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JOHNSON CRIA PRIMEIRA LINHA PARA OS CABELOS DE CRIANÇAS NEGRAS

Multinacional americana preenche lacuna histórica no país com nova versão do seu tradicional xampu infantil, seguindo movimento de outras marcas

Há mais de 80 anos no Brasil, a Johnson & Johnson virou referência em cosméticos infantis, sobretudo com o xampu para bebês. E logo vem à cabeça aquela publicidade com um bebê branco, de olhos e cabelos claros. Num esforço de atualização para alcançar novos consumidores, a multinacional americana lança agora por aqui seus primeiros produtos voltado para os cabelos crespos de crianças negras. A nova linha “Blackinho Poderoso” é fruto de um trabalho de dois anos em parceria com o Estúdio Nina, uma empresa de pesquisa focada no entendimento do público negro, e com o grupo de afinidade étnico-racial interno da empresa.

“É o resultado de muita escuta e cocriação com consumidores e consultorias especializadas, além de um minucioso processo de pesquisa e desenvolvimento. Ainda existem poucos produtos para cabelos crespos infantis. Também identificamos uma carência de mercado, já que o consumo de cuidado com o cabelo é nove pontos percentuais maior na cesta afro (88,7%) que no total do mercado (80,8%)”, diz Daniella Brissac, vice-presidente de Marketing Brasil e Experiência de Clientes e Consumidores para a América Latina da Johnson & Johnson Consumer Health. Desde um concurso promocional realizado na década de 1960, a expressão “bebê Johnson” virou um adjetivo para definir beleza infantil no Brasil. No entanto, todas as crianças escolhidas para a disputa eram brancas. Acontece que mais da metade da população brasileira é preta ou parda.

‘DESCONSTRUÇÃO’

Depois de algumas interrupções, em 2011 a empresa fez um novo concurso de beleza infantil para a produção de um calendário. Mesmo com concorrentes negros, os escolhidos para estampar os 12 meses seguiram o mesmo padrão anterior. Questionada sobre isso, Daniella reconhece a responsabilidade da marca na construção de estereótipos:

“Não temos dúvidas de que o lançamento de “Blackinho Poderoso” representa avanço muito significativo nessa jornada de desconstrução. Vale ressaltar que pais, mães e cuidadores dessa geração vieram de processos de alisamento e agressões em relação ao cabelo, que é um marcador social importante. Por isso, para tudo o que envolve essa nova linha, o consumidor negro está no centro do processo, desde as pesquisas, desenvolvimento da fórmula, passando pela embalagem, seus personagens e as comunicações e identidades visuais da campanha.

Os concorrentes também estão atentos à demanda. O Boticário colocou à venda recentemente uma linha de perfumaria infantil com produtos licenciados com a marca do filme “Pantera Negra”, em parceria com a Marvel. Entre os itens que trazem a imagem e a estética afrofuturista do herói negro estão creme para pentear e gel, com direito ao pente garfo, acessório que é um símbolo de luta contra o racismo para o movimento negro.

“É muito importante as marcas darem esses passos para que o cenário atual realmente mude, tanto as grandes quanto pequenas empresas. A valorização da diversidade está no centro deste processo e sempre esteve presente em nossas decisões, políticas, estratégias de comunicação e de produtos. Sabemos que esse é um longo caminho e não vamos parar”, afirma Rony Santos, gerente de ESG Diversidade no Grupo Boticário.

A empresa se comprometeu a retirar os termos “normal” e “perfeito” por completo de sua comunicação até 2024, por entender que “são expressões que contribuem para a busca de um padrão inalcançável de beleza”. Em 2020, baniu o termo “clareamento”, discutido por conter um viés racista.

Para Ricardo Silvestre, publicitário e fundador da Black Influence, empresa de gerenciamento e conexão com influenciadores negros, a população negra nunca teve atenção da grande indústria, principalmente a de beleza:

“Era como se de fato nunca tivéssemos existido. Não havia produtos específicos com foco nas pessoas pretas, e menos ainda para crianças pretas. O lançamento de linhas de grandes empresas é uma evolução importante, mas elas chegam atrasadíssimas. Correm atrás do prejuízo porque perderam dinheiro por não se preocupar com esse público específico. Isso não era inteligente do ponto de vista de negócios.

As grandes empresas do setor que começam a se voltar para o segmento afroinfantil encontram um mercado já composto por marcas médias nacionais e produtos artesanais criados especificamente para os cabelos crespos. Um exemplo é o da rede de salões Beleza Natural, que lançou a linha infantil “Turma da Ziquinha” em 2009. Atualmente, a empresa produz 90 mil unidades de xampu, condicionador, creme de pentear e outros produtos próprios para crianças negras. Desde 2015,a Embelezze tem a linha Novex Meus Cachinhos.

MERCADO É O QUE ATRAI

Silvestre diz que ainda há espaço neste mercado. No estudo “Afroconsumo – O protagonismo preto no consumo brasileiro”, produzido pela consultoria Nielsen em 2022, um em cada quatro pretos ou pardos ouvidos diz ser razoavelmente difícil encontrar itens para a comunidade negra. A pesquisa mostra que o ramo da beleza concentra o maior percentual de produtos direcionados, com 62% da preferência dos que responderam.

Para Karine Karam, professora de comportamento do consumidor da ESPM e sócia da Markka Consultoria, o interesse das grandes empresas nesse público aumentou com o movimento de valorização da autoestima negra e da beleza do cabelo natural:

“Ninguém faz por ser bonzinho. É uma questão de mercado e de dinheiro.

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 A LETRA INVISÍVEL

Representados pelo ‘a’ da sigla LGBTQIAP+, assexuais lutam contra estigmas e ganham visibilidade na mídia, com personagem na novela ‘travessia’

Inventar um sem-número de relações amorosas para os amigos e a família foi rotina na vida da artesã e escritora Simone Hernández (nome fictício) durante mais de 20 anos. Apesar de conhecer rapazes bonitos, explica, ela se esquivava sempre que recebia uma investida mais incisiva. “Tinha uma atração estética, mas algo me mandava sair, como se aquilo não fosse para mim. Já fui beijada, mas sentia repulsa.” Meses atrás, porém, sua verdade veio à tona: aos 44 anos e virgem, Simone teve a intimidade exposta por um ginecologista durante uma consulta em que a mãe estava presente. “Foi traumático! Criava histórias porque queria que me deixassem em paz. Eu me achava incompetente emocionalmente”, desabafa.

O que Simone acreditava ser incompetência, na verdade, tem outro nome. Ela é assexual, e vem vivendo sozinha e de forma um pouco menos dolorida, por causa das sessões de terapia, seu processo de autodescoberta há dez anos. Entendeu que não há nada errado em nunca ter tido um relacionamento mais íntimo ou feito sexo, porque os assexuais, de forma geral, são pessoas que não sentem atração sexual por outras. Mas, por causa disso, sempre foi desvalidada socialmente. “Em festas de família, enquanto as primas da minha idade sentavam na mesa dos adultos, eu, que não era casada, ficava na das crianças. Ouvi muitas piadas de que serei solteirona”, conta ela, que pretende conversar e abrir o jogo para os pais quando se sentir pronta.

Cercada por mitos, a assexualidade é a letrinha A dentro da sigla LGBTQIAP+ e uma das identidades mais invisibilizadas socialmente. Um deles é exatamente a de que todos os assexuais não transam ou não têm desejo ou libido. “Assexuais podem não sentir atração, mas podem se apaixonar e sentir desejo. Até porque ele é muito amplo e não só sexual. Podemos desejar um bolo, uma viagem, um trabalho. É algo no qual queremos investir”, explica o psicólogo e pesquisador Breno Rosostolato, de São Paulo. “E podemos fazer sexo por vários motivos: para agradar ao outro, por dinheiro… A atração não é algo obrigatório.”

A assexualidade, assim como a homo ou heterossexualidade, é autodeclarada e está longe de ser uma patologia. “As normativas guiam muito a sociedade. Então, existe esse sofrimento. Somos cobrados por performances sexuais. Muitas vezes, o parceiro de um assexual não entende ou aceita seu jeito de existir”, afirma Breno.

E é essa situação conflituosa, além de ser um tema pouco explorado na ficção, que a escritora Gloria Perez entendeu ser importante para abordar em “Travessia”, novela da 21h da TV Globo. O personagem Caíque, de Thiago Fragoso, é assexual e vive um conflito com a namorada, Leonor, papel de Vanessa Giácomo. A moça acreditava não ser amada por ele não querer transar, mas no decorrer da história, compreende a sexualidade dele.

“Conversei com um cara assexual e tivemos um papo profundo sobre ereção, masturbação e erotismo. Não posso correr o risco de passar informações ilegítimas. Caíque é vibrante, potente, e mostra que assexualidade não é fraqueza”, afirma o ator.

Segundo pesquisa feita em 2016 pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) da USP, sete em cada cem mulheres e três em cada cem homens não têm interesse na vida sexual. “Foi um levantamento com milhares de brasileiros, e é um número bastante expressivo, levando em conta o tamanho da população”, observa ela.

Em outra pesquisa mais recente, de 2022, Carmita e outros pesquisadores indicaram, em artigo da revista científica Nature, que 12% da população brasileira é LGBTQIAP+; desse número, a maior porcentagem é de assexuais: 5,76%. Na década de 1940, estudos feitos pelo pesquisador Alfred Kinsey e, em 2004, pelo sexólogo Anthony Bogaert, mostraram que pelo menos 1% da população mundial não quer ter relações sexuais. No entanto, para o psiquiatra Alexandre Saadeh, é preciso cuidado ao falar sobre o assunto. “Vejo jovens que não querem mais viver o desejo e o erotismo, e descaracterizam a sexualidade como algo interessante. Está muito ligado ao tempo em que passam on-line e aos questionamentos sobre identidade de gênero”.

Dentro do espectro da assexualidade, há o que os pesquisadores chamam de “área cinza”. Ali, um assexual pode se identificar como estrito, ou seja, nunca sente atração sexual e raramente tem relações; greyssexual ou assexual fluido, podendo ou não fazer sexo, até os demissexuais, que transam quando criam vínculo afetivo. É o caso da cantora Iza e da apresentadora Giovanna Ewbank. Ambas afirmaram ser demissexuais, fazendo o termo ser um dos mais buscados no Google em 2022.

Uma das criadoras do Coletivo Abrace, voltado à visibilidade sobre o tema, a designer gráfica Sara Hanna, 38 anos, também se identifica como demissexual. “Nunca entendi meus amigos falando sobre ‘ficar na seca’. Achava que era comum criar um vínculo para, talvez, ter atração pela pessoa e transar”, diz ela, que está solteira. “Quando estou sozinha, passo anos sem procurar alguém. Canalizo minha libido para culinária e jardinagem”, completa.

Sara é ex-namorada do advogado Walter Mastelaro Neto, de 35 anos. Estudioso da assexualidade, ele, que é assexual estrito, mantém duas comunidades sobre o assunto no Facebook, com quase seis mil membros. “Aos 14 anos, por curiosidade, tive minha primeira experiência sexual. Isso era tão interessante para todo mundo, mas não para mim”, recorda-se. O mais importante em jogar luz sobre o tema, ele diz, é eliminar o estigma de  que os assexuais são pessoas frias ou não podem se relacionar amorosamente: “Podemos construir relações afetivas, saudáveis e duradouras. O afeto é que me faz ter interesse em alguém.

É ele que nos liga às pessoas de forma diferente”.

GESTÃO E CARREIRA

   FALTA DE SAÚDE MENTAL –  COMO EVITAR ESSA PRÓXIMA PANDEMIA

A pandemia trouxe uma série de desafios para o mercado corporativo. Muitos foram superados, entre eles viabilizar o trabalho remoto sem impactar a produtividade das equipes. Mas, agora, novos obstáculos estão surgindo e uma outra preocupação vem ocupando cada vez mais espaço entre os líderes das empresas: o impacto desses quase três anos na saúde mental dos colaboradores.

O isolamento social, o desemprego, os problemas financeiros e de saúde e a perda de entes queridos, afetaram radicalmente o comportamento humano e, em muitos casos, de uma forma irreversível. Doenças como depressão, ansiedade e estresse registraram um boom nunca visto antes. É quase como se estivéssemos vivendo uma segunda pandemia, a de problemas emocionais.

Um recente estudo do Ministério da Saúde mostrou que 11,3% dos brasileiros receberam o diagnóstico de depressão em 2020. Já globalmente, segundo a OMS, a depressão e a prevalência de ansiedade aumentaram 25% no mundo todo neste mesmo ano, e, desde então 90% dos países pesquisados passaram a incluir a saúde mental e o apoio psicossocial em seus planos de resposta a essas doenças.

O Great Place to Work, que é um dos rankings mais respeitados no mundo, por exemplo, criou até uma categoria de Saúde Emocional em 2022, para destacar as organizações por bons índices de práticas voltadas à melhoria da saúde emocional, mental e bem-estar de colaboradores e líderes, o que só vem a reforçar essa preocupação em relação ao tema.

Usando minha vivência dos últimos anos, nos quais a área pela qual sou responsável, a de Desenvolvimento Humano Organizacional, liderou diversas iniciativas para se adaptar a esse novo cenário, listei algumas dicas que podem ser colocadas em prática para beneficiar a saúde emocional como um todo:

*** Crie um comitê bem estruturado para propagar as ações de saúde mental por toda a empresa;

*** Crie um canal de comunicação com informações úteis e atualizadas a respeito, para que os colabora dores possam acessá-las facilmente e tirar dúvidas sempre que preciso;

*** Promova palestras e campanhas com temas realmente relevantes e atuais. É importante que essa iniciativa seja recorrente para ajudar a estabelecer uma frequência que não permita que os assuntos caiam no esquecimento;

*** Faça rodas de conversas informais. É uma maneira de todos se sentirem mais à vontade para falar dos problemas;

*** Identifique os diferentes grupos que existem na sua empresa para detectar aspectos que impactam diretamente no emocional, como comportamentos racistas e homofóbicos, que impactam diretamente o emocional das pessoas;

*** Trabalhe a formação dos líderes. A responsabilidade da gestão de pessoas não é somente do RH. O líder é o grande responsável pela gestão diária do time;

*** Apoie iniciativas relacionadas à prática de esportes. Os benefícios trazidos pelo esporte na vida pessoal e profissional já foram mais do que comprovados, por isso cabe ao RH facilitar a aprovação dessas iniciativas e torná-las sempre viáveis. Apoie seu time, ofereça horários flexíveis para que as pessoas possam ter uma rotina de exercícios.

Além de melhorar a saúde física e mental, proporcionando como consequência uma melhora na produtividade, o esporte traz muitas lições importantes para o mundo corporativo. Ele ensina a disciplina, a humildade, o respeito aos limites do próximo, o espírito de equipe;

*** Deixe à disposição um time de especialistas como médicos e psicólogos para atender aos colaboradores, sempre que for preciso;

*** Estabeleça a cultura do diálogo e do acolhimento. Faça com que as pessoas se sintam à vontade e acolhidas para conversar sobre qualquer problema que possa estar afetando sua vida profissional e pessoal.

*** Monte pacotes de benefícios flexíveis para que cada um possa usar da maneira que preferir, seja numa academia, ou para gastar no supermercado, por exemplo.

Certamente esse conjunto de ações vai te ajudar a promover uma melhora na saúde mental de todos, e isso vai refletir diretamente no resultado do seu negócio. Eu acredito muito que não é possível separar o lado profissional do pessoal. Somos um só e devemos ser tratados como indivíduos único que somos e não apenas como a força de trabalho que vai levar a sua empresa a lucrar mais.

Para alcançar alta performance e excelência, é fundamental considerar os fatores de saúde emocional. Tudo está associado. Por isso, fale sobre esse tema, sempre. Torne-o uma pauta recorrente e, se for preciso, revise o código de valores e os princípios da sua organização para se certificar que eles estejam aderentes às novas demandas do pós-pandemia.

E lembre-se, sempre: todos nós somos guardiões da cultura da empresa e desse grande desafio de evitar essa segunda pandemia em nossas vidas.

NATÁLIA PRUCHNESKI – É Gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) da Teltec Solutions – https://teltecsolutions.com.br/

EU ACHO …

A MORTE COMO CONSOLO

Assim como qualquer mortal, eu também esquento a cabeça com questões de difícil praticidade. Teorizar é moleza, mas como agir do mesmo modo que essas supermulheres que a gente vê nas revistas e jornais, sempre bem resolvidas? Você acha que eu sei? Sei nada.

Eu também me desgasto com assuntos mundanos, aqueles que nos atormentam dia e noite: sinto ciúmes, me constranjo ao negar convites, às vezes acho que sou severa demais com minhas filhas, às vezes severa de menos, não consigo ser tão solícita quanto gostaria, me sinto desatualizada em relação a tanta coisa, não sei direito a direção para a qual conduzir minha vida, enfim, coisinhas que nos roubam algumas horas preciosas de sono.

Como não faço terapia e não posso perder nem um minuto precioso de sono, já que normalmente durmo pouco, resolvi procurar um método pessoal para relativizar meus pequenos grilos cotidianos. E encontrei um que pode parecer macabro, mas está funcionando. Quando estou muito preocupada com alguma coisa, penso: eu vou morrer.

Óbvio que vou morrer, todo mundo sabe que vai morrer um dia, mas a gente evita pensar nesse assunto desagradável. No entanto, tenho pensado na morte não como uma tragédia, mas como um recurso para desencanar dos problemas, e então a morte se torna, ulalá, um paliativo: daqui a quarenta anos, mais ou menos, eu não vou estar mais aqui. O que são    quarenta    anos?  Um  flash.    Todas  as    minhas  preocupações desaparecerão. Nada do que eu sinto ou penso permanecerá, ao menos não para mim mesma – o que as pessoas lembrarem de mim será de responsabilidade delas. Eu vou evaporar. Sumir. Escafeder-me. Então pra que me preocupar com bobagem?

Diante da morte, tudo é bobagem. Recapitulando os exemplos dados no segundo parágrafo: ciúmes? Ouvi bem: ciúmes? De quem, pra quê, se todos irão pra baixo da terra e ninguém sobreviverá para cantar vitória? Aproveite os momentos que você tem hoje – hoje! – para desfrutar seus prazeres e não pense em perdas e ganhos, isso não existe, é pura ilusão.

Os filhos nos amam, mas fatalmente reclamarão de nós um dia, não importa o quão bacana fomos com eles. Ser 100% solícita é coisa para Madre Teresa. Atualização pode ser importante para o trabalho, mas nem sempre para nosso bem-estar. E, finalmente, seja qual for a direção que você der à sua vida, o que importa é que ela seja satisfatória hoje (repito a palavra mágica – hoje!) porque daqui a pouco você e suas preocupações virarão poeira. Até Ivete Sangalo vai virar poeira.

Importantíssimo (me descuidei, deveria ter colocado esse último parágrafo lá no início, mas já que vou morrer, dane-se): se você tem menos de quarenta anos, desconsidere todas as linhas dessa crônica. Leve seu nascimento a sério. Antes dos quarenta, ninguém vai morrer. Essa é a ordem natural do pensamento humano. Pague seus impostos, preocupe-se com a direção que sua vida está tomando, morra de ciúmes, dê-se o direito de todas as cenas passionais e irracionais que incrementam seu script: não se entregue ao fatalismo. Honre o primeiro ato dessa encenação chamada vida.

Porém, depois dos quarenta, apenas divirta-se e não perca tempo se preocupando com bobagens. Vai dar em nada.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

OS 11 SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO E O QUE COMER PARA EVITÁ-LA

A anemia é o distúrbio nutricional mais comum do planeta e afeta mais de 30% da população mundial, segundo a OMS

Você costuma se sentir cansado, com falta de ar ou perceber que seu coração está batendo mais forte do que deveria? Ou seus amigos comentaram que você parece muito pálido? Em caso afirmativo, você pode estar sofrendo de deficiência de ferro ou de anemia por esse motivo, o distúrbio nutricional mais comum do planeta.

Mais de 30% da população mundial é anêmica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de uma condição na qual o corpo carece do mineral nos glóbulos vermelhos, o que significa que menos oxigênio chega às células, já que o ferro é o responsável pelo seu transporte.

A anemia por deficiência de ferro não deve ser autodiagnosticada nem tratada por conta própria, com automedicação. Os sintomas podem indicar a existência de outra doença, e sobrecarregar o corpo com ferro pode ser perigoso, pois o acúmulo excessivo desse elemento pode danificar o fígado e causar outras complicações, alertam médicos.

Portanto, você deve se consultar com um médico se sentir um ou mais dos seguintes sintomas:

  •  Fadiga extrema e falta de energia
  •  Falta de ar
  •  Batimentos cardíacos perceptíveis (palpitações cardíacas)
  •  Pele pálida

Os sinais destacados acima são os mais comuns de acordo com a Mayo Clinic e o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), embora existam outros menos comuns, como:

  • Dores de cabeça, tonturas ou vertigens;
  • Inchaço ou dor na língua;
  • Perda de cabelo — quando há mais cabelo saindo ao escovar ou lavar;
  • Desejos de comer substâncias não alimentares, como papel ou gelo, uma condição conhecida como alotriofagia;
  • Feridas abertas dolorosas (úlceras) nos cantos da boca;
  • Unhas em forma de colher ou quebradiças;
  • Síndrome das pernas inquietas, um distúrbio que causa um forte desejo de mover as pernas.

CAUSAS

Existem vários fatores diferentes que podem levar à anemia por deficiência de ferro, incluindo gravidez, falta de ferro na dieta, crescimento rápido na infância, menstruação com fluxo intenso e condições de saúde que afetem a absorção de ferro.

O nosso corpo não é capaz de produzir este nutriente essencial para o funcionamento do organismo. Se você quiser manter os níveis desse mineral adequados – seja por meio da alimentação natural ou da ingestão de alimentos fortificados – é preciso saber que nem todo ferro está em uma forma que seu corpo consegue absorver facilmente.

Existem dois tipos de ferro: heme e não heme.

O ferro heme vem de fontes animais, que é mais facilmente absorvido pelo organismo. Ele é encontrado em carne bovina e suína, frango, fígado, ovos e peixes.

Há boas fontes de ferro em vegetais folhosos verde-escuros, como couve e espinafre, e legumes como ervilhas e lentilhas. No entanto, esses minerais são do tipo não heme, o que significa que você não absorve tanto ferro de fontes vegetais quanto de origem animal.

Além disso, há como consumir ferro a partir de pães fortificados e cereais matinais, embora essa não seja uma forma que promova uma alta absorção do mineral.

IMPACTO NA ABSORÇÃO

A maneira como você prepara sua comida e o que você bebe também podem alterar a quantidade de ferro que você absorve.

Para demonstrar isso, o cientista e nutricionista Paul Sharp, do King’s College London, fez alguns experimentos que imitam a digestão humana.

Os testes reproduziram o efeito das enzimas envolvidas na digestão dos alimentos e a reação química que ocorre nas células intestinais humanas para mostrar quanto ferro seria absorvido.

Sharp mostrou que se você beber suco de laranja com seu cereal matinal fortificado, uma quantidade muito maior de ferro é absorvida em comparação a apenas comer o cereal. Isso ocorre porque o suco de laranja contém vitamina C, o que facilita a absorção do ferro dos alimentos.

Mas, infelizmente, se você tomar café enquanto come sua tigela matinal de cereal, isso impactará diretamente na absorção de ferro, fazendo seu corpo captar um nível menor desse mineral. Segundo Sharp, isso ocorre porque o café está cheio de substâncias químicas chamadas polifenóis, que são muito eficientes em se ligar ao ferro e torná-lo menos solúvel.

Portanto, se um cereal fortificado é o seu café da manhã preferido, beber um copo pequeno de suco de laranja ou comer laranja ajudará a aumentar sua ingestão de ferro. Assim como também fará com que você espere pelo menos 30 minutos para tomar sua xícara de café após comer, para não prejudicar a absorção de ferro.

FONTES VEGETAIS

O repolho cru é uma boa fonte de ferro disponível, mas cozinhá-lo no vapor reduz a quantidade do mineral, enquanto fervê-lo diminui ainda mais. Isso porque, assim como a laranja, o repolho é rico em vitamina C e, ao fervê-lo, a vitamina C é liberada na água do cozimento, não facilitando a absorção.

Portanto, se você deseja obter o máximo de nutrientes do repolho, coma-o cru ou no vapor. O mesmo vale para outros vegetais que contêm ferro e vitamina C, como couve, brócolis, couve-flor e agrião.

Mas, curiosamente, o espinafre é completamente diferente. Sharp descobriu que a folha fervida libera 55% mais ferro do tipo biodisponível do que cru.

“O espinafre tem compostos, chamados oxalatos, que basicamente prendem o ferro. Quando cozinhamos o espinafre, o oxalato é liberado na água de cozimento e, portanto, o ferro que sobra estará mais disponível para absorção”, explica o nutricionista.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MENTE ACEITA SÓ AQUILO EM QUE ACREDITA

Viés da confirmação explica a nossa atual sociedade polarizada

Narciso acha feio o que não é espelho, canta Caetano Veloso em Sampa. Contudo, não foi em São Paulo, mas em Londres, na década de 1960, que o psicólogo Peter Wason deu o nome de “viés de confirmação” para o mecanismo que induz a mente a aceitar as informações que sustentam as próprias crenças, em vez de questionar e ter abertura para analisar outros tipos de informação.

A ideia de uma mente racional, a serviço de apreender a realidade tal qual ela é, seguiu sendo desacreditada na década seguinte. Em 1979, foi realizado um estudo na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, com estudantes universitários que tinham opiniões opostas sobre a pena de morte. Com base em dois artigos falsos – um que argumentava a favor e outro contra a pena de morte –, os estudantes apoiaram justamente aquele artigo que confirmava sua crença original. O estudo mostrou que ter as certezas contestadas serviu apenas como reforço para as próprias convicções.

Para os especialistas, a política e o futebol são campos de florescência do viés de confirmação. “A partir do momento em que você se expõe, você se cristaliza naquele posicionamento e aí você vai polarizando, polarizando…”, diz a neurocientista Claudia Feitosa-Santana. “As pessoas estão polarizando até em relação a Neymar e Richarlison por causa da política.”

Segundo Claudia, as conversas não ajudam a reduzir a polarização porque as pessoas acham que o diálogo está a serviço de desconstruir o argumento do outro. “A polarização política, da forma como ela é, só ajuda os próprios políticos. Eles conseguem conversar entre si, eles fazem acordos a portas fechadas, o eleitorado não.” Há quem coloque na conta da empatia a solução. Acontece que a empatia, relacionada à verdadeira escuta, custa energia cerebral ou glicose, que é um recurso limitado.

“É muito difícil você conseguir ‘empatizar’ com o que não faz parte do que você considera seu círculo moral”, diz Claudia. “As pessoas hoje em dia focam em empatia, sendo que ninguém tem empatia com ninguém. Usam a palavra empatia para cobrar do outro empatia, não para ser empático. O foco na verdade é a palavra respeito e ninguém se respeita”.

Alinhada ao viés de confirmação, a polarização política já chega formatada. “Quem é de esquerda tem que ser a favor do aborto. Se você é de direita, você tem que ser contra. Alguns autores chamam isso de identidade prêt-à-porter, uma identidade que já vem pronta, você só vai ali e veste”, diz Sérgio Rodrigo Ferreira, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo. “De certo modo, isso vai matando o aspecto mais subjetivo e mais diverso. Nós temos tido muita dificuldade de conviver com o contraditório por conta disso”.

Se um ambientalista e um executivo de companhia petrolífera buscarem na internet por “mudanças climáticas”, os resultados das buscas serão diferentes.

“Cada vez mais o monitor do nosso computador é uma espécie de espelho que reflete nossos próprios interesses, baseando-se na análise de nossos cliques feita por observadores algorítmicos”, escreve o ativista Eli Pariser no livro O Filtro Invisível: O Que a Internet Está Escondendo de Você (Editora Zahar).

Ao mapear as preferências do usuário, o algoritmo forma as chamadas bolhas, delimitando as respostas de acordo com seus gostos. Isso gera uma autossatisfação viciante que pode isolar o indivíduo num sistema de conhecimento unilateral, reforçando sua visão em vez de expandi-la, assim como acontece com o viés de confirmação.

Mais do que as bolhas, existem ainda as câmeras de eco, que recebem a contribuição dos usuários para manter o alinhamento das crenças. “Quando recebe algum posicionamento diferente, além de ser ferrenhamente contrário a ele, o usuário exclui pessoas e conteúdos que divergem de si”, explica Sérgio. “Não é apenas o algoritmo que está criando a bolha, mas os usuários ativamente estão construindo esses espaços fechados.”

FAKE NEWS

O constante reforço da própria opinião, evitando ter valores e crenças questionados, é abertura para a desinformação e para as fake news.

“O mundo é extremamente complexo hoje em dia. Nós temos muita dificuldade de enxergar e compreender a dimensão das várias camadas das coisas que acontecem e, de certo modo, na câmara de eco há uma simplificação do mundo a partir do que previamente eu já entendo, compreendo e creio. Eu faço o mundo caber na minha crença”, considera Sérgio.

Claudia Feitosa-Santana traz um contraponto, lembrando que fazemos parte de grupos diversos, como veganos ou pet lovers. “Nós não estamos todos exatamente dentro das mesmas bolhas. Nós temos muitos grupos e é isso que confere estabilidade para a nossa sociedade.”

A falta de tempo, de conhecimento e de fontes confiáveis para filtrar a enxurrada de informações que recebemos pode colocar também a ciência no balaio do descrédito.

Amanda Moura de Sousa, pesquisadora na Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem estudando a desinformação na área da saúde e a infodemia, o enorme fluxo de informações que invade a internet, diante da pandemia de covid-19.

“Para economizar o esforço de tentar lidar com algum fato, às vezes a gente precisa recorrer às nossas crenças, só que essas crenças podem levar para um caminho não muito saudável, que é eliminar a dúvida e se focar na certeza que você já tem”, diz a especialista em ciência da informação.

Ela lembra de mensagens que circulavam no início da pandemia, dizendo que os laboratórios não tinham avançado suficientemente em seus estudos e usavam as pessoas como cobaias na aplicação de vacinas. Mais de 71% das mensagens falsas naquele período circulavam pelo WhatsApp, segundo análise do aplicativo Eu Fiscalizo, desenvolvido por pesquisadoras da Fiocruz. “Pela relação de desconfiança que as pessoas muitas vezes têm com os cientistas ou com o próprio fazer da ciência, que às vezes escapa à compreensão delas, elas acabam aderindo à desinformação sem buscar outra fonte”, afirma Amanda.

FATOS

O medo da complexidade e o viés de confirmação são também citados pela pesquisadora de Nova York Sara Gorman no livro Denying to the Grave: Why We Ignore the Facts That Will Save Us (Negando Até o Túmulo: Por Que Ignoramos os Fatos Que nos Salvarão, em tradução livre). Segundo a autora, é tendência da mente enfatizar um pequeno risco, fortalecendo, assim, as próprias crenças. “Recusar-se a vacinar uma criança é um exemplo disso: aqueles que têm medo da imunização exageram o pequeno risco de um efeito colateral e subestimam a devastação que ocorre durante uma epidemia de sarampo ou apenas o quão letal a coqueluche pode ser”, escreve.

Se a ciência é vista muitas vezes de forma distorcida, o próprio fazer científico não está imune ao viés de confirmação – simplesmente porque cientistas são também humanos.

Kelley Cristine Gasque, da Universidade de Brasília, investigou as percepções de cientistas em relação ao viés de confirmação no processo de busca e uso das informações em seu fazer científico.

“Uma questão que achei bastante interessante que surgiu é que esse viés pode ser influenciado pelo financiamento da pesquisa, pela exigência dos resultados e expectativa do mercado”, comenta Kelley. “Empresas, por exemplo, que têm interesses econômicos vão investir muito em pesquisa e é óbvio que querem tal resultado. Então, você tem a tendência de buscar pesquisas em uma base que vai corroborar com aquilo que eles querem.”

Também o desejo de que a pesquisa dê certo foi citado pelos cientistas como gatilho para o viés de confirmação.

O antídoto para o problema seria, segundo os próprios cientistas, ter uma boa formação acadêmica, buscar fontes diversificadas, manter o espírito aberto para pontos de vista diferentes, desenvolver o pensamento crítico e a criatividade.

“O ser humano não é que nem um bezerro ou um potro que sai da mãe já andando. Nós somos extremamente dependentes até nossos 2, 3 anos de idade. Nós dependemos dos outros para sobreviver e isso é extremamente assustador”, observa João Luiz Cortez, especialista em programação neurolinguística.

Se a sobrevivência de hoje implica depender de um cuidador nos primeiros anos de vida, em tempos passados a dependência do grupo tinha peso e medida maiores. “Nós nos perpetuamos como espécie porque adquirimos a capacidade de viver em sociedade e é isso que nos fez resistir numa floresta inóspita com animais muito mais fortes do que nós”, conta João.

Valores são construídos de forma complexa e ancorados na afetividade desde a primeira infância. Por isso, mudar certas certezas é difícil e vai além da questão do orgulho narcisístico. A base de crenças é esteio para a sobrevivência emocional.

Charles Peirce, filósofo e pedagogo americano nascido em 1839, afirmava que só a dúvida leva ao conhecimento e, para chegar a ele, passamos por uma alternância entre o desconforto da dúvida e a segurança da crença. Os métodos de fixação da crença listados por Peirce incluem apego, imposição, gostos e também, mas não apenas, o método científico.

Segundo João, ignorar fatos reais para proteger a estabilidade emocional representa um estado limitado de desenvolvimento pessoal. “À medida que eu vou me fortalecendo emocionalmente, espiritualmente, eu tenho uma estrutura, uma musculatura que me permite lidar com a realidade como ela é.”

Apesar das bolhas, grupos, e algoritmos, não há o que unifique a experiência humana. “A maneira como nos sentimos nunca se repete no tempo e jamais é igual à forma como outra pessoa se sente”, escreve Claudia Feitosa-Santana no livro Eu Controlo Como Me Sinto. “E os filósofos já sabiam disso havia muito tempo. Na Grécia Antiga, Heráclito, um dos pensadores mais antigos que conhecemos, afirmou o seguinte: ‘Não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes’.”

Para além da soberania da razão, Caetano cantaria: “Alguma coisa acontece no meu coração”.

OUTROS OLHARES

DO TERREIRO À IGREJA, HISTÓRICO DE TRANSFOBIA MARCA DIFERENTES RELIGIÕES

Transgêneros contam dificuldades e experiências de preconceito que passaram em casas de fé

Há algo que une todas as principais religiões do Brasil, e não estamos falando do amor a Deus ou a deuses, seja qual for sua crença. Aliás, amor não tem qualquer espaço aqui. A transfobia é uma fístula que lacera relações sociais em múltiplas casas de fé, do terreiro à igreja.

Mesmo religiões tidas como trincheira contra o preconceito com pessoas LGBTQIA+ têm um histórico de marginalizar transgêneros, apontam cinco deles às vésperas do Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado neste domingo (29).

A modelo Ariadna Arantes, 38, primeira trans no Big Brother Brasil, fez um desabafo no dia seguinte à data que celebrou a causa em 2020. “Estou sofrendo intolerância dentro da própria religião.”

Havia acabado de ser iniciada no candomblé. Virou notícia: a ex-BBB de saião, blusa e turbante brancos. Mas muita gente, inclusive nos terreiros, torceu o nariz. Se a biologia não lhe fez mulher desde sempre, ela não podia se vestir como uma, alegavam. “Vocês são o que, professores de anatomia?”, Ariadna esbravejou. Luyza Nogueira dos Santos, 24, já viu esse filme antes, e passou por maus bocados antes de conseguir seu final feliz.

Ela conhece o preconceito desde pequena. Andou com fé primeiro numa igreja pentecostal, e depois na Igreja Católica, onde chegou a fazer a primeira comunhão. Voltou a ser evangélica porque os católicos lhe pareciam certinhos, e ela “sentia falta do transe”. Até que se descobriu médium ao receber no templo o Caboclo Laço de Ouro, uma entidade da umbanda, diz. Os fiéis em volta se horrorizaram. “Acordei lavada de óleo de unção dos pés à cabeça.”

Foi aí que Luyza encontrou a religiosidade afro-brasileira, mas sem se encontrar por completo nela. Tinha uma tia de santo, uma parente espiritual, que apanhou com sandália da avó de santo porque havia chegada maquiada na casa. “Era travesti declarada, mas dentro do terreiro a tratavam pelo nome morto [o que recebeu ao nascer], e vestia roupas ditas masculinas”, conta. Luyza ainda não havia feito a transição de gênero e vivia sendo amolada para se assumir gay. Mas ela era uma mulher, não um homem homossexual. E se sentia desconfortável com regras como não poder baixar entidades femininas. “Até que uma pomba-gira pegou minha cabeça, a Maria Navalha do Cabaré.” Conta que recebia ameaças, inclusive físicas, toda vez que aparecia com trajes femininos, como tranças ou uma saia.

Para Ronan Gaia, 28, que escreveu uma tese de mestrado sobre mulheres trans no candomblé, a religiosidade afro-brasileira não está isenta de preconceitos que encharcam toda a sociedade. “Em alguns terreiros, sobretudo os mais tradicionais, apenas mulheres dançam o xirê, ritual que antecede a evocação dos orixás. Mulheres trans são excluídas desse processo, e homens trans, inseridos”.

E esse é só um exemplo. O corpo é fundamental para o rito candomblecista, diz Gaia. Daí um destaque maior para a biologia, como se os orixás só compreendessem o gênero a partir do sistema reprodutor com que a pessoa nasceu. Para o pesquisador, ainda que reproduzam dinâmicas transfóbicas, os terreiros são redes importantes para acolher a população trans.

É como a reverenda trans Alexya Salvador, 42, vê muitas das chamadas igrejas inclusivas. Elas, ao contrário da maioria do meio evangélico, não percebem a identidade LGBTQIA+ como pecado. O problema é que esses templos não discriminam o fiel trans, mas nem sempre o aceita na liderança, diz.

Vide a amiga Jacque Chanel. Após ter sua ordenação como pastora negada por uma igreja que se dizia livre de preconceitos, ela abriu a Séforas, pioneiro templo trans.

Hoje líder na Igreja da Comunidade Metropolitana, Alexya cresceu na Igreja Católica e diz que conheceu padres que excluíam os LGBTQIA+ da “obra de Deus”.

A psicóloga e pesquisadora Cris Serra, 49, é católica praticante. E diz mais. “Foi justamente a minha experiência de sagrado a partir da sacralidade do meu corpo que permitiu que eu compreendesse minha experiência para além dessa norma cis-heterossexual tão dominante”, afirma.

Ela hoje usa o pronome feminino para se referir a si, mas gosta “quando a fronteira fica confusa” e lhe tascam o masculino. Cris se define como pessoa não binária. Entende-se portanto como trans, sem se identificar com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento.

Sabe da longa ficha corrida do Vaticano na transfobia. Recentemente, um post nas redes sociais ilustrou bem do que Cris está falando: lamentava “ver travecão comungando” nas missas modernas.

Papa Francisco, nesse sentido, emite sinais dúbios. Na quarta (25), declarou que a homossexualidade não é crime, mas é pecado. Imagina então o que acham deles, se perguntam os transgêneros. Em 2016, o pontífice disse que a teoria de gênero, “grande inimiga” da família, quer propagar a “colonização ideológica”.

Cris cita como exemplo dom Luciano Bergamin, bispo-emérito de Nova Iguaçu (RJ). Certo dia, veio até ele o pai de uma jovem trans, “muito atordoado com a situação da filha, chamando-a várias vezes pelo nome morto, masculino”. O bispo, “com bom humor, perguntou como era o nome dela e, rindo e alegando estar surdo, fez o grupo todo repetir o nome [feminino] várias vezes, cada vez mais alto”. Ser homossexual, em casos extremos, já rendeu pena de morte em nações de maioria muçulmana. Não que trans sejam plenamente aceitos, mas a transfobia pode ser mais branda a depender do país, aponta a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, coordenadora do Gracias (Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos), da USP.

Já os pares religiosos de Lilyth Ester Grove, 31, se incomodavam menos “quando eu era bicha”, segundo essa antropóloga judia. Até ela perceber que não era um homem gay e fazer a transição de gênero. Aí já era demais.

No fim, a comunidade judaica reflete a sociedade como um todo, diz Lilyth. “Sobre o Brasil em particular, a visão da travesti é muito precarizada. Somos vistas como apenas trabalhadoras de sexo, barraqueiras”. Para Alexya, a pastora evangélica, a força maior que transgêneros podem mostrar “é que nossos corpos também são templos de Deus”. Os incomodados que se mudem.

OUTROS OLHARES

A AFLIÇÃO DO OUTRO

Visto como racista, hino ‘Alvo Mais que a Neve’ leva debate sobre o politicamente correto nas artes para o universo gospel

Quando o pastor e cantor gospel Kleber Lucas definiu como racista “Alvo Mais que a Neve”, um clássico da música cristã que ele próprio cantou no passado, acabou importando para o segmento evangélico uma discussão que há bons anos transborda em outros círculos culturais.

Haveria letras de música que, se em outros tempos passavam batidas, hoje soam inadequadas, com uma carga preconceituosa inaceitável?

Pululam exemplos de canções outrora incensadas e depois banidas de caixas de som.  É o caso da marchinha “O Teu Cabelo Não Nega”, em que Lamartine Babo promete à “mulata” que, como “a cor não pega”, quer o seu amor. Racista. Recentemente, Beyoncé regravou “Heated” para remover um termo que irritou ativistas dos direitos de pessoas com deficiência. Derivava de “spaz” e remetia à espasticidade, distúrbio comum na paralisia cerebral. Capacitista.

Eis a questão —excesso de zelo, como afirmam detratores do politicamente correto, ou uma revisão de intolerâncias normalizadas no passado, para outros. Um debate que já pega fogo no meio secular, como evangélicos chamam o que é externo à sua religião, e que passou a carbonizar as relações entre irmãos de fé.

Kleber arrastou o bode para a sala religiosa quando, em entrevista a Caetano Veloso para o canal Mídia Ninja, apontou racismo na adaptação brasileira de “Blessed by the Fountain”, hino de 1881 do metodista Eden Reeder Latta.

O título da versão vem de uma passagem do Livro de Isaías — “embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve”. Kleber, que regravou com Caetano sua música “Deus Cuida de Mim”, interpretou a mensagem com lentes contemporâneas. “Porque o sangue de Jesus me torna branco, as ideias de embranquecimento estão lá no hino.”

Disse entender que, por memória afetiva, muitos entoem essa “canção lindíssima”. Mas hoje, mais ciente da “teologia preta” que ganha corpo no Brasil, enxerga uma mensagem “nefasta”. “Por que a igreja evangélica brasileira, de maioria negra, continua cantando ‘Alvo Mais que a Neve’?”

A colocação do pastor desagradou a meio mundo evangélico. Colega no gospel, a cantora Eyshila postou um vídeo cantando o hino da discórdia.

Pastor e deputado federal, Marco Feliciano se referiu a Kleber como “pregoeiro da loucura socialista comunista” e questionou se evangélicos deveriam “rasgar a Bíblia”, já que a inspiração para a música vem de lá. “Onde chegamos? Eu confesso que isso me embrulhou o estômago vindo de um levita, um pastor cujos louvores me fizeram adorar a Deus com intensidade.”

Portais evangélicos repercutiram a fala de Kleber em tom pouco amigável. O Gospel Mais publicou que, “assim como ocorre com outros problemas sociais, [o racismo] também tem sido instrumentalizado para apregoar um tipo de narrativa que enxerga discriminação em quase tudo”. O hino cristão, diz o texto, nada mais é do que uma “óbvia referência à purificação”.

Segundo o pastor Pedrão, líder da Comunidade Batista do Rio de Janeiro, o amigo “comeu mosca, falou besteira”. Afinal, “Deus não faz acepção de pessoas”, diz.

Kleber não é míope ao contexto ideológico em que o bafafá teológico emergiu. Sua questão, afirma, não tem como alvo o texto bíblico mas como ele é recebido num mundo que carrega a chaga da escravidão de africanos.

“Essa polêmica se acentua no momento em que a maioria do segmento que votou no governo derrotado se levanta num tipo de revanchismo, de hostilidade contra todos que se posicionaram contra Bolsonaro.” Foi o caso dele, um dos raros quadros evangélicos de expressão que apoiou Lula, do PT, contra Bolsonaro, do PL. E também o do cantor gospel Leonardo Gonçalves, que saiu em sua defesa.

“Você pode chamar de militância, mas estamos falando de sensibilidade. E a fala é do pastor Kleber. Um homem preto que cresceu na favela. Sua fala está marcada pela experiência. Você não consegue ter sensibilidade para ouvir?”

Gonçalves pegou a deixa e problematizou outra canção do gospel, para ficar num verbo que dá alergia em quem reclama de um mundo “chato demais” onde todo mundo se ofende a toda hora. Sua mira, dessa vez, foi para “O Nosso General É Cristo”, do veterano pastor Adhemar de Campos.

A mensagem pode se perder para quem sofreu nas mãos das “incontáveis ditaduras militares na América Latina”, afirma. “Para alguém que foi torturado por um general, como você acha que soa cantar ‘O Nosso General É Cristo’?”

Combinada com o comentário de Kleber, a análise de Gonçalves fomentou uma corrente direcionada à “tchurma” do mimimi”, que viralizou nas redes evangélicas. A troça era pegar trechos do cancioneiro gospel e os associar a alguma queixa da militância.

“Sabor de Mel”, famosa na voz da cantora Damares, acionaria gatilhos em diabéticos. “Olhai, olhai, olhai, os lírios cresceram no campo” seria preconceito contra cegos. “Eu não procuro por coroas”, verso sobre a busca por Deus ser superior àquela pelo poder, poderia ser mal interpretado por mulheres mais velhas. E o que dizer de “Caminhando Eu Vou para Canaã”, um acinte a cadeirantes?

Quem perde a sensibilidade, mas não perde a piada corre o risco de classificar de “exagero” e “militância” a dor do outro, disse Leonardo Gonçalves numa rede social. É preciso empatia. E também é fundamental entender que contextos mudam, e isso é saudável para todos os envolvidos.

Ele lembra músicas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, frequentada por sua família. “Muitas dessas letras usavam os termos ‘gozo’ e ‘gozar’, que indicavam alegria, mas hoje são compreendidos de forma menos, digamos, inocente. “Você vai me dizer que o significado dessa palavra não mudou? Tanto mudou que foram substituindo essa palavra porque estava ridículo!”

GESTÃO E CARREIRA

PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA O AUDIOVISUAL CORPORATIVO

O audiovisual foi um dos segmentos que mais cresceram desde o início da pandemia, segundo a 22ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2021-2025 da PwC, o setor no Brasil deve crescer 4,7% até 2025 e 5% ao ano.

Os vídeos estão presentes em todos os lugares e em grandes quantidades: não somente nas redes sociais e como forma de entretenimento, mas também como formato de construção de imagem de marca para muitas empresas, além de ser um assertivo ponto de contato com clientes, fornecedores, parceiros e colaboradores.

A tendência permanece em 2023. Pensando nisso, a ‘thanks for sharing’, produtora audiovisual de animação 2D para o mercado corporativo, por meio da CEO e fundadora, Simone Cyrineu, separou quatro tendências para o mercado no ano que vem:

ANÁLISE DE DADOS

Em meio à crise econômica e retração de muitas empresas, é cada vez mais necessário que os orçamentos de vídeos sejam feitos com base em dados, sejam eles de performance de campanhas anteriores das empresas ou de pesquisas de mercado.

“Na análise de dados, é também importante avaliar o motivo do vídeo contratado e o conteúdo dos vídeos feitos anteriormente, como adequação de linguagem e resultados obtidos”, pontua a especialista.

AUTOMATIZAÇÃO DE PROCESSOS

Ao entender a importância do vídeo para a comunicação corporativa e as frequentes e rápidas mudanças do ambiente digital, a produção audiovisual precisa acompanhar esse ritmo por meio de entregas escaláveis e processos automatizados, ágeis e tecnológicos. A ‘thanks for sharing’, por exemplo, aposta nos valores por meio de feedbacks e contatos frequentes com os times envolvidos e produtos e preços presentes no site.

VÍDEOS ESCALÁVEIS

Partindo do pressuposto que os vídeos contratados pelas empresas terão diferentes públicos-alvo, estes acessam e consomem diferentes tipos e formatos de conteúdo. Sendo assim, a prática mais assertiva para os fornecedores de vídeo é apostar em automatização e escalabilidade de vídeos. Isto é, vídeos ágeis e eficientes produzidos em escala e adaptáveis para cada propósito e canal de comunicação.

CAMPANHAS OMNICHANNEL

Com múltiplos canais de comunicação e contato com clientes, fornecedores e parceiros, é essencial que as empresas apostem em campanhas omnichannel com vídeos personalizados de acordo com a necessidade de cada público, assim como adaptado para os específicos canais.

Atuante no setor e já aderente às tendências listadas, a thanks for sharing inova no setor ao traduzir comunicações e objetivos das empresas em vídeos personalizados. Traduzindo a solidez do negócio, a produtora tem, em seu portfólio clientes, de diversos segmentos e tamanhos, como Electrolux, Porto Seguro, Syngenta, XP Inc. entre outros

FONTE E MAIS INFORMAÇÕES: www.thanksforsharing.com.br

EU ACHO …

NÁUFRAGOS DO ORGULHO

No naufrágio do Titanic da espécie humana, eu me agarro à boia da minha vaidade

Vejo pessoas tomadas de fúria. Observo outros humanos atacados de ciúmes doentios ou inveja corrosiva. A luxúria consome meus conhecidos e induz cada um deles a atos torpes. Por todo lado, o “humano, demasiado humano”, domina. Egoístas sempre, altruístas de quando em vez. E eu? Sinto-me igual (ou pior) a todos os que perambulam neste umbral chamado vida. Ressalto: minha estrutura iguala-me a toda a mesquinhez do mundo. Minha vaidade é tão imensa que tenho vergonha de demonstrar a fraqueza em público. Como funciona? Alguém me diz algo desagradável na rua. Fico perturbado, sempre, mas… teria muita vergonha de reagir com raiva desmedida, demonstrando que o agressor acertou o alvo; eu acuso o golpe, sentindo afluir o sangue da “vendetta”. Prefiro fingir indiferença disfarçada por certo estoicismo de “minha paz me pertence”. Olhando de longe, pareço sábio; de perto, sou uma besta-fera amordaçada.

Tenho ciúmes vários, mas nada digo. Parece que seria uma humilhação pedir que evite encontrar alguém. É algo similar a “como o meu concorrente pode ser melhor do que eu, prefiro que você não o encontre”. Passar atestado de fraqueza, de medo e berrar ao mundo que não sou bom o suficiente? Minha máscara é a superioridade ocultando meu medo trêmulo: “Pode ir, amor… você quem sabe”.

Em meu favor, o fino verniz consegue ter efeito denso. Tive um colega invejoso que me atacava na universidade. Num dia, em meio a uma chuva de críticas gratuitas em almoço coletivo, respondi com calma, trocando o nome dele por um similar. Vi como ficou perturbado. O ódio é um pedido de atenção, entretanto fingi, com sucesso, que ignorava a ação e o ser atrás de tal ação. Foi devastador, e ele perdeu o controle. Eu pisquei por último no fogo-fátuo das vaidades acadêmicas.

Sou vaidoso a ponto de controlar minha raiva. Meu orgulho é tão grande que gosto de emular a sabedoria. Insisto pouco se alguém não quer sair comigo. Disfarço e domestico, parcialmente, minha ira.

Uma pessoa sábia não pode ser atingida por ataques. Sua tranquilidade é profunda; sua paz é um lago sereno ao redor da consciência. O equilibrado de verdade é um monumento de granito que fica indiferente às ondas que se abatem. Não sou assim.

O segundo tipo é o ser impulsivo que enfrenta tudo e todos. Cada palavra seca é respondida com agressão verbal ou física. O raivoso imaturo deixa ao mundo a decisão sobre ter ou não equilíbrio. Basta um gesto e… lá vem a pororoca reativa. Essas pessoas são folhas frágeis que oscilam de acordo com o desejo do vento externo, carregadas para lá e para cá. Barulhentos, porém vítreos; brigões, todavia dependentes. Causam mais incômodo e pena do que medo. Também não sou assim.

Sou um mestiço estranho entre os dois tipos anteriores. Nunca fui o perfeito equilibrado em um mar de dificuldades. Melhorei, porém estou longe do modelo do filósofo Epicteto. Da mesma forma, não encarno o segundo modelo. O impulso não é soberano sobre meu mundo. Minha raiva existe e é controlada, como disse, pela vaidade. O zelo pela minha imagem me domina mais do que ter feito psicanálise ou ter lido tanta filosofia. Não me sinto guiado pela virtude. Meu freio está na fragilidade do meu ego, que finge, pretende, encena e age com serenidade, na maioria das vezes.

De alguma forma, existe uma secreta admiração pela sinceridade transparente de alguém que muda física e psiquicamente, porque outra pessoa deu uma buzinada indevida. É como se essa pessoa não tivesse vergonha de ser visceral e gritasse ao mundo: emita um som, e o meu mundo desmorona como Jericó diante das trombetas dos hebreus. Um perturbado é uma espécie de criança que fica emburrada diante da atenção dada ao irmão na festa de aniversário. Como os pequenos, alguns adultos parecem achar que mostrar carência e fraqueza em público é… legal. Eu morro de vergonha de berrar para todos que sou uma carne viva, sem pele, e um vento frio pode me fazer sentir dor. Há uma parte minha que admira a sinceridade na fraqueza de quem tem acesso de ciúme, em público, sem culpa de reconhecer que não se considera com atrativos suficientes para enfrentar a concorrência.

Volto ao tema: sou igual (ou pior) a todos os motoristas do mundo, a todos os maridos ou a qualquer outro profissional inseguro. Sou raivoso e cheio de complexos. Tenho medo e acho sempre que me abandonarão. Porém, no naufrágio do Titanic da espécie humana, eu me agarro à boia da minha vaidade, minha companheira fiel, vasta e segura. Fico à deriva sim, temo a água fria, a morte e… não grito para não atestar que sou feito do mesmo lodo de todos os fracos e pusilânimes.

Reconhecer-se igual a todos é quase humildade. Saber-se pior é próprio da consciência dos santos. Minha vaidade é tão enorme que, freando minhas raivas e acessos, ainda me fornece uma narrativa de superioridade: “Viu? Não sou como esses que se descontrolam”. Assim, afundo, no mar gelado e patético da humanidade, como todo náufrago, mas… sem gritar. Diferente dos ruidosos, sou um imbecil silencioso e altaneiro. Afundo com total dignidade e estudada cenografia. Tenho esperança de, num dia, ficar sábio. O tempo está diminuindo…

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

TREINO DE 10 MINUTOS PARA ENFRENTAR O DIA A DIA

Desafios diários exigem diferentes esforços do corpo humano. Para evitar dores e lesões, é preciso condicioná-lo. Aprenda exercícios que usam apenas o peso corporal e proporcionam força, estabilidade e flexibilidade

Você não precisa ser um atleta para desafiar seu corpo diariamente. Seja levantando sua bagagem no compartimento superior de um avião ou agachando-se para brincar com seus filhos, muitos movimentos rotineiros exigem uma combinação de força, estabilidade e flexibilidade. Assim como um atleta, se você quer fazer essas coisas bem e sem correr o risco de se machucar, precisa treinar.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA recomenda 150 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana e duas sessões semanais de treinamento de força que visam todos os principais grupos musculares.

Mas a vida é corrida. Se você tiver apenas 10 minutos por dia, há muito o que se pode fazer usando apenas o peso do corpo. Apesar de curto, esse tempo é suficiente para evitar joelhos que rangem, costas rígidas e pescoço dolorido.

Uma maneira de criar um treino rápido e eficaz é focar no conceito de mobilidade, que envolve aumento de força, estabilidade e flexibilidade, diz Cedric Bryant, presidente do Conselho Americano de Exercício:

“Quando pensamos em mobilidade, pensamos em movimento”.

Isso significa treinamento de força usando movimentos dinâmicos, como afundos, que trabalham grupos de músculos, em vez de músculos individuais, como rosca direta para os bíceps.

“Na vida diária, o corpo nunca usa apenas os bíceps”, comenta Jessica Valant, fisioterapeuta e instrutora de pilates de Denver.

Outra maneira de construir força para a vida cotidiana é fazer exercícios que visam partes importantes do corpo em movimento, como ombros, quadris e coluna, fortalecendo-os enquanto percorrem suas amplitudes de movimento.

“Sua coluna é o centro do tronco, o quadril é o que conecta as pernas ao tronco e o ombro é o que conecta os braços ao tronco. Essas são as principais áreas que você usa para alcançar, levantar e puxar. Se você puder trabalhar para mantê-los móveis, vai se ajudar em 90% das atividades que realiza todos os dias”, enfatiza Valant.

Mark Lauren, especialista em condicionamento físico e ex-treinador do Comando de Operações Especiais da Força Aérea dos EUA, diz que, em sua própria rotina de atividades físicas, exercita metodicamente ombros, coluna, quadris e pernas, incorporando o movimento completo de cada articulação. Isso permite que ele trabalhe de forma rápida e eficiente para aumentar a força e a mobilidade.

Se você está trabalhando ativamente para desenvolver uma amplitude completa de movimento para essas partes do corpo, disse ele, “todo o resto tende a cuidar de si mesmo”.

Para criar a rotina de treinos mais eficiente usando apenas o peso corporal para aumentar a força e a mobilidade na vida cotidiana, conversamos com especialistas sobre quais exercícios eles recomendam e por quê. Os movimentos que eles indicaram aumentam a força do corpo inteiro e farão você se sentir mais capaz e ágil.

FORÇA E MOBILIDADE

Este treino tem como alvo os quadris, ombros e coluna, começando na parte inferior e subindo. Você também pode misturá-los, se preferir. Faça pausas conforme necessário, mas tente trabalhar até o ponto em que não precise delas. À medida que avança, você também pode adicionar pesos leves, mas concentre-se em dominar os movimentos primeiro.

“Se você não dedicar um tempo para se sentir seguro e forte, é aí que os problemas podem ocorrer mais tarde”, alerta Valant.

Comece correndo, marchando sem sair do lugar ou faça outros aquecimentos dinâmicos e, em seguida, faça duas rodadas de um minuto dos seguintes exercícios:

AFUNDO: 10 a 20 repetições por minuto

AGACHAMENTO: 10 a 20 repetições por minuto

PONTE DE GLÚTEOS: 10 a 15 repetições por minuto

PERDIGUEIRO: 6 a 10 repetições por minuto

FORMAÇÃO YTWL: 3 a 5 repetições por posição, com 5 posições por minuto

AGACHAMENTOS E AFUNDOS PARA A PARTE INFERIOR DO CORPO

Agachamentos e afundos são os melhores exercícios para melhorar a mobilidade do quadril. Eles fortalecem suas pernas e desenvolvem a amplitude de movimento de seus quadris. Embora os exercícios sejam semelhantes, conta Valant, é importante fazer os dois. Os agachamentos, que visam os glúteos e os quadríceps, irão ajudá-lo a descer ao chão e voltar com facilidade.

“Fomos feitos para fazermos esses agachamentos profundos. É bom para o assoalho pélvico, é bom para os quadris”, recomenda a fisioterapeuta.

Os agachamentos também trabalham o corpo uniformemente, com as duas pernas fazendo o mesmo movimento.

Para agachamentos com peso corporal, fique em pé com os pés afastados na largura dos ombros. Ao agachar, seus joelhos devem se mover alinhados com os dedos dos pés, descendo o máximo que você puder confortavelmente.

Os afundos, por outro lado, são assimétricos, exigindo equilíbrio e estabilidade, e abrangem muitos outros movimentos diários. Visam os glúteos, quadríceps e isquiotibiais (músculo posterior de coxa), que ajudam a caminhar e subir escadas, mas também criam equilíbrio e firmeza.

Para afundos, assuma uma postura ampla, com o calcanhar traseiro levantado.

“Não tenha medo de usar um balcão ou uma cadeira quando estiver começando”, tranquiliza Valant.

Tanto para agachamentos quanto para afundos, à medida que avança, você pode começar a adicionar alguns pesos, mas como se trata de melhorara mobilidade, “quando mais profundo, melhor”, acrescenta a fisioterapeuta.

PONTE E POSIÇÃO CÃO-PÁSSARO PARA FORTIFICAR A COLUNA

A coluna vertebral é única porque é composta de muitas pequenas articulações, todas as   quais precisam permanecer móveis para funcionar adequadamente. Os principais movimentos da coluna são para frente, para trás, de um lado para o outro e torcer – então esses são os movimentos que você deve treinar.

Lauren recomenda o exercício cão-pássaro, que move a coluna para frente, para trás e de um lado para o outro.

Fique de joelhos na posição de engatinhar, estendendo totalmente o braço direito e a perna esquerda, como faria em um exercício de cão-pássaro do ioga. Em seguida, traga o braço e a perna para o centro do corpo, tentando tocar o cotovelo direito no joelho esquerdo. Repita isso, usando o braço esquerdo e a perna direita.

“É um exercício muito bom para quebrar um longo dia sentado em frente ao computador”, comenta Lauren.

O próximo exercício é a ponte de glúteos, que trabalha a parte inferior da coluna. Para fazer uma ponte de glúteo, deite-se de costas com os joelhos dobrados e os pés apoiados no chão. Pressione os quadris para cima, contraindo os glúteos ao fazê-lo. Evite arquear as costas e mantenha-as retas. Em seguida, traga os quadris de volta ao chão.

FORTALEÇA OS OMBROS COM SEUS QUATRO MOVIMENTOS PRIMÁRIOS

Nossos ombros são capazes de uma ampla gama de movimentos. Para desenvolver e manter ombros fortes e ágeis, Bryant recomenda a formação YTWL, que leva os ombros por toda a sua amplitude tridimensional, em quatro movimentos separados, e trabalha para construir músculos que são cruciais para a vida cotidiana, mas que muitas vezes são esquecidos.

Este exercício pode ser feito deitado. O objetivo é mover os braços e ombros em quatro movimentos que imitam as quatro letras, fazendo de três a cinco repetições para cada um. À medida que avança, você pode adicionar pesos leves, mas o foco deve estar em mover os ombros totalmente.

Para iniciar o primeiro movimento, mantenha os braços acima da cabeça na posição Y. Traga-os para baixo até as coxas e depois de volta acima da cabeça, como se estivesse movimentando uma bola grande e invisível de cima da cabeça até a cintura.

Em seguida, faça a posição T mantendo os braços estendidos em um ângulo de 90 graus em relação ao corpo e juntando as mãos, como se estivesse batendo palmas, certificando-se de manter os braços retos.

Para a posição W, mantenha os braços estendidos em um ângulo de 90 graus em relação ao corpo, mas dobre os cotovelos para criar ângulos retos e mantenha as mãos para cima, formando um W. Traga os braços acima do corpo, encostando os dedos das mãos uns nos outros, como se estivesse se preparando para mergulhar em uma piscina, depois leve-os de volta para formar novamente a forma de W. Para a posição L, mantenha os braços estendidos ao lado do corpo em uma posição dobrada semelhante a do exercício anterior, de modo que os dois braços formem um L cada. Mas, desta vez, mova os antebraços para a direção do quadril, fazendo um semicírculo, mas mantendo a parte superior do braço no mesmo lugar, sem se mexer muito.

Dez minutos podem não parecer muito para uma rotina de fortalecimento. Mas quando bem feito, com o objetivo de aumentar a mobilidade geral, este treino facilitará os movimentos diários, seja agachar ou levantar algo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GHOSTING

Psicólogos alertam para danos à saúde mental causados pelo ‘sumiço’ digital

“Responsabilidade afetiva é saber que o que fazemos tem consequências na vida de quem está ao nosso redor. Atrás de uma tela existe alguém que sonha, que vive, que anseia, que espera, que deseja e que já sofreu. Cuidar e ser cuidado é a ação essencial do amor visto como saudável.” A postagem que fez sucesso nas redes sociais é de Alejandro Schujman, psicólogo argentino especialista em família.

Desaparecer, deixar de responder ou bloquear diretamente alguém sem aviso prévio nas redes é conhecido, há algum tempo, como “ghosting” (termo em inglês derivado da palavra ghost, que significa fantasma). Os psicólogos admitem que a tecnologia apenas acelerou e facilitou o que já existia no mundo real.

Sumir sem nenhuma explicação mostra irresponsabilidade emocional. E a “vítima”, sem saber se o outro vai reaparecer ou entender os motivos do silêncio, fica sem o fechamento necessário numa relação, o que pode impactar na sua autoestima e bem-estar mental.

É consenso entre os especialistas que o crescimento generalizado dos contatos virtuais, envolvendo, muitas vezes, pessoas desconhecidas, facilita a possibilidade de “desaparecimento”, situação que acontece não só nas relações afetivo-sexuais mas também nas amizades e vínculos de trabalho.

Desobrigadas a mostrar o corpo e o rosto, muitas pessoas se sentem livres para agir a partir de uma espécie de anonimato, avalia a psicóloga Claudia Ghersevich.

“É mais fácil se desconectar do outro, e também é uma forma de se desconectar daquilo que mobilizaria a pessoa para enfrentar o conflito. É uma maneira rápida de terminar algo com o que você não quer lidar. O contato desaparece, o conflito desaparece —reforça a especialista esclarecendo que essa decisão de sumir é consciente.

O psicólogo Fabio Calvo confirma que, embora aqueles que “desaparecem” de um relacionamento tenham existido “a vida toda”, a tecnologia torna essas ações mais “evidentes e virais”.

Calvo atribui esses comportamentos a quem se move socialmente com “desapego ou apego mal aprendido” e concorda que as pessoas podem agir por medo, por não ousar falar as coisas diretamente para o outro, mas alerta que isso pode machucar alguém.

“A comunicação está mais despersonalizada, a multiplicidade de canais virtuais possibilita uma dose de crueldade que não significa que haja, necessariamente, mais pessoas más, mas sim que são tempos de amor covarde, de medo de compromisso —diz Alejandro Schujman.

“A maioria das pessoas sofre quando as coisas terminam sem explicação, quando as situações ficam sem solução clara. Esse tipo de atitude é prejudicial e se a pessoa que sofreu o “ghosting” estiver em um momento de baixa autoestima, é ainda pior”, reforça o especialista.

FANTASMAS

O termo “ghosting” foi usada pela primeira vez em 2014 pela atriz de comédia Hannah Vander Poel, que ao contar sua experiência pessoal no YouTube, definiu “ghosting” como o “homem perfeito que promete tudo antes de desaparecer como um fantasma”.

Três anos depois, o conceito foi incluído no dicionário Merriam-Webster (que é uma referência para novos termos) e começou a ser aceito em todo o mundo. Com o tempo, ao ghosting foi adicionada a ideia de “orbitar”, que acontece quando a mesma pessoa que sumiu e não faz mais contato, continua acompanhando as redes sociais da outra, abandonada. Uma combinação considerada fatal pelos psicólogos. Os especialistas destacam que ninguém é obrigado a permanecer em um relacionamento, mas ressaltam que é importante que todos os envolvidos conheçam as regras do jogo.

Alejandro Schujman reforça que se uma relação acaba “deve haver um fechamento”:

“É a maneira de estar em paz. Precisamos iniciar e encerrar etapas.

De acordo com ele, caso isso não seja feito, pode acontecer que a pessoa fique “esperando como Penélope”, referindo-se ao mito grego relatado na Odisseia, em que a esposa de Ulisses espera 20 anos por ele durante a Guerra de Troia. Obrigada pelo pai a casar novamente, ela prometeu fazê-lo quando terminasse uma colcha, que tecia durante o dia e desfiava à noite. O psicólogo diz que, em geral, são as mulheres que mais assumem o comportamento de esperar e acreditar que o outro vai reaparecer e mudar, mas que “neste modus operandi não há mudança possível porque não há empatia”.

“Posso escolher não me relacionar com a outra pessoa, mas devo cuidar da maneira como gerencio isso. O problema não é a emoção, mas a gestão”, resume Claudia Ghersevich.

Ela explica que o ghosting é diferente da situação em que a pessoa se afasta para refletir, não agir na raiva ou ganhar distanciamento.

A psicóloga também aponta que, na comunicação digital, não existe um ritmo único, e é preciso entender que nem todos respondem instantaneamente a um contato, que há quem se desconecte nos finais de semana, por exemplo. Ou seja: atraso na resposta não é ghosting.

Há quem repita sistematicamente o “desaparecimento” e é aí que os especialistas destacam que há falta de responsabilidade afetiva.

“Significa não entender como minhas ações impactam os outros”, diz Ghersevich, lembrando que o filósofo e escritor chileno Humberto Maturana falou de três direitos humanos: errar, sair de um lugar e mudar de ideia.

“A pessoa que está ali pode exercer qualquer um desses chamados direitos, mas cuidando do outro, sendo claro”, acrescenta.

COMO EVITAR

Não existe um guia para evitar o ghosting, mas Calvo ressalta que esse tipo de comportamento é mais frequente se o contato for apenas virtual.

“É importante conhecer o outro em seu ambiente natural, seus amigos, seu contexto. Relacionamento vai além do individual, inclui vínculos e isso é muito importante”, alerta.

Ele acrescenta que é muito importante que as pessoas se priorizem, mas isso “não significa ser egoísta; não implica fazer só por mim sem me importar com o que o outro sente. Devo tomar cuidado para não machucar”.

Schujman acrescenta que o diálogo é outro fator que pode orientar o andamento de um relacionamento.

Ele também aponta que se uma pessoa adota atitudes de ghosting, ela tem que rever seu próprio modelo de relacionamento e analisar se não tem teimosia ou excesso de expectativas.

“A coisa mais dolorosa para quem sofre com o ghosting é se sentir invisível para o outro. Agir com responsabilidade afetiva implica em não deixar o outro com o inacabado e a incerteza. Quem está bem pode fechar aquela história mais rápido, se não, há ruminação e o luto é mais difícil”, afirma Claudia Ghersevich.

OUTROS OLHARES

JOVENS ‘DESENTERRAM’ A CYBERSHOT E SENTEM GOSTO DA ERA ORKUT

Câmeras digitais voltam a circular, impulsionadas pelas redes sociais e pela curiosidade da Geração Z a respeito das limitações da tecnologia de imagem

A volta do emo, das calças de cintura baixa e de Paris Hilton atestam que a cultura e a estética dos anos 2000 passam por um momento de redescoberta pela Geração Z (os nascidos no “novo milênio”). Agora, mais um item do período em que o Orkut era rei começa a fazer sucesso entre essas pessoas: a Cybershot.

É pelo nome da câmera digital que a Sony comercializou nos anos 2000 que os jovens atualmente se referem a qualquer dispositivo do tipo – mesmo que sejam de outras marcas, como Canon e Kodak.

Segundo dados do Google Trends, ferramenta que mede o interesse por assuntos pesquisados no buscador, a procura pelo assunto começou a ganhar força em outubro do ano passado, quando o termo “powershot”, correspondente a um modelo da marca Canon, teve um pico. Em novembro, houve um novo pico, desta vez para a busca por “câmera digital”. Neste mês de janeiro, foi a vez do termo “cybershot” disparar em interesse.

“Fui em festas em que as pessoas estavam utilizando essas máquinas e achei muito legal. Achei interessante a forma como as fotos ficam, com um ar vintage. Mas a aparência é de anos 2010 e não anos 1990”, conta Lucas Manoel, de 24 anos. Com a sua primeira Cybershot, ele sente que tem uma máquina do tempo para um passado que quase não viveu.

NOVIDADE

Para quem está experimentando pela primeira vez, a novidade ganha ares de                                                 descoberta arqueológica. “A câmera digital traz uma sensação de usar algo antigo que ainda funciona e não é parte de um celular. Tem um charme próprio e é mais interessante do que fazer algo que já estamos acostumados”, diz Luiza Dill Silveira, de 21 anos.

O regresso das câmeras digitais tem um objetivo diferente de quando surgiram, na metade dos anos 90. Na época, o aparelho revolucionou a fotografia amadora, dominada por câmeras com rolos de filme. Com a máquina digital, foi possível tirar fotos, visualizar, apagar os cliques indesejados e seguir fotografando.

Agora, parece existir a busca por um tipo de estética nas imagens. Apps para smartphones Huji Cam, Dazz Cam e VSCO tentam simular os efeitos e limitações desses equipamentos, mas não são suficientes. “A gente percebe (nas redes sociais) quem utilizou filtro e quem tirou com a câmera”, diz Manoel.

No fim, a busca não é por aquilo que a Cybershot oferece, mas por aquilo que não oferece. Eduardo Pellanda, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), explica que um dos aspectos que mais contribui para a estética vintage das fotos não são as lentes, mas, sim, a simplicidade do software.

“O software dos smartphones tem conseguido juntar processadores cada vez mais rápidos com a inteligência de entender a imagem. É possível tirar muitas fotos quase simultâneas com exposições diferentes e juntar essas imagens em várias composições. Hoje, a mágica está muito mais software no hardware”, diz Pellanda.

‘TREND’

É impossível também desvincular o uso das câmeras das redes sociais. A tendência não apenas surgiu em plataformas como Twitter e TikTok, mas também se alimenta delas. A hashtag “digitalcamera”, na plataforma de vídeos curtos, já atraiu mais de 211 milhões de visualizações. Já a versão “cameradigital” ultrapassou os 3,9 milhões de views.

Artur Bier, de 17 anos, conta que os cliques feitos por ele fazem sucesso nas redes – a “Cybershot” foi comprada no final do ano passado. “Meus amigos gostaram bastante quando apareci com ela, inclusive conheço mais três que possuem modelos semelhantes”, diz.

Já Manoel percebeu que as imagens feitas com a câmera geraram interação no TikTok. Um dos vídeos, que mostra o modelo de máquina que ganhou da tia no ano passado, já ultrapassou 20,5 mil curtidas e 131 mil visualizações. “Meu vídeo no Tiktok virou um comércio de máquina digital. A galera nos comentários ficou perguntando: ‘Alguém vende?’, ‘Como que eu uso?’”, diz.

EMPOLGAÇÃO COM CÂMERAS DIGITAIS IMPULSIONA AS VENDAS

Enquanto as redes começam a ser inundadas com fotografias “vintage”, canais de vendas de câmeras digitais usadas come- moram o aumento na procura por esses dispositivos. Uma dessas lojas, a Annalogica, tem um perfil no Instagram especializado em máquinas antigas – desde Polaroids às famosas Cybershot – e diz que as vendas cresceram cerca de 80% desde o ano passado.

“Antes a procura era zero, as pessoas tinham até um certo preconceito com a câmera digital. Achavam cafona”, explica Giovanna. “Depois do meio do ano passado, a venda aumentou muito. Quem gosta do efeito e da granulação da analógica não troca, mas as pessoas procuram as digitais por serem mais ‘fáceis’, não precisarem nem de filme e nem de revelação, com a vantagem de um efeito retrô similar.”

A lojinha fundada em 2020, gerida por Anna Avino e Giovanna Avino, fica em Praia Grande (SP), mas é na rede social que faz a maior parte dos negócios – o nome, inclusive, surgiu dos apelidos das duas esposas (Anna e Gica). Agora, as câmeras digitais amadoras já representam metade das vendas mensais da dupla.

A OLX e o Mercado Livre são dois dos canais preferidos por quem procura um aparelho do tipo. Nos sites, anúncios de câmeras vão de R$ 50 a R$ 400, em diversos estados de conservação. A Shopee afirma que registrou aumento de 165% nas buscas por câmeras digitais no período de outubro de 2022 a janeiro de 2023.

OUTROS OLHARES

MAIS POBRES PAGAM ‘PEDÁGIO SOCIAL’ PARA EVITAR DISCRIMINAÇÃO AO COMPRAR

Consumidor prefere lojas com público da mesma classe social para não ser hostilizado, diz estudo

Era verão de 2021, na cidade do Rio de Janeiro. O jovem Leonardo Vitor de Oliveira foi com alguns amigos à praia do Arpoador, em Ipanema, zona sul carioca. Na metade do passeio, decidiram comprar alimentos e bebidas no supermercado mais próximo e saíram com os produtos na mão, “sem bolsa” (sacola), paga à parte.

No caminho de volta para a praia, ele e dois amigos foram abordados por policiais que participavam de uma blitz do outro lado da rua. “Vocês pagaram por isso aí?”, perguntou um deles, já partindo para a revista. Felizmente, a nota fiscal estava no bolso de Oliveira.

“Eram apenas três homens carregando produtos na mão”, diz o jovem de 25 anos, morador da favela da Maré, na zona norte do Rio. “Se a gente tivesse roubado alguma coisa, teria saído correndo, mas não, a gente estava andando normalmente, sem bagunça.” Mas, para Oliveira – um jovem branco de 1,95 metro, bigode fino e “corte do jaca” no cabelo (um corte navalhado com efeito dégradé, que teria nascido na comunidade do Jacarezinho) – , ficou claro que os policiais viram nele e nos dois amigos negros que o acompanhavam sinais de que se tratava de moradores da favela.

“Eles nunca teriam feito isso [abordagem sem motivo] com gente de Ipanema, mesmo se os moradores estivessem vestidos como a gente”, diz ele, lembrando que estavam de chinelos, bermuda e sem camisa. “Desanima ir à praia assim.”

E não só à praia, segundo estudo da FGV Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública de Empresas), em parceria com a francesa Iéseg School of Management. O levantamento apontou que o medo da discriminação faz com que consumidores de baixa renda prefiram comprar em lojas com público da mesma classe social – mesmo em casos em que o produto é mais caro do que em lugares frequentados por pessoas mais abastadas.

“Existe uma alta expectativa de discriminação dos consumidores pobres em ambientes comerciais mais sofisticados, uma preocupação praticamente não existente entre os consumidores ricos”, diz o professor Yan Vieites, coordenador do centro de pesquisas comportamentais da Ebape e um dos autores do estudo, intitulado “Expectativa de discriminação socioeconômica reduz a sensibilidade ao preço entre os pobres”.  

O levantamento foi conduzido de agosto de 2017 a janeiro de 2022, com a participação de 1.936 pessoas, entre moradores do complexo de favelas da Maré e da zona sul do Rio de Janeiro. “Mas a expectativa é que sejam generalizáveis para outras localidades, porque refletem a realidade de outros estados e até mesmo de outros países”, afirma Vieites.

De acordo com o especialista, muitas vezes os mais pobres acabam pagando um custo econômico para evitar o preconceito em ambientes comerciais. “Chamamos de ‘pedágio social’ o custo adicional que se paga para ter acesso aos mesmos bens e serviços”, diz ele. “Grandes redes de mercado costumam estar fora de favelas, por exemplo, assim como serviços bancários formais”, afirma.

A pesquisa envolveu alguns experimentos. Em um deles, foi dada uma quantia de dinheiro para moradores da Maré comprarem um par de chinelos, com direito a ficarem com o troco. Havia duas opções: pagar mais em uma banca de jornal ou menos em uma loja de um shopping de luxo, que estava em liquidação. A maioria preferiu não entrar no shopping e pagar mais pelo produto na banca.

Em outro experimento, foram oferecidos vales de compras em supermercados para os entrevistados. Os valores maiores eram para comprar em shoppings mais distantes e mais frequentados por outro grupo social. Mas havia valores menores para comprar em locais mais próximos e de predominância do mesmo grupo social dos moradores. A maioria optou pelo voucher menor.

Funcionário de uma loja de ferramentas, onde trabalha como entregador, Vieira gostaria de ir mais ao shopping Rio Sul, em Botafogo, zona sul carioca, com a namorada. “Eles têm mais variedade, mais opção”, diz o jovem, que está estudando para prestar concurso a fim de ingressar no Corpo de Bombeiros. “Mas eu acabo indo ao Norte Shopping”, diz ele, referindo-se ao centro de compras no bairro do Cachambi, zona norte do Rio. “Não quero ser tachado de bandido.”

Foi exatamente assim que Douglas Viana, 30, se sentiu quando, depois da praia no fim de semana, foi a um supermercado em Ipanema. “O segurança perseguiu a mim e aos meus amigos dentro da loja, nos encarando o tempo todo. Ele percebeu que a gente não era parte daquele público cativo da loja”, diz Viana, coordenador-executivo do Seja Democracia, projeto de formação política não partidária do Instituto Maria e João Aleixo, apoiado pela Fundação Tide Setúbal, na Maré.

Graduado em marketing e com pós-graduação em gerência de projetos, Viana diz que costuma analisar muito as opções de compras antes de se decidir por alguma. E que existem chances interessantes de consumo fora da zona norte do Rio.

“Como um homem negro e periférico, entendo que é melhor eu consumir na Maré, um espaço que de certa forma me protege do racismo estrutural”, diz ele.

“Fui criado por uma lógica simples: cuidado por onde você anda para não ser confundido com bandido.”

De acordo com Viana, os sinais de reprovação à sua circulação por espaços da classe média e média alta carioca são muito sutis. “Os olhos dos outros estão sempre voltados para você. Os seguranças e os atendentes, que vêm da mesma classe social que eu, me reconhecem como um igual. Mas estão ali para mostrar que aquele não é meu lugar como cliente.”

No Leblon ou em Ipanema, diz, um jovem pode vestir bermuda, regata e chinelo e ser bem tratado, porque é reconhecido como um morador do bairro. “Eu preciso me arrumar mais para frequentar o mesmo lugar que ele. Nesses espaços, não posso me vestir do mesmo jeito que eu me vestiria aqui na Maré.”

Passear em um shopping da zona sul é sempre um problema, afirma. “Eu não posso entrar em uma loja, olhar e sair. O segurança com certeza vai querer ver o que está na minha bolsa. E como não gosto de ser abordado desta forma, prefiro não ir.”

GESTÃO E CARREIRA

VALE A PENA INVESTIR EM UM APLICATIVO PRÓPRIO?

Com smartphones e tablets chegando com força no mercado, os desenvolvedores de softwares ganharam, com os aplicativos, um mercado robusto para trabalhar. Os apps se tornaram tão corriqueiros no cotidiano das pessoas, que diversas empresas optaram pelo desenvolvimento de uma solução mobile que os aproxime de seus clientes e parceiros.

Hoje, encontrar aplicativos de bancos ou instituições financeiras, redes de supermercado, escolas e universidades, lojas, convênios médicos e até mesmo serviços públicos tornou-se algo comum. De acordo com Rafael Franco, CEO da Alphacode, responsável pelo desenvolvimento de aplicativos para marcas como Habib’s, Madero e TV Band, a busca por tecnologias mais acessíveis e modernas cresce cada vez mais. Nesse contexto, um app pode trazer uma série de vantagens.

“O primeiro ponto é a capacidade de aumentar a margem de lucro de um negócio. Vender através de marketplaces, por exemplo, é uma boa estratégia para reduzir o custo de aquisição e fazer as primeiras vendas. Mas apenas com um canal próprio será possível garantir as melhores margens de lucro, pois não trará a obrigação de pagar uma comissão sobre cada venda”, relata.

Segundo um estudo realizado pela Delivery Much em 2020, aproximadamente 94% dos brasileiros preferem fazer pedidos de comida em apps de delivery ao invés de fazer ligações, algo que era comum há alguns anos. Aplicativos como o iFood e o Rappi foram determinantes para dominar esse segmento, mostrando-se mais eficientes que entregas por telefone. “Um app surge como um diferencial de mercado, não apenas no delivery, mas em qualquer segmento”, declara o CEO da Alphacode.

Aplicativos também têm a capacidade de fidelizar os consumidores e consolidar uma marca no mercado. “O desenvolvimento de um app próprio é o melhor caminho para construir o seu programa de fidelidade.

Com as notificações push, por exemplo, é possível aumentar o número de recompras por parte dos clientes. Estudos apontam um aumento de mais de 30% nas compras de consumidores fidelizados através de aplicativos próprios. Isso porque o comprador sabe que não é qualquer empresa que tem um aplicativo próprio, por isso ele coloca aquelas marcas que disponibilizam essa solução em uma prateleira mais elevada”, pontua Rafael Franco.

É comum que os consumidores mantenham em seus dispositivos apps daquelas marcas que eles mantém um relacionamento mais próximo. Com isso, a empresa pode criar um ecossistema que vai se relacionar com o cliente em diversos momentos da sua jornada. “Isso abre uma oportunidade para que sejam construídos produtos e serviços disruptivos, aumentando o retorno do mesmo cliente a longo prazo.

Assim, será possível trabalhar com um público-alvo específico, apresentando promoções que podem aumentar consideravelmente o volume de vendas pelo aplicativo”, finaliza o desenvolvedor.

FONTE E MAIS INFORMAÇÕES, ACESSE: https://site.alphacode.com.br

EU ACHO …

O ÚLTIMO A LEMBRAR DE NÓS

Recentemente li Rimas da vida e da morte, do excelente Amós Oz, que narra os delírios de um escritor que, ao participar de um sarau literário, começa a olhar para cada desconhecido na plateia e a criar silenciosamente uma história fictícia para cada um deles, numa inspirada viagem mental. Lá pelas tantas, em determinado capítulo, o autor comenta algo que sempre me fez pensar: diz ele que a gente vive até o dia em que morre a última pessoa que lembra de nós. Pode ser um filho, um neto, um bisneto ou um admirador, mas enquanto essa pessoa viver, mesmo a gente já tendo morrido, viveremos através da lembrança dele. Só quando essa pessoa morrer, a última que ainda lembra de nós, é que morreremos em definitivo, para sempre. Estaremos tão mortos como se nunca tivéssemos existido.

Pra minha sorte, tive poucas perdas realmente dolorosas. Perdi um querido amigo há mais de vinte anos, perdi uma avó que era como uma segunda mãe, perdi uma tia inesquecível. Lembro deles constantemente, sonho com eles, busco-os na minha memória, porque é a única homenagem possível: mantê-los vivos através do que recordo deles. Daqui a cem anos, ninguém mais se lembrará nem de um, nem de outro, eles não terão mais amigos, netos ou bisnetos vivos, eles estarão definitivamente mortos, e pensar nisso me dói como se eles fossem morrer de novo.

Aquele que compõe músicas, faz filmes, escreve livros, bate recordes ou é um Pelé, um Picasso, um Mozart, consegue uma imortalidade estendida, mas, ainda assim, será sempre lembrado por sua imagem pública, não mais a privada, não mais a lembrança da sua voz ao acordar, da risada, do bom humor ou do mau humor, não mais daquilo que lhe personificava na intimidade. Serão póstumos, mas não farão mais falta na vida daqueles    com quem compartilharam almoços, madrugadas, discussões, já que essas testemunhas também não estarão mais aqui.

Alguém me disse: se você acreditasse em reencarnação, nada disso te ocuparia a mente. De fato, não acredito, e mesmo que eu esteja enganada, de que me serve a eternidade sem poder comprová-la? Se sou um besouro reencarnado ou se já fui uma princesa egípcia, que diferença faz? Minha consciência é que me guia, não minhas abstrações. Sou quem sou, sou aquela que pode ser lembrada. Não me conforta ser uma especulação.

É provável que ainda não tenha nascido aquele que será o último a me recordar, a rever minhas fotos, a falar bem ou mal de mim. Nem tive netos ainda. Qual será a data de minha morte definitiva? Não será a do meu último suspiro, e sim a do último suspiro daquele que ainda me carrega na sua lembrança afetiva – ou no seu ódio por mim, já que o ódio igualmente mantém nossa sobrevivência. Cafajestes e assassinos também se mantém vivos através daqueles que lhes temeram um dia.

Nessa véspera de Finados, queria fazer uma homenagem a ele: ao último ser  humano a lembrar  de nós, a ter  saudade de nós, a recordar nosso jeito de caminhar, de resmungar, o último a guardar os casos que ouviu sobre nós e a reter nossa história particular. O último a pronunciar nosso nome, a nos fazer elogios ou a discordar de nossas ideias. O último a permitir que habitássemos sua recordação. Bendita seja essa criatura, que ainda nos manterá vivos para muito além da vida.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

SAIBA QUAIS OS SINAIS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR A QUEDA CAPILAR

Ao lavar os cabelos você vê fios indo, literalmente, embora pelo ralo? Saiba que você não está sozinha.

Uma pessoa normal perde em média 100 fios por dia naturalmente. Essa queda que ocorre ao lavar ou pentear é normal e ajuda na renovação capilar. Mas quando identificar que há excesso de fios sendo perdidos?

A queda de cabelo pode se desenvolver por anos, sendo sorrateira e discreta a ponto de ser percebida somente quando as falhas ficam evidentes pela perda de mais de 40% do volume ou quando alguém avisa que seus cabelos parecem minguados. Mesmo essa queda de cabelos deixa sinais e eles podem ser detectados em momentos rotineiros dos cuidados com as madeixas.

Quem faz o alerta é o médico e tricologista Ademir Leite Junior, o especialista que há mais de vinte anos atua na área, aponta sinais facilmente detectáveis durante a rotina de cuidados com os cabelos para afastar o risco de quadros severos de queda capilar.

O TESTE DO RABO DE CAVALO

Esse penteado simples usado no dia a dia é muito útil para sentir o volume dos cabelos ao pentear e ao prender. Existem quedas que são sorrateiras, onde a pessoa vai perdendo um pouquinho de cabelo por dia, porém que não chamam a atenção. Como isso que pode levar anos para ser percebido, a comparação do rabo de cavalo colabora muito.

A DEMORA PARA “PERDER O CORTE”

Se você tem uma rotina de ir ao cabeleireiro todos os meses para atualizar o corte e percebe que essa necessidade está cada vez menor porque esse corte está durando mais, é melhor se atentar.

ROUPAS, TOALHAS DE BANHO, A MESA DO TRABALHO, AS COSTAS DAS CADEIRAS…

Nem sempre os fios que caem aparecem em lugares e situações óbvias como na escovação ou durante o banho. A perda constante de fios pode dar sinais pelos diversos locais por onde você passa.

VÁ ALÉM DOS EXAMES DE ROTINA

Se você já notou a queda de cabelos, mas nenhuma alteração foi detectada em exames de rotina, como de sangue, por exemplo. É hora de aprofundar essa investigação para dar fim a angustia do não diagnóstico que aponte a causa da queda. A Tricologia tem recursos para investigar problemas que levam a perda de cabelos com causas, até então, obscuras. Nessa pesquisa ampla cabe exames como tricograma, o trichoscan, a biópsia de couro cabeludo, entre outros. Quer dizer dá para explorar mais para que você chegue na fonte do problema.

COMO ANDA SEU ESTRESSE

Não precisa ser um estresse enorme, pode ser um conjunto de pequenos estresses da vida que, na somatória, produzirão um sinal clínico. Por isso, não podemos negligenciar os impactos deles em nossa saúde. Pode até ser que o estresse não acompanhe simultaneamente a queda capilar, mas pode vir acompanhado de problemas em outros órgãos e sistemas do nosso corpo. Na forma de hipertensão arterial, asma, alergias, doenças autoimunes, gastrite, refluxo gastroesofágico, ou qualquer outra patologia.

DOR NO COURO CABELUDO PODE SER UM SINAL

A tricodinia ocorre quando o paciente manifesta desconforto, dor ou aumento da sensibilidade do couro cabeludo. Ela está associada há muitos casos de queda de cabelo, embora não seja uma regra. A sensibilidade e a dor de couro cabeludo podem ser causadas por problemas importantes e que exigem tratamento rápido para evitar complicações maiores, como as inflamações causadas pelo uso de químicas de transformação, que muitas vezes começa com uma simples irritação, podendo chegar a queimaduras.

Outros exemplos são as doenças infecciosas como aquelas relacionadas aos fungos (Kerion celsii), e as relacionadas a bactérias (foliculite, foliculite decalvante, abscessos), normalmente acompanham dor do couro cabeludo. Quando a dor e o desconforto de couro cabeludo persistem, o ideal é procurar um médico para um diagnóstico preciso e a escolha de medidas de tratamento coerentes para a melhora do quadro. É quase certo que com a conduta correta o quadro desaparece e o paciente fica sem dor e satisfeito.

“Hoje o arsenal terapêutico da Tricologia e da Terapia Capilar é muito amplo e muito vasto. A pessoa não precisa desenvolver um grau avançado de queda para ter respostas ou abordagens que combatam os problemas. Há mais clareza nos diagnósticos e opções variadas para combinar dentro dos tratamentos individuais. Não precisa ficar careca”, explica o Ademir.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

INFIDELIDADE EXIGE RECONSTRUÇÃO DA CONFIANÇA, MAS PODE SER SUPERADA

Para especialistas, traição indica distância emocional e confunde sentidos dos parceiros. Entender os motivos é o primeiro passo

“Você pensou que tinha me machucado, mas me deixou mais forte. Mulheres não choram mais, mulheres faturam”, canta Shakira em sua última música que fez em colaboração com o produtor musical Bizarrap. Em “BZRP Music Session vol. 53”,a cantora colombiana manda indiretas ao ex- companheiro, Gerard Piqué, sobre os momentos difíceis que viveu durante o relacionamento deles e reflete sobre a força que adquiriu desde que soube das infidelidades do ex-jogador de futebol.

Existem muitas formas de ser infiel. Pode ser consigo mesmo, pode ser com o outro, mas o mais doloroso é se sentir traído pelo seu parceiro. O psicólogo Miguel Espeche explica que não há uma única forma de infidelidade.

“Há situações que ocorrem uma vez e nunca mais. Há outras que perduram no tempo, e outras que são padronizadas”, afirma.

Ao mesmo tempo, esclarece que existem diferentes formas de lidar com os relacionamentos a dois, pois cada uma deles é diferente.

Para Espeche, quando um terceiro entra, provavelmente é porque há uma ruptura no casal, ou seja, um certo distanciamento afetivo e emocional.

“Muitas vezes, a infidelidade ocorre quando algo está quebrado. Se você quiser superar, é preciso tempo, paciência e amor. Alguns conseguem, outros não”, diz Carolina Moché, psicóloga especializada em relacionamentos de casais.

ZERO REMORSO

Um estudo realizado por pesquisadores da Wright State University, em Ohio, Estados Unidos, no qual 522 casais foram entrevistados uma vez por ano durante seus primeiros dez anos de convivência, mostrou que aos quatro anos de relacionamento ocorre a primeira crise da relação. Aos sete, vem outra ainda mais forte. Em uma pesquisa realizada pelo site RomanceSecreto.com, na qual foram entrevistados 1.500 argentinos, 41% de participantes afirmaram ter traído o parceiro, e 56% disseram não sentir nenhum remorso por fazê-lo.

Sobre as consequências psicológicas, os especialistas explicam que, em alguns casos, quando se descobre uma infidelidade de longa data, isso cria problemas para que o enganado volte a confiar, não só no outro, mas também em si mesmo.

“Eles perdem a confiança em seus próprios sentidos para perceber o que está acontecendo”, diz Espeche.

As infidelidades são difíceis de superar, há casais que trabalham para se reaproximar e ter sucesso nessa tentativa. E outros que não. O processo de reconstrução é longo e diferente em cada caso. Alguns conseguem entender o que aconteceu com eles e sair mais fortes e unidos, pondera Moché.

O escândalo que causou a separação – Piqué teria iniciado o relacionamento com a atual namorada enquanto ainda estava casado com Shakira – e a polêmica música da cantora colombiana que surgiu em seguida colocam na mesa o debate sobrea infidelidade e como ela pode afetar a saúde emocional de quem a sofre.

COMO VENCER A DECEPÇÃO

Os especialistas concordam que o essencial é estar conectado e atento a si mesmo, para assim começar a perceber e sentir o que está acontecendo ao seu redor. Para os especialistas, as emoções são um termômetro do que acontece nas relações e funcionam como uma espécie de indicador. Outras recomendações são:

1) Deve haver um pedido sincero de desculpas por parte do infiel. Não adianta minimizar o fato porque isso contribui para subestimar a dor do trauma sofrido pelo outro.

2) Recomenda-se fazer terapia de casal na qual ambos possam vero que aconteceu na relação. Se a situação acabou mal, pelo menos pode-se buscar ajuda individualmente para tentar transformar a dor em algo que contribua para o crescimento pessoal.

3) A comunicação é essencial: poder se mostrar, falar e ser sincero sobreo que aconteceu, seja com o casal ou como ambiente. Esconder o problema não permite que o luto passe e faz com que essas emoções guardadas sejam detonadas mais tarde.

4) Estabeleça limites para que no futuro se evite uma situação semelhante e assim não volte a passar por esse sofrimento.

OUTROS OLHARES

CAÇADORES DO SELO AZUL

‘Blue Check’, símbolo de perfil verificado nas redes sociais, atiça influencers, inspira músicos e gera debate agora que pode ser comprado no Twitter

O designer goiano Felipe Foster, de 28 anos, é o típico profissional bem-sucedido. Entre os clientes de seus pôsteres digitais estão os grupos musicais Coldplay e BTS e cantores como Justin Bieber e Anitta. Um de seus últimos trabalhos de 2022, por exemplo, foi uma criação para a Adidas argentina para celebrar a final da Copa do Mundo. Mas ainda falta uma coisa na carreira do jovem – e não é um contratante em especial. É aquele selo azul, que indica que uma conta é “verificada”, em seu Instagram, o @fosterlands.

“Ano passado, passei a ver este selo de outra forma. Imaginava que fosse coisa de cantor grande, mas notei artistas pequenos, fotógrafos e DJs verificados, gente com seis mil seguidores (ele tem 20 mil), e fiquei com essa vontade”, diz o jovem.

O desejo de Felipe é compartilhado por centenas de milhares de pessoas em todas as redes sociais. Elas veem no blue check o símbolo máximo de status no mundo digital, que já virou funk (“Perfil verificado”, do DJ Jonatas Felipe) e hit sertanejo (“Só as verificadas”, de Lucas Lucco).

O tema também voltou à baila porque Elon Musk, novo dono do Twitter, de olho na importância do tema, resolveu vender o selo por US$ 8 mensais (cerca de R$ 42) desde o fim do ano passado, a princípio para usuários de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia ou Reino Unido.

RECONHECIMENTO EXTERNO

Mas, afinal, o que está por trás deste símbolo, e o que o faz ser tão perseguido? Doutora em psicanálise pela Uerj, Fernanda Samico conta um caso que viu nas redes para responder à questão. Ela lembra bem do dia em que apareceu em seu feed do Instagram um vídeo de um influenciador digital muito emocionado por ter ganhado o selo.

“Ele estava aos prantos porque tinha acabado de ser verificado. Dizia: “Obrigado pelo reconhecimento” , lembra Fernanda. “Ao mesmo tempo que dá autenticidade, o selo vem com (a ideia de) reconhecimento. E nós somos constituídos também a partir do reconhecimento do outro. Precisamos que o outro endosse que a nossa imagem é única. Fora das redes sociais e mesmo antes delas, quem fazia o papel da verificação, diz Fernanda, eram “insígnias de poder”:

“Podemos pensar na coroa de um rei, numa condecoração militar e até numa faixa de miss.”

Oficialmente, o Instagram diz que a verificação serve para certificar a veracidade de uma conta e não para demarcar “autoridade, importância ou experiência num assunto”. E o TikTok afirma que “é uma forma para que as pessoas saibam que as contas de alto perfil que seguem são exatamente de quem elas dizem que são.”

Ambas as plataformas concedem os selos a partir de solicitações via aplicativo e esclarecem que número de seguidores não é critério. Também deixam claro que nenhum serviço de compra e venda de verificação é permitido, apesar de algumas agências prometerem conseguir a validação por até US$ 500,o que nem sempre é garantido e fere as diretrizes das duas empresas.

MUDANÇA DE PERCEPÇÃO

A “venda” do selo pelo Twitter tem mudado a percepção de muita gente sobre o real significado da verificação. Usuários como o editor de vídeos e streamer de games Murilo Geraldi, que já quis ter o blue check no microblog, acham que esta nova dinâmica fez o símbolo perder a razão de existir.

“Não vejo o verificado com o mesmo peso de antes. Ao se tornar comprável, a estima se perdeu”, diz Murilo, de 26 anos, natural de Rio Claro (SP).

Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Daniela Schmitz acredita que a comercialização proposta por Musk muda um paradigma importante das redes sociais em relação aos influenciadores.

“Há uma quebra de contrato no que diz respeito à audiência. A conexão que se estabelece com os seguidores é o que dá legitimidade para se conseguir o selo”, diz Daniela. “Agora, se há possibilidade de compra, há um deslocamento da dinâmica social para a dinâmica financeira. Não é a audiência quem me coloca nesse lugar de ser verificado, e sim o quanto eu tenho para pagar.

O fato de os cobiçados blue checks não estarem à venda no passado é uma prova de que status não tem, necessariamente, a ver com poder financeiro. Mas, analisando o caso do Twitter, se todo mundo começar a pagar por ele, qual o valor simbólico do “produto”?

“A partir do momento em que todas as pessoas têm acesso, ele deixa de ser importante. É preciso criar uma dinâmica de escassez, o que, em última instância, é subir o preço. É a lógica da oferta e da demanda, porque vai virar um mar de selos azuis que não dizem mais nada”, afirma Daniela, salientando que não se sabe ainda como a proposta do Twitter pode impactar outras redes sociais.

Psicólogo, pesquisador da comunicação e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Claudio Paixão já vê um movimento de “ridicularização” de quem compra o verificado:

“Deixou de ser símbolo de status para ser apenas um símbolo de dinheiro. O que antes era significativo hoje é uma mera demonstração de riqueza. Não sabemos para onde isso vai confluir, mas cada episódio gera uma mudança nos tabuleiros de poder das redes sociais.

OUTROS OLHARES

QUER SE LIVRAR DA PAPELADA? SAIBA O QUE E COMO GUARDAR

Especialistas orientam como armazenar documentos na nuvem e cuidados para descartar sem expor dados sensíveis

O início de um novo ano pode ser um bom momento para limpar as gavetas e organizar a documentação dentro de casa, mas é preciso ter em mente alguns cuidados antes de se desfazer de itens que podem ser essenciais no futuro. É preciso estar atento à maneira correta do descarte de documentos para não expor dados sensíveis da família e às melhores formas de armazenamento on-line, para quem quer eliminar de vez a papelada do seu dia.

Confira a seguir as principais orientações.

ARMAZENAMENTO NA NUVEM

De acordo com Rodrigo da Costa Alves, advogado especialista em direito da proteção e uso de dados pessoais, o armazenamento de documentos on-line proporciona, muitas vezes, a redução de custos e dos riscos de perda do item por algum problema natural, como uma inundação dentro de casa ou o estrago causado por um animal de estimação ou criança pequena, por exemplo.

“Existem diversos serviços virtuais que proporcionam o armazenamento em nuvem. Alguns são gratuitos e outros são pagos, cada um tem seu diferencial. No caso dos serviços on-line, há mais segurança, pois eles garantem o que chamamos de redundância. Ou seja, os arquivos que colocamos na nuvem estão armazenados em vários servidores da empresa que escolhemos para o armazenamento”, explica Alves.

Diferentemente de um HD ou pen drive, por exemplo, o documento salvo na nuvem está “disperso” em diferentes servidores protegidos por criptografia.

NO COMPUTADOR

Para o líder da prática de Riscos Cibernéticos da Kroll, Walmir Freitas, quem resolver manter os registros localmente, o ideal é que o computador utilizado tenha sempre o disco e a cópia de segurança criptografados.

“Qualquer documento pode ser digitalizado. É um processo manual, é possível escanear o documento e, depois, salvar em PDF ou em outro formato compatível. Após esse processo, o arquivo pode ser armazenado em um HD, no computador, ou em um HD externo. Mas, hoje em dia, é muito comum o upload desses arquivos para a nuvem. A vantagem, nesses casos, é que a pessoa pode acessá-los de qualquer lugar”, explica Freitas.

POR QUANTO TEMPO SE DEVE GUARDAR UM DOCUMENTO?

As ferramentas digitais disponíveis para guardar a documentação também contribuem para que as informações contidas no papel sejam preservadas ao longo do tempo, mas nem todos os itens precisam ser mantidos para sempre.

A lei determina que se guardem os comprovantes de pagamento de serviços de fornecimento contínuo, como água, luz e telefonia, por cinco anos. O mesmo prazo de armazenamento recomendado para extratos bancários e faturas dos cartões de crédito.

Já recibos de pagamento de aluguel devem ser guardados por três anos, e os de condomínio, por ao menos cinco anos.

O comprovante de quitação de um financiamento imobiliário deve ser mantido até o registro da escritura em cartório.

Costa Alves orienta ainda manter as notas fiscais dos produtos como eletrodomésticos e eletrônicos durante toda a vida útil daquele item, mesmo após o fim da garantia. A nota pode ser útil em casos do chamado vício oculto ou caso haja um recall.

Os recibos de pagamento das mensalidades escolares devem ser guardados por cinco anos ou até o recebimento do certificado ou do diploma. Já os contratos com instituições de ensino devem ser mantidos por três anos.

Contratos de trabalho e rescisões devem ser guardados por período indeterminado.

IMPOSTOS E IR

Os comprovantes de pagamento de impostos, como IPVA e IPTU, devem ser guardados por cinco anos. No caso do Imposto de Renda (IR), é necessário manter também os documentos comprobatórios da declaração.

E SE O DOCUMENTO FOR PERDIDO?

Caso um documento seja perdido, a orientação é entrar em contato com a empresa e pedir a segunda via. Em muitos casos, diz o advogado, é possível obter virtualmente o documento.

QUITAÇÃO ANUAL

Pode-se substituir os recibos acumulados de janeiro a dezembro por uma declaração de quitação anual de débitos. A lei federal 12.007/ 2009 determina que as empresas emitam a quitação na fatura a vencer no mês de maio. Há ainda, no Estado do Rio, a lei 8.168/2018, que estabelece que o documento esteja disponível no site da empresa e no serviço de atendimento ao consumidor. Quando solicitada, a declaração deve ser enviada em 48 horas.

Não é prática de mercado a emissão de declarações anuais de quitação de condomínio e aluguel. Há administradoras que fornecem um documento semelhante, mas isso não é obrigatório.

QUAL A MELHOR MANEIRA DE DESCARTAR UM DOCUMENTO?

O descarte da documentação, seja ela digital ou física, deve passar por alguns cuidados. No caso do arquivo ter sido salvo on-line, é preciso fazer a seleção do que deve ser excluído e não esquecer o backup automático de 30 dias, um serviço oferecido por empresas como Google e Apple.

Assim que o documento tiver sido eliminado da pasta principal, é importante checar a lixeira do ambiente em que ele estava armazenado.

“No caso do documento físico, o descarte deve observar medidas de segurança. A fragmentadora, também conhecida como triturador de papel, é importante. Mas, como nem todo mundo tem, o ideal é rasgar bem o documento, especialmente onde há os dados mais sensíveis, como endereço, nome completo etc. Ou seja, os dados que podem ajudar a identificar a pessoa”, ressalta Alves.

GESTÃO E CARREIRA

SOLUÇÃO DIGITAL PARA FACILITAR GERENCIAMENTO NO HOME OFFICE

O mundo corporativo passou por várias adaptações nos últimos dois anos e, desde então, as empresas tiveram que reestruturar seus modos de trabalho. Atualmente, nossa realidade é bem diferente, onde o ambiente físico da empresa não é mais o único lugar em que colaboradores executam as suas atividades

Também não é mais necessário morar próximo do local de trabalho, seja da sede, cidade ou mesmo estado. Essa flexibilidade tem sido proporcionada pelas tecnologias digitais, que tornaram o trabalho híbrido ou remoto uma realidade funcional, além de possibilitar a contratação de profissionais sem a necessidade de um deslocamento territorial.

No entanto, esse cenário também  exige algumas adaptações, como a facilidade do uso do equipamento, o acesso aos dados e a segurança da informação. É neste contexto que a N1IT Stefanini, empresa brasileira voltada para soluções de tecnologia da informação, desenvolveu o N1 Zero Touch. Foi idealizado com o objetivo de possibilitar mais melhorias no processo de gerenciamento centralizado das estações de trabalho, seja no modelo home office ou híbrido, de forma segura, padronizada e centralizada na nuvem.

A escalabilidade trazida fornece benefícios concretos para empresas de todos os tamanhos, com colaboradores somente no Brasil ou em vários países. A ferramenta já está em uso em uma startup surgida de uma parceria entre um grande banco estatal e uma empresa de benefícios, que iniciou a utilização com 20 colaboradores e, atualmente, já são mais de 100 trabalhadores beneficiados. Além disso, recentemente, o N1 Zero Touch também foi adotado por uma das maiores empresas de aviação do mercado, contemplando mais de 20 mil colaboradores e estações e trabalho. O objetivo em comum dessas empresas a busca constante pela otimização dos processos e por mais segurança para o ambiente de trabalho, modernizando e aumentando produtividade. O N1 Zero Touch apresenta as seguintes características:

  • Padronização de ambientes;
  • Simplificação com a chegada de um novo colaborador;
  • Centralização das políticas em um único sistema;
  • Segurança no acesso aos dispositivos;
  • Escalabilidade de um gerenciamento através da nuvem;
  • Alcance ilimitado.

Ao implementar o uso do N1 Zero Touch, o processo iniciado com a abertura e uma solicitação pelo RH. Em seguida, a área de TI recebe o chamado, ativa o processamento e envia o equipamento para onde o colaborar ou a empresa desejar. Por fim, é o próprio colaborador que faz o onboarding (processo para integrar o novo funcionário à equipe, cultura e forma de operação da organização), sem o acompanhamento do TI.

O N1 Zero Touch age como uma suíte de segurança por meio de um único serviço, funcionando como uma solução ideal para os processos de SelfOnboarding, Passwordless, NativeSec e FastCrypto, termos indicados para os processos existentes dentro do N1 Zero Touch.

“Atualmente, para conectar todos os colaboradores com as políticas de tecnologia da empresa, o modo mais eficaz é a utilização de recursos em nuvem, em que todo colaborador sempre estará conectado para a execução de suas atividades. Porém, muitas empresas se utilizam de diversas soluções descentralizadas e não integradas, o que reflete em grandes desafios tecnológicos, muitas vezes caros ou inseguros”, explica Shirley Fernandes, diretora Comercial da N1 IT.

O N1 Zero Touch apresenta um nível de segurança que protege as plataformas da organização e garante diferentes níveis de acesso a cada colaborador, de acordo com a necessidade de uso da informação. Além disso, habilita os principais recursos de maneira transparente, mantendo a segurança de acesso aos dados, garantindo que as restrições de segurança aplicáveis independente de sua localização.

FONTE E MAIS INFORMAÇÕES: https://stefanini.com/pt-br

EU ACHO …

NUNCA IMAGINEI UM DIA

Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou “nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não é fácil libertar-se do manual de instruções que nos auto impomos. Às vezes, leva-se uma vida inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu a tempo.

Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro “nunca imaginei um dia”. Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado, inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo mergulho.

A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos, afundei em busca de tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos de idade), participei da minha primeira cavalgada depois dos quarenta, em São Francisco de Paula. Roqueira convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me infiltrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio e Corinthians, mesmo sendo colorada. Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do “medo do ridículo” receberam alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.

Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um “eu” mais amplo. E sinto que é um caminho sem volta.

Um mês atrás participei de outro capítulo da série “Nunca imaginei um dia”. Viajei numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, seria meu provável “nunca imaginei um dia” de 2010.

E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato que me faria merecer uma camisa de força: eu, que nunca me comovi com bichos de estimação, adotei um gato de rua. Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa, surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.

Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas quatrocentas coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também: deixei de ser tão cética.

Já que é improvável que este ano seja diferente de qualquer outro ano, que a novidade sejamos nós.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

O DESCONFORTO DOS DIAS QUENTES

Saiba como se prevenir da candidíase, mais comum durante o verão

Praia, areia, sol, piscina…tudo de bom, não é? Sim, mas o verão é também a estação em que uma conhecida da maioria das mulheres mais aparece: a candidíase vulvovaginal, uma patologia muito frequente, causada pelos fungos do gênero cândida, e que atinge 75% das mulheres em alguma fase da vida. Cerca de 5% delas terão candidíase vulvovaginal recorrente, o que significa que vão experienciar quatro ou mais episódios a cada 12 meses.

“Na prática, a infecção vaginal por Cândida albicans é associada a situações de debilidade do organismo, alto teor de glicogênio (derivado dos açúcares) e acidez vaginal”, explica Brianna Nicoletti, alergista e imunologista pela USP.

Por isso, doenças imunossupressoras, diabetes e o uso crônico de corticoides são fatores de risco para a candidíase. O mesmo vale para o uso de alguns antibióticos, que, segundo estudos, costumam suprimir a flora vaginal, favorecendo a colonização e infecção pelos fungos.

Quando o assunto são os hormônios, a possibilidade de desenvolvimento da doença também aumenta. Segundo a médica, o excesso de progesterona no organismo aumenta a disponibilidade de glicogênio no ambiente vaginal, e serve como uma excelente fonte de alimento para o crescimento e germinação das leveduras.

Já o excesso de estrogênio – muito comum em quem toma pílula anticoncepcional combinada, faz terapia de reposição hormonal ou durante a gravidez – também pode aumentar as chances de infecção.

“Pequenos traumas como o ato sexual, o hábito de usar roupas muito justas ou de fibras sintéticas, ou ainda de permanecer muito tempo com roupas de banho molhadas ou úmidas podem favorecer o ambiente para proliferação do fungo”, continua a profissional. “Além disso, sabemos que podem estar relacionadas a dieta alimentar rica em açúcares e carboidratos e também a vivências de situações de estresse, que aumentam o nível sérico de cortisol.”

Por ser uma condição tão comum, as mulheres ficam facilmente preocupadas e com medo da doença, mas a simples presença do fungo não representa nenhum risco e não requer nenhum tratamento quando a mulher não tem sintomas. Os mais comuns são irritação, coceira e corrimento branco-amarelado.

“A candidíase acontece quando a população de fungos aumenta excessivamente e entra em desequilíbrio com o restante da flora vaginal. Isso pode ocorrer em situações que levem à diminuição da imunidade, uso de antibióticos, diabetes, entre outras”, explica o Dr. Igor Padovesi, ginecologista e obstetra pela USP e médico do Hospital Albert Einstein.

O tratamento envolve comprimidos e cremes de uso tópico, incluindo remédios para restabelecer a flora vaginal. Nos casos de candidíase recorrente, a conduta é um pouco diferente: esses quadros precisam de acompanhamento médico especializado.

Para esses quadros, a conduta pode ser combinada, com uso de medicamentos mais ajustes no estilo de vida, para controlar a condição e melhorar os sintomas. É importante que a mulher consulte seu ginecologista regularmente.

FATORES DE RISCO PARA CANDIDÍASE

  • Doenças imunossupressoras
  • Antibióticos
  • Corticoides
  • Hormônios
  • Pequenos traumas
  • Roupas justas
  • Dieta alimentar rica em açúcares e carboidratos
  • Estresse

SINTOMAS

  • Irritação, coceira e corrimento branco-amarelado.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

RISO É FUNDAMENTAL PARA O SER HUMANO E PODE TER FUNÇÃO RITUAL E CURATIVA

Para pesquisadores, humor merece mais espaço na vida das pessoas e é ferramenta para conectar e tranquilizar

“Eis que então, surgindo do nada, uma figura estranha aparece com uma peruca prateada, um tecido enrolado no quadril como uma minissaia, um andar sinuoso com os joelhos bem colados um no outro, meio cobra e meio mulher. É um hotxuá que se aproxima e se coloca na fila entre as mulheres. Sua dança também é sutil, com um leve exagero, numa imitação do que as mulheres fazem, mas com um tom jocoso e matreiro. As mulheres todas tentam manter o canto, mas é perceptível que estão morrendo de rir, assim como os homens e todo o restante da tribo que assistem ao ritual.” As palavras expressam o encanto do palhaço Ricardo Puccetti, pesquisador do Lume Teatro, ao assistir à performance de um hotxuá durante a gravação do documentário que retrata essa figura do cotidiano do povo krahô, em Tocantins. No povo krahô e em comunidades originárias da América do Norte, ainda existe o palhaço sagrado, responsável por provocar o riso no dia a dia, que desapareceu em outras comunidades com o tempo.

Puccetti relata que as manifestações cômicas surgiram com o próprio ser humano e integravam rituais. Só depois foram delimitadas a alguns espaços. “Surge o teatro japonês, o teatro indiano, o teatro grego. As artes performáticas vão deixando de ser algo cotidiano para se transformarem em momentos específicos, em espetáculo em que um faz e os outros assistem.” Se nas artes o movimento foi do espaço amplo para o restrito, na ciência o caminho foi oposto. Somente nos últimos séculos o riso e o sorriso despertaram maior interesse nos pesquisadores.

Foi no século 19, por exemplo, que o médico francês Guillaume-Benjamin-Amand Duchenne descobriu, a partir de experiências com choques nos músculos da face, que o sorriso verdadeiro é simétrico e não se limita à boca.

“O movimento, quando autêntico, é combinado com a contração da musculatura ao redor dos olhos (músculo orbicular do olho), o que ergue também as maçãs do rosto e enruga a pele no canto dos olhos”, escreve o psiquiatra Daniel Martins de Barros, professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP, no livro “Rir é Preciso”.

A obra, conta o autor, é uma forma de ressaltar o poder do riso e dar ferramentas para nos reerguermos, reconstruirmos relações e recuperarmos nossas emoções positivas após a pandemia.

“Quando rimos, sinalizamos que está tudo bem, passamos uma mensagem de tranquilidade mesmo em uma situação ruim. Encontrar aspectos positivos inclusive nas situações adversas é muito importante para seguir em frente, e o riso é uma maneira de estimular isso”, afirma.

Um exemplo disso, diz Barros, é o tombo. A queda gera instantes de tensão, mas, se a pessoa se levanta e sorri, acalma os demais. Pode não ser o melhor cenário – ela pode ter machucado a pele, rasgado a roupa -, porém o sorriso sinaliza que vai ficar tudo bem. Para rir durante o dia é preciso ter uma boa noite de repouso. “Estamos em uma sociedade que não é muito amiga do sono. Pela quantidade de atividades, as pessoas vão cortando as horas de descanso, mas isso tem um preço”, lembra o médico Gustavo Moreira, pesquisador do Instituto do Sono.

Ele explica que o sono impacta as funções cardíaca e respiratória, o metabolismo e a atividade intelectual, incluindo a concentração e o desempenho. Quando dormimos mal, as funções cerebrais ficam alteradas e, além da sonolência durante o dia, podemos ter problemas de humor. Nessas situações, pequenos incômodos ganham grandes proporções e uma toalha fora do lugar, por exemplo, pode ser suficiente para iniciar uma briga. “Dormir bem é fundamental para ficar bem humorado”, diz Moreira.

O segundo passo para rir é observar o outro. “O grande poder do riso, do humor, vem da sua capacidade de nos conectar e percebemos isso porque estamos olhando um para o outro, prestando atenção”, destaca Barros. “O riso é muito mais fácil, intenso e eficaz quando é compartilhado.” Se alguém está sendo excluído, se sentindo mal, é um sinal de que o humor foi negativo ou agressivo – e isso muda com o tempo. Aquilo que era engraçado no passado hoje pode ser considerado uma ofensa, conforme as alterações da sociedade.

Há, contudo, o humor atemporal. “A história muda, mudam os costumes, o que é aceitável ou não. Mas os grandes vão além disso. Chaplin, por exemplo, trabalha a relação do poder. ‘O Gordo e o Magro’ trabalham com o fracasso, com o erro, com nossa incapacidade de controlar a vida, algo muito humano”, analisa Puccetti. Para ele, a palhaçaria é um ofício, uma arte e, principalmente, um território. Trata-se de um lugar de onde o mundo é experimentado com outro olhar. Há o princípio de reinventar as coisas, ver por outros ângulos, relacionar- se com objetos e espaços de outra maneira, o que resgata a força do brincar que perdemos conforme crescemos. O palhaço recorda então uma experiência na ala psiquiátrica de um hospital. Ele chegou ao local e começou a interagir com o espaço, a cadeira e a mala que havia levado. Aos poucos, um paciente se aproximou e começou a falar. “Ele falava sem parar e formamos uma dupla. Quando acabou, um psiquiatra veio conversar comigo. Ele perguntou o que eu tinha feito, porque aquele paciente estava lá há algum tempo e não falava nada. Isso não sou eu. Isso é a força desse brincar, desse jogo de você não se policiar e simplesmente existir. É isso que vejo de curativo no trabalho da palhaçaria. Você chega a tocar essa universalidade do humano, e daí é curativo.”

OUTROS OLHARES

JÁ SE SENTIU DISCRIMINADO AO FAZER COMPRAS?

Racismo, gordofobia, transfobia. Consumidores relatam constrangimento no dia a dia das relações de consumo

Em uma loja de grife vazia, em Goiânia, a única pessoa a perceber a presença da estudante de Medicina Lara Borges, de 20 anos, foi o segurança. Ser seguida pelos corredores e ter o cuidado de só abrir a bolsa no caixa é uma rotina para a advogada paulista Agatha Nunes, de 28 anos. Para as duas jovens negras, não há dúvida de que o racismo estrutural está fortemente presente nas relações de consumo no Brasil.

E racismo é crime. Mas o fato é que há comportamentos difíceis de serem enquadrados criminalmente, mas que nem por isso deixam de ser discriminatórios e precisam ser combatidos no dia a dia do comércio.

“Há um descompasso enorme entre a legislação e a sociedade brasileira. A legislação criminalizou racismo e homofobia no plano das palavras, mas e os olhares, a invisibilidade, os constrangimentos? Esses são os grandes desafios. O que se vai dizer? ‘Você não me viu?’ Como classificar um olhar? Isso dói profundamente, mas as pessoas acabam se sentido fragilizadas, sem potência, e deixam pra lá. Isso acontece também com idosos, pessoas acima do peso… As empresas precisam levar isso a sério”, diz a antropóloga do consumo Carla Barros, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Agatha conta que as duas amigas brancas que a acompanhavam em um passeio num shopping da Zona Oeste paulista sequer se deram conta de que o segurança de uma grande varejista, na qual entraram para ver as novidades, a havia seguido por três corredores.

“Eu parei para ver perfumes, e o segurança veio para próximo. Achei que podia ser impressão, então, mudei de corredor. Na terceira vez que ele veio atrás de mim, disse para as minhas amigas que queria ir embora. Elas não entenderam, comecei a chorar e, quando contei o que tinha acontecido, me incentivaram a voltar à loja, disseram que eu tinha que me defender, afinal eu trabalho com isso”, conta a advogada, que acabou processando a loja por discriminação.

EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO

Para Lara, sua experiência na loja em Goiânia traz um sentimento de não pertencimento.

“É visível que foi mais um caso de racismo. Eu poderia considerar um mau atendimento se visse que outras pessoas estavam tendo a mesma experiência, mas não foi o que aconteceu”, diz Lara, pontuando que essa foi só mais uma das situações discriminatórias pelas quais passa no seu dia a dia.

É justamente para combater o que foge à esfera criminal, mas que representa um grande mal às relações de consumo, que o Procon-SP criou, em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, o Procon Racial. Mais do que uma plataforma de denúncias de discriminação, a ideia do projeto é ser um instrumento de transformação no comportamento das empresas.

“Quando é crime, tem que chamar a polícia. Mas há ações subliminares presentes no dia a dia do atendimento que precisam ser mudadas com educação e informação. As empresas denunciadas passam por um curso de letramento racial, são acompanhadas por 90 dias e devem instalar em suas lojas os dez princípios para o enfrentamento do racismo nas relações de consumo. Tudo isso antecede qualquer punição”, explica Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon-SP.

QUEIXAS TRAÇAM CENÁRIO

Ed Mattos, coordenador do Procon Racial, diz que as pessoas ainda têm dificuldade de nomear esses problemas no atendimento como racismo. O que explica o pequeno número de queixas à plataforma, cerca de 40, em um ano de funcionamento:

“Uma pesquisa do Procon-SP, de 2019, mostra que só 4% dos consumidores fazem relatos de racismo. É preciso encorajar as pessoas a relatarem e trabalhar com as empresas essas mudanças. Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente pontua que o olhar distingue por raça, gênero, orientação sexual e até idade:

“Em algumas situações, em que há a agressão da dignidade do indivíduo, é difícil comprovar materialidade, cai naquele discurso de supervalorização ou vitimismo. Mas a consistência nas denúncias pode demonstrar a realidade dos fatos. A agressão física é inaceitável, mas há um impacto psicológico terrível da discriminação, com sequelas de difícil reversão”.

A professora Hana Silva Santos, de 22 anos, moradora de Gandu, na Bahia, sabe exatamente do que José Vicente está falando. Vítima de gordofobia, para ela, ir às compras é tarefa das mais estressantes, o que a leva a optar, muitas vezes, por lojas virtuais para evitar constrangimentos no comércio:

“Toda vez que penso em sair de casa para comprar alguma roupa, já sei que vou me estressar. Mal entro na loja, e a vendedora nem me escuta, logo fala que não tem roupa para o meu tamanho. Não posso ir comprar um presente? Avaliam meus gostos pelos seus próprios olhos, que, muitas vezes, são gordofóbicos”, diz a professora, que relata que o preconceito é maximizado por ser uma mulher negra.

Comprar roupas também é um problema para a paulista Natasha Palma, de 33 anos, profissional autônoma. Desde que se assumiu como uma mulher trans, ela evita as lojas de departamento por se sentir discriminada. Ela faz suas roupas em costureiras ou compra on-line. Natasha, que já foi vítima de violência em um supermercado do seu bairro, diz que, mesmo quando não há agressão física, a rotina de compras é pontuada por constrangimento:

“Há olhares estranhos, de reprovação, quando entro. Sinto que alguns vendedores não sabem como agir, não é intencional, mas o sentimento é o mesmo de discriminação”.

DESAFIO PARA EMPRESAS

Para a fundadora da Transcendemos Consultoria em Diversidade e Inclusão, Gabriela Augusto, os relatos demonstram a necessidade da criação de procedimentos internos, treinamentos e iniciativas efetivas para combater o preconceito nas relações de consumo. As empresas, diz, precisam ser uma parte ativa no combate às discriminações:

“A empresa não deve deixar essas questões no campo da subjetividade, é preciso que se tenha um posicionamento e um script de atendimento, uma regra. E pensar em todas as diversidades possíveis, não só nas pessoas gordas, negras, trans, mas em quem é deficiente, por exemplo. Como um cadeirante vai entrar e consumir numa loja que não tem rampas para ele?

Carla, da UFF, concorda que inclusão, além do atendimento, prevê um espaço físico adequado:

“É preciso uma visão integrada, é ótimo fazer propaganda incluindo gente idosa, pessoas de diferentes corpos. Mas, para além do treinamento, que deve ter um acompanhamento permanente, a loja tem que ter uma cabine que uma pessoa gorda se sinta confortável, mercadorias em locais acessíveis para um idoso. Uma cabine que a pessoa não entra, um local em que um idoso ou um deficiente encontram empecilhos, tudo isso causa constrangimento.

O consultor de varejo Antônio Cesar Carvalho, sócio-diretor da Acomp Consultoria e Treinamento, pondera que o desafio das empresas, quando se fala em discriminação, é o fato de os preconceitos já virem “de casa”, a questão estrutural:

“A discriminação é latente, e não só no Brasil. A educação corporativa tem um desafio nessa área de letramento, pois, independentemente de seus posicionamentos institucionais, os funcionários trazem o preconceito de casa e os reproduzem no atendimento, mesmo sem perceber. Por isso, a importância da constância e do acompanhamento do treinamento.

Na avaliação de Stella Susskind, CEO da SKS CX Customer Experience, empresa especializada em pesquisa de mercado, o desafio do varejo começa na seleção, que deve observar no candidato se há posturas preconceituosas.

Stella pontua que a entrada no mercado de uma geração mais ativa nas redes sociais e engajada em políticas de diversidade impõe às empresas a necessidade de adoção de uma nova postura:

“Essa geração é engajada politicamente e ativa nas redes sociais. E as reclamações nas redes sociais viraram coisa séria, com um efeito sobre a imagem da empresa.

Carvalho reforça que, se a responsabilidade social não for suficiente para que as empresas façam uma mudança, elas devem levar em consideração ainda a questão comercial.

“Passamos da fase do discurso. Se não houver honestidade de propósito, o efeito será a perda de consumidores que exigem respeito. É mais do que uma questão legal, é uma exigência do consumidor”, afirma.

OUTROS OLHARES

CENTÍMETROS VALIOSOS

Para aumentar a altura, medicina oferece apenas cirurgia ou hormônio

Ser mais alto é o desejo de muita gente. A altura de uma pessoa é resultado da combinação de vários genes herdados dos pais associada à influência do ambiente. Em geral, cada um tem 50% de chance de ter a mesma altura do pai ou da mãe. Irmãos têm 50% de chance de ficarem com alturas parecidas e temos 25% de chance de termos tamanho semelhante ao de avós e tios. Entretanto, problema nutricionais, hormonais ou alguma doença crônica podem interferir no resultado final. Na infância, é possível utilizar um hormônio chamado GH em crianças com deficiência ou baixos níveis da substância. Por outro lado, uma vez que o crescimento natural está consolidado, não há terapia hormonal que permita continuá-lo. A única forma de ganhar alguns centímetros a mais na idade adulta é recorrera um procedimento extremo chamado alongamento ósseo.

A técnica envolve quebrar o fêmur ou a tíbia e, com a ajuda de uma armação de metal, afastar gradativamente as duas metades do osso, forçando-o a cicatrizar mais longo do que antes. Pode parecer absurdo, mas a verdade é que para muitas pessoas, em especial homens, a resposta é “sim”.

“A procura é muito grande e aumentou muito durante a pandemia”, diz o ortopedista Guilherme Gaiarsa, presidente do comitê de reconstrução e alongamento ósseo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

O Instituto LimbplastX, uma clínica fundada em 2016, em Las Vegas, nos Estados Unidos, diz que, na pandemia, o número de pacientes dobrou, segundo informações da revista GQ.

A pressão social é um dos fatores que influencia na decisão deles. Socialmente, está tudo bem se uma mulher é baixinha. Para aquelas que se incomodam, é possível recorrer ao salto alto. Para os homens, não é tão simples assim. Um estudo de 2013 mostrou que as mulheres eram mais altas que seus parceiros em apenas 7,5% dos casos. Também há prejuízos financeiros. A altura média de um CEO da Fortune 500 é de 1,82 m. De acordo com um estudo feito em 2009, com homens australianos, os baixinhos ganham menos dinheiro do que seus colegas mais altos (cerca de US$ 500 por ano a cada 2,5 cm).

Alonso tinha 1,68m e queria aumentar sua altura. Ele procurou o LimbplastX Institute. Após um alongamento do fêmur, ganhou 8,7 centímetros e ficou com uma altura final de 1,77 m, de acordo com uma publicação na rede social do cirurgião Kevin Debiparshad, que está à frente da clínica. Em um comentário na publicação, Alonso disse que o procedimento é doloroso e a recuperação, demorada. “Ainda não ando rápido, ainda não tenho meu ritmo de caminhada de antes, mas sou pedreiro, eletricista, e já consegui subir escadas, verificar sótãos, até rastejar debaixo de uma casa. Estou fazendo isso para recuperar a mobilidade, mas minha recuperação ainda não terminou”, contou o paciente.

COMPLEXIDADE

Apesar do aumento no interesse, especialistas brasileiros afirmam que muitos pacientes desistem quando descobrem o valore quando entendem como é a cirurgia, o quanto demora a recuperação e os riscos envolvidos.

“Eles acham que é uma coisa mais simples, mas não é. É um procedimento complexo, que envolve uma longa recuperação, afastamento de trabalho, além de dedicação e cuidados de longo prazo”, diz o ortopedista Fabiano Nunes, da BP- Beneficência Portuguesa de São Paulo. O alongamento ósseo em si é um procedimento bem estabelecido, desenvolvido para a correção de deformidades causadas por doenças congênitas ou traumas, por exemplo. Nos últimos anos, a cirurgia ganhou apelo estético por ser a única forma de “crescer” na idade adulta. Primeiro, é realizada uma cirurgia na qual o médico faz um corte em um dos ossos da perna (fêmur ou tíbia, mas geralmente no fêmur, pois tem maior capacidade de alongamento) e coloca um fixador, que pode ser externo, interno ou uma combinação dos dois. É o fixador, acionado diariamente pelo paciente, que tem a função de separar os ossos lentamente e causar o alongamento. A distância é de cerca de um milímetro por dia. Mas esse processo só começa 15 dias após a operação. O corpo produz novo tecido ósseo para preencher a lacuna crescente.

“Esse osso começa a cicatrizar e no momento em que isso acontece, forçamos para não cicatrizar e assim consecutivamente. Alongamos um milímetro por dia em quatro movimentos de 0,25 milímetros por dia. São movimentos muito pequenininhos ao longo do dia, da semana, do mês, que vão causar esse alongamento”, explica Gaiarsa.

Após o período de alongamento em si, o fixador ainda precisa ser mantido por mais alguns meses, até o osso se consolidar. No total, um alongamento de 5 centímetros, por exemplo, demora cerca de seis meses.

Nunes explica que para o osso em si, não há limite para alongamento. Entretanto, outras estruturas ao redor, como músculos, tendões, cartilagens e nervos, não respondem tão bem a alongamentos muito grandes. Para ajudar na recuperação e no alongamento dessas estruturas, o paciente precisa passar por sessões diárias de fisioterapia durante e depois do alongamento.

“Quanto mais centímetros eu alongo, maior é o risco de complicações. Quanto menor o alongamento, menor o risco de complicações. A gente fala que um tamanho ideal é de cinco, sete ou oito centímetros, no máximo”, pontua Nunes.

O alto custo está associado à complexidade do procedimento e demora na recuperação. Cada fixador custa cerca de R$40mil. Ao incluir a equipe médica, internação, medicamentos e fisioterapia, o valor inicial estimado é de R$ 100 mil e deve ser pago integralmente pelo paciente. Tanto os planos de saúde quanto o Sistema Único de Saúde (SUS) cobrem apenas os custos de alongamentos para correção de deformidades.

Além da dor e do longo período de recuperação, o alongamento ósseo envolve muitos riscos, desde aqueles presentes em qualquer cirurgia, como infecção, até os específicos. As complicações incluem embolia pulmonar, problemas de regeneração óssea, lesões vasculares, neurológicas e funcionais (limitação da mobilidade). Pode haver ainda deformação e diferença de comprimento entre as pernas.

Pacientes obesos e com problemas de coagulação têm risco aumentado. Apesar disso, a única contraindicação absoluta para a realização desse procedimento para fins estéticos é o tabagismo.

“O osso não consolida bem em pacientes tabagistas. Para um caso traumático, de necessidade, o tabagismo é uma contraindicação relativa. Mas para uma cirurgia eletiva, é absoluta”, diz Gaiarsa.

CRIANÇAS

Na infância, problemas de crescimento podem ser corrigidos com a ajuda do GH, um hormônio do crescimento produzido pela hipófise. O tratamento envolve injeções diárias do hormônio, aplicadas ao deitar, por via subcutânea, por um longo prazo.

“O ideal seria começar a reposição entre os cinco e sete anos e o tratamento precisa ser mantido até fechar a idade óssea, o que ocorre por volta dos 13 a 14 anos”, explica a endocrinologista Claudia Cozer, diretora da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

A médica alerta que o tratamento só é benéfico para crianças com deficiência ou baixa secreção desse hormônio – comprovada por exame laboratorial. Nesses casos, o ganho pode ser de 5 cm.

Para aquelas com produção normal do hormônio, a reposição não trará benefício algum. Pelo contrário.

“É usar uma medicação desnecessariamente, além de gerar custo para a família e estresse psicológico para a criança”, alerta Cozer.

Ele é indicado por um endocrinologista quando um médico constata que a criança está abaixo da curva de crescimento e outras causas já foram descartadas, como alergias e intolerâncias, problemas de fígado, de rins, tireoide, fatores psicológicos, alimentares e nutricionais.

GESTÃO E CARREIRA

PARA EXECUTIVOS DE TI NOVOS TALENTOS TÊM FORMAÇÃO INSUFICIENTE

A pesquisa Tendências em Tecnologia, realizada durante o Universo TOTVS 2022, em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas, aponta que cerca de 58% dos executivos de TI acreditam que os novos talentos não estão totalmente capacitados para o mercado

“Desde 2019, as empresas de tecnologia alertam para o apagão de profissionais de TI no Brasil. A falta de profissionais capacitados impulsiona o crescimento das universidades e escolas corporativas no país”, menciona a Coordenadora de Treinamento e Capacitação da Keyrus Academy, Christiane Gatti.

O estudo ainda aponta que apenas 13% dos participantes consideram que os profissionais de TI são mais valorizados no Brasil. Em relação ao investimento na capacitação de suas equipes, quase metade das empresas afirmaram que investem menos do que o suficiente, outros 26% consideram que fazem um investimento normal, 14% afirmam investir pouco e 5% dizem que não investem nada.

O Brasil forma apenas 53 mil pessoas por ano em cursos de perfil tecnológico, mas a demanda média anual é de 159 mil profissionais de TI e comunicação. É o que aponta o estudo “Demanda de Talentos em TIC e Estratégia TCEM”, publicado pela Brasscom.

De acordo com a entidade, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos, 530 mil em cinco anos. São números que refletem o crescimento acelerado do setor de TIC, e deixam clara a urgente necessidade de que a formação profissional também seja ampliada no mesmo ritmo.

Para a Brasscom, o ideal é as empresas criarem estratégias inovadoras para ampliar a formação de talentos e superar o déficit – previsto para ultrapassar meio milhão de profissionais, pois a baixa de mão de obra desperta um alerta para o risco de um apagão de profissionais qualificados para ocupar os postos vagos. A implantação de Universidades Corporativas têm crescido em diferentes segmentos que têm percebi- do a importância de investir no ativo mais importante de uma organização: o capital humano e intelectual.

O movimento é descrito como Employer U (universidade conectada à empresa, em tradução livre) que além de formar ou capacitar profissionais de acordo com a cultura organizacional da empresa, ainda contribui para inserir mão de obra qualificada no mercado de TI. A multinacional Keyrus, líder mundial em consultoria de inteligência de dados, digital e transformação de negócios, lançou a Keyrus Academy, Universidade Corporativa com o objetivo de ampliar a rede da multinacional e capacitar profissionais de TICs. “O objetivo é ampliar a rede e capacitar o profissional de tecnologia, indiferente de ser um colaborador ou não. Sentimos a necessidade de capacitar a mão de obra disponível no mercado. Além dessa ampliação, mantemos nossos treinamentos internos e os treinamentos corporativos”, menciona Christiane. O diferencial é que as pessoas aprendem com quem vive na prática o dia a dia do mercado de tecnologia. No caso da Keyrus os cursos são ministrados por consultores Keyrus que são profissionais altamente capacitados tecnicamente e mercadologicamente.

“Entendemos que a educação é fator determinante para o engajamento dos colaboradores, o que impacta diretamente em uma entrega de qualidade”, enfatiza Christiane. Considerando o atual cenário, em que a crise afeta diferentes áreas e setores da sociedade, é de extrema importância e necessidade que os colaboradores estejam alinhados e capacitados a lidar com as novas realidades, caso contrário, a empresa pode estagnar. Logo, com uma capacitação adequada é muito mais fácil ampliar a excelência no trabalho executado.

Outro ponto importante a se destacar é o fato de que a capacitação dos colaboradores contribui para a gestão de planos de carreira, afinal, tem ocorrido uma movimentação de profissionais que buscam por uma aprendizagem contínua para investir em um plano de carreira vindouro.

FONTE: https://keyrus.com/br/pt/services

EU ACHO …

CONFIE EM DEUS, MAS TRANQUE O CARRO

Mike Tyson segue na mídia: andou sendo entrevistado pela Oprah e fazendo um mea-culpa por uma vida inteira de desvios de comportamento.

Isso me fez lembrar de quando ele foi acusado de estupro pela ex-miss Desiree Washington, em 1991. A moça havia entrado no quarto com ele, de madrugada e, ao que consta, desistiu de levar adiante a brincadeira. Qualquer pessoa tem o direito de desistir do ato sexual na hora H e o parceiro tem o dever  de respeitar a decisão, por  mais fulo da vida que fique, mas deixar Mike Tyson fulo não é algo que uma pessoa de juízo arrisque. Na época, a escritora Camille Paglia disse que Tyson errou, logicamente, mas que a moça era uma idiota. E justificou sua opinião dando o seguinte exemplo: se você estaciona seu carro numa rua escura e deixa a chave na ignição, não significa que ele possa ser roubado. Mas, se for, você foi um panaca.

Essa história sempre me volta à cabeça quando começo a ouvir algum “ai de mim”, que é o mantra das vítimas. Fico prestando atenção na história e, quase sempre, descubro que o mártir deixou a chave na ignição. São os casos de garotas que se deixam filmar nuas pelo namorado e depois descobrem que viraram as musas do YouTube, ou de garotos que dirigem alcoolizados a 140km/h e acordam no outro dia no hospital (quando acordam). Eles devem se perguntar, dramáticos: onde está Deus nessa hora que não me ajuda? Está ajudando a encontrar sobreviventes de um tsunami ou consolando quem tem um câncer em metástase, porque esses sim são vítimas genuínas: mesmo deixando seus carros bem trancados, foram surpreendidos pelo destino.

“Não há prêmio ou punição na vida, apenas consequências.” Não sei quem escreveu isso, mas está coberto de razão. Sorte e azar são responsáveis por uns 10% do nosso céu ou inferno, os 90% restantes são efeitos das nossas atitudes. Vale para o trabalho, para o amor, para o convívio em família, para o dinheiro, para a saúde da mente e também do corpo. Reconheço que os governos não ajudam, que certas leis atrapalham, que a burocracia atravanca, que o cotidiano é cruel, e até as disfunções climáticas conspiram contra. Ainda assim, avançamos (prêmio) ou retrocedemos (punição) por mérito ou bananice nossas.

Então, tranque o carro numa rua escura e também dentro da sua garagem, não entre no quarto de um neanderthal se você não estiver bem certa do que deseja, não deixe uma vela acesa perto de uma cortina, pense duas vezes antes de mandar seu chefe para um lugar que você não gostaria de ir, não tenha em casa Doritos, Coca-Cola e Ouro Branco se estiver planejando perder uns quilos e lembre-se do que sua bisavó dizia: regue as plantas, regue suas relações, regue seu futuro, porque sem cuidar, nada floresce.

E, por via das dúvidas, confie em Deus, que mal não faz.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

MARMITA FITNESS – OPÇÃO IDEAL PARA QUEM DESEJA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Feitas com ingredientes frescos e de qualidade, as marmitas fitness também são uma boa opção para começar o ano de forma leve

Depois da comilança de fim de ano, época que geralmente as pessoas costumam enfiar o pé na jaca e comer exageradamente – mesmo cientes das consequências, como aumento de peso e colesterol, por exemplo – chegamos à véspera do ano novo. Agora surgem muitos dos planos que incluem cuidar da saúde, ter uma alimentação mais saudável e equilibrada, fazer uma dieta, praticar exercícios físicos e, por que não, perder alguns quilinhos? Com isso em mente, muitas pessoas decidem começar fazer academia, outras optam apenas pela caminhada, algumas procuram um nutricionista, e isso certamente já é um bom começo para alcançar os objetivos, afinal, é preciso tirar os planos do papel.

PRATICIDADE

E para quem deseja, de fato, começar o ano novo mudando a alimentação, fazendo refeições mais saudáveis, pode contar com a ajuda das marmitas fitness. Além de práticas no dia a dia para quem tem uma rotina agitada, elas são um investimento que vale a pena, principalmente para evitar o consumo de alimentos gordurosos e ricos em sal, e também uma opção ideal para quem não tem tempo ou não gosta de ficar nas filas dos supermercados e na cozinha. As marmitas fitness resolvem esse problema e ainda oferecem um cardápio variado, com diferentes ingredientes. Elas podem ser congeladas e são aquecidas facilmente.

Além disso, são receitas preparadas sempre com muito cuidado, com produtos selecionados e fresquinhos, com temperos na medida certa, sem prejudicar o sabor dos alimentos. Em Rio Preto, muitas empresas têm investido nesse ramo, para proporcionar aos clientes a alternativa e a comodidade de terem suas refeições prontas, focando não apenas na qualidade e benefícios à saúde, mas também no bolso, já que, em alguns casos, pode ser mais econômico comprar a marmita pronta do que gastar com todos os ingredientes e preparar o cardápio semanal em casa.

NOVIDADES SEMANAIS

A Do Reino Fit é uma loja online que trabalha pelo Instagram e WhatsApp com a venda de kits de marmitas sob encomenda, com um cardápio variado que muda semanalmente, oferecendo sempre novidades aos clientes de Rio Preto e região, como Mirassol e Cedral, que recebem os produtos pelo sistema delivery. Tem pernil ao barbecue com mandioca e farofa de banana com bacon, macarrão caprese, sobrecoxa desossada com quiabo e polenta cremosa, strogonoff de frango, bobó de frango, macarrão ao alho, brócolis, bacon e tomatinhos cereja, entre muitas outras opções. Segundo a proprietária Yara Ribeiro Albertini, as marmitas que fazem mais sucesso são a de galinhada e a mineirinho (arroz integral, feijão, calabresa, bacon, ovo e couve).

“Variar o cardápio semanalmente é um grande diferencial para quem vende comida congelada, pois o cliente não enjoa e consegue comer uma comida diferente, saborosa e saudável ao mesmo tempo. Escolher ingredientes de qualidade faz toda a diferença no resultado final, pois o sabor será sempre o mais importante e, consequentemente, o alimento terá um padrão mais alto. E isso inclui não somente usar produtos de qualidade como também manter um controle de qualidade, uma higienização adequada, tanto do alimento quanto do ambiente de trabalho”, diz Yara.

EXPERIÊNCIA AFETIVA

Salmão grelhado com purê de mandioquinha e legumes com Shimeji, do Gostinho

O Gostinho tem uma cozinha especializada em alimentação saudável, para que as refeições preparadas sejam sempre nutritivas e, ao mesmo tempo, tenham o sabor da comida caseira. O restaurante oferece um cardápio extenso, com uma variedade de mais de 100 pratos, que são divididos em grupos: Low Carb, Fitness, Vegetariano, Especiais, Caldos e Salgados. Os campeões de vendas são as panquecas de carne e frango, o risoto de shimeji com alcatra, o escondidinho de mandioca com carne e a coxinha de frango com cream cheese sem massa. Disponibiliza marmitas avulsas ou a adesão de combos, além de um cardápio personalizado, de acordo com as necessidades do cliente.

“Trabalhamos com muito zelo e cuidado, pois acreditamos que através da alimentação também é possível se ter uma experiência afetiva. Nossos pratos são feitos com produtos de primeira qualidade, pois cremos que para ter um resultado satisfatório quando se propõe seguir uma alimentação saudável, a qualidade é essencial, a começar pela higiene de nossa cozinha”, afirma a proprietária Angélica Costa. O Gostinho atende de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h e aos sábados das 9h às 12h, e está localizado na rua Professora Zulmira da Silva Salles, no Parque Industrial, em Rio Preto. As marmitas são entregues no local ou pelo delivery.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PAPAI, MAMÃE, TITIA

Famílias vivem crise por intolerância e acirramento de preconceitos

Em uma rede social, o publicitário Cyro Freitas, de 38 anos escreveu em novembro: “levante-se da mesa quando o amor não estiver mais sendo servido”, da música da artista e ativista negra Nina Simone, que aprendeu a tocar blues escondida dos pais.

A reflexão foi como traduziu seus sentimentos um dia depois de ter saído do grupo da família por ser gay. Laços familiares desfeitos no país são um fenômeno cada vez mais estudado desde que se intensificou a polarização com as eleições de 2018. Por trás do que parece política, há muito mais: histórias de profundas divergências sobre temas como homofobia, racismo e papel da mulher na sociedade. Diferenças que extrapolam os limites do lar.

Cyro saiu do grupo e de casa, deixando para trás afetos e vínculos sanguíneos para mergulhar na aventura de viver as suas verdades.

“Quando eu saí de casa, meu pai foi indiferente, mas minha mãe não queria que eu me mudasse. Mesmo eu morando perto, ela me fez adiar ao máximo a mudança”, relembra ele, que rompeu de vez o cordão umbilical em 2016, ainda dois anos antes de os ânimos ficarem ainda mais acirrados, de acordo com o termômetro de especialistas.

Cyro, que tinha 31 anos quando se despediu de casa, buscava mais independência e fugia da homofobia.. Pesquisadores que se dedicam a casos como o dele avaliam que as rupturas acontecem porque, cada vez mais, almoços e jantares de família servem pratos de intolerância. O avanço do conservadorismo no Brasil está na raiz do problema que não se limita a um debate eleitoral.

REJEIÇÃO E MEDO

Para o antropólogo Bernardo Conde, professor da PUC-RJ, a divisão familiar transpassada pelo preconceito pode gerar problemas psíquicos e sociais à vítima, mesmo quando ela se rebela e rompe o ciclo de ataques, como fez Cyro.

“Às vezes, um filho que se rebela demarca autonomia, mas também pode existir a ideia de rejeição, que leva à insegurança ou à baixa autoestima. Por não poder se abrir com a família, a pessoa pode vir a ter uma incapacidade de se relacionar plenamente ou pode ainda reproduzir o sistema conservador da família”, explica.

Um levantamento realizado pela consultoria Quaest mostrou que, só nos últimos dois anos, mais de 2,5 milhões de publicações na internet indicavam polarização familiar para além de divergências políticas, com destaque para brigas envolvendo LGBTfobia, intolerância religiosa e racismo. Dos posts analisados no Twitter, Instagram, Facebook e Reddit, 17% denunciavam atitudes LGBTfóbicas no núcleo familiar. O pico de publicações foi em outubro, durante as últimas eleições, quando viralizou o tuite de um homem trans expulso da casa da irmã. Os casos de intolerância religiosa somam 13%, e os de racismo, 3%. Os principais termos associados a polarização entre familiares se referiam a “sair de casa”, “igreja” e “sair do armário”. Em postagens na internet, pode-se encontrar um enorme varejo de temas indigestos, que vão de gordofobia a racismo reverso – que consistiria em brancos sendo alvo de preconceito por parte de negros -, refutado por estudiosos.

Nascido em uma família de militares, o publicitário conta que nunca se sentiu à vontade para se assumir gay. Desde pequeno ouvindo que era errado ser homossexual, Cyro só oficializou o relacionamento de 11 anos com Hilderlan Fernandes Martins, de 32 anos, em 2020. Hoje, tem  o apoio da mãe e dos irmãos. Mas o pai se recusa até mesmo a permanecer no mesmo ambiente com o filho e o genro. O preconceito, segundo o publicitário, o afastou das celebrações em família de que tanto sente falta. Neste Natal, não haverá ceia.

Embora não haja uma causa única para esses comportamentos, Conde vê no cristianismo, principalmente da igreja evangélica, uma das faces desse radicalismo.

Quando as pessoas fogem do considerado correto pela Bíblia, precisam ser combatidas ou convertidas por medo do “inferno” e do “pecado”. A desinformação fomenta o ódio”, diz.

O afastamento progressivo da designer Rebeka Guimarães, de 23 anos, da mãe se solidificou nos últimos quatro anos, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Sentindo-se humilhada por ter amigos LGBTs ou por ser a favor da vacina contra a Covid- 19, ela rompeu de vez com a mãe e teve uma semana para achar uma casa nova em Santa Catarina.

“Minha mãe disse para eu arrumar as malas e ir embora. Eu comecei a chorar e decidi que não merecia continuar passando por aquilo. Ela destruiu a nossa família, que ela dizia ser prioridade”,  desabafa Rebeka, recém-empregada, que ganhou móveis usados de amigos e recebeu ajuda financeira do pai, que mora com a irmã mais velha no Paraná.

O cientista social Milton Lahuerta, coordenador do Laboratório de Política e Governo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirma que a radicalização conservadora, que também acontece em outros lugares do mundo, ameaça direitos conquistados pelas minorias. Por outro lado, tem provocado o surgimento de outros arranjos sociais:

“Há uma reconfiguração do papel da família, que passa a ter outras raízes fora do pai, da mãe e de irmãos.

RACISMO ENCOBERTO

Apesar de aparecer de forma menos expressiva na pesquisa, o racismo acabou com a paz familiar do escritor baiano Ricardo (nome fictício), de 28 anos. Ele passou a ser assediado a cortar o cabelo black power, porque os país achavam “feio”. Ricardo resolveu se mudar há três meses de Salvador para São Paulo.

“Sou de uma família de não-brancos, mas o racismo sempre esteve presente. O meu black é um problema para o meu pai”, conta ele que viu o afastamento como inevitável.

OUTROS OLHARES

VIAGRA REDUZ EM 39% O RISCO DE MORTE POR DOENÇA CARDIOVASCULAR

Remédio destinado à disfunção erétil aumenta fluxo sanguíneo nas artérias do coração e distribuição de oxigênio pelo corpo

O Viagra, medicamento comumente usado para disfunção erétil, tem um benefício adicional: reduzir o risco de doenças cardíacas em até 39% em homens. A conclusão é de um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Os homens que tomam o remédio também parecem menos propensos a sofrer morte prematura por qualquer causa.

O trabalho, publicado recentemente na revista científica Journal of Sexual Medicine, analisou dados de mais de 70 mil homens, com em média 52 anos, diagnosticados com disfunção erétil, entre 2006 e 2020. Por meio de registros médicos, os pesquisadores determinaram quem havia tomado remédios para disfunção erétil – e quaisquer problemas cardíacos subsequentes que possam ter sofrido durante o período de acompanhamento. Entre os participantes, 23.816 usavam os remédios para ajudar na cama, enquanto outros 48.682 não.

Os resultados mostraram que aqueles que usaram esses medicamentos eram menos propensos a sofrer problemas cardíacos. Eles tinham um risco 17% menor de insuficiência cardíaca, quando o coração não bombeia tão bem quanto deveria; 15% menos probabilidade de necessitar de um procedimento de revascularização coronária, usado para limpar bloqueios nas artérias do coração; diminuição de 22% na probabilidade de desenvolver angina instável, quando a placa na artéria coronária não fornece oxigênio e sangue ao coração.

Cada uma dessas condições pode ser fatal se não a for tratada e aumentar significativamente a probabilidade de uma pessoa sofrer um ataque cardíaco. No geral, as mortes por problemas cardíacos nesses homens caíram quase 40%. Além disso, os homens que usaram medicamentos para disfunção erétil também viveram, em média, por mais anos, e com o risco de morte prematura caindo em um quarto durante o período do estudo.

Embora os pesquisadores não tenham investigado por que os medicamentos estavam ligados a uma melhor saúde do coração, eles acreditam que a droga aumenta o fluxo sanguíneo nas artérias do coração e melhora o fluxo de oxigênio por todo o corpo. Não é à toa que pesquisas anteriores vincularam o uso do Viagra a uma diminuição do risco de Alzheimer, que pode ser causado pela falta de fluxo sanguíneo para o cérebro.

A medicação funciona relaxando os músculos do pênis, o que permite um maior fluxo de sangue no local. O Viagra, e outras medicações para disfunção erétil, também diluem o sangue, facilitando o fluxo no corpo.

Esse processo reduz a pressão sanguínea como um todo, o que ajuda o sangue a fluir melhor pelo o corpo e diminui o risco de coagulação e outros bloqueios que causam problemas cardíacos graves. Também há melhora do fluxo na artéria braquial, um importante vaso sanguíneo que fornece sangue para a parte superior do corpo, como braço, cotovelo e mão.

Embora os resultados deste estudo sejam promissores, não é recomendado tomar esses medicamentos para a prevenção de qualquer uma das condições acima, exceto para o tratamento de disfunção erétil, sob recomendação médica.

OUTROS OLHARES

CASOS E ÓBITOS POR HIV/AIDS VOLTAM A CRESCER ENTRE HOMENS NO BRASIL

Número de infecções, em queda há sete anos, aumentou 8% em 2021; pessoas negras, jovens e do sexo masculino são maioria

Após sete anos em queda, o número de contaminação por HIV entre homens voltou a crescer no Brasil em 2021, último ano com as estatísticas fechadas. Foram 12.511 diagnósticos registrados pelo Ministério da Saúde – aumento de aproximadamente 8% em comparação a 2020. Os principais afetados são os negros (pretos e pardos, conforme definição do IBGE), representando 7.313 (58,5%) do total.

A quantidade de brasileiros do sexo masculino mortos pela doença também cresceu: 7.613 óbitos no período, 363 a mais que em 2020. Novamente, negros representaram a maioria, com 59%, ou seja, a cada dez brasileiros que tiveram a vida ceifada pela Aids no ano passado, seis eram negros.

Há dez anos, o quadro racial da contaminação era outro. Em 2011, a maioria dos diagnósticos de HIV positivo foi detectado em homens brancos, que somavam 46,1% do total, ante 45,1% pardos e pretos.

Os índices, basicamente, refletem a desigualdade social e racial presente no país, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Veriano Terto.

“Em comparação à população branca do Brasil, os negros têm menos acesso a serviços de saúde de qualidade, como insumos de prevenção e tratamentos. São pessoas em posição economicamente desigual”, destaca o especialista.

A curva ascendente de números de óbitos pela doença entre os negros preocupa os estudiosos da área. Para Terto, os dados denunciam a escassez de campanhas com recorte social e racial:

“Não podemos falar que há uma falha nas campanhas de Aids do governo para jovens negros. A verdade é que essas ações raramente são pensadas. Nos dias de hoje, podemos falar que elas praticamente não existem.

De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2020, verificou-se queda de 10,6 pontos percentuais na proporção de óbitos de pessoas brancas e crescimento de 10,4 pontos percentuais na proporção de óbitos de pessoas negras.

JOVENS

Conforme revelado, os casos de detecção entre os jovens de 14 a 29 anos também cresceram nos últimos dez anos. Entre o sexo masculino, a notificação entre a faixa etária registrou aumento de 20% – passou de 6.641 para 7.970. Os índices motivaram a pasta a lançar, neste mês, a campanha

“Quanto mais combinado, melhor!”, que alerta os jovens sobre as formas de se proteger da contaminação pelo HIV.

Levando em consideração o universo da população brasileira, tanto as infecções quanto as mortes caíram ao longo de uma década. Em 2011, foram identificados 20.583 diagnósticos e 7.925 óbitos por HIV/Aids. Já no ano passado, foram registrados 12.511 casos e 4.471 mortes.

Os dados do ministério mostram que, em dez anos, houve queda de 18,5% nos diagnósticos gerais. Entre as mulheres, a redução foi acima da média, com 37,3% menos casos em 2021 do que em 2011. Já entre os homens, a redução foi de apenas 7,2% no mesmo período. A desigualdade entre os sexos já foi menor. Entre 2002 e 2009, a média dos diagnósticos era de 15 homens a cada dez mulheres. A partir de 2011, a pasta começou a identificar avanço do HIV no sexo masculino, com 25 casos em homens para cada dez mulheres.

“Campanhas massivas são cruciais para diminuir os números. O tratamento no início da detecção também é importante para derrubar a contaminação. Nesse cenário, a doença não evolui, e a carga viral se torna praticamente indetectável”, explica o infectologista do Hospital das Forças Armadas Hemerson Luz.

Há duas estratégias de prevenção da doença, além do uso de preservativos: a profilaxia pré-exposição (PrEP), um comprimido que evita a contaminação em um possível caso de exposição, que deve ser tomado em casos de comportamento de risco, e a profilaxia pós-exposição (PEP), um comprimido que pode ser tomado até 72h após a exposição ao HIV.

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que, com relação ao aumento no número de casos entre homens, “a pandemia da Covid-19 fez com que as pessoas procurassem menos os serviços de saúde para realizar a testagem do HIV”. Informou ainda que lançou uma campanha de enfrentamento ao HIV/Aids com estratégias de prevenção combinada para populações vulneráveis, principalmente jovens.

GESTÃO E CARREIRA

HOME OFFICE: VALORIZAR RESULTADOS E NÃO HORAS TRABALHADAS

Há alguns anos, despender horas a mais no ambiente de trabalho era visto como empenho e aperfeiçoamento. Contudo, a nova rotina de home office tem modificado essas percepções, levando as empresas a darem mais atenção ao resultado dos colaboradores do que ao tempo que levam para realizar suas atividades.

Segundo o escritor Uranio Bonoldi, especialista em tomada de decisão e negócios, essa é uma tendência do mercado capaz de oferecer aos trabalhadores mais equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “O empenho de um colaborador não pode mais ser medido pelo tempo em que ele permanece no escritório. Na verdade, esse critério sempre foi falho, pois trabalhar muitas horas não é sinônimo de dedicação e proatividade”, aponta o especialista.

Uma pesquisa da Asana, um software de gerenciamento de projetos, corrobora essa  perspectiva. A partir de uma análise de 10 mil funcionários, o estudo revelou que 58% do expediente era utilizado para refazer trabalhos. Já segundo outra pesquisa, da revista  Harvard  Business Review, os colaboradores tendem a passar 41% do tempo em atividades que os fazem sentir-se ocupados e úteis, sem de fato serem produtivos.

Para Uranio, isso é sinal de que o tempo de trabalho pode, muitas vezes, ser mal aproveitado. “Certamente há atividades que são mais trabalhosas e demoradas do que outras, mas o que mede de fato a boa performance de um colaborador é a sua entrega aliada a outras qualidades no convívio e no desenvolvimento das atividades, que agregam valor ao seu desempenho”, diz.

Em tempos de home office, onde há menos controle sobre o início e o fim do expediente, o mercado volta sua atenção para os resultados dos colaboradores. Há estudos que indicam que o pico de produtividade do trabalhador dura cerca de três horas. Ou seja, o resto do tempo pode estar sendo mal gerido. Essa gestão do tempo precisa ser feita para que haja um bom rendimento sem levar os colaboradores a crises de burnout.

Autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, o escritor afirma que há uma tensão no mercado de trabalho, no qual os trabalhadores vêm demonstrando insatisfação com as configurações atuais.

“Vimos recentemente discussões importantes sobre as ondas de demissões e o quiet quitting, o que parece ser sinal de que os colaboradores estão buscando melhores condições de trabalho. Assim, as empresas precisam estar atentas a essas demandas para manterem profissionais comprometidos e que entregam bons resultados sem se desgastarem com o excesso de trabalho”, conclui.

FONTE E OUTRAS INFORMAÇÕES, ACESSE: https://www.uraniobonoldi.com.br

EU ACHO …

E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?

Quem leu o perturbador Precisamos falar sobre Kevin, sabe que sua autora, Lionel Shriver, é craque em esmiuçar as razões psicológicas que motivam todos os nossos atos, mesmo os mais tolos, e em demonstrar o quanto esses atos geram consequências previsíveis e imprevisíveis. Em seu novo livro, O mundo pós-aniversário, ela conta a história de Irina, uma mulher instalada num sólido casamento de dez anos, que um dia sente um incontrolável desejo de beijar outro homem. Pra complicar, esse homem é um  amigo do casal. A partir daí, a autora desmembra o livro em  duas histórias que correm paralelas: a vida de Irina caso consumasse seu impulso erótico, e a vida de Irina caso reprimisse seu desejo.

A autora poderia ter se contentado em escrever sobre o poder transformador de um primeiro beijo em alguém, mas foi mais inteligente e abordou também o poder transformador de mantermos tudo como está. É comum pensarmos que, ao ficarmos parados no mesmo lugar, sem agir, sem mudar nada, estamos assegurando um destino tranquilo. Engessados na mesma situação, é como se estivéssemos protegidos de qualquer possível ebulição que nos inquiete. Sssshh. Quietos. Ninguém se mexe pra não acordar o demônio.

Não deixa de ser uma estratégia, mas falta combinar com o resto da população. As pessoas que nos cercam sempre interferirão no nosso destino. Se dermos uma guinada brusca ou permanecermos na rotina, tanto faz: o mundo se encarregará de trocar as peças de lugar nesse imenso tabuleiro chamado dia a dia.

Ao fazer algo socialmente condenável (como ser casada e dar um beijo em outro homem, pra dar o exemplo do livro), tudo poderá acontecer – inclusive nada. Você poderá se apaixonar, abandonar seu marido e viver uma tórrida história de amor, e essa história de amor se revelar uma furada e você se arrepender, e tentar reatar com seu marido que a essa altura já estará apaixonado pela vizinha. Ou você beijará e em vez de iniciar um romance tórrido, voltará pra casa bocejando e nada, nadinha será alterado. Foi só uma pequena estupidez momentânea e sem consequências. Mas das consequências de continuar viva você não escapa. Esse 2010 promete ser bom: ano do tigre no horóscopo chinês, ano de Vênus no horóscopo ocidental. Quem entende do assunto diz que teremos um aquecimento global do tipo que ninguém tem nada contra. Emoções calientes. Mas adianta fazer planos? Seja qual for o caminho que optarmos por seguir, haverá altos e baixos. E  isso é tudo. Se fizermos uma auditoria em nossas vidas, em algum momento questionaremos: “e se eu tivesse feito diferente?”. O diferente teria sido melhor e teria sido pior. Então o jeito é curtir nossas escolhas e abandoná-las quando for preciso, mexer e remexer na nossa trajetória, alegrar-se e sofrer, acreditar e descrer, que lá adiante tudo se justificará, tudo dará certo. Algumas vidas até podem ser tristes, outras são desperdiçadas, mas, num sentido mais absoluto, não existe vida errada.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

QUER COMER MENOS CARNE? SAIBA O QUE É O FLEXITARIANISMO

Movimento, que não tem como objetivo eliminar a proteína anima da dieta, mas reduzir seu consumo, pode trazer benefícios à saúde

Nem restrição total, nem dieta que prioriza alimentos de origem animal: os flexitarianos buscam o meio-termo. Nesse padrão alimentar, equilíbrio é a palavra-chave. Por isso, ainda que os vegetais componham a base da alimentação, como nas dietas vegetarianas e veganas, os flexitarianos abrem uma exceção em certas ocasiões para consumir a proteína animal. O objetivo não é eliminar a carne, mas reduzir o consumo.

Segundo a nutricionista Tatiana Consoli, do Departamento de Medicina e Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), esse padrão alimentar permite reduzir as chances de uma maior ingestão de fibras, presentes em verduras, grãos, frutas e legumes. Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras auxilia na redução da absorção de açúcares e gorduras e melhora a sensação de saciedade.

Como resultado, além de reduzir o risco de complicações cardiovasculares, diminuir o consumo de carne pode evitar uma série de doenças, como o câncer. Desde 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o potencial cancerígeno das carnes processadas, como presunto, linguiça e bacon. A nutricionista também sinaliza para menores riscos de diabete tipo 2, pois a dieta à base de vegetais costuma ter menos gorduras e açúcares.

No entanto, ao reduzir os ali- mentos de origem animal, pode surgir uma dúvida: será que estou consumindo a quantidade necessária de proteínas? É provável que sim. “O consumo de proteínas, no Brasil, está acima de nossas necessidades”, diz Tatiana. “Quando comparamos uma alimentação à base de vegetais com outra em que a proteína animal esteja presente, vemos uma redução no consumo de proteínas, mas que ainda pode superar as necessidades.”

Em algumas situações, como no caso de quem pratica atividades físicas intensas e de forma frequente, pode ser necessário ingerir mais proteínas do que para a média da população. Se for o caso, é importante o acompanhamento nutricional para se saber a melhor fonte e maneira de adquirir as proteínas.

VITAMINA B12

Outra preocupação é com a vitamina B12, presente nos alimentos de origem animal – carnes, ovos, leite e derivados. Ela é responsável, entre outras funções, pela formação das células sanguíneas e dos neurônios. Se estiver em níveis baixos, os principais sintomas são danos neurológicos e má disposição física e mental.

A recomendação é que vegetarianos, veganos e flexitarianos façam suplementação dessa vitamina e exames frequentes para acompanhar os seus níveis

E isso pode trazer muitos benefícios à saúde. Ao investir na proteína de origem vegetal, presente em alimentos como feijão, lentilha, grão-de-bico e tofu, fica mais fácil controlar os níveis de colesterol – e, dessa forma, doenças cardiovasculares, como hipertensão e enfarte. Isso acontece porque os alimentos de origem animal, em especial a carne vermelha, costumam ser ricos em gorduras saturadas que, consumidas em excesso, podem prejudicar a saúde.

DICAS PARA SE TORNAR FLEXITARIANO

TRANSIÇÃO GRADATIVA

A redução dos alimentos de origem animal não precisa ser abrupta – tanto em relação à frequência quando sobre a quantidade consumida. Pode ser mais fácil garantir o sucesso da transição quando ela respeita limites e vontades pessoais.

OUTRAS PROTEÍNAS

É possível adquirir proteínas de alimentos de origem vegetal, como grão-de-bico, feijão, ervilha, lentilha, nozes, tofu, chia, quinoa e soja.

CEREAIS

É importante incluir cereais na dieta, como aveia e trigo. A combinação brasileira de arroz e feijão é bastante nutritiva e recomendada.

PLANEJE

Criar um cardápio semanal pode ajudar na transição. Definir os pratos para a se- mana ou deixar marmitas prontas é uma estratégia.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ESTUDOS TENTAM EXPLICAR O QUE FAZ O CÉREBRO HUMANO PROCRASTINAR

Lembrar-se das tarefas pendentes e projetar o futuro podem ajudar a enfrentar hábito, diz neurocientista

Um estudo de 2022 publicado na revista Nature Communications sugere que a raiz da procrastinação pode estar em um viés cognitivo – acreditamos que fazer tarefas será de alguma forma mais fácil no futuro. “Você sabe que vai ser ruim no futuro tanto quanto é ruim fazê-lo agora, mas internamente você simplesmente não consegue evitar”, disse Samuel McClure, professor de Psicologia e neurocientista cognitivo da Arizona State University.

Há variação individual, mas “a procrastinação é uma tendência que todos encontramos em nossas vidas em diferentes domínios ou em diferentes momentos”, disse Raphaël Le Bouc, neurologista do Paris Brain Institute e autor do estudo. “Mas os verdadeiros mecanismos cognitivos por trás disso não são realmente conhecidos. E isso pode ser uma razão pela qual é difícil superar essa tendência.”

RECOMPENSA

Os pesquisadores pediram a 43 adultos que avaliassem suas preferências por receber recompensas menores mais rapidamente ou recompensas maiores mais tarde, bem como por realizar tarefas mais fáceis mais cedo ou as mais difíceis mais tarde.

Para recompensas, pesquisas anteriores mostraram que os humanos tendem a ser mais impulsivos e preferem uma menor mais cedo do que uma maior mais tarde, uma descoberta que foi replicada no estudo de Le Bouc.

O trabalho mostra ainda que as pessoas também desconsideram e minimizam o esforço futuro, preferindo uma tarefa mais fácil agora a uma mais difícil depois.

Quando os pesquisadores fizeram com que 27 dos 43 indivíduos realizassem o mesmo experimento em uma máquina de neuroimagem fMRI, uma área do cérebro se destacou como central para fazer esse cálculo de custo-benefício – o córtex pré-frontal medial dorsal.

A atividade cerebral nessa região parecia combinar informações sobre recompensas e esforços para uma tarefa – tarefas mais trabalhosas aumentaram sua atividade neural, enquanto mais recompensas a diminuíram.

COMO ENFRENTAR

Para lidar com a procrastinação, Le Bouc sugere que a pessoa lembre-se da tarefa e cobre a decisão com mais frequência. Imaginar o seu futuro eu – aquele que será sobrecarregado com contas não pagas, prazos iminentes e pratos sujos – também pode lembrá-lo de que procrastinar não torna a tarefa mais fácil, diz.

“Tentar tornar esses esforços no futuro mais realistas pode ajudá-lo a perceber que, na verdade, o custo será exatamente o mesmo que seria agora”, afirma o neurologista.

OUTROS OLHARES

COISA DE HOMEM

Relutância masculina em procurar médico adia tratamentos e amplia riscos à saúde

Há um divertido episódio do seriado “Os Simpsons” em que o protagonista Homer faz o possível e o impossível para fugir de uma cirurgia de doação de órgãos. É evidente que ele quer ajudar a salvar a vida de seu pai – que receberia um de seus rins – mas o pânico da operação o faz desistir da ideia sucessivas vezes. Para além do exagero do desenho, é claro, o comportamento masculino em termos de cuidado com a própria saúde não é, exatamente, muito diferente do exibido por Homer. Médicos alertam que, em geral, homens só procuram o serviço de saúde quando o quadro é avançado – em casos já com queixas e sintomas.

Levantamentos recentes sobre o tema reforçam as percepções dos consultórios. Um estudo da ONG Oxfam mostrou que, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, os homens se vacinaram menos do que as mulheres contra a Covid-19. Em São Paulo a diferença foi de 3 pontos percentuais, no Rio de quase 6. Homens e rapazes também são mais relapsos com os cuidados necessários em caso de contágio com HIV, em todo o mundo. Enquanto 80% das mulheres com o vírus fazem o tratamento regularmente, entre os homens essa taxa é mais baixa, de 70%.

É possível ir além: os brasileiros – em comparação com as brasileiras – vivem menos. A expectativa de vida de um homem no Brasil é de 72,2 anos, enquanto a das mulheres é de 79,3. Também são os que mais fumam – em São Paulo, 12,9% dos homens contra 9,6% das mulheres são tabagistas – e tomam refrigerante acima de cinco dias na semana com mais frequência – no Rio, são 19,8% dos homens contra 11,26% das mulheres.

Os dados são do Sistema de o Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizado pelo Ministério da Saúde.

“Em geral, as mulheres se preocupam um pouco mais cedo com a saúde. Caso ganhem um pouquinho a de peso, elas já procuram o e endocrinologista. O que facilita, por exemplo, o diagnóstico de uma diabetes precoce. Os homens, por outro lado, esperam algo mais grave acontecer para só aí procurar o médico”, descreve Tarissa Petry, endocrinologista do Hospital Oswaldo Cruz.

Eliézer Silva, diretor-superintendente do sistema de saúde Einstein, concorda e afirma que a soma de hábitos mais precários e a falta de vontade de procurar o médico desfavorecem o homem amplamente.

“A mulher tem consulta recorrente com a ginecologista. As meninas são ensinadas, desde cedo, que devem ir ao médico, os meninos não. Pacientes que chegam tarde ao hospital, têm tratamentos mais caros e com menor chance de sucesso”, sustenta.

UROLOGISTA

Dados compilados pela Sociedade Brasileira de Urologia ratificam essa colocação. Para se ter uma ideia do abismo que separa homens e mulheres, entre janeiro e julho deste ano, 1,2 milhão de consultas com ginecologista foram realizadas no SUS, contra 200 mil com o urologista. Se observarmos os atendimentos gerais dos dois sexos no SUS, em 2021, foram 370 milhões consultas e procedimentos com mulheres contra 312 milhões com os homens.

“A mulher contar para uma amiga ou vizinha que fará um papanicolau é algo comum. Se a outra fala em uma rodinha de amigas que vai à gineco, as colegas dão a maior força. Agora, se tiver uma roda de amigos e um deles fala que vai ao urologista, ele vai ouvir piadas. Ouve que homem que é homem não vai. Tem medo de ficar impotente, foge do exame de toque, imagine, algo absolutamente simples, de três ou quatro segundos. Há muito tabu, muito preconceito”, afirma Stênio de Cássio Zequi, líder da área de urologia do A.C. Camargo.

O médico acrescenta que o homem tem o triplo de chance de ter câncer na bexiga que a mulher, já que um dos fatores de risco desse tipo de tumor é o tabagismo.

Miguel Srougi, um dos maiores especialistas em urologia do país, do Hospital Vila Nova Star, ainda afirma que a hesitação masculina tem a ver com o receio de aparentar fragilidade.

“Os homens mais poderosos querem esconder quando estão doentes, os políticos também. Isso vêm mudando, mas eles ainda sentem medo de parecer vulneráveis. Pois isso, eles imaginam, pode minar a atenção que eles gostariam de receber”, explica.

Para o urologista, é preciso buscar atendimento e tratamento com velocidade. Em um estudo, nos Estados Unidos, foi constatado que os pacientes que protelaram o tratamento do tipo mais agressivo de câncer na bexiga por três meses tiveram 30% mais chance de morte do que os que iniciaram os cuidados imediatamente. Esperar não é opção.

PREVENÇÃO E CUSTO

Em consenso, os médicos pontuam como um fator absolutamente negativo a oportunidade perdida em identificar uma doença no início. Eles explicam que, em geral, problemas de saúde em estágio mais avançado têm tratamento mais caro, doloroso e menos proveitoso.

“Se pegarmos especificamente o câncer de próstata, o homem que só procura o médico após algum sintoma relacionado tem a chance de ter uma doença disseminada em mais de 90%. Significa, primeiro, que você não conseguirá curar esse paciente e vai diminuir a qualidade de vida dele. As medicações para esses estágios de saúde são muito mais caras e têm funcionamento inferior às indicadas aos pacientes em caso inicial”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Alfredo Félix Canalini.

O especialista acrescenta que caso o tratamento seja feito com celeridade, as estimativas se invertem.

“Imagina quantas vidas podem ser salvas?”, indaga.

OUTROS OLHARES

MOVIMENTO QUEER MIRA AMPLIAÇÃO DE DEBATES SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE

Tema tem suscitado mais discussões, que estão sendo impulsionadas pelo público jovem. Definições de orientação sexual são contestadas por quem não se vê reconhecido

Pagu Vulcão, de 24 anos, artista visual e tarólogo, nunca se identificou completamente com as roupas e o comportamento que a sociedade esperava que ele tivesse por ter nascido com vagina e, por isso, ter sido identificado socialmente como menina. Seu desejo sexual também não acompanhava as expectativas alheias e, na adolescência, ele se assumiu como bissexual, que sente atração tanto por homens, quanto por mulheres, mas não foi o suficiente para definir a complexidade da sua identidade.

Foi aos 20 anos que, após ter contato com debates mais profundos sobre gênero, Pagu conheceu as teorias queer e se entendeu como pessoa transgênero não binária e fluida – termo usado para definir pessoas que não se identificam com o gênero atribuído a elas no nascimento e nem se enxergam estritamente como homem ou mulher, mas transitam entre esses dois espectros.

A partir disso, ele começou a adotar pronomes masculinos para se identificar, pois entendia esses pronomes como neutros, conforme a norma culta da língua portuguesa, e se viu livre para se vestir, agir e ser quem de fato ele é.

Assim como Pagu, muitas outros, em especial jovens, têm se aberto para discussões sobre gênero e sexualidade e entendido os dois como coisas distintas e complexas.

Há poucas semanas, o apresentador Tadeu Schmidt falou sobre a relação com a filha Valentina Schmidt, de 20 anos, após ela ter se assumido como pessoa queer. “Minha filha continuou sendo a mesma”, disse ele. Em julho, a jovem disse no Instagram que estava feliz em ter liberdade para falar abertamente sobre sua sexualidade. Não à toa, a sigla que inicialmente era para lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) cresceu nos últimos anos. Primeiro, foi acrescentado um Q, de queer, depois um I, de intersexo, e um A, de assexuais. Por fim, entendeu-se que esse é um tema em constante construção e, por isso, foi adicionado um “+” à sigla, representando a infinidade de possíveis definições de gênero e orientação sexual e o acolhimento do movimento a todas elas.

COMPLEXIDADE

“Estamos em uma constante construção e atualização de conceitos em busca de entender a complexidade do ser humano”, afirma a psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo Alícia Beatriz Dorado de Lisondo.

Segundo o sociólogo e professor da Unifesp Richard Miskolci, queer é um conjunto de teorias, estudos e políticas que se contrapõem à definição de gênero e orientação sexual.

Segundo ele, nunca houve linearidade férrea entre sexo, gênero e desejo. “A expectativa de que uma pessoa que foi definida ao nascer como homem seja necessariamente um adulto masculino e se interesse sexualmente por mulheres é a reprodução de um estereótipo, uma atitude irrefletida que, quando confrontada pela realidade cotidiana, se transforma”, diz.

Com base nessa perspectiva, o movimento queer ganhou força principalmente no fim dos anos 1980, durante o auge da epidemia de Aids e a ascensão do neoliberalismo. “Acadêmicos e parte minoritária do movimento social feminista e homossexual começaram a refletir sobre o papel do desejo nas relações sociais e formas alternativas de compreender as desigualdades e injustiças na esfera das sexualidades e dos gêneros”, diz Miskolci.

DIREITOS

Em meio àquele contexto histórico, afirma, ficou nítido que “marcar” pessoas pelo seu gênero e sua orientação sexual faz com que quem não se enquadre nas identidades padrão fique excluído e invisível, o que implica no não desenvolvimento de políticas públicas que considerem as especificidades desse grupo.

Por isso, o professor afirma que “o que chamamos de queer é uma vertente de estudos e uma perspectiva política crítica em relação às identidades como via para construir conhecimento ou demandar direitos (para pessoas que não se enquadram em padrões socialmente impostos)”.

O artista Pagu acredita que, na prática, definir sua identidade de gênero em um mundo que ainda funciona com base em  gêneros  é  essencial  para ser reconhecido.

GESTÃO E CARREIRA

TRABALHO REMOTO EXPANDE MERCADO NO EXTERIOR PARA PROFISSIONAL BRASILEIRO

Entre perfis mais procurados por empresas estrangeiras estão os da área de tecnologia da informação, mas cresce a procura por influenciadores digitais e designers

O número de profissionais que vivem no Brasil, mas trabalham para o exterior aumentou 491% entre 2020 e 2022, conforme pesquisa exclusiva da Husky, plataforma que facilita o recebimento de transferências internacionais. Os brasileiros da área de tecnologia da informação são os mais requisitados pelas empresas estrangeiras, mas profissionais de outras áreas também passaram a ser procurados para esse modelo de trabalho, como designers, influenciadores digitais e streamers.

Conforme a pesquisa, em março de 2020, no início da pandemia, havia 1.251 usuários da Husky. No fim de novembro de 2022, eram 11.284. O total de profissionais que trabalham do Brasil para empresas do exterior pode ser maior, pois nem todos usam a plataforma que fez a pesquisa. Para especialistas, o movimento reflete a consolidação do home office e as mudanças nas leis trabalhistas, como as que permitiram o trabalho híbrido.

Algumas empresas dispõem de alternativas no momento da admissão. A startup brasileira Mesa é uma delas. No contrato, o profissional pode escolher se prefere remoto, híbrido ou presencial. “Temos colaboradores espalhados pelo Brasil inteiro, e até em outros países. No nosso caso, a opção do remoto é de suma importância”, afirma Larysse Gurgel, responsável pela gestão de pessoas da Mesa.

Segundo Maurício Carvalho, gerente de Tecnologia da Husky, a permanência do trabalho remoto após a pandemia também é motivada pela flexibilidade do modelo. “Isso tem a ver com estilo vida e virou um fator determinante para um funcionário continuar na empresa”, afirma. Conforme a pesquisa, a área de tecnologia da informação é a mais atrativa para posições no exterior.

VAGA REMOTA

Há cinco anos, a advogada Caroline Florian, por exemplo, trabalha no setor de atendimento ao cliente de uma companhia americana. Ela decidiu encarar uma vaga remota no exterior em razão da sobrecarga do antigo trabalho. “Claro, foi um ajuste na minha rotina. Ganhei tempo para mim”, afirma.

Johnathan Alves, de 28 anos, é engenheiro de software sênior de uma empresa americana que não tem espaço físico desde que foi fundada. Antes do atual emprego, ele trabalhou remotamente para outras duas companhias estrangeiras.

A primeira experiência foi em 2020, em uma consultoria dos EUA. Passados dois meses, decidiu pedir demissão. Em menos de um ano, conseguiu ser selecionado em uma startup em Malta. No momento da contratação, o empregador sinalizou que, após a melhora da pandemia, seria necessário migrar para o modelo presencial. “Mas depois de dez meses na empresa disse que não fazia sentido ir para a Europa.” O chefe aceitou. Ele descarta um emprego presencial, já que não planeja sair de São Paulo. “Eu me vejo, no máximo, em um emprego híbrido.”

TRABALHADOR TEM DE SE ADAPTAR À LEI LOCAL E NÃO É AMPARADO PELA CLT

Quem opta por essa modalidade de trabalho remoto em empresas do exterior não possui direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como 13.º salário, rescisão e outras regras da norma brasileira. Na prática, cada empresa estrangeira pode ter uma política específica. Isso significa que a legislação pode se diferenciar conforme o país de interesse e a cultura da companhia.

Segundo a advogada especialista em direito trabalhista Maria Laura Alves, uma empresa estrangeira precisa ter uma parte do capital brasileiro para contratar um profissional por meio da CLT. Quando isso não é possível, o ideal é “escolher a lei mais benéfica para o trabalhador”.

EU ACHO …

A NOVA MINORIA

É um grupo formado por poucos integrantes. Acredito que hoje estejam até em menor número do que a comunidade indígena, que se tornou minoria por força da dizimação de suas tribos. A minoria a que me refiro também está sendo exterminada do planeta, e pouca gente tem se dado conta. Me refiro aos sensatos.

A comunidade dos sensatos nunca se organizou formalmente. Seus antepassados acasalaram-se com insensatos, e geraram filhos e netos e bisnetos mistos, o que poderia ser considerada uma bem-vinda diversidade cultural, mas não resultou em grande coisa. Os seres mistos seguiram procriando com outros insensatos, até que a insensatez passou a ser o gene dominante da raça. Restaram poucos sensatos puros.

Reconhecê-los não é difícil. Eles costumam ser objetivos em suas conversas, dizendo claramente o que pensam e baseando seus argumentos no raro e desprestigiado bom-senso. Analisam as situações por mais de um ângulo antes de se posicionarem. Tomam decisões justas, mesmo que para isso tenham que ferir suscetibilidades. Não se comovem com os exageros e delírios de seus pares, preferindo manter-se do lado da razão. Serão pessoas frias? É o que dizem deles, mas ninguém imagina como sofrem intimamente por não serem compreendidos.

O sensato age de forma óbvia. Ele conhece o caminho mais curto para fazer as coisas acontecerem, mas as coisas só acontecem quando há um empenho conjunto. Sozinho ele não pode fazer nada contra a avassaladora reação dos que, diferentemente dele, dedicam suas vidas a complicar tudo. Para a maioria, a simplicidade é sempre suspeita, vá entender.

O sensato obedece regras ancestrais, como, por exemplo, dar valor ao que é emocional e desprezar o que é mesquinho. Ele não ocupa o tempo dos outros com fofocas maldosas e de origem incerta. Ele não concorda com muita coisa que lê e ouve por aí, mas nem por isso exercita o espírito de porco agredindo pessoas que não conhece. Se é impelido a se manifestar, defende sua posição com ideias, sem precisar usar o recurso da violência.

O sensato não considera careta cumprir as leis, é a parte facilitadora do cotidiano. A loucura dele é mais sofisticada, envolve rompimento com algumas convenções, sim, mas convenções particulares, que não afetam a vida pública. O sensato está longe de ser um certinho. Ele tem personalidade, e se as coisas funcionam pra ele, é porque ele tem foco e não se desperdiça, utiliza seu potencial em busca de eficácia, em vez de gastar sua energia com teatralizações que dão em nada.

O sensato privilegia tudo o que possui conteúdo, pois está de acordo com a máxima que diz que mais grave do que ter uma vida curta, é ter uma vida pequena. Sendo assim, ele faz valer o seu tempo. Reconhece que o Big Brother é um passatempo curioso, por exemplo, mas não tem estômago para aquela sequência de conversas inaproveitáveis. É o vazio da banalidade passando de geração para geração.

Ouvi de um sensato, dia desses: “Perdi minha turma. Eu convivia com pessoas criativas, que falavam a minha língua, que prezavam a liberdade, pessoas antenadas que não perdiam tempo com mediocridades. A gente se dispersou”. Ele parecia um índio.

Mesmo com poucas chances de sobrevivência, que se morra em combate. Sensatos, resistam.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

COMO SE PREVENIR DAS PICADAS DE MOSQUITO?

As coceiras podem ser bastante incômodas, especialmente para os alérgicos; por isso é importante evitar os insetos a todo custo. Veja algumas opções

Com a chegada do verão, as picadas de mosquitos se tornam mais frequentes. Isso porque as temperaturas altas e o clima úmido favorecem a proliferação e a ação desses insetos. Em geral, as picadas costumam resultar em sintomas simples, como coceira, vermelhidão e pequenos inchaços, que podem ser tratados em casa e com recuperação rápida. Compressas com água gelada ou com chá de camomila costumam ajudar, uma vez que temperaturas mais baixas em contato com a pele podem reduzir a coceira e ajudar a reduzir a inflamação – em especial a camomila, que tem ação anti-inflamatória.

Porém, entre aquelas pessoas que têm maior sensibilidade à ação dos mosquitos, é possível que reações alérgicas apareçam. Nesses casos, os sintomas são mais intensos e a reação pode se espalhar. “Parece que são várias picadas, mas é apenas uma que se espalhou pelo corpo”, descreve Renata Barreto, dermatologista e gerente médica do Hapvida Notre Dame Intermédica.

ALERGIA A PICADA EM CRIANÇAS

O cuidado deve ser ainda maior com as crianças, que têm mais possibilidades de desenvolver alergias, conforme alerta Jandrei Rogério Markus, presidente do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo ele, por causa da imaturidade do sistema imune dos pequenos, a resposta à picada é desproporcional. “A saliva do mosquito é interpretada como algo estranho pelo organismo da criança e faz com que o sistema imune tenha reação exagerada”, diz. Essa tendência maior à alergia costuma durar até os 8 anos e diminui conforme a criança cresce. “O organismo percebe que isso vai ser frequente ao longo da vida, que a criança vai entrar em contato com as picadas em outros momentos. Por isso, ele vai se adaptando e reduzindo essa resposta imune exagerada.”

Por causa da gravidade, é importante investir no uso de repelentes, telas e mosquiteiros – principalmente no caso de pessoas que já sabem que são alérgicas. “Se tiver reação muito exuberante, procure um dermatologista ou alergologista que vai saber manejar todas as reações com os medicamentos apropriados”, diz. Mas, para evitar maiores complicações, a prevenção é fundamental.

COMO ESCOLHER O REPELENTE IDEAL?

A função do repelente é atrapalhar a capacidade dos mosquitos de encontrar o corpo humano. “Eles atuam nos receptores das antenas desses insetos e impedem que eles reconheçam o cheiro exalado pelo ser humano”, explica Renata. E há diversas opções no mercado, em versões em creme, gel ou spray.

De forma geral, não há grandes diferenças quanto à função de proteção. Seja qual for a versão escolhida, ela vai repelir os mosquitos. Por isso, a recomendação da dermatologista é investir nos que mais se adaptam a sua realidade. Repelentes em spray, por exemplo, podem ser boa opção para crianças, já que sua aplicação costuma ser mais prática.

Algumas pessoas optam por repelentes naturais. Há versões feitas com plantas, flores, ervas e especiarias, que prometem repelir insetos sem poluir o ambiente e trazer prejuízos à saúde. A citronela é bastante usada e há no mercado versões em óleo, que podem ser aplicadas diretamente na pele.

Lavanda, cravo-da-índia e eucalipto também são versões encontradas em lojas de produtos naturais. “Mas os inseticidas naturais não têm ação tão prolongada”, pondera a médica, que recomenda reaplicar o produto com frequência maior para garantir a proteção.

QUAL A MELHOR MANEIRA DE USAR O REPELENTE ELÉTRICO?

A indicação é que eles sejam ligados próximos a janelas e portas para criar uma espécie de nuvem de proteção, que impede que os mosquitos entrem no ambiente. Ao ligar em tomadas posicionadas distantes desses locais, a proteção pode não ser tão efetiva.

COMO USAR O REPELENTE COM O PROTETOR SOLAR?

É importante não deixar de lado a proteção solar, que deve ser feita antes da aplicação do repelente. Há produtos no mercado com Fator de Proteção Solar (FPS) em sua formulação, mas não são opções recomendadas pela dermatologista. “Isso atrapalha a reaplicação. O filtro solar exige reaplicação de hora em hora e com os repelentes não é possível fazer isso, por que não devem ser aplicados mais de três vezes ao dia.”

QUAL O MELHOR REPELENTE PARA CRIANÇAS?

A escolha do repelente ideal para os pequenos apresenta alguns detalhes. O mais importante é se atentar aos princípios ativos de cada produto.

São três aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): o DEET, IR3535 e Icaridina.

Antes dos 6 meses, a recomendação é não usar repelente e investir nas barreiras físicas, como roupas e mosquiteiro. Entre 6 meses e 2 anos, são indicados repelentes com o composto químico IR3535, mas em concentração de até 20%. Entre 2 e 12 anos, podem ser usados repelentes com DEET – desde que sua concentração não seja superior a 10%. A partir dos 12 anos, já é possível utilizar repelentes para adultos.

Os rótulos também costumam indicar a quantidade máxima de aplicação, que varia entre 1 e 3 vezes ao dia.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMPORTAMENTO INDIVIDUAL É AFETADO POR CONEXÕES SOCIAIS

Estudo mostra que contatos com família e amigos são importantes em momentos de crise como uma pandemia

Uma pesquisa de instituições acadêmicas do Reino Unido feita com 13.263 participantes de 122 países durante o auge da pandemia de Covid-19 mostrou que as conexões sociais afetam os comportamentos e, consequentemente, a saúde e o bem-estar das pessoas durante episódios de crise coletiva em larga escala. Os resultados do estudo global indicam novas diretrizes para o sucesso de ações de saúde pública e mental em momentos de turbulência ou de isolamento.

Os dados foram publicados na revista internacional Science Advance e destacam, sobretudo, a importância da família e de grupos próximos para o sucesso da adoção de condutas de segurança, bem como para o suporte emocional dos indivíduos.

O artigo “Social bonds are related to health behaviours and positive wellbeing globally” (“Laços sociais estão relacionados, globalmente, a comportamentos de saúde e bem-estar positivo”, em português) foi divulgado pela Sociedade Americana de Avanços da Ciência. Bahar Tunçgenç, Valerie van Mulukom e Martha Newson, autores do estudo, são ligados aos departamentos de psicologia e ciências sociais das universidades de Oxford, Nottingham Trent, Kent e Coventry. Segundo eles, desde o início da pandemia, os relatórios científicos têm observado um aumento do isolamento social e da ansiedade, bem como uma dependência mais profunda da conexão social em vários âmbitos para orientação sobre protocolos de saúde.

Os pesquisadores descobriram que os laços sociais, principalmente com a família, levaram a melhores comportamentos de saúde durante a pandemia. Também observaram que vínculos intensos (sentimentos fortes de confiança, pertencimento e compromisso) com certos grupos sociais foram associados a maior bem-estar e posturas saudáveis —com exceção do distanciamento, uma vez que o contato presencial é o que dá liga a esses círculos.

Foram utilizados no levantamento dois grandes conjuntos de dados que examinaram a ligação com círculos sociais próximos (ou seja, família e amigos) e grupos estendidos (país, governo e humanidade) nos primeiros meses da pandemia. Foram recolhidas amostras de mais de 100 participantes em três países do Hemisfério Sul (Bangladesh, Brasil e Peru) para balancear os dados trazidos do Hemisfério Norte.

“A necessidade de pertencer e se conectar com os outros é uma questão humana universal, mas as maneiras pelas quais os indivíduos representam seus relacionamentos são culturalmente variáveis”, relatam os autores.

Contudo, em contraste com estudos anteriores, os pesquisadores não encontraram evidências que sugerissem que a nacionalidade ou vínculo de alguém com seu país melhorasse o comportamento de saúde. “As mensagens de saúde pública e o apoio psicológico devem visar redes menores, como famílias e organizações de base, para proteger as comunidades dos impactos das crises globais”, alertam.

Mesmo diversos demograficamente e geograficamente, os participantes demonstraram que a identidade do indivíduo tende a estar em fusão com normas e valores de grupo, levando as pessoas a seguirem o comportamento de suas redes mais próximas. Quando ocorrem eventos críticos da vida pessoal —uma insuficiência cardíaca ou um acidente vascular cerebral, por exemplo —, essa tendência se repete. Se nosso grupo é favorável e nos apoia nessa decisão, somos assim mais propensos a fazer mudanças saudáveis no nosso estilo de vida. O painel avaliou que a forte identificação com a comunidade local antes da pandemia estava associada a maior probabilidade de fornecer serviços e apoio aos vizinhos durante o isolamento, bem como maior adesão às regras.

Os autores também argumentam que a definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) para saúde mental não é a ausência de doença mental, mas a presença de “um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com o estresse normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para a sua comunidade”.

O grupo A completou um questionário online disponibilizado em oito idiomas, entre 28 março e 24 de abril de 2020. Os participantes responderam a perguntas sobre uso de máscara, comportamentos de higiene e estado emocional durante a pandemia de Covid-19.

Ao grupo B foi oferecido outro documento, com opção de 12 idiomas e aplicação entre 9 de abril e 24 de maio de 2020. Neste questionário, os entrevistados informaram o quanto seguiram o conselho geral de “manter distância física de outras pessoas”.

O critério de inclusão nos conjuntos foi a idade: mínimo de 18 anos para o A, e de 16 anos para o B. A adesão foi obtida por meio de anúncios nas redes sociais dos autores e canais de mídia locais, bem como em grupos de Facebook, Reddit e Twitter.

Para o psicólogo Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento e pós-graduado em terapia cognitivo-comportamental, os dados mostram que o sentimento de pertencimento é capaz de afetar a saúde mental.

“Esse estudo pega um recorte muito específico, o da pandemia, no qual tivemos um isolamento social grandioso. Com esse impacto vieram milhões de questões psicológicas para além das da Covid, que eram pessoas cada vez mais deprimidas, ansiosas e até perdendo os vínculos sociais”, diz Busin.

“Esse sentimento de pertencimento, de segurança em um grupo, de não sentir-se solitário e incompreendido é uma realidade. Apesar de muitas pessoas terem dificuldade ou frustrações com o outro, nós somos seres sociais”, afirma o psicólogo.

OUTROS OLHARES

‘INCONSISTÊNCIA’ INVISÍVEL

Como ninguém viu o rombo de R$ 20 bi da Americanas

Na origem da crise que levou a Americanas a entrar em recuperação judicial está a descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores. O anúncio das “inconsistências contábeis” levou a uma queda de braço entre acionistas da varejista e bancos. Com restrições de crédito, fornecedores apreensivos e queda vertiginosa no valor das ações, a saída foi pedir proteção à Justiça contra os credores. A empresa declarou um total de R$ 43 bilhões em dívidas e 16.300 credores. Mas como um rombo financeiro desse tamanho, maior que o patrimônio líquido de R$ 14,7 bilhões da empresa, passou despercebido em uma companhia de capital aberto, fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), integrante do Novo Mercado da Bolsa e do Índice de Sustentabilidade da B3 — que só admitem empresas com alto padrão de governança -, que tinha demonstrações financeiras auditadas por multinacionais e crédito bilionário em grandes bancos, além do aval de notas de crédito positivas de agências?

Com tantos sistemas de proteção ao investidor, como nenhum deles conseguiu identificar o problema antes que a empresa viesse a público? Especialistas avaliam que erros contábeis podem ser difíceis de identificar, mas algumas das partes envolvidas tinham mais chance de se dar conta do que ocorria do que outras. Até para CVM, que tem a incumbência de regular e fiscalizar o mercado de capitais, ficaria difícil enxergar, principalmente se, ao fim da investigação, concluir-se que houve fraude.

“A CVM tem que garantir o bom funcionamento do mercado. Uma análise de conteúdo individual é muito mais difícil de acontecer antes de ser apurada uma falha.

Quando acontece, a CVM vai punir”, diz Gustavo Flausino Coelho, sócio do Bastilho Coelho Advogados.

Para o consultor Renato Chaves, professor da FGV Direito, o órgão fiscalizador deveria ser mais firme nas investigações e nas punições:

“Tudo acaba com a assinatura de um termo de compromisso. Para delitos graves, não deveria ser permitido.

Os bancos estão entre os credores da varejista. O Banco Safra, consultado, ressaltou que já havia provisionado metade de sua exposição à Americanas, de R$2,4 bilhões, no exercício de 2022 e que fez um aumento de capital de R$ 7,4 bilhões em novembro. Os bancos Itaú e Bradesco preferiram não comentar.

A responsabilidade das auditorias será cobrada, dizem os analistas, porque era delas a atribuição de se aprofundar nos números da empresa.

O fato de a Americanas integrar o Novo Mercado e seguir os padrões mais rígidos de governança não blindam o investidor de revezes como este, advertem Chavez e Coelho.

Ronaldo Vasconcellos, professor da Faculdade de Direito do Mackenzie e sócio do escritório VH Advogados, diz que é provável que os credores busquem a responsabilização dos acionistas de referência da Americanas— os bilionários Jorge Paulo Lemman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira —, criadores da 3G e que detêm 31,13% do capital da varejista:

“É quase certo que haverá pedidos para que esses acionistas paguem pelos prejuízos, até na pessoa física”, diz Vasconcellos.

Em nota, a CVM afirma que “constituiu uma força-tarefa” para apurar o caso e está usando convênios com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Diz ainda que mantém acordo de intercâmbio de informações com o Tribunal de Contas da União (TCU).

A B3 informou que pode prever regras de exclusão do Novo Mercado. Procuradas, Americanas, KPMG e PwC não responderam.

PAPEL DA CVM

Órgão fiscalizador pode ser investigado por omissão pelo TCU

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem como missão fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de capitais no Brasil. Com a crise das Americanas, abriu sete processos para investigar os erros nas demonstrações financeiras da empresa, mas só depois que a própria veio a público informar um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões. O Ministério Público pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigue se houve omissão do órgão regulador. Para Renato Chaves, professor da FGV Direito, é difícil identificar falhas na fiscalização do mercado:

“A CVM cumpre seu papel. Pede explicações, dá dez dias para respostas e, daqui a um ano, vamos ver os envolvidos assinarem termo de compromisso”, critica o consultor, referindo-se aos acordos firmados pela autarquia que amenizam punições.

Lá fora, opina Chaves, o órgão fiscalizador já teria acionado a Justiça para obter mandado de busca e apreensão na empresa, para evitar a destruição de provas de eventuais fraudes.

Para Gustavo Coelho, da FGV, é difícil a CVM perceber equívocos dessa natureza:

“O objetivo dela é criar um ambiente adequado no mercado, mas não é imune a falhas. A CVM informou que “constituiu uma força-tarefa” para apurar o caso e que “está fazendo uso dos convênios e da cooperação que possui junto à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal”. Diz ainda que está em constante diálogo com a Advocacia Geral da União e mantém acordo de troca de informações com o TCU.

AUDITORIA EM XEQUE

Análise não detectou rombo, e empresas podem ser responsabilizadas

As inconsistências nos balanços da Americanas não se restringem ao ano de 2022. Mas PwC e KPMG, duas das consultorias mais respeitadas do mundo, fizeram auditorias e avalizaram as contas da varejista sem apontá-las. Escritórios de advocacia que preparam processos no exterior para reparação já citaram que pretendem incluir auditores e acionistas.

Especialistas dizem que houve falha nas auditorias. Segundo Renato Chaves, professor da FGV Direito, as consultorias têm obrigação de ir mais fundo nos números:

“Há fraudes difíceis de identificar, escondidas no meio de contratos de pequenos valores. Não entram na régua de avaliação de auditores. Mas, nesse caso, foi grande e ao longo do tempo.

O advogado Gustavo Flausino Coelho diz que, nesses momentos, a independência das consultorias é sempre questionada. É a teoria da captura, que discute a isenção de consultorias, pagas pelas auditadas, e suas limitações:

“Há poucas no mercado e predileção pelas de mais prestígio. Podem ser responsabilizadas. Bruno Furiati, sócio da Sampaio Ferraz Advogados, diz que um problema é a quantidade de aferições feitas só com base em declarações da administração. As auditorias precisam analisar contratos como o de risco sacado (quando bancos antecipam recursos a fornecedores):

“No caso das Americanas, não pediram? Se pediram, não bateram com o balanço?

As consultorias não comentaram.

AVAL DOS BANCOS

Com pagamentos em dia e boa reputação, varejista tinha crédito

A enorme dívida de R$ 43 bilhões declarada pela Americanas à Justiça tem entre os credores muitos bancos, evidenciando que a rede não tinha problemas para obter crédito, mesmo junto a tradicionais instituições financeiras. Quem acompanha o caso se pergunta: como os bancos, tão ciosos na hora de conceder empréstimos, não viram os erros nos balanços?.

Analistas explicam que os bancos se fiaram nas demonstrações financeiras auditadas, no poderio econômico e nos bons números que a empresa exibia, diz Gustavo Coelho:

“São contas sólidas, aprovadas em assembleia, com margem baixa de lucro, mas muita penetração, faturamento bastante elevado com tendência de perenidade. As notas das agências de rating são outra chancela.

O consultor Renato Chaves lembra que os bancos estavam sendo pagos em dia.

André Pimentel, consultor da Performa Partners, afirma que a reputação dos sócios da 3G Capital foi outra chancela para as instituições.

Consultado, o Banco Safra ressaltou que já havia provisionado metade de sua exposição à Americanas, de R$ 2,4 bilhões, no exercício de 2022. O banco fez um aumento de capital de R$7,4 bilhões em novembro, o que reduz a proporção da exposição em seu patrimônio líquido. Um assessor de outro banco credor diz que ninguém sabia do problema contábil da empresa, que era listada no Novo Mercado e tinha balanços auditados sem apontamentos.

SELO NA BOLSA

Rede fazia parte do núcleo considerado coma melhor governança na B3

Um erro contábil de R$ 20 bilhões foi revelado numa companhia que faz parte de um grupo seleto da Bolsa de Valores, a B3. Até quinta-feira, a Americanas estava no Novo Mercado, que exige regras mais rígidas de governança: classe única das ações (ON), com direito a voto, conselho com membros independentes e alto nível de transparência. A varejista também integrava o Índice de Sustentabilidade, outro selo de boas práticas da B3. Após a recuperação judicial, foi retirada de todos os índices.

“O Novo Mercado aumenta a barra de cobrança, exige governança mais elevada, e a empresa se torna mais interessante para investir. Mas não necessariamente esses selos blindam essas ações”, diz o advogado Gustavo Coelho.

O Novo Mercado traz mais segurança e conforto ao investidor, “mas não é uma garantia”, concorda Renato Chaves:

“Ele ainda precisa evoluir. A relação com o investidor da Americanas é muito ruim. O modelo de negócios merece ser questionado.

Na última terça, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou que evitar prejuízos ao investidor deve mobilizar todos os agentes do mercado. Disse que a B3 poderá avaliar a criação de regras de exclusão do Novo Mercado: “É um debate que sozinho não evita prejuízo ao investidor, porque funciona após o surgimento do problema. O mais relevante é buscarmos medidas mais eficientes de evitar que isso ocorra”.

‘RATING’ ATRASADO

Agências de risco só cortaram nota de crédito após ação ter queda de 77%

As principais agências de rating do mundo, que avaliam risco de crédito, só rebaixaram a nota da Americanas para C (risco elevado) e D (risco de default, calote) depois que os papéis da companhia já tinham caído 77% na Bolsa. Até então, a varejista exibia nota B das agências. Mais uma vez elas chegam depois, diz o advogado Gustavo Coelho. As agências não deram qualquer aviso anterior sobrea nota da varejista, que vinha contabilizando dívida financeira como despesa com fornecedores há anos, reduzindo no papel seu nível de endividamento.

As avaliadoras olham as demonstrações financeiras, o mercado, a expansão da empresa. Mas críticos ao modelo dizem que é preciso que o rating vire de fato uma referência da saúde financeira da companhia. A avaliação, segundo Coelho, passa mais por monitorar, a partir de fatos do mercado, as circunstâncias da economia para o setor e a empresa.

“Cria-se a obrigação de ter um rating, que pode não valer nada. Analisam com base nas demonstrações, não entram na companhia para verificar nada. Acreditam naquilo que tem aval dos auditores. Não há regulação específica”, critica Renato Chaves.

Na crise global de 2008,as agências de classificação de risco foram criticadas e responsabilizadas por avalizar com nota máxima papéis sem lastro, que viraram pó em pouco tempo.

Procuradas, as agências não comentaram.

OUTROS OLHARES

MULHERES TÊM ATÉ 75% MAIS RISCO DE REAÇÕES ADVERSAS A REMÉDIOS

Novo estudo indica que diferenças nas características biológicas entre os sexos masculino e feminino podem explicar a forma como os medicamentos reagem

As mulheres têm até 75% mais chances de sofrer reações adversas a medicamentos prescritos do que os homens, devido a uma série de diferenças nas características entre os sexos, de acordo com um novo estudo da Universidade Nacional da Austrália, publicado esta semana na revista científica Nature Communications. Os pesquisadores acreditam que isso deve ser levado em consideração no momento de prescrever os remédios para o tratamento de doenças.

Segundo Laura Wilson, principal autora do estudo, essas reações adversas eram anteriormente atribuídas a diferenças no peso corporal, mas a realidade não é tão simples.

“Muitas vezes, as mulheres recebem medicamentos na mesma dose que os homens, apesar de terem, em média, um peso corporal menor, o que significa que frequentemente recebem uma dose relativa mais alta”, diz Wilson, em comunicado.

No trabalho, os pesquisadores australianos utilizaram um método da biologia evolutiva chamada de alometria, com a qual a relação entre uma característica de interesse e o tamanho do corpo é examinada em uma escala logarítmica. Os cientistas aplicaram análises de alometria a 363 características pré-clínicas em camundongos machos e fêmeas. Eles questionaram se as diferenças de gordura, glicose, colesterol LDL poderiam ser explicadas apenas pelo peso corporal diferente.

As análises apontaram que existem diferenças que não podem ser explicadas pelo peso corporal desigual. Portanto, são resultado das diferenças sexuais. Alguns exemplos são características fisiológicas, como níveis de ferro e temperatura corporal, características morfológicas, como massa magra e gordura, e características do funcionamento do coração, como variabilidade da frequência cardíaca.

Os pesquisadores descobriram que a relação entre uma característica e o peso corporal variou consideravelmente em todas as examinadas, o que significa que as diferenças entre machos e fêmeas não podem ser generalizadas. Em suma, as fêmeas não são simplesmente versões menores dos machos. E as diferenças de sexo devem ser levadas em consideração para a dosagem de medicamentos.

DIFERENÇAS BIOLÓGICAS

De acordo com os pesquisadores, sabemos muito menos sobre como as mulheres vivenciam as doenças.

“A maioria das pesquisas biomédicas foi realizada em células masculinas ou animais machos. Supõe-se que quaisquer resultados também se apliquem às fêmea”, explica Wilson. “Mas sabemos que homens e mulheres experimentam doenças de maneira diferente, incluindo como as doenças se desenvolvem, a duração e a gravidade dos sintomas e a eficácia das opções de tratamento.”

E, geralmente, as mulheres se dão pior. Por exemplo, uma dor forte no peito é frequentemente citada como um sintoma primário de ataque cardíaco. Embora isso possa ser comum para os homens, é um sintoma muito menos comum para as mulheres, que são mais propensas a sentir náuseas intensas. Mas como este sintoma não é apontado como um dos principais, as mulheres tendem a demorar a receber atendimento médico, aumentando risco de complicações e desfechos negativos.

GESTÃO E CARREIRA

NOVO VOCABULÁRIO DO MUNDO CORPORATIVO

Os últimos anos foram marcados por inúmeras mudanças no ambiente de trabalho e, com isso, os espaços corporativos tornaram- se mais flexíveis e plurais.

Nesse cenário, os colaboradores desfrutam de melhores condições e benefícios. Novos termos surgiram e o ‘corporativês’ ganhou infinitos jargões, estrangeirismos e termos técnicos que marcam presença na rotina das empresas.

Fato é que o mundo empresarial possui siglas, expressões e conceitos exclusivos, em suma utilizadas em inglês, como officeless, anywhere office, workcation e muitos outros. Além disso, a pandemia trouxe para o mercado infinitos modelos de trabalho, portanto, ser fluente neste novo vocabulário é essencial no dia a dia.

Confira os principais conceitos que estão – e vão continuar – fazendo parte da rotina corporativa:

OFFICELESS

O conceito officeless significa, literalmente, sem escritório. Isto é, o termo é utilizado em suma para designar empresas que não possuem ou não precisam de um espaço físico para realização de suas respectivas atividades. Neste caso, os colaboradores trabalham remotamente, onde e como preferirem. Flexibilidade, mobilidade e confiança são as principais características do officeless e, por isso, é possível explorar novos ambientes.

ANYWHERE OFFICE

Já o anywhere office trata-se do escritório em qualquer lugar, ou seja, o trabalho pode ser realizado em qualquer lugar do mundo. Este conceito tornou-se tendência nas organizações ao oferecer independência e liberdade, afinal, mesmo com vínculo empregatício, os colaboradores não precisam estar em um escritório ou sede da empresa, basta apenas acesso à internet e aos sistemas operacionais.

WORKCATION

Também conhecido como workoliday ou woliday, este conceito dispõe da possibilidade de viajar para pontos turísticos enquanto trabalha. Conhecidos como nômades digitais, o colaborador aluga uma casa na praia ou no campo e realiza suas atividades enquanto desfruta da vista de uma paisagem paradisíaca, por exemplo.

No caso do workcation, há apenas dois pré-requisitos: wi-fi e conforto. O formato possibilita uma rotina de trabalho menos estressante e mais produtiva.

COWORKING

Tendência que voltou a ganhar força, o coworking aposta no compartilhamento de espaços. Basicamente, cada empresa usufrui do local por tempo determinado, que conta com internet e instalações físicas semelhantes ao escritório. Com a ascensão do trabalho híbrido, muitas organizações estão apostando na criação de coworkings em regiões descentralizadas das grandes cidades.

O principal benefício deste modelo é o networking que fomenta a troca de ideias, experiências, além de mais produtividade e até mesmo criatividade.

ZOOM FATIGUE

Conhecido como a fadiga do zoom, uma plataforma virtual para reuniões, diante da expansão do home office e, sobretudo, o excesso de videoconferências, este estado de exaustão se dá muitas vezes por conta da quantidade excessiva de contato visual durante uma reunião virtual, além do incômodo ou mal-estar em visualizar a si mesmo a todo momento na chamada, algo que torna a situação ainda mais estressante.

Estabelecer uma rotina organizada, dispor de horários para as refeições e pausas entre as atividades, é essencial para minimizar o esgotamento mental.

BURNOUT

Também conhecido como a “síndrome do esgotamento profissional”, o temido burnout está mais popularizado entre os colaboradores. Resumidamente, a Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado pelo excesso de estresse e tensão emocional na rotina corporativa.

O conceito foi muito disseminado ao longo da pandemia, principalmente diante da ausência de separação entre questões pessoais e profissionais, além da falta de ergonomia no home office.

PAMELA PAZ – É CEO do Grupo John Richard – https://www.johnrichard.com.br/).

EU ACHO …

      DANE-SE O SORVETE    

Você chega na cidade em que nasceu, hospeda-se na casa da sua irmã e vai até o supermercado comprar alguns ingredientes para o jantar. Aproveita para comprar sorvete, que sua irmã incluiu na lista, e fica feliz de poder fazer essa gentileza a ela, uma retribuição pela acolhida.

No corredor do supermercado, encontra um ex-namorado, seu primeiro grande amor, com quem teve um relacionamento 20 anos atrás e cujo desenlace deixou alguns fios soltos. Depois de uma vacilante troca de palavras, ele te convida para um café. Seu marido e filhos estão lá na cidade onde você mora, a quilômetros de distância. Ora, é só um café.

Esse é o início do filme “Blue Jay”, disponível na Netflix. Quando a personagem aceitou o convite, a primeira coisa que pensei foi: o sorvete vai derreter. A segunda foi: por que raios fui lembrar do sorvete?

Porque, apesar de já ter feito progressos, ainda tenho muito a evoluir no quesito “vou pensar em mim e que o mundo se exploda”, também conhecido, afetuosamente, por “foda-se”. É uma questão cultural que herdei de casa. As amigas da minha mãe sempre contavam, entre gargalhadas, a longínqua ocasião em que elas propuseram um programa de última hora, sem chance de planejamento, e minha mãe respondeu: “mas hoje é o dia em que troco os lençóis”.

Esse foi o cenário da minha infância. Sair da rotina, repentinamente, atendendo ao apelo excitante da vida, era algo que perturbava. Desconsiderando o exagerado exemplo dos lençóis, acho que perturba muitas outras pessoas também. Ainda mais quando o apelo está relacionado a amor e sexo.

Cada hora continua tendo os mesmos 60 minutos que tinha no século 17, mas a impressão é que a vida tem passado feito um rato na sala, como dizia o saudoso Domingos Oliveira. Um dia somos adolescentes, no outro estamos debatendo a menopausa. Nem todo mundo encontra ex-namorados dentro de supermercados, mas a cena serve como metáfora: há momentos que exigem um confrontamento com as escolhas que fizemos, que nos colocam cara a cara com aquilo que preferíamos não saber, não remexer. É típico do destino: às vezes ele mexe as peças do tabuleiro só para nos pegar de surpresa, a fim de testar nossa coragem, curiosidade e abertura para saltos sem rede, o velho e conhecido “ver qual é”. Quantas vezes você evitou se jogar? Apego à rotina também?

A renúncia de viver aquilo que tem potencial para nos desacomodar costuma ser um bom plano de previdência, uma garantia de futuro tranquilo, mas não demorará até que o olhar opaco denuncie a covardia. Você concorda que os relógios entraram em desacordo com o tempo e aceleraram os ponteiros? Você mal acordou e já é quase noite? Então deixe para trocar os lençóis amanhã e danem-se os sorvetes.

MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br

ESTAR BEM

É RUIM PARA A SAÚDE BEBER CAFÉ COM O ESTÔMAGO VAZIO?

Estudo não encontra associação entre o consumo da bebida e úlceras estomacais e intestinais, mas há aumento da acidez

Para muitas pessoas, desfrutar de uma xícara de café feito na hora, logo pela manhã, é uma maneira inegociável de começar o dia. Mas a ideia de que tomar um gole sem comer nada junto pode prejudicar seu intestino – ou contribuir para outros males como inchaço, acne, perda de cabelo, ansiedade ou problemas de tireoide, como algumas pessoas alegam nas mídias sociais – conquistou tanta popularidade quanto incredulidade.

Pesquisadores têm investigado os benefícios e malefícios de beber café, especialmente no que se refere ao intestino, desde a década de 1970, afirma Kim Barrett, professora de fisiologia e biologia de membranas na Universidade da Califórnia, Davis School of Medicine. Felizmente, o estômago pode suportar todos os tipos de irritantes, incluindo o café.

“O estômago tem muitas maneiras de se proteger”, afirma Barrett.

Por exemplo, ele secreta uma espessa camada de muco que cria um poderoso escudo entre sua parede e tudo o que você ingere. Esse escudo também protege o estômago de seu próprio ambiente ácido natural necessário para decompor os alimentos, explica ela.

Você teria que consumir uma substância muito dura “para que as defesas do estômago fossem rompidas, porque ele está constantemente em um ambiente muito adverso e prejudicial”, diz a especialista.

Irritantes como álcool, fumaça de cigarro e anti-inflamatórios não esteroides — como ibuprofeno ou naproxeno — são bem conhecidos por alterar os mecanismos naturais de defesa do estômago e ferir seu revestimento, afirma Byron Cryer, chefe de medicina interna no Baylor University Medical Center, em Dallas.

Seu laboratório é especializado em entender como diferentes medicamentos e outras substâncias podem prejudicar o estômago e o intestino delgado. Embora certos irritantes possam tornar o estômago mais vulnerável a ácidos e à formação de úlcera, grandes estudos descobriram que esse não é o caso do café.

Um estudo feito por pesquisadores do Kameda Medical Center Makuhari, no Japão, com mais de 8 mil pessoas, não encontrou associação significativa entre o consumo de café e a formação de úlceras no estômago ou no intestino – mesmo entre aqueles que bebiam três ou mais xícaras por dia.

“O café, mesmo em forma concentrada, provavelmente não causa dano objetivo ao estômago”, diz Cryer.

“E muito menos nas doses típicas das bebidas habituais”.

ACIDEZ

No entanto, o café tem um efeito sobre o intestino — pode acelerar o cólon e induzir a evacuação, e o café aumenta a produção de ácido no estômago.

Além do intestino, a cafeína é bem conhecida por aumentar a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e pode atrapalhar o sono. Mas são mudanças temporárias. É improvável que beber café com o estômago vazio cause algum dano ao estômago, mas teoricamente pode provocar azia, diz Barrett. Sabemos que o café desencadeia a produção de ácido estomacal, mas se você tiver comida no estômago ou se tomar café com leite ou creme, isso criará um tampão que ajuda a neutralizar esse ácido. Portanto, beber café, especialmente se for preto, sem uma refeição pode reduzir o pH do estômago mais do que se você o bebesse com leite ou acompanhado de comida.

ESÔFAGO

Embora um pH ligeiramente mais baixo não seja problema para o revestimento do estômago, pode representar um problema para o revestimento do esôfago, que é muito mais vulnerável a danos causados pelo ácido. Além disso, alguns estudos mostraram que o café pode relaxar e abrir o esfíncter que conecta o esôfago ao estômago, o que hipoteticamente poderia permitir que o ácido do estômago espirrasse mais facilmente para o esôfago e causasse sintomas desagradáveis de azia.

Mas mesmo aí, os dados são dúbios. Uma revisão feita por pesquisadores da Coreia do Sul de 15 estudos na Europa, Ásia e Estados Unidos não encontrou nenhuma ligação entre o consumo de café e os sintomas de azia, enquanto, em contraste, um estudo de pesquisadores americanos usando dados de mais de 48 mil enfermeiras encontrou um risco maior de sintomas de azia entre os bebedores de café.

Para entender como o café pode afetar o esôfago, os cientistas também estudam uma condição chamada esôfago de Barrett, que ocorre quando o esôfago é danificado pela exposição crônica ao ácido estomacal, como em pessoas com problemas de refluxo de longa data. Com essa condição, as células que revestem o esôfago se transformam em células mais resistentes, semelhantes ao estômago, para se protegerem do ácido. Essas alterações podem aumentar o risco de câncer de esôfago, especialmente se você tiver histórico familiar da doença ou se fumar. Mas, de forma tranquilizadora, um estudo americano não encontrou relação semelhante com o café.

Na prática, como gastroenterologista, costumo dizer aos meus pacientes para observarem seus sintomas. Se eles notam constantemente uma dor ardente no peito ou um gosto amargo na boca depois de beber café, eles podem reduzir a quantidade – ou devem considerar um antiácido. Adicionar um pouco de leite ou dar uma mordida em alguma coisa enquanto toma seu café matinal também pode ajudar. Mas se você não está percebendo nenhum sintoma, provavelmente é alguém que não sente refluxo significativo após o café e pode continuar bebendo em paz.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EXPERIÊNCIAS NA INFÂNCIA MOLDAM PALADAR ADULTO

Estudo mostrou que os alimentos que comemos nos anos de formação ficam ‘impressos’ no cérebro, que tem dificuldade de alterar preferências mais tarde. Exposição a vários sabores ajuda no desenvolvimento gustativo

Por que gostamos das comidas que gostamos? A preferência alimentar é entendida por especialistas como algo relacionado a fatores como experiências passadas, desenvolvimento de hábitos e identidades culturais. Mas agora, um time de pesquisadores decidiu avaliar esse processo à luz da ciência e entender de que maneira comer durante a infância impacta o cérebro, e consequentemente os seus efeitos no decorrer da vida.

Os resultados do estudo, publicados no periódico Science Advances, destacam a importância da exposição precoce a uma variedade de sabores diferentes, uma vez que os benefícios não foram observados quando ela ocorre na idade adulta. Além disso, identificam os mecanismos que intermedeiam a relação entre o gosto alimentar e o cérebro.

Para entender melhor esse cenário, os cientistas do departamento de neurobiologia e comportamento da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, utilizaram camundongos, já que a biologia do sistema gustativo, ligado ao paladar, é semelhante entre os mamíferos.

Eles dividiram os animais entre filhotes e adultos e os expuseram a uma variedade de sabores diferentes durante uma semana. Após o período, devolveram os camundongos a suas dietas antigas, que não tinham a mesma diversidade de estímulos. Ao mesmo tempo, os pesquisadores monitoraram um outro grupo de indivíduos que não passaram pela intervenção alimentar, para efeito de comparação.

Semanas depois da exposição, os pesquisadores retornaram aos animais e ofereceram uma solução adocicada para observar a preferência deles em comparação a água.

Aqueles que eram filhotes durante o primeiro experimento apresentaram uma atração mais forte pelo sabor diferenciado na idade adulta, o que não aconteceu entre os camundongos que passaram pela intervenção já quando eram mais velhos.

Além disso, os cientistas identificaram que a exposição a múltiplos sabores na infância levou ao desenvolvimento de circuitos neurais, e que essa preferência do sabor foi influenciada por todos os aspectos da experiência gustativa: as sensações na boca, o olfato e a interação do intestino com o cérebro.

Os resultados indicaram que a experiência com a diversidade de sabores influencia a preferência alimentar, mas apenas se acontecer dentro de uma janela de tempo restrita durante a infância, afirmam os cientistas.

“Foi impressionante descobrir como os efeitos duradouros da experiência inicial com o gosto eram nos grupos jovens. A presença de um ‘período crítico’ do ciclo de vida para o desenvolvimento da preferência pelo gosto foi uma descoberta única e empolgante. A visão predominante de outros estudos anteriores a essa descoberta era que o gosto não tem uma janela definida de maior sensibilidade à experiência como outros sistemas sensoriais, como visão, audição e tato”, diz Hillary Schiff, pesquisadora da universidade e autora do estudo, em comunicado.

Embora feito com animais, os cientistas afirmam que os resultados são replicáveis para humanos.

NÍVEL CEREBRAL

A equipe analisou também a atividade dos neurônios no córtex gustativo dos animais, uma parte do cérebro envolvida no paladar e nas decisões sobreo que comer. Eles observaram que, no grupo adulto que não teve a preferência desenvolvida, havia diferenças na atividade de neurônios chamados de inibitórios.

Com as descobertas, os cientistas decidiram testar se a manipulação desses neurônios inibitórios na fase adulta poderia “reabrir” a janela de sensibilidade em relação à experiência com a diversidade de sabores. Para isso, eles injetaram uma substância no córtex gustativo que quebra redes de proteínas acumuladas ao redor dessas células cerebrais. Em seguida, expuseram os camundongos com as redes desfeitas à variedade de sabores. Os animais exibiram, então, mudanças semelhantes na preferência pela solução adocicada à observada entre os indivíduos expostos durante a infância. A intervenção “rejuvenesceu” as sinapses no córtex gustativo e restaurou a plasticidade

OUTROS OLHARES

TÉCNICA RECRIA PÊNIS ‘DO ZERO’ E PERMITE TER UMA VIDA SEXUAL ATIVA

Cirurgia inovadora é destinada a homens amputados, trans ou com micropênis. Sete já foram submetidos ao método

Era meia-noite de um dia comum de 2012 quando João (nome fictício), de 61 anos, acordou com o latido dos cachorros. Ele saiu da cama para descobrir se alguém tentava entrar em sua casa, localizada na zona rural de uma cidade baiana, e chegou a ver os bandidos de longe, no escuro. Foi quando um deles disparou um único tiro, acertando a virilha do fazendeiro e decepando parte do pênis. A história só teve um desfecho positivo no fim de setembro deste ano, quando ele passou por uma cirurgia de reconstrução peniana desenvolvida por um médico urologista brasileiro.

“Eu fiquei defeituoso. Não conseguia nem urinar. Quase que eu morri, mas agora tudo vai mudar”, disse ele, pouco antes da intervenção. Um dia após o processo, que começou às 15h e terminou por volta de 22h, João disse que não sentiu dor e não via a hora de retirar as bandagens. Ele teve alta dois dias depois da cirurgia, sem nenhuma complicação ou necessidade de bolsa de sangue.

Ao todo, sete pessoas já passaram pelo procedimento inovador criado pela equipe do médico Ubirajara Barroso, chefe do serviço de urologia do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também é coordenador da disciplina de urologia.

Seis dos pacientes passaram pela Mobilização Total dos Corpos (TCM, na abreviação em inglês) por intermédio do SUS, sendo João o único a realizar a cirurgia de forma particular.

TÉCNICA

Barroso explica que só parte do pênis fica para fora do corpo, tendo uma extensão, não visível, dentro do homem. Em média, a parte que é vista corresponde a 2/5 do órgão e os outros 3/5 ficam fixos na bacia, garantindo a ereção. A ideia de Barroso foi relativamente simples: puxar a parte interna para fora.

“O que fazemos na cirurgia é destacar essa porção do corpo cavernoso do osso e levar tudo para a superfície. É como um iceberg: tem uma porção pequena acima da água e uma grande porção abaixo da água. O pênis pequeno é só a ponta desse iceberg, então nós retiramos a parte de ‘dentro da água’ e colocamos na superfície”, afirma.

Apesar da teoria simplificada, o procedimento não era feito dessa forma pelos médicos. A primeira vez que ele adotou técnica foi em 2019, em um menino que teve o pênis arrancado por um cachorro aos 8 meses de idade.

O caso foi em Itapicuru (BA). O cão da família arrancou o pênis do garoto, que teve o órgão completamente amputado. Por volta dos 11 anos, ele passou pela primeira cirurgia com Barroso.

Utilizando uma técnica anterior ao TCM, o médico recuperou a uretra do menino, que urinava por um orifício. Era a segunda cirurgia do tipo no Brasil e teve sucesso. “Fizemos uma espécie de enxerto de pele para que ele tivesse o aspecto da genitália masculina.”

O segundo a passar pela técnica foi Moacir (nome fictício), que tem transtornos psiquiátricos. Em um surto psicótico, ele arrancou o próprio pênis, sobrando apenas cerca de oito centímetros. Anos após a crise e sob controle, ele procurou o médico na tentativa de recuperar o órgão. Hoje, após o procedimento, o pênis possui 12,5 centímetros e é capaz de proporcionar prazer semelhante ao órgão sem intervenção.

FILA

Atualmente, o Brasil contabiliza mais de 500 casos de amputação de pênis por ano e não há dados concretos sobre o número de homens trans que pretendem fazer cirurgia de redesignação. A fila de espera de Barroso, segundo conta, já está na casa dos milhares, especialmente pelo fato de os procedimentos serem realizados pelo SUS. O profissional reforça que está em contato com diversos urologistas brasileiros.

Conforme José de Ribamar Rodrigues Calixto, da Sociedade Brasileira de Urologia, a expectativa é de que a TCM seja cada vez mais usada em casos ligados a câncer de pênis. Embora possa aumentar e até engrossar o órgão sexual, Barroso só prevê a técnica para diagnosticados com micropênis, câncer peniano, mutilação ou redesignação de gênero.

Segundo o profissional, a maioria dos homens que acreditam ter pênis pequeno normalmente não o tem, sendo desnecessária uma intervenção cirúrgica. “Esses casos nunca foram tratados de maneira a ganhar significativamente no tamanho, mas na vida pessoal”, afirma.

OUTROS OLHARES

PASSADO DO CÃO E PERFIL DO DONO INFLUENCIAM NA AGRESSIVIDADE

Pesquisa mostra que peso e focinho também afetam comportamento animal

Cachorros que passeiam diariamente com seus donos são menos agressivos. Cães cujas donas são mulheres supostamente latem menos para estranhos.

Já os caninos mais pesados tendem a ser menos insolentes com seus donos do que os pesos leves. Pugs, buldogues, shih-tzus e outros animais com o focinho encurtado podem ser mais afrontosos com humanos do que os cachorros de focinho médio e longo, como é o caso do golden retriever e do popular vira-lata caramelo.

Foi o que mostrou um estudo feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) com 665 cães de estimação de diferentes raças, inclusive sem raça definida.

Na pesquisa, publicada na revista Applied Animal Behaviour Science, foram relacionados fatores morfológicos, ambientais e sociais com perfis de agressividade dos cães. O cruzamento de dados mostrou que não apenas condições como peso, altura e tamanho do focinho estão associadas a maior ou menor incidência de agressividade, como também questões relacionadas às histórias de vida dos animais e às características do dono.

De acordo com o artigo, os resultados confirmam a hipótese de que o comportamento dos cachorros não é algo definido apenas pelo aprendizado, nem só pela genética. Trata-se do efeito de uma interação constante com tudo o que cerca a vida do animal. O estudo teve apoio da Fapesp por meio de um projeto sobre a abordagem etológica da comunicação social entre diversas espécies, entre elas a humana.

“Os resultados ressaltam algo que estamos estudando já há algum tempo. O comportamento emerge da interação do animal com o seu contexto, ou seja, o ambiente e o convívio com o tutor, por exemplo, além é claro da morfologia do cachorro. Todos esses fatores têm impacto na forma como o cachorro interage com o ambiente e também na maneira como a gente interage com ele”, explica Briseida de Resende, professorado IP- USP (Instituto de Psicologia da USP) e coautora do artigo. No estudo, realizado durante a pandemia de Covid-19, 665 donos de cães responderam a três questionários on-line, que forneciam informações sobre características do animal, seu ambiente, dono e comportamentos agressivos, como latir para estranhos e até atacar. Ao cruzar essas informações com o grau de agressividade dos cães, os pesquisadores identificaram alguns padrões interessantes.

Os questionários foram desenvolvidos pela pesquisadora do IP-USP Natália Albuquerque e pela professora Carine Savalli, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

“Apenas o gênero do tutor se mostrou um fator capaz de predizer o comportamento com estranhos: a ausência de agressividade foi uma característica 73% mais frequente entre os cães de mulheres”, conta Flávio Ayrosa, primeiro autor do artigo.

O sexo do animal também parece influenciar o grau de agressividade. “A chance de o animal ser hostil com o dono foi 40% menor em fêmeas do que em machos”, diz o autor. “Mas foi na comparação entre tamanho do focinho que encontramos uma diferença mais significativa: as chances de agressividade contra o dono tendem a ser 79% maiores em cães braquicefálicos [focinho achatado] do que nos mesocefálicos”, afirma.

Por outro lado, quanto mais pesado o cão, menor era a possibilidade de agressividade contra seu dono. Ao cruzar os dados, os pesquisadores identificaram que as chances de agressividade diminuíram 3% para cada quilo extra de massa corporal.

Mas Ayrosa ressalta que os achados associados ao perfil do dono não são uma relação de causa e efeito. “Encontramos uma relação, mas não é possível dizer o que vem primeiro. O fator ‘passear com os cães’, por exemplo: pode ser que as pessoas passeavam menos com os cachorros por eles serem animais agressivos, ou os cachorros podem ter se tornado mais agressivos porque seus tutores não passeavam com eles”, afirma.

“Características como peso, altura, morfologia do crânio, sexo e idade influenciam a interação entre os cães e seu ambiente. Isso pode fazer com que o animal passe mais tempo em casa, por exemplo”, completa.

Historicamente, a agressividade dos cães tem sido associada única e exclusivamente à questão da raça. Tal paradigma começou a mudar nos últimos dez anos, quando surgiram os primeiros estudos que relacionavam perfis comportamentais com fatores como idade do cão, sexo, questões metabólicas e diferenças hormonais.

No Brasil, a pesquisa coordenada pelo grupo do IP-USP foi a primeira a avaliar questões morfológicas e comportamentais, entre elas a agressividade, em animais sem raça definida. “Só mais recentemente os estudos passaram a investigar a influência de fatores relacionados à morfologia, histórias de vida dos animais, características dos tutores, origem [comprado ou adotado], como é o caso do nosso estudo”, diz Ayrosa. O artigo Relationships among morphological, environmental, social factors and aggressive profiles in Brazilian pet dogs pode ser lido no site https://www.sciencedirect.com/science/article/ abs/pii/S0168159122002246?-via=ihub#gs2.

GESTÃO E CARREIRA

EXECUTIVOS BRASILEIROS GANHAM ESPAÇO NA DISPUTA POR CARGOS FORA DO PAÍS

Para especialistas, experiência obtida em um “ambiente instável’ de negócios tem feito diferença no recrutamento

A atuação de executivos brasileiros em multinacionais pode ir além do território nacional. Seja de caso pensado ou por oportunidades inesperadas, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles manifestaram o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos a aprender.

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de Desenvolvimento Internacional, agregando países como Japão, Coreia do Sul, Mongólia, Índia e no sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é manter a lente do aprendizado. “É importante tentar entender o contexto da região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que permite entender o consumidor e o contexto das comunidades.”

Para Suelen Marcolino, gerente de Diversidade, Inclusão e Pertencimento no LinkedIn para América Latina, Europa, Oriente Médio e África, o ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais. As experiências abriram portas, seja pelo trabalho ou por bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam à porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições que possuem.

HABILIDADES

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente. Já o crescimento do mercado de inovação, pouco visto em outras localidades, é outro fator-chave.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, diz. Ele também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal.

“Sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de Recursos Humanos do J. P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, ele sabia que teria oportunidades, buscou entendê-las e falou abertamente sobre o interesse.

PREPARAÇÃO

De um cargo generalista em RH, ele foi ganhando exposição ao ter contato com os negócios internacionais. Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, ele foi atuar em Nova York e, quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira em RH, atuou a maior parte do tempo em multinacionais e, em janeiro de 2021, entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul. Sete meses depois, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, ela foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as duas regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

ADAPTAÇÃO

Se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um dos executivos. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Ele lembra que uma mudança tranquila para outros país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane, que terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero. Mas, antes de entender a cultura, Suelen considera importante compreender a si para lidar com o outro. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma.

LIDERANÇA

Braun avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois há um repertório de situações que pode agregar no presente. “É o olhar de Co criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Viviane diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. Para Suelen, aprender a ter paciência consigo para refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para uma interpretação errada.”

EU ACHO …

INJEÇÃO NA TESTA

‘Sexo’ é dessas palavras que basta ler para que neurônios espirrem dopamina

“Guapimirim sem corrupção!”, leio na camiseta da Renata assim que ela me libera no Zoom. Estranho, pois minha colega está sempre elegante: blusas e macacões coloridos, brincos, colares e penteados mil.

Trabalhamos juntos faz uns dois anos e embora nossos encontros presenciais possam ser contados nos dedos —ela no Rio, eu em São Paulo e a pandemia no meio—, temos intimidade o suficiente para que a cumprimente não com um protocolar “oi”, mas com “Guapimirim sem corrupção, Renatinha? Onde é Guapimirim? Quem a está corrompendo? Quem será o herói incorruptível a salvá-la?”.

Renatinha termina de mastigar umas pipocas, responde “Sei lá, a camiseta era grátis” e eu entendo tudo.

“Sexo” é dessas palavras que basta ler para que alguns neurônios espirrem dopamina. “Pudim” tem efeito semelhante, embora seja outra a turma de células, creio eu, a babar neurotransmissores. Mas nem “sexo”, nem “pudim”, nem “Bahia”, nem “Pelé” faz com que minha massa encefálica – e, aparentemente, a da Renatinha também – vibre como diante de “grátis”.

Deve ser produto da seleção natural, epifenômeno resultante do nosso passado caçador/coletor. Imagina você e seu bando caminhando pela floresta, famintos, suados sob o sol a pino, então dão de cara com um cajueiro carregado. Suponho que seja esse o tipo de encontro responsável por moldar, ao longo de milhares de anos, as emoções em torno de tudo o que é gratuito.

Não à toa um dos nossos maiores mitos fundadores trata do assunto. O que é o “Gênesis” senão a triste história da passagem do paraíso 0800 pra dura realidade do pré e pós-pago?

O primeiro capítulo da Bíblia poderia ser resumido a “Era tudo na faixa, vacilaram, agora vão ter que trabalhar”. Anos atrás fui participar de uma CCXP. Ao chegar no camarim meu coração bateu mais forte. Tinha ali um freezer cheio de refrigerantes grátis. Peguei uma Coca e sentei numa poltrona, mas minha alegria pueril (ou primeva?) terminou assim que me dei conta da matemática deficitária daminha satisfação: uma lata de Coca-zero custa R$ 2,77 e o Uber pra Comic Com havia saído uns R$ 80. Não importa. O apelo de tudo o que é “de grátis” me faria pagar R$ 1.000 pra pegar um chaveiro de R$ 10.

Trabalho na Globo. Antes da recente pindaíba nacional, todo fim de ano a empresa dava aos funcionários uma mala térmica com um peru congelado, um salame, um tender e uma torta Miss Daisy.

Não era raro você encontrar na fila do brinde um Galvão Bueno, uma Glória Perez, um Walcyr Carrasco, gente cujo salário de um mês compraria perus de Natal suficientes para dar duas voltas na Terra – caso voltas na Terra fossem medidas em perus de Natal. Gula? Mesquinharia? Nada. Era o chamado da natureza, a partitura cromossômica composta nas savanas a nos fazer executar aquela mesma coreografia, ano após ano, no Subsolo 1 do Módulo Laranja, Estrada dos Bandeirantes, 6.700, Curicica, RJ – portaria 2.

Imagino se o Galvão Bueno, a Glória Perez ou o Walcyr Carrasco também sentem, como eu, uma leve melancolia lá por 15 de dezembro, ao lembrar dos farnéis de outrora. A torta era meio ruim, verdade, mas o retro gosto da gratuidade compensava a textura rançosa do chantilly congelado. O mundo só piora, não tem jeito. O que consola é lembrar que em Guapimirim ainda dão camisetas grátis – e, claro, lutam contra a corrupção. Agora chega de papo-furado, Renatinha, vamos trabalhar que a vida não tá ganha e embora não nos deem mais malas térmicas ainda pagam o nosso salário – sabe-se lá até quando.

ANTÔNIO PRATA – Escritor e roteirista, autor de “Por quem as panelas batem”

ESTAR BEM

ESTUDO EXPLICA COMO PRÁTICA DE EXERCÍCIOS PRESERVA APTIDÃO FÍSICA

É consenso entre os especialistas que a prática regular de exercício físico é fundamental para garantir qualidade de vida e longevidade. No entanto, ainda pouco se sabe sobre como esse hábito influencia o funcionamento das células musculares. Um novo estudo conduzido no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) ajuda a entender, em nível celular, como a atividade física contribui para a manutenção da aptidão física até mesmo durante o envelhecimento.

Segundo o trabalho, apoiado pela Fapesp e divulgado na revista The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a resposta está na mitocôndria. Esse importante componente celular, responsável por fornecer energia às células, está em constante remodelamento graças a um fenômeno chamado dinâmica mitocondrial.

Essa organela pode se dividir em duas ou se unir a outra semelhante por meio de processos denominados fissão e fusão mitocondrial. A partir dessa dinâmica são coordenadas a distribuição e a função das centenas ou milhares de mitocôndrias presentes nas células musculares.

Por meio de experimentos com um organismo modelo bem simples, o verme de solo Caenorhabditis elegans, os pesquisadores observaram que, durante o envelhecimento, vão se acumulando nas células musculares mitocôndrias fragmentadas [que são disfuncionais]. Mas quando o exercício físico é praticado regularmente ao longo da vida, a frequência de mitocôndrias fusionadas aumenta, o que beneficia tanto o metabolismo mitocondrial quanto o funcionamento celular, contribuindo assim para a manutenção da fisiologia muscular durante o envelhecimento.

“No trabalho, demonstramos que, no músculo, uma única sessão de exercício físico induz rapidamente a fissão mitocondrial. E logo em seguida, após um período de recuperação, ocorre a fusão mitocondrial. Já sessões diárias ao longo da vida favorecem o aparecimento de mitocôndrias conectadas, retardando então a fragmentação mitocondrial e o declínio do condicionamento físico observados durante o envelhecimento. Dessa forma, o exercício físico e a dinâmica mitocondrial apresentaram importante associação com a manutenção da função muscular na senescência. Era a prova de conceito que faltava”, afirma Júlio Cesar Batista Ferreira, professor do ICB-USP e coordenador da pesquisa.

Em estudos anteriores, o grupo já havia demonstrado que o exercício físico atua no tratamento de doenças cardiovasculares promovendo o aparecimento de mitocôndrias fusionadas no coração. Mas ainda era preciso entender como a atividade física impacta o envelhecimento de organismos saudáveis. E para isso os pesquisadores optaram por usar o nematoide C. elegans, considerado um excelente modelo experimental para estudos do envelhecimento.

“É muito trabalhoso e caro fazer um estudo sobre envelhecimento acompanhando indivíduos ou roedores por anos, ao longo de toda a vida. A vantagem do C. elegans é que ele apresenta uma série de similaridades com os humanos, mas tem um ciclo de vida de apenas 25 dias. Desse modo, foi possível mostrar, pela primeira vez, o que acontece com um organismo que se exercita ao longo da vida e quais são os eventos celulares críticos envolvidos no processo”, afirma Ferreira.

Segundo o pesquisador, a dinâmica mitocondrial é importante para manter a quantidade e a qualidade das mitocôndrias na célula e, por consequência, o bom funcionamento muscular. Por meio de proteínas denominadas GT- Pases que “cortam” e “colam” as mitocôndrias, ocorre a fusão ou a fissão dessas organelas. “Dessa forma, em condições estressoras, as proteínas removem a parte da mitocôndria que não está funcionando para ser destruída e juntam a parte funcional com outra mitocôndria. É nessa dinâmica de fissão e fusão que se dá a segregação mitocondrial e o bom funcionamento celular.”

Os resultados do estudo indicam que tanto a conectividade quanto o ciclo mitocondrial de fissão e fusão são essenciais para manter a aptidão física e a capacidade de resposta ao exercício ao envelhecer. Um dos primeiros passos do estudo foi desenvolver um protocolo de exercício físico para os vermes. “Geralmente, esses organismos vivem em meio sólido [na natureza eles vivem na terra e, nos laboratórios de pesquisa, em gelatina]. Quando os transferimos para meio líquido, observamos que eles aumentam a frequência ondulatória associada a maior gasto energético, semelhante ao que acontece com nós humanos quando nos exercitamos”, conta Ferreira.

Desse modo, os pesquisadores demonstraram que a exposição diária dos vermes ao meio líquido resulta em uma série de adaptações fisiológicas e bioquímicas semelhantes às observadas em humanos e roedores exercitados.

Segundo Ferreira, os vermes que nadaram regularmente até a fase adulta, mas se tornaram sedentários na velhice, também apresentaram melhores indicadores em comparação aos que sempre foram sedentários.

Em uma segunda parte do estudo, investigaram se o aumento da longevidade é acompanhado de melhora da aptidão física nos vermes. Para isso, foram feitos experimentos com linhagens de vermes capazes de viver até 40 dias graças a alterações pontuais no genoma.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO SE SENTIR BEM PELADO? PRIMEIRO PASSO É AUTOACEITAÇÃO

Muitos ficam desconfortáveis nus, de biquíni ou mesmo com roupas leves no verão. Especialistas ensinam a melhorar a relação com o corpo

Quando Carolyn Hawkins foi para seu primeiro resort nudista quatro décadas atrás, aos 37 anos, estava absolutamente decidida a não ficar nua.

“Eu disse: “Eu vou, mas nunca vou fazer isso. Não vou tirar a roupa”, revela Hawkins sobrea visita ao resort com o marido.

Contudo, ao se ver cercada por um aglomerado de corpos imperfeitos sob o sol da Flórida, ela se sentiu uma exceção e tomou coragem:

“Eu aceitei imediatamente, lembra ela, agora com 79 anos e diretora de relacionamentos para clubes e membros da Associação Americana de Nudez Recreativa.

Nem todo mundo se sente tão confortável pelado. Para muitos de nós, a nudez – ou apenas a perspectiva de mostrar mais pele durante o verão, por exemplo – pode ser inquietante.

“Até mesmo ficar pelado sozinho pode nos deixar vulneráveis à voz crítica existente na nossa cabeça”, afirma Renee Engeln, professora de Psicologia da Northwestern University, nos Estados Unidos, responsável por pesquisar questões relacionadas à imagem corporal das mulheres.

Sentir-se “bem” nu envolve padrões culturais de beleza que poucos de nós alcançamos, explica a especialista. No entanto, terapeutas, ativistas e nudistas afirmam que existem razões convincentes para buscar um relacionamento mais alegre com a própria figura, ou, pelo menos, uma relação “neutra”.

Pesquisas mostram, por exemplo, que as percepções das mulheres sobre o quão atraentes elas são podem influenciar seu desejo sexual, enquanto estar relativamente confortável com a própria aparência tem sido associado a maior autoestima e satisfação com a vida.

Para Virgie Tovar, ativista de imagem corporal, o debate sobre a nudez é paralelo a uma conversa sobre usar um biquíni. Ela lembra sua primeira experiência usando as peças em público como uma mulher plus size:

“Fiquei chocada com a sensação incrível de ter o sol na pele, sentir o vento na minha carne, uma parte do meu corpo que nunca havia sido exposta em nenhum lugar fora de casa. Foi mais poderoso do que eu poderia ter imaginado”, revela Tovar.

A seguir, foram organizadas quatro estratégias sugeridas por uma série de especialistas focados em nudez e imagem corporal. O entendimento sobre elas não significa, necessariamente, a transformação de seu relacionamento com seu corpo durante o verão, época na qual partes da pele podem ficar mais à mostra, mas é um começo.

TEMPO NU

Aprender a se sentir bem com seu corpo pode ser uma tarefa árdua e longa, e muitos dos obstáculos que surgem no caminho são sociais. Ainda assim, Engeln diz que, para algumas pessoas, a chave para se sentir melhor nu é “simplesmente ficar nu com mais frequência”.

Erich Schuttauf, diretor executivo da Associação Americana de Nudez Recreativa, concorda que há um poder libertador em, simplesmente, fazer coisas pelado, permitir-se. Você pode lavar a roupa enquanto está nu, sugere, ou tomar sol por 20 minutos se tiver um quintal privado, saboreando o calor e a brisa em sua pele.

“Acostume-se com a liberdade de não ter que usar roupas”, aconselha Schuttauf, para quem quase todas as tarefas domésticas são mais divertidas quando se está nu.

Stephanie Yeboah, ativista da imagem corporal e escritora, afirma que passar uma ou duas horas nua vários dias por semana foi um passo crucial no início de sua própria jornada de aceitação do corpo. Ela tirava a roupa e lia, assistia TV ou arrumava a casa.

É importante, no entanto, garantir que você esteja em um espaço seguro, seja na privacidade do seu quarto ou em um ambiente destinado à nudez, como uma praia de nudismo ou resort.

“O amor próprio não pode te salvar de um sistema opressor”, diz Yeboah, que já foi chamada de gorda e insultada na rua.

FOCO NAS SENSAÇÕES

Tovar não acredita que a insistência para se sentir bem nu seja um passo necessário para uma aceitação corporal mais ampla, mas encoraja as pessoas a considerar como seria estar em paz com seus corpos em situações onde a nudez é necessária, como no banho.

Para chegar lá, a ativista recomenda o uso de estratégias de atenção para mudar o foco de como “é seu corpo” para como “ele se sente”. E, segundo ela, o chuveiro é um bom lugar para começar.

“Concentre-se nas sensações. Qual é a sensação na minha pele quando entro no chuveiro? Como é a temperatura? O que isso faz com o meu corpo?”, questiona.

Yeboah também transformou o banho em uma meditação regular. Ela compra loções e óleos bons e gasta tempo aplicando-os lentamente, observando cuidadosamente como eles cheiram e como sua pele reage.

“Foi algo que comecei a fazer em minha jornada de amor-próprio para chegar a um acordo com (e aprender a amar novamente) meu corpo”, revela.

PORQUE NÃO?

Zoë Bisbing, assistente social clínica e diretora fundadora da Body-Positive Therapy NYC, costuma trabalhar com pacientes que estão lutando no que ela chama de “estado de evitação do corpo”. Eles cobrem meticulosamente certas partes do corpo e raramente, ou nunca, olham para si mesmos. Frequentemente, optam por não participar de atividades ao ar livre ou que exijam a nudez, como ir à praia, sair em um dia quente ou fazer sexo.

A especialista recomenda observar conscientemente o que está por trás da dificuldade de ficar pelado (ou de deixar certas partes do corpo nuas) ao longo de um dia ou dois. Se fizer isso, pode ser útil tentar uma “terapia de exposição”, uma intervenção cognitiva bem conhecida que visa revelar as pessoas aos seus medos.

“Digamos que você se sinta realmente desconfortável com os braços nus. Pode começar a deixar seu braço exposto um minuto ao dia quando estiver sem casaco, por exemplo. Também pode ajudar olhar para seu corpo no espelho por curtos períodos de tempo, orienta a especialista, e treinar seu cérebro para descrevê-lo usando uma linguagem simples e sem julgamento”.

É fundamental, no entanto, para qualquer pessoa que esteja lutando com problemas como dismorfia corporal ou transtornos alimentares, entrar em contato com um terapeuta para conseguir ajuda, reforça Bisbing. Portanto, esteja atento aos possíveis sinais de um problema de saúde mental mais sério, incluindo imagem corporal distorcida ou sentimentos de vergonha sobre o que você come.

DIFERENTES TIPOS DE CORPO

A cultura pop e as mídias sociais nos condicionaram a ver o corpo magro, o corpo jovem, ou o corpo “capaz” como o padrão e o mais valioso. Por isso, Tovar incentiva todos a se cercarem de fotos de diferentes tipos de corpos.

“Imprima, digamos, 20 imagens de corpos mais próximos do seu e de corpos completamente diferentes”, sugere Tovar. Salve-os no telefone ou coloque-os no espelho para vê-los com frequência.

Faça uma curadoria do que você segue no Instagram, Facebook ou TikTok também. Embora a ligação entre a mídia social e a imagem corporal negativa não seja tão clara quanto às vezes parece, pesquisas mostram que passar o tempo olhando para diferentes corpos e conteúdos de aceitação da própria aparência pode melhorar o humor.

“Lembre-se de que quase todos os corpos adultos nus balançam, têm cabelo, pelo, celulite, cicatrizes, marcas de vida”, reforça Engeln. “É fácil esquecer isso se você está atolado em um mundo de mídia que inclui apenas imagens editadas no Photoshop de corpos jovens e magros.

OUTROS OLHARES

MANUAL CONTRA O ABUSO NAS REDES

Americana Nina Jankowicz parte dos ataques virtuais que sofreu para lançar ‘lugar de mulher é on-line e onde mais ela quiser’

Ser uma mulher on-line é um ato, em si, perigoso, acredita a americana Nina Jankowicz.   Como muitas mulheres em posição de destaque, a escritora e pesquisadora viveu essa ameaça de forma extrema. Diretora executiva do extinto Conselho de Governança de Desinformação, criado pelo presidente Joe Biden, sofreu uma série de ataques virtuais. Em sua maioria homens, os assediadores criticaram seu corpo, disseram que ela tinha aparência de transexual, fizeram memes insinuando que havia feito sexo para conseguir seu cargo e a importunaram com ofensas diárias.

No livro “Lugar de mulher é on-line e onde mais ela quiser, editado no Brasil pela Vestígio com prefácio da jornalista Patrícia Campos Mello, ela oferece um manual para lidar com abuso nas redes sociais (e fora delas, quando eles extrapolam o ambiente on-line). Embora use como base a sua própria experiência e também a de outras figuras públicas (como a da vice-presidente dos EUA Kamala Harris), a obra é destinada a qualquer mulher que use a internet como meio de expressão pessoal e profissional.

“Muita gente não entende que as consequências vão além do virtual. Não basta apenas bloquear a pessoa que está lhe ameaçando”, diz Jankowicz. “Eu mesma bloqueei milhares de contas, mas no fim você sabe que pessoas malucas têm seu endereço e sempre teme que alguém possa aparecer na sua porta. É algo que vai te afetar no seu dia a dia e você não consegue mais fazer as coisas normalmente, nem mesmo em público. Você teme levar seu cachorro para passear, ou teme que alguém a reconheça quando chamam seu nome no aeroporto”.

IGNORAR OU REAGIR?

Jankowicz entrevistou mulheres que se viram obrigadas a abandonar as redes após ameaças. Muitas acabaram voltando após perceberem que aquele era um espaço em que elas precisavam divulgar seu trabalho. Como o objetivo dos ataques é justamente intimidar e silenciar, fica o dilema: ignorar ou reagir? A autora dá uma série de dicas para fazer sua voz ser ouvida sem  tanto perigo (leia abaixo).

Mas não foram só anônimos on-line que perturbaram Jankowicz. Após assumir a sua posição no governo, foi atacada sistematicamente por senadores do Partido Republicano. Ela não tem dúvidas de que o atual ecossistema da internet normalizou esse tipo de comportamento na política.

“Esse tipo de ataque não é inteiramente novo, mas chegou a um nível em que indivíduos  como Donald Trump, Jair Bolsonaro e os congressistas que me alvejaram não parecem ter nenhum problema moral em colocar pessoas em perigo”, diz a autora. “Porque não é só xingar, é encorajar ações violentas de outros indivíduos contra você. Os políticos sabem hoje que, quanto mais raivosos eles tornarem seus seguidores, maior a chance desses seguidores lhes continuarem seguindo. A violência os beneficia politicamente.

COMO DAR TROCO NOS HATERS

NÃO ALIMENTE OS TROLLS

Ao denunciar ofensas e provocações a elas na internet, as mulheres costumam receber  um conselho: “Apenas ignore. “Ou então ouvem que precisam ser superiores e terem até empatia por seus haters. Segundo Jankowicz,  ignorar os trolls pode ser urna alternativa válida, claro. Mas há casos que também é saudável “fazer a sua voz ser ouvida”, aponta ela. Uma coisa, no entanto, é certa: o problema só pode ser tratado, não resolvido.

NEGUE NOTORIEDADE

Há diversas possibilidades de denunciar o mau comportamento de uma conta sem dar muita visibilidade a ela. Se a conta tem muitos seguidores, é melhor fazer uma captura do comentário em questão e compartilhar sem se envolver diretamente com ela. Ridicularizar os seus abusadores depois deixá-los falando sozinhos também costuma ser uma alternativa de autopreservação.

ADOTE O BLOQUEATIVISMO

A maioria dos trolls merece apenas ser silenciados ou bloqueados. Como o objetivo deles é atenção, apenas se beneficiam de seu engajamento. Jankowicz conversou com mulheres que só conseguiram usar suas redes de forma minimamente saudável após bloquear dezenas de milhares de perfis que tentavam interagir com ela.

RECONHEÇA OS FAKES

Analise com atenção as contas que solicitam sua amizade em contas fechadas. Algumas delas podem estar tentando adiciona-la para colher suas informações pessoais. Perfis criados recentemente, sem foto de perfil, e com os quais você não possui amigos em comum têm maiores chances de serem falsos. Use seu instinto: se uma conta parece estranha, não adicione.

CUIDADO COM O QUE COMPARTILHA

A violência virtual pode se tornar real e ferramentas como as dos serviços de localização facilitaram a vida dos assediadores. Por isso, cuidado com os detalhes que compartilha on-line – muitas vezes sem perceber. Uma simples foto das árvores da sua vizinhança pode servir de pista para que abusadores encontrem sua residência na internet.

EVITE O TEMPO REAL

Não é seguro compartilhar fotos ou informações que mostrem sua atual localização de forma pública. Se você está em um parque de diversão, por exemplo, é melhor esperar algumas horas depois de ir embora antes de postar nas suas redes sociais. Uma solução é abusar do recurso falso “amigos próximos” do Instagram, compartilhando suas imagens em tempo real de forma controlada, apenas com seus amigos de verdade.

OUTROS OLHARES

TÉCNICA QUE USA ÓLEO E MEIA NOS CABELOS VIRALIZA

Objetivo do procedimento é hidratar os fios; especialistas avaliam que prática pode mesmo ser eficaz, mas alertam que ela pode causar infecções e caspas caso não seja feita corretamente; veja as recomendações

Uma nova  técnica para hidratar o cabelo tem viralizado nas redes sociais, principalmente pelos produtos usados: meias e óleos. Chamada de “hair slugging”, consiste em aplicar óleo no cabelo à noite, envolver os fios com uma meia e só tirar no dia seguinte. Entretanto, especialistas ouvidos afirmam que, apesar da técnica ser eficiente, existem algumas recomendações que devem ser seguidas e alertam que não são todos os tipos de cabelo que suportam bem o procedimento.

A estratégia consiste em aplicar o óleo capilar uniformemente em todo o comprimento dos fios. Depois enrolar o cabelo e colocar o rabo de cavalo dentro da meia, de modo que seja confortável para deixa-lo durante um bom tempo, de preferência durante a noite. Algumas adeptas da técnica optam por enrolar mechas de cabelo em volta da meia.

Ao acordar, na manhã seguinte, basta retirar ou desenrolar a meia e finalizar normalmente.

“A utilização de óleos ajuda a tratar os fios, principalmente os que estão ressecados ou com frizz. Os benefícios desse tipo de prática são principalmente nos cabelos danificados por química ou que já têm sua hidratação menor, como no caso de cabelos cacheados e afro. O uso da meia tem como objetivo reter o óleo e diminui o atrito entre o cabelo e a fronha do travesseiro, por exemplo, reduzindo o frizz”, explica Violeta Tortelly, coordenadora do Departamento de Cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro (SBDRJ).

RECOMENDAÇÕES

A especialista, no entanto, recomenda alguns cuidados. O primeiro é não aplicar o óleo no cabelo molhado, pois pode aumentar o risco de infecções fúngicas e piorar doenças de base, como a dermatite, seborreia popularmente conhecida como caspa. A técnica também não é indicada para quem já tem cabelo oleoso, pois a condição pode ser agravada com o procedimento.

“O couro cabeludo não pode ser bloqueado pela meia, pois a umidade também pode gerar infecções ou caspas. E o elástico da meia precisa estar frouxo, visto que a tração excessiva sobre os fios pode desencadear a fratura dos fios e consequentemente a queda dos cabelos”, diz a dermatologista Patrícia Ormiga, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBDRJ.

O tipo de meia mais indicado para esse processo é a de algodão. Já entre os óleos, dois se destacam: os de argan, que já são conhecidos por serem ricos em ácidos graxos (como o ômega 9), essenciais para a saúde dos cabelos. Eles promovem a hidratação e nutrição profunda dos fios, deixando-os mais brilhantes, macios e sem pontas duplas. O outro é o óleo de coco, por ter propriedades muito semelhantes ao óleo natural que reveste os fios.

“A indústria consegue pegar esses óleo, mas também outros, e aumentar ainda mais a permanência dele no fio, associando a outros componentes e deixando o produto potencializado. Então os produtos com base em óleos industrializados, vão se adaptando e direcionando a diferentes tipos de cabelo: o ressecado, o com química e aquele com os fios mais finos”, diz Tortelly.

Apesar de sua eficácia e seu poder de hidratação, como tudo em excesso é ruim, o procedimento não é diferente.  As especialistas  afirmam que o produto pode ficar a noite inteira no cabelo ou até no máximo 12 horas, mas é recomendado que a técnica seja feita apenas uma vez por semana para não causar danos aos fios nem ao couro cabeludo.

GESTÃO E CARREIRA

A BUSCA PELO RECONHECIMENTO NO TRABALHO

Levando em consideração que uma equipe desmotivada impacta diretamente na produtividade, é possível dizer que o sucesso de uma empresa depende de profissionais engajados e comprometidos. Um levantamento realizado pela Gallup, apontou que pessoas engajadas contribuem no aumento de satisfação dos clientes, possibilitando um volume até 20% maior nas vendas. Além disso, o desempenho individual desses colaboradores pode chegar a um índice 147% superior. A pesquisa aponta que os trabalhadores satisfeitos têm maior facilidade em desempenhar suas tarefas, contribuindo para um clima saudável dentro das empresas.

De acordo com Ricardo Chaves, psicólogo e especialista no desenvolvimento de líderes e profissionais de alta performance, é preciso ter honestidade consigo mesmo e analisar se o trabalho exercido realmente merece um destaque. “Muitas vezes nós estamos, apenas, cumprindo com aquilo para que fomos contratados e criamos uma expectativa muito alta sobre o reconhecimento.

Essa expectativa sobre uma ascensão que existe nas gerações mais emergentes no mercado de trabalho gera, também, uma grande frustração por conta de não serem realistas do ponto de vista das empresas. É necessário que se busque esse reconhecimento, mas não podemos ser reféns dessa necessidade emocional de sermos reconhecidos”, relata. Para o psicólogo, o sucesso depende da conexão entre propósito de vida e aquilo que se está exercendo no trabalho.

“O trabalho é onde acontece a grande realização existencial do ser humano. Investimos muito tempo e dinheiro na nossa formação e qualificação para que possamos ser cada vez melhores naquilo o que fazemos. Enquanto as pessoas estão buscando apenas a realização de metas, devemos nos importar com quem estamos nos tornando, se isso está alinhado com os seus valores e com quem eu quero ser reconhecido como pessoa, seja dentro do trabalho, seja pela família ou pelos amigos”, pontua.

Como ser notado no ambiente de trabalho:

SE EXPONHA, oferecendo ideias e opiniões sobre os mais diversos assuntos na empresa;

DESENVOLVA A CORAGEM, pois a falta de bravura pode limitar os colaboradores;

DESENVOLVA UMA VISÃO SISTÊMICA, entendendo o porquê de estar realizando aquelas tarefas;

TENHA EMPATIA pelas pessoas ao seu redor, articulando ideias com pessoas que não possuem um pensamento compatível ao seu;

TENHA RESILIÊNCIA para lidar com frustrações e superar os desafios que ainda estão por vir.

Ricardo acredita que a alta produtividade apresenta uma melhor percepção sobre o trabalho executado. “Quando entendemos o porquê de fazermos o que fazemos, temos mais conexão, mais pertencimento sobre o que construímos com o trabalho, aumentando a nossa produtividade e engajamento.

Para que a produtividade seja sustentável, é necessário uma conexão mais ampliada sobre aquilo que se produz”, finaliza.

FONTE E MAIS INFORMAÇÕES: (https://www.rickcha.com.br/).

EU ACHO …

QUANDO OS CHATOS SOMOS NÓS

Você conhece um chato. Ou dois. Ou meia dúzia. E até gosta deles, viraram figuras folclóricas na sua vida. Talvez seja um cunhado, um amigo de um amigo, um colega de trabalho. Os chatos são bem-intencionados, não se pode negar. E é justamente essa boa intenção fora da medida que faz deles uns chatos. O chato nada mais é que um exagerado. Ele é prestativo demais, ele é piadista demais, ele leva muito tempo para contar algo que lhe aconteceu, ele fica hooooras no telefone, ele se leva a sério além do razoável, ele ocupa o tempo dos outros com histórias que não são interessantes. O chato é, basicamente, um cara (ou uma mulher) sem timing.

Estava pensando nisso quando escutei alguém citando uma das coisas mais chatas que existe. Tive que concordar: colocar um filho pequeno no telefone pra falar com a dinda, com a vovó, com o titio, é muito chato. A gente ama aquela criança – talvez seja até o nosso filho! – mas ao telefone, esquece. Tentamos entabular um diálogo minimamente inteligível e nada rola. Ou ele não fala nada que se compreenda, ou não abre o bico, e só nos resta ficar idiotizados do outro lado da linha.

Todo mundo sabe que isso é chato. Mas todo mundo que já teve um filho cometeu essa mesma chatice com os outros. Por quê? Porque pai e mãe de primeira viagem são chatos por natureza. Ninguém escapa. Se não for chato, será considerado um sem-coração. Todos irão apontar: olha lá, aquele ali esconde o filho. Põe ele no telefone!

Outra chatice é mostrar 3.487 fotos do bebê. Dá nos nervos quando o filho não é nosso. Todos os bebês são iguais, menos para seus pais. Seja bem sincero: dá pra aguentar ver foto de bebê pelo celular? Basta perguntar educadamente pra alguém: e seu filhinho, vai bem? Pronto. Num segundo o celular ou iPhone será sacado e apontado direto para seus olhos: veja você mesmo.

A gente sabe que é chato, mas toleramos com sorrisos parcialmente sinceros porque faremos a mesma coisa quando chegar a nossa vez – ou já fizemos um dia. Se você passou dessa fase, segure a onda e compreenda os que ainda não passaram. Nada de reclamar. Aqui se faz, aqui se paga.

Outras chatices? Quando alguém pergunta: lembra de mim? Se está perguntando, é porque a chance é remota. Mas já não fizemos isso diante de alguém que gostaríamos muuuuito que lembrasse? E esticar as letras das palavras quando se está escrevendo? E quando a gente começa uma frase com “adivinha”. Adivinha pra onde eu vou nas próximas férias. Adivinha quem me convidou pra jantar. Adivinha com quem eu sonhei hoje.

Falando em sonho, tem coisa mais chata do que ouvir o sonho dos outros? Mas você já contou os seus. Váááárias vezes.

Agora adivinha qual o próximo exemplo que vou dar (kkkkk). Precisamos mesmo colocar risadas entre parênteses para que os outros entendam nossas piadinhas cretinas?

Alguns menos, outros mais, chatos somos todos.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

TRATAMENTO PARA ENDOMETRIOSE É O MESMO HÁ 25 ANOS, DIZ MÉDICO

Com causas ainda indefinidas, condição afeta cerca de 190 milhões de mulheres no mundo e leva, em média, sete anos para ser diagnosticada

Marina Bonache começou a sentir dores muito fortes durante a menstruação faz quatro anos. Seu ginecologista disse a ela que estava tudo bem. Os níveis hormonais estavam normais e nada apareceu nos ultrassons que fizeram. Mas ela não se contentou com essa resposta. Continuou procurando e, dois anos depois, aos 25 anos, outro médico deu um nome ao seu problema: endometriose.

Trata-se de uma patologia crônica em que o tecido endometrial cresce fora do útero. Segundo Emanuela Spagnolo, da Sociedade Espanhola de Ginecologia e Obstetrícia (Sego), leva-se em média sete anos para a doença ser diagnosticada. De acordo com Raúl Gómez, médico e pesquisador principal do Grupo de Investigação de Terapias para Endometriose e Câncer de Endométrio do Health Research Institute (Incliva), há 25 anos as mesmas estratégias — geralmente terapia hormonal — têm sido usadas contra a doença. As pequenas variações empregadas são heranças dos últimos estudos realizados em pacientes.

O pesquisador atribui isso ao fato de que, historicamente, a endometriose nunca ganhou a atenção merecida. Cientistas se concentraram mais em saber como ela funcionava, como eram as lesões, quais os fatores envolvidos, mas não conheciam tanto os parâmetros da dor.

“A endometriose sempre existiu, mas foi pouco visível, pouco reconhecida“, avalia. Cerca de 190 milhões de mulheres sofrem com esse problema em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS ). Nessa doença, o endométrio, que é o tecido que reveste o interior do útero, encontra-se anormalmente fora da cavidade uterina. A mulher sofre alterações menstruais nos locais onde esse tecido se insere, produzindo sangramento cíclico nessas áreas sem que o sangue possa sair.

A doença pode causar fortíssimas cólicas menstruais, sangramento excessivo, dor abdominal (que às vezes pode ser incapacitante) e problemas para ter filhos ou, diretamente, infertilidade. Ela é diagnosticada por ultrassom ou laparoscopia (uma cirurgia minimamente invasiva), mas Gómez reconhece que é difícil identificar quando está em estágio inicial. Embora a prevalência do problema seja alta, não se sabe o que a causa.

“Sabe-se que fatores imunológicos e genéticos estão envolvidos, mas a causa ainda é desconhecida”, resume Spagnolo, que trabalha na unidade de endometriose do Hospital La Paz, em Madri.

Para conviver com a doença, Bonache segue um tratamento hormonal à base de antiestrógenos, que reduzem os níveis de estradiol, o hormônio que causa a proliferação da endometriose, esclarece Gómez. O problema dessas drogas é que elas acabam induzindo uma pseudomenopausa que pode causar os mesmos sintomas do climatério, como ondas de calor, desequilíbrios hormonais e início da osteoporose, diz o especialista. Outras opções são cirurgia, anti-inflamatórios e analgésicos opioides, os dois últimos em casos leves. Entre 10% e 15% das mulheres que se submetem à cirurgia conservadora (sem retirada do útero) voltam a ter a doença um ano depois, número que sobe para 40% e 50% após cinco anos, segundo estudo feito por pesquisadores do Hospital União China-Japão da Universidade Jilli, na China, e publicado na revista científica Frontiers em novembro passado.

No caso de Bonache, com a medicação ela tem conseguido controlar a maior parte dos sintomas, embora sofra de dispareunia (dor na relação sexual) e tenha dificuldade para urinar. A jovem, hoje com 27 anos, chegou a passar três semanas de cama, “sem tolerar nem água, pelos vômitos que sofria e pelas dores”. Ela tem endometriose peritoneal e adenomiose (quando fragmentos do endométrio invadem a musculatura uterina).

INFERTILIDADE

Para ela, o mais difícil da doença é ter que levar uma vida extremamente regrada e, mesmo assim, não ter o controle do próprio corpo. Você não pode se permitir exceções: deve dormir horas suficientes, fazer exercícios, mas não em excesso, nem pode pular a medicação. Você também deve seguir uma dieta pobre em alimentos que aumentam o estrogênio. Ela quer ser mãe, mas para isso tem que ter tudo planejado:

“É como se você tivesse um relógio com menos tempo”, lamenta.

Entre 30% e 35% das mulheres com problemas de fertilidade sofrem de endometriose, diz Spagnolo. Essa condição faz com que os ovários funcionem menos e, em muitos casos, com baixa reserva ovariana, comenta sua colega de trabalho, Silvia Iniesta. Todas as mulheres podem ver a sua fertilidade reduzida a partir dos 30 anos, mas no caso daquelas que têm desta patologia, a idade implica um risco maior para quem pretende ter filhos.

O que mais ajuda Bonache a lidar com sua situação é, além do apoio da família e do companheiro, “seguir no Instagram pessoas que sofrem a mesma coisa, ver pessoas que são iguais a mim”, e o apoio do Associação de Afetados de Endometriose da Catalunha (Endocat). Conversar com outros pacientes a ajudou muito, diz ela, a ser capaz de lidar com a doença e a se sentir totalmente compreendida. Além disso, existe a Associação Estadual dos Acometidos pela Endometriose (Adaec) na Espanha, que oferece assessoria.

Um dos objetivos atuais dos especialistas é a detecção precoce dessa doença, diz Spagnolo. O Hospital La Paz, onde ela trabalha, desenvolve um projeto em conjunto com universidades europeias para identificar essa condição em adolescentes. Com isso, pretendem também capacitar profissionais da atenção básica e mais ginecologistas para que o diagnóstico não chegue tarde demais.

“Detectá-la em seus estágios iniciais e tratá-la desde o início melhora a qualidade de vida de quem sofre, porque a dor e a duração do problema serão menores”, acrescenta Gómez.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CINCO ESTRATÉGIAS PARA RETOMAR O FOCO NAS TAREFAS DIÁRIAS

Cérebro precisa de interrupções para recalibrar, mas celulares agravaram desatenção. Saiba como recuperar concentração

Em 2004, Gloria Mark, professora de informática da Universidade da Califórnia, em Irvine, Estados Unidos, observou trabalhadores em um dia típico no escritório. Usando um cronômetro, ela anotou cada vez que eles trocavam de tarefas em seus computadores, passando de uma planilha para um e-mail, para uma página da web e de volta para a  planilha. Na época, as pessoas demoravam em média apenas dois minutos e meio em uma determinada tarefa antes de mudar. Quando a pesquisadora repetiu o experimento em 2012, o tempo médio gasto em uma tarefa caiu para75 segundos. Uma medição recente mostrou que agora esse intervalo é de cerca de 47 segundos. Qualquer pessoa que já tentou estudar para uma prova, escrever um relatório ou ler um livro sabe como é difícil se concentrar por períodos significativos de tempo. Normalmente, os dispositivos digitais são os culpados pela interrupção.

Felizmente, existem maneiras de recuperar o controle de sua atenção.

ENTENDA O QUE ESTÁ DISTRAINDO VOCÊ

As notificações são uma das principais fontes de distração, pois geram a necessidade de verificar suas mensagens. Como nossos cérebros são projetados evolutivamente para prestar atenção à novidade, esses alertas são quase impossíveis de ignorar.

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade do Estado da Califórnia levou ao laboratório usuários moderados e intensos de smartphones. Eles foram conectados monitores capazes de medir os níveis de excitação. Seus telefones foram retirados sob a alegação de que poderiam interferir no equipamento. Em seguida, os pesquisadores enviaram mensagens de texto aos participantes várias vezes. Quando seus telefones tocavam, os níveis de excitação dos participantes disparavam.

“Eles sentiram que precisavam responder as mensagens ou pelo menos ver de quem eram, e não podiam. Isso gerou ansiedade neles”, afirma Larry Rosen, professor emérito de psicologia e coautor do estudo.

DESLIGUE AS NOTIFICAÇÕES

Desativar as notificações é uma boa maneira de reduzir as distrações —na verdade, é uma dica clássica —mas não resolverá completamente o problema. Em sua pesquisa, Mark descobriu que as distrações externas representavam apenas metade das interrupções do foco. A outra metade foi motivada por uma vontade interna para mudar de tarefa. O mais interessante é que Mark observou que, quando o número de interrupções externas diminuía, o número de auto interrupções aumentava.

Rosen levanta a hipótese de que esses impulsos para se distrair são causados pelo estresse. Pesquisas mostram que o uso mais intenso de smartphones está relacionado a níveis mais altos de cortisol e outros marcadores de estresse. O aumento da ansiedade pode se tornar um sinal interno para olhar suas redes sociais, mesmo sem um toque ou vibração. De acordo com Mark, também pegamos nossos telefones porque precisamos de uma pausa.

“Nossos cérebros não são capazes de se concentrar por longos períodos de tempo. Manter a atenção e resistir às distrações consome recursos cognitivos, e precisamos reabastecê-los periodicamente para recuperar o foco.

FAÇA PAUSAS CRONOMETRADAS

Não há nada de errado em navegar nas redes sociais para “recarregar”. O problema surge quando as pausas se tornam mais longas ou mais frequentes do que você pretendia.

Para aumentar seu tempo de atenção, Rosen recomenda empregar o que ele chama de “pausa tecnológica”. Antes de se concentrar em uma tarefa, reserve um ou dois minutos para abrir seus aplicativos favoritos. Em seguida, defina um cronômetro para 15 minutos, silencie o telefone, vire-o para baixo. Quando o cronômetro disparar, você tem mais dois minutos para verificar seu telefone. Repita este ciclo três ou quatro vezes antes de fazer uma pausa mais longa.

O objetivo é aumentar gradualmente o tempo entre as pausas técnicas, aumentando para 20, 30 e até 45 minutos. O pesquisador afirma que você saberá que está pronto para se concentrar por períodos mais longos quando o cronômetro disparar e você escolher permanecer na tarefa em vez de pegar o dispositivo.

DESENVOLVA AUTOCONSCIÊNCIA

Outra estratégia recomendada por Mark é aumentar sua autoconsciência sobre o uso da tecnologia. Quando você sentir vontade de abrir o Instagram, por exemplo, pergunte-se por quê: você se sente exausto e precisa de uma pausa? Isso ajudará a restaurá-lo? Em caso afirmativo, vá em frente. Depois de alguns minutos, verifique novamente e pergunte se o aplicativo ainda está agregando valor. Se não, é hora de voltar ao trabalho.

TENTE LEITURA PROFUNDA

As pausas tecnológicas e a autoconsciência podem ajudá-lo a controlar o desejo de pular de tela em tela, mas Maryanne Wolf, professora da Escola de Pós-Graduação em Educação e Estudos da Informação da Universidade da Califórnia, diz que mesmo quando estamos lendo apenas uma tela, não nos envolvemos profundamente com ela. Isso porque as telas são projetadas para nos fazer ler muito rapidamente. Por isso, não damos toda a atenção ao texto.

Segundo ela, nosso cérebro se adaptou a ler assim. E, para recuperar o que chama de “leitura profunda”, recomenda ler todos os dias, por pelo menos 20 minutos, um livro físico.

OUTROS OLHARES

MULHERES VENDEM SEXO PARA PAGAR AS CONTAS

Com aumento cada vez maior do custo de vida no reino Unido, muitas assumem riscos maiores e cobram menos

Tiffany alisou seus cabelos, se olhando no espelho do banheiro, e tirou a aliança de casamento do dedo, sentindo um frio tenso na barriga.

A antiga funcionária pública entrou no carro dirigido por seu marido, que a deixou perto de um hotel confortável em Cardiff. Ela entrou no bar do hotel, tentando identificar o homem com quem vinha trocando mensagens, em meio ao zumbido das conversas e à música de piano. Quando ela o avistou, ele também parecia nervoso.

Tiffany deixou o hotel algumas horas mais tarde, se sentindo aliviada. “Sinto orgulho por poder ajeitar nossa situação e manter um teto sobre nossas cabeças”, diz. “Estou fazendo isso por minha família, minha casa e meu marido.”

Tiffany é parte de uma onda de mulheres que, impulsionadas em parte pelo panorama econômico sombrio do Reino Unido, decidiram neste ano começar no, ou retornar ao, trabalho sexual, uma constatação extraída de entrevistas do Financial Times com 23 profissionais do sexo e com 14 organizações assistenciais e de defesa das mulheres em cidades como Manchester, Sheffield, Liverpool, Leicester, Wolverhampton e Londres.

Há muitas razões para que as pessoas comecem a vender sexo, e elas variam do desejo de garantir a independência financeira à exploração por quadrilhas de criminosos. Mas há também uma explicação mais direta: com a inflação chegando aos 11% anuais, o Reino Unido parece estar entrando em uma recessão prolongada, o que cimenta uma crise de custo de vida que está levando as famílias a se prepararem para severas dificuldades.

Em um momento em que mais mulheres parecem estar vendendo sexo, a situação econômica do país também está reduzindo a demanda, o que cria um ambiente mais perigoso para aquelas que trabalham no setor, já que elas precisam correr mais riscos para conseguir pagar as contas. É algo que afeta tanto as mulheres que trabalham em domicílio ou em hotéis, muitas vezes atendendo a clientes mais ricos, quanto aquela que recorrem à prostituição de rua.

O aumento no número de mulheres que recorrem ao trabalho sexual vem tornando mais urgente o debate político sobre a maneira pela qual esse tipo de atividade é policiado no Reino Unido.

Ativistas dizem que é mais importante do que nunca rever as leis que regem o setor, embora haja uma divisão entre aqueles que querem descriminalizar completamente da atividade e aqueles que querem proibir o sexo pago. Todos argumentam que o trabalho sexual é uma parte da sociedade que não pode ser silenciosamente ignorada: o Serviço Nacional de Estatísticas (ONS) do Reino Unido estima que ele tenha contribuído com £ 4,7 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2021, e 1 em cada 10 homens no Reino Unido diz já ter pago por sexo.

Tiffany começou a fazer trabalhos sexuais ocasionais seis anos atrás, para pagar uma fatura de cartão de crédito. Quando ela foi demitida do serviço público, mais tarde, sobreviveu com os ganhos de seu marido até que os lockdowns da pandemia resultaram no fechamento da oficina dele.

Uma grave deterioração na saúde mental de seu marido, neste ano, significa que ele não tem mais condições de trabalhar. Tiffany, que está na casa dos 30 anos, precisa cuidar do marido em tempo integral.

O aumento nas contas de energia e no custo dos alimentos, combinado a pagamentos de dívidas, é mais alto que os benefícios combinados que o casal recebe, ela diz. E, com as taxas de juros em alta, Tiffany está ansiosa para concluir o mais rápido possível o pagamento da hipoteca do casal.

Em setembro, Tiffany sentiu que o trabalho sexual era a única maneira de obter renda suficiente para cobrir seus gastos e ao mesmo tempo manter a flexibilidade necessária para cumprir suas responsabilidades como cuidadora.

Ela ganha cerca de £ 1.000 por semana, uma renda que ela diz declarar à Receita britânica, o que significa que os pagamentos de assistência ao casal devem parar em breve. O trabalho sexual não é “o trabalho dos sonhos de ninguém”, ela afirma, acrescentando: “Estou feliz por poder fazer isso para nos apoiar financeiramente, mas depois vou parar”.

Das 23 profissionais do sexo entrevistadas, 5 dizem que voltaram ao setor em 2022, depois de anos afastadas dele, e que o aumento do custo de vida determinou ou pelo menos influenciou sua decisão. É amplamente aceito que a maioria dos trabalhadores do sexo são mulheres, embora o trabalho sexual masculino tenha aumentado nos últimos anos, com o crescimento da venda casual de serviços em plataformas como o Grindr e o Instagram.

Uma análise pelo Financial Times dos perfis de todos os 21 mil acompanhantes registrados no site Adultwork.com no Reino Unido sugere que neste ano o número de adesões foi três vezes mais alto que o de 2019. Não está claro se isso reflete uma transição dos trabalhadores do sexo existentes para a publicidade online ou um aumento em seu número geral, que em 2015 foi estimado em cerca de 73 mil.

OUTROS OLHARES

BARREIRA ESTÉTICA

Transgêneros ainda lutam por inclusão no mercado de trabalho

O estudante de administração Nathan Meireles, de 24 anos, gosta de usar boné e roupas confortáveis. Um colar de metal dá um ar descolado ao rapaz, que cultiva barba e bigode bem aparados. Com 1,54m, ele modela e planeja ser empreendedor. Nathan tem a cara de sua geração e está em paz com sua imagem. Mas não com o reflexo da sua condição de homem trans numa sociedade que acha feio o que não é espelho.

“A partir do momento que eu me entendi trans, quis me adequar a uma estética mais masculina. Mas sempre soube que não seria um homem com características cis, e nem queria isso. Hoje olho e gosto. Não me incomodo com a altura, mas o meu tamanho e voz ainda causam constrangimentos que me impedem de arrumar até mesmo um emprego”, relata o jovem, terceiro colocado no Concurso Mister Brasil Trans 2022, realizado este mês em São Paulo, voltado para a afirmação de belezas negadas pela cisnormatividade.

Natural do Espírito Santo, Nathan, que se descobriu transem 2013, superou inúmeros desafios, mas hoje está desempregado. Foi rejeitado numa entrevista para estoquista de loja por não cumprir “exigências físicas” para a vaga. A baixa estatura pesou, assim como a voz ainda fina, apesar da terapia hormonal com testosterona, iniciada quando tinha 18 anos.

Na lógica da cisnormatividade, sistema que coloca as características relacionadas ao sexo biológico como privilegiadas e pretere as singularidades de pessoas trans, são inúmeros os conflitos enfrentados por homens e mulheres que iniciam a hormonização e a troca de nome. Nesse processo, eles precisam resistir e reafirmar suas belezas de indivíduos que fogem do considerado padrão estético.

ANGÚSTIA E SOFRIMENTO

A história de Nathan é a de milhares de brasileiros. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estimou, no ano passado, que o Brasil já tem pelo menos 3 milhões de transgêneros. Entre os respondentes, 85% dos homens trans afirmaram já terem sentido sofrimento ou angústia em relação ao próprio corpo. Entre as mulheres trans, esse sentimento foi apontado por 50% das entrevistadas.

Os transgêneros ainda lutam por representatividade social, especialmente no mercado de trabalho. Um estudo deste ano do Transvida, centro de convivência e promoção da empregabilidade LGBTQIAP+, mostrou que no Rio de Janeiro, por exemplo, pessoas trans vivem à margem: cerca de 44,2% dos entrevistados estavam desempregados e apenas 15% deles tinham carteira assinada.

O especialista em gênero e sexualidade Leonardo Peçanha diz que a transexualidade bate de frente com a lógica cis ao ampliar as possibilidades de ser homem ou mulher no mundo, para além da genitália. De acordo com ele, as exigências cisnormativas de que pessoas trans devem usar hormônios, fazer cirurgias e modificar o nome, para só a partir disso serem respeitadas e vistas como homem ou mulher, são extremamente violentas e podem produzir sofrimento psicológico.

“A sociedade precisa entender que, quando uma pessoa trans faz uma cirurgia, ela está buscando se adequar à identidade delas. Existem diferentes tipos de beleza, e isso precisa ser respeitado para que as pessoas trans tenham uma boa autoestima e oportunidades de existência”, ressalta Peçanha.

PASSABILIDADE

Assim como Nathan, a atendente de telemarketing Eloah Rodrigues, de 29 anos, viveu inúmeras transfobias por sua estética. Travesti negra, magra e com cabelos longos, ela conta que lutou por mais de seis anos para conseguir espaço nas passarelas. Ainda assim, a participação no Miss Trans Brasil e no Miss International Queen, o “Miss Universo Trans”, em junho, na Tailândia, só foi possível porque hoje Eloah considera que em passabilidade – termo usado pela comunidade para se referir à pessoas trans tidas socialmente como cis, devido às características físicas muito semelhantes.

“A moda reforça muitos estereótipos. Quando comecei, fui rechaçada por não ter um padrão de beleza esperado para miss. E existem ideal cis até mesmo dentro do mundo trans, porque tememos o preconceito. Hoje, quando chega uma oportunidade, é sempre em meses de conscientização LGBT. Me questiono quando as marcas e empresas vão nos convidar para atuar num contexto comum”, afirma a carioca, que desde criança faz aulas de teatro.

Para a professora de psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro Jaqueline Gomes de Jesus, a passabilidade é um conceito carregado de preconceitos, pois torna “mais aceitável” pessoas que se encaixam no padrão. A cobrança por uma leitura social feminina é mais intensa porque perpassa o machismo, que dita como mulheres devem ser e se comportar, diz. No caso de Eloah, por ser negra, ainda há o racismo estrutural, que nega a beleza afro, mesmo quando 56% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, segundo o IBGE.

“Para mulheres em geral, a beleza é um grande desafio. Para homens, a leitura social masculina é menos exigente, o que faz com que esse processo seja mais acessível aos trans. Mas, em ambos os casos, há uma ditadura do embelezamento, que é o do corpo branco, cis normativo e magro”, aponta Jaqueline.

Para naturalizar a representação de homens trans na moda, foi realizada neste mês a segunda edição do Concurso Mister Brasil Trans 2022. Primeiro concurso exclusivamente para trans masculinos do mundo, o evento busca quebrar paradigmas da indústria da moda ao contemplar candidatos gordos, magros, de diferentes etnias, e que podem ou não ter passado pela cirurgia de retirada das mamas.

Um dos concorrentes, que posou sem camisa e usando binder (faixa que aperta os seios),o autônomo João Daniel Dionísio, de 25 anos, usou sua imagem para mostrar que peitos ressaltados não são intrusos. Dionísio não quer passar por cirurgias porque pretende gerar e amamentar filhos biológicos, num futuro não tão distante.

“Eu nunca criei muitas expectativas para não me frustrar, mas sempre quis ter cavanhaque para me sentir bem. Hoje, com barba ou sem, eu sei quem sou. Não vejo meus seios como intrusos e não quero correr riscos em cirurgias se estou bem comigo mesmo. Não sofro preconceito porque os hormônios reduzem a quantidade de gordura e faço exercício físico. Mas quando percebem, as pessoas não me validam como homem”, conta.

Dono de um ateliê de costura, Daniel vive um dilema de ser um homem com um emprego considerado socialmente feminino. No entanto, ele conta que hoje o estigma é menor, porque confecciona roupas voltadas ao público LGBTQIAP+:

“Já passei semanas fazendo teste de emprego para no final dizerem que eu não sou o perfil certo. Fiz trabalhos como modelo, mas nunca consegui me consolidar na área. Então resolvi criar o meu próprio negócio. Hoje, considero que tenho sucesso no que faço, apesar de ainda receber olhares, por ser costureiro, mas principalmente por ser negro.

GESTÃO E CARREIRA

SOCIAL HIRING: TENDÊNCIA NA ÁREA DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE TALENTOS

Utilizar redes sociais como uma estratégia de recrutamento se tornou uma realidade nas empresas. Essas plataformas são capazes de promover vagas de emprego e conectar os candidatos de forma mais interativa e eficiente. A técnica é conhecida como Social Hiring e, dessa forma, os candidatos são atraídos pelo conteúdo e pelo valor que a empresa entrega, se conectando desde o início do processo seletivo pela cultura da organização.

De acordo com Alisson Souza, CEO da abler, startup que tem o propósito de trazer facilidade na gestão dos processos seletivos, alguns pontos se destacam nessa modalidade de recrutamento. “O primeiro ponto positivo é a possibilidade de reduzir os custos do processo de seleção. Isso porque as redes sociais, majoritariamente, são plataformas gratuitas, tornando o recrutamento menos custoso.

Outra vantagem do Social Hiring é encontrar os talentos exatamente na rede social que eles frequentam, seja o LinkedIn, Facebook, Instagram ou Twitter. Um terceiro ponto positivo é o maior alcance da divulgação das vagas, justamente porque essas plataformas têm algoritmos que trabalham em prol do alcance de suas publicações. Além dessas vantagens, o recrutamento social tem a possibilidade de fortalecer a marca empregadora”, relata.

Alguns passos devem ser seguidos para desenvolver uma estratégia de Social Hiring dentro de uma organização. “O primeiro direcionamento é manter atualizados os perfis de redes sociais da empresa e entender quais plataformas fazem sentido para o público de candidatos que se pretende atingir.

O segundo passo é, além de manter esse perfil atualizado, postar conteúdos que possam atrair esses talentos, montando uma cadência de publicações que faça sentido e prenda a atenção daquele tipo de candidato, seja com dicas de emprego ou conteúdos relacionados à carreira dos possíveis talentos”, revela.

Para o especialista, engajar os colaboradores nas redes da empresa é fundamental para que eles participem ativamente do recrutamento social. “Quando sua equipe começa a compartilhar os conteúdos das páginas da organização, expande o alcance da empresa e faz com que seus colaboradores se tornem verdadeiros embaixadores da marca empregadora”, pontua.

Escolher a plataforma ideal é um dos principais desafios na hora de adotar uma filosofia de Social Hiring. “Isso é algo que pode variar de acordo com o perfil de candidato desejado. Se a busca é por pessoas mais novas, por exemplo, provavelmente o Instagram e o TikTok são as melhores ferramentas.

Se a intenção é atingir um público um pouco mais maduro, as plataformas mais indicadas podem ser o LinkedIn e o Facebook. Existem inúmeras redes sociais, como o próprio WhatsApp e o Twitter, mas essa escolha pode mudar para atender a necessidade daquela vaga”, finaliza Alisson Souza. Fonte e mais informações: https://abler.com.br

EU ACHO …

NÃO HÁ LUGAR PARA AS MULHERES

É preciso saber de onde vem a autorização dos homens para odiar o feminino

Nas últimas semanas, vimos casos estarrecedores de violência contra a mulher. Como venho escrevendo continuamente, é preciso tratar esses temas com a seriedade que merecem, pois não se trata de casos isolados, mas de violências históricas e sistêmicas. O médico colombiano Andres Eduardo Oñate Carrillo foi preso nesta semana por produzir e armazenar pornografia infantil. Ele matinha mais de 20 mil imagens de abuso sexual de crianças e adolescentes em seus equipamentos eletrônicos. Nessas imagens, a polícia encontrou vídeos de Carrillo estuprando pacientes mulheres anestesiadas.

Ano passado, em um caso semelhante, as enfermeiras da sala de cirurgia desconfiaram do comportamento do anestesista Giovanni Quintella Bezerra e, para que pudessem comprovar as suspeitas, tiveram de preparar um ambiente de captação de provas com o fim de flagrar o médico abusador, expondo a paciente a uma violência sexual, mas impedindo que ele continuasse a violentar impunemente. Apesar da ação corajosa por romper com o código de autoridade de médicos, bem como do bem-sucedido flagra e colheita de prova que possibilitaram a prisão e provável condenação do estuprador, uma violência ocorreu para que isso fosse viabilizado, afetando a vida da mulher de forma dramática. Os dois casos têm mais em comum do que as violências terem sido praticadas por anestesistas: seriam casos ocultos não fossem a investigação por material pornográfico infantil no primeiro caso, ou a atuação das enfermeiras no segundo. Outros tantos que não contaram com essas barreiras são cometidos impunemente, aviltando a dignidade das crianças e mulheres.

Ainda nesta semana, deparei-me na rede social com um vídeo que expunha mais uma situação de violência contra a mulher. A repórter da TV Record Bahia, Tarsilla Alvarindo, foi agredida por um homem, que desferiu um soco em seu rosto. A cena nos mostra mais do que essa descrição: a mulher estava acompanhada do cinegrafista e de um produtor, dois homens. Mas o homem veio na direção da equipe e agrediu a jornalista. Ele estava irritado, pois havia pedido que a equipe não filmasse um familiar seu que havia falecido em um acidente de carro.

A equipe não estava filmando, a reportagem contando o caso estava posta longe do corpo da vítima, quando ele interrompeu para agredir a mulher. Mas fico pensando que, se o incômodo dele era com a suposta filmagem, porque não agredir o cinegrafista? Porque ele foi direto na mulher? É preciso questionar de onde vem esse senso de autorização que os homens carregam para direcionar seus ódios às mulheres.  

Um outro caso também chamou a atenção, o crime ocorreu no dia 24 de dezembro de 2022, mas veio a público nesta semana após divulgação da vítima nas redes sociais. A influencer Gabriella Camello afirmou que o zelador do prédio onde mora invadiu seu apartamento e se masturbou na frente da sua cama. O homem tinha as chaves do seu apartamento e só interrompeu o ato, pois a vítima acordou e gritou.

Segundo Camello, o síndico do prédio se recusou a demitir o zelador e teria dado risada da situação; na delegacia da mulher, ela afirma ter sido maltratada. Ela pede os vídeos de segurança do edifício que mostram o zelador se masturbando na escadaria do prédio, pouco antes de invadir o apartamento dela.

Diante da falta de acolhimento e dos registros, decidiu gravar um vídeo expondo o caso em uma rede social e somente após isso o zelador foi demitido e medidas foram tomadas. São casos repugnantes e que escancaram o desprezo pelas vidas das mulheres no país quinto do mundo em feminicídio.

Situações como essas mostram que mulheres se sentem inseguras dentro de suas próprias casas, exercendo suas profissões, quando são submetidas a cirurgias e estão completamente vulneráveis.

Trata-se de uma pauta fundamental e que precisa ser conduzida com seriedade e compromisso. Não pode haver espaço para esvaziamentos e deturpações, pois não há lugar seguro para as mulheres em uma sociedade que banaliza a misoginia e insiste em manter uma cultura de culpabilização das vítimas. Um projeto de emancipação para este país precisa fundamentalmente priorizar a dignidade humana das mulheres.

DJAMILA RIBEIRO – Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais

ESTAR BEM

NOVAS DROGAS PARA OBESIDADE PROMETEM SEGURANÇA E PERDA SIGNIFICATIVA DE PESO

Remédios mais antigos eram lançados sem testes a longo prazo e com pouco resultado duradouro

As três últimas décadas de estudos sobre obesidade mostram que emagrecer em uma sociedade como a nossa, pouco ativa e com fácil acesso a alimentos para parte da população, deve ser cada vez mais difícil para quem atingiu marcas de sobrepeso ou já está em um quadro de comorbidade. Por essa razão, a liberação de medicações como o Wegovy, recém-aprovado pela Anvisa, tem sido comemorada por especialistas, que alertam para o uso consciente desse tipo de produto.

O medicamento traz uma nova perspectiva para quem vive uma luta crônica contra a balança e não deve ser usado por quem tem peso normal ou para atingir padrões estéticos.

Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e  Metabologia (SBEM), reforça que a obesidade precisa ser vista como uma doença, e crônica. O avanço no tratamento dela, aliás, está ligado à pesquisa de redução dos danos cardiovasculares na população gerados pelo crescente ganho de peso dos últimos anos.

Diferentemente dos medicamentos para emagrecer dos anos 1990, lançados no mercado sem testes de longo prazo e com pouco ou nenhum resultado duradouro, esta nova geração promete perdas significativas e mais segurança. Saem de cena as anfetaminas e inibidores de apetite e entram as medicações nas quais emagrecer é só um dos benefícios, uma vez que o objetivo inicial é tratar diabetes, hipertensão, colesterol alto, entre outros fatores que ajudam a reduzir doenças cardiovasculares.

Liberado pela Anvisa, a injeção de Wegovy contém semaglutida, o mesmo princípio ativo do Ozenpic, remédio injetável de menor dosagem empregado para o tratamento da diabetes tipo dois, e do Rybelsus, também para diabetes, mas de via oral.

A diferença do Wegovy é o emprego específico no tratamento da obesidade e sobrepeso, sendo uma opção também para os mais jovens. Também pode ser receitado para pacientes cujo emagrecimento significa controle de comorbidades como hipertensão, diabetes e dislipidemia.

A nova medicação é de uso semanal e ainda não está à venda. “Ainda tem que cumprir um caminho regulatório para que a medicação chegue ao mercado. O uso atualmente para o tratamento da obesidade é ‘off label’ [fora das condições aprovadas na bula]”, afirma Miranda.

Além do controle da glicose, ideal para pacientes com diabetes tipo dois, o Wegovy ajuda a tratar a vontade de comer excessivamente, reduzindo a ingestão calórica ao longo do dia e, com isso, o peso.

“A semaglutida tem ação sobre a regulação da função do trato gastrointestinal, atrasando a velocidade do esvaziamento do estômago. Também atua na modulação da secreção da insulina pelas células pancreáticas e age centralmente aumentando a percepção de saciedade no hipotálamo”, diz o presidente da SBEM.

Miranda divide a linha temporal dos emagrecedores em antes e depois das regulamentações americanas para medicamentos do tipo nos anos 2000. “As teorias farmacológicas para a obesidade já tiveram múltiplos campos de estudo. Até a década de 1990, nós tínhamos medicações lançadas no mercado baseadas em estudos de curta duração e que não traziam, muitas vezes, estudos de eficácia e segurança, sobretudo cardiovascular.”

Fundadora do Ambulatório Clínico de Obesidade Severa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP), a endocrinologista Alessandra Rascovski está otimista, pois a nova geração de remédios se mostra segura para uso a longo prazo (necessário em casos de obesidade).

“Uma doença crônica na maioria das vezes se trata com medicação crônica. Infelizmente, as pessoas tomam um pouco, emagrecem e depois param. Só que a gente também sabe que a intensidade dos efeitos colaterais piora se você ficar usando de modo intermitente, começa e para”, diz ela.

Os novos medicamentos, segundo ela, trazem incômodos apenas da ordem gastrointestinal, sem riscos vasculares ou para saúde mental, por isso são mais viáveis para uso contínuo. Outra vantagem é agirem em centros de dopamina, que regulam o desejo de comer compulsivamente.

Rascovski, que também é médica do Hospital Israelita Albert Einstein, diz que as medicações dos anos 1990 traziam mais danos que benefícios ao tratamento de obesidade.

“Peguei a época das chamadas ‘bolinhas para emagrecer’, que na verdade eram os derivados de anfetamina. Os efeitos colaterais eram principalmente de alteração de humor e comportamento, e os indivíduos pré-dispostos a quadros psiquiátricos acabavam ficando mais vulneráveis.”

A segunda leva, já na entrada dos anos 2000, foram os adrenérgicos, como a sibutramina, ainda utilizados, mas com riscos. “Quem toma a sibutramina tem que assinar termo de responsabilidade. Quem está com hipertensão descompensada não pode usar”, afirma Rascovski.

Outro é o Orlistate, porém seu resultado de emagrecimento é considerado baixo, em torno de 5% a 6% do peso.

“Ele inibe a absorção da gordura do que a gente comeu na dieta. Quando foi lançado, deu muito problema porque, como era vendido sem receita, as pessoas tomavam e iam comemorar na churrascaria e soltava demais o intestino, [mas] ele tem um uso interessante, principalmente para pessoas com colesterol alto, porque acaba tratando as duas coisas”, diz a médica.

No ano passado, a Anvisa liberou o Contrave, uma combinação de bupropiona com naltrexona, que está na fase de liberação comercial, como o Wegovy.

Rascovski destaca ainda que muito do que foi conquistado hoje em termos de medicações deriva do conhecimento obtido pelo tratamento cirúrgico.

“É o quanto se aprendeu com cirurgia bariátrica. A perda de peso que acontecia com ela era mais rápida, e a melhora metabólica também. Níveis de glicemia, de insulina, de colesterol… simplesmente porque a pessoa perdeu quilos e diminuiu a ingestão. E aí começou a se estudar bastante as incretinas ou os hormônios gastrointestinais que regulam fome e saciedade”, diz ela.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

BAGUNÇA PIORA HUMOR E PODE SER SINAL DE CRISE NA SAÚDE MENTAL

Desordem é resultado de exaustão física emocional. Especialistas dão dicas de estratégias para deixar a casa arrumada

O chão é praticamente invisível, pois há roupas espalhadas por todo lado. Quatro grandes cestos de plástico estão empilhados uns sobre os outros, alguns cheios de roupas, outros de eletrônicos. Há oito xícaras de café abandonadas na escrivaninha e na mesinha de cabeceira. No chão estão duas garrafas de água meio vazias, uma garrafa de tequila com um cacto de vidro dentro e um dispensador de ração para animais de estimação. Este é o “depression room” (“cômodo da depressão”, em tradução livre do inglês) de Abegael Milot, uma youtuber de 24 anos. Ela se propôs a arrumá-lo, e decidiu gravar o processo e compartilhá-lo no site de vídeos.

O termo é relativamente novo, e se popularizou por vídeos no TikTok e no YouTube que acumulam centenas de milhões de visualizações. Mas os especialistas há muito reconhecem a ligação entre bagunça e saúde mental. A desordem que pode se acumular quando as pessoas estão passando por uma crise nesse campo não é uma forma de acumulação, nem o resultado de preguiça. O culpado é a fadiga extrema, afirma N. Brad Schmidt, diretor da Clínica de Ansiedade e Saúde Comportamental da Universidade Estadual da Flórida.

“Muitas vezes, as pessoas estão tão exaustas física e mentalmente que não sentem que têm energia para cuidar de si mesmas ou de seus arredores. Elas simplesmente não têm a capacidade de se envolver com a limpeza e manutenção da casa como provavelmente já fizeram”, diz Schmidt.

Uma casa bagunçada também pode contribuir para sentimentos de opressão, estresse e vergonha, fazendo você se sentir pior do que já se sente. E, embora a organização não cure sua depressão, ela pode melhorar seu humor. Se você está lutando e parece impossível manter seu ambiente organizado, aqui estão algumas dicas sobre como limpar estrategicamente para otimizar sua energia e seu espaço.

FOQUE NA FUNCIONALIDADE

KC Davis, terapeuta e autora do livro “How to keep house while drowning”(“Como manter a casa enquanto se afoga”, em tradução livre do inglês), conta que seu problema de desordem aumentou quando seu segundo filho nasceu no início de 2020. Ela afirma que sempre foi “bagunceira”, mas que sua bagunça era funcional. De repente, confrontada com um novo bebê, depressão pós-parto e uma pandemia, Davis percebeu que estava perdida por não ter nenhum sistema de organização. Enquanto trabalhava para organizar sua casa, Davis começou a postar vídeos de seu progresso no TikTok, onde agora tem 1,5 milhão de seguidores. Em meio a uma grande quantidade de conteúdo sobre autoajuda e limpeza, ela optou por uma abordagem mais gentil e pragmática. Suas dicas são realistas sobre suas capacidades e se concentram em ter um espaço habitável, não impecável.

Uma de suas estratégias mais populares é “arrumar cinco coisas”, a ideia de que há apenas cinco categorias de coisas em qualquer cômodo: lixo, pratos, roupas, coisas com lugar e coisas sem lugar. Concentrar-se em uma categoria por vez evita que ela fique sobrecarregada quando parece que há uma centena de itens diferentes que precisam ser guardados. Davis também é uma grande defensora do que chama de “deveres do fim do dia”. Sem disposição de arrumar a cozinha inteira toda noite, começou a fazer só algumas pequenas tarefas pensando no que seria útil na manhã seguinte.

“Afastei-me dessa ideia de que tinha que ser tudo ou nada e comecei a pensar apenas no que era útil quando se tratava de limpeza”, afirma. “Quando penso em “do que vou precisar amanhã de manhã?” posso ser específica.”

Ela, por exemplo, prioriza ter pratos limpos e espaço suficiente no balcão para preparar o café da manhã, esvaziar o lixo e varrer as migalhas.

“O que parece uma tarefa grande e interminável é, na verdade, apenas 20 minutos do meu dia”, conclui.

FAÇA SUA CASA TRABALHAR MELHOR PARA VOCÊ

As pessoas que são neurodivergentes, com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo ou outros problemas de funcionamento executivo, também costumam lutar contra o excesso de desordem. Assim como “depression room”, o termo “doom piles” (“pilhas de desgraça”, em tradução livre do inglês) tornou-se popular nas redes sociais para descrever as coisas aleatórias que se acumulam e você não sabe o que fazer com elas.

Lenore Brooks, designer de interiores especializada em trabalhar com pessoas neurodivergentes, percebeu que quase não havia nenhum recurso para ajudar adultos com TDAH ou autismo no breve período em que sua irmã, com o primeiro transtorno, foi morar com ela.

Grande parte de seu trabalho gira em torno de ajudar seus clientes a lidar com a desordem aparentemente interminável: eles sentem que estão constantemente limpando, mas a bagunça está sempre lá. As pessoas com TDAH lutam especialmente com isso porque “é quase como uma fadiga de decisão o tempo todo”, diz. O pensamento é que “se não consigo decidir o que fazer com isso, então simplesmente não vou fazer nada”.

O primeiro passo, diz Brooks, é prestar atenção aos itens que você costuma limpar. Em seguida, encontrar os melhores lugares para eles ficarem:

“(É preciso) descobrir por que as coisas estão onde estão, por que a bagunça se acumula onde está e, em seguida, mudar a organização em torno de como as pessoas estão realmente usando sua casa.”

Essas mudanças podem ser simples. Por exemplo, se você sempre retira canetas das almofadas do sofá e da mesa de centro, pense em destinar um local para manter as canetas na sala onde você está realmente as usando.

OUTROS OLHARES

CÂNCER DE INTESTINO SE TORNA MAIS COMUM ANTES DOS 50 ANOS

Cantora Preta Gil revelou caso nesta semana. Estilo de vida ligado a alimentação e sono, além da qualidade dos exames, explicam maior prevalência

A cantora Preta Gil, de 48 anos, publicou em seu perfil no Instagram esta semana um comunicado informando que foi diagnosticada com um câncer no intestino. Em agosto, a cantora Simony, de 46 anos, também identificou a doença na mesma região. A ocorrência desse tipo de câncer em pacientes com menos de 50 anos é vista pela medicina como de início precoce e tem se tornado cada vez mais comum.

Um estudo feito no ano passado pela Universidade Harvard (EUA), publicado na revista científica Nature Reviews Clinical Oncology, mostrou que mesmo os cânceres que comumente eram diagnosticados em pessoas mais velhas, como os de intestino, mama, estômago e pâncreas, têm crescido entre pacientes com menos de 50 anos. Essas informações foram reafirmadas em um outro estudo, britânico, publicado na British Journal of Cancer.

Após revisar os registros de câncer de 44 países, os cientistas de Harvard identificaram que essa incidência de início precoce está aumentando rapidamente em muitos países de renda média a alta, o que indica que não se trata de uma questão de falta de recursos.

ESTILO DE VIDA

Entre os possíveis motivos, o estudo aponta o estilo de vida da sociedade, que mudou consideravelmente nas últimas décadas. Sedentarismo, consumo de alimentos ultraprocessados, obesidade, distúrbios no sono e poluição ambiental estão entre os hábitos que favorecem o surgimento da doença e são mais comuns hoje que há 50 anos.

Além disso, o uso de tecnologias mais precisas na detecção de tumores sensíveis, como os de tireoide, pode estar contribuindo para o diagnóstico precoce de cânceres que se alastram lentamente.

Nas últimas semanas, o câncer do cólon também foi a causa de morte dos ex-jogadores de futebol Pelé, aos 82 anos, e Roberto Dinamite, aos 68 anos.

INCIDÊNCIA

O câncer de intestino, que pode ser de cólon ou reto, é um dos mais incidentes no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), logo atrás dos de pele, mama e próstata.

Apesar de a incidência ser semelhante em homens e mulheres, a mortalidade, segundo o Inca, varia de 8,4% dos casos em pacientes do sexo masculino a 9,6% no sexo feminino.

A doença é mais comum entre os 60 e os 65 anos e o intestino grosso é o órgão mais afetado. Tem tratamento, na maioria dos casos, e é curável se detectado precocemente, principalmente quando ainda não atingiu outros órgãos. Os tumores chamados adenocarcinoma, mesmo tipo que foi diagnosticado em Preta Gil, são o mais comuns.

Na maioria dos casos, o câncer começa com uma pequena lesão ou ferida no intestino, um pólipo (verruga), que não resulta em sintomas. É comum que os sintomas surjam apenas quando a lesão está avançada e obstruindo o intestino, dificultando a passagem das fezes, ou se aprofundando nas camadas do órgão, causando dores. A colonoscopia é o principal exame para detectar pólipos ou tumores.

SINTOMAS

Os sintomas do câncer de cólon podem variar muito de paciente para paciente e dependem, principalmente, da fase em que a doença está, aponta Ricardo Carvalho, médico oncologista da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Geralmente, são desconfortos abdominais, sangramento nas fezes, alteração no tamanho das fezes (muito finas, por exemplo), mudanças na frequência de ir ao banheiro e constipação. Dores abdominais fortes, redução de peso, fadiga e vômitos podem aparecer em casos mais agravados. “Em muitos casos, principalmente quando a doença está em fase inicial, não há sintomas aparentes ou eles são muito leves”, diz o médico, reforçando a importância dos exames de rotina para detectar a doença.

OUTROS OLHARES

DESPROTEGIDOS

Medo e falta de estrutura impedem pais de vacinar filhos no Brasil, revela estudo

Os pais brasileiros que não vacinaram seus filhos tomaram a decisão principalmente por conta da pandemia (24,5%), do medo de reações adversas (24,4%) e da não recomendação da imunização por um médico ou profissional de saúde (9,2%). Os dados são do Inquérito de Cobertura Vacinal e Hesitação Vacinal no Brasil, um projeto do Ministério da Saúde para avaliar como está a vacinação infantil no país.

Os resultados do estudo foram apresentados ontem durante live realizada pela Educa VE, fruto de uma parceria entre a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).

A mais recente edição do estudo, cujos resultados preliminares foram apresentados ontem, foi realizada entre 2020 e 2021. Pela primeira vez, a pesquisa não apenas analisou a proporção de crianças que efetivamente completaram o esquema de vacinação recomendado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) até completarem 24 meses como também buscou entender os fatores que influenciam a hesitação vacinal.

Foram incluídas crianças nascidas em 2017 e 2018, residentes em áreas urbanas das capitais brasileiras e do Distrito Federal. Entre mais de 31 mil entrevistas realizadas, a maioria dos pais ou responsáveis acredita que a vacinação infantil é importante e confia nos imunizantes distribuídos pelo PNI. No entanto, 3% dos entrevistados disseram que não levaram os filhos para receber uma ou mais vacinas.

IMPACTO NA COBERTURA

Embora o índice seja baixo, a epidemiologista Carla Do- mingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), lembra que o número já é suficiente para impactar negativamente as metas de imunização do Ministério da Saúde, que ficam em torno de 90 a 95%.

Há ainda pais que disseram ter levado seus filhos ao posto, mas enfrentaram dificuldade no processo. As principais adversidades relatadas foram: o fato de o local ficar longe da residência ou do endereço de trabalho, seguido por falta de tempo, horário inadequado de funcionamento e falta de transporte.

Houve também casos de pais que levaram a criança ao posto de vacinação e, mesmo assim, ela não foi vacinada. O principal motivo foi a falta de doses, apontado por 44,1% dos pais; em seguida, vêm os casos em que a sala de aplicação estava fechada (10,8%) e a contraindicação da administração da vacina pelo profissional de saúde (7,9%).

“Essa pesquisa mostra que o modelo de vacinação que funcionou muito bem na década de 1980 não funciona mais, e isso provavelmente também está acontecendo em outras áreas da atenção primária à saúde. Precisamos repensar esse modelo para elevar a taxa de cobertura vacinal”, diz Domingues.

A necessidade de campanhas de comunicação para levar informação qualificada aos pais, melhorias na operação das unidades de saúde e na educação dos profissionais sobre a importância da vacinação foram citados como os principais pontos a serem trabalhados para elevar a adesão à vacinação infantil.

O Inquérito de Cobertura Vacinal mostrou que apenas 60% dessas crianças completaram o esquema de vacinação recomendado pelo Ministério da Saúde até os 2 anos de idade. Nesse período da vida, as crianças devem receber de 22 a 23 doses de diferentes vacinas. A diferença no número depende da região de residência da família. Em alguns locais, a vacinação contra febre amarela é obrigatória, enquanto em outros, não.

Diversos estudos publicados nos últimos anos apontam para sucessivas quedas nas coberturas vacinais no Brasil, mas, segundo Domingues, esse trabalho é o que traz o dado mais próximo da realidade, já que os pesquisadores de fato vão até a casa das crianças e coletam informações das cadernetas.

“Em comparação com 2005, quando foi feito o último Inquérito, há diminuição da cobertura vacinal. Em nenhuma vacina, atingimos a meta estabelecida pelo PNI”, alerta a epidemiologista.

A maior cobertura vacinal foi verificada entre famílias com renda familiar de R$ 3.001 a R$ 8 mil e com 13 a 15 anos de escolaridade. Já a menor está entre aquelas que ganham até R$ 1 mil por mês e têm até oito anos de estudo.

DESINFORMAÇÃO

A pesquisa revelou que 16% dos brasileiros consideram desnecessário aplicar nos filhos vacinas contra doenças que já estão controladas no país. O problema é que o principal risco da queda da cobertura vacinal é justamente o retorno de infecções consideradas eliminadas ou controladas no país, como a poliomielite.

A cobertura para a terceira dose da vacina de pólio, por exemplo, ficou em 88%. Já a taxa da segunda dose da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, ficou em apenas 82%. Essa vacina, em conjunto com o primeiro reforço da vacina meningocócica C, foi a que teve menor cobertura no período avaliado.

O estudo revela que a adesão à vacinação infantil cai ao longo do tempo. As coberturas são maiores para vacinas aplicadas no nascimento e diminuem à medida que a criança vai crescendo. Segundo os pesquisadores, os dados são importantes para desenhar estratégias contra a queda de cobertura vacinal.

GESTÃO E CARREIRA

TECNOLOGIA – COMO MELHORAR A EFICIÊNCIA NO NOVO MUNDO DO TRABALHO

Em organizações modernas, a eficiência dos funcionários é tão importante quanto a sua produtividade

Embora esses termos sejam frequentemente vistos como sinônimos, eles capturam fenômenos diferentes. Por definição, a produtividade mede quanto trabalho um colaborador realiza, enquanto a eficiência refere-se à capacidade deste fazer mais em menos tempo e com menos recursos.

Portanto, executivos que se concentram em apenas um aspecto podem estar perdendo uma parte crucial da experiência do colaborador e dificultando sua capacidade de inovar. Cerca de metade dos funcionários relatam gastar duas horas ou mais em tarefas repetitivas, de acordo com o relatório Formstack 2022 State of Digital Maturity.

Outra pesquisa, encomendada pela ServiceNow, indica que 66% dos brasileiros gostariam que seu trabalho fosse mais significativo – sendo que 95% dos respondentes disseram esperar que a tecnologia ajude a reduzir este trabalho operacional no futuro. Ou seja, quando um trabalhador passa horas participando de reuniões e respondendo e-mails, ele pode sentir que nada está sendo feito.

Assim, ainda que seja produtivo, ele não é necessariamente eficiente, já que a conclusão de tarefas às vezes exige etapas desnecessárias: como representar obstáculos evitáveis ou forçar os trabalhadores a procurar ajuda ou aprovação de equipes externas, como engenharia ou recursos humanos (RH). Por outro lado, a maioria dos executivos (80%) está aberta a mudar os principais processos do local de trabalho, como estrutura e cadência de reuniões, para evitar perder tempo com atividades inúteis, descobriu a McKinsey. O problema, dizem os executivos, é que seus processos atuais muitas vezes criam silos e promovem uma comunicação deficiente.

Tal ineficiência tem consequências além dos prazos perdidos e do atraso no lançamento de produtos como o desgaste e a redução do ânimo dos funcionários. Um exemplo é o da empresa sueca aeroespacial e de defesa Saab, que usou o ServiceNow Enterprise Onboarding and Transitions para digitalizar seu processo de integração antes  baseado em papel, economizando 12.000 horas por ano e aumentando a satisfação dos funcionários em 25%.

Os fluxos de trabalho automatizados conectaram os departamentos e funções envolvidos na integração, para que os novos contratados pudessem utilizar todas as ferramentas, serviços e informações de que precisam para se manterem engajados desde seu primeiro dia. Além disso, a eficiência pode impulsionar o engajamento por meio da tecnologia com a criação de landing pages pelos times de marketing.

Tradicionalmente, as equipes de marketing necessitam da ajuda das equipes de desenvolvimento para garantir o funcionamento no back-end. Agora, com o uso de inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (ML), esse processo se transforma em um fluxo de trabalho rápido e repetível, capaz de ser automatizado. Aumentar a eficiência dos funcionários, nesse contexto, é benéfico tanto para as empresas quanto para os funcionários. Ao permitir um trabalho mais eficiente, as organizações podem promover a inovação e, ao mesmo tempo, ajudar as pessoas a fazer o trabalho de que gostam.

Fonte e mais informações: (https:// www.servicenow.com/solutions/employee-experience/employee-productivity.html.

EU ACHO …

A MODERNIDADE TOSSE

Não é possível existir sem ser incomodado e sem incomodar os outros. Da mesma forma, trilha um caminho tenso quem decide manifestar tudo o que altera sua paz e agride seus valores.

Ao meu lado, no avião, alguém tosse, sem máscara e sem qualquer proteção. Mundo pós-pandêmico… Será? Posso calar-me, como fiz, em mais de três horas, de São Paulo a Belém, vendo a expectoração úmida e forte da pessoa ao meu lado, ou posso pedir que coloque uma máscara, adquira um lenço e evite voar quando estiver encarnando a Dama das Camélias tísica? Devemos aguentar o incômodo calados ou devemos arriscar uma discussão?

As pessoas falam (muito) no cinema e parecem estar assistindo a um filme na sala das suas casas. Os que possuem mochilas às costas movem-se no transporte público sem considerarem a situação de “dromedários temporários” com corcova beligerante. Há quem escute música, ou veja vídeos no celular, indiferentemente à maravilha do fone de ouvido, descoberta extraordinária, que tem até opções muito econômicas para fácil aquisição. Um mundo de gente isolada nas suas telas. Sumiu a distinção do público e do privado, e todos deslizam pela cidade como se fossem uma espécie de Robinson Crusoé em ilha deserta.

Quem notou a escolha entre o incômodo e o outro incômodo, entre suportar em silêncio ou tentar advertir, foi o próprio Hamlet, no seu monólogo mais famoso. Ele perguntou (ato 3, cena 1): “Pode ser mais nobre suportar as flechadas da fortuna ou enfrentar tudo?”. Se ele, príncipe bem-nascido, estava atormentado com a dúvida entre tolerar calado ou agir, imaginemos nós, mortais sem segurança e diluídos no mar de gente?

Posso estar errado, generalizando, porém vejo que há sociedades em que a reclamação é mais fácil. Exemplo? Espanhóis e alemães, habitualmente, são diretos em dizer o que os incomoda. Sou brasileiro e sei que nossa estrutura de linguagem é cheia de sinuosidades, para evitar atrito direto. Falar “brasileiro”, sem sotaque, é aprender a matizar o não com mil voltas. A negativa, em Madri ou Berlim, é o caminho mais curto entre dois pontos. No Brasil, a estrada vicinal é a preferida.

Seria melhor ser mais direto, expressando com clareza que alguém está ultrapassando um limite civilizacional? Nunca descobri a resposta adequada.

Meu vizinho acometido de tosse forte continua manifestando ao mundo a força dos seus brônquios obstruídos. A arte da vida é tentar focar no que vale a pena. O espaço privado? Faleceu há alguns anos e repousa no campo santo da modernidade líquida. Esperança de ressurreição?

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

SUPERPODER DO CORPO: SAIBA POR QUE SUAR FAZ BEM

Recurso do corpo para regular a temperatura, ele ainda evita complicações no metabolismo; em excesso, pode ser necessário tratamento

É comum que o corpo comece a transpirar em dias muito quentes, durante a prática esportiva ou mesmo em momentos de nervosismo. Pode ser na palma das mãos, na sola dos pés, nas axilas ou na testa, junto ao couro cabeludo. O suor, que pode ser considerado um problema para algumas pessoas – seja por deixar manchas na roupa ou pelo cheiro desagradável –, na realidade é uma espécie de “superpoder do corpo humano”.

É graças ao suor eliminado pelas glândulas sudoríparas que a temperatura do corpo é regulada. Isso evita, por exemplo, complicações no funcionamento do metabolismo humano, conforme explica, a seguir, Everardo Carneiro, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

POR QUE TRANSPIRAMOS?

Segundo o especialista, há uma tendência ao aumento da temperatura corporal interna durante as atividades metabólicas, que pode representar um problema quando essa temperatura ultrapassa 36 graus Celsius. Com a transpiração, porém, o corpo sofre um processo de resfriamento natural, que põe o calor para fora, reduz a temperatura corporal e permite que as atividades metabólicas ocorram sem maiores complicações.

“Esse processo é chamado de sudorese”, explica Carneiro, que ressalta outras formas de perda de calor: a convecção e a respiração. No primeiro caso, ao entrar em contato com a superfície da pele, as correntes de ar retiram calor do corpo – que costuma estar mais quente do que a temperatura externa. Com a respiração o processo é parecido. “É um mecanismo de troca do ar mais quente que está no pulmão pelo ar mais frio, que está no ambiente externo”, explica. Isso ocorre durante as atividades físicas quando a frequência respiratória é mais intensa no processo de aumentar as trocas de ar e resfriar o corpo.

Porém, alguns pontos colocam a sudorese como o mecanismo mais importante, em especial em países tropicais como o Brasil. Quando a temperatura do ambiente é maior que a temperatura interna do corpo (acima de 36 graus) a convecção e a respiração não são suficientes para o corpo perder calor. “Assim, a única forma é por meio da transpiração”, diz.

DE ONDE VEM O MAU ODOR?

O suor é formado, quase em sua totalidade, por água. “Além disso, estão presentes sais, como sódio e potássio, e pequenas substâncias que por ventura estão no sangue e que a glândula sudorípara consegue mandar para fora do organismo”, descreve Carneiro.

Por isso, o cheiro desagradável não vem do suor. Na verdade, é resultado da interação do suor com bactérias e fungos que vivem na pele.

Quando o suor é eliminado, ele se mistura ao resíduo de células mortas da pele, na qual vivem microrganismos que delas se alimentam – e da umidade do suor. A pele, então, se torna um ambiente perfeito para que fungos e bactérias se desenvolvam. “E isso produz algum odor, que pode incomodar as pessoas.”

QUANDO O SUOR SE TORNA UM PROBLEMA?

Suar é um processo natural e fundamental para o organismo. Mas, quando em excesso e sem estar associado ao aumento da temperatura corporal, pode ocasionar situações desconfortáveis. “É o que chamamos de hiperidrose”, explica Marcelo Arnone, dermatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Isso faz com que a pessoa fique constrangida ou porque fica com a mão molhada ou porque precisa enxugar com frequência o suor da testa”, explica.

Nesses casos, o que acontece é que as glândulas sudoríparas recebem mensagem do sistema nervoso autônomo simpático para liberar o suor mesmo quando não há aumento da temperatura do corpo. Arnone diz que não é possível saber ao certo as causas dessa desregulação. Por isso, os tratamentos contra hiperidrose apostam no controle do suor em excesso e não em fatores que os causam.

COMO CONTROLAR O SUOR EM EXCESSO?

Uma das opções é o uso de antitranspirantes, que agem sob as glândulas sudoríparas bloqueando o suor. “O estímulo do sistema nervoso continua existindo, mas a glândula não libera suor em excesso porque está sob ação de um produto”, explica. Esses produtos podem ser utilizados tanto nas axilas como na palma das mãos ou nas solas dos pés. Em geral, aplicados à noite, antes de dormir.

Outro tratamento é a aplicação de toxina botulínica – a mesma utilizada no tratamento de rugas de expressão –, que tem uma ação local na região das glândulas sudoríparas. “O efeito da toxina é temporário, dura entre seis e dez meses. Por isso, é necessária a reaplicação.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

USO DE REDES MUDA CÉREBRO DOS JOVENS

Estudo mapeia mudanças no cérebro de adolescentes e se junta a pesquisas crescentes sobre o assunto

O efeito do uso das redes sociais nas crianças é uma área de pesquisa repleta de desafios, pois pais, mães e legisladores vêm tentando observar os resultados de um vasto experimento já em pleno andamento. Estudos sucessivos acrescentam peças ao quebra-cabeça, detalhando as implicações de um fluxo quase constante de interações virtuais que começam na infância.

Um novo estudo realizado por neurocientistas da Universidade da Carolina do Norte tenta algo novo, realizando sucessivas varreduras cerebrais em adolescentes do ensino médio entre 12 e 15 anos, um período de desenvolvimento cerebral especialmente rápido.

Os pesquisadores descobriram que as adolescentes que, por volta dos 12 anos de idade, já verificavam habitualmente seus feeds de redes sociais apresentaram uma trajetória particular, com sua sensibilidade às recompensas sociais dos colegas aumentando com o tempo. Os adolescentes com menos engajamento nas redes sociais, por sua vez, seguiram o caminho oposto, com uma queda no interesse por recompensas sociais.

O estudo, publicado neste mês na revista científica JAMA Pediatrics, está entre as primeiras tentativas de capturar mudanças na função cerebral correlacionadas ao uso das redes sociais ao longo de anos.

O estudo tem limitações importantes, reconhecem os autores. Como a adolescência é                                                 um período de expansão das relações sociais, as diferenças cerebrais podem refletir uma mudança natural em relação aos colegas, o que pode levar ao uso mais frequente das redes sociais.

“Não podemos fazer alegações causais de que as redes sociais estão mudando o cérebro”, disse Eva H. Telzer, professora associada de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, e uma das autoras do estudo.

Mas, acrescentou ela, “os adolescentes que verificam habitualmente suas redes sociais estão mostrando essas mudanças bastante dramáticas na maneira como seus cérebros reagem, o que pode ter consequências de longo prazo na idade adulta, preparando o terreno para o desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo”.

PADRÕES

Uma equipe de pesquisadores estudou um grupo etnicamente diverso de 169 alunos da sexta e sétima séries de uma escola no interior da Carolina do Norte, dividindo- os em grupos de acordo com a frequência com que relataram checar os feeds de Facebook, Instagram e Snapchat.

Por volta dos 12 anos, os alunos já apresentavam padrões distintos de comportamento. Usuários habituais relataram verificar seus feeds 15 ou mais vezes por dia; usuários moderados verificavam entre uma e 14 vezes; usuários não habituais checavam menos de uma vez por dia.

Os sujeitos receberam varreduras cerebrais completas três vezes, em intervalos de aproximadamente um ano, enquanto jogavam um jogo de computador que oferecia recompensas e punições na forma de colegas sorridentes ou de cara fechada.

Ao realizar a tarefa, os usuários frequentes mostraram ativação crescente de três áreas do cérebro: circuitos de processamento de recompensas, que também respondem a experiências como ganhar dinheiro ou comportamentos de risco; regiões cerebrais que determinam a saliência, captando o que se destaca no ambiente; e o córtex pré-frontal, que ajuda na regulação e controle. Os resultados mostraram que “os adolescentes que crescem verificando as redes sociais com mais frequência es- tão se tornando hipersensíveis ao feedback de seus colegas”, disse Telzer.

As descobertas não capturam a magnitude das mudanças cerebrais, apenas sua trajetória. E não está claro, disseram os autores, se as mudanças são benéficas ou prejudiciais. A sensibilidade social pode ser adaptativa, mostrando que os adolescentes estão aprendendo a se conectar com os outros, ou pode levar à ansiedade social e à depressão se as necessidades sociais não forem atendidas.

Pesquisadores no campo das redes sociais alertaram contra tirar conclusões radicais com base nas descobertas. “Os estudos estão mostrando que a maneira como você usa as redes em determinado momento da vida influencia o modo como seu cérebro se desenvolve, mas não sabemos quanto, nem se é bom ou ruim”, disse Jeff Hancock, diretor fundador do Stanford Social Media Lab, que não esteve envolvido no estudo. Ele disse que muitas outras variáveis podem ter contribuído para essas mudanças.

“E se essas pessoas entrassem em um time – um time de hóquei ou de vôlei, por exemplo – e começassem a ter muito mais interação social?”, disse ele. Pode ser, acrescentou, que os pesquisadores estejam “identificando o desenvolvimento da extroversão, e os extrovertidos são mais propensos a verificar suas redes sociais”.

Ele descreveu o artigo como “um trabalho muito sofisticado”, que contribui para pesquisas recentes que mostram que a sensibilidade às redes sociais varia de pessoa para pessoa.

“Algumas pessoas têm um estado neurológico que significa que são mais propensas a serem atraídas para entrar nas redes com frequência”, disse ele. “Não somos todos iguais e precisamos parar de pensar que as redes sociais são iguais para todos”.

COMUNICAÇÃO

Na última década, as redes sociais transformaram as experiências centrais da adolescência, um período de rápido desenvolvimento do cérebro.

Quase todos os adolescentes americanos se comunicam por meio das redes sociais, com 97% acessando a internet todos os dias e 46% relatando que estão online “quase constantemente”, de acordo com o Pew Research Center. Adolescentes negros e latinos passam mais horas nas redes sociais do que os brancos, mostraram pesquisas.

Os pesquisadores documentaram uma série de efeitos na saúde mental das crianças. Alguns estudos relacionaram o uso de redes sociais com depressão e ansiedade, enquanto outros encontraram pouca conexão.

Um estudo de 2018 com adolescentes lésbicas, gays e bissexuais descobriu que as redes sociais forneciam validação e apoio, mas também os expunham ao discurso de ódio.

Especialistas que analisaram o estudo disseram que, como os pesquisadores mediram o uso de rede social dos alunos apenas uma vez, por volta dos 12 anos, era impossível saber como isso mudou ao longo do tempo ou descartar outros fatores que também podem afetar o desenvolvimento do cérebro.

DESAFIO

Sem mais informações sobre outros aspectos da vida dos alunos, “é um desafio discernir como as diferenças específicas no desenvolvimento do cérebro se relacionam com o uso das redes sociais”, disse Adriana Galvan, especialista em desenvolvimento do cérebro adolescente na Universidade da Califórnia em Los Angeles, que não esteve envolvida no estudo.

Jennifer Pfeifer, professora de Psicologia na Universidade de Oregon e codiretora do Conselho Científico Nacional de Adolescência, disse: “Toda experiência se acumula e se reflete no cérebro”. “Acho que nós temos de colocar as coisas nesse contexto”, disse ela. “Muitas outras experiências que os adolescentes têm também vão mudar os seus cérebros. Portanto, não vamos entrar em pânico moral com a ideia de que o uso das redes sociais está mudando o cérebro dos adolescentes”, acrescentou.

Telzer, uma das autoras do estudo, descreveu a crescente sensibilidade ao feedback social como um elemento que pode ser considerado “nem bom nem ruim”. “As redes estão ajudando os adolescentes a se conectar com outras pessoas e obter recompensas das coisas que são comuns em seu mundo social, que é se envolver em interações sociais online”, afirmou a especialista.

“Este é o novo normal”, acrescentou ela. “Entender como esse novo mundo digital está influenciando os adolescentes é importante. Pode ter a ver com alterações no cérebro, para o bem ou para o mal. Ainda não sabemos necessariamente as implicações a longo prazo”.

JOVENS FORAM SUBMETIDOS A VARREDURAS CEREBRAIS

MÉTODO

Cerca de 170 alunos da sexta e sétima séries tiveram sua frequência de checagem de feeds em sites e apps como Facebook, Instagram e Snapchat submetidas a análise. Eles receberam varreduras cerebrais completas três vezes, em intervalos de aproximadamente um ano.

RESULTADOS

Os resultados mostraram que os adolescentes que crescem verificando as redes sociais com mais frequência, apontam os pesquisadores, estão se tornando hipersensíveis ao feedback de seus colegas.

PONDERAÇÕES

As descobertas não capturam a magnitude das mudanças cerebrais, apenas sua trajetória. Não está claro, disseram os especialistas, se as mudanças são benéficas ou prejudiciais. A sensibilidade social, pontuam, pode ser adaptativa, mostrando que os adolescentes estão aprendendo a se conectar com os outros ou pode levar à ansiedade social e à depressão se as necessidades sociais não forem atendidas.

OUTROS OLHARES

CÂNCER EM USUÁRIOS DE VAPES SURGE 20 ANOS ANTES

Pesquisa mostrou que adeptos do cigarro eletrônico enfrentam risco de tumor precoce e problemas vasculares

Os danos à saúde causados pelo cigarro tradicional já são bem documentados. Há um aumento do risco de doenças pulmonares, cardiovasculares, além de diversos tipos de câncer. O cigarro eletrônico, por outro lado, ainda é visto como uma forma mais segura de tabagismo. Porém. uma pesquisa inédita, publicada na revista cientifica World Journal of Oncology, descobriu que usuários de vapes são diagnosticados com câncer quase 20 anos antes do que os fumante convencionais. Além disso, o uso desses dispositivos eleva o risco de tumores até mais do que o cigarro comum.

As versões eletrônicas dos cigarros têm ganhado espaço especialmente entre adolescentes e adultos jovens. Apesar dos casos documentados de Evali, uma síndrome respiratória aguda causada por esses dispositivos, os cientistas ainda sabem pouco sobre os riscos do uso dos vapes no longo prazo.

No novo trabalho, um equipe composta por pesquisadores de diversas universidades americanas analisou informações de 154.856 pacientes, coletadas entre 2015 e 2018. Destes, 5% eram usuários de cigarros eletrônicos, 31,4% eram fumantes tradicionais e 63,6% eram não fumantes. Foram fornecidos dados sobre o histórico de câncer e uso do vape.

Os resultados mostraram uma maior prevalência de uso de cigarro eletrônico entre os participantes mais jovens e do sexo feminino, em comparação com os fumantes tradicionais. Além disso, pessoas que usam vape foram diagnosticados com câncer em uma idade mais jovem – em média aos 45 anos, contra 63 entre os fumantes convencionais.

Em comparação com não fumantes, os adeptos do novo modelo apresentam um risco de  câncer 2,2 vezes maior. Para fator de comparação, o risco dos fumantes de cigarro tradicional, em comparação com quem não fuma é 1,96 vezes maior, ou seja menor do que o vape. Outro dado revelado pelo estudo americano é que os tumores mais comuns entre usuários de vape são diferentes daqueles observados em pessoas que fumam cigarro convencionais. Os cânceres mais comuns entre esse público foram cervical, leucemia, de pele e de tiroide.

Os riscos do cigarro eletrônico à saúde começam a aparecer em diversos estudos. Pesquisas recentes, financiadas pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), mostram efeitos prejudiciais do vape nos vasos sanguíneos. O uso prolongado desses aparelhos pode prejudicar significativamente o funcionamento circulatório, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.

IRRITAÇÃO E DANOS

Além disso, se a pessoa fumar cigarro tradicional e também o vape, o risco de problemas vasculares é consideravelmente maior do que o consumo desses produtos isoladamente. O estudo revelou que os danos nos vasos sanguíneos parece ser causado pela irritação das vias aéreas e não por algum componente específico do cigarro ou do vape.

“Ficamos surpresos ao descobrir que não havia um único componente que pudesse ser removido para interromper o efeito prejudicial da fumaça nos vasos sanguíneos. Enquanto houver um irritante nas veias aéreas, a função dos vasos sanguíneos pode ser prejudicada”, afirmou o pesquisador Matthew L. Springer, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco.

GESTÃO E CARREIRA

RETENÇÃO DE TALENTOS: UM DESAFIO PARA TODAS AS EMPRESAS

Caminhos que levam ao desenvolvimento de pessoa

Basta abrir o LinkedIn para ver muitos colaboradores felizes, falando sobre seus projetos de sucesso e comemorando seus resultados.

Isso enche qualquer gestor de orgulho, claro. Mas sabemos que as redes sociais são vitrines que nem sempre mostram o que acontece de verdade nos bastidores. E quando seu perfil no LinkedIn está bombando de posts positivos, mas sua pesquisa de satisfação interna diz o contrário, é sinal de que algo precisa melhorar.

Uma pesquisa realizada este ano pela empresa de gestão de RH com 294 gestores indicou que só 18% deles acreditam que a educação corporativa é prioridade; 32% afirmam que deve haver investimento nessa área em 2022 e 26,5% afirmaram que, apesar de ainda não ser prioridade, o tema está no planejamento para ser. Outro dado interessante é que só 9,5% responderam que são totalmente orientados por indicadores de RH.

E sobre diversidade, apenas 21% das companhias a consideram uma prioridade. São dados que mostram claramente como são conduzidas as ações com foco nas pessoas e as políticas de desenvolvimento, e como ainda há muito o que fazer para tornar as empresas mais produtivas, criativas e capazes de despertar o que os colaboradores têm de melhor.

Desenvolver pessoas significa trazer mais eficiência e aprimoramento dos times, e em muitos casos, se torna um diferencial competitivo. Isso porque, quando o colaborador está em uma empresa na qual ele enxerga potencial de desenvolvimento e de crescimento, e sente que seus valores estão alinhados aos da companhia, certamente sua entrega terá mais qualidade.

É a motivação que ele precisa para despertar o sentimento de realização profissional e pessoal, gerando para a empresa o tão sonhado engajamento. Dificilmente observamos ações consistentes nesse sentido. O que vemos são iniciativas que podemos considerar mais do mesmo, que podem solucionar questões pontuais em curto prazo, mas que não promovem uma percepção de pertencimento verdadeira, aquela que traz resultados notáveis e perenes.

Muitas companhias priorizam grandes investimentos em tecnologia de ponta, mas elas de nada adiantam se as pessoas que as operam não se sentem valorizadas, tampouco se identificam com os valores da empresa. Muitas nem mesmo possuem entendimento do objetivo da empresa com determinado produto, o que faz com que trabalhem de forma dissociada dos objetivos da empresa.

Por isso afirmo com segurança que as pessoas são o principal fator que definirá se uma empresa terá ou não sucesso: ao contar com colaboradores que não possuem um propósito maior, uma empresa estará longe de alcançar o máximo de sua produtividade.

Para estimular o desenvolvimento das pessoas, é necessário ter líderes preparados para a gestão – esse talvez seja um grande diferencial para alcançar o sucesso.

Além disso, é necessário também estruturar um plano de carreira, no qual o colaborador possa enxergar seu próximo passo dentro da companhia e o que ele precisa para chegar lá. Precisamos lembrar que o desenvolvimento de pessoas não depende apenas da empresa, é uma via de mão dupla, por isso estimular é essencial.

As empresas precisam ser mais transparentes, dar oportunidades, para que o colaborador perceba os benefícios de se preparar para novos desafios. Além de direcionamentos técnicos, por exemplo, sobre quais cursos fazer, existe o direcionamento social, profissional e o exemplo. Aqui, não cola a frase “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”!

Por isso, um dos principais fatores de sucesso do desenvolvimento de pessoas está relacionado à liderança. E outro ponto importante é investir em diversidade. Ela é um fator importantíssimo para o desenvolvimento de pessoas porque per- mite que todos tenham acesso a outras histórias de vida, outras realidades e novas perspectivas. Não há nada menos produtivo do que chegar a uma reunião e não nos depararmos com pontos de vista diferentes.

É preciso contar com um time diverso, que se respeite e consiga pensar junto com criatividade e parceria. O sucesso para o desenvolvimento de pessoas é empenho e dedicação. É também ter a certeza que os colaboradores estão em posições corretas, que seus valores estão alinhados ao da companhia e que eles possuem o desejo de se desenvolver naquela realidade. Isso é o que faz os posts do LinkedIn corresponderem à realidade.

CAROLINA CABRAL – É CEO da Nimbi – https://nimbi.com.br).

EU ACHO …

AMIGO DE SI MESMO

Em seu livro Quem pensas tu que eu sou?, o psicanalista Abrão Slavutzky reflete sobre a    necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como “Se o cigarro de García Márquez falasse”, “Somos todos estranhos” ou “A crueldade é humana”. Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha. Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirlimpimpim.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe- se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda pode haver quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutzky: “Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância.

Quem não consegue sozinho deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de dois mil anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CONHEÇA TODOS  OS BENEFÍCIOS DA QUINOA, CHAMADA DE SUPERALIMENTO

Rico em fibras, proteínas e ômega3e cálcio, grão pode desempenhar papel importante em diversos mecanismos do organismo

Saborosa e de alto valor nutricional, a quinoa é uma semente ancestral que vem da região andina e, na última década, diante da crescente demanda por alimentos saudáveis, se popularizou e faz parte da alimentação diária em muitas países do mundo. Era um dos alimentos básicos dos antigos incas, que o chamavam de “a mãe dos grãos”. Hoje é idolatrado por seus fãs devido às suas propriedades excepcionais.

“Tudo o que vem da terra, ou seja, que não contém conservantes ou é industrializado, vai trazer mais benefícios. Antigamente comia-se o que se colhia e, como nada continha aditivos ou processos que alterassem a alimentação, protegia-se a saúde”, afirma Marcos Apud, da Wellness Coach.

A quinoa vem conquistando cada vez mais adeptos e, aos poucos, ganhou espaço na culinária internacional devido aos seus múltiplos benefícios para a saúde. A nutricionista argentina Estela Mazzei destaca as vantagens de ser isenta de glúten, ideal para celíacos, e indicada para diabéticos por ter baixo índice glicêmico.

A especialista recomenda o consumo de quinoa por atletas, pois o alimento fornece energia a partir de macronutrientes, o que melhora o desempenho e a resistência e, por ser fonte de proteína, mantém a musculatura saudável, de acordo com a nutricionista.

Paralelamente, detalha, por ser rico em fibras, colabora com o bom funcionamento do sistema digestivo e ajuda a processar os alimentos de forma eficaz. Também ajuda a proteger o sistema cardiovascular porque “reduz o nível de colesterol ruim (LDL) no sangue”. Entre suas maiores virtudes está a reparação tecidual.

“A quinoa possui os nove aminoácidos essenciais, ou seja, aqueles que o corpo não consegue produzir sozinho e que são responsáveis por formar e restaurar as estruturas celulares dos músculos, pele, hormônios e enzimas para o metabolismo funcione corretamente”, afirma a especialista.

Nesse sentido, Silvina Tasat, nutricionista e membro titular da Associação Argentina de Nutrição, comenta que é uma boa opção “para quem segue uma dieta vegetariana ou vegana, porque pode incorporar proteínas completas presentes na carne”.

Além disso, é um produto nobre para a culinária, já que pode ser combinado em pratos quentes e frios, usada como acompanhamento e até mesmo como ingrediente em receitas doces.

Os fiéis seguidores de um estilo de vida saudável foram rápidos em incorporá-la em seus planos alimentares diários. Um deles, a renomada atriz de cinema Gwyneth Paltrow, recomenda o ingrediente em seu livro “The clean plate: Eat, reset, heal”. Lá, ela dá o passo a passo dos preparos onde inclui a quinoa. Um dos exemplos é uma salada que combina com um mix de legumes cozidos e frango salteado.

PROPRIEDADES

Quinoa é um pseudocereal integral. De acordo com Mazzei, esta característica deve-se ao fato de “ter propriedades semelhantes às dos cereais, como trigo, aveia, cevada, centeio e arroz, mas na realidade provém de uma planta diferente”.

Hoje, a quinoa é considerada um “superalimento”, fundamental para a segurança alimentar devido ao seu valor nutricional.

“Ele é rico em macronutrientes, entendidos como a principal fonte de energia, entre eles os carboidratos formados por fibras que regulam o funcionamento digestivo, as proteínas, que dão estrutura aos músculos, e as gorduras poliinsaturadas ômega 3, que contribuem para o bom funcionamento do metabolismo”, enumera Mazzei.

Além disso, tem vitaminas do grupo B, essenciais para maior energia, e minerais, como:

CÁLCIO: atua na estrutura óssea e dentária;

FERRO: contribui no transporte de oxigênio e fortalece o sistema imunológico;

MAGNÉSIO: regula o sistema nervoso e os níveis de açúcar no sangue;

FÓSFORO: está envolvido nas contrações musculares e na sinalização nervosa;

POTÁSSIO: chave para a função cardíaca;

ZINCO: participa do reparo celular.

Por outro lado, na hora de cozinhá-lo, é preciso levar em conta alguns cuidados:

“É preciso lavar os grãos com bastante água, em uma peneira fina, devido a uma substância chamada saponina. Ela é produzida como proteção natural para não ser atacada por insetos”, detalha Tasat, que sugere repetir a lavagem cerca de sete vezes ou “até parar de sair uma espuma branca”. “Caso não sejam lavados, os nutrientes não serão absorvidos”, ressalta Mazzei.

Quanto às quantidades, os especialistas consultados detalham que não há uma porção estipulada, pois depende da necessidade energética de cada pessoa e do seu estilo de vida.

ORIGENS

A quinoa vem de uma planta andina do gênero Chenopodium, nativa da área do entorno do Lago Titicaca, localizado ao longo da fronteira andina entre o Peru e a Bolívia.

Achados arqueológicos estimam que data de aproximadamente 3.000 e 5.000 A.C. e estima-se que seu cultivo tenha chegado ao Chile e à Argentina há cerca de 2 mil anos, principalmente nas províncias do Noroeste, Jujuy e Salta, onde é uma marca registrada de sua gastronomia.

Coma chegada dos espanhóis ao território sul-americano, os colonizadores se apropriaram desse grão e rapidamente o distribuíram para fora de sua região, introduzindo-o na Europa e na Ásia.

Atualmente, esse alimento está na moda porque “as pessoas começaram a se conscientizar dos malefícios produzidos pelos alimentos ultraprocessados”, comenta Mazzei, que acrescenta:

“Nessa ânsia de aprender a comer bem para cuidar da saúde e prevenir doenças crônicas, as sementes são as aliadas perfeitas.

Sua relevância é tamanha que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2013 como o “Ano Internacional da Quinoa” com o intuito de divulgar suas qualidades e aumentar seu consumo.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

 ‘POCKETING’, A RELAÇÃO QUE ISOLA O PARCEIRO DA SUA VIDA SOCIAL

Especialistas apontam que os aplicativos de namoro limitam avanços de intimidade. Casais exploram o campo sexual, mas não o emocional

Em tempos em que rapidamente se cria uma palavra para definir um comportamento, “pocketing” descreve aqueles relacionamentos nos quais um não quer incluir o outro em seu convívio social, muito menos expor fotos do casal nas suas redes sociais. Não se trata de dispensar a tão famosa “apresentação oficial” de décadas atrás. Trata-se de fingir diretamente que a relação não existe. É como delimitar o relacionamento apenas ao campo virtual e guardar a outra pessoa no bolso —como se faz com o celular.

Psicólogos e sexólogos admitem que está se normalizando a conduta de avançar a relação no campo sexual mas não no emocional. Os especialistas reconhecem que os aplicativos de namoro e os vínculos gerados a partir do mundo virtual alimentam esses comportamentos. O “pocketing” pode ser uma forma de buscar proteção no nível emocional, enquanto —em alguns casos —também há evasão do compromisso que implica ter um vínculo afetivo.

“A questão é que a relação sexual não é satisfatória. É fácil dar match no Tinder e depois aparecerem a contradição, as dificuldades. As consultas de pacientes que me procuram por conta deste assunto estão aumentando exponencialmente. Eles apresentam crises de casal, de ansiedade, depressão. São dificuldades de vínculo, em geral”, diz a sexóloga e psicóloga Silvia Aguirre.

Na sua opinião, existe uma “certa obrigação” de ter uma vida sexual ativa e, em muitos casos, de ter contato com outra pessoa:

“É o mandato social da época, e isso em si é bom, é uma necessidade humana que permanece e é um indicador saudável se o que as pessoas o desejam está sendo alcançado. Mas nem sempre isso acontece. Nesses encontros, repete-se um roteiro sexual normativo, repete-se a fórmula mesmo quando ela não funciona.”

Há cada vez mais casos de pessoas que dizem ter dificuldades em estabelecer ligações “reais”, que não ficam satisfeitas mesmo quando têm relações sexuais que diziam ser o que queriam. Os especialistas relatam que a comunicação “instantânea” das redes sociais é aplicada aos vínculos. E isso nem sempre funciona.

Para a psicóloga Paula López, o imediatismo é o denominador comum do contato e do não contato, a depender da situação.

“Muita coisa começa no mundo virtual e tende para o emocional, por exemplo, quando a pessoa quer ser ouvida, acompanhada. Do outro lado, quando se marca um encontro presencial, o casal não conversa e o foco fica todo na atração física. A necessidade é rapidamente satisfeita, mas não se tolera realizar todo um processo com o outro”, analisa López.

Questionada sobreo que seria esse processo, ela aponta que ele começa quando o outro passa a demandar suas necessidades:

“Não há tolerância. Estamos no imediatismo e isso acontece em adolescentes e adultos. Eles vão de um melhor amigo para outro, não exercitam o que chamamos de “tolerância à frustração”.

Há quem diga que faz o “pocketing” com “boas intenções”, com a ideia de que “aquilo que ninguém sabe, ninguém estraga”.

As descrições dos psicólogos estão de acordo com o que o sociólogo Zygmunt Bauman conceituou como “amor líquido”, um vínculo frágil. Associou-o ao fugaz, à necessidade de satisfazer uma necessidade momentânea e depois abandoná-la. Bauman, inclusive, não a limita às relações com os outros, mas até consigo mesmo. “A liquidez do amor-próprio”, sintetizou.

‘DITADURA DO PRAZER’

Para a psicóloga, sexóloga e especialista em vínculos Gladys Larocca, atualmente sabe-se muito sobre como se fazer sexo, mas ainda há um grande tabu sobre o assunto. No entanto, ela pondera que muitas pessoas estão se relacionando sexualmente de uma maneira indiretamente “forçada” e reforça que isso causa “muito estrago”.

“Não é forçado quando estamos em conexão com nosso desejo, mas se for confundido por desejos externos, e o que está na moda, perde-se o eixo, a autenticidade. Existe uma ditadura do prazer e nos perdemos quando seguimos qualquer tipo de ditadura”, diz.

López sustenta que há um fator que tem sido muito descontextualizado e o vê como consequência das práticas pseudopsicológicas que focam nas suas necessidades e deixam o outro de lado:

“Se estou em um relacionamento e não quero mais, devo ser responsável, perceber a vulnerabilidade do outro e a minha. Não é só buscar uma saída rápida para o término, e evitar o vínculo.

A dificuldade em estabelecer e manter vínculos com “maior profundidade” é cada vez maior e isso ocorre por causa do individualismo, indica Aguirre. E ela está convencida de que a pandemia “jogou contra”, pois maximizou os medos e também o sentimento de solidão.

“O século passado teve como prioridade o modelo do relacionamento permanente, dos papéis estereotipados e rígidos, do casal heterossexual em primeiro plano. Esse modelo perde validade. Outros tipos de relacionamento ocorrem junto com o aprofundamento do individualismo”, afirma.

Ela enfatiza que sua descrição não vai contra a liberdade ou o prazer sexual.

“Deve-se pensar o que você faz por querer e o que faz por medo. Vemos dificuldades importantes, contradições entre o que está sendo feito e o que se está procurando.

Por sua experiência no consultório, ela diz que existem diferenças entre homens e mulheres. Eles curtem o perfil e logo partem para o próximo, visando a multiplicidade de parceiras e não querem ficar presos nesses vínculos. Já elas buscam maior estabilidade, embora entrem na dinâmica da multiplicidade esperando encontrar um elo mais estável.

OUTROS OLHARES

FECHAR A BOCA COM FITA ADESIVA AO DORMIR VIRA MODA NAS REDES SOCIAIS

Nova tendência no TikTok, o chamado ‘taping bucal’ pode melhorar a respiração, mas não há estudos extensos sobre o tema

Num vídeo no TikTok, uma pessoa alega que o ‘taping bucal’ lhe dá ,mais energia. Outras dizem que que a prática dá mais definição ao maxilar, que melhora a pele, o estado de ânimo, a digestão, que reduz a letargia mental, as cáries, a periodontite e o mau hálito, e, finalmente, que fortalece o sistema imunológico.

Os supostos benefícios do ‘taping bucal’, um truque simples que consiste em cobrir os lábios com fita micropore para conservá-los fechados enquanto você dorme, com a finalidade de incentivar a respiração nasal, vêm repercutindo nas redes sociais.

Mas será que a ciência realmente confirma esses benefícios? E será que é seguro manter a boro fechada com fita adesiva quando estamos dormindo? Consultamos alguns especialistas para saber a opinião deles.

Ann Kearney é fonoaudióloga na Universidade Stanford e estuda como o ‘taping bucal’ pode ajudar pessoas que roncam. Segundo ela, respirar pelo nariz à noite ou durante o dia, encerra benefícios importantes.

A respiração nasal “é uma forma mais eficiente e efetiva de respirar” do que inspirar e expirar pela boca, ela disse, porque umidifica e filtra o ar, além de ativar a parte inferior dos pulmões, possibilitando a respiração mais profunda e completa. Também pode ajudar o corpo a relaxar, ajudando a pessoa a pegar no sono.

A respiração nasal ajuda a filtrar alérgenos, patógenos e poeira, potencialmente ajudando a defender o organismo contra infecções e alergias, disse Marri Horvat, especialista em sono da Clínica Cleveland.

Quando você respira pelo nariz, os seios paranasais naturalmente produzem um gás chamado óxido nítrico. Quando o óxido nítrico passa dos seios paranasais para os pulmões e para o sangue, pode ajudar a baixar a pressão sanguínea, disse o pulmonologista e especialista em medicina do sono, Raj Dasgupta, da Keek School of Medicine da University of Southern Califórnia. O gás pode dilatar os vasos sanguíneos, potencialmente também melhorando o fluxo sanguíneo.

Dormir de boca aberta pode levar uma pessoa a acordar com a boca seca, disse Kearney. Isso contribui para a formação de cáries, mau hálito, voz rouca e ainda com lábios secos e rachados.

Apesar de sua popularidade recente, o ‘taping bucal’ ainda não foi estudado extensamente. Alguns pequenos ensaios examinaram se a prática pode aliviar o ronco em pessoas que já têm, problemas de sono preexistentes, como apneia obstrutiva do sono -que ocorre quando parte ou toda a via aérea superior fica bloqueada quando uma pessoa dorme, levando a respiração a parar brevemente e recomeçar repetidas vezes.

Em um estudo pequeno feito com pessoas com apneia obstrutiva do sono leve, pesquisadores descobriram que, entre 20 pacientes que dormiram com a boca fechada com fita adesiva, 13 roncaram menos com a fita do que sem ela.

Em outro estudo, este envolvendo 30 pacientes com apneia obstrutiva do sono leve que tendiam a respirar pela boca quando dormiam, os pesquisadores descobriram que as pessoas roncavam menos forte, em média, quando dormiam com uma fita sobre a boca.

Mas os estudos existentes sobre o “taping bucal’ são limitados, disse Kearney, e sabemos pouco sobre a como a prática poderia beneficiar a maioria das pessoas.

Andrew Wellman, especialista em medicina do sono no Brigham and Women’s Hospital, em Boston, que já estudou o ‘taping bucal’, disse que a prática não cura condições como a apneia do sono, mas pode ajudar a melhorar o fluxo aéreo das pessoas e reduzir seu ronco, potencialmente ajudando quem dorme com elas a ter um sono mais profundo e restaurador.

Mas alguns dos outros benefícios aventados do ‘taping bucal’ não são tão inequívocos . “Há zero evidências de que  você ficará mais bonita ou que sua pele vai melhorar se você fizer ‘taping bucal’”, disse o jornalista James Nestor, autor de “Breath: The New Science of a Lost Art”.

GESTÃO E CARREIRA

EMPRESAS BRASILEIRAS COMEÇAM A OFERECER VAGAS PARA PROFISSIONAIS NO METAVERSO

Companhias buscam, além de especialistas em tecnologia, gente de outras áreas para desenvolver produtos para nova plataforma

Muito se fala em metaverso, que ao que tudo indica é para onde deve migrar, mesmo que parcialmente, boa parte das atividades humanas em um futuro não tão distante. Aulas, trabalho, entretenimento, consumo: tudo deve acontecer nesse novo ambiente digital, que mescla realidade virtual e realidade aumentada.

Segundo a consultoria em tecnologia Gartner, a previsão é que, daqui a quatro anos, 25% das pessoas passem ao menos uma hora por dia no metaverso. E as empresas já enxergam essa tendência de forma prática: 30% delas devem criar serviços e produtos digitais nesse ambiente e em espaços virtuais até 2026.

Se o mercado em geral ainda está entendendo quais serão as oportunidades de trabalho e negócios no universo virtual, algumas companhias já lidam com ele e estão em busca de profissionais especializados no assunto. E não apenas pessoas de tecnologia.

Levantamento realizado pela Cortex, empresa de inteligência em vendas B2B, mapeou 1 milhão de vagas abertas entre outubro e novembro de 2022 e encontrou 14 oportunidades em empresas como Accenture, IM Design e Gutenberg Ventures que citavam metaverso na descrição.

Além de programador, designer 3D e software tester, há procura por profissionais de áreas de marketing, comunicação, RH, comercial, inovação, treinamento e desenvolvimento, que estejam familiarizados com a linguagem.

ADAPTABILIDADE

Segundo Cássia Ban, CEO da escola de programação e robótica SuperGeeks, a primeira necessidade é por mão de obra qualificada para encabeçar a revolução que deve ocorrer, cedo ou tarde. Serão necessários desenvolvedores de games, pessoas com conhecimentos em tecnologias de blockchain e web 3.0, criadores de hardware para realidade aumentada, hardwares para hologramas e, no futuro, lentes de contato com tecnologia de realidade aumentada, entre outros.

Além disso, ela fala que o mercado buscará profissionais que também compreendam a área em que se pretende atuar. “Por exemplo, se o desenvolvedor criar uma aplicação que será utilizada para analisar a pele do corpo humano em busca de câncer de pele, é importante que esse profissional tenha conhecimento nessa área”, exemplifica.

Para quem pretende agarrar uma oportunidade no metaverso, a executiva ressalta a importância de aprender a programar e a lidar com tecnologia o quanto antes: “Não importa qual área a pessoa irá escolher, seja engenharia, medicina, direito, todas precisarão de pessoas com conhecimentos em programação e tecnologia.”

Cássia lembra que se trata de um setor em constante transformação e evolução, em que o profissional está sempre aprendendo e desbravando novas tecnologias. “São pessoas que precisam aprender a desaprender e reaprender de forma rápida. A adaptabilidade é um diferencial para prosseguir.”

INTERDISCIPLINARIDADE

Na startup MedRoom, que desenvolve soluções virtuais para a educação em saúde como o laboratório de anatomia em VR para alunos de medicina, as duas grandes tarefas do time envolvem modelagem e programação, mas há muitas outras coisas que entram na periferia disso, segundo o CEO e cofundador Vinícius Gusmão. “Além de game devs e designers 3D, tem (quem faz) a pesquisa com o usuário para conhecer a jornada dele; o designer de espaço, que mescla arquitetura com design de experiência e interface; alguém que tenha preocupação sonora também, para a experiência ter sons tridimensionais, porque aluno não pode ouvir do mesmo jeito se o paciente virtual estiver atrás dele, por exemplo”, enumera.

“Não tem nada de trivial nessa discussão, principalmente envolvendo tecnologia e medicina. Nossos designers, por exemplo, têm de conseguir se comunicar com os médicos porque eles literalmente desenham o que querem e falam o que seria legal, sem se preocupar com nada técnico. Aí, nosso time adapta isso para o conteúdo tecnológico”, Gusmão exemplifica.

Segundo ele, esse é inclusive um dos motivos para a equipe da MedRoom contar com profissionais que vieram de outras áreas que não a tecnologia, como um cientista social e uma doutora em fisiologia.

Com cursos como modelagem em 3D na bagagem, Luiz Felipe Aroca, de 35 anos, hoje na MedRoom, conta que a transição para trabalhar com o metaverso foi progressiva. Durante a graduação em ciências sociais, começou a se aproximar da produção artística, principalmente na área de ilustração e artes plásticas.

EU ACHO …

COMO BOMBAR A SUA AUTOESTIMA

Essa bomba foi colocada dentro dela e precisa ser desarmada, com delicadeza

Se ame como você é. Uma resposta simples para uma questão complexa: a baixa autoestima feminina.

Vamos aos ingredientes dessa combinação explosiva. A mulher é cuspida do ventre da mãe em uma sociedade que a inferioriza, a objetifica e a julga, sobretudo, por sua aparência. E ela quer conquistar tudo aquilo que suas ancestrais nem sequer sonharam que poderiam ter. Os tempos estão mudando, a hora é agora, mas daí ela acorda, se olha no espelho e se acha feia para um cacete. Então ela decide postar uma foto sem se submeter a esses filtros que deixam o rosto borrado como aquela restauração do afresco de Jesus que virou meme. E, na legenda, denunciar como essa cultura da imagem transformou sua autoestima em um pombo atropelado. No entanto, se essa mulher estiver minimamente inserida no raio do que é considerado o padrão de beleza vigente, ela acabará se questionando se sacudir a bandeira do padrãozinho que também sofre não seria injusto com mulheres que sentem pressões maiores.

É quando essa mulher decide ser a mudança que quer ver no mundo. Um mundo onde as mulheres se amam como elas são e têm plena consciência de que o culto à beleza feminina é um mecanismo de controle social articulado pelo patriarcado.

E ela faz isso vomitando todos os clichês de amor próprio na legenda da sua foto, o que não deixa de ser também um filtro para mascarar o quanto ela se odeia. Porque se antes ela se sentia feia, agora ela se sente feia e culpada. Por ser desonesta, por ser uma empoderada de Taubaté, por depender de migalhas em forma de emojis e por achar que os outros vão julgá-la, já que, para quem não é considerada fora do padrão, se aceitar é moleza, né, gata? Ela desiste de postar seu selfie no espelho, seu arqui-inimigo. Já perdeu muito tempo se preocupando com sua imagem e brigando consigo mesma. Nem toxina botulínica, nem positividade tóxica. Finalmente essa mulher entende porque não precisa mudar nada por fora. Porque não existe uma sede do patriarcado onde ela pode explodir uma bomba, libertando a si mesma e a outras mulheres desses padrões. Essa bomba foi colocada dentro dela. E ela precisa desarmá-la, com paciência e delicadeza, porque se essa bomba explodir, ela vai junto. E esse é o maior ato de autocuidado que ela pode fazer por si mesma.

MANUELA CANTUÁRIA – É roteirista e escritora

ESTAR BEM

JANEIRO SECO

Especialistas veem benefícios no movimento que prega privação de álcool no início do ano

Início do ano é um período de recomeço, e muitas pessoas aproveitam esse momento para traçar novos objetivos e metas em prol de um estilo de vida mais saudável. Reduzir ou suspender a ingestão de álcool, mesmo que de forma temporária, costuma estar entre as metas estabelecidas para o período, seja para compensar os exageros cometidos no fim do ano ou simplesmente para cortar calorias da dieta. Tanto que, nos últimos anos, o movimento Dry January (ou Janeiro Seco, em tradução livre), que começou no Reino Unido, tem ultrapassado as fronteiras e alcançado novos adeptos em outros países, incluindo o Brasil.

Criado em 2012 pela ONG Alcohol Change UK, o movimento incentiva as pessoas a começarem o ano sem ingerir bebidas alcoólicas por um mês inteiro. Pode parecer uma atitude inócua, por ser pontual, mas a verdade é que mesmo um breve período sem álcool é suficiente para trazer benefícios para a saúde.

De acordo com o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, muitas vantagens são observadas a curto prazo após a interrupção do consumo frequente de álcool.

“De maneira geral, a qualidade do sono costuma melhorar bastante, o que reflete nas outras atividades do cotidiano, trazendo mais disposição. As relações sociais também tendem a melhorar, principalmente com as pessoas com quem você se relaciona frequentemente”, afirma Guerra.

Há ainda melhora no desempenho em exercícios físicos, no bem-estar geral e nos sintomas de depressão e ansiedade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe uma ingestão “segura” de álcool. Mas, o consumo moderado – definido como até duas doses para homens e uma para mulheres em uma única ocasião – está associado a menores riscos para a saúde. Cada dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um shot de destilado. O consumo de qualquer quantidade acima disso já é considerado nocivo por especialistas. Mas é claro que quanto mais se bebe maior é o risco de problemas físicos e mentais, incluindo danos no coração e no fígado, maior risco de câncer, sistema imunológico enfraquecido, problemas de memória e transtornos de humor.

O consumo abusivo, aquele associado ao maior risco, é definido como a ingestão de 60 gramas ou mais de álcool, o equivalente a pelo menos quatro doses, em uma única ocasião, ao menos uma vez por mês.

No entanto, segundo Guerra, existem alguns sinais e sintomas que podem indicar a necessidade de repensar o padrão de consumo de álcool. São eles: sentir forte desejo de beber; ter dificuldade de interromper a ingestão; priorizar a bebida alcoólica, relegando as outras obrigações e atividades; continuar com o hábito a despeito das consequências negativas; e sentir abstinência física, ou seja, ter sintomas como sudorese, tremores e ansiedade quando não se está sob o efeito da substância.

Para quem se identificou com esses sinais ou simplesmente quer testar o autocontrole, desafios como o Janeiro Seco podem ser um bom incentivo para criar novos hábitos. Isso porque um mês de sobriedade não é tão longo a ponto de ser impossível de cumprir. Mas dura o suficiente para desencadear benefícios imediatos e perceptíveis à saúde física e mental.

LONGO PRAZO

Além disso, de acordo com pesquisas, as pessoas que completam o desafio de ficar um mês inteiro sem beber raramente retomam os velhos hábitos de consumo. Em geral, esses indivíduos bebem menos a longo prazo e fazem outras mudanças que levam a melhorias notáveis na saúde e bem-estar.

Estudo publicado em 2018, na revista científica BMJ Open, mostrou que pessoas que abandonaram o álcool por um mês dormiram melhor, tiveram mais disposição e perderam peso, apesar de poucas ou nenhuma mudança em suas dietas, tabagismo ou níveis de atividade física. Eles também apresentaram redução na pressão arterial, nos níveis de colesterol, de resistência à insulina – um marcador de risco de diabetes tipo 2 – e de proteínas relacionadas ao câncer.

Elas também mantiveram uma redução significativa no consumo de álcool no longo prazo, saindo de um padrão classificado como “perigoso”, no início do estudo, para de “baixo risco”, oito meses depois. Outro trabalho, publicado em 2021 na revista Health Psychology, descobriu que a maioria das pessoas que aderem ao Janeiro Seco relatam, além dessas alterações, terem economizado dinheiro e melhorado a capacidade de concentração.

Benefícios adicionais incluem ganhos no aspecto da pele e do cabelo. Para os fios, a principal consequência da ingestão excessiva de bebidas alcoólicas é o ressecamento e a quebra.

“O álcool é um diurético e a perda de água cutânea causa ressecamento e descamação da pele. A pele também tende a ficar avermelhada, pois a bebida dilata os vasos. Além disso, as rugas ficam mais visíveis, a pele fica mais oleosa e a rosácea piora. A produção de radicais livres também aumenta após a ingestão do álcool, o que favorece o envelhecimento precoce e a flacidez”, explica a médica dermatologista Cintia Guedes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

MUDANÇA ÁRDUA

Independentemente da motivação e do curto período, a mudança de hábitos não é uma tarefa fácil. O grau de dificuldade para reduzir o consumo ou parar de beber dependerá do perfil do indivíduo, da quantidade de bebida que costuma ingerir e da presença de algum nível de dependência. No entanto, existem algumas orientações que podem ajudar nesse processo (confira no quadro abaixo).

É importante alertar que pessoas que apresentam algum sintoma negativo por reduzir ou eliminar a substância podem precisar de ajuda profissional. Alguém com transtorno de uso de álcool pode entrar em abstinência e apresentar sintomas físicos graves, como tremores, sudorese, batimentos cardíacos acelerados e até mesmo convulsões.

Para manter o consumo de álcool moderado após esse período, Guerra recomenda observar e praticar o aprendizado obtido durante a interrupção. Muitas pessoas, por exemplo, podem sentir que é possível se divertir do mesmo modo com pouco álcool.

Além de apostar na moderação e não voltar a beber com frequência, optar por bebidas que têm outras propriedades, como o vinho tinto seco, que conta com o antioxidante resveratrol, pode ser um bom caminho.

“Bebidas como cachaça, vodca, uísque e tequila tendem a ser absorvidas mais rapidamente e, no geral, são mais agressivas para o fígado. Ou seja, devem ser evitadas ou limitadas a quantidades menores que uma dose diária”, avalia a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

7 DICAS PARA MANTER A ABSTINÊNCIA

1 – Tenha metas claras, realistas e objetivas, com períodos de início e fim bem definidos;

2 – Compartilhe essas metas com outras pessoas, tanto para obter apoio quanto para inspirar os outros a eventualmente participarem do desafio;

3 – Afaste-se de pessoas que pressionem ou incentivem a beber;

4 – Evite ocasiões em que o consumo de álcool é muito tentador;

5 – Não tenha bebida alcoólica em casa;

6 – Preencha seu tempo livre com atividades que sejam antagônicas ao consumo de álcool, como caminhar e fazer outros exercícios físicos;

7 – Aproveite para adotar outros hábitos saudáveis, como ter uma alimentação equilibrada, dormir bem, praticar atividade física e beber água.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AS LIÇÕES DO BULLYING

Violência em salas de aula cresce e, sem ações pedagógicas, pais optam por tirar filhos de escolas

Zoé, de 14 anos, não conseguiu se enturmar no seu primeiro ano escolar em São Paulo, em um colégio privado na Lapa. No dia da apuração das últimas eleições, o isolamento na escola se transformou em bullying, que escalou para agressões verbais e até ameaças de estupro.

Para especialistas, a gravidade de atos de violência física ou psicológica entre colegas dentro ou fora do ambiente escolar e a resposta da instituição para o problema vão determinar o momento em que a retirada da criança do colégio é a melhor alternativa.

“Eram agressões horrorosas que eles publicaram repetidas vezes contra a minha filha e que a marcaram muito”, conta Karla Pessoa, mãe de Zoé. “Uma coisa desse tipo, infelizmente, pode acontecer em qualquer lugar. Mas a passividade da escola me fez decidir por tirá-la de lá. Chegaram a dizer que iriam estuprar a minha filha na escola, e a direção nada fez.”

Os dois anos de alunos confinados na pandemia, o que prejudicou muito a saúde mental dos adolescentes, e a polarização política vivida no país aumentaram os incidentes entre jovens, que chegaram ao ápice na reta final da gestão Bolsonaro. Foi assim para a própria filha do presidente, Laura, de 11 anos, que terminou este ano letivo deixando o Colégio Militar, em Brasília, após ter sido ofendida por um colega.

“Se a vítima estiver sofrendo muito e a escola não tomar uma atitude, é hora de sair”, defende  Marilu Carvalho Dantas, pesquisadora do Núcleo de Cultura, Gênero e Sexualidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Desde o dia dos ataques, Zoé não pisou mais na escola, e o ano letivo foi concluído remotamente. A antiga escola ainda insistiu na volta da estudante, mas a mãe afirma que não confia mais na capacidade de a instituição garantir a segurança da menina.

“A escola só foi conversar com a gente, depois de uma semana, porque pedimos. Se não fosse isso, teria passado despercebido. Ainda trataram a questão como “coisa de adolescentes”, diz o pai de Zoé, Paulo Almeida, de 50 anos.

Procurada, a escola – que até o momento não foi acionada judicialmente – argumenta que o caso não aconteceu dentro da instituição, chamou os envolvidos para um pedido de desculpas e realizou atividades pedagógicas para tratar de bullying entre jovens.

MÉTODO DESENVOLVIDO

Líder de um grupo de estudos da Unesp sobre convivência na escola e violência, Luciene Tognetta explica que o desfecho de um caso de bullying, se não é resolutivo, pode deixar marcas graves. Ela diz que a vítima, mesmo quando deixa o ambiente hostil, vai fragilizada para a nova escola, e o agressor, que não foi tratado com limites, passa a achar que pode tudo. Já a escola, diz a especialista, falha miseravelmente em sua função de formar cidadãos melhores.

Luciene explica que o método para lidar com casos graves de bullying é a preocupação compartilhada. O ponto de partida é a escola entender plenamente o que aconteceu. A partir daí, segundo a especialista, há um protocolo de ações, que vai do afastamento proposital dos indivíduos envolvidos no problema ao uso de técnicas de questionamentos que os levem a uma reflexão sobre o atrito.

“As perguntas levam o agressor a entender o problema que causou e a pensar nas formas de reparação que pode oferecer. Ao mesmo tempo, tentam provocar um empoderamento da vítima para que ela se sinta à vontade para pedir ajuda, para se indignar e entender também que não é normal aquilo ter acontecido com ela”, enumera a especialista.

“Mas quantas escolas do país dispõem disso? Não temos políticas públicas que deem conta de garantir a formação de professores e programas de convivência focados na prevenção dentro de escolas.”

O tema é uma preocupação mundial, na medida em que já há consenso entre pesquisadores de que o bullying é um importante gatilho para o suicídio juvenil. No final de dezembro, uma análise nos EUA, publicada pela National Bureau of Economic Research, mostrou que o número de suicídios entre jovens é mais alto durante os meses letivos. Segundo o estudo, essas taxas desabaram com o fechamento de escolas na pandemia e voltaram a subir quando houve a reabertura.

Por isso, muitos países têm buscado soluções. O modelo finlandês, por exemplo, faz tanto sucesso desde 2009 que já foi exportado para 20 países europeus e alguns latino-americanos, como Colômbia e Peru. Além de trabalhar com as vítimas e os autores do bullying, também atua com as testemunhas, já que o silêncio ou as risadas de quem observa potencializam os agressores.

Outro exemplo bem-sucedido é o canadense, que criou uma série de materiais para orientar escolas, professores, pais e alunos sobre como lidar com casos de bullying. Isso inclui, por exemplo, um número de telefone para pedir ajuda; sugestão de atividades para crianças e adolescentes; e vídeos de curta duração sobre o fenômeno. Eles estão disponíveis em www.prevnet.ca.

‘ENSINEM SEUS FILHOS’

Com apenas 8 anos, Paula teve que aprender sozinha como pedir ajuda. A menina contou para a mãe que, na sua escola, na cidade de Marituba, no Pará, era frequentemente alvo de racismo por parte das colegas.

“Minha filha chegava triste, chorando, porque as amiguinhas diziam que ela e o cabelo dela eram feios e que ela fedia. Isso tudo me deixou muito abatida. Fizemos o possível para que isso parasse, mas nada foi resolvido. Tento ensiná-la a se defender, mas ela ainda é uma criança”, desabafa Karla Nascimento, de 29 anos. “Isso que ela viveu é um bullying que encobre racismo. Karla conta que a escola teve conversas com os envolvidos, mas sem sucesso. Com a quebra de confiança, ela resolveu tirar a filha da escola. Num desabafo numa rede social, publicou uma foto da filha chorando e extravasou: “Como toda criança preta, minha filha, tão nova, tem que se fazer forte, crescer sabendo se defender. Isso não é justo. Que Brasil é esse onde crianças brancas se acham no direito de machucar as pretas? Ensinem seus filhos para que a minha ou as outras crianças não sofram mais”.

ESTRUTURAL

Na avaliação de Marilu Dantas, da UFBA, o estudante que pratica bullying está reproduzindo uma estrutura de poder na sociedade:

“A escola tem obrigação de tratar do bullying problematizando a estrutura. Não é só culpar o agressor e consolar o agredido.”

Para Josiane Siqueira Mendes, advogada parceira do escritório Covac, a escola é responsável pelo que acontece dentro das suas dependências e pode responder judicialmente em casos desse tipo.

“Ela precisa ser proativa, fazer uma reunião na escola ouvindo as partes envolvidas e com funcionários que devem ser preparados para tentar restabelecer as relações”, diz.

OUTROS OLHARES

BARRINHAS DE PROTEÍNA SÃO MESMO SAUDÁVEIS?

Elas podem ser aliadas para atletas, mas no dia a dia o ideal é consumir o alimento in natura

As barrinhas de proteínas costumam ser consumidas por quem busca praticidade, em geral depois da atividade física ou como um lanche rápido entre os compromissos diários. Não faltam opções: desde as mais doces, como aquelas com cobertura de chocolate, até opções que prometem ser mais saudáveis, como as veganas e orgânicas. Com os diferentes sabores, estão as proteínas. Bianca Aliane, nutricionista da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva, explica que podem ser de origem animal, como whey protein, feito com a proteína do soro do leite. Há opções que usam fontes de proteína vegetal, como a ervilha, a soja e o arroz.

Essas proteínas podem ser importantes para quem pratica atividades físicas intensas, em especial pessoas cujo objetivo é o aumento do volume dos músculos. Segundo a nutricionista, as proteínas desses alimentos podem ajudar no ganho de massa muscular e favorecer a recuperação física após os exercícios. No entanto, as barrinhas não são sinônimo de alimentação saudável. “É preciso uma adequada ingestão de alimentos com fontes boas e variadas de proteínas ao longo das principais refeições diárias”, alerta.

CUIDADOS NO CONSUMO

Conforme explica Adriana Garcia, nutricionista e docente do Centro Universitário São Camilo, as barrinhas de proteínas são consideradas alimentos ultraprocessados. “O processamento pode reduzir a quantidade de vitaminas e de minerais que estavam presentes nos alimentos in natura”, diz. Além disso, as barrinhas também têm potencial para contribuir para o consumo de gorduras, sódio e açúcar além da quantidade ideal. “A grande questão é que o consumo desses ingredientes costuma estar relacionado com o aparecimento de doenças crônicas, como diabete, hipertensão, obesidade e problemas cardiovasculares”, conta.

“Isso não significa que devem ser proibidas, mas que os alimentos in natura devem ser priorizados”, recomenda ela, que indica substituições como consumo de castanhas, uva passa e damasco. “Esses são alimentos que muitas vezes estão presentes nas barrinhas, mas que não perderam suas vitaminas e minerais pelo processamento.”

COMO ESCOLHER

O melhor caminho para encontrar opções mais saudáveis é observar os rótulos desses produtos. Graças à nova rotulagem de alimentos, que está em vigor no Brasil desde outubro, é possível encontrar a quantidade de ingredientes como açúcares, gorduras saturadas e sódio que, conforme explica a nutricionista, devem ser evitados.

Ler a lista de ingredientes também é importante. “Os ingredientes aparecem em ordem da sua proporção no alimento. Por exemplo, se aparecer açúcar como primeiro ingrediente, é porque esse é o item em maior quantidade”, explica a nutricionista.

Além do açúcar, também é indicado evitar aquelas em que a gordura trans e saturada aparecem em destaque. “São gorduras que deveriam ser evitadas, porque estão relacionadas com o aparecimento de doenças cardiovasculares”, afirma ela, que recomenda as barrinhas cujos ingredientes naturais e integrais representam a maior parte da composição.

Observar os nomes dos ingredientes no rótulo do produto é outra forma de garantir que a barrinha escolhida seja mais saudável. Fique atento se são nomes complicados de entender ou que você não teria em casa. Adriana explica que, nesses casos, são altas as possibilidades de esses não serem as opções mais saudáveis do produto.

“Não é, necessariamente, a quantidade de ingredientes que indica se o produto é saudável ou não. Mas nomes desconhecidos podem sugerir isso”, avalia. Existem opções de barrinhas orgânicas que em geral não possuem aditivos químicos, costumam ter menos corantes e são feitas com ingredientes com maior valor nutricional, como aveia, mel, castanhas, damasco e uva passa.

GESTÃO E CARREIRA

SEM PARAR

Vício em trabalho, que afeta cerca de 8% dos profissionais, ganha novas definições

Alguns anos antes de comprar o Twitter, Elon Musk já havia alertado que trabalhar para ele não era o paraíso. Havia lugares melhores, mas acrescentou: “Ninguém muda o mundo trabalhando 40 horas por semana”.

Segundo Musk, quando você ama o que faz, não está trabalhando. Portanto, pode fazer isso sem descanso, todas as horas do dia. Essa mistura de se ver como privilegiado (por amar o que faz) e escolhido (por mudar o mundo) é uma armadilha mortal para quem precisa de validação externa. O novo stakhanovismo — movimento de aumento da produtividade operária na União Soviética —tem uma dimensão espiritual e outra de performance e espetáculo. E a cultura corporativa tóxica oferece um terreno fértil para o surgimento de workaholics, pessoas viciadas em trabalho.

“A ideia básica é que o workaholic é aquele que trabalha muito mais horas do que o esperado, mas o vício em trabalho é mais complexo, e a diferença às vezes é feita por aquele que coloca o rótulo de viciado no outro”, explica Michael P. Leiter, psicólogo especialista em relações trabalhistas e professor da Acadia University em Nova Escócia, Canadá.

Leiter, que estuda o assunto há mais de 30 anos, diz que os colegas podem rotular outros que trabalham muitas horas seguidas e isso pode criar um clima desagradável no trabalho:

“Alguém pode chamar o parceiro de workaholic porque, em vez de se dedicar à casa e aos filhos, prefere trabalhar por conta própria. Há pessoas que se autodenominam workaholics para se vangloriar, como por falsa humildade, do quanto são essenciais para a empresa.

Curiosamente, o significado de workaholic tem mudado vertiginosamente nas últimas décadas. Na primeira definição, de 1971, trabalhar mais de 50 horas semanais implicava alto risco de vício. Em revisões posteriores, os pesquisadores reconheceram que era muito fácil ultrapassar esse limite no mercado de trabalho atual, o que os fez abandonar essa mediação, definindo os workaholics como “aqueles que investem mais tempo e energia no trabalho do que é exigido”.

As descrições modernas são centradas em um padrão obsessivo de alto investimento vital no trabalho, com longas jornadas, além de qualquer expectativa.

O professor Leiter confirma que não há número de horas que marque um limite.

“Tudo depende do contexto. Por exemplo, um jovem com poucas responsabilidades familiares pode passar muitas horas aprendendo uma nova profissão e consolidando sua carreira. Alguém que inicia um novo negócio, como um restaurante, tem que trabalhar muitas horas para se estabelecer. Mas se alguém com futuro profissional garantido e jornada de trabalho bem estabelecida continua trabalhando longas horas, então é preciso se perguntar qual é a real motivação”, pondera.

SEM FÉRIAS

Maria Méndez mora em Nova York. Ela trabalha como agente de viagens. Durante anos, sua missão foi organizar o entretenimento dos altos executivos do BBVA e do Banco Santander. Ela também era responsável pela logística das turnês da Beyoncé. Começou a trabalhar aos 23 anos e passou 17 anos de vida sem tirar férias.

Ao longo do caminho, ela teve quatro filhas que foram cuidadas por sua mãe e seu marido. Sua licença maternidade durou três dias.

“Dormi com o celular na cama. Quando viajei, não saía do quarto do hotel, ficava na frente do computador. Não conheço o mundo e já estive em muitos lugares”, diz ao telefone, com a voz embargada enquanto caminha sobre um esteira em uma academia de Manhattan.

Méndez foi apontada como exemplo do escritório:

“Meu chefe dizia que todos tinham que fazer como eu, chegar primeiro, sair por último e dar o número pessoal aos clientes.”

Um curso de quatro dias sobre gestão emocional ajudou-a a identificar as desculpas para estar viciada no trabalho, que no seu caso era pensar que não ia conseguir pagar as contas. Então, quando recebeu aumento, ele disse a si mesma que se não mantivesse esse ritmo não seria capaz de oferecer um bom padrão de vida para sua família. E acabou inventando que era muito comprometida com os clientes.

Em 2019 tirou férias pela primeira vez. Fez uma viagem com a família e se sentiu culpada. Maria acredita que hoje é outra pessoa.

“Aprendi a dizer não, recuperei o controle daminha vida. A primeira coisa que faço de manhã é uma lista do que não vou fazer… Até 30 coisas podem entrar”, diz.

Em novembro de 2019, criou a Vacation is a Human Right Foundation (Férias São um Direito Humano, na tradução), uma organização sem fins lucrativos dedicada a ajudar mães solteiras a tirarem férias. Méndez é também uma das organizadoras do Primeiro Congresso Ibero-Americano contra o Burnout, que será realizado na República Dominicana. A ideia é combater uma das consequências mais graves do vício em trabalho: esgotamento e cinismo.

O que acontece no cérebro de um workaholic? O professor Nestor Braidot, especialista em neurociência aplicada à gestão organizacional, explica que “quando o sistema de recompensa do cérebro é ativado, por exemplo, no caso de profissionais e empresários que colecionam um sucesso após o outro, ele tem uma ação semelhante (embora não idênticos) àquela das drogas comuns”. Se for uma pessoa que “vive na empresa” para agradar seus superiores, a longo prazo ela pode sofrer da síndrome de burnout, que está associada a um cérebro praticamente sem energia, esgotado.

SEM DISTINÇÃO

Vários estudos mostram que cerca de 8% da força de trabalho global é viciada em trabalho. Um grande trabalho norueguês sobre a prevalência do vício em trabalho não encontrou diferenças entre sexo, classe social, estado civil, trabalhadores contratados e autônomos. A única singularidade que relataram foi entre os profissionais veteranos e os mais jovens. Os iniciantes tinham um comportamento de risco para o abuso.

“Há a paixão por empresários e políticos de sucesso, a infelicidade de quem usa o trabalho como fuga de outras emoções, em outros há perfeccionismo patológico. Também pode haver fatores psicológicos. Um dos meus clientes, filho do dono de uma empresa de doces, virou workaholic para ganhar o respeito de um pai autoritário”, ilustra Braidot.

SAIBA SE VOCÊ TRABALHA EM EXCESSO

Como você se comporta nas seguintes situações? Avalie sua conduta marcando de 1a 5, desta forma: 1 (nunca), 2 (raramente),3 (às vezes), 4 (frequentemente) e 5 (sempre):

(  ) Você pensa em como tirar mais tempo de outras atividades para poder trabalhar.

(  ) Você passa mais tempo trabalhando do que previsto.

(  ) Como trabalho, você acha que consegue aliviar seus senti- mentos de culpa, ansiedade, impotência ou depressão.

(  ) Outras pessoas dizem que você trabalha demais, mas você nunca escuta.

(  ) Você fica estressado e irritado quando é impedido de trabalhar por algum motivo.

(  ) Você subtrai prioridade de seus hobbies, atividades de lazer ou esportes para o seu trabalho.

(  ) Trabalhar muito afetou negativamente sua saúde.

RESULTADO: se pelo menos quatro das respostas forem 5 ou 4, você provavelmente é um workaholic.

EU ACHO …

O DEUS DA SPEQUENAS COISAS

“Me sinto uma fracassada.”

Não é uma frase fácil de se ouvir de alguém. Soa até mesmo incompreensível quando se trata de uma mulher linda, rica, que mora num sobrado deslumbrante, passa uma parte do ano no Brasil e a outra em Nova York, é casada com um homem igualmente lindo e apaixonado por ela, tem dois filhos que são uns doces, é uma profissional bem-sucedida e já deu a volta ao mundo uma meia dúzia de vezes. O que é que falta? “Um projeto de vida”, responde ela.

Existe uma insaciedade preocupante nessa mulher e em diversas outras mulheres e homens que conquistaram o que tanto se deseja, e que ainda assim não conseguem preencher o seu vazio. Um projeto de vida, o que vem a ser? No caso de quem tem tudo, pode ser escrever um livro, adotar uma criança, engajar-se numa causa social, abrir um negócio próprio, enfim, algo grandioso quando já se tem tudo de grande: amor, saúde, dinheiro e realização profissional. Mas creio que esse projeto de vida que falta a tantas pessoas consiste justamente no que é considerado pequeno e, por ser pequeno, novo para quem não está acostumado a se deslumbrar com o que se convencionou chamar de “menor”.

Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas do jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retratos. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração. Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o “ser feliz” pelo “parecer feliz”, nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa.

Sei que tudo isso parece fácil e que não é. Algumas pessoas não conseguem desenvolver essa satisfação interna que faz com que nos sintamos vitoriosos simplesmente por estarmos em paz com a vida, mesmo possuindo problemas, mesmo tendo questões sérias a resolver no dia a dia. É inevitável que se pense que a saída está na religião, mas dedicar-se a uma doutrina, seja qual for, pode ser apenas fuga e desenvolver a alienação. Mais do que rezar para um Deus profético e soberano, acredito que o que nos sustenta passa sim, por uma espiritualidade, porém menos dogmática. É o cultivo de um espírito de gratidão, sem penitências, culpas e outras tranqueiras. Gratidão por estarmos aqui e por termos uma alma capaz de detectar o sublime no essencial, fazendo com que todo o supérfluo, que não é errado desejar e obter, torne-se apenas uma consequência agradável desse nosso olhar íntimo e amoroso a tudo o que nos cerca.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

CONHEÇA ALGUNS SINAIS DA ABSTINÊNCIA DE CAFEÍNA

Especialistas garantem que parar abruptamente com o estimulante pode causar mal-estar que dura por dias

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e altamente consumida no Brasil. Segundo a Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora americana, a quantidade segura de cafeína para adultos é de até 400 mg por dia. Uma xícara de 200 ml de café, por exemplo, tem 90 mg da substância.

Entretanto, além do café, os brasileiros consomem uma quantidade excessiva de cafeína por dia, em energéticos, chás e refrigerantes que contém a substância e, muitas vezes, decidem parar abruptamente de tomar, por ser algo viciante. Entretanto, especialistas garantem que dar uma pausa extrema e rápida pode ser ainda pior devido aos sintomas causados.

A nutricionista da Fundação Britânica do Coração, Victoria Taylor, em entrevista ao Daily Mail, disse que “se você está acostumado a beber bebidas com cafeína, cortá-las rapidamente pode causar dores de cabeça, sensação de cansaço e letargia ou dificuldade de concentração”. Conheça alguns sinais de abstinência:

DORES DE CABEÇA

A cafeína contrai os vasos sanguíneos do cérebro e, depois de um tempo consumindo a bebida diariamente, o sistema nervoso central se acostuma com isso. Ao ficar um tempo sem a bebida, os vasos relaxam e uma quantidade inesperada de sangue é bombeada para o cérebro, causando dor de cabeça.

Segundo os especialistas, os sintomas normalmente começam de 12 a 24 horas depois da interrupção da cafeína e atingem o pico depois de dois dias, porém, a dor pode perdurar por mais tempo.

FADIGA

A cafeína está associada à energia. Como um complexo de chave e fechadura, ela se encaixa nos receptores da adenosina, substância química presente no nosso cérebro responsável por fazer a pessoa se sentir sonolenta, e a bloqueia. O que consequentemente deixa o consumidor da bebida mais acordado.

Estudos garantem que os efeitos da abstinência são ainda maiores em pessoas que bebem café ou chá todos os dias. Isso ocorre por- que a cafeína faz com que a química do cérebro mude com o tempo e produza mais receptores de adenosina para acompanhar o suprimento constante de cafeína. O que faz cair o desempenho e rendimento no trabalho, por exemplo.

É um problema cruel que faz com que os bebedores regulares de café desenvolvam uma tolerância à cafeína, aumentando ainda mais a vontade de tirar uma soneca durante o dia quando você para de tomá-la.

MAU HUMOR

A bebida aumenta a liberação de um grupo de mensageiros químicos chamados de neurotransmissores, dopamina e norepinefrina que influenciam seu humor e sentimentos, além de aumentar a frequência cardíaca, respiratória e os níveis de glicose no sangue.

Com a ruptura abrupta, esses sinais químicos vão ser enviados de forma mais lenta e consequentemente haverá uma queda no humor e nos níveis de energia.

FALTA DE FOCO

Um estudo americano publicado na revista Consciousness and Cognition em 2020 sugeriu que a cafeína pode melhorar as capacidades de resolução de problemas. Isso ocorre porque ela afeta as substâncias químicas do cérebro, incluindo o glutamato, que é vital para o aprendizado e a memória.

Ao parar de tomá-la, os hormônios começam a se realinhar e as substâncias químicas que ajudam na concentração começam a ser enviadas em um ritmo mais lento, resultando em uma névoa cerebral.

NÁUSEA E TREMORES

Tonturas e náuseas também são sintomas característicos de quem para de ingerir cafeína, além das conhecidas tremedeiras, visto que a bebida é um estimulante do sistema nervoso central, apesar de ser um pouco mais rara.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

VOCÊ FICA NERVOSO QUANDO ESTÁ COM FOME? A CIÊNCIA EXPLICA AS RAZÕES

Segundo pesquisas, os ‘neurônios famintos’ são remanescentes da época em que os humanos precisavam procurar comida na natureza

Alguns juram que a “hanger”, a raiva intensa ou as emoções desconfortáveis que podem surgir com a fome, são reais. Outros dizem que está tudo na sua cabeça. Ambos podem estar certos.

O que comemos, ou não comemos, afeta nossos cérebros e emoções de maneiras que os pesquisadores estão apenas começando a entender. Vários estudos, incluindo um pequeno da Grã-Bretanha, descobriram que sentir fome está associado a emoções negativas. Pesquisas da última década mostram cada vez mais que a comida pode mudar os estados emocionais e influenciar o comportamento e a tomada de decisões. Em 2018, a palavra “hangry” (junção das palavras em inglês hungry, que significa faminto, e angry, nervoso) foi adicionada ao Oxford English Dictionary, indicando sua aceitação popular como fenômeno. Mas o que causa a “hanger” e por que algumas pessoas ficam com raiva quando estão com fome e outras não?

COMIDA E BEM-ESTAR

A nova ciência sobre a “hanger” e o cérebro, que exploro em meu novo livro, Eat & Flourish, mostra que a comida e o bem-estar emocional estão inextricavelmente entrelaçados. As pesquisas se concentram principalmente em dois mecanismos que compõem o principal sistema de comunicação do corpo, os hormônios e os neurônios.

Primeiramente, os hormônios enviam mensagens por todo o corpo viajando pelo sangue. A “hanger” pode acontecer em parte porque a fome muitas vezes coincide com uma queda na glicose, o que pode criar alterações hormonais no corpo que afetam o funcionamento do cérebro.

Quando a glicose no sangue está baixa, você pode aumentá-la comendo alguma coisa. Para reduzir a “hanger” hormonal, é melhor buscar algo com proteínas, fibras e carboidratos complexos. Comer apenas carboidratos simples pode aumentar o açúcar no sangue, o que pode deixá-lo nervoso e provocar uma queda de açúcar na sequência.

Mas mesmo sem comida, um corpo funcionando normalmente é inteligente o suficiente para lidar com o baixo nível de açúcar no sangue por conta própria por meio de hormônios. Baixos níveis de glicose alertam seu corpo para liberar dois hormônios do tipo “preciso de energia agora”, adrenalina e cortisol. Esses hormônios aumentam naturalmente o açúcar no sangue, para que seu corpo continue funcionando mesmo quando o açúcar no sangue cai.

Mas essa inundação de cortisol e adrenalina na corrente sanguínea nos mantém em alerta máximo contra ameaças. Esse alto estado de alerta, combinado com a fome, pode resultar na irritabilidade frequentemente associada à “hanger”. Alguns corpos são mais reativos do que outros a esses hormônios, então a “hanger” pode ser extrema ou não, dependendo de sua reação física específica.

TUDO SE CONCENTRA NO HIPOTÁLAMO

De acordo com a pesquisa, a segunda maneira como a “hanger” pode acontecer é através de neurônios, as células especializadas em todo o seu corpo que se comunicam umas com as outras. O sistema nervoso envia mensagens pelo seu corpo mais rápido do que um piscar de olhos, muito mais rápido do que os hormônios.

Especificamente, os pesquisadores da “hanger” identificaram a atividade dos neurônios no hipotálamo do cérebro, uma região que coordena a fome e a emoção, entre outras funções do sistema nervoso. A fome ativa essas células cerebrais, conhecidas como neurônios AgRP pela proteína que exprimem.

Mas pesquisadores como Amber Alhadeff, do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, chamam coloquialmente esses neurônios de “neurônios hangry”. O laboratório de Alhadeff estuda o comportamento alimentar e como a comunicação intestino-cérebro influencia o que comemos. Sua pesquisa mostra que quando a falta de comida ativa os neurônios AgRP em camundongos, os neurônios enviam um sinal de fome, o que não era inesperado. A surpresa foi que, ao lado da fome, as células também sinalizam uma “valência negativa” – uma emoção desconfortável geralmente associada ao medo, ansiedade e raiva que os camundongos trabalharam para evitar. Seu trabalho se baseou em pesquisas publicadas sobre esses neurônios em 2015.

Era diferente da fome, mas acontecia junto com ela. E então, quando o camundongo comeu, os neurônios AgRP imediatamente se acalmaram e simultaneamente pararam de enviar sinais de fome e negatividade.

Mas o ato de comer e o sabor da comida em si podem ser intensamente prazerosos – mesmo quando se trata apenas de ração para camundongos. Alhadeff queria garantir que o efeito calmante não fosse apenas uma consequência da explosão de sabor. Ela fez um teste para ver se injetar comida diretamente no estômago de um camundongo tinha o mesmo efeito.

E teve: a fome e a raiva desaparecem ao mesmo tempo quando a comida foi introduzida em um corpo com neurônios AgRP ativos, independentemente do sabor.

MOTIVAÇÃO ANCESTRAL

Os seres humanos evoluíram para ter uma valência negativa junto com aquela sensação de fome que é duplamente motivadora. Algumas pessoas ainda podem ter uma forte motivação emocional para encontrar comida, além da motivação da fome, por causa de como seus neurônios AgRP reagem.

Alhadeff diz que acalmar a “hanger” pode ter a ver com o nosso instinto, já que os “neurônios hangry” são apenas uma das inúmeras conexões entre o intestino e o cérebro.

A pesquisa sobre a conexão intestino-cérebro, também conhecida como “sexto sentido”, aumentou nos últimos anos e está ajudando a explicar por que obtemos satisfação com determinados alimentos e sabores. O intestino tem seu próprio sistema nervoso, chamado sistema nervoso entérico e conhecido como “o segundo cérebro”, que detecta alimentos e nutrientes mesmo quando eles não passam pela boca.

Como Alhadeff explica a partir da pesquisa de seu laboratório, “descobrimos que você realmente precisa dessa sinalização intestinal para ter reduções longas e sustentadas na atividade AgRP”. Portanto, tentar lidar com a “hanger” com uma Coca Diet é inútil. “Na ausência dessa sinalização intestinal, você realmente não desliga esses neurônios da fome”, ela disse.

Alhadeff levanta a hipótese de que os “neurônios hangry” são remanescentes de uma época não muito distante, quando a maioria dos humanos precisava forragear por comida e precisávamos de mais do que apenas fome para nos motivar a encontrar algo para comer. A maioria de nós não precisa mais forragear por comida. Mas esse grupo de neurônios ainda tem um impacto duradouro.

Da próxima vez que as dores da “hanger” aparecerem, faça um favor a si mesmo e a todos ao seu redor – coma alguma coisa.

OUTROS OLHARES

‘PET VIRTUAL’ VOLTA COM FORÇA E SUBSTITUI OS SMARTPHONES NA MÃO DAS CRIANÇAS

Sucesso na década de 1990, Tamagotchi conquista nova geração acostumada ao mundo digital com aparelho sem conexão à internet; brinquedo pode custar quase R$ 500

A cultura dos anos 1990 voltou com tudo: estética, música e até a forma de vestir estão buscando as referências da virada do milênio. Agora, a moda da vez é entre os pequenos: os bichinhos virtuais – ou Tamagotchis –, pequenos aparelhinhos em que é preciso cuidar de um pet digital, são os novos desejos de consumo das crianças neste fim de ano.

Amanda Luiza, de 7 anos, ficou encantada com o bichinho virtual. Ela ganhou o brinquedo em outubro passado e se tornou uma mini especialista sobre o aparelhinho em casa. Com a mãe, Claudia Pinheiro, a menina descobriu um brinquedo bem diferente de um smartphone.

“Ela ganhou (o bichinho virtual) de Dia das Crianças porque eu lembrei da época que o meu sobrinho tinha. Vi que ia ter o lançamento do Tamagotchi de novo, e imaginei que ela fosse ficar super empolgada”, conta Claudia, que ajuda a filha a dar “comida” e “remédios” ao pet digital.

O Tamagotchi, nome original do brinquedo, é uma criação da empresa japonesa Bandai e surgiu em 1996, antes de os smartphones serem opção de brinquedo para crianças.

Com centenas de opções de animais para cuidar, o bichinho virtual dá aos “donos” a missão de gerenciar a vida do pet: é preciso alimentar, dar injeções, colocar para dormir e fazer atividades físicas com o animalzinho para que ele sobreviva. Alguns modelos possuem, inclusive, sinalização sonora para avisar quando precisa de alguma coisa – e eles apitam independentemente da hora do dia.

Ser “pai de pet” virtual é mais uma das tarefas que Cleiton Cruz, de 36 anos, sabe bem o que é. Quando criança, o empresário também fez parte da turma que alimentava e passeava com o bichinho. Agora, é o Tamagotchi da filha Clarice, de 4 anos, que o faz voltar para a infância.

“A gente entrou em uma loja infantil e ela ficou encantada com o bichinho. Mas quem mais se diverte sou eu. Quando o bichinho apita, ela vai ver e chamar a gente para ajudá-la a cuidar do Tamagotchi”, aponta Cruz.

CLÁSSICO

Segundo André Pase, professor de comunicação digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a volta dos bichinhos virtuais é uma das tendências dos anos 1990 na prateleira dos clássicos passados de pai para filho por ter marcado toda uma geração.

“Ele já é um brinquedo tradicional, já faz parte da cultura. E esse tom tecnológico o ressalta como uma coisa com que a molecada já lida bem”, explica Pase. “Ele demanda que você fique todo tempo mexendo nele, interagindo na rotina dele. É um eletrônico feito para ser chaveiro na mochila, então também tem essa coisa de ficar apegado porque ele é feito para brincar com você.” 

Foi o que aconteceu com Lucas, de 5 anos, filho de Angela da Silva Campos, de 38 anos. O interesse veio do brinquedo parado na estante de casa. A mãe tinha um exemplar guardado que despertou a curiosidade do pequeno. “Foi engraçado quando ele encontrou o aparelho, porque pensou que era um relógio”, afirma Angela. “Fui mostrar que era um brinquedo e ele agora se diverte”.

Como Cruz e Claudia, Angela prefere que o filho se distraia com o bichinho virtual por conseguir saber exatamente qual é a interação de Lucas com o aparelho, mesmo que às vezes seja necessário um empurrãozinho para relembrar a graça do brinquedo. Isso porque, diferentemente dos celulares, por exemplo, em que variados conteúdos podem ser acessados, o dispositivo não tem conexão à internet nem outros aplicativos vinculados – é um pet virtual e nada mais.

Assim como nos anos 1990, há várias lojas que oferecem o bichinho virtual a um leque de preços que pode variar de acordo com o material, fabricação e funções do Tamagotchi.

A fabricante japonesa, por exemplo, relançou o bichinho virtual no fim do ano passado acoplado a uma pulseira para ser vestida como um relógio pela criançada. Outra novidade é a tela colorida, avanço em relação às décadas passadas.

PREÇO ELEVADO

O brinquedo retornou ao mercado por US$ 60 (por volta de R$ 318). Aqui no Brasil, assim como nos anos 1990, é possível encontrar os dispositivos não originais com preços a partir de R$ 20. Mas, para quem quer o autêntico Tamagotchi, ou uma variação mais rebuscada, o valor desembolsado pode chegar a R$ 485.

Para comprar um modelo neste fim de ano ainda é preciso ficar atento aos canais e lojas de compras. Os exemplares, além do preço elevado, também estão em falta nas lojas nas últimas semanas por conta da alta demanda. “Fiz uma pesquisa para saber onde estava à venda e, o que eu vi, tinha uns quatro modelinhos disponíveis. A Amanda escolheu um e compramos. Foi pela internet e chegou aqui em casa no prazo”, diz Claudia.

Uma rápida pesquisa por lojas online mostra a tendência do brinquedo. Na Amazon, dois modelos aparecem na lista dos 100 brinquedos eletrônicos mais vendidos pela empresa na semana que antecede o Natal – os dois entraram no marketplace no segundo semestre do ano.

Já no Mercado Livre, o aparelho aparece em segundo lugar no ranking de “brinquedos eletrônicos” mais populares. A lista inclui outros tipos de brinquedos, como laptops e tablets infantis.

ATENÇÃO

O conceito de um bichinho virtual já existe em diversos apps infantis, como Pou, Neopets e Moy. Mas é o Tamagotchi, um aparelho dedicado, que chama a atenção de uma geração que nasceu conectada à internet. De acordo com Pase, além do visual do aparelho, existe uma relação de estímulo e resposta muito rápida para quem está cuidando do bichinho. “Boa parte dos brinquedos traz uma recompensa que talvez possa vir, a depender de como você joga ou o nível de dificuldade do jogo. No Tamagotchi, isso é instantâneo. Se você alimentar o pet, ele vai ficar feliz. É uma mecânica muito boa”, avalia o especialista.

GESTÃO E CARREIRA

COMO USAR DADOS DE COLABORADORES PARA FORMAR UMA EQUIPE CAMPEÃ

Com a realização da Copa do Mundo, o evento mais importante do futebol, estudamos como a formação de um time campeão se assemelha a uma equipe corporativa que se consagra campeã ao atingir objetivos.

O segredo está nas competências. É necessário entender quais são as competências diferenciadas daquela pessoa e utilizá-las estrategicamente. No futebol, podemos analisar os jogadores a partir de suas competências, como: defesas, desarmes, assistências, chutes, entre outros.

No ambiente corporativo, também existem algumas formas de identificar estas competências e avaliá-las. Esta avaliação tem alguns formatos, pode ser através de pesquisas ou conversas com o líder, por exemplo. A metodologia CHAR, desenvolvida para avaliação de competências, une conhecimentos (C), habilidades (H), atitudes (A) e resultados (R). É comum que tentemos unificar os primeiros três, para então obter o resultado e isso acontece tanto no mundo corporativo, quanto no futebol.

Colaborador ou jogador, precisa unir o conhecimento técnico, com habilidades práticas e a atitude de realizar as ações, para obter o resultado ou o gol. Essa questão tem a ver também com comportamento e com o DNA da Cultura Organizacional de cada empresa, assim como acontece nos times, liderados por um técnico, que tem o seu DNA e seu time e expressa isso nos jogos.

O último técnico da seleção brasileira, Tite, possuía um DNA diferente do último técnico campeão mundial com o Brasil, o Felipão, impondo um estilo de jogo diferente, assim como sua relação com os jogadores. A métrica do desenvolvimento individual possui três principais pilares: performance, desenvolvimento e engajamento, que possibilitam “escalar” cada um em sua melhor função, a partir de suas competências, como é feito em um esquema tático. Isso potencializa as performances.

Em paralelo, é trabalhado o desenvolvimento individual. Em times de futebol, técnicos e preparadores trabalham fundamentos como cruzamentos, passes, chutes, roubadas de bola, entre outros. No mundo corporativo, também há um trabalho de competências dos colaboradores. Não podemos esquecer que questões de entrosamento com a equipe e com seu líder afetam o desempenho individual. Um indivíduo com problemas com sua equipe ou seu líder ou técnico terá problemas de performance e engajamento.

Podemos usar os dados para saber se há um alinhamento correto da equipe, se a mesma está motivada e desenvolvida de uma maneira que jogue da melhor forma possível e o resultado disso seja alcançar as metas, corporativas ou o gol. Para que isso funcione, o trabalho em equipe dentro do ambiente, seja ele qual for, é essencial, pois um setor precisa do outro, o objetivo final é um só.

Por exemplo, um time com uma boa zaga, porém um ataque ruim, terá problemas em conseguir resultados, assim como uma equipe com um setor de produtos muito produtivo, porém com um departamento de vendas com menor produtividade, terá problemas em resultados.

Trabalhar em equipe vai muito além de uma visão setorizada, onde cada um tem sua função tática, é o trabalho de olhar para a equipe como um todo, em sincronia para fortalecer os pontos que precisam de atenção e manter os pontos fortes. Com este entrosamento, as áreas podem ajudar-se entre si, gerando resultados positivos.

Podemos exemplificar, num cenário futebolístico, como a defesa, que pode avançar em campo para atuar no ataque. A função daquele jogador é defender, porém por entender que o objetivo da equipe é marcar o gol, ele se mobiliza para isso, o que comprova o engajamento, dentro do ambiente corporativo e esportivo.

Sem colaboração entre áreas, encontramos os chamados “silos”, uma separação entre departamentos que cria desalinhamento e dificulta a conclusão do objetivo final. Com o alinhamento correto, a equipe trabalha em sincronia, onde há engajamento e colaboração entre as pessoas, trabalhando por um objetivo comum.

Além disso, vale ressaltar a figura do líder, que existe em ambos os ambientes e é parte muito importante da equipe. O líder deve estar presente, junto de sua equipe, batalhando pelos resultados e fornecendo clareza de propósitos e objetivos, reforçando a importância e papel de cada indivíduo.

O líder deve “ter o time nas mãos”, manter o controle emocional e a crença da equipe em seu propósito, para levá-los a acreditar que podem ganhar o jogo, independentemente da situação adversa, pois se o líder não acredita na equipe, ninguém vai acreditar.

Ao extrair as informações de desempenho da equipe, o líder traça um plano de como seguirá agindo. Este plano de ação é voltado ao desenvolvimento de pessoas, engajamento de equipe e resultados. Isso passa por conversar com a equipe, coletando opiniões e pontos de vista, ouvindo o que pode ser feito e analisando isso para trazer um pouco do que foi sugerido para seu plano.

Outro ponto é que os dados dos colaboradores ajudam a entender a performance de cada um e a alocar cada indivíduo no “esquema tático” que o favorece. Porém, como falamos de pessoas, é preciso conhecer cada um, entender aspectos emocionais e problemas pessoais, entender cada ser como um indivíduo não uma peça de um jogo, corporativo ou esportivo.

Dados de desempenho e avaliações para encaixar o jogador ou colaborador na melhor posição possível, são instrumentos, contudo existe o lado humano das relações, e isso nunca vai se perder. Nada substitui o contato humano, a conversa e a compreensão das pessoas.

Isto está no técnico de futebol, que procura seus joga- dores para saber como estão, do que precisam, se estão se adaptando ao time e à posição, abraça o jogador que sai de campo ou na comemoração de um gol, e no líder que busca seus colaboradores para saber suas opiniões, sua relação com o time, sua satisfação com seu trabalho e sua função.

Ou seja, podemos encontrar muitas semelhanças nos ambientes de um time de futebol e no ambiente corporativo, diferindo apenas nas funções executadas. De todos os lados, é preciso garantir a noção individual do que é exigido de cada um e de como isso afeta no cenário geral.

Porém, o trabalho humanizado é uma necessidade, os dados são um instrumento para saber mais sobre as pessoas de seu time e potencializá-las, mas um time campeão trabalha com pessoas.

RAFAEL BUENO – É Bacharel em Ciências da Computação, pela UniFieo, com MBA em Engenharia de Software orientada a serviços (SOA), é Founder e CEO da Team Culture.

EU ACHO …

SUA MAJESTADE, A CRIANÇA

Tem se falado muito na falta de limites das crianças de hoje. A garotada manda e desmanda nos pais e estes, sentindo-se culpados pelo pouco tempo que ficam em casa, aceitam a troca de hierarquia – hoje os adultos é que recebem ordens e reprimendas, e não demora serão colocados de castigo.

Segundo os pedagogos, precisamos voltar a dizer não para a pirralhada. É a ausência do não que faz com que meninas saiam de madrugada sem avisar para onde estão indo, garotos peguem o carro do pai sem ter habilitação e todos sejam estimulados a consumir descontroladamente, a não dar explicações e a viver sem custódia. Mas onde encontrar energia para discutir com filho? Pai e mãe se jogam no sofá e pensam: “Façam o que bem entender, desde que nos deixem quietos vendo a novela”.

Alguns adultos defendem-se dizendo que é impossível dar limites, vigiar e orientar, tendo que sair de manhã para o batente e voltar à noite demolidos pelo cansaço. Compreendo, é complicado mesmo. Se existe uma liberalidade e uma agressividade maiores hoje entre as crianças, é claro que o fato de as mulheres terem entrado no mercado de trabalho e deixado em aberto o posto de rainhas do lar tem algo a ver com isso. Mas nem me passa pela cabeça estimular um meia-volta, volver. A sociedade avançou com a participação das mulheres e esse é um caminho sem retorno. O que compromete o destino de uma criança é não ter sido amada. E muitas não foram, mesmo com os pais por perto.

A falta de amor é a origem de grande parte das neuroses, psicoses e desvios de conduta. Uma criança que não se sentiu amada pode cometer erros de avaliação sobre si própria e cometer desvarios para conquistar uma autoestima que parece sempre fora de alcance. Não adianta o pai e a mãe passarem a mão na cabeça do filhote de vez em quando e repetir um “eu te amo” automático. A criança precisa se sentir amada de verdade, e as demonstrações não se dão apenas com beijos e abraços, e tampouco com proibições sem justa causa. O “não deixo, não pode” tem que ser argumentado. “Não deixo e não pode porque…” Tem que gastar o latim. Explicar. E prestar atenção no filho, controlar seus hábitos, perceber seus silêncios, demonstrar interesse pelo que ele faz, pelo que ele pensa, quem são seus amigos, quais suas aptidões, do que ele se ressente, o que está calando, por que está chorando, se sua rebeldia é uma maneira de pedir socorro, se está precisando conversar, se o que tem sentido é demasiado pesado pra ele, se precisa repartir suas dores, se está sendo bem acolhido pela escola, se não estão exigindo dele mais do que ele pode dar, se não foram transferidas responsabilidades para ele que são incompatíveis com sua idade, se há como entender e aceitar seus desejos, se ele está arriscando a própria vida e precisa de freio, se estamos deixando ele sonhar alto demais, se estamos induzindo que ele sonhe de menos, se ele está recebendo os estímulos certos ou desenvolvendo preconceitos generalizados. Dá uma trabalheira, mas isso é amar.

Algumas crianças são criadas por empregadas, ou seja, são terceirizadas e depois o psiquiatra que junte os cacos. Com amor, ao contrário, toda criança sente-se ilustríssima, majestade, vossa excelência, sem fazer mau uso do cargo. Será confiante e segura como um rei e não se violentará para agradar os outros (usando drogas ou imitando o resto do grupo). Será o que é, afinada com o próprio eixo. E se transformará num adulto bem resolvido, porque a lembrança da infância terá deixado nela a dimensão da importância que ela tem.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

MELHOR QUE 7 ONDAS

Dicas de especialistas para começar 2023 em dia com a saúde mental

O total de brasileiros que encaram a saúde mental como um dos maiores problemas da área mais que dobrou nos últimos quatro anos, segundo a pesquisa Monitor Global dos Serviços de Saúde, realizada pela Ipsos.

A taxa fica acima da média global. Enquanto, no mundo, 36% da população relata apreensão com o bem-estar da mente, esse percentual chega a quase metade dos entrevistados no Brasil (49%). Mas, como traduzir essa preocupação em hábitos e práticas para se incorporar à rotina e viver melhor?

Implementar mudanças pode ser uma boa ideia especialmente agora, que um novo ano se inicia. Por isso, ouvimos especialistas que listaram sete dicas para você começar o ano em dia com a sua saúde mental.

CUIDE DA ALIMENTAÇÃO

Os efeitos de uma boa rotina alimentar na saúde mental têm motivado uma área da ciência chamada de psiquiatria nutricional. Uma série de estudos nesse campo confirma impactos psíquicos positivos em dietas pobres em ultraprocessados e ricas em legumes, verduras e outros alimentos nutritivos.

Uma análise sobre o tema publicada na revista científica BMJ sugere que substâncias consideradas nocivas para a saúde aumentam o estado de inflamação do organismo – o que já foi associado à depressão.

Além disso, a alimentação é parte crucial para se manter uma microbiota equilibrada, nome dado à população de microrganismos que vivem no intestino. O papel dessa região do corpo na mente é cada vez mais compreendido, sendo chamado inclusive de “o segundo cérebro”. Isso porque, entre outros motivos, é lá que é produzida cerca de 90% de toda a serotonina do corpo, um neurotransmissor que atua na mediação do humor.

COLOQUE O SONO EM DIA

Outro ponto abordado pelos especialistas é manter uma rotina de sono regular, de ao menos 7 horas por noite. O repouso adequado é essencial pois há processos fisiológicos de limpeza de substâncias tóxicas no cérebro que apenas acontecem durante a noite.

O descanso também garante mais disposição no dia seguinte para lidar com as questões do cotidiano, como problemas no trabalho, apertos financeiros e desentendimentos familiares.

“É muito importante estar atento ao sono porque, além de ele poder contribuir para uma boa saúde mental, é um dos principais fatores de aferição dela: um dos primeiros sintomas de ansiedade e depressão é justamente a insônia”, acrescenta o psiquiatra Ricardo Patitucci, diretor clínico da Casa de Saúde Saint Roman, no Rio de Janeiro.

ABANDONE O SEDENTARISMO

Trabalhar o corpo também é indispensável para prevenir e combater o sofrimento mental. A prática estimula áreas do cérebro e a liberação de substâncias analgésicas, como a endorfina e os endocanabinoides, que são moléculas produzidas pelo nosso corpo, mas que atuam nos mesmos receptores que os canabinoides extraídos da planta cannabis.

A atividade física também induz a produção de dopamina e serotonina, neurotransmissores que exercem um papel na comunicação entre os neurônios e ativam o sistema de recompensa do cérebro, promovendo a sensação de prazer e bem-estar.

“Nós temos um conhecimento muito grande sobre os benefícios clínicos da atividade física, e corpo e mente não são separados, cuidar de um é cuidar do outro”, diz o psicólogo Bruno Emerich, professor da faculdade São Leopoldo Mandic Araras, onde coordena uma especialização em saúde mental.

No geral, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um mínimo de 150 minutos de atividade física moderada ou 75 de exercício intenso. No entanto, um estudo com mais de 37 mil pessoas em 16 países, incluindo o Brasil, liderado por pesquisadores da King’s College de Londres, no Reino Unido, mostrou que movimentar-se por 15 minutos e 9 segundos ao dia já proporciona melhora do bem-estar mental.

VOLTE AOS ESTUDOS

Patitucci diz que o início de ano é também uma boa oportunidade para aprender uma nova atividade, o que promove o estabelecimento de novas conexões cerebrais, ocupa a rotina e ajuda a dar uma sensação de propósito.

“Com o passar do tempo, e até mesmo pelo número limitado de experiências que nos estão disponíveis, tendemos a repetir as mesmas coisas e vamos nos fechando para as novidades. Porém, é fato que aprender uma nova atividade, além de contribuir para nossa saúde mental, também é um dos principais fatores de proteção contra a demência” acrescenta o psiquiatra.

INVISTA EM REDE DE APOIO

Para Emerich, o início de um novo ano é um bom momento para analisar as pessoas que estão ao nosso redor e entender se elas formam uma “rede de suporte”, ou seja, as pessoas que podem atuar como apoio em momentos de sofrimento emocional. Muitas vezes, há quem viva em grandes famílias, ou cercado de amigos, porém na hora da necessidade, não sabe a quem recorrer.

DESCONECTE-SE DAS REDES

Os especialistas explicam que a “vida perfeita” exposta nas redes sociais, que sãopartes editadas da vida real, levam a uma comparação excessiva e cria padrões de beleza, felicidade e produtividade inalcançáveis.

Por isso, ainda que não seja necessário um completo abandono das mídias, reduzir o uso, especialmente para aqueles que passam boa parte do dia com o celular na mão, é uma boa ideia. Uma estratégia disponível em aplicativos como o Instagram que pode ajudar é a de limitar nas configurações o tempo de uso.

Emerich acrescenta que essa conexão 24h, além dos prejuízos já citados, torna mais difícil para a pessoa deixar as preocupações de lado e aproveitar os momentos de descanso e de lazer, pois ela acaba sempre acreditando que deveria estar fazendo outra coisa.

CONSIDERE A TERAPIA

Casos graves ou delicados podem demandar o acompanhamento de um profissional – ajuda que não deve ser estigmatizada:

“Muitas pessoas ainda têm a ideia de que só devemos procurar um psicólogo quando não estamos bem. Porém, o autoconhecimento que a terapia nos proporciona nos ajuda a lidar melhor com situações de crise. Não precisamos esperar a depressão ou ansiedade surgirem para irmos ao psicólogo”, diz Patitucci.

Emerich concorda, e ressalta que o olhar mais atento da sociedade para o bem-estar psíquico tem ajudado a quebrar esses preconceitos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MEDO DE ATAQUES DE PÂNICO? APRENDA COMO LIDAR COM ELES

O coração dispara, a respiração fica difícil, mas geralmente passa em 10 minutos; a boa notícia é que o transtorno é altamente tratável

Os ataques de pânico giram em torno do terror. Embora associados principalmente à mente, eles são, na verdade, constelações de sintomas, tanto físicos quanto cognitivos. Seu cérebro é tomado pelo medo, seu corpo responde e pode ser difícil entender tudo isso. A maioria dos especialistas define um ataque de pânico como um início súbito de medo intenso, em oposição a uma condição como a ansiedade geral, que normalmente se manifesta como uma preocupação quase constante.

Pessoas com ataques de pânico são bombardeadas por sintomas físicos e mentais. Seus corações podem disparar. Elas podem sentir que não conseguem respirar. Seus membros podem formigar. Às vezes, elas tremem e podem ficar com náusea.

O peito pode ficar apertado. Algumas pessoas podem sentir calor e suar, outras sentem calafrios. E depois há o medo agitado e desestabilizador. No meio de um ataque de pânico, as pessoas podem temer que estejam ficando loucas, perdendo o controle de suas mentes e corpos. Podem pensar que é um ataque cardíaco ou que vão morrer.

A maioria das pessoas que tem ataques de pânico regularmente não sente todos esses sintomas, mas pode ter muitos deles. Um pequeno subconjunto de pessoas, no entanto, tem ataques de pânico com sintomas limitados, nos quais se somam três ou menos.

E, quase tão repentinamente quanto surgem, os ataques de pânico geralmente se dissipam. Os sintomas aumentam ao longo de 10 minutos e costumam desaparecer em meia hora, embora possa haver efeitos prolongados.

A experiência pode ser traumática, no entanto, e as pessoas podem começar a temer sensações que as lembrem de seus sintomas – como sentir falta de ar depois de subir um lance de escadas. Elas também podem evitar qualquer coisa que as lembre do episódio – a mercearia onde seu coração bateu forte, a comida que estavam comendo quando o pânico chegou.

Algumas pessoas podem desenvolver transtorno do pânico, que os psicólogos definem como ataques de pânico repetidos e inesperados que interferem nas funções diárias. Enquanto 15% a 30% das pessoas podem ter pelo menos um ataque de pânico na vida, apenas 2% a 4% desenvolverão transtorno do pânico, afirma Franklin Schneier, codiretor da Clínica de Distúrbios de Ansiedade do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York. Um subconjunto dessas pessoas – 1 em cada 3 – também desenvolve agorafobia, transtorno que pode envolver medo extremo de lugares públicos ou lotados, transporte público, ficar em uma fila ou sair de casa.

CAUSAS

Um conjunto diversificado de estressores – como eventos traumáticos, preocupações financeiras ou até mesmo falar em público – pode levar a ataques de pânico. Mas eles também podem ocorrer inesperadamente.

O estresse intenso ativa o sistema nervoso simpático, uma rede de nervos que desencadeia a resposta de “luta ou fuga” ao perigo percebido. O corpo libera substâncias químicas como epinefrina, também conhecida como adrenalina, e norepinefrina, que fazem o coração acelerar, as pupilas incharem e a pele liberar suor. O sistema nervoso parassimpático retorna o corpo ao seu estado original. Se ele não for ativado após algum tempo, um ataque de pânico pode deixar uma pessoa nesse estado elevado de excitação.

Muitos pesquisadores acreditam que os ataques de pânico podem ocorrer quando o cérebro não é capaz de enviar mensagens entre o córtex pré-frontal, que está associado à lógica e ao raciocínio, e a amídala, que governa a regulação emocional. Durante um ataque de pânico, a amídala fica hiperativa, enquanto o córtex pré-frontal fica menos responsivo.

Qualquer um pode experimentar um ataque de pânico. O risco, no entanto, é maior para adolescentes e pessoas na faixa dos 20 anos. Se você não teve um ataque de pânico aos 45 anos, é pouco provável que tenha um episódio mais tarde na vida. As mulheres têm duas vezes mais possibilidades de ter ataques de pânico do que os homens, mas os pesquisadores não sabem ao certo o motivo.

PREVENÇÃO

Para ataques recorrentes, você pode querer procurar um terapeuta. Formas de terapia cognitivo-comportamental, nas quais um clínico estimula você a desafiar os medos e sensações durante um ataque de pânico, podem estar entre os tratamentos mais eficazes. O processo pode ajudar a mudar seus padrões de pensamento, dessensibilizando o para a angústia subjacente que desencadeia ataques de pânico. Alguns medicamentos, incluindo antidepressivos como inibidores seletivos de recaptação de serotonina, ou ISRSs, podem ajudar a controlar ataques de pânico.

Por mais desconcertantes que possam ser os ataques de pânico, é importante lembrar que eles são altamente tratáveis e que, tão repentinamente quanto podem surgir, eles começam a desaparecer.

OUTROS OLHARES

OBESIDADE AUMENTOU TAXAS DE DIABETES EM JOVENS NO MUNDO

Pesquisa apontou que IMC elevado influiu mais na alta que outros fatores

As taxas de diabetes tipo 2 em adolescentes e adultos jovens aumentaram substancialmente em todo o mundo entre 1990 e 2019. A conclusão é de uma análise publicada na revista científica The BMJ, com base em dados de 200 países e regiões. O alto índice de massa corporal é apontado como o principal fator de risco para o desenvolvimento precoce da doença. O diabetes tipo 2 tradicionalmente se desenvolve em pessoas de meia-idade e idosos e acarreta riscos aumentados de complicações graves, incluindo doenças cardíacas, perda de visão e morte.

Dados sugerem que o início precoce do diabetes tipo 2, quando diagnóstico ocorre antes dos 40 anos, está se tornando cada vez mais comum. Porém, até agora, nenhum estudo descreveu especificamente a carga global do diabetes tipo2 surgido precocemente, ou as variações entre os sexos e em países com diferentes níveis de desenvolvimento socioeconômico.

Para preencher essas lacunas, os pesquisadores analisaram dados do Global Burden of Disease Study 2019.

Os resultados mostram que a taxa de incidência para diabetes tipo 2 em adolescentes e adultos jovens aumentou globalmente de 117 por 100 mil habitantes em 1990 para 183 em 2019.

No mesmo período, a taxa de mortes e anos de vida ajustados por incapacidade para essa faixa etária aumentou de 106 para 150 por 100 mil. A taxa de mortalidade por idade aumentou modestamente, saindo de 0,74 para 0,77 por 100 mil.

Países com índice sociodemográfico médio-baixo e médio (uma medida de desenvolvimento social e econômico) foram particularmente afetados. As mulheres com menos de 30 anos também foram mais atingidas do que os homens. Acima dessa faixa etária, as diferenças entre os sexos foram revertidas.

O principal fator de risco para o diabetes tipo 2 de início precoce foi o alto índice de massa corporal (IMC). Isso se repetiu em todas as regiões analisadas. Já a contribuição de outros fatores de risco variou entre as regiões.

Por exemplo, em países com alto índice sociodemográfico, os principais foram poluição do ar por partículas e tabagismo. Já nos países com baixo índice sociodemográfico, apareceram a poluição do ar interno pela queima de combustíveis sólidos e uma dieta pobre em frutas.

As limitações do estudo incluem diferenças na definição de diabetes tipo 2 e alta probabilidade de subdiagnóstico em muitos países.

AÇÕES GLOBAIS

“Nosso estudo mostrou uma clara tendência ascendente do ônus do diabetes tipo 2 de início precoce de 1990 a 2019. Essas descobertas fornecem uma base para entender a natureza epidêmica do diabetes tipo 2 de início precoce e exigem ações urgentes para lidar com o problema de uma perspectiva global”, escreveram os autores.

GESTÃO E CARREIRA

SAÚDE MENTAL DEIXA DE SER TABU E ENTRA NO RADAR DAS EMPRESAS

Preocupação como bem-estar dos funcionários vira fator de retenção de talentos e fomenta mercado de serviços especializados

Os problemas ligados à saúde mental aos poucos vêm deixando de ser um assunto tabu nas empresas. Antes mesmo da pandemia, as companhias passaram a se preocupar mais com o bem-estar dos funcionários, seja por meio de soluções próprias ou contratando serviços externos. Hoje, os investimentos na área são uma forma não apenas de cuidar da saúde dos empregados, mas de reter e atrair talentos. A preocupação também fomenta o mercado de empresas especializadas em saúde mental, que viram suas bases de clientes se multiplicarem. Na Mondelez Brasil, o trabalho na área vem sendo feito desde 2018. A empresa transformou o clássico ambulatório em um programa de saúde integral, que inclui médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas.

“Implementamos assistência social e psicólogos, adicionalmente a um programa de auxílio jurídico e planejamento financeiro, porque, via de regra, uma das questões que levam a pessoa ater problemas emocionais é a saúde financeira”, conta Jorge Morato, diretor de Saúde, Segurança e Meio ambiente da Mondelez Brasil.

A empresa também promoveu flexibilizações no período de trabalho às segundas e sextas-feiras, além de realizar um evento anual para debater o tema. Outras iniciativas foram a utilização de um aplicativo que, entre outras funções, permite ao funcionário fazer terapia on-line, e a realização de uma triagem para mensurar como está a saúde mental de cada empregado.

“Durante a pandemia, percebemos que precisávamos chegar antes e não ser só reativo. Conseguimos mapear casos na fase inicial e direcionar o apoio correto. Essas pessoas, se o mercado vier e oferecer um dinheiro a mais, vão ponderar o cuidado que tiveram quando precisaram”, avalia Morato.

Desde 2019, a unidade brasileira da multinacional de tecnologia SAP também realiza atividades direcionadas à saúde mental. Entre elas, estão rodas de conversas, campanhas de conscientização e parcerias com empresas especializadas, que disponibilizam consultas com psicólogos. A SAP subsidia um percentual das sessões.

A diretora de Recursos Humanos da SAP Brasil, Fernanda Saraiva, destaca que, além dos funcionários, é importante sensibilizar os gestores, para que se crie uma cultura na qual haja liberdade para falar desses problemas:

“O RH não consegue estar em todos os lugares, então, é muito importante a conscientização dos líderes de equipes. Se você não trabalhar saúde mental, vai estar com um problema na mão para atrair e reter talentos.

MERCADO AQUECIDO

Fernanda conta que a empresa decidiu criar um feriado corporativo. A iniciativa começou em 2021 e é um convite para que os funcionários façam atividades que gerem satisfação neste dia.

“A gente sabe que é simbólico, mas foi uma forma de a organização dizer que saúde mental é muito importante.

Trabalhando em uma multinacional há 22 anos, o gerente de Merchandising José Mário Lessa lidera um time de 500 pessoas em São Paulo e vê benefícios nessas iniciativas. Nos últimos anos, tem feito uso dos serviços que a empresa oferece, como flexibilizações no horário de trabalho e um aplicativo de terapia on-line. Para ele, a preocupação da companhia é um diferencial quando pensa em seu futuro profissional:

“Vez ou outra somos assediados pelo mercado, e um dos fatores que ajudam na decisão é olhar o quanto a companhia tem de preocupação comigo.

Alexandre Benedetti, diretor da Talenses, especializada em recrutamento e seleção, ressalta que as empresas passaram a olhar a questão não apenas como um assunto dos departamentos de RH:

“Para ter retenção, primeiro você precisa ter atração. Isso tem a ver com produtividade, engajamento.”

A movimentação das empresas também estimula o crescimento de um mercado de companhias especializadas em oferecer soluções para saúde mental. É o caso da Zenklub, criada em 2016 após a mãe do CEO, Rui Brandão, sofrer um burnout no trabalho.

A empresa possui um aplicativo com conteúdos que incluem meditação interativa, videoaulas e consultas virtuais, além de capacitação e treinamento de lideranças.

“Há uma motivação de humanizar mais o lugar de trabalho e trazer um benefício que está atrelado ao desenvolvimento socioemocional dos funcionários e também ao amadurecimento das lideranças”, comenta Brandão.

De 2019 para 2021, o volume de consultas on-line realizadas pela Zenklub cresceu 1.059%, chegando a 603 mil sessões. Já o número de vidas cobertas aumentou 1.664% no mesmo período, chegando a 300 mil vidas. Hoje, são 400 clientes corporativos.

Uma experiência pessoal negativa ao lidar com problemas de saúde mental também foi o motivador para a criação da Vittude, em 2016. Segundo a CEO, Tatiana Pimenta, a empresa começou como um marketplace que conectava pessoas que queriam fazer terapia a psicólogos. Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) sinalizou, ainda em 2018, que o burnout poderia se tornar uma doença de trabalho, Tatiana viu uma oportunidade para que a companha crescesse:

“Significava que eu estava deixando de dizer que o burnout é uma doença da pessoa e dizendo que ela é causada pelo ambiente de trabalho, o que tem previsão previdenciária e trabalhista. Foi quando começamos a fazer as primeiras interações com empresas.

FOCO NA PREVENÇÃO

Com a pandemia, a base de clientes corporativos explodiu, passando de sete, em março de 2020, para 200 hoje. Em número de vidas cobertas, o salto foi de 5 mil para 600 mil.

Vendo o crescimento desse mercado, o Gympass, que tinha como foco a saúde física, comprou a Vitalk, uma startup de saúde mental. A empresa oferece a solução Wellz, que fornece terapia on-line, além de conteúdos autoguiados e capacitações para o colaborador e para as lideranças da empresa. A plataforma viu o número de usuários mais que triplicar entre novembro de 2021 e novembro de 2022.

“Temos uma abordagem muito preventiva, tentando motivar todo mundo a cuidar da saúde mental para prevenir e não para curar uma doença. Porque, quando a pessoa chega nesse ponto, tem um sofrimento longo”, explica a psicóloga e líder do time clínico da Wellz, Ines Hungerbühler.

A gestora Oliveira Trust também decidiu apostar na união das duas vertentes, física e mental, para ajudar seus colaboradores a enfrentarem a jornada estressante do mercado financeiro. Além de implantar a “hora da fruta” – quando uma funcionária passa de mesa em mesa oferecendo os alimentos já cortados e higienizados – e adotar o aplicativo VIK de exercícios físicos, em setembro a empresa começou a oferecer atendimento psicológico por meio da plataforma Auster.

“Percebemos uma melhora não só na saúde física, com redução dos atendimentos médicos, mas uma evolução nos relacionamentos interpessoais, com as equipes mais tolerantes e com menos brigas”, conta a gerente de Gestão de Pessoas, Carla Maia.

O benefício da terapia on-line foi utilizado pela publicitária Laís Marques, que trabalha em uma startup de delivery há um ano. Laís, que já teve burnout, viu uma melhora em sua produtividade:

“Sempre fui ansiosa e, como a empresa dava esse benefício, resolvi participar.

EU ACHO …

O AMOS QUE A VIDA TRAZ

Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia solicitado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor  escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja, como quem diz: ah, este me serviu direitinho!

Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

PARA TODOS OS GOSTOS

Queijo entra na dieta, mas com ressalvas

Na mesa, um café quentinho, bolo ou fruta, pão com fatias de queijo. Essas opções podem estar na mesa de muitos brasileiros logo e, aparentemente, não apresentam grandes riscos à saúde, mas, tornar o consumo de alimentos processados, como o queijo, comum na rotina pode aumentar os níveis de gordura, de sódio e até mesmo elevar as chances de obesidade e de doenças no coração.

Os queijos são importantes para a dieta por serem ricos em vitamina A, proteínas e cálcio, mas devido à fabricação e armazenamento, feitos com adição de sal e outros ingredientes nocivos, acabam criando e potencializando problemas de saúde.

O Guia Alimentar Para a População Brasileira, disponibilizado pelo Governo Federal, adverte para a redução do consumo dos queijos, principalmente para quem já tem histórico de doenças relacionadas ao consumo de sal e gordura. Para melhorar a alimentação, é importante buscar por produtos mais naturais e se atentar aos rótulos.

ALIMENTOS PROCESSADOS

Apesar de manterem a identidade básica e a maioria dos nutrientes do leite, os queijos são classificados como processados devido à adição de sal e de micro-organismos de fermentação, que empobrecem a composição nutricional e podem estar associados a doenças do coração, obesidade e outras doenças crônicas.

Camila Kümmel, professora de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta que o problema em relação ao consumo dos queijos é o excesso.

“Os queijos são fonte de gordura, principalmente animal. Ela é conhecida como saturada e, em excesso, não faz bem à saúde. A grande questão é saber qual o nosso objetivo com o consumo de queijo, pois a gordura não é vilã, nós precisamos dela para o funcionamento do corpo, mas o excesso é um grande problema, principalmente porque o queijo também tem bastante sódio.”

De acordo com a especialista, é importante evitar aqueles produtos que são ultraprocessados, como o cream cheese, o requeijão e aqueles vendidos em “quadradinhos”.

“Esses queijos são mais complicados, pois são alimentos ultraprocessados, ou seja, contêm muitos conservantes, corantes e saborizantes. Os queijos que passam por processos mais naturais de maturação e fermentação são mais saudáveis”, afirma Kümmel.

DIETA

A nutricionista complementa afirmando que os queijos são necessários para a dieta, principalmente porque são excelentes fontes proteicas e ajudam na manutenção da imunidade e da massa muscular, o que contribui para a longevidade, além de terem alta densidade de cálcio.

Na rotina, é comum a ingestão de diferentes tipos de queijo, como o prato, muçarela, minas ou parmesão. Contudo, há recomendações sobre quais são mais saudáveis e ideais para a alimentação diária.

A nutricionista Priscilla Primi sugere privilegiar os queijos frescos, aqueles com grande quantidade de água e pouca concentração de gordura, como o cottage, o minas frescal e a ricota, e que necessitam de refrigeração.

“Os queijos frescos são os mais recomendados para o café da manhã, o lanche da tarde, saladas, pois têm densidade calórica menor do que os amarelos, mais gordurosos, como o parmesão, o grana padano, provolone, que geralmente são armazenados fora da geladeira”, explica Primi.

Em um “ranking” de queijos ideais, a nutricionista recomenda priorizar os frescos e, em seguida, o prato e a muçarela, tipos “intermediários”, já que têm menos calorias e podem ser aliados na dieta, mas lembra que o consumo não deve ser excessivo.

Além disso, Primi explica que os queijos de mofo branco, como o brie, e azul, a exemplo do gorgonzola, devido ao sabor forte, não são consumidos em grande quantidade, o que diminui a ingestão calórica e de sal.

Para quem precisa perder peso, ela chama atenção para a leitura dos rótulos, porque os queijos que mais ajudam na redução de adiposidade são aqueles com baixo índice calórico por porção, ou seja, de energia.

Como exemplo, Camila Kümmel sugere o consumo de ricota e do queijo minas frescal:

“Ler o rótulo é muito importante, pois é ali que vamos conhecer as certificações de segurança microbiológica e a tabela nutricional, que vão nos dizer se o queijo que estamos comprando é queijo de verdade. A partir da tabela, podemos comparar os queijos, saber qual tem menos gordura e sódio por porção.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

É POSSÍVEL CRIAR LAÇOS PÓS OS 30

Ampliar as amizades depois de uma certa idade pode ser desafiador, mas muito positivo. Saiba como encontrar – e manter – esse vínculo

Durante a infância e a adolescência, parecia fácil fazer amizades. Afinal, os assuntos de interesse e os ambientes frequentados eram praticamente os mesmos. Na vida adulta, porém, as coisas mudam um pouco. Parece que a agenda está sempre ocupada com outras obrigações e que nunca sobra tempo para fazer novos amigos. É como se estabelecer esses vínculos depois dos 30 anos deixasse de ser tão simples quanto parecia ser.

E há várias razões para essa sensação. Ana Paula Vedovato, psicóloga pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), explica que isso pode ser atribuído a uma maior resistência que a experiência de vida nos traz. “Ficamos menos dispostos a nos abrir, a confiar naquilo que a gente não conhece, e passamos a preferir aquilo a que já estamos acostumados e que não nos vai pegar de surpresa”, afirma a psicóloga.

Esse movimento, diz ela, é resultado das nossas vivências, mas sobretudo da forma como lidamos com elas. “Somos atravessados por nossas experiências traumáticas e muitas vezes nem sabemos o quanto elas nos afetam. Isso nos coloca em uma posição defensiva em relação ao outro.” Essa resistência pode determinar o caminho que cada indivíduo vai percorrer no campo afetivo e o quão aberto ele estará a novas conexões.

A falta de autoconhecimento também pode dificultar. “Se conhecemos novas pessoas, o potencial para a amizade está dado, mas para isso precisamos nos conhecer, saber o que nos faz bem e quais os nossos limites”, adverte. Isso porque, segundo a psicóloga, reconhecer os próprios interesses é o primeiro passo para encontrar pessoas que também se identifiquem com eles. Da identificação surgem os vínculos que formam amizades mais sólidas. “Mas nem todos se conhecem dessa forma”, pondera.

QUANDO A INTERNET UNE AS PESSOAS

A designer gráfica Mariana Nóbrega, de 37 anos, reconhece essas dificuldades. “Quando você é jovem, basta gostar da mesma banda para considerar uma pessoa sua amiga. Só que depois de adulto você vai ficando mais exigente e fechado”, afirma. Mesmo assim, ela conheceu novos amigos e viu que idade não é empecilho para que amizades sejam feitas. Foi em uma sala do Clubhouse – aquela rede social que bombou no início de 2021 – que Mariana conheceu seus novos amigos. “Quando entrei no aplicativo, tinha uma sala rolando com algumas pessoas e conhecia só duas delas”, conta. O objetivo da sala era que seus participantes imitassem gurus bilionários – no melhor estilo Elon Musk. “Me botaram para falar e eu entrei na brincadeira”, lembra. Foram dias dando boas risadas, como ela não dava havia muito tempo. “Dessa sala, fizeram um grupo no WhatsApp com algumas das pessoas. E é com essas pessoas que eu, de forma aleatória, fiz amizade depois dos 30 anos”, revela.

O encontro desse grupo, formado por 13 amigos, só aconteceu oito meses depois de se conhecerem. Antes disso, todas as conversas eram pelas redes sociais. Isso não significou, no entanto, que não era uma amizade sólida. Pelo contrário. “Temos uma intimidade que eu demorei anos para construir com outras amizades. Frequentamos a casa um do outro, saímos para almoçar, vamos para bares. Hoje é uma amizade do mundo real”, conta.

O QUE MUDA DEPOIS DOS 30?

Segundo Ana Lúcia Pandini, psicóloga e docente da Universidade Mackenzie, além das mudanças individuais há mudanças nas próprias relações após os 30 anos. A ideia de que “tudo é para sempre”, por exemplo, deixa de ser verdade absoluta na vida adulta. E foi o que Mariana percebeu. “A gente vai aprendendo que nada é para sempre, nada é tão intenso quanto era na adolescência”, diz ela, que hoje não se preocupa tanto com a necessidade de ter amizades que durem uma vida inteira. “Enquanto for legal para os dois lados, que dure. Se não for, não tenho problema em encerrar um ciclo, mesmo não sendo fácil”, garante Mariana.

A psicóloga atribui isso à compreensão, que a maturidade pode trazer, de que o fim de uma amizade é um processo normal das relações humanas. Depois dos 30, pode ficar mais fácil entender que as pessoas mudam e, com elas, as amizades também.

Os tipos de amizades e as formas como elas são construídas também vão mudar. Durante infância e adolescência, as amizades têm uma característica de fusão e costumam ser formadas pela presença de aspectos semelhantes. “As crianças, por exemplo, não enxergam diferenças, mas se identificam pelas brincadeiras em comum”, explica.

Já a amizade entre adolescentes costuma funcionar por tribos. “Eles se agrupam entre pessoas que escutam o mesmo tipo de música, frequentam as mesmas festas, vestem as mesmas roupas. O que importa para o adolescente é ficar diferente dos pais, mas os amigos são todos muito iguais”, afirma. Mas a partir dos 30 anos, Ana Lúcia avalia que existe uma mudança na qualidade das amizades. “Elas mudam para melhor, porque deixam de ser amizades nesse modelo de fusão, em que as pessoas precisam ser iguais para serem amigas.” Amigos podem até ter um estilo de vida diferente, mas têm valores individuais parecidos. É como se na vida adulta fosse mais importante compartilhar os mesmos valores do que os mesmos gostos. “As amizades da fase adulta costumam ser aquelas com mais liberdade, autonomia e que mais agregam coisas novas à vida”, avalia.

Mesmo amizades que nascem na infância ou adolescência vão precisar passar por esse processo de transformação, em que vão entender que é possível existir amizade com diferenças entre as pessoas. Por isso, a diferença que talvez atrapalhasse uma amizade na adolescência costuma não ser problema na vida adulta, mesmo que características em comum continuem sendo essenciais para firmar as conexões.

O PODER DAS AMIZADES

Essa também não era uma preocupação de Lola Ribera que, aos 54 anos, decidiu que era hora de fazer novos amigos. A decisão, porém, veio após certa resistência. “Parecia difícil encaixar novos amigos na minha vida depois dos 50 anos. Eu já tinha tido uma vida inteira, construído uma família”, conta. Mas o sentimento de estar sozinha a fez mudar de ideia.

“Aos 50, eu me sentia sozinha e com poucos amigos”, lembra ela, que decidiu buscar novos amigos por meio do ciclismo, esporte que ela já praticava. “Comecei a procurar grupos no Facebook, encontrei um e meti as caras”, avisa. Graças ao grupo, ela viu seu círculo de amizades aumentar. “Fiz três grandes amigos graças ao ciclismo. Pessoas que se tornaram parte da minha vida, mesmo fora do ciclismo, com quem criei uma relação de carinho.”

Ela enxerga inúmeros benefícios nessas novas amizades. “Eles me ajudaram a sair da depressão. Hoje, vamos um para a casa do outro, beber cerveja, comer alguma coisa, conversar e dar risada. Tudo isso me faz muito bem”, explica.

De fato, as amizades podem acrescentar muito na vida das pessoas. Ana Lúcia alerta para o importante papel que elas têm na saúde mental e no bem-estar. “Os amigos funcionam como uma rede de ajuda”, diz. “É uma forma de apoio emocional em um momento de necessidade, mas também um apoio para questões práticas, que podem ser úteis em situações do dia a dia.”

Compartilhar a vida com os amigos também envolve a sensação de proteção. É como se, dentro das relações de amizade, fosse possível construir um ambiente de segurança e confiança, que facilita a criação dos vínculos. A psicóloga pondera que é justamente pela falta dessa sensação de segurança que algumas pessoas têm dificuldade em criar vínculos tão fortes com familiares. “Por isso a gente diz que os amigos são a família que a gente escolhe.”

Além disso, os amigos também oferecem momentos de lazer e diversão e possibilitam um maior autoconhecimento dos indivíduos. Ana Lúcia acrescenta que, nesse sentido, a amizade é uma via de mão dupla. “O outro pode ser um modelo para aspectos da sua personalidade que você ainda precisa desenvolver; e você pode ser um modelo para que o outro também se desenvolva.”

COMO ESTAR MAIS ABERTO A NOVAS AMIZADES?

Elaine Vasconcelos, de 74 anos, estava aberta a fazer novos amigos e decidiu fazer isso viajando pelo mundo. Ela coleciona alguns passaportes e muitos carimbos de países diferentes, mas o mais importante, para ela, são os amigos feitos durante essas experiências. Isabel Penteado é uma delas. “Eu a conheci em uma viagem para o Atacama (deserto no Chile) e depois fizemos outras viagens juntas. A última foi para a Armênia. A gente se fala todo dia e eu tenho muito carinho por ela”, diz Elaine.

Ela também conheceu Paulo e Rosana, um casal de amigos que fez quando viajou para o Vietnã. “Fizemos muitas viagens juntos depois dessa, a última delas para a Austrália e Nova Zelândia”, lembra. E já tem planos para o ano que vem: vai para a Holanda com uma outra amiga, Selma, que também conheceu em uma de suas inúmeras viagens. “São pessoas muito queridas e amizades muito importantes para mim.”

Isso é o que a psicóloga Ana Lúcia chama de “estar aberto ao mundo”. “Estar aberto ao mundo significa manter a vontade de conhecer lugares novos, de fazer atividades culturais diferentes e não abrir mão do lazer. Uma pessoa que se isola disso é provável que enfrente mais dificuldade em fazer novas amizades”, explica. Esse é um importante caminho para quem busca novas amizades após os 30 anos, mas não o único. Confira, no quadro ao lado, outros modos de fazer amizades na vida adulta.

DICAS

Quer fazer amigos? Essas táticas podem ajudar

INTERNET

Há grupos de interesses diversos na internet, como de ciclismo, fãs de uma determinada banda ou de viajantes. Apps focados em amizade, como o Slowly – conectam pessoas de diferentes países.

AUTOCONHECIMENTO

“Quando você se conhece, consegue ter mais clareza de quem são as pessoas que acrescentam em sua vida”, explica a psicóloga Ana Lúcia.

TRABALHO

O ambiente de trabalho ocupa boa parte da rotina depois dos 30 anos. É possível aproveitar esse ambiente para fortalecer conexões.

HOBBIES

Os hobbies, em especial quando realizados em grupo, podem ajudar na formação de novas amizades. O fundamental é que sejam atividades que você goste de fazer.

EVITE AS COBRANÇAS

Fazer amigos não é uma competição, mas um processo natural. “É importante respeitar o tempo em que as relações se desenvolvem”, diz Ana Lúcia.

OUTROS OLHARES

EM 5 ANOS DE #METOO, CRESCE NA MÍDIA A ONDA DE DENÚNCIAS DE ABUSO SEXUAL

Ronan Farrow, que revelou os casos de Harvey Weinstein, afirma que aumentou visibilidade dos crimes de figuras poderosas

Os artigos sobre Harvey Weinstein e o subsequente movimento #MeToo desencadearam uma avalanche de acusações contra figuras poderosas e, em última instância, reconfiguraram a forma como a imprensa cobre as histórias de poder e abuso sexual.

Segundo Ronan Farrow, cujo trabalho de jornalismo investigativo foi chave para a queda de Weinstein, “a disposição para noticiar esse tipo de crime é mais forte nas redações do que há cinco anos”.

“Parece que estamos em uma era realmente promissora em relação à vontade de repórteres e editores de ir atrás de vacas sagradas e confrontar instituições poderosas”, declarou o colaborador da revista The New Yorker.

As revelações de Farrow sobre Weinstein lhe renderam em 2018 um prêmio Pulitzer ­ que ele compartilhou com Jodi Kantor e Megan Twohey, duas repórteres do jornal The New York Times.

Após as primeiras histórias publicadas por esses dois veículos, em outubro de 2017, a cobertura midiática do # Me Too e de casos de abuso sexual aumentou 52% no ano seguinte, segundo a organização feminista Women’s Media Center. “Esse foi um ano em que a mídia e a própria verdade estiveram sob assédio”, disse a presidente da organização quando o estudo foi publicado.

“Ao expor práticas individuais e institucionais horríveis, vemos uma oportunidade para nova transparência e mudanças permanentes em direção a uma maior igualdade e poder para as mulheres.”

NOVA ERA

Depois do caso de Weinstein, as denúncias de atos criminosos de figuras importantes como o financista Jeffrey Epstein e o cantor R. Kelly foram reexaminadas à luz de uma nova era, e as acusadoras foram levadas muito mais a sério.

Para Scott Berkowitz, presidente e fundador da Rainn, organização americana contra violência sexual, “uma das grandes consequências do #MeToo tem sido mostrar à pessoas que elas não estão sozinhas, que isso é algo que acontece a milhões de pessoas”.

A Rainn gerencia a linha telefônica nacional de agressão sexual dos Estados Unidos e, segundo Berkowitz, nos cinco anos desde #MeToo, as chamadas duplicaram. “Acredito que ver mais conversas sobre o tema faz com que se sintam mais seguras de falar o que  viveram”, diz ele.

Desde a criação da Rainn, há quase 30 anos, “há uma melhora constante na maneira como é feita a cobertura do tema”, explicou Berkowitz à AFP. “A mídia como um todo é agora muito mais consciente de que há um sobrevivente por trás da história” e, portanto, cobre isso “com empatia e compreensão”, garante.

INVESTIGAÇÕES

Além disso, explica Farrow, nos últimos anos os jornalistas passaram a considerar que a violência sexual merece ser investigada como, por exemplo, os crimes corporativos ou os relacionados à segurança nacional.

“Acredito que parte do problema que surgiu em torno dessa questão em particular é que houve uma espécie de silenciamento da violência sexual, que era vista como um tema menos refinado do que outros tipos de reportagens sobre crimes”, aponta ele.

GESTÃO E CARREIRA

ÉTICA NA SELEÇÃO – A IMPORTÂNCIA PARA UMA CONTRATAÇÃO ASSERTIVA

Identificar um profissional ético é um tema delicado de ser abordado e, ao mesmo tempo, essencial de ser compreendido para a formação de times excepcionais.

Muito além de viabilizar a contratação de trabalhadores que tenham suas crenças e valores em sinergia com os defendidos pela companhia, este alinhamento enriquece a construção de um ambiente organizacional colaborativo, fortalecendo as relações de trabalho e unindo os esforços de todos em prol do crescimento e destaque da marca.

Em uma definição direta, a ética no ambiente de trabalho é caracterizada pela forma na qual os profissionais agem em seu dia a dia, tanto individualmente quanto, especialmente, em âmbito coletivo. Assim, são refletidas as escolhas e ações de cada um no que tange às suas responsabilidades na companhia, e ao grau de impacto perante a si próprio e a aqueles com os quais convive.

Não existem regras explícitas que determinem o comportamento de um colaborador ético. O que há, de fato, é uma predeterminação daquilo que é considerado como correto e esperado de cada trabalhador, que é analisado conforme as decisões e preferências adotadas pelos profissionais em suas rotinas. Afinal, não existe um certo ou errado, apenas a maneira individual na qual cada um irá se comportar e sua proximidade com aquilo que é defendido pela organização.

O problema, contudo, é que esta premissa não é incorporada por muitas companhias em seus processos seletivos, deixando de lado o ato de analisar os valores dos candidatos em prol meramente de seus conhecimentos técnicos. Por mais que tais habilidades sejam, de fato, primordiais para o desempenho das responsabilidades determinadas, elas não devem tomar posição de destaque a este requisito ético.

Em uma analogia atual, a mesma premissa está sendo questionada em períodos de eleições – onde muitos optam por votar em determinado candidato considerando suas propostas de governo e deixando de lado, como exemplo, seus valores éticos, crenças e os impactos inegáveis destas características em seu mandato.

Uma contratação errada pode ser bem custosa para a empresa.

Junto às hard skills, é importante que as companhias olhem para os valores do profissional e sua forma de agir pensando no dia a dia corporativo – a partir de questionamentos ou dinâmicas que devem ser aplicadas desde o processo de recrutamento e seleção. Este é o momento certo para fazer perguntas estratégicas, criando possíveis cenários e desafios que o profissional pode encontrar na empresa e como ele lidaria com cada situação.

Em um exemplo prático, um colaborador que preze pela segurança em suas atitudes acima de questões como a confiança, certamente trará este requisito como protagonista em grande parte das escolhas que tiver de enfrentar. Quando identificados, tais valores devem encaixar em um match mais compatível possível, não apenas com os da própria companhia, como também daqueles que farão parte de seu time e irão conviver mais diretamente no dia a dia organizacional. Não há mais espaço para manter o recrutamento tradicional, com olhar predominantemente técnico para o preenchimento de vagas. Adotar uma diretriz focada nestes requisitos impede um conhecimento adequado do perfil do candidato e se está, de fato, alinhado com o propósito da marca. É claro que não existe nenhum profissional perfeito, mas quanto mais próximo ambos os valores estiverem alinhados, maior a chance de acertar nesta escolha.

Seja para negócios de pequeno ou grande porte, vagas remotas ou presenciais, a contratação de profissionais cujos valores estejam alinhados com os da companhia faz toda a diferença para a construção de uma marca de renome e sucesso.

Afinal, muito além de aperfeiçoar o clima organizacional e a produtividade dos times, equipes pautadas nestes valores têm tudo a oferecer para uma boa imagem no mercado e seu destaque crescente rumo ao sucesso.

FÁBIO STEREN – É sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção https://wide.works/

EU ACHO …

BADERNA CEREBRAL

Sobre o quê mesmo que eu ia escrever? Vou lembrar, só um pouquinho. Calma… Espere um instante…

Lembrei. Quero escrever sobre uma piada que cada dia se propaga mais entre as rodas de amigos. Pessoas trocam as palavras, esquecem nomes, se perdem no meio das frases e, pra se justificar, dizem: é o “alemão” se manifestando. Alemão é o apelido do Alzheimer, e quá quá quá, todos acham a maior graça da brincadeira, mas eu já não estou achando graça nenhuma.

Outro dia assisti na tevê a uma entrevista de um neurologista que dizia, entre outras coisas, que as mulheres têm uma memória melhor do que a dos homens. Estou em apuros. Comentei com uma amiga que está na hora de eu fazer uma vasculhagem cerebral, marcar meia dúzia de tomografias e enfrentar o diagnóstico, seja ele qual for. Ela comentou que sente vontade de fazer o mesmo, mas que não tem coragem, porque é certo que algum curto-circuito será detectado: não é possível tanto esquecimento, tanto branco, tanto abobamento. Acontece com ela, acontece comigo, e com você aposto que também, ou você não lembra?

Alzheimer é doença séria, mas, que me conste, ainda não virou epidemia. O que vem sucedendo com todas (to-das!) as pessoas com quem converso é, provavelmente, uma reação espontânea a esse ritmo vertiginoso da vida e a esse turbilhão de informações que já não conseguimos processar. É chute meu, óbvio. Meu diploma é de comunicadora, não de médica. Mas creio que o motivo passa por aí: nosso cérebro está sendo massacrado por uma avalanche de nomes, números, datas, rostos, fatos, cenas, frases, fotos, e isso só pode acabar em pane.

Coisa da idade? Então me explique o fenômeno que relato a seguir. Semana passada minha filha de dezessete anos disse o seguinte: “Ontem a gente vai dormir na casa da Gabriela, mãe”. Ontem vocês irão aonde, minha filha? Ela caiu na gargalhada. “Putz, quis dizer amanhã! Amanhã a gente vai dormir na casa da Gabriela.” Escassos dezessete aninhos e uma overdose de horas de navegação no mundo alucinógeno do MSN, MySpace, YouTube, Orkut e grande elenco: só pode ser efeito colateral da informática, ou ela também já entrou pra turma das desvairadas?

Pode ser apenas mal de família. É uma hipótese, porém tenho reparado que é mal não só da minha, mas de todas as famílias do planeta. O que é que está me escapando?

Afora muitas palavras difíceis e também as fáceis, muitos verbos complicados e também os de uso contínuo, muitos nomes desconhecidos e também os de parentes em primeiro grau, nomes de cidades distantes e o da cidade em que me encontro agora – Porto o que, mesmo? – o que está me escapando é uma explicação decente.

O que é que está acontecendo com a gente?

MARTHA MEDEIROS

Literary Revelations

Independent Publisher of Poetry and Prose

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