OUTROS OLHARES

MÃES QUE VALEM POR DOIS

País vê crescer total de bebês sem pai na certidão de nascimento

O mesmo Brasil que discute o direito ao aborto garantido por lei a meninas estupradas, tema que ganhou repercussão com a recente história da gravidez de uma criança de 11 anos no Sul, registra o maior número de bebês sem o nome do pai na certidão desde o primeiro semestre de 2018.

Os dados, levantados pelos Cartórios de Registro Civil do Brasil (Arpen), mostram que, no primeiro semestre deste ano, nasceram 1.313.088 bebês e, destes, 86.610 não tinham o nome do pai no documento. No mesmo período de 2018, foram 1.452.161 recém-nascidos, dós quais 78.798 ficaram sem o nome do pai. O total de registros monoparentais cresceu 1,2% em cinco anos, sobretudo pela negligência dos homens.

A constatação ganha ainda mais relevância quando se observa que 2022 teve, entre janeiro e junho, o menor número de nascimentos dos últimos quatro anos. Mesmo com a queda da natalidade, aumenta a legião de mães solo.

Sem ter apoio para cuidar de seu recém-nascido e com dificuldade de conseguir emprego, C., de 34 anos, que não se identifica porque também foi vítima de violência doméstica, sente o peso da solidão na maternidade. Após ter sido agredida ainda grávida e saído de casa, ela só teve como opção registrar o filho, hoje com 3 anos, apenas em seu nome, e criá-lo sozinha. Acolhida  na casa de amigos em Niterói, C conta que o pai da criança nunca mais procurou por ela ou pelo filho. Até hoje, o ex-companheiro não conhece a criança.

“Eu optei por não colocar o nome pela minha paz! pela paz do meu filho. É muito chato quando perguntam por que meu filho não tem o nome do pai. Sempre me olham como se eu tivesse feito a escolha errada do parceiro, e não que ele tivesse errado ao não assumir o pr6prio filho”, diz C., que não chegou a pedir uma medida protetiva por temer que o processo fosse demorado e dispendioso.

Na série histórica de janeiro a junho, o número de crianças sem o registro paterno só se aproxima das estatísticas de 2019, que eram as piores até o início deste ano. Naquele ano, 84.480 bebês, de um total de 1.464.025 nascimentos foram registrados apenas no nome da mãe. Em 2020, foram 77.863 crianças sem o pai na certidão e, em 2021, 82.203 recém-nascidos nessas condições.

MACHISMO ESTRUTURAL

Depois que o filho nasceu, C. passou a ter sucessivas vagas de emprego negadas. Sobrevivendo hoje de bicos como diarista e da venda de comida, o que lhe rende mensalmente cerca de RS 600, ela conta que só consegue manter a família graças a doações e à ajuda do amigo que a acolheu há três anos. O filho o chama de pai.

“Quando eu fugi, tive que abandonar meu emprego, passei a gravidez desempregada e ainda hoje ninguém me contrata, com medo de eu faltar por causa do meu filho. Parece que está ainda mais fácil para os homens abandonarem as crianças e não partilharem dos cuidados.”

Professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora sobre desigualdade de gênero e estrutura familiar, Felícia Picanço observa que o fenômeno da omissão paterna nos registros de nascimento precisa ser estudado com mais profundidade. Ela acredita, entretanto, que as estatísticas preocupantes podem estar relacionadas ao agravamento da crise econômica e ao fortalecimento do conservadorismo social.

“Ao mesmo tempo que o pai considera a família um pilar importante, alguns homens só assumem filhos concebidos dentro de casamentos tradicionais. Outros, nem isso. A hierarquização de gênero, que sobrecarrega a mulher e a coloca como obrigada a cuidar das tarefas domésticas e dos filhos, é a mesma que protege os homens, relativizando o abandono e a falta de responsabilidade na divisão de tarefas”, explica.

Desde 2012, o Conselho Nacional de Justiça permite que o reconhecimento de paternidade seja feito diretamente em Cartório de Registro Civil, sem a necessidade de decisão judicial quando há acordo entre as partes. Quando a iniciativa parte do próprio pai, basta que ele compareça ao cartório com a cópia da certidão de nascimento do filho e a autorização da mãe ou do próprio filho, caso ele seja maior de idade. Segundo dados da Arpen, no primeiro semestre deste ano, 14.620 pessoas receberam o nome do pai em suas certidões de nascimento, que foram retificadas seja por iniciativa voluntária do pai biológico ou por registro de paternidade socioafetiva. Essa última situação acontece quando uma outra pessoa assume o papel de se tornar o responsável pela criança por motivação afetiva, mesmo sem vínculo de sangue.

PRESENÇA TARDIA

A administradora Priscila Batista, de 29 anos, foi procurada no ano passado pelo pai de seu filho, hoje com 8 anos para fazer o reconhecimento parental. Ele disse que se arrependeu  de ter abandonado a criança, quando ela ainda estava na barriga da mãe. Na época em que Priscila engravidou, o ex-companheiro se recusou a assumir o filho e foi morar em outro estado. A administradora foi à Justiça exigir pagamento de pensão, mas após três anos de espera, desistiu do processo. O encontro entre pai e filho só aconteceu quando o registro foi feito.

“Um pouco de dinheiro ajudaria, mas não teria nenhum tipo de afeto, que éo que realmente meu filho precisava. Por isso, desisti. Para a família dele, eu ainda devo ter saído como errada, porque somos julgadas o tempo todo. Hoje meu filho tem contato com ele, mas não o chama de pai. A ideia de que mulher precisa ser forte é muito romântica. Eu me sinto cansada às vezes, apesar de contar com a minha família”, admite Priscila.

Priscila viveu a situação duas vezes. Quando a filha caçula de 2 anos nasceu, a menina recebeu apenas o seu sobrenome, de acordo com ela, porque o então companheiro, de um segundo relacionamento, alegou “não estar pronto” para exercer a paternidade:

“Ele inicialmente não quis. Meses após o nascimento, disse estar arrependido. Hoje é totalmente presente na vida dela. Mas é triste saber que mulheres ainda precisam quase implorar para que o pai seja um pai de verdade”, desabafa Priscila, que faz parte de um grupo com mais de 30 mil mães solo no Facebook, que se juntaram para se ajudar e trocar experiências.

Na visão da pesquisadora do departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, Marilia Moschkovich, apesar de o Brasil ter avançado em leis que facilitem o registro parental, elas não garantem que os homens passarão a exercer a paternidade e as mulheres ficarão menos sobrecarregadas. Segundo a especialista, o reconhecimento do filho é importante, mas é fundamental amparo social para que as mães solo contem com estrutura para cuidar dos filhos.

“Hoje há um certo fetichismo de que tudo se resolve com legislação. Mas há coisas, como o desejo, que a lei não é capaz de dar conta. A briga para exigir deveres de paternidade a  homens  que engravidam mulheres só faz sentido hoje porque existe pobreza, porque não há alimentação universal popular, porque não há transporte público gratuito para todos, porque faltam vagas em creches, não existe nenhuma política séria de educação sexual, e porque o aborto não é legalizado”, conclui.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE O EMPREENDEDOR PRECISA SABER ANTES DE ABRIR SEU NEGÓCIO

O planejamento passa por questões básicas, como separar contas pessoal e profissional, e pelo estudo profundo do setor de atuação

Pode parecer romântico ou até mesmo poético, mas não é. Um aspirante a empreendedor quando começa a pensar na empresa que pretende montar precisa responder às seguintes perguntas, de acordo com os especialistas consultados pelo Estadão: Quem eu sou? Para onde vou? Como chego lá? O que eu gosto de fazer?

Partindo da última pergunta, é essencial saber o que a pessoa gosta de fazer, pois há uma tendência maior de o negócio dar certo se o indivíduo exerce algo que lhe satisfaça. O gerente de relacionamento com o cliente do Sebrae Ênio Pinto explica que existem alguns processos que podem ser segui- dos, antes mesmo de embarcar de vez nos negócios. Primeiro a pessoa pode listar o que gosta de fazer e, dentro dos temas, avaliar onde é competente. “Onde eu sou melhor do que a média?”

A partir daí, deve-se estudar se existe demanda da comunidade para aquele produto ou serviço, ou seja, será que as pessoas pagariam por isso? Além disso, o ideal é sempre testar. “A recomendação é: sonhe grande, comece pequeno e cresça rápido”, diz Ênio. Antes de sair efetivamente para a rua ou de montar um ponto físico, faça um protótipo.

Se a pessoa gosta de cozinhar, ressalta ele, vale montar algo em casa, vender para vizinhos, dentro do próprio quintal. Isso ajuda a praticar habilidades e ver se pode dar certo. “No papel, a pessoa precisa fazer um plano de negócios e depois colocar na rua”, completa o gerente do Sebrae.

Essa etapa do plano de negócios é essencial para que uma estrutura seja montada. A professora do Senac São Paulo Giovana Cunto, que dá aulas em curso especializado em empreendedorismo para pequenos negócios, pondera que o plano é o que vai diminuir a distância entre o sonho do empreendedor e a implementação do negócio. A partir do momento que a pessoa consegue traçar um mapa do percurso que irá percorrer, descrevendo o passo a passo, é possível minimizar as chances de erro. Um bom plano de negócios, diz Giovana, aperfeiçoa a ideia, tornando-a clara. “Facilita a apresentação da empresa a sua equipe, aos fornecedores e potenciais clientes. Além de analisar os pontos fortes e fracos do negócio e avaliar o empreendimento por meio da comparação entre o que foi previsto e o que efetivamente foi realizado.”

PLANEJAR

Segundo Giovana, uma das dificuldades ao se tornar “pessoa jurídica” é o planejamento – ou a falta dele. Quando o empreendimento é iniciado por necessidade, e não por um desejo, como acontece em casos de demissões, por exemplo, o tempo para planejamento é escasso, e a pessoa física quer poder tirar o mais rapidamente possível um sustento daquele negócio.

Foi o que ocorreu com Pryscilla Tavares da Costa Matos, de 31 anos, e com o marido, Thiago Macedo da Costa, de 38 anos. Ele perdeu o emprego na pandemia, em meados de 2020, e ela, em 2021. Na mesma época, Pryscilla engravidou. Com tudo isso, decidiram empreender. Como já havia vendido salgados anteriormente para ter um complemento de renda, resolveu arriscar e começou a vender banoffees. “No primeiro momento, ensinei meu marido a fazer a torta e, quando eu também perdi o emprego, passei a trabalhar junto no negócio. Começou como necessidade, mas agora é a nossa única fonte de renda.”

Pryscilla já tinha feito um curso de confeitaria no Senac São Paulo, o que a ajudou para a confecção das tortas. Mas a produção não era nem de longe a maior dificuldade do início. Para ela, as partes administrativa e de marketing eram muito complicadas. Por isso, ela procurou outro curso na mesma entidade.

CURSOS

A educação continuada é outro ponto destacado por especialistas. O ideal é sempre ter uma capacitação que possa ser aplicada ao negócio que está sendo iniciado. Caso tenha montado um restaurante, por exemplo, não basta saber e gostar de cozinhar. É necessário fazer fluxo de caixa e separar as contas pessoais do empreendimento.

Esse empecilho apareceu na vida de Pryscilla. De início, ela não conseguia investir no negócio. O dinheiro das vendas era usado para despesas da casa. Mas, com os cursos que buscou e a experiência que foi adquirindo, os problemas foram sendo sanados. Hoje eles estão às vésperas de inaugurar um ponto físico em São Paulo.

Essa parte financeira acaba sendo um entrave na vida do empreendedor, tanto do negócio quanto no lado pessoal. Para o empreendimento, há duas possibilidades: pegar crédito ou arrumar um sócio.

Nos primeiros passos do empreendedor, o que acaba pesando muito é a insegurança pessoal. O vice-presidente de Canais e Novos Negócios da Contabilizei, Guilherme Soares, diz que muitas pessoas acabam desistindo do negócio porque a parte pessoal fica atrapalhada. “Nos primeiros três meses, a receita é irregular. Aí a pessoa se desespera e quer arrumar renda de qualquer forma. Uma dica é tentar se preparar para o período.”

DICAS PARA TER SUCESSO

GOSTAR DO TEMA

Uma das dicas é criar negócios com temas que satisfaçam o empreendedor, pois aumentam a chance de o negócio dar certo

PLANO DE NEGÓCIOS

Fazer um planejamento antes de colocar o empreendimento na rua é essencial para garantir o sucesso do negócio

EDUCAÇÃO CONTINUADA

É importante fazer cursos, se manter atualizado com as tendências e aprender sobre finanças

MERCADO

O empreendedor precisa conhecer os fornecedores, os clientes e os concorrentes

CONTAS BANCÁRIAS

Não misturar a conta da empresa com a pessoal

EU ACHO …

RASGANDO AS FOTOS

Depois de uma briga histórica, daquelas de não deixar coisa alguma em pé, você se vê completamente sozinha, o romance acabou. Ele não era nada daquilo que você pensava, é um cafajeste, um galinha, um insensível. Você corre até a cozinha, pega uma tesoura afiada, voa para seu quarto e, bufando de ódio, tira do armário a caixa com todas as fotos que vocês tiraram durante o namoro e (não faça isso, garota, você vai se arrepender, o cara fez parte da sua história, um dia esta raiva vai passar e você nem lembrará do rosto dele, vai querer recordá-lo, larga esta tesoura, não faz bobagem, me escu…) começa a picar bem picadinho todas as fotos em que aparecem juntos, menos aquela em que você está uma deusa – esta você vai cortar pela metade, e a parte em que ele aparece vai para o lixo, naturalmente.

Serviço feito. Nem mesmo um expert em quebra-cabeças de mil peças conseguiria juntar o olho direito com olho esquerdo daquele infeliz, as fotos viraram farinha, agora? Está se sentindo melhor?

Você está se sentindo um trapo. A dor da perda não se aplaca com um gesto extremado, e se o propósito era vingança, grande porcaria: o modelo fotográfico que f esquartejado segue inteirinho da silva tocando a vida dei não sentiu nem um arrepio quando você praticamente moeu seu sorriso lindo. Ele tinha um sorriso lindo, não tinha?

Você vai lembrar do sorriso, dos olhos, da boca ainda por muito tempo. Picotar fotos é só a materialização de um desejo: gostaríamos que certas pessoas saíssem da nossa vida instantaneamente, bastando pra isso uma tesourada. Mas o processo de despedida é bem mais lento e mais difícil. É preciso deixar o tempo agir. E o tempo age com mais parcimônia.

Mas alguém lá quer saber de parcimônia? Mulheres com o orgulho ferido seguirão mutilando seus álbuns de fotografia, arrancando cabeças e amputando casais que pareciam colados com superbonder. Uma pena aleijar assim o passado, mas, por outro lado, talvez seja conveniente deixar bem livre esse ímpeto destrutivo e o pouco apego às lembranças. Nenhum problema em descarregar nosso ódio num pedaço de papel. Sabe-se lá o que aconteceria se o engraçadinho aparecesse na nossa frente e nos encontrasse com uma tesoura na mão.

*** MARTHA MEDEIROS

ESTAR BEM

DIETA RICA EM FRUTAS PODE AJUDAR A EVITAR DEPRESSÃO

Pesquisa britânica apontou que consumo de ao menos três porções diárias é capaz de aumentar bem-estar

Pessoas que comem frutas regularmente são menos propensas a relatarem sintomas de depressão. A conclusão é de um estudo publicado na revista científica British Journal of Nutrition, que avaliou os impactos de hábitos alimentares na saúde mental. Os pesquisadores da Universidade de Aston, no Reino Unido, observaram ainda que o excesso de lanches salgados no dia a dia tem o efeito contrário: está associado a um número maior de queixas de ansiedade e mal-estar.

Para chegar às conclusões, os cientistas entrevistaram 428 participantes, de em média 40 anos, sobre os hábitos de consumo diários de frutas, vegetais e lanches salgados. Além disso, coletaram informações sobre a saúde psicológica dos voluntários, com relatos sobre sintomas de depressão, ansiedade e outros transtornos relacionados à mente.

Os participantes comiam, em média, duas porções de frutas por dia. Aqueles que se alimentavam com mais unidades relataram menos sintomas de depressão e registraram índices maiores de bem-estar, mostraram os resultados do estudo. O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), por exemplo, recomenda um consumo diário de cinco porções.

“Tanto as frutas quanto os vegetais são ricos em antioxidantes, fibras e micronutrientes essenciais que promovem a função cerebral ideal, mas esses nutrientes podem ser perdidos durante o cozimento. Como é mais provável que comamos frutas cruas, isso poderia explicar sua influência mais forte em nossa saúde psicológica”, explica a autora do estudo Nicola-Jayne Tuck, pesquisadora da universidade, em comunicado.

O trabalho não encontrou, no entanto, uma associação muito forte entre comer vegetais e uma melhora nos índices de saúde mental. No entanto, os responsáveis pelo estudo destacam que pesquisas anteriores já haviam mostrado que essa relação demanda um alto consumo dos alimentos, superior a cinco porções por dia, frequência que não foi atingida por um número significativo dos participantes.

NÃO RECOMENDADOS

Por outro lado, aqueles que se alimentavam com lanches salgados, como batatas fritas e salgadinhos, numa frequência de mais de três vezes por semana, registraram níveis mais elevados de ansiedade, depressão e estresse, e tiveram mais queixas de “lapsos mentais diários”, termo associado a falhas cognitivas durante tarefas do cotidiano. Segundo os pesquisadores, a ocorrência desses lapsos foi associada apenas ao consumo dos lanches, o que comprova a relação direta da dieta pobre em nutrientes com a piora da saúde mental. Eles explicam que um exemplo dessas falhas é quando esquecemos onde está determinado objeto ou não lembramos nomes de pessoas conhecidas.

“Muito pouco se sabe sobre como a dieta pode afetar a saúde mental e o bem-estar e, embora não tenhamos examinado diretamente a causalidade aqui, nossas descobertas podem sugerir que lanches frequentes em alimentos salgados pobres em nutrientes podem aumentar os lapsos mentais diários, o que, por sua vez, reduz a saúde psicológica”, diz Nicola-Jayne.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

ELE É BI, E DAÍ?

Mulheres heterossexuais desafiam preconceitos ao se relacionarem com homens que também gostam de homens

Os influenciadores Daniela Choma, de 24 anos, e Alisson Candeo, de 28, construíram o que se costuma chamar de família perfeita: juntos há cinco anos, têm duas filhas, Jade, de 2 anos, e Aurora, de 3 meses, e somam mais de oito milhões de seguidores em suas redes. Um público que acompanha de perto os momentos de intimidade e um dia a dia cheio de cumplicidade e amor que marcam a vida do casal. Mas nem mesmo este cenário “tradicional” é capaz de validar o relacionamento deles para boa parte dos moradores de Irati, no interior do Paraná, cidade onde vivem. O problema? Alisson é pansexual, e antes de conhecer Daniela, se relacionava apenas com homens.

“Quando o conheci, ele se identificava como gay. Tínhamos os mesmos amigos, estávamos sempre nos mesmos lugares. Até que, em uma festa, começamos a brincar que éramos namorados, e rolou um flerte. Um dia, fui à casa dele e nos beijamos. A partir daí, nunca mais nos desgrudamos”, conta Dani, que é heterossexual.

As inseguranças quanto à sexualidade de Alisson, no entanto, surgiram no começo do namoro, muito por causa dos comentários de amigos e pessoas próximas. “Tive muitos relacionamentos que deram errado e pensava que ele poderia se apaixonar por um homem estando comigo. Nossos amigos colocavam isso na minha cabeça, dizendo que ele era gay, e que não seria agora que ficaria com uma mulher. Então, isso fez com que eu demorasse para querer ter algo mais sério. Foram muitas conversas até que eu me sentisse mais segura”, relata.

Ao mesmo tempo em que Daniela tentava entender seus sentimentos e a paixão por Alisson, ele viu a sua sexualidade e desejos ganharem novos contornos, algo longe de ser um processo fácil. “Foi uma confusão, porque tinha o sentimento de estar amando uma mulher e, desde criança, sempre tive um jeito mais efeminado. falavam: ‘Olha lá o viadinho!”, relembra o rapaz. “Quando superei essa fase, passei por cima dos preconceitos e consegui falar abertamente sobre ser gay. Ao conhecer a Dani, entendi que meu interesse era por pessoas.”

Com anos de namoro – e agora um casamento – , as expectativas foram alinhadas e ambos estão muito mais confiantes um no outro. Mesmo assim, Dani e Alisson afirmam que ainda escutam comentários preconceituosos. As pessoas invalidam a minha sexualidade como  se soubessem mais do que eu mesmo, como se fosse impossível eu amá-la e respeitá-la”, lamenta o rapaz.

Se falar sobre bissexualidade e pansexualidade parece ser tabu, inclusive dentro da própria comunidade LGBTQIA+, é tarefa ainda mais árdua para um homem declarar publicamente que sente atração por outros homens. De acordo com pesquisa inédita realizada em maio deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a orientação sexual dos brasileiros, 2,9 milhões de pessoas ou 1,8% da população se identifica como homossexual ou bissexual: número menor do que a parcela de pessoas que não souberam ou quiseram responder à pesquisa, cerca de 3,4%.

Para o psiquiatra, professor e coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatra da USP, Alexandre Saadeh, os números são equivocados. “É muito abaixo do que a gente vê, do que a gente sabe, porque uma coisa é pesquisar nas grandes capitais; outra, é pesquisar no interior. Ainda tem o ponto que a sexualidade é vivida entre quatro paredes: para o mundo, é preciso ser cisgênero e heterossexual, e para o homem que se relaciona com outros homens, ainda existe aquela questão: quem é penetrado e quem penetra? Quem é o passivo e quem é o ativo? Essa é uma visão muito limitante, porque há outras maneiras de expressar a sexualidade e ter prazer. Então, para o homem bi, a coisa pesa muito mais”, comenta. “A bissexualidade é pouco validada e para que os outros entendam que não é só uma fase, é muito difícil”.

Apaixonada pelo fotógrafo Eric Solon, de 32 anos, a jornalista Isis Rangel, de 29, afirma sempre ter vivido num círculo de amigos “desconstruídos” e que o fato de o namorado ser bi nunca foi um problema. No entanto, precisou enfrentar, durante muito tempo, piadas e brincadeiras homofóbicas. “Já ouvi coisas do tipo ‘ele é viadinho, queima-rosca e outras coisas bem toscas. Mas, desde o começo, nosso relacionamento foi muito tranquilo. O que importa é a forma como ele me trata e o que sente por mim”, afirma a jovem.

Atualmente, os dois são casados e vivemem Santos, no Litoral paulista. “Muitas vezes, eu nem falo que sou bi porque não adianta”, afirma Eric, que opta por lidar com a questão de um jeito irônico. ” Digo: ‘Ah, sou um ser humano e gosto de pessoas’. Parece que as pessoas pensam que bi não existe. Acho que, para elas, o B (da sigla LGBTQIA.P+) é de biscoito.”

Segundo a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, a mentalidade patriarcal associa, há cinco mil anos, a masculinidade à heterossexualidade, fazendo com que o ideal de homem esteja atrelado a força, poder, ousadia, coragem e jamais se relacionar com outro homem.

“E isso faz com que homens bissexuais se reprimam muito. Se você olhar na história, vai ver que a relação de dois homens já foi crime, pecado, e no século XIX, a homossexualidade foi considerada uma doença. Então, é natural que um homem, mesmo sendo bissexual, tenha muito mais dificuldades do que as mulheres de se assumirem publicamente. Mas essa questão está evoluindo, e acredito que dentro de algum tempo, a bissexualidade será aceita com mais naturalidade.”

A recepcionista Laura Macedo (nome fictício a pedido da entrevistada), de 35 anos, conta que suas experiências sexuais e amorosas se restringiram, praticamente, apenas a homens bissexuais, por sempre circular pelo meio LGBTQIA+.

Ela diz se sentir atraída pelo fato de eles terem a “mente mais aberta” e por entenderem que ela preza bastante por sua liberdade. “Eles sabem conversar e têm uma abordagem melhor na hora de se aproximar. Fui casada durante seis anos e sempre tive a cabeça bem resolvida em relação a isso. O cara sendo bi ou hétero não importa, porque tudo depende do caráter. Já fui traída pela mesma pessoa com homem e mulher”, afirma.

Já o farmacêutico Mikley Souza de Oliveira, de 23 anos, entendeu que, após algumas relações com mulheres hétero, prefere mesmo as meninas que, assim como ele, também sejam bi. “O entendimento sempre foi mais simples, e eu não me sentia coagido. Sempre existe um achismo sobre como o homem bissexual se relaciona. A pessoa confunde, pensa que você vai ser promiscuo por causa da sua sexualidade. Quando conto para a menina que sou bi, parece que existe uma quebra de expectativa. Talvez, ela pense que não vou ser másculo o suficiente ou algo assim. Hoje, eu deixo minha sexualidade clara desde o início, para já saber se as coisas podem fluir ou não.”

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