OUTROS OLHARES

DICAS VIRAIS DE HALLOWEEN AMEAÇAM SAÚDE BUCAL

Em vídeos compartilhados pelo TikTok, usuários ensinam a afiar os dentes com lixa e recomendam até cola instantânea para criar caninos de vampiro. Especialistas alertam para possíveis danos do esmalte e infecções

Com o Halloween chegando, uma dica de fantasia tem sido cada vez mais compartilhada no TikTok: os dentes de vampiro. Diversos vídeos publicados na rede social, que é um fenômeno entre os adolescentes, ensinam truques para deixar os caninos com a aparência afiada. Mas especialistas alertam para os perigos que as práticas caseiras pedem oferecer para a saúde dentária, que vão desde a destruição do esmalte à formação de cárie e outras infecções bucais.

Mestre e especialista em endodontia e odontologia humanizada e preventiva em São Paulo, Lilian Fucuda conta que há duas semanas começou a receber mensagens em grupos de dentistas que alertam para a disseminação dessas práticas nas rede, em especial nos vídeos curtos do TikTok:

“Um desses vídeos era de uma menina ensinando como ela usava uma lixa de unha para afiar o dente. Essa prática é considerada simplesmente absurda para nós dentistas”, afirma.

Outro caso compartilhado, com Lilian foi o de um jovem que recortou um pedaço de plástico para fazer a ponta do canino e o colou com cola instantânea no dente. Além de causar um sério risco de grudar o lábio, a dentista diz que a substância e o plástico na boca são corpos estranhos que podem provocar infecção.

As formas ensinadas para criar os dentes de vampiro são muitas, que incluem até procedimentos mais elaborados com resina que alongam os caninos. Porém, todas elas têm algo em comum: são extremamente danosas e devem ser evitadas, dizem os dentistas.

Eles explicam que essas práticas danificam o esmalte do dente, que é a camada exterior mais resistente e que atua como uma barreira protetora das partes internas: a dentina e os nervos, que são mais sensíveis.

Com essa agressão, o grande problema é a exposição da dentina, que passa a entrar em contato com os ácidos da boca, através da saliva, como o açúcar consumido e diversas outras substâncias prejudiciais.

“Além disso, o canino é um dos dentes mais importantes da arcada dentária e é essencial para a mastigação. Então, quando ele é danificado, pode trazer problemas também na hora de se alimentar”, acrescenta a cirurgiã dentista Danielly Moura, especialista em implante e prótese.

Alguns usuários sugerem a aplicação de cola de dentadura, utilizada para fixar próteses dentárias, como uma opção melhor para a criação da fantasia. Lilian Fucuda explica que de fato ela é menos danosa porque é feita para se desgastar com a saliva, mas reforça que o ideal é evitar procedimentos caseiros.

“Outra opção é fazer uma capa com resina acrílica, que fique apenas apoiada no dente, com a aderência criada pela própria saliva. Mas tem que ser feito por um especialista”, diz Danielly.

HÁBITOS DANOSOS

As especialistas ressaltaram ainda outros hábitos que podem comprometer a saúde dos dentes. Um deles é o ato de morder a ponta da caneta de forma repetitiva para aliviar o estresse. Observado pelas dentistas especialmente em jovens estudantes, ele pode empurrar a arcada dentária e deformar a posição dos dentes.

Já a mastigação excessiva de chicletes pode sobrecarregar o músculo chamado masseter, envolvido no movimento do maxilar. Isso pode provocar um quadro de bruxismo, problema de saúde que se caracteriza pelo ranger ou apertar dos dentes durante o sono.

Roer as unhas e abrir embalagem com a boca são outras práticas que destroem o esmalte e deixam os dentes mais expostos a substâncias que são ruins para a dentina.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 31 DE OUTUBRO

UMA PERCEPÇÃO PROFUNDA

Assentando-se o rei no trono do juízo, com os seus olhos dissipa todo mal (Provérbios 20.8).

Salomão está falando sobre sua própria experiência. Ele reinou sobre Israel durante quarenta anos. No começo do seu reinado, pediu a Deus sabedoria para governar. Deus lhe deu sabedoria e riquezas. Muitas vezes Salomão teve de julgar as causas do seu povo. Chegavam ao rei demandas difíceis que exigiam discernimento para serem julgadas com equidade. Certa feita, vieram-lhe duas mães trazendo um difícil pleito. Ambas deram à luz um filho. Uma, porém, acordou e viu o filho morto. Então, pegou furtivamente seu filho morto e o colocou no lugar do filho da sua companheira, tomando a criança viva em seus braços. O alvoroço foi enorme. A mãe verdadeira tinha absoluta consciência de que aquele menino morto não era o seu filho. Como não conseguiram resolver o impasse, buscaram o rei Salomão para sanar a questão. Diante das duas mulheres que pleiteavam ser a mãe do menino vivo, Salomão propôs serrar o menino ao meio e dar metade a cada uma. Aquela que não era a mãe concordou com a decisão. Salomão imediatamente concluiu que ela estava mentindo e mandou entregar o menino à mãe verdadeira. Quando o rei senta para julgar, ele logo vê o que está errado, e seus olhos esmiúçam todo mal.

GESTÃO E CARREIRA

SAÚDE MENTAL É MAIS DEBATIDA NAS EMPRESAS

Companhias como Itaú Cultural e L’Oréal têm acompanhamento contínuo para prevenir depressão e suicídio

A proposta de conversar sobre saúde mental nas empresas ainda pode encontrar resistência e se tomar mais temerosa quando envolve o tema suicídio. Para transpor o medo de falar sobre os próprios desafios, a psicoeducação  vem sendo adotada por empresas. Não se trata de mergulhar em livros de psicologia, mas de uma prática de ensino do psiquismo para reconhecer em si e no outro indicadores de saúde mental.

“A gente entra com psicoeducação e consegue dar e receber feedback a fim de tornar o profissional mais saudável mentalmente dentro da empresa”, diz a psicóloga e consultora em gestão de pessoas Kátia Saraiva. Há 20 anos, ela realiza esse trabalho nas corporações, embora perceba que, em termos de divulgação, é algo recente. Mais do que oferecer psicoterapia online, a psicoeducação demanda periodicidade e se concretiza pela atuação de um profissional da saúde mental, psicólogo ou psiquiatra. Atendimentos individuais completam o serviço.

“Por meio da psicoeducação, tento mostrar a importância da identificação da pessoa com o que ela faz para que tenha saúde emocional, porque o sofrimento psíquico no trabalho é uma realidade. Por que eu preciso saber do meu psiquismo? Para entender o que acontece comigo, desenvolver empatia”, explica. A campanha Setembro Amarelo, organizada desde 2014, reforça a pauta ao conscientizar sobre a prevenção do suicídio, uma vez que transtornos mentais, principalmente a depressão, estão associados ao ato. Segundo a OMS, as taxas de suicídio diminuíram 36% em todo o mundo entre 2000 e 2019, mas aumentaram 17% na região das Américas no mesmo período. Como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a promoção de saúde mental e bem-estar terá de ser cada vez mais responsabilidade das empresas também. Atenta a essas questões, a gerente do núcleo de RH do Itaú Cultural, Erica Buganza tem promovido mudanças a partir  do que já é oferecido pelo banco. No ano passado, deram início a uma rodada de palestras mensais com psiquiatras por meio de uma empresa terceirizada.

“Falamos de ansiedade, depressão, burnout e teve uma roda de conversa só para mulheres e mães”, conta. Quando o retorno ao presencial ficou mais distante, outros profissionais foram chamados: de ioga, meditação, oftalmologista, nutricionista e infectologista para falar de vacina “Fomos incorporando aspectos da saúde que reverberam no emocional”.

Depois, a equipe entendeu que era hora de agir com as lideranças e lançou em maio um programa de formação para educar gestores em saúde mental. Na primeira fase, já concluída, o foco foi no individual para os líderes conseguirem manejar as próprias questões. Agora, a segunda etapa visa o entendimento do outro. “Não é para a liderança agir como psicóloga, mas entender os sintomas de ansiedade, depressão, falar sobre o manejo, de como perguntar para uma pessoa como ela está, se devo dar ou não abertura”, diz Érica. Aos colaboradores, as rodas de conversa continuam mensalmente, agora voltadas a temas como ansiedade pelo retorno ao escritório, convívio social e medo de contaminação. Em breve, o Itaú Cultural vai implementar o SOS Saúde, um canal telefônico com atendimento psiquiátrico 24 horas para situações de urgência e emergência, com o risco de suicídio, e casos de leve a grave.

Na relação entre suicídio e trabalho, os estudos são segmentados e é difícil ter uma visão ampla, que pode ser subnotificada também. Sabe-se que doenças ocupacionais como lesões por esforço repetitivo, assédio e síndrome de burnout podem estar associadas. A própria pandemia fez a carreira piorar, com renda e saúde mental sendo mais afetadas.

Isso também fez a L’Oréal Brasil investir em um programa de saúde mental chamado Equilíbrio de Vida, dividido em quatro pilares: emocional, físico, trabalho e relacionamentos. No primeiro, além de uma plataforma online de psicoterapia com 40% das sessões subsidiadas pela companhia, há rodas de conversa e workshops conduzidos mensalmente por uma psicoeducadora. ”Vamos abordar como quebrar o tabu sobre a terapia, como lidar com a montanha-russa de emoções na pandemia, ser vulnerável, evitar o estresse, lidar com o luto e gerenciar a ansiedade”, enumera Isabella Teixeira, gerente de remuneração e benefícios da empresa.

Essa educação em saúde mental estará alinhada com os demais pontos de atenção do plano, que buscam melhorar o clima organizacional e as relações interpessoais, promover trabalho saudável e pausas, estimular momentos de descompressão, trocas de gentileza e a prática de exercícios físicos.

“O programa trabalha a cultura nos diversos níveis da organização, porque não adianta promover esse discurso, fazer rodas de conversa e, por outro lado, ter demanda muito grande”, completa.

Os resultados da psicoeducação foram transformadores no escritório de advocacia Renato Von Müllen, que no ano passado solicitou os serviços de Kátia Saraiva. “Todo mundo foi trabalhar de casa e, aos poucos, as pessoas foram ficando deprimidas. Contratamos uma  profissional para conversar com elas, para se sentirem mais seguras e animadas”, conta a sócia Angela Von Müllen. Ela diz que já tinha sido orientada pela consultora, em um coaching anterior, sobre perceber sinais na equipe.

Há um ano, de forma voluntária, os 28 colaboradores da companhia podem conversar com Kátia a qualquer momento por aplicativos de mensagem sobre questões profissionais e  pessoais, além de participarem de encontros virtuais. Houve um pouco de resistência no início, diz Angela. “‘Mas depois de um mês senti o impacto positivo, inclusive feedback dos colaboradores de como foi bom ter esse apoio.” 

EU ACHO …

A MÍDIA QUE VIOLENTA MULHERES

O assassinato de mulheres vende apenas nas páginas policiais

Gostaria de escrever sobre Joice Maria da Glória Rodrigues, 25 anos de idade, que desapareceu no segunda-feira, 27 de setembro, em São Vicente, no litoral de São Paulo. O último sinal de vida foi uma mensagem que mandou ao marido, pedindo para que fosse buscá-la no ponto de ônibus. Ela tinha ido visitar sua avó e estava voltando para casa. Vinte minutos depois da mensagem ser enviada, Joice não atendia mais o telefone.

As buscas foram intensas, empreendidas pela família e pelo marido, determinados a encontrá-la. Era uma conduta estranha, que nunca havia acontecido. No dia seguinte ao registro do desaparecimento, Camila, sua irmã, afirmou ao site G1: “Até agora a gente não tem nenhum vestígio, nada. Ela nunca fez isso. É angustiante, a cada minuto que passa vai ficando mais desesperador, a gente já procurou de todas as formas em todos os lugares possíveis. Ela tem duas crianças pequenas, a gente olha e não sabe o que falar para elas”.

A família pediu informações e pistas em diversas mídias durante os dias que se seguiram. Consultaram as câmeras de monitoramento do VLT para tentar entender o ocorrido. Percorreram a região da casa da avó, fizeram buscas dia e noite. Nessa terça feira, 5 de outubro, veio a notícia: Joice Rodrigues foi morta por asfixia e concretada na parede por um pedreiro e um comparsa. Eles trabalhavam numa obra perto do local e, após a polícia perguntar se havia um local recém-concretado, o proprietário, dias depois, desconfiou de um acabamento, abriu e a encontrou. O que os homens estão fazendo com os mulheres neste país tem nome e nós sabemos qual é! Um estupro a cada oito minutos, segundo dados da Anuário da Segurança Pública, um dos maiores índices de feminicídio no mundo, o país campeão em casamento infantil, o lugar onde mais se morre em decorrência da criminalização do aborto, um país onde milhões de crianças crescem sem o nome do pai na certidão. Um país que convive natural e diariamente com estupro, agressão, morte e abandono é um país fadado a ser amaldiçoado. É um país de genocídio de mulheres.

Quando li a reportagem sobre o corpo de Joice ter sido encontrado, não consegui chegar até o fim. É muito doloroso saber que poderia ter sido qualquer uma de nós. Eu mesmo sou da Baixada Santista, possuo familiares que moram em São Vicente. Quantas vezes saímos de casa correndo risco de sermos o alvo. Para nós, o ar que respiramos traz o odor do assédio e uma saída de casa não é apenas uma mera voltinha, mas um trajeto de alerta.

Decidi escrever a respeito e, ao me sentar para fazer este texto, li em diversas mídias que o pedreiro assassino confessou à polícia que a matou “depois de fazer sexo com ela”. No teor das reportagens, está escrito que ela havia sido estrangulada após ele ter ”mantido relações sexuais com ela”. É só acionar a busca na internet que se encontram vários textos com essa chamada.

É inacreditável que ainda tenhamos que ler coisas dessa natureza. Fazer sexo? Ter mantido relações sexuais? Isso no dia seguinte que a jovem é encontrada em condições aviltantes? ”Fazer sexo com ela?” Fazer sexo se faz com quem há uma relação consentida, não com quem você asfixia e concreta no parede, será que é muito difícil entender que se tratou de uma violência sexual seguida por assassinato? As mulheres são ofendidas em vida e após a morte. Um tratamento desrespeitoso à Joice é um tratamento desrespeitoso a todas nós.

Será que algumas das mídias que deram essas chamadas têm uma cobertura especializada na proteção de mulheres? Pelo visto, a julgar pelo título e pelo conteúdo das reportagens, trata-se da mídia patriarcal de sempre, que escamoteia a precarização de políticas públicas de proteção à mulher; ignora o genocídio e a política de estupro praticada contra mulheres no país para fazer manchete destacando o que o assassino de Joice teria afirmado.

Quais eram os sonhos de Joice? O que ela sonhava para os filhos pequenos? O que as pessoas que a amaram em vida têm a destacar sobre sua trajetória? Se formos além do caso em si, por que não perguntar a razão pelo qual mulheres como Joice têm morrido nesse país? Quais políticos têm contribuído para o desmonte de mecanismos de proteção? Qual o orçamento que organizações de defesa das mulheres têm para realizar um trabalho de conscientização? São perguntas mais interessantes do que ler as coisas que são ditas e escritas a respeito de mulheres neste país.

A verdade é que o assassinato de mulheres vende apenas nas páginas policiais que, a pretexto de noticiar um absurdo desses, seguem com a desumanização, que é a base da lógica do sistema de dominação patriarcal. Minha solidariedade à família de Joice Rodrigues.

*** DJAMILA RIBEIRO

ESTAR BEM

I. A – ELA ESTÁ NO MEIO DE NÓS

Da sala de emergência ao centro cirúrgico, passando por consultas a distância, robôs e plataformas inteligentes já fazem parte da rotina do novo ecossistema da saúde

Há dez anos, a vida do arquiteto de sistemas Jacson Fressatto virou de cabeça para baixo. No dia 30 de maio de 2010, ele recebeu uma notícia absolutamente terrível: a morte da pequena Laura, vítima de sepse. Prematura, sua filha não resistiu depois de 18 dias internada na UTI neonatal de um hospital de Curitiba. A primeira reação de Fressatto foi de revolta. Queria porque queria saber o nome do filho da mãe que havia deixado sua filha morrer. Passada a raiva, tomou outra decisão: se dependesse dele, ninguém mais sentiria a dor que estava sentindo naquele momento. Foi quando vendeu tudo o que tinha (carro, moto e apartamento) e, em 2014, investiu 1,5 milhão de reais do próprio bolso para criar algo pioneiro no planeta: a primeira plataforma de inteligência artificial capaz de gerenciar riscos dentro de um hospital. Em homenagem à filha, batizou o “robô” de Laura. “Eu mesmo banquei todas as despesas operacionais do projeto, com a certeza de que estava no caminho certo. Hoje a gente vê como tudo valeu a pena e quanto pode fazer mais”, diz o fundador e presidente do Instituto Laura Fressatto. Em seis anos, Laura já chegou a 32 hospitais e ajudou a salvar mais de 24 mil vidas – cerca de dez por dia. O programa de computador analisa, em tempo real, os sinais vitais, o prontuário eletrônico e os resultados de exames, entre outros dados, de todos os pacientes de uma UTI e classifica o risco de cada um deles em baixo, médio ou alto. Se o quadro de uma pessoa internada apresenta piora, a equipe médica é imediatamente acionada. Conclusão: Laura já reduziu em 25% a taxa de mortalidade por infecção hospitalar nos estabelecimentos atendidos. “Não saberia dizer se, caso uma tecnologia dessas existisse na época, minha filha não teria morrido. Seria leviano afirmar. Ela era uma prematura extrema. Mas, ao menos, teria a certeza de que estaria recebendo o melhor cuidado possível”, reflete Fressatto.

Laura é um dos melhores exemplos do que a inteligência artificial, ou simplesmente IA, pode fazer pela nossa saúde. Esse é um ramo da ciência da computação que busca reproduzir aspectos do poder de aprendizado e resolução da mente humana em máquinas. A meta é desenvolver robôs que, entre outras façanhas, adquirem habilidades, tomam decisões e resolvem problemas como se fossem um de nós – tantas vezes, com uma velocidade e um grau de acerto bem superiores. Quando falamos em robôs, não estamos nos referindo àqueles modelos androides, típicos dos livros de Isaac Asimov (1920-1992) ou dos filmes de Ridley Scott. Falamos de programas de computador e algoritmos matemáticos de última geração. ”A partir de uma vasta base de dados, você ensina um robô a solucionar um problema específico. E ele pode até observar detalhes que um ser humano deixaria passar”, explica Marcus Figueredo, CEO da Hi-Technologies, empresa que desenvolve dispositivos e sistemas de telemedicina.

Para o engenheiro da computação, duas das principais aplicações da IA na saúde hoje são a interpretação de exames e a apuração de interações perigosas entre remédios. “No primeiro caso, o robô analisa o exame e elabora um pré-diagnóstico para a validação do médico responsável pelo laudo. No segundo, ele tenta descobrir se, quando interagirem uns com os outros, os medicamentos prescritos poderão trazer riscos ao paciente”, destrincha.

A inteligência artificial também é útil na detecção precoce de doenças e na predição de surtos, aponta o cientista da computação Guilherme Kato, diretor de TI do Dr. Consulta, startup que oferece atendimento médico e exames em 59 unidades da Região Sudeste. “Com base no histórico familiar, hábitos alimentares e fatores de risco, podemos avaliar a probabilidade de um paciente desenvolver certa doença no futuro. Da mesma forma, conseguimos usar dados de consultas e exames para prever um surto, ou até mesmo uma epidemia, numa localidade”, esmiúça.

Na visão de Rico Malvar, cientista-chefe da Microsoft Research, o grande objetivo da IA é ajudar os profissionais de saúde a serem mais produtivos e efetivos. Segundo um estudo recente, que monitorou o trabalho de 57 especialistas durante 430 horas, os médicos ficam mais tempo cumprindo tarefas administrativas do que atendendo pacientes. “Enquanto os robôs se encarregam de trabalhos operacionais, como preencher formulários, os profissionais conseguem se dedicar a atividades mais estratégicas,” argumenta Malvar. Isso significaria mais contato com o paciente…e mais vidas salvas.

CASES DE SUCESSO

Conheça soluções baseadas em robôs e inteligência artificial (IA)

Se o robô Laura atua, predominantemente em UTIs, o Da Vinci dá plantão em centros cirúrgicos. As primeiras versões do robô cirurgião, que ganhou o sobrenome do artista italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), chegaram ao Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, em 2008. Na ocasião, eram dois modelos: um para cirurgia, outro para treinamento. Hoje são três: dois para uso clínico, um para capacitação de médicos, e mais dois simuladores. Cada um deles dispõe de quatro braços mecânicos, um com uma câmera de altíssima definição e capacidade de ampliação da imagem em até dez vezes, e três com instrumentos cirúrgicos, como pinças, tesouras e bisturis, entre outros.

Ao contrário do robô Laura, o Da Vinci não é autônomo. Isto é, não opera nem toma decisões sozinho. Ele precisa de um cirurgião para coordenar seus movimentos por meio de um joystick. Ao longo desses 12 anos, o Sírio-Libanês já realizou mais de 5 mil cirurgias – 60% delas voltadas à retirada da próstata – e treinou mais de 300 profissionais de todo o Brasil e da América Latina. A tendência não veio para ficar à toa: as cirurgias robóticas são consideradas mais precisas e menos invasivas. Com isso, a recuperação do paciente é mais rápida e o tempo de internação, menor. Em compensação, o custo ainda é alto, e o robô não oferece sensação tátil.

“Não é toda cirurgia que precisa do Da Vinci. Indicamos esse recurso naquelas que oferecem realmente vantagens ao paciente. Quando o tumor é de difícil acesso por cirurgia convencional ou laparoscópica, o ideal é que a cirurgia seja robótica”, contextualiza Sérgio Arap, superintendente médico do centro cirúrgico do Sírio-Libanês, onde o primeiro procedimento do tipo foi realizado há 20 anos. Nesse campo em evolução, cientistas já vislumbram a criação de robôs cirurgiões inteligentes, que não substituiriam o médico, claro, mas poderiam ser ainda mais brilhantes com o bisturi.

A exemplo da robótica, a IA também tem lá seus prós e contras. Quando indagado sobre as vantagens dos robôs em relação aos humanos, Figueredo não pensa duas vezes: eles têm uma capacidade de processamento de dados muito maior e não contam com o fator cansaço. “Imagine um radiologista que precisa analisar exames de raios x por oito ou 12 horas por dia. Mais cedo ou mais tarde, ele vai se cansar. Uma máquina é capaz de analisar 10 mil exames consecutivos com a mesma disposição”, compara o CEO da Hi-Technologies.

A questão do cansaço não é trivial aqui. Como em qualquer atividade, quando ficamos cansados, podemos cometer mais erros. E, em medicina, alguns erros podem levar a condutas equivocadas e até mesmo ser fatais. Só que as máquinas também não estão imunes a deslizes. “O que acontece se uma decisão tomada por um algoritmo de IA prejudicar ou, no limite, causar a morte de um paciente? Quem será o responsável: o fabricante ou o programador?”, levanta a lebre o engenheiro Anderson Maciel, consultor do Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). “Há questões éticas. Questões antigas, é verdade, mas ainda não temos segurança sobre como respondê-las”, admite.

LIMITES E DESAFIOS NO HORIZONTE

Apesar dos progressos e do entusiasmo com a tecnologia, outros dilemas se colocam, na avaliação do vice-presidente da área médica da Dasa, Leonardo Vedolin. De acordo com o radiologista, os desafios impostos pelo uso da IA na medicina se dividem em três esferas: técnica, ética e legal. “Parte das atividades médicas, principalmente as burocráticas e repetitivas, será substituída por tecnologias disruptivas. Mas não acredito na substituição por completo do médico. E a principal razão disso é que o ato médico pressupõe a relação médico-paciente. Não dá para substituir esse entrosamento por um robô”, afirma Vedolin.

Outro ponto de preocupação para os especialistas diz respeito à privacidade e à segurança dos dados. Afinal, o risco de vazamento de informações sigilosas, tanto do paciente quanto da instituição, existe. Em agosto de 2014, hackers chineses roubaram os dados de 4,5 milhões de pacientes de 200 hospitais dos Estados Unidos. Entre outras artimanhas, os invasores pedem pequenas fortunas para não divulgá-los ou, então, geram boletos falsos de cobrança. Segundo Guilherme Kato, do Dr. Consulta, não existem sistemas tecnológicos perfeitos e invulneráveis. “A boa prática diz que devemos, sempre que possível, trabalhar com dados anonimizados, ou seja, que não permitem que o cidadão referente a eles seja identificado lá fora. Assim, caso ocorra um vazamento, pacientes e parceiros serão preservados”, esclarece.

No contato direto com o paciente, uma das principais barreiras para o uso dos robôs é a falta de algo demasiado humano, a empatia. Mas há quem acredite que até isso está com os dias contados. “Muitas vezes, uma boa conversa faz tão bem à saúde quanto comprimidos. Os atuais modelos ainda não têm essa capacidade de interação com as pessoas, mas no futuro terão. Precisamos apenas desenvolver melhor as interfaces para conquistar a confiança do paciente”, raciocina Maciel.

Em tempos de pandemia, máquinas inteligentes são mandadas a todo momento para o front na guerra contra a Covid-19. Na Europa, robôs aferem a temperatura e verificam o uso da máscara em quem chega aos hospitais. Do outro lado do mundo, enquanto uns modelos são programados para monitorar o quadro clínico de pacientes, outros ficam responsáveis por desinfetar as enfermarias e esterilizar os instrumentos de centros médicos da China e do Japão. Nos Estados Unidos, algumas instituições estão recorrendo às máquinas para limpeza e desinfecção dos leitos das UTIs com luz ultravioleta, que destrói até 99% dos vírus e das bactérias. Com a estratégia, esses locais ficam mais tempo protegidos e menos trabalhadores são expostos aos patógenos.

No Brasil, robôs de telepresença, munidos de câmeras e sensores especiais, já substituem os humanos na triagem de pacientes nas emergências, encurtam a distância entre os doentes e seus familiares nas enfermarias e reduzem o número de visitas dos médicos às UTIs. A distância, os profissionais de saúde podem identificar sintomas, transportar remédios e passar instruções, sem se expor à contaminação. Na capital paulista, dois modelos estão encarregados de recolher o lixo nas alas do Hospital das Clínicas destinadas a pacientes com Covid-19. “O objetivo é evitar o risco de contaminação dos mais de 20 funcionários da limpeza e agilizar a liberação dos 300 leitos de UTI”, explica o radiologista Giovanni Guido Cerri, presidente da comissão de inovação do Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior complexo do gênero da América Latina.

Diante desses e de outros exemplos, muitos se perguntam: como será a medicina do futuro? Os hospitais serão quase 100% automatizados? Médicos e enfermeiros cederão seus jalecos e estetoscópios aos robôs, só acompanhando e orientando remotamente? Para o neurorradiologista Edson Amaro Jr., responsável pela área de big data do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a resposta é “não”. Assim como a telemedicina veio complementar, e não substituir, o atendimento presencial, a inteligência artificial será uma aliada, e não uma adversária, da inteligência humana. “A interação entre as inteligências artificial e natural, também conhecida como ‘inteligência aumentada’, é o segredo por trás de diagnósticos, prognósticos e tratamentos cada vez mais eficientes e precisos”, afirma o especialista.

Nesse sentido, se engana quem pensa que a popularização de robôs e plataformas de IA vá render uma medicina mais fria e massificada daqui a alguns anos. “O futuro da medicina inclui características aparentemente discrepantes, mas que, na realidade, são totalmente consonantes. O cuidado com o paciente, ao contrário do que muitos pensam, será cada vez mais individual e humanizado”, assegura o cirurgião Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Com os avanços tecnológicos, os médicos serão capazes de dizer mais precisamente quando um indivíduo ficará doente antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas. Será o axioma “prevenir é melhor do que remediar” levado às últimas consequências. ”A IA poderá fazer predições do tipo: se determinado fulano não aumentar em 60% a realização de atividades físicas, a probabilidade de ele desenvolver um problema nos rins é de 30%”, dá um exemplo o consultor do IEEE.

A personalização também ganha pontos com tanta tecnologia. “Do genoma ao ambiente, a IA levará em consideração todos esses fatores na hora de prescrevermos o medicamento ideal para cada paciente. A expectativa é que, no futuro, o tratamento personalizado seja muito mais eficaz que o atual”, acredita Cerri. E esse futuro passa pelo profissional de saúde de carne e osso, que, com indicações e análises mais precisas na palma da mão (ou do celular), poderá ser mais acolhedor e assertivo com o paciente.

Enquanto essas e outras predições não viram realidade nos consultórios e hospitais, Jacson Fressatto segue adiante, decidido à transformar Laura na maior e mais eficiente solução na gestão do cuidado em saúde do mundo. “Vou impactar positivamente a vida de mais de 1 bilhão de vidas”, promete. “Ninguém vai esquecer o nome da minha pequena. Com apenas 18 dias de vida e só 500 gramas, ela já conseguiu mudar a história de milhares de pessoas”, emociona-se.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RETOMAR A VIDA

Após longo isolamento, pode haver dificuldade de se ressocializar

Ficar em casa vendo séries e bebendo vinho. Estetem sido o ideal de felicidade da gerontóloga Rachel Cardoso, de 47 anos, durante a pandemia. “Minha bolha está tão boa que não quero mais  sair”, afirmou.  Mesmo com o avanço da vacinação e a retomada de uma certa normalidade, pessoas como Rachel demonstram pouco interesse em “sair da toca”, deixar o home office, voltar aos bares e restaurantes e em ressocializar-se.

No início da crise sanitária, o sentimento de Rachel era diferente. “Procurei terapia. Eu estava meio surtada. É que sempre fui uma pessoa agitada. Pegava o carro e ia ver os amigos, ia aos bares…”, contou. Apesar do choque inicial ela foi se acostumando e gostando do novo normal. “E tão mais fácil viver em um ambiente de menos aglomeração, tão mais confortável. Retomar o ritmo e a vida de antes não é nada simples.”

Rachel diz querer perder o medo de  sair de casa e está dando pequenos passos nesta direção. Aos poucos, liberou algumas visitas em casa e reviu amigos e familiares. “Não dá para sair como se não houvesse amanhã. A variante Delta tá ai. Vou fazer tudo aos poucos. Viver isolada tem sido bom e tranquilo, mas precisa se expor”, disse.

Algumas resoluções tomadas no contexto do isolamento social parecem ter se tornado permanentes. Ao menos é o que garante a empresária Helena Cidade, de 70 anos. “Não é ficar isolada, mas me relacionar de uma outra maneira com o mundo”, explicou. Helena não quer mais saber de reuniões em salas fechadas, não quer mais salões de beleza apertados ou passeios aos shoppings.

“Só mantenho um escritório para evitar o bullying social. Mas minhas reuniões serão só em espaços abertos; cuido do meu negócio sem me expor. Além disso, não preciso mais me enfiar em shoppings e as lojas podem me trazer o que preciso em casa”, contou.

Sócia de dois restaurantes em São Paulo, Helena diz que estabelecimentos com áreas externas e tetos que se abrem serão o futuro do setor e que prédios grandes de escritório vão acabar transformados em apartamentos. “As pessoas estão notando que o mundo mudou. E, essa nova maneira de se socializar não é se isolar. É estar na vanguarda.”

A jornalista Anyelle Alves Oliveira, de 23 anos, também não quer abrir mão da tranquilidade proporcionada pelo isolamento. “Antes da pandemia, minha vida era muito corrida. Morava em Atibaia e trabalhava em São Paulo, perdia horas nesse trajeto”, contou. Ao iniciar o home office, ela conseguiu tempo para momentos de cuidado próprio e ficar mais próxima da avó. “Não tenho saudade da minha vida de antes”, sentenciou. “Mesmo quando a vida voltar ao normal, não quero abrir mão de fazer as coisas em casa, de passar mais tempo com a família. Sinto que uma vida menos agitada, com menos sociabilização pode ter mais qualidade e ser mais produtiva profissionalmente.”

Para Natália Fonseca, psicóloga e professora da The School of Life, algumas pessoas que não querem se socializar novamente estão apenas aproveitando uma oportunidade. “São pessoas que já tinham alguma dificuldade de sociabilização. E, agora, viram uma oportunidade, uma justificativa para evitar a sociabilização”, falou. “Em alguns casos, essa recusa pode estar ligada à depressão e à ansiedade. Não somos feitos para viver isolados. Sociabilizar é difícil e ainda tem o medo de pegar Covid. Mas é preciso reaprender a se aproximar das pessoas. O importante é saber que temos de enfrentar essas dificuldades e não ficar na nossa zona de conforto.” A psicóloga fala em uma reentrada suave e controlada no mundo social. Sugere que  primeiro as pessoas se reconectem com os amigos e conhecidos (mesmo por telefone) e que busquem relacionar-se com pessoas que tenham interesses em comum.

A psicóloga Tina Zampieri também acredita que muitos vão precisar reaprender a se sociabilizar. “Existe um sentimento de medo. Por isso, algumas pessoas parecem reagir com certo exagero, como se existissem outros entraves, além da própria Covid, para uma retomada”, contou. “É preciso colocar os pés no chão, olhar para essas situações e iniciar uma retomada.”

Para quem ainda está inseguro, a psicóloga também recomenda que os primeiros contatos sejam virtuais. “O primeiro passo pode ser marcar um café virtual. Depois, aos poucos, esse café pode se transformar em algo presencial, em uma atividade social”, disse Tina.

Ao contrário de quem se acostumou com o isolamento social, também é possível encontrar quem esteja ansioso por uma retomada da rotina de encontros, aglomerações e shows presenciais. A vontade de “viver plenamente” do historiador e músico Vítor Bara, de 40 anos, é justificada.

No final de 2019, poucos meses antes da pandemia, Bara sofreu um grave acidente de carro durante uma viagem pela Patagônia argentina. “Quebrei duas vértebras, quase fiquei sem os movimentos de pernas e braços. Passei um mês no hospital e com mobilidade reduzida até o início de 2020”, lembrou.

Quando a situação física melhorou e Bara já se sentia pronto para retomar sua rotina, chegou a pandemia da covid-19. “Tenho uma vontade represada de ver as coisas. Dentro de uma responsabilidade, as coisas precisam voltar. O mundo mudou, mas não pode ser um impeditivo para viver as coisas boas da vida.”

No período, Bara escreveu um livro sobre sua experiência, A Primeira Vida em 50 Shows, no qual fala sobre o acidente na Patagônia e lembra dos 50 shows mais marcantes da sua vida. Além disso, já começou a fazer planos para uma retomada: programou uma viagem para a Itália e também está ansioso pela abertura de venda de ingressos para festivais como o Rock in Rio e Lollapalooza.

Além da vontade de se sociabilizar, a ansiedade de retomar o velho normal também invade quem está preocupado com a economia. Diretor de uma importadora de vinhos, Luca Mesiano diz que tem tomado os cuidados sanitários, mas que o mundo não pode mais ficar parado. “Ninguém me ajuda a  pagar as contas. Precisamos voltar ao trabalho normal. A vida está aí para ser vivida.”

OUTROS OLHARES

AUMENTA INTERESSE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM FORMAR FAMÍLIA NO PAÍS

Crescimento da inclusão e avanços na medicina ajudam a entender a tendência, mas há preconceito

Mais acesso ao trabalho, ao lazer e à vida social, avanços tecnológicos e médicos, difusão de informações e de direitos, inclusão. Todos esses elementos ajudam a explicar um movimento crescente que envolve pessoas com deficiência no Brasil: a formação de famílias e a geração de filhos.

Tem sido cada vez mais comum se deparar com pais e mães que guardam diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, o que se contrapõe a antigos preconceitos contra pessoas com deficiência – o chamado capacitismo – que viam esses como assexuados, dependentes, e até mesmo infantilizados.

A médica Natália de Sousa Zufelato, 36, casada com Marcos José Zufelato, 47, ambos cadeirantes, avalia que pessoas com deficiência passam por um momento histórico no Brasil em relação a conquistas. Eles são pais de duas meninas, Rafaela, 5, e Júlia, 1. “Não era comum ver pessoas com deficiência estudando, trabalhando, namorando. Era mais difícil ter uma vida ativa, constituir uma família. Com mais acessos sendo garantidos, estamos vendo uma evolução. As pessoas estão indo à escola, ao trabalho, tendo suas necessidades supridas, tendo mais oportunidades e mais qualidade de vida. Com isso, elas crescem, se desenvolvem, conhecem parceiros, como quaisquer outras”, afirma.

De acordo com a psicóloga Karla Garcia Luiz é preciso ‘tirar o acesso do campo individual e transpor para o campo coletivo, da justiça social. Para Karla, que pesquisa o tema na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e que também é pessoa com deficiência, “parece absurdo que precisemos garantir em lei e em políticas públicas que a gente tem o direito de fazer sexo e se relacionar. No entanto, historicamente, a deficiência serviu como argumento para que muitos direitos básicos nos fossem negados. É preciso que nos reconheçam como pessoas, como humanos”, afirma.

O Brasil não dispõe ainda de estatísticas oficiais que demonstrem e concretizem a percepção de crescimento de pessoas com deficiência compondo famílias e tendo filhos, movimento que se manifesta em grupos organizados, redes sociais e organizações representativas.

Mais do que desafios logísticos apresentados pelas condições físicas, sensoriais ou intelectuais diferentes em relacionamentos ou na criação de filhos, é a interação social, o que ainda precisa ser mais naturalizada, nas palavras de quem faz parte do grupo.

“Ser pai ou mãe sem deficiências já não é fácil, então, para quem tem deficiência os desafios triplicam. A sociedade ainda é muito preconceituosa. Muitos não acreditam que os filhos são nossos. É comum ser abordado na rua com esse questionamento e com perguntas do tipo quantas babás nós temos, duvidando de nossa capacidade de cuidar dos meninos. Mal sabem que não temos nenhuma “, diz Genival Silva dos Santos, 42.

Ele e Kátia Antunes Marques dos Santos, 39, são cegos e tiveram filhos gêmeos – Matheus e Patrick – há pouco mais de um ano. “Não cabe mais esse olhar de espanto, que julga a capacidade da pessoa com deficiência. Somos sujeitos de deveres e obrigações independentemente da condição de deficiência”, afirma ele.

Segundo Karla, que se tornou mãe recentemente, o preconceito sobre essas questões ainda deve resistir por muito tempo. “Somos oprimidos na expressão da nossa sexualidade, da orientação sexual, de gênero, de reprodução, da possibilidade de gerar e cuidar de filhos. O que devemos fazer é tentar romper com estruturas capacitistas compreendendo que a sexualidade faz parte da condição humana, assim como a deficiência.”

Com osteogênese imperfeita, síndrome genética e hereditária que fragiliza os ossos, a médica Lorena Carneiro do Amaral, 39, e o marido, o advogado Paulo Pereira Cardoso, 32, que tem a mesma condição que a dela, atribuem também ao avanço da medicina a ampliação das possibilidades de vida familiar para pessoas com deficiência.

“Hoje há mais acesso também à medicina reprodutiva. Alguns tipos de deficiência vão recorrer à fertilização in vitro, por exemplo. Pessoas com tetraplegia ou paraplegia podem necessitar de uma biópsia testicular. No meu caso, precisei de um útero de substituição não parental (uma voluntária de fora da família faz a gestação), o que foi autorizado pelo Conselho Federal de Medicina”, declara Lorena, que tornou-se mãe de Antonella há dois anos.

Ela encara com naturalidade os questionamentos dos outros em relação a sua maternidade. “Vejo muita admiração e curiosidade sobre nossa história. As pessoas querem saber como foi a gestação, se o processo foi natural. A minha preocupação é com a formação da minha filha, com o entendimento dela em relação a ter pais com diferenças. Estou trabalhando isso desde já”.

A composição de famílias por pessoas com deficiência, nas palavras de Natália de Sousa, enseja uma maneira mais moderna de promover acessibilidades.

“O degrau de evolução precisa de um novo passo agora. Em geral, as adaptações nos locais foram pensadas para um cadeirante sozinho. Por exemplo, quartos de hotéis são acessíveis para uma pessoa ou um casal, dificilmente pensam que pode haver uma família. Banheiros infantis raramente têm portas largas para passar uma cadeira de rodas”, declara a médica.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 30 DE OUTUBRO

O MAIOR LEGADO DE UM PAI

O justo anda na sua integridade; felizes lhe são os filhos depois dele (Provérbios 20.7).

Um homem justo prova sua integridade não com palavras, mas com a vida. O exemplo vale mais do que o discurso. O mundo está cheio de palavras vazias e vazio de exemplos dignos de imitação. Muitos pais deixam polpudas riquezas materiais para os filhos, mas também legam um caráter disforme, uma personalidade doentia, um nome sujo e uma reputação duvidosa. A maior herança que um pai pode deixar aos seus filhos é sua integridade. Os filhos devem ter orgulho dos pais não tanto pelo patrimônio material que granjearam, mas pelo caráter impoluto que tiveram; não tanto pelos bens que acumularam, mas pelo nome honrado que ostentaram. A honra não se compra no mercado. Não se adquire caráter com ouro. Ninguém edifica uma família feliz com riquezas materiais se essas riquezas tiverem sido mal adquiridas. O dinheiro acumulado sem honestidade é maldição, e não bênção. Traz tormento, e não felicidade. É causa de vergonha para os filhos, e não de contentamento. É motivo de opróbrio na terra, e não de alegria no céu. Nenhum sucesso financeiro compensa o fracasso da honra. Nenhuma herança é mais importante para os filhos do que a dignidade dos pais. É melhor ser um pai pobre e íntegro do que ser um pai rico e desonesto.

GESTÃO E CARREIRA

PLATAFORMAS DE BEM-ESTAR PARA EMPRESAS IMPULSIONAM STARTUPS

Apps que estimulam exercícios e plataforma que reúne benefícios crescem na pandemia

As restrições impostas pela pandemia e os custos físicos e psicológicos do período levaram empresas a buscar formas remotas de promover o bem-estar entre seus funcionário, abrindo uma nova oportunidade de negócios para startups.

As startups seguem caminho semelhante ao da Gympass, unicórnio do setor que torna a adesão a academias mais acessível para funcionários de empresas.

A startup Radar Fit, por exemplo, oferece um aplicativo para empresas incentivarem a prática de exercícios entre seu quadro de funcionários.

O app funciona como um jogo em que o usuário, ao se cadastrar, informa suas características físicas, doenças e frequência de atividade física. Depois, uma série de tarefas diárias é gerada, que envolvem de alimentação saudável a exercícios, de acordo com seu perfil. Conforme ele completa esses desafios, ganha um prêmio.

Segundo Jade Utsch, presidente executiva do negócio, o faturamento cresceu 1.600 % entre 2019 e 2020. “A pandemia deu uma alavancada surreal na Radar Fit. Quando vimos, estávamos atuando em 25 países”, diz.

A startup atende hoje mais de 30 empresas de médio e grande porte, diz Jade. O empreendimento começou voltado para o atendimento de empresas, mas agora abriu espaço para usuários finais. O plano empresarial mensal parte de R$ 4,90 por colaborador, enquanto o plano para pessoa física custa a partir de R$15,90.

Entre os clientes da plataforma está a Votorantim. “Ela nos contratou e pediu para atender clientes em outros países em que atuam. Corremos para fazer a mudança no idioma, e tivemos que nos adaptar à cultura de cada país”, afirma Jade.

Em julho, a startup teve um aporte de R$ 3 milhões em sua segunda captação, feira pelos fundos Bossa Nova Investimentos e Domo Invest, com participação do G2 Capital como reserva de rodada. Com funcionários desgastados pelo home office, as áreas de recursos humanos de empresas foram empurradas a olhar mais para saúde mental e para o bem-estar da equipe. O assunto não surgiu durante a pandemia, mas se tornou a tônica do último ano, diz Maíti Junqueira, gerente de desenvolvimento de talentos da consultoria LHH.

“Surgiram novas parcerias diferenciadas de atendimento psicológico e bem-estar físico. Antes fazia parte de um plano, hoje a empresa, independente de recomendar; faz parcerias para incentivar o colaborador”, diz.

Outra startup que foi pega de surpresa foi a caju, uma plataforma de benefícios que permite concentrar todos os benefícios corporativos em apenas um cartão de crédito. “As empresas estão claramente se movimentando, e os RHs estão dispostos a pagar por um produto que reúna tudo que seja necessário para o colaborador”, diz o presidente executivo Eduardo Del Giglio.

O diferencial , diz, está justamente em livrar o funcionário de ter o problema de ter um benefício que não é aceito em um estabelecimento. Por ter bandeira Visa, ele pode ser usado em qualquer local.

“Já para o RH tem a facilidade de reunir todos os benefícios em um só, e pode definir regras para deixar muito mais benefícios, seja para bem-estar, seja para alimentação”, afirma.

Hoje, a startup, que começou em 2020, já tem mais de 2.000. A Caju recebeu um aporte de R$13 milhões liderado pelo fundo Valor Capital Group, pela Canary e também com a participação de Ariel Lambrecht, fundador da 99 e da Yellow.

No início de agosto, a empresa recebeu outro aporte de R$ 45 milhões, liderado por Valor Capital Group, Caravela Capital e Volpe capital. Os fundos Picus capital, FJ Labs e Clocktower Technology também participaram da rodada.

Já no Recife, a Zero Pay oferece seguros odontológicos e outros serviços para empresas. A empresa começou há quatro anos como uma plataforma de seguros online com cash back, mas acabou ‘pivotando” em 2019, uma gíria do meio para quando uma startup muda de rumo.

O negócio começou com atendimento ao usuário final, mas migrou também para o atendimento de áreas de Recursos Humanos.

“Essa guinada veio depois que a Ser Educacional adquiriu parte da ZeroPay, e acabamos mudando o modelo de negócio”, diz Douglas Ferro, presidente-executivo da ZeroPay.

A partir de então, começou a fazer parceria com o RH do Ser Educacional, e viu que a entrada de um grande player teria um ganho maior. Surgiram novos projetos como Easy Vantagens, um clube de benefícios para colaboradores.

“Separamos vários descontos para empresas parceiras como descontos na Netflix, Spotify e e-commerce”, diz.

Com a pandemia, viu a necessidade de expandir o negócio para saúde mental, e criou o LabSaúde, que vai englobar todos os benefícios anteriores junto ao atendimento psicológico.

O perfil primário da startup é de pequena e médias empresas. “Grandes também, mas é um pouco difícil de penetrar”, diz Ferro.

“Como somos uma startup, pensamos em outras que não conseguiriam ter um plano para um colaborador, por exemplo”.

A empresa já tem 270 mil usuários, com planos que partem de R$20.

EU ACHO …

A MULHER FRANCESA

E Paris estava lá, igual. Ou melhor, ainda mais linda depois de dois anos. E por que não estaria? A pandemia ressaltou em nós o medo da perda em todos os aspectos. Alguns dias antes do embarque para a Cidade Luz, uma aflição enorme dava suas caras: seria possível mesmo entrar na França? Quais documentos seriam mesmo necessários? Checa, checa de novo, entra em todos os sites para ter certeza de que não existe uma “pegadinha” esperando. Coloca tudo no celular, melhor imprimir tudo também; e se a bateria acaba? Celular pifa? E se o francês não aceitar aquele código assegurando a vacina? Medo. E Paris estava lá, inteira e ainda mais linda, assim como tudo que achamos que perdemos e reencontramos, ela foi valorizada aos nossos olhos. Está mais limpa? Mais interessante? Ela parece ter as cores mais vivas por ser vista por quem está ali inteira com sentidos abertos para esse momento. Pelas ruas, tudo desperta sensações e assim nesse espírito de recuperar o que parecia perdido, ela depara novamente com a força da mulher francesa.

O inconsciente coletivo está repleto dessas imagens: a mulher francesa é livre, determinada, desperta e lúcida. Andar pelas ruas de Paris nesse pós-pandemia depois de dois anos “presa” em uma realidade brasileira patriarcal sobre o papel da mulher, nossas estatísticas desanimadoras do abuso, da intolerância, das diferenças, é para ela um bálsamo.

 Olha as mulheres nas ruas com admiração e respeito. Elas andam com passos firmes como quem conquistou seu espaço. Não são jovens, nem velhas. São mulheres  em seu dia a dia, atarefadas como todas nós. São mais sérias? Não, são mais seguras. A postura  delas diz isso abertamente. Parecem ter menos medo de parecerem fortes demais, independentes demais. Lutaram por seu espaço e são conscientes da responsabilidade de ocupar esse lugar na sociedade. E, de repente, ela também se sente assim, como por “osmose” – estar perto delas muda sua própria referência.

Ter 50 anos em Paris preenche outra superfície. E vista e olhada de outra forma. Está de volta ao jogo da vida, da sedução, do pertencimento, se sente acolhida. A quem agradecer? A intelectual Simone de Beauvoir, que revolucionou a luta feminista? Olympe de Googes, que escreveu em 1791 a declaração dos direitos da mulher e da cidadã, ou a cientista Marie Curie, que abriu o caminho para o prêmio Nobel? Cheia de inspiração e metas sente suas veias pulsando. Morar em Paris? Nunca pensou. Voltar ao Brasil e se comprometer, dia após dia, a fazer sua parte na busca desse ambiente para a mulher brasileira, isso sim.

*** ALICE FERRAZ

ESTAR BEM

AO INFINITO E ALÉM

A ciência avança na compreensão de como os recursos tecnológicos e médicos poderão estender os limites da longevidade para até 200 anos. E o melhor: com qualidade de vida

A vida eterna é um desejo irrefreável do ser humano. Há 2000 anos, o imperador Qin Shi Ruang, o primeiro da dinastia Qin, na China, tentou alcançar a imortalidade ao ingerir pílulas de mercúrio. Ironicamente, morreu envenenado. No século XVI, o conquistador espanhol Juan Ponce de León navegou pelos novos mundos em sucessivas expedições que buscavam a fonte da juventude. Como se sabe, ele não a encontrou. Em pleno século XXI, a ânsia para ludibriar a finitude não diminuiu. Agora, contudo, ela conta com poderosa aliada: a ciência. A busca por formas de retardar o envelhecimento representa um dos movimentos mais fascinantes da medicina. A diferença é que, ainda que estejamos longe de combater por completo os efeitos inevitáveis do relógio biológico, nunca estivemos tão perto. “A primeira pessoa a viver até 200 anos já nasceu”, assegura o pesquisador Sergey Young, autor do livro recém-lançado The Science and Technology of Groiving Young (ainda sem tradução para o português), que em poucas semanas já entrou para a lista dos mais vendidos nos Estados Unidos.

Aos 49 anos (aparenta bem menos), Young – sobrenome adotado ao emigrar da Rússia para os Estados Unidos – diz ter como missão mostrar que é possível estender para patamares extraordinários a expectativa devida de até 1 bilhão de pessoas. Ele vai além. A longevidade não seria somente um fim em si, mas estaria acompanhada do que realmente interessa: a possibilidade de humanos centenários desfrutarem a plenitude da existência. Não faria sentido, diz este gestor de recursos obcecado por pesquisas, estudos e fórmulas matemáticas que retratem de alguma maneira o prolongamento biológico, viver muito, mas mal, e ultrapassar os 100 anos sem se sentir saudável. Em sua recente obra, que levou três anos para ser concluída, Young aponta os notáveis avanços que permitiriam aos humanos chegar aos dois séculos de vida (veja abaixo). Não há no livro nenhuma informação bombástica ou fórmula milagrosa. O trabalho dele se propõe, e de forma bem-sucedida, a reunir as principais tecnologias da ciência e da medicina nesse campo.

As descobertas biomédicas, em especial as que estão ligadas à genética, são consideradas a principal maneira de aumentar substancialmente a longevidade. Tome-se como exemplo a terapia CAR T-Cell. De maneira simplificada, ela consiste na transferência dos genes de uma molécula para outra. Para ficar mais claro: um paciente com câncer poderia ter suas células de defesa reprogramadas. Depois de modificadas, elas são capazes de destruir alguns tipos de tumores. O inovador tratamento já está disponível na Europa e nos Estados Unidos, e provavelmente logo será adotado em escala global, evitando que milhares de vidas sejam perdidas.

A medicina regenerativa é outro fator que certamente elevará o tempo e a qualidade de vida dos humanos. Nessa área, há façanhas que até pouco tempo atrás pareciam obra de ficção científica. Recentemente, médicos britânicos deram enorme passo para curar uma forma comum de doença ocular associada à idade. Ao usar células-tronco, eles restauraram a visão de pacientes com degeneração macular. Ainda mais fantástico é o desenvolvimento de órgãos artificiais. Achamada bioimpressâo em 30 permitirá, por exemplo, a produção de tecidos hepáticos em laboratório, e não é difícil imaginar o impacto que a inovação causará no prolongamento da vida. Apenas nos Estados Unidos, dezessete pessoas morrem por dia à espera de um transplante.

O livro de Young também aponta os principais entraves para viver mais. Entre eles, a ausência de uma abordagem mais preventiva do que reativa e, claro, os hábitos ruins de boa parte da população. “As doenças ligadas ao envelhecimento podem ser controladas por políticas públicas direcionadas a quatro fatores de risco: má alimentação, falta de atividade física, consumo excessivo de álcool e tabagismo”, afirma o gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil. Apesar do papel irrefutável dos bons hábitos para expandir a duração da vida, prevenção e monitoramento são, em essência, o nome do jogo. “O diagnóstico precoce é o grande segredo”, reforça Carlos André Freitas dos Santos, coordenador do Programa de Envelhecimento Ativo da Unifesp. “Nós ainda tendemos a cuidar do problema apenas depois que ele aparece.”

Os debates acerca do limite da duração da vida humana são fascinantes. A maioria esmagadora dos seres humanos está geneticamente programada para morrer antes dos 100 anos, e até pouco tempo atrás isso parecia imutável. Um estudo recente publicado na revista Nature Communications indica que podemos viver, no máximo, até 150 anos –  o humano mais próximo da marca hoje é a francesa Jeanne Calment, que chegou aos 122. Outra corrente, da qual Young faz parte, sugere que é incerto o limite da longevidade, e que certamente ela se estenderá muito. Um breve passeio pela história da humanidade permite certo otimismo. Na Renascença, quem vivia até os 30 anos podia se dar por satisfeito. A melhora do saneamento básico, o desenvolvimento de remédios e vacinas, o maior cuidado com a alimentação e a prática de atividades físicas fizeram a expectativa de vida mais do que dobrar em quatro séculos, chegando, na média, perto dos 70 anos atualmente. O número de centenários no mundo também aumenta sem parar: passou de 95.000, em 1990, para mais de 450.000, hoje em dia.

O único consenso entre os especialistas é que a longevidade precisa estar conectada à qualidade de vida. No clássico da literatura As Viagens de Gulliver, escrito em 1726 pelo irlandês Jonathan Swift, os struldbrugs, como são chamados os humanos imortais, são isolados do reino para viver em um lugar amargo e sombrio. Aos 90 anos, eles esquecem o nome dos amigos. Aos 200, não conseguem sequer reconhecer a língua do próprio país. São imortais biológicos, mas morreram para o convívio social. Quem gostaria de viver uma experiência triste como essa?

O caminho às avessas foi percorrido por Benjamin Button, personagem de um conto de F. Scott Fitzgerald interpretado no cinema por Brad Pitt. Button nasce velho e morre jovem, mas nem o relógio ao contrário foi capaz de aplacar a sua angústia. Agora, a destreza científica parece encontrar um caminho promissor – ser muito velho e saudável ao mesmo tempo. Isso, claro, é formidável. Talvez o humano que viverá 200 anos esteja por aí. Quem sabe seja você.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ESTRESSE AUMENTA TAXA DE INFERTILIDADE EM MÉDICAS

Profissionais americanas escreveram artigo pedindo atenção aos problemas de fertilidade na categoria. Privação de sono, dieta inadequada e falta de exercícios estão entre os fatores que afetam a busca pela gravidez

Desde o início de sua carreira, Ariela Marshall, hematologista da Clínica Mayo, em Minnesota, nos EUA, tinha a convicção de que se ela trabalhasse mais e melhor; ela teria sucesso. E ela o fez: formou-se como oradora da turma do segundo grau, frequentou uma universidade de elite e foi aceita em uma das melhores faculdades de medicina.

Mas uma conquista lhe escapou: ter um bebê. Ela havia adiado a gravidez até estar estabelecida na vida profissional, mas, quando finalmente decidiu tentar ter filhos, aos 34, ficou surpresa ao descobrir que não conseguiria, mesmo tomando remédios para fertilidade. Ariela atribuiu isso ao fato de ter trabalhado em turnos noturnos frequentes, bem como ao estresse e à falta de sono, que podem afetar os ciclos reprodutivos.

Quando ela convidou outras médicas para compartilharem histórias semelhantes, soube que estava longe de estar sozinha. Muitas mulheres em seu ramo de trabalho também lutavam contra a infertilidade ou dificuldades para engravidar. Uma pesquisa de 2016 com médicas publicada no Journal of Women’s Health descobriu que quase uma em cada quatro daquelas que tentaram ter um bebê foi diagnosticada com infertilidade – quase o dobro da taxa do público em geral.

“Para muitos médicos, como eu, tudo é muito planejado. Muitas decidimos esperar até terminar nosso treinamento e ter independência financeira para ter filhos, e isso não acontece até os 30 anos”, conta Ariela.

Para aumentar a conscientização sobre o problema, ela ajudou a criar uma força-tarefa de infertilidade com a American Medical Women’s Association. Em junho, a associação realizou seu primeiro encontro nacional sobre fertilidade, com sessões sobre congelamento de óvulos, benefícios e cobertura de seguro para tratamento de fertilidade.

FALTA DE TEMPO

Frequentemente, médicos levam dez anos para se formar, entre faculdade de medicina, residências e bolsas. A idade média para as mulheres concluírem sua formação médica é 31, e a maioria das médicas dá à luz pela primeira vez aos 32, em média, de acordo com um estudo de 2021. A idade média para as não médicas darem à luz é 27 anos.

Por meio da redes socias, Ariela se conectou com duas outras médicas que também lutavam contra o problema da infertilidade e, no ano passado, escreveram sobreo assunto na revista Academic Medicine, pedindo maior conscientização sobre fertilidade entre as aspirantes a médicas, começando na graduação.

Durante um ano, a médica Arghavan Salles, que agora tem 41 anos, tentou congelar seus óvulos, mas nenhum foi viável. Uma das autoras do artigo, Arghavan, que é cirurgiã da escola de medicina de Stanford, também arcando com as despesas do procedimento, que pode custar até US$15 mil por tentativa. Ela está considerando a inseminação intra-uterina, que é mais acessível, mas tem menor chance de sucesso.

Em 2019, ela escreveu um ensaio na revista Time sobre ter passado seus anos mais férteis estudando para ser cirurgiã, e só depois descobriu que poderia ser tarde demais para ela ter um filho. Posteriormente, muitas médicas entraram em contato com ela para dizer que também haviam lidado com a infertilidade.

“Todas se sentiam muito sozinhas. Todas haviam passado, por conta própria, por essa montanha-russa que é lidar com a infertilidade, porque as pessoas simplesmente não falam sobre isso. Precisamos mudar a cultura da faculdade de medicina e das residências”.

A privação de sono, a dieta inadequada e a falta de exercícios – condições inerentes às demandas da formação médica e da profissão – afeta mais mulheres que buscam engravidar. Até mesmo encontrar um parceiro pode ser um desafio, dadas as exigentes horas de trabalho.

“O problema é que você tem que passar muito tempo no hospital, e isso é muito imprevisível” – , disse Arghavan Salles.  “Alguém poderia argumentar que eu deveria ter congelado meus óvulos no início dos meus 20 anos, mas a tecnologia não era muito boa na época. Vemos mulheres mais velhas que são celebridades tendo bebês, e achamos que vai ficar tudo bem, mas não é bem assim. Estamos percebendo que não temos controle sobre nossas vidas”.

A médica Vineet Arora, reitora da Pritzker School of Medicine da Universidade de Chicago e outra autora do artigo, avalia como ela e outros educadores podem orientar as lideranças na medicina sobre essa questão.

“O que mais me surpreendeu é que a infertilidade é uma luta silenciosa para muitas dessas mulheres, mas, quando você vê os dados, percebe que não é incomum”, disse ela, que passou por muitas fertilizações in vitro nos seus 40 anos, e finalmente teve seu segundo filho em março.

Ela e Arghavan analisam dados de um estudo que conduziram perguntando a médicos e estudantes sobre suas experiências em família e de acesso a tratamentos de fertilidade.

OUTROS OLHARES

ATO DE COMER VIRA RISCO DE VIDA PARA EXCLUÍDOS

População pobre convive com o perigo de fogões a lenha improvisados, que já predominam no país com alta de 30% no preço do gás. Mortes atribuídas à queima de carvão em residências já custariam R$ 3 bilhões por ano para o Brasil

A vida para a catadora de lixo Jane Cristina dos Santos, de 50 anos nunca foi fácil. Mas desde o início da pandemia, as coisas pioraram. O marido, Alex Sandro Rocha, de 45 anos, teve problemas no coração e no pulmão e parou de trabalhar. Além disso, com maisgente sobrevivendo dos recicláveis, a renda minguou. Sua casa, na comunidade Para-Pedro, em Colégio, Zona Norte do Rio, foi mobiliada com móveis doados, das camas ao fogão a gás, que fica do lado do vaso sanitário. A arrumação da casa humilde, que tem paredes de madeira e teto com telhas quebradas, deixa claro que o fogão perdeu a função.

Não é ali que Jane faz a comida do dia a dia: ela utiliza um fogão a lenha improvisado na área externa, que divide com vizinhos que, assim como ela, não têm dinheiro para o botijão. Vendido a R$ 105 no bairro, o gás virou artigo de luxo. Nas casas, só é usado em dias de chuva ou em preparos rápidos, como um café.

Pelos cálculos da Jane, para comprar um botijão, ela precisa vender 50 quilos de garrafas PET, o que leva pelo menos 10 dias para juntar. Antes, como item mais barato, gastava a metade do tempo para reunir o material reciclável que lhe garantiria a compra do item. Já a lenha é de graça. São madeiras de caixotes de feira, abandonados na rua.

“Quando tem dinheiro, compramos pão, manteiga. O óleo pegamos usado, e as frutas e legumes catamos do chão do Ceasa, que fica próximo daqui”, conta Jane.

Mãe de seis filhos, Graziele Oliveira Porto, de 34 anos, tem uma situação um pouco melhor, mas também já usa lenha para cozinhar. O marido, que perdeu o emprego de entregador em abril do ano passado, hoje trabalha arrastando caixotes vazios no Ceasa, por uma diária média de R$ 60. O filho mais velho, de 15 anos, faz o mesmo e reforça a renda da família. Mesmo assim, o gás só dura 22 dias. Na casa, onde também mora a avó de Graziele, são nove bocas para alimentar. Todo fim de mês, a solução é empilhar dois tijolos que ganham uma grelha por cima para virar um fogão.

Rayane Oliveira, de 24 anos, também cozinha com gás de forma intermitente. Com quatro filhos, reclama que, sem a merenda escolar, as contas apertaram:

“Meu marido trabalha de bico, e eu faço unha na comunidade. Aí ganho R$ 10 aqui, R$20 ali. A gente junta, paga o aluguel, compra comida e, às vezes, gás. Quando não sobra dinheiro, cozinho com lenha

No Brasil, o percentual de residências usando lenha para cozinhar já supera o das que usam gás. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o uso dessa matriz de energia começou a aumentar em 2014, mas só ultrapassou o GLP em 2018. Em 2020, 26,1% dos brasileiros usavam lenha contra 24,4% que ainda tinham acesso ao botijão. E a diferença pode aumentar. Desde o início do ano, o preço médio para os consumidores do botijão de gás subiu quase 30%, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o equivalente a cinco vezes a inflação do período.

MAIS DESIGUALDADES

O fim do auxílio emergencial pode contribuir para um cenário de mais desolação. De acordo com a pesquisa Desigualdade de impactos Trabalhistas na Pandemia, do FGV Social, o número de pobres – que vivem com até R$ 261 por mês – pode saltar de 27,7 milhões para 34,3 milhões, aproximadamente 16,1% da população brasileira. O coordenador do estudo, Marcelo Neri, acrescenta que a inflação dos pobres, nos 12 meses terminados em julho de 2021, foi de 10,05%, três pontos percentuais acima da inflação da alta renda.

“Aumentam as desigualdades. A insegurança alimentar, que era 17% em 2013, subiu para 28% em 2020. O uso da lenha é uma situação extrema, com sequelas a longo prazo”, diz.

A professora do departamento de Química da PUC Rio, Adriana Gioda, que se dedica ao tema desde 2016, explica que o uso do insumo pode provocar diversas doenças, como câncer, problemas cardíacos, asma e bronquite. A estimativa é de que as mortes atribuídas à queima de lenha ou de carvão em ambiente domiciliar representem para o país um custo anual superior a RS 3 bilhões.

“Quem é pobre não tem fogão a lenha adequado. Coloca duas ou três pedras, uma grade em cima, ficando muito exposto à fumaça, ou até se queimando e morrendo”, explica. No início do mês, o entregador Israel Rosa, 46 anos, de Anápolis, Goiás, sofreu queimadura de terceiro grau ao cozinhar com álcool. Ficou 15 dias internado na UTI.

“Ele não pode trabalhar e, como era autônomo, não recebe nada. Precisamos de ajuda para o tratamento”, conta a irmã  Loidionice Rosa Correa, de 54 anos e desempregada. Sergio Bandeira de Mello, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), defende que é urgente olhar para o problema de renda no país:

“A gente sugere uma política de maior potência, como um vale- gás, assim como existe a tarifa social de energia. No DF, há um cartão magnético para compra do botijão. Em SP, eles oferecem R$100 a cada bimestre para que as pessoas comprem GLP. No Ceará e no Maranhão, o estado adquire a carga de gás e dá um vale para os assistidos, que pode ser trocado pelo produto. Mas não temos ainda nada nacionalmente.

No Rio, o programa Supera RJ, criado pelo Estado durante a pandemia, terá uma cota extra destinada exclusivamente à compra de botijão de gás (GLP), conforme a Lei 9.383/21, aprovada e sancionada recentemente. Enquanto essa ajuda não vem, Débora Cristina de Jesus, de 23 anos, que tem quatro filhos, sendo uma recém-nascida, recorre à irmã para cozinhar seu feijão ou utiliza lenha. Sem Bolsa Família, a renda da casa é a do marido, que vem da reciclagem.

“Antes da pandemia, a gente comia legumes, agora só arroz, feijão e ovo”, lamenta.

Para a professora de Ciência Política da USP, Marta Arretche, os programas sociais no Brasil para compensar a desigualdade de renda são insuficientes. Além dos valores baixos, as regras do seguro desemprego deixam desamparados centenas de profissionais que não conseguem ficar ao menos 12 meses trabalhando – exigência para ter acesso ao crédito.

O Benefício de Prestação Continuada ( BPC/Loas), que o marido recebe por ser deficiente, é a única renda na casa de Valessa Alencar, de 42 anos, em Manaus. O salário mínimo é insuficiente para sustentar as sete pessoas que vivem lá. Com ensino superior, mas desempregada, Valessa vendeu lanches por um período. Mas, com o lockdown, precisou se desfazer da chapa e da estufa para comprar comida. Agora, vive de doações de alimentos e de gás.

O diretor executivo do Instituto Perene, Guilherme Valladares, observa que a lenha é um indicador de renda porque entra no lugar do gás quando falta dinheiro para remédio ou comida. A instituição desenvolveu um modelo de fogão a lenha que reduz até 60% o uso dessa matriz energética por refeição. Desde 2009, ele já atendeu mais de 13 mil domicílios.

“A solução não é o objetivo final, mas uma tecnologia de transição. O ideal é ter o gás o mês inteiro”, diz.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 29 DE OUTUBRO

NÃO EXALTE A SI MESMO

Muitos proclamam a sua própria benignidade; mas o homem fidedigno, quem o achará? (Provérbios 20.6).

O autoelogio não soa bem. A Bíblia ensina a não fazermos propaganda das nossas próprias obras. Jesus exortou: Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. […] ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará (Mateus 6.2-4). O fariseu que entrou no templo para orar e fez da sua oração um discurso de autoexaltação, julgando-se superior ao publicano, foi rejeitado por Deus. Não é aprovado aquele que a si mesmo se louva. Não sejam os nossos lábios que nos promovam. Muitos proclamam a própria benignidade, mas é raro encontrar uma pessoa realmente fiel. Todos dizem que são bons e comprometidos, mas tente achar alguém que realmente o seja! As pessoas verdadeiramente fiéis reconhecem seus pecados e choram por eles. As pessoas dignas têm consciência de sua indignidade. Quanto mais perto da luz estamos, mais vemos as manchas do nosso caráter. Quanto mais perto de Deus, mais reconhecemos que somos pecadores. Quanto mais obras praticamos, mais sabemos que somos servos inúteis.

GESTÃO E CARREIRA

MAIORIA APROVA O HOME OFFICE, MAS HÁ PREOCUPAÇÃO COM EXCESSO DE TRABALHO

Pesquisada FEA/USP e da FIA mostra que cresceu entre os brasileiros o desejo de manter o trabalho remoto, mesmo depois da pandemia – passou de 70%,no ano passado, para 78%; mas 23% relatam jornadas de até 70 horas semanais

Antes da pandemia, o home office era uma realidade de poucas empresas, mas um pedido frequente de diversos trabalhadores. Com a covid-19, o modelo se tornou uma necessidade para os negócios continuarem operando. Um ano e meio depois dos primeiros tockdowns em todo o Brasil, o trabalho remoto se mostra muito bem avaliado pelos trabalhadores. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA) mostra que a intenção dos brasileiros de permanecerem trabalhando em casa só cresce – ao mesmo tempo em que relatam ter uma jornada de trabalho muito maior do que a estipulada em contrato. De acordo com o levantamento, 73% das pessoas estão satisfeitas com o trabalho de casa. Mas esse número cresce para 78% quando se considera a intenção de se manter a mesma rotina após a pandemia, ante 70% no ano passado. Já o número de trabalhadores que querem voltar aos escritórios diariamente caiu de 19% para 14%. O porcentual dos indiferentes também recuou, de 11% para 8%.

“As pessoas estão muito satisfeitas. Esperávamos até um indicador um pouco abaixo, mas elas estão valorizando muito ficar em casa”, afirma André Fischer, professor da FIA e coordenador da pesquisa. Para completar, 81% dos entrevistados afirmaram que a produtividade, trabalhando de casa, é maior ou igual à da atividade presencial.

Apesar das avaliações positivas, muitos funcionários dizem estar trabalhando mais horas de casa do que se estivessem no escritório. Com a economia de tempo do deslocamento, muitos acabam começando a trabalhar mais cedo – e se desligando mais tarde. Dos entrevistados pelas instituições de ensino, 45% estão trabalhando acima de 45 horas. Desse número, 23% afirmaram que trabalham entre 49 e 70 horas por semana, enquanto 6% falaram em volume acima de 70 horas semanais. A legislação trabalhista estabelece, salvo casos especiais, que a jornada convencional de trabalho seja de 44 horas semanais.

“É um dado impressionante e que pode interferir bastante na questão da saúde mental das pessoas. Eu mesmo estou trabalhando mais horas do que antes”, diz Fischer. “Por estarem conectados o tempo inteiro, muitos acabam trabalhando também o dia inteiro.”

BURNOUT

Dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que o número de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais cresceu durante a pandemia. A concessão de benefícios para problemas psicológicos chegou a 291 mil em 2020, um número maior do que o registrado no ano anterior. E o excesso de trabalho, segundo especialistas, colaborou para a piora.

Gabrielle Cristófaro, gerente de experiência do consumidor da startup de saúde mental Zenklub, afirma que se adaptou muito bem ao home office por ser disciplinada em seus horários, tanto de trabalho quanto de descanso. Ela tem horário de início e de término, e faz uma hora de almoço todos os dias – as vezes, sai até para andar de bicicleta nesse horário. Deu o horário do fim do expediente, ela desliga o computador.

“Temos de ter o autoconhecimento dos nossos limites. É tentador acordar e começar a trabalhar ou almoçar em frente ao computador para adiantar as coisas, ainda mais com a glamourização do workaholic, mas não quero passar por problemas de novo”, diz Gabrielle, que teve uma crise de burnout há dez anos.

Até para evitar que esse tipo de problema aconteça entre os seus funcionários, a Zenklub, que oferece pacotes de psicoterapia para o mercado corporativo, também dá o benefício para os empregados. Eles têm direito a quatro sessões por mês com psicólogos, e também há desconto para os familiares aderirem ao serviço.

Outras empresas também estão no mesmo caminho. Desde 2018, o Nubank conta com o serviço NuGare, que oferece benefícios de ajuda psicológica, planejamento financeiro e assistência jurídica por telefone aos seus funcionários. Como condição extra, o benefício foi estendido para pais e mães de funcionários. “Percebemos que as pessoas precisavam desse tipo de suporte adicional , especialmente por causa da pandemia. Também começamos a oferecer aulas de ioga e mindfulness”, diz Deborah Abisaber, diretora de diversidade e de suporte a pessoas do Nubank.

EU ACHO …

BARBEIRAGENS EMOCIONAIS

Antes mesmo de o sol raiar, as ruas começam a ser preenchidas por milhares de carros, motos, bicicletas e pedestres, em um balé de deslocamentos nem sempre organizado. Nossos corpos são conduzidos dentro de caixas metálicas sobre quatro rodas e por veículos com apenas duas, e quem vê de fora acredita que estamos todos concentrados, cientes das responsabilidades que o trânsito exige e nem por um segundo com a cabeça na lua.

Tem, claro, quem beba uma garrafa de vinho e saia de carro depois. Quem fume um baseado e dirija logo em seguida. Quem se entupa de medicamentos e pegue o volante. Vou chamar de exceções. Condescendência minha, mas prefiro acreditar que a absoluta maioria de nós jamais seria reprovada no exame psicotécnico.

O mundo ideal, um delírio.

Esquecemos que essa absoluta maioria é regida por sangue, bile, humor, espírito, tormentas. Você descobre que seu namorado tem ficado com outra, vai até a casa dele, grita, explode em soluços, borra a maquiagem, termina o namoro de três anos, sai batendo a porta e entra no carro.

Arranca cantando pneu, sem uso de bebida, maconha ou medicamento: dirige sob efeito de uma aguda dor no coração, droga que altera muito mais.

Ou você ficou acordado quase 24 horas durante um plantão. Ou está lidando com uma desesperante notificação de despejo. Ou acaba de ser demitido, e faltava tão pouco para se aposentar. Ou ligaram da escola dizendo que seu caçula está passando mal. Ou sua vizinha mandou um WhatsApp dizendo que viu água escorrendo por baixo da porta do seu apartamento. Você dá a partida no carro, totalmente atordoada, sem lembrar para que serve o sinal vermelho ou a placa de PARE.

Foram poucas as vezes em que me envolvi em um incidente de trânsito e lembro que nunca sofri um arranhão, mas a alma já estava machucada. Na primeira vez, minhas lágrimas escorriam, a visão ficou turva, demorei a frear.

Em outra, alguém fragilizado não via a hora de eu chegar e acelerei demais. Teve a vez em que, indo para o aeroporto, me distraí e colidi numa rua calma, em baixa velocidade, mas, ainda assim, o air bag estourou . Saí ilesa, apenas perdi o voo, o terceiro daquele mês: foi o aviso deque precisava diminuir o ritmo. E, semana passada, meu nível de estresse estava alto e bati com o carro no portão da garagem do meu edifício, barbeiragem aparentemente inexplicável. Foram apenas quatro vezes em 42 anos de habilitação, sem nunca ter sido preciso acionar polícia ou ambulância, mas acho que a reflexão é bastante oportuna: abalos emocionais sempre foram gatilhos para acidentes, e mais do que nunca andamos frágeis, tensos, preocupados. Sinal vermelho: pare. Menos empáfia, mais cautela.

*** MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

A CURA PELA VOZ

Muitas doenças já começam a ser detectadas a partir da fala dos pacientes, com recursos de inteligência artificial – entre eles, estudos até para o diagnóstico da Covid-19

Um paciente tem de ser ouvido por seu médico. A máxima do grego Hipócrates, o pai da medicina, proferida lá atrás, no século V a.C., ganhou uma dimensão extraordinária no atual universo científico. Para muito além de relatos de queixas e angústias no silêncio do consultório, a voz, com suas inúmeras nuances de tons, timbres e potências, vem sendo usada como valiosa ferramenta para rastrear uma série de problemas de saúde, inclusive os de alta complexidade.

Investiga-se a existência ou não de transtornos, como depressão, Alzheimer e autismo, por meio de diagnóstico vocal – é uma das áreas de estudo mais interessantes hoje. Os pesquisadores pedem tanto a pessoas saudáveis quanto a infectadas para soltarem a voz (muitas vezes gravando-a), de modo a ser analisada. Os voluntários dizem palavras inteiras, em sílabas ou tossindo. Em seguida, os sons são armazenados e processados por um sistema de inteligência artificial que busca identificar uma espécie de “impressão digital” de voz para determinada doença. Já há até uma frente de acompanhamento da Covid-19. Diz o engenheiro da computação André Barretto, fundador e CEO da Unike Technologies, uma das empresas brasileiras que estudam o monitoramento da pandemia do novo coronavírus pela voz: “A tecnologia hoje disponível permite otimismo no uso da identificação de voz na saúde em breve”.

Os trabalhos têm como objetivo tornar possível, em um futuro próximo, que as pessoas infectadas pelo vírus possam receber um diagnóstico preliminar por meio dos alto-falantes inteligentes embutidos em produtos como smartphones e aparelhos de uso pessoal – Amazon Alexa, Google Neste a Siri, da Apple, por exemplo. O sistema funciona detectando diferenças sutis na maneira como as pessoas com certas condições de saúde se expressam vocalmente. Falar requer a coordenação de uma grande quantidade de estruturas e mecanismos anatômicos. Os pulmões enviam ar pelas cordas vocais, que produzem sons formados pela língua, pelos lábios e pelas cavidades nasais. O cérebro, junto com outras partes do sistema nervoso, ajuda a regular essa sinfonia e a determinar as palavras pronunciadas. Por isso, qualquer moléstia que afete uma das engrenagens complexas deixa nítidas pistas diagnósticas.

No caso do autismo, um algoritmo conseguiu identificar com 80% de precisão as crianças afetadas a partir da análise do balbucio de bebês com apenas 10 meses. Os primeiros trabalhos na área foram deflagrados com o Parkinson, enfermidade já associada a mudanças naturais com a fala. Em 2012, pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, desenvolveram um método de identificação da doença usando algoritmos de processamento da voz para analisar 132 gravações de 43 adultos dizendo apenas a sílaba “ahhh”. Destes, 33 tinham Parkinson. O sistema registrou algumas características, como as oscilações trêmulas, preditivas da doença. Utilizando apenas esses mecanismos, foi possível identificar o Parkinson com quase 99% de certeza.

Embora a ciência já conhecesse a teoria desses princípios pelo menos uma década atrás, havia grande dificuldade de identificar os padrões. O divisor de águas foi a evolução da capacidade dos computadores de “aprender ( o machine learning, em inglês) – ramo da inteligência artificial baseado na ideia de que os softwares podem evoluir com dados e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana. Há, contudo, barreiras a ser vencidas até que realmente se possa usar o recurso domesticamente, assim como se põe um termômetro, porque muitos registros feitos em aparelhos domésticos tendem a ser frágeis e imprecisos. Mas não resta mais dúvida: o que Hipócrates intuiu é cada vez mais decisivo – que os pacientes sejam realmente ouvidos, com zelo e atenção.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

VEGETAIS COM CORES VIVAS MANTÊM CÉREBRO SADIO

Pesquisa associa os flavonoides, pigmentos naturais dos alimentos, com maior vigor mental na velhice

Comer frutas e vegetais coloridos pode ser bom para o cérebro. Um dos maiores estudos sobre o tema até hoje descobriu que os flavonoides, substâncias que dão cores vibrantes aos alimentos vegetais, podem ajudar a reduzir sintomas como o esquecimento e a confusão mental moderada que costuma estar entre as queixas comuns das pessoas mais velhas com o avançar da idade. Esse sinal pode às vezes preceder um diagnóstico de demência.

A pesquisa foi observacional, portanto, não pode provar causa e efeito, embora seu grande escopo e a longa duração aumentem as evidências de que o que comemos possa afetar a saúde do cérebro.

Os cientistas usaram dados de dois grandes estudos contínuos de saúde que começaram no fim dos anos 1970, início dos anos 1980, nos quais os participantes preenchiam questionários de dieta e saúde periodicamente ao longo de mais de 20 anos. A análise acompanhou 49.693 mulheres com idade média de 76 anos e 51.529 homens com idade média de 73 anos.

Os cientistas estimaram a ingestão de cerca de duas dúzias de tipos de flavonoides comumente consumidos, que incluem o betacaroteno das cenouras, a flavona dos morangos, a antocianina das maçãs e outros tipos presentes em frutas e vegetais. O estudo foi publicado na revista Neurology.

O grande declínio cognitivo subjetivo foi avaliado a partir de respostas “sim” ou “não” a sete perguntas sobre as dificuldades para: lembrar-se de eventos recentes? Lembrar-se de coisas de um segundo para o outro? Memorizar uma pequena lista de itens? Seguir instruções faladas? Acompanhar uma conversa em grupo? Orientar-se em ruas conhecidas? Ou se notou uma mudança recente em sua capacidade de lembrar de coisas?

ESQUECIMENTO

Quanto maior tinha sido a ingestão de flavonoides, descobriram os pesquisadores, menos respostas “sim” às perguntas. Comparado com a parcela de pessoas que relatavam uma menor ingestão de flavonoides, o grupo com o maior consumo tinha 19% menos probabilidade de relatar esquecimento ou confusão.

De acordo com a principal autora do estudo, Deborah Blacker, professora de epidemiologia de Harvard, essas descobertas de longo prazo sugerem que começar cedo na vida com uma dieta rica em flavonoides pode ser importante para a saúde do cérebro.

Para os jovens e os que estão na meia-idade, ela disse, “a mensagem é que essas substâncias são boas para você em geral, e não apenas para a cognição. É importante descobrir maneiras de incorporar esses alimentos à sua vida. Pense sobre: como faço para encontrar produtos frescos e cozinhá-los de uma forma que seja apetitosa? É essa parte da mensagem aqui”.

O estudo levou em conta, para além da ingestão de flavonoides na dieta e a atividade física, o consumo de álcool, a idade e o índice de massa corporal, entre outros fatores que podem afetar o risco de demência. É importante ressaltar que também considerou a depressão, cujos sintomas em pessoas mais velhas podem ser facilmente confundidos com demência.

Os pesquisadores analisaram não apenas o consumo total de flavonoides, mas também cerca de três dúzias de alimentos contendo essas substâncias específicas. Quantidades maiores de couve-de-bruxelas, morango, abóbora e espinafre cru foram mais associadas a melhores pontuações no teste. As associações à ingestão de cebola, suco de maçã e uva também foram significativas, porém mais fracas.

“Esses são os alimentos que você deve comer para a saúde do cérebro”, disse Thomas M. Holland, pesquisador do Rush Institute for Healthy Aging, que não participou do estudo – Há alguns dados   realmente bons aqui, com 20 anos de acompanhamento.

Ainda assim, o pesquisador acrescentou que um acompanhamento adicional é necessário para determinar se os alimentos podem afetar o risco de desenvolver demência.

Paul F. Jacques, cientista sênior do Centro de Pesquisa em Nutrição Humana do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da Tufts University, que não participou da pesquisa, concorda que ainda falta um passo para que o resultado possa auxiliar na redução de riscos para o Alzheimer.

“Em termos de avanço científico, isso adiciona à literatura, e é um estudo muito bem feito. É um passo médio, não um grande passo, no sentido de nos ajudar a identificar o período inicial em que podemos intervir com sucesso”, afirmou.

Slacker ressaltou questões políticas mais amplas que influem na manutenção de hábitos saudáveis.

“Se pudermos criar um mundo em que todos tenham acesso a frutas e vegetais frescos, isso deve ajudar a melhorar muitos problemas de saúde e prolongar a expectativa de vida”, disse.

OUTROS OLHARES

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL JÁ É CAPAZ DE ESCOLHER O NOVO ‘CAMISA 10’ DO SEU TIME

Ganha força o uso de algoritmos para a contratação de jogadores, com aplicações que avançam ao ponto de indicar chances de sucesso de uma promessa em uma liga específica de futebol; no entanto, o momento de aposentar os antigos ‘olheiros’ ainda não chegou

Por muito tempo, contratações de jogadores de futebol passam pelo aval de “olheiros”, gente com conhecimento suficiente para separar os craques dos pernas de pau. Agora, o próximo ídolo do seu time já pode ser escolhido por robôs.

Na última década, a produção de dados sobre uma partida de futebol explodiu: empresas privadas, ligas, associações e os próprios clubes passaram a gerar um volume gigante de informações. Atualmente, times, federações e empresários tentam encontrar sentido nos dados por meio de inteligência artificial (IA) – uma das aplicações mais procuradas é a de contratação de novos atletas.

Não é para menos: com os custos cada vez mais elevados em transferências, a chegada de um novo atleta ganha importância não apenas esportiva, mas também econômica. Ela precisa ser certeira. “Temos uma plataforma que é uma espécie de Google para contratações”, diz Salvador Carmona, fundador da consultoria espanhola Driblab.

O executivo desenvolveu uma ferramenta que recebe dados de partidas e jogadores e faz sugestões de contratações baseadas naquilo que os clubes procuram – a interface é tão simples que lembra a de um vídeo game. Os jogadores podem ser sugeridos com base na performance em determinados atributos ou na possível adaptação a certos esquemas táticos. A IA também pode sugerir atletas por seu potencial econômico. “Em 2017, o Watford (clube da primeira divisão inglesa)nos procurou querendo um jovem atacante que também tivesse potencial econômico. O algoritmo fez algumas sugestões. O primeiro nome da lista era um atacante belga, e o negócio não andou. O segundo era o de Richarlison”, conta Carmona. Então no Fluminense o, centroavante brasileiro foi contratado por 12,4 milhões de Euros. Na temporada seguinte, o Watford vendeu Richarlison por 40 milhões de Euros ao Everton.

Para quem acompanha de fora, a trajetória do atacante brasileiro pode ter sido apenas um golaço acidental da ciência de dados. Porém, predizer o sucesso de novos craques por meio de IA vem se tornando fundamental para muitos clubes. O Liverpool, por exemplo, está colaborando com a Deep Mind, empresa ”irmã” do Google, para o desenvolvimento de algoritmos sofisticados que aumentem o grau de previsibilidade.

BICHO DIFÍCIL

“Contratação é o bicho mais difícil do mundo. Você pode contratar o “Kaká” para o seu time, mas ele pode não se adaptar. E daí danem-se as valências”, afirma Daniel de Paula Pessoa, ex-diretor de futebol do Fortaleza.

Na temporada de 2020, Pessoa trouxe a Driblab para ajudar o departamento de análise de dados do clube. Após alguns meses de experiência, considera-se que a IA pode ser uma ferramenta importante, mas está longe de superar o olho humano.

QUÍMICA

Mesmo com jeito de craque promissor, a IA ainda navega por funções bem menos empolgantes dentro do futebol, como automação das tarefas. “Estima-se que um analista humano gaste até oito horas para gerar informações sobre uma única partida. Os algoritmos tentam reduzir esse tempo para até duas horas”, diz Floris  Goes, cientista de dados da firma SciSports, consultoria holandesa que tem entre os clientes a liga do país.

“Estamos trabalhando para que nosso algoritmo possa predizer o nível de sucesso de um jogador que sai de um campeonato para jogar em outro. Por exemplo, qual será a performance de um jogador que vai bem no Brasileirão ao se transferir para a Inglaterra? Isso ainda não foi feito”, afirma Goes.

Essa não é a única tentativa da SciSports de ampliar o estudo de sua IA. A empresa já apresentou estudo no qual tentava montar um modelo matemático capaz de prever a “química” entre atletas. Ou seja, a IA seria capaz de detectar o Bebeto de cada Romário. Dessa maneira, os clubes poderiam contratar nomes com características complementares independentemente da fama. A pesquisa não foi incorporada à plataforma da empresa, mas indica possibilidades.

“Algoritmos para a combinação de jogadores é um desafio, pois depende de estilos de jogo e preferências do técnico”, diz Rodrigo Picchioni, gerente de análise do Atlético Mineiro. “É muito difícil, por exemplo, criar um modelo matemático que consiga identificar boas ações defensivas. Muitas vezes, um zagueiro não precisa pegar na bola para ser um bom jogador.”

CAPITÃO

Com o avanço do IA, clubes de futebol em todo o mundo começam a atrair um perfil de profissionais pouco comum ao mundo da bola: matemáticos, engenheiros de dados e programadores.

Ian Graham, nome mais famoso na fronteira entre a bola e a IA, é um físico da Universidade de Cambridge. Ele é o chefe do departamento de dados do Liverpool e fica com parte dos créditos pelo projeto que levou o clube a títulos como a Liga dos Campeões e a liga inglesa.

“Os grandes clubes terão departamentos de dados e IA. Aqueles que não puderem estruturar equipes terão os serviços de consultoria” , prevê Carmona. Porém, todos ainda acreditam no papel do observador humano. O futebol, afinal, tem muitos detalhes que passam despercebidos pela máquina. E como todo torcedor sabe: bola na trave não altera o placar.

ALGORITMOS TAMBÉM PODEM SER ÚTEIS EM TRANSMISSÕES

Tecnologia pode ser usada para levar partidas de futebol para TV e internet; dinamismo do jogo é desafio

Nãoé só na prevenção de lesões e nas contratações que a inteligência artificial (IA) pode marcar gols no futebol. Dentro do campo, um segmento que ganha atenção da tecnologia é o da transmissão de partidas, que busca por métodos de automação levar para as telas eventos que emissoras não podem estar “in loco” para produzir.

A Pixellot, empresa israelense de IA, é uma das grandes apostas do mercado para levar um sistema automatizado para estádios e quadras, com transmissão feita por câmeras que atuam sem a operação humana. A partir de algoritmos, o sistema é capaz de identificar a bola, os jogadores e a área do campo em que o lance acontece. Assim, ela produz cortes, zooms e acompanha o movimento do jogo sem a necessidade de um cinegrafista, por exemplo.

Segundo Márcia Cintra, diretora da Pixellot no Brasil, o recurso já esteve em teste com a TV Globo em 2019. A tecnologia foi usada no Maracanã. As negociações foram paralisadas, porém, por causa da pandemia  – as câmeras seriam utilizadas em jogos de futsal já em 2020. Em contato com a reportagem, a emissora confirmou o teste com o equipamento,

“Não pretendemos substituir a produção de um clássico ou de um jogo de seleção brasileira, substituir pessoas. Porém, outros jogos – uma série C, por exemplo – , onde não há a estrutura de transmissão, interessam”, informa a Globo.

Com o aumento dos serviços de streaming que oferecem transmissões de partidas de futebol, cresce também o interesse em ter um equipamento guiado por IA, principalmente em campeonatos menores.

Além disso, a implementação dá tecnologia pode ocorrer pelos próprios clubes de futebol. Segundo Márcia, o interesse na comercialização do sinal, e na própria análise da comissão técnica, é uma justificativa plausível para adotar o sistema.

“Com essa tecnologia, o técnico não precisa nem sair de casa. Ele assiste ao jogo e faz a análise de performance dos garotos pela transmissão. O Barcelona, por exemplo, tem academias espalhadas pelo mundo, todas elas com tecnologia de IA. Todo mundo consegue assistir ao que se passa nessas quadras, desde treino até campeonatos oficiais”, diz Márcia, “Mas no Brasil tudo ainda está muito embrionário.”

Na opinião de Paulo Sérgio Silva Rodrigues, professor de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI, ainda há barreiras a ser dribladas para que a IA se torne uma titular no futebol. Isso porque a tecnologia ainda não está totalmente adaptada à dinâmica do jogo. Na Escócia, uma transmissão foi prejudicada depois de uma câmera detectar um bandeirinha – ou melhor, a sua calvície –  e confundir a imagem com a bola do jogo. Resultado: os telespectadores acompanharam a movimentação do auxiliar, e não dos jogadores.

“Sabemos que essa tecnologia é limitada ainda, sobretudo em cenas muito dinâmicas e com muitos detalhes. Assim, é fácil esses algoritmos errarem. Mas eles estão evoluindo rapidamente. Quanto mais a tecnologia avança, mais detalhes específicos dos objetos da cena (jogadores, bola, até – a plateia em geral) são analisados e informações mais precisas e completas serão geradas”, afirma.

Ainda assim, Rodrigues acredita que o futuro reserva boas cotas para a presença da IA nas transmissões de futebol. “Acredito que será bem rápida a chegada desse tipo de tecnologia para o público em geral. Essas ideias e soluções estão disponíveis para qualquer um. Então, muitas startups podem competir entre si e até mesmo com as grandes empresas, o que pode fazer o preço cair”, diz.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 28 DE OUTUBRO

OS PROPÓSITOS DO CORAÇÃO

Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los (Provérbios 20.5).

Alex Carrel escreveu um famoso livro intitulado O homem, esse desconhecido (Europa – América, 1989) O homem penetra nos segredos mais intrincados da ciência. Decifra os grandes mistérios do universo. Conquista o espaço sideral e faz viagens interplanetárias. Mergulha na vastidão do universo e desce aos detalhes do microcosmo. Não consegue, porém, penetrar nas profundezas de seu próprio coração. Os propósitos do seu coração são como águas profundas. O apóstolo Paulo pergunta: Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus (1Coríntios 2.11). O lema dos gregos era “Conhece-te a ti mesmo”, mas o homem não consegue conhecer a si mesmo realmente sem antes conhecer a Deus. Somos seres incógnitos e misteriosos até termos nossos olhos iluminados pela graça. Somente então poderemos conhecer-nos e trazer à tona os propósitos do nosso coração. É no conhecimento de Deus que conhecemos a nós mesmos. É quando o Espírito Santo nos sonda que sondamos a nós mesmos. É ao desabrochar para Deus que mergulhamos em nós mesmos para trazer à baila os desígnios do coração.

GESTÃO E CARREIRA

EMPATIA ACIMA DE TUDO

Por que a empatia é fundamental para desenvolver a experiência do cliente?

Durante o ano de 2020, os líderes de negócios enfrentaram uma série de desafios relacionados à experiência do cliente. À medida que os consumidores ado idade recorde, as organizações empresariais tiveram que repensar e reconstruir modelos para atender às mudanças nas expectativas do público.

As interrupções nos negócios causadas pela pandemia aumentaram ainda mais uma lacuna já significativa na experiência do cliente, forçando as empresas a adotar práticas mais empáticas em sua busca por identificá-los, adquiri-los e retê-los. Embora as dificuldades às vezes tenham sido opressoras para muitos líderes empresariais, a lição aprendida foi significativa: para construir uma marca voltada para um propósito, as organizações devem colocar a empatia acima de tudo.

Os últimos doze meses foram um curso intensivo de experiência do cliente para os líderes de negócios. Ao longo de 2020, e mesmo em 2021, as organizações empresariais foram forçadas a repensar cada ponto de contato com o cliente e reconstruir suas jornadas em velocidade recorde.

De acordo com uma pesquisa da McKinsey com executivos de nível C e líderes de negócios seniores, as iniciativas de transformação digital para empresas dos EUA foram aceleradas em três a quatro anos, à medida que elas foram forçadas a ativar novas maneiras de alcançar clientes e gerenciar o atendimento ao cliente. A força por trás desses esforços de transformação digital: empatia.

À medida que a adoção de canais digitais disparou, as empresas que prosperaram foram aquelas que compreenderam – e foram sensíveis – às necessidades de seus clientes e às dificuldades que eles enfrentaram. Os líderes de negócios priorizaram iniciativas de transformação digital, não apenas para gerenciar transações de compra, mas para antecipar as expectativas do cliente.

Uma pesquisa do Gartner com mais de 6.000 clientes ressaltou a necessidade de práticas comerciais empáticas, revelando que os programas proativos de atendimento ao consumidor – aqueles que antecipam as necessidades do cliente – aumentaram o NPS e as pontuações de satisfação. Agora, após mais de um ano de interrupções nos negócios, a lacuna na experiência do cliente continua a ser um desafio para quase todos os setores.

As empresas tiveram que tentar recuperar o atraso, pois o número de consumidores que se conectam à Internet para se envolver com marcas aumentou significativamente, com muitos clientes movendo-se no cenário digital, navegando em sites de empresas, usando aplicativos e alternando entre plataformas sociais regularmente.

Após a montanha-russa do ano passado, os líderes de negócios estão enfrentando várias questões: como reter os clientes? Como aumentamos o valor da vida do consumidor? E, mais importante, como aumentamos nossa receita? A chave para solucionar esses desafios depende da capacidade da marca de diminuir a lacuna de experiência do cliente, construindo práticas de negócios mais empáticas.

O QUE É A “LACUNA DE EXPERIÊNCIA DO CLIENTE”?

Ela está centrada nas expectativas do consumidor e na incapacidade da marca de atender a essas expectativas: as empresas acreditam que estão prestando um serviço de primeira linha ao cliente, enquanto os consumidores relatam uma experiência de marca menos do que satisfatória.

“Para ser uma marca verdadeiramente empática, a organização deve fazer da empatia o núcleo de seu DNA”

O conceito não é novo. Mais de cinco anos atrás, pesquisas apontavam que 85% das marcas acreditavam que estavam proporcionando experiências exemplares ao cliente, enquanto menos de 65% deles estavam satisfeitos. A desconexão entre marcas e clientes se intensificou durante o ano passado por uma série de razões.

Por um lado, a população da Geração Z está crescendo mais rápido do que qualquer outro grupo demográfico.

Esse grupo de jovens adultos são nativos digitais – eles cresceram nas telas, navegando por suas vidas adultas por meio de seus dispositivos móveis. Este segmento de consumidor não está se conectando com uma marca por meio de um único canal. A proliferação de canais cruzados da Geração Z está se tornando cada vez mais significativa para a jornada do cliente, ao mesmo tempo esse fenômeno amplia a lacuna de experiência do cliente.

COMO A EMPATIA PODE FECHAR A LACUNA DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE?

Se o seu KPI principal é o crescimento da receita, então seu foco deve ser impulsionar as taxas de retenção e aumentar o valor da vida útil de seus clientes.

Esses objetivos andam de mãos dadas com as experiências do cliente baseadas na empatia. Os consumidores desejam fazer negócios com marcas que se preocupam com eles e demonstram os mesmos valores que praticam.

As marcas que pretendem aumentar sua base de clientes, taxas de retenção e receita devem demonstrar que se preocupam não apenas com o consumidor, mas também com as questões sociais e com o mundo em geral. Organizações que não conseguem alinhar seus valores com os de seus clientes não estão apenas ignorando a lacuna de experiência, mas correm o risco de perder milhões em receita.

Embora a tendência de adotar práticas mais empáticas tenha começado bem antes da pandemia, acelerou agressivamente a necessidade das empresas mostrarem mais empatia para com seus clientes. Não é mais suficiente simplesmente fornecer uma experiência positiva de atendimento. As marcas devem se preocupar com as comunidades que atendem. Em troca, as práticas empáticas irão construir a fidelidade do cliente e melhorar as taxas de retenção, resultando em maiores ganhos de receita e resultados de negócios mensuráveis.

TÁTICAS PARA COLOCAR A EMPATIA NO CENTRO DO SEU NEGÓCIO

Se você deseja colocar a empatia no centro da experiência do cliente, deve ter alguém que a defenda internamente – que acorde todas as manhãs focado exclusivamente em seus clientes e em sua experiência com a marca. Adicionar um Chief Experience Officer (CXO) ao C-suite garante que você tenha um executivo de alto escalão defendendo seus clientes quando as decisões de negócios são tomadas no mais alto nível.

Outro passo importante para construir uma marca empática: certificar-se de que todos os funcionários entendam sua “linha de visão” para o cliente. Isso significa que cada membro da equipe, mesmo aqueles que podem não estar voltados para o cliente, sabem como seu trabalho afeta o comprador. Por exemplo, você pode ter alguém em seu departamento financeiro que não está diretamente envolvido com os problemas do cliente.

Em vez disso, eles estão focados em construir processos transacionais e garantir que esses processos beneficiem a organização. Essa pessoa pode não estar pensando no consumidor, mas os processos transacionais que ela projeta podem impactar diretamente como o cliente interage e, portanto, se sente em relação à marca. Sua linha de visão para o consumidor permite-lhes compreender como seu trabalho influencia a experiência do cliente e melhorá-la.

Quando os funcionários tomam decisões com base em sua linha de visão para o cliente, eles ajudam a construir uma estrutura mais empática. No fim das contas, para ser uma marca verdadeiramente empática, as organizações empresariais devem fazer da empatia o núcleo de seu DNA. Ela deve ser a força por trás de sua estratégia de experiência do cliente, bem como um componente crucial da cultura da empresa.

Uma marca que é capaz de adotar práticas empáticas em todos os níveis do negócio têm mais probabilidade de construir lealdade entre sua base de clientes e criar resultados duradouros que diminuem a lacuna de experiência do cliente, proporcionando grandes ganhos de receita nos próximos anos.

*** ALEXANDRA AVELAR – É Country Manager da Emplifi no Brasil, nova marca da Socialbakers. Plataforma de experiência do cliente apoiada pela Audax, que objetiva amplificar a empatia.

EU ACHO …

ABORTO COMO DIREITO

Procedimento legal e seguro não é assunto de religião, mas de saúde pública

As políticas de proteção às mulheres no Brasil seguem sendo de uma irresponsabilidade que tem gerado mortes, violências diversas e aprofundado desigualdades no país.

No dia 28/09, ocorreu o Dia Global pelo Aborto Seguro. A data foi celebrada pelos nossos vizinhos chilenos com a aprovação pela Câmara dos Depurados da discriminalização do aborto até a 14ª semana, projeto que segue para votação na outra casa legislativa.

No Brasil, contudo, a data traz outros desafios. Pela lei brasileira, na contramão dos vizinhos da América do Sul o aborto somente não é criminalizado em casos de estupro, quando o feto for encefálico ou quando a gravidez resultar em perigo de vida para a mãe.

Contudo, a realidade é bem mais complexa. Em primeiro lugar, é importante destacar que os registros de estupro – um crime por si só com alto índice de subnotificação – cresceram 13% no interior do estado de São Paulo e 19,5% na região metropolitana. Os números foram divulgados recentemente pelo Instituto Sou da Paz, após análise de dados compilados pela Secretaria de Segurança Pública do estado e pelas corregedorias das polícias Civil e Militar. Também foi registrado um aumento dos registros de feminicídio em 2,6% em todo o estado.

Nesse cenário de extremo perigo para mulheres e crianças, vale dizer que o aborto segue sendo criminalizado ainda dentro das hipóteses legais. Em hospitais que realizam o procedimento do aborto legal no país, com vítimas de estupro – muitas delas a crianças -, há vigílias de jovens católicos que constrangem quem já passou por um trauma.

Nesta semana veio à tona o notícia de uma adolescente de 14 anos, grávida vítima de estupro, que teve o direito ao aborto legal negado por uma juíza, em Minas Gerais, que teria divulgado a sentença em um grupo de Whats App.

Casos como estes nos lembram a ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, que foi apontada por movimentar a gigantesca máquina pública usada para assediar uma menina negra de dez anos de idade que foi engravidada por um tio. O assunto, que deveria ser caso de polícia tendo a ministra como alvo, ruma para o esquecimento.

A bem da verdade, esses movimentos de constrangimento em hospitais, além de fazer as vítimas sentirem ainda mais o peso do trauma, também interferem na rotina dos profissionais da saúde em um momento tão delicado quanto o que estamos vivendo.

De início, acho curioso que  padres que estão sendo julgados por vários casos de pedofilia que foram silenciados ao longo da história, como aquele ocorrido em Limeira, no interior de São Paulo, não contem com vigílias semelhantes.

Mas o que eu gostaria mesmo  de destacar é a recente entrevista de Rosangela Talib –   coordenadora da organização Católicas pelo Direito de Decidir – para a Agência Pública. A ONG presente em países latino-americanos realiza um importante debate sobre o direito ao aborto como uma política de saúde pública dentro do Igreja Católica desde 1993.

Para ela, “as pessoas têm o direito de ser contrárias ao aborto, mas não de impor sua visão como política pública. Isso fere a laicidade do Estado. A maternidade tem que ser de livre escolha , não uma imposição”.

Rosangela destaca na entrevista o retrocesso dos  direitos das mulheres causado pela mentalidade religiosa patriarcal. “Essa mentalidade conservadora religiosa foi institucionalizada no país, mesmo com uma Constituição que garante a laicidade do Estado. O Estado não professa nenhuma religião, não deve professar. Ele deve fazer valer a pluralidade. O resultado dessa mentalidade conservadora institucionalizada é o crescimento da maternidade na adolescência, dados estarrecedores sobre casamentos infantis. A gente precisa de educação sexual nas escolas, não de um governo que prega a abstinência”.

Como está posta a legislação no Brasil mulheres em condição econômica desfavorável, em  sua maioria negras, indígenas e quilombolas, acabam por ser vítimas evitáveis do aborto inseguro, ao passo que mulheres de condição favorável – mesmo católicas – têm acesso a clínicas clandestinas para realizar o aborto seguro.

Como explica Rosangela: “Apesar de a legislação ser uma, as mulheres que têm dinheiro vão acessar clínicas particulares para fazer abortos seguros. Quem morre são as pobres, as negras, as mulheres indígenas. Morrem desnecessariamente. Se a tecnologia permite hoje fazer a interrupção de uma gravidez de forma medicamentosa e domiciliar, nada justifica  uma mulher morrer numa clínica clandestina de aborto”.

Já não bastasse a criminalização do aborto que promove, por ano, centenas de milhares de morte de mulheres que recorrem a métodos inseguros, estamos passando por tempos ainda mais nebulosos de imposição de crenças religiosas em um país que, apesar de  intensos ataques à Constituição, é um país laico.

Aborto legal e seguro é um assunto de saúde pública, não de religião.

*** DJAMILA RIBEIRO

ESTAR BEM

O MATO NO PRATO

Com alto valor nutritivo e perfil adequado aos novos humores da sociedade, as plantas que nascem de forma espontânea chegam às mesas domésticas

Taioba refogada, sopa de trevo-de-três-folhas, salada de azedinha e pitadas de semente de aroeira. Os nomes exóticos dos ingredientes dão a pista: são pratos feitos com plantinhas do mato, que nascem de forma espontânea por todo lugar. Na gastronomia, esse tipo de alimento, digamos, selvagem recebeu no Brasil, em 2008, a denominação de “pane”, o acrônimo para plantas alimentícias não convencionais. Com velocidade, chegou às cozinhas estreladas de chefs como Alana Rizzo, Alex Atala e Ivan Ralston. Agora, chegaram às mesas domésticas, sobretudo de quem busca uma alimentação sustentável – prato cheio para a geração dos millennials. O termo “pane” foi cunhado no Brasil pelo biólogo Valdely Kinupp, hoje professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. Em parceria com o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, desenvolveu um catálogo com a identificação, tabela nutricional e receitas de 351 espécies. Diferentemente das hortaliças, legumes, grãos e frutas convencionais, as panes não são cultivadas em larga escala. Muitas, até mesmo, são consideradas ervas daninhas por crescerem nos quintais e beiras de estrada. “Mas os benefícios desse tipo de alimento são extraordinários”, diz a geógrafa Beatriz Carvalho, fundadora do projeto Mato no Prato. As plantas nativas têm em comum altíssima concentração de vitaminas e minerais, em especial, ferro, cálcio e antioxidantes. Os sabores costumam ser fortes, vão do azedo ao picante.

Ganharam espaço, apesar de caras – cerca de 30% a mais do que os produtos comuns -, porque foram adotadas pelo novo espírito do mundo, esse que se espraiou globalmente. E vencem uma barreira imensa: das mais de 50.000 plantas comestíveis disponíveis mundialmente, apenas quinze delas, principalmente o arroz, o milho e o trigo, são responsáveis por 90% das demandas de energia dos seres humanos, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Há, portanto, vasto espaço para crescimento. Hoje há mais de 20.000 espécies catalogadas. Existem endereços especializados que comercializam essas plantinhas. Mas muitas pessoas estão colhendo-as por conta própria. Daí a necessidade de atenção redobrada: elas não devem estar próximas a esgotos ou água parada. Devem ser evitadas espécies com espinhos, com látex ou seivas. E, claro, sempre ter como referência informações de especialistas, divulgadas em links especializados na internet. A natureza é pródiga, mas exigente.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CAFÉ, A DOSE DE ENERGIA QUE PODE TER O EFEITO OPOSTO

Especialistas explicam como a cafeína do dia a dia é capaz de gerar reações químicas que causam sonolência

A cafeína, o principal ingrediente ativo do café tem uma reputação bem justificada de ser um impulsionador da energia. Mas a cafeína também é uma droga, o que significa que pode afetar cada um de nós de maneira diferente, dependendo de nossos hábitos de consumo e de nossos genes.

“O paradoxo da cafeína é que, no curto prazo, ela ajuda na atenção e no estado de alerta. Ajuda em algumas tarefas cognitivas e nos níveis de energia”, disse Mark Stein, professor do Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade de Washington, que estudou o impacto da cafeína em pessoas com TDAH: “Mas o impacto de longo prazo tem o efeito oposto.

Parte dos efeitos paradoxais da cafeína resulta do que os pesquisadores chamam de “pressão do sono”, um processo que alimenta o nosso sono à medida que o dia passa. A partir do momento em que acordamos, nosso corpo tem um relógio biológico que nos leva a voltar a dormir no fim do dia.

Seth Blackshaw, neurocientista da Universidade Johns Hopkins que estuda o sono, disse que os pesquisadores ainda estão aprendendo sobre como a pressão do sono se acumula no corpo, mas que, ao longo do dia, nossas células e tecidos usam e queimam energia na forma de uma molécula chamada trifosfato  de adenosina, ou ATP. À medida que esse ATP é gasto – enquanto pensamos, nos exercitamos, realizamos tarefas ou participamos de teleconferências – nossas células geram uma substância química chamada adenosina como subproduto. Essa adenosina passa a se ligar a receptores no cérebro, deixando­ nos mais sonolentos.

Quimicamente, a cafeína se parece o suficiente com a adenosina, no nível molecular, para ocupar esses locais de ligação, evitando que a adenosina se ligue a esses receptores cerebrais. Como resultado, o café atua suprimindo temporariamente a pressão do sono, fazendo com que nós nos sintamos mais acordados. Enquanto isso, a adenosina continua a se acumular no organismo.

“Uma vez que a cafeína passa, você atinge um nível muito alto de pressão do sono”, disse Blackshaw.

Na verdade. a única maneira de aliviar e redefinir um nível elevado de pressão do sono é dormindo.

Para agravar o problema, quanto mais bebemos cafeína, mais aumentamos a tolerância de nosso corpo a ela. Nosso fígado se adapta produzindo proteínas que quebram a cafeína mais rapidamente, e os receptores de adenosina em nosso cérebro se multiplicam, para que possam continuar a ser sensíveis aos níveis da substância para regular nosso ciclo de sono.

Em última análise, o consumo continuado ou aumentado de cafeína afeta negativamente o sono, o que também nos faz sentir mais cansados, disse Stein.

“Se você está dormindo menos, está estressado e depende da cafeína para melhorar isso, é apenas uma tempestade perfeita para uma solução de curto prazo que vai piorar as coisas a longo prazo”, afirmou o pesquisador. “Você vai adicionar cada vez mais doses ao seu expresso, mas o impacto negativo no seu sono vai continuar ocorrendo, e isso é cumulativo”.

A cafeína também pode causar picos de açúcar no sangue ou levar à desidratação – ambos os quais podem nos fazer sentir mais cansados, disse Christina Pierpaoli Parker, pesquisadora clínica que estuda o sono na Universidade do Alabama em Birmingham.

Se você está sentindo uma queda à tarde, mesmo depois de uma xícara de café, a solução pode ser consumir menos, dizem os cientistas. Não beba diariamente ou fique sem beber por alguns dias para que seu corpo possa eliminar qualquer vestígio de cafeína. Então, gradualmente adicione-a de volta à rotina. Idealmente, beber café “deve ser divertido e útil, e realmente dar um impulso quando você precisa”, recomendou Blackshaw.

Se você sentir que a cafeína não está mais lhe dando aquele pico usual de energia, os especialistas recomendam tirar uma soneca, fazer algum exercício ou sentar-se ao ar livre e se expor à luz natural, o que pode incrementar esse impulso energético, porém de forma mais natural.

“Monitore seu sono e certifique-se de que está dormindo bem”, ensinou Stein, que concluiu: “Sono adequado e atividade física são as intervenções de primeira linha para problemas de atenção e sonolência. A cafeína é um complemento útil, mas você não quer se tornar dependente dela”.

OUTROS OLHARES

OS CAMINHOS DA FÉ E CONTRA A INTOLERÂNCIA NA TELA DO CELULAR

Aplicativo criado por ialorixá faz o mapeamento dos terreiros e adeptos de religiões afro-brasileiras no estado

Eles aparecem como minoria nas pesquisas sobre religião. Mas candomblecistas, umbandistas e seguidores de outras religiões de matriz africana podem ter expressão maior do que a registrada nos dados. É com esse pensamento que a ialorixá Mãe Marcia D’Oxum, do terreiro EgbéllêlyâOmidayêAxé Obalay ó (Casa de Oxum, Mãe da Água do Mundo, e Xangó, Rei que Nos Traz Alegrias), em São Gonçalo, criou o aplicativo “Igbá – Heranças Ancestrais”. Lançada com recursos da Lei Aldir Blanc e promovida pela Secretaria estadual de Cultura e Economia Criativa, a plataforma mapeia a presença dessas religiões no Estado do Rio. Já são 55 terreiros e 220 pessoas cadastradas.

No ano passado, uma pesquisa mostrou que seguidores de umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras correspondiam a 2% da população brasileira. No último Censo do IBGE, de 2010, o número de religiosos de umbanda e candomblé era de 0.3%. Para Mãe Marcia, o levantamento, quando feito pelos próprios adeptos, se torna muito mais fiel à realidade:

“Vejo algumas falhas quando é feito por quem não é do candomblé. Toda a tentativa de mapear sempre seguiu pelos espaços, nunca pelas pessoas. Por isso, a gente tem muita dificuldade de buscar política pública direcionada. Pensam que a gente é minoria”.

AGENDA CULTURAL

O nome Igbá é uma alusão ao recipiente que cada iniciado recebe e onde ficam objetos sagrados. Quando uma pessoa cadastra seu terreiro no aplicativo, ela preenche um questionário com informações sobre a religião e o templo. Além disso, o sistema tem quatro expressões culturais de herança ancestral: afoxé, baianas de acarajé, blocos afros e capoeira. Da mesma forma que os terreiros, são as pessoas que informam sobre seus grupos.

O aplicativo pode ser consultado também por quem quer conhecer essas expressões no estado. Dentro da plataforma, é possível divulgar os eventos na agenda cultural. Há ainda um resumo, a localização e o contato de cada um desses grupos culturais.

“Na seção dos terreiros, por exemplo, há o ícone e o contato de cada um. Conforme as pessoas vão se cadastrando, o mapa vai ficando mais completo. O aplicativo promove cultura, turismo e educação”, garante Arethuza D’Oyá, filha de Mãe Márcia e ialaxé no terreiro.

Arethuza e Mãe Márcia buscam duas parcerias com o Estado do Rio. A primeira é com a Secretaria estadual de Turismo para que hotéis ofereçam o aplicativo aos hóspedes. Através dele, os visitantes poderão saber, por exemplo, onde encontrar baianas de acarajé e outros eventos culturais. A segunda é com a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), para que o lgbá seja também um canal de denúncias, fazendo chegar os casos de intolerância religiosa à especializada.

“O turista chega ao hotel e quer conhecer um terreiro, saber onde tem festa, evento ou passeio. Ele vai encontrar tudo ali, no aplicativo. No meu terreiro, por exemplo, tem  lojinha de artesanato”, afirma Mãe Márcia, acrescentando: “Em relação aos casos de intolerância, acho que os religiosos vão se sentir mais seguros com o aplicativo para fazer denúncias.

A Secretaria estadual de Turismo informou que avalia a proposta. A delegada Macia Noeli, titular da Decradi, disse que espera reunião com a idealizadora do aplicativo para debater a parceria.

Para o futuro, a ideia é que a plataforma tenha alcance nacional. Antes, no entanto, é preciso se estruturar no estado. Para isso, o lgbá conta com 26 coordenadores que divulgam o aplicativo e orientam sobre a sua utilização. Um dos terreiros cadastrados é o llêAxé Nilá Odé (Casa do Alto de Oxossi), do Pai  Ícaro de Oxóssi. Vilde Dorian de lansã, sarapegbé (relações públicas) da casa, acredita que o lgbá vai ser também uma ferramenta de combate ao preconceito:

“O que queremos é que as pessoas passem a nos conhecer e, a partir daí, consigam superar seus preconceitos pelo desconhecimento do que fazemos. Nossa religião é de ancestralidade, cultuamos os que nos antecedem. Queremos ter vez e voz”.

Eliana de Yemanjá, iyá kekerê (mãe pequena) do ilê Axé Fon Obá Okun Ati Ossanyi (Casa de Efon da Rainha do Mar e do Rei das Folhas), também acredita que os religiosos de matriz africana vão ficar mais unidos através do lgbá:

“A gente é considerado como minoria, mas somos muitos. O aplicativo é para união e  conhecimento de todos que estão nascendo e crescendo na religião. Tem casa nova que está começando agora, mas a nossa cultura é muito antiga e passada de pais para filhos”.

O aplicativo pode ser baixado em Android e iOS.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 27 DE OUTUBRO

A COLHEITA DO PREGUIÇOSO

O preguiçoso não lavra por causa do inverno, pelo que, na sega, procura e nada encontra (Provérbios 20.4).

Um indivíduo preguiçoso sempre encontra bons motivos para ficar de braços cruzados. Quando todos os agricultores estão arando a terra para o plantio, ele imagina: “Agora não posso arar minha terra, pois o inverno está chegando”. Por não arar a terra na estação própria, na época da colheita ele não tem nada para ceifar. O preguiçoso coloca a culpa de sua pobreza no tempo, na estação, na semente, na terra, nos outros. Ele se esconde atrás de muitos escudos e intérminas desculpas. Sempre se blinda com essas couraças. Por um tempo consegue convencer a si mesmo de que está sendo prudente. É melhor não arriscar, arando a terra no inverno. É melhor não desperdiçar a semente. É melhor não correr riscos. É melhor descansar um pouco mais até chegar uma estação mais favorável para o trabalho. Mas essas máscaras não são tão seguras. No tempo da colheita, seus campos estarão cobertos de mato, seus celeiros estarão vazios, e sua necessidade estará à mostra. Quem não semeia com lágrimas não colhe com júbilo. Quem não trabalha com o suor do seu rosto não come gostosamente o seu pão. Quem se entrega à preguiça capitula à pobreza. Essa é uma lei imperativa, intransferível e inexorável.

GESTÃO E CARREIRA

LIDERAR A DISTÂNCIA – UMA NECESSIDADE HUMANA

Liderar é uma rotina. Um líder – seja executivo, de nação, de instituições e figuras públicas-convive diariamente com suas equipes e é a voz delas

A pandemia também fez o mundo mudar, assim como as estratégias até então traçadas pelas empresas. Com o isolamento social nosso mercado de tecnologia passou de seus colaboradores, praticamente, para o trabalho remoto. Sabemos que é um privilégio ter acesso a esse novo formato enquanto muitas pessoas perderam seus empregos ou passam por situações difíceis, mas dentro da nossa realidade também observamos obstáculos, principalmente culturais e comportamentais.

Reuniões e encontros online, debates, construções, brainstorms, tudo na frente do computador, celular pessoal invadido pelo corporativo e toda a rotina de uma pessoa se uniu à vida da família, com parentes, pets etc. O papel do líder nunca esteve tão em evidência. Um desafio: como manter, por tanto tempo, os funcionários ativos, inspirados, engajados e dentro do mesmo espírito de time?

Sou cofundador de uma startup de tecnologia e o nosso setor, além de tudo já comentado, muda constantemente. Foi durante a pandemia que muitas pessoas se destacaram em suas atividades, principalmente pelo domínio e equilíbrio mental. Não é fácil, estamos a todo o momento recebendo notícias negativas, tristes e com muitas vidas partindo (muitas delas pessoas próximas a nós, de familiares, amigos, colegas do dia a dia).

Liderar a distância é mais necessário, digamos. Não basta ser chefe e apontar situações ou auxiliar tecnicamente. Um líder dá um direcionamento e permite que a pessoa siga, com seu brilho. Um líder atua diretamente estimulando a confiança de seu colaborador – dele para o trabalho e do líder para com ele. E temos que entregar tudo isso de forma mais intensa agora.

É necessário deixar as pessoas seguirem, atuarem na empresa com protagonismo nas escolhas e sustentando-as. A comunicação entre duas pessoas e entre a equipe deve ser transparente e até detalhista, mas sem excessos. Um bom líder confia e conhece seu time, não só suas competências (expostas publicamente nos perfis de LinkedIn e nos currículos), mas em seu caráter e iniciativas.

Um bom líder comanda sua equipe em qualquer cidade ou região do mundo. A pandemia abriu a premissa para o teletrabalho e esta deixou de ser uma tendência, sendo uma realidade para o futuro das empresas. É preciso estimular que as pessoas possam exercer suas atividades profissionais de onde elas se sintam melhor, contando com o compromisso, metas e entregas claras.

Um bom líder não se prende às hierarquias e está aberto às mudanças. Ele sabe ouvir, muito mais do que falar e consegue criar uma compreensão de causa e efeito para seus colaboradores. Recentemente, a empresa que cofundei contratou mais de 300 colaboradores (estamos em trabalho remoto desde março de 2020), todos para atuar em home office até que a pandemia seja findada no Brasil. Portanto, não podemos paralisar. É preciso tirar o medo do que vai acontecer e construir a confiança para que as situações aconteçam.

Eu e minha equipe conversamos com o time de liderança sobre a importância de cada um neste momento, das vidas atrás de cada tela. E a liderança precisa atuar unida, engajada e motivada para que os funcionários andem no mesmo ritmo. Não é apenas pedir ou cobrar, o líder é o exemplo. Cada vez mais temos líderes mais jovens e eles não têm a visão ou a experiência de uma pessoa com mais idade, mas, em contrapartida, temos mesclas de gerações e é importante ter esse equilíbrio. Cada uma tem o seu toque especial, o seu ritmo, as suas especialidades e todos juntos devem atuar para o fortalecimento de um só DNA, o da empresa. Vejo que os mais jovens, por exemplo, têm facilidade em ser mais comunicativos. Eles falam o que pensam com a mesma responsabilidade de pessoas que atuam há muitos anos na função, e ficam mais confortáveis com as mudanças rotineiras ou bruscas. O fato é que todos se complementam: não existe líder sem liderado e times com perfis totalmente iguais.

Seguimos um ritmo de país, com suas regionalidades e especificações, e agora também global. Temos colaboradores na Suíça e na Espanha, por exemplo. Esses ambientes mistos tendem a focar mais o desenvolvimento das pessoas do que do escritório físico. Existe ainda um movimento mundial, que impacta o mercado nacional, impulsionando o teletrabalho no pós-pandemia.

Foi o que apontou o Google, em recente pesquisa “O futuro do trabalho no Brasil “. O modelo de híbrido é o novo padrão, com decisão de 43% dos entrevistados. E mais da metade dos funcionários dessas empresas apoiam o formato: com 51% enxergando a mudança com entusiasmo e 47% com confiança. Portanto, temos a comprovação de que paradigmas e regras podem mudar, a rotina de bilhões de pessoas também, e o mais importante é estar preparado para o que vier. O bom líder não vai estar preocupado com o que não pode fazer, ele sempre estará de olho no que pode auxiliar a transformar e isso vai de situações às pessoas. Esteja atento e tenha certeza de que é ainda mais importante ouvir sua equipe agora a distância. Um bom líder aprende todos os dias.

*** PAULO DE ALENCASTRO JR. – É cofundador e VP Projetos e Relação com Investidor da único.

EU ACHO …

GASTRONOMIA PERDIDA

Em busca dos sabores esquecidos que resgatam emoções

Em Ponte de Lima , vilazinha no norte de Portugal, antropólogos pesquisaram receitas que, por este ou aquele motivo, foram deixando o repertório gastronômico daquela região fronteiriça com a Galícia, na Espanha. São pratos dos tempos medievais. Pataniscas de farinha de milho, chouriço de língua de porco, cabidela de cabrito, para citar exemplos. Alguns nomes até sobreviveram aos século, mas o preparo típico dos tempos feudais se perdeu nas fumaças e vapores das rústicas cozinhas com forno a lenha, de onde saiam iguarias imemoriais.

Pois eis que esse passado remoto está agora sendo resgatado. Chefs locais foram convocados para recriar os cardápios que despertaram o apetite de cavaleiros, súditos e reis. Um livro com 100 daquelas receitas será lançado neste mês, com conteúdo disponível na sequência em um portal na internet, uma simpática iniciativa que democratiza o conhecimento.

A estratégia objetiva promover o turismo gastronômico. Pega o visitante pelo paladar, o sentido que se conecta diretamente com as emoções. Há mais em comum entre o paladar e o cérebro do que se imagina. A lembrança de um prato provoca senso de pertencimento e, a partir da valorização das individualidades, promove uma identidade coletiva. Proust, por exemplo, acreditava não ser possível acessar o próprio passado por meio da inteligência. Só a memória involuntária, acionada por algum elemento, seria capaz de recuperá-lo. Daí a famosa cena da madeleine, tão clássica que foi absorvida pela cultura pop, tendo sido retratada até no desenho Ratatouille, da Pixar. Não é preciso ter lido Em Busca do Tempo Perdido para saber que, ao provar o bolinho após mergulhá-lo em uma xícara de chá, o protagonista evoca a sua infância na fictícia Combray.

Cada um de nós sabe os pratos que têm o condão de despertar nossas melhores memórias. Eu sinto falta do miolo de boi à milanesa, receita da dona Floripes, minha mãe. Os miolos empanados, com casquinhas crocantes e macios por dentro, também não ficam atrás. Já provei outras receitas depois de adulta, mas nenhuma que se aproximasse do que eu comia em casa. E não há como esquecer da geleia de mocotó feita na “Doceira” Pão de Açúcar, em porções que vinham em copinhos de plástico. Acho que hoje uma simples colherada dessa geleia teria o mesmo efeito da madeleine de Proust.

Não temos mais acesso fácil a alguns ingredientes com que se deliciaram nossos antepassados. Também não dispomos do mesmo tempo para preparar uma refeição com a calma que às vezes ela exige. Ah, e como faz falta a avó ao lado, ensinando-nos truques e macetes dos mais deliciosos quitutes. Tudo isso é verdade, sim. Mas não quero soar saudosista, suspirando por um tempo que não volta mais. Gosto de olhar para a frente. Na pandemia, não foram poucos os que aprenderam a cozinhar a partir de dicas em aplicativos ou sites. Se não temos mais a Dona Benta, podemos tentar a ajuda da Alexa, da Siri ou de qualquer outra inteligência artificial.

Não é a mesma coisa? Talvez não seja mesmo. Mas, em vez de lamentarmos o molho derramado, façamos como os chefs de Ponte de Lima, que usam as modernas tecnologias a favor dos sabores de outrora.

*** LUCILIA DINIZ

ESTAR BEM

SEGUE O BAILE

Como manter a libido em alta durante a menopausa sem recorrer à reposição hormonal

Ondas de calor, insônia, oscilação de humor, ressecamento vaginal, taquicardia e falta de libido: os sintoma costumam chegar sem avisar. A menstruação começa a falhar e o climatério indica o que está por vir. A menopausa, quando a mulher fica 12 meses seguidos sem menstruar; não tem idade marcada – há quem ingresse nessa fase precocemente, antes dos 40; e quem adentre aos 50 e poucos anos. Independentemente disso, a falta de libido é uma das queixas mais frequentes, principalmente entre mulheres que não podem ou não querem fazer reposição hormonal.

“A libido feminina tem vários aspectos envolvidos e o hormonal é um deles”, frisa a endocrinologista Lorena Lima Amato.

Influencer da maturidade, Kika Gama Lobo, de 57 anos, sentiu isso na pele. Aos 47, teve câncer no endométrio e precisou tirar todos os órgãos femininos, o que provocou uma menopausa severa. “Não passei por aclimatação alguma”, lembra Kika, impossibilitada de fazer reposição por causa da doença. Nessa mesma época, ela desfez um casamento de mais de duas décadas. Permaneceu quatro anos sem beijar na boca até reencontrar um antigo namorado, com quem se casou em 2016. “Quando a gente teve a primeira transa, depois de tudo que me aconteceu, me senti viva de novo”, conta. Para manter a chama acesa, ela inclui brinquedinhos eróticos, um bom gel e faz questão de abrir o verbo: “‘Falo tudo para ele, temos muita intimidade. Sem humor essa cama madura “não rola”.

Foi na busca por autoconhecimento que Kika chegou à terapeuta integrativa Maira Swami (@sammasati.rj). “Como também entrei na menopausa, meu foco são mulheres que estão no climatério”, diz Maira, que aplica massagem tântrica e ensina pompoarismo. A terapeuta destaca os benefícios da técnica milenar. “Traz percepção corporal e exercita o assoalho pélvico”, afirma. Já a massagem “estimula a bioeletricidade no corpo”. “Uma parte é feita nos genitais, mas respeito o limite de cada paciente.”

A endocrinologista Isabela Bussade, diretora da Ali Clinik, diz que o baixo apetite sexual pode ser tratado com e sem estrogênio. “A bupropiona é um remédio indicado para o transtorno do desejo sexual hipoativo. Não tem hormônio. É um antidepressivo que age na libido por outras vias.”

Fisioterapeuta e terapeuta holística, Claudia Braune, de 55 anos, parou de menstruar por volta dos 52. “Depois de um ano e meio, passei a sentir muito cansaço”, recorda-se. Oscalores, combateu com cápsula de linhaça e, no lugar de reposição hormonal, fez, no ano passado, por três meses, tratamento de nutrição celular com o bioquímico Alexandre Cosendey. “Todo organismo voltou a funcionar melhor”, explica. Para a falta de lubrificação, ela indica às pacientes como terapia, o uso do vibrador. “Ajuda a dessensibilizar a região .” A masturbação também é recomendada. “Fundamental para destravar o campo energético.” Segundo Claudia, que tem um canal no YouTube chamado Teracorpo Spa Holístico, a conexão com a natureza recarrega as baterias: “Andar descalça na terra ou na areia e o contato com o fogo do sol melhoram todos os sistemas”.

Ginecologista com ênfase no climatério, Camila Ramos endossa a importância de hábitos saudáveis e alternativas naturais. “Fazer atividade física regular, diminuir o consumo de álcool, manter a lubrificação vaginal com hidratantes ou até com óleo de coco ajudam a restabelecer a libido”, pondera. A advogada e funcionária do SUS Ruth Pinho, 54, segue essa cartilha: pratica exercícios físicos todos os dias. “São os meus remédios”, define a advogada, que criou um perfil no Instagram (@ruth_sigaquemagrega) para compartilhar informações sobre a menopausa na qual ingressou depois de realizar uma histerectomia aos 48 anos. “Engordei oito quilos, sentia uma fome indescritível além dos calores”, lembra. Iniciou a reposição hormonal e passou a se achar uma “Claudia Raia”. “Porém, por causa de uma suspeita de câncer de mama, tive de parar com tudo. “Além da ioga, da ginástica postural e da academia, é adepta de óleos essenciais e do óleo de coco na hora H. “E muito papo com o marido, com quem estou há 28 anos.” Outra alternativa é o laser vaginal . “A aplicação do Fotona (laser) ajuda no trofismo (boa qualidade do aparelho geniturinário)”,diz a endocrinologista Isabela Bussade, que também recomenda o ácido hialurônico.

A endocrinologista Lorena Amato Lima salienta que a baixa libido tem diversas causas. “A menopausa pode coincidir, por exemplo, com um casamento desgastado e com a saída dos filhos de casa”, observa. “A libido é multifatorial. O comportamento psicossocial impacta em mais da metade do desejo”, finaliza Isabela.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

‘EFEITO ZOOM’ FAZ PESSOAS ACHAREM NARIZ FEIO E GERA ONDA DE RINOPLASTIAS

Procedimento, que virou febre entre influencers, é alvo de disputa de profissionais da saúde

Reuniões de trabalho por vídeo, lives e maior tempo nas redes sociais durante a pandemia de Covid·19 fizeram com que as pessoas olhassem mais para a própria imagem – e muitas não gostaram do que viram nas telas.

O resultado tem sido uma disparada na procura por rinoplastias, as cirurgias plásticas no nariz. É o chamado “efeito Zoom” em referência a um dos programas mais famosos de videoconferência. A operação é feita na estrutura nasal para melhorar a estética e/ou corrigir disfunções do nariz (desvio de septo, por exemplo) e virou febre entre muitos influencers.

No início de agosto, o cantor sertanejo Mariano e a modelo Jakelyne, casal formado no reality “A Fazenda12″ (Record) postaram nas suas redes fotos do pós-cirúrgico de rinoplastias feitas no mesmo dia. As atrizes Cleo Pires, Bruna Marquezine e as cantoras Anitta e Ludmilla também já passaram pelo procedimento. Em grupos privados nas redes sociais, um deles com 88 mil pessoas, a maioria mulheres jovens, são postadas fotos do “antes e depois”, com os nomes dos cirurgiões e os valores. Os preços vão de RS 7.000 a RS 40 mil, dependendo da região do país, do profissional e dos custos hospitalares.

O aumento na procura pelo procedimento não é exclusivo do Brasil. No ano passado, a rinoplastia liderou pela primeira vez o ranking da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps), desbancando o aumento de seios nos EUA. Embora não haja dados consolidados de 2020 sobre o número de plásticas de nariz no mercado brasileiro – em 2019, foram 72.433 -, profissionais ouvidos dizem que a tendência é mesma dos EUA. Uma pesquisa no Google Trends, por exemplo, aponta que no último ano houve aumento de até 4.800% nas buscas pelo termo “rinoplastia” em relação aos cinco anos anteriores.

Um censo realizado no ano passado com 12120 de 900 otorrinolaringologistas que trabalham com plásticas da face mostra a rinoplastia como a campeã entre os procedimentos, com 739 cirurgias por mês. Considerando essa média para todos os profissionais, seriam 66.504 por ano.

Segundo o otorrinolaringologista e cirurgião facial Mário Ferraz, presidente da ABCPF (Academia Brasileira de Cirurgia Plástica da Face) e responsável pelo censo, muita gente passou a usar mais telas de celular durante a pandemia e assim, a prestar mais atenção em detalhes do próprio rosto.

”A câmera do celular provoca uma distorção da imagem que pode chegar a 40%. O nariz parece maior. Isso deixa muitas pessoas desesperadas”, diz ele. Muitas, no entanto, já estavam insatisfeitas com seus narizes antes da pandemia e aproveitaram o momento para realizar a cirurgia.

É o caso da nutróloga Luciane Américo Mangullo, 34, de Sorocaba (SP), que não gostava do nariz desde a infância (“era grande, tinha uma giba, era muito feio”). Mas, por medo de fazer uma cirurgia plástica, ela foi adiando o desejo de passar por uma rinoplastia. Durante a pandemia, como havia reduzido o horário de trabalho, começou a pesquisar mais sobre a cirurgia na internet, selecionando médicos que não tinham processos nem queixas de pacientes. Em fevereiro deste ano, marcou a primeira consulta e, no final de julho, fez a tão sonhada cirurgia. “Quando eu falava que queria operar, todo mundo dizia: “Não precisa, não precisa”. Depois que eu operei, todo mundo passou a dizer: Meu Deus, o seu nariz realmente era muito feio”, brinca.

Uma das mudanças imediatas que notou foi deixar de sentir vergonha de participar de lives. “Se eu soubesse que iria melhorar tanto a autoestima, tinha feito antes.”

A promotora de vendas Natália, 30, de São José dos Campos (SP), sofria bullying dos colegas de escola devido ao tamanho do nariz. Na vida adulta, nem o ex-marido a poupava. “Ele me chamava de lula molusco (personagem da série animada “Bob Esponja”). Em janeiro deste ano, já divorciada, fez rinoplastia em São Paulo. “Antes, tinha pavor de ficar de lado em reuniões ou mesmo de tirar fotos. Agora, adoro fazer fotos de perfil. Mas há também muita gente infeliz com os resultados. “Choro todos os dias desde que tirei a tala. Acho que o nariz continua grande e pouco delicado”, diz J. C. ,25, que fez a cirurgia em julho.

Para Mário Ferraz, pessoas que decidiram fazer rinoplastias no impulso ou por modismo têm mais chances de não ficar satisfeitas com os resultados porque buscam um embelezamento, e não necessariamente a correção de algo que as incomodava muito.

Devido ao aumento desse perfil de pacientes, o médico incorporou na equipe duas psicólogas para ajudá-lo a filtrar os casos que não têm indicação cirúrgica. Com a medida, segundo ele, a taxa de cirurgias não recomendadas quase dobrou, de 13% para 23%.

Nos grupos online, há relatos dramáticos sobre rinoplastias que deixaram sequelas, como dificuldade para respirar, sangramentos e infecções. O cantor Mariano, por exemplo, disseque já passou por cinco procedimentos no nariz para corrigir o primeiro, que resultou em uma dificuldade de respirar.

Para o cirurgião plástico Denis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a rinoplastia jamais deveria ser feita por modismo, mas sim, sempre, por indicação médica. “Em um tratamento médico que precisa de diagnóstico, de plano terapêutico, de informações ostensivas sobre as limitações dos resultados e dos riscos da cirurgias.

Calazans afirma que os colegas relatam que são frequentemente procurados por pacientes que fizeram procedimentos desastrosos com não especialistas, e que depois buscaram os cirurgiões plásticos em busca de correções.

Ele explica que as estruturas anatômicas que compõem o nariz são complexas, e elas que dão a funcionalidade da respiração. Quando as complicações ocorrem, deixam sequelas que podem ser irreparáveis. “Quanto mais intervenções feitas, mais complexo vai ficando o tratamento”, diz. De acordo com Ferraz ,a alta demanda pelo procedimento tem levado muitos médicos recém-treinados nesse tipo de cirurgia a fazer um grande volume de procedimentos. “Hoje a pessoa acabou de passar por treinamento e já tem paciente esperando para fazer rinoplastia. É preciso um amadurecimento do profissional. Você não pode no dia seguinte (ao treinamento) já ter dez cirurgias. O risco de dar problema é grande:”.

O mercado das rinoplastias também é disputado por cirurgiões-dentistas, que oferecem procedimentos chamados de “rinomodelação”, espécie de plástica sem corte que usa preenchimentos com ácido hialurônico e fios. Mas há várias denúncias de casos de pacientes submetidos a procedimentos invasivos no nariz em consultórios dentários, o que contraria normas do CFO (Conselho Federal de Odontologia).

Para o cirurgião plástico Thiago Marra, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica, os cirurgiões-dentistas têm competência para realizar rinoplastias e só precisam ser bem capacitados. “Esse é um caminho sem volta. A área de atuação dos cirurgiões-dentistas é  inequivocadamente a região da face. Eles já fazem harmonização facial, aplicam toxina botulínica e o próximo passo serão as cirurgias da face de um modo geral. A gente quer profissionais bem capacitados, bem treinados.”

OUTROS OLHARES

PAUSAS CURTAS REDUZEM DANOS DE FICAR HORAS SENTADO

Estudo feito na Suécia indica que fazer intervalos de até três minutos a cada meia hora, durante o horário de trabalho, subindo escadas ou caminhando por apenas 15 passos, melhora o controle de açúcar no sangue

Ficar horas sentado trabalhando pode causar estragos em nossa saúde metabólica, contribuindo, com o passar do tempo, para níveis elevados de açúcar e colesterol no sangue, mesmo em pessoas que parecem saudáveis. Um novo estudo, embora pequeno, revelou que levantar-se e mover-se a cada 30 minutos por cerca de três minutos pode diminuir os impactos na saúde de ficar sentado muito tempo.

A pesquisa descobriu que subir vários lances de escada, fazer polichinelos ou agachamentos ou mesmo dar apenas 15 passos durante esses mini intervalos melhorou o controle de açúcar no sangue entre funcionários de um escritório, sem interromper visivelmente seu fluxo de trabalho.

Mas o estudo, que envolveu 16 profissionais de meia-idade com alto risco de diabetes tipo 2, também indica que essas pausas de três minutos a cada meia hora provavelmente representam a quantidade mínima de movimento necessária para proteger a saúde metabólica. Embora 15 passos duas vezes por hora possam ser um bom começo, eles não devem ser os únicos passos que devemos dar para reduzir o estrago.

De acordo com estudos epidemiológicos, os adultos americanos normalmente ficam sentados por cerca de sete horas em média por dia, sendo a maior parte desse tempo ininterrupta. Esse esgotamento postural provavelmente se acelerou durante a pandemia. Dados preliminares sugerem que as pessoas estão mais inativas agora do que em 2019, especialmente aquelas que têm emprego e filhos.

Essa posição constante prejudica a saúde metabólica. Ou, como escrevem os autores do novo estudo, “cada hora gasta em posturas sedentárias (isto é, sentado ou deitado) aumenta o risco de síndrome metabólica e diabetes tipo 2.”

A CULPA É DOS MÚSCULOS

A culpa é da musculatura flácida. Quando nos sentamos, os músculos das pernas, que são os maiores no corpo e geralmente estão ativos e famintos, dificilmente se contraem, portanto, exigem o mínimo de combustível e absolvem pouco açúcar de nossa corrente sanguínea. Eles também deixam de liberar substâncias bioquímicas que normalmente ajudariam a quebrar os ácidos graxos no sangue. Então, quando nos debruçamos sobre nossas mesas de trabalho, o açúcar no sangue e o colesterol se acumulam em nossa corrente sanguínea.

Para o novo estudo, que foi publicado no mês passado no American Journal of Physiology ; Endocrinology and Metabolism, , um consórcio nacional de cientistas liderado por pesquisadores do Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia, decidiu ver o que aconteceria se funcionários de um escritório concordassem em interromper seu tempo sentado, durante três semanas.

Foram recrutados 16 homens e mulheres profissionais de meia-idade em Estocolmo, sedentários e com histórico de obesidade, o que os coloca em alto risco de problemas metabólicos, como diabetes. Eles verificaram a saúde metabólica atual dos voluntários e  pediram que usassem monitores de atividade por uma semana, para obter os dados de base. Em seguida, metade dos voluntários continuou com sua vida normal, como parte do grupo controle, e o restante baixou um aplicativo para smartphone que os alertava, a cada 30 minutos durante a jornada de trabalho para se levantarem e se manterem ativos por três minutos. Eles caminharam por corredores, subiram escadas, marcharam no mesmo lugar, agacharam-se, pularam ou andaram vagarosamente da maneira que achassem conveniente, tolerável e sem distrair muito seus colegas de trabalho. Mas tinham que dar um mínimo de 15 passos para que o aplicativo registrasse seu movimento como uma pausa.

O experimento continuou por três semanas, depois das quais todos voltaram ao laboratório para outra rodada de testes metabólicos. Os pesquisadores descobriram que os resultados dos dois grupos divergiram sutilmente. O grupo de controle apresentou problemas contínuos com resistência à insulina, controle de açúcar no sangue e níveis de colesterol. Mas os outros voluntários, que se levantaram e se moveram durante o expediente, mostraram níveis mais baixos de açúcar no sangue em jejum pela manhã, o que significa que seus corpos controlaram melhor o açúcar no sangue durante a noite, um indicador potencialmente importante da saúde metabólica.

O açúcar no sangue também se estabilizou durante o dia, com menos picos e quedas do que no grupo de controle, e a quantidade de colesterol HDL benéfico em sua corrente sanguínea aumentou. Essas melhorias foram leves, mas podem significar a diferença, ao longo do tempo, entre progredir para o diabetes tipo 2, ou não. Os ganhos variaram, dependendo da frequência e do rigor com que os funcionários cumpriram os alertas de seus aplicativos. Aqueles que se levantaram regularmente e foram os mais ativos –   geralmente conseguindo 75 passos ou mais – melhoraram ao máximo seu metabolismo. Outros, com menos esforços ou frequentemente ignorando seus alertas sonoros, se beneficiaram menos. Mas a saúde metabólica melhorou um pouco, disse Erik Naslund, professor do Instituto Karolinska que supervisionou o estudo. Os resultados sugerem que vale a pena tentar levantar-se duas vezes por hora, mesmo que nem sempre tenhamos sucesso. Ele deu dois conselhos para pessoas preocupadas em passar muito tempo sentadas:

*** Baixe um aplicativo ou defina um alarme em seu computador ou telefone para lembrá-lo de parar a cada meia hora. Caminhe por alguns minutos. Corra parado no lugar. Ir ao banheiro ou tomar um café também conta.

*** Continue se movendo fora do horária de trabalho. “Em geral, é importante introduzir mais atividade física em nossas vidas. Andepelas escadas em vez de pegar o elevador. Desça um ponto de ônibus antes de casa. São pequenas alterações que podemos fazer que são benéficas para a saúde metabólica.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 26 DE OUTUBRO

BRIGAR É SINAL DE TOLICE

Honroso é para o homem o desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas (Provérbios 20.3).

Na estrada da vida há muitas armadilhas de contendas prontas a nos apanhar. Uma pessoa sábia desvia-se delas. Não vale a pena entrar em discussões bobas, em disputas de ideias, em contendas sem proveito algum. Só os tolos se metem em rixas. Qualquer tolo pode começar uma briga; quem fica fora dela é que merece elogios. É uma honra dar fim a contendas, mas os insensatos se envolvem nelas. O rei Saul envolveu-se em muitas batalhas inglórias. Por causa de seu ciúme doentio contra Davi, perturbou sua alma, transtornou sua família e causou desgosto à sua nação. Muita gente perdeu a vida por causa das rixas desse rei louco. Quantas batalhas verbais dentro do lar têm resultados desastrosos! Quantas acusações ferinas entre marido e mulher! Quantos filhos feridos por guerras intérminas dentro da família! Quantas lutas são travadas até mesmo nos bastidores do poder eclesiástico, numa disputa insensata por prestígio e glórias humanas! Devemos declarar guerra ao mal. Devemos empunhar armas espirituais poderosas em Deus para destruir fortalezas e anular sofismas. Mas entrar em pelejas movidos pela vaidade e alimentados pelo orgulho, para ferir pessoas e atormentar nossa própria alma, é sinal de insensatez.

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHADOR QUER TEMPO MAIS FLEXÍVEL NO PÓS-PANDEMIA

Um quarto prefere voltar ao escritório, e 31%, ficar em home office, diz pesquisa

O relaxamento das restrições e o avanço da vacinação contra a Covid-19 vão lentamente abrindo caminho para a volta aos escritórios. Ainda que o home office tenha sido um privilégio de uma minoria – somente 11% dos ocupados brasileiros tiveram esse direito em 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) -, foram 8,1 milhões de trabalhadores que tiveram de improvisar estações de trabalho e conciliar rotinas profissionais e pessoais enquanto seguiam suas jornadas a partir de suas casas.

Agora, com o pós-pandemia no horizonte, termos como flexibilidade e trabalho híbrido ganham espaço – e quem não quiser empregados descontentes terá de levar isso em consideração.

Segundo pesquisa da Ipsos sobre a volta aos escritórios, 66% dos trabalhadores acham que as empresas terão de ser flexíveis quanto a exigir a presença no local de trabalho, e 63% querem poder decidir quando ir ou não.

As preferências dos trabalhadores quanto a voltar ou não aos escritórios, porém, aparecem bem divididas. Quatro em dez disseram que preferem trabalhar totalmente fora de casa assim que a pandemia terminar. Na outra ponta, 31% querem trabalhar totalmente em casa.

“O dado mais óbvio da pesquisa é o de que a flexibilidade não tem volta”, diz o presidente da Ipsos no Brasil, Marcos Calliari. “O que é inesperado é que o Brasil apresenta números muitos parecidos nos extremos, entre os que absolutamente querem voltar e os que não querem”.

Para Calliari, os resultados dão uma dimensão do quão mais complexo ficará a gestão de pessoal.

Quando a Ipsos perguntou quantos dias os trabalhadores gostariam de cumprir jornada em casa, 30% optaram por todos os dias da semana, tendo em conta uma semana de cinco dias. Os demais se dividiram entre preferir um (10 %), dois (15%), três (18%) e, quatro 7%) dias de home office no fim das restrições.

“Vai ser complexo lidar com isso e entender a posição de cada funcionário. O grande achado não é mais se vai ser home office total ou parcial. As empresas vão precisar ter um modelo que respeite as peculiaridades individuais”, afirma.

Na avaliação de Calliari, fatores como a distância entre casa e local de trabalho e ter ou não filhos influenciam na posição do trabalhador quanto ao retorno à rotina no escritório. “Já não é somente sobre trabalhar em casa. (Para o futuro], é fazer uma reunião no escritório, mas poder buscar os filhos na escola”.

A pesquisa da Ipsos foi realizada com 12.445 trabalhadores de 16 a 74 anos em 29 países. Entre os brasileiros, 65% disseram que se sentem mais produtivos com um cronograma flexível. Nas empresas em que já se discute um formato para o pós-pandemia, Calliari tem a avaliação de que os modelos de retorno são, na prática, rigorosos. “São dois dias em casa, mas o que vemos é que as expectativas são mais complexas.”

O trabalho remoto no Brasil em 2020 foi bastante heterogêneo. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a maioria das pessoas ocupadas e que ficaram trabalhando em casa no ano passado eram mulheres brancas e com nível superior completo.

O maior contingente de pessoas em home office estava em São Paulo. Eram 2,9 milhões em 2020, ou 35,5% do total. No outro extremo, apenas 16 mil pessoas estavam em trabalho remoto no Amapá, 14 mil no Acre e 13mil em Roraima.

Para Galllari, há chance de as discussões sobre o futuro do trabalho remoto e a possibilidade de as empresas adaptarem seus funcionamentos às demandas de seus funcionários ficarem restritas às grandes empresas.

“As micro e pequenas, que são os maiores empregadores, não têm uma estrutura para endereçar essas questões. Além disso, a maioria já voltou às atividades”.

Nas grandes firmas, porém, ele nota que começa a existir uma preocupação com um aumento de rotatividade como consequência do trabalho remoto e de uma desmobilização de funcionários. Distante da equipe e de superiores, o desligamento fica mais fácil.

Por isso também, diz o executivo da Ipsos, empresas que chegaram a cogitar a adoção permanente do trabalho a distância recuaram da decisão ao avaliar que a retenção de talentos fica mais difícil sem o desenvolvimento do que os gestores chamam de “cultura da empresa” – seus hábitos, valores e rituais.

“Claramente há uma percepção de que há prejuízos se você nunca estiver no escritório. Perde-se convivência e engajamento”, afirma.

Uma outra pesquisa, essa conduzida pela Grant Tornton  diz que somente 7% das empresas brasileiras descartam manter o home office. A perspectiva de economizar com o custo de manutenção das instalações é atraente para os negócios.

Segundo a consultoria, 45% dos executivos consultados disseram estar avaliando seriamente” a possibilidade de adotar o home office de maneira permanente. Foram ouvidos cerca de 5.000  empresários em 32 países.

A redução dos espaços vem estimulando outros tipos de negócios, como o dos coworkings -empresas que locam estações de trabalho para pessoas físicas e empresas.

Na WeWork, Lucas Mendes, diretor-geral da operação no Brasil, diz ter havido uma “explosão de procura” nos últimos três meses. E, ainda que nem todo o mundo feche negócio, ele afirma que os novos contratos dão à empresa perspectivas de voltar a crescer, depois de um 2020 de retração.

A empresa não abre números ou taxa de ocupação, mas Mendes diz que a vacância é muito baixa. O que atrai as firmas ao modelo da WeWork é justamente a flexibilidade. No lugar de um contrato de locação de cinco anos, elas podem focar mesas, estações de trabalho e salas de reunião até mesmo por diárias, mas há contratos de até um ano. Dispensam também custos com limpeza, copa ou segurança.

EU ACHO …

COVIDALGIA

Novas palavras nos ajudam a superar velhos medos

O desconforto de ficar em locais fechados é claustrofobia. A angústia de estar em aglomerações é agorafobia. Incomodar-se com pequenos sons que a maioria nem repara, como mastigar, tossir ou simplesmente limpar a garganta, é misofonia. A aflição ao falar em público é glossofobia. Como se não bastasse o mal causado por essas fobias, nossos tempos forjaram o medo de todos esses medos juntos. E ele ganhou um nome, é o FORTO.

Esta é uma abreviação de fear of returning to the office. Em tradução literal, seria o “medo de voltar para o escritório”. E o FORTO é real.

Para sete em cada dez pessoas, retornar à rotina do escritório será “difícil” e “estranho”, segundo pesquisa da consultoria Korn Ferry. Entretanto, com o avanço da vacinação e a queda no número de internações, cabe pensar. Será que esse temor de retornar ao local de trabalho está relacionado apenas com a Covid?

Imaginar o “chato” do escritório com dois anos de assuntos para botar em dia pode ser bastante assustador, a ponto de influir no seu FORTO. Não há quem esteja pronto para isso. Outras coisas também trazem pavor na retomada, como dividir espaços, evitar virar os olhos presencialmente e voltar a usar sapatos!

Afinal, depois das cavernas, dos feudos e das sesmarias, é nos escritórios que se enfrentam os limites humanos. Tanto físicos quanto, ultimamente, mentais, como o stress e a síndrome de burnout. Pois então veio a pandemia, que fechou tudo, inaugurou a era do home office e, de uma hora para outra, fez cessar esses transtornos fóbico ­ ansiosos para muita gente.

Sim, no meio de tantas vítimas, muitas outras foram salvas. O que nos leva a uma outra nova palavra no léxico, “covidalgia”, a nostalgia do tempo da Covid-19. Isso mesmo, saudades da pandemia.

Por incrível que pareça, já há quem sinta falta da fase dura do confinamento, como a ausência de trânsito nas ruas vazias. Menos mesquinha, dentre as covidalgias mais sentidas para quem retorna à rotina estará a saudade da comida feita em casa, por exemplo. Outras perdas serão sentidas. Lá se vão hábitos saudáveis como a caminhada matinal, diante da necessidade de sair mais cedo e evitar o engarrafamento. E adeus a comer em família, diante da junk food cotidiana entre reuniões e os snacks da madrugada para entregar o relatório na primeira hora.

Como algo que ninguém controla, medos também são necessários. Fica difícil confessar, mas a verdade é que não descendemos do hominídeo mais valente. Esse achou que dava conta e foi comido pelo leão. Viemos do que estava logo atrás, do mais prudente. Ou seja, do “medroso”.

Sem poder evitar, resta superar o novo medo. A adaptabilidade que levou os funcionários para o home office agora será importante para fazer o caminho inverso.

De qualquer forma, diante da conjuntura atual, em que se teme o que inventam em boatos e fatos alternativos, esse seria só mais um livramento. Sorte que, neste caso, a pista está clara. Vencer o PORTO nos tornará mais fortes.

***  LUCÍLIA DINIZ

ESTAR BEM

TRICOMONÍASE: O QUE É, SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTOS

A tricomoníase é uma infecção sexualmente transmissível (IST) deflagrada por um protozoário. Saiba tudo sobre a doença, da prevenção aos remédios usados

O QUE É TRICOMONÍASE E QUAL SUA CAUSA?

Trata-se de uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada por um protozoário chamado Trichomonas vaginalis. Ela atinge tanto homens como mulheres, afetando principalmente a vagina e o trato urinário. De acordo com um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016, 156 milhões de pessoas entre 15 e 49 anos foram diagnosticadas com o problema.

A TRICOMONÍASE NA MULHER

A ginecologista Iara Moreno Linhares, da Comissão Nacional em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), conta que o perigo de contágio para a população feminina é maior. “O risco varia de 60% a 80% em uma relação sexual desprotegida”, relata.

Para evitar a enfermidade, é imprescindível usar camisinha masculina ou feminina.

Nas mulheres, a doença acomete principalmente a vulva, a vagina e o colo do útero. Mas também pode afligir a uretra e as glândulas de Skene e Bartolin. “São glândulas que têm sua abertura na parte interna da vulva, o vestíbulo, e produzem muco, que ajuda na proteção e na lubrificação durante a relação sexual”, explica.

A maior parte dos casos são assintomáticos. Quando os sinais surgem, as mulheres tendem a sofrer com corrimento vaginal, geralmente amarelo ou amarelo-esverdeado. Ao contrário da candidíase, surge um odor bem desagradável, que lembra o cheiro de peixe. E ocorre uma sensação de irritação e ardor local.

 “A vulva pode ficar avermelhada e sensível, causando bastante desconforto. E é possível que haja dor ao urinar. Logicamente, o sexo se torna desconfortável na presença desses sintomas”, avisa Iara, que também é professora da Universidade de São Paulo (USP).

A TRICOMONÍASE NO HOMEM

A tricomoníase no homem afeta frequentemente a uretra. Apesar de os sintomas aparecerem com menos frequência, os principais na população masculina são irritação e corrimento no pênis, além de ardor ao urinar ou ejacular.

PRINCIPAIS MANEIRAS DE PREVENÇÃO

Assim como qualquer IST, a melhor maneira de prevenir a tricomoníase é usando camisinha. Visitas periódicas ao ginecologista ou urologista também são úteis.

A educação sexual e o conhecimento sobre quaisquer ISTs são importantes entre os adolescentes e os adultos jovens. Entretanto, os idosos não podem ser esquecidos. A tricomoníase é capaz de infectar pessoas de todas as idades.

COMO FUNCIONA O DIAGNÓSTICO

“A análise dos sintomas e os achados do exame físico já levantam uma forte suspeita no médico. Mas o diagnóstico de certeza é feito através de testes realizados no laboratório ou no próprio consultório, se o ginecologista ou urologista tiver um microscópio disponível”, aponta Iara.

Para esses testes, o profissional coleta secreções da genitália. Nos homens, um exame de urina também pode ser utilizado.

TRICOMONÍASE TRATAMENTO

A tricomoníase tem cura, que depende do uso adequado de remédios específicos. São antibióticos tomados de forma única ou em várias doses por alguns dias, a depender do quadro de cada um. Só um médico deve prescrevê-los — pedir a receita da vizinha aumenta o risco de complicações.

“É muito importante que todos os parceiros sexuais sejam tratados simultaneamente para que não ocorra reinfecção e para evitar as possíveis complicações”, orienta Iara. Transparência é tudo nessa fase.

Nesse período, não se deve consumir bebidas alcoólicas nem transar. “Depois, é necessária uma nova avaliação para confirmar a cura e controlar o estado do paciente”, complementa a ginecologista.

Mesmo sem sintomas, a tricomoníase pode persistir por algum tempo no corpo e se disseminar. E dá para pegar a doença mais de uma vez.

TRICOMONÍASE É GRAVE? QUAIS AS COMPLICAÇÕES?

Quando não diagnosticada ou não cuidada corretamente, a tricomoníase facilita o aparecimento da chamada doença inflamatória pélvica (assim como a clamídia, por exemplo). Ela, por sua vez, levaria à infertilidade.

“Se a mulher estiver grávida, há o risco de complicações na gestação, como ruptura precoce de membranas, conhecida como ‘perda das águas’, e parto prematuro”, alerta a professora.

Na ala masculina, os perigos são prostatites (inflamação da próstata), epidimite (inflamação do epidídimo, uma estrutura dos testículos) e alterações na mobilidade e capacidade de fertilização dos espermatozoides (o que eleva o risco de esterilidade).

“Além disso, pesquisas têm mostrado que o Trichomonas vaginalis pode ‘ajudar’ outras infecções sexuais”, informa Iara. Ou seja, diversas ISTs podem aproveitar a ação desse protozoário para causarem mais estragos no trato genital. Sabe-se, por exemplo, que o processo inflamatório facilita a entrada e a disseminação do HIV no corpo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DESEMPREGO E SOLIDÃO PIORAM ABUSO DE DROGA

Traumas, vulnerabilidade e mudanças de rotina estão na raiz da alta de consumo

Marcelo enterrou a mãe em meio à pandemia. Quinze dias depois, foi a vez de um irmão. Mais duas semanas, outro irmão. De luto, descontou no álcool. Para Lívio, pesaram o isolamento social e as incertezas diante de um vírus desconhecido. Também passou a beber de domingo a domingo. Já Filipe ficou sem emprego, voltou à cocaína e acabou indo morar na rua. Agora, busca reabilitação: “Cansei de só sobreviver, quero voltar à vida.”

Em agosto, fomos a duas comunidades terapêuticas e uma república, mantidas pelo governo de São Paulo, para contar histórias de quem perdeu o controle na crise sanitária, e tenta retomar a autonomia sobre a vida. As unidades prestam assistência a dependentes químicos. Para preservar os acolhidos, os nomes usados são fictícios.

Trauma, perda de renda, mudança brusca de rotina e vulnerabilidade social estão na raiz do consumo compulsivo de álcool e de outras drogas, relatam psicólogos, pesquisadores e assistentes sociais. “Percebemos o aumento até pelo número de ligações e mensagens recebidas nas redes sociais”, diz Denis Munhol, coordenador de uma unidade visitada pela reportagem.

Em 2020, as mortes ligadas a ”transtornos mentais e comportamentais por causa do uso de álcool subiram 23,9% no País, segundo dados do Ministério da Saúde. Ao todo, houve registro de 8 mil óbitos, ante 6.445 no ano anterior – a maior alta ao menos desde 2008.

Estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), de novembro, diz que 42% dos brasileiros relatam beber mais álcool na pandemia. Com 3.799 entrevistados, o trabalho indica que a chance de beber com mais frequência subiu 73% diante de quadros graves de ansiedade.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que os dados de mortes por álcool são “preocupantes”, mas que “não há como fazer inferências de correlações, ou mesmo de causalidade utilizando um único indicador” em reação à pandemia. Segundo a pasta, há “ações permanentes” e os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps), especializados em transtornos, atendem todas as faixas etárias, sob “ótica interdisciplinar” em situações de crise ou na reabilitação psicossocial.

RECAÍDAS

 O auxiliar de cozinha Lívio Augusto, de 28 anos, passou a usar álcool e cocaína todo dia na pandemia. O estalo veio de repente. Ao se dar conta, já havia se tornado maltrapilho e pesava apenas 44 quilos, quase metade do seu peso habitual. Estava sozinho e longe de casa, trabalhando em um prostíbulo no interior de Minas para sustentar o vício. A visão lhe caiu como um susto: “O que estou fazendo aqui?”. Segundo relata, isso foi em março e serviu de estopim para buscar ajuda. Ele está em tratamento desde 10 de agosto, em uma   comunidade terapêutica de Ribeirão Preto (SP), onde nasceu. Por trás da tentativa de retomar a dignidade, Lívio carrega uma história de uso precoce de drogas, rompimentos com a família, abstinências e recaídas.

Teve o primeiro contato com a cocaína aos 11 anos, influenciado por amigos. Aos 17, começou a usar maconha e substâncias sintéticas. Foi internado pela primeira vez em 2016. Com o vício sob controle, o jovem atuava na realização de eventos. Até que veio a pandemia. “De uma hora para outra, eu estava sem trabalho e trancado em casa, com duas irmãs gestantes e um padrasto diabético”, disse. “Tinha medo de sair e passar a doença para eles, mas só aguentei dois meses de isolamento.”

Sem renda, arrumou emprego em uma pastelaria e voltou a abusar das drogas. ”Tudo que eu fazia era com o objetivo de usar mais. Gastava de R$700 a R$ 800 por semana e o dinheiro foi acabando. Cheguei ao ponto de me deparar com a prostituição.”

Dados da Secretaria de Desenvolvimento Social paulista mostram que, de abril de 2020 a julho de 2021, a maioria dos atendidos na rede pública eram homens (88,4%), de até 43 anos (72,9%). As drogas mais comuns são álcool (26,7%) e cocaína (19,8%). Em São Paulo, a rede pública estadual tem 1.377 vagas em 64 comunidades terapêuticas ou repúblicas do Recomeço, principal programa contra o uso indevido de drogas. Mas as unidades precisaram reduzir a capacidade e reservar parte das vagas para quarentena, necessária nas duas primeiras semanas de tratamento, o protocolo anti covid.

Mesmo no setor privado, gestores relatam fila de espera. Esses locais acolhem dependentes químicos que demandam assistência social, com atendimento psicológico e  atividades com foco na melhoria da qualidade de vida e resgate da autonomia. Já casos de intoxicações severas ou surtos psiquiátricos são levados a hospitais.

“Nosso olhar é de que a droga é uma expressão social de dor. Organicamente, pode se tornar uma doença, mas que deve ser trabalhada sob a perspectiva de cuidado e controle”, diz a psicóloga Eliana Borges, coordenadora estadual de Políticas Sobre Drogas. “O tratamento é necessário a partir do momento que a vida passa a girar em torno do consumo, com perda de autonomia e de relações sociais.” Parte dos casos está ligado a traumas ou prejuízos sociais.” A droga é transversal a esse processo: se focar nela, não resolvo.” O tratamento é pensado para seis meses, mas a saída pode ser antecipada ou adiada.

Pelo levantamento do Recomeço, 20,4 % dos atendidos viviam nas ruas antes da assistência. “Nem sempre seis meses é o suficiente para retomar o vínculo com a família. Às vezes, é pouco para uma relação que passou anos sendo machucada”, continua. “Cerca de 60% terminam e não têm para onde voltar. A comunidade terapêutica não pode ser uma redoma que protege da droga. Porque, no dia que tirar a redoma, a pessoa despenca.”

Foi a experiência do operador de empilhadeira Filipe Brás, de 34 anos, que usa cocaína desde os 13 e está na quarta internação. “Perdi o emprego, me distanciei da família e fui morar na rua. A ociosidade que a rua proporciona deixa a gente ainda mais receptivo à droga”, descreve. “Na pandemia, não tive oportunidade de trabalho.”

A maior pane dos assistidos é de baixa renda e escolaridade. Exceção, a publicitária Joana Santos, de 44 anos, morou na Califórnia e chegou a coordenar uma franquia de idiomas. Órfã da mãe desde a infância e com o pai alcoólatra, Joana desenvolveu vício em álcool e cocaína. Nunca conseguiu manter emprego. “Havia vezes em que ia trabalhar bêbada ou saía da sala para dar ‘tiro’ no banheiro”, diz ela, que trabalhou de atendente de padaria, mas foi dispensada no início da pandemia.

Joana carrega uma tatuagem com o nome dos pais no antebraço direito. Ao lado, há o desenho de quatro bonequinhos de mãos dadas – representação de si e dos três irmãos. ”Hoje, a relação com a minha família é “muito ruim”, diz. “Ao mesmo tempo que não confiam mais na minha recuperação, também não me deixam livre para que tente caminhar com as minhas próprias pernas.”

Ela já passou por internação hospitalar, clínica de reabilitação e está voluntariamente em uma das comunidades terapêuticas do Estado desde junho, período em que se mantém em abstinência. “Quero descobrir porque me tornei essa pessoa. Tenho casa própria, um cachorro para cuidar e uma vida para viver. Basta eu mesma me ajudar”, discorre. “Estou há dois meses sem usar nada. Mas é saindo daqui que a gente tem de enfrentar os monstros”.

RENASCER

Toda noite, o pintor Davi Torres, de 41 anos, rega a horta, ajuda em outras tarefas coletivas e depois senta no banquinho para fumar um cigarro com calma. Em oito meses, saiu da condição de morador de rua para viver em uma república. Está sem álcool, cocaína e crack: “Eu renasci. Renasci de verdade”.

Voltada para pessoas em fase de retomada de vínculos sociais e reinserção no mercado de trabalho, a república é uma última etapa de assistência a dependentes químicos. A ideia é que funcione como uma casa e atende quem resgatou a autonomia, mas não tem onde morar. Os acolhidos têm as chaves e liberdade para escolher da decoração às compras da semana. “A convivência tem sido muito harmônica, todos dividem as responsabilidades”,   diz ele. “Dos 13 que entraram comigo, só três ficaram os seis meses.”

Antes dessa etapa, o acolhido tem de ser encaminhado por uma unidade básica de saúde – normalmente um Caps, o que nem todo município tem. Depois, passa por uma comunidade terapêutica, instalada em cidades-polo, às vezes distante do seu local de origem.

Coordenador técnico de uma comunidade, o assistente social Denis Munhol usa a própria história como exemplo. “Com 18 anos, já bebia, fumava e conhecia cocaína”, conta. “Mesmo assim, fiz três anos de Administração. Até que conheci o crack e perdi tudo. Cheguei a roubar meu irmão que estava doente”.  Em 2009, foi para uma comunidade terapêutica, largou a droga e agora trabalha para outros seguirem esse caminho. “O que me fez virar a chave foi me aceitar como gente, ser humano. Não sou forte de tudo, mas não sou fraco de tudo também.”

OUTROS OLHARES

NO TEMPO DELAS

Grupo formado por cinco médicas negras de diferentes especialidades inaugura clínica no Flamengo com foco em atendimentos personalizados

Enquanto o mundo inteiro debatia os avanços da telemedicina, acelerados pelas recomendações de distanciamento social trazidas pela pandemia, cinco médicas que vivem no Rio decidiram se reunir em torno de uma ideia: abrir a própria clínica.

Desde as primeiras conversas, porém, elas deixaram claro que não seria só mais um endereço em que o foco estivesse na quantidade de consultas diárias. A vontade de oferecer um atendimento mais aprofundado e personalizado era um dos principais elos entre a cirurgiã plástica Abdulay Eziquiel, a cardiologista Aline Tito, a ginecologista e mastologista Cecília Pereira, a dermatologista Julia Rocha e a oftalmologista Liana Tito.

Foi exatamente dentro dessa premissa que o Grupo Ifé Medicina abriu a portas na Rua Marquês de Abrantes 170, no Flamengo, em julho deste ano. “Oferecemos consultas com tempo, sem correria, por meio do diálogo e de uma relação sólida com o paciente”, descreve Liana. O propósito, diga-se de passagem, está no próprio nome do lugar. “Queríamos algo curtinho e que remetesse à nossa ancestralidade,” conta Cecília, sobre uma preocupação ligada ao fato de as cinco sócias serem negras. A partir dessa ideia, o grupo começou, então, a buscar expressões no Google até se deparar com a palavra ifé, que significa amor em iorubá. “Foi paixão à primeira vista Pensamos em como seria legal ter um nome que provocasse algum questionamento e, quando sua tradução fosse revelada, as pessoas pensassem: “Nossa! Que lindo”.

O embrião do projeto está num convite feito por Liana a Aline. A oftalmologista, de 39 anos, é irmã da cardiologista, de 44, e propôs que as duas montassem um consultório em conjunto. A ideia soou atraente porque ambas fazem atendimentos em outros lugares, e uma sala individual ficaria ociosa durante boa parte da semana. ”Topei na hora e, 15 dias depois, ela me perguntou se aceitaria dividir o espaço com outras médicas”, conta Aline. “Começamos, então, a procurar por profissionais que tivessem a mesma ideia de empatia.”

Além do interesse pela consulta personalizada, as cinco sócias estão conectadas por currículos robustos. A dermatologista Julia, por exemplo, se especializou no Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, um dos mais prestigiados do Brasil, além de ter feito um fellowshíp (tipo de estágio avançado em que o médico participa da rotina de um hospital) no Mount Sinai, em Nova York. “Foi desafiador acreditar que o nosso propósito era suficiente para empreendermos e abrirmos um negócio bem no meio da pandemia. Mas o fato de reunirmos boas formações técnicas nos deixou ainda mais seguras”, diz a médica, de 35 anos.

Abdulay, que também fez um fellowship nos Estados Unidos, na Universidade da Califórnia, concorda com a amiga e compara o grupo a uma trança em que cada uma complementa o trabalho da outra. Afinal, as especialidades não se repetem. “Pensamos numa configuração em que pudéssemos oferecer um atendimento global aos pacientes. Se uma mulher chegar até nós com uma dor no peito, por exemplo, temos condições de avaliar se é no coração ou na mama”, explica a cirurgiã plástica, também de 35 anos.

As sócias reiteram em suas falas a preocupação de que a clínica seja compreendida como um espaço aberto a todo tipo de pessoa. “Não queremos provocar uma ideia de que o Ifé é um local para atendimento restrito à população negra”, adverte Aline. “Precisamos, na verdade, normalizar a presença das mulheres negras na medicina”. A união entre as cinco, portanto, soa como um caminho natural para a cardiologista. Do mesmo jeito, a ginecologista Cecília, de 33 anos, reconhece que a inauguração de uma clínica como a delas não deixa de ser um posicionamento político. Afinal, as situações de racismo ainda são recorrentes na área da saúde. “Quando chegamos a um centro cirúrgico, as roupas usadas por um médico, um enfermeiro e um técnico são diferentes umas das outras. Mesmo assim, sem nos perguntarem qual a nossa função, nunca nos entregam a roupa de médico.”

Se a ideia é construir juntamente com a clínica uma nova narrativa, Liana nota que os efeitos já começaram a aparecer. Segundo ela, desde a inauguração, a sala de espera tem abrigado pacientes de diferentes profissões, religiões e tonalidades de pele. “É engraçado que, antes de começarmos as consultas, as pessoas já começam a falar sobre a vida. Isso indica que elas realmente percebem que estão num lugar diferente e se sentem à vontade para se abrirem conosco”, observa.

Durante as pesquisas para a definição do projeto, as médicas perceberam haver poucos empreendimentos com perfil semelhante no Brasil. Mesmo assim, elas têm se surpreendido com o sucesso imediato alcançado pelo negócio (a clínica não aceita planos de saúde e as consultas custam a partir de R$ 200). “Em pouco mais de um mês, precisei ampliar a minha frequência na clínica de uma para três vezes por semana”, relata Abdulay, que também tem um consultório no Leblon. “Acho que havia uma demanda reprimida por um espaço como o nosso.”

Parte dessa popularidade, elas dizem, tem como origem o bom e velho boca a boca, mas também a presença estratégica do grupo nas redes sociais. Além da página no Instagram (@grupoife medicina), todas elas têm perfis profissionais abastecidos com conteúdos informativos sobre as respectivas áreas. Juntas, somam 42 mil seguidores. “A rede social move o mundo. A grande maioria das pessoas que chega até aqui diz: ‘Vi você no Instagram”, diverte-se Julia

A representatividade é tônica no perfil do empreendimento na rede social, com postagens que vão das dicas de saúde à literatura de autoras negras, mas também da clínica propriamente dita. Além das cinco sócias, a maioria das funcionárias são pessoas negras. Falar sobre isso faz Liana tecer uma reflexão especial sobre o público infantil que, no local, é atendido por ela e Abdulay.”Não tenho dúvida de que o Ifé mostra um novo papel da mulher negra para a sociedade, que passa a entendê-la em sua pluralidade, podendo ser médica, empreendedora e dona de clínica. E é na infância que começamos a construir essas imagens. Quado eu era pequena, sentia muita falta de exemplos como este.”

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 25 DE OUTUBRO

NÃO DESAFIE QUEM TEM O PODER NAS MÃOS

Como o bramido do leão, é o terror do rei; o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida (Provérbios 20.2).

Nos regimes monárquicos, o rei detém pleno poder. Houve reis absolutistas que se colocaram acima da própria lei. Foi o caso de Nabucodonosor, rei da Babilônia, cujas ordens não podiam ser desafiadas. Ele era a lei. Não é sensato insurgir-se contra aqueles que detêm o poder. A menos que seja uma causa absolutamente justa, não é sábio correr riscos, provocando o rei à ira. João Batista denunciou o pecado de adultério do rei Herodes e foi decapitado na prisão. No seu caso, preferiu perder a vida a perder a honra. A raiva do rei é como o rugido de um leão; quem provoca o rei arrisca a vida. Aqueles que têm o poder nas mãos não gostam de ser desafiados. Quando se iram, rugem com forte estrondo como leões. Querem ser temidos, e os que desobedecem às suas ordens atentam contra a própria vida. Entrar numa contenda com aqueles que detêm o poder não é prudente. Uma queda de braço com aqueles que são investidos de poder e blindados pelo sistema é lavrar sua própria sentença de derrota. A sensatez ensina a não cutucar essa fera selvagem com vara curta. Não compensa entrar nessa briga inglória.

GESTÃO E CARRREIRA

VOCÊ SABE PARA ONDE ESTÁ CAMINHANDO O SEU NEGÓCIO?

Eu costumo dizer aos empresários que conversam comigo e nas minhas palestras, que para ter sustentabilidade nos negócios é preciso criar cenários para o futuro.

Mas, embora essas pessoas concordem e se motivem com tal orientação, percebo que há uma grande dificuldade em colocar isso em prática. Não que seja algo complicado.

Na realidade pode ser até simples. O que torna essa prática desafiadora é a decisão de cada indivíduo quanto à mudança em sua forma de gerir o negócio.

Para criar cenários para o futuro do negócio, é preciso entender primeiro a situação da empresa no presente. E eu não estou falando de saber se existem problemas financeiros; é necessário ter uma ideia geral do que acontece no financeiro! Eu me refiro à compreensão dos números do negócio. Ou seja: compreender a causa dos problemas financeiros que gera a falta de dinheiro para pagar as contas.

A falta de liquidez na prática – Na maioria das vezes, as empresas perdem liquidez simplesmente por falta de organização financeira e estratégia. O ambiente pode ser organizado, os processos de produção e venda podem seguir critérios bem definidos, mas se o departamento financeiro não tiver o registro de todas as transações, bem como de suas respectivas justificativas (o que entrou e saiu, quando, quanto e porquê), a desorganização financeira o impedirá de acertar em decisões estratégicas.

Assim acontece por não respeitarem as datas de pagamento e de recebimento; pelo dinheiro do caixa (que é a liquidez do negócio) ser usado desavisadamente; pelo fato do estoque prender recursos que não estão sendo utilizados…Enfim, pequenos deslizes de gestão são cometidos diariamente e, de forma quase imperceptível, provocam buracos no caixa e criam novas dívidas (empréstimos com juros, por exemplo).

Três passos para o futuro do negócio – O primeiro passo para mudar a história do seu negócio, é a sua DECISÃO. Pense em como você quer estar daqui a 5 anos. Suas ações e a sua atual gestão estão alinhadas a essa expectativa? O segundo passo é ORGANIZAR AS FINANÇAS. Para isso, você vai precisar de um fluxo de caixa com plano de contas gerencial e estabelecer uma rotina de registro e controle diário das a movimentações.

Isso vai ajudá-lo a enxergar os pontos de perda de liquidez para corrigi-los. Por vezes, você perceberá que é só ajustar algumas datas. Em outros casos, verá a necessidade de renegociar formas de pagamento, por exemplo. Seja lá qual for o seu caso, o importante é identificar as causas do problema financeiro e tomar atitudes m embasadas em fatos e números reais.

O terceiro passo é PREPARAR O FINANCEIRO PARA O FUTURO DO NEGÓCIO, que é o que eu chamo de criar cenários. Oriente-se por comparações entre o que foi previsto e o que foi realizado e pelos lançamentos futuros. Observar o comportamento financeiro da empresa, ter controle de tudo o que entra e sai e contar com estimativas coerentes a curto e médio prazos viabilizarão o seu planejamento estratégico.

CRIAR CENÁRIOS COMO UM ESTILO DE GESTÃO

Há uma frase bastante conhecida que diz que para quem não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve. Isso explica por que tantos empresários caminham para a quebra da empresa sem perceber.

Lembre-se de que o sucesso depende das nossas escolhas, então precisamos ter um caminho bem definido para alcançá-lo.

Em termos práticos, isso significa planejar ações que levem o negócio ao objetivo almejado, considerando a sua realidade. Sendo assim, recomendo que, após organizar as finanças, você use as informações do seu fluxo de caixa para se preparar com antecedência para imprevistos e, em paralelo, planejar novos investimentos.

Independente de qual seja o caminho que você decida traçar, o importante é sempre se manter atento aos resultados (diariamente). Se estiverem de acordo com o previsto, você saberá que está no caminho certo e poderá prosseguir; se não estiverem alinhados com o plano, você terá o comparativo (previsto x realizado) para mostrar o que precisa ser ajustado a fim de se manter no rumo pré-definido.

Essa deve ser uma constante na vida empreendedora de quem sabe onde quer chegar. Portanto, se você quiser prosperar e estiver disposto a sair da sua zona de conforto para reescrever o futuro do negócio, coloque ordem no seu financeiro e inclua essa rotina de cuidados para a criação de cenários em sua gestão. Você se surpreenderá com o que é capaz de realizar!

*** FRANCISCO BARBOSA NETO é Especialista em Gestão e Finanças, Founder/CEO da Projeto DSD Consultores e criador da plataforma Fluxo de Caixa Online).

EU ACHO …

EMPREENDEDORISMO COMO PATOLOGIA

Destruir a sanidade dos jovens é um mercado lucrativo e em crescimento

Imagine uma propaganda em que aparece uma mulher grávida abraçando sua barriga diante de uma floresta e uma frase embaixo, como se fosse ela dizendo mais ou menos o seguinte para seu bebê ainda no útero: “salvar nosso planeta será a missão”. Abaixo, está escrito, “generation one”.

Não importa de quem é a propaganda, mas ela aparece em uma das revistas internacionais de maior reconhecimento. O que quer dizer um comercial como esse? Antes de tudo, ele quer dizer que estamos ferrados — para não usar nenhum termo que ofenda a sensibilidade dos falsos revolucionários de plantão.

A rigor, não há nada de novo na ideia, apenas uma radicalização — há anos estamos num projeto de destruição da saúde mental dos mais jovens dizendo justamente o contrário, que eles são lindos e mais evoluídos. Às vezes, ouço por aí frases desse tipo, ditas por pessoas que se acham a prova pura de que a humanidade evolui na mesma medida em que ela lê algo de idiota na sua bolha das redes sociais.
Na prática, desde os tais millennials, esses coitados que começam a acordar para o prejuízo da fé em si mesmos, os pais, as escolas, as universidades, o marketing, a espiritualidade, todos, em uníssono, trabalham para destruir a saúde mental dos mais jovens.

E nada vai mudar, porque essa destruição é um mercado bastante lucrativo e em crescimento. Mas, quando isso acontece em casa, aí começam a chorar as pitangas e se voltam para o próprio mercado da contenção de danos — e não tem muito o que fazer mesmo.

Mas, voltemos por um minuto aos millennials. Muitos deles começam a culpar a falta de esperança que os contamina agora — como se, para ser adulto, alguém devesse necessariamente ter esperança no mundo. A vida nunca foi “fun”. Essa ideia absurda é fruto do mesmo capitalismo que essa geração agora jura odiar.

Verdade que o tal capitalismo está mais violento do que nunca, mas são os próprios jovens e seus algozes queridos que emplacam ideias como capitalismo consciente, empresas inclusivas, marketing de causa e outros fetiches que a esquerda de butique adora colocar no seu portfólio.

Voltando à nossa propaganda disruptiva, ela radicaliza um processo que lhe é anterior, porque a personagem grávida já entrega uma tarefa a alguém que não nasceu. A coitada da Greta já é uma velha se comparada à missão do embrião da publicidade.

Os jovens obrigatoriamente devem ser corretos em tudo, eficazes em tudo, equilibrados em tudo, informados em tudo, focados em tudo, saudáveis em tudo, produtivos em tudo, felizes sempre. O resultado disso é a doença mental, que recebe apelidos fofos e técnicos para não ferir a sensibilidade do marketing de nicho.

Nem os embriões estão a salvo. Todo mundo sabe disso, mas vamos continuar mentindo, pois mentir agrega valor — e o resto que se dane.

Mas, ampliemos o argumento para, talvez, aprofundar a percepção do sintoma. O paradigma do empreendedorismo como obsessão justifica tudo. Sim, até os bebês devem ser empreendedores de si mesmos e ligados a causas. Quando atribuímos missões para os mais jovens, estamos condenando essas pessoas a perseguir o sucesso desde sempre.

O empreendedor como modelo de vida é, na maioria das vezes, um coitado. É aqui que chegamos ao empreendedorismo como patologia.

Tudo bem você gostar de empreender nos negócios. Ainda bem que tem gente que curte isso, tem grana e disposição. É verdade que muita gente depois dos 45 anos é obrigada a virar empreendedor de geleia natural ou comida vegana porque foi cuspida da mesma empresa que posa de inclusiva, mas só tem funcionários de 30 anos.

É verdade também que hoje, com o capitalismo de plataforma, todo mundo que está com dois anos de idade terá que virar algum tipo de influencer de bobagens em algum momento.

Mas quem disse que, se algo é verdade, ele também é bonito em sua totalidade? Aqui entra em cena a mentira do marketing como imperativo categórico — você será empreendedor como estilo de vida. Adorará nunca repousar, pois isso é para os fracos. E, quando tiver dúvida, é só baixar um aplicativo de educação financeira.

ESTAR BEM

ME VACINA, MÃE

A queda na vacinação infantil atinge índices preocupantes no Brasil. Saiba por que isso ameaça o presente e o futuro de tantas crianças e como podemos reverter esse cenário

O sonho de qualquer cidadão hoje é acordar com a notícia de que a vacina contra o coronavírus chegou e a campanha de imunização vai começar. Mas veja só que ironia: esperamos tanto por ela e deixamos de tomar aquelas já consagradas e disponíveis para prevenir outras doenças há décadas. Sim, precisamos abrir os olhos para os baixos índices de vacinação por aí, sobretudo no que diz respeito às crianças – uma situação ainda mais agravada pela pandemia. Tanto é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) emitiram um alerta sobre a interrupção das imunizações desatada pela Covid-19.

Uma pesquisa dessas entidades em colaboração com universidades americanas mostra que 73% dos países avaliados tiveram algum tipo de suspensão ou restrição em seus programas de vacinação já em maio de 2020. As limitações envolvem desde o medo de as pessoas saírem de casa até a falta de profissionais de saúde dedicados ao serviço. Os dados focados na população infantil impressionam: a probabilidade de uma criança nascida hoje receber todas as vacinas recomendadas até os 5 anos é inferior a 20%. Esse cenário pode colocar em risco cerca de 80 milhões de bebês com menos de 1 ano de idade.

O Brasil não foge à regra. Pior: há evidências de que a queda na vacinação infantil vem ocorrendo antes mesmo de a Covid-19 chegar. De acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou a cobertura vacinal brasileira de 1994 a 2019, o índice de meninos e meninas menores de 10 anos vacinados caiu entre 10 e 20% no país desde 2016. “É um fenômeno mundial, e o que estamos vendo agora por aqui é a piora de um quadro que já era preocupante”, afirma o infectologista pediátrico Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Embora o levantamento da Fiocruz tenha englobado todas as faixas etárias, as maiores baixas ocorrem justamente com as vacinas indicadas às crianças. A tríplice bacteriana, que previne tétano, difteria e coqueluche, sofreu uma redução de 34% – de 4,5 milhões de doses aplicadas em 2017 para 2,9 milhões em 2019.

Preocupado com a situação, o médico Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), se debruçou sobre os números do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI) e descobriu que, em 2019, a cobertura de dez imunizantes aplicados em bebês de até 1 ano ficou abaixo do recomendado para manter as doenças sob controle. Estamos falando de vacinas que protegem contra tuberculose, hepatites, rotavírus, poliomielite, febre amarela e enfermidades provocadas por bactérias pneumocócicas e meningocócicas.

Mas como é que o Brasil, que um dia foi exemplo em vacinação infantil, caiu nesse estado? Os especialistas batem na tecla de que as gerações atuais desconhecem a gravidade das infecções combatidas pelas picadas e gotinhas e desvalorizam sua importância. Ora, é bem provável que você nunca tenha visto uma criança sofrendo as consequências da paralisia infantil, já que o último caso registrado de pálio no país é de 1989. Mas pergunte a seus pais ou avós. Talvez eles se lembrem das sequelas terríveis da doença. ”Além disso, hoje temos o problema das fake news”, aponta Sáfadi. A suposta invisibilidade se soma a teorias e posts sem pé nem cabeça. E quem paga o preço são os pequenos.

Um estudo de 2019, encomendado pela Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), revelou que, a cada dez brasileiros, sete já acreditaram em notícias falsas sobre vacinas. As fake news envolvem desde conteúdos fora de contexto e sem respaldo científico – como o infundado “vacinas causam autismo” – até mensagens divulgadas por movimentos antivacina. Apesar de eles não serem tão fortes no Brasil, Otsuka acredita que é necessário acender o alerta e prevenir sua expansão. “Há um bom tempo esse movimento gera uma série de problemas, como a nova epidemia de sarampo na Europa”, justifica o infectologista.

Mas há outros fatores que contribuem para a queda na cobertura vacinal no país. E eles dependem mais do governo do que das famílias. “Temos problemas estruturais como a falta de doses nas unidades de saúde e seu horário de funcionamento restrito”, cita Sáfadi. Pois é, de que adianta fazer uma campanha pontual se os postos fecham antes da chegada dos pais do trabalho ou se os imunizantes simplesmente não atingem certas regiões?

O assunto é urgente, e o sarampo é um bom exemplo depor que não podemos baixar aguarda na vacinação. Em 2016, o Brasil ostentava o certificado que nos declarava como a primeira zona das Américas livre da doença. Bastaram dois anos para o sonho virar pesadelo. Em 2018, o vírus retomou, provocando surtos em 11 estados e um total de 10. 326 casos confirmados, de acordo com os boletins do Ministério da Saúde. Em 2019, o número subiu para 13.181 infectados. “O sarampo é um problema potencialmente grave, principalmente em crianças menores de 1 a 10, e já foi a principal causa de mortalidade infantil nos países com circulação em massa”, conta a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBim. Os números confirmam o perigo: dos 15 óbitos que ocorreram em 2019, a maioria aconteceu nessa faixa etária.

O sarampo só voltou a estas terras porque a meta de imunização (95% da população) não vem sendo cumprida. Agora imagine outras pragas seguindo o exemplo desse vírus. “São doenças que provocam hospitalizações, podem deixar sequelas e até levar à morte”, alerta Sáfadi. E não afetam só as crianças, não. A infecção por bactérias meningocócicas, por exemplo, é capaz de gerar problemas respiratórios e neurológicos e até mesmo amputações em qualquer fase da vida. Outro caso é o do HPV, vírus transmitido sexualmente. A vacinação deve ocorrer no início da adolescência para que meninas e meninos estejam protegidos antes de começar sua vida sexual. As picadas previnem verrugas nos genitais e reduzem o risco de câncer de colo de útero, pênis e garganta lá adiante. A taxa de imunização das garotas no país está na metade do que é considerado ideal – entre os meninos, a situação é ainda pior.

Quer mais um motivo para não negligenciar a vacinação? Otsuka lembra que, muitas vezes, as complicações e mortes por Covid-19 vêm na esteira de outras infecções oportunistas. Se alguém que não tomou a vacina pneumocócica pegar a bactéria durante o tratamento contra o coronavírus, o risco de pneumonia grave e outros danos decola.

E como é que a gente sai desse imbróglio? Uma unanimidade entre os experts é conscientizar constantemente a população e desmentir boatos e notícias falsas disseminados nas redes sociais. “Divulgar o papel e a importância das vacinas é o principal passo. E isso depende dos médicos, não apenas dos pediatras, das escolas, da TV, da internet…”, diz o consultor da SBI. Sáfadi, que também atua no Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, destaca a necessidade de promover mudanças logísticas e assistenciais. “O governo precisa trabalhar para que não haja mais desabastecimento nas unidades de saúde e criar um sistema de registro mais eficiente, que permita identificar e corrigir as lacunas com clareza”, resume.

“Os postos de saúde, por sua vez, precisam ser mais inclusivos e funcionar em horários mais amigáveis”, completa. Pensando nos adolescentes, um caminho para melhorar a situação é levar a vacinação às escolas. “Em vários lugares do mundo já se comprovou que essa é a única forma de ter uma boa cobertura nessa faixa etária. Está mais do que na hora de discutirmos esse tema com seriedade”, diz Sáfadi.

Tentamos contato com o Ministério da Saúde para entender qual é o seu diagnóstico sobre o problema e as propostas para remediá-lo, mas não obtivemos retorno até o fechamento da matéria. De qualquer forma, o Estado demonstra preocupação com o tema, já que desde 2019 investe em campanhas contra o sarampo em todas as faixas etárias e reforçou a imunização contra a gripe este ano.

Reverter a queda na vacinação infantil passa por superar desafios armados pela pandemia. Nessa linha, ASBIm, em parceria com a Unicef e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), lançou a campanha “Vacinação em Dia, Mesmo na Pandemia”. A iniciativa publicou uma cartilha com orientações para a população se imunizar com a devida segurança nestes tempos – você pode acessá-la pelo link https://bit. ly/2DlvAes. E, claro, todos somos convidados a fazer nossa parte. Lembre-se de que, ao vacinar seu filho hoje, você está reservando um futuro melhor para ele e toda a sociedade. Até porque ninguém quer uma nova epidemia agora ou lá na frente.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DORES ADOLESCENTES

Meninas sofrem mais com violência sexual e tem menos autoestima

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) divulgada pelo IBGE mostrou que as adolescentes brasileiras, na comparação com os meninos, sofrem mais violências sexuais – uma a cada cinco foram vítimas – são apresentadas mais precocemente ao álcool e ao cigarro, têm maior índice de sedentarismo e maior descontentamento em relação à própria imagem e à saúde mental. A pesquisa reúne informações dadas por mais de 125 mil alunos entre 13 e17 anos de 42 mil escolas públicas privadas.

“A pesquisa traz um alerta importante para as meninas, pelos comportamentos que vêm se mostrando em 2019 e que, infelizmente, correm o risco de terem piorado muito durante a pandemia e isolamento social”, afirmou Marco Andreazzi, gerente de Estatísticas da Saúde do IBGE.

O estudo foi realizado em 2019, mas por ter sido finalizado imediatamente antes da pandemia, tido pelos pesquisadores como um ponto de partida importante para traçar estratégias em relação à saúde dos estudantes, que tende a ter piorado. Estima-se que haja 5,8 milhões de meninos e pouco mais de 6 milhões de meninas cursando do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio atualmente.

Os relatos de violência sexual assustam. Na pergunta sobre se alguém tocou, manipulou, beijou ou expôs partes do corpo do aluno contra sua vontade, 14,6% deles indicaram já ter sofrido algum tipo de abuso. A maioria 20% de meninas. Entre os meninos da mesma faixa etária, o número ficou em 9%. Entre os autores apontados pelas vítimas, os principais foram namorados (29,1%) e amigos (24 8%).

Pior: 6,3% dos alunos ouvidos afirmam que já foram estuprados: 8,8% das meninas, e 3,7% dos meninos. Os estudantes apontaram como principais autores dos crimes, neste caso, namorados (26,1%) e parentes (22,4%). Pai, mãe ou responsável foram citados em 10,1% dos relatos.

RISCO DE SUBNOTIFICAÇÃO

A psicóloga Claudia Melo, especialista em crianças, adolescentes e vícios, não se surpreende. Para ela é provável que ainda haja subnotificação pois mesmo anonimamente, muitos têm dificuldades para tocar em certas feridas. Sobretudo os meninos.

“Pelo que observo no meu consultório, esses números são ainda maiores. E as próprias experiências traumáticas, seja por negligências familiares ou abusos sexuais acabam desencadeando no uso precoce do álcool e outras drogas porque é uma forma de essas adolescentes buscarem um alívio. Numa situação dessas a saúdem mental já está completamente adoecida”, afirmou.

E neste mesmo cenário é possível notar na pesquisa uma ampla predominância das meninas em relação às questões ligadas à mente. O índice que deixa mais claro esse panorama é o que diz respeito à autoavaliação, em que os pesquisadores observam e, durante os 30 dias anteriores à pesquisa, aquele estudante reconheceu ter se sentido negativo quanto à sua saúde mental sempre ou quase sempre. Ao todo, 27% das meninas apontaram que sim, contra apenas 8% dos meninos – um número mais de três vezes menor.

Os indicadores também podem ser analisados junto aos de percepção da própria imagem corporal e ao de prática de exercícios físicos. Enquanto o sentimento de satisfação quanto ao próprio corpo foi majoritário entre os meninos (75,5%), 31,4% das adolescentes falaram em insatisfação. Os números mostram que 12,4% das jovens declararam-se fisicamente inativas (contra 4,9% dos meninos), e apenas 18% disseram-se ativas, contra 38,5% dos rapazes.

BULLYING

Ao mesmo tempo, as adolescentes do sexo feminino também alegaram maior frequência no consumo habitual de doces (38% contra 27,4% dos meninos), tentativas de perda de peso (27,9% contra 21,5% dos meninos), e consideraram-se gordas ou muito gordas (25,2% contra 15,9% dos meninos).

Em relação ao bullying, 23% dos alunos disseram já terem sido vítimas. No entanto, 26,5% das meninas demonstraram terem tido problema com bullying, contra 19,5% dos meninos. Os pesquisadores não usaram a palavra bullying de forma direta nos questionários, masverbos que signifiquem algum tipo de provocação, como esculachar, zoar, mangar, intimidar ou caçoar, tanto que ficaram magoados, incomodados, aborrecidos, ofendidos ou humilhados, que posteriormente são conceituado como bullying.

Os estudantes de 13 a 15 anos tiveram os percentuais maiores de vítimas de intimidações, tanto para as meninas (27,1%) quanto para os meninos (20,4%), comparados com as meninas (24,2%) e meninos (17,8%) de 16 e 17 anos. Em contrapartida, mais meninos (14,6%) do que meninas (9,5%) acusaram-se como causadores do bullying.

As estudantes também lideram os índices de consumo precoce de álcool e tabaco. Os pesquisadores notaram um crescimento entre as jovens na iniciação do uso do cigarro em relação à última pesquisa, em 2015: 18,43% das jovens entre 13 e 15 anos no Brasil disseram já ter experimentado o fumo, contra 15,61% dos meninos da mesma idade que foram ultrapassados. Entre os alunos com 15 a 17 anos, os meninos que já experimentaram o cigarro pelo menos uma vez, no entanto, passam a ser maioria: 35% contra 30% das meninas.

Num outro índice, que diz respeito ao uso recente do cigarro nos 30 dias antes da pesquisa – os garotos predominaram.

“O cigarro é talvez o fator que isoladamente mais contribua para doenças crônicas e problemas de saúde durante a vida adulta e normalmente esse hábito vicia durante a adolescência”, explicou Marco Andreazzi.

A pesquisa trouxe um fator preocupante: vemos entre os jovens de 13 a 15 anos que já fumaram cigarro um predomínio maior entre as mulheres do que entre homens; uma inversão no que diz respeito a 2015 e anteriormente.

Andreazzi acrescentou que os números têm grande influência da Região Sul do país, e reforçou que questões de hábitos culturais e familiares influenciam em tópicos como este.

COMPRA DE BEBIDAS

Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas a pesquisa mostra que 66,9% das meninas entre 13 e 17 anos disseram já ter tomado pelo menos uma dose alguma vez na vida, contra 59,6% dos meninos. E 26 8% deles disseram ter adquirido o produto em lojas, mercados, padarias, bares ou botequins, o que é proibido por lei. A PeNSE aponta que, deste total, 34,6% dos alunos disseram já ter sido expostos ao álcool antes mesmo dos 14 anos. Número que é ainda mais alarmante em relação às meninas: 36,8% delas enquanto os meninos, 32,3%.

“São drogas que vão trazer prejuízos cognitivos ao longo da vida desses jovens. Com o tempo, essas pessoas adquirem problemas de memória, coordenação e até de socialização com os outros jovens e, futuramente, adultos”, alertou a psicóloga Claudia Melo.

Ao fim da apresentação dos números, a coordenadora do Programa Saúde na Escola, do Ministério da Saúde, reforçou a importância de levantamentos como o feito pelo IBGE.

“São dados que nos fazem refletir e que são muito importantes para nós. Chama a atenção a questão do bullying e também do uso de álcool por parte das meninas. São situações muito preocupantes.

OUTROS OLHARES

MORTES DESIGUAIS

Feminicídio de negras não segue tendência e cresce em dez anos

“Tô cansada, tô estressada, hoje eu não vou bater boca com ninguém”. Era uma brincadeira que a digital influencer Bruna Quirino postou no sábado sobre o marido, que era seu empresário. Aos 38 anos, Bruna ganhava projeção em Valinhos, no interior de São Paulo, dando dicas principalmente sobre cabelo voltado para o público afro, ora em penteados de dreads, ora com black power mais comprido. Um dia depois da postagem, ela foi morta a facadas por Rodrigo Quirino, de 40 anos, com quem era casada há 20 anos e tinha uma filha, que presenciou o crime. Rodrigo se suicidou.

Na madrugada do dia 1º de setembro, a modelo de 20 anos Geordana Farias foi morta a facadas pelo ex-namorado em Ananindeua, na região metropolitana de Belém. O criminoso, que teve um relacionamento amoroso por quatro anos com a vítima, foi preso em flagrante na manhã do mesmo dia pela Polícia Civil do Pará.

O assassinato de Geordana provocou revolta e manifestações em Ananindeua, com pedidos de políticas públicas de combate à violência contra a mulher no município. O de Bruna, pela natureza de seu trabalho, ultrapassou os limites de Valinhos e causou comoção e indignação nas redes sociais. Os dois crimes compõem um quadro de desigualdade que atinge as mulheres negras em uma realidade que já é trágica, a das estatísticas de feminicídio no Brasil. Enquanto o número de mortes por violência de gênero no Brasil se reduziram, o feminicídio de mulheres negras não só não seguiu essa tendência como aumentou.

EXCLUSÃO SOCIAL

Dados do Atlas da Violência 2021, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, mostram que os feminicídios entre mulheres negras cresceram na última década, quando 50.056 mulheres foram assassinadas por companheiros no país.

Numa das pesquisas mais completas sobre violência no Brasil, que reuniu dados entre 2009 e 2019, é possível ver que os assassinatos contra mulheres brancas, amarelas e indígenas diminuíram 26,9% no período, caindo de 1.636 para 1.196 casos. Já o total de negras vítimas desse tipo de crime cresceu 2%: foram 2.468 vítimas em 2019 ante 2.419 dez anos antes.

O feminicídio, embora esteja em níveis muito altos no país, tem uma face mais trágica entre a população mais excluída. Além do recorte de gênero, é preciso considerar a classe social:

“Nós (mulheres negras) somos a maioria e as primeiras na categoria da pobreza. Hoje, você tem uma educação contra a violência doméstica muito forte, mas quem mora em periferia ainda tem dificuldade de ser ouvida”, explica a advogada Patrícia Guimarães, presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.

Para a advogada, especializada em Direito da Família, as estatísticas não são capazes de dimensionar totalmente a violência doméstica e familiar, já que muitas mulheres sofrem caladas, em segredo, por medo de serem julgadas perante a sociedade. Segundo Patrícia, é preciso considerar os entraves judiciais.

“Existe a discriminação dentro da própria delegacia, o tabu. Se você for sozinha, encontra uma resistência para que esse boletim ocorra. As perguntas são constrangedoras. Muitas deixam de ir ou de ir pela segunda vez porque já sabem o que vão ouvir”, comenta.

Em 2019, 66% do total de vítimas de feminicídios no Brasil eram mulheres negras – o total contabiliza pretas e pardas, segundo a classificação do IBGE. De acordo com o Mapa da Violência, o risco de homicídios para mulheres brancas, amarelas e indígenas era de 2,5 e saltava para 4,1 quando em relação às negras.

“O feminicídio é um termo relativamente novo no nosso vocabulário, mas dá nome a um problema muito antigo”, alerta a coordenadora-geral da Rede Feminista de Juristas, a advogada Amarílis Costa.

Segundo Amarílis, ainda há aprovação da sociedade a esse tipo de crime e mecanismos que incentivam essa forma de violência.

“A violência de gênero começa de maneira subjetiva nas ruas, nas escolas, nos espaços familiares e se materializa por meio de agressões físicas e, por vezes, do feminicídio”, detalha a jurista.

A coordenadora-geral da rede acrescenta que o combate à violência contra mulher exige um pacto social, ético e moral:

“Pensar na violência de gênero sem pensar na raiz do problema não faz sentido. É preciso um debate que fale das desigualdades de poder e das dinâmicas históricas que fazem com que o gênero masculino estruture uma dinâmica de opressão. É preciso pensar num Judiciário antirracista, que não seja machista e misógino, e que comece a construir jurisprudências que sejam de vanguarda e focadas na equidade de gênero.

UM CRIME ÍNTIMO

Pesquisadora do Instituto Igarapé, Renata Giannini confirma que o principal motivo para os altos índices de feminicídios no Brasil é a desigualdade de gênero. Ela explica que o feminicídio normalmente é o fim de um processo que é antecedido por outras violências:

“Existe uma percepção sobre um status inferior de mulheres, sua liberdade e seus corpos, que acaba impactando na violência cometida contra elas. É importante olhar para outros tipos de violência: porque normalmente não acontece do nada, é um crime íntimo, que costuma ser cometido por uma pessoa próxima da vítima”, diz Renata, em uma análise que combina com a forma como morreram Bruna e Geordana.

O Igarapé realizou um levantamento sobre feminicídios e registros de crimes relacionado contra mulheres em 2020. Outros tipos de violência diminuíram na pandemia, mas o feminicídio aumentou:

“É um indicativo de que as mulheres, no processo de isolamento e super convivência com possíveis agressores, tiveram mais dificuldade para relatar”.

No primeiro semestre de 2021, 33 casos de feminicídios foram registrados no Pará e 86 em São Paulo, números próximos aos do mesmo período no ano passado, segundo registros das secretarias de segurança destes estados. Os índices também se mantiveram semelhantes no Rio Grande do Sul, Ceará, Amazonas, Goiás e Santa Catarina. O Rio de Janeiro teve o maior aumento nos números, passando de 35 feminicídios de janeiro a junho de 2020 para 48 nos mesmos meses em 2021.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 24 DE OUTUBRO

CUIDADO COM O VÍCIO DA BEBIDA

O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio (Provérbios 20.1).

A bebida alcoólica tem sido um carrasco para milhões de pessoas no mundo. Na verdade, o álcool aprisiona pessoas, humilhando-as e mantendo-as sob algemas. O álcool é um ladrão de cérebros. Tira a lucidez e provoca transtornos mentais e emocionais. O álcool é responsável por mais da metade dos acidentes de carro e o causador de mais de 50% dos assassinatos. As cadeias estão lotadas de seus escravos, e os cemitérios se enchem com suas vítimas. O álcool vicia e degrada. Aqueles que são dominados pela bebida alcoólica vivem perturbados e perturbam a ordem social. São um pesadelo para a família e uma desgraça para a sociedade. Discussões tolas, brigas desnecessárias e crimes hediondos são cometidos por pessoas dominadas pela bebida. O escravo da bebida nunca é sábio. Aqueles que se entregam aos encantos do vinho e bebem espalhafatosamente acabam vencidos pelo vício. Alguém já disse que o vinho é formado pela mistura do sangue de quatro animais: pavão, leão, macaco e porco. Quando o homem começa a beber, sente-se como um pavão, a mais bela das criaturas. Depois, ruge como um leão, demonstrando sua força. O passo seguinte é fazer peraltices como um macaco. Finalmente, chafurda-se na lama como um porco. Fuja da bebida alcoólica; essa dependência pode lhe custar a vida.

GESTÃO E CARREIRA

QUAL PERÍODO VOCÊ É MAIS PRODUTIVO?

Tem pessoas que despertam de manhã e sentem na mente, e no corpo, uma disposição diferente da parte da tarde e da noite. Conseguem fazer exercícios físicos, resolver os problemas mais desafiadores do trabalho, e meditar logo nas primeiras horas da manhã. Outros, demoram mais tempo para começar a trabalhar e tomar decisões no período matutino. Vários livros foram escritos sobre o tema, sendo um dos mais famosos, “O Milagre da Manhã”, de Hal Elrod

O autor esmiúça vários comportamentos e ações para os leitores fazerem ao despertar, e garante que acordar cedo e seguir essas pequenas ações diárias trará mais satisfação ao indivíduo.

Mas, afinal quem está certo nesse dilema? O grupo de pessoas que despertam cedo e conseguem ser produtivos, ou os que demoram um pouco mais para conseguir lidar com os assuntos complexos do dia a dia? Para Orquist, pesquisador Sueco, que desenvolveu um questionário para quantificar o ciclo circadiano de cada pessoa, ninguém é perdedor ou ganhador nessa história.

Há técnicas que podem ajudar as pessoas a serem mais produtivas e garantir mais qualidade de vida nos períodos do dia em que não são tão ativas. Orquist foi o grande precursor da ciência chamada Cronobiologia (Cronos, tempo, bio, vida, logia, estudo), em 1970. O questionário criado pelo cientista consegue mensurar o relógio biológico de cada pessoa (termo atribuído ao francês Julien-Joseph Virey) e quantifica o ciclo circadiano de cada indivíduo. Mede se a pessoa é mais matutina, vespertina, e/ou noturna.

O termo relógio biológico é considerado por alguns cientistas como ultrapassado, à medida que os estudos da cronobiologia avançam. Em 1976, Horne e Ostberg, traduziram a obra para o inglês e criaram a versão conhecida como questionário de Horne-Ostberg. Em 1981 a USP, criou o Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos e traduziu para o português as questões. O grupo foi responsável por inserir na grade curricular de ciências e biologia do ensino fundamental e médio, respectivamente, o estudo sobre os diferentes ciclos circadianos.

Para os cronobiólogos, a maioria dos seres humanos teve que se adaptar a rotinas intermediárias, dado ao horário dito “comercial”, das 09hrs às 18hrs. “Há 200 anos, as pessoas dormiam 10 horas por dia, depois passaram a descansar 09 horas, depois oito e, atualmente, dormimos 6 horas por dia”, afirma o professor Menna-Barreto precursor dos estudos no Brasil e professor da EACH-USP.

“Quando acampamos e ficamos sem rede de celular, nossos corpos e mentes, após alguns dias na mata, se adaptam ao ritmo da luz do sol e da lua. Ou seja, começamos a despertar às 5h da manhã e já nos preparamos para dormir às 19h.

É interessante observar essa mudança de comportamento em mim e no grupo que faz esse tipo de trajeto comigo”, evidencia Lanna Dogo, responsável pela página ‘Elas Viajam Sozinhas’. Lanna incentiva mulheres a se descobrirem por meio da exploração geográfica e já é nômade há dois anos.

Esse fenômeno, apontado pela viajante Lanna, é explicado pelo Psicólogo e Coordenador do Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão, Douglas Vilhena: “A iluminação do ambiente guia vários ciclos biológicos em nosso corpo maior, sendo mais conhecido o ciclo circadiano (cerca de um dia) e o ciclo sazonal (dias longos no verão e noites longas no inverno). Proteínas fotossensíveis em nossas retinas reconhecem a variação da luz disponível ao longo do dia. Nosso organismo consegue interpretar essa alteração e preparar todos os relógios para um bom funcionamento”.

Mas, como ser mais feliz e produtivo no horário que temos que ser?! Seja para estudar ou trabalhar?! Já que não estamos acampando, e sim na cidade, sob forte influência da tecnologia, e brilho da tela de celular e computadores?!

Jefferson Vendrametto, especialista de educação do CEBRAC , vem para ajudar:

A MESMA HORA DE DORMIR E ACORDAR (REGULARIDADE)

Já sabemos que a luz dos aparelhos eletrônicos pode interferir na boa condição do sono, por isso, desligue o celular meia hora antes de dormir. Pratique alguma atividade relaxante e prazerosa, como ler um livro ou meditar, assim você avisa para seu organismo que já está na hora de ir para a cama. Tente não alterar esse hábito de ter o mesmo horário para dormir e despertar aos finais de se- mana, para que o seu organismo se acostume e venha a se tornar um hábito.

TENHA HORÁRIOS PARA AS REFEIÇÕES

Se alimentar todos os dias no mesmo horário cria no corpo uma rotina. O seu corpo tem ciência que em determinado momento vai precisar trabalhar para digerir a comida. A Sociedade Brasileira de Obesidade lista como uma das principais causas da obesidade a alimentação desregulada, principalmente durante a madrugada.

FAÇA ATIVIDADES FÍSICAS

O melhor horário para atividades físicas é das 09h às 11 horas da manhã. O corpo está descansado e neste horário o baço e o pâncreas aceleram o metabolismo colocando em ritmo e dando a energia necessária para realizar as demais atividades. Como nesse horário normalmente estamos trabalhando e/ou estudando, crie uma rotina de exercícios antes das suas atividades do dia, ou após a elas.

O ideal é você se exercitar no período que você for mais produtivo e evitar se exercitar duas horas antes de dormir, pois os exercícios deixam o corpo com muita energia e a sua mente mais acelerada. O Cebrac, rede de cursos profissionalizantes, com mais de 80 escolas pelo país, desenvolveu um sistema virtual que auxilia a descobrir qual o melhor horário para estudar.

“Nós temos um sistema virtual que permite através do teste Horne-Ostberg, que o aluno possa descobrir seu cronotipo e se matricular no horário que será mais assertivo para ele, além disso nossa plataforma tem trilhas de aprendizagem personalizadas que conseguem ler as dificuldades e montar para cada aluno testes que possam qualificá-lo”, finaliza Rogério Silva, CEO do Cebrac. No link: (https://www.cebrac. com.br/blog/1-veja-qual-periodo-voce-e-mais-produtivo–matutino-ou-vespertino-faca-o-teste) faça o teste e descubra qual o período do dia acontece a sua produtividade!

Fonte e outras informações: www.cebrac.com.br.

EU ACHO …

TERAPIA DE CASAL

Já tinha provado que havia dado certo. 15 anos, 13 de casados, 10 trabalhando e empreendendo juntos e 2 anos de pandemia, parte deles morando com a mãe e a sogra. Sobreviveram. Mas, nas últimas, algo pesou. Pela primeira vez em todos esses anos, teve certeza de que precisava de ajuda, e seria a de um profissional. Ligou para a irmã, desabafou e recebeu de prontidão o número de telefone da expert em terapia de casais. Ligou sem duvida alguma de que seu casamento corria risco e precisava urgentemente da avaliação de um especialista. Conseguir o horário não foi fácil, “época de pandemia”, pensou e relembrou todos os inúmeros artigos que citavam as estatísticas de separação neste momento. Ficou mais angustiado, insistiu e conseguiu o desejado encontro.

Avisou, logo pela manhã, o marido, que iria sozinha falar sobre o casamento com uma terapeuta, o tom não foi animador. É admiradora do processo terapêutico. Desde a adolescência até seu começo dede namoro com o marido fez análise e considerava uma “higiene mental” se entender , escutar e conhecer-se. Mas fazia 15 anos da última sessão e estava desmontada. Arrumou-se como quem vai a um encontro profissional para impressionar. No meio do dia, antes de chegar à consulta, se sentiu ridícula em seus trajes; porque queria tanto agradar à terapeuta?

Estava ansiosa, queria ser clara, cirúrgica em seu problema matrimonial. Não temos tempo a perder: ”Tenho 51 anos”, pensou. O tal “tempus fujit” aumentava o volume de voz em sua mente, agora mais inquieta que de costume. Ou seria feliz ou nada, era a cabeça com a qual entrara no confortável consultório onde o vento batia fortemente na janela, como símbolo de tempestade à vista. Tinha certeza de sua fala. Estava havia pelo menos dez dias  pronta para contar seus aborrecimentos e mazelas de uma vida comum e os terríveis defeitos de seu marido.

Sentou delicadamente na ponta da poltrona pronta para despejar sua angustiante história e assim contextualizar e legitimar sua aflição. As palavras foram nascendo e como ouvinte de si mesma foi encontrando paz na narrativa. Ao contar resumidamente em voz alta sua trajetória, emocionou-se com uma alegria terna. Voltou-se , então, para o tema “o marido”, , afinal, ele foi o causador de suas últimas dores, e teria que expor a realidade àquela mulher que ouvia cada sílaba com atenção. Mas, a cada palavra, ela mesma se compadecia com a fraqueza de seus argumentos, comparava rapidamente os bons e maus momentos, fazia paralelos mentais entre os acertos do par e seus desentendimentos, olhava para ele no centro da tela, sendo projetado com uma luz intensa na face e começou a sentir amor e compaixão por estar lá revelando seus deslizes. Parou.

Foi ficando sem graça consigo mesma. Tinham problemas reais, mas eram também comprovadamente companheiros de jornada. Havia amor, admiração e percebeu, naquele momento, um forte sentimento de proteção. Não queria agora que ”soubessem” dos pequenos defeitos do parceiro, eram dele – e quem não os tem? Finalizou a sessão prometendo-se ligar para marcar a consulta de casal. Entrou no carro e colocou a música dos dois. Chegou em casa tarde do trabalho e agradeceu por ele estar ali. Naquela noite dormiu em paz.

*** ALICE FERRAZ

ESTAR BEM

O MELHOR CAFÉ PARA SUA SAÚDE

Para aproveitar ao máximo as vantagens do grão (que não são poucas), o modo de preparo da bebida faz uma baita diferença. É o que aponta um estudo fresquinho. Encha a sua xícara e conheça melhor essa história

“O brasileiro tem café correndo em suas veias”, brinca a barista Concetta Marcelina, professora de gastronomia do Senac, em São Paulo. Dá para entender a analogia. Afinal, somos o principal produtor dos grãos no mundo e, ao mesmo tempo, o segundo maior mercado consumidor – ficamos atrás apenas dos Estados Unidos. Para ter ideia, uma pesquisa encomendada pela empresa Jacobs Douwe Egberts, dona das marcas Pilão e D’OR, e divulgada no ano passado, indica que 98% dos lares consomem café. E, apesar da oferta cada vez maior de máquinas de expresso caseiras, a bebida coada segue a mais popular. Ótimo que seja assim. Em estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e do Instituto Norueguês de Saúde Pública, esse tipo foi considerado o melhor para o organismo.

No trabalho, os pesquisadores avaliaram os hábitos com foco no consumo de café de 508.747 pessoas de 20 a 79 anos durante cerca de duas décadas. Nesse período, 46.341 participantes morreram – boa parcela por doenças cardiovasculares. Então, cruzaram-se os dados. A primeira conclusão é que, de modo geral, a bebida não impacta negativamente a saúde. Pelo contrário, café filtrado foi associado a mais aniversários pela frente. Nos cálculos dos cientistas escandinavos, o costume diminuiu em 15% o risco de falecer por qualquer causa em comparação a não tomar a bebida.

Para morte por doenças cardíacas, a redução do perigo bateu 12 e 20% entre homens e mulheres, respectivamente. O café coado não foi citado à toa: em todos esses aspectos ele se mostrou superior ao método não filtrado. Os autores da investigação já têm pelo menos uma hipótese: sem o filtro, substâncias presentes no grão reconhecidamente capazes de elevar o colesterol acabam passando para a xícara.

O cardiologista Luiz Antônio Machado César, ex-presidente e assessor cientifico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), lembra que, entre a população estudada, o método não filtrado preferido era a prensa francesa. Nele, a água quente é despejada sobreo café moído e fica em infusão por uns bons minutos. Daí, pressiona-se um êmbolo, separando, finalmente, o pó do líquido. No Brasil, por outro lado, o café não filtrado mais comum provavelmente vem da máquina de expresso. Nela, ocorre a compactação do pó no porta-filtro e depois a extração do café pela água quente sob pressão”, ensina a nutricionista Mônica Pinto, coordenadora de projetos da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Ou seja, o processo dura poucos segundos. “Na prensa francesa, o tempo de contato da água com o pó é muito maior. Portanto, mais substâncias são extraídas”, compara César.

A verdade é que ninguém precisa abdicar do café da máquina se estiver na correria e não der tempo de recrutar o coador – até porque, se não houver exagero, tudo indica que é melhor tomar do que não ter esse hábito. A preocupação é se o indivíduo só bebe o expresso e em alta quantidade,” pondera o médico. “Nesses casos, é possível encarar algum malefício. Mas ainda não dá para bater o martelo, acrescenta. Estudioso do grão, César estava atrás desse tipo de resposta em experiência conduzida no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas de São Paulo. Por causa da pandemia do novo coronavírus, o projeto está em banho-maria.

De qualquer forma, os especialistas assumem que o tipo coado é, entre todos o que tem maior capacidade de reter o cafestol eo kahweol, as substâncias gordurosas e polêmicas do grão. É que essas moléculas ficam presas nas tramas do pano ou no papel. De acordo com o cardiologista, dá para beber até uns 600 mililitros por dia numa boa – com leite ou não, vai do gosto do freguês. Acima dos 65 anos, sugerimos o consumo de, no máximo, 450 mililitros”, aponta. Para quem é do time que só gosta do expresso, aí é melhor ser mais comedido e ficar em até quatro xícaras. Para a nutricionista da Abic, dentro desses limites cada pessoa deve buscar a dose que dá mais satisfação, sempre lembrando que falamos de um item estimulante por causa da cafeína. “O ideal é reduzir o consumo à noite para não afetar o sono”, avisa. “A primeira xícara deve ser tomada na primeira hora após o despertar e as demais com intervalos mínimos de duas horas”, recomenda.

O estudo nórdico não é o primeiro e certamente não será o último a ligar esse comportamento a benefícios como proteção cardíaca e uma vida mais longa – e há muitos outros efeitos na mira da ciência. O café é desses alimentos lotados de compostos fenólicos, que são substâncias antioxidantes. “Elas protegem as células, bloqueando processos que seriam prejudiciais ao nosso organismo”, resume o médico da Socesp. É como se o líquido ajudasse a desacelerar processos atrelados ao envelhecimento e que têm relação intima com problemas cardiovasculares, capazes de culminarem um infarto ou derrame. Mônica cita ainda a presença de vitamina B3 e minerais como potássio, ferro e manganês. Para uma singela xícara, é um mix de respeito. A seguir, desvendamos alguns truques para o café coado ideal – tanto para a saúde como para o paladar.

O FIITRO

Hoje, há vários métodos de extração que se valem da versão de papel – considerado mais prático, – e, por isso, esse filtro surge em formatos diversos. Em geral, o que prevalece no caso das pessoas é o tipo Melitta. Fato é que o papel tende a reter mais as substâncias gordurosas do café. Mas em certas regiões do país, há preferência pelo coador de pano”, conta a química Camila Arcanjo, coordenadora do campus do Speciality Coffee Association (SCA) do Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo (Sindicafesp). Como ele não precisa ser descartado a cada uso, é melhor para o meio ambiente. Agora, pensando no sabor da bebida, a história fica mais controversa. “O pano vai acumulando resíduo. Logo, você nunca vai tomar uma xícara igual à anterior”, avisa Júlio Fortini, barista da Academia do Café, na capital mineira e campeão brasileiro de métodos de extração. Se quiser provar dessa técnica clássica, que remete o caso de vô, é fundamental respeitar certos cuidados com o coador de pano. Acompanhe abaixo:

A ÁGUA

Ainda que o sistema de abastecimento da sua cidade forneça uma água de qualidade pela torneira, evite essa opção no preparo do café. “Ela tende a concentrar um pouco mais de cIoro e outros resíduos”, ensina Concetta. “A filtrada apresenta melhor qualidade”, completa a barista. Para Júlio, um dos principais mitos em torno da água é o papo de que ela não pode dar sinal de fervura – caso contrário, queimará o café. “Só que, antes, o grão é torrado a uma temperatura de mais ou menos 200°C. Se fosse queimar, seria nessa hora”, ilustra. Agora, deixar fervendo realmente não élegal, já que o oxigênio vai embora e o líquido perde propriedades. Aposte no meio-termo: quando a água começar a entrar em ebulição, soltando bolhas médias, desligue o fogo e aguarde um pouco antes de usar.

O PÓ

Para obter um café de qualidade, Camila frisa que a matéria-prima é o ponto principal. Há basicamente quatro linhas de produtos: tradicional, superior, gourmet e especial. Para quem não quer se aprofundar nas nomenclaturas, mas deseja uma bebida mais saborosa, um recado: “Verifique a data da torra ou fabricação. Quanto mais recente, melhor”, diz Concetta. Ela também sugere a torra média. “Quando é muito forte, encobre os aromas e o açúcar natural do café. Restam só cor e cafeína”, justifica. Uma embalagem com bastante informação (de onde vem, quem produz etc.) Já é outro bom sinal. “Se for provar pela primeira vez, compre o pacote menor”, orienta Ramos.

O DULÇOR

O ideal é dispensar o açúcar. “Se estiver habituado a adicionar muitas colheres, reduza gradualmente”, orienta Mônica. A nutricionista reforça que isso é importante não só por causa das calorias, mas também pelo risco de diabetes. Cabe ressaltar que, em geral, a impossibilidade de degustar uma xícara sem pesar no ingrediente denota a má qualidade do café. Busque uma bebida que você consiga tomar com só um tiquinho de açúcar.

A DOSE CORRETA

Se empolgou ao saber que, para a saúde, tudo bem tomar ao redor de 500 mililitros de café ao dia? Mas atenção: o conselho dos baristas é preparar a bebida aos poucos. Nada de fazer pela manhã e largar na garrafa térmica o dia inteiro. “Ela oxida facilmente. Assim, vai perdendo suas características sensoriais”, alerta Júlia, da Academia do Café. Segundo Ramos, um bom parâmetro é passar a quantidade que você pretende beber em uma hora.

PARA OUSAR

Métodos que usam filtro de papel e dão cafés diferenciados

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

O PAÍS DO DESASSOSSEGO

Pesquisas no Google relacionadas a ansiedade e pânico nunca foram tão altas

No último mês de agosto, o interesse dos brasileiros em procurar no Google termos relacionados a ansiedade foi quase cinco vezes maior do que o contabilizado no mesmo mês em 2014. O pico histórico da curiosidade em relação ao tema foi em abril deste ano. Ou seja, nunca quisemos   saber tanto sobre ansiedade e seus desdobramentos. O aumento foi detectado em um relatório  produzido pela empresa de análise dedados Bites. O mesmo estudo apontou que a disposição em saber mais sobre remédios específicos para o transtorno de ansiedade chegou a crescer dez vezes em 17 anos.

‘INCONSCIENTE COLETIVO’

Ao todo, os brasileiros dedicaram cliques às buscas sobre ansiedade 48 milhões de vezes nos últimos 12 MESES, à frente da Alemanha e da Espanha, e atrás apenas dos Estados Unidos. A título de comparação, a pesquisa pelo termo “democracia” ao longo do mesmo período acumulou 7,9 milhões de buscas. A pesquisa leva em conta os cerca de 150 milhões de pessoas que moram no país e têm acesso à internet. Pelas mãos desse público, a vontade de procurar páginas que oferecem informações sobre ataques de pânico é quase cinco vezes maior do que as aferidas em janeiro de 2004.

“O Google é o mais próximo do que poderíamos chamar de inconsciente coletivo digital, porque as buscas são anônimas. Ninguém precisa dizer (paraos outros) que está pesquisando sobre ansiedade ali”, afirma Manoel Fernandes, diretor da Bites.

As buscas, realizadas de maneira discreta na plataforma do Google, estão de mãos dadas com o que psicólogos e psiquiatras observam em seus consultórios. Os especialistas perceberam um crescimento nos sentimentos de angústia, temores diversos, relatos de tristeza, melancolia, cansaço, entre outros, sobretudo nos últimos meses, com a clausura – etantas outras complicações de ordem financeira, afetiva e emocional – impostas pela Covid-19.

SAÚDE MENTAL

Um estudo recente divulgado pela farmacêutica Pfizer em parceria com a consultoria Ipec, por exemplo, mostrou que, entre os jovens com idades entre 18 e 24 anos, metade avalia sua saúde mental como ruim ou muito ruim. No mesmo grupo, somente 4% classificam o bem-estar mental como algo muito bom. A análise lança luz sobre o atual período, afetado pela pandemia do coronavírus. O levantamento levou em conta 2 mil respondentes de todas as idades.

“Agora estamos enfrentando problemas relacionados à pandemia de maneira muito mais complexa. A primeira questão é encontrar formas de conviver com o vírus e entender que alguns aspectos da vida não vão voltar a ser o que eram antes (da Covid-19). Além disso, outras questões que não são relacionadas ao coronavírus também ganharam maior atenção, como os riscos do aquecimento global”, diz Ilana Pinsky, psicóloga clínica, autora do livro “Saúde emocional: como não pirar em tempos instáveis” (Editora Contexto) e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS).

PRÁTICA REQUER CAUTELA

O aumento de buscas na internet é um tema complexo e que não se resume, simplesmente, ao crescimento da angústia na sociedade, em geral. Há por trás desse fenômeno, também, o avanço da categorização formal do que significam certos sofrimentos. Se antes alguns quadros eram considerados, somente, uma angústia, hoje essa queixa pode ganhar um rótulo relacionado a um transtorno específico, a exemplo da síndrome do pânico. Esse fenômeno está relacionado à publicação da quinta edição do “Manual de diagnóstico e estatístico de transtornos mentais”, da Associação Americana de Psiquiatria, explica a professora Paula Peron, do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O guia, publicado em 2013, trouxe um aumento importante no número de diagnósticos disponíveis para consulta. A especialista explica que essa categorização teve impacto direto em relação a como o paciente encara o próprio estado de saúde. E, por vezes, pode se mostrar prejudicial.

“Isso incide completamente sobre a compreensão que a pessoa tem de seu próprio sofrimento”,  diz a especialista.

Peron afirma que, em alguns casos, em vez de o paciente procurar uma justificativa para a angústia que sente, ele atribui a situação somente à doença e deixa de procurar entender a relação daquilo com a própria vida.

Nesse cenário, faz-se ainda mais necessária a busca por especialistas que possam oferecer apoio e tratamento em momentos nos quais o paciente nota um aumento na tensão, na tristeza, na agonia ou na ansiedade.

“Há o risco de que as pessoas procurem on-line uma solução rápida para os seus problemas. Em alguns casos, não há a busca para sair da angústia, mas somente uma medicalização do quadro”, afirma a psiquiatra Camila Magalhães, ligada ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

SIGA AS PISTAS

A psicanalista Márcia Tolotti afirma que, embora exista um maior conhecimento da gravidade de transtornos de ordem psicológica, ainda é comum o comportamento de pacientes que querem resolver sofrimentos mentais sérios com seus próprios recursos, sozinhos, sem buscar ajuda médica.

“A pessoa nega que tem um problema mais grave e vai procurar um caminho mais fácil. Tem também uma pressão social, uma ideia de que, se a pessoa “se esforçar”, ela vai conseguir. São mitos que reforçam que ela sozinha dará conta”, explica Tolotti.

Há, nesse aumento de buscas, porém, um luminoso caminho para a criação de políticas públicas que estejam mirando no que aflige a população, explica a psicóloga Ilana Pinsky.

O Google figuraria, neste caso, como um bom confidente, que protege a identidade de quem busca por ajuda, mas oferece pistas a quem pode colaborar para a construção de mecanismos de apoio a quem precisa.

OUTROS OLHARES

MARIA DA PENHA PARA TRANS DIVIDE TRIBUNAIS

Parte dos juízes nega medidas protetivas para elas sob argumento de sexo biológico

Há mais de oito meses, Luana Emanuele, então com 18 anos, correu pelas ruas de Juquiá (SP)  perseguida pelo pai, que a agrediu em casa quando ela resistiu a uma tentativa de estupro. Na fuga, ela encontrou  policiais militares que contiveram o homem, registraram boletim de ocorrência e a encaminharam a um hospital, onde ela fez exame de corpo de delito. Mesmo com o flagrante e a pele toda marcada, a medida protetiva que tentou contra o pai foi negada porque Luana é uma mulher transsexual.

“Como eu não tinha para onde ir, tive de voltar para São Paulo”, conta Luana. Segundo ela, os PMs disseram que só podiam registrar o crime e a levar para um lugar seguro. “Falaram que (os juízes) não iam aceitar a medida protetiva porque eu era uma mulher trans”. Em maio, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou a medida a ela, por causa deste exato motivo.

Apesar de haver precedentes, não há entendimento unânime na Justiça sobre estender a Lei Maria da Penha, antiviolência doméstica, para mulheres transsexuais. A medida protetiva inclui, por exemplo, afastar o agressor da casa ou do contato físico ou  virtual – com a vítima, sob pena de prisão se reincidir.

O TJ-SP “sustentou impossibilidade jurídica de fazer a equiparação ‘transexual feminino = mulher'”. A decisão foi pela maioria dos desembargadores – só uma votou a favor da medida. Já o Ministério Público paulista (MP-SP) recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ­ o julgamento de um colegiado de ministros pode render jurisprudência inédita sobre o tema.

O próprio TJ-SP Já havia resolvido, em janeiro, que o caso de uma transexual agredida pelo ex-companheiro seria julgado na Vara de Violência Doméstica. No TJ do Distrito Federal, desde 2018 há decisões que reconhecem não só o sexo biológico, mas o gênero feminino. Por outro lado, em junho, a Justiça de Minas negou medida protetiva a uma transexual de Juiz de Fora agredida pelo padrasto.

Para o promotor Luís Marcelo  Míleo Theodoro, do MP-SP, a interpretação mais certa é a de que a Maria da Penha vale para o gênero feminino independentemente do sexo biológico. “Inclusive, sem necessidade de redesignação sexual”, defende.

Em nota, o TJ-SP diz que não é permitida orientação da administração “sobre o resultado dos julgamentos”, mas declara que juízes têm “independência funcional para decidir de acordo com os documentos dos autos e seu livre convencimento “. Se há discordância, afirma a Corte, cabe as partes recorrer. Já a Associação paulista dos Magistrados vê a lei aplicável a toda mulher cis (que se identifica com o gênero atribuído ao nascer) ou trans. Para a entidade, a Maria da Penha tem “inigualável valor civilizatório” e resgata “uma dívida social histórica”.

Para Matheus Falivene, doutor em Direito Penal pela USP, apesar de a Maria da Penha “não fazer referência expressa a sua aplicação a mulheres trans, a jurisprudência entende que ela é possível nos casos de violência praticada no âmbito familiar e doméstico”. Isso porque, afirma ele, “a lei não distingue orientação sexual ou identidade de gênero das vítimas mulheres, de forma que o fato dea ofendida ser transexual feminina não afasta a proteção legal, inclusive com relação a medidas protetivas de urgência”.

MEDO

Ainda não há data para a análise do recurso no STJ . Luana diz se sentir “descrente” no sistema e com medo de ser novamente agredida. Desde que se mudou para São Paulo, a avó com quem morava morreu e ela foi parar em um centro de acolhimento de jovens LGBTI+.

Hoje, vive sozinha em uma quitinete paga com seu trabalho em um hotel , mas conta ainda receber ameaças quase semanais do pai e de um tio que mora na capital , além de temer que descubram seu endereço. “Ele chegou a me encontrar, mas consegui fugir antes. Depois, entrou em contato comigo me xingando, falando que se eu voltasse lá iria me matar”.

PROFESSORA OBTEVE AFASTAMENTO DO EX APÓS AGRESSÃO

Em Goiânia, a professora e mulher trans Rafaella Nogueira, de 24 anos, obteve medida protetiva contra o ex-companheiro em 2019. Relata, porém, um processo “extremamente humilhante”.

O desgaste começou quando os policiais, após seu chamado, assumiram que ela seria a agressora. Após insistência e intervenção  de um amigo da Policia Federal, Rafaella foi levada à Delegacia da Mulher, mas em uma viatura – o ex-companheiro foi no próprio carro. ‘Eu que fui detida”, reclama. A medida protetiva saiu no mesmo dia, acredita, apenas por duas razões: seu nome social estar retificado em todos os documentos e ter sido recebida por uma delegada trans.

Por um ano, foi mensalmente acompanhada por um batalhão da PM que perguntava se o agressor havia tentado contato – pessoal, por telefone ou internet. “Se tem isso garantido, principalmente para mulheres trans em extrema vulnerabilidade, é determinante para não continuar sofrendo a violência”, diz. A Jovem, que levou quatro meses desde a primeira agressão até pedir ajuda, descreve o desafio de vencer barreiras psicológicas.

“A gente (mulheres trans) acredita que não vai encontrar outro parceiro  e que está ganhando uma oportunidade”, afirma.

Keila Simpson, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais ainda vê dificuldade para convencer sobre a ida às delegacias para denunciar abuso. Segundo ela, a maioria das pessoas trans “tem enorme receio porque são espaços povoados de estigmas”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 23 DE OUTUBRO

A PUNIÇÃO DOS MAUS SERÁ INEVITÁVEL

Preparados estão os juízos para os escarnecedores e os açoites, para as costas dos insensatos (Provérbios 19.29).

Nem sempre o homem recebe a justa retribuição das suas obras no exato momento em que comete o delito. O ladrão que rouba algumas vezes consegue escapar. O corrupto que lança mão do alheio às vezes consegue se enriquecer. O juiz iníquo que vende sua consciência para dar uma sentença injusta quase sempre sai ileso dessa farsa. Mais cedo ou mais tarde, porém, a verdade virá à tona, e esses escarnecedores não ficarão impunes. Aquilo que fizeram nas caladas da noite será proclamado à plena luz do sol. Aquilo que fizeram nos bastidores, longe dos holofotes, será estampado nas manchetes dos jornais. A punição dos maus será inevitável, pois, ainda que escapem do juízo dos homens, jamais escaparão do juízo divino. Os insensatos constroem o chicote para açoitar suas próprias costas. Eles tropeçam no próprio laço que armaram para os outros e caem na própria cova que abriram para derrubar seu semelhante. Deus é justo e não inocentará o culpado. Todos teremos de comparecer perante o justo tribunal de Deus e, no dia do juízo, os livros serão abertos, e receberemos julgamento segundo as nossas obras. Naquele dia, nossas palavras, obras, omissões e pensamentos passarão pela peneira fina do julgamento divino, e ninguém escapará, exceto aqueles que se arrependeram e buscaram o perdão de seus pecados em Cristo Jesus.

GESTÃO E CARREIRA

MULHERES EMPREENDEDORAS TÊM QUALIFICAÇÃO E NÚMEROS SÃO POSITIVOS

As últimas décadas foram marcadas por lutas pela igualdade de gênero. As mulheres conquistaram independência e vêm ocupando espaços que antes, eram exclusivos dos homens. Nesse cenário, o empreendedorismo feminino traz importantes contribuições para a sociedade. Cada vez mais empresárias atuam no mercado. Porém, o mundo dos negócios ainda impõe obstáculos extras a elas. Existem aproximadamente 9,3 milhões de empreendedoras no Brasil, o que corresponde a 34% dos donos de um negócio no país. Os dados são do Sebrae, segundo o qual a quantidade de empresárias consideradas chefes de domicílio chega a 45%, superando o número de mulheres que dependem do dinheiro do cônjuge. Isso significa que elas assumiram o protagonismo em seus lares, pois provém a principal fonte de renda da família.

O empreendedorismo feminino também se caracteriza pela qualificação. As donas de negócio têm escolaridade maior (16%). Além disso, apresentam taxas de inadimplência mais baixas (3,7% para elas contra 4,2% para eles). Empreendedorismo feminino é mais que mulheres abrindo empresas. Trata-se de uma ferramenta de transformação social. Veja dicas para participar dessa transformação:

1. ESTUDE O MERCADO – Um novo negócio surge para satisfazer uma demanda de mercado. Dito de outra forma, você deve entender quais são as necessidades do público, isto é, quais serviços ou produtos estão faltando em sua região. Escolha uma área de seu interesse e invista! Vale dar atenção especial aos setores de tecnologia e inovação, que são mais lucrativos.

2. PLANEJE O SEU NEGÓCIO – Agora é hora de organizar o orçamento. Antes de empreender, você deve prever os custos para adquirir materiais, instalar maquinário, contratar equipe, divulgar os serviços e fazer o que mais for preciso para entrar em operação. Lembre-se de pesquisar sobre impostos e enquadramento tributário.

3. BUSQUE CAPACITAÇÃO – Existem organizações que ajudam pequenas empreendedoras a tirar um projeto do papel. O próprio Sebrae oferece consultorias que dão ótimas dicas para quem está começando. Junto a isso, leia sobre administração, gestão de pessoas, marketing, finanças e vendas. Uma dona de negócio precisa entender um pouco de tudo isso para prosperar.

4. FAÇA NETWORKING – Sabe aquela história de que sozinhas vamos mais rápido, mas juntas vamos mais longe? Essa lógica se aplica perfeitamente ao empreendedorismo feminino. É importante conhecer outras empresárias, em encontros presenciais ou em grupos pela internet, para fortalecer parcerias. Elas poderão se tornar fornecedoras, clientes ou até mesmo sócias. Os sites de redes sociais são uma ferramenta para fazer networking.

5. PROCURE UMA LINHA DE CRÉDITO – Se você não tem muito capital para investir, deve buscar uma linha de crédito compatível com seus ganhos.

FONTE E OUTRAS INFORMAÇÕES: www.cresol.com.br.

EU ACHO …

NEURO REFLEXÕES

Navegando pelo celular para verificar notificações pipocando pela centésima vez num dia comum, me perdi em meio aos aplicativos. Demorei para achar as mensagens que queria responder. Será que só acontece comigo?

Percebi que não uso nem 10% dos aplicativos instalados no meu celular. E a maioria, na  verdade, mal sei para que servem. Tudo bem que boa parte deles já vem instalada. Mas até os muitos que escolhi baixar, usei uma vez ou nunca. Fiz desta reflexão um paralelo entre o uso do celular e do nosso cérebro.

Já sabemos que o cérebro humano é complexo e ainda há muito a ser estudado e descoberto sobre seu funcionamento. Mas diversos neurocientistas já negaram a antiga tese deque só estaríamos usando apenas 10% dele. A princípio, utilizamos 100%. Ou seja, utilizamos mais o cérebro do que fazemos o uso efetivo dos aplicativos do celular, segundo a minha experiência. Menos mal. E, sim, o cérebro dos golfinhos é maior e com mais neurônios do que o nosso. Aliás, para quem gosta de aprender sobre o assunto, o professor Nicolelis tem uma vasta produção.

Em conversa com outra referência no tema, a neurocientista Carla Tieppo, durante as interações que tivemos na Singularity University, aprendi que o cérebro humano adulto tem perto de 90 bilhões de neurônios que realizam quatrilhões de conexões sinápticas. E entre as sinapses dentro da minha cabeça fico pensando: se há tantas combinações de conexões e pensamentos que atravessam cada um de nós todos os dias e ao longo da vida, por que insistimos em reduzir e subestimar a trajetória do outro a partir dos nossos olhares enviesados?

Carla apontou que entre os tópicos mais debatidos pela neurociência está a neuromodulação. Reorganizar a modulação dos neurônios permitiria condicionar o cérebro a aprender coisas mais intencionalmente de modo mais rápido. Será possível fazer o cérebro aprender um novo idioma ou uma linguagem de programação em segundos?

Perguntei. Ela me disse de modo otimista que sim. Será que a neuromodulação usada para esses fins pode nos levar rápido ao fim de práticas discriminatórias?

Assim aplicaríamos o que nos ensinou Paulo Freire, que completaria seu centenário na semana passada Ele nos deixou como legado a luta pela educação e também premissa. Como a de que qualquer discriminação é imoral, e lutar contra ela, um dever. É um dever e um favor que fazemos a nós mesmos. Quem sabe a neuromodulação nos dá uma forcinha?

Afinal, ao discriminarmos alguém, estamos fazendo pressuposições. E ao pressupor algo, estamos limitando as possibilidades de sinapses, trocas e aprendizados que a trajetória daquela pessoa poderia nos agregar.

Tomara que possamos nos livrar de vieses e atitudes preconceituosas. Vieses muitas vezes “instalados” assim como os aplicativos inúteis do celular, que ocupam espaço e travam as possibilidades de criar novas conexões entre neurônios e com os outros. Nossos neurônios agradecerão se liberarmos espaço para potencializar seu melhor uso.

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaiguadaderacial.com.br

ESTAR BEM

SUOR EXCESSIVO: UMA VIDA AFETADA PELO CONSTRANGIMENTO

Muitas pessoas não procuram ajuda médica para tratar da hiperidrose por vergonha ou por desconhecerem opções de tratamento, mas existe uma alternativa segura e eficaz para combater o problema

Suar é normal – e importante, porque ajuda a regular a temperatura do organismo. Mas, segundo a Sociedade Internacional de Hiperidrose, para aproximadamente 400 milhões de pessoas no mundo, o suor é motivo de constrangimento. Elas sofrem de hiperidrose, expressão que significa muita (“hiper”) produção e excreção de suor (“hidrose”).

Enquanto que a maior parte das pessoas transpira mais em dias de calor; em situações de nervosismo, como quando é preciso falar em público; ou durante a prática de exercícios físicos, para os portadores de hiperidrose o suor aparece em excesso mesmo sem motivo aparente. A transpiração acima do normal pode acontecerem qualquer área do corpo com glândulas sudoríparas, incluindo mãos, axilas, pés, rosto, couro cabeludo, a região pubiana e a área sob as mamas. Em muitos casos, essa condição pode atingir o corpo todo, simultaneamente.

O problema chega a prejudicar a rotina dos pacientes, que podem até mesmo desenvolver quadros de ansiedade em situações de convívio social. Para evitar constrangimentos, as pessoas com hiperidrose muitas vezes optam por adotar uma vidamais caseira.

Além do suor evidente, a doença pode deixar roupas molhadas e amareladas ou, ainda mais grave, impedir atividades básicas como segurar uma caneta com firmeza ou andar de mãos dadas com alguém, por medo do incômodo provocado pela transpiração nas palmas das mãos. “O fator emocional é muito importante. A pessoa passa a evitar situações que possam disparar o suor excessivo. Muitos têm o problema e não sabem que existe um tratamento simples, seguro e eficaz”, explica o dermatologista Nuno Osório (CRM 56771).

TRATAMENTO SEGURO

A hiperidrose pode ser tratada com uma opção pouco invasiva: a toxina botulínica A. Trata-se de um medicamento mundialmente reconhecido eutilizado para fins terapêuticos e estéticos, aprovado há mais de dez anos no Brasil.

Quando injetada nas axilas, por exemplo, a substância bloqueia a passagem do estímulo que provoca a produção excessiva de suor. A aplicação é realizada dentro do próprio consultório. Em muitos casos, o paciente identifica a eficácia do tratamento, fica menos ansioso com a possibilidade de suar em excesso e passa naturalmente a transpirar menos, mesmo depois que o efeito do tratamento passou”, afirma o dermatologista.

O efeito é percebido nos primeiros dias após a injeção e a redução visível do suor pode chegar a 94% já no primeiro mês. A solução, simples e eficiente, tem a duração média de nove meses a um ano. “É uma medicação bem conhecida e de risco baixo”, ressalta Osório.

A outra alternativa, a opção cirúrgica, é mais invasiva. Ela tem por objetivo barrar a ação dos gânglios simpáticos, responsáveis por estimular as glândulas de suor. Mas nem sempre resolve o problema por completo. “Muitas vezes, o paciente que passou por cirurgia sofre hiperidrose compensatória. Ou seja, deixa de suar em uma parte do corpo, como as axilas, porém passa a suar mais em outra: as costas, por exemplo”, informa o especialista.

Vale lembrar que a avaliação médica é essencial para a correta identificação da doença e introdução do tratamento adequa­ do em cada região. No caso do uso da toxina botulínica A, as aplicações devem sempre ser feitas por um profissional da saúde.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FOBIA DA AGULHA: UM TRANSTORNO QUE TEM TRATAMENTO

Vacinação em massa contra a Covid-19 chama a atenção para o medo extremo da aplicação, que chega a impedir quem quer se imunizar de receber o produto; especialistas dão dicas para contornar o problema

Eles confiam na vacina. Eles querem a vacina. Mas milhões de americanos que desmaiam ou ficam nervosos ao ver uma agulha hospitalar estão arriscando contrair a Covid-19 em vez de tomar suas doses.

Ainda que a maioria das mortes por coronavírus ocorram entre os não vacinados – e outros tantos americanos se preparam para receber a dose de reforço -, os fóbicos das agulhas resistem. Eles costumam ser os primeiros a dizer que todo esse pavor não faz sentido, afinal de contas as injeções são rápidas e geralmente pouco dolorosas. Mas as memórias traumáticas superam as incertezas da Covid.

“’Irracional’ é a palavra perfeita para isso”, diz Jocie Konoske, 29, dona de casa de Portland, Oregon nos EUA, que, por causa de um problema dentário de infância, sempre evitou exames de sangue, vacinas de reforço ou contra a gripe e, agora, a vacina contra a Covid. “Se eu conseguisse tomar a vacina acredite em mim, o teria feito assim que possível.

100 MILHÕES SEM VACINA

Mais de oito meses depois que os imunizantes contra a Covid ganharam a aprovação para o uso emergencial, cerca de 100 milhões de americanos elegíveis permanecem não vacinados. Esse contingente costuma citar condições médicas efeitos colaterais, reações alérgicas, fertilidade, ceticismo quanto ao perigo do vírus ou teorias da conspiração.

É impossível dizer quantos deles estão resistentes por causa do medo de agulha. Mas cerca de 66 milhões de americanos podem sofrer com um medo de agulhas tão grave que arriscam atrasar a conquista da imunidade coletiva, de acordo com uma pesquisa publicada em abril pelo National Institutes of Health.

Um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra de junho, descobriu que 10% dos cidadãos do Reino Unido que recusam as injeções de Covid podem ter fobia. Na Índia, outra pesquisa de 2014 concluiu que até 4% da população daquele país sofria do transtorno.

A maior referência dos EUA sobre transtornos mentais reconhece a fobia de agulhas como uma condição que interfere na vida diária. Mesmo sedativos orais, como Valium, Ativan e Xanax, podem não conseguir reprimir o terror da injeção, diz Rick Novak, um anestesiologista de Palo Alto, na Califórnia.

Muitos pacientes afirmam que as vacinas na infância causaram dor ou citam uma experiência ruim. Alguns têm uma predisposição hereditária à síncope vasovagal, uma queda na frequência cardíaca e na pressão arterial provocada pela ansiedade, o que leva ao desmaio.

“Eu literalmente luto contra. Sou uma mulher de 1,62 m, mas você não faz ideia do quão forte eu fico”, disse Eylem Alper, 46 anos, gerente de projeto de Boston, que nunca sentiu nenhum tipo de agulha desde a infância, quando sua resistência era driblada por meia dúzia de adultos:  “Claro que não quero ficar doente, mas as fobias não têm qualquer tipo de lógica”.

Alper disse que tomaria a imunização contra a Covid-19 por meio de spray nasal, o qual os imunologistas suspeitam que até poderia oferecer uma proteção melhor do que as injeções, por ser introduzido por meio de membranas mucosas, assim como faz o vírus. Mas esse spray ainda está sendo desenvolvido.

A imunização infantil tem o poder de salvar vidas, evitando até 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Nos EUA, aqueles que sofreram casos raros de reações adversas após a vacinação podem recorrer ao National Vaccine Injury Compensation Program.

Mas o potencial de reação não é a questão central para aqueles com medo de injeção, chamada de fobia de lesão por agulha de sangue no “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”, uma referência nos EUA. Ele define a ansiedade como “desproporcional ao perigo real” e causadora de “sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo” na vida cotidiana. Às vezes, a ansiedade vai além das agulhas.

“Isso estabelece um ciclo em que qualquer coisa médica é assustadora, e eles passam a evitar médicos como um todo”, disse Robert Chernoff, psicólogo do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles: “Seu cérebro diz: Perigo! E aí você sente isso não apenas emocionalmente, mas fisicamente”.

DISCURSO HONESTO NA TV

Alguns que finalmente deixaram de lado seu medo disseram ter sido inspirados por Rachel Maddow, apresentadora do canal de TV americano MSNBC que, durante uma transmissão em abril, falou sobre como ela mesma havia feito isso:

“É normal sentir-se relutante, ansioso ou assustado, e não querer tomar a vacina. Não há motivo para se envergonhar. Mas sinta o medo, e vá em frente mesmo assim. Só vá. Porque, acima de tudo, (vacinar-se)não é só por você. É para evitar que você pegue o vírus e depois o transmita”.

Ao mesmo tempo, cerca de 35% dos americanos não vacinados dizem que provavelmente não vão tomar as vacinas, e 45% definitivamente não vão, de acordo com uma pesquisa de julho conduzida pela Associated Press e o NORC Center for Public Affairs Research.

Hilary White, 73, professora da linguagem dos sinais de Corvallis, no Oregon, ficou traumatizada por vacinações infantis repetidas e desnecessárias – uma reação de sua mãe ao perder seus próprios irmãos devido a doenças infecciosas.

Enquanto a Covid-19 varria o país, White agendou sua vacinação em um posto sem aglomeração e pediu para um amigo apoiá-la. O plano funcionou para ambas as doses de Moderna, mas as notícias sobre a recomendação de uma dose de reforço está minando sua disposição para uma terceira injeção.

“Na TV, eles usam palavras como “espetar a agulha”, e isso realmente me deixa angustiada”, diz White, que confessa: “Daí eu vejo alguém tomando uma injeção, e todo o meu corpo fica fraco”.

Novak, o anestesiologista, disse por e-mail que, para aqueles que dão injeções em fóbicos, “a alternativa mais provável de sucesso é ser honesto e gentil, ou seja, explicar que a injeção durará apenas um segundo e que nada adverso acontecerá”.

“Distração é útil, seja por um ente querido, fazendo contato visual e segurando sua mão ou uma tela de vídeo ou videogame passando no momento”, sugere Novak.

TENSÃO APLICADA

A longo prazo, os terapeutas ensinam a técnica da tensão aplicada, uma série de exercícios musculares de aumento da pressão arterial de 15 segundos que evitam desmaios, de acordo com Katherine Dahlsgaard, psicóloga da Filadélfia.

“Estou treinando: “Tenso, tenso, tenso! Aperte, aperte, aperte! Agora, volte para o ponto morto!”, diz Dablsgaard, antes de completar: “O que quero dizer às pessoas que temem a vacina da Covid é: você pode tentar fazer isso sozinho.

Aqueles que reuniram essa coragem dizem que a vacinação contra Covid foi um dos seus momentos de maior orgulho.

Para Desiree Shannon, 60, advogada aposentada de Columbus, Ohio, a ansiedade começou meio século atrás, com uma vacina contra a gripe que a deixou, segundo ela, “incapaz de ficar sentada por uma semana”. Ainda assim, ela se cadastrou para tomar uma injeção contra a Covid em uma clínica de atendimento de urgência, mas acabou indo embora sem a vacina.

Na tentativa seguinte, uma amiga veio confortá-la e, após uma hora de negociações com uma enfermeira, ela disse que concordou com a sugestão de uma picada surpresa.

“Eles me pegaram pela tangente, se aproximaram de mim e deram a vacina”, lembra Shannon: “O que posso dizer é que senti uma sensação de queimação no meu braço. Na segunda vez, fui sozinha. Eu ainda estava com medo”.

Mas ela tomou a vacina com medo mesmo.

OUTROS OLHARES

ESTÉTICA FAKE

Dicas de beleza caseiras viralizam nas redes e preocupam médicos

Insatisfeita com o desenho do seu nariz? Tome um remédio para acne. A solução apresentada, por mais desprovida de sentido que possa parecer, tem sido seguida por milhares de meninas no mundo todo. Só no Brasil, para se ter uma ideia, as buscas na última semana por esse tipo de associação com o nome comercial do medicamento mais conhecido para o problema de pele aumentou 900%. A frase buscada: “Roacutan afina o nariz”.

No Tik Tok, o assunto ganhou destaque recentemente, principalmente sob as hashtags #roacutancheck e # roacutanchallenge, que já somam mais de 29 milhões de visualizações. Nos relatos, os jovens compartilham imagens do antes e depois para corroborar a hipotética ação do medicamento, alegando que observaram um afinamento do nariz após o tratamento.

Tamanho alarde chamou a atenção da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que emitiu uma nota esclarecendo que não há qualquer comprovação da eficiência dessa prática.

A(falsa) lógica é a seguinte. As medicações para combater a acne como o Roacutan contêm uma substância chamada isotretinoína. Ela age diminuindo as glândulas sebáceas do rosto, o que geraria um afinamento de toda a pele da face, inclusive do nariz. O mecanismo pode dar a impressão de que o nariz está menor.

No entanto, este tipo de remédio possuí uma série de efeitos colaterais graves como complicações hepáticas e mal formação fetal e risco de abortamento caso seja usado por grávidas. Por isso, seu consumo deve ser realizado apenas quando indicado por um dermatologista para o tratamento de acne severa.

“Há vários problemas que podem surgir com isso. Primeiro, há perigo dos feitos colaterais, que podem ser graves. O segundo seria as pessoas notarem um efeito contrário ao esperado, o que pode afetar também aqueles que efetivamente precisam da medicação. O remédio é ótimo para aquilo que se propõe – alerta o dermatologista Beni Moreinas Grinblat, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

A SBD também reiterou que o consumo indiscriminado da isotretinoína pode causar reações adversas severas e que jamais deve ser feito sem acompanhamento médico. Entre eles, problemas hepáticos, aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos e risco de 30% de mal formações congênitas em fetos. É por isso que, antes de iniciar o tratamento, é necessário assinar um termo de consentimento sobre os riscos associados a uma eventual gravidez.

“A isotretinoína não é uma medicação de uso leviano. Quando usado para acne, o paciente tem a sensação de pele mais fina com menos poros. Tem ganhos estéticos, mas o uso meramente estético não é recomendado de forma alguma”, afirma Maria Claudia Tirico, dermatologista especializada em laser e estética pela Scripps Clinic, em San Diego, nos Estados Unidos.

A lista de orientações de beleza bizarras nas redes sociais não para por aí. Entre as mais populares está a técnica chamada dermaplaning, que consiste na raspagem da penugem de todo rosto feminino com o uso de uma lâmina para deixar a pele mais brilhante. As influencers a divulgam como sendo supostamente parte do ritual de beleza de Marilyn Monroe.

“Quando usamos uma lâmina pode haver cortes, infecções e alergias”, alerta Ademar Schultz, dermatologista da Santa Casa de Misericórdia de Vitória.

ALCANCE AMPLIADO

Não é de hoje que existe a propagação de fórmulas caseiras mágicas para a pele. Mas o que a rede social faz é disseminar isso de uma maneira muito mais rápida e com um alcance muito maior. O cenário se torna ainda mais preocupante desde a chegada da plataforma Tik Tok. São cerca de 1,1 bilhão de usuários, a maioria deles na faixados 10 e 19 anos.

“Sempre existe um ar de autoridade no que se diz nas redes, e isso é o que mais preocupa”, diz Grinblat.

Há menos de um mês o Tik Tok foi acusado de disseminar desinformação sobre a Covid-19 e as vacinas. O alerta foi da ONG Media Matters. Os vídeos circularam pela recomendações da página “Para Você”.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 22 DE OUTUBRO

TESTEMUNHA CORRUPTA

A testemunha de Belial escarnece da justiça, e a boca dos perversos devora a iniquidade (Provérbios 19.28).

A testemunha corrupta interfere diretamente nas decisões de um tribunal. Inverte os fatos para inocentar os culpados e culpar os inocentes. A testemunha corrupta zomba da justiça, escarnece da verdade, tripudia sobre o direito e massacra os inocentes. É um agente do mal e um instrumento a serviço da violência. No julgamento de Jesus, o Sinédrio judaico contratou testemunhas falsas com o propósito de condená-lo. Fato semelhante aconteceu quando Estêvão, o primeiro mártir do cristianismo, foi apedrejado. Na história da humanidade esses fatos se repetiram tantas vezes, causando muito sofrimento entre os fracos e derramando muito sangue inocente. Se a testemunha corrupta perverte a justiça, a boca dos perversos tem fome de fazer o mal. A língua dos ímpios é carregada de veneno, é peçonha mortífera. Os homens sem caráter sentem um prazer mórbido em destruir a reputação do próximo. Banqueteiam-se com a desgraça alheia. Como abutres, abastecem- se da miséria dos outros. Tanto a testemunha falsa que abre sua boca para escarnecer da justiça quanto o perverso que abre sua boca para arruinar o próximo, ambos são abomináveis aos olhos do Senhor. Tanto um quanto o outro receberão a justa retribuição de Deus e o desprezo dos homens.

GESTÃO E CARREIRA

CULTURA DO ELOGIO AUMENTA SATISFAÇÃO E PRODUTIVIDADE DE FUNCIONÁRIOS

Quem não gosta de receber um elogio por um trabalho bem feito? Ou ser reconhecido em um projeto, mesmo que tenha contribuído apenas com alguns detalhes?

Especialistas na área de recursos humanos e psicólogos são unânimes em destacar que o elogio deixa as pessoas ainda mais motivadas e engajadas em projetos, seja na vida pessoal ou mesmo no trabalho. É com esse pensamento de promover uma cultura de feedbacks positivos que muitas grandes empresas estão trabalhando para motivar os seus colaboradores.

Afinal, a satisfação deles está diretamente ligada à sua produtividade. Mas existe alguma maneira para aumentar o engajamento de todos? Essa é uma pergunta que muitos líderes fazem todos os dias. É claro que não existe uma fórmula mágica para chegar ao nível máximo de engajamento, mas muitas companhias estão apostando em sistemas de reconhecimento e recompensas para estimular os seus colaboradores. A ideia é incentivar os funcionários a reconhecer e exaltar as ações feitas ou as ajudas dadas pelos seus colegas de trabalho em alguma atividade.

“O elogio é algo muito significativo para a maturidade de um profissional. As emoções estão diretamente relacionadas e isso implica em uma boa saúde mental. Um funcionário quando está bem, rende mais e, quando ganha um elogio, tende a aumentar ainda mais a sua produtividade”, explica a coordenadora do curso de Psicologia da Uninassau – Centro Universitário Maurício de Nassau Paulista, Márcia Karine.

“A cultura do elogio gera uma reciprocidade. No momento em que o funcionário recebe um elogio, ele sente-se valorizado e isso o impulsiona a buscar estar sempre em um local de destaque. Desta forma, ele tende a fazer mais e até melhor pois saberá que está sendo visto”, complementa Márcia. “Podemos fazer um paralelo com as redes sociais. Quando um amigo nosso publica algo que gostamos, vamos lá e damos ‘like’. Quando isso acontece, a pessoa que recebe a curtida se sente valorizada.

Quando levamos isso para o mundo corporativo, podemos fazer com que os colaboradores se sintam mais valorizados pelos serviços que prestam, seja por algo simples ou por encontrar uma solução para um problema mais complexo”, explica Magda Moura, gestora de recursos humanos da Pitang Agile IT. Na busca por enraizar ainda mais essa cultura de elogios entre os seus colaboradores, a Pitang Agile IT, uma das maiores empresas de desenvolvimento de softwares e soluções tecnológicas do país, desenvolveu um sistema próprio para incentivar o reconhecimento e destacar os colaboradores que mais contribuem com os seus colegas de equipe.

Batizado de Merit Coin, “o programa começou como um sistema de reconhecimento e recompensa para os colaboradores da empresa”, conta a Product Owner do sistema, Erica Lima. “A ideia era estimular o engajamento e fazer com que a cultura do feedback se tornasse constante”, complementa. Todo o modelo funciona por meio de uma plataforma online, na qual todos têm acesso. Mensalmente, todos recebem o valor de mil moedas, que são personalizadas com o nome escolhido pela companhia.

E esse “dinheiro” é utilizado pelos colaboradores para “reconhecer” colegas que os ajudam a desempenhar determinadas tarefas ou que impactaram de alguma forma no dia a dia do outro. Dentro da empresa, o modelo de reconhecimento acabou motivando ainda mais os colaboradores. O resultado fez com que o alcance do projeto fosse ampliado. Hoje, ele passa a ser desenvolvido também em outras companhias que buscam formas de incentivar o feedback entre os seus colaboradores.

“A ideia principal é ter seus colaboradores sendo reconhecidos, mantendo-os sempre engajados dentro da empresa, resultando em um crescimento na produtividade e evolução deles. Dessa forma, seja neste modelo de reconhecimento e premiação ou mesmo em formas mais tradicionais, como o feedback mensal, a meta é fazer com que todos saibam onde estão acertando e o que precisam melhorar em relação ao seu trabalho dentro da organização”, finaliza Erica.

Fonte e mais informações: www.sereducacional.com.

EU ACHO …

DIANTE DE SCHOPENHAUER

Como não perceber que a expectativa utópica é uma forma infantil de pensar?

A forma com a qual muitas pessoas buscam utopias como resposta para a vida me espanta. Como não perceber que a expectativa utópica é uma forma infantil de olhar para a realidade?

No plano pessoal, em alguma medida, ainda será possível planejar um sucesso na vida, uma “lenda pessoal” como diz a autoajuda. Mas, no plano histórico, a utopia é uma versão recente das expectativas milenaristas: o mundo vai acabar no reino da felicidade.

Isso não significa que não haja nada a fazer, sempre há, e, aliás, é o que temos feito desde a pré-história: enfrentar os elementos naturais, sociais e psicológicos que põem nossa vida em risco.

Aliás, o modo enxame de agir da humanidade, aquele que qualquer um pode enxergar quando olha para as redes  sociais e percebe como elas, de modo constante, destroem o mundo com a falsa promessa de que as pessoas sabem o que estão fazendo quando agem, é já um dado sociológico irrefutável.

A imensa maioria não tem nenhuma noção das consequências  de seus atos e não vão muito além do modo abelha de refletir e agir sobre mundo.

Proponho hoje a leitura da obra do escritor contemporâneo francês Michel Houellebecq como terapia filosófica. Muitos o conhecem pelo “submissão”, publicado no Brasil pela editora Alfaguara. Há outros títulos dele traduzidos no Brasil. O autor francês nunca foi aceito pela aristocracia editorial brasileira. Ele é considerado um niilista. Se você nunca o leu, comece por “Partículas Elementares”, da editora Sulina.

O sociólogo alemão Wolfgang Streeck o considera um dos melhores intelectuais na descrição da sociedade pós-capitalista liberal democrática em que vivemos hoje.

Em obras como “Submissão” (2015) e “Partículas Elementares” (1998,) entre outras, Houellebecq descreve um mundo devastado pelo déficit de instituições confiáveis, pela banalidade da vida afetiva em retração pelo consumo automático sem gozo, pelos conflitos étnicos Intermináveis sem nenhuma expectativa de solução no horizonte, tudo isso na Europa.

Mas, hoje, quero falar para você de outra obra dele, esta, infelizmente, ainda sem tradução no Brasil, creio eu. Em Présence de Schopenhauer , editora L’Herne, 2017. Este pequeno ensaio trata de sua descoberta da obra de Schopenhauer (1788-1860) e como o filósofo alemão, para Houellebecq, seria leitura obrigatória para quem queira pensar o mundo.

Porquê?

Para o autor francês, o alemão Schopenhauer teria captado a intuição essencial do “mistério” da vida: uma vontade louca, cega, irascível, sem descanso e sem objeto  definitivo, em movimento criativo e destrutivo infinito. O filósofo Schopenhauer oferece ao escritor Houellebecq a ontologia que combina com suas descrições sociológicas e psicológicas.

É a inexistência de qualquer finalidade maior na vida das espécies que encanta o escritor. Por exemplo, na passagem em que Schopenhauer no seu “Mundo como vontade e Representação”, de 1819, descreve a ilha de Java e a descoberta de esqueletos de tartarugas ali é inesquecível. As tartarugas saem da água para desovar e são cruelmente devoradas por cães selvagens que as viram de costas, sem a proteção de seus cascos, e as comem vivas. Houellebecq recomenda fatos como estes aos ecologista que tomam a natureza como um ser sábio e generoso.

O ensaio segue comentando trechos da obra máxima do filósofo, com tradução do próprio Houellebecq. Outro trecho significativo é quando ele reconhece que 1num cenário terrível como este, Schopenhauer tem ousadia intelectual ao dizer mesmo noutras obras o que é indizível: precisamos de piedade, amor, sabedoria felicidade, todas experiências improváveis.

O impacto é ver como hoje em dia se fala dessas experiências com fórmulas falsas e esquemáticas, quando na verdade, tais experiências são quase incompreensíveis para seres dominados pela vontade cega, entediada e irascível.

Nossa vida é tomada pelos conflitos das paixões e dos desejos que não encontram harmonia. Vejamos, mais do que nunca, para ambos os autores, entre o sofrimento e o tédio. Fugimos de um, caímos no outro.

*** LUÍZ FELIPE PONDÉ

ESTAR BEM

CUIDADOS DERMATOLÓGICOS PARA HOMENS

A pele masculina é cerca de 25% mais espessa que a feminina. A densidade de colágeno também é maior que a nossa, e a textura da pele é muito mais áspera

Durante muito tempo, houve certo tabu e preconceito a respeito de homens buscarem cuidados dermatológicos, tanto em questões de saúde quanto estéticas. Hoje, felizmente, o cenário é diferente: o homem percebeu que uma boa aparência ajuda a ter sucesso pessoal e profissional e vemos um número cada vez maior de pacientes do sexo masculino nos consultórios de dermatologia. Segundo a Euromonitor, empresa global de pesquisas e tendências, o mercado de beleza masculino, que inclui cosméticos, fragrâncias e até maquiagem, vale, hoje, US$ 60 bilhões. Outro dado relevante: segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, nos últimos anos, houve um aumento de 400% dos procedimentos realizados em homens.

Existem peculiaridades da beleza masculina que exigem cuidados específicos. Primeiro, a pele masculina é cerca de 25% mais espessa que a feminina. A densidade de colágeno também é maior que a nossa, e a textura da pele muito mais áspera. Outra característica marcante diz respeito à produção de sebo e suor, resultado das altas concentrações de testosterona. Sendo assim, o homem possui glândulas sebáceas em maior quantidade e, por isso, sua pele costuma ser mais oleosa, com poros dilatados e tendência a acne e cravos. Daí a necessidade do uso de produtos específicos, como hidratantes, protetores e rejuvenescedores.

Os hormônios masculinos provocam mudanças no couro cabeludo, deixando-os mais propensos à calvície. Não à toa, os tratamentos capilares estão entre os mais procurados. Entre os principais procedimentos estão os lasers fracionados que fazem a bioestimulação, aumentando a densidade capilar e o surgimento de fios novos; o MMP, micro infusão de medicamentos na pele, na qual um aparelho composto por micro agulhas injeta um pool de vitaminas direto no couro cabeludo; e o micro agulhamento robótico com drug delivery de medicamentos que irão agir no bulbo capilar. E, recentemente, para aqueles que têm medo de agulha, surgiu uma nova tecnologia que, por alta pressão, introduz os medicamentos no couro cabeludo, sem uso de agulhas.

O rejuvenescimento facial é outra preocupação masculina. No geral, os homens são fãs dos tratamentos menos invasivos e com resultados mais naturais, capazes de melhorar a aparência, sem grandes modificações. Nesse sentido, o uso da tecnologia correta e feita pelo seu dermatologista especialista é a melhor opção. Lasers, ultrassom micro e macro focado e radiofrequência não ablativa são opções de tratamentos não invasivos que o homem pode realizar – e voltar para suas atividades normais no mesmo dia. A combinação do ultrassom micro e macro focado, por exemplo, promove a melhora da flacidez e do contorno além de diminuir a gordura na papada, desejo por um corpo mais saudável e definido também tem despertado o interesse dos homens. Para essa finalidade, a grande aposta do mercado é um aparelho de campo eletromagnético pesquisado e endossado pelos melhores dermatologistas dos EUA, com mais de 500 mil tratamentos realizados. A nova tecnologia melhora o tônus muscular com hiperplasia e hipertrofia do músculo tratado, assim como a funcionalidade osteo articular da região, por meio de contrações musculares supra máximas realizadas em 30 minutos de procedimento.

Não faltam opções para aqueles que desejam cuidar da pele. Procure sempre o dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia – somente ele tem a formação necessária para cuidar da beleza e da saúde da sua pele.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

UM A CADA 7 ALUNOS DIZ JÁ TER SOFRIDO ABUSO SEXUAL

IBGE ouviu quase 188 mil estudantes em mais de 1.280 cidades; e 15% afirmaram já terem sido tocados contra a vontade

Um em cada sete adolescentes brasileiros em idade escolar já sofreu algum tipo de abuso sexual ao longo da vida, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019. Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a sondagem apontou   também que quase 9% das meninas já foram obrigadas a manter relações sexuais contra a vontade.

Dois terço dos escolares informaram já ter ingerido algum tipo de bebida alcoólica. Desse total, um em cada três o fez antes dos 14 anos.

Na coleta dos dados, o IBGE entrevistou quase 188 mil estudantes. Eles responderam às questões em 4.361 escolas de 1.288 municípios. O País tinha, em 2019, 11,8 milhões de estudantes de 13 a 17 anos. Dentre os temas abordados sobre saúde e comportamento,   chamam a atenção casos envolvendo algum tipo de abuso sexual. Dos entrevistados, 14.6% responderam que já foram tocados, manipulados, beijados ou passaram por situações de exposição de partes do corpo alguma vez contra a vontade. Entre as meninas, o porcentual chegou a 20,1%; os meninos chegaram a 9%.

Alguns dos alunos relataram que, além dessas agressões, foram obrigados a manter relação sexual – esses equivalem a 6,3% dos entrevistados. Também nesse caso, as meninas foram mais atacadas (8,8% delas foram vítimas dessas relações forçadas, ante 3,6% dos garotos).

Levantamento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, divulgado em 2020, mostrou que 73% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem na casa da própria vítima ou na do suspeito. A agressão é cometida por pai ou padrasto em 40% das denúncias, conforme o balanço do Disque 100, canal de denúncia do governo federal.

Especialistas têm apontado que a pandemia pode ter prejudicado a identificação e denúncia desses casos, uma vez que crianças e adolescentes ficaram longe da escola, da comunidade e de redes de proteção. O Brasil foi um dos países em que crianças e adolescentes ficaram mais tempo afastados da sala de aula.

A redução do contato social tornam mais difíceis a denúncia e o combate a esses abusos, que podem ser enquadrados desde importunação sexual e estupro de vulnerável, com penas previstas no Código Penal. “A pesquisa traz alguns alertas que, infelizmente, podem ter se agudizado na pandemia”, diz Marco Andreazzi, gerente do estudo.

“A importância da pesquisa é principalmente no sentido de olhar pra freme. O melhor uso dela é identificar pontos de fragilidade e intervir para melhorar isso”, acrescenta Andreazzi.

DROGAS E BULLYING

Ao todo, 63,3% dos estudantes de 13 a 17 anos informaram ter ingerido pelo menos uma dose de bebida alcoólica. A pesquisa também apontou que 47% afirmaram ter passado por algum episódio de embriaguez. O uso de drogas ilícitas foi relatado por 13% dos entrevistados. Mais de um quinto deles (22,6%) afirmaram já ter fumado ao menos um cigarro. Nos dois casos, a prevalência foi maior nas escolas públicas. Em 2019, um em cada cinco estudantes (21,4%) de 13 a 17 anos disse ter sentido que a vida não valia a pena ser vivida nos 30 dias anteriores à pesquisa. No mesmo período, quase um quarto (23%) disse ter sofrido bullying de colegas. Em 2018, foi sancionada uma lei de combate ao bullying nas escolas. O texto ampliou as obrigações das escolas em promover medidas de proteção.

Entre os que responderam à pesquisa do IBGE, 35,4% declararam já ter tido sua iniciação sexual. Apenas 63,3% deles usaram preservativos na primeira relação. E 40,9 não utilizaram na última relação. Ainda de acordo com a pesquisa, 11,6% dos estudantes de 13 a 17 anos deixaram de ir à escola por não se sentirem seguros no trajeto de ida ou volta para casa.

OUTROS OLHARES

46 MILHÕES VIVEM EM LARES SEM RENDA DO TRABALHO, AFIRMA IPEA

Proporção de residências que dependem de aposentadorias e auxílios sobe de 23,5%, no 4° trimestre de 2019, para 28,5%, no 2° trimestre de 2021

A pandemia aumentou o percentual de lares sem renda do trabalho no Brasil, e a recuperação do quadro ainda não se completou. É o que indica o estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

No segundo trimestre de 2021, a fatia de domicílios sem renda do trabalho foi de 28,5% – quase três em cada dez.

Na prática, isso significa que 46 milhões de pessoas sobreviviam em lares sem dinheiro obtido por meio de atividades profissionais, estima o pesquisador do Ipea, Sandro Sacchet, autor do estudo.

O “sustento” nesses casos vem de aposentadorias, pensões e programas sociais.

No quarto trimestre de 2019, a proporção era de 23,54%, ou 36,5 milhões de pessoas. Na crise o total somou mais 9,5 milhões de brasileiros.

A proporção de famílias sem renda do trabalho alcançou , no segundo trimestre, de 2020, os 31,56%. O percentual perdeu fôlego, mas segue alto.

“As contratações devem aumentar com a movimentação deste final de ano. A questão é ver em qual patamar o percentual se estabilizar depois ou não”, indica Sacchet.

O estudo foi produzido a partir de dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O Ipea conclui que houve no mercado de trabalho “forte impacto inicial da pandemia e lenta recuperação, ainda incompleta”.

Segundo o estudo, o rendimento habitual médio dos trabalhadores ocupados , em termos reais, teve queda de 6,6% no segundo trimestre de 2021, ante igual período de 2020.

Mas o movimento é “apenas o inverso” do visto no início da pandemia, “quando os rendimentos habituais apresentavam um crescimento acelerado”.

Isso porque, no começo da crise sanitária, a perda de ocupações se concentrou em vagas com remuneração menor, em setores como construção, comércio e alojamento e alimentação, além de afetar os empregados sem carteira assinada e principalmente, os trabalhadores por conta própria.

Os profissionais que permaneceram ocupados à época foram os de renda relativamente mais alta, segundo o levantamento. A situação acabou levando para cima os ganhos médios com o trabalho.

O cenário agora traz diferenças. Com a volta de informais e trabalhadores por conta própria ao mercado, o rendimento médio cai.

Já a renda efetiva que de fasto foi ao bolso do trabalhador, subiu 0,9% no segundo trimestre de 2021, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, o pior momento da crise no mercado.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 21 DE OUTUBRO

O APRENDIZADO É UM EXERCÍCIO CONTÍNUO

Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do conhecimento (Provérbios 19.27).

Na escola da vida ninguém se diploma. Somos eternos aprendizes. A cada estágio que avançamos e quanto mais aprendemos, mais temos coisas a aprender. O sábio é aquele que nada sabe. O que sabemos é infinitamente menor do que o que não sabemos. Quanto mais aprendemos, mais temos consciência de que estamos apenas arranhando a superfície do conhecimento. Só um tolo faz propaganda de seu conhecimento. Só um insensato proclama sua própria sabedoria. Só lata vazia faz barulho. Só restolho chocho fica empinado orgulhosamente. Só os ignorantes pensam que não têm mais nada a aprender. Nossos ouvidos precisam continuar atentos à instrução. Todo tempo é tempo de aprendizado. Aqueles que deixam de ouvir a instrução se desviarão das palavras do conhecimento. Se você parar de aprender, esquecerá até o que sabe. Quem cessa de aprender cessa de ensinar. Quem se ausenta da escola do aprendizado entra na fila da ignorância. O aprendizado é um exercício contínuo, um privilégio constante, uma aventura diária, uma semeadura diuturna e uma colheita ao longo da vida. Se fizermos uma semeadura abundante no aprendizado, teremos uma colheita bendita, cujos frutos nos deleitarão e nos fortalecerão para a jornada da vida.

GESTÃO E CARREIRA

COMO AS MARCAS ESTÃO SE PREPARANDO PARA A BLACK FRIDAY

Por conta da pandemia, o padrão de comportamento dos consumidores mudou, acelerando a transformação digital e reforçando as vendas online

Acompanhando esse movimento, grande parte das empresas migrou para o e-commerce, o que foi difundido na Black Friday de 2020. De acordo com o levantamento da Ebit/ Nielsen, a edição registrou o maior volume de vendas já visto no país, somando 6 bilhões de reais no período de 26 e 30 de novembro.

Com o objetivo de manter o bom resultado, as marcas brasileiras já estão se preparando para a Black Friday de 2021, buscando corrigir as falhas do ano passado e investindo nos métodos de sucesso. As empresas entenderam que, além de um site seguro e preços acessíveis, um bom atendimento em todos os processos do cliente faz uma grande diferença no momento de fidelização.

Para isso, estão investindo pesado em tornar a experiência do consumidor positiva por meio de um atendimento completo, fornecendo fácil acesso a todos os canais ao entrar em contato com a loja para dúvidas, reclamações ou trocas. Para Anna Moreira Bianchi, CEO da NeoAssist, as marcas estão levando em consideração toda a experiência do cliente e depois da compra. “A expectativa é que a Black Friday deste ano siga as mesmas tendências de 2020, tendo o e-commerce como principal método para compras. Por isso, as empresas estão ajustando os pontos que ficaram a desejar na edição passada com o objetivo de fidelizar seus clientes, capacitando com cuidado toda a equipe, se preparando para os picos de vendas e oferecendo um atendimento eficiente durante todo o período, de olho também no pós, que acumulam chamados para solicitação de trocas, reclamações e acompanhamento dos pedidos”, afirma.

A fim de manter os colaboradores preparados para lidar com todas as demandas da data, uma série de treinamentos capacitores já estão sendo iniciados, tanto do time oficial quanto dos adicionais que devem ser contratados especial- mente para o evento. Após o treinamento, a equipe de atendimento e apoio ao cliente deve estar atenta e à disposição em todos os canais disponibilizados pela empresa, sendo capaz de responder a qualquer problema ou dúvida.

Além disso, a importância em conhecer o comportamento dos clientes sempre foi fundamental, porém, agora, as marcas estão atentas a dois tipos: os novos e os que a pandemia trouxe para o ambiente online. Entender quem são esses consumidores e quais os seus hábitos digitais é primordial para conquistá-los. Os varejistas também estão estudando investir cada vez mais no esquenta Black Friday, com ações promocionais distribuídas por todo o mês de novembro.

Sabendo que as pessoas já pesquisam preços e benefícios antes da compra, organizações já procuram divulgar seus produtos e serviços antes, muitas das vezes com descontos especiais. Quanto mais perto da data, mais a quantidade de compradores aumenta e é importante que a infraestrutura do site ou aplicativo esteja em perfeito funcionamento, pois caso não esteja pronto para lidar com um número alto de usuários, eles não perderão tempo e procurarão a concorrência.

“A Black Friday ainda pode ser uma ótima oportunidade para aumentar a base de clientes e fazer a empresa crescer, pois muitos consumidores enxergam na data uma ótima chance para as compras”, finaliza Bianchi.

EU ACHO …

RETORNAR ÀS VIAGENS A TRABALHO É REVIGORANTE, MAS TAMBÉM ASSUSTADOR

Vacinação alivia medo do vírus e voltar a estar entre pessoas diferentes é alentador; informações ainda são confusas e deixam incertezas

Não tem tanto tempo assim, mas já parece uma outra vida. Uma viagem de trabalho consistia em um determinado número de roupas adaptáveis às ocasiões e caprichos da temperatura, um documento de identidade ou um passaporte, e uma programação de encontros, cafés, reuniões ou eventos, parte deles marcados por apertos de mão, abraços, táxis compartilhados e jantares.

Quase dois anos depois da interrupção de praticamente todo evento social do mundo corporativo, me vi nesta semana embarcando para uma longa viagem que resultaria em uma sequência de encontros sem apertos de mão ou abraços e cercados por frases enunciadas um tom acima do habitual. As máscaras protegem, mas também abafam o som das palavras e nos tiram o poder da leitura labial.

Somado ao que me parece terem sido os efeitos do jetlag – certa indisposição causada pela mudança brusca de fuso horário -, meus dias de compromissos de trabalho foram um tanto confusos e cansativos.

E certamente só não foram mais exaustivos pela inegável satisfação de acompanhar uma série de discussões de maneira presencial. Encontrar fontes, colegas de profissão, pessoas.

Repetir uma frase que se perdeu na barreira da máscara jamais será tão cansativo quanto refazer raciocínios interrompidos por conexões de internet instáveis.

Ao mesmo tempo, me apresentei pela segunda vez a um colega que, sem máscara, fumava um cigarro em uma área externa. Sem a proteção, não o reconheci.

Uma repórter portuguesa com quem conversava se afastou para buscar uma bebida e, ao voltar, já tomando a água, custei a perceber que era minha interlocutora. Por pouco não cometi a indelicadeza de me retirar.

Se a vacinação, por um lado nos permite paulatinamente retornar esses deslocamentos e encontros, a pandemia, de outro, tomou a preparação muito mais complicada e mesmo cansativa.

Para mim, o desgaste começou com a decisão de aceitar o convite. Não tem muito tempo, passei quatro horas em um evento de trabalho sem ter coragem de tirar a máscara de proteção para almoçar. Aceitar o convite foi um cálculo pensado. O embarque seria quase um mês após a segunda dose da vacina contra a Covid-19. O destino, a França, já tem 80% de sua população vacinada e só recebe visitantes vacinados ou testados.

O evento para o qual fui convidada tinha premissa similar e ainda recomendava que os participantes evitassem contato físico e só tirassem as máscaras para comer, beber ou fumar.

A nova dinâmica dos eventos corporativos me faz sentir que estamos percorrendo um caminho ainda em construção. Enquanto ando por ele, algumas partes caem, outras são reconstruídas rapidamente.

Seria injusto dizer que as recomendações eram ignoradas. Ao mesmo tempo, continuo me perguntando o quão seguro é o tira e põe de máscaras durante os coquetéis e restaurantes.

Encarar uma sequência de aeroportos e voos foi um relevante passo, um voto de confiança possível somente pela drástica redução do risco fornecida por duas doses de vacina.

É justo dizer que a rotina que envolve voo, especialmente os internacionais – ou, para quem vive em São Paulo, aqueles saídos de Cumbica, em Guarulhos – já era muito cansativa antes da pandemia. O acesso aos terminais é ruim e mal projetado. O Expresso Aeroporto, por exemplo, sai da Estação da Luz da CPTM e chega apenas ao terminal 1. Do terminal 3, são 3 quilômetros de distância.

O jeito então é buscar um táxi ou um carro via aplicativo. Quem mora em São Paulo sabe que o risco de um trânsito pesado a caminho de Guarulhos exige medidas de precaução, como sair com tempo de sobra, aumentando o tempo dedicado à viagem, o check-in e despacho de mala agora levam mais tempo, pois inclui a conferência da carteirinha de vacinação. Começa ali também uma certa cacofonia de informações sobre as quais ninguém tinha muita certeza.

Um agente da companhia aérea quis saber do meu passe sanitário, algo que não tenho. Tento baixar o programa que o gera, mas o sistema não reconhece o código de validação, nem o fornecido pelo governo de São Paulo na carteirinha de vacinação, nem o do Valida SUS.

Sou informada depois que o passe é necessário apenas para acessar bares e restaurantes (depois viria a descobrir que a apresentação do comprovante de vacinação, com as datas das doses, teria o mesmo efeito do passe).

Apesar de já dispensar a quarentena na chegada ao país, a França ainda considera o Brasil um país vermelho, segundo a classificação de risco por cores. Isso me leva a mais uma fila, já em solo francês, para nova conferência da carteirinha. Ainda enfrentaria outras duas, uma para o raio – X, outra para a imigração. Nos sites das autoridades francesas, há a informação de que mesmo os passageiros vacinados precisarão apresentar um tipo de carta solene, na qual juram não ter sintomas e não ter conhecimento de ter tido contam com alguém contaminado. Fiz a carta. Ela nunca saiu da minha mochila.

Antes de voltar ao Brasil, nova surpresa. Tinha acabado de enviar um texto aos meus editores quando recebi um e-mail da companhia aérea comunicando o início do check-in. E foi assim que descobri a necessidade de ter um exame do tipo PCR-RT para retornar ao país. Conto com ele para embarcar para o Brasil – não sem antes enfrentar novas filas, novas leituras incompletas do certificado de vacinação, novos companheiros de jornada com seus narizes fora da máscara. Espero que seja a última surpresa da jornada. Por fim, volto dessa primeira viagem desejante de que o avanço da vacinação, mesmo menor que o necessário, proteja o Brasil de uma nova catástrofe, como a vivida no início do ano, pois não há nada como estar rodeada de outras pessoas.

***A repórter FERNANDA BRIGATTI viajou à convite da Airbus

ESTAR BEM

REGIMES DEMOCRÁTICOS

O sucesso de dietas que propõem cardápios mais flexíveis ilumina uma verdade: os programas drásticos estão fadados ao fracasso

A estatística transborda. Cinquenta milhões de adultos brasileiros seguem algum tipo de dieta. Nos próximos dois meses, metade terá desistido, inapelavelmente. Depois de mais quatro meses, somente 2% estarão seguindo as regras restritivas firmes e fortes. A principal causa do retumbante fracasso? Programas alimentares rigorosos demais – e a fome vence. Uma das explicações é lógica, atrelada aos mecanismos de defesa da espécie humana. Quando há redução drástica de calorias ou se exclui toda uma categoria de alimento, cai a produção de um composto no organismo essencial ao sucesso dos programas de emagrecimento: a serotonina, a substância do prazer. O novo balde de água fria nesses tipos de regime foi jogado recentemente com uma estocada no popular jejum intermitente, que prega ficar sem comer por horas a fio. Um estudo publicado na revista JAMA Internal Medicine mostrou que a médio prazo ele fracassa. Ao longo de três meses, a maioria dos participantes havia perdido cerca de 2 a 3,5 quilos – pouquíssimo a mais do que um grupo de controle. Foram avaliados esquemas de jejum de doze ou mais horas por dia. Uma das razões da falha apontada pelos especialistas é que os seguidores passavam a exagerar no consumo de alimentos ultracalóricos para aplacar o estômago vazio.

Resumo da ópera: o crivo científico e a dura travessia dos viciados em regimes radicais, como o da turma da intermitência, abriram espaço para dietas menos severas. Eis aí uma boa novidade. Duas delas, em especial, conquistam número cada vez maior de brasileiros (veja detalhes no quadro abaixo). A chamada “flexitariana”, como o nome sugere, é um aceno ao exagero do vegetarianismo. A base de alimentação proposta é com proteínas de origem vegetal, como soja, lentilha, feijão e nozes, mas com algum consumo animal, em um terço das refeições. Vale até o bom churrasco. Um segundo programa, o “volumétrico”, prega a redução de calorias das refeições, mantendo o volume de alimentos ingeridos. Desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, valoriza ingredientes com fibras, caldos e frutas ricas em amido, como banana e manga, que proporcionam mais a sensação de saciedade, mas permite carboidratos, como macarrão e proteína animal.

As duas modalidades – a flexitariana e a volumétrica – despontam com louvor, agora em 2020, em um ranking da revista americana US News, organizado desde 2010. Nele só aparecem dietas fáceis de seguir e com boas respostas. No topo da lista, praticamente imbatível, está a dieta mediterrânea, um tanto esquecida no Brasil, composta de alimentos típicos das regiões banhadas pelo Mar Mediterrâneo, como o sul da Europa. Inclui peixes, queijos, azeite de oliva e até mesmo pão e vinho. Ela faz perder peso mais lentamente, mas é unanimidade no quesito de controle da saúde. Desde a década de 80, inúmeras pesquisas comprovaram seu impacto no organismo, como a capacidade de prevenção contra diabetes, colesterol ruim, câncer e perda de memória. “Só emagrece e se mantém magro quem não exclui nenhum grupo alimentar”, diz o médico Antônio Carlos do Nascimento, da Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia. Não há, enfim, alimento melhor (e mais gostoso) do que o bom senso.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HORA DE CONVERSAR SOBRE AQUELE ASSUNTO – III

TABU EM SALA DE AULA

Tema mal aparece na BNCC, que direciona o ensino no País; situação preocupa especialistas

Algo na aula de Ciências. Mais um pouco uns anos depois, em Biologia. O currículo que crianças e adolescentes brasileiros têm nas escolas passa longe da educação sexual, disciplina considerada essencial à promoção dos direitos humanos pela Organização das Nações Unidas(ONU). Homologada entre 2017 e 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que norteia o ensino no País, é vista como um retrocesso em comparação ao antigo Plano Curricular Nacional, de 1998.

No documento voltado à educação o infantil e ao ensino fundamental, a menção mais próxima do tema está na tabela da disciplina de Ciências no 8º ano. O termo sexualidade é abordado como objeto de conhecimento sobre vida e evolução, indicando que deve tratar de infecções sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos. Nas orientações para professores do ensino médio, o termo é mencionado uma vez, como competência que pode ser desenvolvida em núcleo de estudo.

Mãe de Vicentina e Danton, de 12 e 15 anos, Tamara Ramalho diz que os filhos só aprenderam as funções do aparelho reprodutor pelo olhar da Biologia. “Não chamo isso de educação sexual”, critica a mãe dos adolescentes, que leciona Sociologia na rede pública.

Especialistas e professores afirmam que ensinar educação sexual se tornou mais difícil nos últimos anos. “Até 2018, a gente tinha mais liberdade para fundamentar o tema”, conta a professora Camila Burchard, da rede pública do Rio Grande do Sul. “Hoje, isso se restringe aos cuidados com o corpo e a higiene, mas só em algumas séries.”

Na opinião da coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação Sexual da Faculdade de ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista. Andreza Leão, os parâmetros curriculares nacionais eram mais amplos. Além de saúde sexual e reprodutiva, tratavam de relacionamentos afetivos, por exemplo, e contribuíam para a formação integral dos alunos.

ESFORÇO

Alguns Estados abordam questões de gênero e sexualidade como princípios norteadores no currículo. Pernambuco, por exemplo, usa como base as diretrizes nacionais, mas prevê que “o respeito às diversidades culturais, religiosas, étnicas, raciais, sexuais e de gênero não seja apenas um princípio, mas uma estratégia formativa para o desenvolvimento dos alunos”.

Já a rede estadual de São Paulo pode incluir disciplinas eletivas. Na opinião do chefe do gabinete do governo paulista, Henrique Pimentel, a BNCC não é o todo e deve ser complementada de forma colaborativa.

É o caso da disciplina eletiva sobre educação sexual da professora de Biologia, Verena Santos, que dá aulas no ensino médio da rede pública paulista. Além do material didático e do suporte tecnológico, ela usa jogos e deixa à disposição uma caixa de dúvidas, onde os alunos colocam perguntas para serem respondidas ao fim de cada aula. “Os alunos se interessam muito”,  comemora Verena.

MATERIAL DIDÁTICO

Conseguir corresponder às necessidades dos aluno no entanto, depende de conhecimento. E é neste ponto que a formação de muitos professores deixa a desejar, afirma Camila Sabino, que leciona Biologia no Recanto das Emas, região administrativa do Distrito Federal. “Pelo que eles têm na mão, já fazem muito.”

Outro entrave para as aulas de educação sexual é o material didático, que se limita a questões biológicas. “Não traz debates sobre homoafetividade e sobre como a pessoa se identifica socialmente”, exemplifica o professor de Ciências Ítalo Ferreira Garcia, de Salvador.

Líder de Relações Governamentais do movimento Todos pela Educação, Lucas Hoogerbrugge afirma que episódios como a interferência do Ministério da Educação (MEC) em editais de compra de livros didáticos para suprimir referências de enfrentamento ao machismo, homofobia e qualquer tipo de preconceito contribuem para dificultar o ensino da educação sexual. “É um desserviço.”

Entramos em contato com o Ministério da Educação para ter um posicionamento sobre iniciativas de educação sexual e as deficiências apontadas na BNCC, mas não obteve retorno. Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães de Castro afirma que não existe superficialidade no modo como a educação sexual é tratada na BNCC. Ela explica que a intenção do documento é apenas planejar uma abordagem geral. “Não concordo (com as críticas), porque aí teria de ter educação sexual, financeira, meio ambiente. Não é isso”, diz Maria Helena.

NOS CHATS DE JOGOS ONLINE, RISCO DE ASSÉDIO

Diálogo é importante para proteger seu filho de criminosos que se passam por crianças para aliciar menores

Uma criança está na sala, agarrada ao celular. Enquanto isso, no quarto do adolescente, o zum­ zum de um jogo online rola solto. Cenas nada incomuns desde que o coronavírus chegou ao País. Neste um ano e meio, é difícil encontrar pais que não estejam preocupados com o tempo que crianças e adolescentes passaram na frente dos jogos. Será um excesso? Meu filho está seguro em um ambiente que muitas vezes inclui chats e fóruns?

Dados mostram a resposta para a primeira pergunta. Publicada recentemente, a Pesquisa de Games do Brasil (PGB) apontou que 75,8% dos usuários desse tipo de entretenimento afirmam que jogaram mais em 2020.O segundo questionamento tampouco traz alívio para as famílias. Há, sim, riscos de crianças e adolescentes estarem expostos a ações de criminosos e assediadores, que procuram nos jogos online a chance de entrar em contato direto com menores de idade.

“A internet é a rua de antigamente”, diz o químico Nelson Mortean, de 45 anos. Consumidor de videogame desde a infância, ele conta que monitora com quem seu filho de 11 anos joga online. “Em algum momento, a relação caminha para deixar de ser virtual”, conta Mortean. “Então, podem surgir convites do tipo ‘Venha aqui em casa.”

O cuidado que o químico procura ter está longe de ser exagero. Os crimes virtuais de natureza sexual envolvendo crianças e adolescentes têm crescido no Brasil. Só em 2020, segundo a Safernet, organização civil voltada à promoção de direitos humanos na internet, as denúncias de pornografia infantil duplicaram e atingiram quase 100 mil registros em um único ano.

A possibilidade de criar perfis falsos em plataformas de games, nos quais os usuários conseguem mentir e omitir informações, tornou os jogos uma via fácil para aliciadores falarem com crianças. Thiago Oliveira, presidente da Safernet, diz que os agressores abordam as vítimas de várias maneiras, em relações construídas “em redes sociais, em fóruns sobre jogos e nos próprios games”.

Em geral, os criminosos primeiro tentam criar um vínculo com a vítima, seja com um elogio à foto do perfil ou iniciando uma conversa que desperte o interesse da criança. Depois, os pedófilos se sentem mais seguros para fazer insinuações sexuais e pedir fotos íntimas.

”Eu já vi casos em que a solicitação de fotos aconteceu em uma semana, enquanto em outros demorou mais de um mês”, conta Helena Regina Lobo, professora de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP).

Fã de jogos eletrônicos, o filho da bancária Thaís Chaar foi abordado por um garoto mais velho, que o convidou para um encontro num shopping de Fortaleza, onde a família mora. Vinícius, de 13 anos, interagia em um grupo de WhatsApp criado para crianças conversarem sobre videogames e agendar partidas online. “Eu e as outras mães não deixamos eles se encontrarem no shopping”, conta a mãe de Vinicius. “Não sabíamos se era um garoto ou alguém maior de idade. E pedimos para eles cortarem a amizade.”

Identificar os responsáveis por esses perfis é difícil porque o acesso às contas é feito, geralmente, por computadores que têm VPN, dispositivo que impede o rastreamento de IPs (identificação de um computador). Diante do risco, uma recomendação para os pais é o ajuste das configurações de privacidade para o uso do controle parental.

Em casos de assédio, a orientação é não se calar. ”Denuncie o perfil do assediador nos canais disponíveis no jogo e no Disque 100″, orienta a professora de Direito Digital Laura Mascaro.

FIQUE ATENTO

Alguns passos podem proteger o seu filho. O primeiro é justamente conversar com ele sobre segurança digital. Nada de dar Informações pessoais nem enviar fotos para estranhos. Oriente que fale com você se algo estranho ocorrer. Fale da necessidade de ter senhas fortes e ajude seu filho a manter o computador protegido. Procure também pesquisar os jogos antes de liberar o acesso.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 20 DE OUTUBRO

FILHOS INGRATOS, A VERGONHA DOS PAIS

O que maltrata a seu pai ou manda embora a sua mãe filho é que envergonha e desonra (Provérbios 19.26).

A lei de Deus pode ser sintetizada em dois mandamentos: amar a Deus e ao próximo. O amor não é apenas o maior dos mandamentos, mas também o cumprimento da lei e dos profetas. O amor não é apenas a maior das virtudes, mas também o sinal distintivo de um verdadeiro cristão. O amor é a prova cabal de que somos convertidos, porque aquele que não ama não é nascido de Deus, já que Deus é amor. Também não podemos amar a Deus sem amar o próximo. E não há ninguém mais próximo de nós do que nossos pais. A ordem divina aos filhos é honrar pai e mãe e obedecer-lhes no Senhor. Esse é o primeiro mandamento com promessa. Os filhos que honram os pais têm vida longa e também prosperidade. Um filho ingrato, porém, traz vergonha para os pais e desonra para a família. Maltratar o pai e mandar embora a mãe são atitudes abomináveis aos olhos de Deus, crueldades sem tamanho. Há muitos filhos ingratos, que cospem no prato em que comeram. Agridem os pais com palavras e atitudes e abandonam-nos à própria sorte quando chegam à velhice. Os filhos que maltratam seu pai ou tocam sua mãe de casa não têm vergonha, não prestam. Os filhos que cometem tal desatino causam desonra para a família.

OUTROS OLHARES

DERMATOLOGISTAS ALERTAM SOBRE USO DE REMÉDIO DE ACNE

Sob risco de graves efeitos colaterais, medicamento está sendo utilizado indevidamente para quem pretende afinar o nariz

A difusão de informações nas redes sociais sobre o suposto potencial de afinar o nariz de um medicamento para acne fez a Sociedade Brasileira de Dermatologia divulgar um alerta sobre os riscos de graves efeitos colaterais do uso inadequado do remédio, que pode causar danos no fígado, aumento do colesterol e más formações no feto, no caso de pacientes grávidas.

A entidade notou um aumento de publicações sobre benefícios de medicamentos com isotretinoína, mais conhecida pelo nome comercial Roacutan, inclusive com o incentivo a desafios para uso da substância.

“É um remédio com muitos efeitos colaterais, como alteração no fígado e aumento do colesterol. No caso de gestantes, pode causar más-formações no feto. A gente sabe que ele dá uma atrofia na glândula sebácea, mas não tem embasamento científico de que o medicamento afina o  nariz”, explica Beni Moreinas Grinblat, segundo secretário da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Grinblat diz que, além de casos de acne que necessitam do tratamento, há uma condição chamada rinofima que pode receber a indicação do medicamento, mas o quadro atinge principalmente idosos.

De acordo com a entidade, a preocupação com mulheres em idade fértil se dá pelo fato de que o risco de um bebê nascer com má-formação congênita chega a 30% caso o uso seja feito por mulheres grávidas. Em nota divulgada, a SBD informou que, juntas, as hashtags que convocam para o desafio usando a medicação – #roacutancheck e #roacutanchallenge – atingem 29 milhões de visualizações.

Apenas nos últimos sete dias, as buscas no Google por ” Roacutan afina o nariz” aumentaram 900%. Mesmo com o crescimento, Grinblat pondera que o interesse está mais nas redes sociais do  que nos consultórios. “As pessoas estão se desafiando, mas não sei o quanto, na prática, está  acontecendo. No Brasil, não e um remédio fácil de comprar. Além da receita controlada, existe um termo de consentimento que tem de assinar na farmácia. Alguns pacientes, que já tomam, perguntam se é verdade. No consultório, eles estão desconfiados.” Os pacientes que fazem o tratamento são monitorados por meio de exames para verificar se estão tendo alterações no fígado e no colesterol.

EFEITOS COLATERAIS

Ter os olhos, boca e nariz ressecados não foi o que mais incomodou a estudante de Medicina Isadora Andreotti, 20 anos, enquanto tomava Roacutan para acne, indicação do medicamento. Em sua primeira experiência com o remédio, ela teve de interromper o tratamento após alterações no fígado. Também houve aumento dos níveis de triglicerídios e colesterol.

“Fiz tratamento com Roacutan três vezes, com dois médicos diferentes”, diz. “Fiquei satisfeita com o resultado, mas ainda tenho algumas cicatrizes e manchas de acne”.

As reações relatadas por Isadora estão dispostas na bula do medicamento como “muito comuns” – quando ocorrem em 10% ou mais dos pacientes. Na mesma lista aparecem distúrbios na vesícula biliar, conjuntivite e dores no corpo. Desordem dos sistemas linfático, nervoso e respiratório também são efeitos possíveis, embora menos recorrentes. O documento ainda menciona casos raros de depressão, perda de peso, alterações na contagem de células brancas, insônia, entre outros.

As espinhas, motivo pelo qual a isotretinoína foi receitada a Isadora, foram embora. Os danos ao fígado e aos níveis de colesterol, descritos como reversíveis na bula, também desapareceram. O nariz, que nunca foi o foco do remédio, continua o mesmo. “Consegui o resultado que queria, mas quem tomar para afinar o nariz pode arriscar a própria saúde a troco de nada.”

A isotretinoína também pode ser usada em pessoas que fizeram rinoplastia, segundo Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e especialista em Rinoplastia Estética e Reparadora pela Case Western University.

“Ela pode ser indicada para o pós-operatório quando a gente faz a cirurgia no nariz. Há trabalhos científicos que mostram benefícios do uso em baixas doses para o resultado do procedimento. Mesmo esses pacientes vão fazer o acompanhamento com cirurgião e dermatologista. O medicamento sozinho não afina o nariz.”

Rubez recomenda que as pessoas busquem informações sobre tratamentos em fontes confiáveis e sempre consultando especialistas da área. “Tem de tomar cuidado com procedimentos, ainda mais os adolescentes. Nessa idade, a gente nem opera. Espera chegar aos 16 anos.”

Em nota, o laboratório Roche Farma Brasil, responsável pela produção do medicamento no País, informou que, como a isotretinoína age nas glândulas sebáceas, pode desinchar a inflamação em casos específicos de peles oleosas acima do normal, causando a impressão de afinamento no nariz. Ainda de acordo com a Roche, o Roacutan é para o tratamento de formas graves de acne e não pode ser utilizado sem prescrição.

GESTÃO E CARREIRA

AS DIFERENÇAS ACENTUADAS PELO HOME OFFICE

Análises do Ipea com dados da Pnad Covid-19 destacam contrastes no trabalho remoto no Brasil

Muito se discute sobre o home office, principalmente após multinacionais adotarem o modelo de forma definitiva. O mercado entra neste debate como se essa fosse a realidade da maioria dos trabalhadores, quando na verdade, só 11% dos brasileiros trabalharam em suas casas no ano passado, conforme dados da Pnad Covid-19 analisados nas duas últimas Cartas de Conjunturas divulgadas pelo Ipea em julho e setembro deste ano. Os levantamentos e as análises mostram que o retrato do trabalho remoto é composto majoritariamente por mulheres, pessoas brancas e altamente escolarizadas, o que distancia o modelo da realidade de grande parte dos brasileiros.

A primeira nota foi divulgada pelo Ipea em 15 de julho com o objetivo de mensurar o trabalho remoto no País. Para isto, foram utilizados os dados da Pnad Covid-19, colhidos de maio a novembro de 2020. Dentre os 83 milhões de pessoas ocupadas no ano passado, 74 milhões (88,9%) continuaram trabalhando normalmente e 9,2 milhões (11,1%) foram afastadas. Dentre os que continuaram ativos, 8,2 milhões estavam em home office (11% da população total ocupada e não afastada).

“Em termos de potencial de mercado de trabalho, estimávamos que fosse 16% da população em trabalho remoto. A média é de 11% no País. Concordo que existe um gap, mas não é tão grande assim comparado a outros países”, diz Geraldo Goés, especialista em políticas públicas e gestão governamental na Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea. “Entendemos que são características laborais de cada atividade. Algumas são mais propícias ao trabalho remoto, como profissionais da educação, gerentes, tomadores de decisão.”

O professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin vê os números do home office como expressivos. “Há um alto número de pessoas empregadas no setor agrícola, na indústria. A maior parte não está no setor administrativo, e sim no chão de fábrica. É claro que essa indústria tem parte no administrativo, mas a maior parte se concentra no setor produtivo.”

O perfil do trabalhador remoto é marcado por uma maioria feminina (56,1%), branca (65,6%) são brancos e brancas), com Ensino Superior completo (76,6%) e majoritariamente no setor privado (63,9%).

“A maioria dos trabalhadores do home office está no setor administrativo, que normalmente tem pessoas com um maior nível educacional”, diz Rochlin. ”Se você olhar a composição da população de nível superior, é muito desigual se comparada com a maioria da população brasileira (negra). A presença de pretos e pardos entre a população com Ensino Superior é menor do que quando fazemos um comparativo com a população no geral. Já que o trabalho remoto é feito majoritariamente na área administrativa (que exige maior nível educacional), a expectativa é de maior presença de brancos e brancas.”

A professora Carla Diéguez, socióloga do trabalho e coordenadora do curso de Sociologia e Política da FESP-SP, concorda.

“Isso demonstra que a educação é algo que tem classe. Ela é destinada para determinadas classes, principalmente o ensino superior, que vai recolocar em condições que vão te permitir acessos a alguns benefícios.”

“Entre esses benefícios e regalias, estão equipamentos”, completa Geraldo Góes. “Poucas pessoas tinham condições de exercer o trabalho remoto, porque não dependia só delas, mas também da própria empresa ter condições de colocar um computador na casa da pessoa.”

FLEXIBILIDADE

Foi o caso da startup de benefícios de saúde Pipo, que colocou todos os funcionários em home office e adotou a medida como definitiva.

“Tomamos essa decisão em maio de 2020, ela foi motivada por motivos diferentes. O primeiro é por ter acesso a talentos, para poder contratar pessoas de qualquer lugar além de São Paulo, e a segunda é para refletir nossos valores de autonomia. Ou seja, as pessoas terem autonomia para morar onde elas quisessem e ter flexibilidade”, conta Manoela Mitchell, CEO e cofundadora da Pipo Saúde. No setor privado, segundo a pesquisa, destacam-se no trabalho remoto serviços (14,5%), educação (10,3%) e comunicação (7,7%). Já no setor público, as áreas com maiores índices de trabalho remoto são administrações públicas (14,4%), empregados dos governos estaduais (13,9%) e empregados do governo federal (7,8%). Atividades que ficaram abaixo da média nacional são agricultura (0,6%), logística (1,8%) e alimentação (1,9%).

“De forma geral, a nossa economia não se situa em serviços de alta tecnologia e produtividade. Ainda somos sustentados pela commodity, pelo setor agrário e por serviços de baixo valor agregado”, diz Carla Diéguez.

Há também no estudo do Ipea um recorte por regiões. A maior concentração de pessoas em trabalho remoto está no Sudeste (58,2%), com 4,7 milhões de trabalhadores. A região é seguida pelo Nordeste, com16,3%, e pelo Sul, com 14.9%).

A participação de pessoas pretas ou pardas no trabalho remoto é menor em todas as unidades federativas. No Rio de Janeiro, por exemplo, 52,5% das pessoas ocupadas e não afastadas são negras, mas compõem só 34% dos trabalhadores em home office.

EU ACHO …

A QUEM INTERESSA MEU VOTO

Todo colunista já recebeu alguma mensagem de leitor avisando que, por causa de um determinado texto, cancelará a assinatura do jornal. É um clássico da mágoa que, involuntariamente, causamos em quem não concorda com o que escrevemos. O leitor está no seu direito, ainda que a ameaça raramente se concretize. No entanto, recebi o e-mail de um Claudio que foi até o fim e, já meio arrependido da medida extrema que tomou por motivo tão banal, despediu-se de mim fazendo um último pedido: por favor, não vote em um ladrão.

Fiquei comovida, juro. A política leva as pessoas a desatinos. Nunca vi esse leitor nem ele sabe nada sobre mim a não ser que sou contra este governo, e ele a favor, como já havia revelado em e-mails anteriores. O que responder a ele, com a atenção que merece?

Claudio, votarei em 2022 no candidato que tiver as melhores propostas para o país, não para mim mesma. Com cidadã, preciso do governo, mas não tanto como precisam outros. Sou privilegiada. Estudei, fiz faculdade, tive meu primeiro emprego aos 19, nunca sofri discriminação, vivo num bairro seguro de uma grande metrópole. O preço da gasolina afeta meu custo de vida, a criminalidade impede que eu caminhe sozinha à noite, mas, ainda assim, minha vida é infinitamente melhor do que a maioria dos brasileiros. Corri os mesmos riscos só durante a pandemia. Ali não havia privilegiados, estávamos todos à mercê de um vírus mortal que só viria a ser neutralizado através da vacina, do uso de máscara e do distanciamento social, procedimentos que este governo irresponsável negligenciou.

No mais, não preciso olhar para o próprio umbigo na hora de votar. Tenho obrigação, isso sim, de olhar para os lados, para quem é pobre e precisa comer, para quem está desempregado e precisa trabalhar, para quem nunca segurou um livro nas mãos. Ao votar, preciso escolher quem apoia a cultura, quem preserva o meio ambiente, quem transmite boa imagem do país no exterior, quem atrai investimentos, quem não incita a violência, quem não propaga fake news, quem desenvolve projetos de inclusão, quem respeita todas as religiões, incluindo os sem religião. E, claro, quem combate a corrupção.

Já tenho candidato para o primeiro turno de 2022 e, até onde sei, ele não é ladrão. Haverá de lazer alguma aliança que eu desaprove, ceder em questões que me desagradem, desapontará em alguns pontos: política nunca foi um jardim de infância. Mas ele jamais apoiará a ditadura ou exaltará a ignorância, que isso não é coisa de gente equilibrada e comprometida com o futuro. Agradeço sua preocupação e garanto a você: em qualquer configuração, meu voto não irá para um extremista. Porque extremista só haverá um no pleito, e sempre teremos opção mais democrática.

*** MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

AUTOCUIDADO NA PANDEMIA

A Covid-19 bagunçou a rotina e mexeu com a forma de se cuidar, se relacionar e consumir. Pesquisa com 1.874 brasileiros mostra como ela reverberou na alimentação, na atividade física e na busca por informações e serviços de saúde

Se tem uma palavra que deve ser cada vez mais incorporada ao nosso dia a dia a partir da pandemia, ela é autocuidado. Falamos de um conjunto de hábitos bem-vindos ao corpo e à mente e que inclusive é tratado como um direito ao cidadão pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O conceito abrange sete pilares: hábitos de higiene, prática de atividade física, alimentação balanceada, busca de informações confiáveis, restrição de comportamentos nocivos (como tabagismo e abuso de bebida alcoólica), conhecimento do próprio corpo e atenção a sinais estranhos e uso responsável de remédios e outros produtos. Todos eles foram afetados ou exercidos de alguma forma no mundo pós-Covid.

É nesse contexto que, com o apoio da Associação Brasileira de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), conduzimos a pesquisa ”Autocuidado em Tempos de Pandemia,” que investiga como os brasileiros lidam com cada um dos sete pilares e os efeitos da Covid-19 na percepção e na adoção desses hábitos. O estudo, realizado pela internet em junho de 2020, envolve 1.874 mulheres e homens de todas as regiões do país. Sete em cada dez entrevistados se mostraram dispostos a rever e alterar atitudes pensando em preservar a saúde.

Os efeitos mais positivos, na visão dos participantes, aparecem na procura por informações sobre prevenção e bem-estar e na adesão a medidas de higiene, como lavar as mãos, utilizar álcool em gel e caprichar na limpeza da casa – comportamentos que, de fato, ajudam a minimizar a transmissão do coronavírus. Mas há situações impactadas negativamente pela pandemia. Para quase metade dos entrevistados, o maior desafio está na prática de exercícios, limitada pelo fechamento temporário de parques e academias e pela reabertura gradual e cercada de receios. A alimentação também sentiu o baque em muitos lares, transformados da noite para o dia em um espaço misto de trabalho, lazer e convívio familiar.

Quando questionados sobre os pilares do autocuidado mais difíceis de levar para a rotina, disparam justamente esses dois hábitos tão ligados à prevenção de doenças crônicas: 46% das pessoas apontam para a alimentação saudável e 65% para a atividade física. O mapeamento também capta reflexos significativos da Covid-19 no sono e no estado emocional dos brasileiros. Em live transmitida pelas redes sociais para discutir os achados da pesquisa, o educador físico e expert em qualidade de vida Mareio Atalla resumiu suas orientações para o novo normal em um conselho: precisamos (r)estabelecer uma rotina.

ADOTAR HÁBITOS DE HIGIENE

Vestir a máscara ao sair de casa, lavar as mãos quando retornar e utilizar álcool em gel no meio do caminho são algumas das cenas mais emblemáticas da pandemia de Covid-19. E não é para menos: as medidas de proteção e higiene estão entre as maneiras comprovadamente eficazes de barrar o contágio pelo vírus Sars­CoV-2. Na pesquisa “Autocuidado em Tempos de Pandemia”, 93% dos entrevistados afirmaram alterar hábitos de limpeza pessoal. A maioria passou a lavar mais as mãos e adotou o álcool em gel e quase metade se vale de mais produtos para caprichar na faxina da casa. Já está claro que uma das principais formas de transmissão do coronavírus se dá por gotículas de saliva expelidas por alguém infectado ou pelo contato próximo com um portador do patógeno. Desse modo, usar a máscara, manter distanciamento, lavar as mãos com água e sabão (alguns especialistas sugerem por cerca de 20 segundos) e usar o álcool em gel na ausência de uma pia por perto fazem a diferença na prevenção da Covid-19. De bônus, os hábitos de higiene reduzem o risco de pegar ou passar outros vírus e bactérias perigosos. Eis uma das principais lições da pandemia.

PRATICAR EXERCÍCIOS FÍSICOS

Suar a camisa para muita gente nunca foi uma promessa fácil de cumprir. E na pandemia a dificuldade aguçou de vez. Pudera: só agora parques e academias estão sendo reabertos, com todos os cuidados que a situação exige. Quem estava para iniciar alguma atividade desistiu. Muitos até já tinham dado o pontapé inicial no projeto de sair do sedentarismo, mas o hábito ainda não tinha sido bem assimilado quando veio a necessidade de ficar em casa. Com tudo isso, dá para entender por que os exercícios foram considerados o pilar do autocuidado mais difícil de cumprir na rotina. Ocorre que, mesmo antes da Covid-19, mais da metade da população brasileira já era sedentária. Com o coronavírus circulando e a turbulência pelos lares, tudo se complicou. Faltam tempo e motivação para malhar, a despeito de tantas aulas na internet. “Mas é fundamental vencer a inércia, porque os exercícios contribuem diretamente para o bem-estar físico e mental,” ressalta Antônio Lancha Jr., professor da Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (USP). Para recomeçar, encontre um espaço na agenda, conte, se possível, com as orientações de um profissional e retome aos poucos, tomando as precauções.

MANTER UMA DIETA EQUILIBRADA

Embora mais da metade dos participantes do estudo acreditem que a pandemia não desgovernou sua alimentação, uma parcela significativa pena para manter o equilíbrio à mesa (e na sala, no quarto ou na varanda). Um terço relata estar consumindo mais doces e percebe descontrole com a comida. “Estamos vivendo um período de imprevisibilidade. Isso gera ansiedade e afeta o comportamento alimentar”, analisa Lancha Jr. “Daí muita gente fica mais permissiva e, ao consumir alimentos com açúcar ou gordura, a sensação de tensão emocional pode até não desaparecer, mas é mitigada”, completa. Experimentos mundo afora indicam que, na presença do estresse, tendemos a preferir itens mais gordurosos ou açucarados, como chocolate e batata frita, a iogurte, fruta ou salada. O professor da USP explica que tudo está ligado à bioquímica cerebral e a missão aqui é quebrar o círculo vicioso que transforma a comida em um antídoto contra a ansiedade. Para quem enfrenta essas angústias no dia a dia, convém estabelecer horários para comer, comprar e priorizar alimentos mais naturais, frescos e saudáveis e, se for ocaso, procurar suporte profissional.

EVITAR ATITUDES NOCIVAS

Algumas pessoas descarregam a tensão na comida, outras o fazem no cigarro ou mesmo no álcool. No levantamento, 11% dos brasileiros relataram ter um impacto negativo em relação a evitar ou controlar comportamentos prejudiciais à saúde, como fumar ou beber além da conta. O abuso de álcool movido pela quarentena foi registrado em vários países e chegou a fazer a OMS pedir que os governos restringissem a venda de cerveja, vodca, gim e companhia. O tabaco também se aproveitou da situação. Um trabalho capitaneado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que ouviu mais de 44 mil brasileiros, indica que 34% dos fumantes passaram a tragar mais cigarros no dia a dia com a pandemia – 22% ampliaram em dez o número de unidades consumidas. Especialistas reforçam que utilizar esses meios para desestressar não só gera mais dependência como expõe corpo e mente a efeitos rebote e desbalanços. Enquanto o excesso de bebida alcoólica pode debilitar a imunidade, o tabagismo desata inflamações e lesões nos pulmões e nos vasos sanguíneos. São cenários nada bem-vindos em tempos normais, que dirá com o coronavírus à solta.

FICAR ATENTO E CONHECER O PRÓPRIO CORPO

Decifrar os sinais que o organismo dá nos ajuda a prevenir problemas hoje e lá na frente. E, na pesquisa, seis em cada dez entrevistados se dizem mais atentos ao próprio corpo. A Covid-19 deixou claro, e à duras penas, que reconhecer os sintomas é o primeiro passo antes de tomar qualquer decisão diante de uma doença – inclusive ir ao hospital. Nesse sentido, o medo de sair de casa e se contaminar reduziu a procura por centros de saúde, algo compensado, em parte, pela adesão das pessoas à telemedicina e à orientação remota. Até porque nem sempre é preciso voar ao pronto-socorro e se expor ou tomar o lugar de alguém que requer realmente atendimento. “Quando seguimos os pilares do autocuidado de forma disciplinada e consistente, diminuímos a necessidade de utilização do sistema de saúde, evitamos consultas desnecessárias e contribuímos com a produtividade geral e a sustentabilidade do setor”, argumenta Cesar Bentim, fundador da startup Artegist Healthcare e consultor do estudo. É evidente que situações como falta de ar e dor no peito merecem uma corrida ao hospital – e não só pela Covid-19. Mas o ponto é que, fora dessas emergências, uma consulta médica à distância pode esclarecer quem, de fato, precisa se deslocar até lá.

USAR REMÉDIOS DE FORMA RESPONSÁVEL

O amadurecimento de uma postura mais ativa e ponderada em relação à saúde parece se refletir no uso de medicamentos isentos de prescrição, os MIPs. “Tomar remédio por conta próprio deve ser uma prática responsável pautado por orientação e educação, o fim de que o indivíduo conheça seu corpo e faça escolhas eficazes e seguras”, diz Marli Sileci, vice-presidente executiva do Abimip. Ela ressalta que esses produtos devem ser usados diante de males menores, já conhecidos ou diagnosticados, e após tirarmos as dúvidas na bula ou com o farmacêutico – se os sintomas persistirem, é hora de procurar o médico. Mas cabe diferenciar automedicação de autoprescrição, confusão detectada na pesquisa. “A automedicação responsável consiste na utilização dos MIPs, fármacos com baixa toxicidade, caso de analgésicos, antitérmicos e antiespasmódicos”, explica o toxicologista Sérgio Graff, diretor da Toxiclin, em São Paulo.

A autoprescrição envolve o uso de remédios que exigem receita e, infelizmente, às vezes são adquiridos mesmo sem o pedido médico (entram aqui anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, antibióticos…). “Essa é uma atitude que pode trazer uma série de riscos”, alerta Graff.

INFORMAR-SE E ATUALIZAR-SE SOBRE SAÚDE

A pesquisa “Autocuidado em Tempos de Pandemia” constata: os brasileiros passaram a se preocupar com a fonte da informação e a disseminação das notícias falsas. Quase nove em cada dez afirmam que serão mais criteriosos com os conteúdos de saúde e 75% já se conscientizaram sobre o perigo das fake news. Apesar de a maioria se informar pela TV, são considerados mais confiáveis os sites especializados em saúde e as opiniões dos profissionais da área. “Mas continua sendo problemática a busca por remédios milagrosos ou aqueles indicados por um vizinho ou mencionados na internet”, pondera Graff. “Com a Covid-19, não é raro pessoas sem nenhum sintoma e sem orientação se medicarem baseadas em relatos de redes sociais”, lamenta. Segundo o médico, isso reforça a necessidade de investir em campanhas sem viés ou ideologia que eduquem a população de forma consistente. Embora não existam saídas fáceis para o ecossistema das fake news, os especialistas acreditam que só mobilizando todos os setores da sociedade conseguiremos sobrepujar as pseudonotícias com conteúdos sérios e baseados em ciência. E é através deles que podemos transformar o autocuidado numa nova rotina.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HORA DE CONVERSAR SOBRE AQUELE ASSUNTO – II

QUAL O CAMINHO PARA O PAPO FAMÍLIA DAR CERTO?

É comum ouvir histórias de famílias que tentaram, sem sucesso, ter Aquela Conversa. Vergonha, receio e até falta de conhecimento podem dificultar essa importante troca entre pais e filhos. Por isso, convidamos quatro famílias que já conseguiram ultrapassar essas barreiras para compartilhar a experiência delas e inspirar que você faça o mesmo em casa. As conversas ­ realizadas em vídeos com a presença de um especialista no tema – estão disponíveis no YouTube.

A história da assistente social Talita Gonçalves, de 47 anos, e da filha Sofia, de 16, poderia virar exemplo de sucesso em um episódio de série britânica Sex Education. Ao contrário da história da Netflix – em que o papo não flui bem apesar de Jean, a mãe de Otis, ser sexóloga -, na casa dela a conversa funciona.

Sofia sempre se beneficiou da relação de confiança com os pais para complementar o que aprendia nas aulas de biologia do ensino médio. “A gente acabava falando sobre isso em casa mesmo”, conta. “Na escola, só havia educação sexual em disciplinas específicas.”

Mãe de três filhos, Talita viu a filha chegar à pré-adolescência sem sobressaltos: sexualidade já era um tema natural, discutido desde a primeira infância. Mesmo assim, sabia que seria um desafio iniciar conversas até então inéditas na família, com uma linguagem adequada para a nova fase da filha. “Mas se não há essa evolução em casa, eles buscam a evolução do assunto na rua. Eu penso que é onde mora o perigo”, diz Talita.

O psicanalista Bruno Branquinho diz que fazer essa adequação é o caminho. “A cada idade você vai ter de passar um dado à criança para que ela possa entender e trabalhar a informação”.’

Se a criança e o adolescente forem reprimidos quando sentirem dúvidas, alerta o psicanalista, eles podem buscar outras fontes e acabar, aí sim, acessando conteúdos inadequados para a idade.

EXPERIÊNCIAS DISTINTAS

A artesã Indira Frauches replicou com o filho, Daniel, de 18 anos, o modelo de diálogo que tinha com a família quando ela era adolescente. ”Meu pai dizia que eu tinha de ouvir em casa para não ruborizar quando ouvisse na rua”, lembra. Isso garantiu que Daniel se sentisse à vontade para tirar com a mãe dúvidas sobre sexualidade.

Uma experiência bem diferente da que viveram Thais Cespe, de 16 anos, e o pai dela, Fernando. Ela conta que mesmo o momento da primeira menstruação foi complicado, com pouca orientação. “‘Os pais não sabem lidar bem com esses assuntos e acabam não falando'”, acredita a adolescente.

Mesmo quando não existe um tabu, diz a ginecologista e sexóloga Carolina Ambroginia, às vezes a comunicação entre pais e filhos é feita de forma confusa, tornando o tema mais embaraçoso.

Para ela, o mais adequado é introduzir a conversa de forma gradual. “Quando a puberdade chega, o ideal é que o adolescente já saiba o que acontece com o seu corpo, porque é uma fase muito difícil”, diz Carolina.

O pai de Thais, Fernando, reconhece que o diálogo sobre Aquele Assunto com a filha foi tardio. “É uma coisa recente na minha vida e essa ausência criou bloqueio”, diz. Hoje, morando em cidades diferentes, pai e filha tentam construir um espaço de aprendizado.

“SEM VERGONHA”

 Totalmente à vontade nas redes sociais, o influenciador digital carioca Rapha Vicente, de 21 anos, até os 15 tinha dificuldade para falar com a família sobre sexo e sexualidade. Agora, no entanto, o tema é discutido “sem vergonha” na casa dele com a madrinha Luciene Elias, de 65, e a avó Antônia da Silva, de 67. “Seja o que for, tem de ser conversado com a família”, ensina a madrinha.

A educadora Beatriz Melo, que preside a Liga de Educação Sexual da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, lembra que uma boa conversa pode até evitar que ocorra uma iniciação sexual por mera curiosidade. “Há estudos que apontam que quanto mais cedo você começa a falar sobre esse assunto, mais tarde os jovens iniciam a vida sexual porque a curiosidade foi sanada por uma conversa”, diz Beatriz.

PERGUNTAS & RESPOSTAS

TIRE SUAS DÚVIDAS

1. O QUE FAZER PARA QUE, NO PÓS-PANDEMIA, OS ADOLESCENTES SE DESENVOLVAM SEXUAL E AFETIVAMENTE DE FORMA SEGURA?

Para Laura Lindberg, demógrafa social e pesquisadora chefe do Guttmacher Institute, nos EUA, é preciso priorizar o acesso a informações de contracepção e reconhecer e apoiar a necessidade dos jovens por intimidade, encontrando formas saudáveis para que eles se relacionem. “Precisamos ajudá-los a equilibrar as coisas”, diz.

2. HÁ COMO FACILITAR A PRIMEIRA CONVERSA SOBRE AQUELE ASSUNTO COM MEU FILHO? Uma estratégia simples pode ser começar o papo a partir de temáticas e de discussões que aparecem em livros, filmes ou séries. Principalmente quando os conteúdos tem linguagem descontraída e fazem parte do universo adolescente. Sex Education, da Netflix, é uma boa referência.

3. MEU FILHO DESCONVERSA QUANDO TENTO PERGUNTAR ALGO. DEVO INSISTIR?

Nem sempre o adolescente estará disposto a falar. Inclusive, porque ele pode ainda estar processando uma informação ou um sentimento. Se você iniciar o papo e sentir que esse é o caso, diga apenas que estará à disposição quando ele precisar conversar.

4. COMO CRIAR UM AMBIENTE ACOLHEDOR PARA O DIÁLOGO?

Seu filho precisa compreender que tem liberdade para falar e que vai ser acolhido – e não julgado. Deixe claro que a conversa não vai ser exposta para outras pessoas.

5. COMO PAIS E EDUCADORES PODEM FALAR SOBRE MENSTRUAÇÃO?

 A normalização do ciclo menstrual deve fazer parte das conversas familiares. “É um sinal vital”, diz Chris Sobel, professora de estudos de Gênero e Sexualidade da Mulher na Universidade de Massachusetts Boston. Professores podem abordar o tema em várias aulas, da Química à Politica, segundo ela.

6. COMO SABER O QUE MEU FILHO TEM DE EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA?

Leia o projeto político-pedagógico para conhecer a identidade da instituição, bem como os métodos das aulas e os objetivos em relação ao tema. Nas reuniões, pergunte quais atividades estão planejadas. Vale também conversar com outros pais sobre a importância do assunto.

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