MANTO DE SILÊNCIO
Pesquisa revela que 7 em 10 mulheres veem menopausa como tabu no país

Embora seja um marco inevitável na vida das mulheres, a menopausa é considerada um tema deixado de fora da conversas pela maioria da população. É o que mostra uma nova pesquisa da empresa de higiene e saúde Essity, que entrevistou 2 mil brasileiras e constatou que sete a cada dez delas (69%) concordam que essa fase ainda é um tema tabu.
Especialistas apontam que não abordar a questão pode afastar mulheres do conhecimento necessário sobreo período, das maneiras de prevenir e amenizar os sintomas incômodos e de entender o que de fato acontece com o corpo quando ele deixa de menstruar.
O levantamento da Essity revelou também que, embora a estimativa seja de que em apenas três anos mais de um bilhão de mulheres vivenciem uma das fases associadas à menopausa no mundo, 55% das brasileiras disseram não gostar de falar sobre o assunto por ser ligado à velhice e à “deterioração” do corpo.
“Existe o estigma, que não é verdadeiro, de que a menopausa é ligada basicamente a um monte de sintomas ruins, ao envelhecimento, à perda capacidade sexual, o que é muito forte para alguém de 50 anos que hoje é uma mulher jovem”, explica a ginecologista e obstetra Marianne Pinotti, do grupo de cirurgia oncológica e mamária da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Essa realidade da falta de informação não é restrita ao Brasil. Uma pesquisa do Reino Unido, encomendada para o Dia Mundial da Menopausa, celebrado dia 19 de outubro, mostrou ainda que 80% das britânicas entre 18 e 74 anos relatam estar “despreparadas” para o momento, e apenas 17% disseram saber amenizar os impactos no corpo.
“Nós percebemos na prática uma parcela bastante grande de mulheres que realmente conhecem pouco a respeito da menopausa e que, por isso, logicamente não estão tão preparadas quando esse momento acontece”, afirma o ginecologista Luciano de Melo Pompei, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
GAMETAS CONTADOS
Ao nascer, as mulheres já têm um número de folículos – células que vão desenvolver os óvulos – pré-estabelecido. Após a puberdade, elas passam a liberar esses gametas aos poucos durante os períodos férteis até a última menstruação, que é a chamada menopausa.
“A idade da menopausa é parecida no mundo todo, sempre por volta dos 48 aos 51 anos, porque o ovário nasce com a capacidade de produzir os hormônios, especialmente o estrogênio, para liberar os óvulos por um tempo limitado. Quando o ovário interrompe essa produção, a mulher para de menstruar”, explica Pompei.
Muitas pessoas confundem, no entanto, a menopausa com o período que a antecede, em que a liberação dos hormônios femininos começa a cair e provocar os sintomas característicos. Esse período, de forma mais ampla, é chamado de climatério – fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo na vida da mulher.
Nem toda a mulher vive os famosos sinais da menopausa, porém a prevalência é alta. Segundo um estudo brasileiro, conduzido por Pompei e publicado no periódico Climacteric, cerca de 88% delas relatam os sintomas.
Embora mais de 30 sintomas sejam reconhecidos hoje pela ciência, a pesquisa da Essity mostrou que as principais queixas entre as brasileiras são as ondas de calor, por 69% das entrevistadas, e a irritabilidade, por 40%, seguidos por secura vaginal e insônia.
“A maioria das mulheres têm sintomas leves ou moderados durante dois ou três anos nesse período. Uma pequena minoria não sente nada, apenas para de menstruar, e outra pequena quantidade tem sintomas muito fortes durante muito tempo. Mas os sinais, na maioria das vezes, são passageiros e existem maneiras de controlá-los”, afirma Pinotti.
No primeiro momento, os especialistas explicam que o principal sintoma são as ondas de calor, também chamadas de fogachos. Segundo a pesquisa da Climacteric, geralmente elas surgem aos 47 anos, quando a produção do estrogênio começa a cair.
“Elas acontecem porque o estrogênio tem uma função de regulação térmica, de calor, e a hora que a produção dele abaixa, essa regulação fica desbalanceada”, explica a ginecologista.
Pinotti afirma que, assim como para os demais sintomas, as principais formas de amenizar as ondas de calor são alimentação adequada e uma rotina de exercícios.
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