DESIGUALDADE AUMENTA ENTRE NEGROS E BRANCOS NO MERCADO DE TRABALHO
Taxa de desemprego de pretos, pardos e indígenas era de 17,27%, contra 11,98% de brancos e amarelos em 2020
A taxa de desocupação entre brasileiros pretos, pardos e indígenas tem aumentado em relação à de brancos e amarelos, o que provoca mais concentração de renda e amplia a desigualdade social e racial no país. As conclusões estão em relatório do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) da Uerj, que analisou a desigualdade racial no mercado de trabalho e renda, além de educação, em um período de 35 anos.
Em 1987, quando os pesquisadores começaram a acompanhar os dados, a taxa de desemprego de negros e indígenas era de 3,91%, enquanto a de brancos e amarelos era de 3,38%. A taxa de desocupação geral foi crescendo, com desvantagem para os pretos, mas com diferenças que não chegavam a três pontos percentuais. A partir de 2015,esse patamar foi superado, e a taxa de desemprego de pretos era de 10,51%, enquanto a de brancos era de 7,31%.A diferença alcançou o ápice em 2020, ano da pandemia – o desemprego de negros chegou a 17,27%, contra 11,98% dos brancos. Em 2021,adiferença ficou em 4,23 pontos percentuais.
Nesse período entre 1987 e 2022, mais brasileiros se identificaram como pretos, pardos e indígenas, e houve redução na desigualdade racial na educação formal. Mas isso não resultou em diminuição das diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho.
“Podemos observar a manutenção de desigualdades duráveis que mantêm brancos e amarelos com melhores níveis de escolaridade, de trabalho e renda, se comparados ao grupo formado por pretos, pardos e indígenas. É importante notar que, apesar da melhoria no acesso à educação, pretos, pardos e indígenas ainda sofrem com altas taxas de desocupação. Quanto à renda, a desigualdade é ainda mais acentuada”, diz o relatório.
TRABALHO PRECÁRIO
Segundooestudo,desde2010, percebe-se um aumento maior de brancos e amarelos migrando para o trabalho por conta própria, e a permanência de pretos, pardos e indígenas no mercado informal. “Ainda que essas transições costumem redundar em algum grau de precarização generalizada dos vínculos formais de emprego, a informalidade continua relacionada à vulnerabilidade maior do trabalhador do que os vínculos autônomos hoje em crescimento”, aponta o documento. As diferenças na ocupação também acentuam a desigualdade racial, ao se observar os rendimentos obtidos pelos grupos. Entre 1987 e 2002, brancos e amarelos recebiam o dobro de pretos, pardos e indígenas. Esse indicador foi caindo até 2011, quando voltou a crescer.
“A depreciação geral das rendas do trabalho em 2020 levou a uma pequena redução dessa desigualdade racial, mas ainda é cedo para dizer se isso demarca uma tendência”, diz o texto.
O mesmo movimento foi observado em relação à renda domiciliar per capita, que considera o volume total de recursos recebido pela família dividido pelo número de membros. Pretos, pardos e indígenas são maioria entre os grupos de baixa renda, e a pandemia aumentou não apenas a pobreza, mas também as desigualdades raciais.
A economista Thais Custódio, de 33 anos, vive uma situação distinta no mercado de trabalho, que é exceção. As equipes com as quais atua são compostas, na maioria, por negros, e a remuneração segue a média de mercado. Mas não foi sempre assim.
“Eu já deixei de ser contratada por causa do cabelo que usava. É muito perverso, porque as pessoas já te olham torto sem você abrir a boca, sem você dizer quais são as suas expertises, qualidades, o que está disposto a fazer para contribuir com aquele trabalho”, conta.
MAIS INSTRUÍDOS
Os pesquisadores constataram que a população preta, parda e indígena teve avanços na educação, mas isso não resultou em melhorias no mercado de trabalho até o momento.
“O que a gente vê são melhoras, que tem de destacar, sobretudo nos índices educacionais, mas isso não se reflete no mercado de trabalho. Quando negros e brancos se equalizam em processo de alfabetização, isso ocorre em um momento em que a alfabetização deixa de ser relevante para ocupar espaços no mercado”, afirma o sociólogo Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.
A família da economista Thais Custódio valoriza a educação. Moradores do Complexo da Maré, seus pais se sacrificaram para ela estudar. Thais entrou na universidade pública, beneficiada pela política de cotas, e hoje trabalha como consultora de orçamento e coordena projetos de uma ONG do Jacarezinho, enquanto finaliza o mestrado em Economia na UFRRJ, no qual é a primeira aluna preta.
“Já existia a dificuldade de criar jovem preta retinta em território de favela que é muito marginalizado, em uma sociedade que enfrenta muitas questões de violência. Tivemos muitos apertos, era tudo muito contado, mas sempre falavam que precisava ter educação para chegar ao mercado de trabalho. Tive uma vida inteira muito dura nesse sentido”, conta Thais.
Os pesquisadores do Gemaa pontuam que as desigualdades às quais os negros estão submetidos são resilientes e complexas. Para reverter o cenário, é preciso desenhar políticas redistributivas interseccionais, que também considerem o aspecto racial e as especificidades de cada um dos grupos. As cotas para acesso à universidade, como as que beneficiaram Thais, precisam avançar.
“É importante que o novo governo tenha em mente que as soluções que já foram importantes não são mais suficientes. Reeditar políticas públicas como as realizadas em 2002 e 2006 não vai produzir efeitos. Tem de acelerar a redução das desigualdades e levar para outros níveis educacionais. No caso racial, o grande nó é ensino médio e, evidentemente, superior. Mas precisa pensar em ações afirmativas pós-ensino superior”, diz Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.
Traficantes usam sistema postal para enviar e receber drogas
Um coração de pelúcia com os dizeres “Te amo”, um livro, uma máquina de pagamento por cartão, um par de tênis. Itens comuns que passariam sem despertar atenção pela triagem de encomendas dos Correios viraram um meio para traficantes do Rio trazerem e enviarem drogas e dinheiro a outros estados. Uma operação conjunta da Receita Federal e da Polícia Civil fluminense encontrou, em duas semanas, mais de 50 quilos de entorpecentes escondidos em encomendas, avaliados em cerca de R$ 5,8 milhões. Ao menos 12 criminosos já foram identificados e estão sendo investigados. Os números não levam em consideração as ações deste ano, em que a quantidade de drogas ainda não foi contabilizada.
Entre 30 de novembro e 15 de dezembro, foram quatro ações de rastreamento de pacotes. As encomendas selecionadas como suspeitas são retiradas da Central de Distribuição dos Correios, em Benfica, na Zona Norte do Rio, e levadas para a base da Receita Federal no Aeroporto Internacional do Rio, na Ilha do Governador. A área no Galeão foi escolhida por ser um espaço com ambiente controlado, maior mobilização e estrutura de segurança.
“O trabalho é feito diariamente com o apoio da Polícia Civil. As ações contam com equipes para estabelecer critérios de análise e identificar remessas com indícios de drogas”, explica o auditor fiscal Ewerson Augusto da Rocha Chada, chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita no Rio. “Contamos com o apoio de agentes da perícia da Polícia Civil que fazem inspeções individuais em produtos, além de toda a parte investigativa que faz o levantamento e o balanço com as informações de remetentes envolvidos nesses envios. Esse trabalho já levou à análise de aproximadamente 600 remessas, e a gente quantifica aproximadamente 98% de sucesso na interceptação dos produtos.
Até 15 de dezembro, foram apreendidos 50,7 quilos de entorpecentes como maconha, ecstasy, haxixe, metanfetamina, cocaína e crack, dando um prejuízo de aproximadamente R$ 3,5 milhões ao tráfico. A pesagem das drogas não considera os 180 selos da droga sintética NBOMe, comercializada no mercado ilegal a R$ 200 cada, ou os mais de 13 mil frascos de lança-perfume, vendidos a R$ 170 a unidade, o que eleva o valor total das apreensões para mais de R$ 5,8 milhões. Para além das operações com a Polícia Civil, em 2022 a Receita apreendeu mais de 168 quilos de drogas em encomendas internacionais nos aeroportos.
O mapeamento dos remetentes das encomendas com drogas permitiu à Polícia Civil e à Receita identificarem pelo o menos 12 traficantes cariocas.
“Um dos casos chamou a atenção dos agentes porque a mesma pessoa, além de enviar encomendas com drogas como cocaína, incluindo uma com três tabletes, quantidade considerada grande para essa modalidade de apreensão, enviou também pacotes com quantidades significativas de drogas sintéticas. Esse caso mostra que o mesmo traficante está enviando diferentes tipos de droga, ou seja, quem atua em uma área do tráfico também está comercializando nas demais”, afirma Ewerson Chada.
As operações iniciadas em novembro foram possíveis devido a uma iniciativa que começou em julho, quando os Correios anunciaram que o envio de remessas em território nacional passaria a exigir o número do CPF a partir de 1º de setembro.
Segundo a Receita Federal, a partir dessa obrigatoriedade, iniciou-se uma investigação em todas as remessas postais do país. A apuração levou agentes a uma remessa de 1.200 comprimidos de ecstasy apreendida em Fortaleza, no Ceará.
As informações da apreensão foram cruzadas com as bases de dados da Receita e dos Correios, e agentes observaram que o mesmo remetente tinha enviado drogas para destinatários de outros estados, dentre eles o Rio. A partir daí, começou uma investigação da Receita para identificar padrões nas remessas suspeitas, muitas vezes com indícios fortes de tráfico, tendo em vista a abundância de material enviado numa mesma encomenda. A tendência é que, com o trabalho dos agentes, o número de apreensões desse tipo caia. Anteriormente, antes de o tráfico migrar para as encomendas dos Correios, a Receita Federal apurava e apreendia drogas em casos semelhantes com encomendas enviadas por transportadoras no país. Durante todo o ano de 2022, esse tipo de esquema resultou na apreensão de apenas 480 gramas de drogas, reflexo de que as ações forçaram uma mudança na operação dos criminosos — e também alteraram o foco das ações da Receita.
Agora, a expectativa dos agentes é que, nos primeiros meses de 2023, isso aconteça também nas remessas de entorpecentes enviadas pelos Correios, fechando o cerco e excluindo as possibilidades para pessoas que usam esse meio para o tráfico.
TRÁFICO ‘ELITIZADO’
O delegado Marcus Vinicius Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), especializada da Polícia Civil que acompanha as ações da Receita nos Correios, afirma que, no Rio, a região que mais recebe drogas pelo sistema postal é a Zona Sul. Ainda de acordo com ele, o perfil de traficante que utiliza o método também chama a atenção: pessoas com conhecimento e especialização na confecção de drogas sintéticas em bairros das zonas Sul e Oeste, como Recreio e Barra da Tijuca.
“É um caso interessante, porque a gente pode observar que é uma modalidade de tráfico que nada tem a ver com o tráfico de drogas em comunidades. É um tráfico elitizado e que, muitas vezes, tem o envolvimento de pessoas com conhecimentos específicos em áreas como a engenharia química, para a produção da droga sintética. Não é o tráfico já conhecido feito em comunidades carentes, que se concentra majoritariamente em drogas como cocaína, maconha e crack”, afirma Amim. Em nota, os Correios informam que “trabalham em parceria com os órgãos de segurança pública e fiscalização para prevenir o tráfego de itens proibidos por meio do serviço postal”. A empresa também explica que seus empregados “atuam de forma diligente visando a identificar postagens em desacordo com a legislação”. E que, “quando constatada a presença de conteúdo suspeito em seu interior, o objeto é encaminhado à autoridade competente para avaliação especializada”. Ainda segundo os Correios, “muitas das operações de repressão a ilícitos começam por meio do processo de fiscalização não invasiva (raio X)”.
Pesquisa aponta que expediente em casa nos EUA saltou de 5%, em 2019, para 30%, no ano passado
Durante quase três anos, desde que as precauções provocadas pela pandemia tornaram regra o trabalho remoto, as empresas vêm negociando um “novo normal” num contexto que, segundo alguns, beneficia os trabalhadores: contratar tem sido difícil, pedir demissão virou tendência e os empregadores estavam em uma posição favorável para atender as preferências dos funcionários.
Esse tempo acabou. Apesar do número de vagas continuar sendo superior ao de candidatos, e embora muitos prevejam que os Estados Unidos vão entrar em recessão, a maioria dos economistas espera mais demissões e menos vagas de emprego nos próximos meses, conforme as empresas repensam a forma como operam. Na semana passada, a Amazon disse que cortaria 18 mil postos de trabalho, ou cerca de 6% de seu quadro de funcionários, e a Salesforce afirmou planejar demitir 10% de seus empregados, ou aproximadamente oito mil profissionais. O Goldman Sachs está se preparando para dispensar até 4 mil pessoas.
À medida que o local de trabalho muda, alguns CEOs famosos enxergam uma oportunidade de trazer os funcionários de volta ao escritório. Em maio de 2021, David Solomon, CEO do Goldman Sachs, disse para os profissionais do banco se prepararem para voltar ao escritório no mês seguinte, a fim de incentivar uma maior colaboração presencial e a vivência da cultura da empresa.
Elon Musk acabou com a “política de trabalho de qualquer lugar” do Twitter em seu primeiro e-mail aos funcionários depois de adquirir a empresa no ano passado, dizendo que exigiria deles pelo menos 40 horas por semana no escritório. Bob Iger quase fez a mesma exigência em seu retorno como CEO da Disney em novembro, mas teria dito aos funcionários que se preocupava “com o impacto negativo a longo prazo sobre as pessoas que decidiram não passar tanto tempo no escritório”.
Mas será que o experimento do trabalho remoto provocado pela pandemia está prestes a terminar? Economistas que estudam a mudança para locais de trabalho mais flexíveis dizem que provavelmente não, apesar da pressão de alguns dos CEOs mais conhecidos do mundo.
CRESCIMENTO
No ano passado, o trabalho remoto ficou bem acima dos níveis anteriores à pandemia, de acordo com dados compilados por um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford, da Universidade de Chicago e do Instituto Tecnológico Autônomo do México.
Em 2019, cerca de 5% de todos os expedientes em dias úteis pagos nos Estados Unidos foram trabalhados de forma remota, segundo os dados do censo. Mas quando o grupo começou a coletar os dados para a Pesquisa de Acordos e Condutas de Trabalho dos EUA (SWAA, na sigla em inglês), uma consulta mensal com trabalhadores, essa proporção pulou para mais de 60%, em maio de 2020. No ano passado, a porcentagem ficou em torno de 30%.
“Estamos todos de volta às tendências anteriores à pandemia nas compras online, mas permanentemente em alta com o trabalho online”, disse Nick Bloom, professor de economia em Stanford e coautor da pesquisa mensal.
A situação de trabalho remoto mais comum, de acordo com a SWAA e uma série de outras pesquisas, é agora o esquema de trabalho híbrido, com os funcionários trabalhando alguns dias no escritório e outros remotamente. As empresas, as indústrias e as situações individuais variam muito quanto às preferências e à viabilidade do trabalho remoto, mas, em média, ambos os lados têm ideias semelhantes a respeito da quantidade de tempo ideal para se passar no escritório.
Na pesquisa SWAA de dezembro, os trabalhadores que conseguem executar suas tarefas de casa disseram que preferiam trabalhar remotamente cerca de 2,8 dias por semana. Seus empregadores planejavam permitir que eles trabalhassem mais ou menos 2,3 dias por semana. Não é uma diferença grande entre as expectativas.
DESLOCAMENTOS
Há razões óbvias pelas quais os funcionários dizem gostar de trabalhar remotamente: querem evitar o tempo e o dinheiro gastos com o deslocamento; concentram-se mais sem as conversas do escritório; sentem que é melhor para o seu bem-estar ficar em casa. Quando a consultoria McKinsey perguntou a 12 mil candidatos a emprego no ano passado por que estavam em busca de um novo emprego, “flexibilidade no trabalho” ficou logo atrás de “melhores salários ou horários de expediente” e “melhores oportunidades de carreira”.
O que muitas vezes passa despercebido – e é uma das razões pelas quais alguns economistas acreditam que uma recessão teria pouco impacto na mudança nos acordos de trabalho – é que permitir aos funcionários trabalhar fora do escritório também pode beneficiar as empresas.
Em uma pesquisa realizada pelo ZipRecruiter, site de vagas de emprego, os candidatos disseram, no geral, que aceitariam um corte salarial de 14% para trabalhar remotamente.
Embora o mercado de trabalho continue forte, a economia está desacelerando e as empresas estão em busca de saídas para tornar suas vagas melhores sem aumentar os salários. E muitas delas dizem que estão recorrendo ao trabalho remoto para isso. “Não é que não vá haver alguma perda do poder de barganha por parte dos trabalhadores”, disse Steven Davis, professor da Universidade de Chicago e coautor da SWAA. “Apenas muitos empregadores têm suas próprias razões para pensar que a mudança, a mudança parcial, para o trabalho remoto é benéfica para eles também.”
Segundo um artigo publicado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA (NBER, na sigla em inglês), Bloom, Davis e outros perguntaram às centenas de executivos seniores entrevistados todos os meses pelo Federal Reserve de Atlanta se eles haviam ampliado o trabalho remoto como uma forma de “manter os funcionários felizes e aliviar as pressões para aumento salarial”. Trinta e oito por cento disseram ter feito isso nos últimos 12 meses, incluindo metade dos executivos que trabalham em setores como finanças, seguros, imóveis e serviços profissionais; e 41% disseram que planejavam fazer isso no próximo ano.
Os autores usaram as estimativas dos executivos sobre quanto eles economizaram com salários ao oferecer a opção de trabalhar remotamente para concluir que isso reduziria os gastos das empresas com salários em 2% em dois anos.
“Isso não é muito”, disse Davis. “Mas sugere que há benefícios não triviais para muitas empresas com o trabalho remoto.”
É na sistematização que a burocracia goza enquanto você agoniza
Kafka e suas profecias sobre o mundo nascente da burocracia moderna são conhecidos. Burocracia é um sistema criado para, supostamente, servir às pessoas, mas, que, na verdade, existe para proteger o Estado e as empresas das pessoas. A função primária da burocracia é fazer você invisível e irrelevante. E fazer daqueles que tem poder sobre você, inacessíveis e inimputáveis.
Processos que caem na sua cama, burocratas de um castelo que ninguém alcança, execuções sem justificativa, mensagens que chegam a lugar nenhum, insetos humanos cujo principal temor é perder o emprego, enfim, o universo kafkiano é caracterizado por personagens que vagam por um mundo que os esmaga, mas com quem eles não podem se comunicar. Faz de você um inseto mudo.
Os incautos sempre acharam que a alma da modernidade era o progresso técnico. Não, esse é seu fetiche. Seu verdadeiro coração, o lugar em que ela goza orgasmos infinitos, é a burocracia.
Vejamos alguns exemplos de profecias kafkianas realizadas na burocracia do nosso cotidiano. Vale lembrar que o espírito do mundo de Kafka é um mundo em que você não tem com quem falar, em que ninguém sabe propriamente nada. Logo, ninguém tem como oferecer sentido para nada. Mas esse mundo, ao mesmo tempo, é organizado e sistêmico, cobrindo a realidade com o manto da esquizofrenia social moderna. Uma prisão a céu aberto. É na organização e sistematização que a burocracia respira e goza enquanto você agoniza.
Banking é uma das áreas mais kafkianas do mundo contemporâneo. Gerentes que mudam como se fossem fantasmas com uniforme cuja função na maioria dos casos é enrolar o cliente – exceções honrosas são espécies em extinção. Os grandes bancos simplesmente não estão nem aí para você, apesar do marketing feliz.
Não há com quem falar, e, quando procuram você, é porque alguém no atendimento quer ganhar pontos para a carreira. Você é nulo. Todo o mercado financeiro hoje é uma farsa.
O atendimento ao cliente é uma mentira. E só vai piorar porque as pessoas contam cada vez menos no mundo do capital financeiro. Quem conta é quem tem muito dinheiro. O serviço bancário pequeno está em extinção.
Empresas de infraestrutura, como luz, água, telefone, internet e afins, são outro nicho kafkiano. Você fica sem luz, sem água, sem internet dias e não tem com quem falar. Se algum erro acontece, você clama no deserto. Profissionais mal treinados e ressentidos maltratam você e enrolam. Um rato de Kafka atende você, mesmo que seja digital. Há uma pedagogia para idiotas nisso tudo. Essas empresas prometem um paraíso digital que na realidade não existe nem para millennials treinados. Deve-se reconhecer que no Brasil há um agravante: o país é feito de golpistas, ladrões e oportunistas. Isso obriga, principalmente os bancos, a criar infinitos passos de segurança que só atrapalham a vida do cliente e protegem o banco das próprias infelicidades que podem se abater sobre o cliente. Um millennial treinado nos fetiches digitais também sofre, ao contrário do que se vende por aí. O aplicativo nunca é tão eficiente, são inúmeros passos, senhas, SMS com códigos que caducam e você terá de repetir os passos todos de novo, e, ao fim, a chance de você ter de falar com um daqueles gerentes ausentes e inconsistentes é enorme. E aí, espere dias para ele responder suas mensagens. O digital é blasé.
Outro segmento kafkiano é o mundo das companhias aéreas. Qualquer intercorrência – que pode, de fato, ter ocorrido à revelia de qualquer “culpa” da empresa – fará o cliente ficar como uma barata correndo de um lado para o outro no aeroporto. A companhia pode simplesmente cancelar seu voo, dizer que foi por motivos operacionais e que se dane sua conexão, seu compromisso, seus planos. E você não pode fazer nada. Pode berrar com a funcionária – ou colaboradora, como os picaretas de recursos hoje falam -, ela repetirá frases automáticas porque ela nem está vendo você de fato, e você acabará com cara de quem gosta de barraco. Ficará ali, como um cão de rua, abandonado, humilhado, pronto para o abate.
LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
SAIBA O QUE IDOSOS DEVEM OU NÃO COMER PARA MANTER A SAÚDE EM DIA
Alguns nutrientes são essenciais para proteger essa população de doenças comuns após os 60 anos, enquanto certos alimentos têm contraindicações
Ferro, vitaminas e cálcio são alguns dos elementos essenciais para o bom funcionamento do corpo, geralmente obtidos por meio de uma dieta equilibrada e saudável. Eles também garantem a vitalidade e a energia fundamental para as ações do dia a dia, principalmente entre idosos.
A nutrição incentiva as pessoas a comerem bem para que o corpo obtenha os nutrientes dos quais necessita. Além de fornecer energia e ajudar a controlar o peso, uma boa alimentação é essencial para prevenir alguns problemas de saúde, como osteoporose, hipertensão, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e vários outros tipos de enfermidade.
Sobre como uma boa alimentação pode ajudar um adulto com mais de 60 anos, a nutricionista Maria Sol Pascua destaca que os problemas mais frequentes nessa faixa etária são: fragilidade ou sarcopenia devido à diminuição da massa magra e muscular, desidratação, desnutrição por falta de apetite ou ausência de dentes que dificultam a ingestão de alimentos, problemas gastrointestinais como diarreia e prisão de ventre.
“Além disso, essa população costuma ser polimedicada, e tal consumo pode gerar interações com alimentos. Por isso, nós profissionais devemos estar sempre atentos a essa ocorrência no contexto do acompanhamento nutricional”, enfatiza a especialista.
Pascua acrescenta que, como as condições de saúde dos pacientes são muito diversas, o ideal é que o plano alimentar seja personalizado. No entanto, com exceção de casos extremos com patologias subjacentes, existem algumas orientações gerais sobre como equilibrar a saúde dos idosos através da alimentação.
Existem certos alimentos que os idosos devem evitar comer, no geral. Alguns porque podem diminuir o nível de energia, enquanto outros aumentam o risco de contaminação. Veja exemplos.
CARBOIDRATOS REFINADOS
Enquanto os carboidratos complexos são ótimos para manter altos níveis de energia, os carboidratos refinados não são indicados. Eles contêm açúcares simples e possuem menos minerais, vitaminas e fibras que os carboidratos complexos. Portanto, podem causar picos de açúcar no sangue e, em seguida, cair. Essa oscilação diminui a energia e faz com que o idoso se sinta mais cansado e fraco. Alguns exemplos de carboidratos refinados são: pão, arroz branco, biscoitos salgados, bebidas açucaradas (como refrigerantes), produtos à base de farinha de trigo, cereais não feitos de grãos integrais. Evite-os sempre que puder.
ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL EM EXCESSO E CRUS
Comer produtos de origem animal é recomendado por profissionais para ter uma alimentação saudável. No entanto, é importante comê-los com moderação, pois eles demoram mais para serem digeridos do que os alimentos de origem vegetal, impactando na produção de energia pelo corpo. Exemplos de produtos de origem animal incluem carne vermelha, carne de porco, peixe e ovos. Não é para evitar comê-los, basta ingerir uma quantidade adequada, sem excessos.
Além disso, Ruth Frechman, nutricionista e porta-voz da American Dietetic Association, aponta que os idosos devem evitar alguns alimentos crus, principalmente aqueles de origem animal, devido aos germes que eles podem abrigar.
“À medida que envelhecemos, torna-se mais difícil para nossos corpos combater infecções, e fica mais fácil adoecermos”, explica.
Para Frechman, os idosos devem evitar comer os seguintes alimentos: ovos crus; queijos macios, como brie, camembert e variedades de queijos azuis; ostras cruas e mexilhões; leite não pasteurizado; sucos não pasteurizados; carne crua ou malpassada; sushi; ceviche.
O QUE SE DEVE COMER
Alguns minerais e vitaminas são importantes para a manutenção da saúde de pessoas mais velhas. Veja quais:
CÁLCIO
A osteoporose é um dos problemas de saúde mais frequentes nos idosos, especialmente nas mulheres.
“O cálcio é responsável por manter os ossos saudáveis e garantir o funcionamento de inúmeras funções do organismo. Sabemos que em uma idade mais avançada, há menor absorção de cálcio pelo organismo”, destaca a nutricionista Juliana Gimenez.
Boas fontes de cálcio são os laticínios, como leite, queijo e iogurte, e vegetais de folhas verdes, como brócolis, repolho e espinafre.
“É importante levar em conta que o cálcio é um mineral que pode ter sua absorção prejudicada pela presença de oxalatos e fitatos. Por isso é importante ter ajuda profissional para balancear o cardápio”, alerta Pascua.
FERRO
Esse é um elemento importante da hemoglobina, cuja função é levar oxigênio a todos os tecidos por meio do sangue. A melhor fonte de ferro é a carne vermelha, embora também possa ser incorporada por meio de leguminosas, peixes oleosos, ovos, fígado e vegetais verdes.
VITAMINA C
No corpo funciona como um poderoso antioxidante, pois ajuda a proteger as células contra os danos causados pelos radicais livres. Além disso, alimentos e bebidas ricos em vitamina C são essenciais na dieta, pois permitem a absorção do ferro. Especialmente frutas cítricas, verduras, pimentões e tomates são boas fontes.
VITAMINA D
É essencial para todos porque ajuda a construir e manter ossos, dentes e músculos saudáveis. Apesar do nome, este composto é um hormônio obtido a partir de três fontes principais: luz solar, alimentos e suplementos de vitamina D. Somado a isso, Pascua acrescenta que alimentos como peixe, leite fortificado, bebidas vegetais fortificadas e ovos também são ideais para incorporar o composto ao organismo.
ÁCIDO FÓLICO
Também conhecido como vitamina B9, é usado pelo organismo para produzir novas células todos os dias. Os alimentos que contêm ácido fólico ajudam a manter uma boa saúde nos idosos. Boas fontes disso são vegetais verdes, arroz integral e frutas cítricas.
Conhecer o próprio corpo e cuidar da mente, as chaves para alcançar o prazer feminino
Medo, vergonha e falta de estímulo estão entre as causas de tantas mulheres terem dificuldades de conseguir o prazer sexual. Para especialistas, a chave para reverter esse quadro é o autoconhecimento.
Falar sobre orgasmo, prazer, libido e, principalmente, sexo é falar sobre saúde mental. Claro que a relação entre a prática sexual e a qualidade de vida, especialmente em propagandas de ejaculação precoce ou impotência sexual masculina, já é abordada há tempos. Mas e para as mulheres? “É muito difícil falar sobre o orgasmo, pois a maioria foi muito reprimida ao longo da vida inteira com frases como ‘isso é feio’, ‘isso não é coisa de mulher certa’”, diz a educadora sexual Luana Lumertz.
Muito além da falta de educação sexual, a condenação do prazer e da masturbação feminina – muitas vezes, movida por questões religiosas –, é permeada por diversos tabus e traumas que acabam vindo à tona durante um momento tão íntimo. “As pessoas fazem sexo, muitas vezes, no automatismo e aprendem que o papel do ato é dar prazer para o outro, especialmente no universo feminino”, afirma a psiquiatra e sexóloga Juliana Alves. “O sexo, então, deixa de ser para si.” “Quando era mais jovem, eu tinha muitas questões com meu corpo e isso acabava atrapalhando, porque em vez de estar concentrada em sentir prazer, eu estava pensando na minha barriga ou na celulite ou qualquer outra ‘noia’ que a gente acaba criando”, exemplifica a empresária e criadora de conteúdo Laís Conter, de 34 anos.
Com tanta coisa acontecendo na hora do ato, é difícil se permitir e se entregar ao prazer. E a conversa, seja por medo ou por vergonha, vira coisa rara até entre os parceiros. Nessa atmosfera, a pesquisa Mosaico 2.0, feita pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em 2016, revelou que 44,4% das mulheres brasileiras têm dificuldades de chegar ao orgasmo intenso; mais de 50% das entrevistadas dizem não se masturbar. “Importante lembrar que a falta de orgasmo feminino está atrelada às disfunções sexuais masculinas. Afinal, ele não dá o tempo e o estímulo necessário para que ela tenha o orgasmo”, esclarece Carmita Abdo, coordenadora da pesquisa e do programa de estudos em sexualidade da USP.
Não houve novas análises com essa abrangência, mas estudos menores indicam que a porcentagem é parecida nos dias atuais. “É realmente muito importante que se comece a entender a sexualidade feminina como específica e particularizada”, orienta Carmita. Segundo ela, muitas vezes a mulher finge o orgasmo para que o homem não sinta sua masculinidade atingida.
ANATOMIA
De acordo com ela, a mulher conhece muito pouco a própria anatomia genital. “Ela não se permite ter esse contato íntimo com o seu corpo, como se aquela área fosse algo intocável, como se não tivesse ao alcance dela”, observa. No entanto, é essa intimidade que permite ter conhecimento dos próprios prazeres e autonomia para chegar ao clímax.
“Existe uma correlação direta entre o autoconhecimento e a maior taxa de satisfação sexual de orgasmo”, avalia a ginecologista Brunely Galvão. Sem julgamentos ou preocupações com outra pessoa, o prazer é facilitado. Além disso, com a prática, a pessoa consegue entender do que gosta ou não, o que, consequentemente, facilita as futuras relações sexuais. Afinal, sem conhecer a própria corporeidade e o próprio orgasmo, como saber o que se está buscando?
“Se a pessoa nunca chegou ao orgasmo sozinha, dificilmente ela vai conseguir com outra pessoa. É preciso entender onde ela gosta de ser tocada, com que velocidade, pressão e intensidade, quais outras partes do corpo têm estímulos. Há pessoas que são mais sensíveis e outras que são menos. Então, envolve esse descobrimento”, ressalta Luana.
Depois de ter aceitado o seu corpo e de entender como sente o prazer, tirando o medo e a culpa que carregava, Laís afirma que sente liberdade no sexo. “É um sentimento de autonomia do meu próprio prazer”, revela. O processo foi longo, mas hoje ela faz questão de falar sobre sexualidade em suas redes sociais e ajudar outras mulheres a discutirem sobre seus medos e desejos.
Uma das questões mais abordadas por ela é a descentralização da mulher do lugar de reprodutora para o de protagonista, no qual o orgasmo não é algo secundário. “Eu percebi que existe muito essa lacuna de ter alguém próximo para que você consiga perguntar coisas que podem parecer idiotas ou bobas, mas que não são. Todas as perguntas são válidas”, afirma.
EDUCAÇÃO SEXUAL
Na maioria das escolas, as aulas de sexualidade abordam os assuntos de menstruação e reprodução sexual, mas dificilmente pautas como prazer, preliminares ou masturbação são exploradas. Sem lugar para dúvidas ao longo da puberdade, os jovens recorrem ao que é encontrado com facilidade na internet: conteúdo pornográfico.
“A comparação vem justamente do tabu de não falar sobre sexualidade, inclusive com a gente mesmo. Achamos que é preciso atingir uma performance ou fazer tal posição porque todo mundo faz e segue os exemplos que achamos por aí”, informa Juliana.
No caso das mulheres, a comparação da performance vem junto com a comparação dos corpos e até mesmo das partes íntimas expostas. “O Brasil é um dos países campeões em cirurgias estéticas, incluindo cirurgia íntima. Mas é preciso naturalizar, especialmente entre mulheres mais velhas, a vulva ter pelo ou menos pelo, ter um lábio interno mais proeminente ou não. O importante é que isso não cause dor e desconforto”, explica a ginecologista.
Para a produtora Gabriela Garcia, de 33 anos, é difícil falar de libertação sexual diante desse cenário. “O que é oferecido para nós como referência de sexualidade – e não só o pornô, mas qualquer tipo de entretenimento – não fala sobre comunicação das relações, sobre camisinha, sobre sexo oral, além de sempre serem expostos com corpos-padrão.”
Nascida em uma família bem religiosa, ela nunca pôde falar sobre questões relacionadas à prática sexual com a família, que dirá sobre prazer. “Eu fui criada para casar, ter filhos, como se o sexo nunca fosse o centro, mas sim algo que a gente nunca falava, sempre ligado ao errado”, conta.
Sem saber ao certo o que fazer com a sua vida sexual, ela engravidou da primeira pessoa com que se relacionou sexualmente. “Foi quando eu comecei a me dar conta da importância de falar sobre sexualidade.”
ESTÍMULO MENTAL
A educadora sexual Luana também percebe essa demanda de instrução em seu sex shop, que abriu aos 20 anos com a mãe. “Muitas das pessoas que aparecem lá estão tendo seus primeiros orgasmos ou estão tendo esse primeiro contato íntimo. Então, além de acolher, eu também sempre tenho parcerias com terapeutas e com fisioterapeutas pélvicas para a gente poder encaminhá-las”, avisa.
De acordo com ela, 80% das mulheres não têm orgasmo somente com penetração, sendo o estímulo clitoriano necessário. Além disso, é preciso muito estímulo mental, afinal a sexualidade da mulher não é linear. “A mulher tem um aspecto diferente do homem, no qual o tesão vai e volta, então às vezes ela está quase chegando ao orgasmo, mas aí ela lembra de alguma preocupação”, explica. Ou seja, a sobrecarga mental da mulher, seja com o acúmulo de tarefas domésticas, problemas com filhos, tripla jornada, podem influenciar – e muito.
No entanto, também existem disfunções relacionadas ao orgasmo para pessoas que têm vagina. “Você pode ter uma dificuldade de chegar lá, um atraso ou até a ausência completa dele, que é a anorgasmia”, analisa a ginecologista. Em relação à libido (desejo), é diferente. “A gente não tem um parâmetro de número de vezes por semana que seja considerado normal aquela pessoa ter desejo. Mas querer estar presente naquele momento é essencial. Quando não está presente a gente classifica em causas orgânicas, uma medicação, por exemplo, ou questões psicológicas, que podem envolver ansiedade, depressão”, adianta.
A prática de exercício físico, alimentação e estresse também podem influenciar o desejo. Claro que ele não é espontâneo 24 horas, a vida inteira, mas caso seja algo que você está forçando para funcionar, talvez a resposta seja procurar ajuda. “Há algumas coisas que a gente não controla, mas dentro do possível o sexo não é para doer – nem mentalmente nem fisicamente. Se você estiver lubrificada, à vontade, em um ambiente que tem privacidade, é para dar tudo certo”, explica Brunely.
PRAZER MÁXIMO
Mas afinal, o que é orgasmo? Ela conta que foi durante a adolescência entrou em contato pela primeira vez com o conceito de orgasmo, um ápice de prazer que dura poucos segundos. “Foi então que percebi que eu já havia sentido essa sensação”, conta a bióloga e educadora menstrual Victoria de Castro, de 27 anos. “Nas revistas de adolescente dos anos 2000, pouquíssimo se falava sobre o orgasmo feminino ou sobre o prazer feminino. A maioria era voltada para o homem e boa parte das informações que eu tive nesse sentido era de conhecimento científico”, recorda ela, que hoje, por falar sobre sexualidade em seu Instagram, escuta várias queixas de mulheres nessa área.
“Muitas mulheres já choraram comigo por perceberem tudo de errado que já falaram para elas ou as referências erradas que elas tinham”, declara. “Muitas duvidaram que tivessem tido um orgasmo, porque não saía líquido, por exemplo. Afinal, temos o referencial do pênis.”
O orgasmo é simplesmente uma sensação que pode ter diversas intensidades. Pode ser que um dia ele seja mais intenso e duradouro e, em outro, mais curto. Tudo vai depender do estímulo, do seu relaxamento e do seu corpo. Ou seja, a sensação divina que falam pode não necessariamente acontecer, ou ser rápida demais, mas os benefícios que ela traz são gigantes.
“A gente libera vários mensageiros químicos, como endorfina, dopamina, ocitocina e eles vão atuar nesse movimento gerando prazer e bom humor. Além disso, o relaxamento que vem depois é como se você fizesse um exercício muito prazeroso, o que fortalece o sistema imunológico, ajuda a dormir um pouco melhor e até auxilia no alívio da dor e da irritabilidade”, completa Brunely.
Diferentemente dos homens, as mulheres não têm um período refratário (espécie de esgotamento corporal), o que permite o surgimento de orgasmos múltiplos, mas também possibilita que elas se sintam mais dispostas e energizadas para terminar tarefas. “Isso sem falar da melhorada autoestima, porque você vê que o seu corpo pode te proporcionar prazer. Você se sente mais confiante”, acrescenta Luana.
COMO SE CONECTAR COM VOCÊ MESMA
CONHEÇA SEU CORPO
Para ter repertório sexual é preciso explorar todas as áreas do corpo e, assim, descobrir outras áreas erógenas.
Audição, tato e paladar são importantes. A psiquiatra a e sexóloga Juliana Alves recomenda busca ativa pelo conhecimento. “Descubra o que faz sentido pra você nesse momento e o resto vai ser consequência”, diz ela.
OBSERVE
Da mesma forma, observe seu corpo para amar aquilo que você considera defeituoso ou errado. Normalize esse olhar e valorize o que você já ama. “O espelho é uma ótima dica para a pessoa ter aquele primeiro contato e lembrar de relaxar. Crie uma rotina para isso, com a correria do dia a dia, a gente esquece. Tenha esse tempo para si mesma”, incentiva a educadora sexual Luana Lumertz.
PESQUISE NOS LUGARES CERTOS
Diversas páginas no Instagram se empenham em mostrar, com leveza, o lado real da sexualidade, sem as referências de corpos ultrassexualizados ou pornográficas, expondo vulvas normais, tratando de possíveis medos. Além das mulheres citadas nesta reportagem, perfis como @the.vulva.gallery e @prazerobvious e @prazerela são ótimos caminhos.
CONVERSE
Seja você mesma, com as amigas ou com o parceiro. A conversa sobre o prazer deve começar a existir para que ela seja mais fácil e espontânea. Quanto mais se fala sobre o assunto, menos tabus e estigmas existem. Para isso, se desprenda das amarras sociais e se pergunte o que lhe dá prazer. Se há respeito aos limites dos envolvidos, é válido.
Venez parler de tout ce dont vous avez envie avec moi. Donnez vos opinions en toute liberté. Laissez vos commentaires. Je vous attends nombreuses et nombreux !!! / Translation in English for people who don't speak French : come to speak about all you want with me. Give your opinions with complete freedom. Leave your comments. I await you many and many !!!
"Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertam-se! Convertam-se dos seus maus caminhos!" Ezequiel 33:11b
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