OUTROS OLHARES

‘INCONSISTÊNCIA’ INVISÍVEL

Como ninguém viu o rombo de R$ 20 bi da Americanas

Na origem da crise que levou a Americanas a entrar em recuperação judicial está a descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores. O anúncio das “inconsistências contábeis” levou a uma queda de braço entre acionistas da varejista e bancos. Com restrições de crédito, fornecedores apreensivos e queda vertiginosa no valor das ações, a saída foi pedir proteção à Justiça contra os credores. A empresa declarou um total de R$ 43 bilhões em dívidas e 16.300 credores. Mas como um rombo financeiro desse tamanho, maior que o patrimônio líquido de R$ 14,7 bilhões da empresa, passou despercebido em uma companhia de capital aberto, fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), integrante do Novo Mercado da Bolsa e do Índice de Sustentabilidade da B3 — que só admitem empresas com alto padrão de governança -, que tinha demonstrações financeiras auditadas por multinacionais e crédito bilionário em grandes bancos, além do aval de notas de crédito positivas de agências?

Com tantos sistemas de proteção ao investidor, como nenhum deles conseguiu identificar o problema antes que a empresa viesse a público? Especialistas avaliam que erros contábeis podem ser difíceis de identificar, mas algumas das partes envolvidas tinham mais chance de se dar conta do que ocorria do que outras. Até para CVM, que tem a incumbência de regular e fiscalizar o mercado de capitais, ficaria difícil enxergar, principalmente se, ao fim da investigação, concluir-se que houve fraude.

“A CVM tem que garantir o bom funcionamento do mercado. Uma análise de conteúdo individual é muito mais difícil de acontecer antes de ser apurada uma falha.

Quando acontece, a CVM vai punir”, diz Gustavo Flausino Coelho, sócio do Bastilho Coelho Advogados.

Para o consultor Renato Chaves, professor da FGV Direito, o órgão fiscalizador deveria ser mais firme nas investigações e nas punições:

“Tudo acaba com a assinatura de um termo de compromisso. Para delitos graves, não deveria ser permitido.

Os bancos estão entre os credores da varejista. O Banco Safra, consultado, ressaltou que já havia provisionado metade de sua exposição à Americanas, de R$2,4 bilhões, no exercício de 2022 e que fez um aumento de capital de R$ 7,4 bilhões em novembro. Os bancos Itaú e Bradesco preferiram não comentar.

A responsabilidade das auditorias será cobrada, dizem os analistas, porque era delas a atribuição de se aprofundar nos números da empresa.

O fato de a Americanas integrar o Novo Mercado e seguir os padrões mais rígidos de governança não blindam o investidor de revezes como este, advertem Chavez e Coelho.

Ronaldo Vasconcellos, professor da Faculdade de Direito do Mackenzie e sócio do escritório VH Advogados, diz que é provável que os credores busquem a responsabilização dos acionistas de referência da Americanas— os bilionários Jorge Paulo Lemman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira —, criadores da 3G e que detêm 31,13% do capital da varejista:

“É quase certo que haverá pedidos para que esses acionistas paguem pelos prejuízos, até na pessoa física”, diz Vasconcellos.

Em nota, a CVM afirma que “constituiu uma força-tarefa” para apurar o caso e está usando convênios com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Diz ainda que mantém acordo de intercâmbio de informações com o Tribunal de Contas da União (TCU).

A B3 informou que pode prever regras de exclusão do Novo Mercado. Procuradas, Americanas, KPMG e PwC não responderam.

PAPEL DA CVM

Órgão fiscalizador pode ser investigado por omissão pelo TCU

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem como missão fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de capitais no Brasil. Com a crise das Americanas, abriu sete processos para investigar os erros nas demonstrações financeiras da empresa, mas só depois que a própria veio a público informar um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões. O Ministério Público pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigue se houve omissão do órgão regulador. Para Renato Chaves, professor da FGV Direito, é difícil identificar falhas na fiscalização do mercado:

“A CVM cumpre seu papel. Pede explicações, dá dez dias para respostas e, daqui a um ano, vamos ver os envolvidos assinarem termo de compromisso”, critica o consultor, referindo-se aos acordos firmados pela autarquia que amenizam punições.

Lá fora, opina Chaves, o órgão fiscalizador já teria acionado a Justiça para obter mandado de busca e apreensão na empresa, para evitar a destruição de provas de eventuais fraudes.

Para Gustavo Coelho, da FGV, é difícil a CVM perceber equívocos dessa natureza:

“O objetivo dela é criar um ambiente adequado no mercado, mas não é imune a falhas. A CVM informou que “constituiu uma força-tarefa” para apurar o caso e que “está fazendo uso dos convênios e da cooperação que possui junto à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal”. Diz ainda que está em constante diálogo com a Advocacia Geral da União e mantém acordo de troca de informações com o TCU.

AUDITORIA EM XEQUE

Análise não detectou rombo, e empresas podem ser responsabilizadas

As inconsistências nos balanços da Americanas não se restringem ao ano de 2022. Mas PwC e KPMG, duas das consultorias mais respeitadas do mundo, fizeram auditorias e avalizaram as contas da varejista sem apontá-las. Escritórios de advocacia que preparam processos no exterior para reparação já citaram que pretendem incluir auditores e acionistas.

Especialistas dizem que houve falha nas auditorias. Segundo Renato Chaves, professor da FGV Direito, as consultorias têm obrigação de ir mais fundo nos números:

“Há fraudes difíceis de identificar, escondidas no meio de contratos de pequenos valores. Não entram na régua de avaliação de auditores. Mas, nesse caso, foi grande e ao longo do tempo.

O advogado Gustavo Flausino Coelho diz que, nesses momentos, a independência das consultorias é sempre questionada. É a teoria da captura, que discute a isenção de consultorias, pagas pelas auditadas, e suas limitações:

“Há poucas no mercado e predileção pelas de mais prestígio. Podem ser responsabilizadas. Bruno Furiati, sócio da Sampaio Ferraz Advogados, diz que um problema é a quantidade de aferições feitas só com base em declarações da administração. As auditorias precisam analisar contratos como o de risco sacado (quando bancos antecipam recursos a fornecedores):

“No caso das Americanas, não pediram? Se pediram, não bateram com o balanço?

As consultorias não comentaram.

AVAL DOS BANCOS

Com pagamentos em dia e boa reputação, varejista tinha crédito

A enorme dívida de R$ 43 bilhões declarada pela Americanas à Justiça tem entre os credores muitos bancos, evidenciando que a rede não tinha problemas para obter crédito, mesmo junto a tradicionais instituições financeiras. Quem acompanha o caso se pergunta: como os bancos, tão ciosos na hora de conceder empréstimos, não viram os erros nos balanços?.

Analistas explicam que os bancos se fiaram nas demonstrações financeiras auditadas, no poderio econômico e nos bons números que a empresa exibia, diz Gustavo Coelho:

“São contas sólidas, aprovadas em assembleia, com margem baixa de lucro, mas muita penetração, faturamento bastante elevado com tendência de perenidade. As notas das agências de rating são outra chancela.

O consultor Renato Chaves lembra que os bancos estavam sendo pagos em dia.

André Pimentel, consultor da Performa Partners, afirma que a reputação dos sócios da 3G Capital foi outra chancela para as instituições.

Consultado, o Banco Safra ressaltou que já havia provisionado metade de sua exposição à Americanas, de R$ 2,4 bilhões, no exercício de 2022. O banco fez um aumento de capital de R$7,4 bilhões em novembro, o que reduz a proporção da exposição em seu patrimônio líquido. Um assessor de outro banco credor diz que ninguém sabia do problema contábil da empresa, que era listada no Novo Mercado e tinha balanços auditados sem apontamentos.

SELO NA BOLSA

Rede fazia parte do núcleo considerado coma melhor governança na B3

Um erro contábil de R$ 20 bilhões foi revelado numa companhia que faz parte de um grupo seleto da Bolsa de Valores, a B3. Até quinta-feira, a Americanas estava no Novo Mercado, que exige regras mais rígidas de governança: classe única das ações (ON), com direito a voto, conselho com membros independentes e alto nível de transparência. A varejista também integrava o Índice de Sustentabilidade, outro selo de boas práticas da B3. Após a recuperação judicial, foi retirada de todos os índices.

“O Novo Mercado aumenta a barra de cobrança, exige governança mais elevada, e a empresa se torna mais interessante para investir. Mas não necessariamente esses selos blindam essas ações”, diz o advogado Gustavo Coelho.

O Novo Mercado traz mais segurança e conforto ao investidor, “mas não é uma garantia”, concorda Renato Chaves:

“Ele ainda precisa evoluir. A relação com o investidor da Americanas é muito ruim. O modelo de negócios merece ser questionado.

Na última terça, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou que evitar prejuízos ao investidor deve mobilizar todos os agentes do mercado. Disse que a B3 poderá avaliar a criação de regras de exclusão do Novo Mercado: “É um debate que sozinho não evita prejuízo ao investidor, porque funciona após o surgimento do problema. O mais relevante é buscarmos medidas mais eficientes de evitar que isso ocorra”.

‘RATING’ ATRASADO

Agências de risco só cortaram nota de crédito após ação ter queda de 77%

As principais agências de rating do mundo, que avaliam risco de crédito, só rebaixaram a nota da Americanas para C (risco elevado) e D (risco de default, calote) depois que os papéis da companhia já tinham caído 77% na Bolsa. Até então, a varejista exibia nota B das agências. Mais uma vez elas chegam depois, diz o advogado Gustavo Coelho. As agências não deram qualquer aviso anterior sobrea nota da varejista, que vinha contabilizando dívida financeira como despesa com fornecedores há anos, reduzindo no papel seu nível de endividamento.

As avaliadoras olham as demonstrações financeiras, o mercado, a expansão da empresa. Mas críticos ao modelo dizem que é preciso que o rating vire de fato uma referência da saúde financeira da companhia. A avaliação, segundo Coelho, passa mais por monitorar, a partir de fatos do mercado, as circunstâncias da economia para o setor e a empresa.

“Cria-se a obrigação de ter um rating, que pode não valer nada. Analisam com base nas demonstrações, não entram na companhia para verificar nada. Acreditam naquilo que tem aval dos auditores. Não há regulação específica”, critica Renato Chaves.

Na crise global de 2008,as agências de classificação de risco foram criticadas e responsabilizadas por avalizar com nota máxima papéis sem lastro, que viraram pó em pouco tempo.

Procuradas, as agências não comentaram.

OUTROS OLHARES

MULHERES TÊM ATÉ 75% MAIS RISCO DE REAÇÕES ADVERSAS A REMÉDIOS

Novo estudo indica que diferenças nas características biológicas entre os sexos masculino e feminino podem explicar a forma como os medicamentos reagem

As mulheres têm até 75% mais chances de sofrer reações adversas a medicamentos prescritos do que os homens, devido a uma série de diferenças nas características entre os sexos, de acordo com um novo estudo da Universidade Nacional da Austrália, publicado esta semana na revista científica Nature Communications. Os pesquisadores acreditam que isso deve ser levado em consideração no momento de prescrever os remédios para o tratamento de doenças.

Segundo Laura Wilson, principal autora do estudo, essas reações adversas eram anteriormente atribuídas a diferenças no peso corporal, mas a realidade não é tão simples.

“Muitas vezes, as mulheres recebem medicamentos na mesma dose que os homens, apesar de terem, em média, um peso corporal menor, o que significa que frequentemente recebem uma dose relativa mais alta”, diz Wilson, em comunicado.

No trabalho, os pesquisadores australianos utilizaram um método da biologia evolutiva chamada de alometria, com a qual a relação entre uma característica de interesse e o tamanho do corpo é examinada em uma escala logarítmica. Os cientistas aplicaram análises de alometria a 363 características pré-clínicas em camundongos machos e fêmeas. Eles questionaram se as diferenças de gordura, glicose, colesterol LDL poderiam ser explicadas apenas pelo peso corporal diferente.

As análises apontaram que existem diferenças que não podem ser explicadas pelo peso corporal desigual. Portanto, são resultado das diferenças sexuais. Alguns exemplos são características fisiológicas, como níveis de ferro e temperatura corporal, características morfológicas, como massa magra e gordura, e características do funcionamento do coração, como variabilidade da frequência cardíaca.

Os pesquisadores descobriram que a relação entre uma característica e o peso corporal variou consideravelmente em todas as examinadas, o que significa que as diferenças entre machos e fêmeas não podem ser generalizadas. Em suma, as fêmeas não são simplesmente versões menores dos machos. E as diferenças de sexo devem ser levadas em consideração para a dosagem de medicamentos.

DIFERENÇAS BIOLÓGICAS

De acordo com os pesquisadores, sabemos muito menos sobre como as mulheres vivenciam as doenças.

“A maioria das pesquisas biomédicas foi realizada em células masculinas ou animais machos. Supõe-se que quaisquer resultados também se apliquem às fêmea”, explica Wilson. “Mas sabemos que homens e mulheres experimentam doenças de maneira diferente, incluindo como as doenças se desenvolvem, a duração e a gravidade dos sintomas e a eficácia das opções de tratamento.”

E, geralmente, as mulheres se dão pior. Por exemplo, uma dor forte no peito é frequentemente citada como um sintoma primário de ataque cardíaco. Embora isso possa ser comum para os homens, é um sintoma muito menos comum para as mulheres, que são mais propensas a sentir náuseas intensas. Mas como este sintoma não é apontado como um dos principais, as mulheres tendem a demorar a receber atendimento médico, aumentando risco de complicações e desfechos negativos.

GESTÃO E CARREIRA

NOVO VOCABULÁRIO DO MUNDO CORPORATIVO

Os últimos anos foram marcados por inúmeras mudanças no ambiente de trabalho e, com isso, os espaços corporativos tornaram- se mais flexíveis e plurais.

Nesse cenário, os colaboradores desfrutam de melhores condições e benefícios. Novos termos surgiram e o ‘corporativês’ ganhou infinitos jargões, estrangeirismos e termos técnicos que marcam presença na rotina das empresas.

Fato é que o mundo empresarial possui siglas, expressões e conceitos exclusivos, em suma utilizadas em inglês, como officeless, anywhere office, workcation e muitos outros. Além disso, a pandemia trouxe para o mercado infinitos modelos de trabalho, portanto, ser fluente neste novo vocabulário é essencial no dia a dia.

Confira os principais conceitos que estão – e vão continuar – fazendo parte da rotina corporativa:

OFFICELESS

O conceito officeless significa, literalmente, sem escritório. Isto é, o termo é utilizado em suma para designar empresas que não possuem ou não precisam de um espaço físico para realização de suas respectivas atividades. Neste caso, os colaboradores trabalham remotamente, onde e como preferirem. Flexibilidade, mobilidade e confiança são as principais características do officeless e, por isso, é possível explorar novos ambientes.

ANYWHERE OFFICE

Já o anywhere office trata-se do escritório em qualquer lugar, ou seja, o trabalho pode ser realizado em qualquer lugar do mundo. Este conceito tornou-se tendência nas organizações ao oferecer independência e liberdade, afinal, mesmo com vínculo empregatício, os colaboradores não precisam estar em um escritório ou sede da empresa, basta apenas acesso à internet e aos sistemas operacionais.

WORKCATION

Também conhecido como workoliday ou woliday, este conceito dispõe da possibilidade de viajar para pontos turísticos enquanto trabalha. Conhecidos como nômades digitais, o colaborador aluga uma casa na praia ou no campo e realiza suas atividades enquanto desfruta da vista de uma paisagem paradisíaca, por exemplo.

No caso do workcation, há apenas dois pré-requisitos: wi-fi e conforto. O formato possibilita uma rotina de trabalho menos estressante e mais produtiva.

COWORKING

Tendência que voltou a ganhar força, o coworking aposta no compartilhamento de espaços. Basicamente, cada empresa usufrui do local por tempo determinado, que conta com internet e instalações físicas semelhantes ao escritório. Com a ascensão do trabalho híbrido, muitas organizações estão apostando na criação de coworkings em regiões descentralizadas das grandes cidades.

O principal benefício deste modelo é o networking que fomenta a troca de ideias, experiências, além de mais produtividade e até mesmo criatividade.

ZOOM FATIGUE

Conhecido como a fadiga do zoom, uma plataforma virtual para reuniões, diante da expansão do home office e, sobretudo, o excesso de videoconferências, este estado de exaustão se dá muitas vezes por conta da quantidade excessiva de contato visual durante uma reunião virtual, além do incômodo ou mal-estar em visualizar a si mesmo a todo momento na chamada, algo que torna a situação ainda mais estressante.

Estabelecer uma rotina organizada, dispor de horários para as refeições e pausas entre as atividades, é essencial para minimizar o esgotamento mental.

BURNOUT

Também conhecido como a “síndrome do esgotamento profissional”, o temido burnout está mais popularizado entre os colaboradores. Resumidamente, a Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado pelo excesso de estresse e tensão emocional na rotina corporativa.

O conceito foi muito disseminado ao longo da pandemia, principalmente diante da ausência de separação entre questões pessoais e profissionais, além da falta de ergonomia no home office.

PAMELA PAZ – É CEO do Grupo John Richard – https://www.johnrichard.com.br/).

EU ACHO …

      DANE-SE O SORVETE    

Você chega na cidade em que nasceu, hospeda-se na casa da sua irmã e vai até o supermercado comprar alguns ingredientes para o jantar. Aproveita para comprar sorvete, que sua irmã incluiu na lista, e fica feliz de poder fazer essa gentileza a ela, uma retribuição pela acolhida.

No corredor do supermercado, encontra um ex-namorado, seu primeiro grande amor, com quem teve um relacionamento 20 anos atrás e cujo desenlace deixou alguns fios soltos. Depois de uma vacilante troca de palavras, ele te convida para um café. Seu marido e filhos estão lá na cidade onde você mora, a quilômetros de distância. Ora, é só um café.

Esse é o início do filme “Blue Jay”, disponível na Netflix. Quando a personagem aceitou o convite, a primeira coisa que pensei foi: o sorvete vai derreter. A segunda foi: por que raios fui lembrar do sorvete?

Porque, apesar de já ter feito progressos, ainda tenho muito a evoluir no quesito “vou pensar em mim e que o mundo se exploda”, também conhecido, afetuosamente, por “foda-se”. É uma questão cultural que herdei de casa. As amigas da minha mãe sempre contavam, entre gargalhadas, a longínqua ocasião em que elas propuseram um programa de última hora, sem chance de planejamento, e minha mãe respondeu: “mas hoje é o dia em que troco os lençóis”.

Esse foi o cenário da minha infância. Sair da rotina, repentinamente, atendendo ao apelo excitante da vida, era algo que perturbava. Desconsiderando o exagerado exemplo dos lençóis, acho que perturba muitas outras pessoas também. Ainda mais quando o apelo está relacionado a amor e sexo.

Cada hora continua tendo os mesmos 60 minutos que tinha no século 17, mas a impressão é que a vida tem passado feito um rato na sala, como dizia o saudoso Domingos Oliveira. Um dia somos adolescentes, no outro estamos debatendo a menopausa. Nem todo mundo encontra ex-namorados dentro de supermercados, mas a cena serve como metáfora: há momentos que exigem um confrontamento com as escolhas que fizemos, que nos colocam cara a cara com aquilo que preferíamos não saber, não remexer. É típico do destino: às vezes ele mexe as peças do tabuleiro só para nos pegar de surpresa, a fim de testar nossa coragem, curiosidade e abertura para saltos sem rede, o velho e conhecido “ver qual é”. Quantas vezes você evitou se jogar? Apego à rotina também?

A renúncia de viver aquilo que tem potencial para nos desacomodar costuma ser um bom plano de previdência, uma garantia de futuro tranquilo, mas não demorará até que o olhar opaco denuncie a covardia. Você concorda que os relógios entraram em desacordo com o tempo e aceleraram os ponteiros? Você mal acordou e já é quase noite? Então deixe para trocar os lençóis amanhã e danem-se os sorvetes.

MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

É RUIM PARA A SAÚDE BEBER CAFÉ COM O ESTÔMAGO VAZIO?

Estudo não encontra associação entre o consumo da bebida e úlceras estomacais e intestinais, mas há aumento da acidez

Para muitas pessoas, desfrutar de uma xícara de café feito na hora, logo pela manhã, é uma maneira inegociável de começar o dia. Mas a ideia de que tomar um gole sem comer nada junto pode prejudicar seu intestino – ou contribuir para outros males como inchaço, acne, perda de cabelo, ansiedade ou problemas de tireoide, como algumas pessoas alegam nas mídias sociais – conquistou tanta popularidade quanto incredulidade.

Pesquisadores têm investigado os benefícios e malefícios de beber café, especialmente no que se refere ao intestino, desde a década de 1970, afirma Kim Barrett, professora de fisiologia e biologia de membranas na Universidade da Califórnia, Davis School of Medicine. Felizmente, o estômago pode suportar todos os tipos de irritantes, incluindo o café.

“O estômago tem muitas maneiras de se proteger”, afirma Barrett.

Por exemplo, ele secreta uma espessa camada de muco que cria um poderoso escudo entre sua parede e tudo o que você ingere. Esse escudo também protege o estômago de seu próprio ambiente ácido natural necessário para decompor os alimentos, explica ela.

Você teria que consumir uma substância muito dura “para que as defesas do estômago fossem rompidas, porque ele está constantemente em um ambiente muito adverso e prejudicial”, diz a especialista.

Irritantes como álcool, fumaça de cigarro e anti-inflamatórios não esteroides — como ibuprofeno ou naproxeno — são bem conhecidos por alterar os mecanismos naturais de defesa do estômago e ferir seu revestimento, afirma Byron Cryer, chefe de medicina interna no Baylor University Medical Center, em Dallas.

Seu laboratório é especializado em entender como diferentes medicamentos e outras substâncias podem prejudicar o estômago e o intestino delgado. Embora certos irritantes possam tornar o estômago mais vulnerável a ácidos e à formação de úlcera, grandes estudos descobriram que esse não é o caso do café.

Um estudo feito por pesquisadores do Kameda Medical Center Makuhari, no Japão, com mais de 8 mil pessoas, não encontrou associação significativa entre o consumo de café e a formação de úlceras no estômago ou no intestino – mesmo entre aqueles que bebiam três ou mais xícaras por dia.

“O café, mesmo em forma concentrada, provavelmente não causa dano objetivo ao estômago”, diz Cryer.

“E muito menos nas doses típicas das bebidas habituais”.

ACIDEZ

No entanto, o café tem um efeito sobre o intestino — pode acelerar o cólon e induzir a evacuação, e o café aumenta a produção de ácido no estômago.

Além do intestino, a cafeína é bem conhecida por aumentar a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e pode atrapalhar o sono. Mas são mudanças temporárias. É improvável que beber café com o estômago vazio cause algum dano ao estômago, mas teoricamente pode provocar azia, diz Barrett. Sabemos que o café desencadeia a produção de ácido estomacal, mas se você tiver comida no estômago ou se tomar café com leite ou creme, isso criará um tampão que ajuda a neutralizar esse ácido. Portanto, beber café, especialmente se for preto, sem uma refeição pode reduzir o pH do estômago mais do que se você o bebesse com leite ou acompanhado de comida.

ESÔFAGO

Embora um pH ligeiramente mais baixo não seja problema para o revestimento do estômago, pode representar um problema para o revestimento do esôfago, que é muito mais vulnerável a danos causados pelo ácido. Além disso, alguns estudos mostraram que o café pode relaxar e abrir o esfíncter que conecta o esôfago ao estômago, o que hipoteticamente poderia permitir que o ácido do estômago espirrasse mais facilmente para o esôfago e causasse sintomas desagradáveis de azia.

Mas mesmo aí, os dados são dúbios. Uma revisão feita por pesquisadores da Coreia do Sul de 15 estudos na Europa, Ásia e Estados Unidos não encontrou nenhuma ligação entre o consumo de café e os sintomas de azia, enquanto, em contraste, um estudo de pesquisadores americanos usando dados de mais de 48 mil enfermeiras encontrou um risco maior de sintomas de azia entre os bebedores de café.

Para entender como o café pode afetar o esôfago, os cientistas também estudam uma condição chamada esôfago de Barrett, que ocorre quando o esôfago é danificado pela exposição crônica ao ácido estomacal, como em pessoas com problemas de refluxo de longa data. Com essa condição, as células que revestem o esôfago se transformam em células mais resistentes, semelhantes ao estômago, para se protegerem do ácido. Essas alterações podem aumentar o risco de câncer de esôfago, especialmente se você tiver histórico familiar da doença ou se fumar. Mas, de forma tranquilizadora, um estudo americano não encontrou relação semelhante com o café.

Na prática, como gastroenterologista, costumo dizer aos meus pacientes para observarem seus sintomas. Se eles notam constantemente uma dor ardente no peito ou um gosto amargo na boca depois de beber café, eles podem reduzir a quantidade – ou devem considerar um antiácido. Adicionar um pouco de leite ou dar uma mordida em alguma coisa enquanto toma seu café matinal também pode ajudar. Mas se você não está percebendo nenhum sintoma, provavelmente é alguém que não sente refluxo significativo após o café e pode continuar bebendo em paz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EXPERIÊNCIAS NA INFÂNCIA MOLDAM PALADAR ADULTO

Estudo mostrou que os alimentos que comemos nos anos de formação ficam ‘impressos’ no cérebro, que tem dificuldade de alterar preferências mais tarde. Exposição a vários sabores ajuda no desenvolvimento gustativo

Por que gostamos das comidas que gostamos? A preferência alimentar é entendida por especialistas como algo relacionado a fatores como experiências passadas, desenvolvimento de hábitos e identidades culturais. Mas agora, um time de pesquisadores decidiu avaliar esse processo à luz da ciência e entender de que maneira comer durante a infância impacta o cérebro, e consequentemente os seus efeitos no decorrer da vida.

Os resultados do estudo, publicados no periódico Science Advances, destacam a importância da exposição precoce a uma variedade de sabores diferentes, uma vez que os benefícios não foram observados quando ela ocorre na idade adulta. Além disso, identificam os mecanismos que intermedeiam a relação entre o gosto alimentar e o cérebro.

Para entender melhor esse cenário, os cientistas do departamento de neurobiologia e comportamento da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, utilizaram camundongos, já que a biologia do sistema gustativo, ligado ao paladar, é semelhante entre os mamíferos.

Eles dividiram os animais entre filhotes e adultos e os expuseram a uma variedade de sabores diferentes durante uma semana. Após o período, devolveram os camundongos a suas dietas antigas, que não tinham a mesma diversidade de estímulos. Ao mesmo tempo, os pesquisadores monitoraram um outro grupo de indivíduos que não passaram pela intervenção alimentar, para efeito de comparação.

Semanas depois da exposição, os pesquisadores retornaram aos animais e ofereceram uma solução adocicada para observar a preferência deles em comparação a água.

Aqueles que eram filhotes durante o primeiro experimento apresentaram uma atração mais forte pelo sabor diferenciado na idade adulta, o que não aconteceu entre os camundongos que passaram pela intervenção já quando eram mais velhos.

Além disso, os cientistas identificaram que a exposição a múltiplos sabores na infância levou ao desenvolvimento de circuitos neurais, e que essa preferência do sabor foi influenciada por todos os aspectos da experiência gustativa: as sensações na boca, o olfato e a interação do intestino com o cérebro.

Os resultados indicaram que a experiência com a diversidade de sabores influencia a preferência alimentar, mas apenas se acontecer dentro de uma janela de tempo restrita durante a infância, afirmam os cientistas.

“Foi impressionante descobrir como os efeitos duradouros da experiência inicial com o gosto eram nos grupos jovens. A presença de um ‘período crítico’ do ciclo de vida para o desenvolvimento da preferência pelo gosto foi uma descoberta única e empolgante. A visão predominante de outros estudos anteriores a essa descoberta era que o gosto não tem uma janela definida de maior sensibilidade à experiência como outros sistemas sensoriais, como visão, audição e tato”, diz Hillary Schiff, pesquisadora da universidade e autora do estudo, em comunicado.

Embora feito com animais, os cientistas afirmam que os resultados são replicáveis para humanos.

NÍVEL CEREBRAL

A equipe analisou também a atividade dos neurônios no córtex gustativo dos animais, uma parte do cérebro envolvida no paladar e nas decisões sobreo que comer. Eles observaram que, no grupo adulto que não teve a preferência desenvolvida, havia diferenças na atividade de neurônios chamados de inibitórios.

Com as descobertas, os cientistas decidiram testar se a manipulação desses neurônios inibitórios na fase adulta poderia “reabrir” a janela de sensibilidade em relação à experiência com a diversidade de sabores. Para isso, eles injetaram uma substância no córtex gustativo que quebra redes de proteínas acumuladas ao redor dessas células cerebrais. Em seguida, expuseram os camundongos com as redes desfeitas à variedade de sabores. Os animais exibiram, então, mudanças semelhantes na preferência pela solução adocicada à observada entre os indivíduos expostos durante a infância. A intervenção “rejuvenesceu” as sinapses no córtex gustativo e restaurou a plasticidade

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