OUTROS OLHARES

EM TRÊS FRENTES

Igualdade de gênero é desafio na ciência, na política e no salário

Apesar dos avanços, as mulheres brasileiras ainda estão longe de chegar aonde gostariam. A igualdade de gênero, destacada como prioridade pelo presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta desafios em três frentes importantes: na produção científica, na representatividade política e na busca de igualdade salarial.

As mulheres, embora sejam responsáveis por quase metade das pesquisas no país, aparecem bem menos na liderança acadêmica, em publicações e bolsas concedidas. A presença em cargos públicos está longe da paridade desejada. E os salários perdem para os dos homens, que foram 27,6% maiores no último trimestre deste ano, de acordo com o IBGE.

Na ciência, há uma expectativa de que a criação de um Ministério da Mulher, prometido para o governo Lula, possa acolher demandas antigas. Uma das principais, de acordo com a antropóloga Miriam Grossi, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, são mecanismos para aumentar o acesso de cientistas a bolsas de excelência. Grossi diz que as pesquisadoras, apesar da produção científica expressiva, são muitas vezes prejudicadas, pois as instituições levam em consideração os últimos cinco anos para a pontuação do candidato. No caso das mulheres, período muitas vezes interrompido por uma gravidez.

“Houve grande avanço na última década. As bolsas de iniciação científica contemplam muitas jovens. Mas menos de 30% das bolsas de excelência do CNPq, de nível 1A, vão para as mulheres. Quando avançamos na pirâmide do conhecimento, sofremos mais exclusão. A literatura mostra que isso acontece, em grande parte, devido a interrupções na carreira pela maternidade, por exemplo”, explica Miriam, acrescentando que algumas universidades e institutos de pesquisa já consideram em seus editais que a pontuação desconsidere a produção de dois anos subsequentes à maternidade e contemplem os dois anos anteriores. —É uma demanda muito antiga, mas não é uma política pública.

Segundo o CNPq, em 2021, eram 10.406 homens com bolsas em todas as categorias, contra 5.642 mulheres. De acordo com a Capes, as mulheres são maioria na pós-graduação (54%, ou 195 mil de 364 mil), mas não chegam a ter importância proporcional na pesquisa científica.

“Embora sejam maioria numérica, pesquisadoras ainda lutam por mais respeito e oportunidades. Mesmo as que conseguem vencer todos os desafios para alcançar cátedras ainda têm de superar toda uma sorte de práticas discriminatórias, intimidatórias e desrespeitosas”, reconhece a presidente da Capes, Cláudia Queda de Toledo.

EDUCAÇÃO É CENTRAL

Há vácuos de produção científica feminina em grandes universidades, que podem variar em cursos mais associados a homens. Estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP com uma amostra de mais de 3 mil professores aponta que 61,7% da produção científica na universidade paulista é de homens. Os homens também têm índices maiores de publicações, de citações por ano, de produtividade e de impacto científico.

Na Unesp, a professora Lídia Passos afirma que nos últimos cinco anos tem havido uma grande transformação. Ainda assim, as professoras, que representam 52% de toda a universidade, classificam como “árdua” a tarefa de se fazerem ouvidas.

“Os espaços públicos não têm distinção de salário. Mas no convívio interno, há uma luta para que nós sejamos tão vistas, ouvidas e valorizadas quanto os homens, simplesmente porque há o imaginário de que eles são feitos para esses papéis. Quando na verdade só têm mais oportunidades”, observa Passos.

Primeira mulher presidente da Associação Brasileira de Ciências, Helena Nader afirma que uma nova estrutura de país só será possível através da educação.

“A cultura conservadora foi intensificada no governo Bolsonaro, da mulher dona de casa e cuidadora dos filhos. A história do menino veste azul, a menina veste rosa. Todo mundo fala da Finlândia, da Islândia, da Dinamarca, mas nestes países meninos e meninas brincam de boneca e de casinha, de fazer comidinha e de serem engenheiros. Ou a gente muda a maneira como educamos nossos filhos ou não vamos avançar”, alerta a biomédica.

MINORIA NA POLÍTICA

A política está também entre os espaços onde a mulher ainda não tem tanta voz, especialmente se for negra. Embora sejam a maioria da população brasileira e acumulem mais anos de estudo que os candidatos homens, as mulheres foram 14% do total de candidatos a prefeito há dois anos, segundo um estudo divulgado este ano pela Oxfam Brasil e o Instituto Alziras. Nas câmaras de vereadores, elas equivaleram a 35% das candidaturas, por influência da política de cotas que determina que as legendas preencham ao menos 30% de suas listas com mulheres.

Nas eleições deste ano, o número de eleitas para a Câmara dos Deputados cresceu 18%. Apesar do aumento de 77 para 91, o maior número da História, elas ainda representam 17,7% do Congresso, segundo levantamento feito pelo +Representatividade, em parceria com o Instituto Update. Um levantamento do Mulheres Negras Decidem (MND) mostrou que candidaturas negras são ainda menores: entre as deputadas, pouco mais de 2% são pretas ou pardas. E apenas 1% do Senado é feminino e negro.

“As mulheres negras tiveram mais de 5 mil candidaturas, um número expressivo, apesar de o resultado nas urnas não ter se concretizado. Cada participação é uma semente, que deve ser regada com investimento na saúde, educação e empregabilidade feminina, para que elas tenham mais recursos para chegar a postos públicos”, defende Gabrielle Abreu, coordenadora do MND.

HOMENS GANHAM MAIS

Nas empresas, o cenário também é desfavorável. Em julho, agosto e setembro, em pesquisa do IBGE com 173 mil pessoas, constatou-se que homens ganharam em média R$ 2.835, e mulheres, R$ 2.221. Entre os desempregados, as mulheres são maioria (54,6%). Nos mesmos períodos de anos anteriores, a variação dos salários a favor dos homens ficou em torno de 27% a 28% superior aos ganhos de mulheres.

A equidade salarial é garantida por lei. Mas na prática, há defasagem. A desigualdade se intensifica na faixa de 25 a 49 anos entre mulheres que tenham crianças em casa com até 3 anos de idade. O nível de ocupação fica em 54,6%, contra 67,2% das que não têm filhos nessa faixa etária. No caso dos homens, a situação se inverte: com filhos na mesma idade, eles levam vantagem, e a ocupação alcança 89,2%, contra 82,4% dos que não têm filhos na mesma faixa etária.

Para a antropóloga Mirian Goldenberg, medidas precisam ser adotadas não só para igualar salários, mas para valorizar as mulheres em todo o espectro social, sobretudo em profissões tidas como femininas e que tendem a ser depreciadas.

“Igualar o salário é fundamental, mas o mais importante é fazer com que profissões que não são tradicionalmente masculinas, como enfermagem e professora, tenham vencimentos mais dignos. As profissões do cuidado são femininas e são as que têm os menores salários e menos prestígio. É preciso uma revolução para a mulher”, diz Goldenberg.

GESTÃO E CARREIRA

COMO UM GESTOR DEVE SUPERAR OS NOVOS DESAFIOS DA GESTÃO

A gestão de empresas guarda desafios que precisam ser superados diariamente. Esses desafios podem ser impulsionados por fatores externos, como atualmente as eleições, além do advento da internet e diversas mudanças sociais constantes. No entanto, para um gestor executivo de sucesso gerenciar ânimos internos e externos tomando todos os cuidados para que a empresa siga saudável está se tornando cada vez mais difícil e complexo.

Mas para superar esses desafios existem algumas habilidades essenciais que devem ser desenvolvidas, como explica o MBA em Marketing Executivo e doutorando em neurobusiness, André Afonso Silva. “O fato concreto é que ser gestor executivo de empresa hoje tornou-se um pouco mais difícil do que sempre foi, o contexto mudou e as suas tarefas se tornaram mais complexas, e para saber lidar corretamente com elas é essencial desenvolver algumas habilidades”.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO GESTOR DE SUCESSO:

• GESTÃO DE RISCO: Como em qualquer momento das nossas vidas, a gestão de risco é fundamental, mas sua importância aumentou devido às várias incertezas que estamos vivendo;

• RESILIÊNCIA:  Em  um  mundo  de  constantes  mudanças sociais e evoluções tecnológicas que alteram todo o nosso contexto, saber ressurgir das cinzas e alçar novos voos é fundamental;

• GESTÃO DO TEMPO: você deve estar se perguntando, “mas como fazer tudo isso em 24 horas se eu ainda tenho que dormir”…. resposta: tempo é uma questão de prioridade, sempre, logo, saiba gerenciar da melhor maneira seu tempo;

• RESERVE UM TEMPO PARA O LAZER: Nenhum cnpj vale um desgaste na sua saúde, então ter um tempo seu com aqueles que você ama também é fundamental, pois, lembre-se, se você cair, muita gente cai junto…. então manter-se saudável, com uma dieta balanceada, exercícios físicos pelo menos 3x por semana, ficar com a família e fazer o que você gosta é importante para que seu corpo e mente mantenham-se saudáveis.

A NECESSIDADE DE ESTAR ATUALIZADO:

Além das características já citadas, André ressalta a importância de uma em especial: a capacidade de se manter atualizado. Em um cenário de constantes mudanças é crucial se atualizar conforme as ‘atualizações’ do mundo para conseguir seguir o mesmo ritmo e não ficar para trás no mundo dos negócios.

“A velocidade das mudanças é imensa e muitas vezes não estamos devidamente preparados para poder aproveitar as oportunidades que surgem, logo, manter-se atualizado e estudar sempre também é fundamental”, afirma André. www.essenciaconsultoria.com.br

EU ACHO …

O POLITEÍSMO SERIA MELHOR?

Em Roma, viviam, lado a lado, a crença e a descrença em diversos deuses

Afora as evidentes diferenças históricas e técnicas, Roma foi, pelo menos no Ocidente, a maior civilização e império que já existiu. O Império Britânico se aproximou, mas não foi nem de longe um império com tamanha duração e solidez. Os Estados Unidos são um nada. A experiência da longa duração do tempo é algo extinto em nosso mundo.

A pergunta que Edward Gibbon (1737·1774) faz a si mesmo no seu monumental “Declínio e Queda do Império Romano”, que conta com um compilado no Brasil pela Companhia das Letras é: que o incrível não é que o Império Romano – Roma e Constantinopla – tenha declinado e caído, o incrível é que tenha durado tanto tempo.

São muitas as hipóteses para responder a essa pergunta segundo Gibbon. Uma delas é assaz interessante e versa sobre a têmpera romana com relação à religião.

Já se sabe com razoável evidência que Roma – a original – estava longe de ser uma sociedade religiosamente intolerante, como o cinema e avaliações apressadas acabaram por produzir nos senso comum.

Gibbon apresenta o politeísmo como sendo um panteão de deuses que estava sempre aberto para novas adesões. A produção seria mesmo infinita, como mitologias gregas e romanas revelam ao historiador dessa antiguidade.

O homem e a mulher comuns aceitavam todos os deuses de forma natural, isto é, na dependência do necessidade, do caso específico, ou do pedido ou sofrimento em que estão. Rituais, ritos, liturgias de diferentes deuses ou crenças eram aceitos por todos, sem discriminação, inclusive produzindo sínteses mítico­ teológicas múltiplas.

Se as pessoas comuns rezavam para todos os deuses – e quanto mais deuses, melhor-, os filósofos não acreditavam em nenhum deles.

A filosofia antiga era um estilo de vida, como bem nos mostrou Pierre Hadot (1922-2010), o filósofo e historiador da filosofia antiga. Sendo um estilo de vida, a filosofia competia com a religião para aqueles que entendiam que a vida deveria ser conduzida pelo pensamento livre e não por práticas e crenças no sobrenatural de alguma forma.

Estoicos, epicuristas, céticos, todos ateus no sentido dado por Gibbon – os filósofos não acreditavam em nenhum dos deuses – ofereciam estilos de vida que, basicamente, desconfiavam da submissão à crença nos deuses.

Viviam, lado a lado, crenças em diversos deuses, com a descrença em todos eles.

Por outro lado, os magistrados, nos diz Gibbon, consideravam todas as crenças úteis porque garantiam alguma forma de constrangimento do comportamento, facilitando o trabalho de controle e imposição da lei.

Nesse sentido, a fé e a adesão a um conjunto de crenças e deuses diferentes, digamos, eram avaliados como uma ferramenta civilizadora, na medida em que  sustentava o convívio social, em vez de impor reveses em nome de apenas um deus verdadeiro.

Teria Roma durado tanto tempo, fosse ela monoteísta? Teria Roma sido capaz de assimilar povos tão distintos, fosse ela certa de carregar em seu seio uma verdade definitiva sobre o mundo divino? A fragmentação do politeísmo conviveu melhor com a expansão e poder dos romanos – não é à toa que, grosso modo, os mil anos da Constantinopla cristã foram um lento e gradual declínio do império.

Interessante notar que o biógrafo de Winston Churchill (1874·1965), Andrew Roberts, na sua obra “Churchill: Caminhando com o Destino”, falará da ausência, para o primeiro ministro inglês, de qualquer referência ao cristianismo como fundamento da expansão britânica em seu império.

Pelo contrário, nos diz o autor, foi exatamente a influência sobre Churchill do pensamento de Gibbon acerca de Roma, e seu modo de ver as religiões romanas que o teria levado a descrer na divindade de Jesus Cristo e mesmo nunca ter citado a palavra “Jesus” em seus milhares de discursos, e apenas uma vez, “Cristo” dissociado da ideia de salvador do mundo. Vale dizer que, diante de Churchill, todos os líderes posteriores são menores.

A chamada tolerância religiosa parece estar mais associada à descrença num deus único do que a apaixonada fé nele,

*** LUIZ FELIPE PONDÉ

ESTAR BEM

DORMIU MAL? SAIBA QUAL É O MELHOR TIPO DE TREINO APÓS UMA NOITE DE SONO RUIM

Estudo sugere que desempenho é menos afetado em exercícios de força e resistência do que em atividades complexas, como disputar uma partida

Após uma noite de sono ruim, nada parece certo. A mente fica confusa e os músculos, esgotados. Muitas vezes, a última coisa que você quer fazer é praticar exercícios e suar. Você pode se perguntar que tipo de treino deve fazer ou se é melhor adiar. Um artigo recente de pesquisadores da Austrália sugere que quem teve uma noite de sono insuficiente deve treinar no início do dia concentrando-se em exercícios de força e resistência, em vez de habilidades complexas. O estudo, publicado na edição de novembro da Sports Medicine, é o mais recente de uma série de análises que examinam a ligação entre sono e desempenho atlético.

“O fator chave é: “Qual foi o tipo de perda de sono que você teve?” E então, “Quando você vai treinar e o que você vai treinar?””, disse Jonathan Craven, estudante de pós-graduação da Griffith University, em Queensland, e um dos autores do artigo.

A meta-análise, que combinou dados de 77 estudos, examinou o efeito de uma noite de sono reduzida – ou seja, menos de seis horas – na força, resistência e habilidade atlética no dia seguinte. A equipe australiana descobriu que o sono ruim prejudica a maioria dos aspectos do desempenho atlético, como velocidade, potência, resistência e habilidades complexas – como acertar uma bola de tênis.

EFEITO NO CÉREBRO

Os cientistas colocaram o desempenho de cada praticante em uma escala percentual.

Eles perceberam que, após um sono ruim, as habilidades complexas diminuíram em até 23%, enquanto a força e a resistência tiveram perdas de até 8%, em comparação com exercícios realizados após uma noite inteira de sono. Em outras palavras, a capacidade de alguns sujeitos de acertar o alvo em uma sessão de tiro com arco foi muito mais afetada do que de outros de correr a uma certa velocidade ou levantar uma determinada quantidade de peso.

“Quanto mais longa uma atividade, ou quanto mais ela exige de uso do cérebro, maior a probabilidade de você ter um efeito negativo da privação do sono”, comentou Shona Halson, pesquisadora da Universidade Católica Australiana, em Brisbane, que estuda o efeito da privação de sono em atletas e não participou do estudo.

QUANTO MAIS CEDO, MELHOR

Os pesquisadores descobriram que malhar no início do dia, após acordar, ajuda a minimizar os efeitos da perda de sono. Além disso, os efeitos negativos aumentavam lentamente à medida que o dia passava.

“Se você tem escolha e está sem sono, é melhor treinar pela manhã”, disse Halson.

O desempenho dos atletas em habilidades complexas, por exemplo, caiu 14% quando o treino foi feito no início do dia e 23% à noite.

Os levantadores de peso tiveram um desempenho 2% pior do que o normal durante o treino matinal, enquanto esperar até a noite reduziu seu desempenho em 5%. O estudo mostrou que esse efeito foi mais forte entre aqueles que perderam o sono ao acordar cedo demais do que naqueles que foram dormir mais tarde. Os pesquisadores sugerem que, para os atletas que viajam para competições, pode ser melhor se deslocar à noite e dormir nas proximidades, em vez de acordar mais cedo para chegar ao local de competição. A razão para esse declínio de desempenho está relacionada ao ritmo circadiano do corpo, que naturalmente faz com que as pessoas se sintam mais alertas quando está claro e cansadas quando está escuro. O corpo libera adrenalina em resposta à luz da manhã, disse o cardiologista Virend Somers, que estuda o efeito da perda de sono.

A adenosina, uma substância química que cria uma sensação de sonolência, tende a ser mais baixa no corpo logo após acordar, aumentando à medida que o dia passa, explicou Halson – quanto mais adenosina em seu corpo, mais cansado você se sente.

Ela enfatizou que uma noite ruim não significa que você deva cancelar o treino. Se não puder se exercitar pela manhã, talvez o melhor seja pular a partida de tênis ou de basquete e concentrar-se em exercícios de força e resistência.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

QUANDO A TRISTEZA É NECESSÁRIA

Especialistas alertam que é preciso viver esse sentimento; jogá-lo ‘debaixo do tapete’ pode piorar tudo e até mesmo levar a uma depressão

É melhor ser alegre que ser triste. A frase, que inicia o Samba da Bênção, de Vinicius de Moraes, dificilmente vai ser contestada por alguém. Afinal, quem quer encarar esse sentimento incômodo, muitas vezes doloroso? Apesar disso, o músico e poeta nos próximos versos reconhece: “Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”.

Os artistas ao longo da história foram admirados por se inspirarem na miríade de emoções humanas para produzir suas obras, mas parece que os sentimentos considerados negativos foram “cancelados” – nas redes sociais, predominam os sorrisos das festas e das viagens de famílias e amigos aparentemente perfeitos, entre outros registros de momentos incríveis vividos por tantas pessoas. Profissionais da saúde mental observam o comportamento de tentar esconder e ignorar a tristeza nos tempos atuais e alertam: é preciso reconhecer e acolher a tristeza, já que ao varrê-la para baixo do tapete se pode arrastá-la por mais tempo e até desencadear uma depressão.

A tristeza é uma resposta natural a nossas perdas e nos ajuda a gerenciá-las, explica o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey, autor do livro O Tempo do Autoencontro: Como Fortalecer-se em Tempos Difíceis e Vencer os Desertos da Vida. “Embora possa ser desconfortável, não se permitir viver a tristeza prejudica a nossa vida emocional. Desenvolvemos a capacidade de nos adaptar e evoluir emocionalmente na medida em que respondemos à experiência de processar nossas dores. Ao fugir da tristeza, perdemos todo esse aprendizado essencial de nossas vidas”, diz.

MECANISMOS DE PROTEÇÃO

O psicólogo esclarece que acolher a tristeza não significa afundar-se na autopiedade. “Essa permissão de entristecer-se funciona como uma etapa inicial de sair da própria tristeza e de se desenvolver. É um equívoco levar a vida como se nada estivesse abalando seu universo íntimo.” Segundo Klinjey, quando uma pessoa está triste e prefere ficar só, está se valendo de um mecanismo de proteção para se manter seguro em um momento de vulnerabilidade – o que precisa ser respeitado pelas pessoas ao redor. “Além disso, ficar só quando estamos tristes nos ajuda a reduzir estímulos emocionais desnecessários, dando espaço para lidarmos com sentimentos intensos ou complexos”, acrescenta.

Ao ser diagnosticada com câncer de mama, a fisioterapeuta Mariana Fernandes, de 38 anos, entrou em desespero, assim como tantas mulheres que passam por essa situação. “Chorei de manhã, tarde e noite por uma semana. A gente tem de chorar porque é triste, doloroso e sofrido. Mas depois resolvi olhar pra frente”, conta. No início, ficou incomodada em demonstrar a tristeza para suas filhas, de 7 e 9 anos, mas depois percebeu que era importante que elas entendessem que a vida não era feita só de alegrias. “Expliquei para elas que eu estava triste, mas que ia melhorar. Elas sofreram junto, mas cresceram com tudo isso, assim como toda a família”, lembra ela, que fundou em outubro a comunidade Anjo Rosa, para ajudar pessoas em tratamento do câncer de mama.

A tristeza é um sentimento incômodo, mas isso é importante para ativar o foco da pessoa, afirma o psiquiatra Daniel Martins de Barros, autor do livro O Lado Bom do Lado Ruim. “Se a tristeza fosse agradável, não serviria de alarme para nós”, afirma. Segundo Barros, o sentimento de tristeza vem quando temos a noção de que perdemos algo, o que nos leva a uma baixa de energia, com uma postura de não enfrentamento. “Uma das funções da expressão das emoções é modular o comportamento do outro, que tende a interromper uma agressão ao perceber a expressão de tristeza e dor.”

O luto, que é a expressão máxima da tristeza humana, funciona como um amargo remédio para elaborar uma perda, afirma o psiquiatra. “É preciso viver a dor de reconhecer que as chances acabaram. É o único caminho para conseguir seguir em frente”, diz Barros. Quem não se permite vivenciar o luto não se liberta, afirma a psicóloga e psicanalista Beatriz Breves, autora de diversos livros sobre a “ciência do sentir”. “Há pessoas que caem no luto patológico e passam 20 anos de sofrimento, apegadas, com roupas e outras coisas da pessoa que se foi”, observa.

Saber reconhecer e nomear os sentimentos é fundamental – e eles aparecem como uma “salada de frutas”, já que não andam sozinhos, segundo a psicóloga. “A tristeza sempre vem acompanhada de outros sentimentos, como angústia, esperança”, ressalta. Para Beatriz, diante da complexidade de sentimentos, é preciso escutá-los para que seja possível digeri-los. A psicóloga explica que não é possível frear um sentimento. “A tristeza pode ser reprimida, mas sob o risco de ativar uma depressão”, alerta.

ACOLHER O OUTRO

Assim como é importante aceitar e gerenciar a própria tristeza, é preciso acolher a dor alheia, em vez de tentar abafá-la. “Tem quem diga para as crianças engolirem o choro e não ficarem tristes. Isso é muito ruim”, afirma a psicóloga Beatriz. Ao perceber que alguém está triste, a melhor atitude é oferecer a escuta. “Seja empático e não simpático. O simpático tenta apagar a dor, o empático entende que alguém está passando por uma dor e se oferece de suporte”, diferencia.

Mariana Fernandes, que recebeu o diagnóstico de câncer de mama duas vezes, acredita que a escuta empática é a melhor forma de apoiar quem está passando por uma fase difícil. “É importante estar ao lado e deixar a pessoa falar quando quiser e o que quiser, sem dizer nada. Isso ameniza a dor e faz a pessoa se sentir acolhida.”

Desde criança, a escritora e jornalista Leila Ferreira teve a permissão de vivenciar a sua tristeza. “Minha mãe nos ensinou a acolher os nossos estados de espírito e os dos outros. Ela nos liberava para sentir a vida como um todo, expressar os sentimentos, mesmo que fossem tristes, sem falsear. Ser mais verdadeiro é mais saudável”, analisa.

Em dezembro, ela fez uma palestra com o tema A Alegria de Poder Estar Triste no TEDx de uma faculdade em Minas Gerais, entre outras apresentações que tem feito sobre o assunto. Segundo ela, vivemos tempos em que as pessoas tentam banir a tristeza, o que empobrece a vida e reduz o próprio sentido da felicidade.

“É um mundo frenético, que quer manter uma felicidade forjada, esfuziante e permanente. Estimula o barulho, o falar. Há uma baixa tolerância ao silêncio, mas a vida pede eventualmente o recolhimento e o silêncio”, avalia.

Leila explica que não faz ode à tristeza: sempre equilibrou os momentos de melancolia com muita alegria de viver. “Sentir felicidade é o desejo mais legítimo do mundo. O que faz mal é simular uma alegria que não está sentindo, influenciado pela positividade tóxica dos nossos tempos.” Na visão dela, existem gurus da “ditadura da felicidade” que dizem que só depende de você se sentir bem. “Isso acaba sendo uma fonte de infelicidade, que só deixa as pessoas piores. Elas se sentem incompetentes, frustradas, culpadas, diante de milhões de postagens de pessoas supostamente felizes nas redes sociais.”

POSITIVIDADE TÓXICA

O filósofo e professor Marcio Krauss também enxerga a sociedade em que vivemos como obcecada pela positividade. “A dor, a frustração, a vulnerabilidade são ocultas, como se houvesse um filtro igual ao das redes sociais, que esconde os traços humanos de imperfeição”, adianta. Na visão de Krauss, esse é um sintoma da chamada “sociedade do cansaço”, definida pelo filósofo coreano Byung-Chul Han, na qual as pessoas são ao mesmo tempo escravas e algozes de si próprias, na busca incessante por produtividade.

“É o imperativo do ‘sim’, em que o próprio indivíduo se sente culpado ou fracassado, caso se sinta cansado ou triste, pois internalizou a cobrança. Todas as pessoas estão numa corrida inalcançável, seja no trabalho, em casa, no restaurante ou na academia”, descreve.

A indústria cultural, seguindo a lógica de mercado, também segue esse padrão, fazendo adaptações para trazer novos produtos de forma rápida, observa o filósofo. Tem um papel diferente da arte, que sempre foi importante para ajudar as pessoas a refletirem e ampliarem seus horizontes. “As músicas mais tocadas hoje sobre ‘sofrência’, por exemplo, não encaram a dor como deve ser encarada. Elas falam da tristeza de forma rasa, como um entretenimento esvaziado de sentido”, reforça Krauss.

ESTADO ‘AGRIDOCE’

Por milhares de anos, artistas e pensadores exploraram o poder do “agridoce”, que mescla os estados de saudade, pungência e tristeza, mas a cultura contemporânea é curiosamente silenciosa sobre isso, afirma a escritora norte-americana Susan Cain, que lançou em setembro no Brasil o livro O Lado Doce da Melancolia. “É hora de reviver essa tradição. A tristeza e a saudade têm o poder de nos tornar inteiros. São nossas lágrimas, não nossas risadas, que nos levam a um mundo melhor e mais conectado.” Susan explica que o estado agridoce traz uma alegria penetrante com a beleza do mundo por reconhecer a luz e a escuridão, o nascimento e a morte, o amargo e o doce.

Famosa por seu livro O Poder dos Quietos, que entrou na lista dos mais vendidos do jornal norte-americano The New York Times, Susan Cain conta que resolveu escrever o último livro porque queria entender o paradoxo de como uma música triste pode nos deixar felizes e como era possível sentir as duas emoções ao mesmo tempo. “Eu era obcecada por músicas tristes e em tons menores. Hallelujah de Leonard Cohen foi como meu hino pessoal”, recorda. Para desenvolver a sua obra, Susan mergulhou no tema por cinco anos. E sua mais importante conclusão foi que esse estado mental “agridoce” é uma porta de entrada para criatividade, conexão e transcendência.

É assim para a escritora Liana Ferraz, autora do livro de poesias Sede de me Beber Inteira. “Acho a tristeza tão misteriosa, tão introspectiva, tão… humana! E, por não ser o tema da nossa época, me sinto muito convidada a falar sobre”, destaca. Ao se deparar com esse sentimento, Liana não faz esforço para que suma. “Como tenho a criatividade como bússola, sei que estou diante de algo pulsante quando, ao olhar para a tristeza, quero dissecá-la e fazer composição com ela.” Liana afirma que adora ser escritora por ser obrigada a olhar todas as emoções, mas deixa claro que não devemos nos entregar à tristeza incapacitante. “Se o processo é patológico, nada brilha aos olhos.” Foi a partir de uma tristeza profunda que Liana se descobriu “artista das palavras”. Ela conta que queria ser atriz, o que era um segredo, mas teve uma doença que a impossibilitou temporariamente de andar e minou seu sonho. “Ficava achando palavras para a dor física, para a frustração de não estar na escola, para o sentimento de não pertencer ao meu grupo de amigos.” Percebeu, então, que se não fosse atriz poderia escrever e ser, ainda assim, artista. “No meio dessa dor, descobri que poderia ‘andar’ com as palavras”, conclui. Ela superou a doença, formou-se atriz, mas escolheu trabalhar como escritora.

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