SEDE DE PRAZER
Relatos de aumento da libido depois de uma noite de drinques desafiam a ciência. Afinal, é tesão ou ressaca?

Janeiro de 2023: talvez você esteja lendo esta reportagem com aquela ressaquinha da festa de fim de ano. Sobram, para hoje, dores de cabeça, enjoos, desidratação, vertigem e… tesão. Por que não?
Apesar de ainda não haver pesquisas sobre o assunto, especialistas observam um aumento da libido e da vontade de transar no dia seguinte ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Segundo os pesquisadores da instituição norte-americana Alcohol Hangover Research Group, a ressaca acontece quando a concentração de álcool no sangue é próxima de zero, cerca de seis a oito horas depois da bebedeira. “Não há como olharmos para essa realidade apenas sob o prisma biológico, porque o efeito seria o contrário, já que o corpo está desidratado e cansado. A construção da sexualidade de uma pessoa é multifatorial, especialmente social e psicológica”, explica o ginecologista e sexologista Sérgio Okano, professor da Universidade de Ribeirão Preto. “Para a maioria das pessoas, o sexo não é prioritário na ressaca. Mas experiências prévias e outros deflagradores individuais do desejo, eventualmente, podem, sim, influenciar positivamente na resposta sexual nesse momento.”
A análise encontra eco na vida da estudante de Ciências Biológicas Luiza Costa, de 30 anos. Os dias de carência à época em que cumpria quarentena no auge da pandemia, em 2020, a fazia subir pelas paredes após bebedeiras em casa, sozinha. Intrigada com o comportamento, visto como incomum, a goiana procurou saber se outros amigos também já haviam sentido o mesmo.
“Não sei se é porque estava isolada, ou se bebia além do limite, mas me dei conta de que meu nível de libido subia mais que o normal na ressaca”, comenta. “Alguns amigos homens relataram que também ficavam com tesão na ressaca, mas percebi que o índice era maior entre as mulheres.” Luiza, no entanto, ainda não teve oportunidade de testar sua performance na cama em condições de hangover. “Quero muito. Mas como sou solteira, busco métodos que atendem a mulheres independentes, o que também é ótimo”, destaca.
Masturbar-se, de acordo com a ginecologista Marcela McGowan, pode servir como uma excelente saída para liberar a tensão sexual no dia seguinte à euforia alcoólica. Ainda, segundo a médica, um momento de prazer é potencialmente capaz de melhorar os sintomas da ressaca. “Os orgasmos e o sexo gostoso liberam substâncias no nosso corpo, como a dopamina e a endorfina, que acabam promovendo o relaxamento e a sensação de felicidade. É biologicamente possível que isso abrande dores e a sensação ruim depois de uma noite de drinques. Talvez seja o corpo buscando alívio através de uma atividade que ele sabe que é prazerosa”, pontua.
O neurologista Diogo Haddad, do Hospital Nove de Julho, de São Paulo, concorda e diz que o álcool é, a princípio, um estimulante do sistema nervoso central. Em excesso, ele atrapalha o funcionamento normal da região frontal do cérebro, responsável por nos sentirmos mais inibidos. É o que nos ajuda a não tomar decisões por impulso, por exemplo. “O álcool atrapalha esse processo. Então, ficamos mais soltos e desinibidos, e isso aumenta a libido”, aponta. Na ressaca, deveria acontecer o efeito contrário, diz ele. Mas, para alguns, talvez seja uma forma de tentar curá-la. “O grande ponto é que isso é individual. As áreas do cérebro são ativadas de acordo com o que cada um julga ser sexualmente atrativo. Tudo o que lhe dá um aumento de excitação, e não digo só a sexual, pode proporcionar um bem-estar”, finaliza Diogo.
Entre as outras suposições que tentam explicar a origem do desejo sexual nessa situação específica está algo que os especialistas chamam de “miopia alcoólica”, isto é, uma condição que faz com que as pessoas sob o efeito de álcool tendam a enxergar melhor uma realidade imediata e a focar nas próprias vontades. É o que acontece com a manicure e designer de sobrancelhas Érica Matos, de 36 anos. “Sinto aquela vontade de transar e vem uma adrenalina. Claro que meu corpo está cansado, estou enjoada, mas os sintomas da ressaca melhoram”, conta. E quando o parceiro com quem Érica está naquele momento também vive o hangover? “Eu saio como a tarada da história (risos).”
Além do tesão na ressaca, a vendedora Gabriela Polo, de 29 anos, já sentiu algo quase sempre inerente às mulheres: a culpa. “Porque é o momento em que também bate uma ressaca moral. Mas fiquei mais tranquila quando li outros relatos na internet, vi que não sou a única”, afirma. “Ainda acho um pouco estranho, porque as pessoas, geralmente, sentem um aumento da libido quando estão bêbadas. Comigo sempre foi o contrário. Quanto maior a ressaca, maior o tesão”, explica ela. Que o Ano Novo traga doses de prazer na medida!
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