras? Quantas são mulheres? Quantas são indígenas ou negras? Formada em Publicidade e Marketing, comecei a perceber desde a faculdade e, sobretudo, após o mestrado que, entre os considerados cânones da área, figuravam nomes como Phillip Kotler, Peter Drucker, Tom Peters, Alex Osterwalder e outros, com os quais aprendi muito.

Mas, pouco a pouco, fui entendendo que eles tinham algo em comum: eram em sua maioria homens, brancos, da América do Norte ou europeus. Pense na maior referência em música clássica, filosofia ou ainda da matemática que você conhece. Provavelmente, a resposta te dará perfis de pessoas semelhantes, em termos de raça, gênero e origem.

O mesmo acontece quando vemos vitrines virtuais ou físicas estampando capas de livros de autoajuda ou bestsellers, por exemplo, que, em geral, contam histórias de personagens não brasileiros ou de business que retratam modelos de negócios de empresas baseadas no Vale do Silício, na Califórnia, berço da tecnologia.

E isso também influencia nas metodologias que aprendemos, padrões estéticos, exemplos dados do que consideramos o modelo certo a ser seguido, ou mais válido e popular. E o que é diferente disso, portanto errado, arcaico e inadequado.

Isso inclusive se desdobra em tantas outras frentes, como no nosso padrão de consumo, por exemplo. Valorizamos mais o que vem de fora em relação a um fornecedor local, não somente pela qualidade, mas pela crença de que por ser de fora é melhor.

Quando cito esses episódios com criticidade não é que desacredite que a solução seja deixarmos de aprender ou conviver com exemplos que “vêm de fora”, tampouco acho que isso seria possível. Creio que, com nossos bilhões de neurônios, somos capazes de criar conexões com situações nem tão semelhantes às nossas e, a partir daí, ter uma série de ideias e sinapses adaptadas aos nossos contextos. Mas também entendo que deixamos de aprender muita coisa por só beber de fontes importadas.

Quando queremos aprender sobre modelos de gestão, democracia participativa ou arquitetura e urbanismo, porque, ao invés de usarmos cases da Califórnia, Suécia ou Noruega, não fazemos imersões e trocas com cânones dos povos quilombolas, ribeirinhos e guaranis?

Fica aqui uma proposta de reflexão: que tal rompermos com o complexo de vira-lata e referenciarmos mais exemplos nacionais, femininos e não brancos?

Não estou evocando um nacionalismo equivocado tão na moda atualmente, mas, sim, a valorização de saberes, trocas e aprendizados produzidos a partir de vivências que, apesar de teoricamente próximas, não estamos acessando. E o quanto isso também diz sobre nossa autoestima.

Em conversa recente com um professor e alguns colegas, ele apontava que poucos de nós, brasileiros, fomos indicados ao Nobel. Uma das minhas colegas disse ter ido estudar fora do Brasil e aprender exemplos de inovação a partir de um case de tecnobrega. Ficou surpresa ao ter mais contato com referências brasileiras quando saiu do país do que nos cursos realizados aqui. Já está na hora de nos enxergarmos como potências na academia, na cultura, na moda e na vida.

A sabedoria vai para além do Vale do Silício.

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaigualdadercial.com.br

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

INDIVIDUAL OU EM GRUPO?

Em ambos os formatos de supervisão, o trabalho do supervisor deve sintetizar na sua condução do processo, muitos dos pressupostos da TCC

O desenvolvimento das habilidades clínicas em terapia cognitivo-comportamental (TCC) dependem de uma formação robusta baseada em sólidos conhecimentos teóricos e extensiva prática supervisionada. Nesse sentido, cada vez fica mais ratificada a importância de estudos que explicitem os métodos mais eficientes para o ensino da psicoterapia, tanto em aulas quanto nos momentos de supervisão.

Algumas organizações profissionais (como Academia de Terapia Cognitiva, Sociedade Internacional de Terapia do Esquema e, no Brasil, a Federação Brasileira de Terapias Cognitivas), ao  perceber que a grande maioria dos programas de treinamento em TCC ocorre em institutos privados, buscaram definir alguns parâmetros fundamentais que devem ser contemplados no ensino e supervisão dos terapeutas em formação, tais como: a estruturação do tratamento e das sessões; os conhecimentos de psicopatologia ateórica e teórica para o estabelecimento de hipóteses diagnósticas; os domínios sobre os formulários de conceitualização cognitiva de casos, que leva o aprendiz a ter um entendimento dinâmico e coerente de todos os dados da história de cada um de seus pacientes; o conhecimento das habilidades técnicas básicas das TCCs, como, por exemplo, da descoberta guiada e do Diálogo Socrático.

Já no que diz respeito à parte prática, a maioria das diretrizes indicam a necessidade de exercícios práticos (para o treinamento de habilidades de entrevista e intervenções) e da supervisão sistemática de casos.

Considera-se que um terapeuta cognitivo realmente qualificado tenha passado por extensiva prática supervisionada, podendo ter seu aperfeiçoamento como terapeuta monitorado e lapidado por supervisor experiente.

Os objetivos que a vivência dos atendimentos supervisionados deve alcançar junto aos terapeutas em formação são:

1) aprendizado de como estabelecer e manejar a aliança terapêutica;

2) habilidade em realizar conceitualizações de caso que permitam a elaboração de um plano de tratamento objetivo, gradual, consistente e viável à realidade do paciente;

3) favorecer a identificação pelo terapeuta de seus próprios esquemas mentais desadaptativos, em especial aqueles comumente ativados no trabalho com seus pacientes, minimizando os efeitos destes na psicoterapia;

4) aperfeiçoar as estratégias terapêuticas, bem como treinar algumas técnicas a serem utilizadas em cada caso supervisionado, permitindo assim respeitosos feedbacks positivos e negativos sobre a implementação das intervenções do supervisionando.

Os formatos das supervisões podem ser individuais ou em pequenos grupos. As supervisões individuais estão usualmente presentes nos programas de treinamento mundo afora. Isso porque, historicamente, esse foi o primeiro formato adotado. Ele é quase sempre exigido, em alguma proporção, para a certificação avançada de terapeutas, pois tem a vantagem de fornecer mais tempo para que o supervisionando traga detalhadamente cada um dos casos que está atendendo, e que, com a ajuda do supervisor, possa ver as influências de seus esquemas desadaptativos sobre o tratamento; aspecto este tão enviesador dos resultados da psicoterapia.

No contexto da supervisão individual, a relação supervisor-supervisionando acaba por reproduzir posturas empáticas e de fortalecimento de relações estáveis e interativas, terminando por gerar um momento propício a um aprendizado que vai muito além do verbal ou daquilo que pode ser lido; ou seja, de aspectos sutis de sua personalidade e de seus estilos de enfrentamento.

O formato em pequenos grupos traz como principal vantagem a possibilidade dos supervisionados aprenderem com os casos dos seus colegas de grupo. Também permite que haja o aprendizado de diferentes técnicas de uma forma mais dinâmica e prática, por meio de simulações (role playings) de situações de cada um dos casos em discussão. Outro aspecto interessante da prática grupal é que, pelo tempo mais exíguo para a supervisão de cada caso, algumas regras tendem a ser implementadas na apresentação dos casos, como, por exemplo, a limitação de tempo (2 a 3 minutos) para as informações sobre o paciente. Aprender a discernir os dados realmente mais relevantes de cada caso não é fácil (principalmente para os iniciantes), mas, ao fim e ao cabo, mostra-se um meio para o aperfeiçoamento da habilidade de entendimento mais profundo dos clientes.

Em verdade, os estudos de eficiência no ensino de psicoterapia têm demonstrado que a possibilidade de implementação de ambos os formatos de supervisão, em proporções adequadas, é o que resulta em padrões mais avançados, tanto de entendimento teórico, quanto de intervenções clínicas em Terapia Cognitiva.

RICARDO WAINER – é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, com treinamento avançado pelo New York Schema lnstitute, e supervisor credenciado pela lnternational Society of Schema Therapy. Pesquisador em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental em Ciências Cognitivas. Professor titular da Faculdade de Psicologia da PUC-RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.

POESIA CANTADA

CAVALGADA

ROBERTO CARLOS

Capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, ROBERTO CARLOS Braga nasceu no dia 19 de abril de 1941.
É o artista latino-americano que teve mais discos vendidos e o cantor brasileiro que mais vendeu discos no mundo. Em 62 anos de carreira, vendeu mais de cem milhões de álbuns.
Seu sucesso teve início nos anos 60, quando celebrava o rock ‘n roll com artistas como Erasmo Carlos, Wanderléa, entre outros. Junto com os dois cantores já citados, Roberto pode ser considerado um dos pais da Jovem Guarda. Nessa época ele emplacou músicas como Splish Splash, Parei na Contramão, É Proibido Fumar e O Calhambeque.
Depois de um desentendimento com seu parceiro de composições, Erasmo Carlos, Roberto seguiu escrevendo sozinho músicas marcantes. A trilha sonora do filme Roberto Carlos Em Ritmo De Aventura trazia canções dele como Por Isso Corro Demais, Como É Grande O Meu Por Você e Quando. O filme além de reatar a amizade com Erasmo, garantiu a Roberto o sucesso também nos telões, com uma das maiores bilheterias da época.
A mudança na carreira do cantor viria com a chegada dos anos 70. Ainda em 1969, seu disco Roberto Carlos, que trouxe faixas como As Curvas da Estrada de Santos e As Flores do Jardim de Nossa Casa já mostrava traços mais românticos. Foi nos anos 70 também que Roberto firmaria seus laços fortes com a religião. O álbum de 1970 trazia a canção Jesus Cristo, um de seus maiores sucessos.
O último filme intitulado Roberto Carlos a 300 por Hora é de 1971, quando ele também lançou um novo disco com músicas marcantes: Detalhes, Todos Estão Surdos e Embaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos.
A chegada dos anos 80 marcou uma nova fase na carreira internacional de Roberto Carlos. Ele gravou seu primeiro disco cantado todo em inglês. Em 1982, receberia da CBS o prêmio Globo de Cristal, por vender mais de 5 milhões de cópias fora do seu país de origem.
Já em 1988, ganharia o Grammy de Melhor Cantor Latino-Americano e ainda atingiria o topo da parada latina da Billboard.
Nos anos 90, Roberto Carlos continuou como um grande campeão de vendas ao bater os Beatles em vendagens, com mais de 70 milhões de cópias.
Nos anos 2000, Roberto foi mais um artista a participar do estrelado hall da série Acústico da MTV. O disco trouxe a participação de artistas como Samuel Rosa, do conjunto Skank, e o guitarrista Tony Bellotto, dos Titãs.
Em 2004, comemorando os 30 anos de sua série de especiais na Tv Globo, Roberto Carlos teve sua discografia relançada em grandes boxes, divididos por décadas. Um ano depois levaria o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Romântica, com o álbum Pra Sempre Ao Vivo No Pacaembu.
Ele repete a dose em 2006, faturando novo Grammy Latino com o disco Roberto Carlos, de 2005.

CAVALGADA

ROBERTO CARLOS/ ERASMO CARLOS

Vou cavalgar por toda a noite

Por uma estrada colorida

Usar meus beijos como açoite

E a minha mão mais atrevida

Vou me agarrar aos seus cabelos

Pra não cair do seu galope

Vou atender aos meus apelos

Antes que o dia nos sufoque

Vou me perder de madrugada

Pra te encontrar no meu abraço

Depois de toda cavalgada

Vou me deitar no seu cansaço

Sem me importar se nesse instante

Sou dominado ou se domino

Vou me sentir como um gigante

Ou nada mais do que um menino

Estrelas mudam de lugar

Chegam mais perto só pra ver

E ainda brilham de manhã

Depois do nosso adormecer

E na grandeza desse instante

O amor cavalga sem saber

Que na beleza dessa hora

O sol espera pra nascer

Estrelas mudam de lugar

Chegam mais perto só pra ver

E ainda brilham na manhã

Depois do nosso adormecer

OUTROS OLHARES

A TODO VAPOR

Influenciadores brasileiros disseminam nas redes os atrativos do cigarro eletrônico, produto cada vez mais usado pelos jovens, embora a venda seja proibida

Custou, mas o cigarro saiu de moda. Soterrado por uma avalanche de evidências científicas de seus malefícios para a saúde, capazes de causar 71 milhões de mortes por ano, o produto deixou de ser símbolo de poder, liberdade e glamour, parou de aparecer pendurado na boca de celebridades e foi caindo em desuso no mundo todo – de 1990 para cá, o número de fumantes no Brasil teve queda de mais de 50%. Eis que agora surge das cinzas o vape, cigarro eletrônico de aparência moderninha e sabores atraentes que influenciadores digitais brasileiros divulgam, entre baforadas, como sendo acessório essencial para descolados dignos do nome. Dispositivos eletrônicos com nicotina não são novidade. O que chama a atenção agora é a sutil disseminação entre os jovens, impulsionada nas redes sociais, atropelando dois fatos tão inescapáveis quanto ignorados:

1) o fumo através de e-cigarettes é tão danoso quanto o cigarro convencional; e

2) a venda deles é proibida no país.

Basta entrar no Instagram para dar de cara com influenciadores jovens e bonitos desfrutando de vaporizadores sabor uva, manga, morango, abacaxi, banana e outras combinações, que ganham e divulgam como se fizessem parte de seu invejado dia a dia. A influenciadora Vitória Gimenez, 25 anos, embaixadora de um dos maiores perfis de venda de pods (a versão mais barata e descartável dos vapes) no Brasil, afirma que conheceu o produto – e gostou em uma viagem aos Estados Unidos.

“O vape é muito mais prático e bonito que o cigarro tradicional. Como não tem cheiro, posso usar em qualquer lugar”, diz. Vitória, que tem mais de 200.000 seguidores no Instagram, apregoa que os cigarros eletrônicos fazem menos mal que os convencionais o que não tem confirmação científica. “Não há forma segura ou menos pior de tabagismo. Além da nicotina, que todos sabemos que causa câncer, os dispositivos eletrônicos liberam uma série de substâncias tóxicas”, alerta Elie Fiss, professor de pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC.

Os cigarros eletrônicos, inventados na China e até hoje produzidos quase todos lá, estão no mercado há aproximadamente vinte anos e foram lançados como ferramenta menos danosa para ajudar as pessoas a parar de fumar. Apelidados de vape porque a pessoa inala e exala vapor em vez de fumaça, contêm nicotina e outras substâncias cancerígenas. Nos últimos anos, uma nova geração de vapes, com cara de pen drive e fabricados pela Juul Lab, invadiu as escolas dos Estados Unidos e outros países, cultivando um mercado de jovens que nunca haviam fumado – e desvirtuando o propósito original dos e-cigarettes. De tão recorrente, o uso de vape foi qualificado de epidemia nos Estados Unidos em 2019, quando os hospitais reportaram mais de 2.500 internações e cinquenta mortes de usuários em decorrência de problemas pulmonares. Para piorar, um estudo conjunto das universidades da Califórnia e de Stanford constatou que os usuários de dispositivos eletrônicos têm até sete vezes mais chances de contrair Covid-19.

Por sua estratégia de marketing voltada diretamente para adolescentes, a Juul firmou acordo em junho para pagar 40 milhões de dólares, a título de indenização por despesas causadas, à Carolina do Norte – o 15º estado americano a mover ação do gênero contra a empresa. Também admitiu que o dispositivo é altamente viciante e comprometeu-se a tomar providência para coibir seu uso entre os jovens. A essa altura, já tinha diversos concorrentes na comercialização de pods – a versão descartável que contém baforadas (puffs) equivalentes a um maço de cigarro -, que agora circulam no mundo maravilhoso dos influenciadores digitais brasileiros. ”Trata-se de um público especialmente atraído por atitudes transgressoras. Além disso, a fumaça que sai dos vaporizadores tem o apelo estético perfeito para ganhar likes nas redes sociais”, aponta Maria Isabel de Almeida, professora de sociologia da PUC-Rio. No Instagram, 30,7 milhões de publicações utilizam a hashtag #vape.

No movimentado universo das blogueiras digitais, o vape é tratado com a mesma naturalidade que uma bolsa ou um item de maquiagem e faz parte integral da narrativa de vidas perfeitas, embaladas por viagens, passeios de barco e festas de alto nível. Para Monica Andreis, psicóloga e vice-diretora da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), a estratégia de sedução, ainda que repaginada, é a mesma da época de ouro dos cigarros tradicionais, personificada no caubói dos anúncios da Marlboro e atrelada ao fascínio de artistas que iam do bad boy James Dean à requintada personagem de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo. “Os jovens são atraídos pelo ar descolado e acreditam que são capazes de dominar o hábito,” diz Monica. A influencer mineira Julia Nickel, 25 anos, 27.600 seguidores, trocou o cigarro convencional pelo digital conquistada pelos sabores e aromas, mas admite: “Quando uso, fico com voz rouca e tossindo”. O Instagram, onde se concentram os anúncios e vendas do produto, afirmou em nota que” trabalha para remover o máximo possível desse tipo de conteúdo antes que as pessoas o vejam”.

O Brasil proíbe a venda, a importação e a propaganda de todos os dispositivos eletrônicos destinados ao fumo com base em uma resolução, o que abre a possibilidade de que os e-cigarettes venham a ser legalizados no futuro. “O consumo em si não é vedado. Os alvos da norma são o comerciante e o importador”, afirma a advogada Raphaela Silveira. Adquirir um pod é rápido e indolor: basta entrar no perfil do Instagram de alguma marca popular (existem várias, repisadas a todo instante por influenciadores) e clicar em um link que direciona o interessado para uma conversa no WhatsApp. Lá são combinados o sabor, a forma de pagamento de cerca de 50 reais – transferência bancária ou dinheiro – e a retirada, pessoalmente em algum endereço pré-selecionado, ou entrega por aplicativo de transporte. A reportagem seguiu o passo a passo e recebeu seu pod em meia hora, sem apresentar nenhum tipo de identificação, como nome ou idade. O vaporizador chega em uma embalagem parecida com as usadas em delivery de restaurante. Dentro dela encontra-se uma pequena caixinha colorida, chamativa, com cheiro forte de fruta e rótulo em inglês. Basta abrir, pegar o dispositivo em seu interior, levar à boca e tragar – simples assim.

Na contramão do modismo, o empresário e influencer TallisGomes, 34 anos, relata que chegou a fazer uso dos vaporizadores, mas parou ao tomar consciência dos danos causados. “Eu tinha uma sensação de relaxamento, mas o prazer momentâneo não vale as consequências graves no futuro”, afirma. Gomes, que tem quase 400.000 seguidores, conta que foi instigado a experimentar o e-cigarette para se sentir incluído em ambientes onde a maioria das pessoas usa. “O vape virou um código cultural, um objeto de ostentação”, ressalta. As consequências são imediatas: quem entra em contato com o cigarro eletrônico tem pelo menos três vezes mais chance de buscar outros produtos com nicotina. “Levamos tanto tempo para controlar o tabagismo no Brasil e agora presenciamos um retrocesso imensurável”, indigna-se Liz Almeida, coordenadora de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Rio de Janeiro. Apoiado na batida tática de adicionar charme ao que não tem graça nenhuma, o cigarro em roupagem futurista dá sopro a um problema do século passado.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 29 DE JULHO

O PERIGO DAS CONTENDAS E INIMIZADES

O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos (Provérbios 16.28).

Há pessoas que são um poço de problemas. Quando transbordam, suas perversidades provocam uma inundação, cujas águas lodacentas levam destruição por onde passam. Há indivíduos que são geradores de conflitos. Arranjam encrenca quando chegam e provocam dissensão quando saem. Se o homem perverso é um espalhador de contendas, o difamador separa os maiores amigos. Há pessoas que têm o prazer mórbido de espalhar boatos. Vasculham a vida alheia apenas para soltar ao vento suas palavras venenosas. Provocam intrigas, jogam uma pessoa contra a outra e buscam ocasião para destruir a reputação dos outros. O difamador é um assassino. Mata com a língua. Atenta contra a reputação dos semelhantes. Destrói-lhes o bom nome. Macula a honra das pessoas e, assim, separa os maiores amigos. A Bíblia diz que todos os pecados são graves e horrendos aos olhos de Deus, mas há um pecado que sua alma abomina: é o pecado da difamação, de semear contenda entre irmãos, espalhar boatos, torcer os fatos e cavar abismos nos relacionamentos em vez de construir pontes. Os difamadores colocam cunha nos relacionamentos, em vez de cimentá-los com a argamassa da amizade. Longe de serem ministros da reconciliação, são promotores de intrigas e idealizadores de inimizades.

GESTÃO E CARREIRA

POR QUE O EMPREENDEDORISMO É TÃO DESAFIADOR NO BRASIL?

Nos últimos anos, o empreendedorismo aumentou bastante no Brasil, a ponto de chegarmos no ranking dos 20 países do mundo com o maior número de startups

Esse dado faz parte de um levantamento feito pela empresa Startup Blink, que analisou pequenas empresas de tecnologia em cem cidades de diversas partes do planeta. Porém, ao mesmo tempo que têm surgido muitas pequenas empresas novas, os índices de fechamento continuam preocupantes.

Para se ter uma ideia, as pesquisas do IBGE revelam que 21% das empresas quebram antes de completar um ano! Segundo o mais recente estudo “Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo”, ainda temos mais empresas fechando do que abrindo. Por que será que um país com tanto potencial empreendedor não consegue sustentar a maioria de suas empresas por muito tempo?

O que acontece com esses negócios que, ainda que sobrevivam, quase sempre enfrentam sérios problemas financeiros? Se este for o caso, por que será que o caixa da sua empresa nem sempre tem dinheiro para pagar as contas do dia a dia? Para encontrar a resposta a essas perguntas, eu o convido a olhar para dentro do seu negócio e observar esses três pontos: Liquidez da empresa; Rentabilidade; e Ponto de equilíbrio. O que você vê? Consegue dizer, por exemplo, qual é o ponto de equilíbrio da sua empresa? Não? E se eu perguntasse qual é o seu número de RG e de CPF? Possivelmente você me falaria estes números de cor.

Afinal, foi isso que aprendemos durante toda a nossa vida: decorar números e fórmulas! Porque faz parte da nossa cultura sermos conduzidos por “modelos prontos” recheados de informações e que nem sempre serão úteis, e limitando o desenvolvimento ao que é conhecido e ajustável ao sistema. Só que o empreendedorismo é justamente o oposto disso: é a q capacidade de criar algo de valor para outras pessoas a partir de praticamente nada. Então, se nos prendermos ao “modelo pronto”, não teremos espaço para criar, muito menos para questionar os métodos que talvez não estejam funcionando em nosso negócio! Para conseguir enxergar a real situação financeira da sua empresa e entender o que deve ser feito para restaurá-la, você, necessariamente, terá que mudar o modelo de gestão! Sem compreender os números do negócio, o máximo que conseguirá fazer é “apagar incêndios” com soluções paliativas, como uso de créditos bancários, que comprometem a liquidez da empresa ao longo do tempo. A boa notícia é que tudo fica mais fácil quando saímos do “piloto automático” e passamos a questionar os métodos usados e a desenvolver nossas próprias ideias, colocando-as em prática. Porque essa experiência nos permite enxergar além da superfície e compreender as reais necessidades e oportunidades do negócio.

É isso o que diferencia as muitas empresas brasileiras que apenas “sobrevivem” no mercado das que se sustentam e prosperam com segurança financeira: um empreendedorismo que não se molda pelos conceitos impostos por nossa cultura, mas constrói soluções diferenciadas para suprir as necessidades das pessoas e provocar transformações.

*** FRANCISCO BARBOSA NETO – É Founder/CEO da Projeto DSD Consultores e criador da plataforma Fluxo de Caixa Online. Graduado em Engenharia Mecânica pela FEI, com curso de especialização em Administração, Finanças e Qualidade.

EU ACHO …

OS CHATOS NECESSÁRIOS

Se os abolicionistas não fossem “chatos”, a escravidão não teria fim. Se as sufragistas não fossem “chatas”, mulheres ainda não poderiam votar. Se as feministas não fossem “chatas”, os feminicídios ficariam impunes

Um texto de autor desconhecido viralizou nas redes dizendo que o Brasil sempre respeitou a diversidade, é só recordar os antigos programas de humor (“Viva o Gordo”, “Os Trapalhões”, “Chico City”, “Casseta e Planeta”) e também nossos ídolos da música (vários gays) e do esporte (vários negros). Diz ainda que a turma do politicamente correto tem lutado contra “monstros” e “rótulos” que ela mesma criou (as aspas não são minhas) e que por isso o país está assim, chato pra caramba. Ao final, os créditos dessa obra-prima do desatino são repartidos com “todos aqueles com mais de 50 anos que, realmente, viveram livres e felizes”.

Através do saudosismo, o texto tenta manipular a emoção do leitor, que poderá cair nessa esparrela sem perceber que tudo o que este autor anônimo deseja é ficar em paz dentro da sua bolha. Maldita internet, que deu voz a todos, não? A gente ouvia Marina e se sentia moderno, ria com o Hélio de la Pena e pronto: não havia preconceito no mundo. De repente, Marina, Helio e tantos outros artistas, jornalistas e ativistas se uniram a fim de mostrar que a bolha estourou e que inclusão não significa aparecer na tevê. Inclusão se faz nas ruas, nas leis, em projetos sociais. Tédio, viu?

Saindo do sarcasmo e indo direto ao ponto: todo processo civilizatório se dá através de uma mudança de mentalidade, e ela não muda sem algum gasto de energia. Se os abolicionistas não fossem “chatos”, a escravidão não teria fim. Se as sufragistas não fossem “chatas”, mulheres ainda não poderiam votar. Se as feministas não fossem “chatas”, o mercado de trabalho continuaria sendo um reduto masculino e os feminicídios ficariam impunes. Não acredito em mundo ideal, mas acredito em um mundo melhor, e ele só melhora graças àqueles que não se acomodam, que insistem na busca por igualdade, justiça, evolução, tudo aquilo que os desinformados chamam de mimimi, fechando suas portas para a realidade não entrar. Optam pela alienação, que exige pouco dos neurônios. E é bem mais simpática.

O assunto merecia ser estendido, mas o espaço está acabando e não sinto nenhum prazer em chatear você. Então concluo: é um privilégio estar viva nesta época histórica em que questões identitárias estão presentes nos debates, nos livros, nas lives, nas entrevistas, a fim de avançarmos, mesmo que lentamente, para uma sociedade em que possamos não apenas assistir a pessoas gays e pretas nos palcos e estádios, mas conviver diariamente com elas dentro da família, e ainda ser tratadas por elas nos hospitais, aprender com elas em salas de aulas, ser defendidas por elas nos tribunais, viajar em aviões pilotados por elas e vê-las receber o mesmo tratamento da polícia. Tire os chatos de cena e adivinhe quando chegaremos lá.

*** MARTA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A ANSIEDADE DE VOLTAR

O avanço da vacina permite a retomada gradual das atividades. Mas muita gente está com outro medo: como reconstruir as conexões sociais transformadas pelo isolamento

No estupendo livro A Grande Gripe, o historiador americano John Barry apresenta o retrato mais detalhado feito até hoje do impacto da chamada gripe espanhola, que de espanhola não tinha nada, sobre as relações sociais da época. Entre 1918 e 1920, uma variante aterradora do influenza, o vírus causador da gripe, saiu dos Estados Unidos, segundo a hipótese mais provável, espalhou-se pelo mundo e causou entre 50 milhões e 100 milhões de mortes. No início, uma onda de solidariedade tomou as cidades mais atingidas. Vizinhos ajudaram vizinhos, médicos e enfermeiros voluntariaram-se para atender doentes e doações surgiam aos montes. Quando acabou, a sociedade havia mudado. Muita gente continuava em casa com medo do vírus, amigos e famílias viam-se com menor frequência e um enorme desconforto pairava nos reencontras. Os vínculos sociais tinham sido rompidos. Anos foram necessários até que se encontrar com o outro voltasse a ser um ato banal.

Respeitando as devidas proporções, pode-se dizer que a devastação causada pela pandemia no século passado é a comparação mais próxima do que o mundo vive hoje. O interessante é que, mesmo quase 101 anos depois e uma revolução tecnológica que abriu um universo digital onde todos têm milhares de amigos e conexões, o ser humano ameaçado pela Covid-19 repete o comportamento manifestado por aquele que ficou isolado por causa da gripe. Estamos sofrendo com a ansiedade da volta.

A abertura gradual dos escritórios, bares, restaurantes, com a consequente retomada dos encontros presenciais, começou. O movimento é resultado do avanço da imunização. Na terça-feira 13, o Brasil viveu o 17º R dia consecutivo de declínio no total de mortes, enquanto o índice de vacinados ao menos com uma dose chegou a 40% da população. É de comemorar muito, obviamente, mas a verdade é que, junto com a alegria, brota um misto de sentimentos que vão do alívio ao medo, do desejo de retornar ao cotidiano pré-pandemia à angústia de não saber se e corno o distanciamento compulsório afetou os laços sociais.

Nos consultórios médicos, na conversa – on-line – com o amigo ou o parceiro o assunto está presente. Depois de tanto tempo longe daquele colega desagradável do trabalho, como voltar ao convívio diário com ele? O reencontro presencial com o amigo visto apenas virtualmente será igual ao dos velhos tempos? Ou surgirá um estranhamento? E o que fazer com o medo de ser infectado pelo novo coronavírus? Co1no é tradição, não há dados brasileiros sobre o tema. Mas um levantamento divulgado pela American Psychological Association dá ideia de quantos estão sofrendo com a perspectiva da volta: cerca de metade dos americanos admite que retomar as interações sociais presencialmente não será fácil.

Em primeiro lugar, é crucial ficar claro que esse desassossego dentro da mente de cada um é absolutamente normal. A ansiedade é um dos mecanismos mais primitivos entre todos os criados pelo homem ao longo de sua evolução. Ela consiste na adaptação do estado mental e físico para garantir a sobrevivência em ambientes hostis ou diferentes. O corpo fica em alerta e preparado para enfrentar o que vier. Não é por outra razão que quando se está ansioso o coração bate mais forte para fornecer mais oxigênio ao cérebro e a outros órgãos envolvidos nas respostas físicas que podem ser necessárias.

Na pandemia, a ansiedade é a condição mental mais presente, junto com a depressão. Tanto no início quanto agora, mais próximo do fim, a ansiedade resultou do temor do desconhecido que vinha junto com o vírus. Primeiro, não se sabia de que forma os seres humanos, gregários por essência, viveriam em isolamento. Agora, ninguém é capaz de dizer como eles retomarão as conexões sociais tão esgarçadas pela distância ou transformadas pelo uso de recursos digitais como o único meio de manter vínculos.

Durante um ano e meio, a casa foi a zona de conforto e a tela do computador ou do celular, escudo de proteção. Sair dessa bolha agora, após meses a fio, é como deixar seu castelo pela primeira vez e se aventurar em terras nunca visitadas. “E qualquer mudança nos ambientes que consideramos seguros gera stress”, explica o psiquiatra Arthur Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Circunstâncias antes vistas como normais podem passar a ser percebidas como ameaçadoras após esse longo período de reclusão social”, diz.

Um dos aspectos mais fascinantes do cérebro é sua capacidade de se remodelar a partir das necessidades exigidas. A neuroplasticidade cerebral permite, por exemplo, que novos circuitos neuronais sejam acionados para assumir a função de outros, lesados. O cérebro aprende e se adapta.

Está aí uma habilidade que contará a favor durante o processo de regresso à vida normal, ou quase normal. Construir conexões sociais é vital para a sobrevivência de todos os animais, e o cérebro de cada espécie se moldou de forma a obter a chamada homeostase social, o equilíbrio ideal das interações com outros indivíduos. Mais do que isso, um circuito especializado na detecção de eventuais gargalos é acionado para fazer os ajustes necessários. “É uma espécie de termostato social”, escreveu em artigo o neuro cientista Kareem Clark, pesquisado da Virgínia Tech, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

Pesquisas em animais já demonstraram que, quando o alerta é aciona do indicando ausência de laços sociais, a correção de rota é feita tão bem que mesmo funcionalidades cognitivas que haviam se perdido em razão da solidão podem voltar após curto período. Em seres humanos também. Melhor, em seres humano que estão passando pelo isolamento imposto pela pandemia. Um estudo realizado por pesquisadores escoceses e publicado em março na revista científica Applied Cognitive Psychology demonstrou que a memória dos participantes, enfraquecida nos meses de quarentena mais rígida, melhorou após o relaxamento de algumas medidas. “Mas é preciso tempo para essa reaprendizagem”, afirma a psicóloga Maria Cristina Rosenthal, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo. “Neste caso da pandemia, é como se a proximidade com o outro fosse algo perigoso. Precisamos aprender isso”, explica. A partir de agora, portanto, é necessário reaprender o contrário, fazendo o caminho inverso.

Há outro aprendizado a ser feito. Levantamentos realizados em várias partes do inundo detectaram que, em geral, as pessoas estão dormindo mais. Um deles analisou a rotina de sono de estudantes quarentenados, portanto com aulas on-line. Os pesquisadores, da Universidade de Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, constataram que os jovens dormiam em média trinta minutos mais durante a semana e 24 mais nos fins de semana comparado ao total de horas em que dormiam antes da pandemia. Não é uma surpresa, uma vez que estudar ou trabalhar em casa é mais cômodo e dispensa deslocamento. Certamente não são apenas os alunos americanos, mas uma boa parte da humanidade está usufruindo os minutos a mais de descanso.

O fato é que, a partir disso, voltou à tona uma antiga discussão entre os especialistas sobre a necessidade de adequar o relógio biológico aos horários estabelecidos. O célebre das 9 às 18 horas é praticamente universal, mas a necessidade de sono, ao contrário, é bastante individual. Os momentos adicionais aproveitados pelos estudantes americanos, por exemplo, representam o tempo que cada um deles dormiria normalmente não fossem os compromissos. E a ciência já mostrou que um bom sono, considerando tempo e qualidade, é fundamental para a saúde. O repouso permite a consolidação das informações obtidas durante o dia e está envolvido em processos metabólicos importantes. Por isso, boa parte dos especialistas advoga por horários mais flexíveis, permitindo, na medida do possível, que os indivíduos desfrutem um bom sono. Tempos tão extraordinários deixam marcas indeléveis. Esperemos que entre as lições da pandemia esteja a importância de sempre buscar o equilíbrio. No sono e com quem está ao redor.

POESIA CANTADA

MENTIRAS

ADRIANA CALCANHOTTO

Adriana da Cunha Calcanhotto, mais conhecida por ADRIANA CALCANHOTTO ou Adriana Partimpim, nascida em Porto Alegre, no dia 3 de outubro de 1965).

Suas composições abordam estilos variados: samba, bossa nova, funk, rock, pop, baladas. Dentre as características de repertório, observa-se a regravação de antigos sucessos da MPB e arranjos diferenciados.
É filha de um baterista de uma banda de jazz, Carlos Calcanhoto, e de uma bailarina. Aos seis anos ganha do avô o primeiro instrumento: um violão. Aprendeu a tocar o instrumento e também, mais tarde, a cantar. Logo imergiu nas influências musicais (MPB) e literárias (Modernismo Brasileiro). Ficou fascinada pela Antropofagia de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e outros nomes daquele movimento cultural.
A vida artística iniciou-se em bares, como o Fazendo Artes, situado próximo à I Cia. de Guardas do Exército, próximo ao Parque Farroupilha, e o Porto de Elis, na av. Protásio Alves. Também trabalhou em peças teatrais e depois se lançou em concertos e festivais por todo o país no estilo voz e violão. O primeiro disco, Enguiço, lançado em 1990 pela gravadora CBS, foi muito elogiado e o primeiro sucesso foi Naquela Estação, no repertório deste, que também trouxe músicas de autoria (a faixa-título e Mortais) e regravações de clássicos da MPB (Sonífera ilha, do grupo Titãs, Caminhoneiro de Roberto e Erasmo Carlos, Disseram que eu voltei americanizada, que fez sucesso na voz de Carmem Miranda, e Nunca, do conterrâneo Lupicínio Rodrigues). Nessa época, chegou a ser comparada a Elis Regina.
Naquela estação, por sua vez, integrou a trilha sonora da telenovela global Rainha da Sucata, de Sílvio de Abreu (1990). No ano seguinte, recebeu o Prêmio Sharp de revelação feminina. No segundo trabalho, Senhas, de 1992, o repertório estava focado nas canções de autoria, com destaque para Esquadros e Mentiras; esta última foi incluída na trilha da novela Renascer, de Benedito Ruy Barbosa.
Em 1994, a fórmula dá sinais de cansaço e desgaste devido à exposição excessiva na mídia. Por isso, nesse mesmo ano lançou o LP A fábrica do poema, com algumas doses de experimentalismo (poemas de Augusto de Campos, Gertrude Stein, textos do cineasta Joaquim Pedro de Andrade e parcerias com Waly Salomão, Arnaldo Antunes, Antônio Cícero e Jorge Salomão). No terceiro disco, que também foi o último a ter versão em vinil, os destaques foram Metade e Inverno. Prosseguiu com o álbum Maritmo, que simulou uma incursão pela dance music (Pista de dança, Parangolé Pamplona), samples (Vamos comer Caetano), e a regravação de Quem vem para beira do mar, de Dorival Caymmi. O maior sucesso do disco foi Vambora, que incluída na trilha de Torre de Babel, de Sílvio de Abreu, obteve enorme repercussão.
Uma das participações foi uma performance na livraria Argumento, no Rio de Janeiro, musicando poemas do poeta português Mário de Sá Carneiro em 1996. Um deles, O outro acabou por entrar no CD Público (2000), que trazia regravações dos antigos sucessos entre outras canções consagradas e também rendeu um DVD, lançado no ano seguinte pela gravadora BMG.

MENTIRAS

COMPOSIÇÃO: ADRIANA CALCANHOTTO

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família

Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu gosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha
Pra mim

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua língua

Eu vou publicar seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha
Pra mim

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha
Pra mim

OUTROS OLHARES

GUERRA DE GERAÇÕES

A onda cringe atualiza conflitos entre jovens e os nem tão jovens assim e leva ao extremo o desprezo pelos gostos e costumes alheios

A não ser que você tenha estado em Marte nos últimos dias, ou tenha ficado fora das redes sociais, o que dá praticamente no mesmo, dificilmente não terá ouvido falar em cringe. Trata-se de um verbo em inglês cujos significados podem ser “encolher-se ou recuar com medo” ou ainda “sentir-se muito envergonhado ou constrangido”. Entre os jovens brasileiros, a palavra virou substantivo para definir hábitos embaraçosos, antiquados ou, para usar uma expressão dos velhos tempos, cafonas (este, reconheça, deve ser o termo mais cringe da história).

As buscas pelo vocábulo no Google cresceram 500% nas últimas semanas e movimentaram a mais nova e bem-humorada batalha geracional entre a geração Z (formada por jovens de 11 a 25 anos) e os millennials da geração Y (adultos de 26 a 40 anos). Uns, os mais moços, acusam os outros de cringe.

O tratamento desonroso de origem estrangeira já vinha sendo utilizado no ambiente virtual com certa frequência e não se referia apenas aos costumes de uma determinada geração, mas a qualquer coisa considerada digna de vergonha alheia. O cringe, no entanto, ganhou repercussão nacional depois de um tuíte de Carol Rocha, publicitária e apresentadora do podcast Imagina Juntas: “Por favor, jovens da geração Z, me contem o que vocês acham um mico nos millennials. Acho que falar mico já passou. É cringe, né?”. As respostas foram hilárias e envolviam o uso de determinadas roupas e até hábitos banais, como, veja só, tomar café da manhã. O músico britânico radicado no Brasil Ritchie, do alto de seus 69 anos, quis entrar na dança. “Dizer que fulano é cringe não faz sentido algum. No máximo, poderia se dizer ‘cringeworthy’ (digno de desgosto, asco ou desprezo)”, escreveu. “Como se abajur cor de carne tivesse sentido”, rebateu um seguidor, citando versos de seu sucesso Menina Veneno (1983). Eis o retrato de um fenômeno social antiquíssimo: a busca por uma identidade que seja, ou ao menos pareça, melhor, mais interessante e moderna – e que o buuuaá da internet amplia.

Os choques geracionais começaram a ser documentados e estudados após o fim da II Guerra Mundial, quando os americanos consagraram o termo “baby boomer” para se referir às pessoas nascidas a partir de 1945. Àquela altura, o espírito do tempo cobrava certa estabilidade, o que se refletiu em hábitos mais conservadores. Os filhos dos boomers, a chamada geração X, hoje formada por pessoas de 40 a 56 anos, viveram momentos de maior tensão social e tendem a ser mais liberais. Ao longo das décadas, hábitos, roupas e até mesmo expressões entraram, saíram e retornaram a moda em um ciclo sem fim. A tendência ao saudosismo, o hábito de lembrar uma banda ou um programa de TV e assim revisitar um passado de alegrias, não tem, afinal, idade.

Há, no entanto, um fator crucial neste debate em 2021. “Antes o cringe era algo velado, nós falávamos de como uma tia ou um professor eram cafonas, mas só numa roda de amigos”, disse Carol Rocha, que também é estudante de psicologia. “Hoje está tudo escancarado, e o debate está disponível a todos.”

Todas as gerações estão nas redes, é verdade, mas a forma como cada uma se relaciona com elas tende a variar. O Facebook se tornou, em geral, o ponto de encontro preferido dos boomers, enquanto o TikTok é a atual febre entre os jovens. “A geração Z não fica postando a vida inteira no Instagram como nós, millennials. Assim como nós achamos o GIF de bom dia das nossas mães um mico, eles pensam o mesmo dos nossos emojis e hashltags”, resume Carol.

Especialistas fazem ressalvas. Primeiro, o fato de que essas divisões são apenas tendências gerais, quase genéricas. Muita gente se identifica com aspectos de épocas distintas, sobretudo aqueles que nasceram perto da transição, como são chamados os zennials (mistura de Z e millennials).

Além disso, em países como o Brasil o recorte socioeconômico pode ser tão decisivo quanto o geracional. Segundo dados do IBGE, até 2019, 12,6 milhões de domicílios no país não tinham acesso à internet. Entre as classes mais baixas, nas quais o acesso virtual é escasso e a necessidade de ajudar no pagamento dos boletos começa mais cedo, não é justo dizer que a geração Z esteja ultraconectada ou possa se dar ao luxo de dispensar um, café da manhã reforçado, como defendem os adeptos do cringe radical.

Atenta a pautas sociais e políticas desde cedo na internet, a geração Z é vista como mais cética. “Eu e meus amigos somos bombardeados com informações e por isso temos uma visão bastante realista sobre problemas econômicos e ambientais”, afirma Thiago Grasson, de 19 anos, estudante de publicidade e um criador assíduo de conteúdo no TikTok. Ainda que a sanha por likes e aprovação seja uma vocação real da juventude, os debates sobre saúde mental e “positividade tóxica” são mais frequentes no contexto de quem sucedeu à chamada “geração terapia” dos millennials.

Há também uma característica clara e elogiável da garotada: a forma como lidam com assuntos como racismo, homofobia e bullying. “São grupos muito mais tolerantes. Desde muito cedo eles são educados a conviver com o diferente”, diz Ilana Pinsky, psicóloga, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e coautora do livro Saúde Emocional: Como Não Pirar em Tempos Instáveis (Editora Contexto). “minha geração também ouvia que devíamos respeitar a todos, mas a atual vivenciou isso na prática, é algo mais naturalizado.” Segundo a pesquisadora, a força de movimentos como o # MeToo, que encorajou mulheres a denunciar os mais variados tipos de abuso, tornou os jovens mais combativos e conscientes – isso é ótimo, ressalte-se. O efeito colateral, no entanto, seria a chamada cultura do cancelamento, estimulada pela polarização política. “O diálogo está cada vez mais difícil e focado nos extremos. É preciso ter tranquilidade para ver que as pessoas têm mais em comum do que parece”, afirma llana.

No mundo cada vez mais veloz, o choque de gerações agora se dá entre os jovens e os muito jovens. Antes, era necessário certo espaço de tempo para colocar em campos opostos as nuances geracionais. Hoje, as distâncias são mais curtas e, por isso mesmo, as diferenças são mais sutis. Provavelmente, a palavra da moda será considerada ultrapassada em um piscar de olhos. Logo, o cringe vai virar cringe.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 28 DE JULHO

O PERIGO DO HOMEM DEPRAVADO

O homem depravado cava o mal, e nos seus lábios há como que fogo ardente (Provérbios 16.27).

Um indivíduo depravado é um perigo. Sua vida é uma cova de morte, sua língua é uma fagulha ardente, sua companhia é um perigo constante. O homem depravado é um criador de encrencas. Por onde passa, deixa um rastro doloroso de traumas, dores e feridas. Seus pensamentos são maus, suas palavras são veneno, suas ações são malignas, e suas reações são avassaladoras. O homem depravado não apenas pratica o mal; ele também anda atrás do mal. Procura o mal até achá-lo. Cava o mal como se estivesse procurando ouro. Cavar é um trabalho que exige esforço e perseverança. O homem depravado, mesmo sofrendo as consequências de sua busca insana e mesmo sabendo que sua descoberta infeliz provoca sofrimento em outras pessoas, não desiste dessa atividade inglória. E mais: quando abre a boca, seus lábios proferem palavras que amaldiçoam. Sua língua é mais peçonhenta do que o veneno de um escorpião. Sua língua é um fogo devastador, que incendeia e mata. Não podemos nos associar ao depravado. Não devemos andar por suas veredas nem nos assentar à sua mesa. Antes, o nosso prazer deve estar em Deus e na sua lei. Devemos nos deleitar nas coisas que são lá do alto, onde Cristo vive!

GESTÃO E CARREIRA

METAS DE DIVERSIDADE SÃO UM DESAFIO PARA EMPRESAS

Contratar mulheres, negros e LGBTI+ se torna compromisso para organizações, e discurso já não basta

Nos últimos tempos, empresas assumiram compromissos públicos com o aumento da diversidade nos seus quadros. De lá para cá, o tema virou parte da estratégia das companhias e, com isso, ganhou metas a serem cumpridas. Mas como trabalhar a diversidade, e principalmente a inclusão, e tirar essas metas do papel?

“Essa meta não pode ser só das áreas de diversidade e de recursos humanos, precisa ser de todos os atores”, explica Carolina Sampaio, líder de diversidade e inclusão da L’Oréal Brasil.

A empresa trabalha com quatro núcleos de grupos minorizados: gênero, raça, pessoas com deficiência e orientação sexual e identidade de gênero (LGBT+I). No último mês, a companhia tornou pública a meta de 30% de profissionais negros na liderança até 20 25. Hoje, são 32% de profissionais negros e 14% em cargos de liderança.

Para definir a meta, é preciso enxergar o retrato da empresa. “Como eu vou falar para onde eu vou, se eu não sei onde eu estou? Em que área da empresa a gente age sem dado? O diagnóstico da diversidade é o censo”, explica a consultora de diversidade Liliane Rocha.

Na L’Oréal Brasil, a estratégia foi criar uma campanha de conscientização e letramento racial para, depois, veicular uma pesquisa de autodeclaração, nominal, por área e cargo.

No caso da Nexa, multinacional de mineração e metalurgia, os números internos tornaram ainda mais evidente uma desigualdade do setor: a presença predominantemente masculina. De acordo com um levantamento da empresa de inteligência norte-americana S&P Global Market Intelligence, em 2020, apenas 14, 9% dos cargos executivos e 18% dos conselhos em mineradoras eram compostos por mulheres. Dados da Women Mining Brasil – movimento de fortalecimento da participação de mulheres no setor – mostram que o País está ainda atrás: são apenas 13% de mulheres na mineração brasileira.

Para começar a reparar os índices, a empresa estabeleceu uma meta, para 2025, de 20% de mulheres no quadro laboral e 25% nas posições de liderança. Hoje, os números são de 14% e 20%, respectivamente.

“A pessoa tem de ver um ambiente muito favorável para se declarar LGBT+, por exemplo. Se não achar que o ambiente é favorável, não vai responder. Fomos fazendo ações de conscientização para então trabalhar com o censo. A próxima etapa é rodar uma pesquisa para identificar LGBT+”, diz Lívia Monteiro, gerente-geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Nexa.

SELEÇÃO

Antes de iniciar o processo de recrutamento, é preciso treinar recrutadores e a empresa como um todo para que essas pessoas não só estejam aptas a encontrar e selecionar profissionais de grupos minorizados, como também contribuam para um ambiente interno acolhedor. As medidas começam em ações simples, como revisar os anúncios de vagas.

“Os textos de anúncios de contratação só faltam pedir explicitamente por um candidato homem. Tem de mexer nas imagens, ainda muito conservadoras, no sentido de mostrar só homens brancos ou, quando mostram mulheres e negros, são de banco de imagem de outros países. Aí você não se vê ali. Precisa alterar as fichas cadastrais e procurar as pessoas nos lugares onde elas estão”, explica Liliane.

Em médio prazo, é preciso trabalhar também a mudança de mentalidade e a cultura da empresa, com treinamentos sobre temas como vieses inconscientes – aqueles preconceitos que não percebemos, mas que influenciam os nossos pensamentos e atitudes e que podem nos fazer sentir mais simpatia por alguém que se pareça fisicamente com a gente ou que tenha cursado a mesma faculdade.

“Isso ajuda a preparar melhor a pessoa de RH que estará na ponta do processo seletivo e a pessoa que apoiará a liderança na hora de escolher o candidato”, diz Ana Marcia Lopes, vice-presidente de Recursos Humanos, Responsabilidade Social e Ouvidoria da Atento Brasil – multinacional de atendimento. A empresa estabeleceu uma meta de contratação de 100 profissionais transgêneros por ano, mas ainda não sabe informar o porcentual atual (uma pesquisa está prevista para 2022).

“Se uma mulher trans não sabe que pode estar naquela empresa, não vai se candidatar. Quando olhamos para o universo trans, já vem uma profissão predeterminada, e queremos ser gestoras, diretoras, professoras, advogadas, médicas, tudo”, diz Nicole da Silva Ferraz, 38 anos, há 15 na Atento, onde é supervisora de tecnologia de marketing digital. “Estimula quando você sabe que os lugares a aceitam e precisam de você não só pela sua identidade, mas pela competência.”

Como toda política de cotas, as metas surgem para cumprir reparações históricas e já nascem com a expectativa de um dia não precisarem existir. “Daqui a um tempo não vai ter mais a necessidade de uma cota, de uma meta, uma obrigatoriedade. As empresas vão fazer o anúncio de vaga, e qualquer pessoa vai se inscrever, e as mulheres trans vão estar lá, participar dos processos, sendo aprovadas, buscando promoções internas”, diz Nicole.

EU ACHO …

O QUE PODERIA TER SIDO NÃO EXISTE

Ao meio-dia, as classes deixavam o leba e corríamos para a esquina da Rua Quatro, ponto estratégico para observarmos a saída das alunas do Colégio Progresso. Havia centenas de jovens, mas cada um estava ali por causa de uma. Meu interesse era Alda, sempre junto à irmã Maria Ernestina, ambas Lupo. As duas, em seus uniformes brancos, avental xadrezinho preto e branco, passavam por nós e seguiam sem nos olhar, mas sabendo-se olhadas. Fazia parte do jogo. Não era o footing, onde se cocavam olhares prometedores, ou se paquerava. Para mim, a visão da Ainda alegrava o dia. Era bonita, diáfana, parecia compenetrada, me dava a sensação de inacessível.

Naquelas manhãs descobri a ansiedade doce da espera e a alegria do encontro, ainda que este encontro existisse apenas na minha mente. Isso me bastava. Atenção terapeutas! As duas irmãs provocavam sensação e anseios.

Mais tarde me aproximei delas. Era crítico de cinema e colunista social, tentava fazer uma crônica semelhante à de Jacinto de Thormes, que revolucionou o gênero no Brasil. Assim, eu as encontrava em festinhas, nos bailes do Araraquarense, em casamentos. Conversávamos, vez ou outra, elas me davam notícia de algum namoro, ou de quem estava interessado em quem, o que dava um tom atraente à coluna. Na época, ao frequentar os jantares do Rotary Club, fiz amizade com dois Lupos proeminentes, o Wilton e o Élvio, que tocavam a fábrica de meias. Uma noite, em uma festa na casa de Wilton, olhei para Alda e percebi que estava apaixonado. Mas como declarar? Ia além da timidez. Como frequentar o círculo dela? A certa altura daquela festa, ficamos lado a lado, Wilton passou e marotamente deixou escapar: “vocês parecem se dar bem!”.  Na hora pensei: é agora, fale. Travado, ela na dela, sem imaginar nada. Ou sabia?

Em uma festa no jardim da casa de Vera de 0liveira, Ainda sentou-se ao meu lado. Acaso? Ou de propósito? Dançava-se ao som de Quizás, Quizás, Quizás, Besame Mucho, Love Me Forever, Dindi, Patrícia, Only You (com The Platters), Manna, Diana, You Are My Destiny (Paul Anka ainda está vivo, vejam só). Fui buscar um cuba-libre, para ter coragem, e segu ifirme em direção a Alda, mas vi o jovem Peri Medina chegar antes. Meu mundo caiu, diria Maysa Matarazzo. Fiquei estatelado, Maria Ernestina percebeu: “Não é nada, não, a próxima pode ser sua”. Não foi. Não foi nunca, Alda e Peri se casaram mais tarde. Não sei se começou ali ou quando começou. Algum tempo depois, deixei a cidade.

Em São Paulo, envolvido em projetos determinados, ser jornalista e, talvez, escritor ou diretor de cinema, vida seguiu. Anos depois, já tendo publicado vários livros, editado jornais e revista, encontrei-me com Alda, Maria Ernestina e Martha, a terceira irmã. Onde? Na mesma esquina da Rua Quatro com a Duque. Coincidência? Simultaneidade? Já então, mais seguro de mim, foi tudo solto, gostoso, sorrisos, lembramos daquelas saídas do colégio décadas antes. Pensava: ainda gosto dela? Sentia o mesmo? Não tinha sentido. A vida tinha corrido.

Uma ou duas décadas se passaram. Em Paris, certo dia, procuramos a casa de Rafael Lupo, na Place des Vosges, onde estava hospedado seu primo Gabriel, filho de Adriana Medina, amiga de infância de Márcia, minha mulher. Gabriel era primo de Rafael, segundo filho de Aida e Peri, e já um joalheiro conceituado da Cartier. Nesta altura, Alda tinha mais três filhos: Claudia, Aldo e Péricles. A vida tem muitos pontos e vai ligando um a um, até o arremate. A frase não dita, o gesto que não aconteceu, a carta ou e-mail nunca enviados, o telefonema não dado, a visita não feita. O que poderia ter sido não existe. Meses atrás fui chamado para escrever o livro do primeiro centenário da Lupo e mantive intensa troca de e-mails com Liliana Aufiero, diretora-superintendente da empresa. Em meio a tantas conversas, o assunto Alda veio à tona e contei a história. Alda é prima dela. Certa manhã, estávamos ao telefone e Liliana disse “Espere um pouco”. Logo acrescentou: “Alda está no telefone, falem. E conte tudo”. Tinha feito uma conexão de linhas. Susto e prazer.

Do outro lado, a mesma voz me chegou mais débil, agora de uma mulher de 80 anos. Conversa breve, sem nostalgias, muito pé no chão. Depois de 64 anos após ter deixado a cidade, a trava saiu da garganta. Contei da paixão reprimida. Alda riu suavemente, sempre me lembro do riso dela permeado de leve ironia: “Que louco! Você e eu? Curioso. E agora você me conta isso? Vou ter o que pensar nesta idade. Eu e você. O que seria? Nunca saberemos. Iremos embora os dois com essa dúvida. Mas foi bom saber-se amada”.

Domingo passado, Liliana Aufiero me ligou: Alda acabou de partir.

*** IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO – é jornalista e escritor. Autor de “Zero” e “Não Verás País Nenhum”.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ARMADILHAS DO AMOR PATOLÓGICO

Quando os cuidados e a atenção dispensados ao parceiro se tornam exagerados e excessivos é o momento de ligar o sinal amarelo e procurar ajuda profissional

Cuidar e dar atenção ao parceiro são atitudes completamente normais e esperadas num relacionamento amoroso. Quando esses cuidados se tornam excessivos, repetitivos e sem controle temos o quadro do que chamamos de amor patológico (AP).

Logo, o amor patológico é caracterizado pelos cuidados excessivos ao parceiro, em que o indivíduo passa a viver completamente em função desse parceiro. Vale ressaltar que o amor patológico acomete tanto homens quanto mulheres, e apresenta-se da mesma maneira. Para identificar o AP, existem seis critérios diagnósticos:

1 – Sinais e sintomas de abstinência ocorrem quando o parceiro distancia-se física ou emocionalmente, ou ainda perante ameaças de abandono ou rompimento. Tais sintomas podem ser: insônia, dores musculares, taquicardia, alteração do apetite;

2 – O comportamento de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que a pessoa gostaria, ou seja, a pessoa frequentemente prefere manifestar mais atenção e cuidados com o parceiro do que havia planejado;

3 – Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento são malsucedidas. Normalmente, a pessoa com amor patológico queixa-se de estar tentando, sem obter sucesso, interromper o comportamento de dar atenção e cuidados excessivos ao parceiro;

4 – Despende-se muito tempo para controlar as atividades do parceiro. Muita dedicação e energia são destinadas a pensamentos e comportamentos numa tentativa de controlar o parceiro;

5 – Abandono de interesses e atividades anteriormente valorizados: a pessoa vive em função do parceiro, deixando de lado família, amigos, filhos, vida profissional e lazer em prol de passar mais tempo com o parceiro;

6 – O quadro é mantido, a despeito dos problemas familiares e sociais.

Pessoas que apresentam o quadro de AP demonstram baixa autoestima, também mostram características importantes do tipo de apego ansioso-ambivalente e estilo de amor Mania e Ágape. De acordo com Bowlby, os tipos de apego são desenvolvidos na infância. São eles:

APEGO SEGURO – os pais/cuidadores eram disponíveis na infância e passavam segurança e confiança para a criança;

REJEITADOR – em situações semelhantes, ora os pais/ cuidadores estavam disponíveis, ora não estavam, deixando a criança mais propensa à insegurança;

ANSIOSO-AMBIVALENTE – os pais/ cuidadores normalmente não estavam disponíveis, gerando sentimentos de ansiedade de separação e insegurança. Alguns autores afirmam que o tipo de apego desenvolvido na infância é preditor dos tipos de apego desenvolvidos na vida adulta. Portanto, os adultos caracterizados pelo apego ansioso-ambivalente teriam mais medo do abandono. Um exemplo de um paciente: “Não consigo suportar as viagens do meu marido… são sempre muito sofridas para mim, fico achando que ele não vai voltar mais, que sempre será o último adeus e que nunca mais vamos nos ver. Daí, fico ligando o tempo inteiro para saber se ele está com saudade e pensando em mim, ele reclama, diz que eu sou louca e o sufoco, mas só de ouvir a sua voz já me sinto mais tranquila…”.

MARCAS DE PERSONALIDADE

Com relação às marcas de personalidade, os indivíduos são caracterizados por alta impulsividade. Essa impulsividade pode ser exemplificada através da vinheta a seguir: “…Doutora… eu tento várias vezes não ligar para ela, tento segurar minha vontade, mas é quase impossível, acabo ligando umas dez mil vezes, pergunto o que ela quer jantar, se está precisando de alguma coisa ou se quer que eu a busque no trabalho!”. Esse é um traço característico do amor patológico e um relato comum em consultório.

A percepção do problema é um passo importante, pois há casos em que o parceiro nem reconhece o efeito da patologia na relação.

CODEPENDÊNCIA

O amor patológico é um quadro que se diferencia da codependência. Esta é mais bem compreendida como a tendência do parceiro a se focar no dependente químico, em que o codependente minimiza os problemas, tenta controlar e proteger e ainda acaba assumindo as responsabilidades e as consequências do comportamento do dependente químico. Nesse tipo de relação, o codependente tenta reduzir o uso de drogas por parte do dependente químico, porém, na maioria dos casos, o efeito é completam ente contrário.

Existem dados comparativos para melhor entendimento: Semelhanças – fixação e cuidados destinados a um parceiro distante e/ou problemático; Diferenças – codependência é apresentada por esposa, filhos, marido e namorados, ou seja, parceiros dependentes químicos. AP acontece somente no relacionamento amoroso, independentemente se o parceiro for dependente químico ou não.

CIÚME PATOLÓGICO

O ciúme patológico é caracterizado por pensamentos, sentimentos e comportamentos voltados para o medo da traição. Nesse contexto, é importante diferenciar o ciúme patológico do tipo delirante e excessivo. No ciúme delirante, a pessoa tem certeza absoluta de que está sendo traída, é uma ideia irremovível, uma crença incontestável. Por outro lado, o ciúme excessivo é caracterizado por sentimento de culpa e habilidade de criticar a situação. São respostas impulsivas diante de uma ameaça de traição. Logo, o ciumento se engaja em comportamentos para tentar achar qualquer coisa que comprove a traição, e mesmo quando não encontra, não fica satisfeito. Os pensamentos ficam tomados por essa ideia da infidelidade, assim como os sentimentos, associados ainda a tristeza e raiva. Quando o ciumento é confrontado, ou quando evidências mostram que sua suspeita era infundada, há um arrependimento. Contudo, tal arrependimento não quer dizer que da próxima vez que houver desconfiança o ciumento conseguirá se controlar.

Pessoas com ciúme excessivo também são muito impulsivas, tendem a agir sem pensar. A maioria apresenta o tipo de apego ansioso-ambivalente e estilo de amor Mania. Ainda apresentam sintomas de depressão e ansiedade comumente associados.

O ciumento excessivo tem, basicamente, medo de ser traído. Durante o curso do relacionamento, se permite flertar e até se relacionar com outros parceiros (relacionamentos extraconjugais). No entanto, o seu parceiro alvo do ciúme em momento algum pode ter esse tipo de conduta.

A pessoa com amor patológico tem medo de ser abandonada, o que faz com que muitas vezes permaneça no relacionamento apesar dos prejuízos e insatisfação.

TRATAMENTO

No tratamento do AP, o mais indicado é a psicoterapia. Nessa modalidade, o indivíduo vai trabalhar questões como a vinculação, autoestima, insegurança, sintomas depressivos e ansiosos, caso existam. Irá desenvolver formas mais saudáveis de amar e de se relacionar com o parceiro romântico.

Em alguns casos, há a necessidade do acompanhamento psiquiátrico e uso de medicação para o tratamento dos transtornos ansiosos e depressivos, os quais podem estar associados aos quadros de AP.

Assim, fica o alerta. Amar é divino, mas amar demais pode se transformar em doença e esta precisa ser tratada com atenção e cuidado.

AMOR DEMAIS

MADA é um programa de recuperação para mulheres que buscam aprender a se relacionar de forma saudável consigo mesma e com os outros. Geralmente chegam com histórico de relacionamentos destrutivos. O grupo foi criado sob a influência do livro Mulheres que Amam Demais, de 1985, da autora Robin Norwood. A psicóloga e terapeuta familiar escreveu a obra baseada em sua própria experiência e na experiência de centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ela percebeu um padrão de comportamento comum em todas elas e as denominou de “mulheres que amam demais”. No final do livro ela sugere como abrir grupos para tratar da doença de amar e sofrer demais.

ÁGAPE

A palavra Ágape significa amor e tem origem grega. Pode ser considerado o amor que se doa, aquele incondicional, que se entrega. A expressão foi utilizada de diferentes formas entre os gregos, em passagens da Bíblia e em cartas. Filósofos da Grécia Antiga, como Platão, também usaram muito a palavra Ágape, com o significado, por exemplo, de amor a esposa, esposo, ou amor aos filhos, a família ou, ainda, ao trabalho.

TEORIA DO APEGO

O psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico Edward John Mostyn Bowlby (1907-1990) se notabilizou pelo interesse no desenvolvimento infantil e por seu trabalho pioneiro em relação à teoria do apego. Seu estudo a respeito de crianças delinquentes e sem afeto e os efeitos do cuidado institucionalizado, elaborado em 1949, fizeram com que fosse contratado para escrever um relatório sobre saúde mental de crianças de rua na Europa pós-guerra para a Organização Mundial da Saúde.

POESIA CANTADA

VITORIOSA

IVAN LINS

IVAN Guimarães LINS nasceu no Rio de Janeiro (RJ) no dia 16 de junho de 1945. Filho do militar Geraldo Lins, foi muito influenciado por diversos gêneros musicais como jazz, bossa nova e soul e tem como principal instrumento o piano, que toca desde os dezoito anos. Formou-se em engenharia química no final dos anos 60, quando iniciou a carreira musical em festivais. A canção O Amor É O Meu País, erroneamente taxada de ufanista, foi classificada em segundo lugar consecutivo no V Festival Internacional da Canção. O primeiro sucesso como compositor foi com Madalena, gravada por Elis Regina. No entanto, Simone é, de forma unânime, considerada a maior intérprete.

Contratado pela gravadora Forma/Philips (que posteriormente transformou-se em Polygram até chegar ao nome atual Universal Music) pelo então produtor, o compositor Maurício Tapajós, grava três discos pelo selo: Agora, Deixa o trem seguir e Quem sou eu?. Nesse período, compôs músicas com Ronaldo Monteiro de Souza, mas depois teve em Vítor Martins o mais freqüente parceiro. A primeira composição entre ambos se deu quando do lançamento do quarto LP, Modo livre, pela RCA (depois BMG e hoje Sony BMG), gravadora esta que lançaria também o álbum subseqüente, Chama acesa. Nessa mesma década lançou alguns discos que o projetaram nacionalmente.

Teve inúmeros sucessos como cantor como Abre Alas, Somos todos iguais nesta noite e Começar de novo – todas em parceria com Vítor Martins. Começar de novo foi gravada por Simone no mesmo ano em que foi composta. Na voz de Simone, Começar de novo foi tocada como tema oficial de abertura do seriado Malu Mulher, tonando-se um grande sucesso da época e um marco na história da MPB.

Lançou inúmeros discos, muitos deles de inúmero sucesso, tendo trocado de gravadoras por diversas vezes. No decorrer dos anos 70, a obra ganha grande temática política. A partir da segunda metade dos anos 80, começa a enfatizar a carreira internacional, principalmente nos EUA, onde foi regravado por inúmeros astros da música internacional, como Quincy Jones, George Benson, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen MacRae e Barbra Streisand.

Foi destacado compositor, tendo músicas gravadas por nomes consagrados como Elis Regina (Cartomante, Madalena, Aos Nossos Filhos), Simone (Começar de Novo), Quarteto Em Cy (Abre Alas), Gal Costa (Roda Baiana) e Emílio Santiago (Velas Içadas). Comandou um programa televisivo na Rede Globo ao lado de Gonzaguinha e Aldir Blanc, o Som Livre Exportação. Foi casado com a cantora e atriz Lucinha Lins, com quem teve um filho que também é ator.

VITORIOSA

COMPOSIÇÃO: IVAN LINS / VITOR MARTINS

 Quero sua risada mais gostosa
 Esse seu jeito de achar
 Que a vida pode ser maravilhosa
 Quero sua alegria escandalosa
 Vitoriosa por não ter
 Vergonha de aprender como se goza

 Quero toda sua boca castidade
 Quero toda sua louca liberdade
 Quero toda essa vontade
 De passar dos seus limites
 E ir além, e ir além

Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa
Que a vida pode ser maravilhosa…

OUTROS OLHARES

TOQUE DE RETIRADA

Cresce o número de mulheres que, arrependidas de prótese de silicone, harmonização facial e lentes de contato nos dentes, fazem procedimentos inversos para assumir ‘imperfeições’

A empresária Nevilla Palmieri, de 34 anos, sempre foi considerada uma mulher bonita. Aos 18, representou Goiás no Miss Brasil, o concurso mais antigo e tradicional de beleza do país. No ano passado, cismou que as olheiras estavam mais fundas e que algumas ruguinhas de expressão marcavam demais o rosto. No impulso, entrou no consultório de uma dentista que fazia parte do seu círculo ele amizades para fazer uma harmonização facial, técnica dermatológica que usa o ácido hialurônico para dar volume, reestruturar ou corrigir pequenas “imperfeições” na face. Quando levantou da cadeira, levou um susto. “A profissional aplicou tanto produto nas minhas bochechas que fiquei parecendo o Fofão”, lembra.

Nevilla achou que o volume na face fosse, na verdade, um inchaço e que, em poucos dias, tudo voltaria ao normal. Só que o tempo passou e ela viu que o resultado era aquele mesmo.

“Tenho uma loja de roupas e preciso postar imagens nas redes sociais. Como ia tirar foto se estava me sentindo horrorosa? Foram meses usando muito filtro e tirando mais de 30 retratos para escolher o menos pior. Só queria voltar a me reconhecer no espelho”, conta. Ela, então, procurou um dermatologista que, aos poucos, está aplicando uma enzima que dissolve o ácido hialurônico da pele.

Assim como Nevilla, nos últimos tempos, outras brasileiras passaram a buscar profissionais qualificados para tentar desfazer procedimentos estéticos. Ainda tímido, o movimento veio para transformar em #tbta tendência dos rostos artificialmente simétricos, seios fartos e sorrisos “mentex”. A moda agora é libertar-se dos padrões de beleza. “Aceitar a nossa aparência natural não me parece ser uma tendência passageira porque tem a ver com a conexão que as pessoas estão fazendo com elas mesmas. Isso não quer dizer que não possamos fazer procedimento estético algum. O importante é termos um olhar crítico sobre o quanto a nossa sociedade estimula um padrão que favorece a mulher branca e magra, excluindo uma diversidade de corpos”, afirma a psicóloga Grazielle Bonfim, autora de uma revisão sobre o Transtorno Dismórfico Corporal, caracterizado pela observação de defeitos que não existem de fato diante do espelho.

Os vilões são os aplicativos de retoques de fotos usados sem moderação nas redes sociais. “O uso da tecnologia distorce a realidade e produz padrões de beleza inalcançáveis. Quem não se lembra dos bumbuns perfeitos das revistas masculinas? Hoje, sabemos que eles só existiam graças ao photoshop”, lembra Luiza Loyola, consultora da WGSN, agência inglesa de coleta de tendências e análise de consumo. “Com o tempo, os recursos de retoques de imagens ficaram acessíveis para todo o mundo. Aí veio a pandemia e a vida ficou mais on-line. Passamos a nos comparar mais com os outros. E, finalmente, caiu a ficha do que é real e do que é idealizado. As pessoas descobriram que estão iguais! E agora querem algo que as diferencie.”

Autora do livro “Pare de se odiar” e fundadora do Movimento Corpo Livre, a escritora Alexandra Gurgel há anos levanta a bandeira das discussões fundamentais sobre como lidar melhor com o próprio corpo. “Fico muito feliz que a moda agora seja ser fora do padrão. Acho que, finalmente, as pessoas sacaram que precisam se aceitar como são e ter mais amor pelo próprio corpo, seja ele do jeito que for”, diz ela.

Alexandra passou a vida fazendo dietas mirabolantes para emagrecer. Quando viu que estava submetendo o próprio corpo a uma espécie de tortura, parou de lutar contra a natureza. Resultado: acabou perdendo peso naturalmente. Há quase dez anos, “caiu na cilada” de fazer uma lipoescultura e um implante de silicone de pouco mais de 200 mililitros. Agora, não vê a hora de se livrar das próteses. “Eu achava só iria ser feliz depois de ter o corpo ‘perfeito’. Fiz a cirurgia e fiquei satisfeita só por três meses. Depois, fiquei mal. Cheguei a tentar tirar a minha vida porque não estava feliz! As pessoas me achavam bonita e tal, mas eu não entendia porque estava infeliz. Os problemas não se resolvem quando a gente decide enfrentar o bisturi. Por isso, defendo a ideia de cuidar da saúde mental, de fazer terapia antes de entrar no centro cirúrgico.”

Modelo da Aerie, marca de lingerie concorrente da Victoria’s Secret, Cintia Dicker, de 34 anos, também se arrepende das próteses de silicone que colocou há dez anos. “Achava os meus seios um pouco caídos e acreditei que, com o implante, eles iam ficar empinados. Só que o resultado não foi o esperado. E ainda ficaram maiores. Era muito imatura, se fosse hoje, não faria. Vou só esperar ter filho para fazer o explante”, conta ela. “Não vou perder trabalho ficando com um visual mais enxuto. Pelo contrário. Hoje, as marcas querem algo mais natural. Levo bronca quando pinto as sobrancelhas porque as minhas são muito claras”, diz ela.

O implante de silicone ainda é a cirurgia plástica mais procurada pelas brasileiras, à frente da lipoaspiração e da abdominoplastia, segundo dados de 2018 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Entretanto, se comparada a 2014, a busca caiu de 22,5% para 18,8%. Nos Estados Unidos, país ao lado do Brasil quando o assunto é operações estéticas, a retirada de próteses de silicone cresce a cada ano e, antes da pandemia, estava em 15%.

Outro procedimento ainda bastante procurado no Brasil são as chamadas lentes de contato dentárias, pequenas peças confeccionadas artesanalmente ou por meio de impressoras 3D, que custam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, cada uma. Elas têm de 0,2 a 0,5 milímetros de espessura e são colocadas sobre o esmalte com cola especial, dente por dente. O procedimento teve seu boom há cinco anos, quando os consultórios de alguns dentistas registraram o aumento de 300% nos atendimentos, segundo a Sociedade Brasileira de Odontologia Estética (SBOE).

Agora, o movimento para livrar-se da técnica vem crescendo. “A cada 10 pacientes que atendo, três querem tirar as lentes porque acham que o sorriso está branco demais e muito artificial”, conta o dentista Daniel Sene. “Ninguém quer que os outros saibam que o riso é fake. Os dentes naturais têm um degradê. O sorriso perfeito também não é perfeitamente alinhado. Os dentes laterais precisam ser um pouco tortinhos”, explica ele.

A influenciadora Gabriela Pugliesi, de 35 anos, virou um dos assuntos mais comentados no mês passado ao trocar as lentes de contatos dos seus dentes milimetricamente brancas por outras para deixá-los “mais imperfeitos e pontudos”, nas palavras dela. “Coloquei lentes há dez anos. Na época, confesso, fui muito influenciada pelo padrão estético. Hoje, com mais maturidade e personalidade, vi que esse visual não combina comigo. Sempre gostei da beleza mais natural. E vi que meu sorriso estava igual ao de todo mundo. Isso estava me incomodando. Acho lindo quem é diferente”, diz ela.

Na maioria dos casos, voltar atrás no resultado de um procedimento custa tão caro quanto fazê-lo. Uma cirurgia de explante não sai por menos de R$ 15 mil. Para retirar as facetas o tratamento fica entre R$ 1 mil e R$ 2 mil, por dente. Já as aplicações de hialuronidase, a enzima que dissolve o ácido hialurônico, não saem por menos de R$ 8 mil. “Hoje, 20% das pacientes que atendo querem tirar o preenchimento feito por outro colega”, diz o dermatologista Alessandro Alarcão. “É preciso avaliar cada caso porque nem sempre é possível reverter, já que, tirando toda a substância, a pele pode ficar flácida.”

O psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e autor de vários livros sobre a relação corpo e mente, acha importante que movimentos de aceitação do próprio corpo estejam entrando na moda.

“O padrão de beleza no Brasil é cruel. Nas classes altas, a exigência é ser extremamente magra. Nas outras, uma silhueta mais curvilínea. Não é fácil para ninguém”, acredita o médico. “É um movimento necessário, mas temos de ser realistas e saber que vai demorar décadas para mudarmos isso. Por enquanto, é importante a consciência de que modelos e blogueiras têm uma grande influência sobre meninas e mulheres com autoestima baixa. São de extrema importância para que as mulheres não julguem umas às outras”. Palavra de especialista.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 27 DE JULHO

A FOME NOS MOVE AO TRABALHO

A fome do trabalhador o faz trabalhar, porque a sua boca a isso o incita (Provérbios 16.26).

O conforto e a fartura podem gerar indolência e preguiça. Uma pessoa que não sabe o que é necessidade faz corpo mole e não adestra as mãos para o trabalho. A fome do trabalhador, no entanto, o faz trabalhar. Viktor Frankl, pai da logoterapia, sofreu como judeu as agruras de um campo de concentração nazista na Segunda Guerra Mundial e escapou. Ele diz, em seu livro Em busca de sentido, que aqueles que se empenharam em trabalhar para salvar outros salvaram a si mesmos. Muitas pessoas também prestavam serviços humilhantes, e até com extremo sacrifício, apenas para conseguir no dia seguinte mais uma concha de sopa rala de lentilhas. A fome nos leva a grandes desafios. Em tempos de escassez e fome, as pessoas perdem a vaidade. Abrem mão de seus títulos e se dispõem a fazer os trabalhos mais simples e mais humildes para conseguir pão. Há uma enorme diferença entre vontade de comer e fome. Uma coisa é você sentir fome e ter a geladeira cheia. Outra coisa é sentir fome e não ter nenhum dinheiro e nenhuma provisão. Nessa circunstância você aceita o trabalho mais humilde e come o alimento mais simples, porque a fome do trabalhador o faz trabalhar.

GESTÃO E CARREIRA

VISÃO DA GRAVIDEZ COMEÇA A MUDAR NAS EMPRESAS

Anna Cecília Sales, de 22 anos, teve receio e preferiu omitir sua gravidez num processo seletivo recente para uma vaga de atendimento ao cliente, na Nestlé. Não contava ouvir: “está contratada”.

“Quando o recrutador me ligou para dizer que eu tinha sido aceita, fiquei só ouvindo. Ao falar dos benefícios, perguntou se eu tinha filhos. Então contei que estava grávida. Silêncio por alguns segundos, uma eternidade para mim. Achei que estava desclassifica da. Mas ele disse que nada mudaria”, conta a mãe de Isabella, que nasce em16 semanas.

A vaga para a qual ela se candidatou é remota, o que vai permitir trabalhar em casa, em Curitiba, após a licença-maternidade. Ao compartilhar sua história em uma rede social, Anna causou surpresa devido à discriminação que sempre houve em relação à admissão de grávidas. Mulheres comentaram contando como já foram excluídas de processos seletivos por terem filhos ou estarem à espera de um.

Sofia Esteves, presidente do Conselho do Grupo Cia. de Talentos / Bettha.com, observa que a maternidade começa a deixar de ser tabu nas empresas, mas reconhece que isso ainda é restrito a multinacionais e cargos executivos. Para ela. as empresas estão percebendo que os meses de licença não são nada perto dos resultados que essas mulheres podem entregar.

A dificuldade de achar mão de obra altamente qualificada abre espaço para executivas grávidas. Foi o que aconteceu com Amanda Montenegro e Tatiana Patrícia Gigante, ambas contratadas durante a gestação. Reter o talento falou mais alto.

Amanda, de 40 anos, virou gerente jurídica sênior da GSK Consumer Healthcare Brasil grávida de seis meses do Antônio, em 2020. Ela lembra que ficou na dúvida sobre como falaria da gravidez no processo:

“Algumas mulheres me disseram que era loucura trocar de emprego durante a maternidade. Já homens perguntavam se tinha contado à empresa. Eu li que não deveria falar, mas na minha cabeça era inconcebível. Acho que tem a ver com nosso medo geracional. Passei por muitas transformações no mundo corporativo, isso acaba enraizado”.

Andressa Tomasulo, gerente sênior de RH da GSK, diz que Amanda foi escolhida com um olhar no longo prazo:

“Entendemos que era a melhor candidata, com o detalhe de que entraria e sairia logo em seguida de licença, mas não estávamos contratando por um ano. O custo-benefício do que ela pode agregar é muito maior do que meses fora”.

A situação foi similar à da mãe de Gustavo, Tatiana, de 44 anos. Ela foi contratada grávida em 2020 como secretária executiva de uma diretoria da Vale em Carajás, no Pará. Sua experiência, e o fato de já ter morado naquele estado antes foram cruciais para torná-la a candidata perfeita:

“Soube da gravidez no Dia das Mães, durante o processo. Falei logo. Achei que tinha perdido a chance, mas me escolheram. Com a gravidez, ficou decidido que ficaria em home office até o nascimento do bebê. Depois, até dezembro deste ano. Devo ir para o Pará depois, com ele”.

Marina Quental, vice-presidente executiva de Pessoas da Vale, precisa de poucas palavras para explicar a escolha: “Tatiana foi a melhor candidata”.

A economista carioca Thaíssa Braz, de 35 anos, sentia que tinha de escolher entre a maternidade e a carreira no mercado financeiro. Quando ficou grávida, teve vontade de sair do banco em que trabalhava e arriscou. Foi aceita na corretora XP.

“Tinha certeza de que não iria conseguir outro emprego por causa da gravidez, mas vi uma vaga na XP que achei a minha cara. Quando eles entraram em contato, não falei nada. Tive medo. Contei na última entrevista porque tive que remarcar. Foi o dia do parto”, recorda-se a mãe de José. Ao fim da licença de quatro meses, estava com a vaga garantida em uma área bem específica, a de gestão de fortunas, na qual tem experiência.

“Ela nos atendeu na parte técnica e de alinhamento à XP”, diz Patrícia Claro, do RH da empresa, que tem como meta alcançar 50% de mão de obra feminina em 2025, o que passa por ver a maternidade de forma nova. Ainda há muito estigma de que temos que escolher carreira ou maternidade, e isso se acentua com o relógio biológico, principalmente no Brasil. Masestamos num ponto de curva de mudanças”.

Camila Loff, de 31 anos, tinha acabado de começar a trabalhar no RH da Astellas Farma em julho de 2020 quando, em três semanas, descobriu que esperava Maria Luíza.

“Quando deu positivo, minha primeira reação foi chorar, de alegria e de tristeza. Poderiam achar que eu já sabia. Nessas horas, vêm todas as paranoias”.

A gestora dela esperou a gestação completar três meses para contar ao presidente

da empresa, que manteve a contratação de Camila, que está de licença-maternidade.

“Maternidade não pode ser impedimento. A mulher precisa ter segurança de que, se é boa, não vai ficar desempregada, ainda mais com a escassez de talentos que temos hoje”, diz Sofia Esteves.

EU ACHO …

MORTE DO TESÃO E SEQUELAS DA PANDEMIA

Pesquisas em todo o mundo indicam drástica diminuição na atividade sexual dos casais

Como mostrei em uma coluna recente, mais de 60% dos casais que tenho pesquisado afirmaram que o tesão desapareceu ou diminuiu drasticamente durante a pandemia; cerca de 30% disseram que a pandemia não afetou a vida sexual; e só 10%, que a frequência sexual está maior e até mesmo melhor do que antes.

Encontrei três tipos de discursos entre os 60% que perderam o tesão.

O primeiro é “a morte do tesão”. São casais que transavam muito, mas que hoje encontram prazer em outras atividades. Para muitos, o sexo foi bom no passado, mas não é mais uma prioridade. Para outros, o sexo era ruim, só uma obrigação que precisavam cumprir. É um discurso mais comum entre as mulheres que percebem a aposentadoria do sexo não como uma falta, mas como uma libertação.

Um exemplo famoso é o de Rita Lee, que afirmou, aos 72 anos, que “velho não quer trepar”. Ela, que trepou a vida inteira; hoje tem mais vontade de ler, aprender coisas novas, pintar, cuidar da casa. E o de Jane Fonda que, aos 82, disse que não faz mais sexo: “Não tenho tempo e já fiz muito sexo. Eu não preciso disso agora porque estou muito ocupada. Não tenho mais interesse. Tenho uma vida bem completa, com filhos, netos e amigos. Não quero mais saber de romances”. É o grupo do “hão quero nem preciso mais de sexo para ser feliz”. Um dado curioso é que nenhum homem disse que está aposentado do sexo. Para eles, as mulheres são as culpadas pela falta de sexo, reforçando a ideia de que o homem está sempre disponível para transar, inclusive nas circunstâncias mais dramáticas.

O segundo é “não dá para ter tesão no meio de uma pandemia”. São casais que sempre tiveram vida sexual ativa e que acham natural o tesão ter diminuído. Alguns já sonham com uma explosão sexual pós-pandemia. É o grupo do “o tesão está vivo, mas agora não dá para transar. O tesão vai voltar:

“Estamos estressados, exaustos, preocupados e sobrecarregados porque trabalhamos muito e cuidamos de muita gente. Não temos tempo, disposição e energia para transar. Preferimos dormir e relaxar quando temos algum tempo livre. Mas o amor, o carinho e a intimidade aumentaram com a convivência intensa. Beijos, abraços, massagens e toques fazem parte da rotina. Todos os dias dizemos: ‘Eu te amo. Você é o amor da minha vida’. O tesão pode ter desaparecido momentaneamente, mas o amor, a amizade e o companheirismo cresceram.

O terceiro é “será que o tesão vai voltar?” São casais que tinham vida sexual ativa antes da pandemia e pararam de transar devido ao pesadelo que estamos vivendo. Estão inseguros e com medo de que o sexo não volte ao normal. É o grupo do “tenho medo de nunca mais ter tesão”.

“Desde o início da pandemia tentamos transar uma ou duas vezes, mas foi um fracasso. Não estamos sentindo falta de sexo, mas temos medo de que a ausência de tesão destrua o amor. São mais de 538 mil mortes e 20 milhões de casos no Brasil, sendo que oito em cada dez pessoas que têm Covid ficam com sequelas. Mas ninguém fala das sequelas sexuais, amorosas e psicológicas que essa tragédia está provocando nos brasileiros. Meus amigos têm vergonha de confessar que estão brochas, impotentes e assexuados. Somos uma geração de sequelados sexuais”.

Como a morte do tesão impactará a vida amorosa e sexual no mundo pós-pandemia?

*** MIRIAN GOLDENBERG – é antropóloga, professora da UFRJ e autora de ‘A invenção de uma bela velhice’

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CABEÇA FEITA

Startup americana desenvolve capacetes capazes de “ler” mentes. Para especialistas. a tecnologia portátil pode revolucionar a neurociência

O aforismo grego “Conhece-te a ti mesmo”, cravado na rachada do Templo de Apolo, em Delfos, na Grécia Antiga, muitas vezes atribuído aos filósofos Sócrates e Platão, foi a inspiração para a mais nova empreitada no ramo da neurociência. Com o objetivo de compreender o funcionamento do cérebro, o órgão que melhor nos define, a startup californiana Kernel lançou dois capacetes que prometem decifrar os labirintos da mente. Os equipamentos não captam literalmente o que alguém está pensando – uma cor, um nome, uma frase, por exemplo -, mas detectam conceitos gerais, como nível de concentração, excitação ou cansaço. A leitura dos dados pode ser usada para estudar o envelhecimento do cérebro e possíveis tratamentos de doenças e distúrbios mentais, como o Alzheimer. Segundo os cientistas da Kernel, os capacetes buscam, em suma, entender o comportamento e as fraquezas humanas por meio da atividade dos neurônios.

O projeto nasceu de um drama vivido pelo americano Bryan Johnson, acometido por uma depressão profunda e pensamentos suicidas, anos atrás. Ao buscar ajuda dos mais diversos especialistas, ele notou que os diagnósticos sobre saúde mental ainda carecem de técnicas mais precisas. Recuperado, não tirou o assunto da cabeça e decidiu fundar a Kernel, em 2016. No início, seu objetivo era mais ousado: desenvolver pequenos chips para implantes cirúrgicos que fossem capazes de enviar informações de humanos a computadores e vice-versa – é mais ou menos o que Elon Musk busca, ainda longe do êxito, em uma de suas empresas, a Neuralink. Diante das dificuldades, a Kernel preferiu adotar o método não invasivo. Em entrevista à agência Bloomberg, Johnson diz ter investido 110 milhões de dólares, metade de seu próprio bolso, no desenvolvimento dos capacetes.

O sonho de desvendar a mente é antigo e já foi retratado em filmes de ficção científica, como De Volta para o Futuro (1985). No clássico de Steven Spielberg, o Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd) inventa uma máquina do tempo, na verdade um automóvel que passeia pelo passado e pelo futuro, mas falha em sua tentativa de criar um capacete para ler pensamentos. A Kernel encontrou o caminho nas técnicas de eletroencefalografia (EEG) e magnetoencefalografia (MEG). O capacete Flow detecta padrões ligados à resolução de problemas e controle emocional por meio de mudanças nos níveis de oxigenação do sangue. Já o modelo Flux mede a atividade eletromagnética com sensores, em busca de sinais de excitação, acionamento da memória e aprendizagem. O conceito de ler mentes pode soar um tanto perverso, pois poderia ser usado para fins duvidosos por governos e até empresas. A Kernel, porém, ressalta a busca pelo autoconhecimento. O objetivo, ainda pouco factível, é que até 2030 os capacetes custem o equivalente a um smartphone e funcionem como uma espécie de coach cerebral. Uma simulação mostra o CEO Johnson recebendo avisos do capacete como “distrações detectadas, experimente desligar o celular” ou “engajamento cerebral baixo, talvez seja hora de mudar de atividade ou descansar”.

A portabilidade é o fator que mais entusiasma os pesquisadores, pois possibilitaria a realização de estudos em tempo real e em circunstâncias mais dinâmicas, fora do ambiente hospitalar. “Há situações de comportamento emocional difíceis de reproduzir em laboratório, como a fobia de viajar de avião”, aponta Leandro Valiengo, psiquiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O futuro chegou e, por certo, a humanidade está mais próxima de seguir as lições dos gregos.

POESIA CANTADA

COMEÇAR DE NOVO

SIMONE

Simone Bittencourt de Oliveira, conhecida simplesmente como SIMONE, nascida em Salvador, em 25 de dezembro de 1949), é filha de Otto Gentil de Oliveira e Letícia Bittencourt de Oliveira, Simone nasceu prematura de oito meses no bairro de Brotas (Bahia) e sétima filha entre nove irmãos. Em 1966, mudou-se para São Caetano do Sul, cursou Educação Física em Santos, onde foi colega dos jogadores de futebol Pelé, Emerson e Leivinha, e deu aulas no bairro de Santana, na capital paulista.
Jogadora profissional de basquete, chegou a ser convocada duas vezes para a Seleção Brasileira de Basquetebol, mas devido a duas entorses, foi cortada antes do embarque e na segunda, durante o campeonato mundial de 1971, ficou no banco de reservas.

A partir de contatos que sua amiga e professora de violão, Elodir Barontini, tinha, Simone participou de um jantar na casa do então gerente de marketing da gravadora Odeon, Moacir Machado, o Môa. Ao final do encontro, Simone foi convidada para fazer um teste na Odeon, o resultado foi que a gravadora a contratou por quatro anos, com um disco por ano. O primeiro, Simone, gravado em outubro de 1972 foi regidos pelo maestro José Briamonte. A primeira tiragem foi distribuída apenas para amigos, parentes e para o meio artístico. O lançamento ocorreu em 20 de março de 1973 (considerada a data oficial do início da carreira) em São Paulo e Simone estreou no mesmo dia num programa da TV Bandeirantes. A participação no programa Mixturação (direção/produção de Walter Silva, TV Record, abril, 1973) também foi aguardada com expectativa e Simone apontada como um dos nomes mais promissores. O sucesso começava assim de forma gradual.
Antes de se tornar conhecida do público brasileiro, participou de uma turnê internacional (1973), organizada por aquele que se tornaria um dos grandes incentivadores, Hermínio Bello de Carvalho. A excursão internacional, intitulada Panorama Brasileiro, incluía no roteiro o Olympia em Paris, entre outras cidades europeias. Em 1974, Festa Brasil, percorre 20 cidades dos Estados Unidos, além do palco do teatro anexo do Madison Square Garden (Nova York). A turnê foi um grande sucesso e originou os discos Brasil Export 73 e Festa Brasil (lançado nos Estados Unidos) – ambos produzidos por Hermínio Bello, que ainda produziria os dois álbuns subsequentes, Quatro Paredes e Gotas d´Água; neste último a produção foi realizada em parceria com Milton Nascimento. Em 1976, ao lado de Vinícius de Moraes e Toquinho participa do Circuito Universitário, uma série de apresentações, que além do Brasil, viajou a Argentina, Uruguai, Chile, México e Brasil.
Quatro anos depois de estrear (1977) realizou a primeira apresentação solo, o show Face a face (Museu de Arte Moderna, RJ, com direção de Antonio Bivar). O ano marcaria o primeiro grande momento de reconhecimento, com as canções “Gota d´água”, “Face a face”, “Jura Secreta” e “O que será”. No Projeto Seis e Meia foi ovacionada por crítica e público quando interpretou “Gota d´água”, até hoje considerada uma das melhores apresentações da carreira: “Foi uma loucura total. Aquela gente toda – a quem se atribuía inicialmente apenas a vontade de ver Belchior – mostrou, na hora, que queria me ver também. O público foi ouvir os dois e, para mim, isso esclareceu algumas críticas ao meu trabalho. Diziam que eu era cantora de elite, que só escolhia compositores de elite para cantar para uma elite. E embora não cante músicas de parada de sucesso, foi o povo mesmo que foi ao Seis e Meia daquela semana, independente de qualquer coisa.”. O grande sucesso cinematográfico da época, Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto), trouxe Simone cantando O que será na trilha sonora e foi gravada pela primeira vez em 1976, levando o nome da cantora aos quatro cantos do país. Lançada no disco Face a Face, a canção “Jura Secreta” (Sueli Costa e Abel Silva) foi a primeira interpretação de Simone constar de uma novela, O Profeta, (TV Tupi, Ivani Ribeiro).
No ano seguinte (16 de junho a 15 de setembro de 1978) estava entre os artistas do ambicioso Projeto Pixinguinha, e, ao lado de Sueli Costa, apresentou-se nas principais capitais do país. Um excerto do Projeto comenta o progresso da carreira: “Em 77, além do lançamento do LP Face a Face e da trilha sonora do filme Dona Flor e seus Dois Maridos fez muito sucesso num espetáculo no MAM. No Teatro Clara Nunes, com direção geral de Hermínio Bello, apresentou-se em Face a Face. Em cada espetáculo vem se projetando e se coloca, no momento, entre as melhores cantoras brasileiras. Acabou de gravar Cigarra, com músicas de Gonzaguinha (“Petúnia Resedá”), Fagner e Abel Silva (“Sangue e Pudins”), Milton Nascimento e Ronaldo Bastos (“Cigarra”). (Excerto: Funarte) Década de 1980.
O grande sucesso da canção “Começar de Novo”, tema de abertura do seriado Malu Mulher e uma das primeiras canções feministas da música brasileira, foi registrado pela primeira vez no disco Pedaços, em 1979. Considerado um divisor de águas na carreira, o espetáculo homônimo (30 de dezembro de 1979, Canecão) foi gravado ao vivo e lançado em disco em 1980, sob o título Simone ao Vivo (primeiro gravado ao vivo). Sucesso de público e crítica, Pedaços teve a primeira apresentação em outubro e foi considerado o melhor do ano; em termos de público, mais de 120.000 pessoas em todo o país só foi superado pelo espetáculo anual de Roberto Carlos. Dirigido por Flávio Rangel, que incluiu a canção “Pra não dizer que não falei das flores” no repertório, celebrando a primeira audição da canção antológica na voz e a primeira interpretação engajada da carreira, e que só não ficou mais conhecida do que a do próprio compositor Geraldo Vandré. Simone foi a primeira artista a cantar ‘Para não dizer que não falei das flores’ após a liberação pela censura. O sucesso lhe rendeu o primeiro disco de ouro e um especial da Rede Globo, gravado ao vivo no Teatro Globo (2 de março de 1980). O programa, chamado Simone Bittencourt de Oliveira, foi o primeiro da série Grandes Nomes.
“Caminhando” seria interpretada ainda em 1982, no Estádio do Morumbi, no espetáculo Canta Brasil; segundo o Jornal da Tarde (1982):`Simone foi a responsável pelo momento de maior participação popular e entrou no palco com a certeza de que isto aconteceria, mas não conseguiu conter a emoção, aliás, como dezenas de pessoas, diante de um coro de cem mil vozes. Em matéria publicada na Revista Veja (março de 1982): Simone Bittencourt de Oliveira nasceu duas vezes. A primeira, em 1949, num bairro de classe média de Salvador, na Bahia. A segunda, na noite de 7 de fevereiro passado, no estádio do Morumbi, em São Paulo, quando ergueu um coro de 90.000 vozes na apoteose do espetáculo Canta Brasil, com a canção Caminhando nos lábios e lágrimas nos olhos. Quando terminou de cantar, era mais uma estrela no céu.
Uma cantora cujos espetáculos se encerravam com flores distribuídas ao público, tornava-se não só uma grande voz para os versos de Vandré, mas também, ao lado de outros artistas, vivenciava-os: Ainda fazem da flor seu mais forte refrão, E acreditam nas flores vencendo o canhão. Ao final do espetáculo Delírios e Delícias (1983) clamou pelas Diretas Já; em 1989, ao lado de Marília Pêra e Cláudia Raia, declarou e apoiou o então candidato Fernando Collor de Mello. O despertar de uma postura artística engajada acompanharia toda a carreira, sendo enfatizada por interpretações de sambas como “Disputa de Poder” e “Louvor a Chico Mendes”, além de “Maria, Maria”, “Uma nova mulher”, “O sal da Terra”, “Será”, “Pão e poesia”, “Isto aqui o que é”, “É”, “O tempo não para”, “Blues da piedade”. Outro grande sucesso, “Tô Voltando”, um samba que canta a volta para a casa de um casal apaixonado, foi associado à ditadura militar e aos que retornavam ao Brasil depois do asilo político dos anos 1970.
O ano de 1982 foi marcado por grandes recordes de público, como na temporada de nove apresentações no Ginásio do Ibirapuera, em 3 semanas seguidas, com cerca de 15 mil pessoas, por noite, dando um total aproximado de 135 mil pessoas: “No último fim de semana, quando lotou o ginásio do Ibirapuera, também em São Paulo, com 45 000 ingressos vendidos em apenas 48 horas para três apresentações, ela mostrou que a nova estrela gosta de brilho, e muito. Com a programação de mais três espetáculos extras no próximo fim de semana, ela passa a recolher recordes; ao final do último show, será a artista brasileira que mais vezes se apresentou num ginásio de 15 000 lugares num espaço de tempo tão curto”. Foi em 1982 também que recebeu a primeira indicação para o Troféu Imprensa de melhor cantora, seguiram-se mais 10 indicações para o prêmio e a conquista do troféu no ano de 1987, ao lado de Marina Lima.
A primeira cantora a interpretar “Caminhando” depois da liberação da censura, seria também, aos trinta e dois anos, a primeira cantora a lotar sozinha um estádio, o Maracanãzinho, em 1981, com o espetáculo Amar; superlotou também o Mineirinho e o ginásio da Pampulha; no mesmo ano lançou Encontros e despedidas. Pioneirismo evidenciado em outras ocasiões como quando gravou, muito antes de Paul Simon ou Michael Jackson, com o Grupo Olodum da Bahia; ou quando, num dos espetáculos, surpreendeu a plateia levando para o palco uma cama, um ano antes da popstar Madonna chocar o mundo com a mesma ideia. Quatorze anos mais tarde, em 1995, foi a primeira cantora de renome a gravar um disco inteiro exclusivamente com canções natalinas. Em dezembro de 1983 parou a Quinta da Boa Vista onde uma multidão de 220 mil pessoas foram assisti-la na primeira transmissão ao vivo da história da ‘Rede Globo’ para um espetáculo de final de ano.
A partir da segunda metade da década de 1960 (1965), em plena efervescência da contracultura e no rescaldo do pós-bossa-nova, estrearam na televisão brasileira os especiais do Festival de Música Popular Brasileira (TV Record). Contemporâneos da Jovem Guarda e do Tropicalismo os Festivais açambarcavam todos esses estilos, a bossa nova, o rock vanguardista da Jovem Guarda e o ecletismo do tropicalistas -e ainda seria o palco de estreia de um novo e definitivo estilo, a MPB, inaugurado com a interpretação antológica da novata Elis Regina, então com apenas 20 anos de idade recém- completados, cantando “Arrastão”. Durante duas décadas a televisão brasileira foi marcada pelo sucesso da transmissão desses espetáculos que apresentavam os novos talentos, registrando índices recordes de audiência. O especial Mulher 80 (Rede Globo) foi um destes marcantes momentos da televisão; o programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então abordando esta temática no contexto da música nacional e da ampla preponderância das vozes femininas, com Elis Regina, Maria Bethânia, Fafá de Belém, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Zezé Motta, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher.
Nos anos oitenta, que foram marcados pelo reconhecimento de grandes cantoras na MPB, firmava-se assim como uma recordista de público e de vendagem e o nome “Simone” despontava como um dos grandes nomes da indústria fonográfica nacional. A maior temporada ocorreu na tradicional casa carioca, Scala II (1986), durante oito meses seguidos e é o maior público já registrado, de 220 mil pessoas em uma única apresentação, ao ar livre. O sucesso de público, vendagem e o repertório refinado situaram-na como um dos nomes mais respeitados da “MPB”; de cantora elitista, passaria, a partir de meados da década de 1980, com a seleção de um repertório excessivamente popular, pela fase mais obscura da carreira, enfrentando o estigma da crítica especializada que desmerecia a interpretação, arranjos e compositores escolhidos—foi a chamada fase brega, que de uma maneira geral marcou os anos 1980 pela exacerbação aos apelos do romantismo.
Originalmente idealizado para a montagem do ballet teatro do Balé Teatro Guaíra (Curitiba, 1982), o espetáculo O Grande Circo Místico foi lançado em 1983. Simone integrou o grupo seleto de intérpretes que viajou o país durante dois anos com o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de 200 mil pessoas. Simone interpretou a canção Meu namorado, composta pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo. O espetáculo conta a história do grande amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século. Um dos maiores sucessos da carreira seria lançado no ano seguinte, em 1983: “O Amanhã” foi o samba enredo da União da Ilha em 1978 e neste mesmo ano gravada por Elizeth Cardoso, mas foi com a primeira gravação de Simone, em 1983 (CD “Delírios e Delícias” e regravada no CD “Simone ao vivo”), que a canção se popularizou.
Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura e feminismo, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We Are the World, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções “Chega de mágoa” e “Seca d´água”. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi, no entanto, criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro. Também em 1985 cantou no coro de vozes latinas Cantarei, Cantarás.
Em 1989, dez anos depois de conquistar o primeiro disco de ouro, a artista figurava entre os poucos a ainda protagonizar especiais televisivos: Simone – especial (Rede Globo) apresentou trechos do espetáculo Sedução, em cartaz no Palace (São Paulo); dividiu o palco na tradicional apresentação de final de ano cantando ao lado de Roberto Carlos. Participou também do especial da Rede Globo Cazuza – Uma prova de amor, interpretando ao lado de Cazuza a canção Codinome Beija-flor. No LP Vício grava Louvor a Chico Mendes ao vivo com a Caprichosos de Pilares.
Em 1991 gravou um clipe para o programa Fantástico, idealizado pelo sociólogo Betinho, intitulado “Luz do Mundo”, para arrecadar fundos para a reabilitação de menores. Dos álbuns gravados depois da década de 1980, uma época considerada de apelo mais popularesco, destacam-se Simone Bittencourt de Oliveira (1995), que trouxe baladas entre outros clássicos e sambas; Café com leite (1996, um tributo a Martinho da Vila) – trabalhos referidos como um reencontro com um repertório mais seletivo e arranjos mais apurados. Em 1995 lançou o Cd 25 de Dezembro, exclusivamente com canções natalinas, e obteve a maior vendagem da carreira, mais de um milhão e meio de cópias vendidas em apenas um mês e meio: Ao lançar, no ano passado, o disco natalino 25 de Dezembro, a cantora Simone quebrou um tabu. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, os cantores brasileiros não têm o costume de lançar, no mês de dezembro, discos com músicas de Natal (Revista Veja).
Flávio Rangel, Jorge Fernando, José Possi Neto, Nelson Motta, Ney Matogrosso e Sandra Pêra são alguns dos nomes que assinam a direção dos espetáculos. O show Sou Eu ganhou o prêmio de melhor do ano em 1992 e originou o álbum homônimo — comemorativo dos vinte anos de carreira, que trazia regravações dos antigos sucessos entre outras canções consagradas. Em 1997 apresentou-se na casa de espetáculos carioca Metropolitan, com Brasil, O Show, dirigido por José Possi Neto apresentando clássicos do samba (Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Gonzaguinha, Mário Lago) entre outras gravações do álbum de estúdio do ano anterior, Café com leite.
Os álbuns Seda Pura (2001) e Feminino (2002) marcaram as mais baixas vendagens da carreira e repertórios de estilo pouco explorado até então, o pop. Baiana da gema, um tributo a Ivan Lins (2004, 2005), de repertório inédito do compositor, foi apresentado no eixo Rio-São Paulo. Em maio de 2006, num pocket show, no cenário intimista de uma casa noturna paulistana, exibiu um repertório romântico ao público que se encantou com arranjos originais, em tom jazzístico, para o “Projeto Credicard Vozes”. Outras recentes apresentações, no Peru, foi aplaudida de pé por mais de cinco minutos; em Miami, ao lado do parceiro Ivan Lins, obteve reconhecimento da crítica que considerou a apresentação uma das melhores dos últimos anos na Flórida. Em 2007 a parceria com Zélia Duncan foi registrada no CD e DVD Amigo é Casa (Biscoito Fino), que exibiu, além de regravações, canções inéditas na voz das artistas e apresentações pelas capitais do país, além de Portugal (2008).
Uma edição da década de 1970 foi organizada pelo jornalista e pesquisador Rodrigo Faour e lançada em 2009 pela EMI. Considerada a fase de maior qualidade vocal e musical, o box com 11 CDs reúne a obra completa deste período no qual a artista impos-se à crítica com interpretações definitivas e sucesso crescente junto ao público: Tá aí toda a minha formação musical, foi quando eu aprendi a mexer com estúdio, mixagem, tudo. Acho também que foi uma grande década da música brasileira, muito importante para as pessoas da minha geração. Claro que hoje eu faria algumas coisas diferentes. Mas a vida não tem ensaio….
Na Veia foi lançado em agosto de 2009 (Biscoito Fino), sem estilo musical definido, exibindo um repertório eclético que mescla o samba, o pop e o romântico para, segundo a cantora, “passar alegria e esperança”. Simone assina a composição de “Vale a pena tentar”, parceria com Hermínio Bello de Carvalho, segunda canção composta pela cantora que já havia estreado com Merecimento, ao lado de Abel Silva (1982): “Minhas composições eu não mostro pra ninguém, nem pra mim (risos). No caso desta com Hermínio, de 76, fiz a melodia e um esboço da ideia da letra, que era uma resposta à ‘Proposta’, do Roberto. Depois a entreguei pro Hermínio resolver algumas passagens da letra e só agora me liberei pra gravar. Como estou me reaproximando do violão, pode ser que venham algumas coisas por aí. Eu sempre tive muito pudor em colocar qualquer música minha. Mas um dia eu peguei o violão e cantei para o Rodolfo (Stroeter, do grupo Pau Brasil, produtor do CD) e a Kati (diretora da Biscoito Fino) e eles disseram: Você tá maluca de não gravar isso!? Em 76, depois de pronta, a música chegou a ser mandada para Roberto Carlos – disseram que ele gravou, mas não saiu”.

COMEÇAR DE NOVO

COMPOSIÇÃO: IVAN LINS / VITOR MARTINS

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras, sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras, sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido

OUTROS OLHARES

HOMEM AUMENTA IDA AO MÉDICO, MAS A MULHER CUIDA MAIS DA SAÚDE

Embora tenha aumentado em 49,96% a procura do homem pelo médico entre 2016 e 2020, de acordo com o SUS, passando de 425 milhões de atendimentos para 637 milhões, os homens estão bem atrás das mulheres em termos de atenção à saúde. Dados de 2019 revelam que apesar de 76,2% da população terem ido ao médico naquele ano, o que corresponde a cerca de 160 milhões de pessoas, a proporção de mulheres (82,3%) superou em muito a dos homens (69,4%).

Por isso, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) lançou dia 15, quando se comemorou o ‘Dia do Homem’ no Brasil, campanha de conscientização e valorização dos cuidados com a saúde pelos homens e seus filhos do sexo masculino. O presidente da SBU, Antônio Carlos Pompeo, ressaltou que a mulher vive em torno de sete a dez anos mais do que o homem, por várias razões, inclusive hormonais, e que a maior atenção dada pelo sexo feminino à saúde vem desde a adolescência.

O homem, pela característica machista, muitas vezes considera a ida ao médico como uma fraqueza. Pesquisa feita pela SBU com crianças e jovens estudantes na faixa etária de 12 a 18 anos de idade mostrou que 30% das meninas nessa fase já foram a uma consulta médica, contra 1% dos homens. Com adolescentes masculinos, 44% não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam, ou usam raramente, nas relações sexuais. 38,57% dos meninos afirmaram não saber sequer colocar o preservativo.

Os reflexos dessa falta de conscientização serão sentidos depois, como a incidência de doenças sexualmente transmissíveis, sexo desprotegido, gestações indesejáveis. Pompeo acrescentou que, durante a vida, as mulheres vão regularmente ao médico, de forma preventiva, mas isso não é frequente, entretanto, entre os homens. “Os homens vivem menos que as mulheres porque não têm o hábito de cuidar da saúde”.

Pompeo destacou que nos anos de 1950, a expectativa de vida de uma pessoa era de 50 a 55 anos de idade. Hoje, é de quase 80 anos. “Mudamos hábitos, surgiram tratamentos mais eficazes, ganhamos 50% de vida a mais”. Por isso, disse ser extremamente importante que o homem procure assistência médica preventivamente.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 26 DE JULHO

CAMINHOS ENGANOSOS

Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte (Provérbios 16.25).

Nem sempre as coisas são o que aparentam ser. Há muita ilusão ótica. Há muitas miragens. Muitos brilhos falsos. Muita propaganda enganosa. As aparências enganam. Nem sempre nossa percepção é confiável. Há caminho que parece direito ao homem. Seus aspectos externos são bastante semelhantes aos caminhos de vida. Mas o seu destino final é a morte. Jesus contou sobre o homem imprudente que edificou sua casa sobre a areia. Tudo naquela casa era parecido com a casa edificada sobre a rocha. O telhado, as paredes, as portas e as janelas. Mas o fundamento estava plantado na areia, uma base absolutamente frágil. Quando caiu a chuva sobre o telhado, o vento soprou contra a parede, e os rios bateram no alicerce, essa casa ruiu, e foi grande a sua ruína. É comum as pessoas afirmarem: Toda religião é boa. Todo caminho leva a Deus. O que importa é ser sincero. Mas essas opiniões estão longe de ser verdadeiras. Nenhuma religião pode dar-nos salvação. Só há um caminho que nos conduz a Deus. Jesus Cristo afirmou: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14.6). Só existe um caminho seguro para o céu: é Jesus. Só há uma porta de entrada no céu: é Jesus. Fora dele não há salvação. Os outros caminhos podem parecer direitos ao homem, mas são caminhos de morte.

GESTÃO E CARREIRA

AVON VOLTA À ORIGEM PARA RETOMAR CRESCIMENTO

Novos benefícios a revendedoras são aposta da marca para estancar perda de receita

Quando assumiu a presidência da Avon, às vésperas do fechamento da economia por causa da pandemia de Covid- 19, o executivo Daniel Silveira, que tinha longa trajetória na Natura, sabia que havia um caminho ladeira acima a ser trilhado: afinal, a marca de cosméticos tinha passado por uma recuperação judicial e estava com a imagem envelhecida. Quase 18 meses depois, e após algumas ações para dar nova roupagem à marca, o executivo lançou nesta semana uma importante frente de revitalização do negócio, concedendo benefícios inéditos a um público vital para a Avon: as revendedoras.

O investimento, que inclui benefícios até então inéditos para as parcerias de negócio – que são uma base flutuante e que trabalham por comissão -, visa à recuperação da marca, que é um projeto do Grupo Natura & Co. (também dono da Natura, The Body Shop e Aesop) para disputar o segmento de preço de entrada. Hoje, a Avon é, de longe, a marca de resultados mais fracos dentro da gigante brasileira dos cosméticos.

No primeiro trimestre, apesar da forte exposição da marca no programa Big Brother Brasil, as receitas fecharam em queda de 2,8% no Brasil, segundo os resultados da Natura & Co.  No mundo, o faturamento da Avon caiu 10,7%, quando se descontam efeitos cambiais. A companhia está muito atrás de suas irmãs: de janeiro a março de 2021, a margem bruta da Avon foi de 4,1%, bem abaixo dos patamares da Natura (12,2%), The Body Shop (14,7) e da luxuosa Aesop (acima de 26%).

A priorização das revendedora está relacionado ao fato de que a Avon vem sofrendo com uma “sangria” de parceira ao longo de 2020 e também no começo de 2021: no primeiro trimestre, o total de consultoras caiu 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar disso, a marca segue sendo uma gigante em termos de força de venda: hoje mantém 1,3 milhão de revendedoras cadastradas no país.

Nesta semana, o presidente da Avon Brasil apresentou um pacote de benefícios inéditos para revendedoras, que inclui remunerações maiores e também descontos em serviços como faculdades, escolas de idiomas, medicamentos, exame, consulta médica e odontológicas. Além disso, explicou Silveira, a barreira de entrada de novas parceiras está sendo reduzida: o investimento mínimo em produtos para quem quer começar a revender vai cair de R$250 para R$150.

IMAGEM DA MARCA

Quem assistiu ao Big Brother Brasil deste ano percebeu que a Avon usou a visibilidade do programa, que bateu recordes de audiência na TV Globo, para associar a marca a novas causas, como a diversidade sexual e de raça. “Desde sua origem, em 1885, a Avon trazia as mulheres como protagonistas de seus destinos”, diz o presidente da Avon, no Brasil. “Então, embora a questão da mulher siga sendo um tema importante nos dias de hoje, muitos temas de diversidade ganham igual importância – e percebem uma janela enorme para discutir essas questões.” Outra questão a ser trabalhada, além da imagem que a marca passa para a consumidora, é o posicionamento dentro do portfólio da Natura & Co. A Avon, que tem preços mais baixos do que a Natura, chega para ser uma ”porta de entrada” para o consumo de cosméticos. Para equilibrar melhor o portfólio de produtos e garantir um bom custo-benefício para a clientela, a Avon também está em uma fase de redução de sua oferta, especialmente na linha de moda e casa.

Para Jaime Troiano, presidente da Troiano Branding, que já fez trabalhos para a Avon no passado, o foco na revendedora é essencial. Isso porque, seja na porta ou pelo WhatsApp ou outras ferramentas digitais, essa profissional faz algo que nunca sai de moda: a venda consultiva, “Essa venda por relacionamento pode não ser mais tão importante nas áreas metropolitanas, mas certamente faz muita diferença em cidades menores”, diz o consultor.

Já a extensão da Avon para causas além do empoderamento feminino ou de questões de saúde da mulher é algo que tem de ser avaliado com cuidado, na visão do especialista. “Será que esse é o melhor caminho para a Avon ou só uma oportunidade? Tem tanta gente falando hoje de diversidade que a marca corre o risco de perder sua individualidade (ao entrar em uma área tão disputada)”, diz Troiano. “Na minha opinião, todas as marcas devem proteger aquilo que é só dela,  o que faz parte de seu projeto original de criação.”

EU ACHO …

DIA DE TEREZA

Entre passos adiante e para trás, aprendo com a história de Benguela que devemos celebrar mulheres negras e indígenas alcançando cada vez mais espaços

Ontem foi o dia da mulher negra latino-americana e caribenha. Para muitos pode representar um nome grande, difícil de repetir e urna data ainda não tão familiar.

A data foi estabelecida a partir de uma reunião de mulheres negras e indígenas em 1992, em Santo Domingos, na República Dominicana, em uma pressão para que a ONU assumisse as lutas de raça e gênero.

No Brasil também ficou conhecido como Dia de Tereza de Benguela, uma homenagem à mulher que resistiu à escravidão e ficou célebre por liderar o quilombo Quariterê. Certamente, se eu posso escrever aqui hoje é também por causa da sua luta e de seu legado. Ainda temos muito a avançar, mas também precisamos celebrar aquelas que entenderam que, se não levantassem suas vozes e até arriscassem suas próprias vidas, nada mudaria.

“E não sou eu uma mulher? ” Trago este famoso questionamento de Sojourner Truth para esses diálogos sobre o quanto a luta pela igualdade de gênero ainda anda em descompasso. Abolicionista e ex- escravizada nos Estados Unidos, Trulh levantou esse questionamento em 1851, quando não recebia ajuda dos homens para subir nas carruagens ou passar pelas poças de lama, apoio que só era oferecido para as brancas.

Aqui no Brasil, as mulheres brancas pertencentes às elites começaram a entrar nas universidades em 1879. Enquanto isso, mulheres e homens negros ainda eram escravizados até 1888. O descompasso segue até hoje: 70% das babás são negras, e 99% das mulheres em conselhos de administração de empresas são brancas.

Não dá para dizer para falarmos primeiro sobre mulheres e, depois, sobre raça. Ao evitar combater os efeitos do racismo estrutural, à medida em que avançam nas conquistas feminista, muitas mulheres brancas reproduzem a opressão que vivem na luta antimachista.

Entre passos adiante e para trás, aprendo com a história de Benguela que devemos celebrar mulheres negras e indígenas alcançando cada vez mais espaços. Ao olhar a dura história de resistência por existência, entendo que uma da maiores disrupções que uma mulher negra ou indígena pode produzir na sociedade é a de ser feliz.

Somos muitas vezes vistas com arquétipos de tristeza, subserviência e dependência, que também são efeitos da perpetuação do racismo estrutural. E, quando conseguimos subverter essa lógica e nos sentimos felizes, rompemos com esse ciclo cruel.

Angela Davis já dizia em sua famosa frase: “Quando a mulher negra se movimenta, toda sociedade se levanta junto com ela e entendemos que se a base sobre toda sociedade se levanta, todos ganham. Se Davis é cânone para essa reflexão, entendo que também precisamos ler mais Lélia Gonzales, para além de Angela Davis (palavras da própria Angela Davis que acha que nós podemos reverenciar ainda mais nossas próprias referências negras e indígenas). Lélia, além de falar sobre feminismo negro, cunhou o conceito de amefricanidades para pautar centralmente um olhar sobre as experiências dos negros e indígenas a partir das diásporas da América latina.

Precisamos combinar mais estratégias para alcançarmos conquistas coletivas e por isso mais fortes. Valorizar-nos e nos unir ainda mais. Por isso, sou tão favorável a redes de mulheres negras profissionais e mães, entre outras. Juntas e trocando informações, somos mais fortes. Que nossas vitória individuais e coletivas avancem e possamos celebrá-la não somente hoje, mas nos outros 365 dias do ano. O dia de Tereza é também de todas nós.

*** LUANA GÉNOT

lgenot @simaigualdaderacial.com.br  

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PANDEMIA PODE AUMENTAR CASAMENTOS INFANTIS E REVERTER PROGRESSO DE 25 ANOS

Evasão escolar e crise econômica, agravadas pela crise sanitária, favorecem matrimônio precoce

“Naquele momento, todos os meus sonhos foram destruídos. Assim a indiana Sunita, 16, descreve como se sentiu ao descobrir que seria forçada a se casar e deixar a escola, aos 12 anos. Hoje ativista pelos direito das meninas em sua comunidade, ela deu seu depoimento à ONG Save the Children.

A cada ano, 12 milhões de garotas têm a infância abreviada por serem obrigadas a se casar cedo demais. Esse cenário vem melhorando, e nos últimos melhorando, e nos últimos dez anos a proporção de mulheres comprometidas antes dos 18 anos no mundo caiu de 1 em cada 4 para 1 em cada 5.

Mas agora a tendência de queda está ameaçada pela pandemia. Um estudo da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estima que a crise sanitária deve empurrar 10 milhões de meninas para casamentos precoces na próxima década. Esse número se somará aos 100 milhões já previstos anteriormente para o período, correndo o risco de reverter um progresso de 25 anos de redução do índice.

O tema virou motivo de preocupação de várias entidades, inclusive no Brasil – quarto país do mundo com mais casos -, e até do Banco Mundial, que já estimou que os casamentos infantis farão os países em desenvolvimento perderem trilhões de dólares até 2030. Segundo a ONG Visão Mundial, o aumento no número de casamentos infantis já está sendo sentido desde o ano passado. De março a dezembro de 2020, suas equipes receberam mais do que o dobro de chamados para atuar em casos do tipo do que no mesmo período de 2019.

Já a Save the Children divulgou que a pandemia levou a um aumento de ao menos 1 milhão no número de meninas grávidas em um dos maiores motivadores do casamento precoce, que afeta muito mais mulheres que homens.

Dos 12 milhões de garotas que se casam anualmente, 2 milhões têm menos de 15 anos. “E essas são apenas as que nós conhecemos. Acreditamos que seja o topo do iceberg”, afirma a organização. Como muitas uniões não são oficializadas – e essa informalidade é maior na América Latina e no Caribe -, os números reais provavelmente são bem maiores.

“Além de afetarem diretamente a saúde das pessoas epidemias frequentemente têm efeito desproporcional sobre mulheres e meninas”, diz Rita Soares, diretora de aprendizado e impacto da organização Girls not Brides. “Muitos dos fatores complexos que favorecem o casamento infantil em ambientes estáveis são exacerbados em situações de emergência, quando estruturas familiares e comunitárias se deterioram”, explica. “Uma pandemia como essa apresenta desafios únicos que podem aumentar o número de casamentos infantis tanto na fase aguda quanto na de reconstrução”.

São vários mecanismos pelos quais a crise sanitária contribui para o problema. O fechamento das escolas é um dos principais, já que há evidências de que a educação é um dos maiores antídotos contra o casamento precoce. Estatisticamente, quanto mais tempo uma menina frequenta as aulas, menor é o risco de se casar antes dos 18 anos. Calcula-se que cerca de 1,6 bilhão de crianças no mundo tiveram que interromper os estudos devido à Covid-19, e 11 milhões de garotas podem abandonar a escola em 2021. Muitas nunca vão retornar.

Segundo a experiência com o surto de ebola na África Ocidental de 2013 a 2016, quanto mais tempo as aulas são suspensas, menor é a chance de que as meninas voltem a estudar depois, especialmente se elas não tiveram acesso à educação a distância. Além disso, fora da escola as crianças passam mais tempo em casa sem supervisão, ficando expostas a abusos e a atividades sexuais no geral, o que pode levar a uma gravidez indesejada.

A suspensão do atendimento em serviços de saúde sexual e reprodutiva na quarentena, dificultando o acesso a contraceptivos, também favorece as gestações em adolescentes.

A crise econômica decorrente da pandemia é outro fator importante nessa equação. “O casamento da menina alivia a família do estresse econômico de duas maneiras: a perspectiva de receber um dote e o fato de ter menos bocas para alimentar, diz o documento do Banco Mundial. “A insegurança econômica causada pela recessão em comunidades já vulneráveis está forçando as famílias a casarem suas filhas mais novas, vistas como um fardo financeiro, e não como potenciais trabalhadoras que vão ganhar salários”.

Nas comunidades nas quais o noivo paga um dote à família da noiva, o incentivo é ainda maior. Quando é o contrário, há dois cenários. No geral, o casamento de meninas é desencorajado. Mas há pais que preferem destinar ao casamento as filhas muito novas, pois o dote tende a ser mais baixo quanto menor é a idade.

Casar cedo costuma mudar o curso de toda a vida de uma mulher. Estudos mostram que elas têm menor chance de negociar sexo seguro com o parceiro, ficando suscetíveis a adquirir infecções sexualmente transmissíveis e à gravidez. Gestantes jovens demais correm mais risco de intercorrências de saúde e até de não sobreviver ao nascimento.

Por terem que cuidar da casa e da família, muitas delas abandonam a escola e não constroem uma carreira. Elas também estão mais expostas à violência doméstica e a feminicídios. “O casamento infantil ajuda a perpetuar o ciclo da pobreza e tem consequências físicas, emocionais e psicológicas”, resume Soares.

As consequências não se restringem às mulheres. A sociedade como um todo perde, mostra estudo de 2017 do Banco Mundial. “O casamento precoce mina os esforços para combater a pobreza e alcançar equidade e crescimento econômico”, diz um dos autores.

Segundo a organização Save the Children, o sul da Ásia, a África Central e Ocidental e a América Latina e Caribe são as regiões com mais risco de registrarem aumento de casamentos infantis na pandemia.

“No Brasil, assim como no mundo, as causas que levam ao casamento infantil estão muito ligadas à pressão familiar por uma questão moral, de perda de virgindade ou gravidez durante uma relação, e fatores econômicos, quando o casamento é imposto como forma de trazer mais renda, por ser mais uma pessoa trabalhando”, aponta Itamar Goncalves, gerente de advocacy da Childhood Brasil. A associação trabalha pela proteção à infância e à adolescência.

O país, no entanto, não tem um monitoramento contínuo da questão. A última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher foi realizada em 2006. Com os números daquela época, o Brasil fica em quarto lugar no ranking absoluto, com 3 milhões de mulheres de 20 a 24 anos que se casaram antes dos 18 anos, ou 36% do total das casadas nessa faixa etária. O matrimônio de menores de 16 anos é proibido no Brasil, mas a legislação é recente, aprovada em 2019. Até aquele ano, era possível se casar para evitar pena criminal por estupro de vulnerável ou devido à gravidez. Hoje, jovens entre 16 e 18 anos podem se casar se forem autorizados pelos pais ou por meio de processo judicial.

O Brasil não conta com um programa do governo para lidar com a questão, segundo o gerente da Childhood, o que para ele faz parte das soluções necessárias. Gonçalves pontua ainda “a importância de dar visibilidade ao tema tanto em casa como nas escolas, por meio da educação sexual, além da lei nua e crua no papel”.

Para ele, aliás, a legislação deveria proibir completamente o casamento antes dos 18 anos, sem exceção. Por fim, um programa que de fato empoderasse as meninas para realizarem projetos de vida também é peça-chave, aliado à conscientização da população. “Isso passa como algo marginal, como se não fosse um problema da nossa sociedade”.

Acabar com o casamento infantil até 2030 é uma das metas de desenvolvimento sustentável da ONU. Além de leis e políticas públicas protetoras da infância, as soluções passam por garantir educação e saúde sexual e reprodutiva, fazer campanhas de conscientização e incluir as crianças e adolescentes nas ações. A piora prevista nos índices é uma probabilidade, mas não precisa ser uma sina, diz a Unicef. “Programas efetivos aplicados em larga escala podem adiar a idade em que os jovens se casam e reduzir o número adicional de casamentos infantis pela metade”.

POESIA CANTADA

AGONIA

OSWALDO MONTENEGRO

Nascido no bairro do Grajaú, OSWALDO Viveiros MONTENEGRO é um caso excepcional de precocidade musical. Sem nunca ter estudado música regularmente, começou desde a tenra infância a ser influenciado por ela. Primeiro, na casa de seus pais no Rio de Janeiro: sua mãe e os pais dela tocavam piano, seu pai tocava violão e cantava.
A segunda influência foi mais forte. Aos oito anos, mudou-se, com os pais, para São João del-Rei, cidade mineira poética e boêmia, onde as serestas aconteciam todas as noites e as pessoas juntavam os amigos em casa para passar as noites tocando e cantando. Ao mesmo tempo, Oswaldo foi atraído para a música barroca das igrejas. Nesta época, teve aulas de violão com um dos seresteiros da cidade e compôs sua primeira canção, Lenheiro, nome do rio que banha São João del-Rei. Venceu um festival de música com apenas 13 anos, no Rio de Janeiro, onde voltou a morar.
A decisão de se tornar um músico profissional veio com a mudança para Brasília, em 1971. Na capital federal, começou a ter contato com festivais e grupos de teatro e de dança estudantis. Fez seus primeiros shows e aos 17 anos a decisão de viver da música se tornou definitiva. Mudou-se novamente para o Rio, mas já havia adotado Brasília como a terra de seu coração e tema constante de sua obra. Também seus parceiros preferidos foram amigos que fez ali, como José Alexandre, Mongol e Madalena Salles, entre outros.
Foi ainda em Brasília que tomou contato com a música erudita nos concertos do Teatro Nacional. Não só assiste aos concertos com seus amigos músicos, entre eles o maestro Otávio Maul e a família Prista Tavares, mas entra pelas madrugadas conversando sobre técnica e teoria musicais. Autodidata, devora livros sobre história da música.
A partir daí, morando no Rio mas com os olhos e o coração postos em Brasília, sua carreira deslancha. Tem música classificada no último Festival da Canção da Rede Globo, o primeiro de repercussão nacional de que participa (1972), escreve e encena seu primeiro musical (1974-1975), lança três discos no espaço de três anos (1975-1978) e vence festival na TV Tupi com seu primeiro mega sucesso, Bandolins (1979). Em 1980 participa e vence o Festival MPB Shell da Rede Globo de Televisão com a canção Agonia, do amigo de infância Mongol. Mesmo com tanto sucesso, decide retornar a Brasília para montar em 1982, outro espetáculo musical, Veja Você, Brasília, com artistas locais. Deste espetáculo participam as ainda desconhecidas Cássia Eller e Zélia Duncan. Depois desta, viriam outras peças de teatro musical, uma particularidade bem marcante na trajetória de um músico brasileiro e que resgata uma maneira de divulgar música abandonada na primeira metade do século 20. São mais de 14 peças musicais, todas recorde de público e algumas, como Noturno”, “A Dança dos Signos” e “Aldeia dos Ventos, estão em cartaz há mais de 15 anos e com montagens por todo o país.
Em 1985, participa de outro Festival da TV Globo, com a música O Condor, com acompanhamento de um coro de 25 cantores negros. Não para de gravar discos. Até 2006, são 34. Composições suas são interpretadas por Ney Matogrosso, Sandra de Sá, Paulinho Moska, Zé Ramalho, Alceu Valença, Zizi Possi, Zélia Duncan, Jorge Vercilo, Altemar Dutra, Gonzaguinha, Sivuca, Tânia Maya, entre outros. Até a atriz Glória Pires cantou em participação especial de um disco seu (1985).
Em 1994, Oswaldo lança seu primeiro livro – O Vale Encantado – um livro infantil, no mesmo ano indicado pelo MEC, através da Universidade de Brasília, para ser adotado nas escolas de 1º grau. Em 1997, adapta o livro para vídeo.
Em 1995 lança o cd “Aos Filhos do Hippies” com participação de Carlos Vereza e Geraldo Azevedo.
Em 1997, Oswaldo reencontra Roberto Menescal. Durante a conversa, surge o tema “letras de músicas da MPB que são verdadeiros poemas”. Daí vem à ideia do CD “Letras Brasileiras”. Menescal produz o CD, que é lançado no mesmo ano, e participa da tournée do show. Ainda em 97 grava e lança o vídeo “O Vale Encantado”, que conta no elenco com a participação de Zico, Roberto Menescal, Fafy Siqueira, Luísa Parente, Tânia Maya e Madalena Salles. É lançado, também, o CD do mesmo nome. Lança, também, nesse mesmo ano, o CD do espetáculo “Noturno”, pela Tai Consultoria em Talentos Humanos e Qualidade.
Em 1998 recebe o título de cidadão honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF. Nesse mesmo ano, Oswaldo volta às montagens teatrais. Monta novamente “Léo e Bia”, numa versão mais madura e coerente com a postura que ele tem, atualmente, daquela história. Grava o CD homônimo, também com Menescal. Monta, ainda, com elenco de Brasília, a 2ª versão de “A Aldeia dos Ventos”.
Em 1999, apresenta três espetáculos, no Teatro de Arena, no Rio de Janeiro: “Léo e Bia”, “A Dança dos Signos” e o inédito “A Lista” com a participação da atriz Bárbara Borges e do cantor Rafael Greyck, lançando, nessa temporada, os CDs dos 2 últimos.
Em 2000, comemora os 20 anos de carreira com o show “Vinte Anos de Histórias” e com os CDs “Letras Brasileiras ao Vivo” e “Escondido no Tempo”. Dedica-se, também, à série “Só Pra Colecionadores”, de CDs independentes, de tiragem limitadíssima, vendidos apenas via internet. Neste ano seus fãs criam seu primeiro fã-clube virtual, o OMOL (Oswaldo Montenegro online), onde admiradores de seu trabalho, através de um site na internet e posteriormente no ORKUT, se reúnem para conversar e interagir sobre sua obra e sobre a obra de artistas que com ele trabalharam.
Em 2001 monta em SP a peça “A Lista” com a participação de Bruna di Tullio e Mayara Magri no elenco.
Em 2002 lança o CD “Estrada Nova”, cuja turnê bate recorde de público. Neste cd são gravadas novas músicas em parceria com Mongol.
Em 2003 regrava a uma nova trilha de “A Aldeia dos Ventos”.
Em 2004 lança o CD “Letras Brasileiras 2”, em parceria com Roberto Menescal, além do programa “Tipos”, no Canal Brasil, no qual retrata com músicas, textos e desenho animado, tipos humanos como a bailarina gorda, o chato, etc…
Em 2005 lança CD e DVD “Oswaldo Montenegro – 25 Anos de História”, que alcançam, ambos, a marca das 100 mil cópias.
Em 2006 lança, no Canal Brasil, em parceira com Roberto Menescal, o programa “Letras Brasileiras”, apresentado por ambos. O programa foi inspirado no CD e no show que Oswaldo e Menescal apresentaram em 1997 por todo o país. Monta no Rio de Janeiro a peça “Tipos” e remonta Aldeia dos Ventos, com participação da atriz Camila Rodrigues, com a “Cia Aqui entre nós”.
Em 2007, lança o cd e DVD “A Partir de Agora”, gravando músicas inéditas com convidados como Alceu Valença, Zé Ramalho, Eduardo Costa, Diogo Guanabara e Mariana Rios. Na TV, inicia a segunda temporada do programa “Letras Brasileiras” ao lado de Roberto Menescal no Canal Brasil. No teatro, em parceria com o irmão Deto Montenegro, monta o espetáculo “Tipos” junto com a Oficina dos Menestréis de São Paulo.
Em 2008 lança, pela gravadora Som Livre, um novo DVD e CD chamado “Intimidade”. Estes trazem 16 canções bastantes conhecidas com um novo arranjo elaborado pelo próprio Montenegro, por Sérgio Chiavazzoli e por Alexandre Meu Rei. Destaque para “Lume de Estrelas” que foi apenas gravada no disco “Asa de Luz” em 1981. Na TV, inicia a terceira temporada do programa “Letras Brasileiras”, que apresenta com Roberto Menescal no Canal Brasil. No teatro, monta no Rio de Janeiro o espetáculo “Eu não moro, comemoro”, com participação de Caio Ruas Miranda e Emílio Dantas e o “Projeto Canjas”, onde abre espaço para jovens talentos se apresentarem ao lado de artistas consagrados. No fim do ano, tem alguns de seus maiores sucessos lançados em uma coletânea de 3 cds (3 BOX) pela Warner Music.
Em 2009 se dedica a formação de um grupo para montagens de musicais reunindo cantores, músicos, atores e atrizes como Verônica Bonfim, Léo Pinheiro, Rodrigo Sestrem, Emílio Dantas, Júlia Vargas e outros.

AGONIA

COMPOSIÇÃO: MONGOL

Se fosse resolver
iria te dizer
foi minha agonia
Se eu tentasse entender
por mais que eu me esforçasse
eu não conseguiria
E aqui no coração
eu sei que vou morrer
Um pouco a cada dia
E sem que se perceba
A gente se encontra
Pra uma outra folia
Eu vou pensar que é festa
Vou dançar, cantar
é minha garantia
E vou contagiar diversos corações
com minha euforia
E a amargura e o tempo
vão deixar meu corpo,
minha alma vazia
E sem que se perceba a gente se encontra
pra uma outra folia

OUTROS OLHARES

MENOS ‘AMOR’ POR FAVOR!

Os arromânticos, pessoas que não se apaixonam e já ganharam até uma Semana da Consciência sobre a comunidade, reivindicam em redes sociais e livros reconhecimento para sua maneira de se relacionar

O soldador catarinense Fabio Muller, 28 anos, nunca conseguiu sentir aquele “amor” que se vê em filmes, novelas e músicas. Casado há seis anos, ele tinha dificuldade em retribuir o romantismo do marido, gerando desgaste no relacionamento. Foi então que, numa pesquisa sobre bandeiras LGBTQIAP+ no ano passado, deparou-se com a das cores verde, branca e preta da arromanticidade.  Foi uma revelação: Muller passou a se identificar como um arromântico, ou seja, alguém que não   sente interesse romântico por outras pessoas. Os aros, como eles se apresentam, podem gostar de sexo (ou não), podem ter relacionamentos sérios ou superficiais, podem ser heteros, gays, bi, trans… A única invariável: eles não se apaixonam, pelo menos não da forma como os seus antônimos, os alorromânticos, entendem a ideia de “paixão”.

O que costuma ser visto como uma frieza emocional agora vem sendo reivindicado como uma identidade sexual. Os aros buscam reconhecimento como uma comunidade, expondo as suas vivências em redes sociais, fóruns, podcasts e livros. Já existe, desde o ano passado, uma Semana da Consciência do Espectro Arromântico, que acontece alguns dias após a maior data mundial da celebração romântica, a de São Valentim, em fevereiro.

“Meu marido entendia meu arromantismo como desinteresse da minha parte”, diz Muller, que volta e meia se vê obrigado a “desmontar” o romantismo do parceiro. “Antes de conhecer o termo, eu tinha dificuldade de expressar, eu mesmo achava que era uma pessoa que nunca tinha aprendido a amar. Gosto do meu marido, gosto da companhia dele, das conversas, da amizade, e do afeto, mas o romantismo é quase inexistente. O que tenho com ele é uma amizade mais íntima.

FONTE DA FELICIDADE

Na prática, um arromântico tem tendência a não gostar de demonstrações exageradas de afeto, como jantar romântico com mesa enfeitada, e acha embaraçosas as declarações muito efusivas. Alguns dizem e sequer sentem saudade. É claro que varia de pessoa para pessoa, já que existem diferentes graus de arromanticidade.

Criado em setembro por um grupo de 20 arromânticos, o perfil @aroaceiros publica conteúdo informativo sobre a arromanticidade no Instagram, além de relatos e fotos. Entre as pautas do grupo, está o que questionamento do amor romântico como “a única fonte de felicidade e realização pessoal do ser humano”, explica um de seus administradores, Ravi Pires, de 21 anos. Outra queixa é a hierarquização dos relacionamentos, que colocaria o romântico sempre como o mais importante.

“Essa hierarquização é forçada, e precisa ser repensada, não apenas aceita como padrão”, diz Ravi, que vê a arromanticidade como uma identidade ainda muito “invisibilizada”, mesmo em contextos e espaços LGBTQJAP+.

Psicóloga e pesquisadora de políticas identitárias, Fabiana Araújo conta que, no consultório, ouve cada vez mais questionamentos sobre o “romântico” na vida. Um sinal, segundo ela, de que as pessoas estão tentando construir novas maneiras de “existir” em relações.

“É possível dizer que o sujeito arromântico tenta transcender modelos pré-estabelecidos de como se afetar diante das trocas íntimas”, diz ela.  “Isso não quer dizer pegação, frieza, ou falta de responsabilidade afetiva. O que está em jogo é o desejo do sujeito diante das relações consigo e com o mundo. Essa possibilidade, hoje, é infindável.

Também pelo fato de a nomenclatura ainda ser pouco difundida, muitas pessoas demoram para se declarar como membros da comunidade. Afinal, difícil negar que a cultura em que vivemos é voltada para o amor romântico. Na publicidade, na ficção e na maioria dos hits da indústria musical, o romantismo prevalece: como tema. Nos clássicos pagodes sentimentais ou nos romances açucarados, os que não se apaixonam ou é porque sofreram algum trauma e se desiludiram, ou porque ainda não encontraram a pessoa certa. Ou seja, outro papo.

Conhecida por narrar grandes paixões em livros como “O dia em que você chegou”. Nana Pauvolih admite que é difícil criar personagens que não se guiam pelo romantismo.

“Como escrevo romance, quem não se apaixona acaba virando coadjuvante”, diz ela.  “Difícil entender a parte psicológica de um personagem assim”.

SUSCETÍVEL À HISTÓRIA

O arromântico tem uma maneira só dele de pensar essas dinâmicas, como mostram obras recentes publicadas em plataformas digitais por escritores brasileiros, principalmente no gênero young adult. Entre as narrativas que trazem aros como protagonistas estão histórias como “Entre nós”, de Dayane Borges, “A coisa certa”, de Alanys Aleixo, e “Marcas do destino”, de Thais Lopes. Querendo dar visibilidade às suas próprias experiências, a escritora Mayara Barroli publicou o conto “A favorita”, sobre uma menina arromântica que passa o dia com uma amiga interessada por ela. No fim, ela se vê obrigada a tomar uma decisão sobre o relacionamento.

“Eu quis retratar uma relação em que ambas as personagens estavam se descobrindo, de forma a apresentar relacionamentos queer-platônicos para um público mais amplo também”, diz Mayara.  “Alguns leitores me falaram que se sentiram vistos pela primeira vez, o que me deixa extremamente feliz.

Como diz o Inescrupuloso publicitário Don Draper, da série “Mad Men”, “o que você chama de amor foi criado por caras como eu para vender náilon”. O psicanalista e professor da PUC-SP, Pedro Ambra concorda: o amor não é um sentimento espontâneo, mas algo que está suscetível ao malabarismo da História.

“Há poucas décadas, pedir a mão de uma menina para o seu pai podia ser visto como algo romântico, hoje já não é”, observa Pedro Ambra. “O amor é um jeito de viver por meio da linguagem, que vai se reconfigurando à medida que grupos vão reconhecendo suas formas. Afinal, há sempre um descompasso entre o  jeito que amamos e o jeito que gostaríamos de amar”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 25 DE JULHO

A CURA PELA PALAVRA

Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo (Provérbios 16.24).

As palavras agradáveis são terapêuticas. Fazem bem para a alma e para o corpo. Curam emocional e fisicamente. Um favo de mel renova as forças e dá brilho aos olhos. Palavras agradáveis levantam os abatidos, curam os aflitos, consolam os tristes e tonificam a alma daqueles que estão angustiados. Uma palavra boa, oportuna, que transmite graça aos que a ouvem, é medicina para o corpo. É um tratamento intensivo para os enfermos que a recebem. Nossa língua precisa estar a serviço da cura, e não do adoecimento. Precisamos ser agentes do bem, e não executores do mal. Nossas palavras devem transportar esperança, e não desespero. Precisam ser veículos de vida, e não condutores de morte. Devem ser medicina para o corpo, e não veneno que destrói a vida. Jesus usou de maneira singular a cura pela palavra. Sempre que alguém ferido pela vida se aproximava dele em busca de socorro, saía com o coração aliviado e com a alma liberta. Suas palavras eram bálsamo para os aflitos, tônico para os fracos, gotas de esperança para os cansados e luz de vida para os sem rumo. Precisamos aprender com Jesus. Nossas palavras podem dar sabor como o mel e curar como o remédio. Podem trazer deleite e restauração, cura e alegria.

GESTÃO E CARRREIRA

DEZ COISAS QUE VOCÊ NÃO SABE SOBRE TELEFONIA EM NUVEM

Você sabe o que é telefonia em nuvem? O cloud computing, ou computação na nuvem, é uma tecnologia que usa integralmente a estrutura já existe equipamentos para quem utiliza. Desse modo, reduz os custos e amplia o meio da rede mundial de computadores, tornando-se uma grande aliada das empresas.

São esses motivos que fazem com que a utilização da telefonia em nuvem esteja cada vez mais em alta. De acordo com um levantamento realizado pela Gartner, empresa líder em pesquisa e consultoria, a expectativa é de que, até 2022, 60% das organizações utilizarão a oferta de serviços gerenciados de telefonia em nuvem. A telefonia VoIP é um serviço oferecido por empresas de tecnologia, que transfere toda sua rede de telefonia para a Internet.

Como utiliza a Internet já instalada na empresa, não necessita de nenhuma outra estrutura, como aparelhos de PABX, cabeamentos ou ainda manutenção de hardware e periféricos. A telefonia em nuvem traz milhares de possibilidades para as empresas. É mais fácil de instalar, mais barata, mais eficiente e possibilita integrar diversos recursos que irão só melhorar o desempenho da sua empresa.

De olho nessas tendências, aqui estão dez coisas que você não sabe sobre telefonia em nuvem e que podem te ajudar a entender um pouco mais sobre a tecnologia e as vantagens que ela traz para sua empresa.

1. REDUÇÃO DE CUSTOS – O sistema de VoIP é muito mais econômico que linhas telefônicas tradicionais. Ao utilizar a Internet, não são cobrados valores por chamadas de longa distância ou taxas, de acordo com horário de utilização. Custos adicionais com gravações de ligações ou comunicação entre filiais também não existem. Por isso, dependendo dos comparativos e do perfil de cada empresa, é possível atingir até 70% de economia;

2. MOBILIDADE – É possível acessar o sistema de telefonia na nuvem por meio de qualquer dispositivo com internet. Isso facilita no trabalho em home office, acesso a relatórios de chamadas ou até mesmo a mudança de localidade da empresa, uma vez que o número adquirido permanece o mesmo após a transição;

3. INTEGRAÇÃO – É possível conectar a telefonia em nuvem aos sistemas já utilizados pela empresa, como o CRM, bancos de dados e HelpDesk. A integração vai além, pois as filiais ao redor do mundo também podem acessar o mesmo sistema na nuvem. Desse modo, é facilitado o compartilhamento de informações e há a redução do tempo com tarefas repetitivas, como encaminhar vários e-mails;

4. FLEXIBILIDADE – Conforme os negócios crescem, a utilização da telefonia também. Por causa disso, o volume de chamadas pode aumentar, sendo necessário a inclusão de novos usuários ou ramais de atendimento. O VoIP consegue acomodar facilmente todas essas mudanças, sem necessidade de implementar estruturas novas na sua empresa. Além disso, assim como você pode aumentar, é possível também reduzir sua utilização;

5. NADA DE BUROCRACIA – Talvez um dos maiores problemas enfrentados por uma empresa que deseja contratar um plano de telefonia é ter que lidar com toda a burocracia envolvida nos processos de contratação, mudanças de plano e até mesmo, cancelamentos. Portanto, saiba que uma das vantagens da telefonia em nuvem é a facilidade de contratar, migrar de planos e até mesmo cancelar os serviços VoIP;

6. MAIS LIBERDADE – Conforme você já viu, por meio da telefonia em nuvem é possível adquirir vantagens nem sempre conquistadas através da telefonia convencional. Uma dessas vantagens é a liberdade de fazer testes sem compromisso ou migrar de planos a qualquer momento;

7. PERSONALIZÁVEL – Muitas vezes, ao contratar uma telefonia, somos obrigados a pagar por algo que nem mesmo utilizamos, certo? Com a telefonia em nuvem isso não acontece. Você pode personalizar o seu plano de acordo com as necessidades da empresa e só paga por aquilo que realmente usa;

8. FÁCIL INSTALAÇÃO – A instalação e utilização de um serviço nunca foi tão fácil. Afinal qualquer empresa conta com acesso à internet. Portanto, basta entrar em contato com uma operadora ou plataforma VoIP e decidir qual será o plano mais adequado ao seu negócio. A empresa VoIP terá total responsabilidade por disponibilizar o serviço para a utilização da telefonia em nuvem;

9. SIMPLES UTILIZAÇÃO – Além de ser de fácil instalação, podemos citar como vantagens da telefonia em nuvem, seus meios de utilização que são simples e práticos. Além disso, são adaptáveis e podem ser mudados a qualquer momento. Você pode escolher fazer e receber ligações através do celular, computador, telefone convencional ou telefone IP;

10. SEGURANÇA – Com a telefonia em nuvem, sua empresa tem acesso a informações úteis que garantem a segurança. Você pode ter acesso a todo o histórico de chamadas recebidas e realizadas, além de ter a gravação de todas as ligações do seu negócio.

EU ACHO …

LINGUAGEM DE AMIGUES

As palavras que abarcam diversos gêneros vieram para ficar

Está antenado com a linguagem neutra? Há tempos surgiu um movimento para eliminar a distinção entre masculino e feminino do português. Argumenta-se que, hoje, a linguagem não abarca os diversos gêneros. Somente os binários (homem ou mulher). A questão de gênero mobiliza. Para muitos esse tema ainda é surpreendente e misterioso. Há quem não se sinta nem “ele” nem “ela”. No país, há possibilidades legais que muita gente nem conhece. Mas, se um sujeito barbudo se sente mulher, ele pode perfeitamente requerer documentos femininos. Consegue. Está certo. O corpo é dele. O gênero também é. Mas há pessoas que não se identificam nem em ser “ele” nem “ela”, mas fluidos (fluides). Nem homem mulher, como tradicionalmente. Sei que é difícil para muita gente entender. Tudo bem, não precisa entender. Só aceitar. É a vida deles, não é? Recentemente vi o programa do RuPaul, Drag Race, em sua última temporada. Uma das concorrentes era uma pessoa que nasceu com o sexo feminino, fez a transição para o corpo masculino, mas competia como drag. Difícil classificar por quem foi criado em um mundo tradicional. Mas o mundo muda.

Os movimentos não binários e LGBTQIA+ e outros que discutem questões de gênero criaram o pronome “ile”. Não é ele nem ela. Lutam pela troca do “a” ou do “o” finais pelo “e”, que não define gênero. Não há mais “amigo”. Mas “amigue”.” E assim por diante. Antes do “e”, houve uma tentativa de terminar com “x”. Tipo “queridx”. Ficou difícil para transmitir em linguagem de libras, por exemplo. O “e” é mais democrátique, cabe em todes es palavres (uau, consegui fazer uma frase!). De fato, o “e” satisfaz a todos os gêneros. Bem…Não a todas as pessoas. O governo de Santa Catarina, no ano passado, proibiu a linguagem neutra nas escolas. No Congresso, o Projeto de Lei 5198/20 quer proibi-la em todo o país. Como sea linguagem neutra fosse perigosíssima para as crianças. Uma bobagem. Em compensação, a nova linguagem está sendo defendida na internet pelo Instagram @generofluidobr, por exemplo. Também em manifestos, lives…É o futuro!

Eu já passei por várias reformas ortográficas, nem sei mais exatamente qual é a acentuação correta. Na minha juventude termos como “careta” e “caretice”, eram aplicados a quem não fumava maconha. Foram se transformando e hoje, no coloquial, aplicam-se a conservadores, avessos a novidades, travados. A linguagem muda, evolui. Se a sociedade sentir a necessidade de falar e escrever em gênero fluido, não há lei que consiga impedir. Mudanças de linguagem são assim: começam em um grupo, e permeiam outros. Não foi assim com o polido “vossa mercê”, que virou “vosmecê” e agora é o coloquial “você”?

Lindes, modernes, bonites…Muito jovem já fala assim. Minha intuição é que a linguagem neutra vai pegar. Na minha próxima série/novela, Verdades Secretas 2, já tenho uma personagem com esse novo jeito de falar. Representa os não binários. A mudança é como o metrô. Quando para na estação, o artista deve embarcar.

*** WALCYR CARRASCO

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CORPOS NO CREPÚSCULO

Estudo mostra que a atividade física em torno das 18h30 é a que rende mais benefícios ao organismo (mas é preciso comer direito)

O pai da medicina, o grego Hipócrates (460 a.C.-370a.C), já intuía que o casamento entre a nutrição adequada e a atividade física é que fazia uma pessoa saudável: “Para o homem se manter sadio não basta se alimentar, mas também praticar algum tipo de movimento”. Milênios a fio, contudo, pouco fizeram avançar as certezas científicas da conexão de uma coisa com a outra. Foi apenas no fim dos anos 1940, fruto de uma curiosa experiência, que se confirmou a relevância dos corpos em ação. Um médico do Reino Unido, o inglês Jeremy Morris (1910-2009), ficou convencido de que a ocorrência cada vez maior de ataques cardíacos e doenças coronarianas tinha relação com o sedentarismo e não apenas com a idade ou o stress crônico, como se imaginava. Com verbas escassas, depois da II Guerra, Morris foi criativo.

Ocorreu-lhe que os ônibus londrinos de dois andares eram um laboratório perfeito para sua investigação comparativa, já que os motoristas ficavam o tempo todo sentados e os cobradores subiam e desciam as escadas. Ele acompanhou 35.000 profissionais durante dois anos e descobriu que os condutores, de modo geral, tinham risco duas vezes maior que os cobradores de sofrer um ataque do coração. Pela primeira vez na história, alguém fazia uma ligação direta entre exercício e saúde.

Desde então, entender quanto e como devemos nos movimentar virou uma das áreas mais interessantes e influentes da medicina. A compreensão do funcionamento do organismo que se mexe resultou, agora, em uma novíssima e detalhada certeza: qual hora do dia é a mais adequada para a malhação? Um estudo recente sugere que o melhor momento para a saúde metabólica é o fim da tarde – mais especificamente às 18h30, ao anoitecer. Conduzido pelo reputado Instituto Mary MacKillop da Universidade Católica Australiana, o trabalho avaliou o impacto do treino em dois índices extremamente relevantes, o colesterol e o diabetes. Nenhum estudo havia definido os ponteiros do relógio tão precisamente. Os pesquisadores avaliaram a saúde de 24 homens. Mulheres não foram incluídas para excluir eventuais alterações relacionadas ao ciclo menstrual (mas os resultados são, sim, unissex). Todos os voluntários eram obesos. Durante o trabalho, eles receberam uma dieta específica, composta de 65% de gordura (uma refeição equilibrada contém até 35%). Foram formados dois grupos. Um deles se exercitou todos os dias às 6h30; o outro, às 18h30. Praticaram a mesma atividade, que misturou intervalos breves e intensos de bicicleta ergométrica em um dia com exercícios mais leves e longos na jornada seguinte. Já no quinto dia os especialistas começaram a chegar a algumas conclusões: os exercícios realizados no fim da tarde reduziram o impacto da dieta gordurosa no colesterol e no diabetes. O treino praticado pela manhã não produziu mudanças.

Os cientistas ainda não identificaram a razão exata por trás dos resultados, mas há uma hipótese: no decorrer do dia, com o corpo naturalmente aquecido, há reação mais imediata dos músculos. Nesse horário, foi identificada também maior propensão genética à metabolização de proteínas, atalho para fortalecimento corpóreo. Os médicos, no entanto, advertem que não é o caso de ficarmos limitados a determinados horários para fazer exercícios. “Independentemente do período do dia, qualquer atividade física é imensamente melhor do que não fazer nada”, diz Antônio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Convém sempre beber um pouquinho mais da imaginação pioneira de Hipócrates, antessala antiquíssima do modismo da malhação que começou a brotar nos anos 1980, como mostra a série Physical. A dieta dos voluntários do estudo foi piorada exponencialmente com o objetivo de analisar os efeitos da ginástica mais claramente. No entanto, sabe-se, hoje, tal qual o lendário grego supôs, que a influência da alimentação na saúde e no emagrecimento pode ser ainda maior que a do exercício físico em si. Um estudo recente da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, por exemplo, mostrou uma relação da dieta com o diabetes maior do que se acreditava: o consumo de gordura trans (e não só do açúcar) aumenta o risco da doença. Em compensação, a ingestão de gorduras boas, como as encontradas em peixes e óleos vegetais, reduz a probabilidade do desenvolvimento do problema. Os brasileiros não só se alimentam mal como não praticam atividade física a contento. Oito em cada dez adultos não mantêm uma dieta balanceada e quatro em cada dez são considerados sedentários. Na pandemia, o cenário ainda piorou: 20% das pessoas ganharam peso durante as quarentenas, proporção idêntica dos que deixaram os treinos de lado. Resumo da ópera: o bom senso manda comer direito e não parar quieto – e nada como pôr um tênis e sair para dar uma volta nos bonitos crepúsculos do inverno.

POESIA CANTADA

PARALELAS

VANUSA

Nascida em 22 de Setembro de 1947, VANUSA Santos Flores é paulista de Cruzeiro, mas foi criada em Uberaba, Minas Gerais, cidade onde deu início a carreira de cantora. Aos 16 anos foi crooner do conjunto Golden Lions e com ele se apresentou em várias cidades da região.
Participou do programa “O Bom” apresentado por Eduardo Araújo na TV Excelsior, na mesma emissora integrou o elenco do programa Os Adoráveis Trapalhões, também participou das últimas edições do programa Jovem Guarda da TV Record .
Vanusa fez sucesso com milhares de músicas e especialmente na década de 1970 com a canção “Manhãs de Setembro”, um música que teve grande repercussão e falava de romantismo.
Ao longo de sua carreira, gravou 23 discos e vendeu mais de um milhão de cópias. Representou o país em vários festivais internacionais e recebeu cerca de 200 prêmios. Por dois anos seguidos foi eleita a Rainha da Televisão. Entre os programas de televisão que participou estão o Qual é a Música? e o Aquarela Brasileira.
É mãe de três filhos: Rafael Santos Vanucci, filho de seu segundo marido, Augusto César Vanucci. Seu filho inclusive chegou a ser vencedor da segunda edição da Casa dos Artistas.
Também é mãe de Amanda e Aretha, filhas do seu primeiro marido, o cantor Antônio Marcos. Aretha foi apresentadora do ZYB Bom ao lado de Rafael, seu meio-irmão.


PARALELAS

COMPOSIÇÃO: BELCHIOR

Dentro do carro, sobre o trevo a cem, por hora
Oh, meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório em que eu trabalho e fico rico
Quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor

Em cada luz de mercúrio vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viaduto, nem te lembras de voltar
De voltar
De voltar

No Corcovado quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana o mar sou eu
E as borboletas do que fui posam demais
Por entre as flores do asfalto que tu vais

E as paralelas dos pneus na água das ruas
São duas estradas nuas em que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar
Abro a vidraça e grito quando o carro passa
Teu infinito sou eu
Sou eu, sou eu, sou eu

No Corcovado quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana o mar sou eu
E as borboletas do que fui posam demais
Por entre as flores do asfalto que tu vais

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 24 DE JULHO

UMA ELOQUÊNCIA PERSUASIVA

O coração do sábio é mestre de sua boca e aumenta a persuasão nos seus lábios (Provérbios 16.23).

Há estreita conexão entre o coração e a língua, entre o que cogitamos no coração e o que expressamos através dos lábios. Uma pessoa que fala uma coisa, mas sente outra no coração, é taxada de hipócrita. Uma pessoa que sente no coração, mas não fala, é considerada covarde. A Bíblia diz que a boca fala do que está cheio o coração. O coração do insensato é o algoz de sua boca, mas o coração do sábio é mestre de sua boca. A boca está a serviço do coração sábio. Transborda os ricos conceitos que sobem do coração. Um coração sábio é conhecido por uma boca que fala com erudição, e quem fala com erudição e graça revela uma eloquência persuasiva. Fala não apenas segundo a verdade, mas também com beleza irretocável. Expressa não apenas a justiça, mas o faz com perícia invulgar. Dita não apenas valores absolutos, mas os proclama com persuasão irrefutável. Os lábios somente serão mestres do bem se estiverem a serviço de um coração sábio. Este só pode ser forjado na bigorna da experiência, e a experiência só se alcança numa caminhada ao lado do Senhor. A sabedoria não é um entendimento que emana naturalmente de nosso coração, mas um aprendizado que adquirimos aos pés do Senhor. Aqueles que conhecem a Deus são sábios, e a boca dos sábios desabotoa em adoração e louvor ao Criador.

GESTÃO E CARREIRA

COMO O MERCADO DE LUXO TEM SE REINVENTADO DURANTE A PANDEMIA

Mais do que nunca, o mercado de luxo online passa por adaptações enquanto shoppings e galerias de compra estão com restrições à circulação de pessoas. A Synapcom, empresa líder em full commerce – modelo de negócio que viabiliza operações de e-commerce de ponta a ponta no Brasil e na América Latina -, sabe bem que a experiência exclusiva e sensorial tem grande relevância na conversão de leads desse segmento.

A começar pelo armazenamento dos produtos em cofres nos centros de distribuição, até a expedição, embalagem e entrega na casa dos consumidores, a startup foca na personalização e na individualidade da experiência como estratégia principal para encantar este público.

Com um amplo portfólio de marcas premium, como L’Oréal, Tommy Hilfiger e Calvin Klein, para atender com a exclusividade que os clientes desses players exigem, a Synapcom treina equipes para manusear cuidadosamente os produtos e garantir que cada item chegue aos consumidores em perfeito estado, com a mesma embalagem e até com o cheirinho do estabelecimento que já conhecem.

De acordo com a Consultoria Euro- monitor Digital, o mercado de luxo no Brasil deve faturar cerca de R$ 29 bilhões até 2023 e as vendas online serão responsáveis por 30% das previsões até 2025. Nesse cenário se destaca a solução de full commerce que, além de cuidar das operações das marcas, garante, por meio de sua expertise, uma estrutura interna adequada às necessidades de cada um de seus clientes.

Para isso, a startup capacita os times para que eles executem todos os processos de personalização pensados pela empresa para seus consumidores. Uma das clientes da Synapcom é a Swarovski, que não apenas se reinventou durante a pandemia, como conquistou em 2020 um aumento de 30% nas vendas de seu e-commerce em relação ao ano anterior. A parceria entre as duas empresas começou em 2017, quando a joalheria confiou à Synapcom a implementação do projeto de lançamento de seu novo canal online.

Atualmente, a Swarovski utiliza os serviços de personalização da Synapcom para se aproximar de seus clientes finais e conta com um time de profissionais treinados para reproduzir suas embalagens e até o laço característico da marca para que a apresentação final seja idêntica à da loja física. No caso de pedidos para presente, o pacote pode ser selecionado pelo site e não há cobrança extra para esse serviço. Esse cuidado é fundamental para atingir as expectativas altas dos consumidores da marca, mesmo nas compras a distância.

Diante do alto valor dos itens, eles ficam armazenados em uma área separada no centro de distribuição da Synapcom em Itapevi (SP), em salas com acesso restrito atendendo aos requisitos de segurança. Os colaboradores abrem as embalagens em que vieram os produtos, fazem um controle por câmera de segurança de cada item e, em seguida, são embalados em caixas personalizadas com logo e perfume da loja.

“O canal de e-commerce de player de luxo vem se desenvolvendo. Atualmente, todo ano a gente supera as expectativas em relação às vendas e ações comerciais e o objetivo é, cada vez mais, valorizar o lifestyle e a experiência do consumidor. Para isso, tem muito trabalho e cuidado por trás”, comenta Eduardo Fregonesi, CEO da Synapcom. Enquanto a Philips oferece aos seus clientes online a possibilidade de gravar o nome do bebê nas mamadeiras da linha Avent, o Palmeiras customiza as camisetas oficiais com os números e nomes solicitados pelos seus torcedores.

OUTROS OLHARES

UM TERÇO DOS ASSASSINATOS DE MULHERES É FEMINICÍDIO

Pedidos de socorro pelo 190 por violência doméstica aumentaram em 2020

Um terço das mulheres mortas no país em 2020 morreu apenas por ser mulher. A porcentagem de feminicídios no universo de todos os assassinatos de brasileiras foi de 35%, patamar que se manteve com relação ao ano anterior.

Esse número, porém, pode estar aquém da realidade, já que a classificação da ocorrência na hora do registro depende pessoalmente do delegado ou da delegada que investiga o óbito, ainda que baseada em critérios. Desde que a lei que especifica o crime foi criada, em 2015, as notificações desse tipo de assassinato só crescem apesar do endurecimento das punições, segundo o 15° anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado dia 15/07, com dados dos estados.

O Código Penal determina que a morte é feminicídio quando envolve violência doméstica, familiar e “menosprezo ou discriminação à condição de mulher. É um agravante do homicídio comum, com pena prevista de 12 a 30 anos atualmente.

Serviu ao caso de Vitórya Melissa Mota, 22, por exemplo. A estudante de enfermagem estava na praça de alimentação de um shopping em Niterói (RJ), quando foi esfaqueada por um colega de

turma, em junho. Ele foi preso em flagrante e denunciado.

No último ano, foram pelo menos 1.350 mulheres assassinadas dessa forma, número semelhante ao que havia sido coletado junto às secretarias de Segurança Pública no mês passado (1.338}. Isso significa uma vítima a cada seis horas e meia.

O cenário, mais uma vez, pode ser ainda pior, já que não há padronização na coleta e divulgação dos dados por alguns estados. o Ceará, por exemplo, não discrimina o feminicídio nas estatísticas e registrou apenas 27ocorrências, quase metade do contabilizado por acadêmicos independentes da Rede de Observatórios da segurança.

No início de 2020, o então ministro da justiça, Sérgio Moro, chegou a sinalizar que implantaria um sistema nacional para consolidar e divulgar esse tipo de informação, mas ele foi demitido e até hoje esse sistema não existe. Por enquanto há apenas um projeto em desenvolvimento.

Segundo o anuário, os estados com maiores taxas do crime estão concentrados nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O índice do Mato Grosso, por exemplo, é o triplo (3,6 mortes por 100 mil mulheres) da média nacional (1,1). Os próximos da lista são Mato Grosso do Sul, Roraima e Acre.

O crescimento dos feminicídios notificados no ano passado, de 2%, foi mais tímido do que nos anos anteriores, possivelmente por causa da pandemia. Quase todos os registros de violência contra a mulher feitos pelas delegadas caíram no período.

Foi o caso dos crimes de assédio (-11%), ameaça (-11%) e violência doméstica (7%). Estupro e estupro de vulnerável, que vinham crescendo desde 2016, também diminuíram (-13%). O único que não teve redução foi a importunação sexual (+12%), que ocorre quando alguém pratica um ato libidinoso como a masturbação na presença do outro sem consentimento.

O que para especialistas não quer dizer que essas agressões diminuíram. Pelo contrário: os pedidos de socorro ao número 190, das policias militares, saltaram 16% de 2019 para 2020, e as medidas protetivas concedidas pelos Tribunais de Justiça cresceram 4%.

O tema ganhou mais um episódio de grande repercussão na última semana, quando a ex-mulher do músico Iverson Araújo, conhecido como DJ lvis, publicou imagem de socos, tapas e empurrões sofridos por ela, certas vezes com a filha do casal presente. Ele foi preso preventivamente na quarta-feira (14).

“Ainda é cedo para avaliar se estamos diante da redução dos níveis de violência doméstica e sexual ou se a queda seria apenas dos registros em um período em que a pandemia começava a se espalhar, as medidas de isolamento foram mais respeitadas e muitos serviços estavam ainda se adequando ao atendimento não presencial”, diz o relatório.

Mas, segundo outra pesquisa recente, não foi esse o fator principal para a subnotificação durante a pandemia. O motivo mais determinante foi a perda de autonomia financeira, concluiu o estudo “Visível e Invisível – A vitimização de mulheres no Brasil”, realizado a pedido do Fórum em maio. Entre as que sofreram violência, só 10% citaram a dificuldade de ir à delegacia como causa para o aumento da vulnerabilidade, enquanto 25% mencionaram a perda de renda e a impossibilidade de trabalhar para garantir o próprio sustento, e 22% destacaram a maior convivência com o agressor.

“Como a mulher coloca o marido para fora de casa se não tem dinheiro para os filhos comerem?”, ressaltou a pesquisadora Samira Bueno, díretora-executiva do Fórum. Como já se sabe, o perfil majoritário de quem perde a vida pela sua condição de gênero é de negras (62%), mortas em casa (54%), por companheiros ou ex-companheiros (82%) e com o uso de armas brancas, como facas, tesouras e pedaços de madeira (55%).

As armas de fogo, porém, também são uma preocupação grande num momento em que o Brasil vê o número de armamentos nas mãos de cidadãos comuns disparar, sob as medidas de flexibilização do governo Jair Bolsonaro.

“Diante […] do crescimento de 100% no total de registro de posses de armas desde 2017- passando de 618 mil para 1,3 milhões em 2020 –, vivemos o sério risco da antecipação de desfechos ainda mais violentos como os feminicídios para as mulheres expostas à violência doméstica”, alerta o relatório.

As soluções para o problema, defendem especialistas, estão principalmente na prevenção. Elas passam pela abordagem do tema nas escolas e pela efetiva punição dos agressores, evitando que os episódios se repitam.

EU ACHO …

ENSAIO SOBRE A INDECÊNCIA

Educação sexual é arma contra o preconceito

O que é indecente? A resposta não é simples. O debate pegou fogo recentemente numa escola dos Estados Unidos, a Columbia Preparatory School, na qual foi oferecido aos jovens um curso de estudos críticos de pornografia. O assunto foi parar na grande imprensa. No New York Post, um pai perguntou: “Por que a escola prioriza a pornografia em vez de física, matemática, literatura e poesia?”. Em resposta, o The New York Times publicou um artigo de Peggy Orenstein, conhecida por escrever livros de educação sexual. Para ela, não há dúvida: a maior parte dos jovens já assistiu ou assiste à pornografia – com mais frequência que os adultos, aliás. Geralmente o conteúdo disponível involuntariamente a menores de idade mostra homens fazendo sexo “com” as mulheres, e não “em parceria” com as companheiras. O prazer feminino é restrito a performances para a satisfação masculina e muitas vezes exclui o consenso.

Um estudo recente mostrou que para jovens americanos de 18 a 24 anos a pornografia é uma das formas mais confiáveis de aprender a transar. Entre o público universitário, há a incômoda percepção de que as mulheres são descartáveis e impera a crença dos chamados “mitos de estupro” – ou seja, que a mulher pediu para ser estuprada por causa da roupa ou da bebida. A ideia de realizar cursos para compreensão da pornografia seria, portanto, uma forma de capacitar os jovens a pensar de forma sensata, se proteger e romper comportamentos abusivos passados de geração em geração. Claro, cada um é livre para exercitar seu desejo no campo da fantasia como bem entender, mas limitar a educação sexual a cânones preconceituosos só tem um resultado: negar ciência, praticar desinformação e tornar, na prática, a vida de abusadores mais fácil. Digo isso com certa experiência prática. Nas duas excelentes escolas onde fiz os ensinos fundamental e médio, Vera Cruz e Santa Cruz, em São Paulo, não havia nenhum tipo de educação LGBTQ. O resultado foi trágico: bullying e sofrimento. Mas as coisas estão mudando. Recentemente, o jovem Pedro Henrique, de 11 anos, foi constrangido pelo corpo docente e pelos colegas da Escola Estadual Aníbal de Freitas, de Campinas, porque quis fazer um trabalho com temática LGBTQ. Em um primeiro momento, esse jovem herói foi cobrado por pais, alunos e até por uma diretora desinformada. Depois, foi aclamado na internet por sua força de liderança.

Não é de hoje que nós, LGBTQs, somos usados como bode expiatório. Somos acusados de indecentes, enquanto criminosos escondem suas ligações com o crime. O deputado Jean Wyllys, por exemplo, virou alvo preferencial de Jair Bolsonaro e de algumas igrejas evangélicas, que usavam o palanque moralista para esconder delitos. Não é necessário mencionar os crimes do passado cometidos por essa turma conservadora para perceber a que ponto chegamos. Podemos ficar no indecente número de + ou – 550.000 mortos por Covid-19, num contexto em que um presidente luta contra máscaras, sonega a compra de vacinas, defende remédios sem eficácia e parece mais preocupado com golden shower, como demonstrou há alguns Carnavais. Com o pé no chão, fica fácil saber o que é de fato indecente.

*** FERNANDO GROSTEIN ANDRADE

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RETORNO À NATUREZA

A tendência deflagrada no último ano de decorar a casa abundantemente com plantas não só estimula esse tipo de comércio como faz bem ao organismo

Entre as alterações do cotidiano no último ano, em decorrência da pandemia, há uma que tem chamado pouco a atenção, mas preocupa: o distanciamento da natureza, dentro de casa. Com a impossibilidade dos passeios ao ar livre e os longos períodos dentro de casa, houve redução drástica do contato com o verde e da sensação do sol na pele. Numa tentativa de mitigar esse fenômeno, no entanto, uma nova tendência vem ganhando força na decoração: nunca se viu uma procura tão grande por elementos da natureza para ornamentar os lares.

Os números são contundentes. Ao longo dos últimos doze meses, a venda de plantas e itens de jardinagem, como vasos, ferramentas e terra, teve um crescimento de robustos 21%.

Apenas no setor de flores, foram movimentados nada menos que 9,5 bilhões de reais, um aumento de 10,7% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Floricultura. “Essa transformação deixa o ambiente doméstico extremamente agradável e humanizado, além de fazer bem para a saúde”, diz a arquiteta Solange Pinto, do Rio.

É verdade. O contato com a natureza, revelam estudos respeitados, traz uma série de benefícios para o corpo, diminuindo o risco de desenvolvimento de doenças psiquiátricas, aliviando o stress e prevenindo problemas cardíacos. Um trabalho publicado na revista científica Nature mostrou que cerca de 10% dos casos de depressão e depressão alta poderiam ser prevenidos com ao menos duas horas por semana de lida com a natureza. E não é preciso ter uma casa no campo. Isso vale também para quem cuida de hortas urbanas ou zela pelo vaso de flor, regado com frequência.

Uma das hipóteses para explicar essa relação é o bem-estar deflagrado pelo visual e pelo cheiro das plantas. Há resultado também com uma simples troca da disposição dos móveis nas salas e quartos. Trata-se, em outras palavras, de facilitar a entrada abundante da claridade pelas janelas. A luz solar, além de estimular a produção de vitaminas, pode aumentar os níveis de endorfina pelo cérebro, substância antidepressiva natural, nitidamente associada ao prazer.

Evidentemente, a percepção sobrea importância de investir no verde dentro de casa não é de agora. Na verdade, ela foi apenas acelerada pela eclosão do vírus e pela mudança de comportamento por ele imposta. Já em 2016, o escritor americano Richard Louv, autor do best-seller A Última Criança na Natureza, traduzido para mais de quinze idiomas, cunhou o termo “transtorno do déficit de natureza”, chamando a atenção para o tema, até então desdenhado.

Destacando casos, em um minucioso levantamento, Louv mostrou que os seres humanos têm atração inata pela natureza e, por isso, é fundamental não serem privados dela, de modo a fortalecer a saúde mental e física. Nunca, em tempos de pandemia e consequente reclusão para tantas pessoas, tal tese fez tanto sentido.

POESIA CANTADA

A NOVIDADE

GILBERTO GIL

Nascido aos 26 de junho de 1942, em Salvador, Bahia, GILBERTO Passos GIL Moreira, um dos maiores nomes da música popular brasileira, é um verdadeiro sincretismo musical. Transitando entre o baião, o funk, o rock, o afoxé, o samba, o reggae, o pop e a bossa nova, suas composições, de grande riqueza rítmica e melódica, mesclam a modernidade da vida urbana, como a tecnologia, aos elementos da cultura popular brasileira, como o carnaval, a religiosidade e a cultura africana, sem deixar de cantar o amor e a amizade. Nascido em Salvador, na Bahia, passou seus primeiros oito anos de vida em Ituaçu, em meio à banda local, aos sanfoneiros, aos cantores e violeiro à música de Bach e Beethoven e de grandes ídolos do rádio, em especial Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Em Salvador, formou-se em Administração de Empresas e conheceu, em 1963, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Tom Zé, com quem se apresentou em público pela primeira vez com o show “Nós, por Exemplo”, no Teatro Vila Velha (1964). Formado, conseguiu um estágio na Gessy Lever e mudou-se para São Paulo. Em 1966, concorreu como compositor no I Festival Internacional da Canção, da TV Rio, com “Minha Senhora”, na voz de Gal, e no II Festival de MPB, da Record, com “Ensaio Geral” (classificada em 5ª lugar), cantada por Elis Regina. Em 1966, Elis Regina gravou “Louvação”. Com o sucesso da música, foi convidado a gravar seu primeiro LP, “Louvação”, e abandonou a carreira de administrador. Influenciado pelos fenômenos da contracultura, pelo psicodelismo dos Beatles, pela montagem de “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e pelos filmes de Glauber Rocha, iniciou o movimento tropicália, cujo deboche e irreverência revolucionaram a música popular brasileira. Durante o III Festival de MPB da TV Record, em 1967, com “Domingo no Parque” (cantada com os Mutantes), causou polêmica e obteve o 2ª lugar. Ao lado de Caetano Veloso, Gal, Rogério Duprat, Torquato Neto e os Mutantes lançou o disco “Tropicália ou Panis et Circensis” (1968). Com o Ato institucional número 5, foi preso e obrigado a exilar-se. Depois de passar dois meses na prisão, gravou “Aquele Abraço” e partiu para Londres (1969), onde lançou o disco “O Sonho Acabou”. Regressou ao Brasil em 1972, quando surgiu “Expresso 2222”, “Refazenda” (1975), “Os Doces Bárbaros” (1976), “Refavela” (1977), “Refestança” (1977), “Realce” (1979), revisitou a tropicáilia com Caetano Veloso, em “Tropicália II” (1993), gravou “Unplugged” (1994) e “Quanta” (1997). Gilberto Gil foi premiado com o Grammy na categoria de World Music em 1999, com o disco “Quanta Gente Veio Ver”

A NOVIDADE

COMPOSIÇÃO: BI RIBEIRO / GILBERTO GIL / HERBERT VIANNA / JOÃO BARONE

Uh! Heiê! Oh!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah! Heiê! Heiê!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!…

A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto
D’uma deusa Maia
Metade um grande
Rabo de baleia…

A novidade era o máximo
Do paradoxo
Estendido na areia
Alguns a desejar
Seus beijos de deusa
Outros a desejar
Seu rabo prá ceia..

Oh! Mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Oh! De um lado esse carnaval
De outro a fome total
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!…

Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!

E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia
Ali na areia…

A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta
E o esfomeado
Estraçalhando
Uma sereia bonita
Despedaçando o sonho
Prá cada lado….

Oh! Mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Oh! De um lado esse carnaval
De outro a fome total
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!…

Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah!
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Ah! Aaaah! Ah! Aaaah!
Ah! Aaaah! Ah! Aaaah!
Ah! Aaaah! Ah! Aaaah!

OUTROS OLHARES

O PODER INVISÍVEL

Não é mais ficção científica: a inteligência artificial está entre nós, por meio dos algoritmos que decidem e pensam no lugar dos humanos, trazendo vários avanços – e riscos imensos

Diariamente, Carlos acorda às 7 horas ao som de Stevie Wonder. “Bom dia, Carlos”, diz Alexa, sua assistente digital, responsável por despertá-lo para, em seguida, lhe falar sobre a previsão do tempo e listar notícias selecionadas para seu “dono”. No café da manhã, ele lê mensagens recebidas no celular, antes de espiar o Twitter, o Facebook e o Instagram, redes sociais que mostram desde análises políticas com as quais ele concorda até memes que o fazem rir. Carlos sai para trabalhar e liga o aplicativo de GPS Waze, que o ajuda a se desviar do trânsito. Ao longo do trajeto, escuta músicas escolhidas pelo Spotify. No fim da tarde, abre oTinder, puxa papo com pretendentes que surgem como opção na tela, e encontra sugestões de restaurantes no Google Maps para um encontro no fim de semana. De volta ao lar, o rapaz abre uma garrafa de vinho e clica na opção aleatória da Netflix, que lhe exibe um filme-surpresa.

Carlos é um personagem fictício, mas sua rotina regrada pelas facilidades da tecnologia é a realidade de boa parte das pessoas pelo mundo. Provavelmente, em algum grau pelo menos, uma delas é você. No geral, os benefícios trazidos por esses aparatos são mais que bem-vindos. Eles facilitam e agilizam o dia a dia das pessoas ao realizar uma tarefa aparentemente simples, a de tomar decisões. Para tanto, os dispositivos precisam de outra habilidade bem mais complexa: a de prever o que você quer ou precisa. Desempenhar tal missão cabe à ferramenta tecnológica que caiu na boca do povo nos últimos anos – o algoritmo. Fruto mais palpável da tão anunciada inteligência artificial, o algoritmo é alimentado por uma quantidade colossal de informações adquiridas na interação diária com seus usuários. O objetivo é levar a máquina a “pensar” como o ser humano. A ação parece inofensiva, mas vem revelando riscos preocupantes que levantam a questão: e se em vez de pensar como você, o algoritmo faz é você pensar como ele?

O domínio das máquinas sobre a vida dos seres humanos não é mais uma ficção futurista – e nem se deve esperar que ele venha na forma de robôs e androides ameaçadores. De forma mais sorrateira e insidiosa que aquela imaginada pela literatura e pelo cinema, a inteligência artificial já está entre nós, quebrando inúmeros galhos e trazendo melhorias à vida, da medicina à segurança – mas também nos manipulando, controlando e até colocando as democracias em risco. Os avanços provocam um sentimento misto de maravilhamento e temor, algo quantificado agora no país por uma pesquisa da empresa de dados Locomotiva. Ela revela que nove em cada dez brasileiros se dizem satisfeitos com as praticidades proporcionadas pelos algoritmos. Uma larga maioria acredita que esses sistemas – na verdade, complexas equações matemáticas capazes de interpretar o comportamento humano – encontram opções melhores do que as que eles escolheriam para tudo. Ao mesmo tempo, 63% afirmam que já se sentiram manipulados por esses códigos imperscrutáveis.”O brasileiro prefere não ver que é influenciado pelos algoritmos”, analisa Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

O avanço da inteligência artificial e os dilemas éticos que a tecnologia provoca têm sido objetos de debates e estudos. Esse fenômeno ganhou até um neologismo, “algocracia”, ou seja, o governo dos algoritmos, expressão que traduz bem o estado de coisas no mundo atual. O termo foi cunhado por um dos principais especialistas no tema, o irlandês John Danaher, professor de filosofia na ciência da computação. “As pessoas entregaram o controle de sua vida às máquinas”, disse o especialista, que há mais de dez anos vem pesquisando sobre tecnologias persuasivas. A soberania é inquestionável: ele constata que os algoritmos conduzem ao menos 50% do dia de um indivíduo hoje. Não à toa, o valor de mercado global do setor de inteligência artificial já bate em 327,5 bilhões de dólares. Um estudo recente da Microsoft diz que a economia brasileira pode se beneficiar de um aumento de 7% do PIB até 2030 com a ampla adoção dessas tecnologias.

Datado do século X, o termo matemático “algoritmo” foi aplicado pela primeira vez a uma máquina em 1843, pela cientista inglesa Ada Lovelace.

Em seu cerne está uma antiga sanha do homem: a de transferir a inteligência humana para mecanismos não humanos. Do mito grego de Prometeu, titã que cria bonecos de argila e lhes transmite conhecimento até seu desdobramento no clássico gótico Frankestein, ou o Prometeu Moderno (1818), da inglesa Mary Shelley, no qual um ser artificial se percebe dotado de intelectualidade, o assombro de serem os únicos indivíduos pensantes na Terra levou os humanos a promoverem inovações que, como alerta a ficção, muitas vezes extrapolam os limites e revelam-se temerárias. O cientista inglês Alan Turing já questionava, em 1950: “As máquinas podem pensar?”. Mais tarde, ele substituiu a palavra pensar por “imitar”. Nascia então o teste batizado de “jogo da imitação”. Nele, um computador reproduziria tão bem o que é um ser humano que poderia se passar por uma pessoa.

A grosso modo, é assim que a inteligência artificial funciona até hoje. Amparados pelo método Machine Learning (aprendizado de máquina, em português), programadores criam códigos que se retroalimentam, cruzando informações de usuários e a realidade social em torno deles. Assim, o algoritmo não só aprende qual o gênero musical favorito de alguém, como nota quais são seus medos e opiniões, criando bolhas nas redes sociais e acentuando, inclusive, a polarização política, terreno fértil para a propagação das fake news. Os benefícios e os perigos advindos da inteligência artificial são grandezas inversamente proporcionais. De aplicativos que instigam o autocuidado a redes elétricas inteligentes que podem reduzir o aquecimento global e programas de diagnósticos na área da saúde, a tecnologia pode ser, ao mesmo tempo, a salvadora e a maior ameaça à civilização.

Exemplo desse perigo ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos, com o intuito de impedir a formalização da vitória de Joe Biden. Os nervos à flor da pele do grupo foram alimentados pela ampla circulação, no Facebook e no Twitter, de ideias antidemocráticas e informações falsas de que as eleições haviam sido fraudadas, bombadas nas redes graças a algoritmos que buscam o maior engajamento possível para trazer lucro às empresas. O ato exigiu uma resposta contundente: Donald Trump foi banido de ambas. Por trás da decisão do Facebook estava o Comitê de Supervisão criado pela companhia em 2019, do qual fazem parte pesquisadores e pensadores de diversos países. O comitê independente, que fiscaliza as ações éticas da empresa de Mark Zuckerberg e ainda decide os parâmetros que definem o que é ou não um discurso de ódio, surgiu na esteira do escândalo da Cambridge Analytica, no qual dados vazados de milhões de usuários foram vendidos para campanhas políticas. Mais que bloquear pela primeira vez na história um presidente americano, o Facebook e o Twitter anunciaram mudanças nos seus algoritmos, prometendo reduzir o alcance de publicações extremistas e equiparar a visibilidade de conteúdo produzido por subgrupos raciais. Ainda que isso represente um avanço, as medidas recebem críticas por serem tímidas e suscitam um debate sobre se o poder de limitar conteúdos, sem uma discussão transparente com toda a sociedade, não aumenta ainda mais o poder nas mãos das chamadas big techs.

Além do claro objetivo de lucrar o máximo possível no ambiente das redes, convém lembrar que os algoritmos gestados no ventre desses gigantes de tecnologia são criados por mãos humanas, algo que vem suscitando uma série de outros dilemas. Exemplo: as máquinas, quem diria, tendem a ser racistas. A razão para esse “desvio de caráter” é que a inteligência artificial não é, de fato, tão inteligente assim: ela só reproduz o que os humanos lhe ensinam. “Há o mito de que a inteligência é algo natural, independente de questões sociais, culturais, históricas e políticas. Logo, a inteligência artificial não é, e está longe de ser, de fato, inteligente”, escreve a pesquisadora de ética da Microsoft Kate Crawtord no excelente livro recém-lançado Atlas of AI (ainda sem tradução no Brasil).

Em maio, o Instagram foi acusado de censurar postagens pró-Palestina em meio ao conflito com Israel – um erro de programação que foi corrigido. A rede já havia sido acusada de privilegiar publicações feitas por brancos em detrimento dos negros – o que levou à criação de uma Equipe de Equidade para promover ações de diversidade. Recentemente, veio à luz uma surpreendente análise sobre os serviços de streaming musicais. Ao coletar as indicações feitas para 330.000 usuários, notou-se que só 25% dos artistas recomendados pelo Spotify eram mulheres. O Spotify afirma que tem buscado soluções para dar a elas e alega, baseado em uma pesquisa que patrocinou, que a indústria musical tem baixa presença feminina (um argumento questionável, para dizer o mínimo).

Para a cientista holandesa Christine Bauer, responsável pela pesquisa, um eventual desfalque mercadológico não anula a procura por soluções. “Os algoritmos replicam erros do nosso mundo. Cabe a nós mudarmos isso”, diz.

A busca por transparência e a chance de questionar a ação dos algoritmos são uma antiga bandeira de ativistas da área, que pedem por regulamentações e limites éticos para as empresas de tecnologia. O que era uma queda de braço entre Davi e Golias ganhou reforço de peso em abril deste ano, quando a União Europeia apresentou uma proposta de legislação para definir o uso da inteligência artificial em seus países. O documento divide a tecnologia em três classes: baixo risco, alto risco e inaceitável. As de baixo risco usam algoritmos básicos, como em redes sociais e streaming, e deverão manter às claras seu método de funcionamento. As de risco alto poderão ser     estabelecidas por máquinas, como lista de implementadas se comprovarem sua segurança e transparência como sistemas automatizados que selecionam candidatos para vagas de emprego. As de inaceitável serão proibidas em todo o território, caso de pontuações sociais estabelecidas por máquinas, como lista de criminosos em potencial. No Brasil, aliás, programas alimentados por denúncias estatísticas de crimes já apontam locais para patrulhas estratégicas da polícia. O reconhecimento facial também vem sendo testado por aqui para encontrar foragidos em espaços públicos. São usos benignos, é evidente. Mas vale lembrar que é fácil canalizá-los para ações nocivas: a China recorre a sistemas de segurança com reconhecimento facial, guiados por algoritmos, para perseguir dissidentes.

À medida que esse mercado cresce, também aumenta a preocupação do ser humano em ser substituído pelas máquinas. Relatório do Fórum Econômico Mundial mostra que 85 milhões de empregos serão cedidos para a inteligência artificial até 2025. Ao mesmo tempo, porém, estima-se que 97 milhões de vagas serão criadas com seu avanço. Nesse cenário otimista, funções ligadas à tecnologia despontam como promissoras: a busca por especialistas em dados cresceu 42% entre 2019 e início de 2020. Ocupações que exigem sensibilidade humana, como terapeutas e cuidadores, parecem a salvo, mas atividades como telemarketing, serviços gerais e domésticos estão com a corda no pescoço. As funções rotineiras serão das mais impactadas – o que preocupa, já que constituem uma parcela grande do mercado de trabalho”, alerta o professor Glauco Arbix, do Centro de Inteligência Artificial da USP.

Até Rembrandt se viu perto da fila do desemprego. O mestre holandês (1606-1669) foi analisado minuciosamente por um algoritmo de aprendizagem profunda, com o intuito de completar uma parte perdida de sua obra­ prima A Ronda Noturna. O quadro, recortado para caber numa parede em 1710, foi reconstituído pelo programa que, em um dia, decifrou o estilo do pintor. “É como se o computador fosse para a escola de artes”, explica Robert Erdmann, responsável pelo projeto. O resultado é crível, mas não perfeito. “Não somos capazes de duplicar o talento de Rembrandt.” Agenialidade, ao menos, ainda não chegou às máquinas – mas é bom não confiar nisso em meio ao advento de um admirável e perturbador mundo novo.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 23 DE JULHO

ENTENDIMENTO, FONTE DE VIDA

O entendimento, para aqueles que o possuem é fonte de vida; mas, para o insensato, a sua estultícia lhe é castigo (Provérbios 16.22).

O rei Davi, depois de ter sido confrontado pelo profeta Natã, reconheceu a loucura que havia cometido ao adulterar com Bate-Seba e mandar matar seu marido. Durante muito tempo ele tentou esconder seu pecado e abafar a voz da consciência. Depois que se arrependeu e voltou à sensatez, Davi disse que não devemos ser como o cavalo ou a mula sem entendimento. Gente de cabeça dura precisa apanhar para aprender. Indivíduos de dura cerviz, que muitas vezes repreendidos não se dobram, serão quebrados repentinamente sem oportunidade de cura. A estultícia do insensato é como chicote para as suas costas. O entendimento, porém, é fonte de vida. Uma pessoa que olha para a vida com os olhos de Deus tira o pé do laço do passarinheiro, foge de terrenos escorregadios e aparta-se do mal. O entendimento abre os olhos da nossa alma para não entrarmos no corredor escuro da morte. O entendimento tira o tampão dos nossos ouvidos para darmos guarida aos conselhos que emanam da Palavra de Deus. O entendimento inclina nosso coração para a verdade e coloca nossos pés nas veredas da justiça.

GESTÃO E CARREIRA

MILLENNIALS E GERAÇÃO Z: AS DIFERENÇAS NO MODO DE TRABALHO

O contexto em que cada pessoa cresce ajuda a definir os valores, crenças e comportamentos. Mas isso não significa que ao crescer em uma realidade similar todos sejam iguais – cada um vive, sente e reage de uma maneira de acordo com as experiências pelas quais passa -, porém, um perfil geral pode ser traçado. Esse é o caso das gerações denominadas como Z e Millennials. Todos que nasceram entre 1980 e 1994 pertencem a Geração Y, mais conhecida como Millennials, enquanto a Geração Z é composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2010.

Muito diferentes um do outro, cada um tem suas peculiaridades e maneiras de pensar – fazendo com que surjam conflitos em alguns momentos e, em outros, interações. Os Millennials cresceram em uma realidade já ditada pela tecnologia, então sabem se virar muito bem. São resilientes, voltados para resultados e possuem espírito empreendedor. “Essa geração mostrou a importância de conciliar trabalho com o lazer e tempo para a família e amigos, ajudando a flexibilizar a jornada de trabalho”, comenta o consultor em gestão e planejamento estratégico Uranio Bonoldi.

Já a Geração Z nasceu em uma realidade ainda mais tecnológica e imediatista, na qual cada vez mais foram levantadas pautas sociais, étnicas e sobre sustentabilidade. “Como resultado são, de maneira geral, poucos pacientes, não têm medo de mudança, são ótimos e rápidos em aderir a novas tecnologias e vivem nas redes sociais”.

As características não são absolutas, mas todos os estudos entendem que de fato existem peculiaridades que conectam os indivíduos da mesma geração, confirmando alguns padrões de comportamento. Tudo isso se mantém no ambiente de trabalho – muitas das qualidades das gerações acontecem no âmbito pessoal e profissional.

Qualquer organização eventualmente vai se deparar com diferentes gerações ao longo de sua história, seja internamente com os colaboradores ou externamente com clientes, fornecedores etc. Uranio afirma que “não adianta fugir dessas interações, o importante é aprender com as diferenças e com isso criar uma cultura que potencialize todas as qualidades das gerações”.

Conviver com pessoas de diferentes gerações é uma oportunidade de se adaptar às mudanças e adquirir novos conhecimentos. “A troca entre a Geração Z e Y é importante para ambos, o primeiro ajuda a pensar fora da caixa e se adaptar, enquanto os Millennials ensinam a ter resiliência e se empoderar – um complementa o outro”, ressalta.

O desafio é integrar pessoas de eras distintas no cotidiano do trabalho sem gerar conflitos. “Agradar e atrair talentos das duas gerações sem perder a identidade da organização não é uma tarefa fácil. Os gestores precisam entender e conciliar as necessidades para promover um ambiente confortável, próspero e produtivo”, finaliza Uranio, ex-CEO da Fundação Butantan que além de escritor, é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre Poder e Tomada de Decisão.

(www.influenciaepoder.com.br)  

EU ACHO …

A GOTA DE CHUMBO

O toque plúmbeo que a mais deslavada alegria não consegue sublimar talvez seja consciência

Lloré, lloré, lloré. Y cómo pudo ser tan hermoso y tan triste? Agua y frío rubí, transparencia diabólica graba ban em mi carne un tatuaje de luz. (Pere Gimferrer,’Oda a Venecia Ante el Mar de los Teatros’)

O poeta catalão Pere Gimferrercontempla a cidade do Adriático no poema Ode a Veneza Diante do Mar de Teatros. O turista fotografa e o casal romântico se beija. O poeta, claro, não conversa com o Instagram, ele lança sua pena ao horizonte mais denso. Para o autor, o mar tem sua mecânica como o amor, seus símbolos. Ao continuar sua viagem em versos, ele destaca que uma gota de chumbo ferve no seu coração (uma gota de plomo hierve em mi corazón). O poema é forte e denso. Talvez seja a inteligência ou a idade (ainda que Gimferrer fosse novo ao escrever isso). A consciência nos torna covardes, pensava o príncipe Hamlet. Eu acho que ela nos torna prudentes no entusiasmo. Adesão absoluta à euforia de réveillon parece necessitar de muito colágeno. Para os outros, sempre um “pesinho”, uma “gota de chumbo”, a desconfiança de que a novidade é uma bruma que torna indistinto o solo e confere beleza de Monet à paisagem.

Não fiz uma análise dos densos versos citados. Na verdade, pincei uma frase solta e dei a ela um rumo meu. Confesso, de forma consciente, que procedi a algo que quase todos fazemos ao ler outras pessoas: um recorte Tenho refletido muito sobre a “gota de chumbo”. Usando um adjetivo amigo derivado do metal: o toque plúmbeo que a mais deslavada alegria não consegue sublimar. Não é melancolia ou confissão de tristeza estrutural. Talvez seja consciência, mecanismo de defesa, sei lá. Admiro quem se entrega ao momento de forma plena. Fico impressionado com toda pessoa que, ao escutar uma música, ver um quadro namorar ou aproveitar uma comida especial sai da medida do tempo e vive a comunhão como objeto de prazer. Entendam-me: sinto imenso prazer nos pequenos e grandes momentos. Lembro-me de jantares, paisagens, pessoas, beijos, textos, melodias e delícias imensos. Tenho uma vida dominantemente feliz e com momentos paradisíacos de quando em vez. Porém, sem nunca ter sido atacado pelo mal grave da depressão, uma gotinha de chumbo foi sempre presente.

Lendo Clarice Lispector, percebi que ela, com mais talento, tinha uma consciência de si que a impedia da dissolução no aqui e agora que parecia tomar a todos. No caso dela, de forma muito mais forte, parecia que observava a vida e as pessoas de um camarote um pouco distante. Se, eventualmente, ela sofreu com a realidade psíquica de ser Clarice, nós ganhamos a felicidade de ler aquilo que a percepção dela proporcionou. Benefício ambíguo: Beethoven sofreu muito com a surdez; os ouvintes ganharam as mais sublimes páginas de uma mente que passou a ouvir tudo à medida que deixava de ser tocado pelo barulho do mundo. O chumbo dele, alquimicamente, foi transmutado em ouro para nós.

Você sente isso, querida leitora e estimado leitor? Estoura o champanhe na virada do ano novo, alegra-se com a festa (ou… alegrava-se antes da pandemia) e se entrega por completo ao anelo coletivo de bem-estar e de votos esperançosos que o calendário em câmbio proporciona? Ou sorri, canta, bebe e come com um discretíssimo péarrás, consciente de que já viveu muitos outros inícios, bailes de debutantes, esperanças em botão que mal atingem a festa de reis? Para mim a vida sempre se situou entre dois extremos da confiança em si: a exaltação exuberante de song of Myself (Walt Whitman) e The Waste Land (T. S. Eliot). Nunca desci ao vale inteiramente cético e cinzento da consciência de Eliot e jamais flanei com Whitman pelas florestas virgens da América. Jamais incorporei homem oco (outro verso de Eliot) que testemunha o encerrar do mundo com um suspiro melancólico.

Pessoalmente, sempre achei pesadas e desagradáveis as pessoas negativas por escolha, críticas em excesso, profetas e proféticas acres. Da mesma forma, os entusiastas plenos da vida como uma aurora boreal coruscante conseguem me cansar, igualmente.

Como estou embebido em poetas hoje, penso em outro, Miguel Vázquez Montalbán, que condenava o astronauta que contemplava o céu para evitar a visão dos ratos (“inútil”] cosmonauta el que contempla estreltas para no ver las ratas”). Talvez seja essejogo que extrai da fórceps de grandes poetas. Quem vive com ratos tende a um mundo complicado. As pessoas com cabeça permanente nas estrelas podem perder um pouco da humanidade que disputa comida com os roedores.

E assim, quando alguém entra no trabalho ao alvorecer da segunda, gritando um bom-dia de acordar qualquer defunto, sinto um estranhamento similar ao que se surge como um cortejo fúnebre, mono-vivo de um projeto biográfico em frangalhos. Um coração e uma gora de chumbo parecem descrever outra posição. Um coração para sentir a esperança de que tudo pode ser diferente; o metal denso para que nossos pés continuem tocando a terra elembrando que nós, sonhadores e esperançosos, faremos companhia aos ratos um dia. E você, queridíssima leitora e estimadíssimo leitor, quanto de chumbo seu coração carrega?

***LEANDRO KARNAL – é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras. Autor de ‘O Dilema do Porco-Espinho’, entre outros

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SOBRE A GRATIDÃO

Considerada a mais agradável das virtudes e o mais virtuoso dos prazeres pelo filósofo Comte-Sponville, a gratidão pode ser “sabotada” pela falta de atenção que assola o homem contemporâneo

Um dos primeiros exercícios de Psicologia Positiva ao qual me submeti foi sobre gratidão. Ainda estava escrevendo meu doutorado quando me dispus a, ao final de cada dia, reservar alguns minutos para agradecer pelas coisas boas que havia recebido. Não queria fazer um agradecimento mecânico, de forma que, a menos que o sentisse do fundo da minha alma, não poderia agradecer por estar viva, ter duas pernas, dois braços etc. Definitivamente não faria sentido “roubar” no exercício ao qual espontaneamente me propus.

Confesso que não encontrei nenhuma dificuldade na empreitada por uns bons meses (afinal, como vim a saber mais tarde, gratidão é uma de minhas forças pessoais). Até que chegou um “daqueles” dias. Todo mundo já viveu um dia “daqueles”. Sai atrasado de casa, pega um trânsito monstruoso, as coisas não dão certo, chegam as más notícias e, no caso de nós mulheres, tudo isso juntamente com uma TPM à altura. Costumo dizer, numa alusão ao filme O Exorcista, que são dias em que estamos “virando o pescoço”. Como era de se esperar, ao final desse meu dia “daqueles” não consegui encontrar nada para agradecer. E por ter decidido que não trapacearia, fiquei completamente sem alternativas. Fui dormir frustrada e irritada (mais ainda) comigo mesma, pois meu lado racional me dava pistas de que o maior problema estava em mim. Numa espécie de ato de rebeldia decidi, antes de cair, exausta, no sono, que no dia seguinte prestaria uma atenção redobrada às coisas boas a minha volta para ter o que agradecer à noite.

Na manhã seguinte, ao sair para o trabalho, observei meu pergolado florido e imediatamente pensei: “Se esta noite não me lembrar de mais nada para agradecer, agradecerei por este pergolado”. Nesse momento me dei conta de uma característica importante da gratidão: sua ligação com a percepção.

A pessoa que não percebe as coisas boas que a rodeiam, que leva a vida no piloto automático, simplesmente não encontra coisas passíveis de gratidão. Nesse sentido, é possível que não vivencie tal emoção não pela falta de tê-la como traço psicológico, mas por ter uma percepção deficiente do mundo.

Aqueles que têm olhos pra ver, por outro lado, conseguem enxergar até mesmo o bom no ruim, tal como o aprendizado nas situações mais difíceis.

Hoje muito se fala sobre os problemas da falta de atenção. Contudo, nunca li nada sobre os efeitos dessa falta de atenção sobre outras emoções, tais como a gratidão.

Mas, afinal, por que devemos nos preocupar com a gratidão?

Robert Emmons, professor da Universidade da Califórnia e um dos principais pesquisadores do tema, afirma que o cultivo sistemático da gratidão traz vários benefícios mensuráveis ao indivíduo, tanto no âmbito psicológico quanto no físico, sem excluir os benefícios de ordem social.

Além disso, ele afirma que tais estudos contradizem a ideia do “set point da felicidade”, amplamente aceita por vários autores da Psicologia Positiva, visto que muitas pessoas que se engajaram nos exercícios de gratidão relataram essa experiência como verdadeiramente transformadora em suas vidas, aumentando-lhes o nível de felicidade.

Sentir-se grato é também a consciência de que somos alvos de bondade, o que, sem dúvida, pode nos servir de alento nas fases difíceis da vida.

O mais interessante disso tudo é que se trata de uma habilidade treinável. É claro que para aqueles que a possuem como força pessoal, a gratidão é um estado de espírito. Contudo, os que não estão acostumados a sentir gratidão podem se beneficiar dessa emoção fazendo um esforço consciente para desenvolvê-la. Afinal, como diz o próprio Emmons, “a gratidão não é para os emocionalmente letárgicos”.

LILIAN GRAZIANO – é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clinico, consultoria empresarial e cursos na área.

graziano@psicologiaposiitva.combr

POESIA CANTADA

VIRGEM

COMPOSIÇÃO: MARINA LIMA e ANTONIO CÍCERO

MARINA Correia LIMA, nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de setembro de 1955, mas com apenas 5 anos mudou-se para os Estados Unidos da América com a família. Seu pai trabalhava no Banco Interamericano de Desenvolvimento e foi transferido para Washington. Lá, Marina teve suas primeiras aulas de violão. “Fiquei oito anos vendo o Brasil só nas férias. Detestava morar lá, por isso me apeguei muito à música, sentia muita angústia. O violão me aquecia.”

Em terras gringas, teve contato com diferentes culturas. Em casa ouvia música brasileira como Dolores Duran, Maísa, João Gilberto e Nara Leão. Nas ruas, os Beatles eram mania. Uma grande influência foi Tom Jobim, já que nesta época a bossa nova estourava nos Estados Unidos da América.

Aos 12 anos de idade volta para o Brasil, era 1967, época dos época dos famosos festivais de música da Record. Em sua 3ª edição, Gilberto Gil e Os Mutantes cantam “Domingo no Parque” e Caetano Veloso apresenta “Alegria, Alegria”. É o início do Tropicalismo, e de mais influências para Marina.

Mas são apenas alguns anos de Brasil e Marina vai para Washington continuar seus estudos de música. Seu irmão, Antonio Cícero, torna-se poeta, Marina pega alguns de seus trabalhos e musicaliza. Os dois são parceiros em composições até hoje.

Sua tia Léia escuta as músicas de Marina e a convence a vir para o Brasil tentar carreira. Já em 1977 “Meu Doce Amor” é gravada por Gal Costa no LP ‘Caras e Bocas’. Maria Bethânia quis gravar “Alma Caiada” em seu LP ‘Mel’, mas a canção foi censurada por causa do verso “eu não me enquadro na lei”.

Em 1979, Marina lança seu primeiro disco individual, ‘Simples Como Fogo’. “Um disco bem swingado, mas um pouco desigual.” Marina hoje considera que se meteu muito nos arranjos e que, por não ter experiência, ‘Simples Como Fogo’ acabou ficando sem identidade.

Em seu trabalho seguinte, que trazia novas composições com seu irmão Antonio Cícero, Marina resolveu confiar mais no trabalho do produtor. ‘Olhos Felizes’ saiu em 1980 e ficou bem mais padronizado, homogêneo. A música “Nosso Estranho Amor” contou com a participação de Caetano Veloso.

VIRGEM

As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar

As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam

O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor

Os inocentes do Leblon
Esses não sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora

Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos (e armadilhas)
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas

O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor

Os inocentes do Leblon
Não sabem de você
Nem vão querer saber
E o farol da Ilha procura agora

Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos (e armadilhas)
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas

As coisas não precisam de você

OUTROS OLHARES

ANIMAIS NÃO ENTRAM

Em nome da sustentabilidade e da boa saúde (e por exigência dos clientes), restaurantes estrelados estão aderindo ao cardápio com pouca ou nenhuma carne

Nada como uma receita depois da outra. Há duas décadas, o chef francês Alain Passard, do estrelado L’Arpêge, de Paris, anunciou, em um arroubo de ousadia, que não mais serviria pratos que levassem carne. Os clientes reprovaram, ele retomou o uso limitado de aves, peixes e frutos do mar e, tempos depois, reconheceria que o público não estava preparado para virada tão radical. Agora, ao que tudo indica, está. Cresce o número de restaurantes sofisticados, de alta gastronomia, que, seja em nome da sustentabilidade, seja em prol da boa saúde, estão removendo ou reduzindo a quantidade de artigos de procedência animal de seu cardápio. O mais recente foi o três-estrelas Eleven Madison Park, de Nova York, famoso pelo pato com ameixas e daikon (um tipo de rabanete), único item do menu que permanecia intacto desde 2006. Pois quando o Eleven reabrir em 10 de junho, depois de mais de um ano de portas fechadas pela pandemia, será sem ele: o novo cardápio do chef Daniel Humm é inteiramente à base de plantas. A mudança foi celebrada e as reservas estão fechadas para os próximos dois meses, mesmo com o preço seguindo nas alturas: pelo menu degustação de doze pratos, cobram-se 335 dólares (cerca de 1.800 reais), sem bebidas.

Embora não esteja amplamente disseminada no mundo, e no Brasil ainda engatinhe, a mudança de patamar do cardápio vegano, de comida insossa para culinária sofisticada, é cada vez mais evidente, impulsionada por influenciadores como o chef ­ celebridade Jamie Oliver, autor de Veg, livro só de receitas sem carnes, e entusiasta da cozinha plant-based. “O mundo inteiro tem passado por uma transformação de mentalidade. Existe um desejo de comer melhor e de forma mais saudável, tanto pelo bem-estar quanto pelo impacto ambiental”, diz a francesa Claire Vallêe, dona do único restaurante vegano a receber até hoje uma estrela do Guia Michelin, o ONA (de “Origine Non Animale”). Para especialistas, a tendência é irreversível. “Trata-se de uma mudança decorrente da preferência do consumidor, e não de uma regulamentação”, frisa Anthony Leiserowitz, diretor do Programa para Comunicação e Mudança Climática da Universidade Yale.

Em funcionamento desde 2016 em Arês, cidadezinha no sul da França, o ONA é radical: utiliza energia sustentável, faz compostagem, opta por produtos de limpeza não testados em animais e montou sua decoração sem seda nem couro. “A ideia de abrir um restaurante vegano na minha terra de ostras e caçadores foi considerada loucura”, diz Claire. “Hoje 95% da minha clientela nem é vegana”, comemora. Até a Epicurious, conhecida revista digital de culinária da editora Condé Nast, anunciou em maio que não mais publica receitas que levam carne, em uma atitude” pró-planeta”.

Ainda que existam alguns exageros, tal movimento não é apenas um discurso marqueteiro. Cerca de 15% das emissões de gases causadores do efeito estufa vêm da criação de gado. Está comprovado que a produção de bovinos tem seis vezes mais impacto climático que a de suínos, oito vezes mais do que a de aves e 113 vezes mais do que a de ervilhas, ressalta uma análise global feita pela revista Science. Junte-se a isso o impacto das proteínas gordurosas nas coronárias dos millennials adeptos da vida saudável e está formado o caldo da alta culinária vegetariana, que aceita ovos e laticínios, e vegana, sua versão radical.

No Brasil, a boa culinária sem carne é rara, mas está avançando. “Ainda estamos atrás nessa trilha, mas vamos chegar lá”, confia Alberto Landgraf, do duas-estrelas Oteque, no Rio de Janeiro, que só serve um prato de carne, entre os oito que compõem seu menu degustação. Em pesquisa recente, 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos, um aumento de 75% em relação a 2012. Mais numeroso ainda é o contingente dos flexitarianos (“vegetarianos flexíveis”), que preferem as receitas com vegetais sem deixar de, de vez em quando, consumir um filé ou um hambúrguer. De olho nessa realidade, Jefferson Rueda, dono do paulistano A Casa do Porco – carnívoro até a alma, como o nome indica -, lançou um cardápio vegetariano, com ingredientes vindos das hortas orgânicas de seu sitio (ele também cria os porcos que abastecem o restaurante). “Mesmo sendo açougueiro, gosto muito de trabalhar com vegetais”, afirma Rueda. Quando até A Casa do Porto flerta com veganos e vegetarianos, é sinal de que a chapa deles, definitivamente, está quente.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 22 DE JULHO

CORAÇÃO SÁBIO, PALAVRA DOCE

O sábio de coração é chamado prudente, e a doçura no falar aumenta o saber (Provérbios 16.21).

O coração é a fonte, e a língua é o rio que corre a partir dessa fonte. O coração é o laboratório, e a língua, a vitrine que expõe o que se produz nesse laboratório. Há uma conexão profunda e estreita entre o coração e a língua. A língua fala daquilo que o coração está cheio. Uma pessoa sábia de coração é prudente, pois não fala sem refletir. Suas palavras são sempre oportunas e terapêuticas. Ela fala para edificar e abençoar. Sua língua é fonte de conhecimento e terapia para os aflitos. O sábio é conhecido não apenas por aquilo que fala, mas também pelo modo como fala. O sábio não apenas diz a verdade, mas diz a verdade em amor. Há muitas pessoas cuja língua é carregada de veneno. Suas palavras ferem mais do que espada, destroem mais do que fogo. A Bíblia fala sobre Nabal, marido de Abigail. Ele era duro no trato, e ninguém podia falar-lhe. Era um homem incomunicável. Por outro lado, a Palavra de Deus também nos fala sobre Jesus, cujas palavras são espírito e vida. Ouvi-lo é matricular-se na escola superior do Espírito Santo e aprender as mais importantes lições da vida. Precisamos nos assentar aos pés de Jesus para termos coração sábio e palavras doces.

GESTÃO E CARREIRA

POR QUE A MULHER PAGA MAIS CARO QUE O HOMEM PELOS MESMOS PRODUTOS?

Você já ouviu falar da taxa rosa? Esse é o termo usado para explicar o sobrepreço incluído em produtos destinados ao público feminino

Sim, as mulheres pagam mais caro do que os homens por um produto com igual design, função e composição, além dos serviços com o mesmo tempo e trabalho gastos. Não é uma taxa, mas sim um adicional para o público-alvo do produto: as mulheres.

O Departamento de Defesa do Consumidor da cidade de Nova York, em 2015, comparou 800 produtos de cinco indústrias, em 35 categorias de produtos, com rótulos claros para mulheres e homens, e descobriu o custo de ser uma consumidora mulher: 7% a mais para brinquedos e acessórios; 4% a mais para roupas infantis; 8% a mais para roupas para adultos; 13% a mais para produtos de higiene pessoal; e 8% a mais para produtos de saúde para idosas/domiciliares.

Das 35 categorias de produtos analisadas, 30 delas tinham preços mais elevados para consumidoras femininas. E isso ocorre no mundo todo. O mais surpreendente é quando se considera o salário das mulheres em relação ao dos homens e, também, a média de vida das mulheres, que é mais alta que a dos homens. A última estatística de gênero divulgada pelo IBGE, com base no censo de 2010, apurou que as mulheres ganham, em média, 32,4% menos que os homens, sendo que a razão entre rendimento médio delas em relação ao rendimento deles, em percentual, por faixa etária, é de 81,7% (16 a 24 anos); 69,4% (25 a 39 anos); 63,7% (40 a 59 anos); e 63% (acima de 60 anos).

Por sua vez, as tábuas de mortalidade no Brasil indicam que a expectativa de vida está em 76,6 anos (base IGBGE – 2019), sendo que para os homens é de 73,1 anos e as mulheres de 80,1. Em síntese, as mulheres vivem mais, com salários mais baixos, e pagam mais caro que os homens pelos mesmos produtos com “roupagem” feminina.

Para o IDEC, Instituto de Defesa do Consumidor no Brasil, não deveria haver diferenciação de preços. Até mesmo estabelecimentos que cobram preços menores para mulheres para eventos de lazer estão infringindo a regra de direitos iguais, já que a diferenciação de valor fere a igualdade entre os gêneros e desrespeita a dignidade das mulheres, pois as utilizam como ‘iscas’. Então, o que nós, mulheres, podemos fazer para melhorar esta situação?

1) Optar pelo produto mais barato, com a mesma qualidade, sem

se preocupar com a sua cor (rosa ou azul) ou desenho;

2)  Registrar a sua queixa ou insatisfação – o IDEC afirma que, apesar de os fornecedores ou fabricantes terem liberdade de determinar o preço dos produtos, é possível questionar esse tipo de prática de diferenciação de preços por gênero. A recomendação é reunir recibos e notas fiscais para comprovar a distorção e poder formalizar a reclamação nos órgãos de defesa do consumidor;

3)  Antes de comprar produtos, verificar a diferença de preços e qualidade nos destinados às mulheres, comparando-os com o preço do mesmo artigo masculino.

Estes não são apenas fatos interessantes, mas estatísticas de gênero significativas que podem auxiliar nas decisões de consumo das mulheres, ajudando a economizar e focar diretamente nos sonhos e objetivos de vida.

*** MYRIAN LUND – é professora do curso de Finanças do ISAE Escola de Negócios.

EU ACHO …

A ARTE DE FUMAR

Todo esse preâmbulo é para saudar o livro “Risque esta Palavra “, de Ana Martins Marques, excelente do início ao fim, e que traz poemas sobre a difícil despedida do cigarro

Dormíamos cedo naquela época, tão cedo que às vezes já estávamos na cama quando o pai chegava do trabalho. Ele compensava com um show pirotécnico. Entrava no quarto e, com todas as luzes apagadas e seu cigarro aceso, fazia desenhos no ar com a brasa, deixando as duas crianças fascinadas com aqueles riscos de fogo no escuro. Depois acendia a luz, dava um beijo em cada filho e ia jantar com a mãe.

Na época, e lá se vai meio século, fumava-se muito, em qualquer lugar. Eu, com seis ou sete anos, não via a hora de ficar adulta para ter aquele fino rolo de tabaco entre os dedos, feito uma diva de Hollywood. Dei a primeira tragada aos 13 e quis a providência divina que eu detestasse o cheiro, o sabor, a fumaça. Ainda fumei um pouco, numa festa ou outra, achando que isso aceleraria a chegada da maturidade, mas só o que consegui foi passar por vexames que um dia talvez sejam conhecidos em uma biografia não autorizada. Aposentei o cigarro aos 15, no mesmo ano em que meu pai apagou sua última bagana.

Fumar é uma asneira gigante e aplaudo os bons resultados das campanhas antitabagistas, mas nem por isso desprezo os fumantes, inclusive mantenho cinzeiros na sala. Escapei do vício, mas não do deslumbre: anos atrás, numa lojinha de quinquilharias de Londres, encontrei uma canetinha branca do tamanho de um cigarro, mesma espessura, com a marcação ocre do filtro na ponta, imitação perfeita.

Comprei e a “fumo” escondido não sei de quem, deve ser de mim mesma. O projeto de amadurecer, como se vê, não se concretizou.

Todo esse preâmbulo é para saudar o livro “Risque esta palavra”, da poeta Ana Martins Marques, excelente do início ao fim, e que fim: as últimas 20 páginas trazem poemas sobre a difícil despedida do cigarro, inimigo clássico de nossos pulmões e de nossa pele, mas o rei do suporte emocional. Está tudo ali, em seus belos versos: a fumaça que faz subir também nossos pensamentos, a desculpa perfeita para sair dos lugares (quantas vezes desejei fumar só para dizer “vou ali fora e já volto” e aí, nunca mais), a necessidade permanente de ocupar as mãos e a transgressão de amar algo que não serve para nada – a não ser nos matar. Mulheres fatais e homens valentes, sempre os protagonistas de sua publicidade.

Risco fósforos para acender velas e faço fogo na lareira, meu jeito de voltar ao tempo das cavernas sem correr risco de vida. Só tiro os olhos das chamas para ler poesia, enquanto fumo a canetinha (lápis também funciona). Aspiro ar puro e expiro ar puro, mantendo minha caixa torácica a salvo dessa encrenca toda, enquanto recordo os versos de outro grande poeta, Quintana, que dizia que fumar é uma maneira sutil e disfarçada de suspirar – e temos suspirado muito, profundamente.

*** MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br 

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ESTÍMULO À AUTONOMIA

O brincar tem relevância no desenvolvimento neurológico infantil e é agilizador social, pois ajuda na adaptação da criança à sociedade longe dos pais

Ainda que muito se tenha falado sobre a importância do brincar na infância, continuamos a ver em nossa sociedade um perceptível menosprezo por essa atividade. No seu lugar, há uma valorização sem qualquer fundamento científico concretizada por meio da estimulação precoce pelo início da educação formal das crianças.

Nos países em que se encontram os melhores níveis educacionais do mundo não ocorre dessa forma: neles, as crianças pequenas são estimuladas a brincar nos seis primeiros anos de vida. E isso porque, além de muitos achados, se tem comprovação científica de que a brincadeira está na base do desenvolvimento da função cerebral mais importante, a capacidade de controlar o comportamento para atingir um objetivo, ou seja, a Função Executiva, indispensável em todo aprendizado formal.

Desde a mais tenra idade, a criança começa a estabelecer um tipo de jogo de envolvimento físico e estimulação sensorial que permite a ela explorar o mundo à sua volta: leva objetos à boca, os tateia, experimenta novos estímulos auditivos e visuais, por exemplo. Gradualmente, passa a demonstrar intencionalidade nesses movimentos e em relação às pessoas com quem mais convive nas famosas brincadeiras de esconde e acha, do atira e pega. Com isso, vai desenvolvendo sua acuidade sensorial, motora, a inteligência, a linguagem.

Concomitantemente, nessas brincadeiras ocorrem as primeiras experiências emocionais de prazer, de alegria, assim como também de estresse. O desenvolvimento de algumas áreas cerebrais ocorre nessa fase, a partir tanto da estimulação provocada por substâncias neuroquímicas, que são liberadas durante esses momentos alegres de brincadeira, quanto de outras, decorrentes de substâncias liberadas em situações de estresse.

Mais um aspecto importante ligado ao jogo se vê no próximo estágio, quando a criança iniciará as suas primeiras identificações naturais de gênero: meninas preferindo bonecas e meninos gostando mais de aviões e carrinhos, embora se saiba que podem brincar com todos os brinquedos sem qualquer prejuízo.

Outro passo é a escolha preferencial de companheiros do mesmo sexo para brincadeiras, criando os famosos “clubes da Luluzinha e do Bolinha”. É o sentido social do brincar, competir, conhecer o outro, pertencer ao grupo, respeitar regras, controlar a impulsividade/ agressividade e submeter-se a normas criadas por pares e não por adultos. Nesse passo se intensifica o período da regulação dos conflitos internos, e tais brincadeiras permitem vivenciar situações de risco sem correr perigo real, desenvolver bons modelos de identificação.

Há também momentos em que a criança deve ser estimulada a brincar com novos grupos, para aprender a lidar com realidades e pessoas diferentes, além de exigências de outros níveis. Jogar com crianças com temperamento contrário ao seu, suportar situações de estresse, brigar, fazer as pazes, tudo isso, longe dos pais, faz crescer!

Em outro momento deverá convidar amiguinhos para brincar em sua casa, assim como deverá ir à casa deles algumas vezes. Isso ajuda na socialização, no desenvolvimento da compreensão e respeito ao próximo, na aceitação das diferenças sociais.

Porém há momentos em que os adultos devem aprender a respeitar, quando a criança demonstra querer brincar só. Esse seu desejo é importante para firmar sua autonomia, sua autorregulação. Ela quer estar com suas coisas, experimentar a solidão, estar com ela própria: um aprendizado indispensável, que muitas vezes não é compreendido pela família.

Mas há um papel da brincadeira que hoje anda realmente esquecido e até delegado às escolas infantis, embora seja da família que a criança espera receber essa atenção: o papel da interação que o brincar exerce. Toda criança precisa se sentir amada e acolhida por seus pais desde seu nascimento e antes dele também.

A percepção de ser querida, de ter um lugar na família, é fundamental para todo desenvolvimento sadio. E uma forma especial de desenvolver essa interação é justamente por meio das brincadeiras, pois elas aproximam, permitem a troca de afeto, de toques carinhosos, de momentos alegres de aprendizado descontraído. Criam empatia, conhecimento do outro, confiança, dão noção de família, de grupo, de união.

Brincar com o bebê, ler histórias para ele, dar banho, passear ao ar livre, ensinar a andar de triciclo, a nadar, a jogar, etc. são atividades diárias que cabem aos pais e não a empregados e muito menos a creches e escolas. A brincadeira entre pais e filhos leva ao toque, ao abraço. E sabemos que bebês que não gozam de contato suficiente no início da vida sofrem de atraso de desenvolvimento cerebral, o que se vê, por exemplo, de uma forma muito triste, em crianças hospitalizadas ou institucionalizadas. Bebês e crianças pequenas e, na verdade, todas as crianças precisam criar vínculos, receber carinho, e para isso o toque, a brincadeira são fundamentais. Os anos da brincadeira passam rápido e são indispensáveis para a formação de um sistema nervoso adequado ao aprendizado escolar. E nenhuma criança prefere um estranho aos pais…

MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem

irenemaluf@uol.com.br

POESIA CANTADA

TRAVESSIA

 MILTON NASCIMENTO nasceu no Rio de Janeiro, no dia 26 de outubro de 1942. Ainda criança já mostrava interesse pela música. Com dois anos ficou órfão de mãe, passando a morar com a avó em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Com seis anos foi morar em Três Pontas com os pais adotivos, o bancário e professor de Matemática Josino Campos e a professora de Música Lília Campos.

Com 13 anos ganhou seu primeiro violão. Aos 15 anos, Milton criou com Wagner Tiso, seu amigo de infância, o grupo vocal Som Imaginário. Logo depois criaram o W’s Boys, com Milton, Wagner, e seus irmãos Wesley e Wanderley. O grupo se apresentava nos bailes da região.

Em 1963, Milton mudou-se para Belo Horizonte, para fazer o vestibular para Economia, mas a música predominou. Na época, formou com Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant, o Clube da Esquina.

Em 1966 foi para São Paulo, mas estava difícil conseguir que suas músicas fossem gravadas. A sorte começou a mudar em setembro desse mesmo ano, quando conheceu Elis Regina, que gravou “Canção do Sal”, sua primeira música.

Em 1967, Milton Nascimento teve três músicas classificadas no Festival Internacional da Canção da TV Globo, que consagrou o cantor como o melhor intérprete, e a música “TRAVESSIA”, composta em parceria com Fernando Brant, conquistou o segundo lugar no festival.

TRAVESSIA

COMPOSIÇÃO: MILTON NASCIMENTO / FERNANDO BRANT

Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho pra falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

OUTROS OLHARES

CADA VEZ MAIS CEDO NAS REDES

Projeto do Facebook acaba de lançar um Instagram para menores de 13 anos e leva a um debate importante: não é hora de proteger as crianças das redes sociais?

“Como todos os pais sabem, as crianças já estão on-line.” Esse é o argumento de Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, para justificar seus planos recentemente revelados de lançar uma versão infantil do Instagram. A plataforma seria voltada para menores de 13 anos, atualidade mínima para usuários dessa e das principais concorrentes – exigência, ressalte-se, facilmente burlável, bastando que se minta a data de nascimento. A proposta, evidentemente, gerou acalorados debates nos Estados Unidos. Há alguns dias, legisladores democratas enviaram uma carta à empresa exigindo a desistência da empreitada e alegando que o Facebook tem “histórico de falhas em proteger crianças”. Eles se referem ao Messenger Kids, plataforma de mensagens do próprio Facebook destinada a usuários infantis, mas que é frequentada por adultos. Zuckerberg, ao que parece, não quer deixar as crianças em paz – e se mantém firme na intenção de levar adiante a versão kids do Instagram.

A polêmica está posta e deve seguir por algum tempo. Mas o que dizem os especialistas? Crianças absorvem conhecimento como uma esponja e formam sua identidade e repertório com base nos conteúdos que acessam desde pequenas. Assuntos sensíveis, como sexo, drogas ou violência, devem ser apresentados com cuidado, à medida que a capacidade cognitiva vai aumentando. Eis o desafio em meio a tantas telas e facilidades. Recentemente, uma criança de 3 anos ganhou fama ao fazer um pedido de 400 reais por um aplicativo de delivery. Isso é o de menos. A destreza com a tecnologia, somada à ingenuidade, pode acarretar problemas bem mais graves.

Procurado, o Instagram se defendeu. Disse que seus planos priorizam a segurança das crianças, e que especialistas em desenvolvimento e saúde mental infantis, além de defensores de privacidade, auxiliarão na criação da plataforma. A empresa se comprometeu a seguir os moldes do YouTube Kids, cujos perfis são gerenciados pelos pais, com ferramentas de controle como o uso de senhas.

Zuckerberg tem razão quando diz que as crianças já estão on-line: quase 80% dos brasileiros entre 10 e 13 anos têm acesso à internet. O número cresceu durante a pandemia, com famílias trancadas em casa e pais cada vez mais cansados e propensos a recorrer à equivocada percepção de que ao deixar o filho diante de um celular ou tablet vão acalmá-lo. “É o contrário. A criança é hiper estimulada e, sem gastar energia física, fica mais agitada ou irritada”, explica Vanessa Abdo, doutora em psicologia social pela PUC-SP e especializada em comportamento infantil. “O corpo se aquieta, mas o cérebro continua sendo bombardeado de informações”.

Um Instagram para crianças anteciparia a sanha por likes e a chamada síndrome de Fomo (sigla em inglês para “medo de ficar de fora”), termo cunhado em 1996 pelo estrategista de marketing americano Dan Herman sobre a necessidade de acompanhar tendências. “Isso aumenta a ansiedade e a angústia, porque a vida real não é tão interessante, bonita e colorida, e nem tão dramática, sem os filtros do Instagram”, completa Vanessa. Em suma, as redes já causam problemas para os adultos e não é difícil imaginar os efeitos perversos em crianças com personalidade em formação.

No passado recente, garotos e garotas também estavam expostos a conteúdos não recomendáveis, muitas vezes no rádio ou na TV aberta, e apresentados de forma naturalizada e banal. A diferença está em quem comandava o controle remoto. “Os pais tinham maior autonomia e o que era proibido era bem definido”, comenta Renato Rochwerger, mestre em psicologia clínica pela USP. “Hoje está tudo mais borrado. A liberdade tem aspectos positivos, mas impõe novos desafios aos pais.”

Outro ponto importante está relacionado ao cyberbullying. Ser chamado de bobo numa rede social, onde o clique de um print pode eternizar a ofensa, tem peso maior do que ser xingado no pátio do colégio. Trata-se, portanto, de uma discussão complexa e que permite várias abordagens. De todo modo, os especialistas afirmam que é recomendável adiar o ingresso de crianças nas redes socias. Elas, afinal, terão a vida inteira para se conectar. O fundamental é que os pais sejam responsáveis pela educação dos filhos. Isso, sim, merece todos os likes.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 21 DE JULHO

O SEGREDO DA FELICIDADE

O que atenta para o ensino acha o bem, e o que confia no Senhor, esse é feliz (Provérbios 16.20).

Muitas pessoas passam pela vida com os ouvidos obstruídos para o aprendizado. Não investem tempo para aprender. Repetem os mesmos erros dos ignorantes. São cegos guiados por outros cegos. Não lhes resplandece a luz do conhecimento, pois nunca atentaram para o ensino. Quem não semeia no conhecimento não pode colher o bem. É melhor investir em conhecimento do que adquirir ouro. É melhor dar educação aos filhos do que deixar herança para eles. A riqueza sem o ensino pode ser causa de tormento, e não fonte de felicidade. A verdadeira felicidade não está nas coisas materiais, mas na confiança em Deus. Os que buscam o sentido da vida na bebida, na riqueza, nas aventuras sexuais e na fama descobrem que todas essas coisas não passam de uma bolha vazia. O que confia em Deus, porém, é feliz. Nas noites trevosas da vida é a confiança em Deus que nos dá forças para esperar o amanhecer. Nos vales sombrios da caminhada é a confiança em Deus que nos faz marchar resolutos para o topo das montanhas. A confiança em Deus tira nossos olhos de nós mesmos, de nossas fraquezas ou da enormidade dos problemas, para colocá-los naquele que é onipotente e está no controle de todas as circunstâncias.

GESTÃO E CARREIRA

SEM BAGUNÇA

Rotina de home office aumenta procura por organizadores profissionais

“A organização é uma questão de disciplina e hábito”, sintetiza a organizadora profissional – ou personal organizer – Karina Lara. “Diferentemente da arrumação, em que você abre a gaveta e enfia tudo dentro, é preciso ter uma lógica no organizar e levar em conta a rotina da casa.” Com a pandemia e o crescimento do home office, as buscas por soluções de organização dispararam. “O ano passado foi quando eu mais trabalhei, especialmente no segundo semestre. Esse ano continuo no mesmo ritmo”, conta Karina.

Formada em relações públicas, a virginiana apaixonada por organizar suas coisas se deparou durante uma busca na internet com a profissão que hoje exerce. “Em 2016 comecei a me perguntar se eu realmente queria seguir a carreira corporativa que eu tinha feito faculdade, e de repente, essa história de personal organizer caiu na minha frente”, diz ela, que fez o curso profissionalizante em 2017 e criou sua empresa, KaLara Organiza, no ano seguinte. 

A profissão de personal organizer surgiu na década de 1980, nos Estados Unidos, mas foi em 2019, com a série da Netflix Ordem na Casa com Marie Kondo, que tudo começou a ganhar força. No Brasil, o programa Santa Ajuda, apresentado por Micaela Góes no canal GNT, trata do tema desde 2011 – com a pandemia, tudo isso se consolidou ainda mais.

A organização na casa leva em conta a praticidade e o dia a dia da família – em São Paulo, os profissionais cobram, média, de R$ 80 a R$ 250 a hora. Sendo necessário para isso uma reestruturação dos ambientes da casa ou de um cômodo específico, um trabalho completamente diferente do que uma diarista faz, por exemplo. “Quando eu comecei, as maiores demanda eram no closet. De 2018 pra cá, a gente já tem uma infinidade de outros serviços. Além da questão do home organizer, que é você olhar a casa como um todo, tem serviço de baby organizer, o qual oferece assistência para a mãe de planejamento, uma organização muito mais completa, muito mais profunda do que somente organizar o quarto do bebê”, detalha Karina.

A organizadora Mari Salles divide a mesma ideia. “Nosso principal objetivo não é a estética, isso é uma consequência. Queremos deixar a rotina mais fácil e que a casa seja funcional para o cliente. Através disso você tem mais tempo, mais qualidade de vida, mais economia. Organização tem tudo a ver com a saúde mental”, diz.

Fisioterapeuta por formação, Mari largou o mundo corporativo para se dedicar integralmente à filha em 2017. Vivendo o “mundo materno” percebeu a importância da organização e se profissionalizou no assunto. Uma das beneficiadas foi a analista de comércio exterior Andréa Allegrussi Lourenço.

ASSESSORIA ON LINE E PARA ORGANIZAR MUDANÇA

“Por conta da pandemia, e eu ser grupo de risco, não queria receber gente em casa, então acabei fechando um projeto online para criar espaços novos em um apartamento pequeno para receber a neném”, conta ela, que contratou os serviços de Mari em maio de 2020. 

Entre videoaulas e chamadas de vídeos, Andréa conseguiu organizar a casa. “Foi bem tranquilo para fazer e o ganho que eu tive foi imenso. Com dois filhos pequenos, o que a gente mais quer é agilidade. Ganhei qualidade de vida mesmo”, resume. “Só de ter um espaço determinado para cada item, ou seja, tudo que sai, volta para o mesmo lugar, já ajuda demais. Você consegue encontrar as coisas na hora, não precisa ficar caçando.”

Outra categoria que ganhou bastante destaque durante a pandemia são as chamadas pós e pré mudança, que basicamente consistem na separação, embalagem, transporte e organização das caixas de mudanças. “Enquanto antes algumas pessoas podiam ficar meses com as caixas pela casa, hoje a personal em cinco dias consegue desembalar e ainda organizar todos os produtos da casa da pessoa”, conta Mari, que recentemente ajudou a empresária Mariana Desidério neste processo.

“Nós somos cinco pessoas na família. Então são três crianças, quatro quartos, mais a sala, mais o escritório, então era muita coisa pra arrumar na mudança e tínhamos um pouco de urgência”, explica ela, que vai aprender com Mari, junto com a filha, o processo de organização. 

Mariana já conhecia a profissão, mas nunca havia contratado uma organizadora para ajudá-la. Na hora da mudança, não teve dúvidas. “Para o futuro, meu único medo é não manter a disciplina de sempre dobrar as roupas. Ter cada coisa no seu lugar facilita muito a vida. Estou na fé que a gente consegue”, brinca.

Sem tempo, com dois filhos e uma bagunça para administrar, a advogada Carol Huggare também decidiu pedir ajuda quando foi transferida do trabalho da Suíça para o Brasil. “Eu cheguei numa situação em que eu precisava trabalhar, as crianças estavam em casa porque as escolas estavam fechadas e eu tinha que administrar o que iria para o storage (armazenamento em galpão ou depósito), o que iria para casa. Então acho que foi a combinação de duas coisas: a falta total e absoluta de tempo e a falta de talento, da minha parte, para organização”, conta ela. 

Por indicação de uma amiga, Carol ligou para a organizer Karina e agendou uma visita presencial, na qual elas conversaram sobre as necessidades da sua família. “Nossa área é tão ampla que precisamos de fato ter esse olhar e a flexibilidade de atender o cliente não só naquilo que a gente faz. Se envolver e usar a criatividade para trazer a solução”, diz Karina, que aproveita os conhecimentos que adquiriu na faculdade de comunicação para isso.

Na cozinha, a dieta cetogênica do filho de Carol, Lars, não permitiu pães nas prateleiras baixas. Já na área de brinquedos, as etiquetas foram personalizadas para que Alice, de 6 anos, que ainda não lê, também entendesse o processo. “O tempo que eu economizo hoje quando eu tenho que achar algo para o meu filho ou alguma coisa na cozinha, arrumar o quarto das crianças, vale muito a pena. É um produto de extrema necessidade? Para a minha família com certeza sim”, diz Carol.

VENDA DE PRODUTOS ORGANIZACIONAIS TAMBÉM CRESCEU

Além do aumento da busca de profissionais na área, o crescimento da organização também foi perceptível no mercado, com aumento de produtos organizacionais. “Nós tivemos um grande avanço no faturamento de vendas em função desse cuidado durante a pandemia e de lançamentos de produtos, com mudança até mesmo de cores”, explica Maurício Moraes, gerente geral da Ordene. “Alguns anos atrás a gente pensava em caixas transparentes, fechadas, que eram guardadas em armários somente para armazenar alguma coisa. Hoje elas ficam em evidência e, por isso, passamos a ter caixas com cores e modelos atraentes”, diz.

O comportamento se refletiu também em outras áreas da casa para além do dormitório. “A Etna teve um aumento de 30% em produtos de fácil transporte e montagem ligados à organização. Mas, o que realmente se destacou no último ano, foi a linha de home office, com um incremento de 40% das vendas de acessórios de bancada, caixas organizadoras e lixeiras pequenas”, relata a gerente de produtos da Etna Luciana Abella. 

Dentre os itens mais recomendados e utilizados pelas organizadoras estão a colmeia para gavetas – seja para meias, roupas ou itens de escritórios –, potes herméticos (uma vez que eles permitem a visualização geral dos alimentos), aramados para a cozinha e o pack de TNT para guardar roupas de diferentes estações. “Os organizadores são essenciais para a gente conseguir uma boa organização, porém tudo que é em excesso também atrapalha. Apesar de hoje eles serem de fácil acesso, ainda não são produtos baratos, então temos de entender o porquê de ter aquele produto na nossa casa e sempre tentar reaproveitar tudo que temos”, diz a organizer Mari Salles.Ficou com vontade de sair arrumando a casa? Antes de tudo, avalie se você perde muito tempo para encontrar as coisas no seu dia a dia. Caso a resposta seja sim, pode ser que buscar uma profissional seja a resposta. “Muita gente acha que é luxo contratar uma personal organizer, mas na verdade, é um investimento que tem um retorno muito grande. É questão de necessidade, buscando ferramentas para otimizar o seu tempo, que hoje é o recurso mais precioso que a gente tem”, conta Andréa.

DICAS PARA UMA BOA ORGANIZAÇÃO

DESAPEGO

“A gente tem que pensar que nosso espaço é pequeno para o que a gente tem, na verdade a gente que tem muito para o espaço que a gente vive”, pontua Mari. No estilo Marie Kondo, guarde somente o que te traz felicidade.

PRÁTICA

Viva as mudanças por um tempo para ver se funciona para você. “Eu faço o projeto e depois de 15, 20 dias, no máximo 30 dias, eu volto na casa do cliente para fazer os ajustes. Além disso, dou três horas de treinamento para a funcionária ou para o próprio. cliente sobre dobras e organização porque não adianta nada a pessoa não saber”, conta Karina.

PLANEJAMENTO

Anote tudo o que você precisa fazer em cada ambiente da casa, sempre definindo metas reais para serem alcançadas. Olhe minuciosamente para todos os cômodos e comece por aquele que mais incomoda quando o assunto é bagunça.

REAPROVEITAMENTO

Não saia comprando todos os produtos organizadores do mundo. Entenda o motivo daquela compra e como o novo objeto irá te ajudar. É possível pensar também em soluções sustentáveis como fazer dos potes de sorvetes um porta-coisas ou transformar a tampa de uma caixa de sapatos em divisor de gavetas.

TEMPO

Acima de tudo, tenha paciência com você mesmo. Um bagunceiro não vai virar organizado da noite para o dia. Comece estabelecendo horários para lavar a louça do dia ou recolher todos os sapatos jogados da sala. Encontre uma rotina que caiba na sua.

EU ACHO …

DIGA NÃO AO HOMESCHOOLING!

Cavalo de Troia passa despercebidamente ameaçando nosso futuro

Não canso de me chocar com imagens que colocam lado a lado o Irã dos anos 1970 com o mesmo país após a Revolução Islâmica de 1979. Vemos nas fotos atuais a deterioração completa do lugar da mulher na sociedade iraniana, a perda de liberdade de ambos os gêneros, o inferno da perseguição a credos e costumes, o controle da vida privada dos cidadãos. Mas atenção, sua versão jabuticaba não pode ser subestimada.

A marcha à ré acelerada que o povo brasileiro engatou recentemente é um projeto de tirar o fôlego e representa anseios autoritários antigos, como Lilia Schwarcz documenta em sua obra “Sobre o Autoritarismo Brasileiro” (Cia das Letras, 2019). Tem conseguido retrocessos em todas as áreas de forma ampla e irrestrita: velhíssima política, escola sem reflexão, Estado francamente religioso, agenda ambiental digna da Revolução Industrial, pauta de costumes ultraconservadora. Olhe para qualquer lado e você verá algo a ser denunciado e contra o qual lutar para que sejam mantidos direitos básicos, conquistados a duras penas.

No entanto, esse show de horror só tem como se instalar definitivamente se a educação for impedida de cumprir sua função primordial: instruir com crítica, informar, socializar, enfim, educar paro a cidadania e para o bem comum, a partir da ciência, sem ignorar a subjetividade. Se a transmissão geracional se deteriorar ainda mais, seremos sucedidos por uma geração para quem racismo, misoginia e outras formas de opressão serão naturalizadas de forma programática e não haverá contraponto ao discurso hegemônico. Isso equivale a dizer que as crianças criadas no Estado fundamentalista não encontrarão nem nos livros de história – devidamente censurados – a versão do Estado laico e democrático que o precedeu.

Então, se você luta contra a reprodução de relações sociais nas quais exista m sujeitos com mais direito a viver do que outros e contra todo tipo de injustiça social, comece a se ocupar seriamente com o projeto que tramita atualmente no Congresso Nacional em favor da “educação domiciliar.

O cavalo de Troia que vai passando despercebidamente a partir do uso necessário e pontual da escola virtual durante a pandemia, carrega em seu bojo o pior. Animados por lobbies da educação que vendem acessibilidade, democratização do ensino e desempenho, mesmo os progressistas têm tido dificuldade de lutar contra o risco iminente.

Encampado pela ministra Damares Alves – que tem se mantido fora dos holofotes para melhor passar sua boiada -, o ensino domiciliar aponta para um caminho natural e inequívoco na direção do uso de recursos da educação (Fundeb) para financiar grupos religiosos e filantrópicos que assumam a tutoria pedagógica de um grupo considerável de crianças que se verão afastadas da escola presencial. Lembrando que o “bispo” Edir Macedo declarou publicamente que desaconselha sua filha a estudar, pois o estudo da mulher atrapalha o casamento – fica claro o rumo dessa conversa.

No Brasil a escola representa merenda, resistência ao trabalho infantil, vigilância contra a violência doméstica, convívio entre sujeitos de origens e costumes diferentes, igualdade de oportunidades, alternativa aos limites da família.

Entre interesses financeiros inescrupulosos, a retirada dos filhos de evangélicos do campo da escola presencial e a possibilidade de produção de material pedagógico próprio – projeto defendido há anos por Olavo Terra Plana de Carvalho -, alguém tem alguma dúvida do estrago irreversível que estão tramando sob nossos olhos?

Deputada Tábata Amaral, peço que diga não a mais essa terrível ameaça.

*** VERA IACONELLI – é diretora do Instituto Gerar, autora de “O Mal-estar na Maternidade” e “Criar Filhos no Século XXI”. Édoutora em psicologia pela USP

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EDUCAÇÃO PARA ROMPER MITOS SEXUAIS

Muito do que é aprendido em termos de sexualidade se faz informalmente, podendo gerar inúmeros equívocos. Desfazer mitos, além de ser uma responsabilidade social, é dever dos profissionais ligados à área da saúde

Muitos temas que envolvem a sexualidade não são abordados adequadamente e contribuem para a perpetuação do que conhecemos como mitos sexuais, bastante difundidos na população, entre eles:

1) não se pode conversar sobre sexo, porque a espontaneidade é perdida;

2) masturbação é imoral, prejudica a saúde física e mental;

3) quem deve começar o sexo é o homem;

4) mulheres que conseguem atingir o orgasmo somente com a estimulação do clitóris são imaturas;

5) o homem está sempre pronto para ter relações sexuais;

6) tamanho do pênis é fundamental para o prazer sexual da parceira;

7) não se aprende sexo: praticá-lo é cansativo e requer esforço;

8) sexo oral é vergonhoso.

Todas essas informações enganosas, entre outras, podem criar falsas expectativas e interferir no desenvolvimento e no desempenho sexuais.

Ser potente, como mito sexual, é mais do que ser forte: é estar sempre pronto a solidificar uma conquista por meio dos órgãos genitais. Aspectos como troca, bem-estar, respeito, interação não compõem a potência, mas muitos homens convivem diariamente com esses paradigmas.

Todos que lidam com o ser humano devem estar preparados para aproximar os conceitos estudados durante a formação acadêmica da realidade de vida de seus pacientes; mas surgem contradições entre o que é aprendido nas faculdades e o exercício profissional. Por exemplo, os médicos podem ter noções sobre a fisiologia e as doenças do aparelho genitourinário, bem como sobre reprodução humana, contudo eles podem estar despreparados sobre a diversidade dos comportamentos sexuais. Se mal informados durante a graduação, esses profissionais podem perpetuar conceitos falsos, as suas próprias incertezas e inseguranças gerarão ansiedade ao ouvirem queixas relacionadas à sexualidade de seus pacientes. Felizmente esse cenário está mudando, a passos lentos, e algumas escolas médicas contemplam na sua grade curricular o ensino sobre a sexualidade humana e seus transtornos.

Os profissionais da saúde, quando inexperientes no assunto, tendem a inferir seus próprios padrões de conduta, insuficientes para uma avaliação mais precisa do tema. Falar sobre sexo pode ser constrangedor para o paciente (e para o profissional da saúde, quando despreparado), mesmo ambas as partes sabendo que as práticas sexuais podem ser realizadas de diferentes maneiras.

Três conflitos podem emergir ao refletirmos sobre o tema:

1) o que está acontecendo com a sexualidade na cultura;

2) o que acontece nos meios acadêmicos; e

3) nas áreas da saúde.

Em cada caso, as respostas sobre o estudo da sexualidade humana têm sido negligenciadas, talvez pelo desinteresse e/ou pelas dificuldades e implicações profundas desse desafio. Como consequência, sensações como perda do controle e dúvidas se apropriam, portanto é imprescindível que os estudiosos da sexualidade criem métodos de pesquisa a fim de trazer à tona a realidade, para que assim possamos trabalhar com ela.

De um lado, as mudanças dos costumes sociais, relativas à esfera sexual – ainda que as pessoas não tenham superado as barreiras de defesa da própria intimidade -, fazem com que algumas pessoas se sintam inclinadas a buscar informações por meios variados, recorrendo, em muitas ocasiões, a qualquer profissional da equipe de saúde que lhes inspire confiança, para que esse lhe dê esclarecimentos a propósito dos problemas que estão ocorrendo em sua vida sexual.

Por outro lado, nos chamam atenção a medicalização da sexualidade e os riscos a ela concernentes: o da sexualidade das funções, ou seja, dividida em compartimentos corporais; o de uma sexualidade dependente da tecnologia “misteriosa”; o da sexualidade na qual a subjetividade é desconsiderada, em favor de informações cedidas por máquinas; o da sexualidade definida como funções de partes corporais, independentes de qualquer relacionamento com o contexto cultural; o da sexualidade centrada na atividade sexual com penetração, sempre dependente de especialistas.

As escolas médicas, mas não só elas, todos os cursos que preparam profissionais nas ciências da saúde devem estar atentos a uma visão mais holística do ser humano. Além de fornecerem os princípios técnicos e científicos adequados, precisam conjecturar sobre a importância de oferecer subsídios ao estudante referentes à amplitude do comportamento humano. Distorções nessa área acarretam um mau posicionamento do profissional frente ao paciente. Em contraposição, um relacionamento compreensivo, baseado na confiança do saber técnico e humano, aliado às experiências de vida profissional e pessoal do profissional da saúde, cria um ambiente de respeito recíproco, facilitando a condução do exame, permitindo a troca e abarcando o sofrimento.

GIANCARLO SPIZZIRRI – é psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em Sexualidade Humana da USP.

POESIA CANTADA

CANTEIROS

Raimundo FAGNER Cândido Lopes, cearense de Orós, aos 5 anos ganhou um concurso infantil na rádio local. Na adolescência formou grupos musicais vocais e instrumentais e começou a compor suas próprias músicas.

Venceu em 1968 o IV Festival de Música Popular do Ceará com a música “Nada Sou”, parceria sua e de Marcus Francisco. Tornou-se popular no estado e juntou-se a outros compositores cearenses como Belchior, Rodger Rogério, Ednardo e Ricardo Bezerra.

Mudou-se para Brasília em 1971, classificando-se em primeiro lugar no Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília com “Mucuripe” (com Belchior). Ainda em 71 foi para o Rio de Janeiro, onde Elis Regina gravou “Mucuripe”, que se tornou o primeiro sucesso de Fagner como compositor e também como cantor, pois gravou a mesma música em um compacto da série Disco de Bolso, que tinha, do outro lado, Caetano Veloso interpretando “Asa Branca”.

O primeiro LP, “Manera, Fru-fru, Manera”, veio em 1973 pela Philips, incluindo “Canteiros”, um de seus maiores sucessos, música sobre poesia de Cecília Meireles. Mais tarde fez a trilha sonora do filme “Joana, a Francesa”, que o levou à França, onde teve aulas de violão flamenco e canto.

De volta ao Brasil, lança outros LPs na segunda metade dos anos 70, combinando um repertório romântico a partir de “Raimundo Fagner”, de 1976, com a linha nordestina de seu trabalho. Ao mesmo tempo grava músicas de sambistas, como “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola.

Outros trabalhos, como “Orós”, disco que teve arranjos e direção musical de Hermeto Pascoal, demonstram uma atitude mais vanguardista e menos preocupada com o sucesso comercial.

Nas décadas de 80 e 90 seus discos se dividem entre o romântico e o nordestino, incluindo canções em trilhas de novelas e tornando Fagner um cantor conhecido em todo o país, intérprete e compositor de enormes sucessos, como “Ave Noturna” (com Cacá Diegues), “Astro Vagabundo” (com Fausto Lindo), “Última Mentira” (com Capinam), “Asa Partida” (com Abel Silva), “Corda de Aço” (com Clodô), “Cavalo Ferro” (com Ricardo Bezerra), “Fracassos”, “Revelação” (Clodô/ Clésio) “Pensamento”, “Guerreiro Menino” (Gonzaguinha), “Deslizes” (Sullivan/ Massadas) e “Borbulhas de Amor”.

CANTEIROS

Composição: CECILIA MEIRELLES / FAGNER

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã
Cedo, claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem
Me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração

OUTROS OLHARES

NEM ELE NEM ELA

Os não binários. pessoas que rejeitam tanto o gênero feminino quanto o masculino, ganham espaço e voz na sociedade

Nos versos iniciais da música I Would Die 4 U, de 1984, o cantor Prince, artista de visual andrógino que morreu de overdose em 2016, diz: “Não sou mulher, não sou homem, sou algo que você nunca vai entender”. Passados quase quarenta anos, a (difícil) compreensão das palavras de Prince está sendo assimilada pela sociedade agora com a crescente exposição do fenômeno dos não binários – gente que não se identifica nem com o gênero feminino nem com o masculino e, cada vez mais, faz questão de que essa diferenciação seja levada a sério. A cantora e compositora americana Demi Lovato e a atriz Bárbara Paz são duas celebridades que recentemente proclamaram sua não binaridade, chamando a atenção para o tema e motivando outros a sair do armário. Personagens que se encaixam nesse conceito aparecem em produções na televisão, no cinema e no streaming – até dois jedis gêmeos são não binários num quadrinho da franquia Star Wars.

Por força dessa movimentação, típica da fluidez e do temperamento inclusivo das novas gerações, já se permite o uso em documentos de alternativas ao feminino e masculino no quadrinho “sexo” – lembrando que gênero é uma coisa, sexualidade é outra, e elas não devem ser confundidas. “Uma das grandes marcas da nossa era é as pessoas se sentirem livres para questionar, experimentar, se declarar, mudar e, se necessário, novamente se transformar”, diz o sociólogo Sam Bourcier, da Universidade de Lille, na França, referência no estudo de gênero e ele mesmo não binário assumido.

De uma forma simplificada, o indivíduo não binário é aquele que não se enxerga nem como homem nem como mulher. O xis da questão (sendo xis uma letra que lhes agrada) é estabelecer como, então, eles se posicionam – e aí as definições ocupam o alfabeto inteiro. Há os fluidos, que uma hora se identificam com o masculino, outra com o feminino. Há os agêneros, que não se reconhecem em nenhum deles. Nesse universo, o Facebook enumera 52 gêneros, entre os quais o cisgênero, que basicamente quer dizer que a pessoa se sente bem exclusivamente com o sexo com que nasceu (identidade de gênero), podendo ou não ser homossexual. Há ainda os trans, que só se veem no sexo oposto. Sem falar nos poligêneros, que circulam por vários gêneros, e os pangêneros, que abrangem todos.

No ano passado, a revista científica Nature pela primeira vez contabilizou os brasileiros que se encaixam no universo não binário: 1,2% da população, ou quase 3 milhões de pessoas. No mundo, eles são calculados em 2% – o que corresponde a 157 milhões de indivíduos. Um dos primeiros a acatar oficialmente o gênero neutro, o estado de Nova York já permite que, na carteira de motorista e na certidão de nascimento, o F e o M tradicionais sejam substituídos por X, e pai (father) e mãe (mother) sejam trocados pelo genérico parent. O Google anunciou que o Does vai aceitar vocabulário neutro – amigue, queride, todes -, sem que a palavra seja apontada como incorreta.

No Brasil de alma conservadora, o reconhecimento da neutralidade de gênero avança a passos lentos. “Nosso país tem um histórico de repressão impregnado tanto no imaginário coletivo quanto na legislação”, afirma Mariah Silva, pesquisadora de gênero e sexualidade na UFF. Primeira pessoa não binária a conseguir modificar o nome original e incluir “sexo não especificado” na certidão de nascimento, a brasiliense Aoi Berriel, de 26 anos, precisou entrar com um processo na Justiça, que está em trâmite desde 2017. “Sei da importância do meu caso. Pode parecer pouco, mas tem um enorme significado”, diz Aoi, que cursa ciências sociais na UFRJ. Registrada no sexo masculino, a estudante, filha de militar e dona de casa, aceita o pronome feminino por uma questão de praticidade: os neutros elu, delu, ili, dili são pouco conhecidos no país. “Eu me sentia um ET na infância”, lembra. Aoi já não é mais única: há dois meses, outra decisão judicial, dessa vez em Santa Catarina, permitiu a retificação dos documentos de uma estudante de psicologia (igualmente registrada ao nascer no sexo masculino), que pediu para não ser identificada.

Em outros pontos do mundo, o debate está mais avançado. A Austrália foi o primeiro país a contemplar a não binaridade nos passaportes, há dezoito anos. Foi seguida por Argentina, Nova Zelândia, Canadá, Áustria e Alemanha. Desde sua chegada à Casa Branca, Joe Biden tem estimulado o acatamento oficial do gênero neutro. Na reunião do G7 no Reino Unido, no início do mês, o primeiro­ministro britânico Boris Johnson declarou que, passada a pandemia, as sociedades precisam reconstruir o mundo de uma maneira “mais neutra em termos de gênero”. O presidente Alberto Fernández já se dirigiu à população de seu país como “argentines”, sem “o” nem “a”, no mais castiço não binarinês. No ano passado, a americana Mauree Turner, 27 anos, se tornou a primeira não binária a se eleger para uma Assembleia Legislativa – isso no conservador estado de Oklahoma. No País de Gales, Owen Hurcum, 23 anos, foi alçado a prefeito seguindo a mesma rejeição ao masculino e feminino tradicionais.

No meio artístico, a bandeira da não binaridade tem sido levantada com frequência nunca vista. Demi Lovato, 28 anos, anunciou que não quer mais ser tratada como “ela” e muito menos “ele”- prefere o plural they, que em inglês é neutro. “Enfim temos a oportunidade de ser quem desejamos”, celebrou em post. No Brasil, Bárbara Paz, 46 anos, trilhou o mesmo caminho. “Às vezes me olhava no espelho e me sentia um garoto. Gosto de ser menino e menina. Amo essa mistura de eus”, disse. Antes delas, o cantor inglês Sam Smith, 29 anos, tornou pública sua identidade de gênero em 2019. “Sempre estive em guerra com meu corpo e minha mente e me importava demais com o que os outros pensariam. Decidi me aceitar como sou”, comunicou. Da turma de famosos que decidiu se expor fazem parte o ator Jaden Smith, 22, filho do astro Will Smith, e a cantora americana Janelle Monáe. A nova realidade, como não podia deixar de ser, foi transposta para a ficção, na figura de Loki, meio herói-meio vilão, vivido pelo ator Tom Hiddleston, que já apareceu em filmes da Marvel e agora ganha um seriado só seu com postura decididamente não binária. Inspirada na animação da Dreamworks, a série Madagascar: A Little Wild inclui uma personagem que não é macho nem fêmea nos episódios do mês de junho, que celebrou o Orgulho LGBTQIA+. A série global Verdades Secretas 2 vai ter uma personagem de gênero neutro. Sem falar em Ceret e Terec, os jedis trans de Star Wars: The High Republic.

São muitas as nuances da neutralidade de gênero, e sua compreensão requer mente aberta e aceitação da diversidade – duas premissas para o convívio social sem atritos hoje em dia. Proclamar-se nem homem nem mulher traz à mente, por exemplo, o visual andrógino, presente sobretudo no mundo artístico, mas ele não é, necessariamente, uma manifestação de não binaridade. Na definição formal, o modo como a pessoa se veste, fala e se apresenta é uma expressão de gênero – diferente da identidade de gênero, que é como o indivíduo se percebe. O ator paulista Cams Luz, 21 anos, explica que nasceu em um corpo feminino, considera-se sem gênero (usa o pronome masculino, embora seja identificado socialmente como mulher) e é casado com um homem há quatro anos. “É errado reduzir o ser humano à sua aparência. Seria muito mais fácil perguntar como o outro prefere ser chamado”, rebela-se Cams.

Para evitar constrangimentos, muitas empresas vêm adotando a política neutra de tratamento de gêneros. A Japan Airlines baniu o tradicional “senhores e senhoras” nos comunicados a bordo. Nas reservas da United Airlines e outras companhias, os passageiros podem optar por Sr., Sra. ou Sx. Nos idiomas latinos, como o português e o espanhol, em que quase tudo tem feminino e masculino, começam a ficar conhecidos o “elu”, no lugar de ele ou ela, e o “e” ou “u” nos coletivos (todes, professorus). “A língua tem o poder de se adaptar ao seu tempo. Da mesma forma que a expressão vossa mercê deu lugar à palavra você, há alterações que nascem da demanda social”, reflete Vivian Cintra, mestra em linguística pela USP. Pesquisa realizada pelo Pew Research Center mostrou que 35% dos americanos entre 7 e 22 anos conhecem alguém que adota pronomes neutros.

No mundo corporativo, a necessidade de adaptação a novos tempos tem levado empresas a promover políticas “amigáveis” no campo da diversidade. Uma pesquisa da Cia de Talentos, especializada em recrutamento de profissionais, detectou no ano passado aumento de 30% nas inscrições em seu cadastro de pessoas não binárias e trans; as contratações delas, por sua vez, mais que dobraram. “A mudança é reflexo de anos de luta e de um novo entendimento por parte do mercado de trabalho de que a diversidade aumenta a produtividade”, diz a consultora de recursos humanos Sofia Esteves. No processo seletivo da telefônica Vivo, o candidato tem a opção de preencher um terceiro gênero e escolher a forma pela qual prefere ser tratado, podendo ainda usar o nome de sua preferência tanto no crachá quanto no e-mail. “É uma vitória se sentir acolhido assim no trabalho, depois de ter tido que superar a pressão da família, da sociedade e a minha própria”, afirma Abbi Sampaio, 31 anos, que atua em Curitiba como atendente, considera-se um não binário de gênero fluido e mistura roupas masculinas com salto e maquiagem.

A tolerância se estende ao meio acadêmico, mais propício a experimentações. Igor Martins, 34 anos, funcionário público na Universidade Federal do Acre, nasceu em família religiosa e penou antes de chegar à situação atual, em que mistura um visual barbado com cabelos longos e roupas femininas, sem ser incomodado por isso. “É um processo doloroso superar tantos obstáculos. Como sou concursado e dou expediente em ambiente progressista, posso ser autêntico sem medo de retaliações”, avalia. Quem não chega a esse estágio, porém, reclama de preconceito e discriminação constantes. “Algumas pessoas olham para mim como se eu fosse uma aberração. Não espero que me entendam, só que aprendam a me respeitar”, desabafa o empresário paranaense Guttervil Santos, 42.

Um estudo produzido pela Universidade Harvard revela que o desenvolvimento da identidade de gênero começa na primeira infância, entre os 2 e 3 anos, e se desenvolve de acordo com o contexto social – família, sociedade e momento da história. Civilizações antigas já reconheciam a pluralidade que vai além dos dois gêneros tradicionais – caso dos Mahu, como são chamados os nativos com traços ambíguos na Polinésia Francesa, e da casta indiana Hijira, em que pessoas com características masculinas se vestem com roupas femininas. “A diferença agora é que os não binários não estão restritos a guetos. Eles circulam em vários ambientes e se fazem presentes em todas as classes sociais”, observa a antropóloga Sonia Giacomini, especialista em gênero, raça e sexualidade. Com sua crescente exposição, querem mostrar que há mais coisa entre o feminino e o masculino do que sonhavam nossos antepassados.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 20 DE JULHO

A RECOMPENSA DA HUMILDADE

Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos (Provérbios 16.19).

A soberba é a sala de espera da ruína, mas a humildade é o portal da honra. Os soberbos despencam das alturas de sua altivez para a vala profunda do fracasso, mas os humildes fazem uma viagem do vale para o topo, da humilhação para a honra. Os soberbos alardeiam sua felicidade, mas a taça de sua alegria está cheia de lamento. No entanto, a verdadeira fonte da alegria é a humildade. Os humildes de espírito são bem-aventurados. Não são apenas felizes, mas muito felizes. São os humildes de espírito que saboreiam as finas iguarias no banquete da felicidade. Aos humildes de espírito pertence o reino de Deus. As alegrias dos reinos deste mundo são passageiras, pois os reinos deste mundo não permanecem para sempre, mas os humildes de espírito se assentarão com Jesus na sua mesa no reino celestial. A alegria deles é perene. Participarão de uma festa que nunca acabará. São herdeiros de um reino que nunca passará. Por isso, é melhor ser humilde de espírito com os humildes do que repartir riquezas com os soberbos. Há grande recompensa na humildade. Os humildes são exaltados por Deus. A eles pertence a salvação. A humildade é melhor do que riquezas, pois ser humilde de espírito com os humildes é melhor do que viver entre os soberbos, repartindo seus despojos.

GESTÃO E CARREIRA

MC DONALD’S É ALVO DE INVESTIGAÇÃO POR RACISMO E ASSÉDIO

Arcos Dorados, franquia da rede na América Latina, diz colaborar com apuração do Ministério Público do Trabalho

No início de 2021, Gabriel Milbrat, 19, já trabalhava havia pouco mais de um ano em uma lanchonete do McDonald’s em Curitiba, quando passou a ser assediado por um superior. “Foi logo depois da virada do ano. Ele me abordava no banheiro e na área de almoço. Tenho dois e-mails pedindo socorro e mais o relato de uma cliente que viu em uma das vezes.”

Naquela que foi a abordagem mais explícita, Milbrat relata ter sido acordado pelo assediador, quando esse ejaculou sobre ele. O funcionário do McDonald’s dormia durante a pausa para o almoço.

Casos como o de Gabriel Milbrat integram o corpo de denúncias recebidas pela “Sem Direitos não é Legal”, campanha global que atende trabalhadores do McDonald’s no Brasil e que estão em representação feita pela UGT (União Geral do Trabalhadores) ao Ministério Público do Trabalho.

As denúncias de práticas de racismo, assédio sexual e assédio moral vinham sendo apuradas desde o ano passado em um procedimento preparatório. Em 22 de junho, a procuradora do Trabalho Elisa Maria Brant de Carvalho Malta decidiu abrir inquérito civil para apurar as denúncias.

Com isso, a Arcos Dorados, maior franquia independente do McDonald’s no mundo, passa a ser oficialmente investigada. A empresa diz, em nota, respeitar a apuração iniciada pelo MPT e afirma estar “colaborando ativamente, apresentando todas as informações solicitadas”.

O advogado Alessandro Vietri diz que a apuração em São Paulo começou no ano passado. Inicialmente, a UGT acionou a procuradoria no Paraná, em uma representação que apontava práticas antissindicais pela rede de lanchonetes, devido à alta rotatividade de suas unidades.

No decorrer desse procedimento preparatório, que incluiu a coleta de depoimentos de funcionários e ex-funcionários, foram identificados relatos recorrentes de assédio e discriminação.

“Localizamos as ações [contra a empresa] na Justiça do Trabalho e, desse universo, são muitas as reclamações de assédio e racismo em meio a outras queixas. Começamos a nos perguntar o que estava acontecendo”, diz o advogado.

Por isso, segundo Vietri, o caso foi desdobrado e encaminhado para São Paulo, onde poderia ser apurado pela coordenadoria de promoção à igualdade, que acompanha denúncias de racismo e assédio.

Durante o procedimento que deu origem ao inquérito, a Arcos Dorados disse à procuradora que, na capital paulista, recebeu 136 denúncias de assédio moral e/ou sexual nos 171 restaurantes da cidade. A rede informou ter 13,5 mil funcionários. No ofício, apontou que havia “menos de uma denúncia por restaurante”.

Desse total, a empresa disse que 24 denúncias foram consideradas procedentes, 50, em parte, e 51, improcedentes. As outras ainda demandavam apuração ou faltavam informações. Esses procedimentos, disse a Arcos Dorados, resultaram na demissão de 17 empregados.

Para a procuradora, a rede de lanchonetes não apresentou, no decorrer da apuração preliminar, documentos que comprovem a adoção de posturas que combatam comportamentos abusivos.

A UGT levantou pelo menos 22 casos levados à Justiça do Trabalho, nos quais ex-funcionários relatam agressões, assédio sexual, homofobia e transfobia. Muitos, porém, não chegam a formalizar as queixas no judiciário trabalhista, segundo o advogado.

“A maioria nem chega à Justiça, ou porque a empresa faz acordo ou porque eles desistem. São, em geral, trabalhadores muito jovens”, afirma.

Na avaliação do advogado, a investigação foi necessária porque a franquia do McDonald’s não conseguiu, até agora, demonstrar de maneira consistente que políticas internas adota de modo a coibir comportamentos abusivos. Para ele, os depoimentos colhidos pela central sindical e enviados ao MPT apontam para omissão da rede.

Gabriel Milbrat, que relata ter sido assediado por um responsável pelos treinamentos na loja em que trabalhava, diz só ter sido ouvido por um superior depois que conseguiu registrar o assédio em fotos e áudios.

“Consegui o contato de um consultor, que é quem manda em todos os gerentes e ele pediu para a gente se encontrar. Expliquei o que estava acontecendo e ele disse que o melhor seria me transferir e que ninguém ficaria sabendo da minha denúncia”, relata.

Não foi bem o que aconteceu. No novo posto de trabalho, poucos dias depois de começar, colegas o abordaram sobre o episódio. “Mas a visão deles era totalmente deturpada, de que eu tinha tido relações com ele.”

Até a segunda (5), Gabriel Milbrat ainda era funcionário da empresa, contra quem foi à Justiça do Trabalho para pedir a rescisão indireta do contrato de trabalho.

“Ficou insuportável trabalhar. Eu não acho certo eu pedir demissão, então pedi minha rescisão na Justiça. Vou me identificar porque não fiz nada de errado. Fui tratado como mentiroso e só pesou para o meu lado”, diz Milbrat.

Franquia afirma ter política de ambiente de trabalho seguro

OUTRO LADO

Em nota, a Arcos Dorados diz reiterar “seu total compromisso com a promoção de um ambiente de trabalho inclusivo e respeitoso, onde as pessoas se sintam seguras e tenham liberdade plena de expressão, e reforça que não tolera nenhuma prática de assédio ou discriminação”.

A rede afirma manter uma política de ambiente de trabalho seguro e respeitoso para conscientizar “sobre o propósito da empresa de ser um local no qual as pessoas possam se desenvolver, livres de discriminação, assédio e represálias”.

A Arcos Dorados afirma também que, além de treinamentos com gestores e funcionários, mantém um canal chamado “linha ética”, por meio do qual os funcionários podem formalizar denúncias de maneira anônima. “Todas passam por uma rigorosa investigação e, a depender do resultado apurado, são tomadas as providências cabíveis.”

EU ACHO …

LADO A LADO

As ideias continuavam a borbulhar em sua cabeça como sempre, sem hora para aparecer. No meio da noite, no banho, no carro, em meio a uma reunião de trabalho ou de família, tinha aprendido a conviver com os chamados “insights”, estalos mentais que demandavam uma energia extra para serem colocados em prática. Alguns eram pequenas mudanças de rota outros, alterações drásticas de vida de planos de trabalho. Quando a clareza era tão brusca quanto intensa ela sabia que não podia esperar, era essencial agir no momento e, para isso, contava com sua energia vital, uma fome inesgotável que poderia ser acionada instantaneamente. A vida sempre seguiu pautada no trabalho dedicado e nessa capacidade de ver, entender mensagens que pareciam cifradas, mas que para ela vinham como traduzidas.

A partir da compreensão, havia o momento da separação do que era urgente e a tal força para implementar o novo tinha que estar pronta para levar o corpo à realização das mudanças exigidas. Depois de anos se conhecendo e reconhecendo, parecia que sua fórmula interna estava definida. Até que o corpo começou a dar sinais “estranhos”: a ideia surgia, a mente se iluminava com a nova possibilidade, mas seu físico pedia um tempinho a mais na cama, no banho. Ele, que respondia como um parceiro fiel e sempre disponível, precisava agora de um tempo que ela não dispunha. A vida tinha pressa sempre e o prazo para realização das ideias não podia ser alterado.

Foi então que ela forçou a barra e estabeleceu um cabo de guerra, de um lado uma mente inquieta, uma alma sedenta, do outro, um corpo cansado pedindo por algo que ela não entendia. Será que agora, aos 50, tinha se tornado preguiçosa quanto aos seus deveres? Tinha medo de se perder, pois sabia que as ideias só vinham para ela porque sabiam que iriam ser executadas. Ideias são seres autônomos que escolhem bem onde se lançam e se não tivessem mais confiança em sua atuação parariam e certamente procurariam outro terreno fértil para jogar suas sementes.

Ela fingiu pelo tempo que conseguiu que nada estava acontecendo. Seu corpo iria entender que quem mandava ali era sua mente, seu desejo inesgotável pelo novo, pela transformação. E ele entendeu o pedido, aceitou e foi sendo levado, arrastado na verdade. Por pelo menos dois anos deu sinais claros de desconforto, ignorados solenemente. Deixou parte da cabeleira negra pelo caminho, acumulou alguns quilos na intenção de adquirir força para concluir as tarefas a que era submetido e, aqui e ali, adquiria alguma doença leve tentando chamar atenção.

Mas o dia que foi inevitável parar chegou. Marcou uma médica com certa urgência, como sempre. Precisava que tudo fosse resolvido rapidamente, não tinha tempo. Mas o tempo não se importava mais com seus chamados, nem o corpo com suas ordens, muito menos a médica. Um exame detalhado mostrou a falta de carinho que dedicara a seu veículo nos últimos anos, e de que nada valeriam seus insights, ideias, planos sem a força de seu corpo. A mulher de 50 voltou então seu poder criativo para si mesma e direcionou seu amor, compaixão e poder de transformação para seu maior e único aliado, que poderia novamente realizar suas ideias e sonhos. Agora, estão começando a se entender novamente. Ele foi ouvido, deixou claro que não se submeteria mais a suas vontades sem concordar. Ela ouviu com atenção, tentou não ser reativa, buscou ajuda na ciência para que ele se sentisse disposto novamente. Os dois sabem agora que não precisam mais do cabo de guerra, estão novamente lado a lado.

*** ALICE FERRAZ – é especialista em marketing de influência e escritora. Autora de ‘Moda à Brasileira’

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O QUE É NEUROFEEDBACK?

Saiba mais sobre a metodologia não invasiva e não medicamentosa de tratamento de desordens mentais, que conta com ampla fundamentação científica e excelentes resultados clínicos, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA, onde vem sendo aplicada desde os anos 1970

Os trabalhos seminais de Joe Kamiya, psicólogo e professor da Universidade de Chicago, que, já em 1962, demonstrava a possibilidade de controle voluntário das ondas cerebrais, fundaram o campo do treinamento de ondas cerebrais, mais tecnicamente conhecido como condicionamento operante da atividade eletroencefalográfica (EEG) ou, simplesmente, Neurofeedback. Kamiya tornou-se o pai do Neurofeedback.

As ondas cerebrais são produzidas em diferentes frequências. Algumas são rápidas, outras um tanto lentas. Mas todas são medidas em Hertz (Hz), ou ciclos por segundo (cps). Um ciclo por segundo pode ser interpretado como um “pacote” de informação neurológica por segundo.

Assim, em um estado de sonolência, há maior produção de ondas lentas, de alta amplitude, especialmente nas faixas de Delta e Theta. Por outro lado, nos estados de tensão e ansiedade, a atividade neurológica, em diferentes partes do cérebro, poderá estar dominada por frequências excessivamente rápidas na faixa de Beta, ou por um excesso de atividade ineficiente na faixa de Alpha, nas áreas frontais do cérebro, associadas com controle emocional.

E uma ampla gama de desordens mentais, ou neurocomportamentais, como se diz no jargão mais técnico, tais como déficit de atenção, fibromialgia e fadiga crônica, depressão, epilepsia, traumatismos crânio-encefálicos, derrames, entre outras, tendem a dever-se, no cérebro, por um excesso de ondas lentas, normalmente nas faixas de Delta, Theta e até mesmo de Alpha.

Quando uma quantidade excessiva de ondas lentas está presente em áreas de função executiva (lobos frontais), no cérebro, desempenhar tarefas cognitivas mais sofisticadas, como memória e raciocínio abstrato, ou mesmo controlar a atenção e até as oscilações de humor, ou um quadro de impulsividade, torna-se um verdadeiro desafio. Essas pessoas terão problemas de atenção e concentração e eficiência intelectual diminuídas. Portanto, fica claro que pode haver extrema complexidade na forma como o cérebro opera.

Pesquisas têm demonstrado que há razoável heterogeneidade nos padrões neurológicos eletro­ encefalográficos (EEG) associados com diferentes condições diagnósticas, como TOC, ansiedade, ou déficit de atenção. E nenhuma dessas condições pode ser diagnosticada apenas pela observação clinica ou comportamental.

AVALIAÇÃO INICIAL

Há mais de uma década, Hughes e John afirmaram que, de todas as modalidades de avaliação da atividade cerebral, como PET, SPECT ou fMRI (Ressonância Magnética Funcional), o maior volume de evidências cientificamente replicáveis para condições neurocomportamentais, em psiquiatria, é fornecida por estudos de eletroencefalografia (EEG) e eletroencefalografia quantitativa (QEEG), que envolve o uso de medidas estatísticas de normalidade para avaliação de desregulações neurológicas identificadas, conforme veremos mais adiante.

Além disso, em 2009, Corydon Hammond, co-autor do presente artigo e ex-presidente da Sociedade Internacional para Neurofeedback e Pesquisa (International Society for Neurofeedback & Research – ISNR), publicou um estudo de revisão da literatura na área em que afirma que: “…as categorias diagnósticas e os sintomas individuais nem sempre são associados com os mesmos padrões neurológicos (…). Obviamente, resta apenas uma grande quantidade de adivinhação se tenta-se inferir o funcionamento cerebral de uma pessoa baseando-se meramente nos sintomas ou mesmo no diagnóstico clinicamente recebido, trazidos por um paciente. Assim, a defesa em prol de uma tomada de decisões concernentes à modificação da atividade neurológica, baseada simplesmente em generalizações obtidas da literatura em QEEG (a qual, tem sido demonstrado, apresenta considerável diversidade), ao invés de fazê-lo a partir de uma avaliação individualizada e cientificamente aceitável, seria, para dizer o mínimo, difícil de sustentar. “

Assim sendo, a avaliação da atividade cerebral, realizada antes do início do tratamento, que parte da análise conjugada dos padrões eletroencefalográficos produzidos por cada desordem, o que envolve informações relativas ao exame de assinaturas neurológicas, os mapas de distribuição topográfica da atividade cerebral de superfície (QEEG), e o exame de tomografia funcional da atividade de áreas e estruturas profundas do cérebro (LORETA), permitem determinar, de forma clara e objetiva, diante de que comprometimento ou desordem neurocomportamental se está, confirmando ou não diagnósticos anteriormente recebidos, além de permitir a elaboração de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico envolvendo os parâmetros de atividade cerebral que eventualmente apresentem comprometimentos identificados.

E agora que compreendemos a importância de se realizar uma cuidadosa avaliação inicial da atividade neurológica do paciente, antes de seu tratamento, podemos seguir adiante e entender a verdadeira natureza do tratamento por treinamento neurológico de ondas cerebrais, o Neurofeedback.

O TRATAMENTO

Uma vez determinados os protocolos de treino neurológico, absolutamente individualizados e definidos de acordo com as necessidades individuais relativas às desregulações neurológicas que cada paciente possui, e que somente a avaliação neurológica inicial, nos moldes já expostos, tem condição de identificar, inicia-se o tratamento por treinamento de ondas cerebrais, o Neurofeedback.

Aliás, a importância da individualização dos protocolos de tratamento, elaborados a partir da avaliação eletroencefalográfica inicial, foi abordada em dois estudos sobre o uso do Neurofeedback no tratamento de déficit de atenção, publicados nos anos de 2009 e 2012. Martijn Wilco Arns, PhD, pesquisador do Instituto Brain­ clinics, na Holanda, apontou as falhas em estudos científicos que não realizavam, até então, esse tipo de avaliação preliminar, incorrendo no erro da adoção de protocolos genéricos, pré-estabelecidos, e baseados tão somente em pressupostos definidos para cada condição. Nas palavras do autor: “…os protocolos de Neurofeedback utilizados foram elaborados levando-se em conta as deficiências funcionais de cada indivíduo. Quando consideramos o déficit de atenção (DDAH) como a condição a ser estudada, esta abordagem praticamente dobrou o nível de eficácia do treinamento neurológico por Neurofeedback sobre os problemas de impulsividade e de deficiências atencionais: 67% dos pacientes responderam bem ao tratamento, com mais de 50% de redução dos sintomas. Mais importante ainda, o fator de impacto atribuído a estes estudos, de 1.8 (uma medida do alcance e da relevância clínica dos efeitos do tratamento), foi quase o dobro do atribuído a estudos anteriores.”.

E isto é absolutamente fundamental, já que o grande problema, atualmente, nas abordagens tradicionais em Neurofeedback é exatamente a falta destas avaliações funcionais preliminares, que permitem identificar precisa e concretamente, com base nas desregulações neurológicas existentes, a efetiva condição de cada paciente, o que garante uma análise diagnóstica efetivamente segura, que permite, como já mencionado, confirmar ou não diagnósticos anteriormente recebidos, além de viabilizar a elaboração de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico, que maximizam os resultados clínicos obtidos.

AVANÇOS

Os mais recentes avanços científicos na área do treinamento neurológico levaram ao desenvolvimento da metodologia de Neurofeedback por Z-scores. O treino visa à modificação progressiva da atividade neurológica, rumo a padrões de normalidade, com a consequente e paulatina redução ou eliminação dos comprometimentos funcionais até então existentes. Com isso resgata-se um funcionamento cerebral livre de comprometimentos, tanto neurológicos quanto psicológicos.

A literatura na área demonstra que o Neurofeedback por Z-scores produz melhorias significativas, de diferentes desordens mentais, com índices de sucesso expressivos, da ordem de 75-80 % dos casos.

Assim, o Neurofeedback oferece ao cérebro uma concreta possibilidade de reabilitação funcional, seja para desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão, déficit de atenção, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) em suas várias formas, dislexia, insônia, problemas de aprendizagem, além de epilepsia, comprometimentos cognitivos, como memória, e funcionais, como de reabilitação da fala ou da recuperação motora do movimento de um membro, normalmente presentes em casos de traumatismo crânio-encefálico, derrame ou quadros isquêmicos, e mesmo de autismo.

Tudo isso pelo recondicionamento dos padrões de atividade elétrica cerebral, sem o uso de medicamentos, e de forma não invasiva.

RECONHECIMENTO

Mais de uma década atrás, Frank H. Duffy, MD, professor e neuropediatra da Harvard Medical School, declarou no periódico Clinical Electroencephalography que a literatura científica já havia sugerido que o neurofeedback “deveria desempenhar um papel terapêutico importante em muitas áreas desafiadoras. Em minha opinião, se qualquer medicação tivesse demonstrado tão amplo espectro de eficácia [quanto o faz o neurofeedback], esta medicação seria universalmente aceita e amplamente utilizada.”

Muito se pergunta sobre a existência de fundamentação científica para a técnica de Neurofeedback. Realmente, no Brasil, o Neurofeedback ainda está se consolidando como opção reconhecida de tratamento das chamadas desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão, déficit de atenção, dislexia, insônia, TOC, etc.

Todavia, não podemos deixar de considerar que a técnica já perdura por mais de 50 anos nos Estados Unidos, país de sua origem. Desde a década de 1970, centenas de estudos científicos têm sido publicados apresentando os resultados do Neurofeedback. Estes estudos demonstraram como a avaliação quantitativa da atividade eletroencefalográfica (QEEG) permite uma adequada avaliação de uma ampla gama de desordens neurocomportamentais. E apenas para listar alguns, vale mencionar as seguintes publicações científicas: Alper, Prichep, Kowalik, Rosenthal, & John, 1998; Amen et al., 2011; Barry, Clarke, Johnstone, McCarthy, & Selikowitz, 2009; Clarke, Barry, McCarthy, & Selikowitz, 2001; Clarke et al., 2007; Harris et al., 2001; Hoffman et al., 1999; Hughes & John, 1999; Newton et al., 2004; Thatcher, 2010; Thatcher et al.,1999.

Em estudo publicado em 2010, Robert W. Thatcher, diretor do Neuro lmaging Laboratory

– Bay Pines VA Medical Center, na Flórida, e professor adjunto do Departamento de Neurologia da Universidade do Sul da Flórida, além de integrante do Comitê Consultivo do Projeto de Mapeamento Cerebral Humano, dos Institutos de Saúde Mental nos Estados Unidos, publicou estudo recente em que apresenta abundante evidência sobre a alta confiabilidade e eficácia do uso do EEG na avaliação funcional e no tratamento, por Neurofeedback, para uma série de condições.

Thatcher também publicou, em 2013, importante artigo, incluído no Psychology Progress Series daquele ano, em que apresenta as sólidas bases científicas e os mais recentes avanços no Neurofeedback por Z-scores, especialmente no que diz respeito à inclusão de variáveis de conectividade, que envolvem redes específicas dedicadas a uma série de funções, no cérebro. Além disso, em outubro de 2012, a American Academy of Pediatrics considerou o Neurofeedback como o tratamento disponível para Déficit de Atenção (DDA/DDAH) com mais alto nível de evidência científica.

Este é o Neurofeedback, uma metodologia não invasiva e não medicamentosa de tratamento de desordens mentais, solidamente fundamentado cientificamente, e que, como veremos nos próximos artigos, apresenta excelentes resultados clínicos, sendo um campo de conhecimento extremamente ativo, que vem evoluindo como poucas áreas do conhecimento humano nos últimos anos.

POESIA CANTADA

COMO NOSSOS PAIS

ELIS REGINA (1945-1982) foi uma cantora brasileira, considerada por muitos como a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Sua morte precoce a transformou em mito. Diversas canções foram eternizadas na sua voz, entre elas: Águas de Março, Casa no Campo e COMO NOSSOS PAIS.

COMO NOSSOS PAIS

COMPOSIÇÃO: Antônio Carlos BELCHIOR.

Não quero lhe falar
Meu grande amor
De coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço
O seu lábio e a sua voz

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem

Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando o vil metal

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

OUTROS OLHARES

A CASA EM UM CLIQUE

Plataforma se propõe a alugar imóveis por assinatura. Ao contrário do Air bnb, a prioridade são residências para moradia, e não para lazer

Sair à procura de um lugar para morar pode ser uma experiência desgastante, ainda mais se for às pressas. Périplo por imobiliárias, busca em sites, visitas, papelada e fiador são barreiras que costumam fazer as pessoas desistirem antes de começar. Além disso, é sempre uma tarefa inglória encontrar a moradia que combine localização ideal com serviços e preço adequados. O ambiente hostil, entretanto, está se tornando bem mais amigável: a tecnologia inovadora que mudou a forma como se consome entretenimento e transporte está também transformando o mercado de locação de imóveis. Ou seja, alugar um apartamento ou uma casa passou a ser tão fácil e cômodo quanto ver um filme no streaming ou pedir um carro pelo aplicativo.

Pensou no Air bnb? O revolucionário aplicativo, que começou a operar no Brasil em 2012, abriu um leque de opções para acomodar hóspedes por temporada, mas, até por suas características, ele é usado como plataforma de aluguel de veraneio, férias e feriados. Na cidade, o perfil do locatário é outro: o médico que migrou do interior, o divorciado que precisa sair logo de casa, o jovem executivo que não mora mais com os pais – apenas para citar alguns exemplos. Para esse público cosmopolita, acaba de ser criado o conceito de moradia por assinatura, cuja plataforma pioneira é a Housi, projeto do empresário Alexandre Frankel, também fundador da Vitacon, construtora especializada em pequenos apartamentos com serviços de cozinha e lavanderia compartilhados, um conceito igualmente inédito ao ser lançado, em 2019.

A Housi se propõe a alugar casas e apartamentos de forma instantânea, liberando imediatamente ao interessado a unidade escolhida. Para tanto, ele precisa ter cartão de crédito ou débito, do qual será cobrado o pacote que inclui aluguel, condomínio, IPTU e demais despesas. O inquilino não precisa passar em nenhuma imobiliária para assinar contrato e escolhe ficar pelo tempo que quiser, sendo cobrado por mês, como se fosse um assinante da Netflix, com a diferença de que, caso saia antes do período requisitado, deverá pagar 10% do restante da locação – a menos que se mude para outra unidade administrada pela Housi.

A modalidade simplificada, pronta para morar, serviu como uma luva para a modelo carioca Juliana Calderari, que está fixada em São Paulo por tempo indeterminado. Antes da pandemia, ela morava com os avós, mas precisou procurar seu canto para protegê-los da Covid-19 e também porque queria um apartamento de pé direito alto, onde pudesse fazer seus ensaios. Ela conta que procurou o serviço pela praticidade: “Se quebra alguma coisa, basta chamar pelo WhatsApp que eles vêm trocar”.

Embora o conceito seja novo, algumas empresas buscam caminhos similares – não exatamente iguais, ressalte-se. Em São Paulo, a construtora TPA reformou um prédio da década de 40 e colocou todas as 161 unidades para alugar, também sem qualquer burocracia e por períodos flexíveis. Em Belo Horizonte, a MRV, a maior construtora do país, descobriu no aluguel de unidades recém-construídas uma maneira de fazer dinheiro rápido. Lançada em Minas, a iniciativa foi expandida para outras regiões.

Crescente, o movimento está em sintonia com os hábitos de jovens de hoje, os millennials, mais interessados nos serviços e na localização do que na posse. Segundo Frankel, 82% desse público prefere alugar a comprar, porcentual que supera a média nacional. Trata-se de um contingente de milhões de pessoas que não querem adquirir uma propriedade só pelo fato de tê-la, uma vez que podem vir a morar em outra cidade ou mesmo em outro país de uma hora para outra – fenômeno que foi impulsionado pelo home office.

Das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, onde começou a operação em março de 2020, a Housi saltou para quarenta municípios em todas as regiões do país. Tem sob sua custódia 20.000 unidades, que contabilizam 10 bilhões de reais em ativos. A plataforma é dividida em site e aplicativo, mas o site ainda é mais utilizado, inclusive pelos proprietários que cadastram imóveis para alugar.

É de imaginar que o conceito represente uma ameaça às imobiliárias tradicionais, como a Netflix acabou com as videolocadoras. O fundador da Housi refuta esse atrito, afirmando que são modelos complementares e que a sua empresa pode prestar serviço às imobiliárias, como faz junto à hotelaria e a construtoras que vendem imóveis para investidores interessados na receita do aluguel. “Imóvel é apenas um hardware, precisa de um software para funcionar”, diz o empresário.

Iniciativas como essas reforçam um momento único para o setor. O mercado imobiliário não sabe o que é crise. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de financiamentos cresceu 113% no primeiro trimestre, ante igual período de 2020. Os números são ainda mais surpreendentes considerando que o crédito já havia avançado 57,5% no ano passado. Se não for viável comprar a casa, seja por razões financeiras, seja por desejos pessoais, a tecnologia pode ser uma aliada decisiva – e as plataformas digitais estão aí para provar isso.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 19 DE JULHO

SOBERBA, A PORTA DE ENTRADA DA RUÍNA

A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda (Provérbios 16.18).

A soberba procede de uma avaliação falsa a respeito de nós mesmos. Agostinho de Hipona disse que, se nós entendêssemos que Deus é Deus, compreenderíamos que nós somos apenas seres humanos. Viemos do pó e voltaremos ao pó, por isso somos pó. Não somos o que somos. Somos o que fomos e o que havemos de ser, pois só Deus é o que é. Deus se apresentou a Moisés no Sinai: “EU SOU O QUE SOU”. Deus é autoexistente e não depende de ninguém. Ele é completo em si mesmo. Tem vida em si mesmo. O homem, porém, é criatura, é dependente e não tem motivo para orgulhar-se. A soberba transformou um anjo de luz em demônio. Por causa da soberba, Deus expulsou Lúcifer do céu. Deus resiste aos soberbos. Ele declara guerra aos orgulhosos e humilha os altivos de coração. A soberba é a porta de entrada do fracasso e a sala de espera da ruína. O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade a faz cair na desgraça. Na verdade, o orgulho vem antes da destruição, e o espírito altivo, antes da queda. Nabucodonosor foi retirado do trono e colocado no meio dos animais por causa da sua soberba. O rei Herodes Antipas I morreu comido de vermes porque ensoberbeceu seu coração em vez de dar glória a Deus. O reino de Deus pertence aos humildes de espírito, e não aos orgulhosos de coração.

GESTÃO E CARREIRA

VAGAS PARA PCDS AINDA SÃO VISTAS COMO OBRIGAÇÃO

Com fim de validade de lei, Caged mostra alta nas demissões de pessoas portadoras de deficiências

Na última terça-feira, o psicólogo e tecnólogo em teatro João Paulo Lima, de 28 anos, recebeu a notícia que muitos esperam: foi aprovado em um processo seletivo de uma fintech para trabalhar no setor de atendimento ao cliente. A busca havia começado em abril, quando ele deixou o emprego na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo.

João Paulo, que possui paralisia cerebral, vivenciava até a última terça-feira o drama do grupo das quase 25 mil pessoas com deficiência e reabilitadas desligadas no primeiro trimestre. Além das dificuldades convencionais que pessoas com deficiência (PCD) enfrentam no mercado, ele teve de superar uma barreira estatística: o número de PCDs e reabilitados desligados no País atualmente é maior do que o número de contratações.

As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que de dezembro a abril tem registrado mensalmente um saldo negativo de admissões comparadas às demissões. O número contrasta com a categoria de pessoas que não portam deficiências, cujo índice se manteve positivo desde janeiro de 2021, apesar de o desemprego atingir 14,8 milhões de brasileiros.

Conforme os dados, o saldo para contratações de PCDs é negativo na maioria das atividades econômicas e em todos os tipos de deficiência e nos diferentes graus de instrução.

“Quando isso ocorre, o atributo ‘pessoa com deficiência’ está se sobrepondo aos outros atributos, como econômico e escolaridade”, diz o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

LEGISLAÇÃO

Segundo especialistas ouvidos, diferentes motivos explicam a menor quantidade de admissões em relação aos desligamentos de PCDs nos últimos meses.

Ivone Santana, chefe-executiva da Rede Empresarial de Inclusão Social (Reis), acredita que a queda na absorção de pessoas com deficiência a partir de janeiro pode estar relacionada ao fim da validade da Lei 14.020, de julho de 2020, que vetava a demissão de PCDs em justa causa até 31 de dezembro. A lei deixou de ser aplicada em 2021, por estar submetida ao Decreto Legislativo nº 6, que reconhecia estado de calamidade pública no País até dezembro.

A lei, de fato, freou em 2020 as demissões de PCDs e reabilitados. Entre agosto e novembro, o Caged registrou mais admissões do que desligamentos. Em janeiro de 2021, sem mais a vigência da lei, os desligamentos voltaram a predominar.

Ivone lamenta que as pessoas com deficiência ainda precisem superar o despreparo de gestores e a falta de uma cultura de acessibilidade nas empresas “que não estão comprometidas com a inclusão”. Nelas, segundo a diretora da Reis, “as pessoas com deficiência são as primeiras a serem demitidas”.

José Carlos do Carmo, auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, é responsável por fiscalizar se as empresas cumprem a Lei de Cotas, que prevê a contratação obrigatória de PCDs e reabilitados a partir da quantidade de funcionários do quadro.

“Contratar não se trata de benevolência, mas de uma obrigação legal. É necessário que haja uma real política de valorização da diversidade”, afirma.

Para João Paulo Lima, no contexto de pandemia “se de um modo geral o custo para manter um funcionário com deficiência é maior por uma questão da acessibilidade, o empregador vai querer mandar esse funcionário embora porque, se ele já é grupo de risco, imagina se ele pega covid”.

CAPACITISMO

Ivone Santana, diretora do Instituto Parités, que promove a cultura de inclusão de PCDs em empresas, afirma que “enfrentamos uma sociedade extremamente capacitista, em que o preconceito e o despreparo de gestores e das empresas e a falta de acessibilidade ainda prevalecem”.

O capacitismo é o nome dado ao preconceito que atinge pessoas com deficiência, julgadas sob o estereótipo de não serem capazes de realizar determinadas tarefas.

“As empresas alegam que, muitas vezes, mesmo oferecendo vagas, não encontram pessoas para preenchê-las, pois acreditam que elas não têm as qualificações ou requisitos necessários para os cargos, como por exemplo ensino superior completo”, afirma a psicóloga Paolla Vicentim, líder de projetos da ASID (Associação Social para Igualdade de Diferenças).

Na mesma linha, a pesquisadora Maíza Hipólito questiona: “Por que a qualificação não pode acontecer no ambiente de trabalho?”.

EU ACHO …

DJ. IVIS NÃO É O ÚNICO COVARDE

”Precisamos educar nossos jovens: a mulher para não aceitar apanhar, o homem para não bater e as pessoas para denunciar”

Meninas e mulheres podem se orgulhar de uma enormidade de conquistas nos últimos 50 anos. Na vida, no trabalho, nas leis. Mas ainda enfrentam uma ameaça entre as quatro paredes de casa. Pode ser fatal. Essa ameaça é a força física do homem-marido, pai ou padrasto. E seu descontrole, por bebida ou surto. Ele age escorado numa sociedade ainda machista e condescendente, que não condena exemplarmente agressores de mulheres. E protegido pela insegurança e pelo medo da companheira.

Vi e revi as imagens do DJ. Ivis espancando sua agora ex-mulher Pamella Holanda, no quarto da bebê Mel, de 9 meses, e no sofá do apartamento da família em Fortaleza. Pamella diz que a primeira agressão do marido aconteceu quando ela estava grávida. Achou que era “do temperamento dele” e que ia mudar. Também receou que ninguém acreditasse nela sem imagens de vídeo. Ele é um fenômeno do forró eletrônico, ritmo que acho insuportável e brega, mas move milhões de fãs no streaming. Ela, uma esposa, dependente financeiramente.

Foram socos nas costas, na cabeça, pontapés, chutes, puxões de cabelo, empurrões. Testemunhados pela mãe de Pamella e pelo braço direito do DJ, o Charles: “Travei”, disse ele, ao explicar porque nada fez. Tenho evitado assistir a vídeos violentos ou grotescos – e nessa última categoria incluo as lives do presidente. Mas vi o vídeo do DJ. lvis porque sou mulher, mãe de dois homens, avó de uma menina e um menino. Na educação, na primeira infância, a tolerância com agressões deve ser zero.

Entendo que o choque e a indignação venham das mulheres. Cada tapa do DJ. Ivis é como se fosse em cada uma de nós. Mas é preciso que vocês, homens, se revoltem publicamente. Não sejam tímidos nem covardes. Protestem nas redes e em textos. Vocês têm mãe, irmã, filha, mulher. Não deleguem a raiva a nós. Porque é luta de todos. Não pode parecer uma guerrinha de gêneros. Sejam parceiros. Não há lugar de fala aí nessa história.

Levei surras de cinto e sapato do meu pai quando era criança. Lembro que uma vizinha me perguntou no elevador a causa dos roxos na perna e no braço, minha mãe respondeu que eu tinha caído da escada e eu protestei: “Não foi isso, foi meu pai que bateu em mim”: Sem saber, lá estava uma feminista mirim que nunca se calaria contra qualquer assédio. Depois, com psicanálise, eu o perdoei, embora ele nunca tenha se desculpado. Normal. Quem bate esquece. Ele era um pai carinhoso, protetor. E é isso que confunde meninas e mulheres. A violência mesclada ao amor.

A Lei Maria da Penha, de 2006, ajuda, mas não resolve. O Brasil está no quinto lugar mundial em feminicídios. Em quase 70% dos assassinatos de mulheres, o criminoso é companheiro ou ex. Mais armas nas mãos de civis agravarão essa tragédia. Não sei se a sociedade, por covardia, finge não entender: o espaço de casa continua perigoso para menina e mulheres. A violência familiar aumentou na pandemia, com o confinamento doméstico. Como quebrar esse padrão? “Precisamos educar os nossos jovens: a mulher para não aceitar apanhar, o homem para não bater e as pessoas para denunciar”, afirmou a ex vice-presidente da OAB-DF, Daniela Teixeira.

Nosso cronista Nelson Rodrigues dizia, num outro tempo, não tão distante, que “nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais”. Se você pensa que esse pensamento é totalmente ultrapassado, está fora da realidade estatística. O perfil do DJ. Ivis ganhou mais de 235 mil seguidores depois dos vídeos de agressão a Pamella.

*** RUTH DE AQUINO

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO O MEDO SE TRANSFORMA EM FOBIA

Apesar de ser imprescindível para a formação emocional da criança, e até mesmo para a sobrevivência da espécie humana, o medo pode desencadear um processo patológico, provocando uma série de transtornos

Todo mundo, e isso inclui crianças e adolescentes, tem medo de alguma coisa. Medo de aranhas, de cobras, do escuro, mas principalmente o medo do desconhecido. Ter medo é natural e até importante para o desenvolvimento emocional humano. Existe, porém, um medo patológico: a fobia, um transtorno que causa muito sofrimento e prejuízos ao seu portador e que pode atingir as crianças.

O medo tem acompanhado o ser humano desde os tempos mais remotos e é considerado imprescindível à sobrevivência, agindo como um grande e poderoso aliado, mecanismo de defesa essencial para a preservação da espécie. É ele que nos impede de pularmos de um precipício, atravessarmos uma rua sem olhar para os lados, entre tantas outras situações às quais frequentemente estamos expostos.

O medo é considerado, assim, uma emoção primária, associada a situações nas quais devemos nos defender (ou defender a quem amamos), que acompanha o homem desde os tempos pré-históricos e que o salva do perigo. É como se ele fosse um instinto que alerta o nosso cérebro a se organizar e reagir de modo totalmente incomum, em vista de uma situação de perigo.

No momento em que uma ameaça é percebida através de estímulos sensoriais (órgãos dos sentidos), imediatamente há como que o soar de um “alarme”, como se um “botão” fosse acionado. Este botão, que podemos chamar então de medo, é o responsável por enviar a mensagem de perigo, ao cérebro, que daí para frente passa a comandar uma série de ações e reações fisiológicas e comportamentais, mobilizando todo o organismo humano para enfrentar a situação.

Podemos ter várias reações diante de uma situação de ameaça de perigo: fugir, paralisar, lutar, submeter-se. Nosso organismo, porém, diante desta emoção vai se mobilizar, especialmente para duas opções: fuga ou luta e, assim, começa a organizar fisiologicamente um conjunto de respostas aos estímulos recebidos. A respiração torna-se acelerada, profunda, obrigando os pulmões a aumentarem sua atividade a fim de levarem mais oxigênio para o sangue. As pupilas tornam-se dilatadas, para que possamos ter uma melhor visão da situação, de um predador, ou mesmo do campo de fuga.

O fígado, dentro do seu sistema, imediatamente começa a trabalhar para liberar e enviar grandes quantidades de açúcar à corrente sanguínea, para dar energia extra ao corpo (que o cérebro entende que está em luta ou em fuga). O aumento de glicose auxilia o cérebro e os músculos. O coração aumenta sua velocidade e ritmo de batimentos. Vários hormônios são produzidos neste “frenesi”, estimulados por neurotransmissores como a adrenalina, noradrenalina, entre outros. Os hormônios adrenocorticotróficos entram em ação, há produção de betaendorfinas, que funcionam como analgésicos. Assim, em meio a uma fuga, se houver um ferimento, a dor será de alguma forma diminuída.

Como a energia é aumentada, gerando calor, o mecanismo da transpiração é acionado para que este calor seja eliminado de alguma forma. Tudo isso ocorre em frações de segundos. Trata-se de um incrível programa biológico pronto para entrar em ação em função do medo e nos ajudar.

Pode-se, então, dizer que o medo, como uma característica biológica favorável à manutenção da vida, fez com que as espécies que o apresentavam em maior grau sobrevivessem e gerassem mais descendentes, que foram, assim, transmitindo geneticamente esta característica, num ciclo de evolução.

Há medos típicos de cada fase do desenvolvimento que devem ser passageiros ou substituídos, assim como seus mecanismos devem ser adaptativos e ajustados. Ao passar pela situação de medo, o corpo gera um grande potencial de energia, que precisa ser descarregado, para que não haja uma sobrecarga prejudicial ao sistema fisiológico e psicológico humano.

INTELIGÊNCIA E IMAGINAÇÃO

Diferentemente dos outros animais, além das emoções primárias e instintivas, o homem é dotado de inteligência e uma extrema capacidade imaginativa. Embora, na maioria das vezes, essas características nos ajudem, em algumas situações podem ser prejudiciais, principalmente quando, através do pensamento criativo e da imaginação, confundimos perigos reais com irreais, desencadeando medos desnecessários e toda a “programação biológica” originada pelo medo. Quando isso acontece, estamos diante de estados de ansiedade.

A ansiedade ocorre quando não há exatamente uma ameaça iminente, mas o indivíduo desencadeia toda a tensão programada para o medo, como se o perigo já estivesse ocorrendo naquele instante. Vive uma sensação de agonia, de angústia e de aflição, em vista da incerteza do perigo ou, ainda, prevendo uma situação de ameaça, que muitas vezes não é real.

Estudiosos do comportamento humano ressaltam a importância da ansiedade como uma “mola propulsora de ação”, isto é, prevendo um perigo, o ser humano age em favor de sua autoproteção. Sentir-se ansioso, assim como ter medo, em certas situações da vida pode ser visto como algo natural, universal.

Muitas vezes, porém, a sensação de ansiedade passa a ser constante, persistente ou extrema, podendo evoluir para um transtorno com vários espectros, desencadeando problemas psicossomáticos. Neste contexto, pode surgir a fobia, que, segundo pesquisadores, carrega um alto nível de ansiedade, que interfere diretamente e negativamente na vida do seu portador.

POESIA CANTADA

O SEGUNDO SOL

CÁSSIA Rejane ELLER, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de dezembro, foi uma cantora e violonista do rock brasileiro dos anos 1990. Cássia Eller, se interessou pela música aos 14 anos, quando ganhou um violão de presente. Tocava principalmente músicas dos Beatles. A cantora se apresentou no mundo artístico em 1981, ao participar de um espetáculo de Oswaldo Montenegro.

Mas a carreira de Cássia Eller, só decolou quando um tio da cantora gravou uma fita demo com a canção “Por enquanto”, de Renato Russo, e levou a fita à PolyGram, que resultou na contratação da cantora de pela gravadora. Cássia Eller assumia a preferência por álbuns gravados ao vivo e ela era convidada constantemente para participações especiais e interpretações sob encomenda, singulares, personalizadas. Outra característica importante era ela ter assumido uma postura de intérprete declarada, tendo composto apenas três das canções que gravou: “Lullaby” (parceria com Márcio Faraco), “Eles” (com Luiz Pinheiro e Tavinho Fialho) e “O Marginal” (com Hermelino Neder, Luiz Pinheiro e Zé Marcos).

Cássia Eller teve uma trajetória musical importante, embora curta, gravou em torno de dez álbuns próprios no decorrer dos doze anos de carreira e sempre teve uma presença de palco bastante intensa.

2001 foi um ano bastante produtivo para Cássia Eller. Em 13 de janeiro de 2001, apresentou-se no Rock in Rio III, num show em que baião, samba e clássicos da MPB foram cantados em ritmo de rock, compareceram a esta apresentação 190 mil pessoas.

Gravou o cd Acústico MTV, em São Paulo, no qual Cássia contou com o um grupo de alto nível técnico e artístico. O álbum foi composto por 17 faixas, e vendeu mais de um milhão de cópias, tornando-se o maior sucesso da carreira da cantora.

Com a agenda cheia e no auge de sua carreira Cássia Eller faleceu. Em 29 de dezembro de 2001, com apenas 39 anos, em razão de um infarto do miocárdio repentino.

Na época, foi levantada a hipótese de overdose de drogas, mas a suspeita foi descartada pelos laudos periciais do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro após autópsia. O corpo da cantora foi sepultado no Cemitério Jardim da Saudade, na Cidade do Rio de Janeiro.

Cássia Eller era bissexual assumida desde o início da adolescência e morava com sua parceira, Maria Eugênia Vieira Martins, com quem criava seu filho Francisco, que era chamado carinhosamente de Chicão pelas duas. A pedido de Cássia Eller, caso viesse a acontecer algo, Maria Eugênia ficou sendo a responsável pela criação de Francisco, após a da cantora.

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza

De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza

De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Explicação, não tem explicação
Explicação, não
Não tem explicação
Explicação, não tem
Não tem explicação
Explicação, não tem
Explicação, não tem
Não tem

Composição: NANDO REIS

OUTROS OLHARES

AINDA UM PESADELO …

Brasil teve uma denúncia de violência doméstica por minuto em 2020

Ao longo de 2020, foram realizadas 694.131 ligações ao 190 para denunciar ocorrências de violência doméstica no Brasil. Isso significa dizer que, no ano marcado pela pandemia, o país registrou mais de um chamado por minuto para denunciar violências cometidas contra mulheres em suas próprias casas. Os dados são do 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado dia 15/07 pelo fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O 190 é acionado em casos de emergência, para solicitar a intervenção policial no momento flagrante de um crime. Quando um vizinho ouve uma mulher sendo agredida e quer pedir ajuda, por exemplo, ele aciona o 190. Em 2020, o serviço recebeu mais chamados referentes à violência doméstica do que no ano anterior. O aumento de 16,3% é um dos indícios de que a crise sanitária e econômica causada pela pandemia agravou a violência contra a mulher no Brasil.

Outro dado que reforça essa tese é o aumento de 3,6% no número de medidas protetivas de urgência concedidas pelos tribunais de Justiça em 2020. Ao todo, foram 294.440 ordens de afastamento do lar, proibição de aproximação e contato com a vítima, ou suspensão de visitação dos filhos expedidas no ano passado.

Também foram contabilizados 230.160 registros de lesão corporal dolosa cometida em contexto de violência doméstica em 2020. Isso significa dizer que ao menos 630 mulheres procuraram uma autoridade policial diariamente para denunciar um agressor.

O número é inferior ao registrado em 2019. Segundo dados do Anuário coletados junto às polícias civis dos estados, houve queda de 7,4% nesse tipo de ocorrência. Essa redução não significa, no entanto, que essas agressões aconteceram com menos frequência ou que a violência contra a mulher diminuiu, afirma a diretora-executiva do FBSP, Samira Bueno.

“Quando olhamos para a composição dos dados, é possível constatar um provável crescimento da violência contra a mulher, apesar da queda nos registros da Policia Civil”, diz Bueno, e explica:

“Os feminicídios continuaram acontecendo, e outros serviços da rede de segurança e justiça, como o 190 e as medidas protetivas de urgência, foram mais acionados. A violência contra a mulher se mantém elevada no Brasil.

Em 2020, ao menos 1.350 mulheres foram mortas por sua condição de gênero, ou seja, morreram por serem mulheres. Segundo o FBSP, o número real de feminicídios é ainda maior, uma vez que nem todos os homicídios dolosos de vítimas do sexo feminino são classificados corretamente. No total, 3.913 mulheres foram assassinadas no país no ano passado.

“O feminicídio não é um tipo penal, mas uma qualificadora do homicídio doloso. A legislação é recente e pode ser que esse policial não tenha tido elementos para identificar o feminicídio, ou não saiba identificar uma morte por violência baseada em gênero”, explica Bueno.

A pesquisadora destaca o caso do Ceará, onde a taxa de homicídios femininos chegou a 20,7 por 100 mil mulheres, mais do que o dobro do que a taxa em qualquer outro estado. Porém, apenas 8,2% de todos os assassinatos de mulheres foram classificados como feminicídios, percentual muito inferior à média nacional de 34,5%. Isso indica que muitos casos de feminicídio podem ter sido classificados erroneamente apenas como homicídios.

CICLO MORTAL

De acordo com os dados compilados pelo FBSP, cerca de 377 assassinatos de mulheres cometidos por companheiros ou ex-companheiros em todo o país não foram classificados como feminicídios, embora, nestes casos, a qualificadora se aplique.

“Quando questionamos policiais, o argumento é de que a vítima era uma mulher envolvida com o tráfico ou com um traficante”, afirma a diretora-executiva do FBSP, explicando a justificativa dada por agentes de segurança para a ausência da qualificadora nos boletins de ocorrência. “Há uma sobreposição de agendas com a qual os profissionais de segurança não estão sabendo lidar. E isso tem a ver com o machismo da sociedade e das instituições em buscar a “vítima virtuosa”. É como se o fato de ela ter cometido um crime ou estar nesse contexto fizesse com que ela não pudesse ser vítima de violência doméstica ou de feminicídio”.

O perfil das vítimas de feminicídio permaneceu parecido com o verificado em anos anteriores: 74,7% tinham entre 18 e 44 anos e 61,8% eram negras.

Os dados indicam ainda que 81,5% das vítimas foram mortas pelo parceiro ou ex-parceiro íntimo e 54% foi assassinada dentro da própria casa. Além disso, em 55% dos casos de feminicídio foram utilizadas armas brancas, como facas, tesouras, canivetes, pedaços de madeira e outros instrumentos.

Os fatos não são novos e reforçam um elemento central para a compreensão do feminicídio, que ocorre principalmente em decorrência de violência doméstica, sendo o resultado final e extremo de um ciclo de violência vivenciado pelas mulheres.

De modo geral, em 2020 houve redução de praticamente todas as notificações de crimes em delegacias de polícia no país. Seguindo essa tendência, caíram os registros de ameaça (-11,8%), assédio sexual (-21,6%), estupro e estupro de vulnerável (-14,1%).

As pesquisadoras do FBSP destacam que os registros de estupro tiveram uma queda brusca em abril, primeiro mês do isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, mas voltaram a crescer em maio. Isso indica que o confinamento pode ter dificultado a realização das denúncias, especialmente de crimes que exigem que o registro seja feito presencialmente.

Ao todo, foram notificados às autoridades policiais 60.460 casos de estupro e estupro de vulnerável em 2020. Entre as vítimas, 60,6% tinham até 13 anos, 86,9% eram do sexo feminino e 85,2% conheciam o autor da violência.

Mesmo com a provável subnotificação – já identificada nesse tipo de crime usualmente, mas agravada pela pandemia -, foi registrado um estupro a cada nove minutos no país em 2020.

A subnotificação também se agravou nos crimes de violência doméstica durante a pandemia. Mas o principal impeditivo para as brasileiras denunciarem seus agressores não foi a dificuldade em ir a uma delegacia de polícia, mas sim a dificuldade de garantir autonomia financeira durante a crise sanitária. É o que mostra a pesquisa “Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, feita pelo FBSP em parceria com o Datafolha, lançada em junho.

“As duas pesquisas fazem fotografias diferentes que nos ajudam a montar um quadro”, afirma Bueno. Ela explica que os dados do Anuário dão alguns indícios de que a dificuldade em ter autonomia financeira fez muitas mulheres não denunciarem seus agressores, como a pesquisa anterior indicou.

“Basta olhar para o perfil da vítima de feminicídio e de violência. A maior parte tem baixa escolaridade, está em idade reprodutiva, é predominante negra e está nas camadas mais vulneráveis da sociedade”, diz a pesquisadora. “O que as pesquisas mostram é que muitas mulheres gostariam de sair dessa relação violenta, mas não conseguem em função de sua vulnerabilidade econômica.

CINCO MENORES FORAM ESTUPRADAS POR HORA NO PAÍS

Anuário de Segurança Pública mostra que vítimas são cada vez mais jovens: cerca de 60% dos crimes acontecem em casa

O Brasil registrou 44,4 mil casos de estupro e estupro de vulnerável de menores de idade em 2020. Isso significa que, a cada hora, ao menos cinco crianças e adolescentes foram vítimas dessa violência sexual no ano passado. De acordo com o 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 54,4% dessas vítimas tinham de 0 a 11 anos.

Segundo a publicação, a cada ano que passa, diminui a idade das vítimas de estupro no Brasil. Considerando as vítimas de O a 19 anos, o percentual de crimes cometidos contra crianças de até 13 anos subiu de 70% em 2019 para 77% em 2020. Já o percentual de vítimas de O a 9 anos, que era de 37,5% em 2019, passou a ser de 40% (das vítimas de O a 19).

Os dados do Anuário não permitem afirmar que houve aumento nos casos de estupro e estupro de vulnerável no Brasil em 2020. Porém, há fortes indícios de subnotificação. O primeiro deles é uma queda brusca nos registros no primeiro mês de confinamento, em abril do ano passado. Ao longo do ano, o número de notificações subiu conforme recuou a taxa de isolamento social, sugerindo que as denúncias não estavam sendo feitas em função do confinamento imposto para conter a pandemia.

Além disso, a escola e os profissionais de educação, que exercem um papel fundamental em identificar situações de violência vividas por crianças e adolescentes, não puderam cumprir essa função ao longo do ano passado, em função da pandemia. Segundo dados do Unicef reunidos pelo Anuário, o Brasil é o país da América latina com o maior número de crianças que perderam ao menos três quartos do período letivo desde março de 2020: são 44 milhões de alunos nessa situação no país.

“A escola é um equipamento de proteção, não é só um espaço que a criança frequenta porque precisa aprender habilidades. E o professor que percebe que a criança teve queda no rendimento ou mudança no comportamento e eventualmente pode descobrir uma situação de violência”, afirma Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Mais de 60% dos crimes de estupro e estupro de vulnerável cometidos contra crianças e adolescentes acontecem dentro de casa, e 83% são perpetrados por autores conhecidos das vítimas.

“São mais de 40 mil crianças e adolescentes sofrendo abuso sexual de alguém conhecido. O autor é o pai, o padrasto, o irmão, um primo, um vizinho. A pandemia as colocou numa situação em que elas não têm contato com outros adultos que não os seus familiares. Se os familiares são os agressores, elas não têm outra proteção”, reforça a pesquisadora.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 18 DE JULHO

CUIDE DA SUA ALMA

O caminho dos retos é desviar-se do mal; o que guarda o seu caminho preserva a sua alma (Provérbios 16.17).

Há caminhos e caminhos. Uns levam à vida, outros à morte. Uns tiram seus pés da cova, outros empurram você para o abismo. Uns são caminhos de liberdade, outros de escravidão. O caminho dos íntegros consiste em discernir o mal e desviar-se dele. Esse é o caminho da renúncia. Não é popular e não tem muitos atrativos e aventuras. O caminho largo das liberdades sem limites é espaçoso, popular, atraente e cheio de aventuras, mas seu destino é a perdição eterna. Esse caminho é um tobogã que desemboca no lago de fogo, onde há choro e ranger de dentes. Ao longo desse caminho existem muitos cenários encantadores. Nessa estrada larga as multidões cantam e celebram como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. Os prazeres desta vida são desfrutados com sofreguidão. Todas as taças dos prazeres são sorvidas com voracidade. No entanto, o que rege esse mar de gente não é a sabedoria, mas a loucura, pois os tais não se desviam do mal nem preservam a sua alma. Ao contrário, caminham com mais celeridade para o abismo e bebem com mais sede os licores dos prazeres, julgando encontrar neles o preenchimento do vazio que assola a alma. Ledo engano. No final dessa linha, uma pergunta gritará aos seus ouvidos: “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

GESTÃO E CARREIRA

COSMÉTICOS VEGANOS E ‘CRUELTY FREE’ DITAM TENDÊNCIAS

Empresas levantam bandeiras para atrair consumidor; mercado global deve atingir USS 20,8 bi até 2025

Até poucos anos atrás, não era uma tarefa fácil encontrar cosméticos veganos no mercado. Hoje, com maior acesso às tecnologias e com o aumento de consumidores engajados e preocupados com a sustentabilidade, há uma variedade de marcas e produtos disponíveis, impulsionados pela alta do e-commerce, muitos deles, inclusive, estampados por rostos de celebridades.

É o caso da Vegan Repair, lançamento da Cadiveu Essenciais em parceria com a cantora Anitta, que não só estrela a campanha como também é cocriadora dos cinco produtos: xampu, condicionador, leave-in, máscara e beach waves. ”Além de não utilizarmos matéria-prima animal, não há crueldade nos testes”, explica Anitta por e-mail.

A Vegan Repair é uma linha de tratamento para os cabelos de conceito cruelty free (não testada em animais) e clean beauty (beleza limpa), 97% feita com ingredientes naturais. Ou seja, todos os produtos são livres de silicone, parabenos, corantes, óleos minerais e ftalatos, substâncias consideradas tóxicas ao corpo humano. As embalagens são 100% recicláveis e foram feitas de frascos de plástico reutilizado. “Entendo que a vida vegana não é tão acessível para todos. É importante as pessoas entenderem que, quanto mais natural o produto, maior é o bem ao consumidor e ao ecossistema”, destaca Anitta, que ganhou recentemente uma cadeira no conselho

de administração do Nubank. “Acredito na causa animal. Quanto mais falarmos disso, mais acessível se tornará.”

Ações como essa, de divulgação da causa, impulsionam a busca por conhecimento. Em abril, após a viralização do curta-metragem de animação “Salve o Ralph”, que conta a história de um coelho cobaia de laboratório, a Sociedade Vegetariana Brasileira foi contatada por cerca de 20 marcas com interesse no Selo Vegano, que já existe desde 2013.

SELO EM ALTA

“A população está ditando o movimento do mercado e, em contrapartida, as empresas estão enxergando que precisam mudar, não só para atender a essa nova demanda, como também com a intenção de contribuir para um futuro melhor para o planeta”, destaca Maria Eduarda Lemos, gerente de certificação da Sociedade Vegetariana Brasileira.

A quantidade de selos concedidos pela entidade também aumentou nos últimos anos. Entre 2019 e 2020, o número de produtos certificados cresceu 16%, entre alimentos, cosméticos, suplementos alimentares, produtos de limpeza, lavanderia e calçados.

Observando recorte na categoria cosméticos, a tendência é a mesma. Em 2019, foram concedidos 34 selos; em 2020, 38; e neste ano a SVB já avaliou 47 produtos. Dos 2.800 itens com o Selo Vegano no mercado, 189 são cosméticos.

Para entrar no mercado no mês passado, a BO Cosméticos, marca de maquiagem 100% brasileira, buscou as certificações internacionais vegana e cruelty free da Peta (Pessoas para o Tratamento Ético de Animais), considerada uma das maiores organizações de direitos dos animais do mundo, com mais de 6,5 milhões de membros e apoiadores.

A marca foi desenvolvida pela Paulista Julia Grave, de 27 anos, após passar por uma crise dermatológica hormonal. “Sofria ao ter de esconder espinhas sabendo que a maquiagem poderia piorar”, conta ela, que já criava cosméticos de forma caseira para os amigos e decidiu empreender. “Desde o primeiro momento, fez muito sentido eliminar qualquer tipo de ingrediente tóxico e que gere dano ao ambiente.”

Por enquanto, a BO Cosméticos conta com três produtos feitos com ingredientes naturais testados dermatologicamente, oftalmologicamente e para antioxidação: lip tint (pigmento para os lábios), BB cream e máscara para cílios. Estão previstos lançamentos para o e-commerce próprio, marketplaces e lojas de departamento que revendem seus produtos. As vendas estão aumentando diariamente e alcançaram as expectativas.”

FUTURO DA BELEZA É VEGANO

Relatório do instituto de pesquisa Grand View Research de 2019 aponta que o mercado internacional de cosméticos veganos deve atingir US$ 20,8 bilhões até 2025. Com relação aos produtos cruelty free (livre de crueldade animal), a previsão é de alta de 6% entre 2017 e 2023, segundo estudo da Market Research Future.

O movimento é impulsionado pelas gerações mais jovens, que em boa parte consideram a crueldade contra os animais antiética e impulsionam pesquisas e inovações no setor. As vendas por e-commerce também têm aquecido o mercado.

Foi o que observou Nato Lombello ao lançar em abril a ISZI Cosméticos, brasileira, vegana, cruelty free, sustentável e on-line. “Foi uma questão de filosofia pessoal, mas também de tendência. Os consumidores hoje são muito mais exigentes e preocupados entendem o conceito, diferentemente de outras gerações que pouco sabiam de onde os produtos vinham”, explica.

O CEO viu uma oportunidade no movimento de mulheres levarem o cuidado estético dos salões para dentro de casa na pandemia e criou linhas de tratamento de alta performance para os cabelos. Foram necessários R$ 4 milhões de investimento inicial. “As vendas superaram as expectativas. Já contabilizamos 35% de recorrência de compra de produtos para uma marca que está indo para o terceiro mês.”

Atualmente a ISZI conta com mais de 20 produtos e prevê lançamentos para este ano, como a linha para o verão. A empresa também está em negociação com o Leste Europeu e o Oriente Médio para exportações. “Empreender no Brasil é difícil, existem cargas tributárias altas, mas os cosméticos veganos são muito promissores. Cada vez mais, as pessoas buscam por produtos naturais. Se inicialmente era algo de nicho, hoje é um mercado bem consolidado”, avalia o empresário.

EU ACHO …

A CAIXA QUE HABITAS

Algumas caixas foram agrupadas ao longo do tempo, sendo julgadas melhores do que as outras, e isso criou hierarquias

Quando provocamos pessoas a pensarem fora da caixa, muitas vezes acreditamos que a caixa é algo somente limitador e negativo. E que para muitos só o outro tem.

Mas gostaria aqui também de propor a ressignificação das caixas. Se somos matéria envelopada num corpo físico, isso quer dizer que de certa forma todos viemos em formato de caixa. E sabemos onde podemos parar quando a vida sai fora da caixa.

Essas caixas em que habitamos ganharam diversas significações ao longo do tempo, como cor de pele, gênero, sexualidade, origem entre outras. Aprendemos a positivar ou negativar as características das nossas caixas. Isso está dado, e para além da culpa ou de maldizer o passado de quem etiquetou as caixas, olhar adiante e lutar pela igualdade entre elas pode ser um caminho. Poderia ser óbvio, mas não é.

Somos, evidentemente, muito mais do que a superfície ou as etiquetas delas. Ou de como essas caixas são vistas. Há conexões entre as caixas e entre as caixas e o universo.

Mas por que queremos negar tanto que somos caixas?

E porque negar que essas caixas, por exemplo, definem as nossas experiências de vida? Se você nasceu com caixas de homem, branco, heterossexual, católico, cisgênero, sem deficiência, no Rio de Janeiro, isso talvez queira lhe trazer algumas reflexões sobre experiências de vida que foram possíveis por essa combinação.

Se tivesse nascido mulher indígena, cisgênero, homossexual no Mato Grosso do Sul, de etnia Guarani Kaiowá, teria outras experiências. Não dá para ignorar que nossas caixas também moldam as nossas vivências.

Você é uma caixa. Você é tantas caixas. Mas obviamente você também é mais do que isso. É até um desperdício encaixar alguém numa só. Afinal, todos nós estamos em múltiplas caixas e também para além delas.

Para pensar fora das caixas em que habitamos, acredito que primeiro podemos e devemos visualizar as nossas próprias. Você conhece as suas? É muita prepotência algumas caixas acharem que não são caixas e que só quem elas julgam ser “caixa” poder ser visto corno tal. Todos somos

caixas. E encaixamos, ou deveríamos nos encaixar umas nas outras, formando um mosaico chamado Humanidade.

Algumas caixas foram agrupadas ao longo do tempo, sendo julgadas melhores do que as outras, e isso criou hierarquias. Entendo que seja duro perceber que esse mosaico, que poderia estar em perfeita harmonia, com variedade de cores, formas e encaixes, encontre-se em plena desordem. As caixas já estiveram em ordem ou pelo menos mais encaixadas?

Num mundo ideal, para um encaixe mais próximo do perfeito, deveríamos dar nome às nossas caixas e buscar ligações entre aquelas que habitamos. Assim, melhoraríamos nossa conexão também com o além da caixa: o universo, a natureza e o planeta que, por sinal, é uma grande caixa que abriga todas as outras. E se, como caixas corresponsáveis uma pelas outras e pela caixa maior que nos abriga, não cuidarmos da nossa grande caixa colocamos tudo a perder.

***LUANA GÉNOT

lgenot@simaigualdaderacial.com.br

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

UNIVERSO INFANTIL E FOBIAS

É muito comum, frequente e natural que as crianças desenvolvam, no início de suas vidas, uma série de medos que tendem a desaparecer ao longo dos anos, mas que podem se transformar em patológicos

O universo infantil apresenta uma série de fobias. A escotofobia ou acluofobia é o medo do escuro. Essa é uma fobia que geralmente se origina na infância, mas que pode permanecer na vida adulta. É comum que crianças pequenas tenham medo do escuro (geralmente até os seis ou sete anos de idade), mas se esse medo permanece durante o crescimento da criança, adolescência ou ainda se manifesta de forma superlativa, pode tratar-se de uma fobia.

Na idade em que é natural o medo do escuro, as crianças, ainda muito pequenas, possuem imaginação fértil e ainda pouco discernimento para distinguir entre fantasia e realidade. Assim, ao ouvir um conto de fadas e bruxas, uma história de lobo mau, assistir a um desenho recheado de monstros, vai guardando em sua mente as imagens de personagens que no escuro, diante de sombras e do desconhecido, vão tomando formas muitas vezes reais e assustadoras para a criança.

Junta-se a isso o fato de a criança geralmente estar, nesse momento noturno, vivenciando uma angústia de separação, já que dorme longe dos pais. Com o crescimento e a separação entre o real e o imaginário, o medo vai sendo elaborado e desaparece.

É possível ajudar a criança nesse processo, brincando com ela no escuro, mostrando que não há nada a temer, conversando bastante sobre as diferenças entre o mundo do “faz de conta” e o real, lendo uma história que a embale no sono, deixando um ursinho de pelúcia que lhe dê segurança, por ser um objeto familiar, ou até uma pequena luz de apoio para tranquilizá-la.

Outro medo é a coulrofobia, ou o medo de palhaços. Muita gente não gosta de palhaços, mas a coulrofobia diz respeito àqueles que sentem verdadeiro pânico ao se depararem com uma figura destas ou com pessoas fantasiadas. Às vezes, o nível de fobia é tão grave que só o contato com a imagem do palhaço, mesmo representada ou impressa em papel ou brinquedo, é amplamente evitada.

A fobia por palhaços tem origem também na infância, mas não é raro encontrar adultos que fogem de palhaços. Esse medo pode iniciar por volta dos dois anos, fase em que a criança apresenta-se ansiosa diante de estranhos ou de pessoas fantasiadas ou pintadas, como o caso dos palhaços. Nessa idade, a criança vê o palhaço como um ser esquisito, que provoca estranheza e desconfiança.

Conforme a criança vai crescendo, o natural é que esse medo desapareça, mas estudos mostram que 2% dessas crianças irão levar para a idade adulta esse medo, que se manifestará em forma de fobia. Geralmente, o que mais afeta os coulrofóbicos é o sorriso do palhaço, visto como um sorriso falso, que pode esconder as verdadeiras emoções e intenções do personagem.

Um estudo da Universidade de Sheffild, na Inglaterra, em 2008, demonstrou que um grande número de crianças entre quatro e 16 anos manifesta sinais de medo e ansiedade na presença de pessoas maquiadas como palhaços.

O Coringa, um tipo de palhaço bem conhecido, se origina do termo quimbundo kuringa, que significa matar. Ele é aquele que distrai o rei, como um bobo da corte, porém, ao mesmo tempo em que brinca e diverte, transmite, com inteligência, sua mensagem maliciosa e às vezes perigosa.

Tanto a literatura quanto o cinema, percebendo essa dubiedade, estão recheados de palhaços vilões, capazes de provocar essa sensação de medo e arrepio em qualquer um. Alguns psicoterapeutas dizem que esse sentimento desconfortável frente a um palhaço é muito comum à maioria das pessoas, talvez por todo o mistério que rodeia a personalidade do palhaço há tantos anos e que nos desperta, ao mesmo tempo, sentimentos bons e ruins.

A coulrofobia, porém, é um transtorno muito sério, que provoca um verdadeiro pânico em crianças e adultos, que chegam a chorar desesperadamente, sofrer sintomas físicos como calafrios e até desmaios ao mínimo contato com esse personagem. O tratamento exige uma intensa terapia de enfrentamento gradativo até que os sintomas desapareçam por completo. O trabalho é realizado passo a passo e pode ser longo. Após a investigação inicial da causa da fobia, parte-se para o enfrentamento. Muitas vezes, utiliza-se como primeiro recurso o contato com desenhos de palhaços, passando-se a uma etapa seguinte com fotos de palhaços, depois palhaços de brinquedo, até que o paciente esteja pronto para o contato com palhaços reais.

Também existe a brontofobia ou astrofobia, que é o medo de trovões, uma das fobias mais comuns. Mais uma vez, esse medo é natural em uma fase infantil, mas torna-se patológico quando exagerado, acima da faixa etária comum ou persistente.

PESQUISA

Um estudo realizado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, descobriu que 73% das pessoas indicam que têm um medo “leve” ou “moderado” de tempestades. No caso da fobia, um dos sintomas mais comuns é não querer sair de casa ao mínimo indício de tempestade. Crianças escondem-se embaixo da cama, em guarda-roupas, gritam de pavor, tremem, choram angustiosamente. O adulto pode virar um “escravo” da meteorologia, evitando sair de casa sem consultar a previsão do tempo.

O medo dos bonecos chama-se pediofobia, mais comum do que se imagina, e muitos adultos acabam transportando, da infância, o medo de bonecas ou bonecos, principalmente os mais parecidos com a figura humana. O museu de brinquedos Pollock’s Toy Museum, em Londres, reserva uma sala cheia de bonecas, mas um grande número de pessoas, ao chegar próximo à sala, desiste de entrar.

Essa fobia pode ter uma origem em um trauma associado à presença de um boneco ou boneca em determinado momento da infância ou, ainda, a alguma má impressão em um contato com uma boneca. Esse fato serve de gatilho para o desenvolvimento da fobia. Muitos atribuem a má impressão aos olhos da boneca que parecem se fixar nos da pessoa. Em outros casos, dizem que se trata de um olhar vazio, profundo e frio, fazendo com que as mesmas se pareçam cadáveres.

Muitos filmes exploraram essa aversão, como por exemplo Boneco Assassino, com o personagem Chuck, um boneco que ficou famoso por criar um verdadeiro pânico nos cinemas. Personagens como esse, comuns em nossa cultura, podem disseminar o medo, principalmente em crianças pequenas, facilmente influenciáveis.

A terapia para essa fobia segue os mesmos passos daquela utilizada para o tratamento da coulrofobia, a dessensibilização ou exposição gradual ao objeto fóbico, através de desenhos, fotos, até que o paciente esteja seguro e perca o medo por bonecos.

Muitas outras fobias fazem parte do universo infantil, mas não se restringem a ele. Só para citar algumas, entre as mais comuns temos a isolofobia (medo de ficar sozinho), a entomofobia (medo de insetos), aicmofobia (medo de injeções), odontofobia (medo de ir ao dentista), fonofobia (medo de barulhos repentinos ou fortes).

Existem ainda inúmeras outras, algumas delas muito estranhas, como medo de tomar banho, de sujeira ou micróbios, de plantas, da lua, entre outras, ainda consideradas até bizarras e raras.

FOBIA NO DIVÃ

A teoria psicanalítica vem discutindo o fenômeno das fobias há muitos anos. Sabe-se que Freud, em 1895, já afirmava que os rituais obsessivos se constituem sobre uma origem fóbica. O escudo do caso do pequeno Hans trata da fobia infantil. Hans, um garoto acendido por Freud, apresentava uma fobia a cavalos ou, melhor, a ser mordido por um deles. Freud dizia, sobre os sintomas de Hans, que a angústia sentida pelo menino correspondia a um anseio recalcado. Para ele, as fobias deveriam ser encaradas como síndromes que faziam parte das neuroses e que não se constituíam, assim, em processos patológicos independentes. Sua origem estaria ligada à histeria de angústia. Dessa forma, para Freud (1909), a fobia não é uma causa, mas sim um conflito que se torna insuportável ao sujeito; uma ansiedade proveniente de problemas relacionados à libido, que se projeta em um objeto externo. Mais tarde, Lacan e muitos outros psicanalistas deram continuidade aos estudos sobre fobias dentro da visão psicanalítica. Para a Psicanálise, todas as fobias apresentam um elemento em comum: o processo de regressão. A necessidade de um retorno a um momento da fase de desenvolvimento em que a criança não se sentia abandonada, sozinha. Sendo assim, o medo, o pânico ligado às fobias estaria associado a uma sensação de desamparo, de solidão e abandono. Esses sentimentos são, na realidade, deslocados ou transferidos para um objeto fóbico: o escuro, a aranha, o avião, que irá desencadear todo o processo de angústia do abandono. Por isso a necessidade que o fóbico tem de procurar ajuda em alguém, tentando escapar desses sentimentos.

Otto Rank (1884-1939) foi outro grande estudioso de fobias. Ele conheceu Freud e desenvolveu seus estudos a partir da teoria psicanalítica. Segundo Rank, as experiências físicas e psicológicas do nascimento dão lugar a uma ansiedade primal que é lidada através de repressão primal. Para ele, a angústia vivenciada no nascimento geraria um trauma, que seria a origem de todas as fobias.

O caráter traumático do nascimento é algo inegável para muitos autores. Seria a primeira vivência de profunda angústia causada pela separação entre o bebê e a mãe. O próprio Freud dizia que o choro do recém-nascido representaria uma angústia fisiológica que poderia se repetir no futuro. Porém, Otto Rank distingue-se de seu mestre quando atribui ao trauma do nascimento, em contrapartida aos conflitos edipianos de Freud, a origem de todas as fobias infantis. A ansiedade sofrida pelo recém-nascido na separação da mãe, em sua desvinculação do útero, passa a ser, no futuro, a origem de toda aquela sensação de abandono, ou seja, a angústia fóbica.

HERANÇA GENÉTICA

É sabido que muitos adultos são atormentados por alguns medos da infância e alguns pais, dentro desse quadro, podem acabar influenciando seus filhos em relação a esses sentimentos ou reforçando-os, com alguns comportamentos e reações negativas a estímulos, podendo atrapalhar o desenvolvimento da criança e sua passagem pelo medo de forma natural.

Outros até incutem o medo na criança como forma de ameaça para obtenção de obediência. Os adultos tendem a reproduzir em seus filhos algumas condutas que foram utilizadas com eles próprios. Portanto, é pertinente dizer que, em certas circunstâncias, o medo pode ser “aprendido ” social e culturalmente.

Mas, além desses fatores e do conhecimento da origem biológica do medo na essência humana, pesquisa­ dores da atualidade vêm se dedicando ao estudo da herança genética do medo. Uma nova pesquisa realizada no departamento de medicina da Universidade de Emory, em Atlanta, EUA, descobriu que o DNA carrega informações de experiências de medo e estresse de geração em geração.

Assim, tanto a aracnofobia (medo de aranhas) como a coulrofobia, entre outras, podem ter uma gênese em traumas de antepassados. Os pesquisadores comprovaram que as fobias poderiam ser incorporadas ao DNA, através de alterações neuroquímicas (metilação epigenética). Eles utilizaram ratos, fazendo com que os animais associassem o cheiro de flor de cerejeira a choques elétricos. Após a reprodução dos roedores, duas gerações demonstraram aversão e medo ao cheiro, mesmo sem sentir os choques. Dessa forma, a influência das fobias é tão grande no curso do desenvolvimento humano a ponto de alterar a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso das gerações seguintes. Seja qual for a terapia escolhida para o tratamento de uma fobia, que poderá ser através de variadas abordagens, como a terapia comportamental, a Psicanálise, a psicoterapia breve, a hipnose, entre outras, o mais importante é saber que esse problema é real, muito sofrível para seu portador, principalmente quando se trata de uma criança. No entanto, tem cura. E, a partir dessa busca, se pode aprender a lidar melhor com as experiências angustiantes e desafiadoras.

COPROFOBIA, O MEDO DE DEFECAR

Essa é uma fobia muito estranha, que pode acometer crianças bem pequenas, por volta de três anos, podendo até permanecer na adolescência. Porém, é mais raro ocorrer nessa fase. Emily, uma menina de 16 anos. morreu, na Inglaterra, em 2015, por ficar oito semanas sem defecar. Segundo a família, a garota tinha um distúrbio leve dentro do espectro autista e desenvolveu uma fobia por banheiro. Dessa forma, passava semanas com retenção de fezes e todo o seu intestino e metabolismo foram alterados, até que teve uma parada cardíaca. Algumas crianças podem se apresentar pouco à vontade na hora de ir ao banheiro ou ainda reagir com medo, escondendo-se atrás dos móveis e chorando cada vez que sentem vontade de defecar. A coprofobia tanto pode iniciar através de um trauma, uma situação de constrangimento ou qualquer outro distúrbio psicológico em relação às fezes; ou, ao contrário, devido a distúrbios intestinais (fisiológicos) provocados por má alimentação ou alergias, a criança acaba sentindo dores fortes ao evacuar e desenvolve o hábito de retenção fecal. Esse ciclo vai se agravando, até que possa se constituir em verdadeira fobia.

POESIA CANTADA

NA HORA DO ALMOÇO

LETRA E MÚSICA: BELCHIOR

Antônio Carlos Gomes Belchior nasceu em 26 de outubro de 1946, na cidade de Sobral, no Ceará. Sua vida sempre esteve atrelada à música: a mãe Dolores cantava no coral da igreja e logo cedo ele foi apresentado às músicas de artistas como Ângela Maria e Cauby Peixoto.

Estudante do Colégio Sobralense, teve aulas de música, canto gregoriano, línguas e filosofia na escola. Durante a infância, estudou coral e piano com Acácio Halley e se apresentou em feiras como cantor e poeta repentista.

Em 1962, Belchior se mudou para Fortaleza, onde deu seus primeiros passos como artista profissional: entre 1965 e 1970 ele participou de inúmeros festivais de música, shows amadores e programas de rádio e TV, dividindo o palco com colegas como Fagner e Ednardo.

Ao mesmo tempo, o cantor concluiu seus estudos em um colégio de padres, onde estudou filosofia. Durante um breve período, ele hospedou-se no mosteiro Guaramiranga, vivendo com os frades italianos e estudando latim, canto gregoriano e italiano.

De volta a Fortaleza, Belchior ingressou no curso de medicina da Faculdade Federal do Ceará em 1968, mas não teve jeito: abandonou o curso em 1971 para dedicar-se integralmente à sua carreira.

Na capital cearense, o músico se uniu a outros artistas de sua geração como Fagner, Ednardo, Amelinha, Teti, Cirino, Jorge Mello, Rodger Rogério, entre outros. Embora com projetos artísticos diferentes, o grupo ficou conhecido como Pessoal do Ceará.

Após deixar a universidade, Belchior decidiu se mudar para o Rio de Janeiro. Ele participou do IV Festival Universitário da MPB e conquistou o primeiro lugar com a música Na Hora do Almoço.

No centro da sala, diante da mesa
No fundo do prato, comida e tristeza
A gente se olha, se toca e se cala
E se desentende no instante em que fala

Medo, medo, medo, medo, medo, medo

Cada um guarda mais o seu segredo
A sua mão fechada, a sua boca aberta
O seu peito deserto, sua mão parada
Lacrada e selada
E molhada de medo

Pai na cabeceira: É hora do almoço
Minha mãe me chama: É hora do almoço
Minha irmã mais nova, negra cabeleira
Minha avó me reclama: É hora do almoço!

Ei, moço!
E eu inda sou bem moço pra tanta tristeza
Deixemos de coisas, cuidemos da vida
Senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida

Ou coisa parecida, ou coisa parecida
Ou coisa parecida, aparecida
Ou coisa parecida, ou coisa parecida
Ou coisa parecida, aparecida

https://music.youtube.com/watch?v=Qp8yezODmI0&feature=share

EU ACHO …

COMO SE VENDE A ALMA

O que a gente entrega e o que recebe em troca quando nós vendemos nossa alma? Quem vende a alma, pensamos logo de cara, deve ter feito por dinheiro. Mas o que exatamente deu?

Esse processo pode ser muito mais sutil do que imaginamos – em vez de cenários sombrios ou pactos faustianos macabramente urdidos, ele pode ter lugar em decisões que tomamos no dia a dia e que, sem percebermos, vão esvaziando nossa vida. Nada espalhafatoso, nada escuso. Mas, ainda assim, fatal.

Deixe-me exemplificar com uma história prosaica. Como já falei em mais de uma ocasião por aqui, uma das coisas que aprendi nestes últimos quase dois anos foi a prestar atenção nas aves. Da incidental curiosidade despertada por um pássaro que cruzou meu caminho, passei a ativamente observar a avifauna onde quer que estivesse. Isso acabou virando um hobby que tem me ajudado a lidar com o estresse dessa pandemia. Comprei guias de observação, tirei meus binóculos do fundo do armário e mandei arrumar uma máquina fotográfica há muito tempo encostada. Meu prazer era localizar um pássaro, observá-lo, tentar identificar a espécie pela forma tamanho, cores, prestar atenção nos diferentes cantos. Passei então a fotografá-los para ajudar na identificação posterior, sempre um desafio para diletantes neófitos como eu. Algumas fotos ficaram boas, e se tornaram parte do hobby.

Até que um dia, estava sem a máquina fotográfica e ouvi alguém bicando perto de mim. Era uma árvore pequena, com galhos finos, não imaginava quem pudesse ser. Procura daqui, olha dali, eis que vejo um pica-pau-anão pela primeira vez. ‘Que azar”, pensei, “bem quando não estou com minha máquina”. Mas como não poderia fotografá-lo, prestei o máximo de atenção possível aos detalhes, chegando a falar em voz alta para mim mesmo o que estava vendo, para depois identificá-lo de memória com ajuda do guia. Tratava-se de um pica-pau-anão-barrado (Picumus arratus), enem preciso dizer que aquela observação acabou se tornando muito prazerosa, e a identificação, uma grande recompensa.

E o que isso tem a ver com a venda da alma? Tudo. Porque o registro fotográfico, que era inicialmente apenas a consequência da observação, foi se transformando num objetivo a ser alcançado, roubando a essência da atividade. A ponto de eu achar que era um azar encontrar um pássaro novo – alegria de qualquer observador de aves – só porque não tinha a máquina em mãos.

É assim que se vende uma alma. Na vida, nós fazemos muitas coisas porque elas são importantes ou porque gostamos delas e que geram alguma consequência: nosso trabalho contribui com a sociedade, e consequentemente somos pagos. Nossas palavras consolam as pessoas, atraindo gente para perto de nós. Nossos posts são interessantes, gerando likes. E insidiosamente essas recompensas podem se tornar sedutoras, nos levando a fazer as coisas não mais para contribuir, consolar, ajudar, mas para ganhar dinheiro, atenção, likes.

É bom estar atento. Pois quando as consequências de nossas ações se tornam o objetivo principal da vida, nós esquecemos os propósitos originais e perdemos a essência do que fazemos. Risco que pode estar mais perto do que parece.

*** DANIEL MARTINS DE BARROS – é psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. autor de “O Lado Bom do Lado Ruim”

OUTROS OLHARES

CONFINAMENTO FAZ AUMENTAR CASOS DE MIOPIA EM CRIANÇAS

Mais tempo dentro de casa, diante de telas pequenas e sem luz natural, está entre causas apontadas por especialistas

As crianças, especialmente aquelas com idades entre 6 e 8 anos, estão ficando mais míopes na pandemia. Segundo oftalmologistas, os períodos mais longos dentro de casa, longe da luz natural e encarando telas pequenas sem descanso, são os principais responsáveis pelo aumento de casos do distúrbio nessa faixa etária.

Em um artigo publicado em janeiro deste ano na revista científica Jama Ophthalmology, pesquisadores da China relatam que, em 2020, o número de casos de miopia nas crianças com idades entre 6 e 8 anos cresceu até três vezes em comparação com os cinco anos anteriores.

Os resultados vêm de um estudo que contou com a participação de mais de 120 mil crianças. Elas foram examinadas com a técnica do photoscreening, um tipo de exame que usa uma câmera para analisar os olhos sem dilatação.

As crianças de seis anos foram as mais afetadas. A prevalência da miopia em 2020 nesse grupo foi de 21,5%, enquanto no período de 2015 a 2019 a prevalência mais alta registrada havia sido de 5,7%.”No artigo, os pesquisadores afirmam que para crianças de idades entre 9 e 13 anos não houve mudanças significativas.

No Brasil, a situação é semelhante. Com as aulas regulares interrompidas há mais de um ano e as medidas restritivas para diminuir a circulação de pessoas e evitar a transmissão da Covid-19, os mais jovens passaram muito mais tempo dentro de casa no ano de 2020. As consequências já são percebidas nos consultórios médicos.

“Temos observado um aumento significativo de miopia nas crianças no último ano. Elas se queixam mais da dificuldade para ver coisas que estão longe”, afirma Christiane Rolim de Moura, oftalmologista no Sabará Hospital Infantil.

Segundo o oftalmologista Emerson Castro, do Hospital Sírio-Libanês, o esperado era que os atendimentos diminuíssem durante a pandemia, mas isso não aconteceu: “Estou atendendo mais pacientes agora. O olho é a nossa comunicação com o mundo e todos o estão usando ainda mais neste período, crianças e adultos”, diz.

A miopia é a dificuldade para enxergar coisas que estão mais longe. O distúrbio visual surge quando o olho cresce mais do que deveria, e isso dificulta ver com clareza coisas mais distantes. Existe um fator genético para o surgimento da miopia – filhos de pais míopes têm mais chances de ficarem míopes -, mas há fatores ambientais que podem causar o distúrbio.

No caso dos mais jovens, os médicos apontam alguns motivos para o aumento da miopia. O primeiro seria o uso de telas, principal distração durante o confinamento.

Moura explica que quando precisamos enxergar algo muito próximo (a menos de 33 centímetros), ativamos uma musculatura que, se não recebe descanso, causa o crescimento do olho, o que pode levar à miopia.

“A falta de atividades ao ar livre e a ausência da luz natural também estão associadas ao surgimento do distúrbio”, completa Castro. “O sono irregular é outro fator que interfere na qualidade da visão”, acrescenta o médico.

Mas por que os mais jovens são os mais afetados? Segundo Moura, o olho das crianças é mais elástico e, portanto, mais suscetível ao crescimento do globo ocular.

De acordo com Castro, são necessárias políticas públicas para lidar com a pandemia de miopia que segue a do coronavírus. “Não é só colocar o óculos que resolve, há outros problemas associados, como a maior chance de aparecer outras doenças, como o descolamento da retina ou o glaucoma”, diz.

“Em países mais pobres, onde é mais difícil corrigir o problema da miopia, há dificuldades no desenvolvimento escolar dessas crianças”, afirma Castro.

Para evitar que o problema apareça, os especialistas sugerem descansos periódicos a cada 30 minutos ou uma hora de uso contínuo de tela. Essas pausas devem durar alguns segundos ou minutos com os olhos observando objetos mais distantes para relaxar a musculatura. Olhar pela janela, lavar a louça, cozinhar e varrer o chão são algumas das atividades que podem aliviar os olhos.

Os médicos alertam ainda que telas muito pequenas, como as de telefones e tablets, são as mais prejudiciais. Computadores e televisões geralmente ficam mais distantes dos olhos e fazem menos mal.

Atividades ao ar livre, quando forem seguras, são recomendadas.

O papel dos adultos é fundamental para a saúde dos olhos dos mais novos. ”Quando a criança se aproxima muito de algo para enxergar, é sinal de que está na hora de visitar o oftalmologista”, afirmam os médicos.

Mas é importante não esperar até que o problema se agrave. “A sugestão é que a criança passe por exames no primeiro ano de vida e, novamente, por volta dos cinco anos para que seja feita a detecção precoce”, diz Moura.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 17 DE JULHO

UM TESOURO MAIS PRECIOSO DO QUE OURO

Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! E mais excelente, adquirir a prudência do que a prata! (Provérbios 16.16).

Há muitas coisas melhores do que a riqueza: a paz interior, um bom nome e um casamento feliz. Agora, Salomão diz que a sabedoria e a prudência são bens mais duráveis e mais preciosos do que ouro e prata. Investir em sabedoria tem rendimento mais garantido do que comprar ouro. Alcançar a prudência é mais vantajoso do que acumular prata. Os bens materiais podem ser saqueados e roubados, mas a sabedoria e a prudência não podem. A sabedoria não é um substituto da riqueza, mas a sua principal causa. Salomão não pediu a Deus riqueza, mas sabedoria, e no pacote da sabedoria veio a riqueza. É possível que uma pessoa seja rica, mas tola. É possível que um indivíduo esteja com o bolso cheio de dinheiro, mas com a cabeça vazia de prudência. É possível que alguém granjeie muito dinheiro, mas esteja totalmente desprovido de sabedoria. John Rockefeller, que costumo citar como exemplo, foi o primeiro bilionário do mundo. Ele disse que o homem mais pobre que ele conhecia era aquele que só possuía dinheiro. Adquirir ouro sem possuir sabedoria pode ser um completo fracasso. A sabedoria não é algo inato, com o qual nascemos. Precisa ser procurada e adquirida. Esse é um processo que exige empenho, esforço e perseverança. O resultado, porém, é extremamente compensador. É melhor ser sábio do que ser rico, pois a própria sabedoria é melhor do que o ouro.

GESTÃO E CARREIRA

‘CLIQUE DJÁ’ PARA COMPRAR

Varejistas aderem ao ‘livestream shopping’

Sucesso nos anos 1990, os canais de TV exclusivos para vendas ganharam uma nova roupagem na pandemia e foram parar dentro dos celulares. Com o apelo de compras por impulso e a humanização do e-commerce, o livestream shopping se consolida no Brasil, atraindo investimento de marcas que abraçam o formato de aproximação com clientes no digital.

O modelo é um fenômeno na China, onde surgiu, com status de superprodução e movimenta bilhões. Por aqui, esta opção ao varejo que mistura vendas e entretenimento ao vivo já está no calendário de marcas como Renner, Americanas, Riachuelo, Arezzo; Hope, entre outras.

Também chamada de live shopping ou live commerce, a proposta é muito parecida com o formato que ficou marcado por Walter Mercado e seu bordão “ligue djá”, convidando as clientes a telefonarem para comprar. Agora, a ligação virou um clique. A estrutura está mais enxuta. No lugar de um estúdio e equipes de áudio e vídeos, apenas um celular com tripé e iluminação, e talvez mais duas ou três pessoas para ajudar a organizar os produtos e responder em tempo real.

A essência, porém, é a mesma. Recorre aos gatilhos usados nos anos 1990 para incentivar a compra como oferecer descontos ou produtos exclusivos aos participantes, entregas grátis e brindes.

Segundo as empresas, a compra em tempo real quebra a barreirada imagem estática de uma peça no site da empresa e minimiza a desconfiança em compras on-line. Nas lives, os clientes podem ver todos os ângulos, olhar de perto, visualizar como fica em modelos com corpos diferentes e ainda tirar dúvidas na hora.

“A live commerce é uma opção para a venda instantânea porque traz a sensação de urgência. O termo ‘é só agora’ gera uma angústia e na pandemia as pessoas estão mais vulneráveis. Elas economizaram, estão em casa e pensam’ já que estou nesta situação horrível, mereço’. A compra por impulso, nesse caso, alia hedonismo, urgência e autoindulgência”, diz Rafael Nascimento, professor de Marketing da ESPM e diretor da Explore.

CEM LIVES POR DIA

As taxas de conversa o em vendas em uma hora de live chegam a ser sete vezes as do site ou até mesmo o equivalente a um dia de vendas na loja física. A plataforma digital B2W – detentora das marcas Americanas, Submarino, Shoptime e Sou Barato – firmou em maio uma parceria com a chinesa OOOOO, plataforma especializada neste novo formato do varejo, para escalonar lives. A B2W já fez cem e quer que este seja o número de lives por dia.

Além da bagagem da OOOOO, o objetivo do acordo é lançar um aplicativo para vendas nas redes sociais que vai conectar empresas, criadores de conteúdo e compradores, especialmente os mais jovens, através de vídeos interativos. O acordo prevê a formação de uma joint-venture (parceria) entre elas para desenvolvimento das operações no país.

“Eles conhecem a tecnologia da China, que é referência nestas lives, e têm mecanismos de gamificação que podem ajudar a engajar o público. Para nós, é uma oportunidade de unir entretenimento com compra em um único lugar”, diz Leonardo Rocha, diretor de Marketing da B2W. Lançada em 2020, a startup brasileira Mimo nasceu quando a publicitária Monique Lima viu o potencial deste nicho.

Ela saiu do emprego em uma agência e buscou duas sócias na área de tecnologia, Etienne Du Jardin e Angelica Vasconcelos. A empresa atraiu investidores de peso e tem mais de 400 clientes.

Elas oferecem consultoria e suporte operacional para lives e acesso a uma plataforma para que a cliente possa comprar durante o ao vivo, sistema que muitas lojas não têm.

A Mimo recebe de 10% a 20% de comissão do que é vendido na live e a conversão média geral de vendas é em torno de 10%. Dependendo do segmento, como bebidas e moda, pode chegar a 15%, segundo Monique.

“O diferencial é tirar as dúvidas ao vivo. O e-commerce é mais solitário. Na live, a pessoa pergunta, o apresentador responde na hora, chamando o cliente pelo nome, e a venda é convertida na hora”.

Um de seus clientes é a LoftyStyle, que tem 16 lojas físicas em São Paulo.

“Com a pandemia e o fechamento das unidades, tudo virou estoque, então investimos pesado no digital. Fotografamos as peças, contratamos consultoria digital para treinar a equipe, abrimos conta na rede social de cada loja e criamos conteúdo”, diz a sócia, Camila Ortiz.

Em agosto, a Lofty fez o primeiro desfile pela internet. Para Camila, o ideal é ter duas pessoas apresentando para não ficar monótono, uma para repassar perguntas que entram ao vivo e duas para organizar as roupas nos bastidores.

ENTRETENIMENTO É A RECEITA

Já para as grandes redes, o entretenimento é a cereja do bolo. Na China, a Alibaba, gigante do e-commerce faz espetáculos em datas como o Dia dos Solteiros. No Brasil, cada empresa tem sua estratégia. A da Riachuelo é a regionalização. A marca entrou no universo de liveshopping ano passado com apresentações de gancho em datas comemorativas, como a do Dia dos Pais de 2020, com o cantor Mumuzinho e o apresentador Otaviano Costa, e das cantoras Simone e Simaria.

Em abril, passaram a dar dicas de looks e, agora, as lives serão a partir das lojas. Já fizeram dois testes: uma na Casa Riachuelo do shopping Eldorado, em São Paulo, e outra numa loja em Juazeiro do Norte, no Ceará.

“Cada unidade conhece o perfil do público e oferece o que ele precisa. A equipe da loja faz a live com as peças do estoque local”, explica Elio Silva, diretor executivo de Canais e Marketing da Riachuelo.

Já na Renner, que também se inspirou na tendência chinesa e foi uma das pioneiras no país, a estratégia é inserir conteúdo nas apresentações.

“Temos trabalhado com conteúdo relevante e algum entretenimento e buscamos sempre apresentadores que estejam alinhados à marca, seja um influenciador ou uma atriz ou outro convidado”, conta a diretora de Marketing Corporativo, Maria Cristina Merçon.

A executiva diz que um desafio é treinar a equipe à distância. Do time de marketing e vendas nos bastidores aos convidados para apresentar a live, todos estão em casa.

“Também precisamos do suporte da tecnologia para garantir que a live não vai cair ou ter falhas e de uma equipe para mandar os looks para a casa de quem apresenta. É tudo novo, vamos adaptando. Começamos com ao vivos mais longos e hoje eles duram, em média, 40 minutos.

Outra ramificação são os desfiles. Na China, a Xangai Fashion Week, foi totalmente digital ano passado. Neste ano, com a pandemia sob controle (lá), o modelo adotado foi o híbrido.

“O desfile de coleção é geralmente para convidados, mas tivemos que ressignificar. Pela live, este momento é democratizado”, avalia a executiva da Renner, que já realizou dois lançamentos com desfile. A Arezzo embarcou na ideia da vitrine ao vivo e dos desfiles. Em março, lançou a nova coleção da linha Nina em uma live, um dia antes da data oficial, e planeja a divulgação via internet da coleção Arezzo 2022 depois do lançamento físico.

Ad vendas de uma live chegam a representar o volume de um dia comercial de grande relevância, como Natal e Dia das Mães, em uma loja da Arezzo.

Para dar conta de mais de cem lives até agora, a diretora da Arezzo, Luciana Wodzik, explica que foram feitos treinamentos com os times de marketing e comercial: “Em março, com o fechamento parcial do comércio, liberamos e capacitamos as lojas para fazerem suas lives via Instagram e abrimos nova e importante frente de vendas”.

A marca de roupas íntimas Hope fez, em setembro, um festival de lives para novas coleções. A apresentação teve a presença de famosos, como Carolina Ferraz, Rafa Brites, Lelê e show da Anitta.

Já a Hope Fashion Week, no início do ano, lançou novos produtos, mas com um foco mais comercial e unindo os canais on-line ao off-line, com cashback e descontos nas próximas compras.

A diretora de Estilo e Marketing da Hope, Sandra Chayo, atribui o êxito do varejo ao vivo à capilaridade, que supera a de um evento presencial. Segundo Sandra, na Hope Fashion Week, o crescimento foi de 65% nas vendas de produtos e coleções em comparação com a edição em setembro.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

JOGO DE SENSAÇÕES

A música desenvolve e provoca respostas emocionais porque algumas regiões do cérebro impactadas por ela estão situadas muito próximas daquelas necessárias durante a percepção de cheiros que despertam memórias

A música provoca sensações peculiares pela sua capacidade de causar feitos em termos racionais e afetivos, mas as pessoas percebem a música de modo singular. Alguns músicos, por exemplo, demonstram virtuosismo ao executar sons através de um instrumento, porém sem transmitir emoções, pois concentram suas energias e direcionam foco aos aspectos racionais da música, tais como ritmo, intensidade e contagem do tempo de cada compasso. Nestes casos, a música deixa de mobilizar afetos em função da separação que se faz entre razão e emoção quando se executa algum instrumento musical ou quando uma canção é entoada.

Alguns ritmos exigem mais precisão e concentração do músico. Todavia, muitos estilos e ritmos permitem a expressão racional e afetiva do músico, refletindo nas sensações experimentadas pelo ouvinte. Para que a música seja completa e capaz de atingir os ouvintes de modo pleno, espera-se que o músico alcance equilíbrio entre razão e emoção. Assim, ouvintes podem ser agraciados e afetados de modo intenso pela reunião de sons estruturados em consonância com a intensidade e a expressividade que se esperam de uma música de qualidade.

Algumas pessoas não demonstram facilidade para tocar qualquer instrumento musical, mas conseguem perceber os menores intervalos entre diferentes tons. Muitos músicos são exímios instrumentistas, mas demonstram indiferença diante de expressões musicais intensas e excitantes do ponto de vista emocional. A indiferença poderia estar relacionada ao retraimento emocional ou poderia decorrer de algum trauma ocasionado por acidentes, tal como Sacks (2007) menciona em uma passagem de seu livro. Muitos, por sua vez, sofrem de amusia.

Além de acidentes físicos, como uma queda de bicicleta, apenas para citar um exemplo, algumas lesões podem decorrer da prática excessiva da execução de instrumentos musicais, conforme se observa entre muitos músicos profissionais. Galvão (2006) discorreu sobre problemas neurológicos muito comuns em músicos profissionais que se dedicam ao estudo e à prática musical de modo intenso. Os problemas variam de lesões físicas, causadas pelo desgaste vinculado à intensidade das práticas, chegando ao adoecimento psíquico e à perda de motivação para a música.

A indiferença emocional à música também pode estar relacionada à síndrome de Asperger (transtorno do espectro autista), conforme salienta Sacks (2007), o que se justifica pela existência de indícios sobre provável subdesenvolvimento em partes mediais do cérebro de indivíduos portadores da síndrome, sendo as referidas partes responsáveis diretas pela afetação emocional de pessoas expostas aos sons e melodias com potencial para suscitar emoções. Todavia, vale salientar o fato de muitos psicólogos e musico terapeutas recorrerem à música para tratar pessoas com desordens relacionadas ao espectro autista. Nestes casos, a música favorece o contato entre terapeuta e paciente, já que a ausência de verbalização encontrada em pacientes com Asperger pode levar profissionais à utilização da música com o objetivo de estabelecer um canal de comunicação eficiente e favorável ao tratamento. Em síntese, a música pode servir como canal de comunicação entre terapeuta e paciente.

MUSICOTERAPIA

De acordo com a American Music Therapy Association (AMTA), a musicoterapia constitui-se a partir de estudos e de intervenções baseadas no uso da música com a finalidade de estabelecer uma relação terapêutica na perspectiva individual ou coletiva. Trata-se de uma ciência voltada à promoção de saúde, bem-estar e desenvolvimento humano. A prática musico terapêutica é exercida por profissionais especializados, capazes de acessar potencialidades e limitações daqueles que buscam tratamento. As intervenções ocorrem de modo sistemático, a partir de planejamentos específicos para cada caso. Os tratamentos podem incluir criação, composição, canto, dança e audição de músicas nos mais variados estilos. Tanto o repertório quanto a modalidade da intervenção são voltadas para a necessidade do cliente.

O enfoque da musicoterapia é lançado sobre aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais relacionados com indivíduos de todas as faixas etárias. Crianças, adolescentes, adultos e idosos podem são beneficiados pela prática terapêutica. Os atendimentos são direcionados ao tratamento de dificuldades de diversas ordens, tais como: depressão, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, dependência química, transtorno mental, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), lesões cerebrais, lesões físicas, dores agudas e crônicas. A musicoterapia também pode ser aplicada em pessoas interessadas em aprimorar habilidades de comunicação e expressão.

Em um artigo, intitulado, Música e Mente, Antunha (2010) discorreu sobre a importância no uso da música para fins psicoterapêuticos. Segundo a autora, os elementos musicais propiciam experiências significativas aos indivíduos. Dentre as contribuições do artigo mencionado, destacam-se as considerações feitas pela autora acerca do uso da música no tratamento de pacientes com depressão, cujos efeitos podem resultar na retirada de pacientes do estado depressivo. Um repertório de músicas clássicas, todas elas favoráveis ao enfrentamento da depressão, está exposto no quadro abaixo.

Sacks entende que um dos maiores poderes da música reside no fato de se obter sucesso ao tentar provocar reações emocionais por meio da música. O autor afirma que a música desenvolve e provoca respostas emocionais porque algumas regiões do cérebro impactadas por ela estão situadas muito próximas daquelas vinculadas às emoções, necessárias durante a percepção de cheiros responsáveis pelo despertar de memórias. Todavia, Sacks (2007) ressalva a falta de clareza em torno da compreensão sobre o modo pelo qual as referidas respostas emocionais ocorrem.

Na atualidade, profissionais exercem a musicoterapia em hospitais, centros de reabilitação física e mental, hospitais psiquiátricos, centros de repouso, escolas, clínicas psiquiátricas, clínicas especializadas em tratamento de dependentes químicos, centros de referência para o tratamento de portadores do vírus HIV, dentre outros locais destinados ao atendimento de pessoas que demandam cuidados terapêuticos.

O alcance e a efetividade da musicoterapia se justificam pelos efeitos causados pelos elementos sonoro-rítmicos musicais, os quais agem sobre ritmo respiratório, pulsação e pressão sanguínea, percepção sensorial, funções endócrinas, energia e tônus muscular, funções cognitivas, habilidades vinculadas à comunicação e à expressão emocional e corporal.

De acordo com dados fornecidos pela AMTA, a musicoterapia pode ser indicada ao tratamento específico de pessoas com inúmeras necessidades. Algumas necessidades mencionadas no site da referida associação estão expostas a seguir.

Situações traumáticas: a musicoterapia pode estimular o aprendizado e o uso de formas de enfrentamento de crises em crianças e adultos, por meio da viabilização de canais para expressão de sentimentos e de emoções, com potencial de promover ressignificação de experiências traumáticas, relaxamento e autodesenvolvimento. O uso de terapias com música para esse fim é comum em pessoas afetadas por fatores estressores do cotidiano, assim como desemprego, competitividade no ambiente de trabalho, perda de um ente querido, dentre outras situações geradoras de crises. Os resultados mais comuns são: redução de estresse, mudanças positivas no modo de declarar emoções e aumento de confiança.

COMBATE À DOR: um levantamento bibliográfico conduzido por pesquisadores da AMTA corrobora com afirmações acerca da importância da musicoterapia no enfrentamento da dor. Pesquisas evidenciam diminuição de indicadores de ansiedade e redução da necessidade de sedação e administração de analgésicos em pacientes submetidos à colonoscopia. Pacientes acometidos por câncer também são beneficiados pela modalidade terapêutica, uma vez que a música reduz a ansiedade provocada nas sessões de quimioterapia e de radioterapia e diminui a frequência de náuseas e vômitos. Outros estudos comprovam que a musicoterapia atenua indicadores de estresse em pacientes durante estágio pré-operatório. Profissionais musicoterapeutas podem sugerir programas terapêuticos com músicas eficazes para a potencialização de efeitos analgésicos, diminuição da dor e desenvolvimento de autoconfiança em pacientes acometidos por dores decorrentes de doenças e de cuidados médicos necessários ao tratamento. Além dos efeitos psicológicos da musicoterapia, observam-se mudanças fisiológicas em decorrência do método musicoterapêutico, a saber: respiração adequada, baixa pressão arterial, redução de frequência cardíaca e relaxamento da tensão muscular.

SAÚDE MENTAL: esta modalidade terapêutica mostra-se eficaz na promoção de saúde mental, justamente pelo seu alcance junto às necessidades cognitivas, afetivas e psicossociais. Muitas vezes, a musicoterapia é utilizada como alternativa para o tratamento de pessoas que resistem diante de abordagens tradicionais. Utiliza-se canto e música em uma combinação destinada à criação de um canal de comunicação e de expressão aos pacientes que não conseguem pôr em palavras aquilo que deve ser ressignificado. As atividades consistem em produção de músicas, escuta e discussão sobre temas abordados em canções, além de relatos sobre sensações experimentadas durante a atividade. Nessa perspectiva, a musicoterapia mostra seu potencial organizador da subjetividade humana. O repertório de atividades e de músicas deve estar de acordo com a necessidade e com o gosto musical de cada paciente. Não adianta propor uma seleção musical que não faça conexão com o paciente.

O trabalho realizado com pacientes que sofrem com algum transtorno mental é quase sempre realizado em equipes multidisciplinares. As etapas e o tempo de tratamento variam, pois dependem da evolução de cada paciente. As intervenções são individuais ou grupais. A musicoterapia pode levar pacientes que sofrem de transtornos mentais a um estado favorável para a elevação da autoestima, além de possibilitar mudanças positivas no estado de humor.

PORTADORES DE AUTISMO: pesquisas mostram a importância da musicoterapia no tratamento do autismo, tendo em vista a gama de experiências e de sensações geradas em pacientes, resultando em mudança de comportamento e no desenvolvimento de habilidades. Uma revisão de literatura acerca de pesquisas sobre o uso da musicoterapia em indivíduos com autismo permitiu a indicação das principais justificativas para o emprego desta modalidade no público mencionado. O uso da musicoterapia em indivíduos com autismo é justificável, porque esta modalidade terapêutica

1. promove integração e comunicação entre indivíduos inseridos em um mesmo contexto, motiva e ajuda na manutenção da atenção;

2. estimula o uso de respostas comportamentais apropriadas e melhores aceitas do ponto de vista social;

3. permite que pessoas incapacitadas de se comunicar verbalmente se comuniquem de forma não-verbal, assim como auxilia o desenvolvimento de comunicação verbal e de linguagem;

4. promove estimulação auditiva, visual e tátil;

5. proporciona senso de segurança e familiaridade com o ambiente terapêutico;

6. canaliza energia que pode ser utilizada de acordo com a necessidade de cada indivíduo;

7. concede oportunidade de desenvolvimento da musicalidade aos indivíduos com autismo que possuam habilidades musicais.

EU ACHO …

A DEMANDA REPRIMIDA

Pior do que não ter dinheiro, é ter tido e perdê-lo. É preciso ter prudência sobre o futuro

Quase todos crescemos com demandas reprimidas, especialmente financeiras. A falta de recursos impede certo padrão de consumo. Os que possuem quase nada, os medianos e mesmo os ricos têm algum tipo de repressão ao consumo. Faça um exercício de imaginação: se eu ganhasse cem mil reais por mês. Claro que isso resolveria grande parte das minhas demandas atuais. “‘Eu poderia viajar, trocar de carro, pagar conta atrasadas!” Sim, minha querida sonhadora e meu estimado sonhador, mas dentro de limites. Há algumas pessoas que ganham cem mil reais por mês e podem viajar, mas não podem, por exemplo, passar as férias todas na suíte real do hotel Burj AI Arab Jumeirah de Dubai. Ali, em dois dias, a renda magnífica da pessoa de cem mil reais estaria consumida. Se optasse pela suíte similar do hotel Presidente Wilson (Genebra, Suíça), necessitaria quase dois meses de renda para passar um dia naquele espaço com vista para o lago. Sim, alguém com cem mil reais por mês (ou até um milhão) também teria ”demandas reprimidas”.

A demanda reprimida explica muita coisa na vida profissional e financeira. Pessoas que trabalham demais costumam oferecer a si mesmas recompensas que comprometem sua saúde financeira. “Ah, eu mereço, eu trabalhei tanto!” Além do estresse do excesso laboral, existe um sistema de compensações perigoso quando vivemos sobre o fio da navalha da exaustão. O mesmo ocorre para pessoas que tiveram necessidades básicas severamente reprimidas por muito tempo e, de repente, entram na posse de uma grande quantia. Pode ser uma indenização trabalhista, uma loteria, uma herança súbita: a conta, antes vermelha, torna-se superavitária. Anos lutando com um orçamento que não fechava, evitando comer ou vestir o que desejava, morando em casa onde a reforma essencial era adiada a cada semestre e, de repente, as pepitas de um ouro súbito refulgem. É frequente que o dinheiro se evapore com rapidez. E a tal de “demanda reprimida”. “Dinheiro na mão e vendaval”, cantava Paulinho da Viola.

Quando escrevo isso, não me refiro apenas às histórias contadas por terceiros ou criadas por mente ficcional. Também eu já recebi dinheiros súbitos no passado e já vi o milagre da “subtração dos pães”, a inversão do milagre bíblico. Se a localidade de Tabgha visualizou dois peixes e cinco pães alimentarem milhares de pessoas sob a brisa gentil do Mar da Galileia, cestas repentinas com pães e peixes podem minguar na mão de quem pensa que o fenômeno vai se repetir sempre. Se o universo ao meu redor tiver, igualmente, grande fome, a evaporação se acelera. Trocar meu carro, presentear esposa e filhos, atender a santa mãezinha que não tem casa própria, emprestar a um amigo que se sufoca com dívidas e puf! Sumiu o capital da mesma forma miraculosa com que surgiu.

Sim: pobres, classe média e ricos têm “demandas reprimidas”. Não tratadas ou refletidas, elas podem corroer qualquer montante. A fome excessiva pode levar a um mastigar tão rápido que provoca mal-estar. A sede em excesso possui potencial para que a bebida escorra do copo edos lábios para se perder entre roupas e mesa. Como pedir moderação a quem atravessou um deserto de austeridade ou necessidade? Deque forma se pode incitar à prudência quem carrega uma dor profunda e corrosiva? Em toda cena de filmes nos quais um grupo, quase à morte, encontra um oásis, todos se atiram nas águas, ninguém faz uma degustação equilibrada do líquido. A sede abrasiva derruba civilidades. Dizendo de forma popular, “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.

Bem, quanto melado precisamos para um patamar de prudência? Difícil dizer. Há um erro comum no Brasil: supor que educação financeira é coisa de gente muito rica. Na verdade, quanto menor o capital, maior deveria ser a educação dos bens. Voltando um pouco: o cantil deve ser racionado no deserto, não no oásis. Gastos são estudados pelos economistas, todavia, o caso quase sempre é mais psíquico do que de leis de mercado.

Sim, a abundância ajuda. Todas as vezes que meu refrigerador esteve sem nada, tive vontades fortes de comer muito. Com estoques em casa, a vontade diminui. Será que o sábio rei Salomão olhava com tédio para seu harém numeroso com setecentas esposas e trezentas concubinas? Em oposição, como pensaria o adolescente hebreu fervente de hormônios que nem uma única mulher conseguia nas vielas de Jerusalém? Se, subitamente, por um passe mágico e inesperado, o jovem ansioso estivesse no lugar do governante, supomos que os dias iniciais seriam de intensidade única. Agora, com o refrigerador cheio, cansaria logo? Alguns especialistas na psique imaginam que hábitos de gastos seguem uma lógica erótica, o que ajuda a explicar minha referência ao rei de Israel. Salomão foi homem de muitas mulheres e de grande fortuna. Uma coisa excluiria outra ou explicaria?

Bem, todos temos carências afetivas, sexuais e financeiras. Ter consciência delas ajuda bastante. Todo dinheiro deve responder a algumas questões antes de assumir a cidadania no meu lar: de onde veio este haverá mais? Como fazer com que ele vire mais dinheiro? Quais demandas posso atender agora e quais posso adiar para que sejam atendidas no futuro sem risco? Sem responder a tais perguntas, há uma chance de evaporação dolorosa. Sim, pior do que não ter dinheiro, é ter tido e perde-lo. É preciso ter esperança e alguma prudência sobre o futuro.

*** LEANDRO KARNAL – é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de ‘O Dilema do Porco Espinho’, entre outros

OUTROS OLHARES

CIENTISTAS TESTAM VACINA CONTRA HIV

Imunizante que está sendo avaliado em estudo de fase 3, inclusive no Brasil, é visto como o mais promissor em 40 anos de epidemia

O desenvolvimento em tempo recorde de várias vacinas contra a covid-19 parece ter dado o impulso que faltava para a criação de um imunizante contra o HIV. Quarenta anos depois do início da pandemia de aids, o mundo parece estar perto de ter um produto eficaz na prevenção da infecção. Um estudo com mais de 6 mil pessoas está sendo conduzido em vários países da África, Europa, América do Norte e América Latina, inclusive no Brasil. Para especialistas, é o mais promissor em quatro décadas.

O estudo está dividido em duas frentes. A primeira delas, na África Subsaariana, testa 2.637 mulheres heterossexuais. Uma segunda, chamada de Mosaico, conduzida na Europa, na América do Norte e na América Latina, está testando 3.600 voluntários, entre homens homossexuais e pessoas trans. No Brasil, o estudo ocorre em oito centros de pesquisa em São Paulo, no Rio, em Minas e no Paraná.

A pesquisa está na fase 3, que testa a eficácia em larga escala. As fases 1 e 2, com menos voluntários, determinam a segurança do produto e a dose apropriada. Numa fase anterior, em macacos, o imunizante apresentou uma proteção de 67% contra a infecção. É por conta deste número que os cientistas estão otimistas. Até hoje, o candidato a vacina contra a aids mais eficaz já testado no mundo apresentava proteção de 30% – e sua pesquisa foi deixada de lado.

“Nas fases 1 e 2, a vacina se mostrou muito segura. Os efeitos colaterais são parecidos aos da AstraZeneca contra a covid: dor local, febre por um dia, dor de cabeça”, afirma o infectologista Ricardo Vasconcelos, coordenador da fase 3 no Hospital das Clínicas, em São Paulo. “A imunogenicidade do produto, ou seja, o quanto ele conseguiu induzir uma resposta imune, foi considerada muito satisfatória. Resta saber se essa resposta é capaz de reduzir a incidência da infecção.”

A vacina está sendo aplicada em pessoas soronegativas que tenham o risco aumentado de exposição à infecção. Os voluntários serão acompanhados por 30 meses. Metade receberá placebo e a outra metade, o imunizante. Cada um tomará quatro doses, com intervalos de três meses entre cada uma.

MUTAÇÕES

A grande capacidade de mutação do vírus HIV – muito superior à do Sars-CoV-2 – sempre foi o maior obstáculo para a criação de uma vacina eficaz. A tecnologia usada no novo imunizante é similar à da AstraZeneca desenvolvida contra a covid-19. Um adenovírus inativado é usado como um ‘cavalo de Troia’ para levar fragmentos genéticos do HIV para dentro da pessoa a ser imunizada, “treinando” o seu sistema imunológico a combater o vírus real. A diferença é que, neste novo produto, estão sendo usados milhares de fragmentos genéticos.

“São muitos tipos diferentes de vírus circulando pelo mundo, a ideia é conseguir cobrir o maior número possível de variantes”, explica Vasconcelos. “(Essa pesquisa) se chama Mosaico porque reúne milhares de fragmentos de HIV.”

Mas, afinal, por que várias vacinas contra a covid foram desenvolvidas em menos de um ano e ainda não se chegou a um imunizante contra o HIV? “A principal resposta é que são vírus diferentes. Não é porque chegamos rápido a uma vacina contra o coronavírus que poderemos chegar na mesma velocidade a um imunizante contra outro vírus”, pondera Vasconcelos. “Muitas pessoas pegaram covid e se curaram. Ninguém se curou da infecção pelo HIV. Ou seja, de partida, sabemos que é possível curar a covid. A resposta imune contra o HIV é muito menos eficaz.”

Por outro lado, a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 pode ser desenvolvida em menos de um ano porque a plataforma do adenovírus já tinha sido desenvolvida na Universidade de Harvard, em 2015. Sem falar, é claro, do interesse político e do alto investimento financeiro. Agora, as plataformas de RNA mensageiro inéditas, criadas para a covid, podem facilitar, num futuro próximo, o surgimento de mais candidatos a imunizante contra a aids.

“Foram 40 anos de evolução nas pesquisas, houve várias tentativas, pelo menos seis estudos muito grandes”, diz o infectologista Bernardo Porto Maia, coordenador da pesquisa Mosaico no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. “Mas o HIV é um vírus com uma capacidade de mutação muito grande. A diversidade genética inviabilizava a criação de uma vacina, sobretudo com as tecnologias antigas que tínhamos.”

Atualmente, 38 milhões de pessoas vivem com HIV no planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Até hoje, pelo menos 33 milhões de pessoas morreram vítimas da infecção. Com a evolução nas técnicas de prevenção e nos tratamentos, a mortalidade caiu de 1,7 milhão em 2004, no pico da epidemia, para 690 mil em 2019 – uma redução de 60%. A taxa de infecção também caiu. De 2,8 milhões de novas infecções ao ano em 1998 para 1,7 milhão em 2019, queda de 40%.

“Os avanços mais recentes, como a profilaxia pós-exposição, estão mudando o rumo da epidemia. A situação melhorou, mas é inaceitável termos quase 700 mil mortes ao ano por uma doença que sabemos como prevenir e como tratar”, afirma Maia. “Nada melhor que a imunização em massa para combater uma pandemia.”

CONFIANÇA

Ativista do coletivo Colid, em prol da diversidade, o pesquisador de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro Thauan Carvalho, de 26 anos, é um dos voluntários brasileiros do estudo Mosaico, que testa o mais novo e promissor imunizante contra o HIV já desenvolvido em 40 anos de pandemia. A fase 3 da pesquisa tem a participação de 3.600 voluntários em oito países da Europa, da América do Norte e da América Latina, incluindo o Brasil.

Carvalho tomou no dia 2 de junho a primeira dose do imunizante – no total, são indicadas quatro para a vacina. A próxima está prevista para agosto.

O cientista já teve um relacionamento sorodiscordante (em que uma pessoa é soropositiva e outra é soronegativa) e sabe o quanto a aids é cercada de estigma e preconceito. Ele acredita que seu gesto pode ajudar a reduzir esses danos. “Para combater o preconceito, precisamos de conhecimento”, diz o pesquisador, que está concluindo um doutorado. “Vivemos em meio a um negacionismo muito forte, um obscurantismo muito grande. Me senti muito feliz de poder ajudar.”

Em macacos, o novo imunizante conseguiu reduzir a infecção em 67% dos casos, um marco na pesquisa da vacina contra a aids. “Estou muito confiante de que teremos boas notícias vindas da ciência”, diz.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 16 DE JULHO

APRENDA A LIDAR COM SEUS SUPERIORES

O semblante alegre do rei significa vida, e a sua benevolência é como a nuvem que traz chuva serôdia (Provérbios 16.15).

A atitude daqueles que nos lideram e estão sobre nós atinge-nos diretamente. Se esses líderes estão de bom humor, com o semblante alegre, um clima agradável e ameno se estabelece. Se estão furiosos e mal-humorados, porém, o ambiente se transtorna. Quando o rei fica contente, há vida; a sua bondade é como a chuva da primavera. A alegria do líder transborda em ações de bondade, e essas ações descem sobre nós como chuva serôdia, preparando o campo do nosso coração para uma grande colheita. É claro que os sentimentos, as ações e as reações daqueles que nos estão governando dependem, e muito, da maneira como os tratamos. Nossas ações de obediência e fidelidade provocam reações de benevolência. Nossa presteza em servir com alegria retorna a nós como chuvas de bênção. Colhemos o que plantamos e bebemos o refluxo do nosso próprio fluxo. Servos insubmissos produzem patrões carrascos. Servos fiéis produzem líderes generosos. Quando lidamos de forma sábia com os nossos superiores, estamos investindo em nós, pois colhemos os frutos sazonados de nossa própria semeadura.

GESTÃO E CARREIRA

EMPRESAS PROCURAM PROFISSIONAIS QUE POSSAM ENSINAR O QUE É ESGDemanda por especialista é alta, mas há risco de transformar agenda em mais um departamento

Com o ESG ganhando cada vez mais tração no mundo dos negócios, as empresas correm contra o tempo para entrar no jogo. Muitas tem procurado especialistas para conseguir implementar princípios ambientais, sociais e de governanças nos negócios.

Essas três práticas representam o ESG, sigla, em inglês, para Environmental, Social and corporate Governance.

Os desafios, porém, são encontrar profissionais capacitados e fazer com que a agenda não se torne apenas um novo departamento.

Segundo o CFA Institute, associação global que reúne e certifica profissionais de finanças, a demanda por esse tipo de expertise é alta e a oferta segue baixa.

Em pesquisa feita em dezembro de 2020, a instituição analisou 1 milhão de contas no LinkedIn é concluiu que menos de 1% tinha qualificação na área.

O levantamento considerou apenas pessoas do ramo financeiro, um dos fatores mais entusiasmados com o tema. Ou seja, se faltam profissionais nesse mercado, é de se esperar que o mesmo ocorra em outros segmentos. Para capturar a crescente demanda, a PWC, rede global de auditoria e consultoria, anunciou que vai contratar mais de 1.000 pessoas nos próximos cinco anos. O plano faz parte de um investimento bilionário do grupo para aperfeiçoar seus serviços de assessoria em questões ESG, que devem ser cada vez mais requisitados.

Maurício Colombari, sócio da PWC, diz que já percebeu um aumento na busca por consultorias e especialistas no Brasil no último ano. Segundo ele, atualmente, os profissionais mais capacitados são os que possuem conhecimento aprofundado em algum dos temas que a agenda engloba. “Os maiores especialistas na parte de meio ambiente, por exemplo, vêm das áreas de gestão ambiental e de engenharia de produção. São pessoas que cuidam da cadeia de valor, economia circular, gestão de resíduos. Na parte social, são os profissionais de ciências humanas, e em governança, do direito e da administração”, afirma.

Para Colombari, a expertise em ESG acaba sendo um “puxadinho” de outras formações – o que não é algo necessariamente ruim, já que o tema demanda uma gama diversa de especializações.

“Um profissional de ESG é até difícil de existir, porque precisaria dominar tantas temáticas que você começa a pensar se é possível transitar entre todas elas”, diz. “Quem quiser abraçar tudo corre o risco de ser superficial, o que não será suficiente para tratar dos desafios das organizações.

No Brasil é comum que algumas empresas depositem a responsabilidade de suas agendas ESG no departamento de sustentabilidade quando não no marketing. No entanto, ao fazerem isso, correm o risco de tratar o tema como incumbências de um setor específico, em vez de compromisso de todo o negócio, como defende Colombari.

“No mundo ideal, cada, área da empresa pensaria com a mentalidade de ESG ao tomar decisões. O ideal é que isso esteja incorporado em todos os departamentos”, afirma.

É o que também pensa Nelmara Arbex, sócia de ESG da KPMG, multinacional de auditoria e consultoria. Para ela, lugares mais avançados na agenda, como Europa e Estados Unidos, se destacam por entender os três princípios de forma mais abrangente.

“A primeira coisa que a gente percebe no exterior é que a educação para os aspectos sociais, ambientais e éticos são esparramados por toda a organização. Especialmente na Europa, nas grandes e médias empresas, você vê que qualquer executivo tem facilidade de falar sobre a relação do ESG com a sua área, seja ela finanças, RH ou planejamento”, diz.

Arbex, que também foi vice presidente da GRI (Global Reporting Inictative) entidade internacional que estabelece padrões para relatórios de sustentabilidade, diz que não é tão comum ver, em outros países, pessoas se formando para um cargo de gestão de ESG. “Na verdade, você tem profissionais de várias áreas trazendo cursos de especialização no tema”, afirma.

Segundo a especialista, o Brasil está atrasado nesse aspecto de formação, mas a expectativa é que isso ande mais rápido nos próximos anos.

“Não é só formar um profissional superespecializado numa área específica. Vamos ter que capacitar as pessoas que já estão dentro das empresas. Todo mundo vai ter que passar por um upgrade”, diz.

Foi o que a Nespresso norte-americana fez. Após sofrer críticas sobre o impacto ambiental de suas cápsulas de café, viu a necessidade de expandir o conceito de sustentabilidade para seus funcionários. Como? Criando um curso para seus executivos.

Em parceria com a NYU Stern School of Business, a Nespresso desenvolveu formação para ensinar seu quadro sobre sustentabilidade na indústria do café. Em uma das atividades, os participantes visitam uma fazenda na Costa Rica para ver o programa de abastecimento sustentável da empresa. Eles também têm aulas de negócios e são incentivados a desenvolver projetos para reduzir o desperdício nos escritórios.

O curso existe desde 2016 e, de lá para cá, 118 funcionários de diferentes áreas da Nespresso participaram, o que ajudou a melhorar os índices de reciclagem das cápsulas.

Aqui no Brasil, a alta busca por programas de qualificação é percebida por quem oferece formações em ESG. Segundo Adriane de Almeida, diretora de desenvolvimento do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), a demanda nunca foi tão grande.

O instituto lançou seu primeiro curso sobre o tema no segundo semestre de 2020, para conselheiros de empresas. Todas as edições lotaram e eles viram a necessidade de criar um para gestores.

João Carlos Redondo, coordenador da comissão de sustentabilidade do IBGC, concorda que o conhecimento sobre os princípios ambientais, sociais e de governança devem ser difundidos por todos os departamentos da organização. No entanto, ele julga imprescindível a existência de um coordenador das ações.

“A inexistência de alguém para liderar essa agenda nas empresas pode comprometer o avanço. Tem que ter um ‘sponsor’ (patrocinador), alguém tem que organizar tudo isso”, diz.

Assim como o IBGC, instituições como o Insper, FGV e Fundação Dom Cabral também têm conteúdos sobre o tema. Mas a oferta é recente – pelo menos com ESG no nome.

A FGV ofereceu sua primeira capacitação sobre o tema em novembro. No Insper, o primeiro curso específico de gestão em ESG está programado para setembro.

Ricardo Assumpção, diretor executivo da Grape ESG, consultoria que atual no cenário social, ambiental e de governança, lembra que quando procurou um curso sobre ESG aqui no Brasil, no início do ano passado, não achou quase nada. Segundo ele, as formações tinham maior foco em temas específicos, como meio ambientei ou responsabilidade social.

Ele diz que só foi encontrar o curso que procurava na London Business School, onde, além de se especializar no tema, conheceu sua sócia Ione Anderson.

Assumpção também defende que a agenda seja vista de forma transversal e não como um departamento, algo que a maioria das empresas aqui no Brasil ainda não faz. Na visão dele, não adianta contratar um expert se o negócio não tiver essa mentalidade incorporada em sua cultura.

“Uma empresa que coloca um especialista em ESG lá dentro quer muito mais atender os anseios do mercado do que se preparar para o desenvolvimento sustentável. Claro que você vai precisar de uma pessoa para cuidar dessa área, mas não começa por aí. Vejo muita empresa achando que trazer um bom profissional a preço de ouro vai fazer toda a diferença, mas não é essa a  solução”, afirma.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

A (DES)CONSTRUÇÃO DO NOME-DO-PAI

Uma discussão recorrente na sociedade é se o adolescente infrator é culpado pela extrema crueldade que comete ou se ele está na posição de vítima da violência que recai sobre seus ombros, causada pelos problemas sociais

Discute-se com muita frequência o impacto que os crimes pratica­ dos por adolescentes vêm causando na sociedade. Há os que defendam que o adolescente infrator é “culpado” pela extrema crueldade, e há os que acreditam que ele se tornou “vítima” de uma violência que recai sobre ele a todo instante: falta de cidadania, conteúdos escolares pouco (ou nada) atraentes, desemprego dos pais, banalização do sexo e da criminalidade, elementos que estão presentes em nosso cotidiano. Na realidade, ocorrem as duas coisas: essa violência física, psíquica, moral ou social impõe ao jovem um sofrimento que o impele a destruir tudo o que está à sua volta, inclusive a si próprio – na oposição aos valores sociais e morais através da participação em crimes, e/ ou no consumo de drogas, que prejudica a sua própria saúde.

Para Araújo, qualquer forma de violência, mesmo que simbólica, remete o sujeito a um embrutecimento que destrói sua autoestima e tudo o que está ao redor. Em uma sociedade onde não existe respeito ao cidadão, há a tendência a se violar as leis, porque estas se tornam inimigas da sociedade, atacando-a, limitando-a e cerceando-a em vez de protegê-la e garantir seu desenvolvimento. Para Barros, a sociedade sempre apostou na máquina formal do Direito como reguladora do laço social, mas, diante da degradação dos valores morais e da falência das instituições, tende a injetar esse formalismo nos aparatos institucionais destinados à vigilância e à segurança em torno de leis cada vez mais duras para exercer o controle dos laços sociais caóticos de nossa sociedade.

A adolescência provoca questionamentos e mudanças na família, em função dá expansão das relações do adolescente, e pressupõe uma evolução dos pais frente à nova realidade. Também a família extensa é afetada. Exigindo mudanças e renegociação de papéis e questionamentos das regras intergeracionais. Assim, quando o adolescente se vê envolvido com drogas e/ ou com a criminalidade (atos infracionais), ocorre um sintoma que denuncia as falhas do sistema familiar e uma necessidade de mudança de seu funcionamento.

Para essas autoras, a família se vê assolada em um “pânico parental” de que será aniquilada, porque a manifestação de independência do filho adolescente voltou-se para o lado negativo, destrutivo. As autoras apontam que o aparecimento dos atos infracionais na adolescência está relacionado às dificuldades específicas de comunicação e a características relacionais dentro da família, onde impera a “lei do silêncio”, e o adolescente passa a agir no mundo externo, com atos delinquentes, para expressar o que não pode ser explicitado no interior da família. Nessas famílias, a autoridade parental encontra-se debilitada em função de um desacordo crônico entre os pais sobre a educação dos filhos, sendo que um deles está excessivamente envolvido com o filho delinquente, seja como “companheiro” seja como “cúmplice” do filho infrator.

Em geral, o adolescente desempenha diferentes papéis ao lado da mãe, ocupando espaços vazios do relacionamento conjugal, mantendo­ se numa relação de rivalidade e/ ou de afastamento do pai, o que dificulta sua identificação com ele, e, por extensão, sua própria autoidentificação. Daí, o adolescente busca outras vias para lidar com a angústia pelas falhas da construção identitária: as drogas e/ou a criminalidade.

A grande queixa da sociedade é a falta de limites de violência e agressividade do adolescente, na sua fase de transição para a vida adulta. Para explicarmos como isso ocorre, temos de nos remeter às relações primordiais com nossos pais e a função dos objetos transicionais, dos ensinamentos de Winnicott.

O Suficientemente bom bebê passa do estado da completa dependência dos pais para a formação de um espaço subjetivo, que utiliza objetos do mundo interno para propósitos originários do mundo interno, quando o bebê está em relação fusional primária com a mãe, sem diferenciação; posteriormente ele começa a criar um espaço psicológico interpessoal entre esses dois mundos, no qual o pai passa a entrar nesse estado subjetivo trazendo a lei necessária à criança/ adolescente, para que ele se estruture como sujeito social. Mas, para que isso ocorra de forma saudável, o pai deve ser legitimado pela mãe como sendo alguém que irá auxiliá-la a ser uma “mãe suficientemente boa” (conforme descreve Winnicott.

Husrtel afirma que o pai teria a função primordial de realizar um corte simbólico no laço primário da relação mãe-bebê, em decorrência da própria denominação “pai”, que implica outra filiação da criança diferente daquela da mãe, e com esse corte o pai pode exercer a função paterna (ou quem o substitua, no exercício da função paterna – pois pode haver famílias formadas por pessoas do gênero feminino, nas quais a figura masculina não existe), que, para Araújo, é muito mais do que uma simples presença masculina na vida do bebê: é um exercício do poder decorrente da representação da lei.

A função paterna deve ser internalizada pela criança, para que esta passe a ver o “mundo” conforme as regras sociais de proibição do assassinato, do canibalismo e do incesto, o que é fundamental para a estruturação do superego. O pai não é a lei, mas é seu representante. O pai suficientemente bom, constituído dessa relação, oferece ao filho a oportunidade de criar e “transgredir” (no sentido positivo da palavra, de experimentar e transformar o que foi aprendido na infância), contribuindo para as transformações sociais. Porém, se essa lei não for internalizada, a transgressão deixa de ser positiva e passa a ser negativa, destrutiva, expressando uma revolta.

O contato afetivo da criança com seus pais favorecerá a introjeção daquilo que, em Psicanálise, denomina-se ”imagos”, ou imagens parentais internas. A partir dessas imagens, a criança delimitará os papéis de cada um dos pais, estabelecendo vínculos triangulares que serão absorvidos internamente e farão parte da estrutura psicológica dessa criança. Por isso, é necessário que haja o convívio com ambos os genitores, biológicos ou não, e que estes exerçam funções parentais, pois a ausência de qualquer uma dessas figuras poderá produzir uma “hemiplegia simbólica” na criança, que a privará de uma relação que tem papel fundamental na sua constituição psicológica adequada.

Para Gottman e DeClaire, “pai envolvido” é o que tem disponibilidade emocional e contribui para a educação e bem-estar da criança, especialmente quanto ao desenvolvimento da sociabilidade e competência escolar. Por outro lado, Corneau ressalta que a ausência da “paternagem adequada” gera confusões quanto à identidade sexual e dificuldades quanto ao manejo da agressividade, autoafirmação, ambição e curiosidade exploratória dos filhos.

Ainda segundo e DeClaire, o pai pode influenciar os filhos de algumas maneiras que a mãe não consegue, especialmente no tocante ao relacionamento com a criança e seu desempenho na escola. Os autores apontam pesquisas que indicam que meninos com pais ausentes têm mais dificuldade de encontrar o equilíbrio entre a afirmação da masculinidade e o autocontrole e, consequentemente, mais dificuldade de aprender a se controlar e adiar a gratificação, habilidades que adquirem maior importância quando o menino encontra modelo masculino paterno positivo, à medida que cresce e busca novas amizades, sucesso acadêmico e ascensão profissional.

No caso dos meninos, aqueles cujos pais são presentes e interessados são menos propensos a cair precocemente na criminalidade e inclinados a estabelecer relacionamentos saudáveis com as mulheres quando se tornarem adultos.

No caso das meninas, aquelas cujos pais são presentes e interessados são menos propensas a cair precocemente na promiscuidade sexual e inclinadas a estabelecer relacionamentos saudáveis com os homens quando se tornarem adultas.

Em uma revisão da literatura nacional e internacional acerca da interação entre pais (homens) adultos e filhos de O a 6 anos e sua correlação com o desenvolvimento infantil, Cia et al. mencionam estudos que apontam as seguintes conclusões:

Quanto maior o suporte que o pai oferecia para o filho, melhor o desenvolvimento cognitivo, menor a probabilidade de problemas de comportamento e menor o número de sintomas depressivos dos filhos.

Dentre as crianças que não conviviam com o pai ou com uma figura paterna, quando estavam com quatro anos apresentaram maior índice de problemas de comportamento; e quando estavam com seis anos mostraram maior escore de depressão e maior índice de externalização de comportamentos agressivos.

Os estilos parentais educativos também podem influenciar na for­ mação da personalidade dos filhos e na qualidade dos vínculos: crianças com maior índice de problemas de comportamento, tanto na escola quanto no ambiente familiar, tinham o pai com comportamento mais hostil e intruso; da mesma forma, a presença desses pais agia negativamente na influência positiva do relacionamento materno com o filho.

Mas o que vemos atualmente é o esvaziamento da figura paterna: pais (homens) ausentes, omissos, estilo laissez-faire, enfraquecidos, ou que abandonam deliberadamente a família, ou que são excluídos da relação (em atos nefastos de alienação parental, por exemplo – sendo seu substrato simbólico mais pernicioso a falsa acusação de abuso sexual). Felzenswalb considera que: “a ausência do pai é uma das principais causadoras dos altos índices de criminalidade e delinquência, da sexualidade prematura e gravidez precoce, pelo fraco desempenho escolar, pela depressão e drogadição”.

Nesse sentido, complementam os ensinamentos de Gottman e DeClaire; A pesquisa (…) sustenta a convicção de que a criança realmente precisa do pai. Mas nosso trabalho também apresenta essa importante distinção: nem todo pai serve. A vida da criança é altamente enriquecida quando há um pai emocionalmente presente, legitimador e capaz de confortá-la quando está triste. Do mesmo modo, a criança pode ser prejudicada quando o pai é abusivo, excessivamente crítico ou emocionalmente frio, ou, ainda, quando ambos ficam várias horas mudos diante da televisão.

DESESTRUTURAÇÃO

Quando o adolescente não encontra o “pai” como estruturador do superego, enfrenta dificuldades de internalizar as normas, valores, regras morais e sociais. As crianças e adolescentes são mais exigentes e cobram mais empenho e participação dos pais, precisando de mais valores e limites, e esse pedido não pode ficar no vazio. Porque quando ele clama pelo “pai” e não encontra resposta, ele vai buscá-lo em outras figuras, que podem não ser adequadas: no traficante, no líder da gangue.

A fragilização do pai real, em uma sociedade que impõe o consumismo desenfreado, e a necessidade do adolescente de ser visto e aceito no grupo fazem com que ele menospreze a Lei do Pai e encontre no criminoso as referências “paternas” que não encontrou em casa. “Ter uma arma na mão dá a esse adolescente a visibilidade e o ‘respeito’ que ele não encontrou na escola e na sociedade. O tráfico proporciona o status econômico que a sociedade tem lhe recusado”. Segundo a citada autora, o adolescente busca um mecanismo de defesa da autoalienação e desinvestimento de si para lidar com a necessidade, e destruir o que está à sua volta, por­ que o mundo interno está completamente destruído.

Conforme a teoria sistêmica, o sintoma de um elemento da família reflete o sintoma de todo o sistema familiar. Devemos considerar que, nessas situações, ocorre uma dificuldade dos pais em assumir os papéis parentais, por terem vivenciado situações de sofrimento ou ausência de seus próprios pais, por isso buscam no filho adolescente um substituto do pai ou um rival, e colocam esse filho em papel parental (parentificação) muito precocemente, sem que ele encontre formas de reagir.

É nesse contexto que a droga e/ ou o ato infracional surge(m) e passa(m) a ter o poder de ajudar o adolescente a lidar com seus sentimentos, ou a se relacionar com as pessoas, e garante a possibilidade de vivenciar outros papéis, além daqueles do filho parental, propiciando a sensação de pertencimento e afiliação a outros contextos. Isso assegura formas de inclusão social (substituindo a “invisibilidade” na família). A necessidade de sustentar a família pode fazer com que o adolescente cometa o primeiro delito e permaneça nessa trajetória, ocupando o espaço vazio deixado pelo(s) pai(s) no sustento da família.

O “PAI JURÍDICO”

É assim, com o esvaziamento e enfraquecimento do pai, que o adolescente infrator acaba buscando na violência e na delinquência uma forma de ser percebido, ser “respeitado” (ou melhor seria, ser “temido”?), como uma forma de impor pela força uma “autoridade” (em um assalto à mão armada, por exemplo, dominando a vítima) que não obteve adequadamente nem da figura paterna nem das instituições (família, escola).

E esse declínio da autoridade paterna se estende também para as instituições estatais, na medida em que o desrespeito à lei paterna se inicia dentro da família, com o não cumprimento às normas, na busca imediata e desenfreada de satisfação de desejos, na vivência narcísica com o muito, sem respeito ou consideração pelo outro, e se estende para o desrespeito constante ao Estado.

Por sua vez, esse Estado se torna esvaziado e busca recuperar seu espaço através do autoritarismo, da repressão, de leis que, teoricamente, apregoam a proteção à sociedade, mas na prática produzem efeitos contrários, de restrição de possibilidades a toda a sociedade, e mais especificamente ao adolescente. Assim, conforme Araújo, torna-se difícil ao adolescente compreender os limites da lei e da ordem, quando o próprio Estado não cumpre adequadamente tais funções.

Claro que as questões da dinâmica familiar e da construção identitária não são os únicos fatores que influenciam o adolescente a ingressar no mundo das drogas e/ ou do ato infracional. Existem também os fatores sociais, econômicos, individuais e políticos. Podem existir outras formas de organização familiar que dificultem ao adolescente a construção de sua identidade e fomentem o envolvimento dele em atos infracionais sem privações econômicas, por simples “prazer” ou “diversão”, como ocorre com adolescentes de classes mais abastadas que praticam vandalismos, pichações, estelionatos, ou outros delitos até de maior periculosidade.

Para Neuburger, Costa, Legnani e Zuim, o papel de pai estabelecido pela cultura europeia abrange três dimensões: a de reconhecimento da filiação, da relação afetiva da filiação e a do “pai de família”, aquele que tem um lugar e uma responsabilidade social. É esse papel que a Justiça quer resgatar. E, segundo Penso e Sudbrack, o contexto da Justiça pode resgatar essa função, com a intervenção do terceiro (o juiz) que é a autoridade que pode restaurar a função paterna para os adolescentes infratores.

Araújo estabeleceu o termo “pai jurídico”, que deve ser compreendido “como aquele que é representado por uma instituição que atua em nome da lei, a Vara de Infância e Juventude e a Promotoria da Infância e da Juventude, e que traz para a criança e para o adolescente a lei que pode propiciar a formação do sujeito social, quando esta não foi suficientemente instalada no domínio familiar e social”. Para a referida autora, não basta oferecer escolas ou empregos para os adolescentes; mais importante que isso, é imprescindível resgatar valores como solidariedade entre as gerações, e estabelecer políticas públicas que permitam que as pessoas desenvolvam sua criatividade no sentido do crescimento e autoestima.

EU ACHO …

POR QUE SE ACREDITA QUE LIDAR COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA É MAIS DIFÍCIL DO QUE COM AS DEMAIS?

Por que conviver com alguém com deficiência é visto com frequência como um gesto humanitário de algumas pessoas de bom coração e não algo que deveria ser natural para todos?

Existem frases que nós que temos uma deficiência ouvimos o tempo todo sem notar o quanto elas seriam incomuns, na verdade, grosseiras, se dirigidas para outros.

Não me refiro aos questionamentos diários sobre de onde vem nossa deficiência, se foi por doença ou acidente, se a gente não enxerga nadinha de nada mesmo, se sonha de noite ou como sabe se alguém é bonito sem ver.

São inúmeras as perguntas curiosas que, a depender de como e quando são feitas, e também de quem as responde, podem ser entendidas como naturais e saudáveis ou como invasivas e irritantes. Infelizmente não tenho receita ou manual de instruções sobre como conversar com um cego.

Há poucos dias descobri que muito mais significados estão escondidos em uma fala tão frequente quanto as anteriores e que tem como propósito demonstrar empatia, vontade de aprender com o outro e construir laços.

Quantas vezes, caro leitor, alguém lhe disse que irias se esforçar para aprender a lidar com você?

Se você tem uma deficiência, provavelmente uma centena de vezes. Ouviu coisas assim quando foi se matricular em um curso, passou por uma entrevista de emprego, foi a uma agência de viagens, marcou um encontro num aplicativo de namoro. Isso se tiver sorte, pois também há risco de terem dito que não saberiam como agir na situação, sugerindo que procurasse um especialista em pessoas como você. Por outro lado, caso não conviva com uma deficiência, apostaria que nunca escutou nada parecido. Mais do que isso, ficaria muito ofendido se alguém tentasse demonstrar simpatia dessa forma. Dirá, todos precisam me aceitar assim como sou e saber me tratar como um igual não é mais do que a obrigação de qualquer pessoa.

Por que as pessoas com deficiência formam um grupo sobreo qual se pode admitir com tranquilidade que não se sabe lidar enquanto os demais são entendidos como consumidores, profissionais, alunos, amigos, e companheiros em potencial?

A exclusão que as pessoas com deficiência sempre vivenciaram levou a uma situação em que nós e as pessoas mais bem intencionadas, dispostas a iniciar uma relação conosco, nem percebem o quanto é sintomático aceitarmos que ainda estamos tão distantes que, não havendo um esforço para que aprendamos uns com os outros, nossas deficiências serão uma muralha intransponível para que haja alguma troca entre nós.

Há especificidades no modo como nós que temos uma deficiência nos comunicamos, aprendemos, nos locomovemos, nos divertimos. A maioria das pessoas não sabe muito a respeito e realmente pode ser preciso que se aprenda algo no primeiro contato, que haja um aviso de que a forma certa de conduzir é deixando o cego segurar no cotovelo de quem está indicando o caminho. E estamos o tempo todo torcendo para encontrar pessoas receptivas a nosso modo de ser.

Mas por que conviver com alguém com deficiência é visto com frequência como um gesto humanitário de algumas pessoas de bom coração e não algo que deveria ser natural para todos? Penso que seria muito melhor um mundo em que as pessoas conhecessem e abraçassem essas diferenças, se compreendessem e convivessem com naturalidade.

Em vez disso, o cego que chega a um novo espaço costuma ser a novidade que desestabiliza. É a pessoa que ninguém tinha se preparado para receber na festa, para quem vão procurar uma cadeira num em vez de chamar para a pista. Até que um dia vem alguém disposto a aprender a lidar com a lidar com a gente, a ensinar os passos da dança de mãos dadas, e ficamos imensamente gratos por terem se lembrado de nós pelo tempo que dura uma música.

Quando o humor está melhor, olho a questão de cabeça para baixo. Uma vez uma pessoa da família decidiu que iria assumir o milenar trabalho do cupido e encontrar uma namorada para mim. A primeira qualidade que enumerou sobre a pretendente imaginária é que a moça não deveria ter preconceito. Ótimo. Então a deficiência é um repelente natural de gente preconceituosa.

Só me pergunto o motivo de as pessoas que não tem deficiência aceitarem se relacionar com alguém intolerante, que não consegue se imaginar convivendo com o diferente. Acordar de manhã ao lado de quem possui uma visão de mundo tão pobre me parece infinitas vezes mais difícil do que estar com alguém que não enxerga.

Como vocês fazem para lidar com pessoas que se acham superiores às demais?

Como lidamos com a pessoa que está sempre com os sentimentos à flor da pele? E com a pessoa que se desencantou com a vida e só quer ficar em silêncio no seu canto? Quem pode me dar uma ajuda para me relacionar com pessoas muito cultas que intimidam por sua inteligência?

Parece que toda essa turma também veio sem receita ou manual de instrução. Não será fácil, mas prometo me esforçar bastante para aprender a lidar com todos vocês. Tenham paciência e me avisem se eu fizer algo errado. E já antecipo minhas desculpas pela falta de experiência.

*** FILIPE OLIVEIRA

OUTROS OLHARES

EDUCAÇÃO DESIGUAL NA PANDEMIA DIMINUI MOBILIDADE SOCIAL NO BRASIL

Alunos de particulares e com pais escolarizados e ricos tiveram mais atividades presenciais e online

Alunos de escolas privadas, com pai ou responsáveis mais escolarizados e ricos, receberam um total de aulas presenciais na pandemia da Covid-19 significativamente maior do que os mais pobres, estudantes de escolas públicas e dependentes de pessoas menos educadas. A diferença é ainda maior nos alunos do ensino fundamental, o que representará um marcador importante na redução da mobilidade social no país, além de sinalizar um aumento futuro da desigualdade de renda – já extremamente elevada no Brasil. Segundo trabalho do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMOS), a partir de dados da Pnad Covid 19 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), as diferenças regionais também são significativas no quesito tarefas escolares, mesmo que online, recebidas pelos alunos.

Estudantes entre 6 a 17 anos do Norte e Nordeste tiveram menos tarefas (75% e 84% deles, respectivamente) do que a média do Brasil (89%).

No caso das aulas presenciais, mesmo que parciais, alunos dessa mesma faixa etária, sob cuidados de responsáveis ricos e com ensino superior completo (ou além), tiveram mais que o dobro de oportunidades de interagir com professores na pandemia.

A diferença chega a quase três vezes levando-se em conta estudantes de escolas públicas e privadas (6% a 16%.

No caso dos alunos do ensino fundamental (6 a 9 anos) a disparidade é ainda maior: só 5% dos estudantes do ensino público tiveram aulas presenciais, ante 19% nas escolas privadas. A pesquisa pode ser acessada no site do IMOS (imdsbrasil.org/).

Há diferenças também a favor de alunos de escolas privadas com responsáveis mais ricos e escolarizados no recebimento de atividades escolares, incluindo tarefas online. Embora as diferenças na disponibilização de tarefas sejam menores no geral, alunos de famílias mais pobres tendem a ter menos supervisão para responder às lições, seja porque os pais continuaram saindo para trabalhar na pandemia ou pela falta de acesso à internet – além da própria limitação dos pais menos escolarizados.

Segundo Sergio Guimarães Ferreira, diretor de Pesquisa do IMDS, quatro medidas deveriam ser priorizadas para reforçar o ensino dos mais afetados na pandemia:

1) Busca ativa por alunos com baixa presença em sala de aula;

2) Programas de tutoria online no contraturno com o apoio de alunos de universidades;

3) Testes para identificar alunos críticos e dar tratamento personalizado a eles; e

4) Na alfabetização, explorar tecnologias para desenvolver a consciência fonológica de alunos de até sete anos.

“A situação geral é bem mais crítica para os alunos do ensino fundamental. Pois, mesmo que tenham tido essa oportunidade, eles não conseguiram absorver o conteúdo de aulas online”, diz Ferreira.

“Os dados mostram ainda que a pandemia aumentou o risco de a baixa escolaridade dos responsáveis acabar transmitida aos filhos, restringindo ainda mais a mobilidade social brasileira”.

No Brasil, apenas 45% das crianças mais pobres tem pai ou mãe que completou o ensino médio. Entre as crianças mais ricas, essa taxa sobe a 97%, segundo estudo do economista Naercio Menezes, do Insper.

Para João Pedro de Azevedo, principal economista na área de prática Global de Educação do Banco Mundial, o estrago causado pela pandemia no aprendizado – e na renda futura – dos estudantes no Brasil e no mundo ainda está longe de ser compreendido.

“Trata-se de uma catástrofe geracional”, afirma. Azevedo considera que os mais afetados no Brasil tendem a ser os estudantes que estavam nos anos finais do ensino fundamental, e que podem vir a engrossar as estatísticas da evasão escolar.

O economista do Banco Mundial afirma que, além do aumento da desigualdade interna nos países, a pandemia acentuará as diferenças entre nações pobres e ricas.

Nesse sentido, a América Latina foi a região do mundo em que as escolas permaneceram fechadas por mais tempo.

Segundo indicador do Banco Mundial e do Instituto de Estatística da Unesco que mede a proporção de crianças em torno de dez anos que não conseguem ler e compreender um texto simples, havia 48% dos alunos nessas condições no Brasil em 2015 (ante média de 51% na América Latina).

Com o fechamento das escolas na pandemia, as simulações no ano passado sugerem um aumento dessa proporção em 11 pontos percentuais.

Uma medida semelhante do Banco Mundial, a partir de dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), mostra que a proporção de crianças brasileiras que não conseguem ler e compreender um texto simples, mesmo frequentando a escola, havia caído de 72% para 39% entre 2007 e 2019 (antes da pandemia).

Azevedo destaca como boa notícia o fato de o Ministério da Educação ter confirmado a realização do exame do Saeb no final deste ano. “Será a pesquisa mais importante do sistema, pois permitirá entender o tamanho das deficiências e o perfil de quem perdeu mais na pandemia.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 15 DE JULHO

O PERIGO DO DESTEMPERO EMOCIONAL

O furor do rei são uns mensageiros de morte, mas o homem sábio o apazigua (Provérbios 16.14).

Se o furor de uma pessoa é uma fagulha que se alastra e provoca devastação por onde passa, imagine o furor do rei! O furor do rei é mais do que uma fagulha; é um incêndio, um fogaréu que leva morte e destruição em suas asas. É um grande perigo ter domínio sobre os outros sem ter domínio próprio. É ameaçador estar sob a autoridade de alguém que não tem controle emocional, pois esse destempero é como um vulcão que cospe suas lavas de fogo e espalha a morte por todos os lados. A sensatez diz que não devemos jogar lenha na fogueira, mas sim colocar água na fervura. Em vez de provocar a fúria do rei, devemos apaziguá-lo. Não é o homem raivoso e destemperado emocionalmente que prevalece na vida, mas o pacificador. Este herdará a terra. A mansidão não é falta de força nem ausência de poder, mas poder sob controle. O manso é aquele que, embora tenha motivos para reagir com violência, reage com brandura. Em vez de provocar a ira, busca a reconciliação. O homem sábio não é aquele que vive entrando em confusão, travando discussões tolas e comprando brigas desnecessárias, mas aquele que guarda a si mesmo da mágoa e se torna agente da paz.

GESTÃO E CARREIRA

‘APAGÃO’ DE MÃO DE OBRA

Desemprego é recorde, mas empresas não encontram pessoal qualificado

O Brasil vive um paradoxo. Há no país quase 15 milhões de desempregados enquanto empresas reclamam de dificuldades para preencher vagas, inclusive de nível técnico e operacional, num apagão de mão de obra qualificada. Candidatos para vagas de ensino médio na indústria, mas que não conseguem ler um manual ou não tem conhecimentos básicos de matemática, jovens que tentam um posto no setor de serviços, mas têm dificuldades para enviar um e-mail ou mandar sua documentação às empresas de maneira digital, além de não saberem se expressar corretamente na comunicação com os clientes, são alguns dos relatos feitos por executivos e recrutadores.

O impacto da pandemia na educação, particularmente no ensino médio, e o avanço da digitalização nos negócios agravam o que os especialistas apontam como mais um gargalo na economia, mesmo com o país tendo, no momento, o maior contingente de desempregados da sua história.

“Estamos vivendo um apagão de mão de obra, isso é categórico. Apagão é a expressão do momento e também um vaticínio, uma previsão de que, daqui pouco, não vamos conseguir sair dessa situação, permanecendo na armadilha de país de renda média”, diz o economista Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco.

Na multinacional alemã de intralogística Jungheinrich, onde muitos processos requerem conhecimento em automação elétrica e eletrônica, a dificuldade de encontrar profissionais piorou na pandemia, segundo a gerente de RH, Thalyta Haertel: “Sempre houve dificuldade na qualificação de técnicos, mas agora não conseguimos nem contratar quem esteja cursando, pois houve evasão das escolas. Percebemos essa deficiência nos estagiários que ficaram só no EAD (ensino a distância)”.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que, no setor, faltarão 300 mil profissionais nos próximos dois anos. São ocupações de ensino médio, como técnico em eletromecânica, programador de unidades eletrônicas, especialista em telemetria e robotização. Segundo Felipe Morgado, gerente-executivo de Educação Profissional do Senai, a demanda estimada é de 401 mil trabalhadores até 2023, mas a formação só deve alcançar 106 mil.

“Formamos só 11% (dos estudantes) em ensino técnico no Brasil contra 42% na União Europeia. Dos formados no Senai, 72,5% são empregados em até um ano. Em 2021, subiu para 74%. Novas tecnologias digitais estão sendo inseridas na indústria. É uma rotina mais automatizada, que aumenta a necessidade de profissionais mais qualificados”.

Henriques lembra que a parcela de jovens com ensino técnico chega a 70% em alguns países da OCDE (que reúne nações desenvolvidas). “Sem o mesmo aqui, a multinacional francesa de pneus Michelin, viu como solução trabalhar diretamente com escolas técnicas”, diz Feliciano Almeida, CEO da companhia para a América do Sul: “Para fazer um pneu, uma pessoa tem de ser treinada por seis meses. Por vezes, a gente tem dificuldade que as pessoas passem em testes considerados básicos”.

EVASÃO AGRAVA SITUAÇÃO

O problema está também em setores como comércio e serviços. A diretora de Pessoas e Cultura da Qualicorp, Flavia Pontes, conta que há mais candidatos por vaga para estágio e trainee que para a área comercial, mas nem sempre quem tem ensino superior oferece a experiência necessária. A empresa de planos de saúde reavaliou o perfil das vagas anunciadas e tirou exigência da faculdade. Ainda assim, não é fácil preenchê-las.

Carolina Recioli, gerente sênior de Talentos no Mercado Livre, diz que é difícil contratar, dos cargos de base aos gerenciais, principalmente em áreas como tecnologia e logística. Até o fim do ano, a empresa abre cerca de 6 mil vagas nas duas áreas. Por isso, resolveu assumir o treinamento.

“Na logística, a exigência é de ensino médio e sem experiência, mas ainda assim faltam habilidades em português, matemática e digital.  Às vezes, o candidato tem dificuldade de enviar sua documentação digitalmente”, conta Carolina.

Jeyele de Lima Moura, de 22 anos, foi treinada na empresa. Aprendeu o básico de informática, logística e desenvolvimento pessoal. Há dois anos, ela trocou o sertão de Pernambuco pela Bahia na expectativa de trabalhar e fazer faculdade. Mas, com a pandemia e tendo apenas o ensino médio, teve dificuldade de achar emprego.

“Não sabia nem como era uma entrevista”, conta Jeyele, que entrou num programa de capacitação do Mercado Livre para jovens e agora atua como representante de envios.

Dados da plataforma de seleção Gupy mostram que as áreas com maior dificuldade de contratar hoje são operações (37%), finanças e administração (26%) e comercial (19%).

“A maioria das vagas no Brasil é júnior e operacional, mas as pessoas ficam no processo por não terem o básico. Além de TI, há escassez de mão de obra qualificada no varejo, no atendimento, por causa da dificuldade de comunicação, até por não saberem usar e-mail ou não terem empatia com o cliente”, diz Dedila Costa, executiva da Gupy.

‘GERAÇÃO ESTIGMATIZADA’

O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, diz que o ensino médio deixou de ser uma etapa que diferencia a pessoa para o mercado de trabalho. Em 18 anos, o retorno em salário para quem tem o ensino médio recuou 58%, enquanto que, para aqueles que têm baixa escolaridade ou nível superior, não mudou tanto. E l5% dos jovens de 15 a 17 anos já estavam fora da escola antes da pandemia.

“O Brasil ficou muito relapso em adaptar a educação ao mundo digital. Não tivemos política pública para isso. E criamos uma desigualdade de oportunidade ainda maior”, diz Neri.

Nos últimos dois anos, só houve saldo positivo de contratações para vagas que requerem curso superior ou mais. Foram mais 2 milhões ocupados desde o primeiro trimestre de 2019 contra queda de 8,2 milhões entre os de menor formação. E a pandemia fez regredir a absorção do conteúdo do ensino básico, conforme mostrou estudo do Insper como Instituto Unibanco.

“Do lado da oferta, tem um problema enorme. Quando não está estudando, o jovem perde o que já aprendeu. Em um ano, aprende 15 pontos da escala Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) em matemática e 20 em português. Perdeu dez pontos só em 2020”, diz Laura Muller Machado, professora do lnsper. “Não há referência no Brasil de outro momento de problema de oferta (de mão de obra) tão grande. Pode ser uma geração estigmatizada”.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EMOÇÕES QUE AJUDAM A LEMBRAR

As emoções estão relacionadas à memória. Com a ajuda do sistema límbico o cérebro integra os sinais externos e internos, responsáveis pela busca de equilíbrio dinâmico, e ativa a produção das emoções e da memória

Papez foi quem demonstrou esse circuito neuronal relacionado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais, que inclui estruturas como hipotálamo, amígdala, núcleos da base, área pré-frontal, cerebelo e septo, embora outras estruturas do cérebro também se relacionem com o conteúdo emocional. Nas bases neurais das emoções mais primitivas, estudadas por neurofisiologistas em circuitos encefálicos específicos, estão as sensações de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, aversão).

Ao chegar ao cérebro as informações percorrem um determinado trajeto ao longo do qual são processadas. Depois, direcionam-se para as estruturas límbicas e paralímbicas, pelo circuito de Papez ou por outras vias para assumirem significado emocional. Em seguida, dirigem-se a determinadas regiões do córtex cerebral para que sejam tomadas ações e decisões, que são processos relacionados à autonomia, função observada, geralmente, no córtex frontal ou pré-frontal. Diferentes estímulos (aferentes), tais como: térmicos, táteis, visuais, auditivos, olfatórios e de natureza visceral (como alterações na pressão arterial), ligam-se ao controle motivacional e às emoções. Os estímulos chegam a diferentes partes do sistema nervoso central por vias neurais, através dos nervos receptores e periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses estímulos são programadas em determinadas áreas corticais, exigindo um refinamento funcional e conectando várias regiões no encéfalo, com o córtex subcortical, seus núcleos e estruturas pertencentes ao tronco encefálico e cerebelo.

A partir daí, um estímulo se dirige ao cerebelo e à medula espinhal, sendo distribuído aos segmentos corporais e ao sistema nervoso simpático e parassimpático, numa visão panorâmica da integração biológica entre as emoções e o sistema neurovegetativo.

AMIZADES SEM FIM

A aprendizagem pode ser abordada a partir de muitos aspectos.

Ao se relacionar com a memória, algumas habilidades são essenciais como acontece com a percepção, estreitamente relacionada com todos os caminhos da memória que destacamos como “amigos”.

A percepção é a responsável por captar todas as informações, como uma detetive, ocupando-se de ver, ouvir, sentir, provar e encaminhar absolutamente tudo que estiver ao seu alcance, para posterior análise. Entretanto, a percepção pode ser influenciada por crenças, por distrações e por tendências internas até. Por exemplo, se alguém acredita que não gosta de estudar, irá perceber tudo o que se liga à aprendizagem como desagradável. Em outras situações, há até o estresse do indivíduo se sentir ameaçado, sem que haja perigo real, por conta de uma percepção distorcida de fatos, repleta de emoções e ansiedade. Quando as crenças negativas acometem a percepção, ela trabalha mal. Alguns comportamentos agressivos ou desencontros podem resultar de falhas na percepção. Se a percepção se convence de que “o mundo não presta”, todo comportamento do indivíduo poderá ser influenciado por esses valores negativos.

Assim considerando, é importante destacar outra habilidade importante na aprendizagem: o raciocínio. Como todas as funções cognitivas, o raciocínio também pode ser desenvolvido para auxiliar nas decisões, como um “amigo ” super-herói, realmente apoiando formulações positivas.

Graças ao raciocínio, é possível desenvolver a habilidade de lidar com problemas novos, não usuais. É preciso conhecer seus passos:

1. Busca analisar, por meio da percepção, os detalhes que lhe permitam a solução do problema.

2. Busca organizar conceitualmente, por meio de um trabalho mental sistemático que compare os dados: o que já foi feito, o que está fazendo, o que precisa ser feito.

3. Busca a representação mental da realidade, por meio de uma flexibilidade adaptativa, como se fosse um labirinto secreto que ele conhece e que lhe permite optar pelo caminho que chega ao resultado ideal, não ao acaso, mas pelo conhecimento.

Fique atento e aprenda: As formulações positivas e bem definidas funcionam como energias mágicas na reação inconsciente. Por isso, prefira sempre dizer “eu quero” (em vez de “eu gostaria”) e estabeleça dentro de quanto tempo, para desenvolver uma força construtiva que realiza suas decisões.

O raciocínio utiliza-se de operações lógicas. A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento lógico no qual a pessoa se encontra, pois, para assimilar os conceitos ensinados é preciso que as estruturas mentais tenham alcançado a complexidade dos problemas em questão. Entre outras, são importantes operações lógicas de raciocínio:

1. CLASSIFICAÇÃO: capacidade de agrupar os objetos em classes de acordo com um (ou mais) atributo-critério.

2. SERIAÇÃO:consiste em ordenar os objetos de acordo com sua grandeza crescente ou decrescente.

3. MULTIPLICAÇÃO LÓGICA:estabelece relação entre duas ou mais séries de acontecimentos em processo de mudança.

4. COMPENSAÇÃO:restabelecimento do equilíbrio de um sistema que tenha sido alterado por meio de modificações das variáveis, quer no mesmo sistema, quer em sistema diferente.

5. RAZÃO-PROPORÇÃO OU PROPORCIONALIDADE:construção de relações métricas que descrevem matematicamente mudanças proporcionais nas variáveis.

6. PROBABILIDADE:fundamenta-se no conceito de chance. De acordo com essa operação, o objeto que tem a maior frequência em um grupo é aquele que tem a maior chance de ser escolhido.

7. CORRELAÇÃO:construção de regras e/ ou a indução de leis que relacionam acontecimentos.

8. IDENTIFICAÇÃO: reconhecimento de características que personalizam o objeto, mesmo quando apenas parcialmente evidentes.

9. ANÁLISE:decomposição das partes de um objeto com compreensão.

10. SÍNTESE: capacidade de reunir diversas partes em um todo significativo.

11. CODIFICAÇÃO: representação por um símbolo.

12. DESCODIFICAÇÃO: interpretação do símbolo.

13. PROJEÇÃO DE RELAÇÕES VIRTUAIS:capacidade de estabelecer relações entre objetos abstratos.

14. REPRESENTAÇÃO MENTAL / TRANSFORMAÇÃO MENTAL: abstração do objeto.

15. HIPÓTESE:raciocínio por suposição.

16. SILOGISMO:linguagem conclusiva.

17. ANALOGIA:comparação por características semelhantes.

18. INFERÊNCIA:inclusão de dados que possam explicar o problema.

19. RACIOCÍNIO DIVERGENTE: comparação pelas diferenças.

20. RACIOCÍNIO MATEMÁTICO:levar em conta os conceitos numéricos.

Finalmente, para raciocinar adequadamente, é preciso estar em sintonia com uma liberdade de pensamento, de fluidez solta, leve, como se consegue no relaxamento, ou naturalmente, ao dormir (o sono é um regulador do equilíbrio das funções do organismo). Em vigília, é possível relaxar em estado profundo e também de forma muito saudável, através da meditação.

A meditação se aplica não só no melhor aproveitamento da aprendizagem, mas também no controle da ansiedade e na prevenção de desordens orgânicas, melhorando a qualidade de vida.

Existem diversas sugestões simples para essa prática, mas todas começam a partir de uma posição confortável, sentando-se com a cabeça ereta, para ficar alerta, em um lugar calmo. Os olhos devem ficar fechados em um período de 15 a 60 minutos, determinados com antecedência para que o relógio possa avisá-lo, evitando interrupções tentadoras que normalmente surgem.

COMPETÊNCIAS EFETIVAS

O cérebro está presente no desenvolvimento humano e é capaz de aprender, associar, sentir, criar e surpreender. É fundamental que o aprendizado seja construído para que as potencialidades se transformem em competências efetivas, que não são automáticas. Para construir competências é preciso aprender a identificar e encontrar os conhecimentos pertinentes. Estratégias efetivas acontecem, brincando de aprender. Para crianças, muitas indicações de brincadeiras podem complementar as transformações da atualidade, estimulando o cérebro sem levar em conta alguns aspectos socioemocionais de valores interpessoais, de riqueza ambiental e de tradições. Por isso é recomendável que sejam feitas leituras específicas, especialmente na fase pré-escolar, quando o cérebro está no auge de seu desenvolvimento, e a aprendizagem, planejada e potencializada, ou não, irá ocorrer.

No mais, competência também se aprende. Melhorar nunca é demais! Algumas questões para refletir e exercitar o próprio desempenho. E o melhor mesmo é a possibilidade que a vida oferece de fazer e refazer exercícios e vivências, melhorando do jeito que cada um define como ideal… Sem limites, como o cérebro e a aprendizagem.

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