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TÉCNICA RECRIA PÊNIS ‘DO ZERO’ E PERMITE TER UMA VIDA SEXUAL ATIVA

Cirurgia inovadora é destinada a homens amputados, trans ou com micropênis. Sete já foram submetidos ao método

Era meia-noite de um dia comum de 2012 quando João (nome fictício), de 61 anos, acordou com o latido dos cachorros. Ele saiu da cama para descobrir se alguém tentava entrar em sua casa, localizada na zona rural de uma cidade baiana, e chegou a ver os bandidos de longe, no escuro. Foi quando um deles disparou um único tiro, acertando a virilha do fazendeiro e decepando parte do pênis. A história só teve um desfecho positivo no fim de setembro deste ano, quando ele passou por uma cirurgia de reconstrução peniana desenvolvida por um médico urologista brasileiro.

“Eu fiquei defeituoso. Não conseguia nem urinar. Quase que eu morri, mas agora tudo vai mudar”, disse ele, pouco antes da intervenção. Um dia após o processo, que começou às 15h e terminou por volta de 22h, João disse que não sentiu dor e não via a hora de retirar as bandagens. Ele teve alta dois dias depois da cirurgia, sem nenhuma complicação ou necessidade de bolsa de sangue.

Ao todo, sete pessoas já passaram pelo procedimento inovador criado pela equipe do médico Ubirajara Barroso, chefe do serviço de urologia do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também é coordenador da disciplina de urologia.

Seis dos pacientes passaram pela Mobilização Total dos Corpos (TCM, na abreviação em inglês) por intermédio do SUS, sendo João o único a realizar a cirurgia de forma particular.

TÉCNICA

Barroso explica que só parte do pênis fica para fora do corpo, tendo uma extensão, não visível, dentro do homem. Em média, a parte que é vista corresponde a 2/5 do órgão e os outros 3/5 ficam fixos na bacia, garantindo a ereção. A ideia de Barroso foi relativamente simples: puxar a parte interna para fora.

“O que fazemos na cirurgia é destacar essa porção do corpo cavernoso do osso e levar tudo para a superfície. É como um iceberg: tem uma porção pequena acima da água e uma grande porção abaixo da água. O pênis pequeno é só a ponta desse iceberg, então nós retiramos a parte de ‘dentro da água’ e colocamos na superfície”, afirma.

Apesar da teoria simplificada, o procedimento não era feito dessa forma pelos médicos. A primeira vez que ele adotou técnica foi em 2019, em um menino que teve o pênis arrancado por um cachorro aos 8 meses de idade.

O caso foi em Itapicuru (BA). O cão da família arrancou o pênis do garoto, que teve o órgão completamente amputado. Por volta dos 11 anos, ele passou pela primeira cirurgia com Barroso.

Utilizando uma técnica anterior ao TCM, o médico recuperou a uretra do menino, que urinava por um orifício. Era a segunda cirurgia do tipo no Brasil e teve sucesso. “Fizemos uma espécie de enxerto de pele para que ele tivesse o aspecto da genitália masculina.”

O segundo a passar pela técnica foi Moacir (nome fictício), que tem transtornos psiquiátricos. Em um surto psicótico, ele arrancou o próprio pênis, sobrando apenas cerca de oito centímetros. Anos após a crise e sob controle, ele procurou o médico na tentativa de recuperar o órgão. Hoje, após o procedimento, o pênis possui 12,5 centímetros e é capaz de proporcionar prazer semelhante ao órgão sem intervenção.

FILA

Atualmente, o Brasil contabiliza mais de 500 casos de amputação de pênis por ano e não há dados concretos sobre o número de homens trans que pretendem fazer cirurgia de redesignação. A fila de espera de Barroso, segundo conta, já está na casa dos milhares, especialmente pelo fato de os procedimentos serem realizados pelo SUS. O profissional reforça que está em contato com diversos urologistas brasileiros.

Conforme José de Ribamar Rodrigues Calixto, da Sociedade Brasileira de Urologia, a expectativa é de que a TCM seja cada vez mais usada em casos ligados a câncer de pênis. Embora possa aumentar e até engrossar o órgão sexual, Barroso só prevê a técnica para diagnosticados com micropênis, câncer peniano, mutilação ou redesignação de gênero.

Segundo o profissional, a maioria dos homens que acreditam ter pênis pequeno normalmente não o tem, sendo desnecessária uma intervenção cirúrgica. “Esses casos nunca foram tratados de maneira a ganhar significativamente no tamanho, mas na vida pessoal”, afirma.

OUTROS OLHARES

PASSADO DO CÃO E PERFIL DO DONO INFLUENCIAM NA AGRESSIVIDADE

Pesquisa mostra que peso e focinho também afetam comportamento animal

Cachorros que passeiam diariamente com seus donos são menos agressivos. Cães cujas donas são mulheres supostamente latem menos para estranhos.

Já os caninos mais pesados tendem a ser menos insolentes com seus donos do que os pesos leves. Pugs, buldogues, shih-tzus e outros animais com o focinho encurtado podem ser mais afrontosos com humanos do que os cachorros de focinho médio e longo, como é o caso do golden retriever e do popular vira-lata caramelo.

Foi o que mostrou um estudo feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) com 665 cães de estimação de diferentes raças, inclusive sem raça definida.

Na pesquisa, publicada na revista Applied Animal Behaviour Science, foram relacionados fatores morfológicos, ambientais e sociais com perfis de agressividade dos cães. O cruzamento de dados mostrou que não apenas condições como peso, altura e tamanho do focinho estão associadas a maior ou menor incidência de agressividade, como também questões relacionadas às histórias de vida dos animais e às características do dono.

De acordo com o artigo, os resultados confirmam a hipótese de que o comportamento dos cachorros não é algo definido apenas pelo aprendizado, nem só pela genética. Trata-se do efeito de uma interação constante com tudo o que cerca a vida do animal. O estudo teve apoio da Fapesp por meio de um projeto sobre a abordagem etológica da comunicação social entre diversas espécies, entre elas a humana.

“Os resultados ressaltam algo que estamos estudando já há algum tempo. O comportamento emerge da interação do animal com o seu contexto, ou seja, o ambiente e o convívio com o tutor, por exemplo, além é claro da morfologia do cachorro. Todos esses fatores têm impacto na forma como o cachorro interage com o ambiente e também na maneira como a gente interage com ele”, explica Briseida de Resende, professorado IP- USP (Instituto de Psicologia da USP) e coautora do artigo. No estudo, realizado durante a pandemia de Covid-19, 665 donos de cães responderam a três questionários on-line, que forneciam informações sobre características do animal, seu ambiente, dono e comportamentos agressivos, como latir para estranhos e até atacar. Ao cruzar essas informações com o grau de agressividade dos cães, os pesquisadores identificaram alguns padrões interessantes.

Os questionários foram desenvolvidos pela pesquisadora do IP-USP Natália Albuquerque e pela professora Carine Savalli, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

“Apenas o gênero do tutor se mostrou um fator capaz de predizer o comportamento com estranhos: a ausência de agressividade foi uma característica 73% mais frequente entre os cães de mulheres”, conta Flávio Ayrosa, primeiro autor do artigo.

O sexo do animal também parece influenciar o grau de agressividade. “A chance de o animal ser hostil com o dono foi 40% menor em fêmeas do que em machos”, diz o autor. “Mas foi na comparação entre tamanho do focinho que encontramos uma diferença mais significativa: as chances de agressividade contra o dono tendem a ser 79% maiores em cães braquicefálicos [focinho achatado] do que nos mesocefálicos”, afirma.

Por outro lado, quanto mais pesado o cão, menor era a possibilidade de agressividade contra seu dono. Ao cruzar os dados, os pesquisadores identificaram que as chances de agressividade diminuíram 3% para cada quilo extra de massa corporal.

Mas Ayrosa ressalta que os achados associados ao perfil do dono não são uma relação de causa e efeito. “Encontramos uma relação, mas não é possível dizer o que vem primeiro. O fator ‘passear com os cães’, por exemplo: pode ser que as pessoas passeavam menos com os cachorros por eles serem animais agressivos, ou os cachorros podem ter se tornado mais agressivos porque seus tutores não passeavam com eles”, afirma.

“Características como peso, altura, morfologia do crânio, sexo e idade influenciam a interação entre os cães e seu ambiente. Isso pode fazer com que o animal passe mais tempo em casa, por exemplo”, completa.

Historicamente, a agressividade dos cães tem sido associada única e exclusivamente à questão da raça. Tal paradigma começou a mudar nos últimos dez anos, quando surgiram os primeiros estudos que relacionavam perfis comportamentais com fatores como idade do cão, sexo, questões metabólicas e diferenças hormonais.

No Brasil, a pesquisa coordenada pelo grupo do IP-USP foi a primeira a avaliar questões morfológicas e comportamentais, entre elas a agressividade, em animais sem raça definida. “Só mais recentemente os estudos passaram a investigar a influência de fatores relacionados à morfologia, histórias de vida dos animais, características dos tutores, origem [comprado ou adotado], como é o caso do nosso estudo”, diz Ayrosa. O artigo Relationships among morphological, environmental, social factors and aggressive profiles in Brazilian pet dogs pode ser lido no site https://www.sciencedirect.com/science/article/ abs/pii/S0168159122002246?-via=ihub#gs2.

GESTÃO E CARREIRA

EXECUTIVOS BRASILEIROS GANHAM ESPAÇO NA DISPUTA POR CARGOS FORA DO PAÍS

Para especialistas, experiência obtida em um “ambiente instável’ de negócios tem feito diferença no recrutamento

A atuação de executivos brasileiros em multinacionais pode ir além do território nacional. Seja de caso pensado ou por oportunidades inesperadas, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles manifestaram o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos a aprender.

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de Desenvolvimento Internacional, agregando países como Japão, Coreia do Sul, Mongólia, Índia e no sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é manter a lente do aprendizado. “É importante tentar entender o contexto da região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que permite entender o consumidor e o contexto das comunidades.”

Para Suelen Marcolino, gerente de Diversidade, Inclusão e Pertencimento no LinkedIn para América Latina, Europa, Oriente Médio e África, o ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais. As experiências abriram portas, seja pelo trabalho ou por bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam à porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições que possuem.

HABILIDADES

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente. Já o crescimento do mercado de inovação, pouco visto em outras localidades, é outro fator-chave.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, diz. Ele também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal.

“Sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de Recursos Humanos do J. P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, ele sabia que teria oportunidades, buscou entendê-las e falou abertamente sobre o interesse.

PREPARAÇÃO

De um cargo generalista em RH, ele foi ganhando exposição ao ter contato com os negócios internacionais. Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, ele foi atuar em Nova York e, quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira em RH, atuou a maior parte do tempo em multinacionais e, em janeiro de 2021, entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul. Sete meses depois, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, ela foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as duas regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

ADAPTAÇÃO

Se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um dos executivos. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Ele lembra que uma mudança tranquila para outros país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane, que terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero. Mas, antes de entender a cultura, Suelen considera importante compreender a si para lidar com o outro. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma.

LIDERANÇA

Braun avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois há um repertório de situações que pode agregar no presente. “É o olhar de Co criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Viviane diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. Para Suelen, aprender a ter paciência consigo para refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para uma interpretação errada.”

EU ACHO …

INJEÇÃO NA TESTA

‘Sexo’ é dessas palavras que basta ler para que neurônios espirrem dopamina

“Guapimirim sem corrupção!”, leio na camiseta da Renata assim que ela me libera no Zoom. Estranho, pois minha colega está sempre elegante: blusas e macacões coloridos, brincos, colares e penteados mil.

Trabalhamos juntos faz uns dois anos e embora nossos encontros presenciais possam ser contados nos dedos —ela no Rio, eu em São Paulo e a pandemia no meio—, temos intimidade o suficiente para que a cumprimente não com um protocolar “oi”, mas com “Guapimirim sem corrupção, Renatinha? Onde é Guapimirim? Quem a está corrompendo? Quem será o herói incorruptível a salvá-la?”.

Renatinha termina de mastigar umas pipocas, responde “Sei lá, a camiseta era grátis” e eu entendo tudo.

“Sexo” é dessas palavras que basta ler para que alguns neurônios espirrem dopamina. “Pudim” tem efeito semelhante, embora seja outra a turma de células, creio eu, a babar neurotransmissores. Mas nem “sexo”, nem “pudim”, nem “Bahia”, nem “Pelé” faz com que minha massa encefálica – e, aparentemente, a da Renatinha também – vibre como diante de “grátis”.

Deve ser produto da seleção natural, epifenômeno resultante do nosso passado caçador/coletor. Imagina você e seu bando caminhando pela floresta, famintos, suados sob o sol a pino, então dão de cara com um cajueiro carregado. Suponho que seja esse o tipo de encontro responsável por moldar, ao longo de milhares de anos, as emoções em torno de tudo o que é gratuito.

Não à toa um dos nossos maiores mitos fundadores trata do assunto. O que é o “Gênesis” senão a triste história da passagem do paraíso 0800 pra dura realidade do pré e pós-pago?

O primeiro capítulo da Bíblia poderia ser resumido a “Era tudo na faixa, vacilaram, agora vão ter que trabalhar”. Anos atrás fui participar de uma CCXP. Ao chegar no camarim meu coração bateu mais forte. Tinha ali um freezer cheio de refrigerantes grátis. Peguei uma Coca e sentei numa poltrona, mas minha alegria pueril (ou primeva?) terminou assim que me dei conta da matemática deficitária daminha satisfação: uma lata de Coca-zero custa R$ 2,77 e o Uber pra Comic Com havia saído uns R$ 80. Não importa. O apelo de tudo o que é “de grátis” me faria pagar R$ 1.000 pra pegar um chaveiro de R$ 10.

Trabalho na Globo. Antes da recente pindaíba nacional, todo fim de ano a empresa dava aos funcionários uma mala térmica com um peru congelado, um salame, um tender e uma torta Miss Daisy.

Não era raro você encontrar na fila do brinde um Galvão Bueno, uma Glória Perez, um Walcyr Carrasco, gente cujo salário de um mês compraria perus de Natal suficientes para dar duas voltas na Terra – caso voltas na Terra fossem medidas em perus de Natal. Gula? Mesquinharia? Nada. Era o chamado da natureza, a partitura cromossômica composta nas savanas a nos fazer executar aquela mesma coreografia, ano após ano, no Subsolo 1 do Módulo Laranja, Estrada dos Bandeirantes, 6.700, Curicica, RJ – portaria 2.

Imagino se o Galvão Bueno, a Glória Perez ou o Walcyr Carrasco também sentem, como eu, uma leve melancolia lá por 15 de dezembro, ao lembrar dos farnéis de outrora. A torta era meio ruim, verdade, mas o retro gosto da gratuidade compensava a textura rançosa do chantilly congelado. O mundo só piora, não tem jeito. O que consola é lembrar que em Guapimirim ainda dão camisetas grátis – e, claro, lutam contra a corrupção. Agora chega de papo-furado, Renatinha, vamos trabalhar que a vida não tá ganha e embora não nos deem mais malas térmicas ainda pagam o nosso salário – sabe-se lá até quando.

ANTÔNIO PRATA – Escritor e roteirista, autor de “Por quem as panelas batem”

ESTAR BEM

ESTUDO EXPLICA COMO PRÁTICA DE EXERCÍCIOS PRESERVA APTIDÃO FÍSICA

É consenso entre os especialistas que a prática regular de exercício físico é fundamental para garantir qualidade de vida e longevidade. No entanto, ainda pouco se sabe sobre como esse hábito influencia o funcionamento das células musculares. Um novo estudo conduzido no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) ajuda a entender, em nível celular, como a atividade física contribui para a manutenção da aptidão física até mesmo durante o envelhecimento.

Segundo o trabalho, apoiado pela Fapesp e divulgado na revista The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a resposta está na mitocôndria. Esse importante componente celular, responsável por fornecer energia às células, está em constante remodelamento graças a um fenômeno chamado dinâmica mitocondrial.

Essa organela pode se dividir em duas ou se unir a outra semelhante por meio de processos denominados fissão e fusão mitocondrial. A partir dessa dinâmica são coordenadas a distribuição e a função das centenas ou milhares de mitocôndrias presentes nas células musculares.

Por meio de experimentos com um organismo modelo bem simples, o verme de solo Caenorhabditis elegans, os pesquisadores observaram que, durante o envelhecimento, vão se acumulando nas células musculares mitocôndrias fragmentadas [que são disfuncionais]. Mas quando o exercício físico é praticado regularmente ao longo da vida, a frequência de mitocôndrias fusionadas aumenta, o que beneficia tanto o metabolismo mitocondrial quanto o funcionamento celular, contribuindo assim para a manutenção da fisiologia muscular durante o envelhecimento.

“No trabalho, demonstramos que, no músculo, uma única sessão de exercício físico induz rapidamente a fissão mitocondrial. E logo em seguida, após um período de recuperação, ocorre a fusão mitocondrial. Já sessões diárias ao longo da vida favorecem o aparecimento de mitocôndrias conectadas, retardando então a fragmentação mitocondrial e o declínio do condicionamento físico observados durante o envelhecimento. Dessa forma, o exercício físico e a dinâmica mitocondrial apresentaram importante associação com a manutenção da função muscular na senescência. Era a prova de conceito que faltava”, afirma Júlio Cesar Batista Ferreira, professor do ICB-USP e coordenador da pesquisa.

Em estudos anteriores, o grupo já havia demonstrado que o exercício físico atua no tratamento de doenças cardiovasculares promovendo o aparecimento de mitocôndrias fusionadas no coração. Mas ainda era preciso entender como a atividade física impacta o envelhecimento de organismos saudáveis. E para isso os pesquisadores optaram por usar o nematoide C. elegans, considerado um excelente modelo experimental para estudos do envelhecimento.

“É muito trabalhoso e caro fazer um estudo sobre envelhecimento acompanhando indivíduos ou roedores por anos, ao longo de toda a vida. A vantagem do C. elegans é que ele apresenta uma série de similaridades com os humanos, mas tem um ciclo de vida de apenas 25 dias. Desse modo, foi possível mostrar, pela primeira vez, o que acontece com um organismo que se exercita ao longo da vida e quais são os eventos celulares críticos envolvidos no processo”, afirma Ferreira.

Segundo o pesquisador, a dinâmica mitocondrial é importante para manter a quantidade e a qualidade das mitocôndrias na célula e, por consequência, o bom funcionamento muscular. Por meio de proteínas denominadas GT- Pases que “cortam” e “colam” as mitocôndrias, ocorre a fusão ou a fissão dessas organelas. “Dessa forma, em condições estressoras, as proteínas removem a parte da mitocôndria que não está funcionando para ser destruída e juntam a parte funcional com outra mitocôndria. É nessa dinâmica de fissão e fusão que se dá a segregação mitocondrial e o bom funcionamento celular.”

Os resultados do estudo indicam que tanto a conectividade quanto o ciclo mitocondrial de fissão e fusão são essenciais para manter a aptidão física e a capacidade de resposta ao exercício ao envelhecer. Um dos primeiros passos do estudo foi desenvolver um protocolo de exercício físico para os vermes. “Geralmente, esses organismos vivem em meio sólido [na natureza eles vivem na terra e, nos laboratórios de pesquisa, em gelatina]. Quando os transferimos para meio líquido, observamos que eles aumentam a frequência ondulatória associada a maior gasto energético, semelhante ao que acontece com nós humanos quando nos exercitamos”, conta Ferreira.

Desse modo, os pesquisadores demonstraram que a exposição diária dos vermes ao meio líquido resulta em uma série de adaptações fisiológicas e bioquímicas semelhantes às observadas em humanos e roedores exercitados.

Segundo Ferreira, os vermes que nadaram regularmente até a fase adulta, mas se tornaram sedentários na velhice, também apresentaram melhores indicadores em comparação aos que sempre foram sedentários.

Em uma segunda parte do estudo, investigaram se o aumento da longevidade é acompanhado de melhora da aptidão física nos vermes. Para isso, foram feitos experimentos com linhagens de vermes capazes de viver até 40 dias graças a alterações pontuais no genoma.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO SE SENTIR BEM PELADO? PRIMEIRO PASSO É AUTOACEITAÇÃO

Muitos ficam desconfortáveis nus, de biquíni ou mesmo com roupas leves no verão. Especialistas ensinam a melhorar a relação com o corpo

Quando Carolyn Hawkins foi para seu primeiro resort nudista quatro décadas atrás, aos 37 anos, estava absolutamente decidida a não ficar nua.

“Eu disse: “Eu vou, mas nunca vou fazer isso. Não vou tirar a roupa”, revela Hawkins sobrea visita ao resort com o marido.

Contudo, ao se ver cercada por um aglomerado de corpos imperfeitos sob o sol da Flórida, ela se sentiu uma exceção e tomou coragem:

“Eu aceitei imediatamente, lembra ela, agora com 79 anos e diretora de relacionamentos para clubes e membros da Associação Americana de Nudez Recreativa.

Nem todo mundo se sente tão confortável pelado. Para muitos de nós, a nudez – ou apenas a perspectiva de mostrar mais pele durante o verão, por exemplo – pode ser inquietante.

“Até mesmo ficar pelado sozinho pode nos deixar vulneráveis à voz crítica existente na nossa cabeça”, afirma Renee Engeln, professora de Psicologia da Northwestern University, nos Estados Unidos, responsável por pesquisar questões relacionadas à imagem corporal das mulheres.

Sentir-se “bem” nu envolve padrões culturais de beleza que poucos de nós alcançamos, explica a especialista. No entanto, terapeutas, ativistas e nudistas afirmam que existem razões convincentes para buscar um relacionamento mais alegre com a própria figura, ou, pelo menos, uma relação “neutra”.

Pesquisas mostram, por exemplo, que as percepções das mulheres sobre o quão atraentes elas são podem influenciar seu desejo sexual, enquanto estar relativamente confortável com a própria aparência tem sido associado a maior autoestima e satisfação com a vida.

Para Virgie Tovar, ativista de imagem corporal, o debate sobre a nudez é paralelo a uma conversa sobre usar um biquíni. Ela lembra sua primeira experiência usando as peças em público como uma mulher plus size:

“Fiquei chocada com a sensação incrível de ter o sol na pele, sentir o vento na minha carne, uma parte do meu corpo que nunca havia sido exposta em nenhum lugar fora de casa. Foi mais poderoso do que eu poderia ter imaginado”, revela Tovar.

A seguir, foram organizadas quatro estratégias sugeridas por uma série de especialistas focados em nudez e imagem corporal. O entendimento sobre elas não significa, necessariamente, a transformação de seu relacionamento com seu corpo durante o verão, época na qual partes da pele podem ficar mais à mostra, mas é um começo.

TEMPO NU

Aprender a se sentir bem com seu corpo pode ser uma tarefa árdua e longa, e muitos dos obstáculos que surgem no caminho são sociais. Ainda assim, Engeln diz que, para algumas pessoas, a chave para se sentir melhor nu é “simplesmente ficar nu com mais frequência”.

Erich Schuttauf, diretor executivo da Associação Americana de Nudez Recreativa, concorda que há um poder libertador em, simplesmente, fazer coisas pelado, permitir-se. Você pode lavar a roupa enquanto está nu, sugere, ou tomar sol por 20 minutos se tiver um quintal privado, saboreando o calor e a brisa em sua pele.

“Acostume-se com a liberdade de não ter que usar roupas”, aconselha Schuttauf, para quem quase todas as tarefas domésticas são mais divertidas quando se está nu.

Stephanie Yeboah, ativista da imagem corporal e escritora, afirma que passar uma ou duas horas nua vários dias por semana foi um passo crucial no início de sua própria jornada de aceitação do corpo. Ela tirava a roupa e lia, assistia TV ou arrumava a casa.

É importante, no entanto, garantir que você esteja em um espaço seguro, seja na privacidade do seu quarto ou em um ambiente destinado à nudez, como uma praia de nudismo ou resort.

“O amor próprio não pode te salvar de um sistema opressor”, diz Yeboah, que já foi chamada de gorda e insultada na rua.

FOCO NAS SENSAÇÕES

Tovar não acredita que a insistência para se sentir bem nu seja um passo necessário para uma aceitação corporal mais ampla, mas encoraja as pessoas a considerar como seria estar em paz com seus corpos em situações onde a nudez é necessária, como no banho.

Para chegar lá, a ativista recomenda o uso de estratégias de atenção para mudar o foco de como “é seu corpo” para como “ele se sente”. E, segundo ela, o chuveiro é um bom lugar para começar.

“Concentre-se nas sensações. Qual é a sensação na minha pele quando entro no chuveiro? Como é a temperatura? O que isso faz com o meu corpo?”, questiona.

Yeboah também transformou o banho em uma meditação regular. Ela compra loções e óleos bons e gasta tempo aplicando-os lentamente, observando cuidadosamente como eles cheiram e como sua pele reage.

“Foi algo que comecei a fazer em minha jornada de amor-próprio para chegar a um acordo com (e aprender a amar novamente) meu corpo”, revela.

PORQUE NÃO?

Zoë Bisbing, assistente social clínica e diretora fundadora da Body-Positive Therapy NYC, costuma trabalhar com pacientes que estão lutando no que ela chama de “estado de evitação do corpo”. Eles cobrem meticulosamente certas partes do corpo e raramente, ou nunca, olham para si mesmos. Frequentemente, optam por não participar de atividades ao ar livre ou que exijam a nudez, como ir à praia, sair em um dia quente ou fazer sexo.

A especialista recomenda observar conscientemente o que está por trás da dificuldade de ficar pelado (ou de deixar certas partes do corpo nuas) ao longo de um dia ou dois. Se fizer isso, pode ser útil tentar uma “terapia de exposição”, uma intervenção cognitiva bem conhecida que visa revelar as pessoas aos seus medos.

“Digamos que você se sinta realmente desconfortável com os braços nus. Pode começar a deixar seu braço exposto um minuto ao dia quando estiver sem casaco, por exemplo. Também pode ajudar olhar para seu corpo no espelho por curtos períodos de tempo, orienta a especialista, e treinar seu cérebro para descrevê-lo usando uma linguagem simples e sem julgamento”.

É fundamental, no entanto, para qualquer pessoa que esteja lutando com problemas como dismorfia corporal ou transtornos alimentares, entrar em contato com um terapeuta para conseguir ajuda, reforça Bisbing. Portanto, esteja atento aos possíveis sinais de um problema de saúde mental mais sério, incluindo imagem corporal distorcida ou sentimentos de vergonha sobre o que você come.

DIFERENTES TIPOS DE CORPO

A cultura pop e as mídias sociais nos condicionaram a ver o corpo magro, o corpo jovem, ou o corpo “capaz” como o padrão e o mais valioso. Por isso, Tovar incentiva todos a se cercarem de fotos de diferentes tipos de corpos.

“Imprima, digamos, 20 imagens de corpos mais próximos do seu e de corpos completamente diferentes”, sugere Tovar. Salve-os no telefone ou coloque-os no espelho para vê-los com frequência.

Faça uma curadoria do que você segue no Instagram, Facebook ou TikTok também. Embora a ligação entre a mídia social e a imagem corporal negativa não seja tão clara quanto às vezes parece, pesquisas mostram que passar o tempo olhando para diferentes corpos e conteúdos de aceitação da própria aparência pode melhorar o humor.

“Lembre-se de que quase todos os corpos adultos nus balançam, têm cabelo, pelo, celulite, cicatrizes, marcas de vida”, reforça Engeln. “É fácil esquecer isso se você está atolado em um mundo de mídia que inclui apenas imagens editadas no Photoshop de corpos jovens e magros.

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