ESTUDO DIZ QUE COMEÇAR A AULA MAIS TARDE PODE AJUDAR OS ADOLESCENTES
Pesquisa feita no Brasil aponta impactos positivos para o humor em atrasar o início das atividades pela manhã; especialistas destacam importância da qualidade do sono

Atrasar em uma hora o início das aulas para adolescentes ajudou a melhorar o desempenho acadêmico e teve impacto no humor dos estudantes, segundo estudo feito no Brasil e publicado na revista científica Sleep Health. Especialistas destacam a importância, especialmente nessa fase, da qualidade do sono para a memória e absorção dos conhecimentos aprendidos em aula.
Para os adolescentes, a Associação Brasileira do Sono e a Associação Brasileira de Medicina do Sono recomendam dormir pelo menos oito horas por noite. Nessa fase, o ciclo circadiano sofre grandes alterações, o que faz com que o indivíduo precise de mais tempo para reparação. Segundo Dalva Poyares, médica especialista em medicina do sono e doutora em Neurociência pela Universidade de São Paulo (USP), nem sempre adianta só ir se deitar mais cedo. “O aluno já deita ansioso pela manhã seguinte, sabe que vai acordar bem cedo pra aprender coisas difíceis, o que já causa um estresse”, diz.
É nessa fase também o único momento da vida do ser humano no qual se tem menos circulação da dopamina, o hormônio responsável pela saciedade, pelo prazer e pelo contentamento, no chamado sistema de “recompensa”. A “deficiência” pode deixar os jovens com sentimentos mais negativos, e um bom sono pode ajudar nisso. No estudo Multiple positive outcomes of a later school starting time for adolescents, realizado em uma escola particular de Palotina, no Paraná, os pesquisadores analisaram, durante três semanas, a rotina de 48 alunos do ensino médio. Na primeira semana, o início das aulas foi mantido no horário normal, às 7h30. Na seguinte, passou para as 8h30 e na terceira, voltou para 7h30.
“Surpreendeu que eles não foram dormir mais tarde, mas sim acordaram mais tarde”, afirma Felipe Beijamini, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e do programa de pós-graduação em biociências da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), e um dos autores do estudo. O tempo de sono foi medido por um método chamado actigrafia. Durante as três semanas, os alunos usaram um actígrafo, aparelho em formato de relógio que mede o sono por movimento, temperatura e exposição à luz.
Os participantes da pesquisa também responderam a questionários sobre o perfil emocional. As respostas indicaram alterações de humor, com relatos de menos cansaço, raiva, tensão, confusão e depressão. Eles também disseram estar com mais energia. Com a volta ao horário normal na terceira semana, os benefícios não foram mais descritos.
ENGAJAMENTO
Nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatras recomenda que as aulas nas escolas não comecem antes das 8h ou 8h30. No Brasil, já existem instituições que resolveram atrasar um pouco o relógio, como o Colégio Castanheiras, em São Paulo. A diretora Sônia Magalhães explica que a mudança, em 2019, foi muito positiva. “Trouxe mais engajamento dos alunos, mais atenção”, afirma ela, sobre passar o começo das aulas de 7h15 para 7h50. Ian de Mello, de 15 anos, estudante da escola, conta que se sente mais confortável com o novo horário. “Preciso de tempo depois que acordo, para preparar a cabeça para o dia. A mudança ajuda bastante.”
Desde a criação, o Colégio Lumiar, também em São Paulo, adotou o horário de 8h30 para início das aulas do ensino médio. “Pensamos que a manhã tem de ser um momento mais tranquilo, o adolescente precisa acordar bem, se alimentar com calma”, conta Graziela Lopes, diretora da escola. João Pedro, de 16 anos, e Luísa França, de 15, do 1.º médio, apontam benefícios nesse esquema. “Eu fico mais descansado, durmo melhor, sinto que minha mente está pronta para absorver os assuntos, com mais foco”, diz João. “Antes eu ficava com sono o dia inteiro. Hoje presto atenção, faço tudo que precisa na escola e ainda chego em casa com energia para coisas extras”, afirma Luísa.
Adriana Fóz, especialista em Psicopedagogia e Neuropsicologia pela USP, afirma que, sem o sono mínimo, “não se consegue absorver (conteúdo), logo, tem mais estresse, ansiedade, diminuição do desempenho escolar, além de baixar a autoestima, porque ele vai achar que está mais lento, que não consegue aprender”.
Para quem começa cedo, ela sugere aos colégio realizar atividades mais recreativas nas primeiras horas. “Aula com movimento, engajamento.”
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