OUTROS OLHARES

OLHARES MALDOSOS

Câmeras espiãs gravam casais, e vídeos ilegais são vendidos em aplicativos

Foi puro acaso. No final de outubro, o publicitário Mateus Bandeira, de 28 anos, alugou um apartamento em Campinas para assistir a um show do cantor pop Jão. Ficaria por apenas uma noite. Ao chegar, lembrou de um tutorial que assistiu meses antes sobre como localizar câmeras escondidas em imóveis de plataformas de hospedagem e resolveu explorar, sem expectativa de encontrar uma. Com a lanterna do celular, jogou luz na superfície dos equipamentos eletrônicos, onde em tese poderiam estar camufladas. Quando mirou no relógio digital, na frente da cama do casal, achou uma câmera espiã.

“Minha primeira reação foi tirar da tomada e cobrir com uma toalha. A câmera tinha uma espécie de infravermelho na lente para filmar no escuro. Fiquei com a sensação de estar sendo espionado, de que o dono sabia que eu havia descoberto”, conta.

O acaso ganhou o noticiário e se revelou uma prática disseminada na internet em que cresce um mercado clandestino de imagens íntimas. Identificamos chats no Telegram que cobram de R$ 10 a R$ 20 para dar acesso a salas secretas com vídeos feitos sem autorização. O fetiche é explorado no marketing de um dos grupos que atrai voyeurs para um conteúdo VIP com cenas reais com câmeras escondidas em quartos de hotéis, motéis e banheiros.

“Vídeos tirando a roupa, vestindo a roupa, transando, roçando, tudo natural”, avisa o anúncio. Em outro, taras de observação são satisfeitas com promessas de se assistir a vídeos gravados em salas de depilação de clínicas de estética, em banheiros e provadores de lojas. Além, é claro, dos habituais flagrantes de casais de férias em quartos alugados em plataformas de hospedagem. A propaganda sublinha: “Flagrantes maravilhosos”. Há acervos tão ecléticos que contam com mais de 3,9 mil vídeos catalogados.

SEM INVESTIGAÇÃO

O publicitário só começaria a puxar o fio dessa prática ilegal depois do show. Até lá, só saía do quarto com a mochila e itens pessoais. Ao fim do passeio, ele gravou um vídeo, que no primeiro dia já tinha 1 milhão de visualizações, orientando as pessoas a ficarem “espertas” ao alugarem quartos por aplicativos de hospedagem e mostrou um pouco sobre o golpe em que quase caiu. Ao voltar para sua cidade, Mogi Guaçu, em São Paulo, ligou para o Airbnb e foi à polícia. Bandeira conta que o anúncio do anfitrião indiscreto saiu do ar e ele teve o dinheiro da locação devolvido. Na última semana, no entanto, ele conta ter sido informado de que o anúncio do apartamento estava ativo de novo. O caso foi encaminhado para a delegacia de Campinas, mas a investigação não deverá ser aprofundada porque, ao fim, não houve captura de imagens íntimas do hóspede. Bandeira acredita que a denúncia, apesar da gravidade, não deve dar em nada:

“É assustador. Não estamos seguros em lugar nenhum. Recebi muitas mensagens de casais e famílias com crianças que ficaram nesse mesmo imóvel.

Durante uma temporada no Rio de Janeiro, as tatuadoras Ana Lúcia Guimarães Bezerra e Júlia Stoppa, de 26 e 34 anos, se depararam com um “olho indiscreto” em cima do armário de um quarto em Copacabana, onde ficariam hospedadas por alguns dias. O casal, de Goiânia, se arrumava para ir à praia quando um brilho estranho no móvel sobre a porta chamou a atenção. Era uma câmera com localização estratégica, em frente à cama. Elas quebraram o aparelho, foram à delegacia e gravaram vídeos de alerta para outros usuários.

“Você já sonhou que foi para o trabalho sem roupa? — pergunta Ana, alegando que foi assim que se sentiu com a descoberta. “Era como se estivéssemos peladas em local público. O esquema pode ser muito maior. O dono do apartamento tem outros imóveis, em outras plataformas.

O Airbnb ofereceu um voucher, e elas foram para outro apartamento. Mesmo com a denúncia, o anfitrião pediu uma indenização de R$10 mil por uma televisão, que segundo elas já estava danificada, e por peças acrílicas do banheiro que de fato foram destruídas na busca por mais câmeras. Uma funcionária da plataforma as orientou a não fazer o pagamento, mas a cobrança permaneceu ativa. Em nota, o Airbnb informou que “possui políticas rígidas sobre o uso de dispositivos de monitoramento nas acomodações e toma as medidas necessárias quando um problema é relatado, além de oferecer suporte aos hóspedes e colaborar com as investigações”. Garantiu ainda que câmeras de vigilância e dispositivos de monitoramento de ruído são permitidos desde que tenham sido divulgados na descrição do anúncio e nunca podem ser instalados em banheiros ou quartos. E assegurou que removeu perfis de anfitriões dos casos denunciados em Campinas e no Rio de Janeiro e negou o pedido de indenização.

‘AO VIVAÇO’

A quebra de privacidade virou um negócio rentável. Identificamos no Telegram outra prática criminosa: chats ensinam como é possível ter acesso ilegal a sistemas de segurança instalados em casas de família. Basta baixar um aplicativo de uma empresa chinesa, escanear o código QR, inserir uma senha vendida pelo grupo e voilà. O bisbilhoteiro tem acesso integral “ao vivaço”, segundo o anúncio, à circulação das pessoas pelos quartos, banheiro e garagem da residência. Juliana Cunha, diretora da ONG SaferNet, acredita que as senhas podem estar sendo obtidas irregularmente junto ao fabricante dos dispositivos de segurança. Ela orienta os usuários do serviço a considerarem o risco de vazamento:

“Recomendo atualizar o firmware das câmeras e mudar periodicamente a senha.”

O advogado Ivan de Franco, doutorando em processo penal na USP e sócio do Mudrovitsch Advogados, explica que a prática envolve dois possíveis crimes: registro não autorizado da intimidade sexual, que abrange inclusive nudez; e invasão de dispositivo informático, previsto na Lei Carolina Dieckmann, no caso do mercado de venda de imagens no Telegram. Em 2011, um hacker invadiu o computador da atriz e divulgou fotos íntimas. O advogado destaca que, desde então, a criminalidade evoluiu, criando dificuldades na aplicação da lei.

“A lei não é um primor. Ela não define o que é um dispositivo informático e cria dificuldade para enquadrar no Código Penal”, conclui.

GESTÃO E CARREIRA

EGRESSOS DE STARTUPS LEVAM BAGAGEM NOVA PARA EMPRESAS TRADICIONAIS

Experiência em ambiente inovador e com alta exigência de adaptação é vista como um ganho para negócios não digitais

Os executivos que tiveram passagem por startups nos últimos anos acabam trazendo um tipo de experiência que as companhias tradicionais não têm dentro de casa. Nas empresas nascentes, esses profissionais aprenderam a trabalhar em um ambiente mais dinâmico e inovador e com exigência de rápida adaptação a cenários adversos. Com isso, adquiriram um perfil mais empreendedor – algo bem-vindo também em negócios tradicionais, de acordo com especialistas em recursos humanos.

Foi o que ocorreu com Ricardo Sanfelice, de 46 anos. Desde junho, ele é diretor executivo do banco BV, à frente da área de clientes, dados e inovação, e responde diretamente ao CEO da instituição. Engenheiro eletrônico de formação, Sanfelice trabalhou por 20 anos na área de telecomunicações em empresas tradicionais. Foram 15 anos na GVT e mais 5 anos na Vivo, onde chegou a ser vice- presidente, responsável por digitalização e inovação. No início de 2019, ele estava decidido a movimentar a sua carreira e ir para outro setor.

No começo de 2020, recebeu um convite para começar do zero num banco digital, o Bari, do grupo Barigui, de Curióba (PR). Lá ficou até março deste ano, quando concluiu que havia encerrado o ciclo na startup. Na sequência, surgiu o convite do BV para voltar ao mercado corporativo.

Ele diz que o que o motivou a retornar a uma empresa tradicional – o BV é o quinto maior banco privado do País, com mais de 30 anos de existência e sócios de peso como o Banco do Brasil e o Banco Votorantim – foi o tamanho do projeto. “É um projeto encantador de transformação digital que eu estou liderando”, afirma.

Ele admite que a remuneração oferecida contou, mas ressalta que esse não foi o fator­ chave para a tomada de decisão. “Queria voltar a trabalhar num projeto dessa envergadura”, diz, frisando que o Bari segue o seu caminho, sem obstáculos de financiamento enfrentados por outras startups.

PREVISIBILIDADE

De acordo com consultores, neste momento de aperto de liquidez global executivos que fazem o caminho de volta enxergam nas empresas tradicionais mais condições objetivas de recursos para desenvolver projetos profissionais e também maior previsibilidade em sua remuneração.

Na prática, para a maioria dos executivos que migram das startups para empresas tradicionais, não há grandes alterações nos pacotes de remuneração de curto prazo. O impacto da mudança, no entanto, está concentrado no potencial de ganhos de longo prazo. É que as startups vinculam parte dos benefícios dos executivos ao ritmo de crescimento do negócio que, por sua vez, depende das captações de recursos no mercado -que hoje enfrentam cenário desfavorável

Giovana Cervi, sócia da consultoria Signium, diz que os profissionais estão interessados em voltar para as grandes empresas porque, neste momento, veem nelas um “porto mais seguro”. No entanto, a consultora frisa que não se trata apenas de maior previsibilidade e segurança na remuneração para fisgar esses profissionais.

O fator de atração apontado pelos executivos é o desafio do projeto, como o apontado por Sanfelice, do BV. “É muito mais desafiador você estar numa agenda positiva de crescimento e realização do que numa agenda de redução de custos e ajuste de estrutura”, diz a consultora, lembrando que, no momento -, essa e, a situação de parte das startups.

FATORES QUE TÊM PESADO PARA A MIGRAÇÃO

PODERIO

Com a crise nas startups, executivos voltam a ver nas empresas tradicionais melhores condições e mais recursos para desenvolver projetos; os profissionais de alta performance frequentemente são movidos a projetos desafiadores

PREVISIBILIDADE

Outro fator relevante é a previsibilidade na remuneração, enquanto no caso das startups ela geralmente tem parte significativa vinculada ao ritmo de expansão do negócio – e o momento não é de crescimento

EU ACHO …

COMER DE NOITE ENGORDA

Se a comida é a mesma, por que a hora de comer faz diferença?

Uma das belezas da ciência é que a conta sempre fecha. A gente ‘perde’ peso quando usa mais energia do que ingere e ganha peso quando ingere mais do que usa. Simples assim.

Mistério mesmo é quando dois indivíduos comem a mesma comida, mas um engorda, e o outro, não. “Fulano é magro de ruindade”, dizem; come o que quer e não engorda.

Mas não é ruindade, não. Ao menos um dos fatores agora é conhecido da ciência: quando se come faz toda a diferença. Ao que tudo indica, o que se come durante os períodos de atividades é imediatamente usado, ou porque sustenta a atividade em curso ou porque, se não há grandes atividades, o que sobra vira calor, e a energia se perde para o ambiente. Saldo? Praticamente zero.  Mas o mesmo tanto comido durante a inatividade vira… reserva, na forma de gordura.

A diferença vem do metabolismo dos adipócitos, as células que reservam gordura no corpo, comandados pelo cérebro, segundo estudo recente de pesquisadores da Universidade Northwerstern, nos EUA, publicado na revista Science.

Os pesquisadores descobriram que, mesmo quando camundongos vivem num ambiente a 30 “C, que para eles não exige nenhum esforço do corpo para manter sua temperatura, comer durante período de atividade (que para eles é à noite) aumenta a atividade de ciclos fúteis que consomem energia sem ir a lugar algum  – ou seja, não produzem trabalho, apenas calor, que se dissipa.

Mas se a mesma quantidade de comida é ingerida durante o período de inatividade, quando o relógio biológico do hipotálamo mantém o corpo em estado de descanso e recuperação, os ciclos fúteis não são acionados. Toda energia necessária no momento será utilizada, claro – sempre. Mas se há energia ingerida em excesso nessas horas, em que os ciclos fúteis não podem ser acionados, o que sobra vira peso extra.

É exatamente como um carro bebedor de gasolina que andasse por aí recebendo combustível na veia , o tempo todo. O que entra enquanto o carro está rodando, ou ao menos parado em ponto morto, pronto para começar tudo de novo, é consumido pelo metabolismo que mantém o motor do carro aquecido e em funcionamento. O tanque nem esvazia, nem transborda. Mas se o combustível continua chegando depois que o carro desliga, é óbvio que o tanque vai transbordar – e a garagem ou o resto do corpo, ao redor, recolhe as sobras e guarda para outro dia. Pode ser a salvação em tempos magros e circunstâncias incertas.

Mas para quem existe na abundância do mundo industrial, engordar parece vingança da natureza contra quem começa a ter mais comida disponível do que precisa. Afinal, quem tem fome e encontra comida não espera para comer depois: come o quanto pode assim que encontra a comida, o que vai acontecer, por definição, enquanto se está ativo. Acumular comida para comer mais tarde, no fim do dia, durante o descanso é para quem se pode dar ao luxo de guardar para depois.

A solução é simples. Difícil vai ser vencer o lobby dos bares e restaurantes pelo público noturno…

SUZANA HERCULANO-HOUZEL – É bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

ESTAR BEM

CASCA DE LARANJA

Cremes, massagens e tecnologias de ponta ajudam a tratar irregularidades da celulite

A celulite afeta nove em cada dez mulheres. Prova disso é que celebridades com todos os tipos de corpos – e acesso a todos os tratamentos – já assumiram seus furinhos ou tiveram suas imagens expostas on-line. Alguns exemplos são as cantoras Anitta e Demi Lovato, a modelo plus-size Ashley Graham e a atriz Paolla Oliveira. Mas dá para contar nos dedos aquelas que não se importam com as oscilações que aparecem sobretudo nas coxas e no bumbum.

“Não raro, a mídia mostra fotos de atrizes, muitas delas magras, com celulite aparente, como se fosse um absurdo. Na realidade, raridade é uma mulher não ter celulite”, diz o dermatologista Adilson da Costa, professor associado do departamento de dermatologia da Universidade Emory, nos Estados Unidos.

Sua prevalência em mulheres não é coincidência. A disfunção estética é mediada pelos hormônios, particularmente os estrógenos. O dermatologista Abdo Salomão, da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da American Academy of Dermatology, explica que as mulheres têm receptores para esses hormônios no glúteo, posterior de coxa e abdômen. Daí a “preferência” das imperfeições por esses locais.

“Homens acima do peso também podem ter celulite, mas a incidência é baixíssima e a magnitude da condição é menor”, explica.

Embora seja visível na pele, a celulite, nome popular para uma condição chamada lipodistrofia ginoide, tem origem muito abaixo dela. Seu aparecimento está associado ao acúmulo de gordura. O enrijecimento das fibras que conectam a epiderme e a derme a uma camada mais profunda de músculos e a retenção de líquido também contribuem para o desconfortável aspecto de casca de laranja.

A celulite não é uma doença, mas ela pode aparecer em diferentes graus, e o IV, que é o mais grave, provoca dor no local. No grau I, as ondulações e furinhos aparecem apenas quando a pele é comprimida. No II, essas imperfeições são percebidas sem a necessidade de qualquer compressão. O grau III é marcado por nódulos claramente perceptíveis. No mais avançado, além dos nódulos, há inchaço, dor, comprometimento da circulação sanguínea de retorno e pele com aspecto de acolchoado.

Além do sexo – ser mulher é o principal fator “de risco” para celulite -, outros fatores que contribuem para o aparecimento da condição são: hereditariedade, má alimentação, sedentarismo, uso de pílula anticoncepcional e tensão emocional. Por isso mesmo, curar a celulite ou impedir completamente seu aparecimento não são uma opção. A boa notícia é que é possível tratá-la.

“Não tem como acabar com a celulite porque é um processo progressivo. Mas é possível amenizá-la com tratamentos e mudança no estilo de vida”, pontua a médica Cláudia Merlo, especialista em Cosmetologia pelo Instituto BWS.

PROCEDIMENTOS EM CONSULTÓRIO

Os tratamentos que envolvem tecnologias de ponta são os que têm melhores resultados, em especial para graus mais avançados do problema. Uma enzima injetável, comercializada sob o nome QWO, nos Estados Unidos, é a grande novidade. A técnica, que ainda não chegou ao Brasil, consiste em injeções de uma substância (chamada colagenase) que destrói as fibroses que compõem a celulite. O composto faz isso dissolvendo as fibras em vez de cortá-las. O resultado é a redução de até dois estágios na escala de gravidade.

Aparelhos que emitem radiação infravermelha, radiofrequência, ondas de choque ou ondas acústicas e ultrassom focado provocam melhora imediata, mas, em geral, não oferecem efeitos de médio e longo prazo. Eles atuam aquecendo as camadas profundas da derme, reorganizando ou aumentando a formação de colágeno, o que confere um aspecto mais firme à pele. Entretanto, com o passar do tempo, o organismo se reorganiza e os furinhos voltam. A boa notícia é que é possível repeti-los periodicamente. São mais indicados para graus II e III.

Há outros procedimentos que apresentam boas respostas de forma duradoura, como a radiofrequência invasiva. Ela atua na camada mais profunda da pele, aquecendo a gordura enquanto drena a linfa e contrai os septos, o que confere uma melhora prolongada. Já o ácido poliático é um bioestimulador de colágeno que atenua os furinhos e estica a pele, atenuando o aspecto casca de laranja. Por fim, a subcisão é considerada o tratamento que apresenta resultados mais persistentes. Porém, sua indicação é focada em casos mais graves, em que a depressão já é visível. Com uma agulha específica, o médico faz movimentos pendulares que rompem os septos e melhoram a retração cutânea.

“Não é um procedimento para qualquer grau de celulite e deve ser indicado depois de uma avaliação dermatológica coerente”, alerta Costa.

CREMES

É unânime entre os especialistas: produtos tópicos podem até amenizar a aparência da celulite momentaneamente, mas não chegam à raiz do problema.

“Em sua imensa maioria, eles atuam na epiderme, melhorando sua aparência estética, mas não agindo nos fatores hipodérmicos da celulite”, explica Costa. A maioria dos cremes anticelulite tem uma base termogênica. Ou seja, eles esquentam o local em que são aplicados. Isso aumenta a tensão superficial da pele e mascara temporariamente a celulite. Por isso, eles podem ser uma boa pedida para pessoas com celulite grau I e II, em que há depressões mais superficiais e em pouca quantidade.

ALIMENTAÇÃO

A celulite é causada pelo acúmulo de gordura, por isso, uma dieta balanceada pode tanto prevenir quanto melhorar o aspecto da condição. Salomão explica que todo alimento que aumenta a glicemia de forma abrupta, como doces, carboidratos refinados como o pão branco, além de cerveja e refrigerante, pioram a celulite e a gordura localizada.

Não é preciso se abster desses alimentos, mas o ideal é evitá-los e no dia a dia, preferir uma alimentação saudável, dando preferência a carboidratos complexos, legumes e carne branca. Beber uma grande quantidade de água ajuda a melhorar a circulação e reduzir a retenção de líquidos. Diminuir a ingestão de sódio também ajuda a evitar a retenção hídrica.

ATIVIDADE FÍSICA

Os exercícios são um importante aliado na redução da celulite. Eles diminuem a gordura corporal, melhoram a circulação e fortalecem os membros inferiores.

“Esportes aeróbicos melhoram a celulite porque fluidificam a linfa e facilitam sua drenagem”, diz Salomão.

Vale qualquer atividade que eleve a frequência cardíaca, como natação, caminhada rápida, corrida, dança, entre outros. Já a musculação colabora no processo de firmeza e também ajuda a atenuar as ondulações.

MASSAGEM

A má circulação linfática do tecido gorduroso está diretamente associada à celulite. Por isso, a drenagem linfática, massagem que aumenta o volume e a velocidade de transporte da linfa (excesso de fluidos dos tecidos e órgãos), é uma das armas contra as ondulações. Porém, a solução não é definitiva.

“A ação na circulação linfática esvazia a linfa e melhora o aspecto, mas depois isso enche novamente e é preciso repeti-la”, afirma Salomão.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MICROBIOTA INTESTINAL TAMBÉM ATUA NO DESEJO SEXUAL

Microrganismos do  sistema digestivo podem afetar produção de neurotransmissores que influenciam interesse por sexo

A microbioma intestinal, também chamada de microbioma ou fibra, pode afetar diversos processos do organismo, da produção de neurotransmissores ao ganho de peso. Recentemente, cientistas têm investigado outro aspecto do comportamento humano influenciado por esse equilíbrio de microrganismos do intestino: a vida sexual.

Dois trabalhos conduzidos no ano passado exploraram a ligação com o sexo a partir da incidência de dois diagnósticos: a disfunção erétil entre os homens, e o transtorno do desejo sexual hipoativo (DSH) entre as mulheres ­ um distúrbio caracterizado pelo desinteresse nas relações a longo prazo.

O primeiro, conduzido por pesquisadores chineses, foi publicado na revista científica Translational Andrology and Urology e avaliou 60 participantes, metade deles com disfunção erétil.

Os resultados mostraram que, em comparação com os homens saudáveis, aqueles com o problema tinham uma diversidade bacteriana consideravelmente mais baixa.

Além disso, os cientistas observaram que maiores e menores proporções de determinados microrganismos foram diretamente relacionadas ao diagnóstico. Os achados levaram os pesquisadores a escreverem que “para prevenir a disfunção erétil, dieta saudável, trabalho regular e descanso são necessários. E os probióticos intestinais podem ser suplementados com moderação”.

LIBIDO BAIXA

Já o segundo estudo, também a cargo de pesquisadores chineses, foi publicado no periódico Journal of Medical lnternet Research e envolveu 24 mulheres com DSH e outras  22 saudáveis para comparação. Após a análise da microbiota, os responsáveis notaram uma diminuição na quantidade da bactéria Ruminococcaceae e um aumento na de Bifidobacterium e Lactobacillus entre aquelas com o distúrbio sexual.

“Essas descobertas preliminares podem ser úteis para desenvolver estratégias para ajustar o nível de desejo sexual humano, modificando a microbiota intestinar, escreveram os cientistas.

Entre os motivos para os impactos na vida sexual, os pesquisadores citam principalmente dois mecanismos conhecidos da microbiota intestinal. O primeiro deles é seu papel na produção de serotonina, um neurotransmissor que tem como função estabelecer a comunicação entre os neurônios.

Esses microrganismos são responsáveis, inclusive, por cerca de 90% da produção dessa substância no corpo. Ela influencia diretamente o humor, sendo conhecida como “molécula da felicidade”. Além disso, baixos níveis do neurotransmissor já foram considerados um dos mecanismos da depressão, quadro que interfere na libido.

De acordo rom os pesquisadores do estudo feito com mulheres sobre DSH, há ainda “evidências consideráveis de que os micro-organismos intestinais modulam o metabolismo da dopamina e noradrenalina no cérebro, moléculas geralmente consideradas os principais neurotransmissores que regulam o desejo sexual”, escreveram.

Outro ponto importante citado pelos cientistas é como a microbiota interfere na produção dos hormônios sexuais, como a testosterona , que é ligada ao desejo sexual tanto de homens como de mulheres.

Uma revisão de 13 estudos conduzida por cientistas da University College de Londres, no Reino Unido, confirmou essa relação entre os níveis de determinadas bactérias e a produção do hormônio, além do estrogênio nas mulheres.

OUTROS OLHARES

QUANDO CORAÇÃO DE MÃE BATE DE FRENTE COM A LETRA FRIA DA LEI

Mulheres acusadas de alienação parental dizem que são silenciadas porque denúncia pode encobrir pais abusadores e violentos

Não me leva, eu não quero”. No fórum de uma cidade do interior de Minas Gerais, a menina grita e agarra uma mesa para não ser retirada à força. Tapa os ouvidos com as mãos. A caminho do estacionamento, sob os cuidados da família do pai, pede: “Não vai fazer pinto pra mim? Promete?

Você vai me devolver?”. A cena foi registrada pela administradora Maria*, de 43 anos, mãe da criança, no dia 9 deste mês, e o vídeo viralizou a partir da semana seguinte. Era o momento de uma busca e apreensão da Justiça em processo de inversão de guarda, que deu ao pai o direito de criar a filha de 5 anos e 9 meses.

A mãe o acusa de ter abusado sexualmente da menina e reclama que a decisão desconsidera um laudo psicológico que, apesar de inconclusivo, descreveu os relatos suspeitos e recomendou que a guarda permanecesse com ela. Mas foi o ex- companheiro que venceu a batalha com base na lei de alienação parental, criada em 2010 para proteger crianças em processos de divórcio, punindo pais e mães que tentam colocar o filho contra o ex-cônjuge. A lei se baseia numa suposta síndrome, descrita pelo psiquiatra americano Richard Gardner, em meados da década de 1980, que acometeria crianças em separações conflituosas. Seria desencadeada por ataques ou atos de difamação contra um dos pais. A medida legal visa estancar esse processo.

O dispositivo, entretanto, é alvo de críticos porque estaria favorecendo pais agressores e abusadores, acusados de violência física, psicológica e patrimonial contra mulheres e filhos. No começo deste mês, peritos da ONU apelaram ao novo governo eleito no Brasil para que a lei seja extinta.

Professora de Direito da UnB e procuradora da República, Ela Wiecko é favorável à revogação da lei, que considera problemática por judicializar as relações familiares e colocar os pais numa “lógica adversarial”.

“A lei foi pensada pelo movimento de pais separados, que entendia que as mulheres têm mais direitos e são mais favorecidas. É aparentemente neutra, mas prejudica as mulheres, acusadas de alienadoras”, afirma Ela Wiecko. “Além disso, tem favorecido abusadores sexuais, porque é muito difícil comprovar estupros de vulneráveis. A palavra da criança não é ouvida. Partem do princípio de que a mãe colocou aquilo na cabeça dela. Não há estatísticas nacionais sobre processos de alienação parental, que tramitam em segredo de Justiça. Mas uma pesquisa de estudantes da UnB orientados por Wiecko analisou 95 decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo entre 2016 e 2019. Em 32 sentenças, a Justiça reconheceu a alienação parental. Em 24 (75%), a mãe foi declarada alienadora. Em 13 casos (54%) de mães supostamente alienadoras, foram determinadas multas, inversão da guarda e até proibição de contato com o filho. Quando o pai foi considerado alienador, só em dois casos (25%) foram aplicadas inversão da guarda e multa.

DE VOLTA PARA CASA

Para a advogada Maria Berenice Dias, desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, a convivência dos filhos com os pais é indispensável, e a lei corrige uma injustiça contra homens, “alijados pelo entendimento histórico segundo o qual a criança pertence à mãe”.

“A partir do momento em que as mulheres saíram para o mercado de trabalho, os pais foram convocados a serem participativos e se aproximarem mais dos filhos. Quando se separam, querem continuar. As mulheres se incomodam, e tem muito daquela vingança: “Se não me quis mais, então fica sem o filho”. A mãe tenta convencer a criança de que o pai fez alguma coisa que não aconteceu. Uma psicóloga inexperiente coloca isso no papel. O que o juiz faz? Suspende a convivência”, observa Berenice.

Mas há casos e casos. Maria conta que se separou quando estava grávida. Apesar do afastamento, a relação com o ex- companheiro continuou amigável. Vivendo em cidades diferentes, ele dormia na casa dela quando visitava a filha. Com a filha com 2 anos e oito meses, Maria notou que ela passou a voltar da casa do pai com um “comportamento sexualizado”. Colocava brinquedos na vagina, simulando um pênis, e fazia desenhos fálicos.

Maria gravou vídeos e os levou ao Conselho Tutelar. As conselheiras a orientaram a procurar a polícia.

“A lei nos coloca diante de uma contradição. Se denuncio, sou alienadora. Se não, sou conivente. Saí de lá chorando e fui fazer o boletim de ocorrência.” Mesmo assim, a juíza não cancelou o direito dele de ter pernoites com ela.

Quando o pai viu que a juíza estava do lado dele, pediu a guarda com base na lei de alienação – lamenta Maria, que obteve, no dia 18, decisão do STJ lhe devolvendo a guarda da filha. A menina chorou ao reencontrá-la.

Aos seis meses de gravidez, a representante comercial Ana*, de 52 anos, teve o seu primeiro alerta: o então companheiro lhe empurrou durante uma discussão. Depois que o bebê nasceu, as agressões se tornaram recorrentes. Não demorou para que o menino aparecesse também machucado, com manchas roxas, dores abdominais e sangramento no ânus. Um dia, Ana chegou em casa do trabalho e deu de cara com os dois nus. O marido reagiu puxando-a pelo cabelo e enfiando seu rosto no vaso sanitário. Ele foi preso em flagrante.

“Ele alegou que estavam nus porque iam tomar banho. Nunca passou pela minha cabeça que um pai poderia abusar de um filho”, relembra Ana.

O menino aprendeu a falar, e as evidências ficaram irrefutáveis. Em dezembro de 2015, com 2 anos e dois meses, a criança começou a dizer para a mãe frases como “papai pôs pipi”. A mulher fez um boletim de ocorrência e levou o filho ao Instituto Médico Legal, mas como haviam se passado mais de 72 horas, o exame de corpo de delito não foi feito. Ana descobriu que o marido já havia sido internado em clínica de reabilitação, e suspeitava de que havia voltado a usar cocaína. Separaram-se. Há vídeos gravados pela mãe e, em uma das vezes que o filho voltou das visitas, estava quase desfalecido e reclamando de dor. Mas o suspeito ganhou a guarda do filho alegando alienação parental, mesmo tendo confessado agressões à ex-mulher e chegado a ser preso. Ana tem direito a visitas regulares, mas não sabe do paradeiro do filho desde dezembro de 2017. O ex- companheiro deu um endereço de fachada e desapareceu. Ela perdeu tudo na batalha judicial, dinheiro e emprego de R$ 15 mil, e foi ameaçada de morte. Hoje vive para tentar localizar o filho.

‘ESPERE PELO PIOR’

Assistente de Recursos Humanos, Jane Soares, de 39 anos, passou 12 anos com o pai dos filhos Lucas e Mariah, entre namoro e casamento. Os sinais de violência foram ficando insustentáveis. Em 2014, um ano antes de se separarem, o marido, de acordo com ela, ameaçou “picá-la e colocar os pedaços dentro de uma mala”. Procurou a polícia, mas conta que as acusações se voltaram contra ela. O pai disse ao Conselho Tutelar que ela era “bipolar”. Ele entrou com processo de alienação parental, dizendo que ela medicava as crianças por conta própria e não cuidava dos filhos.

Após a separação, tudo piorou. Ao ponto de o pai instalar um aplicativo para rastrear as crianças num tablet e cortar com tesoura roupas dadas pela mãe.

“Nada disso era considerado prova. Quando você é acusada de alienação, tudo que faz passa a ser suspeito. Minha voz não tinha credibilidade”, diz Jane, que em julho de 2016 cedeu para que o pai jantasse com os filhos uma vez por semana e passasse com eles os fins de semana a cada 15 dias. Quase três anos depois, numa visita de carnaval, as crianças não voltaram. Sem notícias, ela pegou um ônibus rumo à casa do pai e, no caminho, recebeu uma mensagem da ex- cunhada avisando que era para ela esperar pelo pior. Logo em seguida, recebeu outra: “Lucas e Mariah mortos”. Foi assim que soube que o ex atirou na cabeça dos filhos, de 9 e 6 anos, e se matou. Jane processa o Estado por negligência, e a família do ex-marido, que não quer devolver a ela a pasta de desenhos do filho, “o xodó da vida dele”. Ela hoje tenta ajudar outras mulheres que vivem o mesmo drama da alienação parental:

“No dia do velório, prometi para meus filhos que ajudaria outras mulheres, para que outros Lucas e Mariahs não se fossem. Por anos, fui amordaçada. Agora posso falar.

*Os nomes foram trocados para preservar as identidades das mulheres

GESTÃO E CARREIRA

EXECUTIVOS VOLTAM À ‘VELHA ECONOMIA’

Avalanche de demissões nas startups, que tiveram fontes de financiamento cortadas com a crise global, acelera o retorno de profissionais para as companhias tradicionais

A crise nas startups está levando executivos do alto escalão e de média gerência, egressos de empresas tradicionais e contratados no período de bonança, a fazer o caminho de volta. Esse movimento vem ocorrendo no setor financeiro, em seguradoras, bancos, empresas de tecnologia e também em segmentos ligados à educação. Eles têm retornado para ocupar cargos de diretoria e gerência nas áreas de finanças, comercial, recursos humanos e marketing.

O retomo dos profissionais das startups para companhias da ”velha economia” é recente. Começou no início deste ano e ganhou força ao longo dos últimos meses. A mudança de rota coincide com a avalanche de demissões que veio à tona nas startups. Muitas delas tiveram de enxugar projetos porque as fontes de financiamento minguaram.

Com a alta dos juros no mercado para conter a escalada global da inflação, fundos de investimento abandonaram negócios considerados mais arriscados, incluindo as startups. E decidiram aplicar o dinheiro em porto mais seguros, como títulos do Tesouro americano e empresas tradicionais com bom desempenho em Bolsa.

Hoje, ao menos 80% dos processos de seleção em andamento na Signium, consultoria americana especializada na contratação e seleção de executivos de alto escalão, por exemplo, têm como finalistas profissionais que inicialmente trocaram empresas tradicionais pelas startups e, agora, estão voltando às origens. “O mercado de executivos deu uma invertida”, afirma Giovana Cervi, sócia da consultoria.

Essa tendência também foi observada pela KornFerry, outra consultoria especializada em recrutamento de altos executivos. Atualmente, 85% dos processos de seleção tocados pela consultoria são demandas de empresas tradicionais. Dois anos atrás, as startups respondiam por quase a metade dos projetos. As startups buscavam executivos a peso de ouro”, lembra Márcio Gropillo, líder de recrutamento.

DEMANDA EM ALTA

Enquanto o fluxo de recursos diminuiu para as startups, os investimentos continuaram nas empresas tradicionais em setores nos quais a demanda está aquecida. “Entre as empresas tradicionais, há muitos segmentos crescendo e dinheiro sendo investido”, afirma Giovana.

Paulo Dias, diretor da PageGroup, consultoria em recursos humanos, compara a reação dos executivos ao cenário econômico com a dos investidores. “Os executivos começam a fazer agora um movimento que os investidores já fizeram”, ressalta o especialista. Embora não tenha números específicos sobre essa tendência, ele também confirma que há um retorno dos executivos das startups para empresas tradicionais.

EU ACHO …

GAMBÁ COM GAMBÁ

Que os opostos se atraem, não tenho dúvida, mas compensa essa teimosia? Semanas atrás, conversei com uma mulher inteligente, divertida, com mais de sessenta anos e três casamentos nas costas. Ela me disse que até hoje sente falta do primeiro marido, com quem tinha afinidades infinitas e com quem viveu uma relação sólida e longeva. Lamenta ter abandonado esse casamento para sair atrás de aventuras, pois, segundo ela, não adianta querer inventar: “gambá gosta de gambá, elefante gosta de elefante, é assim que os pares funcionam”.

Tenho visto muito gambá com coelho, gaivota com jacaré, urso com leopardo, e o resultado dessas parcerias é um misto de excitação com frustração. O diferente nos desafia, mas também nos cansa. É comum nos abrirmos para esse tipo de arranjo quando somos jovens inclinados a viver no fio da navalha, mas vamos combinar que, depois de tanta batalha para encontrar o amor ideal (supondo que ele exista), melhor encurtar o caminho e aceitar o óbvio: girafa com girafa, morcego com morcego.

Acredito que alguém que gosta de ler pode se entender com aquele que não gosta, que quem acorda cedo pode se dar bem com quem dorme até o meio- dia, que quem é viciado em esportes pode se encantar por um sedentário – mas um desacordo a cada vez, por favor. Reunir todos esses antagonismos num único casal é provocar o destino. É difícil ele sorrir para uma dupla de desajustados.

Eu já arranquei o adesivo “vive la différence” do vidro do meu carro. Agora quero seguir viagem com quem celebra as semelhanças.

Em se tratando de amigos, colegas e outros que compõem o elenco das minhas relações, a diversidade de ideias e de gostos me atrai. Mas para dividir comigo o volante, intimamente, melhor evitar duelos. Que nós dois gostemos de estrada. Que nós dois gostemos de dormir à noite. Que nós dois gostemos de sexo. Que nós dois tenhamos uma visão desestressada da vida. Que nós dois gostemos de rock. Que nós dois não gostemos de ver filmes dublados. Que nós dois não precisemos de muito luxo para ser feliz. Que nós dois gostemos de conversar um com o outro. Que nós dois gostemos de praia. Que nós dois gostemos de natureza. Que nós dois gostemos de Londres. Que nós dois gostemos de rir. Que nós dois não sejamos preconceituosos. Que nós dois tenhamos consciência de que estamos aqui de passagem e que é preciso aproveitar este instante. Que nós dois não sejamos evangélicos. Que nós dois sejamos cuidadosos um com o outro, amorosos um com o outro. Que nós dois sejamos honestos. Que nós dois saibamos fazer uso moderado das redes sociais. Que nós dois não sejamos reféns de grifes, mas tenhamos bom gosto. Que nós dois gostemos muito de vinho. Gambá com gambá.

ESTAR BEM

COMO A DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 AFETA A SAÚDE E A QUALIDADE DE VIDA

Micronutriente encontrado apenas em alimentos de origem animal pode estar abaixo do nível recomendado até em pessoas não veganas ou exaustão profunda.

A vitamina B12 é um nutriente essencial para o bom funcionamento das células sanguíneas, dos nervos e, consequentemente, do corpo. Por dia, a ingestão recomendada é de apenas 2,4 microgramas, uma quantidade pequena – que pode ser obtida em 100g de carne bovina -, mas que influencia diretamente na saúde e na qualidade de vida.

Como só pode ser encontrada em alimentos de origem animal, ela é escassa na dieta, e muitas pessoas que sofrem com a sua deficiência afirmam ter fadiga, cansaço ou exaustão profunda. Os sintomas, comuns a muitas doenças, podem “despistar” os médicos, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento.

Em casos mais graves, a deficiência de vitamina B12 pode gerar problemas neurológicos, além de formigamento nas extremidades, confusão, perda de memória, depressão e dificuldade em manter o equilíbrio. Se não houver reposição do nutriente, é possível que os sintomas se tornem permanentes.

Para entender os problemas de saúde causados pela falta da B12 é importante saber como essa vitamina é absorvida e atua no organismo.

COMO NOSSO CORPO ABSORVE A VITAMINA B12?

Muito se fala da dieta e necessidade de reposição da vitamina em pessoas cuja alimentação é apenas à base de plantas, como as vegetarianas e veganas. Contudo, milhões de pessoas que fazem ingestão de carne também podem apresentar deficiência do nutriente, principalmente porque o corpo não consegue fazer a adequada captação da B12.

A absorção dessa vitamina envolve um processo complexo de várias etapas: começa na boca e termina na extremidade do intestino delgado. Quando mastigamos, a comida é misturada com a saliva, formando o bolo alimentar. Quando engolimos, uma substância na saliva chamada proteína R, que protege a B12 de ser destruída pelo ácido estomacal, viaja para o estômago junto com a comida.

Células específicas no revestimento do estômago, chamadas células parietais, secretam duas substâncias que são importantes para a absorção de B12. Uma é o ácido estomacal, responsável por separar os alimentos da vitamina B12, permitindo que a vitamina se ligue à proteína R na saliva. A outra substância, denominada fator intrínseco, mistura-se com o conteúdo do estômago e viaja com ele até a primeira parte do intestino delgado, o duodeno.

Uma vez no duodeno, os sucos pancreáticos liberam B12 da proteína R e a entregam ao fator intrínseco. Isso permite que a B12 seja absorvida. Ela ajuda a manter as células nervosas e formar glóbulos vermelhos saudáveis. Uma deficiência de vitamina B12 geralmente envolve uma quebra em um ou mais desses pontos no caminho para a absorção.

O QUE PODE CAUSAR A DEFICIÊNCIA DE B12?

Sem saliva, a vitamina B12 não se liga à proteína R e a capacidade do corpo de absorvê-la é inibida. E existem centenas de medicamentos diferentes que podem causar boca seca, resultando em uma produção de saliva muito baixa. Eles incluem opioides, inalantes, descongestionantes, antidepressivos, medicamentos para pressão arterial e benzodiazepínicos, que são usados para tratar a ansiedade.

Outro contribuinte para a deficiência de vitamina B12 são os baixos níveis de ácido estomacal. Milhões de pessoas tomam medicamentos contra úlceras que reduzem os ácidos estomacais causadores das feridas. Diferentes pesquisadores vinculam o uso desses remédios à deficiência de vitamina B12, embora essa possibilidade não supere a necessidade da medicação. A metformina, droga usada para tratar diabetes tipo 2, também tem sido associada à deficiência dessa vitamina.

A produção de ácido estomacal também pode diminuir com o envelhecimento. Mais de 60 milhões de pessoas nos EUA, por exemplo, têm mais de 60 anos e cerca de 54 milhões têm mais de 65 anos. Essa população enfrenta um risco maior de deficiência de vitamina B12, que pode ser aumentada pelo uso de medicamentos redutores de ácido. A produção de ácido gástrico e de fator intrínseco por células parietais especializadas no estômago é crítica para que ocorra a absorção de B12. Mas danos ao revestimento do estômago podem impedir a produção de ambos. Em humanos, a deterioração do revestimento do estômago é causada por cirurgia gástrica, inflamação crônica ou anemia perniciosa, uma condição médica caracterizada por fadiga e uma longa lista de outros sintomas.

Outro culpado comum pela deficiência de vitamina B12 é o funcionamento inadequado do pâncreas. Cerca de um terço dos pacientes com mau funcionamento do órgão desenvolve deficiência de vitamina B12.

COMO TRATAR A DEFICIÊNCIA DE B12?

Se você estiver enfrentando sintomas potenciais de deficiência de vitamina B12 e também tiver um dos fatores de risco, é importante consultar um médico para fazer exames de sangue. Uma análise laboratorial adequada e discussão com um médico são necessárias para descobrir se níveis B12 estão ou não dentro do que é recomendado.

O tipo de tratamento e a duração dependem da causa e gravidade da deficiência de vitamina B12. A recuperação total pode levar até um ano, mas, quando tratada corretamente, pode acontecer em menor tempo.

O tratamento para a deficiência de vitamina B12 pode ser feito via oral, aplicado sob a língua ou administrado pelo nariz, ou por injeções. Um suplemento de vitamina B12 ou multivitamínico balanceado pode ser suficiente para corrigir a deficiência.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MENTE SÃ

Transição propõe departamento e rede para saúde mental

Proposta pela equipe de transição do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, o departamento de saúde mental, a ser criado na estrutura do Ministério da Saúde, deve ter como foco o fortalecimento de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), além de coordenar e articular políticas de combate ao consumo abusivo de álcool e drogas. Caso a sugestão do grupo seja aceita por Lula, será a primeira vez que a pasta terá um departamento exclusivo para o tema.

Atualmente, não há nenhuma área dentro do Ministério da Saúde que cuide especificamente de saúde mental. Iniciativas que tratam do tema estão espalhadas em diferentes pastas. Nas outras gestões petistas, o tema era tratado em coordenação vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde. Agora, a ideia é criar uma estrutura maior, com mais capacidade para desenvolver políticas públicas que ajudem a população que sofre com transtornos psiquiátricos.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já liderava o ranking global de casos de ansiedade antes da pandemia de Covid-19  – e também ganhava nos números de incidência de depressão entre os países da América Latina.

Após mais de dois anos marcados por perdas, isolamento, medo e insegurança, a avaliação de especialistas é que o novo governo enfrentará índices ainda mais preocupantes de transtornos mentais.

“Nosso entendimento hoje é que houve um gigantesco retrocesso nessa área. Isso precisa ser recuperado. É preciso reforçar a rede de atenção psicossocial. É preciso ter uma atenção especial às pessoas que direta ou indiretamente começaram a apresentar transtornos por causa da pandemia. É preciso pensar uma estratégia especifica para isso”, afirmou o senador Humberto Costa (PT), que é médico e integra a coordenação do grupo de trabalho em Saúde na transição.

CORTES DE RECURSOS

O aumento na procura por ajuda profissional no país – de até 25% nas consultas psiquiátricas em 2021, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) – vai na contramão da instabilidade de políticas de saúde mental e dos sucessivos cortes de recursos da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), que abrange os Caps. No governo de Jair Bolsonaro, houve uma prioridade para as chamadas comunidades terapêuticas, geralmente ligadas a igrejas, que têm como foco principal o tratamento de dependentes químicos. Os Caps, por sua vez, contam com uma equipe multiprofissional – psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde.

“Vamos retomar essa política e os Caps têm papel fundamental, principalmente aqueles que funcionam 24 horas. Se você não tem uma rede de Caps, não consegue tratar as pessoas na própria comunidade, acompanhar suas famílias. Com isso, acaba restando como alternativa o isolamento, internação em uma outra cidade, e permanência em hospital. A proposta agora é retomar o papel dos Caps com centralidade e cuidados da saúde mental na atenção primária”, afirmou o ex- ministro da Saúde Arthur Chioro, que também integra a equipe da transição para a área.

O grupo se reuniu nos últimos dias com setores ligados à saúde mental, como funcionários do SUS e de clínicas especializadas, para tratar da criação do departamento. A proposta de criar a estrutura no novo governo constará no relatório final que será entregue ao vice-presidente eleito , Geraldo Alkmin, ainda neste mês, junto com o alerta da necessidade de fortalecimento das políticas do SUS, incluindo os Caps. Entre as sugestões estruturais estará a de levar de volta para o Ministério da Saúde áreas e ações que hoje estão pulverizadas pela Esplanada e que são diretamente ligadas às questões de saúde.

Em paralelo, o departamento também trabalhará com outras secretarias e ministérios que esbarram no tema pela sua transversalidade. O objetivo é ter uma alternativa que seja capaz de conduzir a rede de atenção e que volte a ter centralidade na produção e armazenamento de estudos, pesquisas, análises e monitoramento.

Segundo Chioro, a demanda represada no tratamento e acompanhamento na área da saúde mental é hoje um dos principais problemas dentro do SUS, superando até mesmo as filas de atendimento para acompanhamento de doenças crônicas e cirurgias eletivas. Atualmente, boa parte dessa demanda represada teve origem nos impactos de deixados pela pandemia.

“Há, por exemplo, um grave problema de fila envolvendo hipertensos, diabéticos, pessoas que precisam de cirurgias eletivas, aquelas que tem câncer. Mas todo mundo diz que uma das áreas que está mais grave é a saúde mental. É onde há mais filas. As pessoas não vão a uma consulta e resolve o problema. É um tratamento contínuo. Então o acúmulo é muito grande e será uma das áreas que o governo vai priorizar”, afirmou o ex-ministro.

O oncologista Dráuzio Varella, que integra o time de médicos escalado por Lula para colaborar com sugestões para a transição, ressaltou em entrevista a importância do fortalecimento dos Caps para lidar com o nível de complexidade da saúde mental atualmente.

“O SUS tem os Caps, que fazem esse atendimento. Mas não são suficientes para lidar com o nível de complexidade que é a saúde mental hoje, especialmente depois da pandemia. O número de casos de ansiedade e depressão aumentou, mas já vinham de antes. Em 2015, a OMS já tinha estimado que a partir da década de 20 teríamos a depressão como a principal causa da falta do trabalho. Aí veio a pandemia, com as pessoas trancadas em casa, medo, insegurança, insegurança financeira, que agravou isso. Agora, a pequena estrutura que o SUS estava começando a montar ficou insignificante frente às necessidades da população”.

ALTA DE SUICÍDIOS

Médico psiquiatra da rede de hospitais Santa Lúcia, em Brasília, Fábio Aurélio Leite alerta para os indicadores de suicídio no Brasil, que crescem ano a ano e destoam da queda na taxa mundial – enquanto os outros países registraram diminuição de 36% nos casos de suicídio em 2019, dados do Data SUS de 2020 apontaram para aumento de 35% em um período de nove anos no país.

-A escalada de números de suicídio no Brasil já é motivo suficiente para que a saúde mental seja vista como prioridade pelo governo. Há, agora, sequelas da pandemia, que ampliou ainda mais os casos de transtornos mentais no mundo, em especial no Brasil, segundo país com mais mortes por Covid”, aponta Leite.

Segundo o psiquiatra, após anos de negligência, o país está atrasado em estruturas e medidas para saúde mental:

“A pandemia trouxe à tona uma urgência. É papel do próximo governo tratar a pauta com seriedade e implementar ações efetivas para frear os atuais indicadores. A criação de setores e departamentos especializados é vista com bons olhos pelos profissionais da área”.

Para a médica psiquiatra Carolina Hanna de Aquino, do Sírio Libanês de São Paulo, a criação de um departamento ajudaria a centralizar e atualizar os indicadores do país.

“Temos, atualmente, dificuldade para medir a efetividade de políticas públicas de saúde mental. É diferente, por exemplo, de medidas para a saúde física. Um departamento seria extremamente útil para controlar e avaliar o impacto das ações realizadas, além de sistematizar as falhas”, diz.

OUTROS OLHARES

DESEQUILÍBRIO RACIAL NA LONGEVIDADE PIORA NO BRASIL

Disparidade no acesso a planos de saúde e a tratamentos de ponta se reflete em diferenças na sobrevida

Ao contrário do maior acesso ao ensino superior que os brasileiros pretos e pardos experimentaram nas últimas décadas, o desequilíbrio racial na longevidade aumentou no país de 2001 a 2021.

Elaborado pelos pesquisadores do Insper Sergio Firpo, Michael França e Alysson Portella, o indicador ajuda a medir a distância entre a desigualdade racial e um cenário hipotético de equilíbrio, em que a presença de negros nos extratos privilegiados reflete seu peso na população a partir dos 30 anos.

Além da sobrevida, ele capta o equilíbrio para ensino superior e renda, variando entre -1 e 1 ponto. Quanto mais próximo de -1, maior é a representação dos brancos em relação a de negros; já valores muito próximos a 1 apontam um cenário em que a população negra estaria em vantagem.

No Brasil, os dados de sobrevida estão no patamar considerado de equilíbrio relativo entre negros e brancos, isto é, o indicador variou na faixa de 0,2 a -0,2 ponto. Só que houve uma piora de 2001 a 2021, período em que o índice passou de -0,052 para -0,130.

O cálculo do componente de sobrevida no Ifer é feito da seguinte forma: extrai-se o grupo de brancos 10% mais idosos e calcula-se a idade que o separa dos demais 90%. Dessa forma, ainda que os brasileiros negros sejam alvos mais frequentes de violência, esse não é o principal fator de redução da longevidade.

“A gente via um certo equilíbrio na longevidade, mas ao longo do tempo acabamos caminhando para um desequilíbrio e é preciso começar a entender o que está fazendo com que isso aconteça, testar as políticas públicas implementadas e melhorar o acesso ao sistema de saúde”, diz França.

As diferenças de acesso a planos de saúde privados e à medicina de ponta entre negros e brancos acabaram se refletindo em um desequilíbrio nos últimos anos, segundo especialistas. Também pesou a diferença de proteção dos dois grupos durante a pandemia e a necessidade de melhorar a igualdade de atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde). Os dados também mostram que a riqueza e o maior dinamismo econômico dos estados do Sudeste não se refletem na queda da diferença de longevidade entre negros e brancos, com São Paulo e Rio de Janeiro passando do equilíbrio racial para um patamar de desequilíbrio em favor dos brancos.

Em São Paulo, o indicador que mede a longevidade passou de -0,163 para -0,207 ponto; no Rio de Janeiro, de -0,173 para -0,251, mantendo os dois estados na lanterninha do índice. Nessas regiões, optou-se por utilizar as médias móveis de três anos, e a série vai de 2004 a 2021.

Na outra ponta, o destaque positivo vai para os estados da região Norte do país, que ocupam as quatro primeiras colocações. Mas mesmo na maioria desses locais houve uma piora: o Amazonas era 0,013 e passou para -0,018, o Pará foi de -0,015 para -0,042 e o Tocantins caiu de 0,019 para -0,047 ponto.

Segundo sanitaristas, uma das hipóteses para a vantagem da região Norte neste indicador pode ser o processo de auto identificação, que varia de uma região para outra. Quem se vê como negro no Sul não necessariamente se enxerga dessa forma no Norte.

Já nos estados do Sudeste, a desigualdade entre salários é mais presente e é preciso considerar que o número de moradores negros nas regiões periféricas das grandes cidades é historicamente maior que o de brancos.

Ana Léia Moraes Cardoso, 44 e Graça Epifânio, 51, são exemplos desse desequilíbrio. Apesar de não se conhecerem, elas dividem muitas experiências em comum: ambas são lideranças quilombolas e sentiram de perto as dificuldades no acesso à saúde em suas respectivas comunidades. Para elas, o desequilíbrio no acesso a atendimento médico e a diferença no tratamento entre negros e brancos não é uma estatística, mas o cotidiano.

Graça, do quilombo Carrapatos da Tabatinga, em Bom Despacho (MG), a 157 Km de Belo Horizonte, trabalhou como técnica de saúde por 15 anos e viu de perto essa desigualdade. “O paciente negro já é medido pelas suas roupas e não consegue manifestar a dor que está sentindo naquele momento, só dá graças a Deus por estar sendo atendido”, diz.

Ela, que também trabalhou em sua comunidade, destaca a importância de ter profissionais de saúde negros no sistema público, pois o acesso a um atendimento básico por meio de uma pessoa que passa confiança para a comunidade ajuda a fazer com que as pessoas percam o medo.

Ana, do quilombo de Laranjituba, próximo de Moju (a 70 Km de distância de Belém do Pará), é técnica em enfermagem e estudante de medicina. Para ela, o racismo é parte do conjunto de obstáculos no acesso a serviços de maior complexidade e a políticas de educação em saúde para prevenção de doenças e promoção do bem-estar.

O isolamento das comunidades é outro problema. A dificuldade de locomoção das pessoas, muitas vezes acometidas por doenças crônicas, impede o tratamento. “Tudo favorece para que as pessoas acabem morrendo por doenças que são tratáveis. Muitos dependem de barco ou de estradas precárias”, diz Ana. A pandemia de Covid-19, além de aumentar as dificuldades no acesso a serviços básicos e necessários para o enfrentamento da doença, mostrou como a falta de preparo no atendimento e do conhecimento da realidade de pessoas negras.

Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), da organização não governamental Vital Strategies e da UnB (Universidade de Brasília) estudaram o nível de disparidade entre mortes de pretos, pardos e brancos no Brasil durante a pandemia. Os negros (pretos e pardos) apresentaram risco de morte 9 pontos percentuais maior do que os brancos, segundo a pesquisa.

No quilombo de Laranjituba, Ana ressalta que houve uma mobilização interna para conscientizar as pessoas sobre a Covid e prestar assistência social básica para população. “Nós sabemos que o povo negro nasce, cresce e morre de maneira diferente. Durante a pandemia, vimos isso com mais intensidade”, afirma Ana.

Na visão de pesquisadores da área, os indicadores epidemiológicos mostram há  décadas que a população negra está em pior situação que a branca. Políticas públicas, como o Estatuto da Igualdade Racial, reconhecem isso.

Segundo Hilton Silva, professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UnB, as ações afirmativas na área de saúde chegaram a ser colocadas em pauta na mesma época que o sistema de cotas universitárias, mas esse avanço foi mais visível no campo da educação do que na saúde.

Silva diz que os dados disponíveis indicam que um número muito pequeno de estados e municípios implementa políticas voltadas à população negra. Nos planos plurianuais municipais, o tema também é raro no campo da saúde.

“O futuro governo vai precisar reforçar a importância das políticas e [a conscientização] da existência do racismo estrutural do país – o que o governo que está acabando não fez”, acrescenta Silva, que também faz parte da coordenação do GT Racismo e Saúde da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Rudi Rocha, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e coordenador de pesquisa do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) concorda que existem determinantes sociais da saúde que afetam o acesso a serviços médicos.

Fatores como moradia, renda, saneamento, segurança e educação contribuem para o aumento da desigualdade entre negros e brancos. “O mercado de trabalho também piorou nos últimos anos e a informalidade aumentou, o que reduziu o acesso à saúde privada”, diz Rocha.

A baixa representatividade da população negra nas esferas que desenham as políticas públicas direcionadas a esse grupo também impede o avanço da igualdade.

Segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de negros no estado de São Paulo é de cerca de 21,80 milhões de habitantes, equivalente a 48,3% da população paulista.

Contudo, dos 94 deputados estaduais na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), somente 10 se declaram negros. Nas eleições de 2022 esse número subiu para 18, representando 19,2% da Casa.

Rocha acrescenta que o aumento no número de idosos pode acelerar a desigualdade  em saúde, uma vez que esse grupo necessita de tratamentos mais complexos. “Isso significa que vai crescer a demanda por serviço de saúde de alta complexidade, por exemplo, para tratar doenças crônicas, que precisam de acesso à medicação contínua e monitoramento.”

Políticas como a PNSIPN (Política Nacional de Saúde Integral da População Negra), instituída em 2009 pelo Ministério da Saúde e aprovada pelo Conselho Federal de Medicina, podem aumentar a qualidade de vida da população. A iniciativa abrange desde educação de profissionais da saúde para melhor compreensão da realidade da população negra e um olhar específico para doenças com maior incidência entre negros, como diabetes e hipertensão.

Rony Coelho, pesquisador de políticas públicas para a população negra do Ieps, lamenta, no entanto, que essa política tenha sido abandonada após o fim do governo Dilma Rousseff, em 2016.

“Há uma sobreposição de desigualdades. E quando comparamos pessoas de mesmo nível socioeconômico e de cores diferentes, os pretos vão ter piores índices e o que explica isso é o próprio racismo da sociedade.” diz.

Esta é a segunda edição do Ifer feita pelos economistas. Na semana passada, uma reportagem já havia mostrado que a queda do desequilíbrio entre negros e brancos nos últimos 20 anos foi tímida e motivada pela melhora na educação (que já dá sinais de perda de fôlego).

GESTÃO E CARREIRA

ORDENS DE VOLTAR AO ESCRITÓRIO CAEM NO VAZIO

Estudo patrocinado por grandes instituições financeiras do Reino Unido mostra que flexibilidade se impõe no setor

Os funcionários do setor financeiro estão ignorando com frequência as regras de empresas sobre o número de dias que devem comparecer ao escritório, segundo estudo patrocinado por algumas das maiores instituições financeiras do Reino Unido.

O estudo do grupo sem fins lucrativos WIBF (Women in Banking and Finance, Mulheres nos Bancos e Finanças) e da Escola de Economia de Londres descobriu que os funcionários querem um trabalho mais flexível, pois rejeitam o presenteísmo em favor da produtividade.

Os trabalhadores financeiros consideram a flexibilidade, em vez da necessidade de cumprir uma cota de dias no escritório, algo mais alinhado coma eficiência em nível de equipe, segundo o estudo baseado em entrevistas.

A pandemia levou muitas empresas a considerar novas formas de trabalho, muitas delas adotando abordagens mais flexíveis, mas com um determinado número de dias em que se espera que os funcionários estejam presentes no escritório.

O relatório disse que a mudança para o trabalho “primeiro remoto”, no qual o trabalho em casa é a principal opção para a maioria dos funcionários, não teve impacto ou teve um impacto positivo na produtividade.

Acrescentou que isso “destaca que, embora no nível de chefia os executivos de muitas grandes empresas estejam pedindo que os funcionários compareçam ao escritório um número específico de dias por semana, na prática eles estão sendo ignorados, com os gerentes muitas vezes favorecendo o trabalho remoto como primeira abordagem, desde que satisfaça as necessidades operacionais locais”.

O estudo, baseado em entrevistas com 70 mulheres e 30 homens no setor financeiro de Londres e realizado pela LSE, abrangeu negócios bancários, gestão de ativos, fintechs e seguros.

Os pesquisadores entrevistaram funcionários de vários níveis de senioridade em empresas como Bank of America, BlackRock, Citigroup, Credit Suisse, Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley, NatWest, Schroders e UBS.

Grace Lordan, diretora da iniciativa de inclusão da LSE e autora do relatório, disse que os trabalhadores estão ficando frustrados ao serem instruídos a ir ao escritório para simplesmente participar de uma chamada do Zoom.

“As empresas que exigem que seus funcionários estejam no escritório sem motivo perderão diversos grupos de talentos”, disse ela. “Essas demandas também são motivadas pelo ego, em vez de levar em consideração os melhores interesses da empresa”.

O estudo descobriu que as mulheres, em especial, preferem um modelo mais flexível de trabalho e indicou preocupações de que abordagens excessivamente rígidas para trabalhar no escritório dissuadiriam as funcionárias.

Anna Lane, presidente da WIBF, disse: “Acredito que os gerentes que exigirem que suas funcionárias cumpram um cronograma rígido de três, quatro ou cinco dias perderão mulheres para os concorrentes que não o fazem”.

O relatório foi realizado com o programa de pesquisa Accelerating Change Together (Acelerando a Mudança Juntas) da WIBF, que busca melhor apoiar e reter mulheres em serviços financeiros.

EU ACHO …

POR QUE EXISTE O MAL?

Esta reflexão é um xeque-mate no cristianismo

Porque o mal existe? Essa pergunta abre espaço para muitas respostas, muitas delas contraditórias. Podemos, de cara, dizer que é uma daquelas perguntas que revelam o mal- estar da metafísica, como dizia Fernando Pessoa, porque, a rigor, não existe o “mal” mas apenas fenômenos que agradam a uns e desagradam a outros, ou mesmo que desagradam a todos. Esses, como vulcões, epidemias, maremotos e terremotos, são males naturais, logo não são mal nenhum.

A natureza nem o universo são morais. Ambos não visam causar mal a ninguém.

Daí dizermos que a natureza e o universo são cegos moralmente. Em filosofia dizemos: a natureza nem o universo tem qualquer intenção de causar mal a ninguém.

Outra forma de responder a esta questão é dizer que não existe mal nenhum a não ser “shit happens”; ou coisas ruins acontecem, porque as coisas do mundo estão submetidas à contingência –  sorte ou azar. Muitas vezes ações humanas não intencionai causam mal aos outros, como erros técnicos, de gestão ignorância, irresponsabilidade, enfim, a cadeia de causa possíveis para eventos indesejáveis – eventos maus – infinita, e não temos tempo para o infinito aqui.

Entretanto, pouco importa como respondamos negativamente à existência do mal, continuamos a sofrê-lo de maneira irrevogável.

Alguns separam o mal natural – que não é mal em si ­ do mal moral – causado pelos homens. Este seria, para muitos, o espaço possível de nossa ação contra o mal. O outro, o natural, enfrentamos com a boa técnica, a boa ciência, a boa gestão e a boa política – a mais rara das quatro.

Passamos a vida a enfrentar males diversos, dos morais aos naturais, e acabamos por perder a batalha para o mal natural mais temível de todos, que é a morte.

O problema seria, portanto, postular a existência de um “mal em si’; entidade metafísica ou intencional, que visaria causar sofrimento, destruição, injustiças e similares ao homem e a todas as criaturas que povoam o universo.

A pura e simples indiferença do universo e da natureza para com o nosso sofrimento já é vivida como um mal para nós. como dizia o escritor Albert Camus.

As religiões em geral fazem do mal um princípio metafísico. Demônios, espíritos sem luz, “más energias”.

O espiritismo, a mais tosca das religiões, entende o mal como algo a ser resolvido a prestação, como boletos pagos em cada encarnação.

O cristianismo tem um problema mais grave do que as demais religiões para responder à questão “por que o mal existe?”. Você sabe por quê? Porque o cristianismo inventou que Deus é amor, que Deus é bom e todo poderoso, e aí ferrou tudo. Foi obrigado a criar um princípio outro – Satanás – , meio incontrolável, que fica detonando tudo por aí.

O problema persiste porque daí a questão muda para “por que Deus, que é amor, bom e todo poderoso, deixa o demo pintar e bordar?” Ninguém sabe responder a esta pergunta de forma satisfatória.

Muitos teólogos cristãos e pessoas comuns dizem que a causa do mal é o livre arbítrio. Deus nos criou livres e escolhemos mal. Infelizmente – mesmo com toda a simpatia que nutro por grande parte da teologia, que é uma forma de filosofia religiosa bastante sofisticada em muitos casos – , devo dizer que essa resposta não fica de pé.

Como diz o jovem filósofo niilista Ivan Karamazov, personagem dos “Irmãos Karamazov” de Dostoievski, não há resposta que perdoe a Deus pelo sofrimento de uma criança inocente.

Se ele existe, ele é cruel ou um fraco. Espíritas, com sua lógica positivista de bolso, dirão que a criança escolheu sofrer antes de encarnar para pagar algum boleto moral de encarnações passadas.

Enfim, o argumento a partir do mal, como se diz em filosofia, é um xeque-mate no cristianismo. Deixa-o de joelhos. Ateus praticantes gozam com este argumento.

Inteligentinhos respondem que o mal é relativo. Não fosse eles a nos dizer, nunca imaginaríamos tal sofisticado diagnóstico. Muito obrigado!

Quando abrimos a porta do relativismo para uma reflexão como esta sobre o mal, convidamos o niilismo para jantar. E deste, todos tem medo. Até mesmo os ateus Toddynhos e os relativistas.

LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de ‘Notas sobre a Esperança e o Desespero’ e ‘Política no Cotidiano e doutor em filosofia pela USP

ESTAR BEM

SAIBA OS 5 ALIMENTOS QUE NÃO PODEM FALTAR NAS REFEIÇÕES DO BEBÊ

Quando se fala em introdução alimentar, é normal ficar em dúvida sobre ”o que pode” e ”o que não pode” no prato do bebê, principalmente a partir dos 6 meses de vida, já que é nesse período que a criança começa a ter curiosidade sobre os alimentos. Aqui no Brasil, o Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, produzido pelo Ministério da Saúde, traz diretrizes sobre como deve ser a diversidade alimentar dos pequenos. Na lista de alimentos, estão os cinco grupos alimentares: Carboidratos (que fornecem energia e calorias necessárias para o crescimento e desenvolvimento da criança); Leguminosas (ricos em proteína, ferro     e fibras, fornecendo os aminoácidos necessários ao organismo); Proteínas (que fornecem ferro e outros nutrientes essenciais para a formação de ossos e músculos) e vegetal do tipo A e B (que tem função regulatória e garantem o funcionamento do sistema imunológico do desenvolvimento motor e cognitivo).

Contudo, em contraponto ao que é sugerido, uma pesquisa publicada pela Am J Public Health, em setembro de 2022, alerta que o consumo médio de gorduras    saturadas, açucares e sódio consumidos pelos pequenos se encontra acima do recomendado para as crianças. Ainda segundo o levantamento, 75% dos bebês não       são alimentados exclusivamente com leite humano nos primeiros seis meses de vida e a maioria das crianças de 12 a 23 meses não ingerem as quantidades recomendadas de vegetais, frutas e lacticínios.

Para a nutricionista infantil Beatriz Saramago, da Jornada Mima, uma alimentação saudável e balanceada é indispensável para a saúde dos bebês.

”A formação de hábitos saudáveis começa nos primeiros anos de vida e se reflete até a vida adulta. Esse maior acesso a variedade, pode ajudar a criança a ser menos seletiva em relação aos alimentos, a aceitar melhor comidinhas novas e diferentes, fazer as refeições com mais gosto e ter um menor desejo por bebidas açucaradas”, esclarece a responsável pela produção das refeições orgânicas e saudáveis da Jornada Mima – empresa especializada em alimentação para a primeira infância (período entre os primeiros meses de vida até os 6 anos de idade).

Quando o assunto são os primeiros meses de vida, Saramago explica ainda que os pais precisam estar atentos aos sinais de prontidão que indicam que a criança está interessada em comer.

”Interesse pela comida quando alguém está comendo perto dela, levar objetos à boca. Esses são sinais que o pequeno está interessado e curioso pelo alimento. Já depois dos seis meses, os sinais de fome costumam evoluir. E o bebê começa a se inclinar ainda mais em direção à colher, pegar os alimentos e apontar para a comida”, explica a nutricionista.

Para os pequenos continuarem interessados por alimentos saudáveis, a nutricionista Beatriz Saramago, explica qual postura a família deve ter:

”Primeiro de tudo, a família precisa ser saudável. E consumir no dia a dia, junto com a criança, frutas, legumes, verduras, comidas saudáveis e coloridas”.

AÇÚCAR, TEMPEROS E PAPINHAS: PODE OU NÃO?

Outro ponto sensível na alimentação dos bebês é o açúcar. Sobre isso, a nutricionista ressalta:

”O açúcar é proibido até os 2 anos de idade: Açúcar de adição (o que adicionamos por conta própria) de qualquer tipo, mesmo os de boa qualidade, como o mascavo e demerara; o açúcar também está presente em alimentos processados e ultraprocessados; bebidas açucaradas como o refrigerante, suco de caixinha; balas, doces (caseiros ou industrializados. Isso não é benéfico para os bebês. No preparo dos alimentos, quando chega o período em que os bebês podem consumir açúcar, a melhor opção seria o açúcar mascavo, ou outro açúcar de boa qualidade, não refinado. Que pode ser usado, por exemplo, no preparo de um bolo de frutas”, aconselha a especialista em alimentação infantil.

Quando falamos sobre temperos, a nutricionista explica ainda que são permitidos os naturais, após os 6 meses de vida. Além disso, Saramago informa que não são recomendados os apimentados, já que podem irritar a mucosa do estômago da criança. Os frescos e naturais, como cebolinha, alho, cebola, açafrão, por exemplo, são permitidos. O que não é permitido são os temperos e caldos industrializados. Inclusive nem nós adultos deveríamos consumi-los, visto que contém sódio em excesso, corantes e aditivos artificiais que prejudicam a nossa saúde.”, completa a nutricionista.

Conhecida por ser um método tradicional,  a ”papinha”, é uma comidinha oferecida em consistência pastosa. Aos poucos, vão sendo substituídas por alimentos sólidos desfiados, em tiras ou picados em cubinhos. Beatriz Saramago explica que na preparação da papinha, os alimentos devem ser amassados com o garfo ou raspados, e até, separados no prato.

”Isso porque, quando a comida é batida no liquidificador ou peneirada, os alimentos perdem fibras e tendem a ficar ralos, o que pode prejudicar a aceitação de sólidos no futuro. E também, acabam não estimulando o paladar, pois o bebê não consegue reconhecer o sabor de cada alimento”, ressalta a nutricionista.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL AFETAM ORÇAMENTO DE JOVENS

Pessoas mais novas sofrem com transtornos que geram gastos com medicamentos

Ao mesmo tempo em que os mais jovens buscam cuidados maiores com saúde mental, os custos com medicação se transformam em uma preocupação adicional diante do crescimento de transtornos como ansiedade e depressão. Para quem ainda está começando a carreira e recebendo um salário baixo, o tratamento nem sempre é opção.

A professora de Inglês Larissa Santos, de 26 anos, convive com depressão e transtorno de ansiedade há cerca de dez anos. Após terminar a faculdade, em 2020, ela interrompeu o tratamento porque não tinha como pagar. Seus cuidados com saúde mental incluem três remédios: fluoxetina, Atip e alprazolam, que juntos custam R$ 600 por mês, fora o acompanhamento com psiquiatra e psicóloga:

“No ano passado, eu trabalhava em duas escolas, mas em agosto tive que me afastar das funções por conta de uma crise depressiva e fui dispensada de um dos empregos. Agora trabalho em apenas um colégio, onde dou aulas de Inglês e trabalho na administração.

Larissa dá aulas desde os 17 anos e mora sozinha desde os 18. Para ela, sempre foi difícil arcar com os custos. Constantemente, parava e voltava ao tratamento. Como ficou mal neste ano, os amigos se organizaram para ajudar:

“Moro de aluguel e sozinha. Além dos remédios, a psiquiatra é cara, e tive experiências ruins com atendimento popular. Tudo custa em torno de R$ 1.200 ao mês, mas meu salário é de R$ 1.800. A mãe de uma amiga paga a psiquiatra, mas a terapia tive que deixar.

Julie Cardoso, estudante de Fonoaudiologia, de 22 anos, teme não conseguir arcar com os custos de seus tratamentos no futuro. Ela tem diagnóstico de depressão e transtorno de ansiedade e faz tratamento com antidepressivos há dois anos, fora uma medicação para dormir.

GASTOS ELEVADOS

O primeiro deles, Daforin, é o de dosagem maior: três comprimidos de 20mg por dia. Já a dose do bupropiona é de uma pílula diária, igual à do cloridrato de trazodona. Ao todo, os gastos somam R$ 250 ao mês, mas a estudante também se consulta com psiquiatra e psicóloga:

“No momento, meus pais me ajudam. Eu curso Fonoaudiologia, então só estudo, mas pretendo trabalhar. É muito assustador encarar a realidade de ter que me sustentar e arcar com o custo dos remédios.

Segundo Walter Cintra, professor da FGV Saúde, alguns medicamentos de depressão e ansiedade são oferecidos na rede pública. No Sistema Único de Saúde (SUS), além da relação nacional de medicamentos, que é repassada pela União aos demais entes federativos, há a lista de remédios de cada estado e município. Dos remédios citados na reportagem, só dois são oferecidos via SUS: bupropiona e fluoxetina. Mas Cintra adverte: a grande preocupação é a incidência de transtornos de saúde mental.

TRANSTORNOS AFETAM 8 EM CADA 10 PESSOAS

Segundo uma pesquisa Datafolha publicada em outubro, oito em cada dez brasileiros de 15 a 29 anos apresentaram recentemente um problema de saúde mental. A maioria sofreu com pensamentos negativos (66%), dificuldade de concentração (58%) e crise de ansiedade (53%). Foram ouvidos mil jovens em 12 capitais, em 20 e 21 de julho deste ano.

“Claro que o acesso aos medicamentos é importante. Mas por que os jovens em início de carreira precisam se preocupar com o impacto orçamentário dos remédios de saúde mental? É ruim chegar ao ponto do medicamento, porque se perdeu a oportunidade de intervir antes. O remédio é o paliativo, mas não é a solução. É preciso refletir sobre o que acontece com a sociedade”, questiona Cintra.

Paulo Amarante, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (ENSP), critica a “patologização da experiência humana”. Separação, luto, crise de identidade na puberdade, dificuldade de inserção no mercado e disputa por lugares sociais de reconhecimento estão relacionados ao sofrimento humano, mas não implicam transtorno no sentido claro:

“Um dos maiores problemas da dependência química é em relação às drogas psiquiátricas. Quando uma pessoa interrompe o uso de antidepressivos, pesquisas atestam que ela tem abstinência. A preocupação é por que inserir medicação na vida de uma pessoa por um episódio que pode ser passageiro? Jovens precisam de acolhimento.

OUTROS OLHARES

QUE LÍNGUA É ESSA FALADA NO TIKTOK?

Para tentar burlar sistema de moderação ou apenas se divertir, usuários da rede social criam idioma próprio, com troca-troca de letras e neologismos

Se você é um recém-chegado ao TikTok, pode até achar que a rede social do momento tem um idioma próprio – e meio que é isso mesmo. Nela, os criadores, no caso os que falam inglês, adquiriram o hábito de criar substitutos para palavras que, segundo eles, podem afetar a forma como seus vídeos são promovidos no site ou até violar regras de moderação.

Assim, para evitar o medo (talvez exagerado) de ser marcado por desinformação em relação à Covid-19, muitos usam “panoramic” no lugar de “pandemic” ao falarem, por exemplo, de um “hobby pandêmico”. Da mesma forma, o medo de que temas sexuais tragam problemas levou alguns criadores a usar “leg booty” para LGBTQ e “cornucopia” em vez de “homofobia”. O sexo tornou-se “seggs”.

As diretrizes do TikTok não listam palavras proibidas, mas os criadores percebem punições consistentes o bastante e compartilham listas de termos que parecem ter acionado o sistema. Então, eles se referem aos mamilos (nipples, em inglês) como “nip nops” e às profissionais do sexo como “accountants”. Agressão sexual é simplesmente “S.A.”. E quando Roe v. Wade foi anulado, muitos começaram a se referir ao aborto como “camping”. O TikTok diz que o tema do aborto não é proibido, mas que o aplicativo removeria desinformação médica e violações das diretrizes da comunidade.

DE OLHO

Para os críticos, o uso desses neologismos evasivos é um sinal de que o TikTok é muito agressivo em sua moderação. A plataforma se defende, alegando que uma mão firme é necessária numa comunidade on-line livre, em que muitos usuários tentam postar vídeos nocivos.

Quem infringe as regras pode ser impedido de postar e o vídeo em questão pode ser removido ou ficar oculto na página “Para você” – essa área de sugestão é a principal forma de os TikToks obterem ampla distribuição. Pesquisas e hashtags que violam as políticas também podem ser redirecionadas, informa o aplicativo. O novo vocabulário às vezes é chamado de “algospeak” (de “algorithm” e “speak”) e não existe apenas no TikTok. É uma maneira de os criadores imaginarem que podem contornar as regras de moderação digitando incorretamente, substituindo letras ou encontrando outras maneiras de significar palavras. Elas podem ser inventadas, como “unalive” para “morto” ou “matar”. Ou podem envolver novas grafias – “le$bian” com um cifrão, por exemplo, que o recurso de conversão de texto em fala do TikTok pronuncia “le dollar bean”.

Em alguns casos, pode ser mais uma brincadeira do que preocupação com banimento de vídeos. Para uma porta-voz do TikTok, os usuários podem estar exagerando. Ela argumenta que a rede tem “muitos vídeos populares que apresentam sexo” e mandou links de um esquete do “Comedy Central” e vídeos para pais sobre como falar sobre sexo com crianças.

A moderação funciona assim. O app tem um processo de duas fases, com uma rede que varre o conteúdo em busca de referências violentas, odiosas, sexualmente explícitas ou que espalham desinformação. Os vídeos são verificados, e os usuários podem marcá-los. Aqueles que violam as regras podem ser removidos automaticamente ou encaminhados para revisão por um moderador humano. Cerca de 113 milhões de vídeos foram retirados da plataforma entre abril e junho deste ano, 48 milhões dos quais de forma automática, segundo a empresa.

Embora grande parte do conteúdo removido tenha a ver com violência, atos ilegais ou nudez, as violações relacionadas a linguagem ficam numa área mais duvidosa.

Kahlil Greene, conhecido no TikTok como o historiador da Geração Z, disse que teve que alterar uma citação da “Carta da prisão de Birmingham” de Martin Luther King Jr. Ele mudou “Ku Klux Klanner” para “Ku Klux Klann3r” e “white moderate” (branco moderado) para “wh1t3 moderate”. Em parte por causa de frustrações com o TikTok, Greene começou a postar seus vídeos no Instagram.

“Não consigo nem citar Martin Luther King Jr. sem ter que tomar tantos cuidados”, disse ele, acrescentando que era “muito comum” o TikTok sinalizar ou retirar um vídeo educativo sobre racismo ou história negra, desperdiçando o trabalho de pesquisa e construção do roteiro.

Alessandro Bogliari, CEO da Influencer Marketing Factory, diz que os sistemas de moderação são inteligentes, mas podem cometer erros, e é por isso que muitos dos influenciadores que sua empresa contrata para campanhas de marketing usam “algospeak”.

DESLIZES

Alguns criadores consideram o TikTok desnecessariamente rígido com conteúdo sobre gênero, sexualidade e raça. Em abril, a conta do grupo Human Rights Campaign postou um vídeo afirmando que havia sido temporariamente banido após usar a palavra “gay” num comentário. A proibição foi logo revertida, e o comentário foi republicado. O TikTok chamou isso de erro de um moderador que não revisou cuidadosamente o comentário após uma denúncia.

Mas essas palavras vieram para ficar? A maioria delas provavelmente não, dizem os especialistas. Assim que as pessoas mais velhas começam a usar gírias popularizadas por jovens no TikTok, os termos “se tornam obsoletos”, diz Nicole Holliday, professora assistente de linguística no Pomona College:

“Uma vez que os pais entendem, você precisa passar para outra.

GESTÃO E CARREIRA

DIREITO DE MULHERES A FOLGA QUINZENAL AOS DOMINGOS CHEGA AO STF

Nos Dez Mandamentos (o texto bíblico, não a novela da TV Record), a ordem é “guardar os domingos: mas, no mercado de trabalho, a lei é outra: nem sempre é possível escolher os dias “guardados” ao descanso. Previsto pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), principal compêndio regulatório das relações de trabalho, o trabalho aos domingos virou regra em shoppings, supermercados e zonas comerciais de grandes cidades, já que o dia é relevante para o consumo, embora a legislação recomende que a folga semanal coincida com esse dia.

Para as mulheres, porém, o decreto-lei de 1943 define o direito ao revezamento quinzenal: ao menos um domingo a cada duas semanas deve ser um dia de folga. Mas na prática não é bem assim. Nos últimos anos, dezenas de ações judiciais chegaram ao Judiciário trabalhista discutindo a aplicação do artigo 386 da CLT e os possíveis conflitos com a lei 10.101/2000, que liberou o trabalho aos domingos no comércio.

Somente o Sindicato dos Comerciários de Florianópolis iniciou 42 processos contra grandes redes de varejo e supermercados, desde 2016, para cobrar o cumprimento da chamada escala 1 por 1 – um fim de semana de trabalho seguido de um fim de semana de folga. A praxe em Santa Catarina, segundo o diretor da Federação dos Trabalhadores no Comércio em Santa Catarina, Ivo Castanheira, é a escala 2 por 1 (uma folga a cada dois domingos trabalhados). Em alguns municípios, diz, os empregados estão sem acordo coletivo há cerca de quatro anos pois as empresas não aceitam prever o revezamento obrigatório para mulheres.

Agora, um desses casos começou a ser decidido pelo Supremo Tribunal Federal e é visto por advogados como um precedente importante, apesar de não ter repercussão geral (classificação que garante a aplicação da decisão a todos os processos que discutam o assunto).

Em outubro, numa decisão monocrática (quando apenas um ministro decide), a ministra do Supremo Carmen Lúcia determinou que as lojas Riachuelo têm de respeitar a folga quinzenal de suas funcionárias, no julgamento de um recurso extraordinário apresenta ter decisão da Subseção Especializada em Dissídios Individuais do TST (Tribunal Superior do Trabalho), em ação iniciada pelo Sindicato dos Comerciários de São José (SC), que pede a folga para as comerciárias.

Após a decisão de Carmen Lúcia, o caso começou a ser julgado em plenário virtual, no qual o ministro Alexandre de Moraes seguiu o voto da ministra. O ministro Luiz Fux pediu vista, pausando a análise do caso.

Mas a decisão monocrática de Carmen Lúcia já foi suficiente para desencadear novas ações, diz  a advogada Meilliane Pinheiro Vilar Lima, do LBS Advogados.

Sindicatos de comerciários do Espírito Santo também foram à Justiça do Trabalho contra oito redes, a maioria com lojas em shoppings, onde o trabalho aos domingos é mais disseminado.

No TST, outra ação do sindicato catarinense, essa contra as lojas Renner, também foi julgada favorável aos trabalhadores e deve subir também para o STF, já que houve recurso extraordinário também nesse caso.

Em São Paulo, diversas convenções coletivas preveem que as lojas possam decidir o tipo de revezamento a ser aplicado. O acordo ­ vigente para 2022 e 2023 firmado entre a Fecomercio SP e o Sindicato dos Comerciários prevê três possibilidades: o sistema 1 por1, 02 por 1 (uma folga a cada dois domingos de trabalho) e o 2 por 2 (dois de trabalho seguido por dois de folga).

A advogada Meilliane Lima também defende que o revezamento obrigatório ainda é necessário, pois, desde 1943, ano da publicação da CLT, os avanços sociais não foram suficientes para que mulheres e homens vivam em situação de igualdade. “Em média, 40% das famílias são monoparentais e comandadas por mulheres. O Estado não oferece proteção social, não existe creche aos domingos. Então esse ainda é um dia essencial para que ela descanse, tenha o convívio familiar.”

Renner, Riachuelo e IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo) foram procurados para falar do assunto, mas não responderam.

No recurso que apresentou ao STF, a Riachuelo defendeu que a concessão de folga quinzenal às mulheres viola a Constituição por ser discriminatória.

EU ACHO …

NEM TODO MUNDO

Acreditamos que existe um senso comum regendo nossos gostos e opiniões, porém somos sete bilhões pensando e vivendo de forma muito distinta uns dos outros.

Nem todo mundo é regido pelo dinheiro, por exemplo. Dinheiro é bom, é necessário, e quanto mais, melhor – mas esse “mais” não obceca a todos. Há quem troque o “mais dinheiro” por “mais sossego” e “mais tempo ocioso”. Qual o sentido de trabalhar insanamente se já se tem o suficiente para viver com dignidade?

Nem todo mundo gostaria de morar numa mansão com uma dezena de quartos e espaço de sobra para se perder: tenho uma amiga que desistiu do apartamento cinematográfico onde morava, pois ela não conseguia enxergar os filhos nem conversar com eles – eram longos os corredores e muitas as portas. Parecia que a família vivia num hotel, e não num lar. Trocou por um apartamento menor e aproximaram-se todos.

Nem todo mundo prefere mulheres com cara de boneca e corpo de modelo, ou homens com rosto de galã e corpo de fisiculturista. Imperfeições, exotismo, autenticidade, um look de verdade, natural, sem render-se a uma busca sacrificada pela beleza, ah, o valor que isso ainda tem.

Nem todo mundo gosta de bicho, de doce, de praia, de ler, de criança, de festa, de esportes, e nem por isso merece ser expulso do planeta por inadequação crônica. Seus prazeres estão fora do catálogo da normalidade e ainda assim são criaturas especiais a seu modo, assim como algumas pessoas podem cumprir todas as obviedades consagradas e isso não adiantar nada na hora da convivência: são ruins no trato, fracas de humor e voltadas para o próprio umbigo, apesar de seu exemplar enquadramento social.

Nem todo mundo veio ao mundo para brigar, para reclamar, para agredir, para difamar, para fofocar, para magoar, para se vingar, para atrapalhar – hábitos de muitos, arrisco dizer que da maioria, já que é mais fácil chamar atenção através do nosso pior do que do nosso melhor. O pior faz barulho, o pior ganha as manchetes, o pior gera comentários, o pior recebe os holofotes, o pior causa embaraço. Porém, há os que vieram em missão de paz e não se afligem pela discreta repercussão de seus atos.

Nem todo mundo quer casar, quer filhos, quer fazer faculdade. Nem todo mundo quer ser campeão, presidente, celebridade. Há quem queira apenas viver de um jeito que não seja julgado por ninguém, há quem queira apenas se expressar de um modo menos exuberante e mais íntimo, há quem queira apenas passar pela vida nutrindo a própria identidade, sem se preocupar em colecionar seguidores, admiradores e afetos de ocasião.

Em vez de jogar para a torcida, há quem queira somente estar bem consigo mesmo.

ESTAR BEM

DÁ PARA SECAR ATÉ O NATAL?

Shakes e sopas são alternativas de emagrecimento rápido e saudável

Com a proximidade das festas de fim de ano, muitas pessoas recorrem às dietas “milagrosas” com o objetivo de emagrecer de forma rápida e sem muito sofrimento. E, nesse sentido, o consumo de shakes e sopas são algumas das apostas de quem quer correr contra o tempo. Embora esses métodos ajudem a promover uma rápida perda de peso, o sucesso na balança depende de outros fatores para não comprometer a saúde e também não ocorrer o temido efeito sanfona.

Mas não existe uma fórmula mágica: Perder peso exige tempo, mudanças alimentares e comportamentais, além de necessitar de ajuda profissional, já que apenas um especialista em nutrição pode indicar a maneira correta de ter um emagrecimento saudável. A melhor receita continua sendo combinar uma alimentação balanceada, reduzindo a ingestão de doces e bebidas açucaradas, com alguma atividade esportiva.

A nutróloga Ana Valéria Ramirez afirma que os shakes são bons aliados – desde que utilizados de forma correta. “Os shakes são indicados no processo de emagrecimento por apresentar poucas calorias em sua composição, e serem refeições nutricionalmente completas, com proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais essenciais”, diz. “No entanto, eles não são todos iguais. Por isso, é tão importante a orientação e acompanhamento de um nutrólogo ou nutricionista, antes, durante e depois do uso”, explica.

Segundo a médica, todo tratamento de emagrecimento deve acompanhar mudança de alimentação, incluir atividade física e ter um sono reparador. “O processo de emagrecimento envolve diversos fatores, cujas principais motivações estio diretamente relacionadas à saúde e ao bem-estar. Já a perca de peso está relacionada ao número que aparece na balança, desconsiderando a composição corporal. É preciso ter um estilo de vida saudável, pois a obesidade é uma doença crónica e deve ter um tratamento crônico também para não ocorrer um efeito sanfona”, afirma.

EQUILÍBRIO É FUNDAMENTAL

O consumo excessivo e sem orientação nutricional oferece riscos à saúde, como falta ou deficiência de vitaminas e minerais no organismo. A nutróloga Ana Valéria Ramirez esclarece que o produto deve ser usado por, no máximo, um mês e também não deve ser consumido todos os dias. “Quem deseja fazer uso por mais tempo, o ideal é substituir por um lanche e não uma refeição principal. Por ser de baixa caloria e ter pequena quantidade de vitaminas e minerais, o uso inadequado pode causar uma deficiência de vitaminas e minerais, gerando fraqueza, cansaço, queda do cabelo, unhas enfraquecidas e até mesmo uma sarcopenia, que é a perda de massa muscular associada à perda da força nos músculos, entre outros problemas de saúde”, alerta.

EFEITO IOIÔ

Embora seja eficiente para o emagrecimento rápido, os especialistas destacam que esta “dieta milagrosa” deve ser realizada por curtíssimo tempo – em situações pontuais. Isso porque, quanto mais tempo durar, maior será o risco de um efeito ioiô, com retomada de uma dieta convencional sem que haja uma verdadeira mudança de hábitos alimentares e inclusão de exercícios físicos na rotina.

Segundo o nutrólogo Ivan Togni Filho, a longo prazo essa dieta também pode levar a deficiências nutricionais e fadiga no corpo. “O ideal é fazer a dieta da sopa apenas durante uma semana. Se for seguida por muito tempo, pode causar fraqueza e desnutrição. É importante sempre consultar um profissional antes, e nunca fazer por conta própria”, diz.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

VANTAGENS:

*** Promove rápida perda de peso

*** Boa ingestão de fibras

*** Fácil de aplicar

*** Ingredientes fáceis de encontrar

*** Requer pouco tempo de preparo

*** Não há necessidade de calcular calorias

DESVANTAGENS:

*** Monotonia na hora das refeições

*** Dieta muito restritiva, não muito compatível com uma vida social

*** Efeito ioiô

*** Deficiências nutricionais

*** Fadiga intensa devido à falta de energia

SOPA MILAGROSA

Muitas pessoas já devem ter ouvido falar da famosa “dieta da sopa”, que promete  perda de peso de forma fácil, rápida e eficiente. A regra é substituir as principais refeições (almoço ou janta) por uma sopa feita com vários vegetais, como repolho, pimentão, tomate, nabo, berinjela, cenoura, cebola, alho e alguns condimentos, entre outros legumes. Além disso, é importante ingerir frutas e proteínas magras, em pequenas quantidades, já que esta dieta é indicada para pessoas que desejam perder entre dois e três quilos, de forma rápida, para um evento específico.

A perda de peso acontece porque o corpo recorre às suas reservas de gordura para produzir energia. “A dieta da sopa ajuda a emagrecer rápido, pois ocorre um déficit calórico, ou seja, são ingeridas menos calorias do que o metabolismo gasta. Além disso, há uma ingestão maior de líquidos e isso ajuda a diminuir a retenção de líquido, melhorando o aspecto da pele e o inchaço”, explica o nutrólogo Ivan Togni Filho

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

MORA NA BIOLOGIA

Estudo aponta que genes influem na relação com álcool e cigarro

Fumar e beber são importantes fatores de risco para diversos problemas de saúde física e mental, incluindo doenças cardiovasculares e transtornos psiquiátricos. Embora ambos os comportamentos sejam influenciados por fatores ambientais, sociais e políticos, há evidências de que a genética também pode afetar esses hábitos. Em um estudo recente publicado na revista Nature, o maior já realizado sobre o assunto, um grupo internacional de cientistas encontrou quatro mil associações genéticas que têm certa influência no consumo de álcool ou tabaco, levando em conta fatores como a idade em que essas substâncias começam a ser consumidas ou em que quantidade.

Os pesquisadores analisaram os genomas de mais de três milhões de pessoas que participaram de 60 estudos nos Estados Unidos, Austrália e Europa. A imensa maioria (80%) tinha ascendência europeia. Os 20% restantes, eram descendentes de africanos, norte-americanos e sul-americanos e pessoas do Leste Asiático.

A equipe comparou os genomas dos participantes com seus hábitos de fumar e o consumo de álcool autorrelatados. Os resultados mostraram que, apesar de viverem em um ambiente semelhante, as pessoas com maior predisposição genética fumam mais.

“Indivíduos nos 10% com maior predisposição genética ao tabaco fumam em média duas vezes mais cigarros por dia do que aqueles nos 10% com menor predisposição genética”, diz Javier Costas, pesquisador do grupo de genética psiquiátrica do Instituto de Investigação em Saúde de Santiago de Compostela (IDIS).

MAPA GENÉTICO

Os pesquisadores encontraram 2.468 variantes genéticas que estão ligadas ao tabagismo regular, definido como fumar todos os dias. Eles também vinculam outras 243 variantes a quantos cigarros uma pessoa fuma por dia, 206 ao abandono do hábito e 39 à idade em que alguém adere ao tabaco.

Em relação ao consumo de álcool, a equipe identificou 849 variantes genéticas ligadas à quantidade de álcool consumida por semana.

De todas as variantes identificadas para tabagismo e consumo de álcool pelo novo estudo, algumas estão em genes envolvidos na sinalização cerebral. O consumo de álcool, por exemplo, está ligado a um gene chamado ECE2, que está envolvido no processamento da neurotensina, uma molécula que regula a sinalização da dopamina, neurotransmissor envolvido no sistema de recompensa ativado pela dependência.

Já o número de cigarros fumados por dia por uma pessoa está ligado a variações em um gene chamado NRTN, que influencia a sobrevivência dos neurônios que secretam dopamina.

Em um estudo semelhante de 2019, equipes de cientistas, incluindo alguns signatários do trabalho que foi publicado agora, procuraram uma correlação entre o alcoolismo, que é cerca de 49% hereditário, e outros transtornos mentais.

Nesse estudo genético, eles observaram correlações entre alcoolismo e déficit de atenção, esquizofrenia ou depressão. Um dos dados que chamou a atenção dos autores foi que a sobreposição entre os genes associados ao vício em álcool e aqueles relacionados ao consumo moderado não era grande.

Identificar fatores de risco biológico para tabagismo ou alcoolismo ajuda a prever, por exemplo, o número de cigarros fumados por dia por uma pessoa e se há aumento no risco de recaída entre usuários de cocaína ou de comportamento agressivo.

Em outra parte do estudo, a equipe criou uma ferramenta de aprendizado de máquina que calcula uma pontuação de risco genético que poderia identificar pessoas suscetíveis a certos comportamentos associados ao uso de álcool e tabaco. Quando aplicada em uma população composta por 6.092 pessoas de ascendência europeia que vivem nos EUA, as pontuações de risco previram com muita precisão o comportamento de fumar e beber.

No entanto, ao serem aplicadas em quase 4 mil pessoas que vivem na Europa, mas têm ascendência africana, do Leste Asiático ou norte ou sul-americana, a avaliação de risco apareceu, mas foi menos precisa.

“Ter dados mais robustos e diversificados nos ajudará a desenvolver ferramentas preditivas de fatores de risco que podem ser aplicadas a todas as populações”, afirma o coautor da pesquisa Dajiang Liu, professor e vice-presidente de pesquisa do Departamento de Ciências da Saúde Pública da Escola de Medicina Penn State.

A expectativa é que, dentro de dois a três anos, essas pontuações de suscetibilidade genética integrem o atendimento de rotina para indivíduos já identificados por triagem básica como estando em risco aumentado de uso de álcool e tabaco.

Segundo Costas, a principal limitação do trabalho publicado pela Nature nesta semana e em outros semelhantes é a definição dos padrões em estudo, geralmente declarada pelos próprios participantes e muito pouco específica. Por exemplo: os participantes podem descrever seu consumo de álcool como “beber regularmente durante as refeições” ou “beber garrafas semanalmente” e, nos dois casos a quantidade total semanal ingerida ser a mesma.

“Sabe-se também que pessoas com problemas de saúde tendem a declarar seu consumo de álcool e tabaco menor do que realmente são”, explica o pesquisador.

E é claro que as políticas públicas também desempenham um papel importante. Em 2014, completaram 50 anos desde que o cirurgião geral dos Estados Unidos, a mais alta autoridade de saúde do país, publicou um relatório sobre os efeitos do tabaco na saúde. A porcentagem de fumantes americanos caiu naquele meio século, de 42% para 18%, uma mudança cultural que ajudou a evitar, de acordo com estimativa publicada na revista JAMA , oito milhões de mortes prematuras.

Em outro trabalho publicado na mesma edição da revista, calculou-se que, entre 1980 e 2014, o percentual de fumantes no mundo havia caído de 41,2% para 31,1% entre os homens e de 10,6% para 6,2% entre as mulheres. Para o futuro, os autores afirmam a importância de ampliar as amostras estudadas e aumentar o número de descendentes não europeus para melhor refinar o peso dos genes e do ambiente no consumo de álcool e tabaco.

CASO BRASILEIRO

A informação sobre os malefícios do tabaco, o aumento dos preços e a proibição da publicidade e do fumo em locais públicos resultaram em uma queda drástica do hábito nos últimos anos. No Brasil, de 2011 a 2021, houve redução de aproximadamente 32,1% no número de fumantes acima de 18 anos. É o que mostram dados do Vigitel, levantamento anual do Ministério da Saúde sobre fatores de risco e doenças crônicas.

Dados do mesmo levantamento mostram redução do consumo abusivo de álcool entre jovens de 18 a 24 anos. A taxa ficou em 19,3% entre homens e mulheres, na última edição —o índice não ficava abaixo de 20% há sete anos. A prática é definida pelo consumo de 60 gramas ou mais de álcool, o equivalente a pelo menos quatro doses, em uma única ocasião, ao menos uma vez por mês.

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SINAL DE ALERTA

País terá 2 milhões de casos de câncer em 3 anos, estima Inca

O Brasil terá 704 mil novos casos de câncer por ano entre 2023 e 2025, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, que concentrarão 70% dos diagnósticos. O prognóstico está no novo relatório do Instituto Nacional de Câncer (Inca) sobre a doença, divulgado ontem. O documento “Estimativa 2023 – Incidência de câncer no Brasil”, elaborado pelo instituto vinculado ao Ministério da Saúde, projeta mais de dois milhões de casos no país nesse período. Foram incluídos, pela primeira vez, dados sobre cânceres de pâncreas e de fígado, além de outros 19 tipos de tumores.

No triênio anterior, de 2020 a 2022, foram estimados 625 mil novos casos da doença. No entanto, a pesquisadora Marianna Cancela, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca (Conprev), não recomenda a comparação dos dados atuais com os antigos devido a possíveis alterações na metodologia, ao aumento da população e à inclusão de novos tumores na estimativa mais recente.

Por outro lado, ela afirma que o aumento de casos de câncer de forma geral é esperado. Essa também é a percepção do médico Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião de fígado e pâncreas.

“O número de casos de câncer tem aumentado e a razão é multifatorial. Há o envelhecimento da população e a adoção de hábitos menos saudáveis. O aumento da obesidade também tem uma grande implicação”, diz Ferraz Neto.

Cancela explica que a decisão de incluir os cânceres de pâncreas e fígado nas estimativas foi tomada porque eles estão entre os dez tipos mais comuns em várias regiões do Brasil, como Norte e Sul. Além de serem dois tipos extremamente letais.

O tumor maligno de pâncreas é o 13º com maior incidência no Brasil, com 10.980 casos estimados a cada um dos três anos. O de fígado vem logo depois, em 14º lugar, com estimativa de 10.700 casos por ano.

“O câncer de fígado está em sétimo lugar entre os homens na região Norte. Na região Nordeste, em oitavo. É um câncer que pode ser parcialmente prevenido através da vacinação contra hepatite B. Já o de pâncreas é o sexto mais comum entre as mulheres na região Sul. Está mais relacionado à obesidade, sedentarismo e tabagismo, que são fatores de risco controláveis”, afirma Cancela.

Ferraz Neto considera importantíssimo a inclusão desses dois tumores nas estimativas nacionais. Ele acredita que isso ajudará a aumentar a conscientização da população sobre a realização de exames periódicos.

“Isso cria um alerta importante para a população, especialmente no caso do fígado, onde a doença é silenciosa, quase sem sintomas. A chance de cura desse tumor inicial é de praticamente 100%. Mas se já está grande ou invadindo algum vaso sanguíneo importante, a taxa cai para zero”, alerta.

OS MAIS COMUNS

O câncer de pele não melanoma é o mais incidente no Brasil, responsável por 31,3% do total de casos estimados para os próximos três anos. Ele é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, de pele clara e sensíveis à ação dos raios solares. Esse tumor também tende a ter taxas de letalidade mais baixas. Em seguida, os tumores malignos mais incidentes na população brasileira são: câncer de mama (10,5% dos casos), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).

Entre os homens, o câncer de próstata, com um total de 72 mil casos novos estimados a cada ano, só perde para o de pele não melanoma, em geral menos grave. Em seguida, estão os de cólon e reto, traqueia, brônquio e pulmão, estômago e glândula tireoide.

Nas regiões de maior índice de desenvolvimento humano (IDH), os tumores malignos de cólon e reto ocupam a segunda ou a terceira posições, sendo que, nas de menor IDH, o câncer de estômago é o segundo ou o terceiro mais frequente entre a população masculina.

Já nas mulheres, o câncer de mama é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Em seguida, estão: câncer de cólon e reto, traqueia, brônquio e pulmão, estômago e colo do útero.

Nas regiões mais desenvolvidas, em seguida vem o câncer colorretal. Naquelas com menor IDH, é o câncer do colo do útero que ocupa esta posição.

“O câncer colorretal é o segundo mais comum no país entre homens e mulheres. Ele ultrapassou o câncer de colo de útero entre as mulheres e o câncer de pulmão entre os homens e também é um câncer ligado ao estilo de vida, como sedentarismo, consumo de álcool e obesidade”, alerta Cancela.

DIFERENÇAS REGIONAIS

A desigualdade entre as regiões do país também se reflete nos números de incidência de câncer. Segundo Cancela, enquanto no Norte e Nordeste tumores associados a infecções são mais comuns, no Sul e Sudeste há maior incidência daqueles tipos mais relacionados ao estilo de vida.

O câncer do colo do útero é o quinto mais comum entre as mulheres no sudeste do país, no entanto ocupa a segunda posição nas regiões Norte e Nordeste.

“Esse é um câncer que é ligado à infecção pelo HPV, além de ser o único tipo sobre o qual se fala em erradicação porque ele é totalmente prevenível pela vacinação”, diz a pesquisadora. Também há diferenças entre a última estimativa, lançada em 2020, e a atual. Por exemplo: o câncer de cavidade oral – ligado ao tabagismo e ao consumo de álcool – não aparecia entre os cinco mais comuns na região Norte, mas agora ocupa o quinto lugar.

“As desigualdades sociodemográficas, culturais e também relativas à organização dos serviços de saúde nas regiões geográficas brasileiras refletem as diferenças no ranking dos tipos de câncer. Isso permite repensar as prioridades dos programas de controle de câncer e estabelecer ações adicionais direcionadas à realidade de cada local”, esclarece a coordenadora de Prevenção e Vigilância, Liz Maria de Almeida, em comunicado.

GESTÃO E CARREIRA

ESCRITÓRIO MODERNO BUSCA O SILÊNCIO PARA RECEBER FUNCIONÁRIOS NO PÓS-PANDEMIA

Empresas adaptam ambientes para os ouvidos sensíveis e a privacidade de empregados que se acostumaram à solidão do home office

Os funcionários da Levenfeld Pearlstein, escritório de advocacia em Chicago (EUA), estão se preparando para uma mudança em janeiro – do meio do distrito comercial da cidade para a margem do rio – livrando-se das bagunças de suas mesas e levando para casa seus pertences pessoais.

Não apenas o novo espaço de trabalho será menor (de cerca de 5.000 m’ para 3.500 m’) mas também haverá menos escritórios individuais.

É um movimento que Kevin Corrigan, o diretor de operações, prevê que poderá causar transtornos. “Alguns vão pensar. ‘Eu trabalhei duro para ter o meu escritório, subi na hierarquia, e agora vão reduzir o tamanho do espaço. Talvez eu nem tenha um’. Será uma mudança para as pessoas.

Não é apenas uma questão de ego. A empresa quer incentivar os funcionários a voltar ao escritório em meio período, pois, como muitos empregadores, está adotando o expediente híbrido, uma mistura de trabalho em casa e no escritório. Normalmente, o tempo em casa é destinado ao trabalho focado, enquanto o local de trabalho é o destino para colaboração, reuniões pessoais e socialização.

A empresa de publicidade McCann, por exemplo, abriu escritórios na City de Londres e os vê como um centro de “criatividade, colaboração e conexão” com hack rooms, pitch rooms e zonas criativas, segundo Lucy d’Eyncourt-Harvey, sua diretora de operações. No entanto, diz ela, também há áreas mais silenciosas no novo espaço de trabalho. Isso ocorre porque, inevitavelmente, os dias de trabalho nem sempre são fáceis de dividir em tempo focado e colaborativo e, portanto, o escritório também precisará de espaços privados e silenciosos.

Para alguns, o escritório é um refúgio das distrações em casa – funcionários com filhos pequenos ou morando com um parente idoso ou aqueles que dividem apartamentos e condições apertadas. Kristin Cerutti, designer- chefe da Nelson Worldwide, afirma: “você não pode generalizar. Muitas pessoas precisam do escritório para trabalhar focadas”.

Corrigan diz que a Levenfeld Pearlstein ainda fornecerá escritórios individuais, mas a grande maioria não será designada a uma pessoa, para que a equipe – secretários e advogados – possa se concentrar entre as reuniões, sessões de treinamento e orientação.

Após dois anos de confinamento e trabalho remoto, muitos trabalhadores administrativos estão achando mais difícil se concentrar em escritórios abertos.

Jeremy Myerson, professor emérito do Royal College of Arte coautor de “Unworking: The Reinvention of the Modern Office” (Destrabalhando: a reinvenção do escritório moderno), diz: “Quando você passa dois anos sozinho, fica muito sensível ao ruído. O que ouvimos dos departamentos de RH é que as pessoas estão hipersensíveis a seus ambientes”.

Além disso, a proliferação de ligações por Zoom significa que é mais provável que as pessoas estejam realizando uma reunião divertida em suas mesas, em vez de estar escondidas numa sala fora do alcance da voz.

Corrigan, da Levenfeld Pearlstein, diz que muita atenção foi dada à acústica no novo escritório. No entanto, algumas pessoas terão que ser convidadas a fechar suas portas e usar fones de ouvido, em vez de fazer chamadas em teleconferência pelo alto-falante. “Podemos construir a infraestrutura, mas precisamos incentivar as pessoas a usá-la

Não se trata apenas de sensibilidades delicadas após a pandemia. Mesmo antes dos bloqueios, os trabalhadores enfrentavam espaços apertados em escritórios abertos. De acordo como British Council for Offices, em 2001 havia cerca de uma mesa por 15m’ nos escritórios do Reino Unido, e em 2018 era uma por 9,6 m’.

Em resposta às demandas do Zoom e à sensibilidade pandêmica, alguns projetistas e empregadores estão criando áreas tranquilas, longe do burburinho dos andares de plano aberto.

No grupo de coworking We Work, a chefe global de design, Ebbie Wisecarver, diz que eles fornecerão dois tipos de espaços tranquilos. Áreas pop-in estarão disponíveis para os membros transitórios que vierem em alguns dias ou horas. Para os membros corporativos, haverá espaços privados com escritórios internos, salas de reunião, lounges e cozinhas.

Esse não é exatamente o renascimento do cubículo, criado na década de 1960 por Robert Propst na empresa de design Herman Miller. Concebido como um espaço de trabalho flexível e individual que oferece privacidade aos funcionários, abandonando as fileiras de mesas pesadas, logo se tornou um símbolo de profissionais de colarinho branco alienados, escreve Nikil Saval em seu livro “Cubed: The Secret History of the Workplace” (Encubados: a história secreta do local de trabalho).

O próprio Propst ficou desiludido com a forma como o cubículo foi interpretado: “Nem todas as organizações são inteligentes e progressistas”, teria dito ele em 2000. “Muitas são administradas por pessoas grosseiras. Elas fazem cubículos diminutos e enfiam as pessoas neles. Lugares estéreis, tocas de ratos. Isso significa uma proliferação de salas telefônicas, espaços lotados ou escritórios privados que são compartilhados ou não designados. A Microsoft criou recentemente um novo protótipo para o Flow­space Pod, uma espécie de casulo revestido de tecido projetado para trabalho focado.

Na Cisco, outro grupo de tecnologia, que descreve os escritórios na era pós-pandemia como “centros de colaboração de talentos”, os designers preveem que os funcionários usem diferentes áreas adequadas ao seu trabalho ao longo do dia, incluindo huddles (salas para três pessoas) ou quiet rooms (para uma ou duas pessoas).

Boo Cicero, líder de construção inteligente da Cisco, diz: “Quando reconstruímos o espaço [durante a pandemia], fomos muito sensíveis à acústica”. Isso significou criar paredes que vão do piso ao teto e caixilhos de portas selados, que evitam a fuga de som. “Medimos o ruído ambiente em todos os lugares

Isso inclui filtrar “o bebê chorando, cachorro latindo: estamos filtrando esse ruído para o participante remoto para que possamos ter uma reunião produtiva”.

Janet Pogue McLaurin, diretora global de práticas de pesquisa no local de trabalho da Gensler, acredita que falte imaginação quando se trata de design. Em uma reunião recente, ela ficou deprimida ao saber dos planos de instalar cabines telefônicas para oferecer privacidade. “Imagine que o escritório do futuro são sofás e cabines telefônicas. Uau, não era isso que estávamos imaginando criativamente”.

EU ACHO …

MITO!!!

O mito organiza em narrativa os valores de uma sociedade, o castigo a quem infringe normas

A palavra mito está associada a uma narrativa não confiável. Sua existência real não pode ser comprovada. “Isso é mito”, quer dizer, isso não existe. Criamos textos como “dez mitos da nutrição” para falar de falsas crenças. O mito é mágico, impreciso, todavia resistente. O mito sempre permanece. Por quê.?

De muitas formas o mito tem força. A primeira é explicar aquilo que é complexo demais de outra forma. Uma constelação, como a Via Láctea, fica mais poética se imaginarmos que era o leite de Juno, ao afastar o jovem bebê Hércules, que sugava o divino seio com energia excessiva. A origem de uma galáxia é complicada; o mito da deusa machucada pelo enteado é mais rápido e belo.

Papai Noel é mais fácil do que o sistema de compra e vendado mercado, no fim do ano. “Porque ganhei presente, mamãe?”

Resposta um: “Houve um acordo na década de 1960 sobre o décimo terceiro salário. Ele deveria colaborar para injetar capitais no varejo e ajudar a liberar estoques retidos.

Do ponto de vista psicanalítico, há, também, nossa culpa como pais, combinada com o reforço simbólico do calendário aleatório. Assim, decidimos comprar esta surpresa para você”.

Resposta dois: “Um velhinho chamado Papai Noel recompensa crianças ao longo do ano boazinhas”.

SIMPLIFICAÇÃO

Use as duas respostas para uma criança de cinco anos e analise o primeiro patamar do mito. Porém, os exemplos comecem uma simplificação injusta: o mito seria uma resposta infantil, ao passo que a científica seria a de adultos. O mito atinge o mundo das pessoas crescidas – de forma direta e insistente.

O miro organiza em uma narrativa os valores de uma sociedade. O castigo a quem infringe normas vem mais rápido pelo mito. Duendes e espíritos obsessores atacam a casa de quem deixa louça suja. fantasmas assombram quem não cumpriu disposições finais do falecido. Assim, quando uma sociedade cria dispositivos morais e interditos, cria também mitos de punição para consagrar tais valores.

O lugar de castigo além da vida faz surgir, em quase todas as culturas a ideia de inferno. Infernos e paraísos são espelhos míticos do mundo real e terreno.

UNIVERSO

O mito compensa, simboliza, organiza, explica e torna tudo coerente. O mito mostra forças que atuam para regular o universo. Édipo tentou escapar da profecia e descobriu que era impossível. O mito é uma justiça inevitável: Cassandra tinha razão sobre o fim de Troia. Nostradamus sempre tem razão; se não tiver, a interpretação das suas centúrias torcerá o texto até que tenha. O mito é um eterno reconto.

Não há sociedades sem narrativas míticas. A ultra-ateia URSS criou inúmeros mitos sobre a superioridade da experiência soviética. Inventam se heróis, protetores, entidades e até múmias, como a de Lênin, para serem relíquia material de um valor simbólico.

Lênin existiu. Seu corpo preservado é apropriado pelo Estado de forma teatral e permanente para criar um mito em torno de Vladimir llyich Ulianov, o nome não mítico do corpo da Praça Vermelha. Papai Noel, de vermelho, ajuda o capitalismo Lenin, de preto, ampara o socialismo. Ambos possuem funções míticas. Sim, Papai Noel nunca matou ninguém, mas há mais crianças com medo dele do que de Lênin. A Guerra Fria ainda não habita o imaginário infantil.

A  leitura inicial é de Joseph Campbell (1904-1987) : O Poder do  Mito. O norte-americano era católico e começou sua busca pelas máscaras que o herói poderia assumir. Talvez o estudo feito sobre o sânscrito tenha aberto seu mundo para a universalidade de algumas narrativas. Quase todo mundo que lê o livro dele tem uma iluminação. É uma obra baseada em um documentário. Isso ajuda na rapidez e beleza da narrativa. Houve muita crítica acadêmica a Campbell (de fato, algumas  possuem boa base). Eu recomendo sempre aos alunos que leiam O  Herói de Mil  Faces e, depois, As Máscaras de Deus. A partir delas, tenho esperança de que possamos ler obras diferentes sobre mitos. Narrativas (como a Teogonia, de Hesiodo, ou o longo poema Mallabilarata) ajudam a ampliar nossa visão dos mitos.

TENTAÇÃO

A grande  tentação dos especialistas em mito é a negação da história. Jesus passa a ficar ao lado de Krishna e de Osíris, e funções simbólicas ocupam o lugar da especificidade de cada cultura. Como ocorre na obra de Campbell, vemos similaridades universais em abundância, e a humanidade vira uma coisa mais homogênea. Talvez unir todos os homens em um único sistema seja a tentação mítica dos especialistas em mitos. Em ciências sociais, essa característica é chamada pela longa palavra de Fenomenologia. Em literatura, é chamada de Humanidade…

Conhecemos muito de todos os nossos valores ao examinar mitos de fundação, narrativas de origem das coisas e mitos morais. Não é possível estudar um grupo caso se descartem como bobagens mágicas seus mitos.

Nunca nos esqueçamos disto: bons leitores atraem presentes sublimes de Papai Noel. O bom velhinho generoso ajuda a construir o grande mito da infância feliz.

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

ONCOFERTILIDADE

Existem soluções para quem deseja engravidar após o câncer

A oncofertilidade traduz-se na preservação dos óvulos e espermatozoides de pacientes oncológicos, mulheres e homens, respectivamente, já diagnosticados com câncer. O tratamento é indicado para cuidar da fertilidade de quem deseja ter filhos biológicos no futuro, já que a quimioterapia e a radioterapia podem comprometer a fertilidade. Nos últimos anos, a oncofertilidade apresentou um enorme desenvolvimento, principalmente porque o diagnóstico tem vindo cada vez mais cedo e os tratamentos estão cada vez mais eficientes. Com isso, o câncer tem se transformado de uma doença quase sempre fatal, para uma enfermidade que pode se tornar crônica ou, em algumas situações, curável, abrindo possibilidades antes inimagináveis para quem vive com ela – como, por exemplo, a gestação.

A partir do momento em que a sobrevida dos pacientes oncológicos aumenta, outras questões passam a ser consideradas. Um dos pontos mais importantes é a manutenção da fertilidade futura, tendo em vista que muitos pacientes no momento do diagnóstico e tratamento do câncer ainda são crianças, adolescentes ou adultos jovens e, na maioria das vezes, este grupo ainda não tem filhos ou essa decisão definida.

Nem sempre as terapias contra o câncer afetam as funções reprodutoras e causam infertilidade, contudo, recomenda-se uma conversa com o oncologista antes do início do tratamento. O diálogo com o médico torna-se essencial para se abordar os riscos de diminuição da fertilidade, ou ainda, a infertilidade temporária ou permanente.

Após o diagnóstico de um câncer, há a tendência entre paciente e médico de buscar agilidade no tratamento, com foco em melhores resultados. Entretanto, essa “pressa” pode comprometer algumas oportunidades na vida das sobreviventes e uma delas é a preservação da fertilidade. Pouco se sabe sobre qual seria o intervalo ideal entre diagnóstico de câncer e início do tratamento, sem comprometer as taxas de cura ou sobrevida, o que muitas vezes coloca as pacientes em um dilema.

Contudo, há uma boa notícia: um novo estudo comparativo demonstrou que optar pela preservação da fertilidade não atrasa o início da terapia oncológica. A pesquisa “Fertilidade otimizada em mulheres com câncer: da preservação à contracepção” realizada pelos profissionais do Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto, em parceria com o professor Rui Alberto Ferriani, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), aponta que o congelamento de óvulos e embriões é uma das alternativas mais eficazes, já que não atrasa o início do tratamento contra a doença.

“O receio em atrasar o início do tratamento oncológico e a falta de encaminhamento em momento oportuno é uma das principais barreiras para o encaminhamento de pacientes para a preservação da fertilidade” traz o texto do estudo.

Pesquisas sobre a fisiologia ovariana possibilitaram o melhor desenvolvimento de protocolos de estimulação chamados random start, que podem ser iniciados em qualquer dia do ciclo independente do período menstrual. Com isto, a terapia pode ser iniciada de forma ágil, sem atrasar o tratamento oncológico.

A ciência  já comprovou também que a indução de ovulação, feita para acelerar a maturação dos folículos ovarianos, pode ser realizada logo após a aspiração folicular, sem a necessidade de se aguardar a menstruação, possibilitando uma nova coleta de óvulos num intervalo curto de tempo. Com isso, aumentam-se as chances de sucesso no procedimento, com menos tempo de espera, dando agilidade ao tratamento.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMO DETECTAR UM ATAQUE DE ANSIEDADE E O QUE FAZER

As crises provocam dores no peito e uma sensação de iminência de morte que podem ser confundidas com um infarto. É preciso ter consciência do que pode estar acontecendo, focar na respiração e desviar o pensamento

A ansiedade é uma resposta fisiológica, cognitiva e comportamental do organismo, na qual uma série de sintomas são experimentados, como o aumento da frequência cardíaca, sudorese, tontura, sensação de engasgo e pressão no peito, assim como a certeza de que algo mais sério está eminente. Contudo, o “ataque” de ansiedade, conhecido anteriormente como ataque de pânico, revela um agravamento nessa resposta, que pode se assemelhar a uma iminência de morte, já que a pessoa tem fortes dores no peito. Segundo pesquisas, aproximadamente 30% da população já teve uma crise como essa em algum momento da vida, e muitas pessoas não sabem identificar que a origem pode ser a ansiedade.

Os sintomas fisiológicos que ocorrem em um ataque de ansiedade são, na verdade, um alarme do corpo que normalmente é desencadeado por um perigo inevitável. Eles ajudam a preparar a pessoa para reagir e evitar o perigo, lutando ou fugindo, ou seja, é uma resposta orgânica e adaptativa que historicamente possibilitou a sobrevivência dos seres humanos.

O problema dos ataques de pânico é que o corpo aciona essa resposta em um momento inapropriado, como se fosse um alarme falso. O mecanismo é ativado sem nenhum perigo real à vista. A exposição a estressores diários crônicos, como excesso de trabalho, responsabilidades excessivas, dificuldades econômicas, pode aumentar os níveis de ansiedade, o que influencia o sistema de alarme na ausência de perigo real.

O principal problema desses ataques é a interpretação que se faz sobre os sintomas físicos que a pessoa está sentindo, pois ela acredita que são muito perigosos e podem causar a morte. Quando a pessoa é capaz de questionar essas interpretações errôneas e está ciente de que esses sintomas não são realmente perigosos, que não vão causar a morte e que a pressão no peito não é porque ela está sofrendo um ataque cardíaco, mas simplesmente por causa da pressão muscular, os sintomas físicos diminuem.

COMO DISTINGUIR

A principal preocupação das pessoas que sofrem com ataques de ansiedade é confundi-los com um cardíaco, mas como distinguir um do outro? Especialistas afirmam que se no momento de ocorrência dos sintomas a pessoa questionar a origem e consequência deles e, nos próximos minutos, as reações diminuírem, é porque se trata de ansiedade.

É importante e eficaz tentar desviar a atenção dos sintomas. Algumas pessoas que sofreram ataques de pânico explicam que é útil para elas, por exemplo, jogar um jogo no celular que exija concentração, por exemplo. Foco na respiração, suave e lenta, também pode ajudar. Outra coisa importante na hora de reagir ao ataque de ansiedade é ignorar que ele possa acontecer novamente. Recomenda-se a realização de exercícios ou atividades diárias que ajudem a relaxar, a nos concentrarmos no momento em que estamos e em tudo que nos rodeia.

Os fatores de risco identificados em estudos científicos que têm sido associados a problemas de ansiedade, incluindo ataques de pânico, são: ser jovem, ter problemas de saúde física, ser mulher, estar sofrendo com insatisfação acentuada no trabalho ou dificuldades econômicas.

OUTROS OLHARES

RISCO DE ASSASSINATO É 3 VEZES MAIOR PARA NEGROS DO QUE BRANCOS

Índice de equilíbrio racial aponta para aumento da desproporção na morte violenta intencional no brasil

O risco de pessoas negras serem mortas no Brasil é três vezes maior do que entre pessoas não negras – e, pela primeira vez em dez anos, essa desproporção racial de assassinatos foi registrada em todas as 27 unidades federativas do país.

Para assassinatos com armas de fogo, o risco é 3,6 vezes maior para negros. As informações são do Índice de Equilíbrio Racial (IER), que mapeou as mortes violentas intencionais no Brasil.

Esse desequilíbrio racial entre vítimas de violência letal é menor na região Sul e maior no Nordeste, puxado pelos altos índices de Alagoas, Sergipe, Ceará e Paraíba.

Criado pelos economistas Sergio Firpo, Michael França e Alysson Portella, o IER mede a exclusão de pretos e pardos de estratos privilegiados da sociedade e foi aplicado à desigualdade racial nas taxas de homicídios brasileiras. O estudo foi realizado no âmbito do recém-criado Núcleo de Estudos Raciais, do Insper, a partir de informações de 2010 a 2020 dos sistemas de notificação do Ministério da Saúde. Participaram os pesquisadores Fillipi Nascimento e Alisson Santos. “Desde 2010, a taxa de homicídio de negros vem crescendo enquanto a de brancos vem caindo”, aponta Firpo.

Os pesquisadores calcularam a taxa de homicídio para cada 100 mil habitantes dentro de cada grupo. A essas taxas foi aplicado o Índice de Equidade Racial (IER), desenvolvido pelos economistas, em uma escala de -1 a 1.

Se a taxa for zero, isso indica que a proporção de negros e não negros mortos segue a mesma proporção desses grupos na população em geral. Se o índice for negativo, a proporção de não negros assassinados é maior do que a de negros. Já se for positivo, a proporção de negros mortos é maior do que a de não negros. Em 2020, todas as 27 unidades da federação registraram números positivos – na edição anterior, referente aos dados de 2019, o Paraná era única exceção, com maior proporção de mortes de não negros.

O caso mais radical é o do Ceará, que apresentava leve sobrerrepresentação de não negros em 2010 (-0,07) e saltou para o segundo lugar daqueles em que vítimas negras de homicídios estão mais sobrerrepresentadas (com 0,75). A liderança é de Alagoas, com 0,87. O Nordeste registrou um índice de 0,59 em 2020. Em 2010, essa taxa era de 0,35 – ou seja, a desigualdade racial aumentou na região nesse período. O Sul, por exemplo, tinha um índice de -0,04 em 2010, o que indicava que a proporção de não negros mortos era maior que a de negros. Em 2020, o número foi de 0,16. Ou seja, embora a região siga com o menor desequilíbrio racial do país, negros passaram a ser proporcionalmente mais mortos do que não negros.

O estudo analisou as taxas de homicídios dos diversos grupos raciais do Brasil. “A taxa de homicídio de pardos é a mais alta no país, seguida da taxa de pretos. E, apesar de ser menos de 1% da população brasileira, os indígenas têm a terceira maior taxa de homicídios do país, num fenômeno alavancado pelos dados da região Norte”, explica Firpo.

“Os dados do Ministério da Saúde têm uma defasagem de dois anos, e outras fontes já apontaram que, enquanto os homicídios caíram no Brasil, eles aumentaram na região Norte”, explica o cientista político Pablo Nunes, coordenador do Cesec (Centro de Estudos em Segurança e Cidadania) e da Rede de Observatórios da Segurança.

Para Nunes, impressiona que a participação de vítimas negras no total de mortes violentas suba continuamente. Em 2010, negros eram 67% das vítimas de homicídio no país e, em 2020, chegaram a quase 77% das pessoas assassinadas no país, enquanto, na população brasileira, 56% das pessoas se declarem negras. Entre os vetores desse aumento está “o aprofundamento da violência racial no país, expresso não só na desproporção de negros mortos por policiais como em mortes bárbaras como a de João Alberto Freitas”, espancado por seguranças do Carrefour em 2020. “Outro fenômeno importante é o da maior auto identificação das pessoas como negras”, destaca. “Ao mesmo tempo, isso torna mais tranquilo tratar pessoas como negras, inclusive para os médicos legistas que fazem esse registro nos sistemas de notificação da Saúde. Anos atrás, classificar as pessoas como negras poderia ser considerado até mesmo uma ofensa.” Para Michel França, coordenador do Núcleo de Estudos Raciais “a piora econômica, que começou com a crise institucional e política em 2014, pode ter repercussão nas dinâmicas criminais em uma situação de exclusão social cuja violência gerada está matando mais negros”.

GESTÃO E CARREIRA

SALÁRIO BAIXO É PRINCIPAL CAUSA DE INSATISFAÇÃO COM TRABALHO

Pesquisa do FGV Ibre também mostra desejo do profissional por formalização

O salário baixo é o principal motivo de insatisfação com o trabalho no Brasil, e ter carteira assinada ou CNPJ representa um desejo para a maioria dos informais.

As conclusões são da Sondagem do Mercado de Trabalho, publicação lançada esta semana pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).

A nova pesquisa pretende consultar mensalmente cerca de 2.000 pessoas espalhadas pelo território nacional. O primeiro relatório apresenta dados apurados ao longo dos três meses iniciais de coleta – agosto, setembro e outubro.

De acordo com o novo levantamento, 72,2% dos entrevistados em agosto estavam satisfeitos ou muito satisfeitos com o trabalho.

Por outro lado, os insatisfeitos ou muito insatisfeitos somaram 27,8%.

No segundo grupo, a remuneração baixa foi o motivo mais citado (64,2%) para a insatisfação. Ter pouco ou nenhum benefício (43%) veio na sequência.

A insegurança de um trabalho temporário (23,7%) também esteve entre os pontos negativos mais lembrados. Cada entrevistado pôde escolher mais de uma resposta. Os percentuais de pessoas insatisfeitas ou muito insatisfeitas com o trabalho foram maiores entre aquelas com escolaridade mais baixa, até o ensino fundamental (37,7%), mulheres (31,9%) e sem nenhum tipo de registro (32,7%).

Os entrevistados atribuíram uma nota de 1 a 10 sobre a percepção de bem-estar com a vida em geral.

Quanto mais alta a pontuação, maior a satisfação. A nota média ficou em 7,2 pontos. A marca foi maior entre as pessoas satisfeitas com o trabalho (7,9) do que entre as insatisfeitas (6,1).

A sondagem também traz um detalhamento sobre os trabalhadores informais, que atuam sem carteira assinada ou CNPJ.

Conforme a pesquisa, quase 90% desse grupo gostaria de ter uma ocupação mais formalizada (87,7%). Apenas 12,3% não tinham esse desejo. No caso dos trabalhadores por conta própria, uma categoria que ganhou força no país, a pesquisa apontou que 69,6% gostariam de mudar de ocupação e ter algum vínculo formal em uma empresa. Outros 30,4% preferiam seguir na mesma situação.

No grupo que gostaria de mudar e ter vínculo com uma empresa, os principais motivos citados foram rendimentos fixos (33,1%) e benefícios que as companhias costumam oferecer (31,4%).

Entre os trabalhadores por conta própria que não desejavam trocar de ocupação, o aspecto mais lembrado foi a flexibilidade de horário (14,3%). Na visão de Rodolpho Tobler, um dos pesquisadores responsáveis pelo levantamento do FGV Ibre, os resultados apresentados sinalizam “cautela” na análise do mercado de trabalho, apesar da recuperação de vagas nos últimos meses.

“A gente tem uma melhora quantitativa, mas a qualidade do emprego ainda não é a ideal”, avaliou o economista. O pesquisador Fernando Veloso, que também participou da apresentação da pesquisa do FGV Ibre, tem opinião semelhante.

O economista destacou que, mesmo com a recente queda do desemprego, há uma grande preocupação com a renda baixa e uma demanda por formalização no país.

“Em termos de mensagem, os primeiros resultados [da sondagem] estão mostrando um grau de vulnerabilidade bastante grande”, afirma Veloso.

Já na coleta de dados feita em outubro, a pesquisa perguntou aos entrevistados sobre o risco de perder o emprego ou a principal fonte de renda nos 12 meses seguintes.

A possibilidade de ficar sem trabalho ou remuneração foi vista como improvável ou muito improvável por 58,7% do total. No sentido oposto, 41,3% dos entrevistados afirmaram que a perda seria provável ou muito provável.

O temor de ficar sem trabalho foi maior entre os profissionais com renda mais baixa, de até dois salários mínimos (47,5%), do que entre aqueles com renda acima de dois salários (20,4%).

Se a perda ocorresse, a maior parte das pessoas consultadas (66,5%) teria condições de se sustentar por até três meses. Os demais entrevistados (33,5%) conseguiriam bancar as despesas por mais de um trimestre.

A sondagem também buscou medir, na coleta de setembro, o quanto as pessoas estavam preocupadas com diferentes tópicos em um horizonte de cinco a dez anos, incluindo finanças, saúde, habitação e conhecimento.

A área de finanças foi aquela em que houve mais preocupação.

“Não estar tão bem financeiramente quanto gostaria” foi o item com a maior proporção de entrevistados (67,6%) que escolheram a resposta “estou muito preocupado”.

“Minha família não estar tão bem financeiramente” teve o segundo maior percentual (61,9%).

EU ACHO …

MAIS AMOR, POR FAVOR

Fim de ano e a sensação de urgência é tema recorrente para qualquer cronista. Vivendo dezembro de 2022 em um mundo de conexões humanas imediatas através das redes sociais, a sensação de “agora ou nunca” foi amplificada pela infodemia, enxurrada de informações instantâneas que recebemos a cada minuto. Talvez essa seja a causa da nítida sensação que temos de resolver todos os nossos problemas antes de 31 de dezembro.

Sem opção e surfando como posso a onda para não me afogar, tenho sido levada a almoços, jantares e festas em que falamos, falamos e falamos – e não ouvimos nada a não ser (talvez) o barulho das nossas próprias vozes. Na hora em que estou fisicamente presente nesses encontros me pego ouvindo, mas não escutando. Depois de alguns dias uma frase ou outra aterrissa e consigo entender a dimensão do que foi dito assim, causalmente. “Em 2023, queria mais sexo com meu marido”, disse uma linda mulher na faixa dos 50 anos, vivendo um longevo casamento, quando falávamos sobre as expectativas para o próximo ano, a que ela recebeu a resposta curta e grossa: “Se quer mais sexo, me seduza, faça alguma coisa”. Uma mulher interessante, de aparência bem cuidada, que pareceu ter dito isso na intenção de pedir ajuda, que queria ser ouvida e talvez tenha acreditado que soltando algo assim de modo eventual pudesse se agarrar a uma solução. Escutar isso de um companheiro ao nos mostrarmos vulneráveis nos coloca em uma posição solitária e demorei a entender a dor e o pedido de socorro. Me coloquei em sua posição e imaginei se fosse o contrário, se o marido tivesse feito esse pedido abertamente como ela fez, o que aconteceria? Ela certamente iria examinar suas doses hormonais, buscaria terapia, se sentiria culpada talvez? Mas ele deu de ombros. A minha resposta vem algumas semanas depois, como aquele personagem do inesquecível Jô Soares que, quando respondia à pergunta, seu interlocutor já tinha ido embora.

Se o seu marido não entende você querer mais sexo com ele como um sinal de seu amor, se ele não reconhece seu visível cuidado com esse aspecto do seu casamento como uma forma de sedução, se ele coloca toda a responsabilidade nas suas mãos e acha normal falar assim com você, minha amiga, talvez esteja na hora de rever se ele é o parceiro certo para esse momento de vida. “O amor só dá certo quando ambos estão certos de que seu desejo está resguardado pelo outro, que existe respeito e carinho a essa vulnerabilidade de desejar o outro e nesse momento ter seu desejo retribuído”, dizia o filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger.

ALICE FERRAZ  – É especialista em marketing de influência e escritora, autora de ‘Moda à Brasileira’

alice@fhits.com.br

ESTAR BEM

ENVELHECIMENTO PRECOCE

Saiba como prevenir e os cuidados inadiáveis com a pele

Cada região da pele passa por um estágio de envelhecimento e é por isso que os especialistas defendem que cada uma delas precisa de cuidados distintos para prevenir danos no passar da idade. Muitos fatores podem acelerar esse envelhecimento, como tomar sol sem protetor solar, estresse e estilo de vida, assim como outros podem retardar esse processo e torna-lo mais saudável, como uma rotina de skincare e de cuidados com o corpo.

Pensando nisso, Renata TayIor, Fisioterapeuta e Consultora Comercial da HTM Eletrônica, indústria referência no desenvolvimento e fabricação de equipamentos eletromédicos e estéticos, indica alguns cuidados para prevenir o envelhecimento prematuro da pele:

USE PROTETOR SOLAR TODOS OS DIAS

Independentemente da época do ano, é fundamental usar protetor solar. ”A radiação ultravioleta age em todas as estações e provoca danos que comprometem a estrutura de sustentação da pele, causando o aparecimento precoce de rugas e flacidez, além de manchas”, explica Renata. A orientação continua sendo reaplicar o protetor de quatro em quatro horas em ambientes fechados e de duas em duas horas quando estamos em exposição direta ao sol, exceto nos momentos de sintetizar vitamina D, essencial à saúde e à beleza.

HIDRATE SEMPRE COLO E PESCOÇO

As características do pescoço e do colo são diferentes das demais áreas do corpo. A pele nessa região é  mais fina, tem poucas glândulas sebáceas e sofre mais com o ressecamento.

A flacidez também é mais perceptível, pois a quantidade de fibras de colágeno é reduzida nessas áreas. Por isso, hidrate sempre essa região, para minimizar os efeitos visíveis do envelhecimento.

CONHEÇA O SEU TIPO DE PELE

Antes de investir em produtos de skincare, uma dica é entender qual o cosmético ideal para o seu tipo de pele. Com o tratamento adequado, é e possível potencializar resultados.

”Quando a escolha do produto é errada, os ativos trabalharão de forma contrária ao que a pele necessita, promovendo respostas também inadequadas”, ressalta a especialista.

APOSTE EM TRATAMENTOS ESTÉTICOS

tratamentos estéticos somados aos cuidados diários em casa potencializam o rejuvenescimento da pele de forma eficaz e segura. Equipamentos de luz intensa pulsada, por exemplo, como o Light Pulse, da HTM, oferecem tratamento específico para o rejuvenescimento.

”Essa tecnologia favorece a síntese de colágeno e atua na despigmentação das manchas, em especial as manchas da idade. Além disso, trata aqueles vasinhos que costumam aparecer próximo do nariz e na bochecha”, destaca Renata.

Outro equipamento voltado ao tratamento da pele é o de radiofrequência Límine e Effect, que estimula a produção de colágeno.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

NOITES INSONES

Estudos apontam que sono ruim ou escasso eleva risco de demência

Para muitas pessoas, uma rotina de sono adequada pode estar associada apenas a sentir-se melhor durante o dia, evitando a sonolência e a fadiga. Porém, há mecanismos importantes que acontecem ao adormecer que, quando interrompidos pelo descanso curto ou de má qualidade, provocam impactos diretos no cérebro, mesmo após uma única noite. A longo prazo, cada vez mais evidências têm destacado a associação dos hábitos noturnos com a doença de Alzheimer e outras formas de demência.

“O sono tem funções amplas para a nossa saúde. Está envolvido em vários processos hormonais, no fortalecimento de imunidade, na limpeza de substâncias tóxicas no cérebro. A privação crônica do sono é um fator de risco conhecido para doenças cardiovasculares, por exemplo. Estudos mais recentes têm apontado a relação com o aumento das doenças neurodegenerativas e as demências, de vários tipos, especialmente o Alzheimer”, explica a neurologista Giuliana Mendes, presidente da regional Centro-Oeste da Associação Brasileira do Sono (ABS).

Um dos estudos mais comentados para avaliar o impacto da privação de sono e a doença de Alzheimer foi conduzido por pesquisadores do Laboratório de Neuroimagem dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), publicado no periódico PNAS.

Nele, foram recrutados 20 participantes saudáveis que tiveram imagens cerebrais feitas após duas noites: uma em que dormiram de forma normal e outra em que permaneceram acordados.

Os resultados mostraram que uma noite bastou para que os exames indicassem aumento da proteína beta-amiloide. Embora a fisiologia do Alzheimer ainda não seja completamente desvendada, sabe-se que um dos processos envolvidos na doença é o acúmulo dessa substância no cérebro. Esse crescimento foi observado no hipocampo, “que é considerada entre as regiões cerebrais mais sensíveis à neuropatologia da doença de Alzheimer”, escreveram os pesquisadores.

“Esse é um dos estudos mais interessantes sobre o tema. Mas vários outros trabalhos também seguem nessa linha, comprovando essa relação. Já foi provado que durante o sono nós aumentamos um processo de limpeza da beta-amiloide, que é como uma lavagem da proteína do cérebro”, afirma a neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Elisa Resende, vice coordenadora do departamento científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.

FAXINA COMPLETA

As especialistas explicam que essa limpeza, chamada de sistema glinfático, atua especialmente durante o sono para eliminar não apenas a beta-amiloide, como

outras toxinas, metabólitos e resíduos que permanecem no sistema nervoso central durante o dia. Logo, uma noite em que se dorme pouco – ou mal – prejudica a atuação desse mecanismo.

Os impactos são confirmados ao se observar grandes grupos de pessoas, os hábitos de sono e a incidência da doença. Um estudo publicado na revista Nature Communications, conduzido por pesquisadores da Universidade de Paris, na França, analisou quase oito mil pessoas durante um período de 25 anos. Os resultados mostraram que uma rotina de seis horas ou menos de sono entre aqueles de 50 a 70 anos elevou os casos de demência em cerca de 30% em comparação aos que dormiam por sete horas.

Outro trabalho, liderado por pesquisadores de Harvard, acompanhou 2,8 mil indivíduos a partir de 65 anos e mostrou que o sono inferior a cinco horas torna esse impacto ainda pior, dobrando o risco de déficit cognitivo. Mais estudos apontam ainda que, além da duração, a má qualidade do sono também pode trazer prejuízos.

Revisando 18 trabalhos, que incluíram 247 mil pessoas por um período de quase dez anos, cientistas chineses identificaram que participantes com distúrbios do sono, como insônia, apneia, sonolência diurna (que indica noite mal dormida) e outras queixas, também apresentam significativamente mais casos de problemas cognitivos a longo prazo. A conclusão foi publicada no periódico Sleep Medicine Reviews.

“A parada respiratória da apneia, por exemplo, interrompe a oxigenação do cérebro por diversas vezes durante a noite. Por isso, ao longo do tempo, já há estudos mostrando que ela é um grande fator de risco para doenças neurodegenerativas”, diz Giuliana.

No entanto, um fato curioso é que o inverso também parece ser verdadeiro: pessoas que dormem demais também têm mais casos de demência. Uma análise publicada na revista Journal of the American Geriatrics Society, por cientistas da Universidade Shandong, na China, que investigou cerca de duas mil pessoas a partir de 60 anos, observou 69% mais casos entre os que dormiam mais de oito horas por noite.

Embora seja mais compreendido como a privação do sono eleva esse risco, a relação entre o excesso de horas na cama e o maior número de casos ainda é um mistério. Uma das possibilidades é que as pessoas já estivessem vivendo os primeiros sintomas de um quadro neurodegenerativo, que prejudicam a qualidade do sono. Por terem mais dificuldade de adormecer, elas passariam um tempo mais longo repousando.

“É aquilo do ovo e da galinha, quem veio primeiro. O Alzheimer tem início no cerúleo, ou locus ceruleus, uma região do tronco do cérebro que controla o ciclo do sono e vigília. A proteína do Alzheimer é detectada lá muito antes do desenvolvimento de sintomas. Então pode ser que essa dificuldade de dormir seja já um sintoma da doença, e não uma causa”, afirma Elisa.

Ela explica que um dos entraves é que, por questões éticas, não há muitos estudos de intervenção, que envolveriam submeter indivíduos a longos períodos de sono alterado para avaliar qual tipo de mudança foi uma causa da maior incidência de demência. Com isso, as conclusões hoje são baseadas em estudos epidemiológicos, que observam os números da doença em populações acompanhadas durante anos.

Por enquanto, as evidências disponíveis levaram pesquisadores, em estudo publicado na revista Nature, a definirem como sete horas de sono o número ideal para proteger o cérebro. Porém, Giuliana, da ABS, pontua que as pessoas devem focar não somente na duração, mas também se o sono está tendo o caráter reparador. Isso porque, embora exista uma média, cada um tem uma necessidade diferente de tempo para se sentir recuperado durante a noite.

“O sono não reparador é o que a pessoa não se sente descansada. Quando mesmo tendo dormido uma quantidade de horas considerada ideal, ela não fica bem durante o dia, com perda de concentração, de memória, dificuldade em executar as tarefas, com alterações de humor”, explica a neurologista da ABS.

DESCANSO IDEAL

Embora a relação entre o sono e as doenças neurodegenerativas possa sugerir que medicamentos seriam benéficos, a realidade é inversa. Elisa explica que o uso prolongado de benzodiazepínicos, drogas descobertas nos anos 1960 para ajudar a dormir, foi ligado a maior déficit cognitivo a longo prazo.

As especialistas ressaltam que, em caso de problemas para dormir, a primeira estratégia deve ser a adoção das técnicas de higiene de sono, como evitar telas ao menos uma hora antes de se deitar, evitar bebidas cafeinadas e praticar atividade física.

OUTROS OLHARES

GATOS REAGEM A ‘VOZ ESPECIAL’ DE SEUS DONOS

Novo estudo francês indica que os animais prestam atenção a fala aguda, como para bebês, mas só de humanos conhecidos

Todo dono de gato tem uma história para contar sobre ser ignorado por seu gato: chamamos o bichano, ele se afasta, e algumas pessoas podem ficar se perguntando porque não escolheram um cachorro. Mas seu gato pode estar ouvindo, afinal. Mais do que isso, ele se importa, talvez mais do que você imagina.

Um estudo de pesquisadores franceses publicado no mês passado na revista Animal Cognition descobriu que os gatos não apenas reagem ao que os cientistas chamam de fala dirigida a gatos – uma voz aguda semelhante à forma como falamos com bebês – , como eles reagem a quem está falando.

“Descobrimos que quando os gatos ouvem seus donos usando uma voz aguda, eles reagem mais do que quando ouvem o dono falando normalmente com outro humano adulto”, disse Charlotte de Mouzon, autora do estudo e especialista em comportamento felino da Universidade Paris Nanterre.

“Mas o que foi muito surpreendente em nossos resultados foi que na verdade isso não funcionava quando era a voz de um desconhecido.”

Ao contrário dos cães, o comportamento dos gatos é difícil de estudar, o que explica porque os humanos os entendem menos. Os gatos costumam ficar tão estressados por estar em um laboratório que observações comportamentais significativas se tornam impossíveis. E esqueça de tentar fazer um gato ficar parado para uma ressonância magnética para estudar sua função cerebral.

Assim, os pesquisadores do estudo mais recente foram às casas dos gatos e reproduziram gravações de diferentes tipos de fala e falantes. A princípio, Mouzon e sua equipe ficaram preocupados que os gatos não estivessem reagindo. Mas então eles estudaram gravações de filmes dos encontros.

“Suas reações eram muito sutis”, disse Mouzon. “Pode ser apenas mover uma orelha ou virar a cabeça em direção ao alto-falante, ou até mesmo congelar o que eles estão fazendo.”

Em alguns casos, os gatos do estudo se aproximavam do alto-falante que emitia uma voz e miavam. “No final, tivemos ganhos muito claros na atenção do gato quando o dono usava a fala especial para gatos”, disse Mouzon.

As descobertas mostraram que “os gatos prestam muita atenção em seus cuidadores, não apenas no que estão dizendo, mas como dizem”, disse Kristyn Vitale, professora assistente de saúde e comportamento animal no Unity College, no Maine (EUA), que não participou do novo estudo.

O estudo complementa a pesquisa de Vitale sobre as relações entre um gato e seu dono. Essa relação é tão importante, descobriu a pesquisa, que reproduz a conexão entre um gatinho e sua mãe. “É possível que comportamentos de apego originalmente destinados a interações com a mãe tenham sido modificados para interações com seus novos cuidadores, os humanos.”

Ao contrário dos cães, “a maioria dos gatos prefere a interação humana a outras recompensas, como comida ou brinquedos”, disse Vitale. A genética também pode desempenhar um papel no motivo pelo qual os cães são mais fáceis de estudar e são considerados mais amigáveis. “Os cães foram selecionados artificialmente há centenas ou milhares de anos devido precisamente à sua capacidade de serem treinados, seja como cães pastores, cães de caça ou qualquer outra coisa”, disse Sarah Jeannin, especialista em comportamento canino da Universidade de Paris Nanterre, que não participou do novo estudo.

Jeannin contestou o estereótipo de que os cães estão mais próximos dos humanos do que os gatos.

“As pessoas dizem que os cães são os melhores amigos do homem, que se pode confiar neles e que são muito leais. Mas não sabemos o que os cães realmente pensam”, disse ela. “Na verdade, é apenas uma projeção nossa de que os cães são apaixonados por nós.” “Durante anos, os cientistas não fizeram as perguntas certas sobre os gatos”, disse Mouzon. Agora, quem está convencido da deslealdade dos gatos não vai gostar das respostas que estão surgindo.

Afinal, os gatos não nos odeiam, disse Vitale, acrescentando que “um crescente corpo de trabalho apoia a ideia de que a interação social com os humanos é fundamental na vida de um gato”.

De acordo com Mouzon, só porque os gatos reagem de maneira sutil não significa que eles sejam indiferentes.

“Gatos não fazem o que você espera que eles façam. Mas se os gatos não vêm quando os chamamos, pode ser porque estão ocupados fazendo outra coisa ou descansando”, disse a especialista.

“As pessoas têm esse tipo de expectativa porque quando você chama um cachorro ele vem. Mas se você chamar um humano que estiver tirando uma soneca do outro lado da casa, ele vem?”

GESTÃO E CARREIRA

ENTENDA QUAL O MELHOR SEGURO PARA SEU MODELO DE TRABALHO

Especialistas orientam coberturas para quem atua em sistema híbrido, home office ou abriu um negócio em casa

O percentual de pessoas trabalhando em casa praticamente dobrou, era de 11% antes da pandemia e atualmente está em 20%. Já o sistema híbrido, que era realidade para apenas 10% dos trabalhadores, já alcança 17%. Se depender da vontade dos brasileiros, esses números serão ainda maiores no futuro: 23% gostariam de se dividir entre casa e empresa, e 42% prefeririam ficar direto em home office, segundo pesquisa da WTW Brasil. Os novos arranjos impulsionados pela pandemia geraram um desafio extra sobre como proteger os equipamentos usados para trabalhar em casa ou para novos negócios desenvolvidos no ambiente doméstico. Além disso, há uma preocupação adicional com o transporte, já os aparelhos são levados com mais frequência de um lado para outro.

“Rapidamente as seguradoras se adaptaram à nova realidade criada na pandemia, tanto com oferta de novos produtos para proteger quem abriu negócios caseiros, quanto na melhora da informação dos serviços já ofertados, como help desk, que podem ser úteis aos segurados que passaram a trabalhar de casa”, diz Jarbas Medeiros, presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais Massificados da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg).

Há seguros residenciais que protegem o patrimônio de quem montou um escritório, uma confeitaria ou um pequeno salão de beleza em casa. E também há seguros empresariais com proteção para a moradia, quando o negócio já tomou conta da maior parte do imóvel. Além disso, é possível proteger computadores, celulares e outros itens móveis de trabalho para quem adotou uma rotina híbrida ou é nômade digital.

Confira alguns tipos de proteção:

RESIDENCIAL COM COBERTURA PARA O NEGÓCIO

Raquel Silva, diretora de Affinity, da WTW Brasil, lembra que até bem pouco atrás, ter um negócio em casa poderia ser motivo de exclusão da cobertura do seguro residencial. Agora, há produtos que permitem proteger equipamentos usados para o trabalho, do computador à impressora, passando pelo fogão industrial, pela máquina de overloque e pelo lavatório de um salão de beleza doméstico.

Lançado em fevereiro de 2020, o seguro nessa modalidade da Tokio Marine tem valor entre R$ 500 e R$ 600 anuais (ou mensalidades em torno de R$ 50).

“Essa cobertura protege o imóvel e os equipamentos, mas o estoque não está coberto”, ressalva Magda Truvilhano, superintendente de RD Massificados da Tokio Marine.

EMPRESARIAL

As coberturas dos seguros residenciais e empresariais são muito parecidas no que diz respeito a roubo, incêndio ou danos por problemas climáticos. A grande diferença, ressalta Sidney Cezarino, diretor de Seguro Patrimonial da Tokio Marine, além de cobrir o estoque do negócio, é a previsão de cobertura de lucros cessantes e despesas fixas do negócio:

“Uma pessoa que tem um restaurante ou um bar em casa, se houver um incêndio, ela pode receber, em média, por seis meses, o lucro que apurava com o negócio. Além de ter garantido o pagamento de despesas fixas. Isso pode fazer a diferença para aquele empreendimento sobreviver a um acidente desse porte.”

Dependendo da atividade, diz Saint’Clair Lima, diretor da Bradesco Seguros, pode ser necessária uma inspeção para verificação de risco. Um restaurante, por exemplo, oferece mais riscos do que um escritório de arquitetura. Nessa vistoria são dadas ainda orientações de segurança. E, lógico, quanto maior o risco, maior o custo do seguro.

EMPRESARIAL COM COBERTURA RESIDENCIAL

Os especialistas lembram ainda que é possível contratar um seguro empresarial com coberturas básicas para a área de moradia. Seria a opção, por exemplo, para quem transformou a casa em restaurante e passou a morar numa edícula no fundo do terreno.

ASSISTÊNCIAS

Os seguros costumam oferecer uma série de assistências agregadas, como serviços de hidráulica, elétrica, chaveiro e, em alguns casos, até auxílio para pequenos consertos domésticos e reformas ou montagem de móveis. Mas foram os serviços de help desk, para computadores, e de conexão com a internet as grandes novidades nos últimos tempos.

EQUIPAMENTOS

Para quem presta serviço a domicílio ou decidiu mudar temporariamente de endereço para a serra, a praia ou outro estado, é possível contratar proteção só para os equipamentos, como computadores, celulares, câmeras e ultrassom domiciliar. O custo anual fica entre 3% e 4% do valor do bem, e o seguro oferece cobertura para roubo, furto qualificado e danos elétricos.

“Essa é uma solução para profissionais autônomos que trabalham com equipamento na rua ou para nômades digitais, que vão para imóveis alugados por temporada ou hotéis”, destaca Marcelo Tornero, gerente de Ramos Elementares da Porto Seguro.

RENDA RESGUARDADA

Marcelo Mansur Haddad, coordenador do Comitê de regulação da FGV, lembra que profissionais liberais podem ainda contratar, dentro do seguro de vida, uma garantia de renda mínima, em caso de invalidez temporária. Por exemplo, um cirurgião que precise imobilizar a mão teria cobertura.

CIBERSEGURANÇA

Os seguros para risco cibernéticos estão disponíveis para empresas de portes médio e grande. Mas Lima, da Bradesco Seguros, diz que já se estudam soluções para micro e pequenos negócios. A ideia é oferecer ainda um serviço que aponte vulnerabilidades para quem trabalha de casa.

EU ACHO …

OS GRUPOS DEFINEM A SI MESMOS

Não admitirei ser reduzida a um órgão, por me ver como um sujeito político

Dada a repercussão do último texto, penso ser necessário fazer alguns apontamentos. Para quem não acompanhou a última coluna, escrevi sobre como a expressão “pessoas que menstruam” reduzia mulheres a funções biológicas, algo que, como feminista negra, vejo como ofensivo. Minhas antepassadas escravizadas foram desumanizadas pelo uso do racismo e sexismo biológicos que as confinaram no lugar de força física e reprodutora pelos senhores coloniais. Entendia ainda que a expressão dilui mulheres e homens trans nessa categoria, contribuindo para um apagamento de lugares sociais e uma universalização de experiências distintas.

Me afirmei como mulher, com a compreensão de que não posso ser e nem admitirei ser reduzida a um órgão, a uma função biológica, por me reconhecer como sujeito político. Vi algumas respostas a esse texto. Algumas diziam que eu havia sido transfóbica por ter negado a existência de pessoas trans. Eu não sei como essas pessoas que li puderam interpretar isso, uma vez que no próprio texto falo sobre homens trans. Simplesmente recuso o termo “pessoas que menstruam”, pois considero que restringe tanto mulheres como homens trans à biologia.

Outros afirmaram que nego a existência de mulheres trans e gostaria de saber também onde faço isso, seja naquele texto, ou em qualquer trabalho assinado por mim. Aliás, negar o sexismo biológico não é um dos fundamentos elementares do ser mulher trans?

Dito tudo isso, eu realmente tenho problemas com quem tenta se fazer em fio de Twitter ou vídeo de YouTube. Com o perdão do trocadilho, pessoas que menstruaram ontem acham que podem insultar, debochar do nome, endossar táticas coloniais e chamar tudo isso de “crítica”. Para além de ser vulgar, um oportunismo barato, instrumentalizar um debate para tentar promover assassinato de reputação e autopromoção tola, é mostra de ausência de consciência e formação política.

Não fiz uma conta na rede social e me proclamei ativista. Fui para a base de quem chegou antes e trabalhei pelo projeto coletivo de luta pela melhoria de vida da população negra, sobretudo das mulheres negras.

Participei e ajudei a organizar plenárias, convenções, seminários de organizações da sociedade civil para orientar políticas públicas e sei que nada, incluindo denominações a grupos sociais, poderia ser utilizado sem o referendo do grupo social “neodenominado”.

Se os homens trans decidiram coletivamente pelo uso do termo, nos cabe respeitar, mas o mesmo direito precisa ser dado às mulheres. O termo vem sendo usado por marcas de calcinhas absorventes e realmente gostaria de entender se essas empresas consultaram as mulheres a respeito disso.

A participação social é fundamental para a construção dos processos democráticos. Quero aqui relembrar a importância das conferências como uma importante interlocução entre Estado e sociedade civil organizada para a construção de políticas públicas. O presidente da República, por meio do ministério, secretaria e conselho correspondentes à determinada política, convoca as conferências nacionais e convida os municípios, estados, sociedade civil e os diversos poderes constituídos a participar do processo de construção.

Há a organização das conferências municipais, que elegem suas delegadas(os), depois os Estados fazem o mesmo até chegar ao nível federal. Há a formação de grupos de trabalho para debater as pautas e elaborar as propostas que serão votadas em plenária.

Obviamente que há muita tensão, visões divergentes, dissenso, próprios da história dos movimentos sociais e governos, mas são as dores e as delícias dos processos democráticos. Podemos citar as Conferências Nacionais de Saúde, Assistência Social e o grande marco que foi a primeira Conferência de Políticas Públicas para Mulheres realizada em 2004 durante a primeira gestão Lula, quando foi elaborado o Plano Nacional de Políticas para Mulheres.

As delegadas eleitas têm direito a voz e voto e podem ser convidadas pessoas com notório saber sobre os temas a serem deliberados. Segundo especialistas, houve uma redução drástica de conferências na gestão Bolsonaro, mas o presidente eleito Lula, em seu discurso de vitória, anunciou que trará de volta as conferências nacionais.

Teremos excelentes oportunidades de debater, discordar, votar e decidir quais serão as diretrizes em termos de políticas públicas para a saúde, direitos das mulheres, pessoas trans, juventude e outras áreas. São nesses processos democráticos em que acredito, assim como nas divergências teóricas saudáveis próprias da dialética.

DJAMILA RIBEIRO – É Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais

ESTAR BEM

LENTILHA REDUZ RISCO DE DIABETES E DOENÇAS CARDÍACAS

Leguminosa é vista como um superalimento e volta a ganhar destaque. De acordo com estudo feito na Universidade de Harvard, é rica em proteínas, ômega 6 e 9, vitaminas do complexo B1, zinco e magnésio

A lentilha é um dos alimentos mais antigos da dieta humana e um dos melhores aliados devido aos seus múltiplos componentes nutricionais, proteínas vegetais e fibras que proporcionam inúmeros benefícios à saúde, tanto que um relatório da Universidade de Harvard publicado em sua revista recomenda o consumo.

As leguminosas correspondem a um amplo grupo alimentar composto por grão-de-bico, ervilha, soja, lentilha e feijão, sendo altamente aconselhada sua ingestão diária. No século XX, elas faziam parte da rotina alimentar da maior parte das pessoas, principalmente em áreas de temperaturas frias onde os habitantes precisavam recuperar energias. Com o tempo, os hábitos mudaram e seu uso foi substituído por outras opções. Hoje, com o incentivo a uma alimentação saudável, consciente e natural, seu consumo voltou à ser destaque.

Agora a lentilha vem se posicionando como uma das leguminosas preferidas. Segundo o estudo de Harvard, o consumo é capaz de reduzir o risco de obesidade, colesterol elevado e pressão alta, além de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.

Além disso, as lentilhas são adequadas para dietas de emagrecimento porque saciam muito e, por terem um baixo índice glicêmico, estabilizam o nível de açúcar no sangue, ajudando também as pessoas que sofrem com o diabetes.

Analía Yamaguchi, especialista em nutrição clínica secretária da Sociedade Argentina de Nutrição, diz que é um alimento nobre que corresponde a um tipo de carboidrato complexo e que se destaca por ser rico, saciante, nutritivo, com baixo teor calórico e por fornecer energia.

“Entre seus componentes estão ômega 6 e 9, vitaminas do complexo B1, ferro, cálcio, zinco, magnésio e proteínas”, completa.

COM PROTEÍNA

Mas seu consumo guarda um segredo. Para que a ingestão de seus nutrientes seja bem-sucedida, Analía acrescenta que a leguminosa deve ser consumida com alguma proteína animal ou, no caso de quem mantém uma alimentação vegetariana ou vegana, com uma porção de arroz ou macarrão ao mesmo tempo, pois, desta forma, “será incorporado o aminoácido conhecido como metionina, que sintetiza tudo o que se encontra nas lentilhas”.

A nutricionista aponta que a porção correta dessa leguminosa, assim como o restante, deve ser equivalente a 25% do prato e, para ver os benefícios, sugere incorporá-la regularmente.

“O ideal é que os outros 25% sejam destinados a proteínas de origem vegetal ou animal, e os 50% restantes, a vegetais crus ou cozidos, principalmente os que possuem vitamina C, pois potencializa e aumenta a absorção do ferro encontrado na lentilha”, explica.

Segundo ela, na hora de cozinhá-la não é necessário deixar de molho como o restante das leguminosas.

ORIGEM

A lentilha começou a ser consumida ainda no Neolítico, na Ásia Ocidental. Rapidamente ganhou relevância, e países da África e da Europa também se arriscaram em sua produção. Chegou à América Latina por meio dos colonizadores.

Os tamanhos variam entre dois e nove milímetros e têm cores diferentes: marrom, amarelo, cinza, verde, vermelho e preto. Sua semente vem de uma planta chamada Lens esculenta – colhida principalmente em regiões temperadas e subtropicais onde o solo deve apresentar características arenosas e argilosas.

“A sugestão é intercalar seu consumo com outras leguminosas, bem como incorporar uma variedade de alimentos para fornecer ao organismo a maior quantidade possível de nutrientes, minerais e vitaminas”, diz Analía Yamaguchi.

Para completar, a lentilha é sustentável, pois além de estar disponível o ano todo, sua produção gera baixo impacto ambiental.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

POR QUE ALGUNS LIDAM MELHOR COM O ESTRESSE DO QUE OUTROS

A capacidade de se recuperar diante das adversidades é o que faz a grande diferença

A capacidade de algumas pessoas de resistir à adversidade e ao infortúnio nunca deixa de nos surpreender. “Eu não poderia suportar. Se acontecesse comigo, eu afundaria, eu morreria” são frases que todos nós já dissemos ou pensamos alguma vez quando nos deparamos com a situação de quem perdeu um filho, convive com uma doença grave, enfrenta um parceiro violento, educa adolescentes irresponsáveis, perde o emprego, é abandonado pelo parceiro, ou sofre, como os políticos, frequentes repreensões ou insultos que chegam às vezes até a própria família, entre outros exemplos relevantes.

A verdade é que, quando o infortúnio nos atinge pessoalmente, não morremos e aprendemos a suportá-lo, porque a natureza, a evolução biológica, nos programou para isso, para sobreviver. É claro que nossa vida não é mais a mesma de antes, e devemos mudá-la fazendo uso da principal e mais poderosa capacidade do cérebro e da mente humana: refletir para ver as coisas de maneira diferente, reduzir nossos sentimentos negativos e propor metas e objetivos baseados na nova situação em que vivemos, em uma palavra: resistir.

RESILIÊNCIA

Ainda assim, no dia a dia também vemos que algumas pessoas resistem melhor ao desconforto e ao estresse do que outras. Há quem sofra menos com isso e se recupere imediatamente, enquanto outros penam mais e demoram muito para estabilizar seu estado físico e mental depois de terem sido vítimas de alguma circunstância. Para se referir a essa diferente capacidade de recuperação das pessoas, a psicologia assumiu o termo resiliência, retirado da física e da engenharia.

Originalmente, esse termo se refere à capacidade de um corpo material ou físico de recuperar seu estado normal após ter sofrido alguma pressão mecânica que o dobrou ou modificou. Um elástico, por exemplo, é um material muito resistente, pois quando o dobramos, ele volta imediatamente ao seu estado normal. Os metais, por outro lado, têm muito menos resiliência, embora em graus muito diferentes para cada um deles. Da mesma forma, em psicologia, uma pessoa é altamente resiliente quando ela consegue superar rapidamente uma situação adversa, evitando a ansiedade e a depressão e voltando ao seu estado físico e mental normal.

As diferenças na resiliência entre as pessoas são determinadas por fatores genéticos, educacionais e pela marca que suas próprias experiências pessoais deixaram. Assim, a resiliência também poderia ser condicionada pela própria experiência estressante, por seu contexto e pela forma particular como cada indivíduo lida com ela.

ESTUDO                                           

Foi o que um grupo de pesquisadores do Instituto de Neurociências e do Departamento de Psicologia da Universidade de Princeton, de Nova Jersey, nos Estados Unidos, tentou descobrir por meio de um experimento com camundongos, que tiveram seus resultados publicados recentemente na revista científica Nature. Anteriormente, já se sabia que a liberação de dopamina no núcleo accumbens, local do cérebro envolvido na gratificação e no aprendizado, é alterada em camundongos em situações estressantes, mas restava saber por que e qual a importância disso. Agora, os pesquisadores submeteram cada uma das cobaias a uma série de dez derrotas de luta livre, uma por dia, contra ratos diferentes, em um procedimento conhecido como derrota social.

Geralmente, animais mais suscetíveis ao estresse adotam posturas de submissão e fuga com mais frequência do que animais mais resilientes. Nesse experimento, observou-se que os camundongos que apresentaram maior liberação de dopamina diante do agressor no início da luta foram os mais resilientes.

Ao contrário, os camundongos que apresentaram maior liberação de dopamina no final do ataque e início de sua fuga, ou seja, nos momentos de alívio da situação, foram os menos resilientes, os mais suscetíveis ao estresse e às suas consequências negativas (ansiedade e depressão).

Além disso, em linha com os resultados de trabalhos anteriores, a pesquisa também mostrou que é possível modificar o comportamento e aumentar a resiliência dos camundongos, estimulando a liberação de dopamina no decorrer da luta, durante a derrota.

A lição a ser tirada, segundo os autores do estudo, é que tanto o comportamento adotado na situação de estresse quanto a liberação de dopamina que ocorre ao mesmo tempo servem para prever se o animal será resiliente ou sucumbirá ao estresse. A liberação de dopamina atribuída a um agressor aumenta sua própria resiliência, enquanto aquela atribuída a quem foge ou evita o agressor, não. O cérebro, então, reage de forma diferente dependendo do contexto e da reação primária da pessoa estressada, potencializando a própria resiliência em situações de confronto agressivo e estressante.

Embora sempre se possa argumentar que esses resultados ainda não foram observados em humanos, a conservação de muitos mecanismos fisiológicos na evolução dos mamíferos nos faz suspeitar que eles também poderiam ocorrer em nossa espécie e que estamos a caminho de explicar por que algumas pessoas são mais capazes do que outras de enfrentar e resistir a situações geralmente tão estressantes.

OUTROS OLHARES

CAMINHOS DIFERENTES

Número de feminicídios de negras aumenta e o de brancas diminui

Aos 44 anos, Ester Rufino se considera uma exceção que esteve perto de entrar nas estatísticas que fazem das mulheres negras as principais vítimas de feminicídio no Brasil. Negra e nascida na periferia de São Paulo, sofreu desde a juventude com a violência física, sexual, psicológica, patrimonial e verbal. Mas conta que conseguiu romper o ciclo de agressões.

“Sou uma sobrevivente”, diz a advogada, que foi empregada doméstica e hoje é diretora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.

As mulheres negras representam 67% das vítimas dos casos notificados em 2020, dos quais 61% são de mulheres pardas e 6% pretas, segundo dados levantados pelo Instituto Igarapé. As brancas correspondem a 29,5% das vítimas dos feminicídios, e as indígenas, a 1%.

Enquanto o homicídio de mulheres brancas diminuiu 33% entre 2000 e 2020, o assassinato de pretas e pardas aumentou em 45%.

“Sofri violência na família, no meu primeiro casamento. De me mandarem tirar a roupa para saber se era virgem”, lembra Ester. “Por falta de apoio do Estado, e viver num ambiente muito conservador, não pude abrir a boca por muitos anos. Até que a rede de feminismo negro e a psicóloga Cleide Neves, que atua há mais de 20 anos na Educafro, me alcançaram. E me deram força para sair desse ciclo”, detalha.

Ativista há 16 anos da Educafro, Ester ajuda mulheres vítimas de violência doméstica, no coletivo Manas Pretas Egressas. Segundo ela, a ausência de políticas públicas nas comunidades contribui para o aumento do feminicídio de negras.

“Nós não temos que buscar as políticas públicas. Elas que precisam estar por perto. Quando não estão, é o Estado declarando a pena de morte dessa vítima”, afirma Ester, que ainda hoje convive com as sequelas da violência que enfrentou. “Quem sobrevive à violência segue em tratamento constante. Hoje vivo com medo, mas cercada de mulheres que me dão acolhimento, proteção e vontade de seguir em frente.”

PIORA PARA INDÍGENAS

Há, também, um recrudescimento dos casos envolvendo mulheres indígenas, segundo os dados colhidos pelo DataSUS, do Ministério da Saúde, pelo Igarapé, para a plataforma Evidências sobre Violências e Alternativas para Mulheres e Meninas. O aumento foi de sete vezes no período de 20 anos, de acordo com o levantamento.

O assassinato de brancas por armas de fogo diminuiu 46% em 20 anos. O de mulheres indígenas aumentou em 79%, e o de negras, 64%.

“O aumento da violência contra a mulher precisa ser analisado sob a perspectiva racial e etária, e os dados precisam ser acompanhados de perto pelos tomadores de decisão, sobretudo diante da desigualdade racial presente na violência. O racismo estrutural afeta mulheres negras e as coloca em posição de vulnerabilidade e risco”, afirma Renata Giannini, pesquisadora à frente do projeto. “O racismo estrutural impacta diretamente a posição que mulheres negras ocupam na sociedade. Infelizmente, a grande maioria dessas mulheres está na base da pirâmide social e econômica, tem menos acesso a serviços e está mais propensa a sofrer todos os tipos de violência.”

Além disso, uma vez sofrida a violência, mulheres negras também não recebem o mesmo suporte.

De acordo com os números do DataSUS, em 20 anos, 32% das mulheres foram assassinadas dentro de suas casas – a proporção é de 14% no caso dos homens. Entre 2000 e 2020, houve um aumento de 167% nos assassinatos de mulheres indígenas dentro de casa; 97% no caso das mulheres pardas; e 41% no caso das mulheres pretas. O de brancas diminuiu 15%.

“As mulheres negras, além da questão de gênero, acumulam marcadores sociais. Muitas residem em regiões periféricas, não possuem autonomia financeira, são dependentes financeiramente de seus agressores e sofrem muito mais com a revitimização do próprio sistema. Quando batem na porta de uma delegacia para denunciar a violência, são, em grande parte dos casos, descredibilizadas, desencorajadas de denunciar e mandadas de volta para a casa junto aos seus agressores”, afirma Izabella Borges, advogada, historiadora, psicanalista e fundadora do Instituto Survivor. “Sabemos que a violência doméstica é um fenômeno complexo, que exige uma rede de apoio. As mulheres negras, assim como as indígenas, estão muitas vezes solitárias nesta luta. Não têm acesso aos serviços sociais e à rede de apoio, e acabam permanecendo no ciclo da violência até que ele atinja o seu ápice, que é o feminicídio.”

As informações extraídas dos sistemas de saúde são fundamentais para um quadro mais fidedigno da gravidade do problema, segundo o Igarapé. Os dados extraídos das polícias e secretarias de segurança pública são subnotificados, pois nem todas denunciam as violências aos órgãos do sistema de justiça criminal, de acordo com o instituto.

ARMAS DE FOGO

Em 2020, 3.822 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa um aumento de 10% na comparação com 2019. A maioria das assassinadas estava na faixa etária de 15 a 29 anos (41%) e 30 a 44 anos (33%).

Metade das mulheres foi morta por armas de fogo em 2020, o que representou um aumento de 5,7% frente ao registrado em 2019. Objetos cortantes foram os instrumentos utilizados em 26% dos feminicídios, enquanto a força física levou a 9% dos assassinatos. Objetos contundentes estiveram presentes em 6% dos casos e produtos químicos, em 3%.

“Arma de fogo é um fator de risco para as mulheres, especialmente dentro de casa. A política de descontrole de armas de fogo tem um impacto desproporcional nas mulheres”, diz Melina Risso, diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé.

Como mostrou levantamento exclusivo, no Congresso Nacional, 73% das parlamentares da próxima bancada feminina são contra a flexibilização da posse e do porte de armas.

ALVOS PREFERENCIAIS

Segundo levantamento com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde, há dois anos, as mulheres foram o alvo em 89% dos casos de violência sexual; 84% dos casos de violência psicológica; 83% dos casos de violência patrimonial; e 69% dos casos de violência física.

Mulheres têm 3,5 vezes mais probabilidades de sofrer violência que homens. A taxa de violência é de 270 para cada 100 mil habitantes, enquanto que a de homens é de 79 por 100 mil. Negras também são as mais afetadas: correspondem a 54% dos casos. Brancas são 37%, e indígenas e amarelas somam 1% cada.

Em 2020, 228 mil mulheres foram vítimas de violência. A maior parte sofreu violência física (56%), sexual (15%) e patrimonial (2%). Embora as mulheres entre 15 e 29 anos concentrem 38% das vítimas de todos os tipos de violência, meninas de zero a 14 anos correspondem a 58% das vítimas de violência sexual.

GESTÃO E CARREIRA

PARA FUNCIONÁRIOS ‘DEDICADOS’, DORMIR NO ESCRITÓRIO VOLTOU À MODA

O foco no trabalho presencial e no sacrifício pessoal é uma inversão da cultura do Vale do Silício, o primeiro a adotar opções de trabalho remoto

O retorno do trabalho presencial no Twitter deu uma guinada e tanto depois da aquisição da plataforma por Elon Musk: uma funcionária tuitou “#SleepWhereYouWork” (Durma onde você trabalha) com uma foto dela em um saco de dormir e usando uma máscara para tapar os olhos que viralizou na rede.

Recentemente, Musk enviou um e-mail para os funcionários do Twitter pedindo que eles se comprometessem com “expedientes longos” e de “alta intensidade”, além de serem “extremamente dedicados”, caso queiram continuar trabalhando lá. Os profissionais da empresa falida de criptomoedas FTX também passaram algumas noites no escritório, seguindo o exemplo do CEO, Sam Bankman-Fried.

O foco no trabalho presencial e no sacrifício pessoal é uma inversão da cultura do Vale do Silício, que foi o primeiro a adotar opções permanentes de trabalho remoto e a promover as semanas de trabalho de quatro dias. Especialistas dizem que a mudança de rumo pode significar mais estresse, esgotamento e até mesmo uma crise existencial para os trabalhadores.

“É a ideia de que o trabalho não “é apenas trabalho”, disse Carolyn Chen, autora de Work Pray Code: When Work Becomes Religion in Silicon Valley (Código de Oração do Trabalho: Quando o trabalho se torna religião no Vale do Silício, em tradução livre).”O trabalho é a sua razão de viver e o que lhe dá sentido, propósito e identidade. É a sua fonte de pertencimento”, afirma Chen.

Musk voltou atrás na exigência de retorno ao trabalho presencial após muitos funcionários do Twitter optarem por se demitir em vez de aceitar as novas condições. Agora, o bilionário diz que eles podem continuar remotamente desde que seus gestores considerem seu desempenho excelente.

Se expedientes longos significam determinação real é um debate constante entre aqueles interessados em tecnologia e uma fonte de conflito entre gerações de trabalhadores do setor, gestores, capitalistas de risco e todos os demais.

Nos últimos anos, a ideia de ter uma rotina sem tempo para nada ganhou uma má reputação. E o Vale do Silício é o lugar onde muitas dessas tendências começaram. As empresas têm um histórico longo de aprovação pelas noites viradas programando ou pelos fins de semana no escritório como a principal forma de encontrar uma boa ideia para fundar uma startup, criar um novo recurso ou fechar um acordo.

‘PEBOLIM’

As regalias nos escritórios, como comida grátis e pebolim, foram pensadas para fazer com que não fosse nenhum esforço ficar mais tempo no trabalho. Os millennials, cansados da ideia de mulheres que dão conta de tudo e homens que são “os caras” da tecnologia, recusaram algumas dessas tendências. Agora, vários líderes do setor estão mais uma vez apregoando um retorno a antigos hábitos.

EU ACHO …

A ELETRICIDADE AMOROSA

Ana tornou-se o pensamento permanente de Jorge. Foi assim desde o primeiro encontro no café da Unicamp. Ela era estudante de Arte; ele cursava Engenharia Elétrica. O sorriso dela, o corpo, a voz, o cheiro… Ah! O cheiro da Ana funcionava como um feromônio poderoso. Ele nunca tinha sentido aquilo antes.

Tornou-se chato com os amigos: era monomaníaco. Só pronunciava o nome dela. Seria preciso conquistar Ana.

Jorge era bonito, mas a moça o intimidava. Ela era inteligente, e ele seguia as publicações dela nas redes sociais, sempre imaginando como agradá-la. Ela falou da música de Satie, e ele fez imersão no músico. Comida indiana a encantava? Jorge exalava curry, dada a quantidade ingerida. É uma estratégia arriscada: a que confia em excesso no anzol e pouco nas etapas seguintes. É tática cega de apaixonado. Dizem que o amor sofre da mesma deficiência visual; logo…

Mandou mensagens privadas para ela, recebeu respostas simpáticas e… frias. Rondou o Instituto de Artes da Unicamp todos os dias. Tornou-se quase um fantasma da Rua Elis Regina, em Barão Geraldo.

Houve uma chance! Era uma exposição de arte. Ana anunciou que iria. Preparou-se. Pegou a melhor roupa (na república em que habitava significava a única roupa limpa). Foi para o espaço no campus e viu que ela estava ao lado de um quadro. Aproximou-se e disse que já a conhecia das redes. Ela sorriu de forma amistosa: “Ah, sim, você já me mandou mensagens. Gosta de arte abstrata?”

Ele disse um sim quase excessivo, pois tinha se preparado para o momento. Passaram a andar juntos pelo espaço, vendo os quadros. O cheiro dela era o mesmo, intenso e bom.

Finalmente chegou a oportunidade decisiva. Um imenso painel com riscos abstratos pretos sobre um fundo claro. Ana parecia extasiada. Jorge notou. Ela perguntou o que ele achava. “Bem, a rigor, nada…”

Ele não tinha a mais vaga ideia do que aquilo queria dizer. Incapaz de analisar a imagem, veio uma salvação: “…parecia um circuito elétrico, uma rede de força, em que cada ponto tinha significado em relação a potência e voltagem; a energia fluía harmônica em um campo aparentemente complexo de indutores e capacitores”. Jorge viu unidade elétrica na obra, percebeu comunicação das partes em um todo. Fez sua explicação. Ana a achou linda. A metáfora era absurda, mas ela começava a jornada, cega, rumo ao enamorar. Voltaram juntos para a quitinete dela e começaram uma linda história de amor. Ah, a eletricidade esperançosa da paixão…

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de ‘A Coragem da Esperança’, entre outros

ESTAR BEM

ZUMBIDO NO OUVIDO PODE SER SINAL DE PROBLEMA MAIS GRAVE

Além das questões de audição, o sintoma pode indicar doenças cardiovasculares, tumor de cabeça e pescoço e distúrbios metabólicos

Você já passou tempo em algum lugar com o som alto e, quando retornou, sentiu uma espécie de zumbido no ouvido? De acordo com Maria Branco, fonoaudióloga da Microsom, isso pode ser sinal de um problema mais grave.

Apesar de grande parte da população brasileira não ter conhecimento sobre a questão, a conscientização a respeito disso tem crescido com a Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido, que se popularizou como Novembro Laranja e busca informar sobre os cuidados com a audição.

“O zumbido é um sintoma de algo que está acontecendo, pode ser um distúrbio ou problema escondido. Apesar de estar associado a transtornos no sistema auditivo na maioria dos casos, existem outras causas possíveis”, explica.

ALERTA

Segundo Maria, o zumbido pode ser um indicativo de problemas que não estão diretamente relacionados com a audição, como doenças cardiovasculares, tumores de cabeça e pescoço, distúrbios metabólicos, como diabete, e até desvio de coluna.

Quando está relacionado à audição, ele costuma acontecer por causa de um processo de perda auditiva. “Na tentativa de compensar as células auditivas lesionadas, o sistema trabalha de maneira acelerada e como consequência o zumbido pode surgir”, esclarece a especialista. Por outro lado, ele também pode ser uma reação do corpo a dores ou tensões musculares. O consumo excessivo de álcool, açúcar, café e outros estimulantes, assim como transtornos de saúde mental, como depressão e ansiedade, também podem provocar o zumbido.

COMO IDENTIFICAR O ZUMBIDO?

Antes de considerar a situação preocupante, é preciso entender o que é o zumbido, como identificá-lo e como ele pode indicar algo mais grave. “A pessoa identifica que escuta um barulho que outras pessoas não estão escutando, normalmente descrevem como um apito, mas existem muitas descrições possíveis: cigarra, abelha, motor, cachoeira, chiado, pulsações”, observa Maria Branco.

Ao sentir o zumbido, é importante perceber se ele é transitório ou persistente. Caso ele seja recorrente, o ideal é buscar um profissional que possa avaliar se é sinal de algum dos problemas mencionados anteriormente.

“É possível realizarmos um exame chamado acufenometria, no qual se investigam as características do zumbido, dando ao profissional informações que contribuem para a estratégia terapêutica. Neste exame, o profissional busca identificar as características psicoacústicas do zumbido, ou seja, a frequência e a intensidade que mais se assemelham ao zumbido do paciente”, diz ela.

COMO TRATAR O ZUMBIDO?

Maria Branco informa que o tratamento para o zumbido varia muito, já que pode ter muitas causas. “Não existe um tratamento único para todos os tipos de zumbido. É preciso entender o que faz com que esse zumbido aconteça. E, a partir daí, o médico vai encaminhar para o tratamento”, ressalta.

Se a causa estiver relacionada a dores ou tensões musculares, por exemplo, o ideal é conversar com um fisioterapeuta. Caso a origem do problema sejam distúrbios metabólicos, por outro lado, exames de sangue devem ser solicitados.

Uma última solução, no caso do zumbido que tem relação com a perda da audição, são os aparelhos auditivos. “O aparelho gera um som, que contribui para que o paciente tenha um desvio de atenção e oferece um alívio para o problema”, aponta a médica.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

1 EM CADA 4 BRASILEIROS NÃO SE SENTE PRÓXIMO DE NINGUÉM

Segundo estudo, interações presenciais tendem a trazer mais felicidade

A imagem do brasileiro simpático e aberto a novas amizades é menos real do que imaginamos. Um levantamento com 1.682 participantes com idades de 18 a 77 anos mostrou que a qualidade da rede de relacionamentos dos brasileiros é baixa e que a insatisfação nas interações sociais prevalece.

Também indicou que situações presenciais nos fazem mais felizes, favorecendo a construção de uma rede mais ampla de relacionamento que as virtuais.

Os resultados apontam que um quarto da população tem uma rede empobrecida e não se sente próxima de ninguém. A pesquisa do Instituto Locomotiva levou em consideração uma amostra balanceada, de acordo com critérios sociodemográficos, que participou via plataforma online. O neurocientista Álvaro Machado Dias, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e sócio do Instituto Locomotiva, diz que o resultado não surpreendeu, mas foi mais intenso do que o esperado.

“A baixa conectividade interpessoal dos brasileiros e o desconforto no trato com estranhos contrastam com a visão que formamos dos barzinhos lotados, mas não se engane: poucos circulam fora de suas bolhas”, afirma.

Isso significa que somos afetados pelo contato direto e que o olho no olho nos permite ser mais felizes. “A migração das relações pessoais para o ambiente digital não contribui para a formação de laços interpessoais satisfatórios e de longo prazo.”

A pesquisa surgiu a partir da tese de que o Brasil possui a maior taxa de ansiedade do mundo. “Isto gera uma espécie de normalidade psicopatológica, caracterizada por baixa confiança interpessoal. De acordo com o Latinobarômetro, apenas 5% das pessoas confiam em desconhecidos no país, é o menor índice da América Latina e um dos menores do mundo”, disse.

Interações presenciais são mais confortáveis que virtuais para 22% dos entrevistados —71% dos participantes disseram ficar satisfeitos com relacionamentos reais, ante 58% de satisfação com relações virtuais.

Segundo os dados, o brasileiro é mais tímido e afetado pela violência do cotidiano do que aparenta. A maioria das pessoas realmente se sente mal falando com estranhos. Dois terços da população agem de forma diferente com quem não conhecem, indicando uma forte distinção entre personas pública e privada. Dos que declararam uma divisão bem marcada, 42% disseram também sentir desconforto extremo na interação com desconhecidos.

Dias atribui essa resposta social a uma combinação de fatores como medo da violência, desigualdade social com componentes racistas e visão pouco lisonjeira do caráter do outro.

Também remonta ao excesso de trabalho combinado com falta de aparelhos sociais que estimulem a convivência, ao ódio político e à virtualização relacional excessiva.

Quem conta com uma rede ampla de relacionamentos apresenta maior satisfação, inclusive na interação com desconhecidos. A insatisfação na interação com pessoas novas está presente em 15% das respostas da amostra, um índice três vezes maior do que o relatado para conhecidos, amigos e familiares.

Aqueles com menos relacionamentos ou mais superficiais têm um descontentamento mais latente mesmo quando estão com pessoas que conhecem, indicando que a baixa qualidade da rede afeta também a percepção geral.

Redes sociais e games não são em si negativos, mas podem ser gatilhos para solidão por levarem a mais tempo conectado a bolhas.

“Essas tecnologias têm potencializado a ansiedade e a depressão dos jovens e pessoas mais solitárias de todas as idades. Há ainda uma verdadeira explosão nos discursos de ódio nos games.”

Para Dias, a distinção não é entre público e privado, mas entre íntimo e estranho, e a capacidade de transitar. A razão pela qual mais tempo conectado não é proporcional à formação de vínculo é o fato de que a falta de proximidade dificulta a empatia.

Vinicius Dalosto Pellegrino, 20, é empresário e trabalha com tráfego pago, analisando o potencial de interação das pessoas no virtual. Apesar de saber como encontrar nas redes sociais as preferências e informações das pessoas, ele diz que sua rede de relacionamentos é mais forte no mundo real.

“Dá para contar nos dedos os meus amigos. Tenho no máximo três pessoas em quem realmente confio, além da minha namorada, e todas elas são meus primos”, disse Pellegrino.

O empresário mora com os pais e o irmão, com quem tem um bom relacionamento, e diz que esses laços pessoais geram, para ele, uma facilidade muito maior de confiar no outro. “Acho que tanto na vida real quanto na vida virtual eu sou a mesma pessoa. Só tento diferenciar a vida profissional. Tenho, porém, uma certa dificuldade quando tento socializar com pessoas que ainda não conheço.”

OUTROS OLHARES

CADA GOTA CONTA

Humanização e suporte às mães elevam aleitamento de prematuros

Todo dia, por mais de dois meses, a servidora pública Stephanie Molina Diener, de 32 anos, fez 1udo sempre igual. Saia de manhã para o Hospital e Maternidade Santa Joana, na região Centro-Sul de São Paulo ia até a UTI Neonatal, recebia o boletim médico da filha recém-nascida e seguia para o lactário da unidade.

Era ali que tirava o leite que depois seria oferecido por sonda para a prematura Manuella, que veio ao mundo em agosto, após 29 semanas e um dia de gestação, pesando apenas 725 gramas.

“Vida de UTI é de altos e baixos. É duro. Ao longo do dia, ia mais duas vezes. E quando chegava em Casa também tirava leite, congelava e levava para o hospital”, conta Stephanie. “Sempre soube da importância do leite materno, e mesmo com ela prematura não passava pela minha cabeça que ela não teria isso.

Entre 10% e 15% dos bebês nascidos vivos no pais são prematuros – nascem antes das 37 semanas de gestação. Essa condição impõe uma série de desafios, inclusive na amamentação. Em incubadoras, cercados de aparelhos, muitos bebês sequer desenvolveram ainda o reflexo de sucção e deglutição. A lista de dificuldades se soma a falta de apoio e estrutura para as mães que querem amamentar. Nos últimos anos, porém, o investimento em ações de humanização e cuidados com os bebês e as famílias nos hospitais têm levado a altas taxas de aleitamento em UTIs neonatais do pais.

“Desde o dia em que Manuella nasceu, me orientaram sobre o lactário, um espaço organizado, esterilizado, com bombas para extração de leite. Deram um curso, recebi instruções”, lembra Stephanie. “Eu tirava o leite e davam a ela pela sondinha. Fomos ml por ml. Depois, quando ela ganhou peso, passou a mamar no peito. A equipe me ajudou”. Hoje, Manuella está em casa e com quase 3kg.

Os prematuros começam com doses muito pequenas de leite, às vezes 1 ml. Mas são cruciais para manter a microbiota intestinal dos bebês. Os componentes presentes no leite materno ajudam no desenvolvimento cerebral, pulmonar e dos demais órgãos, ainda muito imaturos, e por isso os médicos defendem que os recém-nascidos recebam o leite materno o quanto antes. A viabilidade varia caso a caso.

“Há uma gama muito grande de situações e não dá para generalizar. Mas, desde que o bebê esteja saudável, a boa prática mundial hoje é oferecer o leite o mais precocemente possível, em pequenos volumes”, explica a pediatra e neonatologista Clery Bernardi Gallacci, do Hospital e Maternidade Santa Joana. “Mesmo o bebê em suporte de ventilação mecânica, dentro de uma UTI, se estiver estável, pode receber o leite através de uma sondinha passada pela narina até o estômago”.

A tecnologia desses materiais, ressalta, também avançou:

“Hoje eles são menos agressivos e mais flexíveis”. No Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, de janeiro ao começo de novembro quase 300 bebês nasceram antes de completar 38 semanas de gestação. Junto a técnicas avançadas da Medicina para os prematuros, a aposta no suporte às mães para que conseguissem tirar o leite mesmo sem o estimulo direto do bebê permitiu que elas mantivessem a produção e que o hospital chegasse a uma taxa de amamentação de 98% no momento de alta”

“Nem sempre é um aleitamento exclusivo (há complementação com fórmula infantil), mas a maioria dos bebês sai mamando na mãe, mesmo tendo passado por terapia intensiva com ventiladores, tantas medicações, procedimentos invasivos. E saem mamando porque há estímulo, buscamos que essas mães estejam presentes, amamentando seus bebês”, conta Desirée Volkmer, chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital Moinhos de Vento.

REDE DE APOIO

A máxima “cada gota conta” é uma constante nas UTIs neonatais. A designer de projetos Julia Pozzi, de 26 anos, viveu 141 dias de internação com Alice, nascida há cinco meses, com 685 gramas e 25 semanas. Até os três meses, ela tomou leite materno por uma sonda. Julia tirava todos os dias no Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, no Rio.

“Ficava no hospital de manhã até a noite para dar a ela todos os horários possíveis de leite. As fonos me ajudavam”, lembra Julia. “Fiz o máximo que podia, e com certeza meu leite ajudou a salvar a vida dela, principalmente em momentos mais críticos, que ela estava frágil e não podia tomar fórmula. Não é fácil alimentar bebê de UTI. Não dá para pegar toda hora, tem a ansiedade, a vivência das dores de outras famílias.”

A pressão extra sobre as mães, em um contexto já delicado, só reforça a necessidade de uma rede de apoio que envolva toda a família”, diz a psicóloga perinatal AIlana Pezzi, do Centro de Medicina Integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre, em São Paulo:

“Existe o provérbio de que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Com a amamentação não é diferente. Mesmo que a mãe seja protagonista dessa cena, ter uma rede de apoio é fundamental para que ela se sinta segura para vivenciar os desafios da maternidade. Amamentação é partilha.”

GESTÃO E CARREIRA

BRASIL JÁ RESPONDE POR 10% DOS ‘EMPREGOS VERDES’ NO MUNDO

Só no setor solar, previsão é fechar o ano com 200 mil novas vagas; para especialistas, energia renovável pode alavancar crescimento do País

A qualidade da matriz energética, com quase 50% de energia renovável, e o potencial da economia verde podem alavancar o desenvolvimento do Brasil nos próximos anos, com uma geração de emprego mais sustentável. Para se ter ideia, hoje o País já responde por 10% de todos os empregos verdes no mundo, ocupando a segunda colocação entre os maiores empregadores da indústria de biocombustíveis, solar, hidrelétrica e eólica.

O mercado brasileiro perde apenas para a China, que tem 42% dos 12,7 milhões de postos de trabalho do planeta, segundo dados da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A expectativa é de que, até 2030, as energias renováveis criem 38,2 milhões de empregos no mundo.

Os cálculos consideram uma transição energética ambiciosa e a aceleração de novos investimentos para reduzir o aquecimento global do planeta. No Brasil, além da eólica e da solar, há a aposta no hidrogênio verde – área em que o País pode se tornar líder mundial – e no comércio do crédito de carbono. “O potencial do trabalho verde no Brasil é enorme, seja pelo tamanho da economia ou pelo fato de ser o lar de ecossistemas dos mais relevantes do planeta, rico em recursos naturais e biodiversidade”, diz o economista sênior da Divisão de Mercados de Trabalho e Seguridade Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Oliver Azuara.

Para ele, o benefício de “enverdecer” a economia no Brasil será maior do que em qualquer parte do mundo. Isso porque o potencial de crescimento das fontes renováveis, ao contrário de outras partes do mundo, ainda é muito alto no País. No setor eólico, por exemplo, a energia offshore (em alto-mar) nem começou a ser explorada ainda, mas tem potencial de 700 mil MW no País. Cada MW de energia offshore gera 17 postos de trabalho ao longo de 25 anos de vida útil de um projeto.

Na eólica convencional, em terra, esse número é um pouco menor: 11,7 empregos por MW instalado. A expectativa é de que, nos próximos dez anos, o setor acrescente no mínimo 3 mil novos MW por ano (em 2022, serão 5 mil MW), diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum. Isso significa cerca de 35 mil novos postos de trabalho anuais. No setor solar, hoje o que mais cresce no Brasil e no mundo, a geração de empregos em toda cadeia ultrapassou os 170 mil postos em 2021, e pode superar os 200 mil neste ano, segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sanaia. Segundo ele, 60% dos empregos do setor vêm da instalação de sistemas – empregos de nível técnico, com renda média de dois salários mínimos e carteira assinada.

Outros 40% vêm da fabricação de componentes, projetos, engenharia, administração, comercial, vendas e marketing.

MAIORES EMPREGADORES

Apesar de as novas fontes serem as que mais acrescentam postos de trabalho hoje, em termos consolidados são os biocombustíveis e as hidrelétricas que empregam mais no Brasil, segundo a Irena. De 1,27 milhão de empregos verdes, 68% vêm da indústria de combustíveis sustentáveis e 14%, das usinas hídricas – duas áreas tradicionais no setor energético desde os anos 60 e 70.

“O País já se encontra em posição de vanguarda nesse tema em relação às demais nações, e segue uma trajetória sustentável, ampliando cada vez mais o uso de fontes limpas, como eólica e solar, além de apostar em novas tecnologias, como o hidrogênio verde”, diz o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.

O potencial de investimento do produto é de US$ 200 bilhões até 2040 no Brasil. Só em Pecém (CE), três empresas anunciaram investimentos de US$ 14 bilhões em planta de hidrogênio verde. Outro destaque é o crédito de carbono. A consultoria McKinsey estima que, para cada dólar proveniente dos benefícios da ação climática, a comunidade local recebe um retorno socioambiental líquido de US$1 a US$4 em termos de criação de empregos, desenvolvimento local e serviços de ecossistema.

“Esse impacto se traduz na geração de 550 mil a 880 mil empregos líquidos por ano através de projetos de restauração, agroflorestas e REDD+ (incentivo para compensar países em desenvolvimento por medidas de redução de emissões)”, diz o sócio e líder da prática de sustentabilidade da  McKinsey, Henrique Ceotto. Segundo ele, 57% desses empregos são diretos e concentrados no local de implementação dos projetos. O executivo afirma ainda que profissionais com experiência no mercado de carbono voluntário estão com demanda alta.

EU ACHO …

COPA DO MUNDO E LÂMPADA DE ALADIM

Conforme notei, o campeonato mundial de futebol ocorre nas Arábias – a terra das mil e uma noites, dos camelos e desertos, das burcas, do puritanismo islâmico, dos tapetes voadores e da lâmpada de Aladim. Futebol entre árabes era inimaginável para a minha paroquiana geração. Gente que descobriu o futebol nos anos quarenta e – depois de roubá-lo dos branquelos ingleses (chamados de “pernas de pau”) – tornaram-se mestres na arte do pé-na-bola. Curioso que ninguém tenha observado essa contrariedade da teoria clássica da colonização, já que o futebol a inverte, provando como o colonizado pode ser melhor do que o colonizador.

A Copa de 1950 foi a primeira depois da Segunda Guerra Mundial. Foi a Copa que hospedamos e para ela construímos o maior estádio do mundo: o Maracanã. Uma arena futebolística rival do Coliseu, com a capacidade de abrigar 200 mil espectadores! No caso, alucinados “torcedores” pelo selecionado brasileiro que, naquela edição, não jogava bola, mas a devorava e “comia”, carregando a terrível e maravilhosa responsabilidade de nos livrar da inferioridade de “povo mestiço e inferior”, essa praga que a todo momento atribuímos a nós mesmos.

Mas como o futebol (e os esportes em geral) faz parte da vida e, em certos momentos, com ela competem e até mesmo conseguem superá-la, foi justo nessa Copa de 50 que perdemos no último jogo para o Uruguai, deixando de ficar com a taça Jules Rimet que, depois veio a ser definitivamente nossa e em seguida foi devidamente afanada, tornando-se um troféu – como tantos outros – apaixonadamente conquistado e paradoxalmente perdido.

Coisas brasileiras que remetem à Arábia e ao Aladim, cujo gênio aprisionado na lâmpada maravilhosa contraria expectativas e promove milagres — isso que é o traço essencial das disputas e dos jogos, dos concursos, eleições, aplicações financeiras e do esporte. Essa dimensão das contradições dos costumes que consegue reunir com mais consistência e rara objetividade, desejo e vontade numa combinação, cujo ponto culminante é o que ninguém esperava, o súbito sublime ou mortal das loterias e surpresas (esses espíritos do inesperado) que o gênio da lâmpada mágica simboliza ou encarna. E que tem vontade própria, independente do Aladim que, dono apenas da lâmpada, o liberta por acaso.

Nada, pois, melhor do que esse emparelhamento entre a Copa e a lâmpada de Aladim – esse personagem que tão bem representa o nosso desejo e a nossa esperança de vitória – de sermos, mais uma vez, donos da taça gloriosa da vitória e favoritos dos gênios e deuses.

ROBERTO DAMATTA – É antropólogo, escritor e autor de ‘Carnavais, Malandros e Heróis’

ESTAR BEM

É POSSÍVEL TORNAR OS EXERCÍCIOS MAIS PRAZEROSOS?

Definir metas possíveis de serem alcançadas ou encontrar companhia agradável podem ajudar a mudar a forma como os resistentes enxergam a prática

Vinte e um minutos. Esse é o tempo mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a prática diária de atividades físicas. Pode ser uma caminhada, uma partida de futebol ou um treino de musculação. Qualquer coisa que acelere seus batimentos cardíacos e faça o corpo transpirar. Ainda assim, enxergar a atividade física como algo prazeroso pode ser desafiador para aqueles que não encontram uma modalidade com a qual se identificam ou que desperte sua motivação.

Foi assim com a empreendedora Mikie Okumura, de 38 anos, que abandonava toda atividade que começava. E ela tentou de tudo: natação, ginástica, vôlei, handebol e musculação. Tudo mudou quando ela conheceu a corrida. O esporte apareceu na sua vida na época da faculdade, como uma forma de aliviar o estresse. “Eu comecei a caminhar para distrair a cabeça e depois fui me desafiando a correr.”

As caminhadas evoluíram para as corridas na mesma velocidade com que Mikie se apaixonava pelo esporte. Em 2018, ela encarou seu maior desafio ao correr 42 km, que não ficaram muito para trás dos 25 km percorridos em maio de 2022. “Eu me sinto empoderada por fazer algo que nunca imaginei que poderia fazer”, afirma.

Estabelecer a relação que Mikie passou a ter com a atividade física é a vontade de muitos. Alcides Scaglia, professor de Pedagogia do Esporte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), garante que a melhor maneira para isso é mudar como enxergamos a prática. “A atividade física não precisa ser vista como algo ruim, cansativo e que só traz desgaste”, diz. Para ele, é preciso vê-la como necessidade humana, que aumenta seu condicionamento físico, fortalece sua musculatura e evita o aparecimento de doenças.

“A tomada de consciência de que a atividade física é uma necessidade e não uma obrigação é indispensável para torná-la mais prazerosa”, afirma. A seguir, algumas recomendações para associar prazer e motivação à prática das atividades físicas.

CRIE METAS PESSOAIS

Comece definindo seus objetivos. Pode ser estabelecendo quantos quilômetros vai correr em uma semana, quanto tempo vai dedicar à prática esportiva ou até mesmo metas relacionadas a sua alimentação. O que importa é que sejam metas coerentes com suas vontades pessoais. “É mais difícil desistir da atividade quando a motivação é intrínseca, que parte de você.”

Fique atento à dimensão delas. “Metas colocadas como desafios podem ser interessantes, desde que não sejam metas impossíveis de alcançar”, alerta Scaglia. Definir objetivos reais e acessíveis é importante para não causar frustrações e impedir que a prática seja prazerosa. Por isso, comece com pequenas metas e aumente progressivamente.

DEFINA UMA FREQUÊNCIA

Estipular uma frequência semanal é fundamental para que essa seja uma prática regular.

Os benefícios só serão percebi- dos e a prática só se tornará parte da rotina se houver dedicação constante. A recomendação da OMS é que entre 150 e 300 minutos da sua semana sejam dedicados à atividade física. Se você definir uma frequência diária, cada treino deve levar entre 21 e 42 minutos. Se você preferir treinar três vezes na semana, dedique entre 50 e 100 minutos. O importante é definir uma frequência que se adapte a sua realidade.

“A atividade física não deve acontecer só quando sobra tempo. Não precisa determinar um horário fixo, mas entender que ela precisa acontecer pelo menos três vezes na semana”, explica Scaglia.

PROCURE COMPANHIA

Compartilhar o momento da atividade física com outras pessoas pode tornar a experiência mais prazerosa, além de despertar uma motivação maior para realizá-la com frequência. “Mas é bom lembrar de fazer a atividade com a pessoa e não contra ela”, alerta. Isso porque fazer a atividade usando outras pessoas como referência pode ser um problema, uma vez que cada indivíduo tem ritmos, limites, vontades e habilidades diferentes. “É preciso tomar cuidado para que a outra pessoa não desmotive em vez de motivar”, lembra.

CRIE UMA ROTINA

A rotina pode auxiliar na constância dos treinos e há várias formas de criá-la. Você pode adaptar sua noite de sono para acordar bem no dia seguinte ou deixar roupa e tênis já separados para ganhar tempo antes do treino. Scaglia alerta, contudo, que esse caminho não pode ser entendido como uma regra. “Há pessoas que gostam de rotina, mas para outras ela pode atrapalhar.”

CONCILIE A ATIVIDADE COM COISAS QUE VOCÊ GOSTA

Associar elementos que sejam do seu interesse pode ser um caminho para despertar a vontade de fazer das atividades físicas parte da rotina. Se optar pela caminhada, tente fazer isso escutando uma música que goste, um podcast interessante ou um audiobook. Até uma roupa com que se sinta confortável pode ajudar. “Você pode agregar aquilo que gosta de fazer com aquilo que tem necessidade de fazer, é unir o útil ao necessário”, conta Scaglia.

ACADEMIA NÃO É A ÚNICA OPÇÃO

Scaglia explica que tudo que fazemos para ativar nosso corpo e para tirá-lo de uma condição de equilíbrio pode ser considerado atividade física. “Não precisa colocar uma roupa, tênis ou levantar peso na academia para fazer atividade física.”

Quando você entender que existem opções para além das academias, o segundo passo é conhecer outros tipos de atividades. Você pode experimentar as práticas circenses, como o trapézio, que trazem benefícios físicos e mentais. Ou então, se preferir, tente as artes marciais, que ajudam na coordenação motora e no autocontrole. Há ainda uma infinidade de possibilidades na dança, como o balé, a zumba e a dança de salão. “O caminho é ir testando”, conclui Scaglia.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

OS SINAIS DE QUE O RELACIONAMENTO É SAUDÁVEL

Conhecer as “bandeiras verdes” ou as “bandeiras vermelhas” pode ser útil em um relacionamento que está começando. Os termos se referem a comportamentos positivos e negativos ou tóxicos, respectivamente. São indicadores para saber com antecedência se vale ou não a pena investir naquela relação, alertam especialistas ouvidos em reportagem do La Nacion.

Passada a paixão do início, a realidade prevalece, e muitas vezes começam a aparecer aspectos até então desconhecidos, como ciúmes excessivos, exigências de acesso ao celular do outro ou demonstração de desconfiança quando o casal se encontra com outras pessoas.

“Acho pertinente definir um relacionamento saudável como aquele vínculo do qual você não precisa, mas que, por algum motivo, te faz sentir melhor e você consensualmente escolhe mantê-lo, sem nenhum tipo de coerção”, diz a psicóloga Florencia Berrade.

O QUE É PRECISO PARA TER UM RELACIONAMENTO BEM-SUCEDIDO E SAUDÁVEL?

 Segundo Berrade, cada pessoa dá importância a características diferentes, o que impossibilita a generalização. No entanto, existem “bandeiras verdes” ou indícios positivos que caracterizam aquelas pessoas que cuidam de seus relacionamentos afetivos.

Se você perceber que está numa relação tóxica, por outro lado, a orientação é pedir ajuda. A psicóloga Bárbara Ayub sugere trazer o assunto para uma conversa entre familiares e amigos para que possam tornar as “bandeiras vermelhas” mais fáceis de serem identificadas caso apareçam em nosso relacionamento.

Ayub enfatiza que para trabalhar os relacionamentos é preciso pensá-los como algo carente de cuidado, atenção, carinho. E, sobretudo, ser revisto com frequência por meio do diálogo.

“Acordos são essenciais e sugiro revisá-los em cada etapa do ciclo de vida”, conclui.

SEIS INDICADORES

BOA COMUNICAÇÃO

A boa comunicação é baseada na expressão clara e assertiva e na escuta ativa. Para Berrade, a primeira característica inclui ser capaz de falar sobre suas emoções em primeira pessoa. Ela garante que isso evita criticar o outro e, em vez disso, abre caminho para uma conversa que deixe claro seus próprios desejos.

Por exemplo, em vez de reclamar que o parceiro não sai do celular, vale trocar a crítica por um pedido como: “Quando jantamos juntos, gostaria que você usasse menos o celular para compartilhar um momento mais íntimo comigo”, exemplifica. Em relação à escuta ativa, demonstre interesse pela opinião de seu par e valide-a.

ACORDOS CLAROS

“A chave para um relacionamento bem-sucedido é chegar a um acordo”, diz a psicoterapeuta de relacionamento Kate Moyle:

“Sempre haverá uma luta entre as necessidades individuais de cada um, e não devemos esperar estar de acordo em tudo.”

A psicóloga clínica Bárbara Ayub explica que se às vezes não há discussões ou desentendimentos é porque uma das partes está cedendo muito ou não tem interesse na relação.

RESPEITO À INDIVIDUALIDADE

Ninguém deve se sentir obrigada a estar disponível 24 horas por dia uma para a outra pessoa. A cultura do imediatismo, impulsionada pela tecnologia, mostra que, se uma mensagem não é respondida com rapidez suficiente, é porque não há interesse. “A verdade é que além dos vínculos afetivo-sexuais, o casal deve poder ter outras atividades: profissionais, sociais, de lazer, momentos de solidão, etc.”, afirma Ayub.

INDEPENDÊNCIA

A independência emocional baseia-se no fato de que os membros do vínculo amoroso sabem que são capazes de gerar felicidade, satisfação ou emoções positivas para si mesmos— individualmente — e sem a necessidade de se sentirem obrigados a isso pelo(a) parceiro(a).

EMPODERAMENTO

“Um relacionamento deve nos fortalecer e nos levar ao engrandecimento pessoal. E não limitar nossas habilidades, projetos ou objetivos pessoais”, diz a Berrade.

Os casais devem procurar promover todos os aspectos positivos do outro e até colaborar com a melhoria das características negativas que o outro possa ter.

ATENÇÃO A ‘BANDEIRAS VERMELHAS’

Por outro lado, as “bandeiras vermelhas” ou sinais de alarme também são muito visíveis.

Esses poderiam ser pensados como o contraponto aos bons indicadores (já mencionados) que geram um vínculo saudável. Geralmente são aspectos negativos que se repetem constantemente e dão origem a padrões de comportamento difíceis de mudar. Alguns perguntas ajudam a avaliar se a relação não está totalmente saudável: existem situações de desrespeito? Há dependência do parceiro de alguma forma (emocional/econômica)? Essa relação gera danos ou emoções negativas?

OUTROS OLHARES

EXPLANTE – LIBERDADE OU OPRESSÃO?

Retirada de próteses de silicone se torna centro do debate sobre surgimento de novo padrão de beleza e especialistas chamam a atenção para banalização da cirurgia plástica

A história nos mostra que o conceito de beleza segue padrões que não duram por muitas gerações. Quilinhos a mais ou a menos, silhuetas ora curvilíneas, ora esguias, do bumbum volumoso ao busto na proporção inversa. Nos últimos anos, o explante de silicone nos seios parece ter se tornado a bola da vez entre famosas (como Giovanna Antonelli, Carolina Dieckmann e Fiorella Mattheis), com a justificativa de evitar e interromper problemas de saúde relacionados ao material e desconstruir a imposição do que é belo às mulheres. O debate que é aquecido nas redes, no entanto, segue – um viés que trata esse movimento não como redenção, mas rendição a um novo tipo estético visto como ideal que emerge em cena.

Mayra Cardoso, advogada que pesquisa sobre gênero, analisa que a moda do explante de silicone é resultado do culto à magreza extrema, biotipo ditado pelas supermodelos nos anos 1990 e 2000. “Tirar o silicone, nesse caso, faz parte de uma tendência que tem perspectiva de oprimir os corpos femininos de objetificá-los”, observa. “É a manutenção de um ciclo que sempre submete a mulher à insatisfação sobre o seu próprio corpo. Ela, agora, tem um peito. Mas peito já não está mais sendo tão bem visto pela sociedade, porque o hit do momento é estar magra e, portanto, ter o colo menor.”

Símbolo de beleza da última década com seu tipo físico “corpulento”, Kim Kardashian se tornou a personificação da transição de padrões. Durante aparição no badalado programa norte-americano “The late show com James Corden”, há dois meses, a socialite surpreendeu fãs ao surgir magérrima esbanjando um busto bem menos volumoso.

O volume “excessivo” dos seios foi o principal motivo que fez Denize Bazzei, de 24 anos, optar pelo explante em fevereiro deste ano – 23 meses após colocar as próteses. Apesar de afirmar ter tomado essa decisão pensando primeiramente em seu bem-estar, ela, que trabalha como gerente de um restaurante em Londres, no Reino Unido, entende que seu tipo físico se tornou o mais atrativo aos olhos da sociedade. “Fui influenciada a colocar o silicone para atender a um padrão de beleza que valorizavam mulheres com seios maiores. Depois de um tempo, passei a ficar incomodada, não me reconhecia, e as pessoas miravam o olhar muito mais para os meus seios do que para o meu rosto”, diz. “Optei por me sentir melhor comigo mesma. Mas, sim, noto que agora o meu biotipo, magra, com peito pequeno, está sendo visto como o bonito”, declara.

Doutora em Comunicação e pesquisadora de socialização feminina, Maria Carolina Medeiros afirma que “é importante haver um movimento de contracorrente ao silicone”, mas pondera sobre o que chama de banalização da cirurgia plástica. “Consciência e motivação são as chaves para compreender a questão do explante. Agora, me preocupa o procedimento se tornar algo tão banal a ponto de a mulher colocar e tirar o silicone sem demandar tanta informação, porque no Brasil, principalmente, existe essa característica”, avalia.

O implante de silicone está em segundo lugar no ranking de cirurgias plásticas feitas no Brasil, só atrás da lipoaspiração. No entanto, as operações para a retirada de próteses quase dobraram entre 2015 e 2021, passando de 12.705 para 25.475 intervenções, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética(ISAPS). Saúde ainda é o principal motivo apontado pelas usuárias que optam pelo explante, levando em consideração sintomas como enxaqueca, problema de visão, dores nas mamas e no corpo.

A cirurgiã plástica Sabrina Mêne afirma perceber um movimento ascendente de pacientes que desejam ter o colo mais magro e assumir o biotipo de seios menores. “De fato, há essa tendência. As mulheres tem priorizado mais o estilo Victoria Beckham do que Pamela Andersonn, compara. O também cirurgião plástico Antônio Pitanguy, por sua vez, chama a atenção para as intercorrências da operação. “Qualquer cirurgia tem risco. A paciente precisa estar com os exames todos em dia, a operação tem de ser feita no hospital, com uma equipe apta e responsável”, orienta “É importante controlar a impulsividade, porque haverá consequências. Mesmo sem complicações, uma cirurgia não pode ser feita de maneira banal. É um corpo não é moda para ser trocado a cada estação.”

GESTÃO E CARREIRA

FALTA O BÁSICO

Empresas têm dificuldade de contratar até para posições de menor qualificação

Apesar do desemprego ainda alto no país, as empresas estão enfrentando dificuldades para preencher até mesmo vagas que demandam menor qualificação, que são geralmente as portas de entrada dos jovens no mercado de trabalho. É uma contra dição que se aprofundou após a pandemia com a combinação de perda no aprendizado escolar, principalmente no ensino médio, e a menor chance de ganhar competências com experiências profissionais.

Sem formação e experiência adequadas, os candidatos chegam às seleções com agravantes, apontam os recrutadores. A falta de interação social limitou o desenvolvimento de habilidades de relacionamento, o que dificulta a atuação em serviços de atendimento ao público, por exemplo. E muita gente tem limitações de lidar com dispositivos tecnológicos, cada vez mais presentes em negócios de todos os tipos.

Dessa forma, apesar dos muitos currículos e filas nas portas das seleções, comércio e serviços em geral, como restaurantes, hotéis e supermercados, têm mais dificuldades para contratar e experimentam alta rotatividade. Já empresas de eventos não conseguem encontrar jovens profissionais para receber convidados. No terceiro trimestre, a taxa de desemprego ficou em 8,7% no país. Na faixa etária de 18 a 24 anos, alcançou 18%. Entre os que têm ensino médio incompleto, foi de 15,3%.

100 DIAS PARA SELECIONAR

Para o economista Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco e professor associado da Fundação Dom Cabral, é esperado que essa geração entrando no mercado de trabalho agora, e desde 2021, tenha dois agravantes na assimetria entre a formação e o que esperam as empresas:

“O primeiro é (um prejuízo) cognitivo, e passa pelas disciplinas, pelo ensino. A aprendizagem ficou ainda aquém daquilo que a gente tinha. O segundo, que se sobrepõe e agrava o primeiro, é a redução da interação desses jovens com seus pares e professores. Isso fragilizou ainda mais a capacidade de serem formados para entrarem no mercado de trabalho, inclusive em competências comportamentais.

A Gupy, plataforma de recrutamento via inteligência artificial, recebe dez milhões de aplicações para vagas de trabalho por mês. No mesmo período, gera 70 mil contratações. Dez mil vagas, porém, permanecem abertas, por falta de pessoas qualificadas, mesmo com o grande contingente em busca de uma chance. Há postos que levam mais de cem dias para serem preenchidos, como os de operadores de produção e de máquinas ou consultores de qualidade.

Guilherme Dias, cofundador da Gupy, lembra que pesa nessa situação uma transformação no perfil de pessoas buscado pelo mercado de trabalho em todas as faixas de qualificação:

“Não faltam pessoas, faltam as habilidades técnicas e emocionais. O vendedor que o mercado quer não é o mesmo de antes. Ele tem de saber analisar dados, ser versátil, interagir, dialogar. As companhias exigem requisitos que temos menos em nosso mercado. É uma questão global, mas aqui é pior.”

Márcio Delgado, gerente-geral do Hotel Nacional, na Zona Sul do Rio, não tem dúvidas ao afirmar que “há uma escassez geral de mão de obra”, incluindo as vagas que exigem menor qualificação, mesmo diante das estatísticas de desemprego. Antes da pandemia, conseguia preencher vagas como as de garçom e camareira em uma semana. Agora, a média subiu para três, sendo que, às vezes, as vagas ficam em aberto por mais tempo.

SOLUÇÃO É TREINAR

O número de frequentadores do empreendimento triplicou este ano em comparação com 2021, mas a ampliação do quadro é mais lenta. Subiu de 150 para 213 empregados, e Delgado segue  contratando.

“É difícil conseguir pessoas para alguns cargos, principalmente cozinheiro e garçom. Então, abrimos mão da experiência para contratar porque precisamos dessas pessoas para ajudar nos atendimentos. Depois, treinamos continuamente. Quem tem mais experiência atua como tutor dos novos”, conta.

É o que acontece com Fabiana Fontenele, 29 anos, há seis meses contratada como camareira pelo Hotel Nacional.

“Parei de trabalhar na pandemia, após mais de seis anos em outra rede hoteleira. Essa experiência facilitou meu retorno, agora ajudo outros mais novos”, diz ela.

EU ACHO …

PEQUENO BREVIÁRIO DO DESEJO

Como pernas poderiam ser tão essenciais no mundo?

Encantadoras. O que elas pensam? Quando moleques, assistindo-as pular corda, o sonho era que o vento levantasse suas saias e pudéssemos contemplar o segredo das suas calcinhas. Desde cedo, o lento caminho da maturidade estaria marcado pela descoberta que muito do mistério da vida residia entre as pernas das mulheres.

Suas conversas. Tanta conversa, tudo parecia interessante quando comparado a nossa maior vocação ao silêncio. Como ficavam lindas de uniforme escolar. Seus cadernos coloridos, arrumadinhos – poder carregá-los era uma forma de eleição.

A vergonha de olhar no olho delas. De trair o medo da recusa. Um “não” público seria um trauma a resolver na solidão dos intervalos de aula. A inveja do colega que sabia falar com elas sem medo. Que as fazia rir. Logo, descobriríamos que fazê-las rir era uma chave para o sucesso. Antes que o mundo fosse arrastado pelas angústias dos ganhos materiais como suspeita de condição necessária para a sedução, fazê-las rir era, seguramente, o caminho para seus corações.

As brigas entre nós moleques, como forma de galinhos se mostrarem. A vontade ruidosa de que capturássemos um olhar escondido delas em nossa direção.

À medida que os anos se passavam, toda essa dança tomou, cada vez mais, a forma de arte. Demorava um tempo para que um moleque deixasse de ser um orangotango e conseguisse articular duas palavras diante de uma colega linda sem gaguejar.

Agora a coisa ficaria mais séria. Chegava o momento em que elas queriam ser beijadas, mas escolhiam a dedo o felizardo que receberia o troféu. E, ainda que existam muitas teorias sobre como funciona o desejo feminino, fato é que ser escolhido por uma delas sempre pareceu um tanto obra da contingência.

Com o passar do tempo, quase tudo parecia ser devorado por essa dança que as meninas executavam. Seus desejos, modo de falar e de agir como centro das nossas expectativas. A descoberta do que a palavra “gostosa” queria dizer era como a descoberta de todo um continente.

De fato, tínhamos vontade de pôr a boca nelas, seja onde fosse. Parecia haver um gosto delicioso e incógnito a ser descoberto. Por isso tantas músicas eram dedicadas ao que chamavam de amor.

Mas o grande desafio era quando as festas aconteciam, porque elas se preparavam como se aquela noite fosse a primeira noite do mundo, ou a última. Qualquer erro de abordagem poderia determinar sua humilhação. A festa estaria acabada para você, a menos que alguma outra mais generosa levasse em conta sua miséria e mau jeito na lida com esses seres, que, naquela época, pareciam ser o centro do mundo.

Cheirosas. Quando começavam a usar batom, então, atingiam o grau máximo de letalidade para os mais fracos, ou mais apaixonados.

Suas pernas. Como pernas poderiam ser tão essenciais no mundo? Mas eram. Seus seios. Misteriosamente, pareciam nos pedir beijos. Mas todo e qualquer beijo seria fruto de algum tipo de competência no modo de aproximação. Uma arte: estudar seus gestos, o modo de mexer no cabelo, de como olhar obliquamente para o mundo a sua volta. O mundo estava dividido entre aqueles que dominavam essa arte e os que permaneciam no mundo dos incapazes.

Hoje todo esse mundo passou a ser domínio de camadas hermenêuticas superpostas. Essa palavra difícil, técnica, figura o terreno pantanoso em que esse mundo, aparentemente ingênuo e espontâneo, se tornou. São muitas as camadas interpretativas – portanto, hermenêuticas – que tomaram de assalto esse território do desejo entre meninos e meninas.

A percepção da fragilidade feminina e o desejo de cuidar delas passou a ser signo do pequeno patriarcado instalado ali nos hormônios do futuro predador sexual tóxico que seria esse menino. Se antes ele enxergava encanto ali, agora enxergava risco de algum tipo de comportamento suspeito de sua parte.

A partir do momento em que todo esse universo passou a ser lido pela chave das teorias da opressão entre os sexos, fundou-se um outro universo, no qual a indiferença passou a ser um modo de sobrevivência.

LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de ‘notas sobre a esperança e o desespero’ e ‘Política no Cotidiano’. É doutor em filosofia pela USP

ESTAR BEM

CONSELHO DE MEDICINA PODE REVER CRITÉRIOS PARA INDICAR CIRURGIA BARIÁTRICA

Novas diretrizes propostas por entidade internacional ampliam critérios de indicação do procedimento para pacientes com IMC a partir de 30

O Conselho Federal de Medicina (CFM) estuda alterações nas regras de indicação de cirurgia bariátrica, a operação para perda de peso. Propostas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, as novas diretrizes ampliam os critérios de indicação do procedimento para pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) a partir de 30 – considerado o limite inicial da obesidade.

As novas diretrizes foram adotadas em outubro pela Federação Internacional para a Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO), que representa 72 associações e sociedades nacionais em todo o mundo, e pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica. Mas a mudança divide opiniões entre os médicos.

Especialistas que defendem a alteração argumentam que a cirurgia é o tratamento mais eficaz contra a obesidade e a síndrome metabólica. Dizem também que a tecnologia envolvida na intervenção avançou, enquanto os riscos caíram muito. Além disso, apontam que a operação previne outras complicações em médio e longo prazo

Já especialistas contrários à mudança dizem que redução de risco não é risco zero; argumentam que há uma nova geração de medicamentos muito eficazes e lembram que, hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a rede privada não dão conta nem sequer de operar todas as pessoas com IMC acima de 40, os obesos mórbidos. Então, questionam, por que ampliar os critérios se já não conseguimos tratar os casos mais graves? Atualmente, as cirurgias bariátricas só podem ser feitas em pacientes com IMC de 30 a 34 e apenas se todos os demais tratamentos disponíveis falharem. É recomendada para pessoas com IMC acima de 35, desde que apresentem doenças associadas ao excesso de peso como a diabete tipo 2, hipertensão, apneia do sono, esteatose hepática (gordura no fígado), entre outras. Já os pacientes com IMC acima de 40 podem ser operados mesmo que não tenham doenças relacionadas.

“O consenso sobre cirurgia bariátrica de 1991 foi fundamental, mas após 30 anos e centenas de estudos publicados de alta qualidade, incluindo ensaios clínicos randomizados, não reflete mais as melhores práticas, especialmente com a evolução das tecnologias e avanço da obesidade”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Fábio Viegas.

Dados mais recentes da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, indicam que 20% da população brasileira é obesa e pouco mais da metade tem sobrepeso. E esses números têm aumentado, sobretudo após a pandemia da covid-19. Um estudo americano recente, o Diet & Health Under Covid-19, apontou que os brasileiros foram os que mais ganharam peso na pandemia. Por aqui, 52% dos entrevistados disseram ter engordado 6,5 quilos, em média.

FILA

Paralelamente ao aumento da obesidade, houve também queda no número de cirurgias bariátricas no Brasil. Por causa da suspensão dos procedimentos, muitos Estados viram as filas de espera aumentarem.

Nos últimos cinco anos, foram 311.850 mil cirurgias bariátricas no País. Dessas, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), 252.929 foram feitas por meio de planos, 14.850 de forma particular e 44.093 pelo SUS. Para especialistas, os números são a ponta de um iceberg. Estima-se que apenas 1% dos obesos façam a cirurgia. “Há cerca de 600 milhões de obesos no mundo e são feitas aproximadamente 600 mil cirurgias bariátricas. Ou seja, apenas um em cada mil tem acesso ao procedimento. Não conseguimos atender os que realmente precisam e vamos ampliar os critérios? Para quê? Do ponto de vista da saúde pública isso é um absurdo”, diz Bruno Geloneze, do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp.

Além disso, segundo ele, há toda uma nova linha de remédios chegando ao mercado que são capazes de reduzir de 18% a 23% do peso, o que poderia atender bem pessoas com IMC de 30 a 34. “O tratamento mais eficaz e potente contra a obesidade é a cirurgia. É também o único tratamento que provoca mortes”, afirma o especialista da Unicamp. “Ou seja, devo reservá-lo para as formas mais agressivas da doença, que são aquelas em que o paciente tem o IMC acima de 40.”

A obesidade é considerada a doença que mais mata no mundo. É fator de risco para outras 25 doenças, a principal causa do câncer de mama e responsável por outros 13 tipos de câncer. As doenças relacionadas à obesidade são responsáveis por mais de 4,7 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano, metade das quais ocorrem entre pessoas com menos de 70 anos. “Você se lembra de já ter visto algum obeso mórbido velhinho andando pela rua? Não, né? Sabe por quê? Porque 70% deles morrem muito cedo, antes dos 50 anos”, diz Fábio Viegas. “Não é uma questão de ampliar os critérios para ganhar mais dinheiro, mas para salvar vidas.”

Coordenador do Serviço de Obesidade da Uerj, Luiz Guilherme Kraemer de Aguiar concorda com o colega. “A obesidade é uma doença pouco reconhecida por outros profissionais de saúde, que tendem a apenas mandar o paciente fazer dieta e exercício. Sabemos que as coisas não funcionam assim para a maioria”, admite.

PRÓXIMOS PASSOS

Após a deliberação pelo CFM, os novos parâmetros ainda precisam ser debatidos, posteriormente, pelo Ministério da Saúde e pela ANS. Os órgãos devem avaliar se eles serão incorporados ao SUS e aos planos de saúde.

“Precisamos agora conseguir colocar isso (a ampliação dos critérios) no rol da ANS”, defende o médico Fernando de Barros, do serviço de cirurgia bariátrica do Hospital São Francisco na Providência de Deus, que atende pacientes do SUS. “Os planos deveriam entender que em médio e longo prazo é mais barato para eles ampliarem os critérios para cirurgia. A obesidade é a maior responsável por casos de amputação, diálise, transplante de fígado, enfarte, AVC, trombose, todos esses problemas muito comuns que demandam procedimentos caros e internações prolongadas”, continua. “As pessoas acham que o obeso é um gordo safado e preguiçoso, que precisa fechar a boca e ir à academia. Há muito preconceito e uma visão muito errada dessa população.”

Antônio Oscar Constantino Ferreira, de 52 anos, fez a cirurgia há três meses, quando pesava 140 quilos. Desses, já perdeu 40. Ainda está muito acima do peso para seu 1,70 metro de altura, mas muitos dos problemas de saúde já começam a regredir. “A diabete não existe mais, estou conseguindo me locomover melhor, sinto menos cansaço e não tenho mais dores nos pés e nos joelhos”, conta. “Já tinha tentado fazer dieta várias vezes, mas é muito difícil, nunca dava certo. Desinchava, perdia líquido, mas não conseguia perder muito peso. Ficava aquele efeito sanfona.”

Vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Síndrome Metabólica e Obesidade (Abeso), Fábio Trujilho diz que a entidade ainda não fechou posição oficial sobre o tema. Ele acredita que, na prática, as alterações não terão um impacto muito grande. “No caso das pessoas com IMC acima de 35, as comorbidades previstas hoje para permitir a cirurgia são tantas, são mais de cem, que, na prática, não vai fazer diferença”, afirma. “No caso de IMC de 30 a 35 já é um procedimento previsto também.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

COMPULSÃO ALIMENTAR

Segundo a OMS, Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) afeta 4,7% da população brasileira

Comer compulsivamente e pensar em comida o tempo todo são sintomas do Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAPJ – problema que afeta 4,7% da população brasileira, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O distúrbio, que atinge especialmente mulheres jovens, é caracterizado por uma necessidade incontrolável de consumir uma grande quantidade de alimentos em um curto espaço de tempo. Essa ingestão ocorre mesmo sem a presença de fome ou necessidade física do alimento. Além disso, o problema pode ser associado ao hábito de comer escondido, mesmo quando há ausência de fome, ou comer excessivamente e sentir culpa após a alimentação.

Sérgio Pistarino, médico especialista em compulsão alimentar, da Clínica High Five Health, em Sorocaba explica que geralmente as pessoas confundem o termo “gula”  com compulsão. “‘Pode acontecer de, em alguns momentos, existirem exageros alimentares de forma descontrolada, mas que por si só não apresentam um diagnóstico. É comum exagerar em ocasiões especiais, como uma noite de churrasco ou de pizza com amigos, porém são situações pontuais”, destaca.

Segundo o médico, geralmente os quadros de transtornos compulsivos estão relacionados à repercussão emocional e acabam tendo a comida como válvula de escape.

“Para ser caracterizado como compulsão, tem que ter uma frequência de três a quatro episódios por mês. Isso pode acontecer em um estado de ansiedade, depressão, ou síndrome de burnout”, diz.

“O diagnóstico é feito por um médico especialista, pois cada paciente tem um perfil e uma rotina diferente.”

As estratégias alimentares são um complemento e os tratamentos devem ser analisados por uma equipe médica multidisciplinar, com a colaboração de psiquiatras, psicólogos e nutricionistas”, explica.

SINTOMAS

QUANTIDADE DE COMIDA

Observe a quantidade de comida que você coloca no prato

DESCONTROLE

Observe o que você está comendo e avalie se tem uma briga interna com o que deve ou não comer.

CULPA

Observe se existe sentimento de culpa por comer de forma exagerada

OUTROS OLHARES

REFÉNS NA PRÓPRIA CASA

Crescem no Rio casos de sequestro e cárcere privado de mulheres e crianças

Edna Alves Rodrigues, de 40 anos, viveu trancada com dois filhos por longos 17 anos em uma casa de quatro cômodos, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. No dia 29 de julho, os três foram libertados após denúncia. O local onde estavam foi descrito pela polícia como um ambiente escuro e multo sujo, com poucos móveis e um único eletrodoméstico: uma geladeira. Três meses depois, foi a vez de outra mulher, de 48 anos, e suas duas filhas. As três foram resgatadas de uma casa na cidade de Valença, no interior do estado, onde, há 22 anos, eram mantidas aprisionadas pelo chefe da família. São duas histórias impressionantes, mas menos incomuns do que pode parecer: de janeiro de 2017 a junho de 2022 foram registrados 3.158 casos de sequestro e cárcere privado no Estado do Rio, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Em 1.223 desses casos, o autor tinha relacionamento amoroso com a vítima, que, em 94% dos registros, era mulher.

‘ANSIEDADE E DEPRESSÃO’

O número de ocorrências em que o parceiro é o agressor foi 7% maior no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2021. De acordo com o levantamento, mulheres na faixa de 20 a 40 anos (61,89%) são a maioria das vítimas, mas há também 115 menores de idade, entre os quais 38 crianças de até 11 anos. A ocupação mais informada aos policiais foi “do lar”, seguida por “estudante”.

“ A vulnerabilidade econômica e o isolamento são fatores que facilitam a ação do agressor. O fato de não ter uma renda deixa a mulher numa situação de grande dependência. Da mesma forma, por não ter contatos no trabalho ou em outras atividades, fica mais difícil alguém notar a ausência daquela pessoa no convívio diário”, diz a delegada Mônica Areal, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Nova Iguaçu.

Cláudia Regina Aguiar Bentes, de 48 anos, é moradora de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Por oito anos ela foi obrigada a viver sob vigilância implacável em uma rotina que classifica como de “perseguição e tortura psicológica”. Suas ligações telefônicas e trocas de mensagem eram monitoradas, seus passos vigiados de perto pelo companheiro. Em carta escrita de próprio punho e enviada por parentes à Polícia Civil, em julho de 2020, Cláudia pediu socorro: ”Não tenho como sair, estou sendo completamente torturada e passando por constrangimentos horríveis”, escreveu. Libertada, a mulher deixou para trás o tempo de medo e violência.

“ Minha vida mudou muito. Sou outra pessoa, renasci de verdade. Ainda tenho que me tratar de síndrome do pânico, ansiedade e depressão, mas hoje as coisas estão muito melhores. O que vivi foi um verdadeiro inferno. Antes não podia passar batom, nem pintar as unhas. Ele não me deixava nem levar o lixo na lixeira do condomínio”, lembra Cláudia, que há um ano e dois meses encontrou um novo companheiro com quem afirma viver um relacionamento saudável. O ex­ companheiro está em liberdade, mas, por conta de uma medida protetiva, não pode se aproximar dela.

Em maio deste ano, um homem foi preso pelos crimes de cárcere privado, além de tentativa de feminicídio, estupro e tortura, contra a namorada. Os delitos teriam acontecido no apartamento dele, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, Zona Sul do Rio. A vítima foi a jornalista Luka Dias, de 37 anos, que estava num relacionamento de oito meses com o agressor. Nesse período, o rapaz demonstrou perfil violento e manipulador. Primeiro vieram as acusações de infidelidade e em seguida os episódios de violência, que incluíram golpes de cassetete na cabeça e em outras partes do corpo. As imagens do rosto da mulher após a agressão chocaram. Ela tentava sair do apartamento mas era impedida pelo companheiro.

“A principal motivação é o ciúme, o controle sobre a vítima. Com o cárcere privado geralmente estão outros crimes, como violência doméstica, ameaça, lesão corporal e violência psicológica. As vítimas sempre relatam que eles batem nelas e as ameaçam, o temor é grande porque elas não veem como fugir”, disse a de legada Márcia Noeli Barreto, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) do centro do Rio.

Outro fator que pesa, tanto no comportamento do agressor quanto no da vítima, é cultural. Os homens aprendem muito cedo que supostamente têm uma condição de superioridade em relação às mulheres, e algumas mulheres assumem uma posição de submissão.

“Multas dessas mulheres viveram em situação de abandono, privação emocional, ficaram desamparadas, tiveram cuidadores hostis. O ambiente familiar onde essas mulheres se desenvolvem comumente é um ambiente abusivo fisicamente, sexualmente, psicologicamente, com ameaças de explosão de raiva e de violência. Isso as leva a entrar nessas emboscadas. Como se fosse uma forma de amor, o homem vai inibindo a mulher até assumir o controle. Ele reclama da cor do batom, do tamanho da roupa, daqui a pouco fala que os amigos não são legais, reclama das pessoas da família…” explica Elaine Chagas, psicóloga e sócia-diretora do Instituto de Ensino, Pesquisa e Atendimento em Saúde Mental. “Com isso, a mulher acaba abrindo mão de si para agradá-lo e manter o relacionamento.”

O Código Penal Brasileiro prevê pena de um a três anos para o crime de sequestro e cárcere privado – não confundir com extorsão mediante sequestro, que é quando o agressor exige resgate para libertar a vítima. Se houver grau de parentesco ou relacionamento entre o agressor e a vítima, a pena passa, a ser de dois a cinco anos de reclusão. O mesmo vale para casos em que o crime e praticado contra menor; quando a privação da liberdade dura mais de 15 dias ou se o crime for praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital. Quando a vítima sofre maus-tratos que levem à ”grave sofrimento físico ou moral”, a pena pode ser de dois a oito anos de reclusão.

UM GRITO DE LIBERDADE

Para quem passa pela experiência de ser mantida em cárcere privado, a vontade é de ajudar outras vítimas.

“Mulheres devem ser respeitadas e amadas. A partir do momento que falta respeito e amor, isso deve ser denunciado. Se nos unirmos, seremos mais fortes nessa luta. Mexeu com uma, mexeu com todas”,  disse Luka Dias.

“Antes eu tinha medo de me expor, mas agora estou tão liberta que quero falar e fazer com que a mulherada acorde, tem muitas mulheres sofrendo caladas. Eu quero gritar um grita de liberdade!”, empolga-se Cláudia Bentes.

Em caso de suspeita de cárcere privado, o primeiro passo para denunciar é procurar uma delegacia ou a ouvidoria do Ministério Público pelos telefones 127 (ligação gratuita dentro do Estado do Rio) ou (21) 3883 – 4600 (demais localidades). Outra opção é o WhatsApp do Ministério Público do Rio: (21) 99366-3100.

GESTÃO E CARREIRA

QUAIS SÃO AS HABILIDADES MAIS PROCURADAS PELAS EMPRESAS?

Atualmente, com a globalização e o avanço da tecnologia, as habilidades exigidas no mercado de trabalho mudaram.

De acordo com um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, nos próximos cinco anos 75% das habilidades que serão necessárias diferirão daquelas que são necessárias atualmente.

As habilidades mais solicitadas no futuro serão aquelas relacionadas com criatividade, pensamento crítico e resolução de problemas. Da mesma forma, serão necessárias habilidades digitais e de comunicação. Os trabalhos que desaparecerão são aqueles que podem ser automatizados, tais como trabalhos manuais repetitivos.

Por isso o portal de emprego Jobatus realizou um estudo online através de um inquérito aos seus usuários, determinando dez habilidades chave para encontrar emprego num futuro. Confira:

COMUNICAÇÃO

A habilidade de se comunicar eficazmente é uma das mais importantes soft skills que uma pessoa pode ter. A habilidade de se comunicar de forma clara, concisa e eficaz é essencial para o sucesso em qualquer carreira.

HABILIDADES INTERPESSOAIS

As habilidades interpessoais também são muito importantes para o sucesso em qualquer carreira. As habilidades interpessoais incluem a habilidade de trabalhar em equipe, a habilidade de resolver conflitos e a habilidade de interagir efetivamente com os outros.

LIDERANÇA

A liderança é outra das habilidades transversais mais importantes. Liderança não é somente a habilidade de liderar outros, mas também a habilidade de motivar, inspirar e trabalhar em equipe.

TOMADA DE DECISÕES

A capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes é essencial para o sucesso em qualquer carreira. A capacidade de avaliar situações e tomar decisões em conformidade é a chave para o sucesso a longo prazo.

FLEXIBILIDADE

A flexibilidade também é muito importante para o sucesso em qualquer carreira. A capacidade de adaptar-se às mudanças e ser flexível em um ambiente de trabalho em mudança é essencial para o sucesso a longo prazo.

CRIATIVIDADE

A criatividade também é uma habilidade suave muito importante. A capacidade de pensar fora da caixa e encontrar soluções criativas para os problemas é inestimável para qualquer empregador.

PENSAMENTO CRÍTICO

A capacidade de analisar e avaliar criticamente as informações é também muito importante para o sucesso em qualquer carreira. A capacidade de pensar criticamente e tomar decisões baseadas na análise de dados é essencial para o sucesso a longo prazo.

HABILIDADES ORGANIZACIONAIS

As habilidades organizacionais também são muito importantes para o sucesso em qualquer carreira. A capacidade de organizar tempo e espaço eficazmente é essencial para O SUCESSO A LONGO PRAZO.

HABILIDADES DE PLANEJAMENTO

A capacidade de planejar e executar projetos com eficácia também é muito importante para o sucesso em qualquer carreira. A habilidade de planejar tempo e recursos eficazmente é essencial para o sucesso a longo prazo.

HABILIDADES PARA PROBLEMAS

A capacidade de identificar e resolver problemas eficazmente é também muito importante para o sucesso em qualquer carreira. A habilidade de identificar problemas e encontrar soluções criativas é essencial para o sucesso a longo prazo.

Para obter as seguintes conclusões, a equipe do portal de empregos Jobatus realizou uma pesquisa (CAWI) que foi enviada a 4500 empresas registradas em seu site.

A taxa de resposta foi de 78%, ou seja, a pesquisa foi respondida por 3510 empresas.

Ao realizar uma pesquisa online, o portal de empregos Jobatus conseguiu coletar uma grande quantidade de dados de forma rápida e eficaz. A pesquisa foi realizada durante o mês de setembro e outubro de 2022.

FONTE E OUTRAS INFORMAÇÕES, ACESSE: (https://www.jobatus.com.br/).

EU ACHO …

A FRAGILIDADE NOSSA DE CADA DIA

Foi-se o tempo que falar em saúde mental era tabu. Hoje ela se tornou uma discussão que deve extrapolar o ambiente familiar e chegar às empresas.

A pauta de saúde emocional nos espaços corporativos não é nova, é um processo que vem antes da pandemia, mas que foi acelerado em decorrência dela. Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já discutia saúde mental no trabalho como tema principal no Dia Mundial da Saúde Mental, em 10 de outubro. Em 2022, o órgão incluiu a síndrome de burnout na lista de doenças ligadas ao trabalho.

Com o início dos casos do Covid e lockdowns, as fragilidades de muitos de nós ficaram mais expostas e as instituições ganharam a oportunidade de desmistificar o tema e estar mais próximo dos colaboradores, ajudando-os a superar este momento e oferecendo artifícios para nutrir sua segurança emocional.

O trabalho tem uma grande proporção de horas na vida das pessoas e pode ser um dos pontos de vulnerabilidade dentro de todo um contexto do dia a dia dos funcionários. Para entendê-los de uma forma mais aprofundada e auxiliá-los, é preciso estar atendo a toda jornada deles na empresa, do processo seletivo ao desligamento. Uma prática que vai além do employer branding e pode auxiliar a identificar condutas que podem ser desenvolvidas.

Um dos bons caminhos é promover segurança psicológica para que os colaboradores se sintam confortáveis em aprender, errar, contribuir e desafiar-se em busca dos maiores resultados. Os gestores podem usar comunicação empática, estimular a cooperação, abrir espaço para escuta e feedbacks.

Além de normalizar discussões sobre saúde mental e criar um ambiente de confiança, é interessante oferecer benefícios corporativos que promovam a qualidade de vida, como serviços de atendimento psicológico, e flexibilidade de horários e locais de trabalho para que as rotinas sejam adaptadas da melhor forma.

Uma pesquisa Talkspace’s Employee Stress Check, feita em abril por uma consultoria de saúde mental, apontou que 57% dos entrevistados têm mais probabilidade de permanecer em um emprego que ofereça serviços de saúde mental. Esse é um processo que pode ser feito em etapas.

Para a Stefanini, por exemplo, ele iniciou com soluções e atendimentos feitos pelos especialistas da própria multinacional. Com o tempo e análise do cenário interno, um parceiro foi trazido para dar suporte aos colaboradores – que posteriormente foi estendido para os dependentes. A partir das experiências e realidade da própria instituição, cada empresa irá construir sua trilha.

Usar rankings e projetos de outras companhias como base pode não gerar os resultados necessários por não es- tarem pautados nas vivências internas. As lideranças também têm um papel importante. Experiências positivas no trabalho podem reverberar no desempenho interno, gerar confiança e retenção de quadro.

Um bom líder precisa encontrar um equilíbrio entre hard skills e soft skills, somando a entrega de resultados com um interesse genuíno pelas pessoas para ajudá-las quando preciso. Isso manterá o time saudável e engajado com a jornada da empresa. Cabe às instituições estarem prontas para lidar com um mundo mais dinâmico, cheio de desafios e valorizarem o capital humano da melhor forma possível.

RODRIGO PÁDUA  – É VP Global de Gente e Cultura da Stefanini.

ESTAR BEM

CEIA É ARMADILHA PARA QUEM ENFRENTA PROBLEMA DIGESTIVO

Comilança de fim de ano agrava sintomas; especialistas dão dicas para evitá-los

Harrison Kefford está finalmente ansioso pelas festas de fim de ano. Depois de ter seu cólon removido em fevereiro, ele mal pode esperar para comer o pudim de sua avó e encher o prato com todas as delícias das ceias de fim de ano.

Kefford, 28, entregador de pizzas e influenciador no TikTok, mora em Melbourne, na Austrália e tem a doença de Crohn, condição que muitas vezes lhe causava fortes dores intestinais, náuseas e perda de apetite durante dias a fio. Ele é uma das mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo diagnosticadas com doença inflamatória intestinal (DII), que inclui doença de Crohn e colite ulcerativa.

Cerca de 11% da população global enfrenta uma condição gastrointestinal de definição mais ampla, chamada síndrome do intestino irritável (SII), que tem uma ampla gama de causas e inclui sintomas como gases, inchaço, constipação e diarreia.

SII e DII são doenças distintas com tratamentos distintos, mas os desafios diários podem ser semelhantes. Alimentos processados ou com alto teor de gordura – e, entre outras coisas, nozes, laticínios e bebidas alcoólicas frequentemente servidas nas festas – são gatilhos comuns para ambas as condições.

Antes de Kefford passar por uma colostomia, as festas eram cheias de armadilhas. Um ano, ele se lembra de ter tomado esteroides para ajudar a aliviar os sintomas antes do jantar de Natal com sua família. Tudo parecia ir bem até que acordou às 3h com dor de estômago. Ele acabou internado no hospital por sete dias.

Sneha Dave, 24, de Greenfield, nos EUA, foi diagnosticada com colite ulcerosa quando tinha seis anos e vive com uma bolsa interna que permite que as fezes passem pelo intestino delgado.

Dave, que fundou uma organização dedicada a jovens com doenças crônicas, chamada Generation Patient, está ciente de seus gatilhos culinários, mas quando ela celebra o Diwali com sua família, todo mês de outubro, ainda é tentada por alguns de seus pratos indianos favoritos, aromatizados com especiarias que agravam sua condição.

Ao aproveitar a alegria de estar com a família, uma indulgência “não parece tão séria”, afirma ela. “Até que você esteja sozinho e sofrendo as consequências dessas decisões.”

As condições gastrointestinais podem exigir atenção constante. E embora os planos de festas sejam perturbadores para a maioria – com noitadas, comida à vontade, longas viagens e convívio social intenso -, as consequências costumam ser maiores para pessoas com DII e SII.

Especialistas compartilham estratégias para ajudar a sobreviver às festas.

PREPARE-SE

Muitos pacientes com doenças crônicas apresentam piora dos sintomas durante as férias porque houve uma mudança na rotina, explica a doutora Fola May, gastroenterologista e professora assistente de medicina na Universidade da Califórnia em Los Angeles.

“Novembro e dezembro são as épocas em que tendemos a nos desviar de nossos hábitos, como alimentação saudável e exercícios”, afirma ela. Mesmo viajar pode estar associado a um aumento dos sintomas.

Para começar, May recomenda que os pacientes se certifiquem de viajar com medicação suficiente e saibam como contatar seus médicos, caso seja necessário.

CRIE UM PLANO ANTIESTRESSE

Há evidências de que o estresse pode agravar os sintomas da DII e da SII, segundo May. E as férias estão cheias de fatores estressantes.

Agendar o tempo de inatividade antes e depois de festas ou viagens pode ajudar a evitar possíveis sintomas. May recomenda atividades de atenção plena, como meditação, ioga e massagem com aromaterapia.

RECRUTE AJUDANTES

Shay Habestroh, 25, criadora de conteúdo de Rochester, nos EUA, conta que experimentou surtos de DII nas festas ao tentar participar de todas as atividades familiares. Para combater isso, ela conta ao marido quando não se sente bem, e ele repassa a mensagem para a família.

“É bom porque eles ouvem isso de outra pessoa saudável, então ouvem um pouco melhor”, afirma ela.

Pedir ajuda é uma parte importante para se sentir preparado para as festas, afirma Catalina Lawsin, terapeuta de Los Angeles que dirige grupos de apoio para pessoas com DII e SII.

“Você não precisa contar tudo a eles. Só precisa ter alguém a quem possa recorrer quando precisar de espaço ou de reforço. É identificar alguém em quem você realmente pode confiar.”

ESTEJA ATENTO AOS GATILHOS

Habestroh aprendeu a evitar qualquer coisa com milho e leite, o que pode eliminar muitos pratos festivos. Seus alimentos seguros para o Dia de Ação de Graças, por exemplo, são peru simples, purê de batatas e abóbora.

Beth Morton, 43, de Vermont (EUA), administra sua SII levando seus próprios pratos para as reuniões de fim de ano. Trabalhando com nutricionistas, ela descobriu que alho e cebola são seus maiores gatilhos e aprendeu a cozinhar sem eles. “Encontrei substitutos que acho que têm o mesmo sabor”, afirma.

Estar ciente de seus gatilhos, no entanto, não significa que você sempre será capaz ou estará disposto a evitá-los. Às vezes, entrar no espírito festivo inclui comer algo que cause desconforto.

May sugere que qualquer pessoa que desvie de sua dieta normal o faça com moderação e saiba que pode resultar em alguns dias difíceis.

CRIE UM ROTEIRO DE JANTAR

Habestroh afirma que evitar certos alimentos pode deixá-la aberta a comentários não solicitados – especialmente nas festas de fim de ano, que giram em torno da comida.

“A atenção é difícil. Todo mundo quer saber de tudo, e você fica quase com vergonha de falar sobre isso.”

Criar uma resposta que você ensaia com antecedência pode aliviar o desconforto, segundo Lawsin.

Morton, que tem SII e às vezes leva suas próprias refeições para reuniões sociais, responde às perguntas dizendo: “Tenho que evitar certos alimentos para controlar os sintomas, então preparei algo diferente”.

Sua família imediata está acostumada com suas substituições, segundo ela, mas às vezes ela ouve perguntas.

SEJA GENTIL CONSIGO MESMO

Mesmo se você aderir à sua dieta e rotina, ainda poderá ter surtos durante as festas. Essa é a natureza da doença crônica. Para combater qualquer vergonha ou desapontamento, Lawsin sugere praticar empatia e bondade.

“Reconheça seu corpo como ele é. Ter compaixão antes, durante e depois é a melhor coisa que você pode fazer.”

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FAMÍLIA QUE COME UNIDA PERMANECE SAUDÁVEL

Refeições compartilhadas reduzem o estresse e melhoram a alimentação

As refeições em família são um hábito cada vez mais difícil de manter na vida moderna. A correria do dia a dia, o excesso de trabalho dos pais e de lição de casa ou atividades extra- curriculares dos filhos fazem com que reunir todos à mesa seja algo feito apenas em ocasiões especiais. Para piorar, até mesmo nestes casos, as pessoas raramente estão totalmente presentes. Há o celular, o tablet, a televisão, entre outras distrações tecnológicas.

Entretanto, um número crescente de estudos confirma a importância das refeições não só para crianças, mas também para os adultos.

Uma pesquisa feita pela American Heart Association (AHA) com mil adultos nos Estados Unidos revelou que fazer refeições regulares em família pode ajudar a diminuir o estresse. Para 91% dos pais, sua família fica menos estressada quando compartilha refeições. Além disso, 65% disseram estar pelo menos um pouco estressados e 27%, muito ou extremamente estressados.

O estresse constante está entre os grandes inimigos da saúde. No longo prazo, há aumento do risco de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.

“O estresse crônico favorece a elevação da pressão arterial, a aceleração da frequência cardíaca e o aumento dos níveis de gorduras e açúcar no sangue, contribuindo para hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, o estresse crônico provoca a excreção de fosfato em níveis fora do padrão, o que prejudica a função renal, além de levar a fraqueza muscular e alterações na composição óssea”, diz a médica Caroline Reigada, especialista em nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A AHA não detalha os mecanismos que explicam essa associação benéfica entre as refeições em família e a redução do estresse, mas estudos anteriores e especialistas afirmam que o principal “culpado” desses benefícios é o fortalecimento da conexão e dos laços familiares que esse momento propicia.

“Quando se fala em reduzir o estresse, geralmente as atividades como meditação, ioga e lazer são lembradas. Mas as refeições, desde o momento do preparo até o momento do consumo alimentar, particularmente se forem compartilhadas com pessoas com laços afetivos, como os familiares, podem reduzir o estresse. O ato de cozinhar e fazer refeições em família pode representar conforto emocional, diversão e ao mesmo tempo leva a uma dieta mais equilibrada, crucial para a saúde mental”, avalia a nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

OUTROS OLHARES

CONSTRANGIMENTOS DIÁRIOS EXPÕEM DESAFIOS DA LUTA CONTRA O RACISMO

O problema é visível nas abordagens policiais, nos comentários sobre o cabelo e cor da pele e em situações cotidianas, quando muitos são vistos de forma ainda subalterna

O que você faria se um policial, aos gritos, apontasse uma arma para você quase em frente à sua casa? Alexandre Marcondes levantou as mãos e perguntou o que acontecia. Segundo o advogado de 45 anos, o PM afirmou que ele estava “em atitude suspeita” por usar máscara contra a covid e por causa de um adolescente que andava na mesma rua do Alto da Lapa, na zona oeste. Os dois estariam planejando assaltar um casal de idosos, segundo o policial. O advogado denunciou atitude racista. A PM nega e afirma que “toda abordagem é realizada com base em critérios objetivos e legais”. Experiências como a de Alexandre ilustram o preconceito velado ou camuflado. Ele não é explícito, como chamar alguém de “macaco”, mas é comum. Está nos comentários sobre o cabelo e a cor da pele, no medo ao cruzar com um homem preto na rua ou quando uma funcionária suspeita que a cliente está furtando uma blusa, como aconteceu em uma loja Renner no Shopping Madureira, no Rio, na semana passada.

O OLHAR

Depois da abordagem, Alexandre sentiu as pernas bambas, sentou na calçada e chorou. Olhou para se certificar de que sua filha, de 6 anos, não tivesse visto a cena da sacada da casa onde moram na região nobre. O episódio, registrado pelas câmeras de TV no dia 2 de outubro, foi denunciado na Ouvidoria da Polícia Militar. A OAB-SP afirmou que enviou um ofício ao comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo e outro ao procurador-geral de Justiça.

Pesquisa qualitativa nacional realizada pelo Instituto Locomotiva no ano passado aponta que 84% das pessoas reconhecem que há racismo no País em relação aos negros, mas apenas 4% se consideram preconceituosos. “O racismo brasileiro não é o pior nem o melhor, mas ele tem suas peculiaridades, entre as quais o silêncio e o não dito, que confunde vítimas e não vítimas”, afirma o antropólogo Kabengele Munanga, da USP.

Para o casal Ana Paula Inácio Pereira e Gilmar Dias Inácio Pereira, o motivo da preocupação também é a frequência das abordagens policiais. Eles têm um Jeep Compass branco na garagem do condomínio localizado no Lausanne, zona norte da cidade. “Para a sociedade, a gente não deveria ter esse carro. Normalmente os outros carros passam e o nosso fica.” O problema não acontece só em São Paulo. A pesquisa “Elemento suspeito: racismo e abordagem policial no Rio de Janeiro”, realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania do Rio de Janeiro (Cesec), mostra que 63% das abordagens na cidade tiveram como alvo pessoas negras em 2021. As abordagens policiais ilustram o racismo velado na opinião de Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Este é um caso exemplar do racismo estrutural no Brasil.”

PATROA

A enfermeira aposentada Renilda Aparecida estava preparando o almoço quando tocou a campainha de sua casa em Tremembé, região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Quando chegou ao portão, a senhora de 68 anos ouviu. “A senhora pode chamar a patroa?”. Cida, como é conhecida, era a dona da casa. “Eu fechei a cara e disse ‘A patroa sou eu’. Nem perguntei o que eles queriam”, conta.

Essa “confusão” acontece também com José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares. Ele conta que dificilmente é recebido como professor nos eventos. Situação semelhante foi vivida pelo ex-ministro da Igualdade Racial, Eloi Araújo. Durante um passeio com a família em Petrópolis (RJ), ele estacionou o carro e ficou esperando o retorno da filha e da mulher. Aí, ele ouviu: “Você pode estacionar meu carro”.

Mulheres negras sofrem ainda com a objetificação do corpo, que gera violência. Destaque da escola de samba Rosas de Ouro, Alessandra Vania conta que seu cabelo virou um símbolo de afirmação. “Os olhares não me diminuem. Quanto mais eles me olham, mais minha autoestima se eleva. Mas é uma afirmação e uma luta a cada dia”, afirma ela.

COMBATE AO PRECONCEITO ENVOLVE INFÂNCIA, TRABALHO, AMIGOS E LEITURAS

Diante do racismo velado, pretos e pretas buscam estratégias pessoais de proteção, como o estagiário de TI Lucas Oliveira, de 21 anos, que não usa capuz ou touca nas compras e sempre vai direto à prateleira onde está o produto desejado. “Se eu ficar circulando pela loja, tenho certeza de que um segurança vai aparecer”, diz o morador da Penha, zona leste. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que sete em cada dez negros já passaram pelo drama dele. Os rituais particulares protegem, mas não atacam frontalmente o problema, alertam especialistas, que destacam alguns pontos contra o racismo velado.

FILHOS

Para Michelle Levy, CEO e cofundadora da consultoria Filhos no Currículo, especializada na criação de políticas parentais, é importante criar filhos com uma visão antirracista desde cedo. “Tratar o assunto com eles, principalmente até os 6 anos”, defende Michelle. Humberto Baltar, do coletivo Pais Pretos Presentes, rede de apoio para educar pessoas pretas, frisa a relevância de criar filhos “na diversidade” e não “para a diversidade”.

ESCOLA

Então, verifique se a escola do seu filho possui temáticas étnico-raciais e de diversidade na grade escolar e na proposta pedagógica, sobretudo sobre a história e a cultura afro-brasileira e africana que não sejam apenas a escravidão. É importante também mostrar pessoas pretas em posição de protagonismo. A Lei 10.639/03, de 2003, torna obrigatório o ensino de “história e cultura afro-brasileira” nas escolas oficiais e particulares.

TRABALHO

Procure conteúdos antirracistas no trabalho. Pesquise se a empresa tem comitê de diversidade e cartilhas de inclusão. Se a posição é de direção, pense na proporção de negros e brancos entre os seus colaboradores.

AMIGOS

Converse com amigos pretos sobre as diferenças na forma com que brancos e pretos são tratados – e compartilhe experiências com os negros, defende Leizer Pereira, CEO da Empodera, que prepara as empresas para inclusão.

DENUNCIE

Denuncie se achar necessário, aconselha ainda Dennis Oliveira, da USP. Cuide do vocabulário e leia obras de autores negros, como Racismo Estrutural, de Silvio de Almeida, e Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro.

GESTÃO E CARREIRA

O TRABALHO REMOTO E AS NOVAS EXIGÊNCIAS DE GESTÃO

No mundo pós-pandemia, ninguém mais se surpreende quando alguém se revela como um trabalhador100% remoto – algo impensável há três anos.

Lembro-me de assistir uma live com presidentes de bancos, no início do isolamento social, em 2020, e um deles contou em detalhes o imenso desafio de colocar cerca de 100 mil colaboradores para trabalhar de casa. Segundo ele, isso nunca havia sido cogitado nem de longe. Passada a crise sanitária, o cenário é outro.

Principalmente porque, ao longo de dois anos, as empresas investiram maciçamente em tecnologias que facilitaram a comunicação no trabalho remoto. Um levantamento realizado pela FGV/EAESP, chamado de Pesquisa Anual sobre o Mercado Brasileiro de TI e Uso nas Empresas, revelou que durante a pandemia houve um avanço notável no uso de dispositivos digitais, no Brasil.

Computadores, notebooks, tablets e smartphones somados já superam a marca de 447 milhões de unidades – mais de dois por habitante. A pesquisa também aborda a participação no mercado dos fabricantes de 26 categorias de software. A Microsoft dominou várias categorias no usuário final, algumas com mais de 90% do uso. Já os sistemas integrados de gestão (ERP) da TOTVS e da SAP têm 33% do mercado cada, Oracle 11% e outros 23%.

Isso mostra o empenho das companhias em contar com ferramentas capazes de integrar o físico ao virtual, transformando-se digitalmente. Por um lado isso foi bom, uma vez que as inovações durante a pandemia encurtaram distâncias e viabilizaram trabalhos que antes acreditava-se só serem possíveis presencialmente.

Mas por outro, passada a pandemia, vemos que ainda temos muito o que aprender sobre gestão. Isso porque os desafios são muitos: lidar com a produtividade das equipes, manter o foco do time e garantir a qualidade das entregas estão entre elas. Um levantamento realizado pela Runrun. It com objetivo de mapear esses desafios mostrou que apenas 36% dos gestores respondentes disseram atuar em empresas com uma política voltada para o trabalho remoto, ou seja, 64% não tinha um planejamento para este modelo.

Apenas 56% dos gestores afirmaram que se sentiam preparados para o trabalho remoto, e 55% disseram que suas empresas estavam minimamente preparadas para a operação a distância. Para 47% dos gestores entrevistados, o principal desafio tem sido monitorar a produtividade do time. Em seguida, manter o foco e o ânimo do time e, em terceiro, monitorar as tarefas que estão sendo realizadas pelos colaboradores.

Quatro em cada dez entrevistados apontaram que identificar as dificuldades de cada pessoa do time a distância tem sido um desafio, e 37% disseram que identificar e resolver problemas de infraestrutura, como qualidade da internet e adequação mínima das estações de trabalho.

Tudo isso mostra o quanto tem sido difícil estar à frente das equipes em tempos de trabalho híbrido. Em tempos de transformação digital, depois de tantos investimentos, as cobranças se mantêm em alto nível, mas a falta de habilidade e também de capacitação estão tirando o sono dos gestores.

Embora o trabalho remoto seja positivo para manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e consequentemente traga benefícios imensuráveis para o colaborador, o modelo precisa ser muito nem pensado para que haja um equilíbrio também nos resultados gerados. Na minha opinião, para lidar com todos esses desafios, é necessário rever processos, atualizar práticas e adotar novas ferramentas de trabalho que ajudem a minimizar as dores tanto para os gestores quanto para o resto do time. Já investimos o suficiente em comunicação, agora, é hora de investir em conhecimentos que nos permitam guiar da melhor maneira esse barco.

O trabalho remoto é uma tendência que deve se consolidar, mas como tudo que se inicia, ainda estamos na fase dos aprendizados. Ainda vamos chegar lá.

MARCO POLI – É CIO (Chief Innovation Officer) da Closedgap

https://closedgap.com.

EU ACHO …

CHEIRO DE VIDA

Foi de repente. Fui tomar um café e ele não estava mais ali. Porque café sem cheiro de e gosto de café não é café. E assim sigo há duas semanas sem sentir cheiros nem gostos, reflexo de efeitos colaterais da covid. Uma vida sem cheiros e sem gostos tem sido, então, uma meia vida. O cheiro do sabonete que confortava o corpo e a alma no banho no final do dia agora dá lugar a um objeto inanimado em minhas mãos que praticam um ato higiênico racional sem nenhuma relação com o ritual que nele depositei minhas expectativas e fui atendida por uma vida. O banho que relaxa e que limpa descobri só agora que tem relação com os cheiros e essa constatação desencadeou dezenas de outras, um efeito cascata de consciência sobre os sentidos tão usados diariamente com quase nenhum louvor.

A pipoca coberta de chocolate da premiada Chocolat du Jour, uma iguaria reservada em casa para momentos especiais e aberta no primeiro jogo do Brasil na Copa, foi a prova final de que sem paladar e aroma o ato de comer seria de pura sobrevivência. Olhando o copo meio cheio, pensei que poderia talvez nesse momento perder os quilos extras acumulados nos últimos dois anos. A positividade, no entanto, deu lugar à falta que cada prazer ocupava no meu dia a dia. No encontro com o filho, a falta da delícia de encostar os lábios na cabeça e sentir o delicado perfume da mistura de shampoo com o cheiro dele. Vi-me sentindo falta do cheiro da minha mãe, do cheiro das árvores de uma determinada rua no caminho de casa, do esmalte importando que semanalmente me lembrava minha avó, do lençol da cama. A noite deitada ao lado do Fernando, de olhos fechados, me senti distante, precisando tocá-lo para saber que ele estava ali ao lado, quando antes respirar levemente era suficiente para notar sua presença. Meu médico diz que vai passar, li casos na internet de quem ainda sofre esses efeitos. Entre apavorada por imaginar minha vida pela metade e grata por ter a oportunidade de valorizar algo que me parecia uma obrigação nata dos sentidos, sigo esperando a manhã do meu reencontro matinal com o melhor café do mundo, aquele que me acordava com seu aroma forte por mais um dia.

ALICE FERRAZ  – é especialista em marketing de influência e escritora, autora de ‘Moda à Brasileira’

alice@fhits.com.br

ESTAR BEM

CONSUMO DE NOZES REDUZ RISCO CARDIOVASCULAR

Ingestão diária de 3 unidades do fruto é o suficiente para diminuir a mortalidade em 9% e o desenvolvimento de doenças cardíacas em 25%. A oleaginosa é rica em substâncias antioxidantes, que previnem o envelhecimento

As nozes são famosas em dietas prescritas por nutricionistas por conta de seus benefícios para a saúde. Além de promover saciedade, deve-se levar em consideração que são fáceis de conservar e transportar para qualquer lugar. Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e publicado na revista Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases descobriu que ela é capaz de reduzir o risco de doenças cardiovasculares em 25%.

Pesquisas realizadas com 3 mil pessoas ao longo de 20 anos – nas quais foram revistos o histórico alimentar e o quadro clínico de cada uma delas com o objetivo de investigar o desenvolvimento de possíveis fatores de risco para doenças cardíacas ao longo do tempo – revelaram que as nozes são a estrela da família dos frutos secos, pois as suas propriedades são aliadas do coração, protegendo e ajudando a prevenir lesões ou patologias. Paralelamente, descobriu-se que forneciam uma parcela de energia, que impedem o ganho de peso, que colaboram na redução dos níveis de açúcar e LDL, ou seja, do colesterol considerado “ruim”.

“É um alimento que se destaca pelo tipo de gorduras que fornece, principalmente saudáveis e por fornecer Ômega 3, essencial para tudo relacionado à prevenção cardiovascular e inflamação no organismo”, afirma Mariana Patrón Farias, nutricionista e diretora da Nutrim, uma consultoria argentina especializada em alimentação saudável.

Já para Silvina Tasat, graduada em nutrição e membro titular da Associação Argentina de Nutrição, a noz está repleta de componentes benéficos para a saúde.

“Por ter uma alta proporção de gorduras poli-insaturadas, é um alimento altamente calórico”, explica Tasat.

Assim, a especialista sugere que o ideal é que o seu consumo se faça no contexto de uma alimentação saudável, adaptando as porções de acordo com o seu objetivo.

Estima-se que a noz tenha surgido no continente asiático onde tinha grande preponderância. Com o tempo, seu cultivo se espalhou por outras zonas úmidas da Europa e da América, e seu sucesso foi tanto que, segundo mitos, durante a época romana, era considerada um símbolo da união matrimonial. Atualmente, registra uma produção mundial anual de aproximadamente 1,2 toneladas, sendo a China seu principal produtor.

COMO CONSUMIR

De acordo com a Mayo Clinic, as nozes são compostas por entre 50% e 70% de gorduras saudáveis e 100 gramas têm uma densidade energética de 160 a 180 calorias. Mas isso não é tudo. Tasat comenta que elas também contêm proteínas vegetais, gorduras poli-insaturadas de alta qualidade, especialmente ômega 3, fibras naturais, vitaminas do grupo B1 e B6, “que são benéficas para a função muscular e tudo o que tem a ver com as conexões nervosas para o desenvolvimento adequado do cérebro e vitamina E, um antioxidante natural que previne o envelhecimento celular”.

Por sua vez, esta lista é completada por minerais como: o potássio, fundamental para tudo o que tem a ver com os impulsos nervosos e o desenvolvimento muscular; o zinco, que protege o sistema nervoso; e o magnésio, que reforça os processos enzimáticos.

Por todos esses benefícios, Patrón Farias, diz que se seu consumo for diário – pelo menos 14 gramas, o equivalente a três ou quatro nozes – o alimento reduz a mortalidade em homens e mulheres em  9%, e se seu consumo for aproximadamente cinco vezes por semana, reduz o risco de doenças cardiovasculares em 25%. Segundo Tasat, o ideal é comê-los sozinhos ou combinados com algum outro alimento, como uma salada. E sobre a crença que diz que é preciso hidratar as nozes para potencializar seus benefícios, a nutricionista esclarece que não é necessário. Por sua vez, alerta para os riscos da geração de possíveis alergias que este produto pode desencadear.

Por conter ômega 3, sendo este nutriente um antioxidante, ao entrar em contato com luz artificial ou rajadas de ar, as nozes correm o risco de oxidar. Por isso, devem ser protegidas e armazenadas em local fechado e escuro, aconselha Patrón Farias.

COMPONENTES E BENEFÍCIOS

ÔMEGA 3: protege o sistema cardiovascular.

FIBRAS NATURAIS: colaboram na eficiência do sistema digestivo.

VITAMINAS B1, B6 E E: melhoram a função muscular e tudo o que tema ver com as conexões nervosas para o bom desenvolvimento do cérebro, também atuam como antioxidante natural, que previne o envelhecimento celular.

MINERAIS (ZINCO, POTÁSSIO E MAGNÉSIO): favorecem o desenvolvimento muscular, protegem o sistema nervoso e potencializam os processos enzimáticos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

DEPRESSÃO DE IDOSO É DESAFIO CRESCENTE NO ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO

Transtorno mental que mais acomete pessoas com idade acima de 60 anos exige medicina especializada; IBGE estima que o número de idosos do País vai triplicar até 2050

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

“Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou. Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tive ram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente. Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

AJUDA

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

DIAGNÓSTICO

No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

OUTROS OLHARES

SEXO, MENTIRAS E EXTORSÕES

No ‘golpe dos nudes’, fotos eram usadas para chantagem

Há cerca de um ano, um homem entrou desesperado na 16ª Delegacia Policial, em Planaltina, no Distrito Federal. Ele implorava para que não fosse preso injustamente e alegava que não tinha mais dinheiro, porque já havia depositado R$ 1 milhão –  quantia acumulada durante toda a vida – na conta de policiais de outros estados, que exigiam mais para não prendê-lo por pedofilia.

O morador de Planaltina foi a primeira vítima de uma quadrilha que se especializou em aplicar o chamado “golpe dos nudes”, em que homens que recebiam fotos em trocas de mensagem por redes sociais eram depois chantageados e extorquidos, com medo de serem denunciados às autoridades por falsas acusações. Uma ação fruto deste primeiro inquérito com policiais do Distrito Federal, de Goiás e do Rio Grande do Sul prendeu ontem três homens e uma mulher suspeitos de fazer parte do grupo.

Na Operação Falso Nude, foram apreendidos carros, inclusive um Chevrolet Camaro avaliado em pelo menos R$ 200 mil, e bloqueados mais de R$ 1 milhão. De acordo com a polícia, a quadrilha movimentou mais de R$ 5 milhões em apenas três meses, fazendo vítimas em todo o país.

Os investigadores ainda procuram por outros três integrantes, que atuam como laranjas. Os presos foram indiciados por 19 extorsões, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

No golpe, uma mulher, por um perfil falso, procurava a vítima nas redes sociais e a convidava para trocar mensagens. Na conversa, ele recebia uma foto nua do falso perfil. Logo em seguida, um outro falso perfil entrava em contato com a vítima. Ele dizia ser pai de uma adolescente de 13 anos que havia mandado a foto.

FALSO PAI, FALSA FILHA

O falso pai passava a exigir dinheiro para não levar o caso à polícia. A extorsão prosseguia de outras formas. Os golpistas exigiam o pagamento de um tratamento psiquiátrico para a adolescente que não existia. Depois, diziam que ela havia cometido suicídio, apresentando uma certidão de óbito falsa, e pediam para o homem pagar o sepultamento. A chantagem continuava com mais cobranças para um acordo por danos morais e materiais. Depois, ganhava um novo cenário: integrantes do grupo fingiam estar em uma delegacia e ameaçavam prender a vítima por pedofilia, se ela não fizesse novos pagamentos.

A quadrilha ainda usava um falso delegado para entrar em contato com as vítimas, exigindo novas quantias. Foi quando o golpe chegou a essa etapa que o morador de Planaltina procurou a Polícia Civil real e a investigação começou.

“O golpista falava que conhecia policiais. Posteriormente, ligavam falsos policiais, que mostravam armas, simulavam uma falsa unidade de polícia, mostravam símbolos da polícia, e exigiam grandes quantias para que a vítima não fosse presa”,  conta o delegado Diogo Cavalcante, da 16ª DP. “Eles simulavam até mandados de prisão com dados da vítima e encaminhavam, para que ela se sentisse ameaçada. No Distrito Federal, quando a investigação começou, a vítima já havia feito 19 transferências.

Em um vídeo enviado a um dos extorquidos, um golpista exibiu o falso mandado de prisão por pedofilia em um cenário onde o fundo era coberto com papel de parede com a logomarca da Polícia Civil do DF. O golpista falou diante de uma mesa que também tinha a logomarca. Com sotaque gaúcho, o falso policial reclamou porque o homem, identificado como Carlos, não estaria atendendo mais às ligações.

“Eu estou te ligando e tu não tá me atendendo, tá? Eu estou com o telefone do doutor Walter, ele está internado, com Covid, no hospital, e eu estou tomando conta dos processos dele. Eu estou com um papel aqui para o senhor, uma prisão preventiva, e se o senhor me atender a gente pode conversar. Senão, eu vou ter que assinar ela aqui. Só estou esperando você me atender na (inaudível) para a gente conversar e se acertar certinho”, afirma o integrante da quadrilha.

O inquérito será compartilhado com outros estados. A tendência, diz o delegado, é que outras extorsões sejam descobertas.

“Esse grupo tinha base no Rio Grande do Sul, mas atuava fazendo vítimas por todo país. As provas serão compartilhadas com outras polícias judiciárias para que os criminosos possam responder por todos os crimes, afirmou Cavalcante.

GESTÃO E CARREIRA

CHANCES PARA INICIANTES E PESSOAS EXPERIENTES  

Como jovem aprendiz ou geração acima de 50 pode conquistar uma vaga

Que tal começar 2023 com o pé direito em relação ao trabalho? Empresas dos mais diversos segmentos oferecem oportunidades para quem está no início da carreira ou para quem já faz parte da chamada geração prateada: profissionais que já passaram dos 50 anos. Mesmo que não haja vagas de imediato, todas elas oferecem a possibilidade de os interessados se cadastrarem em bancos de talentos. Para ajudar os interessados no primeiro emprego ou no retorno ao mercado, explicamos abaixo como se inscrever em grandes companhias.

O programa de jovem aprendiz funciona assim: todas as empresas de médio e grande portes devem, por lei, separar parte de suas vagas para pessoas em idade escolar (no mínimo, 5% das vagas; no máximo, 15%). O contrato tem duração máxima de dois anos. Ao fim do período, o jovem pode ser contratado por prazo indeterminado.

A legislação determina que esses jovens devem ter sua carga de trabalho reduzida e receber benefícios como outros trabalhadores. As exigências são: não ter registro atual em carteira de trabalho, ter disponibilidade de horário para trabalhar até seis horas por dia e estar devidamente matriculado na educação básica. Algumas empresas recebem candidatos que já concluíram o ensino médio. Esse jovem devem ter ainda de 14 a 24 anos. Se for uma pessoa com deficiência, a idade máxima não se limita a 24 anos.

Cada empresa tem uma forma diferente de recrutar esses jovens. Para fazer a inscrição no Bradesco, por exemplo, é preciso acessar o site do banco no link encurtado https:// bit.ly/3VtxqHN, escolher a vaga que faça parte do programa e, depois, cadastrar o currículo. Não importa se há poucas informações sobre o candidato, já que é sabido que ele não tem experiência.

“Essa vaga de jovem aprendiz é para isso mesmo: aprender. Depois de se inscrever, basta aguardar um contato do responsável pelo recrutamento, que vai marcar uma entrevista para conhecer o candidato melhor”, explica Sabrina Salles, consultora de Recursos Humanos.

VEJA QUEM CONTRATA E SAIBA COMO SE APRESENTAR AO EMPREGADOR

DHL EXPRESS

A empresa contrata jovens aprendizes. A seleção é feita por meio de um banco de currículos mantido pela Espro. Basta acessar https://www.espro.org.br/.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

A instituição financeira contrata jovens aprendizes. Os candidatos podem se inscrever por meio do endereço eletrônico https://bit.ly/3FlIvoB.

VALE

A mineradora tem 700 vagas para jovens aprendizes abertas no momento. As inscrições podem ser feitas em https://vale.com/pt/jovem-aprendiz.    

BRADESCO

O banco mantém um cadastro aberto para o caso de surgirem oportunidades para jovens aprendizes.

Confira no endereço https://bit.ly/3VtxqHN

NORSUL

A empresa tem vagas para jovens aprendizes. Para se candidatar no Rio, é preciso se inscrever no Camp Mangueira (Rua Santos Mello 73, São Francisco Xavier).

ITAÚ UNIBANCO

O banco tem oportunidades para jovem aprendiz ao longo do ano. As inscrições podem ser feitas na página  https://carreiras.itau.com.br/programas.     

AMERICANAS

A empresa tem oportunidades abertas para jovens aprendizes. As vagas são para atuar nas mais de 1.800 lojas em todo o Brasil. O candidato precisa ter idade a partir de 14 anos, estar matriculado e frequentar a escola, caso ainda não tenha concluído o ensino médio,  e ter disponibilidade para trabalhar quatro horas   por dia. Inscrições em https://bit.ly/3VqzfVP

CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA-ESCOLA

Para os iniciantes, além de procurar uma grande empresa, é possível se inscrever no CIEE, que tem 914 chances para jovens. Basta acessar o site www.ciee.org.br.

FUNDAÇÃO MUDES

Outra possibilidade de conquistar uma vaga de jovem aprendiz é se inscrever na Fundação Mudes. O site é https://mudes.org.br/.

NESTLÉ

A Nestlé mantém um banco de talentos para profissionais com mais de 50 anos de idade. Para saber mais, basta acessar o site https://bit.ly/3FnFNzh.  

A empresa também oferece oportunidades para jovens aprendizes. Neste caso, o cadastro podem ser feito em https://bit.ly/3VHHPA1.

VIVO

A operadora oferece vagas exclusivas do programa de diversidade, que inclui oportunidades para 50+ e jovem aprendiz com alguma deficiência. Neste caso, é preciso se cadastrar em https://vivodiversidade. gupy.io/. Para vagas de jovem aprendiz (ampla concorrência), o site é https://vivo.gupy.io/.

TIM

A empresa tem programas para ambos os públicos (jovens aprendizes e profissionais acima de 50 anos. O caminho para se candidatar é o endereço https://bit.ly/3EZ2iJ8.

DANONE

No endereço eletrônico https://bit.ly/3B329mM, os candidatos podem verificar as vagas disponíveis para jovens aprendizes e maiores de 50 anos e se candidatar.

MRV

A construtora tem um programa chamado Corretores 60+, de incentivo à contratação de corretores de imóveis autônomos acima dessa faixa etária.

Basta se cadastrar em mrv.com.br/quero-vender.  

BMG

O banco contrata pessoas com mais de 50 anos para as centrais de atendimento on-line. O link para informações e inscrições é https://bmg.gupy.io/.

AVANADE

A empresa contrata profissionais com mais   de 50 anos. Todas as vagas oferecidas pela companhia podem ser conferidas no link https://www.avanade.com/pt-br/career.

COMO OS JOVENS DEVEM PREENCHER UM CURRÍCULO

O foco inicial quando não se tem experiência de trabalho é mostrar no currículo suas áreas de conhecimento e seus interesses, diz Sabrina Salles, consultora de Recursos Humanos.

Isso é feito de maneira simples. Inicialmente, deve-se citar as informações pessoais (nome completo, estado civil, telefone e e-mail para contato, idade e CEP). Posteriormente, escreva um pouco sobre o que espera do mercado de trabalho.

Logo abaixo de suas qualificações, mencione cursos extracurriculares, podendo citar alguma língua estrangeira que esteja aprendendo ou já conheça, assim como conhecimento de Pacote Office e outras ferramentas. Ensinos técnicos, por exemplo, são bem vistos. Podem ser de curta duração, workshops, oficinas e até cursos on-line. É importante mencionar o nome da instituição, o mês, o ano de início e de término e a carga horária. Seja claro e objetivo na descrição.

COMO AS PESSOAS MAIS EXPERIENTES DEVEM SE APRESENTAR

O currículo deve ser objetivo e verdadeiro. Pode ter uma página. Mas se você é um profissional que passou por várias empresas, elabore no máximo três páginas. Não é preciso fazer carta de apresentação de próprio punho nem colocar capa no currículo. Segundo especialistas, este deve conter dados pessoais básicos (nome completo, estado civil, e-mail e telefone de contato); objetivo profissional e informações sucintas sobre trabalhos anteriores (atividades mais recentes devem aparecer primeiro). Pode-se citar conhecimento de outros idiomas (com nível de proficiência), além de breve trajetória escolar e cursos complementares. É possível ainda destacar habilidades pessoais (boa comunicação, engajamento, foco, facilidade de adaptação e competências trabalhadas em cargos voluntários).

Reative também sua rede de relacionamentos profissionais. Essas pessoas podem ser fontes de informação a seu respeito.

EU ACHO …

NÃO SOMOS PESSOAS QUE MENSTRUAM

Me perturba o fato de sermos restringidas às nossas funções biológicas

Recentemente tenho visto publicações e posts em redes sociais que utilizam a expressão “pessoas que menstruam” para se referir a mulheres e homens trans. Também já vi coisas como “pessoa gestante”, “pessoas com mamas” com o mesmo objetivo. Confesso que me senti profundamente incomodada, tanto como mulher quanto como teórica feminista. Como mulher, me perturba o fato de sermos restringidas às nossas funções biológicas, como se não fôssemos seres humanos completos, seres sociais e sujeitos políticos.

Uma mulher não é uma pessoa que gesta, até porque existem mulheres que não podem ou não querem engravidar. Nesse caso, como vamos nos referir a elas? “Pessoas que não gestam?” Mulheres que precisaram retirar as mamas por motivo de doença ou qualquer outro serão chamadas de que forma? Isso remete ao sexismo biológico tão bem explicado por Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”. É interessante que a categoria homem segue intocável – não há publicações se referindo a eles como “pessoas que ejaculam”, por exemplo.

Como feminista negra, vejo essas atitudes como um retrocesso. Historicamente, as feministas negras refutam a universalidade da categoria mulher trazendo a reflexão da necessidade de nomear as diferentes possibilidades de ser mulher. Mulheres negras, por exemplo, interseccionam as opressões de sexo, classe e raça, sendo necessário nomear essa realidade para que seja possível compreendê-la e, a partir daí, pensar em saídas emancipatórias. Como afirma a teórica Kimberlé Crenshaw, pensar as avenidas das identidades e nomeá-las.

Eu sistematizei o conceito de lugar de fala em um livro, o qual trata justamente de pensar “locussocial”, de entender como os diferentes grupos estão posicionados dentro da matriz de dominação. O lugar social deter- mina as condições de determinados grupos e nos faz compreender quais são as experiências que esses grupos compartilham por partir desse lugar social. Por exemplo, para se compreender qual é a realidade das mulheres negras como grupo, é necessário entender quais são as experiências que essas mulheres compartilham. No Brasil, compartilham alta taxa de feminicídio, grande parte do trabalho doméstico e funções precarizadas, falta de acesso à moradia digna, entre outras.

Sem esses dados não se geram demandas por políticas públicas. Justamente por isso, o feminismo negro foi e é tão importante ao pensar a interseccionalidade como ferramenta analítica. Se essa realidade é apagada com a afirmação de que somos todas mulheres, negando as opressões de raça e classe, ou de que somos “pessoas que menstruam”, o grupo social mulher negra não se torna visível como sujeito de direitos.

Sojourner Truth, importante ativista abolicionista, em 1841, em Ohio, na Conferência dos Direitos das Mulheres, fez um discurso histórico chamado “E Eu Não Sou uma Mulher?”, enfatizando a necessidade de se pensar nas mulheres negras como categoria e refutar uma ideia universal de mulher.

Truth fala da realidade dela como mulher negra confrontada com a realidade apresentada sobre as mulheres brancas e termina perguntando “e eu não sou uma mulher?”, mostrando o quanto a realidade das mulheres negras nem sequer era mencionada. A feminista negra bell hooks nomeou com esse discurso seu primeiro livro publicado em 1981. Audre Lorde, Grada Kilomba, Patricia Hill Collins – e no Brasil, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro – são alguns nomes que vêm há tempos refletindo criticamente e produzindo obras sobre a importância de se refutar essa tentação de universalidade que apaga diferentes formas de ser mulher.

Sendo assim, o termo “pessoas que menstruam”, mesmo com a pretensa ideia de querer incluir, apaga a realidade concreta das mulheres, pois se está criando uma nova categoria universal que não nomeia a materialidade delas. Essa realidade ficará implícita dentro dessa nova norma que se pretende hegemônica, assim como apaga a realidade de homens trans. Homens trans não são pessoas que gestam e menstruam, são sujeitos políticos.

Trata-se de um backlash e de violência porque, mais uma vez, decidem invisibilizar a realidade material de mulheres no quinto país do mundo em número de feminicídios, de alta taxa de violência física e sexual e onde a pobreza menstrual é uma realidade que as atinge majoritariamente. Não faz o menor sentido ter medo de usar a categoria mulher ou de mantê-la implícita. É necessário estudar as teóricas e ativistas que se dedicaram a refletir de maneira honesta sobre a condição feminina.

Sim, eu sou uma mulher.

DJAMILA RIBEIRO – É mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais

ESTAR BEM

FORA DE ÉPOCA

Doenças respiratórias estão em alta entre crianças; veja como agir

Em meio à alta fora de época de infecções respiratórias em crianças, muitos pais compartilham dúvidas semelhantes em relação à quando é preciso levar o filho à emergência e como cuidar do pequeno em casa. Especialistas ouvidos esclarecem que a maioria dos quadros costuma ser leve e se resolver apenas com estratégias como repouso e hidratação, porém destacam que o crescimento de internações e a nova onda do coronavírus demandam atenção redobrada.

Segundo informações do sistema InfoGripe da Fiocruz, até novembro o Brasil registrou cerca de 92 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de O a 11 anos, um aumento de 31,7% em relação ao mesmo período de 2021, quando esse total era de aproximadamente 70 mil – tendência que vai na contramão de faixas etárias mais elevadas, que vivem queda em comparação ao ano passado.

As SRAGs são síndromes respiratórias associadas a uma série de vírus, conto o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que causa bronquiolite em crianças, o Influenza (gripe) e o novo coronavírus (Covld-19). A subida simultânea dos três patógenos tem sido chamada inclusive de “tripledemia”, e foi motivo de um alerta recente da Organização Pan-Americana de Saúde.

Isso porque, embora o pais esteja caminhando para o verão, temporada que não costumava ser favorável para disseminação de vírus respiratórios, especialistas têm relatado um aumento de casos nos consultórios e hospitais, movimento semelhante ao registrado ano passado e apontado também pelo InfoGripe.

“Esse ano foi totalmente extraordinário. Houve um embaralhamento da sazonalidade desses vírus que normalmente acontecem no primeiro semestre. Teve uma melhora no início da primavera, mas agora piorou de novo. Estamos vendo a Covid voltar mas também o VSR e Influenza, surtos totalmente atípicos. Então é muito importante estarmos em alerta para as complicações”, afirma o pediatra e médico sanitarista do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Daniel Becker.

Essa incidência de SRAG nas crianças é significativamente maior entre as de 0 a 4 anos, que representam 81,5% de todos os casos até 11 anos. Um dos receios dos especialistas é justamente pela vacina para Covid-19 estar elegível nesta faixa etária apenas para aqueles com comorbidades. Eles reforçam a importância dos imunizantes para prevenir esses agravamentos.

“Nós temos vacinas para a gripe e a Covid-19. Embora estejamos extremamente atrasados em relação à Covid, é preciso cobrar que a vacinação avance o quanto antes para todos os grupos. E quem não tomou a vacina da gripe, precisa tomar o quanto antes também. Com ou sem surtos, é preciso sempre estar em dia com a vacinação”, orienta o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Os especialistas avaliam que este crescimento das SRAGs exclusivo em crianças acontece porque pessoas mais velhas não sofrem um impacto tão significativo pelo VSR mas principalmente por já estarem vacinados há cerca de um ano para a Covld-19, principal infecção respiratória no país hoje.

Especialistas explicam como lidar com as infecções respiratórias nas crianças:

EMERGÊNCIA

O pediatra e infectologista do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, Daniel Jarovsky, assessor médico de imunizações do Grupo Fleury, explica que os sintomas para todos os vírus são semelhantes, envolvendo tosse, nariz escorrendo, espirro e febre. Ele diz que, no geral, os casos podem ser tratados em casa, mas a duração da febre eas queixas respiratórias devem ser sinais de alerta.

“É sempre importante compartilhar o quadro com o pediatra. Quando a febre extrapola três dias, especialmente se ela não cessa.. não tem uma indicação de diminuição ou de um aumento do intervalo entre os episódios, é o momento de procurar o médico ou a emergência. Qualquer sinal de desconforto respiratório, como dificuldade em respirar, ou se a criança ficar prostrada na ausência da febre, também é o caso de procurar o atendimento“, orienta.

Daniel Becker reforça ainda que, para as crianças com doenças crônicas ou quadros de imunossupressão, a atenção tem que ser redobrada e essa procura pode ser ainda nos primeiros dias de febre. Ele explica que o agravamento das infecções é causado por complicações da infecção viral, e que mesmo se o pequeno apresentar uma melhora é importante monitorar os dias seguintes.

“Pode acontecer de a criança melhorar e dois dias depois a febre voltar alta, ela ficar mais abatida, e o catarro ficar mais espesso. Esse pode ser um caso de otite ou sinusite, que são complicações bacterianas das infecções virais e devem ser acompanhadas pelo médico”, afirma o pediatra.

EM CASA

Independentemente do vírus, as infecções são tratadas da mesma forma e, na maioria dos casos. se resolvem em casa apenas com alguns cuidados a mais. O primeiro deles é garantir a hidratação da criança, lembrando que é papel dos responsáveis oferecer regularmente líquidos.

“A criança precisa estar muito bem hidratada. Os pais esquecem que criança não pede água, quando pede já está desidratada. Então tem que oferecer água, de meia em meia hora. Isso vai melhorar a capacidade dela de combater o vírus e ajudar a dissolver o catarro, que quando acumulado é o que causa as complicações”, orienta Becker.

Os pediatras afirmam que outras estratégias para dissolver o catarro e liberar as vias respiratórias também são muito importantes. É o caso da lavagem nasal, que deve ser feita com soro fisiológico morno com seringas, garrafinhas de alto volume ou outros itens destinados ao procedimento.

Além disso, a nebulização e a vaporização também ajudam a diminuir a secreção das crianças. Embora a nebulização com soro fisiológico demande o aparelho especifico para isso, a vaporização pode ser feita apenas ao deixar o pequeno respirando o vapor da água quente no banheiro.

A alimentação natural, especialmente com sopas que também emitem um vapor e dissolvem o catarro, é outro ponto apontado pelos pediatras para reforçar a imunidade frente à infecção. Eles também recomendam que as janelas sejam mantidas abertas e o ambiente ventilado.

Há algumas formas de prevenir uma infecção viral em meio a uma alta. A mais importante dela, ressaltam os pediatras, é manter a vacinação para a gripe e a Covid -19 em dia. O imunizante contra o Influenza é oferecido para crianças de até 5 anos nos postos de saúde, porém com o fim da campanha nacional há unidades que estendem as doses remanescentes para faixas etárias mais elevadas. Além disso, se possível e não houver oferta na rede pública, Kfouri indica que os pais vacinem as crianças mais velhas na rede privada.

Já proteção para a Covid-19 está disponível no Brasil para todas as crianças a partir de 3 anos, e para as acima de 6 meses que tenham comorbidades.

Jarovsky destaca ainda que, em caso de a criança estar com uma infecção respiratória, é importante que os pais avisem à escola e a mantenham em casa, de modo a evitar a transmissão para os outros alunos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

CRIANÇAS E ADOLESCENTES PRECISAM DE TEMPO LIVRE

Estudos mostram que os jovens reclamam da agenda lotada de atividades extracurriculares; para especialistas, não brincar livremente causa impactos na saúde mental a curto e longo prazo e gera

Futebol, inglês, balé, jiu-jítsu. natação e  reforço escolar são algumas das infinitas atividades que multas crianças e adolescentes participam por escolha dos pais. A agenda cheia, somada às obrigações das escolas, acaba por limitar ou extinguir o tempo livre desses jovens, realidade que, além de violar direitos fundamentais, pode gerar problemas psicológicos e emocionais nos menores, como, irritabilidade, ansiedade, depressão e dependência familiar, apontam pesquisadores.

Na Espanha, uma pesquisa intitulada “Falam as crianças, o bem-estar subjetivo da infância em Barcelona”, coordenado pelo Instituto Infância e Adolescência da área de Direitos Sociais do Ajuntamento em Barcelona, ouviu 4 mil crianças, entre 10 e 12 anos, da cidade, e elaborou um documento que lista 11 demandas e 115 propostas de atuação importantes. As duas primeiras demandas votadas pelos participantes foram “ter mais tempo para desfrutar com a família” e “menos tempo de estudos e mais tempo livre para brincar e estar com amigos”.

Outra pesquisa desenvolvida no pais analisou crianças e adolescentes do distrito Fuencarral – EI Pardo. Idealizado pelo Grupo de Sociologia da Infância e Adolescência (GSIA), o estudo mostra que 46% das crianças entrevistadas disseram não concordar com a afirmação de que tinham tempo livre suficiente, índice que subia para 75% entre os adolescentes.

Para Beatriz Migues Pouy, da equipe do GSIA, as crianças deveriam ser questionadas sobre quantas e quais atividades gostariam de escolher, reforçando que a limitação do tempo livre também viola direitos.

“A Convenção sobre os Direitos das Crianças, criada pelas Nações Unidas, defende o direito de brincar e, portanto, de ter tempo livre. Esse tipo de comportamento também não atende aos interesses das crianças se elas não podem participar das decisões com os adultos para gerir o seu tempo pessoal ou o tempo que passam com os pais”, diz.

IMPACTO PSICOLÓGICO

O impacto da falta de tempo vai além da violação de direitos, reflete-se também a nível psicológico.

De acordo com a psicóloga Sara Tarrés, do Colégio Oficiai de Psicologia da Catalunha, brincar de forma livre, de preferência em ambiente aberto, deveria ser a principal atividade da infância porque isso “permite aprender com os erros, com as quedas, as pancadas, o grupo de amigos, rir, brigar, ir e vir, fazer e desfazer, se divertir e se entediar em letras maiúsculas”.

Porém, ao não dispor de tempo para brincar livremente e investindo-o em atividades estruturadas, organizadas, dirigidas e sempre supervisionadas por um adulto, “o desenvolvimento de certas aptidões e capacidades físicas, intelectuais e emocionais é afetado”.

Tarrés aponta duas consequências da falta de tempo na infância. A curto prazo, ela se traduz no aumento da irritabilidade por cansaço, falta de iniciativa e dificuldade para a organização do tempo de forma autônoma.

“Pouco a pouco vamos vendo como as crianças se tornam mais dependentes, inseguras, com dificuldades para saber do que gostam e quais são seus reais interesses para além do que os pais as forçam a se dedicar, porque sempre tem um adulto que as organiza, gerencia e resolve qualquer problema”, reflete a psicóloga.

A longo prazo, ela acrescenta, a ausência de tempo livre se reflete no desenvolvimento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão:

“Nós estamos diante de crianças e adolescentes que não desenvolveram nem suas habilidades sociais nem emocionais porque tinham quem os fizesse por eles.”

O psicopedagogo italiano Francesco Tonucci explica que a falta de tempo livre das crianças se justifica pela obsessão dos pais em prepara-las para o futuro, desejando, excessivamente, que sejam as melhores, principalmente para o mercado de trabalho:

“Hoje as crianças não têm tempo livre entre a escola, os deveres – que para mim deveriam ser ilegais – e as múltiplas atividades extracurriculares escolhidas pelos pais com a obsessão de que elas devem estar preparadas para o futuro.”

Além disso, o psicopedagogo considera que a concepção errônea a respeito do tempo livre é outro fator que lota a agenda dos filhos, pois os pais têm dificuldade de enxergar esse tempo, aparentemente não produtivo, como importante para o desenvolvimento dos pequenos.

Outro aspecto diz respeito a falta de espaço em casa para as crianças, especialmente nas grandes cidades.

“Antes, quando crianças, passávamos o dia na escola imaginando o que faríamos à tarde. Agora são os pais que se perguntam o que vão fazer com os filhos à tarde”, afirma Tonucci.

SUPER FORMAÇÃO

Kepa Paul Larranaga, sociólogo da Universidade Complutense de Madri, apresenta um novo fator: a obsessão adulta pela “super formação” das crianças, realidade presente com mais intensidade nos extratos sociais mais favorecidos, onde as crianças passam mais tempo fazendo deveres e atividades fora da sala de aula.

“As atividades extracurriculares, em muitos casos, buscam preencher as lacunas da educação formal, além de canalizar os temores dos adultos de que seus filhos e filhas, não estejam adequadamente preparados para as necessidades futuras do mercado de trabalho.”

Para Larranaga, a educação não deve ser uma corrida de longa distância para ver quem está mais bem preparado para o mercado de trabalho:

“Pelo menos os meninos e as meninas não teriam que viver assim, nem seus pais passar isso para eles.”

Ele destaca a Finlândia como “um excelente exemplo de um sistema educacional bem-sucedido” que parte de um objetivo: que todas as crianças encontrem no centro educacional perto de casa o suficiente e necessário para atender às suas necessidades e às expectativas de seus pais, sem fazer atividades extracurriculares.

OUTROS OLHARES

DALTÔNICOS SOFREM PARA VER OS JOGOS NA COPA

OMS diz que 350 milhões têm o distúrbio; óculos e lentes especiais podem ajudar

Enquanto assistia à partida entre Suíça e Camarões, na primeira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo, o influenciador Pedro Certezas se manifestou em suas redes sociais sobre a dificuldade que pessoas daltônicas enfrentam ao assistir aos jogos do Mundial. Ele está entre as 350 milhões de pessoas do mundo que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sofrem com o daltonismo, um distúrbio da visão que altera a percepção das cores.

Nessa partida, em especial, as cores dos uniformes dos jogadores foram um obstáculo para os daltônicos: a Suíça jogou com o uniforme vermelho e Camarões com o verde, cores que costumam ser percebidas com mais dificuldade por quem tem essa condição. Cláudia Del Claro, médica oftalmologista da Comissão de Inovação da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), explica que, nessa situação, a pessoa daltônica não consegue diferenciar de qual seleção cada jogador faz parte.

O daltonismo é uma doença relacionada com fatores hereditários. Por uma alteração genética no cromossomo X, os fotorreceptores da retina são afetados e impedem a percepção das cores por portadores da doença que, em sua maioria, são homens. Como as mulheres possuem dois cromossomos X, a mutação genética que causa o daltonismo acaba sendo compensada pelo outro cromossomo sem alteração. “É provável que a doença não se manifeste na mãe, que herdou do pai, mas ela pode transmitir aos filhos homens.”

Há diversas formas de diagnosticar o daltonismo. Algumas crianças, ainda na escola, costumam identificar que percebem as cores de forma diferente dos seus colegas. Mas há casos de pessoas que só descobrem na vida adulta.

Existe um teste bem comum que facilita a identificação da condição, chamado Teste de Ishihara. “O teste é feito com uma imagem formada de vários círculos coloridos e um número no centro”, detalha. “Quem não tem daltonismo, enxerga o número bem nítido. Quem tem, não consegue distinguir, é como se a imagem fosse tudo uma coisa só”, diz. O daltonismo pode se manifestar de três formas principais. O tipo protanopia é aquele em que a pessoa enxerga a coloração vermelha em tons de bege, marrom, verde ou cinza. “A característica desse tipo é a dificuldade em perceber o pigmento vermelho”, explica. Outra manifestação, chamada de deuteranopia, envolve a dificuldade em perceber a cor verde. “Esse indivíduo vai enxergar o verde como se fosse marrom”, observa.

Há, ainda, a tritanopia – dificuldade de perceber o azul e o amarelo. “Ela enxerga essas cores como se fosse uma coisa só, tudo em tons de rosa”, conta. Existe também uma manifestação mais rara do daltonismo, chamada de acromatopsia. A pessoa enxerga tudo em tons de preto, branco e cinza.

Cada um desses diferentes tipos pode aparecer em níveis diferentes, conforme explica a oftalmologista. “Há pessoas que possuem um nível leve de daltonismo, então ela consegue perceber a diferença entre algumas cores. Outras já têm um nível mais avançado.”

Cláudia explica que o daltonismo é uma doença que não tem cura, nem tratamento específico. Porém, existem recursos que podem melhorar a qualidade de vida de quem possui a condição, como os óculos e as lentes de contato, utilizados pelo influenciador Pedro Certezas para minimizar a dificuldade em acompanhar os jogos da Copa do Mundo. “Estou levemente emocionado. Agora dá para assistir ao jogo tranquilo”, desabafou.

Segundo a oftalmologista, as lentes desses óculos possuem coloração específica para os diferentes tipos de daltonismo, que pode ser vermelha, laranja ou amarela. É por meio dessas cores que os óculos são capazes de normalizar a visão das pessoas daltônicas.

GESTÃO E CARREIRA

PARA RETER TALENTOS, EMPRESAS CRIAM BENEFÍCIOS COMO LICENÇA-PET E PRESERVAÇÃO DE ÓVULOS

Em tempos de ‘grande renúncia’ e ‘quiet quitting’, companhias apostam em pacotes para engajar equipes

Em tempos de comportamentos como da “grande renúncia” (demissão voluntária) e do “quiet quitting” (demissão silenciosa), as empresas estão tendo de se desdobrar para engajar e reter seus talentos. Nesse contexto, uma das saídas tem sido apostar em pacotes de benefícios amplos e inusitados, que incluem desde plano de saúde para cães e gatos e licença-pet até a preservação de óvulos e descontos em lojas.

Segundo a diretora de conteúdo e relações institucionais da consultoria Great Place to Work (GPTW), Daniela Diniz, a qualidade do pacote de benefícios tem influência na permanência do funcionário. Ela ressalva que compreender as demandas de cada empregado é o que realmente faz a diferença. “Quando a empresa conhece melhor o profissional, ela consegue proporcionar aquilo que realmente vai fazê-lo feliz no trabalho.”

Uma pesquisa realizada pela GPTW, com 1.053 profissionais de diferentes áreas, mostrou que o plano de saúde ainda é o principal benefício (82,5%) das empresas, seguido por plano odontológico (72,9%), participação nos lucros (50,5%) e convênios e parcerias com academias de ginástica (44,9%). Mas outros produtos, menos tradicionais, já ganham espaço dentro das companhias, como o day off (42,6%), programas de desconto em loja (26,5%) e benefícios estéticos (10,6%).

Além disso, começam a surgir benefícios como licença-pet, “stock options” (direito de adquirir ações da empresa) e salário sob demanda, em que o funcionário recebe sua remuneração a qualquer momento, de forma proporcional. As empresas também estão de olho na saúde mental e financeira dos empregados. De acordo com a pesquisa, 32,8% das companhias têm apoio na educação e gestão financeira, com palestras, webinars e conteúdos sobre o tema.

Segundo pesquisa citada pela Quansa, empresa parceira do GPTW, 96% dos profissionais de RH acreditam que funcionários com mais dificuldades financeiras são menos produtivos. Por isso, a expectativa é de que o assunto ganhe cada vez mais relevância na agenda das corporações.

CONHECER OS FUNCIONÁRIOS.

Para criar pacotes de acordo com as necessidades, uma saída é fazer pesquisas periódicas para conhecer melhor os funcionários. A Petlove, por exemplo, empresa com cerca de 1,5 mil funcionários, observou que a maioria dos seus empregados são tutores de animais de estimação. A partir dessa análise, a empresa incluiu em seu combo de benefícios itens voltados ao universo pet, como descontos em produtos, plano de saúde para cães e gatos e uma licença remunerada de dois dias para quem adotar ou comprar um animal.

Coordenador de CRM na Petlove, Felipe Intasqui conta que os benefícios oferecidos pela empresa fizeram a diferença no processo de adaptação e tratamento de seus dois cães, da raça golden retriever. Ao se mudar para um apartamento maior, Instasqui diz que optou por ter um animal de estimação e que a licença-pet permitiu que ele cuidasse do filhote. “Primeiro pegamos o Apolo, e foi muito bom poder ficar com ele nos primeiros dias, já que ele chegou assustado, mas, para a Chanel, que resgatamos de outra casa, foi fundamental. Ela chegou muito maltratada, com doença do carrapato, e todo tratamento foi pela Petlove, gastei muito menos do que esperava, e hoje minha cachorra está saudável e feliz.”

EQUILÍBRIO

Para a gerente de benefícios do Mercado Livre, Monica Rosenburg, a pandemia de covid-19 reforçou a necessidade de as empresas buscarem o equilíbrio entre aquilo que é bom para a companhia e o que é bom para o profissional. “Olhar o indivíduo e respeitar as necessidades de cada um é o que gera a conexão entre a pessoa e a empresa”, afirma.

No caso do Mercado Livre, que ocupa a sétima posição no ranking das melhores empresas para trabalhar da Great Place to Work, os benefícios oferecidos para os funcionários vão desde os mais tradicionais passando por ações específicas, como a preservação de óvulos para as mulheres que precisam ou decidem prolongar seu ciclo de fertilidade, sendo que a empresa cobre até 75% do custo do procedimento, com teto de até US$ 5 mil. A diretora da Great Place to Work Daniela Diniz esclarece que não é necessariamente o segmento de atuação da empresa que vai definir o quão inusitado será o pacote de benefícios, mas, sim, a cultura da companhia.

A sócia da 99Hunters, Gabriela Brasil, afirma que hoje os benefícios que destacam as empresas melhores avaliadas por seus profissionais são a licença parental, modelos híbridos de trabalho, estratégias de ESG (sigla para melhores práticas ambientais, sociais e de governança), gestão honesta e ética e ambiente fisicamente seguro e diverso. Na opinião dela, no entanto, o melhor jeito de reter talentos é fazendo contratações assertivas. “Pessoas que tenham aderência às necessidades da posição, mas que também tenham ‘match’ com a cultura da empresa.”

EU ACHO …

UNSTOPPABLE

O termo unstoppable refere-se a algo que não pode ser parado, incontrolável, irrefreável, indestrutível ou até imparável.

A cantora australiana Sia somou esforços com Christopher Braide e surgiu a música Unstoppable (2016). As redes sociais fizeram o hit estourar.

A letra é uma afirmação de valore de autoestima. Funciona no código atual de reforçar o positivo ao dizer que hoje a cantora está confiante, poderosa e invencível. Em metáfora mais ambígua, Sia afirma que é um Porsche sem freios (I’m a Porsche with no brakes). A rigor, um carro potente sem freios é inútil e perigoso. É uma descrição mais de risco do que de afirmação positiva: “Saiam da frente porque estou sem freios!”.

Não devemos ser tão ranhetas. A música é boa. A cantora, tendo passado por experiências de depressão, faz um hino de empoderamento bem construído.

Sabemos que tudo pode ser parado. Algo muito forte pode encontrar forças contrárias maiores, pode sofrer inércia pode quebrar e, claro, vir a envelhecer. Pessoas e suas criações sempre param. Nada pode ser imparável para sempre Hunos, mongóis, marinha britânica, gênios do vale do Silício: tudo para um dia, tudo diminui o ritmo, tudo passa, tudo quebra, tudo cansa. De novo, a música é boa e deve ser ouvida. Letras são poéticas, mas não um tratado físico sobre a dissipação da energia.

Como quase toda pessoa madura, olho para os com menos de 30 anos e sinto que lidam mal com a frustração. Eu nunca sei se esse sentimento (que existe em mim) é uma análise da atual geração dos anos 1990 em diante ou vem a ser apenas a tentativa de fazer um muro de boa vontade e elogio ao meu momento antes dos 30. Falar mal de jovens é, quase sempre, sinal de que não sou mais um e, escasseando colágeno e beleza, insisto no julgamento moral. Ataque, no caso, é defesa: “Não posso ser mais jovem e, assim, meu consolo é supor que, quando fui, eu teria sido melhor”.

Com essa pitada psicanalítica de crítica, volto ao que pode ser parado: tudo. Nada é unstoppable, tudo encontra seu muro de contenção. Independentemente da idade, precisamos de incentivo. Ouvir Sai pode ajudar. Trabalhar com o fracasso é fundamental. Avaliar o erro é bom conselho. Manter os esforços com a experiência do fracasso é algo sábio. Sigamos fracassando em qualquer idade. Na ressaca do erro, vamos ouvir músicas que jogam nosso astral lá em cima, bem alto. Com esperança, subindo até que a gravidade nos pare de novo. Todos somos imparáveis… por algum tempo.

LEANDRO KARNAL – É historiador, escritor, Membro da Academia Paulista de Letras. Autor de “A Coragem da Esperança”, entre outros

ESTAR BEM

RELAX PELA COMIDA

Os nove alimentos que ajudam a ter uma boa noite de sono

O descanso é um dos momentos mais preciosos e agrados que as pessoas têm. Um momento perfeito para recarregar as baterias e se acalmar. No entanto. quem não dorme o número de horas necessárias ou tem insônia acaba frustrado porque não consegue alcançar o sono profundo e descansar. Diante dessas situações, é inevitável sentir mau humor e irritabilidade, emoções que afetam no desempenho do dia a dia.

Existem vários fatores que contribuem para ter problemas para dormir, e a dieta é um deles. O que é consumido antes de adormecer faz diferença. O segredo é que alguns alimentos contêm propriedades que ajudam a relaxar, ao contrário de outros que ativam o sistema de alerta ou podem causar desconfortos, como azia.

A nutricionista especializada em nutrigenética Maria Cecília Ponce explica que, para gerar uma situação agradável e relaxante, os alimentos devem conter principalmente triptofano – um aminoácido que promove a formação de serotonina – e melatonina, dois neurotransmissores que regulam o sono.

“Os tipos de nutrientes que consumimos durante o dia vão gerar maiores níveis de neurotransmissores, que são responsáveis por equilibrar o descanso. Por isso, é importante adotar bons hábitos alimentares”, afirma. As pessoas sempre encontram uma boa desculpa para se reunir em volta da mesa, cozinhar e conversar. Mariana Patrón Farias, diretora de uma empresa dedicada à nutrição, diz que as pessoas costumam ter grandes jantares e longos fins de tarde.

“Como se não bastasse, também consomem uma grande quantidade de carne vermelha que leva muito tempo para ser digerida e pode desequilibrar o organismo”,  afirma Farias.

Os fãs de cafeína devem ter atenção: seu consumo não vem apenas em formato de café, existem diversas bebidas, como refrigerantes e chás, que contêm a substância estimulante e podem alterar o sono. A nutricionista Mariana Farias esclarece que nem todas as pessoas respondem da mesma forma à ingestão, mas que uma boa opção éevitar o seu consumo à tarde e à noite.

É normal que a adrenalina e as preocupações do dia afetem no momento de dormir. Não é novidade, as emoções e a comida se retroalimentam entre si. A CEO da consultoria Trendsity, Mariela Mociusky, diz que a incerteza econômica, problemas familiares e o turbilhão do dia podem causar insônia.

“Por isso é fundamental consumir alimentos que tragam calma e serenidade”, defende a especialista.

Em muitos casos eles atuam como insumos energéticos, ajudam a concentração e geram vitalidade, em outros, promovem a temperança. Para Mociusky, o ser humano está cada vez mais atento aos cuidados com sua saúde e bem-estar, e busca consumir produtos nutritivos e saudáveis.

Um relatório da Trendsity indica que 72,6% dos consumidores em todo o mundo são afetados pelo estrese e ansiedade e mostram um grande interesse em adquirir comidas que a ajudem a equilibrar suas emoções e melhorar o descanso.

Embora seja um desafio, existem alguns alimentos que podem ajudar a adormecer e tornar o sono melhor. Nessa linha, a nutricionista Ponce recomenda focar em três pilares complementares: jantar entre duas e três horas antes de dormir para permitir a digestão; escolher porções moderadas e leves e ser consciente em relação à ingestão de alimentos durante o dia. Ela enumera nove alimentos que favorecem um descanso profundo e regenerador:

OLEAGINOSAS

Asoleaginosas, como nozes, pistaches e amêndoas, são fonte de magnésio, um mineral essencial para melhorar a qualidade do sono e evitar a insônia. Recomenda-se comer um punhado e ativá-los na água para melhorar suas propriedades.

BANANAS

As bananas fornecem magnésio e potássio. dois minerais essenciais para gerar um bom descanso, relaxar e recuperar os músculos a pós a atividade física. É recomendado para atletas, pois ajuda a prevenir cãibras.

OVOS

Os ovos são fonte de proteínas essenciais que ajudam a fabricar e sintetizar neurotransmissores, como a serotonina e a melatonina, e que contribuem para adormecer e melhorar a qualidade do descanso.

PEIXES GORDOS

Truta, salmão e atum são a principal fonte de triptofano, o aminoácido que promove a formação de serotonina e melatonina – neurotransmissores que ajudam a melhorar o descanso – e ômega3 – que regula o ciclo circadiano. Entre suas vantagens, destaca-se também a prevenção de doenças cardíacas. Sua ingestão é recomendada pelo menos duas vezes por semana.

IOGURTE

Rico, fresco e prático. O iogurte é fácil de digerir e é um aliado perfeito para manter a saúde digestiva e estomacal em equilíbrio e regular o microbioma intestinal. Também fornece cálcio, necessário para fortalecer os ossos.

VEGETAIS DE FOLHAS VERDES

Rúcula, acelga e espinafre fornecem magnésio, antioxidantes para estimular o sistema imunológico. Recomenda-se comê-los cozidos para obter ferro e cálcio.

KIWI

Uma fruta cheia de antioxidantes naturais que ajudam a manter as células do corpo saudáveis e vitamina C, que promove a síntese de hormônios e fortalece o sistema imunológico. O kiwi teve origem na China e chegou à Nova Zelândia no início do século 20, país que o adotou como seu e deu o nome de sua ave nacional.

FRUTAS VERMELHAS

Ricas em antioxidantes e polifenóis, que ajudam a microbioma intestinal a funcionar adequadamente e também auxiliam na melhora do ciclo circadiano.

CHOCOLATE AMARGO

O requisito é que contenha o mínimo de açúcar possível. Nesse caso, possui um alto nível de triptofano e consumi-lo na medida certa também ajuda a reduzir o estresse e a depressão.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

OS 7 CAMINHOS PARA ENCONTRAR A FELICIDADE, NA VISÃO DE HARVARD

Cientistas ensinam como manter uma vida plena. Manter relações frutíferas com amigos e família está na lista de recomendações

Há quem repita com frequência a frase “a felicidade não é um estado prolongado, são momentos”. Mas após décadas de pesquisas, cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, parecem ter encontrado os caminhos para quem quer ser feliz. Segundo Stephanie Collie, médica e professora de psiquiatria da Escola de Saúde de Harvard, existem certos hábitos que podem ser incorporados ou levados em consideração na vida diária para atingir esse estado de realização e alegria.

Para George Vaillant, psiquiatra de Harvard que liderou um estudo por 75 anos para identificar o que faz uma pessoa feliz, afirma que a chave está nas conexões.

Veja abaixo as dicas para ter uma vida mais feliz.

EXERCÍCIO AERÓBICO

A atividade física é como um banho de espuma de neurotransmissores, e seus efeitos duram muito além do término da atividade.

ESPIRITUALIDADE

Quando nos juntamos a algo maior que nós mesmos, desenvolvemos sentimentos de gratidão, compaixão e paz. A meditação é uma maneira poderosa de modificar os caminhos do cérebro para aumentar a alegria.

CONTATO COM O NOVO

Somos programados para sentir alegria quando experimentamos coisas novas. Desenvolver uma nova pesquisa pode nos ajudar a reorientar nossa energia.

DEDICAÇÃO AO OUTRO

Atividades como o voluntariado ou ajudar/colaborar com os outros produzem maior felicidade do que aquelas que nos fazem focar em nós próprios.

NEGATIVIDADE LONGE

Seja por colegas de trabalho fofoqueiros, um relacionamento tóxico com um membro da família ou um amigo que reclama, passar o tempo com uma mentalidade negativa nos influencia. Nesses casos, não há problema em impor limites.

CONEXÃO COM AS PESSOAS

Os relacionamentos humanos são a chave para a felicidade. É o que concluiu uma pesquisa, chamada de Harvard Study of Adult Development, que acompanhou de perto 700 estudantes universitários do sexo masculino da universidade americana por 75 anos. O trabalho mediu uma ampla gama de traços psicológicos, antropológicos e físicos, desde tipos de personalidade até QI, hábitos de bebida e relações familiares, em um esforço para apontar que fatores contribuem para o florescimento humano. Valliant concluiu que a única coisa que importa na vida são os relacionamentos humanos. O psiquiatra disse ao portal Huffington Post que “um homem pode ter uma carreira de sucesso, dinheiro e boa saúde física, mas sem relacionamentos amorosos e de apoio, ele não seria feliz”. No entanto, o especialista explicou que a conclusão do estudo não é dada no sentido médico, mas psicológico.

Como os pesquisadores observaram de perto os ex-alunos, eles descobriram que as relações com os amigos, e especialmente com os cônjuges, eram muito importantes para o bem-estar geral. As pessoas em relacionamentos mais estáveis foram protegidas contra doenças crônicas, mentais e problemas de memória, mesmo que esses relacionamentos tivessem momentos de altos e baixos.

Segundo a pesquisa, relacionamentos sólidos são o indicador mais forte de satisfação com a vida. Somado a isso, os pesquisadores detectaram que poder “estar conectado” consigo mesmo e com os outros também leva à satisfação pessoal e profissional, porque sentir-se conectado ao trabalho que se faz era mais importante para os participantes do que ganhar dinheiro ou ter sucesso.

“Felicidade é poder se conectar”, disse Vaillant. “Quanto mais áreas da sua vida você puder conectar, melhor.”

A ideia de que ter mais dinheiro e poder traz maior felicidade é totalmente falsa segundo Harvard.

“Não é que isso não importa, é que é uma pequena parte de um quadro muito maior e, embora possa ser de grande importância para nós em um determinado momento, diminui quando vistos no contexto de uma vida plena”, disse o psiquiatra.

Um bom relacionamento com a mãe é importante mesmo na idade adulta. Homens que tiveram relacionamentos “calorosos” com suas mães na infância ganharam uma média de US$ 87 mil (aproximadamente R$ 460 mil) a mais por ano do que homens cujas mães não se importavam com eles; e aqueles que tiveram relacionamentos ruins com suas mães durante a infância eram muito mais propensos a desenvolver demência na velhice.

ÁLCOOL SEM EXAGERO

Outro achado importante do estudo aponta que o consumo de álcool foi a principal causa de divórcio na vida dos homens que participaram da análise. O abuso dessa substância foi fortemente correlacionado com neurose e depressão (que tendiam a seguir o abuso de álcool, em vez de precedê-lo) e, juntamente com o tabagismo associado, foi o maior fator contribuinte para a morte precoce em pacientes observados pela pesquisa.

OUTROS OLHARES

PRETAS E PARDAS SÃO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DE MORTALIDADE MATERNA

Para especialistas, racismo e falta de acesso a tratamentos estão entre as causas

Uma pesquisa realizada pelo IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) e pelo Instituto Çarê mostra que mulheres pretas e pardas são as que mais sofrem com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. As mulheres pretas também são as maiores vítimas das principais causas de mortalidade materna no Brasil.

De janeiro de 2014 a dezembro de 2021, a cada 1.000 mulheres em trabalho de parto no país, 28,4 tiveram eclâmpsia ou pré-eclâmpsia. Para as mulheres brancas, essa taxa foi de 24,9, enquanto para as pardas foi de 27,5 e, para as pretas, de 32,8.

Em 2014, a taxa dessas duas intercorrências obstétricas para todas as gestantes foi de 25,2, contra 33,3 em 2021. Para as mulheres pretas, porém, passou de 30,5 para 41,3.

As duas outras principais intercorrências – hemorragia grave e sepse grave – também foram analisadas, mas não apresentaram diferenciação tão expressiva. No caso da hemorragia, a média no período foi de 9,1 para as mulheres pretas, 9,5 para as brancas e 10,6 para as pardas. Em relação à sepse, a média foi de 6,6 entre puérperas brancas, 7,6 entre pretas e 9,0 considerando as pardas.

Pesquisador de economia da saúde e autor do trabalho ao lado de Gisele Campos, Rony Coelho ressalta que, em grande medida, essas intercorrências são evitáveis por meio do pré-natal adequado e do atendimento de qualidade. Não é isso, porém, que se observa, de acordo com a epidemiologista Emanuelle Góes, autora de um estudo que mostra as disparidades nos cuidados das mulheres.

Publicada na revista Ciência & Saúde Coletiva, a pesquisa de Góes sinaliza que a letalidade por Covid-19 entre gestantes e puérperas pretas e pardas foi maior do que a observada entre as brancas. Indica ainda que as gestantes negras tiveram menos acesso à UTI e que a chance de óbito materno no puerpério para as mulheres pretas foi 62% maior em comparação às brancas.

“Temos uma questão que precisa ser reconhecida que é o racismo institucional. Ele interfere no processo de cuidado, na tomada de decisão dos profissionais e até mesmo das próprias mulheres. Elas vivenciam diversas violências institucionais, seja de forma individual ou coletiva, sabendo que sua mãe, sua irmã e sua vizinha têm uma história de violência para contar, e isso retarda a procura pelo serviço”, analisa.

Góes menciona estudos anteriores que apontam, por exemplo, que as mulheres negras são menos tocadas por profissionais de saúde e que sua pressão arterial é aferida com menos frequência, o que impacta o controle da hipertensão e a prevenção à pré-eclâmpsia. A altura uterina das mulheres negras também é medida menos vezes, as consultas de pré-natal são mais curtas e o tempo para serem atendidas é maior, segundo a pesquisadora, que integra o grupo temático Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

Somado a isso, muitas mulheres negras e indígenas moram em locais distantes dos serviços de média e alta complexidade, sem acesso a UTIs. “Temos um conjunto de fatores permeado pelo racismo que leva ao desfecho da mortalidade materna. São pessoas negras e indígenas que vivem nesses locais segregados, sem acesso aos serviços. O racismo gera essa segregação”, afirma Góes.

O estudo do IEPS e do Instituto Çarê, realizado a partir de dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, indica que as mulheres pretas apresentam os piores indicadores quando consideradas as causas de mortalidade materna mais frequentes no país entre 2014 e 2021.

Elas são as principais vítimas de complicações relacionadas ao parto e puerpério, assim como de afecções obstétricas como doenças virais, doenças infecciosas e parasitárias, anemia, doenças do sistema nervoso e do aparelho circulatório que complicam a gravidez, o parto e o pós-parto.

“A literatura agrega as intercorrências mais graves e as causas de mortalidade, enquanto no nosso trabalho destrinchamos os vários tipos”, compara Coelho.

“Os estudos também apontam que existe é uma diferenciação entre brancas e negras na mortalidade materna, mas não esperávamos que fosse tão gritante e tão consistente ao longo do tempo”, diz o pesquisador, para quem a persistência da desigualdade reafirma o discurso de ativistas que há anos alertam para o racismo na saúde.

Para Góes, o enfrentamento ao racismo institucional passa pelo respeito à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que preconiza a luta contra as altas taxas de mortalidade dessa população. “Precisamos que a política seja implementada nas três esferas, nacional, estadual e municipal para contemplar desde a atenção básica, onde as mulheres fazem o pré-natal, até os hospitais de média e alta complexidade”.

“Tanto a política da população negra quanto a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher são fortes, concretas e bem elaboradas. O que precisamos é que sejam implementadas”, avalia a cientista.

Por outro lado, ela defende ser necessário investir no treinamento antirracista do profissional de saúde, seja ele já formado ou ainda em início de formação.

“As cotas permitem não apenas trazer jovens negros para a área da saúde, mas incentivam a reformulação de referências bibliográficas, de narrativas. Vivemos muito tempo em um modelo que subjuga os corpos negros, que acha que devem ser usados como cobaias, e agora estamos tentando construir algo diferente. É desse lugar que é preciso construir uma nova medicina, uma nova enfermagem, uma nova forma de lidar com as pessoas na prática, no cuidado e na ciência”.

GESTÃO E CARREIRA

HÁ FALTA DE CANDIDATOS QUALIFICADOS VOLTADOS À SUSTENTABILIDADE

As organizações encaram uma grande escassez de talentos em sustentabilidade para cumprir seus cada vez mais ambiciosos compromissos climáticos

A Salesforce, líder mundial em soluções de gestão de relacionamento com clientes (CRM), publicou o estudo global ‘Sustainability Talent Gap Research’, que analisa a lacuna existente entre a conscientização e o treinamento de colaboradores nas habilidades necessárias para assumir funções de sustentabilidade e ajudar suas respectivas empresas a cumprirem seus compromissos climáticos.

A partir da conversa com executivos de sustentabilidade, a Salesforce conduziu o estudo em 11 países – incluindo o Brasil – com 1.297 funcionários. O resultado revela que as empresas estão enfrentando enorme pressão para cumprir suas metas climáticas que vêm de agências reguladoras, conselhos e de seus próprios funcionários.

Apesar dessa pressão, as organizações encaram uma grande escassez de talentos em sustentabilidade para cumprir seus cada vez mais ambiciosos compromissos climáticos.

O cenário de dificuldade é percebido pelos funcionários. Segundo o estudo, a confiabilidade dos trabalhadores na efetividade das ações das empresas é baixa.

Três em cada cinco respondentes afirmaram duvidar que suas empresas atinjam as metas em tempo e quatro em cada cinco têm ainda menos fé ao analisar sua confiança nos esforços de outras empresas. Apesar disso, oito em cada dez trabalhadores globais querem ajudar sua companhia a operar de forma sustentável. Já três em cada cinco colaboradores afirmaram ansiar por incorporar temas sustentáveis à sua função atual.

O desconhecimento também apareceu como fator relevante. Os funcionários demonstraram pouca consciência sobre os esforços climáticos de suas empresas, com 53% deles desconhecendo se a empresa já zerou as emissões líquidas de gases do efeito estufa ou não.

Treinamento aparece como solução interna para época de escassez de talentos no mercado de trabalho. 67% dos trabalhadores gostariam de ter mais qualificações relacionadas à prática ESG e 94% deles disseram que o treinamento nessas habilidades ajudaria na construção de confiança nos compromissos de sustentabilidade das empresas.

“Com uma força de trabalho emergente esperando para ajudar, as empresas devem voltar sua atenção para o treinamento. Ao capacitar os trabalhadores que desejam dar o salto para carreiras de sustentabilidade, as organizações podem obter talentos para funções difíceis de preencher, enquanto ajudam os funcionários a trabalhar em algo pelo qual são apaixonados”, ressalta Thatiana Papaiz, diretora de desenvolvimento do ecossistema de parceiros na Salesforce.

De acordo com a pesquisa, a vacina para o ceticismo dos funcionários é um plano de investimento em treinamentos de sustentabilidade. 95% dos entrevistados acreditam que relatórios de sustentabilidade mais fáceis de entender ajudariam a criar confiança nos compromissos das companhias. Entretanto, 88% dos entrevistados veem pouco investimento em treinamento voltados para a sustentabilidade.

“As empresas têm a responsabilidade de capacitar seus talentos com educação em sustentabilidade, e a Salesforce trabalha para atingir esse objetivo. No primeiro semestre de 2022, tivemos quase 7.000 conclusões a mais em programas de educação relacionados à sustentabilidade por meio da plataforma gratuita Trailhead em comparação com todo o ano anterior”, finaliza a executiva.

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EU ACHO …

‘HOMESCHOOLING’

Sou contra a ‘escola em casa’ porque as famílias não estão com essa bola toda

Sou contra. “Homeschooling”, ou “escola em casa”, é uma daquelas modinhas que a direita brasileira importou da direita americana, como arma para todos e fake news como liberdade de expressão. O maior argumento contra os bobocas da direita hoje é eles terem vícios semelhantes aos inteligentinhos da esquerda: importar todo tipo de lixo americano. Os EUA são o maior produtor de lixo cultural do mundo.

Sou contra a “escola em casa” porque não acho que as famílias estão com essa bola toda. Assim como desconfio de gente que quer ficar falando de sexo – ou similares – com crianças, desconfio de pais que querem educar seus filhos em casa.

O argumento máximo a favor da escola formal é a pluralidade de ambientes que ela oferece. Claro que nessa pluralidade vai todo tipo de risco, mas quem disse que as famílias não são um risco também? Principalmente aquelas que querem ter o monopólio dos “valores” – eita expressão brega essa “valores” – na formação dos filhos. Acho gente muito esquisita esse povo que defende a “escola em casa”.

Evidente que há uma parte da escola que acontece em casa. Pais que se importam tanto com a escola deveriam tirar dez em toda tarefa para casa dos filhos. Mas não. Quem defende a “escola em casa” o faz por uma forma peculiar de arrogância. Entende a si mesmo como especialista em tudo.

No lado diametralmente oposto aos pais que correm atrás de especialistas de forma paranoica para fazer diagnósticos psicopatológicos dos filhos, os defensores da “escola em casa” são também uma forma teratológica – não sabe o que é, olhe no Google – da paternidade e maternidade loucas do mundo contemporâneo.

Não duvido que existam países que pratiquem essa forma de escola. O que, por si, não prova nada. Mas a realidade do Brasil é que a “escola em casa” é capricho de classe média obcecada com ser a única fonte de mundo dos filhos – o que, por si só, já deve levantar suspeitas. Quem defende a “escola em casa” acaba pedindo a Deus ou a extraterrestres para dar um golpe de Estado no Brasil.

A realidade do Brasil é “escola em lugar nenhum” porque grande parte das crianças não vai à escola nenhuma. Grande parte das famílias não tem estrutura para garantir nem a ida das crianças para a escola formal, quanto mais “escola em casa”. Por isso, toda essa discussão é jogar no lixo tempo de resolução para os problemas sérios da educação no Brasil.

Não entremos aqui num debate profundo sobre educação porque ela simplesmente não comporta profundidade nenhuma. A questão é urgente demais para as complexas combinações da inteligência. A questão é puro desespero. É necessário botar as crianças na escola porque, do contrário, o país vai para o saco, mais do que já está. E escola aqui é escola formal, onde elas deviam passar o dia todo.

Sim, a educação é rasgada por modas ideológicas, professores pregadores, infraestrutura lixo. As escolas privadas são empresas submetidas ao mercado e à queda na natalidade. As universidades são instituições em que burocratas, marqueteiros e politiqueiros dominam o território. Aluno importa como renda. A gente sabe disso tudo. Não há nenhuma grande teoria na educação afora muita idealização da própria atividade ou modas de autoajuda e motivacional. Ou ela é política, ou é psicologia ou é vendas. Por isso mesmo não cabe nenhuma profundidade no assunto.

O problema é mais de engenharia do que de ciências humanas. Quando uma situação fica tão miserável quanto a educação no Brasil, a única atitude possível é a busca do razoável. No caso, instalações descentes, professores treinados, crianças com dentes na boca, ambiente seguro, comida sem veneno, carga horária completa, ler, escrever, fazer conta, aprender a conviver com outras crianças que serão os adultos do futuro.

Vale acrescentar que a família brasileira é, em grande parte, tão miserável quanto as outras instituições brasileiras. Portanto, esse fetiche com uma educação em que a família é responsável pelos “valores” – de novo essa expressão brega – a serem passados para os filhos é papo furado. Arrogância e blá-blá-blá.

LUIZ FELIPE PONDÉ – É escritor e ensaísta, autor de ‘notas sobre a esperança e o desespero’ e ‘Política no Cotidiano’. É doutor em filosofia pela USP

ESTAR BEM

O QUE SABER ANTES DE FAZER DEPILAÇÃO A LASER

Nem todas as pessoas podem fazer o procedimento, que reduz o tempo do crescimento dos pelos

Os pelos estão presentes por todo o corpo e existem motivos para isso. Seja nos pés ou na cabeça, os pelos têm a função de regular a temperatura corporal, oferecer proteção e facilitar a eliminação do suor. Só que para algumas pessoas são verdadeiros incômodos. É por isso que muitos buscam, por meio da depilação a laser, eliminá-los pela raiz.

Não à toa, o procedimento tem se tornado um dos mercados com maior potencial de crescimento dentro do segmento nacional de saúde, beleza e bem-estar. A avaliação é de Danyelle Van Straten, diretora da Comissão de Saúde e Beleza da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que representa o sistema brasileiro de franquias. Os números evidenciam essa ascensão: são quase 3 mil lojas que atualmente estão associadas à ABF e que realizam depilação a laser em todo o País. Isso representa um aumento de 79% em comparação a 2020 e de 30% com relação a 2021. “É um mercado em crescimento que, apesar de parecer saturado, não está. E pode ser multiplicado por dez nos próximos anos”, avalia Danyelle.

Com o tratamento se tornando cada vez mais comum entre os brasileiros, é necessário ficar atento aos cuidados necessários antes e depois do procedimento. Realizar a depilação a laser de forma segura é o melhor caminho para garantir os resultados esperados.

DIFERENCIAL

O que é, afinal, a depilação a laser? É um procedimento estético adotado para se eliminar ou reduzir a quantidade de pelos em qualquer área do corpo. Só que ele tem um diferencial: o tempo para o aparecimento de novos fios costuma ser maior do que em outras formas de depilação.

Isso acontece porque o laser atinge diretamente a área onde ficam as células germinativas do pelo e a melanina – uma proteína presente no corpo que dá coloração aos fios – tem papel fundamental nisso. “A luz do equipamento de laser é absorvida pela melanina e, através dela, alcança a raiz do pelo”, explica Maria Luiza Pires, médica dermatologista do Departamento de Laser da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A redução ou eliminação dos pelos é resultado dessa interação entre a luz e a região do corpo tratada.

“O objetivo da depilação a laser não é zerar o número de pelos. Conseguimos eliminar em torno de 20% deles”, explica a médica. Por isso, para um resultado satisfatório, é necessário realizar em média 5 sessões – às vezes, um pouco mais ou menos. O tempo de cada sessão também é bastante específico e pode variar de acordo com a região tratada. “O tratamento na axila vai durar em torno de 20 minutos. Já na perna pode durar em torno de uma hora.”

Mas não são todas as pessoas que podem realizar esse tratamento e essa decisão, conforme explica a dermatologista, só pode ser adotada por um médico. Um caso concreto: é certo que mulheres grávidas não devem optar pela depilação a laser, uma vez que o procedimento pode favorecer o aparecimento de manchas na pele e ocasionar prejuízos à saúde do bebê.

RISCO DE MANCHAS

Já pessoas de pele negra ou bronzeada não estão proibidas de realizar o procedimento, mas exigem atenção especial. Dependendo do laser utilizado, podem ocorrer manchas e queimaduras na pele. “Nesses casos, existem aparelhos com comprimento de onda maior e que atendem melhor esses pacientes, mas só o dermatologista poderá dizer qual o melhor equipamento para esse tipo de pele.”

Há ainda outros casos de contraindicações, como pessoas com tendência para cicatrizes do tipo queloide; portadores de doenças autoimunes, como o vitiligo; pessoas com lesões na pele causadas pela psoríase; pacientes com distúrbio hormonal que gere pelos em excesso; e pessoas com histórico de câncer na família – mesmo que o procedimento não tenha potencial cancerígeno. “A avaliação médica é importante para que o paciente não invista tempo e dinheiro e não tenha um bom resultado.” Para os mais sensíveis à dor, existem soluções. “Fazer a aplicação de um creme anestésico ou usar uma fonte de ar gelado sobre a pele durante o procedimento já minimiza bem o desconforto”, diz a médica. Antes do tratamento, no entanto, é importante não tomar sol por pelo menos quatro semanas e não usar nenhum método de depilação no mês anterior.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

HUMOR E LEVEZA PODEM AJUDAR A ENCARAR AQUELES DIAS DIFÍCEIS

Especialistas dão dicas para cultivar atitude mais positiva em meio à rotina

Wendi Aarons estava escrevendo em uma biblioteca pública quando o som de uma voz irritada fez todos olharem para cima. Uma frequentadora, indignada com uma regra sobre livros, prometeu levar seu filho para outra biblioteca e saiu furiosa depois de repreender os funcionários. A sala inteira ficou “muito incomodada”, lembrou Aarons, uma humorista em Austin, no Texas, nos Estados Unidos. “Foi um silêncio simplesmente horrível e desconfortável.”

Mas Aarons, uma profissional em equilibrar humor e desconforto, viu uma brecha. Ela se levantou e disse: “Ei, alguém tem o telefone dessa outra biblioteca? Porque eu quero ligar lá e avisá-los”.

O riso tomou conta e o humor melhorou. As coisas voltaram ao normal. Esse é o poder sutil de “aliviar o clima”.

“A leveza de espírito é uma mentalidade”, disse Naomi Bagdonas, professora da Escola de Administração de Stanford nos EUA que aconselha executivos a liderar com humor e humanidade. “É procurar razões para ficar encantado, em vez de decepcionado, com o mundo ao seu redor.”

Bagdonas se soma a um coro de especialistas que dizem que cultivar a leveza de espírito é essencial para o bem-estar. Tentar relaxar pode parecer desafiador diante da situação mundial. Uma prática mais contida – como mindfulness, que certamente tem suas vantagens – pode parecer mais apropriada para “estes tempos sem precedentes”. Levar as coisas menos a sério nos permite “viajar com mais leveza” e “salva o organismo e a alma de uma estrada muito esburacada”, afirmou Willibald Ruch, professor e pesquisador de psicologia positiva na Universidade de Zurique (Suíça).

Quando você está estressado, seu sistema nervoso inicia a reação de “lutar ou fugir”, causando uma cascata de efeitos fisiológicos: o corpo libera hormônios do estresse, que fazem sua frequência cardíaca e pressão arterial aumentarem. Sua respiração torna-se curta e superficial, e seus músculos ficam tensos. Às vezes isso é útil, como quando você está em perigo imediato. Mas muitas vezes – como quando você está atrasado e preso no trânsito – a reação ao estresse adiciona um desconforto desnecessário a uma situação já desagradável. Com o tempo, o estresse crônico pode afetar negativamente a saúde.

“A leveza de espírito é nosso principal veículo para restaurar um estado de relaxamento”, afirmou Emiliana Simon-Thomas, diretora científica do Centro de Ciência para o Bem Maior da Universidade da Califórnia em Berkeley. E isso ajuda a criar um amortecedor e escapar do estresse mental e físico que é a origem de grande parte do nosso sofrimento, disse ela.

Humor e leveza de espírito estão relacionados, mas os termos não são intercambiáveis. Há mais estudos sobre humor e outros fenômenos como riso, brincadeira, diversão e alegria, declarou Ruch. Mas grande parte da pesquisa relacionada está sob o guarda-chuva da leveza de espírito, explicou ele. O elemento central subjacente a essas experiências que se sobrepõem é uma sensação de leveza, bem como uma postura de não levar tudo tão a sério.

Embora declarar que “rir é o melhor remédio” possa ser um alvo muito distante, uma risada tem efeitos poderosos. Existem estudos que ligam o riso a mudanças positivas na frequência cardíaca, pressão arterial e tensão muscular.

E muitas outras evidências apoiam a ideia de que viver com leveza pode ajudar as pessoas a se sentirem melhor. Existem pequenos estudos que relacionam o riso, o humor e a diversão a um maior otimismo, sensação de controle e satisfação com a vida, assim como diminuição da depressão, do estresse e da ansiedade.

A pesquisa também sugere que o humor nos ajuda a construir laços mais fortes uns com os outros, com elos para maior satisfação em relacionamentos românticos e no trabalho.

A ideia de “trabalhar a leveza de espírito” pode parecer um pouco forçada. Mas, assim como para formar qualquer hábito, a prática ajuda, e há evidências de que criar experiências divertidas propositalmente traz os mesmos benefícios que a diversão espontânea.

“A capacidade de experimentar diversão e leveza é uma das maneiras pelas quais as pessoas podem mudar”, afirmou Caleb Warren, codiretor do Laboratório de Pesquisa do Humor da Universidade do Colorado e professor de marketing da Universidade do Arizona.

Ruch e seus colegas deram aos participantes um treinamento de humor de oito semanas, no qual eles completavam as seguintes tarefas em nome da ciência: assistiam a programas de TV mais engraçados, riam mais alto ou por mais tempo do que normalmente fariam, identificavam trocadilhos na mídia e nas conversas e faziam piadas autodepreciativas. Os estudantes relataram aumento da alegria e diminuição da seriedade como resultado.

Então, como tentar isso em casa, sem a ajuda de um treinamento oficial de humor? Aqui estão algumas maneiras de começar.

PROCURE COISAS QUE SÃO SÓ UM POUQUINHO DIVERTIDAS

Procurar coisas que são “engraçadas” pode transformar a leveza em uma tarefa árdua. Em vez disso, tente perceber “o que é verdade, e um pouquinho divertido”, aconselhou Bagdonas. Quando sua filha irritada entra na sala, ela se parece um pouco com um pequeno ditador bêbado? Quando você passa por um parque de cães, pode perceber como tudo aquilo parece um bar de pegação canino?

Sensibilizar-se para esses momentos prepara você para percebê-los e saboreá-los, afirmou Heather Walker, psicóloga organizacional que se descreve como uma “pessoa séria em recuperação” e dirige uma consultoria no local de trabalho chamada Leadwith Levity (Liderar com leveza).

CRIE UM DIÁRIO DE LEVEZA

Encontre tempo para registrar suas experiências divertidas. Talvez em sua corrida matinal um homem passe por você vestindo um traje de Papai Noel. Durante seu trajeto para o trabalho, talvez o condutor do trem faça um anúncio completamente ininteligível e você faça contato visual com outro passageiro e ria. Esses pequenos momentos são os principais candidatos para o seu diário.

Estudos de intervenção baseados em humor descobriram que simplesmente escrever três coisas engraçadas do seu dia (ou contá-las e revisar o total à noite) durante uma semana pode reduzir os sintomas de depressão e melhorar o bem-estar por até seis meses.

Leia seu diário periodicamente para repetir os bons sentimentos e talvez até rir. “Quando você está relendo isso, você está revivendo essa experiência. Seu corpo vai se beneficiar”, afirmou Walker.

QUANDO ALGO DER ERRADO, TENTE LEVAR NA BRINCADEIRA

A teoria do humor da “violação benigna” diz que impropriedades inofensivas têm muito potencial para serem engraçadas se você as olhar da maneira certa, pontuou Warren. Portanto, sempre que você cometer ou testemunhar uma gafe inócua – digamos, esquecer de desligar o microfone durante uma reunião no Zoom e deixar todos ouvirem uma conversa entre você e seu gato – é uma excelente oportunidade para se divertir.

Pequenos contratempos são fáceis de reformular na hora, mas deixe o material mais desafiador para mais tarde. Reestruturar violações maiores é mais fácil em retrospecto porque o tempo fornece a distância psicológica necessária para reduzir a percepção de uma ameaça, disse Warren.

Uma briga com seu parceiro sobre quem deve esvaziar a máquina de lavar louça, por exemplo, pode parecer mais divertida um ou dois dias após a conflagração inicial.

PASSE TEMPO COM AS PESSOAS QUE TE FAÇAM RIR

Se a ideia de manter um diário de leveza ou rir de seus próprios infortúnios faz você querer chorar, deixe a leveza de espírito borbulhar na companhia de seus entes queridos.

Humor e leveza vêm muito naturalmente quando estamos com as pessoas que nos colocam em estado de alegria, disse Bagdonas. É “uma melodia fundamental da conversa humana”.

CONHEÇA SEU SENSO DE HUMOR

Se você tem certeza de que não tem um único osso engraçado em seu corpo, talvez não conheça seu senso de humor. Todo mundo tem um, disse Jennifer Aaker, cientista comportamental e professora de marketing na Escola de Administração de Stanford. E colocar uma ponta mais fina no seu permite que você ouse. Ela e Bagdonas identificaram quatro estilos de humor: aqueles que são ousados e irreverentes; os que são mais sérios e muitas vezes autodepreciativos; aqueles que usam o sarcasmo – mestres da piada inesperada; e os que são comediantes expressivos e carismáticos. Compreender seu estilo permite que você o perceba e aprecie, e o prepara para estar mais consciente para as tentativas de humor alheias, inclinando-o a ser mais generoso com seu riso, segundo a cientista comportamental.

HUMOR COMO INGREDIENTE DA SUA DIETA DE MÍDIA

Além de promover a leveza de espírito, aproveite o fruto fácil da boa comédia. Há um número infinito de vídeos do TikTok, programas de TV, escritores e podcasts por aí. Por que não trocar alguns dos terríveis dramas criminais por conteúdo que o faz se divertir?

“Mesmo em dias muito sombrios, tento encontrar algo que me faça rir ou sorrir, mesmo que seja um meme bobo de gato”, disse Aarons.

OUTROS OLHARES

SOB A PELE

O aborto, antes assunto raro na produção cultural, passa de tabu a tema do momento e ganha mais espaço em filmes, livros e nas artes

Uma mulher com o rosto embriagado de dor, se apoiando de cócoras e já sem forças, repousa a cabeça na cama de um quarto virado do avesso – uma poltrona está tombada de lado, uma jarra d’água parece fora de lugar apoiada no chão. Ela tenta resistir a dores que parecem invadir todo o seu corpo, enquanto levanta as saias e encaixa o quadril numa tigela.

O que Paula Rego pintou no fim da década de 1990 era o retrato de um aborto caseiro – um caso raro nas artes visuais. Apesar de ser prática comum no mundo, e que traz uma série de discussões políticas, a interrupção da gravidez ficou por muitos anos invisível em galerias, museus, cinemas, na TV, nos palcos e nos romances.

Nos últimos tempos, porém, as nuances que a artista portuguesa explorou em sua série “Aborto” ganharam mais contornos na cultura pop.

Na semana passada, por exemplo, a cantora americana Phoebe Bridgers defendeu a legalização da prática em seu show no festival Primavera Sound, em São Paulo. Ela disse que as mulheres deveriam ter acesso à interrupção da gravidez e dedicou sua canção “Chinese Satellite” à causa.

Não é exagero dizer que, cada vez mais, há novas obras sobre o tema – e com análises de como ele pode ser registrado.

O museu Whitney, em Nova York, expôs pela primeira vez em 90 anos uma obra explicitamente relacionada ao aborto. “Is It Real? Yes, It Is”, de Juanita McNeely, apresentou nove cenas de angústia causada pela interrupção da gravidez neste ano. Outras exposições que abordam o tema pipocam nos Estados Unidos, sobretudo após a Suprema Corte do país suspender o direito constitucional ao aborto.

Foi no mesmo mês da decisão que estreou “O Acontecimento”. Dirigido por Audrey Diwan, o filme vencedor do Festival de Veneza traz um relato autobiográfico – mesclado com ficção – de Annie Ernaux, premiada com o Nobel de Literatura neste ano.

Isso não significa que qualquer retrato do aborto seja bem recebido. Recentemente, o filme sobre a atriz Marilyn Monroe, “Blonde”, gerou rebuliço por uma cena com um feto falante. No meio de um aborto não consensual, ele faz uma pergunta à protagonista traumatizada. “Você não vai me machucar desta vez, vai?”

Caren Spruch, diretora de artes e entretenimento da Federação de Planejamento Familiar da América, disse ao site The Hollywood Reporter que o filme falhou ao igualar fetos a bebês, o que foi apontado por ela e ativistas feministas como desinformação. Mas porque esse tema, ainda que sob críticas, tem aparecido por aí depois de décadas de silêncio? Uma jornalista de artes visuais do New York Times afirma que esse movimento é resultado de uma mudança geracional em museus e galerias e de uma onda de jovens artistas que investigam uma identidade pessoal que passou das margens da cultura para o mainstream.

Pesquisadoras que acompanham o tema, no entanto, apontam que isso tem a ver com a forma como o assunto é tratado socialmente – e isso muda de país para país.

Historicamente, o aborto nas artes oscila entre autorretratos dramáticos – com frequência embalados em trauma e culpa, caso de “Frida e o Aborto”, pintura de Frida Kahlo – e imagens sobre a precarização da prática clandestina, como a própria série de Paula Rego. É um assunto, sobretudo, tratado aos sussurros.

O New York Times contabilizou que nenhum artefato do 1,5 milhão de itens mostrados no Metropolitan fala do tema. O mesmo ocorre com os 150 mil objetos do Museu do Brooklyn.

Segundo a artista Maria Antônia, que retrata a prática em uma de suas obras, o pouco destaque que o assunto tem na história das artes se relaciona com o debate ideológico dos grupos pró-aborto e pró- vida – contrários à legalização.

Em “Aborto”, a pintora ilustra com cores frias uma mulher sangrando pela vagina ao interromper sua gravidez. O quadro faz parte de sua série “Carne e Corpo”, em que ela se volta à sexualidade humana. “Não é um assunto de fácil digestão”, diz ela. “Nós vivemos num mundo patriarcal, com ideais da Igreja Católica, da fertilidade e da família.”

A artista Aleta Valente diz que sua obra “Marque um X para Cada Aborto que Você Já Fez”, que é composta de um mural e um canetão que convidam o público a interagir, já foi barrada algumas vezes em galerias que diziam temer repercussão negativa.

“Já disseram que era assunto de foro íntimo e não tinha nada a ver com exposições”, afirma Valente, ressaltando, porém, que as vezes em que expôs o mural mostraram o contrário. Segundo ela, só na primeira exposição, mais de 260 mulheres marcaram a obra.

Todo o sistema de representações sobre sexualidade, gravidez e maternidade também reforça discursos sobre o que é o aborto – ainda que ele nunca seja mencionado. É o que afirma Marília Moschkovich, pesquisadora de pós-doutorado no departamento de antropologia da Universidade de São Paulo. Por isso ela avalia que o tema é, sim, retratado há muito tempo. Mas nunca como uma possibilidade real diante de uma gravidez indesejada.

“As produções de mídia são muito eloquentes sobre o aborto na maneira que elas tratam da gestão, de como representam a maternidade, por exemplo”, diz ela. “São muito comuns representações na televisão de alguém que engravidou por acidente e a única opção dela é ter a criança. Isso também é um discurso sobre o aborto.”

O segundo tipo usual de representação da interrupção da gravidez, para Marília Moschkovich, é que ele sempre é um procedimento ruim, que envolve sofrimento.

“O aborto muda completamente a maneira com que, principalmente, as mulheres,

mas também homens transexuais, se relacionam com a sexualidade. No Brasil, a gente sabe que a gravidez indesejada é um medo gigantesco, por você passar por processos horrorosos por causa da criminalização”, diz ela.

Esse cenário é agravado com ataques não só ao avanço da legislação pró-aborto, mas na tentativa de coibir casos em que o tema já é legal no país, segundo a pesquisadora.

Como a política institucional lida com o assunto não é lateral para as artes. Uma obra importante do americano Ed Kienholz, “A Operação Ilegal”, reconstrói a violência e o desamparo presentes no procedimento feito de maneira clandestina. São ferramentas enferrujadas, um carrinho de compras que se torna uma mesa de operação e uma iluminação mal direcionada que compõem o retrato do aborto feito por sua mulher.

Isso também incide na própria possibilidade de criar as obras. Annie Ernaux, no livro “O Acontecimento”, narra com sobriedade cortante a dor de ter o útero perfurado por cateteres quando era uma estudante universitária. Ou de como um médico arrogante disse, depois de descobrir seu grau de instrução, que só a tratou mal quando teve de ir às pressas ao hospital porque achou que ela era uma cidadã pobre. E, para a autora, isso só se tornou um livro porque o aborto foi legalizado na França.

“É justamente porque nenhuma interdição pesa mais sobre o aborto que posso, deixando de lado o senso coletivo e as fórmulas necessariamente simplificadas, impostas pela luta das mulheres dos anos 1970, enfrentar, na sua realidade, esse acontecimento inesquecível”, escreve ela.

GESTÃO E CARREIRA

COMO STARTUPS AJUDAM GRANDES EMPRESAS A CORTAR BUROCRACIA

Demanda por colaboração cresce, mas empresas resistem a mudar práticas e a abraçar novas formas de trabalho

Incrementar negócios com a ajuda de startups é um movimento que tem crescido entre grandes corporações no Brasil. Segundo a 100 Open Startups, foram fechados 4.5 mil contratos do tipo em 2022, alta de 30% em relação a 2021 – o montante total chegou a R$ 2,7 bilhões, ou R$ 260 mil por contrato. Mas a relação entre empresas e startups nem sempre é fácil, o que vem forçando nomes tradicionais a ajustar processos internos para lidar com novatas tecnológicas.

A Globo, que interagiu com mais de 2 mil startups no Brasil e no Vale do Silício, enfrentou desafios no processo, como o alinhamento de suas próprias prioridades com a das startups. Segundo Carlos Octavio Queiroz, diretor de estratégia corporativa e arquitetura da Globo, foi preciso balancear suas metas imediatas com o horizonte de exploração das inovações e a execução da estratégia de longo prazo.

“Criamos um fluxo de experimentação e de processos internos para avaliação mais ágil das startups. Também tivemos de adequar processos jurídicos e de suprimentos, criamos documentos mais leves e bilaterais para gerar agilidade nos processos de maneira geral”, acrescenta o executivo.

 A burocracia é um dos grandes entraves enfrentados por startups, diz Amanda Graciano, sócia da Fisher Venture Builder. “Isso pode tornar as coisas mais lentas, mas também reduz riscos”, diz.

Mudanças nesse sentido ocorreram na Nestlé, que se relacionou com mais de 500 startups nos últimos dois anos em áreas desde automatização de limpeza de tubulações de máquinas de café até logística. “Durante processos de compras que envolvem startups ficamos mais próximos. Pagamentos são feitos em prazos menores, pois sabemos que muitas destas empresas não têm caixa para sustentar grandes investimentos”, diz Roberto Boiani, gerente de transformação digital da Nestlé, que investe entre R$50 mil e R$100 mil por prova de conceito conduzida com startups.

A questão dos pagamentos é complexa, diz Jhonata Emerick, CEO da startup de análise de dados Datarisk. “Algumas empresas pagam em mais de 90 dias após o início da prestação de serviço, e isso pode ser difícil para startups no começo da jornada.”

As adaptações são fundamentais para as novatas. Fechar um grande contrato é um dos fatores que podem determinar a sobrevivência de uma startup. Segundo a Associação Brasileira de Startups, sete em cada dez startups fecham as portas antes de completar cinco anos, por motivos como acesso a capital e dificuldades para entrar no mercado.

MENTALIDADE

Processos de transformação mais profundos costumam anteceder o sucesso de empresas que avançaram com startups, um processo conhecido como inovação aberta. Na Ambev – onde 20% da receita vem de novos negócios -, as conquistas vieram na esteira de uma transformação interna iniciada em 2018.

Entre os aprendizados da gigante está envolver “o quanto antes” áreas como as de compliance e jurídico nos projetos com startups, bem como a participação do alto escalão. Bruno Stefani, diretor de inovação da Ambev; diz que usa startups em frentes como experiência do consumidor, logística e sustentabilidade. “Reconhecer as áreas transversais envolvidas, com a presença das lideranças, é fundamental para mantermos o engajamento e o trabalho colaborativo”, frisa.

A Gerdau também tem colhido frutos: a Gerdau Next:, área criada em 2020 que inclui um braço de investimento e uma aceleradora, gerou mais de R$ 1 bilhão em novas receitas só na estreia da operação. Cerca de 50 startups trabalham com a companhia  no Brasil e nas Américas em áreas como construção civil, mobilidade, sustentabilidade e logística. Além disso, criou suas próprias startups em áreas como grafeno.

Graças à transformação digital promovida desde 2012, a Gerdau automatiza processos como homologação e pagamentos, diz Juliano Prado, vice-presidente da companhia e responsável pela Gerdau Next. “Hoje, as coisas acontecem de forma fluida, porque nos adaptamos dentro de casa. Abraçamos a velocidade, a experimentação e a mentalidade da inovação e colaboração com as startups”, diz.

SOBREVIVÊNCIA

Apesar de casos de sucesso, as corporações ainda precisam evoluir suas abordagens em inovação aberta de forma geral tanto do ponto de vista digital quanto cultural, avalia Hugo Tadeu, professor da Fundação Dom Cabral (FDC). “Ainda há um descompasso entre a quantidade de dinheiro que está na mesa e os resultados. Deveríamos buscar mais profundidade e técnica na relação com startups.”

“Muitas empresas se esforçam para mostrar que estão se relacionando com startups, mas nunca terminam um projeto”, diz Arthur Rufino, CEO da Octa, startup que conecta frotistas a centros de desmontagem veicular e atende Gerdau, EDP, Audi e Basf. “Ainda vamos ver isso por um tempo, mas precisamos focar na prática e menos no hype.”

EU ACHO …

PÁGINA DOIS

Você já ouviu a expressão “até a página dois”? Quem usa bastante é minha avó. Lembro que, na adolescência, quando ela me dizia, por exemplo, que alguém estava comprometido com alguma coisa “até a página dois”, eu ficava me perguntando o que aquela tal “página dois” significava.

Aos poucos, fui entendendo que tinha a ver com algo que estava incompleto. Tipo um livro que está com páginas faltando. Hoje percebo nuances destas páginas faltantes na vida. Como nas vezes que me matriculei na academia para voltara fazer exercícios com frequência, mas literalmente só fui duas vezes.

Os paralelos são muitos. Sinto, por exemplo, uma correlação imediata com as empresas que falam sobre diversidade e inclusão e colocam somente uma mulher negra ou indígena, uma pessoa LGBTQIAP+ ou uma com deficiência no quadro de colaboradores e acham que já fizeram o bastante. Ou seja, na cabeça delas já completaram o livro da diversidade, mas, na realidade, foram apenas até a página dois.

No mundo editorial, percebo a mesma coisa. É notório, por exemplo, que existe um sentimento de uma maior proatividade de editoras que procuram diversificar seu portfólio e incluir vozes e escritas antes invisibilizadas, o que é positivo. Mas poucos destes autores negros ou indígenas sentem que são vistos como apostas.

A verba de marketing e as ações estruturadas para que se tornem conhecidos do grande público ainda deixam a desejar. O famoso “chamar para a festa, mas não chamar para dançar”.

O pior é que depois usam da justificativa “mas negros e indígenas não vendem”. Não se compra aquilo que não se conhece. E o que não se divulga massivamente. Há ainda a perpetuação de um ciclo de invisibilidade que pode ser quebrado com intencionalidade para além da “página dois”.

O que vemos em muitos casos quando falamos de grupos subrepresentados é basicamente a repetição de nomes já hipermidiáticos. Cito fácil 10 autoras brancas que são best sellers, já entre negros e indígenas teria mais dificuldades de elencar pessoas que podem hoje viver da literatura.

Na internet, é a mesma dinâmica: poucos influenciadores negros e indígenas têm mais de 1 milhão de seguidores.

Nas agências das quais alguns fazem parte, poucos são vistos como apostas, pelas quais se investe tempo e dinheiro para que aquele nome desponte. E, consequentemente, recebem menos convites para fazer publicidade.

Na TV e em mídias mais tradicionais, já temos a impressão de ver mais rostos não brancos, mas ainda percebo que os horários onde passam ainda não são os mais nobres.

Celebramos os pequenos passos, mas queremos ver mais avanços nas páginas quatro, cinco e seis e demais. A tal página dois me lembra também de uma conversa que tive certa vez com uma amiga branca com quem interagia mais virtualmente. Além de curtirmos as fotos uma da outra, entendemos que se quiséssemos ser mais intencionais em nossa amizade antirracista e com tanto potencial para furar nossas bolhas, precisávamos arranjar tempo na agenda com frequência para passarmos mais tempo juntas na vida real. Colocar nossas filhas para brincar e conviver. E intencionalmente apresentar mais amigos em comum para criarmos um movimento de networking.

Ir até a página dois pode ser um bom começo, mas precisamos e podemos ir além e ter mais profundidade sobre os próximos capítulos das histórias, especialmente daquelas que ainda não ousamos conhecer por não termos familiaridade. Que a curiosidade, a empatia, a autocrítica e a intencionalidade nos motive a ir para além das “páginas dois” dos muitos livros que a vida pode nos dar a oportunidade de ler, mas que ainda deixamos incompletos.

*** LUANA GÉNOT

lgenot@simaigualdaderacial.com.br

ESTAR BEM

HÁBITOS DE SUCESSO

Conheça as cinco atitudes diárias de quem conquistou seus objetivos

O anseio por uma vida bem­ sucedida é um desejo compartilhado por todos.  Nesse sentido, sabe-se que a vida é um processo de “altos e baixos” e que, antes do sucesso, algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo vivenciaram um fracasso épico outras deixaram claro que o sucesso não é apenas ter dinheiro ou fama, mas, sim sentir-se realizado em todos os aspectos. Como consequência, o caminho que os levou a ela é muitas vezes esquecido. Um percurso que quase nunca é linear, tem curvas, obstáculos e, claro, aprendizado.

A citação “O sucesso não é definitivo e o fracasso não é fatal: é a coragem de continuar que conta”, dita por Winston Churchill, põe em perspectiva o ciclo da vida de quem se considera bem sucedido. Experimentar o fracasso em alguns momentos pode até ser proveitoso para tomar mais coragem e tentar novamente o que não deu certo.

Para a psicóloga Sol Buscio, o sucesso nem sempre está relacionado ao material, trabalho ou pessoal. Para a maioria é sinônimo de ser capaz de atingir metas ou até a felicidade. Ela acrescenta que as pessoas bem-sucedidas costumam trabalhar diariamente para alcançar os objetivos e se concentrar para conseguir superar os obstáculos.

“Ninguém nasce bem sucedido, são coisas que precisam ser trabalhadas constantemente e se baseiam em disciplina e perseverança”, diz Buscio.

Segundo ela, há casos de pessoas que têm talentos ou habilidades desde novos. No entanto, eles ficam adormecidos porque não são treinados ou são deixados de lado diante de adversidades.

Um caso concreto e inspirador é o de Walt Disney. Quando começou a carreira, um antigo chefe, em um jornal disse que lhe faltava imaginação e boas ideias. Implacável, Disney decidiu ignorá-lo e criou o núcleo cultural que leva seu nome.

“Acho importante ter um bom fracasso quando se é jovem, porque isso o torna consciente do que pode acontecer com você. Por esse motivo, nunca tive medo em toda a minha vida quando estive perto de crises”, refletiu o empresário de sucesso.

Outro exemplo de superação é o empresário Elon Musk, criador da Tesla Motors, SpaceX e atual dono do Twitter. Musk disse uma vez que durante a infância não tinha amigos e que eles o intimidavam. Essa experiência o fez se fortalecer, ter aulas de karaté, judô, luta livre e aprender a se defender de quem o maltratava. Longe de se atormentar com aquela experiência, Musk percebeu o potencial que tinha e começou a ponderar teorias que pudessem mudar o rumo da humanidade, gerando grandes impactos no futuro.

Quem consegue alcançar seus objetivos de vida garante que a organização é fundamental. Veja a seguir os hábitos que Walt Disney, Elon Musk e outras pessoas bem-sucedidas adotaram e praticam diariamente. São pequenas atitudes que podem ser incorporadas no dia a dia da maioria das pessoas.

TER UMA ROTINA

Ter uma agenda e mantê-la ao longo do tempo é essencial, porque organiza e permite cumprir os objetivos passo a passo. Uma das personalidades que divulga sua rotina é a escritora e jornalista Anna Wintour, editora chefe da revista Vogue. Ela começa cedo, geralmente entre 4h e 5h30, lendo os jornais britânicos e americanos. Depois, joga tênis e segue seu dia de trabalho. Suas tardes costumam ser reservadas para reuniões fora do escritório, almoços com designers e planejamento de eventos. Então, às 17h, ela volta para casa.

“À noite, mergulho novamente no trabalho e cumpro minhas tarefas diárias para que ninguém fique esperando meus retornos”, disse a editora de moda.

Sobre a organização da rotina, Musk revelou como ele mantém o foco no que faz: direcionando sua atenção a apenas uma coisa por vez.

“Quando estou jantando com amigos ou familiares, gosto de focar no que estou fazendo. Eu não gosto de multitarefa. Se estou lendo meu e-mail, eu escolho me dedicar àquele momento”, afirmou.

ACORDAR CEDO

No livro best-seller “Change Your Habits, Change Your Life” (“Mude seus hábítos, mude sua vida”‘, em tradução livre do inglês). Thomas Corley explica que as pessoas bem-sucedidas se diferenciam por levantarem da cama logo de manhã. Quase 50% das personalidades pesquisadas por Corley disseram que acordar pelo menos três horas antes de começar o dia de trabalho é fundamental. Muitos deles usam o tempo livre para realizar projetos pessoais, planejar seu dia ou se exercitar.

ESCREVER

Quando questionado sobre as coisas que leva por onde passa, Richard Branson, o empresário britânico que criou a marca Virgin e dono do grupo homônimo com mais de 300 empresas, salientou que embora possa parecer ridículo, o mais importante é levar sempre um pequeno caderno.

“Eu nunca poderia ter criado o Virgin Group sem aqueles poucos pedaços de papel”, confessou.

Adquirir um hábito diário de escrita tem vários benefícios. Por um lado, colocar os objetivos por escrito aumenta as chances de alcançá-los e, par outro, melhora a clareza e o foco das ideias.

CONECTAR-SE COM PESSOAS INSPIRADORAS

“Você é tão bem-sucedido quanto aqueles com quem frequentemente se associa”, diz Corley em seu livro. Conectar-se com empreendedores de sucesso, pessoas que têm histórias de vida fortes e alcançaram os objetivos, familiares e amigos que inspiram, é essencial. “Junte-se a grupos de pessoas que compartilham sua mesma carreira ou interesses pessoais”, sugere o autor, embora esclareça que as pessoas de sucesso também se esforçam para limitar sua exposição a pessoas tóxicas e negativas.

MEDITAR

O estresse é normal e, em alguns casos, até saudável. Mas aquele que é crônico e sobrecarrega o corpo físico, mental e emocional, afeta a criatividade e a geração de novas ideias. Na verdade, está provado que as pessoas que meditam com frequência  e aprenderam a valiosa habilidade de mergulhar no momento presente são mais bem-sucedidas financeiramente e nos relacionamentos.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

AMOR DE MÃE (DRASTA)

Com fama de más graças à ficção e aos contos de fada, as madrastas da vida real fazem parte das novas famílias e criam relações de afeto, carinho e apoio com enteados

O relacionamento entre Manu, de 21 anos, e a psicóloga Adriana Manzano, de 42, ressignificou toda a história de vida do jovem. Identificado com o gênero não-binário (quando a pessoa não se reconhece como um homem ou uma mulher), o estudante de Psicologia viu na madrasta alguém que ofereceu não apenas todo o apoio necessário para um momento tão delicado e cheio de questionamentos, mas também colo, diálogo e conforto. E nada disso, conta ele, que prefere ser tratado no masculino, veio por parte de sua mãe biológica.

“No ensino médio eu mudei muito, entendi que gostava de mulheres e, talvez, não fosse mulher. Todo esse processo veio acompanhado, também, de entender que eu não estava em um bom lugar”, conta Manu.

À época, ele morava com quem chama de “genitora” e o namorado dela, no litoral de São Paulo. A relação entre eles, explica, passou sempre por um lugar de agressividade, com sucessivas brigas e discussões. “Assistia um vídeo na internet sobre mães narcisistas e aquilo ficou na minha cabeça.

Conversando com a tia Dri, entendi que talvez a minha genitora fosse assim”, explica. Tia Dri é a maneira carinhosa com que ele trata Adriana, a quem se refere como mãe diversas vezes. Ela e o jornalista Fernando Tecchio, 41, pai de Manu, estão juntos há 14 anos e também têm uma filha, Valentina, de 8. “Ainda estamos nesse processo de ela me chamar de filho, e eu, de mãe. Está acontecendo”, comemora.

Perante a lei, Adriana e Manu também já são mãe e filho. Quando o estudante retificou seus documentos, renasceu.

E, com ele, nasceu uma nova mãe: Adriana. “Quando fomos resolver essa questão juridicamente, ele não quis mudar apenas o nome e o gênero, colocando algo não especificado. Ele me convidou formalmente perguntando se eu queria ser a mãe dele. Fiquei extremamente comovida com esse convite e aceitei imediatamente. Não é uma adoção, porque ele tem mãe biológica, mas eu estou lá, ele agora tem meu sobrenome”, diz, emocionada.

As novas configurações familiares, cada vez mais comuns e diversas, abrem espaço para a discussão sobre o lugar que a figura da madrasta ocupa não só na vida dos enteados, mas também  no imaginário popular. Vista historicamente, graças à ficção e aos contos de fada, como bruxa má ou ameaça ao lugar da mãe, ela também é definida no dicionário, acredite, como “mulher má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis”. No entanto, essa percepção vem mudando, e uma das responsáveis pela transformação é a educadora parental Mariana Camardelli, de 35 anos. Ela criou, em 2019, um perfil para a comunidade Somos Madrastas, com pouco mais de 60 mil seguidores no Instagram, após ocupar esse papel e sentir a necessidade de pertencimento.

“Qual o lugar da madrasta? Socialmente, muitos acham que a gente não pertence à família. Eu precisava falar sobre isso, procurar pessoas que sentissem da mesma forma, sabe? Nunca tinha visto nada parecido e comecei por acaso a escrever meus textos”, diz Mariana. Além de oferecer acolhimento, ela produz conteúdo educativo e cursos imersivos para quem deseja entender melhor esse universo.

A fama de má das madrastas tem origem, conta, na época em que os casamentos ainda eram feitos para durar para sempre. “E em caso de viuvez do homem, ele teria todo o direito de trazer para a família uma nova mulher que cuidasse dos seus filhos, já que essa função não estava em seu ‘papel’.

Assim, essa madrasta chega ocupando o lugar da mãe e causa sensação de competição, incentivada pela sociedade patriarcal e machista”. Para Mariana, a cena de duas mulheres brigando pelo amor de um príncipe encantado é uma narrativa ultrapassada que precisa ser combatida “com amor, altas doses de generosidade e zero rivalidade”.

A rivalidade, aliás, passa bem longe da grande família de Mariana. Com o marido, o empresário Rodrigo Cunha, a educadora parental cria os enteados Augusto, de 18 anos e Vicente, de 14, e os filhos Flora, de 5, e Martim, 1 ano. “A melhor forma de administrar é ter a certeza absoluta de que você não vai dar conta de tudo. O equilíbrio não é o de uma balança. E conflitos e desentendimentos fazem parte de todas as relações. Fugir de conversas necessárias jamais resultou em pacificação quando falamos em sistemas familiares”, afirma.

Na outra ponta e completando essa turma, há também a mãe de Augusto e Vicente, a especialista em transição de carreira Juliana de Mari. O relacionamento entre ela e Mariana começou com um encontro amigável, e atualmente elas mantêm uma relação cordial em prol do melhor para os filhos. “Temos um contato respeitoso e uma boa parceria na maternagem. É uma relação que precisa de cuidados, como qualquer outra”, diz Juliana.

Pelos olhos da lei, apesar da madrasta não ter poder familiar ou responsabilidade legal direta sobre crianças e menores de 18 anos, hoje já existe o instituto da multiparentalidade. Isso significa que é possível haver o registro de duas mães e um pai ou dois pais e uma mãe em documentos, sem exclusão. Foi o caso de Manu e Adriana. “O que vai definir se há ou não parentesco é esse vínculo de afetividade, a relação de cuidado e carinho que se tem com alguém querido”, explica a advogada Ana Borela, do escritório Borela e Caminha Advocacia, do Rio de Janeiro.

Ela explica ainda que, caso haja algum impedimento para que os pais biológicos responsabilizem-se pela criança, a madrasta pode, sim, substituí-los. “Nesses casos, o juiz avalia se existe um vínculo entre o menor e a madrasta.

O que importa, sempre, é o melhor interesse da criança. Assim, a madrasta pode, de acordo com a avaliação do juiz, ter preferência sobre os avós paternos e maternos”, diz Ana. Em um trâmite que corre na Justiça há mais de um ano para conseguir a guarda total do pequeno Lucas, de 7 anos, o pai dele, o músico João e a mulher, a professora Clarice (nomes fictícios), madrasta de Lucas, perceberam que, a cada

volta para casa após 15 dias com a mãe biológica, o menino apresentava com hematomas pelo corpo. “Perguntávamos o que tinha acontecido e ele dizia que não era nada, mas já sabíamos do histórico de violência que a mãe dele sofria com o marido. Em um momento que o João estava longe, Lucas me procurou e contou que tinha sido agredido pelo padrasto”, relata Clarice.

Com a ajuda de uma advogada, o casal levou o menino ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer os exames de corpo de delito, e, em pouco tempo, conseguiu a guarda provisória de Lucas. “Sempre disse que iria protegê-lo e ele me cobra isso. Nossa história tem muita dor, mas com o tempo, Lucas foi percebendo que eu era sua família. Não consigo mais imaginar minha vida sem ele”, diz a professora.

Desconstruir estereótipos e entender que as madrastas têm um papel parental relevante é o que pode trazer harmonia para as novas famílias, acredita o psicólogo Rossandro Klinjey. “Para ocupar bem o seu lugar, a mulher precisa, antes de tudo, de apoio do marido, dos familiares e amigos, sem ser tratada com hostilidade. Entender que uma nova realidade faz parte destas famílias é tornar mais amorosa a chegada de madrastas e padrastos”, afirma ele.

OUTROS OLHARES

MAIS DE UM BILHÃO DE JOVENS PODEM TER PERDA AUDITIVA DEVIDO A FONES

Volume do som emitido pelos aparelhos costuma ser muito maior do que o máximo recomendado, alertam especialistas

Mais de um bilhão de jovens entre 12 e 34 anos estão em risco de perda auditiva devido ao uso inadequado de fones de ouvido e por frequentarem locais com música em volume além do orientado. A conclusão é de uma revisão de 33 estudos sobre o tema envolvendo quase 20 mil participantes, publicada ontem na revista científica BMJ Global Health.

Os pesquisadores responsáveis pelo trabalho escrevem que os resultados são um alerta sobrea “urgente necessidade de governos, indústria e sociedade civil priorizarem a prevenção global da perda auditiva, promovendo práticas de escuta”, e destacam que há diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) disponíveis para ajudar a garantir esse objetivo.

Liderada pela pesquisadora da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, Lauren Dillard, a revisão é parte de um esforço internacional de especialistas da própria OMS e de instituições de países como Suíça, Suécia e México.                                                                                                                                                                                                                                                                    

Eles explicam que trabalhos anteriores já haviam mostrado que, embora o limite orientado para o volume seja de 80 decibéis (dB) para adultos e 75 dB para crianças, usuários de fones de ouvido costumam aumentar o som para até 105 dB, e a média em locais com música para entretenimento, como boates e shows, varia entre 104 dB e 112 dB.

“A exposição exagerada ao barulho de alta intensidade é potencialmente lesiva para a audição e um dos fatores mais importantes conhecidos que causa a perda auditiva irreversível. De fato temos visto com muita frequência o uso dos fones de ouvido, mas é importante termos em mente que o fone não é o vilão, ele traz muitas facilidades e funcionalidades. O problema é o volume, porque sabemos que a partir de 85 dB o nosso ouvido começa a estar em risco”, destaca o otorrinolaringologista Luciano Moreira, especialista em surdez e médico do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro.

Considerando a adesão significativa de jovens tanto ao uso de fones, como a locais com som alto, os cientistas decidiram avaliar a prevalência de pessoas na faixa etária que estaria exposta às frequências prejudiciais ao ouvido – e, portanto, estaria em risco elevado de perda auditiva.

Para isso, selecionaram 33 estudos, em idiomas como inglês, francês, espanhol e russo, que compilaram 35 registros de audição entre jovens de 12 a 34 anos, 17 registros focados nos fones de ouvido e 18 nos locais de entretenimento musical.

Eles descobriram que a exposição recorrente a frequências sonoras danosas é uma prática comum de forma global. Em relação aos fones de ouvido, a prevalência foi de 24% entre os adolescentes e jovens, enquanto para estabelecimentos com música alta foi de 48%. Baseado na estimativa de que a população mundial é composta por 2,8 bilhões de indivíduos na faixa etária, os pesquisadores concluíram que até 1,35 bilhões de jovens estão com um potencial risco para perda auditiva.

“Por natureza, crianças, adolescentes e jovens podem conhecer menos e por isso estarem menos atentos aos riscos. Então é preciso que essa parcela da população entenda a mensagem de que o exagero traz uma perda auditiva irreversível. As escolas, as famílias, nós profissionais da saúde precisamos fazer esse alerta voltado para a educação desses indivíduos sobre esse problema”, defende Moreira.

IMPACTOS NO OUVIDO

Os cientistas explicam que, embora mais estudos epidemiológicos sejam necessários para compreender os efeitos da exposição recreativa ao som elevado na audição, já há evidências consistentes para os danos que levam à perda da capacidade de ouvir.

Além disso, destacam que a exposição já foi associada a um diagnóstico chamado sinaptopatia coclear, “que pode ser definida como dano ou perda de contatos sinápticos entre as células ciliadas da cóclea e fibras nervosas do sistema auditivo”. As células são chamadas de receptoras auditivas por serem responsáveis em grande parte pela audição. “As práticas auditivas inseguras são reconhecidas como um importante problema de saúde pública global”, dizem os autores do estudo.

GESTÃO E CARREIRA

OS MAIORES ERROS DE QUEM ESTÁ COMEÇANDO O PRÓPRIO NEGÓCIO

É comum ver quem está começando empreender agora caminhando mais devagar e, quando esta caminhada engatilha, é normal que fique perdido durante o crescimento da empresa. Por isso, desenvolver aprendizados é essencial para te ajudar a ter sucesso e adquirir experiências na carreira. Sem o conhecimento ideal, o novo empreendedor acaba gastando mais tempo e dinheiro para resolver situações comuns da rotina e que colocam em risco seu negócio.

Uma pesquisa do IBGE mostrou que 48% das empresas brasileiras fecham em até três anos. O motivo que leva a isso? A falta de gestão eficiente. Os dados ainda mostraram que 25% dos empreendedores apontaram este como um dos principais motivos para a falência. Logo atrás vem os altos impostos com 31%, pouca demanda e alta competitividade em 29%. A dificuldade para arrecadar linhas de crédito aparece em 25%.

O empreendedor não é apenas a pessoa que gerencia o próprio negócio, ele é a pessoa que realiza os projetos e produz ideias, por isso, é importante que ele tenha abertura a novos olhares. Um dos principais especialistas em negócios do Brasil, o empreendedor em série Jonathas Freitas aponta que um bom empreendedor precisa conhecer de diversos assuntos: É preciso estar atento ao mercado que atua, aos concorrentes, a legislação e saber um pouco de tudo. Marketing, finanças, operação e etc.”, aponta o empresário com mais de 40 empresas no portfólio.

Para prevenir os erros, é necessário conhecê-los. Por isso, Freitas nos ajudou a definir os 4 principais erros de quem está começando um negócio. Veja:

NÃO FORMALIZAR O NEGÓCIO

Quando se começa uma nova atividade, é muito comum empreendedores pensar que a formalização do negócio não seja importante, muitos acreditam que não     pagar imposto é uma forma correta de começar, mas se você pensa assim, sua  empresa nunca irá crescer, pois a formalização do seu negócio, estruturação, contábil, jurídico, processos é o que irá deixar sua empresa profissional e quando chegar no momento que você for vender seu negócio ou mesmo, pegar investimento, se você fez o trabalho de casa certo desde o dia 1, tudo será mais fácil, além de ter uma boa reputação perante aos investidores. Quando você está começando, você precisa ter um foco no cliente, mas também é importante crescer de forma estruturada.

NÃO CONHECER O SEU SETOR

Começar um negócio sem entender nada do assunto, não saber sobre o mercado de atuação, quem são seus principais concorrentes, quem é seu público principal e qual a regulamentação desse mercado é um erro grave na hora de empreender. É necessário entender todos os pontos do mercado para ter sucesso, desde os fortes até os fracos, esse conjunto de conhecimento o fará sair na frente dos seus concorrentes e te dará clareza do que precisa ser feito para se destacar e se diferenciar dos demais. Ter afinidade com o setor também é importante, pois você estará envolvido intensamente nesse processo e precisará se automotivar todos os dias para não parar no meio do caminho.

AUSÊNCIA DO PLANO DE NEGÓCIOS

Essa ferramenta é fundamental para o sucesso de qualquer empresa. Ela define o planejamento, ações e metas a serem cumpridas em curto, médio e longo prazos. Nele, também precisa ser considerada as possíveis crises e como fazer para solucioná-las, pois empreender é resolver problemas dos clientes e da sua própria empresa. Se não tiver um bom plano de negócios estruturado que faça sentido, quando as vendas aumentarem, você pode ter problemas com o gerenciamento e organização da empresa, levando a mesma até a quebrar, mesmo que as vendas estejam aumentando.

NÃO ESTUDAR E SE CAPACITAR

O mercado está mudando muito rápido, e é preciso estar atento a todo momento e entender as necessidades que o seu setor está passando, acompanhar as referências e o que os seus concorrentes estão fazendo. Além disso, um bom empreendedor     precisa estudar o tempo todo sobre os diferenciais do mercado, participar de eventos e cursos de atualização, sabendo que o conhecimento agora é dinâmico. Hoje não basta só querer empreender, você precisa estar constantemente aprendendo sobre todos os setores que compõem um negócio para dar certo, desde entender como funciona a parte financeira, contratual, operacional e marketing. Você não precisa ser especialista em tudo, mas deve entender o que precisa ser feito para não perder o controle do seu negócio.

EU ACHO …

NAMORO ONLINE NÃO QUER DIZER QUE VOCÊ FALHOU NO OFFLINE

Se cadastrar em um site de relacionamento online não quer dizer que você falhou em encontrar um par ou muito menos que você está desesperado para encontrar alguém. Mas sim que você está em constante evolução e livre para viver as novas oportunidades e modalidades de namoro que surgiram ao longo do caminho. Renata Dias, de 26 anos é usuária do MeuPatrocínio, site e de relacionamentos para pessoas bem-sucedidas (ou que desejam ser bem-sucedidas) e ela diz que ‘É muito fácil conhecer novas pessoas na internet! Eu (não costumo sair muito, por conta dos estudos e trabalho e (eu gosto muito de homens que já tenham uma vivência, sejam estáveis. Eles não são o tipo de cara que estão na mesa de bar, não fazem parte do meu ciclo, por conta da idade e não estão onde meus amigos frequentam. Mas eles estão na internet.”

O especialista em relacionamentos online, Caio Bittencourt, afirma que ”conhecer alguém online é a evolução do offline. Com a vida corrida, as pessoas preferem ir a um date com alguém que já conversam em um ambiente online, que já criaram algum tipo de conexão. Nos dias de hoje precisamos de novas opções para conhecer alguém além do que vivemos no nosso dia a dia. Em um ambiente offline dificilmente se conhece alguém novo que valha a pena, a não ser que seja amigo de amigos. E quando conhecem, não sabem nada sobre eles.” diz Caio.

”Com a facilidade do mundo virtual, hoje você consegue filtrar tudo o que você está buscando apenas em alguns cliques. Gênero, idade, graduação, profissão, e em alguns sites, como no Meu Patrocínio até mesmo a renda, etc. E isso tudo já economiza demais o nosso tempo. Por que se relacionar com alguém se essa pessoa e não te agrada ou não tem os mesmos objetivos que você?

Desconhecidos na rua realmente podem te agradar?” Questiona, Caio Bittencourt. A internet hoje proporciona as pessoas a economia de tempo, dinheiro e também, do desgaste emocional. Conforme conhecemos alguém virtualmente, conseguimos ter mais certeza se é alguém que realmente gostaríamos de criar um futuro ou não, ou apenas curtir aquele momento, sem nada sério. Dá a oportunidade de pensarmos, refletirmos e termos uma visão geral mais consciente.

ESTAR BEM

CONHEÇA RECEITAS QUE PODEM AJUDAR A CONVIVER BEM COM A DIABETE

Há caminhos para diabéticos levarem uma vida praticamente normal. Alimentação balanceada, medicação adequada e atividades físicas são algumas das formas de controle

A diabete é uma doença que afeta 9% da população brasileira com mais de 18 anos, segundo a Pesquisa Vigitel, feita pelo Ministério da Saúde em 2021. São pessoas que, em razão de problemas na produção ou uso da insulina pelo próprio organismo, precisam estar sempre atentas às taxas de açúcar no sangue. Do contrário, podem ter complicações como doenças cardiovasculares, cegueira e danos a órgãos do corpo.

Mas existem caminhos para conviver bem com a doença. Adotar uma alimentação balanceada, fazer uso de medicamentos quando necessário e praticar atividades físicas são algumas das formas de controle.

Alberto Ribeiro conhece bem todas elas, pois a diabete está presente na sua vida há duas décadas. Ele descobriu o tipo 1 da doença aos 5 anos. “Meu irmão tinha sido diagnosticado oito meses antes”, afirma. E seus pais o levaram ao médico por segurança.

O diagnóstico na infância permitiu que ele crescesse praticando hábitos saudáveis. “Talvez eu seja um dos únicos brasileiros que não gostam de brigadeiro, porque nunca comi e não aprendi a gostar”, brinca. O esporte também entrou cedo na sua vida. “Sempre fui fissurado por atividade física.”

Hoje, aos 26 anos e recém-formado em Medicina, Alberto lembra que há caminhos para viver bem com a doença. E para provar isso ele criou o movimento 100 Diabetes. Seu objetivo era ousado: correr 100 quilômetros, de uma vez só, em uma esteira.

INSULINA

A distância escolhida não foi por acaso. Em 2022, celebram-se 100 anos da primeira aplicação bem-sucedida de insulina. Além da homenagem, foi a maneira que Alberto encontrou para mostrar que a doença não é um fator limitante para nada – tanto que não o impossibilitou de se tornar um atleta saudável. “As pessoas não precisam correr 100 quilômetros como eu fiz. O meu objetivo é fazer com que o ‘Seu Zé’ e a ‘Dona Maria’ levantem e façam 21 minutos de atividade física diárias e, assim, consigam controlar melhor a doença.”

COMO ELA SURGE?

Toda vez que fazemos uma refeição, os carboidratos ingeridos são transformados em glicose na digestão. Essa glicose vai para o sangue e precisa da ajuda da insulina – hormônio produzido pelo pâncreas – para entrar na célula e, assim, ser transformada em energia. “Um carro não anda sem gasolina, a gente não anda sem glicose”, explica Levimar Araújo, endocrinologista presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Esse é o processo ideal. Só que, nos diabéticos, o pâncreas não produz mais a insulina ou a produz em quantidades insuficientes para levar o açúcar do sangue para dentro da célula. Há também os casos em que a produção da insulina continua, mas as células são resistentes à ação desse hormônio e ele não exerce corretamente sua função.

São essas diferenças que categorizam a diabete em dois tipos. “É como se você tivesse uma chave e uma fechadura”, exemplifica Levimar. Nos portadores do tipo 1, o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. Já naqueles que têm a diabete tipo 2, a insulina é produzida, mas o organismo resiste à sua ação. “É como se a fechadura estivesse entupida.”

A diabete tipo 1 costuma ser identificada na infância ou adolescência, exige insulina todo dia e está associada a fatores hereditários. A do tipo 2 não exige insulina, sua identificação ocorre após os 40 anos e ela está ligada a hábitos comportamentais – alimentação, sedentarismo e hipertensão. Há diferenças na incidência também: enquanto o tipo 1 aparece em entre 5% e 10% dos pacientes no Brasil, casos do tipo 2 ocorrem em 90% deles.

Esse aumento da glicose é chamado de hiperglicemia e, se não controlado, as altas taxas podem levar a complicações no coração – incluindo as artérias –, olhos e outros órgãos. Casos mais graves podem levar à morte. Só em 2021, segundo a Federação Internacional de Diabetes, foram 214 mil mortes de brasileiros entre 20 e 79 anos pela doença. Em números globais, a doença matou 6,7 milhões de pessoas no ano.

DIAGNÓSTICO E ROTINA

O primeiro passo para fugir dessas estatísticas é identificar a doença. O endocrinologista estima que pelo menos metade dos diabéticos não sabe que possui a doença. Isso se deve ao fato de que ela pode não apresentar sintomas – ou apresentar sintomas associados a outras doenças.

O cuidado com a alimentação é um dos caminhos para viver bem com a diabete. Marciane Milanski, nutricionista e docente da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Campinas, diz que os alimentos que um diabético deve evitar são os ricos em sódio, açúcares e gorduras saturadas – os mesmos que devem ser evitados por qualquer pessoa.

Quanto ao consumo de açúcar, a orientação é menos restritiva do que há alguns anos. “Hoje sabemos que o consumo de qualquer carboidrato tem o mesmo efeito no aumento da glicemia. O açúcar sempre foi um vilão, hoje não é mais”, esclarece. O consumo de alimentos lights e diets também não é necessário no tratamento: na base da alimentação devem estar os alimentos naturais e minimamente processados. “Precisamos desmistificar a necessidade deles, até porque são alimentos caros”, alerta. De forma geral, a recomendação é a ingestão de carboidratos a partir dos vegetais, frutas, legumes, grãos integrais e produtos lácteos.

A atividade física deve andar de mãos dadas com a alimentação balanceada. Isso porque ela desempenha um importante papel na redução da glicose no sangue, conforme avalia Edilamar Menezes, da Escola de Educação Física e Esporte da USP.

A prática do exercício permite ao corpo liberar uma maior quantidade de fatores vasorelaxantes, que aumentam os vasos sanguíneos e levam mais sangue aos tecidos, à musculatura e ao coração. “Isso possibilita uma maior captação da glicose do sangue para dentro das células”, explica ela.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

FICAR SEM CELULAR PERMITE NOVO ESTILO DE VIDA E A RETOMADA DE HÁBITOS

Sem telefone desde que teve de cortar despesas ao deixar a casa paterna, jovem teve de se livrar do vício do aparelho e conta que recuperou atividades saudáveis

Em um mundo cada vez mais conectado, Josielle Soares vai na contramão: ela vive há quase dois anos sem celular. “É importante estar conectado, mas não de uma forma em que você se perde para dar conta de tudo”, explica. A decisão veio depois que o antigo smartphone quebrou. Sem dinheiro para comprar outro, ela optou por um novo estilo de vida.

Desde que saiu da casa dos pais e passou a pagar as contas com o próprio salário, Josielle, de 28 anos, aprendeu que seria necessário controlar os gastos. “Eu já queria ficar sem celular e, quando quebrou, a questão financeira foi um ponto importante para mim”, conta ela, que trabalha na rádio universitária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A pressão e o estresse do trabalho remoto também foram decisivos. “Os horários ficaram muito bagunçados. Eu recebia demandas às 20h e não conseguia aproveitar o momento de descanso porque estava pensando em trabalho”, diz. A saída foi abandonar o smartphone.

Mesmo que já quisesse levar uma vida menos conectada, Josielle reconhece as dificuldades dos primeiros momentos sem o celular. “Você não sabe exatamente o que é, mas fica com a sensação de que está perdendo algo”, relata. Ela continuou acompanhando as notícias pela televisão e pelo computador, mas isso não era suficiente para suprir a falta do smartphone. “Será que está acontecendo alguma coisa com alguém?”, indagava.

VÍCIO

“Isso acontece porque seu cérebro está sentindo falta do que ele estava acostumado a ter. Ele sente falta do que alimentava o vício”, alerta a neurocientista Claudia Feitosa Santana. De acordo com ela, há uma série de mecanismos e neurotransmissores envolvidos nesse processo de dependência do celular. “É por isso que muitas pessoas não conseguem ter uma vida normal se não tiverem acesso a um smartphone, mesmo que elas queiram”, afirma.

Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que no Brasil há mais smartphones em uso do que pessoas. São 242 milhões de celulares, enquanto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população é de 215,1 milhões de pessoas. “Isso é reflexo de um fenômeno de digitalização da moeda, do trabalho e da educação”, explica Fernando Meirelles, coordenador da pesquisa. Essa digitalização também aparece nos dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (PNAD Contínua TIC), realizada no quarto trimestre de 2021.

O levantamento mostra que a internet está presente em 90% dos domicílios do País e que o celular é o principal dispositivo de acesso em casa, sendo utilizado em 99,5% dos domicílios com internet.

Vivendo desde dezembro de 2020 sem smartphone, Josielle relata que hoje a vida mudou. “Eu voltei para atividades que eu gostava muito e que tinha deixado de lado, como tocar violão. Era a minha terapia”, lembra. “Acho que eu reduzi bastante minha ansiedade e até a possibilidade de depressão”, afirma.

DICAS DE ‘DETOX DIGITAL’ VÃO DO AUTOCONTROLE A DESATIVAR NOTIFICAÇÕES

Os smartphones ganham cada vez mais importância entre as atividades cotidianas. O problema acontece quando seu uso é em excesso. Segundo Felipe Botelho, psicólogo do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), essa sobrecarga física e mental causada pelo uso desequilibrado do smartphone pode afetar a vida offline. “As pessoas passam a sentir uma necessidade frequente de checar o celular e ver as redes sociais”, explica. Para evitar isso, alguns cuidados precisam ser tomados.

RECONHEÇA SEUS COMPORTAMENTOS

“É o primeiro passo”, explica Botelho. Ele garante que é importante observar a forma como nos relacionamos com os smartphones e tentar identificar se essa relação acontece em desequilíbrio. Entre os caminhos para isso, é importante verificar a quantidade de horas dedicadas às redes sociais, se existe alguma dificuldade em deixar o celular longe e em quais momentos o uso do celular é mais intenso.

LIMITE SEU USO

Se identificar excesso, tente definir momentos para usar e não usar o aparelho. Felipe Botelho pondera que esse limite deve acontecer nos momentos livres, visto que as atividades de trabalho e estudo de muitas pessoas dependem muitas vezes dos smartphones.

BUSQUE ALTERNATIVAS

Muitas vezes recorremos ao smartphone quando estamos entediados. Porém, encontrar outras atividades para esses momentos pode ajudar. “É importante que a pessoa avalie o que ela gosta de fazer sem o celular”, sugere o especialista.

DESATIVE NOTIFICAÇÕES

“As notificações são um gerador de ansiedade”, avalia Botelho. De acordo com ele, desativar vai reduzir os estímulos ao uso do smartphone a todo momento. É preciso entender que nem tudo é urgente.

TENTE OUTROS DISPOSITIVOS

Usar o computador, por exemplo, em vez do celular, pode ser uma prática bastante saudável. Ou então optar por assistir a um filme pela televisão. Felipe Botelho explica que essas são mídias consideradas passivas, porque não exigem interações diretas, como o smartphone.

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