DESCUBRA O SEU LUGAR NO MUNDO CORPORATIVO
Definir, estruturar e findar o core business é o norte que dará direcionamento ao negócio – mesmo que ele mude no meio do caminho
Ao estruturar um negócio, define-se o que será e seu campo de atuação, além da delimitação de um público-alvo.
Assim origina-se o core business: uma linha mestra para se dedicar, estudar e aprofundar cada vez mais os conhecimentos, que logo passam a se tornar know-how. Em tradução livre, a expressão refere-se ao negócio central da empresa, que a sustenta e determina a maneira como ela é percebida pelo mercado e por todos os seus stakeholders. Uma indústria automobilística, por exemplo, tem como foco principal do seu negócio o design e a fabricação de carros (a maioria apenas a “montagem” dos autos).
Não é um limitador, mas um eixo. “A consciência do próprio core business por parte da empresa e todas as reflexões a respeito têm que acompanhá-la desde o momento em que começou a realizar as suas atividades de forma um pouco mais contínua e estruturada”, diz o head de Supply Chain da AGR Consultores, Ricardo Rodrigues.
Defini-lo é importante para que se possa alinhar os recursos da organização (pessoas, financeiro, capacidade) a fim de se dedicarem aos negócios e clientes essenciais que a empresa quer focar para alcançar os resultados. Nenhuma empresa hoje pode se dar ao luxo de ter capacidade e recursos para atender linhas de negócio que não são realmente chave para o alcance dos resultados.
Fundamenta-se para se provar que economicamente não vale mais a pena dispender energia interna da corporação em atividades que não agregam valor ao produto. “Essa definição torna claro para os clientes e para o mercado o posicionamento da empresa e seus diferenciais competitivos. Se o core business está bem definido, fica evidente, tanto internamente quanto aos clientes, em quais negócios a empresa atua e se destaca”, afirma o consultor.
NO DECORRER DO CAMINHO
Apesar de ser um caminho traçado desde a fundação da empresa, é possível mudá-lo, em determinado momento, devendo essa alteração ser tratada como um projeto amplo e estruturado, que envolve a grande maioria das áreas da empresa, e especialmente clientes e fornecedores. “Mesmo adaptações vistas como pequenas ou simples precisam de uma reflexão e de um planejamento prévio para serem efetivadas”, reforça o consultor.
O estúdio de arquitetura e design urbano Plantar Ideias, dos arquitetos e designers Luciana Pitombo e Felipe Stracci, por exemplo, percebeu que precisava redefinir seus caminhos.
Com quase três anos de trajetória, o escritório começou com a criação de peças para áreas externas. Participaram de três edições da Casa Cor em São Paulo e hoje contam com peças que estão no Parque do Ibirapuera, por exemplo. Com essa evolução dos negócios, os sócios optaram por fazer uma divisão de core: Luciana segue à frente das peças que criam e comercializam por meio de parceiros, enquanto Felipe Stracci passa a se dedicar aos projetos de urbanismo – outra paixão da Plantar. “Quando decidimos que íamos ser um escritório de arquitetura, sabíamos que fazíamos projetos, porém, dentro de cada atendimento, buscamos entender qual é a essência da empresa e como atender cada cliente e optamos por absorver diversas capacidades de gerar valor para a empresa”, diz a arquiteta e designer, sócia do negócio, Luciana Pitombo.
A mudança se fez necessária pelo dinamismo do mercado. Na opinião de Luciana, a instabilidade econômica do País faz com que os empreendedores se sintam desconfortáveis ou vendo novas demandas que necessitariam de grandes mudanças do core business, entretanto, o eixo de uma empresa está pautado nas expertises que ela possui, e fazer grandes mudanças pode acabar por enfraquecer a entrega por falta de domínio de assuntos que fogem ao eixo central de trabalho.
Durante as ações de planejamento empresarial, a revisitação no Plano de Negócios, avaliação de canais de projeto e demandas são questões que podem se transformar ao longo dos anos, por isso, é fundamental que toda empresa se encare como um organismo vivo que se adapta e transforma. “Mesmo porque existem fatores internos e fatores externos que influenciam no sucesso de uma empresa, sendo assim, tudo que foge ao nosso controle pode acabar por estimular transformações na empresa que desviem do planejamento inicial, não sendo de forma alguma uma inconsequência, desde que o planejamento seja um processo constantemente atualizado. Apesar das mudanças de entregas, o core business se mantém, amplia ou restringe, mas a expertise permanece, fortalecendo a marca”, opina.
CAMINHOS ALTERNATIVOS
Para entender se a empresa está mudando seu negócio central é preciso ficar muito atento ao mercado, acompanhando de perto seus clientes através dos dados e informações que chegam diariamente à empresa. Para tanto, é vital que os empreendedores e executivos entendam quais são os índices e métricas mais importantes para seus produtos e/ou serviços e acompanhem de perto – o que se chama de “Inteligência de Mercado”. “É necessário ir para a rua, interagir com o cliente, pois é nesse contato que se tem a noção real do que realmente importa (valida seu foco no core business). Por fim, é fundamental ler, acompanhar pesquisas de tendências e estar sempre atualizado das principais novidades do seu respectivo mercado para não perder o passo e ficar para trás”, indica o professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Afonso Carlos Braga.
E, apesar de poder parecer inconsistência ou falta de planejamento, a mudança do core business não deve ser encarada como falha. “Tudo está mudando e cada vez mais velozmente. Delimitar-se não deve ser confundido com limitar-se. A exemplo das startups que estão crescendo e ganhando espaço, pois desenvolvem projetos e/ou produtos pilotos, aprende-se com os erros etc. (“pivotar”), ao invés de se prender a longos processos de desenvolvimento de novos projetos. Deve-se, portanto, acelerar (com método, não aleatoriamente) e testar rapidamente em áreas controladas, corrigir e partir para escala maior após aprender com o piloto”, exemplifica Braga.
RENOVAÇÃO CONSTANTE
No mundo de hoje, as condições competitivas, regras de negócio e demandas do consumidor mudam muito rapidamente. Aos empresários, é importante sempre reavaliar seus modelos de negócio, a cada ciclo de planejamento estratégico da empresa, encarando essa revisitação da maneira mais simples possível, especialmente no início: vale a pena testar bastante os novos modelos que resultarão em mudanças no modelo de negócio para confirmar se é a direção certa, e ter coragem de decidir e fazer mudanças mais certeiras depois desses aprendizados ao longo do tempo. “Em alguns casos, pode-se justificar criar uma empresa ou ainda uma nova divisão separada para experimentar o novo modelo de negócio, sem trazer impactos ao atual. Porém, mesmo neste caso, a comunicação clara e transparente é fundamental”, diz Ricardo Rodrigues.
É recomendável também que a empresa se apoie em especialistas e consultorias para ajudá-la a entender o momento de fazer mudanças complexas e o melhor planejamento. Vale, por exemplo, a máxima de que o negócio que cresce sustentadamente com rentabilidade é aquele que de fato coloca o cliente e suas necessidades/experiência no centro, desenvolvendo seus produtos, serviços e modelagem de negócio sob esta ótica. “Em paralelo, vale repartir os recursos da empresa, alinhados e direcionados para o core business selecionado, com metas claras e desafiadoras, e sem desperdício de energia com o que não é o foco”, sugere o especialista da AGR Consultores.
O crescimento de todo negócio é um dos objetivos, potenciais, da grande parte dos empreendedores, sendo natural querer expandir produtos e serviços ofertados. Sendo assim, a opção de um core business “amplo” ou pelo menos de entendimento generalista faz com que a diversificação se torne possível e alinhada com o eixo fundamental.
A Plantar Ideias, por exemplo, possui mais de cinco canais de projetos, com potencial de ampliação desses canais que hoje não são explorados, mas que possuem alinhamento intrínseco ao core business de entrega de soluções criativas para áreas externas, campos e demandas que surgirão ao longo dos próximos anos e que exigirão mudanças constantes para atender às demandas do momento. Para a sócia da Plantar Ideias, o grande desafio é entender esta entrega de valor do negócio, alinhado com uma visão de futuro coerente, não só com as demandas atuais, mas também com soluções mais arrojadas e sustentáveis para a sociedade.
De acordo com o docente Afonso Carlos Braga, esse caminho pode ser conquistado ao tirar a “missão” e a “visão” do papel, estendendo aos colaboradores qual é o seu propósito, como ela atende e gera clientes satisfeitos e, não menos importante, para onde a empresa quer chegar. “Estratégia é essa jornada: como sair da missão e chegar à visão e, mesmo com desvios e percalços, resistir e buscar aquele objetivo maior traçado. Só se mantém firme na jornada as empresas que entendem seu core business!”, indica o professor do Instituto Mauá.
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