EXPOSIÇÃO NAS REDES PODE PÔR SUA SEGURANÇA EM RISCO
Fotos, localizações, opiniões políticas e preferências são coletadas com frequência, abrindo brecha para golpes

Boa parte das pessoas já não consegue viver desconectada do mundo digital. E, ao navegar no universo virtual, os cidadãos vão abrindo mão da privacidade, expondo dados, gostos e experiências. Informações são ativos valiosos para o mercado, e é preciso cuidado. Facebook, Instagram e TikTok, por exemplo, traçam perfis de seus usuários o tempo todo e, a cada minuto, fotos, localizações, preferências pessoais e opiniões políticas são coletadas.
A prática de coletar dados é legal, desde que o dono da conta permita, o que é formalizado quando os termos de uso da rede são aceitos. Mas especialistas alertam para questões que fogem ao controle dos usuários.
“Nós presumimos que as redes têm acesso ao que entregamos, mas elas acessam três níveis de informação. Obviamente, as que fornecemos, mas também as que conseguem observar e as que podem inferir com base em padrões, como a hora em que acordamos, o quanto dormimos e até o nosso humor”, diz Christian Perrone, gerente de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS).
É justamente este primeiro nível, o das informações fornecidas pelos usuários, que exige atenção. Renata Tomaz, professora da Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), alerta, por exemplo, para o risco de exposição de crianças e adolescentes:
“Quando falamos de circulação de fotos nas redes, é preciso ter em mente a Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela ONU em 1989, que garante a ela o direito à privacidade. O Brasil é signatário desta Convenção, que dá suporte ao Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990.
IMAGENS DE CRIANÇAS
Ainda que a família não tenha a intenção de expor uma criança, a professora destaca que é preciso tomar alguns cuidados antes de publicar a imagem, como ter um perfil privado, com acesso limitado, e evitar divulgar localização ou lugares frequentados – como a escola, que pode ser identificada pelo uniforme.
“Ao publicar imagens, os adultos estão construindo uma identidade digital que as crianças não escolheram ter. Considerando a dificuldade de apagamento das redes sociais, elas podem ficar conhecidas por características, situações e eventos pelos quais não gostariam.
Também são comuns os relatos de pessoas que tiveram dados reproduzidos por criminosos que, ao se apropriarem da identidade, pediram dinheiro a parentes.
“Toda informação sensível na internet pode ser usada por cibercriminosos. Até o dia do aniversário do cachorro. Datas comemorativas são comumente utilizadas como senhas em redes sociais ou bancos”, diz Fabio Assolini, chefe da equipe global de pesquisa e análise da Kaspersky (empresa de softwares de segurança) na América Latina.
A estudante de Publicidade Ana Beatriz Araújo, de 24 anos, teve a conta do Instagram invadida por um criminoso que tentou aplicar um golpe de compra e venda de criptomoedas, embora ela adote as medidas de proteção sugeridas pela rede.
“No dia em que minha conta foi invadida, vi que ganhei muitos seguidores repentinamente. Eram usuários com nomes robotizados e contas novas. Uma hora depois, meus amigos me mostraram que haviam feito uma publicação no meu perfil. Nela, tentavam aplicar um golpe envolvendo criptomoedas”, relatou.
João Quinelato, professor de Direito Civil do Ibmec, completa:
“Antigamente, a proteção de dados era relacionada ao cartão de crédito ou aos documentos físicos. Hoje, é tudo digitalizado. É necessário mais cuidado.
FACEBOOK E TIKTOK
Dona de Instagram, Facebook e WhatsApp, a Meta diz processar os dados apenas para um “objetivo específico e claramente definido que agregue valor às pessoas”. Além disso, afirma coletar e criar a quantidade mínima de dados para “dar suporte a objetivos claramente definidos”. A companhia garante que guarda informações somente pelo tempo que for “realmente necessário” e oferece aos usuários a capacidade de acessar e gerenciar os dados coletados ou criados sobre eles.
O TikTok afirma coletar informações para “oferecer uma experiência útil e relevante”. Também diz incentivar os usuários a ler sua Política de Privacidade. “Implementamos fortes restrições no acesso, incluindo impedir que as chaves que desencriptam os dados de usuários sejam acessados por funcionários sem autorização ou justificativa necessária para acesso”, diz.
Uma consideração sobre “OUTROS OLHARES”
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