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1 A CADA 3 MULHERES AGREDIDAS COM ARMA SOFREU VIOLÊNCIA ANTES

Estudo inédito aponta para falhas nos sistemas de prevenção e proteção

Uma a cada três mulheres que sofreram agressões com o uso de arma de fogo já havia sido vítima de violência em episódios anteriores. O dado é de um relatório inédito do Instituto Sou da Paz sobre o papel da arma de fogo na violência de gênero no Brasil e aponta para falhas nos mecanismos de prevenção e de proteção à mulher vítima de agressões que podem estar  perpetuando e agravando a vitimização de mulheres no país.

O levantamento usa os dados consolidados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) e do Sinan (Sistema Nacional de Vigilância de Agravos de Notificação) entre 2012 e 2020, ano mais recente disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Enquanto o SIM registra mortes violentas, o Sinan computa casos de agressão e outros tipos de violência que chegam à rede de atendimento em saúde.

A violência de repetição foi detectada em 31% dos casos de agressões por armas de fogo atendidos e registrados pela Saúde em 2020. Essa tipologia indica mulheres vítimas de violência armada que reportam violências anteriores quando recebem atendimento médico ou ambulatorial.

Em 2012, esse percentual era de 23%, e o aumento dessa proporção foi mais expressivo a partir de 2018, quando chegou a 26% para, dois anos depois, bater a marca de 31%. O cenário da grande maioria dessas agressões é a própria casa das vítimas: 72% dos casos de violência armada associados à violência de repetição ocorreram dentro da residência da mulher.

“O mais emblemático desse dado é que ele indica que a violência contra a mulher pode se apresentar como um ato contínuo”, avalia a advogada Carolina Ricardo, diretora-executiva do Sou da Paz.

“O nosso sistema de proteção falha ao não endereçar nem contribuir para o fim dessa violência de repetição. E cessar esse ciclo é muito importante para que os casos de violência armada não terminem em feminicídio.”

Ela aponta que a proliferação de armas no Brasil, promovida por decretos do governo Jair Bolsonaro (PL), tem potencial de agravar esse quadro. Estudos internacionais já associaram o aumento de posse de armas com o aumento da violência doméstica armada e de mortes de mulheres por parceiros e ex- parceiros, num contexto que se intensificou durante a pandemia da Covid-19.

Foi esse o desfecho trágico ocorrido em setembro deste ano após outras agressões e ameaças perpetradas contra Michelli Nicolich, 37, por seu ex-marido, Ezequiel Lemos Ramos, 38. Ela e o filho mais novo do casal, de dois anos de idade, foram mortos dentro do carro por tiros disparados por Ezequiel. Outra criança que estava no carro, também filha do casal, não se feriu no ataque.

Em maio, ela havia deixado a cidade de Ponta Porã (MT) para viver escondida com os filhos na capital paulista depois de sofrer ameaças por parte de Ezequiel, que tinha registro CAC (sigla para caçadores, atiradores e colecionadores) e mantinha armas em casa. Na época, Michelli denunciou Ezequiel à polícia por tentar expulsá-la de casa e ameaçá-la de morte “engatilhando uma arma em sua cabeça”. Ezequiel chegou a ser preso, e foram aplicadas medidas protetivas que o proibiam de chegar a menos de 200 metros de Michelli, e de manter contato com a vítima por qualquer meio de comunicação, entre outras medidas. Duas armas de Ezequiel também foram apreendidas pela polícia, mas elas não eram as únicas.

Para Cristina Neme, Coordenadora de projetos do Sou da Paz e coautora do estudo, “a violência doméstica tem dinâmicas próprias e a repetição é uma delas”. “Quando tem uma arma de fogo neste contexto, ela se torna um fator de risco importante para a violência e para a violência letal”, afirma. Neme destaca que, enquanto os homicídios de mulheres por arma de fogo caíram quando o contexto são as ruas, elespermaneceram em patamar semelhante ou até aumentaram um pouco quando o contexto é a residência da vítima.

Na violência não letal com arma de fogo, 42% dos casos acontecem também dentro de casa. No caso das mortes, a desigualdade de gênero fica evidente: 27% das mortes de mulheres com arma de fogo ocorrem em casa enquanto, entre homens, são 11% .

Para a socióloga Wânia Pasinato, especialista em violência de gênero, o fato de 31% das mulheres vítimas de violência  armada terem sido alvo de outras agressões levanta questões importantes sobre a implementação da Lei Maria da Penha (11-340/2006) e de protocolos de prevenção e proteção criados pelo poder público.

“É importante que o Poder Judiciário observe os dados deste estudo e os considere para implementar dispositivos contidos na lei, como os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher previstos no artigo 14. São juizados com competência civil e criminal, o que permite ao juiz uma avaliação integral do caso para a aplicação de medidas protetivas de maneira mais rápida e eficiente”, aponta.

Segundo Pasinato, ainda hoje há apenas quatro unidades desses juizados, implementadas em Mato Grosso do Sul.

“Outro instrumento importante é o formulário de avaliação de risco, desenvolvido em 2018, e que permite uma melhor gestão de medidas preventivas para que essa repetição da violência não aconteça nem seja agravada pelo uso de armas de fogo”, completa.

Além de perguntas a serem colhidas junto às mulheres, o formulário propunha uma classificação de riscos, entre baixo, médio e alto, para diferentes propostas de encaminhamento do caso.

Pasinato explica que o formulário, desenvolvido em parceria com especialistas no  tema, como ela, sofreu uma revisão no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por um grupo de trabalho formado sem a participação da sociedade civil.

“Fizeram várias alterações com perguntas que nunca foram testadas, e retiraram a parte de classificação e de gestão do risco”, relata. “Uma série de deturpações num instrumento que é importantíssimo”.

O CNJ, por meio de nota, diz que a mudança “para construção de um modelo único para o CNJ e o Conselho Nacional do Ministério Público foram necessárias para atender às múltiplas realidades brasileiras, nas quais nem sempre será possível a existência de uma equipe multidisciplinar”.

A nota afirma ainda que o formulário é uma “ferramenta extremamente importante para auxiliar magistrados na decisão da medida protetiva de urgência mais adequada e eficaz”, mas que se optou pela não inclusão de campos específicos destinados à quantificação e qualificação de fatores de risco.

“Não adianta a gente só aprovar leis se isso não for acompanhado por procedimentos junto a quem tem que aplicar essas leis”, critica Pasinato.

De acordo com o relatório do Sou da Paz, a arma de fogo é o instrumento mais utilizado nos assassinatos de mulheres no Brasil. Entre 2012 e 2020, em média seis mulheres foram assassinadas por dia com arma de fogo no país.

Armas de fogo estiveram presentes em metade dos homicídios femininos no período, um tipo de violência que atinge negras de maneira desproporcional: 7 a cada 10 mortas por armas de fogo em 2020 eram negras.

Mulheres negras são mortas 2,3 vezes mais em espaços públicos do que dentro de casa, enquanto, entre brancas, a diferença é menor (1,5 vezes maior nas ruas do que na residência). O dado sugere maior vulnerabilidade da mulher negra também fora de casa.

GESTÃO E CARREIRA

DEMISSÕES DERRUBAM MITO DA ‘DITADURA GENTIL’ NAS BIG TECHS

Até tentativas de sindicalização foram atacadas com argumento de que trabalhadores eram ‘privilegiados’

Era uma vez jovens graduados que achavam que tinham uma escolha a fazer: podiam ficar ricos mas infelizes, em um banco de investimentos ou escritório de advocacia, ou podiam viver sem um ótimo salário, mas fazendo algo divertido.

Depois, então, vieram as grandes empresas de tecnologia. De repente, era possível para uma pessoa comum certo conjunto de habilidades se divertir e ficar rico ao mesmo tempo.

As empresas de tecnologia pareciam representar um mundo de trabalho menos hierárquico, onde todos usavam jeans e camiseta e o mérito era o mais importante. Os salários eram altos e as opções de ações, abundantes. Se você tivesse sorte, seu patrão também cuidaria das partes chatas da vida, lavando suas roupas, preparando suas refeições e levando você para casa à noite.

Neste ano, as empresas de tecnologia representaram cinco dos dez melhores lugares para se trabalhar nos Estados Unidos, segundo avaliações de funcionários no site Glassdoor.

Formuladores de políticas e economistas logo passaram a ver os trabalhadores de tecnologia como os vencedores arquetípicos da economia do século21: firmemente na ponta “adorável” da crescente lacuna entre os empregos “adoráveis” e os “péssimos”. Quando alguns funcionários do setor tentaram se sindicalizar, a resposta de empresas e investidores foi, muitas vezes, argumentar que esses já eram empregos dos sonhos – então, qual o sentido de fazer isso?

Como afirmou um investidor, os trabalhadores de tecnologia que tentavam se sindicalizar estavam “se apropriando da linguagem dos mineiros de carvão explorados enquanto desfrutavam da experiência de trabalho em escritório mais privilegiada da história da humanidade”.

Essa conversa chegou ao fim com uma série de demissões em massa em empresas de tecnologia nas últimas semanas.

A Meta demitiu 11 mil trabalhadores, ou 13% de sua força de trabalho. Elon Musk, o bilionário que é o novo dono do Twitter, reduziu o número de funcionários do grupo pela metade.

A Amazon anunciou um corte de aproximadamente 10 mil empregos, enquanto a empresa privada de pagamentos Stripe abateu 14% dos trabalhadores.

Foi uma experiência brutal para os funcionários do ramo da tecnologia.

Na maioria dos casos, os cortes de empregos são a reversão de uma recente onda de contratações. Apenas no Twitter a história é um pouco diferente.

As empresas de tecnologia apostaram na continuidade de um ambiente macroeconômico incomumente benéfico que, na verdade, estava prestes a acabar.

Os consumidores não estão mais confinados em casa pela pandemia, tendo apenas o comércio eletrônico para gastar seu dinheiro. As taxas de juros das maiores economias do mundo não estão mais no fundo do poço.

Este não é o fim dessas empresas. A Meta ainda tem mais funcionários do que no  ano passado. Mas as demissões em massa oferecem algumas lições.

A primeira é que, estejam todos de jeans ou não, muitas empresas de tecnologia são altamente autocráticas. Foi impressionante – e revigorante – ver os presidentes executivos assumirem a responsabilidade pessoal pelas demissões. Mas também foi um lembrete de quanto poder eles têm.

Na Meta, por exemplo, os investidores estão cada vez mais frustrados com a quantidade de dinheiro que o executivo-chefe, Mark Zuckerberg, estava “afundando” no metaverso. Mas a estrutura de ações duplas da Meta permite que ele, com 13% do patrimônio, controle mais da metade dos votos.

“Tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos”, escreveu Zuckerberg em um memorando para a equipe há cerca de duas semanas. “Eu entendi errado e assumo a responsabilidade por isso.”

A velocidade das demissões nessas empresas globais também se chocou com o espírito das leis trabalhistas no Reino Unido e na Europa.

“Em muitos países europeus, é preciso alertar as administrações públicas ou conselhos de trabalhadores ou sindicatos, mesmo que a empresa não seja sindicalizada. É preciso ter um plano que atenue o impacto social de suas decisões”, disse Valério De Stefano, professor da Escola de Direito Osgoode Hall, em Toronto (Canadá).

A ideia dessas leis não é impedir que as empresas façam demissões, diz ele, mas garantir que ocorram de forma justa e com o devido aviso. “Temos um despertar muito duro agora, está acontecendo sem nenhum controle ou consulta, apenas alguém que diz: ‘Desculpem, a culpa é minha’”.

Para os funcionários, a experiência destaca o fato de que ditaduras benevolentes podem parecer boas até que não sejam mais tão benevolentes. Mesmo as pessoas que mantiveram os empregos estão vendo alguns benefícios mudarem. No Twitter, Musk anunciou que todos devem trabalhar longas horas em ritmo intenso no escritório, modificando a vida de pessoas que planejavam trabalhar remotamente.

Os sindicatos esperam que as demissões os ajudem a argumentar que os sindicatos não tratam apenas de tentar melhorar as condições precárias de trabalho, mas também de ter uma voz real e um lugar à mesa.

Mike Clancy, secretário-geral do sindicato britânico Prospect, diz que a entidade tem alguns membros no Twitter e espera recrutar mais no setor tecnológico. “Muitas vezes há um verniz progressista – somos todos técnicos juntos”, diz ele. “[O] clima todo é do tipo ‘nós oferecemos uma proposta de emprego diferente’. Não, você não oferece quando se trata de dispensar mão de obra, não é?”

A outra lição é não se deixar levar pela linguagem auto elogiosa sobre a “guerra por talentos”, que era onipresente no setor de tecnologia até recentemente.

Existem pessoas talentosas em todas as esferas da vida. O que importa para o salário é oferta e demanda. Trabalhadores mal pagos nos EUA vêm recebendo grandes aumentos salariais em termos nominais este ano. Ninguém está chamando isso de “guerra por talentos”; eles estão chamando de “falta de mão de obra”. As empresas de tecnologia podem ter oferecido vantagens incríveis, mas as pessoas não precisam tanto de empregos dos sonhos e sim de empregos que as tratem com decência. O problema dos sonhos é que eles desaparecem quando você acorda.

*** SARAH O’CONNOR – Colunista do Financial Times

EU ACHO …

GENTIL DEMAIS

Recebi um livro chamado A arte de ser gentil, com o dispensável subtítulo A bondade como chave para o sucesso, que, a meu ver, descredibiliza um pouco o autor, o sueco Stefan Einhorn, já que ser gentil deveria ser uma atitude para facilitar as relações humanas, e não uma meta para o sucesso. Que sucesso, o quê. Agora tudo o que a gente faz tem que visar o sucesso?

O texto da contracapa diz que uma pessoa gentil terá mais oportunidades de se tornar feliz, rica, bem-sucedida e realizada, e que o livro fornecerá soluções imediatas e de longo prazo para os interessados em se tornarem seres humanos melhores. Foi  tudo que li  até agora, a contracapa, e não vou adiante. Primeiro, porque tenho uma pilha de outros livros me aguardando, e em segundo lugar, porque já sou gentil. Nem sabia que sendo gentil eu poderia ficar rica, feliz, bem-sucedida e essa coisa toda. Sou gentil simplesmente porque acho mais fácil do que ser grosseira. Despende menos energia. E também porque não vejo graça em magoar as pessoas. Até aí, estou no padrão. O que ninguém nos ensina é que gentileza demais pode, por incrível que pareça, também ser um defeito, e dos graves.

Óbvio que não se deve ser rude com amigos, parentes, colegas de trabalho, vizinhos, comerciários, mas ser exageradamente gentil com todo mundo pode colocar a nossa vida em risco. Por exemplo: o que você faz se, ao chamar o elevador de um prédio estranho, à noite, a porta se abrir e lá dentro estiver um sósia do Curinga, com uma cicatriz perturbadora na face e vestindo um sobretudo enorme que poderia muito bem esconder duas pistolas, três granadas e um rifle? Você certamente teria uma vontade súbita de descer pela escada e sumiria de vista. Pois eu entraria no elevador toda faceira, daria boa noite e faria comentários sobre o clima, pois deus que me livre de ele achar que eu sou preconceituosa e que sua aparência me fez pensar que ele pudesse ser um esquartejador de mulheres. Por que ele não pode ser um pai de família como outro qualquer?

Se eu pego um táxi e o motorista demonstra não ter o menor senso de direção, arranha marchas, não usa o pisca-pisca e tira um fino dos outros carros, eu é que não vou mandá-lo de volta para a autoescola. Se ele correr a 200km/h, tampouco solto os cachorros, vá saber o dia horroroso que ele está descontando no acelerador, coitado. Neste caso eu simplesmente “me lembro” de que o endereço onde pretendo ir fica na próxima esquina, e não três bairros adiante, e saio pedindo desculpas pelo meu equívoco.

Se um garçom se aproximar perigosamente de mim com uma panela cheia de óleo fervente, eu não dou um pio, imagina se vou pedir para ele se afastar. Ele vai me considerar uma elitista estúpida – não basta ter pedido um fondue caríssimo, ainda vou ser grossa? Nada disso, uma queimadura no braço não mata ninguém. E se eu estou caminhando por uma rua escura e, na direção contrária, vem um adolescente com um gorro enterrado até o nariz e as duas mãos enfiadas numa jaqueta, eu começo a rezar, mas não troco de calçada, imagina o trauma que posso causar no menino: vai ver é até um amigo da minha filha.

Se você tem mais de nove anos de idade, já sabe reconhecer uma ironia e entendeu meu recado: seja gentil, mas não a ponto de perder o tino. Se tiver que ferir suscetibilidades para salvar sua pele, paciência. Atravesse a rua. Desça pela escada. Dê no pé. Sucesso é chegar em casa com vida.

ESTAR BEM

COMO AS TELAS PODEM MUDAR NOSSOS CORPOS?

Uso do smartphone em excesso pode prejudicar a cervical e é preciso estar atento a ações simples, como piscar, ter atividades físicas e moderar uso à noite

Você provavelmente viu a reprodução 3D que simula os impactos da tecnologia na aparência dos seres humanos. A imagem é resultado de uma projeção da empresa de telecomunicações Toll Free Forwarding e foi feita com base nas expectativas para o ano 3000.

Chamada de Mindy, o ser humano do futuro teria as costas curvadas e o pescoço mais largo como resultado do uso excessivo dos aparelhos digitais. As mãos seriam em formato de garra, em referência ao hábito de digitar no celular. Até uma segunda pálpebra apareceria como proteção à iluminação dos dispositivos eletrônicos. Não à toa, a simulação reverberou nas redes sociais. Porém, especialistas ouvidos apontam ressalvas nessa representação.

“Acredito que o estudo foi feito mais como uma forma de alerta do que como uma previsão do que vai acontecer”, defende Ricardo Paletta, médico oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). Ele explica que o surgimento de uma segunda pálpebra em menos de 800 anos de evolução humana – período estipulado pela projeção – é quase impossível.

As costas curvadas e o pescoço mais largo também são possibilidades descartadas por Ivan Rocha, médico ortopedista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP. Segundo ele, ainda que a projeção use como base questões já identificadas e conhecidas – como os problemas de postura e a mão de garra –, ela desconsidera os avanços científicos a respeito da evolução humana. “Essa estimativa pressupõe que problemas na postura podem passar para os nossos descendentes como características mais adaptáveis. A projeção pode ter um fundo de verdade, mas não é assim que aconteceria.”

Ainda que essa representação esteja distante de se tornar realidade, não significa que cuidados durante o uso de aparelhos eletrônicos não sejam necessários. Veja as dicas.

CUIDADOS COM A CERVICAL

O uso do smartphone em excesso pode trazer problemas para a coluna cervical, conforme alerta Alexandre Fogaça, médico ortopedista e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Ele explica que a posição comum ao usar o celular – aquela com o pescoço curvado para baixo – submete a musculatura cervical a um estresse prolongado. Isso pode trazer dores, torcicolo, hérnias de disco e doenças crônicas, como a artrose. “Por isso, o uso desses dispositivos tem de ser com moderação”, reforça.

ATENÇÃO AOS BRAÇOS

A digitação no aparelho também exige atenção. “Ficar digitando por muito tempo sobrecarrega a musculatura dos braços e pode causar lesões nos tendões”, explica. Por isso, ele recomenda o uso do smartphone com cautela e, quando necessário utilizar o aparelho, fazer isso com a tela mais próxima da altura dos olhos.

LEMBRE-SE DE PISCAR

Toda vez que olhamos para uma tela entramos em um estado de concentração visual. “Quando entramos nesse estado, diminuímos nossa frequência de piscadas e o olho fica ressecado”, alerta o oftalmologista. Esse ressecamento pode ocasionar ardência, coceira, e embaçamento visual. Por isso, lembrar de piscar os olhos enquanto usa aparelhos eletrônicos é essencial para garantir sua correta lubrificação. “Quando necessário, também pode ser receitado por um oftalmologista o uso de um colírio para repor a lágrima.”

PRATIQUE ATIVIDADES FÍSICAS

“É importante fazer atividade física condizente com a idade e com as comorbidades pelo menos três vezes na semana com supervisão de um educador físico”, recomenda Fogaça. Ele explica que a prática garante maior resistência na musculatura para suportar o estresse diário.

OBJETOS DE TRABALHO

Adotar um ambiente de trabalho ergonômico também é importante, em especial para quem continua em trabalho remoto. Uma boa cadeira pode fazer a diferença. A recomendação do ortopedista é utilizar uma com encosto, que permita apoiar os pés no chão e que mantenha quadril e joelhos curvados em 90 graus.

Fique atento também à posição do computador. Busque utilizá-lo na altura dos olhos, com mouse e teclado na altura do cotovelo dobrado. Evitar trabalhar no sofá ou na cama também ajuda a manter uma postura mais ergonômica.

EVITE TELAS ANTES DE DORMIR

As telas dos aparelhos eletrônicos emitem uma luz que afeta uma glândula do nosso cérebro chamada glândula pineal. “A glândula pineal controla o nosso estado de vigília e de sono”, alerta o oftalmologista. Ele explica que é ela que comanda os momentos de despertar e de dormir. “Ao usar telas próximo da hora de dormir é como se a iluminação das telas dissesse para a glândula pineal que ainda é dia e que precisamos estar em estado de vigília.” Por isso, ele aconselha suspender o uso de telas duas horas antes de dormir.

FAÇA PAUSAS

Estimular intervalos entre os usos dos equipamentos eletrônicos pode evitar problemas na coluna e na musculatura. No caso do trabalho – seja no computador ou no smartphone –, Fogaça recomenda pausas a cada duas horas. “É importante levantar, andar um pouco e alongar a musculatura. Isso favorece tanto a parte músculo-esquelética como a parte vascular”, explica.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

PESQUISADORES CRIAM APLICATIVO NA TENTATIVA DE PREVENIR SUICÍDIO

Sensor no celular coleta dados sobre estado de espírito e interações sociais dos pacientes e dá alarme se preciso

Em março, Katelin Cruz deixou sua última internação psiquiátrica com uma já conhecida mistura de sentimentos. Estava aliviada por sair da enfermaria, na qual os funcionários escondiam os cadarços de seus sapatos e às vezes a seguiam até o chuveiro para garantir que ela não tentasse se ferir.

Mas ela contou que sua vida lá fora estava instável como sempre, com uma pilha de contas não pagas e sem um lar permanente. Foi fácil voltar para os pensamentos suicidas. Para o paciente frágil, as semanas depois da alta de uma instituição psiquiátrica são um período notoriamente difícil, com uma taxa de suicídio 15 vezes superior à média dos Estados Unidos. Contudo, dessa vez, Cruz, de 29 anos, deixou o hospital como parte de um projeto de pesquisa que tenta usar avanços na inteligência artificial para fazer algo que os psiquiatras procuram resolver há tempos: prever quem é suscetível à tentativa de suicídio e quando essa pessoa vai fazê-lo, para que uma intervenção seja possível.

No pulso, ela usava um Fit-bit programado para acompanhar seu sono e sua atividade física. Em seu smartphone, um aplicativo coletava dados sobre seu estado  de espírito, seus movimentos e suas interações sociais. Cada dispositivo fornecia um fluxo de informações a uma equipe de pesquisadores da Universidade Harvard.

No campo da saúde mental, poucas novas áreas geram tanta empolgação quanto o aprendizado de máquina, que usa algoritmos para prever melhor o comportamento humano. Ao mesmo tempo, há grande interesse em biossensores que acompanham o humor de uma pessoa em tempo real, analisando escolhas musicais, postagens nas redes sociais e expressão facial e vocal.

Matthew K. Nock, psicólogo de Harvard que é um dos maiores pesquisadores do suicídio no país, espera unir essas tecnologias em uma espécie de sistema de alerta precoce que poderia ser usado quando um paciente em risco recebe alta do hospital.

Ele deu um exemplo de como poderia funcionar: o sensor relata que um paciente tem o sono perturbado, relata o mau humor em questionários e o GPS mostra que ele não está saindo de casa.

E um acelerômetro no telefone mostra que a pessoa está se movimentando muito, o que sugere agitação. O algoritmo sinaliza o paciente. Um alarme soa em um painel. E, na hora certa, um médico oferece ajuda com um telefonema ou uma mensagem.

Há muitas razões para duvidar que um algoritmo possa chegar a esse nível de precisão. O suicídio é um evento raro, mesmo entre aqueles que correm maior risco, que qualquer esforço de previsão certamente resultará em falsos positivos, forçando a intervenção em pessoas que podem não precisar dela. Os falsos negativos  poderiam colocar a responsabilidade legal nos médicos.

Os algoritmos precisam de dados granulares de longo prazo de um grande número de pessoas, e é quase impossível observar um grande número de suicidas. Por fim, os dados necessários para esse tipo de monitoramento levantam a questão de invasão de privacidade.

Nock está ciente de todos esses argumentos, mas persiste, em parte por frustração. “Com todo o respeito àqueles que fazem esse trabalho há décadas, há um século, não aprendemos muito a identificar pessoas em risco e a intervir. A taxa de suicídio agora é a mesma de cem anos atrás.” Em uma tarde de agosto em Harvard, o cientista de dados Adam Bear estava diante de um monitor no laboratório de Nock, olhando para os gráficos em ziguezague dos níveis de estresse de um sujeito ao longo de uma semana. Quando os estados de ânimo são mapeados como dados, surgem padrões, e procurá-los é o trabalho de Bear. Ele passou alguns meses em meados deste ano analisando dias e horas de 571 participantes que, depois de procurar atendimento médico em decorrência de pensamentos suicidas, concordaram em ser rastreados por seis meses. Enquanto estavam sendo rastreados, dois se suicidaram e entre 50 e 100 fizeram tentativas. A equipe está mais interessada nos dias anteriores às tentativas de suicídio. Já surgiram sinais: embora os impulsos suicidas muitas vezes não se alterem no período anterior a uma tentativa, a capacidade de resistir a esses impulsos parece diminuir. A privação do sono parece contribuir para isso.

Nock procura maneiras de estudar esses pacientes desde 1994, quando teve uma experiência que o chocou.

Durante um estágio de graduação no Reino Unido, foi designado para uma unidade fechada, destinada a pacientes violentos e com tendência à autoagressão. Lá, viu coisas inéditas para ele: pacientes com cortes nos braços.

Um deles arrancou o próprio globo ocular. Um jovem com quem fez amizade, que parecia estar melhorando, foi encontrado mais tarde no rio Tâmisa.

Ele teve outro choque quando começou a fazer perguntas sobre o tratamento desses pacientes aos médicos e percebeu que estes sabiam muito pouco. Lembra-se de que um deles respondeu: “Receitamos alguns remédios, falamos com eles e esperamos que melhorem”.

Nock concluiu que uma das razões foi que nunca foi possível estudar um grande número de pessoas com ideias suicidas da mesma forma que somos capazes de observar pacientes com doenças cardíacas ou tuberculose.

“A psicologia não avançou tanto quanto outras ciências porque temos feito isso de maneira errada. Não encontramos algum comportamento importante e o observamos. Mas, com o advento de aplicativos baseados no smartphone e nos sensores de vestir, temos dados de muitos canais diferentes e, cada vez mais, a capacidade de analisá-los e observar as pessoas enquanto levam a vida.”

Foi por volta das 21h, algumas semanas depois do estudo de seis meses, que a pergunta apareceu no telefone de Cruz: “Quão forte é seu desejo de se matar?”. Sem pensar, ela arrastou o dedo até o fim da barra: 10. Alguns segundos depois, pediram-lhe que escolhesse entre duas declarações: “Certamente não vou me matar hoje” e “Certamente vou me matar hoje”. Ela optou pela segunda.

Quinze minutos depois, seu telefone tocou. Era uma integrante da equipe de pesquisa, que ligara para o 911 e manteve Cruz na linha até a polícia chegar; em seguida, ela desmaiou. Mais tarde, quando recuperou a consciência, uma equipe médica massageava- lhe o esterno, procedimento doloroso usado para reanimar quem sofreu overdose. Cruz tem o rosto pálido e angélico e usa uma franja de cachos escuros. Estava estudando para um curso de enfermagem quando uma série de crises mentais fez sua vida mudar de direção. Mantém o interesse nerd pela ciência, brincando que a caixa torácica desenhada em sua camiseta é “anatomicamente correta”.

Ela logo se interessou pelo experimento e respondia às questões obedientemente seis vezes por dia, quando os aplicativos do telefone perguntavam sobre pensamentos suicidas. As notificações eram intrusivas, mas reconfortantes: “Parecia que eu não estava sendo ignorada. Ter alguém que sabe como me sinto tira um pouco do peso”.

Na noite de sua tentativa, ela estava sozinha em um quarto de hotel em Concord, Massachusetts. Não tinha dinheiro suficiente para outra noite lá, e seus pertences estavam em sacos de lixo no chão.

Confessou que estava cansada “de sentir que não tinha ninguém e nada”. Comentou que achava que a tecnologia – seu anonimato e a ausência de julgamento – facilitava o pedido de ajuda: “Acho que é mais fácil dizer a verdade a um computador”.

Recentemente, quando o ensaio clínico de seis meses chegou ao fim, Cruz preencheu seu questionário final com uma pontada de tristeza. Perderia o dólar que recebia por cada resposta. E sentiria falta da sensação de que alguém a observava, mesmo que fosse alguém sem rosto, a distância, por intermédio de um dispositivo.

“Honestamente, me sinto um pouco mais segura ao saber que alguém se importa o suficiente para ler esses dados todo dia, sabe? Vou ficar meio triste quando acabar.”

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