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EXPOSIÇÃO NAS REDES PODE PÔR SUA SEGURANÇA EM RISCO

Fotos, localizações, opiniões políticas e preferências são coletadas com frequência, abrindo brecha para golpes

Boa parte das pessoas já não consegue viver desconectada do mundo digital. E, ao navegar no universo virtual, os cidadãos vão abrindo mão da privacidade, expondo dados, gostos e experiências. Informações são ativos valiosos para o mercado, e é preciso cuidado. Facebook, Instagram e TikTok, por exemplo, traçam perfis de seus usuários o tempo todo e, a cada minuto, fotos, localizações, preferências pessoais e opiniões políticas são coletadas.

A prática de coletar dados é legal, desde que o dono da conta permita, o que é formalizado quando os termos de uso da rede são aceitos. Mas especialistas alertam para questões que fogem ao controle dos usuários.

“Nós presumimos que as redes têm acesso ao que entregamos, mas elas acessam três níveis de informação. Obviamente, as que fornecemos, mas também as que conseguem observar e as que podem inferir com base em padrões, como a hora em que acordamos, o quanto dormimos e até o nosso humor”, diz Christian Perrone, gerente de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS).

É justamente este primeiro nível, o das informações fornecidas pelos usuários, que exige atenção. Renata Tomaz, professora da Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), alerta, por exemplo, para o risco de exposição de crianças e adolescentes:

“Quando falamos de circulação de fotos nas redes, é preciso ter em mente a Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela ONU em 1989, que garante a ela o direito à privacidade. O Brasil é signatário desta Convenção, que dá suporte ao Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990.

IMAGENS DE CRIANÇAS

Ainda que a família não tenha a intenção de expor uma criança, a professora destaca que é preciso tomar alguns cuidados antes de publicar a imagem, como ter um perfil privado, com acesso limitado, e evitar divulgar localização ou lugares frequentados – como a escola, que pode ser identificada pelo uniforme.

“Ao publicar imagens, os adultos estão construindo uma identidade digital que as crianças não escolheram ter. Considerando a dificuldade de apagamento das redes sociais, elas podem ficar conhecidas por características, situações e eventos pelos quais não gostariam.

Também são comuns os relatos de pessoas que tiveram dados reproduzidos por criminosos que, ao se apropriarem da identidade, pediram dinheiro a parentes.

“Toda informação sensível na internet pode ser usada por cibercriminosos. Até o dia do aniversário do cachorro. Datas comemorativas são comumente utilizadas como senhas em redes sociais ou bancos”, diz Fabio Assolini, chefe da equipe global de pesquisa e análise da Kaspersky (empresa de softwares de segurança) na América Latina.

A estudante de Publicidade Ana Beatriz Araújo, de 24 anos, teve a conta do Instagram invadida por um criminoso que tentou aplicar um golpe de compra e venda de criptomoedas, embora ela adote as medidas de proteção sugeridas pela rede.

“No dia em que minha conta foi invadida, vi que ganhei muitos seguidores repentinamente. Eram usuários com nomes robotizados e contas novas. Uma hora depois, meus amigos me mostraram que haviam feito uma publicação no meu perfil. Nela, tentavam aplicar um golpe envolvendo criptomoedas”, relatou.

João Quinelato, professor de Direito Civil do Ibmec, completa:

“Antigamente, a proteção de dados era relacionada ao cartão de crédito ou aos documentos físicos. Hoje, é tudo digitalizado. É necessário mais cuidado.

FACEBOOK E TIKTOK

Dona de Instagram, Facebook e WhatsApp, a Meta diz processar os dados apenas para um “objetivo específico e claramente definido que agregue valor às pessoas”. Além disso, afirma coletar e criar a quantidade mínima de dados para “dar suporte a objetivos claramente definidos”. A companhia garante que guarda informações somente pelo tempo que for “realmente necessário” e oferece aos usuários a capacidade de acessar e gerenciar os dados coletados ou criados sobre eles.

O TikTok afirma coletar informações para “oferecer uma experiência útil e relevante”. Também diz incentivar os usuários a ler sua Política de Privacidade. “Implementamos fortes restrições no acesso, incluindo impedir que as chaves que desencriptam os dados de usuários sejam acessados por funcionários sem autorização ou justificativa necessária para acesso”, diz.

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FACE VISÍVEL DO CÂNCER

Pacientes encaram aplausos e riscos de expor cotidiano com a doença nas redes

A história do câncer saiu das consultas e da privacidade dos lares. Nas redes sociais, pacientes em tratamento falam sobre suas experiências com a doença, comentam seu dia a dia e compartilham informações sobre o tratamento. A doença é verbalizada e há histórias que arrastam milhares de seguidores e apoios. A conta no Instagram de Elena Huelva, uma jovem de 20 anos que contava sua vida como sarcoma de Ewing (tumor raro que atinge os ossos), alcançou 1 milhão de seguidores, e sua morte, em 3 de janeiro, transformou seu lema (“Meu desejo vence”) em um dos temas mais comentados no Twitter.

Ela também acredita que essa exposição tem riscos, como o de sentir a obrigação de contar algo por pressão:

“Isso não é Netflix, um episódio toda semana. Essa pessoa tem que poder decidir o que fala, quando fala e se deve deixar de falar.

Vozes sobre o câncer têm se feito ouvir nos últimos tempos. Além dos casos de famosos que anunciaram seus diagnósticos, há também revelações como a de Angelina Jolie, que se submeteu a uma dupla mastectomia como medida preventiva. Isso ajudou a “tornar visível uma realidade”, afirma Sonia Pernas, oncologista do Instituto Catalão de Oncologia (ICO). Coma ascensão das redes sociais, pacientes anônimos usaram a visibilidade para contar a vida com a doença.

Paco Gil, responsável pelo setor de psico-oncologia do ICO, garante que a utilização das redes sociais é “um recurso que as pessoas apreciam”:

“As pessoas se sentem validadas. Mas é importante que haja verdade, que também não se gere ilusões.

INDIVIDUALIDADE

Não existem dois doentes iguais e a forma como lidar com a doença é diversa, insistem os especialistas: para alguns, pode fazer bem contar sua rotina de tratamento. Para outros, o contrário.

“Quem faz, desabafa, sente a companhia dos outros. Mas quem está mais exposto não é necessariamente aquele que está lidando melhor com aquilo”, pondera Tania Estapé, presidente da Associação Espanhola de Psico-Oncologia.

O sentimento de luta e positividade, apontam os especialistas, “pode ser bom” para muitos pacientes. Mas Estapé alerta que há também “a armadilha do pensamento positivo”, que frustra quem não alcança a mesma atitude otimista.

Outra questão delicada, segundo os especialistas consultados, é o impacto que a morte de um paciente deixa nos seguidores.

Estapé admite que, após a morte de um paciente que contou a vida nas redes, vê-se “uma cascata de pacientes deprimidos ou assustados”. Saber que alguém famoso morreu pode ser “um gatilho para o medo de uma recaída”. Pernas defende, de qualquer forma, a responsabilidade ao compartilhar conteúdo sobre câncer nas redes sociais. Ela lembra que todas as informações divulgadas devem ser verídicas e embasadas cientificamente.

“Tome cuidado onde você obtém suas informações para não criar falsas expectativas —adverte.

Assim como aconteceu com Hilda, o outro risco dessa exposição é o assédio que os pacientes podem sofrer. Ou suas famílias. No caso dela, a filha denunciou “falta de respeito” e cobranças de seguidores que exigiam atualizações. Cervelló pesou esses fatores antes de se expor:

“O risco é você não ter o controle e acabarem te obrigando a fazer ou falar algo que você não quer. Não preciso gerar conteúdo.

As redes sociais de Hilda Silvério, com câncer de mama desde 2014, reúnem mais de 300 mil seguidores, embora sua família tenha visto a face mais amarga das redes recentemente e tenha denunciado casos de ameaças e assédio. Especialistas destacam o benefício de tornar a doença visível. Mas também alertam para os riscos de revelar o câncer nas redes: o paciente pode perder o controle de sua exposição pública e outros doentes podem ficar frustrados com a história.

Sara Cervelló não é de contar a vida nas redes sociais. Quando posta, é para compartilhar pesquisas sobre o câncer e divulgar sua participação em mesas redondas com especialistas. Ela tem 40 anos e aos 37 foi diagnosticada com um tumor de mama com metástases ósseas.

“Cada paciente lida com a doença como sabe, como pode ou como quer. Uso as redes para divulgar pesquisas, mas não preciso expor meu dia a dia”, explica.

Ela também segue algumas contas de pacientes.

“Eu sigo algumas, mas não ativamente porque não quero abrir o Instagram e ver pacientes contando seu dia a dia com câncer porque eu já tenho o meu”, admite. Porém, Sara destaca o lado positivo que a história de outros pacientes traz: tornar visível uma realidade que ela compartilha:

“Quando vejo relatos assim, sinto que não estou sozinha. É importante mostrar o lado humano, que não somos apenas um número. 

GESTÃO E CARREIRA

AMBIÇÃO NA MEDIDA CERTA PODE AJUDAR A TURBINAR A CARREIRA

Especialistas sugerem que é necessário manter objetivos definidos e buscar metas que ultrapassem o ambiente do trabalho para integrar a vida pessoal

Ambição. Provavelmente você  já escutou algo sobre essa palavra. Em uma simples pesquisa na internet, a característica é resumida como ”coragem, força e desejo de poder ou riquezas, honras ou glórias”. A empresária e CEO da Cortes e Companhia,  Egnalda  Cortes, de 49 anos, vai mais longe. Ela a considera uma “tecnologia de liberdade”, uma espécie de instrumentalização para alcance de objetivos. Afinal, a ambição pode favorecer o crescimento da carreira e de outros aspectos do âmbito pessoal? Especialistas indicam que é possível, sim. O diferencial está em como a direcionamos e em que lugar a colocamos na vida.

Egnalda dedicou 22 anos de sua trajetória atuando em grandes corporações. Durante o percurso, encarou situações que a fizeram enxergar a ambição como uma ferramenta positiva para o clima organizacional. A escolha das metas de forma estratégica foi um dos faróis para alcançar o equilíbrio.

“Eu sabia o que eu queria: prosperidade, pluralidade. Para alcançar o propósito, ela costumava incentivar colegas de trabalho a praticar a colaboração no cotidiano. “Não tem sucesso, não tem ambição, se o coletivo não existe. Quando você cresce, outros vão crescendo junto”, defende a empresária. “Se esse lugar é muito individualizado pode dar certo, a longo prazo pode trazer algumas dores.”

Seguindo essa linha, a ambição para além do trabalho pode até ser mais saudável, afirma a psicóloga e consultora de RH Eymi Rocha. Isso porque investir na competência somente para a carreira tem o potencial de desencadear sinais de frustração, explica.

”A ambição fora do trabalho ajuda a alinhar as demandas e entender qual o momento de acelerar mais ou de puxar o freio”, diz. Por exemplo, uma pessoa que planeja metas ambiciosas apenas em busca de aumento salarial, promoção e outras questões de responsabilidade da empresa, está mais sujeita ao esgotamento. “É preciso entender que o trabalho é um meio para atingir o que precisa, e não o fim”, recomenda.  

Depender de um fator único para contemplar o status de felicidade é perigoso. A demissão silenciosa, por exemplo, ganhou visibilidade na pandemia com o trabalho remoto. A ambição funciona como dispositivo motivador, diz Eymi. Por isso, o desempenho mínimo no trabalho pode estar relacionado com a renúncia à competência.

” A total falta de ambição pode ser maléfica porque tende a estagnar. Por outro lado, o excesso oferece danos porque é uma pessoa que vai querer tudo a qualquer custo”, analisa. O caminho é descartar exageros e radicalismos.

MULHERES AMBICIOSAS

Mesmo que o número de mulheres ocupando cargos de liderança tenha aumentado nos últimos anos, essas profissionais encaram mais desafios do que o sexo oposto.

Afalta de ambição explicita é um dos fatores para não se reconhecerem em posição de líder, o que inclui o medo de dizer que almeja determinado cargo e o temor por falhar e não conseguir.

”A ambição feminina existe. Porém, vive em uma espécie de purgatório. Muitas de nós temos, mas poucas admitimos carregá-la conosco”, provoca a CEO e diretora criativa da Obvious, Marcela Cerlbelli durante a abertura do evento “Mulheres e Ambição”, idealizado pela plataforma em 2022.

EU ACHO …

CONTIGO E SENTIGO

Sabemos como foi uma paixão pelo modo como ela termina. A maneira como se coloca o ponto final nas relações deixa evidente o verdadeiro espírito que norteou o que foi vivido.

Que tipo de final desejamos? De preferência, nenhum. Todo mundo quer um amor para sempre, desde que ele se mantenha estimulante, surpreendente, alegre, à prova de tédio. Ou seja, um amor miraculoso. Como milagre é do departamento das coisas impossíveis, é natural que as relações durem alguns anos ou muitos anos, e depois acabem. Lei da vida. Sofre-se o diabo, mas raros são aqueles homens e mulheres que nunca passaram por isso. O que fazer para amenizar a dor? Talvez ajude se analisarmos o final para entender como foi o durante.

Há os finais chamados civilizados. Ambos os envolvidos percebem o desgaste do relacionamento, conversam sobre isso, tentam mais um pouco, conversam novamente, arrastam a história mais uns meses, veem que nada está melhorando, aguardam passar o Natal e o Ano-Novo, fazem uma última tentativa e então decidem: fim. Lógico que é dilacerante. Não é nada fácil fazer uma mala, dividir os pertences e estipular visitas aos filhos, quando há filhos. A solidão espreita e assusta, e um restinho de dúvida sempre surge na hora do abraço de despedida. Mas foi um the end sem derramamento de sangue. Como conseguiram a façanha?

Provavelmente porque sempre escutaram um ao outro, porque não fizeram da relação um campo minado, porque as brigas eram exceções e não regra. É possível também que a relação fosse mais racional do que animal: ternura é bem diferente de paixão. Mas, enfim, mesmo sofrendo com a ruptura, deram a ela um fim digno, condizente com o que de bacana viveram juntos.

Agora vamos ao outro tipo de separação. Tire as crianças da sala.

A relação acaba geralmente depois de um ataque de ofensas, de uns “não aguento mais”, de muita choradeira, de cortes na alma, de desconstrução total, de confissões gritadas: “Quer saber? Eu fiquei com ela, sim!”. Garanto que se amam mais do que aquele casal que se separou assepticamente, mas perderam toda a paciência um com o outro, e também todo o respeito, e atingiram um limite difícil de transpor. Por que, depois desse quebra-quebra, não tentam um papo conciliador? Ora, porque não fazem a mínima ideia do que seja isso. Sempre foram atormentados pelo ciúme, pelas implicâncias diárias, pelas oscilações de humor, pela alternância de “te amo” e “te odeio”. Terminam falando mal um do outro para quem quiser ouvir, e não raro aprontam umas vingançazinhas. Tudo muito, muito longe do sublime.

Tive um vizinho de porta que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: “Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!”. Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis.

Quando acaba docemente, é sinal de que você foi feliz e nada há para se lamentar. Se acaba de forma azeda, é porque a relação era mesmo uma neura e tampouco se deve lamentar. Nos dois casos, a performance final ao menos ajuda a compreender o que foi vivido e a se preparar para um novo amor que não acabe nunca. Em tese.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CAFEÍNA AJUDA A CORRER MAIS RÁPIDO E AUMENTA FORÇA DOS MÚSCULOS

Substância estimulante do café contribui no desempenho de atletas, mas pode prejudicar habilidades motoras finas

Por dois anos, Steph Gaudreau desistiu de sua xícara diária de café. Não porque a cafeína estava afetando seu sono ou deixando-a ansiosa, mas porque ela queria ganhar uma vantagem em suas competições de mountain bike.

Na esperança de aumentar o efeito da cafeína como auxiliar de desempenho, Gaudreau tomou uma xícara de café no dia da prova, enquanto se aquecia. A atleta, agora uma terapeuta nutricional e treinadora de força, diz que sentiu uma sensação de euforia, que a ajudou a se sentir focada e mentalmente preparada para a competição. A estratégia deu certo. Ela cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.

A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo e uma das mais bem estudadas. Os cientistas têm observado o efeito da dela no atletismo desde 1900. Embora ainda haja alguma discordância quanto ao mecanismo exato pelo qual o consumo de cafeína afeta o desempenho do exercício – e se suspender o consumo até o dia da competição lhe dar uma vantagem -, os cientistas concordam que uma xícara de café antes do treino pode melhorar o desempenho.

No entanto, é importante estar ciente das possíveis desvantagens do consumo de cafeína e saber a melhor forma de usá-la a seu favor durante o treino.

QUANTO DE ENERGIA A CAFEÍNA PODE DAR?

Gaudreau não estava imaginando o efeito de sua xícara de café antes da corrida. Há um bom consenso entre os cientistas de que a cafeína dá uma vantagem ao exercício, seja correr uma maratona, levantar pesos ou jogar futebol, explica Nanci Guest, nutricionista, treinadora e pesquisadora da Universidade de Toronto, que liderou uma revisão abrangente em 2021 de cafeína e exercício.

Seja consumida por meio de café, um suplemento pré-treino ou uma bebida energética, a cafeína tende a melhorar o desempenho em uma média de 2% a 5%, conta Brad Schoenfeld, professor de Ciência do Exercício no Lehman College, no Bronx. Embora a cafeína melhore moderadamente as atividades anaeróbicas (exercícios intensos e curtos), como levantamento de peso e treinamento intervalado de alta intensidade, parece mostrar o maior benefício com esforços aeróbicos (exercícios menos intensos e mais longos), como natação, ciclismo e corrida. Por exemplo, uma análise de 2020 de vários estudos sobre o efeito da cafeína no desempenho do remo descobriu que os remadores competitivos melhoraram seu tempo em cerca de quatro segundos numa prova de 2.000 metros.

Essa resposta à cafeína varia de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como genética, sexo, atividade hormonal e até dieta. Alguns veem melhoria de desempenho acima de 5%, enquanto outros não experimentam melhoria quase nenhuma.

“Existem metabolizadores rápidos de cafeína e metabolizadores lentos”, explica Mike T. Nelson, professor associado do Carrick Institute for Clinical Neuroscience.

COMO FUNCIONA?

A influência da cafeína em nosso sistema nervoso começa com a adenosina, um neurotransmissor que se conecta a receptores específicos e nos deixa sonolentos. A cafeína se liga a esses mesmos receptores, bloqueando o funcionamento da adenosina.

“Quando a cafeína bloqueia esse receptor, o resultado é um efeito estimulante”, pontua Guest.

Isso, por sua vez, libera outros hormônios como dopamina e epinefrina, que estão relacionados ao humor, foco e estado de alerta.

Alguns estudos mostraram que a cafeína também ajuda nossos músculos a produzir mais força. Nosso corpo precisa de cálcio para iniciar as contrações musculares, e a cafeína ajuda a mobilizar os íons de cálcio para que eles tenham uma maior interação com os filamentos que induzem as contrações das fibras musculares.

“A cafeína aumenta a capacidade dos músculos de se contraírem em uma taxa maior e, portanto, criaria mais força”, detalha Schoenfeld.

Outros estudos mostram outra força poderosa em ação: o efeito placebo. Se esperamos que a cafeína nos ajude a ter um desempenho melhor, isso pode ser suficiente. Uma pesquisa feita com velocistas competitivos mostrou que eles tiveram um desempenho tão bom com cafeína quanto com um placebo, desde que fossem informados de que ingeriram cafeína. Quando os atletas foram informados de que receberam um placebo, eles correram mais devagar, mesmo que tivessem recebido cafeína.

COMO VOCÊ DEVE USAR A CAFEÍNA PARA AJUDAR NO SEU DESEMPENHO ATLÉTICO?

Seja físico ou mental, os benefícios da cafeína se aplicam a atletas competitivos e àqueles que desejam apenas uma ligeira melhora em seu treino. Um estudo descobriu que a cafeína melhorou, em provas de 5km, o tempo de corredores bem treinados em 11 segundos e corredores recreativos em 12 segundos.

“Para o atleta de elite ou de alto nível, isso significará muito”, garante Nelson.

Estudos mostram que a dose ideal para melhorar o desempenho varia entre 3 e 5,9 miligramas por quilo de massa corporal.

Por exemplo, uma xícara de café de 235ml tem cerca de 100 miligramas de cafeína (isso varia de acordo com o tipo de café e do método de preparo). Portanto, duas xícaras de café para uma pessoa de 68kg resultam em 2,9 miligramas por quilo.

Experimente café com frequência até encontrar sua dose ideal. Depois de encontrá-la, a consuma cerca de uma hora antes do exercício para dar tempo de a corrente sanguínea absorver a cafeína.

EFEITOS COLATERAIS

Embora a cafeína possa ajudar no exercício, ela tem alguns efeitos adversos.

“Se o seu desempenho envolve habilidades motoras finas, elas tendem a se sair pior”, alerta Nelson.

Tomar café no fim do dia para ajudar o treino no turno pode atrapalhar deu sono.

Qualquer ganho de desempenho que a cafeína esteja lhe dando pode ser anulado se você estiver passando por uma privação crônica do sono.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

POR QUE TEMOS DIFICULDADE EM MANTER O FOCO NO DIA A DIA?

Excesso de estímulos dificulta a concentração; estipular um tempo sem interrupção é uma das soluções sugeridas por especialistas

Em 2004, Gloria Mark, professora de informática da Universidade da Califórnia, em Irvine, observou os profissionais do conhecimento em um dia típico no escritório. Usando um cronômetro, ela anotou todas as vezes que eles trocaram de tarefa no computador, passando de uma planilha para um e-mail, para uma página da web, para outra página da web e de volta para a planilha. Ela descobriu que as pessoas demoravam em média 2 minutos e meio em uma determinada tarefa antes de trocar. Quando Mark repetiu o experimento em 2012, o tempo médio gasto por funcionários de escritório em uma tarefa caiu para 75 segundos. E continuou caindo a partir daí.

“Nossos momentos de atenção enquanto estamos em nossos computadores e smartphones se tornaram curtos – muito curtos –, já que agora gastamos cerca de 47 segundos em qualquer tela, em média”, escreveu Mark em seu novo livro, Attention Span: A Groundbreaking Way to Restore Balance, Happiness and Productivity (Amplitude de Atenção: Uma Forma Inovadora de Restaurar o Equilíbrio, a Felicidade e a Produtividade, ainda sem data para ser lançado no Brasil).

Quem já tentou estudar para uma prova, escrever um relatório ou ler um livro sabe como é difícil se concentrar por períodos significativos de tempo. Normalmente, os aparelhos digitais são os culpados pela interrupção. A internet é onisciente, nossos telefones onipotentes, e juntos eles exigem e destroem nossa concentração. Mesmo quando realmente tentamos nos concentrar em uma tarefa, muitas vezes descobrimos que não conseguimos, com nossos olhos vidrados e pensamentos à deriva. Felizmente, há modos de recuperar o controle de sua atenção.

O QUE NOS DISTRAI?

As notificações são uma das principais fontes de distração – esses toques nos desconcentram do trabalho e solicitam que verifiquemos mensagens de texto, e- mails ou o Slack (programa de mensagem instantânea). Como nossos cérebros são projetados para prestar atenção à novidade, esses alertas são quase impossíveis de ignorar. E, se você tentar, provavelmente descobrirá que sua ansiedade aumenta. Em um estudo, psicólogos levaram usuários intensos e moderados de smartphones para o laboratório sob os auspícios de um experimento diferente. Eles conectaram os participantes a monitores de condutância da pele, que medem os níveis de excitação, e retiraram seus telefones, dizendo-lhes que eles interferiam no equipamento de pesquisa. Em seguida, os pesquisadores enviaram mensagens de texto aos participantes várias vezes; os telefones estavam perto o suficiente para que eles ouvissem, mas longe para que pudessem verificar.

Quando seus telefones tocavam, os níveis de excitação dos participantes disparavam. “Eles sentiam que precisavam responder àquele texto ou pelo menos ver de quem era, e não podiam”, disse Larry Rosen, professor emérito de psicologia na Universidade do Estado da Califórnia e coautor do estudo. “E isso lhes causou ansiedade.”

De acordo com Mark, também pegamos nossos telefones porque precisamos de uma pausa. Simplificando, nossos cérebros não são capazes de se concentrar por longos períodos. Manter a atenção e resistir às distrações consomem recursos cognitivos, e precisamos nos reabastecer periodicamente para recuperar o foco. Não há uma equação para calcular o número de pausas que cada um precisa por dia, mas Mark conta que é normal que o foco vá diminuindo. “Não se pode esperar que mantenhamos a atenção por um longo período de tempo, da mesma forma que uma pessoa não consegue levantar pesos o dia todo.”

Embora uma caminhada no quarteirão ou 10 minutos de meditação provavelmente sejam mais rejuvenescedores, não há nada de errado em navegar nas redes ou jogar um jogo repetitivo como Candy Crush para recarregar. O problema surge quando as pausas se tornam mais longas ou frequentes do que você pretendia. É aqui que entram o cronômetro e o autocontrole.

FAÇA PAUSA CRONOMETRADA

Para aumentar seu tempo de atenção, Rosen recomendou empregar o que ele chama de “pausa tecnológica”. Antes de se concentrar em uma tarefa, reserve um ou dois minutos para abrir os seus apps favoritos. Em seguida, defina um cronômetro para 15 minutos, silencie o telefone, vire-o para baixo e coloque-o de lado. Quando o cronômetro parar, você tem mais um ou dois minutos para verificar seu telefone – uma pausa tecnológica. Repita esse ciclo três ou quatro vezes antes de fazer uma pausa mais longa no trabalho.

O objetivo é aumentar gradualmente o tempo entre as pausas tecnológicas, ampliando-as para 20, 30 e até 45 minutos. Rosen revelou que você saberá que está pronto para se concentrar por períodos mais longos quando o cronômetro parar e você quiser permanecer na tarefa em vez de pegar o aparelho.

TENTE A LEITURA NO PAPEL

Pausas tecnológicas e autoconsciência podem ajudá-lo a controlar o desejo de pular de uma tela para outra, mas Maryanne Wolf, professora residente da Escola de Pós-Graduação em Educação e Estudos da Informação da Ucla, ensinou que mesmo quando estamos lendo apenas uma tela, não estamos muito concentrados nela. Isso ocorre porque as telas são projetadas para nos fazer ler muito rapidamente – para passar os olhos, e rolar a tela. Como resultado, não damos toda a atenção ao texto e estamos mais propensos a perder informações.

“A natureza de uma tela é atualizar as informações”, observou Wolf. “Existe uma mentalidade psicológica para ir do início ao fim o mais rapidamente possível.” Tradicionalmente, nossos cérebros tendiam a ler materiais impressos mais lentamente, em parte, porque era mais provável que voltássemos e checássemos novamente o que tínhamos acabado de ler. Esse tempo extra se prestou a processos mentais sofisticados como análise crítica, inferência, dedução e empatia.

Infelizmente, imprimir um artigo ou optar por um livro físico em vez do Kindle não garante que você se torne um leitor mais engajado repentinamente. Nossos cérebros se adaptam para ler no estilo do meio que usamos com mais frequência, e é provável que você passe muito mais tempo lendo na tela do que no papel. Como resultado, segundo Wolf, você provavelmente lê um material impresso da mesma forma que lê em tela. Para voltar à prática do que Wolf chama de “leitura profunda”, tente dedicar pelo menos 20 minutos por dia à leitura de um livro físico, juntamente com as dicas de Mark e Rosen para combater a distração. Comece com algo que você deseja ler por prazer, defina um alarme para 20 minutos, coloque o telefone no modo silencioso e obrigue-se a ler devagar e deliberadamente.

Não fique frustrado se você não ficar concentrado imediatamente. Quando Wolf tentou esse experimento, levou duas semanas até que pudesse se envolver e aproveitar o que estava lendo.

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ENTIDADE AMERICANA INDICA REMÉDIO E BARIÁTRICA PARA CRIANÇA COM OBESIDADE

Associação pediátrica atualiza, após 15 anos, orientações sobre como tratar excesso de peso infantil; médicos brasileiros destacam necessidade de prevenir e mudar hábitos

Associação Americana de Pediatria (AAP)  atualizou, após 15 anos, suas recomendações para o tratamento de crianças e adolescentes  com sobrepeso e obesidade.  Embora  reforce que a terapia focada em  mudança de estilo de vida seja o mais eficaz, admitiu pela primeira vez a possibilidade de intervenção combinada com medicamentos emagrecedores (a partir dos 8 anos) ou cirurgia metabólica e bariátrica (em casos de obesidade grave e pacientes com 13 anos ou mais).

O  documento é divulgado no momento em que  a obesidade, doença crônica, é considerada uma ”epidemia”, agravada com o isolamento social imposto pela covod-19. Além disso, diz a associação, os Estados Unidos têm ambiente ”cada vez mais  obesogênico”,  que promove o comportamento sedentário e escolhas alimentares pouco saudáveis.

No  Brasil, conforme a pesquisa Nacional de Saúde 2019, a  proporção de pessoas com obesidade na população adulta, entre 2003 e 2019, mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8. No ano passado, o Ministério da Saúde informou que a obesidade infantil afeta 3,1 milhões de crianças menores de 10 anos no País; e o excesso de peso – 6,4 milhões –  “O Brasil curiosamente saltou da desnutrição para a obesidade.

Não tivemos um intermediário”, diz Durval Damiani, chefe de Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança  e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

AVAL

Especialistas ouvidos veem com bons olhos as novas recomendações. Destacam que o plano valida opções já feitas pelos médicos, mas que sofriam resistência, na visão deles, por causa de estigmas. Outro ponto elogiado é o documento reconhecer a obesidade como doença multifatorial, não uma escolha; e, sobretudo, um desafio não de alguns médicos especialistas, mas de todos os que atendem o público Jovem. ”O que chama muito a atenção é a Sociedade de Pediatria, como um todo, discutindo algo antes visto como assunto de alguns médicos especialistas em obesidade, que eram até meio marginalizados por outros”, diz o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome  Metabólica (Abeso). Ele aponta que isso é um passo preventivo importante. “Ninguém desenvolve a obesidade de um dia para o outro. A gente tem batalhado muito para que o pediatra chame a atenção da criança ou do adolescente para a obesidade, mesmo que esta não tenha sido a causa primária da consulta,”

Endocrinologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, Julienne Carvalho diz que o tratamento de crianças depende muito dos pais e responsáveis. “O pediatra é o médico de confiança da família desde sempre. Ele tem de estar a par dessas informações novas, para que a família se sinta realmente segura em fazer um tratamento que, até então, não imaginava possível.”

Segundo Damiani, remédios e cirurgia são cogitados apenas quando mudar o comportamento, sozinho, não apresenta resultados. Ele conta que sua equipe foi pioneira em cirurgia bariátrica em adolescentes no País. Em 2007, operaram uma paciente de 15 anos.

“Ela tinha de andar com apoio dos pais do lado, como se fossem muleta. Não ia à escola. Você não imagina o quanto caíram em cima da gente, dizendo que éramos loucos de operar uma criança com 15 anos”, afirma.

“Chocou o mundo (a indicação de remédio ou cirurgia) porque as pessoas têm preconceito com a obesidade. Existe ainda a visão antiquada e preconceituosa de que a obesidade é uma escolha e é somente relacionada a maus hábitos de vida”, diz Halpern. No documento, a AAP destaca que a farmacoterapia pode ser prescrita para crianças a partir dos 8 anos em  ”condições especificas”, após avaliação de risco e benefício, embora frise que não haja amplo  escopo de evidências para o uso desses medicamentos em pacientes menores de 12 anos.

GOVERNO

Em contato com o Ministério da Saúde e questionou-se quais eram as recomendações  para tratamento de obesidade infantil e os planos de atualizações. A pasta informou que o SUS “oferece assistência integral às pessoas com sobrepeso e obesidade, com  atividades preventivas de vigilância alimentar, acompanhamento nutricional, além de assistência clínica e cirúrgica, como cirurgia bariátrica e reparadora para corrigir excesso de pele”.

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PREÇO FAZ HOMENS TRANSSEXUAIS INTERROMPEREM HORMONIZAÇÃO

Testosterona teve aumento de 380% e passou de R$ 52 para mais de R$ 250

Com aumento do valor da testosterona desde setembro de 2022 em até 380%, homens transexuais se viram obrigados a interromper o tratamento hormonal e acompanham retrocessos em seus corpos, como queda de pelos e retorno do ciclo menstrual.

A alta no preço ocorreu devido uma liminar do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que permitiu à farmacêutica brasileira EMS reajustar o valor de comércio do medicamento Deposteron (cipionato de testosterona), de fabricação própria.

A substância é utilizada em casos de hipogonadismo masculino, doença relacionada ao mau funcionamento dos testículos que causa deficiência de testosterona, e por homens trans para terapia hormonal – nessa situação, a recomendação é que o hormônio seja aplicado a cada 21 dias.

Para 2022, a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) estabeleceu ajuste máximo de 10,89% nos preços de produtos farmacêuticos. De acordo com a tabela de preços ao consumidor divulgada em abril pelo grupo, o Deposteron deveria custar em torno de R$ 52,55 em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, considerando o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) de 18%.

A tabela de dezembro, no entanto, mostra R$ 252,49. Não há previsão de que a decisão seja revista, segundo as partes, o que gera problemas imediatos para os usuários do medicamento.

É o caso de Aron Giovanni de Oliveira, 22. Formado em ciências sociais, ele vive em Goiânia e está desempregado. Afirma que a última dose de testosterona que recebeu foi em setembro, quando teve de interromper o tratamento hormonal devido à alta no preço do medicamento.

De lá para cá, ele percebeu mudanças em seu corpo, como o retorno da menstruação. Oliveira diz que reconhece que é uma situação temporária, mas lamenta que impacte não apenas seu bem-estar como seu trânsito na cidade. Segundo ele, essa é segunda vez que precisa parar o tratamento por causa do valor. Na primeira, lembra que enfrentou um processo depressivo forte. Agora, enfrenta a situação de forma mais confiante devido a ganhos na sua identidade visual, como pelos no rosto – que ficaram mais finos, mas não desapareceram. A volta da menstruação, porém, tem sido difícil.

“Perceber que eu estou regredindo nas minhas características sexuais me traz medo, além de desconforto comigo mesmo, porque eu não me sinto seguro”, diz ele.

De acordo com o médico ginecologista Sérgio Okano, professor na Universidade de Ribeirão Preto e médico-assistente do Ambulatório de Incongruência de Gênero da USP, há pioras nos sintomas de disforia de gênero, o sofrimento provocado pela discordância entre seu sexo biológico de nascimento e sua identidade de gênero.

Okano diz que nem todos apresentam o retorno do sangramento quando o período de interrupção da terapia é curto. Porém, quanto maior o tempo sem tomar o hormônio, maior a probabilidade do retorno do ciclo menstrual.

Segundo Okano, faltam pesquisas e dados referentes aos possíveis danos físicos que a interrupção do tratamento pode acarretar. “A chance de o paciente desenvolver complicações são superiores em quem faz suspensões intermitentes em relação àqueles que já fazem o uso mais contínuo.” O medicamento não é distribuído pelo SUS, afirma o ginecologista, que relata que algumas cidades conseguem comprar o hormônio por meio de parcerias com empresas ou empregões. “É uma briga que precisa acontecer porque esse tratamento é essencial para a pessoa trans adquirir essas características. Não há outra forma de se fazer isso.”

Nicholas Iqueda, 23, se viu sem recursos para obter o hormônio e acabou deixando de tomá-lo por oito meses, após quatro anos de tratamento.

“Mexeu com meu emocional estar com essa falta de hormonização”, conta. “Não achei que poderiam voltar a acontecer algumas coisas, como sangrar. Eu tinha prometido para mim mesmo que eu nunca mais iria passar por isso porque eu vivia momentos horríveis durante o meu ciclo.” Porém, em novembro, o ciclo menstrual retornou. “Fiquei dias sem falar com a minha namorada, falei coisas absurdas, me diminuindo como homem e me sentindo inferior. Comecei a duvidar de mim mesmo, se eu era homem o suficiente”, relembra.

Em dezembro, ele conseguiu comprar um hormônio mais concentrado que o Deposteron, o undecilato de testosterona, que possui intervalo de três em três meses. Mesmo que continue desempregado, ele diz que não vai deixar mais de tomar o remédio. “Vou conseguir outro emprego, mesmo se não conseguir, vou me virar para conseguir tomar o remédio”, diz ele, que ainda está pagando parcelado a dose de dezembro. A farmacêutica EMS, fabricante do Deposteron, diz que o medicamento obteve registro sanitário em 1992, período anterior à criação da CMED. “Por causa disso, o Deposteron possuía um teto inicial de precificação que seguiu defasado por todo esse período. Somente em agosto de 2022, para estar de acordo com as condições e os mesmos critérios da atual legislação, o preço do Deposteron passou por uma adequação junto aos órgãos competentes”, afirmou.

GESTÃO E CARREIRA

MODELO DE GESTÃO ‘SEM CHEFE’ DÁ AUTONOMIA E ESTIMULA A EQUIPE

Com decisões tomadas de forma mais horizontal, profissionais podem tocar projetos com menos burocracia

Para a maioria das empresas, era inimaginável até pouco tempo atrás ter uma cultura organizacional em que os funcionários atuassem com mais autonomia, substituindo o “chefe mandão” por um modelo de gestão mais horizontal e colaborativo. Com a pandemia, que impôs o trabalho remoto, boa parte das organizações percebeu que o formato funciona e pode ser mais produtivo. Com autonomia, flexibilidade e liberdade, trabalhadores entregam resultados melhores.

Essa é uma das premissas do movimento “unbossing”, que prega a transição de um sistema de hierarquia muito delimitado para o modelo unboss (sem chefe), em que o objetivo está mais nos processos cooperativos. A ideia não é nova. Quem lançou a reflexão foi o veterano gestor e conselheiro empresarial Lars Kolind e o “serial startupper” (fundador de uma série de startups de sucesso) Jacob Botter, autores do livro Unboss, de 2012.

Boa parte da teoria criada pela dupla dinamarquesa foi baseada na experiência do próprio Kolind na Oticon, empresa de aparelhos auditivos fundada em 1904, que ele assumiu como presidente no final da década de 1980. Na época, a companhia estava estagnada e começava a perder mercado para concorrentes como Philips e Siemens.

Kolind foi ousado. Virou a gestão da empresa de ponta-cabeça, estabelecendo uma estrutura que descentralizou o poder e as tomadas de decisão. A ideia era inspirar pessoas a pensar, decidir e perseguir um propósito comum dentro da organização.

No formato, o gestor deixava de ser um controlador para ser um apoiador do processo. E os resultados para o negócio vieram poucos anos após a mudança: no final de 1995, o faturamento da Oticon foi de US$ 160 milhões (R$ 820 milhões), com lucro de US$ 20 milhões (R$ 102,5 milhões) – aumento de 100% em relação a 1990.

AUTONOMIA

“O termo unbossing está muito associado ao conceito de “liderança servidora”, em que o líder se adapta às necessidades da equipe, ouve mais do que fala, oferece mentoria, treina e desenvolve as pessoas”, afirma Caroline Marcon, consultora especializada no desenvolvimento de líderes e equipes de alta performance. Ela diz que teve a oportunidade de participar de perto do processo de unbossing da Novartis, que começou uma transformação global em 2019. “Na essência do conceito estava promover uma cultura de inovação na companhia, porque eram emergentes a perda de patentes e a necessidade de inovar em termos de soluções médicas.”

Os bons resultados do negócio, diz Caroline, apareceram, pois mais pessoas passaram a pensar em uma solução criativa e diferente para a resolução de problemas. “Isso também transforma o ambiente corporativo em termos de aprendizagem, não só para as equipes, mas para os líderes, porque todos aprendem juntos. É um ambiente de maior segurança psicológica, informalidade e colaboração que desenvolve as pessoas de maneira geral.”

ASPIRAÇÕES

Para Jonata Tribioli, especialista em cotas de empreendimento e um dos diretores comerciais da construtora e incorporadora NeoIn, a gestão no desenvolvimento e resultados dos funcionários trazem bons frutos. “Ninguém sabe de tudo. As experiências individuais podem contribuir muito com o todo porque os ângulos, perspectivas e experiências são diferentes”, diz. “Temos 130 pessoas trabalhando no escritório. São 130 mundos diferentes, com visões diferentes e que podem acrescentar absurdamente ao negócio.” O executivo afirma que o formato conecta a empresa com as aspirações pessoais do trabalhador por meio de treinamentos. “(O funcionário) Tem de assumir o poder pessoal e a própria criatividade, além das responsabilidades do lugar a que ele quer chegar. Esse modelo de gestão mais horizontal está muito ligado ao respeito às vivências de cada um”, diz.

DECISÕES

Presidente e diretor de marketing da empresa de bebidas One More, Arthur Guimil diz que o modelo sem chefe já estava na empresa desde a sua criação. Mas ele entende que, conforme a companhia for crescendo, adaptações serão necessárias.

“Por exemplo, não vai dar mais para todo mundo sentar na mesma mesa, mas dá para todos estarem no mesmo ambiente, dentro dessa estrutura ágil e versátil”, afirma. “É diferente de uma estrutura burocrática, em que a decisão demora para chegar. Mantendo os colaboradores com autonomia e responsabilidade para tocar os projetos, os resultados acabam vindo de uma forma muito mais positiva”, diz.

O executivo diz acreditar que a cultura da empresa também fica mais sólida em um ambiente colaborativo, ponto importante para que o time se sinta estimulado e parte do negócio. Isso também impacta o turnover, que se torna bem menor, segundo ele. “A gente passa 10, 12 horas por dia trabalhando e não tem como desassociar o trabalho do pessoal, então tem esse estímulo por leveza e alegria. Mas, é claro, cobrando a responsabilidade de todo mundo, dado que a autonomia para tocar os projetos é muito maior”, diz. Para isso, há um cuidado para que o alinhamento e a comunicação sejam diretos e claros.

A One More adotou momentos diários batizados de touch points, em que são compartilhadas informações sobre a evolução dos projetos, quais as dificuldades e onde é preciso ajudar. As reuniões ocorrem com a participação de toda a equipe. “O financeiro faz parte das tomadas de decisão do marketing, que por sua vez faz parte das tomadas de decisão do comercial”, diz Guimil. “A gente vai evoluindo junto, acompanhando as tarefas em conjunto, o que faz com que todo mundo esteja na mesma página e ciente das dificuldades e desafios.”

EU ACHO …

AI DE NÓS, QUEM MANDOU?

Mulheres ganham salários menores que os dos homens, e líderes feministas seguem lutando para reverter essa injustiça. Mas já não sei se é boa ideia continuar batalhando por igualdade. Depois de ler o resultado de uma recente pesquisa feita pela Universidade de Harvard, fiquei inclinada a pensar que talvez seja melhor manter as coisas como estão. A pesquisa chama-se Schooling Can’t Buy Me Love (Escolaridade não pode me comprar amor) e confirma que quanto mais as mulheres estudam, mais elas progridem. Porém, quanto mais bem-sucedidas, menores as chances de casar. Os homens ainda não estão preparados para abrir mão da superioridade que o papel de provedor lhes confere. E mesmo os mais antenados, que apoiam que suas mulheres sejam independentes, ficam inseguros se elas tiverem cargos de chefia e muita visibilidade. Ganhar dinheiro, tudo bem, mas aparecer mais do que eles já é desaforo.

Beleza. O que vamos dizer para nossas filhas? Estudem, mas fazer doutorado e mestrado é exagero, antes um bom curso de culinária. Tenham opiniões próprias quando conversarem com as amigas, mas em casa digam apenas “ahã” para não se incomodar. Usem seu dinheiro para comprar roupas, pulseiras e esmaltes, esqueçam o investimento em viagens, teatro e livros. E na hora de se declararem, troquem o “eu te amo” por “eu preciso de você”, “eu não sou ninguém sem você”, “eu não valho meio quilo de alcatra sem você”. Homens querem se sentir necessários. Amados, só, não serve.

Que encrenca que as feministas nos arranjaram. Estimularam o pensamento livre, a autoestima, a produtividade e a alegria de trilhar um caminho condizente com nosso potencial. De apêndices dos nossos pais e maridos, passamos a ter um nome próprio e uma vida própria, e acreditamos que isso seria excelente para todos os envolvidos, afinal, os sentimentos ficaram mais honestos, e com eles os relacionamentos. O amor deixou de ser o álibi para um lucrativo arranjo social. Passou a ser mais espontâneo, e as carências de homens e mulheres foram unificadas, já que todos precisam uns dos outros para dividir angústias, trocar carinho, pedir apoio, confessar fraquezas, unir forças no momento das dificuldades. Todos se precisam da mesma forma, não de formas distintas. Mas há quem defenda que homem só precisa de paparico e mulher de quem tome conta dela, e basta.

Nunca imaginei que em 2010 ainda estaria escrevendo sobre isso. Achei que os homens já tivessem percebido o quanto ganham em ter uma mulher inteira a seu lado, e não um bibelô. Acreditei que a competitividade tivesse dado lugar a um companheirismo mais saudável e excitante, onde todos pudessem se orgulhar dos seus avanços e se apoiar nas quedas, mas que iludida: isso não existe, filha. Essas mulheres aí que não cozinham, não passam, não lavam, que só evoluem, essas não são exemplo pra ninguém, são umas coitadas de umas infelizes que pagam as contas e ainda se acham divertidas, se fazem de inteligentes, querem bater perna em Nova York, pois vão arder no fogo do inferno, vão amargar na solidão, vão morrer abraçadas nos seus laptops, aqui se faz, aqui se paga, pode escrever.

Tamo ferrada.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

MAGNÉSIO, O NUTRIENTE QUE FALTA NA MAIORIA DA POPULAÇÃO

Mineral é responsável por ajudar mais de 300 enzimas em vários processos no corpo, além de contribuir para uma noite de sono reparadora

Nos últimos meses, muito se falou nas redes sociais sobre a importância dos suplementos de magnésio. Muitos sugerem que sintomas como problemas para dormir, músculos tensos e baixa energia são sinais de que você tem uma deficiência deste mineral e que deve tomar um suplemento.

Acontece que a maioria de nós provavelmente tem deficiência em magnésio. Segundo algumas pesquisas, grande parte das pessoas não consome a quantidade recomendada do nutriente para atender às necessidades do corpo. Estima-se que mesmo em países desenvolvidos entre 10% e 30% da população tenha uma leve deficiência do mineral.

O magnésio é um dos muitos micronutrientes de que o corpo precisa para se manter saudável. Ele é essencial para ajudar mais de 300 enzimas a realizar vários processos químicos no corpo, incluindo aqueles que produzem proteínas, fortalecem os ossos, controlam o açúcar no sangue e a pressão sanguínea e mantêm os músculos e os nervos saudáveis. O magnésio também atua como um condutor elétrico que ajuda o coração a bater e a contrair os músculos. Além disso, o nutriente atua na produção de neurotransmissores que contribuem para um sono de qualidade.

Dada a importância do mineral para o corpo, se você não estiver consumindo o suficiente, a falta dele pode causar uma miríade de problemas de saúde. Mas, ainda que a maioria de nós provavelmente seja deficiente em magnésio, isso não significa que você precise tomar suplementos para garantir que está ingerindo o suficiente.

Na verdade, com um planejamento adequado, a maioria de nós pode obter todo o magnésio de que precisamos com os alimentos que ingerimos.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS DE FALTA DO MINERAL?

A maioria das pessoas com baixos níveis de magnésio não é diagnosticada, porque os níveis de magnésio no sangue não refletem com precisão quanto dele é realmente armazenado nas células. Vale lembrar que os sinais de que há baixa do mineral no corpo só se tornam evidentes quando você já apresenta uma deficiência instalada.  Os sintomas incluem fraqueza, perda de apetite, fadiga, náuseas e vômitos.  Mas as manifestações que você experimenta e sua gravidade dependerão de quão baixos são seus níveis.

Se não for controlada, uma deficiência de magnésio está associada a um risco aumentado de alguns problemas crônicos, incluindo doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes tipo 2, enxaquecas e doença de Alzheimer.

Embora qualquer pessoa possa desenvolver uma deficiência de magnésio, certos grupos correm mais risco, incluindo crianças e adolescentes, idosos e mulheres na pós-menopausa.

Distúrbios como doença celíaca e doença inflamatória intestinal, que dificultam a absorção de nutrientes pelo corpo, podem torná-lo mais propenso à deficiência de magnésio, mesmo com uma dieta saudável. Pessoas com diabetes tipo 2 e alcoólatras também são mais propensas a ter baixos níveis de magnésio. Além disso, a grande maioria das pessoas nos países desenvolvidos corre o risco de deficiência de magnésio devido a doenças crônicas (certos medicamentos prescritos como diuréticos e antibióticos, que reduzem os níveis do mineral), diminuição do teor de magnésio nas plantações e dietas ricas em alimentos processados.

COMO INCORPORAR O NUTRIENTE NA DIETA?

Com os muitos problemas que podem ocorrer devido aos baixos níveis de magnésio, é importante certificar-se de que você está comendo o suficiente em sua dieta.

A quantidade recomendada de magnésio que uma pessoa deve consumir diariamente dependerá de sua idade e estado de saúde. Mas, em geral, os homens de 19 a 51 anos devem ingerir entre 400 e 420mg por dia, enquanto as mulheres nessa faixa etária devem consumir entre 310 e 320mg.

Embora frutas e vegetais hoje contenham menos magnésio do que há 50 anos, e o processamento remova cerca de 80% desse mineral dos alimentos, ainda é possível obter todo o nutriente necessário em sua dieta se você a planejar com cuidado.

Alimentos como nozes, sementes, grãos integrais, legumes, vegetais de folhas verdes (como couve ou brócolis), leite, iogurte e alimentos fortificados são ricos em magnésio.

Apenas 28 gramas de amêndoas contêm 20% das necessidades diárias de magnésio dos adultos.

Embora a maioria de nós seja capaz de obter todo o magnésio necessário dos alimentos que ingerimos, certos grupos (como adultos com mais idade) e aqueles com determinadas condições de saúde podem precisar de um suplemento. Mas é importante conversar com seu médico antes de iniciar a suplementação.

Esses produtos são seguros nas dosagens sugeridas, no entanto é importante tomar apenas a quantidade recomendada. Ingerir magnésio demais pode causar certos efeitos colaterais, como diarreia, mau humor, pressão arterial baixa. Também é recomendado que as pessoas com insuficiência renal não os tomem, a menos que sejam prescritos.

O magnésio também pode prejudicar a eficácia de vários medicamentos, incluindo alguns antibióticos comuns, diuréticos e medicamentos para o coração.

Suplementos de magnésio não são uma solução concreta. Embora ajudem, eles não abordam as causas profundas de sua deficiência, como certas condições de saúde que podem causar os baixos níveis.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NO RITMO DO RELÓGIO DA MENTE

Depressão acelera envelhecimento, revela pesquisador

Pessoas acometidas pela depressão costumam se sentir – e parecer – mais velhas do que informa a certidão de nascimento. Não se trata de apenas de sensação. A depressão pode, de fato, tornar uma pessoa mais velha do que a idade cronológica, pois causa envelhecimento acelerado. Um novo estudo de cientistas brasileiros, franceses e canadenses não apenas demonstra esse envelhecimento, como indica caminhos para melhorar o diagnóstico e o tratamento da mais comum das doenças mentais. Ela afeta cerca de 4% da população mundial – ou 320 milhões de pessoas – , pelas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além de abrir novas vias para se criar medicamentos, o trabalho mostra que jejum e exercícios ajudam no tratamento e na prevenção.

“A depressão está associada a um envelhecimento acelerado e evidências desse processo são encontradas mesmo em pacientes jovens”, destaca um dos autores do estudo, Flávio Kapczinski, professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.

A chave está numa proteína chamada GDF11 (sigla em inglês para fator de diferenciação de crescimento 11) revela a pesquisa, publicada no periódico Nature Aging. A GDF11 é um fator de rejuvenescimento. É produzida pelo organismo para dizer às células quando é a hora do detox, de se limpar e jogar fora estruturas celulares danificadas. A ciência chama isso de autofagia.

A depressão está ligada a falhas na autofagia, afirmam os pesquisadores. Há mais de duas décadas Kapczinski e seu grupo investigam os mecanismos biológicos da depressão e outras doenças psiquiátricas, como o transtorno bipolar. Em 2014, quando o papel antienvelhecimento da GDF11 foi descoberto, eles imaginaram que ele poderia ter relação com a depressão. O artigo é a prova de que estavam certos.

“Identificamos fatores tóxicos na depressão e fechamos uma parceria com o Instituto Pasteur, na França, que investigava o papel da GDF11 no rejuvenescimento de neurônios no hipocampo. Mostramos que em animais deprimidos e idosos, essa proteína promove autofagia nos neurônios e isso tem efeitos que melhoram a memória e a depressão”, destaca Kapczinski, considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo em psiquiatria, também diretor do Programa de Neurociência da Universidade McMaster, no Canadá, e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM).

Participaram do estudo cientistas do Pasteur, da McMaster e do Brasil, do grupo do INCT-TM. Os pesquisadores também descobriram que em pacientes deprimidos os níveis de GDF11 são mais baixos. Inclusive nos jovens – a média de idade dos 120 participantes do estudo era 26 anos.

“Uma das coisas que chama atenção nos pacientes com depressão é que parecem mais velhos. Nossa linha de estudo mostra uma razão biológica. O nível de GDF11 está baixo mesmo nos jovens com depressão e indica que eles estão envelhecendo de forma acelerada. Esses níveis baixos de GDF11 podem ser um biomarcador de depressão”, explica o cientista.

Nos animais usados como modelos de depressão foram identificados os sinais de envelhecimento: aumento da inflamação e de oxidantes, diminuição dos telômeros (extremidade dos cromossomos que encurta à medida que se envelhece) e de fatores de crescimento celular.

Tratados como GDF11, os roedores melhoraram dos sintomas de depressão e também de demência. Kapczinski esclarece que na demência há acúmulo indesejável de proteínas por falhas na autofagia. Também é sabido que doenças mentais como a depressão e mesmo o estresse crônico aumentam o risco de demência. Assim, normalizar a autofagia seria uma forma de tratar esse quadro.

“Por isso, acreditamos que, além de ser um marcador biológico da depressão, a GDF11 possa abrir portas para um novo antidepressivo ou medicação para a demência”, enfatiza o cientista.

A GDF11 faz parte de uma complexa rede de interações químicas dentro das células. Ela inibe outra substância chamada mTOR. O papel desta última é bloquear a autofagia no neurônio. Na depressão esse processo de faxina celular está desregulado. Por isso, quando se administra GDF11, os neurônios voltam a realizar a autofagia e a funcionar com normalidade.

Os resultados encontrados em animais precisam ser confirmados em seres humanos, mas Kapczinski está convencido que o caminho rumo a tratamentos mais eficientes para a depressão e a demência é promissor.

“Quem tem depressão começa a envelhecer mais cedo. E talvez ela seja parte de um quadro mais complexo no processo de envelhecimento. O efeito da GDF11 é particularmente forte nos neurônios, mas ele está presente em outros tecidos. Há muita coisa que não sabemos, mas o que descobrimos nos deixa animados”, enfatiza Kapczinski.

FAÇA VOCÊ MESMO

Existem formas de estimular o organismo a manter a faxina interior em dia e prevenir doenças sem recorrer a medicamentos. Exercícios aeróbicos e jejum intermitente estimulam a autofagia e são aliados importantes contra a depressão e as perdas cognitivas, frisa o professor de psiquiatria.

Tanto o jejum quanto a atividade aeróbica mais intensa estimulam as células a se livrarem daquilo que prejudica seu funcionamento.

O cientista diz que uma hipótese é que esse efeito benéfico seja uma herança evolutiva do tempo em que seres humanos eram obrigados a percorrer muitos quilômetros para comer e não serem comidos. E também a suportarem longos períodos sem alimentos.

Sob estresse da atividade física intensa e da falta de comida, o organismo se protegia. Entretanto, sem essa limpeza, verdadeiros detritos celulares se acumulam e, com o passar do tempo, causam danos.

Um exemplo dos benefícios da dieta e do exercício é o caso de uma paciente tratada pelo grupo de Kapczinski, em Porto Alegre. Aos 66 anos, Joana (esse não é o nome verdadeiro da paciente) se viu prisioneira da depressão. Ela vivia isolada em casa e não tinha disposição para nada.

“A primeira coisa que nos chamou atenção é que ela parecia mais velha do que sua idade cronológica”, diz o psiquiatra.

Dona Joana também estava acima do peso e era extremamente sedentária. Na verdade, passava a maior parte do tempo deitada. Chorava fácil, se lamentava de tudo, perdera a autonomia e tinha déficit de memória. Sofria de síndrome metabólica: glicemia e colesterol nas alturas, gordura visceral (em torno dos órgãos) acumulada e inflamação pelo corpo. Vivia à base de sedativos e calmantes, mas isso não aliviava a ansiedade.

TRANSFORMAÇÃO

Kapczinski diz que a melhora significativa do quadro depressivo aconteceu quando ela, além da terapia farmacológica, passou a realizar um programa intensivo de exercícios aeróbicos e dieta.

Antes, dona Joana chegava a beber nada menos que cinco litros de refrigerantes por dia e comia basicamente alimentos ultraprocessados. Trocou tudo isso por água e dieta saudável.

“Em seis meses a paciente reduziu o peso, aumentou a mobilidade e voltou a participar de reuniões familiares. Teve melhora da memória e das funções cognitivas”, conta ele, salientando a importância da atividade física e da dieta no tratamento de doenças mentais.

OUTROS OLHARES

BUSCA DE REMÉDIOS PARA CRIANÇA DORMIR AUMENTA E ACENDE ALERTA EM MÉDICOS

Pais recorrem a antialérgicos e até a remédios tarja preta para melhorar o sono dos filhos; uso indevido pode resultar em sonambulismo

Com 2 anos e 4 meses de vida, o filho da administradora e empresária Talita Valentim começou a tomar melatonina para dormir. “Ele resistia ao sono, sempre se batendo, reclamando e acordando de madrugada. Foi um período bem exaustivo”, diz a mãe, afirmando que a possibilidade de transtorno do espectro autista era investigada e o pediatra indicou a substância para acalmá-lo.

A melatonina é um hormônio propagado, cada vez mais, como suplemento para melhorar o sono de adultos. Mas, segundo o presidente do Departamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Gustavo Moreira, a procura por esse e outros caminhos também cresce para crianças – “e preocupa”.

Dúvidas e publicações online e offline indicam interesse por soluções para o sono de crianças, que vão de adolescentes até recém-nascidos. Chás, gotas de florais e medicamentos antialérgicos, que têm como efeito adverso sonolência, estão entre as saídas que entram na roda.

Pedacinhos de comprimidos tarja preta, como Zolpidem, que já são parte da rotina de um adulto da casa, são administrados de forma indevida, segundo especialistas. Mas Moreira adverte que podem causar reações como sonambulismo e terror noturno. Fernanda Dubourg, neuropediatra e especialista em Sono pela Universidade de Nantes, na França, reforça que a oferta de substâncias indutoras de sono sem acompanhamento profissional pode pôr a saúde das crianças em risco. “Não existe fórmula mágica, nem gotinha, nem jujuba, nem xarope. O que precisa ser dito é: se existem problemas com o sono, deve se procurar ajuda médica, conversar com o pediatra. É preciso avaliar a criança para caracterizar se é o sono normal ou se existe algum distúrbio do sono, ou transtorno no neurodesenvolvimento”, orienta.

Segundo Gustavo Moreira, não há estudos que demonstrem que a melatonina funcione para qualquer um. “Ela é indicada em situações específicas, para condições como o autismo, quando a produção do hormônio se encontra reduzida, e não para a população em geral”, afirma.

Faltam no país dados oficiais sobre o ritmo do consumo – e perigos envolvidos – em meio ao crescimento observado pelos profissionais da saúde.

Nos EUA, relatório publicado em 2022 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostra que o número de ingestões pediátricas de melatonina aumentou 530% no país entre 2012 e 2021, com efeitos como distúrbios do sistema nervoso, gastrointestinais e cardiovasculares em 17,2% dos casos.

No filho de Talita Valentim, outros efeitos foram percebidos. “Ele ficava com a barriga muito inchada e chorava com a mão na cabeça. Quando descobrimos os males, fomos tirando [a substância]. A gente percebia que ele ficava como se fosse dopado. A sensação de culpa foi enorme”, diz ela. Na casa da confeiteira Didiane Singh, a descoberta de autismo no caso da filha também foi precedida por noites mal dormidas e, por fim, pela busca de alternativas.

“Eu comecei a dar chazinho de camomila, que não surtia muito efeito, e vi na farmácia terapia floral para bebês. Nos primeiros dias, eu já percebi melhora.” A menina, hoje com um ano e seis meses, faz uso de medicação para dormir, prescrita pelo médico. A mãe diz que suspendeu os florais. “O produto contém benzoato de sódio e álcool e eu não usaria de novo devido a essas substâncias”, afirma.

A médica Fernanda Dubourg reforça que em casos de insônia infantil o primeiro passo é a avaliação especializada para o diagnóstico correto e indicação do melhor plano terapêutico, na maioria das vezes não medicamentoso.

OUTROS OLHARES

JOVENS DA GERAÇÃO Z BEBEM MENOS OU NENHUM ÁLCOOL

Levantamento internacional aponta grupo como o mais sóbrio da História

A geração Z – nascida entre a segunda metade dos anos 90 até o início da década de 2010 – é a mais sóbria de todos os tempos. Dados de um estudo internacional do HBSC (grupo de estudos que analisa o comportamento de saúde em crianças em idade escolar), patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que os jovens e adolescentes estão bebendo menos do que nunca. No geral, apenas 8% ingerem álcool toda semana, um terço dos que estavam na mesma faixa etária em 2006. Além disso, 76% acreditam que tomar cinco ou seis drinques em um fim de semana pode causar “muitos problemas”.

Eles ficam sóbrios por motivos de saúde física e mental, e sem estigma: não é preciso ter sido viciado para querer ficar sem beber. Um estudo realizado no Reino Unido constatou que, entre os jovens de 16 a 25 anos, era considerado normal ser abstêmio: 26% não bebem álcool. Na geração baby boomer, aqueles que têm entre 57e 77 anos hoje, só 15% poderiam se qualificar assim.

Nos Estados Unidos, outro estudo, de 2020, constatou que, entre os universitários, os que não bebem álcool cresceram de 20% para 28% em uma década. E dos que experimentam álcool, 27% só consomem uma vez por mês, e 25% uma vez por semana.

Os jovens da geração Z foram os primeiros, mas não os únicos, a aceitar desafios ou participar de streams para evitar o hábito de beber. Uma grande variedade de desafios com a hashtag #alcoholfree servem para atrair atenção à quantidade de álcool consumida. Eles contam cada dose como quem conta calorias. Não são abstêmios, mas alguns se autodenominam “mindful drinkers” (“bebedores conscientes”, em tradução livre do inglês).

A jornalista inglesa Rosamund Dean é considerada a criadora do termo “mindful drinking”. Em 2017, publicou um livro no qual explicava suas estratégias para deixar de entender o consumo de álcool como um hábito e uma obrigação social. O livro, estruturado como um diário, descreve suas táticas.

Hashtags. Evitar ou moderar álcool é encorajado em movimentos na internet. Para ela, o ponto de virada foi a maternidade. “Como não bebi durante a gravidez, pude perceber todo o dinheiro que gastava em vinho. Além disso, carregar ressaca é mui- to difícil com criança peque- na”, escreveu na obra.

São também os jovens da geração Z que abraçam a cultura do “soberurious” (que poderia ser traduzido como “interessado em estar sóbrio”), que consiste em explorar formas de se divertir com zero álcool. O conceito surgiu em 2018, no livro homônimo da escritora Ruby Warrington. A filosofia da obra convida o leitor a questionar seus impulsos de beber: por que tomar esta cerveja e por que agora?

Mais tarde, a escritora fundou o Club Soda, uma comunidade na internet que treina pessoas para se tornarem abstêmias ou pelo menos beber moderadamente. Cerca de metade de seus 70 mil membros estão mais interessados em se tornar bebedores criteriosos do que totalmente abstêmios.

Uma pesquisa publicada no European Journal Of Public Health atribuiu ao consumo leve ou moderado de álcool quase 23 mil casos de câncer diagnosticados na Europa em 2017. Quase metade deles eram tumores de mama. O estudo mediu quantidades e garante que mais de um terço dos cânceres atribuíveis ao consumo leve ou moderado de álcool afetaram quem bebia “menos de uma bebida padrão por dia”.

Mais um trabalho, publicado no The Lancet Oncology em 2021, constata que o “consumo moderado” (menos de duas cervejas por dia por exemplo) causa mais de 100 mil cânceres por ano. Mesmo o baixo consumo, menos de 10 gramas de álcool por dia, está relacionado a mais de 40 mil tumores.

O Fundo Internacional de Pesquisa do Câncer (WCRF, na sigla em inglês) adverte que “bebidas alcoólicas de todos os tipos têm um impacto semelhante no risco de câncer, sejam cervejas, vinhos, destilados ou qualquer outra fonte de álcool”.

GESTÃO E CARREIRA

ESPECIALISTAS VEEM MERCADO PARA MULHERES 50+

Potencial de consumo de produtos e serviços por esse público ainda é pouco explorado pelas marcas no País

Só não vê quem não quer: a população brasileira está envelhecendo. Hoje, mais de 54 milhões de pessoas já passaram dos 50 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As mulheres representam 13,7%, ultrapassando 29 milhões de pessoas. O mercado, porém, ainda não entendeu o potencial de consumo desse grupo nem está preparado para atendê-lo.

As mulheres 50+ estão longe de querer ficar sentadas na varanda. Elas querem se manter ativas, profissional, social e sexualmente, então precisam de produtos e soluções que as auxiliem nessa jornada e compreendam as mudanças que chegam com o avanço da idade. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa os negócios voltados ao bem-estar e à saúde sexual desse público já proliferam, a oferta ainda é tímida no Brasil. Autora de Etarismo – Um novo nome para um velho preconceito, a psicóloga e consultora de diversidade etária em empresas Fran Winandy afirma que o problema está diretamente relacionado à invisibilidade dessa mulher na sociedade.

“Mulheres mais velhas são consideradas assexuadas. A indústria da moda já não se interessa por elas, os homens também não”, afirma. Isso explica a necessidade que muitas sentem de esconder a própria idade, como se tivessem controle sobre o fluxo do tempo. Nadando contra a corrente, a mulher 50+ de hoje está mais empoderada e confiante, sem paciência para estagnação, diz a especialista. “Ela começa a ficar incomodada com o comodismo do parceiro, se separa. Surge uma demanda muito grande por brinquedos sexuais e por serviços e apps mais nichados”, observa.

‘DIÁLOGO’

Trabalhando com economia prateada há oito anos, a empreendedora Bete Marin é especializada em campanhas de marketing digital para empresas que querem falar com esse público. Ela diz que os profissionais de marketing já entenderam a importância da consumidora 50+ para os negócios, mas é necessário fazer uma aproximação maior.

“Precisa aprofundar o diálogo para conhecer, porque a gente parte do princípio de que é um grupo homogêneo, quando, na verdade, é diverso. Tem de entender quais são os porcentuais e perfis dentro da diversidade dessa consumidora”, defende. Ela diz que os setores de moda e de vestuário têm grandes possibilidades de lucrar com as mulheres maduras ao mesmo tempo que é o número um em reclamações. “O corpo sofre transformações com a menopausa. Todas querem acompanhar tendências, mas, em vez de se adaptar às consumidoras, o mercado fica impondo o padrão estético dos 20 anos”, destaca.

No comando da Feel, fusão das femtechs Feel e Lilit, as empreendedoras Marina Ratton e Marília Ponte se surpreenderam com a composição da clientela no início das vendas. A marca desenvolve lubrificantes naturais e um vibrador, e elas acreditavam que o público consumidor seria mais jovem. Porém, as demandas vieram em massa de mulheres com mais de 40 anos.

“São mulheres que estão passando por mudanças profundas, como a retomada do corpo após ter filhos, e há uma demanda latente por bem-estar sexual”, diz Marina. Segundo ela, as soluções naturais para a intimidade feminina ainda são raras, apesar de vivermos o auge desses produtos no mercado. “Tem um viés de gênero que esbarra na indústria, que não está olhando para essas mulheres como nicho. Além disso, o Brasil é um país conservador. Precisamos fomentar e educar para poder vender”, ressalta.

EU ACHO …

A FÉ DE UNS E DE OUTROS

Apoio que as pessoas se manifestem publicamente contra a violência urbana, contra os altos impostos que não são revertidos em benefícios sociais, contra a corrupção, contra a injustiça, contra o descaso com o meio ambiente, enfim, contra tudo o que prejudica o desenvolvimento da sociedade e o bem-estar pessoal de cada um. No entanto, tenho dificuldade de entender a mobilização, geralmente furiosa, contra escolhas particulares que não afetam em nada a vida de ninguém, a não ser os diretamente envolvidos, caso da legalização do casamento gay, que acaba de ser aprovado na Argentina.

Se dois homens ou duas mulheres desejam viver amparados por todos os direitos civis que um casal hétero dispõe, em que isso atrapalha a minha vida ou a sua? Estarão eles matando, roubando, praticando algum crime? No caso de poderem adotar crianças, seria mais saudável elas serem criadas em orfanatos do que num lar afetivo? Ou será que se está temendo que a legalização seja um estímulo para os indecisos? Ora, a homossexualidade faz parte da natureza humana, não é um passatempo, um modismo. É um fato: algumas pessoas se sentem atraídas – e se apaixonam – por parceiros do mesmo sexo. Acontece desde que o mundo é mundo. E se por acaso um filho ou neto nosso tiver essa mesma inclinação, é preferível que ele cresça numa sociedade que não o estigmatize. Ou é lenda que queremos o melhor para nossos filhos?

No entanto, o que a mim parece lógico não passa de um pântano para grande parcela da sociedade, principalmente para os católicos praticantes. Entendo e respeito o incômodo que sentem com a situação, que é contrária às diretrizes do Senhor, mas na minha santa inocência, ainda acredito que religião deveria servir apenas para promover o amor e a paz de espírito. Se for para promover a culpa e decretar que quem é diferente deve arder no fogo do inferno, então que conforto é esse que a religião promete? Não quero a vida eterna ao custo de subjugar quem nunca me fez mal. Prefiro vida com prazo delimitado, porém vivida em harmonia.

Sei que sou uma desastrada em tocar num assunto que deixa meio mundo alterado. Daqui a cinco minutos minha caixa de e-mails estará lotada de ataques, mas me concedam o direito ao idealismo, que estou tentando transmitir com a maior doçura possível: não há nada que faça com que a homossexualidade desapareça como um passe de mágica, ela é inerente a diversos seres humanos e um dia será aceita sem tanto conflito. Só por cima do seu cadáver? Será por cima do cadáver de todos nós, tenha certeza. Claro que ninguém precisa ser conivente com o que lhe choca, mas é mais produtivo batalhar pela erradicação do que torna nossa vida ruim do que se sentir ameaçado por um preconceito, que é algo tão abstrato.

Pode rir, mas acho que acredito mais em Deus do que muito cristão.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

COISA DE PELE

Lavar o rosto é básico, mas tem segredos; saiba o que não fazer

Lavar o rosto diariamente é o primeiro cuidado fundamental para ter a pele saudável e evitar o envelhecimento precoce. Provavelmente você tem esse hábito desde a adolescência, e pensar que está fazendo isso da maneira incorreta pode parecer bobagem. Mas a verdade é que a higiene inadequada pode até prejudicar a pele, seja ela seca ou oleosa.

Usar água quente, esfoliar demais e não usar o sabonete correto são alguns dos maiores erros que as pessoas cometem ao lavar o rosto, segundo dermatologistas ouvidos. Isso pode destruir a barreira natural da derme, ressecá-la, obstruir os poros e contribuir para o envelhecimento precoce.

É importante lavar o rosto duas vezes ao dia: ao acordar e antes de dormir.

“Todos os dias estamos expostos a radicais livres e fatores que colaboram para o envelhecimento, como a radiação do sol, poluição, maquiagem e outros produtos tóxicos que impregnam na pele. Não lavar o rosto, em especial no fim do dia, contribui para que esses resíduos prejudiciais se acumulem e penetrem cada vez mais fundo”, pontua a médica Priscila Barreto, especialista em dermatologia clínica e estética.

De acordo com a dermatologista Cintia Guedes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), pular essa etapa aumenta a oleosidade e contribui para o aparecimento de cravos e espinhas. Já a lavagem matinal é importante para retirar a oleosidade produzida à noite.

Confira os principais erros cometidos na hora de higienizar o rosto e como fazer da maneira correta.

ÁGUA QUENTE

Lavar o rosto com água mui- to quente é considerado o erro mais comum. Nessa temperatura, a água retira a camada protetora, resseca e desidrata a pele. Isso contribui para o envelhecimento precoce e, em pessoas com a derme oleosa, pode causar um efeito rebote com a superprodução de sebo, tornando-a ainda mais oleosa.

Para quem gosta de tomar banho quente, o ideal é esperar para lavar o rosto após o banho, em água corrente, na pia do banheiro. Mesmo sem lavar, o calor do chuveiro resseca não só o rosto, mas também o corpo e dos cabelos. De acordo com especialistas, o ideal é optar pela água morna.

ESFREGAR OU ESFOLIAR MUITO

Outro erro comum é esfregar – mesmo que seja com uma escova específica – ou esfoliar demais o rosto. Embora esse processo remova as células mortas, óleos e sujeira, ajudando a fazer com que a pele pareça impecável, ela também remove as células saudáveis da pele.

“Usar uma bucha, por exemplo, é importante para áreas ásperas do corpo. A pele do rosto é sensível e não é interesse fazer isso porque ela retira a camada que tem a função de proteger contra agressões”, explica Guedes. O mesmo vale para esfoliantes. O uso desses produtos em excesso pode causar irritação, ressecamento, descamação e erupções cutâneas.

Usar as mãos é o jeito ideal de lavar o rosto. Para quem gosta da “sensação de limpeza” proporcionada pela esfoliação ou pela escova facial, a recomendação é fazer isso entre uma e duas vezes por semana, no máximo. Outro ponto importante é que quem tem acne não deve utilizar esses produtos quando a pele estiver com muitas erupções. Isso pode agredir o local, aumentando o risco de manchas e cicatrizes.

LAVAR DEMAIS

Lavar o rosto duas vezes ao dia é a quantidade ideal, segundo dermatologistas. Fazer isso apenas de manhã e à noite ajudará a remover a sujeira e a gordura em excesso, manter as imperfeições afastadas, mas ainda garantir que a pele tenha a proteção necessária.

Porém, a Academia Americana de Dermatologia recomenda lavar o rosto também depois de suar. Nesse caso, para quem acorda e vai para a academia ou realiza algum exercício intenso no meio do dia, Barreto recomenda limpar o rosto apenas com água ou água termal ao acordar e deixar para passar o sabonete após a atividade física.

Outra dica importante é: se o sabonete facial em excesso é prejudicial, não utilizá-lo em nenhum momento também é. As dermatologistas alertam que apenas a água não é suficiente para higienizar bem o rosto e remover impurezas.

USAR O SABONETE ERRADO

Utilizar um sabonete ou loção de limpeza específico para o rosto é fundamental. Guedes explica que a composição da pele nessa área é diferente, com outras necessidades. Usar o produto do corpo ali pode causar ressecamento, sensibilidade e maior produção de sebo em pessoas com tendência a oleosidade. Além disso, o ideal é procurar um produto indicado para o seu tipo de pele.

“Quem tem pele oleosa, precisa de ativos que ajudam a controlar a oleosidade, como ácido salicílico e ácido glicólico. Já quem tem a pele seca precisa de ativos mais hidratantes”, explica a dermatologista.

A pele seca pode se beneficiar de produtos com ácido hialurônico – que, apesar do nome, é um ativo hidratante – e glicerina. Para esse tipo de derme também é recomendado optar por produtos na forma de espuma ou syndet (um tipo de detergente sintético), que são menos agressivos.

UTILIZAR APENAS LENÇO DEMAQUILANTE

Usar um produto para tirar a maquiagem antes da lavagem é um passo fundamental. Os lenços demaquilantes são aliados práticos e rápidos para isso. Mas, embora convenientes, eles não equivalem a lavar o rosto, pois também deixam resíduo.

Se você é fã desses produtos, pode continuar usando, desde que se lave com um sabonete específico depois. Esses lenços podem conter conservantes ou álcool, que irritam a pele. A recomendação é utilizá-los pontualmente. No dia a dia, prefira demaquilantes em creme, loção e água micelar.

O JEITO CERTO DE SE CUIDAR

1 – Molhe o rosto com água morna ou fria

2 – Com sabonete específico para a área do rosto e para seu tipo de pele, esfregue até fazer espuma

3 – Use as pontas dos dedos para aplicar o produto na pele. Comece pela testa e desça até o nariz e as bochechas (evitando os olhos),e depois até o queixo, em movimentos circulares suaves

4 – Enxague o rosto com água morna ou fria até remover todo o produto

5 – Utilize uma toalha limpa e macia para secar o rosto, com um toque suave, sem esfregar

6 – Complete a limpeza com um tônico adstringente. Consulte um dermatologista para entender qual tipo de produto é mais recomendado para sua pele e idade

7 –  Com o rosto ainda úmido, finalize com hidratante, mesmo se sua pele for oleosa (há produtos específicos)

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO LIDAR COM A DIVERGÊNCIA SOBRE TER FILHOS?

Segundo psicólogas, escolher encerrar o relacionamento quando as duas pessoas têm objetivos de vida diferentes é um sinal de maturidade e previne ressentimentos futuros

No último dia 13 de janeiro, o humorista Fábio Porchat anunciou o término do seu casamento com a produtora cinematográfica Nataly Mega após oito anos de relacionamento. Segundo ele, o motivo foi a divergência entre os dois sobre o desejo de ter filhos. Enquanto o ator não se vê como pai, o que ele já manifestou em várias declarações públicas, Nataly teria o sonho de ser mãe.

A psicanalista Nacília Marques diz que esse tipo de situação é mais comum do que parece. Isso porque, se décadas atrás muitas pessoas acabavam tendo filhos sem refletir muito sobre o assunto, hoje este tipo de decisão se tornou cada vez mais planejada, em especial entre pessoas de classe média a alta, que têm investido mais em autoconhecimento.

A consultora de imagem Priscila Citera, de 42 anos, é um exemplo dessas pessoas. Ela tinha 30 anos e estava casada havia oito quando percebeu que não queria aumentar a família, ao contrário do então marido. “Já estávamos juntos tinha um bom tempo e entendemos que era a hora de ter filhos. Eu parei de tomar o remédio que evita gravidez, mas, toda vez que eu menstruava, ele ficava triste e eu me sentia aliviada”, diz.

“Foi então que percebi que tinha algo de errado e comecei a trabalhar isso na terapia. Com o tempo, percebi que aquele não era um sonho meu de verdade. Eu só naturalizei porque a sociedade dizia que, depois de casados, a gente deveria ter filhos”, afirma Priscila.

Ela decidiu, então, terminar o relacionamento, mas optou por não revelar ao ex o real motivo. Priscila diz que, influenciada pelo pensamento machista dominante da sociedade de que toda mulher deve sonhar com a maternidade, ela se sentiu uma pessoa egoísta por ter tomado essa decisão.

ESCOLHA QUE GERA CONSEQUÊNCIAS

Para a psicóloga Gabriela Luxo, a maternidade ou paternidade deve ser uma escolha tomada não só em casal, mas também individualmente e após muita reflexão, afinal, tem grande impacto na vida das pessoas. Em alguns casos, pode ser interessante procurar sessões de psicoterapia para se conhecer melhor.

“A chegada de uma criança muda completamente a rotina. Quando a pessoa tem um filho sem querer realmente, ela vai passar por uma série de questões emocionais para lidar com a sensação de mudança e de frustração em relação às coisas que podiam ser feitas antes, sem a criança, e que depois não podem mais”, diz.

As duas especialistas ressaltam ainda que tomar esse tipo de decisão por pressão de outras pessoas – seja do parceiro romântico, da família ou da sociedade, de forma geral – cria problemas não só para a pessoa que tomou a decisão, como também para a criança e para o casal.

“Provavelmente, a pessoa que não quer genuinamente ter filhos não vai conseguir dar o carinho e a atenção que gostaria para a criança e pode até se sentir culpada por isso”, diz Natália. “Isso pode afetar a autoestima da criança ao passo em que ela se sente indesejada”, aponta Gabriela.

Ao mesmo tempo, segundo Natália, o companheiro que queria ter filhos tende a ficar frustrado ao longo do tempo, pois o seu real desejo era de que o outro quisesse a criança tanto quanto ele – algo que está fora do controle de ambas as partes.

A tendência é que, mesmo inconscientemente, a pessoa que cedeu (seja tendo filho sem querer, seja deixando de tê-lo para se adaptar ao desejo do outro) culpe o parceiro por estar vivendo algo que não gostaria. Com o tempo, isso produz ressentimento e tende a afastar o casal.

Priscila concorda com as especialistas. “Só tive coragem de contar para o meu ex-marido o real motivo pelo qual decidi terminar depois de alguns meses. Na época, ele chegou a dizer que, se eu tivesse falado a verdade, ele teria aceitado não ter filhos para ficar comigo, mas respondi que mesmo assim não daria certo, pois ele passaria a vida toda jogando isso na minha cara”, diz.

“No final, ele concordou comigo e entendeu que fiz o melhor para os dois”, acrescenta a consultora de imagem. O ex- companheiro, de acordo com ela, se casou novamente e teve filhos.

DIÁLOGO

As profissionais recomendam também honestidade no diálogo com o parceiro. Se o plano de ter filhos está completamente descartado, vale a pena conversar sobre isso com o companheiro abertamente já no início do relacionamento, de forma a evitar frustrações e permitir que o outro faça suas escolhas.

“O ideal é que as pessoas conversem sobre seus objetivos de vida desde o começo do relacionamento e busquem namorar com quem está alinhado a eles”, recomenda Gabriela.

Mesmo assim, Natália lembra que é comum que as pessoas mudem de ideia sobre seus objetivos de vida ao longo do tempo, como foi o caso de Priscila. Por isso, é importante que exista respeito e um canal de escuta sem julgamentos para entender as fases do outro. “Infelizmente não é isso que vemos nos consultórios. Muitos casais têm dificuldade em conversar abertamente”, diz Gabriela.

Também pesa no cenário a possibilidade maior de adiar a gestação atualmente em relação ao que havia no passado. Isso ocorre diante do avanço das  técnicas de fertilização e das mudanças de hábitos socioeconômicos e culturais, como o fato de uma parte das mulheres buscarem foco e estabilização na carreira antes de serem mães. Com isso, muitos casais adiam ao máximo as conversas sobre engravidar ou adotar uma criança.

OUTROS OLHARES

DESIGUALDADE AUMENTA ENTRE NEGROS E BRANCOS NO MERCADO DE TRABALHO

Taxa de desemprego de pretos, pardos e indígenas era de 17,27%, contra 11,98% de brancos e amarelos em 2020

A taxa de desocupação entre brasileiros pretos, pardos e indígenas tem aumentado em relação à de brancos e amarelos, o que provoca mais concentração de renda e amplia a desigualdade social e racial no país. As conclusões estão em relatório do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) da Uerj, que analisou a desigualdade racial no mercado de trabalho e renda, além de educação, em um período de 35 anos.

Em 1987, quando os pesquisadores começaram a acompanhar os dados, a taxa de desemprego de negros e indígenas era de 3,91%, enquanto a de brancos e amarelos era de 3,38%. A taxa de desocupação geral foi crescendo, com desvantagem para os pretos, mas com diferenças que não chegavam a três pontos percentuais. A partir de 2015,esse patamar foi superado, e a taxa de desemprego de pretos era de 10,51%, enquanto a de brancos era de 7,31%.A diferença alcançou o ápice em 2020, ano da pandemia – o desemprego de negros chegou a 17,27%, contra 11,98% dos brancos. Em 2021,adiferença ficou em 4,23 pontos percentuais.

Nesse período entre 1987 e 2022, mais brasileiros se identificaram como pretos, pardos e indígenas, e houve redução na desigualdade racial na educação formal. Mas isso não resultou em diminuição das diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho.

“Podemos observar a manutenção de desigualdades duráveis que mantêm brancos e amarelos com melhores níveis de escolaridade, de trabalho e renda, se comparados ao grupo formado por pretos, pardos e indígenas. É importante notar que, apesar da melhoria no acesso à educação, pretos, pardos e indígenas ainda sofrem com altas taxas de desocupação. Quanto à renda, a desigualdade é ainda mais acentuada”, diz o relatório.

TRABALHO PRECÁRIO

Segundooestudo,desde2010, percebe-se um aumento maior de brancos e amarelos migrando para o trabalho por conta própria, e a permanência de pretos, pardos e indígenas no mercado informal. “Ainda que essas transições costumem redundar em algum grau de precarização generalizada dos vínculos formais de emprego, a informalidade continua relacionada à vulnerabilidade maior do trabalhador do que os vínculos autônomos hoje em crescimento”, aponta o documento. As diferenças na ocupação também acentuam a desigualdade racial, ao se observar os rendimentos obtidos pelos grupos. Entre 1987 e 2002, brancos e amarelos recebiam o dobro de pretos, pardos e indígenas. Esse indicador foi caindo até 2011, quando voltou a crescer.

“A depreciação geral das rendas do trabalho em 2020 levou a uma pequena redução dessa desigualdade racial, mas ainda é cedo para dizer se isso demarca uma tendência”, diz o texto.

O mesmo movimento foi observado em relação à renda domiciliar per capita, que considera o volume total de recursos recebido pela família dividido pelo número de membros. Pretos, pardos e indígenas são maioria entre os grupos de baixa renda, e a pandemia aumentou não apenas a pobreza, mas também as desigualdades raciais.

A economista Thais Custódio, de 33 anos, vive uma situação distinta no mercado de trabalho, que é exceção. As equipes com as quais atua são compostas, na maioria, por negros, e a remuneração segue a média de mercado. Mas não foi sempre assim.

“Eu já deixei de ser contratada por causa do cabelo que usava. É muito perverso, porque as pessoas já te olham torto sem você abrir a boca, sem você dizer quais são as suas expertises, qualidades, o que está disposto a fazer para contribuir com aquele trabalho”, conta.

MAIS INSTRUÍDOS

Os pesquisadores constataram que a população preta, parda e indígena teve avanços na educação, mas isso não resultou em melhorias no mercado de trabalho até o momento.

“O que a gente vê são melhoras, que tem de destacar, sobretudo nos índices educacionais, mas isso não se reflete no mercado de trabalho. Quando negros e brancos se equalizam em processo de alfabetização, isso ocorre em um momento em que a alfabetização deixa de ser relevante para ocupar espaços no mercado”, afirma o sociólogo Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.

A família da economista Thais Custódio valoriza a educação. Moradores do Complexo da Maré, seus pais se sacrificaram para ela estudar. Thais entrou na universidade pública, beneficiada pela política de cotas, e hoje trabalha como consultora de orçamento e coordena projetos de uma ONG do Jacarezinho, enquanto finaliza o mestrado em Economia na UFRRJ, no qual é a primeira aluna preta.

“Já existia a dificuldade de criar jovem preta retinta em território de favela que é muito marginalizado, em uma sociedade que enfrenta muitas questões de violência. Tivemos muitos apertos, era tudo muito contado, mas sempre falavam que precisava ter educação para chegar ao mercado de trabalho. Tive uma vida inteira muito dura nesse sentido”, conta Thais.

Os pesquisadores do Gemaa pontuam que as desigualdades às quais os negros estão submetidos são resilientes e complexas. Para reverter o cenário, é preciso desenhar políticas redistributivas interseccionais, que também considerem o aspecto racial e as especificidades de cada um dos grupos. As cotas para acesso à universidade, como as que beneficiaram Thais, precisam avançar.

“É importante que o novo governo tenha em mente que as soluções que já foram importantes não são mais suficientes. Reeditar políticas públicas como as realizadas em 2002 e 2006 não vai produzir efeitos. Tem de acelerar a redução das desigualdades e levar para outros níveis educacionais. No caso racial, o grande nó é ensino médio e, evidentemente, superior. Mas precisa pensar em ações afirmativas pós-ensino superior”, diz Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.

OUTROS OLHARES

CRIME SOB ENCOMENDA

Traficantes usam sistema postal para enviar e receber drogas

Um coração de pelúcia com os dizeres “Te amo”, um livro, uma máquina de pagamento por cartão, um par de tênis. Itens comuns que passariam sem despertar atenção pela triagem de encomendas dos Correios viraram um meio para traficantes do Rio trazerem e enviarem drogas e dinheiro a outros estados. Uma operação conjunta da Receita Federal e da Polícia Civil fluminense encontrou, em duas semanas, mais de 50 quilos de entorpecentes escondidos em encomendas, avaliados em cerca de R$ 5,8 milhões. Ao menos 12 criminosos já foram identificados e estão sendo investigados. Os números não levam em consideração as ações deste ano, em que a quantidade de drogas ainda não foi contabilizada.

Entre 30 de novembro e 15 de dezembro, foram quatro ações de rastreamento de pacotes. As encomendas selecionadas como suspeitas são retiradas da Central de Distribuição dos Correios, em Benfica, na Zona Norte do Rio, e levadas para a base da Receita Federal no Aeroporto Internacional do Rio, na Ilha do Governador. A área no Galeão foi escolhida por ser um espaço com ambiente controlado, maior mobilização e estrutura de segurança.

“O trabalho é feito diariamente com o apoio da Polícia Civil. As ações contam com equipes para estabelecer critérios de análise e identificar remessas com indícios de drogas”, explica o auditor fiscal Ewerson Augusto da Rocha Chada, chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita no Rio. “Contamos com o apoio de agentes da perícia da Polícia Civil que fazem inspeções individuais em produtos, além de toda a parte investigativa que faz o levantamento e o balanço com as informações de remetentes envolvidos nesses envios. Esse trabalho já levou à análise de aproximadamente 600 remessas, e a gente quantifica aproximadamente 98% de sucesso na interceptação dos produtos.

Até 15 de dezembro, foram apreendidos 50,7 quilos de entorpecentes como maconha, ecstasy, haxixe, metanfetamina, cocaína e crack, dando um prejuízo de aproximadamente R$ 3,5 milhões ao tráfico. A pesagem das drogas não considera os 180 selos da droga sintética NBOMe, comercializada no mercado ilegal a R$ 200 cada, ou os mais de 13 mil frascos de lança-perfume, vendidos a R$ 170 a unidade, o que eleva o valor total das apreensões para mais de R$ 5,8 milhões. Para além das operações com a Polícia Civil, em 2022 a Receita apreendeu mais de 168 quilos de drogas em encomendas internacionais nos aeroportos.

O mapeamento dos remetentes das encomendas com drogas permitiu à Polícia Civil e à Receita identificarem pelo o menos 12 traficantes cariocas.

“Um dos casos chamou a atenção dos agentes porque a mesma pessoa, além de enviar encomendas com drogas como cocaína, incluindo uma com três tabletes, quantidade considerada grande para essa modalidade de apreensão, enviou também pacotes com quantidades significativas de drogas sintéticas. Esse caso mostra que o mesmo traficante está enviando diferentes tipos de droga, ou seja, quem atua em uma área do tráfico também está comercializando nas demais”, afirma Ewerson Chada.

As operações iniciadas em novembro foram possíveis devido a uma iniciativa que começou em julho, quando os Correios anunciaram que o envio de remessas em território nacional passaria a exigir o número do CPF a partir de 1º de setembro.

Segundo a Receita Federal, a partir dessa obrigatoriedade, iniciou-se uma investigação em todas as remessas postais do país. A apuração levou agentes a uma remessa de 1.200 comprimidos de ecstasy apreendida em Fortaleza, no Ceará.

As informações da apreensão foram cruzadas com as bases de dados da Receita e dos Correios, e agentes observaram que o mesmo remetente tinha enviado drogas para destinatários de outros estados, dentre eles o Rio. A partir daí, começou uma investigação da Receita para identificar padrões nas remessas suspeitas, muitas vezes com indícios fortes de tráfico, tendo em vista a abundância de material enviado numa mesma encomenda. A tendência é que, com o trabalho dos agentes, o número de apreensões desse tipo caia. Anteriormente, antes de o tráfico migrar para as encomendas dos Correios, a Receita Federal apurava e apreendia drogas em casos semelhantes com encomendas enviadas por transportadoras no país. Durante todo o ano de 2022, esse tipo de esquema resultou na apreensão de apenas 480 gramas de drogas, reflexo de que as ações forçaram uma mudança na operação dos criminosos — e também alteraram o foco das ações da Receita.

Agora, a expectativa dos agentes é que, nos primeiros meses de 2023, isso aconteça também nas remessas de entorpecentes enviadas pelos Correios, fechando o cerco e excluindo as possibilidades para pessoas que usam esse meio para o tráfico.

TRÁFICO ‘ELITIZADO’

O delegado Marcus Vinicius Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), especializada da Polícia Civil que acompanha as ações da Receita nos Correios, afirma que, no Rio, a região que mais recebe drogas pelo sistema postal é a Zona Sul. Ainda de acordo com ele, o perfil de traficante que utiliza o método também chama a atenção: pessoas com conhecimento e especialização na confecção de drogas sintéticas em bairros das zonas Sul e Oeste, como Recreio e Barra da Tijuca.

“É um caso interessante, porque a gente pode observar que é uma modalidade de tráfico que nada tem a ver com o tráfico de drogas em comunidades. É um tráfico elitizado e que, muitas vezes, tem o envolvimento de pessoas com conhecimentos específicos em áreas como a engenharia química, para a produção da droga sintética. Não é o tráfico já conhecido feito em comunidades carentes, que se concentra majoritariamente em drogas como cocaína, maconha e crack”, afirma Amim. Em nota, os Correios informam que “trabalham em parceria com os órgãos de segurança pública e fiscalização para prevenir o tráfego de itens proibidos por meio do serviço postal”. A empresa também explica que seus empregados “atuam de forma diligente visando a identificar postagens em desacordo com a legislação”. E que, “quando constatada a presença de conteúdo suspeito em seu interior, o objeto é encaminhado à autoridade competente para avaliação especializada”. Ainda segundo os Correios, “muitas das operações de repressão a ilícitos começam por meio do processo de fiscalização não invasiva (raio X)”.

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHO REMOTO AINDA RESISTE APÓS PANDEMIA

Pesquisa aponta que expediente em casa nos EUA saltou de 5%, em 2019, para 30%, no ano passado

Durante quase três anos, desde que as precauções provocadas pela pandemia tornaram regra o trabalho remoto, as empresas vêm negociando um “novo normal” num contexto que, segundo alguns, beneficia os trabalhadores: contratar tem sido difícil, pedir demissão virou tendência e os empregadores estavam em uma posição favorável para atender as preferências dos funcionários.

Esse tempo acabou. Apesar do número de vagas continuar sendo superior ao de candidatos, e embora muitos prevejam que os Estados Unidos vão entrar em recessão, a maioria dos economistas espera mais demissões e menos vagas de emprego nos próximos meses, conforme as empresas repensam a forma como operam. Na semana passada, a Amazon disse que cortaria 18 mil postos de trabalho, ou cerca de 6% de seu quadro de funcionários, e a Salesforce afirmou planejar demitir 10% de seus empregados, ou aproximadamente oito mil profissionais. O Goldman Sachs está se preparando para dispensar até 4 mil pessoas.

À medida que o local de trabalho muda, alguns CEOs famosos enxergam uma oportunidade de trazer os funcionários de volta ao escritório. Em maio de 2021, David Solomon, CEO do Goldman Sachs, disse para os profissionais do banco se prepararem para voltar ao escritório no mês seguinte, a fim de incentivar uma maior colaboração presencial e a vivência da cultura da empresa.

Elon Musk acabou com a “política de trabalho de qualquer lugar” do Twitter em seu primeiro e-mail aos funcionários depois de adquirir a empresa no ano passado, dizendo que exigiria deles pelo menos 40 horas por semana no escritório. Bob Iger quase fez a mesma exigência em seu retorno como CEO da Disney em novembro, mas teria dito aos funcionários que se preocupava “com o impacto negativo a longo prazo sobre as pessoas que decidiram não passar tanto tempo no escritório”.

Mas será que o experimento do trabalho remoto provocado pela pandemia está prestes a terminar? Economistas que estudam a mudança para locais de trabalho mais flexíveis dizem que provavelmente não, apesar da pressão de alguns dos CEOs mais conhecidos do mundo.

CRESCIMENTO

No ano passado, o trabalho remoto ficou bem acima dos níveis anteriores à pandemia, de acordo com dados compilados por um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford, da Universidade de Chicago e do Instituto Tecnológico Autônomo do México.

Em 2019, cerca de 5% de todos os expedientes em dias úteis pagos nos Estados Unidos foram trabalhados de forma remota, segundo os dados do censo. Mas quando o grupo começou a coletar os dados para a Pesquisa de Acordos e Condutas de Trabalho dos EUA (SWAA, na sigla em inglês), uma consulta mensal com trabalhadores, essa proporção pulou para mais de 60%, em maio de 2020. No ano passado, a porcentagem ficou em torno de 30%.

“Estamos todos de volta às tendências anteriores à pandemia nas compras online, mas permanentemente em alta com o trabalho online”, disse Nick Bloom, professor de economia em Stanford e coautor da pesquisa mensal.

A situação de trabalho remoto mais comum, de acordo com a SWAA e uma série de outras pesquisas, é agora o esquema de trabalho híbrido, com os funcionários trabalhando alguns dias no escritório e outros remotamente. As empresas, as indústrias e as situações individuais variam muito quanto às preferências e à viabilidade do trabalho remoto, mas, em média, ambos os lados têm ideias semelhantes a respeito da quantidade de tempo ideal para se passar no escritório.

Na pesquisa SWAA de dezembro, os trabalhadores que conseguem executar suas tarefas de casa disseram que preferiam trabalhar remotamente cerca de 2,8 dias por semana. Seus empregadores planejavam permitir que eles trabalhassem mais ou menos 2,3 dias por semana. Não é uma diferença grande entre as expectativas.

DESLOCAMENTOS

Há razões óbvias pelas quais os funcionários dizem gostar de trabalhar remotamente: querem evitar o tempo e o dinheiro gastos com o deslocamento; concentram-se mais sem as conversas do escritório; sentem que é melhor para o seu bem-estar ficar em casa. Quando a consultoria McKinsey perguntou a 12 mil candidatos a emprego no ano passado por que estavam em busca de um novo emprego, “flexibilidade no trabalho” ficou logo atrás de “melhores salários ou horários de expediente” e “melhores oportunidades de carreira”.

O que muitas vezes passa despercebido – e é uma das razões pelas quais alguns economistas acreditam que uma recessão teria pouco impacto na mudança nos acordos de trabalho – é que permitir aos funcionários trabalhar fora do escritório também pode beneficiar as empresas.

Em uma pesquisa realizada pelo ZipRecruiter, site de vagas de emprego, os candidatos disseram, no geral, que aceitariam um corte salarial de 14% para trabalhar remotamente.

Embora o mercado de trabalho continue forte, a economia está desacelerando e as empresas estão em busca de saídas para tornar suas vagas melhores sem aumentar os salários. E muitas delas dizem que estão recorrendo ao trabalho remoto para isso. “Não é que não vá haver alguma perda do poder de barganha por parte dos trabalhadores”, disse Steven Davis, professor da Universidade de Chicago e coautor da SWAA. “Apenas muitos empregadores têm suas próprias razões para pensar que a mudança, a mudança parcial, para o trabalho remoto é benéfica para eles também.”

Segundo um artigo publicado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA (NBER, na sigla em inglês), Bloom, Davis e outros perguntaram às centenas de executivos seniores entrevistados todos os meses pelo Federal Reserve de Atlanta se eles haviam ampliado o trabalho remoto como uma forma de “manter os funcionários felizes e aliviar as pressões para aumento salarial”. Trinta e oito por cento disseram ter feito isso nos últimos 12 meses, incluindo metade dos executivos que trabalham em setores como finanças, seguros, imóveis e serviços profissionais; e 41% disseram que planejavam fazer isso no próximo ano.

Os autores usaram as estimativas dos executivos sobre quanto eles economizaram com salários ao oferecer a opção de trabalhar remotamente para concluir que isso reduziria os gastos das empresas com salários em 2% em dois anos.

“Isso não é muito”, disse Davis. “Mas sugere que há benefícios não triviais para muitas empresas com o trabalho remoto.”

EU ACHO …

AS PROFECIAS DE KAFKA

É na sistematização que a burocracia goza enquanto você agoniza

Kafka e suas profecias sobre o mundo nascente da burocracia moderna são conhecidos. Burocracia é um sistema criado para, supostamente, servir às pessoas, mas, que, na verdade, existe para proteger o Estado e as empresas das pessoas. A função primária da burocracia é fazer você invisível e irrelevante. E fazer daqueles que tem poder sobre você, inacessíveis e inimputáveis.

Processos que caem na sua cama, burocratas de um castelo que ninguém alcança, execuções sem justificativa, mensagens que chegam a lugar nenhum, insetos humanos cujo principal temor é perder o emprego, enfim, o universo kafkiano é caracterizado por personagens que vagam por um mundo que os esmaga, mas com quem eles não podem se comunicar. Faz de você um inseto mudo.

Os incautos sempre acharam que a alma da modernidade era o progresso técnico. Não, esse é seu fetiche. Seu verdadeiro coração, o lugar em que ela goza orgasmos infinitos, é a burocracia.

Vejamos alguns exemplos de profecias kafkianas realizadas na burocracia do nosso cotidiano. Vale lembrar que o espírito do mundo de Kafka é um mundo em que você não tem com quem falar, em que ninguém sabe propriamente nada. Logo, ninguém tem como oferecer sentido para nada. Mas esse mundo, ao mesmo tempo, é organizado e sistêmico, cobrindo a realidade com o manto da esquizofrenia social moderna. Uma prisão a céu aberto. É na organização e sistematização que a burocracia respira e goza enquanto você agoniza.

Banking é uma das áreas mais kafkianas do mundo contemporâneo. Gerentes que mudam como se fossem fantasmas com uniforme cuja função na maioria dos casos é enrolar o cliente – exceções honrosas são espécies em extinção. Os grandes bancos simplesmente não estão nem aí para você, apesar do marketing feliz.

Não há com quem falar, e, quando procuram você, é porque alguém no atendimento quer ganhar pontos para a carreira. Você é nulo. Todo o mercado financeiro hoje é uma farsa.

O atendimento ao cliente é uma mentira. E só vai piorar porque as pessoas contam cada vez menos no mundo do capital financeiro. Quem conta é quem tem muito dinheiro. O serviço bancário pequeno está em extinção.

Empresas de infraestrutura, como luz, água, telefone, internet e afins, são outro nicho kafkiano. Você fica sem luz, sem água, sem internet dias e não tem com quem falar. Se algum erro acontece, você clama no deserto. Profissionais mal treinados e ressentidos maltratam você e enrolam. Um rato de Kafka atende você, mesmo que seja digital. Há uma pedagogia para idiotas nisso tudo. Essas empresas prometem um paraíso digital que na realidade não existe nem para millennials treinados. Deve-se reconhecer que no Brasil há um agravante: o país é feito de golpistas, ladrões e oportunistas. Isso obriga, principalmente os bancos, a criar infinitos passos de segurança que só atrapalham a vida do cliente e protegem o banco das próprias infelicidades que podem se abater sobre o cliente. Um millennial treinado nos fetiches digitais também sofre, ao contrário do que se vende por aí. O aplicativo nunca é tão eficiente, são inúmeros passos, senhas, SMS com códigos que caducam e você terá de repetir os passos todos de novo, e, ao fim, a chance de você ter de falar com um daqueles gerentes ausentes e inconsistentes é enorme. E aí, espere dias para ele responder suas mensagens. O digital é blasé.

Outro segmento kafkiano é o mundo das companhias aéreas. Qualquer intercorrência – que pode, de fato, ter ocorrido à revelia de qualquer “culpa” da empresa – fará o cliente ficar como uma barata correndo de um lado para o outro no aeroporto. A companhia pode simplesmente cancelar seu voo, dizer que foi por motivos operacionais e que se dane sua conexão, seu compromisso, seus planos. E você não pode fazer nada. Pode berrar com a funcionária – ou colaboradora, como os picaretas de recursos hoje falam -, ela repetirá frases automáticas porque ela nem está vendo você de fato, e você acabará com cara de quem gosta de barraco. Ficará ali, como um cão de rua, abandonado, humilhado, pronto para o abate.

LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.

ESTAR BEM

SAIBA O QUE IDOSOS DEVEM OU NÃO COMER PARA MANTER A SAÚDE EM DIA

Alguns nutrientes são essenciais para proteger essa população de doenças comuns após os 60 anos, enquanto certos alimentos têm contraindicações

Ferro, vitaminas e cálcio são alguns dos elementos essenciais para o bom funcionamento do corpo, geralmente obtidos por meio de uma dieta equilibrada e saudável. Eles também garantem a vitalidade e a energia fundamental para as ações do dia a dia, principalmente entre idosos.

A nutrição incentiva as pessoas a comerem bem para que o corpo obtenha os nutrientes dos quais necessita. Além de fornecer energia e ajudar a controlar o peso, uma boa alimentação é essencial para prevenir alguns problemas de saúde, como osteoporose, hipertensão, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e vários outros tipos de enfermidade.

Sobre como uma boa alimentação pode ajudar um adulto com mais de 60 anos, a nutricionista Maria Sol Pascua destaca que os problemas mais frequentes nessa faixa etária são: fragilidade ou sarcopenia devido à diminuição da massa magra e muscular, desidratação, desnutrição por falta de apetite ou ausência de dentes que dificultam a ingestão de alimentos, problemas gastrointestinais como diarreia e prisão de ventre.

“Além disso, essa população costuma ser polimedicada, e tal consumo pode gerar interações com alimentos. Por isso, nós profissionais devemos estar sempre atentos a essa ocorrência no contexto do acompanhamento nutricional”, enfatiza a especialista.

Pascua acrescenta que, como as condições de saúde dos pacientes são muito diversas, o ideal é que o plano alimentar seja personalizado. No entanto, com exceção de casos extremos com patologias subjacentes, existem algumas orientações gerais sobre como equilibrar a saúde dos idosos através da alimentação.

Existem certos alimentos que os idosos devem evitar comer, no geral. Alguns porque podem diminuir o nível de energia, enquanto outros aumentam o risco de contaminação. Veja exemplos.

CARBOIDRATOS REFINADOS

Enquanto os carboidratos complexos são ótimos para manter altos níveis de energia, os carboidratos refinados não são indicados. Eles contêm açúcares simples e possuem menos minerais, vitaminas e fibras que os carboidratos complexos. Portanto, podem causar picos de açúcar no sangue e, em seguida, cair. Essa oscilação diminui a energia e faz com que o idoso se sinta mais cansado e fraco. Alguns exemplos de carboidratos refinados são: pão, arroz branco, biscoitos salgados, bebidas açucaradas (como refrigerantes), produtos à base de farinha de trigo, cereais não feitos de grãos integrais. Evite-os sempre que puder.

ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL EM EXCESSO E CRUS

Comer produtos de origem animal é recomendado por profissionais para ter uma alimentação saudável. No entanto, é importante comê-los com moderação, pois eles demoram mais para serem digeridos do que os alimentos de origem vegetal, impactando na produção de energia pelo corpo. Exemplos de produtos de origem animal incluem carne vermelha, carne de porco, peixe e ovos. Não é para evitar comê-los, basta ingerir uma quantidade adequada, sem excessos.

Além disso, Ruth Frechman, nutricionista e porta-voz da American Dietetic Association, aponta que os idosos devem evitar alguns alimentos crus, principalmente aqueles de origem animal, devido aos germes que eles podem abrigar.

“À medida que envelhecemos, torna-se mais difícil para nossos corpos combater infecções, e fica mais fácil adoecermos”, explica.

Para Frechman, os idosos devem evitar comer os seguintes alimentos: ovos crus; queijos macios, como brie, camembert e variedades de queijos azuis; ostras cruas e mexilhões; leite não pasteurizado; sucos não pasteurizados; carne crua ou malpassada; sushi; ceviche.

O QUE SE DEVE COMER

Alguns minerais e vitaminas são importantes para a manutenção da saúde de pessoas mais velhas. Veja quais:

CÁLCIO

A osteoporose é um dos problemas de saúde mais frequentes nos idosos, especialmente nas mulheres.

“O cálcio é responsável por manter os ossos saudáveis e garantir o funcionamento de inúmeras funções do organismo. Sabemos que em uma idade mais avançada, há menor absorção de cálcio pelo organismo”, destaca a nutricionista Juliana Gimenez.

Boas fontes de cálcio são os laticínios, como leite, queijo e iogurte, e vegetais de folhas verdes, como brócolis, repolho e espinafre.

“É importante levar em conta que o cálcio é um mineral que pode ter sua absorção prejudicada pela presença de oxalatos e fitatos. Por isso é importante ter ajuda profissional para balancear o cardápio”, alerta Pascua.

FERRO

Esse é um elemento importante da hemoglobina, cuja função é levar oxigênio a todos os tecidos por meio do sangue. A melhor fonte de ferro é a carne vermelha, embora também possa ser incorporada por meio de leguminosas, peixes oleosos, ovos, fígado e vegetais verdes.

VITAMINA C

No corpo funciona como um poderoso antioxidante, pois ajuda a proteger as células contra os danos causados pelos radicais livres. Além disso, alimentos e bebidas ricos em vitamina C são essenciais na dieta, pois permitem a absorção do ferro. Especialmente frutas cítricas, verduras, pimentões e tomates são boas fontes.

VITAMINA D

É essencial para todos porque ajuda a construir e manter ossos, dentes e músculos saudáveis. Apesar do nome, este composto é um hormônio obtido a partir de três fontes principais: luz solar, alimentos e suplementos de vitamina D. Somado a isso, Pascua acrescenta que alimentos como peixe, leite fortificado, bebidas vegetais fortificadas e ovos também são ideais para incorporar o composto ao organismo.

ÁCIDO FÓLICO

Também conhecido como vitamina B9, é usado pelo organismo para produzir novas células todos os dias. Os alimentos que contêm ácido fólico ajudam a manter uma boa saúde nos idosos. Boas fontes disso são vegetais verdes, arroz integral e frutas cítricas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEXUALIDADE SEM TABUS

Conhecer o próprio corpo e cuidar da mente, as chaves para alcançar o prazer feminino

Medo, vergonha e falta de estímulo estão entre as causas de tantas mulheres terem dificuldades de conseguir o prazer sexual. Para especialistas, a chave para reverter esse quadro é o autoconhecimento.

Falar sobre orgasmo, prazer, libido e, principalmente, sexo é falar sobre saúde mental. Claro que a relação entre a prática sexual e a qualidade de vida, especialmente em propagandas de ejaculação precoce ou impotência sexual masculina, já é abordada há tempos. Mas e para as mulheres? “É muito difícil falar sobre o orgasmo, pois a maioria foi muito reprimida ao longo da vida inteira com frases como ‘isso é feio’, ‘isso não é coisa de mulher certa’”, diz a educadora sexual Luana Lumertz.

Muito além da falta de educação sexual, a condenação do prazer e da masturbação feminina – muitas vezes, movida por questões religiosas –, é permeada por diversos tabus e traumas que acabam vindo à tona durante um momento tão íntimo. “As pessoas fazem sexo, muitas vezes, no automatismo e aprendem que o papel do ato é dar prazer para o outro, especialmente no universo feminino”, afirma a psiquiatra e sexóloga Juliana Alves. “O sexo, então, deixa de ser para si.” “Quando era mais jovem, eu tinha muitas questões com meu corpo e isso acabava atrapalhando, porque em vez de estar concentrada em sentir prazer, eu estava pensando na minha barriga ou na celulite ou qualquer outra ‘noia’ que a gente acaba criando”, exemplifica a empresária e criadora de conteúdo Laís Conter, de 34 anos.

Com tanta coisa acontecendo na hora do ato, é difícil se permitir e se entregar ao prazer. E a conversa, seja por medo ou por vergonha, vira coisa rara até entre os parceiros. Nessa atmosfera, a pesquisa Mosaico 2.0, feita pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em 2016, revelou que 44,4% das mulheres brasileiras têm dificuldades de chegar ao orgasmo intenso; mais de 50% das entrevistadas dizem não se masturbar. “Importante lembrar que a falta de orgasmo feminino está atrelada às disfunções sexuais masculinas. Afinal, ele não dá o tempo e o estímulo necessário para que ela tenha o orgasmo”, esclarece Carmita Abdo, coordenadora da pesquisa e do programa de estudos em sexualidade da USP.

Não houve novas análises com essa abrangência, mas estudos menores indicam que a porcentagem é parecida nos dias atuais. “É realmente muito importante que se comece a entender a sexualidade feminina como específica e particularizada”, orienta Carmita. Segundo ela, muitas vezes a mulher finge o orgasmo para que o homem não sinta sua masculinidade atingida.

ANATOMIA

De acordo com ela, a mulher conhece muito pouco a própria anatomia genital. “Ela não se permite ter esse contato íntimo com o seu corpo, como se aquela área fosse algo intocável, como se não tivesse ao alcance dela”, observa. No entanto, é essa intimidade que permite ter conhecimento dos próprios prazeres e autonomia para chegar ao clímax.

“Existe uma correlação direta entre o autoconhecimento e a maior taxa de satisfação sexual de orgasmo”, avalia a ginecologista Brunely Galvão. Sem julgamentos ou preocupações com outra pessoa, o prazer é facilitado. Além disso, com a prática, a pessoa consegue entender do que gosta ou não, o que, consequentemente, facilita as futuras relações sexuais. Afinal, sem conhecer a própria corporeidade e o próprio orgasmo, como saber o que se está buscando?

“Se a pessoa nunca chegou ao orgasmo sozinha, dificilmente ela vai conseguir com outra pessoa. É preciso entender onde ela gosta de ser tocada, com que velocidade, pressão e intensidade, quais outras partes do corpo têm estímulos. Há pessoas que são mais sensíveis e outras que são menos. Então, envolve esse descobrimento”, ressalta Luana.

Depois de ter aceitado o seu corpo e de entender como sente o prazer, tirando o medo e a culpa que carregava, Laís afirma que sente liberdade no sexo. “É um sentimento de autonomia do meu próprio prazer”, revela. O processo foi longo, mas hoje ela faz questão de falar sobre sexualidade em suas redes sociais e ajudar outras mulheres a discutirem sobre seus medos e desejos.

Uma das questões mais abordadas por ela é a descentralização da mulher do lugar de reprodutora para o de protagonista, no qual o orgasmo não é algo secundário. “Eu percebi que existe muito essa lacuna de ter alguém próximo para que você consiga perguntar coisas que podem parecer idiotas ou bobas, mas que não são. Todas as perguntas são válidas”, afirma.

EDUCAÇÃO SEXUAL

Na maioria das escolas, as aulas de sexualidade abordam os assuntos de menstruação e reprodução sexual, mas dificilmente pautas como prazer, preliminares ou masturbação são exploradas. Sem lugar para dúvidas ao longo da puberdade, os jovens recorrem ao que é encontrado com facilidade na internet: conteúdo pornográfico.

“A comparação vem justamente do tabu de não falar sobre sexualidade, inclusive com a gente mesmo. Achamos que é preciso atingir uma performance ou fazer tal posição porque todo mundo faz e segue os exemplos que achamos por aí”, informa Juliana.

No caso das mulheres, a comparação da performance vem junto com a comparação dos corpos e até mesmo das partes íntimas expostas. “O Brasil é um dos países campeões em cirurgias estéticas, incluindo cirurgia íntima. Mas é preciso naturalizar, especialmente entre mulheres mais velhas, a vulva ter pelo ou menos pelo, ter um lábio interno mais proeminente ou não. O importante é que isso não cause dor e desconforto”, explica a ginecologista.

Para a produtora Gabriela Garcia, de 33 anos, é difícil falar de libertação sexual diante desse cenário. “O que é oferecido para nós como referência de sexualidade – e não só o pornô, mas qualquer tipo de entretenimento – não fala sobre comunicação das relações, sobre camisinha, sobre sexo oral, além de sempre serem expostos com corpos-padrão.”

Nascida em uma família bem religiosa, ela nunca pôde falar sobre questões relacionadas à prática sexual com a família, que dirá sobre prazer. “Eu fui criada para casar, ter filhos, como se o sexo nunca fosse o centro, mas sim algo que a gente nunca falava, sempre ligado ao errado”, conta.

Sem saber ao certo o que fazer com a sua vida sexual, ela engravidou da primeira pessoa com que se relacionou sexualmente. “Foi quando eu comecei a me dar conta da importância de falar sobre sexualidade.”

ESTÍMULO MENTAL

A educadora sexual Luana também percebe essa demanda de instrução em seu sex shop, que abriu aos 20 anos com a mãe. “Muitas das pessoas que aparecem lá estão tendo seus primeiros orgasmos ou estão tendo esse primeiro contato íntimo. Então, além de acolher, eu também sempre tenho parcerias com terapeutas e com fisioterapeutas pélvicas para a gente poder encaminhá-las”, avisa.

De acordo com ela, 80% das mulheres não têm orgasmo somente com penetração, sendo o estímulo clitoriano necessário. Além disso, é preciso muito estímulo mental, afinal a sexualidade da mulher não é linear. “A mulher tem um aspecto diferente do homem, no qual o tesão vai e volta, então às vezes ela está quase chegando ao orgasmo, mas aí ela lembra de alguma preocupação”, explica. Ou seja, a sobrecarga mental da mulher, seja com o acúmulo de tarefas domésticas, problemas com filhos, tripla jornada, podem influenciar – e muito.

No entanto, também existem disfunções relacionadas ao orgasmo para pessoas que têm vagina. “Você pode ter uma dificuldade de chegar lá, um atraso ou até a ausência completa dele, que é a anorgasmia”, analisa a ginecologista. Em relação à libido (desejo), é diferente. “A gente não tem um parâmetro de número de vezes por semana que seja considerado normal aquela pessoa ter desejo. Mas querer estar presente naquele momento é essencial. Quando não está presente a gente classifica em causas orgânicas, uma medicação, por exemplo, ou questões psicológicas, que podem envolver ansiedade, depressão”, adianta.

A prática de exercício físico, alimentação e estresse também podem influenciar o desejo. Claro que ele não é espontâneo 24 horas, a vida inteira, mas caso seja algo que você está forçando para funcionar, talvez a resposta seja procurar ajuda. “Há algumas coisas que a gente não controla, mas dentro do possível o sexo não é para doer – nem mentalmente nem fisicamente. Se você estiver lubrificada, à vontade, em um ambiente que tem privacidade, é para dar tudo certo”, explica Brunely.

PRAZER MÁXIMO

Mas afinal, o que é orgasmo? Ela conta que foi durante a adolescência entrou em contato pela primeira vez com o conceito de orgasmo, um ápice de prazer que dura poucos segundos. “Foi então que percebi que eu já havia sentido essa sensação”, conta a bióloga e educadora menstrual Victoria de Castro, de 27 anos. “Nas revistas de adolescente dos anos 2000, pouquíssimo se falava sobre o orgasmo feminino ou sobre o prazer feminino. A maioria era voltada para o homem e boa parte das informações que eu tive nesse sentido era de conhecimento científico”, recorda ela, que hoje, por falar sobre sexualidade em seu Instagram, escuta várias queixas de mulheres nessa área.

“Muitas mulheres já choraram comigo por perceberem tudo de errado que já falaram para elas ou as referências erradas que elas tinham”, declara. “Muitas duvidaram que tivessem tido um orgasmo, porque não saía líquido, por exemplo. Afinal, temos o referencial do pênis.”

O orgasmo é simplesmente uma sensação que pode ter diversas intensidades. Pode ser que um dia ele seja mais intenso e duradouro e, em outro, mais curto. Tudo vai depender do estímulo, do seu relaxamento e do seu corpo. Ou seja, a sensação divina que falam pode não necessariamente acontecer, ou ser rápida demais, mas os benefícios que ela traz são gigantes.

“A gente libera vários mensageiros químicos, como endorfina, dopamina, ocitocina e eles vão atuar nesse movimento gerando prazer e bom humor. Além disso, o relaxamento que vem depois é como se você fizesse um exercício muito prazeroso, o que fortalece o sistema imunológico, ajuda a dormir um pouco melhor e até auxilia no alívio da dor e da irritabilidade”, completa Brunely.

Diferentemente dos homens, as mulheres não têm um período refratário (espécie de esgotamento corporal), o que permite o surgimento de orgasmos múltiplos, mas também possibilita que elas se sintam mais dispostas e energizadas para terminar tarefas. “Isso sem falar da melhorada autoestima, porque você vê que o seu corpo pode te proporcionar prazer. Você se sente mais confiante”, acrescenta Luana.

COMO SE CONECTAR COM VOCÊ MESMA

CONHEÇA SEU CORPO

Para ter repertório sexual é preciso explorar todas as áreas do corpo e, assim, descobrir outras áreas erógenas.

Audição, tato e paladar são importantes. A psiquiatra a e sexóloga Juliana Alves recomenda busca ativa pelo conhecimento. “Descubra o que faz sentido pra você nesse momento e o resto vai ser consequência”, diz ela.

OBSERVE

Da mesma forma, observe seu corpo para amar aquilo que você considera defeituoso ou errado. Normalize esse olhar e valorize o que você já ama. “O espelho é uma ótima dica para a pessoa ter aquele primeiro contato e lembrar de relaxar. Crie uma rotina para isso, com a correria do dia a dia, a gente esquece. Tenha esse tempo para si mesma”, incentiva a educadora sexual Luana Lumertz.

PESQUISE NOS LUGARES CERTOS

Diversas páginas no Instagram se empenham em mostrar, com leveza, o lado real da sexualidade, sem as referências de corpos ultrassexualizados ou pornográficas, expondo vulvas normais, tratando de possíveis medos. Além das mulheres citadas nesta reportagem, perfis como @the.vulva.gallery e @prazerobvious e @prazerela são ótimos caminhos.

CONVERSE

Seja você mesma, com as amigas ou com o parceiro. A conversa sobre o prazer deve começar a existir para que ela seja mais fácil e espontânea. Quanto mais se fala sobre o assunto, menos tabus e estigmas existem. Para isso, se desprenda das amarras sociais e se pergunte o que lhe dá prazer. Se há respeito aos limites dos envolvidos, é válido.

OUTROS OLHARES

CURSOS ENSINAM COMO SE EXPRESSAR DO JEITO CERTO NOS FLERTES ONLINE

As mensagens de texto são o primeiro contato – e a primeira barreira – de casais que se conhecem por aplicativos de relacionamento

Abby Norton, uma editora de 24 anos, começou a conversar com uma pessoa que conheceu em um aplicativo de relacionamento, mas logo precisou fazer uma viagem de duas semanas ao exterior. Devido aos diferentes fusos horários, ela e seu pretendente lutaram para estabelecer uma rotina de comunicação enquanto ela estava fora. Assim que Abby voltou para os Estados Unidos, onde mora, os dois se encontraram pessoalmente, mas as mensagens de texto ainda pareciam insatisfatórias, sendo enviadas apenas “algumas vezes por dia, apesar de estarem no mesmo fuso horário”. Isso deixou Abby com muita ansiedade.

“Cheguei ao ponto de chorar uma noite sem ter notícias dele por um ou dois dias. Percebi que tinha problemas internos para resolver que me levaram a este ponto de insegurança e ansiedade”, conta a jovem.

Então ela decidiu procurar ajuda profissional e buscou um curso de mensagens de texto específicas para namoro. Esse é um campo emergente nos EUA. Ao fim, ela se matriculou em um curso chamado “Texting Communication Cure Crash Course” (que pode ser traduzido, do inglês, como um “curso intensivo para ‘curar’ sua comunicação por mensagens de texto”) ministrado pela terapeuta e coach de relacionamento Kelsey Wonderlin.

Wonderlin, que oferece cursos de namoro desde de 2021, é uma das várias coaches que tenta fornecer aos clientes as habilidades de comunicação por escrito necessárias para levar os “matchs” dos aplicativos para o mundo real e fazer com que durem.

Com quase 180 mil seguidores no Instagram, Blaine Anderson, outra coach de relacionamento, percebeu que seus vídeos sobre mensagens de texto sempre faziam sucesso com a maior parte de seu público masculino. Isso, somado a sua experiência pessoal em receber mensagens estranhas em aplicativos de namoro a incentivou a lançar um curso chamado “Texting Operating System” (“Sistema operacional de mensagens de texto”, em tradução livre do inglês) “para eliminar o estresse e a ansiedade dos homens ao se comunicar com mulheres por meio de mensagens”.

De acordo com Damona Hoffman, também coach de relacionamento e apresentadora do podcast “Dates&mates”, muitas pessoas ficam presas no que ela chama de “textationships” (a soma das palavras “texto” e “relacionamento”, em inglês). As mensagens de texto se tornaram uma nova fase do namoro, diz ela, em seu curso “The Dating Accelerator” (“O acelerador de namoros”, em tradução livre do inglês). Um dos objetivos do curso é que as pessoas evitem passar muito tempo na etapa do “textationships”.

FALTA DE HABILIDADE DIGITAL

Apesar do uso generalizado de aplicativos de namoro, as especialistas acreditam que nossa sociedade como um todo ainda carece significativamente de habilidades de comunicação digital. A razão, de acordo com Wonderlin, é que não há um lugar onde as pessoas possam aprender como iniciar e manter um relacionamento saudável no meio online. Em vez disso, muitos são forçados a descobrir as coisas por conta própria.

Afinal, mensagens de texto ainda são um meio de comunicação relativamente novo. Nossos cérebros não estão programados para pensar em mais de cem caracteres por mensagem, acredita Anderson. Embora as mensagens de texto sejam convenientes, elas não têm a textura e a profundidade das conversas pessoais.

“Traduzir nossos sentimentos complexos e sutis em mensagens nítidas é difícil, o que torna mais fácil dizer a coisa errada”, avalia.

Hoffman diz que não é surpreendente que as pessoas estejam enfrentando problemas. Embora muitas pessoas gostem de enviar mensagens de texto por conta da velocidade e eficiência, há muito espaço para interpretações errôneas.

“Sempre faltou educação em comunicação saudável”, pontua Wonderlin. “Mas como a maioria das pessoas se conhece online hoje em dia e começa a enviar e receber mensagens de texto imediatamente, as mensagens se tornaram o meio pelo qual as pessoas formam seus padrões de comunicação em um novo relacionamento.

Como muitas pessoas preferem se comunicar por texto em vez de falar por ligação telefônica antes do encontro, “é importante definir o tom desde o início para uma comunicação saudável e recíproca”, afirma a coach de relacionamento.

Enquanto o curso de Anderson se concentra principalmente na psicologia por trás de diferentes mensagens e fornece modelos de mensagens de texto, o treinamento de Wonderlin aborda a importância de criar uma comunicação saudável desde o início de um relacionamento.

Dan Leader, um engenheiro de 36 anos, se inscreveu no curso de Anderson em dezembro “porque não estava transformando muitas conversas em encontros e, quando conseguia encontros, eles não levavam a segundos encontros”:

“Desde que fiz o curso, escrevo com propósito e intenção. Faço perguntas para conhecer a pessoa e para que ela possa me conhecer. Então eu faço um plano claro para definir um encontro em um momento apropriado.

Embora as pessoas solteiras geralmente aprendam que, para ser desejável, você deve ser desinteressado ou se fazer de difícil, cursos como o de Wonderlin deram a participantes como Abby Norton e Laura Matson, uma fisioterapeuta de 36 anos, a confiança para perceber quando elas estão sentindo a necessidade de conversar por mais tempo com alguém por quem estão interessadas e o que fazer nessas situações.

“Em vez de pensar demais e ficar ansiosa”, Laura conta que aprendeu a desligar o telefone e fazer atividades relaxantes antes de voltar a tentar conversar com seus pretendentes.

OUTROS OLHARES

CRECHE PARA CÃES OFERECE DE NATAÇÃO A FESTA

Negócio ganha espaço com retorno de tutores ao escritório; pacotes incluem até monitoramento de pets por vídeo

Se o conceito de “mãe e pai de pet” ganhou força nos últimos anos, um tipo de negócio mira esse público com precisão: as creches para cães, que tratam os animais quase como alunos e dão aos seus tutores diversas experiências que teriam com um filho humano.

Clientes do serviço costumam deixar seu companheiro na creche de manhã e buscar no fim da tarde. Geralmente, é preciso preparar uma lancheira com aquilo que o bicho vai comer ao longo do dia.

As instituições oferecem ração comum e alguns petiscos, mas cada cão tem suas preferências, então o melhor é garantir.

Ao longo do dia, se a saudade apertar, basta acessar um link ou app e ver imagens ao vivo do pequeno, como em um Big Brother. Dá para checar se o animal está amuado em um canto ou interagindo com os coleguinhas. Se está se engajando nas atividades, como adestramento ou natação, e aprendendo coisas novas.

Há locais que também enviam vídeos curtos aos donos, no formato Stories, ao flagrar algum momento marcante.

Como nas escolas infantis, há brinquedos e paredes coloridas, monitores que chamam para brincar e eventos para estimular a socialização e deixar os pais orgulhosos, como festinhas de aniversário. Em outubro, por exemplo, teve creche que vestiu os bichos como pequenos bruxos e cantou parabéns para eles em clima de Halloween.

Essas atividades movimentam o mercado de serviços para animais, que vive um momento de alta pós-pandemia. Muita gente resolveu adotar um bicho enquanto estava trabalhando de casa. Conforme a volta ao presencial foi sendo exigida, pais de pet de primeira viagem ficaram em dúvida sobre o que fazer.

“A gente pegou um cão na pandemia, quando ficava o tempo todo em casa. Meu marido teve de voltar ao trabalho presencial full time. Eu tenho agenda mais flexível, mas a gente não teve como não colocar em uma creche. Ele não podia ficar sozinho”, conta a publicitária Letícia Natívio, 34, que mora na Mooca, zona leste de São Paulo.

Letícia conta que a decisão de adotar o beagle Pepino di Capri, 2, foi súbita.

“A gente foi ao canil e voltou de lá com um cachorro.” Hoje, Pepino vai a uma creche no bairro três vezes por semana, por R$ 500 mensais. O valor pode variar: o local pode oferecer serviços como banho e tosa e incluir o valor no fim do mês, por exemplo.

“A creche resolve várias questões: a minha falta de tempo, a necessidade do cão de gastar energia, de dar a ele uma rotina mais saudável. Ele volta supercansado e não costuma dar trabalho naquele dia.” Letícia diz que não imagina mais a rotina de Pepino sem a creche, mas que foi preciso fazer testes até achar a frequência ideal.

“Uma vez por semana era pouco, mas com quatro dias ele ficava supercansado. Ele teve uns desarranjos intestinais também. É preciso ter um equilíbrio”, aponta.

As creches costumam oferecer flexibilidade de dias em pacotes variados. Na Patrulha dos Cães, por exemplo, o pacote com uma ida semanal parte de R$ 360. Já seis visitas por semana saem por R$ 1.090 mensais.

O local tem cerca de 150 cães cadastrados, mas recebe entre 70 e 80 deles a cada dia.

“Depois da pandemia, muita gente que adotou acabou levando o cachorro para socializar na creche. E os tutores estão cada vez mais preocupados em saber o que está sendo feito, acompanham pelas câmeras”, diz Juliana Gonçalves, 39, uma das proprietárias da creche Patrulha dos Cães. Para evitar conflitos, os monitores ficam de olho na linguagem corporal dos bichos e buscam se antecipar a possíveis problemas. É comum também que os frequentadores passem por um período de adaptação antes de entrar para as turmas regulares. Nos últimos meses, Juliana ampliou a equipe de 4 para 9 funcionários e planeja abrir uma segunda unidade em 2023. Além de empregar monitores e veterinários, a Patrulha também costuma adquirir kits de festa feitos para cães, para celebrar os aniversários. Uma das fornecedoras, a Badalacão, oferece pacotes com bolos e outros petiscos para serem consumidos pelos cães. Custam em torno de R$ 150 por bicho e incluem decorações temáticas. As receitas geralmente têm sabor insosso para os humanos, mas cheiro potencializado para agradar ao olfato canino.

Geralmente, os monitores montam o cenário da festa, como encher as bexigas e fixar as decorações na parede, montam as mesas de petiscos e tiram as fotos dos pets “celebrando” as datas com os amiguinhos. As imagens depois são enviadas aos tutores, caso eles não possam estar presentes.

“No fim de ano, muita gente quer dar mimo para o cachorro. Aí fazemos panetones, biscoitos natalinos, costuma ter muita demanda”, conta Gabriela Martinez, 29, criadora da Badalacão.

Ex-funcionária de uma creche pet na zona sul de São Paulo, ela começou o negócio em 2016, como fonte de renda extra, mas dois anos depois deixou seu emprego e passou a se dedicar ao negócio em tempo integral.

Hoje, vende em média entre dois e três kits de festa por dia para adultos que querem ver seus companheiros com patas se divertindo como se fossem crianças.

GESTÃO E CARREIRA

CARREIRA EM TECNOLOGIA SEGUE PROMISSORA

Executivos afirmam que cortes em big techs e startups são passageiros, mas os critérios para reabrir vagas serão rigorosos

A onda global de demissões que se estende desde o ano passado em startups e big techs como a Microsoft chacoalhou as estruturas do mercado de tecnologia. Executivos ouvidos, porém, dizem que há vagas na área e que elas continuarão existindo, mas de forma mais criteriosa. Segundo eles, a fase é passageira, e o setor continua promissor para os profissionais.

Diego Alvarez, cofundador da edtech Strides, afirma já ter visto esse cenário antes. Em 2008, ele fazia estágio na Microsoft, nos Estados Unidos, e presenciou demissões em massa diante da crise financeira. Ali, ouviu histórias sobre o crash da bolha da internet em 2001, quando empresas de tecnologia se desfizeram após uma fervorosa alta de investimentos. “Hoje, certamente, é um desses momentos de novo, de um ciclo depois de uma grande euforia acontecendo”, avalia.

Para Marco Stefanini, CEO do Grupo Stefanini, as demissões em massa não ocorreram por falta de espaço no mercado, mas por necessidade de enxugar a estrutura em empresas nas quais o número de profissionais estava superestimado. Ele é otimista e diz acreditar que o mercado continuará favorável para quem deseja seguir carreira em tecnologia. Porém, avalia que a demanda por pessoas qualificadas e especializadas continua e acompanhará o amadurecimento tecnológico do País.

“Este é um momento de adaptação. Provavelmente, boa parte desses profissionais demitidos será absorvida pelo mercado, uma vez que existe uma quantidade muito grande de pessoas com essa formação tecnológica”, diz.

CENÁRIO

Claudia Farias, diretora de tecnologia e cofundadora da SafeSpace, segue o mesmo raciocínio, mas afirma que é cedo para concluir que o cenário de demissão tenha chegado ao fim. “Talvez, a gente deva se valer de um otimismo um pouco mais tímido, já que os sinais de uma possível recuperação, no momento, não estão claros”, pondera. Ainda assim, ela diz acreditar que, aos poucos, o mercado vai apresentar indícios de retomada.

Para Cláudio Azevêdo, co-fundador da Strides, os profissionais brasileiros podem ter melhores oportunidades. “Empresas tradicionais do Brasil estão contratando seus primeiros times de tecnologia porque precisam se digitalizar. Se olhar o mercado, as vagas continuam abertas, não no Google ou na Microsoft, mas em empresas de nível regional e nacional”, afirma.

QUALIFICAÇÃO

Para os executivos, o cenário força as organizações a investirem em projetos mais sustentáveis e em contratações mais assertivas, elevando a régua de critérios. Alvarez entende que a situação é mais desafiadora para quem está começando ou não é qualificado. “Para quem está preparado, vai ser um momento muito bom, porque as empresas serão mais criteriosas”, comenta.

Já Claudia Farias avalia que o mercado brasileiro aparenta estar preparado para as futuras mudanças por ter compreendido aspectos importantes que favorecem o clima organizacional, como diversidade, inclusão e bem-estar. “É um ponto a favor para quem está em busca da primeira oportunidade, porque isso deixa a decisão um pouco mais nas mãos dessas pessoas. Elas não precisam aceitar a primeira proposta”, diz.

A atualização contínua de conhecimentos impacta na vitalidade do profissional no mercado. Um estudo da Society for Human Resource Management, de 2018, mostrou que funcionários que buscam desenvolver a carreira são 12% menos propensos à demissão. Essa capacitação constante também faz com que a pessoa tenha 5,4 vezes mais chances de ser promovida, segundo pesquisa da Harvard Business Review, de 2017.

De acordo com o diretor- geral da LANDtech, Paulo Moraes, a recolocação de profissionais deve ocorrer, mesmo que demore um pouco, mas o maior impacto será na remuneração. A tendência, diz, é que os pagamentos sejam inferiores, especialmente nos casos de profissionais que buscam essa recolocação.

“Estamos passando por um ajuste de mercado e as empresas estão reduzindo a remuneração nas ofertas. E isso vem acontecendo nas duas pontas: por necessidade, já que as startups precisam reduzir custos, e por oportunidade de negócios”, afirma.

Moraes compara o momento atual com o que ocorreu há cerca de 15 anos, quando houve um boom por profissionais na área de óleo e gás. Ele lembra que, quando a demanda no setor explodiu, os salários foram junto. Mas, quando a necessidade por novos profissionais foi reduzida, as empresas não mantiveram o mesmo patamar de remuneração.

No cenário atual, ele aponta duas opções. A primeira é a companhia demitir o funcionário sênior e contratar alguém mais jovem para pagar menos. A segunda é ter um profissional sênior disponível que aceite receber uma remuneração menor, porque não consegue ficar muito tempo longe da atuação profissional.

OPORTUNIDADES

Na contramão das demissões, o Grupo Stefanini está acelerando as contratações em 2023 e conta com 500 vagas em áreas que envolvem analytics, banking, cibersegurança, ciência de dados, cloud, UX e marketing digital. Aos trabalhadores atingidos por demissões em massa, a Strides oferece meia bolsa para o programa de liderança em tecnologia ou a possibilidade de pagar a íntegra após a recolocação profissional. O foco da edtech é criar uma comunidade para compartilhar

EU ACHO …

120 CHAMADAS PERDIDAS

É tão dramático que dói lembrar, mas abro esta crônica com uma situação narrada por um homem que participou do resgate das vítimas da boate Kiss, dez anos atrás. Ele conta que viu, no celular de uma das garotas mortas, 120 chamadas perdidas feitas pela mãe dela. Qualquer um de nós pode se colocar no lugar dessa mãe desesperada. É por isso que temos obrigação de agir. E agir não significa rezar ou cruzar os dedos. Significa, antes de tudo, mudar nossa cabeça. Não dá mais para pensar: essas coisas acontecem, são fatalidades.

Quando vemos as imagens de crianças yanomamis em estado avançado de desnutrição, com os ossos quase rasgando a pele, o coração aperta, mas muitos argumentam que isso não é de hoje, que sempre foi assim, que estão politizando a questão. Quando o drama não é considerado novidade, lavar as mãos parece aceitável. Ninguém foi responsabilizado antes, por que responsabilizar agora? E segue-se em frente, como se morrer cedo fosse um costume indígena.

O caso Daniel Alves: outra não-novidade. Alguns homens, quando fazem sucesso e ganham bastante dinheiro, acreditam que a mulherada não quer outra coisa a não ser “dar” para eles. Enquanto este pensamento machista não mudar, o estupro parecerá um delito menor (ora, o cara teve apenas que forçar a barra um pouquinho com a moça teimosa, que se fez de difícil).

Fraude contábil seria alguma novidade? Quá, quá, quá. Entre risadas debochadas, se passa pano para empresários envolvidos em rombos milionários e que deixam inúmeros credores na mão. Afinal, quando se trata de dinheirama, o telhado de vidro é comum, melhor trocar de assunto: e o paredão do BBB, hein?

Novidade foi milhares de pessoas invadirem os prédios dos Três Poderes reivindicando a volta da ditadura. Aí são presos e parece uma injustiça, afinal, era só

uma “manifestação”. Se eu entrar no prédio da prefeitura de qualquer cidade e quebrar vidraças, estilhaçar lustres, rasgar poltronas e destruir obras de arte, não considerarão que é meu direito de me manifestar, sairei numa camisa de força, estando só ou na companhia de outros surtados.

Moldados pelo “país do jeitinho”, punir com rigor nos parece sempre um exagero, até porque ninguém é infalível, vá que um dia também sejamos julgados pela opinião pública. Então, optamos pela condescendência, para o caso de um dia precisarmos da condescendência dos outros. Fazemos no máximo uma postagem “indignada” nas redes sociais, e não se fala mais nisso.

Crime não é só disparar arma de fogo ou cortar gargantas. Negligência, racismo, homofobia, estelionatos e assédios podem não deixar marcas de sangue, mas também fazem vítimas. Se nossa cabeça não muda e o “sempre foi assim” nos acomoda, um dia poderá sermos nós os agoniados ao telefone, sem que atendam nossas chamadas.

MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

ZUMBIDO NO OUVIDO REQUER DIAGNÓSTICO PRECISO

Além da perda auditiva, o distúrbio pode estar relacionado a outras doenças

Semelhante à dor, o zumbido no ouvido não é uma doença, mas um sintoma que se manifesta com a percepção do som, principalmente com um tom agudo (classificado como chiado, assovio, apito ou barulho de cigarra), mesmo na ausência de ruídos externos. A condição é incômoda e afeta a qualidade de vida, interferindo no sono nas atividades cotidianas.

Nos casos mais graves, pode causar reações negativas e diferentes emoções, especialmente ansiedade e estresse. O transtorno pode se desenvolver gradualmente ou ocorrer de forma repentina, ser transitório ou permanente, e afetar pessoas em diferentes idades, especialmente adultos e idosos.

As causas podem ser diversas, como perda auditiva uni ou bilateral, principalmente relacionada à idade, acúmulo de cera, otite, sinusite, lesões ou corpo estranho no interior do ouvido.

Também pode ser provocada por danos causados por ruídos, vertigem, estresse, tensão muscular, distúrbios da coluna cervical, disfunções temporomandibulares e maxilares, além de medicamentos, doenças metabólicas, cardiovasculares ou neurológicas.

“O zumbido pode ser sinal de outros problemas de saúde não associados à audição, por isso o médico deve sempre ser procurado o quanto antes. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficaz o tratamento”, alerta o otorrinolaringologista Nassib Kassis Filho.

MEDICAMENTOS E TERAPIAS

Existem inúmeras maneiras de neutralizar o zumbido irritante nos ouvidos e o tratamento varia de acordo com o diagnóstico e a duração dos sintomas. “Na maioria dos casos, existe tratamento com medicações, dietas e prótese auditiva quando associados à perda auditiva.

Tudo depende do diagnóstico e causa do zumbido”, explica o otorrinolaringologista Carlos Eduardo Cervantes.

É importante destacar que, em alguns casos, o tratamento pode não ser totalmente eficaz – ou seja, pode eliminar ou reduzir os sintomas do zumbido.

Segundo o otorrinolaringologista Nassib Kassis Filho, o tratamento é direcionado à eventual causa, por isso, a terapia medicamentosa e paliativa não está indicada, exceto nos casos de diagnóstico definido. “Investigada a causa e havendo um tratamento, o problema será amenizado ou resolvido”, destaca o médico. Entretanto, geralmente não há uma solução rápida para o zumbido, a melhora ocorre gradualmente com o tempo. Além disso, havendo uma condição de saúde subjacente, a mesma deve ser tratada.

Para alguns pacientes, quando o uso de medicamentos não é suficiente, a terapia de retreinamento do zumbido que integra abordagens comportamentais pode ser indicada. Ela visa auxiliar na maneira como o cérebro responde ao barulho no ouvido, treinando o paciente para que ele se torne cada vez mais menos consciente do zumbido.

Entre outras medidas, técnicas de relaxamento e controle do estresse também podem ajudar, trazendo benefícios não apenas na luta contra o zumbido, mas auxiliando no combate de diversas outras doenças.

DIAGNÓSTICO EXIGE EXAMES ESPECÍFICOS

A base para um diagnóstico é uma anamnese abrangente associada a exames específicos, normalmente solicitados por um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo, que visam apontar a eventual causa do zumbido.

“O diagnóstico sempre é importante para descartar as causas mais graves que são possíveis, principalmente as de origem neurológica. Para isso, é necessária a realização do exame físico, audiometria e ressonância magnética do crânio. Em alguns casos a tomografia computadorizada dos ossos temporais também pode ser solicitada”, explica o otorrinolaringologista Carlos Eduardo Cervantes.

Além disso, posteriormente, se necessário, outras patologias devem ser investigadas, envolvendo outros exames e especialistas.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

“FATORES DE ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL”

Pesquisa chinesa entrevistou 29 mil pessoas com 60 anos entre 2009 e 2019; vida saudável ainda é fator contra demência

Um novo estudo com mais de 29 mil pessoas com 60 anos ou mais identificou seis hábitos – desde comer uma variedade de alimentos até ler ou jogar cartas regularmente – que estão associados a um menor risco de demência e a uma taxa mais lenta de declínio da memória. Comer uma dieta balanceada, exercitar a mente e o corpo regularmente, ter contato regular com outras pessoas e não beber ou fumar – seis “fatores de estilo de vida saudável” – foram associados a melhores resultados cognitivos em adultos mais velhos em um grande estudo chinês realiza- do ao longo de uma década e publicado na revista científica BMJ.

Embora os pesquisadores já saibam que existe uma ligação entre a demência e fatores como isolamento social e obesidade, o tamanho e o escopo do novo estudo adicionam evidências substanciais a um conjunto global de pesquisa que sugere que um estilo de vida saudável pode ajudar o cérebro a envelhecer melhor. Também sugere que os efeitos de um estilo de vida saudável são benéficos mesmo para pessoas que são geneticamente mais suscetíveis ao declínio da memória – uma descoberta “muito promissora” para os milhões de indivíduos em todo o mundo que carregam o gene APOEÎ 4, um importante fator de risco para a doença de Alzheimer, disse Eef Hogervorst, presidente de psicologia biológica na Universidade de Loughborough, que não esteve envolvido no estudo.

ESQUECIMENTO

A memória naturalmente diminui gradualmente à medida que as pessoas envelhecem. Algumas pessoas mais velhas podem desenvolver demência, um termo abrangente que pode incluir a doença de Alzheimer e geralmente descreve uma deterioração da função cognitiva que vai além dos efeitos normais do envelhecimento. Mas, para muitos, “a perda de memória pode ser apenas um esquecimento senescente”, escrevem os autores do estudo do BMJ – como esquecer o nome daquele programa de TV que você adorava ou aquele fato incômodo que você queria procurar.

A perda de memória não é menos prejudicial por ser gradual, e o declínio da memória relacionado à idade pode, em alguns casos, ser um sintoma precoce de demência. Mas a boa notícia, dizem os pesquisa- dores, é que “pode ser reverti- do ou tornar-se estável, em vez de progredir para um estado patológico”. O estudo foi realizado na China entre 2009 e 2019, com testes em mais de 29 mil pessoas com 60 anos ou mais. Os pesquisadores acompanharam seu progresso ou declínio ao longo do tempo – o que é conhecido como estudo de coorte de base populacional. Embora mais de 10.500 participantes tenham deixado o estudo na década seguinte – alguns participantes morreram ou pararam de participar –, os pesquisadores ainda usaram os dados coletados desses indivíduos em suas análises. No início do estudo, os pesquisadores realizaram testes de memória, bem como testes para o gene APOE. Eles também entrevistaram os participantes sobre seus hábitos diários. A partir das respostas, eles foram sendo classificados em um dos três grupos – favorável, médio e desfavorável –, com base em seu estilo de vida.

DEMÊNCIA

Ao longo do estudo, os pesquisadores descobriram que as pessoas no grupo favorável (que apresentavam de quatro a seis fatores saudáveis) e no grupo médio (dois a três) tiveram uma taxa mais lenta de declínio da memória ao longo do tempo do que pessoas com estilos de vida com hábitos desfavoráveis.

As pessoas que vivem estilos de vida que incluíam pelo menos quatro hábitos saudáveis também eram menos propensas a progredir para comprometimento cognitivo leve e demência. Os resultados defendem esses “comportamentos”, diz Hogervorst – em outras palavras, quanto mais fatores de estilo de vida saudável puder combinar, melhores serão as chances de preservar a memória e evitar demência.

O QUE FAZER PARA MANTER O CÉREBRO ‘AFIADO’

EXERCÍCIO FÍSICO

Fazer pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana.

DIETA

Comer quantidades diárias adequadas de pelo menos sete de 12 itens alimentares (que incluem frutas, legumes, peixe, carne, laticínios, sal, óleo, ovos, cereais, legumes, nozes e chá).

ÁLCOOL

Nunca beber ou beber ocasionalmente.

TABAGISMO

Nunca ter fumado ou ser ex- fumante.

ATIVIDADE COGNITIVA

Exercitar o cérebro pelo menos duas vezes por semana (lendo e jogando cartas ou mah-jongg, por exemplo).

CONTATO SOCIAL

Envolver-se com outras pessoas pelo menos duas vezes por semana (participando de reuniões da comunidade ou visitando amigos ou parentes, por exemplo).

OUTROS OLHARES

ANABOLIZANTE USADO POR MULHERES VIRA FETICHE NAS REDES E MÉDICOS SOAM ALERTA

Oxandrolona é uma substância usada para ganho de massa muscular, mas os riscos são maiores do que os benefícios estéticos

“Para comprar oxandrolona chama no direct do insta”, diz a biografia da “tiktokerfit”, cujos primeiros três vídeos são seus próprios testemunhos sobre as supostas maravilhas do esteroide anabolizante para chegar ao estilo “marombeira”.

Apenas no Tiktok, a influencer acumula 40 mil curtidas e, nos vídeos fixados, 418,7 mil visualizações, além de 52,2 mil seguidores no Instagram. Estudante de direito, ela é apenas um entre muitos os diversos perfis na rede que promovem o uso do anabolizante oxandrolona para fins estéticos. O público-alvo, ao contrário da maioria dos esteroides do tipo, são mulheres. O uso para tal finalidade representa um desvio significativo de sua função original, uma vez que se trata de medicamento para tratar pacientes com perda muscular crítica ou crônica, como idosos, casos de desnutrição, câncer, Aids e queimaduras graves.

A oxandrolona é um derivado sintético hormonal, ou seja, um esteroide anabolizante artificial que se liga ao receptor da testosterona e tem efeitos semelhantes ao deste hormônio masculino virilizante. Pode causar, no caso de mulheres, mudanças físicas como engrossamento da voz (que pode ser irreversível), aumento do clitóris, atrofia mamária, queda de cabelo, acne e risco de mal formações fetais. É possível que desencadeie depressão, agressividade e irritabilidade.

O endocrinologista e médico do esporte Clayton Luiz Dornelles Macedo, presidente do Departamento de Endocrinologia do Exercício da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), diz que a população vem sendo iludida e exposta de forma preocupante.

Macedo, que também é coordenador do Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Ambulatório de Endocrinologia do Exercício da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que não existem estudos de boa qualidade ética ou científica que preconizem o uso de oxandrolona para fins estéticos.

“As doses usadas com esse objetivo são bem mais altas que as usadas clinicamente e o discurso enganoso de menos efeitos colaterais coloca os usuários em risco”, aponta. A lista de efeitos colaterais inclui também, para homens e mulheres, trombose, embolia, aumento do colesterol ruim (LDL), diminuição do colesterol bom (HDL), hipertensão, alteração da glicose, aumento do risco de infarto do miocárdio, rabdomiólise (destruição e inflamação aguda dos músculos), infertilidade, derrame cerebral, arritmia e morte súbita.

A Sbem condena, por todos os riscos citados, o uso da oxandrolona com objetivo estético e declarou ainda, por meio de seu porta-voz, que os efeitos colaterais do uso de anabolizante são subdiagnosticados e subnotificados, sendo sua distribuição ligada a rotas como a do tráfico de armas e de narcóticos. “Existe atualmente uma normalização, banalização e permissividade para o uso dessas drogas, [mas] não existe dose segura nem da oxandrolona nem de nenhum outro esteroide anabolizante para quem não possui deficiência hormonal”, diz Macedo.

Patrícia Corradi, médica endocrinologista da equipe de Medicina do Esporte da Rede Mater dei de Saúde, concorda. “A hipertrofia causada pela oxandrolona consegue melhorar um quadro de desnutrição grave, que pode acontecer em doenças consumptivas, mas a indicação dela para fins estéticos é completamente banida pelas sociedades que regulam esse acompanhamento. O benefício não justifica o risco”, afirma Corradi.

Em 2018, a nutricionista e influenciadora Natalia Bravo Penariol começou a fazer crossfit e, no decorrer das aulas, percebeu que precisaria de ajuda médica para melhorar seu desempenho e ganhar massa magra. Ela havia se tornado mãe há pouco tempo e emagrecido com a amamentação, o que a deixou insatisfeita com seu próprio corpo. Ela começou a usar oxandrolona, que foi prescrita por um endocrinologista. “O médico me indicou uma dosagem baixa e logo no primeiro mês já senti diferença: uma maior resistência aos treinos e comecei a ganhar massa magra”, diz Penariol.

Quando começou a competir, incluiu outro anabolizante, a boldenona. “Acabei ganhando nesse período 14 kg de massa magra e continuei com a oxandrolona. Em dosagem baixa não tem tanta virilização, [mas] tive aumento de clítoris, minha voz engrossou bastante e, depois do meu primeiro ciclo, quando parei, tive alopécia. Meu cabelo caiu, minha pele também estourou bastante, mais por conta da boldenona”, afirma.

Em 2020, ela suspendeu o uso em decorrência da pandemia, mas já retomou e está alternando o medicamento com outras substâncias.

Atualmente, Penariol recorre ao esteroide com a finalidade de manutenção. “Não tem nada que você faça que não vá ter os colaterais. Recebo muita gente se inspirando no meu corpo e até pacientes no consultório dizendo ‘nossa, quero um corpo igual ao seu’. Não vou gerar frustração ou vender algo que não existe. Falo: a densidade corporal que tenho é fisiologicamente impossível para uma mulher ter naturalmente”, destaca.

OUTROS OLHARES

DESAFIO DO APAGÃO NO TIKTOK ABRE DEBATE SOBRE RISCOS PARA ADOLESCENTES

Polícia apura se caso de sufocamento e morte de menina de 12 anos na Argentina tem relação com brincadeira virtual

A polícia da Argentina investiga se a morte de uma menina de 12 anos ocorreu após a adolescente participar, na última sexta-feira,  do chamado Blackout Challenge, o “desafio do apagão”, no TikTok.

A “trend”, como se chamam os conteúdos virais que circulam de forma natural na rede social, estimulava jovens a provocarem o auto sufocamento até o ponto de desmaio. O TikTok desativou a busca pelo desafio e emitiu comunicados de prevenção.

“Alguns desafios online podem ser perigosos, perturbadores ou até encenados. Saiba como reconhecer desafios perigosos para poder proteger sua saúde e bem-estar”, afirma o comunicado publicado pela rede chinesa assim que se busca pela palavra-chave Blackout Challenge.

Segundo apuração do jornal argentino Clarín, que noticiou a morte da adolescente Milagros, esta teria sido a terceira tentativa de auto sufocamento da menina. Ainda conforme a imprensa argentina, a família diz que há vídeos no celular da garota em que ela aparece tentando a asfixia outras vezes.

A morte não teria sido a primeira ligada a esta “brincadeira”. Apesar de a reportagem não ter encontrado vídeos sobre o desafio no TikTok, há postagens relatando outros casos e alertando os usuários da rede social sobre o perigo.

A morte do britânico Leon Brown, de 14 anos, que foi encontrado asfixiado pelos pais em seu quarto em agosto de 2022, é uma das mais mencionadas nos vídeos que circulam na rede social. Na época, a mãe dele, Lauryn Keating, afirmou ao jornal escocês Daily Record que colegas do filho relataram que ele participou do desafio.

Em dezembro de 2021, a mãe da jovem Nylah Anderson, da Filadélfia, nos EUA, processou o TikTok pela morte da filha, que teria participado do mesmo desafio.

Mas, em outubro de 2022, o juiz rejeitou o pedido com base a Lei Federal de Decência nas Comunicações, dos EUA, que protege editores do trabalho de terceiros – a postagem é considerada de responsabilidade do seu autor, e não da rede. As famílias de mais duas meninas americanas, de 8 e 9 anos, mortas em 2021, também entraram com ação contra o TikTok pela mesma razão.

“A curiosidade é um motor importante para a vida. Leva a desafios, experiências e ao crescimento do repertório da pessoa”, diz Wimer Bottura, psiquiatra do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina. Por outro lado, “como o repertório de informações da criança ainda é baixo, a intensidade da curiosidade dela tende a ser maior que a de um adulto”, o que as tornam mais vulneráveis a manipulações e riscos.

RESPOSTA

O TikTok afirma que desafios envolvendo asfixia são anteriores à rede social, lançada em 2016, citando documento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano de 2008 que já relatava mortes por um jogo similar, o Choking Game. “Sentimos muito pela trágica perda desta família (em relação ao caso ocorrido na Argentina). A segurança da nossa comunidade é prioridade e levamos muito a sério qualquer ocorrência sobre um desafio perigoso. Conteúdos dessa natureza são proibidos em nossa plataforma e serão removidos caso sejam encontrados”, disse a empresa

GESTÃO E CARREIRA

HOME OFFICE AINDA É ADOTADO POR 33% DAS EMPRESAS NO BRASIL

Sistema abrangia 7% das companhias antes da pandemia e chegou 58% em 2021, apontam sondagens da FGV

A adoção do trabalho remoto, total ou parcialmente, caiu em 2022 com a flexibilização das restrições relacionadas à pandemia, mas está longe de voltar aos níveis verificados antes da crise sanitária. Sondagens da FGV mostram que o percentual de empresas que adotam o sistema de home office passou de 58% em 2021 para 33% em 2022 e que 34% dos trabalhadores prestam serviço de forma remota ou híbrida (semipresencial) – eram 55% um ano antes. Antes da pandemia, cerca de 7% das empresas tinham empregados trabalhando a distância.

Os números fazem parte de um trabalho dos pesquisadores Stefano Pacini, Rodolpho Tobler e Viviane Seda Bittencourt com base nas sondagens empresariais e do consumidor do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) em outubro de 2021 e de 2022. De acordo com os responsáveis pelas sondagens, as empresas esperavam, a partir da normalização dos negócios, que o modelo de trabalho remoto diminuísse significativamente, o que efetivamente não aconteceu.

“Havia um processo de aumento do home office muito lento antes da pandemia, que foi acelerado. A tendência agora é normalizar perto do que a gente tem hoje. A gente já vive um momento de poucas restrições, e as empresas também estão vendo o que é possível ou não fazer a distância”, afirma Rodolpho Tobler, do FGVIbre. A indústria é o setor com maior percentual de empresas com algum funcionário que trabalha remotamente pelo menos uma vez por semana, com 49% das companhias adotando o sistema. Nos serviços, são 40%. No varejo e na construção, os números giram em torno de 10%.

No segmento de serviços de informação e comunicação o percentual chegou a 90% em 2021 e estava em 74% em 2022. Nos serviços prestados às famílias, aqueles que mais dependem do contato presencial com o cliente, caiu de 37% para 13%.

Dois terços dos trabalhadores consultados nas sondagens do consumidor trabalham presencialmente todos os dias. São 20% no sistema totalmente remoto, enquanto 14% praticam o trabalho híbrido. A média na jornada dos colaboradores em home office da área administrativa se manteve próxima de 3 dias em 2021 e também em 2022. A perspectiva das empresas é que esse resultado se mantenha no futuro. Nas áreas operacionais, cresceu de 1,1 para 1,6 dia por semana.

Um estudo do departamento de estatística dos EUA mostrou que a parcela de pessoas que trabalham remotamente dobrava a cada 15 anos antes da pandemia. Em 2020 e 2021, o número quadruplicou.

Segundo a FGV, há divergências entre o que empregadores e trabalhadores percebem como benefícios desse sistema. As empresas com funcionários em home office reportam aumento médio de 23% na produtividade. Entre os trabalhadores, a maioria (41%) se considera mais produtivo ou igualmente produtivo (38%) no trabalho remoto.   

Com a redução no percentual de empresas que adotam o sistema, houve melhora na percepção sobre essa questão. Em 2021, 22% das empresas que adotaram home office observaram aumento na produtividade, e 19% apontaram redução. Em 2022, a proporção de empresas que notaram aumento da produtividade de seus colaboradores aumentou para 30%, enquanto as que avaliam que houve perda diminuiu para 10%.

Não perder tempo com deslocamento e horários mais flexíveis são as duas vantagens mais apontadas pelos entrevistados em função do trabalho remoto. Metade dos trabalhadores também cita questões como redução de custos e aumento da qualidade de vida. São 4% os que não enxergam pontos positivos.

O home office é uma opção predominante para as categorias salariais mais elevadas, segundo o levantamento. O trabalho remoto é atualmente uma opção para cerca de 20% dos trabalhadores com renda de até R$ 4.800, para 50% na faixa acima de R$ 9.600 e 40% no grupo intermediário. A pesquisadora do Ibre Viviane Seda Bittencourt afirma que o trabalho remoto ainda é um desafio também para as empresas pequenas e médias, que precisam de um esforço maior para incorporar tecnologias. Outra restrição é a falta de regras nas relações trabalhistas.

“Um risco para a continuidade do home office é a questão das mudanças no contrato de trabalho. Muitas empresas ainda não se adaptaram e podem sofrer depois com ações na Justiça, por conta de um regime que não está regulamentado, não está respaldado por um contrato de trabalho correto”, afirma.

Pesquisa Datafolha realizada em dezembro mostrou que, se pudessem optar por uma forma de trabalho, 24% dos brasileiros escolheriam o modelo remoto, trabalhando em casa. Outros 28% preferem o sistema híbrido, trabalhando tanto em casa quanto na empresa. Há ainda 45% que defendem a jornada somente presencial.

EU ACHO …

A ELEGÂNCIA DO CONTEÚDO

De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.

Mas onde ele se esconde?

Dentro das pessoas. De algumas delas.

Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de outra forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás.

Sei que é uma visão catastrofista e que sempre haverá uma elite intelectual, mas o que deveríamos buscar é justamente a ampliação dessa elite para uma maioria intelectual. A palavra assusta, mas entenda-se como intelectual a atividade pensante, apenas isso, sem rebuscamento.

O fato é que nos tornamos uma sociedade muito irresponsável, que está falhando na transmissão de elegância. Pensar é elegante, ter conhecimento é elegante, ler é elegante, e essa elegância deveria estar ao alcance de qualquer pessoa. Outro dia conversava com um taxista que tinha uma ideia muito clara dos problemas do país, e que falava sobre isso num português correto e sem se valer de palavrões ou comentários grosseiros, e sim com argumentos e com tranquilidade, sem querer convencer a mim nem a ninguém sobre o que pensava, apenas estava dando sua opinião de forma cordial. Um sujeito educado, que dirigia de forma igualmente educada. Morri e reencarnei na Suíça, pensei.

Isso me fez lembrar de um livro excelente chamado A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, que conta a história de uma zeladora de um prédio sofisticado de Paris. Ela, com sua aparência tosca e exercendo um trabalho depreciado, era mais inteligente e culta do que a maioria esnobe que morava no edifício a que servia. Mas, como temia perder o emprego caso demonstrasse sua erudição,  oferecia aos patrões a ignorância que esperavam dela, inclusive falando errado de propósito, para que todos os inquilinos ficassem tranquilos – cada um no seu papel.

A personagem não só tinha uma mente elegante, como possuía também a elegância de não humilhar seus “superiores”, que nada mais eram do que medíocres com dinheiro.

A economia do Brasil vai bem, dizem. Mas pouco valerá se formos uma nação de medíocres com dinheiro.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

SONECA DA TARDE FAZ BEM E NÃO ENGORDA

Ganho de peso está associado à ingestão calórica acima do gasto energético e má qualidade do sono noturno

Ficar com sono depois de comer acontece com praticamente todo mundo, especialmente depois de fartas refeições, que sobrecarregam o sistema digestivo. É quando os bocejos começam a se multiplicar e um estado de fadiga invade o nosso corpo. Por isso, na medida do possível, tirar uma soneca curta após as refeições é uma ótima maneira de recuperar a energia e relaxar, especialmente para quem não teve uma boa noite de sono ou leva um estilo de vida agitado. É uma prática saudável, atestada pela ciência, que restaura a vitalidade do cérebro, estimula a criatividade, reduz o estresse e melhora o humo.

Segundo a nutricionista Mayara Ayusso, esse fenômeno está relacionado ao processo de digestão e tem a ver com o fluxo sanguíneo. “Essa sonolência é chamada de letargia pós-prandial. Ela acontece porque assim que terminamos de come, para que ocorra a digestão dos alimentos e a absorção de nutrientes, é necessário que um fluxo maior de sangue seja direcionado ao trato gastrointestinal, por isso a quantidade de sangue enviada para o cérebro diminui e sentimos sono. Além disso, algumas doenças como hipotireoidismo, anemia e diabetes também podem favorecer a sonolência diurna, assim como quem sofre

Outro fator importante é o aumento do índice glicêmico. De acordo com o nutricionista Hugo Quinaglia, a sonolência pós-almoço está relacionada ao processo de digestão, pois o corpo também gasta calorias para digerir os alimentos, porém, a causa do sono pode estar mais relacionada à elevação da glicemia no período pós-prandial. ”O que é normal, já que quando a glicemia sobe, os níveis de cortisol, que têm a função de nos deixar em estado de alerta, caem”, afirma.

PRIORIZE O SONO NOTURNO

A nutricionista Mayara Ayusso explica que cada organismo possui particularidades e comportamentos diferentes e não são todas as pessoas que sentem essa necessidade de dormir à tarde. Além disso, ela alerta que pessoas que sofrem com insônia devem evitar pegar no sono durante o dia para não atrapalhar o descanso noturno.

“Nesse caso, a dica para fugir do sono depois do almoço é não ingerir muitos alimentos durante uma única refeição, priorizando fracionar a alimentação em porções menores ao longo do dia e manter-se bem hidratado. Tomar um cafezinho depois do almoço também pode ajudar evitar a sonolência, já que a bebida é considerada um estimulante energético”, diz.

COCHILO APÓS O ALMOÇO

E para quem acredita que o hábito de dormir depois do almoço pode favorecer o ganho de peso, o nutricionista Hugo Quinaglia esclarece que isso é mito. “Cochilar depois do almoço não engorda. O que de fato engorda são calorias ingeridas acima do gasto energético. Além disso, o que tem um grande impacto no metabolismo e influencia bastante na balança, podendo resultar em excesso calórico, é a má qualidade do sono noturno, que pode desregular os hormônios da saciedade (leptina) e da fome (grelina)”, diz.

Ele explica que uma pessoa que dorme mal durante a noite pode ter o hormônio da saciedade reduzido e sentir mais fome durante o dia Isso acontece devido ao aumento da produção de grelina, que leva as pessoas a quererem comer mais, o que pode favorecer o ganho de peso e dificultar a queima de gordura. Outro malefício é a elevação do cortisol, o hormônio do estresse, que pode aumentar a busca por doces.

Segundo a nutricionista Mayara Ayusso, nesse caso, o hábito de tirar uma soneca rápida durante o dia pode ser benéfico ao organismo e favorecer o processo de emagrecimento. ”Além de melhorar o humor e o estado de alerta, contribuindo positivamente para o bem-estar de modo geral, tirar um cochilo depois do almoço pode ajudar a conter os exageros com a comida e a escolha de alimentos inadequados e prejudiciais à saúde, escolhidos, muitas vezes, para remediar uma emoção”, diz.

APENAS 30 MINUTOS

É preciso evitar cair em um sono muito profundo para não correr o risco de prejudicar o descanso noturno e anular efetivamente todos os benefícios do cochilo da tarde, que não deve ultrapassar meia hora. “De acordo com a ciência, o tempo ideal para uma soneca após o almoço deve ser de até 30 minutos”, afirma o nutricionista Hugo Quinaglia.

Dormir além do tempo recomendado pode interferir no funcionamento do metabolismo. “Se o cochilo se estender por um período mais longo o corpo pode reagir como se o ciclo completo do sono fosse interrompido no meio, prejudicando dessa forma o descanso e a recuperação”, destaca a nutricionista Mayara Ayusso.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CÉREBRO DE CEGO ‘ENXERGA’ SENSAÇÕES

Com ajuda de ressonância magnética, cientistas brasileiros mostraram como neurônios ligados a sentidos de audição e tato ‘colonizam’ área cerebral normalmente destinada à visão em pessoas com deficiência congênita

Um grupo de neurocientistas brasileiros jogou luz sobre uma questão que há tempos mobiliza esse campo de pesquisa: como pessoas cegas de nascença ganham capacidade extra para audição, tato e outros sentidos, se não existe espaço extra no cérebro para processar esses sinais? No novo trabalho, o grupo liderado por Fernanda Tovar-Moll, presidente do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), no Rio, rastreou a origem dessa habilidade ao desenvolvimento do tálamo, uma estrutura cerebral que no passado já foi considerada mais “primitiva” que outras.

É comum que, em algumas pessoas sem visão desde o nascimento, a capacidade de identificar detalhes em sons, texturas ou odores seja mais aguçada. Não está totalmente claro ainda, porém, como essas habilidades são construídas na estrutura física do organismo, pois o cérebro aloca áreas específicas do córtex, uma região “nobre” do órgão onde são processadas informações mais complexas.

Estudos recentes mostraram que, nas pessoas cegas, o córtex occipital (área cortical que processa a visão, na parte de trás da cabeça), acaba sendo “colonizado” por neurônios de outras regiões, como o córtex motor, que processa o tato. Cientistas não sabiam como isso ocorria, porém, porque as conexões necessárias para isso não existem em indivíduos adultos, que tipicamente não possuem as mesmas habilidades auditivas e tácteis dos cegos de nascença quando perdem a visão.

“Um estudo clássico do início dos anos 2000 mostra que quando os cegos de nascença leem em braile, eles ativam o córtex visual, quando na verdade eles estão fazendo funções relacionadas ao tato”, explica Tovar-Moll.

“Mas qual seria a explicação anatômica para entender como esses sentidos “conversam entre si” nas pessoas com deficiência visual?”

Esse fenômeno, batizado com o termo técnico de “plasticidade transmodal”, é um reflexo da capacidade do cérebro de se moldar e se adaptar a novas circunstâncias. No caso estudado, ela foi uma resposta à falta de estímulos visuais durante o desenvolvimento, algo essencial para maturar a visão. Para investigar a questão, o grupo da pesquisadora no IDOR empregou uma tecnologia nova de ressonância magnética, mais precisa que a de exames clínicos tradicionais. Com uma máquina de campo magnético mais potente que as outras, e uma técnica de análise de imagem mais sofisticada, os cientistas foram investigar as principais suspeitas de envolvimento no processo: as conexões neurais do tálamo.

“A gente levantou a hipótese que as conexões poderiam estar sendo misturadas no tálamo, porque ele é uma região onde existe uma espécie de “pit stop” do cérebro”, explica. “O córtex visual fica distante do córtex temporal e do córtex motor, mas dentro do tálamo os núcleos talâmicos, que se conectam com essas partes do córtex, são muito mais próximos entre si.

REMODELAÇÃO

Para entender as diferenças de estrutura cerebral, Tovar-Moll mapeou na ressonância magnética os cérebros de dez pessoas com cegueira de nascença e de outras dez capazes de enxergar, como comparação.

Ao mapear as conexões de neurônios do tálamo com neurônios do córtex em espaço menor e mais emaranhado de células, Tovar-Moll e seus coautores conseguiram evidências de que são os estímulos do tálamo que guiam a remodelação de áreas superiores do cérebro. O trabalho foi descrito em artigo dos cientistas no periódico Human Brain Mapping.

A pesquisa não gerou nenhum benefício clínico direto, ainda, mas os cientistas afirmam que ao melhorar a compreensão de mecanismos básicos do sistema nervoso, outros estudos estão agora em posição melhor para buscar aplicações do conhecimento gerado.

“Quando a gente trabalha com populações que têm alguma doença ou alguma forma de deficiência, elas compreendem que pesquisa básica também tem que avançar para poder ajudá-las”, diz Erika Rodrigues, neurocientista que participou do trabalho.

É comum que voluntários se interessem em participar das pesquisas em busca de autoconhecimento, algo que os ajuda a lidar com suas diferenças, conta Tovar-Moll:

“Uma vez eu estava apresentando numa palestra o resultado de um trabalho sobre plasticidade cerebral. No final, veio uma pessoa da plateia e me disse: “Lendo o seu artigo hoje, eu entendo como eu me comporto”.

OUTROS OLHARES

ACESSO A TRATAMENTO CRIA UM CENÁRIO DESIGUAL NO COMBATE AO CÂNCER NO PAÍS

Enquanto no sudeste a previsão é que mortes entre homens caiam, no Norte projeção é de alta

Quando o assunto é câncer, cada região do Brasil tem um caminho a trilhar para o país alcançar a meta de, até 2030, reduzir em 33% a mortalidade prematura – de pessoas de 30 a 69 anos. Entre os entraves locais estão o acesso a exames e a oferta de tratamentos.

Dados publicados na revista científica Frontiers in Oncology e divulgados na quinta-feira (2) em evento na sede do Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio de Janeiro, mostram que enquanto no Sudeste existe a previsão de redução de 14,5% considerando todas as formas de câncer entre os homens, no Norte a projeção é de aumento de 1,1%, quando comparados os dados de 2011 a 2015 e as projeções de 2026 a 2030. Entre as mulheres, os números são respectivamente -5,5% e 3,2%. “Ainda há uma disparidade muito grande”, avaliou Marianna Cancela, pesquisadora do Inca e uma das autoras do trabalho.

Membro do conselho diretivo da UICC (União Internacional para o Controle do Câncer), Ana Cristina Pinho Mendes Pereira disse que diversas questões podem contribuir para as disparidades, como a situação socioeconômica, o local de moradia (urbano ou rural, por exemplo), o gênero e a idade do paciente. Ela citou também que pessoas com deficiências físicas ou mentais e integrantes de grupos minoritários podem encontrar mais barreiras no tratamento.

“Essas dificuldades precisam ser notadas e consideradas, com apresentação de propostas diferenciadas”, afirmou a diretora-geral substituta do Inca, Liz Maria de Almeida, durante o evento.

Realizado em referência ao Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro), o encontro destacou a posição do Brasil diante do objetivo proposto pela ONU (Organização das Nações Unidas) de, até 2030, os países reduzirem em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promoverem a saúde mental e o bem-estar.

Pelas perspectivas atuais, apenas o câncer de pulmão conseguirá se aproximar do objetivo, com uma redução de 28% no âmbito nacional. O resultado, nesse caso, é um reflexo dos esforços governamentais de longo prazo de controle do tabagismo.

A mortalidade prematura por câncer colorretal, por outro lado, deverá subir 10,2% entre homens e 8,5% entre mulheres. O recorte regional mostra que a variação vai de 4,5% no Sudeste a 52% no Norte (homens) e de 0,3% no Sul a 37,7% no Nordeste (mulheres). As participantes chamaram a atenção ainda para a manutenção das taxas elevadas de câncer do colo do útero, que pode ser erradicado com a vacina contra o HPV e o Papanicolau, e de câncer de mama. Neste último, a previsão é de crescimento de 0,1% na mortalidade prematura no país, com redução de 4% no Sudeste e aumento de 1,0% no Sul, 4,0% no Centro-Oeste, 7,3% no Nordeste e 25,6% no Norte. “Sua cidade, o local onde você mora não pode determinar se você vai viver ou morrer de câncer”, criticou Maira Caleffi, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento (RS) e presidente da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), nesta sexta-feira (3).

Também integrante da UICC, ela disse que há um esforço para aumentar a conscientização sobre o problema da desigualdade no combate ao câncer e para mostrar que a resposta para o problema precisa levar em conta cada contexto.

Na região Norte, por exemplo, em que há grande dificuldade de locomoção, é possível investir em barcos com profissionais de saúde e equipamentos para a realização de exames. Outra forma de lidar com a questão do deslocamento, evitando que as pessoas tenham de viajar, é firmar parcerias com clínicas particulares, nas quais muitas vezes há equipamentos ociosos. “Atualmente, não conseguimos realizar a cirurgia sem uma biópsia e sem saber qual o tipo de tumor, e a espera para esse exame é um dos grandes gargalos”, exemplifica. Em relação à espera, ela pontuou a importância da navegação do paciente, com orientações e apoio desde a prevenção até o fim do tratamento.

A forma como cada região vem se recuperando da pandemia também repercute, uma vez que muitos atendimentos ficaram represados. No caso do Papanicolau, por exemplo, dados do Observatório da Atenção Primária à Saúde da Mulher indicam que, em 2019, 84% das mulheres haviam realizado o exame há menos de dois anos. Em 2021, a taxa caiu para 77,6%.

Outro ponto é a adoção dos mesmos protocolos. “Não dá para cada profissional ter uma conduta, precisamos otimizar recursos”, afirma.

Regionalizar a instalação de Cacons (Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia) e na radioterapia intensiva, por sua vez, são formas de caminhar para o acesso universal ao tratamento, já que permitem deslocamentos e estadias menores. Por fim, as especialistas concordam que é preciso unir vozes e esforços, uma vez que o câncer é um problema de todos. O Ministério da Saúde afirmou que “estuda um plano que vai fortalecer as ações e os serviços de tratamento e combate ao câncer por meio de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce, no âmbito da atenção primária e especializada, com plano terapêutico integral e o monitoramento dos principais tipos de cânceres, com a articulação de toda a rede disponível no país”.

OUTROS OLHARES

CRIANÇAS COM CÂNCER ENSINAM ÀS MÃES A LIDAR COM A DOENÇA

Quatro famílias contam como enfrentam juntas o tratamento oncológico

Mães sabem o que é ter dor de dente, medo do escuro, não querer dormir, sofrer bullying. Elas passaram por isso na infância e na adolescência e conseguem entender o que os filhos estão sentindo. Mas, quando o que aflige é o câncer, não há experiência prévia e a família tem de aprender junto, desde o começo.

O diagnóstico abala as mães, e a forma como elas lidam com a notícia e compreendem a doença tem impacto na maneira como os filhos encaram o tratamento, afirma Renata Petrilli, coordenadora da equipe de psicologia do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer).

“Há pessoas que recebem como um diagnóstico de morte e outras como um alívio, porque peregrinaram por vários lugares em busca de uma resposta”, afirma a psicóloga.

Por isso, é importante identificar quais são as representações e os receios. “Os responsáveis dizem que é como se tivessem sido atropelados, que o mundo caiu sobre a cabeça, então é um medo não particularizado. Eles não falam: ”Tenho medo da sonda no nariz”, “tenho medo da cirurgia”.

Compreender a origem dos medos das crianças e adolescentes também é fundamental porque, apesar dos avanços, o tratamento oncológico continua sendo muito invasivo e pode gerar traumas que permanecem na vida adulta.

A partir da identificação, diz Petrilli, as psicólogas trabalham para a família ter recursos emocionais e articular os pensamentos em prol da ação e do propósito do tratamento. Elas lembram ao paciente quem ele era e incentivam a reflexão sobre o que quer para o futuro.

“Não é uma história de horror, mas também não é um conto de fadas. Precisamos falar que é uma doença, precisa tratar, haverá momentos bons e momentos não tão bons e que estaremos juntos”, afirma Monica Cypriano, diretora médica do Graacc. “A família tem de se unir e os agregados também.”

Cypriano afirma que, ao contrário dos adultos, que sofrem por antecipação, as crianças focam o presente. Assim, é muito comum vê-las dando força para as mães e para os pais, estes minoria no grupo de acompanhantes.

“Se a criança está com náusea, ela fica chateada, mas, se ela está se sentindo bem, vai brincar, correr e as mães tiram muita força disso, de ver o filho pulando”, diz. “As crianças ensinam mais às mães como lidar com o processo do que o contrário. Elas pensam: “Meu filho está rindo, porque eu estou chorando?.”

MARIA E OLÍVIA

Em agosto de 2021, todos achavam que a dor que a estudante Olívia Maria de Oliveira Garcia sentia estava relacionada ao ciclo menstrual. Ela ia ao hospital em Pouso Alegre (MG), recebia medicação para cólica e era encaminhada para casa.

“Mas a dor foi ficando tão intensa que eu não conseguia mais fazer tarefas diárias, só ficar deitada. Comecei a ficar com febre, parei de comer, de ir ao banheiro”, relata a estudante, hoje com 17 anos.

“Fiquei sabendo que era câncer quando fomos buscar o resultado da biópsia”, lembra Olívia. “A primeira coisa que perguntei foi: ‘Mãe, meu cabelo vai cair?’.”

“Nunca vimos uma criança com câncer na minha cidade, então para mim era uma doença do mal que só dava nas pessoas velhas”, conta a mãe, a dona de casa Maria Eluíza de Oliveira, 52. “Depois, fomos aprendendo o que era.”  Olívia passou por uma cirurgia para retirada do tumor no ovário e, com o resultado da biópsia, foi encaminhada ao Graacc, aonde chegou em janeiro de 2022.

No começo, segundo Olívia, a mãe assistia a vídeos sobre a doença, o que a incomodava. “Ela pesquisava e vinha falar para mim. Não é porque aconteceu com uma pessoa que vai acontecer comigo também.” “Eu queria saber o que ela ia passar para poder lidar melhor, para estar preparada”, confidencia Maria. “A psicóloga falou para eu não fazer mais isso, que estava fazendo mal para a Olívia, e a médica explicou que os organismos são diferentes.”

Hoje, quando Olívia está mal, a mãe tenta ajudá-la observando seus limites. “Eu respeito a dor dela e ficar ao lado é uma maneira de ela se sentir protegida, segura e saber que não está sozinha”, afirma Maria.

RAFAELA, RAFAEL E ARTHUR GABRIEL

Quando chegou ao hospital, Arthur Gabriel Borges Frasão, 8, ganhou duas telas da psicóloga. A primeira, sugeriu a mãe, Rafaela Frasão, 36, ele poderia pintar e a segunda poderia servir para colher as digitais de toda a equipe de saúde. Seria um quadro das “digitais do amor”.

A ideia de sujar as mãos das “tias” acalmou o garoto e em poucas semanas o espaço em branco foi preenchido. “Ver agora as digitais traz a lembrança de que os profissionais se doaram para cuidar dele. Você precisa desse tipo de tratamento, de alguém para cuidar, porque, querendo ou não, o carinho de terceiros também ajuda”, diz a mãe.

O menino foi diagnosticado com linfoma não Hodgkin no início de 2022. “Falei para ele que era câncer e, quando os médicos chegavam, ele dizia: “Tio, pode falar porque eu preciso saber”, lembra a mãe. “Ele foi aprendendo sobre a doença conforme ele sentia. E eu fui aprendendo pesquisando e perguntando, pedindo para me explicarem.”

“A doença é muito traiçoeira, muito perigosa. Em uma hora ele pode estar bem e, na outra, pode já não estar mais entre nós. Esse elemento me ensinou muito a ser mais unido e a não deixar nada para depois porque depois pode ser tarde”, afirma Rafael Borges, 33.

Agora que teve alta e vai voltar para Palmas, Arthur quer emoldurar a tela. Ele decidiu que será cirurgião pediátrico, que vai trabalhar no Graacc e pretende colocar o quadro no consultório para mostrar para todas as crianças.

JAQUELINE E SARAH

No início de outubro de 2022, Sarah Matos Muniz, 10, relatou incômodos no corpo e que o lado direito do abdômen parecia mais alto. Como ela não sentia dor, a queixa não alarmou a mãe, a professora Jaqueline Matos de Lima, que decidiu aguardar a consulta com a pediatra.

Poucos dias depois, porém, a irmã de Sarah caiu sobre o braço já fraturado e a mãe decidiu levar as duas filhas para o Hospital do Servidor Público Municipal. Lá, o médico notou que havia algo anormal no ultrassom da mais velha, pediu a internação dela e desconfiou que pudesse ser tumor de Wilms, o que depois se confirmou.

“Falei para ela: ‘Você está com um caroço na barriga. É grande e vai ser necessário remover o rim, mas fica tranquila que vai dar tudo certo’”, conta a mãe.

“Acabei descobrindo sozinha que era um tumor”, revela Sarah para surpresa de Jaqueline. “Para me distrair, peguei o celular da minha mãe e vi a mensagem que ela tinha mandado para o meu pai, falando que era um tumor. No começo, chorei um pouco, fiquei um pouco triste.”

“Conhecemos esse tumor lá no hospital, conversando com os médicos”, diz a mãe. “Quando eu fico sabendo de alguma coisa, já quero pesquisar, saber mais, mas nesse caso não. Para ficar mais tranquila, prefiro não buscar informações fora dos médicos. Também orientei a Sarah a não ficar pesquisando, porque o que está na internet não é exatamente o caso dela e isso pode causar mais ansiedade.”

Sarah foi encaminhada para o Graac e, em 26 de outubro, foi submetida a uma cirurgia. Em seguida, iniciou as sessões de quimioterapia. “Quando o cabelo dela começou a cair, fiquei um pouco angustiada. É uma aflição terrível pentear e o cabelo sair totalmente na mão”, afirma Jaqueline. “Mas eu olhava para a Sarah e ela estava em paz, tranquila, e então eu pensava que tinha de me recompor. A doutora do Hospital do Servidor falou que eu tinha de me controlar, tentar ser firme e passar positividade para ela, e eu tenho feito isso desde o começo.”

SHIRLEY E JOAQUIM

Enquanto Joaquim, 8, diverte-se na brinquedoteca aguardando o horário da sessão de quimioterapia, a assistente financeira Shirley Pereira da Silva, 43, trabalha em seu notebook em uma das mesas rodeadas de brinquedos.

“Trabalhar me fortalece. Eu preciso produzir, seguir em frente. Preciso me manter, mantê-lo e continuar sendo eu mesma, é minha identidade”, justifica. É também uma forma de mostrar ao filho que ele tem de ser forte e fazer o que é necessário.

No fim de julho do ano passado, Joaquim começou a sentir dor de cabeça, o que se tornou mais frequente em setembro. Após idas e vindas a um posto de saúde, a mãe o levou ao Hospital do Campo Limpo, onde recebeu a notícia de um tumor no cérebro. Depois, no Graac, ele foi operado e iniciou a quimioterapia.

Hoje, a mãe se preocupa sobretudo com a alimentação do filho, que emagreceu. “Perdi a vontade, a comida ficou sem gosto”, explica Joaquim.

“Ele percebe que tem de se alimentar  e come mesmo sem querer. Ele também entende a necessidade do tratamento, não tem opção. Ele não se queixa, compreende e aceita. A terapia ajudou a lidar com isso.” Segundo a mãe, o filho entende a gravidade da doença. “O diagnóstico do Joaquim veio logo depois de meu pai operar do câncer de próstata em Pernambuco e meu filho acompanhou toda a correria, a preocupação, então ele sabe o que é câncer. Sabe que é preocupante e sabe que não adianta chorar porque temos que cuidar, tratar.”

GESTÃO E CARREIRA

DECISÃO DE PARTIR

Exaustão? Falta de reconhecimento? Como saber a hora de pedir demissão

Até mesmo as grandes autoridades políticas internacionais têm seus problemas de trabalho. Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, anunciou inesperadamente na semana passada que renunciaria ao cargo após quase seis anos.

“Estou saindo porque com um papel tão privilegiado vem a responsabilidade, a responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar e também quando não é”, disse Ardern, em entrevista coletiva. “Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais combustível suficiente no tanque. É simples assim.

Ardern, de 42 anos, a primeira-ministra mais jovem da Nova Zelândia em 150 anos, também disse que planeja passar mais tempo com seu parceiro, o apresentador de televisão Clarke Gayford, e sua filha de 5 anos, Neve.

Tomar a decisão de se afastar de um emprego nem sempre é fácil ou viável. Mas quando seu bem-estar físico ou emocional está sofrendo e seu estresse não é aliviado por um dia de folga, especialistas dizem que geralmente é melhor começar a procurar trabalho em outro lugar. Apenas certifique-se de pensar um pouco antes de “explodir” subitamente.

Eis alguns sinais de que pode ser hora de partir – e o que fazer se você não tiver como.

VOCÊ SE SENTE ESGOTADO

O burnout é tipicamente caracterizado por três sintomas: exaustão emocional, negatividade e a sensação de que não importa o quanto você tente, você não consegue ser eficaz em seu trabalho, detalha Dennis Stolle, diretor sênior de psicologia aplicada da American Psychological Association.

Todo mundo se sente emocionalmente exausto de vez em quando, mas “estou falando de um nível extremo”, enfatiza Stolle:

“É o tipo de angústia em que muitas vezes você sente que não tem mais nada para dar e se houver mais uma coisa, vai gritar ou chorar”.

O esgotamento também pode levar as pessoas a se tornarem mais pessimistas ou indiferentes em comparação ao que já foram um dia.

Se você está se sentindo um pouco esgotado, fazer uma pausa – seja no fim de semana ou durante as férias – deve ajudar, orienta Jessi Gold, psiquiatra da Universidade de Washington em St. Louis. Mas se você não está se sentindo restaurado e volta a ficar com raiva e odiar seu trabalho, esse é outro sinal de alerta.

Se você está se sentindo esgotado a ponto de afetar seu bem-estar físico ou emocional e prejudicar seus relacionamentos, isso também é um sinal de alerta. Faça um balanço de como você se sente no trabalho. Está frequentemente com raiva, desconectado, entorpecido ou deprimido? Se está com dificuldade para dormir ou dormindo demais, se você se irrita fácil ou se sente triste ou muito culpado, procure ajuda.

VOCÊ ESTÁ PASSANDO POR UMA MUDANÇA DE IDENTIDADE

O trabalho muitas vezes se confunde com a identidade das pessoas. Nossos cargos, a organização para a qual trabalhamos e até mesmo a quantidade de tempo que passamos trabalhando podem se tornar uma grande parte de quem somos. Mas o que acontece quando suas prioridades mudam e você não sente mais o mesmo apego ao seu trabalho?

“Quando você sofre uma mudança em um aspecto da identidade, isso pode levar à depressão e à ansiedade”, diz Stewart Shankman, professor de psicologia na Northwestern University Feinberg School of Medicine.

Se o trabalho costumava ser um aspecto central de sua identidade e agora não é, esse pode ser um motivo para cogitar se afastar. Mesmo que você não consiga parar de trabalhar no momento, tente reservar um tempo para explorar as coisas que parecem significativas para você agora. Pode haver alguma outra parte de sua vida que esteja preenchendo o papel que o trabalho costumava desempenhar, sinaliza Shankman.

“Seu trabalho não precisa necessariamente ser o que define você”, esclarece.

VOCÊ NÃO SE SENTE VALORIZADO OU APOIADO

Um estudo feito por pesquisadores da Regent University, nos Estados Unidos, descobriu que um pouco de reconhecimento ajuda muito os funcionários. Eles não tendem a ser mais produtivos apenas quando seu gerente expressa gratidão, mas também quando seus colegas demonstram apreço e respeito. Uma pesquisa da Pew Research Center descobriu que salários baixos, falta de oportunidades de promoção e sentimento de desrespeito no trabalho foram os principais motivos pelos quais os americanos deixaram seus empregos em 2021.

As pessoas que se sentem valorizadas também tendem a experimentar segurança psicológica, ou seja, ficam à vontade para contribuir com ideias, fazer perguntas ou compartilhar preocupações, sem medo de punição ou de se sentirem ridículas.

Se você trabalha para uma organização que não promove a segurança psicológica, pode ser hora de pensar em sair, dizem os especialistas. Esse é especialmente o caso se seu gerente ou colegas estiverem fazendo ameaças ou comentários abusivos.

SUA EMPRESA NÃO PRIORIZA O BEM-ESTAR DAS PESSOAS

Idealmente, a organização para a qual você trabalha tentará apoiar seus funcionários em vários aspectos do bem-estar, incluindo suas necessidades físicas, emocionais, sociais e financeiras.

E também deve tentar fazê-lo de maneira equitativa, diz Laura Putnam, autora do livro “Workplace wellness that works” (“Bem-estar no local de trabalho funciona”, em tradução livre do inglês). Alguns empregados do seu trabalho têm mais oportunidades de autonomia do que outros? Só alguns podem fazer uma pausa ou são interrompidos durante as reuniões?

VOCÊ NÃO PODE DEIXAR SEU EMPREGO? E AGORA?

Se alguma das situações descritas acontece com você mas não há como deixar seu emprego no momento, verifique se é elegível para uma licença de invalidez de curto prazo. Caso tenha uma condição já diagnosticada, como depressão grave ou transtorno de estresse pós-traumático, negocie com os seus superiores uma permissão para trabalhar de casa. Mesmo sem um diagnóstico específico, seu empregador pode estar aberto a fazer mudanças que melhorem sua qualidade de vida no trabalho.

EU ACHO …

CONDIÇÃO DE ENTREGA

Acaba de ser revelado o que uma mulher quer – e que Freud nunca descobriu. Ela quer uma relação amorosa equilibrada onde haja romance,

surpresa, renovação, confiança, proteção e, sobretudo, condição de entrega. É com essa frase objetiva e certeira que Ney Amaral abre seu livro Cartas a uma mulher carente , um texto suave que corria o risco de soar meio paternalista, como sugeria o título, mas não. É apenas suave.

Romance, surpresa e etecetera não chegam a ser novidade em termos de pré-requisitos para um amor ideal, supondo que amor ideal exista, mas “condição de entrega” me fez erguer o músculo que fica bem em cima da sobrancelha, aquele que faz com que a gente ganhe um ar intrigado, como se tivesse escutado pela primeira vez algo que merece mais atenção.

Mesmo havendo amor e desejo, muitas relações não se sustentam, e fica a pergunta atazanando dentro: por quê? O casal se gosta tanto, o que os impede de manter uma relação estável, divertida e sem tanta neura?

Condição de entrega: se não existir, a relação tampouco existirá pra valer. Será apenas um simulacro, uma tentativa, uma insistência.

Essa condição de entrega vai além da confiança. Você pode ter certeza de que ele é uma pessoa honesta, de que falou a verdade sobre aquele sábado em que não atendeu ao telefone, de que ele realmente chegará na hora que combinou. Mas isso não é tudo. Na verdade, isso não é nada.

A condição de entrega se dá quando não há competitividade, quando o casal não disputa a razão, quando as conversas não têm como fim celebrar a vitória de um sobre o outro. A condição de entrega se dá quando ambos jogam no mesmo time, apenas com estilos diferentes. Um pode ser mais rápido, outro mais lento, um mais aberto, outro mais fechado: posições opostas, mas vestem a mesma camisa.

A condição de entrega se dá quando se sabe que não haverá julgamento sumário. Diga o que disser, o outro não usará suas palavras contra você. Ele pode não concordar com suas ideias, mas jamais desconfiará da sua integridade, não debochará da sua conduta e não rirá do que não for engraçado.

É quando você não precisa fingir que não pensa o que, no fundo, pensa. Nem fingir que não sente o que, na verdade, sente.

Havendo condição de entrega, então, a relação durará para sempre? Sei lá. Pode acabar. Talvez vá. Mas acabará porque o desejo minguou, o amor virou amizade, os dois se distanciaram, algo por aí. Enquanto juntos, houve entrega. Nenhum dos dois sonegou uma parte de si.

Quando não há condição de entrega, pode-se arrastar, prolongar, tentar um amor pra sempre. Mas era você mesmo que estava nessa relação?

Condição de entrega é dar um triplo mortal pressentindo que há uma rede lá embaixo, mesmo que saibamos que não existe rede pro amor. Mas intuir a presença dela nos basta.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

QUEIMADURA DE SOL EXIGE CUIDADOS; VEJA QUAIS

Expor-se à luz solar de forma prolongada e sem proteção pode agredir a pele de forma profunda

Com a chegada do verão, é comum que as pessoas passem mais tempo expostas aos raios solares – praias, piscinas e clubes ficam lotados nessa época do ano. No entanto, a diversão exige cuidados. Expor-se à luz solar de forma prolongada e sem proteção pode agredir desde as camadas mais superficiais da pele até as mais profundas.

Os efeitos iniciais são as queimaduras. “Elas podem ser classificadas em primeiro e segundo grau”, explica Renata Paes Barreto, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Ainda que menos agressiva, a de primeiro grau pode deixar a pele vermelha e com ardência. Já a de segundo grau, a mais grave, pode causar bolhas, inchaços e feridas. De qualquer forma, em ambos os níveis, as queimaduras evoluem para a descamação da pele, que é a resposta tardia ao dano causado pela exposição desprotegida ao sol e por longos períodos.

Além da queimadura que evolui para descamação, há efeitos de longo prazo ainda mais preocupantes. “Múltiplas queimaduras solares ao longo da vida são um fator de risco para o aumento da incidência de câncer de pele, inclusive o melanoma, que é um tipo de câncer mais agressivo”, alerta.

PROTEJA-SE

Para evitar que a pele descasque, é fundamental não se expor ao sol de forma direta – ou se expor com bastante proteção. E o protetor solar é um bom aliado no combate aos efeitos dos raios solares na pele.

O recomendado é que o Fator de Proteção Solar (FPS) não seja menor que 30 e, para pessoas de pele clara ou sensível, são indicados FPS mais altos. O protetor deve ser usado todos os dias e, principalmente, em ambientes como praias e piscinas. Nessas ocasiões, não deixe de lado a reaplicação, que deve ser feita de hora em hora ou sempre após sair da água. Se possível, invista nos protetores contra raios UVA, que são responsáveis pelos sinais de envelhecimento e manchas na pele.

Uso de barreiras também é importante. Aposte em boné, chapéu com aba larga, óculos escuros, barraca ou guarda-sol, roupas de algodão ou aquelas com proteção solar. Além disso, evite a exposição entre 10h e 16h, horário cujos raios solares são mais intensos e podem trazer complicações.

HIDRATAÇÃO

Caso você não tenha tomado os cuidados necessários antes da exposição ao sol, foque em cuidar da nova pele que está nascendo. “A pele de baixo, que está sendo constituída, deve ser muito bem hidratada e protegida”, diz a dermatologista. Para isso, utilize loções hidratantes ou óleos corporais de forma frequente e evite exposição ao sol durante esse período de descamação.

Não é recomendado puxar a pele que está descascando. “Conforme a pele de baixo se regenera, a pele de cima, que é formada por células mortas, vai se descolando de pele nova”, conta Renata. Se você puxa a pele antes de ela se soltar espontaneamente, é possível que a pele de baixo ainda não esteja regenerada. Essa pele mais sensível, ao ser exposta, pode ocasionar feridas, infecções, manchas, desconfortos e tornar o processo de regeneração da pele mais demorado. Evite também banhos quentes. “A pele queimada já sofreu com o calor, por isso o ideal é refrescá-la ao máximo”, explica. “Você tem uma pele que já está queimada e ressecada. A água quente vai ser outro agente que provoca mais ressecamento.” Outras opções são as compressas geladas, que podem ser com água ou chá de camomila, e as loções pós-sol, que promovem sensação de frescor e diminuem a ardência. “Tudo aquilo que possa resfriar e hidratar a pele vai ajudar no desconforto.”

Mesmo que não seja a medida mais importante, beber água também pode ajudar na recuperação. “A reposição hídrica é essencial para que todos os nossos tecidos mantenham a função deles”, orienta. “Para que a pele mantenha sua função de barreira, precisamos estar com todo o sistema equilibrado e a hidratação faz parte disso.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

SEIS SINAIS DE RELAÇÃO ABUSIVA – E COMO REAGIR

No BBB, Tadeu Schmidt chamou atenção sobre como Gabriel tratava Bruna

O romance entre os participantes do Big Brother Brasil Gabriel Tavares e Bruna Griphao tem gerado discussão nas redes sociais. Alguns internautas apontam que o comportamento do rapaz, de 24 anos, com a atriz é abusivo. No domingo passado, 22, o apresentador Tadeu Schmidt decidiu intervir e alertar os participantes do reality show sobre a agressividade que existe no namoro dos dois.

Bruna e Gabriel começaram a se relacionar já na primeira festa desta edição do programa, que ocorreu na quinta-feira, 18. Desde então, permanecem sempre juntos, mas vivem alguns atritos que, geralmente, são levados como brincadeira pelos dois.

Gabriel reclama que a atriz o interrompe constantemente quando ele está falando e que é “grudenta”. Por vezes, chegou a fazer isso de forma agressiva, segurando os ombros de Bruna. Ele também proferiu algumas ofensas a ela em tom de brincadeira.

Segundo a psicanalista Natália Marques, especialista em relacionamentos amorosos, a agressividade é um dos sintomas de relacionamentos abusivos. “Essa agressividade pode ser tanto verbal quanto física e, muitas vezes, pode ser justificada como uma brincadeira, o que causa confusão na vítima. ‘Será que eu estou exagerando e é só uma brincadeira?’ ‘Será que eu que sou chata por me incomodar com isso?’”, exemplifica Natália.

Após a fala de Tadeu, Bruna e Gabriel conversaram e afirmaram não se lembrar ou não terem percebido as atitudes problemáticas mencionadas. Gabriel disse que se sentia mal com a situação, que esse tipo de atitude não faz jus ao seu caráter e que devia um pedido de desculpas à família de Bruna. A atriz afirmou que a culpa não era só dele e que o maior problema da relação é a falta de diálogo. Eles decidiram, então, se afastar.

Após a repercussão do caso e a fala de Tadeu no programa ao vivo, a ex-participante do reality Emily Araújo, que sofreu um relacionamento abusivo dentro da casa na edição de 2017, decidiu entrar no debate e tomar posição. “Parabéns, Globo, por fazer o que deveria ter feito em 2017… Assim, a Bruna não precisa passar por mais de quatro anos de terapia para tentar superar agressões psicológicas e físicas, como eu”, destacou.

Antes mesmo de o programa do domingo ir ao ar, o pai de Bruna postou um stories no Instagram chamando Gabriel de abusivo. Posteriormente, a equipe da atriz emitiu uma nota dizendo que “em nenhum contexto é passível ouvir falas grosseiras e agressivas de outra pessoa”.

A propósito do episódio, confira a seguir seis comportamentos comuns em relacionamentos abusivos e dicas da psicanalista para lidar com situações como essas.

OFENSAS CONSTANTES

Uma das características mais comuns de um relacionamento abusivo, segundo Natália, são as ofensas. Elas podem acontecer de forma agressiva ou em tom de brincadeira e têm o poder de, a longo prazo, minar a autoestima da pessoa ofendida, fazendo-a sentir-se cada vez mais presa ao parceiro abusivo por acreditar que mais ninguém a aceitaria como ela é.

A especialista garante que, mesmo como brincadeira, o comportamento gera danos psicológicos no parceiro que é ofendido, principalmente quando se trata de mulheres, pois muitas delas já costumam ter problemas de autoestima por conta do machismo presente na sociedade.

No BBB, Gabriel ofendeu Bruna, muitas vezes em frente a outros participantes e em tom de brincadeira. Ele chegou a dizer que a atriz parecia “um carrapato” por não desgrudar dele e, em um dos episódios, comparou o nariz de Bruna ao bico de uma arara-azul e a um chifre de rinoceronte.

AGRESSIVIDADE

Em uma relação abusiva, a agressividade pode se apresentar não só nas ofensas, mas também no contato físico e em atitudes, alerta a psicóloga. O caráter agressivo do parceiro pode aparecer com socos na parede, gritos, chantagens ou no ato de bloquear e desbloquear constantemente o parceiro nas redes sociais.

Em mais de um momento, Gabriel segurou os braços de Bruna para que ela parasse de interrompê-lo ou para forçá-la a fazer o que ele gostaria. Mesmo que às vezes o tom seja de brincadeira e que Bruna não se manifeste contra, essas atitudes podem ser encaradas como um sinal de alerta.

FALTA DE DIÁLOGO CONSTRUTIVO

Um dos pilares de um relacionamento saudável é o diálogo. Em contrapartida, a falta disso é um sinal de relação tóxica. Segundo a psicanalista, é preciso que ambas as partes estejam dispostas a falar e escutar uma à outra, de forma pacífica. Natália ressalta, no caso, que o casal deve buscar resolver os problemas e não apenas se defender ou acusar, querendo estar sempre certo. “Dentro de uma relação saudável, podem existir diálogos desconfortáveis, mas nunca brigas violentas. Então, é importante que a gente perceba essa diferença entre o discutir a relação, a famosa DR, e uma briga violenta”, diz. “É preciso construir um diálogo em que cada um possa refletir sobre as suas responsabilidades, sobre os seus erros e a partir daí os dois lados conseguem ter uma mudança.”

Antes do discurso de Tadeu, Bruna procurou Gabriel para tentar conversar sobre as atitudes grosseiras que ele vinha tendo com ela, mencionando, inclusive, que isso poderia ser malvisto pelo público do programa. No entanto, o participante não pediu desculpas pelas suas atitudes, nem deu ouvidos a Bruna.

Gabriel se defendeu, impôs o seu ponto de vista e disse que o que poderia de fato prejudicar a sua imagem não eram suas próprias atitudes, mas sim o discurso acusador de Bruna. Ao final, a atriz acabou pedindo desculpas a ele.

PERDA DA INDIVIDUALIDADE

Com o tempo, a pessoa que é vítima dos abusos tende a perder a sua individualidade e até mesmo a mudar a sua personalidade, aponta Natália. Isso acontece, diz ela, principalmente por conta das constantes ofensas que recebe.

“A pessoa pode ficar mais quieta, se afastar dos amigos e deixar de fazer coisas que ela antes gostava de fazer para se moldar às expectativas do parceiro”, explica a psicanalista. Ao mesmo tempo, por conta da baixa autoestima, da manipulação que sofre e da paixão, a pessoa tende a supervalorizar o seu parceiro abusivo, assumindo que ele “sabe mais” e “é melhor”.

Em algumas conversas com outros participantes do reality show, Bruna demonstrou certo grau de dependência e uma visão supervalorizada de Gabriel. Ela se dizia constantemente preocupada com a possível exclusão do namorado e chegou a dizer que ele “não pode sair” porque é “essencial para o jogo”.

AS PESSOAS EM VOLTA DO CASAL SE SENTEM DESCONFORTÁVEIS

“É muito comum, quando a gente está em um relacionamento abusivo, que as pessoas em volta se incomodem. Há várias dinâmicas que causam esse incômodo. Muitas pessoas se lembram, por exemplo, de casais de amigos que brigam toda vez que saem, gerando desconforto em todo o grupo”, admite Natália.

Em boa parte dos casos, as pessoas de dentro do relacionamento estão tão imersas e apaixonadas que não percebem os comportamentos nocivos, aponta a especialista. No entanto, quem vê de fora pode enxergar sinais do problema. Apesar de Bruna e Gabriel dizerem que não se sentem em uma relação tóxica, outros participantes do programa já demonstraram certo grau de desconforto com a relacionamento dos dois. Em um episódio, o participante Cara de Sapato disse que eles são um “casal chato”. A amiga de Bruna Larissa Santos também alertou a atriz algumas vezes sobre ela estar se perdendo no jogo por conta do relacionamento.

EXISTE MANIPULAÇÃO SE UMA DAS PESSOAS SE SENTE SEMPRE CULPADA POR TUDO

A manipulação é um sintoma importante do relacionamento abusivo, observa Natália. “É comum que exista uma dinâmica em que a vítima se queixe de algo do parceiro e ele responde de forma a colocar a culpa na própria vítima”, afirma. A pessoa abusiva tende a justificar a sua agressividade com as atitudes que julga irritantes do parceiro, por exemplo, sempre se esquivando de suas responsabilidades. Isso faz com que, mais uma vez, o abusado se veja confuso e se sinta culpado pelo abuso que vem sofrendo.

Logo após o discurso de Tadeu, Gabriel chamou Bruna para conversar e, antes de pedir desculpas pelo que foi citado pelo apresentador – um momento em que ele ameaçou dar cotoveladas na atriz –, ele disse que ela deveria falar publicamente que ele não era abusivo com ela.

A atitude foi vista pelos internautas como manipulação. Na mesma conversa e em outras, Bruna contou se sentir culpada pela interpretação que o público estaria tendo de Gabriel.

COMO SAIR DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO?

Segundo a psicanalista, a melhor forma de sair ou evitar um relacionamento abusivo é se autoconhecendo, o que pode ser feito com a ajuda da psicoterapia.

A pessoa que é abusada, ou que tem tendência a isso, precisa identificar por que costuma ser passiva em situações abusivas. Ao mesmo tempo, a especialista destaca que o abusador precisa entender de onde vêm os seus traços agressivos e manipuladores.

Depois do autoconhecimento, o segundo passo é começar um processo para estabelecer um diálogo saudável, que venha a resolver os ruídos na comunicação. Aos poucos, os dois precisam ceder, cada um um pouco, para ajustar os comportamentos de forma que ambos se sintam bem no relacionamento.

Por conta das características da sociedade, geralmente as mulheres são as abusadas e os homens são os abusadores, mas esses papéis podem se inverter. Além disso, não existem apenas relacionamentos heterossexuais que são abusivos. Casais de todos os gêneros e orientações sexuais podem enfrentar o problema.

COMO AJUDAR ALGUÉM QUE ESTÁ EM UM RELACIONAMENTO ABUSIVO?

Natália aponta que se comunicar de uma forma muito direta com uma pessoa que está em relacionamento abusivo pode não ser o melhor caminho. Isso porque perceber que se está em uma situação como essa pode ser um processo difícil, lento e doloroso. A psicanalista recomenda que amigos façam pequenos comentários, sempre em particular, para que a pessoa abusada atente ao que está acontecendo. Da mesma forma, é possível também mencionar que a atitude daquele amigo que é abusivo não é legal, explicando o porquê.

Os amigos não devem abandonar a pessoa que está em um relacionamento abusivo. “Muitas vezes, eles ficam cansados e irritados porque a pessoa parece não querer enxergar. Mas isso pode ser prejudicial, pois a pessoa acaba ficando cada vez mais sozinha e imersa no relacionamento abusivo”, completa Natália.

OUTROS OLHARES

CROCÂNCIA MILAGROSA

Air Fryers ganham as cozinhas e as redes sociais em perfis que servem memes e receitas inusitadas, de churrasco a pudim

Rafael Brandão lembra-se bem de quando testemunhou um milagre, cinco anos atrás. Naquele dia, o empresário e a mulher, a hoteleira Náhiman Souza, sequer sabiam onde ficavam os pacotes de batatas congeladas no supermercado. “Não fazíamos fritura em casa”, conta o curitibano, sobre o primeiro produto preparado na “fritadeira sem óleo” arrematada por R$ 100 no bota-fora de um amigo. “Ficamos impressionados e viramos os novos convertidos na religião da air fryer.”

Vieram, então, os salgadinhos de grão-de-bico, os petiscos de macarrão temperados com lemon pepper e o início da pregação. Em pouco tempo, Rafael converteu a mãe e a sogra para a seita e hoje prega a palavra de um dos eletrodomésticos mais desejados do Brasil para mais de 7 mil fiéis pelo perfil @TestemunhaAF, no Twitter. O primeiro versículo? “Pré-aqueça a sua air fryer”.

O maior pecado? “Usar e não lavar.” O milagre mais impressionante? “Fizemos um petit gateau delicioso.”

Projetada em 2005 por um holandês, a máquina caiu no gosto dos brasileiros desde que aportou por aqui em 2011. Virou vedete nas redes, em perfis que ensinam receitas e truques. Basta jogar o nome do eletrodoméstico na busca do Instagram para que os algoritmos comecem a servir um banquete de preparações inusitadas — de churrasco a pudim.

Você também vai encontrar memes, versões em brinquedo e fotos de pessoas como a carioca Elaine Santos que, de tão devota, tatuou uma imagem do produto no antebraço. “Amo fazer pão de queijo e carne temperada sem correr o risco de queimá-los, já que ela desliga sozinha”, diz a moça, que reivindica o lugar de pioneira na tatuagem de air fryer. “Depois que viralizou, apareceram outras.”

Mas essa máquina promissora nem sempre foi acessível. Trazido ao país pela Philips Walita, o eletrodoméstico era vendido pela TV e deixava o público incrédulo com coxinhas e bolinhos suculentos feitos sem imersão no óleo. Para sentir a crocrância daquelas receitas, porém, era preciso desembolsar cerca de R$ 2 mil. Foi só alguns anos depois que outros fabricantes criaram modelos similares e mais gente passou a comprá-lo.

A Shopee, por exemplo, registrou um aumento de 342% nas buscas pelo item em janeiro deste ano, se comparado ao mesmo período de 2022. Pesquisas mencionadas pela Philips Walita indicam que os brasileiros compram 7 milhões de unidades do aparelho por ano.

Mas, afinal, o que a air fryer tem? Professora e pesquisadora de publicidade e consumo da Universidade Federal do Espírito Santo, Lívia Souza afirma que três elementos ajudam a resolvera equação. O primeiro deles é o fator saúde, que faz da promessa de uma fritura sem óleo naturalmente atraente. Em seguida, vieram a pandemia e a legião de cozinheiros de primeira viagem, fazendo com que produtos facilitadores ganhassem ainda mais atenção.

Por fim, há os likes: “A air fryer permite a preparação de pratos que saem bem na foto, com aparência crocante”.

O chef Pepo Figueiredo, do Clan BBQ, reconhece que, embora o utensílio seja bastante semelhante ao forno, tem vantagens por conta da convecção (ventilação do ar quente em seu interior). “Os principais usos, na minha opinião, são para a caramelização de alguns legumes e, às vezes, carne, principalmente, a suína”, lista, sem considerá-lo, ainda assim, indispensável na cozinha.

Elaine, enquanto isso, segue convicta dos milagres. Ela só lamenta que, mesmo com uma propaganda ambulante sobre a pele, nenhuma marca tenha lhe presenteado com um modelo mais poderoso do que o seu, simplesinho, pago em suadas prestações. “Tem umas gigantes que são o meu sonho de consumo. Faria tantas coisas ali”, planeja. Neste quesito, as marcas não estão para a brincadeira.

A Philips Walita tem uma linha capaz de se conectar à Alexa, o dispositivo de inteligência artificial da Amazon, e pode ser acionada remotamente. Se você está se perguntando qual a utilidade prática disso, o gerente de marketing da marca, Caleb Bordi, afirma que utiliza o recurso com frequência. “Ao sair de casa, deixo uma marmita congelada dentro da air fryer e, no caminho de volta, abro o aplicativo para ligá-la. Caso pegue um trânsito, é só acionar a função ‘manter aquecido’. Quando chego, a comida está pronta.”

Para quem esperava carros voadores para 2023, ainda não foi dessa vez.

OUTROS OLHARES

PROJETO USA A ARTE DE RUA PARA INTEGRAR PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

Além das aulas de pintura, realizadas uma vez por semana, grupo visita exposições e participa de ações para colorir as ruas de Pelotas

Eduardo Camargo Moraes, de 24 anos, vê a arte como uma forma de mostrar para o mundo quem é, seja por meio da dança ou da pintura. Diagnosticado com síndrome de Down, o estudante do curso de bacharelado em Artes Visuais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) busca ocupar todos os espaços na sociedade. A arte faz parte da vida de Dudu, como é conhecido, desde sua infância, pois tem artistas na família. “Desde criança eu desenho. No início rabiscava as paredes, hoje participo de exposições graças ao Graffiti Down”, conta. O objetivo do projeto, localizado em Pelotas (RS), é inserir o grafite e a cultura hip-hop na vida de jovens e adultos com a síndrome.

O projeto foi criado por Gabriel Veiz, de 36 anos, que há mais de duas décadas dedica sua vida à arte. Veiz é um dos irmãos mais velhos de Dudu e viu no grafite uma forma de se aproximar do irmão. “Queria estar mais perto dele e dos amigos dele, conviver e entender o mundo deles”, explica. Assim, desde março do ano passado, o Graffiti Down busca promover a inclusão social por meio da arte e cultura hip-hop.

A turma se formou entre os amigos e colegas de Dudu que fazem parte da Associação de Pais de Down de Pelotas (APAD- Pel). O projeto reúne jovens e adultos às segundas-feiras, na reitoria do Instituto Federal Sul-Riograndense (IFSul), campus Pelotas (RS). “São aulas de pintura voltadas à estética do grafite e hip-hop. Ensinamos a técnica – e tudo que eles veem em aula colocam em prática”, ressalta Veiz. E, para inseri-los no meio artístico, a turma faz visitas a galerias de arte, exposições e participa de eventos. Em setembro, a turma participou do Spray’sons, ação que reuniu 24 artistas para colorir o bairro Porto de Pelotas.

EXPOSIÇÃO

Em agosto, Dudu e seu colega Gustavo Bicca expuseram suas obras pela primeira vez em uma galeria de arte. “Fiquei realizado e feliz, expliquei o significado por trás dos meus desenhos para todos os que foram prestigiar o evento”, lembra.

As aulas, além de promoverem a inclusão, também geram impactos positivos na vida dos alunos e suas famílias. “As mães me passam um feedback muito bom de que seus filhos estão se soltando mais, que começaram a se sentir mais à vontade em outros ambientes, e talvez isso tenha lhes proporcionado uma autonomia maior”, destaca Gabriel.

Marli Rezende, de 74 anos, mãe de Edison, relata que sempre buscou inserir o filho – hoje com 45 anos – em diferentes atividades, mas é no Graffiti Down que ele está se achando e se tornando mais independente. “Agora ele se reconhece adulto, como os outros homens”, afirma.

Edison é o aluno mais velho da turma. Teve o primeiro contato com a técnica do grafite no projeto. “Fiquei um pouco nervoso e tímido na primeira vez em que usei a tinta spray, mas está sendo muito legal aprender com eles”, conta. Ele também afirma que “existe um apoio muito grande por parte dos colegas, vão ser meus amigos para sempre”.

INDEPENDÊNCIA

Além das aulas de pintura, o projeto proporciona aos alunos a inclusão em diferentes ambientes, como bares, restaurantes e festas. “A gente sai pra jantar, já fomos ao cinema e também fazemos churrascos nos fins de semana. Essa união e independência que o projeto está gerando para eles é muito importante”, avisa Gabriel.

Atualmente, 15 jovens e adultos, de 13 a 45 anos, integram o projeto. Quatro, como Júlia Costa, de 23 anos, são mulheres. Diagnosticada com a síndrome, estudante do curso de Licenciatura em Dança na UFPel, ela dedica as tardes das segundas-feiras às aulas. Aliado a isso, Júlia conta que o grafite se tornou tão importante para ela quanto a dança. “São atividades que me deixam alegre, quando estou grafitando eu fico leve e solto a imaginação”, diz.

Júlia acredita que “as mulheres precisam se arriscar, ocupar todos os espaços”. “Foi o que eu fiz no grafite e na minha vida. Me sinto bem, todos somos iguais e todos podemos.” Ela ressalta que, no projeto, não se aprende apenas sobre desenhos, mas também sobre convivência e amizade.

INCLUSÃO

Para Agda Brigatto, professora do curso de Artes Visuais da PUC, “ver arte, fluir arte, fazer uma leitura de arte, produzi-la, é uma forma de participação e inclusão social”. Segundo a professora, a arte, como o grafite, é uma forma de conhecimento, uma linguagem, uma maneira de se expressar no mundo. “Se a arte é um conhecimento, todo mundo pode aprender dentro das suas especificidades”, observa.

Por meio de suas criações artísticas, os alunos com síndrome de Down se expressam e mostram quem são para a sociedade. “É mais do que pertinente ter pessoas com deficiência, que foram segregadas durante tanto tempo, produzindo arte para dizer para o mundo o que elas precisam, o que elas querem e qual o seu lugar na sociedade”, adverte Agda. Para ela, toda a sociedade se beneficia com a inclusão. “O mundo que acolhe a diversidade beneficia todo mundo e isso pode acontecer por meio da arte.”

TRISSOMIA 21

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, estima-se que no Brasil um em cada 700 nascimentos seja de crianças com trissomia 21, o que totaliza em torno de 300 mil pessoas com síndrome de Down no País.

Marli Rezende, mãe de Edison, conta que o diagnóstico foi uma surpresa. “Foi um choque, me vi com aquele bebê sem saber o que fazer. Foi o brilho do olhar dele que me impulsionou a ir à luta em busca do conhecimento na área”, conta. Marli se dedicou aos estudos após o nascimento do filho para entender a condição e dar suporte para ele. A psicopedagoga lembra das dificuldades: “O preconceito era muito mais forte do que hoje, portas se fechavam para ele. As escolas formais não o aceitavam”.

Mãe de Dudu e Gabriel, Tânia Camargo, de 63 anos, conta que, quando Dudu foi diagnosticado, após o nascimento, ela ficou insegura sobre como os outros filhos – três meninos e uma menina – iriam receber o caçula. “Tenho três filhos adolescentes, o que eles vão achar? Vão gostar do irmão? Vão ter vergonha dele?” A notícia chegou aos irmãos quando Dudu completou três meses de vida e a mãe foi surpreendida positivamente pelos filhos. “No dia que contei para eles, eu disse assim ‘olha o médico falou que se ele for muito estimulado ele vai ter uma vida praticamente normal’ e a resposta que eu ouvi foi: ‘bom, se vai depender de estimulação então ele vai ser uma criança bem sapeca, pois a gente vai estimular muito’”, recorda.

Dudu sempre teve uma relação muito próxima com Gabriel. “Meu irmão nos motiva”, completa. Para o criador do Graffiti Down, a experiência está sendo incrível. “Estamos conquistando espaços e ganhando visibilidade. Eles participam de eventos, trabalham, expõem suas obras em galerias com outros artistas. Isso é mais do que eu imaginei”, acrescenta.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA TORNAR SEU EMPREGO MENOS ESTRESSANTE

Especialistas dão dicas de algumas mudanças que trabalhadores podem começar a fazer para melhorar o desempenho e diminuir o estresse em 2023

Assim como muitas pessoas veem o início de um novo ano como um momento para começar a se alimentar de forma mais saudável, fazer atividade física ou beber mais água, especialistas em produtividade dizem que este também é um bom período para redefinir o modo como trabalhamos.

“É importante reservar um tempo para avaliar o ano que terminou e pensar no futuro”, disse Jono Luk, vice-presidente de gestão de produtos da Webex. “Acredito muito em fazer pequenas mudanças progressivas”, disse Joshua Zerkel, chefe de marketing de engajamento global e especialista em produtividade da Asana. Veja seis dicas para se preparar e evitar estresse no trabalho:

FRONTEIRAS

A pandemia confundiu as fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal, disse Luk, por isso talvez seja um bom momento para fortalecê-las. Isso pode ocorrer de várias maneiras, desde garantir que você tenha um espaço específico para trabalhar, até entender quando algo deve ou não ser feito dentro de seu expediente. “Compartilhe seus objetivos e limites com os outros”, disse ele. “Faça algo como: ‘Se você me vir online às 19h, me mande embora’. Eles vão mantê-lo responsável por suas ações.”

OBJETIVOS

Uma maneira de refletir sobre seus objetivos é lembrar do que conquistou e aplicar isso ao que deseja fazer no futuro, disse Akhila Satish, CEO da Meseekna, empresa de tecnologia que usa simulações para ajudar na avaliação de talentos. Tente tornar seus objetivos os mais práticos. Anita Williams Woolley, professora e pró-reitora de pesquisa da Tepper School of Business da Universidade Carnegie Mellon, sugere reservar um tempo todos os dias ou todas as semanas para analisar suas atividades.

PRIORIDADES

O que é urgente talvez nem sempre seja o que é importante, disse Anita, por isso certifique-se de compreender as suas prioridades. Depois de fazer isso, você pode mapear especificamente o que planeja fazer e repetir até criar novos hábitos. Isso pode significar adicionar compromissos no calendário para bloquear horários e conseguir se concentrar em tarefas específicas.

INTENÇÕES

Torne conhecidos os seus compromissos e intenções para o ano, dizem os especialistas. Compartilhar seus pensamentos talvez seja útil para o restante de sua equipe, que pode ter sugestões ou precisar ajustar as próprias expectativas.

PRODUTIVIDADE

Dê uma olhada em seu calendário e analise quando você foi mais e menos produtivo, disse Akhila. Isso pode dar pistas de quando sua produtividade melhora ou piora e, assim, você pode organizar reuniões futuras e trabalhar sem interrupções entre elas. Verifique também o que vale a pena manter, disse Luk. Isso pode significar encurtar as reuniões recorrentes, cancelá-las ou transformá-las em e-mails, disse Zerkel.

EQUILÍBRIO

Divida a porcentagem de tempo que você deseja dedicar para seis áreas da sua vida: carreira e educação contínua, família e amigos, espiritualidade, saúde, diversão e responsabilidade social. Depois, compare isso com quanto tempo você está de fato dedicando e faça os ajustes necessários, disse ele. “Temos esse conceito bizarro de multitarefa, mas será que confundimos atividade com produtividade?”

EU ACHO …

UM NAMORADO A ESSA ALTURA?

Quem é que tem namorado, namorada? Garotada. Antes de casar, de constituir família e cumprir com toda a formalidade, namora-se, e o verbo é de uma delícia de matar de inveja, namorar, experimentar, entrar em alfa, curtir, viajar, brigar, voltar, se vestir pra ele, se exibir pra ela, telefonar, enviar torpedos, dar presentinhos, apresentar mãe, pai, amigos, ocultar ex-ficantes, declarar-se, agarrar-se no cinema, não ter grana para morar junto, ausência dolorosa, ver-se de vez em quando, um dia tem faculdade, no outro se trabalha até mais tarde, quando então? Amanhã à noite, marca-se, aguarda-se. Namorados. Que fase.

Depois vem o casamento, os filhos, as bodas e aquela coisa toda. Dia dos namorados vira pretexto para mais um jantar num restaurante chique, onde se pagará uma nota pelo vinho. Depois dos 3.782 “te amo” já trocados, mais um, menos um, o coração já não se exalta. Deita-se na mesma cama, o colchão já afundado, transa-se no automático, renovam-se os votos e segue o baile, amanhã estaremos de novo juntos, e depois de amanhã, e depois de depois, até os cem anos. Casados. Bem casados.

Mas namorado, não. Namorar tem frescor, é amor estreado, o choro trancado no quarto, o presente comprado com uns míseros trocados, os porta-retratos, os malfadados bichinhos de pelúcia, as camisinhas e todos os cuidados, os “pra sempre” diariamente renovados, namorados. Cada qual no seu quadrado.

Pois outro dia vi uma mulher de 56 anos dar um depoimento engraçado. Disse ela: “Já fui casada, hoje tenho filhos adultos, um netinho e um namorado, e me sinto quase retardada. Difícil nessa idade dizer que o que se tem não é um marido, nem mesmo um amante. Que outro nome posso dar a esse homem que vejo três vezes por semana, que me deixa bilhetinhos apaixonados e me liga para dar boa noite quando não está ao meu lado?”.

Minha senhora, é um namorado. Por mais fora de esquadro.

Como apresentá-lo, ela que já não usa minissaia, nem meia três quartos, e que já possui um imóvel quitado? Ele grisalho, ex-surfista, hoje meio alquebrado: um namorado?

Pois é o que se vê por aí: namorados de 47, 53, 62 anos, todos veteranos no papel de novatos. Começando tudo de novo, depois de tanto já terem quebrado os pratos. Eles, livres como pássaros. Elas, coração aos pulos, depilação em dia, sem tempo pros netos: vovó tem direito a uma volta ao passado.

O que poderia ser constrangedor agora é um fato. Namora-se antes do casamento, e depois. Com a vantagem de os namoros da meia-idade dispensarem ultimatos.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

COMO ESCOLHER A ESCOVA DE DENTES IDEAL?

Cabos precisam ter uma boa empunhadura e aderência às mãos; em relação às cerdas, a recomendação vai para o uso das macias e das supermacias

Escolher a escova de dentes ideal não é uma tarefa fácil. Existem versões elétricas, com diferentes quantidades de cerdas, formatos variados e até algumas feitas com material reciclado, como as de bambu. Os preços também variam bastante. Há escovas que chegam a custar mais de R$ 400. É para deixar qualquer pessoa perdida. Entretanto, mesmo que pareça complicado encontrar uma escova que atenda às suas necessidades em meio a tantas opções, essa não é uma escolha de pouca importância. Afinal, a escova é fundamental para uma boa limpeza dos dentes e evitar complicações, como as cáries. Veja as dicas do ortodontista Gabriel Politano para escolher a sua.

PRESTE ATENÇÃO AOS CABOS

Existem recomendações quanto ao cabo das escovas de dente. “Escovas infantis devem ter pelo menos 10 cm e as para o público adulto, pelo menos 13 cm”, afirma Gabriel Politano, ortodontista e docente da Faculdade São Leopoldo Mandic, que sugere observar as embalagens para confirmar as dimensões.

Os cabos também precisam ter uma boa empunhadura e aderência às mãos. Como, em geral, as escovas são vendidas dentro de embalagens, a saída é observar se elas possuem regiões com diferentes texturas e formatos, como uma área emborrachada ou com relevo. “Essas características evitam que a escova escorregue das mãos durante a escovação”, explica. Escovas com cabos lisos podem não ser tão indicadas, especialmente para pessoas com problema de mobilidade.

APOSTE NAS CERDAS MACIAS OU EXTRAMACIAS

As cerdas de uma escova servem para realizar a limpeza dos dentes, mas é importante garantir que a remoção das placas bacterianas e do resto de alimentos não traga prejuízos. Cerdas muito duras podem agredir as gengivas, desgastar o esmalte dental e ocasionar uma maior sensibilidade na região, além de bastante desconforto. Por isso, a recomendação do ortodontista é investir nas escovas com cerdas macias ou extramacias.

Cerdas médias e duras só são recomendadas para limpeza de próteses e dentaduras. Já as macias podem ser utilizadas por todos os públicos, de crianças aos mais velhos. As extramacias também estão liberadas para todos, mas são mais indicadas para quem possui algum tipo de sensibilidade ou passou por cirurgia.

ESCOVAS PARA CRIANÇAS

Para os pequenos, algumas indicações são parecidas: usar escovas com cerdas macias ou extramacias e com todas as cerdas da mesma altura. No entanto, para esse público, costumam haver diferenças nas escovas de acordo com a faixa etária. E é importante que pais, responsáveis ou cuidadores fiquem atentos a esse ponto na hora de comprar uma escova infantil.

Para crianças menores, é necessário que o tamanho se adapte às mãos dos pais, uma vez que eles é que vão realizar a escovação. Já as maiores, que conseguem escovar os dentes sozinhas, precisam de uma escova que se adapte ao seu tamanho. Em geral, os rótulos indicam para qual faixa etária aquela escova é indicada. Seguir o que está recomendado na embalagem pode facilitar uma escolha mais assertiva.

ESCOVAS PARA QUEM USA APARELHO NOS DENTES

Não faltam itens de higiene bucal para quem utiliza aparelho ortodôntico fixo. Existem opções como a escova de tufo, que permite limpar cada dente de forma individual, e a escova interdental, que possui cerdas bem finas e atravessa os fios ortodônticos conectados aos bráquetes.

“Mas, ainda que sejam boas opções, não há estudos que mostrem uma diferença significativa com o uso delas em comparação a uma escova comum”, diz.

Uma escova comum é capaz de realizar uma boa limpeza em dentes com aparelho. O importante é reforçar a escovação, uma vez que o aparelho pode facilitar o acúmulo de restos de alimentos. É fundamental também observar o aspecto visual das escovas, que podem ficar danificadas mais rapidamente. Quando as cerdas estiverem com aspecto mais desgastado, é importante trocar por uma nova.

ESCOVAS DE DENTE ELÉTRICAS

Do ponto de vista da higiene bucal, o odontologista não avalia que há resultados muito diferentes da escova comum para a escova elétrica. “Ela até pode reduzir melhor a placa bacteriana em comparação com a escova convencional, mas não chega a ser um resultado relevante”, explica ele, que enxerga isso de forma positiva, visto que escovas elétricas costumam ter preços mais altos. “É a minoria da população que pode comprar esse tipo de produto”, afirma.

No entanto, em outras situações, ela pode ser indicada, como para pessoas com dificuldade motora, como aquelas que têm doenças neurológicas que afetam os movimentos, ou para quem utiliza aparelho ortodôntico fixo. “Nesses casos, há mais benefícios em ter uma escova que faz o movimento de limpeza sozinha”, observa.

Para crianças que têm resistência ao hábito de escovar os dentes, as escovas elétricas também podem ajudar. “Muitas empresas têm lançado escovas elétricas com desenho, que se conectam ao tablet e até que conversam com a criança”, avisa. “Se isso estimular a criança a escovar os dentes, pode valer a pena, mas não pela limpeza em si.”

PREÇO FAZ DIFERENÇA?

No supermercado, uma escova de dentes custa menos de R$ 10. Mas há modelos, como das marcas Curapox e Edel White, que podem custar até R$ 45. Para o ortodontista, em termos de higiene, não há grandes diferenças entre essas marcas e a escova comum vendida no supermercado. O que justifica o preço mais alto desses modelos são características como a flexibilidade do cabo e o tipo de cerda, que costuma ser extramacia e em maior quantidade. São aspectos positivos, que podem facilitar a escovação, mas isso não significa que as versões mais baratas não sejam boas opções.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AGORAFOBIA TEM TRATAMENTO COM DROGAS E TERAPIA

Transtorno vivido pelo príncipe Harry desencadeia ataques de pânico em espaços públicos e situações de desamparo. Acontecimentos negativos na infância e hereditariedade estão entre fatores de risco para quadro

O recém-lançado livro autobiográfico do príncipe Harry, “O que sobra”, é recheado de revelações íntimas sobre sua vida sempre em evidência como membro da família real. Um dos fatos mais surpreendentes para parte do público foi que o filho de Charles e Diana sofreu de agorafobia. “Eu era um agorafóbico. O que era quase impossível devido ao meu papel público”, escreveu ele no livro.

Agorafobia é um transtorno de ansiedade que causa medo intenso em certas situações, principalmente no meio de multidões ou em espaços públicos. O indivíduo teme lugares ou situações que possam causar pânico ou que tragam sensações de desamparo e vergonha.

Os sentimentos desagradáveis podem ser tão avassaladores que muitos pacientes podem ficar presos em casa. Eles geralmente não usam transporte público, têm medo de ficar em certos locais ou encarar determinadas situações sociais, como enfrentar uma fila.

Muitas vezes, a fobia surge após a ocorrência de episódios de ataques de pânico. No Brasil, a condição é considerada comum, com cerca de 150 mil casos anuais.

A pessoa com agorafobia vive um medo excessivo de não ser capaz de escapar ou encontrar ajuda em caso de um novo ataque de pânico. Elas também receiam passar novamente por situações embaraçosas ou mesmo incapacitantes.

Caso o paciente esteja em um ambiente público, outros sintomas costumam aparecer. Ele começa suar em profusão, seus batimentos cardíacos se aceleram, ele sente muita ansiedade, tremores pelo corpo, dores no peito, além de ter pensamentos desconexos, medo irracional de um mal iminente, incapacidade de se expressar com clareza, desconforto estomacal, tontura, paranoia e náusea.

Não existe causa específica definida para o transtorno, mas há fatores que contribuem para o seu aparecimento. Pessoas ansiosas e com disposição neurótica, por exemplo, são mais suscetíveis a desenvolver patologias associadas do tipo. O temperamento da pessoa, bem como o estresse ambiental e a perda de um ente querido, podem desencadear o quadro.

A fobia pode surgir quando o paciente experimenta episódios de síndrome do pânico ou crises de ansiedade e passa a associar o medo descomunal que sentiu a situações concretas. A ansiedade da antecipação de um ataque pode vir acompanhada da impressão de que será difícil conseguir ajuda. Outro fator que corrobora para o surgimento da agorafobia é a hereditariedade.

Dentre as fobias, essa condição traz a associação mais forte com o fator genético, que predispõe seu aparecimento. Recomenda-se uma consulta com um psicólogo ou um psiquiatra para investigar a causa ou os fatores que contribuíram para o medo irracional de frequentar esses ambientes públicos.

O problema pode começar na infância, mas normalmente aparece no final da adolescência, nos primeiros anos da vida adulta, geralmente antes dos 35 anos. Entretanto, adultos mais velhos também podem desencadear a condição, sendo maior a frequência em mulheres.

FATORES DE RISCO

Outros fatores de risco também incluem: eventos negativos na infância, como separação dos pais, mudanças na escola ou de cidade, bullying, impactos negativos na autoestima e autoconfiança, bem como demissão ou término de relacionamento, que podem aumentar níveis de angústia, tristeza e ansiedade.

Caso a agorafobia seja diagnosticada, um psiquiatra deve ser consultado para avaliar a possibilidade de tratamento com medicamentos. Entre os principais remédios, estão os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), ansiolíticos e sedativos.

O tratamento efetivo para a agorafobia geralmente inclui psicoterapia e medicação. A terapia cognitivo-comportamental, a terapia de exposição, a psicoterapia com auxílio de realidade virtual estão entre os tratamentos mais eficazes para a condição.

Algumas abordagens incluem o enfrentamento dos lugares ou situações que servem de gatilho para o problema. É importante que o paciente saiba que não há perigo na esquina.

OUTROS OLHARES

VÍTIMA DE TRABALHO ESCRAVO ENFRENTA LONGA JORNADA APÓS RESGATE

Políticas públicas ainda esbarram em falta de acompanhamento e estrutura para proteger e reinserir submetido à exploração

O primeiro piquenique na companhias das irmãs, cunhados e sobrinhos, a primeira visita a uma livraria, a primeira vez no Museu da Língua Portuguesa. A primeira peça de roupa jeans, as primeiras tranças nos cabelos, a primeira dança – ao som de Blitz.

Aos 51, Thawanna Mendes tem vivido uma série de primeiras vezes, acumuladas desde que tomou coragem e, também pela primeira vez, pediu ajuda em um hospital. Vivia desde a adolescência em uma casa, onde trabalhava sem registro e sem direitos. Somente quando se viu internada é que a ficha começou a cair.

“Chorava muito porque eu não me conformava, estava lá e ninguém se preocupou comigo, eu cuidei de todo aquele pessoal. Aquela mágoa estava me deixando louca”, diz. “Ainda voltei para lá [a casa], mas aí acordei. Eles mudaram por uns três dias. Depois, ela [a patroa], mesmo sabendo que eu precisava de repouso, pediu se eu tinha como fazer comida, se tinha como só arrumar o quarto.”

Por 36 anos, Thawanna viveu com uma família que acreditou ser também a dela. Não era. Foi a babá, a cozinheira e a faxineira. Cuidou dos filhos e depois dos netos daqueles que a colocaram para trabalhar, junto a duas irmãs, quando ainda era adolescente. Não tinha salário, não estudava, não tinha amigos.

O pedido de ajuda definitivo chegou por intermédio de um fisioterapeuta que a atendeu em casa, como parte do tratamento de uma fratura no quadril. Dias depois, o Ministério Público do Trabalho chegava com a autorização judicial para retirá-la de lá.

O percurso até o fio de esperança ao qual se agarrou foi cheio de altos e baixos. Os primeiros seis meses, diz, foram piores. Por diversas vezes, quis voltar, quis se desculpar. “Sentia como se eles [a rede de assistência social e o MPT] estivessem destruindo minha vida, mesmo tendo sido eu quem pediu ajuda.”

Thawanna não é o nome que aparece em sua certidão de nascimento, mas é aquele escolhido por ela para contar dos mais de 30 anos vividos em situação análoga à de escravidão. Antes disso, era o nome que queria dar a uma filha, um sonho que se perdeu.

Primeiro, pela vida delimitada pelo quarto das filhas dos patrões – onde dormia no chão – e a sala da casa, onde dormiu em um sofá nos últimos anos até deixar a família definitivamente. Depois, pelo trauma de ter sido vítima de abuso sexual em casa, pelo patrão, e outra vez, na rua, em uma das poucas vezes em que saiu sozinha.

Agora, mais de um ano depois do resgate, Thawanna faz planos para o futuro. Quer, assim como a escritora Carolina Maria de Jesus, mulher negra a quem tanto admira, escrever para dar voz a outras meninas e mulheres que passam ou passaram pelo mesmo sofrimento. “Eu quero contar que a Thawanna sobreviveu, está livre e está começando um nova vida. A vida de sofrimento acabou.”

NÚMERO DE RESGATES CRESCE

Em 2022, 2.575 trabalhadores foram encontrados pela fiscalização em condições degradantes de trabalho ou em jornadas exaustivas em todo o Brasil. O número foi o maior registrado pelo grupo volante de fiscalização desde 2013, quando 2.808 trabalhadores foram encontrados.

O rosto do trabalho escravo contemporâneo ainda é masculino e predominantemente na zona rural. A procuradora Lys Sobral, da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete) do Ministério Público do Trabalho, diz que hoje os homens são 90% dos resgatados. Em 2018, eram 95%.

Entre os trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em 2022, 1.982 estavam no campo, quase 77% do total. E, se o trabalho análogo ao escravo, no geral, tem rosto de trabalhador do campo, nos serviços domésticos ele é feminino e preto.

No ano passado, 30 trabalhadores foram localizados em situação de escravidão doméstica. “Caso de homens ocorrem quando são caseiros de sítio, mas, em geral, nem são considerados domésticos”, diz a procuradora.

Para ela, a prevalência de homens nas estatísticas de resgate denota a invisibilidade do trabalho doméstico. “A gente despertou de que existe uma forma de trabalho invisibilizada e que os casos de trabalho escravo doméstico custam a serem vistos. Tanto que, na medida em que casos se tornam públicos, as denúncias são de que “vi na TV e acho que é a situação da minha vizinha.”

Desde 1995, quando o grupo interinstitucional de combate ao trabalho escravo foi criado, 60.251 trabalhadores foram encontrados em todo o Brasil em situações análogas à escravidão, 46.779 dos quais em serviços rurais.

A partir de 2017, o sistema que inclui Auditoria Fiscal do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e Federal, Defensoria Pública e as polícias Rodoviária Federal e Federal passou a registrar também os casos de trabalho escravo doméstico, um dos mais difíceis de fiscalizar por esbarrar no direito constitucional da inviolabilidade de domicílio. Enquanto os auditores podem entrar a qualquer momento em empresas ou propriedades rurais, o mesmo não vale para as residências. É necessário ter autorização judicial, e, para pedi-la, indício de crime.

PÓS-RESGATE É MAIOR GARGALO

A política pública de enfrentamento ao trabalho escravo, prevista em um plano nacional, fala em três eixos de atuação, que são a repressão, a prevenção e o atendimento à vítima. Para a psicóloga social Yasmim França, o Brasil avançou muito no eixo repressivo, mas ainda caminha a passos lentos nos outros dois.

O trabalho no pós-resgate é igualmente importante, especialmente nos casos de trabalho doméstico. “A pessoa vivia naquela casa e ela se desterritorializou. Há então a necessidade de estimular a autonomia, expandir esse território”, diz.

Yasmim coordena o projeto Ação Integrada, da Cáritas-RJ, organização que atua no processo de acolhimento e reinserção de pessoas resgatadas e que acompanha atualmente mais de 20 famílias em processo de readaptação.

Para os casos de trabalho doméstico, ela faz um paralelo às situações de violência doméstica. “Há uma mistura de afetos, de relações íntimas. Como na violência doméstica, há a redução da rede de apoio, que fica restrita ao violentador. Por isso, em todas essas violências há importância dessa rede externa à casa, ampliada.”

As semelhanças com a violência doméstica conjugal vão além. Lys Sobral, do Ministério Público do Trabalho, diz que os procuradores têm pedido separação de corpos (liminar para que a pessoa seja retirada de casa imediatamente) com base na Lei Maria da Penha. “Há uma fragmentação na estrutura emocional dessas mulheres, é uma relação de abuso. A pessoa é leal e se sente mal de falar mal daquela família.”

Quando são idosas, elas com frequência acabam indo para abrigos públicos, onde começam a reconstruir laços comunitários. Por meio da Cáritas-RJ, trabalhadores mais jovens e urbanos podem fazer cursos. Na avaliação de Lys, o pós-resgate é um dos gargalos da política pública, hoje resumida à garantia de três parcelas do seguro-desemprego. Para as mulheres em situação de escravidão doméstica, a legislação limita o benefício a um teto de um salário mínimo.

“O trabalho doméstico ainda é um resquício da escravidão mesmo, é uma imensa maioria de mulheres, em um país muito tolerante com a violência”, diz a procuradora.

Os procuradores têm tentado, caso a caso, garantir indenizações por danos morais a essas trabalhadoras. “Para que seja ressarcido aquele dano gravíssimo, mas também dar condições materiais da pessoa seguir adiante”, afirma. “Cada vez mais se discute a necessidade de elevação do patamar dessas indenizações.”

Nos casos de trabalho escravo doméstico, a indenização é, com frequência, a única possibilidade de aquela mulher tomar algum controle da própria vida, pois é comum que percam outros laços sociais e familiares. Em casos que se tornaram públicos, procuradores brigaram na Justiça por outras soluções.

Madalena Giordano, de Minas Gerais, ficou 38 anos sob exploração por uma família e foi resgatada no fim de 2020. O apartamento em que viveu com a família agora é dela, diz Lys. A trabalhadora também tinha sido obrigada a casar com um militar. Por anos, a família se apropriou da pensão recebida por ela após a morte do marido – mais de R$ 8.000. Hoje, esse valor também é dela. Em outro caso, de uma mulher resgatada em um bairro de classe alta em São Paulo, a empregadora da antiga patroa da idosa mobiliou uma casa e bancou um ano de aluguel para que ela pudesse refazer a vida.

“No trabalho escravo doméstico, temos pedido até mesmo pensionamento vitalício porque, dependendo da idade, vai ser difícil conseguir renda. Quando a família empregadora não pode pagar um valor global de indenização, então que seja pago mês a mês.”

Lucas Reis, da auditoria do trabalho, também defende que a política pública vá além da questão financeira. “O ideal seria uma política transversal.”

As ações para o atendimento aos resgatados estão previstas no Fluxo Nacional de Atendimento às Vítimas de Trabalho Escravo, organizado a partir da Conatrae (Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo), ligada à pasta dos Direitos Humanos.

Estados e municípios também organizam suas próprias comissões e fluxos, de acordo com as estruturas de assistência social disponíveis. A definição desses protocolos é importante porque cabe aos órgãos federais a fiscalização, e aos Ministérios Públicos, as ações judiciais, mas são os municípios que precisam abrir vaga em abrigos e incluir essas pessoas na rede de assistência.

Na capital paulista, projeto de lei apresentado no fim de 2022, por meio da Rede de Promoção do Trabalho Decente e da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo, pretende reforçar a política pública municipal do pós-resgate com a concessão de benefícios como a gratuidade no transporte público por seis meses.

O texto já recebeu parecer favorável nas comissões e prevê que pessoas resgatadas possam pedir o auxílio-aluguel por até 12 meses quando o município não tiver como fornecer habitação provisória para ela e para sua família.

Na Bahia, dois projetos-piloto tentam atacar a insuficiência da política pública por um outro viés. Famílias resgatadas em situação de escravidão serão assentadas em fazendas de base agroecológica (onde o cultivo orgânico e coletivo são prioridade).

Os programas já estão em execução e, segundo um dos idealizadores, o professor da Faculdade de Economia da UFBA, Vitor Filgueiras, passam no momento por questões burocráticas, mas já têm orçamento completo.

Inicialmente,70 famílias deverão ser atendidas em duas regiões: Una e Aracatu. São pessoas resgatadas do trabalho rural escravo. A ligação com a vida no campo acaba fazendo com que muitos voltem às fazendas depois de não encontrar trabalho nas cidades. “Você não quebra o ciclo do trabalho escravo sem fazer com que as pessoas tenham autonomia”, diz o pesquisador.

‘HOJE EU SOU VISTO’

Da casa onde mora, no Ceará, João mostra para a câmera sua carteirinha do Coren (Conselho Regional de Enfermagem). “Essa é a minha profissão, olha, sou técnico de enfermagem.”

Com 29 anos, João está feliz. Há seis meses, trabalha em um laboratório. O emprego, e mais do que ele, a profissão, é motivo de orgulho para o cearense. “Quando voltei [para o Ceará], não sabia o que eu queria, mas acabei gostando. Antes eu não tinha uma profissão. Hoje eu sou técnico de enfermagem. Meus colegas me elogiam”, diz.

Agora, João faz planos de viajar. Uma ida à praia com os amigos é um dos desejos. Outro é voltar ao Rio, cidade onde viveu por quase três anos e da qual conheceu apenas os arredores do restaurante em que trabalhou, no centro. A rotina que segue hoje em dia é muito diferente da que levava até o início de 2019, quando foi resgatado por uma operação de fiscalização. Até aquele dia, não imaginava que a situação que vivia fosse ilegal, ou mesmo que aquilo era considerado trabalho escravo. Alguns colegas diziam que “aquilo estava errado”, mas João não tinha dimensão do crime do qual era vítima.

O trabalho começava às 7h e seguia até as 17h, de segunda a segunda. Folgas eventuais eram concedidas em apenas um período do dia, de manhã ou à tarde. Entre os colegas com quem dividia uma casa – locada pelo dono do restaurante -, ele ainda tinha o privilégio de ter o registro em carteira.

O verniz legal não se estendia aos direitos. Não recebia vale-transporte, horas extras ou descanso semanal remunerado. Também não tinha horário de almoço. No alojamento pago pelo empregador, não havia banheiro, portas e geladeira. No restaurante, fazia de tudo: atendia mesas, era caixa, preparava saladas, limpava o salão. Até cano estourado consertou.

“Agora eu tenho escala. Dá para sair, se divertir. No Rio era só trabalho, trabalho, trabalho. Eu tinha curiosidade de conhecer aquele Museu do Amanhã, o Pier Mauá”, diz. João trabalhava próximo a esses importantes pontos turísticos, que também estão na zona central do Rio.

Se pudesse dar um recado a quem desconfia da legalidade de um trabalho, João diz que pediria que as pessoas denunciem. “A pessoa fica traumatizada, né? Que elas possam se libertar dessa situação. Hoje eu saio, hoje eu posso sair, encontrar meus familiares. Hoje eu sou valorizado, sou visto.”

HERANÇA COLONIAL

Para o auditor fiscal do trabalho Lucas Reis, o trabalho escravo contemporâneo é uma espécie de continuação da escravidão colonial. “A abolição ocorreu apenas legalmente e é muito recente. O Brasil ainda não reparou 380 anos de escravidão. Há muitos resquícios desse período, e a escravidão é uma delas”, afirma.

A pobreza e a miséria são dois combustíveis para a exploração de trabalhadores em níveis considerados degradantes. Há um tipo de retroalimentação: na miséria, os trabalhadores ficam mais vulneráveis a aceitar trabalhos exaustivos que garantam o mínimo para a sobrevivência, e, em condições sempre ruins, esses trabalhadores nunca deixam a miséria. “É um terreno muito fértil. Às vezes a pessoa precisa se submeter para pode comer, sobreviver, morar.”

A definição de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo” vem do artigo 149 do Código Penal. O texto legal diz que isso pode acontecer tanto no trabalho forçado quanto em jornadas exaustivas, seja porque o trabalhador foi sujeito a condições degradantes, seja porque teve sua locomoção restringida pelo empregador ou preposto.

A pena prevista é de dois a oito anos de reclusão e multa. No âmbito trabalhista, as ações costumam pedir indenização por danos morais individuais, por danos coletivos e o recolhimento de todas as verbas trabalhistas.

OUTROS OLHARES

CORPOS GORDOS, POLÍTICOS E LIVRES

Pessoas com sobrepeso lutam por lugar no mundo, contra preconceito e vão à Justiça combater gordofobia

Com mãos trêmulas e o olhar atento, a consultora de imagem Amanda Souza, de 35 anos, esperou pelo momento em que veria, pela primeira vez, o homem por quem se apaixonou às cegas, em um reality show da Netflix. A esperada cena romântica duraria poucos minutos. O script fugiu do controle, o match não aconteceu e a repercussão se eternizou.

“É sempre decepcionante saber que, mesmo no pior cenário imaginado pela outra pessoa, ela nunca espera uma parceira gorda. O preconceito está em todos os lugares, nos olhares e nos “elogios” ofensivos”, diz Amanda que, na quinta-feira, revisitou a história em meio ao burburinho da Vila Madalena, em São Paulo, ponto de confluência de uma grande diversidade de corpos. A gordofobia pode ter sido o muro que se ergueu entre os dois. O noivo pôs fim ao romance porque, mesmo apaixonado, não aguentaria o “rojão”. “Ela não é nada parecida com o que já lidei na minha vida”, disse. A especulação sobre o que o levou a desistir do casamento, acertado às cegas e negado ao vivo, desencadeou uma grande discussão sobre o alcance do preconceito estético, que ganha dimensão política com o surgimento de ONGs voltadas para o tema e bandeiras levantadas até por entidades médicas.

Com um caráter estrutural, assim como racismo, a gordofobia está em relacionamentos, dentro de casa, no trabalho, no lazer ou simplesmente no olhar, às vezes, indisfarçavelmente contrariado do outro para alguém fora dos padrões impostos pela ditadura da magreza. O preconceito disseminado pode ter outras consequências práticas sérias como a exclusão do mercado de trabalho ou mesmo a morte, em casos em que até hospitais não estão preparados para atender pacientes com obesidade.

Ex-profissional do mercado financeiro, Amanda não tem dúvidas de que, pelo menos uma vez, perdeu uma boa oportunidade de carreira por causa de sua aparência. As muitas perdas contabilizadas por pessoas que não se encaixam em modelos estéticos e os ataques, ora velados, ora escrachados, provocaram, nos últimos anos, uma explosão de ações judiciais nunca vista no país.

‘BOOM’ DE AÇÕES NA JUSTIÇA

De acordo com o Data Lawyer, desde 2014 o Brasil registrou 688 processos não sigilosos envolvendo gordofobia que tramitam em varas federais e trabalhistas. Desse total, 87% foram abertos a partir de 2020. Embora não haja uma lei específica para o tema, alguns tribunais enquadram os casos como injúria e assédio moral.

O problema é gigante e potencialmente pode atingir mais da metade da população brasileira. Dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas indicam que, em 2021, 57,25% dos brasileiros a estavam com o peso acima do considerado ideal pelo Índice de Massa Corporal (IMC).

São essas pessoas, sobretudo mulheres, que cada vez mais são acuadas por uma ideia de meritocracia social em que aprendem, desde crianças, que só as meninas magras e que se exercitam são inteligentes, alegres, bonitas e merecem ser respeitadas. Atitudes   gordofóbicas acontecem, em geral, com plateias. Muitas vezes, o assédio vem disfarçado de elogios a ou preocupação com bem-estar. Há pesquisas que sugerem, por exemplo, que há nuances nas reações negativas a um corpo gordo e que elas dependem do peso — ou seja, uma pessoa de 90 quilos não provoca tanto espanto quanto uma de 130, o que comprovaria que a preocupação nunca foi com a saúde.

A fotógrafa Flaviane Oliveira, de 37 anos, sucumbe a gatilhos ao lembrar do comentário que a deixou arrasada quando foi se vacinar contra a Covid, no que deveria ter sido um dos dias mais felizes de sua vida. Com comorbidades e sempre sob acompanhamento de médicos e nutricionistas, Flaviane, que usava máscara, ouviu de uma enfermeira que “ela parecia bonita”, mas precisava cuidar da saúde.

“Na hora, eu não tive reação. Quando entrei no Uber, eu desabei”, admite. “Como alguém se sente apta a me dar um diagnóstico somente por olhar meu corpo?

Nos anos 1990, a OMS passou a tratar a obesidade como uma epidemia mundial. Mas o alerta passou a ser usado, muitas vezes, para legitimar velhos preconceitos. Uma pesquisa da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mostra que oito em cada 10 pessoas com sobrepeso já foram vítimas da gordofobia. O estudo ouviu mais de 3,6 mil pessoas. Setenta e dois por cento delas foram alvo de preconceito dentro de casa; 65,5%, em estabelecimentos comerciais; 63%, de amigos; 60,4%, em consultas médicas; e 54,7%, no ambiente de trabalho.

Episódios como o de Flaviane têm feito médicos repensarem suas abordagens. No país, há 18 milhões de pessoas obesas e, se consideradas todas que estão “acima” do peso, o número salta para 70 milhões. A cada ano, 2 milhões de novos casos são registrados. A eventual associação de problemas de saúde à obesidade não dá a médicos e a profissionais de saúde o direito de submeter seus pacientes a julgamentos degradantes ou a usar adjetivos negativos ao tratar de seus corpos.

“É preciso evitar frases como “você está muito gordo”, “é desleixado”. O ideal é perguntar a pessoa sobre a percepção dela acerca de seu peso e se isso a preocupa”, ensina Lúcia Cordeiro, endocrinologista e membro da SBEM, destacando que denúncias podem ser feitas a ouvidorias de hospitais. “O preconceito é muito danoso. Pois reduz a autoestima e aumenta a ansiedade, um gatilho que afeta a alimentação”.

Logo no início do ano, Andréia da Silva gritava por socorro na porta do Hospital Geral de Taipas, na Zona Norte de São Paulo. Ela tinha visto o filho morrer após ter sido recusado em seis hospitais numa busca frenética por atendimento pelo sistema único de regulação. Nenhuma unidade tinha maca para atender Vitor Augusto de Oliveira, de 25 anos, que pesava 190 quilos. O Ministério Público do Estado de São Paulo abriu inquérito contra as secretarias de Saúde do estado. Vitor não resistiu a três paradas cardíacas.

“Estou orando a Deus para me dar discernimento”, fala Andréia, na única frase que conseguiu balbuciar enquanto vive o luto.

GORDA NA LEI

Em novembro do ano passado, a modelo brasileira e influenciadora digital plus size Juliana Nehme, de 38 anos, denunciou que a Qatar Airways a impediu de embarcar num voo do Líbano para o Brasil por “ser gorda demais”. A companhia exigia, segundo ela, que fosse comprada uma passagem executiva de US$ 3 mil (cerca de R$ 15 mil) ou mais duas passagens normais para “caber no assento”. A Qatar nega a acusação. Quase dois meses depois, a modelo evita relembrar o caso. Juliana obteve uma liminar judicial em que a empresa fica obrigada a pagar a ela, durante um ano, R$ 400 por sessões de terapia. Ainda cabe recurso contra a decisão.

“Na luta contra a gordofobia, é uma importante vitória”, afirma Eduardo Barbosa Lemos, advogado da influenciadora.

A batalha coletiva continua. De acordo com o Data Lawyer, apenas 2% dos processos desde 2014 foram favoráveis às vítimas. Cerca de 33,38% das denúncias favoreceram parcialmente denunciantes. As comarcas de Minas Gerais e São Paulo concentram o maior número de reclamações.

Para defender vítimas da gordofobia, Rayane Souza e Mariana Vieira de Oliveira criaram o Gorda na Lei. Segundo Rayane, em média, 70 pessoas as procuram todo mês. A ativista teve a ideia do projeto quando foi vítima de cyberbullying dentro da Faculdade de Direito. Ela descobriu, por acaso, que suas fotos eram ridicularizadas num grupo de WhatsApp criado por outros alunos.

“Só fiquei sabendo porque uma dessas pessoas saiu do grupo e me pediu perdão. Sou ativista anti gordofobia. Esse movimento é essencial para a sociedade perceber que não cabe mais naturalizar certos comportamentos. Pessoas gordas têm se empoderado e isso faz com que cresça a busca por direitos”, observa. “Nosso objetivo é incluir ainda a demanda de acessibilidade, mostrar como as ofensas afetam a vida de pessoas gordas e criminalizar o preconceito.

GESTÃO E CARREIRA

COMO AS SOLUÇÕES DE VIDEOCONFERÊNCIA IMPACTAM O FUTURO DO TRABALHO

Se durante a pandemia as telas foram protagonistas nos ambientes de trabalho, é certo que mesmo com o retorno ao presencial, as soluções de videoconferência e colaboração continuarão liderando transformações na sociedade. Seja no escritório ou no atendimento ao público, a oferta de equipamentos de videoconferência touchscreen e all-in-one ultrapassaram o uso restrito às reuniões online e já se consolidam como uma alternativa efetiva e econômica para diversos cenários

Para quem ainda não está familiarizado com as soluções, basta imaginar que com apenas um toque é possível realizar uma videoconferência ou uma ligação, sem a necessidade de webcams, monitores extras, alto-falantes ou telefones de mesa, e ainda utilizar a tela como um quadro em branco para realizar anotações. Simples, não? Em muitos escritórios esta já é a realidade. Contudo, a tendência é que estes equipamentos saiam da sala de reunião e adentrem no varejo, no setor de saúde, estacionamentos, e onde mais a conectividade seja um diferencial.

Imagine encontrar uma promoção de vinhos no supermercado, mas não saber qual o melhor rótulo levar para a casa. Com uma pequena tela na prateleira é possível se conectar com um sommelier a distância e tirar dúvidas. Outro exemplo, gostaria de ouvir um especialista antes de comprar um novo smartphone? Conecte-se com um vendedor especializado que ainda pode exibir vídeos durante o atendimento em tempo real. Já em hospitais, a solução pode ser utilizada na hora da triagem ou no acompanhamento de exames em tempo real pela equipe médica.

No entanto, até mesmo dentro dos escritórios, soluções de videoconferência e colaboração – como a DTEN, marca de nosso portfólio vem apresentando – também podem ir além das reuniões. Na nova dinâmica de trabalho híbrido, as telas touchscreen podem ser utilizadas pelos colaboradores para fazer um check-in e visualizar quais as estações de trabalho estão disponíveis, ou até mesmo para ter acesso às vagas do estacionamento que estão liberadas e até que horas ficarão livres. A mesma dinâmica serve para outras reservas – de armários na academia à churrasqueiras em clubes.

O que está no horizonte é que a modernização de qualquer ambiente passa pelas telas, mas isso não significa um desafio para conectar milhares de dispositivos, fios e plataformas: com apenas uma solução inteligente é possível dar conta de uma profusão de cenários. O usuário cada vez mais digitalizado impõe novas necessidades, mas a tecnologia nos brinda com caminhos mais efetivos e simplificados. O futuro será conectado, mas também será plug-and-play.

VERA THOMAZ – Head of Sales da Unentel Distribuição

EU ACHO …

FELIZ POR NADA

Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém lhe elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.

Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.

Feliz por nada, nada mesmo?

Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. “Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?

Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.

Ser feliz por nada talvez seja isso.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

SUOR EM EXCESSO TRAZ CONSTRANGIMENTO, MAS TEM DIVERSAS SOLUÇÕES

Tratamentos vão de produtos tópicos às injeções de toxina botulínica, a depender do grau de sudorese do indivíduo

Frio ou quente, sem motivo aparente, as famosas “pizzas”, ou bolsas de suor, surgem debaixo da manga de camisas e camisetas. Em casos mais graves, pode até pingar das mãos. A hiperidrose ou sudorese anormal e excessiva, que não necessariamente está relacionada a altas temperaturas, afeta a qualidade de vida de quem sofre com ela. No verão, os incômodos podem ainda ser potencializados, afetando os hábitos e o cotidiano. Embora não seja considerada uma doença, dependendo do transtorno que causa a sudorese, é recomendado a ida ao médico especializado para tratá-la, e assim resolver um problema que pode se tornar social.

Segundo a Mayo Clinic, “a hiperidrose ocorre pelo menos uma vez por semana, durante o dia. E a transpiração geralmente ocorre em ambos os lados do corpo”. A recomendação de consultar um médico aplica-se quando “o suor perturba a rotina diária; causa sofrimento emocional ou retraimento social”.

O cirurgião plástico Raúl Banegas, membro da Sociedade Argentina de Cirurgia Plástica, Estética e Reconstrutiva (SACPER), esclarece que a hiperidrose focal primária ocorre quando suamos mais do que o normal, não em todo o corpo, mas de maneira concentrada nas axilas e/ou mãos e/ou solas dos pés e não tem causa, por isso é dito primário.

“Às vezes são secundários a outras doenças muito mais graves, como um processo tumoral maligno”, diz.

Certas doenças e alguns medicamentos podem desencadear a transpiração excessiva. Por isso, explica o dermatologista Christian Sánchez Saizar, “a primeira recomendação começa com a obtenção de um diagnóstico que o dermatologista fará, para ver que tipo de hiperidrose o paciente tem”.

Banegas cita um estudo realizado pela Academia Americana de Dermatologia, segundo o qual a hiperidrose atinge 2% da população e que sua versão primária representa mais de 90% dos casos.

“Ela não está diretamente relacionada à temperatura ambiente, ocorre por excesso de estímulos nervosos e aumenta com o estresse emocional”, explica.

Trata-se de uma funcionalidade exagerada das glândulas sudoríparas, que tem respostas excessivas, sejam por fatores emocionais ou térmicos. A hiperidrose focal é mais comum em adolescentes e jovens. Embora não seja uma doença, é uma alteração de grande impacto na vida.

“Conheço casos, por exemplo, de violonistas que não conseguiram tocar bem o instrumento porque a mão escorrega. Há pessoas que não conseguem segurar uma raquete ou não podem praticar um esporte como o golfe. Existem casos de hiperidrose palmar em que há dificuldade em apertar as mãos, porque a outra pessoa tem uma sensação fria e molhada. É algo incapacitante socialmente”, descreve Banegas.

O desconforto transcende o aspecto social, pois também pode complicar o cotidiano profissional.

“A transpiração nas mãos pode molhar o papel e dificultar o manuseio dos materiais, causando constrangimento e desconforto”, acrescenta Sánchez Saizar.

A hiperidrose axilar tem outras conotações sociais, não pelo cheiro – geralmente não há – mas pelo desconforto causado por camisetas e outras roupas visivelmente molhadas de suor.

“Já ouvi casos de pacientes que me disseram que gostaram de uma camiseta e compraram duas iguais. Então, eles iriam para uma festa com as duas, uma vestida e a outra na bolsa, e no meio do evento pediriam permissão para ir ao banheiro trocar a que já estava completamente encharcada pela seca”, relata o cirurgião.

Devido às constantes manchas de suor nas roupas, as pessoas acometidas pela hiperidrose muitas vezes se vestem apenas de preto. No caso de afetar os pés, o desconforto ocorre, sem dúvida, ao calçar os sapatos.

Para resolver o problema existem diferentes alternativas. É aconselhável progredir dos tratamentos menos aos mais complexos. Primeiro, vem a aplicação de produtos tópicos, como loções com sais de alumínio. De acordo com Sánchez Saizar, essa é a opção preferencial para os mais jovens, “antes de se recorrer a um tratamento minimamente invasivo”.

São produtos vendidos sob prescrição médica, que devem ser verificados periodicamente pelo especialista.

“Esses produtos são amplamente utilizados em desodorantes graças aos seus efeitos antitranspirantes. Os sais bloqueiam o duto de suor e impedem que ele escape para a superfície da pele. Devem ser indicados e supervisionados por um médico”, destaca o dermatologista.

OUTRAS OPÇÕES

Caso a alternativa tópica não tenha dado os resultados esperados, é indicada a aplicação de radiofrequência fracionada com microagulhas, em consultório. Por fim, pode-se recorrer à toxina botulínica, o popular botox.     

“O que se faz nesses casos é a aplicação da toxina botulínica na derme, que é justamente onde estão as glândulas sudoríparas. A toxina interfere nos comandos dados pelas terminações nervosas ao receptor da glândula. Então, ela para de funcionar, simplesmente porque a comunicação está cortada”, explica Banegas.

Sánchez Saizar acrescenta que a aplicação tem excelentes resultados em apenas uma sessão de menos de meia hora. A chave é a consulta médica para decidir, de acordo com o grau da patologia, a melhor opção de tratamento.

O indivíduo que pode fazer o tratamento com toxina botulínica é aquele que se sente afetado socialmente pela sudorese. Ele pode ser usado a partir da adolescência e a duração é bem maior do que para rugas dinâmicas. O efeito perdura entre seis e oito meses, em algumas pessoas um pouco mais.

“O tratamento costuma ser feito uma vez ao ano, principalmente no verão, quando é mais incômodo, mesmo que no inverno quem sofre dessa patologia também precise tratá-la. Embora a hiperidrose seja geralmente acentuada durante o verão e como resultado do estresse emocional, às vezes esses pacientes suam o tempo todo sem nenhum fator desencadeante óbvio”, afirma Saizar.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

UM QUER E O OUTRO, NÃO: QUANDO A DECISÃO DE (NÃO) TER FILHO SEPARA O CASAL

Caso do humorista Fábio Porchat, que anunciou divórcio recentemente, reforçou o debate sobre o tema. Escolha demanda honestidade com o parceiro, dizem especialistas

No mês de janeiro, o humorista Fábio Porchat anunciou o término do seu casamento com a produtora cinematográfica Nataly Mega após oito anos de relacionamento. Segundo ele, o motivo foi a divergência entre os dois sobre o desejo de ter filhos. Enquanto o ator não se vê como pai, o que ele já manifestou em várias declarações públicas, Nataly teria o sonho de ser mãe.

A psicanalista Natália Marques diz que esse tipo de situação é mais comum do que parece. Isso porque, se décadas atrás muitas pessoas acabavam tendo filhos sem refletir muito sobre o assunto, hoje esse tipo de decisão se tornou cada vez mais planejado, em especial entre pessoas de classe média a alta, que têm investido mais em autoconhecimento.

A consultora de imagem Priscila Citera, de 42 anos, é um exemplo. Ela tinha 30 anos e estava casada havia oito quando percebeu que não queria aumentar a família, ao contrário do então marido. “Já estávamos juntos tinha um bom tempo e entendemos que era a hora de ter filhos. Parei de tomar o remédio que evita gravidez, mas, toda vez que eu menstruava, ele ficava triste e eu me sentia aliviada”, diz.

“Percebi que tinha algo de errado e comecei a trabalhar isso na terapia. Com o tempo, percebi que aquele não era um sonho meu de verdade. Eu só naturalizei porque a sociedade dizia que, depois de casados, a gente deveria ter filhos”, afirma Priscila.

Ela decidiu, então, terminar o relacionamento, mas optou por não revelar ao ex o real motivo. Priscila diz que, influenciada pelo pensamento machista dominante de que toda mulher deve sonhar com a maternidade, ela se sentiu uma pessoa egoísta por ter tomado essa decisão.

ESCOLHA

Para a psicóloga Gabriela Luxo, a maternidade ou a paternidade deve ser uma escolha tomada não só em casal, mas também individualmente e após muita reflexão, afinal, tem grande impacto na vida das pessoas. Em alguns casos, pode ser interessante procurar sessões de psicoterapia para se conhecer melhor.

“A chegada de uma criança muda completamente a rotina. Quando a pessoa tem um filho sem querer realmente, ela vai passar por uma série de questões emocionais para lidar com a sensação de mudança e de frustração em relação às coisas que podiam ser feitas antes, sem a criança, e que depois não podem mais”, diz.

As duas especialistas escutadas pela reportagem ressaltam ainda que tomar esse tipo de decisão por pressão de outras pessoas – seja do parceiro romântico, da família ou da sociedade, de forma geral – cria problemas não só para a pessoa que tomou a decisão, como também para a criança e para o casal.

“A pessoa que não quer genuinamente ter filhos não vai conseguir dar o carinho e a atenção que gostaria para a criança e pode até se sentir culpada por isso”, diz Natália. “Isso pode afetar a autoestima da criança ao passo em que ela se sente indesejada”, aponta Gabriela.

Ao mesmo tempo, segundo Natália, o companheiro que queria ter filhos tende a ficar frustrado ao longo do tempo, pois o seu real desejo era de que o outro quisesse a criança tanto quanto ele – algo que está fora do controle de ambas as partes. A tendência é que, mesmo inconscientemente, a pessoa que cedeu (seja tendo filho sem querer, seja deixando de tê-lo para se adaptar ao desejo do outro) culpe o parceiro por estar vivendo algo que não gostaria. Com o tempo, isso produz ressentimento e tende a afastar o casal. Priscila concorda com as especialistas. “Só tive coragem de contar para o meu ex-marido o real motivo pelo qual decidi terminar depois de alguns meses. Na época, ele chegou a dizer que, se eu tivesse falado a verdade, ele teria aceitado não ter filhos para ficar comigo, mas respondi que mesmo assim não daria certo”, afirma.

ADOÇÃO

Isabella Silva, advogada de 29 anos, também terminou um relacionamento amoroso por não ter o mesmo desejo que a ex-companheira em relação a filhos. Ela conta que as duas sabiam dessa divergência desde o começo do relacionamento, mas não se preocuparam com isso inicialmente porque ambas queriam “aproveitar o momento”.

“Depois de dois anos, essa vontade de ser mãe foi aumentando dentro dela e um dia ela chegou para mim dizendo que tinha começado a pesquisar sobre adoção e que queria já entrar com a papelada”, conta Isabella. “Eu me senti pressionada e muito ansiosa.”

As profissionais recomendam também honestidade no diálogo com o parceiro. Se o plano de ter filhos está completamente descartado, vale a pena conversar sobre isso com o companheiro abertamente.

OUTROS OLHARES

USO DE TELAS PODE SER A RAZÃO DO AUMENTO DE CASOS DE MIOPIA

O problema está na forma e frequência, já que em muitos casos os equipamentos são usados por longos períodos e bem perto dos olhos

Em uma pessoa com a visão normal, os raios de luz passam pela córnea, atravessam a retina e se juntam para formar a imagem no fundo do olho. No entanto, naqueles que convivem com a miopia, a imagem é formada antes de a luz atingir a retina. É como se elas tivessem um globo ocular mais “longo”. E isso causa uma dificuldade maior para enxergar com nitidez aquilo que está distante dos olhos.

A condição é cada vez mais recorrente entre os jovens. De 2019 a 2022, foi registrado um aumento de 134% nos casos de miopia entre crianças e adolescentes de até 19 anos em São Paulo, de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde. Em nível nacional, levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) confirma essa tendência: sete em cada dez oftalmologistas relatam alta de miopia entre esse público. Segundo especialistas, a pandemia de covid-19 é o principal motivo do crescimento.

LUZ

O uso de telas é outro agravante. Ainda que seja comum acreditar que a luz emitida pelas telas cause a miopia, esse não é o motivo. “Não existe comprovação que a luz emitida por celulares ou computadores cause danos aos olhos”, afirma a oftalmologista.

De acordo com ela, o efeito desse tipo de luz está relacionado ao ritmo circadiano, que é o ciclo de funções biológicas dos seres humanos no período de 24 horas. A exposição às telas em determinados momentos, como antes de dormir, pode atrapalhar a sincronização do organismo ao ciclo e prejudicar o sono. Dessa forma, a relação entre as telas e a miopia não está no uso em si, mas na forma e frequência em que é feito.

Em geral, tablets, computadores e celulares são utilizados por longos períodos e bem próximos aos olhos. E esse é o problema. “Quando olhamos para perto, estimulamos um movimento do olho chamado acomodação”, explica. A função desse movimento é preparar os olhos para enxergar com nitidez aquilo que está próximo. “Porém, se você estimula muito essa acomodação, há maiores possibilidades de miopia.”

SINAIS

Na pandemia, quando a sala de aula e as conversas com os amigos migraram para o ambiente digital, não teve como João Miguel, de 7 anos, fugir das telas. “Ele assistia às aulas pelo celular e computador e, como as telas estavam próximas, não tinha dificuldade para enxergar”, conta sua mãe, Dayane Santos. A confirmação para miopia foi por acaso. “Um dia, brincando na piscina, ele bateu o olho e machucou. Foi só aí que eu o levei ao oftalmologista”, diz Dayane. Na consulta, ela descobriu que o filho estava com 4,5 graus de miopia.

Ainda que não tenha sido o caso de João, existem fatores que podem indicar a presença da miopia entre os pequenos. “Crianças míopes costumam ser mais inquietas e com dificuldade para desenvolver algumas atividades escolares”, indica Leôncio Queiroz, médico oftalmologista do Instituto Penido Burnier, em Campinas. “Elas podem entortar a pescoço na tentativa de enxergar melhor, se aproximam da televisão ou se queixam de dores de cabeça”, completa.

De qualquer forma, com indícios ou não, a recomendação é que toda criança faça visitas periódicas ao oftalmologista. As diretrizes da SBOP indicam que, entre 6 e 12 meses, já podem ser realizados os exames oftalmológicos de rotina e, depois, entre 3 e 5 anos. “Até porque, por não ter referências, a criança não sabe dizer que não está enxergando bem ou que vê embaçado”, pondera Queiroz. Realizando o exame, é possível identificar a presença da condição.

Fatores hereditários também podem ser sinal de alerta, como foi para Aline de Melo, de 40 anos, mãe de Luiz, de 14. “Aos 6 anos, o Luiz começou a reclamar de dor de cabeça. E como eu e todos os avós maternos e paternos dele usamos óculos, achei que era uma boa idade para levá-lo ao oftalmologista”, diz. “Ele se adaptou bem aos óculos, que é a última coisa que ele tira antes de dormir e a primeira coisa que coloca ao acordar. Ele é muito disciplinado.”

TRATAMENTO

Seja aos 7 anos, como João, ou aos 14, como Luiz, o objetivo do tratamento da miopia é estabilizar o grau. Por isso, o primeiro passo é realizar exames com o oftalmologista, que vão identificar o grau da criança. Após 6 meses, se houver a progressão do grau, o tratamento é iniciado. Uma das opções de controle mais utilizadas são as lentes, que têm a função de corrigir a visão e retardar a progressão.

“O sucesso do tratamento não é a redução do grau, mas é ele não aumentar. Em geral, eles reduzem em quase 70% a progressão”, diz. Luiz, no entanto, iniciou com grau menor, mas teve progressão ao longo do tratamento. “Ele começou a usar óculos para corrigir 0,5 grau de miopia. As dores de cabeça pararam e ele passou a enxergar bem”, conta Aline. Mas hoje o jovem já está com 6 graus. “A expectativa é de que, completando 18 anos e estabilizando a miopia, ele possa operar.”

No caso da cirurgia, o objetivo é mudar a curvatura da parte anterior do olho, chamada de córnea, para que as imagens sejam formadas com mais precisão. “Após a cirurgia, as pessoas passam a não precisar mais de óculos, mas ela só é indicada para maiores de 18 anos, com grau estável e que não seja muito alto”, explica a oftalmologista Júlia.

No caso de João, por ser diagnosticado com um grau bastante alto, foi necessário fazer o uso das lentes de contato específicas para miopia. A adaptação foi difícil no começo. “Ele se sentia incomodado quando a gente ia colocar a lente, mas agora já se adaptou, mesmo sendo eu quem coloca, porque ele não sabe colocar sozinho”, afirma Dayane.

Há, ainda, outra linha de tratamento, que é o uso de colírios que agem em diferentes partes do olho. “O mecanismo exato pelo qual o colírio reduz a progressão da miopia não é esclarecido, mas sabemos que algumas ações do medicamento ajudam na estabilização”, explica Júlia. Essas ações incluem a redução da acomodação – aquele movimento do olho ao focar em objetos próximos – e estímulo à liberação de dopamina.

Para Júlia Rossetto, oftalmologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), dois comportamentos das crianças na pandemia explicam o aumento: mais tempo em frente às telas e menos tempo fora de casa. “A luz solar, em contato com a retina, estimula a produção de hormônios, como a dopamina, que inibe o crescimento ocular”, diz. Dessa forma, além de reduzir as possibilidades de miopia, atividades em ambientes externos também podem diminuir a progressão de grau daqueles que já possuem a condição.

RECOMENDAÇÕES PARA USO DE CELULARES POR IDADE

Confira as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para o uso de telas entre crianças e adolescentes, para reduzir as probabilidades de problemas de visão e melhorar a qualidade do sono.

MENORES DE 2 ANOS

Não é indicado o uso de telas, mas chamadas de vídeo estão liberadas.

DE 2 A 5 ANOS

O ideal é não ultrapassar 1h diária de uso, e sempre com um adulto por perto.

DE 6 A 10 ANOS

No máximo 2h por dia, também com supervisão.

A PARTIR DOS 10 ANOS

O limite é de 3h por dia, evitando a utilização à noite, que pode atrapalhar o sono e torná-lo mais agitado.

TODAS AS IDADES

Prefira as maiores telas, com maiores distância. Se for usar tablet ou celular, manter a distância de um braço adulto do aparelho ao rosto. Não usar durante as refeições e 2h antes de dormir.

OUTROS OLHARES

EPIDEMIA DE DROGAS Z, PARA INSÔNIA, GERA DEPENDÊNCIA E SONAMBULISMO

País tem alta de vendas de medicamento diante de facilidade de acesso e resistência a mudanças

Um vídeo postado numa rede social no final de dezembro fez soar um alerta entre os amigos de Matias (nome fictício). Era o registro de um inusitado passeio na chuva pela orla do Rio de Janeiro, narrado com uma voz estranhamente embargada.

“Eu tomei um zolpidem de tarde porque estava muito ansioso e queria dormir, mas fiquei mexendo no celular; e essa é a última lembrança que eu tenho daquele dia”, conta o estudante de administração de 22 anos, que foi resgatado por um amigo e levado para casa.

Zolpidem é o nome de um dos medicamentos hipnóticos indicados para insônia cujas vendas explodiram no Brasil nos últimos anos. Segundo a Anvisa, entre 2019 e 2021, elas cresceram 73% para a versão de 5 mg, a mesmo que Matias tomou.

Esses remédios são conhecidos como drogas z, em razão dos nomes que as substâncias receberam: zolpidem, zopiclona (ou eszopidona) e zaleplona. Ingeridos durante qualquer atividade, promovem estados dissociados, como confusão e sonambulismo, o que coloca a pessoa em risco. E geram dependência quando usados durante longos períodos.

As redes sociais estão repletas de relatos de pessoas que, sob o efeito de zolpidem, fizeram compras extravagantes para muito além de seus recursos, deram declarações desconexas ou embaraçosas e agiram de maneira confusa ou mesmo violenta.

“As parassonias, comportamentos não desejáveis durante o sono, são um efeito colateral importante do uso de drogas Z”, explica a médica neurofisiologista Letícia Azevedo Soster, especialista em medicina do sono e coordenadora da pós-graduação em sono do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Tem histórias de pessoas que se machucaram, que compraram coisas e que agrediram outras pessoas, com implicações forenses. É bastante perigoso”, alerta.

Diversas celebridades já culparam o zolpidem por comportamentos inoportunos. Em 2018, a atriz Roseanne Barr teve seu programa na TV americana cancelado depois de um tuíte racista que, afirmou ela, foi redigido sob o efeito do medicamento. O laboratório Sanofi, fabricante do remédio que Barr afirmava ter tomado, emitiu uma nota dizendo que “racismo não era um efeito colateral” de seu produto.

Tuítes bizarros de Elon Musk também foram creditados pelo bilionário como obra do zolpidem. Em 2017, o golfista Tiger Woods foi preso e processado após ser encontrado, desacordado, dentro de seu carro numa estrada, num efeito que atribuiu ao medicamento.

E, ainda em 2010, o ator Charlie Sheen culpou o remédio pela quebradeira que promoveu no quarto de um hotel em Nova York. “É a aspirina do demônio”, disse, um ano depois, numa entrevista.

As drogas z emergiram há cerca de 20 anos com a promessa de combater a insónia e promover um sono rápido e com poucos efeitos colaterais em comparação aos medicamentos até então disponíveis.

“Os pacientes relatam que são drogas que fazem a pessoa fechar os olhos e dormir, como se fosse um botão de desligar”, conta Soster. “A indústria vendeu essas drogas como se elas não promovessem o efeito-ressaca de outras medicações nem tivessem efeitos colaterais. Não é verdade”, alerta.

A médica aponta para riscos de problemas relacionados ao uso prolongado ou excessivo dessas substâncias.

“As pessoas estão usando cada vez maiores quantidades de drogas z porque, com o tempo, se tornam refratárias a elas. Já recebi um paciente que estava tomando 40 comprimidos por noite de zolpidem para conseguir dormir.“

Foi o caso de Marcelo (nome fictício), 19, que começou a tomar zolpidem aos 15, após o diagnóstico de ansiedade e depressão associado a dificuldade para dormir. Chegou a tomar 30 comprimidos por semana e admite ter usado o medicamento não só para dormir, mas para ter alucinações durante o período de vigília. “A cada semana, eu usava mais e mais. Passei a confundir o que era sonho com o que era realidade, vivia em atrito com a minha família, foi destruidor”, diz. Para conseguir medicação suficiente, o hoje estudante de arquitetura conta que falsificava cópias das receitas e mentia para psiquiatras.

Soster explica que, no processo de difusão de drogas z no Brasil, dois fatores são complicadores. “Primeiro, o fato de o brasileiro ser um povo que tende a ser ansioso, o que potencializa a ocorrência de problemas com o sono”, aponta.

Segundo um estudo realizado por cientistas da USP e da Unifesp e publicado na revista Sleep Epidemiology, 65% dos brasileiros relatam ter algum problema relacionado ao sono.

“O segundo é o fato de o Brasil ter um sistema híbrido de saúde, meio público e meio privado. Então, o paciente vai num sistema, recebe indicação do remédio, vai em outro, recebe também”, conta. “E como os sistemas não estão interligados, ninguém percebe essa duplicidade, que tem acontecido muito com as drogas Z, que são remédios controlados. Isso sem falar no mercado clandestino”.

A médica explica que os problemas de sono ganharam maior amplitude durante a pandemia da Covid-19, quando o gasto energético do cotidiano ficou reduzido com o distanciamento social e o aumento do uso de telas incrementou os estímulos do cérebro que nos mantêm acordados.

“Isso fez a preocupação relacionada ao sono aumentar, e essa é a base da insônia crônica. A preocupação se torna maior do que o problema em si, ativando o mecanismo de alerta e gerando o desejo de controle do sono”, explica. “As pessoas querem deitar e dormir imediatamente sem assumir as responsabilidades pelos seus próprios processos físicos necessários para isso.”

Regular o horário de dormir e de se levantar, fazer exercícios físicos regulares, expor­ se à luminosidade durante o dia, reduzir o tempo de tela de noite e cessá-lo horas antes de ir para a cama são algumas dessas responsabilidades a que Soster se refere.

“É como numa dieta: a pessoa quer emagrecer, mas não quer cortar gorduras nem carboidratos. E, então, toma um remédio para isso”.

O desejo de um controle absoluto sobre o sono com o mínimo esforço, diz ela, também está por trás da epidemia de drogas z. “Não tem absurdo maior do que tomar uma droga para dormir e outra para acordar. É isso o que está acontecendo hoje em dia.”

GESTÃO E CARREIRA

CINCO DICAS PARA SE DESTACAR NAS VAGAS E PROCESSOS SELETIVOS DE TI

Segundo um estudo realizado pela Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, o mercado de vagas de TI vive um crescimento exponencial. Até 2025, as empresas de tecnologia vão demandar cerca de 797 mil talentos no Brasil.

Mas, dentre tantas vagas, existem aquelas que são as preferidas dos profissionais, e também as mais disputadas. Por isso, para conseguir a posição que você deseja, existem algumas estratégias que podem dar maior destaque à sua candidatura durante um processo seletivo.

Confira algumas dicas para se destacar nas vagas e processos seletivos de TI:

ENTENDA AS SUAS EXPECTATIVAS

Para começar, existem duas análises importantes para serem feitas: uma interna, para entender quais são os seus objetivos profissionais, e outra externa, para determinar qual é o perfil de empresa que você busca. E essa segunda análise é consequência da primeira: ter mais clareza sobre as suas expectativas vai ajudar a escolher as oportunidades certas.

Se você deseja seguir uma carreira como especialista ou na gestão de times, por exemplo, ou quer trabalhar numa startup ou enterprise, se prefere trabalho remoto ou híbrido, se planeja desenvolver-se em uma técnica específica… As possibilidades são infinitas, por isso é importante compreender o que deseja. Saber o que quer e ter clareza sobre os seus objetivos é o primeiro passo para se destacar em um processo seletivo na área de TI.

ESTUDE AS ETAPAS DO PROCESSO SELETIVO

Outro ponto importante é realmente entender as etapas do processo seletivo e qual é o papel delas na análise da empresa sobre você. Afinal, as etapas de avaliação dos candidatos são os caminhos que a empresa possui para obter uma visão mais completa sobre a sua atuação profissional.

Por isso, é comum que envolvam a junção da análise do conhecimento técnico e comportamental, que podem ser feitos por diferentes abordagens. As mais comuns são o currículo e a entrevista. Veja algumas dicas para esses dois momentos:

CURRÍCULO

Com esse documento é que os profissionais de RH vão começar a compreender a linha do tempo da sua trajetória profissional. Um erro comum é inserir apenas a empresa de atuação e não mencionar as atividades desenvolvidas.

Lembre-se de descrever melhor quais eram as suas funções nos cargos anteriores, e também as ferramentas e técnicas que você usava. De preferência, o texto deve ser claro e conciso. Não envie o mesmo currículo para todas as oportunidades, faça modelos personalizados para o escopo de cada vaga, isso vai aumentar as chances de o currículo ser selecionado.

Uma forma de personalizar é ter uma versão do CV de fácil acesso, que você pode editar sempre que precisar, pode ser em um arquivo no Google Docs ou em uma versão personalizada no Canva. Estude o escopo de atuação daquela vaga e veja o que faz sentido manter no currículo e o que pode ser retirado.

ENTREVISTA

A entrevista é o ponto alto do processo seletivo, etapa na qual provavelmente você vai construir o maior vínculo com a empresa, a oportunidade e as pessoas com quem vai trabalhar futuramente. É muito importante que você aproveite ao máximo essa oportunidade! Embora possa ser difícil, busque estar tranquilo para se apresentar como você se vê e compartilhar sua trajetória, expectativas e o que mais valoriza.

Também é na entrevista que se analisa o chamado “fit cultural’’, que pode ser explicado como a conexão entre quem está concorrendo a uma vaga e a cultura. Essa visão é essencial para entender o quanto essa pessoa poderá ser feliz na empresa, o quanto ela poderá encontrar o que busca e valoriza.

Durante a conversa, podem perguntar sobre situações vividas e como você lidou e conseguiu resolver.

Nesse cenário, as chamadas “soft skills”, também compreendidas como habilidades pessoais, ganham cada vez mais destaque. Por exemplo, capacidades socioemocionais, pois cada colaborador lida com a pressão e as obrigações de forma diferente. Entender isso ajuda a criar um ambiente mais saudável para todos. Profissionais que apresentam uma distância muito grande entre os pilares de habilidades técnicas e comportamentais podem ter um desafio maior no processo de desenvolvimento. Quanto mais os dois forem desenvolvidos, mais sustentável será o crescimento.

Por isso, o conhecimento técnico é importante, mas também a capacidade de comunicar e compartilhar esse conhecimento com os colegas. Para compreender os valores e a cultura organizacional da empresa que oferece a vaga, confira as redes sociais e site oficial dela.

PREPARE-SE PARA O PROCESSO SELETIVO

Tenha uma organização dos processos seletivos para os quais está se candidatando. Quanto mais você souber sobre a vaga e a empresa, e demonstrar entendimento sobre qual vaga está concorrendo, maior será a conexão e a possibilidade de compreender as expectativas.

Pode até ser que tentar todas as vagas que aparecerem te leve a uma contratação rápida, mas nem sempre isso reflete em conseguir uma oportunidade alinhada com o que você espera para a sua carreira. É importante entender que independente do volume de candidaturas, o mais importante é garantir que estejam alinhadas aos seus objetivos.

Estude o escopo de atuação da vaga, procure saber mais sobre a empresa, a equipe e até mesmo quem são os clientes. Hoje, existem muitas plataformas que podem ajudar nisso, como LinkedIn, Glassdoor e Reclame Aqui. Verifique também se a empresa não possui um guia ou vídeo explicativo sobre o processo de recrutamento.

Outra maneira de fazer essa pesquisa é verificar as redes sociais da empresa para entender quais são os temas relevantes e sobre o que ela fala com o seu público. Em meio às publicações podem existir posts voltados para a comunicação com candidatos. Isso pode ajudar a entender melhor a relação da empresa com os funcionários, a cultura e o que ela espera dos colaboradores, incluindo as novas contratações.

TIRE SUAS DÚVIDAS

Ao longo de todo o processo seletivo, fazer perguntas será sua maior ferramenta para entender o que se espera da sua atuação e como as situações são vividas dentro da empresa. Não hesite em fazê-las. É importante que se prepare e compreenda qual seu objetivo com cada questionamento. E após as conversas analise como se sentiu com as perguntas e com as respostas dadas.

Perguntas como salário, benefícios e até como funcionam os processos de aumento salarial são importantes para entender a vaga de maneira global. Elas podem inclusive contar positivamente, indicando que você é uma pessoa organizada e que sabe o que quer para a sua carreira.

CONFIE NO SEU CONHECIMENTO E SIGA EM FRENTE

Acima de tudo, é importante confiar no histórico de conhecimento que você tem e na sua capacidade para ocupar aquela vaga. Formule respostas genuínas com base no seu perfil profissional.

Lembre-se que nem sempre a pessoa com o maior conhecimento técnico é contratada, justamente porque, como mencionado antes, o processo seletivo considera também a análise comporta- mental de cada candidato.

Na minha atuação como Head de Gente & Gestão, busco desenvolver processos seletivos que sejam proveitosos para todos os envolvidos. Muito mais que uma seleção de candidatos, é um momento de conhecer pessoas e entender o momento de cada um. E lembre-se que, embora um resultado negativo agora possa não ser o retorno que você espera, ele pode gerar aprendizado e ser a conexão que você precisa para uma oportunidade futura. Espero que as dicas te ajudem a começar 2023 com o pé direito. Até a próxima!

LÍVIA FREITAS  – É graduada em Psicologia e especialista em Gestão de Pessoas, com mais de 10 anos de experiência em atração, seleção e gestão de talentos. Hoje é Head de Gente e Gestão na Minds Digital, Voice IDtech pioneira em biometria de voz para prevenção de fraudes.

EU ACHO …

SAÚDE MENTAL

Acabo de saber da existência de um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século VI antes de Cristo, e que certa vez disse que saúde é o equilíbrio de forças contraditórias.

O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro, A paixão, caminhos & descaminhos, em que ele discute os fundamentos da psicanálise. Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória sensação de estabilidade e permanência”.

Não sei se entendi direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.

Do nascimento à morte há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la, recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com essa camisa de força emocional, encarar os dias em total estado de insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da própria cabeça.

Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a

vida?

A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegida apenas pela consciência que tem de si mesma e do que a cerca – o universo todo, incerto e mágico.

Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar.

Já o sadio baila sobre o precipício.

MARTHA MEDEIROS 

ESTAR BEM

SUCO DE BETERRABA PODE AUMENTAR FORÇA MUSCULAR

Estudo americano revela presença de nitrato nos tecidos musculares pós-treino uma hora depois da ingestão do líquido

A beterraba é a fonte mais biodisponível de nitrato, que tem a capacidade de gerar uma série de alterações que melhorariam o rendimento de atletas, tanto em resistência quanto em intensidade. Isso ocorre porque o nitrato é convertido em nitrito pelas bactérias da boca e do intestino que é convertido em óxido nítrico, um potente vasodilatador, que melhora o funcionamento muscular e cardiovascular.

Como cada beterraba possui em torno de 1300mg de nitrato, e devido a necessidade do consumo de altas quantidades para o treino, normalmente atletas utilizam o recurso na forma de suco ou através de suplementos. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de Exeter e dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos realizaram uma pesquisa em que encontraram de fato como e onde o recurso se tornava mais ativo.

Para isso, os pesquisadores rastrearam a distribuição de nitrato ingerido na saliva, sangue, músculo e urina de dez voluntários saudáveis e solicitaram que eles realizassem exercícios máximos para as pernas. Uma hora após a ingestão do nitrato, os participantes realizaram 60 contrações do quadríceps – um dos músculos da coxa – na intensidade máxima durante cinco minutos, em uma máquina de exercícios.

Como resultado, a equipe encontrou um crescimento significativo nos níveis de nitrato no músculo, além de um aumento de 7% na massa magra, ou força muscular, dos participantes em relação ao grupo que ingeriu placebo.

“Esses resultados têm implicações significativas não apenas para o campo da atividade física, mas possivelmente para outras áreas médicas, como aquelas voltadas para doenças neuromusculares e metabólicas relacionadas à deficiência de óxido nítrico”, disse Barbora Piknova, cientista nos Institutos Nacionais de Saúde.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO ELABORAR UMA BOA MENSAGEM DE TEXTO NOS APPS DE NAMORO

Encontrar o tom ideal de escrita e lidar com a ansiedade em relação a respostas pode ser desafiador em relações online

Pouco depois de Abby Norton conhecer alguém de quem ela gostou em um aplicativo de encontros, em julho passado, a editora de 24 anos fez uma viagem de duas semanas ao exterior. Por causa dos diferentes fusos horários, ela e seu pretendente tiveram dificuldade para estabelecer uma rotina de mensagens de texto enquanto ela estava fora do país, embora trocassem algumas mensagens por dia.

Assim que Norton voltou para Minneapolis, onde ela mora, os dois começaram a sair, mas as mensagens de texto ainda pareciam insatisfatórias, prosseguindo “só algumas vezes por dia, apesar de estarem no mesmo fuso”. Isso deixava Norton ansiosa. “As coisas chegaram a um ponto de ebulição certa noite, quando me peguei chorando” depois de não ter notícias dele por “um ou dois dias” – principalmente, disse ela, porque “me ocorreu que eu provavelmente precisava resolver os problemas internos que tinham me trazido a esse ponto de insegurança e ansiedade”. Ela então decidiu contar com a ajuda de uma profissional do emergente campo de cursos de namoro focados em mensagem de texto. Ela fez um curso chamado Curso Rápido de Cura de Comunicação por Mensagem de Texto, oferecido pela terapeuta licenciada e coach de namoro Kelsey Wonderlin, que mora em Nashville, Tennessee.

Wonderlin, que oferece cursos de namoro desde o outono de 2021, mas começou a atender especificamente problemas de mensagens de texto a partir de setembro, é uma das várias coaches de namoro que tentam fornecer aos clientes as habilidades de comunicação por escrito necessárias para levar os matches para o mundo real. Entre as perguntas que tentam ajudar a responder: Qual é a primeira mensagem mais certeira para mandar num aplicativo de namoro? Como flertar de um jeito que não seja muito assustador? E se as pessoas simplesmente não responderem?

COACH DE NAMORO

Com 180 mil seguidores no Instagram, Blaine Anderson, coach de namoro em Austin, Texas, sempre achou que os vídeos sobre mensagens de texto faziam sucesso com seu público majoritariamente masculino. Essa percepção, além de suas experiências pessoais recebendo mensagens estranhas em apps de namoro, a inspirou a lançar em agosto um curso chamado Sistema Operacional de Mensagens de Texto, “para eliminar o estresse e a ansiedade dos homens na hora de se comunicar com mulheres por meio de mensagens ou texto”, informou Anderson, de 33 anos.

De acordo com Damona Hoffman, coach de namoro em Los Angeles e Nova York e apresentadora do podcast Dates & Mates, muitas pessoas ficam presas no que ela chama de “relação por mensagem”. As mensagens de texto se tornaram uma fase do relacionamento, disse ela, e seu programa Acelerador de Namoro, que custa US$ 1.297 e combina sessões ao vivo e aulas em vídeo, ensina as pessoas a evitá-la.

Apesar do uso generalizado de apps de encontro, especialistas como Hoffman, Wonderlin e Anderson acreditam que nossa sociedade ainda carece de habilidades de comunicação digital. O motivo, de acordo com Wonderlin, é que não existe um lugar onde as pessoas possam aprender como iniciar e manter um relacionamento saudável. Em vez disso, têm de descobrir as coisas por conta própria.

Afinal, mensagens de texto são um meio de comunicação relativamente novo. “Nossos cérebros não estão programados para pensar” em mensagens de mais de 100 caracteres, admitiu Anderson. Embora os textos sejam convenientes, eles não têm a textura e a profundidade das conversas presenciais. “Destilar nossos sentimentos complexos e sutis em mensagens de texto é difícil, e as pessoas acabam dizendo a coisa errada inadvertidamente.”

CONFUSÃO

Para Hoffman, não é de surpreender que as pessoas estejam com dificuldades. Embora muitas gostem de enviar mensagens de texto por motivos de praticidade e eficiência, há muito espaço para interpretações errôneas. E pedir conselhos a amigos também pode abrir uma “caixa de Pandora”. Embora um amigo possa lhe dizer para adiar uma resposta para não demonstrar carência, outro pode dizer para mandar várias mensagens para mostrar interesse. Aí começa a confusão.

“Sempre faltou educação em comunicação saudável”, ressaltou Wonderlin, “mas como hoje as pessoas se encontram online e começam a trocar mensagens”, elas se tornaram o meio como as pessoas formam seus padrões de comunicação nos relacionamentos. E como muitas preferem se comunicar por texto em vez de falar por telefone antes de se encontrarem, “é importante definir o tom desde o início para uma comunicação recíproca e saudável”.

O curso em vídeo de duas horas de Anderson custa US$ 149 e é dividido em sete módulos que cobrem cenários comuns, de conversar offline a conseguir um segundo encontro. O curso se concentra principalmente na psicologia por trás das diferentes mensagens e fornece modelos de texto.

Já o curso em vídeo de Wonderlin custa US$ 333 e conduz os alunos por cinco módulos. Começa abordando a  importância de criar uma comunicação saudável no início do relacionamento e, em seguida, abrange diferentes tipos de mensagens – o texto seco, o texto animado, o texto compulsivo, o texto distraído – e ajuda os alunos a entender o que é uma bandeira vermelha e qual é seu estilo particular de escrita de mensagens. Também ensina a evitar o desespero quando alguém envia uma resposta de uma palavra ou não responde imediatamente.

Dan Leader, gerente de engenharia de 36 anos em Detroit, se inscreveu no curso de Anderson em dezembro “porque não estava transformando muitos matches em encontros e, quando conseguia encontros, eles não levavam a segundos encontros”, revelou ele. Desde que fez o curso, “agora escrevo com propósito e intenção”, contou. “Faço perguntas para conhecer a pessoa e para que ela possa me conhecer. Então traço um plano claro para marcar um encontro no momento apropriado. Não sinto mais a necessidade de manter o contato com conversa fiada.”

OUTROS OLHARES

FEVEREIRO LARANJA

As leucemias são um tipo de câncer do sangue que acomete os glóbulos brancos, também chamados de leucócitos

Os órgãos de saúde nacionais e internacionais têm se dedicado à realização de campanhas para conscientização e prevenção de diversos tipos de câncer. O mês de fevereiro foi escolhido para falarmos sobre as leucemias, um tipo de câncer do sangue que pode acometer pessoas de todas as faixas etárias e cuja incidência tem aumentado de forma significativa nos últimos anos.

Segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), só em 2020, o Brasil teve 10.81O novos casos da doença – um aumento de 31,8%em relação aos 7.370 de 2019.

As leucemias são um tipo de câncer do sangue que acomete, na maioria das vezes, os glóbulos brancos, também chamados de leucócitos. Ao longo da vida, nosso corpo sofre alterações genéticas causadas pelo processo de crescimento/envelhecimento e, também, por fatores do meio ambiente. Essas alterações levam ao desenvolvimento de uma célula anormal, que se reproduz e dá origem ao câncer.

Nas leucemias, essa célula surge na medula óssea, o tutano do osso, local onde as células do sangue são produzidas; ela multiplica-se e interrompe o processo de formação de células saudáveis. Isso provoca anemia, que causa cansaço e fadiga. Também leva à queda das plaquetas, responsáveis pela coagulação e, assim, o paciente pode apresentar hematomas e/ou sangramentos espontâneos. As células brancas doentes não são capazes de realizar a defesa do nosso organismo contra germes – logo, a febre devido à baixa imunidade é o sinal mais comum.

A suspeita é feita diante dos sinais e sintomas citados, mas também pode ocorrer durante resultados de exames de rotina alterados, em pacientes sem sintomas. O hemograma é o primeiro exame que nos sugere a doença. Nos casos de leucemias agudas, que necessitam de diagnóstico e tratamento urgentes, é necessário a coleta de uma amostra da medula óssea para estudo. Já nas hipóteses de leucemias crônicas, o diagnóstico pode ser feito com amostra de sangue coletado das veias. Em ambos os tipos são realizados estudos genéticos que nos permitem entender a gravidade da doença. Tudo isso influência na escolha do melhor tratamento.

Nas leucemias agudas, utilizamos quimioterapia associada ou não à terapia-alvo (medicações que atacam células com alterações genéticas específicas da leucemia). Já nas leucemias crônicas, é  possível realizar o tratamento com medicações via oral. Em alguns casos, o tratamento não é indicado de imediato.

Durante o período de tratamento, os pacientes precisam de várias transfusões de sangue (hemácias e plaquetas, principalmente). E, em muitos casos, para conseguir a cura, é necessário realizar o transplante de medula óssea. Por isso, é de extrema importância as doações de sangue que recebemos no Hemocentro e o cadastramento como doador de medula.

Os fatores que levam a um aumento no risco de desenvolver leucemias são: exposição à radiação ionizante e a pesticidas; alguns tipos de infecções virais da infância; síndromes congênitas, especialmente a Síndrome de Down; e o uso prévio de quimioterapia e/ou radioterapia

O diagnóstico precoce é importante para indicação correta de tratamento e, assim, conseguirmos melhores respostas. Por isso, é importante o acompanhamento regular com seu médico de confiança e, se houver qualquer suspeita, procure um hematologista.

OUTROS OLHARES

CUIDADO PRECOCE

Medicina fetal multiplica recursos para tratar bebês dentro do útero

A medicina alcançou feitos que há algumas décadas pareciam impossíveis. Um deles é a possibilidade de não apenas identificar, mas também tratar alterações enquanto o bebê ainda está no útero da mãe. O avanço recente nesse campo faz parte de uma subespecialidade da ginecologia e obstetrícia em franco crescimento: a medicina fetal.

De acordo com Rita Sanchez, coordenadora do setor de medicina fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, há uma mudança de paradigma importante nos tratamentos. Por muito tempo, um bebê só se tornava um paciente para a medicina após seu nascimento. O  problema é que muitas das disfunções surgidas na fase intrauterina, se não tratadas, podem levar ao parto prematuro, deixar sequelas ou até mesmo causar a morte da criança.

Embora seja uma área relativamente nova na medicina, também é uma das que evolui mais rapidamente, em especial graças ao advento e sofisticação da ultrassonografia. Essas imagens não só satisfazem a curiosidade das mães, pais e avós, mas permitem que os médicos identifiquem alterações que só apareciam após o parto.

“Hoje, meu equipamento de ultrassonografia permite ver coisas que, com o anterior, não era possível. Isso possibilita o diagnóstico de doenças que a gente nem sabia que existiam”, diz o médico Fábio Peralta, responsável pelo serviço de medicina fetal e de cirurgia fetal da Maternidade São Luiz Star e um dos maiores especialistas no assunto.

A imediata consequência dessa identificação foi o desenvolvimento de tratamentos para essas condições.

“A evolução dessas tecnologias de imagem permitiu o desenvolvimento e o aprimoramento de tratamentos e exames complementares, que ajudam a avaliar se é necessário fazer uma intervenção precoce ou não”, complementa Sanchez.

ACOMPANHAMENTO

O ideal seria fazer quatro ultrassonografias durante a gestação para um bom acompanhamento pré-natal. O primeiro exame, indicado em torno da sétima ou oitava semana de gravidez, ajuda a determinar mais precisamente a data inicial da gestação, o que permite observar com mais precisão se o bebê está crescendo e se desenvolvendo conforme o esperado. Ele também é importante para verificar se a gravidez está ocorrendo mesmo dentro do útero ou nas tubas uterinas, o que constitui um quadro grave que exige intervenção cirúrgica na maioria das vezes.

Mas o exame mais importante realizado no primeiro trimestre da gravidez é o ultrassom morfológico. Indicado entre a 11ª e a 14ª semana, ele tem esse nome porque analisa diferentes estruturas do bebê e permite suspeitar do risco de alterações genéticas, como síndrome de Down, de problemas maternos como o pré-eclâmpsia ou parto prematuro e diagnosticar algumas malformações que exigem intervenção precoce. O índice de acerto na identificação de alterações é de cerca de 70%. Por isso, é necessário a realização de exames complementares para fazer o diagnóstico definitivo.

Se nada de errado for identificado, a gestante deve realizar um segundo ultrassom morfológico entre a 18ª e a 24ª semana. Como nesse estágio o feto já está bem desenvolvido, a confiabilidade chega a 90%, segundo informações do Colégio Brasileiro de Radiologia. Um outro ultrassom é recomendado entre 28 e 32 semanas para acompanhar o crescimento do bebê e o funcionamento e a localização da placenta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 6% dos bebês em todo o mundo nascem com uma anomalia congênita, resultando na morte de 240 mil recém-nascidos por ano. Atualmente, os problemas de saúde mais frequentes nos fetos que permitem uma intervenção dentro do útero são: mielomeningocele ou espinha bífida, transfusão feto-fetal, hérnia diafragmática congênita, obstruções da bexiga e cardiopatias congênitas. Segundo Peralta, a maioria das cirurgias para essas condições é realizada entre a 19ª e a 26ª semana de gestação.

Entre essas alterações, a mielomeningocele é mais comum, com incidência de um caso para cada mil. A condição envolve o não fechamento total da coluna do feto durante o desenvolvimento, deixando a medula espinhal exposta e sequelas neurológicas. Evidências mostram que a operação, com mínima incisão no útero, dobra o número de bebês que conseguem andar e reduz o risco de hidrocefalia, uma das consequências da condição.

RISCO EM GÊMEOS

A segunda condição mais comum é a transfusão feto-fetal, que ocorre em 10% a 15% das gestações de gêmeos idênticos, quando um dos bebês “rouba” o sangue do outro. Há 95% de risco de perda gestacional ou danos neurológicos. A intervenção cirúrgica minimamente invasiva, feita por via endoscópica, utiliza um laser para cauterizar os vasos e interromper a circulação anormal entre os fetos e aumenta a sobrevida para 80%.

Na hérnia diafragmática congênita, há um orifício no diafragma que causa o deslocamento dos órgãos abdominais, como fígado, estômago e intestino para a região onde deveriam ficar os pulmões. Em casos muito graves, a chance de sobrevida é menor do que 10%. A intervenção é feita ocluindo-se temporariamente a traqueia do feto com um pequeno balão de silicone, o que faz com que os pulmões se expandam, aumentando a sobrevida para aproximadamente 50%.

Em um em cada 4 mil fetos, há obstrução da bexiga. O problema pode comprometer a função renal e afetar o líquido amniótico, o que prejudica o desenvolvimento dos pulmões. A desobstrução é minimamente invasiva. Alguns bebês também têm alterações estruturais cardíacas específicas, que se não forem corrigidas antes do nascimento exigem a realização de transplante. O tratamento intraútero desobstrui a valva e evita a necessidade de cirurgias mais complexas após o nascimento.

Todas essas alterações são gravíssimas e, embora as intervenções dentro do útero melhorem o prognóstico, esses bebês ainda são considerados de alto risco e precisam de um suporte altamente especializado ao nascer.

“Todos os bebês submetidos à cirurgia fetal vão para uma UTI neonatal porque eles precisam de um monitoramento mais rigoroso. Além disso, algumas condições, como problemas cardíacos e hérnia diafragmática, exigem intervenções complementares após o nascimento”, explica Peralta. Atualmente, o Brasil é referência na área de medicina fetal. São cerca de 15 a 20 centros no país que realizam esses procedimentos. Há também inúmeras em pesquisas andamento tanto para o desenvolvimento de novos tratamentos como hidrocefalia fetal — um projeto do médico Fábio Peralta —, quanto para o aprimoramento de terapias já existentes, de forma a elevar a chance de sobrevida, diminuir os riscos do procedimento e melhorar a qualidade de vida. O Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, está usando a medicina de precisão para prever algumas condições estudadas pela medicina fetal, como a restrição de crescimento uterino, quando o bebê está abaixo do tamanho ideal para a idade gestacional, e pré-eclâmpsia, quando a mãe desenvolve uma hipertensão específica da gravidez, o que coloca ela e o bebê em risco.

“As técnicas estão evoluindo para cada vez mais você ter menos lesão do útero materno e conseguir corrigir o feto”, avalia Sanchez.

SEM COBERTURA

O maior desafio no país é ampliar o acesso a esses tratamentos. No Sistema Único de Saúde (SUS), não são todas as gestantes que têm acesso ao ultrassom morfológico no pré-natal. Além disso, nenhum dos procedimentos fetais tem cobertura pelos planos de saúde ou pelo sistema público. A única maneira de ter acesso a eles é por meio do custeio integral ou por programas de filantropia, que são realizados no país. Mas há um movimento de especialistas para mudar esse cenário e regularizá-los junto ao sistema de saúde brasileiro.

Além das cirurgias realizadas via endoscopia ou com incisões que abrem a barriga da mãe, as preocupações com a saúde do feto começam bem antes.

“Apesar de a cereja do bolo da medicina fetal ser a cirurgia, ela na verdade se inicia antes  da gravidez. Precisamos orientar a mãe para que ela comece a gravidez mais saudável e com menos fatores de risco para o bebê desenvolver uma doença. Durante a gestação, tanto a mãe quanto o bebê são acompanhados para rastrear, diagnosticar e tratar problemas fetais e maternos, como risco de parto prematuro e hipertensão”, explica Peralta.

GESTÃO E CARREIRA

AS CINCO SEMELHANÇAS ENTRE O FUTEBOL E OS NEGÓCIOS

O futebol e os negócios podem estar muito mais conectados do que imaginamos. Acompanhar o esporte mais popular do mundo, que conta com mais de 4 bilhões de admiradores, ao longo de toda a carreira me trouxe a oportunidade de entender como o desenvolvimento empresarial pode ter similaridade com a dinâmica presente dentro das quatros linhas.

De acordo com um recente estudo do Ministério da Economia chamado ‘Mapa das Empresas’, o primeiro quadrimestre de 2022 registrou a abertura de mais de 1,3 milhão de empresas no Brasil, e o total de empresas ativas no país subiu para 19.373.257.

Com esses dados é possível notar a importância, tanto do futebol quanto dos negócios e da tecnologia para nós brasileiros. São diversas semelhanças entre ambos, mas uma das principais é a capacidade de ser criativo e inovador.

Assim como os jogadores precisam elaborar dribles e jogadas ensaiadas para ter a oportunidade de fazer um gol, nos negócios a tática é a mesma. É necessário criar estratégias para driblar desafios, prever situações, estudar a concorrência e entender qual é o melhor momento para agir. A seguir, compartilho o alguns insights entre estes universos compartilhados:

PLANEJAMENTO COMO UM ESQUEMA TÁTICO

Qualquer jogador de futebol com experiência sabe que é necessário se preparar antes de entrar em campo.  É preciso estudar as jogadas dos adversários e analisar estratégias junto com sua equipe. E o mesmo acontece com os negócios, especialmente no mercado de TI, onde contar com uma estratégia bem estruturada, e planejada, pode fazer a diferença.

É fundamental observar o mercado, validar resultados, definir o modelo, objetivos e metas, e traçar estratégias para alcança-las.

LIDERANÇA

Cabe ao técnico pensar no esquema tático, coordenar cada jogador, enxergar talentos e tirar todo o potencial de cada um para garantir o melhor resultado após o apito inicial. Nos negócios, um líder deve saber gerir e manter um olhar atento à equipe, percebendo as capacidades e aproveitando os talentos de cada colaborador, mantendo-os, dessa forma, motivados e engajados.

TRABALHO EM EQUIPE

O futebol é um esporte coletivo, com isso, um placar favorável depende também da boa performance de cada jogador em campo. Da mesma forma, em uma empresa o bom desempenho de cada colaborador afeta diretamente nos resultados de todo o negócio, e os erros devem ser evitados ao máximo para que nenhum integrante do time receba um cartão vermelho e comprometa o restante do time.

Para que o trabalho em equipe seja bem-sucedido, algumas estratégias são fundamentais, como treino, entrosamento e prática das táticas alinhadas.

A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO

Seguir em frente e manter-se em movimento é uma sabedoria milenar, que se aplica também no futebol e nos negócios. O mercado muda o tempo todo, o que significa que um negócio fechado hoje não necessariamente vai se repetir amanhã, da mesma forma um gol de placa feito em um jogo, provavelmente não se repetirá no próximo. Ficar preso nessa ideia é um risco desnecessário que pode ocultar novas possibilidades.

SUPERAÇÃO

Um time de futebol, entretanto, não é feito só de vitórias. O grupo deve saber lidar bem com os resultados negativos, para estar preparado e dar o seu melhor em uma nova tentativa. Equipes de negócios também precisam saber superar os obstáculos e ter paciência para recalcular rotas. E o esporte nos ensina muito bem como lidar com as inevitáveis derrotas.

Assim como um árbitro de uma partida de futebol pode se beneficiar com o uso da tecnologia por meio do VAR e rever as marcações para tomar a melhor decisão, os times de negócios também podem fazer o uso de soluções tecnológicas. Tais como: IoT (Internet das Coisas), Big Data, computação em nuvem, e armazenamento, infraestrutura e gestão de dados, para tomar a decisão mais acertada no processo de transformação digital.

Com um planejamento bem estruturado, uma liderança sólida, um trabalho em equipe bem estabelecido e com o uso das ferramentas tecnológicas corretas, os times estarão preparados para entrar em campo em busca da vitória.

CLAUDIO TANCREDI – É Country Manager da Hitachi no Brasil https://www.hitachivantara.com

EU ACHO …

O GRANDE TEATRO DO MUNDO

A única regra inabalável para receber pessoas é deixar todos à vontade – o resto é secundário

Quando ofereço um jantar na minha casa, preparo com antecedência. Uma hora antes da chegada prevista dos convidados, a mesa está posta com todo o necessário. Coloco música ambiente adequada ao “clima” do evento. No Brasil, curiosamente, há pessoas que pedem que eu explique essa “ansiedade” em organizar. Em outros lugares do mundo, seria vista apenas como virtude de um bom anfitrião.

Frequento casas de amigos. Em algumas delas, sentar-se à mesa vira um exercício físico. “Ih, faltaram os guardanapos!”, e lá vamos nós em busca deles. “Alguém vai querer água com o vinho?” Essa é uma pergunta estranha. Sempre temos de servir água com o vinho. O sim coletivo desencadeia novo surto de busca de jarras, água e copos. O mais interessante, no próximo almoço, naquela mesma casa: a mesma pergunta será repetida, e o esquecimento não se tornou pedagógico.

A alma da etiqueta é a única regra inabalável para receber pessoas – deixar todos confortáveis, à vontade na sua casa. Os outros detalhes são secundários. Pode faltar um talher de peixe, mas jamais é permitido que desapareçam o sorriso e a acolhida sincera.

Sobre minha ansiedade, explico que gosto de ficar conversando com as pessoas, mas não vasculhando armários em busca de peças faltantes. É verdade. Aprofundando, existem outras questões complexas. Esquecer-me de algo parece que agride minha noção de ordem ou de previdência. Parece falta de estratégia e, no limite, improviso amador.

Tenho muitos amigos que não passam por essa experiência interna de arranhar seu superego nas falhas.

Existe uma hipótese incômoda: uma pessoa típica brasileira fica mais à vontade em um ambiente em que tudo está pronto, ou, para usar termo antigo, ajaezado?

A ordem exata e a cenografia teatral do título da obra de Calderón (que tomei emprestado para a crônica) seriam uma barreira, um certo ar de arrogância até? Se entro em uma casa onde mais cadeiras devem ser buscadas em algum lugar, ou que os lugares à mesa não contemplam o número de convidados, isso desperta uma participação mais informal e, como tal, libera o superego de todo mundo? Que teatro agrada mais: aquele a que assisto, como público, ou aquele em que ajudo a reescrever o roteiro?

Para um cenógrafo exigente como eu, a sociabilidade brasileira é um desafio. Ofereço um almoço, com lugares marcados. Um amigo querido diz que gostaria muito de trazer outra pessoa que deseja me conhecer.

Cedo, sem entusiasmo. Um alemão ou um francês diriam o não com facilidade. Evito. Consigo um lugar a mais para a mesa. Reorganizo tudo. Abro a porta e… surpresa! A amiga extra trouxe a irmã que também partilha… o mesmo desejo. Sorrio externamente, grito por dentro e transformo o palavrão da laringe em um audível: “Que bom receber vocês. Sejam bem-vindos!” Ser gentil é mais importante do que respeitar meu TOC de ordem. Rapidamente, reorganizo a mesa já (re)organizada. Aqui foi fácil. Já tive desafios maiores – pessoas confirmando a presença, não aparecendo, mas outros, que não tinham confirmado, surgindo de forma natural.

Examinei um outro modelo de sociabilidade. Convidado para um almoço com carnes assadas. Churrascos são refeições um pouco mais bárbaras (no sentido romano do termo). Minha surpresa: não havia uma mesa posta. Na hora de começar a servir, ninguém ocupou um lugar específico. As pessoas caminhavam com pratinhos, iam até a churrasqueira, pegavam caipirinhas e cervejas; de pé, comendo. Mesmo assim, os donos da casa, com extrema simpatia, recebiam todos. Foi uma descoberta social.

Seria possível receber para um almoço, sem ter – de fato – uma mesa? Havia um carrossel de pratos, copos e circulação contínua e, claro, extrema felicidade. Adaptei-me, alegre, e caminhei por vários grupos, em meio a corações de frango e carne enfarinhada. Terminado um longo tempo de consumo dos salgados, começaram a trazer ótimas sobremesas.

No entanto, alguns não queriam doces e continuavam nas novas carnes que brotavam do fogo contínuo. Finalmente, quando uma parte dos convivas consumia café, havia quem estivesse (ainda) nos doces, enquanto outros (ainda) se concentravam na cerveja com carne. Houve um momento de sincronia em que todas as etapas de um almoço estavam ocorrendo: gente chegando, pessoas se despedindo; café, pudim, carne, farinha, cerveja; alguém já dormindo, em completa tranquilidade, no sofá. Achei fascinante! Aboliram-se as regras formais da narrativa, e o prólogo conviveu, sem obstáculos, com a conclusão. Morra, Gloria Kalil! Entendi que o grande teatro do mundo tem muitos tipos de peças. Há o clássico formal e o teatro de vaudeville, ou, traduzindo à brasileira, o ballet e o teatro de rebolado.

O importante é sempre reforçar a única questão pétrea da arte de receber: que todos fiquem à vontade. No próximo almoço, decidi: esquecerei algo e pedirei ajuda. Meu conviva sorrirá com minha falha, e eu serei mais feliz com a esperança inglória de agradar.

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

PORÇÕES DE SAÚDE NO PRATO

Dieta mediterrânea se firma como melhor opção para o coração

No início do mês, o ranking do US News & World Report elegeu a dieta mediterrânea como a melhor de 2022, o sexto ano consecutivo em que ela leva o prêmio. A opção alimentar tem ganhado repercussão à medida que estudos e especialistas apontam benefícios para a saúde em incluí-la na rotina. Mas afinal, ela é tão boa como dizem?

A resposta é sim, e há uma ampla variedade de evidências que justificam o interesse pela alimentação, explica o médico cardiologista Sean Heffron, do Centro de Saúde Langone, da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos.

“É uma das poucas dietas que tem pesquisas para apoiá-la. Não foi inventada na cabeça de uma pessoa para gerar dinheiro. É algo que foi desenvolvido ao longo do tempo, por milhões de pessoas, porque realmente tem um gosto bom. E acontece de ser saudável”, afirma.

Nos anos 1950, pesquisadores de todo o mundo embarcaram em um estudo abrangente e ambicioso. Durante décadas, examinaram dietas e estilos de vida de milhares de homens de meia-idade que vivem nos EUA, Europa e Japão e, em seguida, examinaram como essas características afetavam seus riscos de desenvolver doenças cardiovasculares.

O Estudo dos Sete Países, como mais tarde ficou conhecido, descobriu algo notável: aqueles que viviam dentro e ao redor do Mediterrâneo – em países como Itália, Grécia e Croácia – apresentavam taxas mais baixas de doenças cardíacas do que os participantes que moravam em outros lugares. Suas dietas, ricas em frutas, vegetais, legumes, grãos integrais, nozes, sementes, proteínas magras e gorduras saudáveis, pareciam ter um efeito protetor.

Desde então, a dieta mediterrânea, como ficou conhecida, tornou-se a base da alimentação saudável para o coração, com benefícios que incluem pressão arterial e colesterol mais baixos e risco reduzido de diabetes tipo 2.

Confira as principais dúvidas sobrea dieta.

O QUE É A DIETA MEDITERRÂNEA?

A dieta mediterrânea não é um plano alimentar rígido, está mais para um estilo de vida, diz Julia Zumpano, nutricionista especializada em cardiologia preventiva na Clínica Cleveland, nos EUA. As pessoas que a seguem tendem a “comer alimentos que seus avós reconheceriam”, acrescenta Heffron, ou seja, integrais e não processados, com poucos ou nenhum aditivo.

A dieta prioriza grãos integrais, frutas, vegetais, legumes, nozes, ervas, especiarias e azeite. Já peixes ricos em ácidos graxos ômega-3, como salmão, sardinha e atum, são a fonte preferida de proteína animal. Outras proteínas animais magras, como frango ou peru, são consumidas em menor escala.

Ovos e laticínios, como iogurte e queijo, também podem fazer parte da dieta, mas com moderação. E o consumo moderado de álcool, como uma taça de vinho no jantar, é permitido. Por outro lado, alimentos ricos em gorduras saturadas, como carne vermelha e manteiga, raramente são consumidos.

O café da manhã pode ser abacate esmagado em torradas integrais com frutas frescas e um iogurte grego com baixo teor de gordura, descreve Heffron. Para o almoço ou jantar, um prato de vegetais e grãos cozidos com azeite e temperados com ervas – tubérculos assados, folhas verdes, um lado de homus e pequenas porções de macarrão ou pão integral, com uma proteína magra como peixe grelhado.

“É muito fácil de seguir, muito sustentável, muito realista”, avalia Zumpano.

QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS DESSA DIETA PARA A SAÚDE?

Vários estudos descobriram que a dieta mediterrânea contribui para melhorar a saúde e, em particular, a do coração. Durante um deles, publicado em 2018, os pesquisadores avaliaram quase 26 mil mulheres e descobriram que aquelas que seguiram a dieta por até 12 anos tiveram cerca de 25% de redução no risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

Isso ocorreu principalmente devido às mudanças nas taxas de açúcar no sangue, de inflamação e do índice de massa corporal, relataram os pesquisadores. Outros estudos, com homens e mulheres, chegaram a conclusões semelhantes.

A pesquisa também descobriu que a dieta pode proteger contra o estresse oxidativo, um processo que leva a danos no DNA e que contribui para condições crônicas, como doenças neurológicas e câncer. Alguns estudos sugerem ainda que a opção alimentar pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2. A dieta também pode trazer benefícios profundos para a saúde na gravidez, diz Anum Sohail Minhas, professor de medicina na Universidade Johns Hopkins. Em um estudo recente com quase 7,8 mil mulheres, os pesquisadores descobriram que aquelas que seguiram a dieta mediterrânea na época da concepção e durante o início da gravidez tiveram cerca de 21% de redução no risco de complicações, como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional ou parto prematuro.

A DIETA MEDITERRÂNEA AJUDA A PERDER PESO?

A dieta pode levar à perda de peso, diz Zumpano, mas você ainda precisa observar a quantidade de calorias ingerida. O recuo na balança vem quando alguém gasta mais energia do que consome.

“Alimentos ricos em nutrientes não são necessariamente baixos em calorias”, lembra Heffron, que observou que a dieta inclui alimentos como azeite e nozes, que são saudáveis para o coração, mas ricos em calorias e podem levar ao ganho de peso se ingeridos em excesso.

Mas, como em toda adequação alimentar, a mudança a longo prazo importa mais. Em um estudo com mais de 30 mil pessoas na Itália, os pesquisadores descobriram que aqueles que seguiram a dieta mediterrânea de forma mais rigorosa por cerca de 12 anos tinham menos probabilidade de ficar acima do peso ou obesos.

HÁ RISCOS ENVOLVIDOS?

A dieta geralmente fornece uma mistura balanceada de nutrientes e proteínas, então normalmente não há riscos significativos associados a segui-la, diz Heffron. Mas, como a dieta recomenda minimizar ou evitar a carne vermelha, uma boa ideia é certificar-se de que se está ingerindo ferro suficiente. Boas fontes do mineral na alimentação incluem nozes, tofu, legumes e vegetais de folhas verde-escuras, como espinafre e brócolis.

Alimentos ricos em vitamina C, como frutas cítricas, pimentões, morangos e tomates, também podem ajudar o corpo a absorver o ferro. E, como a dieta minimiza os laticínios, você pode conversar com seu médico sobre a necessidade de tomar um suplemento de cálcio.

No entanto, para uma pessoa comum, os benefícios da dieta mediterrânea provavelmente superam qualquer potencial negativo, destaca Minhas.

“Essas são coisas que todos podemos tentar incorporar em nossas vidas”, diz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CORTAR O ÁLCOOL, A BOA ARMA CONTRA A ANSIEDADE E A DEPRESSÃO

A maioria das pessoas não percebe que, mesmo que os efeitos prazerosos da bebida sejam quase instantâneos, os efeitos negativos são demorados – muitas vezes se alastram por várias horas ou dias

Tradicional no Hemisfério Norte (especialmente nos Estados Unidos e Reino Unido), a campanha Janeiro Seco tem como objetivo diminuir o consumo de álcool propondo um desafio de um mês sem bebidas alcoólicas. Para quem quer aderir, seja por motivos de saúde, dieta ou apenas se recuperando da alegria das festas de fim de ano, o início do ano é o momento perfeito para repensar o papel do álcool na sua vida.

Ele é, de imediato, com- pensador – dependendo da rapidez com que você bebe e com que sobe no sangue – e pode relaxar, empolgar ou desinibir.

Mas a maioria das pessoas não percebe que, mesmo que os efeitos prazerosos do álcool sejam quase instantâneos, os efeitos negativos são demorados – muitas vezes se alastram por várias horas ou mesmo dias. E esse intervalo de tempo faz com que seja mais difícil ver a conexão entre o álcool e seus efeitos adversos.

Um paciente meu, um homem de 40 e poucos anos que eu estava tratando de depressão, ficou inexplicavelmente ansioso e deprimido com o retorno da insônia após muitas semanas de melhora sólida. Perguntei a ele sobre quaisquer fatores de estresse no trabalho e em casa, mas ele insistiu que não estava acontecendo nada de mais.

Então perguntei sobre seu consumo de álcool e descobri o motivo da piora no humor: depois de reduzir a bebida no início do tratamento por insistência minha, ele retomara o uso habitual de duas a três taças de vinho no jantar assim que passou a se sentir melhor.

Quando expliquei que o álcool tinha efeitos depressivos e era o provável culpado por sua recaída, ele não quis acreditar. “É relaxante, doutor, e me ajuda a desligar depois do trabalho”, disse ele. Então, propus um experimento: “Pare de beber no fim de semana e vamos ver o que acontece com seu humor na segunda-feira”.

Ele ficou surpreso – e convencido – com os resultados. Seu sono se normalizou e seu humor teve uma melhora nítida. Não era apenas que ele não soubesse que o álcool havia arruinado seu humor e seu sono; ele estava começando a beber mais a cada noite para conter a ansiedade provocada pelo álcool da noite anterior, estabelecendo um ciclo autossustentável de depressão, ansiedade e bebida.

Você não precisa sofrer de depressão clínica nem ter um transtorno de ansiedade para sentir os efeitos negativos do álcool. Eles ocorrem mesmo em níveis moderados de consumo, típicos de quem bebe apenas socialmente, sem qualquer doença psiquiátrica.

SONO

Você já notou a rapidez com que adormece depois de apenas uma ou duas taças de vinho, mas acorda algumas horas depois, perturbadoramente alerta?

O álcool tem efeitos sedativos impressionantes. Seu alvo é o “receptor Gaba” no cérebro, que aumenta a atividade do Gaba – o principal neurotransmissor inibitório do cérebro – e faz a mediação do efeito calmante do álcool. (Remédios como Ambien e os benzodiazepínicos, como Klonopin e Ativan, também modulam o receptor Gaba, mas em um local diferente.) O problema para o sono é que o álcool é absorvido rapidamente e em geral eliminado em duas a cinco horas, então a sedação desaparece, deixando você hiperalerta no meio da noite.

O álcool faz você dormir, mas suprime o sono REM – e os sonhos – e o desperta horas depois. Isso gera um sono de má qualidade e reduz a energia diurna, que você pode automedicar com cafeína, o que agrava a insônia e exige mais álcool para adormecer. E agora você se fechou em uma espiral descendente que se autoperpetua.

Outro paciente que não tinha doença psiquiátrica evidente, mas que bebia muito à noite, certa vez perguntou se eu poderia passar uma receita de Ambien para sua insônia. Beba menos, eu disse a ele, e você vai dormir a noite toda. Ele não gostou do conselho, mas adorou os resultados.

EFEITOS NO CÉREBRO

E quanto aos efeitos adversos do álcool no humor cotidiano? Há fortes evidências empíricas de que o álcool tem efeitos depressores e, além de um certo limiar que varia de pessoa para pessoa, pode causar depressão clínica. O aumento da ansiedade após uma noite de bebedeira, mesmo moderada, é comum, pois o efeito do álcool que aumenta o Gaba se dissipa rapidamente.

Já mencionei o potencial impacto do álcool na cognição? Não há dúvida de que beber em excesso é ruim para o cérebro, mas evidências recentes sugerem que mesmo o consumo modesto – cerca de quatro a cinco taças de vinho por semana – está relacionado a mais lentidão nas funções executivas e no tempo de reação.

Um estudo recente com cerca de 20 mil pessoas descobriu que o consumo de álcool acima de 3,5 taças de vinho por semana estava associado a níveis mais altos de ferro em várias regiões do cérebro e pior desempenho em testes cognitivos. A boa notícia de outros estudos é que esses efeitos cognitivos normalmente são reversíveis depois que a pessoa para de beber.

Então, se você está sentindo ansiedade, tristeza, cansaço ou névoa mental, tente cortar o álcool por uma ou duas semanas. Você pode ter uma bela surpresa.

E se você já se comprometeu com o Janeiro Seco, talvez esteja se sentindo tão bem que não deveria voltar correndo para o álcool em fevereiro. Mesmo se você voltar, pode concluir que é melhor reduzir o consumo já que sentiu algumas das desvantagens do álcool para sua saúde mental.

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