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JOHNSON CRIA PRIMEIRA LINHA PARA OS CABELOS DE CRIANÇAS NEGRAS

Multinacional americana preenche lacuna histórica no país com nova versão do seu tradicional xampu infantil, seguindo movimento de outras marcas

Há mais de 80 anos no Brasil, a Johnson & Johnson virou referência em cosméticos infantis, sobretudo com o xampu para bebês. E logo vem à cabeça aquela publicidade com um bebê branco, de olhos e cabelos claros. Num esforço de atualização para alcançar novos consumidores, a multinacional americana lança agora por aqui seus primeiros produtos voltado para os cabelos crespos de crianças negras. A nova linha “Blackinho Poderoso” é fruto de um trabalho de dois anos em parceria com o Estúdio Nina, uma empresa de pesquisa focada no entendimento do público negro, e com o grupo de afinidade étnico-racial interno da empresa.

“É o resultado de muita escuta e cocriação com consumidores e consultorias especializadas, além de um minucioso processo de pesquisa e desenvolvimento. Ainda existem poucos produtos para cabelos crespos infantis. Também identificamos uma carência de mercado, já que o consumo de cuidado com o cabelo é nove pontos percentuais maior na cesta afro (88,7%) que no total do mercado (80,8%)”, diz Daniella Brissac, vice-presidente de Marketing Brasil e Experiência de Clientes e Consumidores para a América Latina da Johnson & Johnson Consumer Health. Desde um concurso promocional realizado na década de 1960, a expressão “bebê Johnson” virou um adjetivo para definir beleza infantil no Brasil. No entanto, todas as crianças escolhidas para a disputa eram brancas. Acontece que mais da metade da população brasileira é preta ou parda.

‘DESCONSTRUÇÃO’

Depois de algumas interrupções, em 2011 a empresa fez um novo concurso de beleza infantil para a produção de um calendário. Mesmo com concorrentes negros, os escolhidos para estampar os 12 meses seguiram o mesmo padrão anterior. Questionada sobre isso, Daniella reconhece a responsabilidade da marca na construção de estereótipos:

“Não temos dúvidas de que o lançamento de “Blackinho Poderoso” representa avanço muito significativo nessa jornada de desconstrução. Vale ressaltar que pais, mães e cuidadores dessa geração vieram de processos de alisamento e agressões em relação ao cabelo, que é um marcador social importante. Por isso, para tudo o que envolve essa nova linha, o consumidor negro está no centro do processo, desde as pesquisas, desenvolvimento da fórmula, passando pela embalagem, seus personagens e as comunicações e identidades visuais da campanha.

Os concorrentes também estão atentos à demanda. O Boticário colocou à venda recentemente uma linha de perfumaria infantil com produtos licenciados com a marca do filme “Pantera Negra”, em parceria com a Marvel. Entre os itens que trazem a imagem e a estética afrofuturista do herói negro estão creme para pentear e gel, com direito ao pente garfo, acessório que é um símbolo de luta contra o racismo para o movimento negro.

“É muito importante as marcas darem esses passos para que o cenário atual realmente mude, tanto as grandes quanto pequenas empresas. A valorização da diversidade está no centro deste processo e sempre esteve presente em nossas decisões, políticas, estratégias de comunicação e de produtos. Sabemos que esse é um longo caminho e não vamos parar”, afirma Rony Santos, gerente de ESG Diversidade no Grupo Boticário.

A empresa se comprometeu a retirar os termos “normal” e “perfeito” por completo de sua comunicação até 2024, por entender que “são expressões que contribuem para a busca de um padrão inalcançável de beleza”. Em 2020, baniu o termo “clareamento”, discutido por conter um viés racista.

Para Ricardo Silvestre, publicitário e fundador da Black Influence, empresa de gerenciamento e conexão com influenciadores negros, a população negra nunca teve atenção da grande indústria, principalmente a de beleza:

“Era como se de fato nunca tivéssemos existido. Não havia produtos específicos com foco nas pessoas pretas, e menos ainda para crianças pretas. O lançamento de linhas de grandes empresas é uma evolução importante, mas elas chegam atrasadíssimas. Correm atrás do prejuízo porque perderam dinheiro por não se preocupar com esse público específico. Isso não era inteligente do ponto de vista de negócios.

As grandes empresas do setor que começam a se voltar para o segmento afroinfantil encontram um mercado já composto por marcas médias nacionais e produtos artesanais criados especificamente para os cabelos crespos. Um exemplo é o da rede de salões Beleza Natural, que lançou a linha infantil “Turma da Ziquinha” em 2009. Atualmente, a empresa produz 90 mil unidades de xampu, condicionador, creme de pentear e outros produtos próprios para crianças negras. Desde 2015,a Embelezze tem a linha Novex Meus Cachinhos.

MERCADO É O QUE ATRAI

Silvestre diz que ainda há espaço neste mercado. No estudo “Afroconsumo – O protagonismo preto no consumo brasileiro”, produzido pela consultoria Nielsen em 2022, um em cada quatro pretos ou pardos ouvidos diz ser razoavelmente difícil encontrar itens para a comunidade negra. A pesquisa mostra que o ramo da beleza concentra o maior percentual de produtos direcionados, com 62% da preferência dos que responderam.

Para Karine Karam, professora de comportamento do consumidor da ESPM e sócia da Markka Consultoria, o interesse das grandes empresas nesse público aumentou com o movimento de valorização da autoestima negra e da beleza do cabelo natural:

“Ninguém faz por ser bonzinho. É uma questão de mercado e de dinheiro.

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 A LETRA INVISÍVEL

Representados pelo ‘a’ da sigla LGBTQIAP+, assexuais lutam contra estigmas e ganham visibilidade na mídia, com personagem na novela ‘travessia’

Inventar um sem-número de relações amorosas para os amigos e a família foi rotina na vida da artesã e escritora Simone Hernández (nome fictício) durante mais de 20 anos. Apesar de conhecer rapazes bonitos, explica, ela se esquivava sempre que recebia uma investida mais incisiva. “Tinha uma atração estética, mas algo me mandava sair, como se aquilo não fosse para mim. Já fui beijada, mas sentia repulsa.” Meses atrás, porém, sua verdade veio à tona: aos 44 anos e virgem, Simone teve a intimidade exposta por um ginecologista durante uma consulta em que a mãe estava presente. “Foi traumático! Criava histórias porque queria que me deixassem em paz. Eu me achava incompetente emocionalmente”, desabafa.

O que Simone acreditava ser incompetência, na verdade, tem outro nome. Ela é assexual, e vem vivendo sozinha e de forma um pouco menos dolorida, por causa das sessões de terapia, seu processo de autodescoberta há dez anos. Entendeu que não há nada errado em nunca ter tido um relacionamento mais íntimo ou feito sexo, porque os assexuais, de forma geral, são pessoas que não sentem atração sexual por outras. Mas, por causa disso, sempre foi desvalidada socialmente. “Em festas de família, enquanto as primas da minha idade sentavam na mesa dos adultos, eu, que não era casada, ficava na das crianças. Ouvi muitas piadas de que serei solteirona”, conta ela, que pretende conversar e abrir o jogo para os pais quando se sentir pronta.

Cercada por mitos, a assexualidade é a letrinha A dentro da sigla LGBTQIAP+ e uma das identidades mais invisibilizadas socialmente. Um deles é exatamente a de que todos os assexuais não transam ou não têm desejo ou libido. “Assexuais podem não sentir atração, mas podem se apaixonar e sentir desejo. Até porque ele é muito amplo e não só sexual. Podemos desejar um bolo, uma viagem, um trabalho. É algo no qual queremos investir”, explica o psicólogo e pesquisador Breno Rosostolato, de São Paulo. “E podemos fazer sexo por vários motivos: para agradar ao outro, por dinheiro… A atração não é algo obrigatório.”

A assexualidade, assim como a homo ou heterossexualidade, é autodeclarada e está longe de ser uma patologia. “As normativas guiam muito a sociedade. Então, existe esse sofrimento. Somos cobrados por performances sexuais. Muitas vezes, o parceiro de um assexual não entende ou aceita seu jeito de existir”, afirma Breno.

E é essa situação conflituosa, além de ser um tema pouco explorado na ficção, que a escritora Gloria Perez entendeu ser importante para abordar em “Travessia”, novela da 21h da TV Globo. O personagem Caíque, de Thiago Fragoso, é assexual e vive um conflito com a namorada, Leonor, papel de Vanessa Giácomo. A moça acreditava não ser amada por ele não querer transar, mas no decorrer da história, compreende a sexualidade dele.

“Conversei com um cara assexual e tivemos um papo profundo sobre ereção, masturbação e erotismo. Não posso correr o risco de passar informações ilegítimas. Caíque é vibrante, potente, e mostra que assexualidade não é fraqueza”, afirma o ator.

Segundo pesquisa feita em 2016 pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) da USP, sete em cada cem mulheres e três em cada cem homens não têm interesse na vida sexual. “Foi um levantamento com milhares de brasileiros, e é um número bastante expressivo, levando em conta o tamanho da população”, observa ela.

Em outra pesquisa mais recente, de 2022, Carmita e outros pesquisadores indicaram, em artigo da revista científica Nature, que 12% da população brasileira é LGBTQIAP+; desse número, a maior porcentagem é de assexuais: 5,76%. Na década de 1940, estudos feitos pelo pesquisador Alfred Kinsey e, em 2004, pelo sexólogo Anthony Bogaert, mostraram que pelo menos 1% da população mundial não quer ter relações sexuais. No entanto, para o psiquiatra Alexandre Saadeh, é preciso cuidado ao falar sobre o assunto. “Vejo jovens que não querem mais viver o desejo e o erotismo, e descaracterizam a sexualidade como algo interessante. Está muito ligado ao tempo em que passam on-line e aos questionamentos sobre identidade de gênero”.

Dentro do espectro da assexualidade, há o que os pesquisadores chamam de “área cinza”. Ali, um assexual pode se identificar como estrito, ou seja, nunca sente atração sexual e raramente tem relações; greyssexual ou assexual fluido, podendo ou não fazer sexo, até os demissexuais, que transam quando criam vínculo afetivo. É o caso da cantora Iza e da apresentadora Giovanna Ewbank. Ambas afirmaram ser demissexuais, fazendo o termo ser um dos mais buscados no Google em 2022.

Uma das criadoras do Coletivo Abrace, voltado à visibilidade sobre o tema, a designer gráfica Sara Hanna, 38 anos, também se identifica como demissexual. “Nunca entendi meus amigos falando sobre ‘ficar na seca’. Achava que era comum criar um vínculo para, talvez, ter atração pela pessoa e transar”, diz ela, que está solteira. “Quando estou sozinha, passo anos sem procurar alguém. Canalizo minha libido para culinária e jardinagem”, completa.

Sara é ex-namorada do advogado Walter Mastelaro Neto, de 35 anos. Estudioso da assexualidade, ele, que é assexual estrito, mantém duas comunidades sobre o assunto no Facebook, com quase seis mil membros. “Aos 14 anos, por curiosidade, tive minha primeira experiência sexual. Isso era tão interessante para todo mundo, mas não para mim”, recorda-se. O mais importante em jogar luz sobre o tema, ele diz, é eliminar o estigma de  que os assexuais são pessoas frias ou não podem se relacionar amorosamente: “Podemos construir relações afetivas, saudáveis e duradouras. O afeto é que me faz ter interesse em alguém.

É ele que nos liga às pessoas de forma diferente”.

GESTÃO E CARREIRA

   FALTA DE SAÚDE MENTAL –  COMO EVITAR ESSA PRÓXIMA PANDEMIA

A pandemia trouxe uma série de desafios para o mercado corporativo. Muitos foram superados, entre eles viabilizar o trabalho remoto sem impactar a produtividade das equipes. Mas, agora, novos obstáculos estão surgindo e uma outra preocupação vem ocupando cada vez mais espaço entre os líderes das empresas: o impacto desses quase três anos na saúde mental dos colaboradores.

O isolamento social, o desemprego, os problemas financeiros e de saúde e a perda de entes queridos, afetaram radicalmente o comportamento humano e, em muitos casos, de uma forma irreversível. Doenças como depressão, ansiedade e estresse registraram um boom nunca visto antes. É quase como se estivéssemos vivendo uma segunda pandemia, a de problemas emocionais.

Um recente estudo do Ministério da Saúde mostrou que 11,3% dos brasileiros receberam o diagnóstico de depressão em 2020. Já globalmente, segundo a OMS, a depressão e a prevalência de ansiedade aumentaram 25% no mundo todo neste mesmo ano, e, desde então 90% dos países pesquisados passaram a incluir a saúde mental e o apoio psicossocial em seus planos de resposta a essas doenças.

O Great Place to Work, que é um dos rankings mais respeitados no mundo, por exemplo, criou até uma categoria de Saúde Emocional em 2022, para destacar as organizações por bons índices de práticas voltadas à melhoria da saúde emocional, mental e bem-estar de colaboradores e líderes, o que só vem a reforçar essa preocupação em relação ao tema.

Usando minha vivência dos últimos anos, nos quais a área pela qual sou responsável, a de Desenvolvimento Humano Organizacional, liderou diversas iniciativas para se adaptar a esse novo cenário, listei algumas dicas que podem ser colocadas em prática para beneficiar a saúde emocional como um todo:

*** Crie um comitê bem estruturado para propagar as ações de saúde mental por toda a empresa;

*** Crie um canal de comunicação com informações úteis e atualizadas a respeito, para que os colabora dores possam acessá-las facilmente e tirar dúvidas sempre que preciso;

*** Promova palestras e campanhas com temas realmente relevantes e atuais. É importante que essa iniciativa seja recorrente para ajudar a estabelecer uma frequência que não permita que os assuntos caiam no esquecimento;

*** Faça rodas de conversas informais. É uma maneira de todos se sentirem mais à vontade para falar dos problemas;

*** Identifique os diferentes grupos que existem na sua empresa para detectar aspectos que impactam diretamente no emocional, como comportamentos racistas e homofóbicos, que impactam diretamente o emocional das pessoas;

*** Trabalhe a formação dos líderes. A responsabilidade da gestão de pessoas não é somente do RH. O líder é o grande responsável pela gestão diária do time;

*** Apoie iniciativas relacionadas à prática de esportes. Os benefícios trazidos pelo esporte na vida pessoal e profissional já foram mais do que comprovados, por isso cabe ao RH facilitar a aprovação dessas iniciativas e torná-las sempre viáveis. Apoie seu time, ofereça horários flexíveis para que as pessoas possam ter uma rotina de exercícios.

Além de melhorar a saúde física e mental, proporcionando como consequência uma melhora na produtividade, o esporte traz muitas lições importantes para o mundo corporativo. Ele ensina a disciplina, a humildade, o respeito aos limites do próximo, o espírito de equipe;

*** Deixe à disposição um time de especialistas como médicos e psicólogos para atender aos colaboradores, sempre que for preciso;

*** Estabeleça a cultura do diálogo e do acolhimento. Faça com que as pessoas se sintam à vontade e acolhidas para conversar sobre qualquer problema que possa estar afetando sua vida profissional e pessoal.

*** Monte pacotes de benefícios flexíveis para que cada um possa usar da maneira que preferir, seja numa academia, ou para gastar no supermercado, por exemplo.

Certamente esse conjunto de ações vai te ajudar a promover uma melhora na saúde mental de todos, e isso vai refletir diretamente no resultado do seu negócio. Eu acredito muito que não é possível separar o lado profissional do pessoal. Somos um só e devemos ser tratados como indivíduos único que somos e não apenas como a força de trabalho que vai levar a sua empresa a lucrar mais.

Para alcançar alta performance e excelência, é fundamental considerar os fatores de saúde emocional. Tudo está associado. Por isso, fale sobre esse tema, sempre. Torne-o uma pauta recorrente e, se for preciso, revise o código de valores e os princípios da sua organização para se certificar que eles estejam aderentes às novas demandas do pós-pandemia.

E lembre-se, sempre: todos nós somos guardiões da cultura da empresa e desse grande desafio de evitar essa segunda pandemia em nossas vidas.

NATÁLIA PRUCHNESKI – É Gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) da Teltec Solutions – https://teltecsolutions.com.br/

EU ACHO …

A MORTE COMO CONSOLO

Assim como qualquer mortal, eu também esquento a cabeça com questões de difícil praticidade. Teorizar é moleza, mas como agir do mesmo modo que essas supermulheres que a gente vê nas revistas e jornais, sempre bem resolvidas? Você acha que eu sei? Sei nada.

Eu também me desgasto com assuntos mundanos, aqueles que nos atormentam dia e noite: sinto ciúmes, me constranjo ao negar convites, às vezes acho que sou severa demais com minhas filhas, às vezes severa de menos, não consigo ser tão solícita quanto gostaria, me sinto desatualizada em relação a tanta coisa, não sei direito a direção para a qual conduzir minha vida, enfim, coisinhas que nos roubam algumas horas preciosas de sono.

Como não faço terapia e não posso perder nem um minuto precioso de sono, já que normalmente durmo pouco, resolvi procurar um método pessoal para relativizar meus pequenos grilos cotidianos. E encontrei um que pode parecer macabro, mas está funcionando. Quando estou muito preocupada com alguma coisa, penso: eu vou morrer.

Óbvio que vou morrer, todo mundo sabe que vai morrer um dia, mas a gente evita pensar nesse assunto desagradável. No entanto, tenho pensado na morte não como uma tragédia, mas como um recurso para desencanar dos problemas, e então a morte se torna, ulalá, um paliativo: daqui a quarenta anos, mais ou menos, eu não vou estar mais aqui. O que são    quarenta    anos?  Um  flash.    Todas  as    minhas  preocupações desaparecerão. Nada do que eu sinto ou penso permanecerá, ao menos não para mim mesma – o que as pessoas lembrarem de mim será de responsabilidade delas. Eu vou evaporar. Sumir. Escafeder-me. Então pra que me preocupar com bobagem?

Diante da morte, tudo é bobagem. Recapitulando os exemplos dados no segundo parágrafo: ciúmes? Ouvi bem: ciúmes? De quem, pra quê, se todos irão pra baixo da terra e ninguém sobreviverá para cantar vitória? Aproveite os momentos que você tem hoje – hoje! – para desfrutar seus prazeres e não pense em perdas e ganhos, isso não existe, é pura ilusão.

Os filhos nos amam, mas fatalmente reclamarão de nós um dia, não importa o quão bacana fomos com eles. Ser 100% solícita é coisa para Madre Teresa. Atualização pode ser importante para o trabalho, mas nem sempre para nosso bem-estar. E, finalmente, seja qual for a direção que você der à sua vida, o que importa é que ela seja satisfatória hoje (repito a palavra mágica – hoje!) porque daqui a pouco você e suas preocupações virarão poeira. Até Ivete Sangalo vai virar poeira.

Importantíssimo (me descuidei, deveria ter colocado esse último parágrafo lá no início, mas já que vou morrer, dane-se): se você tem menos de quarenta anos, desconsidere todas as linhas dessa crônica. Leve seu nascimento a sério. Antes dos quarenta, ninguém vai morrer. Essa é a ordem natural do pensamento humano. Pague seus impostos, preocupe-se com a direção que sua vida está tomando, morra de ciúmes, dê-se o direito de todas as cenas passionais e irracionais que incrementam seu script: não se entregue ao fatalismo. Honre o primeiro ato dessa encenação chamada vida.

Porém, depois dos quarenta, apenas divirta-se e não perca tempo se preocupando com bobagens. Vai dar em nada.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

OS 11 SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO E O QUE COMER PARA EVITÁ-LA

A anemia é o distúrbio nutricional mais comum do planeta e afeta mais de 30% da população mundial, segundo a OMS

Você costuma se sentir cansado, com falta de ar ou perceber que seu coração está batendo mais forte do que deveria? Ou seus amigos comentaram que você parece muito pálido? Em caso afirmativo, você pode estar sofrendo de deficiência de ferro ou de anemia por esse motivo, o distúrbio nutricional mais comum do planeta.

Mais de 30% da população mundial é anêmica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de uma condição na qual o corpo carece do mineral nos glóbulos vermelhos, o que significa que menos oxigênio chega às células, já que o ferro é o responsável pelo seu transporte.

A anemia por deficiência de ferro não deve ser autodiagnosticada nem tratada por conta própria, com automedicação. Os sintomas podem indicar a existência de outra doença, e sobrecarregar o corpo com ferro pode ser perigoso, pois o acúmulo excessivo desse elemento pode danificar o fígado e causar outras complicações, alertam médicos.

Portanto, você deve se consultar com um médico se sentir um ou mais dos seguintes sintomas:

  •  Fadiga extrema e falta de energia
  •  Falta de ar
  •  Batimentos cardíacos perceptíveis (palpitações cardíacas)
  •  Pele pálida

Os sinais destacados acima são os mais comuns de acordo com a Mayo Clinic e o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), embora existam outros menos comuns, como:

  • Dores de cabeça, tonturas ou vertigens;
  • Inchaço ou dor na língua;
  • Perda de cabelo — quando há mais cabelo saindo ao escovar ou lavar;
  • Desejos de comer substâncias não alimentares, como papel ou gelo, uma condição conhecida como alotriofagia;
  • Feridas abertas dolorosas (úlceras) nos cantos da boca;
  • Unhas em forma de colher ou quebradiças;
  • Síndrome das pernas inquietas, um distúrbio que causa um forte desejo de mover as pernas.

CAUSAS

Existem vários fatores diferentes que podem levar à anemia por deficiência de ferro, incluindo gravidez, falta de ferro na dieta, crescimento rápido na infância, menstruação com fluxo intenso e condições de saúde que afetem a absorção de ferro.

O nosso corpo não é capaz de produzir este nutriente essencial para o funcionamento do organismo. Se você quiser manter os níveis desse mineral adequados – seja por meio da alimentação natural ou da ingestão de alimentos fortificados – é preciso saber que nem todo ferro está em uma forma que seu corpo consegue absorver facilmente.

Existem dois tipos de ferro: heme e não heme.

O ferro heme vem de fontes animais, que é mais facilmente absorvido pelo organismo. Ele é encontrado em carne bovina e suína, frango, fígado, ovos e peixes.

Há boas fontes de ferro em vegetais folhosos verde-escuros, como couve e espinafre, e legumes como ervilhas e lentilhas. No entanto, esses minerais são do tipo não heme, o que significa que você não absorve tanto ferro de fontes vegetais quanto de origem animal.

Além disso, há como consumir ferro a partir de pães fortificados e cereais matinais, embora essa não seja uma forma que promova uma alta absorção do mineral.

IMPACTO NA ABSORÇÃO

A maneira como você prepara sua comida e o que você bebe também podem alterar a quantidade de ferro que você absorve.

Para demonstrar isso, o cientista e nutricionista Paul Sharp, do King’s College London, fez alguns experimentos que imitam a digestão humana.

Os testes reproduziram o efeito das enzimas envolvidas na digestão dos alimentos e a reação química que ocorre nas células intestinais humanas para mostrar quanto ferro seria absorvido.

Sharp mostrou que se você beber suco de laranja com seu cereal matinal fortificado, uma quantidade muito maior de ferro é absorvida em comparação a apenas comer o cereal. Isso ocorre porque o suco de laranja contém vitamina C, o que facilita a absorção do ferro dos alimentos.

Mas, infelizmente, se você tomar café enquanto come sua tigela matinal de cereal, isso impactará diretamente na absorção de ferro, fazendo seu corpo captar um nível menor desse mineral. Segundo Sharp, isso ocorre porque o café está cheio de substâncias químicas chamadas polifenóis, que são muito eficientes em se ligar ao ferro e torná-lo menos solúvel.

Portanto, se um cereal fortificado é o seu café da manhã preferido, beber um copo pequeno de suco de laranja ou comer laranja ajudará a aumentar sua ingestão de ferro. Assim como também fará com que você espere pelo menos 30 minutos para tomar sua xícara de café após comer, para não prejudicar a absorção de ferro.

FONTES VEGETAIS

O repolho cru é uma boa fonte de ferro disponível, mas cozinhá-lo no vapor reduz a quantidade do mineral, enquanto fervê-lo diminui ainda mais. Isso porque, assim como a laranja, o repolho é rico em vitamina C e, ao fervê-lo, a vitamina C é liberada na água do cozimento, não facilitando a absorção.

Portanto, se você deseja obter o máximo de nutrientes do repolho, coma-o cru ou no vapor. O mesmo vale para outros vegetais que contêm ferro e vitamina C, como couve, brócolis, couve-flor e agrião.

Mas, curiosamente, o espinafre é completamente diferente. Sharp descobriu que a folha fervida libera 55% mais ferro do tipo biodisponível do que cru.

“O espinafre tem compostos, chamados oxalatos, que basicamente prendem o ferro. Quando cozinhamos o espinafre, o oxalato é liberado na água de cozimento e, portanto, o ferro que sobra estará mais disponível para absorção”, explica o nutricionista.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MENTE ACEITA SÓ AQUILO EM QUE ACREDITA

Viés da confirmação explica a nossa atual sociedade polarizada

Narciso acha feio o que não é espelho, canta Caetano Veloso em Sampa. Contudo, não foi em São Paulo, mas em Londres, na década de 1960, que o psicólogo Peter Wason deu o nome de “viés de confirmação” para o mecanismo que induz a mente a aceitar as informações que sustentam as próprias crenças, em vez de questionar e ter abertura para analisar outros tipos de informação.

A ideia de uma mente racional, a serviço de apreender a realidade tal qual ela é, seguiu sendo desacreditada na década seguinte. Em 1979, foi realizado um estudo na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, com estudantes universitários que tinham opiniões opostas sobre a pena de morte. Com base em dois artigos falsos – um que argumentava a favor e outro contra a pena de morte –, os estudantes apoiaram justamente aquele artigo que confirmava sua crença original. O estudo mostrou que ter as certezas contestadas serviu apenas como reforço para as próprias convicções.

Para os especialistas, a política e o futebol são campos de florescência do viés de confirmação. “A partir do momento em que você se expõe, você se cristaliza naquele posicionamento e aí você vai polarizando, polarizando…”, diz a neurocientista Claudia Feitosa-Santana. “As pessoas estão polarizando até em relação a Neymar e Richarlison por causa da política.”

Segundo Claudia, as conversas não ajudam a reduzir a polarização porque as pessoas acham que o diálogo está a serviço de desconstruir o argumento do outro. “A polarização política, da forma como ela é, só ajuda os próprios políticos. Eles conseguem conversar entre si, eles fazem acordos a portas fechadas, o eleitorado não.” Há quem coloque na conta da empatia a solução. Acontece que a empatia, relacionada à verdadeira escuta, custa energia cerebral ou glicose, que é um recurso limitado.

“É muito difícil você conseguir ‘empatizar’ com o que não faz parte do que você considera seu círculo moral”, diz Claudia. “As pessoas hoje em dia focam em empatia, sendo que ninguém tem empatia com ninguém. Usam a palavra empatia para cobrar do outro empatia, não para ser empático. O foco na verdade é a palavra respeito e ninguém se respeita”.

Alinhada ao viés de confirmação, a polarização política já chega formatada. “Quem é de esquerda tem que ser a favor do aborto. Se você é de direita, você tem que ser contra. Alguns autores chamam isso de identidade prêt-à-porter, uma identidade que já vem pronta, você só vai ali e veste”, diz Sérgio Rodrigo Ferreira, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo. “De certo modo, isso vai matando o aspecto mais subjetivo e mais diverso. Nós temos tido muita dificuldade de conviver com o contraditório por conta disso”.

Se um ambientalista e um executivo de companhia petrolífera buscarem na internet por “mudanças climáticas”, os resultados das buscas serão diferentes.

“Cada vez mais o monitor do nosso computador é uma espécie de espelho que reflete nossos próprios interesses, baseando-se na análise de nossos cliques feita por observadores algorítmicos”, escreve o ativista Eli Pariser no livro O Filtro Invisível: O Que a Internet Está Escondendo de Você (Editora Zahar).

Ao mapear as preferências do usuário, o algoritmo forma as chamadas bolhas, delimitando as respostas de acordo com seus gostos. Isso gera uma autossatisfação viciante que pode isolar o indivíduo num sistema de conhecimento unilateral, reforçando sua visão em vez de expandi-la, assim como acontece com o viés de confirmação.

Mais do que as bolhas, existem ainda as câmeras de eco, que recebem a contribuição dos usuários para manter o alinhamento das crenças. “Quando recebe algum posicionamento diferente, além de ser ferrenhamente contrário a ele, o usuário exclui pessoas e conteúdos que divergem de si”, explica Sérgio. “Não é apenas o algoritmo que está criando a bolha, mas os usuários ativamente estão construindo esses espaços fechados.”

FAKE NEWS

O constante reforço da própria opinião, evitando ter valores e crenças questionados, é abertura para a desinformação e para as fake news.

“O mundo é extremamente complexo hoje em dia. Nós temos muita dificuldade de enxergar e compreender a dimensão das várias camadas das coisas que acontecem e, de certo modo, na câmara de eco há uma simplificação do mundo a partir do que previamente eu já entendo, compreendo e creio. Eu faço o mundo caber na minha crença”, considera Sérgio.

Claudia Feitosa-Santana traz um contraponto, lembrando que fazemos parte de grupos diversos, como veganos ou pet lovers. “Nós não estamos todos exatamente dentro das mesmas bolhas. Nós temos muitos grupos e é isso que confere estabilidade para a nossa sociedade.”

A falta de tempo, de conhecimento e de fontes confiáveis para filtrar a enxurrada de informações que recebemos pode colocar também a ciência no balaio do descrédito.

Amanda Moura de Sousa, pesquisadora na Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem estudando a desinformação na área da saúde e a infodemia, o enorme fluxo de informações que invade a internet, diante da pandemia de covid-19.

“Para economizar o esforço de tentar lidar com algum fato, às vezes a gente precisa recorrer às nossas crenças, só que essas crenças podem levar para um caminho não muito saudável, que é eliminar a dúvida e se focar na certeza que você já tem”, diz a especialista em ciência da informação.

Ela lembra de mensagens que circulavam no início da pandemia, dizendo que os laboratórios não tinham avançado suficientemente em seus estudos e usavam as pessoas como cobaias na aplicação de vacinas. Mais de 71% das mensagens falsas naquele período circulavam pelo WhatsApp, segundo análise do aplicativo Eu Fiscalizo, desenvolvido por pesquisadoras da Fiocruz. “Pela relação de desconfiança que as pessoas muitas vezes têm com os cientistas ou com o próprio fazer da ciência, que às vezes escapa à compreensão delas, elas acabam aderindo à desinformação sem buscar outra fonte”, afirma Amanda.

FATOS

O medo da complexidade e o viés de confirmação são também citados pela pesquisadora de Nova York Sara Gorman no livro Denying to the Grave: Why We Ignore the Facts That Will Save Us (Negando Até o Túmulo: Por Que Ignoramos os Fatos Que nos Salvarão, em tradução livre). Segundo a autora, é tendência da mente enfatizar um pequeno risco, fortalecendo, assim, as próprias crenças. “Recusar-se a vacinar uma criança é um exemplo disso: aqueles que têm medo da imunização exageram o pequeno risco de um efeito colateral e subestimam a devastação que ocorre durante uma epidemia de sarampo ou apenas o quão letal a coqueluche pode ser”, escreve.

Se a ciência é vista muitas vezes de forma distorcida, o próprio fazer científico não está imune ao viés de confirmação – simplesmente porque cientistas são também humanos.

Kelley Cristine Gasque, da Universidade de Brasília, investigou as percepções de cientistas em relação ao viés de confirmação no processo de busca e uso das informações em seu fazer científico.

“Uma questão que achei bastante interessante que surgiu é que esse viés pode ser influenciado pelo financiamento da pesquisa, pela exigência dos resultados e expectativa do mercado”, comenta Kelley. “Empresas, por exemplo, que têm interesses econômicos vão investir muito em pesquisa e é óbvio que querem tal resultado. Então, você tem a tendência de buscar pesquisas em uma base que vai corroborar com aquilo que eles querem.”

Também o desejo de que a pesquisa dê certo foi citado pelos cientistas como gatilho para o viés de confirmação.

O antídoto para o problema seria, segundo os próprios cientistas, ter uma boa formação acadêmica, buscar fontes diversificadas, manter o espírito aberto para pontos de vista diferentes, desenvolver o pensamento crítico e a criatividade.

“O ser humano não é que nem um bezerro ou um potro que sai da mãe já andando. Nós somos extremamente dependentes até nossos 2, 3 anos de idade. Nós dependemos dos outros para sobreviver e isso é extremamente assustador”, observa João Luiz Cortez, especialista em programação neurolinguística.

Se a sobrevivência de hoje implica depender de um cuidador nos primeiros anos de vida, em tempos passados a dependência do grupo tinha peso e medida maiores. “Nós nos perpetuamos como espécie porque adquirimos a capacidade de viver em sociedade e é isso que nos fez resistir numa floresta inóspita com animais muito mais fortes do que nós”, conta João.

Valores são construídos de forma complexa e ancorados na afetividade desde a primeira infância. Por isso, mudar certas certezas é difícil e vai além da questão do orgulho narcisístico. A base de crenças é esteio para a sobrevivência emocional.

Charles Peirce, filósofo e pedagogo americano nascido em 1839, afirmava que só a dúvida leva ao conhecimento e, para chegar a ele, passamos por uma alternância entre o desconforto da dúvida e a segurança da crença. Os métodos de fixação da crença listados por Peirce incluem apego, imposição, gostos e também, mas não apenas, o método científico.

Segundo João, ignorar fatos reais para proteger a estabilidade emocional representa um estado limitado de desenvolvimento pessoal. “À medida que eu vou me fortalecendo emocionalmente, espiritualmente, eu tenho uma estrutura, uma musculatura que me permite lidar com a realidade como ela é.”

Apesar das bolhas, grupos, e algoritmos, não há o que unifique a experiência humana. “A maneira como nos sentimos nunca se repete no tempo e jamais é igual à forma como outra pessoa se sente”, escreve Claudia Feitosa-Santana no livro Eu Controlo Como Me Sinto. “E os filósofos já sabiam disso havia muito tempo. Na Grécia Antiga, Heráclito, um dos pensadores mais antigos que conhecemos, afirmou o seguinte: ‘Não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes’.”

Para além da soberania da razão, Caetano cantaria: “Alguma coisa acontece no meu coração”.

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