POESIA CANTADA

PAIXÃO

SIMONE

PAIXÃO

COMPOSIÇÃO: KLEDIR / KLEITON.

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar
Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecho eclair
De repente a gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar
Depois do terceiro ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim, nem por ninguém

Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar
Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Do que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou

OUTROS OLHARES

MAIS DE MIL PALAVRAS A MAIS NA LÍNGUA

Academia lança novo vocabulário ortográfico, influenciado pelos tempos e pela pandemia

A pandemia de covid-19 mudou a vida dos brasileiros – inclusive nas palavras que usam no seu cotidiano. Guardiã oficial do idioma, a Academia Brasileira de Letras (ABL) acaba de lançar seu novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). A obra registra o acréscimo de mais de mil novos vocábulos ao português que falamos e escrevemos. Muitos são relacionados à doença: infodemia, covid-19, telemedicina. Há ainda estrangeirismos, como home office e lockdown.

O Volp é o registro oficial de todas as palavras da língua portuguesa e de sua grafia. Essa é a sua primeira atualização oficial em 12 anos. Com as novas entradas, o vocabulário tem agora 382 mil verbetes. A edição de 2009 estava mais voltada a estabelecer a grafia das palavras após o Acordo Ortográfico. A atualização revela o dinamismo da língua. Também mostra as novas relações políticas e a importância da pauta identitária.

“Nos últimos anos houve uma aproximação dos países, não só em termos político, social e econômico, mas também por conta da pandemia”, explicou o filólogo Evanildo Bechara, coordenador da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL, responsável pela elaboração do Volp. “Essa aproximação abriu a porta para um acréscimo de palavras, em grande parte da língua inglesa, mas também de países menores, como Camarões, com a ‘necropolítica’.”

O peculiar momento político que vivemos, no Brasil e em várias partes do mundo, trouxe para nossa língua novas palavras. São vocábulos como negacionismo, pós-verdade, necropolítica – expressão cunhada pelo filósofo e escritor camaronês Achille Mbembe. Das pautas identitárias, cada vez mais presentes, vieram feminicídio, afrofuturismo, sororidade, homoparental, gordofobia. O meio digital nos legou criptomoeda e ciberataque. Estão todas no novo vocabulário ortográfico da ABL.

Desde a publicação da quinta edição, em 2009, a equipe de Bechara reuniu novos vocábulos. Colheu-os em textos literários, científicos e também jornalísticos. Houve ainda sugestões enviadas por usuários do Volp. O gramático explicou que não basta uma nova palavra surgir para ser incorporada oficialmente ao vocabulário. Ela precisa ganhar consistência na língua, ser usada e compreendida.

MUDANÇAS SOCIAIS.

O cientista político Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lembrou que a sociedade é pautada pela cultura. “Essa cultura varia ao longo do tempo; mudam os juízos de valor, surgem modificações tecnológicas, mudanças morais. A língua faz parte da cultura e tende a acompanhar essas variações.”

Alguns períodos da história, no entanto, são mais convulsionados, como este em que vivemos. “Existem períodos de maior estabilidade, quando há menor surgimento de palavras novas”, disse Lynch. “Certos períodos apresentam mudanças muito bruscas e, frequentemente, não existem palavras para descrever todas as coisas novas; é preciso criar novas palavras, importar ou ressignificar palavras antigas. Foi assim, por exemplo, no fim da 1ª Guerra Mundial e também no fim dos anos 80, com o começo do fenômeno da globalização.”

Luiz Ricardo Leitão, professor associado da UERJ e autor de Gramática Critica: o Culto e o Coloquial no Português Brasileiro, concorda com o colega. “Causou estranheza a demora na atualização”, observou Leitão. “São 12 anos nesse período tão alucinado da pós-modernidade periférica, muita coisa aconteceu. Somos um país neocolonial, que depende tecnologicamente do exterior e é seduzido pelo estrangeiro.”

Para além das mudanças políticas, apontou Lynch, vivemos uma transição de um modelo de sociedade industrial para uma pós-industrial, uma mudança estrutural muito profunda. “É um período complicado de mudança, estamos mudando um modelo que durou mais de 200 anos”, disse. “Temos, então, uma crise geral, uma mudança social e econômica que cria uma crise política. Vivemos agora uma ressaca da globalização, com o retorno de uma onda conservadora, mais nacionalista, de um lado; e, de outro, um aprofundamento de certos aspectos da globalização. Essa mudança vem acompanhada também de uma mudança no vocabulário social, político, econômico, comunicacional.” O novo vocabulário pode ser consultado no site da ABL.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE SABEDORIA PARA A ALMA

DIA 23 DE AGOSTO

CORAÇÃO E LÍNGUA, TOME CUIDADO COM ELES

O perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal (Provérbios 17.20).

Do coração procedem as fontes da vida. O que pensamos, sentimos e desejamos vem do coração. Se essa fonte estiver poluída com a perversidade, então tudo o que dela brotar será como uma torrente de maldade que espalhará o pecado, como um rio de morte. Quem vive pensando coisas más não pode encontrar o bem. Quem vive desejando o mal para os outros não pode colher favores. Quem semeia o pecado colhe a morte. Se o coração é o laboratório da maldade, a língua é o seu veículo. Quem tem uma língua dobre cairá no mal. A língua dobre é enganosa. Fala uma coisa, mas sente outra. Bajula com os lábios, mas maquina a maldade no coração. Elogia em público, mas difama em secreto. Uma pessoa de língua dobre não é confiável. Semeia contendas por onde passa. Separa os maiores amigos. Provoca divisões e abre fissuras nos relacionamentos. O que tem a língua dobre está a serviço do mal, e não do bem. É promotor da inimizade, e não ministro da reconciliação. Cairá no mal em vez de encontrar refúgio seguro. Será causa de tropeço, e não farol que aponta a direção; motivo de vergonha, e não objeto de louvor.

GESTÃO E CARREIRA

VOLTA AOS ESCRITÓRIOS CRIA A ERA DOS ‘SEM-MESA’

Funcionários agendam espaço por app e fazem check-in pelo celular para ir ao trabalho, e empresas exigem PCR

Com quase metade da população brasileira tendo recebido ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19 e estados dispostos a retomar as aulas presenciais na rede pública neste semestre, muitas empresas começam a voltar a ocupar os escritórios.

O novo normal é decididamente híbrido e enxuto: as companhias diminuíram o número de estações de trabalho, algumas pela metade, outras em até um terço do tamanho original. Quem volta ao escritório não volta mais para a sua mesa, mas para um espaço compartilhado, que muitas vezes precisa ser agendado com antecedência, por aplicativo.

Algumas empresas deixaram de ter sede própria e optaram pelo aluguel de estações de trabalho em espaços de coworking, uma maneira de reduzir custos e manter a equipe unida presencialmente em determinadas ocasiões. As companhias ainda não exigem o comprovante de vacinação para a volta ao escritório, uma vez que a campanha está em andamento, mas recomendam com ênfase a aplicação do imunizante e concedem até o dia livre para que o funcionário se vacine.

Há empresas que foram além e montaram um espaço de testagem dentro da sede. É o caso da varejista de moda C&A, que exige que os funcionários que passem pelo escritório façam o teste de Covid

“Hoje, todos que vão ao escritório fazem o exame PCR a cada 15 dias”, diz a diretora de recursos humanos e ESG da C&A Brasil, Fernanda Campos, que já traçou uma realidade híbrida para a equipe administrativa. “Não tem mais como pensar em 100% do pessoal dentro do escritório.”

As pessoas, diz, querem se relacionar, voltar ao presencial, mas já incorporaram a conveniência do home office. “Cada gestor vai combinar com a sua equipe quantas vezes por semana o trabalho será presencial”, afirma.

A empresa reformulou sua sede no ano passado. Antes da pandemia, o escritório central da varejista de moda era ocupado por 1.500 funcionários. A C&A entregou espaços alugados e concentrou a equipe em um único prédio, com capacidade para até 700 pessoas. Mas no momento estão liberadas apenas 350 estações de trabalho, para garantir ainda maior distanciamento social.

O espaço entre as mesas é de um metro e meio, e o uso delas precisa ser agendado na véspera, via aplicativo. O funcionário chega ao local e faz o check-in do espaço pela leitura de um QR Code adesivado na mesa (para confirmar que ele realmente está no escritório). A C&A oferece armários (lockers) para que o colaborador guarde suas coisas, uma vez que as mesas não terão mais dono. Cada um leva o seu notebook, fornecido pela empresa.

As salas de reunião estão fechadas por tempo indeterminado, e os encontros continuam sendo por videoconferência. No refeitório são permitidas no máximo duas pessoas por mesa, que também têm distanciamento de um metro e meio. A C&A oferece embalagem para armazenar a máscara durante a refeição, único momento em que a proteção pode ser retirada.

No prédio de dois andares, a varejista pede que os deslocamentos sejam feitos por escada, preservando os elevadores a pessoas com deficiência. Totens de álcool em gel em diversos ambientes, tapete sanitizante na entrada, produtos de limpeza para as mesas e padrão hospitalar de higienização dos banheiros completam os cuidados.

A multinacional Mondelêz, dona da Lacta no Brasil, também está reformando o escritório. “Antes da pandemia, tínhamos 70 % de mesões e 30% de colaboração. A ideia é inverter isso de forma que os escritórios sejam ambientes colaborativos, de interação entre os colegas”, diz Betina Corbellini, diretora recursos humanos da Mondelêz Brasil. A empresa também adotou um aplicativo de reserva de mesas, o Smart Space, para quem precisa ir ao escritório. Nas fábricas, junto com uma startup, instalou câmeras que identificam a temperatura e quem está de máscara, o que agiliza o processo de entrada.

A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, começou o retorno aos escritórios de São Paulo no último dia 19, no modelo híbrido. A ocupação é de, no máximo, 30% das estações de trabalho.

Na VitaCon, o primeiro ensaio de volta ao presencial, há cerca de seis meses, foi atravessado pelo repique da pandemia. Na época, menos de 10% da equipe quis sair do home office. Na nova sede, inaugurada em julho, o número de mesas foi reduzido pela metade e os funcionários voltaram, mas não todos os dias.

Ariel Frankel, presidente executivo da incorporadora diz que, além da sede, a empresa mantém estações de trabalho em suas lojas-conceito, num prolongamento da ideia de coworking. Na avaliação do executivo, com a experiência do trabalho em casa, a ida ao escritório passa a ter outros significados, como os encontros e trocas.

“Menos fone, mais máscara e mais integração”, diz Frankel. No novo prédio, um terraço, hoje em reforma, também deverá virar espaço de socialização da equipe. “A pandemia nos levou a uma crise antropológica”, diz a psicóloga Betânia Tanure de Barros, especialista em comportamento organizacional.

“A sociedade teve que se acostumar com um novo jeito de viver, o que incluiu trabalhar de casa. Agora chegou a hora de voltar ao escritório. mas não vai ser como antes. Cada empresa está tateando para encontrar o modelo que faça sentido para ela.”

Para Betânia, o futuro das grandes empresas nas metrópoles passa pela formação de “squads” (equipes de trabalho) por proximidade: as pessoas que moram em regiões próximas se encontram em determinado ponto para trabalharem juntas, por exemplo.

“É preciso encontrar uma mescla entre a comodidade do home office, que permite evitar o tempo de deslocamento, por exemplo, e a necessidade de contato social, fundamental para que a cultura da empresa seja incorporada. Cultura empresarial não se transmite pelas telas”, diz ela, que atende grandes companhias como Itaú, Magazine Luíza, Vale e Natura. A própria Betânia, sediada em Belo Horizonte, costumava pegar voos para reuniões de uma hora com clientes em São Paulo.

“Aprendemos (na pandemia) que muita coisa pode ser resolvida remotamente, é um ganho de produtividade e qualidade de vida”, diz”. “Mas a liderança requer o olho no olho, o Brasil é um país muito relacional. A aprendizagem tácita, que não está nos manuais, é fundamental para a competitividade das empresas”.

Essa aprendizagem faz diferença especialmente quando se trata de incorporar novos integrantes à equipe. A varejista online de moda Amaro, por exemplo, contratou 100 pessoas durante a pandemia e hoje soma 574 funcionários. Destes, 279 estão no home office. Apenas o pessoal do centro de distribuição e das 18 guideshops (lojas que funcionam como showroom) estão no presencial.

“Nós somos digitais e nossa equipe trabalha bem remotamente”, diz Isadora Gabriel, diretora de recursos humanos da Amaro. “Mas é preciso garantir um espaço de interação entre as pessoas, que favoreça a formação de vínculos dentro da equipe. A maior parte dos novos funcionários nem conhece o gestor da sua área.”

Segundo Isadora, a empresa está em busca de um novo espaço próprio, menor que o anterior, para acomodar apenas um terço da equipe administrativa, no esquema híbrido. “Um espaço próprio também é importante para receber fornecedores e para a produtividade em alguns casos, como o pessoal que trabalha com edição de imagens e precisa de mais estrutura”, diz.

Até mesmo as companhias com operação 100% online pretendem garantir esse retomo do convívio no modelo híbrido. É o caso da Goflux, uma plataforma online de gestão de fretes, que não tem mais sede própria e fechou contrato com a GoWork para alugar cem estações de trabalho por três anos, que serão usadas pelo seu time em esquema de rodízio.

“Há uma curva de retomo aos escritórios, mais acentuada nos dois últimos meses”, diz Fernando Bottura, presidente da GoWork, que faz a locação de escritórios corporativos e tem entre os clientes Ambev, Imovelweb e Rappi. A empresa, dona de 14 torres de escritórios em São Paulo está com 95% das 7.000 posições de trabalho ocupadas.

Os espaços foram adaptados com maior distanciamento entre as mesas, separação em acrílico, totens de álcool em gel e a instalação de um equipamento com raio ultravioleta que filtra o ar condicionado. Foi feita sanitização a jato dos ambientes, com uma substância que cria uma película desinfetante nas superfícies. As janelas foram preparadas para uma abertura segura, que permita maior circulação de ar. “Investimos R$ 1 milhão nessa adaptação”, diz Bottura.

Em 2021 a GoWork fechou contrato de 2.000 novas estações de trabalho. Entre elas, a da startup imobiliária Quinto Andar, que acaba de locar 200 posições no formato rotativo, em que dois a três funcionários ocupam a mesma estação. O contrato é por 12 meses.

Já o IWG, multinacional de coworkings, lançou um produto de uso sob demanda, uma espécie de “vale – mesa”, no qual o cliente só paga o que for usado por seus funcionários. De acordo com o IWG, é uma oportunidade de as companhias reduzirem ainda mais os custos: em vez de pagar por uma estação de trabalho por um mês completo (720 horas), as empresas podem pagar pelo uso avulso, agendado online.

A Positivo Tecnologia contratou uma consultoria para ajudá-la a desenhar o retorno ao escritório.

“Estamos concluindo os estudos sobre o melhor formato de trabalho para cada função”, diz Adner Uema, diretor de gente e gestão da Positivo Tecnologia. “A tendência é que retornemos no formato híbrido, numa frequência entre casa e escritório que seja igualmente favorável para o desempenho das atividades e o bem-estar do funcionário.”

No escritório da Adobe em São Paulo, o trabalho presencial continua suspenso, mas, segundo o gerente-geral para a América Latina. Federico Grosso, um novo layout deverá priorizar espaços para reuniões presenciais, sem postos fixos.

EU ACHO …

IMORTAIS

A piada é conhecida. Ao ser questionado sobre o que significava ser imortal, Olavo Bilac afirmava que era “não ter onde cair morto”. O humor é certeiro: a pretensão é desmantelada pela ironia. Desejamos o cume das montanhas com nossos qualificativos e pronomes de tratamento; somos recobertos pelo pó da insignificância nos caminhos da vida. E a lição permanente de Ícaro: cuidado com a luz do Sol. Quando as penas da vaidade, unidas pela frágil cera da glória fátua, encontram a realidade do calor do real, sabemos que o céu não é nosso lugar. Aqui, seria o lugar ideal para inserir um brocado do Lácio: “sic transit”…

O parágrafo inicial pode funcionar, na retórica clássica, como a petição de clemência, na qual o orador invoca seus defeitos para cativar a benevolência da plateia. “Sou o último que deveria estar aqui proferindo este discurso”, diz, humílimo, do púlpito, o ego inflado do orador. ”Todos me excedem, aqui, em conhecimento e elegância”, arremata com a frase que, se fosse levada ao pé da letra, causaria a imediata deposição do falso modesto do púlpito. Temos egos enormes, todavia, mesmo eles não são imortais. “Lembra-te que és pó” é a sábia disposição do início da Quaresma. Como todas as pessoas, seremos todos, a meu/nosso tempo, pulverizados.

Tenho consciência do fato. A humildade, forçada pelo real e por sóis superiores sobre mim, produz um efeito bizarro. Sendo mortal e não o mais brilhante das criaturas de Prometeu, tenho de arrumar o banquete da vida com a louça disponível. O que tenho como vontade é ter amigos, bons e inteligentes, próximos a mim. Foi com tal desejo que aceitei a eleição para a Academia Paulista de Letras. Anseiopor gente de verdade e com um epíteto extra: “gente de letras”.

Leitores podem ser (ou deveriam ser) interessantes. Mesmo um canalha como Ricardo III, na imaginação de Shakespeare, faz discursos memoráveis. Os ambíguos, como Hamlet, ora assassino e ora consciente, liam bastante. Os heróis, como Henrique V, preferem frases agudas.

A Academia Paulista de Letras é uma instituição mais do que centenária, com 40 membros que se reúnem às quintas agora de forma virtual. Quando eu tive o privilégio de entrar para o time de escritores do Estadão, pensei na honra de ser colega de Ignácio de Loyola Brandão. Um dia, tomei um susto: ele me enviou e-mail dizendo ser leitor dos meus textos. Na APL, encontro-o quase toda semana. O presidente, José Renato Nalini, conduz com habilidade a tarefa complexa delidar com tantos perfis. A riqueza da casa é sua variedade e cromatismo.

As academias consagram talentos literários indubitáveis. A Paulista divide sócios com a Brasileira: Lygia Fagundes Telles, Celso Lafer e o já citado Ignácio de Loyola Brandão. Também partilhamos Fábio Lucas com a Academia Mineira.

Achoa diversidade da Paulista muito notável: músicos (como João Carlos Martins e Júlio Medaglia); um fotógrafo (Marcio Scavone); um arquiteto (Ruy Ohtake); um bispo católico (dom Fernando Antônio Figueiredo); médicos (Raul Marino Jr., Raul Gutait); um jornalista (Luiz Carlos Lisboa); diplomatas (Rubens Barbosa, Synesio Sampaio Goes Filho); educadores (Paulo Nathanael Pereira de Souza, Gabriel Chalita); cientistas políticos e sociais (Jorge Caldeira, Bolívar Lamounier, José de Souza Martins, José Pastore); um publicitário( Roberto Duailibi); um físico (José Goldemberg); um artista dos quadrinhos (Maurício de Sousa) e atores (Juca de Oliveira e Jô Soares). Há vários filhos de Samo Ivo (juristas/advogados/juízes), como Miguel Reale Jr., Célio Debes, Eros Grau, José Gregori, José Fernando Mafra Carbonieri, Ives Gandra da Silva Martins, Antônio Penteado Mendonça, Tércio Sampaio Ferraz Jr.

Gente imensa e de biografia notável oferece dificuldades de classificação. João Lara Mesquita é músico, fotógrafo, autor e jornalista. Ruth Rocha é formada em Ciências Sociais, mas a conhecemos como consagrada autora de literatura infanto juvenil. Maria Adelaide Amaral é brilhante dramaturga e, igualmente, tradutora. A saudosa Renata Pallomini (falecida em julho) escrevia e traduzia com talento, Walcyr Carrasco é autor consagrado e conhecido do grande público por grandes novelas. Célio Debes é da tribo jurídica e, igualmente, historiador de três alentados volumes históricos sobre o presidente Washington Luiz. Jô Soares, muito conhecido do grande público, seria tradutor, ator, humorista, diretor de teatro, entrevistador ou literato? Diversa no todo, a APL também o é em cada um dos membros.

Há desafios. Há muitos homens e poucas mulheres. A diversidade de carreiras é impressionante, todavia, faltam grandes intelectuais negros e indígenas. Há muito a ser feito, sempre, sinal da sua vitalidade.

O membro da Academia Brasileira de Letras R. Magalhães Júnior (falecido em 1981) falou, em uma entrevista, sobre um conselho aos novos que reproduzo. “Jovem literato: seja rebelde com as academias, casas de medalhões e de glorificação fácil.” Porém, dizia o cearense, “depois de gritar bastante, entre para a academia e tente melhorá-la”. Enquanto houver críticos e jovens, a academia sobreviverá.  Que é imortal, de verdade, é a vontade de recriar o mundo pelas letras eideias. Todo nome de rua, um dia, já atacou o busto da praça ou a referência da avenida.

*** LEANDRO KARNAL

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SINGULARIDADES SIMBÓLICAS E CULTURAIS

O Brasil é um dos países que mais passaram a produzir estudos e pesquisas sobre paternidade, desde que o cenário familiar começou a mudar, devido às transformações dos papéis sexuais e de gênero

Não é novidade para ninguém que as figuras do pai e da mãe são fundamentais na vida dos filhos. Ao longo dos anos essa relação foi se transformando, passando por inúmeras fases, dependendo do momento histórico, social e comportamental, além de posicionamentos religiosos e até mesmo geográficos. Apesar de todas essas variantes, independentemente de quaisquer fatores, pai e mãe foram, são e sempre serão igualmente importantes na concepção, formação e educação da criança. Entretanto, apresentam singularidades simbólicas e culturais que produzem nuances delicadas nessa dinâmica.

Até o final do século XX foram poucos os estudos acadêmicos sobre a relevância da paternidade na formação da pessoa, enquanto que os estudos a respeito da maternidade foram inúmeros em todo o mundo. Mas, de acordo com Souza e Benetti (2009), esse cenário vem se transformando à medida que os papéis sexuais e de gênero vêm sofrendo transformações nas sociedades ocidentais: entre 2000 e 2007, usando as principais bases de dados acadêmicos, as pesquisadoras observaram uma incidência de 2.205 estudos sobre paternidade, sobretudo no Brasil, Inglaterra e Estados Uni­ dos. Em suas análises, concluem que “o tema paternidade é foco importante para a compreensão das relações familiares, questão fundamental para a implantação de políticas públicas de apoio às famílias em diferentes contextos”. (Souza; Benetti, 2009, p. 97). A paternidade é um fator que transforma a vida do homem, sobretudo aquele que a exerce de forma afetiva e presente e em nível cerebral: há alterações neurais, cognitivas, emocionais, hormonais e comportamentais significativas. Neurologicamente, novas conexões sinápticas compõem o cérebro do pai. No aspecto hormonal há evidências de que pais que cuidam efetivamente dos seus filhos têm níveis de oxitocina aumentados, enquanto a testosterona tem uma leve diminuição, o que nos leva a crer que há um aumento do vínculo e diminuição da agressividade, sem, contudo, comprometer a função protetiva.

As figuras paternais são sabidamente fundamentais para a formação da identidade e personalidade da pessoa e, nesse sentido, esses estudos apontam um avanço da Psicologia que gera subsídios às políticas públicas e ao Direito para desenvolverem medidas sociais que qualifiquem a vida humana. De acordo com Hennigen e Guareschi (2002), a paternidade é uma construção social com caráter flexível, influenciada por outras posições identitárias, bem como a mídia e a cultura. Assim, a ideia de paternidade responsável é fator social importante, estando relacionada à diminuição da violência e de acidentes de trânsito, à prevenção da criminalidade, qualidade da saúde da criança (Moreira; Toneli, 2013).

Considerando essas preposições, o objetivo deste trabalho é discutir a importância da figura paterna na for­ mação da pessoa, a ausência paterna e separação dos pais, a adoção pater­ na e pais em famílias homoafetivas. Ser amado ou rejeitado é igualmente influente na formação da personalidade das pessoas, da infância à vida adulta, e isso significa que a discussão sobre as figuras materna e paterna são definitivas na modulação da personalidade e da cultura social, sobretudo no que se refere à ansiedade geral, segurança e agressividade dos sujeitos.

A figura paterna, seja realizada pelo progenitor biológico ou não, é fundamental para a estrutura psíquica da pessoa, contribuindo para sua introdução no mundo, nas diferenças e regras sociais, à curiosidade e exploração do ambiente e na resolução dos problemas – seja uma referência positiva ou negativa, é de suma importância para a pessoa compreender a si mesma no mundo.

IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO

Existem novas possibilidades de ser “pai” para além da imagem tradicional veiculada nas propagandas de datas festivas: pais separados, pais doadores de material genético, pais que formam casal em relações homoafetivas, pais que convivem minimamente com os filhos, ou que moram em outro continente, mas que com eles falam diariamente via ferramentas de tecnologia da comunicação.

Em seu trabalho O pai possível: conflitos da paternidade contemporânea, o dr. Durval Luiz de Faria discute essas singularidades no panorama das transformações da identidade e da intimidade do mundo contemporâneo. Nesse panorama de multipossibilidades, o autor aborda as dificuldades, limites, funções e conflitos inerentes à figura do pai, que, supomos, seja também um ser humano real: para além dos nossos ideais normativos, juízos de valor e expectativas, a paternidade é função social que vai se adaptando às transformações da cultura, na vida prática.

CÁTIA RODRIGUES – é psicóloga e pesquisadora acadêmica na Pont1fic1a Universidade Católica de São Paulo (PUC -SP). espec1al1sla em sexualidade e em saúde mental. www.irbc.com.br

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