PRODUTOS PARA ALISAR O CABELO PODEM ELEVAR O RISCO DE CÂNCER DE ÚTERO
Estudo com pessoas que usaram alisadores nos Estados Unidos fez ligações preliminares com incidência da doença

Um estudo surpreendente encontrou associação entre produtos químicos de alisamento de cabelo e câncer de útero, deixando muitas mulheres que usam os produtos com dúvidas sobre a segurança dessa rotina de cuidados. A pesquisa, publicada segunda-feira, dia 17, no Journal of the National Cancer Institute, acompanhou milhares de mulheres americanas por mais de uma década.
Conforme o estudo, as mulheres que usaram produtos para alisar os cabelos mais de quatro vezes por ano eram duas vezes mais propensas a desenvolver câncer do que aquelas que não os usaram. As descobertas, relatadas pelo National Institutes of Health (NIH), são vistas como preliminares, e mais estudos são necessários antes de um aconselhamento específico.
RISCO
O novo estudo, lidera- do pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental do NIH, analisou dados de quase 34 mil mulheres nos Estados Unidos do Sister Study, um estudo de uma década que analisou fatores de risco para câncer de mama e outros problemas de saúde entre mulheres de 35 a 74 anos.
Os pesquisadores descobriram que, durante esse período, 378 mulheres do Sister Study foram diagnosticadas com câncer e encontraram uma associação entre seus diagnósticos e certas rotinas de cuidados com os cabelos. Embora o risco geral de câncer fosse baixo, os pesquisadores descobriram que o risco parecia aumentar com o uso mais frequente dos produtos químicos. Entre as mulheres que usaram os produtos pelo menos uma vez no ano passado, 2,82% podem desenvolver câncer aos 70 anos – um risco 1,18% maior do que aquelas que nunca usaram os produtos. Entre os usuários frequentes de alisadores de cabelo – aqueles que usaram os produtos mais de quatro vezes no ano passado –, cerca de 4% podem vir a desenvolver câncer, o que se traduz em um risco 2,5 vezes maior em comparação com aqueles que nunca usaram os produtos.
O câncer de útero é raro, mas os casos e as mortes relacionadas têm aumentado nos EUA. Em 2022, estima-se que cerca de 66 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer, e mais 12,5 mil pacientes morreram da doença, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer. Os dados mostram que as taxas de mortalidade são mais altas entre as mulheres negras não hispânicas.
Pesquisas mostram ainda que o câncer de útero, especialmente os subtipos mais agressivos, afeta desproporcionalmente as mulheres negras, mas o novo estudo descobriu que mulheres de todas as raças e etnias que usavam produtos químicos de alisamento de cabelo estavam em maior risco de desenvolver câncer.
No entanto, vale considerar que, como as mulheres negras relataram alisar seus cabelos com mais frequência, os pesquisadores sugeriram que pode ser mais um fardo para essa população.
TRATÁVEL
“Eu não acho que as mulheres negras estejam necessariamente em maior risco por usar esses produtos. Mas elas são mais propensas a serem as que estão usando esses produtos”, disse Alexandria White, que dirige o Grupo de Epidemiologia do Câncer dentro do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental do NIH e é a principal autora do estudo.
Para Susan Taylor, professora de dermatologia da Perelman School of Medicine da Universidade da Pensilvânia, que diz esperar estudos adicionais sobre o assunto, a pesquisa “é suficiente para eu mencionar aos meus pacientes e para eles pensarem se precisam de fato alisar seus cabelos”. Médicos explicam ainda que o câncer de útero é tratável, com taxa de sobrevida em cinco anos para mulheres com a doença de 81%.
Os pesquisadores reconheceram no estudo que não analisaram os ingredientes específicos nos produtos de alisamento de cabelo que as mulheres usaram, mas levantaram a hipótese de que vários produtos químicos encontrados rotineiramente em tais produtos – formaldeído, metais e parabenos – poderiam estar associados ao aumento do risco de câncer.
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