POESIA CANTADA

A LISTA

OSWALDO MONTENEGRO

A LISTA

COMPOSIÇÃO: OSWALDO MONTENEGRO.

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

OUTROS OLHARES

FASHION OU CRINGE?

Carrie Bradshaw, Charlotte York e Miranda Hobbes, as protagonistas de Sex and the City, voltam a ditar moda, só que agora aos 50 anos

“Não consegui evitar me perguntar. Onde elas estão agora?” Com essa questão e um vídeo de uma agitada Nova York publicados em janeiro em suas redes sociais, a atriz Sarah Jessica Parker acendeu a curiosidade sobre um possível revival da icônica série Sex and the City, lançada em 1998. Logo depois, a plataforma HBO Max anunciou And Just Like that…, série dividida em dez episódios, de trinta minutos cada um, que trará Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) e Charlotte York (Kristin Davis) aos 50 anos, em vidas e responsabilidades diferentes, mas ainda assim – a ver pelas fotos divulgadas – loucas por moda. Em um mundo muito diferente do fim da década de 90, quando a série foi exibida, vivendo uma pandemia e tomado pelo universo digital, a pergunta que se faz agora é se Carrie, Miranda e Charlotte serão novamente fashions ou se, dezessete anos depois, se tornarão mais um meme cringe (algo como “cafona” na linguagem da geração Z, nascidos entre o fim dos anos 1990 e o ano 2010.)

A dúvida é pertinente. Ela evoca a tênue linha divisória em moda que separa o autêntico do caricato. E o verdadeiro, hoje, certamente é muito distinto do que há duas décadas, quando tudo o que o trio exibia na TV, especialmente Carrie, virava sonho de consumo. “É maravilhoso que elas sejam fiéis ao estilo pessoal e mantenham, aos 50, a exuberância”, afirma o estilista Dudu Bertholini. “Mas é preciso fazer uma atualização, sem o incentivo ao consumismo que pautava aqueles tempos.” De fato, não há nada mais fora de moda. Conceitos como o de compras sustentáveis e econômicas no tamanho da sacola estão aí. O contrário, ou seja, sair de um centro de compras carregada de sacolas lotadas com peças escolhidas por impulso, virou cafona. “Houve a desconstrução da ideia de comprar algo desnecessário ou indesejado só para ser quem você não é”, diz Bertholini.

Há outra mudança importante separando Sex and the City de And Just Like that…: as redes sociais. Elas mudaram tudo o que se entendia como referência em moda e a forma de consumi-la. Sua ascensão faz com que modismos surjam tão rapidamente quanto desaparecem. Além disso, vale muito quem está por trás do figurino. “O público das redes é muito ligado em comportamentos”, reflete Costanza Pascolato, uma das maiores autoridades no assunto. “As pessoas se moldam pelas personalidades que seguem.”

O revival deve, sim, propor reflexões em termos de moda depois de tantas transformações. Em entrevista à revista Vanity Fair, Sarah Jessica Parker disse que ela própria tinha muitas perguntas sobre sua personagem, inclusive o que a moda significava para Carrie agora. Sem contar a introdução nos episódios do onipresente tema da pandemia de Covid-19, que também provocou intensas alterações nos costumes. No que diz respeito à aparência e ao vestuário feminino, os meses em que passamos confinados ampliaram a liberdade de assumir cabelos brancos, de abdicar do salto alto e de tirar do closet tudo o que signifique desconforto. Sarah, que até anos depois do final de Sex and the City teve sua imagem colada à da colunista nova-iorquina a qual deu vida, é exemplo acabado da mulher urbana, casada, com filhos, que na entrada dos 50 anos e vivendo uma pandemia jogou para o alto algumas convenções. Recentemente, apareceu com os fios grisalhos em um jantar no Anton’s, restaurante em West Village, em Nova York.

A nova série talvez não traga mais os exageros de consumo de Carrie – em um dos episódios antigos, ela percebe que gastou 40.000 dólares em sapatos, mas não tem onde morar -, até pelos novos desafios das protagonistas. Elas têm outras aspirações profissionais, filhos adolescentes, casamentos que se transformaram em divórcios e a pressão de envelhecer com rosto e corpo perfeitos. Mas é fato, porém, que roupas, bolsas e sapatos continuarão sendo destaque. É só acompanhar as suntuosas e chamativas produções divulgadas. E a cada look, um alvoroço. O vestido pink Carolina Herrera, cinto Streets Ahead USA, clutch vintage Judith Leiber e, claro, o eterno scarpin Manolo Blahnik, por exemplo, já deram o que falar. E o que vender também: todos os itens estão esgotados.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 26 DE AGOSTO

NÃO ACEITE SUBORNO

O perverso aceita suborno secretamente, para perverter as veredas da justiça (Provérbios 17.23).

A sociedade brasileira vive a cultura do suborno. Com frequência perturbadora, vemos políticos inescrupulosos em conchavos vergonhosos com empresas cheias de ganância e vazias de ética. Esses ladrões de colarinho branco recebem somas vultosas, a título de suborno, para favorecer empresários desonestos, dando-lhes informações e oportunidades privilegiadas, a fim de se apropriarem indebitamente dos suados recursos públicos que deveriam promover o progresso da nação e o bem do povo. Aqueles que aceitam suborno, e muitas vezes se escondem atrás de togas sagradas  e títulos honoríficos, não passam de  indivíduos perversos e maus, gente de  quem deveríamos ter vergonha, pois fazem da vida uma corrida desenfreada para perverter as veredas da justiça. Não poderemos construir uma grande nação sem integridade. Não poderemos erguer as colunas de uma pátria honrada sem trabalho honesto. Precisamos dar um basta nessa política hedonista do “levar vantagem em tudo”. Se quisermos ver nossa nação seguir pelos trilhos do progresso, precisaremos andar na verdade, promover a justiça e praticar aquilo que é bom. Isso é o que Deus requer de nós.

GESTÃO E CARREIRA

COMO EQUILBRAR CARREIRA E VIDA PESSOAL

Ambiente atual é desafiador: equilíbrio entre carreira e vida pessoal

O ambiente atual é realmente muito desafiador, e foi agravado durante a pandemia. Convivemos cada vez mais, com doenças associadas ao estresse, sobrecarga física e emocional, e que não são necessariamente novas, como a depressão, a dependência química, a síndrome do pânico, ansiedade e muitas dessas doenças são atribuídas parcialmente a problemas de desequilíbrio que impactam negativamente a qualidade de vida.

As demandas da sociedade tanto na vida pessoal e social quanto na profissional, vem evoluindo e para muitas pessoas gerando mais pressão, cobranças, expectativas, frustrações, exposições e comparações. Estamos em um ambiente de redes sociais, smartphones, internet, “haters”, “stories”, apps, que como soluções derivadas da tecnologia podem servir para o bem; mas quando não utilizadas adequadamente, podem agravar muito o problema de desequilíbrio, tanto no lado pessoal quanto no profissional.

Gostaria de propor um pouco de reflexão, para gerarmos autoconhecimento e ajudarmos com ferramentas, técnicas e dicas no desenvolvimento de um planejamento, de objetivos e metas e de uma rotina que permita um equilíbrio entre estes dois aspectos da vida humana moderna/atual. Reconheço que existem muitas possibilidades e caminhos para a busca do equilíbrio mencionado, e não pretendo apresentar algo que seja melhor ou pior do que outras abordagens, que existem sobre o tema.

Buscarei entregar um conteúdo de valor, distribuído em alguns artigos, que possam trazer alguma contribuição para a busca por um equilíbrio e por uma vida mais saudável. A ideia inicial que proponho é a de promover a discussão de ideias, conceitos e perspectivas sobre o desafio de equilibrar a vida pessoal e a carreira profissional.

Podemos ter uma sequência que aborde com um pouco mais de profundidade, que cada pessoa é diferente das outras e, portanto, um elemento básico para se construir uma rotina de atividades equilibrada, passa por autoconhecimento.

Precisamos de motivação, sonhos e principalmente de objetivos e metas que nos permitam olhar para frente, e ter uma razão para empenhar esforços e energia em busca de algo. Isso será o tema de uma terceira parte desta série de artigos.

Na conclusão, podemos discutir a definição e a vivência de uma rotina que viabilize a priorização do que é mais importante para a pessoa, com alguma produtividade nas suas ações e este equilíbrio tão desejado por profissionais.

Seguem alguns pontos de vista sobre o tema, para sua reflexão.

PERSPECTIVAS VIDA PESSOAL X CARREIRA PROFISSIONAL:

•   Quero iniciar perguntando: por que você está aqui?

•   Acredita que há um conflito entre vida pessoal e profissional?

•   Entende que são duas vidas separadas que precisam estar em equilíbrio? Por quê?

•   Sente que atualmente a sua rotina diária está desequilibrada e isto está causando prejuízos?

•   Ou está em busca de mais produtividade?

•   Não? É felicidade, sucesso e qualidade de vida? É possível isto?

São muitas as perguntas que podem levar as pessoas a buscar conteúdo que ajude a equilibrar, o que em um primeiro momento, parece ser um desafio ou problema, ou seja, conciliar uma vida pessoal com uma carreira profissional cheia de realizações e sucesso. Recomendo uma visão integrada, que deve considerar a vida como uma só, com suas muitas dimensões, especialmente no lado pessoal, a exemplo da familiar, da individual, da social, da religiosa e da saúde / bem-estar.

Não devemos desassociar a vida pessoal da vida profissional. Acredito que a vida é uma só e que tanto a perspectiva pessoal quanto a profissional estão integradas, mesmo que em desequilíbrio.

Não vejo como possível, uma pessoa isolar totalmente a sua vida profissional das questões pessoais e o contrário, mesmo que alguns cheguem a quase abrir mão de viver uma destas, por exemplo, não tendo carreira profissional “formal” ou então se dedicando absurdamente apenas a questões profissionais e deixando de lado aspectos individuais, sociais, familiares, etc.

Assim podemos dizer que cada pessoa tem uma vida só, que não volta atrás no tempo, que é finita e dinâmica, composta de vários momentos, fases, etapas, e de várias dimensões. Não há fórmula que se aplique a todas as pessoas, para obtenção de felicidade, sucesso, e equilíbrio, basicamente porque as pessoas são diferentes, possuem cultura, educação, personalidade, etc. que fazem com que sejam únicas.

É importante que cada pessoa conheça a si mesma, conheça opções e alternativas para abordar a sua vida e escolha / decida como deseja conquistar seus sonhos e objetivos, que podem representar a felicidade, o equilíbrio, o sucesso e até mesmo a tão falada, qualidade de vida, mas isso será diferente para cada um e não se poderá isolar as dimensões de uma vida única.

O principal ativo do ser humano, sobre o qual buscamos equilíbrio é o nosso tempo, portanto a gestão do tempo que alocamos para as ações e para as dimensões da vida, tanto do ponto de vista de quantidade, mas principalmente de qualidade, é o fator chave para se alcançar os objetivos, bem como o equilíbrio desejado.

O principal conceito que temos de assumir é: o controle e a função de protagonistas sobre nossas decisões e ações. O autoconhecimento nos ajuda a entender quem somos, nossos valores, motivações e necessidades e até o nosso propósito de vida.

Devemos evitar o papel de vítimas ou terceirizar a responsabilidade sobre nossa situação, para outras pessoas ou entidades. Ter uma atitude de controle sobre a própria vida, a própria agenda e um pensamento sistêmico que entende as relações de causas e consequências na nossa vida, ajuda na construção de uma jornada, que é tão importante quanto o destino final. Cada indivíduo é diferente dos demais, por- tanto sua definição de sucesso e felicidade, seus objetivos e o seu equilíbrio entre o pessoal e o profissional, será único.

Esse deve ser construído com o tempo, entendendo-se que não será perene / estático, ou seja, é na média que se obtém o equilíbrio, reconhecendo que são necessários esforços, sacrifícios e “trocas” em determinados momentos, levando a alguns desequilíbrios em um período / temporários; que uma vez conscientes, podem ser compensados e assim o equilíbrio se atinge em um escopo / período maior, mas sempre individual.

Após compartilhar essas ideias centrais neste primeiro artigo da série, devo ir mais fundo nos temas mencionados nos seguintes, propondo discussões, mas sem fórmulas mágicas ou radicais. A ideia é apoiar o indivíduo na sua busca por equilíbrio, com alguma estrutura e objetividade.

ELBER MAZARO – É advisor na Wintepe, consultor, palestrante e professor de MBA

www.wintepe.com.br.  

EU ACHO …

APRIMORAR-SE

“Aprimorada pelo tempo”. Gostei dessa definição que li no livro “A ciranda das mulheres sábias”, de Clarisse Estés. Envelhecer não é nenhum escândalo, mas aprimorar-se é um verbo mais simpático. No próximo fim de semana, completo 60 anos de aprimoração, celebremos.

Cheguei aqui produtiva e com saúde, num mundo que começa a deixar de estigmatizar os cabelos brancos (penso até em suspender o tonalizante que passo de 20 em 20 dias) e em que Sarah Jessica Parker volta a gravar “Sex and the city” com rugas cultivadas desde o último episódio da série, em 2004: cada mulher é livre para fazer o que quiser do seu rosto, inclusive mantê-lo como é.

Nossa aparência muda, isso todos enxergam. A transformação interna é que é invisível e merece ser narrada e compartilhada, pois é o lado melhor dessa história: assumir nossa autonomia, sem mais idealizações ou autocobranças.

Eu sei, 100% livre, não há ninguém. De minha parte, nunca estive tão atrelada às necessidades de meus pais idosos e às de minhas filhas, mesmo adultas. Laços nos prendem e tudo certo, são os imprescindíveis vínculos afetivos. A liberdade que celebro está relacionada ao que desamarrei dentro de mim. Preconceitos, paranoias, desperdícios. É uma obrigação moral se livrar das obstruções que impedem o avanço da mente. Em termos físicos, a idade traz limitações que não controlamos, mas somos mais do que um corpo, e da nossa cabeça cuidamos nós – desatando os nós, para começar.

Já não espero por grandes acontecimentos, o que tinha para acontecer, já aconteceu. Agora é usar o que aprendi e o que sei a meu respeito para tratar a vida com a elegância que ela e eu merecemos. Envolvimento profundo com o que importa; de resto, sorrisos leves e silêncios prudentes, o sábio “deixar pra lá”.

Confiar na minha força interior e não interromper a busca pelo bem-estar, que nunca está na mentira, na vulgaridade, na grosseria (infelizmente, para muitas pessoas é mais fácil ser cruel do que ser gentil). Dançar sempre, até a alma escapar pelos poros. Azeitar paixão e razão, fazer as duas conviverem sem tanto conflito. Mandar o ego calar a boca, que ele já apitou demais. Não encaixotar a vida, ela sempre pode alargar-se, expandir-se, transbordar.

Sabedoria e doçura, juntas, desenredam aquilo que aperta o peito e dificulta a respiração. Estou diante de um portal que costuma assustar, mas passarei por ele feito uma bailarina, leve e delicadamente. Não me irrito mais (só não perco o senso crítico, # forabolsonaro). Ainda sou útil para alguns e me divirto comigo mesma. Desembaraçar-se, uma tarefa que se aprimora com o tempo, é verdade. Então que o tempo passe.

*** MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HIERARQUIA AFASTOU PAIS E FILHOS

A partir das transformações sexuais, o pai assumiu um papel não só de provedor, como foi reconhecido ao longo do tempo, mas também de responsável pelo cuidado das crianças, em conjunto com a mãe, que também se tornou provedora

O conceito de paternidade surge na história da humanidade a partir do estabelecimento do patriarcado, que nos últimos milênios é a trama de fundo do padrão da cultura ocidental, marcado não só pela opressão do feminino, rigidez, competitividade e distanciamento nas relações interpessoais, como também no distanciamento entre o pai e os filhos por uma hierarquia de autoridade. Essa é a avaliação do psicólogo e professor Durval Luiz de Faria, especialista em perspectivas simbólicas sobre o masculino, feminino e relações de gênero, com ênfase ao papel de pai na configuração psíquica.

Do ponto de vista psicológico, esse lugar estabelecido para a paternidade, como chefe e dono da família, leva o homem para a função de provedor, longe do ambiente doméstico, do feminino e do contato com os filhos. Contudo, desde as revoluções sexuais do início do século XX, esse cenário vem se alterando. Além de provedor, o pai ganha espaço como nutridor, responsável pelo trato e cuidado das crianças em parceria com a mãe, agora também provedora.

Entretanto, essa nova nuance pós patriarcal do homem que é pai afetivo desperta o medo da perda da virilidade com a dispensa da rigidez autoritária patriarcal, questão que muitas vezes mobiliza diversos homens em relação ao que significa, no fundo, ser pai. Assim, homens modernos que se tornam pai, mas que não tiveram como modelo de paternidade o afeto presente do próprio pai, podem apresentar conflitos entre o desejo de ser um pai presente e integral, em oposição à rivalidade com a criança que o remete à própria infância. Por isso, a experiência da paternidade pode ativar, no homem contemporâneo, complexos e obstáculos vividos na relação com seu próprio pai e mãe, ao mesmo tempo que surgem oportunidades de reelaboração e desenvolvimento pessoal com tal dilema.

Do pai herói ao idoso pai amigo, passando pelo superado pai na rebeldia do filho adolescente, ser pai passa por sentimentos de impotência, angústia, temor, ciúme, dúvidas, ansiedade e insegurança, que são difíceis de conciliar com a imagem da sociedade machista de masculinidade. É preciso a reinvenção da masculinidade para dar suporte a essa paternidade mais ampla. De acordo com Faria, os caminhos do compromisso e do enfrentamento da responsabilidade pelos filhos são a possibilidade de transformação da consciência masculina.

Para o grupo de pesquisadores sob coordenação da dra. Waglânia Freitas (2009), em trabalho de campo sobre a responsabilidade social do homem no papel da paternidade, os homens ainda compreendem a paternidade como um encargo social de provisão familiar, e menos como espaço de envolvimento afetivo, mas essa dimensão afetiva apresenta-se como eixo central da sua preocupação de ser pai: embora não saibam como realizar essa paternidade, se preocupam com ela. Para os autores, “o significado e o exercício concreto da paternidade situaram-se num campo de responsabilidades que predominantemente reproduzem o pai tradicional, mas também recriam o papel de pai, com inclusão da dimensão afetiva” (Freitas et ai., 2009, p. 85).

Em estudo anterior, Freitas, Coelho e Silva (2007) afirmam que “a posição social dos sujeitos do estudo frente ao momento em que se sentiram pais revela que o modelo em que homens assumem-se como pais, pela função de provedor, convive com o modelo do homem que busca ser um “novo pai”, cujo vínculo afetivo com o(a) filho(a) se inicia na gestação, representando ruptura com a paternidade tradicional” (Freitas; Coelho; Silva, 2007, p. 135).

Para Thurler (2006), a paternidade precisa ser analisada em dois eixos específicos: o exercício do reconhecimento geracional, formal-legal e afetivo-social, que incidem em demandas políticas; e o não reconhecimento paterno das crianças como a persistência de antigas práticas patriarcais, nas quais a escolha do homem foi naturalizada. Para a autora, a paternidade no Brasil tem uma tendência específica, a superação das relações sociais patriarcais, a fim de efetivar o direito à igualdade e à filiação de todas as crianças, bem como para o desenvolvimento da solidariedade e da responsabilidade em relação à criação dos filhos. Nesse sentido, a paternidade tem importância cívica e legal, de cidadania.

Conhecer e conviver com o pai é fundamental para a construção da identidade da pessoa, como figura de amor, proteção e referência. Sua ausência tem reflexos na vida do sujeito adulto, comportamental e emocional­ mente: baixa autoestima, fragilidade e insegurança, violência.

AUSÊNCIA

A presença dos pais está associada ao desenvolvimento do equilíbrio na vida dos filhos, e a uma adequada formação das suas personalidades. A presença de pai ou mãe é igualmente importante. Contudo, é mais comum observarmos a ausência paterna nos casos de separação do casal. Mas a separação não significa, em si, a sua ausência. E até mesmo a morte do pai não significa a ausência paterna. É claro que há pais que se negam à paternidade, recusando o laço afetivo com os filhos. Mas isso pode ocorrer com o pai que reside no mesmo local do filho. Pai ausente é aquele que pouco ou nada contribui à educação dos filhos, morando na mesma casa que eles ou em outro continente. Ou seja, não participa dos momentos importantes, não os compreende nem os orienta.

Um homem que, embora progenitor, não esteja disposto à experiência do papel de pai, convivendo e acompanhando o crescimento e desenvolvimento da criança, é melhor que esteja ausente. A presença física acompanhada de indiferença, irritação e obrigatoriedade provoca sentimento de rejeição, com reflexos emocionais em toda a vida da criança. Contudo, muitas vezes o problema não é a ausência em si do pai, mas a forma como a mãe lida com o ex-companheiro que impacta diretamente na formação emocional da criança, que pode desenvolver uma imagem de que pai é aquele que fez a mãe sofrer, gerando problemas com a figura masculina, autoimagem ou dificuldade de se relacionar afetivamente no futuro.

A ausência física e afetiva do pai pode ser facilmente superada pela criança se for bem administrada pela mãe, conforme ela lida com essa realidade. A pesquisadora australiana Melissa Wake, em sua pesquisa com cerca de 5 mil crianças entre 4 e 5 anos, descobriu que há relação direta entre a incidência de sobrepeso e obesidade dessas crianças com a negligência dos progenitores masculinos. A pesquisadora acredita que a figura paterna, associada à imagem de limites, possa aqui fazer falta.

A ausência real do progenitor não é motivo para desespero sobre o futuro do filho. Toda criança é capaz de fazer a internalização do pai por meio simbólico, filiando-se a outras figuras masculinas que estejam disponíveis ao seu redor, como tios, avôs, professores e até mesmo celebridades midiáticas. Nesse sentido, nos casos radicais de ausência paterna, como morte ou negação do progenitor em conviver com a criança, é fundamental que os adultos que a rodeiam ofereçam espaço para a compreensão e elaboração da situação real, com diálogo, apoio e oferta de segurança e proteção.

PAIS SEPARADOS

Em casos de pai separados, os progenitores precisam ser minimamente cordiais e civilizados, e procurar se desenvolver emocionalmente para perceber que se separaram como casal, mas que jamais poderão se separar como pais da criança. A criança não pode ser um joguete entre o ex-casal, usada como instrumento para ferir o outro de quem se tem mágoas ou raiva, pois a criança não é aliada de nenhum dos progenitores, mas é igualmente filha de ambos.

Há mães que dizem que o que é falado sobre o pai é verdade e que a criança deve conhecer essa verdade. Entretanto, além disso ser relativo – essa é a verdade do ponto de vista materno, e não filial -, a criança está construindo sua identidade a partir do conceito que tem da sua realidade, incluindo a sua visão sobre o próprio pai. A imagem construída internamente pela criança, seja boa ou má, fará parte daquilo que ela compreende como ela mesma. Assim, denegrir ou falar aspectos negativos do progenitor em nada acrescenta ou fortalece a criança.

De acordo com Botoldi (2010), a separação conjugal modifica o exercício da paternidade, sobretudo em relação à proximidade entre pai e filhos, geralmente em função do relacionamento do pai com a ex-mulher, dificultando a parentalidade. Sua pesquisa a esse respeito aponta que os pais separados desejam frequentemente estar presentes na vida cotidiana de seus filhos, e cada vez mais há o movimento social por essa parte em ampliar legalmente a participação na vida dos filhos, sem, contudo, deixar o reconhecimento do lugar materno na vida dos mesmos.

Atualmente, a lei brasileira da guar­ da compartilhada tem importante papel na obrigatoriedade de convívio entre pai e filhos. Ao integrar juridicamente deveres impostos ao pai, responsabiliza o mesmo à relação e condução da vida dos filhos menores. Mais do que oferecer alimento, vestuário e recursos médicos, o pai, quando juridicamente possui a guarda da criança, tem a obrigação legal de oferecer acolhida afetiva, amparo, educação, instrução, direção moral e aconselhamento ao filho.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a guarda da criança é uma prestação de assistência material, moral e educacional por parte do pai, independentemente de seu estado civil e afetivo com a mãe do filho. O maior interesse da guarda compartilhada é promover o máximo convívio possível da criança com ambos os pais, para além das desavenças que estes possam ter entre si – o que os obriga, consequentemente, a desenvolver uma relação respeitosa e harmoniosa mínima.

PAIS HOMOAFETIVOS

Na internet, é possível encontrar um grande número de informação opinativa, sem fundamentação teórica ou empírica. Até mesmo em textos desenvolvidos por supostos especialistas encontramos informações de cunho preconceituoso ou oriundas de má compreensão das teorias psicodinâmicas, que afirmam que uma das relevâncias da figura do pai para a criança é a formação da identidade de gênero, ou a orientação sexual, ou mesmo a distinção entre os gêneros e papéis sexuais. Contudo, quando nos alinhamos com as teorias clássicas do desenvolvimento da personalidade e com os estudos científicos sérios não encontramos fundamento para essas (des)informações. A maior parte das pesquisas acadêmicas sobre a criação e educação de crianças por casais homoafetivos indica que o desempenho nas tarefas familiares é similar ao de famílias com casais heteroafetivos. Dessa forma, assim como o pai é fundamental, ser bom pai pouco tem relação com a identidade sexual e de gênero do mesmo para os filhos.

Pinheiro, Galiza e Fontoura (2009) apontam um descompasso entre as transformações nas estruturas familiares e a forma como o Estado trata e conceitua a família. Em pesquisa sobre pais em famílias constituídas por casais de gays e lésbicas na França, Tarnovski (2011) argumenta que as famílias homoparentais representam uma tendência da transformação da organização familiar. De acordo com Martinez e Barbieri (2011), a família nuclear heterossexual, atribuidora de papéis de acordo com o sexo parental, necessita de revisão frente aos novos rearranjos sociofamiliares contemporâneos.

Famílias com casais homoafetivos são cada vez mais comuns e não expressam qualquer patologia em si por essa formação. Em estudo de caso, as pesquisadoras observaram que a maternagem e a paternagem não são exercidas em função da consanguinidade da criança com o pai/ mãe biológico, mas sim a partir do vínculo entre todos os elementos da família. Gato e Fontaine (2014) apontam mais semelhanças do que diferenças entre a heteroparentalidade e a homoparentalidade. Seja na prática parental ou no desenvolvimento da criança, o fator mais importante para a qualidade das relações é o afeto e o vínculo entre os elementos.

No caso de pais gays, o cérebro apresenta as mesmas alterações já citadas ocorridas com pais heterossexuais presentes no convívio com os filhos. Não há quaisquer indícios científicos de que casais homoafetivos tenham dificuldade em desempenhar os papéis tradicionais de figura materna ou paterna na formação de uma criança ou adolescente. Aliás, estudos em Neuropsicologia apontam que o cérebro dos pais em casais homoafetivos desenvolve ambas as funções, podendo assumir qualquer um dos papéis parentais diante da situação com a criança.

De acordo com Costa (s/ d), psicóloga jurídica e escolar, a sociedade ainda é a maior dificuldade a ser enfrentada pelos casais homoafetivos e seus filhos. É preciso superar o preconceito e o moralismo conservador entre os religiosos, legisladores e operadores do Direito. Para a pesquisadora, caráter e competência parental não residem na orientação sexual da pessoa, e corremos o risco de ferir a dignidade humana se os juízos morais forem baseados em preconceitos sociais, sendo necessário o resgate do respeito e do diálogo para a avaliação de processos de adoção e parentalidade por casais homoafetivos.

QUALIFICAÇÃO

Psicologia Social, Clínica, do Desenvolvimento, Sociologia ou Direito: todas essas áreas do conhecimento acadêmico e humano se empenham em compreender a formação do sujeito e suas interações e papéis sociais, com a finalidade de produzir um conhecimento que qualifique a vida prática das pessoas.

Observamos de forma convergente a importância da família, especialmente no exercício da parentalidade, no que se refere ao suprimento das necessidades humanas básicas entre pais e filhos: providência, sustento, segurança, amor, apoio emocional e suporte para o desenvolvimento pessoal. Nesse panorama, a figura paterna teve sua importância desprezada por muito tempo em função da concepção patriarcal da cultura ocidental, sendo resgatada e pesquisada com mais ênfase a partir do final do século XX.

E nesses estudos, observações e pesquisas, podemos apontar a singular importância do pai – biológico, adotivo, agregado e independentemente do gênero ou orientação sexual – para a formação da identidade e personalidade da pessoa. Do mesmo modo, o exercício da paternidade é fundamental ao sujeito que é o pai, no seu desenvolvimento humano e cognitivo. Mas para que isto se dê é preciso reflexão e consciência dessa importância para se escolher livremente por dispor de tempo qualitativo na construção desse vínculo com o filho.

O PAPEL DO PAI NA ADOÇÃO

Diante de tantos novos meios de geração da vida proporcionados pela Ciência. e dos rearranjos familiares que compõem a modernidade contemporânea, seria ingenuidade associar a paternidade apenas à condição genética. A paternidade está associada ao melhor interesse para a criança, considerando o elo de afeto que envolve pai e filho. Pai é aquele que a criança identifica e ama como pai. É a filiação socioafetiva que define a relação íntima e duradoura entre os envolvidos. Assim, em muitos casos de concreto abandono ou rejeição do pai biológico a paternidade pode ser definida por agremiação familiar ou adoção. Um tio ou avô que assume a função paterna, o novo companheiro da mãe, que passa a construir esse vínculo com a criança, casais hetero ou homoafetivos que adotem a criança vão ser efetivamente os pais. Em estudo sobre a significância da paternidade adotiva, Andrade, Costa e Rossetti (2006) assinalam que pais adotivos compreendem seus filhos como sua continuidade no mundo, assim como os entendem como decorrência natural de seus casamentos, ainda que entre esses pais e filhos não haja ligação genética. É o vínculo socioafetivo que define a relação com o filho e o papel de pai. De acordo com Dias (s/d), isso se aplica especialmente para casais homoafetivos: designar discriminatoriamente qualquer vedação em relação à filiação de uma pessoa. Dessa forma, negar a paternidade homoparental é um retrocesso civil, desrespeitando a dignidade humana, tanto de pais como de filhos nessa condição.

CÁTIA RODRIGUES – é psicóloga e pesquisadora acadêmica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP) especialista em sexualidade e em saúde mental.  www.rbc.com.br

REFERÊNCIAS

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DANTAS C: JABLONSKI. B: FERES-CARNEIRO. T. Paternidade: considerações sobre a relação pais­ filhos após a separação conjugal. Paidéia. v. 14, n. 29. p. 347-357, Ribeirão Preto, dez. 2004.

FREITAS, W. et ai. Paternidade: responsabilidade social do homem no papel de provedor. Revista de Saúde Pública, v. 43. n. 1. p. 85-90. São Paulo. fev. 2009.

GATO. J.: FONTAINE. A. Homoparentalidade no masculino: uma revisão da literatura. Psicologia & Sociedade. v. 26. n. 2, p. 312-322. Belo Horizonte. ago. 2014.

GOMES. A.: RESENDE, V. O pai presente: o desvelar da paternidade em uma família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa. v. 20. n. 2. p.119-125. Brasília. ago. 2004.

MARTINEZ, A.: BARBIERI. V. A experiência da maternidade em uma família homoafetiva feminina. Estudos de Psicologia. v. 28. n. 2. p. 175-18.5 Campinas. jun. 2011.

MOREIRA. L: TONELI. M. Paternidade responsável problematizando a responsabilização paterna. Psicologia & Sociedade. v. 25, n. 2. p. 388-398. Belo Horizonte. 2013.

SOUZA. C: BENETTI. S. Paternidade contemporânea: levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia. v. 19. n. 42, p. 97-106, Ribeirão Preto, abr. 2009.

TARNOVSKI. F. Les coparentalités entre gays et lesbiennseen France: le point de vue des péres. Vibrant, Virtual Brazilian Anthropology, v. 8. n. 2. p. 140-163. Brasíli.ad ez. 2011.

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Anthony’s Crazy Love and Life Lessons in Empathy

Loves, lamentation, and life through prose, stories, passions, and essays.

imaginecontinua

Pretextul acestui blog este mica mea colecție de fotografii vechi. În timp s-a transformat în pasiune. O pasiune care ne trimite, pe noi, cei de azi, în lumea de altădată, prin intermediul unor fotografii de epocă.

Antonella Lallo

Lucania la mia ragione di vita

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Alex in Wanderland

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Yelling Rosa

Words, Sounds and Pictures

EQUIPES ALINHADAS À CULTURA ORGANIZACIONAL

ESTUDO DE CAMPO NO SISTEMA FIEC

Трезвый образ жизни

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語学や資格試験に関する記事や、日本や外国を英語で紹介する!