OUTROS OLHARES

O MITO DAS CURVAS

Pesquisa mostra que a grande maioria das brasileiras não se encaixa no formato que combina cintura fina e quadris avantajados, o muito exaltado corpo “violão”

No imaginário popular, a brasileira típica tem quadris avantajados e cintura fina, o célebre formato “violão”, cantado em prosa e verso. Na mais conhecida “confirmação” dessa característica, a espetacular Martha Rocha (1932-2020), favorita no concurso de Miss Universo 1954, teria perdido a coroa por causa de 2 polegadas no quadril acima do permitido (uma balela inventada por um fotógrafo e só desmentida por ela décadas mais tarde). Agora, uma pesquisa minuciosa, elaborada com o propósito de definir um padrão de tamanhos para as confecções, põe abaixo esse mito. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), 76% das brasileiras têm o corpo no formato retangular, com mínima diferença entre tórax e quadril, e cintura pouco pronunciada. Na forma de ‘colher”, que mais se aproxima na pesquisa ao “violão” estão apenas 39% das brasileiras. “O corpo ‘violão’, explorado no cinema, na música e na propaganda, nunca foi o padrão daqui. A realidade do Brasil é mais complexa, por resultar da miscigenação de europeus, africanos e indígenas”, explica Denise Bernuzzi de Sant’Anna, historiadora da PUC-SP.

Para coletar seus dados, a ABNT transportou Brasil afora um body scanner, equipamento capaz de medir com precisão 116 partes do corpo humano, pelo qual passaram 6.400 mulheres ao longo de cinco anos. As medições apontaram cinco biótipos principais, predominando, de longe, o “retângulo” – que independe de peso e altura e culmina nas impecáveis proporções do corpo da modelo Gisele Bündchen. A estrutura corporal, ao contrário do formato dos olhos e do tipo de cabelo. Não é imutável e depende do meio em que se vive – segundo pesquisas, 40% dela é genética e 60%, moldada por fatores ambientais. “Os hábitos locais influenciam a maneira de lidar com o corpo e a forma que ele vai assumir”, afirma o geneticista Salmo Raskin.

Os concursos de miss, a partir dos anos 1950, foram os impulsionadores do mito da mulher-violão, ao privilegiar a cintura fina e os quadris e coxas largos, que eram o padrão de beleza na época. Mas o rótulo viria a colar definitivamente nas brasileiras nas campanhas turísticas promovidas pelo governo no exterior, sobretudo entre 1960 e 1980. Nelas, a imagem do “paraíso tropical” sempre trazia na linha de frente mulheres com pouca roupa e quadris e retaguarda exuberantes, mensagem sexista e degradante que acabou sendo apagada na propaganda e em outras frentes. Hoje em dia, “violões” como Kim Kardashian, Beyoncé e a brasileira Iza exibem suas formas como prova de força feminina, com orgulho e proposital descaramento.

No que se refere a seu objetivo inicial, a ABNT espera que, de posse dos resultados da pesquisa, as confecções possam padronizar os tamanhos das peças femininas, de maneira que um P ou G tenham aproximadamente as mesmas medidas em todas as marcas. ”A intenção é conseguir unificar os padrões”, diz Maria Adelina Pereira, superintendente do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT, ampliando para os trajes delas uma uniformização que já existe para roupas masculinas e infantis. Como não há regulação atualmente, cada marca usa o molde que bem entende. A orientação da ABNT é que, junto com os tradicionais P, M e G e outras indicações de tamanho, a etiqueta inclua a medida em centímetros de busto, cintura e quadril aos quais a roupa se destina. Além de facilitar a vida das consumidoras, a uniformização dará maior eficiência às vendas por comércio eletrônico, em que, na falta de provador, 10% das compras são devolvidas. Grandes redes varejistas, como Renner e Amaro, já anunciaram que vão aderir à nova padronização, que não é obrigatória. “Ela vai contribuir para dar mais segurança à cliente”, diz Fernanda Feijó, diretora de estilo da Renner. Boa notícia para a brasileira, seja ela “retângulo”, “colher” ou qualquer outra configuração.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE ALEGRIA PARA A ALMA

DIA 18 DE MARÇO

RESTAURAÇÃO SIM, EXPLICAÇÃO NEM SEMPRE

Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra (Jó 42.10).

Uma das maiores angústias da vida é lidar com o silêncio de Deus. Às vezes, o silêncio de Deus grita mais alto em nossos ouvidos do que o barulho das circunstâncias adversas. Jó foi açoitado com o azorrague da dor. Ele perdeu seus bens, seus filhos e sua saúde. Além disso, ainda sofreu a falta de solidariedade da esposa e a incompreensão dos amigos. Nessa tempestade assustadora, Jó ergueu aos céus dezesseis vezes a mesma pergunta: Por quê? Por quê? Por quê? Por que estou sofrendo? Por que a minha dor não cessa? Por que perdi os meus filhos? Por que não morri no ventre de minha mãe? Por que não morri ao nascer? Por que o Senhor não me mata de uma vez? A todas essas perguntas, Jó escutou a mesma resposta: o total silêncio de Deus! Jó fez 34 queixas contra Deus. Espremeu todo o pus de sua alma, gritou do mais profundo do seu coração, mas não lhe veio nenhuma explicação acerca das razões de seu sofrimento. Quando Deus rompeu o silêncio, não deu a Jó nenhuma explicação. Ao contrário, fez-lhe setenta perguntas: “Onde estavas, Jó, quando eu lançava os fundamentos da terra? Onde estavas quando eu espalhava as estrelas no firmamento? Onde estavas quando eu cercava as águas do mar?” Deus revela a Jó sua soberania e Jó se humilha até o pó, dizendo: Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza (v. 5,6). Nem sempre Deus nos dá explicação; mas ele sempre nos promete restauração.

GESTÃO E CARREIRA

LONGE DO MODISMO

As práticas de ESG criaram um grande dilema para o RH: como trabalhar o meio ambiente,  a sustentabilidade e a governança sem cair na armadilha das ações vazias de marketing?

Em 2004, o Pacto Global, da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial, lançou a publicação Who Cares Wins (“Quem. se importa ganha”, em tradução livre), e um termo chamou a atenção: ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sociedade e governança). O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, endereçava uma carta a 50 CEOs de grandes instituições financeiras ressaltando a importância de integrar fatores ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais. De lá para cá, o termo ganhou impulso. Tanto que a Global Sustainable Investment Alliance divulgou que o mercado de investimento responsável já chega a 31 trilhões de dólares no mundo.

No Brasil, a relação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que servem como pilares do ESG, já está presente em muitas corporações. De acordo com o índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, 83% das companhias possuem ações ou programas de meio ambiente, sociais e de governança. Muitas delas, inclusive, criaram áreas utilizando a sigla como nome.

O ESG cresceu no Brasil no ano passado coma ajuda da pandemia de covid -19, pois era preciso mostrar empatia num momento tão crítico. As empresas começaram a olhar para dentro e a investir em ações e projetos de sustentabilidade, governança, meio ambiente e equidade de gênero, por exemplo. Mais do que doar quantias para instituições e governos lidarem com o novo coronavírus, todos queriam mostrar que tinham sensibilidade com o momento. O resultado? Fundos ESG captaram 2,5 bilhões de reais em 2020 – e mais da metade desse valor veio de fundos criados nos últimos 12 meses, segundo a Morningstar e a Capital Reset. “Esse movimento veio para ficar. Como agora dói no bolso, as empresas estão prestando mais atenção”, afirma Fabio Alvarez, diretor financeiro da consultoria NEO.

E O RH NESSA HISTÓRIA?

Muitas práticas que têm a ver com essa temática são estruturadas dentro dos departamentos de recursos humanos. Atrair pessoas de grupos minoritários, conscientizar os funcionários sobre diversidade, pensar em políticas e acessibilidade e construir um projeto de equidade de gênero invariavelmente são pautas do setor de pessoas. Mas como as áreas conseguiram se estruturar para o novo desafio?

“A grande novidade é que o ESG entrou na agenda do CEO. No entanto, o RH precisou e acabou sendo envolvido em algum momento. E a grande dor desse profissional é o conhecimento. Muitas vezes o gestor dessa área é formado em psicologia ou administração e precisa lidar com meio ambiente e com diversidade”, diz Liliane Rocha, fundadora da consultoria Gestão Kairós.

Por isso, a política deve se tornar uma jornada de longo prazo, com desenvolvimento dos profissionais que vão atuar coma questão – e com a formação de uma cultura organizacional voltada para o tema. “As pessoas estão no centro dessa discussão. Não existe transformação se a empresa inteira não está envolvida”, diz Marina Procknor, sócia do escritório de advocacia Mattos Filho, que desde 2019 tem uma divisão exclusiva para atender às demandas de ESG. “As instituições estão evoluindo, mas é preciso ajuda para cumprir os critérios rígidos e escapar de armadilhas como ações sem efetividade e que são puramente marketing”, explica Antônio Augusto Reis, também sócio do Mattos Filho.

SEM AUTOPROMOÇÃO

O grande dilema dos profissionais atuantes na área do ESG, inclusive os de recursos humanos, é o chamado greenwashing (em tradução livre, “banho verde”), que significa divulgar ações que não são efetivas, apenas para melhorar a imagem da empresa. O que pega muito mal. Para Fábio Milnitzky, CEO da IN, tudo precisa passar pelo propósito e deve estar alinhado à cultura da companhia. Do contrário, não haverá sucesso. “O ESG bem-feito força a equilibrar as visões de mundo com o dia a dia do negócio. Essa é uma demanda por mais transparência, pois, na verdade, trata-se de uma visão sistêmica aplicada na prática”, explica o consultor.

Ter práticas sustentáveis que olhem para o meio ambiente, a diversidade e a governança auxilia na manutenção de talentos e melhora a percepção dos funcionários em relação à empresa. É algo muito mais profundo do que uma simples carta com protocolos assumidos. Por isso, as ações devem ser gerenciadas de forma integrada.

“Quando se fala em ESG, ter um ambiente de governança estabelecido requer que as empresas brasileiras atuem de acordo com as melhores práticas de mercado, e não se pode pensar apenas em uma questão e deixar o restante de lado. As companhias têm que gerenciar suas ações de forma que as questões sociais e ambientais reflitam o nível de sustentabilidade e responsabilidade da organização”, explica Cynthia Catlett, vice- presidente da Charles River Associates, consultoria global que acabou de abrir escritório no Brasil e oferece prestação de serviços na área.

Mais do que uma nuvem passageira, as organizações precisam estruturar-se e contar com o apoio do RH para conseguirem equalizar as necessidades do negócio com o imperativo de ser sustentável, socialmente responsável e ter governança. Em um mundo conectado e de milhões de “canceladores”, não dá mais para adotar ações apenas com o intuito da autopromoção. Conheça a seguir dois exemplos de companhias que estão construindo práticas robustas.

DE LONGO PRAZO

Na brasileira de papel e celulose Suzano, com 35.000 funcionários diretos e indiretos, não há uma área chamada ESG. Todas as ações são coordenadas pelo departamento de sustentabilidade e desenvolvidas, acompanhadas e analisadas pelo pessoal de recursos humanos.

Argentino Oliveira Neto, diretor de gente e gestão, tem no seu comando 200 profissionais que ajudam nas jornadas de projetos de meio ambiente e governança – algo que acontece desde 2015.

“Nosso negócio é celulose e papel. Tudo vem da árvore, da natureza. Na nossa indústria, precisamos falar de sustentabilidade. Os investidores e os clientes dos clientes já querem saber, já assumem uma parcela da responsabilidade de cobrar”, diz o executivo.

Em 2019, por causa da demanda dos próprios funcionários, a Suzano organizou grupos de afinidades para projetos de inclusão. Cinco minorias estão no radar: mulheres, negros, LGBT+, PCDs e gerações. O RH percebeu que os grupos precisavam de embaixadores, mas também havia a necessidade de uma governança clara, com metas. Para 2025, foram estabelecidas as seguintes diretrizes: chegar a 30% de pessoas negras em cargos de liderança, 30% de mulheres em cargos de liderança, ser uma empresa 100% inclusiva para LGBT+ e totalmente acessível.

Como uma indústria que tem negócios importantes com Europa e Estados Unidos, a Suzano já incluía em sua cultura as preocupações que hoje formam os pilares do ESG. “Esses mercados nos exigem conformidade e ações em prol do meio ambiente e da sustentabilidade, com sinergia e muita governança”, diz Cristiano Oliveira, gerente executivo de sustentabilidade da Suzano. No entanto, os dois profissionais enfatizam que as práticas não nasceram apenas norteadas pelos fundos de investimento. “Tudo era uma preocupação da diretoria, e por isso conseguimos desenvolver de forma orgânica”, explica Argentino. A companhia tem recebido o apoio de uma consultoria para conquistar as metas e fez benchmarking utilizando metodologias da China e do Leste Europeu.

O esforço está gerando resultados. A empresa anunciou no ano passado a emissão de  títulos de longo prazo com a menor taxa já obtida na história por urna empresa brasileira para vencimentos com prazo de dez anos. O título tem como característica vincular o custo do recurso oferecido pelos investidores ao cumprimento da meta ambiental assumida pela Suzano de reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa. No mercado internacional, esses títulos são chamados de sustainability-linked bonds, em razão da conexão entre o modelo da emissão e o desempenho ESG.

TIPO EXPORTAÇÃO

A farmacêutica Merck conseguiu fazer um movimento raro no planeta: usar o Brasil para alavancar as práticas de ESG. “Nós até implementamos projetos globais, seguindo as recomendações da matriz, mas aqui o programa alcançou outra maturidade e tornou-se exemplo para o mundo”, diz Edise Toreta, diretora de RH para o Brasil e a América Latina da Merck.

Com 1.400 empregados diretos e cerca de 100 profissionais terceirizados no Brasil, as ações de cunho social, ambiental e de governança começaram a ser desenhadas em 2015. A estratégia estava ligada a três pilares: diversidade, inclusão e igualdade – direcionados pelo RH e com patrocinadores nas diretorias.

Os números começaram a aparecer. Na questão de igualdade de gênero, a presença de mulheres na liderança passou de 35% em 2015 para 44% em 2021. Mesmo com o sucesso, o RH enfrentou algumas dificuldades no caminho, como conectar todas as ações de ESG e contar com mão de obra especializada no tema – tanto que foi preciso contratar um profissional com experiência em sustentabilidade para dar estabilidade aos projetos.

Em novembro do ano passado, no meio da pandemia, a Merck inseriu em sua estratégia de negócios a sustentabilidade ligada a todas as áreas, incluindo a de recursos humanos. “Foi anunciada uma estratégia global mais abrangente para os próximos 20 anos. E ela está muito mais conectada ao desenvolvimento sustentável”, diz Edise.

A  preocupação social apareceu com mais força no último ano. Para ajudar no combate à covid-19, a empresa dedicou parte da fábrica no Rio de Janeiro à produção de cerca de  600 litros de álcool em gel, que foram doados para instituições e para os funcionários e seus familiares. Também se somaram aos esforços 125.000 reais em doações revertidos  em cestas básicas para a ação Rio Contra Corona, em produtos de limpeza para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e em apoio a campanhas de conscientização de grupos de pacientes oncológicos.

EU ACHO …

FUGIR DE CASA

Qual é a criança que nunca sonhou em fugir de casa? Todo mundo tem uma experiência pra contar. A minha aconteceu quando eu tinha uns sete anos de idade. Depois de ter minhas reivindicações não aceitas – provavelmente eu queria um quarto só para mim e não precisar  mais escovar os dentes – preparei uma mochila e disse “vou-me embora”. Tchau, me responderam.

O quê??? Então é assim? Abri a porta do apartamento, desci um lance de escada e ganhei a rua. Fingi que não vi minha mãe me espiando lá da sacada. Fui caminhando em direção à esquina, torcendo para que viessem me resgatar, mas nada. Olhei para trás. Minha mãe deu um abaninho. Grrrr, ela vai ver só. Apressei o passo. Dobrei a esquina, sumi de vista e, claro, entrei em pânico. Pra onde ir? Antes de resolver entre pedir asilo numa embaixada ou tentar a vida numa casa de tolerância, minha mãe já estava me pegando pelo braço e dizendo que a brincadeira havia acabado. Fiquei aliviada, por um lado, mas a ideia de fugir ainda me ocorreria muitas vezes.

O desafio agora seria elaborar um plano de fuga mais realizável, pois estava provado que, sim, eu queria escapar, mas ao mesmo tempo queria ficar. O mundo lá fora era libertador, mas também apavorante. Eu estava numa encruzilhada: queria ser quem eu era, e ser quem eu não era. Qual a saída? Ora, escrever.

Um plano perfeito. De banho tomado, camisola quentinha e com os dentes escovados, eu pegava papel e caneta antes de dormir e inventava uma garota totalmente diferente de mim, e que não deixava de ser eu. Fugia todas as noites sem que ninguém corresse atrás de mim para me trazer de volta. Ia para onde bem queria sem sair do lugar.

Viva as válvulas de escape, que lamentavelmente não gozam de boa reputação. Não sei quem inventou que é preciso ser a gente mesmo o tempo todo, que não se pode diversificar. Se fosse assim, não existiria o teatro, o cinema, a música, a escultura, a pintura, a poesia, tudo o que possibilita novas formas de expressão além do script que a sociedade nos intima a seguir: nascer-estudar-casar-ter filhos- trabalhar-e-morrer. Esse enredo até que tem partes boas, mas o final é dramático demais.

Overdose de realidade é a ruína do ser humano. Há que se ter uma janela, uma porta, uma escada para o imaginário, para o idílico – ou para o tormento, que seja. Ninguém é uma coisa só, ninguém é tão único, tão encerrado em si próprio, tão refém do que lhe foi ensinado. Desde cedo fica evidente que nosso potencial é múltiplo, que há um deus e um diabo morando no mesmo corpo. Como segurar a onda? Fugindo de casa, mas fugindo com sabedoria, sem droga, sem violência – fugindo para se reencontrar através da arte, através do espetáculo da criação, mesmo que sejamos nossa única plateia. Cada um de nós tem obrigação de buscar uma maneira menos burocrática de existir.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

OLHE PARA VOCÊ

Por que o autocuidado se tornou uma prática vital nos tempos de pandemia

Terapia, exercícios físicos e meditação: há quem batize esses três elemento de santíssima trindade do bem-estar. Se a pandemia revirou o que era conhecido como rotina, manter o equilíbrio – ou, ao menos, tentar – se tornou fundamental para encarar as novas dinâmicas e desafios do dia a dia. Nessa esteira, o autocuidado se expande a partir de rituais que levam a uma vida mais saudável, mental e fisicamente. O termo, até pouco tempo usado apenas para práticas alternativas, agora já é adotado também pela medicina.

A professara de hatha ioga Ruhana França, de 24 anos, acredita que cada pessoa tenta manter as próprias ações de autocuidado, ainda que sejam modestas. Nesse contexto, subverter a lógica da produtividade a partir de momentos de lazer configuraria uma resistência e seria uma aliada no combate ao estresse e à ansiedade, intensificados durante a pandemia.

“Na minha experiência, o estresse está muito ligado à necessidade de produtividade. Em não tentar se afastar dessa lógica de sempre ser útil para alguém, é uma forma de construir pequenas resistências. São espaços de acolhimento que a gente cria para si mesmo, porque os problemas existem, mas a gente precisa construir espaço para estar saudável em meio a eles e às cobranças.

AÇÕES SIMBÓLICAS

Os rituais também ganham contornos que tocam a autoestima, de dentro para fora, com a prática de skincare, termo popularmente utilizado para designar cuidados com a pele. Para a engenheira de software Marina Faria, 25, os rituais de autocuidado ajudam a aliviar o estresse. Na busca por inseri-los na vida cotidiana, ela usa não só a meditação – inclusive em aulas guiadas -, mas também técnicas de respiração, além de cuidados diários de skincare, para desanuviar a mente e dar tchau à ansiedade.

“É um momento de relaxamento, você desconecta das coisas que está pensando e vai cuidar de si, cuidar da saúde mental… Acho que, dessa forma, você esquece das outras coisas e é um processo relaxante. Na meditação, você relaxa o corpo inteiro com o método de respiração”, detalha.

Rituais se caracterizam por uma sequência de ações de caráter simbólico, repetidos numa  ordem preestabelecida. Se as ações por si só podem remontar a práticas de centenas e milhares de anos atrás, como batizar bebês e enterrar mortos, atualmente se reinventam no dia a dia comum, em pequenas ações cotidianas.

Quando realizadas em grupo, como determinadas atividades de lazer, podem ajudar a desenvolver laços sociais, abalados pelo distanciamento social e pelas restrições impostas pela Covid-19.

Durante a pandemia, a sobrecarga de trabalho e emocional foi uma constante na vida da população, o que levou a quadros de esgotamento, tanto físico quanto mental, além de ansiedade, depressão e burnout. Estudo da Universidade de Varsóvia publicado pela revista Applied Psychology: Health and Well­Being (Psicologia Aplicada: Saúde e Bem-estar, em tradução livre) mostrou que uma rotina planejada pode ajudar a manter o bom humor e o bem-estar – sobretudo em épocas de instabilidade como esta.

Assim, contato com a natureza, terapias manuais e atividades de lazer, sono regular e menos tempo em frente às telas estão no rol de possibilidades para manter o equilíbrio, tão difícil e necessário.

RECARREGAR A BATERIA

O psiquiatra Fabio Aurélio Costa Leite, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, conta que é comum ver pessoas mentalmente exaustas nos últimos dois anos, já que estresse e ansiedade ativam o mecanismo primitivo de luta e fuga.

“Todas essas questões da ansiedade aumentam muito a nossa sobrecarga e a nossa descarga, então é preciso recarregar as baterias, de forma metafórica, com essas atividades para que a gente possa ter, no outro dia, energia suficiente para gastar de  novo. A pandemia exigiu de todo mundo muito mais energia do que antes”, diz.

O psiquiatra complementa que não é só possível, mas necessário manter o equilíbrio em fases difíceis.

“Sempre (é bom) ter um momento em que você consiga dar uma pausa para o seu cérebro e para os seus sentimentos em relação ao que é negativo e alimentar e colocar para dentro da mente aquilo que é positivo, que acalma, que tranquiliza”, finaliza Costa Leite.

Conciliando saúde física e mental, a hatha ioga une posturas físicas a exercícios de respiração, além de técnicas de relaxamento e de meditação. Na avaliação de Ruhana França, pode ser uma ferramenta de autoconhecimento, já que o corpo “é um veículo da prática” e se beneficia do movimento enquanto a mente alcança a quietude, o silêncio e a paz.

“Quando a gente cria esse espaço que é confortável ocupar, a gente pode se ocupar por inteiro, perceber a respiração, estar atento ao momento presente e não mais estar preocupado com aquilo que a gente precisa fazer amanhã. Um dos grandes diferenciais do ioga é viver o momento presente e, durante a prática, trabalhar isso”, completa.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PALAVRINHA DIFÍCIL

Pesquisas confirmam que a maioria das pessoas, por mais que queira, não consegue dizer não, problema que pode afetar o desenvolvimento social

Dizer não com clareza é uma das primeiras habilidades adquiridas pelos seres humanos. No início da vida, muito antes de aprender a falar, os bebês já são capazes de deixar claro que estão descontentes com a temperatura da água do banho, ou que já saciaram a fome e não querem mais mamar. Correntes da psicologia enxergam, inclusive, uma correlação direta entre o fato de a criança afastar a boca do peito da mãe com um movimento lateral do pescoço e o gesto de balançar a cabeça para os lados – linguagem não verbal de negativa compreendida da mesma forma em quase todas as culturas ao redor do mundo. Nada disso, no entanto, impede que, quando cresçam, muitas pessoas sejam incapazes de negar um pedido, não importa de onde venha. A maioria, pelo jeito: estudo conduzido pelo departamento de psicologia comportamental da prestigiada Universidade Cornell, nos Estados Unidos, concluiu que as pessoas são mais afeitas a dizer sim do que não.

Ao longo de quinze anos, a pesquisadora Vanessa Bohns realizou experimentos sociais com cerca de 15.000 pessoas, seguindo um mesmo roteiro: sua equipe abordava estranhos na rua e pedia que fizessem alguma coisa inesperada. Cada entrevistador tinha um número certo de indivíduos a interpelar e, antes de se pôr a campo, antecipava quantos achava que iriam atender à sua solicitação. Os resultados surpreenderam. Em uma situação, jovens pediam para usar o celular de um desconhecido, dizendo que a bateria de seu havia acabado. A expectativa era a de que 90% recusassem, mas metade aceitou ajudar.

Em outro cenário, uma corrida de rua cujo objetivo era arrecadar fundos para uma instituição de caridade, a tarefa dos pesquisadores era se aproximar dos participantes e pedir doações até elas atingirem uma meta que ia de 2.000 a 5.000 dólares. A expectativa era precisar convencer 210 corredores, mas o objetivo foi alcançado com a abordagem de, em média, 122 deles. “É incrivelmente estranho, desconfortável e difícil encontrar palavras para decepcionar o outro, mesmo sendo alguém que não conhecemos e com quem  não temos nenhuma relação afetiva”, disse a pesquisadora Bohns, que reuniu os experimentos no livro Você Tem Mais Influência do que Pensa, ainda sem tradução no Brasil.

A dificuldade de negar ajuda ou pedido tem raízes na pré-história, quando se percebeu que as chances de sobrevivência eram maiores se as pessoas se organizassem em bandos e colaborassem umas com as outras do que se vagassem sozinhas por ambientes inóspitos e cheios de perigo. A evolução do cérebro e o desenvolvimento do sistema límbico tornaram as interações cada vez mais complexas. “Agindo em conjunto, a humanidade se mostrou capaz de obter ganhos para sua sobrevivência. Por isso, se uma pessoa lhe pede um favor, a reação natural é colaborar com ela”, explica Ariovaldo Silva Júnior, neurocientista da UFMG. Nos tempos modernos, esse condicionamento virou, em algumas pessoas, motivo de enorme angústia, sintoma de um distúrbio conhecido como ansiedade de insinuação. O problema se manifesta cada vez que o indivíduo se vê, de alguma forma, forçado a fazer algo que não quer, apenas para não se sentir rejeitado pelos pares. Albert Einstein, um dos mais brilhantes angustiados, escreveu. “Toda vez que diz sim querendo dizer não, morre um pedaço de você”.

Pesquisas mais recentes que mapearam o funcionamento da mente encontraram outras explicações para a dificuldade em dizer não. As decisões mais banais e cotidianas ativam um sistema neurológico automático e intuitivo, principalmente quando não oferecem nenhum tipo de risco – daí ser comum a pessoa só parar para pensar depois de responder positivamente a uma solicitação. Em 1978, Ellen Langer, professora de psicologia de Harvard, conduziu um estudo em que um pesquisador pedia para furar a fila em uma máquina de fotocópias e constatou que a maioria cedia, mesmo quando a justificativa para passar à frente não fazia sentido. “A tomada de decisão racional e refletida depende do acesso a uma região específica do cérebro que precisa ser treinada”, ensina a neuropsicóloga Adriana Fóz. Sem ter passado por esse treinamento, todo ano a contadora Isabel Cristina faz o imposto de renda para amigos do trabalho, de graça, e não consegue se livrar dos pedidos. “Eu me sinto muito mal em negar ou cobrar pelo serviço porque acho que as pessoas vão ficar chateadas comigo. É uma bola de neve, porque o volume só aumenta”, desabafa.

Em que pesem as dificuldades, impor limites para si e para os outros é fundamental para a formação da identidade dos indivíduos e de seu posicionamento em sociedade. Em seus estudos, o pai da psicanálise Sigmund Freud postulava que a personalidade é moldada, entre outros fatores, por desejos e necessidades das pessoas mais próximas. “Receber aprovação é uma habilidade necessária para a vida social, mas quando isso se torna exagerado há o risco de alienação da realidade”, alerta Paula Peron, professora de psicologia da PUC-SP”. Mesmo que não tenha capacidade de resolver o problema dos outros, dou um jeito de ser prestativa e acabo deixando as minhas questões em segundo plano”, admite a estudante de enfermagem Valeska Castro, 22 anos. Duas recomendações valiosas para quem não consegue dizer não: 1) pare e pense antes de responder e 2) se já sabe que o pedido virá, planeje a negativa com antecedência. “Tenha um roteiro com as palavras corretas para não desagradar ao outro”, ensina Bohns. Negar o que não agrada, no fim das contas, fará bem a todos. Sim?

A NEGATIVA É INDISPENSÁVEL

A importância de se posicionar e impor limites, nas palavras de quem sabia o que dizer

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