EU QUERO SOSSEGO
Existe o turismo gastronômico, o de aventura, o romântico e, agora, o do sono, em que destinos e hotéis investem em cuidados e programas pensados para quem busca, acima de tudo, noites bem dormidas

Quanto vale uma boa noite de sono? Para a publicitária Fernanda Chaves, muito. Quando foi planejar as suas férias, depois de mais de dois anos trancada em casa, não foi nos destinos de aventura ou de cultura, seus preferidos até então. Ela só queria dormir bem. “Vivi situações de muito estresse por causa da pandemia. Juntei o trabalho, com as aulas on-line do meu filho, a louça acumulada e, principalmente, o medo e as incertezas. Quando fui decidir as minhas férias, eu só pensava em um lugar que me permitisse dormir, coisa que fiz pouco nos últimos tempos”, conta.
Fernanda não é um caso isolado. No embalo dos traumas pandêmicos (período em que nasceu até a síndrome “coronasomnia”), criou-se o turismo do sono, em que spas e hotéis focam em oferecer noites muito bem dormidas. De acordo com o neurologista e médico do sono Paulo Mei, a insônia deu um boom. “Fizemos um estudo amplo durante o início da pandemia, e os resultados estavam em linha com várias outras pesquisas mundiais: praticamente metade da população tinha sintomas de ansiedade e sono de má qualidade. A minha percepção é que, mesmo após a melhora dos índices de infecção, as sequelas estão demorando a esmorecer”, afirma. Ele frisa ainda que noites mal dormidas geram um impacto negativo no funcionamento diurno, como dificuldade de concentração e memória, irritabilidade, falta de energia e dores. “O tratamento do sono está cada vez mais no centro de discussões sobre a saúde e é natural que negócios focados em promover restauração comecem a se proliferar.”

O grupo Rosewood Hotels & Resorts lançou, em janeiro, o projeto global Alquimia do Sono, com retiros pensados para promover o descanso através de tratamentos indutores do descanso, com meditações, cardápios especiais e exercícios. E ainda tem a Curated Sleep Box, recheada de produtos que equilibram, como misturas de óleos essenciais, chás, aromaterapia e máscaras de seda para os olhos. “Buscamos fornecer aos hóspedes as ferramentas necessárias para desacelerar e estabelecer hábitos duradouros de higiene do sono, e assim alcançar um maior bem-estar geral”, comenta Emmanuel Arroyo, diretor regional de meditação no Rosewood Hotels & Resorts.
A tendência é forte mundo afora. E teve até fabricante de camas de luxo lançando hotel com tal bandeira. É o caso da marca sueca Hastens que inaugurou o Hästens Sleep Spa Hotel, um boutique com apenas 15 quartos, em Coimbra.
Tudo para as pessoas dormirem em suas camas (que podem custar 60 mil euros e demoram até 200 horas para serem produzidas) feitas com crina de cavalo, lã, algodão e linho. Ou ainda o projeto ainda não inaugurado Shleep Sanctuary, na Inglaterra, em que ovelhas numeradas pastam ao redor da suíte de vidro para fazer com que o hóspede adormeça. “Estamos lançando uma experiência de fuga única para oferecer a melhor noite de descanso por meio de uma experiência de sono com contagem de ovelhas, apoiada pela ciência e pioneira no mundo”, explicam no site sobre o futuro projeto. Melhor estilo de contar carneirinhos não há.
“Passamos praticamente um terço de nossas vidas dormindo. Dormir bem pode parecer evidente quando se fala em hotéis e turismo de luxo. Mas uma das tendências recentes do mercado de viagens é reforçar esse pilar de bem-estar através de experiências e infraestruturas voltadas para esse tema. Kit do sono, camas e travesseiros especiais, quarto com acústica impecável, lugares remotos silenciosos, chás e tratamentos específicos em spas são algumas das ofertas pensadas pelos hotéis para garantir uma melhor qualidade do sono a seus hóspedes. Um turismo cada vez mais voltado à natureza e reconexão com si mesmo está a caminho”, afirma Charles Piriou, consultor expert em hospitalidade.

Quem chega ao Lapinha, no Paraná, já entra automaticamente em um ritmo mais calmo. No primeiro spa médico do Brasil, estar com corpo e mente funcionando bem sempre foi o foco. Por isso, uma agenda de caminhadas matinais com exposição à luz natural do sol, regularidade de horários para refeições e jejum um pouquinho mais prolongado, hábitos que favorecem o repouso. Mas, este ano, houve necessidade de se criar um programa especial focado nas sagradas oito horas, o “Bem dormir” (a partir de R$ 5.128), criado pela médica especialista na área Simone Prezotti. Além de avaliações, ainda entram em cena playlist de músicas indutoras do sono, aromatizador com óleo essencial e um sleep journal, uma técnica em que a pessoa faz um diário do sono. “O objetivo principal deste programa é ajudá-lo a ter noites saudáveis e repousantes, melhorar seus padrões de sono e combater os desequilíbrios de saúde que causam cansaço”, comenta.
A nova hospedaria Bons Ventos, em Sebollas, colocou suítes (diárias a partir de R$ 1.350) no alto de uma colina para o silêncio ser maior e o mergulho na natureza mais profundo. Entre os cuidados para um sono reparador estão os chás calmantes com ervas da horta, sauna para relaxamento muscular e ainda blends relaxantes para aromaterapia.

Uma sleep box é uma das surpresas do Six Senses Botanique, em Campos do Jordão (diárias a partir de R$ 2.414). Dentro da caixa estão guias com posições de ioga que ajudam a dormir melhor, bloquinho de notas para escrever um pouquinho do seu dia e suas intenções, sais de banho para um momento bem relaxante na banheira, QR code para uma seleção de músicas que induz ao relaxamento, sachê com chá especial, óleo essencial e a máscara de dormir.
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