SEXO, MENTIRAS E EXTORSÕES
No ‘golpe dos nudes’, fotos eram usadas para chantagem

Há cerca de um ano, um homem entrou desesperado na 16ª Delegacia Policial, em Planaltina, no Distrito Federal. Ele implorava para que não fosse preso injustamente e alegava que não tinha mais dinheiro, porque já havia depositado R$ 1 milhão – quantia acumulada durante toda a vida – na conta de policiais de outros estados, que exigiam mais para não prendê-lo por pedofilia.
O morador de Planaltina foi a primeira vítima de uma quadrilha que se especializou em aplicar o chamado “golpe dos nudes”, em que homens que recebiam fotos em trocas de mensagem por redes sociais eram depois chantageados e extorquidos, com medo de serem denunciados às autoridades por falsas acusações. Uma ação fruto deste primeiro inquérito com policiais do Distrito Federal, de Goiás e do Rio Grande do Sul prendeu ontem três homens e uma mulher suspeitos de fazer parte do grupo.
Na Operação Falso Nude, foram apreendidos carros, inclusive um Chevrolet Camaro avaliado em pelo menos R$ 200 mil, e bloqueados mais de R$ 1 milhão. De acordo com a polícia, a quadrilha movimentou mais de R$ 5 milhões em apenas três meses, fazendo vítimas em todo o país.
Os investigadores ainda procuram por outros três integrantes, que atuam como laranjas. Os presos foram indiciados por 19 extorsões, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
No golpe, uma mulher, por um perfil falso, procurava a vítima nas redes sociais e a convidava para trocar mensagens. Na conversa, ele recebia uma foto nua do falso perfil. Logo em seguida, um outro falso perfil entrava em contato com a vítima. Ele dizia ser pai de uma adolescente de 13 anos que havia mandado a foto.
FALSO PAI, FALSA FILHA
O falso pai passava a exigir dinheiro para não levar o caso à polícia. A extorsão prosseguia de outras formas. Os golpistas exigiam o pagamento de um tratamento psiquiátrico para a adolescente que não existia. Depois, diziam que ela havia cometido suicídio, apresentando uma certidão de óbito falsa, e pediam para o homem pagar o sepultamento. A chantagem continuava com mais cobranças para um acordo por danos morais e materiais. Depois, ganhava um novo cenário: integrantes do grupo fingiam estar em uma delegacia e ameaçavam prender a vítima por pedofilia, se ela não fizesse novos pagamentos.
A quadrilha ainda usava um falso delegado para entrar em contato com as vítimas, exigindo novas quantias. Foi quando o golpe chegou a essa etapa que o morador de Planaltina procurou a Polícia Civil real e a investigação começou.
“O golpista falava que conhecia policiais. Posteriormente, ligavam falsos policiais, que mostravam armas, simulavam uma falsa unidade de polícia, mostravam símbolos da polícia, e exigiam grandes quantias para que a vítima não fosse presa”, conta o delegado Diogo Cavalcante, da 16ª DP. “Eles simulavam até mandados de prisão com dados da vítima e encaminhavam, para que ela se sentisse ameaçada. No Distrito Federal, quando a investigação começou, a vítima já havia feito 19 transferências.
Em um vídeo enviado a um dos extorquidos, um golpista exibiu o falso mandado de prisão por pedofilia em um cenário onde o fundo era coberto com papel de parede com a logomarca da Polícia Civil do DF. O golpista falou diante de uma mesa que também tinha a logomarca. Com sotaque gaúcho, o falso policial reclamou porque o homem, identificado como Carlos, não estaria atendendo mais às ligações.
“Eu estou te ligando e tu não tá me atendendo, tá? Eu estou com o telefone do doutor Walter, ele está internado, com Covid, no hospital, e eu estou tomando conta dos processos dele. Eu estou com um papel aqui para o senhor, uma prisão preventiva, e se o senhor me atender a gente pode conversar. Senão, eu vou ter que assinar ela aqui. Só estou esperando você me atender na (inaudível) para a gente conversar e se acertar certinho”, afirma o integrante da quadrilha.
O inquérito será compartilhado com outros estados. A tendência, diz o delegado, é que outras extorsões sejam descobertas.
“Esse grupo tinha base no Rio Grande do Sul, mas atuava fazendo vítimas por todo país. As provas serão compartilhadas com outras polícias judiciárias para que os criminosos possam responder por todos os crimes, afirmou Cavalcante.

Você precisa fazer login para comentar.