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APP DE RELACIONAMENTO SÓ PARA NEGROS PROPÕE ALTERNATIVA PARA A REJEIÇÃO VIVIDA EM OUTROS CANAIS

Em pouco mais de duas semanas de atividade, o Denga, que impulsiona a formação de casais “afrocentrados”, soma mais de 36 mil usuários

O “amor preto”: mais que dar e receber afeto, a relação se constrói como um ato político no qual duas pessoas negras se amam e enxergam uma na outra o seu reflexo. Tal pensamento foi o ponto de partida para um grupo de quatro amigos criar o Denga Love, um aplicativo de relacionamento que busca impulsionar a formação de casais “afrocentrados”. A proposta é que apenas pessoas negras se inscrevam, para uma troca de chamegos livre do preterimento afetivo e do racismo experimentado em aplicativos de encontros tradicionais.

Em pouco mais de duas semanas de atividade, o Denga soma mais de 36 mil usuários. Ele até pode ser baixado por não-negros, mas os desenvolvedores afirmam que mais de 90% do público são negros e espalhados por diversos estados do país, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Para além da cor da pele, retinta ou não, o espaço reconhece diferentes padrões de beleza e de vivências, unidos pela ancestralidade africana. O sucesso deixa explícita a exclusão desse público – que representa 56% dos brasileiros, segundo o IBGE, – dos apps que já estão no mercado.

“Na pandemia, percebemos a urgência do Denga, analisando mais de perto a realidade de que pessoas pretas não se reconhecem no padrão de beleza branco que se estabeleceu nos apps tradicionais. Nós encontramos muita dificuldade de dar “matches”, porque estruturalmente a nossa beleza não é a ideal para relacionamentos, ainda mais esporádicos. Além de tudo, sofremos mais racismo e LGBTfobia. No Denga, os pretos e as pretas são protagonistas”, explica o programador e idealizador do app, Fillipe Dornelas, que também é negro.

Segundo o terapeuta e pesquisador de afetividades pretas Omoloji Àgbára, o Brasil vivencia, historicamente, um contexto de exclusão e preterimento social estruturados pelas mais de três décadas de escravidão. O especialista lembra que o processo de embranquecimento da população com a vinda de estrangeiros estabeleceu a “beleza europeia” como padrão e deu passabilidade às pessoas que têm o tom de pele mais claro. Neste contexto, ao corpo negro, especialmente o retinto, restou a hipersexualização e a ideia de não merecimento de um amor ascendente.

“Ao contrário dos EUA, onde houve um apartheid declarado, o Brasil vive ainda hoje o mito da democracia racial, que se esbarra nas questões amorosas. Nos apps há uma “disputa” inalcançável, onde pessoas brancas preferem pessoas brancas e, algumas vezes, até pessoas pretas vão escolher brancos devido aos padrões. Esse privilégio da beleza inibe os feitos pessoais e profissionais. E, ainda que um homem branco, que é a posição mais privilegiada, tenha um perfil considerado socialmente mediano, ele tende a ser mais curtido”, explica o pesquisador.

SOLIDÃO DA MULHER NEGRA

Usuária do Tinder há sete anos, a administradora Milena Rodrigues, de 24 anos, conta que, até hoje, saiu com apenas três homens que conheceu pelo app, todos negros. Segundo ela, além de não sentir tanta atração física por caras brancos, constantemente é objetificada por ser considerada uma “preta padrão”.

No vai e vem dos “likes” e “dislikes”, Milena conta que a minoria dos perfis do app misto são de pessoas negras. Inclusive, na Bahia, onde 82% da população se autodeclara preta ou parda. A constatação foi feita por ela durante uma viagem a Salvador.

“No Tinder, eu sou a “preta gostosa”, a maioria das pessoas que estão ali querem uma conversa sexual ao se deparar comigo. Isso parte também de homens negros, porque é estrutural. Mas quando eu comecei a ter consciência racial, decidi que buscaria pessoas com as mesmas vivências que eu, que entende as minhas dores”, diz Milena, que atualmente só mantém relações com homens negros.

Em 2010, no último Censo Demográfico do IBGE que mapeou características dos relacionamentos amorosos no Brasil, quase 70% da população afirmaram se relacionar com pessoas do mesmo grupo de cor ou raça. Cerca de 75,3% dos homens brancos se relacionavam com pessoas brancas. Entre as mulheres da mesma cor, o dado estatístico cai aproximadamente dois pontos percentuais.

A disparidade é um pouco maior em relação aos pretos: cerca de 39,9% dos homens pretos se casam com mulheres da mesma cor. Já, no inverso, o número sobe para 50,3%. A pesquisa concluiu ainda que mulheres negras são as que menos se casam.

Para o antropólogo e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Dagoberto José Fonseca, o preterimento sofrido por mulheres negras, que vem inclusive de homens da mesma cor, mostra que o conceito de amor precisa ser ressignificado. Segundo o especialista, a proposta do chamado “amor preto” tem um viés africano, que se baseia no afeto familiar e não apenas entre duas pessoas. Nele, os afetos se pautam na diversidade.

“O amor e a amizade se formam pelas afinidades. O romance interracial é possível, mas nem sempre eles se conectam pelas vivências. O fato de homens brancos preferirem mulheres brancas e mulheres negras serem as que menos se casam diz muito sobreo racismo. Por isso, essas mulheres terem um espaço, como esse app e esses novos movimentos sociais afro, para terem um novo olhar sobre as relações e, se desejarem, encontrar pessoas que as compreendam, é uma potência social. É preciso romper com o amor romântico de Shakespeare”, diz Fonseca.

CHAMEGO AFRO

No Denga, a ancestralidade que a relação afrocentrada pede aparece até mesmo no nome. Reformulando a palavra “dengo”, termo derivado da língua africana quicongo que significa aconchego, o app proporciona acolhimento nos detalhes. Quando duas pessoas demonstram interesse mútuo, elas dão “chamego” e podem iniciar o bate-papo.

Tão forte quanto o acolhimento, são os interesses estabelecidos facilmente no app. O analista de sistemas Matheus França, de 27 anos, baixou o aplicativo há uma semana e já soma mais de cem curtidas em seu perfil. Na visão dele, no Dengo as pessoas se interessam por características pessoais além da imagem: a maioria lê a minibiografia, comenta sobre os gostos, os lugares onde vivem, além de poderem compartilhar as famosas “fofocas afro”.

“Não sei explicar a sensação, mas o app se torna um espaço de empoderamento. Não preciso colocar fotos em outros países para ser interessante ou mostrar meu corpo para ter likes. Coloco que amo um samba raíz, um boteco barato e fofocas afro, que são comentários sobre todo o universo que envolve pessoas pretas, e rola identificação. Fiquei um pouco metido com tamanho interesse, confesso, e feliz por estar rodeado de pessoas que dividem histórias em comum”, relata o paulista, que há uma semana foi ao primeiro date com uma mulher que conheceu no app.

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Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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