A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

‘MATCH’ INTELECTUAL

Conheça os demissexuais, pessoas que só conseguem levar um flerte adiante quando há identificações mais profundas, muito além da atração sexual ou física

Foi chegar à puberdade, e o escritor e fotógrafo Eliéser Baco começou a se perceber diferente dos colegas. Ele não era tímido, tampouco desprovido de desejos ou vontade de se relacionar. “Mas os meus sentimentos eram diferentes em relação ao que os meus amigos nutriam”, recorda-se, dizendo que, antes de sair com uma garota, precisava realmente gostar dela. A falta de diálogo sobre o assunto com os pais, assim como a escassez de informações acerca do seu comportamento, a princípio conflitante com a figura do “garanhão” exaltada pela sua turma, tomava tudo mais difícil. Mas hoje, aos 43 anos, ele não só reconhece que estava tudo bem, como sabe que existem semelhantes. Eliéser se identifica como demissexual, termo que tem ganhado força nas redes para designar pessoas que, a grosso modo, só conseguem estabelecer algum tipo de relacionamento afetivo, caso haja, de fato, um “match” intelectual ou uma identificação mais profunda

Parece simples, mas, ao elencar as diferenças entre ele e seus amigos daquela época, Eliéser lembra que comportamentos considerados “padrão” durante a adolescência nunca fizeram a sua cabeça, como ficar com várias meninas na mesma noite ou aguardar ansiosamente pela chegada do carnaval para distribuir beijos descomprometidos. E não foi por falta de tentativas. “Queria fazer essas coisas, e simplesmente não conseguia”, desabafa o escritor, que logo passou a ser tachado como “estranho” pelos amigos. “Preciso conhecer a pessoa primeiro, conversar e, se surge alguma coisa em comum, só então sinto o desejo sexual.”

O escritor chegou à plena consciência e aceitação de sua natureza com ajuda de terapia e, mais recentemente, de grupos nas redes sociais, pelos quais troca informações com outros demissexuais. “Fico contente em ver as novas gerações com mais espaço para conversar sobre isso. Era angustiante viver sem saber o que se passava comigo”, diz ele, lembrando que os demissexuais nem sempre são compreendidos. “Uma vez, comecei a conversar com uma menina num bar e, percebendo que ela já queria me beijar, perguntei se a gente podia dialogar um pouco mais. Ela tomou isso como se eu não a tivesse achado atraente. Tentei me explicar, mas a moça foi embora bem nervosa.”

A angústia de pessoas como Eliéser em alguma fase da vida faz todo o sentido, segundo o psicólogo e pesquisador da comunicação humana Cláudio Paixão, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “A sociedade estabelece certos padrões de comportamento construídos porque uma maioria funciona de uma determinada forma. E como a maior parte das pessoas não reflete sobre isso, há quem não perceba outras possibilidades implícitas na sua própria maneira de funcionar”, afirma. A demissexualidade, ele acrescenta, também não deve ser reduzida a romantismo. “O amor romântico passa pela idealização do outro, o que pode acontecer com essas pessoas, mas num segundo momento. A princípio, me parece que buscam justamente algo concreto com o que se identifiquem.”

Integrante de um fórum sobre o tema no Facebook, a projetista Anna Cristina, de 46 anos, faz questão de ajudar quem aparece por lá, às voltas com dúvidas ou paranoia. Segundo ela, a demissexualidade vai muito além do sexo e do beijo na boca, e um exemplo disso é como a própria Anna sequer teve ídolos durante a juventude. A postura era diferente em relação a suas amigas, que se encantavam com os astros do Rock in Rio e os atores da TV. E olha que ela os viu bem de perto. “Fazia figuração em novelas, como ‘Mulheres de areia’, e as meninas ficavam loucas. Mas jamais bati o olho num cara e pensei que fosse o homem da minha vida. Para gostar de alguém, preciso ter uma conexão emocional ou intelectual”, descreve.

Casada há um ano e meio, ela começou a conversar com o parceiro por causa do interesse de ambos por objetos dos anos 1980. Puxado o fio desse novelo, Anna descobriu outras afinidades que possibilitaram o relacionamento. Sempre foi assim. “Eu ia às discotecas, tomava a minha Coca-Cola e voltava sem ficar com ninguém. Acho que tive algum tipo de relação com todos os caras que beijei.”

Nada disso, porém, tem a ver com moralismo, como frisam Estefane Carvalho e Lírio Valente, moderadoras da página “Demissexual não é ser exigente”, que tem 147 mil seguidores no Facebook. Elas contam que muitas pessoas fazem o primeiro contato pensando se tratar de um comportamento, digamos, mais recatado, seja por uma interferência religiosa ou pelos princípios “da moral e dos bons costumes”. “Tem gente que chega com aquele lance machista, de que mulher não pode fazer sexo no primeiro encontro. Mas aí é que está: não é sobre o tempo ou regras. Às vezes uma noite é suficiente para você sentir uma conexão com a pessoa, do mesmo jeito que pode levar semanas para isso”, explica Estafane, de 23 anos.

Desfeita a confusão, Lírio, de 26, acrescenta que dar nomes às coisas é libertador. Daí o sucesso do termo. “Com esse vocabulário, encontra-se uma zona de pertencimento. Vemos que pessoas que se sentiam perdidas se encontram e respiram melhor com a página”, afirma

Autora do livro “Gênero e sexualidade: interfaces educativas”, a psicóloga Eliane Maio afirma que o conceito “demissexual” começou a ganhar visibilidade no Brasil por volta de 2008, ao ser apresentado por sites que discutiam o terna e logo entrou no radar de pesquisadores. “Já há estudos científicos sobre o termo, porém é nas redes sociais que ganha mais visibilidade”, observa, refutando avaliações levianas sobre quem se identifica com essa classificação. “É muito mais do que um modismo. Gostar de gente, sentir-se gente, escolher gente, não pode ser modismo. São desejos, escolhas. Acho muito interessante a resposta, ou desabafo, dessas mulheres e homens. Afinal, sentir a representatividade traz conforto, aproxima e une as pessoas na compreensão do que são e do que sentem.” Nada mais democrático.

Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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